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TRILHANDO A
EDUCAÇÃO EM SOLOS
Diálogos Teóricos e Práticas Pedagógicas
FICHA CATALOGRÁFICA
1ª edição
Todos os direitos reservados e protegidos pela lei no 9.610, de 19/02/1998. Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito do
detentor dos direitos, poderá ser reproduzida ou transmitida sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos,
gravação ou quaisquer outros.
TRILHANDO A EDUCAÇÃO EM SOLOS Diálogos Teóricos e Práticas Pedagógicas. organizadoras: Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira; Lygia de
Oliveira Ribeiro; Adriana Aparecida Ribon. Pará de Minas, MG: VirtualBooks Editora, Publicação 2023. E-book em formato PDF.
ISBN 978-65-5606-412-3
PREFÁCIO 5
DIÁLOGOS TEÓRICOS
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O incentivo à curiosidade da criança desperta o interesse pelas
questões ambientais voltadas ao solo e esta se vê como um investigador e não
apenas como um receptor do conteúdo abordado. Uma aprendizagem
significativa é mais efetiva na mudança de valores e atitudes. Estas crianças
passam a ser difusores do conhecimento que lhes é transmitido de forma
lúdica, tornando-se agentes de transformação.
E como bem escreveu a equipe da UNESP/Ourinhos:
EDUCAÇÃO EM SOLOS, PRESENTE!
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DIÁLOGOS TEÓRICOS
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ANTROPOCENO E OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO EM SOLOS NO NOVO
ENSINO MÉDIO
Um brinde ao Antropoceno
Foto: Moreno (2021)
1 INTRODUÇÃO
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encharcados ou bem drenados, condições que também permitem a leitura e
entendimento sobre sua trajetória milenar ou mais recente. Distantes do rigor
metodológico, dos procedimentos estatísticos, mas não menos assertivos, a
percepção adquirida na lida diária permite aos povos tradicionais, em especial
do campo e das florestas, adquirir e transmitir saberes sobre suas
necessidades e aptidões. Aprendemos com os ancestrais a decifrá-los.
Etnopedologia também é educação.
Se vivos, têm memória. Para além dos horizontes pedológicos, são
camadas e mais camadas de registros históricos, como acontecimentos que
antecederam o Holoceno, época geológica atual, que acolhe a sociedade
contemporânea apesar das incríveis transformações dos últimos 11,7 mil anos.
Esses solos testemunharam glaciações, extinções e transformações
fantásticas que nos fariam desacreditar de que se trataria do mesmo ou quase
mesmo planeta T(t)erra, são os Paleossolos. Portanto, guardam importantes
registros paleoambientais, com informações preciosas do passado geológico
que acarretaram no surgimento das paisagens do presente (STEVANATO et
al., 2021). Solo, fonte de informação.
O início do Holoceno é marcado pela descoberta do “solo/provedor”.
Passamos a cultivar a comida, usar o solo como matéria-prima para garantir a
segurança e o conforto térmico das edificações, como adorno, nos utensílios
domésticos, como cura. Tudo isso permitiu aquietar, permanecer, ficar, não
mais migrar, ao menos em busca do que é primordial para a sobrevivência
humana e dos animais. Na toada dos registros, agora do tempo histórico, a
Terra Preta de Índio (TPI) ou Terra Preta Arqueológica (TPA), uma das
maravilhas do mundo da Pedoarqueologia. Esses solos já não tão virginais,
com Horizonte A antrópico como diagnóstico, com mais de 20 cm de
espessura, formados pela ação de sociedades pretéritas, com expressiva
deposição de matéria orgânica, artefatos líticos, cerâmicos, ossos, cinzas de
fogueiras ou conchas (SANTOS et al., 2018), revelam civilizações antigas,
hábitos e culturas milenares. Porém, por serem de elevada fertilidade,
comumente, são cultivados para subsistência dos ribeirinhos, em especial na
região Amazônica (SOARES et al., 2018), nada mais justo, herdeiros que são.
Solos, soberania alimentar e nutricional.
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Recentemente, apesar do inquestionável valor histórico, cultural e
político da TPA, o avanço do capital agrário pelos territórios antes florestados,
queimadas criminosas e mesmo a descaracterização desses solos para
invalidar a demarcação de terras indígenas colocam em risco o legado dos
povos pré-colombianos e dos já tão massacrados tradicionais. Solos,
educação patrimonial e arqueológica; luta e resistência.
Chegamos ao Antropoceno. Ah, o Antropoceno! Como são os solos do
Antropoceno? Qual o papel da educação em solos no Antropoceno? Quais os
desafios da Educação em solos no Antropoceno? A quem interessa o
anonimato do debate sobre solos para a sociedade do Antropoceno? Qual o
espaço destinado a essas questões no Novo Ensino Médio no contexto do
Antropoceno? Esse é o convite para as próximas discussões, literalmente, um
capítulo à parte, nos acompanha?
O objetivo desse trabalho foi aproximar o debate do Antropoceno com a
Antropopedologia, destacar o papel da Educação em solos diante dos desafios
contemporâneos e o espaço que esses assuntos ocupam no Novo Ensino
Médio. Para tanto, a metodologia utilizada baseou-se na revisão teórica acerca
dos assuntos de interesse, cujas fontes principais de pesquisa foram livros,
legislações, sites governamentais e artigos científicos nacionais e
internacionais.
2 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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apresentado aqui como sinônimo de sociedade/humanidade, as inegáveis e
quase sempre degradantes e irreversíveis transformações dos ecossistemas.
Pode parecer redundante por ser tão óbvio quem são os agentes desses
processos, mas essa é uma questão técnica e política. Técnica porque é
preciso que haja um consenso científico sobre marcos concretos e recorte
temporal, além de consenso, para que essa “nova” época passe a fazer parte
da Carta Cronoestratigráfica Internacional; política, porque uma vez
identificados, indivíduos, corporações, sistemas econômicos ou ideologias,
inerentes ao tempo histórico, muito distante dos fenômenos geológicos e
naturais, há de serem atribuídas responsabilidades e compromissos no sentido
de coibir, mitigar e inviabilizar qualquer prática degradante, sob pena de tornar
o planeta T(t)erra, só terra, literalmente, como vem acontecendo em diversas
regiões. Portanto, reconhecer o Antropoceno não é somente proforma, é uma
questão política.
Como desdobramento do debate, apresentam-se também outros
termos para a admissão dessa época que urge ser distinguida do Holoceno e
abrem para o entendimento de relações e interesses comumente não
explícitos, hegemônicos, como o Capitaloceno (SKLAIR, 2018), caracterizado
pela atribuição, ao capital, em especial ao grande, dos danos sofridos pelo
planeta até aqui; Plantationoceno, relativo à produção exacerbada de carne,
advinda do agronegócio e da monocultura de gramíneas, associados ao
desmatamento em massa de florestas; Fins-de-mundo (DANOWSKI;
CASTRO, 2015), concernente a todas as tragédias impulsionadas pelo evento
da “modernização”; Faloceno, momento em que a história da humanidade
passou a ser respaldada pelas relações de inequidade de gênero, “supremacia
masculina” (LASCANTA, 2017). Portanto, existem tantos “ceno” quanto são as
demandas e inquietações desse novo cenário.
Da mesma forma, a definição acerca do início da referida época tem um
caráter controverso: marcos históricos como a revolução agrícola, que marca
o início do Holoceno; o genocídio indígena pela colonização europeia e a
Pequena Idade do Gelo no século XIV (AMOS, 2019; HERNÁNDEZ, 2021); a
primeira revolução industrial, por volta de 1850; e a detecção de resíduos
radioativos na estratigrafia terrestre na segunda metade do século XX são
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datas elegíveis para o prelúdio do Antropoceno. Ainda existe o período
intitulado como “Grande Aceleração”, que coincide com os diversos eventos
ocorridos a partir da década de 1950, como a explosão populacional, da qual
passamos de 2,5 bilhões de habitantes para 7.7 em 2022, com previsões de
11,2 bilhões até o fim do século, o que resultou na maior demanda por gêneros
alimentícios e matérias-primas. Destacam-se também o uso de combustíveis
fósseis, dizimação de grandes áreas de florestas, em especial as tropicais,
desastres climáticos resultantes do aquecimento global, perda da
biodiversidade, entre outros (STEFFEN et al., 2004).
Tendo em vista os acontecimentos apresentados, a “Grande
Aceleração” é forte candidata ao marco inicial do Antropoceno. Imbricado
nesse momento histórico, relação de causa e efeito, destaca-se a lendária
modernização da agricultura, engendrada pela revolução verde, discurso
legitimado pelo aumento da produção de alimentos e combate à fome no
mundo e, como não poderia deixar de ser, no território brasileiro também. A
partir de então, as transformações do campo e das cidades ganharam um ritmo
ainda mais acelerado, tecnificado, excludente e degradante por excelência.
No campo, o manejo de base húmica, em que compostos orgânicos
garantiam a fertilidade do solo para produção de alimentos, passou a ser
substituído por fertilizantes químicos sintéticos, em especial, para a produção
de commodities agrícolas, como milho (Zea mays), cana-de-açúcar
(Saccharum officinarum) e soja (Glycine max). Aos implementos agrícolas,
foram incorporadas tecnologias de ponta, e a agricultura de precisão passou a
ser sinônimo desse novo e emergente modelo agrícola para quem pode pagar.
As sementes crioulas de uso ancestral cederam lugar às geneticamente
modificadas, resistentes aos herbicidas, insetos ou ambos (ALMEIDA et al.,
2017). Essas transformações, substancialmente excludentes, inclusive do
ponto de vista regional, não pouparam parte da população do campo, em
especial os menos capitalizados, o que resultou em intenso êxodo rural e
precarização do trabalho, seja do camponês ou do proletariado urbano.
Antropoceno, exclusão social.
O avanço do grande capital agrário e a adoção do mesmo modelo de
produção sobre ecossistemas genuinamente complexos define-se pela
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dizimação da cobertura vegetal original e mudança abrupta no uso e cobertura
da terra, inerente ao modelo agrícola brasileiro e de países subdesenvolvidos,
em desenvolvimento ou de periferia, o que leva a consequências devastadoras
para a segurança e soberania alimentar. Assim, no mundo, apesar dos 1,87
bilhões de hectares de terras ocupadas com lavouras (MIRANDA, 2018), 828
milhões de pessoas encontram-se desnutridas e 670 milhões continuarão
enfrentando a fome até 2030 (FAO, 2022). A nível nacional, mais de 33 milhões
de pessoas não têm o que comer. No período de pouco mais de um ano, entre
2020 e 2022, 14 milhões de pessoas entraram para essa estatística, assoladas
pela pandemia da covid-19 (REDE PENSSAN, 2022). Sobre esse assunto,
midiaticamente, o Brasil voltou para o mapa da fome. O Brasil não voltou para
o mapa da fome porque, na verdade, nunca saiu dele. Enquanto houver um
brasileiro ou brasileira nessa categoria, permaneceremos na vergonhosa lista.
Antropoceno, fome.
O que tudo isso tem a ver com solos? Para garantir uma produção
agrícola sustentável e que verdadeiramente atenda, pelo menos, a uma das
necessidades básicas do ser humano, acesso em quantidade e qualidade de
alimentos saudáveis, os solos também devem ser sadios e, para tanto,
biodiversos, agregados, limpos, vivos (PRIMAVESI, 2016; CARDOSO;
FÁVERO, 2018). Porém, o modelo agrícola vigente, monocultor, agroquímico
e agroexportador, ao adotar preferencialmente o manejo convencional,
caracterizado pela intensa mobilização dos horizontes superficiais, quando não
decapitados pelos processos erosivos, baixo aporte de cobertura vegetal e
inexpressiva adoção de práticas conservacionistas, extremamente
necessárias, em especial, no clima tropical, intensifica os quadros de
degradação, seja ela física, química, biológica ou morfológica. O resultado são
solos mortos. Solos, se vivos, morrem.
De acordo com Primavesi (2016), solos doentes geram plantas e
sociedade doente, tendo em vista o comprometimento do valor nutritivo dos
alimentos. São doenças do corpo, neurológicas e até psiquiátricas, como a
depressão, os pensamentos suicidas, a esquizofrenia e a violência
(PRIMAVESI, 2016).
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Nesse sentido, de acordo com Bombardi (2017), o alimento, fonte de
vida, nesse mecanismo de reprodução do capital, é reduzido a commodities
para alimentar outras commodities, como gado, aves, suínos e outras culturas
para a geração de energia. Quanto mais degradados, mais plantas doentes,
mais insumos consomem, e isso é bom para o grande capital, mas mortal para
os mortais. Solos, saúde, ou não.
Nesse sentido, cabe aqui uma reflexão: como não se importar com a
degradação dos solos? A quem interessa solos degradados? Possivelmente,
a quem dispõe de condições técnicas e financeiras para, supostamente,
compensar a “deficiência” de determinados elementos e ambientes,
fundamentais ao cultivo, com uma base química, como fertilizantes,
agrotóxicos e mudança genética das plantas (RIBEIRO, 2017). Deve interessar
ainda mais quem comercializa insumos agrícolas; as poucas “marcas” de
equipamentos agrícolas, cuja tecnologia originalmente desenvolvida para
solos temperados tendem a compactá-los o que, junto com a erosão hídrica, é
uma das mais preocupantes formas de degradação do solo. Deve interessar
todos os agentes envolvidos na engrenagem não mais vinculada às lavouras
de subsistência, como no início do Holoceno, mas agora na agricultura de base
industrial capitalista que, diga-se de passagem, não produz comida.
Para dimensionar parte do problema, o Brasil figura, desde o ano de
2008, em primeiro lugar em consumo de agrotóxicos do mundo. São 7,6 litros
por habitante/ano aproximadamente. Destaca-se que essa crescente indústria
movimenta uma receita anual de 36,6 bilhões de reais (REIS, 2015). Números
extraordinários? Extraordinários também são os casos de intoxicação, aguda
ou crônica, que chegam a 70 mil por ano, que evoluem para morte (BRASIL,
2022).
O uso indiscriminado de agrotóxicos, fomentado por políticas públicas
atuais, como o ocorrido em fevereiro do corrente ano com a aprovação na
Câmara dos Deputados do Projeto de Lei, PL 6299/2022 ou a PL do Veneno,
tem a clara intenção de flexibilizar a legislação sobre o uso devastador desses
agroquímicos, além de indicar a dependência do agronegócio brasileiro nesse
setor e a força das empresas químicas no legislativo brasileiro (CASTRO,
2022). Sobre esse assunto, Bombardi (2017) acrescenta que esse processo
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de mercantilização da terra/solo e o uso desmedido de agrotóxicos, inclusive
alguns proibidos de uso em países europeus, resultam num processo de
esterilização deste bem comum que, ao atender às demandas do capital, deixa
de atender à demanda humana. Solos do Antropoceno, morte.
Sobre esse assunto, a Pedologia, ciência do solo, teve ou tem de se
ajustar aos contornos assombrosos que a história do mundo faceja, de modo
que possamos nos familiarizar com os solos antropocênicos, comumente
mortos. O termo anthropedology ou antropedologia, utilizado pela primeira vez
em 1966 pelos cientistas Dan Yaalon e Bruno Yaron, veio para atestar que as
atividades antrópicas não se tratam apenas da interferência no arranjo e
funcionamento naturais do solo, mas na formação destes (RICHTER, 2020).
Podemos, então, afirmar que o homem, para além dos conhecidos fatores de
formação dos solos: material de origem, clima, tempo, relevo e organismos; é
considerado o sexto fator (DUDAL, 2005; LADEIRA, 2012; CERTINI;
SCALENGHE, 2021; MAGESHEN et al., 2022). Solo é conhecimento.
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natural, quando o equilíbrio é rompido, sobretudo por ações humanas, as
erosões se tornam aceleradas ou antrópicas, fazendo com que os solos sejam
alvo da perda de potencial de fertilidade, nutrientes, matéria orgânica e
sedimentação de corpos hídricos. Para além desses malefícios, há prejuízo na
produção agrícola, já que a média de terra que se perde, devido ao
escoamento superficial, é de aproximadamente 15,4 toneladas por hectare por
ano (MANZATTO; FREITAS JUNIOR; PERES, 2002); na economia,
considerando o fato de que o Brasil é o terceiro país agroexportador do mundo,
para as populações ribeirinhas, que tendem a sofrer em virtude da
sedimentação e possíveis enchentes (BROWER; CHADWICK, 2012); por fim,
para a própria existência de agricultores e trabalhadores que vivem da terra.
Há que se destacar o fato de que os processos erosivos contribuem, de
maneira significativa, para a alteração do clima global, isso porque a
modificação nas áreas de vegetação, geralmente, para ceder lugar à
agricultura, pode afetar o ciclo hidrológico, as trocas gasosas entre solo-
atmosfera e o albedo da superfície terrestre (OWENS, 2020). As chuvas
intensas transportam grandes volumes de sedimentos, agrotóxicos, vírus,
bactérias, lixo, materiais de construção e tudo que cabe no Antropoceno. A
erosão acelerada ou antrópica também figura na antropopedogênese.
Portanto, o que esperar dos solos do Antropoceno? Que sejam
Antropossolos. No Brasil, a proposta da ordem desses “novos solos
antropogênicos” foi inaugurada por Curcio, Lima e Giarola (2004), que admitem
que um Antropossolo é formado exclusivamente pelo sexto fator, composto por
uma ou mais camadas antrópicas, com no mínimo 40 cm de espessura,
apresentam morfologia muito variável e são muito diferentes dos naturais. É
possível identificar desde a inofensiva e benéfica matéria orgânica ao Cromo
(Cr), elemento químico altamente cancerígeno. Solos do Antropoceno,
incomuns.
O início dessa discussão tomou corpo em outros países do mundo e foi
ratificada pelos sistemas mundiais de classificação de solos alterados por
ações antrópicas (DIAS, 2017). A Base de Referência Mundial para Recursos
de Solos (WRB), por exemplo, engloba esses materiais em duas classes:
Anthrosols e Technosols, cada uma com suas particularidades; o Sistema
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Brasileiro de Classificação de Solos (SiBCS), por sua vez, não possui
ordenamento para esses solos, o que torna urgente sua categorização; os
autores Mageshen et al. (2022) definem alguns mecanismos básicos para a
formação de solos antropogênicos, como o acúmulo de materiais
artificialmente produzidos sobre volumes naturais; na visão de Woods (2003),
também existem alternativas únicas para um geomaterial ser considerado um
anthrosol ou Antropossolo; já Certini e Scalenghe (2021), ao falarem sobre os
solos antropogênicos, sugerem que estes não precisam se enquadrar em
nenhuma exigência taxonômica, pois basta que exibam as características
antrópicas adquiridas ao longo do tempo.
Ao visualizar o trabalho de Teixeira (2015), relacionado ao estudo de
quatro perfis de Antropossolos nas áreas urbana e suburbana de
Guarapari/ES, observamos que foram encontrados volumes pedológicos com
expressivas descontinuidades, como a adição de materiais alóctones às
camadas preexistentes, o que resultou num Antropossolo Sômico; a retirada
de camadas superficiais do solo, que deu origem a um perfil de Antropossolo
Decapítico; a deposição de materiais em uma área de aterro sobreposta a um
manguezal, originando um Antropossolo Líxico; e a sobreposição de
sedimentos e materiais antrópicos em material pedológico consolidado, o que
levou à formação de outro perfil de Antropossolo Líxico.
Assim, percebemos que as interpretações acerca da manifestação do
Antropoceno nos solos são bastante vastas. Esses volumes, “humanos”, mas
não humanizados, estão por todas as partes do mundo, seja em ambientes
urbanos ou rurais, representando a categoria, embora não oficializada no
Brasil, que mais se expande no mundo, fazendo jus às marcas da desmedida
exploração dos bens ambientais pela sociedade.
E o que tudo isso tem a ver com Educação em solos? Vamos juntos
descobrir?
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2.3 A urgência da abordagem da Educação em solos na sala de aula: o
caso do Novo Ensino Médio
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Tomemos como exemplo a organização curricular do Estado de São
Paulo. A Secretaria de Educação (SEDUC) estabeleceu que, no 1º ano do
Ensino Médio, o estudante deve cursar uma grande carga horária da “parte
comum”, um total de 900 horas de Formação Geral Básica e 150 horas em
Itinerário formativo 1 . Já a partir do 2º ano, a carga horária dessa parte vai
diminuindo para o desenvolvimento do itinerário escolhido pelo estudante, 600
horas de Formação geral básica e 660 horas de Itinerários formativos. No 3º
ano, o estudante cursará apenas 300 horas da Formação geral básica, que
contemplará somente a área de Linguagens e suas Tecnologias e a área de
Matemática e suas tecnologias, junto de uma grande carga horária de Itinerário
formativo escolhido (900 horas) (SÃO PAULO, 2021a).
Desse modo, se o estudante não optar pelo Aprofundamento Curricular
da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, terá cada vez menos
acesso aos conhecimentos da Geografia (BRANCO et al., 2018). Caso opte
por um dos Aprofundamentos da área, como “Superar desafios é de
Humanas”, “Liderança e cidadania”, ou por um dos Aprofundamentos que
integram esta área a outras, como “Cultura em Movimento: diferentes formas
de narrar a experiência humana” (com a área de Linguagens e Tecnologias),
“Ciências Humanas, Arte, Matemática: quem_divide_multiplica” (com a área
de Matemática e Tecnologias), “A Cultura do Solo: do Campo à Cidade” (com
a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias) etc., terá oportunidade de
estudar uma temática por meio de uma abordagem multidisciplinar, isto é, um
mesmo assunto explorado por diferentes disciplinas que compõem o
Aprofundamento Curricular, sendo uma delas a Geografia (SÃO PAULO,
2021b).
Tendo em vista este panorama, podemos agora encarar o desafio de
pensar a Educação em solos no Ensino Médio. Se queremos atingir o máximo
de estudantes possíveis, temos que começar pelas possibilidades de
abordagem dentro da Formação Geral Básica.
1
No Estado de São Paulo, os Itinerários formativos dividem-se em: Projeto de Vida; Eletivas;
Tecnologia e Inovação; Práticas Experimentais; Orientação de Estudos; e Aprofundamento
Curricular - de escolha do estudante, que pode ser uma área isolada como a área de Ciências
Humanas e Sociais Aplicadas, ou uma das áreas integradas, como a área de Ciências da
Natureza e suas tecnologias (SÃO PAULO, 2021b).
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Ao analisar esta parte do currículo, que é prevista pela Base Nacional
Comum Curricular (BNCC), encontramos seis competências específicas para
da área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, todas tangenciam de
alguma forma as relações homem-natureza, todavia, uma se destaca quanto
ao potencial para a Educação em solos:
Analisar e avaliar criticamente as relações de diferentes grupos,
povos e sociedades com a natureza (produção, distribuição e
consumo) e seus impactos econômicos e socioambientais, com
vistas à proposição de alternativas que respeitem e promovam a
consciência, a ética socioambiental e o consumo responsável em
âmbito local, regional, nacional e global (BRASIL, 2018, p. 574).
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mobilizando conhecimentos, práticas cognitivas e socioemocionais, assim
como atitudes e valores que capacitem o estudante para o pleno exercício da
cidadania (BRASIL, 2018). Para isso, deve-se buscar o desenvolvimento das
seguintes habilidades:
(EM13CHS301) Problematizar hábitos e práticas individuais e
coletivos de produção, reaproveitamento e descarte de resíduos em
metrópoles, áreas urbanas e rurais, e comunidades com diferentes
características socioeconômicas, e elaborar e/ou selecionar
propostas de ação que promovam a sustentabilidade
socioambiental, o combate à poluição sistêmica e o consumo
responsável.
(EM13CHS302) Analisar e avaliar criticamente os impactos
econômicos e socioambientais de cadeias produtivas ligadas à
exploração de recursos naturais e às atividades agropecuárias em
diferentes ambientes e escalas de análise, considerando o modo de
vida das populações locais – entre elas as indígenas, quilombolas e
demais comunidades tradicionais –, suas práticas agroextrativistas e
o compromisso com a sustentabilidade.
(EM13CHS303) Debater e avaliar o papel da indústria cultural e das
culturas de massa no estímulo ao consumismo, seus impactos
econômicos e socioambientais, com vistas à percepção crítica das
necessidades criadas pelo consumo e à adoção de hábitos
sustentáveis.
(EM13CHS304) Analisar os impactos socioambientais decorrentes
de práticas de instituições governamentais, de empresas e de
indivíduos, discutindo as origens dessas práticas, selecionando,
incorporando e promovendo aquelas que favoreçam a consciência e
a ética socioambiental e o consumo responsável.
(EM13CHS305) Analisar e discutir o papel e as competências legais
dos organismos nacionais e internacionais de regulação, controle e
fiscalização ambiental e dos acordos internacionais para a promoção
e a garantia de práticas ambientais sustentáveis.
(EM13CHS306) Contextualizar, comparar e avaliar os impactos de
diferentes modelos socioeconômicos no uso dos recursos naturais e
na promoção da sustentabilidade econômica e socioambiental do
planeta (como a adoção dos sistemas da agrobiodiversidade e
agroflorestal por diferentes comunidades, entre outros) (BRASIL,
2018, p. 575).
21
preciso se aprofundar nos conhecimentos da realidade vivida/concreta dos
estudantes, àqueles que são fruto da sua própria condição, resgatar e valorizar
estes conhecimentos (FREIRE, 2011). Em outras palavras, investir em um
processo educativo dialógico, que problematize as relações sociais de
exploração e dominação, inclusive no que diz respeito à relação dos sujeitos
com o ambiente em que vivem, garantindo condições objetivas para sua
emancipação e, consequentemente, para a transformação social. Como
argumenta Loureiro et al. (2006), uma das principais ideias da educação
libertadora de Paulo Freire está na educação como uma atividade em que os
sujeitos, professores e estudantes, permeados pelo mundo, educam-se
mutuamente.
Ao abordar tratar dos impactos ambientais em áreas rurais e urbanas e
a relação com a produção econômica, por exemplo, é essencial também
problematizar a questão da vulnerabilidade e insegurança ambiental.
Conforme Jatobá (2011, p. 144), as áreas de vulnerabilidade social são mais
suscetíveis a problemas ambientais:
[...] as áreas de degradação ambiental coincidem com as áreas de
degradação social. Ou seja, pessoas ou grupos sociais expostos a
riscos ambientais, na maior parte dos casos, também são
vulneráveis do ponto de vista social. [...] os territórios
economicamente marginalizados e desvalorizados tendem a ser
ocupados por atores sociais igualmente marginalizados, os quais, na
sua luta cotidiana pela sobrevivência, tendem a degradar mais ainda
estes territórios, criando um círculo vicioso que aumenta
progressivamente a condição marginal destes atores.
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meio ambiente. Os questionamentos são imprescindíveis para a Educação em
solos, visto que o que está em questão é uma guerra de mundos 2 : “são
posições onde os atores estão politicamente implicados, onde alguns têm tudo
a perder e outros muito a ganhar” (DANOWSKI; VIVEIROS DE CASTRO,
2014, p. 122). As escolhas que faremos, de como vamos compor o mundo,
“com que tipo de solo, com que tipo de paisagem, com que tipo de indústria,
com que tipo de comércio [...]” (LATOUR, 2014, p.23-24), serão determinantes
para estabelecer de que lado estamos neste conflito, e isso influenciará de
modo decisivo na continuação ou não da vida dos seres humanos e de outros
viventes.
A partir desse ponto, convém ponderar se há também espaço para a
Educação em solos na parte diversificada do currículo nos Itinerários
formativos. Daremos continuidade à análise com enfoque em um dos
Aprofundamentos Curriculares da área de Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas, o que consideramos mais relevante dentre as cinco opções
disponíveis (já citadas mais acima). Lembrando que estamos nos referindo à
organização dessa etapa no estado de São Paulo.
“A Cultura do Solo: do Campo à Cidade” é um Aprofundamento
integrado com a área de Ciências da Natureza e suas Tecnologias. Sua
proposta, segundo Material de Apoio ao Planejamento e Práticas de
Aprofundamento, disponibilizado para os professores da rede, é articular os
conhecimentos científicos das diversas disciplinas que compõe as duas áreas
para analisar e avaliar criticamente os impactos econômicos e socioambientais
associados à exploração do solo, assim como desenvolver projetos que visem
à sustentabilidade e produzir materiais de divulgação científica e campanhas
de conscientização em diferentes mídias” (SÃO PAULO, 2021c).
