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O monitoramento como instrumento de gestão dos resíduos da

construção civil no município de Vitória, Espírito Santo

Monitoring as a tool for management of construction waste in


Vitoria, Espirito Santo

Daniela Azoury Nacari


Especialista em Gestão e Educação Ambiental
dany.azoury@gmail.com

Elio de Castro Paulino


Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional
eliodecastropaulino1@yahoo.com.br

Resumo
Os resíduos da construção civil, na maioria dos centros urbanos brasileiros
constitui um dos maiores problemas para o poder público e para as empresas,
principalmente por causa do gerenciamento inadequado que tem acarretado
danos ambientais. O problema ambiental gerado pelos resíduos depositados
de forma irregular em aterros clandestinos localizados em áreas abandonadas,
acostamentos de rodovias e terrenos urbanos deve ser resolvido visando à
preservação do meio ambiente.

O trabalho propõe o monitoramento e a reciclagem dos resíduos das


construções e demolições gerados no município do Vitória, Estado do Espírito
Santo, variáveis indispensáveis na concepção das cidades sustentáveis. Com
isso o entulho das obras passará a ser transformado em matéria prima
contribuindo para eliminação e deposição inadequada, através do
reaproveitamento, uma alternativa economicamente atrativa e ambientalmente
sustentável.

A solução está no desenvolvimento de um modelo de gestão integrada e


sustentável, que considera desde a geração dos resíduos, a maximização de
seu reaproveitamento e reciclagem, até o processo de tratamento e destinação
final além de um trabalho de educação ambiental voltado para os agentes
envolvidos no processo.

Palavras-Chave: Resíduos da Construção Civil. Monitoramento. Educação


Ambiental.

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Abstract
The construction waste in most urban centers in Brazil is one of the biggest
problems for the government and for companies, mainly because of inadequate
management that has caused environmental damage. The environmental
problem generated by waste deposited illegally in clandestine landfills located in
desolate areas and roadsides of urban land must be resolved in order to
preserve the environment.

This paper proposes a monitoring and recycling of waste from construction and
demolition generated in the city of Vitoria, Espirito Santo, essential variables in
the design of sustainable cities. Thus the rubble of the works will be
transformed into raw material contributing to improper disposal and landfill
through reuse, an economically attractive and environmentally sustainable.

The solution is to develop model of integrated management and sustainable,


since it considers the generation of waste, maximizing its reuse and recycling,
until the process of treatment and disposal as well as a environmental
education facing those involved in process.

Keywords: Waste of Construction. Monitoring. Environmental Education.

Introdução

Os resíduos sólidos são na atualidade um dos principais problemas que afeta a


qualidade de vida da população de Vitória, no Espírito Santo, assim como na
maioria dos centros urbanos.

Na maioria dos municípios brasileiros, os Resíduos da Construção e Demolição


- RCD constituem um dos maiores problemas para o poder público e para as
empresas, devido à falta de planos de gerenciamento, o que acarreta custos
elevados. Nas grandes cidades, e nas capitais como é o caso de Vitória, o
problema é grave, devido à grande quantidade de resíduos gerados e à falta de
áreas adequadas e disponíveis para deposição desses materiais. Descartados
inadequadamente esses resíduos causam problemas ambientais; no trânsito;
na drenagem urbana; na saúde humana; a diminuição da vida útil dos aterros
sanitários; além de impacto visual nas cidades e no bem estar da população.

Os resíduos sólidos resultam de diversos ramos da atividade industrial, a


exemplo de metalurgia, papelaria, petroquímica, alimentícia, construção civil,
dentre outras, sendo representados por cinzas, lodos, óleos, plásticos,
madeiras, papéis fibras, vidros e outros materiais. (Naumoff, Peres, 2000).

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De um modo geral, o setor da construção civil no município de Vitória, carece
da implementação de instrumentos de gestão ambiental e de projetos
construídos sob a ótica do desenvolvimento sustentável.

A demanda pela busca de soluções para resolver problemas causados pela


deposição inadequada dos resíduos da construção civil, além de contribuir para
o desenvolvimento sustentável leva em consideração suas responsabilidades
sociais, ambientais, econômicas e culturais. Por isso a reciclagem e o
reaproveitamento desses resíduos como matéria-prima para a construção civil
assumem uma significativa importância para a minimização desses problemas
ambientais causados pela geração de resíduos de atividades urbanas e
industriais, aliados a um plano integrado de gerenciamento.

