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COMPOSTAGEM

A. SCHUELER ; C. F. MAHLER; J.ROSE

INTRODUÇÃO

Aterrar o lixo é uma prática que vem sendo utilizada pelos povos ao longo da história. Com
o aumento da população e do volume de rejeitos, houve necessidade dessa técnica ser
aprimorada, considerando-se os impactos ambientais a curto, médio e longo prazo. Futuramente,
os aterros deverão receber apenas inertes, de forma que as sociedades não sejam prejudicadas
pelos danos ambientais causados pelos resíduos dispostos pelas sociedades anteriores.
O tratamento térmico, o pré-tratamento do lixo e a reciclagem de materiais são alternativas
que vêm sendo aprimoradas para diminuir o volume de lixo a ser descartado nos aterros e,
conseqüentemente, aumentar sua vida útil.
A compostagem é uma forma de reciclagem na qual a fração orgânica do lixo é
transformada gerando como produto final um composto que pode ser usado tanto na fertilização
agrícola do solo, como na melhoria de sua estrutura física, aumentando sua capacidade de
resistência à erosão.
O resíduo sólido urbano (RSU) brasileiro, diferente do RSU dos países mais
industrializados, possui, em sua maioria, alto teor de matéria orgânica (50 a 70%), o que torna
extremamente viável sua utilização para a produção de composto. A Tabela 1 apresenta o teor de
matéria orgânica encontrado no resíduo urbano de algumas cidades do mundo e do Brasil.
Atualmente existem várias tecnologias de compostagem que vão desde processos caseiros
— quando a produção não excede 10 a 50 kg/mês — até sistemas em escala industrial, utilizados
para volumes maiores que 300 t/mês (IPT/Cempre, 2000). Na escolha do método de
compostagem, devem ser levados em consideração fatores como o volume de processamento, a
disponibilidade de equipamentos, as características do material, entre outros.
Há resistências à utilização do composto feito com resíduo urbano na agricultura, no que
diz respeito à presença de substâncias tóxicas e de organismos patogênicos. Entretanto, a
compostagem desenvolvida dentro de critérios específicos bem monitorados é um processo
seguro e eficiente. Além de ser capaz de gerar um produto de boa qualidade, evita que os aterros
de lixo sejam ocupados desnecessariamente e possibilita economias significativas no aterro
sanitário final.

Tabela 1: Teor de material putrescível nos RSU de cidades no mundo e no Brasil


Teor de Matéria Teor de Matéria
Cidades do mundo Cidades Brasileiras
Orgânica (Peso %) Orgânica (Peso %)
Nairobi (1) 74% Salvador - BA (2) 70%
Cochabamba (1) 71% São Paulo - SP (3) 52%
Istambul (1) 61% Recife - PE (4) 60%
Atenas (1) 59% Manaus - AM (3) 51%
Pequim (1) 45% Laranjal do Jarí (6) 61%
Bancoc (1) 44% Quatis - RJ (7) 59%
Genebra (1) 28% Paracambi - RJ (7) 63%
Nova Iorque (1) 20% Rio de Janeiro - RJ (8) 53%
Hong-Kong (1) 15% Dourados - MS (9) 58%

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Fonte: (1) Manassero et al., 1996, (2) / (3) / (4) Santos & Presa / Sodré & Dith, 1998 / Mariano &
Jucá 1995 ibid. Abreu, 2000; (5) Lima, 1991; (6) Mahler, 2001 (7) Silveira 2005(8) Comlurb, 2003 (9)
Prefeitura Municipal da Dourados, 2004

O COMPOSTO E A COMPOSTAGEM

O composto é um adubo preparado com matéria orgânica humificada, ou seja, que sofreu
um processo bioquímico de decomposição e deu origem a uma fração coloidal, de constituição
diferente da matéria-prima original. É capaz de proporcionar ao solo melhoria em suas
propriedades físicas, químicas e físico-químicas, além de conter sais minerais que servem como
nutrientes às plantas. Esse processo denomina-se compostagem e é realizado por
microrganismos.
Quanto mais matéria orgânica existe num solo, mais produtivo ele tende a ser. O composto
orgânico, sendo constituído fundamentalmente de matéria orgânica decomposta e estabilizada,
possui macro e micronutrientes, o que influencia diretamente a fertilidade química do solo. No
entanto, o maior valor de um composto reside na sua porção humificada.
Quanto maior a concentração em húmus apresentada por um adubo orgânico, mais eficaz
é sua ação como melhorador do solo. A matéria orgânica crua, que não sofreu o processo de
fermentação e humificação, tem pouca eficiência como fertilizante. O mesmo acontece com as
folhas mortas que caem e estão na superfície da mata vegetal. As folhas que estão por cima
encontram-se em estado cru e são de pouco valor. As folhas que estão em baixo, no entanto,
formam uma massa preta, com alto valor nutritivo, que, aos poucos, se integra à terra.
Os solos tropicais são formados de argilas de baixa capacidade de troca catiônica. A
matéria orgânica ajuda no aumento desta troca, portanto, o fornecimento de matéria orgânica
humificada é um importante fator de melhoria ao aproveitamento agrícola (Tchobanoglous et al.,
1994). O composto torna a terra mais solta, porosa e menos densa; as terras mais soltas são mais
fáceis de serem aradas e os torrões se desfazem melhor; as raízes caminham com mais facilidade
e encontram mais ar à sua disposição. Uma terra rica de matéria orgânica é menos dura quando
seca e menos pegajosa quando molhada. Quando usadas sistematicamente como adubo e
condicionador do solo, o composto, como outras matérias orgânicas, dá à terra uma certa
elasticidade. Assim, passando sobre tal solo uma máquina pesada, ele se comprime, mas tem a
tendência de retomar a forma primitiva, resistindo mais à compactação que igual solo sem matéria
orgânica. Dentre as principais propriedades do composto orgânico, podem ser destacadas:
• Melhoria da estrutura do solo, tornando-o poroso e agregando suas partículas que se
transformam em grânulos;
• Aumento da capacidade de absorção e armazenamento de água no solo;
• Redução radical da erosão evitando o deslocamento violento de água e amortecendo o
impacto das gotas de chuva na superfície dos solos;
• Aumento da estabilidade do pH do solo;
• Aumento da retenção dos macronutrientes, impedindo seu arraste pela chuva;
• Formação de quelatos, que aprisionam os micronutrientes (Fe, Zn, Cu, Mn, etc.) que serão
absorvidos apenas pelas raízes das plantas;
• Fornecimento de nutrientes às plantas, como nitrogênio, fósforo, potássio, enxofre, cálcio e
magnésio, em quantidade total em torno de 6% de seu peso;
• Aumento da aeração do solo, necessária à oxigenação das raízes;
• Melhoria da drenagem de água no solo;