Esse aprofundamento traz seis Unidades Curriculares (UCs), as duas
primeiras desenvolvidas no 2º ano do curso e as demais no 3º ano. Cada uma
2
O filósofo Bruno Latour defende que estaríamos vivendo uma guerra entre “Humanos” e
“Terranos”. Os “Humanos” seriam aqueles que defendem a frente de modernização, que
ignoram e/ou negam que as suas ações repercutem e voltam para eles mesmos de maneiras
impensadas e incontroláveis. E os “Terranos” ou “povo de Gaia” seriam aqueles que estariam
dispostos a lutar pela possibilidade de existência dos diversos atores que compõem Gaia e de
suas formas próprias de existir (COSTA, 2014).
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das UCs tem de três a cinco componentes curriculares, que podem ser
lecionados por docentes de diferentes disciplinas (Quadro 1).
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impacto ambiental, como elas podem Máquinas e suas tecnologias 1) Física
contribuir para a produção de alimentos
funcionais que atendam às necessidades Questões agrárias brasileiras 1) Geografia
dos cidadãos e do mercado consumidor. 2) História
Ações para o acesso à alimentação
nutritiva. Crescimento econômico Alimentação sustentável 1) L. Inglesa
sustentável, entre outros conteúdos. 2) L. Portuguesa
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Ao analisar as ementas das UCs, notamos que essas contemplam a
temática solo por meio da apresentação de seus aspectos biológicos, físicos e
químicos, além de que também abordam o uso sociocultural e político da terra
por diferentes ângulos, o que consideramos positivo. Também há espaço para
elaboração de projetos com ou sem o uso de ferramentas digitais, o que pode
ampliar os conhecimentos dos estudantes quanto aos recursos que estão ao
seu alcance para poder agir concretamente no seu entorno e na sua realidade,
seja ela rural ou urbana.
Contudo, gera-nos certa apreensão a ementa das UCs 5 e 6, que
tencionam arrastar a temática para a defesa dos interesses neoliberais, para a
lógica do mercado sobre as outras esferas sociais, o que se evidencia em
termos como “tecnologia agro”, “crescimento econômico sustentável”,
“mercado consumidor”, “sistema mundial de interdependências”, “trabalho e
economia”. Este tipo de educação ambiental, caracterizada como pragmática,
é problemática em dois sentidos: a) na ausência de reflexão que permita a
compreensão contextual e articulada das causas e consequências dos
problemas ambientais; b) na busca desenfreada por ações factíveis que
tragam resultados orientados a um futuro sustentável, embora dentro de um
limite que não ultrapasse as fronteiras do realismo político, do
economicamente viável, da conservação do status quo (LAYRARGUES; LIMA,
2014). Esse quadro reduz as possibilidades de enfrentamento real dos
problemas, pautando-se apenas em soluções paliativas, o que é incompatível
com um pensamento comprometido com a transformação da sociedade,
compreendido como injusta e desigual, tal como o que defendemos para a
Educação em solos de uma perspectiva freireana.
A explicação para essa organização, digamos “estranha”,
possivelmente, é técnica e pode ter relação com a necessidade da SEDUC de
atender às exigências dos professores e do seu sindicato para que não fossem
prejudicados com a nova estruturação do Ensino Médio, isto é, de não haver
uma diminuição do número de aulas disponíveis, assim, foi preciso distribuir
um certo número de aulas para cada disciplina/habilitação, o que resultou na
presente organização. O que acaba prejudicando a qualidade do
aprofundamento, considerando que nem todos os professores estão
capacitados a desenvolver uma educação efetivamente crítica em solos.
26
Defendemos que a Geografia, em virtude de seu amplo campo de atuação,
contribui de maneira significativa para as discussões da temática, como marca
Oliveira (2020, p. 80): “as questões ambientais estão intimamente ligadas ao
objeto central do estudo da ciência geográfica”.
Tendo em vista as considerações trazidas nessa seção, podemos
argumentar que há espaço e potencial para Educação em solos no novo
Ensino Médio, mas também existem desafios a serem transpostos. Na parte
comum, da Formação Geral Básica, o termo “solo” não aparece representado
nas Competências e Habilidades, a abertura existe somente porque o foco são
as questões socioambientais, o que não garante que os professores irão
trabalhar a temática, nesse sentido, é importante levantar a bandeira da
Educação em solos e sempre lutar para que conste no currículo oficial geral,
para que todos tenham acesso. Na parte diversificada, apesar de constar como
opção no currículo, em um dos Itinerários formativos, há uma tendência de
tratamento simplista e pragmático da temática. Em uma educação crítica, é
preciso ir além, o ensino de solos deve possibilitar que aos estudantes
compreender e problematizar a realidade em que estão inseridos (a exploração
capitalista, as injustiças, as desigualdades) para que construam valores,
conhecimentos e atitudes, que permitam intervir na conservação do meio
ambiente e na defesa da qualidade de vida de todos.
Encontramo-nos em uma zona crítica, em que as condições para a vida
na Terra estão inserindo limiares de mudanças incertas, radicais e
irreversíveis, a ação já não pode mais ser postergada (LATOUR, 2014). É
urgente fazer escolhas, tomar decisões e tecer educações outras para o
Antropoceno. Convocamos os professores de Geografia a se engajar em uma
Educação em solos emancipatória, em “investir na formação de sujeitos que
concretamente enfrentem a problemática ambiental e comprometam-se com
as mudanças necessárias” (JANKE; TOZONI-REIS, 2008, p. 148) para que
assim possamos alcançar uma sociedade justa, solidária e humanista.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
27
REFERÊNCIAS
CERTINI, G.; SCALENGHE, R. Soil is the best testifier of the diachronous dawn
of the Anthropocene. Journal of Plant Nutrition and Soil Science, v.184,
p.183–186. 2021.
28
Filosofia) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,
2014.
DUDAL, R. The sixth factor of soil formation. Eurasian Soil Science C/C of
Pochvovedenie, v. 38, p.1-13, 2005.
29
LASCANTA, L. El Faloceno: redefinir el Antropoceno desde una mirada
ecofeminista. Ecología política, v.53, p.26-33, 2017.
PRIMAVESI, A. Manual do solo vivo: solo sadio, planta sadia, ser humano
sadio. 2. ed. São Paulo: Expressão Popular, 2016, 205 p.
30
RIBEIRO, D. S. (Org.). Agroecologia na Educação básica: propositivas de
conteúdo e metodologia. São Paulo: Expressão Popular, 2017. 164 p.
STEFFEN et al. Global Change and the Earth System: A Planet Under
Pressure. Berlim: Springer Science & Business Media, 2004.
31
LIVROS INFANTIS A SERVIÇO DA POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA DO
SOLO
1 INTRODUÇÃO
32
gases de efeito estufa e degradação por erosão e perda de matéria e
nutrientes, são centrais para o conceito recentemente desenvolvido de
segurança do solo (FAO, 2015b).
Assim, o manejo cuidadoso do solo constitui um fator essencial da
agricultura sustentável e também fornece uma alavanca valiosa para regulação
do clima e uma forma de salvaguardar os serviços ecossistêmicos e a
biodiversidade (FAO, 2015).
Nesse contexto, a disseminação da informação e conhecimento sobre
solos e o reforço da importância de uma gestão sustentável do solo para evitar
prejuízos às funções fundamentais do solo são algumas das medidas que
podem ser tomadas pelos grupos e pela comunidade científica (FAO, 2015).
Em face do exposto, acredita-se que a popularização da ciência e da
tecnologia tornam-se peças-chave para divulgação científica a fim de levar ao
público leigo os conhecimentos advindos do desenvolvimento científico e
tecnológico da humanidade, que pode conferir ao cidadão poder de
participação e decisão em diferentes esferas da vida cotidiana.
Acredita-se que, com a popularização da ciência, o conhecimento
produzido por especialistas em universidades e centros de pesquisa possa ser
divulgado, contribuindo na construção da cidadania.
De maneira abrangente, há que se pensar na forma como comunicamos
e popularizamos a ciência, pois a circulação da informação deixa de ter
fronteiras, territórios fixos/espaciais, possibilitando a todos o acesso à
informação e, consequentemente, à perspectiva do conhecimento e do saber.
Inserindo-se claramente nesse contexto, é preciso levar o conhecimento
do solo à comunidade em geral a fim de divulgar o que é o solo, sua gênese,
morfologia, classificação, bem como formas de uso, manejo e conservação,
entre outros assuntos ligados à Ciência do Solo, sendo a Educação em Solos
um caminho fecundo e viável para abordagem do solo, junto aos diversos
atores da sociedade.
Haja vista que a educação em solos no Brasil está presente nos mais
diversos espaços educativos, formais e não formais, seja com propósitos de
ensino, de assistência técnica ou de popularização da ciência (SILVA;
VEZZANI; LIMA, 2022).
33
Nesse sentindo, as histórias infantis podem ser um veículo importante
de popularização da ciência do solo, pois trazem à reflexão e discussão
temáticas variadas relativas ao solo.
Assim, esse texto tem por objetivo tecer considerações gerais sobre a
popularização da ciência e, em específico, selecionar e indicar livros infantis
que possam ser utilizados em atividades de popularização da Ciência do Solo
e na Educação em Solos de um modo geral.
Nessa pesquisa, foi utilizada a abordagem metodológica qualitativa com
revisão bibliográfica, que, segundo Gil (2008), é desenvolvida em materiais já
elaborados como livros, artigos e revistas, obtendo uma vantagem ao
investigador com as múltiplas informações. Além disso, foi realizada a
pesquisa documental, que dispõe de dados documentais como arquivos, fichas
cadastrais de clientes ou pacientes, de produtos, protocolos, boletins, entre
outros que sejam dados a serem analisados e sirvam de fontes primárias para
o desenvolvimento da pesquisa (CAJUEIRO, 2013).
O encaminhamento metodológico do estudo se deu pelas seguintes
etapas: 1) levantamento bibliográfico relativo à popularização da ciência; 2)
coleta de dados com a busca e separação de livros infantis que têm como tema
central o solo (optou-se por obras publicadas por autores brasileiros até
dezembro do ano de 2022); e 3) Análise das obras selecionadas.
2 POPULARIZAÇÃO DA CIÊNCIA
34
era a transmissão de mensagens e os processos que nela intervêm
(GERMANO; KULESZA, 2006).
Hilgartner (1990) apresenta a visão dominante da popularização da
ciência, estando esta enraizada na noção idealizada do conhecimento
científico puro e genuíno em contraste com o conhecimento popularizado. O
autor aponta dois modelos: primeiro, cientistas desenvolvem um conhecimento
científico genuíno; subsequentemente, divulgadores disseminam materiais
simplificados ao público.
Portanto, a visão dominante de popularização estabelece o
conhecimento científico genuíno aos cientistas e aos formuladores de políticas
e ao público são estabelecidas representações simplificadas (HIGARTNER,
1990).
Nessa linha de raciocínio, Navas (2008) diz que a popularização tem
sido comumente compreendida como um processo unidirecional, que busca
traduzir o conhecimento científico dos especialistas para não especialistas,
assumindo a ideia de que: 1) os cientistas e as instituições científicas são
autoridades no que se refere à ciência; 2) o público se encontra em um estado
de ignorância sobre assuntos de ciência e tecnologia; 3) o conhecimento é
transmitido em um única via, dos cientistas para a sociedade; e 4) o processo
de transmissão implica que a informação seja simplificada e distorcida.
Em contrapartida, Germano e Kulesza (2006) afirmam que popularizar
é muito mais do que vulgarizar ou divulgar a ciência. É colocá-la no campo da
participação popular e sob o crivo do diálogo com os movimentos sociais. É
convertê-la ao serviço e às causas das maiorias e minorias oprimidas numa
ação cultural que, referenciada na dimensão reflexiva da comunicação e no
diálogo entre diferentes, oriente suas ações respeitando a vida cotidiana e o
universo simbólico do outro.
Nesse sentido, Navas (2008) convida a fazer uma nova leitura do papel
que a divulgação e popularização da ciência e da tecnologia podem ter nas
sociedades atuais. Nessa perspectiva, a divulgação científica e os processos
de comunicação pública da ciência assumem atualmente papel relevante no
estímulo à participação cidadã e no resgate das vozes e percepções do público
sobre temas de ciências e tecnologia.
35
De acordo com esse pensamento, a postura e estilo dos agentes da
popularização científica também têm mudado. Antes, atuavam como
“tradutores” da comunidade científica, agora, cada vez mais, orientam seu
trabalho para ilustrar ao público sobre os impactos sociais da ciência e
tecnologia (MARTÍNEZ; FLORES, 1997).
Para Grillo, Giering e Motta-Roth (2016,) a divulgação ou popularização
da ciência é uma atividade, processo ou prática social de recontextualização
do discurso da ciência em textos endereçados a leitores não especialistas,
produzidos em diferentes gêneros discursivos, com o objetivo de promover a
comunicação do conhecimento científico, tomado como um elemento
importante da cultura de qualquer ser humano na atualidade.
Martínez e Flores (1997) definem a popularização da ciência como o
uso de recursos e processos técnicos para a comunicação de informação
científica e tecnológica para o público em geral. Os autores colocam como
sinônimo de vulgarização científica e argumentam que a popularização supõe
a tradução de uma linguagem especializada em outra leiga, com finalidade de
alcançar um público mais amplo. Assim, também Mueller (2002) define a
popularização da ciência como o processo de transposição das ideias contidas
em textos científicos para os meios de comunicação populares.
Nesses termos, Motta-Roth (2009) colocam que popularizar a ciência
diz respeito à disseminação generalizada do conhecimento científico na
sociedade, adaptando o texto de gêneros complexos às novas audiências-
alvo.
Portanto, a popularização é o ato ou ação de popularizar: tornar popular,
difundir algo entre o povo (GERMANO; KULESZA, 2006). Assim, contribuir
para a formação de cidadãos capazes de viver plenamente sua
contemporaneidade, com compreensão e visão crítica do processo histórico
da ciência e da sociedade, é uma ideia síntese dos objetivos da popularização
da ciência e uma proposta de missão para orientar os atores da popularização
da ciência (FERREIRA, 2014).
Dessa forma, pode-se dizer que o termo “popularização da ciência”
alude a um conjunto de atividades, disciplinas e abordagens que buscam
comunicar a ciência a um amplo público voluntário (OLIVERA, 2004).
36
Assim, o processo de PC tem três eixos centrais: 1) o dever dos meios
de comunicação de informar a sociedade sobre o avanço do conhecimento; 2)
a responsabilidade do mediador em explicar princípios e conceitos para que a
sociedade avance na transformação conjunta do conhecimento; e 3) a
necessidade da sociedade entender a relevância da pesquisa para que
continue financiando a empreitada científica (MOTTA-ROTH, 2009).
Portanto, com base nos escritos acima, é de consenso que há uma
necessidade de desenvolver em cada cidadão a capacidade de entender a
diferença entre conhecimento científico e outros tipos de conhecimento
(MUELLER, 2002).
Segundo Mueller (2002), é necessário que os cientistas se dediquem a
produzir "simplificações apropriadas" do resultado de suas pesquisas, ao nível
do cidadão comum, pois o analfabetismo científico, ou seja, a ignorância sobre
os conhecimentos mais básicos de ciência e tecnologia que qualquer pessoa
precisa ter para "sobreviver" razoavelmente em uma sociedade moderna,
coloca-se extremamente preocupante (SABBATINI, 1999). O autor destaca
que a ignorância científica básica abre as portas da mente da pessoa para os
conceitos exóticos e esotéricos os mais absurdos, sem o menor fundamento
cientifico, com grandes prejuízos para o individuo e para a sociedade.
Resumidamente, pode-se dizer que a gama de metas importantes e
válidas para a popularização da ciência é muito ampla: entreter, informar,
ensinar, suscitar novas vocações científicas e desafiar pseudociências,
democratizando o conhecimento científico e difusão cultural (OLIVERA, 2004).
No entanto, os problemas envolvidos no processo de popularização do
conhecimento científico são tão complexos que, segundo alguns autores,
chegaria a ser utópico. Essa utopia se dá pela emergência de uma contradição:
expressar em linguagem simples e compreensível conceitos complexos que
demandam linguagem especializada, sem perder nada de importante no
processo (MUELLER, 2002).
Em relação às dificuldades inerentes ao processo de popularização,
Mueller (2002) aponta que o processo de popularização do conhecimento
científico nada tem de simples, pois a dificuldade mais visível está em reduzir
conceitos complexos, que demandam domínio de conhecimento e linguagem
especializada, a uma linguagem compreensível para pessoas sem treinamento
37
específico. Segundo o autor, na transposição, que frequentemente é feita com
o uso de metáforas e analogias, a possibilidade de ocorrência de algum tipo
de distorção involuntária é grande.
Martínez e Flores (1997) apresentam as atividades de popularização do
conhecimento agrupadas de acordo com os seguintes objetivos: 1)
educacional (a ampliação do conhecimento e a compreensão do público leigo
sobre o processo científico e sua lógica); 2) informacional (busca o
desenvolvimento de uma opinião pública sobre os impactos do
desenvolvimento científico e tecnológico sobre a sociedade); e 3) mobilização
popular (se propõe a ampliar a possibilidade da participação das populações
marginalizadas na formulação de políticas públicas e na eleição de opções
tecnológicas). Os autores evidenciam que, de acordo com o objetivo, mudam
os públicos almejados para atividades de popularização da ciência.
Para Martínez e Flores (1997), os programas e projetos de
popularização da ciência e tecnologia têm como objetivo chamar a atenção do
público em direção à existência e natureza do conhecimento científico, é seu
papel estimular e provocar a curiosidade do enunciado, com a esperança que
o público leigo busque meios para aprofundar sua educação científica básica.
Para os autores, os programas de popularização da ciência, além de informar
sobre teorias, conceitos, invenções e inovações, deveriam também informar
sobre o papel desempenhado por homens do lugar, expor as circunstâncias
sociais e as instituições locais, assim como exibir documentos nacionais e
regionais de contextualização, associados aos temas científicos tratados.
Apesar do discurso recente de popularização do conhecimento, o que
se pretende, de fato? Promover a alfabetização científica em temas
específicos, em diferentes campos do saber, conceder um “verniz ao saber”,
ou possibilitar uma formação crítica do conhecimento, suas implicações e
riscos, para que este conhecimento possa ser discutido, avaliado e/ou
contestado? (CALDAS, 2010).
Assim, é preciso que o discurso científico seja amplamente
compreendido pela população para que possa tomar suas decisões a partir de
múltiplas informações, considerando os aspectos positivos e negativos de
cada situação. Não se trata, obviamente, de negar a especificidade dos
saberes, nem de abrir mão deles, mas, sim, de possibilitar a participação
38
efetiva da sociedade em debates públicos sobre temas polêmicos, como
transgênicos, biotecnologia, energia nuclear, entre tantos outros, cujos
impactos sociais são inegáveis (CALDAS, 2010).
39
notícias, histórias em quadrinhos, reportagens, poemas etc. (OLIVEIRA;
HIGASHI 2011).
No que concerne à esfera literária, cita-se o gênero ficção científica, o
qual tem sido bastante apreciado pelo público infantojuvenil. A principal
característica desse gênero é aliar conhecimento científico a histórias
fantásticas, embora, por vezes, esse conhecimento seja usado para
transcender os limites técnicos de uma época e criar perspectivas ainda
impossíveis. Assim, a ficção científica utiliza “a ciência e a tecnologia para criar
situações, cenários, espaços, enredos e personagens que não seriam
possíveis ou plausíveis de outro modo” (OLIVEIRA; HIGASHI 2011).
Contudo, vale ressaltar que aliar ciência a narrativas literárias não é
apenas privilégio do gênero de ficção científica, visto que é possível encontrar
outros gêneros da literatura (infantojuvenil) que veiculam conhecimentos
advindos da esfera científica (OLIVEIRA; HIGASHI 2011).
Nesse contexto, existe uma variedade de livros infantis que podem
auxiliar na popularização da ciência e, adiante, serão apresentadas algumas
histórias infantis que contribuem para a popularização da Ciência do Solo. O
Quadro 1 traz algumas obras brasileiras, cujo tema central das histórias é o
solo e as várias temáticas ligadas a ele.
É importante ressaltar que não se pretende apresentar uma lista
interminável ao leitor de livros infantis que abordam o solo, até porque não
teríamos espaço nesse escrito para tal. Apenas intenciona-se indicar algumas
obras, dentre um universo vasto de escritos, que podem auxiliar na
popularização da Ciência do Solo junto ao público infantil.
40
BALIEIRO, F. C. A surpreendente história não Biodiversidade do Solo
contada da biodiversidade do solo e nosso
bem-estar. Brasília, DF: Embrapa, 2022.
CAPECHE, C. L.; STUCHI, J. F.; PAGLIACCI, Biodiversidade do Solo
M. P. A casa da vida: eu sou um solo vivo.
Brasília, DF: Embrapa, 2021.
PEREIRA, C. S.; REZENDE, L. E. F.; RIBEIRO, Biodiversidade do Solo
L. O.; OLIVEIRA, J. G. R. A biodiversidade do
solo: um mundo sob nossos pés. Pará de
Minas - MG: VituralBooks, 2021.
OLIVEIRA, D.; MANGANOTTE, M. B.; Formação, funções e
MACHADO, A. R.; CERMINARO, A. C.; conservação do solo
SILVEIRA, L. A.; CARVALHO, M. F.; PATUCCI,
N. N.; CHRISTMANN, P. João Torrão: Um
pedacinho de solo. São Paulo: FFLCH/USP,
2018.
SILVA, A. C., OLIVEIRA, J. G. R. O aniversário Funções do Solo
do Vermelhito. Pará de Minas, MG:
VirtualBooks, 2021.
SILVA, A. C., OLIVEIRA, J. G. R. Para que o solo Funções do solo
serve?. Pará de Minas, MG: VirtualBooks, 2021.
MIKOSIK, A. P. M.; SOUZA, D. M. H.; OLIVEIRA, Funções do solo
D. R. S. GATTI, V. A casa da minhoca onde
nasce a mandioca. Curitiba: CRV, 2022.
RESENDE, A. V.; BARROS, A. C. S.; FAVARIN; Funções do solo
A. M.; BORGHI, E.; GONTIJO NETO, M. M.;
CASTRO, M. A. A terra não é sujeira. Sete
Lagoas: Embrapa Milho e Sorgo, 2017.
VITAL, A. F. M.; SANTOS, R. V. Xô salinidade, Salinização do solo
deixa meu solo em paz. Campina Grande:
EDUFCG, 2022.
41
OLIVEIRA, J. G. R; RIBEIRO, L. O.; PEREIRA, C. Salinização do solo
S; REZENDE, L. E. F.. Cadê a água que estava
aqui? Pará de Minas - MG: VirtualBooks, 2021.
SILVA, A. C., OLIVEIRA, J. G. R. O Torrãozito tá Degradação e
dodói. Pará de Minas - MG: VirtualBooks, 2021. conservação do solo
VITAL, A. F. M.; SANTOS, R. V. Diário de bordo Biodiversidade do Solo
da minhoca Paspim. Campina Grande:
EDUFCG. 2022.
OLIVEIRA, J. G. R.; RIBEIRO, L. O. Um novo Impermeabilização do
solo para a formiguinha Bete. Pará de Minas - Solo
MG: VirtualBooks Editora, 2022.
Elaboração: As autoras, 2022.
42
concurso internacional, sendo elas: 1) “The home of life. I am a living soil”,
escrita por Claudio Lucas Capeche, Julia Franco Stuchi, Milena Pessoa
Pagliacci (3º colocado no concurso); 2) “The soil is alive”, escrita por Argeu
Vanz, Elisângela Benedet da Silva, Leandro do Prado Wildner, Josiane de
Souza Passos, Liagreice Pereira de Medeiros Cardoso, Célio Haverroth e
Leonir Claudino Lanznaster; e 3) “The amazing untold history of soil
biodiversity and our welfare”, escrita por Fabiano de Carvalho Balieiro
(FAO, 2023).
Em 2021, o tema do concurso foi “Parar a salinização do solo para
aumentar a sua produtividade”. Ao todo, os organizadores do evento
receberam 27 livros de 14 países. Dentre os títulos, cinco produções brasileiras
ficaram entre os finalistas: 1) Earth’s Extraordinary Soil for All Living
Organisms. Learning, thinking and acting!, escrita por Marcela Bianchessi da
Cunha Santino (2º colocado); 2) Get out of here, salinity, leave my soil alone,
escrita por Adriana de Fátima e Rivaldo Vital; 3) Solinho in the Caatinga. Halt
soil salinization, Boost soil productivity, escrita por Bruna Arruda, Marcia Vidal
Candido Frozza, Nayana Alves Pereira, Clécia Cristina Barbosa
Guimarães, Aldeir Ronaldo Silva, Antonio Carlos de Azevedo, Tiago Ramos de
Azevedo, Josiane Millani Lopes Mazzetto, Wilfrand Ferney Bejarano Herrera,
Beatriz Rosa Chiodeli e Cyan Turner; 4) The History of Rocky, the Soil, escrita
por Bruna Vicente; e 5) The fun soil profiles in: How to reduce soil salinization
to increase productivity, escrita por Adriana Ribon e Marcos Gervásio Pereira
(FAO, 2023).
Em 2022, o tema do concurso foi "Solos, onde começa a
alimentação". Entre os finalistas, em 3º lugar, ficou o livro brasileiro: Special
picnic on world soil Day, escrito por Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira, Cláudio
Lucas Capeche e Lygia de Oliveira Ribeiro (FAO, 2023).
Diante dos livros listados no Quadro 1, foram selecionadas algumas
obras, contendo temáticas diferentes sobre o solo para análise e indicação de
uso em ações de popularização da Ciência do Solo, sendo elas: 1) A casa da
vida: Eu sou um solo vivo; 2) João Torrão: Um pedacinho de solo; 3) O
aniversário do Vermelhito; 4) Cadê a água que está aqui?; e 5) Um Novo Solo
para a Formiguinha Bete.
43
A obra A casa da Vida: Eu sou um solo vivo (Figura 1), de autoria de
Cláudio Lucas Capeche, Júlia Franco Stuchi e Milena Pessoa Pagliacci, em
sua 1ª edição em 2021, discorre sobre a biodiversidade do solo. Na história,
há uma apresentação em primeira pessoa de vários animais da macrofauna,
mesofauna e microfauna que vivem no solo e suas funções para manter um
solo saudável.
Ao longo da história, são abordadas algumas práticas de preservação
do solo a fim de que não prejudique a biodiversidade existente. Desse modo,
incentiva os leitores a conhecer mais sobre a vida existente no solo e a
contribuição dos animais para com ele. Ao finalizar o texto, os autores propõem
a produção de tinta de solo e a apresentam desenhos relacionadas à temática
do livro.
44
horizontes que o formam. Na segunda história, os autores ressaltam a função
do solo como produtor de alimentos e sua importância na manutenção de
plantas e animais no planeta Terra, incluindo o ser humano. Já na terceira
história, a obra apresenta algumas formas de degradação do solo, tais como:
impermeabilização do solo, contaminação e poluição do solo, queimadas e
erosão. Ao final da obra, os autores propõem experiências e jogos
pedagógicos relacionados às temáticas apresentadas no livro.
45
Figura 3 - Livro O aniversário do Vermelhito.
O livro Cadê a Água que estava aqui? (Figura 4), de autoria de Jully
Gabriela Retzlaf de Oliveira, Lygia de Oliveira Ribeiro, Camila de Souza Pereira
e Leandra Eduarda Fabri Rezende, na 1ª edição de 2021, tem como temática
central a degradação do solo e retrata o problema na salinização do solo. Na
história, que é ambientada na região do semiárido nordestino, a personagem
Minhoquita busca uma solução para o problema da salinização do solo
decorrente a irrigação inadequada da área.
No enredo, a Minhoquita encontra o senhor Zé do Mato, um agricultor
amigo do solo, que estuda alternativas para solucionar o problema da
salinização do solo, mostrando que o ser humano tem a capacidade de
degradar, mas também de recuperar e preservar o solo.
46
Figura 4 - Livro Cadê a Água que estava aqui?
47
Figura 5 - Livro Um Novo Solos para Formiguinha Bete.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
48
desenvolvimento de ações de popularização. No entanto, observa-se a
literatura infantil como veículo de comunicação de conhecimentos científicos.