Com o objetivo de contribuir para a minimização desses impactos o presente


artigo visa um monitoramento de toda a cadeia, reciclagem e o
reaproveitamento desses resíduos no mercado da construção civil no município
de Vitória a fim de evitar o desperdício adotando procedimentos e tecnologias
mais limpas para um melhor manejo e uma gestão mais eficiente para
destinação desses resíduos, minimizando a poluição do solo, do ar e da água,
além de gerar emprego, melhorar a infraestrutura urbana da cidade de forma a
contribuir para o desenvolvimento sustentável do município de Vitória.

Metodologia
Foi realizado um levantamento bibliográfico sobre a gestão ambiental dos RCD
junto ao órgão de meio ambiente do município e construtoras que atuam em
Vitória, através do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Espírito Santo
– Sinduscon-ES.

A metodologia é exploratória. A pesquisa foi realizada com base nas


características do local onde ocorre o problema para a produção documental,
de uma área sobre a qual, ainda existe pouca informação para subsídio
técnico.

Além disso, foram coletados dados sobre a gestão do RCD em obras do


Estado de São Paulo, quanto à geração e destinação de resíduos. Com base
nesses dados, foram avaliados os benefícios ambientais e de redução de
custos consequentes da triagem dos resíduos classe A.

Com subsídio bibliográfico contém referências conforme as normas aplicadas


ao setor da construção civil, informações extraídas da internet e documentação
fotográfica de locais no ano de 2012.

O presente artigo descreve a forma de implantação do monitoramento dos


resíduos da construção civil no município de Vitória e o beneficiamento para
transformar o que se constitui o rejeito poluente em matéria prima e insumo,
trazendo benefícios para o meio ambiente.
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Resultados e discussões

O Monitoramento dos resíduos de construção e demolição

Atualmente, no município de Vitória, o setor da construção civil vive um


momento de expansão econômica. Apesar de este crescimento contribuir
significativamente para a economia, ele apresenta um grande problema
ambiental: o excesso de resíduos provenientes das construções.

A problemática desses resíduos vem movendo toda a cadeia produtiva do


setor, pois esses resíduos atualmente têm sido depositados em áreas
clandestinas, em terrenos baldios ou em outras áreas públicas do país,
causando grandes impactos ambientais, tais como: comprometimento da
paisagem do local; o tráfego de pedestres e de veículos; o assoreamento de
rios, córregos e lagos; o entupimento da drenagem urbana, acarretando
enchentes; além de servirem como depósito para outros resíduos, (como restos
de poda de árvore, resíduos domésticos, industriais, etc.) propiciando o
aparecimento e a multiplicação de vetores, colocando em risco a saúde da
população, conforme figura 01.

Figura 1: Caçamba de resíduos da construção civil servindo como depósito


para outros tipos de resíduos na Praia do Canto, 15.07.2012, Fonte: Daniela A.
Nacari.

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As discussões com relação às questões ambientais envolvendo os resíduos da
construção civil no município estão diretamente ligadas com o desperdício dos
recursos naturais, e a carência de locais para deposição desses resíduos,
ocasionando um transtorno à população, demanda de investimentos
financeiros, colocando a indústria da construção civil no centro das discussões
para alcançar o desenvolvimento sustentável. Isso acontece devido à falta de
estrutura do município para destinação correta dos resíduos e a falta de um
monitoramento do setor, tendo a sua potencialidade desperdiçada.

De acordo com John (2005), a indústria da construção civil consome entre 15%
a 50% de todos os recursos extraídos da natureza. Essa quantidade coloca
esse setor como o maior consumidor individual de recursos naturais. Os
materiais utilizados geram muitos resíduos descartados que se transformam
em lixo prejudicial e de permanência no meio ambiente.

O processo de reaproveitamento de materiais para transformá-los em matéria-


prima é denominado de reciclagem. A reciclagem se constitui em um conjunto
de técnicas que visam ao aproveitamento de detritos, reutilizando-os no mesmo
ciclo de produção de onde se originaram (Abreu, 2001).

