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DOI: 10.

55905/cuadv15n11-095

Recebimento dos originais: 27/10/2023


Aceitação para publicação: 29/11/2023

Compostagem: produção de composto, a partir dos resíduos


orgânicos gerados no Instituto Federal do Amazonas - IFAM-
campus Manaus Distrito Industrial

Composting: production of compost, from organic waste


generated at the Instituto Federal do Amazonas - IFAM- campus
Manaus Distrito Industrial

Adriana Maria de Castro Monteiro


Pós-Graduada Latu Sensu em Meio Ambiente e Suas Tecnologias
Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
(IFAM) - campus Manaus Distrito Industrial
Endereço: Av. Gov. Danilo de Matos Areosa, 1672, Distrito Industrial I, Manaus
- AM, CEP: 69075-351
E-mail: drimont85@gmail.com

Ana Lúcia Soares Machado


Doutora em Desenvolvimento Sustentável
Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas
(IFAM) - campus Manaus Distrito Industrial
Endereço: Av. Gov. Danilo de Matos Areosa, 1672, Distrito Industrial I, Manaus
- AM, CEP: 69075-351
E-mail: ana.machado@ifam.edu.br

RESUMO
A grande geração de resíduos orgânicos sólidos tem sido um dos problemas
ambientais mais recorrentes na atualidade e seu desperdício causador de
grande impacto ambiental para a natureza e questão de saúde pública. Partes
desses resíduos são de alimentos provenientes da preparação e pós-refeição
oriundos de residências e instituições, que na maioria das vezes não são
reaproveitados ou destinados de forma correta. A prática da compostagem tem
sido uma alternativa sustentável promissora para o tratamento de resíduos
orgânicos sólidos. Neste sentido, o objetivo do estudo foi produzir composto
orgânico por meio de dois métodos de compostagem utilizando os resíduos
orgânicos gerados no IFAM-CMDI, bem como avaliar sua qualidade, seus
benefícios ambientais, sociais e econômicos. O estudo resultou na geração de
compostos orgânicos de qualidades satisfatórias e na criação de uma cartilha de
compostagem para a divulgação dessa prática como alternativa de reciclagem
de resíduos orgânicos em pequena escala.

Palavras-chave: compostagem no chão, compostagem doméstica, resíduos


orgânicos, compostos orgânicos, cartilha de compostagem.

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ABSTRACT
The large generation of solid organic waste has been one of the most recurring
environmental problems today and its disposal causes a major environmental
impact on nature and public health issues. Part of this waste comes from food
preparation and post-meal preparation from homes and institutions, which in
most cases are not reused or disposed out correctly. The practice of composting
has been a promising sustainable alternative for treating solid organic waste. In
this sense, the objective of the study was to produce organic compost through
two composting methods using organic waste generated at IFAM-CMDI, as well
as evaluating its quality, environmental, social and economic benefits. The study
resulted in the generation of organic compounds of satisfactory quality and the
creation of a composting handbook to publicize this practice as an alternative for
recycling organic waste on a small scale.

Keywords: composting on the ground, home composting, organic waste, organic


compounds, composting handbook.

1 INTRODUÇÃO
Ao longo dos últimos anos, a preocupação com o aumento da geração de
resíduos sólidos e sua destinação vem ganhando destaque no cenário mundial.
Autores como Chen et al. (2016), Soobhany (2019), Sayara et al. (2020) e Marchi
e Gonçalves (2020) afirmam que esse aumento está relacionado com o
crescimento exponencial da população mundial nas últimas décadas e explanam
que os padrões e estilo de vida modernos, em decorrência do desenvolvimento
econômico, da tecnologia e da expansão da urbanização, influenciaram
diretamente na produção acelerada de resíduos sólidos. Chen, Zhang e Yuan
(2020) justificam a grande geração de resíduos sólidos como consequência
também da industrialização.
Em 2020, a quantidade estimada de resíduo sólido gerada no mundo foi
cerca de 2,24 bilhões de toneladas (The World Bank, 2022). A Associação
Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais - ALBREPE,
informa que em 2022, o Brasil gerou o valor de aproximadamente 81,8 milhões
de toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU). Ainda segundo ALBREPE,
61% dos RSU foram coletados e encaminhados para aterros sanitários,
enquanto 39% desses resíduos foram dispostos de maneira inadequada para
lixões e aterros controlados. Segundo Ayilara et al. (2020):

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A gestão inadequada de resíduos é prejudicial à saúde humana. Além
de ser inestético, causa poluição do ar, afeta corpos hídricos quando
despejado na água, além de destruir a camada de ozônio quando
queimado, aumentando assim o impacto das mudanças climáticas (p.
01).

Parte da quantidade de resíduos sólidos urbanos gerados são orgânicos.


