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Hortas Urbanas : Uma alternativa sustentável para o

desenvolvimento de cultivos em espaços urbanos utilizando


compostagem como componente resultante do tratamento dos
resíduos sólidos urbanos.

LEONARDO SANTANA DA SILVA CABRAL 

Resumo

Diante dos vários problemas ambientais que vivenciamos, a geração dos


resíduos sólidos e consequentemente o seu tratamento e disposição final
inadequados são fatores cruciais que contribuem para a ocorrência de
impactos ambientais significativos sob a perspectiva do crescimento
populacional acelerado e a falta de planejamento dos centros urbanos, nos
países em desenvolvimento como o Brasil nas zonas urbanas problemas como
poluição do solo, poluição hídrica, poluição atmosférica, proliferação de vetores
de doenças e enchentes em épocas de chuva evidenciam falhas no
gerenciamento do sistema de saneamento básico pelos órgãos competentes
legitimando conflitos socioambientais e socioeconômicos, tendo em vista a
necessidade de mitigação destes impactos ambientais as ações que
contemplam a base da responsabilidade social e a educação ambiental como
reduzir , reutilizar e reciclar, sensibilizando e informando a sociedade
objetivando a consciência ambiental é de extrema e necessária importância.
Nas zonas urbanas iniciativas de Agricultura Urbana como as Hortas
Comunitárias promovem uma mobilização social na transformação de espaços
ociosos e problemáticos em espaços saudáveis atribuindo a comunidade
envolvida a reconexão com a natureza e percepções ambientais através de
técnicas de plantio e cultivo de culturas hortícolas utilizando a ferramenta de
compostagem para fabricação do composto orgânico usado como adubo, uma
forma para tratamento e destinação final dos resíduos sólidos urbanos
orgânicos, o fomento dessas atividades no campo da teoria e prática
potencializam o exercício de boas práticas sustentáveis além de propor
iniciativas que garantam a segurança e soberania alimentar , qualidade de vida
e qualidade ambiental integrando modelos de sustentabilidade para promover o
bem-estar humano.

Palavras-chave: Resíduos sólidos urbanos, Hortas comunitárias ,


Compostagem , Agricultura urbana

Abstract

Given the various environmental problems we experience, the generation of


solid waste and consequently its inadequate treatment and final disposal are
crucial factors that contribute to the occurrence of significant environmental
impacts from the perspective of accelerated population growth and the lack of
planning in urban centers, in developing countries such as Brazil in urban
areas, problems such as soil pollution, water pollution, air pollution, proliferation
of disease vectors and flooding in rainy seasons show failures in the
management of the basic sanitation system by Organs competent bodies,
legitimizing socio-environmental and socio-economic conflicts , in view of the
need to mitigate these environmental impacts, actions that include the basis of
social responsibility and environmental education such as reducing, reusing and
recycling, raising awareness and informing society aiming at environmental
awareness is of extreme and necessary importance .In urban areas, Urban
Agriculture initiatives such as the Community Gardens promote social
mobilization in the transformation of idle and problematic spaces into healthy
spaces, giving the involved community the reconnection with nature and
environmental perceptions through techniques of planting and cultivation of
horticultural crops using the composting tool for the manufacture of organic
compost used as fertilizer, a form of treatment and final destination of organic
urban solid waste, the promotion of these activities in the field of theory and
practice enhance the exercise of good sustainable practices in addition to
proposing initiatives that guarantee safety and food sovereignty, quality of life
and environmental quality by integrating sustainability models to promote
human well-being.