Tendo por base o processo de reaproveitamento de materiais, para


implementar o monitoramento, faz-se necessário identificar e descrever as
responsabilidades dos agentes envolvidos no processo para que dê
sustentação ao sistema de gestão proposto. É importante que o poder público
preserve seu papel de órgão gestor no sistema implantado, gerenciando
melhor suas estruturas e renovando seus procedimentos de informação e
fiscalização.

Calderoni apud Ribeiro e Morelli (2009) cita alguns fatores econômicos,


ambientais e sociais mais relevantes que levam ao incentivo à reciclagem: a
exaustão de matérias naturais; os custos crescentes de obtenção de matérias
primas; a economia de energia; a indisponibilidade e custo crescente dos
aterros sanitários; os custos de transportes crescentes; a poluição e prejuízos à
saúde pública; a geração de emprego e renda e a redução dos custos de
produção.

O trabalho propõe que o Sinduscon, responsável pelo monitoramento, faça o


controle dos grandes geradores das empresas filiadas ao sindicato com o
intuito de atender aos critérios ambientais. Por sua vez o órgão gestor de meio
ambiente Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Vitória - SEMMAM será
responsável pela fiscalização do monitoramento, exercendo o comando no
cumprimento do licenciamento ambiental.

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As empresas são responsáveis pela elaboração e implementação do programa
de gerenciamento de resíduos cujo objetivo é estabelecer os procedimentos
para o manejo e destinação adequados no decorrer da construção da obra por
meio da caracterização dos resíduos e indicação de procedimentos para
triagem, acondicionamento, transporte e destinação, conforme a Resolução
CONAMA nº 307/02.

Os transportadores de resíduos deverão ser cadastrados junto ao Sinduscon e


serão responsáveis pela disponibilização da caçamba, coleta e transporte dos
resíduos para a Usina de Triagem e Reciclagem, que deverá ser filiada ao
sindicato. A usina deverá ser implantada e operada pelos geradores com o
objetivo de receber a destinação final dos resíduos. Esse material será
reciclado e deverá retornar ao mercado para o consumo. O monitoramento
abrangerá toda cadeia operativa, do início da obra, até a deposição final e
deverá ser gerenciado por um núcleo gestor ligado ao sindicato que fiscalizará
de forma a ter o controle sobre estes resíduos.

Segundo Seiffert (2011), a responsabilidade pós-consumo do produtor pelo


resíduo gerado ao fim da vida útil do produto é um dos princípios básicos da
logística reversa, fundamental para a gestão compartilhada dos resíduos,
envolvendo diversos participantes na cadeia produtiva, como fabricantes,
distribuidores, comerciantes, importadores, consumidores e poder publico.

Educação Ambiental
O monitoramento começa a ser implantado com um programa de informação e
sensibilização, através das estratégias de Educação Ambiental - EA com o
objetivo de mudar o atual comportamento e criar uma nova postura no manejo
desses resíduos. Estas estratégias acompanhadas de um programa de
monitoramento e fiscalização.

Entre as estratégias estão: a divulgação junto aos grandes geradores sobre a


correta deposição de resíduos no município; a divulgação para os
transportadores, incluindo o cadastro para estimular junto ao Sinduscon e à
SEMMAM; esclarecimento sobre as novas alternativas para a redução e a
valorização de resíduos; a realização de atividades de caráter técnico para
disseminação de informações relacionadas à utilização de agregados
reciclados na construção civil; criação de campanhas educativas junto à
população; elaboração de programa de comunicação social no município para
atendimento a população e treinamentos para os operadores das caçambas
sobre legislação ambiental, logística e sustentabilidade.

Gestão das construtoras


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O projeto de gerenciamento de resíduos será apresentado ao Sinduscon pela
empresa, para avaliação e aprovação, com a finalidade de estimar a
quantidade de resíduos gerados e classifica-los em cada etapa da obra, por
exemplo, na etapa de escavação, o solo é um resíduo significativo, já o aço
não existe, é necessário propor medidas que reduzam a geração desses
resíduos e definir a destinação correta de todos os resíduos gerados.

