Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ESTUDO DO PROCESSO DE
RECICLAGEM E DA GESTÃO DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS DA CONSTRUÇÃO
CIVIL NA CIDADE DE MONTES
CLAROS-MG
Ramon Alves de Oliveira (FIP-Moc)
ramonalves@yahoo.com.br
JOAB SYMON COSTA SANTOS (FIP-Moc)
joabsymon@hotmail.com
1. Introdução
A aceleração do processo de urbanização e a estabilização da economia, nos últimos anos,
colocaram em evidência o enorme volume de resíduos de construção e demolição que vem
sendo gerado nas cidades brasileiras, sobretudo, em Montes Claros-MG, que carece de
gerenciamento do grande volume de resíduos, e também dos inúmeros problemas por eles
criados.
A partir disso, surge a indagação de como avaliar a gestão de resíduos sólidos de um
município em constante expansão, que é o caso do município de Montes Claros-MG.
Para Jacobi (2006, p. 11): “A implementação de programas de coleta seletiva é fundamental
para o equacionamento dos impactos que os resíduos sólidos provocam no ambiente e na
saúde dos cidadãos.” Com isso, o estudo dos métodos de gestão e eventuais propostas de
melhorias no processo de gerenciamento dos resíduos sólidos da construção civil da cidade
são de fundamental importância para a preservação dos recursos naturais, melhor qualificação
das empresas de construção civil e otimização da qualidade de vida dos cidadãos.
Neste artigo estudar-se-á através de um levantamento da realidade atual a gestão de resíduos
sólidos gerados pela construção civil, com a finalidade de apresentar um quadro geral da
gestão destes resíduos no município de Montes Claros - MG, com enfoque no processo de
geração até o reaproveitamento dos resíduos sólidos da construção civil.
Como objetivos específicos, verificam-se: Analisar o processo de gestão de resíduos sólidos
gerados pela construção civil no município e suas destinações; Avaliar informações no âmbito
da gestão dos resíduos sólidos, gerados pelas construtoras do setor da construção civil de
Montes Claros - MG; Verificar o grau de envolvimento com a gestão sócio-ambiental na
cidade.
2. Fundamentação teórica
2.1 A Cidade de Montes Claros - MG e a Questão Ambiental.
A cidade de Montes Claros - MG teve um crescimento que determinou a reestruturação do
uso do solo: as residências que se situavam no centro foram sendo deslocadas para bairros
adjacentes, concomitantemente, centros secundários de serviços foram surgindo,
acompanhando a expansão da cidade em várias direções.
A produção mensal de resíduos na cidade de Montes Claros - MG, é de aproximadamente
106.872,99 toneladas (Montes Claros, 2009) que mostra uma grande quantidade de resíduos
produzida anualmente.
De acordo com IBGE 2010, existem 384.762 habitantes, e sua população apresenta uma taxa
de crescimento anual de 2,50%, e 99,95% do seu contingente populacional localiza-se em
área estritamente urbana.
Dentre os diversos tipos de resíduos gerados no ambiente urbano, destaca-se o entulho,
resíduo das atividades de construção e demolição. A quantidade expressiva desse resíduo e
o seu descarte inadequado causam graves impactos sócio-ambientais, impondo a busca de
soluções rápidas e eficazes para sua gestão adequada, através da elaboração de programas
específicos, que visem à minimização desses impactos.
2
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
O entulho tem uma grande vantagem, apresenta elevado potencial de reciclagem, podendo ser
utilizado como matéria prima para produção de materiais de construção.
2.2 Política Nacional do Meio Ambiente e a Construção Civil
Em meados da década de 70 do século passado, o estado de São Paulo foi o pioneiro na
questão da regulamentação legal no que se refere à poluição do meio ambiente, e nesta época
passou a vigorar a Lei n. 997, de 31.5.1976. Portanto, é preciso frisar, que não foi do
Governo Federal a iniciativa em relação à regulamentação legal no que se refere ao direito
ambiental no país, e sim estados como São Paulo e Rio de Janeiro. Porém, após as iniciativas
estaduais, o governo federal tomou uma atitude e no ano de 1975 com o Presidente Ernesto
Geisel foi criado o Decreto-Lei n. 1.413/75, que tratou da questão da poluição do meio
ambiente provocada pelas indústrias, sendo alterado, pela Lei n. 6.938/81. (SOARES
JÚNIOR; GALVÃO, 2003).
Diante da necessidade de fundamentação constitucional que desse uma visão globalizada da
proteção ambiental, surgiu a Lei n. 6.938/81, fundamentando-se no artigo, inciso XVII,
alíneas “c”, “h”, e “i” que conferiram à União a competência para legislar sobre defesa da
saúde, florestas e águas. A esta lei aliou-se a Lei n. 6.902/81, que dispunha sobre estações
ecológicas e áreas de proteção ambiental, formando um plexo inicial de legislação global
sobre a tutela ambiental: A Política Nacional do Meio Ambiente. (FIORILLO; RODRIGUES,
1999, p. 157)
Para os autores Soares Júnior e Galvão (2003), a Lei da Política Nacional do Meio Ambiente
(Lei n. 6.938/81), a vigorar, foi reconhecida pela sua amplitude em relação as já existentes,
gerando por sua vez uma modernização do direito ambiental no que se refere às questões
relativas ao homem e a natureza.