Keywords: Urban solid waste, Community gardens, Composting, Urban


agricultures 

1. INTRODUÇÃO

            O meio ambiente e seus ecossistemas estão sofrendo pressões


significativas e suas funções sobrecarregadas além de sua capacidade do
limite de suporte à vida devido ao modo de produção e consumo exacerbado a
que os seres humanos estão inseridos. O  sistema econômico convencional
controlado pelas grandes corporações trazem grande desequilíbrio à
sustentabilidade pelo modo como operam os recursos naturais
consequentemente impactando ao bem estar humano, alguns dos principais
problemas que perpetuam o desequilíbrio ambiental como geração dos
resíduos sólidos  e exploração dos recursos naturais, entrada, processamento
e saída da matéria-prima ao produto final e isto nos leva  a reflexão de como é
delicado e urgente este contexto , Na perspectiva de Bohm et al. (2017)  não
há preocupação sobre processo e destinação final  do produto em um 
cotidiano social consumista, é primordial a necessidade do conhecimento sobre
educação e percepção ambiental na base metodológica do ensino e
aprendizagem.
        Os grandes centros urbanos acomodam uma parcela significativa da
população mundial e a engrenagem corporativista que movimenta
constantemente o sistema capitalista injeta um certo descuido e desrespeito
para com os recursos naturais gerando os mais variados tipos de resíduos a
partir do modelo de produção convencional e agressivo ao meio ambiente,
concretizando o desperdício dos recursos naturais como energia e alimento de
boa qualidade, induz um modo consumista, prejudicial e subliminar que se
instala efetivando uma mudança repentina refletida na população que se
concentra nestes centro urbanos, atitudes e hábitos fixados pelo comodismo,
praticidade e imediatismo geram conflitos e impactos ambientais negativos.
          No Brasil as zonas urbanas apresentam diversos problemas estruturais
como expansão descontrolada, crescimento populacional e saturação dos
aterros sanitários, agravantes que culminam na constante dos resíduos sólidos
dispostos de maneira inadequada tornando a cidade um ambiente passivo de
desorganização, poluição e conflitos demográficos contribuindo para alterar de
forma negativa a qualidade de vida, outro ponto preocupante se trata do
desequilíbrio ambiental dos ecossistemas que se estende até as cidades
refletindo  aspectos de fragilidade na saúde e na alimentação populacional.
       Iniciativas de Agricultura Urbana como as Hortas Comunitárias promovem
uma mobilização social na transformação de espaços ociosos e problemáticos
nas zonas urbanas em espaços saudáveis que contribuem qualidade de vida
da comunidade envolvida, reconexão com o meio natural e percepções
ambientais através de técnicas de plantio e cultivo de culturas hortícolas
fortalecendo as relações socioambientais e promovendo a construção de
ambientes mais sustentáveis.
      Diante deste argumento o presente estudo pretende elaborar uma síntese a
partir da pesquisa bibliográfica sobre os aspectos gerados pela perspectiva da
aplicação das hortas urbanas utilizando a compostagem como elemento de
tratamento e disposição final dos resíduos sólidos nas cidades.
    
2. REFERENCIAL TEÓRICO

  2. 1 RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS ORGÂNICOS E COMPOSTAGEM


(MATÉRIA ORGÂNICA)
       Os resíduos sólidos possuem duas classificações: Classe 1
(perigosos),aqueles que apresentam periculosidade possuindo características
como inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e patogenicidade
causando risco à saúde pública e danos ao meio ambiente se dispostos de
forma incorreta; Classe 2 (não perigosos), esta classe apresenta duas
divisões, A (não inertes), são os que apresentam solubilidade em água,
biodegradabilidade e combustibilidade, e B (inertes), não possuem
solubilidade em concentrações superiores ao padrão de potabilidade da água
exceto ao aspecto de cor, turbidez, dureza e sabor (ABNT, 2004). 
    No Brasil durante o ano de 2020 a pandemia de COVID 19 ocasionou
influência direta no que se diz respeito a geração de RSU, um total de 82,5
milhões de toneladas geradas, ou 225.965 toneladas diárias, em média cada
brasileiro gerou 1,07 kg/dia (ABRELPE, 2021).
     O aumento substancial da geração de resíduos sólidos urbanos, devido ao
crescimento populacional das sociedades de consumo, tem constituído um
grande problema ambiental (WANGEN; FREITAS, 2010). No Brasil mais de
50% da composição dos resíduos urbanos é matéria orgânica suscetível à
compostagem (CAPRARA; REICHERT, 2015).
       De acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a destinação final
ambientalmente adequada para os resíduos inclui a reutilização, reciclagem,
compostagem, recuperação e o aproveitamento energético até a disposição
final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos
ou riscos à saúde pública e à segurança e a minimizar os impactos ambientais
adversos (BRASIL, 2010).
           Os resíduos orgânicos que representam cerca de 50% dos resíduos
urbanos gerados no Brasil, tem a particularidade de poderem ser reciclados por
meio de processos como a compostagem, em qualquer escala, desde a
doméstica até a industrial, além de alternativas como enterramento,
vermicompostagem com utilização de minhocas, biodigestão, incineração que
fazem parte do grupo de diversificadas formas de tratamento e disposição final
(MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2018).
         A NBR 13.591 (ABNT, 1996) define que o processo de compostagem
ocorre através da decomposição biológica da fração orgânica biodegradável,
processada por micro-organismos em variadas condições ambientais
específicas. A compostagem pode ser entendida como reprocessamento de
matéria vegetal e animal. Meirelles & Rupp, (2005, p.29), corrobora que
composto orgânico é o nome que se dá ao adubo obtido de diversas fontes de
matéria orgânica processada de maneira específica obtendo como produto final
convertidos ou estabilizados.
         O método de obtenção do composto orgânico é simples, seguro e garante
um produto uniforme, pronto para ser incorporado nos cultivos de plantas, pode
ser realizado em escala doméstica, comunitária ou municipal necessitando 
entendimento e otimização para sua operação evitando problemas como
geração de odores e proliferação de vetores de doenças, para um melhor
processo de compostagem é necessário uma mistura adequada de resíduos
úmidos ricos em nitrogênio e de matéria seca rica em carbono (MINISTÉRIO
DO MEIO AMBIENTE, 2018).
      Os principais produtos da compostagem são apresentados no esquema
simplificado mostrado na figura 1.