A triagem dos resíduos começa na fonte, onde o valor agregado é muito maior
e a contaminação é menor, separados em diferentes classes, dependendo da
fase da construção, a geração de resíduo difere muito no que se refere às
porcentagens de cada tipo de classe. Por isso é fundamental que seja
implantado um sistema da gestão nos canteiros de obras a fim de reduzir os
resíduos mediante parâmetros definidos pelos grupos de trabalho.

Com a definição dos procedimentos da empresa, associada às diretrizes da


legislação competente, o sistema da gestão ambiental fará uma contabilidade
de ativos e passivos ambientais, da seguinte forma: fluxo de entrada x fluxo de
saída, cuja contabilidade seja essencial à redução no fluxo de saída de
resíduo, como também a redução no fluxo de entrada, pois se faz necessário
diminuir a extração de agregados da natureza, ou seja, todo planejamento
ambiental contempla a diminuição do ônus ambiental. Essa redução ocorre
com a diminuição dos resíduos gerados como também com a redução da
extração de jazidas da natureza.

Ao se iniciar a obra a empresa geradora deverá realizar uma reunião com o


objetivo de disseminar os conceitos do programa para toda a equipe envolvida
no processo de implantação e manutenção do gerenciamento de resíduos,
inclusive junto aos colaboradores. Deve ter a presença da direção técnica da
construtora, direção das obras envolvidas (incluindo mestres e encarregados
administrativos) e responsáveis por qualidade, segurança do trabalho e
suprimentos, etc. O principal objetivo é identificar os impactos ambientais
provocados, as deficiências do processo de gerenciamento dos RCD e como
será feito o processo adequado dos resíduos durante a execução da obra.
Cabe ao Sinduscon e à SEMMAM identificar in loco as características do
canteiro, com objetivo de adequar as práticas às exigências da Resolução
CONAMA n° 307/02 e do programa de gerenciamento de resíduos apresentado
pela empresa, avaliando: funcionários e equipes; área construída; o arranjo
físico do canteiro de obras (distribuição de espaços, atividades, fluxo de
resíduos e materiais e equipamentos de transporte disponíveis); tipos de
resíduos; a empresa contratada para remoção dos resíduos; e sobre os locais
de destinação (coletores) utilizados pela obra.

A empresa geradora irá solicitar os containers (caçambas de entulhos) que são


destinadas à coleta de resíduos sólidos, entulhos e materiais diversos, não
orgânicos. É de responsabilidade do gerador, controlar a qualidade da

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separação, já que caso haja contaminação entre as classes, a viabilidade do
tratamento dos resíduos gerados diminui, podendo até inviabilizá-la. O gerador
deverá optar pela alternativa que torne mais eficiente o processo de geração e
segregação, considerando as oportunidades de valorização e de disposição
para garantir a qualidade dos resíduos, além de evitar o retrabalho na
reciclagem.

Na implantação do programa de gestão dos resíduos no canteiro, devem ser


levado em conta questões que viabilizem o projeto como: sinalização e
ordenação de fluxos de transporte de materiais e resíduos no canteiro;
treinamento dos colaboradores envolvidos na execução da obra, inclusive de
empresas terceirizadas; adoção de dispositivos de transporte e captação
diferenciada de resíduos; orientações para reuso desses resíduos no próprio
canteiro; destinação para cada tipo de resíduo não reutilizado; aproveitamento
de blocos, madeiras, cerâmicas, ferros e restos de argamassas.

Observa-se que o projeto estrutural do canteiro de obras é uma grande


ferramenta logística de construção devida definição dos fluxos físicos, de
elaboração do projeto, tem que ser equacionado com disposição dos resíduos
levando em conta os aspectos quanto ao acondicionamento diferenciado e a
definição de fluxos eficiente de informações.

O gerenciamento do sistema requer preenchimento de formulários para avaliar


o desempenho da obra por meio de auditorias, relatórios periódicos, a fim de
avaliar itens como: a limpeza, triagem e destinação dos resíduos pelos próprios
funcionários da empresa. Isso irá servir de referência para o responsável pela
obra atuar na correção das discrepâncias, tanto nos aspectos da gestão interna
dos resíduos – no canteiro de obra, como da gestão externa - remoção e
destinação. Os treinamentos devem ser ministrados sempre que houver
necessidade ou com a entrada de novos empreiteiros ou operários.