No Brasil, eles representam cerca de 50% ou mais (Abreu, 2018; Feitosa et al.,
2021; Silva et al., 2019) e a sua destinação final nem sempre é a adequada,
gerando um grande problema social, econômico e ambiental. Por serem
considerados recicláveis, os resíduos orgânicos podem ser utilizados em
processos naturais que envolvem a biodegradação da matéria orgânica,
transformando esses resíduos em um composto rico em nutrientes e
ambientalmente saudável. “Nesse sentido, o processo de compostagem é uma
das melhores alternativas para a destinação de resíduos orgânicos, evitando a
degradação ambiental e permitindo a obtenção de fertilizantes para o solo” (Sena
et al., 2019)
A Lei nº 12.305 (Brasil, 2010) que institui a Política Nacional de Resíduos
Sólidos (PNRS) inclui a compostagem como destinação final ambientalmente
adequada. Portanto, essa prática torna-se uma opção viável para redução do
volume de resíduos orgânicos sólidos e, consequentemente, diminui os impactos
ambientais decorrentes da má gestão dos mesmos. Nesse sentido, diante do
que foi exposto, se indagou a seguinte questão: A combinação de resíduos
orgânicos provenientes da poda da grama do jardim e restos de alimentos do
restaurante do IFAM-CMDI pode gerar um composto orgânico de qualidade, para
uso comercial?
Nessa perspectiva, o objetivo do estudo foi produzir composto orgânico
por meio de dois métodos de compostagem utilizando os resíduos orgânicos
gerados no IFAM-CMDI, bem como avaliar sua qualidade, seus benefícios
ambientais, sociais e econômicos. Além de desenvolver uma cartilha para a
replicação do processo de compostagem.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 O QUE É COMPOSTAGEM?
Apesar de ser uma prática não tão atual, a compostagem vem ganhando
espaço na contemporaneidade por se apresentar como uma alternativa
sustentável para a reciclagem dos resíduos orgânicos. Para Vieira et al. (2019,
p. 03):

A compostagem de resíduos orgânicos é um dos métodos mais antigos


que se conhece de reciclagem de nutrientes. Consiste em um processo
biológico de transformar a matéria orgânica existente nos resíduos em
material humificado, que pode ser utilizado como adubo orgânico à
agricultura, hortas e jardins, e até mesmo na recuperação de áreas
degradadas.

Na prática, a compostagem segue o ciclo natural de decomposição da


matéria orgânica. Segundo Sena et al. (2019): “A compostagem é um processo
de decomposição aeróbia, em que há a liberação de gás carbônico, vapor d’água
e energia”. Essa matéria orgânica passará pela ação de microrganismos, como
fungos e bactérias, que transformarão o resíduo orgânico em adubo ou
fertilizante. Abreu (2018, p. 08) explica que a fertilização se inicia, quando uma
folha cai no solo, sofre a influência das condições climáticas, dá início à
decomposição, passando pela reciclagem natural com a ajuda dos
microrganismos, insetos e minhocas.
O estudo feito por Chen, Zhang e Yuan (2020) destacam que no processo
de compostagem há também a atuação de organismos maiores, como os
nematóides (minhocas), e que estes desempenham papel importante nesse
processo: “A compostagem é um processo bioquímico, durante o qual diversos
grupos de microrganismos e nematóides desempenham papéis críticos.
Especificamente, é um processo de fermentação em estado sólido e é realizado
principalmente por termófilos aeróbicos”. A presença de minhocas no
desenvolvimento da compostagem auxilia na eficiência do processo, uma vez
que esses nematóides se alimentam da matéria orgânica disponível acelerando
o processo de decomposição: “[...] os resíduos orgânicos, que servem de
alimento para as minhocas, passam por seu trato digestivo, onde ocorre a

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transformação biológica da matéria orgânica com o auxílio de sua microflora
intestinal” (Brinck, 2020). O produto dessa transformação é um composto rico
em nutrientes em decorrência da produção de húmus (Sena et al., 2019).
Por sua vez, Kulikowska et al. (2015) e Sayara et al. (2020) destacam que
o composto gerado é abundante em macro e micronutrientes. Essa classificação
compreende quais elementos químicos ou substâncias constituem um composto
orgânico maturado e a relação com o padrão de qualidade. Conforme Silva et al.
(2023): “A qualidade do composto produzido está associada a alguns fatores
como uma boa relação entre os macros e micronutrientes, pH, umidade e
temperatura”.
O estudo desenvolvido por Silva et al. (2020) aponta os macronutrientes
como sendo formados por (P) Fósforo; (K) Potássio; (Ca) Cálcio e (Mg)
magnésio, e os micronutrientes sendo constituídos pelo (Fe) Ferro; (Zn) Zinco;
(Mn) Manganês e (Cu) Cobre. Eles ainda destacaram que os valores (teores)
obtidos de macronutrientes e micronutrientes resultaram da combinação entre
carbono e nitrogênio utilizados em seu estudo e apresentaram grande potencial
para uso na compostagem. O que confirma que essa relação entre C e N é
fundamental para a formação do composto, como afirmam Marchi e Gonçalves
(2020, p.7): “Para produzir um composto de boa qualidade, é essencial que os
resíduos apresentem uma relação de nutrientes (C/N) adequada”.
Para desenvolver a compostagem, não precisa de técnicas mais
sofisticadas e nem de material restrito para essa prática, como já até existem.

O processo de compostagem é uma atividade simples e intuitiva, pois


existente na sociedade há muitos anos, por meio da formação das
serapilheiras no solo, a diferença para atualidade é apenas a
adaptação e técnicas para melhor obtenção do composto (Silva et al.,
2019, p. 64).

De acordo com Feitosa et al. (2021, p. 112): “reciclar os resíduos sólidos


orgânicos tem sido uma prática eficaz, passível de qualquer cidadão executar,
independente de classe social, formação acadêmica ou local de habitação, por
ser de baixo custo e fácil manejo”. Mas, para que a compostagem seja induzida
e percorra todo o caminho esperado, é preciso proporcionar as condições ideais

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(temperatura, pH, umidade, aeração, relação C/N, etc.) para que a sua
reprodução obtenha um bom resultado: “[...] um material de cor e textura
homogêneas, com características de solo e húmus, chamada composto
orgânico” (Abreu, 2018, p. 7).

