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159 Introdução
A agricultura familiar incorpora grande diversidade cultural, social
e econômica. A maioria das definições da agricultura familiar está
vinculada ao número de empregados e ao tamanho da propriedade. As
principais características dos agricultores familiares são o menor uso de
insumos externos à propriedade e o fato de a produção agrícola estar
direcionada às necessidades do grupo familiar. No entanto, diversas
outras características estão associadas a esse tipo de agricultor: o uso de
energia solar e da força muscular animal e humana; a pequena dimensão
da propriedade; a grande autossuficiência; a força de trabalho familiar
ou comunitária; a alta diversidade ecogeográfica, biológica, genética
e produtiva, e a predominância dos valores de uso que se baseiam
no intercâmbio ecológico com a natureza e o conhecimento holístico,
empírico e flexível.
Um grande número dos produtores de milho caracteriza-se como
agricultores familiares que conduzem lavouras com baixa utilização
de insumos e em condições desfavoráveis, seja do ponto de vista
Sete Lagoas, MG
Setembro, 2011 técnico, econômico, político e social (AGRICULTURA..., 2011). Com
tal diversidade, nem todos os agricultores têm acesso, via instituições
de extensão e pesquisa, aos recursos fitotécnicos adequados à sua
Autores realidade. A despeito do característico baixo uso de insumos, não há
falta de tecnologia nas propriedades familiares. Os saberes construídos
José Carlos Cruz1
Israel Alexandre P. Filho1 por gerações mobilizam plantas e animais da região ou a ela adaptados,
Marco Aurélio G. tendo como base energética o Sol e a força muscular (humana ou
Pimentel1
Antônio Marcos Coelho1 animal). Complementarmente, no que tange ao aspecto ambiental, muitas
Décio Karam1 tecnologias pouco presentes (controle biológico de pragas e adubação
Ivan Cruz1
João Carlos Garcia1 verde) são capazes de ampliar a produtividade e a resiliência econômica e
José Aloísio Alves ambiental das propriedades familiares.
Moreira1
Maurílio F. de Oliveira1
Miguel M.Gontijo Neto1
Paulo Emílio P. de
O milho na agricultura familiar
Albuquerque1
Paulo Afonso Viana1 A importância econômica do milho é caracterizada pelas diversas formas
Simone Martins Mendes1
Rodrigo Veras da Costa1
de sua utilização, que vai desde a alimentação animal até a indústria de
Ramon Costa Alvarenga1 alta tecnologia. O uso do milho em grão na alimentação animal representa
Walter José Rodrigues
Matrangolo1
a maior parte do consumo desse cereal no mundo. No Brasil, varia de 70 a
Pesquisadores da 90%, dependendo da fonte da estimativa e da região geográfica. Embora
Embrapa Milho e Sorgo.
Cx. Postal 151. 35701-
a utilização do milho na alimentação humana não seja muito grande no
970 Sete Lagoas, MG Brasil, esse cereal com essa finalidade é importante em regiões com baixa
zecarlos@cnpms.
embrapa.br
renda. Por exemplo, no Nordeste do Brasil, o milho é a fonte de energia
para muitas pessoas que vivem no Semiárido (Duarte et al., 2010).
Embora na região Nordeste sejam plantados 22,57% de todo o milho
no Brasil (3,07 milhões de hectares na safra 2010/11), a produção de
6,1857 mil t representa apenas 10,8% do total colhido no Brasil de toda
2 Produção de Milho na Agricultura Familiar
1) Normalmente estes produtores não dispõem 7) No que diz respeito ao emprego de mão
de máquinas e equipamentos próprios e ficam –de obra, cerca de 14,5% das pessoas
na dependência de terceiros, seja públicos ocupadas nas lavouras temporárias e cerca
(prefeituras, associações comunitárias) de 5,5% dos trabalhadores do setor agrícola
ou privados (prestadores de serviço). Tal estão ligados à produção de milho. No setor
situação, muitas vezes associadas à falta de agropecuário, a produção de milho só perde
treinamento dos operadores de máquinas, gera para a pecuária bovina em termos de utilização
problemas quanto à qualidade dos serviços de trabalhadores, apesar de as tecnologias
prestados (geralmente, o manejo de solos, a modernas utilizadas na produção desse cereal
incorporação de corretivos e plantio, a colheita) serem poupadoras de mão de obra.
e quanto à melhor época de se realizar as
Como se pode notar, a importância do milho
operações;
não está apenas na produção de uma cultura
2) As sementes muitas vezes são obtidas anual, mas em todo o relacionamento que
de programas de doações, ou “troca-troca” essa cultura tem na produção agropecuária
governamentais, ou o produtor utiliza sementes brasileira, tanto no que diz respeito a fatores
de paiol, ou segunda geração de híbridos; econômicos quanto a fatores sociais. Pela sua
versatilidade de uso, pelos desdobramentos de
3) Geralmente as áreas escolhidas para a
produção animal e pelo aspecto social, o milho
implantação das lavouras de milho apresentam
é um dos mais importantes produtos do setor
média a alta fertilidade natural, mas são
agrícola no Brasil.
pequenas, muitas vezes menores do que 1
hectare e às vezes de topografia que dificulta É recomendado que toda a produção siga as
a mecanização. Normalmente o produtor não normas das Boas Práticas Agrícolas (BPA),
realiza análise de solo e tanto a correção que são um conjunto de princípios destinados
quanto a adubação, quando realizadas, são a tornar a agricultura menos dependente do
menores do que o recomendado. O tamanho da produtos químicos, menos agressiva ao meio
lavoura e o acesso à área também dificultam ambiente, mais socialmente correta e, por
algumas operações, como o transporte e a conseguinte, mais sustentável.
distribuição de calcário;
4) O controle de plantas daninhas geralmente é Manejo e conservação do Solo
mecânico e muitas vezes realizado tardiamente.
