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Organizadores:

Mery Lucy do Vale e Souza

Proibida a venda
Andréia Cassilha Andrigueto
Regina Célia Pereira Fernandes de Souza

Autores:
Ana Patrícia Oliveira Ramos Siqueira
Andréia Cassilha Andrigueto
Bruna Cardoso Evangelista
José Rozalvo Andrigueto
Lêda Bhadra Bevilacqua
Maria Tereza Leite Montalvão
Mery Lucy do Vale e Souza
Priscila Bernades Álvares
Regina Celia Pereira Fernandes de Souza
Rodrigo Gerhardt
Ronei Alves da Silva
Rosângela Azevedo Corrêa
Virgílio Braz de Queiroz Junior

2a edição

Rede de Sementes do Cerrado

Brasília
2015
2a edição

DIRETORIA DA REDE DE SEMENTES DO CERRADO


Presidente
Regina Célia Pereira Fernandes de Souza
Vice-Presidente
Maria Magaly Velloso da Silva Wetzel
Tesoureira
Angelika Bredt
Conselho Consultivo
Alba Evangelista Ramos
Cássia Beatriz Rodrigues Munhoz
Manoel Cláudio da Silva Júnior
Sarah Cristina Caldas Oliveira
Conselho Fiscal
Ana Palmira Silva
Germana Maria Cavalcanti Lemos Reis
Marcelo Kuhlmann Peres
Mery Lucy do Vale e Souza
Coordenador do Projeto Semeando o Bioma Cerrado
José Rozalvo Andrigueto
Coordenação de Educação Ambiental
Associação dos Amigos das Florestas (AAF)
Educando pelas trilhas do Cerrado - Um Roteiro de Ações para Introduzir a Educação Ambiental em Escolas e Comunidades/Compilação
de ideias sobre educação ambiental – 2a ediçãoBrasília-2015
Organizadores
Mery Lucy do Vale e Souza
Andréia Cassilha Andrigueto
Regina Célia Pereira Fernandes de Souza
Apresentação
Regina Célia Pereira Fernandes de Souza
Prefácio
José Rozalvo Andrigueto
Projeto gráfico, diagramação e ilustração
Heraldo Lima e Renato Mendes - RP Comunicação Integrada
Revisão
Yana Maria Palankof

S729 e Souza, Mery Lucy do Vale.


2015 EDUCANDO pelas trilhas do cerrado: um roteiro de ações para introduzir a
educação ambiental em escolas e comunidades / organizadores, Mery Lucy do Vale e Souza,
Andréia Cassilha Andrigueto, Regina Celia Pereira Fernandes de Souza. –
Brasília : Rede de Sementes do Cerrado, 2015.
160 p. : il. color. ; 21 cm x 30 cm.

Projeto Semeando o Bioma Cerrado.


ISBN 978-85-99887-11-0

1. Bioma Cerrado. 2. Desenvolvimento sustentável. 3. Educação ambiental.


I. Souza, Mery Lucy do Vale e. Andrigueto, Andréia Cassilha. III. Título. Souza, Regina
Celia Pereira Fernandes de. IV. Título.

CDD 375.0083
QUEM SOMOS

REDE DE SEMENTES DO CERRADO


A Rede de Sementes do Cerrado (RSC) foi constituída em 2004 como uma associação civil, pessoa jurídica de
direito privado, com natureza e fins não lucrativos e sem caráter político-partidário. Foi qualificada em 2005 como
Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e tem como objetivo principal a defesa, a preservação,
a conservação, o manejo, a recuperação, a promoção de estudos e pesquisas e a divulgação de informações técnicas
e científicas relativas ao meio ambiente do Cerrado, especialmente no Brasil Central. É mantida com recursos
provenientes dos projetos executados, com as contribuições de seus associados, a comercialização de sementes
nativas e a venda dos livros que publica.
A Rede busca ainda o fomento equilibrado da oferta e da demanda de sementes e mudas de plantas nativas do
Cerrado por meio de cursos de capacitação e da divulgação de informações técnicas, com o intuito de ampliar os
conhecimentos e garantir a proteção, a valorização e a preservação desse bioma.
Esses cursos de capacitação vêm sendo desenvolvidos em várias localidades do Distrito Federal, de Goiás (Alto
Paraíso de Goiás, Cavalcante, Goianésia, Goiânia e Pirenópolis), de Minas Gerais (Arinos e Rio Pardo de Minas)
e de Mato Grosso (Sinop), para os mais diversos profissionais e pessoas interessadas de assentamentos, pequenas
comunidades e entidades públicas e privadas. Os cursos abordam temas como identificação de árvores nativas do
Cerrado; qualidade de madeiras, e seleção e marcação de árvores matrizes; coleta e beneficiamento de sementes e
produção de mudas.
Além disso, oficinas de educação ambiental têm sido desenvolvidas, pois não se preserva um bioma só com plantio
de árvores. É preciso resgatar atitudes e valores e agregar ações como força impulsionadora capaz de desencadear
ações e atitudes transdisciplinares em defesa do Cerrado para o reposicionamento do ser humano. Nessas oficinas,
a semente é um símbolo com o qual a criança se identifica nas diversas etapas de sua vida, descobrindo-se e
estabelecendo uma relação com o mundo que a rodeia. Essas ações são voltadas também aos anseios de professores
de determinadas escolas, que buscam nessas atividades suporte para projetos que envolvam toda a comunidade
escolar, uma vez que com a ecopedagogia se trabalha a fundamentação teórica da “cidadania planetária”, cuja ideia
é dar sentido para a ação dos homens como seres vivos que compartilham com as demais vidas a experiência do
planeta Terra.
A Rede de Sementes do Cerrado mantém parceria com instituições públicas e privadas comprometidas com a
conservação e a recuperação do Cerrado: Associação dos Amigos das Florestas, Câmara dos Deputados, Centro
de Referência em Conservação da Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas (Crad/UnB), Clube da Semente
do Brasil, Embrapa Agrossilvipastoril (Sinop/MT), Escola da Natureza, ICMBio/Parna Chapada dos Veadeiros,
Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Instituto Oca Brasil (Alto Paraíso de Goiás), Instituto Chico Mendes/Floresta
Nacional de Brasília, Secretaria de Estado de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal (Seagri),
Universidade Federal de Goiás (UFG, Goiânia-GO), entre outros.

3
Associação dos Amigos das Florestas (AAF)
A Associação dos Amigos das Florestas foi fundada em 2005. É uma organização sem fins lucrativos, pessoa
jurídica de direito privado, certificada pelo Ministério da Justiça como Organização da Sociedade Civil de
Interesse Público (Oscip), amparada pela Lei n. 9.790, de 23 de março de 1999. Foi instituída com a proposta de
criar atividades de educação ambiental, pesquisas e experiências que conduzam as comunidades do entorno das
Unidades de Conservação ao desenvolvimento sustentável.
O objetivo da AAF é a promoção da relação harmoniosa do homem com a natureza, utilizando recursos de
mobilização social e educação para a cidadania ecológica. Também busca o incentivo à proteção, à fiscalização, à
conservação, à recuperação e ao manejo sustentável do meio ambiente, além de propor a capacitação de agentes
multiplicadores da mensagem ecológica de sustentabilidade para diversas comunidades. Sua equipe técnica
é multidisciplinar e utiliza tecnologias alternativas de plantio e sensibilização de crianças e jovens e, com a
ecopedagogia utiliza práticas pedagógicas do aprender a fazer fazendo.
A valorização dos saberes populares e todas as formas de comunicação social são usadas em seus trabalhos,
com linguagem e veículos adaptados ao público determinado, enfocando e vinculando sempre conservação e
desenvolvimento como ferramenta fundamental para se conter o processo de degradação ambiental nas áreas em
que atua.
A AAF desenvolve, desde sua fundação, diversas atividades, como oficinas, palestras, minicursos e atividades de
lazer em parceria com o Núcleo de Educação Ambiental (NEA) do Parque Nacional de Brasília (PNB), a Escola
da Natureza, a Rede de Sementes do Cerrado, a Casa do Ribeirão Sobradinho, entre outros, atuando também em
eventos e em instituições de ensino com o objetivo de mobilização social para a inclusão do bioma Cerrado como
patrimônio nacional na Constituição brasileira.
Desde 2008 a AAF atua nas dependências da Associação dos Produtores do Núcleo Rural Lago Oeste (Asproeste),
no Núcleo Rural Lago Oeste, entorno do Parque Nacional de Brasília (PNB) e da Reserva Biológica da Contagem
(Rebio), com atividades de educação ambiental para os estudantes da região e para a comunidade. Em sua
sede de campo mantém um viveiro educador como modelo de instrumento pedagógico e área de capacitação
da comunidade. O viveiro é referência para a produção de mudas de espécies nativas do Cerrado utilizadas
para reposição da vegetação da região e em projetos de recuperação de áreas degradadas. Trabalha também com
comunidades que interferem diretamente nos recursos naturais da região. Os projetos da AAF buscam resgatar o
encantamento pela vida, em sintonia com as disciplinas elencadas pelas escolas, agregando valores aos conteúdos
aplicados às diversas etapas na construção do conhecimento.
Com vivências em campo, a Associação busca fomentar discussões a respeito dos impactos causados ao ambiente
natural e ao ser humano relacionados à concepção de produção e consumo e ao conceito de necessidades humanas
impostos pelo avanço da tecnologia, pela massificação da mídia e também por outras questões que comprometem
a qualidade de vida no planeta.
A Associação vincula a prática de esportes ao meio ambiente, em uma perspectiva transdisciplinar, como estratégia
de mobilização e promoção social, tendo como apoiador o Instituto Joaquim Cruz. Outra realização da Associação
é a promoção de capacitação de professores e jovens, o incentivo à produção e ao plantio de árvores nativas,
montagens de oficinas ecopedagógicas com reaproveitamento de resíduos, oferecendo dessa forma oportunidades
de atividades sustentáveis de renda para os participantes e seus familiares, além de proporcionar visitas educativas
que disseminam informações, conhecimentos e vivências para a prevenção, o cuidado e o uso correto dos recursos
naturais, bem como para o respeito e a proteção aos animais. Atuar no planejamento, na coordenação e na execução
das atividades de educação ambiental no Projeto Semeando o Bioma Cerrado é uma grande oportunidade para o
alcance do objetivo institucional da Associação dos Amigos das Florestas.
Autores
*Ana Patrícia Oliveira Ramos Siqueira: É professora com formação em Teologia.
Cursa Pedagogia na Faculdade de Educação/UnB. Especializada em artes, atua
em oficinas de desenhos, pinturas de painéis e construção de brinquedos a
partir de sucatas. É também, contadora de histórias. Para incentivar a proteção e
sustentabilidade do Cerrado ela usa e abusa da criatividade e sensibilidade para
passar conhecimentos de uma das maiores riqueza, o Cerrado.

*Andréia Cassilha Andrigueto Venturoli: É bióloga, pela Universidade Federal de


Uberlândia-MG e mestre em Desenvolvimento Sustentável pelo CDS/UnB. Atuou
na coordenadoria de Apoio à Sustentabilidade, Qualidade e Gestão Ambiental da
Embrapa, empresa onde trabalha desde 2010. Mora e convive com as histórias do
Cerrado desde pequena, aprendendo a amar e a defender as suas árvores tortas e
animais exóticos. Também dá aula e orienta alunos na área de Educação Ambiental
em curso de pós-graduação no UniCEUB, Brasília. Recebeu a honrosa missão de
contribuir na revisão e organização dessa publicação, em sua segunda edição.

*Bruna Cardoso Evangelista: É Graduanda em Engenharia Florestal/UnB e Estagiária


na Embrapa na Coordenadoria de Apoio à Sustentabilidade, Qualidade e Gestão
Ambiental. Consultora da Empresa Júnior de Consultoria Florestal-ECOFLOR.

*José Rozalvo Andrigueto: É graduado em Engenharia Agrônomica pela Universidade


Federal do Paraná, mestrado em Tecnologia de Sementes pela Universidade Federal
de Pelotas-RS e Doutorado em Seed Technology pela Mississippi State University.
Pós- doutorado pela Universidade de Lleida-Espanha. Há quatro anos coordena o
Projeto Semeando o Bioma Cerrado da Rede de Sementes do Cerrado.

*Lêda Bhadra Bevilacqua : É professora, foi membro da Escola da Natureza e esteve


a frente de sua direção por 10 anos. Facilitadora titular de biodança, especialista em
educação ambiental e educação biocêntrica.

*Maria Tereza Leite Montalvão: É graduanda em Engenharia Florestal/UnB.


Possui avançados conhecimentos na área de Geoprocessamento. Estagiária na
Coordenadoria de Apoio à Sustentabilidade, Qualidade e Gestão Ambiental/
Embrapa. Presidente da Empresa Junior de Consultoria Florestal-ECOFLOR.

*Mery-Lucy do Vale e Souza: É Presidente da Associação dos Amigos das Florestas-


AAF. Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Católica de Pelotas/
RS, especializada em jornalismo - professora/Educadora Ambiental-pós graduada
em Metodologia de Ensino Superior, pela Universidade Católica de Pelotas/RS, em
Gestão Ambiental, pela Escola Nacional de Administração Pública, Brasília/DF e
Marketing para Serviços Públicos e Privados, pela Fundação Getúlio Vargas, Brasília/
DF. Especialista em Realidade Educacional Brasileira, pela Faculdade de Educação e
Centro de Treinamento do Sul Pelotas-RS, capacitada em Agroecologia, Ecopedagogia,
Educação Humanitária e Bem Estar Animal, pela Escola da Natureza/DF.

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*Priscila Bernades Álvares: graduada em Turismo pelo Centro Universitário de
Brasília - UniCEUB, Mestrado em Desenvolvimento Sustentável pelo Centro de
Desenvolvimento Sustentável/UnB. Foi professora adjunta da Faculdade de Ciências
Sociais e Tecnológicas – FACITEC. Trabalhou no WWF-Brasil no Programa de
Educação para Sociedades Sustentáveis. Atualmente é pesquisadora da Universidade
de Brasília e trabalha com o Plano Regional de Saneamento Básico da RIDE-DF
e Entorno. É professora colaboradora no UNICEUB-DF (priscilabernardes.unb@
gmail.com ).

*Regina Celia Pereira Fernandes de Souza: é goiana de nascimento e cerratense de


coração. Com formação acadêmica em Física do Estado Sólido, foi professora na
Universidade de São Paulo e da Universidade de Brasília, tendo trabalhado também
na área de Tecnologia da Informação. Apaixonada pelo Cerrado e defensora do meio
ambiente, atuou na ONG Ambiental da Cafuringa e na Associação dos Amigos das
Florestas. É associada mantenedora da Rede de Sementes do Cerrado desde 2007 e
ocupa atualmente o cargo de Presidente.

*Rodrigo Gerhardt: É jornalista, especialista em Gestão da Sustentabilidade pela


Fundação Getúlio Vargas e editor do Planeta Sustentável, uma multiplataforma de
comunicação para a sustentabilidade, liderada pela Editora Abril.

*Ronei Alves da Silva: É presidente da Central de Cooperativas de Materiais


Recicláveis do Distrito Federal e Entorno – CENTCOOP/DF; É estudante de Direito
com formação em Cooperativismo pela Organização das Cooperativas do Distrito
Federal – OCDF e Corporación Cooperativa Mondragón – MCC na Espanha;
representante da Comissão Nacional do Movimento Nacional de Catadores
de Materiais Recicláveis – MNCR; Membro do Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA; Membro do Conselho de Administração da Organização
das Cooperativas do Distrito Federal; Representante no Conselho do Projeto do
Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES para promoção
da inclusão social e produtiva de catadores na capital federal. (ras.brasil@hotmail.
com).

*Rosângela de Azevedo Corrêa: Cerratense de nascimento, corpo e alma. Doutora


em Antropologia Social. Professora na Área de Educação Ambiental e Ecologia
Humana na Faculdade de Educação da Universidade de Brasília. Coordenadora do
Programa Educação Ambiental nas Escolas Públicas do DF.

*Virgílio Braz de Queiroz Junior: É empregado da Embrapa, formado em Engenharia


Florestal com Mestrado em Ciências Florestais. Atua na área de sementes, gestão ambiental
no Cadastro Ambiental Rural das propriedades da Embrapa. Atua também como Consultor
Ambiental, Perito, Agrário e Geomensor, desenvolvendo serviços e estudos ambientais para
adequação e regularização ambiental de propriedades rurais.
Dedicatória
Dedicamos este livro a todos aqueles que, independentemente da formação, são disseminadores de conhecimentos
e podem e devem tornar-se educadores ambientais, utilizando a transversalidade do tema em todas as suas ações
de convivência harmoniosa com o planeta e, em especial, àqueles que interagem com a desconhecida diversidade
do Bioma Cerrado na difícil tarefa de contribuir para sua conservação e proteção.
“Enquanto a sociedade feliz não chega, que haja pelo menos 
fragmentos de futuro em que a alegria é servida como sacramento, para
que as crianças aprendam que o mundo pode ser diferente.
Que a escola, ela mesma, seja um fragmento do futuro...”

Rubem Alves
(Retirado do site: www.releituras.com/rubensalves_bio.asp)

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AGRADECIMENTOS

Aos colaboradores
Em primeiro lugar, agradecemos sinceramente a todos os colaboradores que permitiram a inclusão de seus
artigos, pesquisas, textos, fotografias e ilustrações como contribuição a este trabalho voltado à introdução do tema
ambiental em escolas e comunidades. A nova edição, além de revisar e atualizar os textos de 2012, foi estruturada
em duas partes para facilitar a leitura e a aplicação dos instrumentos aqui sugeridos.

À Mãe Natureza
“Nossos agradecimentos Por todos os mistérios da terra, do fogo, do ar, da água 
Nossos profundos agradecimentos à Mãe Terra por todos os mistérios que seguram este planeta Terra, que sustenta toda a
vida nele 
Nossos agradecimentos a todas as árvores, a todos os animais, a todo ser vivo que respira o mesmo ar, que bebe a mesma
água, que se alimenta do mesmo Sol, que se nutre com toda a vida 
Nossos agradecimentos pelo coração da Mãe Terra, que bate incessantemente mantendo toda a vida
do planeta e mantendo todos os corações que batem 
Nossos agradecimentos pela respiração do planeta. 
Nossos agradecimentos humildes por não compreendermos nada 
Nossos humildes agradecimentos à sabedoria, a maior sabedoria de sabermos que nada sabemos 
De saber profundamente que nada somos diante do mistério da vida, de todos os mistérios que comandam os rumos do
planeta e todas as vidas 
Nossa gratidão por esta sabedoria, a sabedoria de nada saber.”

(Palavras de um índio, em um dia de lua cheia, setembro de 2007. Disponível em: <http://www.ecotece.org.br/index.php>)
Aos Parceiros
A Rede de Sementes do Cerrado agradece ainda às instituições que mantêm contratos e termos de cooperação
técnica: Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa); Centro de Referência em Conservação da
Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas (Crad/UnB); Universidade Federal de Goiás (UFG); Instituto
Oca Brasil; Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Distrito Federal (SEAGRI-DF);
Escola da Natureza; Cooperativa de Agricultores Familiares Agroextrativistas de Água Boa II Ltda.; Reserva
Ecológica Centro Caraívas; Centro Espírita Aprendizes do Evangelho; Organização Social Cristã Espírita André
Luiz (ProjetoTransformar.org); Associação Córrego Barriguda; e Fundação de Empreendimentos Científicos e
Tecnológicos (Finatec) (termo de apoio).
Agradece também a cooperação com a Câmara dos Deputados, o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos
Hídricos do Distrito Federal Brasília Ambiental (Ibram), o Instituto Federal de Brasília (IFB), a Administração da
Floresta Nacional de Brasília, a Casa do Ribeirão Sobradinho, a Associação dos Produtores Rurais do Lago Oeste,
a Administração da Cidade da Fraternidade (Alto Paraíso de Goiás) e o Jardim Botânico de Brasília, entre outros.
Agradece às escolas nas quais foram realizadas as oficinas de educação ambiental: Escola Classe Rua do Mato,
Fercal-DF; Centro de Ensino Fundamental Professor Carlos Mota, Núcleo Rural Lago Oeste-DF; Escola Municipal
Zeca de Farias e Escola Municipal Casa da Vovó, Alto Paraíso de Goiás-GO; Educandário Humberto de Campos,
Assentamento Sílvio Rodrigues, Alto Paraíso de Goiás-GO; Escola Classe ETA 44, Núcleo Rural Sarandi, Planaltina-
DF; Escola Municipal Dom Emmanoel Gomes de Oliveira, Educandário Municipal Dom Bosco e Escola Municipal
Luciano da Silva Peixoto, Pirenópolis-GO; Escola Classe Altamir, Planaltina-DF; Centro de Ensino Fundamental
08, Sobradinho II-DF; Escola Classe 314 Sul, Brasília-DF; Centro de Ensino Especial 01 de Santa Maria; Centro
de Ensino 03 de Sobradinho; Escola Meninas e Meninos do Parque/PROEN, Brasília-DF; Centro Educacional 04
de Taguatinga; Escola Classe 02 de Vicente Pires. Agradece ainda à Associação dos Amigos das Florestas (AAF)
pela coordenação das oficinas de educação ambiental e aos inúmeros profissionais oficineiros que realizaram as
criativas oficinas.
Um agradecimento especial à Petrobras, por intermédio do Programa Petrobras Sócioambiental, pelo patrocínio
do Projeto Semeando o Bioma Cerrado. Àqueles que citamos e àqueles cujos nomes não ficaram expostos, mas que
carregam com bravura a nobre missão de proteger, com recursos próprios (intelectuais, pessoais, ideais), o ambiente
em que vivem e, em especial, o nosso querido Cerrado. Sabemos que sem amor nada tem sentido e nada se faz.

9
SUMÁRIO
PRÓLOGO – Educação para a sustentabilidade 17
APRESENTAÇÃO – Mudando hábitos 18
PREFÁCIO: “Brincadeira séria” 19
Visão da educação ambiental no Projeto Semeando o Bioma Cerrado 21
Por que inserir educação ambiental em um projeto técnico 21
O que se busca para a preservação do Cerrado 21

PARTE I 22
CAPÍTULO 1 – Cerrado, Nossa Casa 23
O Cerrado 23
Flora do Cerrado 24

Formações Campestres 25

Formações savânicas 26

Formações Florestais 27

Um pouco mais sobre Veredas 29

Fauna do Cerrado 30

Dispersão no Cerrado e dispersores ameaçados 31

Interações entre plantas e morcegos 32

Ajude a proteger o meio ambiente 34

Para saber mais.... 34

Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção 34

Livro Vermelho da Flora do Brasil 35

Para que servem os nomes científicos? 35

O que são unidades de Conservação? 36

O que é uma Cadeia Alimentar 36

A teia da vida: Seres vivos que habitam a Terra estão todos interligados em uma grande rede 37

CAPÍTULO 2 – A construção do discurso da sustentabilidade 39


Salve o planeta – a formação da consciência ecológica 39
Pensar globalmente, agir localmente – o ambientalismo no poder 40
Carbono zero e a ciência do aquecimento global 41
Fazer mais com menos – a sustentabilidade como vantagem competitiva 42
Principais movimentos para a sustentabilidade 44
11
Por que se realizam COPs? 44
Quem faz as negociações na COP do Clima? 44
Protocolo de Kyoto 45
Mecanismos de redução de emissões 46
O que é Redd e qual sua relação com as emissões de carbono 46
Como o Brasil lida com a questão do clima? 46
Um novo acordo global pós-2020 47
Conferência sobre o Meio Ambiente Humano 47
Conferência sobre Educação A mbiental em Tbilisi 47
Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) 48
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92) 48
Rio + 20 49
Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) – Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima 50
CAPÍTULO 3 – Analisando a educação ambiental por diferentes abordagens 51
Definições de educação ambiental por diferentes autores 51
Aprofundando a abordagem 55
CAPÍTULO 4 – Legislação ambiental brasileira no contexto do desenvolvimento sustentável 56
Constituição Federal 56
Capítulo I 56
Capítulo II - Do Meio Ambiente 57
Título I - Lei de Diretrizes e Bases Da Educação (LDB) 58
Título II - Dos Princípios e Fins da Educação Nacional 58
Título III - Da Organização da Educação Nacional 59
Política Nacional de EA – ressaltando princípios e objetivos 59
CAPÍTULO 5 – A transversalidade da educação ambiental com outras disciplinas 61
Educação humanitária 62
Alcance do cultivo sólido – Criação da espaçonave 63
Metodologia indicada 63
Estratégias transversais 63
Referências 64
CAPÍTULO 6 – Capacitação de professores e comunidades 65
Sensibilizando professores para a corresponsabilidade socioambiental 65
Metodologia 66
Educação inclusiva 66
Fortalecendo comunidades 67
Sensibilização para recuperação de áreas degradadas 68
Conhecer para proteger 68
Alfabetização ecológica: ABCerrado 68
CAPÍTULO 7 – Problemas Ambientais : causa, consequências e possíveis soluções 74
Entre a teoria e a prática 75
Metodologia utilizada 75
Desmatamento 75
A água 76
Gestão de recursos hídricos, resíduos sólidos- o desafio de um entendimento sistêmico da questão 76
O Lixo dentro de uma concepção de Agenda 21 78
Consumismo na sociedade atual e os problemas ambientais resultantes 79
O Lixo dentro de uma concepção do plano de gerenciamento de resíduos sólidos - PGRS 80
Transformação 80
Visão ambiental 81
Visão socioeconômica 82
Visão cultural e artística 84
Visão jurídica 84
Visão de catador de materiais recicláveis 85
Novo Código Florestal e implicações em sala de aula 86
Iniciando a discussão do Código-a importância das relações 86
Conhecendo e aplicando a lei 89
Conclusão 91
Referências 91
PARTE II 93
CAPÍTULO 8 – Instrumentos de Educação Ambiental Usados nas Oficinas 94
Descrição dos instrumentos sugeridos 94
DVD-ABCerrado 94
ABCerrado 94
Bibliografia 97
EcoMuseu do Cerrado 98
Origem do Ecomuseu do Cerrado 99
Ecomuseu do Cerrado Laís Aderne 99
O que se espera do Ecomuseu do Cerrado Laís Aderne 100
Objetivos do Ecomuseu do Cerrado 100
Agenda 101

13
O que vamos agendar 102
O Que é a Agenda 21 Escolar? 102
Requisitos básicos para a elaboração da Agenda 21 Escolar 103
Implementação da Agenda 21 Escolar 103
Elaboração prática da Agenda 21 Escolar – passo a passo 104
Acompanhamento dos trabalhos 104
Avaliação da Agenda Escolar 105
Instrumento: horta pedagógica 105
O que é uma horta pedagógica? 106
E se a escola não tem terreno para o plantio? 106
Horta pneu 107
Horta suspensa 107
Horta orgânica 108
Ações transversais possíveis 109
A sementinha vira planta 109
Comida da semente 109
Irrigação 109
Cuidados com a plantinha 110
Preparando a terra 110
Harmonia e variedade 111
É tempo de colheita 111
Espaço de suporte para a horta 112
Compostagem 112
Minhocário 113
Dicas para montar uma sementeira com recursos mínimos 115
Viveiro educador 115
Plantas que ajudam a acabar com a poluição 120
Algumas plantas são bonitas, mas também perigosas 120
Colaboração com a preservação do meio ambiente 121
Cuidar com cuidados e atitudes 121
Por que plantar árvores 121
CAPÍTULO 9 – Síntese das Oficinas 123
Importância da escolha dessas metodologias 123
Oficina de música e dança 123
Pintura de rosto, brincadeiras, contação de histórias 124
Oficina de trilhas interpretativas 124
Oficina de maquete do bioma Cerrado 125
Oficina de pegadas de animais 125
Oficina de culinária – redescobrindo aromas e sabores do Cerrado 126
Oficina de viveiro educador 127
Oficina de monotipia – pigmentos do Cerrado 128
Oficina “O luxo do lixo” – reaproveitamento de resíduos sólidos 129
Pintura de painéis do Cerrado 129
Passarinhos do Cerrado – argila e origames 130
Fontes de energia: use corretamente o que a natureza oferece 130
Oficina de jogos e brincadeiras – aprenda com a natureza 131
Oficina ecoesporte – jogando com a natureza 132
Brincando e aprendendo – contos, cantos e encantos do Cerrado 132
Como é nosso bioma? 132
Conto 1: A ema emo 133
Terra 135
Conto 2: O planeta sonho 135
Cantos – letras adaptadas por Ana Patrícia às antigas músicas do folclore brasileiro 137
CAPÍTULO 10 – Textos de Apoio Ao Professor 138
Conservação dos recursos naturais 138
Ecologia e o bioma Cerrado 139
Principais biomas do Brasil 140
Tipos de vegetação do bioma Cerrado 141
Recursos hídricos 141
Fogo 141
Unidades de conservação 142
Categorias das unidades de conservação 142
Conhecendo as Belezas do Cerrado 144
Poema – “A horta” 148
Cerrado que não mais se vê 152
Sites interessantes 153
Sugestões Bibliográficas para consulta 154

15
PRÓLOGO

Educação para a sustentabilidade


Na primeira edição da publicação Educando pelas trilhas do
Cerrado, inspiramo-nos em Fritjof Capra, físico, teórico, autor
e organizador de duas obras básicas para a nossa escrita: Eco-
Alfabetização e a Teia da vida. Capra é defensor da ideia de que o
sustentável deve ultrapassar a noção do senso comum. Utilizando Proteja o
uma linguagem simples e própria da educação ambiental (EA), CERRADO
Chega de desmatamento!!!
propomos ao longo desta edição a revisão do termo em sua
essência com o emprego de significados e aprofundamentos em
novos contextos. Nos trabalhos realizados no Projeto Semeando
o Bioma Cerrado, a Associação dos Amigos das Florestas (AAF),
com ações de sensibilização e conscientização, canaliza esforços para a mudança comportamental dos indivíduos
e a construção de comunidades sustentáveis. Defendemos que são de fato sustentáveis aqueles capazes de satisfazer
suas necessidades e aspirações sem diminuir as oportunidades das gerações futuras. Para isso, utilizando a educação
humanitária, buscamos o resgate da essência do conhecimento em sua origem e a modificação de comportamentos
equivocadamente incorporados aos métodos de produção. Procurando o fortalecimento e a humanização da
educação, entramos pelas trilhas do Cerrado para constatar que a diversidade étnica e cultural do povo do Cerrado
exerce o mesmo papel que a biodiversidade exerce num ecossistema. Ali, encontramos os mesmos modelos das
diferentes relações e das diferentes abordagens de um mesmo problema ambiental que ameaça a sustentabilidade
da teia da vida.
Nesta segunda edição do Educando pelas trilhas do Cerrado, a AAF, em parceria com a Rede de Sementes do
Cerrado, propõe um roteiro de ações para introduzir a educação ambiental em escolas e comunidades, incentivando
a preservação da vida por meio da cooperação, de parcerias e de participações em rede.
As ações de educação voltadas para a sustentabilidade, vivenciadas nas diversas atividades do Projeto Semeando o
Bioma Cerrado, dirigidas a um público infanto-juvenil, a professores e à comunidade em geral, repassam, por meio
de uma abordagem transdisciplinar, princípios básicos da ecologia, mas, acima de tudo, estimula um profundo
respeito pela natureza.
Nossa pretensão com esta publicação, a exemplo da sua primeira edição, não é elaborar um manual, mas sim reunir
as informações colhidas em nossos trabalhos e estudos, sugerindo um roteiro por onde começar, estruturando
pensamentos e ações, colaborando, desse modo, com aqueles que buscam a formação da cidadania ecológica com
diversidade, mas também com interdependência.

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APRESENTAÇÃO

Mudando hábitos
Regina Célia Pereira Fernandes de Souza

Em 2010, a Rede de Sementes do Cerrado, associação sem fins lucrativos que visa ao fomento do comércio
e à melhoria da qualidade das sementes e mudas de espécies nativas do Cerrado, apresentou à Petrobras a
proposta do Projeto Semeando o Bioma Cerrado. Com sua aprovação, pudemos agregar valores às iniciativas
de incentivo e promoção da conservação e da recuperação do Cerrado, aumentando a prestação de serviços
referentes a estudos e pesquisas com foco na conservação, na promoção e na exploração sustentada de plantas
nativas do Cerrado, promovendo também a divulgação de informações técnicas e científicas nessa área.
O projeto levou à Rede a exigência de novos trabalhos, ampliando o foco da pesquisa científica “para a sutileza
e o encanto da educação ambiental, na qual a atuação do professor tem papel fundamental na construção de
novos valores e posturas éticas despertadas pela curiosidade, pela criatividade e pela sensibilidade, estimulando
os seres humanos para uma relação harmoniosa com a natureza”, como afirmou na época a então presidente da
Rede de Sementes do Cerrado, Magaly Wetzel.
Embora cada vez mais a ecologia esteja presente na educação, inclusive na Educação Infantil, de uma forma
bastante afirmativa, sabemos que existe uma grande carência de materiais para se trabalhar com as crianças,
que precisam de uma abordagem própria, adequada à sua idade. Por isso, com a parceria estabelecida com a
Associação dos Amigos das Florestas, uma instituição especializada em comunicação, Educação Ambiental e
Educomunicação, a Rede de Sementes do Cerrado, com o apoio de colaboradores, publicou a cartilha Semeando
ideias e valores para preservar o Cerrado e o livro Educando pelas trilhas do Cerrado, contendo um conjunto
de informações e um roteiro de ações para introduzir o tema ambiental em escolas e comunidades, e do qual
agora apresentamos a 2a edição.
As sugestões de atividades apresentadas na 1a edição do Educando pelas trilhas do Cerrado e ajustadas nesta
edição são algumas das ações vivenciadas nas oficinas, nos cursos e nos eventos promovidas pelo Projeto
Semeando o Bioma Cerrado, com trocas de saberes e fazeres entre professores, monitores, gestores ambientais
e, naturalmente, crianças, em diversas escolas, que comprovaram a eficácia dos instrumentos sugeridos.
Este trabalho, que traz valiosas informações sobre o movimento ambiental no mundo, legislação, textos para
reflexões e sugestões de ações rotineiras com metodologias apropriadas à sensibilização para a mudança
comportamental, é fruto do apoio, da colaboração e da parceria de diversas pessoas e instituições. Ele concentra
a energia da união necessária para a educação ambiental, que, sem dúvida, faz parte de um processo por meio
do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências
voltadas à conservação do meio ambiente, que é um bem de uso comum, essencial à qualidade de vida das
pessoas e sua sustentabilidade.
Esta é a meta do nosso trabalho, e esperamos que este roteiro, em sua 2a edição, contribua com o professor e com
quem mais desejar se dedicar ao desafio de formar cidadãos comprometidos com a proteção e a conservação do
bioma Cerrado e do nosso planeta.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

PREFÁCIO

Brincadeira séria
José Rozalvo Andrigueto

O Projeto Semeando o Bioma Cerrado tem como objetivo principal estimular os elos da cadeia produtiva
de sementes e mudas florestais de espécies nativas do Cerrado. Desse modo, fomos sensibilizados sobre o
fundamental papel da Educação Ambiental, tanto para um público adulto específico, que se envolveria com
atividades de mapeamento de áreas de coleta de sementes e de marcação de árvores matrizes, como na
capacitação de pessoas para as áreas de coleta, beneficiamento, armazenamento de sementes e produção mudas
florestais, mas também, para as crianças e jovens. Nesse circuito, naturalmente, entrou o professor como foco
de nosso trabalho. Ele, como outros agentes educacionais, não pode ignorar que a degradação ambiental é um
problema crescente em todo o mundo, uma vez que a interferência humana continua a extrapolar a capacidade
do meio ambiente de se recuperar, ainda que se pense a Terra como um sistema ou organismo auto-regulável.
A Petrobrás, patrocinadora do projeto é igualmente, bastante sensível para a importância do processo educativo
em ações voltadas para a preservação de todos os recursos naturais.
Por isso, cientes de que não é possível estimular os elos da cadeia produtiva sem um trabalho sistêmico da
educação ambiental como força impulsionadora capaz de desencadear ações e atitudes transdisciplinares em
defesa do Cerrado que queremos preservar, buscamos parceria com a Associação dos Amigos das Florestas -
AFF e sob sua coordenação, a Educação Ambiental ocupou espaço com concepção do projeto e a preservação
passou a ser vista também como “coisa” e responsabilidade sim de crianças. A AAF demonstrou com
metodologia apropriada e dinâmico trabalho, que enquanto elas brincam, muitas coisas importantes ocorrem,
como assimilação e apropriação da realidade humana; construção de hipóteses; elaboração de soluções para
problemas; e enriquecimento da personalidade. Com a ecopedagogia trabalhando o “sentido das coisas, o
brincar passa a ser o cultivo da imaginação e da criatividade e brincando, a criança começa a se descobrir e
a estabelecer uma relação mais harmoniosa como o mundo que a rodeia. Não se preserva o bioma Cerrado
somente com ações isoladas de plantio de árvores, o projeto vai bem mais além, iniciando os trabalhos
básicos a partir das sementes sob todos os aspectos técnicos e humanitários onde semear também ideias e
valores é tão importante quanto plantar árvores para a preservação desse tão ameaçado bioma brasileiro.
Educando pelas Trilhas:
Durante os quatro anos de execução do projeto técnico, foram demarcadas 101 áreas para Coleta de Sementes,
cerca de 1010 hectares, georreferenciadas e catalogadas 6.096 Árvores Matrizes, identificadas 338 espécies
florestais nas áreas de Cerrado, nos municípios de Alto Paraíso de Goiás, Cavalcante, Pirenópolis, Barro Alto,
Ceres, Goianésia, Santo Antônio do Descoberto e Goiânia/GO, nos municípios de Sinop, Cláudia, Sorriso/
MT e no Distrito Federal. Nessas áreas foram identificadas 9 espécies ameaçadas de extinção. Capacitou
tecnicamente 1.249 pessoas por meio de 37 cursos no setor de sementes e mudas nativas. Estruturou 7 Unidades
de Capacitação para Produção de Mudas e Beneficiamento e Armazenamento de Sementes Florestais, promoveu
a recuperação de 7 hectares de vegetação nativa no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros/GO com plantio
de 7000 mudas e 2 toneladas de sementes de 37 espécies.
Os cursos de capacitação técnica foram realizados em seis áreas temáticas:
1) Identificação de Árvores do bioma Cerrado (que deu origem à publicação do livro: Guia do Observador de
Árvores) e Identificação de Madeira (que deu origem a um Atlas de Madeira)
2) Seleção e Marcação de Árvores Matrizes (que deu origem a cartilha técnica)
3) Coleta e Manejo de Sementes (que deu origem a cartilha técnica)
4) Beneficiamento, Embalagem e Armazenamento (que deu origem a cartilha técnica)
5) Produção de Mudas Florestais Nativas (que deu origem a cartilha e um manual técnico)
6) Viveiros: Projeto, Instalação, Manejo (que deu origem a cartilha técnica).
Ciente de que a degradação ambiental é um problema crescente em todo o mundo, devido a interferência
humana que continua a extrapolar a capacidade da natureza se recuperar, o Projeto Semeando o Bioma Cerrado
não poderia ignorar a importância da Educação Ambiental. Por isso, concomitantemente às atividades técnicas
e às de cunho científico, foram realizadas também, atividades de sensibilização em oficinas específicas de
Educação Ambiental para crianças, lideranças comunitárias e professores nas áreas de abrangência do projeto,

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em Brasília e entorno, Alto Paraíso de Goiás e Pirenópolis. Somente na segunda fase do projeto, em 2 cursos de
capacitação para 70 membros de comunidades rurais, nasceram multiplicadores da informação ecológica para
um Cerrado que pede socorro. Mas também o professor precisa de instrumentos específicos que o auxilie na
difícil tarefa de trabalhar a transversalidade e interdisciplinalidade para de fato formar cidadãos ecológicos.
Assim, em 5 oficinas especiais, trocamos saberes e fazeres com 234 professores, com importantes parcerias
estabelecidas. A promoção de 1 encontro de educadores ambientais, mobilizaram 123 professores e agentes
comunitários. Foram 18 oficinas de Educação Ambiental em escolas rurais e urbanas nas quais 2.386 crianças e
jovens literalmente, “pintaram e bordaram” apoiados na ecopedagogia, para com mudanças comportamentais
ajudarem na difícil tarefa de resgatar com ética e valores, o planeta Terra.
O Projeto Semeando o Bioma Cerrado tem compromisso com a questão social, trabalhando com públicos
diversos envolvidos no processo de consecução de suas iniciativas. Foram 10 públicos-alvo alcançados pelas
ações de EA desenvolvidas: alunos de escolas rurais e urbanas de Ensino Infantil, Fundamental e Ensino
Especial; alunos em situação de vulnerabilidade social de dois programas do governo; professores da rede
pública, educadores e agentes ambientais, e membros de comunidades rurais do DF e GO. Almeja-se com
essas ações educativas fornecer também, uma nova opção de geração de renda, reforçando o sentimento de
engajamento e pertencimento em suas comunidades e áreas de vegetação nativa.
Nosso Patrocinador:
Por ser tema transversal, a EA está presente em todos os projetos aprovados pelo Programa Petrobrás
Socioambiental que visam o desenvolvimento territorial de longo prazo, em áreas de influência e territórios
estratégicos da Petrobras, por meio de iniciativas sistêmicas e multi-institucionais de fusão de experiências,
conhecimentos e metodologias. Neste eixo, destacam-se as seguintes ações: incubação de projetos; iniciativas
que fomentem a valorização do capital social e fortalecimento do protagonismo da governança local; formação
de atores e organizações locais; construção de redes territoriais e centros de referência esportiva.
Inicialmente, o projeto contou com o apoio dos seguintes parceiros: Universidade Federal de Goiás (UFG),
Centro de Referência em Conservação da Natureza e Recuperação de Áreas Degradadas da Universidade
de Brasília (CRAD/UnB); a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), em especial Embrapa
Cerrados e Embrapa Agrossilvipastoril; Instituto Oca Brasil; Associação dos Amigos das Florestas e Escola da
Natureza.
Ao reeditarmos esta publicação utilizada com sucesso nos trabalhos de sensibilização do Projeto Semeando o
Bioma Cerrado, contendo sugestivas ações e um farto material informativo e reflexivo, esperamos contribuir
com os professores e demais apoiadores desse trabalho.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Visão da educação ambiental no Projeto Semeando o Bioma Cerrado


“A raça humana não pode prosperar enquanto não aprender
que há tanta dignidade em cultivar campos quanto
em escrever um poema.”
Booker Washington
(www.oassab.org.b/index.php/pensamentos/23-pensamentos-do.../)

Por que inserir a educação ambiental em um projeto técnico


O Projeto Semeando o Bioma Cerrado tem como objetivo estimular os elos da cadeia produtiva de sementes e mudas
florestais deste tão ameaçado bioma brasileiro. Esse processo exige muito mais que instrumentalizar pessoas para o
exercício das atividades do setor de produção de sementes e mudas nativas, exige o despertar do interesse pelo tema
e o reconhecimento de que seus problemas e os problemas do mundo nascem da ausência de valores éticos e do não
reconhecimento do papel de cada um na importante rede que chamamos de “teia da vida”. Para preservar é preciso
conhecer, e é almejando esse conhecimento que reconhecemos melhores formas de preservar a vida.
A definição de comunidade sustentável como aquela “capaz de satisfazer suas necessidades e aspirações sem
diminuir as chances das gerações futuras”, constante do Relatório nosso futuro comum, que inspirou vários
autores com os quais trabalhamos, é, sem dúvida, uma valoração moral importante, pois nos lembra da nossa
responsabilidade em deixar um mundo com pelo menos as mesmas oportunidades com as quais o herdamos.
A aspiração de um mundo com as mesmas oportunidades das gerações que nos antecederam ainda é uma
definição que limita a preservação da vida, pois não instrumentaliza pessoas para a construção de uma
comunidade de fato sustentavelmente ecológica. Comunidades desafiadas a aprender a preservar mais e
cidadãos conscientes de problemas, mas focados em soluções e não em “pontos zeros”, tenderão a construir os
meios para resolver as questões-chave para a conservação ambiental sem serem limitados por elas.
A Rede de Sementes do Cerrado, em parceria com a AAF e a Escola da Natureza, inseriu a educação ambiental no projeto
com o propósito de “semear ideias e valores para preservar o bioma Cerrado”, buscando superar a visão antropocêntrica,
na qual o homem se julga o centro de tudo, esquecendo a importância da natureza, da qual é parte integrante. O objetivo
é também ampliar a abrangência de perspectiva, incorporando a esta a proteção e o uso sustentável dos recursos naturais.
A proposta tem como foco a construção de sociedades sustentáveis, com a compreensão sistêmica e a organização da
vida como rede ou teia, abrangendo todos os ciclos ecológicos sustentados pelo fluxo da energia proveniente do sol.
O público-alvo dessas ações de educação ambiental no projeto eram inicialmente escolas rurais. No entanto,
em face da demanda, tivemos de ampliar nosso campo de ação, agregando também escolas urbanas, educação
inclusiva, crianças e jovens em situação de risco e em defasagem em idade escolar.
A teia da vida, os ciclos da natureza e o fluxo de energia constituem a linha de ação defendida por Fritjof Capra,
e são esses os fenômenos que as crianças vivenciam, exploram e entendem em suas experiências por meio das
metodologias propostas para as oficinas de educação ambiental no Projeto Semeando o Bioma Cerrado.

O que se busca para a preservação do Cerrado


Estes são os objetivos almejados com a educação ambiental no Projeto Semeando o Bioma Cerrado:
1) contribuir para a formação de crianças saudáveis e para o desenvolvimento de sua capacidade de aprender a
aprender, estimular sua capacidade de pensar e estabelecer as bases para a formação de uma pessoa ética, capaz
de conviver na sua comunidade de forma ambientalmente correta e socialmente justa;
2) promover um conjunto de conhecimentos sobre o Cerrado e desenvolver habilidades, atitudes e valores
ambientais de forma adequada a cada faixa etária, rompendo a passividade do aluno em relação à sua formação
e transformando-o em agente participante ativo no processo de construção da sustentabilidade desse bioma;
3) possibilitar ao aluno vivenciar experiências ricas, como coleta de sementes, plantio de árvores e hortas, contato com
animais, coleta e produção de alimentos, orientação sobre alimentação saudável, nutrição e educação do movimento.
O movimento corporal é uma importante dimensão do desenvolvimento humano, e nas crianças ele está
intrinsecamente ligado ao desenvolvimento da inteligência. Nesse sentido, a exploração do ambiente e do espaço por
meio do movimento é estimulada em atividades ao ar livre e sempre de forma lúdica. São jogos, circuitos, oficinas de
reciclagem e reaproveitamento de materiais, danças, brincadeiras, iniciação de práticas esportivas utilizando recursos
da artepedagogia para a transferência do conhecimento a respeito da natureza e da sociedade. Em suma, a finalidade
do Projeto Semeando o Bioma Cerrado é contribuir para a formação de uma comunidade investigativa na qual os
participantes possam expor suas ideias e escutar as de outros, questionando e comparando pontos de vista.

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PARTE I
A primeira parte desta publicação abrange um conjunto de oito capítulos. Neles, a visão de cientistas,
legisladores e professores foi repassada de maneira que fossem apresentados diferentes aspectos
contextualizadores das ações apresentadas na segunda parte do livro – os instrumentos de EA usados no
Projeto Semeando o Bioma Cerrado que embasaram as ações de educação ambiental realizadas nas diversas
oficinas do projeto com suas distintas expertises e abordagens.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

CAPÍTULO 1

Cerrado, Nossa casa


Regina Célia Pereira Fernandes de Souza

O Cerrado
Um dos mais antigos biomas a se estruturar no continente americano, o Cerrado surgiu em algum momento do
período Cretáceo Superior, mas foi no Terciário Médio, há mais ou menos 60 milhões de anos, que ele começou
a desenvolver o estoque genético que lhe deu a conformação atual. Segundo maior bioma brasileiro, concentra
1/3 da biodiversidade nacional e 5% da flora e da fauna mundiais.
A região do Cerrado, considerando seu aspecto natural, tem uma importância significativa para o equilíbrio de
toda a plataforma sul-americana. A água acumulada nos lençóis freáticos do Cerrado do Centro-Oeste abastece
nascentes que dão origem a seis das oito maiores bacias hidrográficas brasileiras: Parnaíba, Paraná, Paraguai,
Tocantins-Araguaia, São Francisco e Amazônica. O potencial hídrico do Cerrado dá ao bioma o título de
“Berço das Águas”. Até mesmo a bacia hidrográfica do Amazonas recebe as águas que brotam no Cerrado.
Fica bem no meio do mapa e faz conexões com outros importantes biomas: ao norte, a Amazônia; a nordeste, a
Caatinga; a sudoeste, o Pantanal; e a sudeste, a Mata Atlântica. Isso faz com que o Cerrado mantenha importantes
relações ecológicas com os biomas vizinhos. O resultado dessa interação é a existência de uma fauna e uma flora
muito ricas em diversidade biológica. O Cerrado influi e recebe influência dos demais biomas, constituindo
um habitat único no mundo, sendo também base de sobrevivência cultural e material de um sem-número de
habitantes, comunidades tradicionais, indígenas, quilombolas, geraizeiros, dentre outros, que têm no uso de
seus recursos naturais a fonte de sua subsistência.
As águas também são importantes atrativos turísticos na região, com grande influência na economia de vários
municípios. Cachoeiras, cascatas, cânions, lagos, rios e riachos conjugam-se à paisagem do Cerrado, criando
atrações para visitantes de vários cantos do Brasil e do mundo. São cenários de beleza incomparável para os que
buscam lazer, esportes ou o contato profundo com a natureza.
Essa abundância hídrica, além de ser importante para a vegetação, permite o intercâmbio de sementes, pólen e mesmo
a dispersão da fauna através das matas de galeria que acompanham córregos e rios, possibilitando que indivíduos
do Cerrado se acasalem com representantes da Amazônia, da Mata Atlântica e da Caatinga, o que contribui para
aumentar a variabilidade genética das espécies.Um dos mais antigos biomas a se estruturar no continente americano,
o Cerrado surgiu em algum momento do período Cretáceo Superior, mas foi no Terciário Médio, há mais ou menos
60 milhões de anos, que ele começou a desenvolver o estoque genético que lhe deu a conformação atual. Segundo
maior bioma brasileiro, concentra 1/3 da biodiversidade nacional e 5% da flora e da fauna mundiais.
A típica vegetação do Cerrado se caracteriza pelos troncos tortuosos, baixo porte, ramos retorcidos, cascas
espessas e folhas grossas. É importante ressaltar que a vegetação não apresenta essa característica em
decorrência da escassez de água, já que o Cerrado abriga densa rede hídrica, mas devido a outros fatores
edáficos, notadamente o desequilíbrio no teor de micronutrientes, a exemplo do alumínio.

Brasília é bom em riachos de entre grotas:


corguinhos d’agua,
vertentes, fios de prata,
do sem fim das planuras,
que a cidade fotografa
e retoca o ano inteiro,
entre secas de julho,
e águas de janeiro.
Trecho do poema Brasília, caminhos de sair
(para Hugo, um de lá), no livro “O vento de agosto no pé de Ipê “

Carlos Rodrigues Brandão

Estação Ecológica de Águas Emendadas, Brasília-DF

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O bioma Cerrado é um dos que mais sofreu com a ocupação humana, sendo superado apenas pela Mata
Atlântica. A pressão crescente para o desmatamento de novas áreas para expansão agropecuária está levando
à exaustão progressiva dos recursos naturais da região. As florestas do Cerrado são também tremendamente
afetadas pela extração predatória para produção de carvão. A conjugação desses fatores posiciona o Cerrado
como um “hotspot” de biodiversidade e desperta especial atenção para a conservação dos seus recursos naturais.
A grande riqueza de espécies no Cerrado, associada à heterogeneidade na distribuição das mesmas, faz com
que as estratégias de conservação “in situ”, particularmente com a expansão das áreas protegidas sob a forma
de Unidades de Conservação da Natureza, se deparem com enormes desafios. Além das conhecidas ameaças a
conservação da biodiversidade, as peculiaridades do Cerrado tornam muitas áreas do seu domínio como espaços
únicos e insubstituíveis, o que remete a necessidade de grande esforço para ampliar o nosso conhecimento
sobre a riqueza biológica que esse bioma abriga, e assim superar as lacunas nas estratégias de conservação.
Extraido de:
CHAVES, M. R. UFCER – uma universidade no cerrado e para o cerrado. São Paulo: Ciência e Cultura,v.63,
n.3, 2011.
ISPN - Instituto Sociedade, População e Natureza: No coração do Brasil, o berço das águas - http://www.ispn.
org.br/o-cerrado/no-coracao-do-brasil-o-berco-das-aguas/
BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Ministério do Meio Ambiente. Secretaria de Biodiversidade e
Florestas. Guia de Campo Vegetação do Cerrado 500 espécies. Brasília, 2011.

Flora do Cerrado
A flora do Cerrado é considerada a mais rica dentre as savanas do mundo. Cerca de 40% das espécies é endêmica, ocorrendo
apenas no bioma, cuja destruição provocaria a eliminação da própria espécie. Ocupa mais de 22% das terras brasileiras e é
formado por um conjunto de vários tipos de vegetação, na qual pode-se encontrar, em meio às formações características,
algumas formações pertencentes a outros biomas. Este mosaico de fisionomias é extremamente importante do ponto de
vista da biodiversidade, pois reúne uma grande variedade de plantas e animais.
No Brasil essa vegetação savânica é denominada “cerrado”, que significa fechado. O nome é usado em três versões:
Cerrado, com letra maiúscula, para designar o bioma que ocorre nos 22% do território nacional, Cerrado Sentido
Amplo ou lato sensu, que inclui as formações da vegetação desde o Cerradão até os Campos e, ainda, Cerrado Sentido
Restrito ou stricto sensu (s.s.), um dos tipos fisionômicos que ocupava, originalmente, mais de 60% da área desta região.
Essa vegetação, com mais de 12 mil espécies de plantas vasculares, se apresenta em fitofisionomias classificadas
como se segue:
Formações Campestres - árvores ausentes ou esparsas na área. Campo Limpo ou Sujo, Úmidos ou Secos
conforme posição no relevo e Rupestre nos afloramentos de rochas.
Formações Savânicas - cobertura arbórea entre 5-70%. Cerrado Sentido Restrito e suas variações: Denso,
Típico, Ralo e Rupestre e, ainda, os Palmeirais e as Veredas.
Formações Florestais - cobertura arbórea entre 50-95%. Matas de Galeria Inundáveis e Não Inundáveis
acompanhando pequenos cursos de água, Matas Ciliares nos médios e grandes cursos de água, Matas Secas,
Decíduas, Semidecíduas e Sempre-Verdes, de acordo com o substrato, afloramentos de rochas e posição no
relevo e, ainda, o Cerradão.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Formações campestres
Campo Limpo - comunidade herbácea, sem árvores e raros arbustos. Apresenta densa cobertura de gramíneas
entremeadas por ervas, subarbustos e samambaias. Comum nas encostas, chapadas e como vizinhas de
nascentes, veredas e matas de galeria. Ocorre em solos arenosos rasos ou duros, onde frequentemente apresenta
afloramento do lençol subterrâneo de água. Inclui as variações: Seco, Úmido e, ainda, com Murundus.

Campo Limpo - Foto: Manoel Claudio da Silva Junior

Campo Sujo - comunidade arbustivo-herbácea com arbustos e pequenas árvores esparsas na paisagem - o
que dá o aspecto de campo, “sujo” com árvores. Geralmente ocorre em solos mais rasos, eventualmente com
pequenos afloramentos rochosos, ou em solos profundos de baixa fertilidade ou ainda em áreas de Cerrado que
sofreram forte perturbação antrópica. Inclui as variações: Seco, Úmido e, ainda, com Murundus.
Campo com Murundus - campos ocupados por elevações de terra, às vezes regularmente espaçadas. As maiores
elevações podem ser formadas por cupinzeiros, onde há maior aeração nos solos, o que permite a colonização de
arbustos e pequenas árvores típicas do cerrado sentido restrito. Ocorre como variações no Campo Limpo e Campo Sujo.
Campo Rupestre - comunidade herbáceo-arbustiva, raro com arvoretas, que ocorre sobre afloramentos de
rochas nas encostas das chapadas e serras, frequentes acima dos 900m de altitude. Ventos constantes e grandes
variações diárias na temperatura são típicos nestas áreas. As árvores concentram-se nas fendas entre as rochas,
e a densidade arbórea é variável e dependente do volume de solo. Há casos em que as árvores podem dominar a
paisagem, enquanto em outros a flora arbustivo-herbácea predomina, embora as árvores continuem presentes.

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Formações Savânicas
Cerrado Sentido Restrito ou sensu stricto (s.s.) - tipo de cerrado em que a cobertura arbórea varia entre 5 e 70%
sem formação de dossel. As árvores são baixas, tortuosas, com cascas espessas e folhas geralmente coriáceas
e pilosas. A luz solar alcança a superfície do solo onde se desenvolve exuberante comunidade herbácea com
alguns arbustos. Apresenta-se com as variantes: Denso, Típico, Ralo e Rupestre.

Cerrado Sentido Restrito - Foto: Manoel Claudio da Silva Junior

Parque de Cerrado - árvores que cobrem entre 50 e 70% do terreno, agrupadas em pequenas elevações chamadas
Murundus. As árvores estão praticamente ausentes nas depressões vizinhas.
Veredas - em solos saturados com grupos descontínuos de Buritis (Mauritia flexuosa), com cobertura arbórea
entre 5-10%, em meio à comunidade arbustivo-herbácea. Frequentemente circundadas por Campo Úmido. É
comunidade precursora das Matas de Galeria.