A empresa que fará o transporte dos resíduos para a usina deverá ser
cadastrada junto ao Sinduscon e credenciada para retirar os resíduos gerados
nos canteiros de obras. Ela disponibilizará as caçambas com a relação dos
resíduos que podem ser depositados, além de estarem aptos a fornecerem um
comprovante da destinação final desses resíduos. O transporte deverá ser feito
com cobertura rígida ou lona resistente, para que não ocorra o vazamento da
carga.

O controle dos resíduos será feito por um formulário, denominado Controle de


Transporte de Resíduos – CTR, que permita o rastreamento, com informações
básicas como: informações gerais do gerador (nome, razão social, obra,
endereço de coleta, tipo e quantidade do resíduo transportado); informações
gerais do transportador (nome ou razão social, CNPJ, inscrição municipal, tipo
do veículo e placa); informações gerais sobre o destinatário do resíduo (nome

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ou razão social, endereço de destinação). O CTR servirá como registro da
destinação correta dos resíduos.

Para agregar valor ambiental aos empreendimentos e incentivar as empresas


do setor a adotarem o monitoramento, um selo verde poderá ser criado pelo
Sinduscon.

A Usina de triagem e reciclagem


A Usina de Triagem e Reciclagem será filiada ao sindicato patronal servindo
como estratégia de gestão no processo de reciclagem de RCDs. O processo
usado na fábrica recolhe resíduos do tipo A, que inclui a caliça das obras de
construção (restos de material cerâmico, concreto, argamassa) e tritura,
transformando os materiais em areia, brita, pedrisco e rachão, ou seja, entra
como resíduos e saí como matéria prima. Esses insumos serão
comercializados e tendo uma nova utilização na construção civil com o preço
mais acessível que os produtos não reciclados, minimizando os custos de uma
obra e evitando a extração de materiais no meio ambiente.

Grande parte destes materiais, quando separados, pode ser transformada em


matéria-prima de excelente qualidade, respeitando suas características físico-
químicas. Os agregados reciclados podem ser utilizados na regularização de
níveis, substituição progressiva dos agregados naturais utilizados na fabricação
de concreto, argamassa e artefatos de concreto (piso, vasos, blocos de
alvenaria, tubos de drenagem, entre outros).

Esses resíduos têm um elevado potencial, podendo ser utilizados em


aterramentos e reconstituição de terreno; execução de estacas ou sapatas para
muro de pequenas cargas; lastro e contrapiso em áreas comuns externas e
passeios públicos; sistema de drenagem em estacionamentos, poços de
elevadores e floreiras; assentamento de blocos e lajotas e enchimento em
geral: alvenarias, lajes desniveladas e escadarias.

A reciclagem favorece o reaproveitamento dos resíduos atribuindo-lhes valor a


partir de sua transformação, promovendo assim o aumento da vida útil dos
aterros, a preservação dos recursos naturais e da qualidade de vida urbana, ou
seja, gerando lucro e não destruindo o meio ambiente.

Podem ser encaminhados para a usina os seguintes resíduos: fragmentos de


alvenaria de componentes cerâmicos, de blocos de concreto, de concreto
armado ou não, sem fôrmas; fragmentos de lajes e de pisos; argamassas de
cal, de cimento ou mistas, de assentamento ou revestimento; componentes de
concreto ou cerâmico: blocos, tijolos, telhas, tubos, briquetes, lajotas para laje;
fragmentos de pedra britada e de areia naturais, sem presença significativa de
terra ou outros materiais.
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A usina contempla as seguintes instalações: recepção e análise visual dos
resíduos recebidos; disposição em áreas para triagem; triagem e retirada de
contaminantes dos resíduos; manejo, estocagem e expedição de rejeitos;
processamento dos resíduos (pré-classificação, britagem, peneiração,
rebritagem e transporte); retirada de contaminantes após a britagem
(impurezas metálicas ferrosas e outras); pilhas de agregado reciclado na forma
de “brita corrida”; pilhas de agregados reciclados peneirados; estocagem de
agregado reciclado e a expedição.