É importante usar corretamente as técnicas de
Baixa densidade de plantio é frequente, o que
preparo do terreno para evitar a progressiva
facilita a ocorrência do mato. Normalmente
degradação física, química e biológica do
a colheita é realizada manualmente e sempre
solo. A utilização constante do mesmo
com atraso, aumentando as perdas no campo e
equipamento, como a grade aradora ou o arado
a infestação de insetos. A maioria da produção
de discos, trabalhando sempre numa mesma
é consumida na propriedade gerando pouca
profundidade, provoca compactação logo
renda, o que também dificulta a aquisição de
abaixo da camada preparada. É o chamado
insumos para serem utilizados na lavoura;
pé-de-grade ou pé-de-arado. Essa camada
5) Principalmente no Nordeste, é comum compactada diminui a infiltração da água
a utilização de consórcio do milho com no solo, com o consequente aumento do
várias culturas. Geralmente a estrutura de escorrimento superficial, causando erosão (a
armazenamento é precária e improvisada; erosão é um processo natural, que ocorre a
6) O milho não é uma fonte direta de renda, despeito das atividades antrópicas, que podem
participando na propriedade como fonte de ampliar seus impactos negativos quando há
alimentação animal e humana; destruição da cobertura e/ou eliminação da
matéria orgânica). Os sistemas radiculares das
4 Produção de Milho na Agricultura Familiar
culturas ficam mais superficiais, explorando Precipitação - Como regra geral, o milho deve
menor volume de solo e tornando as plantas ser cultivado em regiões que tenham um
mais suscetíveis ao veranico, comum em várias mínimo de 350-500 mm de precipitação.
regiões.
O milho, por razões principalmente
Uma das maneiras de reduzir a compactação é econômicas, é plantado na maioria das
alternar anualmente a profundidade de preparo regiões no período chuvoso, ou seja, é uma
do solo. É importante também atentar para as cultura típica de sequeiro. Portanto, conhecer
condições de umidade do terreno por ocasião o número de dias secos consecutivos é de
de seu preparo. O ponto de umidade ideal é muita importância na determinação da época
aquele em que o trator opera com o mínimo de plantio. Dias secos são aqueles em que a
esforço, produzindo os melhores resultados na precipitação é inferior a 5 mm. A expêriencia
execução do serviço. Com o solo muito úmido tem mostrado que as máximas produtividade
aumentam os problemas de compactação. A ocorrem quando o consumo de água durante
terra gruda com mais força nos implementos, todo o ciclo está entre 500 e 800 mm e que a
chegando a impedir a operação. Em solo muito cultura exige um mínimo de 350-500 mm para
seco é preciso um número maior de passadas que produza sem necessidade de irrigação.
de grade para obter o destorroamento do solo. Na cultura do milho, nas condições de clima
Com isso, o custo de produção fica maior e quente e seco, o consumo de água raramente
o solo pulverizado. Como um dos objetivos excede a 3 mm/dia quando a planta apresenta
do preparo do solo é o controle de plantas em torno de 30 cm de altura, e no período
invasoras, faz-se a última gradagem niveladora que vai da iniciação floral à maturação pode
imediatamente antes do plantio. atingir valores de 5 a 7 mm/dia. Vale a pena
ressaltar que a quantidade de água extraída
Nos últimos anos tem aumentado
pela planta depende do tipo de solo, ou seja,
substancialmente o uso do sistema de plantio
da capacidade de retenção de água nele, da
direto, sendo que no Brasil, mais de 25
profundidade efetiva do solo e da idade da
milhões de hectares já são cultivados com este
planta.
sistema.
Além de cuidados no preparo do terreno e no
Calagem e adubação
plantio, outras técnicas, como a construção
de terraços e faixas de retenção, são A condução de uma agricultura em bases
fundamentais para a conservação do solo e tradicionais, com pequeno uso de insumos,
da água e a obtenção de altas produtividades. especialmente de corretivos e fertilizantes
Para sua execução convém ao agricultor buscar é comum no Brasil, resultando nos baixos
informações junto a técnicos especializados níveis de produtividade. Nos últimos anos,
da extensão rural das cooperativas e da os produtores têm se conscientizado da
assistência técnica pública e privada. necessidade de se executar um programa
Embora o milho responda à interação de todos racional de correção e adubação do solo, de
os fatores climáticos, podemos considerar que modo a melhorar a competitividade de suas
a radiação solar, a precipitação e a temperatura lavouras. Para tanto, podem ser utilizados os
são os de maior influência, pois atuam vários instrumentos de avaliação da fertilidade,
eficientemente nas atividades fisiológicas como a análise de solo e a análise foliar.
interferindo diretamente na produção de grãos A amostragem é a primeira etapa do
e de matéria seca. diagnóstico da fertilidade do solo, o que
Temperatura - Considera-se as temperaturas permitirá a determinação da quantidade de
de 10-25-30 e 42ºC como os limites mínimo, calcário e de adubos a aplicar, de modo a
ótimo e máximo, para cultivo do milho. sanar deficiências. Convém lembrar que a
Produção de Milho na Agricultura Familiar 5
retirada de amostras deve ser bem feita para no solo esteja acima de 0,5 cmolc/dm3 de
evitar distorções sobre a fertilidade do solo. solo (Coelho, 2008). Essa informação é
A análise , com certeza, permitirá indicar uma importante, pois ela possibilita a escolha entre
adubação mais balanceada, de acordo com as os diferentes tipos de corretivos da acidez do
características do solo e da planta. Permitirá solo que normalmente contém quantidades
também orientar o agricultor no sentido de variáveis de cálcio (Ca) e magnésio (Mg).
um melhor aproveitamento dos solos de sua
Escolha do calcário:
propriedade, de modo a obter deles maior
produtividade e renda. Aplicação do calcário:
De modo geral, as recomendações de calagem
Necessidade de correção indicam que a incorporação seja feita na
profundidade de 20 cm. O corretivo deve ser
A aplicação de calcário objetiva basicamente bem misturado com o solo, permitindo uma
reduzir a solubilidade de certos elementos reação maior e mais rápida. Doses de calcário
tóxicos (alumínio e manganês), que em superiores a 2,0 t/ha devem ser aplicadas em
determinadas concentrações limitam a duas vezes, metade antes da aração e metade
produção. Visa também fornecer cálcio e depois. Desse modo, consegue-se uma
magnésio, dois nutrientes essenciais às distribuição mais uniforme em profundidade.
plantas. Em solos sob plantio direto consolidado
Escolha do calcário: (> 5 anos) é possível aplicar o calcário na
superfície, sem a necessidade de revolvimento
A indústria coloca no mercado corretivos da
(aração e gradagem). Nesta situação as
acidez dos solos, com ampla variação nos
quantidade recomendadas são menores: a)
teores de cálcio, magnésio e poder relativo de
Solos argilosos: 1/3 a 1/2 da necessidade de
neutralização total (PRNT). Cabe ao técnico,
calcário pelo método de saturação de bases
com base na análise de solo, na exigência da
para a camada de 0 - 20 cm. Se maior que
cultura ao cálcio e ao magnésio e, no preço
2,5 t/ha, adotar o valor limite; b) Solos de
do calcário, analisar as várias alternativas
textura média e arenosos: 1/2 da necessidade
oferecidas e decidir qual a solução mais técnica
de calcário pelo método de saturação de
e econômica.