Acredita-se que a literatura infantil se torna uma ferramenta para a
popularização da ciência do solo junto às crianças, auxiliando na disseminação
de vários assuntos referentes ao solo, pois carrega uma linguagem simples,
compreensível, didática e ilustrativa, características essas que atraem o
pequeno leitor.
Encaminhando para uma conclusão do trabalho, nota-se uma carência
de livros infantis que abordam o solo, escritos por autores que não são
pesquisadores da área de solos ou áreas afins, o que reforça ainda mais a
necessidade de os projetos que trabalham com a Educação em Solos e a
popularização da Ciência do Solo a se envolverem com a organização e escrita
de histórias infantis que abarcam os mais variados temas pedológicos, com o
objetivo de aumentar o acervo de materiais didáticos voltados ao público
infantil e à comunidade em geral.
Por outro lado, considerando os livros infantis apresentados neste
tópico, bem como o concurso de livros infantis com a temática solo, tem-se a
expectativa de que há um movimento de crescimento da Educação em Solos
no Brasil e ao redor do mundo nos últimos anos.
5 REFERÊNCIAS
ABRAMOVICH, F. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo:
Scipione, 1997.
49
CALDAS, G. Divulgação científica e relações de poder. Informação e
Informação. Londrina, UEL, 2010.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Carta Mundial
de los Suelos revisada, 2015.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Status of the
World’s Soil Resources (SWSR): Main Report. Rome, Italy. 2015b.
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. El estado de los
recursos de tierras y aguas del mundo para la alimentación y la agricultura -
Sistemas al límite. Informe de síntesis Rome, 2021.
50
MARTÍNEZ, E.; FLORES, J. (comps.), La popularización de la ciencia y la
tecnología. Reflexiones básicas. México, Fondo de Cultura Económica, 1ª
Edição 1997.
51
SILVA, A. C.; OLIVEIRA, J. G. R de. Para que o solo serve?. Pará de Minas,
MG: VirtualBooks, 2021.
SILVA, V..; VEZZANI, F. M.; LIMA, M. R.; SILVA, V.; Reflexões sobre a
epistemologia da educação em solos. In.: VEZZANI, F. M. et al. (orgs.)
Educação em solos. Viçosa, MG: SBCS, 2022, p. 12-31
52
O SOLO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA DOS ANOS INICIAIS:
POSSIBILIDADES PARA O TRABALHO DOCENTE
1 INTRODUÇÃO
53
no trabalho docente, podendo influir, de certa forma, na condução da Educação
em Solos.
Portanto, esse trabalho tem como intuito discutir teoricamente o ensino
de temáticas físico-naturais na geografia escolar, especificamente a
abordagem dos solos por meio da Educação em Solos. Em específico, objetiva
analisar a abordagem do tema solo nos livros didáticos de Geografia dos anos
iniciais do Ensino Fundamental, bem como indicar possibilidades de trabalho
docente.
Metodologicamente, o trabalho foi realizado por meio de: a) leituras e
revisão de bibliografias ligadas ao ensino de temáticas físico-naturais na
geografia escolar e à Educação em Solos; e b) análise da abordagem do solo
nos livros didáticos de Geografia utilizados pela Rede Municipal de Educação
de Santo Antônio da Platina (1º ao 5º ano), estado do Paraná, realizada no
segundo semestre de 2022.
54
auxilia no processo de construção do conhecimento e na formação de seres
humanos mais críticos, entendendo melhor as dinâmicas físico-ambientais
(AFONSO, 2017).
Desse modo, é significativo ter um novo olhar para o ambiente físico-
natural, apresentando tanto sua constituição quanto seu desenvolvimento
desigual na sociedade, tendo como referência o período técnico-científico-
informacional (MORAIS, 2011).
As habilidades cognitivas ligadas à dinâmica da natureza e à sociedade
devem ser estimuladas pelos professores de Geografia desde os primeiros
anos da Educação Básica, com o objetivo de auxiliar o desenvolvimento de
diversas outras habilidades que podem ser usadas por outras áreas do
conhecimento e, diante disso, favorecer uma educação mais integradora e
holística (AFONSO, 2013).
Com base nisso, as temáticas físico-naturais devem ser integradas aos
demais componentes da Geografia para que os estudantes possam relacionar
os processos ambientais de maneira integrada ao planeta, e não de maneira
isolada de todos os impactos que podem causar na própria sociedade. Sendo
assim, essa visão mais integrada dos processos físico-ambientais pode auxiliar
para a ampliação dos saberes, do senso crítico e de um estímulo para atitudes
ambientalmente mais favoráveis e solidárias (AFONSO, 2017).
Nas aulas de Geografia, as temáticas físico-naturais vão auxiliar os
discentes a entenderem que o ser humano está inserido na natureza, sendo
ele sujeito no espaço e na dinâmica com o meio, assim, favorecendo uma
análise mais holística do espaço geográfico e das dinâmicas socioambientais.
Dessa forma, possibilita que os estudantes se tornem mais críticos,
conhecendo os saberes necessários para entender as dinâmicas da natureza,
as derivações decorrentes da ação antrópica e, de certo modo, a degradação
ambiental (BRAGANÇA; FELIZARDO; AFONSO, 2017).
O ensino de temas físico-naturais auxilia na prevenção, mitigação e
preparação contra riscos naturais, entendendo que o ser humano é um ser no
meio e que, ao modificar a natureza e reorganizar os espaços físicos conforme
sua necessidade, pode criar situações conflituosas (AFONSO, 2013).
A partir disso, entender essas dinâmicas e suas relações com a
sociedade pode auxiliar os estudantes a obter atitudes ambientalmente mais
55
seguras e também a ampliar o conhecimento conceitual, favorecendo, assim,
uma interação dos discentes mais crítica com o espaço em que vivem
(AFONSO, 2013).
Dessa forma, os alunos podem se inserir nas análises, entendendo que
eles também fazem parte dessas interações entre a sociedade e o meio físico,
assim, o quadro de degradação ambiental pode ser mais facilmente percebido
pelos estudantes, incentivando-os a criar e buscar formas e posicionamentos
como cidadãos (SILVA; AFONSO, 2019).
Com base em todos esses conhecimentos, as temáticas físico-naturais
auxiliam para uma educação ambiental mais integradora, formando cidadãos
que buscam entender os processos e também partilham essas informações
sobre riscos ambientais (BRAGANÇA; FELIZARDO; AFONSO, 2017).
Assim, as temáticas físico-naturais, em consonância com a educação
ambiental, podem ser significativas para a transformação social, cultural e
institucional, com base na abordagem dos elementos da natureza por meio do
cotidiano dos discentes e de suas experiências, desse modo, tende-se a
influenciar em suas vidas (AFONSO, 2013).
A abordagem das temáticas físico-naturais na geografia escolar
possibilita que os estudantes se sensibilizem, se tornem cidadãos mais críticos
e percebam as dinâmicas da degradação ambiental que podem observar nas
paisagens de suas vivências, como a ocupação e uso do solo desordenado,
entre outros fatores (BRAGANÇA; FELIZARDO; AFONSO, 2017).
Perante toda a discussão teórica apresentada, a Educação em Solos
pode ser uma grande aliada para a abordagem das temáticas físico-naturais
ligadas ao solo, tanto do ponto de vista de sua constituição e dinâmicas
naturais quanto em relação ao seu uso e ocupação pelas atividades antrópicas
e derivações ambientais.
Nessa vertente, a Educação em Solos configura-se como uma
possibilidade para o reconhecimento da indissociabilidade do elemento solo
frente aos demais, solo, água, ar, fauna e flora. Dessa forma, possibilita o
entendimento da importância do solo para o meio ambiente e a manutenção
da vida na Terra (FREITAS, 2018).
56
O solo é um componente essencial dos ecossistemas, visto que exerce
diversas funcionalidades, a considerar: principal substrato das plantas, abrigo
para várias formas de vida, base para construções humanas, matéria-prima
para múltiplos usos, filtro de poluentes, entre diversas outras funções (VITAL
et al., 2013).
Dessa forma, se constitui como um componente crucial para o meio
ambiente, bem como para as relações sociais engendradas sob e por meio
dele, portanto, o solo exerce um papel primordial para a manutenção do
ecossistema terrestre. Sendo assim, é necessário considerar o papel da
Educação em Solos na formação dos sujeitos.
Deve-se considerar que há distinções entre as abordagens do Ensino
de Solos e a Educação em Solos. A primeira se refere ao ensino de conteúdos
e conhecimentos, focalizando na transmissão dos mesmos. Já a Educação em
Solos refere-se a abordagens mais complexas, envolvendo aprendizagens
curriculares, bem como os valores e as atitudes, objetivando o enriquecimento
do indivíduo em sua totalidade. Desse modo, a educação vai além do ensinar,
ela concerne a provisão de possibilidades de autoconhecimento e valores
éticos de suma importância (MARQUES; OLIVEIRA, 2016).
Sendo assim, a Educação em Solos é uma ferramenta valiosa para
promover a conscientização ambiental, e ampliar a percepção do solo como
um importante elemento do meio ambiente. Nessa perspectiva, ela propicia a
aquisição de conhecimentos e habilidades que podem despertar mudanças de
valores e atitudes, corroborando, assim, para uma nova visão e atuação das
relações do ser humano com o meio em que vive (MUGGLER et al. 2004).
A Educação em Solos visa à sensibilização dos indivíduos diante da
importância do solo para a vida. Por meio desse processo educativo, o solo é
contemplado como um elemento fundamental do meio ambiente. Seu principal
intuito concerne, de modo geral, à criação, ao desenvolvimento e à
consolidação da sensibilização das pessoas frente ao solo, inclusive a
promoção do interesse para sua conservação, uso e ocupação de maneiras
mais sustentáveis (MUGGLER; SOBRINHO; MACHADO, 2006).
É imprescindível o despertar da atenção para uma nova leitura de
mundo, partindo do conhecimento sobre os solos. Para que promova-se a
57
sensibilização e a identificação das pessoas como integrantes de todo o
complexo. Diante disso, é necessária a disponibilização dos conhecimentos
sobre o uso adequado e sustentável do solo, sua importância, dinâmica e sua
relação com a sociedade (VITAL et al., 2013).
Assim, de modo geral, a sociedade possui ações de pouca consciência
e sensibilidade em relação ao solo, contribuindo, dessa forma, para sua
degradação, ocasionada por distintos fatores, tais como: pelo mau uso e
ocupação desordenada. Sendo assim, é importante desenvolver e fomentar a
sensibilização das pessoas, tanto individual quanto coletivamente, para a
sustentabilidade desse importante elemento ambiental (MUGGLGER;
SOBRINHO; MACHADO, 2006).
Dessa forma, o solo deve ser compreendido e reconhecido enquanto
componente fundamental do meio ambiente e da vida, que deve ser conhecido
e preservado da degradação (FREITAS, 2018). Essa contemplação pela óptica
da Educação em Solos oportuniza a conscientização ambiental das pessoas,
formal e informalmente. Em outras palavras, existem diversas formas, tempos
e espaços de se educar para o meio ambiente por meio de uma abordagem
pedológica (MUGGLER et al., 2004).
A Educação em Solos se constitui como um processo de formação, que
deve ser dinâmico, permanente e participativo. Sendo imprescindível educar
as pessoas, visando que se tornem agentes transformadores e, dessa forma,
participem de maneira ativa na busca e construção de alternativas para a
redução dos impactos ambientais e controle social do uso dos recursos
naturais (MUGGLGER; SOBRINHO; MACHADO, 2006).
Desse modo, a Educação em Solos propicia a aquisição de
conhecimentos e habilidades que corroboram na transformação de valores e
atitudes, ocasionando a construção de novas visões das relações humanas
com o meio em que vive, bem como a adoção de novas posturas em relação
ao meio ambiente (MUGGLER et al., 2004).
58
4 O SOLO NOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA DA REDE
MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DE SANTO ANTÔNIO DA PLATINA/PR
59
Figura 1: Coleção Ápis - Geografia dos Anos Iniciais do Ensino
Fundamental.
60
provocada pelo descarte inadequado de lixo sem tratamento nos lixões a céu
aberto e por resíduos industriais” (SIMIELLI, 2017c, p.135).
Ressalta-se que para além da poluição do solo, já mencionada no livro,
o docente pode explorar os impactos ambientais ligados ao solo e às diversas
formas de degradação do solo provocadas por atividades antrópicas. Nesse
sentindo, entende-se por degradação do solo a perda de uma ou mais de suas
qualidades (seja de natureza física, química ou biológica), que garantem sua
capacidade produtiva, por meio de diferentes processos, como erosão hídrica,
erosão eólica, desertificação, salinização, degradação física, química e
biológica (TAVARES FILHO, 2013).
No livro didático de Geografia do 4º Ano da Coleção Ápis, o solo é
tratado no capítulo 8, “A ação humana no meio natural”, em que dá destaque
para o uso utilitarista do solo e sua constituição natural, como é possível
verificar no trecho a seguir: “O solo é um recurso natural e, como todos os
outros, é muito importante para os seres vivos. É formado por fragmentos de
rocha, restos de plantas e animais em decomposição, ar e água” (SIMIELLI,
2017d, p. 155).
Finalmente, no livro didático de Geografia do 5º Ano da Coleção Ápis, o
solo aparece no capítulo 7, “O ambiente e a sociedade”, explorando a poluição
do solo por meio do uso de agrotóxicos, como é perceptível no trecho a seguir:
“Causada, entre outros fatores, pela aplicação de produtos químicos nas
lavouras e plantações, com o objetivo de aumentar a produtividade. Os aditivos
químicos mais comuns são os pesticidas, os solventes e os fertilizantes”
(SIMIELLI, 2017e, p. 152).
Diante da análise realizada, observou-se que os livros didáticos de
Geografia da coleção Ápis, de 1º ao 5º ano, abordam o solo de forma breve e
superficial e não evidencia o solo do ponto de vista sistêmico, considerando
seus processos e dinâmica naturais e sua interação com o ambiente e as
atividades antrópicas.
Na abordagem do método geossistêmico na geografia física, o elemento
humano é levado em conta em seu quadro teórico, seja indiretamente entre os
“componentes bióticos”, ou diretamente como “componente antrópico”
(RODRIGUES, 2001). Portanto, na antropização dos geossistemas, é
importante considerar tantos as relações internas com as leis naturais, quanto
61
as relações externas submetidas às leis socioeconômicas (BERTRAND;
BERUTCHACHVILI, 2009).
Portanto, indica-se ao professor ampliar a abordagem do solo nas aulas
de Geografia dos anos iniciais para além do abordado no livro didático. Dessa
maneira, acredita-se que o docente pode incluir o solo no planejamento das
aulas ao tratar de algumas habilidades apresentadas na Base Nacional
Comum Curricular (BNCC) de Geografia nos anos iniciais, a exemplo do que
se segue:
Na BNCC de Geografia, anos iniciais – 1º ano, não aparece diretamente
a temática solo, porém é possível abordar o solo ao se trabalhar a habilidade
EF01GE10: “Descrever características de seus lugares de vivência
relacionadas aos ritmos da natureza” (BRASIL, 2017). Dessa maneira,
recomenda-se então atividades concretas que possibilitem aos estudantes
manipular o solo do seu local de vivência, explorando suas características
morfológicas, tais como cor, textura, composição, perfil e horizontes do solo.
Na BNCC de Geografia, anos iniciais – 2º ano, o solo aparece na
habilidade EF02GE11: “Reconhecer a importância do solo e da água para a
vida, identificando seus diferentes usos (plantação e extração de materiais,
entre outras possibilidades) e os impactos desses usos no cotidiano da cidade
e do campo” (BRASIL, 2017).
Pensando nas várias funções do solo no ambiente, recomenda-se como
material didático complementar o livro “Para que o solo serve?”, de Ana
Carolina da Silva e Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (SILVA; OLIVEIRA, 2020)
(Figura 2). A história apresenta um diálogo entre os personagens Tatuterra e
Minhoquita a respeito das funções do solo, evidenciando algumas
funcionalidades do solo, tais como: purificação da água, redução de
contaminantes, regulação do clima e enchentes, ciclagem de nutrientes, abrigo
para diversos organismos, base para infraestrutura humana, produção de
alimentos, fibras e combustíveis.
62
Figura 2: Livro: Para que o solo serve?
63
Na BNCC de Geografia, anos iniciais – 4º ano, o solo é contemplado na
habilidade EF04GE11: “Identificar as características das paisagens naturais e
antrópicas (relevo, cobertura vegetal, rios etc.) no ambiente em que vive, bem
como a ação humana na conservação ou degradação dessas áreas” (BRASIL,
2017).
A partir disso, recomenda-se o livro “Solo é Vida”, de Lygia de Oliveira
Ribeiro e Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira (Figura 4), obra que traz uma série
de atividades voltadas para a abordagem do solo nos anos iniciais. Em
destaque, para a abordagem da constituição do solo, sugere-se as seguintes
atividades práticas: tinta de solo, caixa sensorial do solo, descobrindo a textura
do solo, dobradura do perfil do solo e perfil gourmet do solo (RIBEIRO;
OLIVEIRA, 2020).
Figura 4: Livro: Solo é vida! Atividades para abordagem do solo nos Anos
Iniciais do Ensino Fundamental.
64
ensino, levando os estudantes à tomada de consciência sobre um elemento
tão importante para a manutenção da vida no planeta.
Nesse sentindo, as ações educativas devem partir da visão de mundo
dos sujeitos envolvidos, associando a realidade que os cerca e
contextualizando o conhecimento que está sendo construído e ressignificado.
O que leva a pensar que o método educativo deve ser compatível com a
complexidade dos sujeitos e das suas experiências de vida, em uma
abordagem dialógica, considerando questões objetivas e subjetivas (SILVA;
VEZZANI; LIMA, 2022).
Há que se acrescentar que o processo educativo em Educação em
Solos deve conduzir à transformação dos sujeitos em relação ao solo, no
sentido de identificarem elementos sobre o solo em si mesmos, na sua vivência
e nos outros sujeitos, alterando sua visão de mundo e transformando sua
realidade (SILVA; VEZZANI; LIMA, 2022).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O ensino de temáticas físico-naturais nas aulas de Geografia é de
grande valia para a construção de conhecimentos acerca das relações
socioambientais que envolvem a vivência dos discentes.
Essas temáticas favorecem a prevenção, mitigação e preparação de
riscos ambientais que podem ocorrer oriundos das interações ser humano e
natureza. Auxiliam, também, os estudantes a se verem como sujeitos atuantes
nesse processo.
A temática solo nas aulas de Geografia é pouco abordada e, muitas
vezes, pode decorrer pela falta de apoio formativo ao professor. Sendo
necessário, portanto, esforços quanto ao aprofundamento de conhecimentos
teóricos e metodológicos por este profissional.
A Educação em Solos contribui para o conhecimento desse tema tão
importante para a vida de todos no planeta, entendendo que o solo é um
componente da natureza essencial para vários processos dinâmicos na Terra
e para a vida em sociedade.
Com base nisso, é muito importante que a Educação em Solos esteja
presente em todos os anos de todos os níveis de ensino, em que a abordagem
desse componente tão importante para a vida no planeta seja integradora e
65
que favoreça um conhecimento da formação do solo, bem como das suas
funções, formas de degradação e também conservação, levando os
estudantes a serem mais críticos em sua própria relação com o meio em que
vivem e, especificamente, com o solo.
Com base nas análises realizadas nos livros didáticos de Geografia da
Coleção Ápis, constatou-se que há pouca abordagem do componente solo nos
materiais didáticos, o que prejudica a abordagem do solo nas aulas de
Geografia.
Acredita-se que os livros didáticos analisados necessitam de uma
reformulação em relação à temática solo, trazendo sua dinâmica natural e de
formação e constituição, mas também seu uso, ocupação e formação
conservação e degradação.
Desse modo, é importante ressaltar que o professor tem um grande
papel ao utilizar de outras maneiras esse material disponível na rede pública
municipal de ensino e buscar outras fontes bibliográficas e outros materiais,
tantos os didáticos quanto os paradidáticos, para auxiliar em suas práticas
docentes em sala de aula.
6 REFERÊNCIAS
66
CALLAI, H. C. Aprendendo a ler o mundo: a geografia nos anos iniciais do
ensino fundamental. Cad. Cedes, Campinas, v. 25, n. 66, p. 227-247,
maio/ago. 2005.
FREITAS, M. F. L. de. Projeto Solo Vivo: experiências com solos na educação
básica. Divers@, v. 11, n. 2, p.103-113, 2018.
67
RIBEIRO, L. O.; OLIVEIRA, J. G. R. As temáticas físico-naturais nas provas do
ENADE dos cursos de licenciatura em Geografia. Revista Brasileira De
Educação Em Geografia, v. 12, n. 22, p. 05–28, 2022.
SILVA, A. C.; OLIVEIRA, J. G. R de. Para que o solo serve?. Pará de Minas,
MG: VirtualBooks, 2021.
SILVA, V..; VEZZANI, F. M.; LIMA, M. R.; SILVA, V. (orgs.) Educação em solos.
Viçosa, MG: SBCS, 2022.
68
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E RELATOS DE
EXPERIÊNCIA
69
OFICINA DE VERMICOMPOSTEIRA DOMÉSTICA: UMA PRÁTICA
PEDAGÓGICA PARA A EDUCAÇÃO EM SOLOS
1 INTRODUÇÃO
70
contrapartida, áreas de disposição inadequada, incluindo lixões e aterros
controlados, ainda estão em operação e receberam quase 40% do total de
resíduos coletados (ABRELPE, 2022).
A Lei nº 12.305/2010, que instituiu a Política Nacional de Resíduos
Sólidos, estabelece no art. 3º, inciso VII, a destinação final dos resíduos,
sendo: a destinação de resíduos que inclui a reutilização, a reciclagem, a
compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou outras
destinações admitidas pelos órgãos competentes (BRASIL, 2010).
Em relação aos resíduos orgânicos, a Lei nº 12.305/2010 estabelece no
inciso V do artigo 36º que cabe ao titular dos serviços públicos de limpeza
urbana e de manejo de resíduos sólidos, implantar sistema de compostagem
para resíduos sólidos orgânicos e articular com os agentes econômicos e
sociais formas de utilização do composto produzido (BRASIL, 2010).
Dessa forma, resíduos orgânicos, que representam cerca de 50% dos
resíduos urbanos gerados no Brasil, têm a particularidade de poderem ser
reciclados por meio de processos como a compostagem, em qualquer escala,
desde a doméstica até a industrial (BRASIL, 2018).
É preciso, para tanto, dialogar e refletir junto aos sujeitos as vantagens
de reciclar os resíduos orgânicos, contribuindo para um solo saudável, o que
deve ser mobilizado por meio da Educação em Solos.
A Educação em Solos no Brasil está presente nos mais diversos
espaços educativos, formais e não formais, seja com propósitos de ensino, de
assistência técnica ou de popularização da ciência (SILVA; VEZZANI; LIMA,
2022).
A Educação em Solos trata de abarcar os atributos do solo (e da
natureza) nas relações sujeito/objeto e todas suas complexidades, preceitos e
lógicas, sociais e culturais, que são inseparáveis entre si (LIMA et al., 2020b).
Assim, a Educação em Solos seria então um processo formativo e
humanizador dos sujeitos envolvidos, em que o conhecimento sobre solos é
construído a partir de suas vivências. Ou seja, o conhecimento sobre solos
passa a fazer sentido e parte da vida dos sujeitos, sendo a transformação da
realidade e dos sujeitos na relação com o solo (LIMA et al., 2020a).
71
Na Educação em Solos, o solo passa a fazer sentido e se torna parte da
vida, de uma forma cada vez mais integrada às ações cotidianas dos sujeitos
(MUGGLER et al., 2022).
Nesse sentindo, o processo educativo em Educação em Solos deve
conduzir à transformação dos sujeitos em relação ao solo, no sentido de
identificarem elementos sobre o solo em si mesmos, na sua vivência e nos
outros sujeitos, alterando sua visão de mundo e transformando sua realidade
(SILVA; VEZZANI; LIMA, 2022).
Assim, esse texto volta-se para a discussão do reaproveitamento dos
resíduos orgânicos domiciliares e objetiva apresentar uma oficina de
montagem de uma vermicomposteira doméstica como prática pedagógica para
a Educação em Solos.
Para tanto, procedeu-se à revisão de referenciais bibliográficos e
legislação atinentes ao tema discutido e à proposição de uma oficina de
vermicomposteira doméstica.
72
mais prontamente os resíduos, gerando calor dentro da pilha, aumentando a
temperatura de 25 a 45ºC, estendendo-se por um período de 15 dias (KIEHL,
2004). Segundo Kiehl (2004), essa alteração de temperatura é favorável
porque elimina agentes patogênicos, sementes de ervas daninhas e larvas de
moscas nos materiais de compostagem, mas é importante o manejo da
aeração e umidade da mistura para manter a temperatura abaixo de 45ºC para
não limitar a taxa de decomposição. Valente et al. (2009) ressalta que essa
elevação da temperatura permite que os microrganismos mesofílicos tornem-
se menos competitivos, dando espaço para a proliferação dos microrganismos
termofílicos, atingindo-se, assim, a fase seguinte, a termofílica.
Na segunda fase, chamada termofílica ou de arrefecimento, a
temperatura do material atinge a temperatura máxima e pode chegar a 65ºC
com atuação de organismos capazes de sobreviver a temperaturas de até
70°C. As moléculas mais complexas são degradadas nessa etapa e os agentes
patológicos vão sendo eliminados (KIEHL, 2004). Essa fase pode durar até
dois meses e, a seguir, a temperatura vai diminuindo gradualmente e os
microrganismos mesófilos voltam a dominar a pilha (PEREIRA NETO, 2007).
Por fim, na fase de "cura" ou maturação, que pode durar até 50 dias e é
caracterizada pela queda da atividade microbiana e diminuição da
temperatura. É a fase da humificação do material, que dá um valor interessante
para o composto produzido, livre de metais pesados, tóxicos e patogênicos
(KIEHL, 2004).
Na compostagem, os resíduos orgânicos sofrem transformações
metabólicas desde que fornecidas as condições de umidade, aeração e
microrganismos como bactérias, fungos, actinomicetos, protozoários, algas,
além de larvas, insetos etc., que têm na matéria orgânica in natura sua fonte
de matéria e energia. Como resultado da digestão da matéria orgânica por
esses organismos, ocorre a liberação de nutrientes como N, P, K, Ca e Mg se
transformando em nutrientes minerais. Ou seja, esses elementos, antes
imobilizados na forma orgânica, tornam-se disponíveis para as plantas num
processo conhecido como mineralização (AQUINO; OLIVEIRA; LOUREIRO,
2005).
73
3 A VERMICOMPOSTEIRA COMO MEIO DE COMPOSTAGEM DE
RESÍDUOS ORGÂNICOS DOMICILIARES
74
escolhidas devem ser preferencialmente de espécies que se alimentem de
resíduos frescos (BRASIL, 2018).
O tratamento em minhocários é geralmente feito em local fechado (para
não ocorrer fuga das minhocas) e coberto (pois o excesso de umidade é
prejudicial às minhocas), por exemplo, em caixas de plástico. Os resíduos são
então dispostos no minhocário com adição de matéria seca (BRASIL, 2018).
O adubo orgânico produzido pelas minhocas é conhecido também como
vermicomposto ou húmus de minhoca. Aquino, Oliveira e Loureiro (2005)
destacam que o vermicomposto pode ser utilizado em todos os cultivos e
plantas.
75
Dentre as principais vantagens de se fazer a compostagem, pode-se
destacar que: o composto ajuda a melhorar as características de solos; os
solos enriquecidos com o composto são menos afetados pela erosão; o uso de
composto eleva a quantidade de nutrientes desse solo, reduzindo a utilização
de fertilizantes químicos; a compostagem dos resíduos diminui
consideravelmente o volume de resíduos encaminhado para os aterros
sanitários; não requer grande conhecimento técnico ou equipamentos; o
material fornecido pela compostagem é rico em nutrientes, melhorando o
desenvolvimento de plantas; o composto auxilia o solo retendo a umidade e os
nutrientes, atuando como uma esponja (BRASIL, 2003).