Vereda - Foto: Manoel Claudio da Silva Junior

Palmeiral - área com domínio (30-70% de cobertura) de espécie única de palmeira arbórea com dossel
descontínuo. Nos solos bem drenados ocorrem: Babaçual - Attalea speciosa, Guerobal - Syagrus oleraceae e
Macaubal - Acrocomia aculeata. Nos solos mal drenados ocorre o Buritizal - Mauritia flexuosa.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Formações Florestais
Cerradão - se comparado com o cerrado s.s. apresenta árvores esclerófilas, com maior altura, 12 a 15m, e em
maior densidade, 50 a 90% de cobertura. O subosque esparso, com arbustos, ervas e poucas gramíneas resulta
da reduzida incidência da luz na superfície do solo. Inclui espécies do cerrado s.s. e das matas. A fertilidade dos
solos define os subtipos: Distrófico e Mesotrófico.

Cerradão - Foto: Manoel Claudio da Silva Junior

Matas de Galeria - comunidades ribeirinhas, sempre-verdes com 70 a 95% de cobertura, associadas aos menores cursos
de água. Inclui os subtipos: inundável e não inundável de acordo com o período de afloramento do lençol freático. São
muito variáveis por incluir mais de 30% da flora vascular em apenas 5% do território que ocupam no bioma.

Mata de Galeria - Foto: Manoel Claudio da Silva Junior

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Matas ciliares - comunidades ribeirinhas, decíduas ou semidecíduas com 50% (seca) a 90% (chuvas) de
cobertura, associadas aos maiores cursos de água. Sua composição florística difere daquela em matas de galeria.
Sua largura, raro maior que 100m, depende da topografia.

Mata Ciliar - Foto: Manoel Claudio da Silva Junior

Matas secas - florestas decíduas, semidecíduas ou sempre-verdes, distantes de cursos de água, em solos mais
férteis com ou sem afloramentos de rochas calcárias. O dossel (15-25m de altura) contínuo ou com clareiras,
resulta em cobertura de 50% (seca) a 95% (chuvas).

Mata Seca - Foto: Manoel Claudio da Silva Junior

Extraído de:
SILVA JUNIOR, M.C. 100 Árvores do Cerrado sentido restrito - Guia de Campo. Brasília,DF. Ed. Rede de Sementes do Cerrado, 2012.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Um pouco mais sobre Veredas


As veredas no Brasil Central em geral, ocupam os vales pouco íngremes ou áreas planas do fundo do vale,
acompanhando linhas de drenagem mal definidas. Também são comuns em posição intermediária do terreno,
próximas às nascentes (olhos d’água), ou nas bordas das cabeceiras de matas de galeria. São encontradas
em solos minerais hidromórficos, pertencentes à ordem dos gleissolos, glei pouco húmícos e glei húmicos,
saturados durante a maior parte do ano. A manutenção da vegetação nativa nas veredas é um importante fator
para a contenção de erosão nos solos hidromórficos com elevado teor de matéria orgânica.
A paisagem da vereda é formada por dois estratos de vegetação: um herbáceo-graminóide que ocupa a maior
parte de sua área, formado principalmente por espécies das famílias Cyperaceae, Eriocaulaceae, Lentibulariaceae,
Xyridaceae e Poaceae, com várias espécies típicas de vereda e outro arbóreo-arbustivo com predominância de
espécies das famílias Lamiaceae, Melastomataceae e Rubiaceae e do buriti (Mauritia flexuosa L.f.).
O buriti é uma espécie de palmeira ereta, de porte arbóreo com altura de até 25 metros que apresenta folhas
grandes em formato de leque que se destacam no ápice de seu caule. Apresenta inúmeras flores distribuídas
ao longo de uma grande inflorescência pêndula saindo da base de suas folhas. O fruto de coloração externa
castanho-avermelhada, quando maduro, apresenta-se revestido por escamas rígidas e coriáceas que lembram a
pele de cobra, possui polpa carnosa amarelada. Floresce ao longo de todo o ano e apresenta pico de frutificação
entre os meses de junho e outubro.

Vereda - RPPN Linda Serra Topázios - GO. Foto: Cassia Munhoz

Eiten (2001) classifica a vereda como uma unidade de vegetação formada por três faixas paralelas de diferentes
tipos vegetacionais, a primeira representada por campo úmido sazonal, alagado somente no auge das chuvas,
a qual o autor denomina brejo estacional graminoso; na segunda faixa apresenta-se o campo úmido alagado
permanentemente, tendo sido denominada brejo permanente graminoso e por último a faixa de buritizal,
também sob solo saturado. Brandão et al. (1991) e Araújo et al. (2002), também reconhecem três zonas de
vegetação relacionadas à topografia e a drenagem do solo, designando-as de: borda onde o solo é mais seco, e em
meio à vegetação campestre podem ocorrer arbusto e pequenas árvores isoladas; meio com solo com alagamento
sazonal e vegetação predominantemente herbáceo-subarbustiva; e fundo que apresenta solo permanentemente
saturado com água, brejoso, onde ocorrem os buritis, muitos arbustos e arvoretas adensadas. Segundo estes
autores estas zonas são floristicamente diferenciadas, cujos reflexos emergem sobre a flora zonal. As duas
primeiras zonas correspondem à faixa tipicamente campestre e o fundo corresponde ao “bosque sempre-verde”
de Magalhães (1966). Por estas características peculiares, autores como Brandão et al. (1991) se referiram a
vereda como “comunidade geral” e Araújo et al. (2002) sugeriram que esta deve ser considerada como um
“complexo vegetacional”, isto é, um tipo de vegetação formado por manchas com diferentes características
estruturais e florísticas.
Em fases mais avançadas da vereda, podem ser encontradas ilhas de vegetação lenhosa junto aos buritis. Quando os
vales tornam-se mais encaixados e o lençol freático é rebaixado, as veredas dão lugar às matas de galerias.

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Supõe-se que a vereda seja um dos estágios para a formação ou expansão da mata de galeria, tendo como base a ausência
de buritis jovens nas matas estabelecidas, a inexistência de um dreno ou carrego definido na vereda e outras condições,
como pouco sombreamento, que permitam a ocupação de outras espécies arbóreas.
É um ecossistema de grande relevância na região do Cerrado e tem papel reconhecido no equilíbrio geoecológico
e hidrológico do bioma. Além de proteger nascentes e fornecer água, as veredas exercem papel fundamental
na manutenção da fauna do bioma, funcionando como local de pouso para as aves, atuando como refúgio,
abrigo, fonte de alimento e local de reprodução também para a fauna terrestre e aquática. Pode-se ainda
destacar o seu valor paisagístico, e o seu papel social para pequenas comunidades de agricultores que exploram
sustentavelmente a palmeira buriti, para diversas finalidades.
São reconhecidas como área protegida por lei, ou seja, Área de Preservação Permanente.
Extraído de:

MUNHOZ, C.B.R.; EUGÊNIO, C. U. O.; OLIVEIRA, R.C. Vereda - Guia de Campo. Brasília, DF. Ed. Rede de Sementes do Cerrado, 2011.

Fauna do Cerrado
O grande ornitólogo Helmut Sick, que estudou profundamente a fauna do Cerrado, afirmava que não é fácil
estabelecer o conceito de “fauna típica” do mesmo, pois muitos animais que vivem nesse bioma podem ser
encontrados também em outros tipos de paisagens. No entanto, há certo grau de endemismo principalmente
com relação às aves e roedores.
Os estudos sobre insetos ocorrentes no Cerrado revelam que essa fauna é muito diversificada. Os insetos
desempenham uma função muito importante na natureza, polinizando inúmeras plantas e servindo
de alimento para muitos animais. Os insetos são considerados o grupo dominante dos animais
da Terra, podendo ser encontradas cerca de 1.000 espécimes em um quintal de tamanho
regular. No ecossistema Cerrado existem milhares de espécimes distribuídos em cada
uma das suas fitofisionomias; ali existe uma grande quantidade de características
estruturais e fisiológicas, além da capacidade de adaptação a condições
extremamente adversas.
Os insetos são fonte de proteína para outros animais do Cerrado e que os
têm como base da sua dieta alimentar. São os chamados insetívoros, onde
se incluem várias espécies de anfíbios, répteis, aves e mamíferos, além dos
próprios insetos chamados predadores naturais, que funcionam como reguladores populacionais. Inseridos na cadeia
alimentar, os insetos ocupam uma posição de destaque na manutenção do equilíbrio ambiental do Cerrado. Mesmo
assim, eles usam uma estratégia muito importante para tentar escapar da predação natural - o mimetismo, ou seja,
eles se misturam com a vegetação e com os substratos do ambiente na tentativa de enganar os seus predadores.
A polinização da flora é outra função importante dos insetos. Abelhas, besouros, vespas, borboletas,
marimbondos e outros, cumprem essa função. Polinizadas, as espécies vegetais são fecundadas e produzem
frutos e sementes que serão dispersas no ambiente.
Alguns insetos produzem alimentos que podem ser usados diretamente pelo ser humano, tais como mel,
própolis, cera, seda e outros, despontando como um grupo animal de interesse econômico.
Outros insetos são importantes na decomposição da matéria orgânica animal e vegetal, e na aeração do solo,
fazendo com que este se torne mais rico em nutrientes, além de possibilitar o melhor enraizamento das plantas
e infiltração mais eficiente das águas em ambientes com maior adensamento populacional. Estão presentes
nesses ambientes, algumas espécies de formigas, cupins, besouros, baratas silvestres e outros.
Devemos ressaltar, cada vez mais, a importância dos insetos como peça fundamental na manutenção do
equilíbrio do ecossistema Cerrado e de todos os outros, nos quais estão sempre presentes em grande diversidade
de espécies e com uma densidade populacional muito elevada.
Extensas áreas do Cerrado permanecem desconhecidas ou pouco estudadas com relação aos grupos de peixes
e anfíbios. Contudo, os poucos levantamentos já realizados mostram que essa fauna é muito rica.
Com relação aos répteis, é sabido que muitas cobras e lagartos do Cerrado vivem quase todo o tempo em
galerias subterrâneas, a salvo do calor escaldante da superfície. O Cerrado apresenta uma fauna de répteis e
anfíbios de grande diversidade, sendo que muitas espécies novas foram descritas recentemente. Atualmente, são
registradas para o Cerrado 10 espécies de quelônios (cágados, jabutis e tartarugas), 5 de jacarés, 47 de lagartos,
103 de serpentes e 113 de anfíbios. Segundo especialistas, um dos fatores determinantes na diversidade da
herpetofauna do Cerrado é a estratificação horizontal de “habitats”, ou seja, existe um mosaico de diferentes tipos de

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

vegetação justapostas, cada uma contendo uma composição distinta de espécies. Entretanto, essa diversidade vem
sendo ameaçada por impactos causados pela atividade humana, como desmatamentos, queimadas e urbanização.
Podem ser encontradas no Cerrado 837 espécies de aves, das quais, 30 são endêmicas, isto é, só ocorrem neste
bioma. Dentre as aves mais típicas podemos destacar a ema (Rhea americana), a maior ave das Américas. Ela se
alimenta de uma grande variedade de itens, entre eles insetos, minhocas, lagartos, cobras, rãs, folhas, frutos e
sementes. Para ajudar na trituração dos alimentos, costumam ingerir pequenas pedrinhas. É uma ave terrícola
e excelente corredora, vive em bandos de cerca de 30 indivíduos que se deslocam constantemente à procura de
alimento. As asas servem para dar equilíbrio e mudar a direção durante a corrida, quando ela pode atingir uma
velocidade superior a 60 km/hora. A seriema (Cariama cristata) é outra ave bem típica do Cerrado, tanto que
sua vocalização é conhecida como “a voz do Cerrado”. Andam aos pares ou em pequenos grupos, sendo vistas
com facilidade nos Campos Sujos e Cerrado Típico.
São comuns também o tucano (Ramphastos toco), o papagaio-galego (Amazona xanthops) e araras, entre elas a
belíssima arara-azul (Anodorhynchos hyacinthinus) e a canindé (Ara ararauna), encontradas corriqueiramente
nos buritizais.
Os mamíferos são representados por 200 espécies, das quais pouco menos de 20 são endêmicas, ou seja, somente
ocorrem no Cerrado. Muitos deles têm hábito noturno, ficando escondidos em tocas ou outros abrigos durante o
dia. Essa é uma estratégia que os ajuda a escapar dos predadores e também das condições extremas de temperatura.
Há muitos animais interessantes, como o tamanduá-bandeira (Myrmecophaga tridactyla), ameaçado de extinção
devido à caça e destruição do seu ambiente. Este animal ainda pode ser visto em alguns lugares do Cerrado,
principalmente nas Unidades de Conservação, alimentando-se de cupinzeiros e ninhos de formigas. O tímido
lobo-guará (Chrysocyon brachyurus), que é uma espécie de canídeo endêmico da América do Sul, também
ameaçado de extinção, tem hábitos crepusculares e noturnos e se alimenta de pequenos animais e frutos diversos.
O cachorro-vinagre (Speothos venaticus) é um dos membros menos conhecidos da família dos canídeos, alimenta-
se de presas de pequeno porte, mas pode caçar em grupo para abater animais maiores – como emas ou capivaras.
Apesar de ter uma grande área de distribuição (Américas Central e do Sul) a população segue em declínio.
Destruição e fragmentação do habitat, abate por cães e humanos e doenças transmitidas por animais domésticos
são as principais ameaças. Está na categoria vulnerável na Lista de Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas
de Extinção, elaborada pelo ICMBio. Encontram-se ainda no Cerrado a onça-pintada (Panthera onca), a anta
(Tapirus terrestris), o veado-campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o veado-catingueiro (Mazama gouazoubira),
entre outros. O mico-estrela (Callithrix penicillata) pode ser visto nas matas ciliares e cerradões, enquanto que o
bugio (Alouatta caraya) é muito comum nas matas ciliares, de vegetação mais fechada.
A conversão das áreas de vegetação natural em pastagens e lavouras é o principal problema do Cerrado,
pois diminui o habitat disponível para animais e plantas, afetando a funcionalidade do ecossistema e
ameaçando de extinção centenas de espécies. O prejuízo para os seres humanos é incalculável. O Cerrado
tem potencial para oferecer uma gama de benefícios ao homem, entre eles o aproveitamento de plantas
e animais de interesse agropecuário e a descoberta de novos remédios. Entretanto, se as porções mais
significativas desse bioma continuarem a ser destruídas, esse precioso patrimônio biológico poderá
desaparecer antes que se descubram usos para as espécies até agora desconhecidas.
Extraído de:
CEMIG. Guia Ilustrado de Animais do Cerrado de Minas Gerais. 2ª edição. Editora Empresa das Artes, 2003

Dispersão no Cerrado e dispersores ameaçados


A manutenção da integridade de um ecossistema depende das interações da fauna e flora entre si, tendo a
dispersão de sementes papel fundamental (Jordano et al. 2006). A frugivoria (animais que comem frutos) é
um processo central em populações de plantas que dependem da dispersão de sementes por animais para sua
regeneração natural, sendo que a evolução das plantas e características dos seus frutos e sementes responde
diretamente às interações planta-frugívoro (Fleming & Kress 2013).
A fragmentação de hábitat e a perda de animais frugívoros, principalmente daqueles de grande porte que são
mais sensíveis ao desmatamento como o lobo-guará e a anta, compromete de maneira drástica a distribuição das
espécies e a estrutura genética da população de plantas (Galetti et al. 2013). Estima-se que um terço de todas as
espécies de plantas do bioma Cerrado dependa da fauna para dispersão das sementes, principalmente espécies de
ambientes com formações mais fechadas como o Cerrado Denso e as Matas (Kuhlmann & Fagg 2012).

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Entre as espécies arbóreas do bioma, cerca de 70% produzem frutos que são atrativos para fauna. Sem dispersores,
as sementes que caem sob a planta mãe ficam sujeitas a altas taxas de competição e predação, prejudicando o
sucesso reprodutivo dos vegetais (Howe et al. 1985). Cerca de metade de todas as espécies de aves, morcegos
e mamíferos não voadores que ocorrem no Cerrado incluem frutos na sua dieta, sendo potenciais dispersores
de sementes (Fleming & Kress 2013). Assim, é de extrema importância a conservação da fauna para a vida
da vegetação e manutenção dos serviços ecológicos que contribuem para o ciclo de regeneração natural das
plantas do Cerrado.
Referências:
FLEMING, T. H., & KRESS, W. J. The ornaments of life: coevolution and conservation in the tropics. University of Chicago Press, 2013.

GALETTI, M., GUEVARA, R., CÔRTES, M. C., FADINI, R., VON MATTER, S., LEITE, A. B., & JORDANO, P. Functional extinction
of birds drives rapid evolutionary changes in seed size. Science, 340(6136), 1086-1090, 2013.

HOWE, H. F., SCHUPP, E. W., & WESTLEY, L. C. Early consequences of seed dispersal for a neotropical tree (Virola surinamensis).
Ecology, 66(3), 781-791, 1985.

JORDANO, P., GALETTI, M., PIZO, M. A., & SILVA, W. R. Ligando frugivoria e dispersão de sementes à biologia da conservação.
Biologia da conservação: essências. São Paulo: Editorial Rima, pp. 411-436, 2006.

KUHLMANN, M. & FAGG, CW. Frutos e Sementes do Cerrado Atrativos para Fauna - Guia de Campo. Brasília, DF. Ed. Rede de
Sementes do Cerrado, 2012.

Interações entre plantas e morcegos


E por falar em morcegos... quem são essas vítimas do nosso desconhecimento, lembrados como criaturas sinistras,
demoníacas e indesejáveis, tão amaldiçoados, perseguidos e mortos? Mitos e lendas cercam estes seres noturnos que,
dificilmente nos faz acreditar que são exímios caçadores de insetos, polinizadores e dispersores de sementes. Gratuitamente
eles realizam importantes serviços ambientais!
São os únicos mamíferos com capacidade de voar uma vez que seus 4 longos dedos dão a asa a estrutura de uma mão, daí
serem denominados de quirópteros (palavra que vem do grego e significa: quiro=mão e ptero=asa).
No mundo existem cerca de 1.200 espécies de morcegos, distribuídos em dois grupos: 1) os Megaquirópteros,
também conhecidos por “raposas voadoras”, que se alimentam apenas de frutos e flores, ocorrem na Ásia,
África e Oceania e alcançam até 1,70m de envergadura e 2kg de peso e, 2) os Microquirópteros, que apresentam
ampla distribuição mundial, são geralmente pequenos, podendo variar de alguns gramas de peso até 200g e
de 10 a 80cm de envergadura. No Brasil ocorrem cerca de 175 espécies, todas do grupo dos microquirópteros.

Raposa voadora (Pteropus vampyrus). Foto: Wilson Uieda

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Quanto ao hábito alimentar, das 1.200 espécies de morcegos, 70% são insetívoras (alimentam-se somente de
insetos), 27% são fitófagas (alimentam-se de frutos, pólen, néctar e folhas) e, as demais, de peixes e pequenos
vertebrados. Apenas 3 espécies alimentam-se de sangue: duas alimentam-se do sangue de aves e apenas uma
única espécie alimenta-se do sangue de aves e de mamíferos (incluindo os humanos).
As relações entre os morcegos fitófagos e as plantas de cujos produtos eles se alimentam geralmente influenciam
a distribuição geográfica e a abundância de ambos os grupos, bem como seus períodos de reprodução. Quando
essas interações são mutualistas, os morcegos são beneficiados pela obtenção de alimento e as plantas pelo uso
de agentes para o transporte de pólen ou de sementes.
As relações mutualistas ligadas a polinização e a dispersão de sementes estão intimamente associadas à evolução
das angiospermas (plantas com flores e sementes contidas em frutos). Em suas interações com os morcegos,
as angiospermas se especializaram em atrair os seus visitantes, levando-as às síndromes de quiropterofilia
(polinização) e de quiropterocoria (dispersão). As flores das plantas que fazem parte de sistemas de polinização
por morcegos, em geral, abrem no período noturno, com a ântese (abertura da flor, pronta para ser fecundada)
ocorrendo após o por do sol e duram apenas uma noite. São brancas ou pálidas, de odor forte, produzem grande
quantidade de pólen e néctar diluído e têm suas flores posicionadas externamente à folhagem. Como exemplo,
podemos citar os pequizeiros e os jatobás. As plantas que fazem parte de sistemas de dispersão por morcegos
têm, em geral, cores opacas e seus frutos ficam expostos, como o landim, caqui-do-cerrado, coquinho-jerivá,
pebanheira, barú, os angelins, entre tantos outros.

Morcego nectarívoro com face coberta de pólen. Morcego nectarívoro visitando a flor do jatobá-do- Morcego frugívoro comendo coquinho-jerivá.
Foto: Wilson Uieda cerrado. Foto: Paulo Eugênio Oliveira Foto: Angelika Bredt

Os morcegos fitófagos destacam-se no processo de recomposição da vegetação de áreas desmatadas por


dispersarem as sementes de mais de 500 espécies de angiospermas. Além disso, mais de 1.000 espécies de
plantas são polinizadas por morcegos na região neotropical.
Trabalhos recentes têm sugerido que morcegos e aves são de fato os principais dispersores de sementes de
plantas na região Neotropical, sendo responsáveis por até 80% das sementes que caem no solo de algumas
florestas e savanas. Os “serviços” de dispersão de sementes por morcegos e aves parecem ser complementares,
já que os morcegos cuidam mais de plantas pioneiras (embaúbas, figueiras, jaborandis e pimentas selvagens,
joás e jurubebas) e as aves das intermediárias e tardias.

Morcego frugívoro comendo fruto de uma figueira. Foto: Sérgio Bernarde

Extraido e modificado de: BREDT, A.; UIEDA, W.; PEDRO, W. A. Plantas e Morcegos na recuperação de áreas degradadas e na
paisagem urbana. Brasília, DF. Ed. Rede de Sementes do Cerrado, 2012

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Ajude a proteger o meio ambiente
É muito importante que levemos a sério nosso compromisso de preservar o patrimônio natural do Brasil, que é um
bem de uso comum de todos os brasileiros, garantindo que as futuras gerações possam conhecê-lo e amá-lo em sua
forma mais natural. A exploração desordenada do território brasileiro é uma das principais causas das extinções das
espécies. Fatores como o avanço da fronteira agrícola, a caça de subsistência e a caça predatória, a venda de produtos
e animais procedentes da caça, captura ilegal na natureza, de plantas e animais, a construção de barragens, grandes
ou pequenas, que modificam completamente o ambiente, participam de forma efetiva dos processos de extinção.
As leis contra crimes ambientais são instrumentos criados para proteger os ecossistemas brasileiros - fauna,
flora, ar, solo e água - e garantir agilidade e eficácia na punição aos infratores do meio ambiente. A legislação
brasileira é bastante ampla e podemos destacar a “Lei dos Crimes Ambientais” - Lei nº 9.605/98, de 12 de
fevereiro de 1998, que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades
lesivas ao meio ambiente e o Decreto nº 3.179/99, de 21 de setembro de 1999, que dispõe sobre a especificação
das sanções aplicáveis às condutas e atividades lesivas ao meio ambiente (regulamenta a Lei nº 9.605/98).

Sugestões, reclamações, informações e denúncias podem ser feitas


através da Linha Verde. A ligação é gratuita, telefone 0800-61-8080
ou via email: linhaverde@ibama.gov.br

Para saber mais....

Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção


O Brasil abriga mais de 13% de toda a biota mundial, sendo um dos países de maior biodiversidade do planeta.
No entanto, em todos os seus seis biomas continentais e também no ambiente marinho é possível encontrar
sinais de ameaça à vida da fauna decorrente dos processos de fragmentação de habitat e atividades humanas sem
controle. De acordo com a última lista do Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (2008) e
categorias da IUCN (International Union for Conservation of Nature), 627 táxons estão em situação de ameaça,
sendo 67% de vertebrados e 33% de invertebrados. Proporcionalmente ao total de espécies do país, o grupo dos
mamíferos é o mais ameaçado, com 10% das espécies brasileiras constando na lista. A Mata Atlântica contém o
maior número de espécies na lista vermelha (380), seguido do bioma Cerrado (111). Assim, como detentor de
tamanha megadiversidade, é grande também a responsabilidade do país em assegurar a sua manutenção, seja
por meio de políticas públicas para conservação das espécies, contribuições de ONGs conservacionistas e da
participação da sociedade como um todo.
Referência:
Machado, A. B. M., Drummond, G. M., & Paglia, A. P. Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de
extinção. Ministério do Meio Ambiente-MMA, 2008.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Livro Vermelho da Flora do Brasil


Atualmente são reconhecidas para a flora brasileira mais de 45 mil espécies de plantas (Lista de Espécies da Flora
do Brasil, 2015), sendo que não é tarefa fácil elaborar uma lista vermelha em um país megadiverso como o Brasil.
Exige uso intenso de dados e colaboração de profissionais em diversas áreas para reunir e validar as informações.
No atual Livro Vermelho da Flora do Brasil (CNCFlora 2013), foram avaliados 4.617 espécies de plantas, das quais
mais de 45% foram classificadas como ameaçadas. Quase 95% das espécies avaliadas são Angiospermas, sendo as
10 famílias botânicas mais ameaçadas: Asteraceae, Bromeliaceae, Orchidaceae, Fabaceae, Myrtaceae, Cactaceae,
Melastomataceae, Poaceae, Malpighiaceae e Rubiaceae. Os três gêneros mais ameaçados, proporcionalmente, são
Xyris, Begonia e Mimosa. A Mata Atlântica é o bioma com maior número de espécies ameaçadas (1.544), seguido
do Cerrado (645). A maioria das espécies ameaçadas encontra-se nessa situação devido em grande parte à perda
de habitat, principalmente decorrente das práticas de agricultura e silvicultura intensiva. Ainda há um longo
caminho para compreensão da real situação de ameaça da flora brasileira, uma vez que apenas 10% da flora foram
avaliadas, mas o impulso inicial foi dado em prol da conservação das plantas.
Referência:
CNCFlora-Centro Nacional de Conservação da Flora. Livro vermelho da flora do Brasil. 2013.
Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Lista de Espécies da Flora do Brasil. Disponível em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/>. Acesso em:
Maio 2015.

Para que servem os nomes científicos?


O nome de uma planta é a chave para toda sua literatura, sendo a correta identificação o passo inicial para
seu estudo e conhecimento. O nome de um organismo fornece um meio para a comparação de observações
e experiências. O primeiro sistema de classificação conhecido nasceu provavelmente com Aristóteles (370
a.C.) porém, foi Lineu (1707-1775) quem revolucionou a sistemática propondo a nomenclatura científica com
terminologia binária. Assim, o nome de uma espécie é baseado em dois nomes em latim, sendo que o primeiro
designa o gênero ao qual pertence aquele organismo, e o segundo nome refere-se a espécie que o caracteriza. Os
nomes científicos são importantes para padronizar e globalizar a comunicação, uma vez que nomes populares
variam de uma região para outra e não conferem segurança à correta identificação.
Referência:
MARTINS-DA-SILVA, R. C. V., da SILVA, A. S. L., FERNANDES, M., & MARGALHO, L. Noções morfológicas
e taxonômicas para identificação botânica. Embrapa Amazônia Oriental, Livros Científicos, 2014.

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O que são unidades de Conservação?
Atualmente no Brasil há 370 Unidades de Conservação (UC), que são geridas pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade. Popularmente conhecidas como parques e reservas essas unidades estão divididas
em duas categorias principais, a de “Proteção Integral” e a de “Uso Sustentável”, e são áreas de rica biodiversidade
e beleza cênica. Estão espalhadas em todos os biomas brasileiros, sendo 111 na Amazônia, 28 na Caatinga, 52 no
Cerrado, 115 na Mata Atlântica, 3 no Pantanal, 2 no Pampa e 59 em ecossistemas Marinhos. O conjunto de UC
federais, estaduais e municipais corresponde ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), que
tem entre seus objetivos contribuir para a conservação de espécies, promover o desenvolvimento sustentável,
promover meios para a pesquisa científica e valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica.
Referências:
http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros.html
http://www.mma.gov.br/areas-protegidas/unidades-de-conservacao

O que é uma Cadeia Alimentar


Parte da energia que chega a um ser vivo é gasta em suas atividades de sobrevivência – no crescimento e na
reprodução, por exemplo. Portanto, para o nível seguinte da cadeia alimentar passará sempre menos energia do
que entrou. É por isso que os carnívoros superiores, que ocupam posições terminais nas cadeias alimentares,
estão sempre em risco de extinção. Para eles sobra sempre uma parcela pequena de energia disponível. Além
disso, qualquer quebra na cadeia alimentar coloca sua posição em risco.
As espécies que vivem em um mesmo ambiente estão ligadas entre si, como elos de uma grande corrente. O
motivo que as une é o alimento: uns servem de alimento aos outros, transferindo-lhes a matéria que forma seus
corpos e a energia que acumulam para realizar as suas funções vitais. O primeiro elo dessa “cadeia alimentar”
é formado pelos vegetais, que usam a luz do sol, na fotossíntese, para produzir energia. Por conta de serem os
primeiros a receber a energia do sol – a única fonte externa de energia em nosso planeta – e a transformá-la, os
vegetais são chamados de produtores. Os elos seguintes da cadeia alimentar são formados pelos consumidores
– seres vivos que, incapazes de produzir o próprio alimento, conseguem-no comendo outros seres vivos.
Existe uma ordem entre os consumidores: os consumidores primários, ou de primeira ordem, são os que se alimentam
dos produtores; os secundários, ou de segunda ordem, alimentam-se de consumidores primários e os terciários…
Bem, essa cadeia pode ter muitos elos de consumidores, dependendo da riqueza de espécies que convivem no mesmo
ambiente. Há ambientes tão diversificados que as cadeias alimentares acabam se tornando complexas teias alimentares.
Nas cadeias alimentares, além dos produtores e consumidores, há também o importante elo dos decompositores, seres
que se alimentam de plantas e animais em decomposição. São capazes de degradar substâncias orgânicas, tornando-as
disponíveis para serem assimiladas pelos produtores. Com eles, a cadeia alimentar é realimentada e pode perpetuar-
se. Matéria e energia passam de um elo a outro da cadeia alimentar: dos produtores aos consumidores e, destes, aos
decompositores. Parte da energia é consumida em cada elo, pelas atividades que os seres vivos desenvolvem para
sobreviver; aos últimos elos sobram parcelas cada vez menores de energia. Daí falarmos em fluxo de energia. No caso
da matéria, falamos em ciclo da matéria, uma vez que não há perda ao longo do trajeto.

Cadeia Alimentar

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

A teia da vida: Seres vivos que habitam a Terra estão todos interligados em uma grande rede

Existem na Terra milhões de espécies de seres vivos, cada uma desempenhando um papel único em relação
ao todo. Toda essa “multidão” de seres vivos que os cientistas chamam de biosfera está comprimida em uma
estreita faixa de terra, água e ar de cerca de um quilômetro de espessura e espalhada por cerca de meio bilhão
de quilômetros quadrados de superfície.
Entre os seres vivos que habitam esse planeta, podemos encontrar os mais diversos tipos e variações. E - tal
qual uma história sem fim - os cientistas tentam exaustivamente enquadrar e classificar essa imensa variedade
de seres em grupos, para melhor estudá-los e entendê-los. Há desde pequenas bactérias até as grandes baleias;
como há também desde os que produzem seu próprio alimento, como as plantas, até aqueles que dependem do
alimento produzido pelos outros, como os animais. Não é à toa que se diz que a biodiversidade nesse planeta é
imensa. Temos mesmo uma diversidade de formas de vida impressionante.
Mas temos também um problema: toda essa imensa variedade de seres vivos está interligada como uma imensa
teia viva e depende da energia do sol que chega à superfície do nosso planeta. Para piorar nossa situação, há
uma agravante: a energia do sol que chega é pequena – apenas cerca de 10% – e conforme vai sendo usada pelos
seres vivos vai diminuindo. Vivemos, portanto, em constante “luta” em busca de energia e nossa forma de obtê-
la é nos alimentarmos daqueles que a armazenam em seu organismo.
Quando chega à superfície da Terra, a energia é fixada pelos vegetais, através da fotossíntese. Depois, a energia
passa para os insetos ou outros herbívoros que se alimentam das plantas; dos insetos, a energia vai para os
camundongos ou outros carnívoros inferiores que se alimentam de herbívoros; dos camundongos, a energia
passa para cobras, que deles se alimentam e, assim por diante, vai se formando uma cadeia alimentar – em que
matéria e energia vão passando de ser vivo a ser vivo até chegarem aos carnívoros superiores, como as águias, os
tigres e os tubarões brancos. Ocupando o ponto extremo da cadeia alimentar, essas espécies só são consumidas
por parasitas – as bactérias e os fungos especializados em decompor cadáveres.
Referência: COSTA V. R. Por dentro das cadeias alimentares. Revista Ciência Hoje OnLine - http://chc.
cienciahoje.uol.com.br/por-dentro-das-cadeias-alimentares/

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Capítulo 2

A construção do discurso da sustentabilidade


Rodrigo Gerhardt

Salve o planeta – a formação da consciência ecológica


Primavera silenciosa, obra de Rachel
Carson publicada em capítulos pela revista
New Yorker e depois lançada em livro em
setembro de 1962, é considerada o primeiro
grande manifesto ambientalista e a semente
da sustentabilidade. A denúncia de Carson
contra os pesticidas químicos – e a reação
da indústria sobre ela – desencadeou um
debate nacional nos Estados Unidos sobre
a responsabilidade da ciência, os limites
da tecnologia e a relação do indivíduo
com a natureza, levando à proibição da
produção doméstica do DDT e à criação
de um movimento popular de proteção ao
meio ambiente que passou a exigir mais
regulações estaduais e federais, o que viria
a fortalecer organizações recém-criadas,
como World Wide Fund for Nature
(WWF).
As décadas de 1960 e 1970, efervescentes
do ponto de vista social e político,
seriam marcadas pelo aprofundamento
de uma consciência ecológica e base do
ambientalismo. Em 1961, o russo Yuri
Gagarin é o primeiro ser humano a ir
ao espaço e dar uma volta em torno do
planeta, decretando: “A Terra é azul, e eu
não vi Deus”. Em 1967, o Summer of Love
de São Francisco, nos Estados Unidos, marcou o ápice da revolução hippie, um fenômeno social de contracultura
que protestava contra a Guerra do Vietnã e pregava um estilo de vida alternativo ao American Way of Life:
pacifista, com ideais anarquistas, comunitário, espiritualista, adepto do vegetarianismo e em comunhão direta
com a natureza. Em 1969, a fotografia Earthrise, tirada pelo astronauta William Anders, retratando nosso
planeta como um oásis de vida em meio a um universo frio e escuro foi amplamente utilizada para catalisar
campanhas ambientais. Em 1970, o químico inglês James Lovelock publica sua influente “Hipótese de Gaia”, ou
hipótese biogeoquímica, considerando o planeta Terra o único organismo vivo. Nesse mesmo ano, 20 milhões
de americanos ocuparam ruas, parques e auditórios em uma das maiores manifestações já organizadas – o
primeiro Dia da Terra (Earth Day), uma demonstração de força da consciência emergente sobre a situação do
ambiente natural. No ano seguinte, 1971, o Greenpeace é fundado em reação aos testes nucleares americanos.
Em 1972, a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, a Conferência de Estocolmo, introduz
na pauta internacional a preocupação ambiental, sobretudo com poluição do ar e fenômenos como chuva
ácida e ilhas de calor. Nesse período, mais precisamente no início dos anos 1970, a consciência ecológica
alcança também o pensamento econômico. Em 1971, o matemático e economista romeno Nicholas Georgescu-
Roegen publica o livro A lei da entropia e o pensamento econômico, baseado na segunda lei da termodinâmica,
estabelecendo a natureza como limite da economia.
“Em algum momento do futuro, a humanidade deverá apoiar a continuidade do seu desenvolvimento na
retração, isto é, com o decréscimo do produto. O oposto do sucedido nos últimos 10 mil anos” (VEIGA, 2005).
No ano seguinte, o Clube de Roma lançou a obra Limites do crescimento, um alerta sobre a contradição entre o
crescimento econômico exponencial e a finitude dos recursos naturais. O relatório teve grande efeito sobre a Conferência
de Estocolmo, realizada no mesmo ano, expondo claramente e pela primeira vez a oposição entre países desenvolvidos

39
e em desenvolvimento com os impactos ambientais da industrialização. Com a mensagem “a pior poluição é a da
pobreza”, o Brasil deixou clara sua posição. O meio ambiente passa a ser visto como entrave ou obstáculo ao pleno
desenvolvimento dos países, desenvolvimento este circunscrito ao entendimento de progresso ou crescimento material.
“No início da década de 1970, um comercial do automóvel Fusca mostrava várias árvores
da Floresta Amazônica sendo arrancadas por tratores e máquinas para a abertura da
rodovia Transamazônica; em um dos trecho da estrada ainda sendo aterrada surgia o
automóvel, provando que era bom em qualquer terreno. A mídia não hesitava em retratar
o meio ambiente brasileiro como um desafio ao progresso da Nação” (GIACOMINI
FILHO, 2004, p. 163-164).
Durante esse período, a comunicação para a sustentabilidade é estritamente focada no aspecto ambiental,
embora o movimento ecológico, descentralizado e multiforme, partilhasse da ebulição social do período
promovida pelos movimentos feminista, estudantil e em prol dos direitos civis dos negros. Como expressão,
reflete a visão preservacionista predominante à época, que tem o meio ambiente como sinônimo de “natureza”,
ou seja, uma concepção naturalista ou ecologizada. O componente humano é percebido em oposição ao meio
natural, sendo responsável pela destruição e pelo uso indiscriminado dos recursos naturais (DIEGUES, 2004).
Para isso, vale-se do ativismo e da militância predominante à época, com ações coordenadas em passeatas e
protestos ou ações de confronto, como as promovidas pelo Greenpeace, cujas imagens e relatos eram divulgados
para a imprensa. As mensagens agressivas, em tom de denúncia, têm como mote a poluição do ar, da água e dos
solos, a proteção à vida selvagem, o fim da caça às baleias e focas e a interrupção dos testes nucleares.
“Em torno deste tempo, mais e mais pessoas estavam vendo cenas de desastres ambientais nas novas TVs, lendo
sobre assuntos internacionais e se comunicando através das culturas. A imagem da Terra vista do espaço foi se
tornando um símbolo da necessidade de pensar e agir – de forma diferente” (DAUVERGNE; LISTER, 2013).
Governos, empresas e consumidores foram os primeiros alvos das campanhas. Apontadas como as grandes
vilãs, as corporações assumiram primeiramente uma postura de contra-ataque para, em seguida, uma altamente
defensiva, por meio do controle de informações por intermédio dos departamentos de relações públicas. “Quem
ama, preserva” e “Salve o planeta!” são expressões-símbolos cunhadas no período e que atravessaram os anos,
fazendo-se presentes em campanhas de engajamento até os dias atuais.

“Pensar globalmente, agir localmente”– o ambientalismo no poder


Até então restrito à esfera marginal dos movimentos sociais, o meio
ambiente passa a ser inserido nas questões políticas e de poder. Em
1979, o Partido Verde era fundado na Alemanha – chegou ao Brasil
em 1986 –, e a expressão “pensar globalmente, agir localmente” seria
cunhada pelo estrategista de negócios Frank Feather. Ao longo da
década de 1980, vários países e Estados estabelecem departamentos,
secretarias e até ministérios ambientais para atuar na promoção de
leis domésticas e internacionais de maior proteção do meio ambiente
e de regulação das corporações. Se essa departamentalização
organizou e fortaleceu ações de enfrentamento para as questões
ambientais, por outro lado é importante notar que contribuiu para
segregá-las das questões econômicas e sociais, enfraquecendo sua
abordagem multidisciplinar.
Ao mesmo tempo, o conceito de desenvolvimento seria reelaborado. Em 1987, o relatório Nosso futuro comum
ou Relatório Brundtland apresentou a definição de desenvolvimento sustentável como “aquele que encontra as
necessidades atuais sem comprometer a habilidade das futuras gerações de atender suas próprias necessidades”.
Tal conceito seria consagrado cinco anos depois durante a Conferência das Nações Unidas para o Meio
Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, um marco político, científico e de comunicação
do ambientalismo ao reunir mais de cem chefes de Estado em torno da discussão sobre a conciliação do
desenvolvimento socioeconômico com a proteção ambiental. Vinte anos após a Conferência de Estocolmo,
a oposição entre países desenvolvidos e em desenvolvimento foi novamente manifestada, com avanços ao se
reconhecer “responsabilidades históricas, porém diferenciadas” da contribuição dos países em relação aos
danos ambientais e conquistas científicas, como o estabelecimento das Convenções-Quadro para Mudanças
Climáticas e da Biodiversidade, além de compromissos de ação e engajamento por meio de documentos como a
Agenda 21, de forte influência para o fortalecimento da educação ambiental nas escolas. Destaca-se, no entanto,
como um dos legados da Eco-92, como a conferência se tornou conhecida, a midiatização do ambientalismo,
iniciada meses antes e continuada após sua realização.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

“[...] foi a partir da ECO-92 que a pauta ambiental se incorporou de uma forma mais contínua nos meios de
comunicação e abriu espaço para um novo tipo de jornalismo especializado. O fenômeno da ‘superexposição
ambiental” (RAMOS, 1996, p. 148).
Seja no volume de notícias e reportagens seja na abrangência de temas tratados, o meio ambiente foi apropriado
pela comunicação de massa. Editorias, cadernos, seções e programas especializados em meio ambiente foram
criados nos grandes veículos de comunicação, como o semanário Globo Ecologia, na Rede Globo de Televisão,
e o Repórter Eco, exibido diariamente no horário nobre na TV Cultura de São Paulo. Um jornalismo menos
preocupado com o fato e sim com sua tradução e interpretação para o público leigo, e não apenas para o
gueto dos ecologistas (VILLAR; TOSSI, 2001). Temas como efeito estufa, desertificação, reciclagem de lixo,
desmatamento, poluição, economia de água e de energia e o crescimento desordenado das cidades são tratados
de forma didática pelos veículos de comunicação. Um momento no qual se observa um maior reconhecimento
da responsabilidade do cidadão – especialmente o indivíduo urbano – em relação ao impacto ambiental de seu
estilo de consumo e seu papel na contribuição para a preservação. Promove-se uma sensibilização ambiental,
considerada um dos principais pré-requisitos para o comportamento ecologicamente responsável, mas sem
compromisso com a solução de problemas socioambientais.
Uma abordagem comportamentalista, na qual a educação é entendida em sua dimensão individual, baseada
em vivências práticas; foco na redução do consumo de bens naturais, descolando essa discussão dos modos de
produção; baixa problematização da realidade e pouca ênfase em processos históricos” (LOUREIRO, 2005).
O Relatório Brundtland e a Eco-92 são pontos de virada na relação das corporações com o ambientalismo
global e as regulamentações. As corporações são convocadas a atuar em prol do crescimento sustentável e a
desenvolver uma economia verde, o que se dá inicialmente de forma voluntária, na esfera da Responsabilidade
Social Empresarial (RSE).
O ambientalismo global tem mudado significantemente desde os anos 1960. Não mais nas franjas da política,
ele suavizou e tornou-se uma força global em moldar leis internacionais, políticas de Estado, práticas de
negócios e a vida comunitária em todos os lugares” (DAUVERGNE; LISTER, 2013).
Observa-se durante toda a década de 1990 o estabelecimento de códigos de conduta, adesão a programas
de ecocertificação e qualidade e investimentos sociais sem qualquer vínculo com a natureza dos negócios. É
dentro da perspectiva da RSE que um novo termo é cunhado e fortemente midiatizado: o triple bottom line, ou
tripé da sustentabilidade, baseado na integração das esferas ambiental, social e econômica.
Até então em silêncio, corporações começam a comunicar, ainda que de forma reativa, suas boas práticas. É o
início da comunicação da sustentabilidade, que, como novidade, surge marcada pela confusão de conceitos, sob
questionamentos de assistencialismo, simples filantropia e baixa credibilidade perante o público. Uma comunicação
ainda pouco planejada, predominantemente institucional, voltada à disseminação de posicionamentos, com
mensagens óbvias e preliminares sobre as boas práticas realizadas. Neste período predominam como elementos
iconográficos da ideologia sustentável uma onipresença de folhas, árvores, animais e ambientes paradisíacos
envoltos em sufocantes verdes e azuis ou suas aparentes antíteses apocalípticas (gigantescas névoas de poluição,
montanhas de lixo, imagens de mortandade de animais, etc.), separadas ou mescladas (STOLARSKI; LINS, 2010).
No final da década, organizações voltadas à promoção e à normatização da responsabilidade social empresarial,
como o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, no Brasil, e o Global Report Iniciative (GRI), na
Holanda, estabelecem parâmetros e indicadores para o planejamento, a execução, a avaliação e a comunicação
das práticas empresariais em responsabilidade socioambiental.

Carbono zero e a ciência do aquecimento global


Em 2006, a questão ambiental de maior gravidade já vista pela humanidade ganharia
as telas do mundo: o documentário An inconvenient thruth, dirigido por Davis
Guggenheim, abordava a campanha do ex-vice-presidente norte-americano Al Gore para
alertar os cidadãos sobre o aquecimento global. O documentário ganhou o Oscar de sua categoria, e Gore
recebeu o Prêmio Nobel da Paz. No ano seguinte, o caráter antropogênico das mudanças climáticas seria
comprovado pelo quarto relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), um
momento proposto por setores da comunidade científica como a definição de uma nova era geológica: o
antropoceno.
O anúncio do relatório do IPCC tem grande impacto nos veículos de comunicação de massa. O senso de urgência
recomendado pelos cientistas no enfrentamento do aquecimento global é tratado de forma alarmista e catastrófica.
Campanhas de mobilização ganham novo fôlego ao evidenciar imagens de eventos extremos: tempestades,

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inundações, secas, o derretimento de geleiras, com ursos polares sobre pequenos blocos de gelo e cidades “afogadas”.
De outra parte, a incorporação das mudanças climáticas à causa ambiental traz consigo termos e conceitos da ciência
do clima para o discurso da sustentabilidade que aumentam a complexidade de entendimento do tema.
Entre o setor privado, no entanto, o senso de urgência tem reflexo em um maior engajamento corporativo, motivado,
sobretudo, pela percepção da elevação do risco em suas cadeias de valor e, frequentemente, como estratégia
de marketing, seja por ganho de reputação seja no posicionamento de mercado como provedor de soluções
ambientalmente amigáveis. A possibilidade de quantificação do impacto ambiental em níveis individual, por
empresa, organização ou país, por meio do cálculo de emissões de carbono equivalente de cada atividade produtiva e
de consumo realizada, possibilita e estimula a criação de mecanismos e políticas de compensação e neutralização de
emissões tanto por meio de mercados instituídos de venda de créditos de carbono quanto, no âmbito do varejo, pela
oferta de produtos e serviços de baixo impacto ou “verdes”. Proliferam-se, assim, campanhas e anúncios comerciais
de produtos com atributos “ecoamigáveis”, relacionados diretamente ao crescimento de um novo nicho de consumo,
denominado consumo verde. Paralelamente, intensificam-se as denúncias de greenwashing, motivadas por maior
fiscalização de organizações não governamentais militantes como também de empresas concorrentes. O termo foi
cunhado pelo ativista americano Jay Westerveld em 1986, quando inicialmente não incluía reivindicações específicas
ou mensagens de marketing; em vez disso, eram mais imagens de golfinhos brincando, florestas tropicais exuberantes
e flores ao lado do logotipo da empresa para transmitir uma impressão de ecoamigável.
“Por meio do uso cotidiano cada vez mais frequente, ao que parece, a palavra sustentável tornou-se sinônimo
para o adjetivo igualmente vago e inquantificável verde, sugerindo algum valor ambiental indefinido, assim como
em crescimento verde ou empregos verdes. Frases como ‘design sustentável’, ‘carros sustentáveis’ e até ‘roupas
íntimas sustentáveis’ espalham-se pela mídia. De acordo com algumas métricas, isso poderia ser considerado um
sucesso. Um uso tão frequente da palavra sustentável indica que um conceito ambiental importante ganhou valor
na cultura popular. O ‘blablablá’ da sustentabilidade, porém, tem um alto custo. Pelo uso excessivo, as palavras
sustentável e sustentabilidade perdem sentido e impacto” (ENGELMAN, 2013, p. 3-4).
Com a detecção do uso abusivo de argumentos ambientais e a proliferação de termos vagos, inverídicos ou absolutos,
como “carbono zero”, como atributos de venda e até autoproclamações de “empresa sustentável”, o greenwashing
passou a ser o alvo de ONGs militantes. Críticas abertas às empresas cujos investimentos em comunicação e marketing
eram superiores aos das ações socioambientais divulgadas e a criação de códigos e guias de identificação de sinais
de “maquiagem verde” pelos consumidores foram algumas das táticas utilizadas como forma de reduzir os impactos
negativos da publicidade a partir de uma preocupação crescente com as ações de promoção dos temas ambientais.
Iniciativas como o GreenwasghingSpy.com, um site de patrulha que publica casos de greenwashing relacionados a
produtos biodegradáveis, multiplicam-se, exigindo maior transparência das corporações.
Na sociedade civil de consumo, ampliam-se campanhas educativas que objetivam empoderar o consumidor
utilizando sua capacidade crítica de escolhas de compra, uso e descarte, com base em informação e valores
de cidadania, como agente indutor de RSE. Trata-se, como aponta Fontenelle (2010), de propor uma série de
produtos e medidas que “amenizem a culpa” pelo consumo em uma sociedade permeada pelo discurso do
aquecimento global. Assim, o consumidor não precisaria preocupar-se ao consumir produtos que já trouxessem
a garantia de que ele fez a escolha certa: ao consumir produtos ecologicamente corretos, ele poderia se eximir
da culpa porque alguém já teria se responsabilizado por ele. Ele teria de ser responsável apenas na hora de
tomar a decisão sobre qual produto ou marca comprar, ou, depois do consumo, sobre como neutralizar suas
pegadas ecológicas. Por suas possíveis consequências e predominância atual no discurso da sustentabilidade,
tal abordagem será vista em outros temas nesta publicação.

Fazer mais com menos – a sustentabilidade como vantagem competitiva


Simultaneamente à maior propagação do consumo consciente – o que contribui para legitimar os esforços e os
investimentos de gestão ambiental e modernização na cadeia de valor das empresas –, no âmbito corporativo
o entendimento da RSE atrelada ao cerne do negócio, por meio do conceito de “valor compartilhado”, tem
ampliado a visão da sustentabilidade como fator fundamental de vantagem competitiva para as empresas e não
mais como obstáculo ao lucro, ao contrário. Dauvergne e Lister argumentam que o alcance do Eco-Business
está acelerando em grande parte porque mais marcas e corporações transnacionais reconhecem seu valor para
melhorar o desempenho das cadeias de suprimento. Isso os está ajudando a aumentar seu controle sobre o
fornecimento de recursos, a qualidade do produto, a confiabilidade, a produção e os custos de entrega, bem
como os preços de centenas de milhares de produtos de marca que fluem por meio de cadeias de valor globais
para as prateleiras de varejo – um controle mais essencial do que nunca para ganhar vantagem competitiva e
sustentar o crescimento na economia global de hoje. Fundamentalmente, as grandes marcas estão adotando o
Eco-Business para aumentar seu poder de ter o produto certo para o cliente certo, na hora, no lugar e com o
preço certos, com o uso mais eficiente dos recursos como forma de sustentar seu poder de varejo.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Nesta década, o setor corporativo vem assumindo, portanto, um protagonismo que se esperava desempenhado
pelos Estados nas discussões para o avanço da agenda da sustentabilidade. Reunidas por meio de fóruns, associações
e iniciativas, como Global Compact, das Nações Unidas, World Businness Council for Sustainable Development
(WBCSD) e Dow Jones Sustainability Index, “as corporações têm pautado a sustentabilidade para os negócios por
meio de exercícios de visão em relatórios, câmaras técnicas e congressos que as ajudam a moldar os limites das
soluções e a apresentar uma imagem de empresas cidadãs responsáveis” (DAUVERGN; LISTER, 2013).
Tal visão ainda é a da sustentabilidade fraca, que Muller (2007) define como a baseada no entendimento
da economia neoclássica de que todo capital natural é não essencial. Uma perspectiva predominantemente
“técnica” e utilitária sustentada pela crença objetiva de que a tecnologia e o conhecimento acumulado são
suficientes para resolver os impasses ambientais e de que o progresso tecnológico sempre impedirá que os
recursos naturais imponham um limite ao crescimento. Baseia-se, portanto, fortemente, na transição energética
dos combustíveis fósseis para os renováveis, na eficiência energética, de insumos e de produtividade, na
modernização tecnológica e na inovação como caminhos para se alcançar a prosperidade em uma economia
verde de baixo carbono, porém em um cenário business as usual, sem questionar os limites do crescimento, as
estruturas dinâmicas de negócios e os comportamentos de consumo.
Outra abordagem a ser considerada, como destaca Gioielli (2012), citando Porter e Kramer (2006), está no
engajamento de temas e causas de grande atenção da opinião pública – sobretudo de seus consumidores ou
clientes – como forma de atender a novas expectativas de seus públicos e assim agregar valor a seus produtos e
seu posicionamento de mercado em uma sociedade civil cada vez mais interconectada em rede e influente na
tomada de decisões. Em 2013, segundo o Social Media Sustainability Index, 233 empresas, entre 475 corporações
globais analisadas, comunicaram ações de sustentabilidade por meio de mídias sociais. Um aumento crescente
nos últimos anos – de 120 em 2011 e 176 em 2012. Apesar da explosão no número de empresas comprometidas
a falar de sustentabilidade, muito poucas parecem ter uma boa ideia de com quem eles estão falando e que
histórias eles deveriam estar contando (YEOMANS, 2013).

Referências:

DAUVERGNE, Peter; LISTER, Jane. Eco-Business: a big-brand takeover of sustainability. Londres: The MIT
Press, 2013.
DIEGUES, Antonio Carlos Sant’ana. O mito moderno da natureza intocada. v. 5. São Paulo: Hucitec, 2004.
ENGELMAN, Robert. Além do blablablá da sustentabilidade. Estado do mundo 2013: a sustentabilidade ainda
é possível? Washignton: Worldwatch Institute, 2012.
ERWOOD, Steve. The Greenpeace chronicle: 40 years of protecting the planet. Amsterdam: Greenpeace
International, 2011.
FONTENELLE, Isleide Arruda. O fetiche do eu autônomo: consumo responsável, excesso e redenção como
mercadoria. Psicologia & Sociedade, ed. 22, n. 2, p. 215-224, 2010.
GIACOMINI FILHO, Gino. Ecopropaganda. São Paulo: Senac, 2004.
GIOIELLI, Rafael Luis Pompéia. Empresa, sociedade e comunicação: debates e tendências na transição pós-
moderna. São Paulo: USP, 2012. 327 p.
PORTER, Michael; KRAMER, Mark R. Creating shared value. Harvard Business Review, Harvard, jan./fev.
2011.
RAMOS, Luis Fernando Angeramim. Meio ambiente e meios de comunicação. São Paulo: Annablume, 1996.
STOLARSKI, André; LINS, Rico. Mostra sustentabilidade: e eu com isso? 29ª Bienal de São Paulo. São Paulo:
Fundação Bienal, 2010.
TOSI, Roberto; BELMONTE, Roberto Villar. Jornalismo ambiental: onde estão as faculdades de comunicação?
Revista Ecos, Porto Alegre, n. 19, ano VIII, 2001. Disponível em: <http://www.portoalegre.rs.gov.br/ecos/
revistas/ecos19/opiframe>.
VEIGA, José Eli da. Desenvolvimento sustentável: o desafio do século XXI. Rio de Janeiro: Garamond, 2010.
YEOMANS, Matthew. The social media sustainability index. Sustainly, 2014. Disponível em: <http://sustainly.
com/social-media-sustainability-index-2013/>. Acesso em: 30/03/2014.

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Principais movimentos para a sustentabilidade

Mery-Lucy Souza, Andréia Cassilha Andrigueto e Rodrigo Gerhardt

O movimento ambientalista surgiu em épocas distintas em vários lugares do mundo, e por diferentes motivos.
Assim, não temos um marco definido de onde e quando se iniciou. As primeiras preocupações socioambientais
de que se tem conhecimento surgiram a partir de meados do século XIX. Segundo John McCormick, elas se
iniciaram nos Estados Unidos devido a problemas locais e de “custos mais imediatos e pessoais da poluição, da
caça ou da perda das florestas”. George Perkins Marsh, em 1864, publicou o livro Man and nature, considerado
por muitos um marco do ambientalismo americano. A obra enfocava questões do aumento do desperdício e da
destruição como razões da destruição do planeta, tornando-o assim inabitável para todos os seres humanos. Foi
nos Estados Unidos também que surgiram, próximo ao fim do século XIX, duas vertentes deste movimento: os
preservacionistas e os conservacionistas, contrapondo-se aos preceitos desenvolvimentistas.
“O movimento preservacionista, fundado por JohnMuir, é considerado mais radical, por acreditar que a interferência
humana é essencialmente nociva ao meio ambiente. Protegendo a natureza contra o desenvolvimento moderno,
industrial e urbano, faz reverência à natureza no sentido da apreciação estética e espiritual da vida selvagem, assegurando
a intocabilidade de parques destinados para este fim. Para ele, animais, plantas e ecossistemas teriam um valor em si
mesmos, independentemente da utilidade que pudessem ter para o homem. 
Já os conservacionistas consideram o ser humano capaz de utilizar esses recursos de forma controlada, equilibrada e,
muitas vezes, mais eficazmente do que se permanecessem “intocados, como propõe a outra vertente. Movimento criado
por Gifford Pinchot, engenheiro florestal treinado na Alemanha, ditava que a conservação deveria basear-se na prevenção
de desperdícios e o uso dos recursos naturais para benefício da maioria dos cidadãos, incluindo as gerações futuras
(MCCORMICK, John, Rumo ao paraíso: a história do movimento ambientalista, 1964).

