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INTRODUÇÃO
Bertol I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da úgua. Viçosa, r-, IG: Sol'.iedade
Bras ileira d e Ciência do Solo; 2018.
316 CIMÉLIO BAYER ET AL.
so lo e o ba ixo apo rte de fitomassa resid ua l, pe la a lta freq uê ncia de pousio inve rnal,
monoc ullurél e qu eima de fítom assa r s iclu al determina m uma baixil intensidade dos
processos ordenativos e elevadél inten id él dc de processos di s ipativos (o rdenativos/
dissipativos < 1), promovendo d iminuição no níve l d e o rd m do so lo (a umento da
e ntropia) e redução da energia a rmazenélda no solo (redu ção de enta lpia). A im , com
es tas práticas de manejo, os solos ag rícolas bras il eiros ex perime nta rél m uma in ten a e
rápida degradação (Mielniczuk, 1999).
A aná lise da termodinâmica do s is tema solo permite inferir q ue o ma nejo
conservacionista do solo deve envolve r dois fundament os: o não revolvimento e o
alto aporte de fitomassas residuais, cuja adoção concom itante é essencia l pa ra que
a inte nsidade dos processos ordenativos seja s uperior à inten idade dos p rocesso
dissipativos (o rdenativos/ dissipativos > 1), fazendo com que o solo passe a ex perimentar
uma melhoria grad ua l da sua qualidade. Na figura 1, exemplifica m-se o flu xos de Cem
Argissolo sob preparo convenciona l (preparo convencional-PC, lav ração e gradagem) e
ba ixo aporte de fitomassas resid ua is (aveia/ milho - A/ M, sem a du bação nitrogenada ).
N esta s ituação, os processos ordenativos no solo são alimentad os pela incorporaçdo
a nual de 0,9 t ha·1 a no·1 de C na matéria orgânica do solo. Po r sua vez, os proces os
dissipativos ocorrem a uma intensidade equivalente a 1,4 t ha·1 d e C, demon trando que
nesse manejo, que não apresenta nenhum dos fundamentos do manejo conservacioni ta,
a intens idade dos processos dissipativos é superior a dos processos o rdenati vos (Figu ra
la) e o solo perde qualidade ao longo do tempo. A partir da adoção simultànea do
fundamentos de não revolvimento (semeadura direta-SD) e do alto aporte de fitoma as
residuais (aveia+erviJhaca /milho+caupi - A+E/M+C), a taxa dos processos dissipativos
(equivalente a 1,1 t ha· 1 ano·1 de C) passa a ser menor do que a dos processos ordena tivo
(equivalente a 1,6 t ha·1 ano·1 de C) (Figura lb), e o solo passa acumular matéria o rgà nica
e aumenta a qualidade.
Solos s ubmetidos a sistemas convencionais de manejo (ordenativo / dissipa tivo < 1)
apresentam um decréscimo no nível de ordem (Figura 2a). Por s ua vez, solos s ubmetid o
a sistemas conservacionistas de manejo (ordena ti vos/ dissipativos > 1), que contemplam
os dois fundamentos do manejo (não revolvimento e alto aporte de fitomassas residuais),
tendem a se organizar e a apresentar nível de ordem mais elevado (Figura 2a). 1 a figura
2b, verifica-se a similaridade entre a evolução dos estoques de C da matéria orgânica do
solo ao longo de 13 anos de aplicação de diferentes sistemas de manejo de solo (Bayer et
al., 2000), em relação ao comportamento teórico da organização do solo em relação aos
sistemas de manejo adotados (Figura 2a).
Cabe salientar que os sistemas de manejo q ue constam na figura _b ão os me mos
d a figura 1. Verifica-se, assim, que os s is temas de manejo, q ue determinam proces os
ordenativos menos intensos do que os processos dissipativos(PC / 1) no solo, resultam
numa d iminuição do nível de ordem no solo, caracterizado por um rápido e inten o
processo de degradação (Figuras la e 2b). Por sua vez, sistemas de manejo q ue envolvem
a adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo (não revolvimento do solo e a lto
aporte de fitomassas residuais, SD A+E/M+C) determinam um balanço positi O d os
processos ordenativos em relação aos processos dissipativos (ordenativos/ dissipativos> l)
e uma elevação no nível de ordem do solo, promovendo a con ervaçào ou melhoria da
qualidade do solo (Figuras lb e 2b).
