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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC

Impactos Ambientais da Suinocultura e Sustentabilidade

ILHÉUS – BAHIA
2021
Lais Santos Trajano

Nathan Pereira Blumer

Impactos Ambientais da Suinocultura e Sustentabilidade

Trabalho apresentado à
Universidade Estadual da
Santa Cruz, para fins de
avaliação do componente
curricular Zootecnia.

Docente: Prof. Gisele Andrade.

ILHÉUS – BAHIA
2020
Impactos ambientais da suinocultura

Além da indústria e da urbanização (esgoto doméstico), a suinocultura é


considerada pelos órgãos de fiscalização e proteção ambiental, uma atividade
de grande potencial poluidor, face ao elevado número de contaminantes
contidos nos seus efluentes, cuja ação individual ou combinada, representa
uma fonte potencial de contaminação e degradação do ar, dos recursos
hídricos e do solo (PEREIRA, et al., 2009).

A suinocultura passou por alterações tecnológicas, visando principalmente o


aumento de produtividade e a redução dos custos de produção. Vem
desenvolvendo-se e buscando um mercado cada vez mais especializado
devido à grande demanda da carne suína, de acordo com (IBGE, 2020) o
efetivo de rebanho de suínos foi de 41,1 milhões de cabeças o que representou
crescimento de 1,4% em relação ao ano passado. Na produção de suínos, em
função da alta concentração dos rebanhos, os dejetos podem exceder a
capacidade de absorção dos ecossistemas locais, sendo causa potencial da
poluição e dos problemas de saúde relacionados com matéria orgânica,
nutrientes, patógenos e odores (MAPA, 2016). Dentre os principais impactos
ambientais gerados pela suinocultura se encontram: a emissão de gases
nocivos à atmosfera, o risco à biodiversidade, a disposição inadequada dos
dejetos no solo e a contaminação de ambientes aquáticos, tanto por emissão
direta dos efluentes da produção de animais em corpos hídricos como por
contaminação indireta (KUNZ et al., 2009).

Vários fatores influenciam no volume de dejetos produzidos, tais como o


manejo, o tipo de bebedouro, sistema de higienização adotado (frequência e
volume de água utilizada), bem como, o número e categoria de animais. O
dejeto dos suínos é composto basicamente de fezes e urina, sendo ele um
produto liquido complexo onde o teor de matéria seca situa-se entre 50 a 80
g/L. Essa matéria seca é composta por; partículas em suspensão (grossas e
finas); matéria coloidal e matéria dissolvida (Embrapa). Seus principais
componentes poluentes são o nitrogênio (N), o fosforo (P), e os metais
pesados, como zinco (Zn) e cobre (Cu), além de microrganismos fecais
patogênicos (COOLS et al., 2001 apud FERNANDES, 2012). O nitrogênio é um
dos grandes responsáveis pela deterioração do ambiente aéreo pela formação
do gás amônia, o conhecimento do fluxo de nitrogênio (N) é de fundamental
importância para o manejo correto dos dejetos nas granjas produtoras de
suínos, tanto para o uso agrícola como na previsão do potencial de risco de
poluição dos mananciais de água em função dos excedentes de N em granja
de produção. Além disso as sucessivas aplicações dos dejetos no solo podem
ocasionar desequilíbrio químicos, físicos e biológicos devido à composição
química diversificada da água residuária de suinocultura. Seu grau de
gravidade varia de acordo com a composição do resíduo, a quantidade
aplicada, a capacidade de extração das plantas, o tipo de solo e o tempo de
utilização dos dejetos (CERETTA et al., 2005).

Mitigação dos impactos ambientais

Uma das formas para reduzir a depreciação dos recursos naturais é através da
aplicação de boas práticas de produção, onde requer planejamento de práticas
para atingir a sustentabilidade da produção. Além disso, o conhecimento das
características dos dejetos dos animais é essencial para o projeto dos sistemas
de tratamento e para a avaliação das consequências negativas do manejo e da
disposição inadequada dos resíduos da produção (MAPA). Transformar dejetos
em insumos agrícolas é uma das maneiras para a redução de impactos
ambientais. Num cenário de agricultura moderna, em que se deve primar pela
máxima eficiência de utilização dos insumos, não faz sentido tratar os dejetos
animais como resíduos agropecuários, sendo mais racional considerá-los como
subprodutos, os quais devem ser eficientemente reciclados dentro da cadeia
produtiva. Assim, a reutilização racional dos dejetos para a fertilização do solo
deve ser tratada como uma necessidade básica dentro dos sistemas de
produção, é necessário o uso de critérios técnicos para cálculos de doses e
que sejam seguidas as boas práticas de cultivo, respeitando época,
declividade, cobertura e proteção de solo e manejo dos dejetos anterior à
aplicação (Embrapa, 2019).
Tratamento de resíduos