Por que se realizam COPs?

Fonte: Planeta Sustentável, Editora Abril

A COP, ou Conferência das Partes, é o encontro de 193 países que fazem parte da Convenção Quadro das Nações
Unidas sobre Mudanças do Clima, assinada durante a Eco-92, no Rio de Janeiro. Ela é realizada anualmente,
sempre em busca de um consenso nas políticas globais para lidar com as mudanças climáticas. Paris, na França,
sediará a 21a edição, na primeira quinzena de dezembro de 2015, com o grande objetivo de estabelecer um novo
acordo global para a redução de emissões, com metas para todos os países. A dificuldade é chegar ao consenso,
principalmente entre países desenvolvidos e em desenvolvimento, pois qualquer medida aprovada na COP tem
reflexos na política e na economia dos países. A mesma Eco-92 também lançou as bases da Convenção Quadro
sobre Diversidade Biológica. As COPs de Biodiversidade ocorrem a cada dois anos.

Quem faz as negociações na COP do Clima?


As negociações são feitas em blocos, como o Grupo Africano, a
Aliança Bolivariana para Povos da Nossa América (Alba) e os Países
Menos Desenvolvidos (PMD), que juntos somam cerca de 120 países
com interesses comuns, defendidos em conjunto. No entanto, eles não
possuem tanto poder de decisão como os blocos de países mais ricos
– os maiores emissores –, que incluem Canadá, EUA, Japão e União
Europeia, e os grupos liderados por emergentes, como China, Índia,
Brasil, África do Sul, entre outros.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Protocolo de Kyoto
O famoso Protocolo, que define metas para a redução de gases de efeito estufa (GEE), foi instituído em 1997, em
Kyoto, no Japão, no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas para as Mudanças do Clima. No entanto,
só foi ratificado sete anos depois, em fevereiro de 2005, após a adesão da Rússia, quando obteve as assinaturas
necessárias de países responsáveis por 55% das emissões do planeta.
Ao ser ratificado, o Protocolo passaria a vigorar entre 2008 e 2012, prazo para que as nações desenvolvidas (37
países industrializados e a União Europeia) reduzissem em 5% suas emissões de GEE em relação aos níveis que
emitiam em 1990.
As metas não foram homogêneas. Reconhecendo que os países desenvolvidos são os principais responsáveis
pelos altos níveis atuais de emissões de gases de efeito estufa na atmosfera, como resultado de mais de 150
anos de atividade industrial, o Protocolo estabeleceu níveis diferenciados de compromisso. Enquanto nações
desenvolvidas tiveram metas obrigatórias de redução, os países em desenvolvimento foram incentivados
a estabelecer suas metas, mas voluntariamente, sob o princípio de “responsabilidades comuns, porém
diferenciadas”. No entanto, Estados Unidos, na época o maior emissor do planeta, não assinou o Protocolo
justificando o grande impacto que isso teria em sua economia.
Em 2011, as Nações Unidas conseguem renovar o Protocolo de Kyoto para uma segunda fase, na qual os países
se comprometem a reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em pelo menos 18% abaixo dos níveis de
1990, no período entre 2013 e 2020.

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Mecanismos de redução de emissões
A criação do Protocolo de Kyoto instituiu alguns mecanismos, entre eles o Mercado de Desenvolvimento Limpo
(MDL), que estabelece que países desenvolvidos promovam reduções em países em desenvolvimento por meio
de compensações baseadas em créditos de carbono.
O mercado de crédito de carbono chegou a movimentar 7,5 bilhões de dólares entre 2007 e 2008, embora com
a crise financeira internacional esse número tenha caído para 1,5 bilhão de dólares em 2010.
O sistema permite que empresas e nações reduzam seus índices de emissão por um sistema de compensação:
uma empresa que não consegue reduzir suas emissões pode comprar esse “bônus” de terceiros que conseguiram.
Para que uma empresa tenha direito de vender créditos de carbono, precisa contribuir para o desenvolvimento
sustentável e adicionar alguma vantagem ao ambiente, seja pela absorção de CO2 (por exemplo, pelo plantio
de árvores), seja evitando seu lançamento na atmosfera. A redução da emissão de outros gases igualmente
geradores do efeito estufa, como o metano, também pode ser convertida em créditos de carbono – um crédito
de carbono equivale a uma tonelada de dióxido de carbono tirado da atmosfera.

O que é Redd e qual sua relação com as emissões de carbono


Quando se desmata uma floresta, grande quantidade de gás carbônico é lançada à atmosfera. Estima-se que
10% de todas as emissões atuais sejam causadas pelo desmatamento – isso é mais do que as emissões de todos os
carros do planeta juntos. Para reduzir esse impacto, a Convenção do Clima da ONU instituiu o Redd – Redução
de Emissões de Desmatamento e Degradação florestal. É um mecanismo internacional de incentivos a projetos
que mantenham a floresta nativa em pé, ou seja, impedem que o carbono estocado nas árvores e no solo seja
liberado para a atmosfera. Assim, esses projetos de preservação podem transformar esse carbono evitado em
créditos ou doações. Na sequência, o Redd teve dois desdobramentos:
o Redd+, que passou a incluir o papel da conservação, com projetos de manejo sustentável das florestas e o
aumento dos estoques de carbono das florestas em países em desenvolvimento;
o Redd++, que soma tudo isso à agricultura, com garantia de melhores práticas em prol do não desmatamento.

Como o Brasil lida com a questão do clima?


Entre as metas da Política Nacional sobre Mudanças do Clima, aprovadas em 2009, estão reduzir em 80% o índice de
desmatamento anual da Amazônia até 2020; ampliar o consumo interno de etanol em 11% ao ano nos próximos dez anos;
dobrar a área de florestas plantadas para 11 milhões de hectares em 2020, sendo 2 milhões de hectares com uso de espécies
nativas. Também prevê planos para que os diferentes setores econômicos desenvolvam ações de mitigação e adaptação.
Com tudo isso, o Brasil comprometeu-se a reduzir suas emissões em 70% até 2015 em relação a 2005.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Um novo acordo global pós-2020


Além da segunda fase do Protocolo de Kyoto, a Convenção do Clima em Durban (COP 17) aprovou também
a criação de um novo acordo de redução de emissões de gases de efeito estufa, dessa vez com força legal para
todas as partes, ou seja, países desenvolvidos e em desenvolvimento. O objetivo é definir as novas metas até
2015, quando serão aprovadas durante a Cúpula do Clima, em Paris, para que entrem em vigor a partir de 2020,
quando se encerra o Protocolo de Kyoto.
Para conhecer uma análise sobre os 15 anos do Protocolo de Kyoto acesse:
<http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/cop-mudancas-climaticas/2012/12/12/kyoto-um-protocolo-debutante/>.

Conferência sobre o Meio Ambiente Humano


A I Conferência sobre o Meio Ambiente Humano, realizada em Estocolmo no ano de 1972, foi o primeiro grande
evento sobre o tema, resultado da crescente preocupação ambiental. Esse evento abriu os olhos do mundo
para os problemas do meio ambiente e trouxe à tona os impactos do modelo desenvolvimentista adotado à
época. A Conferência é considerada um marco nas discussões sobre o meio ambiente, pois introduziu o tema
na agenda política internacional. A Conferência de Estocolmo mostrou que a natureza não poderia mais ser
encarada como um recurso inesgotável, sendo necessária a preservação do meio ambiente em prol do bem-
estar das gerações futuras. Foram estabelecidos 23 princípios com o intuito de amenizar os impactos ambientais
causados pelas intervenções humanas na natureza.

Conferência sobre Educação Ambiental em Tbilisi


Em 1977 foi realizado um dos mais importantes eventos sobre educação ambiental: a Conferência sobre
Educação Ambiental em Tbilisi, na Geórgia, organizada em conjunto pelo Programa de Meio Ambiente da ONU
(Pnuma) e pela Unesco. Nesse encontro foi deliberado que a educação ambiental era um fator determinante
para a solução dos problemas do meio ambiente.
Assim como na Conferência de Estocolmo, na Conferência de Tbilisi foram criados princípios norteadores
para a educação ambiental, tais como:
processo dinâmico interativo – a educação ambiental foi definida como “um processo permanente no qual
os indivíduos e a comunidade tomam consciência do seu ambiente e adquirem o conhecimento, os valores,
as habilidades, as experiências e as determinações que os tornam aptos a agir individual e coletivamente para
resolver problemas ambientais”;
transformadora – a educação ambiental possibilita a aquisição de conhecimentos e habilidades capazes
de induzir mudanças e atitudes. Objetiva a construção de uma nova visão das relações do homem com seu
meio e a adoção de novas posturas individuais e coletivas em relação ao ambiente. A consolidação de novos
valores, conhecimentos, competências, habilidades e atitudes refletirá na implantação de uma nova ordem
ambientalmente sustentável e participativa: a educação ambiental atua na sensibilização e na conscientização
do cidadão, estimulando a participação individual nos processos coletivos;
abrangente – a importância da educação ambiental extrapola as atividades internas da escola tradicional; deve
ser trabalhada continuamente em todas as fases do ensino formal, envolvendo ainda a família e a coletividade.
A eficácia virá à medida que sua abrangência atingir a totalidade dos grupos sociais;
globalizadora – a educação ambiental deve considerar o ambiente em seus múltiplos aspectos e atuar com
visão ampla de alcance local, regional e global;
permanente: a educação ambiental tem um caráter permanente, pois a evolução do senso crítico e a
compreensão da complexidade dos aspectos que envolvem as questões ambientais se dão de modo crescente e
continuado, não se justificando sua interrupção. Despertada a consciência, ganha-se um aliado para a melhoria
das condições de vida no planeta;
contextualizadora – a educação ambiental deve atuar diretamente na realidade da comunidade, sem perder
de vista sua dimensão planetária.
A Conferência de Tbilisi estabeleceu como deveria ser realizado um processo de educação ambiental no mundo,
mostrando que, por meio dela, despertar-se-ia a consciência ambiental no sentido da preservação dos recursos
naturais a fim de evitar um colapso futuro.

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Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD)
A Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) desenvolveu em 1987 o Relatório
Brundtland (conhecido também como Relatório nosso futuro comum). Na época, a degradação ambiental e
social crescia meteoricamente, e a CMMAD chamou a atenção para tal situação no Relatório nosso futuro
comum. Foi informado também que o meio ambiente era um bem econômico.
As críticas ao modelo de desenvolvimento em voga aumentavam cada vez mais, apontando como parte desse
modelo o uso irracional dos recursos naturais, por meio de tecnologias que impactavam negativamente o meio
ambiente. Além disso, a pobreza e a desigualdade socioeconômica cresciam rapidamente, e isso requeria a
implantação de políticas socioambientais para tentar amenizar esse grave problema.
Foi nesse contexto que surgiu no Relatório Brundtland a definição de “desenvolvimento sustentável”, no qual se
expunham ações que promoveriam a harmonia entre o desenvolvimento econômico e a utilização dos recursos
naturais. O desenvolvimento deve ocorrer com o mínimo de prejuízo possível à natureza, garantindo, desse
modo, a qualidade de vida para as gerações futuras por meio do equilíbrio socioambiental. Assim, foram
abertos os caminhos para a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento.

Ressalta-se o papel do Estado como grande estimulador dos olhares e das preocupações
da sociedade acerca do meio ambiente. No Brasil, segundo o professor Carlos Hiroo
Saito (2015, contato pessoal), reforça-se o olhar individual sobre as questões que
envolviam o meio ambiente na época do regime militar. O país foi marcado por uma
onda de repreensão a movimentos coletivos. Nessa época, surgiram disciplinas para
repassar informações de higiene pessoal, como escovar os dentes, lavar as mãos,
como se o indivíduo fosse o grande responsável pelas doenças que deveria evitar.
Disciplinas como OSPB, Educação Moral e Cívica também surgiram a fim de pregar
o patriotismo e o “Ame-o ou deixe-o”. Foi a época marcada pelo exílio e pela censura.
Assim, não foi por acaso que a EA dessa época no Brasil enveredou por esses rumos:
de estimular ações individuais em prol de um meio ambiente limpo e sadio. Em 1985,
com desejo de romper as regras do militarismo no Brasil, Tancredo Neves é eleito
presidente do Brasil por meio de eleições indiretas. No entanto, morre sem assumir.
Coube a José Sarney e a seu melhor amigo, Ulysses Guimarães, realizar o sonho
de Tancredo no ano de 1988: fazer, com a forte participação popular e legislativa,
a nova “Constituição Cidadã”. Promulgada por Ulysses, ele pronunciou: “Declaro
promulgado o documento da liberdade, da democracia e da justiça social do Brasil”.
Foi o início de uma nova época para o Brasil e a educação.

Referências:
<http://agencia-brasil.jusbrasil.com.br/noticias/116780/5-de-outubro-de-1988-ulysses-promulga-constituicao-cidada>.
<http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/sonho-drama-presidente-423064.shtml
http://g1.globo.com/natureza/rio20/noticia/2012/06/rio20-foi-um-sucesso-diz-secretario-geral-da-onu.html>. Acesso em: 28/03/2015.
Para saber como a Constituição Federal criada à época resume esse novo olhar, consulte o capítulo de Legislação deste livro.

Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92)


A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento foi
realizada no ano de 1992 na cidade do Rio de Janeiro, com a participação de
vários chefes de Estado e de diversas ONGs. À época, as universidades ficaram
de fora do debate. Foi esta a conferência a iniciar as discussões ambientais na
década de 1990. A partir da Rio-92 aumentaram os debates sobre as questões
socioambientais.
Dentre os documentos gerados na Rio-92 destacam-se: Agenda 21; Declaração
de Princípios sobre Florestas; Nossa Agenda; Convenção sobre Diversidade
Biológica; Carta da Terra; Convenção sobre Mudança do Clima; além de diversos
relatórios nacionais. A Agenda 21 é um documento de destaque, pois concilia
o crescimento econômico com o desenvolvimento sustentável, além de tratar da conservação ambiental e da
gestão dos recursos naturais.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Rio + 20

Após sediar a Rio-92, a cidade do Rio de Janeiro foi mais uma vez a anfitriã da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, no período de 13 a 22 de junho de 2012.
Garantir o compromisso político internacional para o desenvolvimento sustentável, este foi o principal objetivo
da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada na cidade do Rio de Janeiro
em junho de 2012. Também chamado de Rio + 20, o encontro marca o vigésimo aniversário da Conferência das
Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida na capital carioca em 1992, e os dez anos
da Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johanesburgo (África do Sul) em 2002.
Baseada em três pilares-econômico, social e ambiental-, a Rio + 20 tratou basicamente de dois temas: a
“economia verde”no contexto da erradicação da pobreza e a estrutura de governança para o desenvolvimento
sustentável no âmbito das Nações Unidas. Foi uma conferência de alto nível, com a participação de chefes de
Estado, representantes de dezenas de países, de empresas e da academia.
A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável foi organizada em conformidade com a
Resolução 64/236 da Assembleia Geral da ONU, de março de 2010. Além de renovar o compromisso mundial
em torno da sustentabilidade, o evento foi uma oportunidade de se avaliar o progresso alcançado nos últimos
vinte anos, detectar as lacunas na implementação dos acordos internacionais e identificar os desafios ainda
existentes.
Embora a Rio + 20 não tenha sido planejada como um evento focado no meio ambiente e sim no desenvolvimento
sustentável, o tema foi um de seus pilares. Os organizadores e o Ministério do Meio Ambiente (MMA)
enfatizavam um novo conceito em moda, o da “economia verde”. Sem um conceito único balizador, em síntese
implicava uma mudança nos atuais padrões de produção e consumo, com foco na agenda econômica do país
visando à sustentabilidade sem comprometer o crescimento.
Segundo informações do MMA, o Brasil já vem pautando suas políticas e estratégias de desenvolvimento
na sustentabilidade. Sabe-se que tais iniciativas não são exclusividade do Ministério do Meio Ambiente – o
desenvolvimento sustentável hoje está na pauta de diversos agentes econômicos e sociais. São diferentes
ações, muitas delas em diferentes graus ou estágios de implementação, e a Rio + 20 constituiu uma excelente
oportunidade para se demonstrar que, apesar de ser uma conferência da ONU, o Brasil, como país sede do
evento, desempenhou papel fundamental nas negociações e nos acordos costurados.
A Rio + 20 foi também uma ocasião para os países membros das Nações Unidas fazerem um balanço dos
resultados obtidos nos últimos vinte anos, desde a Rio-92, e das falhas enfrentadas ainda hoje em relação ao que
foi decidido entre as lideranças mundiais em 1992.
Renovar o compromisso político assumido à época foi primordial, pois o planeta espera que essa conferência tenha
reavivado o que em 1992 ficou conhecido como o “espírito do Rio” – uma forte mobilização política que possibilitou
a adoção de importantes acordos multilaterais na área do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável.
Os resultados acerca da Rio + 20 não podem ainda ser aferidos. Como um processo social, as contribuições
do evento à nossa sociedade virão no longo prazo, como as decorrentes da conferência anterior, com o
desenvolvimento sustentável sendo incorporado ao longo dos vinte anos subsequentes à Rio-92.
Todavia, pode-se inferir o impacto gerado nas mídias sociais e na imprensa. Há vinte anos não havia internet
nem tantos jornalistas cobrindo o evento. Hoje, diversas profissões foram desafiadas a tecer, cada qual em sua
área, considerações a respeito do encontro, em tempo real, em jornais, revistas, boletins específicos – o que não

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ocorreu na Rio-92. Observou-se também na Rio + 20 a necessidade de aprofundamento científico nos temas,
colocando as discussões de nível mais acadêmico para o entendimento do grande público. Pretendeu-se não
apenas dar a notícia, mas fazer com que fosse entendida.
No campo político, no entanto, foram poucos avanços. Para quem compareceu ao evento e de acordo com os
relatos divulgados pelos grandes jornais à época, as considerações políticas poderiam ter sido mais aprofundadas,
chegando-se a decisões efetivas. A expectativa era que se conseguisse determinar metas para o desenvolvimento
sustentável em distintas áreas, mas isso não ocorreu. O documento cita que o anseio é que elas sejam criadas em
2015. Destaca-se o fato de o secretário-geral da ONU em menos de 24 horas ter mudado seu discurso acerca
do texto do documento final da Rio + 20, em razão, parece, de pressões diplomáticas. Em lugar de um texto no
qual se liam “poucos avanços”, foi apresentado um discurso de vitória, de sucesso.
Além disso, a Rio +20 foi marcada pela setorização de eventos em detrimento de um local único de discussões
Isso favoreceu a logística do evento (com maior segurança e transporte público), mas pulverizou as aglomerações,
dando menor peso aos protestos que ocorreram ao longo do período. A restrição do acesso da sociedade civil
aos locais de decisão política foi outro marco da Rio +20.
Outro ponto que merece destaque é a importância dada à educação em prol da sustentabilidade em detrimento
da educação ambiental. A palavra educação é citada trinta vezes no texto, embora a “educação ambiental” não
apareça. Em 73% das vezes em que aparece no relatório final da ONU O futuro que queremos, a educação surge
como condição ao desenvolvimento sustentável ou é associada em seu contexto.
O ano de 2014 marca o fim da Década da Educação para a Sustentabilidade da ONU (2005-2014). Refletimos
que talvez não tenha sido por acaso que isso tenha acontecido. Torçamos para que a educação ambiental volte a
ganhar força, uma vez que abarca como condição sine qua non o tripé da sustentabilidade: ambiente, economia
e sociedade (e suas variantes: cultural, política, religiosa, etc., defendidas por autores de peso, como Ignach
Sachs, em sua obra Desenvolvimento: includente, sustentável, sustentado. Rio de Janeiro: Garamond, 2008).
Fonte: <g1.globo.com/natureza/rio20/>.

Intergovernmental Panel on Climate Change


(IPCC) – Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima
O IPCC é um órgão criado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e pela Organização
Meteorológica Mundial (OMM) em 1988 para estudar o problema das mudanças climáticas, reunindo 2.500
cientistas de mais de 130 países. A missão deste Painel é avaliar a informação científica disponível sobre os
efeitos das mudanças climáticas, destacar seus impactos ambientais e socioeconômicos e traçar estratégias
para dar respostas adequadas ao fenômeno. Cada governo possui um grupo de especialistas para coordenar
as atividades relacionadas ao painel no seu respectivo país. O IPCC está aberto a todos os países membros do
Pnuma e da OMM.
A cada sete anos o IPCC publica seu relatório com base na literatura técnico-científica sobre as mudanças
climáticas (AR – Assessment Reports), examina os efeitos das mudanças climáticas e desenvolve estratégias
de combate, subsidiando as Partes da Convenção. Em 1990, o IPCC publicou seu primeiro relatório (First
Assessment Report – AR1) afirmando que as atividades humanas poderiam estar causando o aumento do efeito
estufa. O estudo foi a base para as discussões durante a ECO-92, no Rio de Janeiro, quando foi assinada a
Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
O IPCC dispõe de três grupos de trabalho para a elaboração de suas publicações (GT-I, II e III) e de uma equipe
especial para estoques nacionais de gases efeito estufa. O GT-I avalia os aspectos científicos do sistema climático
e do fenômeno das mudanças do clima. O GT-II examina a vulnerabilidade dos sistemas humanos e naturais
ante o impacto das mudanças climáticas, as consequências dessas mudanças e as possibilidades de adaptação
a elas. E o GT-III, por sua vez, avalia as possibilidades de mitigação das mudanças climáticas e a limitação das
emissões de gases de efeito estufa. Os grupos de trabalho e a equipe especial contam com dois presidentes, um
de um país desenvolvido e outro de um país em desenvolvimento, além de uma unidade de apoio técnico.
O IPCC elabora relatórios de avaliação, relatórios especiais, documentos técnicos em geral e guias de
metodologia nos seguintes temas: informação científica a respeito de mudança climática; impactos ambientais
e socioeconômicos da mudança climática; e formulação de estratégias de resposta (mitigação e adaptação). O
IPCC tem autonomia para decidir sua estrutura, seus princípios e procedimentos e seu programa de trabalho,
além de eleger seu presidente e os integrantes de sua mesa diretora.
Fonte: <www.mudancasclimaticas.andi.org.br/.>; <www.jusbrasil.com.br/>.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Capítulo 3

Analisando a educação ambiental por meio de diferentes abordagens


Andréia Cassilha Andrigueto
A forma de se fazer educação ambiental (EA) como um roteiro é inovadora, uma vez que, geralmente, os artigos
científicos abordam apenas a descrição de processos já ocorridos (ou sua forma de fazê-los), sem descrever
outras metodologias de trabalho que transcendam aquela utilizada em seu artigo. Além disso, fica a cargo de
cada um que trabalha com EA fazer de seu jeito uma prática estimulante para quem participa dela. A análise do
processo de EA fica, assim, em segundo plano.
Nesse sentido, refletir acerca de como fazer EA baseando-se em um roteiro parece ser um bom caminho para
criar uma ferramenta educacional. No entanto, é necessário ressaltar que cada prática envolve peculiaridades
muito específicas de cada realidade/tempo/local, ressaltadas por autores como Morin (2004) e Sachs (2004),
que precisam ser observadas na adaptação dos projetos de EA.
Então, analisar a EA por diferentes abordagens levando-se em conta sua realidade específica é o objetivo deste
capítulo, oferecendo ao monitor/educador/profissional a percepção de como encaixar sua prática na proposta
que mais se adeque aos objetivos que ele se propõe a alcançar. Apresentar a amplitude de uma ação educativa pela
teoria proporcionada por diferentes autores visa a levar o leitor a refletir sobre sua prática. Porém, ressaltamos
que as abordagens aqui apresentadas não se baseiam em um olhar unicamente acadêmico, pautam-se em autores
de referência em EA e respaldados na vivência do educador informal. Tiramos assim da “bagagem do educador”
alguns conceitos que podem ser retrabalhados em atividades que agreguem valores às questões ambientais.
Tudo o que será descrito a seguir leva em conta o que preconiza a política de EA, estabelecida pela Lei no 9.795/1999,
a saber, incentivar a construção de ferramentas de EA, considerando-se que a EA ainda é um conceito em construção.

Definições de educação ambiental por diferentes autores


Além das leis tratadas em capítulos a parte, queremos mostrar ao leitor como diferentes acadêmicos e profissionais
enxergam a EA. No nosso entendimento, cada visão, cada forma de entender e abordar a EA (em salas de aula ou fora
delas) dependerá do que o educador/profissional leva para sua prática, como faz isso e por que o faz. Acreditamos que
cada educador/profissional leva para as aulas de EA sua história e sua trajetória de vida, seu modo de perceber o mundo
e de ser estimulado por ele, muito mais do que por visões estritamente acadêmicas e/ou profissionais. Suas vivências
moldarão seu desempenho em salas de aula ou em processos educativos de forma particular e individualizada. Fomos
estimulados de diferentes maneiras para o caminho profissional que escolhemos seguir e respondemos a esses estímulos
de diversas maneiras. Portanto, vários e distintos podem ser os entendimentos acerca da EA pelos profissionais e
educadores que trabalham com ela.
Na nossa forma de entender, o que o educador/profissional traz para sua prática depende de como ele a exerceu
anteriormente: se foi crítico e contestador, se refletiu conceitos repassados, se construiu novos conceitos, se
experienciou na prática o que disse na teoria. O caráter educativo deve, nesse sentido, ser estimulado e vivido, e não
ser apenas teórico. Cabe também ao profissional e ao educador munir-se de ferramentas adequadas para sua prática.
Cremos que todo educador é um pouco do que ensina. Embora a EA seja um processo de sensibilização e
conscientização, a atuação nessa área, aparentemente simples, não é, ou pelo menos não deve ser, para amadores.
O ensino de EA requer preparo, didática, conhecimento e percepção das limitações e dos anseios do grupo, e
isso demanda estudo constante. Investimentos em capacitação individual são fundamentais, a fim de que o
educador ambiental possa discutir conceitos e tendências com o grupo, bem como estimular sua consciência
crítica e um debate saudável e enriquecedor.
Um espírito libertador e a vontade de fazer a diferença tanto para seu mundo individual como para o do outro
deveriam fazer parte da formação de um bom educador ambiental. Educação Ambiental não é nada mais do
que “ensinar para a vida”, e é justamente por isso que se fundamenta em comportamentos, atitudes e hábitos.
Todos os agentes de EA deveriam pautar-se em conceitos, dados e histórias para poderem repassar informações
embasadas que deem segurança a interlocutores, educandos e a todos os envolvidos com tal prática.
Em nossa reflexão sobre o assunto deparamos com a seguinte questão: no que consiste a EA para os diferentes
profissionais? O método de análise de conteúdo, proposto por Laurence Bardin, irá auxiliar a análise da
descrição de cada autor, refletindo acerca dos termos que aparecem no discurso de cada um deles. Os termos
mais recorrentes são utilizados para ler e tentar interpretar suas definições.

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Valéria Sucena Hammes e José Maria Gusman Ferraz (2003)

A educação ambiental é o instrumento apontado para auxiliar a sociedade a incorporar


novos conceitos e a colaborar para a viabilização do desenvolvimento sustentável.
Para formar a sociedade sustentável é imperativo conscientizar os diversos setores
– público, privado e sociedade civil. De maneira geral, há competências e legislação
específicas relacionadas a esses setores. Para conscientizar cada grupo é preciso
capacitar pessoas interessadas em atuar como agentes multiplicadores, desenvolver
projetos. Elaborar documento síntese com as intenções do grupo em desenvolver
atividades de educação ambiental na escola e na comunidade é essencial ao
estabelecimento de parcerias, capacitação de recursos e como elemento de avaliação.
A Política Nacional de EA, Lei n. 9.795/1999, parece ser utilizada por esses autores como base para suas ideias.
Aliado a isso, quanto à elaboração de projetos, complementam seu discurso com elementos indicados também,
por exemplo, pela Fundação Fonte para o Desenvolvimento Social e pelo Instituto Ethos. Essas organizações
compartilham nossa visão quanto à necessidade de capacitação de recursos e de avaliação do processo, elementos
primordiais para que bons projetos saiam do papel, tornem-se realidade e façam a diferença.

Naná Mininni Medina (2002)

A EA é um processo que permite ao indivíduo e à comunidade participar da


construção de novos valores sociais e éticos, desenvolvendo atitudes, competências
e habilidades voltadas para a conservação e a utilização adequadas dos recursos
naturais. Ao buscar a construção de novas formas de pensar, interpretar e agir no
mundo, a educação ambiental apresenta-se como uma alternativa de transformação
da educação. Assim, muitas vezes a educação ambiental é desenvolvida de forma
simplista, reduzindo-se à sensibilização de alunos acerca dos problemas ambientais
a partir do ensino de conteúdos ecológicos ou em atividades pontuais no Dia do
Meio Ambiente, do Índio, da Árvore ou, ainda, por visitas a parques ou reservas
ecológicas. Apesar de essas atividades serem necessárias, elas não são suficientes para
a mudança dos valores pessoais. A sensibilização é uma etapa inicial da educação
ambiental, e os conteúdos ecológicos são essenciais para o avanço desse processo.
O autor discorre acerca do cuidado que se deve ter em se fazer educação ambiental. A EA feita de forma
simplória, com “achismos” e opiniões sem ciência, sendo reduzida à ecologia e a presunções de verdades pessoais
e antropocêntricas. O professor Paulo Eugênio de Oliveira, da Universidade Federal de Uberlândia-MG, já em
2002 defendia que a maior parte das pessoas que trabalham com EA peca ao não utilizar a ciência (e conceitos
ecológicos) em suas práticas. A EA vai além da ecologia, mas precisa dela como base para a construção do
pensamento ambiental. No nosso entendimento, esse deve ser o bem mais precioso para a vida profissional de
educadores ambientais: ensinar com base na ciência, além da lei e de realidade.
Para Medina (2002), ações isoladas não constroem processos educativos. É necessário constância, permanência,
habilidades “de atuar e agir no mundo” para transformar indivíduos em sujeitos ecologicamente alfabetizados.

David W. Orr (2006)


Toda educação é educação ambiental, e com ela, por inclusão ou exclusão, ensinamos aos
jovens que somos parte integrante ou separada do mundo natural. A meta não é o mero
domínio das matérias específicas, mas estabelecer ligações entre a cabeça, a mão, o coração
e a capacidade de reconhecer os diferentes sistemas, aquilo que Gregory Bateson chama
de “padrão que interliga”. Para ser ecologicamente alfabetizada, uma pessoa precisa ter
no mínimo conhecimentos básicos de ecologia, de ecologia humana e dos conceitos de
sustentabilidade, bem como meios necessários para a solução dos problemas.
O padrão que reconecta é citado em outros exemplos, que podem aqui ser utilizados para ilustrá-lo. Do
filme Avatar (dirigido por James Cameron) à teoria do re-ligar, defendida por Nicolescu (1999), passando
por metodologias educacionais, como as desenvolvidas por organizações não governamentais, como o The
Tracking Project (www.thetrackingproject.org) e o Instituto Pegadas Brasil (www.top.listona.com/Instituto-
Projeto-Pegadas-Brasil), o propósito de dar um sentido a essa existência é alcançado pelo reconectar-se com
algo aparentemente perdido. É fundamental que a EA possa nos trazer de volta a um estado natural, resgatando
ensinamentos ancestrais e formas mais simples de se relacionar com a natureza, mas não menos complexas (ver
a esse respeito “Sensibilização”, no capítulo 3).

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Marina Silva (2005)

A EA, integrada às demais políticas públicas setoriais, assume destacada posição


para o diálogo, a parceria e a aliança e pauta-se pela vertente crítica e emancipatória
da educação, estimulando a autonomia do educando e desenvolvendo não apenas
a ética ecológica no âmbito individual, mas também o exercício da cidadania.
Esse modo de fazer EA requer dos educadores aprofundamento teórico e um
aprendizado para interagir com os educandos, que são necessários para traduzir
o sentido crítico e emancipatório da educação ambiental em suas práticas
pedagógicas.
Como política e ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (2005) apresenta uma forma estratégica de se
trabalhar com EA. Refere-se a posições e direcionamentos – estar no lugar “certo” falando com a “pessoa certa”
– para auxiliar naquele dado problema, que geralmente vai impactar na proposição de programas setoriais ou
de políticas públicas para preencher determinada lacuna.
A prática, para a autora, requer atuação, saber como exercer autonomia e como atuar em sociedade. A
emancipação, vista por meio do conceito de educação de Paulo Freire (1979), é aqui evocada para reforçar a
tese de que nenhuma prática é livre de uma intenção. O profissional/educador deve saber que ao mesmo tempo
em que ensina aprende, ao mesmo tempo em que influencia é influenciado pelo seu ambiente de prática.

Luiz Augusto Passos e Michèle Sato (2002)

Não há como negar a dimensão política da educação ambiental. E é exatamente


por seu caráter transformador que ela também encerra outras dimensões que
ultrapassariam seu enfoque e suas relações como ciência da criação e da arte e se
deteria numa vivência dela, da experiência sensorial ou emocional do cotidiano
das pessoas.
Para isso, os autores citam o caráter libertador e revolucionário da educação de Freire (2000): “O educador
libertador deve ser dotado de um poder quase mágico, capaz de esbarrondar por terra todas as orientações
da ‘ordem do dia’ e lançar-se na liberdade. A educação em sonho deve invadir a arte, a filosofia, a ciência
e a técnica. Há de vencer a resistência dos tempos, de suas disciplinas, de seus quadros fechados e de sua
lógica estranguladora. Há de vencer a padronização hegemônica que tem impedido a trajetória da diversidade
educativa”.
Tanto Luiz Augusto Passos e Michèle Sato (2002) como Marina Silva (2005) atribuem à EA uma almejada ótica
política da transformação. Experiências pessoais e sensoriais também são evocadas para contribuir com práticas
libertadoras que visam a ultrapassar a visão tradicional da educação, aqui criticada. Vejamos: por que será que
Paulo Freire geralmente é citado em toda prática educacional? É porque ele é um autor de base cuja leitura é
primordial para a formação do profissional/educador. Ex-pesquisadores que hoje trabalham com EA apresentam
diferentes olhares acerca dos processos educativos, como, por exemplo, Wetzel (2011) e Andrigueto (2011).

Maria Magaly Wetzel (2011)

Educação ambiental – sutileza e encanto, na qual a atuação do professor é de


fundamental importância para que a criança possa construir uma imagem positiva de
si mesma e do ambiente em que vive, mediante a exploração de diferentes movimentos
e posturas, para que seja despertada para sua curiosidade, sua criatividade e sua
sensibilidade, estimulando-a a uma relação harmoniosa com a natureza.
Wetzel defende uma linha lúdica e inclusivista da EA. Segundo ela, a EA serviria como ferramenta de inclusão
social e reforço ou desenvolvimento da autoestima e da afetividade, muito presentes em projetos da área.

José Rozalvo Andrigueto (2012)

Educação ambiental – força impulsionadora capaz de desencadear ações e atitudes


transdisciplinares em defesa do Cerrado que queremos preservar. Preservação
também é coisa de criança, enquanto elas brincam muitas coisas importantes
ocorrem, como a assimilação e a apropriação da realidade humana: construção
de hipóteses, elaboração de soluções para problemas e enriquecimento de
personalidade. É brincando que ela, desde os primeiros meses, começa a se
descobrir e a estabelecer uma relação com o mundo que a rodeia.

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Por sua vez, Andrigueto apresenta uma visão da EA pautada numa linha científica
(de teste e construção de hipóteses pelo participante) voltada para a preservação
ambiental de forma interessante. Ele coloca movimento, energia e apropriação do
sujeito ecológico em seu próprio contexto social – o despertar, a curiosidade que faz
o participante alcançar o que a prática transdisciplinar propõe. Requer a participação
para a aquisição do conhecimento por meio de oficinas, estímulo à leitura e a uma
consciência crítica, mas, principalmente, envolve o “aprender fazendo”. Para ensinar
crianças, poder-se-ia dizer que o autor tomou emprestado de Piaget esse sentido.

Suzana Pádua (1999)

A educação ambiental surge como uma nova forma de perceber o papel do ser
humano no mundo. Na medida em que parte de reflexões mais aprofundadas, ela é
bastante subversiva. Na busca de soluções que alterem ou subvertam a ordem vigente,
propõe novos modelos de relacionamentos, mais harmônicos com a natureza, novos
paradigmas e novos valores éticos. Com uma visão holística e sistêmica, adotará
posturas de integração e participação, em que cada indivíduo será estimulado a
exercitar plenamente sua cidadania. A educação ambiental poderá aparecer como um
despertar de uma nova consciência solidária a um todo maior. É com a visão do global
e com o desejo de colaborar para um mundo melhor que se pode propor um agir local
novo. Daí a importância de integrar conhecimentos, valores, capacidades que possam
levar a comportamentos condizentes com este novo pensar. Em um mundo mais ético,
todas as espécies têm direito à vida e a relações humanas mais justas.
Suzana Pádua reúne diversos elementos já mencionados por outros autores e reforça o discurso da EA
integradora, holística e sistêmica. A autora aborda o propósito educacional colocado na Política Nacional de
EA, bem como uma visão ética da EA. Como trabalha com pesquisa e educação, é capaz de tratar a EA de
maneira bem complexa, mas em um dizer simples, que envolve tanto conscientização como ação.

Lúcia Legan (2007)

Ecoalfabetização é a compreensão dos princípios básicos da sustentabilidade,


sendo capaz de refleti-los na vida diária das comunidades humanas. Os seis pontos
relevantes para a educação de uma cultura sustentável são: economia local, segurança
alimentar, água, energia e tecnologia, espécies e ecossistema, comunicação e cultura.
Lúcia Legan, australiana casada com brasileiro e radicada no Brasil, considera a EA uma prática diária. O
cuidado com o meio ambiente está atrelado à sua maneira de viver, que é baseada no viver em comunidade
e na produção de alimentos. Ela precisou buscar, e o fez muito habilmente, todos os elementos necessários
à sobrevivência de uma família ou grupo de pessoas numa pequena ou média propriedade. A agricultura
permanente e os recursos primordiais e necessários à manutenção da saúde e a uma forma simples e sustentável
de conviver parecem ter sido considerados em sua descrição do aprender a ser ecologicamente instruído.
De qualquer maneira, mesmo reunindo as visões dos diferentes autores para inferir a nossa própria, será difícil
escaparmos dos rumos do nosso próprio caminhar ecológico. Assim, com base em conceitos e experiências com
EA, podemos estimular a reflexão da educação ambiental no seguinte contexto: de curiosidade-descoberta-desafio.
Assim como a ciência, a educação ambiental teve origem no processo de observação da natureza. Educar quanto ao
meio ambiente não é exclusividade da sociedade moderna. Povos nativos educavam seus filhos para preservar os
recursos naturais, tão necessários à construção de abrigo, à alimentação e às práticas espirituais e sociais. Porém, ao
investigar o meio em que vivemos, percebeu-se que, nas últimas décadas, foram registradas mais acentuadamente
na sociedade moderna mudanças nos padrões de resposta do meio, diferentes dos padrões naturais que seriam
“esperados cientificamente” em ambientes controlados ou sem a interferência direta do homem.
A educação ambiental surge em resposta aos problemas ambientais atuais, propondo a quebra de paradigmas
e pautando-se pelo consumo consciente, pela inclusão social e pela defesa e preservação do meio ambiente.
Ela desafia os modelos econômicos, sociais e ambientais tradicionais e insere-se em vários contextos e por
intermédio de vários atores. Ainda não possui uma metodologia específica, estando em fase de construção.
Em nível individual, a EA nasce de pequenos processos de sensibilização, na ressignificação do papel do ser
humano e da natureza, no despertar para relações mais harmônicas e coletivas, em atividades na natureza, em
salas de aula e fora dela, na mídia, em grupos e como política de Estado. É um processo educativo, por isso deve
ser contínuo e permanente, inter e transdisciplinar.

54
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Aprofundando a abordagem
O homem contemporâneo, ao investigar o meio em que vive, nas últimas décadas percebeu e registrou
mais acentuadamente mudanças nos padrões de resposta do meio. As respostas “esperadas cientificamente”
passaram a dar lugar a um ambiente de incertezas e catástrofes anunciadas. Embora a ciência e a tecnologia
tenham progredido a passos largos, a educação moderna ainda não foi capaz de dar repostas fundamentais à
essência humana que estabeleçam a vida de maneira permanente e saudável. Ao mesmo tempo em que evolui
intelectualmente, o ser social, o Eu, se perde nos comportamentos e nos valores individualistas, tão cultuados
na mídia. Perde o contato com a natureza e a noção intrínseca de dependência de todos os elementos e relações
ecológicas que o mantêm vivo. Recorre a diversas categorias de profissionais – psicólogos, cientistas, médicos,
advogados, etc. – a fim de obter as respostas que justifiquem suas atitudes e ações para que possa continuar
degradando seu próprio meio. Mas, mesmo assim, sente-se sozinho e inseguro. A educação ambiental (EA) tem
um papel único nesse processo. Ela não surge apenas em resposta aos problemas ambientais atuais.
Resgatar a essência da vida, os valores que fazem sentido serem cultivados, os papéis cooperativos, a autoestima
individual e coletiva (de comunidades tradicionais, grupos, professores) são alguns dos objetivos da EA dos
novos tempos. É o tempo de vivenciarmos uma nova postura coletiva em prol da conservação do nosso ambiente.
Saímos da noção do indivíduo para içar o conjunto. É o tempo de propormos uma onda coletiva do bem. Como
começar? Olhando o passado e projetando o futuro com base nos conhecimentos que já alcançamos.

55
Capítulo 4

Legislação ambiental brasileira no contexto do desenvolvimento sustentável


Andréia Cassilha Andrigueto

Não há como se falar em EA sem falar da evolução do marco jurídico ambiental no Brasil nos últimos 27
anos. Para a construção do que será apresentado, tomaremos por base a Constituição
Federal do Brasil de 1988 e alguns de seus artigos, em especial o art. 225, em seu §
1o, inciso VI; a Lei no 9.394, de 20/12/1996, que estabelece as diretrizes e as bases
da educação nacional; a Lei no 9.795, de 27/04/1999, que dispõe sobre a educação
ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental; e, por fim, o Decreto
no 4.281, de 25/06/2002, que regulamenta esta última lei.
Essas são as bases norteadoras de nosso estudo. Limitamos nosso escopo, neste
capítulo, aos aspectos ligados intrinsecamente ao ensino. Deixaremos de fora, por
ora, dessa análise a relação da EA com o novo Código Florestal, Lei n. 12.651, de
25/05/2012, e a Lei n. 12.305/2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), apresentados
em capítulos mais à frente.
Para que a questão ambiental fosse incorporada à economia e à nova sociedade que emergia com o fim do
regime militar, o Brasil precisou reformular o tratamento dado ao meio ambiente. Assim, a Constituição
Federal Brasileira de 1988 previu avanços em relação à questão ambiental, definindo direitos e deveres. Em seu
artigo 225, está claro que proteger o meio ambiente é dever não só do Estado, mas de todos os cidadãos do país
(Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br>).
Neste capítulo apresentaremos inicialmente a Carta Maior, que rege nosso arcabouço legal, para depois discorrer
sobre leis específicas e ordinárias criadas para tratamento e regulamentação de temas particulares, relacionadas
ao meio ambiente. O objetivo deste capítulo não é discorrer sobre legislação, apenas indicar os dispositivos
legais que o professor pode utilizar para embasar as suas práticas.

Constituição Federal

Capítulo I
Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio
público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao
patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus
da sucumbência;
O que nos fala a Constituição Federal acerca das competências dos entes federativos União, Estados, DF e
Municípios:
Art. 21. Compete à União:
XIX - instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos
de seu uso;
Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre:
IV - águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão;
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas;
VII - preservar as florestas, a fauna e a flora;
Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre:
V - produção e consumo;

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais,
proteção do meio ambiente e controle da poluição;
VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico;
VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico;
IX - educação, cultura, ensino e desporto;
Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
§1º - A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste artigo não impede a de terceiros,
nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos
produtos e serviços e de seus processos de elaboração e prestação (redação dada pela Emenda Constitucional
no 42, de 19/12/2003.)
Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios
e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos:
II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente.
Todos os artigos e incisos citados referem-se a objetos tratados pela educação ambiental e justificam por si sós
sua validade como ferramenta de conscientização e sensibilização da sociedade civil e dos governos. Porém, de
todos os artigos, o que trata mais especificamente da questão ambiental e de sua ligação direta com o ensino
sem dúvida é o art. 225, vejamos o porquê.

Capítulo II – Do Meio Ambiente


Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e
essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá-lo para as presentes e as futuras gerações.
§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:
I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e
ecossistemas;
II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à
pesquisa e à manipulação de material genético;
III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que
comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção;
IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa
degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade;
V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem
risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;
VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação
do meio ambiente;
VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.
§ 2º - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo
com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.
§ 3º - As condutas e as atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas
ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

57
§ 4º - A Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona
Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem
a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Infelizmente o bioma Cerrado ainda não foi contemplado na Constituição Federal, e
é por isso que a Rede de Sementes do Cerrado, por intermédio do Projeto Semeando
o Bioma Cerrado, se preocupa em fortalecer a ideia de semear o bioma Cerrado.
Entendemos que para preservar é preciso educar, e para ensinar é preciso conhecer o bioma em que vivemos. A
educação ambiental é parte complementar e fundamental do processo de defesa da vida desse bioma tão rico,
diverso e instigante. Cabe-nos promover sua defesa por meio do ensino.
O fomento da educação ambiental no ensino formal (nas escolas e nos currículos escolares) e a conscientização
pública, seja ela não formal (fora do ambiente escolar) ou informal (na trajetória de vida dos que aprendem),
são aqui colocados como forma de preservar o meio ambiente. No ambiente escolar, fora dele ou ao longo de
suas vidas, pessoas, grupos e instituições podem auxiliar a preservar o bioma Cerrado conhecendo, ensinando,
multiplicando o que aprende.
Continuando nosso caminhar pelas bases jurídicas da questão ambiental e da defesa do Cerrado, podemos
mencionar a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e as bases da educação
nacional.
Antes de tudo, deve-se ter em mente que educação ambiental é um processo, apresentado recentemente dessa
forma no documento final das Nações Unidas na Conferência sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio
+20. A palavra educação aparece 33 vezes no texto, no entanto educação ambiental não aparece nenhuma
vez (disponível em: <http://www.onu.org.br/rio20/tema/documento- final>; <http://www2.camara.gov.br/
atividade-legislativa/comissoes/comissoes-permanentes/cmads/texto-final-da-rio-20/texto-final-da-rio-20>).
Entendemos que isso se deve à maneira intrínseca como a educação ocorre no tripé do desenvolvimento
sustentável (DS) defendido pelas Nações Unidas. Outro olhar destaca o fortalecimento de uma corrente de
educação para a sustentabilidade. Inserida ou não no paradigma da sustentabilidade, a educação não poderia
estar dissociada das bases ambiental, econômica e social do DS. De todo modo educar só faria sentido dentro
de uma lógica mais sistêmica, integrada.

Título I – Lei de Diretrizes e Bases Da Educação (LDB)


Apresentaremos a seguir os arts. 1º, 2º, 3º, 8º e 9º da Lei nº 9.394/1996, pois são eles que embasam o entendimento
inicial do que é a educação ambiental nas escolas, que, como vimos, é uma parte do processo educacional, mas
não o único.
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência
humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais, nas organizações da
sociedade civil e nas manifestações culturais.
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em
instituições próprias.
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.

Título II – Dos Princípios e Fins da Educação Nacional


Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de
solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício
da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e a permanência na escola;
II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber;
III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;


VII - valorização do profissional da educação escolar;
VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas
de ensino;
IX - garantia de padrão de qualidade;
X - valorização da experiência extraescolar;
XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Título III – Da Organização da Educação Nacional


Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios organizarão, em regime de colaboração, os
respectivos sistemas de ensino.
Art. 9º A União incumbir-se-á de:
IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, competências e diretrizes
para a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos
mínimos, de modo a assegurar formação básica comum;
V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a educação;
VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e pós-graduação.

Política Nacional de PNEA – ressaltando princípios e objetivos


Tendo estabelecido o marco legal, pela constituição e a LDB, podemos apresentar a Política que dispõe sobre
Educação Ambiental no Brasil, Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999.
Art. 1º Entende-se por educação ambiental os processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade
constroem valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação
do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Art. 4º São princípios básicos da educação ambiental os enfoques humanista, holístico, democrático e
participativo; a concepção do meio ambiente em sua totalidade, considerando a interdependência entre
o meio natural, o socioeconômico e o cultural, sob o enfoque da sustentabilidade; o pluralismo de ideias e
concepções pedagógicas, na perspectiva da inter, da multi e da transdisciplinaridade; a vinculação entre a ética,
a educação, o trabalho e as práticas sociais; a garantia de continuidade e a permanência do processo educativo;
a permanente avaliação crítica do processo educativo; a abordagem articulada das questões ambientais locais,
regionais, nacionais e globais; o reconhecimento e o respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.
Como objetivos fundamentais da educação ambiental, o art. 5o da lei que institui a Política Nacional de Educação
Ambiental estabelece:
Art. 5º O desenvolvimento de uma compreensão integrada do meio ambiente em suas múltiplas e complexas
relações, envolvendo aspectos ecológicos, psicológicos, legais, políticos, sociais, econômicos, científicos,
culturais e éticos; a garantia de democratização das informações ambientais; o estímulo e o fortalecimento
de uma consciência crítica sobre a problemática ambiental e social; o incentivo à participação individual e
coletiva, permanente e responsável, na preservação do equilíbrio do meio ambiente, entendendo-se a defesa
da qualidade ambiental como um valor inseparável do exercício da cidadania; o estímulo à cooperação entre
as diversas regiões do País, em níveis micro e macrorregionais, com vistas à construção de uma sociedade
ambientalmente equilibrada, fundada nos princípios da liberdade, igualdade, solidariedade, democracia,
justiça social, responsabilidade e sustentabilidade; o fortalecimento da cidadania, autodeterminação dos povos
e solidariedade como fundamentos para o futuro da humanidade.
Segundo a Lei no 9.795/1999, a educação ambiental é um componente essencial e permanente da educação
nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo,
em caráter formal e não formal (art. 2o), como também preceitua a Lei de Diretrizes e Bases da Educação.
Apesar de a política que discorre sobre a EA se limitar a esses dois aspectos do processo educativo, é na sua
trajetória de vida que os sujeitos, que aqui chamaremos de “sujeitos ecológicos” – uma determinação atribuída
por Laís Mourão Sá (2005), constroem seu processo educativo. Também é no contato com o outro Zanetti

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(2009) que o processo de aprendizado ecológico é erigido. Portanto, também existe um caráter informal do
processo de educação ambiental, vivenciado socialmente por meio das relações humanas. Embora estimulantes
e desafiadores, não levamos em conta os processos informais na construção do ensino da EA, limitando-nos a
abordá-la em seus aspectos formais, conforme os currículos escolares. E isso precisa mudar, devemos perguntar
ao aluno sobre sua bagagem ambiental, o que carrega de aprendizado pelas experiências anteriores aquele
momento de ensino.
A educação ambiental, no atual processo de ensino, não é implementada como disciplina específica no currículo
dos ensinos fundamental e médio. Entretanto, nos cursos de pós-graduação e extensão e nas áreas voltadas
ao aspecto metodológico é facultada sua criação como disciplina, o que permite sua análise não apenas nos
aspectos descritivos, mas metodológicos, de implementação.
Para concluir, ha outras leis importantes a serem pesquisadas: Lei de Crimes Ambientais; Legislação sobre
Sementes e Mudas Nativas – Instrução Normativa no 56 (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento);
Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (Pnapo).

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Capítulo 5

A transversalidade da educação ambiental com outras disciplinas


Mery-Lucy do Vale e Souza

As problemáticas sociais são integradas


na proposta dos Parâmetros Curriculares
Nacionais como temas transversais. Não
constituem novas áreas, mas um conjunto
de temas que aparecem transversalizados
nas áreas definidas, permeando a concepção,
os objetivos, os conteúdos e as orientações
didáticas de cada área no decorrer de toda a
escolaridade obrigatória.
A transversalidade pressupõe um tratamento
integrado das áreas e um compromisso das
relações interpessoais e sociais escolares
com as questões envolvidas nos temas das
disciplinas a fim de que haja coerência entre
os valores experimentados na vivência que
a escola propicia aos alunos e o contato
intelectual com tais valores.
Segundo o Ministério da Educação, todos
os temas transversais (ética, saúde, meio
ambiente, pluralidade cultural, orientação
sexual, trabalho e consumo) destinados a
alunos do 2o ao 9o ano são de abrangência
nacional; podem ser compreendidos por
crianças na faixa etária proposta; permitem
que os alunos desenvolvam a capacidade de
se posicionar perante questões que interferem na vida coletiva; podem ser adaptados à realidade de cada região.
A ideia de que a matemática, por exemplo, é uma matéria difícil, reduzida a contas e fórmulas, provoca o
distanciamento de muitos alunos dessa ciência fundamental. Nas oficinas propostas pelo Projeto Semeando
o Bioma Cerrado as atividades encorajam a exploração de uma variedade de ideias matemáticas relativas a
números, medidas e geometria, conservando o prazer e a curiosidade. Para isso, aproveitamos situações
cotidianas significativas, como jogos que envolvem contagem e operações aritméticas, que possibilitam
desenvolver o raciocínio lógico.
Essa metodologia é usada para contextualizar a educação ambiental em todas as disciplinas, utilizando a filosofia
para estimular a curiosidade e as habilidades, pois a educação infantil é um momento especialmente favorável
para estimular o pensamento filosófico.
Ao permitir que os alunos desenvolvam um posicionamento perante questões que interfiram na vida coletiva, a
educação ambiental estimula nesses alunos uma postura cidadã, ou seja, um posicionamento crítico e respeitoso
em relação a seus compromissos com o meio em que vivem.
Capacitar em educação ambiental, independentemente do público-alvo, é, em um primeiro momento, levar o
indivíduo a repensar sua relação com o meio a fim de garantir mudanças de atitude em prol da melhoria da
qualidade de vida de sua sociedade.
Para o mundo alcançar a desejada sustentabilidade é preciso mudança comportamental. Mas para que essa
mudança ocorra é fundamental que o indivíduo se reconheça como parte integrante do ambiente, sensibilize-se
com os problemas e sinta-se responsável por eles. Mais do que direitos e deveres, cidadania ecológica implica
compromisso. O sentido de cidadania deve estar presente sempre, norteando decisões, atitudes e ações concretas.