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• Aumento da retenção do nitrogênio no solo.
A compostagem pode ser utilizada para a decomposição e humificação de grandes
volumes de matéria orgânica fora do solo, em usinas específicas para essa técnica ou local onde
possa haver um bom controle dos fatores que condicionam esse processo.
A transformação do resíduo orgânico em húmus se dá basicamente em dois estágios:
Digestão: Fase inicial da degradação. Finaliza-se quando o material torna-se
bioestabilizado, depois de ter atingido o estágio termofílico, sofrendo uma elevação de temperatura
para 55ºC a 60ºC e retornando ao estágio mesofílico com a queda da temperatura até a faixa de
40ºC a 55ºC. O tempo necessário gasto nessa fase depende de diversos fatores, entre eles
questões ambientais e climáticas, técnicas-operacionais e processo utilizado. A digestão completa
chega a durar de 60 a 90 dias, quando a compostagem é natural, ou seja, feita sem intervenção
externa. Esta faixa de tempo tende a baixar quando são utilizadas técnicas como o revolvimento, a
oxigenação forçada, ou quando a massa a ser compostada passa por biodigestores. No final desta
fase, a decomposição ainda não se completou, porém, o composto pode ser usado sem danificar
as plantas. Ainda não é um adubo perfeito, pois seu conteúdo em colóides é baixo. Poderá
continuar seu processo de cura com o aumento da quantidade de húmus, já no solo.
Maturação: É o período usualmente mais longo (30 a 60 dias). A massa em degradação
torna-se humificada, ou seja, com mais nutrientes que passaram da forma orgânica para a mineral,
podendo ser assimilados pelas raízes, e com maior teor de material coloidal, responsável pela
capacidade melhoradora do solo. O material torna-se bem decomposto e dificilmente pode-se
identificar a matéria-prima original.
Antes de passar por esses dois estágios, o composto é chamado de cru. É danoso às
sementes e raízes.
Classificação da Compostagem
A compostagem é geralmente classificada quanto à biologia - aeróbio, anaeróbia e mista -
quanto à temperatura - criofílico, mesofílico e termofílico - quanto ao ambiente - aberto e fechado -
e quanto à forma de processamento - estático / natural e dinâmico / acelerado.
Classificação quanto à biologia
Processo aeróbio: ocorre quando a degradação da matéria orgânica se dá em presença de
O2. A decomposição aeróbia por microrganismos leva à formação de produtos finais oxigenados
tais como dióxido de carbono, água, sulfatos, etc. Geralmente estes compostos são considerados
estáveis e relativamente inofensivos, não havendo nenhuma característica negativa associada a
este processo. A decomposição aeróbia, como qualquer processo biológico, produz odores,
porém, não agressivos.
Aerobiose:
Matéria produtos finais oxigenados
+ microrganismos + O2 Æ CO2 + H2O +
orgânica (NO-3, SO-24, etc.).

Processo anaeróbio: ocorre quando a degradação da matéria orgânica acontece sem O2. A
digestão anaeróbia produz componentes parcialmente oxigenados e produtos químicos reduzidos
que são capazes de continuar em decomposição bioquímica. Dentre os produtos finais reduzidos
encontram-se os ácidos graxos, aldeídos, álcoois, ácido sulfídrico etc. O ácido sulfídrico é um gás
bastante reativo e freqüentemente, ao se combinar com a matéria orgânica parcialmente
decomposta, forma líquidos de coloração escura, associado a fortes odores.
Anaerobiose:
produtos finais reduzidos
Matéria
+ microrganismos Æ CO2 + H2O + CH4 + NH3 + (H2S, ácidos orgânicos,
orgânica
aldeídos, etc.).