2.2 FATORES QUE INFLUENCIAM A COMPOSTAGEM


Para se desenvolver o método de compostagem é necessário
compreender como funciona o processo, quais as condições necessárias para o
bom funcionamento da composteira e quais tipos de resíduos orgânicos podem
ser usados para a sua confecção. Além dos materiais, equipamentos e também
o local onde será implantada a composteira.
Para começar, é importante saber que “há uma série de fatores que
podem afetar a eficácia da compostagem, que incluem temperatura, aeração,
teor de umidade, relação C/N, tamanho de partícula, PH e grau de compactação”
(Chen; Zhang e Yuan, 2020, p. 2).
Partindo do princípio de que a compostagem é um sistema aeróbico,
percebe-se que um fator fundamental para seu desenvolvimento é a presença
de oxigênio e esta condição está relacionada com a aeração.
Para Marchi e Gonçalves (2020), Brinck (2020) e Silva et al. (2019), a
presença de oxigênio é primordial, pois estimula a ação de microrganismos no
processo de oxidação da matéria orgânica. Nesse processo, parte da energia
liberada é consumida pelos microrganismos. “A aeração contribui para a retirada
do excesso de calor, de gases, vapor de água e controle de odores”, conforme
dito por Marchi e Gonçalves (2020, p.11). A dissipação de calor ocorre através
do revolvimento ou reviramento da leira de compostagem, essa manobra
possibilita a circulação do oxigênio. Brinck (2020) ressalta que “A falta de O2
durante a compostagem pode limitar a atividade dos microrganismos e estender
o processo”.
A temperatura é outro fator fundamental no processo de compostagem.
Chen, Zhang e Yuan (2020, p. 02) afirmam que “A temperatura é um fator
significativo que determina a eficácia da compostagem”. Também ressaltam que

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a temperatura evolui ao longo do processo de compostagem apresentando
diferentes valores de temperatura, critérios para a sua classificação em fases. “A
temperatura é um fator indicador para analisar se o processo está ocorrendo e
em que fase se encontra” (Marchi; Gonçalves, p. 11).
Silva e colaboradores (2019) dizem que a forma de armazenamento dos
resíduos eleva a temperatura podendo alcançar a faixa de 80ºC. A elevação da
temperatura durante o processo de compostagem elimina os microrganismos
patogênicos garantindo assim a qualidade do composto. “Além dos benefícios
da descontaminação do material, a elevação da temperatura pode auxiliar na
degradação de frações mais resistentes, como as fibras, por exemplo” (Sena et
al., 2019). Em relação a faixa de temperatura ideal para o processo de
compostagem, esta varia entre 45ºC e 65°C (Fernandes; Silva, 1999).
O pH “[...] indicará a acidez ou a alcalinidade da massa de resíduos. O pH
mais apropriado para a compostagem está entre 5,5 e 8,0, pois as bactérias
preferem valores de pH próximos de 7,0” (Brinck, 2020). Segundo Marchi e
Gonçalves (2020), no decorrer do processo de compostagem, os valores de pH
podem variar devido à diversidade de material orgânico. Valores de pH muito
altos ou muito baixos, limitam a atividade dos microrganismos, mas se
estabilizam ao final do processo. Vieira et al. (2019) e Lacerda et al, (2020) em
seus estudos explicam que nos primeiros instantes da compostagem, há um
decréscimo do pH até valores próximos de 5. Com o tempo, esses valores
tendem a aumentar progressivamente atingindo valores entre 7 e 8 a medida
que o processo de compostagem evolui e a estabilização do composto é
alcançada. O que corrobora a afirmação de Brinck (2020) em relação ao valor
do pH: “No início do processo de decomposição o pH varia de 5,5 a 6,0 devido
a produção de ácidos orgânicos”.
Em relação ao Carbono e Nitrogênio, Lacerda et al. (2020, p. 40756)
dizem que “um conteúdo apropriado de nitrogênio e carbono favorece o
crescimento e a atividade das colônias de microrganismos envolvidos no
processo de decomposição possibilitando a produção do composto em menos
tempo”.

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Para Marchi e Gonçalves (2020, p. 12): “O equilíbrio dessa relação se
atinge a partir da mistura entre os restos alimentares, ricos em N e a matéria
seca, rica em C. Uma relação ideal é uma mistura que proporcione uma relação
C/N de 30:1”. Vieira (2019) e Silva et al. (2019) confirmam essa razão. Silva et
al. (2019) em seu estudo ainda explicam que a razão 30/1 ou 30:1 significa que
são 30 partes de carbono para 1 parte de nitrogênio. O carbono atua como fonte
de energia e o nitrogênio é usado na síntese de proteínas, atuando na
construção da estrutura celular, conforme pontuam Chen et al. (2016), Chen,
Zhang e Yuan (2020) e Marchi e Gonçalves (2020).
É importante manter essa relação C/N em proporções adequadas para
que não ocorra um desequilíbrio no processo de compostagem. De acordo com
Chen; Zhang e Yuan (2020), se a quantidade de nitrogênio (material úmido) for
maior que a de carbono (material seco), este será liberado como gás amônia e
com um odor nada agradável. Se, porventura, o carbono estiver em excesso na
proporção, a compostagem ocorrerá de forma lenta pela insuficiência de
microrganismos para degradar todo o material orgânico correspondente ao
carbono (Brinck, 2020).
Abreu (2018, p. 35) afirma que “a quantidade de porção seca necessária
depende do volume da porção úmida. Como regra geral, para cada porção de
resíduos úmidos colocada na composteira, duas porções de matéria seca serão
necessárias”. Ou, conforme Vieira et al. (2019, p. 03): “Um volume de três partes
de materiais ricos em carbono para uma parte de materiais ricos em nitrogênio
é uma mistura muitas vezes utilizada”.
A umidade é um fator que está relacionado com a água que está presente
nos resíduos alimentares. Ela é determinante para o processo de compostagem.
“É de acordo com a umidade que é desenvolvida a atividade microbiana, pois o
metabolismo e reprodução dos microrganismos dependem da água para se
desenvolver” (Silva et al, 2019, p. 65). A evolução do processo de compostagem
depende do teor de umidade. Para Marchi e Gonçalves (2020, p. 12), “a faixa
ideal de umidade é de 50 a 65%”. Mas, para Brinck (2020), “a faixa ideal de
umidade é de 55% a 60%”. Silva et al. (2019, p. 65) dizem que “uma das