A compostagem é uma técnica que foi desenvolvida como um método


alternativo de manejo dos dejetos oriundos desta atividade e visa modificar as
características químicas e físicas dos dejetos, dando origem a um produto final
de alto valor agronômico (Nunes et al.,2003)
Este método se divide em duas fases distintas. Na primeira, chamada de
fase de absorção, se agrega de forma fracionada os dejetos líquidos ao
substrato que pode ser, serragem, palha ou maravalha até a atingir uma
proporção vicinal de 1:10 (1 kg de substrato para 10 litros de dejetos líquidos).
Neste estágio transcorre a dilatação da temperatura devido ao recurso de
fermentação e a evaporação da água. A segunda fase, chamada de maturação
ou estabilização, tem o dote retido pelo contínuo revolvimento da massa e
adição de oxigênio, o que permite a manutenção da temperatura elevada em
seu interior propiciando a eliminação dos microrganismos patogênicos e a
estabilização do composto (OLIVEIRA, 2006). A compostagem pode ser
realizada em um período com duração entre 90 a 120 dias. As temperaturas na
parte interna da biomassa ficam entre 40-50ºC, sucedendo a elevações médias
de 10ºC podem ocorrer logo após a incorporação dos dejetos. (OLIVEIRA et
al., 2004).
O sistema de cama sobreposta se compõe em um procedimento de
compostagem incluso da própria instalação onde os animais estão instalados.
Ou seja, em galpões de piso de concreto contendo na faceta dos substratos, os
animais vão capitalizando seus dejetos diretamente neste material iniciando
uma compostagem aeróbia. Com a caloria gerado, a umidade vai sendo
abolido por evaporação, restando ao final do processo um composto orgânico.
(NUNES, 2003). Como o processo de compostagem é aeróbio, são reduzidas
as emissões de amônia (NH3) e odores, viabilizando melhor conforto, bem-
estar animal e mitigando o impacto ambiental causado pela atividade suinícola.
O sistema supracitado dispende um ínfimo custo com as instalações e o
manejo dos dejetos, quando paragonado ao sistema tradicional. Além de
requintar a valia da cama como fertilizante agrícola, devido a concentração de
nutrientes e à redução quase total da água contida nos dejetos. As
desvantagens estão associadas ao maior consumo de água no verão, maior
cuidado e necessidade de ventilação nas edificações, disponibilidade do
substrato que servirá de cama e bom nível sanitário dos animais no plantel,
para avaliar o sistema de produção de suínos em cama sobreposta. Estudos
mostram que suínos criados em sistemas de cama sobreposta apresentam
resultados de desempenho semelhantes aos animais criados em sistemas
convencionais, (FERNANDES, 2012)
A cisão de fases é um procedimento que consiste em separar os dejetos
de suínos em fase sólida e líquida por sistemas físicos, aumentando a
eficiência dos tratamentos subsequentes. Desse processo saem dois produtos:
uma fração líquida mais fluída que preserva a maioria dos nutrientes solúveis, e
uma cota sólida que se sustem agregada e pode ser transfazer em um
composto orgânico. São várias as estratagemas disponíveis para essa
finalidade, entre elas: decantação, centrifugação, peneiramento e/ou
prensagem, desidratação por vento, ar forçado ou ar aquecido. (Nunes et
al.,2003). Segundo Hiragarashi e Oliveira (2007), as mais empregadas são
decantação e o uso de peneiras,
Decantação consiste em repartir os dejetos em função da diferença de
densidade entre as partículas. O decantador remove aproximadamente 50% do
material sólido do excremento, num volume em torno de 15% do total dos
dejetos líquidos produzidos por uma criação, assentindo uma redução do poder
poluente. Na decantação é transportada do efluente a maior parte dos metais
pesados, do fósforo orgânico e do nitrogênio orgânico. Contudo, todos os
elementos removidos do efluente assentam no lodo depositado no fundo do
decantador. De acordo com HIGARASHI e OLIVEIRA (2007), o produto
sofreado no lodo tem alta aptidão fertilizante; maior concentração de NPK por
m³ transportado e deve receber a destinação apropriada para não causar
poluição. De forma geral, os decantadores possuem a vantagem de baixo custo
de implantação e manutenção em relação a outras técnicas. Em contrapartida
exige uma maior mão-de-obra operacional para drenagem de lodo uma vez
que é necessário esse manejo em dias alternados e posteriormente
armazenagem em esterqueiras para estabilização.
Biodigestão dos Dejetos Suínos apresenta impacto de atividades sendo
em sua grande parte eliminado pela adoção de métodos de processamento dos
dejetos como a biodigestão, um processo fermentativo anaeróbio e controlado,
formando uma massa microbiologicamente estável e gases como produto
destes microrganismos. Os principais gases formados são o dióxido de
carbono (HENN et al., 2005).
O processo de biodigestão ocorre no interior de um biodigestor que é
uma estrutura construtiva formada por uma câmara fechada em que é colocado
o material orgânico para decomposição. Pode ser um tanque revestido e
coberto por manta impermeável, o qual, com exceção dos tubos de entrada e
saída, é totalmente vedado, criando um ambiente anaeróbio (sem a presença
de oxigênio).
Biodigestores em batelada – neste tipo de biodigestor a quantidade de
aparato orgânico a ser digerido é posta apenas uma vez, então é
hermeticamente ocluso e após o período delimitado a produção de gás se inicia
e prossegue até consumir o material de todo o lote e o processo termina. Esse
processo leva longos períodos, sendo pouco utilizado no Brasil. Biodigestores
contínuos – podem ser abastecidos diariamente, permitindo que a cada entrada
de substrato orgânico a ser processado exista saída de material já tratado
(OLIVER et al., 2008). O modelo de biodigestor mais aplicado no Brasil é o
tubular com manta plástica (conhecido como modelo Canadense de
biodigestor). A localização do biodigestor deve ser feita com destreza para
facilitar a distribuição do biogás pela propriedade, diminuindo os custos com
armazenamento e transporte do mesmo. (HENN et al., 2005).