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Processo Misto: É a combinação dos processos aeróbio e anaeróbio. A matéria orgânica é
submetida ao processo aeróbio devido à presença de oxigênio no meio. Com a redução do O2,
desenvolve-se o processo anaeróbio. (Lima, 1995).
Classificação quanto à temperatura
Processo Criofílico: Ocorre quando a matéria orgânica é digerida à uma temperatura
próxima ou inferior à do meio ambiente.
Processo Mesofílico: Refere-se à temperaturas médias (40oC à 55oC). A variação se dá em
função da população de microrganismos, sendo mais alta a temperatura quanto maior for o
número populacional.
Processo Termofílico: Ocorre quando a degradação se processa em temperatura superior à
55o C, sendo mais alta quanto mais intensa for a atividade microbiológica.
Classificação quanto ao ambiente
Processos Abertos: A compostagem é realizada em pátios de maturação a céu aberto.
Processos Fechados: A compostagem é feita por meio de dispositivos especiais. Exemplo:
digestores, bioestabilizadores, torres, células de fermentação, outros.
Classificação quanto processamento
Processos Estáticos: O revolvimento da massa em degradação é feito esporadicamente.
Processos Dinâmicos: A massa em degradação é revolvida continuamente, favorecendo a
aeração, a atividade e o controle biológico.

Fatores que afetam o processo da compostagem


Por ser um processo biológico, a compostagem é influenciada por todos os fatores que
afetam a atividade microbiológica, como umidade, oxigenação, temperatura e matéria prima
utilizada.
Umidade
Os nutrientes necessários ao desenvolvimento dos microrganismos devem estar
disponíveis sob a forma de solução em água para que possam ser absorvidos. O teor de umidade
deve estar em equilíbrio com a taxa de oxigênio da massa em decomposição. Segundo Kiehl
(1998), teores acima de 60% prejudicam o processo, já que a água ocupa os macroporos e
impede o oxigênio de circular. No processo aeróbio de compostagem, se o teor de oxigênio torna-
se baixo, os microrganismos aeróbios morrem e são substituídos pelos anaeróbios, os quais não
decompõem a matéria orgânica com tanta rapidez e ainda produzem maus odores. Se o teor de
umidade estiver abaixo de 40%, ocorrerá redução do número de microrganismos decompositores,
inibindo o processo de decomposição, mesmo que a taxa de oxigênio e a temperatura interna do
material estejam adequados.
O teor ideal de umidade deve estar sempre por volta de 55%, para que os microrganismos
se desenvolvam ao máximo. Mesmo se o teor de umidade for ótimo, a temperatura e a oxigenação
devem ser monitorados e mantidos em níveis satisfatórios, pois, caso contrario, prejudicam da
mesma forma o processo.
A umidade excessiva não serve como mecanismo para reduzir a temperatura da massa em
decomposição. Seu excesso poderá até baixar a temperatura, mas antes disso ocasionará
anaerobiose com a conseqüente paralisação do processo de decomposição em decorrência da
falta de oxigenação da massa.
Oxigenação
Na compostagem aeróbia, a oxigenação pode ser feita pelo reviramento do material em
decomposição, por injeção forçada de ar ou por ventilação estática através de um sistema do tipo
chaminé. A aeração é a melhor forma de controlar a temperatura para que ela não se eleve a
ponto de prejudicar o desenvolvimento dos microrganismos, incrementando a velocidade de
oxidação do material, diminuindo o impacto da geração de odores e auxiliando no controle do