bases para a camada de 0 - 20 cm. Se maior
Na escolha do calcário leva-se em consideração que 1,5 a 2,0 t/ha, adotar o valor limite. A
a análise química do calcário com relação aos necessidade de nova aplicação de calcário deve
teores de cálcio e magnésio, o poder relativo ser monitorada pela saturação por bases do
de neutralização total (PRNT) e o preço por solo. Com saturação por base igual ou superior
tonelada efetiva, o qual pode se calculado pela a 50%, não aplicar.
fórmula: Preço por tonelada efetiva = Preço na
O agricultor deve ter em mente que todas as
propriedade/PRNT x 100. Deve-se considerar
recomendações de corretivos são efetuadas
também a distância entre o local de compra do
com base no valor de PRNT de 100%. Caso
corretivo e o de sua aplicação, uma vez que o
o calcário adquirido possua valor superior ou
carreto pode onerar bastante o preço final do
inferior a 100%, é necessário fazer o ajuste da
produto.
quantidade recomendada. Normalmente há um
No Brasil, existe o conceito generalizado para efeito residual do calcário no solo, que varia de
o uso de calcário dolomítico, visando manter três a cinco anos. A incorporação do corretivo
no solo uma relação de Ca : Mg de 3:1 a 5:1. se faz à profundidade de 20 a 30 cm, com
Para a cultura do milho esta relação pode ser antecedência de no mínimo sessenta dias do
mais ampla (Ca : Mg = 10:1), sem prejuízo plantio, para propiciar condições de reação do
da produção, desde que o teor de magnésio calcário com o solo. Essa reação é tanto mais
6 Produção de Milho na Agricultura Familiar
rápida quanto mais fino o corretivo e somente mistura poderá ser feita pelo próprio agricultor
se processa na presença de umidade no solo. para compor as proporções desejadas. Em
algumas regiões é aconselhável que a fórmula
Critérios para recomendação de gesso:
de adubação a ser adquirida contenha zinco.
A tomada de decisão sobre o uso do gesso De preferência utilizar fórmulas granuladas,
agrícola deve sempre ser feita com base no pela facilidade e uniformidade de aplicação.
conhecimento das características químicas e na Quando a adubação de semeadura é feita com
textura do solo, das camadas subsuperficiais fórmulas NPK concentradas, por exemplo,
(20 a 40 cm e 40 a 60 cm). Haverá 4-30-10, 8-28-16 de N, P2O5 e K2O, ou
probabilidade de resposta ao gesso quando as similares, utilizar em cobertura o sulfato de
camadas subsuperficiais do solo apresentarem amônio, de modo a fornecer no mínimo 30 kg
as seguintes características: saturação por Al3+ de S/ha à cultura. Por sua mobilidade no solo
da CTC efetiva maior que 30%, ou o teor de e pelas necessidades da planta de milho, a
Ca ≤ 0,4 cmolc/dm3 de solo. Constatadas as adubação nitrogenada é parcelada com o uso
características das camadas subsuperficiais do de 20 a 40 kg/ha de nitrogênio na semeadura,
solo que justifiquem o uso do gesso agrícola, sendo o uso de doses maiores no sistema de
sugere-se as seguintes doses: a) solos de semeadura direta e o restante, dependendo da
textura arenosa (< 15% de argila) = 0 a 0,4 textura do solo, em uma ou duas coberturas.
t/ha; b) solos de textura média (15 a 35% de
As quantidades de fósforo e de potássio são
argila) = 0,4 a 0,8 t/ha; c) solos argilosos (36
recomendadas com base nos níveis desses
a 60% de argila) = 0,8 a 1,2 t/ha; d) solos
nutrientes, obtidos por meio da análise
muito argilosos (> 60% de argila) = 1,2 a
do solo, e de acordo tabelas fornecidas
1,6 t/ha A aplicação de gesso agrícola deve
pelas Comissões de Fertilidade do Solo dos
ser feita a lanço e na mesma época em que se
diferentes estados brasileiros.
proceder a calagem.
A Tabela 2 foi fornecida pela
Adubação de plantio
COMISSÃO DE FERTILIDADE DO SOLO DO
Adubação com macronutrientes (N, S, P, K): ESTADO DE MINAS GERAIS (1999).
O produtor deve adquirir no mercado as
formulações que mais se aproximam dos
valores recomendados. Se necessário, a
por meio de todos os seus efeitos (Monegat, de plantas daninhas, pois promove uma rápida
1991). e eficiente cobertura do solo. O manejo deve
ser feito no florescimento – enchimento de
Na escolha da espécie que será utilizada como
vagens, aos 140 a 170 dias após a semeadura
adubo verde, deve-se considerar as condições
(Costa, 1992).
do solo, a época do ano, o tipo de cultura e
a região climática. Dentre outras, são muito Essa leguminosa não apresenta problemas
utilizadas como cobertura de solo na região com ataque de pragas, além de impedir a
do Brasil Central, a mucuna-preta (Mucuna multiplicação, de acordo com Costa (1992),
aterrima); o guandu-anão (Cajanus cajan); a de populações de nematoides, sendo, porém,
crotalária (Crotalaria juncea). susceptível à cercosporiose e a algumas
viroses. Uma limitação da mucuna-preta está
A crotalária é uma leguminosa anual, de rápido
na época de manejo, que se não for seguida
crescimento, elevada produção de massa
rigorosamente poderá ocorrer rebrota.
verde e boa adaptação a diferentes regiões.
Possui efeito supressor e/ou alelopático A mucuna-preta pode ser semeada intercalada
de plantas daninhas e tem apresentado ao milho, quando esse estiver com 40 até
bom comportamento em solos argilosos 60 dias de idade. Recomenda-se, também, a
e arenosos. Seu manejo deve ser feito na semeadura a lanço sobre a palhada do milho,
fase de plena floração, aos 110 a 140 dias incorporando as sementes com gradagem. O
após a semeadura. (Amabile et al., 2000). consórcio de mucuna-preta com o milho é uma
Como desvantagens, citam-se os problemas prática bastante utilizada pelos paranaenses,
fitossanitários intensificados em áreas sendo a melhor época de plantio na região
cultivadas por muito tempo e o tombamento Sudoeste do Paraná aquela que coincide com
de plantas causado por ventos fortes (Costa, o florescimento do milho (Costa, 1992). A
1992). avaliação da produção de milho em sistema
orgânico de produção mostrou que o plantio de
O guandu é uma leguminosa rústica, anual,
milho entre fileiras de leucena, espaçadas de
bianual ou semiperene de clima tropical e
5 m, além de permitir o plantio mecanizado do
subtropical, de dias longos. Resiste bem à
milho, ainda resultou em produtividades muito
seca, pois possui sistema radicular pivotante
superiores ao milho plantado sem a leucena.
capaz de penetrar em solos compactados
No primeiro ano de avaliação o rendimento
e adensados, além de reciclar nutrientes.
do milho consorciado com a leucena produziu
Apresenta elevada produção de biomassa e
1.630 kg/ha a mais do que o milho solteiro. No
grande capacidade em fixar nitrogênio, e se
segundo ano de avaliação esta diferença foi de
desenvolve bem em solos arenosos e argilosos.