A/ 1 PC
IJwerno Verão
co,
(b) 1
8,0
A+E/M+C 50
1,1
Figura 1. Ciclagem de Cnum Argissolo submetido a um (a) manejo com intenso revolvimento (preparo
convencional-PC, lavração e duas gradagens) e baixo aporte de fitomassas residuais (aveia/
rnilho-A/M, sem adubação nitrogenada); e a (b) manejo que contempla os fundamentos do não
revolvimento (semeadura direta-SD) e do alto aporte de fitomassas residuais (aveia+ervilhaca/
milho+caupi - A+E/M+C). Fluxos de C calculados a partir de Lovato et ai. (2004).
O conceito do solo como "sistema" significa que o solo é formado por sub-sistemas
(físico, quínúco e biológico), que interagem entre si. Isto implica que a adoção de sistemas
conservacionistas de manejo determina melhoria em indicadores químicos, físicos e
biológicos de qualidade do solo, resultando na melhoria da qualidade do solo como
um todo. Os indicadores de qualidade do solo são referidos por alguns autores como
"propriedades emergentes" (Vezzani, 2001), sugerindo que se tratam de propriedades
que O solo somente passa a apresentar quando submetido a sistemas conservacionistas de
maneJo.
Nos diferentes estados de organização do solo, que estão representados na figura 2a,
surgem as propriedades emergentes. No 1úvel de ordem alto, caracterizado pela presença
de estruturas mais complexas, que são os macroagregados, e grande quantidade de matéria
orgânica retida, as propriedades emergentes que se destacam são: resistência às erosões
hídrica e eólica, aumento da CTC e do estoque de nutrientes, adsorção e complexação de
compostos orgânicos e inorgânicos, favorecimento dos organismos do solo, promoção da
(a)
Nível de ordem alto
,,,,,, 50 A+ E/M + C
Tempo
(b) 40
_._PCA/M
-O- SDA+E/M+ C
36
ç
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2 28
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24
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0 2 4 6 8 10 12 14
Anos
Figura 2. (a) Figura teóric~ da razão entre ~s processos ordenativos e ctissipativos e a organização do
sistema solo sob os ststemas de maneio PC A/ Me SD A+E/ M+C [adaptado de ezzani (2001)
em analogia~ _Prigogine (19:6)] e sua sim~aridade com o (b) comportamento dos estoques de e
orgânico veriftcado em Arg1ssolo subtropical sob os mesmos sistemas de manejo.
Fonte: (Bay er et a i, 2000).
e. Org.
Quoc.
Met.
C>53
Ntotal
-0,6
3,0 9,0 17,0
1
Adição anual de biomassa (t ha. )
Figura 4. Razão entre a razão da intensidade dos processos ordena ti vos e dissipativo no solo avaliada
pela taxa de alteração anual (t ha·1 ano- 1) do estoque de C de compos tos o rgânico (CO) no o lo
em dois preparos do solo (PC=preparo convencional e SD=semeadura d ireta) e da quantidade
de C adicionado anualmente pelas culturas.
Fonte: Adaptado d e Mie lniczuk et al. (2003) .
É importante res altar que es a maior energia incidente tem reflexos na maior taxa d os
pro essos de natureza biol gica, o que faz com que, ern regiões tropicais e subh·opicais, 0
balanço dos proce so ordenativos e processos dissipativos no solo som ente seja alcançado
a partir da adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo de solo (não revolvimento
do solo e alto aporte de biomassa vegetal). Isso significa relatar que a adoção isolada de um
ou de outro fundamento do manejo não terá o resultado esperado em relação à melhoria da
qualidade do solo. Essa análise permite inferir as implicações negativas da alta frequência
de pousio invernal e da monocultura, entre outras práticas, sobre a qualidade de solos em
semeadura direta.
2000 Maturidade
Monocultura ,,,,.. .......
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Consolidação I
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Anos
Figura 5. Diferença na produtividade de soja (kg ha·1) entre semeadura direta e preparo convencional
(SD-PC, em que valores + = SD > PC; e valores - = SD < PC) em diferentes fases que ocorrem
no decorrer do período de adoção da SD (crítica, consolidação, maturidade) em Latossolo
Vermelho na monocultura trigo-soja e na rotação de culturas tremoço-milho/ aveia-preta-- ja/
trigo-soja/ trigo-soja. ns e* = diferença não significativa e significa tiva em nível de 5 % (Tukey),
respectivamente. Embrapa-Soja, Londrina, PR.
