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Instituto de Estudos Superiores da Amazônia

Curso de Engenharia Ambiental


Disciplina: Gestão de Resíduos Sólidos
Profa.: Heline Santana Modesto

CAPÍTULO 8 - TRATAMENTO E DISPOSIÇÃO FINAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

Definição de Tratamentos:

Qualquer processo que altere as características, composição ou propriedades do resíduo,


de maneira a tornar menos impactante sua disposição final no solo ou simplesmente sua destruição.
Os métodos de tratamento de resíduos podem envolver uma ou mais das seguintes formas
de processamento:
• Conversão dos constituintes agressivos em formas menos perigosas;
• Destruição química dos produtos indesejáveis;
• Separação da massa de resíduos dos constituintes perigosos, com a conseqüente redução
do volume a ser disposto;
• Alteração da estruturação química de determinados produtos, tornando mais fácil sua
assimilação pelo meio ambiente.
Atualmente são conhecidos vários tipos de tratamentos de resíduos industriais, onde esses
podem ser agrupados em:
 Tratamentos Químicos (Incineração);
 Tratamentos Físicos (Solidificação e Encapsulamento);
 Tratamentos Biológicos (Compostagem).

Seguem a seguir alguns tipos de tratamentos:

10.1- Compostagem:
10.1.1- Definição:
Processo biológico aeróbio e controlado de tratamento de resíduos orgânicos para a
produção de composto orgânico.

10.1.2- Fatores que Afetam o Processo de Compostagem

a) Umidade:
Ideal: 40 % a 60 %

Umidade > 60 %: pode conduzir o processo a anaerobiose, devido o excesso de água ocupar
os espaços vazios do material.
Umidade < 40 %: restringe a atividade microbiológica, limita ou inibe as atividades
microbiológica de degradação da matéria orgânica.

Finalidade:
 Manter uma porosidade adequada à passagem livre do ar para oxigenação do material; e
 Favorecer a atividade microbiológica no processo.

b) Oxigenação:
Formas de oxigenação:
 Artificial (equipamentos mecânicos);
 Natural (reviramento).
Finalidade:
 Fornecer o oxigênio requerido pela atividade microbiológica; e
 Controlar a temperatura da leira.

c) Temperatura:
Ideal: 45ºC a 65ºC (Fase de degradação ativa)
30ºC a 45ºC (Fase de maturação)

Finalidade:
 Aumento da velocidade de degradação da matéria orgânica; e
 Eliminação dos microrganismos patogênicos.

d) Relação Carbono/Nitrogênio:
Ideal: 30:1 a 35:1

Finalidade:
 Essencial para o bom exercício das atividades metabólicas dos microorganismos.
e) Tamanho da Partícula:
Ideal: 10 a 50 mm

Finalidade:
 Promover a homogeneização da massa de resíduos;
 Melhorar a porosidade da massa de resíduos; e
 Proporcionar menor compactação da massa de resíduos.

f) pH:
Ideal: 6 a 8

Finalidade:
 Favorecer a atividade microbiológica no processo

10.1.3- Fases do Processo de Compostagem:

1ª Fase – Fase de Degradação Ativa


 Temperatura: 45ºC a 65ºC
 Tempo de duração: 60 a 90 dias

2ª Fase – Fase de Maturação


 Temperatura: 30ºC a 45ºC
 Tempo de duração: 30 a 60 dias

10.1.4- Microbiologia do Processo de Compostagem:

O mecanismo ocorrente durante a compostagem é a decomposição ou estabilização da


matéria orgânica, conduzida por uma população diversificada de microorganismos.
A compostagem é um processo capaz de reciclar qualquer resíduo orgânico comumente
encontrado no lixo urbano e rural. Dentre estes resíduos, têm-se os restos de alimentos, frutas,
legumes, folhas, gramas, sobras de culturas, estercos, lodos de esgotos, etc.
As espécies de microorganismos que participam do processo de compostagem são:
 Bactérias;
 Fungos; e
 Actinomicetos.

Quanto ao requerimento de oxigênio, os microorganismos que atuam no processo de


compostagem são classificados em:
 Aeróbios; e
 Facultativos.

Quanto à variação de temperatura os microorganismos atuantes no processo de


compostagem são classificados em:
 Mesofílicos (20ºC – 45ºC); e
 Termofílicos (45ºC – 65ºC).