No tocante a causalidade o poluidor pode ser considerado aquele que diretamente provoque
ou possa provocar ato infracional ao meio ambiente, podendo também se enquadrar no
conceito de poluidor aquele que indiretamente participe de ato infracional ao meio
ambiente, seja por ação ou omissão. (SOARES JÚNIOR; GALVÃO, 2003).
Depois que o Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), publicou a Resolução Nº
307, de 5 de julho de 2002, dispondo sobre a gestão dos resíduos da construção civil, passou a
haver uma maior preocupação, pelas partes interessadas (consumidores, sociedade,
investidores e órgãos de fiscalização) que tende a aumentar gradativamente devido as
perspectivas de uma crise ambiental acentuada nos próximos anos, pela dinâmica do mercado
e pela pressão mercadológica.
2.3 A Reciclagem de resíduos sólidos na construção civil
A reciclagem contribui para a melhoria da saúde publica por reciclar materiais que, poderiam
propiciar a proliferação de vetores ligados à transmissão de doenças e outros que
indiretamente afetam a saúde pública por contaminar os rios, o ar e o solo. Além disto, evita a
poluição do meio ambiente, provocada pelos resíduos, também aumenta a vida útil dos aterros
sanitários, pois diminui a quantidade de resíduos a serem dispostos; diminui a exploração de
recursos naturais, muitos não renováveis como o petróleo; reduz o consumo de energia; é um
grande passo para a conscientização de inúmeros outros problemas ecológicos.
O termo lixo ou resíduo sólido, segundo a “Norma da Associação Brasileira de Normas
Técnicas - NRB 10.004, Resíduos Sólidos”, é denominado para os restos das atividades
humanas, consideradas pelos geradores como inúteis, indesejáveis ou descartáveis, podendo-
3
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
se apresentar no estado sólido, semi-sólido ou líquido, desde que seja passível de tratamento
convencional (RIOS, 2006).
A reciclagem e o reaproveitamento do entulho possuem grande relevância para o controle e
minimização dos problemas ambientais causados pela geração de resíduos. O entulho é
gerado por deficiências no processo da construção (falta de projetos, falhas ou omissões na
elaboração dos projetos e na sua execução, má qualidade dos materiais empregados, perdas
no transporte, recebimento, armazenamento, substituição de componentes pela reforma,
retrabalhos, falta de padronização dos processos, ausência de controle e registros, falta de
planejamento prévio, ausência de indicadores de produtividade, incompatibilização dos
projetos, falta de treinamento, etc.).
2.4 O Entulho da Construção Civil.
A composição do entulho é função da fonte que o originou, ou seja, construções, reformas,
manutenção e demolições. Considera-se que, em razão da natureza da atividade, a composição
dos resíduos de reformas, manutenção deve se assemelhar a de resíduos de demolição.
Em linhas gerais, o entulho na construção civil consiste em concreto, estuque, telhas, metais,
madeira, gesso, aglomerados, pedras. Levy (1997), afirma que o entulho da construção civil
poderá ter diversas origens.
A quantidade de entulho gerado é equivalente a 50% do material desperdiçado (PINTO,
1999). Em obras de reforma o principal motivo do surgimento do resíduo da construção é
uma falta da cultura de reutilização e reciclagem e as demolições, como são realizados em
processos simples, são causas geradoras de entulhos (ZORDAN, 1997).
2.5 Destino do Entulho
A maioria dos responsáveis pela produção do entulho não tem nenhum tipo de preocupação
com esse material e o jogam em avenidas, estradas e próximos a rios e córregos ou no entorno
do canteiro de obra.
Pinto (1999) condena a pratica de deposições dos resíduos em áreas irregulares e o contínuo
aterramento em ambientes urbanos de volumes elevados de entulhos, pois áreas naturais são
destruídas com o decorrer do tempo. Porém, já existe hoje uma preocupação referente à
destinação destes resíduos por parte de algumas instituições, criando alternativas e estudando
opções para a destinação do resíduo sólido, sobretudo com referência a compostagem, reciclagem e
a destinação nobre.
3. Metodologia
3.1 Tipo de pesquisa
O tipo de pesquisa escolhido foi um estudo descritivo exploratório, sendo que após coleta,
mensuração e análise dos dados, fez-se a correlação e descrição minuciosa da realidade
encontrada. A partir da aplicação dos questionários às construtoras, obtiveram-se as
informações necessárias para tabulação e a elaboração do trabalho.
3.2 Natureza da pesquisa
Esta pesquisa tem uma abordagem quantitativa e qualitativa pelo fato que avaliou as opiniões
e dados através da coleta de informações e, posteriormente, interpretou-se os indicadores,
levando-se a conclusão sobre os fenômenos estudados.