719 kg/ha. A vantagem da leucena é atribuída
Não tolera umidade excessiva nas raízes. É
tanto ao aspecto nutricional do milho quanto
pouco exigente quanto à fertilidade do solo,
no controle das plantas expontâneas. (PEREIRA
desenvolvendo-se em solos com pH entre 5,0
FILHO et al., 2008).
e 8,0. As variedades de porte anão devem
ser manejadas entre 90 e 100 dias (após o
florescimento), e seu ciclo completo é de, Recomendações de cultivares
aproximadamente, 140 dias (Costa, 1992).
Dois tipos de cultivares de milho são
A mucuna-preta é uma leguminosa de clima utilizados no Brasil: as variedades e os
tropical e subtropical, bastante agressiva e híbridos. As cultivares comerciais são também
precoce. Resiste bem à seca, à sombra e a classificadas, quanto ao ciclo, em normais,
altas temperaturas, não tolerando geadas. precoces e superprecoce. Essa característica
Desenvolve-se bem em solos com baixa deve ser considerada pelo produtor ao comprar
fertilidade e alta acidez. Controla o crescimento sementes. Embora sejam classificadas por
Produção de Milho na Agricultura Familiar 11
tamanho, não há diferença genética entre ser adaptada à região, apresentar tolerância
sementes pequenas e grandes de uma mesma a doenças, apresentar boas características
cultivar. Além do aspecto, uma boa semente agronômicas, como tolerância a acampamento
deve apresentar pureza, altos índices de e quebramento e apresentar ciclo adequado ao
germinação, vigor e boa classificação. Muitos tipo de exploração.
agricultores não usam sementes melhoradas
Variedades locais ou crioulas ainda são
e isso pode ser considerado como uma das
utilizadas em algumas regiões e preferidas em
causas da baixa produtividade. Uma opção
alguns sistemas de produção. Algumas delas
importante para pequenos e médios produtores
se destacam e têm demonstrado potencial
é o uso de sementes de variedades.
produtivo igual ou superior ao de variedades
Na escolha da semente deverá ser levado em melhoradas de alto rendimento, confirmando a
conta : o objetivo da exploração, isto é, se importância das variedades locais, sobretudo
o milho será para consumo in natura (milho- como fonte de germoplasma, embora
verde) para a produção de forragem (silagem), possuam às vezes características indesejáveis,
ou para a produção de grãos. Para cada uma principalmente aquelas relacionadas ao
destas finalidades, o milho deverá apresentar porte das plantas, ciclo e susceptibilidade ao
características peculiares; o sistema de acamamento e quebramento.
produção do agricultor: a semente de milho
Mais de 480 cultivares são hoje
poderá ser híbrida ou uma variedade melhorada
comercializadas. Outras informações sobre
de polinização aberta. Os híbridos apresentam
cultivares específicas poderão ser conseguidas
maior potencial de produção, mas o preço da
junto a empresas produtoras de sementes,
semente é maior. Resultados de unidades de
seus representantes e revendedores,
observação de híbridos e variedades de milho,
cooperativas e escritórios de assistência
em dois níveis de adubação, mostraram que,
técnica rural. A Tabela 4 mostra as variedades
embora os híbridos fossem mais produtivos
de milho disponíveis no Brasil e recomendadas
que as variedades em todas as situações,
para o Nordeste.
na ausência de fertilizantes no plantio e em
cobertura, as maiores receitas líquidas foram
proporcionadas pelas variedades (ACOSTA
et al., 2001). As variedades poderão ser
reutilizadas em outras safras sem perderem
seu potencial produtivo, se alguns cuidados
forem tomados para preservarem sua pureza
genética. Esta é uma grande vantagem para
agricultores descapitalizados e para regiões
onde a disponibilidade do insumo sementes
é precária. Independentemente do plantio
de híbridos ou variedades, a cultivar deverá
12 Produção de Milho na Agricultura Familiar
1
SP-Superprecoce; P- Precoce; SMP- Semiprecoce e N- Normal
2
G – Grãos; SPI – Silagem de planta Inteira; MV – Milho Verde
3
AM – Amarela; AL – Alaranjada; LR – Laranja;
Fonte: Adaptado de Cruz et al. (2011)
Produção de Milho na Agricultura Familiar 13
e soja, poderão ser plantadas com o mesmo é o caso do milho. Este tipo de semeadora
espaçamento, permitindo maior praticidade também deve ser regulado, a exemplo dos
e ganho de tempo. Tem sido também outros sistemas.
mencionado que os espaçamentos reduzidos
* Pneumático: opera também com discos
permitem melhor distribuição da palhada
dosadores perfurados rotativos, verticais, nos
de milho sobre a superfície do solo, após a
quais as sementes aderem a cada furo devido
colheita, favorecendo o sistema de plantio
ao vácuo criado por uma corrente de ar que
direto.
os atravessa, causando a sucção através de
Para se conseguir a densidade desejada, a um ventilador, sendo as sementes liberadas,
regulagem da plantadora deve ser cuidadosa. quando o vácuo é neutralizado por um
Muitas vezes, são necessários discos especiais. obturador, e captadas por tubos distribuidores.
