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XIX - PLANEJAMENTO DE USO D S

TERRAS PARA FINS AGRÍCOLAS


Antonio Ramalho Filho 11

1
Embrc1pa aios, Rio de Janeiro, RJ . Consul tor indcpenJenh.'. E- m.iil : ar.i mal h f ii'~mJ1 l.cc,m.

Conteúdo

INTRODUÇÃO .............................................................................................. ... .. ... ... .......... . ...... _............. · · · · r>:!I


ZONEAMENTO E A VALIAÇÀO DO POTENCIAL AGRÍCOLA DAS TERRAS ....... . . ·-· ....... - ... - · .. b22
O zoneamento agroecológico .................................................................... _...........................--... - .. -- • -· •· h23
Avaliação da aptidão das terras para planejamento de u. o agrícola ................................. -· .. -· .. -··-··· h:!
Relação entre análi e de i temas integrados d produção, ava liação da aptidão e plane-jamt?nto de
uso das terras ........................................................................................... . ................. . ..... - . . .. . rr
Viabilidade de execução da ava liação da aptidão da terra , seu alcance e a phcabilidade ......._ ... . ... 2..
COt SIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................ . ... -··· ___ .. . c('O
AGRADECll'vlE 0 ............................................................................ .......................................- ...... - ... ··- . _ _ _ f>lO
LITERATURA C ITADA ........................................................................................... ................. --·-· -· ·--- .. ···· ,J

INTRODUÇÃO

Para se fom1ular um plano de uso de terras com fins agrícola , é nec ário co nhecer
o nível e o tipo de tratamento que estão sendo dado à área em que tão. L o porque ·a
áreas podem estar com vegetação nati a, muita constituindo parte da fronteira a<>Tí ola,
sendo utilizada com agricultura ou, ainda, podem estar abandonadas, ap · u ·o. Em área
remotas, como as da Amazônia, por exemplo, ainda majoritariam nte m \·eo ta ·ã
nativa, o planejamento de uso agrícola só fará entido e executado na área indicadas par 1
desenvolvimento, por um zoneamento ecológico- ocioeconômico (ZEE). e e mplementado
pelo zoneamento agroecológico (AEZ).
Em áreas com desenvolvimento J.á consolidado, o zoneamento a rroecol · oico de\ e
o o
ser imple mentado como ferramenta de planejamento, com base na avalia ·ão do p tencia l
agrícola das terras. VaJe lembrar que um ponto importante, para ·e de ·envoh·er qualque r
tipo de ferramenta de planejamento de uso das terr , é a exi tência de um b.1.nc de dados
completo, com informação técnica referente ao mai diferente- a- p to env lvid -.
ponto de partida para a formulação do planejamento para m a.:rríc la ~ a avalia -J, d
potencial das terras, embora não exi ta um orte claro entre e · ·e d i tema ·. qu ·J )

Be rto! 1, De Maria IC, Souza LS, editore . ~l.lnejo e con:,erva J do ~olo e d.:i <lgtiJ. \'i -0 , 1, \1 ,: 5'i..: ,~•J JJc
Brasileira de C i~ncia d o o lo; 2018.
622 ANTONIO RAMALHO FILHO

c mpl m ntar s. Quem qu r que esteja envoh ido na avaliação da aptidão das terra estará
en\' lvid no planejamento deu O de terras em níveis regional, de imóvel ou d e produção.

ZONEAMENTO E AVALIAÇÃO DO POTENCIAL


AGRÍCOLA DAS TERRAS

O objetivo do zonean1ento ecológico-socioeconômico é de assistir aos tomadores de


deci ão no desenvolvimento de programas, tendo como foco identificar áreas prioritárias
para proteção do ambiente e aquelas com grande potencial para uso econômico - como
a mineração e, especialmente, a agricultura, para produção de alimentos, fibras e
biocombu tível. Portanto, há necessidade de se envolverem diferentes áreas de governança,
notadamente aquelas que cuidam de políticas ambientais e econômicas para produção
agrícola.
O zoneamento ecológico-econômico tem caráter tático, social, jurídico e político, por
ser usualmente a base utilizada pelos governantes, em diferentes níveis, na definição de
programas e planos. Tem, portanto, como premissa, o desenvolvimento sustentável de uma
grande área ou região. Sendo esse zoneamento um instrumento para o desenvolvimento
de políticas de planejamento espacial, tem como principais objetivos proteger o ambiente
e orientar os potenciais condutores das atividades econômicas para levar em conta essa
premissa (Brasil, 2002). Esse zoneamento diferencia e define não apenas as zonas com base
no diagnóstico dos recursos naturais e socioeconômicos, como também criam cenários e
mostra direcionamento; no entanto, não avalia nem identifica a aptidão das terras para
usos específicos. Como esse é um instrumento para o desenvolvimento de políticas de
planejamento espacial, toma-se importante o diálogo com a população local ou com
pessoas que se proponham a utilizar as terras nessa região. Ênfase deve ser dada a áreas
prioritárias para proteção ambiental, como as de ecossistemas sensíveis ou aquelas com
notável diversidade biológica.
Uma vez completo o zoneamento, o segundo passo é identificar as atividades mais
adequadas para as áreas consideradas aptas quanto ao uso econômico. Para agricultura,
deve ser complementado pelo zoneamento agroecológico (ZAE), que tem um caráter
essencialmente técnico e operacional por basear-se em levantamentos de recursos naturais
(solo, geologia, litografia, vegetação, hidrografia, topografia, clima), bem como nos recursos
tecnológicos disponíveis. Esse zoneamento, sim, indica a mais adequada destinação das
terras em termos de uso em bases locais. Tem como ferramenta básica a avaliação da aptidão
das terras em diferentes níveis tecnológicos ou níveis de manejo, visando diagnosticar o
comportamento das terras em níveis operacionais diferentes (Ramalho Filho e Beek, 1995);
além d isso, formula ações que quebram a espiral descendente de produção que, em geral,
resuJta em d egradação ambiental.
o zoneamento agroecológico, executado com base na avaliação da aptidão das
terras, e n a avaliação da aptidão climática da área em questão, é, na prática, o primeiro
passo no sentido da sustenta~ilidade e, tamb~m, o ~eio eficiente para indic~r o us,? ~os
recursos n a turais em harmorua com a proteçao ambiental e a esh·utura soc10econom1ca
da área em questão. Esse tipo de zoneamento e o zoneamento ecológico-econômico serão,
de forma s ucinta, discutidos mais adiante. Uma ampla abordagem sobre esses dois tipos

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XIX - PLAN EJAM ENTO D E Uso DAS TER RAS PARA F INS AGR ( COLAS
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d e zonea mento complementares st;í dcscri tJ cm StrJpílsc;on et ai. (201 2)· Z AE' rnnis
dire tamente relacionado com o tema des te capitulo, e; rtí di scutido a s g uir com mais
dctc11 he.