10.1.5- Aspectos Operacionais do Processo:


O monitoramento da leira é fator fundamental para as ações operacionais do pátio de
compostagem. Por isso, deve ser efetuado, no mínimo, o controle dos seguintes fatores.

a) Umidade:
É determinada semanalmente, com base em uma amostra da massa de compostagem,
devendo ser mantida na faixa de 55%.
A perda de água do processo pode ser reposta durante a operação de reviramento da leira,
através da distribuição uniforme de água na massa.

b) Temperatura:
Deve ser medida diariamente em três pontos centrais da leira: topo, centro e base.
As temperaturas altas são controladas pelo reviramento e/ou pela mudança de
configuração geométrica da leira. As temperaturas baixas registradas na fase ativa sugerem
baixos teores de umidade (<40ºC).

c) Ciclo de Reviramento:
Deve ser desenvolvido de forma criteriosa em função da temperatura e da necessidade de
aeração da massa.
O reviramento da leira deve ser feito a cada 3 dias.

d) Sólidos Voláteis:
Parâmetro que informa sobre o estágio de degradação da massa e consequentemente sobre
a eficiência do processo.
Um processo considerado eficiente deve apresentar uma redução média do teor inicial de
sólidos voláteis de 40%.

10.1.6- Controle dos Impactos Associados ao Processo:


a) Emanação de Odores:
As emissões de odores pela massa de compostagem indicam anaerobiose, que ocorre devido
aos seguintes fatores:
 Má definição do ciclo de reviramento;
 Excesso de umidade;
 Tamanho da partícula do material maior que 50 mm.

b) Proliferação de Vetores:
As principais medidas de controle para evitar a proliferação de vetores são:
 Desenvolver um programa de limpeza da unidade, incluindo a lavagem de todos os
equipamentos e ferramentas;
 Estabelecer um rigoroso controle do sistema de compostagem a fim de que as leiras
operem sempre na faixa termofílica, durante a primeira fase.
 Cobrir as leiras com uma camada de composto maturado na primeira semana do processo.

c) Produção de Chorume:
O principal fator que causa a liberação de chorume pela massa de compostagem é:
 O excesso de umidade na massa de compostagem.

As ações de controle consistem nas seguintes medidas:


 Operar as leiras de compostagem com a umidade de projeto entre 45-55%;
 Aumentar o ciclo de reviramento para as leiras que apresentam umidade acima de 55%.

10.1.7- Características do Composto Orgânico:


 pH: 7,0 a 9,0;
 Umidade: máximo 40%;
 Teor de Matéria Orgânica: mínimo 40%;
 Relação C/N: < 18:1;
 Cor: preto;
 Cheiro: terra mofada.

As principais vantagens advindas do uso do composto orgânico nas atividades agrícolas


citam-se:
 Aumenta a permeabilidade à absorção de nutrientes e a fotossíntese dos vegetais;
 Favorecem as condições físicas dos solos, como agregação e porosidade;
 Aumenta a capacidade de retenção de água e de permeabilidade;
 Reduz os efeitos da erosão e suas consequências;
 Exerce ação protetora e atua como fonte de nutrientes para os microorganismos do
solo;
 Exerce efeito controlador sobre muitas doenças e pragas de plantas.

10.2- Digestão Anaeróbia:


10.2.1- Definição:
É um processo biológico onde a matéria orgânica é convertida, pela ação de
microorganismos anaeróbios, em gás carbônico e metano (biogás), gerando um resíduos sólido
passível de uso para fins agrícolas.

O processo de conversão biológica dos resíduos sólidos em combustíveis gasosos é


classificado em dois grupos:
 Digestão anaeróbia em sistemas fechados ou controlados (biodigestores);
 Digestão anaeróbia em sistemas abertos (aterros sanitários).

Os processos anaeróbios diferenciam-se dos aeróbios principalmente pelos seguintes


fatores:
 Pratica-se em ambientes fechados;
 São menos eficientes na redução dos patógenos;
 São considerados como uma possível alternativa para obtenção de energia, devido à
presença de metano (gás combustível) no biogás;
 Apresentam baixa produção de sólidos, cerca de 5 a 10 vezes inferior à que ocorre nos
processos aeróbios;
 Apresentam possibilidade de geração de maus odores;
 Exigem um período de tempo bem maior para a bioestabilização da matéria orgânica que
os processos aeróbios.