Fonte: De biasi e l ai. (2013).
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MO (gkg·1) 18 18 35 35 Média -
Palha (t ha"1) 0,3 7,9 0,4 7,6
A r A
(1)
\ \ K.C
\
\
◄
A \___ _. \Mos \
1Resíd uos+ Raízes\ k1
Figura 7. Balanço de entradas (~A) e das perdas de C (k 2C) são determinantes do. es toques de C n..1
matéria orgànica no solo.
Fonte: Adapta do de Bayer et ai. (2006a).
A integração desta expressão ilus tra a variação dos estoques de C no solo ao longo
dos anos de adoção de diferentes manejas, que integra as perdas de CO do solo decorrente
da oxidação microbiana (C0 e - k2 1) e o acúmulo de C adicionado pela biornas a vegetal ao
solo [~~
(1 - e·½')], em que t é o tempo (anos); CO,o estoque de C inicial no solo; e e, ba
natural dos logaritmos neperianos.
(2)
et= eºe -k1 ' +k1A
k (1 -e·k.·.,1)
2
A partir das expressões 1 e 2, pode-se inferir que, para manter ou recuperar os e toques
de C no solo, os manejes deverão implementar um elevado apor te de fitomassas re iduai
(A) e uma reduzida taxa de decomposição (k 2) de MO, de forma que haja um equilíbrio
~A=~C) ou um balanço positivo das entradas em relação às perdas de C (k1 .-\ > _C).
Basicamente, a adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo de solo resultam
normalmente no balanço positivo das entradas em relação às perdas de C, em razão do efeito
do alto aporte de fitomassas residuais, que define uma alta adição de C foto sintetiz do, e
o não revolvimento do solo em SD, que determina uma redução da ta. a de decompo ição
da MO em relação a solos sob PC. Portanto, a adoção dos dois fundamento do manejo
impacta m favoravelmente a dinâmica da MO no solo, tanto red uzindo perdas como
a umenta ndo as adições, tendo como resultado uma variação positiva dos e -toques de C n
solo (dC/dt > O).
Na figura 8 é ilustrado o impacto de dilerentes prepares (PC e D) nas taxas de
decomposição da matéria orgânica em dois solos com textura e mineralogia distintas, e no
quad ro 1, o efeito de sistemas de preparo e de culturas nos estoques de C orgânico no s lo
e no tempo médio de residência (TMR) da ma téria orgânica num Argissolo subtropi ai.
-rc
4 SD
0-----
Argissolo Latossolo
Temperatura média anual ("C) 19,4 21,2
Precipitação (mm ano·1) 1440 1713
Teor de argila(%) 22 68
1
Fed (g kg· ) 11,8 87,6
Fe (gkg"1)
0
0,9 2,5
SD (0,025 ano- 1). Esse a mbiente menos ox id a tivo d o solo e m SD di scrimina um aume nto no
tempo médio de residência (TMR = 1 ) da MOS no solo, q ue é o te mpo q ue o C perma nece
ne le, o u seja, o tempo que transcorr~2 descle a entrada d o C fo tossintetizado no solo até .:i
su a oxidação microbiana a COi- Ver-ifica-se que a redu ção da taxa de decomposição anuill
da MOS no solo aumenta o TMR de 25 para 40 anos (Quadro 1), ou seja, a perma nência
da MOS no solo em SD é bem s uperior do que no solo em PC, e isso é mu ito importa n te
pois amplia os benefícios da ciclagem da MOS no solo. Além do efe ito benéfico da SD nn
preservação do C residual ("velho") do solo, os resultados também evidenciam o impacto
do aporte de fitomassas residuais (A+E/ M+C > A/M) no acúmulo d e C das culturas
(" novo"), proveniente de adição recente de C fotossintetizado.
Além das condições ambientais, principalmente da tempera tura, as taxas de
decomposição (k2) da MO e, em consequência, o TMR são fortemente influenciados pela
textura e mineralogia do solo. Na figura 8, verificam-se os valores de Is mais elevados
e o maior impacto da SD em reduzir o va lor de k, em relação ao PC num Argissolo da
Depressão Central do RS do que num Latossolo da r~gião do Planalto do RS, e es a vari<1ç5o
não tem relação com a temperatura média e o volume de chuvas anual nes tas regiões, mas
sim com a maior estabilização do C no La tossolo argiloso com teor mais elevad o de óxidos
de ferro do que no Argissolo de textura média e com predomínio de caulinita (Bayer, 1996).