61
Educação humanitária
Se quisermos mudar atitudes, é preciso que as pessoas sejam
sensibilizadas para estar conscientes das sensações e dos
sentimentos de outros seres, aumentando assim a probabilidade
de elas pensarem sobre o efeito de seus atos.
A educação humanitária não trata apenas da obtenção de
conhecimento, mas também do desenvolvimento de atitudes
positivas e de zelo. Isso é particularmente importante no que
diz respeito ao bem-estar dos animais, pois esta é uma área
frequentemente negligenciada em muitos sistemas educativos.
Ao adotar atitudes de zelo na infância, os alunos agirão da
mesma forma ao longo da vida e serão capazes de tomar decisões
baseadas na informação e na compaixão.
O termo “educação humanitária” é habitualmente aplicado ao
ensino relacionado a tratamento adequado e respeito pelos
animais. Entretanto, a definição verdadeira estende-se à compaixão
com animais, pessoas e o meio ambiente. É importante entender
que o respeito pelos animais e pelas pessoas está interligado, pois
não faz sentido proteger espécies em extinção se seu habitat não
estiver sendo protegido e se as pessoas não forem incentivadas a se
conscientizar das necessidades dessas espécies.
A educação humanitária é importante para desenvolver cidadãos
responsáveis, pois torna as pessoas sensíveis às sensações/sentimentos de outros seres e, portanto, provavelmente mais
conscientes do impacto de suas ações sobre os outros. Ela pode ser encarada como um investimento, pois os custos de
uma sociedade indiferente e negligente podem ser imensos.
A manutenção dos sistemas judiciário e penitenciário é cara. Existe uma conexão entre crueldade com animais e
crueldade com seres humanos? Os estudos revelam que sim. Há uma considerável quantidade de pesquisas (nas
sociedades ocidentais) que relacionam maus-tratos a crianças com maus-tratos a animais. A teoria é que em lares
onde animais são abusados ou negligenciados há probabilidade de ocorrer também abuso e negligência com crianças.
Diversos estudiosos defendem que para interromper o ciclo de maus-tratos é fundamental uma legislação
rigorosa para os casos de crueldade com animais. Contudo, proponentes da educação humanitária sugerem
que sejam adotadas nas escolas estratégias para mudar o comportamento das pessoas em relação a outros
seres, empregando para isso valores morais e filosóficos que sempre guiaram e moldaram a estrutura e o
funcionamento das famílias. São esses os valores que conformam nosso comportamento em face de outros
seres. Assim, a educação humanitária pode ser a forma de interromper quase totalmente o ciclo de violência,
podendo ser mais efetiva em longo prazo que a utilização de legislações que não são cumpridas.
Embora a educação humanitária se estenda ao público em geral, ela está direcionada principalmente aos jovens,
pois é nesta fase do desenvolvimento humano que se formulam e se questionam conceitos e atitudes. A educação
humanitária formal nas escolas é especialmente importante, pois contribui para o desenvolvimento de atitudes
compassivas nas futuras gerações de cidadãos. A investigação indica haver uma ligação entre a socialização e as
experiências da criança e suas subsequentes atitudes e comportamentos.
A educação humanitária beneficia desde crianças até adultos, tendo em vista que os ajuda a desenvolver uma
dimensão ética de pensamento que pode ser aplicada em situações de trabalho presentes ou futuras, como no
caso da introdução de formação em bem-estar animal nos cursos de medicina veterinária/zootecnia.
A educação humanitária pode ser introduzida por meio da promoção e da divulgação de vídeos, histórias, palestras e
conferências relacionadas; do desenvolvimento de ações de divulgação, educação e sensibilização; do desenvolvimento
de programas e materiais de ensino para professores, estudantes e profissionais de apoio da escola; da educação informal;
da colaboração com organizações nacionais e internacionais em projetos que visem a essa modalidade de educação.
Elizabeth MacGregor, gerente de Desenvolvimento da WSPA – Sociedade Mundial de Proteção Animal,
ressalta que “a formação de educadores humanitários contribui de forma decisiva para disseminar no ambiente
escolar o conhecimento, a compreensão, as habilidades, as atitudes e os valores necessários à promoção do
respeito a todas as formas de vida”. Segundo ela, “valores como compaixão, respeito, tolerância, solidariedade e
empatia em relação a outros seres são fundamentais para a formação de cidadãos gentis, atenciosos, cuidadosos
e amorosos, contribuindo, assim, para quebrar o ciclo da violência, dando lugar a uma sociedade mais justa e
harmoniosa – uma sociedade que respeite a vida na sua totalidade”.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Alcance do cultivo sólido – Criação da espaçonave


Com a posse do conhecimento é ampliada a percepção do planeta Terra como uma espaçonave girando no universo e
onde não existem passageiros, pois todos nós somos tripulantes. É bastante procedente a observação feita por Ernest
Callenbach, do Centro de Ecoalfabetização, de que “os problemas ecológicos que estamos enfrentando são problemas
de valores. É difícil mudar os valores dos adultos, mas nota-se que as crianças nascem com certos valores intactos, ou
seja, o sentimento de espanto ou reverência e com afinidade com a natureza”, o que o biólogo David W. Orr chama
de *“biofilia”. Ele afirma que todos nós temos essa capacidade, mas ela é mais acentuada nas crianças, e, quando
pequenas, essa capacidade mantém-se inalterada. David W. Orr vai além, afirmando que “quando bem nutrida, a
biofilia pode ser transformada em alfabetização ecológica e acabar produzindo uma sociedade mais sustentável”.
Em longo prazo, a educação para a sustentabilidade representa a escolha de pensar além da sobrevivência
pessoal e de valorizar todas as formas de vida na Terra. A decisão de focalizar certos princípios ecológicos –
aqueles pelos quais a natureza sustenta a vida – é também uma escolha de valores.

*A biofilia é o amor à natureza. Este termo foi popularizado por Edward Osborne Wilson, num livro com
o mesmo nome publicado pela Harvard University Press em 1984. Em seu livro, Wilson descreve a biofilia
como uma tendência natural a voltarmos nossa atenção às coisas vivas.

Metodologia indicada
Com o uso da ecopedagogia e de outras metodologias diferenciadas que valorizam não só o meio físico, mas a
“essência das coisas”, o público-alvo do Projeto Semeando o Bioma Cerrado é sensibilizado bem mais além das
técnicas que envolvem o sistema de produção das sementes.
A educação ambiental trabalhada no projeto está relacionada à prática de tomadas de decisões, promovendo
brincadeiras para o aprender a fazer fazendo, conduzindo o ser humano à ética e à construção de valores
sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente a
partir da preservação do bioma Cerrado.

Estratégias transversais
As séries devem ser subdivididas para que os conteúdos curriculares sejam trabalhados em oficinas específicas,
nas quais os alunos vivenciarão atividades aplicando a transversalidade da educação ambiental em ações
práticas de reconhecimento, preparação do solo, plantio, observação e, sobretudo, reflexão com a utilização de
técnicas pedagógicas associadas ao lazer, promovendo ao mesmo tempo aprendizado e brincadeiras.

63
Exemplos para as séries iniciais: estudos práticos específicos e direcionados para cada turma de acordo com os
projetos realizados pelos professores de cada disciplina.
a) Animais – tamanho, peso, cor, cobertura (couro, pelo, penas, escamas), número de patas/pés, boca, dentes, o
que comem, onde vivem, como se reproduzem e nascem, como se locomovem, diferenças entre macho e fêmea
e utilidade para o homem.
b)Horta orgânica pedagógica – produção de adubo orgânico pelo aproveitamento do lixo, compostagem,
minhocário, construção de canteiros, semeadura, colheita de verduras e legumes, diferença de cores e textura
das plantas e irrigação; conhecimento desde a semeadura até a colheita; produção de alimentos e controle do
equilíbrio ecológico para melhorar a qualidade de vida e preservar a natureza na escola e em seu entorno.
c) Pomar e tipos de árvores – ornamentais, nativas, reflorestamento, exóticas, vegetação natural e cultivada;
exame de folhas, caules, frutas, sementes, raízes; degustação de frutas da época e cuidados no cultivo orgânico,
cuidados para preservar a Terra.
d)Sons – identificação dos diferentes sons produzidos por animais, pássaros, vento; iniciação a números
(unidade, dezena, dúzia, litro, tamanho, peso) e letras (placas com nomes de animais e aves).
e) Brinquedos – de acordo com o centro de interesse da turma, construção de brinquedos com materiais
descartados (madeira ou material natural) e com a reutilização de materiais descartados como lixo.
f) Palestras/vídeos – integração homem x natureza – vantagens e desvantagens da vida no campo e na cidade;
interdependência das duas; alimentos, animais, aves e área de preservação ecológica e ambiental.
g) Lazer – teatro ambiental, dança, apresentação musical, pinturas, desenho.

Referências
BRASIL. Lei da Educação Ambiental. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei no 9.795, de 27/04/1999.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br>.
BRASIL. Lei Lei de Diretrizes e Bases. Lei no 9.394, de 20/12/1996. Estabelece as diretrizes e as bases da
educação nacional.
CAPRA, Fritjof et al. Alfabetização ecológica. Prefácio à edição brasileira: Mirian Duailibi. Tradução: Carmen
Fischer. São Paulo: Cultrix, p. 9-11, 312 p, 2006.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Capítulo 6

Capacitação de professores e comunidades


Sensibilizando professores para a corresponsabilidade socioambiental

Lêda Bhadra Bevilacqua

Toda proposta de formação de educadores ambientais trabalhada pela AAF, em parceria com a Escola da
Natureza, privilegia a abordagem socioambiental, cujos princípios estão definidos na Política Nacional de
Educação Ambiental, por meio da Lei n. 9795/1999, na Política Distrital de Educação Ambiental, por meio da
Lei n. 3233/2006, nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), na Carta da Terra e nas Metas para o Milênio,
estabelecidas pela ONU. Esses documentos orientam para a formação de Programas de Educação Ambiental
nos âmbitos federal e local, por meio da articulação interinstitucional entre instituições governamentais e não
governamentais.
Para essa capacitação foram estabelecidas diretrizes visando à solução de problemas práticos da realidade local
escolar, contextualizando ao Distrito Federal, por meio de diagnósticos e avaliações das práticas em educação
ambiental aplicadas nas instituições públicas de ensino, tendo como referência as experiências da Escola da
Natureza – Centro de Referência em Atividades de Educação Ambiental da Secretaria de Educação do DF.
As ações realizadas foram voltadas aos anseios de professores de determinadas escolas que buscam na Escola
da Natureza suporte para projetos que envolvam toda a comunidade escolar em defesa dos parques ecológicos
da região, situados próximos as suas instituições de ensino, que podem ser transformados em Centros de
Referência em Educação Ambiental, a exemplo da própria Escola da Natureza. Nesse sentido, a capacitação
desses professores está focada na busca da instrumentalização e da sensibilização, por meio de oficinas
temáticas, como modelos de atividades a serem desenvolvidas com seus alunos, um desdobramento de uma
natural parceria com quem está realmente disposto a contribuir com a mudança de conduta e com o olhar
sensível para a natureza.

Professores do Centro de Ensino Especial 01de Santa Maria-DF, integrados ao Projeto Semeando o Bioma Cerrado

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O mérito das parcerias entre a AAF, a Rede de Sementes do Cerrado, a Escola da Natureza, o Núcleo de Educação
Ambiental da Faculdade de Pedagogia da UnB, entre muitas outras instituições, é que contempla a abordagem
social da educação ambiental, centrada exatamente em promover uma nova postura do cidadão em relação ao
ambiente local (leitura da realidade onde vive) e global. O que se pretende construir por meio desse processo
formativo é o cidadão ético e ambientalmente comprometido, numa perspectiva de conhecimento que valoriza
o trabalho coletivo, a transdisciplinaridade e o respeito ao ritmo e às diferenças individuais. Dessa forma,
fomenta-se o intercâmbio com organizações locais envolvidas com projetos de educação ambiental; fortalece-se
o aperfeiçoamento profissional como mecanismo que permita consolidar o processo em rede de formação em
educação ambiental.
As atividades oportunizam conhecimentos acerca de temas relacionados a preocupações locais e mundiais,
como: sustentabilidade ecológica, diversidade cultural, resíduos sólidos, energia e suas fontes, recursos hídricos,
agricultura orgânica, bioma Cerrado, acrescentando a sensibilização por meio da arte, da corporeidade e
da trilha sensitiva, tendo como base o meio ambiente, seu contexto sócio-histórico e os valores culturais da
população, privilegiando o processo de construção do conhecimento. Cada prática faz parte de um processo,
não sendo um fim em si mesma, e representa um instrumento por meio do qual as questões específicas locais
são levantadas e inseridas em um contexto mais amplo, como resgate de uma visão mais integrada da realidade,
com destaque para a abordagem socioambiental.
Nesse contexto, o ambiente torna-se um espaço de formação e informação no qual a aprendizagem dos
conteúdos necessariamente favorece a inserção dos participantes no dia a dia das questões sociais e em um
universo cultural maior. Os participantes são estimulados nas dimensões da mente e do corpo, das emoções e
dos sentimentos, integrando-se ao meio.
Acreditamos que a formação oferecida oportuniza os diversos segmentos da comunidade escolar a participarem
de temas diversificados, relacionando-os ao cotidiano vivenciado nas instituições de ensino, permitindo o
exercício da cidadania vinculado à ética ecológica e à corresponsabilização social.
Para isso, torna-se necessária a formação de professores, bem como dos integrantes da comunidade escolar e
de seus alunos, de forma que cresçam juntos nesse novo contexto de ensino e aprendizagem e dessa forma se
tornem agentes formadores em suas localidades.

Metodologia
A exemplo das atividades voltadas às crianças, também para os professores a metodologia adotada é a ecopedagogia,
conceito criado por Francisco Gutiérrez, pesquisador do pensamento de Paulo Freire, seguindo os princípios da
Carta da Terra, documento anunciado em março de 2000 pela Unesco e adotado pela ONU desde 2002 com o
mesmo valor da Declaração dos Direitos Humanos. A Carta da Terra foi aprovada por um fórum da sociedade
civil, com representantes de todos os povos, e por isso conseguiu o status de documento da “cidadania planetária”.
A ecopedagogia trabalha com a fundamentação teórica dessa “cidadania planetária”, cuja ideia é dar sentido
para a ação dos homens como seres vivos que compartilham com as demais vidas a experiência do planeta
Terra. Trata-se da pedagogia orientada para a aprendizagem do sentido das coisas a partir da vida cotidiana, ou
seja, constitui-se em um verdadeiro movimento político e educativo cujo objetivo é mudar as atuais relações
humanas, sociais e ambientais. Assim, oferece uma educação que desenvolve, prioritariamente, processos
reflexivos, criativos e críticos voltados para o desenvolvimento da autonomia, da criatividade e da solidariedade.
A ecopedagogia e as abordagens metodológicas da educação integral orientam as atividades dessa formação. Trata-
se de uma abordagem vivencial e construtivista que se sustenta em processos participativos e emancipatórios e
no compartilhamento de significados e visão de mundo. Cada encontro dos participantes integra três momentos
indissociáveis: as práticas de corporeidade – sensibilidade e movimentos para enraizar ideias; apresentação de
conteúdos teóricos para gestão sustentável e exploração criativa de conceitos pedagógicos.

Educação inclusiva
Mery-Lucy Souza

A educação especial é uma educação organizada para atender específica e exclusivamente alunos com
determinadas necessidades especiais. De modo geral, a educação especial lida com fenômenos de ensino e
aprendizagem que não têm ainda encontrado espaço no sistema de educação regular, mas nas últimas décadas
vêm entrando na pauta do movimento de educação inclusiva. Historicamente, a educação especial vem lidando

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

com a educação e o aperfeiçoamento de indivíduos que ainda não se beneficiaram dos métodos e procedimentos
usados pela educação regular.
Considerando-se que o termo “educação especial” denomina tanto uma área de conhecimento quanto um
campo de atuação profissional, e que no Brasil se inclui em educação especial desde o ensino de pessoas com
deficiências, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, passando pelo ensino de
jovens e adultos até o ensino de competências profissionais;
considerando-se que o sistema regular de ensino precisa ser adaptado e pedagogicamente transformado para
atender de forma inclusiva também as questões ambientais;
considerando-se a necessidade de tornar reais os requisitos para que a escola seja verdadeiramente inclusiva,
e não excludente;
considerando-se que a educação especial se desenvolve em torno da igualdade de oportunidades, em que todos
os indivíduos, independentemente de suas diferenças, deverão ter acesso a uma educação capaz de responder
a todas as suas necessidades;
considerando-se o pressuposto que aprender é fazer e que as oficinas de educação ambiental da AAF privilegiam
o “aprender a fazer fazendo” como um elemento pedagógico capaz de facilitar a estruturação de um trabalho
com condições propícias para a construção do conhecimento, viabilizando a descoberta pelo próprio aluno;
A AAF, em parceria com a Escola da Natureza, aceitou o desafio, a partir de um trabalho piloto, de levar as
questões ambientais ao Centro de Ensino Especial de Santa Maria (SEDF) com instrumentos pedagógicos que
possam contribuir para a inclusão desses alunos e a difusão da informação sobre a importancia da preservação
do bioma Cerrado, por entender que essa preservação pode começar com pequenas atitudes individuais do ser
humano, independentemente de suas limitações.
Mais uma vez a ecopedagogia foi a metodologia utilizada com sucesso, por trabalhar com a fundamentação teórica
da “cidadania planetária”, cuja ideia é dar sentido para a ação dos homens como seres vivos que compartilham
com as demais vidas a experiência do planeta Terra a partir da vivência cotidiana, facilitando processos
reflexivos, criativos e críticos que, mesmo nas limitações pessoais, contribuíram para o desenvolvimento da
autonomia, da criatividade e, principalmente, da solidariedade.
As oficinas propostas, respeitando as limitações, permitiram que os alunos fossem estimulados nas dimensões
da mente e do corpo, nas suas emoções e sentimentos, e se percebessem como sujeitos ativos da própria
aprendizagem, integrando-se ao meio.

Referências:
FREIRE, Paulo. Educação e mudança. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
GIORDAN, André; VECCHI, Gerard de. As origens do saber: das concepções dos aprendentes aos conceitos
científicos. Porto Alegre: Artmed, 1996.
portal.mec.gov.br/index.php?

Fortalecendo comunidades
O desenvolvimento integral de crianças e jovens não pode ser
visto como responsabilidade apenas da escola e da família.
Sem dúvida, quanto maior for o envolvimento da comunidade
maiores são as possibilidades de a educação se tornar integral
e inclusiva. Porém, é necessário que todo o entorno da escola
se torne efetivamente um território educador, permitindo que
os alunos aprendam a toda hora, em diferentes lugares e com
as mais variadas pessoas, cada qual contribuindo com uma
parcela da sua formação e/ou informação.
Esta tem sido a missão da AAF e da Rede de Sementes do Oficina de aproveitamento culinário de frutos do Cerrado
Cerrado com as comunidades da área de abrangência do Projeto Semeando o Bioma Cerrado, buscando
o comprometimento de lideranças locais na busca de soluções de problemas ambientais que colocam em
risco a sustentabilidade planetária a partir de uma visão global com ações locais.

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Sensibilização para recuperação de áreas degradadas
Sensibilizar moradores de áreas rurais para o melhor conhecimento do potencial natural do local em que vivem
e para cuidados especiais em áreas de nascentes foi o desafio do Projeto Semeando o Bioma Cerrado, da Rede
de Sementes do Cerrado, que esteve na região do Lago Oeste, Sobradinho-DF e na Cidade da Fraternidade, Alto
Paraíso de Goiás realizando cursos práticos e teóricos sobre a grande importância dos recursos hídricos dessas
regiões, apresentando ainda técnicas conservacionistas e atitudes individuais que permitam a estas comunidades
conservar suas nascentes e, se necessário, recuperar suas áreas degradadas com plantios orientados.

Conhecer para proteger


O objetivo é mais que capacitar pessoas em simples procedimentos de recuperação de áreas degradas, mas, sim,
fortalecer um movimento baseado em valores para a transformação do cidadão na sua relação com a natureza.
As equipes de educação ambiental da Associação dos Amigos das Florestas (AAF) escolhem para os cursos que
ministram temas entre os objetivos da Carta da Terra, tais como: “Conheça mais sobre o lugar em que vive”, “Utilize
com cuidado o que a natureza oferece”. Esses cursos podem ter continuidade se inseridos à Agenda 21 de escolas
dessas comunidades, pois a proteção das nascentes dessas regiões sem dúvida precisa ser fortalecida. Entre os diversos
recursos que a natureza disponibiliza, a água é o mais essencial à vida do homem e de todas as espécies de plantas e
animais que habitam as várias partes do nosso planeta, é, indiscutivelmente, um recurso natural de altíssimo valor
econômico, estratégico e social, sendo considerada também um importante regulador do clima na Terra.
A construção de horta comunitária, com o envolvimento, inclusive, de igrejas, aproximou pessoas, estimulou
o respeito às diferenças de crenças e fortaleceu objetivos coletivos de produção de alimentos, de segurança e,
principalmente, de manutenção da qualidade de vida que ainda desfrutam por estarem mais próximos da natureza.
A capacitação de membros da comunidade não deve ser vista como isolada da escola, e sim integrada a ela, com
permanentes trocas de saberes e fazeres entre todos. Com oficinas voltadas à comunidade, o que se pretende
é formar multiplicadores da mensagem ecológica e aproximar professores, alunos, pais e lideranças como
uma forma positiva de se estabelecer uma rotina de aprendizagem e de respeito à natureza, com abordagem
multidisciplinar baseada na experiência e na participação do coletivo.

Alfabetização ecológica: ABCerrado


Profa. Dra. Rosângela Azevedo Corrêa

A ecologia surgiu no campo das


ciências da vida como uma área
voltada para o estudo das relações
entre os seres vivos. Daí nasceu
também a noção de ecossistema,
quando se colocou a necessidade
de não ver os seres vivos de
modo isolado, mas perceber as
interações que ocorrem nas trocas
de energia e matéria entre o meio
e os seres vivos, formando ciclos
e fluxos contínuos. Aplicada às
ciências humanas, esta noção
permite enfocar a relação entre os
processos culturais e as condições
Prof. Rosângela prepara Educadores para a alfabetização ecológica
ambientais neles envolvidas,
mostrando a importância dos processos criativos da cultura que orientam as relações entre humanos e o
ambiente que habitam, o seu oikos, palavra grega que significa o espaço ocupado e o modo de ocupá-lo.
No campo da psicologia, por exemplo, a noção de ecologia permitiu ver a pessoa humana como um conjunto
de dimensões e funções psíquicas que integram os níveis físico, emocional, mental e espiritual numa totalidade
complexa.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Aplicada a visão transformadora da educação em situações de crise, a noção de ecologia aponta para a busca de
compreensão das causas que geram o desequilíbrio nas relações entre os seres vivos, incluindo os comportamentos
destrutivos dos seres humanos. Como fundamento para uma ação educativa, essa compreensão permite
identificar os pontos em que os modos humanos de compartilhar o espaço habitado com os demais seres vivos
foram desviados do equilíbrio do todo. Esses modos humanos desorganizadores incluem, por exemplo, as
formas como lidamos com as águas, a agricultura, a infraestrutura das cidades, a extinção das espécies vegetais
e animais, inclusive a própria saúde humana.
Se a educação for encarada como uma relação humana voltada para promover a autoeducação e a cidadania
entre aqueles que compartilham de uma mesma situação socioambiental, poderemos então falar de um trabalho
de ecologia humana e dizer que toda educação é uma ação ecológica. A visão ecológica, portanto, implica rever
a nossa ética, isto é, valores que orientam as nossas ações pessoais e coletivas, aquilo que julgamos certo e
errado, o que valorizamos ou desprezamos em nós mesmos e na natureza.
Uma maneira de repensarmos nossas ações, especialmente aquelas que vivemos nos grandes centros urbanos, é
conhecer e aprender com outras culturas diferentes da nossa o que no passado e também no momento presente
elas criaram e ainda preservam em termos de modelos ecológicos de compartilhamento do espaço ambiental
em perfeito equilíbrio dinâmico, dentro da preocupação de proteger a vida. Ética e ecologia são inseparáveis,
como mostram, por exemplo, as sociedades nas quais a natureza é alvo de uma reciprocidade em que os
sentimentos, os afetos e os gestos humanos se dirigem aos demais seres vivos, tidos também como portadores
de subjetividade.

Professores da rede de ensino do DF sendo capacitados na Escola da Natureza para semear o bioma Cerrado

Nas sociedades nas quais existe respeito recíproco e solidariedade entre humanos, os mesmos valores são
transpostos para as relações de trabalho ou para qualquer outra atividade em que existam trocas recíprocas
entre humanos e natureza. É claro que onde domina a violência e a exploração egoísta do mundo e do outro
não poderá existir equilíbrio ecológico. Por isso, a questão ética, a mudança de valores, o criar interiormente as
condições afetivas e racionais para novos valores é um ponto fundamental da educação ambiental.
Não podemos separar a sociedade da natureza como se fossem duas coisas distantes e desconectadas, pois a
natureza não é um grande supermercado à nossa disposição para satisfazer os nossos desejos, afinal, nossas
vidas dependem da natureza porque fazemos parte dela. Criamos necessidades artificiais representadas pela
mídia, que tenta nos vender felicidade por meio do “ter”, e acreditamos que é assim que as coisas devem ser;
contaminamos nossos sentimentos e percepções, assim como nossas relações com a família, com o território,
com a comunidade e com nossa história pessoal e comunitária.
Hoje, todos podemos reconhecer que existem inumeráveis problemas socioambientais urbanos e rurais no
mundo inteiro, como crescimento desordenado e a enorme pegada ecológica por meio da produção de alimentos
em larga escala, insumos externos como água, lixo, energia, extração de matérias-primas, impermeabilização

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do solo, emissão de gases, etc. O discurso dos governos, especialmente no Brasil, é que precisamos crescer para
que possamos nos tornar um país desenvolvido, mas é válido crescer a qualquer preço?
De acordo com Sachs (1988), não se trata de crescer menos ou negar o desenvolvimento de um país, mas
reconhecer que o limite é uma categoria necessária para planejar as ações futuras. Portanto, temos de considerar
os aspectos sociais, econômicos, ecológicos, espaciais, culturais e políticos no planejamento de políticas públicas
para uma efetiva sustentabilidade no planeta Terra. Além disso, precisamos “pensar local (mas conhecendo os
vínculos com o global) e agir local” para que possamos encontrar soluções para os problemas imediatos e
urgentes que atingem diretamente as pessoas e todas as formas de vida.
Ringquist (1997) reconhece que a observação da realidade local e o consequente enfoque dos problemas
existentes auxiliam a percepção dos sujeitos sociais mais expostos ao risco ambiental. É por essa razão que
insistimos na necessidade de a escola trabalhar sobre a realidade de seu entorno para que os estudantes e suas
famílias possam perceber a necessidade de participar na solução dos problemas locais.
No Brasil, a Lei no 9.795, de 27/04/1999, dispõe sobre a educação ambiental e institui a Política Nacional de
Educação Ambiental, definida como:
Processos por meio dos quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio ambiente, bem de uso
comum do povo, essencial à sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade.
Os princípios básicos desta lei são: enfoque humanista e participativo; concepção do meio ambiente em sua
totalidade; pluralidade de ideias e concepções pedagógicas, na perspectiva de inter, multi e transdisciplinaridade;
vinculação entre a ética, a educação, o trabalho e as práticas sociais; garantia de continuidade e permanência
do processo educativo; abordagem articulada das questões ambientais locais, regionais, nacionais e globais;
reconhecimento e respeito à pluralidade e à diversidade individual e cultural.
A educação ambiental é definida neste documento como um processo dinâmico integrativo, transformador,
participativo, abrangente, globalizador, permanente e contextualizador. Mas existe um aspecto praticamente
negligenciado nessa definição: conceber a educação como um instrumento no processo de gestão ambiental.
As primeiras propostas de se considerar a educação como um instrumento para a gestão ambiental surgem no
Brasil a partir de 1995 com um documento elaborado por José da Silva Quintas e Maria José Gualda, educadores
da Divisão de Educação Ambiental do Ibama, no qual a gestão ambiental é compreendida como um processo
de mediação de conflitos de interesses (IBAMA, 1997). Essa concepção de educação ambiental surge como
resposta a um momento histórico específico, quando a questão ambiental no Brasil começava a explicitar sua
face política de modo mais evidente pela radicalização dos conflitos e pela percepção mais aguda e participante
dos movimentos sociais e dos agentes do poder público envolvidos nas situações de gestão ambiental.
As soluções que temos para os problemas passam necessariamente pela participação política de todos os
indivíduos para a superação das carências cotidianas. Entendemos o político como a forma de participação de
todos os cidadãos na solução dos problemas locais na busca do bem comum, o que não exige necessariamente
o envolvimento dos partidos políticos, que muitas vezes estão atrelados a acordos entre partidos, campanhas
eleitorais produzidas pela mídia, produção midiática de candidatos e da opinião pública, etc. Há necessidade
de se criar mecanismos de participação social direta no nível local. Isso significa que precisamos criar espaços
de exercício do poder cidadão para a gestão ambiental para exercer uma cidadania planetária, o que implicaria
se prever formas de compartilhamento das informações necessárias à compreensão da complexidade dessas
questões com as populações locais envolvidas nas questões ambientais, bem como a criação de espaços de
decisão quanto às políticas públicas a serem adotadas.
A participação das pessoas não é algo que acontece apenas devido a um convite ou espontaneamente. Numa
sociedade em que prevalece o individualismo devemos pensar em processos educativos que venham a superar a
dicotomia entre indivíduo e coletividade, atuando na rede de significados que é a própria cultura e reforçando a
percepção dos interesses comuns compartilhados, que são a essência da cidadania e do poder local. Acreditamos,
como Mourão (2002), que
[...] a tarefa transformadora da educação implica gerar um efeito turbilhonar na consciência
coletiva e pessoal, atuando sobre o imprinting cultural que organiza os princípios inconscientes,
propiciando o contexto de novas interações que permitam reorganizar nossos comportamentos,
nossas premissas de compreensão do mundo, a organização de nossas ideias.
Quando sabemos o que está acontecendo e o porquê, só temos duas saídas: fechar os olhos para os problemas
e esperar que alguém os resolva ou juntar-se a outras pessoas para solucionar os problemas dentro das nossas
possibilidades, potencialidades e expectativas, mas para termos o desejo de mudança é preciso que cada um
tenha o desejo de participar. E a participação só pode ser aprendida e aperfeiçoada se for praticada. Existem três

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

aspectos que devem ser obrigatoriamente contemplados para que haja participação:
1) o sentimento de pertencimento ao grupo;
2) diálogo baseado em uma escuta sensível;
3) determinação das necessidades coletivas.
Daí nossa preocupação com os problemas ambientais locais, que, sem excluir a escola, a expande e a incorpora
dentro da comunidade como um ator que, sensível à crise ambiental e à urgência de mudar os padrões de
distribuição e uso dos recursos naturais, consegue pensar, questionar e agir além das necessidades imediatas
para a resolução de conflitos socioambientais.

A educação para a gestão ambiental ocorre, então, por meio de um processo participativo no qual o indivíduo
e a coletividade constroem valores sociais, adquirem conhecimentos, atitudes e competências voltados para a
conquista e a manutenção de um meio ambiente ecologicamente equilibrado. Loureiro (2002, p. 103) salienta
que:
A educação ambiental é um trabalho que exige continuidade e constantes reflexões relativas à
qualidade de vida. Assim, é necessário que, cada vez mais, se expanda o número das pessoas
que acreditam ser capazes de criar uma consciência conservacionista por meio de seu trabalho,
atitudes e palavras. Essas pessoas vão muito além do educador formal. Elas podem ser estudantes,
donas de casa, aposentados, crianças, adultos ou técnicos de qualquer profissão.
Portanto, a ação educativa só se justifica com o envolvimento da comunidade e sua orientação para as
possíveis soluções de problemas comunitários. Como Gadotti (2000, p. 251) explicita, a educação deve:
Amar o conhecimento como espaço de realização humana, de alegria e de contentamento cultural; [...]
selecionar e rever criticamente a informação; formular hipóteses; ser criativa e inventiva (inovar); ser
provocadora da mensagem e não pura receptora; produzir, construir e reconstruir conhecimentos elaborados.
E mais: numa perspectiva emancipadora da educação, a escola tem que fazer tudo em favor dos excluídos.
Não discriminar o pobre. Ela não pode distribuir poder, mas pode construir e reconstruir conhecimentos,
saber, que é poder. Numa perspectiva emancipadora da educação, a tecnologia não é nada sem a cidadania.

Consequentemente, a prática da educação voltada para a gestão ambiental chama a atenção para os problemas
ambientais locais em detrimento dos globais, não menos importantes, mas menos prioritários. É nesse sentido
que Ribeiro (1992) reforça a ideia de que o eixo da gestão ambiental deve se localizar na ação local. Também
nesse sentido, a Organization for Economic Co-Operation and Development (OECD) julga que a apropriação
do contexto local para a educação ambiental permite o desenvolvimento do senso de responsabilidade entre os
educandos (CERI, 1995).
Que metodologia desenvolver para atender às expectativas de participação social de uma dada comunidade?
Primeiro, é preciso convidar as pessoas para se conhecerem e e, assim, possibilitar a criação de um sentimento
de pertencimento a essa comunidade. Entendemos “comunidade” como um grupo de pessoas que têm um
objetivo em comum, uma ação e uma identidade em comum; a escola pode ser considerada uma comunidade.
Assim, as reuniões entre professores e pais não podem ficar restritas apenas à entrega de notas e a relatórios
comportamentais dos alunos dentro da escola.
Um segundo passo seria o conhecimento da comunidade sobre sua própria realidade para que todos possam
contribuir na elaboração de um diagnóstico socioambiental local, pois apesar de as pessoas viverem numa
comunidade nem sempre têm uma escuta sensível para as coisas que acontecem no lugar. É preciso traçar o
mapa político local, identificando quem é quem, quais as lideranças comunitárias mais expressivas e quais dessas
lideranças podem influenciar positiva ou negativamente na consecução de um projeto. É muito importante
fazer com que os mais diferentes setores da comunidade estejam envolvidos, comprometidos e atuantes em seus
próprios espaços com a produção, a criação e a preservação da qualidade socioambiental. É preciso estimular
para que cada vez mais os diversos setores venham a se tornar atores proativos no gerenciamento ambiental.
Um dos assuntos que a maioria das escolas brasileiras elege para trabalhar em projetos de educação ambiental é
a coleta seletiva de resíduos sólidos. Raramente esses projetos chamam a atenção dos estudantes para o consumo
exacerbado e a produção indiscriminada de embalagens não recicláveis (multiplicadas principalmente pelo
sistema de franquias), os hábitos alimentares artificializados (fast-food e congelados), o hábito de jogar o lixo
no chão, nas praias e nos rios, menos numa lixeira, etc.; tampouco estimulam os estudantes a conhecerem a
natureza das fontes geradoras de resíduos, seus impactos na população e no ambiente urbanos, especialmente
na realidade local em seus aspectos socioeconômicos, políticos, pessoais e coletivos, além de articulá-los com

71
os impactos da dimensão global para que se obtenha uma visão real da complexidade da questão. Além disso,
a escola nunca considera a inserção dos catadores, que se encontram sempre sob o controle da indústria da
reciclagem, com pouca ou nenhuma margem de negociação quanto aos preços de mercado, permanecendo em
condições de trabalho e de vida desumanas e inaceitáveis.
Muitas pessoas acham que a implantação da coleta seletiva de lixo seria suficiente para resolver
o problema, mas não conseguem ver que os poucos projetos implantados pelo poder público no Brasil se
restringem aos aspectos técnicos do sistema de gestão, descuidando-se da dimensão educativa/comunicativa,
que é o instrumento básico para priorizar o repensar a forma como estamos vivendo, o recusar alimentos
industrializados com alto teor de sódio e açúcar que afetam nossa saúde, o reduzir a compra de coisas supérfluas,
reutilizar resíduos sólidos ou produtos como roupas, latas, garrafas pets, etc. e destinar os resíduos sólidos
como lâmpadas, pilhas e celulares para as empresas produtoras utilizando a logística reversa. Dessa forma,
tanto as unidades familiares, que geram lixo por meio do consumo, quanto as empresas, cujo lixo gerado advém
do processo de produção e colocação no mercado, não são atingidas por propostas concretas de mudança dos
hábitos de consumo e produção.
Quem são os segmentos envolvidos na gestão dos resíduos sólidos em uma cidade? São os consumidores,
os produtores, os catadores, o poder público, os serviços privados, os intermediários e as empresas que utilizam
os resíduos como matéria-prima. Desse modo, deveria haver um diálogo entre todos os atores e os setores
envolvidos no sentido de integrar a todos na gestão dos resíduos sólidos. Entretanto, o que assistimos na maioria
dos municípios brasileiros é à incapacidade das políticas públicas de tocar na essência da crise ambiental, que se
deve à insustentabilidade dos padrões de consumo exacerbado e da relação socioambiental vigentes.
Só a reciclagem de resíduos sólidos não será suficiente para solucionar a questão do lixo hoje no mundo,
é imprescindível a discussão das causas desse problema em suas dimensões política, econômica, social e cultural.
Se persistirmos na neutralidade ideológica, omitindo-nos quanto à criação de demandas por políticas públicas
voltadas ao enfrentamento concomitante dos problemas ambientais e da injustiça social, nada poderá avançar
a contento. Educador que só fica em sala de aula perde a oportunidade de contribuir com a construção de um
mundo melhor. Por isso acreditamos que a educação ambiental é muito mais que ações pontuais de como
fazer horta na escola ou coleta seletiva de lixo. Precisamos sensibilizar, envolver, mobilizar, estimular, ouvir as
pessoas para que qualquer projeto não seja apenas de um professor bem intencionado; a educação ambiental só
dará certo quando o projeto for coletivo. Como nos ensinou Paulo Freire (1976, p. 66):
Somente os seres humanos que podem refletir sobre sua própria limitação são capazes de libertar-
se, desde, porém, que sua reflexão não se perca numa vaguidade descomprometida, mas se dê no
exercício da ação transformadora da realidade condicionante. Desta forma, consciência de e ação
sobre a realidade são inseparáveis constituintes do ato transformador pelo qual homens e mulheres se
fazem seres de relação. A prática consciente dos seres humanos, envolvendo reflexão, intencionalidade,
temporalidade e transcendência, é diferente dos meros contatos dos animais com o mundo.
A educação atual não pode ser apenas um instrumento de informação sem implicar transformações significativas
nos indivíduos no sentido da construção de um novo padrão social, de um novo pacto civilizatório, estimulando
a capacidade dos seres humanos em ler o mundo e produzir sentidos. Não queremos continuar simplesmente
alertando as pessoas com discursos catastróficos sobre o fim do planeta ou destacando os desastres ambientais
que geram medo e impotência nas pessoas, como fazem os meios de comunicação. A informação é importante,
mas o fundamental é o investimento na educação do sujeito ecológico, capaz de agir no mundo com base em
valores éticos e estéticos. Partimos do pressuposto de que o processo educativo é um “ato político no sentido
amplo, isto é, como prática social cuja vocação é a formação de sujeitos políticos, capazes de agir criticamente
na sociedade” (CARVALHO, 2006, p. 186). As pessoas precisam se ter noção de que fazer horta na escola e/ou
coleta seletiva de lixo não resolverá o problema do mundo, é preciso ir além da “consciência” dos problemas e
da vontade de fazer alguma coisa. Consideramos que uma proposta de educação ambiental deve ser:
[…] um processo educativo eminentemente político, que visa ao desenvolvimento nos educandos
de uma consciência crítica acerca das instituições, atores e fatores sociais geradores de riscos
e respectivos conflitos socioambientais. Busca uma estratégia pedagógica do enfrentamento
de tais conflitos a partir de meios coletivos de exercício da cidadania, pautados na criação de
demandas por políticas públicas participativas, conforme requer a gestão ambiental democrática
(LAYRARGUES, 2002, p. 169).
Algumas pessoas até estão preocupadas com a crise ambiental, mas a “consciência” e a vontade não são suficientes
para mudar o quadro atual, pois existe uma contradição profunda entre a intenção e o comportamento das
pessoas, porque existe uma descontinuidade entre o comportamento e as atitudes, entre o pensamento e a ação
cotidiana, entre os valores e as atitudes. Temos boas intenções, no entanto nossas ações não condizem com
aquilo que sabemos que precisamos mudar, como o consumo exacerbado e o individualismo.

72
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Apenas reconhecer os problemas socioambientais não é suficiente. É preciso exercer nossa cidadania, que
tampouco se resume a direitos e deveres; é algo muito maior, é agir junto com o outro. Precisamos, como
Carvalho sugere, “desenvolver capacidades e sensibilidades para identificar e compreender os problemas
ambientais, para mobilizar-se, no intuito de fazer-lhes frente e, sobretudo, para comprometer-se com a tomada
de decisões, entendendo o ambiente como uma rede de relações entre sociedade e natureza” (2006, p. 181).
Partimos do conceito de cidadão como aquele que “é capaz de identificar os problemas e participar dos destinos
e decisões que afetam seu campo de existência individual e coletivo” (2006, p. 187); é a possibilidade de “fazer a
própria história” e criar novas formas de conviver com absoluto respeito à diversidade e à alteridade.
Mudar não é fácil porque implica criarmos um novo padrão social, um novo pacto civilizatório. Racionalmente
podemos até pensar em mudar a nós mesmos, mas o que nos impede de mudar diante de situações tão sérias,
como a que estamos vivendo, de desintegração social e degradação ambiental? Todos sabem que vivemos uma
crise séria e urgente. Estamos vendo desastres ambientais no Brasil e no mundo. Isso pode nos levar a uma
visão apocalíptica – o mundo vai acabar –, e aceitamos pacificamente tal determinação, o que gera medo e
impotência. A outra possibilidade é reagirmos e agirmos.
Considerando-se a proposta de educação ambiental, quando damos ênfase à ecologia humana estamos
ressaltando o fato de que cabe à espécie humana a responsabilidade pela preservação ou pela destruição da vida
no nosso planeta. A crise atual é fruto de condições patológicas, isto é, de uma espécie de doença coletiva que
contaminou a consciência humana, levando-nos a destruir nossas condições de sobrevivência e reprodução,
assim como as dos outros seres do planeta.
Como escrevemos em outro artigo, a intervenção pedagógica da educação ambiental vem propor uma cura dessa
patologia, atuando nos três níveis em que ela se manifesta. Primeiro, nas pessoas humanas individualmente,
levando a atitudes de autoconhecimento e incentivando a capacidade criativa e autotransformadora, gerando
novos hábitos e atitudes. Segundo, nas relações entre as pessoas, fazendo surgir uma verdadeira cidadania,
baseada em laços de cooperação e ajuda mútua, superando os efeitos nocivos da competição, da violência e do
individualismo egoísta. Terceiro, nas relações entre os humanos e os demais seres vivos, compartilhando das
trocas energéticas e dos ciclos que formam os ecossistemas, na preservação da saúde do planeta.
Assim, podemos falar de três ecologias, quer dizer, de uma ação educativa simultânea em três níveis, visando à
correção dos modos de ser doentios que causaram a crise atual. Uma nova ética vai aos poucos sendo cultivada,
trazendo a consciência humana para uma percepção atenta e inteligente do momento atual, estendendo a visão
restrita dos “direitos humanos” para a defesa dos direitos de todos os seres vivos (MOURÃO; CORRÊA, 1998).
A educação ambiental, com essa visão transformadora, exige um novo educador, não mais um mero repassador
de informações (pois a internet já pode substituí-lo nesse papel), mas um agente de mudanças. A atuação
do educador deve incluir também o aspecto da pesquisa científica, pois ele precisa estar constantemente
conhecendo e reconhecendo a realidade à sua volta, integrando sua experiência de vida à vivência coletiva,
contribuindo assim para a busca de soluções aos problemas existentes. O educador deve ser alguém capaz de
contribuir para o enfrentamento das questões concernentes à qualidade de vida da comunidade, sendo um
facilitador de sua organização política, no sentido de dinamizar as formas de cooperação e a criação coletiva de
soluções comuns. Portanto, precisamos de projetos político-pedagógicos que incluam a dimensão da ecologia
humana proposta neste artigo.
Vivemos em um mundo no qual muitas pessoas estão apartadas, atomizadas, privadas da esfera das relações
históricas e sociais coletivas, seres sem história e sem vínculos. Numa sociedade em que prevalecem a exclusão
e o não reconhecimento do outro, estamos privados da luta por um mundo melhor, que nunca será perfeito
porque não somos seres perfeitos, mas nosso desafio como humanidade é sempre buscar vivermos melhor.
Em muitos aspectos, vivemos melhor que no começo do século XX, quando as mulheres não podiam estudar
e eram obrigadas a aceitar a violência dos maridos porque não existia proteção às mulheres. Hoje existe a Lei
Maria da Penha, e somos maioria nas universidades. É claro que temos muito por fazer, mas nada que seja
impossível. Por isso acreditamos que a luta ecológica é uma luta cidadã em busca de uma sociedade mais justa
e ambientalmente sustentável.
Compreendemos que a educação ambiental deve promover a compreensão dos problemas socioambientais
em suas múltiplas dimensões: geográfica, histórica, biológica, social, cultural e espiritual, considerando o meio
ambiente como o conjunto das inter-relações entre o mundo natural e o mundo social, mediado por saberes
locais e tradicionais, além dos saberes científicos. É preciso proporcionar condições para o diálogo entre as
áreas disciplinares, saberes e fazeres dentro da escola e com os diferentes atores sociais envolvidos com a
gestão ambiental. Os professores, como homens e mulheres da prática educacional, em vez de serem apenas os
consumidores da pesquisa realizada por outros, deveriam transformar suas próprias salas de aula em objetos
de pesquisa.

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Capítulo 7

Problemas Ambientais: causas, consequências e possíveis soluções

Mery-Lucy do Vale e Souza

O meio ambiente aparece não mais como um mero fornecedor de recursos e matérias-primas, é, antes de tudo,
um condicionador da existência humana. A conscientização disso nos leva a estudar,entender, evitar e solucionar
os problemas que assolam o planeta Terra desde há muito, os quais, se vêm intensificando pelas ações antrópicas.
Entretanto, antes de listar os principais problemas ambientais a serem trabalhados nas escolas e nas comunidades
é importante que o educador ambiental observes algumas lições de educação sob a ótica de Paulo Freire em sua
Metodologia da Problematização.
a) Paulo Freire ensinou que a educação deve servir para a libertação do ser humano. A Libertação da ignorância, da
escravidão, da dependência da submissão, libertação de diversas formas de opressão. Uma educação problematizadora
é voltada para servir de libertação do ser humano pelo conhecimento e pela ampliação da consciência.
b) O homem só transforma a sua realidade quando ele próprio se transforma A metodologia da problematização
permite a transformação do sujeito que dela participa.
c)O educador deve fazer sua ação educativa a partir das razões do aprendiz. Colocar o aluno para observar a
realidade, decidir o problema de estudo, dar a palavra ao aluno, permitindo sua expressão e valorizando-a.
d) A vigilância do educador democrático é a de buscar a coerência entre o seu discurso e sua ação, entre a teoria e a
pratica. Pela metodologia da problematização, chega-se a ação pratica transformadora, fruto da teoria trabalhada,
passando antes pelas hipóteses de solução elaboradas pelos próprios alunos.
e) O aluno só aprende quando se envolve profundamente com a situação. Esse envolvimento o leva a fazer a
relação entre a teoria e a pratica, saindo de uma pratica observada para uma nova pratica, elaborada pelos alunos.
f) Formar é muito mais que treinar – O homem é um ser inconcluso – Buscar alterar a realidade, pela transformação.
g) A aprendizagem é facilitada se os novos conhecimentos são associados aos conhecimentos anteriores. Essa
associação é possível de ser feita quando se parte de um ponto real, do pensamento e do conhecimento existente
nas pessoas.
h) Fazer a observação, definindo um problema, perguntando sobre as causa e os determinantes, fazendo a
teorização, a analise, para se chegar a uma nova ação.
Para Freire, é na incidência de ação transformadora dos homens sobre o mundo que resulta a sua própria humanização.
Referência: FREIRE, P. A Educação para a Autonomia. 1983. - A metodologia da problematização e os
ensinamentos de Paulo Freire fep.if.usp.br/~profis/arquivos/ivenpec/Arquivos/Orais/ORAL019

AH! NÃO DISSE?


A ESCOLA NÃO É LUGAR
PARA ESSAS COISAS!
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Sonho es

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Desejos Curios
Sentimentos
Sexualidade
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74
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Entre a teoria e a prática

Andréia C. Andrigueto

Sugerimos nessa parte do livro enfocar a relação sinérgica de dois aspectos específicos que interferem no
equilíbrio do planeta: resíduos (líquidos e sólidos) e a preservação de remanescentes de vegetação nativa. Para
isso almejamos trazer a luz o desafio de um pensamento integrador, que estimula o não pensar a capacidade de
suporte da natureza e falar das relações ecológicas por trás de conceitos, do papel de uma água de boa qualidade
para a saúde do ser humano e da Terra.

Metodologia utilizada
E para isso foram criados os capítulos problematizadores. O objetivo das seções a seguir é auxiliar o professor,
o educador ambiental e o leitor a contextualizar temas gerais que podem ser abordados nas práticas educativas
dentro e fora de sala de aula. A metodologia da educação problematizadora defendida pelo educador Paulo
Freire (1979), parte do princípio de que questões cotidianas (conflitos latentes e necessidades apresentadas pelas
comunidades) são a base para propor soluções a problemas reais. É nesse dialogar com o mundo real da criança,
jovem ou adulto que processos de ensino-aprendizagem tornam-se efetivos e duradouros.
Outros autores que apoiam e caminham juntos a essa visão problematizadora de Freire são Frei Beto, Domenico
de Masi e o professor universitário Carlos Hiroo Saito. Frei Betto é escritor religioso conhecido por seu grande
engajamento em movimentos pastorais e sociais. Domenico de Masi é um sociólogo italiano contemporâneo que
escreveu junto com Frei Betto a obra : “Diálogos criativos” e é famoso pelo seu conceito de “ócio criativo”, um
conceito que torna positivo o ócio enquanto estimulador da criatividade pessoal. Carlos Hiroo Saito é professor
universitário no Departamento de Ecologia/UnB e no programa de pós-graduação em Desenvolvimento
Sustentável/UnB, referência em Educação Ambiental no Brasil. No período de 2008 a 2010 auxiliou o Ministério
do meio Ambiente na produção de material didático no âmbito do Projeto de Conservação e Utilização Sustentável
da Diversidade Biológica Brasileira (PROBIO).
A coragem de tentar mudar um pouco a história como as coisas são explicadas em sala de aula, defendida pelos
autores citados, serviu de inspiração para a escrita das seções a seguir. A utilização em primeiro lugar de uma
linguagem mais simples, cotidiana para fazermos menção científica é o pano de fundo para auxiliar o professor em
seu diálogo com o mundo do aluno. Frei Beto e Domenico de Masi (2002), defendem ainda que esse diálogo leva
os alunos a refletir suavemente, mas compromissadamente, encarando o desafio de não nos deixarmos levar pela
apatia e pelo silêncio. É ter a coragem de assumir que a responsabilidade perante os grandes desafios que temos de
enfrentar, não pertence ao outro, mas a cada um de nós.

Desmatamento e queimada
Entre os problemas que assolam o planeta Terra, o desmatamento, tendo em vista que sem cobertura vegetal não
há absorção de CO2, favorecendo o efeito estufa. Esse procedimento diminui a umidade e consequentemente a
dinâmica pluvial, ou ciclo hidrológico, o que aumenta a probabilidade de inundações. Também há perda do solo
naqueles locais, resultado disso a curto e médio e longo prazo é a diminuição das áreas cultiváveis, o que pode
gerar até mesmo uma crise no abastecimento de alimentos.
Contudo, talvez algo mais preocupante que isso seja a perda da biodiversidade. Imagine quantas espécies da fauna
e da flora ainda não foram descobertas e que poderão ser muito úteis à humanidade.
Deve-se levar em consideração também como cada animal e cada planta interferem na dinâmica de uma região.
A retirada de algum deles pode gerar desequilíbrio para aquele ecossistema.
Somam-se a essa problemática as queimadas, que destroem a área verde, do Cerrado e de muitas outras regiões. O
índice pluviométrico – ciclo das chuvas – desses ecossistemas está ameaçado, bem como o sequestro de carbono.
Outra ameaça para o Cerrado são as monoculturas, que avançam em sua direção.

75
A água
Rara, escassa e cara, a água é um recurso que deve ser cada vez mais preservado, pois não se vive sem ela.
Apenas 2/3 da água do planeta é doce, sendo a maior parte encontrada em lençóis freáticos. Apesar de
isso ser de conhecimento geral, o desperdício e o mau uso desse bem são constantes. A água que passa por
processos químicos para torna-se potável ou própria para o consumo é chamada de “água nobre”. O processo
de potabilidade da água, além de caro, requer a utilização de muita energia. E despropositadamente essa água
nobre é utilizada em sanitários, calçadas, carros, usos que poderiam ser servidos por outro “tipo” de água: a
que vem do céu. A chuva é fonte de muita água, que pode ser direcionada para estes e outros serviços. Como
regar o jardim. O Brasil deveria aproveitar mais essa fonte, haja vista ser um país tropical, em que a incidência
de chuvas é maior do que em outras regiões do planeta.
Vale lembrar que as cidades, ou o meio urbano, se vêm expandindo (geralmente
sem planejamento) tanto no Brasil como em outros países em desenvolvimento.
Isso é em parte um problema, porque com mais áreas asfaltadas e sem estrutura
adequada para o escoamento da água da chuva (muitas ruas asfaltadas não
têm bueiros) aumentam as chances de alagamentos. É lógico que essa situação
ocorre também em razão do descarte de lixo nas ruas, que entope os bueiros.
O fato é que com “o terreno impermeabilizado, a água da chuva cai no cimento
ou no asfalto e não em direção a um riacho” (TRIGUEIRO, 2005, p. 121).
Outra encrenca é o despejo de esgotos sem tratamento: “Apenas 20% deles recebe
tratamento”(TRIGUEIRO, 2005, p. 123). Deve-se considerar também o lixo não
tratado, cujo chorume (parte líquida do lixo) polui o solo e as águas subterrâneas;
os agrotóxicos, que são pulverizados nas plantações e podem contaminar rios e
lagoas.

Gestão de recursos hídricos, resíduos sólidos-o desafio de um entendimento sistêmico da questão


O corpo humano possui a mesma proporção hídrica que o planeta Terra. Enquanto o nosso planeta é formado
por 2/3 de água (aproximadamente 66%), o corpo humano, formado por milhares de células com água dentro, é
composto por 70% desse mesmo recurso natural. Coincidência? Não acreditamos no acaso nessa relação.
Assim como o planeta é formado por milhões de rios que o compõe, o nosso corpo é entrelaçado por veias, e
tecidos que movimentam partículas, ar, formas de vida. Em nosso corpo, o conjunto de tudo que chamamos de
sistema circulatório é composto na verdade por dois sistemas: linfático e cardiovascular (Yokochi et al. 1992).
Anatomicamente, é o sistema cardiovascular o responsável em um nível macro a fazer com que o oxigênio,
possam ser transportado alimentando as células do corpo e fazendo com que o gás carbônico possa ser levado
de dentro para fora do nosso corpo. Microscopicamente, o sistema linfático transporta as células que fazem a
defesa do nosso corpo. Como fazer isso ser assimilado em sala de aula?
Podemos usar metáforas, como o fazem Milano et al. (2006). Esses autores abaixo, ressaltam fortes enfermidades
que afetam o nosso sistema imunológico global e as nossas estratégias de defesa, utilizando-se para isso de um
princípio conhecido como Teoria de Gaia (Lovelock, 1995, 2006). Podemos exemplificar o que foi apresentado
acima da seguinte forma:
Se a Terra for vista como um organismo vivo, cada iguarapé, córrego e rios são vasos, veias e artérias; pântanos
são os rins; o mar, considerando a sua evaporação dentro do ciclo da água, atua como o coração que bombeia o
sangue da Terra a todos outros tecidos através das chuvas. Cada bioma, como um tecido, possui sua influência
e função no sistema de vida do planeta todo. (Milano et al., 2006: 176)
O aquecimento global, nesse sentido, é a febre que anuncia um planeta doente. E ela pode ser trabalhada por meio
de diversas relações. Um delas é trabalhar o consumo consciente com os alunos. Levando a discussões do tipo
recursos infinitos versus finitos, a quantidade de planetas serão necessários para se manter o padrão de consumo
de cada país, pegada ecológica, etc. O professor pode instigar o aluno a repensar hábitos, comportamentos e
atitudes para consumir menos, repensar mais, reutilizar, reciclar, fazer compostagem com o resto de alimentos de
seu dia-a-dia.
Para problematizar o professor pode-se valer da ideia de contrapor o Ter e o Ser, difundida por exemplo pelo
escritor alemão, Erich Fromm (1982), que embora seja do século passado aborda questões ainda bem atuais. Ter
e Ser aparecem em logo no início de sua obra, Lao-Tsé como ser “o modo de fazer”, e Ter, nas palavras de Karl
Marx, como manifestação da ausência da essência do ser, tornando o homem mais alienado.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Para problematizar ainda mais a discussão entre o Ter e o Ser, o professor pode instigar os alunos a refletirem sobre
desejos e necessidades. Para onde levará o nosso desejo de consumir cada vez mais? Abordar o consumo nas relações
com o planeta pode ser desenvolvida por meio de diversas atividades. Ao estabelecer relações de poder por meio
da obtenção de artefatos, por exemplo Gordon (2006) defende que populações tradicionais1, - por meio do poder
do “Ter”, tentaram preencher um vazio existencial de uma separação da nossa natureza individual (o “SER”) com o
mundo. Tais relações dicotômicas podem ser trabalhadas em atividades de sensibilização ambiental, trabalhando o
aspecto lúdico: contação de histórias com fantoches, figuras, pinturas, maquetes de animais da fauna silvestre que
visam despertar sentimentos de pertencimento (Sá, 2005) à natureza empoderamento (Friedman, 1992; Pinto, 1998)
e resgatando a responsabilidade individual que cada um de nós temos com a preservação do nosso ambiente. Para
isso, o professor poderá utilizar-se das atividades sugeridas nos capítulos da parte 2 desse livro.
Trazendo o contexto para uma problematização mais regional e local, pode-se levar os alunos a refletirem
sobre dados que são divulgados sobre o saneamento básico em sua região. Precisamos compreender as relações
entre saneamento, meio ambiente e saúde pública para falarmos de outras questões que envolvem a saúde do
nosso planeta. Presenciamos uma saída da concepção clássica sanitária, de se tratar problemas de saúde com
aulas conscientizando indivíduos sobre a importância de pequenos cuidados com a higiene-como lavar a mão,
escovar os dentes (Saito, 2015, apresentação oral) para uma abordagem multirreferencial, que visa a promoção
da saúde do ser humano e a conservação do meio físico e biótico (Soares et al., 2002).
Precisamos assim, conhecer o aparato que regulamenta a questão sanitária no Brasil. A Lei nº 11.445, de 5 de janeiro
de 2007, que estabelece diretrizes nacionais de Saneamento Básico no Brasil e introduz a noção de saneamento básico,
englobando a gestão de recursos hídricos e resíduos sólidos. Saneamento básico, pela lei é composto por tratamento
(abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, drenagem e
manejo das águas pluviais urbanas). Em outras palavras, água encanada, tratamento de esgoto e resíduos sólidos.
O que a falta de saneamento básico traduz é o perigo de contaminação das águas. Por não terem tratamento
adequado, as famílias recorrem ao esgoto urbano caseiro, que contribui para o assoreamento de rios, lagos e
lagoas, além de ser foco da disseminação de doenças. Como espécie de lixão líquido a céu aberto, os moradores
das regiões não atendidas com condições mínimas de saneamento básico, convivem com doenças como cólera,
hepatite A, febre tifoide, gastroenterite (Silva et al., 2008). Esses enteropatógenos, como bactérias do gênero
Enterococcus, são importantes indicadores epistemiológicos contidos nas águas. as redes de esgoto não tratado de
11 grandes cidades brasileiras, vão direto para o mar (Serra et al., 2003, Correio Braziliense, Brasil, 31/5/2008).
Outro desafio em âmbito local publicado em primeira página pelo Jornal da Comunidade de Brasília, em junho de
2008: “DF é o que mais agride o meio ambiente no país”. Ao divulgar a pesquisa “Indicadores de Desenvolvimento
Sustentável” do ano, realizada pelo IBGE2, o DF apresentou o pior índice de qualidade do ar, a maior incidência
de queimadas em reservas ecológicas e elevados patamares de uso de agrotóxicos e fertilizantes, apesar de ser, no
entanto, a menor unidade da federação.
Outro aspecto abordado pela matéria do jornal local em Brasília discorre acerca da relação entre o uso de
agroquímicos, poluição dos solos e em efeito cascata, a degradação dos lençóis freáticos da região. O uso destes
agroquímicos no Distrito Federal agrava a poluição de rios e lagos e grande parte disso vai para dentro da bacia do
rio Descoberto, que abastece 62% desse quadradinho no Cerrado.
Além disso, pode o professor problematizar sobre a questão de saúde do planeta discorrendo sobre o lixo, como
veremos a seguir.
Referencias:
CORREIO BRAZILIENSE, Brasil. Barros, Hércules. Saneamento básico. Segundo o IPEA, 22,2% dos habitantes
das áreas urbanas não teêm acesso ao serviço no país. Populaçao negra é a mais prejudicada. 31/5/2008.
DE MASI, D.; FREI BETTO. Diálogos criativos. Mediação e comentários José Ernesto Bologna. São Paulo:
DeLeitura Editora, 148p, 2002.
FRETWEEL, H. Environmental Education: the Science of fear. Disponível em: www.percreports.org. 2009.
Acessado em:
FRIEDMAN, J. Empowerment: The Politics of the Alternative Development. Cambridge: Blackwell Publishers,
1992
FROMM, E. Ter ou Ser? Rio de Janeiro: Zahar editores. Trad. Nathanael C. Caixeiro, 4 ed, série World
Perspectives. 1982.

