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Contextualização da Agricultura Familiar e seus cultivos agrícolas

Deivid A. Magano1

Ivan R. Carvalho2

José A. G. da Silva3

1.1 Agricultura Familiar: Conceitos e definições

CARMO (1999), abordando o perfil da agricultura brasileira, se refere à

agricultura familiar como forma de organização produtiva em que os critérios

adotados para orientar as decisões relativas à exploração agrícola não se

subordinam unicamente pelo ângulo da produção/rentabilidade econômica, mas

leva em consideração também as necessidades e objetivos da família.

Contrariando o modelo patronal, no qual existe um separação entre gestão e

trabalho, no modelo familiar estes fatores estão intimamente ligados. Já na

opinião de BITTENCOURT e BIANCHINI (1996), “Agricultor familiar é todo

aquele (a) agricultor (a) que tem na agricultura sua principal fonte de renda onde

existe o emprego da força de trabalho é desempenhada por membros da família,

admitindo-se a contratação temporária de safristas.

1
Eng. Agrônomo; MSc.; Dr.; Professor Formador IFFAR; Professor da Universidade Regional do Noroeste
do Estado do Rio grande do Sul- UNIJUÍ- Ijuí- RS. maganodeivid@gmail.com
2
Eng. Agrônomo; MSc.; Dr.; Professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio grande
do Sul- UNIJUÍ- Ijuí- RS. carvalho.irc@gmail.com
3
Eng. Agrônomo; MSc.; Dr.; Pós Dr.; Professor da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
grande do Sul- UNIJUÍ- Ijuí- RS. jose.gonzales@unijui.edu.br
Na definição de GUANZIROLI e CARDIM (2000), agricultores familiares

são aqueles que atendem às seguintes condições: a direção dos trabalhos no

estabelecimento é exercida pelo produtor e família; a mão-de-obra familiar é

superior ao trabalho contratado, a área da propriedade está dentro de um limite

estabelecido para cada região do país. Diante de tantos conceitos, a legislação

brasileira, a definição de propriedade familiar consta no inciso II do artigo 4º do

Estatuto da Terra, estabelecido pela Lei nº 4.504 de 30 de novembro de 1964,

com a seguinte redação:

“Propriedade familiar: o imóvel que, direta e pessoalmente explorado pelo

agricultor e sua família, lhes absorva toda a força de trabalho, garantindo-lhes a

subsistência e o progresso social e econômico, com área máxima fixada para

cada região e tipo de exploração, e eventualmente trabalhado com a ajuda de

terceiros”

Independentemente de conceitos e definições propostas por diferentes

autores, a agricultura familiar hoje ocupa uma posição de destaque na efetiva

produção de alimentos, deixando há muito tempo de ser uma atividade de

subsistência. De acordo com a JACTO (2019), a agricultura familiar é uma

produção estruturada, com um faturamento anual de 55,2 bilhões de dólares no

Brasil, sendo responsável pela economia de 90% dos municípios com até 20 mil

habitantes. Mais que isso, 40% da população economicamente ativa

depende dessa atividade, assim como 70% dos brasileiros que vivem no

campo. Diante desse cenário, saber como manejar os cultivos agrícolas,

preparar o solo da maneira mais racional, conservando e preservando recursos

tem se tornado cada vez mais importante dentro de um processo que preconize

a sustentabilidade ambiental em seu sentido amplo.


O objetivo desse capítulo é introduzir e situar o estudante sobre a

agricultura familiar e a sua importância na produção de alimentos e produtos.

1.2 A importância da agricultura familiar na produção de alimentos básicos.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE,

2006), a agricultura familiar é a principal fornecedora de alimentos básicos para

a população brasileira. A ilustração abaixo apresenta a responsabilidade em

percentual da contribuição da agricultura familiar de sete culturas produzidas no

país.

Figura 1.- Percentual da contribuição das principais culturas produzidas pela agricultura familiar.

Fonte: https://arca.furg.br/images/stories/producao/cartilha_ibge_agricultura_familiar.pdf

Com base na ilustração, faremos uma análise da situação geral desses cultivos

considerados básicos, com relação a como estão os cultivos e quais as

perspectivas de produção e produtividade, além do destaque aos principais

estados produtores.
1.2.1 Mandioca

A estimativa de produção brasileira de raiz de mandioca para o ano de 2020, de

acordo com a última atualização do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística-

IBGE (abril/2020), é de 18,7 milhões de toneladas, cultivadas numa área de 1,27

milhão de hectares, representando uma produtividade de 14,75 t/ha. A Região

Norte lidera a produção de mandioca com 36,1% da safra nacional, seguida pela

Região Nordeste com 25,1% e pela Região Sul com 22,1%. A Região Nordeste

manteve a supremacia de maior produtora de mandioca até a década de 2010,

quando começou a perder essa posição para a Região Norte. A Região Sul

representa a terceira força produtora com 22,1% da produção nacional. As

regiões Sudeste e Centro-Oeste detinham as menores produções, com

respectivamente 10,9% e 5,8% em 2017 (EMBRAPA, 2017), conforme pode ser

visualizado na figura 2.