Em razão da interação organomineral, os microrganismos podem ter alguma res trição de
acesso ao substrato orgânico pela interação com a superfície mineral através de grupos
funcionais hidrofílicos e exposição de grupos hidrofóbicos, a qual tem ca ráter aditivo às
dificuldades que os microrganismos tem de remover o composto orgânico da superfície
mineral onde está adsorvido, além da adsorção de enzimas (Christensen, 1996; Sollins e t
al., 1996). A interação organorninera1 é o principal mecanismo controlador da estabilidade
em longo prazo da MO (Kõgel - Knabner et ai., 2008), enquanto a recalcitrância e oclusão
teriam papéis mais relevantes na estabilidade em curto prazo. Em latossolos oxídicos do
Cerrado, a textura e mineralogia do solo (interação organomineral) também são reportadas
como fatores mais importantes que a estrutura do solo (ocl usão) no processo de retenção
de C (Zinn et ai., 2007).
Nas mais de quatro décadas de SD no Brasil, muito se consta tou sobre os benefíci os
ambientais e econômicos deste manejo (Casão-Junior et al., 2012). Em termos d e
acúmulo de C no solo, Bayer et ai. (2006c) estimaram que solo sob SD sequestra 0,-lS e
0,35 t ha·1 ano-1 na camada de 0-20 cm em regiões s ubtropicais e tropicais b ra s ileiras,
respectivamente. Estimativas de Bernoux et ai. (2006) para a mesma camada e regiões
são um pouco maiores: 0,68 e 0,65 t ha-1 ano-1 na subtropical e tropical, respectivamente.
Entretanto, contabilizando estoques até 1 m de profundidade, Boddey et al. (2010)
estimaram que as taxas de sequestro de Cem solos sob SD podem ser q uase 60 % maiores
do que as estimadas para a camada 0-20 cm, principalmente, no caso de sistemas de rotação
d e culturns intensivos e com a inserção de leguminosas de cobertura do solo.
O preparo do solo, por influenciar o grau d e mobilização dos agregados, de termina 0
coeficiente k2 • Jastrow (1996) definiu isso co mo a reciprocidade do tunzoz,er de agregad os
e d o tu rnover da MO. A proteção física d a MO por oclusão em agregados de solo dific ulta
a ação de microrganismos e de suas enz imas sobre o substrato orgân ico, por atuar com o
uma barreira física e diminuir a disponibilidade de O'.! para os processos m.ida ti. os
d e deco mposição (Baldock et a i., 1992; Hassink e Whitmore, 1997; Sextone et ai., 19 S;
Balesd ent e t a i., 2000b). Six et ai. (2000) utilizaram essa ideia de fll m u 'ª de a g regad os
e de MO e propuseram um modelo para explicar mecanisticamente o acúmulo de C
o nde a matéria orgânica tem maior tempo de lurnover (Dick et al., 2005, Dieckow et al.,
2009). No entanto, cabe destacar que a recalci trâ ncía ainda tem sua devida import nci
nas fases iniciais de decomposição das fitomassas residuai (von Lützow et ai., 2006;
Carvalho et ai., 2009; Kõgel-Knabner e Kleber, 2012).
O k 1 de raízes é geralmente maior que o da parte aérea, possivelmente por r 1ze
estarem enterradas no solo e fisicamente protegidas em agregado e por terem maior
relação lignina/N (Bolinder et al., 1999). O k1 da parte aérea va ria entre 0,08 e 0,26 e é em
média 0,12 (Gregorich et ai., 1995; Bolinder et al., 1999). Para sistemas de cultura anuai
e subtropicais brasileiros com aveia-preta, ervilhaca, caupi e milho, Bayer et al. (200 b)
estimaram um k 1 conjunto de parte aérea e raiz de 0,15, tanto em solo em PC como em
SD. Para a cana-de-açúcar, Cerri (1986) obteve um k 1 = 0,20.
Seguindo o entendimento de que o coeficiente iso-húmico (is) de raízes é maior que
o da parte aérea, vários estudos indicam que a raiz é o principal contribuinte para formar
a MO do solo e não a parte aérea. Katterer et al. (2011) estimaram, para nove culturas
agrícolas, um k1 médio de raízes 2,3 vezes maior que o da parte aérea (0,35 vs 0,15); um
resultado coerente com o TMR 2,4 vezes maior para C-raiz que C-parte aérea da revisão
de Rasse et al. (2005). No sul do Brasil, Tahir (2015) verificou, com marcação 13 C, ue
após um ano do cultivo de ervilhaca, ervilha forrageira e trigo, em média 30 % do C de
suas raízes ainda estavam presentes no solo (0-30 cm), contra somente 5 % do C da parte
aérea, numa clara indicação da maior contribuição de raízes ao estoque de MOS.