Sugestão de leitura: Gordon, Cesar. Economia selvagem : ritual e mercadoria entre índios Xikrin-Mebêngôkre. São Paulo: Editora Unesp:ISA; Rio de Janeiro:NUTI, 2006. 452p.2
1

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística


2

77
LOVELOCK, J. E. Gaia: um novo olhar sobre a vida na Terra. Lisboa: Edições 70, 1995.
LOVELOCK, J. E. Gaia: cura para um planeta doente. São Paulo: Cultrix, 2006.
YOKOCHI, C.; ROHEN, J. W.; WEINREB, E. L. Anatomia fotográfica do corpo humano. Tradução: Orlando
Jorge Aidar. São Paulo: Manole, 140p, 1992.
YOUNG, R. Apresentação. In: Bologna, J.E. Diálogos criativos: Domenico de Masi: Frei Betto/mediação e
comentários José Ernesto Bologna. São Paulo: DeLeitura Editora, 148p, 2002.
MILANO, M.; MENDES, T.; ANDRIGUETO, A. Hot spots do amor, enfermidades da Terra e o sistema
imunológico global: Devaneios sobre juventude, meio ambiente e políticas públicas. In: juventude, cidadania e
Meio Ambiente: subsídios para a elaboração de políticas públicas. Órgão gestor da Política Nacional de Educaçao
Ambiental; Ministério do Meio Ambiente; Ministério da Educação.- Brasília: Unesco, 2006.
PINTO, C.C.G. Empowerment: uma prática de serviço social. In: Barata, O.S. (org): Política Social. Lisboa:
ISCSP, pp.245-277, 1998.
SERRA C.L.M.; CAVALCANTE, P.R.S.; ALVES, L.M.C.; NASCIMENTO, A.R.; DINIZ, S.C.C.S. Avaliação de
parametros físicos e químicos e pesquisa de Vibrio parahaemolyticus em águas do estuário do rio Anil (São Luís,
Estado do Maranhão). Acta Sci.Biol. Sci., Maringá, v. 25, n.2, p.261-266, 2003.
SILVA, V.C.; NASCIMENTO, A.R.; MOURÃO, A.P.C.; NETO, S.V.C.; COSTA, F.N. Contaminação por
Enterococcus da água das praias do município de São Luís, Estado do Maranhão. Acta Sci.Technol. Maringá
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SOARES, S.R.A.; BERNARDES, R.S.; NETTO, O.M.C. Relações entre saneamento, saúde pública e meio ambiente:
elementos para a formulação de um modelo de planejamento em saneamento. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro,
18 (6): 1713-1724, nov-dez, 2002.

O Lixo dentro de uma concepção de Agenda 21


“O Brasil, apesar de ter uma das legislações mais avançadas do planeta, é o paraíso dos sacos plásticos.
Essa realidade, que tanto preocupa os ambientalistas do país, já justificou mudanças importantes na
legislação e na cultura – de vários países europeus TRIGUEIRO, (2005, p. 48).

O lixo é outro desafio que precisa ser solucionado. A falta de educação e conscientização ambiental, a produção
industrial de embalagens de difícil degradação, o não comprometimento com o lixo gerado pela própria indústria,
a má gestão e a falta de um bom planejamento urbano são as principais causas geradoras do problema lixo.
Acostumados a ter o serviço de limpeza urbana da prefeitura retirando o lixo ou limpando a cidade, não nos preocupamos
em jogar lixo na lixeira, pois sabemos que alguém o fará. Esse pensamento, que está na cabeça de muitas pessoas em países
subdesenvolvidos, há muito vem deixando de existir nos cidadãos europeus, americanos, japoneses e outros.
A consciência de que o lixo representa má qualidade de vida e de que é importante separá-lo (coleta seletiva em
lixeiras públicas distribuídas pela cidade) facilita muito a vida de quem trabalha diretamente com ele (garis e
catadores). Também é interessante a informação de que o lixo gera trabalho e renda para o país. Ou seja, a questão

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

do lixo não diz respeito somente ao gari, ao catador individual ou ao catador associado em cooperativas. Ele é
um desafio para toda a população. Esses atores prestam um serviço ao Estado e a sociedade, ao recolher o que
nós chamamos de lixo. Para eles, há matéria prima envolvida no descarte. Além de garantir o seu sustento e o de
suas famílias, gera renda e empregos. Precisamos, nós, “produtores de lixo”, toda sociedade, aprender a dizer não
ao consumo sem limites (recusar), a refletir sobre as causas de nosso desejos pelas coisas e ter diariamente um
comportamento ecologicamente correto: preferir os produtos a granel e regionalizados, produzidos e transportados
com menos combustível e embalagens individualizadas, dar preferência a produtos cujas embalagens não agridam
o meio ambiente, exijir que seus condomínios ou residências façam a coleta seletiva, exigir dos governos municipais
e estaduais e no DF a coleta seletiva em dias certos e alternados.
Em relação ao lixo gerado pelo consumidor, algumas indústrias de bens duráveis, como de aparelhos de refrigeração
e pneus e, até mesmo a indústria de alimentos, como a do óleo de cozinha, são responsáveis pelo destino final do
lixo, mas são raríssimas as que têm essa preocupação.
A “guimba” ou “bituca” de cigarro ainda é encontrada nas ruas e nas praças das cidades. No entanto, talvez poucos saibam
que ela gera um grave problema ambiental, pois é revestida de uma espécie de resina – o acetato de celulose –, que
dificulta a sua decomposição. No Brasil, inclusive no DF já existe a reciclagem de bituca de cigarro (procure se informar).
A solução para o problema do lixo passa pelos três Rs da sustentabilidade: reduzir (o uso de matérias-primas e
energia, a quantidade de material a ser descartado); reutilizar (os produtos usados, dando a eles novas funções)
e reciclar (retornar o que foi utilizado no ciclo de produção).

Consumismo na sociedade atual e os problemas ambientais resultantes


“A terra pode oferecer o suficiente para satisfazer as necessidades de todos os homens, mas
não a ganância de todos” (Mahatma Gandhi).
Essa é uma sábia frase para se introduzir a abordagem de um dos principais problemas para o meio ambiente: o
superconsumo ou o consumo excessivo.
O consumo em si não é problema, precisamos consumir para satisfazer nossas necessidades
básicas. No entanto, a avassaladora farra consumista desencadeada na Revolução Industrial,
potencializada com o avanço tecnológico dos meios de produção e universalizada pela
mídia na era da globalização, está custando caro ao planeta. Segundo o relatório Planeta
Vivo 2008, divulgado pela organização não governamental WWF, o consumo de recursos
naturais já supera em 20% ao ano a capacidade do planeta de regenerá-los.
“Há fortes sinais de que o consumo excessivo está prejudicando a qualidade de vida, como o
atual nível de obesidade e dívida pessoal, menos tempo livre e meio ambiente danificado”
(Estado do Mundo, 2004, do Worldwatch Institute). Esse estilo de vida é mais típico de países
desenvolvidos, os quais têm níveis de consumo altíssimos. Em países como o Brasil, onde a
maioria da população (165 milhões) não tem a opção de consumir mais do que o necessário,
o bombardeio de propagandas que invade a casa das pessoas torna-as angustiadas, frustradas,
ansiosas, depressivas e, em alguns casos, há uma grande possibilidade de gerar violência. Só uma
minoria é capaz de arcar com as despesas geradas por suas vontades .
O que contribui muito para a baixa autoestima, as ansiedades e a depressão são a mídia, o
marketing, a publicidade. Antigamente os publicitários se preocupavam em explicar o que
era e para o que servia determinado produto. Hoje, a publicidade apela não para a informação, mas para o sonho.
Quem tem dinheiro banca esse sonho, quem não tem fica frustrado ou endivida-se.
Então, a melhor orientação é consumir conscientemente. Devemos saber diferenciar o que realmente necessitamos
do que é puro consumismo. Não podemos nos deixar hipnotizar pela propaganda.
Além disso, devemos observar se o produto a ser comprado respeita normas ambientais, é gerado sem mão de
obra escrava ou infantil, sem gerar maus-tratos aos animais.
Uma maneira de fomentar o consumo consciente é por meio da educação. Após a Rio- 92 houve um grande movimento de
educação ambiental, e as escolas aderiram a ele em maior ou menor grau, até que se chegasse aos Parâmetros Curriculares
Nacionais. O programa Vamos Cuidar do Brasil com as Escolas, do MEC, tem como material básico o livro “CONSUMO
SUSTENTÁVEL: Manual de educação”, publicado pelo MMA/MEC/IDEC. (portal.mec.gov.br/dmdocuments/publicacao8.pdf)
Referências:
LEGAN, L. A escola sustentável: eco-alfabetizando pelo ambiente. 2. ed. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo.
MAIA, A.G.; PIRES, P.S. Uma compreensão da sustentabilidade por meio dos níveis de complexidade das decisões organizacionais. Rev.
Adm. Mackenzie, v.12, n.3, 2011.

79
O Lixo dentro de uma concepção do plano de gerenciamento de resíduos sólidos - PGRS

Priscila Bernardes e Ronei Alves

“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” (Antoine Lavoisier).

Transformação!
A palavra transformação, segundo Ferreira (2008), quer dizer “ato ou efeito de transformar (-se) ou modificação
do estado de um sistema”. Com base nessa ideia, convidamos o leitor a transformar sua visão sobre as diversas
dimensões que os resíduos sólidos podem assumir. Eles podem ser vistos como desafio latente a ser enfrentado por
gestores públicos nos municípios brasileiros, ou os resíduos podem ser vistos com diversas outras interpretações.
O que buscamos aqui é mostrar o poder que os resíduos sólidos têm para construir novas visões de mundo. Tudo
depende do valor que damos a eles antes de depositá-los nas lixeiras. Aparentemente, para muitas pessoas, os
resíduos sólidos são desprovidos de valor. O que na maioria das vezes é visto como um problema, nós desafiamos
o leitor a olhar a questão sob outros pontos de vista.

RESÍDUOS SÓLIDOS
TRANSFORMAÇÃO

Diferentes
Olhares

Ambiental Socioeconômico Cultural e Artístico Jurídico Catador Educador

Diferentes
Cenários
Cenário Urbano Cenário Rural

Transformação de hábitos, Mesmo


Conceitos e Preconceitos Foco

Distrito Federal

A figura acima representa os diversos cenários e olhares que temos que ter em mente quando mencionamos em
sala de aula os resíduos sólidos presentes no Cerrado. Hoje ele está presente tanto nas cidades quanto nas áreas
rurais e por isso exige um olhar mais integrado e sistêmico.
Curiosidade: você sabia que no Brasil, os resíduos orgânicos representam mais da metade de todos os resíduos
produzidos?

50% 35%
Materiais Recicláveis Secos
Reciclaveis
Orgânicos
45% Plásticos
13% Papéis
15%
Rejeito
4% Vidros
3% Metais

Ao olhar os resíduos domiciliares das áreas urbanas e das áreas rurais há de se perceber que eles possuem diferenças
em sua composição. Usualmente, nas áreas rurais, a composição dos resíduos é majoritariamente orgânica e
também há presença dos resíduos perigosos, tais como as embalagens de agrotóxicos. Este tipo de resíduo tem
legislação específica que define o destino final dos resíduos e embalagens. Procure aprofundar-se na questão lendo
a Lei nº 9.974, de 6 de junho de 2000.

80
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Na área urbana, devido à facilidade ao acesso aos bens de consumo, observa-se que há presença de muitos materiais
recicláveis, tais como: vidros, metais, papeis, plásticos, dentre outros. O aumento na produção de resíduos recicláveis,
também denominados de resíduos secos, em áreas rurais também tem crescido. Hoje, mesmo as pessoas que habitam
em áreas rurais têm cada vez mais acesso e facilidade aos bens de consumo que geram resíduos após utilizados.
Em área urbana ou rural, existem alguns tipos de resíduos que devemos conhecer para separar bem todos eles:

RESÍDUOS SECOS RESÍDUOS VOLUMOSOS


Papéis, plásticos, metais e videos, todos juntos Sofás, camas, mesas, cadeiras, colchões, móveis
numrecepiente grande e com tampa. devem ser velhos ou pedaços de móveis e eletrodomésticos
colocados na calçada no dia e horário da coleta quebadospodem ser levados até os ECOPONTOS.
seletiva! Confira seu dia no mapa. A OPERAÇÃO CATA-BAGULHO também tem uma
programação de coleta desses materiais, aos sábados.

RESÍDUOS ÚMIDOS ÓLEO DE COZINHA USADO


Sobras de frutas e verduras cruas, guardanapos Guarde o óleo de cozinha em uma garrafa com
sujos, cascas de ovos, borra de café e folhas tampa e leve aos pontos de coleta. verifique no
secas. Podem ser compostados nos minhocários e mapa os pontos mais próximos da sua residência!
transformados em adubo.

RESÍDUOS PERIGOSOS DE SERVIÇOS DE SAÚDE RESÍDUOS PERIGOSOS


Entregue medicamentos vencidos, agulhas, ampolas Eletroeletrônicos, pilhas, baterias e lâmpadas fluorescentes. Separar
e seringas usadas nas farmácias e Unidades de em local reservado, pois podem causar contaminação do solo e
Saúde. veja no mapa os pontos mais próximos da da água, danos à saúde humana e ao meio ambiente, incêndios,
sua residência! corrosão e reações tóxicas, caso não sejam descartados de forma
correta. Procure no mapa o local mais próximo para o descarte.

VAMOS APRENDER COMO SEPARAR OS RESÍDUOS


RESÍDUOS DE REFORMAS, PODAS E VOLUMOSAS Resíduos Perigosos Rejeitos Óleo de
cozinha
Entulho, areia, cimento, azulejos, podas de árvores, madeira, 100 l 30 l
Resíduos
geladeiras, fogões, colchões. Entregue nos ECOPONTOS. Cada Secos Resíduos 10 l
Úmidos
pessoa pode descartar gratuitamente até 1m3 de entulho por dia,
ou seja,o equivalente a uma caixa d’água de 1.000l. Estes são os tamanhos adequados dos recipientes para
armazenar os resíduos para descarte.

Fonte: Consumo Sustentável e Ação. Prefeitura de São Paulo, 2008. Realização Instituto 5 Elementos

Agora que apresentamos um pouco mais sobre os vários tipos de resíduos, desafiamos o leitor a olhá-lo de maneira
diferenciada, buscando investigar desafios e soluções.

Visão ambiental
Desde a extração de matérias-primas para a fabricação de produtos, já temos problemas com a geração de resíduos. É
preciso repensar os impactos causados pela geração de resíduos e toda a interferência no meio ambiente. Os resíduos
sólidos, se depositados em qualquer lugar e sem cuidados necessários (se não ensacados separadamente entre úmidos,
secos e rejeitos depositados dentro das lixeiras), podem provocar graves problemas ambientais. Considerando todos
os biomas, principalmente o Cerrado, quem nunca ouviu falar de animais mortos por ingestão de resíduos jogados
em matas, estradas, nas ruas? E o fogo causado por resíduos depositados em meio ao cerrado, aquela típica prática
de colocar fogo nos resíduos produzidos em casa ou jogar bitucas de cigarros nas matas? Na área rural, o problema
é mais grave. Deve-se ficar atento ao manuseio das embalagens de agrotóxicos. Eles devem ter local específico para
serem armazenados e devolvidos ao fabricante. Adultos devem manter essas embalagens longe do alcance de crianças!
Resíduos depositados na terra em grande volume geram um líquido escuro e mal cheiroso chamado de
chorume. Essa substância líquida é resultado da decomposição de matérias orgânicas do lixo e se ele não for
tratado, há risco grave de poluição de lençóis freáticos, rios, córregos e demais recursos hídricos (SERAFIM,
2003). Já pensou num grande rio de resíduos? Você gostaria de beber dessa água? Tomar banho com ela? O que
você acha de regar as hortaliças com água contaminada?
Ou seja, não são os resíduos que provocam danos ambientais, mas sim a falta de cuidado, educação e consciência
das pessoas que não destinam seus resíduos para os locais corretos.

81
Problematização-Sugestão de trabalhos em sala de aula:

Só queria me
livrar desta
sujeira!

E como você pode auxiliar a minimizar essas questões ambientais que não são causadas diretamente pelos
resíduos, mas sim por quem os coloca em lugares errados? É fácil, muito fácil! A primeira ação que você pode
ter em mente é contribuir para a realização da coleta seletiva. Separe os seus resíduos em úmidos, secos e os
rejeitos dentro da sua casa, no seu local de trabalho, na sua escola. Entregue os resíduos recicláveis para as
associações e cooperativas de catadores de materiais recicláveis, caso tenha em sua cidade. O recolhimento dos
resíduos nos distritos rurais também é obrigação do poder público! Você já procurou saber se na sua cidade
ou na área rural onde você mora existem associações ou cooperativas de catadores de materiais recicláveis? A
doação desses materiais recicláveis pode gerar renda para essas associações.
Quanto à separação dos resíduos sugerimos a separação em 3 categorias. São elas: lixo seco, lixo úmido e o rejeito.
Eles podem ser depositados nos locais corretos indicados pelo serviço de limpeza urbana da sua cidade. Fazendo
essa ação você estará contribuindo para o retorno de diversos tipos de materiais para a indústria da reciclagem.
Mas perguntamos a você: o que é a reciclagem? De acordo com a Lei 12.305/10, a reciclagem é o “processo
de transformação dos resíduos sólidos que envolve a alteração de suas propriedades físicas, físico-químicas ou
biológicas, com vistas à transformação em insumos ou novos produtos, observadas as condições e os padrões
estabelecidos pelos órgãos competentes do Sisnama e, se couber, do SNVS e do Suasa”.
Nesse sentido, notoriamente, os benefícios ambientais a partir da reciclagem são associados minimização dos
impactos sobre o meio ambiente a partir da diminuição ao consumo de energia, às emissões de gases de efeito
estufa (GEEs), a minimização do consumo de água e à perda de biodiversidade (IPEA, 2010).
Por falar em reciclagem, vamos então visualizar a questão dos resíduos sólidos na dimensão socioeconômica?

Visão socioeconômica
Despoluir recursos hídricos custa muito dinheiro. A recuperação de áreas degradadas pela disposição final errada
de resíduos sólidos também custa caro3 . Fica oneroso aos cofres públicos municipais desentupir bueiros e manter
ações de limpeza de bocas-de-lobo entupidas. A destinação e a disposição errada dos resíduos causam prejuízos
aos cofres e à saúde pública. No Brasil, segundo o relatório do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - Ipea4,
o país perde anualmente R$ 8 bilhões por ano por deixar de reciclar o lixo que hoje vai para lixões e aterros
sanitários. Nesse sentido, a coleta seletiva e a reciclagem são elementos fundamentais e indispensáveis ao sistema
de gestão integrada de resíduos sólidos não só por questões ambientais, mas também por questões financeiras.
O Ipea (2010) afirmou que o país gerava em torno de R$ 12 bilhões por ano com a reciclagem. Olhando pela
vertente econômica, resíduos destinados para locais incorretos acarretam danos aos cofres públicos e malefícios
para a saúde da população. Se os resíduos forem encaminhados para a destinação correta, automaticamente você
estará contribuindo para a geração de emprego, renda e riquezas dentro do país. Olhando pelo viés social, é a
partir da reciclagem que, atualmente, se tem a estimativa do Movimento Nacional dos Catadores de Materiais
Recicláveis (MNCR)5, o número de 800 mil catadores de materiais recicláveis em atividade no Brasil, entre os
quais 70% são mulheres e em sua maioria, pertencentes à raça negra. Assim, quando você destina seus resíduos
para o local correto, você auxilia na inserção socioprodutiva dos catadores de materiais recicláveis6.

3
Online. Fundação Estadual do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.feam.br/images/stories/Flavia/areas_degradadas.pdf>. Acesso em 29.03.2015

Online. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://agencia.
4

ipea.gov.br/images/stories/PDFs/100514_relatpsau.pdf>. Acesso em 29.03.2015


5
Online. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos para Gestão de Resíduos Sólidos. Disponível em: <http://agencia.
ipea.gov.br/images/stories/PDFs/100514_relatpsau.pdf>. Acesso em 29.03.2015

6
Você pode assistir ao vídeo: Prêmio reconhece boas práticas de inclusão de catadores de materiais recicláveis. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=9nbOF-
zKiBTY> e o catador Tião Santos https://www.youtube.com/watch?v=p1knM0h1ZE0. Acesso em: 31.03.2015

82
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Ainda há que se destacar que atualmente é possível o poder público municipal contratar as associações e cooperativas
de catadores com dispensa de licitação para coleta, processamento e comercialização de resíduos sólidos urbanos
recicláveis ou reutilizáveis, em áreas com sistema de coleta seletiva de lixo7 .Caso você resolva estudar mais sobre
os benefícios econômicos da reciclagem, você poderá verificar o quanto reciclar economiza em consumo de recursos
naturais – principalmente na minimização da extração de matérias-primas da natureza - e gasto de energia. Ah! E se
você for um pouquinho mais curioso, não deixe de ler esse artigo: O Cinismo da Reciclagem8.
Problematização-Sugestão: colocar desenhos ou fotos dos problemas e soluções destacados acima. Ex: a importância
dos catadores/ o quanto o país perde em dinheiro por não reciclar/geração de emprego e renda a partir da reciclagem.
Para representar essa realidade o professor pode buscar fotografias de catadores no lixão, foto de catadores e de
cooperativas e fazer perguntas que estimulem a reflexão da turma, como, “qual é o melhor lugar para se trabalhar?”

Reciclagem

Ambientalmente e socioeconomicamente já ressaltamos algumas questões dos resíduos sólidos. E quanto a outros
aspectos, é possível ter uma visão cultural e artísitca a partir do lixo nosso de cada dia?

7
Online. BRASIL, 2007. LEI Nº 11.445, de 5 de Janeiro de 2007. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm> ou Lei Nº 8.666,
de 21 de Junho de 1993. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>. Acesso em 31/03/2015.

Online. LAYARGUES, Philippe (2002). O Cinismo da Reciclagem: o significado ideológico da reciclagem da lata de alumínio e suas implicações para a educação ambiental.
8

Disponível em: <http://www.cpd1.ufmt.br/gpea/pub/philippe_latinhas.pdf>.

83
Visão Cultural - Artística
O lixo e a arte também são companheiros! É
possível criar verdadeiras obras de arte a partir
do lixo. Este, já serviu de inspiração para diversas
artes do movimento, dentre as quais podemos
citar: a dança, música, teatro, cinema, poesia,
dentre outras. Também já serviu para inspirar
as artes estáticas, onde se tem: arquitetura,
pintura, escultura, fotografia, dentre outras.
Atualmente, é possível encontrar vários artesãos
que utilizam o “lixo” como matéria-prima para
suas criações. Não deixe de visitar o site Fala
Cultura<http://falacultura.com/10-arte-lixo/>
onde você poderá ver obras incríveis a partir
de objetos que podem ser reaproveitados
com outra finalidade. O documentário sobre
o trabalho no maior lixão da América Latina
ficou conhecido mundialmente em 2011,
graças ao brilhantismo da arte do artista
plástico Vik Muniz por meio do documentário
Lixo Extraordinário. Porém, antes desse documentário, outros cineastas já haviam divulgado trabalhos a partir
do descarte de resíduos sólidos. Ilha das Flores, documentário do cineasta Jorge Furtado, de 1989, já abordada a
questão de desigualdades sociais e catação de resíduos. Temos também um dos mais importantes documentaristas
do Brasil, Eduardo Coutinho, que produziu Boca de Lixo em 1993 sobre catadores de materiais recicláveis de São
Gonçalo/RJ; Estamira, foi outro documentário brasileiro dirigido por Marcos Prado em 2005 e que retratou a vida
de uma catadora de materiais recicláveis do lixão de Jardim Gramacho e recebeu vários prêmios; o documentário
A Margem do Lixo de 2008 dirigido por Evaldo Mocarzel também traz uma notoriedade sobre a vida e rotina
dos catadores de papel e materiais recicláveis na cidade de São Paulo. Destaque para o documentário francês “Os
catadores e eu” (Les Glaneurs et la Glaneuse), de AgnèsVarda lançado em 2000 e internacionalmente agraciado por
críticas muito positivas. Na literatura é possível garimpar ótimos livros que retratam a relação entre os resíduos e
pessoas que sobrevivem deles, tais como: Quarto de Despejo: Diário de uma favelada9 , dentre outros.

Visão Jurídica
No Brasil desde a década de 1980 já existiam legislações que mencionavam a importância do cuidado com a
disposição final dos resíduos. Citaremos alguns marcos normativos de suma importância que aborda a questão
de resíduos sólidos.
Começamos por ressaltar a nossa Carta Magna - Constituição Federal 1988 que no Capítulo VI, dedicado ao
Meio Ambiente, Art. 225 que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum
do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e
preservá- lo para as presentes e futuras gerações.” Abaixo estão destacadas outros marcos regulatórios que destacam
a questão dos resíduos sólidos importantes de serem conhecidos:
Lei Nº 6.938, de 31 de Agosto de 1981: Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos
de formulação e aplicação, e dá outras providências;
Lei Nº 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998: Dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas
e atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências;
Decreto Nº 5.940, de 25 de Outubro de 2006: Institui a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos
órgãos e entidades da administração pública federal direta e indireta, na fonte geradora, e a sua destinação às
associações e cooperativas dos catadores de materiais recicláveis, e dá outras providências;
Lei nº 11.445, de 5 de Janeiro de 2007: Estabelece diretrizes nacionais para o saneamento básico; altera as Leis
nos 6.766, de 19 de dezembro de 1979, 8.036, de 11 de maio de 1990, 8.666, de 21 de junho de 1993, 8.987, de 13
de fevereiro de 1995; revoga a Lei no 6.528, de 11 de maio de 1978; e dá outras providências;
Lei Nº 12.305, de 2 de Agosto de 2010: Institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos; altera a Lei no 9.605, de
12 de fevereiro de 1998; e dá outras providências;

JESUS, Carolina Maria de. Quarto de despejo – diário de uma favelada. São Paulo: Ática, 1993. Série Sinal Aberto.
9

84
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

A Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS demorou 21 anos para ser aprovada no Congresso Nacional. Um
dos seus principais objetivos destaca a “não - geração, redução, reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos
sólidos, bem como disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.” Outro artigo que merece atenção é sobre
a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos que destaca as “atribuições individualizadas e
encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, dos consumidores e dos titulares dos serviços
públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, para minimizar o volume de resíduos sólidos e rejeitos
gerados, bem como para reduzir os impactos causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes
do ciclo de vida dos produtos, nos termos desta Lei.” Como se pode perceber, toda a sociedade é responsável pela
geração, destinação e disposição final dos resíduos sólidos.
Cumpre ressaltar que no Brasil, durante a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento
(Cnumad), realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, a discussão sobre minimização de resíduos foi mais
difundida com a Agenda 21 (www.mma.gov.br/responsabilidade-socioambiental/agenda-21).
A importância do trabalho realizado pelos Catadores de Materiais Recicláveis foi e está sendo cada dia mais
evidenciada dentro dos marcos legais. E os resíduos, como são vistos por esses atores?
Problematização-Sugestão: aulas utilizando vídeo-documentários e as leis abordadas.

Visão de Catador de Materiais Recicláveis


O trabalho realizado pelos catadores de materiais recicláveis é antigo.
Atualmente, esse trabalho tem tido mais visibilidade devido a aprovação da
Lei 12.305/10. Mas o fato é que o trabalho realizado pelos catadores aumentou
a vida útil de vários lixões e aterros sanitários do país, uma vez que milhares
de toneladas de materiais recicláveis que seriam simplesmente enterrados,
desprovidos de valor econômico, aumentando “as montanhas de lixo” e
os problemas ambientais já existentes, foram retirados a tempo, separados
(triados) e vendidos para a indústria da reciclagem.
O trabalho dos catadores reforça o retorno dos materiais recicláveis ao
ciclo produtivo da reciclagem, trazendo valor econômico aos materiais que
poderiam ser apenas vistos como rejeito (lixo) e teriam ficado perdidos nos
lixões e aterros sanitários do país demorando muitos e até milhares de anos
para se decomporem.
Como citado nos objetivos da PNRS, esse trabalho tem o papel importante,
uma vez que ele reforça a proteção ambiental; a importância da limpeza
pública; a cadeia da reciclagem e a geração de trabalho e renda.
O centro da atenção é a efetiva implementação da PNRS com a coleta seletiva
sendo executada em todos os municípios brasileiros, o apoio para a construção
de centrais de triagem destinada aos catadores para que eles tenham melhores
condições de trabalho e a destinação de todos os resíduos secos provenientes
da coleta seletiva disponibilizada nas centrais de triagem, reforçando a gestão integrada de resíduos sólidos.
Na visão dos catadores, cada material reciclável significa trabalho e renda. Um dos aspectos mais importantes
destacados na fala de Ronei Alves (Catador de Material Reciclável) é que não há necessidade de aumentar a
quantidade de materiais recicláveis descartados para aumentar a renda dos catadores. A grande importância está
na qualidade do material destinado para as cooperativas e associações dos catadores de materiais recicláveis. Para
melhorar a vida dos catadores é necessário que a população se conscientize da importância do resíduo separado
corretamente e quando possível, limpo.

Lembre-se:

O reflexo do trabalho dos catadores de materiais recicláveis, muitas vezes, chamados erroneamente de catadores
de lixo, traz significantes melhorias para a gestão dos resíduos sólidos e, consequentemente, minimiza a poluição
ambiental, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida urbana e rural. Os catadores de materiais realizam
um importante papel às cidades, pois prestam um serviço ambiental à população ao retirar sucatas, restos de obras
depositados em terrenos baldios e embalagens das ruas que poderiam agravar o problema de entupimento de
bueiros (como já vimos ocorrer em Brasília).

85
De todas as questões relacionadas anteriormente, uma delas merece um destaque especial, pois é a base necessária para
que ocorra uma verdadeira transformação na maneira com que as pessoas lidam com os resíduos sólidos. Ela é a educação!
Problematização-Sugestão: conhecer o PGRS elaborado por seu município, se ele existe. Discutir sobre o papel
da escola na não geração ou segregação correta de resíduos.
Outra visão de educação e resíduos sólidos: Pode ser vista nos instrumentos educacionais minhocário e
compostagem apresentados na parte 2 desse livro.
A perspectiva da criação de novas atitudes sociais com o intuito de prevenir os impactos ambientais advindos do
consumismo exarcebado é possível por meio da TRANS-FORM-AÇÃO de nossos conceitos, preconceitos e hábitos
em relação ao lixo que produzimos todos os dias! É a nossa ação com o descarte dos resíduos que pode melhorar
a nossa própria qualidade de vida! É necessário transformar nossos hábitos e mudar atitudes! Você já foi instigado
a olhar para o lixo sob tantos aspectos diferentes? Qual outra visão que como educador você considera importante
ser tratado com relação aos resíduos que não foram tratados nesse capítulo? Repense os resíduos produzidos por
você em sua casa, no local de trabalho, estudo, região. Exercite sua imaginação e busque ferramentas adequadas
para tornar algo que lhe incomode em relação ao lixo em algo produtivo, dinâmico, inovador.
Referências:

HOFFMANN, W.A.; MOREIRA, A.G. The Role of Fire in Population Dynamics of Woody Plants. In: OLIVEIRA, P.S.; MARQUIS, R.J.
(Eds.) The Cerrados of Brazil: Ecology and Natural History of a Neotropical Savanna. Nova York: Columbia University Press, 2002.

FERREIRA, A.B.H. O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. Edição eletrônica autorizada à POSITIVO INFORMÁTICA
LTDA.Editora Positivo, 2008.

SERAFIM, A.C.; GUSSAKOV, K.C.; SILVA, F.; CONEGLIAN, C.M.R.; BRITO, N.N.; SOBRINHO, G.D.; TONSO, S.; PELEGRINI,
R. Chorume, Impactos Ambientais e Possibilidades de Tratamentos. Disponível em: http://ftp-acd.puc-campinas.edu.br/pub/
professores/ceatec/demanboro/Material10%2805Out%29/Tratamento_Chorume.pdf

INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA – IPEA. Pesquisa sobre Pagamento por Serviços Ambientais Urbanos para
Gestão de Resíduos Sólidos – PSAU. Brasília, 2010.

Novo Código Florestal e implicações em sala de aula


Andréia Andrigueto, Maria Tereza Montalvão, Bruna Cardoso, Virgílio Braz

O objetivo deste capítulo é fomentar a discussão em sala de aula, apresentando dois conceitos de preservação
específicos do Código Florestal: a Reserva Legal e as Áreas de Preservação Permanente. E como a partir deles
podemos refletir sobre as relações legais e ecológicas envolvidas.
Outro aspecto, envolve a metodologia que escolhemos para apresentar as informações. Optamos por envolver
duas disciplinas: as Ciências Biológicas e a Engenharia Florestal de maneira que o trabalho interdisciplinar possa
trazer elementos novos para a reflexão de forma transversal com áreas específicas do saber. Também procuramos
nos basear na apresentação do tema central de maneira simples, contextualizada, sem um rebuscamento técnico-
científico inicialmente. Como objeto estimulador do pensamento crítico, nos inspirando também, no trabalho de
Saito et al (2012) “Imagem como ponto de partida para uma educação ambiental dialógico-problematizadora”,
que utiliza do recurso “fotografia” para instigar a reflexão do professor e do aluno em alguns aspectos que serão
elencados na discussão do tema central, como: a importância da preservação da vegetação nativa e suas relações
sinérgicas com outros temas, como a da extinção de espécies da fauna, por exemplo.

Iniciando a discussão do Código-a importância das relações


Entendemos como vegetação nativa para fins deste capítulo os remanescentes intactos da flora a serem identificados
e preservados em propriedades rurais ou urbanas que desenvolvem atividade rural. Esse conceito é importante para
situarmos o leitor a respeito da importância dessas áreas para a conservação da vida, possível somente com a manutenção
das florestas, da água, do solo e das relações entre os diversos recursos presentes nas propriedades e entorno.
Ao contrário da flora, a fauna representada por animais que rastejam, voam, nadam, pulam, correm, caminham
locomove-se em outros territórios. Enquanto aves migratórias percorrem longos quilômetros atrás de alimento e
locais mais aquecidos, as árvores não podem correr do fogo ou da geada. Por isso precisam adaptar-se a condições
presentes em seu território.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Pensemos na relação das plantas com seu território. As árvores são fixas geograficamente, limitadas territorialmente
por raízes10. Elas precisam adaptarem-se às condições onde estão, desenvolvendo soluções para sobreviverem.
No Cerrado, são as cascas e folhas grossas que evitam a perda d´água das plantas. E mais, sementes e gramíneas
“adormecem” para rebrotar quando as condições se tornarem propícias.
Nessas duas situações, observa-se relações de profunda dependência e sinergia. Os animais dependem das árvores,
arbustos e espécies rasteiras para abrigo, alimento, reprodução. Nelas protegem-se de predadores, fazem seus
ninhos, buscam suas presas ou outros alimentos (folhas, flores, néctar, frutos), camuflam-se para fugir de inimigos
ou como forma de alimentarem-se (ver imagens abaixo).
É nesse sentido que preservar a flora é também preservar os animais que dela dependem.

Anfíbio camuflado Bicho-pau. Foto: Wikimedia Commons / CC-BY-SA 3.0

Referências:
http://www.infoescola.com/biologia/camuflagem-e-mimetismo.
imagem de anfíbio: Disponível em: http://www.ich.pucminas.br/pged/db/wq/cb/2007-1/2-4/index.htm.
imagens de aranhas. Disponível em :https://yupi3000.wordpress.com/2008/09/10/aranhas-camufladas.

Aranha camuflada com as cores da pétala. Foto: Hannes Mitchell Aranha camuflada atacando sua presa após confundi-la. Foto: Américo Rui Pacheco

As primeiras regras referentes ao uso do solo e a exploração florestal no Brasil datam do período colonial, quando
diversas normas foram estabelecidas para manter o estoque de madeira para utilização geral. Em 1934, por meio do
Decreto 23.793 foi instituído o primeiro Código Florestal Brasileiro que iniciou o conceito de florestas protetoras.
Nessa época, porém o foco versava na questão de disponibilização madeireira para assegurar o fornecimento de
recursos para fins energéticos. Já a Lei Federal 4.771 de 1965 com suas posteriores medidas provisórias e alterações
criou o conceito de Áreas de Preservação Permanentes (APP´s) e as Reservas Legais (RL´s) trazendo uma visão
mais conservacionista para o código, ao estabelecer restrições para o uso da propriedade em termos ambientais.

10
Entretanto ocorre a dispersão de sementes através do vento, da própria força de gravidade e por meio da ação de animais que carregam os frutos, além dos agentes polini-

zadores que visitam as flores permitindo assim a troca de características genéticas entre plantas localizadas em distintos territórios.

87
Em 24 de agosto de 2001, o Presidente da República, no uso da atribuição que lhe confere o art. 62, e tendo em
vista o disposto no art. 225, § 4o, da Constituição, adota a seguinte Medida Provisória, M.P No 2.166-67 com força
de lei, e apresenta importantes definições quanto à áreas destinadas à preservação de remanescentes de vegetação
nativa no Brasil. Em seu Art. 1o, apresenta os seguintes entedimentos:
III - Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação
permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos
ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas;
Os outros capítulos da MP incluem ainda outras questões que envolviam as RL, como os percentuais que incluem-
se no código vigente. A saber:
Art. 16. As florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação
permanente, assim como aquelas não sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica,
são suscetíveis de supressão, desde que sejam mantidas, a título de reserva legal, no mínimo:
I - oitenta por cento, na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal;
II - trinta e cinco por cento, na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal,
III - vinte por cento, na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa
localizada nas demais regiões do País; e
IV - vinte por cento, na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do País.
Quanto à localização da reserva legal, “esta devia ser aprovada pelo órgão ambiental estadual competente (o que
ocorre até hoje), ..., devendo ser considerados, no processo de aprovação, a função social da propriedade, e os
seguintes critérios e instrumentos, quando houvesse:
I - o plano de bacia hidrográfica;
II - o plano diretor municipal;
III - o zoneamento ecológico-econômico;
IV - outras categorias de zoneamento ambiental; e
V - a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, unidade de conservação ou outra
área legalmente protegida” (Brasil, 2001).
A ainda uma segunda definição importante apresentada pela M.P No 2.166-67, de 2001, que diz respeito a:
II - área de preservação permanente: área protegida ..., coberta ou não por vegetação nativa, com a função
ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico
de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas;
A M.P No 2.166-67, de 2001, passou a admitir pelo órgão ambiental competente, que as APPS pudessem entrar no cálculo
da porcentagem de RL necessária, mas desde de que novas áreas não fossem destinadas para o uso alternativo do solo.
Em 25 de maio de 2012, com a entrada em vigor da Lei 12.651, no Código Florestal mantiveram-se normas
gerais sobre a proteção da vegetação nativa e outras disposições referentes as áreas de preservação, mas houve um
tratamento diferenciado sobre instrumentos e critérios das Reservas Legais-RLs no Brasil.
Em termos de Reserva Legal, a conta continua sendo 80% do total da propriedade mantida como RL se estiver
localizada na Amazônia e 20% de RL se fora do bioma Amazônico (aí compreendidos o Cerrado, a Caatinga, os
Campos Sulinos, a Mata Atlântica). Caso a propriedade esteja localizada geograficamente na Amazônia Legal11
devem ser preservados 35% em fisionomias de Cerrado. Em outras palavras, caso o Cerrado exista numa região de
predominância de vegetação amazônica (como as áreas de transição), deve-se preservar uma proporção maior do
que em outras regiões do país.
Por esses cálculos e retrocedendo um pouco na regulamentação das reservas legais no Brasil, pode-se ter
o entendimento de que as áreas de RL são fundamentais para a preservação dos biomas brasileiros, pois seus
parâmetros versam sobre a localização da RL nos biomas. Extrai-se assim, que espécies de dada região (endêmicas)
poderiam assim ser protegidas por meio desse arcabouço legal.

Preservar RL é = a conservar o bioma


Área de transição entre o bioma Cerrado e Amazônia, território que compreende outros biomas fora o Amazônico e abarca ao todo 9 estados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
11

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Por outro lado, quando se trata de APP é necessário levar em consideração os diferentes critérios para estabelecer
sua existência. As APP´s podem ocorrer associadas aos recursos hídricos, como nascentes, margens de córregos e
rios, veredas, ou ligadas a declividade do solo e altitudes.
As APPs hídricas são entendidas como remanescentes de vegetação nativa que protegem nascentes, cursos d´água,
áreas alagadas e veredas. Os outros “tipos” de APPs existem em razão de outros fatores que justifique o termo
“preservação permanente”, como por exemplo: a declividade do terreno (em áreas acima de 45º de declividade
equivalente a 100% na linha de maior declive), altura do terreno (se situado acima de 1800m), áreas de borda de
chapada e áreas de topo de morro, além das áreas de manguezais e restingas.

Preservar APP é = a conservar água, solo, qualidade de vida


A Preservação dessas áreas irá influenciar positivamente a qualidade e manutenção dos recursos hídricos e
bacias hidrográficas.
Com a aprovação do Código Florestal em 2012 e a partir do avanço das geotecnologias, ferramentas que possibilitam
a análise e modelagem de dados espaciais, criam-se instrumentos para monitorar as áreas de remanescentes de
vegetação nativa nas propriedades rurais e urbanas.
Problematizando:
Professor, a Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, o atual Código Florestal , dispõe sobre a proteção da vegetação
nativa e dá um importante passo para que o governo federal gerencie e fiscalize remotamente áreas protegidas
ou restritas no Brasil. O instrumento utilizado para isso é o Cadastro Ambiental Rural (CAR) que com sua
implantação permitirá que os processos de licenciamento ambiental, créditos rurais e transmissão de títulos
sejam facilitados por vincular a propriedade ao Órgão Ambiental responsável. Áreas de vegetação nativa e
Reservas Legais passaram a ter a seu favor ferramentas de SIG12 e sensoriamento remoto13 para localizá-las
espacialmente e quantificá-las para sua inserção no sistema e regularização.
O processo de registro das RL, antes chamado de averbação, ocorria documentando-se a existência daqueles
percentuais anteriormente descritos (de 80%, 35% ou 20%) na matrícula da propriedade em cartório. Item que
passou a ser substituído por processos digitais (por programas baixados na rede de computadores). Áreas a
serem preservadas (RLs, APPs, remanescentes de vegetação nativa) passaram a ser identificadas por imagens
de satélite nas propriedades rurais, assim como áreas consolidadas, reservatórios artificiais, lagoas naturais e
nascentes que precisaram ser também demarcadas por exigência da nova lei.

Conhecendo e aplicando a lei


Para a reflexão, indicamos um estudo
publicado pela ONG internacional WWF
que buscou modelar o uso das terras
agrícolas no Brasil. Segundo o estudo,
em nosso país há cerca de 537 milhões de
hectares de remanescentes de vegetação
natural. Desse número, apenas 59 milhões
de hectares (11%) atenderiam aos critérios
de áreas de preservação permanente
quando na verdade, este número deveria ser
próximo dos 103 milhões de hectares (fonte:
http://www.wwf.org.br/wwf_brasil/24940/
Estudos-ressaltam-importancia-ambiental-
do-Codigo-Florestal, 2010.) Será que
estamos assegurando o direito das presentes
e futuras gerações a um meio ambiente ecologicamente equilibrado? Será que estaremos preservando o
suficiente para resguardá-las, como preceitua o art. 225 da Constituição Federal Brasileira?

12
SIG: Sistemas de Informações Geográficas que através de procedimentos computacionais permite a analise, manipulação e representação do espaço e seus fenômenos.
13
Sensoriamento Remoto: conjunto de técnicas que possibilita a obtenção de informações de objetos na superfície terrestre por meio de registros de sua interação com os diferentes
tipos de radiação eletromagnéticas.

89
Dos serviços ecossistêmicos prestados pelas florestas- incluídas nesse rol as APPS e RLs, Fasiaben et al. (2011)
destacam a possibilidade do uso sustentável nas RL, de explorar as espécies nativas lá existentes. Ou seja, a
existência da Reserva Legal fomenta e monitora projetos destinados à conservação, proteção e regularização,
visando o equilíbrio ambiental, podendo ser utilizada para fins sustentáveis (a extração de produtos florestais e a
passagem de animais na área são alternativas) sendo vedadas atividades como a supressão de toda a vegetação na
área, exploração para fins comerciais entre outros.

Uma das alterações mais evidentes ao longo dos anos em relação as mudanças nos códigos florestais foi a medida
provisória 2.166/67, de 2001 que passou a exigir a manutenção, em todas as propriedades rurais, de áreas a título de
reserva legal, excluídas as APPs, nas proporções colocadas e ainda válidas no atual Código Florestal: “80% para as
áreas de Floresta na Amazônia, 35% para as áreas de Cerrado na Amazônia e 20% para as demais regiões do Brasil”.
Em casos especiais em que não se encontra o mínimo exigido para esse cálculo, é possível computar APPs para
compor RL. Pelo entendimento da lei, ainda é possível:
1. Recompor a RL na propriedade, mediante o plantio de espécies nativas;
2. Conduzir a regeneração da vegetação natural da RL;
3. Compensar a RL fora da propriedade (BRASIL, 2001 apud Fasiaben et al. 2011 ).
De acordo com o Código de 1965, a compensação de RL era possível desde que ocorresse no mesmo
ecossistema e na mesma microbacia hidrográfica. Hoje, o Código tornou-se mais flexível, indicando que a esta
compensação pode ocorrer no mesmo bioma sem a necessidade de estar inserido na mesma bacia, estendendo
as possibilidades de recuperação ambiental.
Ao aplicar a lei, destacamos o cálculo que os proprietários devem fazer para estabelecer os percentuais mínimos
de RL exigidos. Deve ser feito em cima da área líquida da propriedade (devem ser descontadas, portanto
estradas estaduais ou federais que passem no limite ou dentro das áreas, bem como linhas de transmissão, obras
públicas no interior da propriedade e outras atividades declaradas como de interesse social pelo Poder Público,
chamadas como ‘áreas de servidão administrativa’).
Por outro lado, há outros serviços ambientais existentes motivados pela presença de demais áreas de preservação
nas propriedades. De acordo com a Lei 12.651/12 as APPs compreendidas ao redor de nascentes, cursos de rio,
áreas alagadas visam preservar a biodiversidade, os recursos naturais, o solo, o fluxo gênico (Freitas et al 2013),
a qualidade da água (Roquim & Filho, 2009). Essas questões ambientais, possibilitam e potencializam o uso do
solo para demais questões, como para a agricultura.
A existência de APP na lei federal ocorre de acordo com alguns requisitos:
1. São consideradas APP´s convencionais as faixas de proteção de recursos hídricos de acordo
com as tabelas abaixo:

Tabela 1 Tabela 3
Faixas de APP para diferentes larguras de rios Faixa de APP para lagoas naturais
Largura do Rio Faixade APP Lagoas naturais Faixade APP
Até 10 m 30m Em áreas rurais 30 m, no mínimo
De 10m a 50m 50m Em áreas urbanas 100m, no mínimo
De 50m a 200m 100m
De 200 a 600m 200m
De 200 a 600m 500m

Tabela 2 Tabela 4
Faixa de APP para nascentes Faixa de APP para lagoas naturais
Existência da nascente Faixade APP Reservatórios artificiais Faixade APP
* Qualquer que seja seu diâmetro 50m, no mínimo As faixas de APP são definidas em licenças ambientais
expedidas pelo órgão ambiental

90
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

2. Um outro tipo de APP está vinculado ao gradiente das vertentes (declividade das encostas)
onde declividades acima de 45 graus devem ser consideradas áreas de proteção permanente.
Topos de morro com altura mínima de 100m e inclinação média superior a 25 graus, regiões
acima de 1800m de altura independente de sua vegetação predominante também são
consideradas áreas de APP.
3. Outras situações específicas como veredas acima de 50m de largura e outros tipos de áreas
alagadas como manguezais, também são consideradas APP´s e receberam regras especificas
para atividades comerciais.
É importante ressaltar que pelo atual código, é permitida a supressão de vegetação em APP´s em casos de ser declarada
como de utilidade pública ou de interesse social. Além disso, o novo código não proíbe, e sim, restringe atividades
em áreas com inclinação entre 25 e 45 graus, mediante Plano de Manejo Florestal aprovado pelo Órgão Ambiental.
Professor, como sugestão para a sala de aula, procure baixar imagens de propriedades
rurais próximas à escola. Considerando a dificuldade de se trabalhar em ferramentas
de programas técnicos de georreferenciamento, indicamos ao professor o Google
Earth ou Google Earth Pro como ferramentas fáceis e acessíveis para baixar imagens
de municípios, locais vizinhos à escola ou bairro de alunos para poder trabalhar a
questão de preservação de vegetação nativa.
Caso queira visualizar como o CAR funciona, ressaltamos o cuidado e atenção em não
fornecer, gravar e enviar informações de teste ao sistema. Ressaltamos que o CAR deve ser
utilizado exclusivamente para o cadastro de áreas por quem detem a posse, titularidade da
propriedade ou por cadastrantes treinados e habilitados para tal. Cuidado para não enviar
informações ao sistema. Sugerimos a sua utilização apenas como consulta à legislação
em www.car.gov.br. O Google Earth e o Google Earth Pro já forneceram imagens
suficientemente boas para o trabalho de visualização de remanescentes de vegetação
nativa. Observe os rios limítrofes à escola ou que passam pela escola, reflita sobre os riscos
e oportunidades de se conscientizar proprietários vizinhos sobre a preservação de APPs,
nascentes e da qualidade dos rios para usufruto dos alunos da escola.
Outra forma de abordar isso é fazer essa atividade conjunta com os alunos como, dar uma área, mapeada e solicitar
que observem a área. Posteriormente as percepções e observações empíricas dos alunos darão lugar aos conceitos
de área consolidada, degradada, remanescente de vegetação nativa, APP, RL. Para concluir, reflita em sala de
aula sobre as características que foram observadas para cada área e propostas reais para reverter situações de
degradações existentes. Busque para isso- fazer parcerias, motive colaboradores para a causa!

Conclusão
Esse capítulo traz ao professor e educador ambiental, elementos para fortalecer o discurso de preservação ambiental
em salas de aula. E nesse caminhar, percorrer alguns conceitos, trajetórias legais que motivem pequenos, médios
e grandes produtores rurais a preservarem a vegetação nativa em suas propriedades. O papel do professor nessa
intermediação é fundamental, para que seja possível preservar a “floresta em pé’, a água, a fauna existente, o solo e
a qualidade de vida das presentes e futuras gerações.
O nosso objetivo é facilitar o entendimento, retirar dispositivos da lei para desmistificar que a preservação é algo
difícil, complicado ou inalcançável. Além da preservação dessas áreas ser uma exigência legal, há muitos aspectos
sociais e ecológicos envolvidos que justificam o cuidado dentro e fora das salas de aula, com práticas criativas, e
outras formas de olhar para a questão da preservação ambiental no Brasil.

Referências
Saito, C.H; Lunardi, D.G; Porto, C.B; Germanos, E.; Saito, I.T.; Barbosa, R.G. Imagem como ponto de partida para
uma educação ambiental dialógico-problematizadora. Revista Espaço e Geografia, vol.15, n. 2, 491-516. 2012.
Brasil, Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012, que dispõe sobre Proteção da Vegetação Nativa e dá outras
providências.
Brasil, MEDIDA PROVISÓRIA No 2.166-67, DE 24 DE AGOSTO DE 2001. Altera os arts. 1o, 4o, 14, 16 e 44, e
acresce dispositivos à Lei no 4.771, de 15 de setembro de 1965, que institui o Código Florestal, bem como altera
o art. 10 da Lei no 9.393, de 19 de dezembro de 1996, que dispõe sobre o Imposto sobre a Propriedade Territorial
Rural - ITR, e dá outras providências. Revogado pela Lei nº 12.651, de 2012.

91
FREIRE, P. Extensão ou comunicação? Rio de Janeiro: Paz e Terra, 93p. 1969.
FREITAS, E.P, MORAES, J. F.L, FILHO, A.P., STORINO, M. Indicadores ambientais para áreas de preservacão
permanente. Revista Brasileira de Engenharia Agricola e Ambiental. 17.4 (Apr. 2013): p443.Disponível em: http://
www.agriambi.com.br/. Acesso em 28 Apr. 2015.
FASIABEN, M.C.R. et al. Impacto econômico da reserva legal sobre diferentes tipos de unidades de produção
agropecuária. Rev. Econ. Sociol. Rural, Brasília , v. 49, n. 4, p. 1051-1096, Dec. 2011. Disponível em <http://
www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20032011000400010&lng=en&nrm=iso>. Acesso: 28
Apr. 2015
RONQUIM, C.C, FILHO R.A. Limitação ao uso agrícola da propriedade rural pela instituição da reserva legal
florestal.Ver.Uniara, v. 12, n. 2, dez. 2009. Disponível em: http://www.alice.cnptia.embrapa.br/handle/doc/874419.
Acesso: 28 Apr. 2015.
VIEIRA, Raphael Ricardo Menezes Alves. Matas ciliares como área de preservação permanente. Revista Jus
Navigandi, Teresina, ano 18, n. 3725, 12 set. 2013. Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/25273>. Acesso em:
26 maio 2015.
Rede de Sementes do Cerrado - Projeto Semeando o Bioma Cerrado 2013-2015. Projeto apresentado à Petrobras
Ambiental.

92
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

II PARTE
A segunda parte deste livro abrange os capítulos de 9 e10 e apresenta a descrição de instrumentos e metodologias
utilizados nas oficinas de educação ambiental do Projeto Semeando o Bioma Cerrado, com sucesso, na difusão
do conhecimento de temas variados, além de permitir a interação do ser humano com a natureza e melhor
compreensão da biodiversidade.

93
CAPÍTULO 8

Instrumentos de Educação Ambiental Usados nas Oficinas


Equipe da AAF e colaboradores

As sugestões de atividades com propostas de transversalidade apresentadas nesta publicação apontam ao


professor uma forma de estruturar o trabalho no sentido de permitir o desenvolvimento dos princípios básicos
da educação ambiental. Para isso, preconiza-se a inclusão dos mais variados temas e a utilização de dinâmicas e
metodologias atraentes, em que o aprender a fazer fazendo incorpora valores éticos e cooperativos, despertando
nas crianças e nos jovens o sentimento de pertencimento ao bioma onde vivem.
A implementação da Agenda 21 na escola/comunidade e a criação de uma horta pedagógica como instrumentos
básicos podem desencadear questões diversas que possibilitam a reflexão sobre as especificidades de cada tema/
disciplina, permitindo a observação de como esses temas se relacionam.
Muitos professores ainda se perguntam o porquê de se trabalhar a educação ambiental na escola e, principalmente,
como. Nossas sugestões de Agenda 21 e horta pedagógica têm o objetivo de estimular o professor a buscar
a interdisciplinaridade por meio da realização de projetos com a integração da comunidade à escola e da
valorização das diferentes linguagens no processo educativo.
Para sensibilizarmos os indivíduos para essas questões, é preciso criar elos afetivos com o meio e perceber a
natureza – ao mesmo tempo forte e frágil.
Como? com a prática da observação e do questionamento; com a percepção dos inter-relacionamentos e
dos ciclos; com o planejamento por meio de projetos; por meio de oficinas de vivências práticas de educação
ambiental que fortaleçam o projeto para a preservação do Bioma Cerrado e sensibilizem crianças, jovens,
professores e lideranças comunitárias, pois transmitem conhecimentos sobre o Bioma Cerrado, estimulam a
curiosidade infantil pelos fenômenos naturais, situam as crianças e os jovens no seu universo natural, estimulam
o desenvolvimento de capacidades de observação, incentivam o trabalho cooperativo, promovem o uso de
tecnologias da comunicação em educação, despertam o sentimento de “pertencimento” ao meio ambiente.
Semear ideias e valores nas oficinas é fundamental para que brotem no interior de cada um as perguntas básicas
mobilizadoras das transformações comportamentais:
Afinal, o que estou fazendo de errado?
Como posso minimizar o impacto de minhas ações e do meu estilo de vida sobre o meio ambiente?
Por que o tema ambiental é importante?
Por que devo colaborar com essa causa?