Os resíduos serão transportados até o pátio de recebimento da usina e


armazenados em pilhas com características semelhantes. Em seguida ocorre a
triagem que promove a separação de outros materiais recicláveis (lembrando
que esses resíduos deverão chegar à usina, já separados corretamente da
fonte, pois a empresa geradora poderá ser autuada) sendo estes
encaminhados para uma área especifica da usina. Os resíduos que não forem
de classe A serão separados e encaminhados para a destinação correta.

Os equipamentos utilizados nas usinas de reciclagem são semelhantes aos


utilizados pelas empresas mineradoras, como correias transportadoras,
eletroímãs, britadores de impacto, conjunto de peneiras e classificadores de
granulometria. Após a reciclagem desses resíduos ele é estocado e retornando
ao mercado como insumos para as empresas de construção civil. Isso irá
contribuir significativamente para redução dos impactos causados por esses
resíduos no município de Vitória, trazendo benefícios sociais, ambientais
econômicos além de viabilizar o retorno de materiais, por meio dos canais
reversos de distribuição agregando valor ao produto.

O presente trabalho mostra que o manejo adequado do RCD requer um


programa de informação, mobilização social, controle e fiscalização e uma
mudança da postura existente no município. O descumprimento de cada regra
acarretará penalidades que permitirão o disciplinamento desses diversos
agentes.

Entre as principais ações implementadas nesse programa estão: o


monitoramento dos riscos e impactos ambientais resultantes da implantação do
plano; fiscalizar a adequação de todos os agentes geradores e coletores às
normas do novo sistema de gestão, inclusive seu cadastro junto ao órgão
fiscalizador; fiscalizar a ação dos geradores, inclusive quanto ao correto uso
dos equipamentos de coleta, de forma que eles não repassem aos coletores as
responsabilidades que não lhes competem; fiscalizar a existência e
cumprimento dos Programas de Gerenciamento de Resíduos dentro dos
canteiros de obra; acabar com a operação de bota foras e o surgimento de
outras áreas para a deposição de RCD não licenciadas e incompatíveis com o
novo sistema de gestão; estabelecer instrumentos de registro sistemático das
ações de fiscalização e controle empreendidas de maneira a tornar possível a

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avaliação periódica da sua eficácia e aperfeiçoamento; controlar
estatisticamente, ou seja, da geração e da destinação final adequada dos RCD
no sentido de se averiguar a gestão dos resíduos no município de Vitória.

O construtor antes de iniciar a obra deverá fazer um levantamento da


quantidade e tipo de resíduo gerado. Os quantitativos devem ser
encaminhados ao órgão gestor de meio ambiente, SEMMAM, pelo Sinduscon,
por meio de formulário. Durante a execução da obra o órgão gestor de meio
ambiente e o Sinduscon fiscalizam se os procedimentos estão conforme o
estabelecido no programa de gerenciamento de resíduos.

No final da obra, o construtor deverá prestar conta dos resíduos gerados


através de um relatório que contenha informações sobre a quantidade prevista
e a quantidade gerada, como também a empresa responsável pelo transporte e
o local da destinação final.

Figura 02: Fluxo das atividades desenvolvidas no monitoramento dos resíduos.


Organizador por: Daniela A. Nacari.

Conclusões
As mudanças na construção civil no Espírito Santo foram relevantes no que se
refere ao processo de transformação, através do qual, o estado alcançou um
novo patamar de complexidade, diversidade e integração nacional e
internacional.
Os complexos industriais começaram a ser implantados nos anos de 1970
sendo um marco da história econômica do estado. Nesta época, foram
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realizados vultosos investimentos que vieram resultar na implantação dos
grandes projetos industriais e todo um complexo infraestrutural de apoio. Nesse
período, a economia cresceu a taxas maiores que a média nacional,
demonstrando acerto da estratégia adotada, aproveitando o seu potencial de
desenvolvimento.
Atualmente, percebe-se uma nova economia que se desenvolve sem
desgarrar-se do seu passado, porém incorporando novos valores e novas
frentes de expansão. Essa nova revolução, que tem ocorrido no estado, se
expressa no setor da construção civil.