      Figura 1 - Esquema simplificado do processo de compostagem


     (Fonte: Fernandes e Silva, 1999 p.16)

       O processo de compostagem pode ser estático e  ou lento, compostagem


natural como resultado, obtida de forma passiva superando os 100 dias; rápido
e ou dinâmico onde acelera-se o processo através de condicionantes
específicos como enzimas e aeração forçada agindo como catalisadores e em
alguns casos de 35 a 40 dias para obtenção do composto(PIRES, 2011).
         A compostagem natural consiste na composição de pilhas (Figura 2) com 
a matéria orgânica para ser decomposta e medidas aproximadas para
revolvimento manual, 1m de altura e 2 m de largura de base, e 2 m de altura e
4 m de base para revolvimento mecânico. A mistura deverá conter uma relação
uma relação Carbono/Nitrogênio entre 25:1 e 35:1. Em decorrência das
reações de metabolismo dos microrganismos em alguns dias ocorrerá uma
elevação da temperatura para aproximadamente 70°C. Para o provimento de
oxigênio é recomendado o revolvimento a cada três dias, após o término a
temperatura retornará aos 70° C repentinamente até o 70° dia, estando o
material semicurado e a temperatura estabilizada, ambiente. Finalizado o
processo o composto estará pronto entre 90 e 120 dias. O método pode
apresentar algumas dificuldades como necessidades de áreas extensas para
integração das leiras e o revolvimento apresentando também impactos
ambientais derivados de líquidos percolados, chorume,produção de gases e
geração de odores e proliferação de vetores de dificultoso manejo (PIRES,
2011).

       

        Figura 2 - Pilhas em pátio de compostagem. Fonte: (MMA, 2010)

           A compostagem acelerada é otimizada em pilhagem estáticas para que


ocorra o processo de aeração (Figura 3) e podem ser introduzidos variados
tipos de resíduos orgânicos, resíduos urbanos domésticos, resíduos de
varrição de poda vegetal. A aeração da pilhagem estática processa por meio de
tubos com furos para a aeração e exaustão onde é inoculado material orgânico
para a decomposição. Esta pilhagem pode ter de de 2 a 2,5 m de altura, usa-se
uma fração de composto curado e peneirado para revestimento com o objetivo
de reduzir odores característicos. Cada pilhagem possui um soprador ou
exaustor para manejo da aeração. Leva-se de três a quatro semanas para a
compostagem e para cura do material de quatro a cinco semanas (Pires, 2011).

             
              Figura 3 - Leiras estáticas aeradas. Fonte: Bruni, V. C. (2005), p. 27

      O composto orgânico de alta qualidade serve como fertilizante orgânico em


diferentes aplicações, adubo para hortas e jardins urbanos, agregando na
ampliação de áreas verdes, multiplicação da biodiversidade e da segurança
alimentar e do surgimento das cidades mais saudáveis e resilientes se
apresentando como alternativa de destinação ambientalmente correta, baixo
custo e captação pela população (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2018).
O uso desse tipo de adubo promove alimentos saudáveis, oriundos de uma
produção livre de produtos químicos (ANDRADE; PINHEIRO; OLIVEIRA,
2017).