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maneiras de verificar o teor de umidade é apertar o composto com as mãos: se
o mesmo tiver uma concentração de água adequada, poderemos sentir a
umidade e a agregação do material”. Em outras palavras, não deve ocorrer
escoamento de água.
O tamanho das partículas não deve ser muito pequeno, pois pode
causar a compactação do material que está sendo compostado, o que
comprometeria também a aeração do sistema. Por outro lado, partículas muito
grandes atrapalham o processo de decomposição por dificultar o acesso dos
microrganismos (Silva et al., 2019; Brinck, 2020). Portanto, “quanto menor o
tamanho da partícula, maior será a área superficial sujeita à ação dos
decompositores” (Marchi; Gonçalves, 2020, p.12).
Todos os fatores citados são importantes para a compostagem,
principalmente para o seu desenvolvimento e manutenção, e,
consequentemente, para a qualidade do composto gerado:
“A qualidade do composto produzido está associada a alguns fatores
como uma boa relação entre os macros e micronutrientes, pH, umidade e
temperatura” (Silva et al., 2023). Por sua vez, Silva et al., (2019, p. 65) dizem
que “a garantia da qualidade da composteira é dada a partir de manutenções
realizadas periodicamente”. Essas manutenções incluem: acompanhamento da
variação de temperatura, revolvimento ou reviramento da leira ou pilha de
compostagem, controle da relação C/N e umidificação, quando necessário.
Quando se projeta a instalação de uma composteira, alguns pontos
precisam ser refletidos: o local da instalação deverá ser de fácil acesso, ter
proteção contra ventos e chuva, e ter ocorrência de sol e sombra. (Brinck, 2020;
Souza et al., 2020). É recomendável que a composteira não fique exposta ao sol
constante para evitar ressecamento do material, prejudicando assim a ação dos
microrganismos. E também não fique excessivamente na sombra para não
elevar a umidade. Em ambas as situações, a evolução da compostagem ficaria
comprometida. (Brinck, 2020; Souza et al., 2020, p. 91).
Até aqui foram discutidos os principais fatores e as condições
fundamentais para aplicabilidade do processo de compostagem. Na seção

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seguinte, serão abordadas as fases ou etapas classificadas conforme a variação
da temperatura durante todo o processo.

2.3 FASES DA COMPOSTAGEM


As fases da compostagem, ou também chamada de compostagem
termofílica, são classificadas de acordo com a elevação e estabilização da
temperatura ao longo do processo. As fases descritas a seguir são baseadas
nas referências de Brinck (2020), Abreu (2018), Marchi e Gonçalves (2020),
Lacerda et al. (2020), Vieira et al. (2019) e Chen; Zhang e Yuan (2020).

2.3.1 Fase inicial


Como o próprio nome sugere, é o início da compostagem, da degradação
da matéria orgânica. Nessa fase, há a rápida elevação da temperatura em
decorrência das atividades metabólicas e da proliferação de microrganismos
mesófilos, consequentemente há liberação de energia (calor). A temperatura
pode chegar a 40º ou 45ºC. A fase pode durar de 15 a 72 horas ou mesmo de
dois a quatro dias.

2.3.2 Fase termofílica ou termófila


A fase termofílica se caracteriza pela predominância de microrganismos
termofílicos intensificando a decomposição do material orgânico. Esses
organismos são decompositores de polissacarídeos, proteínas e gorduras. Outra
característica dessa fase é a elevada temperatura, esta ultrapassa os 45ºC,
variando entre 50ºC e 65ºC podendo atingir o máximo de 70ºC, o que
proporciona a eliminação de organismos patógenos como também a liberação
de calor e vapor d’água. Essa fase pode durar dias ou meses, a depender do
tipo de material que está sendo compostado.

2.3.3 Fase mesofílica ou mesófila


Na fase mesofílica, ocorre a redução dos microrganismos termofílicos
(bactérias) e, consequentemente, da temperatura (por volta de 45ºC). Retorna a

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predominância de mesófilos e também de fungos e actinomicetos. Há perda da
umidade e a matéria orgânica mais resistente sofrerá degradação.

2.3.4 Fase de maturação ou humificação


Na quarta e última fase da compostagem, a maior parte do material
orgânico já foi transformado. Há diminuição da atividade microbiológica e o
processo de decomposição torna-se lento. Será nesse estágio que haverá a
formação do húmus, que é o composto maturado, mineralizado, rico em
nutrientes e estável.
“A compostagem natural demanda um tempo de 60 a 90 dias para
alcançar a bioestabilização e de 90 a 120 dias para a humificação (maturação)”
(Marchi; Gonçalves, 2020, p. 14).