Paradoxalmente, justamente a quantificação da adição por raízes é uma da
maiores dificuldades nos estudos de manejo de solo e matéria orgânica. Amostragen
de solo+raízes geralmente são trabalhosas e danificam as parcelas dos experimento
de manejo do solo de longa duração, as quais normalmente apresentam pequena
dimensão. Além disso, os métodos de avaliação de raízes não consideram a quantidade
de C adicionado ao solo via rizodeposição, embora Bolinder et al. (2007) proponham que
Crizodeposiçlo = Cbiomassa raízes X 0,65.
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da decomposição
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Figura 9. Ilustração do impacto da maior eficiência em acumular matéria orgânica no solo a partir de
fitomassas residuais de maior qualidade.
Fonte: Adaptado de Cotnúo el al. (2013).
Nas condições s ubtropicais do sul do Bras il, destaca-se o cu ltivo de espécie como
a ervilhaca-comum (Vicin sativn L.), ervilhaca-peluda (Vicin vi/Iasa Roth), tremoço-azul
(Lupi1111 s nngus tífolius L.), chicharo (Lnthyrus sativ 11s L.), comichão (Lotus comirnlnt11s L),
a lém de outras. O nabo-forrageiro (Raphnnu s sativus L. va r. oleíferus Metzg.), ape ar de
não ser uma leg uminosa, possui papel de destaque na recic lagem e fornecimento de N
no outono e no inverno. Com relação às leguminosas esti vais o u de cU ma tropic.il, cabe
destacar o cultivo de caupi (Vigna unguiculnta (L.) Walp .), crota lá ri as (Crotalaria p .), guandu
(Caímrn s cajans), lab-lab (Lablab p11rpureu s (L.) Sweet) e mucu na (Mucuna pruriens).Além da
sua importância no acúmulo de MO, essas espécies são muito importantes como fo nte de
N para culturas comerciais cultivadas em s ucessão, permitindo red ução dos cu tos com a
a dubação nitrogenada.
A introdução de forrageiras e ani mais no sistema de produção, como na integração
lavoura-pecuária (ILP), também pode aumentar a adição de fito massa e o e toqu de C no
solo (Studdert et al., 1997;Salton, 2005; Jantalia et al., 2006; Tracy e Zhang, 2008; Carvalho
et al., 2010; Salton et al., 2011; Carvalho et al., 2014), pois o ani mal d inamiza o istema solo-
planta-animal-atmosfera pelos cíclos de pastejo-rebrote (Mo raes et al., 2007; Su lc eTrucy,
2007). No Cerrado sul-mato-grossense, uma rotação de nabo fo rrageiro/milho/ aveia
preta/ soja/ trigo/ soja praticamente não a lterou o estoque inicial de 41,9 t ha·1 de Cem 0-20
cm de um Latossolo argiloso após nove anos; entretanto a ILP, com pas tagem de Brachiaria
decumbens por dois anos e trigo/soja por mais dois, aumentou esse estoque para 48,0 t h,r 1
de C, a uma taxa de ~0,7 t ha- 1 ano· 1 de C (Salton et al., 2011). Ainda no Cerrado, Carvalho
et al. (2010) relataram taxa de sequestro de 1,0 t ha·1 de C na ILP. Contudo, nem sempr
ocorre aumento no estoque de C com adoção da ILP (Souza et a l., 2008; Ernst e Siri-Prieto,
2009; Salvo et ai., 2010; Franzluebbers e Stuedemann, 2013; Piva et al., 2014).