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excesso de umidade. O consumo máximo de oxigênio ocorre quando a temperatura do material
está em torno de 55o a 60oC estando os outros fatores em equilíbrio, coincidindo com a atividade
máxima dos microrganismos decompositores (termofílicos). (Baptista, 1993).
Quando a aeração é feita por reviramento, o material em decomposição fica muito exposto
ao meio externo, havendo troca térmica entre o dois. Essa exposição excessiva acarreta a
formação de vapores orgânicos, causada pelas diferenças entre a temperatura do material (55o a
75oC) e do ambiente externo (20o a 35oC). Estes vapores orgânicos constituem-se basicamente de
água vaporizada e gases (gerados durante o processo). Isso significa perda de umidade e
dissipação de odores ao ambiente externo. (Baptista, 1993)
Na aeração forçada, realizada em leiras ou pilhas estáticas, não ocorre exposição do
material em decomposição ao meio externo. A injeção de ar no interior do material contribui para a
diminuição da umidade, uma vez que a entrada de ar frio (temperatura ambiente) proporciona a
formação de vapores orgânicos quando entram em contato com o ar quente do material em
decomposição. Nesse caso, o mais importante é a calibragem ideal entre o volume de ar
necessário para proporcionar a troca térmica e, conseqüentemente, a diminuição da temperatura
interna do material, sem ressecá-lo.
A principio, quanto menor for o tamanho dos componentes do material utilizado, mais
rápida é a sua decomposição. No entanto, o material fino tende a se compactar, diminuindo sua
porosidade e exigindo mais revolvimentos. A adição de material estruturante (cama de frango,
cavacos de madeira, gravetos, vagens de árvore, etc.) dificulta a compactação da pilha, permitindo
uma melhor circulação de ar em seu interior.
Temperatura
A temperatura é o fator mais importante na indicação do equilíbrio biológico do material em
decomposição e da fase de estabilização. Reflete a eficiência do processo, além de influenciar no
controle da proliferação de vetores, sementes de ervas e microrganismos patogênicos.
Na fase inicial do processo de decomposição, a temperatura do material eleva-se
significativamente a um estágio mesofílico (55ºC a 60ºC), devido à presença de grande quantidade
de carbono. À medida que a quantidade de carbono decresce, a temperatura vai baixando, até
atingir uma faixa próxima aos 40o C.
Esta diminuição porém, pode ocorrer pela falta de controle sobre um ou mais fatores
(oxigenação, umidade), fazendo com que os microrganismos entrem num estado de latência e
paralisando precocemente o processo. Nesse caso, pode-se supor que a temperatura em torno
dos 40o C indique o fim da fase de decomposição, o que não é correto. No momento em que
houver um reequilibro na taxa de oxigenação ou no teor de umidade, o processo de decomposição
será reativado com a intensidade proporcional a correção do problema gerador da paralisação.
Haverá novamente o aumento da temperatura interna do material em decomposição e a
conseqüente eliminação dos microrganismos mesofílicos que haviam se reproduzido quando a
temperatura estava em torno de 40o C.
Terminada esta fase, denominada termofílica, inicia-se o processo de humificação, quando
predomina a decomposição de materiais mais resistentes, sendo fundamental a presença de
microrganismos com mais especificidade de atuação (os mesofílicos) e a ocorrência de uma
temperatura menor.
A falta de controle de alguns fatores sobre a compostagem pode influenciar diretamente a
temperatura do material em decomposição, ocasionando sua elevação a níveis impróprios (>
75oC) e acarretando a morte dos microrganismos termofílicos (que atuam em temperaturas entre
50oC a 65oC). O excesso de umidade em conjunto com a falta de oxigenação da massa (por
reviramento ou insuflação suficiente de ar) acarreta a inibição da troca térmica e liberação de
vapores orgânicos ao meio externo, ajudando a manter a umidade e a temperatura elevados
(Baptista, 1993).
Estudos realizados por Kraus (1992, em Baptista 1993), indicam que temperaturas muito
elevadas (>70oC) podem ocasionar a formação de odores identificados como forte cheiro de
componentes de Maillard, que são compostos de aroma adocicado e resultantes de um complexo

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de reações químicas denominadas reações de Maillard (ligações de furanos, furanonas,
piranonas) que ocorrem durante o processo de decomposição do material orgânico. As principais
características dessass reações são odores produzidos pelo aquecimento ou superaquecimento
(70o à 180oC) de substâncias naturais, como proteínas, açucares, amido e outras. Alguns
exemplos destes compostos são maltol (caramelo); 3,4-dimetil-tiofeno (cebola assada) e 2,4-
dimetil-3-oxazolina (carne cozida). Algumas dessas substâncias podem apresentar odor agradável
em certas situações, porém, na maioria das vezes apresentam odor fortemente desagradável. No
processo de compostagem, a presença de odores desagradáveis é conseqüência de elevadas
temperaturas, caracterizando um certo descontrole sobre o processo, ou seja, a impossibilidade de
controle sobre um ou mais fatores que influenciam o processo.
Matéria Prima Utilizada
O lixo urbano, assim como esterco, borras, resíduos de processamentos, lodos, entre
outros, podem ser utilizados para a produção de composto orgânico. Essas fontes geralmente
entram como componentes em misturas com várias fontes orgânicas, onde cada uma possui
alguma característica desejável.
As principais características que devem ser observadas na matéria-prima são:
Granulometria: quanto menor for o tamanho das partículas, maior será sua superfície
específica e, conseqüentemente, a área para o ataque pelos microrganismos. Por outro lado,
grãos muito finos diminuem a dimensão dos poros existentes, aumentando a probabilidade do
processo entrar em anaerobiose, pela deficiência na drenagem de líquidos. No caso específico do
lixo urbano, a granulometria ideal situa-se entre 1,2 e 50 mm (IPT/Cempre, 2000).
Composição química da matéria-prima: está centrada principalmente na sua composição
em nutrientes essenciais para as plantas (macro e micronutrientes). O material orgânico pobre em
nutrientes dificulta o desenvolvimento dos microrganismos. O lixo urbano tem como uma das suas
principais vantagens a heterogeneidade em sua composição gravimétrica, o que aumenta a
chance de ter um balanço nutricional estável.
Relação carbono/nitrogênio: representada pelos símbolos desses elementos químicos
(C/N), é um índice que indica se a matéria orgânica está na forma crua, bioestabilizada
(semicurada) ou humificada (curada). Depois de passar por um processo de triagem, no qual são
retiradas as frações inorgânicas e in desejáveis à compostagem, a relação C/N no lixo urbano
situa-se na faixa de 30/1 (IPT/Cempre, 2000).
pH: se eleva durante o processo de compostagem. O pH do lixo domiciliar situa-se entre
4,5 e 5,4. O composto, quando curado, tem seu pH variando entre 7,0 e 8,0 (IPT/Cempre, 2000).

