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Importância econômica do trigo

O clima da Região Sul permite aumentar a complexidade dos sistemas de


rotação/sucessão com diversas combinações, como, por exemplo soja/trigo/milho,
soja/trigo/feijão e milho/nabo forrageiro/trigo/soja, entre outras. Além de aproveitar as
áreas, o cultivo de trigo movimenta o maquinário e aproveita a sobra residual de adubo
aplicado no verão. Em outras situações, o trigo pode ser utilizado no inverno com
aplicação de toda a dose de adubo necessária para o inverno e o verão, evitando-se a
adubação da soja na sequência e, consequentemente, facilitando a implantação da
cultura de verão. A rotação de culturas também contribui para controlar doenças e
pragas na lavoura. Por exemplo, no caso de doenças, em sistemas irrigados de produção
com monocultivo de tomate, feijão e outras leguminosas, o trigo, por não ser hospedeiro
de doenças como esclerotinia e rizoctoniose, constitui-se em alternativa importante para
rotação de culturas nessas áreas.

O sucesso com a cultura do trigo, entretanto, depende de planejamento. É uma cultura


bastante tecnificada, devendo as escolhas de manejo serem feitas conforme as
peculiaridades regionais (envolvendo riscos e potencialidades do ambiente), a
expectativa de rendimento de grãos e a relação receita/investimento.

Do ponto de vista econômico, a concentração de recursos numa única safra aumenta o


risco de prejuízos causados por frustrações do clima ou oscilações do mercado. O
indicado é diluir o custo de insumos, mão de obra e maquinário na diversificação de
culturas que permitam mobilidade na receita e no investimento.

Estudos recentes, que compararam sistemas que utilizam trigo no inverno e soja no
verão com sistemas que retiraram o trigo do inverno e anteciparam a semeadura de soja
com foco em aumento de rendimento de grãos dessa cultura, mostraram, em diferentes
regiões do Sul do Brasil, que a manutenção da cultura do trigo ainda é a melhor opção,
tanto do ponto de vista da produção total de grãos quanto da quantidade de recursos que
sobram na propriedade a cada ano. Mesmo nas regiões mais frias, onde há atraso da
semeadura da soja pela colheita tardia do trigo ainda a melhor opção é manter o trigo no
inverno e ajustar a escolha de cultivares de soja que tenham melhor desempenho
produtivo em semeaduras tardias.

Portanto, a cultura do trigo integrada em sistemas de rotação de culturas contribui


efetivamente na manutenção e/ou melhoria da fertilidade química e física do solo, no
controle de doenças, pragas e plantas daninhas e no aumento da eficiência de uso de
maquinário, mão de obra e insumos na propriedade rural, sendo fundamental para a
sustentabilidade da agricultura brasileira.

O Brasil tem uma área de 10 milhões de hectares aptos e com tecnologias disponíveis
para cultivo do trigo. Produziu, na safra de 1997, numa área de 1.488 milhão de
hectares, cerca de 2,5 milhões de toneladas, cujo valor da produção obtida foi de
aproximadamente R$ 364,8 milhões. Em 1996 havia cultivado 344 mil hectares a mais
(+ 18,8%). Isso determinou um equivalente a não obtenção de 619 mil toneladas de
trigo em 1997 ou a não geração de recursos da ordem de R$ 89,9 milhões. Por outro
lado, importou-se cerca de R$ 1 bilhão em trigo, o que daria para financiar
aproximadamente 4 milhões de hectares no país.
Apenas com a redução de área, ao nível nacional, houve um decréscimo de 23 mil
postos de trabalho e no Rio Grande do Sul de 7,3 mil (equivalente a uma redução, da
safra de 1996 a 1997, de 109 mil hectares não cultivados com trigo), somente nas
lavouras.

Lembre-se, outrossim, que essas reduções de área trouxeram conseqüências


incontornáveis para outros setores da cadeia do agribusiness do trigo como, por
exemplo, o menor uso e venda de colheitadeiras, tratores, sementes, fertilizantes,
insumos para controle de pragas e doenças, afetando também toda a logística e infra-
estrutura relacionada à cultura como armazenagem, beneficiamento, transporte e
comercialização. Os recursos que deixaram de circular, na economia nacional,
decorrentes apenas dessa redução de área nas últimas duas safras, foram superiores a R$
150 milhões, considerando exclusivamente o produto não obtido e o não uso dos
insumos produtivos.