2.   2   AGRICULTURA URBANA E A CULTURA DA  SUSTENTABILIDADE

         Para Mikhailova (2004) desenvolvimento sustentável é aquele que


melhora a
qualidade da vida do homem na Terra ao mesmo tempo em que respeita a
capacidade de produção dos ecossistemas nos quais vivemos.
       A sustentabilidade idealizada como um caminho a ser desenvolvido tendo
os processos ecológicos e energéticos são atrelados a educação ambiental
como base de apoio coletivo por via da modelagem de projetos utilizando
ferramentas de tratamento de resíduos sólidos como a reciclagem  no ciclo
socioeconômico (ACSERALD, 1999).
     Diante dos reflexos negativos da urbanização surgem alternativas que buscam
soluções para as consequências desta realidade, de forma a contribuir para a
sustentabilidade das cidades (BORGES, 2019).
      Acselrad (1999) em seu ponto vista trabalha a ideia de que no conceito de
sustentabilidade urbana várias matrizes de análises são levadas em
consideração tais como ecoeficiência e qualidade de vida, visando evitar o
desperdício, atribuindo a aplicação de políticas públicas nas zonas urbanas,
equidade e justiça social, atribuindo perspectivas de escala para a 
compreensão do  crescimento desordenado socioeconômico e a pressão sobre
os recursos ambientais renováveis e não-renováveis, autossuficiência nacional
frente à economia externa mundial , valores éticos e culturais necessários ao
desenvolvimento sustentável.
      No contexto em que vivemos, praticar modos sustentáveis de existência
configura uma resistência às lógicas que o capitalismo assume em nossas
sociedades (CARVALHO; SCHMITT; Pereira, 2021). A partir do início deste
século, o apoio a hortas urbanas e periurbanas no Brasil passou a fazer parte
da política nacional de redução da pobreza e garantia de segurança alimentar
(BRANCO; MARINA CASTELO & AlCÂNTARA, 20110).
    A agricultura urbana é aquela praticada na cidade, cultivando, produzindo,
processando, criando e distribuindo diversos produtos alimentares ou não,
utilizando-se dos recursos humanos e materiais, produtos e serviços
encontrados dentro ou ao redor da área urbana(PÉRICO, 2010)
      Borges (2019) afirma que iniciativas de Agricultura Urbana (AU) COMO
Hortas Comunitárias destacam-se pelo fato de mobilizar uma comunidade em
torno da transformação de espaços muitas vezes degradados e ociosos, em
espaços saudáveis fornecedores das mais variadas hortícolas, desta forma a
Agricultura Urbana é uma peça fundamental na iniciativa da sustentabilidade
capaz de transformar positivamente a qualidade de vida urbana (COMELLI,
2015). A sua prática em espaços urbanos e periurbanos pode objetivar a
segurança alimentar, a geração de renda, a inclusão social e as interações
socioambientais, além de contribuir para o aumento de espaços verdes
urbanos (Medeiros; Silva; Ataíde, 2015).
    Segundo Barata (2017) as hortas urbanas são instrumentos de importante
relevância em diversos aspectos, pois as mesmas através do seu potencial
desenvolvem um sistema mantenedor de processos ecológicos ambientais e
locais tanto como a biodiversidade e ecossistemas urbanos que culminam em
um potencial melhoria econômica e alimentar. Estas iniciativas têm surgido em
diferentes contextos urbanos através de debates sobre uma óptica de
aplicação e a redefinição dos espaços públicos urbanos no Brasil e no mundo
(CARVALHO; SCHMITT; PEREIRA, 2021, p.175). Esta prática proporciona
diversificadas vantagens como produção de alimentos nutritivos e livre de
pesticidas desde que acompanhadas todas as fases de produção para o
controle de qualidade, aplicabilidade das ferramentas de tratamento dos
resíduos sólidos urbanos como reciclagem e compostagem, otimização dos
espaços públicos ociosos para maior interação da comunidade  desenvolvendo
através das ações em conjunto o plantio de hortas para fins medicinais e
ornamentais tendo em vista o potencial farmacêutico natural  e estético das
plantas gerando emprego e renda (ROESE; CURADO, 2004).
    Périco (2010) em sua pesquisa, corroborando as afirmativas anteriores sobre
Agricultura Urbana  menciona a formação de microclimas através do cultivo
agroecológico como consequência a manutenção e conservação da
biodiversidade, provendo formação de sombra; odores agradáveis, contribuindo
para manter a umidade local, bem-estar social e qualidade de vida aos animais,
escoamento das águas da chuva que se infiltram no solo onde a
permeabilidade é facilitada atentando para a cobertura e proteção do solo
favorecendo a infiltração e diminuindo o risco de erosão retendo o escoamento
para as vias públicas, diminuição da temperatura devido ao aumento de áreas
verdes e entre outros aspectos.
      A manutenção das hortas, principalmente em áreas vulneráveis, pode
relacionar-se também com o acesso à alimentação, segurança e à soberania
alimentar (CARVALHO; SCHMITT; PEREIRA, 2021)