Descrição dos instrumentos sugeridos


DVD-ABCerrado
Utilizado graças a parceria da Rede de Sementes do Cerrado com a
professora Rosângela da Faculdade de Educação/UnB, responsável
por sua produção.
Rosângela Azevedo Corrêa
ABCerrado
Os livros didáticos não servem como fonte inspiradora de práticas
educativas quanto às questões ambientais, especialmente quanto
ao Cerrado. Isso porque são essencialmente informativos e poucos
contribuem para a formação de atitudes positivas em relação ao
Cerrado. Além disso, muitos trazem informações equivocadas e até
preconceituosas a respeito do Cerrado.
Uma constatação importante é que a Floresta Amazônica é o bioma
brasileiro mais citado nos livros didáticos de geografia e ciências e está
relacionado às questões ambientais como desmatamento, poluição,

94
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

queimadas, caça predatória e preservação da


biodiversidade. Por sua vez, o Cerrado quase
nunca está relacionado a tais temas nem a outros
que transmitam afeição e preocupação com a
natureza. Normalmente é um bioma ligado às
questões climáticas e às atividades agropecuárias,
frequentemente com um enfoque meramente
econômico, sem que nenhum impacto seja
relacionado. Contudo, em relação às atividades
agropecuárias no Cerrado, vale lembrar que, como
observa Medeiros (1998), apesar de a modernização
da agricultura, em especial da cultura da soja, ter
contribuído para a elevação do PIB agrícola, também
contribuiu substancialmente para a deteriorização do
meio ambiente, ocasionando perda da biodiversidade,
erosão, compactação dos solos e contaminação do
ambiente por agrotóxicos.
Além disso, o rápido progresso econômico da
região ocasionou fortes implicações sociais, não
garantindo a distribuição equitativa dos resultados do crescimento nem o abastecimento de alimentos no
Brasil, acentuando o êxodo rural para as cidades (DUARTE, 1998). Não se trata de questionar a importância da
Amazônia no contexto socioambiental brasileiro, mas de explicar o motivo pelo qual o Cerrado é desprezado,
quando em realidade é um ambiente de marcante beleza cênica e riquezas naturais.
Em relação à diversidade biológica, notou-se que a flora do Cerrado, como a brasileira de modo geral, é
praticamente ignorada, enquanto a flora domesticada é dominante nos livros didáticos. Nenhuma espécie
vegetal brasileira, muito menos nativa do Cerrado, é apresentada considerando as possibilidades de seu uso
econômico, aspecto bastante explorado nas pesquisas atuais sobre o Cerrado (ALMEIDA, 1998).
Em relação aos animais, a fauna exótica, especialmente a africana, recebe especial destaque. Apesar de várias
ilustrações contemplarem a fauna brasileira, poucas informações adicionais são dadas sobre os animais do
Brasil e praticamente nenhuma relação é estabelecida entre os animais e o Cerrado. Este fato contribui para o
desconhecimento generalizado da população brasileira sobre a fauna nativa e pode refletir sobre o interesse dos
estudantes no Cerrado (BIZERRIL; ANDRADE, 1999).
Outras ilustrações tratam de temas ambientais que também podem ser relacionados ao Cerrado, como
hidrelétricas, a questão indígena, morte de animais silvestres e êxodo rural. Apesar de os livros não fazerem
referência nem relacionarem essas ilustrações ao Cerrado, é possível fazer conexões em sala de aula desde que
o professor tenha domínio sobre o assunto, a fim de identificar quando e como poderá realizar essas ligações.
Sem competência para abordar o tema, o professor pode possivelmente perder essas oportunidades.
Curiosamente, com todos os aspectos desfavoráveis dos livros didáticos em relação ao Cerrado, há pouco uso de livros
paradidáticos pelos professores. Isso talvez ocorra porque livros dessa natureza são pouco frequentes no mercado,
apesar de alguns estarem disponíveis especialmente no DF, como é o caso das publicações da Embrapa. Entretanto,
ocorre que essas publicações parecem ser pouco acessíveis aos professores e aos alunos do ensino fundamental tanto
pela circulação restrita como pela linguagem técnica dos textos. Alguns professores nos indicaram a falta de material
educativo sobre o Cerrado como um entrave para o desenvolvimento do tema na escola.
Conforme afirma Bezerril (2001, p. 33):
A revisão dos atuais livros didáticos em relação a sua abordagem sobre o Cerrado assim
como a produção de livros paradidáticos voltados para a conservação do Cerrado
se fazem necessárias para subsidiar a ação do professor: tanto como uma fonte de
informações pouco divulgadas ao grande público como para fomentar o debate acerca
dos impactos causados pelos modelos de desenvolvimento estabelecidos na região,
visando a mudanças futuras e à formação de atitudes positivas em relação ao Cerrado.
As informações científicas produzidas nas universidades brasileiras são técnicas e de difícil compreensão
para os leigos. Com isso procuramos oferecer no DVD Alfabetização Ecológica: ABCerrado, disponível neste
livro, um leque de informações gerais sobre o Cerrado para que os professores possam elaborar um projeto de
educação ambiental que envolva todos os atores da escola numa perspectiva transversal e interdisciplinar.
O Método da Educação Ambiental e Ecologia Humana é uma construção dinâmica que incorpora elementos
de Pedagogia Vivencial e Simbólica e pesquisa-ação, traduzindo-os de forma particular para o contexto das
ações de sensibilização e mobilização social e a construção de processos de criação coletiva, conforme o texto

95
que apresentamos no centro da mandala no DVD. Ao redor da mandala apresentamos textos e vídeos sobre
a fauna, a flora, as águas, o solo, o fogo e os impactos da ação humana no Cerrado, mas queremos destacar
que nesse bioma existe gente como os povos tradicionais: vazanteiros, geraizieros, quilombolas, veredeiros,
raizeiros, ciganos, quebradeiras de coco, extrativistas, comunidades ribeirinhas e os povos indígenas, como
Avá-canoeiros, Xavantes, Karajás, Xerentes, Tapuias, Javaés, Timbiras, Kayapós, Bororos, Krahos, Xacriabás.
Os saberes-fazeres dos povos do Cerrado possuem uma relação direta, prática e emocional com a natureza.
A diversidade biológica do Cerrado, ainda pouco estudada pelos cientistas, é mutuamente dependente
da diversidade cultural local, o que constitui hoje um patrimônio biocultural do Brasil. Existe um Cerrado
profundo (parafraseando o antropólogo mexicano Guillermo Bonfil) que precisa ser reconhecido e valorizado
na e pela sociedade brasileira, caso contrário, esses povos continuarão na marginalidade, na exploração, na
injustiça e na falta de reconhecimento dos seus direitos coletivos.
O Cerrado possui uma rica sociobiodiversidade e uma eco-história que não são reconhecidas nem valorizadas quer
pelas políticas de proteção ambiental, quer pelas próprias populações que nele habitam, especialmente as urbanas.
Com isso, neste DVD pretendemos contribuir para a form-Ação dos participantes de uma comunidade – professores,
mães e pais das famílias locais, estudantes, lideranças locais, agentes ambientais, funcionários municipais, etc. –
para elevar o conhecimento sobre o Cerrado e valorizar a riqueza da sua sociobiodiversidade e/ou compartilhar
informações sobre esse ecossistema, revertendo a médio e a curto prazos os efeitos de devastação que podem ser
detectados no presente em nível local, enquanto ainda podemos fazer alguma coisa pela nossa casa: o Cerrado.
Partimos da ideia de que uma educação deve se dar por meio da natureza; em vez de a escola simplesmente
ensinar as leis e os conceitos sobre a natureza, ela deve aproximar-se do postulado da ecoformação, que sustenta
o entendimento de que a natureza possui uma dimensão formadora. Isso subverte a forma de tratar a relação ser
humano/natureza no cerne de um processo educativo: não se trata de educar o ser humano para o domínio e a
apropriação da natureza, mas de educar a humanidade para ser capaz de trocar e de aprender com a natureza.
O DVD também oferece planos de aula prontos de acordo com o alfabeto de plantas e animais do Cerrado e a
matomática (a matemática do mato); além de informações nos seguintes tópicos: glossário, projetos, biblioteca,
música, vídeos, links de instituições públicas e privadas que trabalham com a questão ambiental, assim como
modelos de oficinas que poderão ser incluídas nos planos de aula.
Reafirmamos a necessidade de produzir materiais didáticos que popularizem os novos conhecimentos sobre o
meio ambiente em linguagem acessível, porém sem perder o compromisso com o rigor científico, como é o caso
deste livro. Por intermédio deste DVD, temos a oportunidade de transmitir conhecimentos técnico-científicos
e humanos para serem aplicados no espaço da escola e multiplicados posteriormente no ambiente comunitário
para que possamos construir um mundo mais fraterno, humano, solidário.

96
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Bibliografia
BIZERRIL, M. X.; ANDRADE, T. C. S. Knowledge of urban people about fauna: comparison between Brazilian
and exotic animals. Ciência & Cultura Journal of Brazilian Association for the Advancement of Science, v.
51, n. 1, p. 38-41, 1999.
BIZERRIL, Marcelo Ximenes. O Cerrado e a escola: uma análise da educação ambiental no ensino fundamental
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CAPRA, Fritjof. A teia da vida: uma nova compreensão dos sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 1997.
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DUARTE, L. M. G. Globalização, agricultura e meio ambiente: o paradoxo do desenvolvimento do Cerrado.
In: DUARTE, L. M. G.; BRAGA, M. L. S. (Org.). Triste Cerrado: sociedade e biodiversidade. Brasília: Paralelo
15, 1998. p. 11-22.
GADOTTI, Moacir. Pedagogia da Terra. São Paulo: Peirópolis, 2000.
QUINTAS, José Silva. Educação ambiental e cidadania. Ciclo de Palestras sobre Meio Ambiente. Brasília:
MEC; Secretaria de Educação Fundamental, 2001. p. 41-46.
SÁ, Lais Mourão; CORREA, Rosângela. O que é educação ambiental e ecologia humana. Brasília: Universidade
de Brasília; Faculdade de Educação; Programa de Educação Ambiental e Ecologia Humana, março, 1998
(mimeo).
SECRETARIA DO MEIO AMBIENTE DE SÃO PAULO. Conceitos para se fazer educação ambiental. São
Paulo: Coordenadoria de Educação Ambiental, 1997

97
EcoMuseu do Cerrado

Rosângela Azevedo Corrêa

O Cerrado não são apenas árvores


retorcidas, é o segundo maior bioma
da América do Sul, com uma área
de aproximadamente 2 milhões de
metros quadrados, correspondente
a 24% do território brasileiro, o
que equivale à Espanha, à França, à
Alemanha, à Itália e ao Reino Unido
juntos. A área contínua do Cerrado
estende-se sobre os Estados de
Goiás, Tocantins, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais, Bahia,
Maranhão, Piauí, Rondônia, Paraná,
São Paulo e Distrito Federal, além de
encraves no Amapá, em Roraima e
no Amazonas.
Segundo Barbosa (2014), o Sistema
Biogeográfico do Cerrado, que
ocupa desde a aurora do Cenozoico
até a parte central da América do Sul,
também é conhecido como o “berço
das águas” ou a “cumeeira” do continente porque é distribuidor das águas que alimentam as grandes bacias
hidrográficas da América do Sul: Amazônica-Tocantins, São Francisco e Prata e das águas subterrâneas do
imenso aquífero Guarani, que vai de Mato Grosso ao extremo Sul do país. A localização central do Cerrado,
combinada com a elevação topográfica e a alta concentração de nascentes, favorece a biodiversidade, onde estão
concentradas 5% da flora e da fauna mundiais, com 12.365 espécies de plantas nativas catalogadas, 199 espécies
de mamíferos, 837 de aves, 1.200 de peixes e 330 de répteis e anfíbios, 13% dos tipos de borboletas, 35% de
abelhas e 23% de cupins dos trópicos, mas apesar dessa riqueza é um dos biomas mais ameaçados do Brasil.

A vegetação original do Cerrado está cedendo espaço para plantios de soja, algodão e cana-de-açúcar, além
de pecuária extensiva, geração de energia e urbanização. Saem do Cerrado 25% da produção nacional de
grãos, quatro de cada dez cabeças do rebanho bovino e metade das quase 10 milhões de toneladas de carvão
vegetal produzidas por ano no país para abastecer as grandes siderúrgicas. A lei brasileira permite, em média, o
desmate de oito em cada dez hectares das propriedades rurais no Cerrado, enquanto na Amazônia é permitido
desmatar dois em cada dez hectares de floresta. Enquanto um proprietário de terras é obrigado a proteger 80%
da floresta se sua fazenda estiver na Amazônia, no Cerrado essa porcentagem cai para 35% (se esse Cerrado
estiver incluído na Amazônia legal) e 20% nas demais localidades.
A consequência do desmatamento no Cerrado é perda da biodiversidade, ocupação desenfreada, expansão
do agronegócio, empobrecimento do solo, emissão de gás carbônico na atmosfera, alterações climáticas,
queimadas e incêndios florestais, erosões e o aumento nas emissões de gases de efeito estufa, responsáveis pelo
aquecimento global, entre outros. O Cerrado tem apenas 8,21% do seu território protegido em Unidades de
Conservação como parques nacionais e estaduais, estações biológicas e ecológicas, além de terras indígenas.
Além disso, 137 espécies da fauna estão ameaçadas de extinção, segundo o Ministério do Meio Ambiente.
Junto a toda a riqueza do Cerrado convivem diferentes populações humanas, como os povos tradicionais, que incluem
os povos indígenas, quilombolas, camponeses, geraizeiros, vazanteiros, veredeiros, pescadores, sertanejos, ribeirinhos,
raizeiros, etc. Não somente as paisagens, mas também os modos de vida de suas populações estão ameaçados.
As transformações no Cerrado e a necessidade de preservar sua riqueza ambiental e sociocultural desafiam
universidades, promotores culturais, movimentos sociais e poder público a defenderem o patrimônio material
e imaterial, por esse motivo decidimos criar o EcoMuseu do Cerrado Laís Aderne.

98
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Origem do Ecomuseu do Cerrado


O conceito de ecomuseu surgiu na década de 1970, inicialmente na França, pela necessidade de uma nova visão
de museu como uma instituição com função social para a comunidade e que valorizasse a cultura material e
imaterial, sem deixar de considerar as necessidades econômicas e as organizações sociais.
Um “ecomuseu” é o modelo contemporâneo de museu, seguindo os atuais paradigmas científico-filosóficos
em oposição ao modelo tradicionalista cartesiano. Esta referência ao termo “ecomuseu” foi feita por Poujade
durante a 9a Conferência Geral do Icom (Conselho Internacional de Museus), mas o criador da palavra
“ecomuseu” teria sido Hugues de Varine ou Georges Henri Rivière. Esta nova concepção de museus teve a
contribuição de Varine, que incorporou a dimensão ecológica à concepção dos museus (“museu ecológico”) no
sentido de aliar ser humano, natureza e um território sobre o qual vive uma população. De acordo com Rivière,
o conceito de ecomuseu é evolutivo, e como tal não pode ser definido de forma estática, deve acompanhar a
evolução da sociedade e ser uma instituição dinâmica. Ele caracterizava o ecomuseu como um museu de um
novo gênero, tendo por base três noções: a interdisciplinaridade baseada na ecologia/união com a comunidade
e a participação dessa comunidade na sua construção e no seu funcionamento (trecho extraído do Projeto
Ecomuseu, Pedra Fundamental, apresentado ao MPU em maio de 2013 – Irineu Tamaio).
Em 1997, o Ecomuseu do Cerrado surgiu por intermédio do Instituto Huah do Planalto Central, agregando
educadores, ecologistas e organizações governamentais e não governamentais, inspirado em similares
existentes na Europa, no Canadá e nos Estados Unidos. Sete municípios do Entorno do DF integraram o
Ecomuseu: Abadiânia, Águas Lindas, Alexânia, Corumbá de Goiás, Cocalzinho, Pirenópolis e Santo Antônio
do Descoberto, numa área de cerca de 8 mil quilômetros quadrados. Mais que um museu ao ar livre, a proposta
era desenvolver linhas de ação em espaços rurais e urbanos, de predomínio do Bioma Cerrado, contemplando
um vasto programa nas áreas de educação, ecologia, cultura e economia autossustentável. O Projeto Ecomuseu
do Cerrado tinha por objetivo construir uma coalizão social dos sete municípios que constituem seu território
visando à conservação da natureza, ao uso sustentável dos recursos naturais e à distribuição equitativa das
riquezas geradas pela sociedade. A metodologia de trabalho empregada no projeto foi o planejamento e a
gestão biorregional, indicada para os projetos biorregionais, ecorregionais, corredores ecológicos e bacias
hidrográficas. O Instituto Huah quis contribuir para o desenvolvimento autossustentável do Planalto Central
por meio de ações sistêmicas desenvolvidas no projeto do EcoMuseu.
A idealizadora do Projeto EcoMuseu do Cerrado foi Laís Aderne, mineira, natural de Diamantina, pintora,
gravadora, professora, arte-educadora e curadora. Em 1956 iniciou estudos na Escola de Belas-Artes de
Belo Horizonte e concluiu seus estudos na Enba sob a orientação de Osvaldo Goeldi, no Rio de Janeiro, em
1961. Trabalhou na Escolinha de Arte do Brasil, onde organizava cursos de gravura, pintura e desenho para
adolescentes e adultos. Entre os anos de 1964 e 1967 viajou a estudos para a Espanha com bolsa do governo
espanhol. De volta ao Brasil, transfere-se para Brasília, onde cursou a pós-graduação na área da educação e em
1989 assumiu a função de secretária da Cultura do Distrito Federal. Foi professora na Universidade de Brasília;
criadora do curso de Educação Artística na Universidade Federal da Paraíba; criadora da Feira do Troca de
Olhos D’Água, no município de Alexânia-GO, em 1974; diretora da Escolinha de Arte do Brasil; diretora teatral
e autora de arte e educação da comunidade. Foi presidente do Instituto Huah do Planalto Central e é quem nos
inspirou na construção do EcoMuseu do Cerrado, por este motivo queremos prestar-lhe uma homenagem por
ter sido uma celebração permanente do cerrado e suas culturas.

Ecomuseu do Cerrado Laís Aderne


A ideia é que toda ação/projeto individual, coletivo ou institucional
para a conservação e a preservação da sociobiodiversidade faça parte
desse museu, que será do tamanho do Cerrado, pois entendemos
que ele transpõe muros e se torna um espaço/território para que
as comunidades se encontrem e se expressem no seu habitat,
constituindo-se em uma rede diversificada de sonhos e ações. Para
isso, cada membro do EcoMuseu irá mostrar sua leitura sobre o
Cerrado, divulgando suas atividades, como calendários culturais
com apresentações musicais, saraus, rodas de poesia, exposições de
artesanato e artes visuais, trilhas, oficinas educativas, piqueniques,
recreação, seminários, pesquisa, publicações, oficinas, lançamento de
livros e debates sobre os fazeres culturais da sua região. Dessa forma
as pessoas poderão visitar os diferentes locais do EcoMuseu, além da
divulgação de conhecimentos sobre a sociobiodiversidade do Cerrado.

99
O que se espera do Ecomuseu do Cerrado Laís Aderne
Um ecomuseu é um espelho no qual a população olha para si mesma para se reconhecer.
Um espelho que essa mesma população estende a seus hóspedes, para se fazer melhor
entender no seu trabalho, seus comportamentos, sua intimidade. É um museu vivo do
homem, de sua cultura e da natureza onde está inserido. Não se trata de um simples museu
ao ar livre. Trata-se de 0um museu descentralizado, dinâmico, constituindo-se em uma
rede diversificada ligada à história social, às realizações e aos anseios dos seus habitantes
(INSTITUTO HUAH DO PLANALTO CENTRAL, s/d).
É o lugar onde se encontram aqueles que agem sobre o ambiente, aqueles que sofrem sua ação e aqueles que
refletem sobre ele;
é uma exigência de emanação de uma comunidade de vizinhança que é simultaneamente sujeito e objeto;
é uma comunidade com um objetivo: o desenvolvimento dessa comunidade, e uma pedagogia ampla que se
apoia no seu patrimônio natural e cultural, no tempo e no espaço;
é um modelo de organização cooperativa com vistas ao desenvolvimento de um processo crítico de avaliação
e de correção contínuas;
é um exercício de cidadania para a construção da identidade por meio de um profundo senso de lugar e de
continuidade histórica;
é uma instituição que estuda e explora com fins científicos, educativos e culturais o patrimônio material e
imaterial de uma determinada comunidade, que compreende o ambiente natural e cultural de um lugar, e
emprega todos os recursos e métodos de que dispõe para que se apreenda, analise, critique e domine de maneira
livre e responsável os problemas que se apresentem em todos os domínios da vida;
é um espaço/tempo de pedagogia integradora, experimental e de pesquisa em processo contínuo com a
realidade local;
é um centro gerador de ideias e de formação humana, assegurando projetos multidisciplinares e transculturais
de solidariedade e intercâmbio entre os seres humanos;
é um local de preservação cultural e ambiental da região do EcoMuseu do Cerrado;
é um núcleo gerador de integração de saberes e difusão de conhecimentos, com foco no desenvolvimento
sustentável embasado nas culturas locais;
é um laboratório humano de criação e superação individual e coletiva na perspectiva da harmonia e do bem-
estar do ser humano e do seu ambiente em processo de estudo/reflexão contínuo;
é um trabalho de preservação e reencontro de identidades para a promoção da educação ambiental e
patrimonial.

Objetivos do Ecomuseu do Cerrado


Resgatar a história das cidades e a eco-história do Cerrado, tendo como foco a educação ambiental e a ecologia
humana, incentivando a visão sistêmica sobre as inter-relações entre sociedade, cultura e natureza;
contribuir para preservar, conservar e resgatar o Sistema Biogeográfico do Cerrado e sua identidade cultural,
com base no planejamento biorregional e por meio de ações planejadas cooperativamente, voltadas para a
conservação do Cerrado e o uso sustentável dos recursos naturais;
preparar os professores para assumirem os novos paradigmas da educação, que pressupõem a integração entre
o Fazer, o Pensar e o Sentir para interagir com as comunidades locais;
promover a preservação patrimonial – natural, material e imaterial – a partir de acervos bibliográficos,
videográficos, fonográficos e monográficos;
divulgar pesquisas sobre o Cerrado do ponto de vista histórico, social, cultural, ambiental, geográfico,
biológico, arqueológico e geológico;
resgatar a memória pessoal, social, ambiental e a identidade das comunidades/cidades por meio do diálogo
de saberes e a manutenção e a valorização de seus fazeres, saberes e tecnologias, atentos ao envolvimento, à
inclusão e à interação das diversidades;
partilhar e trocar sementes, receitas, remédios e conhecimentos entre as comunidades/cidades;
verificar as vocações profissionais para formar recursos humanos e estimular a produção local para o ecoturismo;

100
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

sensibilizar as comunidades quanto ao ambiente em que moram e mostrar que sua produção tem valor
socioambiental para garantir a melhoria da qualidade de vida das populações locais;
gerar conhecimento transdisciplinar por meio de atividades e pesquisa nas áreas de cultura, educação,
sociedade e natureza, tecnologias tradicionais e contemporâneas para criar multiplicadores para uma ecologia
ambiental, humana, social e planetária;
construir uma rede de especialistas de diferentes áreas do conhecimento, não somente doutores, mas também
grandes mestres com outros níveis de conhecimento não acadêmico.
O EcoMuseu do Cerrado Laís Aderne é uma nova abordagem da museologia, ao mesmo tempo em que é um
desafio conceitual voltado para a tríade território, patrimônio e comunidade, em que os recursos naturais e
culturais são valorizados e assegurados por meio de um ambiente equilibrado, da identidade cultural e da
autoestima da população. A natureza e a cultura devem ser trabalhadas como fatores de identidade comum para
o Cerrado e também devem ser encaradas como mananciais de recursos que contribuirão para a sobrevivência
e a melhoria da qualidade de vida desta e das futuras gerações.
O Ecomuseu não terá um único prédio senão que sem paredes, ele ficará hospedado no site do Museu Virtual
de Ciência e Tecnologia da Universidade de Brasília, que é um espaço de divulgação científica que, na internet,
traz exposições, atividades lúdico-educativas e conteúdos sobre ciência e tecnologia. Dessa forma as pessoas
do Brasil e do mundo inteiro poderão visitar nossos museus sem sair de casa. O endereço é: <http://www.
museuvirtual.unb.br/>. Acreditamos, como Laís Aderne, que “o EcoMuseu do Cerrado será o maior museu
aberto do mundo”.

Agenda
O mais poderoso meio de comunicação é, sem dúvida, a conversação, portanto incentive o aluno a tirar suas
dúvidas sempre antes de iniciar uma tarefa, conversando com o coordenador. Para isso, é bom criar um espaço
de conversação.

101
O que vamos agendar
Meio ambiente
A Carta de Terra, já na época de seu lançamento, afirmava, e continua válida sua constatação, que “este é um
momento crítico na história da Terra, com um superaquecimento global e tantos desastres provocados pelo
uso errado que o ser humano faz dos recursos naturais. Estamos em uma época em que a humanidade deve
escolher seu futuro, pois existem benefícios na natureza que nascem para assegurar a sobrevivência humana no
planeta, onde não existem proprietários, somos todos partes integrantes desse universo”.
Cerrado
O Bioma Cerrado é um desses benefícios que vêm sendo depredados, apesar de ser o berço das águas de todo
o Brasil. É preciso que cada um assuma a responsabilidade por sua proteção, tomando atitudes respeitosas em
sua rotina de vida.
Começando pela escola – agenda escolar
lixo seletivo;
água;
luz;
papel;
jardim;
reaproveitamento de materiais;
alimentação saudável;
conduta ética;
eventos comemorativos;
arrecadação de fundos para a caixa escolar.
O trabalho de implementação da Agenda 21 nas escolas visa a tratar do tema meio ambiente no atual contexto
da globalização, considerando a importância dada ao assunto nos dias atuais, com o chamado desenvolvimento
sustentável, noção associada à ideia de incorporar a questão ambiental à economia. Desse modo, deve-se
tratar dos principais problemas ambientais, relacionados ao esgotamento do modelo desenvolvimentista,
buscando conectar o assunto meio ambiente ao contexto econômico presente, que aponta para uma situação
de globalização, com o auxílio da produção científica já existente sobre o tema.
Fonte: A proposta de Agenda 21 Escolar, aqui apresentada com seu passo a
passo, é o resultado de um trabalho feito pela Secretaria de Educação do Estado
da Bahia, que, por sua qualidade, tem servido como orientação para as ações
desenvolvidas pela Associação dos Amigos das Florestas (AAF), adaptada para
o Projeto Semeando o Bioma Cerrado, podendo igualmente ser ajustada aos
problemas enfrentados por qualquer escola que se propuser a realizá-la.
Agradecemos aos técnicos da Secretaria de Educação do Estado da
Bahia (SEC-BA) pela disponibilização deste trabalho na internet pelo
site <http://www.educacaoinstitucional.gov.br>, contribuindo assim
para a difusão da importância da Agenda 21 Escolar em comunidades
Agenda Escolar diversas.

21 O Que é a Agenda 21 Escolar?


A Agenda 21 Escolar é a formatação do texto com base na Agenda 21 Local para aplicação no meio de influência
da escola, tanto nos recintos escolares como no meio familiar e social onde tal influência é exercida. Visa,
da mesma forma que as demais agendas, à sustentabilidade social e econômica, atendendo às necessidades
humanas para uma vida digna, e à proteção do meio ambiente, tanto o ambiente utilizado pelos cidadãos como
aqueles formados pelos ecossistemas da região.

102
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Requisitos básicos para a elaboração da Agenda 21 Escolar


Adoção de uma metodologia de trabalho que deverá ser buscada por consenso entre representantes do estabelecimento
escolar, dos alunos, da coletividade em sua área de influência, do poder público e de organismos não governamentais,
voluntários, técnicos, líderes comunitários e religiosos, em reuniões previamente designadas para tal fim.
Realização de pesquisas para apurar os problemas existentes na área de atuação da Agenda, englobados os
problemas de saúde da população local, de degradação do meio ambiente ou riscos ambientais, de segurança,
problemas sociais diversos, como desemprego, alcoolismo, uso de drogas, etc.
Avaliação técnica, por pessoal habilitado, e consenso popular, por meio de reuniões, das soluções para
estancar, reverter ou pelo menos amenizar os problemas, buscando os meios de sustentabilidade econômica da
população, a melhora de sua qualidade de vida e a melhoria ambiental, com preservação de áreas, melhoria dos
elementos já implantados e, essencialmente, educação de cunho social e ambiental.
Apuradas as ações necessárias, verificar os respectivos custos e os meios de financiamento. Envolvimento do
poder público, por meio das negociações necessárias, na busca de soluções para os problemas de sua exclusiva
competência e para que colabore com a solução de outros que estejam dentro de suas obrigações governamentais
“A escola é uma comunidade que tem influência efetiva não apenas dentro de
seus muros, nos momentos de instrução a seus alunos, mas também em toda a
comunidade, formada pelos respectivos familiares e moradores de seu entorno”
(autor desconhecido).
A Agenda 21 Local é um processo de desenvolvimento de políticas de ações para o desenvolvimento sustentável e de
construção de parcerias entre a escola, a comunidade, autoridades e lideranças locais, entre outros, para implementá-la.
A implantação da Agenda 21 Local não é um único acontecimento, documento ou atividade, e sim um processo
contínuo no qual a comunidade aprende sobre suas deficiências e identifica inovações, forças e recursos próprios
ao fazer as escolhas que a levarão a se tornar uma comunidade sustentável.
Uma Agenda 21 Local bem-sucedida mobilizará consciências e granjeará apoio público e vontade política para fazer essas
escolhas. É essencial que seus objetivos estejam sempre absolutamente claros para todos os envolvidos no processo. Sua
base é a criação de sistemas de gerenciamento que levem o futuro da sobrevivência humana no planeta em consideração.
Não há uma “receita” pronta, mas existem ingredientes comuns em todas as experiências bem-sucedidas. Tomemos como
exemplo o envolvimento da comunidade; a identificação das principais questões e das metas para a área; os objetivos
explícitos para o meio ambiente como indicadores de qualidade de vida; a organização de setores com definição de quem
fará o que e quando; a determinação de formas de avaliação do desempenho e do progresso alcançado; a execução de
projetos piloto que possam ser postos em prática rapidamente para se tornar exemplos na comunidade. É importante
lembrar que a Agenda 21 não dever ser apenas um documento, e sim um marco no processo de busca da sustentabilidade.
Esse gerenciamento deverá: ser um projeto de destaque da escola, inserido no projeto pedagógico; integrar
planejamento e políticas; envolver todos os setores da comunidade escolar e do seu entorno; focalizar resultados
no médio e no longo prazos.

Implementação da Agenda 21 Escolar


Crie um ambiente positivo.
Tenha respeito por seus companheiros e por todas as formas de vida na terra.
A colaboração é um esporte coletivo.
No grupo, todos possuem inteligência, e na vida poucas atividades exigem apenas um tipo. Todos são iguais e
têm direito ao mesmo tratamento, detendo os mesmos direitos e deveres. Todos fazem parte de uma equipe,
que é um conjunto de pessoas organizadas para atingir objetivos comuns. Um grupo torna-se equipe quando
todos os membros são interdependentes, ou seja, usam as habilidades, as competências e os recursos de todos
os seus membros para planejar suas atividades com o intuito de obter os melhores resultados, com disciplina.
Nesse caso, disciplina é o domínio de si mesmo para ajustar sua conduta às exigências do trabalho e de convivências
próprias do grupo. Assim, observe o horário para o início das atividades, lembrando que você faz parte de uma equipe.
As ordens determinadas devem ser seguidas com atenção. Promova a mobilização dos setores da sociedade que de
alguma forma possam auxiliar na concretização dos projetos relativos à solução dos problemas detectados.
Dar andamento às ações de correção, reversão e erradicação de tais problemas.

103
Elaboração prática da Agenda 21 Escolar – passo a passo
1º passo:
realizar fórum, convocado de maneira oficial, para início dos trabalhos de implementação da Agenda 21 do
estabelecimento educacional em que for implantada. Nesse fórum deverão ser escolhidos os participantes da
respectiva comissão, que será presidida por um coordenador técnico, com o resumo dos trabalhos anotados
por um relator. A comissão deverá contar, na medida do possível, com elementos da escola – tanto do corpo
discente como do corpo docente –, da comunidade, do poder público, das lideranças locais, de entidades não
governamentais.
2º passo:
buscar a participação popular para o fórum e as reuniões periódicas da Agenda, para o auxílio na detecção
de problemas e em sua erradicação ou minimização. Buscar o auxílio dos órgãos de imprensa para apoio
educacional e jornalístico e de órgãos do poder público ligados aos problemas apontados.
3º passo:
promover ações na escola, envolvendo os alunos, para pesquisar situações prejudiciais ou degradantes.
4º passo:
elaborar concursos de redação e poesia sobre temas correlatos, tais como: “Como posso colaborar para que
minha escola e meu bairro melhorem”; gincanas educativas e construtivas; jogos cooperativos; atividades que
possam despertar o sentimento de amor pela comunidade e de patriotismo, como ações voluntárias de ajuda.
5º passo:
trabalhar com ações práticas e economicamente viáveis em um processo de educação ambiental entrelaçado
com criação de hortas comunitárias, hortas individuais, coleta seletiva de lixo, comercialização do lixo
reciclável, economia de água e luz, reaproveitamento de materiais diversos, consumo consciente, cursos sobre
compostagem dos resíduos orgânicos e sua aplicação nas hortas comunitárias ou individuais, saneamento e
tratamento de resíduos nas áreas rurais.
6º passo:
identificar os temas que serão incluídos no documento inicial a ser elaborado pela comissão escolhida e que
se chamará “Agenda 21 Escolar”, devendo esses temas ser identificados pela comissão e pela comunidade
participante do fórum. Os temas não deverão ultrapassar 10 ou 12, para que não se impossibilite a realização
de tarefas em todas as frentes. É conveniente que sejam escolhidos especialistas ou professores das respectivas
áreas para que, de início, façam um relatório da situação atual da comunidade a ser trabalhada, ou seja, o
cenário inicial dos trabalhos, assim como um cenário do passado e uma projeção de um cenário ideal em um
determinado prazo, cinco anos, por exemplo, dando publicidade a esse levantamento.
7º passo:
elaborar projetos e/ou planos estratégicos, ou seja, discriminar, passo a passo, as atividades necessárias à
realização dos objetivos previstos em cada um dos temas selecionados para a Agenda, com cálculo de custos e
de recursos tanto materiais como humanos.
8º passo:
implementar, de forma prática, etapa por etapa, o que foi previsto nos projetos e/ou planos estratégicos, que são
os processos de organizações para definir seus rumos por meio de um direcionamento que possa ser monitorado
nas suas ações concretas, além de angariar os recursos necessários com base no plano de ação para que atenda
às necessidades de cada etapa em andamento.

Acompanhamento dos trabalhos


Reuniões periódicas dos coordenadores dos projetos implantados, sugerindo-se que ocorram mensalmente
para troca de informações e experiências, que serão levadas aos respectivos fóruns permanentes.
Realização periódica de seminários e cursos de atualização e capacitação para os participantes efetivos e demais
interessados, buscando envolver o pessoal dos órgãos governamentais, como o Ministério do Meio Ambiente,
secretarias estaduais de Meio Ambiente e Saúde, administrações regionais e as regionais de Educação, além de
órgãos de proteção à infância e à adolescência, entre outros.

104
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Lembre-se de que:
A Agenda deverá ter sempre em mira a sustentabilidade econômica da comunidade, a preservação de
Unidades de Conservação e do Bioma Cerrado, com o cunho permanente de educação individual, familiar,
social e ambiental, sob o enfoque das ações previstas na Agenda; o trabalho cooperativo, a criação de núcleos
de apoio social, o fortalecimento das lideranças comunitárias.
A Agenda 21 nunca termina: ela é sempre reconstituída, reconstruída, repassada, corrigida em fóruns de
discussão e de acordo com a avaliação dos rumos dos trabalhos, as fontes de financiamento, as parcerias, novos
problemas que possam surgir, novas soluções encontradas, etc.
A Agenda deverá estar sempre aberta à participação de todos os membros da comunidade, do poder público,
da imprensa, de entidades de apoio, de patrocinadores, enfim, de todos – quem pretende servir, quem recebe
apoio humano, material ou financeiro.
A Agenda poderá ter início com ações de menor impacto, dependendo de suas possibilidades, sendo enriquecida
posteriormente pela experiência dos participantes.
O sucesso da implantação da Agenda 21 Escolar depende apenas do empenho das pessoas que a apoiarem, e no
âmbito de influência de cada escola, da disposição da administração (direção, corpo docente e funcionários) de ver
os resultados da Agenda como benefício para a comunidade escolar e para a comunidade influenciada – alunos,
familiares e coletividade, incluindo o povo, a nação, o país e, por extensão, todo o planeta Terra, nosso lar comum na
imensidão infinita do cosmos. As mãos que se puserem à obra plantarão milhares de sementes para reflorestar a vida.

Avaliação da Agenda Escolar


O alcance dos objetivos da Agenda 21 Escolar poderá ser medido pelos seguintes resultados: redução do
consumo de água e de energia; redução de gastos com telefones; redução de material de limpeza; redução
de cópias xerox; redução de papel; campanhas sociais para doação do lixo para cooperativas de catadores;
promoção de eventos culturais na escola/comunidade; incorporação da educação humanitária; mudança de
comportamento nas relações humanas e com o meio ambiente; mudança de hábitos alimentares; manutenção
de hortas e jardins nas escolas.

Fonte: Secretaria de Educação do Estado da Bahia (SEC-BA). Disponível em: <http://www.educacaoinstitucional.gov.br>.

Instrumento: horta pedagógica


“Uma horta é uma festa para os cinco sentidos: boa de cheirar, ver, ouvir, tocar e comer. É coisa mágica, erótica,
o cio da terra provocando o cio dos homens” (Rubem Alves, “O quarto do mistério”).
Com a introdução da educação ambiental como tema transversal e/ou como disciplina específica no currículo escolar,
são necessárias a criação de ambientes mais flexíveis e, principalmente, a sensibilização do professor para esse trabalho.
A proposta é criar na escola um espaço que se pretende interativo. A horta pedagógica permitirá às crianças um contacto
mais direto com aspectos da natureza, estimulando uma aprendizagem ativa e uma maior consciência ecológica.
No cotidiano do trabalho, em uma horta é possível promover condições de observação, análise, experimentação,
reflexão, levantamento de hipóteses, sistematização e outras possibilidades que o contato com a terra faculta.
É uma excelente oportunidade para o desenvolvimento de conceitos e práticas ambientais, convidando o
participante a cultivar experiências únicas, com resultados sempre surpreendentes.

105
O que é uma horta pedagógica?
laboratório de biologia;
laboratório de matemática;
instrumento de iniciação científica;
campo de atividade física em grupo;
campo de produção alimentícia.

E se a escola não tem terreno para o plantio?


Quando não há espaço físico para o plantio de uma horta, pode-se trabalhar com diversas opções de formato
e com hortaliças que se multiplicam por mudas, feitas em pequenos canteiros chamados de sementeiras, ou
recipientes tipo bandejas de isopor ou copinhos de plástico ou em outros materiais encontrados na natureza.
Para preencher a sementeira e os recipientes, a mistura deve ser feita com terra de mata ou esterco e areia,
peneirados e misturados. As mudinhas também devem ser pulverizadas com caldas naturais, como, por
exemplo, com uma mistura feita de água, fumo de rolo e álcool.

106
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Horta pneu
A iniciativa de utilizar pneus como canteiros é bem-vinda, pois a retirada desse lixo das ruas diminui focos de
dengue, evita sua queimada e traz a certeza do consumo de alimentos sem a influência de agrotóxicos. Diversas
escolas usam esse material como alternativa para a construção de suas hortas.
Materiais necessários para a montagem de cada canteiro
Um pneu velho;
uma tábua de madeira ou madeirite;
uma faca bem afiada;
adubo orgânico;
sementes de hortaliças;
palha seca.
Modo de fazer
Cortar uma lateral do pneu com uma faca e retirá-la. Em seguida, pegar uma metade do pneu e virá-la do
avesso, formando uma bacia côncava. Virando o pneu ganhar-se-á mais cinco dedos de raio. Mas ele pode ser
deixado ao natural.
Fazer um fundo com a madeira. Depois colocar a terra. A quantidade de terra irá depender do que se deseja
plantar. Se for uma raiz, deverá ser utilizada mais terra, enquanto a hortaliça exigirá menos terra.
Acrescentar o adubo. Para um pneu de carro (aro 13) deverá ser utilizado um quilo de adubo orgânico. Se o
pneu for de uma camionete (aro 20), por exemplo, precisará de três quilos de adubo.
Misturar o adubo com um pouco da terra do pneu, cerca de cinco centímetros. O ideal é deixar o adubo e a terra
três dias sem plantar nada para que a semente germine com mais facilidade.
Passados os dias, o pneu estará pronto para receber uma raiz ou uma semente para o cultivo. Cavar meio centímetro
de berço para alojar três sementes. Se estas forem enterradas em uma profundidade maior a planta não crescerá.
Depois de germinado, deixar apenas uma semente. Em um período de cerca de vinte dias a muda ficará grande
e o canteiro deverá ser coberto com palha seca, deixando a muda de fora. Este processo, por não expor o solo,
evita a perda de água por evaporação.

Horta suspensa
A falta de espaço não é problema nem desculpa para quem quer montar uma horta. Diversas opções podem ser
usadas, desde garrafas pets até canos de PVC, que podem ser colocados em qualquer lugar: pendurados no teto
ou fixados em muros. A horta suspensa, como é chamada, é simples de fazer e econômica.
Neste formato de horta, pode-se plantar de tudo um pouco: verduras, legumes, condimentos e até plantas
medicinais, só é preciso tomar cuidado para não cultivar hortaliças que não cresçam muito para que não
atrapalhem o desenvolvimento das outras plantas. Com uma calha de 1,20 m é possível plantar 12 pés de alface
com espaçamento de 20 cm. Além de consumir o que produz, pode representar uma renda adicional para o dono.
Materiais necessários
Mudas de plantas (pode ser tomate, feijão verde ou qualquer outro legume);
garrafas de refrigerante grandes;
um perfurador;
fita adesiva;
estilete ou faca afiada;
terra vegetal suficiente para preencher as garrafa;
palha ou casca de jardim;
cordas, pregos e/ou ganchos para o suporte.

107
Modo de fazer
Abrir uma lateral das garrafas;
forrar a parte cortada com fita adesiva para prevenir cortes e dar maior estabilidade ao plástico quando estiver
pendurado;
encher a garrafa com terra vegetal;
colocar a muda na garrafa tomando cuidado para não machucá-la;
tentar espalhar ao máximo a raiz para que ela não se prenda a espaços;
prender a garrafa com o cordão;
preencher a parte de cima da garrafa com palha ou casca de arroz ou outro substrato;
fixar a garrafa em um local ensolarado;
pronto! Agora é só molhar a plantinha e esperar que ela floresça ou dê frutos!
Canteiros e mobilidade
A construção de canteiros poderá ser feita com diversos materiais que
atendem a vários aspectos da educação ambiental, como, por exemplo:
a mobilidade de espaços, permitindo a criação e o desenvolvimento
de estruturas de canteiros que possibilitem sua retirada para outras
atividades.

Horta orgânica
É uma maneira de plantar e cuidar das hortaliças com técnicas que não poluem
a terra e a água e não contaminam plantas, plantadores e consumidores. Podemos
dizer que é uma maneira de cultivar imitando a natureza, como, por exemplo, a
utilização de adubos orgânicos em substituição aos produtos químicos.
A horta orgânica inserida num espaço escolar formal ultrapassa os limites do simples plantar e colher, pois se
apresenta de forma flexível e articulada a outros projetos pedagógicos, permitindo a interação entre diversos
trabalhos e linhas filosóficas na construção de um novo saber ambiental.
Referências:
EMBRAPA HORTALIÇAS. Disponível em: <http://www.cnph.embrapa.br/
http://edif.blogs.sapo.pt/10613.html>; <planetasustentavel.abril.com.br/noticia/casa/horta>.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Ações transversais possíveis


Preparação do espaço físico destinado ao projeto.
Realização de trabalhos na horta (semear, regar, cuidar, colher).
Pesquisas documentais sobre os produtos semeados com a utilização de suportes de leitura diversificados.
Observação e registro (medição do crescimento das plantas, da temperatura e da umidade, condições propícias
e limitadoras quanto às espécies plantadas).
Organização e tratamento da informação recolhida (textos, desenhos, cartazes, gráficos, enciclopédias,
fotografias, vídeos) e sua inserção no site da escola.
Intercâmbio de experiências com escolas que desenvolvam projetos sobre a mesma temática.
Divulgação do projeto para a comunidade (jornal escolar, colóquios, exposições).

A sementinha vira planta


Para germinar, toda semente precisa de água, nutrientes, luz, oxigênio, espaço e calor. Quando colocamos a
semente na terra úmida e quente, estamos dando a ela as condições de que precisa para se desenvolver.
Existem sementes de todos os tamanhos, formas e cores. Algumas são tão grandes e outras tão pequeninas que
quase não conseguimos vê-las. Um dos grandes motivos de insucesso em hortas domésticas está na má escolha
das sementes. Compramos envelopes de sementes de marcas idôneas e bem conceituadas, e mesmo assim nossas
plantinhas teimam em não se desenvolver. O problema mais frequente é que compramos sementes não adaptadas ao
clima e ao solo da nossa região. Atualmente, as sementes de hortaliças e flores contêm alta tecnologia na sua produção.
Por exemplo: hoje é possível plantar couve-flor, uma hortaliça típica de inverno em regiões de clima quente, graças a
essa tecnologia. O mesmo acontece com o repolho, a beterraba, a alface e uma infinidade de hortaliças.
É essencial que as sementes tenham procedência confiável e regulamentada – este é um fator de garantia de boa
colheita. Mas é bom lembrar que as sementes para hortas são diferentes das sementes nativas do Cerrado. As
pessoas que desejarem ajudar na recuperação de áreas degradadas precisam ficar atentas à legislação.

Comida da semente
Dentro da semente existe uma reserva de alimento que faz com que ela se mantenha saudável e em condições
de buscar o que mais precisa para crescer.
Germinação: quando colocamos a semente na terra, a água entra nela e ela começa a inchar. Ela cresce para
baixo a procura de água e nutrientes do solo – crescimento radicular. Depois, ela cresce para cima a procura de
luz para continuar se desenvolvendo – crescimento vegetativo.

Irrigação
Cada hortaliça tem sua exigência de época e de forma de plantio e necessidades de
adubação, mas todas precisam de cuidados básicos, como
irrigação (fornecimento de água às plantas), adubação
de cobertura (aplicação de estercos ou compostos nas
plantas após o plantio) e manejo do mato (capinar
em volta das plantas e roçar nos meios) e controle
biológico (permitir que predadores naturais existam
e controlem os comedores do nosso alimento).
A dica é criar um sistema de irrigação dentro da área
da horta onde pode ser colocada uma caixa d’água de
500 litros para que os alunos possam usar pequenos
regadores para molhar a horta. Essa prática também
ajuda, em muito, a rever as concepções de utilização da
água. Esse tipo de irrigação faz com que os alunos transitem
perto da extensão da horta.

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Cuidados com a plantinha
Assim como as crianças precisam de amor e carinho, as plantas são seres vivos e também precisam de cuidados
especiais. Elas gostam de ambiente tranquilo e até de música tranquila. Pesquisas demonstram que as plantas
também sentem e reagem às emoções e aos comportamentos daqueles que mantêm contato com elas.

Preparando a terra
Para começar a plantar corretamente é muito importante conhecer primeiramente o solo. Se colocarmos um
pouco de terra em um microscópio veremos que na terra há vida. Existem bolhas de água, de ar, minúsculos
seres vivos, como fungos, bactérias, minhocas e, pedras e rochas que viram pó com o passar do tempo. Essas
são as partes básicas do solo. Isso é que dará à planta o que ela precisa para viver, além de ajudá-la a ficar firme,
bem fixada.
Uma terra equilibrada é a base para a produção orgânica de hortaliças. É preciso conhecê-la para poder corrigir
suas carências, quando houver. A terra deve ser protegida com plantios em nível, construção de terraços, plantio
de quebra-ventos, cobertura com palhadas, além de respeitar a preservação das áreas protegidas por lei.
Na adubação devem ser sempre utilizados produtos naturais (calcários, fosfatos naturais, esterco de animais,
restos de plantas). É aconselhável também o cultivo de plantas que melhoram o solo, como feijão-de-porco,
crotalária, feijão-guandu, mucuna-preta, girassol, entre outras.
Em algumas escolas é comum a construção de canteiros de alvenaria, muitas vezes pintados com tinta ou cal,
porém não é aconselhável a adoção dessa técnica, pois a tinta ou a cal passam para o subsolo por meio das
chuvas, contaminando-o e comprometendo a qualidade do alimento cultivado.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Harmonia e variedade
Na horta orgânica é importante plantar várias hortaliças no mesmo canteiro para criar um ambiente diversificado.
Isso favorece a vida de insetos bons e dificulta a vida dos ruins e a aparição de manchas, causadas por fungos,
bactérias ou falta de nutrientes. Essa variação também permite um melhor aproveitamento dos nutrientes do
solo.
É recomendado o plantio de faixas de plantas de tamanho médio (milho, girassol, cana) dentro e ao redor da
horta para harmonizar ainda mais o ambiente.
A horta é um espaço de relação com a natureza e importante instrumento para se trabalhar a transversalidade
do tema ambiental com todas as disciplinas, mas com certeza outros espaços existem na escola ou em seu
entorno onde o plantio aprendido na horta pode ser reaplicado para a preservação do bioma Cerrado. Direta
ou indiretamente ele está presente na comunidade.
A escola ou a comunidade podem querer ir além da horta e recuperar áreas degradadas ou plantar árvores
nativas no jardim da escola, nas ruas de acesso ou em outros locais. Isso exigirá um pouco mais de esforço, com
a preparação de um viveiro específico de árvores nativas ou ainda sistemas agroflorestais. Aqui no Cerrado
procure conhecer as iniciativas das ecovilas ou dos institutos que trabalham com a permacultura (são alguns
exemplos: Ipoema, Asa Branca, Ecocentro Ipec).

É tempo de colheita
Tudo a seu tempo. Cada hortaliça tem o ponto certo de ser colhida, denunciado pelo tamanho, pela cor, pelo
sinal ou pela idade. Para colhê-la são usadas facas, tesouras e outras ferramentas, de preferência pela manhã ou à
tardinha. As hortaliças para alimentação devem ser lavadas e consumidas no mesmo dia. Pode ser desenvolvido
um projeto de “feirinha”, com as hortaliças sendo colocadas em caixas ou outras embalagens próprias para
venda. Após a feirinha, é necessário contabilizar a venda, e o lucro pode ser investido em algo que reverta para
os alunos ou para a escola. Outra sugestão é uma colheita coletiva, envolvendo os familiares dos alunos.

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Espaço de suporte para a horta
Sementeira
Para mexer com plantas, primeiro é necessário aprender a fazer uma sementeira. Um caixote de madeira, ou
mesmo um vaso, pode ser uma solução para escolas que não possuam espaços.
Modo de fazer
Forrar o caixote com um plástico grosso, não esquecendo de fazer os furos para a saída do excesso de água.
Colocar a terra preparada em partes iguais, areia de construção e adubo, até dois dedos da borda do caixote.
Com a ajuda de uma vareta ou mesmo com os dedos, fazer pequenos furos na terra, bem rasos – são os berços.
Manter a distância de 15 cm um do outro.
Colocar três sementes em cada buraquinho e cobrir com um pouco de terra.
Deixar o caixote em um local arejado, que não pegue sol, e não esquecer de regar todos os dias.
Quando as sementes germinarem e estiverem com umas cinco folhinhas, é hora de transplantá-las para os vasos
ou canteiros.
Se nascer mais de uma muda em cada buraco, retirar as mais fracas e deixar somente a mais bonita para ser plantada.
Sementes voadoras
São aquelas que quando o vento bate se soltam e flutuam no ar. O dente-de-leão é um exemplo desse tipo de
semente. Os pássaros, as cutias e os morcegos também são ótimos plantadores do Cerrado, pois quando comem
as frutas deixam cair sementes em vários lugares, fazendo com que surjam novas plantas.

Compostagem
Se a escola produz matéria orgânica e a descarta como lixo comum, pode-se optar por construir um minhocário
e uma área de compostagem. Folhas das árvores, cascas de frutas e demais insumos podem ser colocados em
uma área próxima à horta para depois serem distribuídos nas áreas de compostagem. Os restos orgânicos
(cascas e restos de comida), quando decompostos corretamente em composteiras, têm potencial para serem
reutilizados como adubo para um solo fértil. A seguir, como implantar esta medida na escola.
Materiais necessários:
Buraco no solo com cerca de 1m3 (1m altura x 1m largura x 1m profundidade) ou recipiente de madeira ou
tijolos com a mesma medida;
sobras de alimentos – é sempre bom evitar carnes, pois estas exigem cuidados muito especiais para não atrair
animais;
papéis, papelão e palha;
água;
tampa de madeira ou lona para cobrir a composteira;
uma pá.
Como fazer
1) No buraco no solo ou em um recipiente de madeira ou tijolos, colocar os resíduos na proporção de 25% de
restos de comida e 75% de materiais secos – papéis, papelão e palha. É preciso respeitar essas quantidades para
que os alimentos não se tornem uma massa compacta e malcheirosa. Pequenos espaços entre a comida e os
materiais secos garantem o ar necessário para o processo de decomposição acontecer.
2) Colocar mais material seco em cima da pilha; umedecer bastante com água e depois cobrir a composteira.
3) Deixar descansar por cerca de 15 dias. Depois desse tempo, revirar o material com a ajuda da pá mais ou
menos uma vez por semana e acrescentar água sempre que a mistura estiver seca demais.
4) A duração do processo pode variar em função da quantidade de resíduos e da umidade disponível, entre outros
fatores. Por isso, é importante estar atento à transformação que passa a acontecer – o lixo começa a ganhar o
aspecto de solo fértil. Quando isso ocorrer, o novo solo pode ser usado para cultivo de hortaliças, plantas e flores.
Se a muda for muito pequena e a aparência do solo estiver ruim, recomenda-se peneirá-lo antes do uso.
O buraco para fazer a composteira também pode ser substituído por caixotes escuros, que ajudam a acelerar o
processo de decomposição e evitar a proliferação de patógenos. O mesmo procedimento e as mesmas proporções
anteriormente exemplificadas devem ser utilizados.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Minhocário
Processar os restos de alimentos da escola é
bom para se ter um minhocário. Para quem
não sabe, um minhocário (ou composteira)
é uma fazenda de minhocas que ajuda a
reciclar os restos de comida e a transformar
o substrato em húmus, um composto muito
rico que pode ser usado como biofertilizante
em hortas e jardins. Pode-se optar por uma
solução caseira, mas há também empresas
que vendem modelos prontos em caixas
plásticas que podem ser usados até em
apartamentos. Além de caixas plásticas, um
minhocário pode também ser montado em
tambores, cestas de frutas, canteiros e outros.
A estrutura mais prática para a montagem
do minhocário e para a compostagem em Minhocário - Escola da Natureza

escolas com pouco espaço são as caixas plásticas empilhadas. O tamanho varia conforme a necessidade da
horta e o local disponível para o minhocário. Inicialmente podem-se usar três caixas plásticas empilhadas com
pequenas aberturas para manter a estrutura oxigenada (isto é importante).
O elemento principal do minhocário são as minhocas, que podem ser encontradas em hortas ou em certas
empresas que apresentam várias opções para adquirir uma colônia de minhocas. Outra possibilidade é usar o
húmus de minhoca encontrado em lojas de jardinagem, que sempre apresenta vários ovos misturados à terra,
que podem dar origem às nossas amigas aeradoras.

Passo a passo
Fonte: Elaine Costa. Disponível em: <http://www.maiscommenos.net/blog/2009/04/como-fazer-um-minhocario-domestico>.