SISTEMAS DE COMPOSTAGEM
Por se tratar de um processo que utiliza microrganismos, a compostagem necessita do
controle da temperatura, umidade e oxigenação, necessários à manutenção do equilíbrio
ecológico.
Atualmente existem várias tecnologias para a produção de composto orgânico, desde
composteiras caseiras (produção de 10 a 50 kg/ mês) até processos para escala industrial
utilizados para grandes volumes de produção (> 300 t/ dia).
O período de compostagem não deve ser uma condição fixa ou imposta, mas resultante
das necessidades biológicas, das características do resíduo, do sistema de compostagem
utilizado, das condições climáticas, entre outros. Tanto os processos naturais, como os
acelerados, exigem o mesmo prazo mínimo (de 60 a 90) dias para o término da compostagem em
leiras a céu aberto. A utilização de equipamentos aceleradores de processamento reduz apenas o
período de digestão, etapa inicial da biodegradação.

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Sistemas caseiros (Fonte: IPT/Cempre, 2000)
Caixa Neozelandesa (Nova Zelândia, década de 40)
É um engradado sem fundo nem tampa, medindo 1m x 1m x 1m, cujas laterais são
compostas de tábuas removíveis (encaixadas), o que permite a circulação de ar pelas laterais.
Depois de cheia, a caixa é desmontada e remontada ao lado. A matéria orgânica é transferida para
a caixa remontada, sendo, ao mesmo tempo, revolvida.
Técnica semelhante tem sido usada com sucesso desde 1980 em São Paulo. Neste caso
são dispostas em forma seqüencial 10 manilhas, conforme é mostrado na Figura 1. A matéria
orgânica — sobras de alimento, papéis, gravetos e folhagens trituradas etc — é depositada na
primeira manilha junto com o acelerador de decomposição (massa inoculada com
microrganismos). Semanalmente a mistura é transferida para a manilha seguinte, sendo revolvida
e aerada nesse processo. Ao final das 10 manilhas (10 semanas) o composto está pronto para ser
utilizado.

Figura 1: Composteira em manilha, São Paulo

Sistemas em escala industrial (Fonte: Lima, 1995; Mahler, 2002; IPT/Cempre, 2000; Bidone &
Povinelli, 1999)
Sistema com leiras revolvidas - Windrow (EUA, Tennessee, 1966)

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RECEPÇÃO

TRIAGEM

TRITURAÇÃO LEIRA CO
REVOLVIMENTO MPOSTO
ORGÂNICO
LEIRA DE
MATURAÇÃO PENEIRAMENTO

Figura 2: Fluxograma básico do sistema com revolvimento.

A Figura 2 apresenta o fluxograma básico dos sistemas de compostagem com


revolvimento. Depois de feita a triagem das frações recicláveis e dos elementos indesejáveis do
resíduo urbano, a matéria orgânica é triturada e disposta em pilhas (Figura 3) ou leiras (Figura 4)
com 1,50 a 1,80 m de altura e 2,50 a 4,50 m de largura, a céu aberto, onde inicia-se a degradação
biológica.
O revolvimento, manual ou mecânico, auxilia a reposição da oxigenação e da umidade
adequada ao desenvolvimento do processo, bem como o controle da temperatura.
A primeira fase de degradação, conhecida como digestão, varia de 60 a 90 dias, e a fase
de maturação acontece entre os 45 e 60 dias subseqüentes. A proteção das leiras contra as
intempéries é feita sobrepondo-se uma camada externa de material humificado, que funciona
também como filtro contra gases fétidos. No final do processo, o composto é peneirado para que
sua textura torne-se homogênea (Figuras 5, 6 e 7).

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Figura 3: Pilhas de compostagem em Guiricema-MG (cidade com aprox. 9.000 hab.).
Observar que cada pilha é composta por resíduos em idades diferentes

Figura 4: Leira de compostagem em Ceilandia-DF

Figura 5: Peneira do páteo de compostagem apresentado na Figura 3

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Figura 6: Composto saindo do peneiramento no páteo de compostagem da Conlurb, Via
Dutra, 1 Rio de Janeiro-RJ

Figura 7: Composto feito no páteo de compostagem apresentado na Figura 3, com a fração


orgânica do RSU depois de pronto.

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Sistema com leiras estáticas aeradas