2.  3   CULTIVO ORGÂNICO


    O surgimento da agricultura orgânica que faz uso da compostagem se deu
em meados de 1925 a 1930 (ANDRADE; PINHEIRO; OLIVEIRA, 2017).

   Diferente do modo convencional a Agricultura Orgânica destaca-se por ser


socialmente justa, ecologicamente correta, e viável economicamente, uma vez
que promove o bem-estar humano e a qualidade ambiental, preserva a
diversidade biológica, a ciclagem e as interações edáficas. Evidenciando o uso
de práticas sustentáveis de manejo sem o uso de pesticidas ou outro produto
químico que exerça atividade de impacto negativa que não compete a ação
normal desempenhada pelo ecossistema. Utiliza os recursos locais como fonte
de integração a reciclagem dos nutrientes (VASQUEZ; BARROS; SILVA,
2008)         

      A construção de hortas orgânicas explora a conscientização da


necessidade de mudar nossas atitudes frente ao meio ambiente e a saúde
humana, pois reflete a importância de que o alimento deve ser produzido de
forma sustentável e não deve provocar nenhum mal (BOHM et al, 2017).

    O modo de produção agrícola atual e convencional tem suas características


baseadas em componentes artificiais geneticamente modificados em suas
culturas geralmente idênticas que compõem agrossistemas que demandam
alta produtividade e são dependentes de insumos com alto grau de impactos
ambientais tais como pesticidas, fertilizantes solúveis, máquinas e
combustíveis (LOPES; LOPES, 2011), 
         A agricultura orgânica não depende dos derivados químicos e sim de uma
relação sintropica natural dos componentes como o solo, planta e o ambiente
na busca do equilíbrio saudável preservando o meio ambiente e os seres vivos
(Meirelles & Rupp, 2005, p.2),desta forma a produção orgânica, além de
oferecer produtos saudáveis e totalmente livres de pesticidas também preserva
a diversidade biológica, recicla resíduos orgânicos promove o correto uso do
solo e desenvolve sustentabilidade (Andrade; Pinheiro; Oliveira, 2017)

3. METODOLOGIA
       A Metodologia empregada neste trabalho caracterizou-se através de uma
pesquisa bibliográfica como fonte de produção literária documentos de
formatos diversificados como monografias, artigos acadêmicos, teses de
mestrados e entre outras contribuições teóricas, através de base próprias de
consulta como Google Acadêmico e o portal Scielo, a base da pesquisa
norteou uma discussão sobre os conceitos que abrangem a Agricultura
Urbana, sustentabilidade, Resíduos sólidos , compostagem e cultivos
orgânicos. Os artigos utilizados nesta pesquisa compreendem duas bases
periódicas, uma entre os anos de 1999 e  2008 e a outra base e mais relevante
entre 2010 e 2020. 