Num Latossolo Bruno de região fria no Paraná (clima Cfb), a fLP com pastagem de
azevém e lavoura de milho não alterou o estoque de C a té 1 m de produnclidade após 3,5
anos de adoção (Piva et al., 2014), e nem após nove anos (Ramalho, 2016). Tais resultados
pelo menos demonstram não haver efeito negativo da ILP e seus cíclos de pastejo sobre
estoques de C do solo (Franzluebbers e Stuedemann, 2013), sem prejuízo, portanto, para as
demais vantagens produtivas e econômicas da ILP (Macedo, 2009;Moraes et al., 201-l). l 'ão
há uma condição única de ILP com efeitos replicáveis em todos os locais. Clima (tropical
ou subtropical), tipo de rotação (plurianual, com pasto por a lguns anos seguid o de lavoura
por outros; ou anual, com pasto e lavoura no mesmo ano safra), espécie de pasto e de
cultura de grãos e outros fa tores podem interferir no potencial da ILP em alterar estoques
de C e N no solo.
O fréJcionéJmento físico cl ens im ' tríco permite a obte nção de compa rtim ntos
relacionados com a loca lização, meca nism e; de proteção e funçõ e; no solo: n prim iro
(FLL), menos decomposto (Ba ld ock ct ai., 1990, Chris tens n, 1992, Golchin et ai., 1994b;
Skjems tad et ai., 1996; Pillon, 2000; Freixo e t a i., 2002a), mas mai exposto à ação dos agentec:
oxidativos, tendo co mo único mecanis mo de proteção a recalci trância mol cu lar (So lli n et
ai., 1996); o segund o (FLO), mais decomposto, porém protegjdo em razcio da recalcitrãncic1
e da sua localização dentro de éJgregados; e o terceiro (FP), onde o três mecani mo, de
proteção estão atuantes.
A quantidade de FLL é influenciada pelo tipo de vegetação, normalmen te havendo
um acú mulo nos horizontes superficiais, pois o meca nismo de proteção atuando na FLL é
a recalci trância do material constituinte dessa fração (Sollins et a i., 1996). Portanto, a FLL
tende a ser a mais disponivel para a microbiota entre as frações d nsimétricas (Golchin et
ai., 1994a). Em sistemas dominados pela deposição s uperficia l de liteira, como florestas
e savanas densas, este acúmulo é mais acentuado que em istemas onde predomina a
d e posição de liteira subteJTânea (fitomassas residuais de raízes), como pastagens nativas
e cultivadas (Roscoe et ai., 2001). A FLL da 10 encontra-se depositada na _uperfície dos
agregados, sendo também denominada de fração interagregados.
A FLO compreende um diversificado conjunto de compostos orgànico , incluindo
fitomassas residuais de plantas, peletes fecais, pelos racliculares e e truturas fúngica.
com um tamanho reduzido e um grau de decomposição mais avançado em com paração à
FLL (Golchin et ai., 1994a; Christensen, 2000; Pillon, 2000; Chris ten en, 2001; Freixo et ai.,
2002a,). Assim como a FLL, a quantidade de FLO tende a decrescer com a profundidade,
uma vez que o teor total de C também reduz com a profundidade. A FLO é também
dita fração intra-agregados por causa da s ua localização no interior do agregado , e o
mecanismos dominantes para proteção dessas estruturas são a recalcitrãncia molecular e,
principalmente, a oclusão ou proteção física por agregados (Sollins et ai., 1996).
Finalmente, a FP é constituída, basicamente, por materiai orgânicos em avançado
estádio de decomposição, não identificáveis visua lmente, fortemente ligados à fração
mineral, constituindo os COM-primários (Chris tensen, 1992). É uma fração dominada por
compostos orgânicos de elevada recalcitrância, como remane centes de cutina e suberina,
assim como materiais resistentes s_intetizados pela microbiota durante o proces o de
decomposição (Baldock et al., 1992). E considerada a mais estável da fraçõe den imétrica. ,
sendo caracterizada por uma baixa taxa de ciclagem, pois todos os proces os de proteção
da MOS (recalcitrância química, oclusão e proteção coloidal) podem e tar envolvido na
sua estabilização no solo (Christensen, 2000).
podem interf rir na an lise dn matéria orgânica, como também carências ins trumentais por
causado cu t elevado d aqui ·içãoemanutençãode equipamentos analíticos. Vá rias técnkas
de envolvida originalmente na química analítica são empregadas na Ciência do Solo para
identificar e quantificar estruturas moleculares da MO, destacando-se as espectroscópicas
como a ressonância magnetica nuclear (RMN) (Knicker e Lüdemann, 1995; Kõgel-Knabner,
2000), ressonância paramagnética eletrônica (EPR) (Senesi e Steelink, 1989; Martin-Neto et
al., 1994) e fluorescência induzida por laser (FTL) (Bayer et ai., 2002a; Milori et al., 2002).