RECEPÇÃO
TRITURAÇ
TRIAGEM ÃO
LEIRA DE
MATURAÇÃO
COMPOSTO
LEIRA COM ORGÂNICO
AERAÇÃO
FORÇADA

Figura 8: Fluxograma básico do sistema com leiras estáticas aeradas

A Figura 8 apresenta o fluxograma básico dos sistemas de compostagem com leiras


aeradas. A diferença fundamental entre este e o sistema apresentado anteriormente (Figura 1) é a
forma de oxigenação. Neste caso a aeração é realizada com insuflamento de ar forçado ou por
aeração natural.
No caso da adição forçada de ar, a difusão nas leiras é feita através de tubos perfurados
(furos de ½” a 1” a cada 10 cm) e de um sistema de ar comprimido. Nessas leiras (Figura 9) a
degradação ocorre em menor tempo do que no sistema com leiras revolvidas. A digestão leva
aproximadamente 30 dias, sendo que nos primeiros 15 dias os organismos patogênicos são
eliminados da massa. A fase de estabilização varia de 45 a 60 dias e depois disso o material
estará completamente humificado (Bidone e Povinelli, 1999). O tempo de insuflamento de ar no
caso da Usina de Tanguá (Tanguá-RJ) é de 45 minutos por dia, conforme foi informado pela
administração local.
Sistema semelhante foi utilizado num projeto piloto para pré-tratamento mecânico biológico
de resíduo sólido urbano (Mahler, 2002). Neste projeto, a leira foi construída sobre um estrado de
madeira acima do nível do solo, permitindo uma ventilação pela parte inferior (Figura 10). Ao lado
disso, a aeração era conferida por meio de tubos perfurados que passavam transversalmente pelo
interior da leira e cujas extremidades captavam o ar externo. A oxigenação no interior da leira era
decorrente da troca térmica do ar interior com o exterior, num processo parecido com o
funcionamento de uma chaminé. Esse processo pode ser adaptado a uma compostagem quando
do uso de matéria orgânica, produto de poda, todos devidamente triturados e homogeneizados.
Em ambos os casos as leiras devem ser recobertas com material de cobertura que pode
ser casca de árvore, madeira, palha ou resíduos inertes de pequenas dimensões.

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Figura 9: Silos com leiras estáticas aeradas em Tanguá-RJ

Figura 10: Leira do projeto piloto para pré-tratamento mecânico biológico

Sistema com processamento acelerado com biodigestor

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RECEPÇÃO
Figura 11: Fluxograma básico do sistema com biodigestor

A Figura 11 apresenta o fluxograma básico do sistema de compostagem com a utilização


de biodigestor. Bastante utilizado no mundo, os sistemas com processamento acelerado com
biodigestor (Figura 12), reduzem em muito a primeira fase da degradação biológica. Trata-se de
um processo aperfeiçoado pelos dinamarqueses em que o período de tempo de digestão é bem
agilizado. A fase termofílica, que leva em média de 15 a 30 dias é reduzida a um período entre 12
e 48 horas. O período gasto para maturação, assim como nos outros sistemas mostrados
anteriormente, permanece de 45 a 60 dias.
Quando o resíduo chega na usina é despejado diretamente pelos caminhões coletores ou
por meio de pólipo de garras múltiplas na moega de alimentação. É feita uma triagem primária
(opcional) na qual os materiais recicláveis são separados manualmente. Depois disto os resíduos
são fermentados para formar o composto no processo conhecido como bioestabilização.
O biodigestor é um cilindro metálico rotativo, medindo de 25 a 30m de comprimento e 3,5
de diâmetro, conforme é mostrado na Figura 13. O cilindro gira continuamente, fazendo com que o
lixo seja triturado por abrasão, reduzindo o tamanho das partículas e aumentando as superfícies
expostas à oxidação e à ação dos microrganismos. O processo natural de fermentação aquece a
massa devido à presença natural de microrganismos e ao constante insuflamento de ar,
provocando a digestão acelerada e a decomposição aeróbia da matéria orgânica. Essa reação,
pela elevada temperatura atingida, além da pré-fermentação, realiza a destruição dos organismos
patogênicos, parasitas, larvas, sementes de vegetais e ervas daninhas.
Após a fermentação, os resíduos passam por uma peneira rotativa e as partículas inertes,
como pedaços de vidro, pedras e cascalhos, são removidas e destinadas ao aterro. Tem-se aqui o
denominado composto cru (Figura 14).
Livre dos resíduos inertes, o composto é deixado no pátio de maturação, em leiras de 1,50
a 1,80 m de altura, onde permanece pelo período de 60 a 120 dias para a complementação da
degradação da matéria orgânica.
A vantagem desse sistema está no tempo gasto na bioestabilização ou fermentação da
matéria orgânica, que é relativamente curto se comparado com outros sistemas similares. Outro
fator importante é a possibilidade de ampliação da capacidade de processamento, pois o mesmo é
construído em linhas distintas, podendo ser ampliado sem qualquer impedimento ou paralisação.
As desvantagens estão relacionadas aos custos de implantação e manutenção.
O processo de compostagem DANO induz a contaminação da matéria orgânica porque não
prioriza a triagem dos materiais inorgânicos contidos no lixo, além de proporcionar um máximo
contato entre esses materiais – orgânico e inorgânico – durante a fase de maturação.

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Figura 12: Usina de compostagem com biodigestor. Dano, Brasília - DF

Figura 13: Cilindro do biodigestor. Dano, São Paulo-SP

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Figura 14: Composto cru, recem saído dos cilindros biodigestores apresentados na Figura
13.

QUALIDADE DE ALGUNS COMPOSTOS DE RESÍDUO SÓLIDO URBANO

Uma das preocupações quanto à qualidade do composto de RSU é a contaminação física,