O produtor deve usar no plantio 20% mais de Como nos outros sistemas, para cada tipo de
sementes para compensar possíveis perdas semente, deve-se dispor de um disco dosador
por dano mecânico, má germinação e ataque e fazer uma regulagem de velocidade do disco
de pragas e doenças no solo. Baseada nesse adequada.
percentual de perdas, a Tabela 5 indica o
O tratamento de sementes de milho com
número de sementes por 10 metros lineares
inseticidas, utilizado para combater pragas
a ser obtido na regulagem da plantadora.
de solo, altera a rugosidade da superfície
Em plantios manuais, as fileiras deverão
delas, pelo aumento do ângulo de repouso,
ser espaçadas de 80 a 90 cm, e as covas
afetando o desempenho da semeadora, pela
espaçadas de 40 a 50 cm, deixando de 2 a 3
dificuldade de movimentação no depósito e
sementes por cova.
também nos sistemas distribuidores (discos ou
ditas daninhas ocasionam perdas na produção uso de outras técnicas de manejo de plantas
do cereal. Tais perdas variam de ano a ano, espontâneas. Esse é um método que deve
conforme as condições climáticas, em função ser usado apenas nas condições descritas ou,
das variações do solo, população de invasoras, então, como um meio complementar, devido
etc. Há diferentes métodos de controle dessas ao seu pequeno rendimento. O cultivo de um
invasoras. hectare utilizando apenas a enxada requer
cerca de 10 homens.dia-1, comparado com
Ao contrário das pragas e doenças que
cerca de 1 a 2 dias para o cultivo com tração
aparecem eventualmente, as plantas
animal ou 1 a 2 horas usando com tração
espontâneas aparecem todo ano e seu
motora.
controle se faz sempre necessário. Enquanto
o ataque de pragas ou doenças é ocasionado A tração animal é muito empregada para
normalmente por uma ou poucas espécie, o cultivo do milho, pois apresenta um
a infestação de plantas espontâneas eficiente controle de plantas espontâneas,
é representada por muitas espécies, bom rendimento de trabalho e não requer
emergindo em épocas diferentes, dificultando alto investimento. Além disso, o período de
sobremaneira o seu controle. realização dos cultivos normalmente coincide
com os meses em que há vários dias de
Controle mecânico
chuva (outubro, novembro e dezembro).
Através do uso de enxadas ou cultivadores, Nessas condições, a utilização do cultivo
o homem tem enfrentado as plantas com a enxada é dificultado, porque há
espontâneas que diminuem a produção necessidade de a operação ser realizada o
agrícola, contudo, sem obter um resultado mais rápido possível para aproveitarem-se
completo. Os métodos mecânicos de controle os dias em que há possibilidade de trabalho.
nem sempre são efetivos por causa das Por outro lado, o uso do trator depende do
condições climáticas adversas. No dia seguinte estádio de desenvolvimento da lavoura, pois
à capina ou cultivo, as plantas espontâneas a partir de certa altura as plantas de milho
podem reinfestar a área através de sementes, são danificadas pela entrada das máquinas. O
repega ou rebrota. primeiro cultivo, realizado normalmente entre
Pesquisas têm demonstrado a eficiência do uso 14 e 21 dias após a emergência do milho,
de práticas integradas de manejo no controle pode ser mais profundo porque as raízes
de plantas espontâneas. A combinação de ainda não se espalharam completamente.
espaçamento, densidade de semeadura, No segundo cultivo, realizado normalmente
cultivares com diferenças nos ciclos e entre 28 e 35 dias após a emergência, a
arquiteturas mais eretas e níveis nutricionais, profundidade não deve ultrapassar 5 a 6 cm,
especialmente o nitrogênio, podem constituir evitando-se dessa forma danos mecânicos ao
um sistema em que o milho seja mais sistema radicular da cultura.
competitivo com as plantas espontâneas. Deve ser salientado que as plantas
O uso de enxada e principalmente os espontâneas que nascem junto à fileira do
cultivadores (tracionados por animal ou milho são aquelas que mais competem com a
trator) ainda são os métodos mais comuns de cultura, devendo ser controladas sob pena de
controle de plantas espontâneas na cultura do causarem perdas na produção. Os cultivadores
milho. O controle do mato com uso da enxada não são eficientes no controle de tais
é ainda comum em muitas lavouras, no caso plantas. O repasse manual deve ser praticado
de pequenos produtores que não possuem sempre junto com o cultivo nas entrelinhas,
meios mais eficientes, onde o tamanho da capinando-se as plantas não arrancadas pelo
exploração não compensa financeiramente cultivador e chegando-se terra aos pés de
ou porque a topografia é um obstáculo para o milho (amontoa).
Produção de Milho na Agricultura Familiar 17
1
Utilizar nas entrelinhas após o estádio de 50 cm de altura do milho. Adicionar adjuvante.
2
Aplicar quando as gramíneas estiverem no estádio de 3 folhas e as folhas largas no estádio de 6 folhas.
3
Aplicar com o milho com no máximo 4 folhas, antes da formação do cartucho.
4
Não utilizar em misturas com inseticidas organofosforados. Verificar susceptibilidade de cultivares.
5
Aplicar nas entrelinhas quando o milho estiver com mais de 8 folhas.
6
Utilizado para o controle de folhas largas com até 4 folhas. Pode ser aplicado até a 4ª folha do milho.
Produção de Milho na Agricultura Familiar 21
Figura 5. Lagarta-do-cartucho.
Foto: Ivan Cruz
Figura 7. Curuquerê-dos-capinzais
químico da cigarrinha.
Doenças foliares causadas por bactérias:
Essas doenças são muito favorecidas pelo
excesso de chuvas ou de água de irrigação e
temperaturas elevadas.
Queima das folhas (Pseudomonas
alboprecipitans) - caracteriza-se por lesões
de coloração palha, que algumas vezes
coalescem, formando grandes áreas necróticas.
Podridão do cartucho (Erwinia chrysanthemi)
- a podridão, do tipo aquosa, inicia-se pela
Figura 14. Enfezamento-pálido base do cartucho. As folhas do cartucho
Enfezamento-vermelho (fitoplasma) desprendem-se facilmente e exalam um
- caracteriza-se, principalmente, pelo odor desagradável típico. Pode ocorrer o
avermelhamento das folhas. Frequentemente apodrecimento dos entrenós inferiores e a
as plantas perfilham, produzem pequenas murcha da plantas.
espigas em proliferação e geralmente morrem Controle - em plantios irrigados, podem ser
precocemente (Figura 15). controladas através do manejo adequado da
água de irrigação.