O estudo mostra a necessidade da adoção de uma metodologia para a gestão


dos resíduos de construção e demolição no município de Vitória, em função de
sua expressiva presença no município que vem prejudicando a qualidade de
vida e o desenvolvimento da cidade. Isso ocorre devido à falta de um plano de
gerenciamento de resíduos, em que possa indicar estratégias para a redução e
de como proporcionar um destino final aos resíduos produzidos. Outro fator
relevante é devido o município não possuir controle sobre a quantidade, o tipo,
e o que vem sendo feito com os resíduos gerados na cidade, bem como a falta
de monitoramento e conhecimento sobre as áreas de deposição imprópria,
além de utilizarem estes materiais como base em aterramento, sem dar uma
solução adequada ao problema.

Como existem os marcos regulatórios, a saber: a Lei nº 12.305/10 que institui


a Política Nacional de Resíduos Sólidos; a Resolução CONAMA nº 307/02 que
foi alterada pela Resolução nº 448 que estabelece diretrizes, critérios e
procedimentos para gestão dos resíduos da construção civil; a Lei Estadual
9.264/09 que institui a Política Estadual de Resíduos Sólidos e dá outras
providências correlatas e a Lei Estadual 9.882/12 que dispõe sobre a Política
Estadual de Reciclagem de Materiais, o que falta é o município de Vitória
implementar estratégias de ação, contidas no Plano Municipal de
Gerenciamento de Resíduos Sólidos.

Algumas ações já foram realizadas pelo Estado como podemos citar: a criação
do Comitê Gestor de Resíduos Sólidos (Decreto 1730-R de 01 setembro de
2006), o Projeto Espírito Santo sem Lixão que tem como objetivo principal a
implantação de sistemas regionais para a destinação final dos resíduos sólidos
urbanos contribuindo assim para a erradicação dos lixões existentes no Estado
e a publicação da Política Estadual de Resíduos Sólidos (Lei nº 9.261/2009). O
que falta é o Estado elaborar a Política Estadual de Resíduos Sólidos com os
fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos para uma gestão integrada,
compartilhada e participativa de toda a sociedade, tendo como foco a redução,
o reaproveitamento e o gerenciamento adequado dos resíduos.

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A metodologia proposta visa um conjunto integrado da gestão dos resíduos da
construção civil a fim de criar regulamentações que consolide as novas
responsabilidades e posturas dos agentes envolvidos, identificando os papéis
por eles desempenhados e sua articulação; a integração dos aspectos
ambientais, sociais, institucionais e políticos para assegurar a sustentabilidade;
participação da sociedade; o papel dos grandes geradores, poder público,
poder privado para que haja um monitoramento eficaz.

Para os problemas detectados pela má disposição dos resíduos, a proposta foi


implantação de uma Usina de Triagem e Reciclagem filiada junto ao Sinduscon
como forma de valorização desses resíduos além de permitir um ciclo fechado
para os materiais utilizados na construção civil. A reciclagem dos RCD irá
resultar em um produto de desempenho adequado, além de ser uma forma de
contribuição para a redução do impacto ambiental.

A gestão ambiental dos resíduos, juntamente com o conceito de


sustentabilidade na construção civil, deve ser encarada como ferramenta que
auxilia no processo produtivo e de melhoria contínua, com o objetivo
racionalizar os resíduos sólidos, bem como propiciar ganhos reais em todos os
processos.

O crescimento vertiginoso que o Estado enfrenta faz com que o município se


torne cada vez mais atraente para as populações que alimentam o crescimento
urbano. É estratégico que o setor da construção civil contribua para o
desenvolvimento de uma cidade sustentável dispondo de um instrumento de
gestão de resíduos da construção civil proporcionando ao cidadão uma
melhoria na qualidade de vida através de ações concretas que envolvam os
critérios econômicos, sociais, buscando-se a preservação do meio ambiente
através da conservação dos recursos hídricos e de um maior controle das
áreas públicas.

Recomenda-se que o município adote Sistema Integrado de Gestão para os


Resíduos da Construção Civil, a elaboração do Plano Municipal de Resíduos
Sólidos conforme previsto na PNRS, além do monitoramento como regra para
construção civil desenvolvendo um trabalho de educação ambiental no
segmento e criando instrumentos para que haja um manejo adequado dos
resíduos visando um projeto sustentável, tanto do ponto de vista econômico-
financeiro, quanto em relação ao meio ambiente.

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