Para contornar essas perdas e agregar um crescimento contínuo, firme e rentável à


triticultura nacional, deve-se buscar como metas de médio prazo:

-aumento da participação do trigo nacional para, no mínimo, 50% do mercado


doméstico;

-aumento da produtividade média para mais de 2.000 kg/ha;

-adequação da legislação brasileira sobre o comércio de trigo à legislação internacional;

-fortalecimento da pesquisa pública e privada, para melhorar a rentabilidade,


produtividade e qualidade do trigo nacional;

-aumento dos postos de trabalho (pelo incremento de área, produção e produtividade


decorrente do maior nível de tecnologia empregado);

-aperfeiçoamento do zoneamento agroclimático e das garantias de seguro aos


agricultores;

A produção mundial de trigo está estimada em 753 milhões de toneladas (USDA) para o
ano de 2017. O engenheiro agrônomo da Emater Regional de Passo Fundo Cláudio
Dóro destaca que o trigo é o alimento mais importante para a subsistência da
humanidade. No Brasil o consumo deste cereal está estimado em 11 milhões de
toneladas de valor comercial de aproximadamente em R$ 6,6 bilhões. “Adequadamente
balanceado para fins nutricionais em seus valores energéticos e protéicos, serve de
componente básico à moderna culinária dos “fast-food” e dos tradicionais setores
industriais de panificação, pastifício, biscoitos, bolos e confeitos. Historicamente, no
Brasil, o trigo tem sido tratado oficialmente como alimento estratégico, quando não,
como segurança alimentar”, enfatiza.

O pesquisador e professor do curso de Agronomia da Universidade de Passo Fundo


(UPF) Benami Bacaltchuk acrescenta que mesmo com os eventuais problemas
climáticos que inibem a soberania do trigo, ele é importante fator de minimização de
custos da área cultivada no verão, ocupando de forma racional, terra, mão de obra e
equipamentos, diluindo os custos do sistema de produção da propriedade como um
todo. “Infelizmente o trigo representa menos de 20 % da área ocupada com cultura no
Brasil, mas ainda detém o potencial de cultura que se superou em produtividade e
qualidade para suprir o mercado interno e com potencial de uso no mercado externo por
oferecer produto desejado para vasta área de consumo”, introduz.

Uma propriedade de 30 hectares, por exemplo, não sustentaria uma família com três
adultos se dependesse exclusivamente de um cultivo anual, mesmo com a soja a preços
altos como os praticados até a safra 2015/2016, explica Bacaltchuk. “O trigo mantém
três pessoas trabalhando na propriedade e outras seis na cadeia produtiva, ou seja, mão
de obra antes e depois da porteira que fazem girar recursos para a manutenção de
famílias em uma vasta região predominantemente urbana e dependente da renda rural”,
argumenta. Porém, quando a política do país, continua sendo de autoabastecimento e
não exporta, ele fica restrito a poucos compradores. “Mais de 11 milhões de toneladas
consumidas, porém o trigo nacional representa, meramente 60% deste consumo e o
trigo, principalmente, o Argentino, representa mais de 5 milhões de toneladas todos os
anos. Trigo é uma moeda de troca para remunerar manufaturados, e a política
consolidada desde a criação do Mercosul era que trocaríamos manufaturados por trigo e
desta forma não estimulamos o seu cultivo”

Importância econômica da farinha

O trigo é considerado o principal componente da dieta alimentar na maioria dos países,


desempenhando importante papel econômico e nutricional - atualmente com mais de
30% na produção mundial de grãos (Embrapa Trigo). O Rio Grande do Sul é o segundo
maior produtor nacional de trigo, ficando atrás apenas do estado do Paraná. O trigo é
uma cultura de inverno e altamente suscetível às oscilações climáticas, é caracterizada
pela consorciação com a produção de soja e de milho, cultivadas no verão. Por isso, as
quantidades produzidas anualmente sofrem variações consideráveis e as regiões maiores
produtoras no estado do Rio Grande do Sul são porção norte e noroeste do estado. O
Paraná e o Rio Grande do Sul são os maiores produtores de trigo, com 88% do volume
nacional,.Os paranaenses retomaram a liderança perdida em 2011, em termos de
produção, porém figurou em segundo lugar em área plantada. O consumo brasileiro de
trigo vem aumentando, porém, como não há produção excedente no Brasil, nossos
estoques são baixos, ficando restritos ao trigo de menor qualidade que não teve
compradores no mercado local. Nos últimos anos, com o mercado externo adquirindo
este trigo, os estoques estão cada vez menores. Sempre que existe uma crise de
alimentos a nível global, no caso o trigo que é um ícone representativo da alimentação
básica direta mundial, representando as commodities agrícolas teve seu desempenho de
preços acelerados. Atualmente o mercado de trigo mundial já apresenta forte escassez,
talvez a maior dos últimos 15 anos. Apesar de aquém da autossuficiência, o trigo
nacional tem se mostrado de pouca liquidez para o produtor, muito em virtude de a
produção nacional estar fortemente localizada no sul do Brasil e ter forte concorrência
do trigo proveniente do MERCOSUL, mais precisamente da Argentina e Uruguai, com
uma melhor qualidade do que o trigo brasileiro. Na safra de 2012, o Brasil produziu
41% do seu consumo de trigo, número próximo à média histórica, que é de 38%. Para a
safra 2013, tinha-se a expectativa de um aumento para um percentual próximo dos 55%,
mas devido a problemas climáticos decorrentes, bem como a problemas fitossanitários
em algumas regiões, acabou puxando esses números esperadas para valores próximos
ou ainda mais abaixo da safra de 2012. Nas últimas quatro safras, o Brasil chegou a
produzir mais de 50% de seu consumo, porém, se descontadas as exportações neste
mesmo período, o suprimento com trigo nacional permaneceunos mesmos patamares da
média.