química e biológica. Partículas como pedaços de vidro, plástico, metais são consideradas
contaminantes físicos. São visíveis, embora peneiramentos e tecnologias de separação possam
ajudar a reduzi-los. Os contaminantes químicos em RSU incluem elementos tóxicos, produtos
químico-orgânicos e metais pesados. Alguns desses contaminantes são amplamente difusos,
estando presentes em reduzidas concentrações na maioria dos resíduos. Outros são concentrados
em um limitado número de produtos, sendo mais susceptíveis a técnicas de depuração (Claussen,
1990 apud Mazur, 1997). Pode-se considerar contaminação biológica a presença de organismos
patogênicos e sementes indesejáveis.
A utilização de composto na atividade agronômica depende principalmente da qualidade do
composto, especialmente do conteúdo em matéria orgânica, da maturidade do composto, da
concentração em nutrientes e na presença ou ausência de substâncias potencialmente perigosas
e indesejáveis ao ambiente agrário. Por este motivo, o composto orgânico produzido em uma
unidade de compostagem deve ser regularmente submetido a análises físico-químicas de forma a
assegurar o padrão mínimo de qualidade estabelecido pelo governo.
No Brasil, não existe uma legislação específica para o composto orgânico oriundo do
processo de compostagem, entretanto, sabe-se que este material é comercializado como
fertilizante composto, classificado desta forma segundo a lei nº 4954, e como tal deve obedecer à
todas as especificações pertinentes prescritas pelo Ministério da Agricultura. Para o caso dos
fertilizantes orgânicos, ou composto, podemos citar os seguintes padrões legais e regulamentares
vigentes:

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• Lei 6894 de 16 de dezembro de 1980 - Dispõe sobre a inspeção e fiscalização da produção e
do comércio de fertilizantes, corretivos, inoculantes, estimulantes ou biofertilizantes, destinados
à agricultura, e dá outras providências.
• Lei 6934 de 13 de julho de 1981 - Altera a Lei nº 6.894, de 16 de dezembro de 1980;
• Portaria nº 31 de 08 de junho de 1982 - aprova os métodos analíticos, em anexo, que passam
a constituir métodos padrões, oficiais, para análise de corretivos, fertilizantes e inoculantes
sujeitos a inspeção e fiscalização previstas na legislação acima referida;
• Portaria nº 1 de 04 de março de 1983 - aprova as normas, em anexo, sobre especificações,
garantias, tolerâncias e procedimentos para coleta de amostras de produtos, e os modelos
oficiais a serem utilizados pela inspeção e fiscalização da produção e do comércio de
fertilizantes, corretivos, inoculantes, estimulantes ou biofertilizantes, destinados à agricultura;
• Decreto-Lei nº 4.954 de 14 de janeiro de 2004 - aprova o regulamento da Lei no 6.894 de 16
de dezembro de 1980, que dispõe sobre a inspeção e fiscalização da produção e do comércio
de fertilizantes, corretivos, inoculantes ou biofertilizantes destinados à agricultura, e dá outras
providências. Por este decreto, fica aprovado, na forma do anexo, o regulamento da Lei nº
6.849 de 16 de dezembro de 1980, e ficam revogados o Decreto nº 86.955 de 18 de fevereiro
de 1982, e o inciso IV do art. 1º do Decreto 99.427 de 31 de julho de 1990;
• Instrução Normativa nº 10 de 12 de maio de 2004 - aprova as disposições sobre a classificação
e os registros de estabelecimentos e produtos, as exigências e critérios para embalagem,
rotulagem, propaganda e para prestação de serviços.

Quanto à fertilidade
O uso de composto de RSU, além de reduzir o volume do resíduo destinado aos aterros ou
incineração, favorece várias das propriedades físicas e químicas do solo. No Brasil alguns
pesquisadores vêm desenvolvendo trabalhos para avaliar esta contribuição, ao mesmo tempo em
que verificam os riscos associados à presença de contaminantes (em especial, de metais
pesados).
Verificou-se grande variação na composição destes compostos todavia, os teores de
encontrados foram considerados elevados o bastante para afirmar que se trata de fonte propícia
de matéria orgânica e nutrientes para o solo.

Tabela 2: Teores de nutrientes presentes no composto produzido pela usina de lixo do Cajú – RJ e
limites de referência de qualidade utilizados para composto orgânico.
Limites de Referência para Composto
Item (unidade) Teores Orgânico
1 2
pH em solução CaCl2 0,01 M 6,39 - -
pH em solução KCl 1 M 6,86 - -
Peso Específico (kg/m3 ou g/L) 399,52 - -
Teor de Umidade (%) 31,31 Máximo 40% -

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Limites de Referência para Composto
Item (unidade) Teores Orgânico
1 2
Matéria Orgânica - base seca (%) 44,43 Mínimo 40% -
Nitrogênio Total - base seca (%) 1,42 Mínimo 1% -
Relação C/N -C/1 17,50 Máximo 18/1 -
Cálcio - % CaO, base seca (%) 3,60 - -
Potássio - K2O, base seca (%) 1,04 - -
Ferro Total-base seca (mg/kg) 1.2625,00 - -
Cromo Total -base seca (mg/kg) 57,50 - Máximo 1.200
Chumbo Total - base seca (mg/kg) 107,50 - Máximo 300
Zinco Total - base seca (mg/kg) 760,00 - Máximo 2.800
Cádmio Total - base seca (mg/kg) 0,00 - Máximo 39
Cobre Total - base seca (mg/kg) 137,50 - Máximo 1.500
Níquel Total -base seca (mg/kg) 37,50 - Máximo 420
1 – Anexo da Portaria no 01 de 04/03/1983
2 - U.S. EPA Part 503