Ressalta-se que o composto orgânico é considerado inestimável para
os cientistas do solo, gestores de terras, extensionistas e agricultores, não
necessariamente em termos de valor monetário, mas devido à riqueza na
composição com materiais orgânicos, nutrientes, microbiomas e água, que são
vitais para a produção agrícola, o que torna o composto uma opção ainda mais
atrativa para efeitos de restauração e conservação dos solos. Sendo assim, a
compostagem é uma técnica aplicada como uma alternativa que pode também
apoiar a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),
propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU, 2015).
76
serragem ou folha seca, estrume, composto ou terra, minhocas californianas e
uma torneira de filtro (Figura 1).
77
líquido e ficará na base). Na sequência, deve-se empilhar o balde do meio
(balde digestor 2) e colocar os materiais da compostagem (organizar as
seguintes camadas: 1) camada de serragem + estrume + composto; 2)
resíduos orgânicos picados; 3) minhocas e 4) serragem + estrume +
composto). Alternar os resíduos orgânicos com a mistura de serragem até
completar o balde do meio (balde digestor 2) (Figura 2). A composteira deve
ficar fechada e preferencialmente localizada em um lugar sombreado. Quando
o balde do meio estiver cheio de resíduos, deve-se iniciar o preenchimento do
balde digestor 1 (posicionado na parte superior) e fazer o mesmo processo
(Figura 2).
78
na mão e no braço, deve suspender qualquer molhamento do minhocário e
revirar o alimento diariamente até que a umidade reduza e retorne aos níveis
indicados; e, se surgirem apenas algumas gotas entre os dedos, a umidade
está adequada (EMBRAPA, 2014).
O tempo de finalização é influenciado pela composição original dos
resíduos e pelo manejo, podendo levar de 45 a 90 dias (AQUINO, 2005). Para
coletar o húmus, usam-se iscas (sacos de ráfia com estrume) dentro do balde
digestor (Figura 3) para atrair as minhocas, deixando somente o composto, ou
colocam-se os baldes em ambiente com luminosidade para que as minhocas
migrem para baixo, facilitando a coleta do húmus. Finalmente, o material
retirado deve ser peneirado e armazenado.
Figura 3 – Saco com estrume para servir de “isca de minhoca”.
79
Figura 4 – Vermicomposto gerado a partir da vermicomposteira doméstica.
80
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
6 REFERÊNCIAS
81
BRASIL. Política Nacional De Resíduos Sólidos. Lei n. 12.305, de 2 de agosto
de 2010. Disponível em:
http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=636. Acesso em:
20 mai. 2020.
GŁAB, T.; ZABINSKI, A.; SADOWSKA, U.; GONDEK, K.; KOPEC, M.;
MIERZWA–HERSZTEK, M.; TABOR, S. Effects of co-composted maize,
sewage sludge, and biochar mixtures on hydrological and physical qualities of
sandy soil. Geoderma, v. 315, p. 27–35. 2018.
LAVELLE, P.; DECAËNS, T.; AUBERT, M.; BAROT, S.; BLOUIN, M.;
BUREAU, F.; MARGERIE, P.; MORA, P. E ROSSI, J.-P. Soil invertebrates and
ecosystem services. European Journal of Soil Biology, v. 42, n. 1, p. 3-15.
2006.
ONU. Our world: the 2030 Agenda for Sustainable Development. The
resolution adopted by the General Assembly on 25 September 2015. United
Nations. 2015.
82
STEFFEN, G. P. K.; ANTONIOLLI, Z. I.; STEFFEN, R. B.; JACQUES, R. J. S.
Importância ecológica e ambiental das minhocas. Revista de Ciências
Agrárias, v.36, n. 2, p. 137-147, 2013.
83
A EDUCAÇÃO EM SOLOS POR MEIO DE JOGOS
PEDAGÓGICOS
Mariana Simionato
Jully Gabriela Retzlaf de Oliveira
1 INTRODUÇÃO
84
2 BREVES REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO EM SOLOS
85
ações, da realidade e das pessoas na relação com o solo (SILVA; VEZZANI e
LIMA, 2022).
A Educação em Solos no Brasil está presente nos mais diversos
espaços educativos, formais e não formais, seja com propósitos de ensino, de
assistência técnica ou de popularização da ciência (SILVA; VEZZANI; LIMA,
2022).
Para Almeida e Falcão (2012), estudar solos é muito importante para
todos, pois o solo é um recurso indispensável na vida de todos os seres vivos,
tornando-se suporte para o desenvolvimento da sociedade enquanto fonte de
alimentos, regulador de temperatura, influenciador da qualidade da água entre
outros e considerado inclusive como um componente integrador da paisagem.
Nesse sentido, o estudo dos solos contribui para sua proteção e
conservação a fim de informar os sujeitos o papel que os solos possuem e sua
importância na vida de todos eles (LIMA, 2005).
Tendo em vista as considerações apresentadas, acredita-se que a
Educação em Solos pode alterar o modo como os sujeitos se relacionam com
o solo e incorporam esse componente ambiental em suas ações diárias e
espaços de vivência.
Nessa perspectiva, a abordagem do solo na educação deve ser
trabalhada de modo que os alunos possam compreender os processos e
fatores que levam à sua formação e evolução, bem como as justificativas que
levaram as pessoas a fazer o uso e a ocupação do solo em determinado local
(MENDES, 2017). Assim, os alunos pensam, problematizam e conseguem
compreender toda a dinâmica da relação que o ser humano possui com o solo.
Costa e Borges (2010) afirmam que os solos devem ser trabalhados
com base em uma metodologia interdisciplinar, em que haja envolvimento de
professores de diversas áreas. Até porque a Educação em Solos configura-se
em uma área do conhecimento que vem ampliando e aprofundando suas
concepções educacionais a partir de processos dialógicos com outras áreas,
principalmente a Ciência do Solo, Educação, Ensino, Geografia, Planejamento
Urbano e Regional, Biologia, Ciências Ambientais, Biotecnologia, Química e
outras (LIMA et al., 2020b).
Nesse sentindo, as ações educativas devem partir da visão de mundo
dos sujeitos envolvidos, associando a realidade que os cerca e
86
contextualizando o conhecimento que está sendo construído e ressignificado.
O que leva a pensar que o método educativo deve ser compatível com a
complexidade dos sujeitos e das suas experiências de vida, em abordagem
dialógica, considerando questões objetivas e subjetivas (SILVA; VEZZANI;
LIMA, 2022).
Sendo assim, existem diversas práticas pedagógicas que os
professores podem utilizar para desenvolver a Educação em Solos, como, por
exemplo, experimentos de ar do solo, caixa sensorial, teste da consistência,
densidade, erosão hídrica, expansão, infiltração da água em diferentes solos,
porosidade, textura do solo, construção de uma vermicomposteira,
compactação do solo, entre outros (LIMA, 2020a).
Além dessas práticas, é interessante apostar em outros recursos
didáticos que possibilitam abordar os conteúdos pedológicos e que podem
auxiliar no processo educativo, como, por exemplo, os jogos pedagógicos, pois
utilizar jogos para abordagem do solo possibilita uma grande carga de
conhecimentos, o aprimoramento e/ou o desenvolvimento de novas
habilidades de maneira divertida e motivadora (COSTA, 2015).
3 OS JOGOS PEDAGÓGICOS
87
Portanto, os jogos pedagógicos estão relacionados com brincadeiras,
dinâmicas, diversão e aprendizagem de forma prazerosa, contribuindo com a
construção do conhecimento.
Os jogos pedagógicos constituem um recurso pouco aplicado na sala
de aula, contudo, têm elevado valor no ensino por criar certa expectativa,
ansiedade e entusiasmo nos alunos. Esse recurso ajuda as pessoas a
desenvolverem uma melhor coordenação motora, ativa o raciocínio lógico e
melhora a habilidade nas tomadas de decisões (VIEIRA; SÁ, 2007).
Assim, os jogos pedagógicos são, ao mesmo tempo, lúdicos e válidos
numa variedade de contextos de aprendizagem e oferecem um contato
simulado com a realidade. Esse instrumento possibilita um ambiente sem
fluência a se tornar descontínuo e vivo, porque motiva os participantes a
concentrarem seus esforços para atingir as metas (KLIMEK, 2007). Segundo
o autor, os jogos podem ser adaptados para aplicação de conceitos
trabalhados como reforço ou avaliação, em que os alunos são sujeitos ativos
no processo de ensino e aprendizagem.
No ensino, o jogo tem como objetivo cooperar com a formação dos
estudantes, Silva (2006) destaca as potencialidades que o jogo pode oferecer:
88
definir o jogo antes de criar as regras, pois são elas que mantêm o ambiente
saudável e propício à aprendizagem, sendo que sua falta pode acarretar
desentendimentos. Nesse sentido, o papel do professor é essencial, cabendo
a ele definir as regras e dar caráter para que o jogo promova lição de ética,
respeito, ensinamentos e aprendizagem significativa.
Klimek (2007) afirma que a função do jogo não está ligada apenas nas
habilidades ou na aprendizagem dos conteúdos, o que é de suma importância,
mas também é uma ferramenta que trabalha com o respeito, a
responsabilidade e o cumprimento das regras.
Entretanto, quando o proponente toma a decisão de usar jogos para
abordagem de uma temática, além de pensar no jogo e no conteúdo, ele deve
pensar também no objetivo do jogo proposto, na quantidade de jogadores, no
tempo disponível, na idade e em como os envolvidos irão se comportar no
andamento da atividade lúdica (KLIMEK, 2007).
Quando bem planejados, os jogos ofertam aos jogadores novas
descobertas, ajudam a desenvolver e enriquecer sua personalidade, pois é
brincando e jogando que se aprende a extrair o que se tem de melhor da vida.
As regras contribuem para a harmonia dos relacionamentos e pela maneira
que observamos o mundo (ANTUNES, 2017).
Finalmente, sabe-se que atualmente encontram-se inúmeros trabalhos
que propõem jogos pedagógicos para abordagem de temáticas variadas. A
seguir, serão apresentados exemplos de jogos pedagógicos que foram
elaborados pelas autoras para serem ser utilizados para o desenvolvimento da
Educação em Solos em espaços formais e não formais de ensino.
89
4.1 JOGO LUDOPEDOLÓGICO DOS COMPONENTES DO SOLO
90
situação de conservação ou degradação do solo, na sequência, cumprir as
regras (avançar ou voltar casas).
No decorrer do jogo, conforme as cartas vão sendo tiradas, elas voltam ao
monte para serem embaralhadas novamente. Vence o jogo o jogador que,
após percorrer todos os componentes do solo, chegar novamente ao
componente de partida e colocar seu peão ao centro do tabuleiro na cor
correspondente ao componente. Link para acessar o vídeo do jogo no
YouTube: https://youtu.be/PaeiE-DFIVk.
91
Figura 2 – Cartas do componente água.
92
Figura 5 – Cartas do componente ar.
93
em uma das 2 extremidades abertas, encaixando o nome da função ou cor do
solo à figura correspondente. Quando o jogador coloca sua peça sobre a mesa,
seu turno acaba e passa ao seguinte jogador. Se o jogador não tiver a peça
para encaixar, deverá “comprar” da reserva. Se não houver peças na reserva,
passará o turno ao seguinte jogador. A partida continua com os jogadores
colocando suas peças sobre a mesa até que um jogador coloque sua última
peça na mesa, essa ação é chamada de bater. Link para acessar o vídeo do
jogo no YouTube: https://youtu.be/fN-FLZlGLuM.
94
trajeto do tabuleiro que se encontra degradado e apresentar uma solução para
salvar o solo.
Faixa etária: 11 a 14 anos.
Regras: o jogo Trilha da Degradação do Solo (Figura 8) consiste em cinco
peões de cores distintas e que representam os jogadores. Cada peão pode ser
jogado individualmente, em duplas ou grupos (dependerá da quantidade de
alunos da sala). Cada jogador deve escolher um peão e posicioná-lo sobre a
casa “Início”. As cartas das questões deverão ser postas com a face para baixo
ao lado do tabuleiro. Deve haver a presença de um mediador para ler as cartas
com as respostas e supervisionar o cumprimento das regras. A ordem para
iniciar o jogo será definida ao lançar o dado, começando o jogador que obter o
maior número no dado. Quem obter o maior número lança o dado novamente
e avança as casas com o número obtido, finalizando sua rodada e passando a
vez para o próximo jogador. Caso o jogador caia em uma casa com questão,
deverá responder à pergunta referente ao número da questão. Se o jogador
acertar, poderá participar da próxima rodada, se errar, terá de ficar uma rodada
sem jogar, só podendo avançar no jogo após responder corretamente à
questão (Figuras 9 e 10). Vence o jogo o peão que percorrer todo o tabuleiro
e chegar na casa “Fim”. Link para acessar o vídeo do jogo no YouTube:
https://youtu.be/3_O0iq0MI-w.
95
Figura 8 – Trilha da Degradação do Solo.
96
Figura 10 – Cartas da Degradação do Solo.
97
número. Quem obter o maior número lança o dado novamente e avança as
casas com o número obtido, finalizando sua rodada e passando a vez para o
próximo jogador. Deverá ser percorrido todo o tabuleiro, vencendo aquele que
chegar primeiro ao final do jogo. Durante o trajeto da trilha, os jogadores se
depararão com alguns obstáculos e precisarão responder algumas questões
sobre o conteúdo para avançar as casas, se acertar, estará escrito no tabuleiro
quantas casas avançar, se errar, terá que voltar uma casa. Link para acessar
o vídeo do jogo no YouTube: https://youtu.be/L2kL6CugK8Y.
98
Em virtude da investigação bibliográfica levantada no trabalho, percebe-
se que a Educação em Solos é relevante e necessita ser mais desenvolvida
em espaços formais e não formais de ensino, mobilizando os sujeitos a
pensarem de forma mais crítica e reflexiva sobre os solos.
Em relação aos jogos pedagógicos na Educação em Solos, eles podem
auxiliar na revisão, fixação, avaliação e abordagem geral de conteúdos
pedológicos variados, tais como os apresentados nesse trabalho: os
componentes, funções, cores, degradação e horizontes do solo.
Os jogos Ludopedológico dos Componentes do Solo, Dominó das
Funções e Cores do Solo, Trilha da Degradação do Solo e Trilha dos
Horizontes do Solo foram propostos com o intuito de oferecer materiais
didáticos para auxiliar na realização da Educação em Solos, assim
favorecendo a construção do conhecimento pedológico. Logo, os sujeitos
jogam, se divertem e aprendem sobre o solo, incorporando essa temática às
reflexões e ações cotidianas.
6 REFERÊNCIAS
99
com-participacao-da-embrapa-revela-que-33-dos-solos-do-mundo-estao-
degradados. Acesso em: 06 jul. 2021.
KÄMPF, N; CURI, N. Conceito de solo e sua evolução histórica. In. KER, J. C.;
CURI, N.; SCHAEFER, C. E. G. R.; VIDAL-TORRADO, P. Pedologia:
Fundamentos. Viçosa – MG: SBCS, 2012.
SILVA, V..; VEZZANI, F. M.; LIMA, M. R.; SILVA, V.; Reflexões sobre a
100
epistemologia da educação em solos. In.: VEZZANI, F. M. et al. (orgs.)
Educação em solos. Viçosa, MG: SBCS, 2022, p. 12-31
101
A POESIA COMO FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO EM SOLOS NA
EDUCAÇÃO BÁSICA
INTRODUÇÃO
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
102
vida da espécie humana e de todos os seres vivos (NASCIMENTO; GIASSON;
VASCONCELOS INDA JÚNIOR, 2004).
A construção do conceito de solos nas séries iniciais é promissora, pois
desde cedo a criança aprende a valorizar o solo, a necessidade de
conservação e sua preservação. Para tal, a Educação em Solos busca trazer
uma conscientização da importância de preservar e cuidar do solo, como
dádiva no meio ambiente e à vida deve ser preservado, cuidado e protegido. A
maioria das pessoas não tem consciência da necessidade do solo e das
consequências que a degradação do solo pode trazer, como, por exemplo, os
deslizamentos, erosões, poluição e assoreamentos, entre outras formas de
impactos ambientais ligados ao solo.
Para Muggler, Pinto Sobrinho e Machado (2006), a Educação em Solos
permite trazer o significado e a importância do solo à vida das pessoas e,
portanto, a necessidade de sua conservação, uso e ocupação sustentáveis.
Para Santos (2011), as abordagens relacionadas aos solos no processo
de ensino e aprendizagem devem estar atreladas a uma série de fatores,
principalmente ligada às atividades humanas como agricultura, produção
animal e ocupação urbana.
A Educação em Solos permite várias formas de interação e
conscientização com o meio ambiente. Nesses processos, os estudantes
podem interagir entre si e com o professor. Contudo, também é necessário
educar as pessoas para que participem da construção de alternativas para
reduzir os impactos ambientais.
No decorrer do processo de ensino aprendizagem, a Educação em
Solos utiliza diferentes ferramentas e abordagens educacionais, dentre elas,
merecem destaque as ações do projeto de extensão “Perfis: Solos e
Poesias”, que englobam técnicas de redação de poesia e o uso de oficinas
para a construção do conhecimento relativo aos solos, coordenado pela
professora Adriana Aparecida Ribon (Universidade Estadual de Goiás) e
pelo professor Gustavo Dias de Sousa (Faculdade Palmeira de Goiás -
FacMais), para estudantes do ensino fundamental.
O projeto de extensão “Perfis: Solos e Poesias” consiste em um trabalho
de informação e disseminação de conhecimentos relacionados ao solo, suas
103
propriedades e formas de conservação, de maneira prática, por meio de ações
de educação em solos, envolvendo a participação de instituições de ensino
públicas e privadas.
No projeto, em andamento desde janeiro de 2018, ocorre a produção de
textos pelos estudantes com ênfase em textos poéticos. Após a parte prática
de conhecimento das propriedades dos solos por meio da visita aos perfis de
solo, laboratório e manipulação de amostras de solo, realizam-se oficinas de
leitura e produção de poesias com o intuito de tornar a aprendizagem dos
estudantes a respeito do tema mais significativa. Outro ponto importante a ser
destacado a respeito dessas oficinas é que os estudantes são estimulados a
usar a criatividade e a sensibilidade na escrita de suas poesias.
Das poesias elaboradas pelos estudantes ao longo do projeto, algumas
foram publicados no e-book Solos e Poesias (1ª, 2ª e 3ª Edição), disponível
em: https://aaribon.wixsite.com/educacao-em-solos/solos-e-poesia.
Finalmente, destaca-se que, de acordo com Pinheiro (2002), a crise da
leitura de poesias na escola acontece principalmente porque a poesia não é
vista com o valor em si mesma. Para o autor, a poesia só será um dos gêneros
valorizados no âmbito escolar quando for compreendida em sua essência.
METODOLOGIA
104
Quadro 1 - Categorias representativas das concepções de meio
ambiente adotadas para análise.
105
Posteriormente, foi proposta para os estudantes a elaboração de
poesias voltadas ao tema discutido, com a finalidade de efetuar concursos
poéticos e selecionar poesias para compor a 1ª edição do livro Solos e Poesias
(RIBON; SOUSA, 2020).
Quanto à realização dos concursos, a posteriori, a equipe de
organização do projeto estipulou normas e premiação em duas datas
importantes: 15 de abril, Dia Nacional da Conservação do Solo, e 5 de
dezembro, Dia Mundial do solo, data que ocorreu o Festival de Poesias, com
a exposição das melhores poesias durante o festival e a premiação dos três
primeiros colocados (avaliadas pelos coordenadores do projeto de extensão),
com palestras e exposição dos produtos obtidos do projeto.
A análise foi realizada em dez poesias selecionadas aleatoriamente do
livro Solos e Poesias (2020), organizado por Adriana Aparecida Ribon e
Gustavo Dias de Sousa. O livro foi produzido a partir do projeto de extensão
“Perfis: Solos e Poesias” já mencionado acima.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O solo
O solo tem vida de montão,
Muita gente não cuida
Porque não tem amor no coração
106
Mas a comida que a gente come
Não leva diploma na testa.
Solo e vida
Preste atenção,
Cuidando solo
Vale uma plantação.
Tem que cuidar
Não pode estragar
Porque o solo
Vale nosso bem-estar
Pense na plantação
Posso fazer mágica então
Cuidando da natureza
Sentindo a pureza.
107
Allan da Silva Martins
(RIBON; SOUSA, 2020, p. 36)
108
A autora mencionou a importância do solo para a vida, a necessidade
de ajudar o solo e que precisamos de solo para comer, pisar e brincar. Segundo
Rodrigues e Malafaia (2009), a compreensão da aluna é abrangente, pois,
além de citar o cuidado e proteção, há também a interação homem-natureza.
Para Muggler, Pinto Sobrinho e Machado, (2006), é necessário desenvolver
uma “consciência pedológica” voltada para a sustentabilidade na relação
homem-natureza e a conscientização sobre a composição do solo.
Faces do solo
Amarelo cintilante
Rosão dramático
Intempéries encharcando
Argila escoando
Solo é vida, solo é coração
É criatividade de montão
Alegria de viver
É tão grande que dá emoção
Solo tem cor
Solo tem sabor.
É o privilégio de vida
Emoção de viver.
A autora menciona as cores e sabor que o solo tem, também que, com
as cores, pode ter muita criatividade e cita a importância do solo para a vida.
Ela retrata a emoção e a vida para manter o solo saudável e “colher boa
plantação”. Para Rodrigues e Malafaia (2009), a percepção da aluna é
romântica, que enaltece a beleza das cores, do solo e da natureza. De acordo
com Campos e Demattê (2004), a cor é um dos mais úteis atributos
empregados na pedologia. A cor é geralmente determinada por comparação
visual de padrões existentes no local com a tabela de cores (Munsell Soil Color
Company, 1975).
109
Solo
O solo é vida para as plantas
O solo é vida para o ser humano
O solo é prazer para todos
O solo traz alimento para nós
Sem o solo nós não sobrevivemos
Sem o solo nós não teremos alimentos
Solo
Eu aprendi que o solo não é só terra.
Mas sim rochas, areia e minerais.
O solo possui cheiro, cor, som e até gosto.
O solo é incrível.
Mas tem que saber usar, com ele pode –se se fazer tinta para pintar.
Faça um belo retrato para se guardar.
110
Na poesia, o autor citou as texturas que o solo possui, tudo o que
aprendeu sobre o solo e menciona cores, cheiros e sabores que não costumam
ser ensinados. Ele também abordou sobre como lidar com o solo e a tinta para
ter a criatividade da pintura. Segundo Rodrigues e Malafaia (2009), a visão do
aluno é reducionista, porque ele mencionou vários aspectos do solo, como
rochas, minerais e cores. De acordo com Brady e Weil (2013), no processo de
formação do solo, os fatores do material de origem afetam diversos atributos,
que podem ser divididos em duas categorias: rochas e sedimentos. As
principais características das rochas que afetam as propriedades do solo são:
composição química e mineralogia, cor e textura.
Poema do solo
O solo é muito importante
Legal demais ele é
Nele tem água e minerais
Gerar a vida ele é capaz
Por favor preserve a terra
Pois ela é o meu lar!
Carlos Henrique
(RIBON; SOUSA, 2020, p. 53)
111
A ele vamos todos preservar.
Hoje eu vim à UEG
Para os tipos de solos conhecer.
O solo é vida
Sem ele não temos comida
Por isso dele devemos cuidar
Para depois de um tempo plantar.
O solo tem cheiro e textura
Cada um com sua cultura
Vou para casa já com saudade
Desta faculdade que me ensinou
A prioridade do solo na nossa nação.
112
Vingrete Silva de Freitas
(RIBON; SOUSA, 2020, p39)
113
avaliação das percepções dos estudantes sobre o meio ambiente a partir da
construção do conceito de solos e torna-se, dessa forma, um importante
veículo para verificar a visão dos mesmos a respeito dessa temática tão valiosa
diante da necessidade da preservação e conservação dos recursos naturais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
PINHEIRO, Hélder. Poesia na sala de aula. 2. ed. João Pessoa: Ideia, 2002.
114
RIBON, A. A.; SOUSA, G. D. Solos e Poesia. Mogi Guaçu-SP, Editora:
Becalete, 2020.
ROCHA, A.S.; TIZ, G.J.; CUNHA, J.E. Ensino do solo: base para a
compreensão do ambiente. In: Anais...2º Congresso Brasileiro de Extensão
Universitária. Belo Horizonte - MG, 2010.
115
PROGRAMA EMBRAPA & ESCOLA: 25 ANOS EM PROL DA EDUCAÇÃO
EM SOLOS
1 INTRODUÇÃO
116
chuva ácida, mudanças climáticas, pandemias, gases de efeito estufa,
incêndios florestais, secas, inundações, escassez de água e de saneamento,
pobreza, fome, desigualdades de gênero, racismo, desigualdades sociais,
dificuldades de acesso à educação, saúde, cultura, ciência e tecnologia, entre
outros.
A situação se mostra ainda mais grave quando se observa o
crescimento da população mundial e o risco da segurança alimentar para
todos. De acordo com o Relatório Perspectivas da População Mundial, de
2022, e o Resumo dos Resultados, da Organização das Nações Unidas (ONU,
2022), a população mundial está projetada para atingir 8 bilhões em 15 de
novembro de 2022 e sugere um crescimento para cerca de 8,5 bilhões em
2030, 9,7 bilhões em 2050 e 10,4 bilhões em 2100.
A justificativa desse artigo se baseia na importância das ações de
Educação em Solos como uma das ações mitigadoras da situação acima
mencionada.
Considerando que a produção de alimentos, outros bens naturais e os
serviços ecossistêmicos necessários para atender este crescimento
demográfico dependem diretamente dos solos e da água doce, entende-se,
portanto, que ações mitigadoras efetivas da degradação ambiental devem ser
urgentemente implementadas para minimizar e reverter a situação calamitosa
que aflige os solos e os ambientes onde se encontram. Ações estas que
envolvam iniciativas públicas ou privadas, bem como as realizadas pela
sociedade em geral e que promovam o uso sustentável do solo, da água e da
biodiversidade.
Entre as ações que possuem maior potencial para contribuir com a
mitigação dos problemas ambientais, estão aquelas diretamente relacionadas
com a educação formal e não formal da população como um todo. É muito
importante que seja disponibilizada à população, uma educação de qualidade,
com conteúdo curricular e práticas adequadas de ensino formal e não formal
(lúdicas) sobre solos, em todos os níveis do ensino (creches, educação infantil,
ensino fundamental e médio, médio técnico e universidades). Com uma boa
educação, o conhecimento gerado no ambiente educativo sobre os solos e
suas interrelações com o ambiente possibilita aos professores e educadores
alcançarem maior eficiência na Educação em Solos.
117
Embora o interesse na Educação em Solos no Brasil, realizada por
inúmeras instituições de ensino, pesquisa e extensão rural, venha tendo um
certo destaque positivo nos últimos anos, conforme se observa na participação
crescente de educadores e educandos em eventos correlatos (Simpósio
Brasileiro de Educação em Solos e o Congresso Brasileiro de Ciência do Solo)
e também pela geração contínua de artigos, teses, monografias e livros sobre
o tema, observa-se que ainda é necessária a ampliação das ações educativas,
como a publicação de artigos na área da Educação em Solos (Lima et al.,
2020b). Dessa forma, os atores da Educação em Solos poderão ter maior
eficácia na sensibilização da sociedade, fazendo-a perceber, plenamente, que
a qualidade de vida depende da sustentabilidade agrícola e ambiental.
Quanto mais efetivas forem as práticas de Educação em Solos
realizadas pelas e nas instituições de ensino, pesquisa e extensão, entre
outras, melhor será a apropriação dos conhecimentos gerados e o
entendimento da importância que os solos têm para a sustentabilidade do
planeta, principalmente para o alcance dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável (ODS), que buscam assegurar os direitos humanos, acabar com a
pobreza, lutar contra a desigualdade e a injustiça, alcançar a igualdade de
gênero e o empoderamento de mulheres e meninas, agir contra as mudanças
climáticas, bem como enfrentar outros dos maiores desafios de nossos tempos
(Pacto Global, 2022).
Assim, o objetivo principal do artigo é apresentar ao público, em especial
às pessoas que atuam com ações educativas em solos (professores de todos
os níveis de ensino, pesquisadores, educadores ambientais, graduandos,
bolsistas e estagiários, entre outros), ações de Educação em Solos realizadas
pelo Programa Embrapa & Escola, vinculado à Embrapa Solos, um dos
Centros Temáticos de Pesquisa Agropecuária da Embrapa, com sede no bairro
do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro/RJ.
