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CAPÍTULO IV

Integrando e comunicando
a agricultura irrigada para a
sustentabilidade do negócio
de produzir alimentos

Autor
Fernando Braz Tangerino Hernandez
UNESP Ilha Solteira
AGRICULTURA IRRIGADA: um breve olhar

Mensagem principal do capítulo


Essencial para a segurança alimentar, a agropecuária irrigada precisa
de uma comunicação mais assertiva, ao mesmo tempo em que o
ensino, a pesquisa e a extensão universitária deve atuar de forma
integrada disponibilizando mão de obra qualificada simultaneamente
à obtenção e divulgação de coeficientes e técnicas que levem ao au-
mento da produtividade da água.

Introdução
A pandemia enfrentada pelo mundo inteiro provocada pelo COVID19
mudou a maneira de agir e pensar da população do mundo inteiro.
Mas uma coisa não mudou e não mudará: a necessidade de se ali-
mentar! Água, alimentos e saneamento são condições básicas para o
bem-estar de qualquer sociedade!

Uma adequada alimentação é base para uma população saudável e,


portanto, com menores gastos no sistema de saúde e um aumen-
to da longevidade com qualidade das pessoas. Produzir alimentos é
um negócio, que depende primariamente das chuvas, cuja ausência
impede, limita ou impõe insegurança hídrica, em diferentes inten-
sidades e a compreensão destas limitações passa necessariamente
pelo conhecimento técnico do clima, do tempo, dos solos, da qua-
lidade da água, dos recursos financeiros disponíveis, da infraestru-
tura de transporte e do mercado em que se atua em cada região,
e mais, além do conhecimento agronômico e hidrológico, o conhe-
cimento de hidráulica para se construir estruturas adequadas, que
são os sistemas de irrigação, para mitigar ou desenvolver a resiliên-
cia aos extremos climáticos cada vez mais frequentes. Esta tarefa de
produzir alimentos sob irrigação exige cada vez mais profissionais
com elevada capacitação em planejamento e operação da produção
agropecuária.

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O novo normal, como se convencionou chamar a partir da pande-


mia instalada fez com que o tempo de permanência nas residências
aumentasse, o consumo de alimentos aumentasse e sem nenhuma
crise de desabastecimento de produtos agrícolas, os Produtores de
Alimentos ganharam espaço nas mídias e redes sociais, mas ainda
sem a total compreensão por parte da população do seu papel estra-
tégico para a população mundial e mais ainda, sem real percepção
de como o Brasil pode se firmar como o grande provedor de alimen-
tos do mundo, especialmente se romper a barreira dos 200 mil novos
hectares irrigados por ano que tem sido a marca dos últimos quatro
anos, para aproveitar melhor a sua vocação natural, fato que é um
país continental e com variabilidade de clima, mas de Norte a Sul,
de Leste a Oeste, não pode e não deve abrir mão do planejamento,
investimentos em sistemas de irrigação em bases técnicas com in-
cremento de tecnologia e uso racional da água medido pela produti-
vidade da água, ou sejam, o incremento constante da relação entre
os quilos de alimentos produzidos por cada metro cúbico de água
aplicada pelos sistemas de irrigação.

Visão do tema
Nos últimos tempos tem-se escutado e lido com cada vez mais
frequência que o agronegócio não pára, então, melhor ainda para
a agricultura irrigada, que entra em campo à qualquer tempo, es-
pecialmente quando as chuvas não vêm e devemos aproveitar este
momento como uma grande oportunidade e para aproveitá-la de fato
é preciso entender e nos conscientizar da sua importância para que
possamos romper a barreira do incremento médio anual de 205 mil
novos hectares irrigados (Figura 1), ainda que o crescimento médio
dos últimos 10 anos tenha sido de 5,9% ao ano, muito acima do PIB,
há todo o potencial de mais de 60 milhões de hectares acima para
serem aproveitados. Então, agronegócio não para, devemos lembrar
que agronegócio irrigado não para nunca!

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Figura 1. Evolução da implantação de sistemas de irrigação pressurizados no


Brasil. Fontes: HERNANDEZ et al (2014), HERNANDEZ (2016) e CSEI (2017,
2018, 2019 e 2020).

Para tanto, ações em, e sobre todos os stakeholders do agronegó-


cio são necessários. Na universidade, futuros profissionais devem
deixar de lado a “cabeça” ou mentalidade de sequeiro para entender
que o balanço hídrico é uma poderosa ferramenta de planejamento
e gestão e que de fato, a chuva não virá na hora e na quantidade
que desejamos, devemos ensinar muito mais que projetos hidráu-
licos, reconhecendo precocemente que as tecnologias baseadas na
Internet estão ao nosso lado e as pesquisas devem ter cada vez mais
o viés prático adequado, adequando coeficientes e parâmetros aos
atuais materiais genéticos e disponibilidade de água.

O desafio da agricultura irrigada não é mais o de projetar sistemas


de irrigação, fato que os produtos são cada vez mais semelhantes
dentro do nível tecnológico em que se deseja competir, mas sim,
colocar água no momento e na quantidade adequada à cada cultu-
ra, na região onde ela está plantada. Praticar o manejo da irrigação
em bases crescentes de produtividade da água exige conhecimento

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técnico e decisões diárias, sejam baseadas no monitoramento do ar-


mazenamento da água no solo, ou na compreensão das variáveis
agroclimáticas, transformando temperatura, umidade do ar, veloci-
dade do vento e radiação global incidente, em evapotranspiração da
cultura, aplicando coeficientes técnicos adequados, provenientes de
pesquisas regionais para adequação de equações e metodologias
globais. Portanto, está na prestação de serviços o grande diferencial
profissional.