Foto: Rodrigo Veras da Costa
Podridões do colmo
Vários são os patógenos causadores de
podridão de colmo em milho, incluindo
fungos e bactérias. No Brasil, os principais
são Colletotrichum graminicola, Diplodia
macrospora, Diplodia maydis, Fusarium
graminearum, Fusarium moniliforme e
Macrophomina phaseolina. A ocorrência
desses patógenos no Brasil tem aumentado,
significativamente, nas últimas safras em todas
as regiões de plantio. Os plantios sucessivos,
a ampla adoção do sistema de plantio direto
sem rotação de culturas e a utilização de
genótipos suscetíveis favorecem a ocorrência
Figura 15. Enfezamento-vermelho da doença em função da elevada capacidade
Produção de Milho na Agricultura Familiar 29
Gibberella zeae (forma imperfeita Fusarium minerais e a produção é reduzida. Uma cultura
graminearum), é mais comum em regiões de milho atacada por nematoides apresenta,
de clima ameno e de alta umidade relativa. em sua parte aérea, os seguintes sintomas:
A ocorrência de chuvas após a polinização plantas raquíticas e cloróticas, sintomas
propicia a ocorrência desta podridão de de murcha durante os dias quentes, com
espiga, que começa com uma massa cotonosa recuperação à noite, espigas pequenas e
avermelhada na ponta da espiga e pode malgranadas. Esses sintomas dão à cultura
progredir para a base. É comum as palhas do milho uma aparência de irregularidade,
estarem firmemente ligadas às espigas podendo aparecer em reboleiras ou em
devido ao excessivo crescimento micelial do grandes extensões.
fungo entre as brácteas e os grãos. Chuvas
Controle
frequentes no final do desenvolvimento da
cultura, principalmente em lavoura com cultivar O controle dos nematoides que atacam as
cujas espigas não dobram, aumentam a plantas de milho é efetuado, principalmente,
incidência desta podridão. Este fungo sobrevive pelo uso de cultivares resistentes, rotação
nas sementes na forma de micélio dormente de culturas, plantas armadilhas e em última
instância pelo uso de nematicidas específicos.
Doenças Causadas por Nematoides
Em milho, a utilização de nematicidas é
Os nematoides parasitas de plantas de milho antieconômica até o presente momento,
reduzem a produção dessa cultura em função em função do alto preço dos nematicidas
dos danos provocados ao sistema radicular. no mercado brasileiro. Assim, a utilização
Esses danos são expressos por enfezamento, de cultivares de milho com resistência aos
amarelecimento e murchamento das plantas. principais nematoides, a adequada utilização de
As injúrias ocasionadas no sistema radicular sistemas de rotação de culturas e a utilização
impedem a absorção de quantidades de plantas armadilhas são metas que devem
adequadas de água e de nutrientes, além do ser desenvolvidas e difundidas entre os
efeito da interação dos nematoides com os produtores de milho.
fungos do solo causadores de podridões de
1 - Cultivares resistentes
raízes e do colmo do milho, principalmente os
do gênero Fusarium. A utilização de cultivares resistentes é a
medida mais eficiente e econômica de controle
No Brasil, as espécies de nematoides mais
dos nematoides que parasitam as plantas
importantes, devido à patogenicidade, à
de milho. Há genótipos de milho com alta
distribuição e à alta densidade populacional,
resistência a Meloidogyne javanica.
são Pratylenchus brachyurus, Pratylenchus
zeae, Helicotylenchus dihystera, Meloidogyne 2 - Rotação de culturas
incognita, e Meloidogyne javanica. Ademais, No sistema de produção de milho, é necessário
o monocultivo do milho leva a um aumento na que se tenha um profundo conhecimento da
densidade das populações destes nematoides. interação entre a espécie do nematoide e a
Os sintomas de injúrias por nematoides variam espécie botânica a ser utilizada. Cita-se como
com o gênero e a população do nematoide exemplo o milho, que é uma excelente planta
envolvido, condições do solo e a idade da para controlar Heterodera glycines (nematoide
planta de milho. Os sistemas radiculares do cisto da soja). Entretanto, a soja é também
parasitados por nematoides são menos parasitada por espécies como Meloidogyne
eficientes na absorção de água e nutrientes incognita e M. javanica (nematoides
da solução do solo. Consequentemente, formadores de galhas radiculares), existindo
uma planta parasitada tem seu crescimento cultivares de milho que variam desde a alta
reduzido, apresenta sintomas de deficiências resistência até a alta suscetibilidade a estas
duas espécies de nematoides. Assim nem
Produção de Milho na Agricultura Familiar 31
toda cultivar de milho será adequada para um ou equipamentos em lagos, fontes de água,
sistema de rotação com a soja. rios, etc. As embalagens vazias devem ser
lavadas três vezes e a água utilizada nessas
3 - Plantas armadilhas (Crotalaria spectabilis)
lavagens deve ser utilizada no tanque de calda
É especificamente recomendada para antes de completar o volume. Descarte as
o controle de nematoides do gênero embalagens vazias depois da tríplice lavagem
Meloidogyne. As larvas de Meloidogyne conforme recomendado e não as reutilize para
penetram nas raízes de Crotalaria qualquer outro fim. Deve-se evitar a aplicação
spectabilis, mas não sobrevivem, morrendo de defensivos nos dias ou horários com vento
prematuramente. Assim, fica evidenciado que para reduzir a deriva dos jatos de defensivos
C. spectabilis reduz as populações desses bem como próximas a cursos d’água para
parasitas no solo. evitar sua contaminação.
4 - Controle químico de nematóides Sendo o grão de milho muito bem protegido
Em área naturalmente infestada com dentro da espiga, principalmente nos milhos
nematoides, a utilização de carbofuran ou bem empalhados, o risco de contaminação
fenamiphos permite um aumento significativo desses grãos por resíduos de defensivos
na produção de grãos de milho. No entanto, fica bastante restrito. Por outro lado, sendo
depende da disponibilidade de produtos a cultura do milho cultivada em mais de 13
registrados no Ministério da milhões de hectares a cada ano, o risco de
Agricultura, Pecuária e Abastecimento, bem contaminação ambiental pelos defensivos
como da análise econômica da agrícolas devido à quantidade aplicada, acaba
utilização desta tecnologia. sendo muito maior. Portanto, para esse tipo
de cultura os indicadores de contaminação
Cuidados na aplicação de defensivos agrícolas
ambiental devem ter uma peso correspondente
– em primeiro lugar, deve-se enfatizar que toda
a sua importância dentro do aspecto das “Boas
aplicação de defensivo agrícola no Brasil deve
Práticas Agrícolas”.
seguir rigorosamente as normas contidas no
receituário agronômico. Assim, cada produto Colheita
deve ser utilizado exclusivamente para os Colheita manual
problemas, culturas e nas doses para os quais
Predomina, nas lavouras menores, a colheita
ele foi registrado. Mesmo assim exige-se
manual, com grande necessidade de mão
uma receita para se adquirir esses produtos.
de obra. Normalmente o trabalhador recolhe
Deve-se ainda ler atentamente o rótulo e
espiga por espiga, tanto aquelas presas nas
seguir todas as orientações em termos de
plantas quanto aquelas caídas pelo chão.