Quanto à concentração de metais pesados


A análise crítica aos teores de metais pesados deve sempre passar por uma cuidadosa
avaliação da metodologia utilizada para que possa efetivamente permitir a comparação entre os
resultados.
Atualmente a maior parte das referências bibliográficas existente efetua comparações a
partir de extrações totais e pseudototais utilizando ácidos fortes. Este fato gera parâmetros de
comparação que são contestados por muitos autores, pois estes consideram impossível comparar
a extração feita em laboratório — com mobilização de poluentes —, com o que acontece em
condições naturais. O modo como se faz essas extrações em laboratório não seria passível de
ocorrer em condições naturais (Kiehl, 1998). Apesar disso, devido à falta de dados comparativos
referentes a outros tipos de extrações e à inexistência de parâmetros para o composto brasileiro,
os trabalhos apresentados, em geral, aplicam uma metodologia que utiliza a comparação com
parâmetros estrangeiros, feitos por meio de extração total.
Na falta de parâmetros para nosso país, diversos autores acabam por comparar os valores
obtidos com os teores “gatilho” de diferentes países. Isso ocorre sem que sejam analisados os
motivos de adoção daqueles valores (comparativamente bastante variados). Nesse contexto,
acabam sendo adotados valores estudados para solos de clima temperado, que contêm grande
quantidade de Ilita ou Montmorilonita, enquanto que para solos tropicais há o predomínio da
Caulinita.
Entretanto têm-se também adotado como referência o Relatório de Estabelecimento de
Valores Orientadores para Solos e Águas Subterrâneas no Estado de São Paulo, 2001. Por este
relatório, estabelecem-se limites máximos para metais pesados no composto de lixo, baseado nos
valores de pesquisas no Cinturão Verde da cidade de São Paulo, entre outras e em parâmetros
internacionais encontrados atualmente e, em mg/kg do composto seco a 65°C.

Tabela 3: Limites de Tolerância de Metais Pesados em Compostos Orgânicos de Resíduos Sólidos


Urbanos (mg/kg)
País Pb Cu Zn Cr Ni Cd Hg

Alemanha 150 100 400 100 50 15 1


Estados Unidos 500 500 1.000 1.000 100 10 5

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França 800 - - - 200 8 8
Áustria 900 1.000 1.500 300 200 6 4
Itália 500 600 2.500 500 200 10 10
Suíça 150 150 500 - - 3 3
Holanda 20 300 900 50 50 2 2
Fonte: Silva et al., 2002.

Tabela 4: Teor de metais pesados em compostos produzido no Brasil e na Alemanha (ppm)


Usina Pb Cu Zn Ni Cr Cd Hg

Ourinhos (SP) 398 670 1.228 209 299 1,7 2,4


Sistema Dano (SP) 241 477 421 109 167 1,6 1,1
Comlurb (RJ) ,316 512 1.115 386 542 3,4 3,0
Cornélio Procópio (PR) 216 611 983 299 411 2,9 26,0
Vitória (ES) – Windrow, 1991 293 324 270 22 81 0,6 0,57
Vitória (ES) – Aeração Forçada, 1993 105 115 256 10 454 >0,05 0,36
Alemanha 150 100 400 50 100 1,5 1,0
Heidenheim (RFA) 673 291 1.369 75 90 6,5 4,1
Dusslingen (RFA) 380 148 800 38 49 0,6 2,3
Fonte: Batista, 1993.
Observa-se que o composto produzido pelo sistema de aeração forçada apresentou o
menor teor de metais pesados, apontando para a eficiência das leiras estáticas no que diz respeito
à contaminação. Onde não há revolvimento da massa, o perigo de contaminação tende a crescer.
Independente da eficiência do processo de triagem, o processo de compostagem com
pilhas estáticas é muito menos susceptível à contaminação do que o processo que utiliza o
reviramento (sistema Windrow). Isto se deve à menor necessidade de movimentação do material
em decomposição e, conseqüentemente, à menor homogeneização entre pontos mais ou menos
contaminados.

COMENTÁRIOS FINAIS
A partir do material estudado observa-se o enorme potencial que o processo de
compostagem tem em países em desenvolvimento. No caso da sociedade brasileira, deve-se
considerar:
• a grande quantidade de matéria orgânica produzida;
• a enorme disponibilidade de mão-de-obra e locais para o processo de maturação;
• a diminuição da quantidade de resíduos a serem aterrados;
• a diminuição de gás e chorume produzidos nos aterros sanitários;
• a extensão da vida útil do aterro e a diminuição dos danos ambientais causados pelos aterros.
No que concerne aos processos de separação dos resíduos à fase de digestão biológica,
novos processos devem ser estudados e desenvolvidos considerando-se as condições climáticas,
sociais.
A comparação dos resultados é complexa, tendo em vista as diferentes características dos
materiais bem como os diferentes processos de compostagem empregados. É importante
considerar a compostagem um procedimento valioso de reciclagem, e, de maneira geral
ambientalmente correto. Deverá ser empregada de forma crescente, em especial nas pequenas
cidades — onde a maioria das habitações possui quintais que permitem a compostagem —, bem
como nas grandes cidades, por meio dos Centros de Abastecimento de Alimentos, que oferecem

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basicamente material orgânico. Nas grandes cidades, existem inúmeras formas de aproveitamento
deste material, como, por exemplo, a utilização do composto em praças e jardins públicos,
alternativa econômica para as prefeituras.

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REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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