10.2.2- Fatores que Influenciam o Processo de Digestão Anaeróbia:


a) Temperatura:
 Faixa mesofílica: 30ºC a 35ºC
 Faixa termofílica: 50ºC a 55ºC

b) Relação Carbono/Nitrogênio:
Ideal: 30:1 a 35:1

c) Tamanho da Partícula:
Ideal: 10 a 50 mm

d) pH:
Ideal: 6 a 8.

10.2.3 – Microbiologia da Digestão Anaeróbia:


Os microrganismos que participam do processo de decomposição anaeróbia são divididos em
três importantes grupos de bactérias:
 Bactérias Fermentativas: transformam os compostos orgânicos complexos em compostos
simples. As bactérias fermentativas são microorganismos anaeróbios facultativos,
responsáveis pelos processos de hidrólise e acidogênese.
 Bactérias Acetogênicas: convertem os produtos gerados pelas bactérias fermentativas
em acetato, hidrogênio e dióxido de carbono.
 Bactérias Metanogênicas: convertem o acetato, hidrogênio e gás carbônico em produtos
como metano e gás carbônico.

10.3- Incineração:
10.3.1- Definição:
A incineração é um método de tratamento que se utiliza da decomposição térmica via
oxidação com o objetivo de tornar um resíduo menos volumoso, menos tóxico ou atóxico, ou ainda
eliminá-lo, em alguns casos.

Caracterização de Resíduos para Incineração:


A verificação da possibilidade de se incinerar um resíduo, bem como das condições
operacionais para sua destruição, é feita com base em uma caracterização efetiva desse resíduo.
Desta caracterização resulta a definição do tipo de incinerador e do sistema de controle de
poluição do ar a serem utilizados.
As informações necessárias para a caracterização dos resíduos são:
- matérias-primas empregadas e produtos fabricados;
- quantidade de resíduos;
- estado físico do resíduo;
- poder calorífico do resíduo;
- densidade e viscosidade do resíduo;
- corrosividade do resíduo;
- composição química do resíduo.
10.3.2- Boas Técnicas de Combustão:
A seguir estão apresentadas as condições operacionais que compõem o que se denomina
boas técnicas de combustão:
 Temperatura elevada na câmara de combustão: quanto maior a temperatura na câmara
de combustão maior é a velocidade de decomposição dos compostos orgânicos presentes nos
resíduos. A temperatura normalmente recomendada é de 1200ºC.

 Teor de oxigênio elevado nos gases de combustão: o oxigênio reage com os compostos
orgânicos presentes nos resíduos, gerando gás carbônico e água. O teor de oxigênio também
interfere na velocidade de reação de decomposição de compostos orgânicos, que aumenta com o
aumento do teor de oxigênio nos gases de combustão.

 Turbulência elevada na câmara de combustão: para que o oxigênio reaja com os


compostos orgânicos presentes nos resíduos sólidos, é necessário que ele entre em contato com
estes compostos. Para isto é necessário que a turbulência na câmara de combustão seja muito
elevada, o que ocorre normalmente através da injeção de jatos de ar a alta velocidade.

 Tempo de residência na câmara de combustão: os tempos de residência em câmaras


de combustão de incineradores tem variado de 0,8 a 2,0 segundos.

10.3.3- Desvantagens da Incineração de Resíduos:


 Custo elevado:
 Exigência de mão-de-obra qualificada:
 Presença de materiais nos resíduos que geram compostos tóxicos e corrosivos:

10.3.4- Vantagens da Incineração de Resíduos:


 Redução de massa e volume a ser descartado:
 Recuperação de energia:
 Redução do impacto ambiental:
 Esterilização dos resíduos:
 Destoxicação:

10.3.5- Monitoração e Controle de Processos de Incineração:


a) Temperatura dos Gases de Combustão (termômetro):
 indica se o processo está ou não atingindo a temperatura mínima necessária para
destruição de todos os compostos orgânicos; (combustão completa)
 indica os instantes em que é necessário utilizar combustível auxiliar para que a
temperatura se mantenha acima dos valores mínimos de operação

b) Pressão na Câmara de Combustão:


 tem o objetivo de detectar vazamentos dos gases da câmara de combustão para o
meio ambiente.

c) Concentração de Monóxido de Carbono (CO) nos Gases de Combustão:


 indica a combustão incompleta de compostos orgânicos

d) Concentração de Oxigênio nos Gases de Combustão


 tem o objetivo de controlar a alimentação do ar de combustão no processo.

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