Resultado de ressonància magnética nuclear do 13C com polarização cruzada e ângulo
mágico de giro (CPMAS 13C RMN), RMN no estado sólido indicam que a distribuição
espectral da intensidade relativa do sinal de 13C em solos brasileiros segue um padrão
mais ou menos definido (Dick et ai., 2005; Oieckow et al., 2005a; 2009; Boeni et ai., 2014),
com o sinal de C-o-alquil predominando, seguido por C-alquil, C-aromártico e C-carbonil.
O interessante neste padrão é que o tipo de C mais abundante, C-o-alquil, é um associado
às estruturas moleculares potencialmente lábeis, como a de carboidratos/ polisacarídeos,
enquanto o C-aromático, potencialmente mais recalcitrante, está em proporção bem menor.
A interação entre os polisacarídeos e a superfície de óxidos de ferro e a estabilização,
por óxidos em geral, de microagregados (< 250 ~1m), que protegem fisicamente a matéria
orgânica (Balesdent et ai., 2000a; Krull et al., 2003; von Lützow et ai., 2006), são processos que
podem explicar essa predominância do C lábil o-alquil. Ao contrário do entendimento que
MO é constituída principalmente por estruturas poliméricas de natureza mais aromática
e alto peso molecular (Stevenson, 1994), espectros de RMN de amostras de solo indicam
que MO é urna mistura de estruturas derivadas de carboidratos, lipídios, peptídios e
lignina de origem vegetal ou microbiana. Isso se refere à substituição da teoria de estrutura
macromolecular da MO humificada pela teoria da estrutura supra.molecular, muito
discutida nas últimas duas décadas (Wershaw, 1999; Piccolo, 2001; Burdon, 2001;Kleber e
Johnson, 2010).
Mudanças de uso da terra como a conversão de cerrado ou campo nativo em lavoura
anual em PC, além de reduzirem o estoque de MO, alteram significativamente sua
composição original, com diminuição de C-o-alquil e C-alquil e aumento da concentração
relativa de e-aromático, C-carbonil e da razão aromático/ o-alquil (Dieckow et ai ., 2005a,
2009). Tais alterações de composição indicam que houve mineralização preferencial, mas
não completa, de constituintes como polisacarídeos (o-alguil) e lipídios (alquil), aumentando
assim a concentração relativa de estruturas mais recalcitrantes como as aromáticas, mas
não sua quantidade absoluta.
No entanto, com a substituição do PC pela SD, ocorre uma recuperação parcial da
composição original da MO, principalmente com incremento de C-o-alquil e diminuição
da concentração relativa de C-aromático (Dieckow et ai., 2005a,2009). Isso é um indicativo
que a recalcitrância não é o principal mecanismo responsável pela estabilização de C no
solo, e reforça a hipótese que a proteção física por oclusão, m ell1orada por agregados mais
estáveis, e a interação com as superfícies minerais estejam desempenhando o papel mais
relevante na estabilização de C no solo sob SD.
Radicais livres estáveis, como semiquinona, derivados possivelmente de estruturas
a romáticas (Steelink e Tollin, 1962; Riffaldi eSchnitzer, 1972), geralmente apresentam
maiores concentrações em solos manejados sob PC em relação aos manejados sob SD.
Aplicando a técnica EPR, Bayer et ai. (2002a) verificaram que a concentração de 14,0 x 1017
s pins g-1 d e radicais livres da fração ácido húmico da camada d e 0-2,5 cm de um Argissolo
Vermelho sob P reduziu em quase s i vezes no solo em 50 por nove a nos (2, >< 101-
s pins g- 1).
O grau de humificação da MO da ca mada d 0-2,5 cm de Latossolo Verm Ih do
Cerrado foi medido via FIL por Milori ct ai. (2006), os quais ncontra ram um índice de
humificação de 195><10·6 (unidades arbitrá rias) em solo sob PC e uma red ução par 12 ><
10·6, quando em SD, indicando novamente a maior recalcitrãncia da roem o lo sob PC.
Avaliando o potencial da ILP com um ou dois anos de lavour eguido por doi
ou três anos de pastagem de Brnchínrín dec111nbens em alterar quaJi tativamente a matéria
orgânica, Boeni et ai. (2014), trabaJha ndo em três experimentos d longa duração n
Cerrado, observaram que este sistema, comparado e lavoura contínua ob semeadura direta,
também awnento u a proporção de C-o-alquil, tanto do solo inteiro como das frações fisica
leve livre, leve eclusa e pesada. No solo sob pastagem perene de Brncl,inria dernmben , te
aumento foi ainda maior. Tanto na ILP como na pastagem perene, o incremen to de o-alqui1
pode ser atribuído ao respectivo incremento na adição de fitomassa de tes sistemas, aliado
a não mobilização do solo.