Qualidade da farinha de trigo

A qualidade do grão de trigo é o resultado da interação das condições de cultivo


(interferência do solo, clima, pragas, manejo da cultura e da cultivar), em soma à
interferência das operações de colheita, secagem e armazenamento, fatores estes que
influem diretamente sobre o uso industrial a ser dado ao produto final, que é a farinha
de trigo. A farinha de trigo é definida como um produto obtido da moagem do grão de
trigo Triticum aestivun, ou de outras espécies do gênero Triticum (exceto Triticum
durum) (OSÓRIO; WENDT, 1995; PIROZI; GERMANI, 1998). Por ser uma cultura
predominantemente de inverno, o trigo é mais cultivado na região sul do Brasil,
principalmente nos Estados do Paraná e do Rio Grande do Sul, embora também seja
cultivado em outros estados como São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.
Muitas vezes, o trigo é utilizado como cultura de rotação, principalmente com a soja,
devido ao fato da soja ser uma cultura de verão e o trigo uma cultura de inverno. Da
farinha de trigo consumida no Brasil, apenas pode-se considerar genuinamente nacional
aquela farinha proveniente dos grãos de trigo cultivados no Brasil. Assim, podemos
afirmar que no Brasil se consome farinhas obtidas de grãos de trigo de origem nacional,
farinhas obtidas de grãos de trigo importados processadas no país de origem, bem como
farinhas obtidas de grãos de trigo importados processadas no Brasil. A farinha de trigo,
por ser um produto do beneficiamento da matéria-prima alimentar em estado bruto, é
considerada um produto alimentício passível de sofrer alterações na sua qualidade
nutricional e tecnológica durante a operação de transporte envolvida no processo de
importação. O ágio e deságio na avaliação do mercado do trigo, seja ele na forma de
grãos ou na forma já processada de farinha, são definidos por diferenças de peso
hectolitro, força geral do glúten, tempo de mistura, estabilidade da massa, porcentagem
de mistura de grãos danificados, além do teor/quantidade de micotoxinas e presença de
resíduos de agrotóxicos.

As diferentes amostras de grãos de trigo nacionais e importados foram submetidas às


análises de umidade, teor de cinzas, glúten úmido, número de quedas e peso hectolitro,
enquanto as amostras de farinha de trigo foram submetidas às análises de umidade, teor
de cinzas, glúten úmido e número de quedas, de acordo com metodologias abaixo
descritas.

As cinzas será determinada a quantidade de matéria mineral (em percentual) com base
na perda de peso da amostra (10 g do triturado do grão ou da farinha), após ser
submetida à calcinação em mufla a 900 °C, seguindo-se de resfriamento em dessecador
por 1 hora (IACC, 1976)

A determinação do teor de cinzas é feita colocando-se uma quantidade conhecida de


amostra (1-5 g) em um equipamento chamado mufla, a temperatura entre 550-570?C,
até a eliminação completa do carvão. As cinzas deverão ficar brancas ou ligeiramente
acinzentadas. As especificações de uma farinha panificável, por exemplo, para cinzas
são pertinentes devido à necessidade da garantia da cor desejada do produto final, assim
também ocorre no caso de massas alimentícias. Uma farinha que possua um teor de
cinzas superior ao especificado, por exemplo, gerará um miolo de pão de coloração
mais escura, o que, dependendo das características típicas do produto final pode não ser
desejável, o que é o caso da fabricação de pães brancos, não integrais. Segundo a
legislação brasileira (Portaria 354/96), a farinha de trigo integral pode possuir no
máximo entre 2 e 2,5 % de cinzas (% em b.s.), a farinha de trigo comum, no máximo
1,35% e a farinha de trigo especial, no máximo 0,65%. Para os produtos oriundos da
moagem do trigo Durum, a legislação brasileira, através da Portaria 132/99 prevê para a
sêmola e semolina no máximo 0,92 % de cinzas, para a farinha, 1,50% e para a farinha
integral de trigo Durum, 2,10%.

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