4.  DISCUSSÕES

       Através do levantamento da pesquisa bibliográfica pode-se observar nos


conceitos uma gama de benefícios que a iniciativa da Agricultura Urbana
associada com a prática de tratamento de resíduos sólidos como a
compostagem interagem de forma significativa para o comprometimento de
mudanças no que compete a ações de sustentabilidade nas zonas urbanas
pois estas ferramentas incorporam  processos de relação no cuidado com o
meio ambiente e atribui o dever de responsabilidade social no que diz respeito
a tratativa específica dos problemas e impactos negativos causados pelo modo
de vida insustentável incorporado nas cidades.
          Os resíduos sólidos trazem consequências negativas para o meio
ambiente se forem dispostos de forma incorreta e nas zonas urbanas este
problema torna-se ainda mais delicado pois agrava a situação de um sistema
fragilizado estruturalmente principalmente pelo crescimento populacional ,
saneamento básico precário em muitas das cidades e a desigualdades sociais
que comprometendo a qualidade de vida e a qualidade ambiental, perante
estes reflexos negativos surgem as pequenas iniciativas de agrupamentos,
responsabilidade social , cidadania  que estão submetidas ao exercício e a
prática da educação ambiental e suas contribuições.
     A ferramenta de compostagem norteia estímulos e concepções sociais e
ecológicas aos participantes das ações tendo em vista as questões dos
problemas ambientais pois esta mesma ferramenta como tratamento final e
adequada aos Resíduos Sólidos Urbanos Orgânicos dinamiza o
desenvolvimento teórico  de tecnologias sociais de baixo custo e além de
integrar os mecanismos que proporcionam o equilíbrio funcional dos serviços
que os ecossistemas prestam ao bem-estar humano agrupando vários
requisitos metodológicos componentes de provisão , regulação , cultura e
suporte. A técnica de aplicação das hortas Urbanas Comunitárias remete às
técnicas antigas, saberes tradicionais para tratamento da matéria orgânica e
plantio dos cultivos, implicando nas relações do ser humano com a natureza.
     Os fatores constituintes do bem-estar humano como segurança, elementos
básicos para uma boa qualidade de vida, saúde e boas relações sociais, são
desenvolvidos a partir da aplicação de ações de sustentabilidade que
permeiam a mitigação dos impactos negativos no meio ambiente, ferramentas
como a compostagem e  hortas comunitárias garantem ciclagem de nutrientes ,
formação do solo, alimentos saudáveis, água potável, fibras , regulação
climática , regulação de enchentes além da integração dos aspectos  espirituais
, educacionais e recreativos. Essa relação é melhor representada pelo modelo
proposto da Avaliação Ecossistêmica do Milênio (MEA) na (Figura 4).Diferentes
estratégias e intervenções podem ser aplicadas em muitos pontos dessa
estrutura a fim de assegurar o bem-estar humano e conservar os ecossistemas
(MEA, 2005).
Figura 4 – Relação entre o bem-estar humano e os Serviços Ecossistêmicos.
Fonte: Traduzido do MEA (2005) por Munk (2015).

Périco (2010) e Borges (2019) em suas pesquisas relatam os benefícios da


aplicação da Agricultura Urbana e salientam sobre a construção teórica e
prática a partir das ações propostas em conjunto pelos envolvidos observada
as vantagens de atitudes mais sustentáveis ligadas a redução de resíduos em
paralelo as ações na horta contribuindo para o desenvolvimentos de indivíduos
engajados para reflexão e estímulos na busca de soluções dos problemas
ambientais dentro e fora das zonas urbanas tendo em vista a melhoria da
qualidade da biodiversidade, transformação das cidades em entidades que
alimentam o desejo de aprendizado para melhoramento da qualidade de vida e
do ambiente urbano trabalhando para corrigir o desequilíbrio na utilização de
energia na reciclagem do lixo orgânico e produzir alimento para o suprimento
das populações urbanas com uma colheita de produtos agrícolas variados e
abundantes de cultivos agroecológicos integrando uma formação de cidadania
ecológica e ambiental.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É importante a busca por soluções socialmente justas, economicamente
viáveis e ambientalmente corretas que tenham uma eficácia aos conflitos
ambientais que tendem a perpetuar o desequilíbrio da natureza que influenciam
diretamente no bem-estar humano e qualidade de vida a começar por nossas
atitudes pessoais, conhecimento e prática para formação em potencial de
indivíduos mais sustentáveis com a finalidade de preservação e conservação
ecossistemas e seus recursos naturais para provimento da vida em
abundância.

6.   REFERÊNCIAS

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