Enquanto mudanças de uso do solo ou de sistema de preparo alteram mais
significativamente a qualidade da MO, o mesmo não pode er afirmado com relação ao
efeitos de sistemas de culturas de grãos e m SD, que parecem exercer menor influencia _obre
a composição da MO, apesar de promover significativas al terações no toque (Skjemstad
et al., 1986; Oades et ai., 1988; Golchin et al., 1995a; Dieckow et aL, 2005a). Porém, o fato de
não se detectar alterações não significa que essas não existam; pode er uma limitação da
técnica em não possuir sensibilidade suficiente ou em sofrer interferência de outros fatore ,
como a presença de Fe3• sobre sinais de RMN.
Contudo, sistemas de culturas tendem a modificar a compo ição da MOP, numa
tendência de se aproximar da composição do tecido das plantas, mas não o uiiciente para
que isso seja perceptível na composição da matéria orgânica total do solo (Oades et ai.,
1988; Dieckow et ai., 2005a). Apesar disso, tal efeito não deve s r desprezado e merec
ser investigado com mais profundidade, no sentido de entender melhor o pap I da
composição das plantas sobre a composição da MOP e, por conseguinte, obre o acúmulo
de C nessa fração. O índice de hidrofobicidade (IH) (Spaccini et al., 2002) da parte aérea d
plantas parece exercer um controle na decomposição de fitomas as residuais e no acúmulo
de MOP; por exemplo, o maior IH da parte aérea de guandu (IH = 0,-15) parece er um
fator que explica o maior acúmulo de MOP no sistema guandu+milho, em relaçã ao
sistema aveia-preta/ milho, onde a parte aérea da aveia tem um IH de O,?? [adaptado d
Dieckow et ai. (2005a)]. O tempo de decomposição de fitoma as re iduai na uperficie
do solo também parece ter uma relação mais estreita com o IH do qu com a relação C
da fitomassa residual das espécies e demonstra a vantagem que s leguminosa tropicaí
como mucuna (IH=0,44) e guandu (IH=0,45) apresentam nes e ntido (Car lh et t.,
2009).
Na fração argila, a similaridade na composição da matéria orgânica ntre · t m
de culturas pode estar associada ao fato de essa [0 a saciada ao min rai r deriv da
principalmente de produtos microbianos (Oade et al., 19 ; Golchin et al., 1 Sa). Port nto,
a não ser que as mudanças ocorram na comunidade microbic na e nos u rr p ndent
metabólitos e mucilagens, a composição da matéria orgànica a ociada a min rai tende
a permanecer a mesma, independentemente da quantidade e qualidad d fit m
cultural residual adicionada.
ssim como sistema de cultura não têm influenciado a compos ição da m atéria
orgânica, a aplicação de tamb m não, de acord o com resultado de RMN (Ra ndall
~t ai., 1995; Oi kow et ai., 2005a). No entanto, Capriel (1997) aplicou es pectroscopia
mfravennelho (DRIFT) e observou um mnior índice de hidrofobicid ade (grupos C-H) no
~olo adubado com PK, em relação ao não adubado. Também, com uso de espectroscopia
1nfravermelho, Ellerbrock et ai. (1999) observaram alterações na com posição da m atéria
orgânica em razão d utili zar adubação orgânica + ad ubação mineral, de m an eira que a
intensidade da banda de C carboxílico foi maior em sistemas adubados e m re lação ao não
ad ubado, com r fl exos p o itivos na CTC do solo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ( rél c ionélme nlo fís ico e a~ t e nicas espcc troc; ó pica pnip1 oc1 m c1 p ro fund a r o
con hecimento em él s pectos rc lacion,1d osà es tJ bilização e qu ;di J a d e da M O, res p ec tiva m e nte.
A proteção fís ica é s ugerida co m o um d os principa is meca n is m os re l.ic 1o nc1d os ao ,Kúm ul o
de frélções lábe is da MO (alta qualidad e) e m solos sob s is te m éls co nser vacionis tas de
m anejo, co ntribuind o para a m e lh o ria na q ua li d ad e d o s o lo.
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