4
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
5
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
3) Na unidade de reciclagem, existe a catação manual dos materiais recicláveis (por meio de
colaboradores com máscaras) tais como: plástico (FIG. 4), metais (FIG. 5), madeira (FIG.
6) e paralelepípedos (FIG. 7), que poderiam prejudicar o processo das duas (2) máquinas
de reciclar alvenaria e concreto que são compostas de trituradores, esteiras e peneiras. O
material retirado dessa catação é acumulado para posterior reutilização em obras da
prefeitura municipal;
FIGURA 4: Material triado – plástico FIGURA 5: material triado - metal
6
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
É preciso frisar que a usina de reciclagem de resíduos sólidos da construção civil municipal,
estipulado tem na sua capacidade máxima, a possibilidade de processar 4.000t/mês. Estando
assim, com menos da metade de sua capacidade de processamento.
Conforme a descrição do processo relatado acima, foi elaborado um fluxograma descritivo
(FIG. 11).
7
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
8
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
9
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
No GRAF. 2, constata-se que apenas 50% das empresas de grande porte conseguem evitar os
desperdícios, que pode ser uma consequência à falta de estabelecimento operacional destas
políticas ambientais, além de uma falta de organização do processo de construção civil.
GRÁFICO 3: Índice de empresas que contribuem de alguma maneira para a reciclagem de
seus resíduos
10
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
conhecer a usina, o que se constitui como gargalo para a reciclagem dos resíduos da cidade, já
que as grandes empresas são as que mais produzem resíduos.
5 Análise dos resultados da pesquisa
Conclui-se claramente que as empresas pesquisadas de um modo geral, em relação à questão
ambiental, seguem a legislação vigente, embora reconheçam que ainda existem muitas
dificuldades para o desenvolvimento de uma consciência ambiental. Chamou a atenção o fato
de que de acordo com esta amostra a grande a maioria das empresas procuram orientar seus
funcionários em relação ao desperdício, o que demonstra que muitas empresas, primam por
uma política ambiental, mesmo que de forma não consciente.
A pesquisa revelou que a grande empresa contribui de forma significativa na reciclagem de
RCD, e assim, busca reduzir os custos e o impacto ambiental negativo da deposição da
enorme massa de entulho no meio urbano.
Constatou-se também que, os trabalhadores possuem conhecimento de assuntos relacionados
ao meio ambiente, pois existe uma política ambiental por parte da empresa, para
conscientização dos colaboradores no tema preservação.
De acordo com a pesquisa foi verificado, que as grandes e micro empresas, possuem política
de meio ambiente, mas nas pequenas empresas constata-se que não existe gerenciamento de
resíduos, embora tenham declarado que depositam seus resíduos conforme a legislação.
Percebe-se de forma clara, que nas pequenas empresas, existe omissão de informação,
por medo de fiscalização e as sanções decorrentes de suas ações, se constatado infrações.
Nas grandes empresas existe um planejamento junto aos colaboradores da questão ambiental,
e nas micro-empresas, o processo fica centralizado no dono da empresa, e não em
colaboradores que são flutuantes.
Foi verificado também, que em alguns segmentos não existe informação sobre o que é a usina
de reciclagem de resíduos sólidos, da construção civil na cidade Montes Claros – MG.
A solução preconizada para minimizar o desperdício de matérias na construção civil, bem
como atenuar a sua geração, seria, a principio, a padronização dos processos construtivos,
treinamento continuado da mão de obra e exploração racional da matéria-prima, como é
descrito no esquema abaixo (FIG. 12).
11
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
Fonte: autores
12
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
13
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
REFERÊNCIAS
ABNT –. Amostragem de Resíduos Sólidos. NBR 10.004. RJ, 2004.
AGUIAR, Wellington. Cidade de João Pessoa – A Memória do Tempo. PB: FUNESE, 2002
AGOPYAN, V. Estudos dos Materiais de Construção Civil – Materiais alternativos In.: Tecnologia
de Edificações. Pini, São Paulo, 1998.
FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de direito ambiental e
legislação aplicável. 2 ed. São Paulo: Ed. Max Limonad, 1999.
GIL, Antônio C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1996
JACOBI, Pedro. Gestão compartilhada de resíduos sólidos no Brasil: inovação com inclusão social.
São Paulo: Annablume, 2006.
PINTO, T.P. Metodologia para a gestão diferenciada de resíduos sólidos da construção urbana.
SP, 1999. Tese (Doutorado) – Escola Politécnica USP.
14
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
SOUZA, U.E.L et al. Desperdício de Materiais nos Canteiros de Obras: a quebra do mito In.;
SIMPOSIO NACIONAL – DESPERDICIO DE MATERIAIS NOS CANTEIROS DE OBRAS: A
QUEBRA DO MITO. SP, 1999. Anais São Paulo (PCC/EPUSP).
15