O próprio desafio de projetar sistemas de irrigação, para diferentes


capacidades (lâminas) e uso de motores mais ou menos potentes
como resultado da aplicação de equações que levam à relações dis-
tintas entre investimentos e custo operacional, exige um bom nível
de argumentação para o fechamento de um negócio, e sem ele, ou
seja, sem os sistemas no campo, não manejo da irrigação e também
não há a possibilidade de se produzir o ano todo, com grande flexibi-
lidade de escolha de cultivos e época de plantio.

Já às universidades e instituições de pesquisas, cabe um papel muito


mais amplo de produzir profissionais bem preparados nos funda-
mentos teóricos, mas ao associar ensino, a pesquisa e a extensão
universitária de forma integrada envolvendo estudos de Graduação
e Pós-Graduação, produzirá profissionais com o chamado conheci-
mento tácito, aquele que se aprende fazendo, praticando, e desejado
pelo mercado de trabalho, obtidos no apoio e no desenvolvimento de
pesquisas que adequam coeficientes e técnicas que levem ao aumen-
to da produtividade da água.

Especificamente em relação ao uso da água, adequação de coeficien-


tes de cultura à grande oferta de materiais genéticos é um grande
desafio, fato que há variedades e híbridos de diferentes ciclos feno-
lógicos, e neste trabalhos, métodos agro e micrometeorológicos as-
sociados ao sensoriamento remoto permitem avançar no tão deseja-
do aumento da produtividade da água, como mostram os trabalhos
de HERNANDEZ et al (2014) que ajusta regionalmente coeficientes

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em metodologias disponíveis ou ainda de TEIXEIRA et al (2014) que


mostra a necessidade de ajustes no sistema de produção em uma
mesma propriedade face à variação de produtividade da água de
1,7 à 2,6 kg de milho por metro cúbico aplicado e também de 7,0 a
13,3 kg de milho silagem por metro cúbico aplicado.

Seja na pesquisa, na extensão e no ensino, ou na produção de ali-


mentos, a comunicação deve ser mais intensa com todos os setores
da sociedade e jornalistas devem estar convencidos de que entre a
produção de alimentos e meio ambiente não existe dicotomia e sim
sinergia para algo essencial à vida.

Neste sentido, destaca-se a atuação do Instituto Inovagri que desde


a sua fundação segue cumprindo um papel fundamental de promo-
ver a pesquisa, a extensão e a comunicação e com envolvimento na-
cional e internacional.

Conclusão
É o momento da agricultura irrigada! Se conscientizem disso e se
preparem, há carência no mercado e há a necessidade de profissio-
nais qualificados não somente para fazer a produção de alimentos
em bases técnicas sólidas, mas também para mostrar com argumen-
tos e conscientizar toda a sociedade dos efeitos multiplicadores na
sócio-economia e também para o meio ambiente da agricultura irri-
gada e por isso tudo que qualificamos os Produtores de Alimentos
de Heróis, afinal, faça sol ou chuva, lá está ele com a nobre missão
de garantir a segurança alimentar da população!

Bibliografia
CSEI - CÂMARA SETORIAL DE EQUIPAMENTOS DE IRRIGAÇÃO. Atualização da área irrigada
no Brasil. São Paulo: CSEI - ABIMAQ, 2p., 2017, 2018, 2019, 2020.

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HERNANDEZ, F.B.T.; NEALE, C.M.U.; TEIXEIRA, A.H.C.; TAGHVAEIAN, S. Determining large


scale actual evapotranspiration using agro-meteorological and remote sensing data in the
northwest of Sao Paulo State, Brazil. Acta Horticulturae, v. 1038, p. 263-270, 2014.

HERNANDEZ, F.B.T.; FERREIRA, M.I.; MORENO-HIDALGO, M.A.; PLAYÁN, E.; PULIDO-


CALVO, I.; RODRÍGUEZ-SINOBAS, L.; TARJUELO, J.M.; SERRALHEIRO, R.. Visión del regadío.
Ingeniería del Agua, v.18, p.38-53, 2014.

HERNANDEZ, F.B.T. Aula Quatro e Cinco - Definindo irrigação e onde irrigar. Blog da Área
de Hidráulica e Irrigação da UNESP, 2016. Disponível em: <http://irrigacao.blogspot.com.
br/2016/05/aula-quatro-e-cinco-definindo-irrigacao.html>. Acesso: 29 de setembro de 2020.

TEIXEIRA, A.H.C.; HERNANDEZ, F.B.T.; ANDRADE, R.G.; LEIVAS, J.F.; VICTORIA, D.C.;
BOLFE, E.L. Irrigation performance assessments for corn crop with Landsat images in the São
Paulo State, Brazil. Water Resources and Irrigation Management, Cruz das Almas, v.3, n.2, p.91-
100, 2014. DOI: 10.19149/2316-6886/wrim.v3n2p91-100.

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