Materiais necessários
Três caixas em cor escura, tipo contêiner, que possam ser empilhadas sem o apoio das tampas;
torneirinha de bebedouro;
pedaço de tela de arame grossa;
pedaço de manta permeável;
minhocas (é necessário pesquisar sobre as principais espécies, pois há diferenças básicas);
substrato (inicialmente um saco de 20 kg);
jornal sem cor;
restos de comida.
Cortar o fundo de duas das caixas mantendo uma borda de 3 a 5 cm. Numa das caixas fixar a tela de arame
grossa, que deve estar na medida do fundo da caixa. Para facilitar, colocar a tela de arame dentro da caixa. Na
outra caixa, fixar a manta permeável. Neste caso, é mais fácil fixar a manta por fora da caixa com fita vinílica ou
similar. Na caixa restante cortar lateralmente um orifício na mesma medida da torneirinha, fixando-a (é bom
usar silicone para evitar vazamentos). A estrutura proposta usa somente uma tampa, que deve possuir algumas
perfurações para permitir a oxigenação.
A estrutura do minhocário apresentada a seguir é a mesma encontrada na monografia de Renato Velloso
Magrini Soluções sustentáveis: permacultura urbana, Universidade Federal de Uberlândia, 2009.
Colocar o substrato umedecido na caixa do meio e, em cima dele, as minhocas. Após três dias acrescentar
o substrato na caixa superior e os restos de alimentos. Cobrir com o jornal sem cor. O período médio para
a produção do húmus é de 45 dias. Então, colocar uma peneira grossa no topo do substrato com restos de
comida, que vão atrair as minhocas, que passarão pela peneira, facilitando a retirada do húmus.

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Tampa com
orifícios
Restos de
comida,
substrato e
jornal sem cor
Tela de arame

substrato
e minhocas

Manta permeável

Chorume

Fonte: Elaine Costa-http://www.maiscommenos.net/blog/2009/04/como-fazer-um-minhocario-domestico/

Observações
As minhocas não gostam de sol e calor excessivos. Por isso, o minhocário deve ser mantido em lugar à sombra
e arejado. Também é importante manter a terra úmida. O grande benefício do minhocário é permitir que as
crianças e os jovens observem a rotina da escola em relação aos alimentos, principalmente sobre o grande
desperdício. Quando identificamos quanto de lixo geramos, passamos a ter mais critério, tanto para comprar
quanto para usar, reduzindo o consumo exagerado.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Infraestrutura necessária
a) Um galpão ou um local adequado e seguro para guardar os equipamentos e os insumos e para executar
tarefas, como encher os saquinhos;
b) um reservatório de água na parte mais alta do terreno (facilita as regas);
c) um espaço aberto e sombreado, especial para estocar terra, areia e fertilizantes orgânicos.

Viveiro - Escola da Natureza Maquete de Viveiro - AAF

Dicas para montar uma sementeira com recursos mínimos


Delimitar uma área de 10 m x 1 m com tábuas ou tijolos, ou de preferência materiais reutilizados; preencher
o fundo desta área com uma camada de brita grossa e, sobre ela, outra de brita fina (garante boa drenagem);
preencher com substrato composto por areia (90%) e húmus (10%).
Preparando a sementeira
Uma sementeira, ou berçário, é essencial para a maior parte das espécies, pois além de facilitar muito o trabalho
economiza recursos, tendo em vista que somente será preciso transferir para os saquinhos as plantas que nascerem.
Para a maior parte do ano, basta construir uma sementeira (ou berçário) a céu aberto. A semeadura em estufa
é recomendada em regiões de inverno rigoroso, especialmente nas épocas frias.

Viveiro educador
O conceito desse espaço vai além do simples cultivo de espécies botânicas, pois o Viveiro Educador é bem mais
que um simples espaço de apoio para a horta, uma vez que ali são produzidas e repassadas as informações que,
associadas às práticas vivenciais, contribuem muito para a construção do conhecimento, para a sensibilização
ambiental e a popularização da ciência de forma lúdica e interativa.
A convivência com o cuidado de espécies de plantas permite o contato com experiências diferenciadas que
envolvem o reino vegetal, seus diferentes grupos e formas variadas, possibilitando uma riqueza de instrumentos
pedagógicos para o trabalho da transversalidade e da interdisciplinaridade.
Semeadura
A semeadura poderá ser feita diretamente nas sacolas, previamente cheias e arrumadas em canteiros ou em
germinadores. Neste último caso, serão obtidas sementes pré-germinadas, a serem repicadas para as sacolas
já encanteiradas. A maior vantagem da pré-germinação está na possibilidade de seleção das melhores plântulas,
descartando-se aquelas defeituosas; em contrapartida, é necessário maior cuidado com a mão de obra empregada.
A pré-germinação é feita em um substrato de areia (ou serragem curtida) de cerca de 5 cm de espessura, onde
as sementes são enterradas superficialmente e mantidas em umidade e sombreamento. A repicagem deverá
ser feita quando a radícula despontar, caracterizando o “pontinho branco”. Há necessidade de cerca de 7 kg de
sementes despolpadas por m2 de germinador.

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Na semeadura direta, a semente é enterrada superficialmente, uma em cada sacola.
A semeadura poderá ser feita na época da colheita, quando a oferta de sementes é abundante.
Algumas sementes, apesar das condições ambientais favoráveis (água, temperatura e oxigênio), não germinam
temporariamente. A esse fenômeno da-se o nome de dormência, causado por algum mecanismo inerente ao
embrião ou a casca da semente.
Pode-se obter as mudas aptas ao plantio no período de novembro a janeiro. Durante todo esse tempo deverá ser
mantida a umidade adequada e eliminadas as ervas invasoras.
Semeando
Sementes menores – vão para o berçário.
Sementes maiores – como as do jatobá; a semeadura de uma semente por saquinho após a escarificação.
Atualmente a produção de mudas da grande maioria das espécies do Cerrado é feita a pleno sol, sem a necessidade
de qualquer tipo de cobertura. Apenas para as espécies mais sensíveis das Matas de Galeria recomenda-se a
produção de mudas em cobertura por sombrite (50%).
Transferência das mudas para os saquinhos
Ao atingirem de 10 a 12 cm, as mudas devem ser repicadas, ou seja, transferidas para saquinhos, com cuidado
especial para a raiz manter-se reta, pois se a ponta se enrolar a planta pode não se desenvolver. Passo a passo:
a) Transferir as mudas para os saquinhos – repetir o procedimento seguinte com cada muda, sem esquecer-se
de molhar bem a sementeira antes para ficar mais fácil arrancá-las.
b) No saquinho, fazer um buraco com o dedo no substrato de mais ou menos 1 cm de diâmetro, onde a muda
será colocada:
retirar uma muda do berçário, com muito cuidado para a raiz não quebrar;
colocar a muda no saquinho, com atenção para que a raiz entre reta;
completar o espaço vazio com o substrato;
colocar o saquinho no canteiro.
c) Os saquinhos serão levados aos canteiros, sendo dispostos no chão um ao lado do outro, ocupando o menor
espaço possível.
Escolha do local do viveiro
O local deve:
ser plano;
ser aberto, sem sombreamento;
ser de fácil acesso à água;
ter boa drenagem do solo;
ficar sem receber vento;
ser de fácil acesso a pessoas e veículos.
A área do viveiro deverá ser bem drenada, com pequena declividade (até 3%). A disponibilidade de água e a proximidade
do local do plantio são condições a considerar. No caso de se construir a estrutura do viveiro, este deverá estar localizado
em uma área que receba pleno sol, fazendo-se o controle do sombreamento apenas com a cobertura artificial.
Construção do viveiro
Para o viveiro natural, basta fazer a limpeza da área sombreada naturalmente, organizando a posição dos canteiros
de forma que os tratos e o trânsito sejam facilitados. A sombra inicial não deverá ser maior do que 50%.
Dentre os inconvenientes do viveiro natural, destacam-se: dificuldade de uniformização do sombreamento; impacto do
gotejamento, que pode prejudicar o início do desenvolvimento das mudas, quando as copas das árvores sombreadoras são
muito altas; dificuldade ou mesmo impossibilidade de redução do sombreamento para propiciar a aclimatação das mudas;
maior probabilidade de prejuízos pela ação de animais silvestres e pela quebra de galhos; falta de uniformidade das mudas.
Como maior benesse se destaca o baixo custo da instalação. Recomenda-se sua utilização para pequenos plantios.
O viveiro construído possui uma estrutura principal formada de moirões de madeira de lei, com 3 m de
comprimento e 20 cm de diâmetro aproximadamente e espaçamento de 3 m entre si.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Após a fixação no solo (60 cm), define-se a altura livre de 2,40 m para o viveiro. Na cobertura poderá ser utilizada
a estrutura de ripas (madeira bruta ou bambu) ou arame e cobertura de folhas de palmeira. O sombreamento
inicial deverá ser de 50%, o que se consegue colocando-se as folhas abertas, de forma que os folíolos fiquem
sobrepostos em aproximadamente um terço do seu comprimento.
Tamanho e organização do viveiro
As dimensões do viveiro deverão corresponder ao espaço necessário para acomodar o total de mudas que se
pretende produzir. Em cada m2 de canteiro será possível acomodar oitenta mudas, já espaçadas o suficiente
para seu máximo desenvolvimento. Considerando-se as áreas de circulação, o número ideal de mudas por
canteiro será de cinquenta unidades por m2 de viveiro.
Para a obtenção de cerca de 3 mil mudas aptas para o plantio de 10 ha, deverá ser construído um viveiro de 78
m2, que corresponde à largura de 6 m e comprimento de 13 cm. A orientação do comprimento deverá ser na
direção norte-sul, bem como a disposição das folhas da cobertura, portanto as ripas ou arames deverão ficar
paralelos à lateral menor de 6 m. Serão necessários 17 moirões (cinco em cada lateral de 13 m e mais 4 na linha
central) e 39 m de “linhas”, que formarão a estrutura superior, onde transversalmente serão colocadas as ripas
ou arames para apoio da cobertura de folhas.
A distância entre ripas ou arames deverá ser de aproximadamente 1,4 m, o que define a necessidade de dez transversais,
equivalente a 60 m. Lateralmente o viveiro deverá ser protegido por palha, organizando-se uma parede para proteção
de ventos e excesso de luz nos canteiros externos. Os canteiros deverão ter seu comprimento na direção paralela ao
eixo maior do viveiro, divididos em duas partes, com uma passagem central de 1,5 m de largura. Entre os canteiros
será mantida uma passagem de 0,6 m, definindo-se três passarelas no sentido do comprimento.
Dessa forma serão organizados oito segmentos de canteiros, cada um com 5,75 m de comprimento e
aproximadamente 1 m de largura. Os dois moirões do interior do viveiro deverão ser fixados na lateral do
canteiro para não comprometer a circulação, por isso não ficarão exatamente centralizados.
A área útil total de encanteiramento será de 48 m2, correspondendo, portanto, à capacidade de acomodação
para 3.480 mudas, provendo-se a produção de 3.072 mudas aptas para o plantio (aproveitamento de 80%).
Os canteiros resultam da arrumação das mudas já envasadas, distribuindo-as em oito fileiras isoladas entre si
por ripas ou sustentadas por arames no sentido do comprimento do canteiro. Assim, nas entrelinhas se garante
algum espaço entre as sacolinhas, que se mantêm juntas nas linhas.
Montando os canteiros
O ideal é que cada canteiro – um espaço delimitado para abrigar os saquinhos com mudas – tenha 1 m de
largura por 10 m de comprimento. Para delimitá-lo, colocar em cada canto uma pequena estaca de madeira
e ligar essas estacas com um barbante ou cordinha, formando um retângulo. Deixar sempre corredores de
aproximadamente 1 m de largura entre os canteiros para facilitar as atividades rotineiras.

10 m
10 m
10 m
1m
m
1m 10

Dica importante – construir os canteiros no sentido leste-oeste garante melhor insolação.


Preparando os saquinhos
Escolher os saquinhos de um ou dois litros (pode-se reaproveitar sacos ou caixas de leite, desde que tenham sido muito
bem lavados para evitar fungos prejudiciais), enchendo-os até quase a borda com substrato. O substrato é a mistura
utilizada para encher as sacolas plásticas. De um total de cinco partes, três serão de terra argilosa retirada da camada
de cerca de 20 cm de profundidade; uma parte de areia média e uma parte de material orgânico. Como matéria
orgânica mais indicada poderão ser utilizados serragem, palha de café ou esterco bovino. O material orgânico deve
estar bem decomposto (curtido) em qualquer dos casos. A cada metro cúbico da mistura deverá se acrescentar 500
g de calcário, 400 g de superfosfato simples, 200 g de cloreto de potássio e 30 g de um complexo de micronutrientes.
A aclimatação deverá se iniciar sessenta dias antes do transporte para o plantio definitivo e se fará em três etapas, a
cada vinte dias, garantindo-se os seguintes percentuais de sombra: 35%, 20% e 0%, ficando as mudas a pleno sol nos

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últimos vinte dias que antecederem o plantio. Também a irrigação deverá ser reduzida ou eliminada em função da
frequência das chuvas nesse período. Com a aclimatação adequada, o estresse da muda no plantio será muito reduzido.
Após o quarto mês de idade deverá se verificar a necessidade de remanejamento na posição das sacolas com o
intuito de evitar o enraizamento das plantas no solo.
Receita para o substrato dos saquinhos
Ingredientes:
60% de terra;
20% de esterco curtido;
20% de areia.
Preparo:
Misturar bem e passar por uma peneira de tela grossa (vãos de 2 cm de diâmetro, aproximadamente) para
eliminar torrões.
Usando estacas em vez de sementes
Para algumas espécies, como amora e pata-de-vaca, é possível usar estacas, isto é, fragmentos de uma planta
adulta, em geral galhos de 20 a 25 cm de comprimento. A coleta dessas estacas pode ser feita com uma tesoura de
poda, usando-se o mesmo procedimento da poda. Verificar com um viveirista que tipo de ramo se transforma
numa boa estaca, pois isso varia de espécie para espécie. Há quem recomende fazer esse procedimento na lua
nova para garantir o enraizamento e a brotação.
O processo de plantio é simples
Colocar uma estaca por saquinho, já com o mesmo substrato indicado na receita acima.
Inicialmente, deixar os saquinhos à meia sombra (cobertos com tela plástica ou na sombra de uma árvore) para
impedir que fiquem sob o sol direto. Nos períodos e nas regiões de muito frio, vale a pena mantê-los numa
estufa.
Após a formação da raiz e da brotação, os saquinhos com mudas podem ser colocados a pleno sol, recebendo os
mesmos cuidados que as outras mudas, até atingirem o porte ideal para a transferência para o local definitivo.
Cuidados com as mudas nos canteiros
Esta é a rotina de trabalho para o adequado desenvolvimento das mudas:

1) irrigar diariamente;
2) trocar os saquinhos de lugar
quando as raízes começarem a
pegar na terra;
3) proteger as mudas do sol
usando tela ou equivalente logo
após a repicagem (até a muda
firmar), ou permanentemente
para determinadas espécies,
como a peroba;
4) trocar de saquinhos quando
estes começarem a rachar.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Está na hora de a muda ir embora


Como saber o ponto certo de transferir a muda para o local definitivo?
Para áreas rurais – as mudas produzidas neste processo estão prontas quando atingem 70 cm de altura.
Para a cidade – as mudas têm de chegar a 1,80 m para adquirir resistência suficiente, especialmente se forem
plantadas em praças públicas ou calçadas.
Os viveiristas ensinam que antes de sair do viveiro as mudas devem ganhar resistência, ficando alguns dias
totalmente expostas ao sol, com menos água.

Aula de Educação Ambiental

Três erros comuns


Plantar a espécie errada para o local, por exemplo, espécie de árvore que fica muito alta sob fiação elétrica,
de raízes muito compridas e que tendem a arrebentar calçadas e tubulações, plantar espécies visitadas por
morcegos, mariposas e pássaros em locais de muita circulação de pessoas e carros, provocando a matança
indevida desses animais, o que é crime ambiental.
Na hora de plantar, não retirar o saquinho: as raízes podem se enovelar e a planta, morrer.
Não buscar orientação correta na hora de plantar.
Embalagem
Os sacos de polietileno preto, nas dimensões de 20 cm x 35 cm e espessura de 0,15 mm, são os indicados. Pode-
se também utilizar caixas de leite e suco, lavando-as bem para evitar contaminação.
Enxertia
A enxertia é uma alternativa para se viabilizar uma cultura mais uniforme, com plantas de alto potencial
genético, reproduzindo o desempenho das matrizes de comprovado valor agronômico. A viabilização de mudas
enxertadas exige acompanhamento técnico para verificação das condições adequadas para o sucesso da prática,
bem como de mão de obra especializada para sua correta execução.

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Transporte
Os cuidados com o transporte deverão ser suficientes para se evitar a quebra do torrão, a queima das folhas pelo
vento e pelo excesso de manuseio das mudas. Preferencialmente deverão ser utilizadas caixas que acomodem
várias mudas e evitem pressão irregular sobre o torrão. O transporte manual nunca deve ser feito pegando-se
as mudas pelo caule, mas sim pelo torrão.

Ciclo lunar
Tudo o que existe passa por transformação. Nada permanece sempre igual. Essa transformação é chamada de
ciclo.
Você já viu que a lua se transforma, não é? Temos a lua cheia, a minguante, a nova e a crescente. Essa mudança
é o ciclo lunar, e os lavradores respeitam esse ciclo para plantar suas sementes.
Todo mundo deveria respeitar os ciclos da natureza. Os monges levam esse assunto muito a sério, eles veem
com respeito o trabalho da natureza, pois essas mudanças ou ciclos são importantes para a saúde do nosso
planeta Terra. Qual é a época certa de semear e de replantar? Seja responsável, pesquise!

Plantas que ajudam a acabar com a poluição


A natureza é perfeita. Além da sua beleza, ela nos fornece alimentos, oxigênio e ainda nos ajuda a resolver um
sério problema criado por nós mesmos – a poluição do ar.
As plantas despoluidoras de ambiente ajudam a tornar menos sujos os ambientes onde existem fumaça de
cigarro, gases e aquele cheiro nada agradável de materiais de limpeza. Essas plantas absorvem as substâncias
tóxicas e as transformam em nutrientes por meio de bactérias que vivem de suas raízes. E o melhor é que elas
podem ser cultivadas em casa em vasos que enfeitam o ambiente. Algumas dessas plantas são conhecidas pelos
nomes de babosa, crisântemo, espada-de-são-jorge, jibóia, clorofito, entre outras.

Algumas plantas são bonitas, mas também perigosas


Em caso de problemas com plantas deve-se imediatamente procurar um médico, e, de preferência, levar a
planta que provocou o problema junto. Eis algumas plantas que podem trazer riscos à saúde:
comigo-ninguém-pode – provoca irritação e inchaço;
mamona – provoca vômito, dor de barriga e diarreia;
alamanda – mesmo sendo uma flor, assim como o bico-de-papagaio, pode provocar irritação nos olhos.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Plantas medicinais são aquelas que podem ser usadas no tratamento ou na prevenção de doenças, mas precisam
ser identificadas por um profissional. O nome científico dessas plantas geralmente é escrito em latim e significa
que a planta é ela mesma – é sua certidão de nascimento.
As plantas também podem ser venenosas, por isso deve-se sempre alertar as crianças para não colocarem
na boca qualquer plantinha. É preciso tomar cuidado, pois muitas delas podem provocar intoxicação. Chá é
gostoso, mas não se pode abusar, quando se toma demais pode fazer mal à saúde.

Colaboração com a preservação do meio ambiente


Estas são algumas das ações que ajudam a natureza:
plantar um jardim;
plantar uma árvore e cuidar dela;
reaproveitar tudo o que pode ser reaproveitado;
selecionar o lixo: garrafas, papéis, latas;
apagar as luzes quando não houver ninguém no local;
usar as folhas de papel dos dois lados ou não imprimir o desnecessário;
usar cascas de legumes e frutas como adubo (é só bater no liquidificador e regar as plantas) ou ainda em
receitas (em bolos, sopas, tortas – procure essas receitas saborosas e nutritivas).

Cuidar com cuidados e atitudes


Erosão
A erosão do solo é um grave problema ambiental, trazendo prejuízo:
1) aos rios – a erosão leva terra e areia para o leito (fundo) do rio, fazendo com que fique mais raso, com menor
capacidade de guardar água, causando a falta de água nos meses de pouca chuva, além da morte dos peixes;
2) ao solo – a erosão leva embora as sementes que poderiam germinar e recompor a vegetação natural, ou seja,
solo desprotegido tende a continuar desprotegido;
3) aos animais – a erosão pode levar embora ninhos de animais que ficam no chão e tampar diversos outros,
matando os filhotes que estão dentro. Além do mais, sem vegetação e frutos para alimentá-los, eles vão embora
ou morrem de fome;
4) aos lençóis freáticos – os solos sem vegetação, por não terem raízes nem minhocas para deixá-los fofos, não
têm uma boa absorção de água. Como não há barreiras para a água, ela vai embora rapidamente, não havendo
tempo para a chuva penetrar no solo. Com isso os lençóis freáticos secam, acabando assim com muitos rios e
consequentemente com nossa água potável.

Por que plantar árvores


Aqui estão alguns dos motivos para plantar não uma, mas várias árvores, e ajudar a natureza: estudos promovidos
pelo INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) mostram que uma árvore com copa de 10 metros
de diâmetro é capaz de bombear para a atmosfera mais de 300 litros de água, em forma de vapor, em um único
dia, ou seja, mais que o dobro da água que um brasileiro usa diariamente! Uma árvore maior, com copa de
20 metros de diâmetro, por exemplo, pode evapotranspirar bem mais de 1.000 litros por dia. Estima-se que
haja 600 bilhões de árvores na Amazônia: imagine então quanta água a floresta toda está bombeando a cada
24 horas! (Fonte: <http://riosvoadores.com.br/o-projeto/fenomeno-dos-rios-voadores/>.). Imagine como as
árvores poderiam ajudar para não ocorrer tantas enchentes, que matam e deixam muitas pessoas desabrigadas.
Junto com toda a água absorvida pelas raízes e transportada através das árvores muitos nutrientes são absorvidos. Estes
são utilizados na fotossíntese para a produção do alimento para toda a planta. Por sua vez, folhas, frutos, madeira e
raízes, vivos ou mortos, servirão de alimento para diversos seres vivos (consumidores e decompositores). Estes animais
processam e defecam o que comem, e este material volta ao solo e todo o ciclo recomeça.
A camada de folhas que se forma abaixo das árvores serve de berço para as sementes e para proteger o solo, do
ressecamento, da compactação e da chuva. Cada pingo de chuva que cai diretamente no solo causa algum tipo de erosão.
A copa das árvores também protege o solo da chuva direta, sem contar que suas raízes seguram firmemente o solo.
A quantidade de água transpirada por uma árvore em umdia produz o efeito refrescante que equivale a cinco

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condicionadores de ar, cada funcionando vinte horas por dia. Esse vapor se mistura às partículas de poluição
do ar, acumulando-se em nuvens e caindo em forma de chuva.
As árvores ajudam também na eliminação de poluentes do ar. Além do mais, esse vapor ajuda a equilibrar o
clima da região. Isso é facilmente percebido em parques e florestas, que possuem um clima mais fresco.
Outro ponto que podemos notar até mesmo em parques no meio de grandes cidades é o silêncio. As árvores
formam uma parede que impede a propagação dos ruídos. Cercas vivas estão sendo muito utilizadas hoje em
dia para criar ambientes mais silenciosos e aconchegantes (além de bonitos).
Em um bosque frondoso, a copa das árvores acumula a maior parte da radiação solar, o que significa que o
chão, permanecendo quase todo o dia na penumbra, é bem mais fresco. Assim se define um microclima.
As metrópoles são outro tipo de microclima – nesse caso porque geralmente estão cobertas por massas de ar
quente situadas a cerca de 120 metros de altura, criadas pela poluição. O resultado são as ilhas de calor. Desse
modo, a temperatura no centro de uma cidade, por exemplo, pode estar 6 graus centígrados acima daquela de
bairros distantes (ou mais arborizados) e da zona rural.
A poluição gerada pelas grandes cidades está desequilibrando a quantidade de oxigênio no mundo. Plantar
mais árvores pode ajudar a reverter essa situação.
Quem não gosta de uma boa fruta? Mas elas não são produzidas em laboratório. Elas chegam à mesa porque as
árvores as produzem.
Com relação especificamente às árvores nativas do Cerrado, são elas que os pássaros nativos procuram para
fazer seus ninhos. Este é um dos motivos pelos quais é necessária a recuperação do bioma Cerrado, por conta
da interdependência.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

CAPÍTULO 9
Síntese das Oficinas
Mery-Lucy V. Souza
“Semeando ideias e valores para preservar o Bioma Cerrado” foi o tema básico das oficinas práticas de educação ambiental
realizadas pela Associação dos Amigos das Florestas no Projeto Semeando o Bioma Cerrado. A metodologia aplicada
foi a ecopedagogia, que trabalha o sentido das coisas, e a arte-pedagogia, para o aprender a fazer fazendo e brincando.

Importância da escolha dessas metodologias


Toda criança é uma criadora em potencial. Criar para ela é tão natural quanto andar e correr, e o objetivo da
arte é justamente liberar o impulso criador que existe dentro de cada uma. Quando a criança pinta, desenha,
experimenta e manipula materiais diferentes que permitem um trabalho livre e criativo não se espera uma
obra de arte, mas sim que essa atividade possa torná-la feliz e contribuir para sua integração socioambiental.
O objetivo não é formar artistas, mas explorar com respeito a capacidade individual da criança. Os trabalhos
artísticos dão às crianças a oportunidade de desenvolverem suas aptidões, o senso artístico e inventivo, o hábito
da observação, a imaginação e a criatividade, favorecendo o aprendizado e a interdisciplinaridade da educação
ambiental com as disciplinas curriculares. Apurando sensibilidades, transferimos conhecimentos sobre o
Bioma Cerrado, despertando sentimento de pertencimento ao ecossistema.

Oficina de música e dança


Saber aliar a prática educativa e a música é fazer da escola um lugar alegre e receptivo. A música na educação
ambiental, além de ser facilitadora do processo ensino-aprendizagem, ajuda também a ampliar o conhecimento
não só musical do aluno, afinal a música é um bem cultural e
seu conhecimento e uso não deve ser privilégio de poucos. A
música está sempre associada à cultura e às tradições de um
povo e de sua época. Segundo Bréscia (2003, p. 25), a música
é “uma linguagem universal, tendo participado da história
da humanidade desde as primeiras civilizações”. Conforme
dados antropológicos, as primeiras músicas foram usadas
em rituais, com o passar do tempo começou a ser utilizada
também em louvadores.
Atualmente existem diversas definições para a música, porém,
de modo geral, ela é considerada ciência e arte. Gaiza (1988,
p. 22) ressalta que “A música e o som, enquanto energia,
estimulam o movimento interno e externo no homem,
impulsionando-o à ação, e promovem nele uma multiplicidade Oficina de contos, cantos e encantos

de condutas de diferentes qualidades e grau”.


Nas oficinas, por meio do movimento corporal, da melodia e do ritmo, crianças e jovens são motivados a
experimentar as emoções certas, identificando os sons e os movimentos da natureza. O objetivo deste trabalho não
é estudar a música e a dança em si, mas apresentá-las como arte abstrata, entretenimento ou lazer, e principalmente
como energia capaz de influir positivamente no caráter do indivíduo. A música é agente transformador tanto da
alma como da sociedade. Mas as oficinas dão “apenas algumas pinceladas” no seu aspecto sociocultural.

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Pintura de rosto, brincadeiras, contação de histórias
Pedagogos e psicopedagogos enfatizam que a fantasia e a imaginação têm
importância fundamental no desenvolvimento da criança. Compreender a
infância é defender que cada criança é única e que possui formas de pensar
e agir diferentes das dos adultos.
Ouvir e contar histórias são atividades lúdicas que, dentre outras, podem
desenvolver o emocional da criança, ajudá-la a se organizar e socializar,
além de auxiliá-la no processo de alfabetização. Assim, os contos de fada,
considerados um instrumento pedagógico prazeroso e de grande ajuda no
processo de construção da aprendizagem da criança, são adaptados para
histórias de formação e degradação do Bioma Cerrado, nas quais a fauna, a
flora e seus povos são os personagens destacados.
As histórias e as pinturas de rosto nas oficinas são fontes de diversão,
direcionando a criança para momentos de atenção dirigida. Histórias
antigas e novas são contadas com outro olhar, de forma que as crianças
sintam prazer em passar alguns momentos adquirindo conhecimento sobre
o Cerrado, que não deve se perder com o tempo. “Um contador de histórias educa, socializa, informa e desperta
a imaginação das crianças na creche.” (COSTA, In: ROSSETTI-FERREIRA, 2001, p. 89).
Constatamos que essas oficinas são recursos valiosos para a formação da cidadania, especialmente por
proporcionarem aos envolvidos a possibilidade de ampliar seus conhecimentos na área, levando-os a refletir
sobre a prática vivenciada e a expressar suas percepções de mundo. O gosto pela leitura deve ser estimulado na
criança desde pequena.
As crianças também adoram se pintar, principalmente se estiverem em um lugar onde a pintura no rosto é
liberada e há quem a faça.
Este livro oferece alguns contos para a contação de histórias sobre o Cerrado. Veja a seguir instrumentos
sugeridos e o DVD ABCCerrado (anexo).

Oficina de trilhas interpretativas


Nesta oficina, a educação ambiental e biológica emerge
como instrumento significativo na tomada de consciência
ambiental, promovendo reflexões sobre as relações entre
o ser humano e o meio ambiente. É necessário buscar
opções que viabilizem tais práticas de conscientização
e sensibilização, sendo uma delas as trilhas temáticas.
A busca e o gosto pela aventura incitam as pessoas a
percorrerem caminhos, os quais possibilitam a interação
com os lugares. Atividades de campo a partir da análise
de seus recursos e da interpretação de suas belezas fazem
das trilhas interpretativas ferramentas interessantes e
úteis no processo de construção da cidadania ecológica.
A interpretação ambiental busca ainda sensibilizar as
pessoas para a compreensão da complexa temática
ambiental e para o envolvimento em ações que promovam hábitos sustentáveis de uso dos recursos naturais.
Considerando que a paisagem como recurso didático viabiliza a interação entre o homem e o meio ambiente,
deduzimos que seu apelo estético nos conduz potencialmente à contemplação, estimulando a sensibilidade e a
reflexão da problemática ambiental, peculiar a este início de século.
Uma grande aliada das trilhas interpretativas é a metodologia desenvolvida pelo arte-educador Paulo Pereira,
a “matomática” ou “matemática do mato”. Por meio dessa metodologia são repassadas em campo noções de
matemática pela contagem dos elementos naturais das plantas do Cerrado, tornando o aprendizado da tão
temida matemática uma divertida brincadeira (ver DVD ABCCerrado).

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Oficina de maquete do Bioma Cerrado


O termo “bioma” (bios = vida; oma = massa ou grupo) corresponde
a uma unidade biológica ou espaço geográfico cujas características
específicas são definidas pelo macroclima, pela fitofisionomia, pelo solo
e pela altitude, entre outros.
Maquete é uma representação em escala de grandes estruturas, ou seja, é
qualquer representação realista, podendo ser funcional ou não, dependendo
do interesse do estudo. As maquetes são geralmente utilizadas em projetos
de planejamento e mostram o visual do contexto da área representada. As
maquetes podem ser feitas com uma grande diversidade de materiais, mas
na oficina da educação ambiental são utilizados apenas papel, lápis de cor
e cola para montar uma miniárea representativa do Bioma Cerrado.
O trabalho é iniciado com um contato simbólico de sons da natureza.
Posteriormente, desenhando, colorindo, recortando e colando, a
fauna e a flora do Cerrado vão ganhando forma, e água, animais e
outros componentes pouco a pouco vão sendo inseridos no trabalho,
respeitando a configuração local e as leis da natureza.
Nessa oficina as crianças criam com desenhos e pinturas os elementos básicos que formam o Cerrado e aprendem
a organizá-los com base em conhecimentos repassados pelo monitor, considerando a cadeia alimentar dos
animais, as necessidades da flora em relação ao solo e os recursos hídricos. O produto final, que é uma pequena
maquete, é levado para a escola.

Oficina de pegadas de animais


Muitos mamíferos vivem sozinhos e escondidos, o que dificulta sua visualização. Além das fezes e do odor
encontrados em regiões próximas, não é costumeira a presença de animais em nossas áreas de atuação, pois
eles fogem. Rugidos ou mesmo o som do andar dos animais podem indicar sua presença, mas principalmente
os mamíferos raramente são vistos. As pegadas são os mais fortes indícios de sua presença.
As aves costumam construir ninhos para se abrigar, geralmente em locais de difícil acesso a seus principais predadores,
mas seu canto pode ser escutado a longas distâncias. A presença de fezes no chão também é característica de sua presença.
Nesta oficina, por meio de moldes, as crianças confeccionam, em argila e gesso, as pegadas de animais do Cerrado ao
mesmo tempo em que recebem informações sobre a importância de cada animal para a manutenção do ecossistema.
Elas aprendem que o animal silvestre não é o doméstico, e que o doméstico já está acostumado a viver perto das
pessoas, como os gatos, os cachorros, as galinhas e os porcos, entre outros. O animal silvestre foi tirado da natureza
e reage à presença do ser humano. Por essa razão, tem dificuldade para crescer e se reproduzir em cativeiro.
O papagaio, a arara, o mico e o jabuti, ao contrário do que muitos pensam, são animais silvestres e, como
tais, protegidos por lei. Capturá-los ou matá-
los é crime, com penas previstas em lei (Lei
dos Crimes Ambientais, Lei no 9.605, de 12 de
fevereiro de 1998).
Todos os seres vivos dependem da natureza
para sobreviver, pois é nela que obtemos
desde alimentos até remédios. Os animais
são parte fundamental da cadeia, ao serem
extintos ou se tornarem raros, comprometem
todo o equilíbrio da natureza. Comunidades
tradicionais utilizam-se de animais da caça para
comer, faz parte de seus hábitos e costumes.
Além dos aspectos ambientais, precisamos
refletir sobre os aspectos sociais arraigados à
cultura dos povos do Cerrado. Sobre os povos
do Cerrado, veja o DVD anexo (capa).

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Oficina de culinária – redescobrindo aromas e sabores do Cerrado
Alimentação saudável vem da natureza, e o Cerrado é rico dela. A culinária sempre foi vista como um dos
distintivos culturais que particularizam o patrimônio coletivo de uma sociedade. Por isso os aromas e os sabores
das antigas cozinhas dos povos do Cerrado precisam ser reintroduzidos como resgate cultural e instrumento
para o reconhecimento do verdadeiro valor desse bioma, também como fonte de alimentos.
A culinária do Cerrado retrata a harmonia entre a simplicidade e os ingredientes naturais desta região,
resultando em receitas, segundo grandes chefes, de inigualável sabor. Dentre muitas que podem ser usadas
em oficinas de educação ambiental estão: galinhada com pequi, molho de pequi, frango ao molho pardo, angu
de milho verde. Também os doces são atrativos para as crianças, que se divertem com sua produção, como
cajuzinhos e geleias variadas. Produtos nativos do Cerrado vêm ganhando cada vez mais espaço na culinária
brasileira: pequi – este fruto sobreviveu na cozinha goiana na galinhada com pequi, mas vem ganhando novos
usos, como em sorvetes, bolos, pães; baru – usado em docinhos variados, vem retomando seu lugar, que foi
ocupado pelo amendoim torrado ou cru; araticum – presente em sucos, picolés; cagaita – usada na queijadinha;
murici e jambu – utilizados em tortas e quiches; jatobá – presente em suflês, doces e salgados.
Para alguns, cozinhar é diversão, para outros é dever, mas para os alunos das oficinas da AAF lidar com a
comida pode significar as duas coisas. As aulas de culinária, que mais parecem um momento de brincadeira,
são, na verdade, uma hora de muita concentração e aprendizagem, pois as crianças absorvem conhecimentos,
desenvolvem habilidades e, principalmente, conhecem o potencial alimentício do Cerrado.
Buscamos modificar hábitos alimentares para que em comunidades socialmente carentes, mas ambientalmente
ricas, o Cerrado seja uma alternativa de combate à fome e de geração de renda por meio da exploração
sustentável dos recursos disponíveis nos quintais.

Conhecendo os aromas e sabores do Cerrado


Termos culinários
Hortaliças, legumes e verduras são termos nutricionais, agrícolas e culinários que se referem a plantas
consumidas pelos seres humanos como alimento. Geralmente não são consideradas hortaliças as frutas, os
frutos secos, as especiarias, os grãos, as batatas e alguns tubérculos, como a mandioca. No entanto, do ponto de
vista nutricional, todos esses produtos, com exceção das frutas doces, podem ser classificados como hortaliças.
O termo legume é também utilizado em botânica para designar um tipo de fruto, também chamado vagem, e as
sementes, como os feijões. Usualmente se incluem na categoria verduras as folhas (alface), os caules (aspargo)
e as raízes de diversas plantas (cenoura). Mas nessa categoria podem ser incluídos também frutos não doces,
como as vagens verdes (por exemplo, do feijão) ou suas sementes (como as das favas), o pepino, os diferentes
tipos de abóboras, tomates, abacates e pimentas.
Por extensão, consideram-se, por vezes, como hortaliças algumas sementes já maduras (secas), como ervilhas
e feijões. A produção familiar das hortaliças é feita nas hortas. A produção comercial das hortaliças é uma
especialização da horticultura chamada olericultura.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Especialidades do Cerrado

Mas fora da horta, bem ali no quintal, estamos redescobrindo


sabores e odores que os antigos habitantes do Cerrado já
usavam como especiarias da culinária tradicional, e por falta
de repasse do conhecimento muito se perdeu no tempo.
Entretanto, graças ao empenho e à união de estudiosos do
bioma Cerrado e da gastronomia brasileira esses produtos,
antes tidos como sem valor nutritivo nem econômico, vêm
ganhando força e voltando à mesa do brasileiro como pratos
simples, mas saborosos, ou em sofisticadas receitas que
frequentam as cozinhas internacionais.
Que tal uma aula de culinária na qual as crianças possam
descobrir os sabores e os odores do Bioma Cerrado e
aprender a valorizar seu potencial econômico para a comunidade, a região, o país e o planeta?
Considerando que nosso organismo precisa dos mais variados nutrientes para que possamos fazer frente às
diferentes necessidades ocorridas nos estágios do nosso desenvolvimento natural, sugerimos:
solicitar pesquisas sobre os alimentos mais saudáveis, descrevendo quais seus principais benefícios para a saúde
e os cuidados nutricionais exigidos durante as várias fases da vida: da gravidez à velhice;
solicitar pesquisa sobre os alimentos nativos do Cerrado e seu valor nutritivo e ou medicinal.

Oficina de viveiro educador


Viveiros são espaços naturalmente agradáveis e, por suas
características, com enorme potencial para a aprendizagem
transversal e interdisciplinar, além da sensibilização.
Por isso, eles são amplamente utilizados nas ações de
educação ambiental. Além do cultivo de mudas de
árvores e hortas, a AAF procura tornar seus viveiros
espaços amplamente integrados com a comunidade,
propiciando oportunidades de aprendizagem,
convivência e articulação.
Nessa oficina, além de se produzirem mudas,
desenvolvem-se também processos que buscam ampliar
as possibilidades de construção de conhecimento que
tragam em seu bojo a reflexão crítica sobre questões
relevantes para a educação ambiental, tais como:
responsabilidade socioambiental, segurança alimentar,
inclusão social, geração de renda, ética, solidariedade,
recuperação de áreas degradadas, entre outras possibilidades.
Primeiramente por meio de maquete e depois em campo, as crianças
e os jovens aprendem que um viveiro florestal não pode ser uma simples fábrica de mudas, produzindo milhares de
mudas que podem ser metodicamente plantadas, sem estabelecer nenhum tipo de reflexão acerca da complexidade
envolvida no plantio de árvores e sua importância no contexto local e global. Todos são levados a refletir sobre a
forma como o ser humano tem se relacionado com a natureza, as causas e os efeitos dos problemas socioambientais,
assim como as possibilidades de enfrentamento. A produção de mudas passa a ter significado mais profundo e
complexo. Conduzido de forma pedagógica e questionadora, o viveiro estimula o surgimento de novas iniciativas
que complementam e fortalecem os processos de educação ambiental desenvolvidos.
Na oficina enfoca-se que, além de desempenhar seu potencial educador, esses espaços têm uma função produtiva.
São espaços organizados para a germinação e a reprodução de espécies vegetais em condições adequadas,
segundo as exigências e as necessidades essenciais e específicas de cada espécie. “Podemos caracterizar um
viveiro florestal como um espaço estruturado, com características próprias, destinado à produção, à proteção e
ao manejo de mudas até que tenham idade e tamanho suficientes para resistir às condições adversas do meio e
terem um crescimento satisfatório quando plantadas em definitivo” (PAIVA, 2000). Mas também pode ser uma
sala de aula onde as diversas disciplinas podem ser trabalhadas.

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Oficina de monotipia – pigmentos do Cerrado
Esta é uma técnica que permite a reprodução de um desenho ou mancha de cor numa prova única, daí o nome
“monotipia”. A monotipia oferece um desenho rápido, desprendido, de gesto livre e expressivo com a linha, o
traço e o uso da cor. A pintura, de modo geral, é uma atividade artística que agrada muito às crianças e aos
jovens Entretanto, todos sabem que as tintas encontradas nas papelarias são compostas por ingredientes pouco
confiáveis. Muitas vezes são utilizados químicos que tanto afetam a saúde dos pequenos quanto os rios após
serem descartados.
Uma alternativa para evitar o uso de tais tinturas é fazer sua própria composição utilizando ingredientes
caseiros, como ensina o site <http://www.ehow.com.br/tinta-natural-com>.
Nesta oficina, o monitor explica o princípio das cores e como é possível produzir tintas com sementes, terra
e espécies da flora do Cerrado. Também trabalha o senso artístico e inventivo, a imaginação e a criatividade,
permitindo à criança desenhar livremente.

Como fazer tintas naturais


O pó de café resulta na cor marrom; do urucum vem a cor laranja; do açafrão, o amarelo. O processo de
produção de tinta artesanal é simples e divertido: basta misturar água e cola branca a um ingrediente natural.
As proporções dependem da quantidade de tinta a ser feita para ser usada de imediato.
Ao preparar a tinta, os alunos aprendem que não existem apenas produtos industrializados. Antes da produção
e da utilização, eles podem pesquisar substâncias corantes – sementes, carvão e terra, entre outras opções
Os estudantes maiores conseguem ir além e aproveitar a atividade para estudar outras disciplinas, como Artes
e História. Podem aprender, por exemplo, que o pintor Alfredo Volpi (1896-1988) preparava as próprias tintas
utilizando a técnica de têmpera (pigmentos dissolvidos na clara de ovo). Ou que os índios produzem tintas para
pintar o próprio corpo em diferentes ocasiões, como em uma comemoração ou na preparação para a guerra.
Tinta de terra
Material: terra, peneira fina, coador de pano, pano velho.
Como fazer: para fazer tinta de terra, é importante ver se ela é barrenta, se tem “liga” ou “pega”. Terra com muita
areia não serve. Serve a tabatinga ou a terra comum, que pode ser encontrada de várias cores.

Pegar uma porção de terra e socar bem. Peneirar em peneira fina várias vezes, misturar água, mexer bem e
coar essa mistura num coador de pano. Jogar fora a areia, colocar dentro de um vidro a água coada. Deixar a
água barrenta descansar por dois dias para que o barro vá para o fundo, separando-se da água, isso se chama
decantar. No segundo dia, jogar a água fora com cuidado para não voltar a misturar. Retirar o barro do vidro,
colocando em um pedaço de pano e levar ao sol para escorrer um pouco. Depois colocar o “barro” em um
recipiente plástico, acrescentar um pouco de água e de cola. Se quiser acentuar a cor, colocar um pouco de óleo
de cozinha.
Tinta de carvão (cor preta ou cinza)
Material: carvão, água, peneira ou pedaço de pano.
Como fazer: socar bastante o carvão. Depois misturar bastante água no pó, peneirar ou coar num pano. Deixar
descansar por duas horas. Jogar fora, com cuidado, a água de cima e colocar um pouco de cola.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Tinta de beterraba (cor grená ou rosa)


Material: beterraba e água.
Como fazer: aproveitar a água em que a beterraba cozinhou. Para a cor da tinta ficar mais forte cozinhar com
menos água. Pode acrescentar qualquer cola para engrossar. No caso de ter beterraba nas sobras da horta que não
prestem para comer, pode fazer a tinta com a própria beterraba batida ou amassada na água e depois peneirada.

Oficina “O luxo do lixo” – reaproveitamento de resíduos sólidos


Lixo é todo e qualquer resíduo proveniente das atividades humanas ou gerado pela natureza em aglomerações
urbanas. Comumente é definido como aquilo que ninguém quer. Porém, precisamos reciclar esse conceito de
lixo, deixando de enxergá-lo como uma coisa suja e inútil em sua totalidade. Grande parte dos materiais que
vão para o lixo pode e deve ser reciclada.
A produção de lixo vem aumentando assustadoramente em todo o planeta. Visando a uma melhoria da qualidade
de vida atual e para que haja condições ambientais favoráveis à vida das futuras gerações, faz-se necessário o
desenvolvimento de uma consciência ambientalista. Além do baixo custo, o artesanato com reciclagem ajuda nosso
sofrido planeta e ameniza os efeitos que o homem moderno tem provocado no próprio chão onde pisa. Criar objetos
com material reciclado é como ter duas aventuras ao mesmo tempo: uma leva a cuidar do planeta, diminuindo
a poluição gerada por plásticos, vidros e outros materiais que podem ser reciclados (virar outra coisa); a segunda
aventura será a capacidade de usar a criatividade e a imaginação para dar uma nova função e forma a esses materiais.
A reciclagem é o termo geralmente utilizado para designar o reaproveitamento de materiais beneficiados como
matéria-prima para um novo produto. Muitos materiais podem ser reciclados, e os exemplos mais comuns são
o papel, o vidro, o metal e o plástico.
As maiores vantagens da reciclagem são a redução da utilização de fontes naturais, muitas vezes não renováveis,
e a diminuição da quantidade de resíduos que necessitam de tratamento final, como aterramento ou incineração.
O conceito de reciclagem serve apenas para os materiais que podem voltar ao estado original e ser transformados
novamente em um produto igual em todas as suas características; é diferente do de reutilização. O reaproveitamento
ou reutilização consiste em transformar um determinado material já beneficiado em outro. O despertar dessa
consciência é o aspecto trabalhado nas oficinas de reciclagem, onde as crianças aprendem não só a reutilizar e a
reciclar materiais descartados, mas, principalmente, a repensar sua verdadeira necessidade de consumo.

Pintura de painéis do Cerrado


A pintura refere-se genericamente à técnica de aplicar pigmento em forma líquida a uma superfície a fim
de colori-la, atribuindo-lhe matizes, tons e texturas. Em um sentido mais específico, é a arte de pintar uma
superfície, tais como papel, tela ou parede. A pintura é considerada por muitos um dos suportes artísticos
tradicionais mais importantes. Mas nas oficinas do projeto esse conceito de pintura vem sendo ampliado para
a representação visual do Bioma Cerrado por meio das cores de sentimentos e emoções. É este o enfoque dado
nas oficinas de produção de painéis do Cerrado – as crianças materializam em tecidos imagens da natureza
local, inserindo animais nunca vistos de perto e aprendendo a importância de cada ser existente no ecossistema.
Quais os argumentos da educadora para explicar como as crianças pequenas produzem pinturas?
As crianças são levadas a pesquisar sobre a fauna, investigam sobre como é esse lugar. Inicialmente começam
o trabalho usando todas as cores, mas depois passam a se interrogar sobre que cores são necessárias.
Comprometem-se com seu próprio processo na pintura a partir da experimentação. A pintura acontece em
função de um projeto pessoal, de uma pesquisa e de um processo de construção que precisa ser compreendido
também pelo professor com um olhar diferenciado para as imagens que surgem na pintura das crianças e jovens
que retratam seu olhar para o mundo.

129
Passarinhos do Cerrado – argila e origames
Muitos animais são dispersores de
sementes, mas os pássaros foram os
escolhidos para representar a relação
ecológica entre seres vivos de espécies
diferentes nas oficinas de educação
ambiental do Projeto Semeando o Bioma
Cerrado.
Com criatividade, as crianças utilizam
a argila e ou dobraduras de papel para
moldar as aves representativas desse
ecossistema. Tucanos, corujas, joões-
de-barro e muitas outras aves ganham
vida nas mãos das crianças, enquanto
são repassadas importantes informações
sobre os maiores semeadores do planeta,
que viajam e trabalham muito para
sobreviver na natureza, ameaçados pela
Conhecendo as aves como semeadores degradação e pelo tráfico de animais.
A arte milenar japonesa de fazer dobraduras em papel encanta pessoas no mundo todo. Utilizando um pequeno
número de dobraduras de formas variadas é possível fazer desde imagens simples a desenhos complexos. Os
monitores dessa oficina transformaram um pedaço de papel em aves do Cerrado, com incríveis detalhes. Para
as crianças, trabalhar com origami é muito produtivo e divertido, pois a arte pode ajudar aos pequenos a
ter concentração e coordenação motora. Como o origami possui diferentes níveis de dificuldades, é possível
investir em desenhos e formas perfeitas para o público infantil.
Esse tipo de atividade é ideal para ser realizado em qualquer lugar, seja na escola, como um método educativo,
seja em casa, com pais e amigos. As crianças envolvem-se muito com as dobraduras de papel, principalmente se
tiverem exemplos prontos para que possam visualizar como ficará o resultado final. Antecipadamente se deve
estabelecer um passo a passo do animal que se deseja fazer com as dobraduras, ou com a argila
Dar forma à argila propicia também uma experiência riquíssima para as crianças. Por ser um material maleável, a
argila permite a exploração tátil para a estruturação de formas, sendo um excelente meio de estimular a criatividade.
A modelagem favorece o jogo simbólico, pois as crianças dão significados às formas que elaboram e as modificam
à medida que trabalham com a argila. Dessa maneira, permite-se que os pequenos tenham um maior contato
com os sentidos, principalmente o tato e a visão, liberem seus movimentos e desenvolvam a percepção e a
psicomotricidade, fatores importantes na sua formação. Ao trabalhar com a argila, vale bater, enrolar, furar,
torcer, beliscar, amassar, puxar ou alisar com os dedos molhados. Após a modelagem, cabe ainda o trabalho
com diferentes tipos de tintas, desde as naturais, como guache, até tinta acrílica ou tinta PVA para artesanato,
por exemplo, e a exploração das cores e suas misturas.

Fontes de energia: use corretamente o que a natureza oferece


A primeira fonte de energia a ser usada pelo ser humano foi o sol e seu próprio corpo. Com o tempo, passou-
se a usar a energia do vento, da água e dos músculos dos animais domesticados. Na Revolução Industrial,
o uso do carvão mineral como fonte de energia deu um grande impulso à indústria e aos transportes. Isso
propiciou o funcionamento dos motores a vapor instalados nas máquinas fabris, nas locomotivas e nos
navios.
A busca de novas fontes de energia, mais eficientes e economicamente rentáveis, continuou. No século XIX,
o petróleo, que já era conhecido desde a pré-história, começou a ser usado na indústria para a produção de
gasolina e de outros derivados. No século XX foi a vez do aproveitamento da energia nuclear, contida nos
átomos do núcleo. É impossível imaginar o mundo moderno sem o aproveitamento das fontes de energia. No
entanto, elas não geram apenas riqueza. A queima do petróleo e do carvão, por exemplo, provoca sérios danos
ao meio ambiente, como o aumento do efeito estufa, responsável pela elevação da temperatura média da Terra.
As centrais hidrelétricas geram, como todo empreendimento energético, alguns tipos de impactos ambientais,
como alagamento das áreas vizinhas e aumento do nível dos rios. Algumas vezes o curso do rio represado pode
ser modificado, podendo, ou não, prejudicar a fauna e a flora da região. Até há bem pouco tempo se pensava que

130
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

só as grandes hidrelétricas impactavam o ambiente e as populações ribeirinhas do entorno dos reservatórios


construídos. Hoje se sabe que o efeito sinérgico da construção de várias pequenas centrais elétricas em uma
bacia hidrográfica é também devastador.
Todavia, este ainda é um tipo de energia mais barata do que outras, como a energia nuclear, e menos agressiva
ambientalmente do que o petróleo ou o carvão, por exemplo. E a energia hidráulica é a maior fonte de energia
que temos hoje. Por isso, promover o uso correto da energia disponível passou a ser um desafio da educação
ambiental. Nesta oficina isso é feito demonstrando-se em maquete o consumo diário de uma residência e as
formas de racionalizar esse consumo.

Oficina de jogos e brincadeiras – aprenda com a natureza


A introdução do lúdico nas atividades educativas é uma maneira muito eficaz de entrar no universo infantil
para imprimir-lhe o universo adulto, apresentando-lhe nossos conhecimentos, ideias, valores e, principalmente,
a forma de interagirmos.
A atividade lúdica é muito importante para o desenvolvimento sensório motor e cognitivo e é uma maneira
inconsciente de se aprender, de forma prazerosa e eficaz, a transversalidade disciplinar e a complicada rede da
vida.
Jogos cooperativos utilizados nas oficinas são empregados como dinâmicas de grupo com o objetivo de
despertar a consciência de cooperação e promover efetivamente a ajuda entre as pessoas, tomando sempre por
base o exemplo da natureza.
No jogo cooperativo, aprende-se a considerar o outro que joga como um parceiro, e não como adversário,
ensinando a pessoa a se colocar no lugar do outro, e não priorizar apenas o seu lado. Incentiva a união das
pessoas e reforça a confiança em si mesmo e nos outros. O ganhar ou perder não é o que realmente importa, e
sim o processo como um todo. Essas oficinas resultam na vontade da criança em continuar jogando e aceitando
todos como são verdadeiramente. Ajudam as pessoas a se libertar da competição, seu objetivo maior é a
participação de todos por uma meta em comum, sem agressão física, e cada um no seu próprio ritmo.
Os jogos cooperativos ajudam as pessoas a aprender a trabalhar em grupos, desde crianças até adultos. O que
mais importa é a colaboração de cada indivíduo do grupo e o que cada um tem para oferecer no momento da
atividade.
Nesta oficina é reforçada a noção de grupo, porque uma determinada tarefa é cumprida de forma mais eficaz
com a ajuda dos vários elementos da equipe.

Bincando para observar a força da união na natureza

131
Oficina ecoesporte – jogando com a natureza
A promoção de um trabalho educativo com compromissos firmados para a formação do cidadão ecológico e
com as grandes questões envolvendo a paz, o meio ambiente e a inclusão social não poderia deixar de inserir
a atividade física como forma de fortalecer a relação harmoniosa do homem com a natureza. Integrando os
movimentos da fauna e da flora em ações de educação física realizadas em ambientes naturais, as crianças
aprendem o verdadeiro sentido da vida. O movimentar-se com a observação da natureza traz a compreensão
do porquê das regras impostas, a necessária disciplina e o papel de cada elemento, inclusive o humano, na
complexa rede planetária.
O esporte, aliado à educação, é uma poderosa ferramenta da proteção social e resgate de crianças e jovens
em situação de risco, pois, mesmo fora da escola, eles podem se manter ocupados com atividades prazerosas,
diminuindo o ócio e evitando o risco de estar nas ruas, convivendo e aprendendo “o que não devem”.
Entretanto, é preciso entender o esporte, acima de tudo, como um instrumento pedagógico capaz de agregar valor
à educação, ao desenvolvimento das individualidades, à formação pessoal para a cidadania, à orientação para a
prática social e naturalmente ao respeito à natureza. Como todo processo educativo, se utilizado corretamente de
forma transversal e com a interdisciplinaridade, as oficinas de ecoesporte contribuem para a formação do cidadão
ecológico, para participar da vida política, econômica e social das cidades, estados e do país. Precisamos entender
que o papel decisivo do esporte perante a educação é a busca por princípios e valores sociais, morais e éticos.

No Ecoesporte se aprende movimentos e equilíbrios com a natureza

Brincando e aprendendo – contos, cantos e encantos do Cerrado


*Ana Patrícia Oliveira Ramos Siqueira

Como é nosso bioma?


Há quem veja a educação como um processo que ocorre apenas na escola. Mas também se pode entender por
aprendizagem a maneira como cada um vive no dia a dia, um jeito de olhar para o mundo com atenção ao
novo, ao diferente, ou mesmo de se espantar com o que sempre esteve aí, como o brilho dos dias, o canto dos
pássaros, a brincadeira das crianças, a contação de histórias, as adaptações de antigas cantigas de roda.
Aprender pode ser coisa de uma alegria sem comparação – “A educação nos leva para mundos novos e nos faz
experimentar sentimentos que desconhecíamos. A educação torna as pessoas mais ricas internamente”. Re-
percutindo (no amplo sentido) o pensamento de Rubem Alves, elas enchem o ambiente de beleza e embalam
a alma da gente. Na educação ambiental não é diferente, desde cedo as crianças precisam começar a receber
corretamente informações acerca do Bioma Cerrado, pois a primeira ideia que têm é de que esse ecossistema

132
Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

é um espaço seco e sem vida. O grande desafio a vencer na educação ambiental é o desconhecimento dos ele-
mentos que compõem esse rico bioma. Se perguntarmos a um aluno se ele é capaz de criar uma história com
ilustrações sobre elefantes, leões e girafas certamente ouviremos uma resposta afirmativa. A quantidade de in-
formações, imagens e canções sobre tais bichos é incontável. Entretanto, o mesmo não acontecerá se no lugar
do elefante apresentarmos a anta, ou o lobo-guará, ou o tamanduá, pois literatura e instrumentos pedagógicos
com essa informação ainda são escassos.
Educação ambiental – educação. Essa palavra, acompanhada de pequenas novidades, poderá fazer uma
grande diferença na compreensão do mundo. Os poderosos frutos do Cerrado começam a ser mais bem
difundidos, inclusive destacados na mídia especializada como iguarias utilizadas em requintada gastronomia.
Ganham importância e começam a ser mais bem protegidos. Entretanto, os animais do Cerrado, apesar da
triste realidade do tráfico, continuam desconhecidos para as crianças.
Chegou a hora de apresentarmos às nossas crianças os bichos do Cerrado, com sua singularidade e beleza.
Para sensibilizar crianças com esse conhecimento, Ana Patrícia Siqueira buscou inspiração na sua própria in-
fância, resgatando cantos, contos e encantos que, adaptados e utilizados com a metodologia da ecopedagogia,
encantaram as crianças participantes do projeto. Encante-se também com novas descobertas.