2.4 VANTAGENS OU BENEFÍCIOS DA COMPOSTAGEM


As vantagens ou benefícios da compostagem são diversos. Abaixo, estão
elencados os principais baseados nas referências de Brinck (2020), Lacerda et
al. (2020), Sena et al. (2019); Melo (2021), Vieira et al. (2019) e Chen; Zhang e
Yuan (2020). É uma prática ecologicamente sustentável e econômica, pois com
a diminuição da quantidade de resíduos coletados, que seriam destinados a
aterros sanitários, evitam-se custos com a manutenção e logística dos mesmos
e, consequentemente, prolongando a vida útil desses aterros. Produção de um
composto bioestabilizado e seguro que poderá ser usado na agricultura, em
hortas e jardins. Promove a reciclagem de nutrientes melhorando as
propriedades físicas, químicas e biológicas do solo, renovando sua estrutura e
devolvendo matéria orgânica. Aumenta a microbiota do solo. Elimina a
germinação de sementes de ervas daninhas e organismos patógenos. Contribui
para a diminuição do uso de herbicidas e pesticidas. Auxilia na retenção da
umidade. Melhora a drenagem da água e sua retenção. Reduz a emissão de
gases do efeito estufa em relação a emissões de aterros sanitários, entre outros
benefícios.

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3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi desenvolvida no Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Amazonas, IFAM-CMDI, que está localizado na Av. Gov. Danilo
de Matos Areosa, Distrito Industrial I na cidade de Manaus-Amazonas.
O campus possui muitas árvores, gramados e jardins e também uma área
de vegetação natural bem preservada. No instituto há uma lanchonete e um
restaurante que atende toda a demanda da instituição. A refeição principal
ofertada pelo restaurante é o almoço, que gera muitos resíduos orgânicos
provenientes da preparação e das sobras da refeição. A manutenção do
gramado do campus também gera muitos resíduos. Esses resíduos têm como
destinação o descarte no lixo. Foi refletindo sobre essa problemática que surgiu
a ideia do método de compostagem como uma alternativa ambientalmente
sustentável de reaproveitamento desses resíduos.
Nessa perspectiva, a pesquisa se caracteriza como experimental, pois
“destina-se à experimentação de novos sistemas, produtos, processos ou até
mesmo serviços” (Cajueiro, 2013, p. 25), no caso desta pesquisa, a
compostagem experimental foi desenvolvida através de duas técnicas: a
compostagem no chão e a compostagem caseira ou doméstica. Quanto à forma
de abordagem, a pesquisa foi de natureza qualitativa por não tratar os dados de
forma estatística, mas sim interpretativa e analítica.
A pesquisa foi desenvolvida em etapas:
A primeira etapa foi o diálogo estabelecido entre os responsáveis pelo
restaurante e os funcionários da manutenção para solicitar a separação dos
resíduos orgânicos. Para o armazenamento dos resíduos da cozinha do
restaurante foi deixado um balde (de 15Kg) e estabelecido quantas vezes
durante a semana iam ser recolhidos. Os resíduos resultantes da manutenção
da grama foram estrategicamente armazenados próximo ao viveiro de mudas,
onde foi realizada a compostagem.

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Figura 1: Aparas de grama e viveiro de mudas do campus.

Fonte: Autores (2023).

A segunda etapa foi a coleta e a pesagem dos resíduos do restaurante.


No dia estabelecido para a coleta, o horário para o resgate era na parte da tarde,
após o almoço. Geralmente, o único balde deixado para o armazenamento era
suficiente, quando não era, usava-se outro para poder transportar os resíduos
da cozinha do restaurante até o laboratório de química, onde eram feitas as
pesagens. A finalidade das pesagens era quantificar os resíduos úmidos
(alimentos) que foram utilizados para a montagem das composteiras. Os
resíduos secos (aparas de grama) não foram quantificados. Para as pesagens
foi utilizada uma balança digital de 5,01Kg da marca Marte. As pesagens foram
divididas em partes para poder atender a capacidade máxima da balança.
Depois de pesados, os valores eram anotados e, posteriormente, somados e
registrados numa tabela.
A terceira etapa foi a montagem das composteiras. A compostagem no
chão foi a primeira técnica a ser desenvolvida. Teve início em maio de 2023. No
total foram montadas três composteiras desse tipo. Elas se localizavam debaixo
das bancadas do viveiro de mudas, onde ficavam protegidas, de certa forma, da
chuva e do sol. Quando era o dia da coleta dos resíduos do restaurante, estes
eram recolhidos e pesados sempre antes de serem levados até o viveiro. Para
a confecção das composteiras, a ordem de disposição dos resíduos era: uma
camada de resíduos secos (aparas de grama) e uma camada de resíduos
úmidos (resíduos de alimentos) e terceiro, mais uma camada de resíduos secos.
A última camada era de resíduos secos para que os resíduos úmidos não

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ficassem expostos a insetos e outros animais. As camadas de resíduos secos
correspondiam a dois baldes (de 15Kg) e a camada de resíduo úmido a um
balde. Essa foi a proporção (2/1) usada para a composição das leiras no chão.
Todas as camadas eram espalhadas uniformemente por toda a extensão da
leira, que apresentava forma retangular.

Figura 2: Resíduos de alimentos e grama.

Fonte: Autores (2023).

Esse processo se repetiu semanalmente para as três composteiras até


que o empilhamento das camadas alcançasse uma quantidade considerada
suficiente para a pesquisa. O número total de camadas da composteira 01 foram
07 (03 de resíduos úmidos e 04 de resíduos secos) e da composteira 02 e 03
foram 09 camadas (04 de resíduos úmidos e 05 de resíduos secos).
A compostagem caseira ou doméstica teve início em junho de 2023.
Este modelo de composteira é prático, barato e pode ser usado para locais com
restrição de espaço. Para a confecção deste tipo de composteira, foram
utilizados três baldes de 25Kg, um de massa acrílica e 02 de massa corrida.
Esses baldes, que seriam descartados, foram fornecidos por funcionários da
manutenção de uma empresa terceirizada contratada pelo instituto.
As ferramentas utilizadas para a confecção dos baldes foram as
seguintes: pincel marcador – usado para marcar um círculo nas tampas dos
baldes e identificá-los pelas numerações 1, 2 e 3; estilete – usado para cortar as
tampas dos baldes 2 e 3 na marca do círculo feito; chave de fenda estrela – esta
foi usada para fazer as perfurações necessárias nas laterais superiores e nos

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fundos dos baldes 1 e 2 e isqueiro – para fornecer a chama que aqueceria a
ponta da chave de fenda para facilitar as perfurações dos baldes. As perfurações
na parte de cima dos baldes 1 e 2 são para proporcionar a aeração do sistema
e as perfurações do fundo para percorrer o chorume gerado da decomposição
da matéria orgânica. O balde 3 funcionou como recipiente para o
armazenamento do chorume.

Figura 3: Baldes confeccionados.

Fonte: Autores (2023).

Com a conclusão da confecção dos baldes, o próximo passo foi adicionar


os resíduos na composteira seguindo a ordem de organização dos baldes,
começando pelo balde número 1. Diferentemente da compostagem no chão, os
resíduos úmidos foram triturados antes de serem adicionados na composteira.
Para reduzir o tamanho dos resíduos foi utilizado o triturador da do viveiro de
mudas, um Trapp TRF 400 Super, o que proporcionou com que todo o resíduo
úmido correspondente a um balde fosse suficiente para abastecer o balde 1 num
único dia associado aos resíduos secos.
A ordem de disposição dos resíduos orgânicos foi a mesma utilizada na
composteira no chão: primeiro, uma camada de resíduo seco, depois uma
camada de resíduo úmido, novamente uma camada de resíduo seco e assim,
sucessivamente até completar a última camada que foi de resíduo seco. Vale
ressaltar que essa última camada ficou abaixo das perfurações laterais
superiores para não impedir a passagem de oxigênio. Depois de preenchido, o
balde 1 foi fechado e sobreposto no balde 3. O balde 2 não foi mais utilizado

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porque se concluiu que o composto gerado do balde 1 seria suficiente para gerar
amostras para a análise.

Figura 4: Disposição dos resíduos secos e úmidos

Fonte: Autores (2023).

A quarta etapa teve início após ter se completado as montagens das


composteiras. A partir de então, as composteiras passaram a ser monitoradas
em relação a umidade, aeração e temperatura. Durante uma ou duas vezes na
semana eram medidas as temperaturas e também revolvidas as leiras para a
melhor circulação de oxigênio. Para medir as temperaturas foi utilizado um
termômetro com capacidade de medição de 110°C, com faixa de temperatura
entre -10°C a 110°C e divisão de escala de 1°C, que era colocado bem no centro
das leiras. Para os revolvimentos das composteiras 1, 2 e 3 foi utilizada uma
enxada e para o revolvimento do material do balde 1 da composteira doméstica,
uma pazinha estreita metálica. Quando houve a necessidade de correção da
umidade, como aconteceu com a composteira doméstica, além de
revolvimentos, foi adicionada a esse mais resíduo seco, o que ajudou a
estabilizar a umidade.

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Figura 5: Medição de temperatura e revolvimento da leira.

Fonte: Autores (2023).

A quinta etapa foi a coleta das amostras. Após a constatação da


maturação de todos os compostos, estes passaram por um processo de
peneiração. Foram utilizadas peneiras com tamanho de telas diferentes para a
separação das partículas maiores das partículas menores e, assim, conseguir
um material bem apurado para as análises. Depois de peneirados, os compostos
foram depositados em coletores (com capacidade de 80mL) previamente
identificados. Cada amostra foi feita em triplicata, ou seja, divididas em três
coletores totalizando doze amostras da compostagem experimental e seis
amostras de duas marcas comerciais de composto orgânico para comparação
após os resultados das análises.
A sexta etapa foi o tratamento das análises. Para a análise dos
macronutrientes, as amostras foram enviadas para a Embrapa Amazônia
Ocidental. E a outra parte das amostras encaminhada ao laboratório de química
do IFAM-CMDI para a análise de pH utilizando-se um medidor de pH de
bancada, o pHmetro. A metodologia empregada foi o pH em água descrito por
Silva (2009), cujo princípio é a medição eletroquímica da concentração efetiva
de íons H+ na solução solo.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES
4.1 QUANTIDADE DE RESÍDUOS.
Para o desenvolvimento da compostagem foram utilizados resíduos
orgânicos vegetais provenientes da preparação e sobras de alimentos do almoço
fornecidos pelo restaurante e também das aparas ou podas da grama do
Instituto. Durante o período de coleta desses resíduos, foram quantificados
apenas os resíduos alimentares com o intuito de saber a quantidade que fora
necessária para a construção das composteiras. Para a confecção das quatro,
incluindo a composteira doméstica, foram utilizadas no total 66,368Kg de
matérias-primas, conforme descrito na tabela 1.

Tabela 1 - Quantidade de resíduos coletados do restaurante.


DATA PESAGENS TOTAL
1ª 2ª 3ª 4ª
22-05-2023 0,261kg 0,276kg 0,166Kg - 0,703Kg
30-05-2023 3,621Kg 4,481Kg 1,653Kg - 9,755Kg
31-05-2023 3,950Kg 4,553Kg 0,064Kg - 8,567Kg
05-06-2023 4,016Kg 4,211Kg 2,004Kg - 10,231Kg
15-06-2023 4,106Kg 0,634Kg 3,598Kg 4,403Kg 12,741Kg
16-06-2023 4,354Kg 3,513Kg - - 7,867Kg
26-06-2023 4,494Kg 3,586 Kg 3,937Kg 4,487Kg 16,504Kg
66,368Kg
Fonte: Autores, 2023.

Nas referidas datas, foram coletados e pesados os resíduos orgânicos


utilizando-se uma balança com capacidade de medição de 5,01Kg. Por esta
razão, as medições foram divididas em duas, três ou quatro pesagens. O dia da
coleta que gerou mais resíduo foi o último, com 16,504Kg. Em segundo, o dia
15-06-2023 com 12,741 Kg fornecidos e em terceiro, o dia 05-06-2023 com
10,231Kg.
De acordo com Marchi e Gonçalves (2020), “É importante planejar e
promover ações sustentáveis visando à redução na fonte, reciclagem,
reaproveitamento e destinação ambientalmente correta para os resíduos
orgânicos de instituições de ensino”. Neste sentido, a transformação dos
resíduos orgânicos, cujo destino seria o lixo, foi transformado em fertilizante
orgânico, que gerou um grande benefício ambiental, pois reduz a quantidade de

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resíduos orgânicos sólidos destinados a aterros, aumentando sua vida útil e
reduzindo gastos com sua manutenção. Além disso, gerou também benefício
social e econômico devido a possibilidade do pequeno produtor gerar composto
orgânico tornando essa prática uma forma de geração de emprego e renda.

4.2 TEMPERATURA
A partir da conclusão das composteiras, começa a etapa de manutenção.
A temperatura, por ser um fator indicativo do desenvolvimento do processo de
compostagem, foi medida regulamente acompanhada dos revolvimentos do
material em compostagem (Tabela 2).

Tabela 2 – Controle de temperatura.


Data Balde 1 Composteira 1 Composteira 2 Composteira 3
04-07-2023 29°C 28°C 28°C 29°C
19-07-2023 34°C 28°C 28°C 28°C
27-07-2023 34°C 28°C 28°C 28°C
03-08-2023 34°C 28°C 28°C 28°C
07-08-2023 30°C 28°C 28°C 28°C
16-08-2023 31°C 28°C 28°C 28°C
23-08-2023 37°C 29°C 29°C 28°C
13-09-2023 30°C 28°C 28°C 28°C
21-09-2023 27°C 28°C 28°C 28°C
Fonte: Autores, 2023.

As medidas de temperatura iniciaram oito dias depois da última coleta de


resíduos, dia 26-06-2023, um mês depois de iniciada a montagem das
composteiras 1, 2 e 3, com exceção da composteira doméstica, que foi montada
no mesmo dia da última coleta de resíduos. No primeiro dia de aferição da
temperatura, os valores das quatro composteiras foram semelhantes, em torno
de 28°C e 29°C. Quinze dias depois, o valor da temperatura da composteira
doméstica aumentou para 34°C, permanecendo o mesmo valor nas duas
medições seguintes, enquanto as temperaturas das composteiras 1, 2 e 3
permaneceram estáveis, em 28°C. No dia 03-08-2023, observou-se que o
material da composteira doméstica apresentava muita umidade, o que justificava
a não variação da temperatura até o referido dia, um mês e quatro dias depois
do início da compostagem. Então foi decidido adicionar mais resíduo seco e

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revolver todo o material da composteira doméstica na tentativa de manter sob
controle a umidade. Na medição seguinte, já se observou a mudança de
temperatura de 34°C para 30°C e, posteriormente, o aumento considerável para
37°C (indicando atividade microbiológica) e declínio até estabilizar em 27°C,
mesma temperatura da compostagem doméstica desenvolvida por Lacerda et al
(2020). As composteiras 1,2 e 3 em todas as medições permaneceram estáveis,
variando em alguns momentos apenas 1°C, indicando, portanto, que as
compostagens no chão provavelmente atingiram o estado de maturação muito
antes de completarem 60 dias, pois nos meses de julho, agosto e setembro as
temperaturas se mantiveram na maior parte em 28°C. Este fato pode estar
relacionado ao clima da região, pois a compostagem foi desenvolvida durante o
verão intenso e ao ar livre, diferente da compostagem doméstica que foi
desenvolvida em um sistema fechado.

4.3 CLASSIFICAÇÃO, ASPECTO FÍSICO E VISUAL DOS COMPOSTOS


ORGÂNICOS GERADOS
De acordo com que estabelece a Instrução Normativa 61/2020 do
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o MAPA, para fertilizantes
orgânicos, os compostos resultantes das compostagens se enquadram no grupo
de fertilizantes orgânicos simples, mistos, compostos e organominerais Classe
“A”, já que a matéria-prima utilizada para a produção dos compostos foram
resíduos de verduras, frutas, legumes e restos de alimentos, isentos de despejos
ou contaminantes.
O aspecto físico do composto é sólido do tipo farelado, de cor preta,
variando entre o tom claro ao mais escuro, sem odor e textura solta.

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Figura 6: Compostos orgânicos após o processo de peneiração.

Fonte: Autores, 2023.

4.4 PRESENÇA DE MACRONUTRIENTES ESSENCIAIS E PH.


Segundo Feitosa (2020, p. 122), “A qualidade do composto depende da
presença de nutrientes, principalmente nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K) e
carbono (C)”. Portanto, constatar nos compostos esses elementos é garantir que
o produto gerado será um bom fertilizante para o solo e para as plantas. Os
teores de Nitrogênio (N), Fósforo (P), Potássio (K) encontrados estão descritos
abaixo na tabela 03.

Tabela 3 – Valores de Nitrogênio, Fósforo e Potássio.


AMOSTRAS N (g/kg) P (g/Kg) K (g/Kg)
Composteira 1 5,66 0,273 1,83
Composteira 2 4,05 0,412 1,56
Composteira 3 5,95 0,284 1,32
Composteira doméstica 12,62 0,349 2,66
Fonte: LASP/Embrapa Amazônia Ocidental adaptado por Autores, 2023.

Dos três macronutrientes, o Nitrogênio se apresentou em maior


quantidade em relação ao Fósforo e Potássio. De acordo com Feitosa et al
(2021), “O nitrogênio (N) atua em todas as fases da planta (crescimento, floração
e frutificação) promovendo a formação de proteínas e faz parte dos tecidos
vegetais, ele é o nutriente mais exigido pelas plantas”.
O pH refere-se ao potencial hidrogeniônico. Ele determina o grau de
acidez, neutralidade ou alcalinidade de uma solução química e é representado
por valores de uma escala que varia de 0 a 14. Valores abaixo de 7 são
considerados ácidos, igual a 7 neutros e acima de 7 básicos. Os valores de pH

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aqui descritos são dos produtos finais das compostagens. Esse parâmetro não
foi acompanhado durante o processo como foi a temperatura. As leituras de pH
mostraram valores entre 6 e 7.

Tabela 4 – Valores de pH.


Nº AMOSTRAS pH
1 Composteira 1 6,86
2 Composteira 2 6,98
3 Composteira 3 6,67
4 Composteira doméstica 7,00
5 Composto orgânico A 7,52
6 Composto orgânico B 7,35
Fonte: Autores, 2023.

As composteiras 1, 2 e 3 apresentaram valores de pH entre 6,67 e 6,98;


já a composteira doméstica apresentou valor 7,00. Na escala de pH, esse valor
representa neutralidade e está próximo dos valores apresentados pelos
compostos orgânicos comerciais. A e B. Esses valores indicam a humificação da
matéria orgânica pela neutralidade do pH (Abreu, 2018) e se assemelham aos
valores descritos por Sena et al (2019) e Silva et al (2020).

4.5 ELABORAÇÃO DE CARTILHA DE COMPOSTAGEM.


A proposta de elaboração de uma cartilha sobre compostagem surgiu da
ideia de compartilhar as metodologias de compostagens desenvolvidas no
projeto e propagar o conhecimento sobre a prática da compostagem. O texto
elaborado para a cartilha foi escrito com o objetivo de ser um guia para o público,
contribuindo para que esta prática se torne ainda mais popular como alternativa
sustentável para o reaproveitamento de resíduos orgânicos.
A cartilha destaca em seu roteiro uma parte teórica, aborda a importância
da compostagem, os resíduos orgânicos que podem ser utilizados e evitados na
compostagem, os conceitos e fatores ou condições que influenciam no processo
de compostagem; e uma parte prática, as técnicas de compostagem: no chão e
a caseira (em baldes de 20L fechados). Ao final da cartilha, está mencionado o
tempo de compostagem e as obras utilizadas como referências.

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A cartilha poderá ser visualizada através do link
http://repositorio.ifam.edu.br que está disponível também para download no
repositório institucional do IFAM.

Figura 7: Capa da cartilha de compostagem

Fonte: Autores, 2023.

5 CONCLUSÃO
As compostagens iniciaram no dia 18 de maio de 2023 e foram
concluídas, para fins de análise, em 22 de setembro de 2023, quando foram
coletadas as últimas amostras das compostagens experimentais e também dos
materiais compostados de duas marcas comerciais, para posterior comparação,
referidas aqui como A e B. O desenvolvimento das compostagens e os
resultados obtidos foram satisfatórios, pois os compostos gerados apresentaram
características físicas (aparência, cor, odor, textura) e químicas (pH e
macronutrientes) dentro do esperado para um adubo (ou fertilizante) orgânico.
Os valores de pH das amostras confirmam a qualidade dos compostos
gerados, pois estão de acordo com a faixa de pH ideal descrita por Dal Bosco et
al (2017).

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Com este estudo foi possível constatar a eficácia de dois métodos de
compostagem para a produção de adubo orgânico em pequena escala
utilizando, como matérias-primas, resíduos de alimentos e resíduos de gramas,
uma combinação simples, mas que gera um produto seguro e saudável para o
solo e nutritivo para as plantas. E ainda a destinação correta para os resíduos
orgânicos gerados no dia-a-dia na preparação de alimentos.
A elaboração da cartilha contribui no processo de educação ambiental,
orientando aqueles que tenham interesse em utilizar a compostagem no
reaproveitamento de seus resíduos orgânicos sólidos, a desenvolver essa
prática econômica e ambientalmente sustentável.

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