118
de vida do planeta. Entretanto, outras instituições científicas, ou não, têm papel
igualmente fundamental na popularização dos conhecimentos relacionados ao
tema solo e a sensibilização das pessoas sobre seu uso sustentável, seja na
área rural como nas cidades.
Os ambientes não escolares são importantes espaços de formação
educacional complementar e contribuem para despertar no público-alvo de
educadores e educandos o interesse pelas Ciências, estimulando a
curiosidade científica e ampliando a percepção que os resultados das
pesquisas estão presentes no seu dia a dia (CNPq, 2022).
As instituições científicas, notadamente as que têm relações com as
atividades agropecuárias, silviculturais e ambientais, tanto no meio rural
quanto nas cidades, têm na Educação em Solos a prática educativa ideal para
levar ao seu público-alvo, de diferentes níveis escolares, bem como para a
sociedade em geral, os conceitos técnico-científicos sobre solo, água e
biodiversidade e suas relações com a segurança alimentar da população e a
segurança ambiental (serviços ecossistêmicos).
Em 1997, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),
uma empresa pública do Governo Federal, vinculada ao Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, criou o Programa Institucional
chamado Programa Embrapa & Escola. Ele tem o objetivo de integrar a
Embrapa e as instituições de ensino, aproximando cientistas, estudantes e
professores e estimular nos jovens o interesse pela aprendizagem e a reflexão
sobre as interfaces da ciência e da tecnologia com o setor agrícola e o meio
ambiente. Em especial, o Programa fortalece os laços que unem os ambientes
urbano e rural, orientando os participantes sobre a necessidade da produção
de alimentos e outros produtos agrícolas, a preservação ambiental e a
importância da sustentabilidade para a melhor qualidade de vida (Embrapa,
2022).
Em 2022, o Programa Embrapa & Escola completa 25 anos de atuação.
A página institucional do Programa pode ser acessada no link a seguir:
https://www.embrapa.br/embrapa-escola (Embrapa, 2022).
A Embrapa Solos, um dos Centros Temáticos de Pesquisa
Agropecuária da Embrapa, tem sua sede no bairro do Jardim Botânico, no Rio
de Janeiro, e uma Unidade de Execução de Pesquisa do Nordeste (UEP
119
Nordeste), localizada em Recife/PE. Nas suas ações de Educação em Solos,
são abordados temas relacionados ao manejo sustentável do solo, da água e
da biodiversidade.
O público-alvo do Programa Embrapa & Escola é diversificado e atende
todo o quadro escolar (professores, alunos e seus responsáveis, terceirizados)
de instituições de ensino públicas e privadas, incluindo creches, escolas do
ensino básico e médio, médio técnico e universidades. Também realiza
atividades com agricultores tradicionais e urbanos, comunidades Quilombolas,
assentamentos, extensionistas rurais, ONGs, pesquisadores e alunos
(estagiários/bolsistas) de outras instituições científicas ou não, Parques
Ambientais e a sociedade em geral.
O Programa Embrapa & Escola tem por objetivo promover e realizar a
Educação em Solos junto ao seu público-alvo por meio de atividades técnico-
científicas formais e lúdicas e contribuir para o alcance dos Objetivos de
Desenvolvimento Sustentáveis (ODS) relacionados com as ações de pesquisa,
desenvolvimento e inovação da Embrapa Solos.
120
Alimentação e a Agricultura (FAO/GSP), em comemoração ao Dia Mundial do
Solo, em 5 de dezembro. Assim, justamente na primeira edição da competição,
em 2020, cujo tema foi: “Mantenha o solo vivo, proteja a biodiversidade do
Solo”, a Embrapa Solos foi premiada com o terceiro e nono lugar,
respectivamente, com os títulos: A Casa da Vida: eu sou um solo vivo
(CAPECHE et al., 2021) e A surpreendente história não contada da
biodiversidade do solo e nosso bem-estar (BALIEIRO, 2022).
Ambos os livros constituem parte do material didático lúdico utilizado
nas atividades de Educação em Solos do Programa Embrapa & Escola, cujos
objetivos se encontram nas palavras da Presidente da União Internacional de
Ciência do Solos (IUSS), Laura Berta Reyes Sanchez, em Capeche et al.
(2021): “Queridos docentes e cientistas: trabalhar no âmbito educativo para
conseguir que as crianças e os jovens conheçam, compreendam e se
apaixonem pelas ciências é atualmente não só uma tarefa científica
necessária, mas também que deve ser um compromisso humano da
comunidade científica com a preservação da vida na Terra”.
É primordial que as instituições científicas devam ter como meta
promover e realizar de forma integrada e em rede, com seus parceiros, ações
de Educação em Solos que busquem a popularização da Ciência do Solo,
disseminando conhecimentos técnico-científicos que possibilitem o uso
sustentável do solo, da água e da biodiversidade a fim de contribuir com os
objetivos e metas da Agenda 2030 (ONU, 2015).
As ações do programa Embrapa & Escola são realizadas pela equipe
da Sede da Embrapa Solos no Rio de Janeiro e pela equipe de sua Unidade
de Execução de Pesquisa (UEP), localizada em Recife/PE.
O Programa Embrapa & Escola/Embrapa Solos realiza inúmeras
atividades de educação e de transferência de tecnologias como:
Palestras;
Visitas orientadas em suas dependências (Biblioteca,
Laboratórios de Solos, Água, Planta e Fertilizantes, Núcleo de
Geomática e Unidade Demonstrativa de Manejo e Conservação
de Solo, Água e Biodiversidade e Agricultura Urbana);
121
Visitas em instituições de ensino e de pesquisa, entre outras e
em Comunidades, para ações de Educação em Solos;
Cursos de capacitação em solo;
Participa de bancas avaliadoras;
Participa de Feiras de Tecnologias Agropecuárias ou de
Ciências;
Realiza oficinas de pintura com tinta de solo;
Participa de concursos educativos e culturais que envolvam o
tema solo.
Como forma de apoiar as atividades de Educação em Solos, são
utilizados materiais didáticos formais e não formais (lúdicos) como:
Apresentações em PowerPoint;
Publicações técnicas e lúdicas;
Diferentes tipos de rochas;
Macro e micromonolitos;
Amostras de solos;
Vidraria de análises laboratoriais;
Compostário para demonstração da biodiversidade do solo;
Lupa estereoscópica para visualização de características físicas
e morfológicas de rochas e solos e da atividade biológica;
Simulador de erosão;
Painéis/banners com ações de pesquisa, transferência de
tecnologia e Educação em Solos;
Reciclagem de papel com solo (papel Mache);
Capim vetiver;
Pau de chuva;
Equipamentos para estudos no campo (trado, carta Munsell,
publicações, penetrômetro, faca pedológica, trena, clinômetro,
lupa, régua e pé de galinha, ou triângulo, para determinar a
declividade do terreno e marcação de curva de nível etc.).
122
Embrapa no Brasil e no mundo;
Origem, diversidade e classificação dos solos;
Uso e importância dos solos e da biodiversidade;
Recursos hídricos e ciclo hidrológico;
Causas e consequências da degradação ambiental;
Conservação do solo e sua relação com o controle da erosão;
Recuperação de áreas degradadas;
Mudanças climáticas;
Tecnologias sociais do Semiárido (barragens subterrâneas);
Importância dos zoneamentos e serviços ecossistêmicos;
Agroenergia, agroecologia e agricultura orgânica;
Hortas escolares, comunitárias e compostagem;
Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis (ODS).
123
Figura 1 – Slide do Curso Básico de Solos.
124
Figura 3 - Publicações infantis utilizadas em cursos e palestras sobre a
biodiversidade de solos.
125
Figura 6 - Palestra virtual no Curso de Educação em Solos no Ensino
Superior: Métodos e Aplicações, UEG Palmeiras de Goiás, abril 2022.
126
Figura 8 - Atividades com escolas (A, B, C, D).
D
Fonte: Autor, 2022.
127
Figura 9 - Atividades com a sociedade em geral.
128
Figura 12 - Curso de Solos para Professores da Rede Municipal de Ensino.
129
Os cursos teórico-práticos para professores sobre solos, água e
biodiversidade e confecção de materiais didáticos lúdicos proporciona as
melhores condições de abordarem em sala de aula os conteúdos curriculares
relacionados ao solo.
Com o objetivo de promover a Educação em Solos, o Programa
Embrapa & Escola finaliza este tópico indicando, a seguir, inúmeros materiais
educativos de referência, já utilizados nas ações do Programa, para que
possam ser consultados e aproveitados pelos educadores e educandos.
130
3.2 Livros infantis que abordam o solo
131
10) O Aniversário do Vermelhito
(https://solonaescolauenp.wixsite.com/home/atividades).
11)Para que o solo serve?
(https://solonaescolauenp.wixsite.com/home/atividades).
132
3.5 Outros links
1) Projeto Solo na Escola da Universidade Federal do Paraná
(http://www.escola.agrarias.ufpr.br/).
2) Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – Organização das Nações
Unidas (https://www.pactoglobal.org.br/ods).
3) Vídeos de animação sobre agricultura regenerativa, conservação do solo e
Integração Lavoura, Pecuária e Floresta
(https://www.biosistemico.org.br/video/agricultura-regenerativa-e-os-
beneficios-para-o-meio-ambiente/;
https://www.biosistemico.org.br/video/89111/;
https://www.youtube.com/watch?v=-YFjO6fwLbg).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
133
5. REFERÊNCIAS
FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Status of the
World’s Soil Resources (SWSR): Main Report. Rome, Italy. 2015 Disponível
em http://www.fao.org/documents/card/en/c/c6814873-efc3-41db-b7d3-
2081a10ede50/
LIMA, M. R.; KNOPKI, A.V.G.; PIRES, K. H.; STABEN, L. A.; ARAUJJO, M. F.;
SANT’ANAS, P. Catálogo de artigos de educação em solos no Brasil.
Curitiba: Programa de Extensão Universitária Solo na Escola/UFPR; 2020b.
Disponível em: https://www.sbcs.org.br/wp-content/ themes/b4st-
child/files/catalogo_artigoseducacaoem
134
ONU. Organização das Nações Unidas. Transformando nosso mundo: A
agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável. Rio de Janeiro: Centro
de Informação das Nações Unidas para o Brasil – Governo Federal; 2015.
Disponível em: http://www.mds.gov.
br/webarquivos/publicacao/Brasil_Amigo_Pesso_Idosa/Agenda2030.pdf.
SILVA, A. C.; OLIVEIRA, J. G. R. Para que o solo serve? Pará de Minas, MG:
VirtualBooks Editora, 2022.
135
O RÁDIO COMO FERRAMENTA EFICAZ PARA AMPLIAR O ACESSO ÀS
INFORMAÇÕES SOBRE SOLOS E AGROECOLOGIA
1 INTRODUÇÃO
136
incentivar a adoção de práticas eficazes de conservação do solo. Nesse
sentido, a comunicação rural é um ponto de destaque para promoção da
sustentabilidade nos espaços rurais.
Segundo Muggler, Pinto Sobrinho e Machado (2006), a falta de
conhecimento e, portanto, de comunicação, pode contribuir para o avanço
da degradação que se refere a qualquer dano causado ao solo e que
implica na perda gradual e crônica de produtividade, como poluição,
contaminação, salinização, acidificação, sodificação e compactação ou
outras formas de colapso, promovendo o esgotamento de C orgânico, a
redução da biodiversidade do solo, mudanças climáticas e baixo status de
nutrientes, o que traz consequências danosas à manutenção da vida.
Nota-se, assim, a importância e a urgência da comunicação rural,
que deve permear assuntos como ecologia no campo, educação
ambiental, organizações rurais, valorização dos recursos naturais,
degradação e conservação dos solos, dentre outros importantes temas.
O solo, sendo o patrimônio dos povos do campo, mantém estreita
relação com o cotidiano da vida e, indiscutivelmente, somos mais
dependentes do solo do que se pode supor. Apesar disso, a degradação
do solo avança em grandes extensões de terra e tem acelerado as
desigualdades, resultando no abandono de muitas áreas que são
declaradas impróprias para a produção de alimentos (GAMBELA et al.,
2021). Para Mtega (2018), o termo degradação do solo está também
amplamente ligado à superexploração e ao uso e manejo inadequados do
solo, invariavelmente associado à erosão.
A boa notícia é que o problema, embora, grave, pode ser
potencialmente minimizado por meio de medidas corretivas. Assim, para
evitar os graves impactos lesivos ao solo e, por conseguinte, os impactos
socioeconômicos, é fundamental articular ações que ampliem a divulgação
e a disseminação das práticas conservacionistas para salvaguardar esse
recurso que segue cada vez mais degradado.
A socialização de informação é importante inclusive para que os
agricultores mantenham seu meio de subsistência e ganhem vantagem
competitiva em um ambiente econômico e de produção de rápida
137
transformação, em que métodos convencionais podem ser ineficazes para
atender às novas demandas do mercado cada vez mais articulado com a
sustentabilidade ambiental (ALI, 2011).
A disseminação do conhecimento de práticas agrícolas
sustentáveis requer a consideração do canal e fatores associados que
podem influenciar a entrega da mensagem. Por exemplo, na maioria das
áreas rurais, o acesso é deficitário em função da precariedade das
estradas, principalmente durante a estação chuvosa (BERG et al., 2018),
fato que limita a disseminação do conhecimento ‘boca a boca’ nas visitas
dos extensionistas e técnicos, muitas vezes, já bastante reduzidas, bem
como na mídia impressa, nas poucas comunidades que têm acesso aos
informativos e jornais.
Mas há outros veículos de informação de grande relevância e
desses, o rádio é sempre referenciado como extraordinária ferramenta de
aproximação de informações para os agricultores, por ser o canal de
comunicação mais largamente usado no meio rural, pela facilidade de
alcance nos roçados e áreas produtivas que a maioria das estações têm e
pela amplitude de abrangência, cobrindo regiões distantes e facilitando a
veiculação de noticiários e informes, quebrando, assim, o distanciamento
geográfico dos centros populacionais e, em muitos casos, até dos vizinhos
próximos.
No meio rural, o rádio é então um veículo excelente para fornecer
informações oportunas aos agricultores, notadamente no que se refere às
atividades agropecuárias e a dinâmica da produção e, disponível nos
telefones celulares, pode dar aos agricultores uma voz poderosa,
ampliando a troca de saberes e fortalecendo a valorização do mundo rural.
O rádio pode igualmente ajudar aos agricultores que precisam de
orientações para o mercado consumidor, com a necessidade de serem
mais competitivos.
Mas, apesar de sua extraordinária e reconhecida atuação, o rádio
nem sempre é eficaz, uma vez que são muito poucos os programas
direcionados ao povo do campo, raras exceções, mesmo assim, muitas
vezes não fornecem conteúdo interativo de qualidade, não trazem
138
orientações técnicas ao alcance da compreensão dos ouvintes e muito
menos as vozes dos agricultores são ouvidas.
Considerando a importância do solo na vida de todas as criaturas e
a urgência de ampliar espaços e horizontes de comunicação para estender
possibilidades de conservação e proteção do solo, o presente trabalho
objetiva apresentar e descrever o Programa Matutando Solos e
Agroecologia, uma ação de extensão universitária de Educação em Solos
que trabalha na radiodifusão a socialização dos saberes sobre solos e
agroecologia, situado no Cariri da Paraíba. Para tanto, foi elaborada a
pesquisa nos referenciais teóricos pertinentes para dar suporte à
exposição, seguida da descrição do programa radiofônico.
139
Novos modelos de transferência de informações, como o uso de
tecnologias de informação e comunicação (TICs), serviços de consultoria
e as novas mídias, têm tido bastante evidência e sido implementados em
muitas áreas, mas nem sempre é possível em função de questões em
relação à disponibilidade, acessibilidade e capacidade de uso efetivo da
informação, o que às vezes limita o uso da mídia baseada na web na
disseminação do conhecimento agrícola.
Entra então a atuação e a relevância do rádio, como veículo
democrático de comunicação que tem uma posição de destaque
particularmente no que diz respeito ao ensino informal, sendo
considerados os melhores meios culturais e educativos (TANCARD;
VERNER, 2005). Contudo, os programas de rádio voltados para o povo do
campo quase não existem e, quando estão presentes nas cidades, muitas
vezes, não recebem apoio de uma política governamental, além disso, no
meio acadêmico, são poucas as pesquisas sobre o valor do rádio na
socialização de saberes sobre as práticas de conservação do solo e
agroecologia.
Como poderosa ferramenta de comunicação, o rádio precisa ser
melhor explorado, pois tem o potencial para se beneficiar tanto pelo
alcance quanto pela relevância que a transmissão local pode alcançar
usando abordagens de comunicação participativa.
A importância de compartilhar informações localmente e abrir redes
de informação mais amplas para os agricultores é tão urgente quanto
necessária e precisa compor um programa de comunicação rural projetado
para combinar informações e entretenimento, discutidos num painel
interativo e que desperte interesse e motivação.
Os esforços para melhorar a extensão rural têm se concentrados
em inovações na comunicação para aprimoramento dos pontos de
interação entre pesquisa, extensão e agricultor para incentivar um maior
compartilhamento de informações.
É necessário pensar em como expor informações sobre uma série
de técnicas de conservação, como o uso de adubos orgânicos, formação
de bancos de sementes, cobertura do solo, policultivos, plantio em curva
140
de nível e aleias, redução de queimadas, controle de insumos químicos e
agrotóxicos e estratégias para transição agroecológica, porque a
informação relevante pode ser considerada um ativo não monetário que
tem impacto direto tanto na produção (o que produzir, de que forma) como
aumentar a renda e o acesso a mercados (POSADA, 2014).
Devido às mudanças que envolvem a produção agrícola e à
escassez de recursos importantes para a produção agrícola, incluindo
terra, trabalho, capital e a necessidade de produtos agrícolas de qualidade
para atender às expectativas do mercado, o setor agrícola precisa de
acesso adequado ao conhecimento direcionado ao povo do campo
(NIRAGIRA et al., 2015). Portanto, tornar a acessibilidade oportuna ao
conhecimento entre os agricultores é importante para que eles tomem
decisões racionais relacionadas à condução das atividades relacionadas à
agricultura: uso e manejo do solo, práticas conservacionistas e produção
sustentável de alimentos, dentre outras.
As alterações no modo de vida fizeram surgir a dinâmica e a
velocidade da informação por meio da internet e está comprovado o poder
de atuação das redes sociais nos diversos segmentos da sociedade, seja
divulgando, denunciando, sensibilizando ou mobilizando as pessoas em
defesa de causas diversas, seja informando sobre diferentes temas.
A rapidez das informações nas redes sociais e sua abrangência
mundial fazem com que os problemas enfrentados pela população, em
todo o mundo e, principalmente, as experiências e ações vitoriosas, assim
como a legislação vigente sobre os crimes ambientais, sejam divulgadas e
compartilhadas, em um curto espaço de tempo, promovendo reflexões e
possíveis mudanças de atitudes em prol de um mundo mais sustentável
(BUSTAMANTE; BARRETO, 2013).
Embora em número não tão expressivo quanto o tema exige, é
importante ressaltar que existem programas no “modelo de rádio”, mesmo
sendo transmitidos por meio das redes sociais, como Facebook e
Instagram e as Web Radios, Brasil afora, chegando às áreas rurais, o que
já representa um avanço importante no compartilhamento de informações
e aproximação das comunidades, ganho relevante que as novas mídias
141
têm proporcionado nesse contexto. Dessa forma, a seguir, serão
apresentadas as ações do programa de rádio Matutando Solos e
Agroecologia.
142
público ouvinte, para os domingos das 12h30 às 13h, na 95FM de Sumé/PB,
horário que se mantém até os dias atuais.
Desde seu início, o formato do Matutando, nome popularmente
conhecido, é uma conversa ao pé do rádio, interativa, com um diálogo
animado e descontraído sobre um tema técnico do universo rural, definido
no início a partir de interações junto aos agricultores, com vinhetas e músicas
de fundo.
Para dar mais identificação à proposta, em 2012, foi produzida uma
logomarca, idealizada por um estudante de Agroecologia, integrante da
equipe de extensão, que gentilmente cedeu ao programa. No ano de 2017,
a logomarca foi igualmente atualizada para dar mais expressividade e
colorido para a proposta de integração e diálogo (Figura 1).
143
papel como espaço de colaboração e interatividade, tornando-se um meio
de informação, mobilização e educação (THAKUR; CHANDER, 2019).
O Facebook tem várias vantagens e potencial e já é popular entre
muitas pessoas, inclusive na zona rural, cuja facilidade de acesso é uma
realidade, podendo ser definida como um serviço, plataforma ou área on-line
exclusiva em que a comunicação social e/ou as relações sociais podem ser
estabelecidas e os indivíduos compartilham informações intensamente, além
de interagir, comentando (FACEBOOK, 2008).
A partir de 2018, então, o Matutando passou a ser transmitido por live
no Facebook da 95 FM de Sumé, o que possibilitou maior interlocução e
interação com as pessoas que acompanham o programa, ampliando, assim,
a possibilidade de participação dos ouvinte e internautas.
Nos anos de 2020 e 2021, o Matutando foi totalmente veiculado de
forma remota, em função do período pandêmico. Assim as lives eram
organizadas e veiculadas de forma on-line na rede social da 95 FM.
Na oportunidade, foram acrescidos ou renovados os quadros que
compõem o Matutando (Figura 2).
3
Nos sertões nordestinos, é comum a figura dos aboiadores, homens que conduzem o gado ao som de
um canto monótono e triste (aboio) com o fim de reuni-lo ou guiá-lo para o curral no fim da tarde.
4
Poeta popular que produz e declama versos, histórias ou folhetos seguindo as técnicas da Literatura de
Cordel.
144
trabalhando o sentimento de pertencimento em forma de versos, o que
encanta os ouvintes que sempre sugerem seus preferidos, como Patativa do
Assaré, Bráulio Bessa e outros grandes nomes de referência da cultura
popular nordestina.
O quadro “Trilhas do Cariri” trabalha as potencialidades do geoturismo
do Cariri paraibano, além de enfatizar as belezas naturais da região,
permitindo ampliar o entendimento sobre o turismo rural, com detalhes das
áreas, como nos assentamentos, áreas de lajedos, ambientes de trilhas e
sítios arqueológicos, trabalhando a preservação da cultura local e do
patrimônio natural.
Noutro quadro, chamado “Dicas agroecológicas”, são apresentadas
as dicas trazidas pelas agricultoras e agricultores ouvintes, acrescidas de
novas curiosidades pesquisadas pela equipe do programa, com informações
de atividades voltadas para disseminação de cursos, inscrição em
programas governamentais, abertura de editais, capacitações, negociação
de dívidas rurais, feiras e exposições.
Já o quadro “Matutando na cozinha” é uma parte do programa que
resgata a culinária local, trazendo receitas típicas do território do Cariri e do
Nordeste, dando ênfase aos cultivos locais, ao aproveitamento, às plantas
alimentícias não convencionais (PANCs), às cactáceas, com produções
fáceis de serem feitas, a exemplo das receitas do famoso rubacão 5
paraibano, manjar de tapioca, broa de milho, bolo de macaxeira, doce de
coroa-de-frade, bolo de tapioca, bolo de rapadura, compota de fruto do
mandacaru ou do sorvete cremoso de umbu, geralmente, compartilhadas por
ouvintes e internautas.
5
Prato típico da Paraíba, o rubacão é uma variação do baião-de-dois, preparado com feijão-verde ou
feijão-mulatinho, com pedaços de carne de sol, queijo coalho e coberto por verduras e cheiro verde.
145
Quadro 1 - Uma das receitas compartilhadas no Matutando Solos e Agroecologia.
Ingredientes
1 kg de umbu lavados; 2 xícaras e meia (chá) de água; 1 lata de leite condensado; 1 lata
de creme de leite; A mesma medida (da lata) de leite de vaca ou de cabra.
Modo de preparo
Numa panela, misture os umbus e a água e leve ao fogo brando. Após levantar fervura,
baixe o fogo e deixe cozinhar por 10 minutos. Depois de frio, escorra a água e aperte as
frutas com as mãos para retirar os caroços. Coloque a polpa com a casca no liquidificador
e junte o restante dos ingredientes e bata até ficar homogêneo e cremoso. Coloque em um
refratário, tampe e leve ao congelador por 4 horas. Retire e bata novamente. Volte ao
congelador por mais 2 horas ou até endurecer. Sirva sem se avexar pra saborear melhor.
146
A parte técnica, o quadro “Hora da prosa”, é elaborada segundo as
demandas dos agricultores que acompanham o Matutando. É sempre
crescente o interesse pelas práticas de uso e manejo do solo, como
compostagem, plantas para adubação verde e consórcio, formação de banco
de sementes, curva de nível, policultivos no Semiárido, contaminação do solo
por agrotóxicos, queimadas, importância da análise do solo, adubação e
produção orgânica, solo e segurança alimentar, solo e saúde, a vida do solo,
além de assuntos como a importância do associativismo rural, extensão rural
e assistência técnica, fruticultura e floricultura, artesanato e arte com barro,
dentre outros.
Além dos temas técnicos abordados, o Matutando alterna esse foco
com entrevistas e noticiários de assuntos pertinentes ao mundo rural, dando
destaque a acontecimentos de interesse dos agricultores, às ações dos
movimentos sociais, muitas vezes, esquecidos no sistema de comunicação.
Procura-se também incentivar ações educativas e comunitárias às
crianças e jovens, fortalecendo a sucessão familiar bem como o
protagonismo juvenil e das mulheres. A qualidade de vida e a preocupação
com o meio ambiente também são destacados, visando o desenvolvimento
sustentável da região.
Um ponto alto do Matutando são as entrevistas com os convidados.
Nesse sentido, agricultores, líderes comunitários e extensionistas conversam
animadamente com os locutores do programa em momentos em que a
audiência é sempre mais expressiva, com muitas interações do público
ouvinte (Figura 4).
147
Figura 4 – Apresentação presencial do Matutando no estúdio da 95 FM de Sumé.
148
de plantas da localidade, receitas regionais, músicas e poemas de
cantadores conhecidos.
149
para conhecimento e valorização dos espaços semiáridos, ideia surgida de
conversas entre os locutores e os agricultores, durante atividades nas feiras,
e evidencia naturalmente a repercussão do programa e a familiaridade do
público ouvinte, mas, acima de tudo, aproximando o povo camponês das
informações e orientação de uso e manejo sustentáveis do solo na busca
constante da educação em solos para promoção da sustentabilidade dos
recursos edáficos.
Ao longo de uma década de atuação, já passaram pelo Programa
Matutando Solos e Agroecologia 15 acadêmicos de diversos cursos do
campus da UFCG em Sumé, que, com suas habilidades e potencial criativo,
trouxeram um diferencial às apresentações, dando um colorido especial às
transmissões, sempre com graça, compromisso e muita animação e carinho
pela temática e pelos ouvintes.
Ressalta-se que, não raramente, os locutores são reconhecidos pelos
ouvintes na rua e que muitos compartilham experiências do uso de alguma
dica, receita ou de uma experiência de uma prática que foi veiculada no
programa, atestando o caráter de aproximação com o público e a proposta
de disseminação de práticas sustentáveis e a multiplicação de saberes de
cuidado com o solo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O rádio é um importante meio de comunicação e desenvolvimento para
o setor agrícola. Pode ser usado para facilitar a mudança de atitudes,
conhecimentos, habilidades e práticas na agricultura, sobretudo se usado
interativamente. Verifica-se a comunicação como estratégia essencial para
promover e fortalecer a aproximação do conhecimento sobre o solo,
ampliando horizontes de valorização e cuidado.
150
Para além disso, o Matutando procura ampliar o diálogo com os
extensionistas rurais, evidenciando as riquezas da região, os saberes e
fazeres do povo camponês e as práticas de cuidado com o solo, apresentando
de forma de fácil compreensão, os temas relativos às pesquisas em solo,
dialogando no rádio e na rede social Facebook sobre a vida no campo, o
manejo do solo, a produção sustentável de alimentos, numa proposta
vanguardeira de Educação em Solos e Educomunicação, carregando o
aspecto “comunitário”, que combina uma série de abordagens, sendo a mais
óbvia permitir que as comunidade sejam ouvidas, estimulando a participação
ativa dos estudantes e do público ouvinte e internautas na elaboração dos
programas, como ação que pode desempenhar uma função potencialmente
transformadora.
Entende-se a importância e a urgência de socializar o conhecimento
gerado nas universidades e institutos de pesquisa, fazendo uso dos diferentes
veículos de comunicação, incluindo as novas mídias, de modo a contribuir na
promoção de mudanças positivas e significativas na realidade da agricultura
familiar.
Ainda há uma importante lacuna na comunicação rural que pode ser
melhor aproveitada para manter o diálogo ou abrir um sobre o cuidado
ambiental. Propostas como podcasts (ou pedoncast?) ou interações nas
redes socais podem ter uma eficácia, eficiência e efetividade interessantes
junto às comunidades rurais, especialmente pensando nos objetivos do
desenvolvimento sustentável.
Para alcançar esses objetivos, evidentemente, que há necessidade de
que as ligações entre agricultores, pesquisadores, acadêmicos,
extensionistas, políticos e emissoras de radio sejam fortalecidas, de modo a
garantir programas apropriados, de qualidade e relevantes que atendam às
necessidades de informação e expectativas dos agricultores que, com acesso
a esses dados, poderão identificar com mais facilidade situações não
desejáveis em seus roçados, buscando medidas e práticas para minimizar os
problemas e promover a fertilidade e a qualidade do solo dos sistemas
agroalimentares, o que resultará em ganhos sociais, econômicos e
ambientais.
151
5 REFERÊNCIAS
NIRAGIRA, S.; D'HAESE, M.; D'HAESE, L.; NDIMUBANDI, J.; DESIERE, S.;
et al. Food for Survival: Diagnosing Crop Patterns to Secure Lower Threshold
Food Security Levels in Farm Households of Burundi. Food and nutrition
bulletin. v. 36, p. 196-210. 2015.
152
RAMOS, P.; FARIA, M. A. de. Educomunicação: O rádio como ferramenta
da cidadania. Revista Eletrônica Saberes da Educação. v. 5, n. 1. 2014.
153
GLOSSÁRIO COLABORATIVO COMO FERRAMENTA DE
APRENDIZAGEM NA ÁREA DE SOLOS: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
1 INTRODUÇÃO
154
necessariamente estão inseridas em uma fonte científica adequada. Esses
fatores acabam por dificultar o processo de aprendizagem dos acadêmicos.
A proposta de construção de um glossário colaborativo da área de solos
reúne outras áreas do conhecimento, como por exemplo, a de Letras (Língua
Portuguesa), e em específico os conteúdos léxico, lexicografia, terminologia e
terminografia. Esse envolvimento é positivo ao considerarmos que, dessa
forma, o contato com os termos organizados e documentados pode facilitar o
estudo e compreensão de teorias e práticas nas disciplinas. Por esse motivo,
um glossário colaborativo como ferramenta de aprendizagem da área de solos
pode contribuir positivamente para a construção do conhecimento dos
discentes, além de ser fundamental para a valorização da linguagem técnica
específica, ampliando o vocabulário daqueles que estudam e trabalham com o
solo.
Objetivou-se, assim, avaliar a construção de glossário colaborativo na
área de solos como ferramenta de aprendizagem. Para a construção do
glossário, durante o semestre letivo 2021/1, glossários colaborativos foram
propostos como atividade parciais nas disciplinas de Pedologia (3º período/39
alunos), Nutrição Mineral de Plantas (6º período/28 alunos) e Adubos e
Adubação (7º período/33 alunos). Nesse período, todas as atividades de
ensino do IFRO foram desenvolvidas em formato remoto, devido à pandemia
da covid-19.
Foi proposto aos discentes que, com o desenrolar dos conteúdos e
atividades ministradas durante o semestre, termos da área de solo fossem
identificados e catalogados, seguindo os seguintes critérios: 1) o estudante
desconhece o termo; 2) o estudante desconhece o significado do termo; 3) o
estudante considera o termo incomum para a maior parte das pessoas; e 4) o
estudante considera o significado do termo incomum para a maior parte das
pessoas.
Em seguida, cada discente deveria buscar na literatura o significado
para o(s) determinado(s) termo(s) selecionado(s) e alimentar o glossário
disponível como atividade no Ambiente Virtual de Aprendizagem (plataforma
Moodle), obedecendo os seguintes aspectos: 1) postar o termo seguido de seu
significado e referência utilizada; 2) acompanhar e atender os pedidos de
correções; e 3) utilizar o glossário para os seus estudos durante a disciplina.
155
Para que os estudantes fossem instigados a participarem da atividade,
atribuiu-se uma avaliação somativa, que correspondeu a 10% da nota
semestral. Nesse aspecto, considerou-se: 1) quantidade de termos postados;
2) frequência de postagem; e 3) qualidade da definição construída e da
referência utilizada. Para o item 3 da avaliação, considerou-se o resultado final
produzido pelo discente após o processo de correção.
Os dados obtidos foram organizados em formato de tabela, que,
posteriormente, foi analisada qualitativamente, em que correlacionou-se os
termos postados e a situação que cada estudante o classificou. Outra relação
de observação foi feita com o termo postado pelos estudantes e as disciplinas
em que estavam matriculados. A viabilidade do uso da ferramenta Glossário
do Ambiente Virtual de Aprendizagem do IFRO como ferramenta de ensino
aprendizagem também foi avaliada.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
156
na internet possui uma base de dados confiável (SOUSA et al., 2021), o que
pode ser prejudicial ao aprendizado do estudante que procura informações.
Tendo em vista essa realidade, as instituições de ensino adotaram a
internet como forma de ambientes de ensino, dando início aos Ambientes
Virtuais de Aprendizagem (AVAs). Esses ambientes são caracterizados por
oferecerem a oportunidade de serem trabalhadas disciplinas, cursos,
treinamentos, entre outros (PICANÇO, 2015). Por esse motivo, esses
ambientes contam com a disponibilidade de diversos recursos, como
exercícios, gerenciamento de classes a distância, fóruns em que dúvidas são
sanadas, divulgação de informações, via de disponibilização de gravações e
chats, o que aumenta o contato direto entre discente e docente.
No que diz respeito à aprendizagem colaborativa, os ambientes virtuais,
como o Moodle (Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment),
oferecem a aplicação da ferramenta glossário. O uso dessa ferramenta
possibilita que os discentes tenham acesso às temáticas pedagógicas
disponibilizadas pelos docentes na plataforma, facilitando, assim, a ampliação
do campo de pesquisa de informações e contribuindo com a disseminação de
conhecimento entre os discentes (ALVES et al., 2009).
A construção de um glossário especializado tem como objetivo reunir os
termos e seus conceitos, comumente utilizados em uma determinada
comunidade científica, com o intuito de facilitar o estudo e compreensão das
palavras aplicadas no contexto relacionado à área em questão. É importante
ressaltar que um glossário se diferencia de um dicionário por reunir apenas os
termos mais representativos e não todo o léxico de uma linguagem de
especialidade (SILVA; SILVA, 2014).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
157
construção do glossário colaborativo permitiu que a avaliação fosse realizada
de três formas: avaliação diagnóstica, formativa e somativa.
Avaliação diagnóstica
Para a avaliação diagnóstica, um questionário estruturado foi elaborado
e aplicado no início do semestre letivo, contendo perguntas que fossem
capazes de avaliar a experiência dos discentes com a ferramenta proposta.
Dessa forma, pudemos compreender a utilidade da ferramenta para eles e
verificar a existência de possíveis dificuldades com relação ao acesso de bases
de dados confiáveis. Outro ponto em que nos atentamos e buscamos ciência
foi com relação à noção/habilidade que os estudantes apresentavam frente à
necessidade da formulação de citações e referências.
Sabe-se que atualmente a avaliação somativa é a mais utilizada no
processo de aprendizagem, porém, de acordo com Silva (2015), a avaliação
diagnóstica é de suma importância, pois tem a função de diagnóstico, quando
determina o nível de aprendizado pelo discente e descobre as causas que
dificultam o processo, não sendo limitada apenas a uma pesquisa, mas a uma
combinação de práticas que promovem uma diagnose com a intenção de
indicar os pontos fortes e as conquistas dos estudantes, assim como os pontos
fracos para que se tenha a oportunidade de corrigi-los, melhorando, assim, o
processo de aprendizagem.
Observamos com essa pesquisa prévia que a experiência com o uso de
glossários como ferramenta de estudos pelos discentes das três disciplinas era
alto, variando de 70,37 a 88,24%, o que demonstra que, de certa forma,
dúvidas em torno dos significados de expressões estavam realmente
presentes. Percebemos também que a atividade já havia sido praticada em
alguma disciplina cursada previamente, com resultados mais altos nos
períodos mais avançados do curso, evidenciando que é um estilo de atividade
que vem sendo adotada no decorrer do curso, variando de 29,63 a 85,71%.
Quando foram indagados sobre a utilidade da ferramenta, os estudantes
consideraram o glossário como uma ferramenta de boa a excelente utilidade
para os estudos, e aqueles que já haviam realizado atividades com glossário
em disciplinas anteriores avaliaram essas atividades positivamente.
158
Garcia (2019) aponta que se assegurar de compreender e reconhecer
o significado de termos pertencentes à linguagem profissional é um aspecto
fundamental, visto que elevará o potencial da aprendizagem. Nesse sentido,
quando os estudantes foram questionados quanto à importância do domínio
da terminologia técnico científica para a atuação profissional, verificamos que
as respostas dos estudantes variaram de importante a muito importante.
Essa classificação dos estudantes contrastou com as respostas dadas
por eles, quando questionados a respeito do domínio deles sobre a
terminologia técnico científica da área na qual estão se formando, já que
consideraram de suma importância, e fomos surpreendidos ao observarmos
que a maior parte dos estudantes consideravam seu domínio apenas de
regular a bom nas três disciplinas, sendo que, na disciplina de Pedologia,
houve estudantes que classificaram seu domínio como péssimo.
Além do uso de questionários, a própria ferramenta do glossário
possibilitou realizar a avaliação diagnóstica por meio das classificações dos
termos efetuadas pelos discentes. Quando os estudantes realizavam as
inserções dos termos no glossário, foi pedido que classificassem da seguinte
forma: 1 - Desconheço o termo; 2 - Desconheço o significado; 3 – Considero o
termo incomum para a maior parte das pessoas; e 4 – Considero a definição
do termo desconhecida pela maior parte das pessoas. Com essa estratégia,
foi possível que correlacionássemos o período do curso em que o estudante
estava matriculado e o nível de conhecimento básico de termos que foram
abordados durante o curso. Nessa etapa da avaliação diagnóstica, notamos
que, em todas as turmas, haviam estudantes que classificaram termos ou
significados como desconhecidos, apesar desses termos estarem inseridos
nos conteúdos nucleares de disciplinas cursadas previamente (IFRO, 2010).
De forma individual, na disciplina de Pedologia, que é a primeira matéria
da área de solos do curso, a maioria dos discentes inseriu termos que eram
desconhecidos ou possuíam significados desconhecidos para eles, o que já
era esperado e natural, uma vez que é a disciplina introdutória, entretanto, não
descarta-se o fato de que alguns termos inseridos foram trabalhados na
disciplina de Introdução à Engenharia Agronômica.
Na disciplina de Nutrição Mineral de Plantas, os discentes postaram
diversos termos que consideravam de definição desconhecida pela maior parte
159
das pessoas. Essa associação também nos parece fazer sentido, quando
consideramos que os termos de uma disciplina tão específica não seriam
comuns a indivíduos não inseridos no curso ou no núcleo geral das Ciências
Agrárias.
Em Adubos e Adubação, os acadêmicos inseriram termos e significados
que eram desconhecidos ou que consideravam desconhecidos pela maior
parte das pessoas, o que se assemelha aos motivos da turma anterior.
Portanto, de forma geral, consideramos que os discentes corresponderam bem
entre os termos postados e o período do curso em que estavam.
Os discentes também foram questionados quanto ao acesso às bases
de dados científicos, tipos de fontes de informação e construção de citações e
referências. Esses aspectos foram abordados por estarem diretamente
correlacionados com a busca de informação para a construção das definições
dos termos levantados por eles. A análise das respostas foi realizada de forma
conjunta para as três disciplinas, uma vez que todas as turmas haviam cursado
a disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica, ofertada no primeiro
período do curso (IFRO, 2010). Observamos que 46,6% dos discentes
consideravam o livro a fonte mais confiável de informações e 44,8% dos
discentes consideravam os artigos científicos como um importante meio para
sua aprendizagem, uma vez que possuem informações confiáveis, porém
muitos não conheciam e/ou não sabiam acessar as bases científicas (69% e
72,4% respectivamente), o que dificulta o acesso a materiais de qualidade.
Ao serem questionados sobre como avaliam suas habilidades para
consultar um trabalho e construir uma citação e uma referência nas normas da
redação científica, a maior parte dos discentes (43,1%) considerava seu
domínio razoável, 5,2 % considerava seu domínio muito bom e 3,4% muito
ruim. Além disso, cerca de 29,3% dos discentes apontaram que não sabiam
como referenciar um material sem configurar plágio.
Ainda nesse contexto, os estudantes foram questionados quanto a sua
motivação para aprender a consultar bases de dados científicos, construir uma
citação e sua referência. Observamos que a maioria dos discentes estavam
motivados. Ao analisar as respostas por disciplina, verificamos que a
motivação decresceu com o avanço do período no curso, porém, com índices
ainda considerados bons, uma vez que ninguém se declarou pouco ou nada
160
motivado(a). Inclusive, na última questão reservada para comentários e
sugestões, alguns estudantes solicitaram aulas e exemplos de como construir
citações e referências e destacaram que esse é um conhecimento importante
para o processo de formação deles.
Avaliação formativa
Após a identificação dos termos técnicos, os discentes buscaram
referências e construíram as definições para essa terminologia. Em seguida
das postagens, aspectos como coerência entre termo e definição, qualidade
da fonte consultada e adequação das normas técnicas de redação científica
foram avaliados. Quando necessário, pedidos de correção e sugestões de
adequação foram realizados, usando a ferramenta de comentários abaixo de
cada termo na plataforma Moodle. Portanto, o processo de pesquisa, leitura,
redação e correção contribuiu para a formação dos estudantes.
Com a avaliação diagnóstica, foi possível identificar as dúvidas,
dificuldades e expectativas dos discentes com relação à atividade glossário.
Observamos que 72,4% dos discentes tinham alguma dificuldade quanto à
consulta em bases de dados científicos. Portanto, identificamos nesse ponto
que, durante a avaliação formativa, havia a oportunidade de contribuir com a
formação discente de forma interdisciplinar, tratando de temas relacionados
com a disciplina de Metodologia da Pesquisa Científica, já cursada por todos
os discentes envolvidos no projeto.
Matoso e Ferrari (2020) afirmaram que a interdisciplinaridade engloba
todo um conjunto de planejamento, experiências e pensamentos. Diante disso,
foi exemplificada a importância do uso do glossário como ferramenta
interdisciplinar, pois ele auxiliou no processo de aprendizagem, oferecendo a
possibilidade de aguçar os conhecimentos em mais de uma área e contribuindo
para a formação integral dos discentes.
O desconhecimento de termos ou a presença de obstáculos, como, por
exemplo, a desinformação com relação a formas e locais de pesquisas
confiáveis, faz com que grande parte dos estudantes optem por utilizar bases
de dados simplificadas e vagas.
Avaliação somativa
161
Para a avaliação somativa, consideramos o número de termos postados
pelos discentes, a frequência de postagem e o processo de correção dos
termos, definições e/ou referências. A frequência de postagem foi proposta
como método avaliativo para incentivar que os discentes se envolvessem na
atividade ao longo de todo o semestre e não apenas em um momento pontual,
postando vários termos apenas para cumprir a etapa de avaliação.
De acordo com Silveira (2010), a colaboração na formação de um
aprendizado compartilhado pode ser entendida como o estabelecimento de um
processo intencional de participação, que pressupõe a interação dos
participantes com a atividade. Diante disso, verificamos que nem todos
consideraram a atividade como ferramenta de estudo, mantendo as postagens
regularmente, e outros não participaram em nenhum momento (34,82% no
total, considerando todas as disciplinas).
Com fins avaliativos, definimos que cinco termos ou menos
representariam uma baixa frequência de inserção, e obtivemos os seguintes
resultados para as disciplinas de Pedologia, Nutrição Mineral de Plantas e
Adubos e Adubação, respectivamente: 70,6%, 84,0% e 64,3% tiveram baixa
frequência na inserção dos termos; e 29,4%, 16,0% e 35,7% se empenharam
de forma satisfatória em participar da atividade.
De acordo com Silveira (2010), as regras estão associadas aos critérios
de participação, de eficiência e de interação, além de servir de avaliação dos
participantes na atividade. O processo de correção foi um aspecto relevante
durante a avaliação, pois dos 112 discentes matriculados, 74 atenderam ao
que foi instruído inserindo termos na atividade. Dentre esses 74 estudantes
que inseriram termos, 60 receberam pedidos de correções na formatação das
referências ou conceitos, evidenciando que não acessaram os materiais
instrucionais disponibilizados.
Segundo Felicetti (2010), ser estudante não basta, é preciso ter
comprometimento ativo e responsável por parte do discente com relação a sua
aprendizagem, visto que o atual mercado de trabalho exige pessoas cada vez
mais capazes de desempenharem sua função da melhor forma. Ao
analisarmos o comprometimento dos discentes sob o aspecto de correção dos
erros cometidos observamos que dos 60 estudantes que receberam a
162
solicitação de correção apenas 37 se dispuseram a solucionar o que foi pedido,
correspondendo a cerca de 61,7% dos estudantes.
Dificuldades enfrentadas
Como mencionamos, dentre os estudantes matriculados nas disciplinas,
houve um percentual que não participou da construção do glossário
colaborativo. A participação foi de 76,9%, 57,1% e 54,5% dos discentes
163
matriculados nas disciplinas de Pedologia, Nutrição Mineral de Plantas e
Adubos e Adubação, respectivamente.
Segundo Soares (2017), a motivação de uma pessoa é passageira,
tornando-se necessário sempre implementar novos desafios. A partir dos
resultados, percebemos que o comprometimento com a atividade diminuiu com
o avanço do período dos discentes, indicando que participar novamente da
atividade não provocou um estímulo muito significativo. Esses resultados
contrastam com a avaliação diagnóstica inicial, na qual observamos alta
motivação por parte dos discentes em realizar a atividade quando foram
consultados sobre aspectos da redação científica, sendo que cerca de 50%
disseram estar muito motivados; 36,2% se mostraram motivados; enquanto
apenas 13,8% afirmaram estar indiferentes com esta etapa do processo de
aprendizagem.
Ferreira et al. (2019), apontam que docentes procuram formas de
entusiasmar seus estudantes por meio de metodologias ativas a fim de prender
a sua atenção, porém, ao executá-las, não alcançam o envolvimento que
esperavam. Isso ocorre porque nem sempre os discentes percebem o valor
dos trabalhos escolares, pois, muitas vezes, não encaram a aprendizagem do
que foi proposto no momento como algo que vai agregar para a sua vida
profissional, fazendo com que eles não vejam a atividade como um desafio
para aguçar seus conhecimentos, sendo assim, ficam pouco motivados e se
envolvem pouco com o que foi proposto.
O que não podemos deixar de citar para essa etapa da avaliação é que
toda a atividade foi desenvolvida em período de pandemia, no qual todas as
outras atividades também estavam sendo realizadas em formato remoto, o que
pode ter sido um dos motivos pelos quais os estudantes se encontraram
desmotivados a participarem da atividade, além de fatores como: a falta de
acesso a computador e internet de qualidade, a falta de tempo (devido à
dedicação a tarefas domésticas e profissionais), dentre outros.
A quantidade de termos postados foi de 201, somando as três turmas.
A frequência de inserção foi aquém da forma esperada, uma vez que alguns
estudantes postaram vários termos em um momento pontual, ou deixaram de
alimentar o glossário no decorrer do semestre. Além disso, algumas
referências não eram de fontes confiáveis e não seguiam as normas da
164
redação científica. Nesse sentido, no segundo questionário, os discentes
puderam realizar sua autoavaliação sobre a dedicação à atividade, na qual
expuseram que não se dedicaram efetivamente e que poderiam ter sido mais
participativos. De modo geral, percebemos que os estudantes que realmente
se dedicaram à atividade, participando ativamente, tiveram um alavanque em
suas habilidades e capacidades de se destacarem por executarem de maneira
satisfatória todo o processo.
Uma dificuldade encontrada para trabalharmos com os resultados dos
formulários foi a desistência de alguns estudantes durante a atividade, sendo
que, no início do semestre letivo, 58 discentes participaram do questionário
aplicado, porém, no segundo questionário, apenas 46 colaboraram.
Um obstáculo recorrente em todas as turmas foi a falta de
comprometimento de alguns discentes com a ferramenta, deixando de
participar ou alimentando-o com pouca frequência, tornando-se necessário o
uso de estratégias para melhorar a participação discentes nesse tipo de
atividade. Em função da pandemia, é válido repetir a experiência em período
de aulas presenciais.
Em um contexto geral, os aspectos analisados na metodologia
empregada revelaram para nós que o glossário colaborativo contribuiu com os
discentes na aprendizagem da terminologia da área solos e no conhecimento
técnico de redação científica que pode ser aplicado em qualquer outra
disciplina.
O resultado final desta etapa descrita foi a formulação de um e-book
(Figura 1), que pode ser acessado no seguinte link:
https://glossariodesolos.com/.
165
Figura 01 – Capa do E-book “Glossário Especializado da área de Solos”.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
166
utilizarem a literatura apropriada para a busca e construção das definições e
referenciarem da forma correta. Não obstante, os termos inseridos pela maior
parte dos estudantes estão em correspondência parcial com o nível de
conhecimento que adquiriram em outras disciplinas ministradas no curso.
Por fim, consideramos que não houve uma interação massiva na
inserção de termos no glossário por parte dos estudantes, sendo notável um
baixo padrão de acesso ao ambiente virtual da parte de alguns estudantes.
Desse modo, a participação efetiva de todos os discentes na atividade é um
desafio a ser superado.
5 REFERÊNCIAS
167
PICANÇO, M. S. Utilização do Moodle para trabalhos colaborativos
usando a ferramenta glossário. 2015. 29 f. Monografia (Licenciatura em
Informática) – Centro de Estudos Superiores de Itacoatiara, Itacoatiara, 2015.
168
A ABORDAGEM DE TEMÁTICAS SOBRE SOLO NA EDUCAÇÃO BÁSICA
1 INTRODUÇÃO
169
munir os profissionais da educação para trabalhar o tema “solo” , sua
biodiversidade e funções desempenhadas nos ecossistemas naturais e/ou
manejados pelo homem.
Neste trabalho, será apresentada a importância de abordar temáticas
sobre o recurso natural “solo” e sua biodiversidade, principalmente no que diz
respeito à contribuição para a manutenção da vida no planeta e o
desenvolvimento da consciência ambiental ao longo do percurso formativo da
educação básica, destacando estratégias de ensino que possam ser utilizadas
por professores como suporte em suas aulas.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
170
Nesse contexto, ao se falar na mudança de pensamento que se reflita
em atitudes individuais ou coletivas, é necessário pensar novas estratégias de
ensino que permitam aos educandos serem os protagonistas na construção do
seu conhecimento. Por isso, o professor precisa levar em consideração a
progressão desses conteúdos, para cada etapa do ensino, no preparo de suas
aulas, na condução do tema, criando possibilidades para a construção do
conhecimento, fazendo com que o educando possa desenvolver as
habilidades requeridas em cada etapa do ensino (SILVA; CARMO; ARAÚJO,
2021).
A organização curricular por áreas de conhecimento compreende
Linguagens, Matemática, Ciências da Natureza, Ciências Humanas e Ensino
Religioso, cujas áreas apresentam habilidades a serem desenvolvidas nos
educandos ao longo dos quatro anos (KRONBAUER; SANTOS; BORDIGNON,
2021). Cada área é composta por componentes curriculares, que possuem
competências específicas, responsáveis por contribuir no processo de
transição dos anos iniciais para os finais. Os componentes curriculares
trabalhados na educação básica apresentam sua estrutura em unidades
temáticas, objetos de conhecimento e habilidades, incluindo ações que se
espera que os educandos desenvolvam ao longo do percurso educacional
(KRONBAUER; SANTOS; BORDIGNON, 2021).
Nesse trabalho, serão destacadas duas áreas específicas para o ensino
fundamental: Ciências da Natureza, que compreende o componente curricular
de Ciências; e Ciências Humanas, em que será abordado o componente
curricular de Geografia. Para o ensino médio, serão enfatizadas as áreas de
Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas. Ao analisar todas essas áreas de conhecimento, é possível
observar que elas possuem temas relacionados ao solo ao longo de todo o
percurso formativo, ou seja, desde os anos iniciais do ensino fundamental até
o ensino médio.
Na área de Ciências da Natureza, que compreende o componente
curricular de Ciências do ensino fundamental anos iniciais e finais (1º a 9º ano),
o estudante desenvolve a capacidade de isolar determinados fatos e
compreender seu processo de formação para, posteriormente, buscar os
fatores externos que interferem em seus resultados, isso aumenta a autonomia
171
de ação, aumentando o interesse dos estudantes pelas relações sociais e
autonomia de pensamentos, pois os estudantes se reconhecem como seres
pensantes de uma sociedade (BRASIL, 2018). Na Figura 1, é possível observar
as competências específicas que a área de Ciências da Natureza se
compromete em desenvolver nos educandos ao longo do percurso formativo
do Ensino Fundamental.
172
a capacidade de estabelecer diálogos, não só entre indivíduos, mas também,
entre grupos sociais, favorecendo o protagonismo desses jovens, mobilizando
diferentes formas de linguagem “(textuais, imagéticas, artísticas, gestuais,
digitais, tecnológicas, gráficas, cartográficas etc.)” (BRASIL, 2018).
173
sociedades, culturas e direitos humanos (BRASIL, 2018). O Quadro 1, elucida
os temas relacionados ao solo para o Ensino Médio para esta etapa de ensino.
174
Contextualizar, comparar e avaliar os impactos
de diferentes modelos socioeconômicos no uso
dos recursos naturais e na promoção da
sustentabilidade econômica e socioambiental do
planeta (como a adoção dos sistemas da agro
biodiversidade e agroflorestal por diferentes
comunidades, entre outros).
Fonte: Brasil (2018), adaptado pelos autores.
175
inclusive como meio para o descarte de resíduos diversos (ALVES;
MARQUES, 2005; SILVA et al., 2018).
Com base nessa perspectiva, destaca-se que a Educação em Solos é
primordial para instruir cidadãos a cuidarem desse recurso, e toda vida nele
existente, mas para que isso seja realidade é fundamental que o processo
educativo seja dinâmico e persistente visando uma consciência pedológica
baseada na sustentabilidade ambiental (MUGGLER et al., 2006).
No entanto, há uma carência de materiais didáticos que contribuem de
forma significativa com o propósito da educação em solos, mesmo que o tema
esteja presente no Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em anos do
ensino fundamental e médio associado aos componentes curriculares de
Geografia, Ciências e Biologia (OLIVEIRA, 2017; SANTOS et al., 2019).
Ao se trabalhar o tema “solos” na educação básica, dentre tantas
dificuldades existentes, depara-se com a falta de acesso dos professores a
conteúdos de qualidade sobre o tema (COSTA, 2021) ou até mesmo o
vislumbre de como e onde abordar este assunto.
Os materiais existentes não incentivam o professor a aprofundar-se no
assunto, nem despertam o interesse dos educandos, no que se refere a
formação dos solos, uso sustentável, manejo, práticas conservacionistas,
biologia do solo e a própria dependência ecossistêmica desse recurso, pois
são muito complexos e pouco didáticos, deixando o tema muito conceitual e
pouco atrativo para os educandos (MARTA et al., 2012).
Dessa forma, a universidade e os cursos de Ciência do Solo podem
promover essa troca de saberes entre o meio acadêmico e a sociedade, que,
por sua vez, poderá ocorrer por meio de práticas de intervenção junto à
educação básica, envolvendo os educadores, professores e educandos.
176
vida na terra e funcionamento sustentável do ecossistema (LAVELLE et al.,
2006)
Pesquisadores costumam separar essas funções por meio da
classificação dos organismos do solo nos chamados grupos funcionais,
atribuindo a eles a descrição do grupo pertencente e sua importância funcional
e relações tróficas. Os principais grupos funcionais da fauna do solo são os
predadores/parasitas, detritívoros/decompositores, geófagos/bioturbadores e
fitófagos/pragas (FRITZSONS, 2015).
O estudo científico do solo, a aquisição e a disseminação de
informações do papel que cada grupo de organismos exerce e sua importância
na vida do ser humano são condições que auxiliam sua proteção e
conservação. Nesse contexto, a temática da Biodiversidade do Solo ganha
importância e destaque no atual cotidiano da comunidade e, por isso, precisa
ser contemplada nos processos educacionais (COSTA, 2021).
Segundo Vezzani (2015), os principais serviços ecossistêmicos que o
solo presta para humanidade, são: Suporte, cujos serviços estão relacionados
à formação do solo e aos processos de ciclagem de nutrientes e de
fotossíntese, que estão intimamente ligados a condições para perpetuar a vida
no planeta Terra; Provisão de alimentos; Regulação, com serviços
relacionados à melhoria da qualidade da água e a como os serviços de
abastecimentos são conduzidos, incluindo a regulação do clima, de enchentes,
de resíduos, de doenças e pragas; e os Culturais, que envolvem benefícios de
recreação, estéticos e espirituais.
A biodiversidade do solo é a base dos serviços ecossistêmicos em que
o bem-estar humano está profundamente ligado à camada de organismos que
compõem a fauna do solo é uma das mais complexas e dinâmica, sendo que
esses vêm sofrendo com as alterações antrópicas em seu ambiente (VEZZANI,
2015). O desempenho das funções ecossistêmicas de cada grupo e/ou espécie
de organismo varia de acordo com o tipo de solo, levando a necessidade de
se entender a composição e o funcionamento metabólico da biota que sustenta
este ambiente (COSTA, 2021).
Os organismos que compõem o solo são divididos, de modo geral, em
microrganismos (fungos e bactérias) e fauna do solo. Os microrganismos e a
microfauna são vistos somente com auxílio de um microscópio, enquanto a
177
mesofauna (nematoides, ácaros e colêmbolos), que pode ser vista em
microscópio estereoscópio, ou ainda com lupa de mão (dependendo da
luminosidade). A macrofauna, por sua vez (minhocas, aranhas, formigas,
cupins, besouros, centopeias, paquinhas etc.), pode ser vista sem nenhum
instrumento, ou seja, a olho nu (COSTA, 2021).
No grupo dos fitófagos, temos organismos conhecidos como asas
formigas cortadeiras, os besouros e os nematoides fitoparasitas. Em
agrossistemas e plantios florestais, muitos dos organismos desse grupo são
considerados pragas pelo fato de alimentarem-se de plantas e causarem
danos as culturas, nas folhas, colmos, frutos e raízes das plantas e, por
consequência, danos econômicos aos produtores rurais. Este tipo de
problemas está diretamente relacionado à segurança alimentar e saúde
pública, já que, para o controle de pragas, muitos produtos químicos são
utilizados.
Como os organismos do solo estão relacionados a muitas funções do
ambiente, é possível observar que várias habilidades que são previstas para
serem abordadas em sextos, sétimos e oitavos anos do ensino fundamental,
principalmente nos componentes curriculares de Ciências e Geografia, pois
possuem relação com a temática.
Devido à importância, o melhor local onde se pode falar desse assunto
de forma abrangente e didática é o espaço escolar (COSTA, 2021). Embora
profissionais docentes relatem que precisam cumprir o que é proposto pelo
currículo do componente curricular que lecionam, assim, a melhor alternativa
é incorporar essa temática as habilidades já propostas (COSTA et al., 2022).
Porém, são necessários cursos de formação continuada e desenvolvimentos
de materiais didáticos sobre o tema para que esses profissionais possam
utilizar como suporte à prática docente (COSTA et al., 2022).
178
2014). Nesse sentido, pode-se reconsiderar o currículo, organizá-lo por
campos, formular conceitos básicos, assumir o plano de trabalho de ensino e
postura de uma perspectiva holística, estabelecendo a conexão entre saber do
educando, seu comportamento e conhecimento científico (SANTA CATARINA,
2014).
O conhecimento é de fato uma maneira importante de despertar e
conscientizar sobre a importância do solo. Entre as várias estratégias que
tentam contribuir para solucionar esse problema, existem os trabalhos de
capacitação de professores, pois eles sofrem com a falta de ferramentas
adequadas para ensinar sobre solos, principalmente em termos de conteúdo e
métodos, vinculando-o ao meio ambiente. Um dos focos é educar os
professores para aprender sobre o meio ambiente e seu conteúdo ao integrar
o conteúdo educacional e o entendimento relacionado à interação do solo e
outros componentes do meio ambiente, fornecendo uma abordagem mais
participativa e significativa para resolver problemas ambientais e educacionais
(PINTO-SOBRINHO, 2005).
O modelo de aprendizado linear e formal oferece aos estudantes poucas
oportunidades de interagir e questionar sobre o conteúdo ou conduzir um
aprendizado experimental, sem a oportunidade de construir uma comunidade
de interesse e participação social (BRUYN; JENKINS; SAMSON-LIEBIG,
2017). É preciso incentivar a mudança de modelos lineares de aprendizagem
para métodos de aprendizagem social construtivistas, aumentado o contato
com o objeto de estudo, sendo uma forma de lidar com as consequências do
declínio de recursos naturais, incluindo a perdas de solo, proporcionando uma
melhor compreensão do solo e experiência prática (BRUYN; JENKINS;
SAMSON-LIEBIG, 2017).
Reconhecendo a falta de conhecimento e/ou estratégias de ensino,
muitos professores não estão acostumados a ensinar tópicos controversos,
como as mudanças climáticas, questões ambientais e de segurança alimentar.
As estratégias de ensino que se concentram no ensino da argumentação são
modeladas como uma maneira de melhorar as habilidades de tomada de
decisão baseadas em evidências dos alunos. Curiosamente, os professores
que participaram de cursos de capacitação incorporaram os temas em seus
planos de ensino e buscaram estratégias e/ou recursos para melhorar sua
179
experiência de ensino. Alguns professores têm experiência anterior no ensino
de habilidades de demonstração, na sua maioria, os professores concordam
que essa é uma estratégia útil para formalizar as ideias dos alunos e ajudar a
gerenciar as discussões em sala de aula (CARSON; DAWSON, 2016).
Por isso, há necessidade de cursos de capacitação aos professores que
lecionam, já que a formação inicial nem sempre é suficiente a capacitá-los para
os desafios do cotidiano de uma sala de aula, essa formação possibilita o
contínuo aprimoramento da sua prática pedagógica, além da sua reflexão,
tornando possível seu aperfeiçoamento. Essa preocupação é coerente aos
professores, principalmente em início de carreira, que chegam às escolas com
conhecimentos defasados, sendo que não é possível aprender tudo em cursos
de nível superior (CIRINO, 2008).
Para atingir efetivamente os objetivos, é necessário capacitar
continuamente professores para superar as lacunas existentes entre o objeto
de conhecimento e quem possibilitará a construção desse conhecimento nos
educandos (PINTO-SOBRINHO, 2005). Assim, percebemos que o mundo
contemporâneo precisa cada vez mais formar seus profissionais na área da
educação para serem capazes de resolver problemas complexos em sala de
aula ou nas variadas ocasiões no cotidiano escolar, o melhor caminho a ser
seguido pela melhor solução exige a integração do conhecimento em vários
campos (PAULISTA et al., 2017).
Utilizar instrumentos para manusear o solo, ou até mesmo utilizar as
próprias mãos para explorar, permite aos alunos perceberem as diferentes
formas de textura, cores, cheiros e a unidade que o solo apresenta (SILVA;
FERRARI, 2012). Fortalecer a importância do Ensino do Solo e das
perspectivas sobre o trabalho de usar e proteger o solo de maneira sustentável
(FALCÃO; FALCÃO-SOBRINHO, 2014) são necessário ao passo que o solo é
um recurso importante para o funcionamento normal dos ecossistemas e da
produção agrícola como já destacado. No entanto, seu uso inadequado leva à
degradação e, como resultado, perde-se a capacidade de desempenhar suas
funções no ambiente, como produção de biomassa, ciclagem de nutrientes,
armazenamento e filtragem de água, armazenamento de carbono e abrigos
biológicos (WEBER et al., 2014).
180
3 AÇÕES ALTERNATIVAS DE CAPACITAÇÃO E INSTRUMENTALIZAÇÃO
NA ÁREA DE SOLOS
181
dependendo do ano/série, fazer uma classificação usando uma chave
simplificada que foi elaborada para este fim. Este método quantitativo
possibilita amostrar a macrofauna edáfica (tamanho >2mm) e estimar o
número de indivíduos por m2.
Outra atividade sugerida para a abordagem dos organismos do solo é o
uso de armadilhas de queda (Figura 3, letra D), que coleta os organismos que
transitam na superfície do solo, essa prática consiste em pegar um recipiente,
cavar um pequeno buraco e encaixar o recipiente ali, assim, todos os
organismos que estiverem transitando no local da armadilha acabam caindo
nela. Dentro do pote contém uma solução detergente para quebrar a tensão
da água e permitir que o organismo afunde (BARETTA; BARTZ; FACHINI,
2014).
Essas e outras atividades são simples de serem desenvolvidas com
alunos do ensino fundamental anos iniciais e finais. No caso de alunos entre 7
e 12 anos, podemos realizar apenas a catação para que eles tenham noção
dos organismos que vivem ali, e para os a partir de 12 anos, podemos realizar
a classificação simplificada, podendo aumentar a complexidade dela conforme
a necessidade.
No canal do YouTube, do laboratório de Ecologia e Ecotoxicologia do
Solo do CAV/UDESC, podem ser encontrados diversos vídeos, sobre o
assunto, por meio do link: https://www.youtube.com/watch?v=0D7lOUk2dyw,
como TSBF (monólitos para catação de organismos) e armadilha de queda,
além desses, existem outros vídeos onde são demostrados os procedimentos
para elaboração e realização das atividades supracitadas. Esse material pode
ser utilizado como base de informação para os professores da educação
básica, uma vez que são desenvolvidos sob supervisão de profissionais da
área na UDESC, sendo assim, todas as informações contidas lá são de
confiança e detalhadas, pois são utilizadas para fins didáticos nos cursos de
graduação.
Uma outra abordagem é a utilização de painéis didáticos contendo
recortes de diversos organismos que vivem no solo com imã (Figura 3, letra
C), que permite aos educandos fixarem os organismos, em que eles pensam
que cada um vive e, assim, começam a associar onde moram os organismos,
ou de onde eles vêm etc. Ainda nesses painéis, é possível trabalhar as
182
associações entre fungos do solo e plantas, denominadas micorrizas (Figura
3, letra A), abordando com os educandos e transmitindo de forma simplificada
os benefícios dessa relação mutualística, para que consigam entender sua
importância, e as questões relacionadas com o equilíbrio dos nutrientes e sua
disponibilização para as plantas.
183
Figura 4 – Etapas da coleta de um Argissolo Vermelho Distrófico sômbrico, Içara/
SC: (a) Escolha do local; (b) Descrição morfológica do solo a fins de classificação;
(c) Coleta em calha de inox de medidas 120 cm de altura por 20 cm de largura para
solos profundos e 100 cm de altura por 20 cm de largura para solos rasos; (d, e, f, g,
h e i) Fixação da calha no perfil de solo, recorte do perfil que na sequência é
encaminhado para o laboratório, para ser transformado em monólito; (j) Trabalho
manual no laboratório, que consiste em retirar o excesso de solo e dar banhos de
com cola diluída toda semana, até o monólito estar pronto para exposição; (k)
Exposição do monólito de solo no sentido vertical no Museu de Solos. Essas etapas
seguem a metodologia de Pedron e Dalmolin (2009), adaptada.
A B C
D E F
G H I
J K
184
São realizadas também palestras nas escolas sobre o tema solos
(Figura 5 - C), oficinas didáticas em espaços públicos (Figura 5 - B), Lives em
parceria com outras instituições (Figura 5 – A, D e E) e visitas didáticas têm
sido realizadas de forma continuada, permitindo que os educandos e
professores sejam recebidos nas dependências da universidade e realizem
diversas atividades lúdicas, conhecendo, assim, o trabalho realizado dentro da
UDESC.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
185
cerca desse recurso, bem como alertar sobre dependência que nós seres
humanos temos. Os programas apresentados buscam despertar no educando
e em todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem um
pensamento crítico em relação à necessidade de adotar políticas
conservacionistas que vão ao encontro de práticas sustentáveis.
Acredita-se que, quanto antes os educandos tenham contato com o
tema, melhor será a construção desse conhecimento. Sendo assim, a
Educação em Solos é de extrema relevância, pois contribui para uma formação
transdisciplinar de professores e educandos, uma vez que pensar na
conservação do solo hoje e demais recursos naturais, é pensar também no
bem-estar não só nosso, mas das gerações futuras e desenvolvimento da vida
neste planeta.
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado
de Santa Catarina (FAPESC 2021 TR896), à UDESC, à Capes e Uniedu pelas
bolsas e à Klabin pelo financiamento.
5 REFERÊNCIAS
BARETTA, D.; BARTZ, M.L.C; FACHINI, I. (2014) Fauna edáfica e sua relação
com variáveis ambientais em sistemas de manejo do solo. Cienc. Agron., v.
5, p.871–879, 2014.
186
(Mestrado). Universidade Federal de Viçosa, como parte das exigências do
Programa de Pós-Graduação em Solos e Nutrição de Plantas, Viçosa Minas
Gerais 2008.
DIONÍSIO, J.A.; KUSDRA, J.F.; KUSDRA, E.S.S. Biologia do Solo. In. LIMA,
V. C.; LIMA, M. R.; MELO, V. F. (Eds.). O solo no meio ambiente: abordagem
para professores do ensino fundamental e médio e alunos do ensino
médio. Curitiba: Universidade Federal do Paraná, Departamento de Solos e
Engenharia Agrícola, 2007.
187
LAVELLE, P.; DECAËNS, T.; AUBERT, M.; BAROT, S.; BLOUIN, M.;
BUREAU, F.; MARGERIE, P.; MORA, P.; ROSSI, J.-P. Soil invertebrates and
ecosystem services. European Journal of Soil Biology, Paris, v. 42, p. 3-15,
2006.
MARTA, P.A.; SEQUEIRA, J.A.; SIMIÃO, J.A.; LEAL, N. Nota preliminar sobre
o desenvolvimento de uma base de dados a disponibilizar online para o ensino
e divulgação da geologia: a coleção nacional de mineralogia do museu
geológico. In: Para Aprender com a Terra, Memórias e Notícias de
Geociências no Espaço Lusófono. Coordenadores: HENRIQUES, M.H.;
ANDRADE, A.J; QUINTA-FERREIRA, M.; LOPES, F.C.; BARATA, M.T.; PENA
DOS REIS, R.; MACHADO, A. 2012
PAULISTA, C.R.; SANTOS, R.A.; LIMA, A.G.; SANTOS, W.A.; HORA, H.R.M.
Desenvolvimento de software para solução numérica de equações polinomiais:
uma abordagem interdisciplinar. Anais do XX Encontro Nacional de
Modelagem Computacional (ENMC) e VIII Encontro de Ciências e
Tecnologia de Materiais (ECTM), Nova Fraiburgo, 2017.
188
SILVA, A.G.F.; FERRARI, J.L. A oficina pedagógica no ensino fundamental
como estratégia de ensino aprendizagem para conservação do solo e da água.
Revista Verde (Mossoró – RN), v. 7, n. 5, p. 107-113, 2012 (Edição Especial).
SILVA, J.G.; VITAL, A F.M.; BATISTA, R.F.; BARBOSA, I.S.; SOUZA, G.M.
Educação em solos: permeando fronteiras na arte. In: CONGRESSO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO - CONEDU, 5., 2018, Olinda. Anais [...]. Olinda:
Editora Realize, 2018.
WEBER, M.A.; FRANÇA, J.S.; RANGEL, L.C.; FELIPPE, B.M.; PEREIRA, C.A.
Utilização de palestras e pequenos experimentos no ensino de solos às
crianças e jovens da Educação Básica do município de São Gabriel/RS. RAI.
RUM., v. 02, n. 01, p. 12-155, 2014.
189
TEATRO DE FANTOCHES DO SOLO: UM MUNDO ABAIXO DE NÓS
1 INTRODUÇÃO
190
Essa ferramenta permite abordar o tema solo de forma lúdica e
interdisciplinar com público de qualquer faixa etária, buscando salientar a
importância deste recurso natural, desde os processos relacionados a sua
formação até o fornecimento de serviços ecossistêmicos. Ele foi criado durante
o período de pandemia, e sua primeira transmissão ocorreu de forma on-line.
Durante o período de restrição da pandemia da covid-19, todas as
nossas atividades presenciais foram paralisadas no presencial. Porém, nossas
atividades de ensino de solos não poderiam paralisar, então, foi preciso
reinventar as atividades desenvolvidas para continuar ensinando sobre solos,
e o primeiro evento on-line foi um desafio e tanto. Nesse evento, ocorreram
vários debates e rodas de conversa em forma de lives, mas esse tipo de
atração não abrangia todo nosso público-alvo. Pensando em uma forma de
contornar a situação, foi criado o teatro intitulado Um Mundo Abaixo de Nós.
Neste artigo, detalharemos como foi possível desenvolver uma atividade
lúdica mesmo em um momento tão delicado. Detalharemos como foram
realizadas a montagem e fabricação de cada etapa e personagem, de modo
que qualquer pessoa possa reproduzir esta atividade. Falaremos sobre como
foram superados os obstáculos encontrados durante o processo e
finalizaremos com a descrição do que funcionou ou poderia ter sido feito de
forma diferente, além de como essa atividade contribuiu para a divulgação de
outras atividades que os programas de extensão Solo na Escola e Sustenta
desenvolvem na UDESC, envolvendo Educação em Solos e segurança
alimentar.
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
191
2019). O microambiente da rizosfera é um importante centro de diversidade e
função microbiana, que promove a saúde das plantas e do solo (SAHU et al.,
2019).
A vida microbiana é o sistema de vida mais básico do mundo. Os micro-
organismos também são importantes para as sementes e se multiplicam à
medida que as sementes crescem no solo, formando relações simbióticas nas
interações endógenas na superfície de raízes, caules ou folhas (MEENA et al.,
2017).
Esses microrganismos desempenham um papel vital nos processos que
ocorrem no solo e quaisquer alterações físicas, químicas ou biológicas que
ocorram ali afetarão significativamente as comunidades. Os microrganismos
podem responder rapidamente a quaisquer mudanças nesse ecossistema e
podem ser usados como um verdadeiro indicador de funções específicas do
solo (SAHU et al., 2019).
Além dos microrganismos, ainda é possível encontrar outras formas de
vida no solo, de acordo com Mota et al., (2022), os organismos que vivem no
solo podem ser classificados como fauna edáfica e são classificados quanto
às suas dimensões. As autoras completam ressaltando que os menores
organismos encontrados no solo são os microrganismos representados pelos
fungos e bactérias, além desse grupo, existe a microfauna composta por
protozoários e nematoides, a mesofauna por ácaros, colêmbolos etc., e a
macrofauna, por formigas, minhocas, centopeias etc.
A biota e seus processos garantem o fluxo de energia e nutrientes entre
o solo e a vegetação, representando componentes essenciais para a
sustentabilidade dos agroecossistemas. O funcionamento dos ecossistemas
envolve processos de ganhos e perdas de C e nutrientes, determinando a
intensidade e o balanço desses processos, o grau de sustentabilidade do
ecossistema. O solo, juntamente com o ambiente edáfico, é a base de
sustentação da pedosfera, onde se distribuem os ecossistemas, cujos pilares
de sustentação são: fluxo de energia, ciclagem de nutrientes e biodiversidade,
cuja atividade mantém os processos essenciais ao seu funcionamento e à
manutenção. Se o ecossistema sofrer interferência que leve à perda de
energia, redução da biodiversidade e retirada de nutrientes, ele terá a
sustentabilidade comprometida. Com a redução da biodiversidade, temos a
192
perda no fluxo de energia (fotossíntese, heterotrofia, biomassa/húmus) e a
retirada da ciclagem de nutrientes (mineralização, transformação,
disponibilidade, adsorção), prejudicando a qualidade do solo (vegetação),
comprometendo o fluxo hídrico e a proteção do solo e fauna (MOREIRA;
SIQUEIRA, 2006).
A sociedade humana está em constante desenvolvimento científico e
tecnológico, porém, o desenvolvimento que traz benefícios, comodidade e
conforto, acarreta desequilíbrios ecológicos. Para debater sobre os
conhecimentos permeados nesta área de atuação, é necessária consciência
ética, crítica, cultural e científica. Sendo assim, Ciências da Natureza se
compromete em desenvolver o “letramento científico”, que se consolidou ao
longo da história humana, bem como seus “processos, práticas e
procedimentos de investigação científica”, trabalhando a capacidade de
desenvolver e interpretar o mundo em que se vive nas mais diversas esferas
(natural, social e tecnológica) (BRASIL, 2018).
No meio ambiente, todos os processos ocorrem de forma
interdependentes, dessa forma, a degradação do solo está relacionada à
poluição dos corpos hídricos e perda da biodiversidade, o que implica na
redução da saúde do solo e, consequentemente, influencia no seu
funcionamento (CARVALHO; BARCELLOS, 2017).
Devido à pluralidade encontrada nas escolas, é necessário um diálogo
com a diversidade de formações e vivências, enfrentando com sucesso estes
desafios dentro de seus propósitos educativos. Compreender o estudante
como sujeito, que possuí uma história, saberes que construiu a partir de suas
vivências, em outros locais, como seu núcleo familiar, entre seus amigos, ou
quaisquer outras interações fora do espaço escolar, fortalece o potencial da
escola, como um espaço que forma pessoas, e as orienta como cidadãos
conscientes, participativos e críticos (BRASIL, 2018). E assim, a Educação em
Solos se torna uma importante ferramenta, pois busca promover a
conscientização ambiental, ampliando a percepção dos educandos e
mostrando seu papel fundamental no ambiente em que vivem (CARVALHO;
BARCELLOS, 2017), uma vez que suas ações influenciam tanto sua geração
quanto as gerações futuras.
193
Essas características fornecem a esses indivíduos formação científica,
autoconhecimento e conhecimento da sociedade onde estão inseridos, do
meio natural e tecnológico, além de desenvolver valores éticos e políticos que
estão envolvidos em todas estas relações, atuando com “respeito,
responsabilidade, solidariedade, cooperação e repúdio à discriminação”
(BRASIL, 2018). Dessa forma, proteger os recursos naturais é uma tarefa
permanente, porém, isso só é possível quando se aprende sobre, de modo que
leve esse conhecimento para o resto da vida (CARVALHO; BARCELLOS,
2017).
3 RESULTADOS E DISCUSSÃO
194
Figura 2 - Imagem da estrutura montada, ao fundo, o perfil de solo secando para
teste de colagem.
Perfil de solo
Os painéis, no momento, possuem um perfil de solo e um painel de céu
usado de fundo para os organismos. O perfil de solo que temos representado
é de um Cambissolo Húmico (Figura 2 A), classe de solo predominante no
Planalto Serrano de Santa Catarina.
Para confeccioná-lo, foi utilizado um pedaço de TNT marrom duplo (1,40
de largura e 4,20 de comprimento para poder dobrar e deixar mais grosso)
(Figura 2 C), espumas de proteção (Figura 2 B), reaproveitadas de caixas de
transporte de equipamentos, para outros fins, essas foram usadas para
reproduzir a rocha que dá origem a este solo, depois, foi realizada a pintura
deste material com tinta feita de solo.
O restante do TNT foi pintado com tinta de solo (Figura 2 D e E)
seguindo as características de um perfil de Cambissolo Húmico. Para deixar
mais realista, foi colado solo por cima da pintura, permitindo o efeito degradê
na transição de um horizonte para o outro, conforme pode ser visto na Figura
2.
195
Figura 2 - Confecção do perfil do teatro, usando como base de inspiração o
monólito de um Cambissolo Húmico. (A) Perfil da base; (B) Recorte das espumas de
proteção reaproveitados para representar as rochas e saprólitos; (C) TNT dobrado
para servir de base para o perfil; (D) Delimitação a área a ser pintada com tinta de
solo; (E) Solo colado na tinta de solo.
196
Raízes da Dona Árvore
Depois de pronta essa parte, foi coletada uma raiz pivotante, que foi
costurada no perfil para ser a raiz da Dona Árvore (Figura 4). No avesso do
perfil, precisou ser adicionar um feltro, pois a raiz acabava forçando o TNT,
então com o feltro resolveu-se este problema. Além disso, foi recortado um
círculo indicando onde fica o rosto do Senhor Solo para facilitar o recorte.
197
Figura 5 - Painel com raiz costurada com os fantoches dos organismos do
solo.
A Dona Árvore foi representada por uma pessoa cujo corpo da cintura
para cima era o tronco, os braços sendo os galhos e a cabeça a copa. Para
que fosse possível a entrada da pessoa fantasiada, abriu-se um espaço atrás
na madeira de base e um recorte no painel superior.
Organismos do solo
Todos os organismos, com exceção do fungo, foram confeccionados
usando meiões de futebol para facilitar a passagem da mão até a boca deles.
Para fazer a parte da boca, foram colados meios círculos de papelão na parte
interna da meia que tinham meios círculos de EVA colados, formando o espaço
de pôr os dedos, para não marcar os fantoches na hora da fala e esconder a
dobra da meia na boca dos fantoches (Figura 6), foi colado com cola fria um
círculo maior de EVA preto. Após colou-se com cola quente a parte externa
que davam as características próprias de cada organismo. Usando um feltro
bordô, preto, marrom e branco, foi confeccionado o corpo e cabeça dos
organismos, além de olhos para ficar amigável para as crianças.
198
Figura 06 - Meia utilizada como base dos fantoches e modo de finalização da
boca.
Minhoca
Para a confecção da Minhoca (Figura 7), foram recortadas tiras de feltro
marrom escuro e costuradas, com máquina uma tira na outra para representar
o corpo formado por anéis (Figura 7 B) e uma tira marrom mais clara para
representar o clitelo dela, este foi feito da mesma forma que o restante do
corpo. Vale lembrar que as tiras precisam contornar o braço da pessoa que vai
fazer o personagem, com margem de folga, para que seja possível fazer todos
os movimentos (Figura 7 C). Depois de todos os anéis costurados um no outro,
unimos as duas pontas formando um “tubo” anelado, isso do lado avesso para
ter um bom acabamento. Após finalizada esta parte unimos o corpo a cabeça,
que estava presa a meia (Figura 7 A), passando a meio por dentro do “tubo”
que fizemos, e para fazer o acabamento, foi costurado a mão de forma que
não aparecesse a costura, ou seja, aparentando ser outro anel (Figura 7 D).
199
Figura 7 - Passo a passo da confecção da minhoca. A - Feltro colado na meia para
formar a cabeça. B - Costurando as tiras que formam os anéis na máquina. C -
Testando se o fantoche entra no braço com folga para ter movimentos. D - Cabeça
fixada no corpo, com acabamento interno.
A B C
Centopeia
Na confecção da centopeia (Figura 8), a cabeça foi feita como na
minhoca, mas como a centopeia tem a cabeça maior foi colocado um
enchimento e, em seguida, colado os olhos. O corpo foi construído na própria
meia (Figura 8 C). Foi usado um feltro liso para cobrir a meia e, posteriormente,
recortados quadrados com as bordas levemente arredondadas, com isso,
foram colados em camadas para formar o corpo segmentado da lacraia (Figura
8 D). A cabeça e o corpo foram feitos com feltro de cor diferente de forma
propositada, pois esse organismo possui essa diferença naturalmente. A
colagem dos segmentos ocorreu na linha central superior do fantoche para
aparecer bem os segmentos do corpo (Figura 8 A). Com o corpo e a cabeça
prontos, pegaram-se retalhos de feltro laranja e para confecção de um par de
patas por segmento da centopeia. As pontas das patas foram pintadas de preto
(Figura 8 B).
200
Figura 8 - Passo a passo da confecção da centopeia (lacraia). A – Colagem dos
segmentos do corpo. B – Segmentos de patas com acabamentos em preto. C –
Colagem das patas, e demonstração de como ficou a cabeça da centopeia. D –
Feltro liso embaixo, com as camadas coladas em cima representando os segmentos
do corpo da centopeia.
A B C
Tatuzinho de Jardim
A confecção do tatuzinho de jardim (Figura 9) foi realizada como na
centopeia, mas a cabeça e o corpo não foram achatados e, sim, aumentados
(Figura 9 A), de forma este parecer mais “gordinho”, e ao invés de utilizar
quadrados, foram utilizados semicírculos de feltro preto colado com a parte
reta no sentido oposto a cabeça (Figura 9 B). Dessa forma, ficaram pontas nas
laterais (Figuras 9 C e D). Entre as camadas de feltro preto, foi colocada uma
tira branca fina para destacar cada camada do corpo (Figura 9 E). Além disso,
foram costuradas as pontas das laterais do corpo para dar o formato levemente
arredondado (Figura 9 E).
As antenas dele foram feitas com arame de artesanato bem fino
envolvidos com feltro preto. A finalização foi feita com um pouco de tinta de
solo marrom para que ficasse mais característico dos tatuzinhos (Figura 9 F) e
para dar vida foram colocados olhos.
201
Figura 9 - Passo a passo da confecção do tatuzinho de jardim. A – Base do corpo e
como foi realizado o enchimento da cabeça. B – Formato dos segmentos para
formar o corpo. C – Como fica vendo por baixo, antes de costurar. D – Vista de cima
dos semicirculos colados. E – Costura das pontas após colar as tiras brancas para
dar destaque. F – Tatuzinho quase finalizado mostrando as antenas.
A B C
D E F
202
Figura 10 - Passo a passo da confecção do Senhor fungo. A – Molde do chapéu do
fungo. B – Costurando e enrugando a base da cabeça. C – Moldes utilizados para
A B C
D E F
G H I
Para fazer a boca, foram usados dois semicírculos unidos com uma fita
(como nos outros organismos), mas neste um dos semicírculos ficou colado na
base, o acabamento interno da boca pode ser visto na Figura 10 (G). Para
realizar o acabamento, foram coladas bolinhas brancas e os olhos para dar
vida ao senhor fungo. O corpo do fungo foi feito com feltro bege, com a mesma
manta na parte interna, para fornecer a estrutura dele mesmo sem um braço
de apoio (Figura 11). Quando inserimos ele no painel, incluímos suas hifas ao
perfil, confeccionadas com barbantes e bolinhas de EVA nas pontas para que
203
pudesse ficar visível a relação que alguns fungos têm diretamente com as
plantas.
204
Figura 12 - Partes da copa da árvore e como fica a roupa do tronco no corpo. A –
Base da copa, confeccionada com casco de boné coberto com feltro. B - Balões
amarrados nos barbantes. C – Roupa da árvore demonstrando o resultado do tronco
com a copa.
A B C
205
Figura 13 - Painel superior montado na estrutura.
206
Figura 14 - Estrutura do teatro pronta.
207
Este teatro (Quadro 1) contou com cinco personagens (Seu Solo, Dona
árvore, Senhor Fungo, tatuzinho de jardim e Centopeia). As falas foram
elaboradas para valorizar as relações entre os seres vivos, que habitam os
nossos solos, com o objetivo de desenvolver o apreço dos nossos jovens para
a preservação da biodiversidade do solo. Ao mesmo tempo que eram
confeccionados os fantoches dos personagens, também ocorria a confecção o
perfil de solo.
208
SOLO – Querida árvore, há um mundo inteiro aqui embaixo, e cada ser que mora aqui
desempenha um papel muito importante para manter este ambiente.
ARVORE - Tá, mas, se tem um mundo inteiro sob os nossos pés, onde eles estão? (curiosa)
SOLO - Então, deixe-me explicar
- A minha estrutura permite que várias formas de vida vivam em mim. Eu sou composto por
Horizontes, que são estas camadas coloridas, como, por exemplo, o horizonte A, que é a
parte mais escura, que contém matéria orgânica e que os seres vivos transformam em
alimento para eles e para você. Tenho também o horizonte B, que é a parte mais vermelha,
onde já não tem tanta matéria orgânica, por isso, minha cor fica mais clara, mesmo assim,
ainda tem alguns seres vivendo nele, como as suas raízes, tenho o horizonte C, que é
comporto por pequenos pedaços de rocha se desmanchando para me formar, e, por fim, o
horizonte R que é de fato a rocha sobre a qual eu me formei.
ÁRVORE - Uau (surpresa)
SOLO - Nos meus dois primeiros horizontes o A e B, eu vou possuir poros, que nada mais
são que buracos, só que eles vão apresentar diferenças de tamanho, e cada tamanho de
poro é responsável por transportar algo específico dentro de mim.
- Os macroporos, por exemplo, são poros grandes, responsáveis por transportar o oxigênio,
que inclusive as suas raízes precisam para poder respirar. Tenho os microporos que são
poros bem pequenos responsáveis por transportar e armazenar água, graças a estes
pequenos poros que eu consigo te fornecer água mesmo quando fica muito tempo sem
chover. E por último eu possuo ainda os bioporos, são neles que os seres vivos que vivem
aqui embaixo se locomovem e me ajudam a manter toda a vida que há aí em cima contigo.
ÁRVORE - Mas seu CAMBI, eu posso conhecer estes organismos? (empolgada)
SOLO - Claro que sim.
ROTERISTA - Nisso sai uma centopeia por trás da árvore.
SOLO - E por falar em organismos
CENTOPEIA - O que? O que foi?
SOLO - Esta é a centopeia.
ÁRVORE – Olá, dona Centopeia, é um prazer lhe conhecer.
ROTERISTA - Diz a árvore.
ÁRVORE – O que a senhora faz aí embaixo?
CENTOPEIA - Então (tímida), eu moro por aqui. Sou uma predadora, entre meus alimentos
favoritos estão larvas de besouros, minhocas e tudo que eu capturo vivo. Também posso
me alimentar de material vegetal em decomposição, como suas folhas, por exemplo, quando
caem no chão, e eu aproveito e como elas.
ÁRVORE - Que legal, a senhora poderia sair de baixo destas folhas para eu lhe ver melhor?
CENTOPEIA - Eu não posso, sou um animal noturno, só saio à noite, agora durante o dia
eu enxergo muito mal, então para não virar comida de outros animais, eu fico por aqui
escondida até anoitecer. Mas não se preocupe, que à noite eu saio para você me conhecer
melhor.
ÁRVORE - Combinado então.
CENTOPEIA - Agora eu preciso ir, pois preciso descansar para estar beeem disposta à
noite, até mais para você.
ROTERISTA – Se despede a centopeia da árvore.
ÁRVORE - Até mais.
ROTERISTA - Nesse mesmo instante, surge uma minhoca, ela coloca a cabeça para fora e
volta para dentro do poro, e faz isso por três vezes.
- A árvore então pergunta:
ÁRVORE - Você está bem?
ROTERISTA - A minhoca responde:
MINHOCA - A princípio, sim, aquela centopeia já foi embora?
ÁRVORE - Foi sim, ela foi descansar, muito simpática ela. (sorri e fala)
209
ROTERISTA - A minhoca então sai, contudo, do poro e levanta a voz dizendo:
MINHOCA - SIMPÁTICA, espera suas raízes morrerem para você ver o quão simpática ela
é. Nada enche aquele animal, ela come tudo que vê pela frente. Olha, se eu não fosse tão
cuidadosa, já tinha virado a refeição dela.
ÁRVORE - Mas se acalme.
ROTERISTA - Diz a árvore tentando acalmar a minhoca.
A minhoca aos poucos vai se acalmando e então a árvore diz:
ÁRVORE - Mas e você, quem é?
MINHOCA - VOCÊ NÃO SABE QUEM EU SOU? – (pergunta a minhoca indignada)
ROTERISTA - A árvore olha para os lados e disfarçadamente responde:
ÁRVORE - Não.
ROTERISTA - A minhoca estufa o corpo e diz:
MINHOCA - Eu sou a minhoca, sou tão importante para você que só pelo simples fato de
me locomover abro túneis no solo que aumentam a aeração, sabe o que isso significa? Pode
deixar que eu respondo! Significa que para suas raízes respirarem eu preciso abrir túneis,
se eu não abro, suas raízes não respiram, e como agradecimento você nem sabe da minha
existência. Sou também conhecida como a ENGENHEIRA DO SOLO, por causa desta
minha função, eu também pego toda a matéria orgânica que está na superfície do solo e
transporto para as camadas mais profundas, também interfiro diretamente na decomposição
dos resíduos orgânicos.
ROTERISTA - A árvore sem graça fala:
ÁRVORE - Peço desculpas por não saber quem a senhora é, realmente a senhora é muito
importante para mim, eu devia ter prestado mais atenção no quão a senhora me ajuda. Se
lhe serve de consolo, eu lhe agradeço muito por toda sua contribuição.
ROTERISTA - A minhoca então estufa o peito e fala:
MINHOCA - É o mínimo que eu mereço, agora se me dão licença tenho muitos túneis para
abrir e não posso ficar de papinho. Até mais!
ÁRVORE E SOLO - Até mais, bom trabalho
ROTERISTA - Neste momento, sai de trás de uma pedra um ser diferente, e a árvore curiosa
fica olhando para ele. Nisso ela não aguenta e chama ele:
ÁRVORE - Ei, quem é você?
ROTERISTA - O animal continua remexendo nas folhas que estão ao seu redor e nem dá
bola para a árvore. Então a árvore grita:
ÁRVORE – ALÔÔÔ.
ROTERISTA - Nisso o animal dá um pulo e fica olhando para os lados e perguntado:
TATUZINHO DE JARDIM – O que, o que, o que foi?
ÁRVORE - Aqui em cima.
ROTERISTA - O animal olha para cima e diz:
TATUZINHO DE JARDIM - Ah, é só você.
ÁRVORE - Sim sou eu e você que é?
TATUZINHO - Eu sou o Tatuzinho de Jardim.
ÁRVORE - Mas tatus não são maiores? Beeem maiores? (começa a torcer sua cabeça, e
olha, e olhar, então ela engole pesado e fala)
TATUZINHO – Sim, os tatus mamíferos eles são bem grandes, acontece que eu sou um
artrópode, olha as minhas patas são cheias de articulações e eu também sou um
CRUSTACEO, eu sou bem diferente daqueles tatus enormes.
ÁRVORE - Certo, e o que você faz?
TATUZINHO DE JARDIM - Eu sou saprófago, isso significa que eu me alimento de matéria
orgânica morta, que já está em processo de decomposição.
ÁRVORE -Mas isso não é nojento – (pergunta a árvore enquanto faz careta)
TATUZINHO Claro que não, pense comigo, imagine se animais como eu não se
alimentassem deste tipo de material orgânico? Minha cara, não só eu, mas muitos outros
210
seres vivos me ajudam neste processo. Agora imagine aquele monte de material se
acumulando na superfície do solo porque nenhum ser vivo se alimenta dele, é complicado
né? Então, o meu papel é muito importante, eu pego esse material maior – aponta para
folhas, ou grama – transformo em algo menor, graças a minha boca adaptada para triturar
este tipo de material e então agora estando em tamanhos menores outros seres vivos me
ajudam a comer tooooooooda essa comida e ainda liberar muitos nutrientes que suas raízes
vão absorver. Veja bem, nós limpamos o ambiente enquanto comemos e ainda ajudamos
você a se alimentar. Isso é FANTÁSTICO.
ÁRVORE - É realmente um prazer te conhecer, eu fico muito grata por toda a ajuda que eu
recebo para poder sobreviver, que bom que existem vocês, é uma pena que não recebam
seu devido valor, mas agora que eu sei de sua existência, vou espalhar para o mundo todo
o quão importante vocês são.
TATUZINHO - Eu agradeço sua gentileza, agora se me der licença eu vou procurar algumas
folhas para encher minha barriguinha. Até mais!
ÁRVORE - Até mais, bom apetite.
- Nossa senhor CAMBI – (suspira a árvore) – quantos seres vivos importantes eu conheci
hoje.
SOLO – Sim, como te disse a um mundo inteiro aqui embaixo, todos trabalhando dia e noite
para manter o ambiente bom e saudável para todos.
ÁRVORE - Senhor CAMBI?
-Tem mais algum ser vivo que eu precise conhecer?
SOLO - Jovem árvore – (suspira e responde o solo) – há muitos seres vivos para você
conhecer, com o tempo eu vou te apresentando um por um. Aliás, tem um bem importante,
e seria muito bom se você pudesse conversar com ele, pense em um ser ligado no mundo
subterrâneo, ele é a internet de última geração aqui de baixo, e é graças a ele que você
consegue se comunicar com outras plantas e mais, consegue se alimentar.
ARVORE - NOSSA, e que é ele? – (pergunta a árvore empolgada)
SOLO - Este é o fungo – responde o solo.
ÁRVORE - É um prazer seu fungo, conte mais sobre o que o senhor faz aí embaixo – (fala
a árvore toda empolgada)
FUNGO - O prazer é meu – (responde o fungo todo galã e completa) – bem, eu tenho uma
associação sabe? O que isso quer dizer é que eu tenho um acordo com suas raízes, neste
acordo eu ajudo as suas raízes a absorverem água e nutrientes, claro que elas sempre me
dão um pouco, até porque eu preciso me alimentar. Além disso, eu ajudo as plantas a
melhorarem a resistência em tempos de seca e inundações, sabe como é, água demais faz
mal, mas quando falta, faz mal também hehehehe. Ajudo a melhorar resistência a patógenos
que possam atacar e deixar as raízes doentes. Para ser bem exato, somos ótimos amigos
a muito tempo, eu te ajudo e você me ajuda.
SOLO - Sem falar que você me ajuda a manter minha estabilidade né senhor fungo.
FUNGO - Claro - fala o fungo bem galã – aliás é o que toda planta quer né, um solo beeem
estruturado. Confesso a vocês que eu tenho caprichado no meu trabalho.
SOLO - E eu lhe agradeço muito, é graças ao seu trabalho de estruturação que eu consigo
manter meus poros, o que permite que eu armazene água, seres vivos e uma boa aeração,
além de permitir o desenvolvimento das raízes das plantas, como a dona árvore, que está
cada vez mais linda.
ROTERISTA - Neste momento a árvore fica encabulada e agradece:
ÁRVORE - Obrigada, obrigada.
ROTERISTA - E o solo continua:
SOLO - Minha querida árvore, hoje deixo a ti um importante aprendizado: existe um mundo
todo aqui embaixo, e ninguém trabalha sozinho, todos nós trabalhamos em conjunto para
manter o ambiente, eu te peço encarecidamente que você transmita este aprendizado para
todas as formas de vida aí em cima, para que elas nos cuidem e nos protejam, pois, todos
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nós aqui embaixo somos sensíveis e infelizmente estamos sofrendo muito com a ação do
homem no ambiente, não sabemos até quando podemos suportar.
ÁRVORE - Pode deixar senhor CAMBI, irei ensinar este aprendizado a todos os seres que
vivem aqui na superfície comigo, irei falar a importância de vocês e o quão são frágeis, vou
enfatizar no quanto nós precisamos de vocês para sobrevivermos, Desde já, deixo meu
agradecimento à todos estes trabalhadores, que mesmo sem serem reconhecidos
continuam desempenhando seu trabalho maravilhosamente. De agora em diante sempre
que me perguntarem qual a importância do solo eu irei responder: SOLOS É VIDA, até
porque há UM MUNDO INTEIRO DENTRO DO SOLO QUE PRECISA SER PRESERVADO.
ROTEIRISTA: E essa história termina com parceria da Secretaria do Meio Ambiente do
Município de Lages, CAV/UDESC, Cris Duarte Mimos, Projeto de Extensão Educação para
Sustentabilidade Sustenta, coordenado pelo Prof. Dr. Osmar Klauberg Filho, Projeto de
Extensão Solo na Escola, coordenado pela Profa. Dra. Letícia Sequinatto.
Fonte: Os autores (2022).
Para poder ensaiar as falar nos reunimos de forma virtual, dessa forma,
conseguimos organizar o tempo de fala, ordem e, acima de tudo, adaptar as
falas para cada pessoa que iria fazer cada personagem. Nessa etapa, foi
possível dar vida para cada personagem que estava sendo confeccionado, e
a entonação da voz de cada um ficou de acordo com a seriedade do que cada
um falava.
Então o Senhor Fungo era mais ranzinza, e do jeito único dele,
conseguiu explicar para a Dona Árvore a importância de ele estar ali e como
ele ajuda ela. A Minhoca medrosa morria de medo de encontrar a Centopeia
(só saiu para conversar com a Árvore quando teve a certeza de que sua
predadora não estava na redondeza). A Centopeia tinha um “ar” de
superioridade, e estava caçando quando a Dona Árvore foi conversar com ela.
O Tatuzinho de Jardim era distraído, muito ocupado em fragmentar matéria
orgânica e controlar organismos que estivessem em quantidade
desproporcional. A Dona Árvore, que inicia o teatro com sua fala solitária,
estava bem triste por achar que estava sozinha, e no decorrer no teatro, foi
descobrindo que existe muita vida e que existem vários organismos apoiando
a sobrevivência dela. O seu Solo, que Dona Árvore chama de seu Cambi, é o
personagem que apresenta todos, e faz a conexão entre os personagens.
Para decorar e adaptar as falas, foi preciso realizar um ensaio por
semana, e nas últimas semanas, fizemos os ensaios com os fantoches prontos
para testar o movimento de cada um. Os primeiros testes dos fantoches
ocorreram na casa de uma das integrantes, que tinha um espaço para
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armazenar tanto o cenário como os fantoches. Neste local, realizou-se teste
de altura e posicionamento de cada personagem no cenário. Os primeiros
ensaios no cenário foram muito úteis para definir onde cada integrante ia ficar
nos bastidores e por onde cada organismo ia passar.
O primeiro teste de movimento da árvore no cenário percebemos que
não seria possível que ela se movimentasse, pois o cenário superior (céu)
estava trancando alguns movimentos, correndo risco inclusive de derrubar o
cenário todo (situação que não poderia acontecer, pois era on-line, mas era ao
vivo, então se isso ocorresse o teatro iria por água abaixo). Além disso, a ideia
inicial era que a Minhoca, a Centopeia e o Tatuzinho iam dividir o mesmo
buraco de aparecimento. Nestes ensaios, também percebemos que isso não
ia funcionar, por causa da logística de movimentação nos bastidores, com o
tempo de fala entre eles.
Para resolver isso, realizou-se um corte no cenário superior para a Dona
Árvore poder aparecer e se movimentar, e o mesmo corte foi utilizado para
permitir que o tatuzinho de jardim e a centopeia saíssem por trás da árvore.
Esse corte resolveu todos os problemas do momento, pois agora a distribuição
atrás do cenário estava boa, onde em uma ponta estava a pessoa que fez o
Sr. Fungo, ao lado, a pessoa que fez a Centopeia (para ficar distante da
minhoca medrosa), depois, a árvore dentro do cenário, do outro lado dela,
estava a pessoa que fez o Tatuzinho, seguido da pessoa que fez a Minhoca e
a pessoa que fez o Solo com o rosto aparecendo no buraco específico dele.
Uma observação importante é que não foi possível que uma pessoa
fizesse dois personagens (que foi uma das ideias que tivemos, para reduzir a
quantidade de pessoas envolvidas), pois a distância entre os personagens não
permitia, para que fosse viável uma pessoa fazer dois personagens a Árvore
teria que ser um fantoche ou só uma decoração. Outra opção seria alguém
ficar exatamente atrás da árvore, mas isso restringe os movimentos que podem
ser feitos por esta personagem, aumentando novamente o risco de queda do
cenário.
Além disso, como as falas eram longas seria complicado uma pessoa
gravar mais de uma fala sem risco de trocá-las. Então a melhor forma
encontrada foi ter uma pessoa para cada personagem.
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Com tudo o que foi descrito estabelecido, foi possível começar a
organização da apresentação. Para tanto, foi preciso encontrar um lugar com
boa acústica, espaçoso, com internet, sem possibilidade de interrupção ou
barulho. O local escolhido foi o anfiteatro do prédio da agronomia do CAV
(caverna). Devido à pandemia não estavam ocorrendo aulas presenciais, o que
possibilitou o silêncio necessário.
No dia anterior à live, foi montado o cenário na caverna, e durante a
montagem, fizemos o teste de conexão, que foi muito importante, pois dessa
forma foi possível ter certeza que o local era adequado para a apresentação.
Caso não estivesse boa a conexão já estávamos com um plano B em mente.
Neste mesmo dia, foi realizado o enquadramento do cenário, com a fixação do
suporte do celular que iria transmitir. Por garantia, havia outro celular
conectado no Instagram, pois, se um desse erro teria outro para suprir (não foi
preciso usar o reserva, mas planos B são sempre úteis).
Com isso, percebeu-se que seria importante ter uma pessoa para
acompanhar a transmissão e resolver qualquer possível problema de
transmissão que pudesse ocorrer, o que até o momento não havia sido
pensado, incluindo mais uma pessoa para cuidar do som. Além disso, foi
gravada parte da apresentação para ver a sonorização (com e sem microfone),
pois estava sendo pensado em usar microfone, mas percebeu-se que não seria
preciso e nem viável, pois como havia apenas um microfone, seria preciso
compartilhar ele, e dependendo de quem estava falando causava microfonia.
Então como todas as pessoas que participaram falavam alto e a acústica era
boa, percebemos que o microfone não seria útil.
No dia da live, os participantes chegaram mais cedo (umas 2 horas
antes) para dar os retoques finais no cenário e se arrumar (maquiagem da
árvore e do solo e retoques nos figurinos da árvore). Depois, fez-se uma
passagem de fala para testar o figurino pronto e ver se nada iria cair. Neste
momento, percebeu-se que a copa da árvore estava se deslocando, então foi
preciso amarrá-la com uma linha na parte superior do cenário, no vídeo não
aparece, pois a copa da árvore é mais alta que a estrutura. Essa linha foi muito
útil, pois nos deu segurança de que a árvore não ficaria sem copa no meio da
apresentação.
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Além da live, em que o público assistiu o teatro ao vivo, o vídeo alcançou
75 visualizações no canal do YouTube “Dia Mundial do Solo SC”
(https://www.youtube.com/watch?v=nYjqavXVqDw), 189 acessos no
Instagram do programa de extensão Solo na Escola UDESC
(https://www.instagram.com/tv/CCB8DszJOgh/?utm_source=ig_web_copy_lin
k) e 163 acessos no Instagram do programa de Extensão Sustenta
(https://www.instagram.com/tv/CCB8FQBnYDh/?utm_source=ig_web_copy_li
nk).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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abordamos durante as visitas didáticas, além de poderem realizar atividades
com as tintas feitas de solo, que foram utilizadas na confecção do painel,
massinhas de modelar, que são desenvolvidas a partir dos solos, além de
realizarem atividades relacionadas a conservação da biodiversidade do solo.
Então percebe-se que, por meio da utilização de atividades lúdicas, o
público de modo geral acaba despertando um maior interesse em conhecer
mais sobre o assunto.
Destaca-se ainda que este teatro pode ser confeccionado por qualquer
pessoa, inclusive escolas podem utilizar essa ferramenta como forma de
desenvolver seus alunos tanto artisticamente como cientificamente, além da
linguística utilizada para escrever a peça, pois para que seja possível
reproduzi-lo é preciso que seja realizado uma pesquisa sobre os hábitos de
vida, e alimentares de cada organismo (personagem). Além de todo trabalho
que pode ser auxiliado por um professor de artes durante a construção do
cenário.
Sendo assim, esse trabalho pode ser abordado concomitantemente por
diferentes áreas da educação em prol da melhoria da educação em solos. Com
isso, destaca-se que é uma área que privilegia a atuação em conjunto, de
forma integrada, como a nova legislação educacional prevê.
Agradecemos à Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado
de Santa Catarina (FAPESC 2021 TR896), à UDESC, à Capes e Uniedu pelas
bolsas e à Klabin pelo financiamento.
5 REFERÊNCIAS
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MEENA, K.K.; SORTY, A.S.; BITLA, U.M.; CHOUDHARY, K.; GUPTA, P.;
PAREEK, A.; SINGH, D.P.; PRABHA, R.; SAHU, P.K.; GUPTA, V.K.; SINGH,
H.B.; KRISHANANI, K.K.; MINHAS, P.S. Abiotic stress responses and microbe-
mediated mitigation in plants: the omics strategies. Frontiers in Plant Science,
v. 8, p. 1-25, 2017.
SAHU, P.K.; SINGH, D.P.; PRABHA, R.; MEENA, K.K.; ABHILASH, P.C.
Connecting microbial capabilities with the soil and plant health: Options for
agricultural sustainability. Ecological Indicators, v. 105, p. 601–612, 2019.
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Autores e Autoras
ADRIANA APARECIDA RIBON
Pós-doutora em Ciência do Solo pela Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho UNESP-Campus de Jaboticabal (2011); Doutora
em Agronomia pela Universidade Estadual de Londrina -UEL (2003);
Mestra em Ciência do Solo pela Universidade Estadual Paulista Júlio de
Mesquita Filho (2000); Graduada em Engenharia Agronômica pela
Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP-
Campus de Jaboticabal-1997). Atualmente é professora efetiva
(Professora Adjunta Pós Doutor Nível I) na área de Ciências dos Solos
da Universidade Estadual de Goiás (UEG)-Câmpus Palmeiras de Goiás.
Professora Colaboradora do Curso de Pós Graduação em Ciência do
Solo na UNESP - Câmpus de Jaboticabal. Coordena o Grupo de ensino
em Pedologia e Desenvolvimento de Plantas e Educação em Solos para
todos. Desenvolve Projetos de pesquisa em EDUCAÇÃO EM SOLOS
no Ensino Básico e Superior. Coordena o Projeto de Extensão em
EDUCAÇÃO EM SOLOS PARA TODOS, PERFIS:SOLOS E POESIAS
E PERFIS DE SOLOS DIVERTIDOS. Foi Diretora do Câmpus de
Palmeiras de Goiás nos anos de 2018 e 2019 e Pró-Reitora de
Extensão e Assuntos Estudantis no período de 2020 e 2021.
LETICIA SEQUINATTO
Pós-Doutora na área de Física do Solo na Universidade Federal
de Santa Maria - UFMS (2011). Doutora Ciência do Solo pela
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS (2010).
Mestra em Ciência do Solo pela UFSM (2007). Graduada em
Agronomia pela UFSM (2004). Docente efetiva da Universidade
do Estado de Santa Catarina (UDESC), no Departamento de
Solos e Recursos Naturais, Centro de Ciências Agroveterinárias
(CAV - Lages, SC). Atua nos cursos de graduação em
Agronomia e Engenharia Florestal do CAV. É professora
permanente no programa de Pós-graduação em Ciência do Solo,
cursos de Mestrado e Doutorado. Tem experiência na área de
Agronomia, com ênfase em Ciência do Solo, atuando
principalmente nos temas: Pedologia, Qualidade do Solo e
Educação em Solos. Participa dos grupos de pesquisa CNPq
"Solos e Sustentabilidade" e "Manejo e Conservação de Solos
Subtropicais e de água". Coordena o Museu de Solos de Santa
Catarina e o Programa de Extensão Solo na Escola/UDESC.
Atualmente ocupa o cargo de Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-
Graduação da UDESC (Gestão 2020-2024).
Autores e Autoras
LYGIA DE OLIVEIRA RIBEIRO
Mestranda em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento
pela Universidade Estadual de Londrina - UEL; Especialista em
Ensino de Geografia e Meio Ambiente pela Faculdade Venda
Nova do Imigrante (2021); Licenciada em Geografia pela
Universidade Estadual do Norte do Paraná - UENP (2021).
Professora da Rede Municipal de Ensino de Santo Antônio da
Platina - PR. Tem experiência na área de Ensino de Geografia.
Atua principalmente nos seguintes temas: Geografia, Ensino de
Geografia, Ensino de temáticas físico-naturais e Educação em
Solos. É membro do Grupo de Estudos e Práticas de Ensino de
Geografia - GEPEGEO. Monitora do Projeto de Extensão Solo na
Escola UENP. Escritora de Livros Infantis que abordam o Solo.