O zoneamento agroecológico
O zoneamento c1groecol ógico (ZAE) te m como meta fornece r informação básic~ pa_ra
se empreenderem projetos de desenvolvimento no que conce rn e ao uso do te rntó no.
Ele apresenta alternati vas para tomadores de decisão, visando o uso adequ il do e
s us tentável das terras. Com tal propósito, inclui ati vida des de co leta de dados biofíc;icos,
e socioeconômicos, sistematizando-os e ,rnal isando-os, bem como to rn ando a informação
disponível para pessoas dos segmentos envol vidos no zonea mento e, consequentem nte,
no processo de planejamento de uso das terras. O zonea mento agroecológico é o resultado
do cruzamento de dois segmentos, o da avalic1ção da a ptid ão d as terras, como está de cri to
em Ramalho FiU10 e Beek (1995), e o da avaliação da ap tid ão cl imática e do ri co climc' tico,
como é definido por Sans et ai. (2001).
Essa modalidade de zoneamento deve ser entendi da com o co m plementar ao
zoneamento ecológico-econômico (ZEE). Em adição à informação fi ico-biótica, també m
incluem aspectos técnicos e socioeconômicos. Tal assertiva é particu larmente impo rtante
quando o planejamento des tina-se às áreas chamadas ' nova ', ou a inda não ocu pada com
atividades agropecuárias e silviculturais.
O termo "agro", aqui utilizado, tem sentido amplo para s ignifica r tod o o aspectos do
trato das terras, de plantas, dos animais e da floresta, de acordo com d iferentes propó itos
e circunstâncias. Em sentido mais restrito, o zoneamento agroecológico consiste em
espacializar o potencial das terras de uma região para determinada cu ltura ou produto,
como uma base para o planejamento do uso sus tentável das terras, em harmo nia com a
biodiversidade. Como tal, metodologicamente, apresenta uma estrutura o rganizada que
comporta um conjunto de regras com base nas necessidades ecofis io lógicas d a cu ltura
que são comparadas com a oferta ambiental, ou seja, com as condições do cl ima local e do
solos e suas relações com o ambiente.
O principal produto do ZAE é um controle, melhorado e be m planejad o, da
atividades agrícolas, no que se refere ao uso adequado dos recurso , por m eio de um
enfoque participativo.
O ZAE doravante será visto como poderosa ferramenta para suprir a base técnica
suportar as políticas públicas para promover as tomadas de decisão de cará ter p rivado
para o planejamento do uso sustentável das terras. Alguns benefícios im portante do ZAE
podem ser enfatizados:
- É um primeiro passo importante no sentido do uso sus tentável do recur o natu rai
uma vez que o zoneamento realizado com base nos preceitos d a ava liação d a aptidão da~
terras evidencia a potencialidade, a vulnerabilidade, bem como a dis ponibilidade de terras
aptas, es pacializadas por georreferenciamento, em níveis regional e local.
- O uso sustentável dos recursos, por meio do uso das terra , de aco rdo com a •ua
aptidão, incrementará a produtividade, com cus tos menore , e, consequentemente,
aumentará a competitividade no mercado.

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624 ANTONIO RAMALHO FILHO

- 1 ro\'cr informa õc~ bá icas para apoiar decisões relacionada ao planejamento das
terras, com en foqu.., eco! gico e ciocconômico em uma base sustentável.
. - uso c1ltcrna ti vo das terra e da .-1gua por produto e por região, sob a adoção de
diferente ní\'eis terno! gi os (ca pital intensivo-extensivo) atende à produção agrícola de
brga e pequena e cala.
. . - Dispor terreno para trabalho de pesquisa, assistência técnica e ex tensão para
diferentes empreendedores.
- Po ibilita o fortalecimento institucional e propicia o trabalho interdisciplinar.
Portanto, diferentes tipos de atributos ambientais e socioeconómicos d evem ser
considerad o em um zoneamento agroecológico. Aqueles atributos usados na avaliação
da aptidão das terras e da aptidão climática são componentes básicos para se chegar
ao zoneamento agroecológico. Uma vez concluído, o zoneamento agroecológico de
determinada área tem como propósito servir de base para nortear o planejamento
do uso agrícola das terras em bases sustentáveis, em conformidade com os preceitos
conservacionis tas.
Um exemplo de zoneamento agroecológico, realizado com procedimentos
metodológicos totalmente informatizados e com base em técnicas de georreferenciamento,
que levou em conta os aspectos aqui enfatizados, é o " Zoneamento Agroecológico da
cultura da palma de óleo (dendê) para as áreas desflorestadas da Amazônia", publicado
pela Embrapa (Ramalho Filho et ai., 2010) e feito utilizando dados de recursos naturais
contidos na base pedológica da Amazônia Legal - base digital em escala compatível com
a escala 1:250.000 (SIV AM, 2004).

Avaliação da aptidão das terras para planejamento de uso agrícola


A avaliação da aptidão das terras é um processo que estima o desempenho dessas
para usos alternativos, com melhoramentos menos ou mais intensivos de suas condições
agrícolas. Consiste na interpretação de levantamentos de solos, em que são descritas e
delinútadas as unidades de mapeamento. O melhoramento das condições das terras envolve
investimento e é razoavelmente permanente no que tange a medidas de conservação de
solo e água, drenagem, correção de acidez e fertiljzação etc.
Esse processo i.ncl ui:
1. Identificação e descrição dos diferentes tipos de uso relevantes indicados para a
área em estudo.
2. Reconhecimento e definição dos diferentes tipos de uso das terras que ocorrem na
área pesquisada.
3. Avaliação da aptidão dos diferentes tipos de terra para os tipos de uso agrícola
indicados para a área em estudo.

O s conceitos e procedimentos metodológicos são descritos em detalhe em Ramalho


Filho e Beek (1995) e em diversos trabalhos publicados pela FAO (1983, 1984, 1985) para
tipos especificas de uso - agricu ltura de sequeiro, silvicultura e reflorestamento, agricultura
irrigada e pastos, que fo rnecem base para esse processo.

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XIX - PLANEJJ\M ENTO DE Uso DA S T ERRAS PARA FIN S AGRÍCOLAS 6ZS

A ava liação dc1 a ptid ão das terras pa ra fin s el e uso c1grícola pocl s r r alizada tan to
pélrn tipos gern is el e uli lização (lílvouras, pélsto, sil vicultura, tí reas a erem preservadas)
como pma cu ltu rns es pecíficas, como milho, soja, cana-de-açúcar, café, palma-de-óleo.
Conforme a metodologia citc1da anterio rmen te, as terras são então avaliada em quí:ltro
classes de ap tidão, segund o a intensidade de suéls limi tações: Boa, Regu lar, Restrita ou
Marginal e Inapta. Essas classes são estabelecidas de aco rdo com o g rau de inlensidad
com que o fator de limitação interfere as condições das terras sob dois o u mais nív is
tecnológicos. Atua lmente, têm sido uséldos os níveis B e C (méd ia e a lta tecno logia,
respectivélmente), conforme Ramalho Filho e Beek (1995).
Na ava liação da ap tidão das terras, é estabelecido um conjunto de regras que
re presenta as necessidades ecofisiológicas da cul tu ra em relação a cinco fa tores limi tativos:
Deficiência de Fertilidade; Deficiência de Água; Excesso de Água, incluindo riscos de
inundação; Susceptibilidade à Erosão; e Impedimentos à Mecanização. O utros fatores
limita ntes podem ser utili zados na ava liação, dependend o das características fisiográfica
d a á rea, e desde que exista m dados suficientes para estabelecer e parametrizar os graus de
delimitação: Nulo, Ligeiro, Moderado, Forte e Muito Forte. Obtém-se a ela se de aptidão
pela comparação dos graus de limitação das condições das terras com as neces idade da
culturas ou tipos de utilização; ou seja, condições das terras versus necessidades da cultura
ou produto. Essa forma de avaliar o potencial das terras segue os critér ios e procedimentos
d escritos no Sistema de Avaliação da Aptidão das Terras (Ra malho Filho e Beek, 1995).

Relação entre análise de sistemas integrados de produção, avaliação da aptidão


e planejamento de uso das terras
Uma análise sobre a avaliação da aptidão de terras, assim como de sis tema
integrados de produção (fnnning syste111s), pode ser vista como uma atividade básica para o
planejamento de uso agrícola. Como blocos de constru ção, ela faz parte dos procedimen to
para o planejamento de uso agrícola das terras. A FAO (1990) apresen tou um procedimento
geral muito pertinente para alicerçar o planejamento de uso de terras e que demonstra bem
essa relação que é visualizada na figura 1.

Reconhecimento da
necessidade de mudanças

Avaliação da aptidão
Estabelecimento de objetivos das terras
Plano de uso das terras,
implicações políticas e
Completa análise _ _ _ Análise dos Sistemas necessidade de futuros
socioeconômica Integrados de Produção estudos

Figura 1. Procedimento geral para planeja me nto de uso das terras.

A ope~·acio nalidade do proces~o de ava liação da ap_tidão d a terras, de forma integral,


para plm:eiam ento de uso s~stentavel das terras com fms agrícolas, depende de critério
e procedimentos que lhes s irvam de suporte. Para tal, existem alguns pa O a erem
observados:

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626 ANTONIO RAMALHO FILHO

. o agrí ola em conformidade com a aptidão das terras de cada área a se r <1gricu 1ta da .
m eio a a\'aliação da aptidão de cada unidade de olo mapeado na área . O resultado é
a indicação do tipo deu o adequados ao local.
. - _E scolha de cultura climaticamente adaptadas. O meio é a avaliação da aptidão
chmáhca e do risco climático atribuído à área, bem como da determinação da época de
plantio de cada cultura - zoneamento climático. O resultado é a diminuição d e riscos na
produção. E se aspecto é particularmente importante para o pequeno agricultor, o qual,
normalmente, tem aversão ao risco, ou seja, não tem capacidade para suportar riscos.
- Aju te de tecnologias com o perfil do agricultor e economicidade. A agricultura
uma atividade sofi~ticada e cara, já que procura garantir, na medida do possível, alta
p~o~uti\'idade e retorno econômico. Há alguns meios para se c01úeri.r economicidade à
ahvidade agrícola, entre esses: avaliação socioeconôm.ica para se identificarem os principais
sistema de produção da área onde o agricultor vai operar e, dessa forma, possibilitar a
indicação de práticas agrícolas adequadas a cada caso; agricultura de precisão; e uso de
culturas certificadas e adaptadas climaticamente. Trata-se de uma avaliação integral da
aptidão das terras em que se leva em conta não somente o solo e a água, mas também os
sistemas de produção domjnantes na área planejada. Há um procedimento metodológico
para essa avaliação integral em Ramalho Filho (1992). O resultado é o maior retorno da
atividade, com economia de recursos, e em harmonia com o ambiente e, portanto, c01n
ganhos ambientais.
- Aspectos sociopolíticos (sustentabilidade social), que dependem de políticas agrárias
governamentais e do esforço comunitário dos agricultores; portanto, fora do alcance do
agricuJtor, individualmente. Os meios recomendados para cumprir esse passo são: a
adoção da rnicrobacia como unidade de planejamento. Um agricultor não pode adotar
merudas que protejam as suas terras em detrimento de vizinhos, pri.ncipaJmente a jusante;
adequação funruária; cadastro técnko, cooperativismo; assistência técnica e crédito
facilitado. O resultado é uma produção agrícola com sustentabilidade ambiental, social e
económica.
Essa abordagem, levando em conta diferentes níveis de manejo/ tecnológicos, está mais
focada na avaliação da aptidão de terras e na sustentabilidade da atividade agronômica
para os diversos níveis geográfico, regionaJ, de microbacia e do imóvel agrícola. Esse
procedimento visa ruagnosticar práticas agrícolas, que estejam ao alcance do agricultor,
operando em pequena ou grande escala. Essas duas escalas de produção têm, em comum,
o agronegócio como premissa.
O Sistema de Avaliação da Aptidão das Terras (Ramalho Filho e Beek, 1995) é um
desenvolvimento em nível de país que segue a filosofia da metodologia da FAO- Fra111ework
for Land Evnluntion (FAO, 1976), que se configura como uma estrutura geral adaptável
em cada país ou região. Por isso, foi chamado de 'FAO brasileiro' por Resende (1983). O
método de avaliação do potencial de terras mencionado anteriormente (Ramalho Filho e
Beek, 1995) é preconizado e utilizado pela Embrapa para interpretar levantamentos de solo
no Brasil, em diversos níveis categóricos. Foi também usado para analisar os levantamentos
de solos executados pelo Radambrasil e, experimentalmente, na Colômbia (Zandonadi et
ai., 1980). Em decorrência de seu dinamismo, ao considerar mais de um nível de manejo,
e de seu caráter mais técnico-cientifico, é exigido nas especificações técnicas de projetos
licitados pelos órgãos públicos federais para desenvolvimento agrícola.

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XI X - PLAN EJAME l'ITO DE Uso DAS T ERRAS PARA FINS AGRÍCO LAS 627

O desenvo lvimento desse métod o partiu da base desenvo lvid a para avalia r a _aptidão
de solos no Bras il, por Bennema et a i. (l965), e os fundam en tos teóricos des nvolv1dos por
0

Beek (1978). Essa experiência desenvolvida no Bras il foi ma is ta rde aproveitada p la FAO
pa ra a m plia r e pu blica r a estrutu ra gera l de avaliação da a ptid ão das te rras (FAO, ·1 76).
Então, na ve rd ade, não seri a esse método d e avaliação o FAO brasi leiro e, sim, a estrutura
d a FAO é que seri a FAO brasileira.
Em confo rmid ade com a filosofia da FAO (] 976), as classi fi cações técn ica como a
ava liação d a ap tidão de terras e a classificação da ca pacidade de uso das terras (Ramalho
Filho e Beek, 1995; Lepsch et ai., 2015), ou seja, as que classifica m o potencial de terra ,
d evem basea r-se em levantamentos e mapeamentos de solos. Essa assertiva assegura que
os resultad os de análise de dados de a mostra de so los, de determjnado local do imóve l
o u g leba, possam ser correlacionados e extra polados pa ra toda a superfície do poügono
referente àquele tipo de solo, assim como permi te ainda replicar as indicações de uso para
o utros polígonos referentes àq uela mesma unidade de solo/ unidade de mapeamento
e a mbiente. Isso confere representativ idade geográ fi ca das conclusões do estudo e da
econo mia de tempo na amostragem.
Esse p rocedimento cons titui um req uisito básico para o planejamento de uso de um
imóvel rural ou de uma grande área estudada.
O planejamento de uso das terras inclui um elenco de atividades em diferentes temas.
Nesse conjunto de temas, para se separarem os d iferentes tipos de solos ou paisagens da
área ou do imóvel, podem ser incluídos: o levantamento-mapea men to (Embrapa, 1995), a
classificação (Santos et ai., 2013) e a avaliação do po tenciitl das te rras e a indicação do uso
mais adequado a cada un idade ma peada o u gleba e, sobre tudo, a indicação das prática
agrícolas ou de manejo com diferentes níveis de tecnologia, em conformidade com a clilsse
d e aptidão de cada urudade de terra. Essa classe depende do gra u e tipo de limitação e
da ca pacidade técnica e financeira do agricultor, bem como de seus anseios em termos de
retorno esperado do uso do imóvel.
A definição desse contexto em que o agricultor opera, q ue constitui os sistemas
integrados de produção (janning systems), depende da observação sobre di ersos temas
que são os atributos desses sistemas integrados. Podem ser adotados os seguintes atribu tos
socioeconômicos:
- Tam anho do imóvel (grande, médio, pequeno).
- Uso a tua l (lavouras temporárias ou perenes, pasto plantado/ melhorado, ilvicu ltura
e, ou, refl o restamento; terras ociosas ou em pousio; e culturas com característica
ecofisiológicas especiais).
- Tipo de tração (a nin1al, mecânica).
- Prá ticas de manejo (calagem/ adubação, drenagem, conservação de solos).
- Dis tância do mercado (grande, média, pequena) .
- Orientação de mercado (subsistência, comercial, combinada).
Critérios, parâ metros e procedimento me todológicos, bem como a forma de
classificar esses atributos e a combinação d eles para se categorizarem os di er os sistema
d e prod ução, podem ser consultados em Ramalho Fi lho (1992), o q ual trouxe também
fo rmas de agrupar os agricultores em diferentes sistemas integrados de produção para

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ANTONIO RAMALHO FILHO

se efetuar a ~valiação da aptidão integral _ fí irn e socioeconômica da área ou do imó~el.


E s~ pr cedimento pode ser aplicado para um agricultor individualmente, ou para vános
agricultores de determinada área, os quais podem ser agrupados em sistemas integrados
d pr dução comun , por meio de uma análise de c/11stcr, usando-se pacotes estatísticos.
. ~ritéri , parâmetro e procedimento metodológico para a avaliação tradicional da
aphdao da terra ão os enunciados em Ramalho Filho e Beek (1995), que podem sofrer
adap~aÇe em cada contexto especifico como o socioeconômico. O ponto visto como
posi~, 0 des~e m étodo - avaliação da aptidão das terras - reside no fato de possibilitar
ª'aliara aphdão de te1Tas em diferentes níveis tecnológicos ou de manejo, e enquadrando
a terras em diferentes classes de aptidão. Dessa forma , diagnostica-se o comportamento
das terras em diferentes níveis operacionais em escala de agricultura de pequena a grande.
Esse aspecto é particularmente importante no contexto da agricultura de países tropicais
em desenvoh imento, onde a agricultura h·adicional pouco desenvolvida e a agricultura
altamente tecnificada, com adoção de técnicas sofisticadas, convivem lado a lado. Uma
'antagem desse procedimento é evidenciar não somente a utilidade de inclusão de análises
socioeconôrnicas mencionadas nos sistemas de avaliação de potencial das terras citados,
mas apresentar também como essas se interagem.
O Sistema de Avaliação da Aptidão das Terras analisa o potencial das terras sob
diferentes níveis de aplicação de tecnologia agrícola e de capital. O método considera três
níveis de manejo - A, B e C -, ou seja, diferentes formas de gestão do uso agrícola. O
primeiro (A) está em desuso pelo seu obsoletismo, por não prever o uso de tecnologia para
manejo, meU1oramento e conservação das terras e das lavouras; o segundo caracteriza-se
por wna aplicação média de capital e modesto uso de insumos e tecnologias; e, o terceiro,
por alto aporte de capital e tecnologias no tratamento das terras. São gerados, portanto,
mapas distintos e equivalentes aos níveis de manejo adotados.
Os graus de limitação são atribuídos às terras, de acordo com a sua capacidade
presumível de suportar wna cultura, após o emprego de práticas de melhoramento
compatíveis com os níveis de manejo. Esses níveis de manejo são os descritos no
método (Rarnalllo Filllo e Beek, 1995), embora todos os três níveis não tenham que ser
necessariamente adotados na avaliação de determinada área de estudo. Observou-se o
fato de que a irrigação não está incluída entre tais práticas nesse método. É considerada,
portanto, a viabilidade de meThoramento das condições agrícolas das terras em condições
de sequeiro.

Viabilidade de execução da avaliação da aptidão das terras, seu alcance e


aplicabilidade
Ao se desenvolver uma avaliação da aptidão em sua plenitude, a terra deve ser vista
por meio de seus vários atributos em um dado contexto socioeconómico e não apenas, por
exemplo, do solo, uma vez que o seu desempenho é basicamente o resultado da interação
de suas condjções físico-bióticas, do manejo e da necessidade das plantas. Daí a necessidade
de se fazer distinção entre solo e terra, que tem um conceito muito mais amplo em que se
inclui o próprio solo, conforme é apresentado em FAO (1976).
Do ponto de vista físico, a avaliação da aptidão das terras é obtida por meio da
interpretação de levantamentos de solos, envolvendo atributos morfológicos, composição
física (análise granulométrica, densidade do solo etc.), composição química (fertilidade,

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XIX - PLANEJAMENTO DE Uso DAS TERRAS PARA FINS AGRÍCOLAS
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acidez e sa linidade), profundidade, permeabili dad e, d re na ge m, pedregosid~de,


rochos idade etc. e informação sobre outros recursos na turéli , no tadamente clima,
hidrogrnfia, topografia e outros fatores do meio ambiente. No entanto, esses levél ntam ntos
de solos, que deveriam ser realizados em conformidade com o q ue é estc1belecido pel,,
Embrapa (1995), pelo IBGE (2015) e por San tos et ai. (201 3), nem sempre ex is tem na
área onde se pretende planejar o adequado uso das terras, alé m de e re m n~ rma lme nte
realizados em nível categórico, generalizado demais para se rem úteis ao planejamento em
nível de projetos de desenvolvimento agrícola e de imóveis rura is. Levantam_en~os ?e solos
em níveis mais detalhados deveriam ser realizados, sobretudo, em á reas prioritá ri as para
desenvolvimento agrário e em áreas já destinadas para planejamento de projetos agrícolas.
As principais razões da inexistência desses levantamentos são o seu cus to; a fa lta
de pedólogos para atender a todas as demandas; o tempo rela ti va me nte longo para
serem executados; e, sobretudo, a falta de uma política de planejamento em longo prazo
das instituições que tratam do setor agrícolél . Os leva ntamentos de solos não são ma is
realizados de forma sistemática, pelo menos em áreas prioritárias para desen volvimento,
para que os dados estejam disponiveis quando necessários para planejar o uso de
determinada área. Por esses motivos, são muitas vezes s ubs tituídos pelos chamados
'levantamentos utilitários', descritos por Lepsch et aJ. (2015). É importante que os
levantamentos, que se têm precisão, devam ser realizados em tempo, para que estejam
disponíveis quando houver necessidade.
No que concerne às avaliações do potencial de terras, um aspecto que deve serobservado
é o seu caráter transitório, ou seja, a curta validade dos seus resultados, na medida em
que novas tecnologias e mudanças socioeconômicas surgem a todo o momento. Portanto,
reinterpretações de levantamentos de recursos naturais e análises socioeconômicas devem
ser realizadas periodicamente. Por esse fato, há necessidade de se rever o conjunto de
regras usado em cada trabalho de avaliação da aptidão das terras já realizado há mais de
10 anos pelo menos, ou seja, rever os graus de limitação que servem para comparar com
os graus de limitação atribuídos a cada unidade de solo. esse sentido, recomendam-se
também uma revisão e uma reedição da versão atual do Sistema de Avaliação da Aptidão
das Terras (Ramalho Filho & Beek), mantendo-se como base a edição atual, que vem
cumprindo os objetivos para os quais foram desenvolvidos e são ordinariamente adotado
na interpretação de levantamentos de solos no país.
Um problema que sempre é observado é a falta de uso de uma li_nguagem técnico-
científica mais acessível ao usuário não especialista. A comunicação deve ser mai fácil e
acessível para que a informação gerada seja bem compreendida pelo extensionista e pelo
usuário comum. Vale lembrar uma frase dita pelo professor Cline, da Univers idade de
Cornell: "o pedólogo deveria ver o solo como o agricultor o vê".
O cresci mento crescente e acelerado da etnopedologia (Alves e !arques, 2005;
Araújo et ai., 2013) bem que poderia ser de grande valia na superação dessas lacunas de
comunicação nos diferentes níveis.
Note-se que este capítul? inclui aspectos sociais e econômicos na avaliação da aptidão
de terras. Esse enfoque reside no fato de tratar-se de planejamento do uso de terras
para usos diversificados, que são conduzidos por agricultores com diferentes ní eis de
conheciment~ t~cnico,_c ~ltural e econômico, e com diferentes anseios em regiões geográficas
com carac ten s t1cas d1stmtas. Assume-se que o usuário final e püncipal na cadeia de
conhecimento é o agricultor, o qual deveria, por esse fato, participar de todas as fase do

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


630 ANTONIO RAMALHO FILHO

plan jamento. A agricultor cabe tomar a. decisões locais e determinar prioridades e ntre
ª diferente_ at hidade prop stas no planejamento, por mais importantes qu e essas sejam .
. Yeja-se o que obsen·ou J. P. Singh (1974) : "fora. teiros e especialis tas deveriam_apenas
delmcar ;1ltematfras para o uso das terras; a decUio final deve ser prerrogat iva dos
agricul tores beneficiários" .

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tecnicamente, entende-se que o uso das terras para fins agrícolas, para ser praticado
de forma adequada e sustentável tem como base o planejamento, o qual é realizado
utilizando-se base de dados sobre os recursos da área a ser utilizada para agricultura
(_olo, geologia, litografia, vegetação, hidrografia, topografia, clima). A integração destes
indicadore bem como dos recursos tecnológicos disponíveis conduzirão à formulação do
zoneamento agroecológico (ZAE).
Essa base de informação é obtida por levantamentos que são, consequentemente,
interpretados para possibilitar a avaliação do potencial das terras que, associada a
avaliação do risco climático, constitui ferramenta básica para formulação do zoneamento
agroecológico. A avaliação da aptidão das terras sob diversos níveis tecnológicos ou níveis
de manejo visa diagnosticar o comportamento das terras em níveis operacionais diferentes
(Ramalho Filho e Beek, 1995).
Este procedimento, recomendado para o trato cultural das terras para diferentes
tipos de uso agrícola, é o primeiro passo no sentido da sustentabilidade do sistema, assim
como o meio eficiente para usar o recurso terra em harmonia com a proteção an1biental
e com a estrutura socioeconómica da área em questão. Não obstante a sustentabilidade
do sistema produtivo deva ser a pedra de toque, a referência, deve ser observado que os
nutrientes retirados com as coll1eitas precisam ser repostos no solo; ou seja, agricultura não
é mineração.

A questão socioeconómica a ser integrada ao planejamento de uso das terras pode ser
tratada metodologicamente por meio do estudo e categorização dos principais sistemas
integrados de produção praticados na área sendo planejada. Este aspecto integrado à
a valiação da aptidão física das terras conduz a uma avaliação integral do potencial das
terras. A escala dos levantamentos dos estudos básicos deve ser previamente observada.

AGRADECIMENTO

Expresso meu reconhecimento à Prof'. Ivana Quintão de Andrad e, pela valiosa


colaboração em relação à revisão ortográfica do texto.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XI X - P L/\NEJ/\MENTO DE Uso DAS TERRAS PARA FINS AGRÍCOLAS 6) l

L I TERATURA CITAD

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MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁG UA


632
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MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO
CONSERV ACIONISTA DO USO DO SOLO
EM PROPRIEDADES AGRÍCOLAS

Igo Fernando Lepschl/

11 Ins tituto Agronô mico de Campinas, Centro de Pesquisa e Desen volvimen to de Solos e Recu r,;os A.mbienla.1s,
Campinas, SP. Pesquisador Visitante, Universidade d e São Paulo, Escola Su perior de Agricu ltura "Luiz de
Queiroz", Piracicaba, SP. E-mail: igo.lepsch@yahoo.com .br

Conteúdo

INTRODUÇÃO········································································································································-····-··-············ 63~
PRfMEIROS CONTATOS COM O PROPRIETÁRIO DA TERRA ........................................................ ·-················ 635
VlSTORJAS PARA ELABORAÇÃO DE UM PLANEJAtvfENTO ..................................................... - ................ 635
INTERPRETAÇÃO DO LEV ANT AtvfENTO DO tvfEIO FÍSICO ...................................................... ·-·····-············· 637
ELABORAÇÃO DO PLANEJA IENTO PROPRlAMENTE DITO ··························································-············· 6-+0
CO SrDERAÇÕES FINAIS ......................................................... .................................................. .............. ·-·············· 6-+1
AGRADECINlENTOS..................................................................................................................................................... 6-+3
LITERATURA CITADA ................. .. ........................................................................................... .................... ·--· ........ 6-+ ~

INTRODUÇÃO

As atividades agrícolas têm modificado substancialmente o ambiente das proprieda d


rurais, favorecendo proliferação de algumas espécies, degradando outras e modificando
ex pressivamente os habitats antropizados. Historicamente, à medida que as ati idad e
da população humana foram se intensificando, para atender à crescente dema nda de
a limentos, fibras e combustíveis, verificaram-se o rápido declínio de muitas espécie d e
vida animal e vegetal e o cultivo de muitas terras an tes sob condições de habitat na tural
. Isso, muitas vezes, causou irreversível desgaste das terras, provocado principalmente
pela erosão induzida de seus solos. Porém, uma nova compreen ão sobre a ecologia do
impactos d a agricultura, em vários níveis, pode fa zer com q ue o istema de p rod u ão
sejam planejados para produzirem alimentos de qualidade, em uma conv ivê ncia sau dável
com a biod iversidade para evitar a degradação das ten-as (V arren et ai., 200 ") . As terra ,
e seu solos, são recursos Linütados, não renováveis na escala de tempo dos huma no ·, e 0
cons tante crescimento da população humana tem gerado uma série de conflitos em tomo

13e rtol I, De t\ilaria IC, Souza LS, editores. lancjo e conservilçJo d o so lo e d.:i j 0'l.la. iços.1, :-. te : -iL><l.iJc
Brasile ira d e C iê ncia do Solo; 2018.
634 lGO FERNANDO LEPSCH

d u apro eitament . p ar de exi tirem muito conflitos que induzem á rias formas
de de rada ào da terra , um intere e maior deve ser dedicado à erosão induzida do solo
quando é ubmetido à agricultura.

teITa agricultada são potencialm nte ameaçadas quando não estão protegidas
con_tra a erosão do olo. A deterioração, não apenas dessas terras, mas também das florestas
nah\ a , dos campos d pastagens naturais e das áreas urbanizadas, evidencia apenas urna
fra ão da tri te hi t: ria da erosão. Carregadas pela água ou pelo vento, as partículas do
ola da área erodida ão, posteriormente, depositadas em outros locais, em tomo de
áreas de baixa altitude na paisagem ou em mananciais de água, próximas ou distantes das
terras erorudas - até me mo em outros continentes. A consideráveis distâncias, a jusante
ou a sotavento, o edimentos e as poeiras causam grandes impactos na poluição da água e
do ar, gerando tan1bém elevados prejuízos econômicos e grandes custos para a sociedade.
Felizmente, muito se tem aprendido sobre os mecanismos da erosão, e algumas técnicas têm
sido desenvolvidas para controlar, de forma efetiva e com baixo custo, as perdas de solo na
maioria das situações (Brad e Weil, 2013).
Para que haja um devido controle das perdas de solo pela erosão, é necessário harmonizar
os ruversos tipos de terras com uma agricultura praticada de forma mais racional possível, a
fim de otimizar urna produção sustentável, satisfazer as diversas necessidades da sociedade
e, ao mesmo tempo, conservar os recursos genéticos e os solos dos quais dependem.
Essa harmonização, dos tipos de terras com os tipos de uso, só é possível com adequado
planejamento do uso com base na avaliação sistemática do potencial das terras, das alternativas
de seu aproveitamento agrícola e das conruções econômicas e sociais que orientam a seleção
e adoção das melhores opções (FAO, 1976). O planejamento do uso da terra pode ser feito
em diferentes níveis: nacional, regional ou local. Pode também enfatizar diferentes aspectos:
econômicos, sociais ou conservacionistas. Diferentes tipos de decisão devem ser tomados
em cada um desses níveis, em que os métodos de planejamento e os tipos de planos também
diferem. Em cada nível, há necessidade de diferente estratégia de planejamento do uso da
terra, de acordo com políticas que indiquem as prioridades de projetos que abordem essas
prioridades e de um planejamento operacional para iniciar os trabalhos a serem executados.
este capítulo, serão abordados planejamentos em nível local - propriedades agrícolas -
enfatizando as práticas necessárias para controlar a erosão induzida, que comumente ocorre
em solos submetidos à agricultura (FAO, 1976).Tais projetos, do uso do solo para fins agrícolas,
II
costumam ser denominados de planejamentos conservacionistas".
Como planejamento conservacionista, entende-se a organização e espacialização
das atividades, bem como a programação de um conjunto de recomendações e práticas,
economicamente exequíveis e compatíveis com a capacidade de uso da terra, a ser seguido
na exploração de uma propriedade agrícola. Nesse contexto, atenção maior é dedicada
à especificação das práticas conservacionístas mais adequadas para a proteção e, ou,
melhoria dos recursos naturais: solo, água e vegetação.
Em qualquer empreendimento humano, é necessário um planejamento prévio,
considerando-se uma sequência lógica de etapas: coleta de dados factuais necessários;
análise desses dados; tomada de decisões; e avaliação dos resultados. Contudo, muitas
II
vezes, decisões sobre o uso da terra e as práticas de manejo na agricultura são tomadas às
pressas", com explorações agrícolas iniciando-se sem coleta de dados em um levantamento
do meio físico, estudo piloto ou abordagem planejada do uso da terra (Hudson, 1971).
Consequências maléficas podem advir dessas atitudes improvisadas; como principais

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO CONSERVACIONISTA DO Uso D O SO LO EM . .. 635

são as pe rdas de solo e él poluição cios cursos d'águél pela cros5o induzida d o solo. Com
um p lélnejélmento conservacioni sta, serão poss íveis identifica r as terras que estão ·endo
excessivamente erodidas, selecionar os tipos ele culti vo de aco rdo com os tipos de solo e
recomendar as práticas que red uzam à erosão em níveis toleráve is.
Várias etapas são necessárias para elabo rar os planejamentos conservacionic;tas, desde
os primeiros contatos com os proprietários agrícolas até a apresentação final do plano, com
os mapas e memoriais descritivos.

PRIMEIROS CONTATOS COM O PROPRIET Á RIO


DA TERRA

É importante lembrar que o plélnejamento conservacionista não é compulsóri o.


Portan to, para que o proprietário do terreno se convença da necessidade de um plano
de conservação, ele precisa ter certeza de que o projeto é financeiramente viável e
agricultura men te praticável. Assim, um bom trabalho de convencimento é essencial, e isso
d eve ser feito por éllguém treinado em técnicas de extensão rural. Tal contato, em conve rsas
pessoais, ou em reuniões comunitárias, poderá fazer com q ue fazendeiros visualizem os
benefícios do planejamento e, enfim, o aceitem. Esquemas diferentes de divulgação das
van tagens do planejamento podem ser elaborados para diferentes tipos de propriedades
agrícolas; desde as grandes empresas, como as do setor de álcool açucareiro e agroflorestal
para produção de celulose até as pequenas propriedades onde a agricultura fam iliar é
praticada. Durante o primeiro contato com o proprietário - o u representante da grande
empresa -, é necessário perceber o que realmente ele deseja, discutindo se seus a tuais
sistemas agrícolas são compatíveis com as práticas conservacionistas mais adequada .
Caso esses não sejam, é necessário verificar se há o desejo e a capacidade de adotar as
mudanças necessárias para compatibilizar as práticas agrícolas atuais com os princípios da
conservação do solo.
Há que considerar também que p lanejamen tos conservacionistas elaborados com
mapas, m emoriais descritivos etc. - recomendando práticas mecânicas de conservação
do solo como terraços-, só são aplicáveis a agricultores capacitados a utilizarem práticas
de m a nejo desenvolvido; isto é, àqueles q ue utilizam prá ticas agrícolas que refletem
a lto nível tecnológico caracterizado pela aplicação intensiva de capital e res ultado
d e pesquisa para manejo agrícola da terra. As práticas de conservação do olo para
agricultores que util izam níveis tecnológicos menos desenvolvidos normalmente podem
ser planejadas com comunicação verbal em visitas periódicas às pequ enas propriedad es
agrícolas, por ex tens ionistas.

VISTORIAS PARA ELABORAÇÃO DE UM


PLANEJAMENTO

Q ua lq uer plano de conservação do solo requer a realização de is torias das


propriedades agrícolas, as quais podem variar em seus detalhes, s ua comple, idade e

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


636
lGO FERNANDO LEPSCH

ua nec 5 idade de mapa de levantamento do meio físico e das anotações sobre meio
ec nomico e ocial.

Em relação ao meio físico, há necessidade de levantamento de solos e uso atual


da tena , além de outro aspectos diversos, como caminhos, benfeitorias, situação das
aguadas~ cond~ç_ões climáticas, sistemas de manejo do solo, entre outros. Além disso, é
nece_ sáno 'enficar se não existem resh·ições de uso da terra em razão da legislação
ambiental e dos problemas de poluição ambiental. Denh·e esses requisitos, destacrun-se os
mapas de levantamento do meio físico e os deles derivados, relacionados à capacidade de
uso da terras.

Mais frequentemente, há necessidade de um levantamento do meio físico em escala


~propriada que documente os diversos tipos de solos, incluindo o grau de erosão acelerada
Já presente, aos atributos do perfil e da superfície do solo; esta última normalmente é
apresentada na forma de classes de declividade. Normalmente, uma escala 1:10 000 é
a i~eal; entretanto, pequenas propriedades familiares (até 100-200 ha) requerem escalas
maiores (p. ex.: 1:5 000); e propriedades muito extensas (maiores que 200 ha), escalas
menores (p. ex.: 1:20 000). No passado, a maioria desses mapas de propriedades agrícolas
era produzida no campo, com lápis de cor. Hoje, esses estão cada vez mais informatizados,
usando Sistema de Informação Geográfica (SIG), assin1 como bancos de dados.
No levantamento do meio físico, além dos aspectos externos da terra, como relevo,
erosão e vegetação, também devem ser descritos, detalhadamente, os atributos mais
importantes do perfil do solo. Nele, os atributos e condições da terra são identificadas,
discriminadas, quantificadas, interpretadas e representadas em mapas que deverão ser
acompanhados de um relatório que se configura num memorial técnico-descritivo que
relata, em linguagem acessível ao produtor rural, os resultados do levantamento. Portanto,
é um inventário que envolve revisão de literatura, descrição de métodos de trabalho,
observações no campo (incluindo indagações aos agricultores), análises, em laboratório,
de amostras de solo e de dados climáticos e, principalmente, descrição e interpretação das
unidades de mapeamento identificadas nos levantamentos do meio físico.
O levantamento pedológico detalhado, efetuado em nível de séries de solos
constitui, assim, a situação ideal, que permitiria a representação de todas as importantes
variações da terra, em um mapa de grande escala. Contudo, as séries de solo ainda não
foram definitivamente conceituadas pelo Sistema Brasileiro de Classificação de Solos -
SiBCS (Santos et ai., 2013a), e raras são as áreas do Brasil que dispõem de levantamentos
pedológicos em níveis taxonômico e cartográfico compatíveis com a escaJa 1:50 000, ou
maior. O SiBCS, bem como os manuais técnicos de levantamento de solos (IBGE, 2007) e os
manuais de descrição de solos no campo (Santos et ai., 2013b), carece de normas e convenções
compatíveis com os mapas pedológicos de grande escala. Isso provavelmente porque o
SiBCS e esses manuais foram, em princípio, motivados pela necessidade decorrente de
efetuar levantamentos pedológicos em níveis exploratório e de reconhecimento, nos vários
estados brasileiros, sempre em escalas relativamente pequenas (Lepsch, 2013).
Em face dessa situação, e como no Brasil nem sempre é possível obter e, ou, executar
levantamentos pedológicos detalhados, estão previstas normas para a execução de um
levantamento mais simplificado, de caráter operacional, detalhado e voltado principalmente
ao estabelecimento da capacidade de uso das terras, visando o planejamento de propriedades
aQTícolas. Tal levantamento poderá ser executado dentro das possibilidades de recursos de
p~ofissionais conservacionistas com formação em engenharia agronômica (e outras áreas

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO CONSERVACIONISTA DO Uso DO SOLO EM ... 637

afins), depois de qualificados em cursos especiais. É o qu e se denomina "leva ntamen to


utilitário cio meio fís ico", que tem como princip<1is características a grand e e c~la de
trabalho (maior que 1:20 000) e o uso de legendas codificadas (també m de nominadas
"fórmulas") para detalhada identificação dos tipos de perfis de solo, dec li v idade e er?sã_o
dominantes nas unidades de mapeamento. Um manual que élpresenta norm as com pative i
com levantamentos detalhados do meio fís ico foi publicado pela Sociedad e Brasileira de
Ciência do Solo (Lepsch et ai., 2015)

INTERPRETAÇÃO DO LEVANTAMENTO DO
MEIO FÍSICO

Depois de executado o levantamento do meio físico, deve-se interpretá-lo por meio


de um sistema de classificação técnica. A interpretação do levantamento do m eio físico,
para aplicações práticas, consiste na previsão do seu comportamento, que é estabe lecida
a partir da reunião, reorganização e apresentação de informações disponíveis sobre solos
previamente mapeados e classificados, num levantamento de solos. Essas aplicações são,
em geral, dirigidas à solução de problemas e referem-se principalmente a questões deu o,
manejo e conservação dos solos (Steele, 1967). Para fins do planejamento das prá ticas de
conservação do solo, o sistema mais empregado é o de" capacidade de uso das terras".
O sistema de capacidade de uso das terras foi um dos primeiros elaborados para fins de
interpretação de levantamentos pedológicos detalhados, visando planejamento de práticas
conservacionistas; é dos mais conhecidos mundialmente e vem sendo usado desde a
década de 1930 pelo Serviço de Conservação de Solos do Departamento de Agricultura dos
EUA. Nele, diversos atributos são sintetizados, a fim de obter grupamentos homogêneo
de terras, com o objetivo de caracterizar a sua máxima capacidade de uso para agricultura
sem o risco de degradação do solo, especialmente no que diz respeito à erosão hídrica e à
eólica. Nos mapas, esses grupamentos são facilmente reconhecidos pelo consagrado uso
de algarismos romanos, para indicar as classes de Ia VIII. No Brasil, está sendo di vulgado
desde 1955 (Marques et al., 1955), tendo sido objeto de sucessivas adaptações. Baseia-se
primordfalmente nas combinações de efeito do clima com as características permanentes
do solo (inclusive declividade), que impõem riscos de degradação pela erosão induzida
e, ou, limitam o uso agrícola da terra. O nível tecnológico presumido é alto, dentro das
possibilidades dos agricultores mais esclarecidos do país. Existe uma série de o utras
pressuposições básicas do sistema, entre as quais, uma das mais importantes, é a de que
as terras são classificadas supondo-se que os melhoramentos do solo, que podem ser fe itos
dentro das possibilidades individuais dos agricultores, já estão estabelecidos (p . ex.: nos
solos de muito baixa fertilidade, como os originalmente sob cerrado, supõe-se que corre ti os
e fertilizantes já tenham sido aplicados em quantidades adequadas). Esse sistema baseia-
se e m interpretações das unidades de mapeamento de solos, que são agrupadas em tres
níve is ca tegóricos: unidades de capacidade de uso, subclasses e classes, cujas definições,
segundo Klingebiel e Montgomery (1961), estão no quadro 1.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


-
638
IGO FERNANDO LEPSCH

Quadro 1. Rela - entr a w1idade de mapeamento de aios e as categoria do sistema de


terra em capacidad deu o, com ba em Klingebi I e Montgomer (1961)
Unidades de Subclas es de Capacidade Classes de Capacidade
Mapeamento Capacidade de Uso de Uso de Uso
P rção da paisa em ontém uma ou Grup s de unidades de Grupos de subclasses
delineada em um mai unidade ' de capacidade de uso com as ou de unidades de
mapa, compreendendo mapeamento com o me mas limitações para o capacidade de uso que
aracterí ti a mesmo risco de erosão uso agrícola, como: possuem mesmo ri co
e qualidades e, u, fatore limitantes de degradação pela
melhante, (e) erosão e, ou, risco;
à agricultura e, ou, à erosão e, ou, outras
identificada pelo nome pr duti idade agrícola. (a) excesso de água; eventuais limitações de
de uma da se de lo e, uso agrícola.
ou, "f rmuJa" de uma lo suficientemente ( ) limitações inerentes ao
legenda codificada. unifom,es para solo; e Os riscos de
requererem práticas (c) lim_itações climáticas. degradação e, ou,
Con iderando a emelhantes limitação deu o são
ljmitações cartográfica de conservação A subclasse informa progre sivamente
e a finalidade do mapa, e fornecerem o tipo de problema de crescentes da classe
representa a unidade produtividades conservação ou o fator I para a elas e
obre a qual o mafor eme1hantes em limitante à produção Vlll. Essas classes
número de indicações cultivo ou pastagens agrícola. evidenciam, de forma
precisa e previsões em idêntico sistema de Junto com as classes de generalizada, os locais
p de ser fcito. manejo. capacidade de uso, obtêm- e a disponibilidade dos
Essas são a base para Essa categoria reúne e se as informações ao solos mais aptos para a
o grupamentos simplifica informações usuário do mapa de graus agricultura.
interpretativo de sobre solos, para das limitações ocorrentes As classes
solos, provendo o planejamento de e as modalidades de demonstram, de
as informações glebas individuais de conservação que a forma generalizada, a
necessárias para as terras. Junto com as gleba necessita a partir localização, quantidade
unidades, subclasses e classes e subclasses, de amplo programa e adequadação
classes de capacidade informa a natureza e os conservaàonista. dos solos para fins
de uso. graus das limitações, agrícolas. Apenas
tipos de problemas i.Júormações mais
de conservação e gerais são fornecidas no
manejo das prática de nível de classe. Essas
conservação do solo. são úteis como uma
introdução ao usuário
do mapa de solos, onde
existem informações
mais detalhadas
sobre as unidades de
mapeamento.

As oito classes de capacidade de uso baseiam-se nas alternativas de uso e no grau


das limitações: terras comportando as mesmas alternativas e apresentando limitações em
graus semelhantes são incluídas na mesma classe. Enquanto o número de alternativas
diminuj da classe I para a classe VIII, o grau de limitação awnenta nesse mesmo sentido.
Assim, a classe I abrange as terras praticamente sem limitações, para as quais é muito
grande O número de alternativas de uso viáveis, ao passo que a classe VIII é atribuída
às terras com risco de degradação e, ou, limitações em grau muito severo, onde não é
possível a utilização agrícola, principalmente sob sistemas mais avançados de manejo.
Essas costumam ser reunidas em três grupos:

MA NEJO E CO NSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO CONSERVAClONISTA DO Uso DO SOLO EM ... 639

GRUPO A: terras própriéls para todos os usos, abrangendo as seguintes classes:


Classe I: terras intensivamente cullivéS veis e sem problemas élpél rente de conservaçJo.
Classe II: terras com pequenas limitações, passíveis de serem culti vadas intensi-
vamente, rnas com problemas simples de conservação.
Classe Ili: terras com limitações tais que reduzem a escolha cJos culti vas e, o u,
necessitam de práticas con1plexas de conservação do solo ou de drenage m.
Classe IV: terras com limitações severas para cultivas inten ivos e por isso só podem
ser cultivadas ocasionalmente ou em extensão limitada.

GRUPO B: terras impróprias para culturas, mas ainda adaptáveis para pas tél gem,
silvicultura e refúgio à vida silvestre. Compreende as segu intes clélsses:
Classe V: terras com pequeno risco de erosão, mas com outrns limitações, de forma tal
que têm seu uso restringido às pastagens ou ao reflorestamento.
Classe VI: terras com limitações tão severas, no que diz res peito ao risco de erosão,
tornando-se impróprias para a maior parte dos cultivas, limitando seu uso às pastagens
ou ao reflorestamento.
Classe VII: terras com Limitações muito severas, que as tomam impróprias para cultivo
e linútam seu uso às pastagens ou florestas, com práticas complexas de conservação.

GRUPO C: terras impróprias a qualquer exploração agrícola. Compreende uma classe:


Classe VIII: terras impróprias para cultivas, pastagens ou reflorestamento, podendo
servir apenas como abrigo à flora e fauna silvestre.
As subclasses de capacidade de uso são qualificadas em razão da limitação dominan te.
Essas limitações, que caracterizam as subclasses, são identificadas por letras minúsculas,
indicadoras de um dos seguintes tipos de limitação:
e - erosão presente ou risco de erosão; s - limitações por causa de atributos ad versos
do solo; a - excesso de água; e e - limitações climáticas.
As unidades de capacidade de uso tornam explícitas essas condições, facilitando o
estabelecimento das práticas a serem precorúzadas; essas são indicadas pela colocação
de um algarismo arábico seguindo a designação da subclasse, após un1 hífen, como no
exemplos a seguir:
Ile-1: limitação pela declividade moderada (classe B), que pressupõe um risco de
erosão moderado, indicando a necessidade de práticas simples de conservação do solo
quando cultivado com lavouras.
lla-1: limitação por excesso de água, que pode ser corrigida com práticas simples de
drenagem.
llle-1: lim.itação pela declividade acentuada (classe C), que indica um severo ri -co de
erosão, que só pode ser evitado com práticas complexas de conservação do ola.
llle-2: limitação por presença de erosão em sulcos, indicando a necessidade de prática
complexas para recuperar e proteger o solo.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


640 lGO FERNANDO LEPSCH

s unidade de capacidade deu O fornecem infonnaçõe mais e p cíficas e detalhadas


do que a sub las e para a aplicação nas diversas glebas de uma propriedade agrícola. São
agrupamentos de condições similares quanto à aptidão para plantas cultivadas e para
resposta a um me mo tipo de manejo.
~ressupõe-se que as unidades de mapeamento pertencentes a uma única unidade de
capacidade de uso correspondan-1 a terras adaptáveis aos mesmos tipos de lavouras ou
pa~tage_ns, e que requeiram sistemas de manejo similares. Pressupõe-se também que as
e hmah, as de col heita , em longo prazo, dos cultives mais adaptados, em uma mesma
região climática e sob mesmo sistema de manejo, não devem variar mais do que 25 % entre
o olos de uma mesma unidade de uso (Klingebiel e Montgomery, 1961).
Agrupando as unidades de mapeamento em unidades, subclasses e classes de
capacidade de uso, o sistema permite uma primeiTa distinção entre terras cultiváveis (ou
aráveis) e não cultiváveis, pressupondo aumento em aptidões das primeiras (classes Ia III)
até as últimas (classe Vlíl). Esse sistema de interpretação de levantamentos do meio fisco
é considerado ba tante simples, versátil e flexível; por isso, várias adaptações, com base
nas descrições relatadas por Klingebiel e Montgomery (1961) têm sido feitas em vários
países. A versatilidade do sistema reside no fato de que os valores dos fatores limitantes,
para agrupar as unidades de mapeamento em unidades de uso e subclasses, podem ser
estabelecidos com critérios diferentes, de acordo com os atributos específicos da área que
está sendo estudada.

ELABORAÇÃO DO PLANEJAMENTO
PROPRIAMENTE DITO

Uma primeira decisão deve ser feita sobre quais são os elementos mais importantes do
uso atual das terras que requerem modificações. Primeiro, deve-se considerar se as glebas
de uma fazenda que se encontra em boas condições devem ser preservadas. lncluem-se
as áreas ainda ocupadas por vegetação natural - se essas compreenderem 20 % ou menos
da propriedade. Depois, deve-se procurar melhorar as glebas de cultivo que não estão em
boas condições; para isso, muitas vezes é necessário modificar o arcabouço da propriedade,
planejando novas estradas internas ou "carreadores". Tal arcabouço normalmente é feito
sobre o mapa de capacidade de uso e do atual uso das terras.
Um esboço preliminar de novo arcabouço da propriedade deve ser feito para
ser discutido com o proprietário. Somente depois que houver um acordo em todas as
modificações, um mapa definitivo do uso planejado pode ser elaborado. Depois da
identificação dos tratos de terra que são mais susceptíveis à erosão - ou quais terras já estão
mais erodidas - deve ser feita uma seleção e indicação das práticas de conservação do solo
mais adequadas, visando reduzir a erosão e o transporte de sedimentos a níveis aceitáveis.
Essas práticas conservacionistas devem ser estabelecidas com boa base científica, devem ser
tecnologicamente viáveis, adaptáveis ao uso preferido da terra, rentáveis e de baixo custo;
além disso, devem estar de acordo com as condições econômicas e culturais do proprietário.
Muitas vezes, certos tipos de explorações agrícolas da terra, já estabelecidos há algum
tempo, mas que estão em desacordo com a cai:acidade de uso das terras, podem ser
trocados de lugar ou eliminados completamente. E comum também que o plano proponha

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


XX - PLANEJAMENTO CONSERVACIONISTA DO Uso DO SOLO EM ...
641

mudanças ele posição de caminhos e cercas. Barragens e diques cos tuma m ser locali zados
no mapa. Tudo isso deve ser feito dentro de normas económicas e em um esca lona me nto -
normalmente durnnte cinco anos- compatível com as possibilidades do proprietário rurél l.
Depois de concluído o pla nejamento pode ser apresentado na fo rma d e três m <1 pas e
um memorial descritivo. Dois deles são opta tivos; o da capacidade de uso das terras e O do
u so atual; o mapa do planejamento é o mais essencia l.
O memorial técnico-descritivo tem como principal finalidade descrever, em ling uagem
acessível ao usuá rio, tudo aquilo que foi notado nos mapas, a lém das o bserva_çõe e
interpretações adicionais. Nele estará desenhado todo o novo arcabouço da propried ad e
(estradas, carreadores, cercas, canais divergentes e escoadouros). O memorial descriti vo
indicará as melhores explorações para cada gleba e as práticas de conservação d o solo
aconselhadas, incluindo um cronograma de execução. Porta nto, nele deverão ser descritos
todos os atributos da terra que possam influir na exploração racional, quer sejam notad as
nos mapas durante trabaU10 de campo ou nas cadernetas ou inferidas dessas e o utras
fontes de informação. Esse deverá conter também um resumo que descreva a metod ologia
de trabalho empregada.
Não existem normas rígidas para elaborar o memorial técnico-descritivo. Os principais
itens, que podem ser abordados, são os seguintes: introdução (finalidade do plano etc.);
levantamento do meio físico (localização geográfica, clima, solos, relevo, uso atual das
terras); capacidade de uso das terras (unidades de uso, subclasses e classes); descrição d as
glebas planejadas (localização, extensão, uso atual e planejado e práticas de conservação do
solo); e programação das operações necessárias à implantação do projeto, com cronograma.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De posse dos mapas e do memorial descritivo, o proprietário de terras agrícolas terá em


mãos um inventário de sua propriedade e um plano de ação - ambos elaborados com misto
de técnica e arte - em que estarão especificadas as ações dentro de um cronograma com
o qua l poderá fazer melliorias em sua propriedade. Esse planejamento conservacionista
funcionará como uma valiosa ferra menta para ajudá-lo a proteger e melhorar os recursos
naturais que suportam as operações agrícolas mais produtivas e rentáveis. Ele difere muito
dos planos de manejo de nutrientes, com base em inventários de "análises de solo" e q u e
visam à avaliação da fertilidade do solo e às recomendações de aplicações de adubos e
corretivos. Ao contrário desses - que são mais úteis para indicar quanto de adubo e calcá rio
u sar no ano em curso - os planejamentos conservacionistas enfatizam mais as indagações
relacionadas ao "o que cultivar" e "onde cultivar"; indicam também quais práticas de
conservação do solo devem ser observadas, abordando urna série de questões relacionadas
à proteção dos recursos naturais, para todas as operações agrícolas que serão executadas
em toda a propriedade durante quatro a seis anos. A meta principal é promo er um
desenvolvimento sustentável no meio rural, ou seja, aquele que a tende às necessidades
da geração presente, sem comprometer a habilidade d as gerações futuras para satisfazer
as s uas próprias necessidades. Na figura 1, apresenta-se um esquema com as principais
a tividades necessárias ao planejamento conservacionis ta.

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA


642
IGO FER NANDO LEPSCH

Planejamento do uso racional da terra

Levantamento Classificação da capacidade de uso da terra


1 1

l
- Perfil do
solo
Profundidade
Textura
Permeabilidade
Fatores limitantes

1
,__ Declive do
solo - Classe
Comprimento
Regularidade

1
Características
físicas
- ,__ Erosão do
solo - Tipo
Grau

Tipo de cobertura vegetal


- Uso atual Nível tecnológico
Estádio de desbravamento

Caminhos
Benfeitorias semoventes
Oima
- Diversos Forma e tamanho da
propriedade
Localização
Situação das águas

Mercados e preços
,-- Zona
Valor das terras
Características
econômicas
-
Situação financeira
--- Proprietário Situação econômica
Riscos

Relações sociais internas


- Propriedade Habitações - recreações
Salário - mão de obra
Características
sociais - Salubridade

- Zona Assistência sanitária


Educacional
Demografia

figura 1. Fluxograma do planejamento racional de uma propriedade agrícola, dentro dos princípios
da conser ação do solo.
Fonte: Adaptado de Lcpsch ct aJ. (2015).

MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SO LO E DA ÁGUA


XX - PLAN EJAMENTO CONSERVACIONISTA DO Uso DO SOLO EM ... 643

AGRADECIMENTOS

À Profa . lva na Quintão de Andrnd e, pela revisão fin al do tex to; e ao col ga An tô ni o
Ramalho Filho, pelas críticas e suges tões apresentadas.

LITERATURA CITADA

Brady NC, Weil RR. Elemen tos da natureza e propriedad e dos solos. Y ed . Porto Alegre: Bookman/
Freitas Bastos; 2013.
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