Impacto na saúde humana

O corolário do processo de produção intensiva é a poluição dos recursos


hídricos, por intermédio do lançamento de dejetos de maneira direta como
matéria orgânica, nitratos, nitritos, fósforo, coliformes fecais, vírus ou de forma
indireta, através do excesso de projeção dos dejetos como adubo orgânico.
Essa contaminação resulta na baixa qualidade e disponibilidade de água para
os animais e para o homem, além de viabilizar o surgimento de pragas, como o
borrachudo e a mosca doméstica, devido a extinção de seus predadores
naturais em função da poluição causada, e aumentar a na atmosfera devido a
emissão de constituintes naturais de dejetos de suínos (DALAVEQUIA, 2000).
Atividades degradantes fazem com que o solo perca suas características
agrícolas. Outro impacto que os criadores identificam é o aparecimento de
mosquitos borrachudos (Simuliidae) e moscas domésticas no verão, muito mais
do que havia há anos atrás. Esse evento se deve ao aumento da carga
orgânica nos recursos hídricos, fator favorável a proliferação deste mosquito,
pois a matéria orgânica manifesta na água onde ele se desenvolve serve como
alimento para o seu desenvolvimento (BONATO, 2011). Uma vez que o dejeto
dos suínos está na forma líquida há uma elevada diluição da carga orgânica, o
que aumento o volume do dejeto e a água presente, e isso constitui um
agravante para os problemas de captação, armazenagem, tratamento,
transporte e destinação dos dejetos. O manejo do dejeto adequado é cobrado
na licença ambiental, mas na realidade o criador realiza o manejo e é
responsável pelo destino correto, nas emissões gasosas das criações de
suínos estão presentes bactérias, fungos e endotoxinas que são contaminantes
do ar nas instalações de suínos. Naturalmente, podem contaminar as pessoas
e causar problemas de saúde. Esses efeitos poderão, também, em longo
prazo, ser superior à soma dos efeitos em curto prazo. Essa conclusão se
reverte de importância para que o público tome ciência dos riscos ambientais a
que está submetido (HIGARASHI e OLIVEIRA (2007).

Conclusão

Tendo em vista que a suinocultura é uma atividade econômica importante para


pequenos agricultores e para o cenário da bovinocultura nacional, se torna
necessário que estes tenham consciência dos relevantes impactos ambientais
que os dejetos provocam no meio ambiente. Os dejetos devem passar por
tratamento adequado, existem tecnologias novas sendo empregadas, como as
compostagens mecanizadas que transformam os dejetos líquidos em adubo
orgânico seco, e também os sistemas de biodigestores, que transformam os
dejetos em energia. Além de tratar o dejeto, uma alternativa é tornar a
produção mais limpa, ou seja, buscar tecnologias e sistemas de criação em
que se minimize e evite a geração de resíduos.
Referências

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