Figura 2 evolução da área plantada de mandioca em há nas regiões do Brasil de 1990 – 2017.
De acordo com as estimativas do levantamento de safra da Companhia

nacional de Abastecimento (CONAB, 2020), o mês de abril começou com

melhora nas condições climáticas da região Centro-Sul. As chuvas, embora

ainda abaixo do ideal, voltaram a favorecer os produtores de raiz de mandioca.

Muitos aproveitaram para realizar entregas, liberando áreas arrendadas e

fazendo caixa para cumprir seus compromissos. Porém, a demanda esteve

bastante fraca. No estado do Mato Grosso do Sul, os preços caíram, em média,

17,11%, fechando o mês com valor médio de R$ 305,18/t. Foi a maior

desvalorização registrada na região. No estado do Paraná, a desvalorização foi

de 15,74%, com o preço médio cotado a R$ 324,92/t, na última semana. Em São

Paulo, a raiz fechou o mês cotada em média a R$ 282,86/t, desvalorização de

14%. Na região Norte/Nordeste, o Clima chuvoso atrapalhou o rendimento e a

colheita da raiz de mandioca, porém, os preços têm permanecido mais estáveis,

haja vista que o produto se destina, na sua quase totalidade, à fabricação de

farinha. Na Bahia, os preços fecharam na última semana cotados, em média, a

R$ 340,00/t. No estado do Pará, o excesso de chuvas e a redução da oferta,

face às restrições impostas para combater o Covid-19, pressionaram os preços

durante esse mês, mas na última semana voltou ao patamar do mês anterior,

fechando cotado, em média, a R$ 292,98/t.

Na figura 3, podemos visualizar a evolução da produção da raiz de mandioca no

pais nos últimos 20 anos.


Figura 3. Evolução da Produção de raiz de mandioca no Brasil de 2000 a 2020.

Fonte: adaptado de Conab, 2020.

1.2.2 Feijão

De acordo com o nono levantamento da CONAB, o feijão segunda safra teve

uma produção estimada em 1,24 milhão de toneladas, redução de 4,9% sobre a

da safra anterior, e no momento a colheita se encontra em andamento. Já para

a terceira safra, a cultura está em fase final de plantio. Área estimada em 575,1

mil hectares, redução sobre a área da safra passada. A produção gira em torno

de total de aproximadamente 3,1 milhões de toneladas, 1,9% superior ao obtido

em 2018/19. Lavouras de segunda safra em processo de colheita e, de terceira

safra finalizando o plantio. Dessa produção 1.864,4 mil toneladas são de feijão-

comum cores, 701,1 mil toneladas de feijão caupi e 508,8 mil toneladas de feijão

comum preto.

1.2.3. Milho

De acordo com o nono levantamento da CONAB (2020), o milho de primeira

safra terá uma produção de 25,4 milhões de toneladas, e já foi completamente

colhido. O Milho de segunda safra terá uma produção recorde, estimada em 74,2

milhões de toneladas, com aumento de substancial de aproximadamente 1,5%


sobre a produção de 2018/19, e no momento está sendo colhido. O milho de

terceira safra com os plantios em maio e junho na região de Sealba (Sergipe,

Alagoas, nordeste da Bahia) e, em Pernambuco e Roraima, as estimativas

iniciais indicam uma área plantada em torno de 519,8 mil hectares, e produção

de 1,33 milhão de toneladas. Nesse contexto, a produção total de milho para

2020, deverá apresentar uma área de 18,5 milhões hectares e uma produção

recorde de 101 milhões de toneladas. Em termos de produção mundial de

milho, o Brasil encontra-se atrás somente dos Estados Unidos e da China,

estando muito próximo da União Europeia. Metade de sua produção no país é

realizada por pequenos produtores e a outra metade fica a cargo de

latifundiários, que vêm elevando a produção de milho transgênico. Embora seja

considerado um produto de vital importância para a subsistência alimentar, a

maior parte de sua produção destina-se à fabricação de rações para animais. Os

principais estados na produção de milho no Brasil são Goiás, Paraná, São Paulo,

Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Sua

produção deve crescer a um ritmo de 3% nos próximos anos e as áreas

agricultáveis destinadas a esse produto também devem aumentar

aproximadamente 1% nas safras posteriores.

1.2.4. