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AMBIENTES DE PRODUÇÃO
PARA CULTURA DA SOJA:
CONCEITOS, DIAGNÓSTICOS
E PRÁTICAS AGRÍCOLAS

2022

HENRY SAKO JOÃO DANTAS RAFAEL BATTISTI

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FICHA CATALOGRÁFICA

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SUMÁRIO

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6
A fertilidade do solo, em seu sentido amplo, a fertilidade
química-física-biológica em superfície e em subsuperfície
e o regime climático, formam um grande componente
da lavoura que é o ambiente de produção. A construção
do ambiente de produção em combinação com um bom
posicionamento do material genético consiste numa
ferramenta poderosa para explorar o potencial produtivo da
PREFÁCIO soja. Este livro apresenta conceitos e critérios para ampliar o
entendimento dos técnicos sobre o ambiente de produção
em que suas lavouras se encontram, lhes permitindo
adotar as práticas agrícolas mais adequadas para promover
uma agricultura resiliente e cada vez mais produtiva.
Agradecimentos especiais ao Professor Boreli e Dr. Almeida
na colaboração desse livro.

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8
CAPÍTULO 1
POTENCIAL PRODUTIVO

BATTISTI, R.¹
1. UFG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.

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10
1.1. Introdução dependente de uma organização do
investimento, do gerenciamento como
um todo, de tal maneira que o retorno
O diagnóstico e o levantamento de da- econômico venha a ser dependente da
dos sistemáticos são as bases de uma capacitação dos profissionais para a rea-
agricultura inteligente e sustentável. lização de tomadas de decisões embasa-
Sem informações apropriadas, não con- das em conhecimento técnico-cientifico.
seguimos tomar decisões assertivas que
possam resultar em maior retorno sobre As interações observadas no campo são
o investimento. Os modelos atuais de muito grandes e complexas, por exem-
agricultura não permitem tomadas de plo, a variação de população de plantas
decisões sem embasamento, isto é, opi- em interação com o clima e o solo, a in-
niões do tipo “eu acho que” estão cada teração das respostas de subsolagem,
vez mais em descrédito. Existem muitas adubação, calcário, biologia do solo, en-
interações a serem observadas no am- tre outras. Isso demonstra que não existe
biente, de modo que sem uma mensura- uma prática de manejo comum proto-
ção precisa, com protocolos adequados, colada para aumentar a produtividade,
qualidade de coleta que leve o dado a pois há diferentes características e atri-
representar efetivamente a realidade do butos a serem observados e interpreta-
campo, não alcançaremos eficiência na- dos em nível de talhão.
quilo a que nos propusemos a fazer.
Dentro dos principais dados a serem le-
Estamos vivendo a era da informação, vantados no campo, a análise do solo in-
notadamente da revolução digital, onde variavelmente é a principal, coleta essa
a inteligência artificial se mostra muito que deve ser realizada com critérios téc-
promissora em muitos setores, inclusive nicos e principalmente rigor, associada a
na agricultura. Certamente muitos dos uma análise em laboratório de confiança
processos conhecidos, pertencentes à e de qualidade. Esses fatores são o pon-
agricultura hoje, serão esquecidos ao to de partida que constituirá a base para
longo do tempo, porém não existem tec- um planejamento agrícola, em que bons
nologias agrícolas sem a agronomia pro- retornos estejam em seu horizonte.
priamente dita. A sensibilidade do agrô-
nomo de ir para o campo, pegar o solo Nesse ambiente, a combinação dos ma-
na mão, sentir o vento no rosto, cheiro do teriais genéticos com o ambiente de pro-
óleo da máquina, o “sujar a botina” sem- dução determina pilar importante para
pre será a base da produção. a produtividade da lavoura. Para um de-
terminado ambiente, a decisão de ado-
Periodicamente a agricultura passa por tar um material genético ou outro pode
crises, em que é colocada à prova sua efi- chegar a uma amplitude de produtivida-
ciência no campo e sua margem líquida. de de mais de 10 sc.ha-1 de soja. Conside-
Esse desempenho será cada vez mais rando a diversidade de tipos de solos tro-

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picais, diferentes fertilidades e a ampla diferentes dos conceitos das culturas se-
opção de materiais genéticos, criam-se miperenes e perenes.
oportunidades de ganhos de produtivi-
dades, desde que realizada a combina- Neste livro, está reunido o trabalho resul-
ção certa desses grandes componentes. tante de diversos anos de pesquisas e ex-
A classificação dos ambientes de produ- perimentações realizadas pelos autores.
ção é uma ferramenta importante para Aqui são apresentados conceitos e cri-
sistematizar a combinação da genética térios importantes para a definição dos
com cada tipo de solo. Dessa forma, a sis- ambientes de produção no cultivo da
tematização dos atributos do solo para soja, além das práticas de melhoria do
compor os diferentes ambientes de pro- ambiente de produção como base para
dução é determinante para definir refe- a alocação dos materiais genéticos.
rências para os técnicos, a fim de auxiliar
na decisão de quais materiais genéticos
devem ser inseridos em cada situação, a
partir de um potencial produtivo e dos
fatores limitantes em cada ambiente.

A relevância de se entender os conceitos


dos grandes componentes do solo para
alocar materiais genéticos em função de
seus resultados já é bastante antiga. Por
exemplo, na viticultura há o conceito do
Terroir, que compõe uma parte impor-
tante para a qualidade das uvas, sendo
aplicada há séculos. Por outro lado, na
década de 80, o setor canavieiro estabe-
leceu os ambientes de produção através
e hoje esse conceito está incorporado
nas usinas para o planejamento varietal.

Vale ressaltar também que os estresses


causados em lavouras de ciclos anu-
ais possuem uma resiliência menor do
que em lavouras de ciclos semiperenes
ou perenes. Dessa forma, os diversos es-
tresses que podem penalizar a produ-
tividade numa cultura anual possuem
um impacto maior e, por essa razão, os
ambientes de produção têm conceitos

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1.2. Potencial Produtivo terísticas climáticas do local, pois dentre
os pontos citados anteriormente, esse
O potencial produtivo é uma referência é o único que não pode ser alterado ou
que pode ser utilizada para definir qual controlado. No entanto, a química, a fí-
rendimento o ambiente de produção sica e a biologia do solo podem ser me-
pode fornecer, utilizando como ponto de lhoradas, assim como qual cultivar deve
partida os insumos (climáticos e nutri- ser adequadamente escolhida para esse
cionais) e os manejos adotados para po- ambiente. O clima local é resultado de
tencializar a eficiência desse sistema (es- inúmeros fenômenos climáticos que
colha do cultivar). Sinclair e Ruffy (2012) ocorrem na macroescala. Para ilustrar
esclarecem que o aumento de produtivi- esse resultado, podemos citar o fenôme-
dade é uma “carroça puxada por dois ca- no El Niño que está associado à mudan-
valos”, sendo estes “dois cavalos” a água ça da temperatura da água no Oceano
e os nutrientes, de modo que a seleção Pacífico, de modo que sucede na altera-
genética obtém vantagem dessas fontes ção da circulação da atmosfera em todo
para o aumento da produtividade. As- o globo, afetando o regime de chuvas.
sim, para entender o potencial produti- No Brasil, os efeitos mais claros ocorrem
vo é essencial conhecer os insumos dis- na região do Matopiba, com aumento
poníveis e o ajuste de manejo em cada de produtividade da soja em anos de
condição ambiental, sendo que em nível La Niña e redução para os anos em que
de Brasil, é altamente diversificada para ocorre o El Niño (Figura 1.1). Já no sul do
a cultura da soja. país o processo é inverso, destacando
principalmente a redução de produtivi-
O primeiro passo para entender o po- dade para a soja em anos de La Niña.
tencial produtivo é identificar as carac-

Figura 1.1. Produtividade municipal da cultura da soja no Brasil para as safras de 2013/2014 (ano neutro) (a) e 2015/2016 (El
Niño) (b) Fonte: adaptado de IBGE (2018).

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Uma das dificuldades de se entender o uso do modelo de simulação de produ-
efeito do clima sobre a produtividade tividade possibilita isolar esses fatores,
obtida no campo é o fato de que tal pro- quantificando as perdas por clima e por
dutividade é resultado da integração de manejo. A partir desse ponto, o poten-
fatores do sistema produtivo, os quais cial produtivo - condicionado pelo clima
são bastante complexos (Figura 1.2). Em e solo - pode ser quantificado, ajustando
um sistema real, temos o efeito do clima, a cultivar para esse ambiente. Entretan-
as competições intraespecíficas1 e inte- to, ao final da safra, as perdas por mane-
respecíficas2, limitações do solo3, o total jo e clima são quantificadas utilizando o
de água disponível no solo em função da termo yield gap, que significa “perda de
sua capacidade de retenção e da explo- produtividade”.
ração do solo pela raiz, e ainda a ocorrên-
cia de pragas e doenças. Dessa forma, o

Figura 1.2. Fatores e suas interações dentro do sistema produtivo que irão resultar na produtividade final obtida em nível de
talhão. Fonte: Os Autores.

1
Entre plantas de soja.
2
Plantas daninhas.
3
Podendo ser física, química e ou biológica.

14
O yield gap é a redução de produtivida- tado apenas da produtividade poten-
de ocasionada por algum fator limitante cial, que quando penalizada pelo déficit
em relação a um potencial de referência, hídrico, em função da disponibilidade e
incluindo fatores como perdas por défi- distribuição de chuvas, resulta na produ-
cit hídrico, por limitação do crescimen- tividade atingível. A produtividade atin-
to radicular e outros manejos. Na Figura gível pode ser definida como o potencial
1.3, são apresentados os fatores que afe- produtivo para um talhão com cultivo
tam cada um dos níveis de perda de pro- de sequeiro sem limitações de manejo.
dutividade. O potencial de referência é Desta maneira, o ajuste da cultivar deve
quantificado a partir de áreas com alto ser feito para a produtividade atingível,
potencial produtivo, em que as perdas disponibilizada pelo clima associado às
por manejo e raiz são mínimas. Nesse condições do solo.
ambiente, a produtividade real é resul-

Radiação solar Chuva Data sem.


Cultura Clima Temperatura do ar
Produtividade potencial (PP)

Fotoperíodo
Produtividade atingível (PA)

Ciclo Solo
CO2
Perda por déficit hídrico Local
Produtividade real (PR)

Déficit hídrico Água disponível no solo

Perda por raiz


Crescimento radicular
Pe
rd
a

Limitação Física
po

Absorção de nutrientes
rm

Limitação Química
an
ej
o

Competição interespecífica
Manejo
Competição intraespecífica Pop. de plantas ideal

Limitação Biológica Fixação biológica de nitrogênio

Pragas e doenças

Figura 1.3. Produtividade potencial, atingível e real, com o yield gap ocasionado por déficit hídrico, perda por raiz e manejo,
incluindo os seus respectivos fatores influenciadores. Fonte: Os Autores.

Já na Figura 1.4 é apresentado um caso esse nível de produção de grão. Neste


real de estimativa de yield gap (Battisti nível, não é considerado o efeito do dé-
et al., 2018), em que a produtividade po- ficit hídrico, sendo que quando ele foi
tencial chegou a 140 sc ha-1, ou seja, as incluído na simulação, resultou em uma
condições de disponibilidade de energia redução de 43 sc ha-1. Como esse é um
(radiação solar) associadas à temperatu- fator não controlável após a cultura ser
ra do ar (fotossíntese bruta x respiração) implantada5, a produtividade atingível
e o ciclo de cultivar, levaram a cultura ou o potencial produtivo nesse talhão foi
a converter os substratos disponíveis a de 97 sc ha-1.

5Antes é possível mudar data de semeadura e ciclo de cultura.

15
Nesta condição, a produtividade obser- limitado a 30 cm. Os demais 15 sc ha-1
vada no talhão foi de 64 sc ha-1, resultan- são oriundos de outros manejos como:
do em uma perda de 33 sc ha-1 a partir qualidade de semente e de semeadu-
do potencial produtivo. Desses 33 sc ha-1, ra, controle de pragas e doenças e níveis
as limitações físicas6 e químicas7 do solo não satisfatórios de nutrientes no solo
resultaram em perda de 18 sc ha-1, devi- para esse potencial. Assim, através de
do ao fato de a raiz não conseguir aces- um diagnóstico do solo, como a neces-
sar a água disponível no solo até 1 metro sidade de redução da compactação ou
de profundidade, tendo como consequ- melhoria de outros manejos limitantes,
ência aumento do déficit hídrico. Neste poderia ser aumentada a produtividade
ambiente, a raiz teve seu crescimento desse talhão em 33 sc.ha-1.

140
Produtividade Atingível PP = 140 sc/ha
120 Perda por raiz PA = 97 sc/ha
43 Perda por Manejo PR = 64 sc/ha
100 Perda por déficit hídrico
15 EC = 69%
sc/ha

80 EA = 66%
18
60

40
64
20

0
Área comercial
Figura 1.4. Yield gap obtido para área comercial no estado do Mato Grosso na safra 2018/19. Fonte: Os Autores.

Com base nessa verificação, é possível de 69%, ou seja, o déficit hídrico reduziu
apontar que o yield gap retorna valores 31% da produtividade potencial. Esse ín-
absolutos de perda de produtividade. A dice pode ser utilizado para avaliar, de
partir desses valores é possível quantifi- forma comparativa, a disponibilidade
car as eficiências climáticas (EC) e agrí- hídrica durante o ciclo da cultura e se tal
colas (EA). A eficiência climática obtida disponibilidade ocorreu em momentos
pela relação entre as produtividades de maior ou menor sensibilidade para a
atingível e potencial define, em termos cultura da soja.
quantitativos, o efeito do déficit hídrico
sob a produtividade. Na Figura 1.4, pode- Já a eficiência agrícola é obtida pela
-se observar que a eficiência climática foi relação entre as produtividades real e

6Como a compactação do solo.


7
Como a presença de alumínio ou baixa concentração de cálcio em profundidade.

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atingível (potencial produtivo), utilizada em 09/Out, era de 94 sc ha-1 (Figura 1.5).
como um indicador da eficiência do ma- Esse valor é obtido a partir da média de
nejo agrícola no talhão. No caso da Figu- uma base climática de 35 anos (1980 a
ra 1.4, a eficiência agrícola foi de 66%, ou 2015). Com o passar da safra, as condi-
seja, 66% do que o ambiente estava dis- ções climáticas são atualizadas, subs-
ponibilizando (potencial produtivo) foi tituindo os dados climáticos históricos
obtido no talhão, sendo que 44% foram pelos observados na safra até o momen-
perdidos devido a limitações de mane- to da simulação (chuva e temperatura
jos, os quais podem ser melhorados. As do ar na parte inferior da Figura 1.5). Por
eficiências mostram valores relativos e, exemplo, se a simulação fosse realizada
assim, traduzem resultados produtivos em 25 de dezembro, até essa data os
com base nas decisões que já foram to- dados climáticos seriam os observados
madas pelo produtor. Isso significa que a no talhão, enquanto que o restante se-
relação nem sempre é diretamente pro- ria obtido dos dados históricos (Figura
porcional, já que maiores eficiências po- 1.5). Nessa data, o potencial produtivo foi
dem não indicar maiores produtividades de 79 sc ha-1, com uma perda de 24 sc
reais. Por outro lado, melhores manejos ha-1 devido ao déficit hídrico e 20 sc ha-1
podem ser identificados para aumentar pela limitação do crescimento radicu-
o potencial produtivo da área com base lar (Figura 1.5). Essa queda de potencial
no clima, como exemplo a data de se- está associada ao baixo volume de chu-
meadura e ciclo de cultivar. va em dezembro. Já em 22 de janeiro,
todos os dados climáticos da safra atual
A condição climática também é di- são inseridos, indicando o real potencial
nâmica ao longo do ciclo, alterando os do talhão, o qual associado ao valor real
potenciais produtivos do talhão. No observado define as fontes de perda de
exemplo a seguir, podemos verificar que produtividade (Figura 1.5).
o potencial produtivo (atingível) inicial,

140

120

100

80 Produtividade
sc/ ha

atingível
60 Perda por raiz
Perda por
40 défict hídrico

20

0
ut t t t ov v v v z z z ez an n an n
9 /O 6/Ou 3/Ou 0/Ou 6/N /No 0/No 3/No 4/De 1/De 8/De 5/D 01/J 8/Ja 15/J 2/Ja
0 1 2 3 0 13 2 2 0 1 1 2 0 2

Figura 1.5. Simulação de produtividade e os yield gaps ao longo da safra 2018/19 simulados para área comercial no estado do
Mato Grosso. Fonte: Os Autores.

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O potencial produtivo pode ser simula- verificar que ao longo da janela de seme-
do em função das condições climáticas adura, os maiores potenciais são obtidos
no local de interesse, com base no his- para as datas de semeadura no final de
tórico de clima e condições do perfil de outubro para o ciclo médio e início de
solo que podem limitar o crescimento outubro, para o ciclo precoce. As culti-
radicular. As condições climáticas são vares com maior ciclo possuem maior
inerentes ao local e não podem ser mo- potencial produtivo devido ao maior
dificadas, por isso o manejo de data de período em que permanecem realizan-
semeadura e ciclo de cultivar são estra- do fotossíntese e acumulando matéria
tégias que devem ser adotadas para ele- seca. Assim, a cultivar de 100 dias obte-
var o potencial produtivo dentro do sis- ve uma mediana de 55 sc ha-1 em 01/Out
tema produtivo que o produtor deseja (Figura 1.6), enquanto que a de 120 dias
desenvolver. Na Figura 1.6 é apresentada obteve valor próximo a 100 sc ha-1 em 15/
a simulação do potencial produtivo em Out (Figura 1.6). Nestas condições, maio-
diferentes condições, com cenário de ci- res profundidades de raiz podem auxi-
clo de 100 e 120 dias entre semeadura e liar em anos ruins climaticamente8.
colheita, na região de Jataí, GO. Pode-se

140
Soja - Ciclo médio Soja - Ciclo precoce
120
Produtividade (sc ha-1 )

100

80

60

40

20

0
01/Out 15/Out 01/Nov 15/Nov 01/Out 15/Out 01/Nov 15/Nov
Data de semeadura Data de semeadura

Figura 1.6. Potencial produtivo em função da data de semeadura. Fonte: Os Autores.

Portanto, conhecer o potencial produti- yield gap auxilia a direcionar os recursos


vo em função das condições climáticas, da fazenda para aqueles pontos em que
da data de semeadura e do ciclo de cul- há maior limitação e os pontos em que
tivar, é o primeiro passo na identificação trarão maiores retornos econômicos, au-
dos manejos para explorar o máximo po- mentando a eficiência produtiva de for-
tencial produtivo do talhão. Além disso, ma individual por talhão, os quais irão
a identificação das principais fontes de agregar ganhos à fazenda.

8Linha inferior da barra.

18
CAPÍTULO 2
FISIOLOGIA VEGETAL NO
AMBIENTE DE PRODUÇÃO

SAKO, H.¹; DANTAS, J.P.S.¹; BATTISTI, R.²


1. DK CIÊNCIA AGRONÔMICA.
2. UFG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.

19
20
2.1. Estresse vegetal no combustível, a mesma consome esse
ambiente de produção combustível de maneira parada devido
ao fato de o estômato estar fechado e,
A alta produtividade não é o principal em vez de realizar a carboxilase, ocorre
foco da planta. Em contrapartida, seu a oxigenase, levando a planta a ter gasto
principal objetivo é gerar sementes, ou de energia sem produção de biomassa.
seja, descendentes. Sendo assim, a per- Considerando a analogia com o carro, se-
sonalização do ambiente, para que haja ria a mesma condição na ocasião em que
uma capacidade de desenvolvimento pisamos na embreagem e continuamos
adequada, evitando o máximo de estres- com o motor ligado, porém sem sair do
ses que possam causar prejuízos no me- lugar. Assim, se o estresse continuar ou o
tabolismo, é de suma importância. sinal não abrir, o combustível irá acabar.
Essa analogia serve para mostrar que
Um exemplo comparativo que podemos quanto menos a planta “pisa” na embre-
fazer do estresse com relação à planta agem, maior é sua produtividade. Assim,
seria um carro de marcha manual, tran- como evitar os estresses para planta com
sitando em uma avenida muito movi- base nos ambientes de produção?
mentada. Imagine que existe um sina-
leiro nessa avenida, na qual você tenha A resposta deste questionamento é vol-
que parar esse carro quando o sinal apre- tar a atenção para o sistema radicular,
senta-se vermelho, porém, quando você pois 96% da biomassa da planta são
para o carro, automaticamente você tem oriundos da fotossíntese, sendo a água
que pisar na embreagem e no freio, pois vital nesse processo. A água que a planta
se você passar nesse sinal vermelho esta- absorve não vem diretamente da chuva,
rá cometendo uma infração de trânsito. mas sim do solo, absorvida pelas raízes.
No caso da planta, podemos interpretar O solo, com suas características quími-
que o sinal vermelho são situações ad- cas, físicas e biológicas, armazena água
versas no ambiente e que fazem com e disponibiliza para planta, interferindo
que a planta também tenha que parar. nessa importante e crucial etapa que é a
Alguns exemplos que conduzem a essas fotossíntese.
situações são: a baixa luminosidade, a
falta de oxigênio no solo, o alumínio tó-
xico, a salinidade, a alta temperatura, o
ataque de pragas de doenças, entre ou-
tros. Diferente do carro, a planta não tem
uma embreagem ou um freio, a mesma
tem que fechar o estômago, pausando
sua fábrica de biomassa.

Uma vez que na folha ainda há a pre-


sença de carbono, o qual vem a ser o seu

21
2. 2. Relação solo nessa etapa. O sistema radicular é um
componente muito amplo no sentido de
e fotossíntese
volume, funções fisiológicas e na forma
Os processos fotossintéticos constituem como ele interage com o solo.
um dos mais belos e determinantes pro-
cessos biológicos na natureza, em que A planta apresenta sua maior parte da
permite a conversão de energia solar em biomassa formada por carboidratos,
energia química (carboidratos e outros sendo 45% carbono, 45% oxigênio e 6%
constituintes). No entanto, a sustentação hidrogênio (Tabela 2.1). Do total de bio-
da atividade fotossintética dependerá massa, apenas 4% é proveniente de nu-
do acesso à água e nutrientes pela plan- trientes minerais, em que geralmente é
ta no momento e em quantidade ade- nessa fração que se gasta a maior parte
quada à sua demanda, tendo o compo- do investimento do produtor.
nente solo e raízes papéis fundamentais

Tabela 2.1. Composição da biomassa da planta.

Elemento Símbolo Número relativo de


átomos em relação ao
molibdênio
Obtido da água ou dióxido de carbono
Hidrogênio H 60.000.000
Carbono C 40.000.000
Oxigênio O 30.000.000
Obtido do solo (Macronutrientes)
Nitrogênio N 1.000.000
Potássio K 250.000
Cálcio Ca 125.000
Magnésio Mg 80.000
Fósforo P 60.000
Enxofre S 30.000
Silício Si 30.000
Micronutrientes
Cloro Cl 3.000
Ferro Fe 2.000
Boro B 2.000
Manganês Mn 1.000
Zinco Zn 300
Cobre Cu 100
Niquel Ni 2
Molibdenio Mo 1

Fonte: Concentrações de elemento na biomassa da planta (Epstein, 1972)

22
Essa fração de nutrientes minerais não é de nutrientes e gases, estando presen-
“comida” pela planta, mas sim “bebida”, te, direta ou indiretamente, em todos os
fazendo com que o fator hídrico seja im- processos fisiológicos e bioquímicos da
portante em todo esse aspecto. Na plan- planta. Nesses processos destacam-se o
ta, 96% da sua composição são oriundos balanço energético, a fotossíntese, a res-
da fotossíntese, a qual começa com a piração, a turgescência e o transporte de
quebra da molécula da água. Desse to- gametas, bem como a regulação térmica
tal, 98% da água absorvida pela planta da planta através do resfriamento e da
são perdidos na forma de vapor nas fo- distribuição do calor (EMBRAPA, 2013).
lhas através da transpiração estomática, À medida que a soja cresce e se desen-
enquanto que apenas 2% são destina- volve, a sua demanda hídrica aumenta
dos para as funções vitais. É nessa água com o estádio fenológico e se intensifica
absorvida e perdida via transpiração que principalmente na fase reprodutiva. Se-
os nutrientes entram através do fluxo de gue um exemplo de uma lavoura de soja
massa, difusão e interceptação radicular. situada em Patrocínio MG, em que hou-
ve um consumo de água de 195mm na
A água é responsável por 90% do peso da fase vegetativa e 429mm de água na fase
planta, além de ter a função de solvente reprodutiva.

Patrocínio, MG
Semeadura 01/Out/2017
120 Demanda hídrica total Vegetativo Reprodutivo 12.0
49 dias 81 dias
Demanda hidríca média 195 mm 429 mm
105 10.5

Demanda Hídrica Média (mm dia-1)


T tal (mm fase-1)

90 9.0

75 7.5
63 65 63 65
62
Demanda Hídrica To

60 6.0
52

45 4.5

30 3.0
20 20 21 22
17 16 17 18 15
14
11 14 13 15 14
15 1.5
6
0 0
0 0.0

Dias - Fases de desenvolvimento

Figura 2.1. Simulação da demanda hídrica em diferentes estádios fenológicos da soja. Fonte: (Battisti, R).

23
A planta possui capacidade extraordiná- nas células, composição alterada de ga-
ria para interpretar o ambiente em que ses foliares e redução da taxa fotossinté-
está inserida, por meio de funções sen- tica, levando a perdas de produtividade
soriais extremamente sofisticadas pro- (Farooq et al., 2012). O déficit hídrico re-
venientes, como por exemplo, de prote- sulta em estresse osmótico, isto significa
ínas e fito-hormônios. Após a detecção que a disponibilidade de água é prova-
de mudanças específicas do ambiente, velmente detectada pela primeira vez
as plantas usam esses componentes de como diminuição no potencial osmóti-
sinalização para induzir respostas fisioló- co, sendo que os primeiros osmosenso-
gicas específicas ao estresse. São conhe- res identificados foram o Ca21 e OSCA1
cidas algumas formas e sensores de cap- (Yuan et al., 2014).
tação dessas informações, os quais são
descritos a seguir. Desta forma, podemos 2.2.3. Sensores de salinização
entender o quão ativa é a planta, e subli-
nhar que sua capacidade de interpretar
esses fatores do ambiente por muitos é Semelhante ao déficit hídrico, a salini-
subjugada. dade limita rapidamente a captação de
água e causa estresse osmótico, com
2.2.1. Sensores de temperatura posterior acúmulo de íons levando ao
estresse iônico (Munns e Tester, 2008).
Como resultado, o crescimento das plan-
A temperatura influencia muitos aspec- tas em solos salinos é limitado pela pres-
tos da vida das plantas, incluindo cresci- são reduzida do turgor das células, di-
mento de raízes e brotações, produção minuindo a fotossíntese e alterações no
de sementes, floração e sensibilidade a desenvolvimento, necessárias para a so-
pragas (Quint et al., 2016). Dois meca- brevivência (Julkowska e Testerink, 2015;
nismos diferentes de percepção de alta van Zelm et al., 2020).
temperatura foram descritos, como pro-
teínas de choque térmico (HSPs) para ca- Embora as alterações osmóticas que
lor e fitocromos, e para mudanças mais ocorrem durante o estresse salino pos-
brandas na temperatura do ambiente sam ser detectadas por mecanismos
(Schlesinger, 1990) Já no caso de baixas semelhantes aos descritos acima para
temperaturas, pode ser citado no caso do déficit hídrico, seria necessário um meca-
arroz o COLD1, segundo (Ma et al., 2015). nismo adicional de detecção de sal, com
a finalidade de verificar o componente
2.2.2. Sensores de déficit iônico. A atividade do trocador SOS1 foi
hídrico observada dentro de 20 segundos após a
aplicação de sódio (Qiu et al., 2002; Mar-
O déficit hídrico induz um conjunto de tínez-Atienza et al., 2007), apresentando
respostas nas plantas, incluindo fecha- assim um indicador de sensoriamento
mento estomático, redução do turgor das mudanças salinas no ambiente.

24
2.2.4. Sensores de
encharcamento

Os efeitos do encharcamento levam à


inibição das trocas gasosas no sistema
radicular e à redução da fotossíntese.
Essas situações, por conseguinte, levam
a diminuição do oxigênio no solo (hipo-
xia), a qual restringe a respiração celular,
causando desequilíbrio energético. Ini-
cialmente, a limitação das trocas gasosas
conduz ao rápido acúmulo do hormônio
gasoso etileno, este não solúvel em água
e, portanto, acumula-se nas membranas
das células. Durante esse processo o O2
é o ligante direto da PCO1/2, de modo
que essas oxidases são consideradas os
sensores da concentração de oxigênio
nas plantas (Weits et al., 2014; White et
al., 2017).

25
2.3. Sistema radicular: um componente grande no
ambiente de produção
As plantas possuem uma capacidade enorme de explorar o perfil do solo. Já nas
primeiras emissões das folhas. Possuem a capacidade de alcançar raízes a 60cm de
profundidade, conforme mostra a Figuras 2.2, 2.3 e 2.4, e seu potencial de aprofun-
damento das raízes pode chegar a 3 m. Essas condições têm sido frequentemente
observadas em áreas de alto potencial produtivo. Quando arrancamos uma raiz de
soja e a mesma apresenta um desenvolvimento baixo, isso é resultado de algo no
ambiente de produção que impede a raiz de se desenvolver, inclusive estresses de
caráter químico, físico ou biológico.

Figura 2.3. Raiz de soja até 3m de profundidade num latos-


solo vermelho em Goiatuba, GO. Fonte: Fotografia registrada
por Dantas em 2017 em área de soja de alta produtividade.

Figura 2.2. Raízes crescendo em rizotron, em que o compri-


mento é de 60 cm de profundidade, onde a raiz já está pre-
sente nessa profundidade. Fonte: Cortesia Paces, ESALQ USP.

26
Figura 2.4. Modelo relacionando os estádios fenológicos e crescimento radicular. Fonte: Sako (2017).

O crescimento radicular tem como N-NO3- no solo (mg . kg-1)

objetivo diminuir aquele “pisar na 2 julho 1980 2 novembro 1980

embreagem” da planta, oferecendo 0 10 20 0 10 20 30


0 0
acesso a uma grande quantidade de
água para suprir a demanda trans-
piratória e a absorção de nutrientes.
Oferece também acesso a nutrien- 60 60

tes, como o nitrogênio, presente em


Profundidade (cm)

grandes quantidades e em maiores


profundidades no perfil do solo na 120 120

forma de nitrato (Figura 2.5).

180 180

Figura 2.5. Distribuição de Nitrato no perfil


solo em diferentes épocas. Fonte: Adapta-
do de Suhet, Peres e Vargas (1985). 240 240

27
Gardner (1960) mostrou, através da sua cando sua equação, pode-se observar
equação, que a absorção de água pela que a absorção de água é função do raio
planta acontece de diferentes formas e radicular e do índice salino do solo (Figu-
em diferentes profundidades. Simplifi- ra 2.6).

Figura 2.6. Nononono nononono nono nononononono. Fonte:

A água que está disponível de 20 a 40 da camada em até 30 cm de profun-


cm, 40 a 60 cm e 60 a 80 cm, tem índice didade no consumo total de água pela
salino menor do que a água que está na planta foi de 18%, enquanto que acima
camada superficial. MacLoren (2004) ob- destes valores, isto é, de 30 cm a 150 cm,
servou que o raio radicular aumenta em o consumo total de água foi de 82%, o
profundidade devido à menor presença que torna extremamente relevante essa
de oxigênio (Figura 2.7), construindo as- profundidade para a absorção de água
sim um ambiente ideal para o suprimen- pela soja em determinadas condições.
to de água. Highes, (1980) avaliando a
cultura da soja, sorgo e milho, identificou
a capacidade das plantas em absorver
água em grandes profundidades. No es-
tudo desse pesquisador, a contribuição

28
Quercus fusiformis Quercus sinuata Juperus ashei Brumelia lanuginosa

Caule

Raízes
superfi-
ciais

Raízes
profun-
das

Figura 2.7. Figura ilustrativa de MacLoren (2004) mostrando os diferentes índices de condutividade hidráulica no perfil do solo
em diferentes espécies de plantas. Na linha vertical estão apresentadas diferentes espécies de plantas e na horizontal estão
apresentados os diâmetros dos tecidos vasculares do caule, depois nas raízes superficiais e, na terceira linha, o diâmetro dos
tecidos vasculares em raízes de grandes profundidades.

Na Tabela 2.2 é apresentado o consumo dade foi considerada como a quantida-


de água, em mm, em diferentes cama- de de água extraída na camada do solo
das do solo pelas culturas da soja, sor- (Highes, 1984).
go e milho. A metodologia consistiu em
avaliar o solo na capacidade de campo Tabela 2.2. Consumo de água (mm),
e, após 4 dias sem chuva, na reavaliação em diferentes camadas do solo, em
da umidade do solo. A diferença de umi- diferentes culturas.

Profundi- Potencial Mátrico Solo (bars)


Consumo de água em Densidade radicular
dade cada camada (mm) (cm/cm3)
(cm) Soja Sorgo Milho

0-15 2.02 2,17 0,99 10,17 10,78 6,2 0,40 1,28 0,96
15-30 0,61 0,87 3,32 10,94 6,34 6,08 0,59 0,56 0,70
30-60 2,62 1,01 0,60 26,00 19,94 16,66 0,30 0,49 0,37
60-90 3,12 1,68 5,30 4,28 2,92 4,30 0,28 0,21 0,25
90-120 1,54 4,45 3,49 8,94 6,87 5,12 0,25 0,11 0,29
120-150 4,36 0,36 -0,63 7,30 4,43 3,08 0,30 0,05 0,06
150-180 -0,38 0,50 0,31 1,99 2,03 2,64 0,18 0,01 0,02
180-210 0,00 0,12 0,12 2,13 2,34 2,20 - - -
210-240 0,40 0,32 0,52 1,76 1,60 1,58 - - -

Fonte: Highes (1984).

29
O xilema pode ser classificado em dois em situações de presença e ausência de
tipos, o protoxilema, o qual a estrutura estresse (Figura 2.9), identificaram que
está em desenvolvimento, e o metaxile- os materiais genéticos que mantiveram
ma, em que a estrutura já está desenvol- a sua condutividade hidráulica seme-
vida (Figura 2.8). O número de protoxile- lhantes sob ambas situações de estresse
mas e o seu diâmetro exercem grande tinham o número e o diâmetro de me-
influência na condutividade hidráulica taxilema semelhantes, como o material
da planta e, essas características, por sua LYS 1, e a produtividade das culturas fo-
vez, estão sob influência de fatores am- ram acompanhadas pelo número de
bientais e genéticos. Prince et al. (2017), metaxilema (MX).
avaliando 41 materiais genéticos de soja

Periclo

Endoderme

Epiderme

Figura 2.8. Diferença anatômica do material LG05-4317, utilizando o software rootscan. (A) aerênquima; (CCFN) número de célu-
las corticais, (P) floema, (MX) metaxilema. Fonte: Prince et al., 2017.

30
Figura 2.9. Variação anatômica em resposta a irrigação e seca na formação do metaxilema e córtex. Fonte: Prince et al, 2017.

A condutividade hidráulica da
água nas raízes está relaciona-
da, dentro de diversos fatores,
com o diâmetro do metaxile-
ma. As raízes em maior pro-
fundidade podem ter um di-
âmetro do metaxilema maior
que as raízes superficiais. Na
Figura 2.10, seguem seções his-
tológicas de raízes de milheto
em diferentes profundidades,
até um metro de profundida-
de. Interessante notar que o
diâmetro de xilema é maior à
medida que vai descendo em
profundidade (Passot et al.,
2016).

Figura 2.10. Diâmetro das raízes de milheto


em diferentes profundidades até um metro.
O diâmetro do metaxilema é maior nas raízes
mais fundas. A barra de escala: 50 µm. Fonte:
Passot et al., 2016.

31
Por esses motivos, a correção de subsu- ria orgânica na capacidade de água dis-
perfície em grandes profundidades tem ponível no solo para a planta, a mesma
um papel muito importante no cresci- teve maior destaque nos solos franco-a-
mento radicular e na produtividade da renosos (Figura 2.11).
soja. Em 2016/17, Sako et al. (2017) instala-
ram um ensaio em Iracemápolis, SP, com
o objetivo de avaliar até qual profundida-
de da fertilidade do solo a soja é produ-
tivamente responsiva em Latossolo Ver-
melho Mesotrófico, com problemas de
alumínio em subsuperfície. No ensaio,
os tratamentos de correção de solo fo-
ram até 2 m de profundidade. Do trata-
mento de 0,5 m até 2 m de correção, a
produtividade de soja foi de 85 sc.ha-1 a
105 sc.ha-1. A soja responde ao manejo da
fertilidade ao longo do perfil por efeitos
nutricionais e hídricos.

Tabela 2.3. Produtividade da soja em


diferentes profundidades de solo
corrigido.

Profundidade de Produtividade
correção de solo (sc.ha-1)
0 a 50cm 85 a
0 a 100cm 90 ab
0 a 150cm 92 bc
0 a 200cm 105 c
Fonte: Sako et al. (2017).

Quando se analisam os fatores de pro-


dução que podem causar grandes varia-
ções no acesso à água, há um destaque
para a profundidade de raiz ativa. Den-
tro de uma mesma classe de solo, pode-
-se notar que entre aumentar o teor de
matéria orgânica e a profundidade de
exploração das raízes, o aumento da ex-
ploração das raízes tem influência mui-
to maior no aumento da capacidade de Figura 2.11. Influência da profundidade de enraizamento
água disponível no solo para a planta. versus teor de matéria orgânica na capacidade de água
disponível para solo argiloso, franco-argiloso e franco-arenoso
Quando se analisa o aumento da maté- estimados a partir de funções de pedotransfêrencia. Fonte:

32
A magnitude de influência com que a
raiz interfere na produtividade da lavou-
ra, e a profundidade que ela é capaz de
chegar, fazem com que nos solos tropi-
cais a fertilidade do solo em superfície e
subsuperfície, nos aspectos químico-físi-
cos e os componentes vivos dele, sejam
itens importantes do manejo agrícola,
seja por meio das práticas de manejo de
solos, alocação de materiais genéticos ou
até mesmo na gestão do risco de ocor-
rerem adversidades climáticas. Por essas
razões, faz sentido adotar um conceito
mais amplo e profundo do manejo de
solos, o que torna relevante o entendi-
mento do ambiente de produção como
um todo da lavoura.

33
2.4. Fisiologia do sistema em torno de 10 a 12 minutos e, após a sua
radicular no ambiente aplicação, as plantas começam a respon-
der em crescimento.
de produção
2.4.1. Mecanismos A síntese de auxina é influenciada pelo
fisiológicos no crescimento estado nutricional das plantas. O trip-
tofano é o precursor do ácido indolacé-
e desenvolvimento radicular
tico (IAA), um tipo de auxina, conforme
O crescimento radicular é governado por mostra a Figura 2.12. Plantas deficientes
estímulos, sendo os mais fortes na fase de zinco apresentam internódios curtos,
vegetativa, devido ao fato de receber crescimento radicular menor, além de
maior quantidade de carboidratos da fo- apresentar acúmulo de aminoácidos e
tossíntese e de reduzir essa quantidade triptofanos e baixas quantidades de IAA
na fase de florescimento e enchimento (Cakmaq et al., 1989). A tabela 2.4. apre-
de grãos. O crescimento e desenvolvi- senta os teores de IAA em plantas com e
mento é intermediado principalmente sem o suprimento de zinco, assim como
por dois hormônios, a auxina e a citoci- os teores de triptofano, precursor do IAA
nina. A auxina estimula a síntese de uma e os componentes de proteína e amino-
proteína chamada expansina, a qual é ácidos Apresenta também a recupera-
responsável pela acidificação da parede ção na síntese desses compostos após o
celular por meio da H-Atpease. Com isso, ressuprimento de zinco.
a parede celular ganha uma certa flexi-
bilidade para permitir a expansão dos
tecidos vegetais, assim como a elonga-
ção desses tecidos. No ápice das raízes,
as auxinas têm papel importante na di-
visão celular, mantendo células apicais
importantes para o crescimento das raí-
zes. A resposta vegetal a auxina é rápida,

Figura 2.12 Hormônio vegetal

Ácido
Indol Triptofano
Indolacético
Figura 2.12. Legenda / Fonte

34
Tabela 2.4. Composição de aminoácidos, triptofano e IAA em plantas com
diferentes níveis de fornecimento de zinco. Legenda: (+Zn), fornecimento de
zinco, (-Zn) ausência de zinco, (-Zn+Zn) ausência e ressuprimento do zinco.

Variável Fortalecimento Zinco


+Zn -Zn -Zn +Zn
Parte aérea (g planta MS ) 8,2 3,7 4,5
Concentração Zn (mg kg) 52 13 141
Aminoácidos livre (umol g ms) 82 533 118
Proteina (mg g peso seco) 28 14 30
Triptofano (umol g peso seco) 0,4 1,3 0,3
IAA (nmol g FW) 239 118 198
Fonte: (Cakmak et al., 1999).

O boro também influencia na concentra- exemplo, intermedeia o transporte da


ção de auxina, no entanto, a forma como auxina da parte aérea para os ápices das
isso ocorre ainda não está bem esclare- raízes, enquanto que o ABCB1 auxilia no
cida. Sugere-se que plantas deficientes início do transporte basipetal. Já o ACB-
em boro têm a formação da parede ce- CB4 intermedia os níveis de auxina nos
lular prejudicada, e esse efeito nos ápices pêlos radiculares.
da parte aérea prejudica de modo direto
ou indireto a síntese de auxina. O transporte da auxina do ápice da parte
aérea para as raízes ocorre independen-
A auxina é produzida nos meristemas temente da gravidade e requer gasto
apicais da parte aérea e em tecidos fo- enérgico, necessitando de O2, disponi-
liares jovens, de onde são transportadas bilidade de sacarose, com a influência
até o ápice das raízes, provocando em negativa de inibidores metabólicos. O
conjunto com a citocinina o crescimen- transporte da auxina ocorre de forma
to radicular. Por esse motivo, os meca- simplástica, ou seja, ocorre célula a célu-
nismos de transportes de auxina até o la. O efeito da baixa disponibilidade de
ápice das raízes são muito importantes. oxigênio no crescimento radicular já é
O transporte da auxina é modulado pela citado em diversos trabalhos, de modo
proteína PIN. A proteína PIN3 redirecio- que influencia no crescimento radicular
na as auxinas ao parênquima vascular, (Figura 2.13), e em vários outros processos,
enquanto que a PIN1 direciona a auxina também por uma questão hormonal.
para os ápices das raízes. Nesse processo, a baixa disponibilidade
de oxigênio também leva ao aumento da
Outro transportador importante de au- síntese de etileno nos tecidos radiculares
xina é o ABCB, pertencente às glicopro- e como o etileno é um hormônio anta-
teinas-P. Esse tipo de transporte despen- gonista a auxina esse processo também
de um gasto energético. O ABCB19, por leva a redução no crescimento radicular.

35
<1% 2% 4% 8% 11% 15% 21%

Figura 2.13. Efeito do oxigênio na superfície do solo e no crescimento radicular. Fonte: Stolzy et al., 1961.

Uma das funções da citocinina está na da formação do tecido vascular, em que


formação do metaxilema, que são os menor quantidade de células meriste-
xilemas mais desenvolvidos. Prince et máticas resultam numa menor taxa de
al. (2016) avaliou diversos materiais ge- crescimento das raízes. Dessa forma, o
néticos e identificou que aqueles que ti- balanço de auxina e citocinina nas raízes
nham maior quantidade de metaxilema tem papel importante no balanço entre
nas fases iniciais do desenvolvimento da a divisão e diferenciação celular.
planta apresentavam maior condutivida-
de hidráulica, maior quantidade interna A biossíntese de citocinina ocorre na rota
de CO2 e maior taxa fotossintética, con- do ácido mevalônico. O estado nutricio-
junto de reações que leva a formação de nal da planta tem grande influência na
um dossel com menores temperaturas e síntese de citocinina. O fornecimento
maior produtividade (Prince et al., 2016). contínuo de nitrogênio permite à plan-
ta ter uma grande quantidade de cito-
A citocinina é responsável pela causa da cinina nos tecidos vegetais. Condição
diferenciação celular e, em quantidades oposta foi observada em batatas com a
normais, preservam o crescimento das ausência de nitrogênio, mas que com o
raízes, enquanto que, em grandes quan- ressuprimento de N, o fornecimento de
tidades, pode reduzir o crescimento ra- citocinina foi rapidamente restaurado. A
dicular. As citocininas aceleram o pro- subnutrição de P, K, N leva ao decrésci-
cesso de diferenciação celular do ápice mo geral de citocinina nas raízes e nas
da raiz (Dello loio et al., 2008), causando folhas, sendo N e K os que mais influen-
ao mesmo tempo a redução do tama- ciaram as concentrações de citocinina.
nho do meristema apical e aceleração

36
Tabela 2.5. Síntese de citocinina pelas raízes de batata com e sem forneci-
mento ininterrupto de nitrogênio.

Fortalecimento N
Idade da planta (dias) Continuo Interrompido
Citocinina sintetizado (mg planta-1 24h-1)
0 196 196
3 420 26
6 561 17
9* - 132

*Ressuprimento de N. Fonte: Marschner, 1978.

Tabela 2.6. Concentração de citocinina nas raízes e folhas em condições ple-


nas de nutrição e subótimas de N, P, K.

Citocinina (ug kg ms)


Tratamento 15 dias
Raiz Folha

Controle 2,38 3,36


1/10N 0,94 1,06
1/10P 1,06 1,28
1/10K 1,06 2,02

Fonte: Salama & Wareing, 1979.

Por meio de quatro componentes prin- carboidratos para as raízes, o Mg, B, K, Zn


cipais, para a manutenção do balanço têm papel importante nesse processo; iv)
de citocinina e auxina no ápice das raí- síntese de citocinina no ápice das raízes,
zes, é catalisado o crescimento radicular, em que na rota metabólica há grande in-
sendo: i) folhas fotossinteticamente ati- fluência do N, P, K, B, S (Figura 2.14).
vas, em que o balanço nutricional tem
um papel importante para melhorar a
performance da lavoura de soja; ii) sínte-
se de auxina nas gemas vegetativas, em
que na sua rota metabólica há um des-
taque para N, P, Zn e B; iii) transporte da
auxina para o ápice das raízes, em que
devido ao envolvimento do transporte de

37
Figura 2.14. Relação das quatro principais etapas para a preservação e síntese de auxina e citocina e sua relação ao crescimento
radicular. Fonte

38
O ácido abcísico (ABA) intermedeia di- e no caule, de 2,5 para 4,9 µg g-1 (Goldba-
versas etapas importantes relativas ao ch et al., 1975). A restrição no fornecimen-
estresse, como o fechamento estomáti- to de fósforo também provoca o aumento
co, abscisão de folhas e frutas, redução da síntese de ABA. Em algodão deficien-
do crescimento da parte aérea e regula- te de fósforo o fechamento estomático
ção do crescimento radicular. No que se ocorreu a um potencial hídrico foliar de
refere ao estresse intermediário, o ABA -1,2 MPa, enquanto que em plantas bem
reprime a síntese de etileno nas raízes e supridas ocorreu em 1,6 Mpa, de manei-
provoca o aumento do crescimento radi- ra que a sensibilidade do ABA no fecha-
cular, como também reduz o crescimen- mento estomático pode ser reduzida por
to da parte aérea, provocando uma leve meio da aplicação de citocinina (Radin e
diferença na relação da raiz com a parte Hendrix, 1988). O conjunto de sinalizações
aérea em condições ausentes de estres- provocadas pelo ABA é realizado junta-
se hídrico, mas com grandes diferenças mente com o cálcio e o fósforo pela ATP.
nessa relação sob condições severas de A Figura 2.15 ilustra a relação do aumento
estresse (Saab et al., 1990). A ramificação da síntese de ABA devido à redução de
das raízes secundárias também está rela-
disponibilidade de água, N e P e sua in-
cionada com o ABA em conjunto com a
fluência na proporção da raiz e parte aé-
auxina. Plantas mutantes deficientes de
rea. À medida que se aumenta a síntese
ABA apresentam menor resposta a auxi-
de ABA, há a redução da parte aérea em
na para iniciar a diferenciação das raízes
relação ao sistema radicular, como tam-
secundárias (Taiz & Zeiger, 1998).
bém há o aumento do próprio sistema
radicular. É relevante contextualizar que
A síntese de ABA, mediante resposta ao
no ambiente de produção é constante o
estresse é bem rápida, de modo que as
estresse no ciclo da lavoura em certos pe-
condições de estresse hídrico podem
aumentar em 50 vezes o ABA nas fo- ríodos do dia, por esse motivo, caso se ob-
lhas após quatro a oito horas (Beardsell serve a redução no crescimento radicular,
& Cohen, 1975). O ABA é sintetizado por isso se deve a maior parte das vezes por
meio da rota dos carotenóides dentro dos impedimentos físicos, químicos e biológi-
plastídeos, a partir da junção do Piruvato cos do solo.
e do gliceraldeído-3P, Isopentenildifos-
fato (IPP), Zeaxantina, trans-violaxantina A ausência ou baixa ramificação das raí-
(C40), 9-cis-neoxantina (C40), formando zes também é uma resposta à síntese de
no cictoplasma o cantoxal, seguido do ácido abscísico. A ausência de contato do
ABA-aldeido e, por fim, o ácido abcísico ápice das raízes com umidade conduz a
(ABA). A síntese de ABA é aumentada síntese de ácido abscísico num período
significativamente sobre a deficiência de relativamente rápido, como também ao
nitrogênio. A suspensão do fornecimento seu acúmulo nas raízes. O acúmulo de
de nitrogênio por 7 dias aumentou a con- ácido abscísico, por sua vez, resulta no
centração de ABA nas folhas velhas de decréscimo de auxina e esse balanço hor-
girassol de 8,1 para 29,8 µg g-1, nas folhas monal leva a prevenção da ramificação
totalmente expandidas, de 6,8 para 21 µg das raízes bem no início da zona de rami-
g-1, nas folhas novas, de 13,5 para 24 µg g-1, ficação (Ligeza et al., 2018) (Figura 2.15).

39
Figura 2.15. Relação da síntese ácido abscísico e ramificação do sistema radicular. (A), (B): as partes das raízes que não estabele-
cem contato com a matriz do solo, levam ao acúmulo de ácido abscísico e à redução da ramificação das raízes. (C) e (F): seção
das raízes onde há a sua ramificação; (D) e (G): seção das raízes onde não há ramificação das raízes; (E) e (H): seção das raízes em
profundidade onde há ramificação das raízes. Fonte: Ligeza et al., 2018.

2.4.2. Etileno et al. (2003) identificaram que a aplicação exóge-


como sinalizador na de etileno aumentou a frequência de curvatu-
de impedimento ra das raízes, conforme mostra a Figura 2.16, em
físico do solo que elas são reduzidas na presença de nutrientes
e condições aeróbicas.

A condição de hipóxia leva ao


aumento da síntese de etileno
em uma das faces das raízes e
o etileno desloca a auxina para
outras faces do tecido radicu-
lar. Com esse processo, pro-
voca na seção das raízes uma
parte do tecido com restrição à
(L)
expansão celular e em outra, o
aumento da concentração da
auxina e a síntese da expansi- 1cm
na, as quais irão gerar o afrou-
(M)
xamento da parede celular e
o seu crescimento pela hidra- (N) (O)
tação das células, causando o Figura 2.16. Efeito da aplicação de etileno na deformação das raízes. (L):
concentração de 1µl l-1 ; (M): 0,1 µl l-1 ; (N): 0,01 µl l-1 ; (O): 0,001 µl l-1 . Fonte:
entortamento das raízes. Buer Buer et al. (2003).

40
Solos com baixa quantidade de poros apresen- A biossíntese do etileno se ini-
tam baixa difusão de gases. Os tecidos radicula- cia pela conversão da metio-
res sintetizam etileno em condições de impedi- nina em S-adenosil metionina
mento físico e a baixa difusão de gases do solo (AdoMet) e, dessa, por meio da
em condições compactadas, resulta na restrição ACC sintase, convertida em Áci-
e deformação do sistema radicular (Figura 2.17). do 1-aminociclopropano-1-car-
Pandey et al., (2021) mostraram solos com 1,1 e 1,6 boxilico (ACC), em que a partir
g . dm-3 com plantas sensíveis (WT) e não sensíveis da ACC oxidase, se forma o eti-
ao etileno (Osein2; Oseil1); as plantas insensíveis leno. A conversão da AdoMet
ao etileno apresentaram um crescimento radicu- em ACC é acionada por condi-
lar igual nas duas condições de compactação do ções de inundação ou falta de
solo (Figura 2.18). oxigênio, como também de da-
nos por frio. A conversão da ACC
para etileno é restringida por
cobalto, níquel e por tempera-
turas maiores que 35ºC (McKe-
on et al., 1995). Lau e Yang (1976),
avaliando a aplicação de níquel
e cobalto na redução da síntese
de etileno, constataram a redu-
ção do etileno de 110 nl.h-1 para
30 nl.h-1 com 7 mM de NiCl2 e 18
nl.h-1 com 7 mM de CoCl2 (Lau &
Figura 2.17. Síntese de etileno em condições de solo compactado, demon- Yang, 1976).
strado por um marcador de etileno (cor verde) (E). Concentração de etileno
em torno das raízes em solos compactados (G). Fonte: Pandey et al., 2021.
O cobalto e o níquel têm ação
em conjunto na mitigação da
síntese de etileno pela inibição
da conversão da aminociclo-
propano-1-carboxilico (ACC) em
etileno. Roustan e Fallot (1989)
trabalhando com células de
cultura de cenoura, observaram
a redução da síntese de etileno
por meio da aplicação crescen-
te de níquel e cobalto (Tabela
2.7). Dessa forma, plantas bem
nutridas de níquel e cobalto se
mostraram mais tolerantes ao
Figura 2.18. Plantas crescendo em duas condições de compactação: baixa – crescimento radicular em con-
1,1 g dm³ e alta 1,6 g dm³, e também plantas sensíveis ao gás etileno (WT) e
não sensíveis ao gás etileno (Osein2; Oseil1). Fonte: Pandey et al., 2021. dições de solos compactados.

41
Tabela 2.7. Efeito de várias doses de Co2+ e Ni2+ na concentração de etileno e
número de embriões em cenoura.

Produção etileno Número de embriões Tipo de embrião


Tratamento
(nL . 8h-1 . g-1) (número . ml-1) Normal
Controle
9,68 ± 0,11 23 ± 4

CoCl2
10µM 4,64 ± 0,07 40 ± 5 Normal
20 µM 2,72 ± 0,04 49 ± 9 Normal
50 µM 1,28 ± 0,01 79 ± 9 Normal
100 µM 0,4 ± 0,01 12 ± 5 Aberrant
NiCl2
20 µM 7,84 ± 0,09 28 ± 5 Normal
50 µM 6,4 ± 0,1 32 ± 5 Normal
100 µM 3,92 ± 0,08 45 ± 6 Normal
Fonte: Roustan e Fallot, 1989.

2.4.3. Relações hídricas no bólico tão grande. O potencial hídrico da


continuum solo-raiz-folha- atmosfera durante o dia pode chegar em
atmosfera -90 MPa, a folha aumenta drasticamente
para -0,6 MPa, as raízes para -0,4 MPa, e
o solo para -0,2 MPa.
As forças que atuam na absorção de
água durante o dia e a noite são distin-
tas (Figura 2.19). Durante o dia, a diferen-
ça de potencial hídrico entre o contínuo
atmosfera-folhas-xilema-raízes permi-
te com que o translocamento da água
ocorra com um baixo gasto energético,
tendo efeitos físicos predominantes nes-
se processo. As folhas, ao perderem água
para a atmosfera, por meio da transpi-
ração, durante esse processo cria-se um
gradiente de pressão negativo entre a at-
mosfera e as próprias folhas, com os va-
sos xilemáticos até os ápices das raízes,
o que favorece a absorção e a perda de
água. Nesse momento da transpiração a
força física não requer um gasto meta-

42
Figura 2.19. Durante o dia ocorre uma grande diferença de potencial hídrico entre o solo e a atmosfera, dessa forma leva a uma
absorção de água no seu sentido físico. Durante a noite, devido ao fechamento estomático, menor diferença de potencial hídri-
co entre a atmosfera e o solo devido à redução da temperatura, de tal sorte que a pressão positiva das raízes predomina na sua
condutividade hidráulica. Fonte: Os Autores.

43
Fatores físicos e estruturais possuem radial da água se faz por dois caminhos
papéis importantes para a transpiração principais, a rota simplástica, por meio
das plantas, como o diâmetro dos vasos das células das raízes, a qual depende da
condutores, a extensão do sistema radi- síntese de aquaporina, e a rota apoplásti-
cular e o grau de lignificação dos vasos ca, entre as células vegetais (Figura 2.20),
xilemáticos para suportar as tensões hí- em que é importante a não formação de
dricas (Hacke et al., 2001). O transporte calose entre as células.

Figura 2.20. Condutividade hídrica do contínuo solo-raiz-vasos condutores, detalhamento das rotas simplástica e apoplástica.
Fonte: Os autores

44
O movimento radial da água pode ocor- (d)
rer de modo simplástico, dentre as cé-
lulas, e de forma apoplástica, entre as
células. Nos tecidos mais jovens das ra-
ízes predomina-se a rota simplástica e,
nesse processo, os canais formados pela
aquaporina têm um papel importante
para facilitar o movimento da água (Co-
chard et al., 2007; Hachez et al., 2012),
contribuindo entre 20 a 80% no movi-
mento radial (Maurel & Crispeels, 2001;
Javot et al., 2012). A quantidade, locali-
Hidropônico Aeropônico
zação na célula e a abertura dos poros
da aquaporina, regulam o seu fluxo pela Figura 2.21. Identificação da proteína ZmPIP2,5 nos cultivos
aeropônico e hidropônico. Ausência da proteína nas cama-
rota simplástica (Hachez et al., 2012; Li et das no meio hidropônico. Maiores quantidades de ZmPIP2,5
está associado c
al., 2011, Boursiac et al., 2008). À medida
que os tecidos radiculares se desenvol-
vem ao longo da sua seção, a rota apo- Uma das situações em que a compac-
tação influencia na condutividade de
plástica ganha maior participação, de
água dentro da planta é a deformação
modo que a camada de células aumenta
dos vasos condutores e a redução da
entre a superfície das raízes e o xilema
condutividade hidráulica. Apesar de ser
(Yang et al., 2012), assim como a presen-
um processo físico, a condição física do
ça da característica hidrofóbica da estria
solo, juntamente com a falta de oxigênio
de caspari, na endoderme e exoderme.
por longos períodos, resulta no decrésci-
mo de absorção de água. Monrad et al.
O ambiente em torno da raiz influencia
(2000), avaliando a disponibilidade de
na formação da estria de caspari. Hachez
oxigênio em meio hidropônico, notaram
et al. (2012), avaliando uma condição com
que a ausência de oxigênio na solução do
maior disponibilidade de oxigênio em solo após 48 horas chegou a decrescer a
cultivo aeropônico e, com menor dispo- absorção de água entre 20 e 30%, possi-
nibilidade de oxigênio, em cultivo hidro- velmente por efeitos indiretos do meta-
pônico, identificaram que no meio aero- bolismo da planta. A toxidez de alumí-
pônico formou-se, a 5 cm do ápice das nio, além de provocar a deformação das
raízes, uma hipoderme da estria de cas- raízes, levará à inativação da aquaporina,
pari. Já no meio hidropônico, não houve que permite a rota simplástica da água.
a formação da hipoderme, e isso ocorreu Durante a noite ou em ambiente de
a 10-15 cm de distância dos ápices das alta umidade relativa do ar, a raiz esta-
raízes, sendo que nessa seção as estrias belece uma pressão positiva de água.
de caspari já estão bem lignificadas em Esse processo pode ser notado quando a
comparação com o meio aeropônico. água se extravasa pelos hidatódios, pro-

45
cesso denominado de gutação. Um exercício Tabela 2.8. Volume de exsudato
que se pode observar ainda dessa força das e concentração de nutrientes
raízes é quando se corta o caule da planta e em raízes cortadas de milho.
se instala um tubo para acompanhar a coluna
da água estabelecida (Figura 2.22). A magnitu- Concentração
de da pressão positiva das raízes é altamente Volume de nutrientes
Trata- no exsudato
exsudato
dependente da disponibilidade de oxigênio mento
(ml . hora-1)
e carboidratos. Marschner (1995) aplicando K+ Ca2-
oxigênio por uma bomba de ar em um trata-
02 8,83 16,2 1,8
mento e N2, identificou um maior volume de
exsudato oriundo da pressão positiva da raiz N2 1,90 15,2 1,7

no tratamento com maior quantidade de oxi- Fonte: Marschner, 1995.

gênio (Tabela 2.8). Em termos nutricionais, esse


As margens das folhas são a região
efeito da pressão positiva tem papel importan-
que mais transpiram e uma vez que
te na distribuição de nutrientes nas partes das
a água é o carreador de nutrientes,
plantas de menor transpiração, principalmen-
há o acúmulo de nutrientes nelas,
te o cálcio e o boro.
dentre eles o boro. O fato de na su-
perfície da folha não haver a trans-
piração homogênea por toda sua
extensão, a sincronia entre o cres-
cimento e o desenvolvimento dos
tecidos foliares com a sua nutrição
pode ocorrer em deficiências nutri-
cionais regionais. O boro é um ele-
mento que participa da formação
dos escleródios e das fibras da plan-
ta, além de conferir elasticidade à
parede celular, de modo que a sua
falta leva à deformação foliar de for-
ma regionalizada.

Em estudo realizado nas lavouras de


soja em Alfenas, MG, em que foram
separados apenas os tecidos vege-
tais enrugados dos tecidos normais,
observou-se teores de boro mais
baixos na parte enrugada (Figura
2.23). Um dos mecanismos para me-
lhorar a distribuição do boro dentro
Figura 2.22. Coluna de água estabelecida pela pressão positiva das da planta é o efeito da pressão po-
raízes. Fonte: Sako, 2019.

46
sitiva das raízes no fluxo de água. Isso per- enquanto que em baixa umidade relativa
mite com que o boro alcance, em maior praticamente não houve movimento do
quantidade, os tecidos com baixa concen- boro. Essa irregularidade de distribuição
tração do elemento. No entanto, a pres- do boro no tecido da planta pode ocorrer
são das raízes se torna uma força maior no mesmo órgão vegetativo e em tecidos
no movimento da água, quanto maior for adjacentes, devido ao fato de cada região
a umidade relativa do ar. Eichert e Gol- da folha possuir intensidade de transpira-
dbach (2010), avaliando o transporte do ção diferente e, consequentemente, estar
boro em plântulas com umidade relativa sujeita a receber em diferentes tempos o
a 70%, notaram que 16 a 24% do boro foi boro de acordo com a taxa de crescimen-
translocado para outras partes da planta, to do tecido foliar.

43,91 mg . kg-1 boro

29,04 mg . kg-1 boro

Figura 2.23. Lado direito: regiões do tecido foliar com maior frequência de enrugamento apresentaram teor de boro de 29,04
mg.kg-1; lado esquerdo: tecidos vegetais com menor frequência de enrugamento com teor de boro de 43,91 mg.kg-1. Fonte: Os
Autores.

O efeito da pressão das raízes também folha. Nesse mesmo estudo foi avaliado
é importante para a distribuição do o magnésio e a concentração foi de 87
cálcio em tecidos novos ou com baixa para 78, baixa variação, à qual se deve a
concentração de estômatos. A necrose maior facilidade de redistribuição desse
nas pontas das folhas de morango, por elemento na planta. A pressão das raí-
exemplo, é decorrente da deficiência de zes é altamente influenciada pelo supri-
cálcio nessa região, sendo dependente mento de oxigênio nas raízes, de modo
da pressão das raízes. Guttridge et al., que a interrupção do fornecimento de
(1981) reduziram drasticamente a ocor- oxigênio em solução para as raízes de
rência de necrose no ápice das folhas tomate durante a noite, em outro exem-
com a alta pressão provocada pelas raí- plo, reduziu em 42% o transporte de cál-
zes, aumentando a concentração de cál- cio para o caule e 82% para as folhas (Ta-
cio nas folhas de 7 µg/folha para 62 µg/ chibana, 1991).

47
2.4.4. Fechamento estomático a plasmólise com o avanço da desidrata-
na eficiência hídrica ção. Dependendo da intensidade do es-
tresse, a recuperação da planta é demo-
Nos momentos do dia em que há altas rada e parcial, em função da intensidade
temperaturas, a planta tem a possibilida- do déficit e das estruturas afetadas.
de de perder muita água para a atmosfe-
ra em função da grande diferença de po- 2.4.5. Fatores importantes na
tencial hídrico. Nesse momento do dia, é absorção de nutrientes
importante a planta conseguir fechar ra-
pidamente os estômatos para evitar per- As raízes podem ser divididas em três
da excessiva de água. componentes principais ao longo do seu
eixo: zona meristemática, de alongamen-
O ácido abscísico é sintetizado nas raí- to e de maturação. A zona meristemáti-
zes quando as plantas estão sob déficit ca é onde se localizam as etapas de divi-
hídrico. O ácido abscísico é rapidamente são e diferenciação celular, com intensa
translocado até a parte aérea e o cálcio divisão celular em torno de 0,4 mm do
atua sobre a bomba de prótons, sinali- ápice das raízes. A zona de alongamen-
zando a sua abertura para entrada de po- to inicia-se de 0,7 a 1,5mm do ápice, de
tássio dentro das células guarda. Pela di- modo que nesse local as células se alon-
ferença de potencial osmótico, as células gam rapidamente. Nessa região ocorre o
guarda se desidratam e ocorre o fecha- aumento da deposição de suberina e for-
mento estomático. mação de estria de Caspary, estrutura hi-
drófila que cessa o movimento apoplásti-
Nesse processo, o enxofre tem um pa- co de água e solutos das raízes, conforme
pel importante, em que Machelska et al. ressaltamos acima. A endoderme divide
(2017) demonstraram a relação do sulfa- as raízes em duas regiões, o córtex, para o
to sendo liberado no xilema em períodos lado externo, e o estelo para o lado inter-
secos, com o desencadeamento da sínte- no. O estelo contém os vasos condutores,
se de ABA para as células-guardas, indu- floema e xilema. No curso do desenvolvi-
zindo o fechamento estomático. Outro mento radicular, o floema se desenvolve
elemento que tem um papel importante mais rápido que o xilema, o que permite
no movimento estomático é o fósforo. No a chegada de produtos metabólitos im-
processo de fechamento estomático, há portantes para o ápice das raízes, como
um gasto de energia que é suprido pela carboidratos, oriundos do processo fotos-
ATP, a qual depende do fósforo. sintético. Na zona de maturação ocorre a
formação dos pêlos radiculares, aumen-
À medida que o estresse hídrico aumen- tando consideravelmente a zona de ab-
ta, o citoplasma vai reduzindo sua pres- sorção de água.
são sobre a lamela média, até o momen-
to em que a membrana celular rompe Ao longo da seção das raízes há diferentes
seu contato com a lamela média, levando afinidades na absorção de nutrientes. O

48
cálcio é restrito à região apical das raízes. V) Estado nutricional da planta. O esta-
O ferro vai por toda a seção das raízes. O do nutricional da planta determina
K, o nitrato, o amônio e o fosfato podem a cinética de absorção de nutrientes,
ser absorvidos por toda a zona de alonga- sendo que quanto menor seu esta-
mento dos tecidos radiculares. Enquanto do, maior é a sua taxa de absorção de
que no milho, especificamente na zona nutrientes.
de alongamento, ocorrem taxas mínimas
de acúmulo de potássio.

Os fatores que influenciam nas etapas re-


lacionados à absorção de nutrientes são
diversos. Podemos citar eles:

I) Disponibilidade de oxigênio no
perfil do solo. A absorção de nu-
trientes diretamente e indireta-
mente requer um gasto energé-
tico e, por esse motivo, depende
da disponibilidade de oxigênio no
solo.

II) Umidade do solo. A água é o veí-


culo de transporte de nutrientes,
sendo que quanto menor a dispo-
nibilidade de água, o primeiro ele-
mento a ser afetado na absorção
é o fósforo e, por esse motivo, em
períodos de estiagem o fósforo
em subsuperfície é um fator im-
portante.

Concentração dos nutrientes. Os


III) teores do elemento no solo é um
dos componentes mais estudados
na absorção de nutrientes.

Taxa de crescimento radicular. A


IV) taxa de crescimento radicular é um
dos fatores que mais influencia na
absorção de nutrientes, com desta-
que para o fósforo e o potássio.

49
2.5. Fatores fisiológicos vam ao decréscimo da fixação da estru-
tura reprodutiva por nó, de modo que tal
na formação e fixação
início ocorrendo abaixo de 14ºC pratica-
da estrutura reprodutiva mente não há fixação de estrutura repro-
dutiva (Fancelli, 2014). O déficit hídrico
Um dos componentes da produtividade nessa fase também penaliza a fixação da
é a formação e fixação da estrutura re- estrutura reprodutiva devido à redução
produtiva por metro quadrado e, sendo na quantidade de carboidratos produ-
assim, é um tópico muito importante a zidos pela fotossíntese (Liu et al., 2004).
ser apresentado. Destacam-se três fato- Condições de falta de luz, seja num ma-
res principais para a fixação da estrutura croambiente por condições nubladas,
reprodutiva, i) fluxo de carboidratos da seja no autosombreamento por excesso
fonte para o dreno; ii) balanço hormonal; de plantas, resulta na queda de flores e
iii) planta nutricionalmente equilibrada. vagens.

Por racemo pode-se ter de 20 a 30 flores A fixação da estrutura reprodutiva sob


e uma pequena parte desse conjunto de grande influência da citocinina, produ-
flores se firma como vagens, completan- zida no ápice das raízes ou podendo ser
do seu desenvolvimento. Ainda nota-se a aplicado via folha por citocininas sinté-
necessidade de avançar o entendimen- ticas. Carlson et al. (1987) identificaram
to dos fatores envolvidos no abortamen- que o fluxo de citocinina presente nos
to das estruturas reprodutivas, mas po- vasos condutores é proporcional a pro-
demos destacar três fatores principais: babilidade da flor se tornar vagem. Por
i) fluxo de carboidratos da fonte para o essa razão, é comum notar que plantas
dreno; ii) balanço hormonal; iii) planta com vários ápices de raízes, devido à es-
nutricionalmente equilibrada. trutura granular, possuem proporcional-
mente uma boa fixação de vagens. Da
O fluxo contínuo e diário de carboidratos mesma forma, o suplemento de citocini-
das folhas para as estruturas reproduti- na sintética favorece a fixação das estru-
vas é um dos pilares para a fixação da es- turas reprodutivas.
trutura reprodutiva. Qualquer fator que
afete a síntese de carboidratos e a sua Tanto por preservar e promover folhas fo-
distribuição até as vagens irá influenciar tossinteticamente ativas quanto à sínte-
na sua fixação e enchimento. Satorre et se hormonal, plantas nutricionalmente
al. (2010) citaram diversos trabalhos que equilibradas possuem maiores vagens.
demonstram que o número de grãos A deficiência nutricional dos macronu-
está limitado pela atividade da fonte de trientes primários penalizam a síntese de
fotoassimilados (folha) durante a fase re- citocinina, assim como o boro. Em culti-
produtiva e não pela quantidade de va- vo de maçã, por exemplo, o momento de
gens formadas. Dessa forma, estresses aplicação e a fonte de nitrogênio influen-
térmicos por altas temperaturas, com cia a síntese de aminoácidos, de arginina
início acima de 30ºC e abaixo de 21ºC, le- (poliamina) e também a floração.

50
Tabela 2.9. Iniciação floral em maçã for- também é um desafio. Por esses mo-
necido com nitrogênio e poliaminas. tivos, a aplicação periódica de amino-
ácidos e carboidratos auxilia no pleno
metabolismo da planta em ambas as
Porcen- Concen- situações de estresse e no pleno cres-
Tratamento
tagem de tração de cimento.
floração arginina
(%) mg.(g.ms)-1
Outro componente de produção de-
terminante para altas produtividades
Fornecimento 15 1,1
é o peso de mil grãos. É possível notar
contínuo de nitrato
lavouras que possuem uma quanti-
NH4 em 24H 37 2,6 dade de vagem por metro quadrado
NH4 por uma semana 40 2,3 nada excepcional, mas que ao colher
Putrescina 51 - a lavoura, apresenta alta produtivida-
de. Esse resultado é devido ao peso
Espermina 47 -
dos grãos. Na Figura 2.24 apresenta-
NH4 24h 50 -
mos a variabilidade que podemos ter
Fonte: Rohozinski et al., 1986.
de peso de um grão saindo de 0,122 g
até 0,242 g numa mesma lavoura, se
As condições de estresse hídrico, térmi- todos os grãos atingirem um peso de
co por resíduo de herbicidas, penalizam o grãos de 0,242 g, a produtividade pas-
crescimento e desenvolvimento das plantas saria das 100 sc.ha-1. O crescimento
a ponto de que há um período até a planta dos grãos é influenciado por diversos
voltar ao seu pleno metabolismo. Da mes- fatores como radiação, estresse hídri-
ma forma, a expansão dos tecidos vegetais co, estresse térmico, disponibilidade
sincronizada com todos componentes orgâ- de nutrientes e destaque para os ele-
nicos e minerais para o pleno metabolismo mentos de carga negativa e boro.

Figura 2.24. Variabilidade de peso de grãos ocasionada por fatores bióticos e abióticos numa mesma lavoura. Paracatu, MG.
Fonte: Os Autores.

51
Analisando a marcha de acúmulo
de nutrientes numa lavoura de 110
sc.ha-1 (Barth et al., 2018) nota-se que
de todos os nutrientes o nitrogênio é
o nutriente de maior demanda pela
planta, e que a partir do início do
florescimento, R1 está apenas 30%
de todo o nitrogênio que irá acu-
mular (Figura 2.25). A partir desse
momento, acontece um dos gran-
des desafios do ciclo de nitrogênio
na soja. A fonte indiscutivelmente
importante e de menor custo para
a soja é oriunda da fixação biológi-
ca de nitrogênio, no entanto, nesse
momento, a partir do florescimen-
to o fluxo de carboidratos começa a
ser dividido além das raízes e da ati-
vidade dos nódulos para a parte re-
produtiva. Dessa forma o dreno co-
meça a ser repartido para as vagens
e do mesmo modo, quando a plan-
ta inicia a fase de enchimento R5.1,
precisa tanto do carboidrato quanto
do nitrogênio, oriundo da fixação de
nitrogênio que também requer car-
boidratos para sua atividade plena.
Somado a essas condicionantes, a
planta nessa fase possui uma queda
na atividade dos nódulos por qual-
Figura 2.25. Acúmulo de nutrientes e matéria seca numa lavoura de
quer estresse hídrico, térmico, nu- 110 sc.ha-1. Fonte: Barth et al., 2018.
tricional, por pragas e doenças de
solo. Neste sentido, a fase de cresci-
mento de grãos tem como um dos
pontos críticos a capacidade dos A atividade fotossintética possui um papel de
nódulos de fornecer o nitrogênio e grande relevância na fase do enchimento de
isso se acentua à medida que se au- grãos. O grau de hidratação e a fotossíntese
menta a produtividade da soja. Por possuem relação logarítmica entre eles e, em
esse motivo, a capacidade do solo função disso, o acesso à água pelas raízes ativas
em disponibilizar o nitrogênio é um em maiores profundidades tem como conse-
fator importante para boas produti- quência um maior peso de mil grãos, confor-
vidades. me ensaios demonstrados por Sako (2019).

52
O início da fase de enchimento de grãos de soja que daria uma produtividade 100
é acompanhado também pela maior ex- sc.ha-1 e outra ao lado que houve o avan-
posição a doenças de solo. Tecidos vege- ço da Macrophomina e produziu 25g por
tais nutricionalmente desequilibrados, planta, equivalente a 66 sc.ha-1 de soja.
nematóides abrindo ferimentos nas raí- As doenças roubam nossa produtivida-
zes e abrindo porta para o complexo de de de forma silenciosa, as toxinas libera-
doenças de solo, necrosamento de raízes das pelas doenças de solo penalizam o
por falta de oxigênio, são aberturas para fluxo de água, nutrientes e carboidratos
o complexo de doenças avançar sobre e reduzem o peso dos grãos. As diversas
os tecidos vegetais e provocar o encur- ferramentas biológicas, solo vivo e poroso,
tamento do ciclo da planta, penalizar o nutrição equilibrada com destaque para
enchimento de grãos, e provocar uma o Boro, são práticas que ajudam a mitigar
maior variabilidade da lavoura o que difi- os danos pelas doenças de solo. Elas, con-
culta a tomada de decisão da dessecação sorciadas com a rotação de cultura, são
da lavoura. Na Figura 2.26 apresentamos determinantes para a resiliência e produ-
uma planta saudável que produziu 41g tividade das lavouras.

Doente Sadio
25 g/planta 41 g/planta
160.000 plantas/ha 1600.000 planta/ha
66 sc/ha 109 sc/ha

Figura 2.26. Comparação de produção de grãos entre uma planta sadia e outra com doença, em Paracatu. Fonte: Sako, H.

53
Sem dúvida, o desafio de acumular nu-
trientes nessa fase é que faz com que de-
terminados materiais genéticos tenham
maior ou menor capacidade de aprovei-
tar a fertilidade do solo e responder em
produtividade, assim como nem todo
material genético responde em produti-
vidade à melhoria da fertilidade do solo
em seu sentido amplo, isto é, físico-quí-
mico-biológico, de modo que, combinar
a genética dentro do ambiente de pro-
dução, vem a ser uma ferramenta pode-
rosa.

54
2.6. Metodologias in situ Os processo de absorção de água e nu-
trientes são processos que gastam ener-
para avaliação de raízes
gia oriunda da respiração das raízes, exa-
2.6.1. Identificação de tamente nos processo da conversão do
raízes ativas in situ ATP em ADP, dentro das mitocôndrias. O
sal de tetrazolio é um composto que mar-
ca proporcionalmente a intensidade da
O crescimento radicular em abundância é geração de energia pela mitocôndria. Esse
o primeiro passo na construção do sistema composto é muito útil para identificar a
resiliente e produtivo, e na segunda etapa atividade das raízes. Segue um exemplo
é importante entender qual porcentagem de raízes que receberam a metodologia,
de raízes está fisiologicamente ativa. na Figura 2.27.

Figura 2.27. Raízes que receberam a solução de tetrazolio. As seções das raízes com coloração avermelhada são as partes mais
ativas do sistema radicular. Fonte: Sako, H

55
A metodologia consiste no uso de uma vidade metabólica. A solução não pode
proporção de 7 g de sal de tetrazolio receber luz. Na água é comum haverem
para 45 ml de água. Para facilitar o ma- organismos fotossinteticamente ativos e
nuseio, orienta-se a usar tubos falcon. As isso culmina em sua coloração, devido
raízes coletadas devem ser mergulha- à atividade respiratória desses organis-
das na solução do sal de tetrazolio logo mos. Assim, as raízes mergulhadas por
após a abertura das trincheiras; quanto uma hora na solução com tetrazolio, irão
mais tempo se passar no destacamento sinalizar sua atividade por meio da colo-
das raízes da planta, menor será sua ati- ração vermelha dos tecidos radiculares.

2.6.2. Identificação de raízes te identificar se há grande concentração


intoxicadas por Alumínio de alumínio nas raízes. Havendo isso, elas
são marcadas pela coloração azul, como
A imersão de raízes numa solução de he- mostrado na Figura 2.28.
matoxilina com iodato de potássio permi-

a b c d

Figura 2.28. Identificação de alumínio nos tecidos radiculares por meio de hematoxilina com iodeto de potássio. a) raízes sem
boro sem alumínio, b) raiz com boro e sem alumínio, c) raiz sem boro com alumínio, d) raiz com boro e com alumínio. Fonte:
Riaz et al., 2018.

56
2.6.3. Infecção pelo complexo marrom é sinal de alguma toxina sendo
de doenças de solo. veiculada dentro dos vasos condutores
da planta, e o avanço em coloração para
o marrom-azul ou vermelho sinalizam
As raízes dão importantes sinais se está o crescimento das doenças nos tecidos
havendo infecção pelo complexo de do- vegetais, azul podendo ser phomopsis,
enças do solo. Ao cortar as raízes e identi- macrophomina, phytophora e, no caso
ficar tecidos migrando da cor clara para o do vermelho, fusarium.

Figura 2.29. Infecção intermediária e avançada de doenças de solo. Lado direito, Macrophomina. Fonte: Os Autores.

57
58
CAPÍTULO 3
FERTILIDADE QUÍMICA DE
SUPERFÍCIE E SUBSUPERFÍCIE DO
SOLO NO AMBIENTE DE PRODUÇÃO

SAKO, H.¹; DANTAS, J.P.S.¹; BATTISTI, R.²


1. DK CIÊNCIA AGRONÔMICA
2. UFG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.

59
60
1. Introdução contramos situações em que as raízes são
superficiais, isso indica que existem nesse
As referências técnicas da fertilidade do solo impedimentos de caráter químico,
solo mudam no decorrer dos anos devido físico ou biológico, os quais dificultam o
à mudança genética e aos patamares de aprofundamento do sistema radicular.
produtividade. Em função da relevância
agronômica das raízes em subsuperfície, O impedimento químico é o principal
a fertilidade em subsuperfície apresenta problema em solos tropicais devido à
significativa importância e, por essa ra- sua formação, na maior parte, por rochas
zão, há maior coerência de designação de granito e arenito que dão origem a so-
em usar o termo “ambiente de produ- los ácidos, em que o pH é baixo. Nesse
ção”. Neste capítulo será apresentado o sentido, a falta de nutrientes e a presen-
“retrato técnico” da fertilidade dos solos ça de alumínio são características bem
de alta produtividade em superfície e conhecidas dessas áreas agricultáveis. O
subsuperfície, sua relevância técnica e solo possui três tipos principais de acidez
seus principais manejos. (Figura 3.1). Acidez Ativa: dada pela con-
centração de H+ na solução do solo; Aci-
2. Alumínio e pH no ambi- dez Trocável: refere-se ao alumínio (AI3+)
ente de produção e ao hidrogênio (H+) trocáveis e absorvi-
dos nas superfícies dos colóides minerais
O desenvolvimento radicular, cuja atri- ou orgânicos por forças eletrostáticas;
buição principal é evitar o estresse, está Acidez Não Trocável: representada por
dentro do código genético da planta e H+ em ligação covalente (mais difícil de
acontece diariamente até determinada ser rompida) com as frações orgânicas e
fase fenológica. Desse modo, quando en- minerais do solo.

Fase sólida Fase líquida

-Ca
-Al
Argila Al3+
Acidez
trocável Ca2+

-COO -Al H+
CTC

Húmus -COO -H
Acidez
O -H ativa

Acidez não H+
-FeO -H trocável
Óxidos AIO -H

Figura 3.1. Diferentes tipos de acidez do solo. Fonte: Malavolta 2006.

61
Landell et al. (2003), avaliando diversas subsuperfície (Tabela 3.1). Sako (2019), re-
lavouras de cana-de-açúcar, identifica- alizando levantamentos extensivos com
ram que os atributos do solo da camada pesquisadores e instituições de pesqui-
de 80-100 cm explicam uma parte con- sa em lavouras de soja, identificou que a
siderável da produtividade. Prado (2003) classificação pedológica em mesotrófico
possui um longo trabalho com cana-de- e eutrófico faz coerência em lavouras de
-açúcar no que diz respeito à classificação alta produtividade.
de ambientes de produção, amplamente
adotada no setor, e que possui, dentre Tabela 3.1. Critérios químicos pe-
os critérios de classificação dos ambien- dológicos ou de subsuperfície
tes de produção, os atributos de solo de
(SiBCS, 2018).

Parâmetros SB RC Na/CTC
V(1) (2)
m(1) Al(2) (3)
T(3) (1)
CE(4)
Interpretações
> >
Eutrófico (e) 50 1,5
>
Mesotrófico (m) 50 <1,5
20- >
Mesotrófico (m) 1,2 <50 <0,30
49
Distrófico (d) 20- <1,2 <50 <0,30 >1,5
49
Mesoálico (ma) 15- 0,31-4
49 ,0 >1,5

Álico (a) 0,31-4


<50 ,0
Ácrico* (w) <1,5
<
Alumínico (aa) <50 <4,00 20
>
Alítico (aaa) <50 <4,00 20
Sódico (n) >15 <4

Solódico (nn) 6<15


>
Salino (z) <15 4<7
Sálico (zz) >7

Salino sódico (zn) >15 >4

(1):porcentagem, (2):cmolc/kg de solo, (3):cmolc/kg de argila, (4):dS/m


* para ser ácrico, além do valor de retenção de cátions (RC) menor ou igual a 1,5cmolç/kg de argila, deve ser atendida pelo
menos uma das três condições:
1- delta pH positivo (pH KCL – pH H2O) ou
2- pH KCL maior ou igual a 4,5 ou
3- CTC a pH 7 menor que 3,5 cmolc/kg de solo.
Fonte: PRADO, 2020 (no prelo) adaptado de OLIVEIRA (1995).
Quando, ao mesmo tempo, forem atendidas as condições químicas para mesotrófico e mesoálico, decidir como mesotrófico
quando pH CaCl2 for maior ou igual a 4,5 e mesoálico se o valor do pH CaCl2 for menor que 4,5.
Fonte: PRADO, 2020 (no prelo) adaptado de LOPES (1983).

62
No que diz respeito ao alumínio tóxi- cia, desregular a membrana plasmática.
co no perfil de solo, este apresenta uma Por diversos motivos, o alumínio deve ser
série de efeitos negativos para a produ- manejado no perfil de solo. Na Tabela 3.2,
tividade, como a redução do crescimen- seguem as faixas de saturação de alumí-
to radicular e a penalização da ativida- nio e as respectivas produtividades e na
de da aquaporina, proteína importante tabela 3.3 as referência de saturação de
na rota simplástica da água, conforme bases com a produtividade..
apresentado no Capítulo 2. Outro efei-
to pernicioso é que esse alumínio pode Tabela 3.2. Saturação de alumínio
ser absorvido pelas raízes e transportado de diversas análises de solo, textura
até os tecidos foliares, ligando-se ao ATP, média a argilosa. Análises das produ-
fonte de geração de energia para o me- tividades da faixa de 50 a 70 sc.ha-1,
tabolismo da planta e, como consequên- 70 a 90 sc.ha-1 e acima de 90 sc.ha-1.

50 a 70 sc.ha-1 70 a 90 sc.ha-1 acima de 90 sc.ha-1


Profundidade
Limite inferior e superior

0-10 cm 0,1 a 1,50 0,00 a 0,60 0,00 a 0,00

10-20 cm 0,20 a 10,00 0,60 a 5,10 0,00 a 1,02

20-40 cm 3,20 a 15,80 2,30 a 11,40 0,00 a 3,98

40-60 cm 3,80 a 15,40 4,00 a 12,40 0,00 a 5,86

60-80 cm 0,90 a 12,10 0,60 a 10,10 0,00 a 6,17

80-100 cm 0,00 a 6,80 0,60 a 11,20 0,00 a 3,72

Fonte: Sako et al. (2017).

Tabela 3.3. Levantamento extenso da fertilidade de solo de lavouras com dif-


erentes faixas de produtividade.

50 a 70 sc.ha-1 70 a 90 sc.ha-1 acima de 90 sc.ha-1


Profundidade
Limite inferior e superior

0-10 cm 54,90 a 65,70 61,70 a 70,00 68,36 a 78,07

10-20 cm 42,90 a 53,70 49,90 a 65,00 59,51 a 74,86

20-40 cm 30,80 a 40,90 39,50 a 54,60 51,96 a 68,27

40-60 cm 26,80 a 36,70 31,30 a 46,90 42,06 a 58,26

60-80 cm 27,70 a 40,90 35,80 a 49,90 40,00 a 53,69

80-100 cm 23,60 a 36,80 34,60 a 47,60 39,77 a 53,25

Fonte: Sako et al. (2017).

63
A correção da acidez é um dos ça do alumínio tóxico no solo é a deformação dos
principais meios para mitigar a ápices das raízes (Figura 3.3).
toxicidade do alumínio. Em pH
mais próximo da neutralidade, 0 Subsolo pH
o Al2+ reage com as hidroxilas 4.2 - 4.3

Profundidade do solo (cm)


15 4.4 - 4.9
e forma AlOH2-, que é a sua for- 5.0 - 6.0
ma insolúvel. Quando se corrige 30
a acidez ativa, oriunda do alu-
mínio, uma mudança muito im- 45
portante que se nota é o aumen-
to do acesso à água no solo. Na 60
Figura 3.2, um perfil de solo com
75
problemas de acidez e alumínio
teve aumento de absorção de 90
água pelo perfil de raízes na me- 0 30 40 50 60 70 80 90 100
dida em que foi sendo corrigido Água absorvida (%)
o pH (Adams et al., 1967). Uma
Figura 3.2. Extração de água pelo perfil de solo em três faixas de pH num
das consequências da presen- perfil de solo com teores de alumínio. Fonte: Adams (1967).

Figura 3.3.
Efeito do
alumínio na
estrutura do
ápice das
raízes. Fonte:
Delhaize &
Ryan (1995).

64
2.1 Origem da acidez meios em questão são: i) exportação de
ânions: acidez gerada pela exportação
“Acidez é o imposto biológico de nutrientes; ii) lixiviação e escoamento
da agricultura”. superficial de ânions: acidez gerada pela
(os autores) não absorção de ânions; iii) precipitação:
acidez gerada pela chuva; iv) acidez ge-
O sistema de produção agrícola possui rada pela fixação de nitrogênio; v) acidez
seis principais meios que geram acidez gerada pela mineralização da matéria or-
(Figura 3.4). Em função desses meios, po- gânica; vi) acidez gerada pela adubação
demos considerar que produzir alimen- mineral; vii) acidez gerada pela fixação
to é produzir acidez também. Assim, os biológica de nitrogênio

i) Exportação
iv) precipitação de ânions

FBN
Balanço de
H+ e OH- Erosão
vi) acidez
gerada pela
dubação mineral

ii) lixiviação de ânions


Figura 3.4. Os seis principais meios que geram acidez no ambiente de produção. Fonte: os autores.

2.1.1 Exportação de ânions

As plantas, para manterem um balanço Tabela 3.4. Acidez gerada pela expor-
de cargas, seguem um equilíbrio, em que tação de nutrientes.
ao absorver um cátion, exporta um cátion
ao meio e, nesse caso, vem a ser um H+. Produti- Acidez
Acidez
O mesmo ocorre com o ânion, que nesse Cultura vidade equivalente
(kmol H+ t-1)
(t há-1) kg CaCO3 ha-1)
caso é um OH-. Dessa forma, dependen-
do do balanço de nutrientes que as plan- Feijão 0,06 2,5 7,5
tas absorvem, possuem diferentes níveis Trigo 0,05 3 7,5
de acidificação. Segue um exemplo de
Canola 0,03 1,3 1,9
acidez equivalente por exportação da
cultura (Tabela 3.4). Fonte: Adams, 1981.

65
2.1.2 Lixiviação e escoamento aprofundarem e capturar os nutrientes.
de ânions A absorção de cátions leva à liberação de
H+ e a acidificação do meio, enquanto a
A transformação de NH4+ em NO3 ou mineralização da matéria orgânica con-
mesmo o processo de mineralização duzirá a formação de nitrato e liberação
gera acidez, que pode ser neutralizada se de OH-, corrigindo parte da acidez. Caso
a planta absorver NO3. Se isso não ocorrer esse nitrato seja perdido por escoamento
e houver uma lixiviação do nutriente para superficial ou por lixiviação, haverá a aci-
camadas fora do alcance das raízes, pode dificação do meio pela ausência da libe-
ocorrer a acidificação do solo. Esse pro- ração de nitrato. Essa acidez pode perco-
cesso de lixiviação é pouco provável que lar pelo perfil do solo junto com a água,
ocorra devido à capacidade das raízes se como representado na Figura 3.5.

H+ OH- H+ OH- H+ OH- H+ OH- H+ OH-


Profundidade do solo

Excesso de Decomposição Transformação Movimento balanço de


cátions do material de nitrogênio, da acidez acidez
absorvidos orgânico e perdas de produzido
pelas raízes nitrogênio por na esquerda
escorrimento e profundidade
superficial ou de solo
eventualmente
por lixiviação em
profundidades
Figura 3.5. Acidificação gerada muito grandes
pela absorção de cátions. Fonte:
Tang & Rengel (2003).

2.1.3 Precipitação principal composto oxidado presente na


atmosfera é o monóxido de nitrogênio, o
A acidez originada pela chuva vem das qual é oxidado em dióxido de nitrogênio.
reações de oxidação de gases NOx, que A oxidação de dióxido de nitrogênio por
seriam óxido nítrico (NO), dióxido de ni- OH é a principal rota de formação de áci-
trogênio (NO2), óxido nitroso (N2O). O do nítrico na atmosfera:

OH + NO2 HNO3

66
Na atmosfera pode haver formas reduzi- A absorção de amônio NH4 pelas plantas
das de nitrogênio, como o NH4+ em for- leva à formação de acidez através da li-
mas sólidas ou em gotículas, e NH3+. A beração de H+, de modo que a conversão
amônia, NH3+ reage rapidamente com de NH4+ em NO3- no solo também gera
H2SO4, HNO3, HCl, formando NH4-. acidez:

NH4+ + O2 NO3- + H2O + 2H+

2.1.4 Acidez gerada pela absorção e fixação de nitrogênio


O efeito rizosfera desempenha um papel muito importante nesse ambiente de acidi-
ficação, devido à dinâmica das formas de nitrogênio no solo e de como são absorvidas
pelas plantas (Figura 3.6).

Raiz/parte aérea
Solo Superfície Raiz
raiz Assimilação Síntese

H+ H+
O-
NH4+ NH4+ H+ C=O
N2 NH3 NH3 RNH2

NO3- NO3- OH- O-

C=O
OH-
RNH3+

Figura 3.6. Esquematização das formas de Nitrogênio e seus efeitos no pH da rizosfera. Fonte: Yamada, 2016.

67
É comum o questionamento de que a to rapidamente. A presença de amônio no
cultura que mais recebe adubação nitro- solo é muito transitória e logo passa pelo
genada é a que tem maior potencial de processo de nitrificação, sendo assim, as
acidificação, porém, deve-se considerar a plantas têm uma preferência muito gran-
acidificação gerada pela FBN nas legumi- de pelo nitrato, o qual apresenta um efeito
nosas. Um ponto importante nesse contex- alcalino na rizosfera, com exceção das legu-
to são as formas de nitrogênio, de nitrato minosas, como no caso da soja no processo
e amônio, de maneira que quando utiliza- de FBN, que consegue absorver o amônio
das as formas de nitrogênio provenientes oriundo desse processo simbiótico, cau-
de uréia, sulfato de amônio, a transforma- sando assim um maior efeito ácido no am-
ção de amônio para nitrato acontece mui- biente rizosférico (Figuras 3.7, 3.8 e 3.9).

Figura 3.7. Efeito das formas de Nitrogênio, Nitrato e Amônio no pH da Rizosfera. Fonte: Marschner 2002

68
pH 4.5

5.5
N-NO3- N-NH4+

6.0

6.5

7.5

1A 1B 1C 6A

Figura 3.8. Efeito das formas de nitrogênio (sulfato de amônio e forma de N-NH4+ ou nitrato de cálcio e forma de N-NO3-) sobre
o pH do solo da rizosfera. Legenda: (1A) escala do pH (a medida que o meio se encontra ácido ela prevalece o tom amare-
lo, a medida que fica mais roxo prevalece a alcalinidade), (1B) efeito de 66 mg de N-NO3-/kg de solo, (1C) efeito de 66 mg de
N-NH4+/kg de solo. Fonte: Marschner & Römheld, 1996.

69
Figura 3.9. Ilustração adaptada de Yamada (2016) sobre o efeito da soja e do milho na acidificação e alcalinização da rizosfera
em função do N-FBN e N-Nítrico. Fonte: Os Autores.

70
Num estudo de longo prazo conduzido no formação de uma frente de hidroxilas. En-
estado de Alabama, de 1930 a 1962, a apli- tre amônio e nitrato, a aplicação de nitrato
cação anual de 40 a 53 kg/ha de nitrogênio favoreceu a alcalinização do perfil do solo
na forma de sulfato de amônio e nitrato pelo balanço de cargas na absorção de nu-
de sódio associada ou não com a calagem trientes (Adams, 1981).
provocou alteração no pH do perfil do solo.
As fontes de nitrogênio, associadas à cala- Tabela 3.5. Efeito da aplicação de fon-
gem, provocaram a alcalinização do perfil tes de nitrogênio associado ou não
do solo devido à correção da acidez, gera- com calcário ao longo de 32 anos na
da pela conversão de amônio a nitrato e a rotação algodão-milho.

pH do solo em diferentes profundidades depois de 32 anos

Solo arenoso (Região Dothan) Solo arenoso (região Lucedale)


Tratamentos
0-15cm 15-30cm 30-45cm 45-60cm 0-15cm 15-30cm 30-45cm 45-60cm

(NH4)2SO4 4.8 4.8 4.3 4.3 4.8 4.8 4.9 4.9

(NH4)2SO4
6.2 5.4 4.7 4.7 6.0 5.5 5.3 5.1
+ Calcário

NaNO3 5.7 5.5 5.1 5.1 5.8 5.5 5.3 5.1

NaNO3
6.4 6.4 6.3 6.3 6.8 6.6 5.8 5.2
+ Calcário

* O pH inicial da superfície do solo era 6,0 em 1930 em ambos locais. A taxa de nitrogênio aplicado foi de 40 kg . ha-1 de 1930-
1945 e 53 kg durante 1946-1962. Foi aplicado nos tratatamentos calcario 500 kg ha anualmente de 1930-1945 e 800 kg . ha-1 de
1946-1962. Fonte: Adams, 1981.

Os efeitos do pH vão desde o aspecto tantemente. Um exemplo é o aumento


biológico, até a disponibilidade de nu- da produtividade da soja, que resulta no
trientes. Considerando a água como aumento da capacidade de acidificação.
principal fator produtivo e sua correla- Nesse sentido, é necessária uma atenção
ção com a fotossíntese, como já foi dis- muito grande, já que para construir o
cutido, Adams (1967) observou a corre- ambiente de produção e aumentar o po-
lação da acidez do solo e a absorção de tencial produtivo, é necessária frequen-
água. Uma vez que com o aumento do te manutenção da qualidade do solo via
pH a absorção de água também aumen- uso de calcário e fertilizantes, com aten-
ta, podemos considerar um efeito signi- ção a parte física e biológica .
ficativo da capacidade de produção em
relação a esse fator. Porém, a complexi-
dade do ambiente nos põe a prova cons-

71
Subsolo pH Acidificação causada pela FBN
5-0 5-5 6-0 6-5 7-0 nas leguminosa são observa-
0 das também por outros autores.
Nyatsanga,T & W.H. Pierre (1975),
compararam a acidificação da
alfafa e da soja em relação a
produtividade, e chegaram em
Profundidade do solo (cm)

10 números surpreendentes, em
que 10 ton ha-1 de alfafa acidifi-
caria entorno de 0,6 ton ha-1 de
CaCO3. Já as mesmas 10 ton ha-1,
mas de soja, teriam um poten-
20
cial de acidificar em torno de 4
ton ha-1 de CaCO3. Haynes (1983)
demonstra o efeito da acidez no
perfil do solo gerada pela fixa-
ção de nitrôgenio em trevo, Fi-
30
gura 3.10.

Tabela 3.4. Quantidade de


calcário necessário, (g. CaCO3.
Solo com leguminosa
40 kg-1 de solo) considerando a
Solo sem leguminosa
fixação de nitrogênio e a aci-
Figura 3.10. Fonte: Haynes, R.J. (1983). Soil acidification induced by legu-
minous crops. Grass and Forage Crops, 38:1-11.
dez produzido no solo.

Nitrogêncio Calcário
(g . CaCO3 . planta) (g . CaCO3 . kg-1 de solo)

Alfafa 1,333 1,560

Alfafa 1,846 1,960

Solo região A Soja 1,888 2,000

Soja 1,845 1,900

Soja --- 440

Alfafa 1,354 1,570


Alfafa 1,677 1,840
Solo região B
Soja 2,099 2,000
Soja 1,505 1,680

Fonte: Nyatsanga, T & W. H. Pierre. 1975 Effect if nitrogen fixation by legumes on soil acidity. Agron. J. 65:936-940

72
A base da formação da reposição de calcá- nitrogênio (FBN) em culturas legumino-
rio para neutralizar a acidez, deve ser com- sas, como a soja, além dos índices pluvio-
posta por diversos fatores, não somente a métricos das regiões que influenciam na
exportação de Ca e Mg pelas culturas, mas lixiviação das bases.
temos que levar em consideração a fertili-
zação do nitrogênio em culturas como a Tabela 3.7. Necessidade de calcário
de milho e de algodão, principalmente a para neutralização da acidez causa-
produtividade e capacidade de fixação de da pela remoção do produto colhido.

Produto Necessidade de calcário ( kg t-1 MS produto)


Milho e trigo 9
Soja 20
Silagem de milho 40
Feno de capim 25
Feno de trevo 40
Feno de alfafa 70
Carne 17
Fonte: Slattery et al, 1991.

Se tomarmos como base a exportação cujos fatores produtividade e FBN são


de Ca e Mg pelas culturas, os valores muito relevantes para definição de uma
são bem abaixo da realidade no siste- dose de calcário para manutenção do
ma de produção dos mais de 37 milhões ambiente. Veja os exemplos nas Figuras
de hectares que cultivam soja no Brasil, 3.11, 3.12, 3.13 e 3.14, a seguir.

Acidificação na camada superficial do solo


gerada pelo N - NH+4 com lixiviação de NO3-

nitrificação
NH+4 NO3- + 2H+
H2O
CaCO3 Ca2+ + 2OH-

CaCO3 + NH+4 NO3- + Ca2+

neutralização
CaCO3 acidez
NH+4

100
X
14
1 }
x = 7,14kg CaCO3 por kg de N - NH+4
Figura 3.11. Linha de cálculos desenvolvida por T.Yamada, na qual se usa a equivalência da massa molar do carbonato de cálcio
para neutralizar a acidez proporcional em relação a massa molar no amônio, chegando no valor de 7,14 kg de carbonato de
cálcio por kg de amônio utilizado. Fonte: Yamada, comunicação pessoal.

73
Acidificação na camada superficial do solo
gerada pela ureia com lixiviação de NO3-

Havendo 100% de lixiviação de NO3- a acidificação será:

1/2 (NH2)2 CO 1NO3- + 1H+


lixiviação

1/2 CaCO3 1/2 Ca2+ + 1 OH-

1/2 CaCO3 1/2 (NH2)2 CO

50
X
14
1 }
x = 3,57kg CaCO3 por kg de N - ureia

Figura 3.12. Com a mesma linha de cálculo, seria necessário 3,57 kg de carbonato de cálcio por kg de ureia utilizada. Fonte:
Yamada, comunicação pessoal.

Acidificação na camada sub-superficial


do solo gerada pela FBN

nódulo nódulo
1/2 N2 NO3 NH2RCOOH

Xilema
planta
NH2RCOOH NH2RCOO- + H+
Rizosfera

FBN
1/2 CaCO3 NH2RCOO- + H+

50
X
14
1 }
x = 3,57kg CaCO3 por kg de N fixado

Figura 3.13. O resultado obtido usando os valores proporcionais do carbonato de cálcio com kg de Nitrogênio da FBN também
foi de 3,57 kg, valor igual ao da ureia. Fonte: Yamada, comunicação pessoal.

74
Neutralização da acidez em sub-superfície
pelas raízes do milho

Camada superficial:

CaCO3 + NH+4 NO3- + Ca2+ + 2OH- + 2H+


Lixiviação

Camada sub superficial (absorção de NO3-):

absorção
NO3- exsuda
OH-

Alcalinização gerada:

equivale
1/2 CaCO3 1N - NO3-

100
X
14
1 }
x = 3,57kg CaCO3 por kg de N - NO3- absorvido

Figura 3.14 Neutralização da acidez em sub-superfície pelas raízes do milho. Fonte: Yamada, comunicação pessoal.

Considerando os valores de acidificação derando que não há aplicação de ferti-


dos fertilizantes nitrogenados aplicados lizante nitrogenado na cultura. Porém,
no milho, existe o aumento da acidez a quantidade de calcário para neutrali-
em superfície, porém devido à absorção zar a acidez proveniente da FBN é bem
maior que a do fertilizante nitrogenado
do nitrato e alcalinização da rizosfera em
do milho. Vale lembrar que as culturas
subsuperfície, o processo é inverso.
são subsequentes e as doses de calcário
para neutralização da acidez provenien-
Nessa dinâmica podemos observar, ao te do nitrogênio devem ser somadas, o
considerar as formas de nitrogênio do que nos conduz a um ponto de atenção:
sistema soja/milho, que existe sempre a necessidade de manutenção do am-
uma acidificação maior em superfície biente de produção.
no milho devido à aplicação de fertili-
zantes nitrogenados e alcalinização na
subsuperfície, e no caso da soja, sempre
a acidificação em subsuperfície, consi-

75
Tabela 3.8. Cálculo do balanço de acidez para se produzir uma tonelada de
milho e uma tonelada de soja.

Camada superficial do solo

CaCO3 (kg)
Milho (t ha )
-1
Soja (t ha-1)
Acidificação pelo N-NH4 (5 x 7,14) 35,7
Acidificação pela N-Uréia (15 x 3,57) 53,55

Camada sub superficial do solo

Acidificação pela colheita 9 20


Acidificação pela FBN (65 x 3,57) 232,05
Alcainização pela N-NO3- 53,55
Balanço de acidez 44,7 252,05
Sistema soja+milho . ton grão-1 296,75
Calculos feito por Dantas, JPS Fonte: Os autores.

Em um estudo de caso, adubando 20 kg de soja, a leguminosa estaria acidificando


de nitrogênio no milho por tonelada de quase 6 vezes mais que o milho.
grão produzido, em que deste 75% seriam
uréia e 25% N-NH4, e considerando 65 kg Tabela 3.9. Cálculo do balanço de aci-
de Nitrogênio por ton de grão produzido dez do sistema soja milho.

Acidificação pela FBN + nitrogênio milho

Colheita CaCO3 (kg ha-1)


Milho 7 t ha-1 312
Soja 4 t ha -1
1.008,2
Total 1.320,2
Ou 1.466 kg ha de Calcário com 90% PRNT
-1

Calculos feito por Dantas, JPS Fonte: Os autores.

Partindo de um sistema de sucessão soja/ Nesse contexto, é preciso solucionarmos


milho, no qual está presente em boa parte os problemas da acidez através de prá-
do território nacional, em que se tenha regi- ticas consagradas na agricultura, como
me pluviométrico e condições de tempera- é o caso da calagem. O calcário tem um
turas, com uma produção de 7 toneladas de papel fundamental na construção e ma-
grão de milho e 4 toneladas de grão de soja, nutenção do sistema produtivo em solos
teríamos uma acidificação causada pelo ni- tropicais, sendo o insumo mais impor-
trogênio do fertilizante e a FBN da soja de tante para sustentabilidade dos ambien-
1467 kg ha-1 de calcário por ano agrícola. tes de produção.

76
3 Cálcio no ambiente de produção

Os teores de cálcio no perfil, em diferentes faixas de produtividade, estão apresenta-


dos em valores absolutos na Tabela 3.10., e em valores relativos na Tabela 3.11.

Tabela 3.10. Teores de cálcio (mmolc.dm³) de diversas análises de solo, textura


média à argila para diferentes produtividades.

50 a 70 sc.ha-1 70 a 90 sc.ha-1 acima de 90 sc.ha-1


Profundidade
Limite inferior e superior

0-10 cm 27,4 a 36 33,9 a 34,1 49,36 a 67,18

10-20 cm 17,6 a 23,5 25,5 a 41,3 39,92 a 65,71

20-40 cm 9,6 a 14,7 16,10 a 28,4 29,50 a 49,77

40-60 cm 6,4 a 10,8 10,7 a 19,7 16,63 a 37,91

60-80 cm 5,4 a 12 9,5 a 21,7 12,31 a 26,60

80-100 cm 5,2 a 11,7 9,7 a 15,8 9,40 a 23,69

Fonte: Sako et al. (2017).

Tabela 3.11. Saturação de cálcio de diversas análises de solo, textura média à


argilosa para diferentes produtividades de soja.

50 a 70 sc.ha-1 70 a 90 sc.ha-1 acima de 90 sc.ha-1


Profundidade
Limite inferior e superior

0-10 cm 36,2 a 43,63 35,1 a 43,8 46,8 a 54,4

10-20 cm 27,6 a 35,3 29, 7 a 41,2 39,6 a 55,8

20-40 cm 18,5 a 25,9 22,3 a 32,4 31,9 a 49,7

40-60 cm 17,5 a 22,1 20,6 a 27,8 24,9 a 43,6

60-80 cm 17,2 a 25,9 19,9 a 28,1 24,5 a 41,9

80-100 cm 18,3 a 24,4 28,10 21,0 a 36,0

Fonte: Sako et al. (2017).

Suprir cálcio para a planta não é um desafio tão grande, uma vez que a sua taxa de
exportação é baixa em comparação com a inserção do elemento pelos corretivos
(Figura 3.15).

77
20
Ca = -0,63 + 0,14* Produtividade

Cálcio exportado via grão (kg ha -1)


18 r2 = 0,67

16
14
12
10
8
6
4
2
0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha -1)
Figura 3.15. Exportação de cálcio nas diferentes faixas de produtividades de 5 safras, 2015 a 2020.
Fonte: Os autores

O enlogamento das células das raízes de- cessar o crescimento radicular (MARS-
pende da presença de cálcio na solução CHNER; RICHTER, 1974 apud MARS-
do solo, na qual em poucas horas sem a CHNER, 1995) (Figura 3.16).
presença de cálcio já é o suficiente para

20 +Ca
Extensão das raízes (mm)

15

-Ca
10
-Ca

0 Tempo (horas)
0 12 24 36 48
Figura 3.16. Crescimento radicular de feijão com e sem a presença de cálcio na solução do solo.
Fonte: adaptado de Marschner e Richter (1974).

78
Outro papel importante do cálcio é o ocorrência de podridões radiculares por
aumento da tolerância a doenças e ne- Phytophthora sojae, sendo que as fon-
matoides por diversos efeitos. Os inócu- tes livres de N apresentaram um efeito
los de doenças encontram-se na cama- melhor. O cálcio auxiliou na tolerância a
da superficial do solo, que é justamente doenças, mas não chegou próximo aos
onde há uma reserva importante de nu- valores encontrados em materiais resis-
trientes. A presença de cálcio em diver- tentes a doenças como a Conrad na Fi-
sas concentrações e fontes, diminuiu a gura 3.17 (SUGIMOTO, 2010).

60
B
a
Incidência de doenças (%)

50 Control
Ca(HCOO)2 4mM
40 Ca(HCOO)2 10mM
Ca(NO3)2 10mM
Conrad b
30
bc
c
20

10

d
0

/13
15

22

/2

/9
/16

6
25

24

5
14
22

1
12
9/

/2
8/

/2
10
9/

10
8/
7/

9/
8/
7/
6/

11
10
10

Data 10
Figura 3.17. Avaliação em campo do efeito da aplicação de cálcio na redução de Phytophthora stem rot.
Fonte: adaptado de Sugimoto et al. (2010).

Outro papel importante do cálcio é avaliaram a fixação de carbono por


a sua contribuição para a ligação das meio de aplicação em vasos, o equiva-
pontes de hidrogênio e, consequente- lente a 5.000 kg ha-1 de carbono em so-
mente, na fixação da matéria orgânica. los dos horizontes superficiais, ricos em
A manutenção de bons teores de Ca e Ca, Mg, P e N, e obtiveram uma eficiên-
outros nutrientes como Mg, P e N, tem cia de fixação entre 24% à 45% contra
como importância estabelecer as pon- 7% à 35% em solos de subsuperfície,
tes de hidrogênio e a fixação da maté- baixos em Ca, Mg, P, N, como demons-
ria orgânica no solo. Briedis et al. (2016) tra a Figura 3.18.

79
Figura 3.18. Fixação da matéria orgânica no solo em solos com diferentes fertilidades.
Fonte: Briedis et al. (2016).

Tabela 3.12. Estudo de caso, Paracatu


MG. Sistema de produção Soja. Em
2017 foi aplicado 3 ton/ha de calcário.

Ano Matéria Orgânica P Ca Mg pH CTC Amostra

2017 2,91 2,6 2,1 0,6 5,3 7,2 28

2019 3,5 4,4 2,3 0,8 5,5 7,6 28

Fonte: Sako (2019).

80
3.1 Considerações sobre te, com a possibilidade de recomeçar a
construção do ambiente de produção,
calagem
caso as limitações não possibilitem o al-
cance de altas produtividades e rentabi-
lidades. Em cenários de baixa produtivi-
A aplicação do calcário traz como benefí- dade, existe a necessidade de se reiniciar
cio a elevação do pH e a neutralização do o processo de correção do solo para o
Alumínio tóxico, além de fornecer cálcio bom estabelecimento do plantio sobre
e magnésio para as culturas. Diante do palha. Esse reinício é condicionado pelo
cenário de acidez dos solos tropicais, a histórico ruim de calagem, presença de
utilização da calagem para construção e alumínio em superfície e necessidade de
manutenção dos ambientes de alta pro- altas doses de calcário, assim pode-se di-
dutividade é imprescindível. zer que tal ambiente não tem um plan-
tio diretamente sustentável e necessita
Alguns pontos de observação devem ser de intervenção.
levados em consideração, como as ca-
racterísticas físicas do solo, o intervalo de Outro cenário de manejo de calagem se-
aplicação e principalmente a qualidade ria aquele em que o produtor construiu
do calcário e da aplicação. Assim, somen- um ambiente de produção com uma
te aplicar o insumo na área, sem critérios boa abertura de área, adubando corre-
e entendimento do ambiente, pode tra- tamente as culturas, incluindo a rotação
zer resultados abaixo do esperado. de cultura e atingindo seus objetivos de
produção. Nesse caso, vale ressaltar o
Existem dois cenários para utilização do que foi discutido anteriormente, sobre a
calcário como forma de construir o am- acidificação anual das culturas e da ne-
biente e realizar a sua manutenção. A cessidade de colocação de calcário para
construção do ambiente de produção manter o pH. A união entre a parte téc-
começa na aplicação adequada na aber- nica e operacional é muito importan-
tura da área, com doses de calcário de te para se atingir metas e, se possível, a
acordo com as análises de solo, de modo prática da calagem deve ser anual. Caso
que a incorporação atinja a máxima pro- não haja capacidade operacional, no
fundidade possível e que seja operacio- máximo a cada dois anos, é importante a
nalmente viável. O cenário ideal é termos manutenção da calagem, em que acima
um plantio diretamente sustentável, no desse intervalo, o ambiente começa a
qual exista a capacidade de infiltração de entrar em zona de risco, a qual pode ser
água e de crescimento radicular. A base decorrente do acúmulo da necessidade
para um bom plantio direto é a correção e aplicação de altas doses em superfície,
do solo, muito além de um sistema “no podendo isso desencadear efeitos nega-
till” ou sem lavração, com rotação e sem tivos, como nematóides, indisponibilida-
a presença de alumínio em superfície. de de micronutrientes e desbalanço bio-
Nesse sentido, é muito importante re- lógico. Além desses fatores adversos que
pensar o que foi construído inicialmen- podem ocorrer, o fator limitante para

81
aplicação de doses altas de calcário em Particularmente, na cultura da soja os
superfície será a infiltração de água no benefícios da calagem são muito expres-
solo, palhada da cultura anterior e a qua- sivos, como discutimos no efeito da cul-
lidade da aplicação. tura em acidificação pelo N-NH4 da FBN,
porém esse mesmo processo simbiótico
Nesse mesmo contexto de manutenção que acidifica o sistema é muito depen-
do ambiente, as aplicações de calcário dente do pH para sua atividade. Gallo et
com frequência é utilizada em situações al. (1986) verificaram que com a elevação
que exista acidez no perfil e boa correção do pH com a aplicação do calcário, hou-
em superfície. O diagnóstico da acidez ve aumento dos teores de nitrogênio nas
com análise de solo em camadas mais folhas, contribuindo para maior concen-
profundas é de extrema importância, tração de proteína nos grãos (Figura 3.19).
pois muitas vezes os limitantes de pro- Além do efeito benéfico da calagem na
dutividade estão em camadas inferiores, FBN, devido à maior atividade do Bra-
como mostra o sistema de classificação dyrhizobium spp, o aumento da dispo-
distrófico, álico e ácrico. Sendo assim, a nibilidade de molibdênio ajuda muito
aplicação do calcário com frequência nesse processo, pelo mesmo ser um dos
em superfície em sistema de plantio di- componentes da enzima redutase de ni-
reto pode ser usado como frente de alca- trato, assim como a presença de Mo, que
linização, pressionando os íons de OH- a em maiores teores proporciona a forma-
descerem e corrigirem camadas em sub- ção de mais aminoácidos e, consequen-
superfície. temente, de proteínas.

A Calagem nos teores de óleo e proteína em soja


50
Óleo de proteína nas sementes, %

Proteína
40

30

20 Óleo

Mococa
10 Ribeirão Preto
Mococa
Ribeirão Preto
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90
Saturação por bases, V%
Figura 3.19. Teor percentual de óleo e proteína nas sementes de soja em função do índice de saturação por bases. Fonte: Mas-
carenhas et al., 1987.

82
3.2 Poder tampão do solo

Solo A Solo B
pH = 5,0 pH = 5,0

Alto teor de matéria orgânica Baixo teor de matéria orgânica


Textura argilosa Textura média ou arenosa
Maior acidez potencial Menor acidez potencial
Maior poder tampão Menor poder tampão

A resistência que o solo oferece às mu- a finalidade de se manejar a calagem. A


danças de pH, está intimamente ligada utilização de braquiárias ou culturas de
ao teor de argila e matéria orgânica do inverno (dependendo da região e clima)
solo. ajudam muito para o processo de corre-
ção nesses casos.
Com isso é muito importante termos
nossos ambientes de produção bem de- Solos com poder tampão alto: A neces-
finidos, conhecer as áreas e suas concen- sidade de calcário é proporcionalmente
trações de textura, para fazer um traba- maior, porém são áreas que apresentam,
lho mais assertivo na calagem. em muitos casos, problemas nas caracte-
rísticas físicas do solo, como compacta-
Solos com poder tampão baixo: Con- ção. Deve-se utilizar calcário com maior
ceitualmente, a necessidade de calcário PRNT (com no mínimo 85%). O principal
é considerada menor proporcionalmen- ponto de atenção para a calagem nessa
te em relação ao conteúdo de argilosa situação é a infiltração de água e uma vez
,porém, em áreas com menor concen- que exista impedimento nesse processo,
tração de argila as plantas são muito a correção pode ser prejudicada, de tal
dependentes do perfil do solo, por apre- sorte que a associação dos modelos de
sentarem menor conteúdo de água por correção e os diagnósticos são muito im-
camada. Desta forma, a correção deve portantes para o sucesso da operação.
ser proporcional e no sentido vertical,
como também é indispensável conhecer 3.2.1 Cálculo de necessidade de calcário
a subsuperfície e utilizar os modelos cita-
dos acima como estratégia de correção. Devido à evolução das produtividades,
Pode-se utilizar calcários com menor com solos cada vez mais compactados e
PRNT (com no mínimo 75%), no entanto, acidificados anualmente pelas culturas,
sempre tendo como ponto de atenção resolvemos adotar a prática de participa-
às qualidades físicas e biológicas, com ção do elemento Ca e Mg na CTC do solo.

83
NC+
{ Ca (t/ha)
[((Ca 2 – Ca1) x CTC) / 100] x 56/ % de CaO no Calcário/% PRNT
Mg (t/ha)
[((Mg 2 – Mg1) x CTC) /100] x 40/ % de MgO no Calcário/% PRNT

NC = Necessidade de Calagem
CTC= SB + (H+Al) em mmolc de 0-20 cm
Ca 2= % de Cálcio na CTC desejado, trabalhamos de 50 a 55%
Ca 1= % de Cálcio na CTC atual
Mg 2= % de Magnésio na CTC desejado, trabalhamos de 15 a 20%
Mg 1= % de Magnésio na CTC atual

Desta forma, teremos a proporcionalida- 3.2.2 Qualidade de aplicação


de de Ca e Mg a ser aplicada por meio do
corretivo de acidez selecionado. Especial atenção se deve dar a esse item.
É frequente notar em campo a melhor
Vale ressaltar que é de suma importância a parte do calcário perdendo por deslo-
escolha das concentrações de CaO e MgO camento do vento, ou faixas com maior
do corretivo com os valores da análise de e menor quantidade de calcário (Figura
solo, além de respeitar a relação entre as 3.20). O nosso bom e velho ensaio com
bases. A reatividade do calcário também bandejas é uma prática simples e que
deve ser levada em consideração de acor- traz grandes resultados.
do com o poder tampão do solo.

Figura 3.20. Irregularidade na aplicação de calcário. Fonte: Sako, H

84
3.2.3 Qualidade do calcário dade 20%, partículas menores que 2 mm;
Reatividade 60%, partículas entre 0,3 mm
O calcário requer a parte mais fina para a 0,84 mm; Reatividade 100%, partículas
reagir com o solo e, por esse motivo, o ta- menores que 0,3 mm. Na Tabela 3.13 es-
manho da sua partícula tem significativa tão detalhados os tipos de peneira e a suas
influência na correção do solo e na sua fa- capacidades de selecionar o tamanho das
cilidade de percolação. O tamanho da par- partículas. Uma peneira de mesh 100 signi-
tícula determina o poder de neutralização fica a capacidade de selecionar o tamanho
e segue a seguinte classificação: Reativida- de partículas menores que 100 furos por
de 0, partículas maiores que 2 mm; Reativi- polegada quadrada.

Tabela: 3.13. Tipo de peneiras e tamanho de partículas selecionadas.

Peneira Abertura Peneira Abertura Peneira Abertura


(mesh) (mm) (mesh) (mm) (mesh) (mm)

3,5 5,66 18 1 80 0,177

4 4,76 20 0,84 100 0,149

5 4 25 0,71 120 0,125

6 3,36 30 0,59 140 0,105

7 2,83 35 0,5 170 0,088

8 2,38 40 0,42 200 0,074

10 2 45 0,35 230 0,062

12 1,68 50 0,297 270 0,053

14 1,41 60 0,25 325 0,044

16 1,19 70 0,21 400 0,037

Fonte: ABNT

Calcários com partículas mais finas apre-


sentam maior velocidade de reação. Na
Figura 3.21, apresentamos a velocidade
de reação do calcário com mesh 50, par-
tículas menores que 0,3 mm, em que
manifestaram reação rápida aos 35 dias
após aplicação.

85
A indústria de corretivos
Teor de cálcio + magnésio trocáveis 40
tem investido esforços para
> 100 mesh apresentar opções de cor-
50 - 100 mesh retivos. Seguem resultados
30 no perfil de solo com um
do solo (mmolc/dm3)

30 - 50 mesh tipo de corretivo que apre-


senta 90% do seu calcário
passante pelo mesh 50,
20
20 - 30 mesh 87% pelo mesh 200, 50%
pelo mesh 325 e 11% pelo
mesh 600. As partículas fi-
10 - 20 mesh
10 nas de calcário têm maior
facilidade de percolar com
a água e reagir com os co-
lóides do solo, provocando
0
melhor correção da acidez
35 100 270 540
ativa em subsuperfície. O
Tempo de incubação (dias) resultado a seguir apresen-
tado foi obtido em um La-
tossolo vermelho, em Para-
Figura 3.21. Diferentes tamanhos de partículas de calcário e suas reações no solo.
Fonte: Verlengia Venturini 1972. catu MG.

Tabela 3.14. Aplicação de dois tipos de calcário e sua reação no perfil do solo.

Calcário Calcário Calcário Calcário


dolomítico 325 dolomítico 325
Profundidade
pH (água) m%

0-10 cm 5,7 5,5 0 0

10-20 cm 5,5 5,4 3,51 0

20-40 cm 5,3 5,5 0 0

40-60 cm 5,2 5,6 9,87 4,42

60-80 cm 4,9 5,5 23,47 20,24

80-100 cm 5 6 30,67 0

Trabalhos feitos em Paracatu MG. Fonte: Sako, H.

86
Calcário mesh 50 Calcário mesh 325

Figura 3.22. Avaliação feita 60 dias após aplicação de 3 t ha-1 de calcário dolomítico com partículas passantes pela peneira mesh
50 e 325. Foi realizado a aplicação de purpura de bromocresol, em que foram identificados pH maiores pela tonalidade roxa e
pH baixos pela tonalidade amarela. Sistema Irrigado, Paracatu MG. Agosto 2020. Fonte: Sako, H (trabalhos não publicados)

Outra categoria de calcário são os calcina- selamento do solo; iii) floculação da argi-
dos, que ao passarem por um tratamen- la; iv) provocar eventualmente mudança
to térmico, perdem o carbono e formam no pH; v) carreamento de bases em sub-
óxidos ou hidróxidos dependendo dos superfície, com destaque para o magné-
processos posteriores. Esses calcários pos- sio; e vi) reduzir o efeito de salinidade do
suem a vantagem de reagirem com pou- sódio e do cloreto de potássio.
ca umidade e fornecerem imediatamen-
te bases para neutralização da acidez. O gesso tem uma característica impor-
tante no fornecimento de cálcio sem
3.3 Considerações sobre gessagem grandes alterações de pH. Isso revela, por
sua vez, a sua importância na floculação
O gesso tem uma contribuição ampla no da argila, na redução do selamento su-
sistema de produção, como: i) forneci- perficial e por conseguinte, na preserva-
mento de cálcio e enxofre para a superfí- ção da infiltração de água. Maiores deta-
cie e subsuperfície do solo; ii) redução do lhes são discutidos no capítulo 3.

87
Uma propriedade importante do gesso 3.4 Correção em Subsuperfície, con-
é a sua capacidade de carregar cátions ceitos e práticas de manejo
em subsuperfície, sendo isso importante
para aumentar os teores de cátions em A construção do perfil do solo tem um
subsuperfície. O sulfato por sua eletrone- peso muito grande no ambiente de pro-
gatividade apresenta afinidade com o K+, dução, sendo considerado como uma
Mg+ e Ca+ e, com isso, carrega esses ele- das principais formas de se manter a es-
mentos em subsuperfície. tabilidade da produção, devido à maior
capacidade de acesso à água pelas raízes,
Dependendo dos atributos do solo, o capacidade de acesso a diversos nutrien-
gesso pode esporadicamente alterar o tes, como é o caso do nitrogênio lixivia-
pH do solo, fenômeno denominado “auto do. O conceito de lixiviação começa a ser
calagem”. O sulfato ao ser absorvido nas repensado, sendo que se um nutriente
desce no perfil abaixo da camada arável,
partículas de solo que contenham OH- ,
ele pode ser absorvido pelas raízes. Como
leva ao aumento do pH e isso resultará
já mostrado, a capacidade real de enrai-
na neutralização do alumínio, possível de
zamento em profundidade no campo é
acontecer em solos ricos em óxido de fer-
muito alta.
ro e alumínio propriamente.

A correção da acidez em subsuperfície é


O efeito da “auto calagem” não pode ser
um pilar importante para a resiliência do
considerado uma regra. Rytchey et al
ambiente de produção e a sua constru-
(1980) avaliando doses de calcário e ges- ção pode ser feita por 5 caminhos, descri-
so de 0 a 8 t ha-1 de gesso e de 0 a 12 t ha-1 tos na Figura 3.23. Seguem resultados de
de calcário, mostraram que não houve 5 fazendas, respeitando dois pilares cen-
alteração no pH do solo. O que sempre trais: i) o cálculo da dose de correção para
ocorrerá pela reação do gesso é a redu- preservar a correção do perfil de solo, que
ção da atividade do alumínio na solução acarreta em doses maiores, o qual vem
pelo aumento dos teores de cálcio, como sendo empregado tradicionalmente e ii)
também o aumento da tolerância ao alu- introdução de práticas agrícolas para me-
mínio pelo aumento da competição en- lhorar a infiltração de água no solo, que
tre os cátions nos canais de absorção pela vai desde a intervenção mecânica com
planta. subsolagem, a 45cm de profundidade,
devido à espessura da camada de solo
Uma outra função muito importante do compactada, muitas vezes incorporada
gesso é o enriquecimento de enxofre no apenas com grade ou adotado o escarifi-
perfil de solo. Teores muito baixos de en- cador, e o uso de plantas de cobertura. Na
xofre no perfil de solo são responsivos ao fazenda Entre Rios, Navirai-MS, pivô 6, foi
gesso pela deficiência desse elemento feita a aplicação de 7 t há de calcário e 1 t
no solo, sendo outro critério importante há de gesso com a incorporação de grade
de enriquecimento de elemento no per- de 32 polegadas e a adoção da subsola-
fil do solo. gem a 45cm, prática muito importante

88
para preservar a infiltração de água nas de profundidade, permitiu a mudança
áreas de abertura. Esse manejo permitiu da acidez de 4,8 para 5,9 no pH CaCl2
a correção da acidez de 4,6 para 5,8 na na camada de 0-20cm e de 20-40cm, e
camada de 0-20cm de profundidade e o pH de 4,6 para 5,6. Com a introdução
de 4,4 para 5,5 na camada de 20-40 cm da Urochloa ruziziensis provocou-se uma
de profundidade. Na fazenda Vaca Bran- mudança considerável nos teores de ma-
ca, Navirai-MS Sede Velha, a aplicação de téria orgânica. Na mesma linha de racio-
5 t há de calcário com 1 t há de gesso as- cínio empregada na Fazenda Guaçu, Na-
sociado com a incorporação de grade de rivari-MS e Cruz Alta, Maracaju-MS gerou
32 polegadas com a subsolagem a 45cm mudanças notáveis em subsuperfície.

% %
Fósforo %K %
pH Ca Mg
Fazenda Talhão Profundidade resina M.O. na M% V% CTC Ar-
CaCl2 na na
mg/dm3 CTC gila
CTC CTC

Antes correção 17 4,6 16 27,1 12,5 3,8 3,9 44 55,4


0-20 35
cm Depois correção 28 5,8 14 49,2 27,2 1,6 0 78 77,2
Entre Pivo 6
Rios
20-40
Antes correção 6 4,4 13 12,7 6,4 2,3 28,2 21,6 47,2
cm 38
Depois correção 9 5,5 12 37,4 23,8 1,2 0 58,8 62,6

Antes correção 26 5,4 12 40,2 18,1 3,2 0 61,8 49,7


0-20 25
cm Depois correção 16 5,8 18 51,8 24,5 3,3 0 79,6 73,4
Vaca
Branca Tamburi
Antes correção 12 4,6 8 30,7 10,2 1,6 4,6 42,6 48,8
20-40 28
cm
Depois correção 10 5,5 11 38,7 20,3 2 0 61,3 54,2

Antes correção 24 4,8 15 42,3 14,1 2,8 2,9 59,4 56,7


0-20 27
cm Depois correção 18 5,9 16 48,6 27,8 1,4 0 77,8 72
Vaca Sede
Branca Velha
20-40
Antes correção 5 4,6 9 31,4 11,2 1,1 9,3 43,9 44,5
cm 32
Depois correção 8 5,6 15 42 23,7 1,3 0 67,2 54,8
Antes correção 21 4,5 16 30,5 10,9 3,9 8,7 45,5 45,9
0-20 18
cm Depois correção 18 5,7 10 44,1 25,5 1,5 0 71,1 58,9
Guaçu T9
Antes correção 11 4,4 14 27,5 10 2,3 15,8 40 40
20-40 23
cm
Depois correção 14 5,5 13 35,4 20,8 1,9 0 58,3 48
Antes correção 4 4,5 27 14,2 8,8 1,3 23,8 24,5 91,4
0-20 66
cm Depois correção 5 5,2 21 46,6 27,2 1,8 0 75,7 102,9
Cruz T
Alta Antes correção 3 4,3 21 8,5 4,8 0,7 40,4 14,3 82,8
20-40 69
cm Depois correção
5 5 19 41 22,1 1,2 0 64,4 90,3

89
A correção em grandes profundidades go dos anos, em maiores profundidades.
sempre foi um item de muita dedicação Segue outro exemplo de trabalho feito na
pelos técnicos e com o manejo para pro- região de Navirai, com a Copasul, em qu
teger a infiltração de água no solo, asso- com boas doses de calcário, mais óxido
ciado a boas doses de calcário, é possível de cálcio, gesso e a incorporação com gra-
mudar a fertilidade em profundidades da de de 36 polegadas mais subsolagem, foi
ordem de um metro e certamente ao lon- possível criar mudanças no perfil do solo.

Tabela 3.15. Antes e depois da correção do perfil do solo


Talhão B ANTES DA CORREÇÃO

pH pH pH pH
Perfil P(r) M.O. C.O. K Ca Mg
CaCl2 Água SMP KCI

Unidade mg/dm3 g/dm3 g/dm3 - - - - mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3

0 a 20cm 13 14 8 4.5 5.1 6.15 4.2 0.6 16 6

0 a 10cm 21 16 9 4.5 5.1 6.17 4.2 0.8 16 7

10 a 20cm 6 12 7 4.5 5.2 6.14 4.1 0.5 15 5

20 a 40cm 7 13 8 4.6 5.3 6.4 4.4 0.7 16 6

40 a 60cm 6 8 5 4.6 5.3 6.38 4.4 0.7 14 6

60 a 80cm 3 7 4 4.5 5.2 6.42 4.3 0.4 12 5

80 a 100cm 3 6 3 4.5 5.3 6.37 4.4 0.3 10 4

Perfil Na Ho + Al3 Al3 C.T.C. S.B. V% m% S B

Unidade mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 % % mg/dm3 mg/dm3

0 a 20cm 0.1 37 1 59.7 22.7 38 4.2 11 0.24

0 a 10cm 0.1 36 1 59.9 23.9 39.9 4 11 0.24

10 a 20cm 0.1 38 1 58.6 20.6 35.2 4.6 12 0.24

20 a 40cm 0.1 29 1 51.8 22.8 44 4.2 11 0.17

40 a 60cm 0.2 30 1 50.9 20.9 41.1 4.6 18 0.2

60 a 80cm 0.1 27 <lq 44.5 17.5 39.3 0 27 0.24

80 a 100cm 0.1 31 1 45.4 14.4 31.7 6.5 34 0.24

90
Talhão B DEPOIS DA CORREÇÃO • CONSTRUINDO SOLOS

pH pH pH pH
Perfil P(r) M.O. C.O. K Ca Mg
CaCl2 Água SMP KCI

Unidade mg/dm3 g/dm3 g/dm3 - - - - mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3

0 a 20cm 17 10 6 5.1 5.9 6.65 4.9 1.4 33 14

0 a 10cm 17 11 7 5.3 5.9 6.73 5.1 1.7 37 16

10 a 20cm 16 9 5 5 5.8 6.57 4.8 1.2 30 13

20 a 40cm 7 6 4 4.8 5.6 6.58 4.5 0.5 23 8

40 a 60cm 3 3 1 4.9 5.7 6.69 4.6 0.3 22 7

60 a 80cm 4 3 2 4.8 5.7 6.64 4.6 0.2 22 7

80 a 100cm 2 3 3 4.9 5.7 6.69 4.7 0.2 21 5

Perfil Na Ho + Al3 Al3 C.T.C. S.B. V% m% S B

Unidade mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 mmolc/dm3 % % mg/dm3 mg/dm3

0 a 20cm 0.2 22 <lq 70.6 48.6 68.8 0 10 1.08

0 a 10cm 0.1 20 <lq 74.8 54.8 73.3 0 9 1.22

10 a 20cm 0.2 24 <lq 68.4 44.4 64.9 0 12 0.95

20 a 40cm 0.1 23 <lq 54.6 31.6 57.9 0 17 0.58

40 a 60cm 0.1 20 <lq 49.4 29.4 59.5 0 31 0.49

60 a 80cm 0.1 22 <lq 51.3 29.3 57.1 0 48 0.48

80 a 100cm 0.1 21 1 47.3 26.3 55.6 3.7 77 0.66

91
Figura 3.23. Modelos de correção em sub-superfície. Fonte: os autores

Modelo A: Meso e Macrofauna:


Capacidade da movimentação
do calcário para a subsuperfície
com a ajuda de biopóros, como
buracos de coleópteros, isto é, ra-
ízes de plantas anteriores. Esses
canais também servem de meio
para as raízes da soja crescerem,
uma vez tendo a presença de
oxigênio, sempre haverá cresci-
mento radicular. As utilizações
de plantas de coberturas tam-
bém ajudam muito nesse pro-
cesso (Figuras 3.24 e 3.25).

Figura 3.24. Registro feito por João


Dantas em 2016, em área de soja sobre
braquiária, biopóro no qual a raiz da
soja se desenvolveu dentro de outra.
Fonte: Dantas, 2016.

92
Figura 3.25. Registro de biopóros
causados por buracos de coleópteros
e crescimento do sistema radicular
da soja dentro dessas galerias. Fonte:
Dantas, 20161

Modelo B: Balanço de íons: Re-


lação do efeito alcalinizante do
N-NO3 e SO4 na rizosfera em sub-
superfície, com a utilização de
fontes nitrogenadas e o processo
de nitrificação, o N-NO3 e lixiviado
e causa esse efeito no perfil, outra
curiosidade seria esse efeito do
pH do gesso no perfil, devido ao
SO4 2-, de modo que não existe o
fator direto do insumo com a ele-
vação do pH, porém, com o ba-
lanço de íons esse processo pode
acontecer em subsuperfície pelo
efeito rizosfera (Figura 3.26).

Figura 3.26. Fonte: Marschner & Romheld 1996

93
Modelo C: Resíduos Vegetais: Capaci- rio no perfil do solo com boas condições
dade alcalinizante dos radicais livres da físicas para corrigir a subsuperfície. O
matéria orgânica em superfície para al- efeito da descida do calcário no perfil do
calinizar a subsuperfície, destacando a solo no sistema de plantio direto tem um
importância da construção da MO no peso muito grande. Como já foi discutido,
solo, no qual os principais fatores envol- a calagem e correção vem a ser um dos
vidos são: compactação, balanço positivo principais pilares desse modelo de cul-
de resíduos vegetais e aporte de nitrogê- tivo, que atualmente tem expressiva im-
nio no sistema. Esse modelo de correção portância na agricultura tropical. Os con-
de subsuperfície nos mostra o quão per- ceitos que devem ser enfatizados para a
feita a natureza é, uma vez que ao estru- sustentabilidade do ambiente estão na
turarmos um dos principais pilares da frequência da aplicação e na capacidade
sustentabilidade do ambiente de produ- de infiltração no solo. Vale ressaltar que
ção, conseguimos ajudar na correção do a compactação tem sido um problema
perfil, fornecer mais água para as plantas, muito grave em áreas de plantio dire-
melhorar a biologia do solo causando um to, considerada sempre como ponto de
efeito supressor e antagonista a fito pató- atenção. Complementar aos outros mo-
genos de solo e, principalmente, aumen- delos de correção podem ser adotadas
tar a produtividade. estratégias para ajudar esse processo de
movimentação da água, como plantas
Modelo D: Tempo e infiltração de água: de coberturas e até mesmo escarificação/
Capacidade de movimentação do calcá- subsolagem (Figura 3.27).

Figura 3.27. Área com subsolagem sobre a braquiária para melhorar a qualidade de infiltração de água e, consequentemente,
a reação do calcário. Fonte: Anderson Guido (Dpto. Técnico Copasul), Projeto Construindo Solos.

94
Modelo E: Incorporação mecânica em ra, ou sistemas estabelecidos com gran-
conjunto com infiltração de água: A re- des teores de alumínio no perfil do solo,
lação da incorporação do calcário com ou quando as doses de calcário passam
grade, arado ou equipamentos específi- de 3 t ha-1, o que indica um histórico de
cos para correção de perfil de solo. Essa baixos investimentos na correção do solo
medida é coerente para áreas de abertu- (Figura 3.28).

Figura 3.28. Incorporação de calcário com grade de 42 polegadas na região de Maracajú, MS em abril de 2020. Fonte: Pro-
dução agrícola Spekken

95
Figura 3.29. Solo
preparado com
grade de 42 polega-
das e alteração no
pH demostrado pelo
bromocresol, cor
roxa pH alcalino, cor
amarela, pH ácido.
Brasilândia, MG. Fon-
te: Sako, 2020.

96
Uma consideração especial deve ser feita 3.4.1 Duração do perfil alcalino
sobre as máquinas de aplicação de calcá-
rio em subsuperfície. A engenharia me- Solos com acidez corrigida em seu perfil
cânica tem a versatilidade de construir as terão acidez restabelecida ao longo das
necessidades que a agronomia identifica safras somente se os fatores de acidifi-
cação forem maiores que as práticas de
e algumas empresas dedicam grandes in-
correção de solo. Em Paracatu, MG, temos
vestimentos nesse sentido. A Mafes, uma
um exemplo de perfil de solo bem cor-
empresa fundada em 1984, liderada por rigido, com mais de 30 anos de lavoura,
Roberto Sako, vem desde essa época de- mas que devido à baixa qualidade do cal-
dicando grandes empenhos nesse con- cário, resultou na acidificação superficial.
ceito, trazendo novos outros conceitos Foi aplicado púrpura de bromocresol, um
que estimularam pesquisadores a dedi- corante que altera sua cor de acordo com
carem maiores estudos nessa área. Em o pH, em que tons maiores para o ama-
1992, os primeiros trabalhos no Brasil com relo indica acidez e tons maiores para o
máquinas específicas para esse fim vie- roxo indica alcalinidade.
ram com implementos para a cultura da
A reacidificação da subsuperfície é um
batata, posteriormente, café e eucalipto,
processo que pode ocorrer de forma len-
em seguida para cana-de-açúcar e, por ta ao longo dos anos, caso não seja feito a
último, para grãos. correção frequente de acidez.

pH 5,7

pH 5,4

pH 5,6

pH 5,7

pH 5,8

pH 6,0

Figura 3.30. Latossolo vermelho-amarelo, perfil de solo após


aplicação de púrpura de bromocresol, corante que tem sua
cor alterada de acordo com a acidez, sendo que a roxa tende à
alcalinidade e a amarela tende à acidez. No perfil de solo está
indicado o pH(CaCl) medido. Paracatu, MG. Fonte: Sako, H.

97
3.4.2 Faixas nutricionais em lavouras ao ADP e prejudica a transferência de
de alta produtividade energia entre as partes da planta. Outro
processo é a desregularização da perme-
A diagnose foliar é útil para identificar abilidade da membrana celular, levando
ajustes no programa nutricional, de modo a uma série de desordem fisiológica na
que as referências mudam de acordo planta. Zhang et al (2007) avaliando o
com a produtividade esperada. Dentre efeito da toxidez de alumínio em genóti-
elas três nutrientes merecem atenção: o pos de soja, identificaram relação da que-
molibdênio, o níquel e, principalmente, da da taxa fotossintética com o aumento
os teores de alumínio na folha. dos teores de alumínio na folha. Preservar
baixos teores de alumínio na folha, abaixo
O alumínio na folha leva é conduzido no de 50 mg kg-1, é um dos grandes pilares
vacúolo, que confere uma certa tolerân- para a alta produtividade da soja.
cia e, por isso, pode-se ter mais alumínio
que micronutrientes na folha sem pre- Tabela 3.16. Faixas nutricionais de lavou-
judicar a produtividade. O alumínio em ras entre 70 a 90 sc ha-1 e acima de 90
quantidades grandes na folha faz ligação sc ha-1. Análise feita no laboratório Ibra.

Abaixo de 90sc/há Acima de 90

Lim. Conf. (95%)


Média Média
Inferior superior

N (g.kg-1) 47,4 52,3 49,9 45

P (g.kg-1) 3,1 3,6 3,3 3

K (g.kg-1) 18,7 24,8 21,7 21,4

Ca (g.kg-1) 5 8,1 6,5 8,9

Mg (g.kg-1) 2,5 3 2,7 3,3

S (g.kg-1) 1,4 1,9 1,7 1,6

B (mg.kg-1) 35,4 48,9 42,2 74,6

Cu (mg.kg-1) 9,2 21,2 15,2 16

Fe (mg.kg-1) 111,3 221,9 166,6 127,3

Mn (mg.kg-1) 33,1 55,6 44,3 47,1

Zn (mg.kg-1) 42,9 59,4 51,1 46,9

Mo (mg.kg-1) 1,9 3 2,5 2,8

Al (mg.kg-1) 139 199 133,7 51,4

Fonte: Os autores

98
4. Magnésio no ambiente de produção

O magnésio é o quarto nutriente de maior extração pela soja. Na tabela 3.17, seguem
os teores de magnésio e a porcentagem na CTC de produtividades acima de 80 sc ha-1.

Tabela 3.17. Teores de magnésio em mmolc dm-3 e saturação de magnésio de


lavouras com produtividades maiores que 82 sc ha-1, estudo de quatro safras.

Mg (mmolc.dm-3) Mg % na CTC

Profundidade Limite Inferior Limite Superior Limite Inferior Limite Superior

00 cm 8,75 18,37 12 20,8

10-20 cm 6,08 15,02 10 18

20-40 cm 4,81 11,65 7,11 14,3

40-60 cm 3,98 6,19 10,1 13,1

60-80 cm 3,67 6,92 11 12,83

80-100 cm 3,46 6,66 11 14,1

Fonte: os autores.

A produção de 110 sc ha-1 de soja torna é a mais importante no fornecimento


necessária a extração de 43 kg ha-1 des- desse elemento e, no entanto, são neces-
se elemento e 15 kg ha-1 de exportação sários apenas 4 a 5 dias para secar essa
(BARTH et al., 2018). Quando se analisa camada. Dessa forma, o enriquecimento
a marcha de absorção de nutrientes de de magnésio em subsuperfície é impor-
uma soja de 110 sc ha-1, o acúmulo de nu- tante para continuar a atender essa de-
trientes na parte aérea ocorre até o R7, manda da planta e não restringir a pro-
sendo que no R5.1 ela ainda se encon- dutividade nesse momento. Esse é um
tra em metade de tudo que irá absorver dos motivos a considerar o magnésio no
de nutrientes, como demonstra a Figura perfil do solo para não diminuir as pro-
3.31. Quando se analisa o perfil de solo, dutividades das lavouras.
a camada de 0-20 cm de profundidade

99
100
Absorção de Mg (kg.ha-1) 42

Absorção de Mg (kg.ha-1)
Caule
35 Folha
75
Vagem
28
Grãos
21 50

14
25
7

0 0
V4 V7 R1 R4 R5.2 R5.4 R6 R7 R8
Estádio fenológico
Figura 3.31. Marcha de absorção de nutrientes de uma lavoura de soja de 110 sc ha-1. Fonte: adaptado de Barth (2018).

22
Magnésio exportado via grão (kg ha-1)

Mg = -2,11 + 0,17 * Produtividade


20 r2 = 0,83
18
16
14
12
10
8
6
4
2
0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120

Produtividade (sc ha-1)


Figura 3.32. Exportação de magnésio para cada faixa de produtividade, dados levantados pelos autores nas últimas
4 safras. Fonte: os autores.

100
O magnésio tem papel importante tam- de 3,4% para as raízes, e do fósforo, 22%
bém na distribuição dos carboidratos para as raízes. Para plantas bem nutri-
produzidos nas folhas, os quais são des- das 15,7% dos carboidratos foram trans-
tinados para as partes das plantas que locados para as raízes. De todos os ele-
estão em crescimento. Plantas deficien- mentos citados, o magnésio apresentou
tes em magnésio apresentam acúmulo o maior impacto no translocamento de
de carboidratos nas folhas e isso se deve carboidratos para as raízes.
à inibição da exportação de carboidra-
tos das folhas para o floema, levando a O magnésio tem outro papel importan-
uma baixa quantidade de carboidratos te, que é a melhoria na tolerância a al-
nos órgãos dreno, como vagens e raí- tas temperaturas. Em situações de altas
zes (CAKMAK et al., 1994). Cakmak et al. temperaturas, a síntese de radicais livres
(1994) avaliando a deficiência de nutrien- aumenta, e plantas bem nutridas de
tes no translocamento de carboidratos magnésio têm 80% a mais de superoxi-
para as raízes, identificaram que a au- dodismutase, 250% a mais de glutatio-
sência de magnésio levou a uma propor- ne redutase, 300% a mais de ascorbato
ção de 99,2% dos carboidratos, na parte dismutase, todos esses compostos an-
aérea, e apenas 0,8% para as raízes. No tioxidantes (Figura 3.33) (MENGUTAY et
caso do potássio, essa porcentagem foi al., 2013).

25 oC TRIGO 35 oC

Baixo Adequado Baixo Adequado


Magnésio Magnésio Magnésio Magnésio

25 oC 35 oC
MILHO

Baixo Adequado Baixo Adequado


Magnésio Magnésio Magnésio Magnésio

Figura 3.33. Efeito da temperatura em plantas com diferentes estados nutricionais de magnésio
Fonte: adaptado de Mengutay et al. (2013).

101
4.1 Mobilidade do magnésio no solo disponibilizado rapidamente, existindo
ainda uma relação inversa do pH com a
O magnésio, depois do potássio, possui disponibilidade de magnésio na solução
uma grande facilidade de se translocar do solo. Por esse motivo, implementar
em camadas mais profundas devido à o calcário com outras opções de fonte
relação da quantidade de carga e seu de magnésio é importante para preser-
raio hidratado. Quanto maior for essa re- var a lavoura bem nutrida e corrigir esse
lação, o íon tende a ter uma força menor nutriente no solo. A indústria tem evo-
de retenção com as partículas do solo. luído muito nesse sentido, fornecendo
Dessa forma, mesmo em altas doses de magnésio com boro, o próprio sulfato
calcário, são comuns os teores de mag- de magnésio, o óxido de magnésio e os
nésio não acompanharem esses teores complementos foliares.
aplicados na camada de 0-20 cm. De-
vido à sua importância em superfície e
subsuperfície, orienta-se ter uma quan- 5. Fósforo no ambiente de produção
tidade maior de magnésio, para que
com o tempo, o mesmo possa descer no
Os teores de fósforo em extrator resina
perfil do solo, caso o impedimento físico
nas faixas de produtividades entre 70 a
seja desobstruído.
90 sc ha-1 e acima de 90 sc ha-1 , estão
apresentados na tabela 3.18. Para produ-
Caso haja um acúmulo de magnésio na
tividades entre 70 a 90 sc ha-1, as faixas
camada de 0 – 20 cm, esse efeito vem a
de produtividade na camada de 0-10 cm
ser sinal da dificuldade de infiltração de
estão entre 40,5 a 65,8 mg dm-³ e na ca-
água. O gesso é uma prática que auxilia
mada 10 a 20 cm de profundidade entre
na movimentação do nutriente para ca-
14,2 a 32,7 mg dm-3. As adubações fosfa-
madas mais profundas, devido aos radi-
tadas a lanço têm sido atrativas pela faci-
cais de sulfato.
lidade operacional, porém possuem um
No manejo de solos, as relações entre os risco associado da lavoura não ter acesso
cátions compõem um fator importante, a uma boa quantidade de fósforo, devido
em função da competição entre eles na à deposição do elemento numa camada
absorção pela planta. O K, Mg, Ca e Mn que vem a ser a primeira a secar, em fun-
competem entre si, sendo que a prefe- ção dos processos de evapotranspiração.
rência de absorção entre eles se dá pelo Dessa forma, torna-se importante definir
número de carga e seu tamanho. Dessa a ocasião em que é aceitável essa prática
forma, o potássio toma preferência na sem prejudicar a produtividade. Teores
absorção entre todos eles e o cálcio pela entre 25,4 e 32,7 mg dm-3 na camada de
quantidade, enquanto que o magnésio 10-20 cm de profundidade são razoáveis
mantém-se reduzido nessas relações. para permitir essa prática e para pre-
servar o enriquecimento de fósforo nas
A fonte mais econômica de magnésio é camadas subsuperficiais, adotando pe-
o calcário, no entanto ele nem sempre é riodicamente o uso de braquiárias. Para

102
boas produtividades, o fósforo da cama- de fosforo para boas produtividades es-
da de 20-40 cm tem funções importan- tão entre 18,2 e 18,6 mg dm-3.
tes, como a fixação da matéria orgânica
e a melhoria na estrutura do solo. Para Tabela 3.18. Teores de fosforo extrator
preservar o acesso ao fósforo pelas plan- resina em produtividades entre 70 a
tas em períodos de veranicos, os teores 90 sc.ha-1 e acima de 90 sc ha-1.

Acima de
De 70 a 90 sc.ha-1
90 sc.ha-1

Profundidade Limite Inferior Limite Superior Média Média

mg.dm-1

0-10 cm 40,5 65,8 53,1 88,3

10-20 cm 14,2 32,7 25,4 37

20-40 cm 18,2 18,8 18,6 28,7

40-60 cm 7,2 10,8 9 9,7

60-80 cm 4,2 7,6 7 9,7

80-100 cm 0,1 18 5,9 5,3

Fonte: os autores.

O fósforo tem um papel amplo na plan- uma ampla participação em processos


ta, que vai desde a constituição de áci- de transferência energética na planta
dos nucleicos, como DNA e RNA, cons- por meio das transformações de adeno-
tituinte de fósfolipídeos situados na sina trifosfato e adenosina difosfato.
membrana celular, como também tem

Adenosina P ~P~ P HO R
[ATP]

liberação de 30 kJ
por mol ATP
Adenosina P ~P P O R
[ADP]

Figura 3.34. Conversão de ATP em ADP e a liberação de energia. Fonte: os autores.

103
Há uma grande diferença na fixação de hídrico. Em tecidos foliares deficientes
vagens, especificamente no diâmetro de fósforo, logo no início do recebimen-
das hastes de tolerância a estresse hí- to da energia solar, o fósforo inorgânico
drico para a soja, na medida em que se pode cair 50% para ser incorporado nos
vai aumentando os teores de fósforo re- processos fotossintéticos (Sicher e Kre-
sina até 40 mg dm³ em 0-20cm de pro- mer 1988). Plantas bem nutridas de fós-
fundidade. Esse efeito está diretamente foro aproveitam o aumento da energia
relacionado com a síntese de citocini- luminosa, principalmente no fotossis-
na em plantas bem nutridas de fósforo. tema I, e plantas deficientes em fósforo
SALAMA & WARIGEN (1979) reduzindo podem rapidamente voltar a ter a sua
em 1/10 o suprimento de fósforo consta- capacidade de aproveitamento restau-
taram uma queda de 3,36 para 1,28 ug rada com o ressuprimento do próprio
kg ms, de modo que a citocinina possui fósforo (Carstensen et al 2018). As ma-
relação com o início mais cedo do flo- nutenções de boas taxas fotossintéticas
rescimento e com a fixação da estrutura requerem bons teores de fósforo no te-
reprodutiva. cido foliar, sendo que a concentração no
cloroplasto está entre 2 e 2,5 um g de P,
Em condições de veranicos a oportuni- de maneira que ela é praticamente ces-
dade reside no aproveitamento da ener- sada quando os teores caem de 1,4 para
gia luminosa e o desafio reside na nu- 1,0 mP (Heber et al 1989).
trição do elemento fósforo em estresse

B C
150 200

150
100
ETR (II)

ETR (I)

100

50
Control 50 Control
P deficient P deficient
P resupply P resupply
0 0
0 500 1000 1500 2000 2500 0 500 1000 1500 2000 2500

PAR (µmol photons m-2 s-1) PAR (µmol photons m-2 s-1)

Figura 3.35. Relação da radiação fotossintética ativa (PAR) com a transferência de elétrons do fotossistema I (B) e fotossistema
II (A) em plantas deficientes de fósforo, com fósforo suprido e bem nutridas de fósforo (controle)
Fonte: Carstensen et al 2018.

A planta armazena o fósforo nas folhas e fósforo, as micorrizas tem papel impor-
nas raízes sobre a forma inorgânica, sen- tante na transferência de P do solo para
do que em plantas bem supridas desse a planta e a sua transferência e armaze-
elemento, 85 a 95% do fósforo estão nos namento nos fungos micorrízicos ocorre
vacúolos (Lauer et al 1989). No ciclo do predominantemente na forma de poli-

104
fosfato. Em grãos, mais de 50% está na deles é a taxa de exportação de fósforo
forma de fitato. para cada produtividade. Segue uma
atualização feita de 2015 a 2020 em di-
Para fins de cálculos de adubação, vá- ferentes faixas de produtividade.
rios fatores devem ser ponderados e um

80
P2O5 = 0,13 + 0,54 * Produtividade
P2O5 exportado via grão (kg ha-1)

70 r2 = 0,72

60

50

40

30

20

10

0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha-1)
Figura 3.36:. Exportação de fósforo, equivalente em P2O5 em cada faixa de produtividade de 2015 a 2020. Fonte: Os autores.

5.1 Acidez e eficiência de fósforo para 34%, com o aumento do pH de 4,7


para 5,9 (Sato, 2005).
Os solos tropicais possuem uma grande
facilidade de fixar o fósforo devido aos Segue trabalho feito pelos autores em
óxidos de ferro e alumínio, e ao próprio Brasilândia, MG, em latossolo vermelho-
alumínio na solução do solo. Dessa for- -amarelo e em área de abertura, em que
ma, o aumento do pH provoca a redução foi aplicado carbonato de cálcio e óxido
da fixação do fósforo pela redução da as- de cálcio, além de ter sido incubado o
sociação do alumínio com o fósforo. Sar- solo por uma semana. O rápido efeito do
tori (xxxx) avaliando diferentes tipos de oxido de cálcio sobre o pH, saindo de 5,0
solos e horizontes identificou, de modo para 7,0, permitiu o aumento de fósforo
geral, que o aumento do pH provocou o resina de 6 para 20 mg dm-3, mesmo em
aumento dos teores de fósforo no solo. áreas de abertura e com pouco fósforo
O aumento do pH provoca a redução da adsorvido.
adsorção e dessorção de fósforo de 21%

105
Notem que o manganês aumentou tam- vocar o aumento desses teores no solo.
bém com a aplicação dos corretivos, ape-
sar da haver a relação inversa do aumento Tabela 3.19. Reação de óxido de cálcio
do pH com a disponibilidade de Mn, mui- e calcário dolomítico sobre atributos
tas vezes os corretivos tem manganês em do solo. Área de abertura, latossolo
sua composição e sua aplicação pode pro- vermelho-amarelo.

Variável Solo Testemunha Calcário Dolomítico Óxido de Cálcio

pH (CaCl) 40,5 40,5 40,5

Cálcio (mmol c dm-³) 14,2 14,2 14,2

Magnésio (mmol c dm-³) 18,2 18,2 18,2

CTC (mmol c dm-³) 7,2 7,2 7,2

P Resina (g.dm-³) 4,2 4,2 4,2

Manganês (mg.dm-³) 0,1 0,1 0,1

Fonte: os autores.

5.2 Interações do fósforo com o am- a disponibilidade de oxigênio, como por


biente de produção exemplo, a redução da pressão parcial de
oxigênio de 20% para 5%, reduz, por sua
A absorção de fósforo pelas plantas, assim vez, a absorção de fósforo de 100% para
como todos os nutrientes, é influenciada 56%, e com relação ao potássio, caiu de
pelos diversos atributos físicos, biológi- 100% para 75% (Marschner, 1995). Barber
cos, químicos, além dos fatores climáti- (1995) avaliando diversos componentes
cos. Dentre os nutrientes que melhoram que afetam a absorção de fósforo identifi-
a absorção do fósforo vale destacar a im- cou que a taxa de crescimento das raízes e
portância do magnésio. Rasul et al (2011) os seus respectivos diâmetros possuem in-
avaliando 4 doses de magnésio associado fluência muito grande na absorção de nu-
a aplicação de fósforo, identificaram o po- trientes. Rosolem et al (1994) avaliando a
tencial de uma melhor conversão do fós- taxa de crescimento radicular em relação
foro, de 34,4% a 55,2%, devido ao efeito do à qualidade física do solo, como a resis-
magnésio. tência do solo, identificaram uma queda
de 50% no crescimento radicular da soja
A qualidade física do solo influencia a ab- quando o solo apresenta resistência de
sorção de fósforo em função da sua redu- 0,69 MPa, num latossolo vermelho-escuro
ção na taxa de crescimento radicular e nos com 80% de areia e 16% de argila. Solos
teores de oxigênio no solo. A absorção de com 0,69 mega pascal (MPa) são difíceis
fósforo é um processo que requer o gas- de serem encontrados. É notável o desafio
to energético, além de ser muito sensível que temos na qualidade física do solo.

106
Tabela 3.20. Pressão parcial de oxigê- A qualidade física do solo no leito da se-
nio e absorção de fósforo e potássio. meadura da soja tem um papel impor-
tante, ainda mais pelo fato de que é nes-
sa região onde se deposita o adubo. Na
Oxigênio Potássio Fósforo figura 3.37. segue a distribuição de água
(pressão parcial) (%) (%)
numa lavoura de 90 sc há e com boa in-
20 100%
filtração de água, permitida pela porosi-
100%
dade de aeração. Foi marcada uma so-
5 75% 56% lução com tinta branca e colocada uma
lamina equivalente a 30 mm de água.
0,5 37% 30% Observa-se na figura a boa distribuição
Fonte: Adaptado de Marschner, 1995. da água ao redor do leito de semeadura.

Figura 3.37. Boa infiltração de água ao redor do leito de semeadura da soja, lavoura de 90 sc ha-1. Fonte: Os autores.

107
Há situações em que os teores de fósfo- rão, PR, em que o teor foliar está abaixo do
ro no solo estão adequados, no entanto, adequado, no entanto, os teores de fósfo-
a análise foliar apresenta deficiência de ro no solo estão adequados e a resistência
fósforo ou mesmo o efeito visível de defi- do solo está elevada, de 1,9 a 2,0 MPa.
ciência de fósforo. Em muitos casos a ori-
gem desse problema é a qualidade física Tabela 3.21. Perfil físico e químico de
do solo e as práticas coerentes, nesses ca- um latossolo em uma lavoura de soja
sos, são aquelas que melhoram a aeração com teor de fósforo foliar, folha diag-
do solo e a infiltração de água. Segue um nóstico, 2,91 mg kg-1; faixa adequada
exemplo de uma lavoura de Campo Mou- de P entre 3,1 a 3,6.

Variável Solo Profundidade (cm)

0-10 10-20 20-40 40-60 60-80 80-100

P resina (mg.dm-3) 55 30 13 6 8 4

Resis. Solo (MPa)* 1,9 2-1,9 1,9-1,5 1,3-1,2

*Avaliado a resistência do solo na capacidade de campo. Unidades em mega pascal (MPa) Fonte: Ensaios feitos por Sako, H.

A temperatura e a disponibilidade de Wiersma, 1975) é a maior disponibilidade


água afetam a absorção de fósforo de de fósforo na primeira camada, a qual é a
modos diferentes. À medida que dimi- primeira a secar, agravando a deficiência
nui a disponibilidade de água no solo de fósforo à medida que avança a estia-
ocorre a redução da absorção de fósfo- gem.
ro, por reduzir a difusão do elemento no
solo. Além disso, um segundo fator que Tabela 3.22. Relação da disponibilida-
envolve o sistema de produção (Marais e de hídrica e absorção de fósforo.

Umidade do solo Dose de fósforo aplicado (mg kg de solo)

24 (mg kg de solo) 243 (mg kg de solo) 1456 (mg kg de solo)

acima que 2 Bar 15,3 30,3 67,1

Entre 0,03 a 15 bar 13,0 24,5 65,6

Menor que 15 bar 9,5 10,1 45,6

Fonte: Marais e Wiersma, 1975.

108
Em doses altas de fósforo, deve-se dar livres nos tecidos das plantas (Armen-
atenção especial ao zinco. Altas quanti- gand et al, 1969); iv) eficiência no uso da
dades de fósforo reduz a colonização das água: plantas bem nutridas de potássio
raízes por fungos micorrízicos, os quais possuem um melhor controle osmótico
têm um papel importante em facilitar o para o uso da água (Huber 1984); v) sínte-
acesso ao zinco as plantas. A deficiência se proteica: plantas bem nutridas de po-
de zinco causa a redução na permeabi- tássio tem baixas concentrações de ami-
lidade da membrana celular e isso pode noácidos livres, devido à sua capacidade
provocar o aumento da concentração em completar a formação de proteínas;
de fósforo, distanciando a relação boro vi) fotossíntese: plantas bem nutridas de
– zinco, causando a redução da permea- potássio possuem capacidade de fixar
bilidade da membrana celular, o que tor- até 3 vezes mais CO2. Parte da necessi-
na a planta mais suscetível à toxidez de dade do K na fotossíntese se deve a sua
boro. Plantas com excesso de fósforo em importância para manter um alto pH no
seus tecidos têm a deficiência de zinco
estroma, que é significativo para manter
amenizado com a aplicação no solo na
uma boa atividade da RuBP carboxilase.
forma de sulfato de zinco (Li et al, 2011).
O K também é importante para man-
ter baixa a intensidade da respiração na
fase escura, característica típica de plan-
6. Potássio no ambiente de produção
tas deficientes em potássio (Bottrill er
al 1970); vii) movimento estomático;: a
O potássio participa de diversas funções
regulação da abertura e fechamento es-
da planta: i) na ativação da bomba de
tomático tem, dentre as várias etapas, a
prótons da membrana celular (Gibrat
importância da distribuição de potássio
et al 1990), de modo que essa ativação
nas células guarda para regulação desse
não somente torna importante o próprio
transporte de K+, mas também o torna processo; e vii) redução de estresse: um
um elemento importante na expansão dos mecanismos que o potássio auxilia
celular e no controle osmótico da água; na redução de estresse é por meio da
ii) ativador enzimático: o aumento do redução da quantidade de espécies re-
fornecimento de potássio aumenta ex- ativas ao oxigênio, em conjunto com um
ponencialmente a atividade enzimáti- melhor controle osmótico dos estôma-
ca (Evans, 1969); iii) absorção e metabo- tos e alta pressão osmótica nos vacúolos,
lismo do N: o fornecimento de potássio permitindo as células serem hidratadas
mantém a absorção de nitrato pelas raí- mesmo sobre estresse hídrico. Por todos
zes, e em condições de ausência de po- esses motivos o potássio é um nutriente
tássio, após aplicação num período de essencial e importante no metabolismo
24 horas, restabelece significativamente vegetal, vindo a ser importante enten-
a sua absorção. O potássio possui um pa- der o seu comportamento no sistema
pel importante na redução de açúcares de produção e as práticas para um bom
de baixo peso molecular e aminoácidos programa de nutrição em torno dele.

109
Os teores de potássio para boas produtivi- de 0-10cm de profundidade e entre 2,0
dades estão em torno de 3,0 a 4,7 mmolc a 3,5 mmolc dm³ para faixas de produti-
dm³ para faixas de produtividade entre vidade entre 70 a 90 sc ha-1 e 2,6 a 3,5%.
70 a 90 sc ha-1, e acima de 90 sc ha-1, esse
valor alcança 5 mmolc dm³, enquanto Tabela 3.23. Teores de potássio extra-
que para os teores de potássio na CTC o tor resina em produtividades entre
índice seria entre 3,6 a 4,4% na camada 70 a 90 sc ha-1 e acima de 90 sc ha-1.

Acima de
De 70 a 90 sc ha-1
90 sc ha-1

Profundidade Limite Inferior Limite Superior Média Média

mmolc dm-3

0-10 cm 3,0 4,7 3,8 5

10-20 cm 2,0 3,5 2,7 3,2

20-40 cm 1,2 2,5 1,9 2,1

40-60 cm 0,8 1,8 1,3 1,5

60-80 cm 0,8 2 1,4 1,4

80-100 cm 0,6 1,6 1,1 0,6

Fonte: Sako et al 2017

Tabela 3.24. Teores de potássio em relação à CTC pH7, extrator resina em pro-
dutividades entre 70 a 90 sc ha-1 e acima de 90 sc ha-1.

Acima de
De 70 a 90 sc ha-1
90 sc ha-1

Profundidade Limite Inferior Limite Superior Média Média

0-10 cm 3,6 4,4 4 4,8

10-20 cm 2,6 3,5 3,1 3,3

20-40 cm 1,9 2,9 2,5 2,5

40-60 cm 1,1 3,9 2,2 2,2

60-80 cm 1,7 1,7 2,3 2,3

80-100 cm 1,4 2,3 1,9 1,9

Fonte: Sako et al 2017

110
O potássio tem a característica de apre- a absorção de magnésio, especialmente
sentar uma alta mobilidade no solo de- quando os teores de potássio e cálcio no
vido à sua baixa energia de retenção de solo são altos.
cátions. O seu deslocamento no perfil
de solo é aumentado quanto maior for Depois do nitrogênio, o potássio é o ele-
a dose de K2O aplicada, como também mento que mais é exportado do sistema
a proporção de areia na textura do solo de produção da soja. Uma produção de
(Werle et al 2008). Como exemplo da re- 80 sc ha-1 de soja exporta em torno de
lação da CTC, em solos arenosos, citamos 100 kg ha-1 de K2O, um valor conside-
o da região de Luis Eduardo Magalhães, rável, de modo que se não reposto, em
BA, em que é muito difícil passar de 2 duas a três safras pode levar a deficiên-
mmolc dm-3 devido a sua baixa CTC. cias severas. Na Figura 3.38 é apresenta-
do um levantamento de 2015 a 2020, da
O potássio tem preferência em sua absor- exportação de potássio. Para a produção
ção entre os cátions Mg e Ca, devido ao de uma lavoura de 110 sc ha-1 é extraído
fato de ser um íon de carga monovalen- 177 kg ha-1 de K ou 213,21 kg ha-1 de K2O,
te e de haverem canais específicos para ou ainda considerando a 20cm de pro-
absorção do potássio pela planta (Shar- fundidade de solo, uma concentração
ma et al, 2013). Esse é um dos motivos de de 2,22 mmol de K2O por hectare. Des-
o potássio ser muito pouco prejudicado se total, 63% desse volume de nutrien-
por altas quantidades de cálcio e magné- tes são exportados, ou seja, 134 kg ha-1 de
sio. No entanto, altas quantidades de po- K2O por hectare ou 1,39 mmol de K por
tássio podem prejudicar principalmente dm³ de solo (Barth et al, 2019).

165
K2O = 2,36 + 1,18 * Produtividade
k2O exportado via grão (kg ha -1)

150
r2 = 0,72
135
120
105
90
75
60
45
30
15
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha -1)
Figura 3.38. Exportação de potássio em K2O ha-1 para as diferentes faixas de produtividade. A linha em preto retrata o valor
central, em vermelho os limites superiores e inferiores. Fonte: os Autores.

111
6.1 Fontes alternativas de potássio geral, o cloro teve um efeito maior sobre
a redução da respiração dos microrganis-
O cloreto de potássio é a fonte usual de mos do que o sódio. O cloro sobre con-
potássio, no entanto, devido ao seu alto dições redutoras pode se transformar em
índice salino comparado com outras cloro ativo e manifestar sua característica
fontes, e a grande quantidade de cloro, bacteriostática. Primavesi (2002) cita que
é importante buscar fontes alternativas os principais microrganismos que pro-
de potássio quando o solo possui uma duzem compostos importantes na agre-
boa reserva desse elemento. O cloreto gação do solo são as bactérias do gêne-
de potássio tem 47% de concentração o ro Cytophaga e as mesmas são sensíveis
elemento cloro, uma quantidade muito
ao efeito da salinidade. Ao mesmo tem-
além do necessário para a planta. Perei-
po precisam de nutrientes e água como
ra et al (2019) avaliaram a influência de
uma planta qualquer, sugerindo dessa
doses crescentes de KCl em 0, 167, 334 e
forma a importância de se buscar fontes
668 mg dm-³ , e identificaram que já na
de potássio com menores teores de cloro
primeira dose houve alteração na ativida-
ou salinidade para solos que já possuem
de biológica do solo. Zhang et al avalian-
bons teores desse elemento.
do o efeito de doses crescentes de sulfato
de cloro e cloro, identificaram que a sali-
A influência da salinidade da aplicação de
nidade crítica do solo na qual influenciou
a atividade enzimática foi de 1,75 dS/m cloreto de potássio é evidente em condi-
para sulfato de cloro e 0,7 dS/m para o ções de alta temperatura. Na Figura 3.39,
cloro, sugerindo o efeito de fontes de S reunimos lavouras acima de 95 sc ha-1 de
para reduzir o efeito da salinidade causa- soja dentro de diferentes temperaturas
do pelo cloro. Rath et al (2012) avaliando com potássio aplicado no solo. Nas lavou-
NaCl, KCl, Na2SO4 e K2SO4 sobre a ativida- ras de alta produtividade, quanto maior
de microbiana, identificaram que a sali- a temperatura na fase reprodutiva, me-
nidade teve um efeito maior sobre bac- nores foram as doses de KCl aplicados, e
térias do que sobre fungos e, de modo maiores a reserva de K no solo.
na fase reprodutiva (oC)
14 26,0
Temperatura média
K solo (mmclc dm-3)

12 25,0
10
24,0
8
23,0
6
22,0
4
2 21,0
0 20,0
0 0 81 90 108 112,5 116 120 120 120 120 192

K2O aplicado (kg ha-1)

Figura 3.39. Comportamento da relação da dose de K2O aplicada com os teores de solo de K e a temperatura na fase reprodu-
tiva de lavouras que passaram de 95 sc ha-1. Fonte: Cedidos por Sako, H.

112
Em 2020, os autores distribuíram diver- uma queda na produtividade. Tal queda
sos ensaios de doses de potássio em dife- se deve a levar a uma planta com maior
rentes ambientes de produção, seguindo estresse térmico no momento que ela
duas doses de potássio: a primeira consi- precisa de uma maior transpiração para
derando a produtividade esperada mais diminuir a temperatura dos seus órgão
a construção da reserva e a segunda uma vegetais e a absorção de água é restringi-
dose de acréscimo de 60 kg há de K2O da pelo efeito da salinidade (Tabela 3.25.).
para auxiliar na construção da reserva
de potássio. Note que doses maiores de Tabela 3.25. Avaliação do aumento
potássio em condições de maiores tem- de 60kg há de K2O em cima da dose
peraturas na fase reprodutiva, levaram a planejada na produtividade da soja.

Aumento ou penaliza-
ção da produtividade K2O K2O 0-10 10-20 20-40 40-60 60-80 80-100
pelas maiores doses (kg ha-1) (kg ha-1) cm cm cm cm cm cm
de potássio (sc ha-1)

-7,38 181 241 1,70 0,70 0,80 1,10 1,20 0,80

-5,52 132 192 1,60 1,00 1,40 1,40 0,90 0,90

-4,78 130 190 1,50 1,10 1,10 0,60 0,40 0,30

-4,66 136 196 1,80 1,40 1,10 1,00 0,80 1,60

-4,26 136 196 2,10 1,30 1,20 0,90 0,70 0,80

1,46 88 148 2,80 2,30 1,40 1,10 1,10 0,80

5,12 70 130 1,70 0,90 0,50 0,40 0,40 0,20

7,22 132 192 1,60 1,00 1,40 1,40 0,90 0,90

Fonte: elaborado pelos autores.

Existem diversas opções interessantes tássio pode vir do K não-trocável do solo.


de plantas de cobertura que auxiliam Ferreira Filho, 2013, avaliando o consórcio
no enriquecimento de potássio do solo, milho - braquiária constatou a impor-
através do efeito da ciclagem e pelo fato tância das gramíneas para uma melhor
do efeito conseguir acessar um potássio nutrição do potássio na soja. Ferreira ava-
que poucas plantas acessam. Rosolem et liando 6 diferentes plantas de cobertura
al (2012) avaliando a Brachiaria ruzizien- constatou que uma boa parte do potás-
sis, em condição de exaustão de potássio sio é liberado nos primeiros 98 dias pós
no solo, notaram que até 80% do seu po- manejo (Torres e Pereira 2008).

113
Tabela 3.26. Plantas de cobertura e liberação de potássio após seu manejo.

Dias após manejo


K
acumulado
Cobertura 42 98 154 210
no manejo
(Kg ha-1)
kg ha-1

Pousio 23,80 21,23 115,59 10,76 6,02

Milheto 218,90 112,51 100,91 76,72 70,92

Sorgo 104,50 84,44 60,92 34,80 31,98

Crotalária 59,20 33,27 21,49 15,04 17,17

Aveia 33,4 15,23 13,03 12,06 11,76

Braquiária 214,70 96,40 84,81 60,12 34,35

Fonte: Torres e Pereira 2008

2t ha-1 gesso 2t ha-1 gesso

+60 k20 +60 k20

Figura 3.40. Efeito do potássio e gesso sobre a temperatura do dossel da soja. Fonte: Cedidos por Sako, H.

As indústrias de fertilizantes têm evoluí- Alfenas com resultados de uma fonte de


do ao apresentar diversas opções de po- baixa salinidade, de Siltito Glauconitico.
tássio de baixa salinidade, como o siltito A aplicação de siltito glauconitico e o
glauconitico, reserva situada em São Go- cloreto de potássio não tiveram os teores
tardo, MG, o duonito, com fonte oriunda de K significativamente reduzidos, mas
de Poços de Caldas, MG, e as tradicionais com uma média pelo siltito glauconitico
fontes KCl enriquecidas com matéria devido à liberação lenta de potássio des-
orgânica de qualidade. Em 2020, foi re- sa fonte e que pode ser compensado por
alizado um ensaio por Sako (2020) em maiores doses, já com efeito residual do

114
potássio para a segunda safra. A salinida- Tabela 3.27. Avaliação de KCL e siltito
de avaliada pela condutividade elétrica glauconitico na condutividade elétri-
foi significativamente menor em relação ca do solo e no teor de potássio após
ao cloreto de potássio, importante para 120 dias de aplicado.
situações de estresse hídrico.

Condutividade % de Potássio
Matéria Orgânica Elétrica (1:5) na CTC Potássio

Fonte de Adubo Oxidação Potenciometria Cálculo Resina

g/dm3 dS/m % mmolc/dm³

120 K2O . ha-1, KCL 20,4 a 0,09 a 3,84 a 3,68 a

120 K2O . ha-1,


21 a 0,07 b 3,52 a 3,24 a
Siltito Glauconitico

Fonte: Sako, H.

Os teores de enxofre em lavouras de boa nio, pois participa da síntese de etileno,


produtividade estão apresentados na ta- de componentes oriundos do metabolis-
bela 3.28. Bons teores estão entre 12,9 e mo secundário, relevantes para o sistema
18,0, a 10 cm de profundidade, e 15 e 21 de defesa das plantas contra patógenos.
mg dm3 na camada de 10-20 cm de pro-
fundidade. O enxofre é um elemento re- Tabela 3.28. Teores de enxofre no per-
levante para o metabolismo do nitrogê- fil do solo.

Acima de
De 70 a 90 sc ha-1
90 sc ha-1
Profundidade
Limite Inferior Limite Superior Média Média

0-10 cm 12,9 18,0 15,26 19,6

10-20 cm 15,03 21,04 18,04 17,4

20-40 cm 25,06 36,65 30,80 28,4

40-60 cm 33,79 52,32 43,06 52,2

60-80 cm 31,81 58,98 45,4 75,2

80-100 cm 26,86 57,96 44 88,44

Fonte: Os autores

115
O enxofre possui a característica de se do do zero, migra gradualmente para re-
movimentar muito bem pelo perfil do tenção de cargas negativas. Note que é
solo devido à natureza de sua carga nega- uma transição entre retenção de cátions
tiva, SO42-. As camadas superficiais têm e ânions, de modo que quando o valor se
maior dificuldade, pelo fato de ser onde torna positivo, predomina a retenção de
se encontram bons teores de fósforo, o ânions. Segue exemplo de um perfil de
qual possui um sitio preferencial na fixa- solo de 106 sc ha-1 e os teores nutricionais
ção em relação ao sulfato. À medida que no perfil do solo.
vai descendo no perfil dos solos tropicais,
é da natureza dela reter menos cátions Na Tabela 3.29 é apresentado um perfil
e mais ânions e por esse motivo, solos de solo livre de impedimento físico, em
bem corrigidos com gesso apresentam que foi colhido 106 sc ha-1. Há um aumen-
teores crescentes de enxofre no perfil do to gradual de enxofre à medida que des-
solo. Esse conceito pode ser considerado ce em profundidade e os maiores valores
equivalente para o nitrato. Um dos meios se encontram de 120 a 140 cm de profun-
para se saber o quanto o solo retém de didade. Isso se deve ao movimento da
cargas positivas ou negativas é por meio água em subsuperfície de forma horizon-
do Delta pH, descrito como pH KCl me- tal devido à declividade do terreno.
nos pH água. Delta pH negativo signifi-
ca que o solo retém cargas negativas e à Tabela 3.29. A análise de solo de uma
medida que o delta pH vai se aproximan- lavoura de 110 sc ha-1.

Fósforo
MO (resina) K Mg Ca S Boro
Profundidade
(cm)
g kg-1 mg dm-³ mmolc dm-³ mg dm-³ mg dm-³

0 a 10 40 120 10.8 22 54 13 0.95

10 a 20 34 50 4.5 24 53 11 1.15

20 a 40 32 54 4.3 20 43 14 0.58

40 a 60 22 9 2.2 13 22 50 0.49

60 a 80 18 6 1.3 10 16 72 0.54

80 a 100 17 5 0.9 11 16 117 0.4

100 a 120 10 2 0.4 11 14 247 0.24

120 a 140 10 2 0.4 12 15 236 0.18

140 a 160 7 2 0.4 13 16 98 0.14

160 a 180 7 4 0.4 11 12 41 0.19

180 a 200 6 2 0.4 11 10 51 0.34

Fonte: Os autores.

116
Em razão desse acúmulo de enxofre em mg dm-3, indicando grandes problemas
camadas mais profundas do solo, o seu de impedimentos físicos, assim como a
acúmulo nas camadas superficiais ao ocorrência do acúmulo de matéria orgâ-
logo dos anos pode indicar baixa infil- nica, e na camada 20-40 cm, o acúmulo
tração de água. Segue exemplo de um de boro.
perfil de solo com problemas de impe-
dimento físico (Tabela 3.30.). Na camada Tabela 3.30. Análise química de um
de 40-60 cm, há uma mudança abrup- solo com altos valores de resistência
ta no teor de enxofre, de 86 para 220 do solo. Guaira, SP.

pH S M.O. B Mn Fe
Profundidade
(cm)
(CaCl2) mg/dm3 g/dm3 mg/dm3 mg/dm3 mg/dm3

0 a 10 5,2 16 29 1,1 14,9 18

10 a 20 5 30 21 1,11 9,7 17

20 a 40 5 86 17 1,47 4,1 16

40 a 60 5 220 21 0,22 1,8 8

60 a 80 5,3 43 10 0,17 2,1 5

80 a 100 5,3 12 9 0,14 1,7 5

Fonte: Melo, C. (2019).

7. Enxofre no ambiente de produção elemento, devido à sua baixa capacida-


de de redistribuição na planta. Dessa
Um fator importante é que a camada do forma, o enxofre faz parte dos nutrientes
solo de maior fertilidade, o horizonte A, que constantemente devem ser repostos
é justamente onde se encontra também na superfície do solo para poder atender
a maior parte dos inóculos das doenças a demanda das plantas. Como referên-
das plantas. O enxofre faz parte da alici- cia da taxa de exportação de nutrientes,
na, composto importante de defesa das segue a Figura 3.41, que apresenta as ex-
raízes contra doenças e bactérias do solo. portações de S de 2015 a 2020, em Sulfa-
Uma camada superficial com baixos teo- to por hectare para diferentes produtivi-
res de enxofre e uma subsuperfície rica dades. Uma produtividade de 90 sc ha-1
em enxofre, não garantem raízes secun- exporta nos grãos 30 kg ha-1 em forma de
dárias e terciárias bem nutridas desse sulfato.

117
20

Enxofre exportado via grão (kg ha -1)


S = -1,43 + 0,16 * Produtividade
18 r2 = 0,83
16
14
12
10
8
6
4
2
0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha -1)
Figura 3.41. Exportação de S, sulfato por hectare, para as diferentes faixas de produtividade para converter em SO42- dividir por
0,33379. Fonte: Os autores.

Há uma relação inversa entre os teores solo. Tem sua importância por diversas
de fósforo no solo com os teores de enxo- funções, como: i) transporte de açúcar; ii)
fre. A argila possui maior afinidade com síntese da parede celular; iii) lignificação;
o fósforo do que com o sulfato e dessa iv) estrutura da parede celular; v) meta-
forma, quanto maior o teor de fósforo bolismo dos carboidratos; vi) metabolis-
no solo, menor o teor de sulfato. Isso traz mo envolvendo RNA; vii) respiração; viii)
novamente a importância de se cuidar ácido indolacético (IAA), ix) metabolismo
frequentemente do sulfato devido à sua de compostos fenólicos; x) manutenção
baixa mobilidade no perfil do solo. da permeabilidade da membrana celu-
lar; xi) influência nas etapas de fixação
8. Boro no ambiente de produção de nitrogênio (BELLALOUI et al., 2014;
MARSCHNER, 1995). Para fins de cálcu-
O boro é um micronutriente metálico los, segue a taxa de exportação de boro
com as seguintes naturezas: i) facilida- no sistema de produção.
de de percolar pelo solo, ii) fixação pela
matéria orgânica, iii) adsorção com as
partículas de argila e ela é maior com a
idade dos solos devido à sua ausência de
carga, a qual é absorvida pela matéria or-
gânica e pelo grau de intemperismo do

118
B = -31,49 + 2,02 * Produtividade
240
r2 = 0,62

Boro exportado via grão (g.ha -1)


200

160

120

80

40

0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha -1)
Figura 3.42. Exportação de boro pela produção de soja (g ha-1) em suas diferentes faixas de produtividade.

Um dos efeitos que ocorre rapidamen- Tabela 3.31. Adição de boro e a pola-
te na privação de boro no solo é a seção rização da membrana celular nas cé-
do alongamento radicular. Em 3 horas lulas.
de ausência de fornecimento de boro,
inicia-se a redução do crescimento ra-
dicular, em 6 horas a redução do cres- Tempo após
Mudança
a adição de Em
cimento se torna severa e em 24 horas na Em
50um B
praticamente cessa o alongamento das
raízes (BOHNSACK; ALBERT, 1977 apud 0min -174,9 ± 3,5

MARSCHNER, 1995). A ausência de boro


3 - 178, 8 ± 3,3 -4,9 ± 0,9
interfere no crescimento das raízes pela
redução da atividade meristemática, in- 5 - 180,1 ± 3,0 -5,2 ± 1,0
fluenciando a sinalização da citocinina
nos processos metabólicos, como por 10 - 182,3 ± 3,1 -7,4 ± 0,8
exemplo, a divisão celular (POZA-VIEJO
15 - 182,3 ± 2,7 -9,1 ± 1,5
et al., 2018). Outro papel importante do
boro é a hiperpolarização das células nas 20 - 183,7 ± 3,0 -10,4 ± 1,6
membranas das raízes, sendo a diferen-
ça de potencial elétrico um aspecto im- 25 - 184,0 ± 5,3 -11,6 ± 2,6
portante para a atividade radicular, tabe-
la 3.31 (Schon et al, 1990). Fonte: Schon et al, 1990

119
Uma característica do boro é o aumento 3.43. Quando há presença de alumínio e
do pH rizosférico, aumento este que con- isso é agravado pela deficiência de boro,
tribui na tolerância ao alumínio. Um dos há o acúmulo do IAA- na zona de transi-
processos que permite maior alcaliniza- ção e isso força uma maior atividade da
ção da rizosfera é o transporte da auxina bomba de prótons e uma acidificação da
(IAA-) da zona quiescente das raízes para rizosfera. Já na Figura 3.44, foi aplicado
a zona de transição, e dessa para a zona um corante que indica a presença de Al
de elongação. A não concentração da nos tecidos. Realizado o teste com boro
auxina nessas partes das células permite e sem boro, na presença e na ausência
manter a baixa atividade da bomba de de alumínio, notamos que a presença de
prótons na zona de transição, tornando a boro reduziu os teores de alumínio nas
rizosfera mais alcalina, conforme a Figura raízes.

Quiescent center Transition zone Elongation zone


A Acidification Alkalinization Acidification

PIN IAA-
Acidic Media

IAA- AUX IAA-


IAA- IAA- IAA -

IAA- IAA- IAA-

IAA- IAAH IAA-


IAA-
H+
IAAH IAA-

H+ H+ -ATPase
H+ H+
H+ H+ H + H+ H+ H
+

B -B Al

PIN IAA- IAA-


AUX
-B/+Al Stress

IAA- IAA-
IAA-
IAA- IAA- IAA-

H+ IAA
- IAAH H+
IAA-
H+
IAAH IAA-

H+ H+ -ATPase
H+ H+
H+ H H+ H H H+ H
+ + + +
H+
Acidification
Figura 3.43. Processos envolvidos na alcalinização e acidificação da rizosfera sobre deficiência de boro e presença de alumínio.
Fonte: Li et al., 2018.

120
-Al-B a -Al+B b +Al-B c +Al+B d
Figura 3.44. Efeito do boro na redução de absorção de alumínio pelas raízes. Análise histochímica feito com corante hematoxy-
lin e iodeto de potássio. Fonte: Muhammad et al. (2018).

8.1 Boro no perfil do solo aumentar a dose até 4 kg ha-1. Com esses
cálculos e a preservação da infiltração de
A Tabela 3.32 traz uma primeira aproxi- água, é possível alcançar teores descritos
mação para boas lavouras nas diferentes acima e ter o primeiro grande aumento
faixas de produtividade e com isso, de- de produtividade da soja.
vem-se incluir as diversas interações do
elemento no solo. Cálculos propostos por É importante citar que doses excessivas
Yamada e amplamente validados em de boro pode ocasionar fitotoxidez e os
campo por Dantas e Sako (2020) indicam aspectos operacionais como sobreposi-
uma boa metodologia ao considerar para ção da faixa de aplicação dos adubos com
cada 10% de argila a aplicação de 1 kg de boro devem ser considerados.
boro, sendo que se a aplicação do boro foi
realizada antes da soja, a dose de seguran- Tabela 3.32. Teores de boro, mg dm-3,
ça é 2 kg ha-1, e quanto maior for o grau de em diferentes faixas de produtivida-
intemperização do solo e do pH, pode-se des. Extrator água quente.

Profundidade
Profundidade 0-10cm 10-20cm 20-40cm 40-60cm 60-80cm 80-100cm
B(mg.dm-3)
Até 70 sc/ha 0,8 0,67 0,53 0,42 0,42 0,4
70 a 90 sc/ha 0,84 0,73 0,66 0,47 0,46 0,42
Acima de 90 sc/ha 0,96 0,77 0,67 0,5 0,47 0,46
Fonte: Os autores.

121
O boro possui a característica de au- Brian montaram 20 ensaios distribuídos
mentar a sua adsorção na ocasião em no cerrado Mineiro e identificaram o po-
que maior for o pH do solo e seu intem- tencial da metodologia para nutrientes
perismo, enquanto que a matéria orgâ- de carga negativa ou ausente de carga,
nica e a água são processos que atuam como o boro. Uma vez identificadas nes-
na liberação do boro na solução do solo. se ensaio respostas interessantes para
Somado a esses fatores, há a mudança esse nutriente, por mais que os teores
genética dos materiais utilizados. Essa
sugerem estar em faixas adequadas, por
complexidade de interações de fatores
uma questão de natureza da argila, défi-
faz um pequeno ensaio pragmático para
cit hídrico no ambiente de produção ou
trazer informações ricas para a tomada
de decisões. mesmo a mudança dos materiais gené-
ticos, tratam-se sinalizações importan-
Neste contexto, a faixa rica foi original- tes e seguras para aumentar os teores de
mente desenhada para o uso racional aplicações de boro.
de nitrogênio na cultura do trigo no ano
de 1980 nos EUA. Uma vez que os so- Tabela 3.33. Resposta a aplicação de
los tropicais exigem maiores esforços 2 kg com 4 kg de boro em diversos
na construção da sua fertilidade, Sako e locais do Cerrado Mineiro

Local Fator resposta Teor de B solo (mg dm³)

Resposta a cm
Cidade aplicação de 2kg
de boro no solo 0-10 10-20 20-40 40-60 60-80 80-100
Morada Nova Sem resposta 0,34 0,45 0,62 0,61 0,54 0,37
Brasilandia Sem resposta 0,32 0,29 0,24 0,28 0,24 0,28
Guarda Mor Sem resposta 0,80 0,73 0,41 0,32 0,31 0,28
Patrocicio Sem resposta 1,29 0,98 0,84 0,60 0,53 0,60
Unai Positiva 0,48 0,30 0,26 0,29 0,18 0,35
Patos de Minas Positiva 0,45 0,29 0,35 0,27 0,39 0,38
Guarda Mor Positiva 0,52 0,51 0,56 0,38 0,43 0,35
Alfenas Positiva 0,74 0,62 0,73 0,98 0,51 1,02
Coromandel Positiva 1,37 1,39 0,50 0,42 0,48 0,43
Unai Muito positiva 0,37 0,27 0,23 0,27 0,29 0,26
Paracatu Muito positiva 0,87 0,39 0,38 0,39 0,26 0,17
Patrocinio Muito positiva 1,43 1,18 0,82 0,65 0,58 0,58
Patos de Minas Muito positiva 0,45 0,29 0,35 0,27 0,39 0,38
GuardaMor Muito positiva 0,95 1,02 0,84 0,60 0,34 0,25
Guarda Mor Muito positiva 0,91 0,49 0,38 0,38 0,27 0,46
Guarda Mor Muito positiva 0,39 0,44 0,42 0,39 0,38 0,38
Unai Muito positiva 0,81 0,80 0,73 0,47 0,29 0,30
Brasilândia Muito positiva 0,80 0,58 0,60 0,54 0,35 0,24

Fonte: Cedido por Sako, H

122
Em Plintosossolos, especialmente as da se hídrico, devido à alta quantidade de
região do Tocantins, deve-se dar atenção cascalho, sua falta é agravada e merece
especial ao boro. Em situações de estres- atenção especial.

Figura 3.45. Perfis de plintossolos e lavoura com deficiência


de boro (Lagoa da Confusão, Tocantins).
Fonte:

De outro lado, ainda no tocante à nu- equilíbrio com as partículas do solo não
trição do boro, doses excessivas provo- apresenta capacidade de gerar fitoto-
cam fitotoxidez, marcada pela queima xidez. Exemplos mais diversos podem
das bordas das folhas. Doses seguras de ser observados em lavouras com teores
boro para a soja são sempre 2 kg ha-1 de de boro alto e sem sintoma de fitotoxi-
boro antes do plantio da soja, enquan- dez, em solos com baixos teores de boro
to que doses maiores do elemento são com a aplicação de 4 kg ha-1 apresentado
possíveis quando a argila apresenta um ocorrência de fito, e em solos com a mes-
maior grau de intemperização e menor ma aplicação e sem sintomas de fito de
acidez. O boro que causa a queima das boro, com as doses feitas antes do plan-
folhas é aquele que sai diretamente do tio da soja.
fertilizante para a solução do solo, e em
doses além da adsorção pelas partícu- A aplicação recorrente de boro no siste-
las do solo. O boro que se encontra em ma sem a constatação do aumento nos

123
teores do solo merece atenção e deve ser tem apresentado respostas boas no au-
comunicada ao laboratório em que está mento dos teores de boro no solo.
sendo encaminhado o solo para análise
e obtenção dos resultados, dado a sua Em ambientes onde o boro está em
dificuldade de quantificação e de meto- bons teores ou esta em construção a
dologia adequada. associação do boro com o octaborato
é uma opção interessante no manejo
8.2 Fontes de Boro
pela sua eficiência na disponibilidade
do elemento, sua aplicação é feita em
A indústria de fertilizantes tem avan-
pré-plantio da soja e apenas se ater ao
çado consideravelmente as opções de
pH da calda na mistura com herbicidas.
boro. Em baixos teores de boro no solo
Na Tabela 3.34 segue o resultado do
ou doses para aumentar os teores de
complemento de 0,5 kg ha-1 de boro na
boro tem como opções consolidadas
fonte de octaborato em solos com 2kg
a ulexita com concentração de 10% e
ha de boro, fonte ulexita.
uma fonte de potassio com associação
de dois tipos de boro no mesmo granu- Tabela 3.34. Resposta da aplicação de
lo, borato de sodio e borato de calcio e 0,5 kg ha-1 de Boro em forma de Octa-
também tem se consolidado a opção borato de Sòdio em solos que foi apli-
do tetraborato, em todas essas opções cado de 2 kg ha-1 boro fonte Ulexita.

Faz. Faz. Yupita Santa


Faz. São Faz. São Faz. Gi-
Tratamento Alto da Erechin Vaca Rosa
José José rassol
Colina Branca

Sem 68,23 68,23 54,72 55,52 57,18 56,72 64,16 57,42

Com 2,5 kg ha
70,92 74,89 56,00 61,18 59,25 59,24 59,72 54,06
Octabora

Fonte: Ensaios feitos por Dantas com a Copasul

9. Micronutrientes metálicos disponíveis no mercado. As diversas op-


ções que se tem em adubos de solo e
A maturidade da construção da fertili- de folha, conduz o manejo fácil de mi-
dade do solo acompanha a correção da cronutrientes metálicos em solos de pH
acidez e isso leva a relevância da cor- corrigido.
reção dos micronutrientes metálicos.
A redução de micronutrientes metá- Dois fatos agronômicos merecem aten-
licos no solo é um estágio na correção ção para os teores de micronutrientes
do solo, de modo que torna-se fácil de metálicos no solo: i) teores radiculares
ser manejada no sistema de produção de micronutrientes metálicos, a nature-
em função das atuais opções de manejo za da restrita redistribuição dos micro-

124
nutrientes metálicos nos órgãos vege- 27cm² por dia durante a fase vegetativa,
tativos mais velhos para os mais novos se considerarmos que o ciclo da aplica-
e isso implica na restrição da nutrição ção foliar numa lavoura se dá quinze-
foliar em conseguir alcançar a nutrição nalmente e o solo possui carência des-
dos tecidos radiculares. Raízes bem nu- ses nutrientes, ficará 358cm² de área
tridas implica em funções fisiológicas foliar susceptível a deficiência de mi-
importantes no ambiente de produção
cronutrientes devido aos baixos teores
como a melhor tolerância ao ataque de
no solo. Por esses motivos, é importante
pragas e doenças de solo, tecidos vascu-
enriquecer o solo com micronutrientes.
lares bem formados e um melhor aces-
Segue nas Tabelas 3.35 a 3.42 os teores
so a água e nutrientes. ii) sincronia entre
o ganho de matéria seca e a concentra- de micronutrientes no solo.
ção de nutrientes metálicos; as plantas
crescem num ritmo grande se olhar ao Tabela 3.35. Teores de zinco no solo
longo dos dias de seu ciclo, uma folha em produtividades abaixo e acima de
de soja por exemplo expande em média 90 sc ha-1 .

Abaixo de 90 sc ha-1 Acima de 90 sc ha-1


Profundidade Limite Inferior Limite Superior Limite Inferior Limite Superior
(mg . dm) (mg . dm-3) (mg . dm-3) (mg . dm-3)

0-10 cm 1,9 2,8 2,8 7,4


10-20 cm 1,7 1,8 1,8 6,9
20-40 cm 0,5 0,6 0,6 1,5
40-60 cm 0,1 0,2 0,2 0,9
60-80 cm 0,1 0,2 0,1 0,4
80-100 cm 0 0,1 0,1 0,6
Fonte: os Autores

Tabela 3.36. Teores de cobre no solo em produtividades abaixo e acima de


90 sc ha-1
Abaixo de 90 sc ha-1 Acima de 90 sc ha-1
Profundidade Limite Inferior Limite Superior Limite Inferior Limite Superior
(mg . dm-3) (mg . dm-3) (mg . dm-3) (mg . dm-3)

0-10 cm 0,9 1,5 1,5 2,7


10-20 cm 0,6 1,3 1,3 2,4
20-40 cm 0,5 0,9 0,9 1,6
40-60 cm 0,4 0,4 0,4 0,9
60-80 cm 0,3 0,4 0,4 0,8
80-100 cm 0,3 0,2 0,2 0,5
Fonte: os Autores

125
Tabela 3.37. Teores de manganês no solo em produtividades abaixo e acima
de 90 sc ha-1

Abaixo de 90 sc ha-1 Acima de 90 sc ha-1


Profundidade
Limite Inferior Limite Superior Limite Inferior Limite Superior
(mg . dm-3) (mg . dm-3) (mg . dm-3) (mg . dm-3)

0-10 cm 0,7 2,8 2,8 22,7

10-20 cm 0,6 1,7 1,7 22,6

20-40 cm 0,5 1,0 1,0 11

40-60 cm 0,4 1 1 3,3

60-80 cm 0,4 1,1 1,1 3,2

80-100 cm 0,4 0,7 0,7 2

Fonte: os Autores

Tabela 3.38. Teores de ferro no solo em produtividades abaixo e acima de


90 sc ha-1 .

Acima de 90 sc ha-1
Abaixo de 90 sc ha-1
Profundidade
Limite Inferior Limite Superior Limite Inferior Limite Superior
(mg . dm-3) (mg . dm-3) (mg . dm-3) (mg . dm-3)

0-10 cm 2,9 19,5 19,5 31,9

10-20 cm 1,6 19,9 19,9 28,3

20-40 cm 0,5 15,3 15,3 19

40-60 cm 0,2 7,7 7,7 10,5

60-80 cm 0,1 5,6 5,6 8,9

80-100 cm 0 4,3 4,3 7,2

Fonte: os Autores

126
Tabela 3.39. Função fisiológica do manganês na planta.
Mn
Função ou compo-
Mecanismo fisiológico
nente fisiológico

O manganês é cofator enzimático de 35 diferentes enzimas sendo que


Ativação enzimática a maioria delas catalisa funções de oxidação-redução (Burnel, 1988).

Ativação de enzimas O manganês ativa várias enzimas da rota do ácido chiquímico levando
associadas a Rota do a síntese de aminoácidos aromáticos como tirosina e produtos secun-
ácido chiquímico dários como lignina e flavonoides.

O acúmulo de alantoína e alantoato na parte vegetativa leva a restri-


Metabolismo da
ção na atividade da nitrogenase pelo rhizobium. O manganês atua na
fixação biológica
degradação desses dois compostos nos tecidos vegetativos (Winkler et
de nitrogênio
al, 1985).

Acúmulo de nitrato Em folhas deficientes de manganês ocorre o acúmulo de nitrato devido


no tecidos vegetais a penalização na síntese de cloroplasto e carboidratos no citoplasma.

Tecidos vegetais deficientes em manganês tem a penalização da ativi-


Atividade dade fotossintética pela redução da liberação de O2 pelo fotossistema
fotossintética II. A deficiência de manganês altera a estrutura da membrana dos
tilacóides, perdendo unidades funcionais do fotossistema II.

A deficiência de manganês leva a uma queda na quantidade de car-


Metabolismo de boidratos solúveis nas folhas e principalmente nas raízes (Vielemeyer et
Carboidratos al (1969)

A redução do fornecimento de manganês penaliza a fotossíntese e isso


Metabolismo
leva a redução no fornecimento de esqueletos carbônicos para a sínte-
de lipídeos
se de ácidos graxos

O manganês é requerido em várias etapas na síntese de lignina. O


manganês é cofator da fenilalanina amônia-liase a qual media a sín-
tese de ácido cinâmico e outros compostos fenólicos, ii) atividade da
Metabolismo
peroxidase a qual é responsável pela polimerização de cinamil em
de lignina
lignina (Brown et al 1984; Rengel et al 1993). A penalização da concen-
tração de lignina pela deficiência de manganês é maior nas raízes que
nos tecidos foliares.

Redução do cresci- A redução dos teores de carboidratos solúveis nas raízes devido a defi-
mento radicular - pe- ciência de manganês causa a inibição do crescimento radicular (Cam-
nalização da divisão e pbell and Noble, 1988). Plantas deficientes de manganês tem a restri-
extensão celular ção na formação de raízes laterais (Abbott, 1967).

Fonte: Revisão feita por Sako, H.

127
Tabela 3.40. Função fisiológica do cobre na planta.
Cu
Função ou compo-
Mecanismo fisiológico
nente fisiológico

Transporte de elétrons
Há mais de 100 diferentes tipos de proteínas que dependem de cobre.
- Plastocianina
As chaperonas tem papel importante na preservação da síntese de proteínas
Chaperonas em situação adversa de temperatura e o cobre está ligado a síntese e atividade
das chaperonas (Burkhead et al 2009).

Etileno O cobre esta envolvido na expressão do etileno na planta

A plastocianina é um componente importante no transporte de elétrons do fo-


Transporte de elétrons tossistema I. Para cada uma unidade de plastocianina há um átomo de cobre,
- Plastocianina e de cada tres a quatro plastocianina há 1.000 moléculas de clorofila (Sand-
mann e Boger, 1983)

O estresse provocados pelo ambiente na fisiologia da planta tem como con-


sequência a geração de singletos reativos de oxigênio as quais prejudicam a
Superóxido dismuta- função fisiológica das membrana celular. Para mitigar os efeitos perniciosos
se (SOD) dos singletos reativos de oxigênio a planta produz a superóxido dismutase que
tem reagem sobre eles. O cobre, zinco e ferro são partes estruturais do superó-
xido dismutase.

A citocromo c oxidase é componente da membra celular da mitocôndria e


Cytochrome c participa da cadeia de transporte dos elétrons. A atividade da citocromo x oxi-
oxidase dase é dependente de cobre, ferro, zinco, magnésio e sódio (Carr and Winge,
2003).

A poliamina oxidase são flavoproteínas que catalisam a degradação de es-


permidina para formar putrescina, NH3 e H2O2. O H2O2 está relacionado na
Poliamina oxidase
síntese de compostos de defesa da planta e no apoplasto da epiderme e vasos
xilemáticos esta envolvido na lignificação e suberização.

Carboidrato, lipídio e Devido a importancia do cobre no fotossistema I, tecidos deficientes em cobre


metabolismo de nitro- possuem baixa taxa fotossintética e redução na síntese de carboidratos. Plan-
gênio tas deficientes em cobre fixação 50% menos CO2 por unidade de clorofila.

Os baixos teores de carboidratos em plantas deficientes de cobre leva a redu-


Fixação de nitrogênio ção da nodulação e na fixação de nitrogênio.

Existe uma relação muito forte entre o teor de cobre e o grau de lignificação
Lignificação
dos tecidos vegetais. Cobre atua sobre a polifenol oxidase e a diamine oxidase.

A deficiência de cobre afeta mais a formaçao de grãos que o crescimento


Formação de pólen e vegetativo. A deficiência de cobre leva a formação de polem inviáveis, penali-
fertilizaçã zando a formação das sementes (Graham, 1975).

Fonte: Revisão feita por Sako, H.

128
Tabela 3.41. Função fisiológica de zinco na planta.
Zn

Função ou compo-
Mecanismo fisiológico
nente fisiológico

Zinco é o unico elemento metálico que esta presente nas 6 classes enzi-
Proteínas contendo máticas, oxiredutases, transferases, hidrolases, liases, isomerases, ligases.
zinco Nessas enzimas, quatro tipos de relação do zinco pode ser identificada i)
catalítico, ii) estrutural, iii) co-catalítico, iv) atividade biológica da enzima.

Em situações anaeróbicas ha a formação de alcool nos tecidos meriste-


Alcohol dehydroge- máticos e a alcohol dehydrogenase atua na degradação do alcool nessa
nase região da plantas. Plantas deficientes de zinco possuem uma menor quan-
tidade e atividade de alcohol dehydrogenase (Moore and Patrick, 1988).

A carbonic anhydrase possui um átomo de zinco a qual cataliza a hidrata-


ção do CO2. Essa enzima possui papel importante na difusão do CO2 nas
regiões de carboxilação da rubisco, e justamente é onde estão localizados
Carbonic anhydrase essas enzimas no cloroplasto e citoplasma. Em plantas de metabolismo C4
elas mediam a conversão de CO2 em HCO3- para ser usado pelo fosfoenol-
piruvato carboxilase. Em plantas C4, a deficiência de zinco levou a redução
da atividade da carbonic anydrase e a atividade fotossintética (Ohki, 1976).

Superóxido dismutase O zinco possui participação importante da superóxido dismutase.

O zinco é requerido ou pelo menos é cofator de um grande número de en-


Atividade enzimática zimas, como dehydrogenases, aldolases, isomerases, transphosphorilases e
RNA e DNA polimerases.

A deficiência de zinco leva a redução na quantidade de proteínas e acú-


Síntese protéica
mulo de aminoácidos.

A deficiência de zinco leva a queda na atividade da carbonic anhydrase e a


Metabolismo de
penalização da atividade enzimática de proteínas envolvidas no metabo-
carboidrato
lismo de carboidratos.

A deficiência de zinco acompanha como característica morfológica as fo-


Triptofano e ácido
lhas e plantas pequenas, isso devido a relação do zinco na sintese do ácido
indoliacetico
indolacético.

Permeabilidade da Zinco possui um papel importante na permeabilidade da membrana


membrana celular celular. Isso se deve ao acumulo de singletos reativos de oxigênio na mem-
brana celular devido a baixa quantidade de CuZnSOD.

Fonte: Revisão feita por Sako, H.

129
Tabela 3.42. Função fisiológica de ferro na planta.
Fe
Função ou compo-
Mecanismo fisiológico
nente fisiológico

O ferro participa da constituição de proteínas heme que participam da


Reações redox transferência de elétrons.

Fixação biológica O ferro é parte da leghemoglobina e da nitrogenase duas proteínas


de nitrogênio importantes na fixação biológica de nitrogênio.

Catalases e peroxidases o Ferro é parte constituinte da catalase e peroxidase.

O ferro junto com o enxofre ligam com a cisteína formando Fe-S prote-
Fe-S proteínas ínas que possuem papel importante na NADP+. nitrito redutase, sulfite
redutase, GOGAT.

A metionina é o principal precursor da síntese de etileno e nesse pro-


Etileno cesso o ferro é importante na conversão de 1-aminociclopropano-1-car-
boxylic acid em etileno.

Desenvolvimento O ferro e importante para a síntese de ribossomos e a síntese proteica.


do cloroplasto e Na membrana dos tilacóides é necessário em torno de 20 átomos de
fotossíntese ferro na transferência de elétrons.

Dissipação do ex- O ferro participa do ciclo da xantofila, processo importante para a dissi-
cesso de energia pação do excesso de energia oriundo pelo sol.

Fonte: Revisão feita por Sako, H.

Os micronutrientes metálicos possuem nesse caso, pode-se ter deficiência de


diversas interações no ambiente de pro- ferro. Segue um exemplo da região de
dução. O manganês e o ferro são os dois Paracatu, MG, que em função da gran-
elementos que mais mudam o seu esta- de quantidade de chuva as partes mais
do de valencia de acordo com a disponi- baixas apresentaram deficiência de fer-
bilidade de oxigênio, pH do solo e rizos- ro devido ao acúmulo de água.
férico. O Mn e Fe tem estado de valência
que vai de 2 a 6. Em situações em que
há uma quantidade intensa de chuva e
predominância da condição anaeróbi-
ca, o manganês aumenta sua disponi-
bilidade antes do ferro, de maneira que
os dois elementos competem pelo mes-
mo canal de absorção de nutrientes, e

130
Figura 3.46. Deficiencia de Ferro marcado pela formação do reticulado fino. Fonte: Sako, H.

Dependendo da situação podemos ter Esse efeito do aumento da concen-


regiões, como o norte do Paraná e algu- tração de Zn, Mn, B nos grãos pode-se
mas regiões de Maracaju, MS, com uma notar também nos teores de nutrien-
quantidade naturalmente alta de man- tes da seiva do xilema a media que vai
ganês e cobre, e em alguns casos níveis avançando o enchimento. No entanto,
que podem causar toxidez. Por esse mo- o cobre por ser um elemento de ciclo
tivo que se deve analisar os teores desse aberto, sendo reposto pela adubação ou
elemento caso a caso. nutrição foliar, chama atenção aos ris-
cos de fitotoxidez. Vale destacar a pro-
Alguns nutrientes aumentam a taxa de porção que aumenta a concentração do
exportação para cada tonelada produzi- boro nos grãos a medida que aumenta
da. Segue, por exemplo, os teores de co- a produtividade.
bre, zinco e boro à medida que aumen-
ta a produtividade com suas respectivas Tabela 3.43. Fluxo de nutrientes na
concentrações nos grãos (Tabela 3.43). fase de enchimento de grãos

Parâmetro Estádio Fenológico

Crescimento Início • enchimen- Final• enchimen- Inicio do amarele-


vagens (R4) to vagens (R5.1) to vagens (R5.5) cimento das folhas

Seiva do xilema
(ml.planta-1.50 min-1) 1,43 1,13 0,94 0,43

Concentração nutriente no xilema


K (mM) 6,1 5,0 4,0 2,4
Mg (mM) 3,8 2,6 1,9 1,2
Ca (mM) 4,8 3,9 3,9 2,2
P (mM) 2,5 1,6 0,9 0,4
S (mM) 1,8 1,6 2,1 1,5
B (mM) 1,0 1,5 1,6 3,2
Zn (µM) 23,0 29,0 32,0 42,0
Cu (µM) 2,7 3,6 2,8 6,9
Fonte: adaptado de Noodén & Mauk (1987)

131
360
Zn = -3,86 + 2,36 * Produtividade

Zinco exportado via grão (kg ha -1)


320 r2= 0,67

280
240
200
160
120
80
40

20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120


Produtividade (sc ha -1)

Figura 3.47. Exportação de zinco por hectare de acordo com a produtividade de soja, dados compilados de 4 safras. Fonte: os
autores

100
Cu = -12,61 + 0,76 * Produtividade
Zinco exportado via grão (kg ha -1)

90 r2= 0,63
80
70
60
50
40
30
20
10
0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha -1)

Figura 3.48. Exportação de cobre por hectare de acordo com a produtividade de soja, dados compilados de 4 safras. Fonte: os
autores

132
200

Manganês exportado via grão (kg ha -1)


Mn = -22,27 + 1,57 * Produtividade
180 r2= 0,75
160
140
120
100
80
60
40
20
0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha -1)

Figura 3.49. Exportação de manganês por hectare de acordo com a produtividade de soja, dados compilados de 4 safras. Fon-
te: os autores

1350 Fe = 17,23 + 4,59 * Produtividade


Ferro exportado via grão (kg ha -1)

r2= 0,19
1200
1050
900
750
600
450
300
150
0
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha -1)

Figura 3.50. Exportação de ferro por hectare de acordo com a produtividade de soja, dados compilados de 4 safras. Fonte: os
autores

133
9.1 Estresse térmico e hídrico, micro-
nutrientes e interações no ambiente
de produção

A condição de períodos ausentes de chu-


va, popularmente denominados de vera-
nicos, possui um fator positivo na produ-
tividade, que é a abundância de energia
solar, e dois fatores que restringem a pro-
dutividade, que são o déficit hídrico e as
altas temperaturas principalmente. Raí-
zes com melhor acesso a água implicam
na maior disseminação de calor pela
transpiração e com isso ocorre a redução
da temperatura do dossel da folha. Segue
um exemplo de uma área em Patos de
Minas, MG, com pressão de Pratylenchus
brachiurus e com o manejo da redução
de compactação do solo, o qual permitiu
um maior crescimento radicular e me-
lhor acesso à água, implicando ainda em
dossel foliar com 2ºC a menos.

134
Escarificado: 25ºC Sem escarificar: 27ºC

Escarificado: 25ºC Sem escarificar: 27ºC

Figura 3.51. O solo apresentava uma camada de impedimento de 25 cm de profundidade e necessidade de correção de
alumínio. Dessa forma, foi feita a correção do lado esquerdo com 1,5 ton ha-1 de calcário dolomítico e escarificado, e do lado
direito apenas calcário. No lado onde não foi escarificado nota-se o maior dano de Pratylenchus brachiurus, como também o
aumento de 2ºC na temperatura do dossel da soja. Patos de Minas - MG. Fonte: Sako, H.

135
A dissipação de calor é um dos diver- papeis importantes para manterem a
sos mecanismos que a planta possui formação de proteínas sobre a adversi-
para melhorar sua tolerância a estres- dade de temperatura; iv) Carboidratos
ses térmicos. Diversos fatores ocorrem osmorreguladores: as raízes param de
em conjunto na planta para melhorar absorver a água do solo quando a força
a tolerância a esse estresse, incluindo: necessária para retirar a água em conta-
i) Ácido absícisico: hormônio do estres- to com argila for maior que a força que
se em que sinalizará o fechamento es-
as raízes possuem em absorver a água.
tomático e evitará grandes perdas de
Os carboidratos, como prolina, possuem
água em momentos que há grande de-
a capacidade de reduzir o potencial os-
manda devido aos fatores de clima; Ii)
Aquaporina: permite a maior circulação mótico e melhorar o acesso a planta a
de água entre as células, uma vez que esse volume de água; e v) Poliaminas:
a membrana celular é uma camada li- compostos nitrogenados alifáticos poli-
pidica; iii) Chaperonas: as proteínas so- catiônicos, que tem como função elimi-
frem deformação em sua formação a nar radicais livres, preservar as funções
partir do momento que se aumenta a da membrana celular e controlar o de-
temperatura. As chaperonas possuem senvolvimento da planta.

ABA
Aquaporina N, P, K

Chaperonas N, P, K

SOD e poliaminas Mn, Fe, Cu, Zn, S


Carboidratos N, P, K, Mg
osmoreguladores Mn, Fe, Cu, Zn
Degradação
C, N, S, Mo
Proteínas
Condutância
estomática P, K, Ca

N, P, K, Ca
Fotossíntese
Mg, S, Cu, Mn, Zn, Fe, Ni, Mo
Divisão e N, P, K, Ca, B
Expansão celular Zn, Ni

-1 MPa -2MPa -3 MPa

Figura 3.52. Compostos produzidos pela planta para melhorar a tolerância ao estresse hídrico, térmico e ao excedente de ener-
gia e os nutrientes envolvidos em sua rota metabólica. Fonte: Sako, H.

136
Todos os principais compostos envolvi- tornam a complexidade muito maior
dos na tolerância ao estresse climático em melhorar os teores desse elemento
estão reunidos na figura 3.52. A medida em subsuperfície, do que a correção de
que o potencial hídrico da folha vai redu- cálcio no perfil, por exemplo. Na análise
zindo e em conjunto com eles estão os de solo apresentada na Tabela 3.43, se-
nutrientes que participam dessa sínte- riam necessários 4 dias de veranico para
se. Em vermelho, destaca-se os nutrien- a principal camada de micronutrientes
tes que possuem redistribuição restrita secar pela evapotranspiração. Ou seja,
no floema e também possuem baixa nutrientes que participam da formação
mobilidade no perfil do solo. O perfil de de compostos importantes na tolerância
solo tem uma maior disponibilidade de a estresses térmicos e mesmos hídricos,
micronutrientes e fósforo nos horizon- têm acessos restritos em períodos de dé-
tes superficiais do que em subsuperfí- ficit hídrico.
cie (Tabela 3.43.). A baixa mobilidade
dos micronutrientes metálicos no solo Tabela 3.44. Exemplo de uma análise
e sua restrita redistribuição pelo floema química de perfil de solo, Catalão GO.

Fósforo Cobre Ferro Zinco Manganês Argila Dias para


Profundidade secar
(cm) 5mm
g.dm-3 mg.dm-³ g.kg-1 dia
0 a 10 53 0,7 20 6 13 641 2

10 a 20 30 0,6 16 5 12 613 2

20 a 40 6 0,2 10 2 4 666 4

40 a 60 3 0,1 9 2 2 672 4

60 a 80 2 0,1 9 1 2 634 4

80 a 100 2 0,1 8 1 2 664 4

Fonte: Sako, H.

Além de compostos importantes, o en- Apesar de todos os fatores agronômicos


riquecimento de micronutrientes tem convergirem para a planta ter seu pleno
papel importante para a manutenção crescimento, há o desafio de atender a
da sua extração em períodos secos. Na demanda de micronutrientes, e a nutri-
figura 3.50. apresentamos a marcha de ção foliar nesse quadro técnico se torna
absorção de nutrientes de cobre, ferro, um grande aliado.
manganês e zinco, de uma lavoura de
110 sc há-1. Em muitos casos, o verani-
co atinge no período reprodutivo e no
R5.2, de modo que a planta praticamen-
te acessa apenas metade de tudo que
irá absorver em termos de nutrientes.

137
Absorção de Cobre (kg.ha-1)

Absorção de Ferro (kg.ha-1)


100 100
100 1,600

Porcentagem do total

Porcentagem do total
75 75 1,200 75

50 50 800 50

25 25 400 25

0 0 0 0
V4 V7 R1 R4 R5.2 R5.4 R6 R7 R8 V4 V7 R1 R4 R5.2 R5.4 R6 R7 R8
Estágio de Crescimento Estágio de Crescimento
Absorção de Manganês (kg.ha-1)

100 100

Absorção de Zinco (kg.ha-1)


800 350

Porcentagem do total
Porcentagem do total
75 280 75
600

210
400 50 50
140

200 25 25
70

0 0 0 0
V4 V7 R1 R4 R5.2 R5.4 R6 R7 R8 V4 V7 R1 R4 R5.2 R5.4 R6 R7 R8
Estágio de Crescimento Estágio de Crescimento

Figura 3.50. Acúmulo de cobre, ferro, manganês e zinco, de uma lavoura de 110 sc ha-1. A parte verde são as folhas, amarela são
as hastes, vermelha as vagens sem as sementes e em azul são as sementes. Fonte: BARTH et al, 2018.

9.2 Manganês mais tolerantes ao nematóide de cisto. Na figura 3.51. pode se


e nematologia observar que a adição de 75 g de manganês preservou a tole-
rância de feijão ao ataque do nematoide com população cres-
Em locais onde há cente de adultos e fêmeas.
a presença de ne-
matóide do cisto, a
60 70
Números de fêmeas imaturas

elevação de pH au-
menta a sua ocor- Mn 75
rência por dois mo- 60
tivos: primeiro é o 40 Altura da planta (cm)
desfavorecimento
de fungos, inimigos Mn 75 50
naturais do cisto, e o Mn 0
(No . pote-1)

segundo é a queda 20
40
abrupta da disponi- Mn 0
bilidade de manga-
nês do solo. 0
0 93 186 279 372
Maiores teores de
Número de de larvas colocadas (No . pote-1)
manganês no solo
permitem às plan- Figura 3.51. Número de fêmeas infectando as raízes de feijão, em meio, sem e com a apli-
cação de 75mg de Mn em 450g de solo, sobre diferentes densidades de nematóides. Fonte:
tas se tornarem Wihelm et al, 1985.

138
Para outros nematóides como o pra- e às reações de estresses, o molibdênio
tylenchus, melhorar a fertilidade do solo tem sido um elemento importante no
e a compactação reduz o dano provoca- sistema de produção.
do pelo aumento do acesso da planta a
água e nutrientes, e até mesmo reduzir A xanthine de hydrogenase participa do
a sua população no decorrer do tempo. catabolismo de purinas e na rota Bio-
Neto (2019) avaliando a distribuição de sintética de ureideos, que é a forma de
diversos nematóides na cultura da soja translocamento químico do nitrogênio
identificou que menores valores de re- das raízes para a parte aérea. A redução
sistência do solo seguem de menores na fixação do nitrogênio pode ocorrer,
densidades populacionais de Pratylen- parte pela redução da atividade da ni-
chus. Franchini et al (2018) avaliando a trogenase e parte pela baixa síntese de
correlação de atributos do solo com a purinas. A aldehyde oxidase participa
população de Pratylenchus brachiurus, na síntese do ácido absísic, glucosinatos
identificaram que bons teores de cálcio, e da própria auxina (Koiwai et al, 2000;
magnésio e acidez corrigida estão asso- Yesbergenova, Z et al 2005; Ibdah, et al
ciadas a baixa população de nematói- 2009).
des Pratylenchus brachirus. Há diversos
estudos de casos em campo em que foi A deficiência severa de molibdênio ocor-
identificada a queda da população de re em teores foliares entre 0,1 a 1 mg kg-1,
Pratylenchus brachiurus em Urochloa além de estar associado a deformação
ruziziensis e Urochloa brizantha em so- das folhas novas, que aparenta, por sua
los corrigidos. vez, deficiência de nitrogênio. A defici-
ência moderada de molibdênio é pos-
10. Molibdênio no ambiente de produ- sível de ser detectada pela intensidade
ção da clorose em torno das nervuras da fo-
lha (Figura 3.52). O molibdênio em parte
Atenção especial deve ser dada ao mo- constituinte da nitrato redutase, enzima
libdênio, pela facilidade em se tornar que converte o nitrato em amônio, é
deficiente devido ao aumento do sulfato distribuído pelas plantas, principalmen-
e à exigência do elemento pela planta. te para as regiões com maior transpira-
O molibdênio tem papel importante na ção que são as bordas das folhas onde
i) constituição do nitrato redutase, enzi- há maior densidade de estômatos, am-
ma responsável pela transformação do bas mais distantes da nervura da folha,
nitrato em amônio na planta; ii) sendo causando a deficiência de molibdênio
constituinte da nitrogenase, enzima res- (Figura 3.52).
ponsável pela fixação biológica do nitro-
gênio; e sendo também iii) constituinte
das enzimas xanthine dehydrogenase,
aldehyde oxidase e sulfite oxidase, to-
das importantes em situações de estres-
ses e no metabolismo do N. No que diz
respeito ao metabolismo do nitrogênio

139
2,83 mg Mo 1,5 mg Mo
kg-1 kg-1

Figura 3.52. Trifólio bem nutrido de molibdênio à esquerda, e trifólio de soja com deficiência moderada de molibdênio, carac-
terizado pela clorose curta em torno das nervuras da folha. Fonte: Sako, H.

Em sementes de soja, com alta concen- dm³ de Mo. Segundo Raij os teores no
tração de molibdênio sem alcançar toxi- solo em diversas regiões do mundo po-
dez tem efeito positivo na produtivida- dem variar entre 0,013 a 17 mg .kg-1. Sako
de. Campos (2009) avaliando diferentes avaliou em 20 diferentes ambientes de
doses de molibdênio em R3 e R5 iden- produção do cerrado brasileiro a aplica-
tificou que a aplicação de 400 g ha-1 de ção de 200 g ha de molibdênio no solo,
molibdênio em R3 e 400 g ha-1 de mo- em forma de molibdato de sódio, e i en-
libdênio em R5, aumentou em 3000% controu respostas positivas na produti-
o conteúdo de molibdênio e essas se- vidade de soja.
mentes apresentam maiores incremen-
tos na fixação biológica de nitrogênio, O molibdênio possui afinidade com óxi-
proteína e produtividade (Campos et al, do de ferro e aumenta sua disponibili-
2009). dade com o aumento do pH. O aumento
de pH de 5,0 para 7,0 pode, por sua vez,
Em 5 anos de levantamento de dados aumentar em 10 vezes o teor de molib-
de alta produtividade pelos autores, os dênio na parte aérea (Mortvedt, 1981).
teores de molibdênio no solo se desta- De outro lado, a aplicação de adubos
caram como componente associado a contendo enxofre ou gesso reduz dras-
alta produtividade entre 0,33 a 0,71 mg ticamente a absorção de molibdênio.

140
Segue um exemplo da aplicação de su- Tabela 3.45. Efeito de fontes de fósforo
persimples, fonte com S, e supertriplo, com e sem enxofre sobre a concen-
fonte sem S, nos teores de molibdênio tração de molibdênio na parte aérea,
em amendoim. nódulos e raízes.

Mo concentração (µg g-1 dw)


Adubo Matéria seca Absorção de
fosfatado (kg há-1) N (kg há-1)
Parte aérea Nódulos Raízes

Sem adubo 2.000 52 0,22 4,0 1,0

Super simples 2.550 62 0,09 1,5 0,1

Super triplo 3.150 81 0,31 8,2 3,1

Fonte: (Rebafka et al 1993)

Devido a importância fisiológica do mo- gura 3.53 um ensaio montado por Sako
libdênio e suas interações no solo o enri- em Brasilandia MG com doses crescen-
quecimento de molibdênio no ambiente tes de molibdenio com molibdato de so-
de produção tem apresentado respostas dio, em que 100 g ha-1 apresentou incre-
positivas em produtividade. Segue na Fi- mento de produtividade.

100
95
90
Produtividade (sc ha -1)

85
80
75
70
65
60
55
50
0 50 100 200 400
Dose Molibdenio (g ha -1)
Figura 3.53. Doses de molibdênio, fonte molibdato de sódio, na produtividade da soja. Soja 20-21, conduzido em Latossolo
vermelho. Os teores de Mo estavam em 0,1 mg.dm-3 e pHCaCl2 5,1 e S 15 mg.dm-3 (fosfato de cálcio). Fonte: os Autores.

Dessa forma, em ambientes de alto po- especial ao molibdênio, principalmente


tencial produtivo ou condições de estres- quando os fertilizantes e corretivos pos-
se hídrico severo, deve-se dar atenção suem enxofre associado.

141
142
CAPÍTULO 4
NITROGÊNIO: FATOR LIMITANTE
PARA AMBIENTES DE PRODUÇÃO
DE ALTA PRODUTIVIDADE

BATTISTI, R.¹
1. UFG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.

143
144
1. Nitrogênio: entendendo as Mundial, em que o milho obteve pro-
dutividades acima de 2,0 t ha-1 em re-
limitações para soja de alta
giões com adequada disponibilidade
produtividade
hídrica.

O nitrogênio não é uma preocupação Nessas três revoluções, o aumento de pro-


para o cultivo da soja quando considerado dutividade das culturas foi condicionado
o patamar produtivo observado no Brasil, a dois fatores em comum, o aumento da
cujo valor apresenta-se em torno de 50 sc oferta de água e de nitrogênio. Esse au-
ha-1. Isso ocorre devido à associação com mento supriu as demandas da cultura de
bactérias que possuem a capacidade de forma adequada aos níveis produtivos, po-
fixar nitrogênio oriundo da atmosfera tencialmente disponibilizados pelo me-
(N2), transformando o mesmo em nitro- lhoramento genético das espécies, culti-
gênio assimilável pelas plantas, de modo vadas em cada um dos sistemas. Já para o
que são capazes de suprir a demanda por período atual, o qual podemos dizer que
nitrogênio. A associação pode ocorrer, por compreende a quarta revolução verde,
exemplo, com bactérias do gênero Bra- esta abrange o conceito de eficiência am-
dyrhizobium. Para ilustrar esse processo biental, ou seja, aproveitamento máximo
historicamente, é relevante entendermos dos recursos disponíveis, suprindo carên-
a evolução das produtividades em diver- cias nos pontos limitantes do sistema de
sas culturas ao longo do tempo no mun- produção. Isso significa que a cada dia o
do. Para isso três revoluções verdes são produtor vem reduzindo os fatores limi-
destacadas por Sinclair e Rufty (2012): tantes de produtividade, os quais, histo-
ricamente, são: a melhoria da fertilidade
• 1ª Sumérios (4000 a.C.): primeira civili- do solo (aumento do pH e de nutrientes),
zação com cultivos em grandes áreas, o desenvolvimento de cultivares adapta-
em que sistemas de canais construídos das, a evolução do manejo fitossanitário,
traziam água e nutrientes do rio Eufra- a qualidade de semeadura e da semente,
tes, resultando em produtividades de entre outras tecnologias relacionadas.
trigo e cevada em torno de 2,0 t ha-1;
• 2ª Reino Unido (1700s): introdução ro- Dada a complexidade do sistema de pro-
tação de cultura (Norfolk rotation), em dução e dos fatores envolvidos, o resultado
que o sistema de produção incluía le- da produtividade percorre soluções de vá-
guminosas e pastagens para animais, rios fatores ao mesmo tempo, sendo que o
resultando em produtividade de trigo planejamento e a tomada de decisão são
de 2,0 t ha-1, enquanto que o restante da atividades bastante complexas e passíveis
Europa apresentava média de 0,8 t ha-1; de erro. Assim, o avanço de plataformas
• 3ª Revolução Verde Moderna: o suces- digitais e de automação, mineração de
so desta revolução foi associado ao me- dados, entre outras, vêm ganhando espa-
lhoramento genético e da maior ofer- ço para que o potencial produtivo seja al-
ta de nitrogênio pós Segunda Guerra cançado. Em decorrência desse processo

145
têm-se observado produtividades de soja seja, está sendo extraído mais nitrogênio
superiores a 100 sc ha-1. Neste nível produ- do que está sendo aplicado no ambiente
tivo o nitrogênio passa a ser um fator de de produção, acarretando em impacto no
atenção no sistema da produção de soja. estoque de carbono e nitrogênio no solo.
Por exemplo, para a produtividade de 50
Neste caso, o nitrogênio pode ser um fa- sc ha-1, a exportação chega a 150 kg ha-1
tor limitante de produtividade para a soja, (Figura 4.1). Por outro lado, produzindo 100
uma vez que a fixação biológica é limi- sc ha-1, essa demanda chega em torno de
tada a um máximo e os sistemas produ- 350 kg ha-1, demonstrando a importância
tivos, principalmente com a presença de de um balanço adequado do nitrogênio
milho e sorgo de segunda safra, apresen- no sistema de produção e uma elevada efi-
tam balanço de nitrogênio negativo, ou ciência na fixação biológica de nitrogênio.

450
Nitrogênio exportado via grão (kg ha -1)

N = 3,24 + 3,26 * Produtividade


400 r2= 0,88

350

300

250

200

150

100

50
20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha -1)

Figura 4.1. Exportação de nitrogênio pela soja via grão em função da produtividade. Fonte: os autores.

A exportação de nitrogênio no milho é de é negativo na maioria dos casos. Em mé-


0,9 a 1,2 kg de N sc-1, dependendo do ma- dia, é realizada a aplicação de 40 kg de N
terial genético e do sistema de produção. ha-1, enquanto que a extração no sistema
Quando se analisa o balanço de nitrogê- soja-milho chega a ser em torno de 363
nio para sistemas de produção no Brasil, kg de N ha-1. Ao contabilizar a entrada via
que incluem a cultura do milho, o mesmo fixação biológica de nitrogênio pela soja,

146
o déficit acumulado é de 86 kg de N ha-1 variação de extração entre 53 e 204 kg de
(Pauletti, 2004). No caso do sorgo, a expor- N total, absorvido pela planta (Figura 4.2).
tação de N aumentou ao longo dos anos Essas informações foram obtidas a partir
devido ao melhoramento genético e ao de 733 resultados, em 18 países, pelos pes-
sistema de produção. Esse aumento pas- quisadores Ciampitti & Salvagiotti (2018).
sou de uma exportação em torno de 0,7 Nestes resultados observou-se uma absor-
kg de N sc-1 de sorgo, para 1,1 a 1,3 kg de N ção média de 81 kg de N para cada tone-
sc-1, em que os dados foram obtidos em lada de grão produzido. Em tais cenários,
levantamento realizado na safra de 2020 a planta pode apresentar uma diluição
na região de Patos de Minas, MG. máxima de nitrogênio (53 kg de N por t
de grão), indicando que nestes casos o ni-
Os dados verificados revelam que a planta trogênio pode ter sido um fator limitante
de soja possui a capacidade de adaptar-se na produtividade. Por outro lado, em ce-
a diferentes níveis de disponibilidade de nários de máxima concentração (204 kg
nitrogênio no sistema de produção, seja de N por t de grão), há a indicação de que
endógeno ou fornecido via fixação bioló- o nitrogênio era abundante no sistema de
gica, diluindo ou concentrando o mesmo produção e que outros fatores atuaram
nas folhas e nos grãos. Para cada tonela- para redução de produtividade.
da de grão produzido foi observado uma
Produtividade de grão de soja (sc ha -1)

140 Diluição máxima


53 kg N t-1 Média
81 kg N t-1
120

100 Faixa de ajuste


pela planta
80

60

40
Diluição mínima
20 204 kg N t-1

0
0 100 200 300 400 500 600
Conteúdo de nitrogênio na planta (kg ha -1)

Figura 4.2. Relação entre conteúdo de nitrogênio na planta e produtividade de soja, com curva de máxima concentração e dilu-
ição de nitrogênio com valor médio de 733 resultados, obtidos em 18 países. Fonte: Adaptada de Ciampitti and Salvagiotti (2018).

147
Ao considerar a evolução média da produ- mar entre 250 e 300 kg de N ha-1 a partir
tividade da soja no Brasil, comparada aos da safra de 2013/14. Ao aplicar as deman-
estados do Paraná e Mato Grosso, pode-se das para campeões CESB, pode-se obser-
observar que a demanda de nitrogênio es- var que as mesmas variam entre 400 e
tava entre 100 e 150 kg de N ha-1, com base 700 kg de N ha-1, considerando a deman-
na produtividade da década de 70 (Figura da média de 81 kg ha-1 N, absorvido pela
4.3a). Essa demanda alcançou um pata- planta por tonelada de grão (Figura 4.3b).

Demanda de nitrogêncio (kg ha -1)


4000
Brasil (a)
300
3500 Paraná
Produtividade (kg ha-1)

Mato Grosso
3000 250

2500 200

2000 150
1500
100
1000
50
500
0 6
0 8
0 4

20 /10
20 /00

0 2
19 /90
19 /80

19 /86

19 /96
19 /88

19 /98
19 /84

19 /94
19 /76
19 /78

20 /0
19 /74

20 3/0

20 /0

20 /16
/18
19 /82

19 /92

20 /14
20 1/0

20 /12
9
5
7
89

15
99
85

95

13
83

17
93
87
79

97
75
73

77

11
81

91

0
19

Safra

9500

Demanda de nitrogêncio (kg ha -1)


Campeões CESB (b) 750
9000
700
Produtividade (kg ha-1)

8500
8000 650
7500 600
7000
550
6500
500
6000
5500 450
5000 400
4500
9

10
0

/16
/15

/17

/18
/14
/13
/11

/12
8/

9/

10

16
15
14
13
12

17
11
0

0
20

20

20

20

20

20

20

20

20

20

Safra
Figura 4.3. Relação entre produtividade de soja e demanda de nitrogênio, considerando a produtividade média para soja no
Brasil, Paraná e Mato Grosso (a) e campeões CESB (b). Produtividade é apresentada no eixo y à esquerda e a demanda de
nitrogênio à direita (taxa de conversão de 81 kg ha-1 N absorvido pela planta por tonelada de grão produzida). Fonte: Adaptada
de IBGE (2020).

148
A demanda de nitrogênio para a cultura go ou milho-trigo na região de Tibagi, PR
da soja pode ser suprida por quatro fon- (Siqueira Neto et al., 2010). Essas áreas
tes, sendo elas a mineralização do nitro- apresentaram teor de matéria orgâni-
gênio presente nos resíduos orgânicos, ca no solo entre 2,1 a 8,6%. Deste total,
a fixação biológica de nitrogênio por 0,82% foram N-inorgânico, sendo 60%
bactérias do gênero Bradyrhizobium, o na forma de nitrato (NO3-), o que resul-
uso de nitrogênio mineral nos sistemas tou numa disponibilidade em torno de
de produção e a deposição N2 atmosfé- 25 kg ha-1 de N-inorgânico. Já para taxas
rico via a ocorrência de chuvas. A seguir de mineralização e nitrificação, os valo-
são apresentadas as contribuições de res adicionados anualmente ao sistema
cada fonte. variaram, respectivamente, entre 5,69 e
7,78 kg ha-1 ano-1, e 5,39 e 8,68 kg ha-1 ano-1.
2. Mineralização do nitrogênio presen-
te nos resíduos orgânicos La Menza et al. (2019) verificaram que a
diferença de produtividade entre áre-
A oferta de nitrogênio via mineraliza- as com suprimento total de nitrogênio
ção dos resíduos orgânicos irá depender (via mineral parcelado em 5 vezes com
da quantidade de matéria orgânica, da cunho científico) alcançou 1000 kg ha-1,
composição do resíduo, do manejo de quando o suprimento de nitrogênio en-
solo adotado, tipo de solo, umidade, ae- dógeno do solo foi menor que 50 kg ha-1.
ração e temperatura (Siqueira Neto et al., As diferenças de produtividade reduzi-
2010). O estoque de nitrogênio total no ram para menos de 250 kg ha-1, quando
solo, na camada de 0 – 20 cm, variou de o N endógeno chegou em 200 kg ha-1 (Fi-
0,2 a 0,4 kg m-2 quando avaliada as áreas gura 4.4). Essas análises foram realizadas
de produção com 12 e 22 anos de plantio em áreas com produtividade entre 4,0 e
direto, no sistema de produção soja-tri- 6,7 t ha-1.

30
Diferença de produtivide ebtre área
sem e com limitação de N (sc ha-1)

Diferença de produtividade =
25 -0,11* N endógeno no solo + 25,2
r2 = 0,61

20
Faixa de
15 resposta no local

10

0
0 50 100 150 200 250
Nitrogênio endógeno do solo (kg N ha-1)
Figura 4.4. Relação entre nitrogênio endógeno no solo e a diferença entre a produtividade para soja sem limitação de nitrogênio e
com fixação biológica + N, presente no solo para áreas de alta produtividade (4,0 a 6,7 t ha-1). Fonte: Adaptado de La Menza et al. (2019).

149
Nesse sentido, é possível verificar que a na mesma faixa de matéria orgânica da
presença de matéria orgânica no solo produtividade entre 70 a 90 sc ha-1, ou
tem se mostrado um fator importante seja, para essa faixa acima dos 90 sc ha-1
para preservar a produtividade da soja. os teores de matéria orgânica são satisfa-
Na Tabela 4.1 são apresentados dados tórios, sendo outros fatores limitante de
obtidos em levantamento realizado para
produtividade.
três faixas de produtividade de soja, de
50 a 70 sc ha-1, de 70 a 90 sc ha-1 e aci-
Tabela 4.1. Limites inferior e superior e
ma de 90 sc ha-1. Nas áreas amostradas,
observou-se aumento dos teores de ma-
aumento relativo dos teores de ma-
téria orgânica no perfil do solo, principal- téria orgânica no solo na faixa 70 a 90
mente abaixo dos 20 cm de profundida- sc ha-1 em relação à faixa 50 a 70 sc
de (Tabela 4.1). Em produtividades acima ha-1 para a cultura da soja obtida em
de 90 sc ha-1, nota-se que os teores estão solos de textura média a argilosa.

Faixa de produtividade (sc ha-1) Aumento Relativo

50 a 70 70 a 90 >90 50-70 x 70-90


Profundidade
Matéria orgânica - (g dm-3) %

0-10 cm 40,5 65,8 53,1 88,3

10-20 cm 14,2 32,7 25,4 37

20-40 cm 18,2 18,8 18,6 28,7

40-60 cm 7,2 10,8 9 9,7

60-80 cm 4,2 7,6 7 9,7

80-100 cm 0,1 18 5,9 5,3

Fonte:

A matéria orgânica no solo auxilia na re- g ha-1 de argila. Esses teores estão abaixo
tenção de água, aumentando a disponi- do ideal para obtenção de produtivida-
bilidade para planta, sendo que a melho- des acima de 90 sc ha-1 (Tabela 4.1). Para
ria da condição hídrica aumenta a oferta o sul do Brasil, esses valores são de 48,2
de nitrogênio via fixação. Desta maneira, e 11,8 g kg-1, atendendo o mínimo para
na região centro-norte do Mato Grosso a camada de 0 - 20 cm, mas abaixo do
foi observado que o potencial de matéria ideal para camada 80 – 100 cm, em que
orgânica variou com o teor de argila do o sistema radicular profundo pode ob-
solo, chegando a 35,7 e 12,6 g kg-1, respec- ter nitrogênio endógeno necessário para
tivamente, nas profundidades de 0 – 20 altas produtividades. Para que esses po-
cm e 80 – 100 cm, em um solo com 500 tenciais de matéria orgânica sejam atin-

150
gidos é importante implementar um sis- de nitrogênio na folha e nos grãos (Fi-
tema de produção que inclua plantas de gura 4.3). A partir desse ponto, a fixação
cobertura, com a finalidade de que a ci- biológica começa a ser um fator limitan-
clagem de nutrientes seja maior, dispo- te devido ao suprimento de nitrogênio
nibilizando assim o nitrogênio de forma inferior ao necessário para alta produtivi-
gradual, atuando no aumento de dispo- dade. Como exemplo, ao considerar uma
nibilidade de nitrogênio durante o siste- produtividade esperada de 80 sc ha-1, a
ma de produção, principalmente com o demanda de nitrogênio, considerando a
uso de nitrogênio mineral em gramíneas. concentração média, é de 400 kg ha-1, da
qual em torno de 350 kg são supridos via
3. Fixação biológica de nitrogênio por fixação, considerando uma taxa máxima
bactérias do gênero Bradyrhizobium de fixação biológica de nitrogênio já ob-
servada (Ciampitti e Salvagiotti, 2018). O
A fixação biológica pode suprir grande nitrogênio faltante, no valor de 50 kg ha-1
parte da demanda de nitrogênio da cul- (Figura 4.5), deverá ser suprido via nitro-
tura da soja. Ciampitti e Salvagiotti (2018) gênio endógeno presente no solo. Por
verificaram que até uma demanda de outro lado, com apenas 50% do nitrogê-
240 kg ha-1 de nitrogênio, com produti- nio sendo suprido via fixação biológica
vidade em torno de 50 sc ha-1, a fixação (200 kg ha-1), em um solo com baixa dis-
biológica é capaz de suprir de forma ponibilidade de nitrogênio (50 kg ha-1), o
completa (Figura 4.5). Nesse nível de su- potencial de produtividade de 80 sc ha-1
primento de nitrogênio, o potencial de reduz para 62 sc ha-1, ao considerar o ni-
produtividade pode variar entre 3,1 e 4,7 t trogênio como principal fator limitante
ha-1, por meio do ajuste de concentração de produtividade.

600
550 FBN - 0% da demanda

Deficit de nitrogênio acumulado


Nitrogênio faltante para suprir

FBN - 25% da demanda


500 FBN - 50% da demanda
a demanda total (kg ha-1)

FBN - 85% da demanda


450 FBN - Máxima fixação observada

400
350
300
250
200
150
100
50
0
40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade de soja (sc ha ) -1

Figura 4.5. Relação entre produtividade e nitrogênio faltante para suprir a demanda total com base em diferentes níveis de forneci-
mento de nitrogênio via fixação biológica (FBN). A linha vermelha representa a demanda total de nitrogênio em função da produtiv-
idade, já as demais linhas representam o acumulado de déficit de nitrogênio com diferentes níveis de FBN. A FBN – Máxima Fixação
Observada – representa o total de nitrogênio fixado em condições ótimas. Fonte: Adaptada de Ciampitti & Salvagiotti (2018).

151
Para o balanço de nitrogênio, a fixação 5. Fixação de nitrogênio via a ocorrên-
biológica de nitrogênio é fundamental. cia de chuvas
Para cada 1% de aumento na fixação bio-
lógica de nitrogênio, há uma redução da A presença de nitrogênio em diferentes
perda de 3 kg N ha-1, que iriam ser extra- formas na atmosfera faz com que a depo-
ídos do sistema (Santachiara et al., 2017). sição de nitrato e amônia via chuva che-
Além disso, um valor apontando como gue a valores que variam entre 5 e 20 kg
sendo o ideal é de que pelo menos 85% ha-1 ano-1 para diferentes regiões do Brasil
da demanda de nitrogênio seja suprida (Filoso et al., 2006)
via FBN (Figura 4.5), tornando o balanço
de nitrogênio do solo neutro. 6. Utilizar nitrogênio mineral na soja é
a alternativa correta de manejo?
4. Uso de nitrogênio mineral nos siste-
mas de produção A resposta para esse questionamento é
bastante simples, NÃO, e baseia-se em
O sistema de produção adotado em cada três pontos:
região pode afetar o balanço de nitrogê-
nio e a disponibilidade de nitrogênio en- 1° Fixação biológica possui capacidade de
dógeno no solo para a cultura da soja. A realizar o suprimento para altas produti-
segunda safra ou todo o sistema de pro- vidades, como apresentado anteriormen-
dução, em que o balanço de nitrogênio te na Figura 4.5. A absorção de nitrogênio
for negativo, terá como risco a penaliza- pela soja está ligada diretamente ao po-
ção da produtividade da soja. Além do tencial de fixação de nitrogênio. Em mé-
milho, especial atenção deve ser dada ao dia, pelo menos 60% do N total é oriun-
sorgo, em que a sua exportação de nu- do da fixação biológica (Salvagiotti et al.,
trientes aumentou consideravelmente 2008) (Tabela 4.2), com potencial che-
nos últimos anos, assim como sua pro- gando até 350 kg de N ha-1, valores que
dutividade, sendo que o sorgo tem uma podem levar a produtividades entre 70 e
maior eficiência de acesso ao nitrogênio, 110 sc ha-1.
devido à fisiologia das suas raízes.

Um segundo momento que se deve


dar atenção é a ocasião em que há uma
boa formação de palha, principalmente
no trigo e em climas quentes e úmidos,
quando há aumento da imobilização de
nitrogênio no solo, penalizando a produ-
tividade da soja. Nesse quadro, a suple-
mentação de nitrogênio deve ser reali-
zada principalmente se o ambiente de
produção tem apresentado históricos de
produtividades superiores a 80 sc ha-1.

152
Tabela 4.2. – Efeito de nitrogênio mineral sob a fixação biológica de nitrogênio
(FBN) e relação entre resposta relativa da fixação biológica de nitrogênio e da
produtividade para diferentes fatores ambientais para a soja.

Efeito de N mineral na FBN Efeito de fatores na produtividade e FBN

Fertilizante Produtividade
Nitrogênio fixado Fator FBN
Mineral (%)

% do total absorvido Micronutrientes +45 +48


Kg ha-1
Min Méd Máx Fósforo +30 +28

< 10 0 57 98 Potássio +22 +25

10 – 85 6 50 88 Nitrogênio +15 -17

85 - 160 0 35 82 Temperatura -18 -10

> 160 0 16 64 Déficit Hídrico -30 -32

Adaptada de Salvagiotti et al. (2018); Santachiara et al. (2019).

2° Redução da fixação biológica de nitro- derado uma prática com eficiência, uma
gênio com a aplicação de N mineral (Ta- vez que a planta consegue atender as
bela 4.2): o N mineral possui menor custo demandas de nitrogênio via fixação sem
energético para a planta, sendo que com custo adicional, incluindo a redução de
alto teor de nitrato no solo, a soja não de- nitrogênio de origem mineral produzido
senvolve nódulos de fixação, fazendo com com alto custo energético, além de redu-
que sob limitação de nitrogênio mineral, zir as perdas de N via lixiviação e emissão
a mesma não terá capacidade de realizar de óxido nitroso, causador do aqueci-
esse suprimento durante o período de mento global.
enchimento de grão, cuja demanda está
elevada. A fixação biológica teve redu- Neste contexto, estratégias precisam ser
ção média de 80% quando foi realizada elaboradas para que o nitrogênio não seja
a aplicação de algum tipo de nitrogênio um fator limitante de produtividade. Para
mineral (Santachiara et al., 2018). Caso a isso é necessário um sistema de fixação
opção seja pelo suprimento total da via biológica de nitrogênio eficiente, em que
mineral, estudos de cunho científico têm fatores como solo ácido, inefetividade
demonstrado que a aplicação deve ser su- de Bradyrhizobium, déficit hídrico e bai-
perior a 500 kg ha-1 de N, parcelados em xo teor de N inicial no solo, proveniente
pelo menos 5 vezes, o que torna a opção da matéria orgânica, devam ser evitados,
de manejo totalmente inviável. cujos fatores de aumento de produtivida-
de na soja estão associados ao aumento
3° Eficiência ambiental: atendendo os da fixação biológica de nitrogênio (Tabela
princípios da 4º Revolução Verde, o uso 4.2), com exceção do nitrogênio mineral.
de nitrogênio mineral na soja não é consi- Essa relação fica clara no trabalho desen-

153
volvido por Santachiara et al., (2019), em tilidade do solo e a fixação de nitrogênio
que a não fertilização do solo e o déficit estão amplamente relacionadas.
hídrico reduziram a fixação biológica de
nitrogênio (Tabela 4.2). Outro importante papel relacionado ao
nitrogênio é o teor de proteína presente
Além disso, o desenvolvimento de cultiva- no grão, o qual vem reduzindo ao longo
res com melhor tolerância ao déficit hídri- do tempo. Esse é um processo princi-
co, quanto à fixação, tem papel importan- palmente relacionado ao melhoramen-
te para evolução da fixação de nitrogênio, to genético, o qual visa buscar cultivares
possibilitando maiores potenciais produ- com maior produtividade, de modo que
tivos. Devi and Sinclair (2007) observaram a proteína é um componente de alto cus-
que materiais genéticos podem apresen- to energético, isto é, plantas com maio-
tar maior tolerância ao déficit durante o res produtividades tendem a reduzir os
processo de fixação, sendo que os mate- teores de proteína para possibilitar justa-
riais genéticos tolerantes começaram a mente esse nível de produtividade alto.
reduzir a fixação de nitrogênio com 20% Consequentemente, a seleção dessas
da água total disponível no solo, enquan- plantas acabou ocorrendo na busca des-
to que o material de referência iniciou sa maior produtividade. Atualmente, o
esse processo com 50% da água total dis- teor de proteína passou a ser um ponto
ponível no solo. Outro ponto a ser obser- de preocupação, devido ao índice baixo
vado refere-se ao fato de que a fertilidade de teor encontrado em algumas regiões
de subsuperfície do solo tem uma grande produtoras (ambiente x genética). Na Fi-
influência no acesso a água pela planta e, gura 4.6 pode-se observar que em áreas
consequentemente, terá também influ- de alta produtividade (> 80 sc ha-1) amos-
ência sobre a fixação de nitrogênio, tanto tradas no Brasil, esses teores variaram de
pela preservação da relação positiva da 29 a 40%. Para o percentil 95% os poten-
fotossíntese líquida, quanto a própria hi- ciais variam de 36 a 39% (Figura 4.6).
dratação das raízes. Por esse motivo, a fer-
42
40
38
36
Proteína de grão (%)

34
32
30
28
26
24
22
30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Produtividade (sc ha-1)

Figura 4.6. Relação entre produtividade e teor de proteína no grão da soja para amostragem realizada no Brasil. Linha vermelha ajusta-
da com base no percentil 95% (pontos verdes). Fonte:

154
Os menores teores de proteína na Figura nas safras analisadas. Essa análise se torna
4.6 podem estar associados à baixa dispo- importante quando se busca aumentar o
nibilidade de nitrogênio. Além disso, o teor valor da proteína no grão ou pelo menos
de proteína é resultado de fatores genéti- atingir um mínimo exigido pelo mercado
cos e ambientais, como pode ser observa- para fins de uso do grão. Por isso, fatores
do na Figura 4.7, em que o teor de prote- genéticos (cultivar) associados ao ambien-
ína no grão apresentou diferentes valores te (clima) e ao manejo (disponibilidade de
dentro do mesmo município e Estado, nitrogênio) devem ser considerados.

42
40
38
Proteína de grão (%)

36
34
32
30
28
26
24
GO MG PR RS SP TO
22
A. de Goiás
A. F. de Goiás
A. do Norte
Buritis
Cabeceiras
Caiaponia
C. Ocidental
Cristalina
Goiatuba
Ipameri
Jatai
Mangueirinha
Mineiros
Montividiu
Morrinhos
Planaltina
Rio Verde
S. J. D’ Aliança
Formoso
Guarda-Mor
Iguatama
Ingai
Nazareno
Prata
Terra da Salitre
L. do Rio Verde
Arapoti
Campo do Tenente
Guarapuava
Maua da Serra
Ponta Grossa
Bossoroca
Cruz Alta
Tuparendi
C. Bonito
Itapeva
Taquarivai
Palmas
Pedro Afonso
Peixe
S. Valério
Figura 4.7. Conteúdo de proteína no grão em diferentes áreas de produção de soja no Brasil, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato
Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Tocantins. Fonte:

7. Conclusões as lavouras não apresentarem limitações


pelo fator nitrogênio, principalmente em
O nitrogênio passa a ser um ponto impor- ambientes de alta produtividade. A adi-
tante a ser considerado, não apenas para ção de matéria orgânica só irá ocorrer com
a cultura, mas para o sistema de produ- abundância de matéria seca, caso haja
ção em que a soja está inserida. A fixação adição de nitrogênio no sistema de pro-
biológica chega a contribuir com valores dução em suas diversas formas. Portanto,
de até 300 kg N ha-1, de maneira que a o desafio do suprimento de nitrogênio da
partir desse valor, fatores que aumentam soja está associado com a importância da
a taxa fotossintética podem incentivar o manutenção do teor de proteína no grão,
aumento da fixação de nitrogênio. Além associação esta que tem como consequ-
disso, a contribuição do nitrogênio endó- ência a elevação da produtividade, com
geno do solo, associado à mineralização retorno econômico dentro do próprio sis-
da matéria orgânica, traz segurança para tema de produção.

155
156
CAPÍTULO 5
FERTILIDADE FÍSICA-BIOLÓGICA
NO AMBIENTE DE PRODUÇÃO

SAKO, H.¹; DANTAS, J.P.S.¹; BATTISTI, R.²


1. DK CIÊNCIA AGRONÔMICA
2. UFG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.

157
158
1. Introdução cebido o problema, já está formado um
quadro severo de perdas de produtivida-
de. Dado o problema em questão, o diag-
A qualidade física do solo é um atribu- nóstico dentro do ambiente de produção
to que está em constante mudança, de é uma habilidade importante, o qual vem
modo que possui interferência oriunda a ser o tema discutido nesse capítulo. Di-
dos atributos químicos, pedológicos e versas práticas agrícolas disponíveis para o
seus componentes biológicos. Com a in- produtor interferem positivamente e ne-
tensificação do sistema de produção, a gativamente na qualidade física do solo,
baixa diversificação de plantas e a meca- de modo que serão abordados os critérios
nização desordenada, o solo tem perdido e como eles influenciam nesse atributo.
a capacidade importante de permeabili-
dade de oxigênio e de água, assim como
seus armazenamentos. Solos sem oxigê- 2. Diagnóstico da qualidade
nio formam raízes com baixa atividade
física do solo
metabólica, com grande penalização na
absorção de água e nutrientes e mais pro-
pensas a infecções por doenças e ataque O efeito da compactação sobre o am-
de pragas. biente de produção é diverso, compre-
endendo a influência sobre a percolação
Chuva e irrigação não necessariamente da água e os corretivos no perfil do solo,
significam absorção de água. A absorção a tolerância a doenças de solo e nemató-
de água depende de um solo poroso e ides, a absorção de água e nutrientes, as-
que consiga facilmente permear a água sim como a acidez e conservação do solo.
por ele, tenha espaço para armazenar A compactação provoca alterações mar-
água e oxigênio, de uma raiz bem consti- cantes na anatomia radicular, segue um
tuída e equilibradamente nutrida. Na Áfri- exemplo apresentado na Figura 5.1. em
ca do Sul, região sul de Kalahari, há uma que (a), (b) e (c) apresentam um solo sem
região semi-árida com mais de 1410mm impedimento físico em sistema de plan-
de água devido à baixa capacidade de in- tio direto e (d), (f) e (g) em solos com 8 pas-
filtrar água no solo e a alta demanda de sadas de colhedora, contendo a planta
água pelo ambiente (Shendel, 1967). Não deformação anatômica nos vasos condu-
é muito diferente das situações em que tores, córtex e epiderme, o que influencia
dentro de uma fazenda os talhões sequei- diretamente na fisiologia radicular. Como
ros produzem mais que os pivôs, ou ainda dissemos acima, as perdas por compacta-
ambientes com baixa precipitação, cuja ção ocorrem de forma “silenciosa” e quan-
lavoura apresenta uma produtividade alta. do se nota o problema, já existe perda de
produtividade e resiliência estabelecida.
A qualidade física é um atributo que me- Por essa razão, a análise da qualidade fí-
rece atenção, pois ele rouba as produtivi- sica do solo e seus manejos são pilares do
dades de modo “silencioso” e, quando per- escopo produtivo.

159
a) b) c)

50 µm 50 µm 50 µm
d) e) f)

20 µm 20 µm 20 µm

Figura 5.1. Anatomia radicular da raiz de soja, sistema de plantio direto e (d), (f), (g) em solos com 8 passadas de colhedora. O aumento
da compactação do solo provoca a desorganização do desenvolvimento radicular, prejudicando o metabolismo e o fluxo de nutrien-
tes para a parte aérea da planta. Fonte: Moraes et al, 2020.

No momento em que as raízes encon- sorção de água seja totalmente diferen-


tram o impedimento físico, ocorre um te. Dantas (2019), constatou que lavouras
aumento do custo energético para o alon- com maior resistência do solo acessaram
gamento radicular. Esse custo energético a água nas camadas superficiais do solo
é proveniente da respiração celular, sen- e lavouras com menor resistência do solo
do acompanhado da dissipação de calor. conseguiram absorver a água das cama-
Aliado a esse processo ocorre o aumen- das subsuperficiais, sendo ambos os perfis
to da espessura das células corticais. Co- de produtividade de soja totalmente dife-
lombi et al. (2017) avaliando 1,3, 1,45 e 1,6 rentes.
g.cm-3 em 16 espécies diferentes de trigo,
notaram que em baixas densidades do
solo a organização e o tamanho das célu-
las corticais não se alteraram, e o aumen-
to da compactação do solo demonstrou
diferentes diâmetros das células corticais
dependendo do material genético (Figu-
ras 5.2 e 5.3). A alteração da morfologia
das células radiculares provoca a restrição
do fluxo de água para a parte aérea e, por
esse motivo, é possível notar em algumas
situações a presença de raiz em dois perfis
diferentes de compactação, embora a ab-

160
Crescimento das raízes 80 B ***
*** ***
70

60
[mm.dia-1]

50

40

30

20

0.7
C ***
Custo energético
[Joule mm.dia-1]

0.6 * ***

0.5

0.4

0.3

0.2

32
D ***
30
Diâmetro das raízes

**
28
[µm]

26

24

22

20

Figura 5.2. Aumento da resistência


do solo em 16 diferentes espécies de
0.17 MPa 0.45 MPa 0.89 MPa trigo, taxa de crescimento radicular
(mm.dia-1), gasto energético ao cresci-
Resistência do solo [MPa] mento radicular (J mm-1 de raiz),
diâmetro das células corticais. Fonte:
Colombi et al., 2019.

161
CH Combin Suretta
1.6g cm-3 1.6g cm-3 1.6g cm-3 1.6g cm-3

Post- Post-
Embryonic Embryonic Embryonic Embryonic

200 µm 200 µm 200 µm 200 µm

1.3g cm-3 1.45g cm-3 1.3g cm-3 1.45g cm-3 1.3g cm-3 1.45g cm-3 1.3g cm-3 1.45g cm-3

Plantahof Probus
1.6g cm-3 1.6g cm-3 1.6g cm-3 1.6g cm-3

Post- Post-
Embryonic Embryonic
Embryonic Embryonic

200 µm 200 µm 200 µm 200 µm

1.3g cm-3 1.45g cm-3 1.3g cm-3 1.45g cm-3 1.3g cm-3 1.45g cm-3 1.3g cm-3 1.45g cm-3

Figura 5.3. Efeito de três densidades diferentes do solo, 1,3, 1,45 e 1,6 g cm-3 em 4 espécies diferentes de trigo sobre o diâmetro
das células corticais. Fonte: Colombi et al., 2017.

A condição de déficit de oxigênio no solo comum observada em condições de alto


resulta na formação de etileno nos tecidos impedimento físico. Por esse motivo, o im-
radiculares. O etileno é um hormônio an- pedimento físico pode restringir o cresci-
tagonista em relação à auxina e isso pro- mento radicular em maiores profundida-
voca a redução no crescimento radicular des por uma questão hormonal também
ou mesmo a curvatura das raízes, situação (Figura 5.4).

<1% 2% 4% 8% 11% 15% 21%

Figura 5.4. Efeito do oxigênio na superfície do solo e no crescimento radicular. Fonte: Stolzy et al., 1961.

162
Além dos efeitos da qualidade física do o metano, redução e disponibilização em
solo sobre o acesso a água e os nutrientes, níveis tóxicos de manganês e ferro. São
ela influencia indiretamente no balanço inúmeras e enormes as influências da
hormonal devido a relação entre a forma- qualidade física do solo sobre o ambiente
ção de raiz e qualidade física do solo, so- de produção e cabe a reflexão sobre a pro-
bre a infecção de doenças e nematóides porção de empenho que se dedica a esse
no sistema radicular, tolerância a pragas pilar da fertilidade do solo em relação à
de solo como percevejo castanho, e sobre parte mineral.
o próprio solo a qualidade física possui
uma grande influência na infiltração da O solo apresenta um conjunto de sinais
infiltração de água e consequentemente quando apresenta algum impedimento
na percolação de corretivos e nutrientes físico. O primeiro e evidente é a própria
pelo perfil de solo, erosão laminar, volatili- raiz e sua angulação. Na Figura 5.5 uma
zação de fontes de nitrogênio e outros nu- raiz de guanxuma apresentando os sinais
trientes, formação de gases tóxicos como de impedimento físico.

Figura 5.5. Sinal de impedimento físico do solo claramente demonstrada pela deformação das raízes. Fonte: os autores.

A estrutura do solo é outro indicador da Quanto mais redondos forem os agrega-


qualidade física do solo. Com a umidade dos do solo, a presença de raízes, o matiz
no solo, um enxadão, uma pá reta, retira- escuro que é o sinal do teor de matéria
-se com cuidado um bloco de solo e abre- orgânica e principalmente quanto mais
-se com cuidado nos pontos de maior fa- espessa é essa camada, melhor é a ferti-
cilidade de abertura da estrutura do solo. lidade física do solo. Existem vários méto-

163
dos que se apóiam nesse conceito de ava- com os produtores as oportunidades de
liação e tem uma grande vantagem de ser melhoria do solo (Figura 5.6).
prático no campo e didático para discutir

Figura 5.6. Avaliação qualitativa do solo por meio da observação da estrutura do solo. Fonte: os autores.

A qualidade de poros é um bom indica- registro fotográfico é possível entender a


dor da qualidade física do solo e, nesse distribuição dos poros. Esse método é útil
sentido, os estudos micromorfológicos para estudos investigativos, como altas
do solo trazem um retrato técnico muito produtividades, supressividade a doenças,
bom da qualidade física do solo. Esse tipo entre outros. Na figura 5.7 segue um tra-
de avaliação requer uma amostragem balho sobre lavouras de alta produtivida-
cuidadosa e a avaliação pode ser realizada de de feijão em que os poros alongados e
no Laboratório de Micromorfologia do De- complexos são maiores, permitindo uma
partamento de Solos da Esalq com o Dr. melhor aeração e fluxo da água.
Miguel Cooper. As amostras são impreg-
nadas com resinas sensíveis à luz negra,
e ao serem iluminadas com ela e feito o

164
Pivo 15(0-12) Pivo 2(0-12)
20 20

15 15

10 10

5 5

0 0
Teste 1 Teste 2 Teste 3 Teste 1 Teste 2 Teste 3

Pivo 15(12-24) Pivo 2(12-24)


20 20

15 15

10 10

5 5

0 0
Teste 1 Teste 2 Teste 3 Teste 1 Teste 2 Teste 3

A B

C D

Figura 5.7. Representação gráfica e fotográfica de solos de diferentes produtividades em lavouras de feijão. Do lado esquerdo,
solos de menor produtividade e do lado direito, solos de maior produtividade. A e B representam a camada de 0-12 cm, C e D
a camada de 12-24 cm de profundidade. Fonte: Sako, H.

165
A condição de impedimento físico tam- da superfície específica da argila pelo fós-
bém demonstra sinais numa análise quí- foro. À medida que o SO42- vai descendo
mica de perfil de solo. Na Tabela 5.1 segue no perfil do solo, ele vai se ligando com a
a análise de perfil de um solo compacta- fração da argila que retém as cargas nega-
do. O solo denso é propício à formação de tivas, características das argilas de cargas
acidez pela condição de baixos teores de variáveis. No entanto, em áreas que não re-
oxigênio e à dificuldade dos corretivos em ceberam nos últimos anos grandes doses
penetrar nos torrões maciços presentes de gesso e possuem um acúmulo abrupto
nas camadas compactadas, formando-se de SO42- no solo, semelhante ao exemplo
assim um gradiente de acidez no perfil: citado, é um sinal de acúmulo de água
nas camadas superficiais um pH maior, em subsuperfície devido à baixa quanti-
seguido do pH menor e depois aumen- dade de poros contínuos. Outras evidên-
tando o pH nas camadas mais profundas cias são acúmulo de boro abaixo de 20cm
do solo. O acúmulo abrupto de enxofre de profundidade e gradiente abrupto no
SO42- entre as camadas de 20-40 cm e perfil de solo dos teores de manganês e/
40-60 cm de profundidade é um sinal de ou ferro.
um solo com dificuldade de percolação
de água. O SO42- possui uma grande faci- Tabela 5.1. Análise química de um
lidade de percolação no perfil de solo pela solo com altos valores de resistência
sua natureza de carga negativa e essa per- do solo em Guaíra, SP, novembro
colação é facilitada pelo preenchimento de 2018.

pH S M.O B Mn Fe
Profundidade
(cm)
(CaCl2) mg/dm³ g/dm³ mg/dm³ mg/dm³ mg/dm³

0 a 10 5,2 16 29 1,1 14,9 18

10 a 20 5 30 21 1,11 9,7 17

20 a 40 5 86 17 1,47 4,1 16

40 a 60 5 220 21 0,22 1,8 8

60 a 80 5,3 43 10 0,17 2,1 5

80 a 100 5,3 12 9 0,14 1,7 5

Fonte: MELO, C, Data Farm

Uma vez que muitas práticas de mane- ou mesmo a priorização do talhão den-
jo da qualidade física do solo envolvem tro de um plano de rotação de cultura e
um grande empenho como a interven- abrindo mão da segunda safra, torna-se
ção mecânica, ou a introdução de plan- novamente de grande relevância o diag-
tas de cobertura com raízes mais agres- nóstico bem feito da parte física e, nesse
sivas em consórcio com a segunda safra, sentido, o pragmatismo da avaliação da

166
resistência do solo e seu longo histórico sultados do ensaio tiveram amplitude de
de trabalhos em torno dele possuem a produtividade com 100 sc ha-1 , em que
vantagem de entender seus fatores posi- os autores identificaram que a redução
tivos e ponderações dessa metodologia. de 1 MPa permitiu o aumento de produ-
tividade em 18 sc ha-1.
Os estudos da relação da resistência de
solo à penetração com a produtividade Sako et al. (2017), avaliando diversas la-
de soja são frequentemente citados em vouras, identificaram, por meio de uma
trabalhos científicos, e três considerações análise estruturada de dados agronômi-
devem ser feitas: 1º) conteúdo de água cos, que cinco fatores são importantes
no solo no momento da avaliação de re- para produtividade da soja de 70 sc ha-1,
sistência; 2°) produtividade obtida no ta- entre eles a resistência de solo à penetra-
lhão; e 3°) valores interpretados dentro ção, limitada ao valor de 1,7 MPa no perfil.
do contexto do ambiente de produção. Levantamentos feitos por Dantas e Sako
Buscher et al. (2000) avaliaram diferen- em 4 anos, sugerem que valores abaixo
tes intervenções mecânicas e entre elas de 1,5 MPa possuem uma maior proba-
a subsolagem profunda, por 3 anos, num bilidade de resultar em produtividades
solo de textura arenosa com camadas maiores que 80 sc ha-1 para a cultura da
compactadas em subsuperfície. Os re- soja (Figura 5.8).

Figura 5.8. Relação de resistência de solo e produtividade. Avaliações feitas próximas da capacidade de campo, em levantam-
entos realizados por Dantas e Sako, analisados estatisticamente por Alves nas quatro safras. Fonte: Dantas, Sako e Alves (2019).

167
Os valores de resistência do solo das la- atingível da soja. Os valores observados de
vouras de maiores produtividades, de produtividades variaram de 95 a 142 sc ha-1,
2014 até 2019 nas regiões do Sudeste, Sul, com valores de resistência, em sua maior
Centro-Oeste e Norte-Nordeste, auditadas parte, menores que 1,5 MPa.
e publicadas no site do CESB (Comitê Es-
tratégico Soja Brasil), estão apresentados Tabela 5.2. Resistência de solo dos
na Tabela 5.2 (SAKO, 2019). As lavouras campeões de produtividade desde
exploraram 78% a 94% da produtividade 2014-15 até 2018-19.

Ano 14-15 14-15 14-15 15-16 15-16 15-16 15-16 16-17 16-17 16-17 16-17

Produtividade 122 142 127 109 82,79 120 115 122,2 106,4 95,76 108,2

Ef Agrícola 0,78 0,98 0,78 0,72 0,84 0,85 0,72 0,78 0,73 0,65 0,94

Estado SP PR MS GO BA SP PR MT SP BA SP

Resistência Solo (MPs)

Prof. 10cm 1,01 1,05 0,33 1,3 0,9 0,4 1 0,6 0,9 0,8 0,1

Prof. 20cm 0,99 1,25 1,7 1,5 1 0,9 1,1 1,3 1,5 1,5 0,2

Prof. 30cm 1,04 1,10 1,65 1,5 1,5 1,2 1 1,5 1,4 1,4 0,9

Prof. 40cm 1,06 0,82 1,23 1,5 1,4 1,2 1 1,1 1,3 1,2 1,2

Prof. 50cm 1,07 0,7 1,13 1,2 1 1,2 0,7 1,1 1,2 1,1 1,1

Prof. 60cm 1,02 0,58 1,1 1 0,8 1,2 0,7 1 1,1 1,1 0,9

Ano 18-19 18-19 18-19 18-19 18-19 19-20 19-20 19-20 19-20 19-20

Produtividade 108,7 96,9 110,4 123,5 123,8 118,8 118,6 111,9 113,1 101,7

Ef Agrícola 0,98 0,69 0,77 0,74 0,87 0,9 0,73 0,67 0,88 0,91

Estado GO BA MG RS RS PR MG RS MT PI

Resistência Solo (MPs)

Prof. 10cm 0,2 0,2 0,2 0,3 0,4 0,4 0,2 0,4 0,3 0,3

Prof. 20cm 0,9 0,2 0,6 1,4 1,1 0,8 0,5 1,2 0,6 1,3

Prof. 30cm 1,2 0,3 1,2 1,7 1,3 0,8 0,8 1,5 0,6 1,5

Prof. 40cm 1,3 0,6 1,1 1,6 1,2 0,8 1,3 1,5 1,1 1,3

Prof. 50cm 1,2 1 0,8 1,5 1,2 0,7 1,2 1,5 1,1 1,1

Prof. 60cm 1,2 1,1 0,5 1,4 1,2 0,7 0,8 1,5 1 1

Fonte: Sako & Pascoalino (2019), com base em CESB1.

Disponível em: www.cesbrasil.org.br. Acesso em: 16 nov. 2019.


1

168
À medida que aumenta a resistência do Tabela 5.3. Quadros representando
solo, tal aumento relaciona-se indireta- os modelos de determinação dos
mente, em muitos casos, com a porosi- ambientes de Goiatuba, GO e Piraci-
dade do solo e, consequentemente, com caba, SP, sendo, A: coleta da análise
a disponibilidade de oxigênio, respiração química do perfil até 1 metro de pro-
das raízes e a absorção de água. Outros fundidade, B: análise da compacta-
aspectos relacionados ao dano da com- ção pelo penetrômetro até 1 metro e
pactação no sistema de produção foram C: coleta da densidade do solo com
observados por Dantas e Dourado (2017), anéis volumétricos para a determina-
verificando a mudança sobre a dinâmi- ção do conteúdo de água existente
ca da absorção de água no perfil do solo em cada camada.
em dois ambientes de produção, com
diferentes níveis de compactação (Tabe- Piracicaba SP
la 5.3). A hipótese inicial do trabalho foi
Profundidade Água absor- Índice de
de que a absorção de água pela planta (cm) vida (%) cone (Mpa)
ocorre majoritariamente em profundida- 0-10 8,02 1,3
des superiores a 15 cm para áreas de alta 10-20 4,66 1,3
produtividade, associado a um solo sem
20-30 1,45 2
restrição química, física ou biológica para
30-40 0,49 2
o crescimento radicular. Assim, o objetivo
40-50 0,00 1,5
do trabalho foi determinar a profundida-
de efetiva do sistema radicular (80% da 50-60 0,00 1,3
evapotranspiração real, ETr) de soja em 60-70 0,24 1,2
duas áreas distintas de alta e baixa pro- 70-80 0,33 1,4
dutividade. O cálculo para quantificar 80-90 0,5 1,5
a ETr baseia-se na quantidade de água 90-100 0,25 1,6
presente no solo e da massa específica
do mesmo por camada.
Goiatuba - GO
A área de baixa produtividade estava Profundidade Água absor- Índice de
(cm) vida (%) cone (Mpa)
localizada em Piracicaba, SP, caracteri-
zada por Latossolo Vermelho-Amarelo 0-10 5,315 1,2

distrófico típico, e a área de alta produti- 10-20 5,016 1,3


vidade em Goiatuba-GO, constituída por 20-30 5,379 1,5
Latossolo Vermelho mesotrófico típico, 30-40 5,196 1,5
ambos com textura média. Após a cole- 40-50 4,395 1,3
ta das amostras, as mesmas foram pesa- 50-60 3,957 1,2
das e alocadas em estufas de ventilação, 60-70 3,856 1,2
forçadas até atingirem massa constante,
70-80 3,139 1,3
determinando o conteúdo de água em
80-90 3,123 1,4
cada amostra, e a partir da diferença en-
tre os dois dias, determinado o consumo 90-100 3,918 1,2

hídrico total. Fonte: Dantas e Dourado, 2017.

169
Os resultados demonstraram que a área altos de compactação na camada entre
de Piracicaba apresentava resistência do 20 e 40 cm. Tais limitações não estavam
solo à penetração, observando-se valores presentes na área de Goiatuba (Figura 5.9).

Resistência do solo a penetração (MPa)


0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25 1.50 1.75 2.00 2.25 2.50
0
-10
-20
-30
Profundidade (cm)

-40
-50
-60
-70
-80
-90
-100
Piracicaba, SP Goiatuba, GO

Figura 5.9. Resistência à penetração no solo das áreas de alta e baixa produtividade, respectivamente Goiatuba, GO e Piracica-
ba, SP. Fonte: Dantas e Dourado (2017).

O sistema radicular obteve um cresci- que em Piracicaba, esse acumulado ocor-


mento mais expressivo em Goiatuba, ten- reu entre 10 e 20 cm (água usada do perfil
do 175% e 188% respectivamente, como de 0 a 20 cm) (Figura 5.10, 5.11 e 5.12).
também maior comprimento e área su-
perficial que em Piracicaba. A evapotrans-
piração real da cultura acumulada em três
dias foi de 23,7 e 24,4 mm, respectivamen-
te para Goiatuba e Piracicaba, sendo que
Goiatuba obteve o acumulado de 80%
da evapotranspiração total, ocorrendo
na profundidade entre 70 e 80 cm (água
usada do perfil de 0 a 80 cm), enquanto

170
30 (a)

Evapotranspiração real 25

20
acumulada (mn)

15

10
Goiatuba, GO

5 Piracicaba, SP

0
0

0
-1

-2

-3

-4

-5

-6

-7

-8

-9

0
-1
0

60
10

20

30

40

80
50

70

90
Camadas (cm)

1.00 (b)

0.80
Evapotranspiração real relativa

0.60
acumulada (%)

0.40

Goiatuba, GO
0.20
Piracicaba, SP

0.00
0

0
-1

-2

-3

-4

-5

-6

-7

-8

-9

0
-1
0

60
10

20

30

40

80
50

70

90

Camadas (cm)

Figura 5.10. Evapotranspiração real (a) e relativa (b), acumulada por camada a partir da superfície entre os dias 0 e 3 para Pira-
cicaba, SP (a), e em Goiatuba, GO (b). Fonte: Dantas e Dourado (2017).

171
Piracicaba, SP (a)
Figura 5.11. Foto de área de baixa produtividade. A presença de sistema radicular foi observada abaixo da camada de resistên-
cia à penetração, porém não houve absorção de água pelas raízes. Fonte: Dantas e Dourado (2017).

Goiatuba, GO (b)
Figura 5.12. Fotografia de área de alta produtividade, havendo presença de sistema radicular e absorção de água em todo
perfil. Fonte: Dantas e Dourado (2017).

172
Na área de Goiatuba, a produtividade foi com a mesma cultivar e em mesma data.
de 91 sc ha-1, contra 61 sc ha-1 na área de Pi- Porém, as áreas apresentavam diferença
racicaba. Ademais, a ausência de restrição de 1 MPa na resistência à penetração do
física e química no solo para crescimento solo (1,50 contra 2,50 MPa). Nessa condi-
radicular permitiu aumentar a capacida- ção, uma menor disponibilidade hídrica
de de água disponível no solo para a plan- pela redução das chuvas e menor acesso
ta, reduzindo as perdas de produtividade à água no perfil do solo, induz a planta a
ocasionadas pelo déficit hídrico. fechar o estômato e reduzir o resfriamen-
Essa mesma diferença do experimento to da folha pela transpiração. Com aque-
é observada frequentemente nos campos cimento da folha, ocorre o aceleramento
produtivos. Na Figura 5.13 pode-se obser- do ciclo, reduzindo a produtividade pela
var a diferença da antecipação do ciclo menor taxa fotossintética e pelo menor ci-
da soja. Ambas as áreas foram semeadas clo total da cultura.

1,5 Mpa 2,5 Mpa

Figura 5.13. Comparação do desenvolvimen-


to da soja em áreas com diferentes níveis
de compactação do solo. Soja da família
Boldrin, Rio Verde, GO, em 2016, variedade
MSOY 7739. Área da esquerda participava do
projeto UAI-Bayer (União dos Agrônomos In-
dependentes), em que foi realizado um pro-
cesso de calagem e gessagem, juntamente
com manejo mecânico de subsolador (área
apresentava alto índice de compactação). O
devido preparo foi realizado no mês de abril,
a janela de semeadura para braquiária estava
tarde, assim utilizamos milheto como opção.
A área da direita foi a testemunha absoluta,
sendo apenas plantado no mesmo dia e a
mesma variedade. Com isso, a área apre-
sentou uma antecipação de ciclo de 10 dias
em relação à área trabalhada. A diferença
de produtividade foi de 13 sc ha-1 da área tra-
balhada no perfil em relação à testemunha;
essa diferença de produtividade em relação
ao nível de resistência também foi observada
por BUSSCHER (2000). Fonte: Dantas, JPS.

173
O efeito da resistência à penetração do mesma forma da área de Piracicaba, SP,
solo pode ser observado na Figura 5.14. citado anteriormente, no qual o sistema
Essa fotografia foi registrada em 2016 em radicular abaixo da camada de resistên-
Gurupi, TO, mostrando resistência à com- cia adequada pode comprometer a efici-
pactação na camada de 0 a 20 cm de ência do uso de água, o que resultou em
profundidade, com alta concentração de uma menor produtividade, quando ob-
raízes. Observamos um desenvolvimento servada nessas condições.
abaixo da camada de resistência com a

Figura 5.14: Perfil do solo com destaque para as raízes em Gurupi, TO, com imagem do software Safira da EMBRAPA. Fonte:
Dantas, JPS.

174
Outras condições em áreas irrigadas no bientes extremos para o desenvolvimento
estado de São Paulo, com alto volume de radicular, chegando em até 5 MPa de re-
culturas e de uso intensivo, tendo até três sistência à penetração (Figura 5.15.).
safras no ano agrícola, nos mostram am-

Figura 5.15. Resistência à penetração no solo. Fotografia registrada por Dantas em 2016, em Guaíra-SP, juntamente com o
gráfico da avaliação do índice de cone, mostrando resistência à penetração de 5 MPa na camada de 10 cm de profundidade.
Fonte: Dantas, JPS.

Os problemas de compactação do solo dade, ocasionando sérios danos para o


como descrito são muito expressivos, cau- desenvolvimento radicular. A avaliação
sando grande impacto no sistema produ- da infiltração também é uma das formas
tivo. A infiltração de água em áreas com para se determinar a qualidade física do
adequado índice pluviométrico propor- solo, como observado nas áreas do Comi-
ciona um ambiente com pouca concen- tê Estratégico de Soja Brasil (CESB) (Figura
tração de oxigênio, caso haja camadas do 5.16).
solo limitando a infiltração em profundi-

175
de limitação de infiltração é apresentado
na Figura 5.17. Foi observada uma baixa ca-
pacidade de infiltração e, em 24h, o nível
de água permaneceu igual. A análise foi
realizada na época da seca, com o conte-
údo de água no solo bastante baixo, e ao
menos 45 dias sem chuva. Teoricamente,
essa condição de seca facilitaria a infiltra-
ção inicial da água no solo. A pouca capa-
cidade de infiltração observada represen-
ta um sistema de alta compactação e de
pouca porosidade, afetando diretamente
a concentração de matéria orgânica, a hi-
póxia das raízes, o aumento de nemató-
ides e Fusarium. Tais ocorrências foram
observadas nesse ambiente de produção
pelo proprietário.

Figura 5.16. Análise da infiltração de água utilizando solvente


com esmalte sintético branco para identificar o caminho da
solução pelos poros do solo. Fotografia registrada por Sako,
em uma das áreas campeãs no CESB. Fonte: Sako, H.

Essa metodologia utilizada avalia de for-


ma visual a infiltração da água no perfil do
solo, por meio de tinta branca e solvente,
determinando de forma qualitativa a ca-
pacidade de infiltração (Figura 5.16). Por
essa área ter um índice de resistência à
penetração baixo, associado a altas pro-
dutividades, se observou uma infiltração
de até 40 cm em um intervalo de 24 horas.

Em situações de ambientes de produção


no centro-oeste do Brasil, foram repeti-
dos esse mesmo modelo de determina-
ção qualitativa de infiltração de água em
áreas de sistema soja/milho. Essas áreas
representavam a realidade da região por Figura 5.17. Limitação de infiltração de água pela maior resis-
tência à penetração no solo. Fotografia registrada por Dantas
serem bem antigas no cultivo e com pro- em 2017 na região de Lucas do Rio Verde, em sistema soja/
milho por 15 anos, considerando a mesma metodologia ado-
duções médias estagnadas. Um exemplo tada por Sako (2016) nas áreas do CESB. Fonte: Dantas, 2017.

176
Uma alternativa para reduzir a resistên-
cia à penetração no solo é a utilização de
plantas de cobertura, que tem se mostra-
do uma ótima opção não apenas para a
diminuição da resistência à penetração,
como também para a melhoria das con-
dições químicas de subsuperfície, a qual
pode ser associada ao manejo mecânico.
O manejo mecânico depende da intensi-
dade da resistência e de outras interven-
ções, como no caso do gesso. Uma vez
determinado o manejo de correção física,
o maior desafio é dar longevidade a esse
trabalho, e a utilização de plantas de co-
bertura estratégicas é de significativa rele-
vância. As Figuras 5.18 a 5.21 apresentam
diversos tipos de solo e diferentes níveis
de resistência à penetração registrados
pelos autores.

Figura 5.19. Latossolo vermelho, apresentando resistência de


solo com valores acima de 2MPa, com presença de raízes
pelo perfil, diâmetro fino e que não foram capazes de absor-
ver a água no perfil de solo, devido à falta de oxigênio. Fonte:
registrado por Sako, H.

Figura 5.18. Perfil de solo com compactação aos 20 cm de


profundidade, demonstrado pela estrutura laminar e ângu-
los retos dos blocos do solo. Após essa camada, ela apre-
senta estrutura granular e uma excelente qualidade física Figura 5.20. Latossolo vermelho, com resistência de solo
do solo. Latossolo vermelho eutrófico. Fonte: registrado por baixa, devido à subsolagem, e as raízes ativas até 4 m de
Sako, H, Patos de Minas, MG, 2018. profundidade absorvendo água. Fonte: Sako, H.

177
Figura 5.21. Latossolo vermelho mesotrófico, com grande quantidade de bioporos no perfil do solo. Em 2019 colheu 90 sc/ha,
explorando 78,9% do potencial atingível. Fonte: Registrado por Sako, H.

O extenso conjunto de dados indica con- área, e até o tipo de solo. A complexidade
sistentemente que altas produtividades inerente na correção física do solo exige
(acima de 80 sc ha-1 ou uma exploração de um planejamento de 1 a 2 anos, e as me-
mais 78% do potencial produtivo) ocor- didas para cada situação vão desde a cor-
rem em valores baixos de resistência do reção e adubação do solo, até a aplicação
solo à penetração. Lavouras com valores de microrganismos3 e, ao efetuá-la, deci-
maiores de resistência de solo merecem dir qual o melhor equipamento e época
estabelecer um planejamento adequado de operação, quais plantas de cobertura
para reduzir esses mesmos valores, e os cri- utilizar e seus respectivos manejos. Essa
térios para se definir as práticas agrícolas complexidade dos ambientes produtivos
de correção física de solo são: histórico de e o ajuste de cada prática agrícola com os
produtividade da lavoura, a expansivida- problemas de cada solo é que fazem as
de da argila2, o valor de resistência do solo experiências práticas e resultados científi-
na capacidade de campo, a fertilidade do cos serem tão diversos, ressaltando a im-
perfil de solo, a sequência de culturas pro- portância do bom diagnóstico.
gramadas na lavoura, o risco de erosão da

2
Natureza da argila oxídica, 1:1 ou 2:1.
3
Se a lavoura responde ou não à subsolagem.

178
3. Qualidade física do mação de um grupo de pesquisa lidera-
solo sob ocorrência de do por Sako que replicou esse caso em
um nitossolo na ESALQ/USP, em que foi
nematóides e doenças
plantado batata por 13 anos na mesma
de solo área. Apesar do solo ter apresentado inó-
A baixa infiltração de água e os baixos te- culo de diversas doenças, não houve in-
ores de oxigênio no solo levam ao necro- viabilização da produtividade, nem mes-
samento de tecidos radiculares. Doenças mo pela ocorrência de doenças com as
que sobrevivem em materiais orgânicos práticas adotadas. A origem do convívio
ou de tecidos mortos, como Rhizocto- da doença com a produção está na infil-
nia, Fusarium, Macrophomina e Phy- tração de água. Zucoloto e Ragassi pos-
tium, têm sua ocorrência favorecida com teriormente identificaram que a supres-
o encharcamento do solo. Kirkpatrick sividade possui também mecanismos
et al (2006) avaliaram durante três anos biológicos atuando nesse processo.
o efeito de três dias de encharcamento
quando a soja estava emergindo e na Em situações de acúmulo de água, a raiz
quarta folha expandida sobre o comple- perde a permeabilidade da membrana
xo de doenças de solo. O encharcamento celular e ocorre uma exsudação mais ele-
aumentou de 16,7 para 27% a ocorrência vada de carboidratos para o solo. O acú-
de Pythium spp na emergência, e de 22,3 mulo de água forma um meio contínuo
para 31,1% a ocorrência de Pythium spp. entre a raiz e o nematóide, e o carboi-
drato ao ser diluído em solução, sinaliza
Quando o inóculo está presente, o hos- o meio para o nematóide percorrer na
pedeiro é suscetível e o solo reúne condi- solução do solo. Por esse motivo que im-
ções para que a doença não se manifes- pedimentos físicos de solo levam ao au-
te, de modo que essa condição é definida mento da ocorrência de nematóides.
como supressividade. Dentre os fitopa-
tologistas que estudaram o tema da su- 4. Relações de infiltração
pressividade, o Dr. Hasime Tokeshi contri-
de água e tipos de solo na
buiu de forma notável sobre esse tópico
nutrição e produtividade
no campo da ciência e da extensão. Tal
tópico despertou a atenção do pesquisa-
dor quando um produtor de Suzano SP, Uma das consequências de um solo com
o Sr. Mine, conseguia obter boas lavouras baixa qualidade física é a baixa infiltração
em terras com histórico de mofo branco de água, o que irá levar a uma série de
e outras doenças em culturas como a ba- fatores preocupantes, como acúmulo de
tata, planta com grande facilidade de ser água e criação de zonas redutoras dentro
infectada por essas doenças. A essência do solo. A falta de oxigênio no solo, oriun-
do trabalho do produtor foi construir um da do encharcamento, irá prejudicar a ab-
solo que permitia excelente drenagem sorção de água por todo o perfil de solo. A
de água. Esse estudo de caso levou à for- raiz pode chegar a 3 m de profundidade

179
sem apresentar uma boa atividade radi- do nitrogênio. Na Figura 5.22, podemos
cular por falta de oxigênio, resultando na observar um solo em que há camada de
redução da absorção de nutrientes, tor- impedimento começando aos 10 cm de
nando as raízes mais suscetíveis a ataques profundidade, como se pode notar pelos
de doenças e pragas. As zonas encharca- blocos, do mesmo modo é possível notar
das criam uma série de processos, sendo uma zona de acúmulo de água a 10 cm
que o mais grave se inicia da formação de de profundidade, bem na camada onde
gás metano, gás sulfídrico e disponibili- está presente a matéria orgânica do solo,
dade, em quantidades tóxicas, de Fe, Mn, bem como o nitrogênio associado a ela.
e logo no início do processo de enchar- Na Figura 5.23, vemos um caso extremo
camento, a redução em formas voláteis de baixa infiltração de água.

Figura 5.22. Latossolo amarelo distrófico, em Cristalina GO. Solo com acúmulo de água no horizonte que possui a matéria
orgânica. Fonte: registrado por Sako, H, em 2017.

180
Figura 5.23. Latossolo vermelho distrófico, em GO. Solo com acúmulo de água logo nas primeiras camadas. Fonte: registrado
por Sako, H.

Práticas que favorecem a infiltração de produção. Na Figura 5.24 segue um resul-


água nos Latossolos, Argissolos, Nitos- tado da infiltração de 19 mm de água per-
solos e Neossolos quartzarênicos, devem mitida pela braquiária, reduzindo o esco-
ser estudadas nos diferentes sistemas de amento superficial de água em 80%.

Braquiária Sorgo

Profundidade i) A braquiária permitiu a in-


(cm) Braquiária Sorgo Diferença
filtração de 19mm a mais de
Umidade (%) p.p
água em relação ao sorgo.
0-10 24,21% 21,72% 2,49% ii) Reduziu o escorrimento
10-20 23,88% 17,48% 6,40% superficial em 80%.
20-40 22,56% 21,58% 0,98% A cor branca é a infiltração de tinta + solvente,
marcando onde o líquido conseguiu infiltrar no
40-60 22,13% 21,53% 0,60% solo com facilidade.

Figura 5.24. Efeito da Braquiária nas qualidades físicas de infiltração de água e redução de run off. Fonte: registrado por Sako,
H, em 2019.

181
Em ambientes com grande quantidade e um solo com infiltração de água boa até
distribuição de chuva, como em Parago- 20 cm de profundidade e posteriormente
minas, PA, em que possui a pluviosidade o seu acúmulo no horizonte B, com pro-
média anual de 1805 mm (CLIMATE-DA- dutividade de 50 sc.ha-1. Já no solo à direi-
TA.ORG, 2019), a infiltração de água tam- ta houve uma melhor percolação da água
bém se constitui como um atributo im- no perfil do solo, a produtividade dessa
portante para melhores produtividades lavoura foi de 84 sc ha-1, explorando 64%
na região. Na Figura 5.25, apresentamos do potencial produtivo da soja.

Figura 5.25. Solos da região de Paragominas, PA e Dom Eliseu, PA. Latossolos amarelos e vermelho-amarelos. À esquerda, solo
com acúmulo de água e produtividade colhida em 2018 de 50 sc ha-1. À direita, solo com melhor infiltração de água e 84 sc
ha-1. Fonte: registrado por Sako, H, em 2017.

A sojicultura está presente em amplos ti- às formações rochosas. O horizonte R e


pos de solos e dentre eles vale citar os Ne- essa profundidade do solo, onde se en-
ossolos litólicos e regolíticos, como tam- contra o próprio horizonte R, têm uma
bém citar algumas características desses interferência importante no i) volume de
solos que implicam no potencial produti- solo disponível para absorção de água e
vo e no manejo. Uma das diferenças en- nutrientes; ii) no inóculo de doenças que
tre o Neossolo litólico para o regolitico é estão presentes nas camadas superficiais
a espessura de solo presente até chegar de solos, dessa forma, quanto mais pró-

182
ximo ocorre o horizonte R da superfície, ríodos de déficit hídrico; e iv) no alto ris-
maior a susceptibilidade a doenças; iii) no co de erosão, devido ao acúmulo de água
caso do horizonte R formando bolsões de nessas camadas.
água, podendo auxiliar a lavoura em pe-

Figura 5.26. Neosso-


lo litólico em Bom
Jesus, PR. Fonte:
registrado por Sako,
H, em 2017.

Em situação oposta, na qual a infiltração haja uma boa concentração de nutrientes


de água é alta, devido a grandes quanti- em função de menores produtividades e,
dades de cascalho, situações de déficit consequentemente, menores exporta-
hídrico penalizam fortemente a produti- ções (Figuras 5.27 e 5.28).
vidade, sendo comum que nesses locais

Figura 5.27. Plintossolos da região de Palmas, TO, e a deficiência de boro ocorrida pelo déficit hídrico. Fonte: registrado por
Sako, H.

183
Figura 5.28. Perfil de solos de Plintossolos e deficiência de boro ocorrida pelo déficit hídrico. Fonte: registrado por Sako, H, em
2019.

5. Estrutura do solo, horizonte no balanço de hormônios das


plantas. A citocinina, por exemplo, é res-
Horizonte A e sua
ponsável pela divisão celular, moderação
influência na lavoura
da síntese de etileno e auxina, além de
A espessura da estrutura granular e do ter papel importante na fixação de es-
horizonte A possui uma série de impor- truturas reprodutivas. O desenvolvimen-
tâncias agronômicas. Pela reserva de to radicular está relacionado à abertura
nutrientes nessa camada, como o ni- e ao fechamento de estômatos, com a
trogênio e o fósforo, os organismos que taxa fotossintética, dessa forma acaba
promovem o crescimento das raízes, a sendo importante na performance da
estrutura granular que permite o movi- lavoura. A produção de citocinina ocorre
mento de água e de ar e, consequente- no ápice das raízes novas e superficiais,
mente, um bom crescimento radicular, o que a torna relevante ao horizonte A.
e a supressividade dos solos a doenças e Seguem, na Figura 5.29, diversas lavouras
pragas, dependem da estrutura do solo. de alta produtividade e a espessura do
Há implicações sérias na construção do horizonte A.

184
Figura 5.29. Espessura do horizonte A em lavouras que passaram de 95 sc ha-1. Fonte: SAKO, 2019.

Figura 5.30. Horizonte super-


ficial com estrutura granular e
crescimento radicular abun-
dante sobre essa camada.
Fonte:

185
A agregação do solo ocorre sobre uma nas e, posteriormente, englobados por
hierarquia de fatores. Ela se inicia com os hifas de fungos. Os agregados que pas-
cátions exercendo a ligação entre as par- sam por tratos intestinais da mesofauna
tículas da argila, principalmente o cálcio adquirem estabilidade, e a forma como
e as frações de matéria orgânica agindo a vida do solo os organiza acaba forman-
como agentes cimentantes, seguido de do canais preferenciais no solo que pos-
compostos produzidos pelos microrga- suem grandes contribuições na ciclagem
nismos como polissacarídeos, glomali- da água e nutrientes (Figura 5.31).

Figura 5.31. Hierarquia dos agregados. Fonte: Brady e Weil (1996).

6. Importância dos cá- diferentes a aplicação do gesso e notou


o aumento na infiltração de água de 50
tions bivalentes
a 200%. O gesso, devido à presença dos
cátions bivalentes, possui a capacidade
Os cátions bivalentes ou trivalentes como de floculação da argila. Resultados opos-
Ca2+, Al2+ e Al3+, por possuírem duas ou tos ou ausentes do gesso na floculação
mais cargas positivas, agem na junção da argila em latossolos se devem à re-
de duas partículas de argila, contribuin- dução dos teores de alumínio devido ao
do para a sua floculação e para infiltração seu grande efeito floculante no solo, mas
de água. Em Coromandel, MG, solos que que, conforme apresentado no capítu-
apresentavam bons teores de cálcio e en- lo 2, o alumínio tóxico sobre o ponto de
xofre, a acidez corrigida em pH CaCl 5,3 e vista da absorção de água e nutrientes é
ausência de alumínio, apresentaram res- uma variável que penaliza a produtivida-
postas produtivas com uma tonelada por de com os teores identificados nos solos
hectare de resíduo de gesso industrial, tropicais. Por esse motivo, situações em
devido ao efeito do gesso na redução do que há a presença de alumínio devem
selamento e infiltração de água (SAKO, ser acompanhadas de práticas que aliam
2019). Summer (1993) avaliou em 11 solos a correção do pH, a aplicação de gesso e

186
as plantas de cobertura. Acerca do que Sako (2019), demonstrando amostras de
fora abordado anteriormente, segue na Latossolo vermelho eutrófico com e sem
Figura 5.32 um exemplo prático feito por gesso, e a floculação da argila.

Figura 5.32. Amostras de Latossolo vermelho eutrófico com e sem gesso. À esquerda: o copo contém apenas solo e água. À
direita, o copo contém solo, água e gesso. Fonte: registrado por Sako, H, em 2019.

7. Nitrogênio, Fósforo, volume de carbono, ou seja, a cada 1% é


necessário 1000 kg ha-1 de N, tornando-se
Cálcio e Magnésio para
evidente o desafio em inserir esse volume
a qualidade física do solo
de nutriente no sistema de produção. Por
esse motivo, adubações menores que a
A matéria orgânica precisa de nutrien- exportação das culturas cultivadas, como
tes para se fixar no solo. Como exem- o milho, conduz para a redução dos teo-
plo, o nitrogênio, em que a cada 1% de res de matéria orgânica, tornando o solo
MO na camada de 0-20 cm (2.000.000 mais suscetível à compactação e prejudi-
kg de solo), equivalente a 20.000 kg de cando a produtividade das plantas que
MO, dessa total, em torno de 60% é car- acessam o nitrogênio do solo.
bono, seria equivalente a 12.000 kg de C
ha-1. Uma vez que a matéria orgânica se Para cada 1 tonelada de milho produzida
estabiliza na relação C:N 12:1, é necessá- é exportado de 14 a 17 kg ha-1 de N. Pau-
rio 1.000 kg ha-1 de N para a fixação desse letti (2004) avaliando o balanço de N em

187
nível nacional, identificou um balanço carbono no solo, na fração húmica. Fan et
negativo de N em 86 kg ha-1 e de fósforo al. (2014), avaliando a aplicação de 0, 60,
de 30 kg ha-1. Dantas (2019) observou que 120 e 240 kg ha-1 de nitrogênio por ano,
no sistema soja-milho em comparação identificou um saldo positivo de 16,4 kg
ao sistema soja-algodão, há o decrésci- de C para cada kg de N aplicado.
mo da matéria orgânica, devido, dentre
os vários fatores, às menores adubações Uma parte do nitrogênio absorvido pela
de nitrogênio e fósforo no sistema soja- soja vem do grande estoque presente
-milho. Knops e Tilman (2000), avalian- no solo, e as perdas desse elemento por
do a recuperação de carbono pelo siste- volatilização podem penalizar a produti-
ma de produção, sem nenhuma prática vidade. O potencial redox de um solo é
regenerativa por 61 anos, identificaram uma medida elétrica que avalia sua ca-
que o acúmulo de carbono depende do pacidade de doar ou receber elétrons, in-
acúmulo de nitrogênio. Makipaa (1995), dicando, dessa forma, se o solo se encon-
avaliando a aplicação de 596 a 926 kg tra em estado de oxidação ou redução,
ha-1 de N, de 26 a 30 anos, em parcelas processos aeróbicos ou anaeróbicos. Na
de 25 x 25m a 30m x 30m em mata na- escala que vai reduzindo seu estado de
tiva, floresta boreal, localizada na Finlân- oxidação4, um dos primeiros processos é
dia, identificou que o enriquecimento de a redução do nitrato em formas voláteis
nitrogênio no solo levou ao acúmulo de (BINI et al., 2016) (Figura 5.33).

Respiração
+600 02 0-2
aeróbica

+400
Respiração
anaeróbica
N03- N02- N0 N20 N2
Potencial redox (mV)

+200 MnO2 Mn+2


Fermentação
Fe2O3 Fe+2
0
Respiração
anaeróbica

SO4-2 S-2
-200

Metanogênese
CO2 CH4

Figura 5.33. Processos químicos e seus respectivos potenciais redox. Fonte: Bini et al., 2016.

Menor disponibilidade de O2 no solo.


4

188
A manutenção de bons teores de P, Ca, desafio é o fato de ser um elemento de
Mg e N, tem como importância estabele- baixa percolação no solo, devido à sua
cer as pontes de hidrogênio e formação afinidade com a argila, é viável por meio
de materiais orgânicos de maior estabi- de dois caminhos, um é a incorporação
lidade. Briedis et al. (2016) avaliaram a fi- mecânica do elemento no solo, e o outro
xação de carbono por meio de aplicação é através de sua redistribuição facilitada
em vasos, o equivalente a 5.000 kg ha-1 nas raízes.
de C em solos dos horizontes superficiais
ricos em Ca, Mg, P e N, e obteve uma efi- A natureza fasciculada e profunda das
ciência de fixação entre 24% a 45% con- raízes de braquiárias e panicuns permite
tra 7% a 35% em solos de subsuperfície, levar o fósforo a maiores regiões do solo
baixos em Ca, Mg, P, N. Para obter um em subsuperfície (Figura 5.34), para que
maior detalhamento da aplicação de cál- isso ocorra é importante a associação da
cio e magnésio na matéria orgânica, veri- manutenção de bons teores de fósforo
fique o capítulo 5. O enriquecimento de em superfície e um solo poroso para que
fósforo em subsuperfície para auxiliar na haja uma boa distribuição do elemento
fixação da matéria orgânica, sendo que o no floema.

Figura 5.34. Volume de raízes de Brachiaria ruziziensis no perfil de solo. Fonte: registrado por Sako, H, em Sinop, MT, 2018.

189
Na Figura 5.35, segue o resultado em que to do fósforo, houve aumento de matéria
o consórcio da braquiária com o milho ve- orgânica. Na Tabela 5.4 uma análise de
rão, por dois anos, permitiu aumentar os solo de um talhão de uma fazenda que
teores do elemento no perfil em relação tem a integração da lavoura com a pecuá-
ao milho verão e pousio. Além do aumen- ria e uma infiltração de água razoável.

pH (CaCl2) SOM (g dm-3) P(mmol) (mg dm-3)


4.5 5.0 5.5 6.0 6.5 7.0 15 20 25 30 10 20 30 40 50 60 70
0.00
P= 0.003 P< 0.001 P= 0.176

P= 0.019 P< 0.001 P= 0.032


0.10
P= 0.020 P< 0.001 P< 0.001

0.20

0.30 P= 0.517 P< 0.001 P= 0.338

0.40

H + Al (mmol dm-3) K(mm) (mg dm-3) Ca(mm) (mg dm-3)


10 20 30 40 50 60 70 1.0 2.0 3.0 4.0 5.0 20 30 40 50 60
0.00
P= 0.042 P < 0.001
Soil Depth (m)

P= 0.002 P < 0.001


0.10
P= 0.007 P < 0.001
0.20

0.30 P= 0.013 P < 0.001

0.40

Mg(xx) (mmol dm-3) CEC (mmol dm-3) SO4-S (mg dm-3)


5 10 15 20 25 30 85 95 105 115 4 5 6 7 8 9
0.00
P < 0.001 P < 0.001 P < 0.001
P < 0.001 P < 0.001 P < 0.001
0.10
P < 0.001 P < 0.001 P = 0.021
0.20

0.30 P = 0.276 P = 0.020 P = 0.039

0.40

Figura 5.35. Comparação entre semeadura de milho verão e milho verão consorciado com Brachiaria brizantha, durante 2
anos. Fonte: Crusciol et al., 2015.

190
Tabela 5.4. Análise de solo de um sistema de lavoura - pecuária há 10 anos. Fós-
foro e potássio, extrator: resina.

Profundidade
P(g.dm-3) MO(g.dm-3) K(mmolc.-dm-3) CTC(mmolc.-dm-3)
(cm)

0 a 10 69 28 5 137,2

10 a 20 41 24 2,7 124,9

20 a 40 28 19 2,1 117,3

40 a 60 31 18 2,8 108

60 a 80 12 14 1,6 91,8

80 a 100 8 12 1,2 87,4

Fonte: os autores

8. Argila e a fixação Nota-se nesse solo que a matéria orgâni-


ca de 0-20 cm está em 50 g kg-1 e de 20-
de carbono
40 cm de profundidade reduz para 32 g
A fixação do carbono no solo depende kg-1, ambos com um teor de argila prati-
da argila, do nitrogênio e de outros nu- camente semelhante.
trientes para estabelecer ligações entre
as frações da matéria orgânica e a sua fi-
Tabela 5.5. Exemplo de um perfil de
xação. É comum a referência dos teores
solo com os teores de argila e matéria
de matéria orgânica com os teores de ar-
orgânica.
gila. O antigo Boletim 100 do IAC sugere
referências de matéria orgânica com a ar- Profundidade Argila MO
Horizonte (g.kg-1) (g.kg-1)
gila: solos arenosos, teor de matéria orgâ-
nica menor que 15 g kg-1; solos de textura 0 a 20 469 50
média de 16 a 30 g kg-1; e solos argilosos 20 a 40 416 32
acima de 31 g kg-1. Dessa forma, à medida
40 a 60 465 33
que se aprimoram as práticas para me-
lhorar a matéria orgânica, as primeiras 60 a 80 478 24

camadas de solo saturam de matéria or- 80 a 100 514 20


gânica até o limite que a argila consegue Fonte: os autores
estabelecer e, concomitantemente, abai-
xo dos 10 cm a 20 cm de profundidade Aumentar 1% de matéria orgânica no
é onde começam a ocorrer as mudanças solo é o mesmo que inserir 20 tone-
nos teores de matéria orgânica. Segue na ladas de matéria orgânica. A planta
Tabela 5.5 um perfil de solo e seus teores possui uma proporção de produção
de matéria orgânica ao longo desse perfil. de parte aérea/raiz entre 1,0 e 1,5, e de

191
tudo que a planta destina de fotoassi- toneladas de compostos orgânicos li-
milados para a parte subterrânea, 50% berados pelas raízes na rizosfera, com-
são consumidos na respiração das ra- putando um valor de 20 toneladas de
ízes, outros 25% destinados à produ- matéria seca. Devido a essa abundân-
ção das raízes e os 25% restantes, são cia de fotoassimilados de carbono na
destinados aos microrganismos rizos- rizosfera, há uma população maior de
féricos. Dessa forma, uma braquiária microrganismos e a síntese de polissa-
com 10 toneladas de matéria seca irá carídeos importantes na agregação do
produzir 10 toneladas de raiz e mais 10 solo (Figura 5.36).

Figura 5.36. Solo agregado em torno da rizosfera. Fonte: registrado por Sako, H, em 2017.

9. Componente biológico do bactérias, ao liberarem enzimas para de-


gradação do material orgânico, promo-
solo e a qualidade física
vem a síntese de polissacarídeos, e os
A qualidade física e a vida do solo estão fungos têm a capacidade de aumentar o
fortemente amarrados um ao outro. Di- acesso à água e aos nutrientes da planta.
versos compostos são produzidos pelos
microrganismos que irão contribuir para Nos microrganismos, apesar de compor
a estruturação do agregado de solo. As a quantidade de 1 tonelada por hectare

192
(Tabela 5.6), ou seja, uma parte pequena fertilidade de solo e produtividade do
em peso, sua atividade enzimática por que a biomassa em si.
unidade de tempo é mais importante do
que a biomassa por hectare e, por esse Tabela 5.6. Componentes do solo e
motivo, as atividades enzimáticas têm suas relações com peso.
sido mais coerentes com resultados de

Componente do solo Quantidade por hectare

Massa física (argila + silte + areia) 2.000.000 kg

Matéria Orgânica 30.000 a 100.000 kg

Biomassa microbiana 600 a 1000 kg

Enzima B glicosidase 82 kg

Fonte: os autores

A primeira aproximação da atividade bio- tressante o ambiente, mais rapidamente


lógica foi feita por MENDES et al (2019), esse carbono orgânico passará pelos mi-
estes identificaram tal padrão de ativida- crorganismos heretróficos no solo e, con-
de enzimática na camada de 0-10 cm de sequentemente, geram-se as funções
profundidade. A camada de 0-10 cm é a dentro do ecossistema do solo, como a
mais alterada pelo efeito da palha, das agregação do solo, a fixação de nitrogê-
raízes e da semeadura. No entanto, a ca- nio, a regulação das populações de mi-
mada de 10-20 cm tem um papel muito crorganismos, entre outros. Do ponto de
importante a ser alterado em alguns de vista de agregação de solo, a decomposi-
seus componentes na produção de soja, ção do material orgânico pelos microrga-
e assim, os levantamentos em altas pro- nismos tem como produto polissacaríde-
dutividades têm sido feitos na camada os recalcitrantes, os quais vão contribuir
de 10-20 cm de profundidade. Existe um para essa agregação. Podemos notar a
caminho importante a ser percorrido no presença desses polissacarídeos produ-
sentido de entender os valores de ativi- zidos nos locais onde se fazem pilhas
dade enzimática com a produtividade, de decomposição de material orgânico,
mas os levantamentos dos autores, até o nesses locais o chão é coberto por esses
momento, sugerem valores entre 108 a compostos, o que o torna liso.
152 µg p-nitrofenol g-1 solo h-1.
A ciência na área de biológicos tem avan-
As práticas agrícolas possuem impacto çado bastante com opções de microrga-
significativo no sistema de produção, no nismos, dentre as diversas funções, para
modo como o microrganismo degrada o melhoria da estrutura do solo. Esses pro-
carbono. Sendo assim, quanto menos es- dutos possuem um resultado expressivo

193
em plantas de cobertura, de modo que desidratação por efeito da seca, além de
podemos citar quatro: Microrganismos melhorarem o acesso à água em perío-
produtores de polissacarídeos como Ba- dos de déficit hídrico. A partir de traba-
cillus aryabathai e estirpes de Bacillus lhos realizados pelos autores, em Alfenas,
subtilis, Fertibokashi (antigo EM, oriun- MG, foi possível constatar, no efeito dos
do dos trabalhos do professor Higa), o microrganismos associado às plantas de
Microgeo e microrganismos oriundos cobertura, uma melhoria mais pronun-
do rúmen do boi vindo pelos resíduos, ciada na qualidade física do solo (Figura
e por fim o Bokashi. Vale ressaltar que o 5.37). É importante sublinhar que esses
Bacillus aryabathai é uma bactéria iso- microrganismos foram associados com
lada da caatinga brasileira. Esses micror- plantas de cobertura e o solo apresen-
ganismos intensificam a síntese de polis- tava impedimentos medianos na parte
sacarídeos pelas raízes e reduzem a sua física.

Figura 5.37. Estrutura do solo com e sem aplicação de Bacillus aryabathai. Fonte: SAKO, 2019.

O Bokashi apresenta um conceito mi- meio de farelos, corretivos e nutrientes,


lenar utilizado na agricultura oriental. mediante aeração, e aplicar frequente-
Trata-se de capturar um conjunto de mente no solo a que se destina. Essa prá-
microrganismos de um bom solo, como tica deve ser acompanhada com plantas
solo de mata nativa ou solos agregados de cobertura, uma vez que aumenta a
de serrapilheira de bambu, replicar por ciclagem de carbono no solo.

194
A meso e macrofauna, associadas aos da subsuperfície ao longo dos anos e,
resíduos antigos de raízes de árvores, principalmente, fornecem maior dispo-
formam canais preferenciais que favore- nibilidade de oxigênio em subsuperfície
cem a drenagem, auxiliam na correção (Figura 5.38).

Figura 5.38. À esquerda: perfil de solo de uma lavoura de 98 sc ha-1. À direita: marcações em verde nos locais onde foram identi-
ficados os bioporos e a formação de canais preferenciais. Amostra coletada em Capão Bonito, SP. Fonte: registrado por Sako, H.

9.1. Micorriza e a agregação pela Dra. Elke J B N Cardoso, pioneira nos


do solo estudos de micorriza no Brasil. Segue na
figura 5.39, imagens cedidas cordialmen-
A associação de fungos com as raízes é te pela Dra. Elke em que fica evidente a
uma relação que se iniciou desde o iní- importância das relações micotróficas na
cio do avanço dos vegetais do ambiente planta. Nesse ensaio, há a aplicação de
aquático para o terrestre. A associação se fósforo dentro da dose recomendada e
estabeleceu de maneira que os vegetais ⅓ da dose recomendada com a interação
distribuem carboidratos provenientes da de com e sem a presença dos fungos mi-
fotossíntese para os fungos, e os fungos, corrízicos em milho e soja. É evidente que
por sua vez, aumentam o acesso à água o fator de maior relevância foi a presença
e aos nutrientes da planta através de seu dos fungos micorrízicos nos tratamentos.
transporte, por meio do acesso das hifas
em locais do solo em que as raízes não
teriam acesso. Há também funções rela-
cionadas à estruturação do solo, ao au-
mento da tolerância a estresses abióticos
e à resistência a doenças em plantas (VA-
LADARES et al., 2016).

No campo dos estudos das relações da


micorriza no solo e planta não é possível
de mencionar os longos trabalhos feito

195
A

P rec 1/3 P 1/3 P P rec


Controle
+ FMA + FMA s/FMA s/FMA

P rec 1/3 P 1/3 P P rec


Controle
+ FMA + FMA s/FMA s/FMA

Figura 5.39. Desenvolvimento de plantas de milho (A) e soja (B) adubados com P na presença e ausência da micorriza. Fotos
cedidas cordialmente pela Dra. Elke JBN Cardoso. Fonte: VALADARES et al. (2016).

As hifas dos fungos micorrízicos podem zantha com diferentes espécies de fun-
se estender em até 30 mm das raízes e gos micorrízicos, em condição de casa
chegar a cobrir, com 5 m de comprimen- de vegetação, foi possível identificar um
to de hifas, um grama de solo (TISDALL; comprimento de hifas de 0,4 a 1,82 m g-1
OADES, 1979). Na Figura 5.40, é possível de solo e esse comprimento foi positiva-
observar a ilustração das hifas dos fun- mente associado à estabilidade de agre-
gos micorrízicos. Avaliando Urochloa bri- gados (BARBOSA; MV, 2018).

196
Hyphae

Roots

Figura 5.40. Hifas de fungos micorrízicos crescendo em torno de agregados de solo. Fonte: MILLER, Argone National Laboratoy,
Illinois EUA (Cordialmente cedido por MILLER).

Os fungos micorrízicos contribuem na cários, Wright e Upadhyaya (1998) identi-


estruturação de solo pelas emissões de ficaram de 1 a 21 g de glomalina para 1 g
suas hifas, polissacarídeos e pela síntese de solo, e também a associação positiva
da glomalina (Figura 5.41). A glomalina é dela com a agregação do solo. No Brasil,
uma glicoproteína recalcitrante, ligada a em três sistemas de preparos de solos, a
oligossacarídeos que estão ligados ao ni- produção de glomalina foi de 5,8 mg g-1
trogênio, de baixa solubilidade em água no preparo convencional, 7,4 mg g-1 no
e hidrorepelente, resistente a altas tem- preparo reduzido e 7,2 mg g-1 de solo no
peraturas e abundante no solo (WRIGHT; plantio direto.
UPADHYAYA 1996; 1998). Wright e Upa-
dhyaya (1998) levantaram, em 12 tipos de
solos, a quantidade de glomalina e, para
cada 1g da matriz do solo, identificou-se
de 4,4 a 14,4 mg da glomalina, de modo
que a quantidade foi proporcional à es-
tabilidade dos agregados. Em solos cal-

197
Figura 5.41. Visão microscópica de um fungo micorrízico arbuscular crescendo nas raízes de milho. Os círculos são esporos e os
filamentos finos são as hifas dos fungos. A substância cobrindo as hifas são as glomalinas, que nesta imagem estão identifica-
das pela cor verde escuro. Fonte: Wright (2004).

9.2. Meso e macrofauna flores - i) floresta nativa; ii) araucária re-


e suas relações com os florestada; iii) araucária reflorestada em
atributos do solo 1959; iv) pastagem natural com araucária
nativa - identificou que uma boa parte da
variabilidade da macrofauna é explicada
A fauna do solo é a comunidade de inver- por atributos químicos e microbiológicos
tebrados que passa por um ou mais ciclos do solo. Pompeo et al. (2016) avaliando a
de vida. A microfauna compreende inver- floresta nativa, a pastagem, a integração
tebrados de diâmetro inferior a 100 µm, a lavoura-pecuária, a lavoura com plantio
mesofauna entre 100 µm a 2 mm e a ma- direto e o reflorestamento de eucalipto,
crofauna entre 2 mm a 20 mm (SWIFT, capturaram 1.437 indivíduos por meio de
1979) (Figura 5.42). As pesquisas em torno armadilhas “pitfall traps”. Nessa análise,
da meso e macrofauna, sobre uma pers- a maior diversidade de coleópteros pre-
pectiva holística acerca dos atributos do sentes no plantio direto e no refloresta-
solo, possui um grande potencial para mento de eucalipto explicaram atributos
elucidar processos importantes. Baretta físicos e químicos do solo, destacando-se
(2007) avaliando diferentes sistemas de a porosidade e a matéria orgânica.

198
Microfauna Mesofauna Macrofauna
200 µm
10 mm
Protozoa

Tardigrada

Rotifera

Nematoda

Acari

Collembola

Protura

Diplura

Chelonethi

Araneida

Opiliones

Coleoptera

Isopoda

Diplopoda

Chilopoda

Mollusca

Enchytraeidae

Lumbricidae

40 60 80 160 320 640 13 26 5 10 20 40 80

µm mm

Figura 5.42. Classificação da fauna do solo com base no diâmetro do corpo. Fonte: Swift et al. (1979).

Os microrganismos com tamanhos fície até grandes profundidades. Quando


maiores têm, dentre suas diversas fun- se realiza a abertura de trincheiras para
ções, a construção de bioporos que avaliação de perfis é muito comum no-
abrem canais para a infiltração de água, tar a presença desses bioporos. Na Figura
revolvendo as camadas férteis da super- 5.43, apresentamos um Neossolo quart-

199
zarênico e um Latossolo vermelho com quantidade de bioporos, com uma pro-
a formação de um bioporo pela fauna dução de 90,18 sc ha-1, que representa
do solo. Na Figura 5.44 vemos um Latos- 78,9% do potencial produtivo.
solo vermelho mesotrófico com grande

Figura 5.43. Formação de um bioporo pela fauna do solo. À esquerda: bioporos em neossolo quartzarênico. À direita: bioporos
em latossolo vermelho. Fonte: registrado por Sako, H.

200
Figura 5.44. Latossolo vermelho mesotrófico com grande quantidade de bioporos. Fonte: registrado por Sako, H.

10. Manejo do potássio na e cloro, identificaram que a salinidade


qualidade física do solo crítica do solo, a qual influenciou a ati-
vidade enzimática, foi de 1,75 dS/m para
sulfato de cloro e 0,7 dS/m para o cloro,
A fonte usual e de pronta entrega de po- sugerindo o efeito de fontes de S para re-
tássio é o cloreto de potássio. Solos em duzir o efeito da salinidade causado pelo
que esses teores estão em construção no cloro. Rath et al. (2012) avaliando NaCl,
perfil do solo, no horizonte 0-20 e 20-40 KCl, Na2SO4 e K2SO4 sobre a atividade mi-
cm, a adoção dessa fonte é a preserva- crobiana, identificaram que o impacto
ção da produtividade, mas que após a da salinidade teve um efeito maior sobre
construção da sua fertilidade, deve-se bactérias do que em fungos e, de modo
partir para fontes de potássio de baixa geral, o cloro teve um efeito maior sobre
salinidade. Pereira et al. (2019) avaliaram a redução da respiração dos microrga-
a influência de doses crescentes de KCl nismos do que o sódio. Primavesi (2002)
em 0, 167, 334 e 668 mg dm-³, e identi- mostra que os principais microrganis-
ficaram que, já na primeira dose, houve mos que produzem compostos impor-
alteração na atividade biológica do solo. tantes na agregação do solo são as bac-
Zhang et al. (2018) avaliando o efeito térias do gênero Cytophaga, sensíveis ao
de doses crescentes de sulfato de cloro efeito da salinidade e, ao mesmo tempo,

201
precisam de nutrientes e água como Cl-1 e Cl-2 , sendo essa forma de que cloro
uma planta qualquer, sugerindo dessa apresenta toxidez aos microrganismos.
forma, a importância de se buscar fontes
de potássio conforme menores teores de Portanto, após a construção da fertilida-
cloro ou salinidade para solos que já pos- de potássica do solo, as opções de po-
suem bons teores desse elemento. tássio de baixa salinidade, de liberação
lenta, associada à matéria orgânica, ao
É importante considerar que o cloro do gesso ou ao melhorado pelas plantas de
cloreto de potássio, em sua forma oxida- cobertura, tornam-se fontes importantes
da, não apresenta toxidez aos microrga- para se fazer a manutenção desse ele-
nismos, mas que em condições reduto- mento e preservar a atividade biológica
ras pode formar hipocloritos, percloratos e a estrutura do solo.

11. Plantas de cobertura para ra, tornando os agregados do solo mais


estrutura do solo redondos. Segue um exemplo, na Figu-
ra 5.45, do efeito da Brachiaria em 120
Quanto maior a temperatura no outono/ dias numa lavoura em Patos de Minas,
inverno, as gramíneas do gênero Brizan- MG, em comparação a uma área com
thas e Panicuns possuem uma função feijão, e a estrutura do solo até 30 cm de
maior na alteração da estrutura do solo e profundidade. Com a Brachiaria foi pos-
na espessura do horizonte A, efeito este sível a alteração da estrutura do solo na
oriundo das raízes fasciculadas e volu- camada de 20-30 cm de profundidade
mosas que depositam matéria orgânica, e tornar os agregados mais redondos de
e levam microrganismos em sua rizosfe- modo geral.

A B

Figura 5.45. Alteração na estrutura do solo devido à ação da braquiária (B) em relação ao feijão. Fonte: os autores.

202
Figura 5.46. Efeito da braquiária na estrutura do solo em Sinop, MT. Lado esquerdo é a sucessão de milho-soja e lado direito é a
sucessão de braquiária-soja Fonte: os autores.

A Brachiaria ruziziensis é a gramínea e podem ser usados na sobresemeadura


com maior facilidade de implantação e da soja, de modo que também oferecem
dessecação, no entanto, a Brachiaria bri- melhor qualidade física para o solo, vide
zanta cv Piatã contribui em 10 vezes na Tabelas 5.7 e 5.8.
qualidade física do solo, e a Xaraes em
até 13 vezes. Os Panicuns possuem uma Tabela 5.7. Plantas de cobertura e
facilidade de implantação intermediária qualidade física do solo.

Plantas de cobertura Intervalo Hídrico Ótimo (dm³ dm-3) Recuperação física

B. brizantha cv Xaraes ou MG 5 0,13 88%

B. brizantha cv Piatã 0,10 69%

B brizantha cv Marandu 0,08 54%

B brizantha decumbens 0,08 54%

B brizantha cv MG4 0,03 20%

B ruziziensis 0,01 7%

Fonte: Neto et al. (2018).

203
Tabela 5.8. Plantas de cobertura e cresceram e auxiliarem na quebra des-
qualidade física do solo. sas dessas estruturas do solo. A mistura
de gramíneas é interessante por ter a
presença de raízes de diâmetro menor e
Índice de cone
Gramínea crescendo nas fendas do solo e ao absor-
(MPa)
ver com dificuldade a água e aumentan-
Brachiaria ruziziensis
cv Ruziziensis
1,3 a do o ciclo de umedecimento e secamen-
to do solo auxilia em quebrar a estrutura
Panicum maximum em blocos e abrindo espaço para raízes
cv Mombaça 1,2 b
de diâmetro maiores e renovando o ciclo
Brachiaria brizantha de umedecimento e secamento do solo.
cv MG 5 1,1 c
A mistura de plantas traz também diver-
Fonte: Baracho (2016). sos benefícios como a melhoria da diver-
sidade da parte biológica do solo. Na Fi-
A adoção de uma mistura de Brachiarias gura 5.47, segue um ensaio montado em
e/ou Panicum possui uma sinergia na Lagoa Grande, MG, com diferentes plan-
melhoria da parte física do solo. Quan- tas de cobertura isoladas e em consór-
do o solo apresenta um impedimento cio, o consórcio de diferentes gramíneas
físico ele acompanha pela estrutura em auxiliou numa melhor agregação do solo
laminar e ângulos mais retos, forman- e um maior crescimento das raízes nas
do blocos horizontais, no entanto esses camadas de 0-10 e 10-20 cm de profun-
blocos possuem fendas que de diferen- didade num solo em que há problemas
tes tamanhos e que dão espaço as raízes intermediários de compactação.

Figura 5.47. Lado esquerdo, gramíneas isoladas e seu crescimento radicular e alteração na estrutura do solo Urochloa bri-
zantha Brauna e Urochloa ruziziensis; lado direito gramineas consorciadas, 7 kg ha-1 Urochloa ruziziensis com 3 kg ha-1 de
Urochloa brizantha Piatã e em seguida 7 kg ha-1 Urochloa ruziziensis com 3 kg ha-1 de Urochloa brizantha Brauna. Fonte: regis-
trado por Sako, H, em 2021.

Quando se trata do uso das braquiárias brachiurus, devido ao fator de reprodu-


há a preocupação de alguns técnicos ção da Brachiaria ruziziensis ser de 1,5 e
quanto à proliferação de Pratilenchus da Brachiaria brizantha ser de 3, e esse

204
assunto merece ser detalhado. Em so- 11.2. Qualidade de semeadura: a distri-
los que recebem correções químicas e buição das sementes de brachiaria é de-
físicas, as raízes das gramíneas crescem terminante para preservar a qualidade
abundantemente, promovendo a vida e a recuperação da fertilidade do solo.
do solo e a matéria orgânica, e isso per- A semeadura da braquiaria possui uma
mite promover o equilíbrio de outros fa- qualidade superior de emergencia e ve-
tores antagonistas ao desenvolvimento locidade que a semeadura a lanço incor-
do nematoide no solo. Dessa forma, a porado com rolo, correntão ou grade fe-
decisão de não colocar as Brachiarias por chada.
presença de Pratylenchus brachuirus faz
coerência somente em casos extremos. 11.3. Uso do Rolo Faca (Figura 5.48): a
aplicação do rolo-faca no outono é uma
Quanto ao bom manejo das braquiárias prática importante para estimular a ra-
é necessário se ater aos seguintes pontos: mificação das raízes na camada dos 10 a
30 cm de profundidade, onde estão pre-
11.1. Densidade de semeadura: ter mais sentes os problemas de qualidade física
de 30 plantas por metro quadrado, sen- do solo. Outra vantagem que o rolo-faca
do que boas coberturas têm sido alcan- irá trazer é a formação de uma parte aé-
çadas com 47 plantas por m², principal- rea menor, o que facilitará a dessecação
mente para as plantas que possuem das plantas, que para a semeadura da
hábito de formação de touceiras. soja, ocorre em períodos de baixo índice
pluviométrico. Mais uma vantagem trazi-
Taxa (g área-1) = área (m²) x população da pelo rolo-faca é a maior facilidade de
(10/PMS) x VCG semeadura em cima de sua palhada.

Tabela 5.9. Referência de peso de mil


sementes (PMS) de diferentes espécies.

Peso de Mil
Espécie
Sementes (g)

B. ruziziensis 17

B. brizantha cv Marandu 23

B. brizantha cv Xaraes 28,6

B. brizantha cv Piatã 26

P. Maximum cv Massai 4

P. Maximum cv Mombaça 4,4

P. Maximum cv Aruana 2,7

Fonte:

205
A C D

Figura 5.48. Uso do Rolo faca em Brachiaria ruziziensis. Fonte: os autores

Figura 5.49. Resultado de 5 meses com plantas de cobertura e roçadas. Perfil do lado esquerdo sem o manejo e perfil do
lado direito com o manejo. Em solos arenosos, devido à sua superfície específica ser menor, a alteração em cor em função da
matéria orgânica é mais nítida. Fonte: os autores.

206
11.4. Pastejo: o pastejo em lotação ade- rea por meio mecânico ou pastejo auxilia
quada e com altura de corte em torno de na dessecação. É preciso se ater ao pH da
30 cm traz resultados benéficos no solo calda, ao uso de adjuvantes e ao sulfato
e na produtividade. Resultados de 3 anos de amônio, para auxiliar na absorção do
na Bahia, sugerem ganhos de 6 sc ha-1 glifosato, assim como a associação de
com essa prática. glifosato com um graminicida.

11.5. Adubação: é recomendável adian-


tar parte dos adubos nas plantas de co-
bertura, principalmente o fósforo e o po-
tássio nos solos com CTC maior que 60
mmolc dm-³ e micronutrientes. Caso o
sistema necessitar de nitrogênio, é uma
excelente oportunidade para a aplicação
desse nutriente.

11.6. Biológicos em plantas de cobertu-


ra: pela natureza fasciculada, o volume
de raízes e a capacidade de produzir e
translocar fotoassimilados para as raízes
e rizosfera, o uso de biológicos nas Bra-
chiaria e Panicuns reúne um excelente
quadro técnico. Os potenciais vão desde
o uso de nematicidas biológicos do gêne-
ro das Trichoderma, Pocconia, Bacillus,
como os condicionares de solo, oriundos
de microrganismos do rúmen do boi, o
Bacillus aryabathai e os probióticos.

11.7. Dessecação: é recomendável a des-


secação com 60 dias de antecedência,
principalmente nas áreas com pressão
alta de nematóide. Caso o planejamen-
to se atrase, aconselha-se a dessecação
com o mínimo de 30 dias de antecedên-
cia. Entre as espécies de braquiárias, as
Brachiarias brizantha e Panicum maxi-
mum, apesar de conseguirem fazer uma
entrega melhor na qualidade física do
solo, há uma maior dificuldade na des-
secação dessas. A redução da parte aé-

207
12. Dependência da qualidade sença da camada de impedimento, per-
física para reação dos cebida pelas estruturas planas e lamina-
res, é onde o solo está ácido (Figura 5.50).
carbonatos de cálcio
Em Naviraí-MS, após a aplicação a lanço,
A baixa infiltração de água, dentre os vá- sem incorporar, de 5 toneladas de calcá-
rios aspectos, prejudica a reação e perco- rio, não houve mudança significativa no
lação do calcário no perfil do solo. Bindi pH, mesmo nas camadas de 0-10 cm,
(2019) demonstrou que onde há a pre- em função da baixa infiltração de água.

pH pH Al
4.9 1.0
5.2 3.9 7.5
5.0
3.9 6.9
5.0
4.4 2.1

5.3 5.1 <1

Não cultivado Cultivado

Figura 5.50. Perfil de solo não cultivado e cultivado e o respectivo pH CaCl. A compactação do solo, notada pela formação de
estruturas planas, reduziu a ação dos corretivos e a formação de acidez. Foi utilizado um corante de pH que marca mais escu-
ro o que está mais alcalino e mais amarelo o que está mais ácido. Fonte: BINDI, 2019.

Quando o solo possui blocos/torrões de ou trincos no solo disponíveis, quanto


haverá grande dificuldade de corrigir a pela dificuldade da percolação dos cor-
acidez no centro dos torrões, tanto pelo retivos para o centro dos torrões.
fluxo preferencial da água pela porosida-

13. Expansividade da argila e tração da água e aeração (Figura 5.51). É


sua relação com manejo comum observarmos asfaltos racharem,
principalmente aqueles que estão sobre
os Argissolos. Esse efeito é justamente
Os solos arenosos possuem maior dificul- em razão da contração e expansão das
dade de serem compactados, mas quan- argilas, de modo que tal variável, pela
do ocorre, é mais severa do que em solos sua relevância, deve ser incluída dentro
argilosos, devido à ausência da expansi- do diagnóstico de manejo e classificação
vidade da argila ao ser umedecida e sua do ambiente de produção. Solos com va-
contração ao secar. Esse nível de expan- lores maiores que 2 MPa de resistência,
são e contração das argilas significa uma mas que possuem essa alta capacidade
força muito grande, de tal maneira que de expandir e contrair, merecem aguar-
esta força tem papel importante em criar dar decisões de intervenção mecânica e
fissuras no solo e contribuir para a infil- terem corrigidos outros componentes.

208
Figura 5.51. Solo trincado e abrindo espaço para infiltração de água devido ao teor de argila. Fonte:

A magnitude de expansão e contração reduziu em comprimento, e dessa forma


das argilas é maior na medida em que se obtém o índice COLE (Tabela 5.10).
os solos adquirem maior nível de estru-
tura, óxidos – argila 1:1 – 2:1. Dentro de um Tabela 5.10. Índice de COLE de 5 solos
mesmo tipo de solo, os latossolos podem do estado de Santa Catarina.
ter a composição de diferentes tipos de
solo, e isso poderá incorrer em diferen- Índice
tes graus de expansão e contração para Perfil
Hori- COLE -
um mesmo tipo de solo. Por esse motivo, zonte Expansão
solo
avaliar o grau de expansão e contração
de um solo é uma medida interessante. Latossolo Bruno A 0,14
Uma forma de avaliar essa característica
Latossolo Bruno A 0,14
do solo é a metodologia COLE, que con-
siste em fazer uma massa com o solo em Latossolo Vermelho A 0,14
sua capacidade de campo, colocar den-
Latossolo Vermelho A 0,16
tro de um tubo de seringa e fazer um
tubo de solo de 3 cm de comprimento, Nitossolo Bruno A 0,22
colocar em estufa, secar e medir. Após,
calcula-se em porcentagem de quanto Fonte: Testoni, 2015.

209
Outro componente importante que con- ria no perfil de solo, devido às camadas
tribui para a expansividade e contração de 20 a 40 cm terem menores teores de
de um solo é a matéria orgânica (Figura matéria orgânica e serem camadas sus-
5.52). A redução dos teores de matéria cetíveis à ação das máquinas agrícolas.
orgânica torna o solo mais suscetível a Uma camada suscetível à compactação
uma compactação. No capítulo anterior é a origem das restrições de produtivida-
foi exposta a relação da argila e da maté- de, por seus diversos motivos.

Figura 5.52. Infiltração de água nas trincas do solo originados pelo ciclo de expansão e contração dos solos. Fonte: os autores.

A matéria orgânica contribui para o grau Argissolo vermelho mesotrófico, em


de cisalhamento do solo, devido à pre- Itapeva, SP, a água infiltrou exatamente
sença massiva de cargas negativas e à onde estava presente a camada do solo
natureza expansiva da argila, e somadas com maiores teores de matéria orgânica.
ao efeito de cisalhamento provocado
pela matéria orgânica, auxilia na forma-
ção de trincos no solo como também na
infiltração da água. Na Figura 5.53, num

210
Figura 5.53. Os trincos no solo gerados pelo ciclo de expansão e contração da argila foram favorecidos pela presença da
matéria orgânica, Itapeva, SP. Fonte: registrado por Sako, H.

211
14. Quando devemos adotar a dade de expansão e contração dos solos,
subsolagem baixa facilidade de formação de torrões
internos no solo, formando blocos de ar
dentro do solo ou a grande facilidade de
Existe uma diversidade de resultados po- readensamento provocado pelos solos
sitivos e negativos quando se trata do uso siltosos somado a força da água da chuva.
da subsolagem. Em função desses resul-
tados, é temeroso adotar como procedi- T x 1000/g.kg-1 de argila, em que T é a
mento padrão a subsolagem frequente capacidade de troca de cátions (unida-
para melhoria do solo, ou seja, há a ne- de cmol por kilo de solo)
cessidade de se estabelecerem critérios
(Figura 5.54). A subsolagem em solos que Atividade alta 27>cmolc . kg de argila
fazem coerência com essa prática, sugere
um incremento de produtividade de 4 a Atividade baixa 27<cmolc . kg de argila
6 sc ha-1, e o seu efeito residual depende
de algumas práticas que serão discutidas 14.2. Período de readensamento do
à frente. Seguem as ponderações para se solo: solos com atividade alta de argila
definir a prática da subsolagem: possuem uma velocidade de readensa-
mento maior, de até três meses. Solos
14.1. Há impedimento no solo coerente com atividade baixa de argila possuem
para uma subsolagem: é coerente e im- uma velocidade de readensamento me-
portante planejar a subsolagem quando nor, de até 1 ano, e em alguns casos che-
o solo apresentar algumas dessas carac- gando a 2 anos. Solos de estrutura forte
terísticas: possuem uma velocidade de readensa-
mento de 3 meses e solos de estrutura
a) argila de baixa atividade, baixa quan- fraca possuem uma velocidade de rea-
tidade de matéria orgânica e valores de densamento em até 1 ano, e em alguns
resistência de solo maiores que 2 MPa; casos em até 2 anos

b) valores de resistência de solo maiores 14.3. Umidade de operação do solo: a


de 2,5 a 3 MPa em solos de argila de alta umidade de operação de subsolagem
atividade ou alta quantidade de matéria deve estar em seu estado friável, que é
orgânica; aquele em que o solo não se encontra
encharcado e nem seco. Isso é de extre-
c) solos com baixa infiltração de água e ma importância, uma vez que o período
indícios de decomposição anaeróbica. de maior disponibilidade de operações é
Para calcular a atividade da argila deve- após a colheita da segunda safra, no in-
-se analisar a textura do horizonte B e sua verno, ocasião em que o solo se encontra
CTC, e proceder ao seguinte cálculo: seco.

d) normalmente as respostas mais fre-


quentes em subsolagem estão em solos
de textura arenosa a média ou com gran-
des teores de silte, devido a baixa capaci-

212
Figura 5.54. Umidade do solo e o efeito da subsolagem no solo. Solo saturado: faz-se uma abertura no solo. Solo friável: tem o
bom resultado da operação. Solo seco: formam-se torrões e blocos na superfície e dentro do solo. Fonte: os autores.

14.4. Risco de erosão (planejamento): meia-se soja para ser colhida em feverei-
se o talhão recebe muita água de carre- ro e nesse momento é feito a semeadura
adores, estradas, talhões adjacentes, ou da braquiária.
se há evidências de vícios repetitivos de
erosão, devem ser inseridas práticas para 14.6. Saturação de alumínio no per-
manejar essa água e realizar a opera- fil do solo e subsolagem (Tabela 5.11):
ção pós-colheita da soja, ou ao final das quando temos uma saturação de alumí-
águas. Caso o solo esteja sobre controle e nio considerável no perfil do solo é reali-
seja um solo de estrutura fraca ou de bai- zada a subsolagem. A água do perfil do
xa atividade de argila, pode-se realizar a solo se movimenta ao longo das cama-
subsolagem antes da soja. das, todavia as raízes não conseguem ter
acesso à água das camadas mais pro-
14.5. Momento da colheita x janela de fundas, devido ao problema de alumínio
semeadura para plantas de cobertu- e, de outro lado, as raízes à medida que
ra: as melhores plantas para estabelecer vão aprofundando no perfil de solo, ab-
um bom volume de raízes e canais pre- sorvem o alumínio que será translocado
ferenciais para a movimentação da água dentro dos órgãos vegetativos; depen-
e ar no perfil de solo em clima tropical dendo do volume, pode-se tornar uma
são as braquiárias. No entanto, a exigên- quantidade tóxica para a planta. Segue
cia de água para o seu estabelecimen- uma experiência prática de um produtor
to faz com que, no cerrado, deva ser se- de Paragominas, PA, que teve duas ex-
meada em fevereiro para seu sucesso e, periências distintas com a mesma ope-
nesse sentido, quando a soja é colhida ração de subsolagem. Num talhão com
em março há a necessidade de montar perfil alto de alumínio teve um decrés-
um plano diferente para o seu manejo. cimo de produtividade de 4 sc ha-1 e no
Como exemplo, em solos de estrutura outro teve um aumento de 7 sc ha-1.
fraca, subsola-se e semeia-se milheto, se-

213
Tabela 5.11. Teores de alumínio no perfil de solo, aumento e decréscimo na
produtividade em função da subsolagem.

Reduziu 4 sc/ha Aumentou 7 sc/ha

Elementos 0-10cm 10-20cm 20-40cm 40-60cm Elementos 0-10cm 10-20cm 20-40cm 40-60cm

P 53 41 13 7 P 16 15 3 10

MO 25 21 14 9 MO 27 22 15 9

pH 4,8 4,8 4,5 4,5 pH 4,9 4,6 4,8 4,7

K 4,3 1,4 1,4 0,8 K 2,1 1,8 0,7 0,4

Ca 25 16 16 9 Ca 28 26 17 16

Mg 14 5 5 4 Mg 8 8 4 2

S 15 32 32 32 S 40 43 27 78

Al 0 4 4 5 Al 0 1 2 0

m% 0 14 14 26 m% 0 2,7 8,37 0

B 0,64 0,64 0,69 0,39 B 0,76 0,96 0,42 0,54

Fonte: os autores.

Após a subsolagem, deve-se ater a quali- getal, com 60 dias de antecedência em


dade da semeadura, aumentar a dose de locais com ocorrência de nematóide, e
inoculante e dessecação do material ve- onde não há, pode-se preservar 30 dias.

15. Associação da intervenção zadas, são as mais adequadas para a ope-


mecânica com plantas de ração e, nesse sentido, para os ambientes
subtropicais e tropicais, as gramíneas são
cobertura
recomendadas. Na Figura 5.55 apresen-
tamos o volume de sistema radicular de
A subsolagem possui efeito temporário, uma Brachiaria brizantha no perfil de
podendo ser de um mês a um ano. Nesse solo até 1,8 m de profundidade.
período é importante inserir uma planta
de cobertura para o processo de agre-
gação de solo. Plantas que possuem um
sistema radicular fasciculado e com ca-
pacidade de preencher rapidamente os
espaços criados pelas operações mecani-

214
Figura 5.55. Crescimento radicular de Brachiaria brizantha cv Marandu. Fonte: os autores.

A subsolagem antes da soja possui a atra- a umidade do solo, e qual é o período de


tividade da resposta em situações em reconsolidação do solo e caso o solo fique
que o planejamento é realizado junto no sem cobertura, sempre considerar que a
inverno. Nessa situação, deve-se ponderar ausência de cobertura chega a penalizar
a suscetibilidade da lavoura com a erosão, 8 sc.h-1 de soja. (Figura 5.56).

Figura 5.56. Subsolagem antes da soja. Fonte: os autores.

215
Na subsolagem após a colheita da pri- pacidade de campo e na janela de seme-
meira safra, deve-se ter cuidado em não adura da braquiária (Figura 5.57).
realizar a operação em umidade na ca-

Figura 5.57. Subsolagem pós-primeira safra. Fonte: os autores.

Na maior parte dos casos, a subsolagem risco, plantas que saem bem em baixas
pós-soja ocorre em sojas tardias. Solos de temperaturas como aveia preta para for-
baixa atividade de argila, ou argilas com mar a palhada após a intervenção mecâ-
alto grau de intemperização, possibilitam nica e, na safra seguinte, a implementação
a implementação de milheto ou outras de uma planta de cobertura para fazer a
plantas de saída rápida como trigo mou- estruturação do solo (Figura 5.58).

Figura 5.58. Subsolagem pós-primeira safra e em soja de colheita tardia. Fonte: os autores.

216
Em situações em que o produtor possui operação que exige reunir o equipamen-
subsoladores de baixo revolvimento de to certo, a semeadura da braquiária ao
solo e larga escala, é possível aliar o alto final do verão, o conhecimento do histó-
rendimento da semeadura da braquiária rico da região, uma chuva após a opera-
para não perder a janela de semeadura, ção, ou mesmo, a irrigação (Figuras 5.59
com a operação de subsolagem. É uma e 5.60).

Figura 5.59. Subsolagem na braquiária. Fonte: os autores.

Figura 5.60. Subsolagem na braquiária em Navirai, MS. Fonte: registrado por Sako, H.

217
16. Mitigação da compactação 5.61). Nesse processo de organização do
tráfego ela pode se tornar parcial ou total
e vale destacar a experiência australiana
Se temos o problema da compactação nesse processo. Mesmo tendo a colheita
no ambiente de produção é porque o em solos arenosos e secos, nota-se que
próprio sistema de produção gerou ele. o tráfego desordenado de máquinas pe-
Não há coerência em fazer um plano de naliza a produtividade das lavouras. Para
correção física sem prevenir a sua ocor- o dimensionamento da abrangência de
rência. A origem da compactação está no compactação do sistema mecanizado da
próprio tráfego desordenado, sendo prio- fazenda, os técnicos australianos monta-
ritária a organização do tráfego do trans- ram uma calculadora digital disponibili-
bordo e outros equipamentos (Figura zada no site www.ctfcalculator.org.

Figura 5.61. Colheita num sistema com tráfego dirigido. Os transbordos seguindo o mesmo tráfego da colhedora. Fonte: Bindy,
2019

Em Maracaju-MS, na Agrícola Speken, tio e colheita. Onde houve a presença da


junto com a Copasul, foi conduzido um esteira por três anos apresentou uma dis-
trabalho por três anos com tráfego todo tribuição de poros bem melhor (Figura
por esteiras e outro por pneus no plan- 5.62).

218
Spekken Talhao 1 e 2 (0-15)
20

15

10

0
Teste 1 Teste 2 Teste 3

Spekken Talhao 1 e 2 (15-30)


20

15

10

0
Teste 1 Teste 2 Teste 3

Figura 5.62. Efeito do tráfego com esteira do sistema mecanizado sobre a micromorfologia do solo. Fonte: Sako, H & Cooper, M.

O processo de organização de todo o 10 a 30 cm de profundidade, onde os te-


sistema mecanizado pode requerer, na ores de matéria orgânica são menores; ii)
maior parte das vezes, um planejamen- formação de um “colchão de palha” isso
to de longo prazo, e até lá algumas prá- provoca um efeito elástico sobre o piso-
ticas pode ser feitas como: i) aumento do teio; iii) calibração dos pneus para favo-
teor de matéria orgânica, isso aumenta a recer o aumento da área de contato do
expansividade e contração do solo e nor- pneu agrícola; iv) modelos de pneus que
malmente a compactação ocorre entre agridem menos o solo.

219
17. Metodologias para serem cedimento importante é esquentar água
usadas em campo até começar a ferver e uma proporção de
água com ágar que a solução fique gelati-
17.1. Avaliação de acidez nosa, e então misturar a solução com bro-
no perfil do solo mocresol e, ao ser aplicado sobre o solo,
ficará firme quando atingir a temperatu-
O bromocresol é um composto químico ra ambiente. Esse processo mais lento de
que sinaliza a acidez e alcalinidade com contato do ágar com o solo dá tempo do
cores diferentes. Esse composto, associa- bromocresol reagir com a solução do solo
do com ágar e colocado sobre um perfil e demonstrar seu pH e, ao ficar firme, evi-
de solo, permite de modo didático enten- ta que o líquido penetre no solo e perca a
der a variabilidade do pH no solo. O pro- coloração visual (Figura 5.63).

Solo com uma zona


de alcalinidade em 5
cm de profundidade

pHCaCl 5,6

pHCaCl 4,7

Figura 5.63. Solo aplicado bromo-


cresol com ágar. Fonte: Sako, H.

220
17.2. Metodologia visual para avaliar 17.4. Avaliação qualitativa
infiltração de água
A avaliação qualitativa do solo possui
Uma metodologia proposta por Tokeshi e grande vantagem em depender de ma-
aprimorada por Sako e Shiozaki para ava- teriais fáceis de serem obtidos nas fazen-
liar a infiltração de água de modo visual, das, como pá reta e enxadão/chibanca.
é o uso de corantes num solvente e ava- Com a umidade apropriada, é realizada
liar o modo como houve a infiltração da a abertura de uma pequena trincheira e
solução no solo. Essa metodologia tem a retirada uma fatia do solo com a pá reta.
vantagem de tornar visível a facilidade de Posteriormente, são feitas as avaliações e
infiltração da água, o que possibilita en- conferência da qualidade do solo. Exis-
tender a qualidade dos poros. tem duas principais linhas de trabalho
com esse conceito, o VESS, método euro-
Materiais: Tubo de PVC 150mm, Aguarrás, peu e antigo, e o DRES, método adapta-
Tinta Suvinil Branca, Espátula, Pá Reta, do pela Embrapa e colaboradores.
Régua de Trincheira.

Procedimentos: Aprofundar o tubo de


PVC no solo em torno de 5 a 10 cm; Pri-
meira infiltração: Diluição de 1 L de Vol.
Total: 0,8 L de Aguarrás para 0,2 L de Tin-
ta. Segunda infiltração: Diluição de 2,7 L
de Vol. Total: 1,7 L de Aguarrás para 1,0 L
de Tinta.

Observações: Não colocar excessivamen-


te a solução dentro do tubo para não oca-
sionar muita pressão (altura de coluna do
solvente de no máximo 5cm); descascar o
solo até atingir o centro do tubo de PVC.

17.3. Metodologia para avaliação da


resistência do solo

A avaliação da resistência do solo requer


um cuidado grande na umidade de ava-
liação, sendo que a avaliação é realizada
sempre próxima da capacidade de cam-
po. Todos os dados citados seguem esse
cuidado com a umidade do solo.

221
222
CAPÍTULO 6
NUTRIÇÃO DE PLANTAS E DOENÇAS
NO AMBIENTE DE PRODUÇÃO

BORELI, R.¹; SAKO, H.²; DANTAS, J.P.S.²; BATTISTI, R.³


1. UNIFIPA - CENTRO UNIVERSITÁRIO PADRE ALBINO
2. DK CIÊNCIA AGRONÔMICA.
3. UFG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS.

223
224
1. Manejo nutricional na A: Hospedeiro
tolerância a doenças
DOENÇA
As estratégias de manejo integrado de
doenças (MID) têm como princípio a com-
binação de estratégias de controle, no en- B: Patógeno C: Ambiente
tendimento das seguintes situações: Figura 6.1. Triângulo da doença e as três condições para que
a mesma ocorra. Fonte:

a. Entender o triângulo de infecção entre


o patógeno, o hospedeiro e o ambiente; O planejamento fitossanitário da lavoura
b. Redução do inóculo inicial; vem ao encontro da construção de um
c. Redução da taxa de infecção da doença; ambiente de produção. Além da visão ho-
d. Estabelecer modelos de previsão; lística de disseminação das doenças nas
e. Amostragem para conhecer o nível de propriedades, observar os fatores ambien-
equilíbrio de controle; tais que predispõem as culturas no tocan-
f. Fertilidade do solo, relação entre os nu- te ao ataque da doença, é indispensável
trientes e equilíbrio nutricional; para bons resultados no MID. Podemos
g. Controle de insetos vetores de patóge- citar fatores do ambiente que favorecem
nos; as condições para a ocorrência de doen-
ças, como a umidade relativa do ar e a
Quando entendemos o conceito de ma- umidade do solo, temperaturas extremas,
nejo e aprofundamos nos eventos impor- baixas ou altas, a nutrição em falta ou em
tantes do ciclo de interação patógeno- excesso, pH do solo, luz, vento, defensivos
-hospedeiro, vários fatores influenciam o e práticas culturais.
crescimento das doenças no campo.
O ambiente afeta o hospedeiro suscetível,
Para que se estabeleça o início da doença predispondo-o à ação de fitopatógenos,
é necessário que as arestas do triângulo tanto no estabelecimento das doenças,
da doença se completem, ocasionando os quanto no desencadeamento de uma
sintomas que são visíveis no campo. Des- epidemia. Sobre o patógeno, o ambiente
te modo, a combinação de A - hospedeiro pode favorecer ou desfavorecer a sobrevi-
suscetível, B - patógeno virulento e C - am- vência e desenvolvimento dos mesmos,
biente favorável, estabelece a presença da tanto no hospedeiro quanto no meio, sen-
doença, e o crescimento dependerá de do que esta interação pode implicar em
variáveis dentro de cada aresta desse tri- maiores ou menores graus de severidade
ângulo (Figura 6.1). da doença.

225
Os princípios gerais de controle aborda- técnico, planejar e programar práticas
dos por Whetzel (1925) e Marchionatto agrícolas que irão atuar no ciclo da intera-
(1949) devem ser aplicados dentro de um ção patógeno-hospedeiro e no triângulo
MID, podendo assim, o agrônomo ou o da doença (Figuras 6.2 e 6.3).

Proteção

Infecção
Exclusão

Imunização
Disseminação

Colonização

Terapia
C. Secundário
Reprodução
Erradicação

Pl. Doente
Sobrevivência

C. Primário

Evasão Regulação

Figura 6.2. Atuação dos princípios gerais de controle no ciclo da interação patógeno-hospedeiro. Wetzel (1925) medidas de
erradicação, exclusão, proteção, imunização e terapia. Marchionatto (1949) medidas de evasão e regulação, baseadas no ambi-
ente. Fonte: Wetzel (1925) e Marchionatto (1949).

Evasão
A
Regulação

Terapia Evasão
Figura 6.3. Atuação dos princípios de
Proteção H P Exclusão controle nos componentes do triângu-
Imunização Erradicação lo da doença (hospedeiro, patógeno e
ambiente). Fonte: Os autores.

226
O ambiente é o meio de produção e seu Diversos trabalhos têm demonstrado a in-
manejo está em constante mudança e fluência da nutrição no sistema de defesa
evolução, como por exemplo, o uso de da planta. Muitos desses componentes de
adubos verdes, prática que modifica o am- defesa da planta pertencem à categoria
biente do solo fisicamente, quimicamente dos compostos aromáticos e terpenos,
e biologicamente. Isso causa efeitos tanto em que podem ser produzidas por qua-
na predisposição da planta, quanto na eli- tro rotas metabólicas principais, a rota do
minação ou diminuição do inóculo inicial ácido malônico, rota do ácido mevalônico,
em uma área. rota metileritritol fosfato e a rota do ácido
chiquímico (Figura 6.4).
CO2

Fotossíntese

METABOLISMO PRIMÁRIO DO CARBONO

Eritrose-4-fosfato 3- Fosfoglicerato
(3-PGA)
Fosfoenolpiruvato Piruvato

Cilco do ácido
Acetil CoA
tricarboxílico

Rota do ácido Aminoácidos Rota do ácido Rota do ácido


alifáticos Rota MEP
chiquímico malônico mavalônico

Aminoácidos
aromáticos

Produtos secundários
Terpenos
nitrogenados

Compostos
fenólicos

METABOLISMO SECUNDÁRIO DO CARBONO

Figura 6.4. Visão simplificada das principais rotas de biossíntese de metabólitos secundários e suas inter-relações com o me-
tabolismo primário. Fonte:

227
A nutrição equilibrada é uma das princi- acordo com a concentração de nutrien-
pais formas de obtermos uma planta com tes, a taxa de infecção na planta diminui
mais resistência à entrada de doenças, (Figura 6.5).
como mostra Marschner (2015), que de

NUTRIÇÃO
Massa seca de Plantas

Índice de infecção
(valores relativos

INFECÇÃO

0 1 2 3
Concentração de nutrientes na solução
(valores relativos)

Figura 6.5. Podridão bacteriana do caule (Xanthomonas pelargonii) em Pelargonium, afetada pela concentração da solução
nutritiva. Fonte: Marschner (1995).

COMO OS NUTRIENTES AFETAM AS DOENÇAS EM PLANTAS?

• Quantidade de inculo
Patógeno • Sobrevivência
• Cresimento (Colonização)
• Germinação (Reprodução)

• Resistência da planta
Nutrientes Hospedeiro • Tolerância
• Escape

• Forma do nutriente
Ambiente • Equilíbrio
• Quantidade
• Reação
Figura 6.6. Mecanismos de como a nutrição influencia nas doenças. Fonte: os autores.

228
Conceitos dos efeitos da nutrição na plan- O melhor entendimento das funções dos
ta em relação à doença: distintos nutrientes para a resistência a
doenças e pragas é pré-requisito para o
• Resistência: Habilidade do hospedei- desenvolvimento de estratégias de ma-
ro em limitar a penetração, desenvol- nejo adaptativo, incluindo o manejo da
vimento ou reprodução do patógeno. rizosfera para a resistência de plantas e a
• Tolerância: Habilidade da planta em supressão das doenças ou pragas. A nutri-
manter seu próprio crescimento e pro- ção mineral balanceada pode resultar em
dutividade, suportando a doença maior resistência inespecífica ao estresse
• Escape: Falta de sincronia entre os es- biótico ou abiótico (Marschner, 1995).
tádios de desenvolvimentos suscetí-
veis da planta com o período de maior O Nitrogênio (N), em especial, exige sin-
atividade do patógeno. cronia entre a demanda da planta e a
capacidade do sistema em atender essa
Os efeitos dos nutrientes nas plantas es- demanda, cuja finalidade é preservar o
tão nas seguintes situações: sistema de defesa da planta e, respectiva-
mente, a produtividade. Podemos classifi-
a. Os nutrientes (falta ou excesso) predis- car em três tipos o modo como a doença
põem as plantas ao ataque dos pató- reage à disponibilidade do nitrogênio no
genos; sistema de produção, como ilustrado na
b. Atua diretamente no patógeno; Figura 6.7 (Marschner, 1995):
c. Induz resistência ou tolerância ao hos- • Tipo I: o fornecimento equilibrado do
pedeiro; N assegura o crescimento ideal, em
d. Os nutrientes alteram o ambiente que que é considerado ótimo para a resis-
tanto pode favorecer ou desfavorecer tência das plantas, onde a incidência
os patógenos. de doenças e pragas é muito baixa.
• Tipo II: o aumento da incidência de
doenças causadas por parasitas obri-
gatórios, associado ao excesso na apli-
cação do N.
2. Interações do nitrogênio, • Tipo III: o aumento do fornecimento
fósforo e potássio na de N irá resultar na diminuição da inci-
resistência a doenças dência de doenças causadas por para-
sitas facultativos.

Alguns nutrientes têm seus efeitos bem


conhecidos, no que remete ao auxílio na
resistência a doenças, como os macro-
nutrientes N, K, Ca, Mg e P, e os micronu-
trientes Mn, Zn, Cu, B, Cl, Fe e Si. Entre es-
tes destacam-se o N, K, Ca, Mn, Zn e Si.

229
Tipo I. Algumas explicações sobre os diferentes
comportamentos dos parasitas obrigató-
Crescimento/Incidência

Cresc. rios e facultativos com o fornecimento do


planta
N são:
(Otim.)
da doença

• Aumento de parasitas obrigatórios


(Exces.)
com excesso de N:
Incidência • alta densidade de biomassa, afetan-
(Def.) da doença do o microclima;
• maior concentração de compostos
Fornecimento de N nitrogenados solúveis na parte aé-
rea;
Tipo II. • aumento de efluxo de compostos
Incidência da doença de baixo peso molecular no apo-
(Parasitas obrigatórios)
plasto;
Crescimento/Incidência

• maior proporção de tecido foliar jo-


Cresc.
vem;
da doença

planta
• menor teor de lignina, fenólicos e Si
em folhas jovens;
• paredes celulares mais finas e teci-
dos menos estabilizadores;
• maiores problemas em cereais;
Fornecimento de N
• atraso da senescência.
Tipo III. • Inibição de parasitas facultativos com
excesso de N:
Cresc. • atraso da senescência;
Crescimento/Incidência

planta • aumento do conteúdo de toxinas/


fitoalexinas.
da doença

Incidência da doença Já o nutriente potássio, afeta os consti-


(Parasitas facultativos) tuintes orgânicos da planta e, deste modo,
a resistência aos fitoparasitas. O aumento
de K pode diminuir os efeitos negativos
Fornecimento de N
do alto fornecimento de N na resistência
ao estresse. Veja alguns exemplos na Ta-
Figura 6.7. Tipos de efeitos do nitrogênio na incidência de
doenças. Fonte: Adaptado de Marschner (1995). bela 6.1.

230
Tabela 6.1. Efeito do nitrogênio (N) e potássio (K) na incidência de parasitas
obrigatórios e facultativos. Legenda: + → ++++ aumento da suscetibilidade à
doença.

Nível de N Nível de K
Patógeno/doença
Baixo Alto Baixo Alto

Parasitas obrigatórios

Puccinia sp + +++ ++++ +

Erysiphe graminis + +++ ++++ +

Parasitas facultativos

Alternaria sp +++ + ++++ +

Fusarium oxisporum +++ + ++++ +

Xanthomonas sp +++ + ++++ +

Fonte: Kiraly (1976); Perrenoud (1977), adaptado de Marschner (1995).

Em milho, a adubação desequilibrada de se. Turner & Whitney (1907) identificaram


nitrogênio e de potássio pode levar ao au- que o aumento das doses de potássio
mento da ocorrência da podridão do col- aplicadas no solo permitiu a redução da
mo. Fancelli (2000) identificou que uma ocorrência de antracnose, Colletotrichum
boa relação de nitrogênio e potássio na dematium, sendo que a adição da adu-
dose de N e K2O em 1,5, reduziu considera- bação potássica com fungicida chegou
velmente a ocorrência da podridão de col- a mais de 60% no controle da doença.
mo. Neuls (2012), avaliando doses de até A adição de potássio também teve uma
160 kg.ha-1 de K2O em solos com 3 mmol ação importante sobre phomopsis (Pho-
de K2O e 4,8 mmol, identificou a redução mopsis sp). Eyre (2016), avaliando o efeito
da ocorrência da podridão de colmo com da adubação na ocorrência de doenças de
o aumento da dose de K2O quando o solo solo em dois lugares diferentes, identificou
apresentava os teores de 3 mmol de K2O, que o efeito do potássio em um dos locais
e esse efeito está associado ao aumento avaliados reduziu a ocorrência de murcha
do composto fenólico, como ácido p-cu- da planta, provocada por doenças de solo.
márico. Em grama Cynodon dactylon, a aplicação
de potássio reduziu a ocorrência de Hel-
No que diz respeito à soja, o potássio possui minthosporium cynodontis em função
papel importante no manejo da antracno- da dose de potássio (Figuras 6.8 e 6.9).

231
6 60

Taxa da doença
Severity
5

Produção de MS (t ha-1)
50
4
40
3

2 30

1 20
0
0 2 4 6 8 10 12
Concentração de potássio (mg [g dry wt.]-1)

Figura 6.8. Severidade da doença, queima das folhas (Helminthosporium cynodontis) e produção de matéria seca de grama
(Cynodon dactylon) versus a concentração de potássio na folha. Fonte: adaptado de Marschner (1995).
Crescimento de brotos
e conteúdos em peso

Crescimento
Potássio
seco de brotos

Silício

Cálcio, Magnesium

Açúcares, aminiácidos

Fornecimento de potássio
Figura 6.9. Esquema indicativo da resposta de crescimento e principais mudanças na composição das plantas com o aumento
da oferta de potássio. Fonte: adaptado de Marschner (1995).

A acumulação de assimilados, induzida reforçado é necessário para suprimir o va-


pela deficiência de Mg nas folhas, pode fa- zamento da membrana e, assim, evitar
vorecer fitopatógenos através da liberação perdas no apoplasto para fitopatógenos
aumentada de açúcares no apoplasto fo- (Figura 6.10).
liar como substrato (Marschner, 1995). Já o
cálcio possui um papel importante na es-
tabilização das membranas plasmáticas e
paredes celulares (lamela média e pecta-
to de Ca). Particularmente, sob condições
de estresse abiótico, o suprimento de Ca

232
Esporo fúngico

Cutícula
[SiO2]n Parede Celular
Fenóis (celulose, lignina)
Cytoplasm 1 3 Cytoplasm
Ca
2
Vacuole Vacuole
Lamela média
(Pectato de cálcio)
Ca Ca
Ca Ca Ca Ca

1 Difusão de assimilados de baixo peso molecular (açúcares, aminoácidos)


2 Permeabilidade da membrana plasmática
3 Interação entre fungo/células da epiderme (formação de toxinas, fenóis)

Figura 6.10. Representação esquemática da penetração de uma hifa fúngica na superfície da folha na camada celular epidér-
mica (apoplasto) e alguns fatores que afetam a taxa de penetração e crescimento da hifa e estão intimamente relacionados à
nutrição mineral. Fonte: adaptado de Marschner (1995).

A alta concentração de Ca na folha é pré- Tabela 6.2. Relação entre o conteú-


-requisito para supressão da atividade da do de cálcio em feijão e a atividade
enzima extracelular poligalacturonase, de enzimas pectolíticas no tecido da
que dissolve a lamela média na pré-inva- planta, como também na severidade
são do parasita (Tabela 6.2) (Marschner, da doença podridão mole causada
1995). por Pectobacterium carotovora.

Atividade pectolítica (unidade relativa)b


Concentração de cálcio Severidade
(mg g-1 MS) Poligaracturonase Pectato transeliminase dos
sintomasc
- + - +

6.8 0 62 0 7.2 4

16 0 42 0 4.5 4

34 0 21 0 0 0

a
From Platero and Tejerina (1976).
b
+ incolução da bactéria; - sem inoculação.
c
4 = completa morte das plantas em 6 dias; 0 = sem sintomas.
Fonte: Marschner (1995).

233
O nutriente fósforo não possui interações ra pachyrhizi) entre duas cultivares que
específicas com doenças e pragas relata- apresentaram expressão diferenciada da
das. Contudo, a deficiência de P desen- resistência parcial, realizando a inocula-
cadeia um alto efluxo de carboidratos ção de P. pachyrhizi em dois estádios fe-
solúveis no apoplasto, aumentando a sus- nológicos, V2 e R5. Os resultados mostra-
cetibilidade a doenças e pragas (Mars- ram influência significativa da nutrição da
chner, 1995). planta, reduzindo tanto a severidade final
como a taxa de progresso da ferrugem,
Balardin et al. (2006) avaliaram a influên- com o aumento nos níveis de P e K, em
cia do nível de fósforo e potássio na seve- ambas as cultivares e estádios fenológicos
ridade da ferrugem da soja (Phakopso- (Figuras 6.11 e 6.12).

40,00

Severidade de Phakopsora
35,00
30,00

pachyrhizi (%)
25,00 Fósforo
20,00 Potássio
15,00 AL 83
10,00
Embrapa 48
5,00
0,00
0/0 42,5/35,0 85,0/70,0 170,0/140,0
Fósforo/Potássio kg.ha-1 adicionados ao substrato

Figura 6.11. Influência dos diferentes níveis de adubação [P2O5 (8,4 mg.dm-3) e K2O (65 mg .m-3)] sobre a expressão de resistên-
cia parcial das cultivares de soja Embrapa 48 e Al 83 no estádio fenológico V2. Fonte: Balardin et al. (2006).

40,00
Severidade de Phakopsora

35,00
30,00
pachyrhizi (%)

25,00 Fósforo
20,00 Potássio
15,00 AL 83
10,00
Embrapa 48
5,00
0,00
0/0 42,5/35,0 85,0/70,0 170,0/140,0
Fósforo/Potássio kg.ha-1 adicionados ao substrato

Figura 6.12. Influência dos diferentes níveis de adubação [P2O5 (8,4 mg.dm-3) e K2O (65 mg.dm-3)] sobre a expressão de resistên-
cia parcial das cultivares de soja Embrapa 48 e Al 83 no estádio fenológico R5. Fonte: Balardin et al. (2006).

234
O aumento de fósforo através da aplica- a qual coordena a síntese de ácido cinâ-
ção do fertilizante, melhora o crescimen- mico e vários outros compostos relevantes
to e diminui a incidência e severidade de na síntese de lignina, um dos constituintes
doenças. Uma adubação acidificante de importantes na defesa vegetal. Os tecidos
P diminui o pH e aumenta a absorção de vegetais procuram redistribuir o manga-
manganês (Mn) e silício (Si), diminuindo a nês e o silício nos pontos de infecção pelas
incidência de doenças (Marschner, 1995). hifas patogênicas, para reduzir a infecção
de doenças (Leusch & Buchenauer, 1988;
Um estado nutricional adequado pode Marschner, 1995) (Figura 6.13).
melhorar a resistência ou a tolerância às
doenças e pragas. Por meio de um mane- Si

Relative concentration
jo adaptado de culturas e fertilização, in-

in epidermis cells
Mn
cluindo o manejo da rizosfera, as plantas
podem ser apoiadas em sua resistência a P and other
nutrients
doenças. Independente das abordagens
aplicadas ao controle de doenças, a nutri-
ção mineral/status nutricional da planta,
afeta substancialmente a resistência e a
tolerância das plantas a patógenos, consi- Epidermis
derando todos os tipos de doenças em vá- Cell with attempted hyphal
rios sistemas de manejo. Evidências cres- penetration
Figura 6.13. Concentração relativa de Mn e Si no local de tenta-
centes mostram que a deficiência mineral tiva de penetração da hifa do fitopatógeno. Fonte: Adaptado
ou o desbalanço de nutrientes minerais de Marschner (1995).

(excesso de N, baixo fornecimento de K e


P) aumentam a susceptibilidade das cul- Meios que auxiliam na redistribuição do
turas ao ataque dos patógenos. manganês, auxiliam também na redução
da infecção por doenças e, nesse sentido,
vale destacar o efeito do silício. A Figura
3. Interação do silício e 6.14 mostra a auto radiografia da distribui-
manganês ção de 54Mn no tecido foliar, sendo melhor
distribuído em plantas bem nutridas com
O silício tem papel amplo na defesa das silício.
plantas. O acúmulo de silício e compos-
tos fenólicos na parte aérea de plantas
de trigo, após a adubação silicatada, foi
verificado por Mendonça et al. (2013). Foi
verificado também que os teores adequa-
dos de manganês nos tecidos vegetais são
considerados tóxicos para os patógenos
(Malavolta, 2006). O manganês é cofator
enzimático da fenilalanina amônia-liase,

235
-Si +Si

Figura 6.14. Efeito da aplicação de silício na distribuição de 54Mn. Fonte: Horst & Marschner (1978).

4. Permeabilidade da pacidade dos microrganismos rizosféricos


membrana celular e a de degradá-los, dispõe substrato para mi-
nutrição crorganismos patogênicos saprofíticos se
proliferarem, o que aumenta a probabili-
“Mudança na permeabilidade da dade de infeccionar as raízes. Os esporos
membrana celular parece ser uma germinam apenas se o ambiente em tor-
característica universal de plantas no deles reunir condições favoráveis à sua
doentes” (Wheeler, 1978). proliferação. Diversos trabalhos relatam a
influência da nutrição na permeabilida-
Para alguns fitopatologistas, a origem da de da membrana celular sendo, princi-
infecção das doenças nos tecidos vegetais palmente, o fósforo, cálcio, zinco e boro.
ocorre com a alteração da permeabilida- Como o Ca, Zn e B têm redistribuição res-
de da membrana celular (Thatcher, 1939; trita no floema, é importante se ater a es-
1942; 1943). Para os esporos adquirirem a ses três elementos no solo, a fim de consti-
capacidade de se difundirem pelo am- tuir raízes bem nutridas desses elementos
biente, tiveram que reduzir seu peso pela (Figura 6.15).
perda de sua reserva de carboidratos. Para
o esporo germinar e emitir seus apressó-
rios é necessária uma fonte de carboidra-
to, e quem fornece é o próprio tecido ve-
getal, quando ocorre a desregularização
da permeabilidade da membrana celular,
originada por toxinas liberadas pelo pa-
tógeno, ou pela deficiência nutricional. A
extravasão de carboidratos para o meio
(solo) numa quantidade maior que a ca-

236
Figura 6.15. Germinação de esporos patogênicos decorrente da deficiência radicular de Ca, B e Zn e toxidez de alumínio.
Fonte: Os Autores.

A rizosfera é a região onde o solo e as raí- gases como o oxigênio (O2) e o dióxido de
zes das plantas entram em contato. É um carbono (CO2), e a composição da maté-
local onde ocorre a interação física, quí- ria orgânica (Marschner, 1995). Em média,
mica e biológica entre as raízes da planta de 30 a 60% do carbono fotoassimilado
e a microbiota do solo. As características é alocado para as raízes e, deste carbono,
do solo rizosférico são bem diferentes da- cerca de 40 a 70% pode vir a ser liberado
quelas do solo não rizosférico. Entre elas, na rizosfera, processo denominado rizo-
destacam-se: o pH da solução, a compo- deposição (Lynch; Whipps, 1990).
sição iônica inorgânica, a concentração de

237
A densidade microbiana e a biomassa mi- tural (estabilidade) da membrana celular.
crobiana são maiores na rizosfera porque Vários tipos de estresse como aqueles de-
as raízes liberam compostos orgânicos correntes do déficit hídrico, desequilíbrio
diversos (Willadino et al., 2005). O cres- nutricional e anaerobiose, incrementam
cimento e desenvolvimento de micror- o fluxo de compostos orgânicos liberados
ganismos na rizosfera é um processo di- pelas raízes (Lynch; Wipps, 1990). Qual-
nâmico. Muitos dos microrganismos que quer dano na integridade estrutural da
afetam o sistema radicular, quer sejam célula induz a permeabilidade da mem-
úteis (simbiontes fixadores de nitrogênio brana e liberação extensiva dos exsudatos.
ou micorrizas) ou patogênicos, infectan-
tes ou não, possuem um período crítico Um fornecimento adequado de zinco
na rizosfera, que governa sua persistência é importante para evitar o aumento da
na planta hospedeira. Além disso, um mi-
permeabilidade da membrana celular, e
crorganismo pode afetar profundamente
também a perda de açúcares e amino-
o crescimento de outros microrganismos
ácidos. Na tabela 6.3 é demonstrado o
na rizosfera, exercendo, por exemplo, con-
efeito da redução do zinco sobre a maior
trole biológico de fitopatógenos (Willadi-
proporção de ácidos graxos saturados,
no et al., 2005).
o que provoca a maior permeabilidade
da membrana celular e a extravasão de
Um dos fatores importantes na infecção
dos tecidos das plantas é a disponibilida- aminoácidos, açúcares e potássio, assim
de de exsudatos liberados das células para como a queda da concentração de zinco
o apoplasto das raízes e folhas. Exsudatos nas raízes de 258 para 16 µg.g-1 (Cakmak;
tais como carboidratos e aminoácidos, Marschner, 1988).
são fatores decisivos na atração e rápida
colonização dos patógenos nos tecidos Tabela 6.3. Extravasão de compostos
das plantas (Marschner, 1995). de baixos pesos moleculares e com-
posição da membrana celular, com
O efluxo de exsudatos das células é alta- e sem o fornecimento de zinco, e a
mente dependente da integridade estru- reposição após 12 h.

+Zn -Zn -Zn +Zn


Concentração de zinco nas raízes (µg.g-1) 258 16 121
Exsudato radicular (g-1.ms.6h-1)
Aminoácidos (ug) 48 165 94
Açúcares (ug) 375 751 652
Fenóis (ug) 117 161 130
K (mg) 1,7 3,7 2,3
Composição dos lipídeos
Fosfolipídeos (mg.g-1) 2,2 1,5 Nd
Relação de Ácido graxo saturado / insaturado 0,8 0,9 Nd

Fonte: Cakmak; Marschner (1988).

238
Outro elemento importante para a per- permeabilidade da membrana celular
meabilidade da membrana celular é o com extravasamento de componentes
boro. O boro além de ter papel importan- celulares, como o potássio (Figura 6.16). Da
te no funcionamento da bomba de pró- mesma forma que o zinco, o boro possui,
tons, se mistura com grupos cis-diol da em maior parte das espécies vegetais, a
membrana plasmática, como glicopro- dificuldade de retranslocar pelo floema,
teínas e glicolipídios, contribuindo para o que exige, em casos de baixos teores, a
a integridade da membrana celular. A necessidade de aplicar o boro no solo.
má nutrição de boro resulta na perda da

25
-B
K+ efflux (µmol g-1 fw)

20

15 -B+10-5B

-B+10-4B
10
-B+10-3Ge
5
-B+10-3B
+B
0
0 30 60 90 120 Figura 6.16. Extravasão de potás-
sio devido a má nutrição de boro.
Time (min) Fonte:

A falta de oxigênio no solo e temperatu- duziu a perda de carboidrato de 57 para


ras de solo muito baixas, provocam o ex- 7 µg. plântula-1.min-1 e de 89 para 7, em
travasamento de carboidratos dos tecidos condição de baixas quantidades de oxigê-
vegetais para o meio externo, sendo que nio em algodão (Christiansen et al., 1970).
o cálcio atenua essa perda em ambas as
situações. Na Tabela 6.4 é apresentada a Tabela 6.4. Perda de carboidratos pe-
importância do cálcio em reduzir o ex- las raízes de algodão em diferentes
travasamento de carboidratos. Em baixas temperaturas, suprimentos de O2 e
temperaturas, a presença de cálcio re- concentrações de Ca.

Aeration Treatment Carbohydrate loss


Solution
temperature (ºC) (µg seedling-1 min-1)

02 31 Distilled water 18
02 5 Distilled water 57
02 5 10-5 M Ca2+ 7
N2 31 Distilled water 89
N2 31 10-5 M Ca2+ 7

Fonte: adaptado de Christiansen et al. (1970).

239
O alumínio tóxico tem efeito pernicioso devido à presença de alumínio em feijão
na permeabilidade da membrana celular (Tabela 6.5). Além dos efeitos perniciosos
(Zhao et al., 1987). O alumínio altera a su- do alumínio no crescimento radicular, há
perfície de carga dos lipossomos e afeta seu efeito sobre a sanidade das raízes e,
a fluidez das membranas celulares (Ake- caso haja absorção e alcance dos tecidos
son et al., 1989), ligando-se aos fosfolipí- da parte aérea, ocorre desregulação da
deos nas frações microssomais das raízes membrana celular, tornando maior a sus-
das membrana celulares de feijão, por cetibilidade a doenças.
exemplo. Outro mecanismo que o alu-
mínio influencia na permeabilidade da Tabela 6.5. Mudança na atividade da
membrana celular é na sua despolariza- ATPase na membrana celular em
ção (Zheng & Yang, 2005). Matsumoto et plantas tratadas com 1 mol.m-3 de
al. (1991) identificaram a queda de 55% na AlC3 versus grupo controle (sem tra-
bomba de prótons da membrana celular tamento).

ATPase atividade (mol.m-6 Pi.h-1.mg.proteína-1)


Dias do tratamento
Controle Al aplicado

0 90 90
1 91 81
2 97 62
5 76 42
Fonte: Matsumoto et al. (1992).

5. Nutrição na síntese de lidade desses nutrientes e sua influência


parede celular e compostos no patossistema. A seguir, falaremos dos
aromáticos principais quadros técnicos a que se deve
dar atenção:
A parede celular é parte importante do sis-
tema de defesa da planta. Cerca de 30% i) Alcalinidade e micronutriente metálico
da parede celular é constituída de lignina - uma vez que a correção da acidez é um
e essa é sintetizada na rota do ácido chi- pilar importante para a correção de alumí-
químico. A síntese de lignina nas dicotile- nio e melhoria da eficiência de adubação
dôneas virá dos terpenos, álcool sinapil e de fósforo, deve-se dar atenção especial às
coniferil, sendo que o Mn, Co, Cu, B e Fe diferentes estratégias de correção dos mi-
participam da síntese desses elementos cronutrientes metálicos.
na rota do ácido chiquímico (Figura 6.17).
Os avanços do entendimento da nutrição ii) Glifosato e suas relações - uma das con-
na rota do ácido chiquímico foram bas- sequências do uso de glifosato é o aumen-
tante estudados, devido ao efeito de algu- to da oxidação do solo e seu forte efeito
mas práticas de manejo sobre a disponibi- complexante sobre nutrientes. Por esse

240
motivo, a sua aplicação deve ser acompa- forma, a presença de boro no horizonte
nhada em manejos para os micrometáli- superficial se torna relevante para auxiliar
cos, em especial o cobalto, devido à sua e formar raízes protegidas contra as doen-
quantidade e importância para os proces- ças dessa camada do solo.
sos de fixação de nitrogênio, como tam-
bém à mitigação da síntese desequilibra- iv) Silício - possui um papel amplo no sis-
da de etileno. tema de defesa da planta e em estresses
abióticos. Com as atuais ferramentas da
iii) Boro - elemento que possui alta mobi- agricultura, temos várias opções de ma-
lidade no solo e possui papel importante nejo, e deve-se dar atenção especial para
no sistema de defesa das plantas. Dessa esse elemento em solos arenosos.

Glicose -1 -P G-fosfogliconato
Rota
Glicólise Fosfato
Pentose
Fosfofenol Piruvato Entrose -4 -fosfato

Mn Co

Rota do
ácido chiquímico

ácido corismático

ácido prefénico
ácido
antranílico fenilalanina tirosina

triptofano Mn
glicosídeos
Zn ácido cinâmico cianogênicos

IAA
ácido-p-cumárico
Cu

ácido Cu
caféico Quinonas

ácido
B? ferúlico B?

ácido ácido ácido


p-cumaril coniferil sinapil

monocotiledôneas gimnospermas dicotiledôneas

Mn Fe
Lignina
+H202

Parede celular Si

Figura 6.17. Rota do ácido chiquímico na síntese de compostos orgânicos relacionados com a defesa vegetal. Fonte: modifica-
da de Graham; Weber (1991).

241
O boro possui relação importante com a tema de defesa das doenças de plantas
parede celular. Tecidos vegetais deficien- (Tabela 6.6). A presença do inóculo Ma-
tes em boro apresentam deformação crophomina phaseolina leva tanto em
na formação da parede celular e não se materiais suscetíveis quanto em materiais
expandem normalmente (Brown et al., moderadamente resistentes ao aumento
2002). Uma grande proporção do teor total da infecção na concentração de boro na
de boro na planta está na parede celular, parede celular (Benoulli et al., 2012).
na forma de pectinas (Hu & Brown, 1994).
O boro atua de modo indireto na síntese Tabela 6.6. Teores de boro na parede
da parede celular, por meio da incorpora- celular, na presença e ausência de
ção de proteínas, pectinas e precursores Macrophomina phaseolina, em plan-
da parede celular (Brow et al., 2002). tas suscetíveis e moderadamente
suscetíveis a doenças, avaliado em
A importância do boro na constituição da três anos consecutivos.
parede celular possui influência no sis-

Boro parede celular (%)


Macrophomina
Genótipo
phaseolina
2004 (irr.) 2005 (irr.) 2004 (seq.)

suscetível (Pharaoh) Ausente 56 (b) 68 (a) 85 (a)

suscetível (Egyptian) Ausente 62 (a) 60 (b) 80 (b)

moderadamente resis. (DT97-4290) Ausente 52 (c) 57 (c) 68 (c)

suscetível (Pharaoh) Presente 86 (b) 79 (b) 91 (a)

suscetível (Egyptian) Presente 92 (a) 88 (a) 86 (b)

moderadamente resis. (DT97-4290) Presente 60 (c) 56 (c) 78 (c)

Fonte: Benoulli et al. (2012).

O manganês participa de várias etapas na rea de 18,9 para 4,2 mg kg-1, nos tecidos
síntese de lignina, e a redução do acesso vegetais, e nas raízes de 10,3 para 2,2 mg
ao manganês leva ao decréscimo na sín- kg-1, por meio de diferentes concentrações
tese. O manganês é cofator da fenilalani- de Mn em solução de hoagland, levou ao
na amônia-liase, que é precursor do ácido decréscimo de lignina de 15,2% para 3,2%
cinâmico e de peroxidase, os quais parti- nas raízes e de 6,1% para 4% nos tecidos,
cipam da polimerização de cinamil em ou seja, o decréscimo de concentração de
lignina (Brown et al., 1984). A redução na lignina é mais pronunciado nas raízes (Ta-
concentração de manganês na parte aé- bela 6.7).

242
Tabela 6.7. Influência do manganês na concentração de lignina na parte aé-
rea e nas raízes de trigo.

Concentração dos teores de Manganês (mg . kg-1)

Parte aérea 4,2 7,8 12,1 18,9

Raízes 2,2 5,1 9,2 10,3

Concentração de lignina (%)


Parte aérea 4,0 5,8 6,0 6,1

raízes 3,2 12,8 15,0 15,2

Fonte: Brown et al. (1984).

O cobre tem forte efeito na formação de silício reduziu a concentração de lignina


compostos químicos da parede celular, (Jones et al., 1978). O silício atua como uma
principalmente a lignina (Robson, 1981). ponte na organização estrutural de poliu-
Sob moderada deficiência de cobre, há reídeos (Jones, 1978). O mesmo interage
um decréscimo rápido da lignificação, por com a pectina e polifenóis da parede celu-
meio da redução de duas enzimas: poli- lar, e por esse motivo, auxilia na elasticida-
fenoloxidase e diamino oxidase. Devido a de da parede celular (Emadian & Newton,
essas relações, a redução de lignificação 1989), apresentando afinidade com o-di-
é um indicador útil de deficiência de co- fenóis, como ácido cafeico e ésteres, for-
bre (Robson et al., 1981; Rahimi & Bussler, mando mono, di e poli ligações de silício
1974; Pissarek, 1974). O efeito do cobre na (Weiss Herzog, 1978). A função fisiológica
formação da parede celular é ainda mais do silício é análoga à lignina, no sentido da
pronunciado nos vasos condutores (Rob- consolidação da estrutura da parede celu-
son et al., 1981). lar. No entanto, o custo energético para a
inserção do silício é mais eficiente que o
Já o silício tem papel importante na cons- da lignina. Na lignina, o custo energético é
tituição, rigidez e elasticidade da parede de 20 g de glucose para 1 g de lignina, en-
celular durante o crescimento. Em lavou- quanto que no silício é de 10 g de glucose
ras de trigo, a omissão do fornecimento de para cada 1 g de silício (Raven, 1983).

2- 4-

2x Si Si Si

Figura 6.18.

243
6. Processo de indução de fitoalexinas, e ainda aumente a resistência
resistência e fluxo de íons e a patógenos (Bostock, 1999).
sinalização de Ca2+
Os fluxos de íons induzidos por elicitores
Inicialmente, os danos provocados por são respostas imediatas das células vege-
agentes bióticos ou abióticos são reco- tais, ocorrendo em cinco minutos após o
nhecidos pelas plantas, que acionam sis- tratamento (Zhao et al., 2005). Embora
temas de sinalização e amplificação de ainda não seja bem entendido como um
sinais. O reconhecimento do patógeno elicitor estimula o transporte de íons nas
pela planta e a subsequente expressão células vegetais, fluxos de íons como troca
de resistência ou suscetibilidade ocorrem de K+ / H+, efluxos de Cl- e influxo de Ca2+,
somente quando os genes de resistência são geralmente observados como as pri-
e virulência estão combinados especifica- meiras respostas das células vegetais a pa-
mente nos organismos em interação (Dias tógenos ou elicitores (Trewavas & Malhó,
& Rangel, 2007). Este tipo de interação é 1998; White & Broadley, 2003).
denominado “gene-a-gene”, onde para
cada gene que confere resistência no hos- Nesses fluxos iônicos, o influxo de Ca2+ é
pedeiro, existe um gene correspondente considerado um dos eventos mais signifi-
no patógeno que confere sua virulência cativos, uma vez que o Ca2+ é um segundo
(Bent, 1996). Esta etapa inicial de reconhe- mensageiro chave para muitas mudanças
cimento dos danos é a menos conhecida fisiológicas e processos celulares diversos
em termos de literatura. (Trewavas & Malhó, 1998).

O produto dessa interação ativa uma O fluxo de Ca2+, induzido por elicitor, é im-
complexa cascata de transdução de sinais, portante para o acúmulo de metabólitos
a qual é mobilizada no processo de reco- secundários na planta (Smith, 1994). Por-
nhecimento entre patógeno e hospedeiro tanto, o pico de Ca2+, induzido por elicitor,
(Leite et al., 1997). Os sistemas sinalizado- é um dos primeiros eventos que atuam
res conhecidos até o momento ativam ge- como um mensageiro mestre para quase
nes de resistência, promovendo reações todas as reações de resposta (Zhao et al.,
genéricas ou específicas nas plantas. 2005) (Figura 6.19).

Para que um composto seja considerado


um sinalizador, é necessário que este seja
sintetizado pela planta, aumente signifi-
cativamente após o ataque de patógeno
ou após o tratamento com o indutor, seja
movido pelo floema da planta, induza a
síntese de substâncias de defesa, como as
proteínas relacionadas com patogênese,

244
Elicitores ou determinantes avirulentos
K+
receptor membrana plasmática receptor receptor
PC PC
PLA PLD PLC
Proteína-G Ca2+ Ca2+ Proteína-G Ca2+
Ca2+
ou efetor ou efetor

Ácido graxo + Lyso PC Colina IP3 PIP2


+ PAP +
Liberação
PA DAG de Ca2+
armazenado
DAGK
Bomba H+ no interior

Acidificação Proteínas Kinases


Oxilipinas Proteínas Kinases Ca2+ Picos
citoplasma Canais de íons ROS

Expressão do gene de defesa

Biossíntese de metabólicos secundários de defesa


Figura 6.19. Mensageiros lipídicos derivados da hidrólise da membrana plasmática. A Fosfolipase C (PLC) hidrolisa o Fosfatidili-
nositol 4,5-difosfato (PIP2) em Diacilglicerol (DAG) e inositol 1,4,5-trifosfato (IP3), que pode ativar proteínas kinases e mobilizar
Ca2+ a partir de reservas intracelulares de Ca. Fonte: Adaptado de Zhao et al. (2005).

7. Fitoalexinas e seu papel refletem-se na inibição da germinação


na proteção das plantas e elongação do tubo germinativo, como
também na redução ou inibição do cresci-
As fitoalexinas são metabólitos secundá- mento micelial (Lo et al., 1996).
rios de baixo peso molecular, antimicrobia-
nos, produzidos pelas plantas em resposta Essas substâncias, sintetizadas nas células
ao estresse físico, químico ou biológico, sadias adjacentes às células doentes, se
sendo capazes de conferir resistência a acumulam tanto em tecidos necróticos
doenças. Geralmente, o modo de ação das resistentes, como suscetíveis. A resistência
fitoalexinas inclui granulação citoplasmá- ocorre quando uma ou mais fitoalexinas
tica, desorganização dos conteúdos celu- alcançam concentração suficiente para
lares, ruptura da membrana plasmática e inibir o desenvolvimento do patógeno
inibição de enzimas fúngicas. Esses efeitos (Agrios, 1997).

245
As fitoalexinas podem ser encontradas Na soja, tem sido relatada a ocorrência
em baixas concentrações nos tecidos an- da indução de gliceolinas, as quais apre-
tes de uma infecção. Depois que ocorre sentaram atividade de fitoalexinas nas
uma infecção ou elicitação, são sintetiza- folhas, após o ataque de lagartas desfo-
das rapidamente, cerca de horas depois lhadoras (Liu et al., 1992) e de patógenos
do ataque do patógeno, sendo tóxicas como Phytophtora sojae (Abbasi et al.,
para um amplo espectro de fungos e bac- 2001) e Phakopsora pachyrhizi (Lygin et
térias patogênicas (Taiz & Zeiger, 1998). Es- al., 2009).
tas constituem um grupo quimicamente
heterogêneo de várias classes de produ- Em pesquisa realizada com diversos genó-
tos naturais. A maioria das fitoalexinas de- tipos de soja, observou-se que os extratos
riva da rota metabólica dos fenilpropanoi- foliares da PI 227687 (resistente) contendo
des (García-mateos & Leal, 2003). Vários os flavonóides na fração mais polar, rutina
grupos de compostos identificados estão e genistina, adicionados à dieta de Helio-
relacionados com a resistência a doenças this virescens e Trichoplusia ni, afetaram
como flavonóides, isoflavonoides, couma- negativamente a fisiologia e o comporta-
rinas, estilbenos, lignina e outros fenóis. A mento destes insetos (Hoffmann-Campo,
sequência das reações de síntese das en- 1995; Hoffmann-Campo et al., 2001). A pre-
zimas envolvidas são identificadas como sença de rutina na dieta também afetou
a fenilalanina amônio liase (PAL), cinama- negativamente a biologia de Anticarsia
to-4-hidroliase e 4-cumarato CoA ligase gemmatalis, sem causar efeito adverso
(García-mateos & Leal, 2003). ao predador Podisus nigrispinus ou inter-
ferir nos níveis de infecção do baculovírus
A maioria das fitoalexinas tem sido identi- da lagarta da soja (Hoffmann-Campo et
ficada nas famílias das leguminosas e sola- al., 2006).
náceas, como a acumulação de pisantina
em ervilha, faseolina em feijão, gliceolina Lygin et al. (2009) demonstraram que as
em soja, rhistina em batata, falcarinol em fitoalexinas gliceolinas acumularam-se
tomate, resveratrol em videira, amendoim em níveis acentuados em folhas infecta-
e outros, quando há ocorrência do ata- das por ferrugem asiática da soja, sendo
que de patógenos (García-mateos & Leal, substancialmente mais altas em genóti-
2003; Flores et al., 2005). Contudo, vários pos com reação de resistência red-brow
fatores interferem na produção e concen- (RB) do que os genótipos com reação típi-
tração de metabólitos secundários nas ca de suscetibilidade (TAN). Em adicional,
plantas, como a sazonalidade, ritmo circa- observaram ainda a inibição da germina-
diano, estágio de desenvolvimento, tem- ção do esporo de Phakopsora pachyrhizi
peratura, disponibilidade hídrica, radiação pelas fitoalexinas gliceolinas, formonoce-
ultravioleta, nutrientes (macro e micronu- tinas, quercetinas e kaempferol, porém
trientes), altitude, poluição atmosférica, não houve correlação da concentração
injúrias mecânicas, herbivoria e ataque de das fitoalexinas nas folhas de soja e a re-
patógenos (Gobbo-Neto & Lopes, 2007). sistência à ferrugem.

246
A síntese de lignina também aumentou 8. Manejo de boro e enxofre
todos os genótipos inoculados, tanto os em doenças radiculares
resistentes quanto os suscetíveis, porém,
notou-se maior lignificação da parede O horizonte A do solo possui uma gran-
celular nos genótipos com reação RB, de riqueza de nutrientes e, a restrição de
quando comparados com os genótipos acesso a nutrientes pela planta, devido às
com reação TAN, indicando possível papel doenças de solo, penaliza parte importan-
de proteção da lignina na infecção e de- te da produtividade das plantas. O boro
senvolvimento da ferrugem (Lygin et al., e o enxofre, como detalhado nos capítu-
2009). los anteriores, possuem papel importante
no sistema de defesa contra doenças, de
Recentemente foi identificada em cacau modo que raízes bem nutridas desses ele-
a primeira fitoalexina inorgânica, que é o mentos sinalizam raízes mais tolerantes a
enxofre elementar como S8, por meio de doenças de solo. Justamente onde se lo-
quebras sucessivas do S2, como fitoalexina calizam as doenças de solo é onde está
contra Verticilium dahliae (Cooper, 1996). presente uma reserva importante de nu-
Novo (2007) identificou S elementar trientes por esse motivo é importante raí-
em pimenteiros resistentes a Vercillium zes bem nutridas de boro e enxofre.
dahliae, em quantidades de 7,3 µg.g-1 a
14,1 µg.g-1. Em tomate, uma boa nutrição A necessidade de fazer a adubação de
de enxofre elevou a síntese de glutationa manutenção para preservar bons teores
e de açúcares, em resposta à colonização de boro e enxofre na camada superficial
do fungo, melhorando a tolerância ao ata- do solo se deve também à redistribuição
que da doença (Bollig et al., 2013). restrita de nutrientes no floema das plan-
tas. Ou seja, é muito baixa a redistribuição
desses dois elementos das folhas para as
S S raízes secundárias e terciárias da cama-
da superficial do solo, e o mesmo se pode
S S considerar das raízes em profundidade
para as raízes secundárias e terciárias.

Se considerarmos a natureza desses dois


S S elementos no sistema de produção, tal
consideração nos leva a reforçar a impor-
S S tância da manutenção desses dois nu-
trientes. O horizonte superficial do solo é
Figura 6.20. S elementar. Fonte: Cooper (1996).
onde se localizam os maiores teores de
fósforo, de maneira que o aumento dos te-
ores deste elemento conduz à ocupação
dos sítios do solo que possuem afinidade

247
com cargas negativas, e isso leva a uma re- • Decresce o conteúdo de sílica nos
dução nos teores de enxofre no horizonte tecidos
superficial. Assim, sempre que os teores • Reduz o teor de lignina nos tecidos
de fósforo aumentam no solo, ocorrem • Retarda a senescência
menores teores de enxofre. Solos que re-
ceberam gessagem possuem uma subsu- 2. Cálcio
perfície rica em enxofre, e esse enxofre de • Integridade da membrana celular
subsuperfície não nutre as raízes secundá- • Integridade da parede celular
rias e terciárias presentes no horizonte A, • Resistência à degradação por enzi-
devido à sua restrição. Por esse motivo, a mas pectolíticas
manutenção anual de enxofre, quando a • Inibição das atividades das enzimas
fertilidade do fósforo está construída com pectolíticas da lamela média da pa-
30 a 60 kg de S, é parte importante para o rede celular
pleno desenvolvimento e crescimento da
soja, assim como formar raízes bem nutri- 3. Boro
das desse elemento. • Sua deficiência acarreta perda da in-
tegridade da membrana plasmática
A forma disponível de boro para as plantas • Importante no transporte de po-
é H3BO3, ou seja, um elemento sem carga tássio para as células guardas e, por
positiva ou negativa e, por esse motivo, ele conseguinte, abertura estomatal
possui uma natureza de maior dificulda- • Importante na germinação de pó-
de em ficar retido no solo, sujeito a perdas len e crescimento do tubo polínico
por escoamento superficial.
4. Cobre
Pela importância do boro e do enxofre, • Efeito tóxico direto em fungos e
como também pela sua natureza restrita bactérias
em se redistribuir entre os órgãos vegetais, • Possui grande afinidade por proteí-
a tendência do sistema de produção em nas
ter menores teores desses elementos na • Biossíntese de lignina
camada superficial leva à necessidade de • Componente da PPO
manutenção frequente desses dois ele- • Produção de fenóis solúveis que oxi-
mentos. dam substâncias tóxicas denomina-
das quinonas

9. Resumo: Como os 5. Manganês


nutrientes afetam a • Requerido na biossíntese de lignina,
resistência das plantas? compostos fenólicos solúveis e fla-
vonoides
1. Nitrogênio • Biossíntese de fenóis solúveis
• Prolonga o vigor das plantas • Inibição da enzima aminopeptida-
• Retarda o processo de maturação se (responsável pelo suprimento de

248
aminoácidos para o crescimento
fúngico)
• Inibição de pectina metil esterase
(exoenzima que degrada a parede
celular)
• Inibição do processo de fotossíntese
• Inibição direta do patógeno

6. Zinco
• Efeito direto sobre o patógeno
• Sua deficiência acarreta perda da
integridade da membrana, aumen-
tando, por conseguinte, a suscetibi-
lidade a doenças fúngicas, devido à
sua preferência de se ligar a grupos
SH
• Sua deficiência também resulta na
redução da concentração de AIA
• Ativador de inúmeras enzimas
• Sua deficiência aumenta a concen-
tração de açúcar na raiz, consequen-
temente aumenta a suscetibilidade
ao ataque de patógenos

249
250
CAPÍTULO 7
PLANTAS DE COBERTURA NO
AMBIENTE DE PRODUÇÃO

DANTAS, J.P.S.¹; SAKO, H.¹; BATTISTI, R.²


DK CIÊNCIA AGRONÔMICA.
UFG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

251
252
1. Introdução g. Exigência de fertilidade do solo;
h. Ser hospedeira de doenças que prejudi-
quem a cultura posterior;
A evolução do plantio direto possibilitou i. Manejo de plantas daninhas;
termos a sustentabilidade na agricultura j. Relação carbono/nitrogênio;
brasileira, transformando-a na potência k. Velocidade de crescimento (em caso
mundial que conhecemos hoje, dimi- de mix de plantas);
nuindo os revolvimentos com grades e l. Tolerância às variações climáticas, como
arados. Realizar o plantio sobre os restos geada, altas temperaturas e disponibili-
da cultura anterior foi uma verdadeira re- dade hídrica.
volução tecnológica, talvez uma das mais
importantes que vamos presenciar, tra- As plantas de cobertura têm enorme in-
zendo mais rentabilidade ao produtor e fluência no atributo biológico do solo e o
economia de recursos operacionais e am- oposto também é verdadeiro, é enorme a
bientais. influência da vida do solo sobre as plantas.
São de grande reflexão os avanços que ob-
As plantas de cobertura têm um papel tivemos no entendimento dos temas nu-
fundamental na prática do plantio direto, trição mineral, física do solo e pedologia e
sendo utilizadas com foco em suas pro- o quanto nós temos que avançar na biolo-
priedades de melhoria do solo. Cada plan- gia do solo. Ainda se tem muito a entender
ta de cobertura tem suas particularidades sobre o que ocorre biologicamente numa
e benefícios, tornando-se de grande rele- fração de um centímetro cúbico de solo.
vância conhecer, para um bom manejo, e Segue um exemplo cedido cordialmente
assim aplicar tais benéficos no ambiente pela Dra. Elke J. B. N. Cardoso, pioneira nos
de produção. estudos de micorrizos no Brasil e autorida-
de no assunto. Aplicando diferentes doses
Desta forma, podemos listar inúmeras ca- de fósforo em um solo esterilizado em au-
racterísticas que devem ser levadas em toclave e em um solo inoculado com fun-
consideração na elaboração de estraté- gos micorrízicos, nota-se que a adubação
gias do uso de plantas de cobertura nos de fósforo tem sua influência sobre o de-
diferentes ambientes de produção, desta- senvolvimento e crescimento das plantas,
cando os itens a seguir: mas é evidente a influência dos fungos
micorrízicos sobre o desenvolvimento das
a. Redução/multiplicação de nematóides; plantas no tratamento em que foram ino-
b. Época de semeadura; culados. A nutrição mineral tem um papel
c. Disponibilidade de compra de sementes; importante mas a nutrição mineral num
d. Fixação de nitrogênio e ciclagem de solo estéril não tem a mesma performan-
nutrientes; ce que em um solo com a presença dos
e. Dificuldade operacional, como desse- fungos micorrízicos (Figura 7.1).
cação antecipada e plantio da cultura
principal;
f. Melhoria da qualidade física do solo;

253
A

P rec 1/3 P 1/3 P P rec


Controle
+ FMA + FMA s/FMA s/FMA

P rec 1/3 P 1/3 P P rec


Controle
+ FMA + FMA s/FMA s/FMA

Figura 7.1. Influência da presença e ausência dos fungos micorrízicos sobre o crescimento e desenvolvimento do milho e da
soja. Fonte: cedido cordialmente pela Dra. Elke Cardoso.

Em um estudo interessante iniciado em mamento, o que permitiu a planta apro-


1850 com a produção de trigo, na estação veitar melhor a fertilidade do solo, o próxi-
experimental de Rothamsted, Inglaterra, mo grande aumento de produtividade se
diversas práticas agrícolas foram avaliadas deveu à rotação de culturas.
(Figura 7.2). Desde essa época e depois da
adoção de cultivares que resistem ao aca-

254
Broadbalk: Mean long-term winter whear grain yields
1st wheat
12 Continuous wheat unfertilized in rotation
Fungicides
Grain yield t ha-1 at 85% dry matter
Continuous wheat FYM

10 Continuous wheat PK+144kgN Modern cultivars

1 st wheat FYM+96kgN (+144kgN since 2005)


8 Herbicides
1 st wheat greatest yield from NPK plots (max 288kgN)

6 Liming
Fallowing

4
Continuous
wheat
2

0
1840 1860 1880 1900 1920 1940 1960 1980 2000 2020

Sq. Master Flanders Apollo Crusoe


Red Rostock Red Club Sq. Master Red Standard
Cappelle D. Brimstone Hereward
Cultivar
Figura 7.2. Adoção de diferentes práticas agrícolas ao longo dos anos e seu resultado em produtividade de trigo, Estação ex-
perimental de Rothamsted - Inglaterra. Fonte: Rothmasted, 2017.

Figura 7.3. Lavoura com 17 dias de seca, a parte que está tolerando mais a seca é onde havia pasto. No detalhe, no lado esquer-
do, solo onde havia pasto, no lado direito, onde era milho, mostrando a diferença evidente entre o sistema de culturas que
antecederam, Machado, MG. Fonte: Os Autores.

255
Em Paracatu, MG, num ensaio com 14 para o plantio em junho apresentaram
diferentes tipos de plantas de cobertu- diferenças agronômicas bem evidentes
ra semeadas em fevereiro e dessecadas (Figura 7.4).

Figura 7.4. Desenvolvimento do feijão sobre influência da mistura de braquiárias bem instaladas, lado esquerdo, e plantas de
cobertura mal formadas lado direito, Paracatu, MG. Fonte: Sako, H. 2021, resultados não publicados.

256
Em Cruz Alta, RS, a introdução consis- com outras práticas de manejo, tem re-
tente de um mix de plantas de cobertu- sultado em aumentos consistentes de
ra permitiu trazer diversos benefícios ao produtividade, na foto uma lavoura com
ambiente de produção e, em conjunto mais de 110 sc.ha-1 (Figuras 7.5 e 7.6).

Figura 7.5. Mix de cobertura introduzida com 40 kg ha de aveia, 30 kg ha de milheto ADR 300, e 10 kg.ha-1 de nabo forrageiro.
Fonte: Os Autores.

257
Figura 7.6. Lavoura com produtividade de 117 sc.ha-1. Fonte. Os Autores.

A mobilidade dos nutrientes no perfil influência na capacidade de aprovei-


de solo de forma vertical e horizontal é tamento pelas raízes dos nutrientes de
influenciada pelos tipos das raízes das cada camada do solo. São inúmeros os
plantas de cobertura, além dos atributos benefícios das plantas de cobertura e
do solo. Num estudo muito interessante esse caso ilustra o benefício do cobri-
conduzido por Galdos et al. (2020) iden- mento de raízes por cada cm² ao longo
tificou-se que a estrutura, tipo das raízes do perfil do solo (Figura 7.7).
e a cobertura das raízes no solo possuem

258
a)

b)

c)

Figura 7.7. Raízes de Brachiaria brizantha cv. Marandu (a), Urochloa ruziziensis (b), Zea mays (c) em visão vertical xy e zw feito
por tomografia computadorizada de raio X. Fonte: Galdos et al. (2020).

259
Um outro papel extremamente relevan- ter sucesso no manejo de plantas de co-
te das plantas de cobertura para a alta bertura, são os nematóides. Assim, en-
produtividade da soja é sua influência no tender a dinâmica de redução/multipli-
balanço de nitrogênio no solo. No capí- cação é de suma importância para que
tulo 4 foi exposto o desafio da fixação de todo trabalho feito na escolha de plan-
nitrogênio para conseguir cobrir toda a tas de cobertura melhore o sistema, em
demanda deste nutriente. Nesse sentido, vez de piorar, limitando a produtividade
o estoque de nitrogênio no solo possui da cultura principal. No Quadro 7.1. são
um papel importante, sendo que a for- apresentadas a relação entre plantas de
ma econômica de conseguir aumentá-lo cobertura e a ocorrência dos principais
rapidamente é através da implantação nematóides nos ambientes de produção
de plantas de cobertura fixadoras de ni- de soja.
trogênio.
Quadro 7.1. Efeito de plantas de cobertu-
Um dos aspectos mais complexos, que ra na redução/multiplicação de nemató-
muitas vezes é o motivo do produtor não ides.

LEGENDA

Multiplica Redução
Comportamento variável Comportamento desconhecido

Pratylenchus Heterodera Meloidogyne Meloidogyne Rotylenchulus


NEMATOIDES brachyurus glycines incognita javanica reniformis

CULTURAS
Soja
Algodão
Milho
Cana
Sorgo
Trigo
Arroz
Milheto
Girasol
Feijão
Feijão calpi
Trigo mourisco
Braquiária ruziziensis
Braquiária brizantha
Panicum spp
Aveia branca
Aveia preta 260
Capim sudão
Braquiária ruziziensis
Braquiária brizantha
Panicum spp
Aveia branca
Aveia preta
Capim sudão
C. spectabilis
C. ochroleuca
C. juncea
C. breviflora
Nabo forrageiro
Sorgo forrageiro
Centeio
Ervilhaca
Pé de galinha
Mucunas
Guandu
Mandioca
Amendoim
Gergilim

Fonte: os Autores.

Como referência de níveis populacionais nematologistas, propõe as seguintes re-


de nematóides na raiz e no solo, Soares, ferências para população baixa, média e
(20201), reunindo trabalhos de diversos alta (Tabelas 7.1 a 7.3).

Tabela 7.1. População de nematóides no solo e seus níveis relativos.

Nº nematoides em 100 cm³ de solo


Nível
Pratylenchus Meloidogyne Heterodera Helicotylenchus Scutellonema Rotylenchulus Tubixaba
spp spp glycines spp spp reniformis spp

Baixo 1-50 1-30 1-20 1-100 1-100 1-50 1-10

Médio 51-100 31-70 21-40 101-200 101-200 51-100 11-20

Alto + 101 + 71 + 41 + 201 + 201 + 100 + 21

Fonte: Adaptado de Dickerson et al. (2000), Koenning (2007) e Inomoto et al. (2010).

1
Comunicação pessoal.

261
Tabela 7.2. População de nematóides nas raízes

Nº nematoides em 10 g de raízes
Nível
Pratylenchus Meloidogyne Heterodera Helicotylenchus Scutellonema
spp spp glycines spp spp

Baixo 1-800 1-60 1-40 1-1000 1-1000

Médio 801-1600 61-120 41-80 1001-2000 1001-2000

Alto + 1601 + 121 + 81 + 2001 + 2001

Fonte: Adaptado de Dickerson et al. (2000), Koenning (2007) e Inomoto et al. (2010).

Tabela 7.3. Número de cistos viáveis.

Nível Nº de cistos viáveis de Heterodera glycines em 100 cm³ de solo

Baixo 1-5

Médio 6-10

Alto + 10

Fonte: Adaptado de Dickerson et al. (2000), Koenning (2007) e Inomoto et al. (2010).

A interpretação da densidade popula- temperatura. Assim, as práticas que favo-


cional de nematóides no solo ou na raiz recem o seu melhor estabelecimento são
não deve ser feita isolada do ambiente determinantes para não passar um perío-
de produção. Quanto menor é a fertilida- do sem plantas de cobertura e, nesse sen-
de do solo nos aspectos físicos, químicos tido, é muito importante semeá-las com
e biológicos, mais a população de nema- semeadora, mesmo que seja com seme-
tóides irá representar um potencial de adora de soja, com discos de grãos para
dano, e o oposto também é verdadeiro. sementes menores.

2. Plantas de cobertura e
seus manejos

As plantas de cobertura são semeadas


logo após a primeira safra e, portanto, não
se trata de condições ótimas de chuva e

262
Figura 7.8. Cultivo da Crotalaria spectabilis. Fonte: Dantas, JPS.

2.1. Cotalaria spectabilis percevejo castanho com sua utilização.


Em experimentos realizados em sua es-
A Crotalaria spectabilis (Figura 7.8) é tação de pesquisa, localizada em Decio-
uma planta de cobertura com grande landia, MT, Paulo Assunção, da PA Con-
importância no ambiente de produção, sultoria, observou entre todas as plantas
tendo em vista suas características pecu- de cobertura disponíveis na região, que
liares no controle de nematóides e fixa- a Crotalaria spectabilis se destacou na
ção de nitrogênio no solo. Existem algu- produtividade da soja no sistema de pro-
mas observações de campo, na região de dução.
Sapezal, MT, sobre a possível redução de

263
Essa planta tem um papel importante antes desse plantio, justamente por se
pois há deficiência de nitrogênio no solo, mostrar muito eficiente para o sistema
principalmente no cerrado, no que diz produtivo nas condições do cerrado.
respeito ao sistema soja-milho safrinha,
em que o balanço de nitrogênio é nega- Algumas observações foram feitas em
tivo, ou seja, há um consumo maior do relação ao aumento de mancha alvo
que é reposto ao solo. Assim, em muitas (Corynespora cassiicola) na cultura em
situações, devido às condições de produ- sequência (no caso da soja e algodão).
ção de milho com adubação incoerente Isso ocorre em função de sementes mui-
com o que se colhe, a utilização da cro- tas vezes contaminadas por plantas da-
talária também se torna uma alternativa ninhas, o que vale destacar a importân-
econômica, com melhora da produção cia da compra de sementes certificadas.
das duas culturas do sistema soja-milho Um outro ponto de atenção é a sua sus-
safrinha. cetibilidade a pulgões, necessitando seu
manejo para evitar grandes reproduções
Em situações de primeira safra de soja dessa praga (Figura 7.9).
e segunda de algodão, a utilização de
plantas de cobertura vem a ser um pou- Manejo de plantas daninhas (dificuldade
co mais difícil, em razão das condições de usar herbicidas de folha larga e não
climáticas e da janela de semeadura. seletivo), menor volume de palha e, con-
Porém, em áreas de primeiro ano de al- sequentemente, maior temperatura su-
godão (prática muito frequente no cer- perficial, e ainda redução da plantabili-
rado devido à expansão da cultura), uma dade da cultura principal sobre a massa
alternativa é a implantação da crotalária verde da crotalária.

Figura 7.9. Alta infestação de pulgão em Crotalaria spectabilis. Fonte:

264
2.2. Brachiaria ruziziensis

Figura 7.10. Manejo de Brachiaria ruziziensis por meio de triton. Março de 2018. Sorriso, MT. Fonte: Dantas, JPS.

Em trabalho utilizando Brachiaria ru- Esse modelo descrito anteriormente


ziziensis, realizado em Sorriso, MT, em tem sido uma boa opção em situações
março de 2018 (Figura 7.10), a área ob- de alta compactação, históricos de baixa
teve correção com calcário e gesso, sem produtividade, com pouca ou nenhuma
intervenção mecânica. Após determina- rotação de plantas, áreas apresentando
do estádio de desenvolvimento, foi reali- doenças de solo, como por exemplo, o
zado o corte com Triton, com a finalida- fusarium, e em situações em que o plan-
de de estimular o rebrote e aumentar o tio da planta de cobertura é realizado ao
volume radicular, melhorando assim a final da janela de plantio.
construção física do solo, além de aten-
der a premissa do desenvolvimento de
um ambiente de produção favorável ao
crescimento radicular da cultura da soja.
Numa área manejada desta forma é
muito importante que haja a roçada ou o
pastejo. Além disso, não se pode pensar
exclusivamente em raiz, mas lembrar da
qualidade do plantio, sendo que a des-
secação da braquiária, muito próxima
do plantio da soja, não é recomendada,
devido aos efeitos alelopáticos, consumo
de nitrogênio disponível no solo e con-
trole/diminuição de nematóides.

265
2.3. Milheto

Figura 7.11. Cultivo do milheto como planta de cobertura. Fonte: Dantas, JPS.

O uso do milheto (Figura 7.11) tem como Em solos com fertilidade construída, a
principais benefícios o aproveitamento antecipação da adubação da soja sobre
da janela das chuvas na região do cen- o milheto é uma prática que tem trazido
tro-oeste, a melhoria das condições físi- bons resultados no campo.
cas do solo com um baixo fator de mul-
tiplicação de nematóides e, ainda, sendo
de origem granífera, pode ser capitali-
zada com a colheita do grão. O milheto
é muito bem visto pelos produtores de-
vido ao seu rápido desenvolvimento e
possibilidade de plantio em janelas mais
tardias, em que as chuvas estão quase se
encerrando. Algumas observações sobre
esse manejo estão relacionadas à baixa
relação C/N e na pouca durabilidade da
palha no solo.

266
2.4. Trigo

Figura 7.12. Semeadura de soja sobre palhada de trigo. Fonte: Dantas, JPS.

As regiões do Brasil que permitem o uso vel é a boa qualidade de semeadura da


da semeadura de soja sobre palhada de soja em palhada pós trigo. Deve ser dada
trigo (Figura 7.12), como no centro-sul e atenção à relação C/N da palhada de tri-
regiões irrigadas pelo cerrado, trazem go e a importância da boa distribuição
grandes vantagens ao ambiente produti- desta palhada pela colhedora de trigo, a
vo. A implantação ocorre em ambientes fim de evitar ao máximo a concentração
de bons potenciais produtivos, devido de palha e áreas sem palha.
às melhores características climáticas,
como também de solo, além da possi- Esses benefícios do trigo também são
bilidade de investimento para a colheita observados para a cultura da aveia, po-
de grãos. rém com um diferencial no valor do grão
e na geração de receita. Por outro lado, a
O trigo traz grandes benefícios para as aveia branca tem trazido bons retornos
áreas de soja, devido ao seu sistema ra- econômicos nos anos em que há frustra-
dicular volumoso, favorecendo a elevada ção na produção de trigo, devido às limi-
produção de palhada, redução da tem- tações climáticas, por exemplo, no sul do
peratura superficial do solo, redução de Brasil. Assim, todo e qualquer manejo de
população de plantas daninhas invaso- solo que proporcione entrada de capital
ras, redução da compactação, e ainda deve ser valorizado. Afinal, a agricultura
boa ciclagem de nutrientes e manejo do é um Negócio e precisa de lucratividade
mofo branco. Outra característica notá- como objetivo final da cadeia produtiva.

267
2.5. Braquiária + nabo + milheto

Figura 7.13. Mistura de braquiária, nabo e milheto como plantas de cobertura. Fonte: Dantas, JPS.

Na figura 7.13 podemos verificar o manejo de sementes em cada uma e a época de


realizado em Montividiu, GO, com nabo implantação. Ajustes de proporções de
forrageiro, milheto e braquiária, semea- sementes devem ser realizados em cada
dos após a utilização de calcário e ges- região, considerando as características
so, em março de 2016. Essa prática visa do ambiente de produção.
basicamente a melhorar a questão físi-
ca, a ciclagem de potássio e a produção
de palhada no sistema. Um ponto a ser
destacado é o fato de o milheto e o nabo
forrageiro se desenvolverem mais rápido
que a braquiária, sendo muito impor-
tante tomar cuidado com as proporções

268
2.6. Brachiaria ruziziensis + milheto

Figura 7.14. Consórcio de Brachiaria ruziziensis + milheto. Chapadão do Sul, MS. Fonte: Dantas, JPS.

A Figura 7.14. apresenta uma área em to que a braquiária demora um tempo


que foi realizada intervenção mecânica, mais para esse desenvolvimento, trazen-
devido ao alto nível de compactação, do vantagens na realização desse mix de
mas com boa condição química em sub- plantas. Em razão dessa diferença de ta-
superfície. Em abril de 2017, foi realizada xas de crescimento, o milheto pode atra-
a implantação de um mix de Braquiaria palhar o desenvolvimento da braquiária,
ruziziensis e milheto, na região de Cha- sendo muito importante a calibração
padão do Sul, MS. das proporções de sementes por região,
assim como a época de implantação das
O que se observou dessa prática foi o culturas.
desenvolvimento rápido do milheto em
relação à braquiária, além de uma alta
capacidade de recompactação do solo.
O progresso do milheto em torno de 30
dias após a emergência já estabeleceu
um grande volume radicular, enquan-

269
2.7. Nabo forrageiro + aveia preta

Figura 7.15. Consórcio de nabo forrageiro + aveia preta. Fonte: Dantas, JPS.

O plantio consorciado de nabo forragei- de cultivo relativamente curta, em com-


ro com aveia preta é uma prática muito paração com a braquiária no cerrado. A
utilizada no sudeste e no sul do Brasil, integração resultou em uma crucífera e
principalmente em áreas que não são em uma gramínea, integração esta que
plantados trigo ou milho (Figura 7.15). auxilia na diminuição de algumas do-
Essa combinação tem o foco na melho- enças, como o fusário. Algumas obser-
ria das condições químicas, físicas e bio- vações desta prática estão associadas à
lógicas do solo e, consequentemente, da qualidade da semente e ao aumento do
produtividade. A vantagem de se asso- inóculo de mofo branco pelo nabo for-
ciar o nabo e a aveia está na rapidez dos rageiro, muitas vezes trazendo escleró-
movimentos radiculares e aéreos que dio na própria semente. Assim, sempre
essas plantas possuem, trazendo assim deve-se estar atento à qualidade da se-
um resultado satisfatório em uma janela mente da planta de cobertura.

270
2.8. Sorgo + Brachiaria ruziziensis

Figura 7.16. Cultivo de sorgo + Brachiaria ruziziensis. Fonte: Dantas, JPS.

O uso do sorgo juntamente com a bra- do milho em conjunto com a braquiária,


quiária tem como objetivo uma alta pro- o controle é realizado facilmente pelo rá-
dução de biomassa, oriunda da braqui- pido desenvolvimento do milho. No caso
ária, favorecendo a produção do grão do sorgo, essa condição não é favoreci-
de sorgo, além de rentabilidade ao pro- da, pois o sorgo tem uma capacidade de
dutor (Figura 7.16). No contexto de inte- produção de biomassa muito inferior ao
gração de braquiária com uma cultura do milho, resultando em menor sombre-
produtora de grãos, o sombreamento amento para o controle do crescimento
da braquiária é muito importante para o da braquiária. Assim, o sucesso deste sis-
controle do crescimento inicial, de modo tema de rotação depende da época da
que as opções mais restritas de herbici- implantação da braquiária ou da dife-
das no cultivo do sorgo torna o manejo rença de profundidade com relação ao
da braquiária um fator de grande aten- sorgo, atrasando, portanto, a emergência
ção para o sucesso desse cultivo. No caso da braquiária.

271
2.9. Crotalária ochroleuca + Braquiaria ruziziensis

Figura 7.17. Cultivo consorciado de Crotalaria ochroleuca com Brachiaria ruziziensis. Fonte: Sako, H.

O consórcio entre a Crotalária ochroleu- duas espécies. O benefício da crotalária


ca e a Brachiaria ruziziensis tem sido em fixar o nitrogênio está em auxiliar o
muito adotado no centro-oeste do Brasil, desenvolvimento da braquiária, produ-
apresentando um efeito sinérgico entre zindo assim grande biomassa. Beneficia
essas plantas (Figura 7.17). A Crotalaria também a diversidade do sistema radi-
ochroleuca tem um desenvolvimento cular, trazendo muitas outras vantagens
mais rápido em relação à Crotalaria ao sistema produtivo, especialmente em
spectabilis, que é a mais usada para co- relação à compactação, biologia de solo
bertura de solo. Nesse sentido, a inte- e fixação de nitrogênio. No Programa
gração com a Braquiaria ruziziensis se Construindo Solos da Copasul há resul-
torna possível, pois ambas conseguem tados interessantes com essa planta de
atingir um tamanho de grande porte, cobertura com até 9 sc.ha-1 a mais em
não havendo competição quando bem relação ao milho e resultados visíveis ao
calibradas as proporções de semente das final do ciclo.

272
Figura 7.18. Ao lado direito, soja sobre resíduo de Brachiaria ruziziensis com Crotalaria ochroleuca. Ao lado esquerdo, sobre
resíduo de Brachiaria ruziziensis, Naviraí, MS. Fonte: Cedido cordialmente por Copasul.

2.10. Brachiaria brizantha cultivar MG5 ser feito com no mínimo 30 dias de an-
tecedência ao plantio da soja, devido à
Esse manejo é implementado na maior sua alta capacidade de produção de bio-
parte das vezes em áreas com integração massa, dificuldade ou até mesmo impe-
lavoura-pecuária, seguindo o sistema dimento de condições de plantio e ale-
soja, Braquiaria brizantha em conjunto lopatia.
com pastejo por bovinos. Em muitas si-
tuações de áreas com alto problema de
compactação, essa braquiária é imple- 2.11.Brachiaria brizantha cultivar Piatã
mentada devido às suas características
de alto volume radicular, com capacida- A Brachiaria brizantha cultivar Piatã
de de crescimento radicular em profun- tem como pontos fortes o seu volume de
didade, apresentando maior relação C/N, enraizamento, sendo maior que a Bra-
comparado com outras cultivares, além chiaria ruziziensis, porém com um me-
da boa palatabilidade para o pastejo. nor volume que a MG5. Possui uma boa
Outra vantagem desse material é a sua palatabilidade para o gado, apresenta
capacidade de maior tolerância ao frio. característica de emissão de hastes, que
ao estarem em contato com o solo, as ge-
Algumas observações sobre esse manejo mas das hastes geram novas touceiras, e
estão associadas à época de dessecação, ainda a facilidade de semeadura em sua
que no caso do gênero brizantha, deve palhada em nível intermediário.

273
2.12. Brachiaria brizantha cultivar me descrito no capítulo 3. Dentro dos
Brauna panicuns tem se destacado o Zuri, o Pa-
redão e o Mombaça. Pontos importantes
A Brachiaria brizantha cultivar Brauna para preservar a qualidade de plantio é a
tem a vantagem da praticidade de ma- adoção de um estabelecimento de alta
nejo semelhante à Brachiaria ruzizien- população de plantas, dessecação ante-
sis, porém com uma agressividade radi- cipada e, caso a planta cresça mais de
cular maior, além de melhor tolerância um metro de altura, realizar o corte com
ao frio. Por ter um porte vegativo menor triton, rolo faca (realizar com o material
que a ruziziensis, ela possui a vantagem pouco lignificado) ou mesmo o seu ma-
de reduzir a possibilidade de atrapalhar nejo com pastejo.
a colheita.
Um panicum muito interessante no con-
sórcio milho-gramíneas é o Panicum
2.13. Panicum maximum spp maximum Tamani que por ter um por-
te aéreo pequeno e poder ser semeado
Os panicuns têm como ponto forte a fa- após o manejo do mato do milho evita
cilidade de uso em sobressemeadura da a competição com o milho e problemas
soja, e isso facilita o seu uso em situações de colheita com a planta de cobertura
de final de janela de semeadura, confor- alta.

274
2.14. Mix de braquiárias contribui para a diversificação do siste-
ma de produção. Segue na figura 7.19 um
Um dos pilares para melhorar a fertilida- ensaio conduzido em Lagoa Grande, MG,
de biológica é estimular a diversidade com braquiárias solteiras e consorciadas
de tipos de plantas. As braquiárias têm com duas espécies pelos autores. A inte-
como característica geral a boa contri- ração de diferentes diâmetros de raízes
buição na qualidade física do solo e, a pelo consórcio de braquiária permitiu
diversificação com dois ou três tipos de maior crescimento de raízes pelo perfil
braquiárias, traz vantagens peculiares de do solo.
cada material genético, como também

Brachiaria Brachiaria Brachiaria Brachiaria


brizantha cv ruziziensis ruziziensis + ruziziensis +
Brauna Brachiaria Brachiaria
brizantha brizantha
cv Piatã cv Brauna

Figura 7.19. Lado esquerdo (A), gramíneas isoladas (Brachiaria brizantha Brauna e Brachiaria ruziziensis) e seu crescimento
radicular e alteração na estrutura do solo. Lado direito (B), gramíneas consorciadas, 7 kg/ha de Brachiaria ruziziensis com 3
kg/ha de Brachiaria brizantha Piatã e 7 kg/ha de Brachiaria ruziziensis com 3 kg/ha de Brachiaria brizantha Brauna. Fonte:
Sako, H., 2021.

275
2.15. Aveias branca, ucraniana e preta

Figura 7.20. Cultivo de aveia. Fonte: Dantas, JPS.

A aveia possui a vantagem da rusticidade CTC, implementar a adubação potássica.


e uma qualidade de palha que permite Atenção especial deve ser dada ao com-
excelente semeadura de soja. Contribui plexo de nematóides.
ainda para a rotação de culturas na me-
lhoria da fertilidade do solo. Preferencial- A aveia preta como cobertura tem a van-
mente, a sua implantação deve ser feita tagem da menor presença de doenças
por semeadora de grãos miúdos. Assim, nela, ao contrário da aveia branca. No en-
esse manejo apresenta uma oportunida- tanto, a mistura de aveia preta com bran-
de de implementar antecipadamente a ca tem mostrado uma ocorrência bem
adubação fosfatada e, em solos com boa menor de doenças na aveia branca.

276
2.16. Estilosantes cobertura no sistema de produção, com
indicativos de densidades populacionais,
O gênero Stylosanthes possui 44 espé- em função de cultivo solteiro ou em mix
cies e, dessas, 25 ocorrem naturalmente com outras plantas.
no Brasil, provenientes de solos do Cerra-
do. O estilosantes Campo Grande é com- Tabela 7.4. Pontos positivos das plan-
posto pelo S. capitata e S. macrocepha- tas de cobertura.
la numa proporção de 80% e 20%. O S.
capitata tem hábito de crescimento ere-
to, podendo chegar a até 1,5m de altura,
enquanto que o S. macrocephala possui
hábito de crescimento semi-ereto. O es-
tilosantes Campo Grande se destaca pela
sua capacidade de manejar o complexo
de nematóides, por apresentar raízes pro-
fundas, pela capacidade de crescer em
solos ácidos, à alta fixação de nitrogênio
e também pela resistência à Antracnose,
Colletotrichum gloeosporioides. Miran-
da et al. (1999) identificaram a fixação de
175 kg/ha de N com estilosantes Campo
Grande e 100 kg/ha de N com a cultivar
Mineirão. Em solos arenosos, o estilosan-
tes tem auxiliado muito na melhoria da
fertilidade do solo, através do aumento
do estoque de nitrogênio no solo e no
manejo do complexo de nematóides. O
estilosantes é uma planta que deve ser
semeada a 2-3 cm de profundidade, exi-
gente de água e requer boas temperatu-
ras para emergência.

3. Síntese de pontos fortes


e fracos das plantas de
cobertura

Na tabela 7.4, segue a descrição dos pon-


tos fortes e deficientes de cada planta de

277
Sementes/ha kg
CARACTERÍSTICAS Mix Mix Pontos Positivos
Plantio
2 plantas 3 plantas
CULTURAS
• rápido desenvolvimento
Mileto
15-25 7-10. 6-8. • pouca necessidade hídrica
Pennisetum glaucum
• redução de fusarium e rizoctonia

• rápido desenvolvimento
Trigo mourisco
60-80 18-25 15-18 • pouca necessidade hídrica
Fagopyrum esculentum
• supressão a plantas daninhas

• alto volume de biomassa


Braquiária ruziziensis
7-12. 4-5. 2-3. • diminuição da compactação
Urachloa ruziziensis
• reduz fusarium, rizoctonia e esclerotinia

• alto volume de biomassa


Braquiária brizantha
9-15. 7-8. 4-5. • mais indicada para pastejo
Brachiaria brizantha
• reduz fusarium, rizoctonia e esclerotinia

• alto volume de biomassa


Aveia Preta
40-50 30-40 25-30 • pode ser usada como pastejo
Avena strigosa
• bom volume radicular

• rápido desenvolvimento
Capim Sudão
40-50 15-20 8-10. • pouca necessidade hídrica
Sorghum sudanense
• ampla janela de plantio

• redução drástica de nematoides


C. spectabilis (CS)
12-20. 10-15. 8-12. • fixação de nitrogênio
Crotalaria spectabilis
• indícios de diminuição de percevejo castanho

• alto volume de biomassa


C. ochroleuca (CO)
08-12. 10-12. 8-10. • rápido desenvolvimento
Crotalaria ochroleuca
• fixação de nitrogênio

• alta fixação de nitrogênio


C. juncea (CJ)
20-30 10-15. 8-12. • alelopatia em várias plantas daninhas
Crotalaria juncea
• rápido desenvolvimento

• rápido desenvolvimento
Nabo forrageiro
15-25 4-5. 2-3. • diminuição da compactação
Raphanus sativus
• ciclagem de N/S

• rápido desenvolvimento
Sorgo forrageiro
18-22. 12-15. 5-8. • alto volume de biomassa
Sorghum bicolor
• supressão a plantas daninhas

• alto rusticidade
Centeio
50-70 20-25 10-15. • alta adaptabilidade ao frio
Secale cereale
• alto teor de lignina na biomassa

Ervilhaca • fixação de nitrogênio


30-40 18-25 12-18.
Vicia sativa • supressão a plantas daninhas

• alto volume radicular


Capim Pé de Galinha
8-12. 3-5. 2-4. • diminuição da compactação
Eleusine coracana
• supressão a plantas daninhas

• desenvolvimento em solos arenosos


Girassol
12-20. 3-4. 2 • alto teor de olho
Helianthus annuus
• rápido desenvolvimento

Guandu • diminuição da compactação


50-70 15-20 12-18. • plantio em áreas com média fertilidade
Cajanus cajan

Fonte:

278
Pontos de atenção Possibilidades de MIX Possibilidades de MIX
+ 1 planta + 2 planta

• baixa relação C/N Trigo Mourisco


• aumento da população de lagartas Trigo Mourisco
Crotalarias ( CS/CO/CJ)
• Meloidogyne incógnita

• pode aumentar população de plantas daninhas Mileto Mileto


• Meloidogyne incógnita/javanica Crotalarias ( CS/CO/CJ)

• dessecação antecipada Principal consórcio Crotalarias ( CJ ou CO)


• Pratylenchus brachyurus com Milho Sorgo Forrageiro
• dificuldade de plantio da soja

• Pratylenchus brachyurus Crotalarias ( CJ ou CO)


• dessecação antecipada Crotalarias ( CJ e CO)
Guandu
• dificuldade de plantio da soja

• consumo de nitrogênio Nabo Forrageiro


Nabo Forrageiro
• Meloidogyne incógnita/javanica Ervilhaca

• Pratylenchus brachyurus
Nabo Forrageiro
• baixa relação C/N Nabo Forrageiro
Trigo Mourisco
• Meloidogyne incógnita/javanica

• aumento de mancha alvo na soja


Possibilidade de consórcio Braquiária ruziziensis
• manejo de plantas daninhas
com Milho Trigo Mourisco
• dificuldade de plantio da soja

• aumento de mancha alvo na soja


Braquiária ruziziensis
• dificuldade de plantio da soja Braquiária ruziziensis
Trigo Mourisco
• Heterodera glycine

• Pratylenchus brachyurus Girassol


• dificuldade de plantio da soja Girassol
Trigo Mourisco
• aumento de mancha alvo na soja

• mofo branco Sclerotinia sclerotiorum Sorgo Forrageiro


• baixa relação C/N Sorgo Forrageiro
Crotalaria ochroleuca
• Meloidogyne incógnita/javanica

• dessecação antecipada Crotalaria ochroleuca


• baixa relação C/N Crotalaria ochroleuca
Braquiária ruziziensis
• Meloidogyne/Pratylenchus

• dessecação antecipada Aveia Preta


• alta taxa de resemeadura natural Aveia Preta
Nabo Forrageiro
• Meloidogyne/Pratylenchus

• desenvolvimento inicial lento Aveia Preta


• baixa relação C/N Aveia Preta
Nabo Forrageiro
• Meloidogyne/Pratylenchus

• dessecação antecipada Crotalaria ochroleuca


• dificuldade de plantio da soja Crotalaria ochroleuca
Trigo Mourisco
• Meloidogyne/Pratylenchus

• multiplicação de amplo aspecto de doenças Braquiária ruziziensis


Braquiária ruziziensis
• Meloidogyne incógnita/javanica Crotalarias ( CJ ou CO)

• Rotylenchulus reniformis Capim Pé de Galinha


Capim Pé de Galinha
• Não colocar rotação com algodão Crotalarias ( CJ ou CO)

279
280
CAPÍTULO 8
PLANTAS DE COBERTURA CONSORCIADAS
COM A SAFRA NO AMBIENTE DE PRODUÇÃO

ALMEIDA, R.E.M.¹
1. EMBRAPA

281
282
1. Introdução - Consórcio caixou muito bem no conceito do sistema
de integração lavoura-pecuária (ILP), uma
de milho com braquiária
vez que é possível ter uma mesma área
com agricultura no período das águas, isto
O consórcio de milho com braquiária (Fi- é, no verão, como também produção de
gura 8.1) é uma técnica muito utilizada no forragem para o gado na época da seca,
Brasil e visa estabelecer uma planta forra- isto é, no inverno (Figura 8.2), período em
geira no mesmo período em que se culti- que falta forragem nas propriedades ru-
vam grãos. Este sistema de cultivo se en- rais (Almeida et al., 2019).

Figura 8.1. Consórcio de milho safrinha com braquiária (Urochloa ruziziensis). Fonte:

O capim cultivado neste modelo de con- gânica, a melhoria da fertilidade do solo,


sórcio persiste na área durante a entressa- o aumento da biodiversidade microbiana
fra, trazendo inúmeros benefícios ao sis- do solo e a descompactação do solo por
tema de produção. Entre eles, podem-se um vigoroso e profundo sistema radicular
destacar a proteção do solo, a ciclagem (Almeida et al., 2019).
de nutrientes, o aumento da matéria or-

283
Figura 8.2. Área no dia da colheita do consórcio, com capim disponível para o gado durante o período seco do ano (junho
2019). Fonte:

Ao final da entressafra, a dessecação do do solo, favorecendo a germinação e a


capim forma palha de excelente qualida- emergência das plantas; e ainda favorece
de para o sistema de plantio direto (SPD) a biologia do solo, com o estabelecimento
da cultura agrícola da safra seguinte (Figu- dos agentes, como por exemplo, bactérias
ra 8.3). Isso produz vários benefícios: pro- e fungos benéficos para as culturas nati-
tege o solo da radiação solar e do supera- vas do solo ou aplicados no plantio das
quecimento; reduz a evaporação da água culturas (Almeida et al., 2019).

284
Figura 8.3. Área de soja em plantio direto com palha de capim, oriundo do consórcio com milho na safrinha anterior. Fonte:

2. Manejo adequado ter vantagem competitiva e dominar a


área; por outro lado, a planta subordinada
para lavouras de alta
(braquiária) deve ter o desenvolvimento
produtividade
completamente afetado e suprimido até
a colheita do milho, com recuperação do
crescimento após a colheita dos grãos. A
Para realizar o cultivo consorciado e con- melhor forma de suprimir o crescimen-
tar com estes benefícios, sem o prejuízo to da braquiária é com uma lavoura de
de competição entre as espécies, o que milho de alto potencial, vigorosa e que
significa redução do potencial produtivo cresça rápido para manter a braquiária na
do milho, o manejo das plantas deve ser sombra, sem acesso a luz, limitando seu
feito com muita atenção e com base em crescimento. Desta forma, todos os mane-
critérios técnicos. Assim, a planta domi- jos para lavouras de alta qualidade devem
nante produtora de grãos (milho) deve ser adotados, tais como:

285
2.1. Plantio em época recomendada. em plantios tardios, fora da época reco-
mendada, o milho consorciado produziu
Seguir as datas de semeadura recomen- 7% menos que o milho solteiro. Em anos
dadas pelo zoneamento de risco climáti- com chuvas abaixo do normal, com influ-
co para o local de plantio é fundamental ências de fenômenos climáticos como El
para evitar riscos de falta de água, os quais niño (seca no Norte) ou La niña (seca no
podem comprometer o crescimento do Sul), a diferença de produtividade che-
milho e permitir que a braquiária tenha gou a 33% para semeadura fora da época
acesso à luz, exercendo desta maneira, recomendada.
competição com o milho.
2.2. Forma de Implantação do consórcio
Trabalhos em cultivo consorciado para o
milho safrinha mostram que não há di- A Figura 8.4 mostra as formas de implan-
ferenças de produtividade entre milho tação do consórcio de milho com bra-
solteiro e consorciado em plantios dentro quiária, em que oferece garantia de van-
da janela recomendada, com chuvas sufi- tagem competitiva ao milho, utilizadas
cientes para o seu desenvolvimento. Mas com sucesso no Brasil.

i ii

iii iv

Sementes de milho Sementes de braquiária Planta de milho

Figura 8.4. Formas de implantação do consórcio de milho com braquiária. Fonte:

286
Legenda: volvidos para semeadura de capins nas
mesmas entrelinhas do milho.
(i) implantação da braquiária pouco
tempo antes da semeadura do milho. 2.3. Solo com fertilidade corrigida
Esse processo pode ser feito com distri-
buição a lanço das sementes de braqui- A correção da acidez do solo e a reposição
ária, com a incorporação dessas semen- dos nutrientes para os níveis adequados
tes feita pela própria semeadora em no solo são fundamentais para um bom
operação posterior. Outra alternativa é desenvolvimento do milho. Por ser plan-
ta melhorada e mais exigente em termos
a adaptação de uma terceira caixa para
nutricionais, em condições de solo ácido
sementes de braquiária na semeadora,
ou com falta de um ou mais nutrientes
responsável por distribuir as sementes na
no solo, o milho tem seu crescimento li-
superfície do solo à frente da máquina,
mitado. Essa condição reduz a capacida-
que também faz a incorporação da bra- de do milho em limitar o crescimento da
quiária pelo revolvimento promovido pe- braquiária pelo sombreamento. Por ou-
los distribuidores de fertilizante e semen- tro lado, a braquiária por ser uma planta
tes da máquina. mais rústica, isto é, mesmo com a limita-
ção nutricional ou solo ácido, se desenvol-
(ii) implantação da braquiária no cen- ve pelo fato de ter acesso à luz e com isso,
tro das entrelinhas de milho. Nessa situ- compete e reduz ainda mais o potencial
ação, a semeadora distribui as sementes produtivo do milho.
de milho e braquiária em linhas alterna-
das. Para isso, a semeadora deve estar Plantios consorciados em solos de baixa
regulada para metade do espaçamento fertilidade são comuns em áreas de re-
forma de pastagem degradada, quando
entrelinhas do milho e deve ter um reser-
o plantio do consórcio é realizado no pri-
vatório de sementes independente para
meiro ano. Neste caso, há grandes chan-
cada linha.
ces de competição entre as espécies devi-
do à limitação do crescimento do milho,
(iii) implantação da braquiária junto uma vez que é comum a falta de tempo
com o fertilizante de semeadura do mi- suficiente para reação do calcário e o não
lho. Nesse caso, as sementes de braquiá- resultar na elevação dos teores dos ma-
ria são misturadas à formulação de adubo cros e micronutrientes ao tempo neces-
na semeadura do milho, observando-se o sário para o plantio de primeiro ano.
fato de não aprofundar demasiadamente
a mistura de semente e fertilizante, para 2.4. População de milho e braquiária
que a emergência da braquiária seja viável. adequada

(iv) implantação da braquiária poste- A adequada população de plantas de


rior ao milho, junto com o fertilizante de milho é de extrema importância para
cobertura, incorporado nas entrelinhas formar dossel uniforme, resultando de
forma mais rápida e eficiente o sombrear
do milho, ou com implementos desen-

287
da braquiária, condição essencial para o A dose de nitrogênio para altas produti-
sucesso deste sistema. Desta forma, de- vidades varia de acordo com o potencial
ve-se seguir a população recomendada da região, tipo de solo e de clima, e ain-
para cada híbrido em altas produtivida- da varia de acordo com a época de cul-
des. Em geral, uma população final de tivo (safra ou safrinha). Mas em geral, do-
60.000 plantas.ha-1 de milho atende bem ses acima de 100 kg ha-1 de N garantem
este propósito. um bom desenvolvimento vegetativo
do milho, encerrando em um adequado
Situações de baixa população de milho, sombreamento da braquiária e, dessa
devido à qualidade de sementes, falhas maneira, evitando a competição entre as
de plantio ou mesmo recomendações de espécies. Trabalhos com doses de N apli-
população menores que 60.000 plantas. cadas em cobertura demonstraram que
ha-1, comum para alguns híbridos em al- na ausência de nitrogênio, o consórcio de
gumas regiões em cultivos de safrinha, milho com braquiária produziu 20% me-
significam maior penetração da luz no nos que o milho solteiro. A diferença vai
reduzindo com o incremento das doses
dossel, permitindo o desenvolvimento da
de nitrogênio, até não haver diferença de
braquiária, resultando na competição en-
produtividade em doses acima de 100 kg
tre as espécies.
ha-1 de N (Almeida et al., 2017a).

2.5. Híbridos de milho de alto potencial


Neste sistema, não há a necessidade de
produtivo
aumento da dose de nitrogênio no cultivo
consorciado em relação ao cultivo soltei-
Para formar lavouras de milho com alto
ro, uma vez que a braquiária absorve no
potencial produtivo, em que as plantas
máximo 5% do adubo nitrogenado apli-
cresçam rápido para sombrear a braqui-
cado na lavoura (em condições de ma-
ária, é fundamental escolher híbridos de
nejo adequado, em que a braquiária fica
milhos adaptados, com bom desempe-
na sombra) (Almeida et al., 2017b). No en-
nho na região de cultivo, evitar o uso de tanto, ajustes na forma de adubar são ne-
variedades e materiais demasiadamente cessários, a fim de acelerar o crescimento
tardios, os quais sucedem em um cresci- do milho e sombrear a braquiária. Dessa
mento mais lento. maneira, recomenda-se maior quantida-
de de N na semeadura do consórcio e/ou
2.6. Adubação nitrogenada de cober- antecipar a adubação de cobertura para
tura com dose e época adequada antes das 4 folhas expandidas do milho.

O atraso, a falta ou as doses baixas de ni- 2.7. Controle de plantas daninhas e su-
trogênio no manejo da adubação de co- pressão da braquiária com subdose de
bertura limita e/ou atrasa o crescimento herbicidas
do milho, além de permitir a passagem
de luz à braquiária, gerando assim, po- A atrazina é uma molécula importante
tencial competitivo entre as espécies. no manejo de plantas daninhas do con-

288
sórcio de milho com braquiária. Controla e favorecem o tombamento de plantas
soja tiguera no caso do milho safrinha é que impactam diretamente na capaci-
uma opção de espécies de plantas dani- dade de sombra do dossel foliar. Escolher
nhas. A mistura com subdoses de herbi- híbridos tolerantes, rotação de culturas
cidas como mesotrione e nicosulfuron, e controle biológico e/ou químico, são
aumentam o espectro de plantas dani- estratégias a serem consideradas para o
nhas controladas e causam um efeito de controle desses fungos.
supressão da braquiária, fator que contri-
bui para o milho dominar a área e deixar 2.9. Evitar colheita tardia
a braquiária na sombra.
Ao final do ciclo do milho, naturalmente
2.8. Controle de pragas e doenças a planta entra em senescência e permite
a passagem de luz para a braquiária. Este
Para uma lavoura de alta produtividade é um processo natural e é justamente o
o controle de pragas e doenças deve ser momento em que o capim deve ter aces-
feito de forma eficiente. Pragas e fungos so a luz e dominar a área para formação
de solo que atacam a fase inicial da lavou- de pastagem ou palha após a colheita do
ra como também as plântulas, devem ser milho. Colheitas tardias, utilizando-se da
controladas para não reduzir a população estratégia de reduzir a umidade de grão,
de milho. popular deixar o milho secar no pé, po-
dem trazer problemas no desempenho
Pragas desfolhadoras limitam o cresci- das colhedoras devido ao fato do capim
mento do milho e causam perfurações formar grande quantidade de massa.
nas folhas, perfurações estas que permi-
tem a passagem de luz para a braquiária. 3. Conclusões
Portanto, é importante escolher híbridos
de milho com biotecnologia eficiente no Em resumo, a lavoura de milho consor-
controle de lagartas, além de associar ciada com braquiária deve ser conduzida
controle biológico e/ou químico para evi- com o milho de alto potencial produti-
tar ataques severos. vo e de crescimento, para que seja feita
a sombra ao capim e suprima qualquer
Plantas enfezadas tem seu crescimento chance de competição, competição esta
completamente afetado, reduzindo dras- que pode causar redução da produtivida-
ticamente a capacidade de formação de dos grãos. Após a colheita do milho, a
de dossel uniforme na lavoura do milho. braquiária passa a ser planta única na área
Nesse sentido, a época de plantio, híbri- com acesso à luz. Havendo água e calor, a
dos tolerantes e controle do vetor, são planta retoma o crescimento, produz for-
estratégias importantes no combate dos ragem para o gado e contribui para um
enfezamentos do milho. sistema de produção de maior resiliência
e de maior potencial produtivo.
Fungos causadores de podridões de col-
mos reduzem o crescimento do milho

289
290
CAPÍTULO 9
ELEMENTOS DE PEDOLOGIA
NO AMBIENTE DE PRODUÇÃO

SAKO, H.¹; DANTAS, J.P.S.¹; BATTISTI, R.²


1. DK CIÊNCIA AGRONÔMICA.
2. UFG - UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS

291
292
1. Introdução Horizonte A: Horizonte mineral, superfi-
cial, cuja característica principal é o acú-
mulo de matéria orgânica humificada, in-
timamente associada à fração mineral. O
Neste capítulo serão apresentados concei- horizonte A pode ser precedido por uma
tos agronômicos importantes em relação camada de horizonte O e sofrer alterações
aos elementos de pedologia nos ambien- em função do cultivo, sendo, nesse caso,
tes de produção. designado de Ap.

Uma vez que o crescimento das raízes em Horizonte E: Horizonte mineral eluvial,
grandes profundidades é parte do código cujas características principais são as
genético das plantas, elas naturalmen- perdas de argila, matéria orgânica, com-
te irão percorrer os horizontes do solo e, postos de ferro e alumínio, resultando
em função disso, os atributos pedológicos na concentração residual de silte e areia,
possuem relevância para a produção ve- constituídos de quartzo e outros minerais
getal. A unidade de perfil de solo na pe- primários resistentes ao intemperismo. O
dologia é definida pelo termo Pedon, em horizonte E ocorre subjacente a um hori-
que a menor unidade do solo é utilizada zonte A ou O, como também sobrejacen-
para se estudar o perfil, de modo que sua te a um B. Apresenta cor mais clara em
dimensão se expande da superfície do comparação à cor do horizonte B.
solo até o material de origem.
Horizonte B: Horizonte mineral subsuper-
A espessura e as características dos hori- ficial, subjacente aos horizontes A, E ou O,
zontes do solo possuem papel importan- resultante da atuação de processos pedo-
te no sistema de produção. Seguem as genéticos capazes de alterar totalmente
suas definições propostas por Ribeiro et ou quase totalmente a estrutura original
al. (2015): da rocha. Em consequência, ocorre o de-
senvolvimento de cor e formação de es-
Horizonte O: Horizonte ou camada su- trutura em blocos, prismática, colunar ou
perficial orgânica dos solos minerais. Este granular, podendo ou não ocorrer a pro-
horizonte ou camada tem constituição dução e concentração de óxidos (Bw), ou
predominantemente orgânica e é oriun- acumulação iluvial de argilas (Bt), de ma-
do do acúmulo de detritos vegetais sob téria orgânica e sesquióxidos de ferro e
condições de drenagem livre. No que diz alumínio (Bh, Bs e Bhs).
respeito à vegetação florestal, é onde en-
contra-se a serrapilheira. Horizonte C: Horizonte ou camada mi-
neral não consolidada, subjacente aos
Horizonte H: Horizonte ou camada, su- horizontes A ou B, relativamente pouco
perficial ou não, de constituição predo- alterada pelos processos pedogenéticos,
minantemente orgânica de resíduos acu- geralmente rica em minerais primários,
mulados ou em acumulação. Ocorre em podendo ou não corresponder ao mate-
condições alagadas. rial de origem do solo.

293
Horizonte F: Horizonte ou camada de ma-
terial mineral superficial ou subsuperficial
consolidado, rico em Fe e/ou Al, porém
pobre em matéria orgânica, proveniente
do endurecimento irreversível da plinti-
ta ou da ação cimentante de compostos
de Fe e/ou Al, segregados de outras fon-
tes, em que a plintita não é positivamen-
te identificada, mas nunca associados a
complexos orgânicos.

Horizonte R: Camada mineral de material


consolidado, coeso o suficiente para, quan-
do úmido, não ser cortado com pá reta.
Forma um substrato rochoso contínuo ou
fragmentado em matacões, perfazendo
mais de 90% do volume de camada.

294
2. Estrutura do solo e teor de argila, dos processos de intem-
perização do solo e da interferência dos
processos agrícolas. Segue exemplo das
A estrutura do solo é resultante da influ- estruturas de solo mais frequentemente
ência do teor de matéria orgânica, tipo identificadas em campo (Figuras 9.1 a 9.6).

Figura 9.1. Latossolo amarelo, textura média, Lagoa Grande, MG. Nos horizontes superficiais, primeiros 11cm, solo com estrutura
granular, seguido de solos com estrutura em blocos com ângulos retos, seguido por blocos grandes e nas camadas em sub-
superfície solos sem estrutura definida e com boa percolação de água. Foi aplicado um corante que indica pela cor roxa pHs
maiores e amarelo em pHs mais baixos, onde se localiza a compactação está a acidez. Fonte: Sako, H.

295
Figura 9.2. Latossolo amarelo, textura média, Lagoa Grande, MG. Nos horizontes superficiais, solos com estrutura em blocos e
laminares, evidência clara da compactação do solo pela estrutura laminar e seus ângulos retos. A marcação em branco indica
profundidade de 10 em 10cm. Fonte: Sako, H.

Figura 9.3. Latossolo vermelho-amarelo, Paracatu, MG. Estrutura granular na camada de 0-12cm e abaixo estrutura subangular.
Fonte: Sako, H.

296
Figura 9.4. Latossolo vermelho amarelo textura média, Paracatu, MG. Solos com estrutura granular de 0-9cm de profundidade e
abaixo solos com resíduo de estrutura laminar firmando em subangular pela ação das raízes e da vida do solo. Fonte: Sako, H.

Figura 9.5. Latossolo vermelho, textura argilosa. Estrutura granular nos primeiros 7cm de profundidade e abaixo estrutura sub-
angular em mudança para a estrutura granular. Fonte: Sako, H.

297
Figura 9.6. Latossolo vermelho textura argilosa, estrutura granular a 17cm de profundidade e, abaixo dela, estrutura subangular
em mudança para estrutura granular. Fonte: Sako, H.

298
3. A raiz e o horizonte A de ápices de raízes está na síntese de ci-
tocinina e a mesma tem sua relevância
para a fixação da estrutura reprodutiva.
A espessura da estrutura granular do ho- A espessura da estrutura granular tam-
rizonte A possui grande influência no sis- bém representa o bom acesso a água e
tema de produção. A maior ramificação nutrientes, a melhor disponibilidade de
e ápices de raízes estão localizados justa- oxigênio e a resiliência do solo a doenças
mente na estrutura granular do horizon- (ver capítulo 5 de fertilidade física-bioló-
te A (Figura 9.2.). A implicação do volume gica do solo).

Figura 9.7. Crescimento radicular na estrutura granular do horizonte A. Fonte: Sako, H.

299
4. Fertilidade de subsuper- quisador, é apresentada a classificação da
fertilidade do horizonte de subsuperfície.
fície
Para lavouras de alta produtividade, os
atributos mesotróficos e eutróficos acima
A disseminação do conhecimento pedo- de 90 sc ha-1 são um dos pilares importan-
lógico e o entendimento da influência da tes para essa produtividade.
fertilidade de subsuperfície no setor cana-
vieiro tiveram avanços importantes com Tabela 9.1. - Critérios químicos pedo-
o trabalho de Helio do Prado (2020). Na lógicos ou de subsuperfície (SiBCS,
tabela 9.1., cedida cordialmente pelo pes- 2018)

Parâmetros
V(1) SB(2) m(1) Al(2) RC(3) T(3) Na/CTC(1) CE(4)
Interpretações

Eutrófico (e) ≥ 50 ≥ 1,5

Mesotrófico (m) ≥ 50 <1,5

Mesotrófico (m) 20-49 ≥ 1,2 <50 < 0,30

Distrófico (d) 20-49 <1,2 <50 ≤ 0,30 >1,5

Mesoálico (ma) 15-49 0,31-4,0 >1,5

Álico (a) ≥50 0,31-4,0

Ácrico* (w) ≤1,5

Alumínico (aa) ≥ 50 ≥4,00 < 20

Alítico (aaa) ≥ 50 ≥4,00 ≥ 20

Sódico (n) ≥ 15 <4

Solódico (nn) 6 <15

Salino (z) <15 ≥ 4<7

Sálico (zz) ≥7

Salino sódico (zn) ≥ 15 ≥4

(1):porcentagem, (2):cmolc/kg de solo, (3):cmolc/kg de argila, (4):dS/m

* para ser ácrico, além do valor de retenção de cátions (RC) menor ou igual a 1,5cmolc/kg de argila, deve ser atendida pelo
menos uma das três condições:
1- delta pH positivo (pH KCL – pH H2O) ou
2- pH KCL maior ou igual a 4,5 ou
3- CTC a pH 7 menor que 3,5 cmolc/kg de solo.
Fonte: PRADO, 2020 (no prelo) adaptado de OLIVEIRA (1995).

Quando, ao mesmo tempo, forem atendidas as condições químicas para mesotrófico e mesoálico, decidir como mesotrófico
quando pH CaCl2 for maior ou igual a 4,5 e mesoálico se o valor do pH CaCl2 for menor que 4,5.
Fonte: PRADO, 2020 (no prelo) adaptado de LOPES (1983).

300
4. Ponto de Carga Zero avaliação para identificar se o solo está
(PCZ) abaixo ou acima do PCZ pode ser feita
pela diferença entre o pH KCl e o pH
água (delta pH). Na figura 9.8 está indi-
Devido à caulinita, gibbsita, óxido de cada a relação do PCZ com a carga do
ferro e alumínio presentes nos solos solo, em que o eixo X indica o delta pH,
tropicais terem cargas variáveis de onde está o ponto de PCZ o delta pH é
acordo com o pH, tal ocorrência pro- zero, à sua direita o delta pH é positivo
voca a possibilidade de os solos consti- e à esquerda o delta pH é negativo, no
tuírem uma predominância de cargas eixo Y está a predominância da argila
positivas ou negativas, dependendo se está para capacidade de reter cá-
do pH. Já no pH em que a argila tem tions ou capacidade de reter de ânions
como balanço carga positiva e nega- no complexo de argila. Se o solo estiver
tiva iguais, o mesmo é denominado com delta pH positivo, estará à direita
ponto de carga zero (PCZ). O pH em do PCZ e isso irá implicar na superfí-
que ocorre o PCZ vem a ser variável e cie das partículas da argila mais carga
difícil de ser determinado com exati- positiva e, por esse motivo, maior afini-
dão. RAJ (1973) avaliando três tipos de dade em reter ânions no complexo de
solos diferentes, identificou em um troca da argila. Já quando o delta pH
latossolo vermelho-amarelo, o PCZ for negativo, haverá maior quantidade
com pH 3,6 no horizonte A e 4,2 no de cargas negativas na superfície das
horizonte B; em latossolo roxo, pH 3,9 partículas da argila e, por esse motivo,
no horizonte A e pH 6,1 no horizonte terá preferência para retenção de cá-
B; na terra roxa estruturada, pH 3,4 no tions (Figura 9.8).
horizonte A e pH 3,8 no horizonte B. A

Capacidade
+ + + + +
de troca de + + + + +
ânions + + + + +
+ + + + +
+ + + + +
Delta pH
- - - - - -
Capacidade - - - - - -
de troca de - - - - - -
câtions - - - - - - PCZ
- - - - - -

Figura 9.8. O PCZ marca a divisão do pH em que há mudança de natureza da retenção de cargas, pH mais ácido a CTA e pH
mais alcalino a CTC. Fonte: Os autores.

301
Os solos com Delta pH positivo têm a o aumento dos teores de fósforo, para
característica de ressecar facilmente, aumentar as cargas negativas do solo
apresentando lixiviação de cálcio, mag- e, principalmente, o enraizamento. A
nésio, potássio e alumínio. Segue na matéria orgânica é uma grande fonte
Tabela 9.2 o exemplo de um perfil de de cargas negativas, de modo que ela
solo com Delta pH positivo. Note que desloca o PCZ para o pH mais ácido.
nesse caso o perfil do solo possui zero Note na tabela que a predominância
de alumínio, baixos teores de cálcio e do delta pH positivo é acompanhada
magnésio, isso mostra a importância pelo decréscimo do teor de matéria
em aumentar as cargas negativas com orgânica.
matéria orgânica ao longo do perfil de
solo, da alteração da estratégia de cor- Tabela 9.2. Característica química
reção de solo para predominância de de um Latossolo amarelo acriférrico,
calcário e gesso, objetivando fornecer o textura argilosa a moderada, perfil
suprimento frequente de nutrientes, e IAC – 1350.

Profundidade
Característica
química 0-15 15-34 34-58 58-100 100-146 146-185 185-200
cm cm cm cm cm cm cm

pH KCl 5,8 5,4 5,3 5,9 6,5 6,6 5,4

pH H2O 6,3 5,6 5,4 5,3 5,5 5,6 5,1

ΔpH -0,5 -0,2 -0,1 +0,6 +1,0 +1,0 +0,3

MO(1) 2,5 2,6 2,4 1,7 1,4 1,0 0,3

H(2) 2,6 3,4 3,0 1,9 1,4 1,4 2,

Al3+ 0 0 0 0 0 0 0

Ca(2) 2,7 0,4 0,4 0 0,2 0 0,8

Mg(2) 0,8 0,2 0,1 0 0 0 0

K(2) 3,5 0,6 0,5 0 0,2 0 1,5

SB(2) 3,5 0,6 0,5 0 0,2 0 1,5

CTC(1) 6,1 4,0 3,5 1,9 1,6 1,4 4,4

m(1) 0 0 0 0 0 0 0

RC(3) 7,1 1,3 0,9 0 0,4 0 6,5

(1) Porcentagem; (2) cmol . kg-1 de solo; (3) cmol . kg-1 de argila. Fonte: Prado (2010).

302
6. Tipos de argila e suas in- mento num latossolo vermelho de tex-
fluências no ambiente de tura argilosa e franco-argilo-arenosa. A
recuperação do conteúdo volumétri-
produção
co e da porosidade de aeração foram
maiores nos solos argilosos. As argilas
Dentre os tipos de argila vale destacar de maior expansividade são as de es-
alguns pela sua abundância no solo. trutura 2:1, sendo a menor na estrutura
A caulinita é um filossilicato, com es- 1:1 e nos óxidos, conforme apresentado
trutura 1:1, cuja CTC varia entre 30 a na figura 9.9. Em argilas de estrutura
150mmolc.kg-1 (Grim, 1968) e área su- 1:1, os teores de matéria orgânica e o
perficial variando de 10 a 20 m2.g-1. A menisco de água formado na interface
CTC da caulinita é variável pelo pH e, sólido-líquido-ar, possuem papel im-
dependendo da concentração de H+ portante nesse processo de expansão
na solução do solo, a superfície da cau- e contração.
linita pode ser protonada, gerando
cargas positivas e capacidade de troca
aniônica. Esse pH que marca o ponto
em que se migra de CTC para CTA é
denominado de ponto de carga zero
(PCZ), sendo este variável para cada
tipo de argila. No caso da caulinita com
pH acima de 3 a 4, já está determinada
a maior CTC em relação à CTA.

A caulinita possui diferentes formatos e


características que podem influenciar
nas práticas agronômicas, como sua
capacidade de expandir e contrair. Gu-
biani et al. (2015) avaliaram o ciclo de
contração e expansão provocado pela
umidade na redução da densidade
do solo. As amostras foram compacta-
das até atingirem 1.464 kg.m-3 e foram
submetidas a cinco ciclos de contra-
ção, secagem e umedecimento. Ao
final dos cinco ciclos de contração, as
amostras reduziram de 1.464 para 1.385
kg.m-3. No campo, foi observado efeito
semelhante, de 1.406 para 1.327 kg.m-3,
uma taxa de redução de 26 kg.m-3 ano.
Bavoso et al. (2012), avaliaram o efei-
to do ciclo de umedecimento e seca-

303
70
(93.98, 3424.34)
Expansão Amostra 7
60 Montmorilonita
muito Alta
(51.41, 1955.63)
A=7.2 Amostra 12

Amostra 14
Índice de Plasticidade (%)

(66.02, 1130.23)
50 (49.77, 949.44)

Amostra 18
Atividade=2.0
(63.23, 4187.48)
Amostra 22
40 (66.61, 3411.36)

Amostra 24
(65.67, 3126.68)

30 (51.99, 175.21) Amostra 25


Expansão Alta
Amostra 30
(43.01, 297.88)
(35.67, 429.63) Atividade=0.5
20 Expansão Caulinita Amostra 37
A=0.38
Média (41.07, 157,96)
Amostra 46
Expansão
10 Lita Baixa
A=0.9 Amostra 51b

(x,x) Valores de Expansão Livre


0 e Pressão de Expansão,
respectivamente
0 10 20 30 40 50 60 70
Fração Argila (%)

Figura 9.9. Expansão e contração da caulinita e argilas 2:1 com diferentes quantidades. Fonte: Coulthard & Bell (1993) apud
Pereira (1999).

O solo é formado por uma combina- e teores de óxido de ferro amorfo. Pelo
ção de diferentes tipos de argila, cujas perfil do solo, ela pode variar em sua
distribuições ao longo do perfil podem composição, como mostra o exemplo
variar. Demate & Garcia (1999) avalia- na Figura 9.1. A esmectita, por proces-
ram as propriedades de Chernossolo, sos de remoção de lâminas de tetra-
Nitossolo e Latossolo, originados de edros de silício ou dissolução e preci-
rochas basálticas do Estado do Para- pitação de produtos de intemperismo,
ná em diferentes estádios de intem- pode formar argilas de estrutura 1:1.
perismo. No solo mais jovem, especi-
ficamente o chernossolo, verificou-se Os latossolos brasileiros podem ser
o predomínio de esmectita com me- classificados em cauliníticos e gibbsí-
nor participação de caulinita. Nos so- ticos, devido à predominância do tipo
los mais intemperizados, os latossolos de argila (Ferreira, 1999). Os latossolos
apresentaram frações compostas prin- cauliníticos possuem em torno dos
cipalmente por caulinita e gibbsita, grãos de quartzo um plasma denso e
com valores menores de CTC, índice Ki contínuo, formado pela característica

304
da caulinita, e com pouca tendência mação da estrutura granular no hori-
a formar microestrutura. Essa caracte- zonte B, o que torna o solo mais poro-
rística implica na formação da estru- so, permeável à água, apresenta maior
tura em blocos no horizonte B, menos estabilidade de agregado e menores
permeáveis à água, mais compactos densidades de solo, conforme mostra
e com maior facilidade de erosão la- a Tabela 9.3.
minar. Já nos latossolos gibbsíticos, os
grãos de quartzo tiveram o empacota- Tabela 9.3. Diferentes tipos de solos,
mento ao seu redor das partículas de proporção entre Caulinita, Gibbsita,
argila e a formação de microestrutura, Goethita, Hematita, o respetivo teor
como também diferentes tamanhos de Ki (SiO2/Al2O3) e a macroestrutura
de poros. Essa natureza facilita a for- do horizonte B.

Solo Caulinita Gibbsita Goethita Hematita SiO2/Al2O3 SiO2/R2O3 Macroestrutura

g . kg-1 ki kr

Muito pequena,
Led 192 661 135 12 0,6 0,49 blocos
subangulares

Muito pequena,
LRd 5 803 34 158 0,42 0,25
granular

Muito pequena,
Led 5 853 92 50 0,35 0,27
granular

Pequena,
LVd 54 918 28 0 0,26 0,24 blocos
subangulares

Pequena,
LAa 883 38 79 0 2,15 1,84 blocos
subangulares

Led 339 538 77 46 1,09 0,87 Muito pequena,


granular

Pequena,
LUd 814 80 93 13 1,71 1,29 blocos
subangulares

Led – Latossolo Vermelho escuro distrófico, LRd – Latossolo roxo distrófico, LVd – Latossolo vermelho distrófico, LAa – Latossolo
amarelo ácrico, LUd – Luvissolo distrófico. Fonte: Adaptado de Ferreira (1999).

305
Ghidin et al. (2006), realizando o le- ção significativa de macroporos, com
vantamento de duas topossequên- valor R de -0,93, aumento significativo
cias de Latossolos no Estado do Pa- de microporos, com valor R de 0,89 e
raná, verificaram correlação entre as aumento da densidade de solo com
características físicas e mineralógicas valor R de 0,92. Na Figura 9.10, segue
no horizonte B de um latossolo bruno uma topossequência descrita por Ghi-
ácrico. À medida que aumentaram os din et al. (2006).
teores de caulinita, houve uma redu-

Dendidade
Macroporo- Microporo-
Perfil do solo Caulinita Gibsita Ki Kr
sidade sidade (g cm-3)

1 23 47 0,85 464 301 1 0,8

2 09 53 1,05 522 258 1 0,8

3 17 49 0,88 462 326 0,9 0,7

4 02 52 1,27 574 140 1,6 1,4

Figura 9.10. Detalhamento visual dos perfis 1, 2, 3 e 4 e os respectivos atributos físico-pedológicos. À medida que se reduz a
macroporosidade dos perfis do solo e o aumento da densidade do solo, ela foi acompanhada pelo aumento dos teores de
caulinita no solo e redução da gibbsita, sinalizando a influência do tipo de argila com a qualidade física do solo. Fonte: Ghidin
et al. (2006).

O processo de agregação e estabiliza- tos: i) controle sem adição de resíduo


ção dos agregados da caulinita e ou- orgânico ou crescimento de planta; ii)
tros tipos de argila dependem da mis- adição de resíduo orgânico, iii) cresci-
tura de material orgânico. Em ensaio mento de plantas, e iv) adição de re-
conduzido por D'Acqui et al. (1998), a síduo orgânico somado ao crescimen-
mistura de caulinita com resíduo or- to de plantas. Os autores observaram
gânico permitiu já em 30 dias formar que após 46 dias, os solos cauliníticos
agregados estáveis, como também já apresentavam o início da forma-
a construção de poros. Denef & Six ção de agregados no grupo controle,
(2004) avaliaram diferentes tratamen- porém a estabilização dos agregados

306
ocorreu nos tratamentos que recebe-
ram resíduo ou que haviam plantas
em crescimento.

A gibbsita é um óxido de alumínio,


apresentando área específica entre
100 a 220 m².g-1, PCZ entre 9,5 a 10 e
carga superficial variável. A absorção
de ânions inorgânicos e ácidos orgâ-
nicos contribui para abaixar o PCZ em
várias unidades de pH. Os valores de
CTC para a gibbsita podem atingir de
10 a 30 mmolc.kg-1 (Raij & Peech, 1972).
Esse tipo de argila fixa fortemente o
fósforo, podendo chegar a 65,8 mmol.
kg-1 de fósforo (Pozzan, 2007), sendo
estes valores considerados muito altos
segundo Juo e Fox (ano).

307
7. Elementos de pedologia e disponível também têm a natureza de
tipos de solo nos ambientes reduzir o dano causado por doenças
e nematóides do solo, em razão desta
de produção
disponibilidade hídrica, e como a água
é o carreador de nutrientes, também
Os diferentes tipos de solos afetam a influencia no estado nutricional das
água disponível e, consequentemente, plantas. Por esses motivos, é importan-
a produtividade. A disponibilidade de te conhecer a água disponível no siste-
água em cada horizonte do solo, asso- ma de produção. Tendo como referên-
ciada à profundidade das raízes efeti- cia diversos perfis de solo publicados
vas, determinam o acesso à água que pela SBICS e por Radam, Prado (2013)
a lavoura possui e, com isso, sua ca- ilustra na Figura 9.11 abaixo as relações
pacidade em tolerar o déficit hídrico. entre os tipos de solo e a quantidade
Solos com maior quantidade de água de água disponível.

1,75

1,50

1,25

1,00

0,75

0,50

0,25

= 1Litro
0,00

Figura 9.11. Capacidade de água disponível em diferentes solos estudados no projeto AMBICANA CX: Cambissolo Háplico; L:
Latossolo; M: Chernossolo; N:Nitossolo; P: Argissolo; RL: Neossolo Litólico; RQ: Neossolo Quartzarênico; FX: Plintossolo Háplico;
FF: Plintossolo Pétrico; V:Vertissolo. a: argila 0-7%; b: horizonte B a mais de 90 cm de profundidade; c: argila 8-15%, d: horizonte
B de 50-90 cm de profundidade; e,f: ácricos; g: horizonte B de 20 a 50 cm de profundidade; h: A moderado; i: A chernozêmi-
co; Argila Latossolos e Cambissolos: 1: 16-25%, 2: 26-35%, 3: 36-60%, 4:> 60%; textura Argissolos: P1: arenosa/média, P2: idem
P1,abrupto, P3a :gradiente textura tendendo para P-1, Argissolo P3b: gradiente textural tendendo para P-6; P6: média/argilosa,
P7: idem P-6, abrupto. Fonte: Prado (2013).

308
8. Consequência de teores
elevados de silte

Solos com maiores teores de silte têm


como característica o selamento da
camada superficial. O selamento da
camada superficial prejudica a emer-
gência das plantas, restringe o fluxo de
oxigênio no solo, restringe a infiltração
da água e limita o tamanho da lâmi-
na de irrigação a ser aplicada no solo.
Em ambientes com altos teores de sil-
te, preservação da palha na superfície
do solo, bom volume radicular, uso de
gesso e uso de fontes alternativas de
potássio constituem-se como práticas
para reduzir o selamento superficial
do solo.

Outra característica de solos com


maiores teores de silte é a sua maior fa-
cilidade de readensamento. O readen-
samento nesses tipos de solos além de
ser rápido, se torna uma restrição físi-
ca alta, tanto pela falta de oxigênio e
poros, quanto pela resistência do solo.
Muitas vezes em função dessa caracte-
rística física, há restrição no volume de
água e corretivos percolados no perfil
de solo, resultando em altos teores de
alumínio.

309
9. Solos arenosos e seus nica e de nitrogênio, associados à baixa
manejos tolerância de perda de raízes pelo com-
plexo de nematóides, o solo arenoso
apresenta boas respostas na introdu-
A natureza dos solos arenosos está ção de plantas fixadoras de nitrogênio,
relacionada à baixa disponibilidade como a crotalária e o estilosantes. Se-
hídrica, menor atividade biológica, gue na Figura 9.12 uma lavoura condu-
baixos teores de matéria orgânica, me- zida no sequeiro, com distribuição irre-
nores teores absolutos de nutrientes gular de chuva e baixa altitude, onde
no solo e maior suscetibilidade à ocor- praticamente não se cultiva a soja. Foi
rência de nematóides, o que faz deles introduzida uma mistura de crotalárias
um ambiente em que a planta de co- com braquiárias, feitas as roçadas, com
bertura, associada à correção do solo, correção de um bom calcário durante
sejam práticas determinantes para se o período de verão, e no verão seguinte
preservar boas produtividades. foi realizada a semeadura da soja, com
desenvolvimento extremamente notá-
Devido ao menor teor de matéria orgâ- vel para a região.

Figura 9.12. Crescimento e desenvolvimento da lavoura de soja em solos arenosos da região de Lagoa Grande, MG. Ambientes
de baixa altitude e solos de 8 a 13% de argila. Fonte: SAKO, H.

310
CAPÍTULO 10
CHECKLIST AGRONÔMICO NO
AMBIENTE DE PRODUÇÃO

AUTOR: SAKO, H.¹


1. DK CIÊNCIA AGRONÔMICA

311
312
1. Metodologia que contribui devido à grande diversidade de tipos
de solo associada à mudança genética,
A diversidade de fatores agronômicos torna-se uma análise importante mas
presentes na agricultura torna difícil, que sempre deixa lacunas a serem en-
na maioria dos casos, entender tudo tendidas no ambiente de produção.
que ocorre em uma safra ou mesmo
entender a interação dos fatores den- Um exemplo prático é o nitrogênio, um
tro de um ambiente de produção. Por elemento importante conforme abor-
esse motivo, são muito úteis metodo- dado no capítulo 3, que é o elemento
logias que contribuam para identifi- que mais se exporta no ambiente de
car os fatores limitantes de produtivi- produção. A capacidade de fixação de
dade em cada ambiente, mesmo que nitrogênio é variável por seus diversos
a identificação dos fatores limitantes fatores, assim como é variável como o
possa ser apenas na colheita, pois tais solo pode ajudar na nutrição desse ele-
informações servem de referência para mento numa lavoura de soja. Na Figura
a próxima safra. Neste capítulo, será 10.1, apresentamos a exportação de nu-
apresentada uma metodologia de bai- trientes em kg.ha-1 de N, K2O e P2O5 de
xo custo e fácil implementação na la- acordo com a produtividade. É emble-
voura. mático o fato de o elemento que mais
se exporta no ambiente de produção,
Uma análise de solo possibilita en- por ter uma dificuldade de metodolo-
tender muitos quesitos que limitam gias de campo, ser o menos medido,
a produtividade de uma lavoura mas, que é justamente o nitrogênio.

Figura 10.1. Exportação de N, K2O e P2O5 em kg.ha-1 de acordo com a produtividade, safra de 2015 a 2020. Fonte: Os autores.

313
Outros nutrientes que frequentemen- dentro de um programa nutricional, e
te merecem ser avaliados por essa me- a construção da fertilidade com lucra-
todologia são o boro, o molibdênio, o tividade consiste justamente no bom
zinco, o manganês e os corretivos ges- diagnóstico: qual é o elemento limitan-
so e calcário. O boro, pela sua interação te em nosso ambiente de produção e,
com o pH do solo, a grande diversida- justamente quando tal elemento é li-
de de tipos de argila e sua capacidade mitante, as respostas fisiológicas e pro-
de melhorar a tolerância ao alumínio, dutivas são bem nítidas. Dessa forma,
pode continuar a aumentar considera- construir parcelas ricas de nutrientes
velmente a produtividade quando ele- no talhão e apresentar uma diferen-
vados seus teores. ciação clara é um sinal que podemos
avançar no enriquecimento gradu-
A metodologia aqui apresentada parte al com tais elementos e teremos res-
do pressuposto que quando um fator postas produtivas. As parcelas podem
ou conjunto de fatores limitantes pre- possuir diversos tamanhos, desde que
sentes na lavoura são corrigidos, ire- adequadas para ser representativas da
mos ter respostas evidentes na parce- área total. Pela facilidade de instalação
la avaliada (Figura 10.2). Na fertilidade em campo de duas a três parcelas por
de solos temos o conceito de “consu- ambiente de produção, recomendam-
mo de luxo” em que ao aumentar os -se parcelas de 6m x 10m, sempre se
teores de determinado elemento não atendo a doses boas de nutrientes de
é observada uma resposta em produ- solo, exemplo, 2 kg.ha-1 de B, 6 kg.ha-1
tividade. Esse equilíbrio está presente de Mn, 6 kg.ha-1 de Zn e 200 g.ha-1 de Mo.

Figura 10.2. Exemplo de campo onde foi utilizado o método de instalação de parcelas ricas em nutrientes. Note que houve
resultado evidente em duas parcelas, o que sinaliza a limitação de tal nutriente no ambiente de produção.

314
Esse conceito de unir a praticidade de é um sinal que não é esse o fator limi-
construir uma variabilidade organiza- tante para tal ambiente de produção.
da em campo com doses altas e ob- Uma observação muito importante
servar a resposta agronômica é muito é que esse checklist com nitrogênio
útil e serve como um checklist agro- tem que ser realizado utilizando uma
nômico, se o fator que está sendo ava- fonte de liberação lenta. Ureia, sulfa-
liado for de fato o fator limitante tere- to de amônio ou nitrato de amônio
mos respostas expressivas na lavoura, irão penalizar o desenvolvimento das
caso contrário esse não é o fator que plantas, por serem cargas muito gran-
está limitando a produtividade. Com des de amônio para a planta, e sabe-
esse mesmo conceito podemos avan- mos que amônio nos tecidos vegetais
çar para entender em campo se o ni- sem transformar em proteína são tóxi-
trogênio está sendo limitante ou não cos para os tecidos vegetais. Seguem
no ambiente de produção. Para se na Tabela 10.1 abaixo resultados das
produzir mais de 100 sc.ha-1 é necessá- últimas duas safras com essa metodo-
rio em torno de 450 kg.ha-1 de nitrogê- logia.
nio. Dessa forma, se fornecemos essa
quantidade de nutrientes com fontes Tabela 10.1. Resultados dos checklist
de liberação lenta de nitrogênio e a la- agronômico. Foram acrescentadas as
voura apresentar uma produtividade seguintes quantidades sobre a adu-
alta, é um sinal que é apenas esse o bação e correção de solo recomenda-
fator que tem limitado a produtivida- da numa faixa de 6m x 10m: 2 kg.ha-1
de. Cabem, ainda, posteriormente, as de Boro (Ulexita), 200 g.ha-1 de Molib-
alternativas para melhorar a eficiência dênio (Molibdato de Sódio), 2 kg.ha-1
da fixação de nitrogênio ou melhorar de Zinco (Sulfato de Zinco), 2 kg.ha-1
o estoque de nitrogênio no solo. Caso de Manganês (Sulfato de Manganês)
se coloque essa quantidade de nitro- e 450 kg.ha-1 de N (liberação gradual
gênio e não tenha resposta produtiva de nitrogênio). Fonte: os autores.

Porcentagem de áreas
Faixa enriquecido Número de Aumento Mínima e máxi-
com resposta positiva
com o nutriente lavouras médio mo aumento
de produtividade

Nitrogênio 50 80% 15 sc ha-1 2,52 a 28,52 sc ha-1

Boro 49 55% 9 sc ha-1 1,7 a 22,45 sc ha-1

Molibdênio 48 47% 9,88 sc ha-1 0,78 a 22,04 sc ha-1

Zinco 31 58% 5,97sc ha-1 2,28 a 15,37 sc ha-1

Manganês 31 64% 5,66sc ha-1 2,5 a 14,97 sc ha-1

Fonte:

315
Esse mesmo conceito pode se esten-
der à interação de fatores, inserir dois
ou três nutrientes que façam coerên-
cia técnica com o ambiente de produ-
ção, e até mesmo para nematóides e
doenças de solo, que são fatores que
penalizam a produtividade de modo
silencioso.

Os cuidados que se deve ter para o su-


cesso dessa metodologia é colocar de
duas a três repetições por ambiente
de produção para evitar correr o ris-
co de confundir o efeito do nutriente
com manchas de fertilidade de solo,
iniciar o manejo com o fator avaliado
quando tiver diferenças visuais bem
evidentes, uma vez que não há repe-
tição estatística, manejar fatores de
solo que podem provocar grandes di-
ferenças na produtividade da lavoura.

Tem muito valor técnico saber qual é


o fator limitante a ser manejado num
ambiente de produção. Se numa par-
cela for obtida uma produtividade
que no histórico do talhão nunca foi
obtido, é certo que manejar aquele
fator de parcela para o ambiente de
produção como um todo, e ao longo
dos anos, teremos um sucesso sólido
em produtividade.

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