Conto 1

A ema emo

Êta cerradão de meu Deus! Era só o que eu conseguia piar.


Também, com tanta beleza ao meu redor! Construí o meu ninho
no murundu da canela-de-ema. O murundu mais parece uma
ilha tendo em sua volta um suave capim amarelo, fino e rasteiro.
Gosto de observar quando humildemente se curvam quando a
suave brisa do entardecer do Cerrado passa sobre seus fiapos e ele,
numa atitude reverente e agradecida, deixa cair sementes que serão
levadas para outros campos e assim darão continuidade ao ciclo
de reprodução que perpetuará a espécie. A boa semente que nos é
ofertada diariamente pela natureza.
O Cerrado anda muito perigoso. As estradas complicaram a nossa
vida. Quando meu avô Emualdo chegou por aqui, falar em campo
sujo representava apenas a ideia de poucas árvores quebrando a
imensidão dos campos. Hoje? Campo sujo representa literalmente
sujeira quase eterna. Garrafa pet, sacolinhas plásticas e latas de
cerveja.
Esse lixo é jogado nas estradas diariamente. O pior e mais perigoso
são as sobras do cigarro. São sutilmente lançadas pelas janelas dos
Ana Patrícia Oliveira Ramos Siqueira
carros. De forma também sutil, a pequena brasa passa para um
fiapo de capim. Não é sutil a forma como o fogo se espalha e devora tudo o que há pelo caminho. Ainda bem
que as árvores daqui, já acostumadas com o clima quente e grandes períodos de estiagem, formam uma casca
muito grossa que protege o tronco. Após uma queimada, avistamos uma terra cinza, caules pretos e fumaça,
mas, como uma fênix que ressurge das cinzas, basta uma chuva para que tudo se vista de verde novamente, pois
o meu Cerrado é bravo, teimoso, lutador.
Na estiagem passada tudo aconteceu. Eu passeava pelo campo, não era bem um campo. Toda a vegetação
natural havia sido arrancada para dar lugar a uma grande plantação de soja. Estava por ali, comendo sementes
maduras quando uma pena de minha plumagem perto da asa ficou presa ao arame farpado. Foi bem na hora
que eu atravessava aquela cerca quebrada, perto do jatobazeiro, era a minha entrada secreta. Quando me vi
enganchado danei a gritar, e logo duas emas de mim se aproximaram e com leves bicadas puxaram a minha asa.
– Acalme-se rapaz. Abaixe a cabeça para facilitar!
Quem deu a ordem foi Jurema, a gata! Apaixonei-me. Sua irmã, Flor, ficou apenas assistindo e logo mostrou o
quanto era brava:
– Você não sabe que nossas asas são grandes demais! Tenha mais cuidado da próxima vez!

133
– Terei mais cuidado senhora. Muitíssimo obrigado pela atenção – respondi envergonhado.
As meninas partiram, mas eu percebi quando Jurema olhou para trás. Tive vontade de sorrir. Tentei acenar, mas
a minha asa doeu demais. Fiz uma cara muito feia, quase entortei o meu bico, e quem sorriu foi ela.
No dia seguinte parti para o campo de soja novamente. Dessa vez tive bastante cuidado e estava com uma pena
pendurada. Logo avistei as damas. Ao me aproximar, a pequena Cris, filha da Flor, me perguntou:
– Por que você não arranca essa pena e a joga no lixo?
– Menina, isso dói pra caramba! Ainda está presa à pele.
– Bom-dia!
Foi a linda Jurema quem quebrou o gelo.
– Bom-dia senhorita! – respondi como um perfeito cavalheiro.
Floema queria ensinar sua cria a delícia que é correr com as asas abertas contra o vento. Quando eu passava,
sempre mangavam de minha pena torta. A malvada caía sobre a minha coxa. As emas falavam pra eu arrancá-
la, mas cadê a coragem? Sabe quando a parte colante do bandaid gruda na ferida? É assim a dor. Meu amigo, já
tentei. Qual o problema?
No verão passado, resolvi dar umas voltas. Eu estava ainda tentando conquistar o coração da Jurema.
Era amarradão na gata. Convidei as amigas para um passeio na chapada e ali estavam acampados alguns garotos.
Quando perceberam a nossa presença, um deles perguntou: “Qual é o masculino de ema?” Imediatamente
obteve a resposta: emo. Não deu outra, me dei mal. Jurema e a irmã começaram a me chamar de ema emo.
Riram até não poder mais.
Os garotos resolveram fazer uma fogueirinha. Foi aí que tudo começou. Foi aí que tudo acabou. Eles desarmaram
a barraca e partiram com as fotos do entardecer vermelho produzido pelo ferro incandescente da poeira do
Cerrado e nós ficamos com o fogo que queima muito mais que aquele sol distante e que, atiçado pelo vento,
passou pelo capim seco e tomou conta do meu espaço, do meu cerrado. Corremos sem rumo e sem ar. As chamas
eram altas. Certa hora, o desespero não permitiu que Flor avistasse o arame farpado. Ela ficou enganchada no
arame e o fogo a alcançou. Não podíamos parar. Empurrei a cria pra o outro lado da cerca e continuamos a
correr. O campo nos salvou. O fogo já havia passado por ali e sugado todo o capim.
Abracei Jurema, que tremia de medo e tristeza. Uma leve neblina tentou nos acalmar.
Fiquei com Jurema. Fico aqui vigiando cada passeio e corrida. O meu lema é: aonde há acampamento, há fogo.
É bom ficar bem longe. Uma linda flor lilás apareceu nos campos negros de carvão. O caule se parecia com a
canela da Flor. Nosso ninho é adornado pelas flores da canela-de-ema. E, pra variar, na minha espécie, e eu sou
uma ema macho, nós chocamos os ovos e cuidamos dos filhotes.
É assim que o Cerrado se renova. Opa! Jurema! O ovo está quebrando, corra, corra pelos campos verdes. Uma
nova vida está chegando. Corra pra perto de mim, seu emo. O esquisitão que te faz sorrir. O Cerrado está se
renovando mais uma vez. Correremos pelos campos com as asas abertas contra o vento no entardecer vermelho
do Cerrado.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Terra
O planeta Terra já está com sua estrutura comprometida. Hoje é o dia perfeito para iniciar essa nova forma
de pensar o nosso bioma. Prepare um clima especial para sensibilizar a razão e estimular o interesse pela
vida. Separe uma trilha sonora que lembre a natureza e faça a leitura do texto “O planeta sonho”. Pergunte às
crianças: como vocês imaginam o planeta dos seus sonhos? O que existe nele? Como é a natureza? Como as
pessoas cuidam desse planeta? Podemos fazer o mesmo pelo nosso planeta?

Conto 2

O planeta sonho
Tudo era escuridão. A grande Luz pairava pelo universo infinito,
porém não o iluminava por inteiro. Foi aí que uma lágrima apareceu
na face da grande Luz. Nada podia ver. Na sua consciência, infinitas
formas surgiam e logo desapareciam como se fossem as formas
produzidas pelas nuvens que são empurradas pelo vento: eram
formas de luz. Aquelas formas desconhecidas eram como se fossem
crianças querendo nascer, mas ainda estavam presas naquele útero
de luz, eternamente guardadas e protegidas em uma redoma de
energia que duraria a eternidade se não fosse o desejo de perceber
de fato aquelas imagens, aqueles sonhos de vida.
A grande e eterna Luz, dando forças ao seu desejo, começou a
resplandecer de uma maneira diferente. Encheu-se de força e
amor e brilhou, mas brilhou tanto que explodiu em centenas de
milhares de raios, que voaram pelo espaço infinito por muitos
anos. Após perderem a velocidade, pairaram no infinito. Os raios
que se desprenderam da consciência permaneceram iluminados
e formaram as grandes estrelas. Os pequenos raios que se
desprenderam do desejo de ver a vida acontecer se transformaram
em esferas, que escolheram viver próximo às estrelas. A grande Luz
não estava mais só. Agora podia ver espetáculos de explosões de
Ana Patrícia Oliveira Ramos Siqueira
luzes e cores de todos os tons.
A grande Luz preparou-se então para ver aquelas formas que voavam em sua mente antes de se espalharem
pelo Multiverso, aquele espaço eterno e infinito, mas nada podia ver. As esferas dependiam das estrelas. Luz e
movimento. Foi nesse dia que, pela primeira vez na eternidade, a Luz chorou. A lágrima que correu em sua face
iluminada caiu em uma esfera que girava em torno da estrela que conhecemos como Sol. Ela envolveu aquele
planeta com formas tão irregulares e ali se instalou para sempre.
Mesmo diante do Sol, a lágrima da Luz não se evaporou. Impregnou-se no planeta Terra como se fosse um
ímã. A terra molhada pela lágrima da Luz, água salgada de tom azul que conhecemos como oceano, liberou um
vapor formando assim a atmosfera. A Luz parou para assistir àquela cena e gostou muito. Sorriu e pensou que
ali seria possível surgir a vida com que estava sonhando desde a eternidade.
Compadecido, um raio se desprendeu de suas mãos eternas e, como se fosse semente lançada, instalou-se na
Terra. Logo suas raízes se estenderam pelo oceano salgado e começou a crescer uma grande árvore – a árvore
da vida. Cresceu e ficou do tamanho do planeta em altura. A Luz sorriu.
A árvore era verde de vários tons. A visão da árvore da vida era tão fantástica que milhares de raios da Luz que ainda não
tinham se transformado em planetas ou estrelas, por serem muito pequenos, começaram a pousar ali como se fossem
pássaros que passaram quase uma eternidade voando e finalmente encontram repouso em um ninho aconchegante.
Com o passar dos séculos, a árvore da vida guardava em seus galhos, ramos, folhas e raízes milhares de pequenas
luzes como se fossem pisca-piscas de árvore de natal. Algo ruim estava acontecendo. Com tantas luzes lhe
aquecendo, a árvore começou a secar. Logo tombou sobre o planeta e seus galhos se esparramaram por todos os
lados. A grande Luz, que não se cansava de sonhar, soprou sobre a árvore, e a umidade do seu hálito começou
a umedecer os galhos de tal forma que se transformaram em uma água doce, como doce deve ser a vida. Por
todo o planeta Terra, águas doces e cristalinas começaram a correr. Das sementes da árvore da vida surgiram
milhares de outras espécies que bebiam a doce água da árvore.

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Quando as pequenas luzes experimentaram aquele sabor diferente, viram imagens refletidas nas águas, e
enquanto saciavam a sede provocada pelo calor da luz ganhavam formas fantásticas. Foi assim que apareceram
todos os animais da Terra. Os grupos se espalharam pelo planeta. Em cada lugar onde nasciam se adaptavam às
condições que lhe eram oferecidas. Por muitos séculos a grande Luz observou e sorriu, pois finalmente podia
ver aqueles seres tão perfeitos. Enquanto alguns se assemelhavam às pedras em movimento, parecidos com os
elefantes, outros, o camaleão e a cobra, misturavam-se ao verde da vegetação.
Os oceanos também ficaram cheios de vida. Milhares de peixes povoaram as águas.
Tudo estava perfeito, mas a grande e eterna Luz gostava de sonhar. Queria um ser especial que fosse capaz de
interagir com o planeta, com todos aqueles seres que se formaram. Por ser infinita e eterna, só podia observá-
los a distância. Pensou em formar um ser que pudesse sonhar e viver entre toda aquela criação. Do pó da terra
criou o homem. Tinha a mesma matéria da terra, mas recebera em sua mente o sopro da vida que era capaz de
sonhar.
As criações e as construções se iniciam em um sonho. O primeiro sonho do homem foi o domínio absoluto.
Tudo deveria estar debaixo dos seus pés. Seus sonhos sempre eram erguidos na destruição do espaço que era
ocupado por todos. O que demorou eras para ser edificado em pouquíssimo tempo estava se acabando. Os
animais, subjugados, extinguem-se a cada dia. A vegetação sonha com o tempo em que era a vida do planeta.
Ele, o único ser capaz de sonhar, ficou deslumbrado com sua capacidade superior e não percebe que está
destruindo o planeta que nasceu de um sonho de vida.
Tudo era escuridão... Uma luz infinita vaga pelo espaço sonhando com uma nova criação, porque o primeiro
céu e a primeira terra foram destruídos pelo sonho egoísta da humanidade.

Ana Patrícia Oliveira Ramos Siqueira

Assim como podemos inventar muitas histórias sobre os bichos do Cerrado, fazer canções é mais divertido
ainda. Podemos fazer uso das melodias que pertencem ao folclore brasileiro e criar novas letras! Para começar,
cante com os alunos as musiquinhas da ema, do tatu e da capivara. Esses animais são encontrados facilmente
no Cerrado e não correm risco de extinção. Observar imagens e reproduzi-las livremente é uma poderosa
ferramenta para fixar novos conhecimentos. Abuse desse recurso pedagógico com as crianças, incentivando-as
a desenhar nossos bichos.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Cantos
Letras adaptadas por Ana Patrícia às antigas músicas do folclore brasileiro

a) Ema (música de “Escravos de Jó”)


Vive pelos campos
sempre a passear
Ema, eminha
Quero lhe ajudar
O Cerrado, sua casa
Prometo, vou preservar!
Ema é bem faceira, e muito arredia
Corre, foge
Não quer minha companhia
O Cerrado, sua casa
Prometo, vou preservar!
O macho choca os ovos
Sem nunca reclamar
Choca, cria
Da ninhada cuidará
O Cerrado, sua casa
Prometo, vou preservar!

b)Tatu-galinha (música de “Pai Francisco entrou na roda”)


Seu tatu entrou na toca
Queria se esconder, se esconder!
Vem de lá uma onça parda
Caçar o tatu para comer
Como ele entrou todo apressado
Parecia um ratinho bem assustado!
Seu tatu tem casco duro
Nove cintas usará, usará
Chamam de tatu-galinha
Sua pegada denunciará
Como ele entrou todo apressado
Parecia um ratinho bem assustado!
Tem unhas bem afiadas
Sua toca cavará, sim cavará
Mas outro animal folgado
A sua toca quer ocupar
Como ele entrou todo apressado
Parecia um ratinho bem assustado!
Ana Patrícia Siqueira

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Capítulo 10
Textos de Apoio Ao Professor
No mundo ocidental, um dos grandes desafios é adaptar a educação às novas tecnologias, mas na educação
ambiental, centradas no Bioma Cerrado, temos constatado que a maior dificuldade é o pouco conhecimento
sobre o assunto, pois o Cerrado é ainda um bioma em estudo. Durante muito tempo foi visto e ensinado como
um bioma feio, pobre e ainda não reconhecido pela Constituição Federal como patrimônio natural. Mas hoje já
se sabe que o Cerrado é um berço de vida que se estende do norte ao sul do país.
De acordo com o Ministério do Meio Ambiente, “o Cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul”, e a
Rede do Cerrado tem afirmado
[...] que não há apenas vida animal em jogo quando o assunto é sua preservação, mas também
a preservação de uma rede aquífera que alimenta todo o país, mantida limpa na medida
do possível pelas raízes da vegetação que ainda resta. Isso porque o Cerrado e a Caatinga,
diferentemente de florestas fechadas por copas de árvores, são mais profundos sob o solo
do que acima dele .Por isso se diz que o Cerrado é uma floresta invertida. É, inclusive, pela
longevidade das raízes que o tipo de bioma é tão resistente e suporta temperaturas extremas,
ao mesmo tempo mantendo o solo firme e reciclando a água através da filtragem vegetal. O
conjunto de fatores, portanto, engloba uma gama de bens naturais que devem ser – no mínimo
– preservados (<http://www.redecerrado.org.br/index.php/sala-de-imprensa/noticias>).

Conservação dos recursos naturais


Marina de Fátima Vilela (Agência de Informação Embrapa)

A cada ano, milhares de plantas e animais desaparecem da Terra, e com eles desaparecem as oportunidades de fornecimento
de benefícios à humanidade, o auxílio à manutenção do planeta e a possibilidade de serem reconhecidos pela ciência.
A conservação e a manutenção das áreas nativas possibilitam que os serviços ambientais prestados pela natureza,
como a ciclagem de nutrientes, a proteção das bacias hidrográficas, o sequestro de carbono, a disponibilidade e
a qualidade da água, dentre outros, continuem ocorrendo. Diante dos benefícios e dos serviços prestados pela
natureza, a preservação da diversidade biológica de um país, de uma região, é um investimento necessário para
a manutenção de opções futuras, além de contribuir para a evolução do conhecimento científico, econômico e social.
No Cerrado, por exemplo, existem mais de 10 mil espécies de plantas, 199 espécies de mamíferos, 837 espécies de
aves, 180 espécies de répteis, 150 espécies de anfíbios, 1.200 espécies de peixes e 67 mil espécies de invertebrados.
Muitas espécies que ocorrem no Bioma Cerrado são endêmicas, ou seja, só estão presentes nesta região.
Devido ao rápido e desordenado processo de ocupação e também devido aos sistemas de produção implantados, o
Bioma Cerrado é, atualmente, um grande conjunto de interações, interesses, conflitos, desafios e possibilidades, onde
variedades selvagens de cultivares são perdidas e pelo menos 137 espécies animais estão ameaçadas de extinção.
As transformações ocorridas no Bioma Cerrado e as ameaças constantes à biodiversidade têm deflagrado o
surgimento de iniciativas de conservação pelo governo e por organizações não governamentais (ONGs).
Algumas ações, como, por exemplo, a proibição do funcionamento de carvoarias que utilizam matéria-prima
originada de desmatamento irregular, a criação de reservas particulares do patrimônio natural, a proposta de criação
do ICMS Ecológico, o mapeamento dos remanescentes do bioma, permitindo maior eficácia no planejamento de
ações para a conservação, dentre outros, são implementadas na tentativa de conservar a biodiversidade do Cerrado.
No entanto, as poucas unidades de conservação existentes, as quais correspondem a aproximadamente 2,5%
dos quase 204.000.000 de hectares do Bioma Cerrado, apresentam problemas ora relacionados à manutenção, à
falta de equipamentos e de pessoal, ora relacionados às questões de desapropriação e/ou legalização das terras.
A fragmentação da vegetação e o isolamento das UCs impedem a movimentação das espécies e o fluxo genético.
Assim, há a necessidade de implantação e de manutenção de corredores ecológicos interligando as UCs e
demais áreas naturais remanescentes, possibilitando, além do fluxo genético e a movimentação das espécies, a
dispersão de espécies e a recolonização das áreas degradadas.
Por fim, recomenda-se que a elaboração de políticas públicas, sobretudo aquelas voltadas para a conservação
e para a agricultura, considere o conhecimento existente em relação às espécies, aos serviços ambientais e ao
funcionamento dos ecossistemas.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Ecologia e o Bioma Cerrado


O dicionário Michaelis define ecologia como “a parte da biologia que estuda as relações dos organismos com o ambiente,
isto é, com o solo, o clima e os outros organismos que povoam determinada zona da Terra”.
Definir ecologia como o estudo das relações dos seres vivos entre si e com o ambiente seria pouco para
caracterizar a importância e a abrangência do que é a ecologia hoje, definida por alguns como a força motriz de
uma mudança radical na atitude do ser humano civilizado perante a natureza.
O ambiente onde ocorrem as complexas relações mútuas e a transferência de energia entre os seres vivos e o meio é
definido como ecossistema. Mas onde começa e termina um ecossistema? Qual ou quais seus limites? Para uma melhor
compreensão e para a possibilidade para investigações científicas os ecossistemas podem ser separados em ecossistema
aquático (lagos, rios, mares e oceanos) e ecossistema terrestre (florestas, desertos, mangues, pastagens, dentre outros).
As dimensões de um ecossistema, determinadas para efeito de estudo, geralmente não ocorrem naturalmente.
Dessa forma, um vaso ou uma cidade podem ser exemplos de ecossistemas, mesmo criados pela ação humana. Assim, fica
claro que um ecossistema pode ter desde alguns cm2 até milhares de km2.
Nesse contexto, interessa-nos as relações e a transferência de energia entre os seres vivos e o Bioma Cerrado.
Entretanto, é importante observar que os biomas não são ambientes fechados, uma vez que há fluxo de energia e
matéria entre eles, adjacentes ou não. Como exemplo do fluxo de energia e matéria tem-se a entrada de fertilizantes,
defensivos e combustíveis no sistema e a exportação de grãos, carne e combustível, dentre tantos outros.

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Principais biomas do Brasil
Atualmente há vários sistemas de classificação para grandes áreas de vegetação existentes no país. No entanto,
geralmente são reconhecidos seis grandes biomas: Cerrado, Campos Sulinos, Floresta Atlântica e de Araucária,
Caatinga, Floresta Amazônica e Pantanal.
Em cada bioma há um tipo de vegetação (fitofisionomia) predominante que ocupa a maior parte da área
e que é determinada em primeiro lugar pelo clima. Outros tipos de vegetação também são encontrados, e
sua ocorrência está associada a eventos temporais (tempos geológico e ecológico) e a variações locais, como
aspectos físicos e químicos do solo, paisagem, relevo e topografia.

Mapa demonstrativo dos biomas brasileiros

Mapa demonstrativo dos tipos de vegetação do Bioma Cerrado Restrito


Cerrado Sentido Amplo
Cerrado Sentido Restrito

Formações Formações Formações Formações


Florestais Savânicas Campestres Savânicas

6. Campo 9. Vereda
Sujo
7. Campo 10. Parque de
5. Cerrado Limpo Cerrado

8. Campo 11. Palmeiral


1. Mata Ciliar 2. Mata de 3. Mata Seca 4. Cerradão Rupestre
a. Denso b. Típico c. Ralo d. Rupestre
Galeria

Ilustração: José Felipe Ribeiro

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Tipos de vegetação do Bioma Cerrado


Podemos definir um bioma como um conjunto de vida, vegetal e animal, especificado pelo agrupamento de tipos
de vegetação e identificável em escala regional, com condições geográficas e de clima similares e uma história
compartilhada de mudanças cujo resultado é uma diversidade biológica própria. A localização geográfica de
cada bioma é condicionada predominantemente pelos seguintes fatores: clima, temperatura, precipitação de
chuvas e umidade relativa, e em menor escala pelo tipo de componentes do solo.
Por tipo de vegetação entende-se a fisionomia, a flora e o ambiente, e por forma de vegetação apenas a fisionomia.
Esta última inclui a estrutura, as formas de crescimento (árvores, arbustos, etc.) e as mudanças estacionais (sempre-
verde, semidecídua, etc.) predominantes na vegetação. A estrutura, por sua vez, refere-se à disposição, à organização
e ao arranjo dos indivíduos na comunidade, tanto em altura (estrutura vertical) quanto em densidade (estrutura
horizontal). Alguns sistemas de classificação também podem definir a fisionomia pelos critérios consistência
e tamanho das folhas. São descritos 11 tipos principais de vegetação para o Bioma Cerrado, enquadrados em
formações florestais (mata ciliar, mata de galeria, mata seca e cerradão), savânicas (Cerrado sentido restrito,
parque de Cerrado, palmeiral e vereda) e campestres (campo sujo, campo limpo e campo rupestre).
Considerando também os subtipos neste sistema, são reconhecidos 25 tipos de vegetação.

Recursos hídricos
Três das maiores bacias hidrográficas da América do Sul (São Francisco, Tocantins-Araguaia e Prata) têm origem
no Cerrado, e todos os demais biomas brasileiros (os Pampas Gaúchos, o Pantanal Mato-Grossense, a Floresta
Amazônica, a Caatinga e a Mata Atlântica) recebem alguma fração da água que nasce no Cerrado. Alguns estudos
informam que a existência desses cursos d’água pode ter contribuído para a grande biodiversidade da região,
pois, através dos rios, vários organismos dos mais variados biomas podem ter encontrado caminho para migrar e
colonizar as regiões mais centrais do nosso território.
Dois fatores propiciaram a presença de grande quantidade de nascentes e corpos hídricos de tamanho pequeno
e intermediário no planalto central brasileiro: o fato de ser uma região divisora de bacias e por se tratar de uma
região de altitude elevada quando comparado ao restante do país.

Fogo
O Bioma Cerrado apresenta um grande mosaico de formas de vegetação, desde as formações florestais, onde
adensam as árvores e os arbustos, passando pelas formações savânicas, contendo árvores e arbustos de pequeno porte
entremeados por herbáceas, até as formações campestres, onde dominam as plantas herbáceas.
Milhares de anos de ocorrência de fogo no cerrado e de seleção natural fizeram com que muitas espécies vegetais
desenvolvessem estruturas capazes de amenizar os efeitos danosos das queimadas. Algumas dessas espécies
possuem uma casca grossa composta de um material isolante térmico que protege as estruturas essenciais do
tronco das altas temperaturas. Outras possuem órgãos de reserva nas raízes, que são capazes de guardar elementos
químicos necessários à produção de novas folhas e até mesmo novos troncos.
Embora pesquisas apontem o fogo como elemento de renovação da vegetação por rebrota e germinação de
sementes devido à quebra de dormência, além de constituir papel fundamental na estruturação de algumas
paisagens do Cerrado, sua ocorrência provoca mudanças na cobertura vegetal, alterando a hidrologia e afetando
a dinâmica e os estoques de carbono no ecossistema. Ademais, a periodicidade ideal para a ocorrência de fogo
no bioma ainda não é conhecida.
A peculiaridade da região em relação aos solos, à altitude, à má distribuição das chuvas, à grande quantidade
de nascentes e rios, ao fogo e aos milhares de anos de seleção natural resultou num grande número de espécies
animais e vegetais de ocorrência restrita ao Bioma Cerrado – as chamadas espécies endêmicas.

Populações tradicionais

141
Nas últimas décadas, o Bioma Cerrado tem sofrido uma intensa invasão por atividades e populações animais e
vegetais ausentes ou pouco disseminadas, transformando rapidamente as paisagens e o modo de vida dos povos
tradicionais e promovendo impactos ambientais e sociais imensuráveis.
As populações mais antigas do Cerrado são os povos indígenas Xavantes, Tapuias, Karajás, Avá-Canoeiros,
Krahôs, Xerentes, Xacriabás, dentre alguns dos muitos outros que viviam na região e foram dizimados antes
mesmo de serem conhecidos.
As chamadas populações tradicionais do Cerrado incluem, além dos povos indígenas, os povos negros
ou miscigenados, conhecidos como quilombolas, geraizeiros, vazanteiros, sertanejos e ribeirinhos, que
permaneceram em relativo isolamento nas áreas do bioma e, ao longo dos séculos, adaptaram seus modos de
vida aos recursos naturais disponíveis para alimentação, utensílios e artesanato. A maior parte dessas populações
foi expulsa ou confinada a áreas marginas e hoje se vê diante de um mundo e de um sistema de produção que
não considera ou valoriza o conhecimento sobre a convivência com a natureza.
A situação do Cerrado, atualmente a principal região agrícola brasileira, é um grande conjunto de interações,
interesses, desafios e possibilidades. A adoção de meios de produção sustentável aliando o conhecimento
técnico, o conhecimento tradicional e a pesquisa é essencial à conservação, sobretudo dos recursos hídricos e
da biodiversidade do Bioma Cerrado (conheça mais no DVD ABCerrado).

Unidades de conservação
“Unidade de conservação é um espaço territorial e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais,
com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação
e limites definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção.”
A criação das unidades de conservação (UCs) está prevista na Constituição Federal de 1988 (Capítulo VI, artigo
225, parágrafo 1o, inciso III), que determina ao poder público a incumbência de definir, em todas as unidades
da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e
supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos
atributos que justifiquem sua proteção”.
As pessoas de uma dada região podem sensibilizar governantes locais e legisladores da importância de certas
áreas que pretendem preservar. Os legisladores criam então, através de decreto, uma UC. Nestas áreas, a fauna,
a flora e os processos que regem o ecossistema devem ser conservados.
Para organizar, proteger e gerenciar as UCs instituiu-se, em julho de 2000, o Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza (Snuc). De acordo com o disposto na lei, os objetivos do Snuc são os seguintes: 1)
contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território nacional e nas
águas jurisdicionais; 2) proteger as espécies ameaçadas de extinção nos âmbitos regional e nacional; 3) colaborar
para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais; 4) promover o desenvolvimento
sustentável com base nos recursos naturais; 5) impulsionar a utilização dos princípios e das práticas de
conservação da natureza no processo de desenvolvimento; 6) resguardar paisagens naturais e pouco alteradas
de notável beleza cênica; 7) proteger as características de natureza geológica, geomorfológica, espeleológica,
paleontológica e cultural; 8) preservar e recuperar recursos hídricos e edáficos; 9) revigorar ou restaurar
ecossistemas degradados; 10) proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos
e monitoramento ambiental; 11) valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica; 12) favorecer
a educação e a interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico; 13)
resguardar os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando
seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.

Categorias das unidades de conservação


As diversas categorias de unidades de conservação (UCs) estabelecidas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação
da Natureza (Snuc) estão agrupadas em proteção integral e uso sustentável, conforme os objetivos de manejo e uso.
As unidades de proteção integral têm como objetivo básico a preservação da natureza, sendo admitido o
uso indireto dos seus recursos naturais, com exceção dos casos previstos na lei do Snuc. As unidades de uso
sustentável têm como objetivo básico compatibilizar a conservação da natureza com o uso direto de parcela dos
seus recursos naturais.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Categoria de UCs Distrito Federal

As diferentes categorias de UCs e seus objetivos de manejo e uso, segundo o estabelecido pelo Snuc, estão descritos a seguir.

CATEGORIA MANEJO E USO DESCRIÇÃO EXEMPLO NO DF

Tem como objetivo a preservação da natureza e a Águas Emendadas (Esec)


realização de pesquisas científicas.
Proteção integral Jardim Botânico
Estação ecológica É proibida a visitação pública, exceto com objetivo
educacional, e a pesquisa científica depende de autorização
prévia do órgão responsável.

Tem como objetivo a preservação integral da biota e


demais atributos naturais existentes em seus limites, sem Rebio da Contagem
interferência humana direta ou modificações ambientais, Rebio do Cerradão
Reserva biológica Proteção integral excetuando-se as medidas de recuperação de seus Rebio do Descoberto
ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para Rebio do Gama
recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade Rebio do Guará
biológica e os processos ecológicos. Rebio do Lago Paranoá

Tem como objetivo básico a preservação de ecossistemas


naturais de grande Parque Nacional de Brasília
Parque nacional relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a
Proteção integral
realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento Obs. No DF há 73 parques que podem ser
de atividades de educação e interpretação ambiental, de conhecidos no http:www.ibram.df.gov.br
recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.

Monumento Natural do Morro da Pedreira


Tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros,
Monumento natural Proteção integral Além deste há no DF vinte conjuntos de
singulares ou de grande beleza cênica.
cavernas e 15 conjuntos de saltos e cachoeiras

Tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se


Refúgio de vida
Proteção integral asseguram condições para a existência ou a reprodução de
silvestre
espécies ou comunidades da flora local e da

APA do Planalto Central; APA de Cafuringa


Área de proteção Área em geral extensa, com certo grau de ocupação humana APA do Lago Paranoá
Uso sustentável
ambiental dotada de atributos. APA do São Bartolomeu
APA Gama e Cabeça de Veado

Arie Cruls
Arie da Granja do Ipê
Arie da Vila Estrutural
Arie do Bosque
Área em geral de pequena extensão, com pouca ou
Arie do Córrego Cabeceira do Valo
Área de relevante nenhuma ocupação humana, regional ou local e regular o
Uso sustentável Arie do Córrego Mato Grande
interesse ecológico - uso admissível dessas áreas, em compatibilidade com os
Arie do Paranoá Sul
objetivos de conservação da natureza.
Arie do Riacho Fundo
Arie do Torto
Arie Dom Bosco
Arie Jk
Área com cobertura florestal de espécies predominantemente
nativas, tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável
Floresta nacional Uso sustentável Floresta Nacional de Brasília-DF
dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em
métodos para a exploração sustentável de florestas nativas.

No Cerrado existem duas: a Recanto das Araras


Área utilizada por populações locais, cuja subsistência se da Terra Ronca, nos municípios de Guarani de
Reserva extrativista Uso sustentável
baseia no extrativismo. Goiás e São Domingos, e a Lago do Cedro, em
Aruanã, localizadas no Estado de Goiás.

Área natural com populações animais de espécies nativas,


Reserva de fauna Uso sustentável
terrestres ou aquáticas.

Reserva de
Área natural que abriga populações tradicionais, cuja
desenvolvimento Uso sustentável
existência se baseia em sistemas.
sustentável
Chákra Grisu
Reserva Maria Velha
Reserva particular de Área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de
Uso sustentável Vale das Copaibeiras
patrimônio natural conservar a diversidade.
Santuário Ecológico Sonhem
Reserva Córrego da Aurora

Fonte: Guia de Unidades de Conservação do Distrito Federal. Ibram/ICMBIO. Disponível em: <http:www.ibram.df.gov.br>

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Conhecendo as Belezas do Cerrado
Fotos Marcelo Kuhlmann

Xylopia sericea A.St.-Hil.

Xyris sp

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Alstroemeria sp Asteraceae Brosimum gaudichaudii

Byrsonima umbellata Calliandra sp Cambessedesia sp

Fotos Marcelo Kuhlmann


Cardiopetalum calophyllum Cerdocyon thous Couepia grandiflora

Crax fasciolata Diplusodon sp Erythroxylum daphnites

Eugenia dysenterica Eugenia punicifolia Gomphrena sp

Hymenaea stigonocarpa Hymenaea stigonocarpa Kielmeyera sp

145
Miconia elegans Ouratea sp Palicourea rigida

Protium heptaphyllum Pseudobombax sp Qualea grandiflora

Fotos Marcelo Kuhlmann


Ramphastos toco Sapajus libidinosus Sauvagesia sp

Tachyphonus rufus Tangara cayana Tibouchina sp

Trichilia pallida Trimezia sp Vellozia sp

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Poema – “A horta”
(Rubem Alves, O quarto do mistério)

Uma horta é uma festa para os cinco sentidos. Boa de cheirar, ver, ouvir, tocar e comer. É coisa mágica, erótica,
o cio da terra provocando o cio dos homens.
Cheguei de viagem e antes de entrar em casa fui ver a minha horta. O mato crescera muito. Mas minhas plantas
também. O verde anunciava uma exuberância de vida, nascida do calor e das chuvas que se alternavam sem
parar. O meu coração se alegrou. Pode parecer estranho, mas é pelo coração que me ligo à minha horta. Daí a
alegria... Estranho porque para muitos a relação acontece através da boca e do estômago. Horta como o lugar
onde crescem as coisas que, no momento próprio, viram saladas, refogados, sopas e suflês. Também isso. Mas
não só. Gosto dela, mesmo que não tenha nada para colher. Ou melhor: há sempre o que colher, só que não
para comer.

Semente, sêmen
Horta se parece com filho. Vai acontecendo aos poucos, a gente vai se alegrando a cada momento, cada
momento é hora de colheita. Tanto o filho quanto a horta nascem de semeaduras. Semente, sêmen: a coisinha
é colocada dentro, seja da mãe/mulher, seja da mãe/terra, e a gente fica esperando pra ver se o milagre ocorreu,
se a vida aconteceu. E quando germina – seja criança, seja planta – é uma sensação de euforia, de fertilidade,
de vitalidade. Tenho vida dentro de mim! E a gente se sente um semideus, pelo poder de gerar, pela capacidade
de despertar o cio da terra.
Não é à toa que povos de tradições milenares ligavam a fertilidade da terra à fertilidade dos homens e das
mulheres. Faziam suas celebrações religiosas em meio aos campos recém-semeados, para que o cio humano
provocasse a inveja da terra e ela também se excitasse para o recebimento das sementes. O cio dos homens
provocando o cio da terra. Mas o inverso também é verdadeiro: o cio da terra pode provocar o cio dos homens.
Cio é desejo intenso, não dá descanso, invade tudo e provoca sonhos, semente que não se esquece do seu
destino, vida querendo fertilizar e ser fertilizada para crescer. Pois a horta é assim também.
Não é coisa só para a boca. Apossa-se do corpo inteiro, entra pelo nariz, pelos olhos, pelos ouvidos, pela pele,
toma conta da imaginação, invoca memórias.

Horta é coisa boa de se cheirar


Estranho o desprezo com que tratamos o nariz. Os teólogos de outros tempos falavam da “visão beatífica de
Deus”. Mas nunca li, em nenhum deles, coisa alguma sobre a “cheiração beatífica de Deus”. Como se fosse
indigno que Deus tivesse cheiros, que ele entrasse pelos nossos narizes adentro, por escuros canais até as origens
mais primitivas do nosso corpo.
Pois, se eu pudesse, faria uma teologia inspirada na horta, e o meu Deus teria o cheiro das folhas do tomateiro
depois de regadas, e também da hortelã, do manjericão, do orégano, do coentro. Essa coisa indefinível, invisível,
que entra fundo na nossa alma e daí se irradia para o corpo inteiro como uma onda embriagante, o cheiro é a
aura erótica do objeto, sua presença dentro de nós, emanação mágica por meio da qual nós o possuímos. Quem
cheira fundo – e para isso até fecha os olhos, porque o cheiro vai mais dentro que os olhos – está dizendo o
quanto ama...
E fico pensando nessa coisa curiosa: que a horta só seja percebida como produtora de coisas boas para comer.
Isso só pode ser devido a uma degeneração do nosso corpo, de sua imensa riqueza erótica, a monotonia
canibalesca que só reconhece o comer como forma de apropriação do objeto.
Os cheiros moram na horta, e quem não se dá o trabalho de cultivá-la não poder ter a alegria de reconhecê-los.
Há pessoas que se reúnem para ouvir música; outras pelo puro prazer do paladar.
Mas ainda não se convidam pessoas para concertos e banquetes de perfumes. O mais próximo seria, talvez,
convidá-las para passear pela nossa horta, e ali nos deliciar com a sua perplexidade na medida em que lhes
oferecemos folhinhas para cheirar e lhes perguntamos: “Sabe o que é isto? Veja como é gostoso...”

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Olhares para a vida – horta é coisa boa de se ver


Dizem os poemas sagrados que Deus Todo-Poderoso, depois de criar todas as coisas, parou, deixou cair os
braços e foi invadido pelo puro deleite de ver a beleza de tudo o que existia. Ver é experiência estética, não serve
para coisa alguma. Diferente do comer. Comer é útil. A mãe insiste com a criança: “Coma o espinafre, meu bem,
ele faz você ficar forte”. O “ficar forte” justifica suportar o gosto ruim: é a utilidade da coisa.
Mas nada disso se pode dizer do ato de ver. Ver os espinafres, as couves, as alfaces, os tomates não é útil para
coisa alguma, não serve para nada. Mas faz bem à alma. “Não só de pão viverá o homem”, diz o texto sagrado.
Vivemos também das coisas belas.
Há o belo das cores: o vermelho dos pimentões, das pimentinhas ardidas, dos tomatinhos. Ah! Os tomatinhos.
Falo daqueles pequenos, minúsculos, que não se encontram em lugar civilizado, não se vendem em feiras
(quanto poderiam valer?). Mas eu os descobri numa velha fazenda, e não resisti à tentação de trazer umas
mudas. Sua maior utilidade, além de serem redondinhos e vermelhos, é serem planta da minha infância. De
modo que, na minha horta, eu tenho um arbusto mágico que me leva através do tempo e, quando eu os apanho
e os como, sinto renascer dentro do meu corpo o corpo de um menino que mora nele.
Há o verde também dos pimentões, que se comprazem em brincar com as cores das cebolinhas, das alfaces, das
couves, dos espinafres, da salsa. O amarelo das cenouras, e de novo dos pimentões (vocês já viram pimentões
amarelos?) São raros, brilhantes, maravilhosos. Eu até tive uma árvore de Natal enfeitada só com pimentões
verdes, vermelhos e amarelos. O roxo das beterrabas, dos rabanetes, das berinjelas. O branco dos nabos.
E ao ver essa abundância de cores imagino que a natureza é brincalhona, ela se compraz na exuberância e
no excesso. E enquanto meus olhos vão andando pela variedade das cores, coisas vão acontecendo dentro de
mim. Porque isso significa que elas existem dentro de mim. Se eu fosse cego para as cores, não me aperceberia
de nenhuma diferença. O objeto que vejo revela um objeto que existe dentro de mim. Os olhos só veem fora
aquilo que já existe dentro como desejo. Tenho também um pé de ora-pro-nobis, coisa de gente pobre, em
Minas Gerais. Só vi referências a ele em dois lugares. Primeiro, no livro Fogão de lenha, de Maria Stella Libânio
Christo, como uma receita culinária no meio de uma celebração de trezentos anos de cozinha mineira, que vale
pelo puro deleite de ler. E depois num poema de Adélia Prado – ela sabe muito bem do encanto das hortas. Ora-
pro-nobis, nome que parece responso litúrgico, é um arbusto que se planta uma vez na vida. Ele é tão amigo
que fica lá, soltando folhas sem parar. Pois é: uma festa. Cores, formas, tudo diferente, natureza brincalhona,
artista, imaginação sem fim.
Morangas gomosas; aboborões e abobrinhas; quiabos escorregadios; berinjelas roxo-pretas, engraçadas em
tudo, até no nome; mandiocas; carás de debaixo da terra; carás do ar, pendentes; inhames; chuchus; nabos
redondos; nabos fálicos; alcachofras, folhas de todos os desenhos; alfaces, almeirão; acelgas; brócolis; couve;
bertalha; repolhos brancos; repolhos roxos; agrião, espinafre. Diante desse esbanjamento de inventividade o
jeito é o espanto, o riso e a gratidão de que este seja um mundo onde o enfado é impossível.

Sons e toques – horta também é coisa boa de se ouvir


Ora, direis, ouvir a horta. Plantas não dizem nada, não cantam! Se fosse passarinho, ou o mar, ou as casuarinas,
se compreenderia. Mas a horta? Horta é coisa calma e silenciosa. E isso é bom. Ouvir o silêncio.
As pessoas exigem sempre uma palavra. Têm medo de ficar quietas. Entram em pânico quando o assunto acaba,
começam a falar bobagens só por falar, porque é melhor dizer besteira que ficar ali na presença do outro, sem
nada dizer e sem nada ouvir.
Com as plantas é diferente. Elas nos tranquilizam. Se quisermos falar com elas, tudo bem. Acho que gostam. Mas
o melhor de tudo é que, ao falar com elas, não é preciso fingir, porque as plantas são extremamente discretas.
Guardam os segredos com uma fidelidade vegetal.
E as hortas são também coisas boas de tocar. Sentir o capim molhado, enfiar a mão na terra. Se você tiver a
felicidade rara de ter uma aguinha que escorre e cai, você terá uma das experiências mais calmas que se pode
ter. Ouvir o barulhinho da água. Ele trará memórias ou fantasias de regatos escondidos no meio do mato,
correndo entre pedras, fazendo crescer o limo verde. E aí você enfiará seus pés dentro dela. Difícil um prazer
igual pela tranquilidade, pela pureza, pela profundidade. Porque a água nos reconduz às nossas origens.
E a terra. Não, não é sujeira. Terra preta com esterco: ali a vida está acontecendo, invisivelmente.
Meu destino. Um dia serei terra, de mim a vida poderá nascer de novo. As crianças, sem que ninguém as ensine,
sabem dessas coisas. Somos nós que dizemos que terra é sujeira, porque preferimos os carpetes assépticos e
mortos e os pisos vitrificados onde mão nenhuma pode penetrar.

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Brincar com a terra, conquistar sua dureza, misturar o esterco esfarelado, senti-la leve e solta, esguichar a água.
Ali, diante dos nossos olhos, uma metamorfose vai acontecendo, e a terra, de coisa estéril, dura, virgem, é
agora mulher em cio, pedindo as sementes. Vamos abrindo os sulcos, canteiros, e neles colocamos a vida que o
nosso desejo escolheu. Coisa gostosa. Estamos muito próximos de nossas origens. Nossos pensamentos ficam
diferentes. Deixam de perambular pelos desertos de ansiedade e ficam cada vez mais próximos, colados à mão,
colados à terra. Os pensamentos fantasmas voltam ao aqui e ao agora do corpo, passam a ser coisas amigas e
alegres.
Segundo filósofos de outros tempos, tudo o que existe se reduz a quatro elementos: a terra, a água, o vento e
o fogo. E ali estamos nós, mãos na terra, terra molhada, e a brisa sopra. Horta, pedaço de nós mesmos, mãe.
Se compreendermos que ela é não só a nossa origem como também nosso destino, e se a amarmos, então
estaremos amando a nós mesmos, como seremos. Não, não tenho uma horta para economizar na feira. Tenho
uma horta porque preciso dela, como preciso de alguém a quem amo.

Sabores amigos – há, por fim, o ato supremo de comer


Comer: dizer que o que estava fora pode entrar, será bem recebido, eu o desejo, tenho fome. Para isso examino o que
ainda não conheço, pois todo cuidado é pouco. Nem tudo é bom de comer: há coisas de nojo e de vômito, venenosas
e de morte. Provo a coisa: primeiro a aparência, a cor, o cheiro e, cuidadosamente, na ponta da língua, o gosto, para o
veredito final – amigo ou inimigo. É assim que a criança aprende sua primeira lição sobre o mundo, mundo reduzido
a coisas boas que devem ser engolidas e coisas más que devem ser vomitadas. Assim nasceu a ética, na boca, pois é ela
a primeira a dizer “é bom”, “é mau”. E a sua sabedoria é imensa, pois o corpo é o grande juiz.
A horta é lugar de coisas boas para comer, ali onde se planta a amizade pelo corpo, onde se plantam os objetos
do nosso desejo, que nos fazem alegres quando estão de fora e mais alegres ainda quando os colocamos na boca
e dizemos: “Que gostoso...” Sem saber, estamos afirmando nossa solidariedade com a terra. A horta é parte
do meu corpo, do lado de fora, e é por isso que pode ser comida, entrar para dentro, transformar-se em vida,
minha vida. Eu dou vida à horta, preparo a terra, planto as sementes, rego, elas vivem, e depois se oferecem a
mim, através do meu desejo.
E como elas são brincalhonas. Jiló amargo, careta pra quem não está acostumado; o picante da pimenta; o duro
amarelo adocicado da cenoura recém-arrancada da terra; o estranho gosto dos nabos obscenos; as ervilhas,
brincalhonas e redondas; e a peça que os alhos e as cebolas nos pregam, fica o cheiro, evidência do crime.
E nós tomamos os frutos da horta e os transformamos pelo poder alquímico do fogo. Já disse dos quatro
elementos dos sábios de outro tempo, terra, água, ar e fogo. Sem o fogo só podemos juntar as coisas, do jeito
que a terra nos deu. Mas o fogo nos dá outro poder, tudo fica diferente. Misturamos, alteramos, inventamos. No
peixe branco e pálido, o vermelho do urucum, extraído da frutinha pelo poder do calor. Vermelho para excitar:
na cor mora o quente. Junta-se mais: a cebola, os pimentões, verdes e vermelhos, o tomate, o coentro. E a
pimenta, magia estranha, ainda não entendi por que gosto dela. Talvez por ser metáfora de certos amores que de
tão ardentes viram ardume, e machucam. E aí, tudo junto, pelo poder do fogo, a moqueca, a horta transformada
em culinária, em gosto inventado.
Comer é ato complicado, há nele uma mistura de amor e de destruição. As mandíbulas mastigando, infatigáveis,
o movimento brusco da cabeça para frente e para baixo, boca aberta, pra abocanhar o naco que o garfo espetou,
as bochechas estufadas de comida. O ato de comer é como os sonhos – pode ser psicanalisado, porque revela
nossos segredos de ódio e de amor, nosso nojo ou nossa voracidade, nossa mansidão ou nossa violência.
Ao comer nós nos revelamos. E nisto está a diferença entre a comida crescida na horta e a comprada na feira:
na primeira está um pouco de nós mesmos – e ao sentir seu gosto bom é como se eu estivesse sentindo meu
próprio gosto. “Eu plantei, eu colhi...” O que está em jogo não é o tomate, a alface – é o eu que está sendo
servido, disfarçado de hortaliça. A refeição fica meio sacramental. Come-se um pedaço da própria pessoa, que
se oferece, de forma vegetal, num banquete canibal. “Tomai, comei, isto é o meu corpo. Tomai, bebei, isto é o
meu sangue.”

Alegria do encontro
Pois é, horta é algo mágico, erótico, onde a vida cresce e também nós, no que plantamos. Daí a alegria. E isso é
saúde, porque dá vontade de viver. Saúde não mora no corpo, mas existe entre o corpo e o mundo – é o desejo,
o apetite, a nostalgia, o sentimento de uma fome imensa que nos leva a desejar o mundo inteiro. Alguém já
disse que somos infelizes só porque não podemos comer tudo aquilo que vemos. Concordo em parte, pois há
aqueles que veem tudo, mas não desejam nada. Estão doentes, prisioneiros deles mesmos. Saúde: quando o
desejo pulsa forte, cio por coisas amadas, e o corpo vai em busca do objeto desejado – a horta podendo ser um

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

pequeno (e delicioso) fragmento dos nossos maiores e infinitos desejos. O mundo bem poderia ser uma grande
horta: canteiros sem fim, terra fértil, nossas sementes se espalhando, nosso corpo ressuscitado de sua grande e
mortal letargia.
E penso esta coisa insólita: há lições de kama-sutra a serem aprendidas na horta, no despertar dos sentidos
que ela provoca. O caminho da saúde, o caminho da libertação do corpo pra copular com os objetos do desejo
(e uso a palavra copular no seu preciso sentido gramatical de “fazer conexão” e também no sentido erótico
de união entre duas pessoas que se querem e, por isso, se interpenetram, transgredindo os limites do próprio
corpo) passa pelo caminho do despertamento erótico dos nossos sentidos adormecidos. A capacidade sutil de
distinguir os perfumes, o olhar extasiado que diz, para a planta ou para a pessoa, não importa: “Como é bom
que você existe!”; o ouvido que tem a tranquilidade para morar no silêncio, sem se perturbar; a pele que se
deleita com o vento, com a água, com a terra; e a boca que sente o gosto da coisa como quem prova um vinho.
Uma horta é um bom lugar para começar. E pra continuar, até acabar. Seria bom saber que alguém colherá
coisas que nós semeamos, depois da nossa partida, e as plantas continuarão, como um gesto nosso de amor.

*Rubem Alves é psicanalista, educador, teólogo e escritor brasileiro, é autor de livros e


artigos que abordam temas religiosos, educacionais e existenciais, além de uma série de
livros infantis.

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Cerrado que não mais se vê
*Tonicato Miranda

Escuta aqui, almofadinha...


não se engane, a cidade já foi campo.
Ele o agreste quase não mais se vê, mas...
já houve tempo, já houve vento
terra causticante, sol a pino, sede de ceder
rodamoinho com nome de lacerdinha
Brasília cercada de cerrado tinha.
O Cerrado tinha jacupemba, andorinha tinha
pequi pra toda parte, fruta no pé e no chão
árvores retorcidas, mais de um milhão...
cobra, couro de arte, buriti nos brejos, tinha..
Muitos corguinhos de água limpinha,
moça se banhando na cacimba...
a gente olhando lá de cima, como tinha!
Lobo-guará, ema, seriema, tatu-bola tinha.
Gavião, coruja, sucuri, lebres saltadoras,
veado-campeiro, formigas de fogo e as voadoras.
Araticum, ameixa brava, belas plantinhas, tinha.
Casa de barro plantada no morro alto,
cavalo sem cilha e um pouco de asfalto,
tudo isto quase não tem, já teve, tinha!
Bando de papagaios no rumo dos guabiruvus,
peixes coloridos no remanso de rio pequeno,
bem-te-vi te vi tão grande, te vi tão pequeno bem-te-vi,
mal te vi, já todo te senti, você tinha!
Tantas informações, cadê os sanhaços?
será gato-do-mato comeu-os manhãzinha...
cortaram os paus e tocos, mataram a matinha.
Cerrado, muita velha curandeira tinha!
Ervas-remédio, ervas de cheiro, ervas sozinhas.
Alguns índios caçavam aqui, céus sobreviventes,
malocas perdidas nos cantos das vertentes.
Muito cristal de rocha e esmeralda tinha!
E um pôr-do-sol, colorindo nos fins de tarde
prostrado, velho caboclo, saudades da Ritinha.
O Cerrado tinha...
Seriemas, emas, cobras, assovio na mata tinha!
Fruta azeda, fruta doce, camaleão na pedra,
jacaré no brejo tinha!
Susto do pacu, tinha pio de nhambu, lagartas nas folhas,
lagartas no chão, asfaltos distantes tinha,
cachorros no mato, carros no céu,
carros sobre a cobra, brilho do sol na latinha,
morros sorrisos, montanhas de veludo
e uma montanha que só eu tinha.

*Tonicato Miranda é escritor, cronista e poeta com diversas publicações em jornais do Estado do Paraná.

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Educando pelas Trilhas do Cerrado: um roteiro de ações para a educação ambiental em escolas e comunidades

Sites interessantes
Esses sites podem ser acessados e utilizados, são encontrados no Projeto Planeta Sustentável da Editora Abril
e há autorização para reprodução.

 Uma análise sobre os 15 anos do Protocolo de Kyoto:


 http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/cop-mudancas-climaticas/2012/12/12/kyoto-um-protocolo-debutante/
 link http://planetasustentavel.abril.com.br/blog/blog-do-clima/

 http://planetasustentavel.abril.com.br/especiais/revista-do-clima-vozes-da-mudanca.shtml

 Uma revista digital do Planeta sobre clima. Tem alguns infográficos excelentes: http://planetasustentavel.
abril.com.br/especiais/revista-do-clima.shtml

 Essa é a versão digital também do gibi Heróis do Clima, que vou te mandar os exemplares impressos, mas
dá pra baixar de graça:

 http://planetasustentavel.abril.com.br/herois-do-clima/

 Planos de aula: link: http://planetasustentavel.abril.com.br/planosdeaula/

 Sobre as mudanças do clima: http://www.gentequeeduca.org.br/planos-de-aula/mesa-redonda-sobre-


mudancas-climaticas

 Sobre os resultados da Rio+20: http://www.gentequeeduca.org.br/planos-de-aula/resultados-da-


rio20?page=all

 Sobre o CO2: http://www.gentequeeduca.org.br/planos-de-aula/co2-principal-vilao-do-efeito-estufa

Outros sites
http://www.mudancasclimaticas.andi.org.br/content/ipcc-painel-intergovernamental-sobre-mudanca-do-
clima-intergovernmental-panel-climate-change
http://www.educacaoinstitucional.gov.br
Cerrado, um bioma em extinção – YouTube – www.youtube.com/watch?v=JrlihpaVR5Y
Cerrado – Bioma Brasil – TV Escola – tvescola.mec.gov.br/tve/video/bioma-brasil-cerrado
Cerrado – O pai das águas – Opará Vídeos – Documentários 
www.oparavideos.com.br/produto/4 – Cerrado, o pai das águas
Planeta água – YouTube – www.youtube.com/watch
Uso sustentável da água – usosustentaveldaagua.tripod.com/id4.htm
Fauna e flora – Documentário – YouTube – www.youtube.com/watch?v=jn70zg7ZSJ
Circuito Tela Verde – Ministério do Meio Ambiente – www.mma.gov.br/educacao-ambiental/.../circuito-tela-verde
Semeando o Bioma Cerrado – Educação – youtube.com/watch?v=tguShshpQiY
planetasustentavel.abril.com.br/video
A vida retribui e transfere – YouTube – www.youtube.com/watch?v=VnSyx6cmMI
Vídeos|Nova Escola – revistaescola.abril.com.br/vídeos
planetasustentavel.abril.com.br/noticia/casa/horta
planetasustentavel.abril.com.br/noticia/casa/horta
Associação dos Amigos das Florestas – AAF – https://www.facebook.com/amigosdasflorestas

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Sugestões Bibliográficas para consulta
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com jovens em Itaqui, Bacanga. Brasília: Unb, 2009. 177p
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1996.
BASARAB, Nicolescu. Um novo tipo de conhecimento. Transdisciplinaridade. Educação e transdisciplinaridade, 1999.
Disponível em: <unesdoc.unesco.org/images/0012/001275/127511por.pdf>. Acesso em: 16/07/2012.
BOFF, Leonardo. Ecologia: grito da terra, grito dos pobres. São Paulo: Ática.
BRASIL. Lei da Educação Ambiental. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei no 9.795, de 27/04/1999. Disponível
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. Lei da Educação Ambiental. Política Nacional de Educação Ambiental. Lei n. 9.394, de 20/12/1996. Estabelece
as diretrizes e as bases da educação nacional.
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São Paulo: Cultrix, 2006. p. 9-11. 312 p.
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CORNELL, Joseph. Brincar e aprender com a natureza: guia de atividades infantis para pais e monitores. Tradução:
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LEGAN, L. A escola sustentável: ecoalfabetizando pelo ambiente. 2. ed. Atualizada e revisada. São Paulo: Imprensa Oficial
do Estado de São Paulo; Pirenópolis: Ecocentro Ipec, 2007. 184 p.
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em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-69922009000100008&lng=en&nrm=i
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Anotações

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