procedimento, cuidados, carência e destino das
embalagens. Não se pode permitir que menores A época mais propícia é reconhecida pelas
de idade trabalhem na aplicação. Manter a seguintes características da planta: colmos e
área a ser tratada livre de crianças, animais folhas praticamente secos, espigas dobradas
domésticos e pessoas desprotegidas. Usar com a ponta voltada para baixo, palhas secas,
equipamentos de proteção individual (EPIs) espigas facilmente destacáveis do colmo e
que incluem luvas, máscaras, óculos, roupa grãos secos e firmes suportando as pressões
impermeável, chapéu e botas. Não se deve da debulha. Em média, um operário quebra e
comer, beber ou fumar durante o manuseio amontoa de 5 a 7 sacas de milho debulhado
dos defensivos. Não desentupir bico, orifícios por jornada de trabalho. A colheita se inicia
ou válvulas com a boca. Evite a contaminação quando o teor da umidade dos grãos estiver
ambiental, não utilizando equipamentos com ao redor de 18%. Antes de levar o produto ao
problemas como vazamentos, descalibrados paiol faz-se uma secagem ao sol para que a
ou defeituosos. Não se deve lavar embalagens umidade chegue a 13%.
32 Produção de Milho na Agricultura Familiar
• corte e alimentação: cabeçote para milho; côncavo é regulada de acordo com o diâmetro
médio de espigas, para que essas sejam
• debulha: cilindro e côncavo;
debulhadas sem serem quebradas e os sabugos
• separação: saca-palha; saiam inteiros ou, no máximo, quebrados em
• limpeza: peneiras superior e inferior e grandes pedaços, transversalmente.
ventilador; Rotação do Cilindro e Teor de Umidade
• manuseio do grão: elevador e rosca sem A rotação do cilindro debulhador é ajustada
fim. de acordo com o teor de umidade dos grãos.
Para os diferentes problemas que podem Quanto mais úmidos, maior é a dificuldade
ocorrer durante a colheita, como perdas e de serem debulhados, exigindo maior rotação
danos mecânicos, por exemplo, é importante do cilindro debulhador. À medida que os
que os agricultores compreendam bem grãos vão perdendo umidade, tornam-se
o funcionamento dos componentes que mais quebradiços e mais fáceis de debulhar,
executam as respectivas funções da máquina. devendo-se, então, reduzir a rotação do
Uma descrição dos tipos de perdas, localização debulhador.
dos problemas e as respectivas causas, Pode-se usar rotações entre 600 e 800 rpm
como se apresenta a seguir, pode ajudar a para grãos com teor de umidade acima de
compreender os eventuais problemas: 20%. À medida que os grãos vão secando no
Fontes de perdas campo, recomendam-se rotações mais baixas,
isto porque há maior debulha do grão, assim
Espiga empalhadas caídas pelo chão: cabeçote-
como maior susceptibilidade deles aos danos
linhas de plantio com espaçamento diferente
mecânicos. A partir de 20%, essa rotação
das linhas de colheita.
deve ser reduzida, ficando entre 400 e 600
Grãos presos ao sabugo: regulagem de cilindro rpm na faixa de 18 a 20%. Abaixo de 16%
e côncavo, grande abertura entre cilindro e e com observações frequentes do depósito,
côncavo e velocidade do cilindro debulhador as rotações podem variar de 300 a 500 rpm.
abaixo da recomendada. Durante as verificações de funcionamento
Grãos soltos caídos pelo chão: rolo espigador do trabalho da máquina de colheita, deve-se
e/ou peneiras e ventilador - diâmetro de prestar atenção aos seguintes lugares:
espigas menor que espaço entre chapas de • depósito graneleiro, quando houver;
bloqueio, as espigas são debulhadas pelos
• grãos quebrados - verificar regulagem do
rolos espigadores, peneiras muito fechadas e
sistema de debulha;
ventilador soprando forte, excesso de material
nas peneiras. • limpeza inadequada - verificar abertura
das peneiras e depois a velocidade do
Dano Mecânico
ventilador.
A verificação deve ser feita no depósito Obs.: Nunca realizar essa operação de
da colhedora no início da colheita, regulagem simultaneamente, mas sim
constantemente. De modo geral, esse problema alternadamente.
é causado pela inadequada regulagem da
• no elevador de retrilha, para saber se há
abertura entre o cilindro e o côncavo, assim
muito material voltando para o sistema de
como da velocidade de rotação do cilindro.
debulha.
Regulagem da abertura entre cilindro e côncavo
Obs.: Nesse caso, verificar a distância entre
Para a debulha do milho deve-se usar somente peneiras e o sistema de debulha.
o cilindro de barras. A abertura entre ele e o
34 Produção de Milho na Agricultura Familiar
• saída da máquina, para ver se estão saindo desenvolvimento fúngico (acima de 14,5%);
grãos presos ao sabugo e se o sabugo está manter a temperatura dos grãos baixa durante
muito quebrado. o armazenamento (menor que 25 °C); evitar
lotes com grãos infectados ou infestados
Obs.: Verificar a distância entre o cilindro e o
por fungos; e evitar unidades armazenadoras
côncavo e a velocidade do cilindro.
infestadas por fungos.
• dentro da máquina, para ver se está
Os grãos de milho podem ser atacados por
havendo embuchamento de material no
fungos antes da colheita, com a formação de
saca-palha ou nas peneiras.
grãos denominados de ardidos; e durante o
Obs.: Geralmente ocasionado por excesso período de armazenagem, com a formação de
de velocidade de colheita e/ou glebas com grãos denominados de mofados (embolorados).
produtividades diferentes. Estes fungos toxigênicos, em seu processo de
Qualidade sanitária de grãos de milho colonização dos grãos de milho, são produtores
de substâncias tóxicas, denominadas
A prevenção contra a infecção dos grãos de
micotoxinas, as quais são altamente
milho por fungos toxigênicos (causadores
nocivas à saúde humana e animal (suínos,
de grãos ardidos nas espigas no campo e o
aves, equinos, bovinos etc.), produzindo
mofamento dos grãos no armazenamento)
doenças denominadas micotoxicoses. Grãos
e contra a contaminação com micotoxinas
contaminados por micotoxinas causam muitos
deve levar em consideração um conjunto
danos à saúde, pois elas são carcinogênicas
de medidas: utilizar cultivares de milho com
(promotoras de câncer), teratogênicas
grãos mais resistentes aos fungos toxigênicos
(promotoras de anomalias físicas) e
(consultar os técnicos de cooperativas
mutagênicas (promotoras de mutações).
agrícolas regionais); realizar rotação de culturas
com espécies de plantas não suscetíveis No Brasil, o limite máximo de aflatoxinas
aos patógenos (consultar os órgãos de (micotoxinas produzidas principalmente durante
pesquisa estadual ou nacional); interromper o a armazenagem) em grãos de milho para o
monocultivo do milho; promover o controle consumo humano é de 20 ppb - partes por
das plantas daninhas hospedeiras de fungos bilhão (20 microgramas de aflatoxinas / kg de
patogênicos (consultar os órgãos de pesquisa grãos) e de 50 ppb para a alimentação animal,
estadual ou nacional); usar sementes de alta de acordo com portaria oficial do Ministério
qualidade fisiológica e sanitária; evitar as altas da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
densidades de plantio (usar as densidades Também, como padrão de qualidade em
recomendadas para a cultivar); utilizar milho tem-se, em algumas agroindústrias, a
cultivares de milho com espigas decumbentes tolerância máxima de 6% para grãos ardidos
(que dobram para baixo); evitar colher espigas em lotes comerciais de milho.
atacadas por insetos e pássaros; não colher Armazenamento e controle de pragas de grãos
espigas de plantas acamadas (evitando a armazenados
contaminação por fungos do solo como
Fusarium); ajustar adequadamente a colhedora Grande parte dos produtores familiares
automotriz (evita danos mecânicos nos grãos, cultiva o milho para ser consumido na
os quais tornam-se mais resistentes ao ataque propriedade, para alimentação humana e
de fungos durante a armazenagem); realizar também dos animais. A venda da produção
a pré-limpeza dos grãos antes da secagem; é mínima, geralmente o excedente produzido
não retardar a colheita (pode aumentar o nível é comercializado pelos agricultores,
de ataque dos fungos no campo); realizar o preferencialmente para o mercado local. Nas
enterro de restos culturais de milho; manter pequenas propriedades familiares, o agricultor
a umidade dos grãos abaixo do ótimo para o geralmente espera o milho secar naturalmente
Produção de Milho na Agricultura Familiar 35
no campo e pode realizar a colheita do milho 1. Utilizar cultivares com espigas que
em etapas, dependendo da mão de obra apresentam bom empalhamento,
disponível, colhendo aos poucos a lavoura decumbentes, com grãos duros, e
conforme sua necessidade e disponibilidade. observar a indicação dos fabricantes
No entanto, recomenda-se não atrasar muito quanto à sanidade dos grãos da
a colheita porque o milho quando fica muito cultivar utilizada;
tempo no campo pode sofrer ataque de
2. Utilizar população de plantas
carunchos, pássaros e ratos. Dependendo
recomendada para cada cultivar e
ainda das condições de clima e de chuva, as
para cada finalidade desejada da
espigas podem até mesmo mofar antes da
produção;
colheita.
3. Ficar atento ao cultivo em épocas
Após realizar a colheita, o milho poderá
e regiões muito úmidas, ou com
ser armazenado em espigas com palha,
ocorrência de chuva durante o
principalmente em paióis de alvenaria ou de
processo de secagem natural e
madeira ou a granel, em sacarias ou silos. Da
durante a própria colheita;
produção nacional de milho, cerca de 30-40%
permanecem armazenado nas propriedades 4. Evitar o ataque de lagartas e pássaros
na forma de milho em espigas, em paióis às espigas durante o desenvolvimento
rústicos construídos em madeira. Nestas no campo;
condições, se não houver combate aos insetos 5. Evitar cultivos consecutivos para se
(carunchos e traças), o milho armazenado evitar aumento no percentual de grãos
sofre danos que chegam a atingir, em média, mofados e ardidos;
45% dos grãos, com perdas de até 15% no
6. Separar as espigas colhidas de plantas
peso e grande comprometimento da qualidade
acamadas ou tombadas, eliminar as
(DALPASQUALE, 2006; SANTOS, 2008a).
espigas mofadas e evitar atrasar em
Além das perdas diretas, em peso, a demasia a colheita;
contaminação dos grãos por compostos
7. Tipo de colheita: a colheita manual
tóxicos, as micotoxinas, produzidas por fungos
reduz os danos aos grãos e espigas.
presentes nos grãos, podem intoxicar o homem
Quando utilizar colheita mecanizada
e os animais, causando doenças e prejudicando
observar a regulagem da colhedora;
o desenvolvimento normal das criações. O
armazenamento de milho e outros produtos 8. Realizar a secagem do milho
agrícolas por períodos prolongados só pode após a colheita (quando houver
ser realizado quando se adotam corretamente disponibilidade de secador) e não
as práticas de cultivo, colheita, limpeza, colher e em seguida armazenar grãos
secagem, combate a insetos e prevenção de com alto teor de umidade.
fungos. Controlando estes contaminantes, As estruturas para o armazenamento de
podemos manter a qualidade do milho milho em espigas na agricultura familiar
armazenado e evitar a contaminação dos grãos devem apresentar algumas características
por compostos tóxicos, como as micotoxinas especiais. Dentre as principais peculiaridades
(LAZZARI, 1997; QUEIROZ et al., 2009). destas estruturas, destacam-se o baixo custo
Para reduzir as perdas e a contaminação e a durabilidade (aproveitando materiais da
dos grãos por micotoxinas, existem propriedade), a construção de barreiras contra
algumas medidas que podem ser adotadas a penetração de ratos, uso de materiais que
independentemente da estrutura armazenadora permitam o bom arejamento das estruturas,
adotada pelo produtor. facilidade para o controle de pragas e para
as operações de carga e descarga do milho
36 Produção de Milho na Agricultura Familiar
por carro de milho (10 comprimidos/m3 ou 10 mínimo 3 dias. Desta forma, pode-se reduzir
comprimidos/750 kg de milho) ou 2 pastilhas a menos da metade o potencial de perdas no
de 3 gramas para a mesma quantidade de armazenamento. Já o expurgo repetido a cada
milho. três meses resolve totalmente o problema
do ataque de insetos. Quando o milho é
Foto: Alexandre Esteves Neves
Circular Exemplares desta edição podem ser adquiridos na: Comitê de Presidente: Antônio Carlos de Oliveira.
Técnica, 159 Embrapa Milho e Sorgo publicações Secretário-Executivo: Elena Charlotte Landau.
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1a edição Revisão de texto: Antonio Claudio da Silva Barros.
1a impressão (2011): on line Expediente Normalização bibliográfica: Rosângela Lacerda de
Castro.
Tratamento das ilustrações: Tânia Mara A. Barbosa.
Editoração eletrônica: Tânia Mara A. Barbosa.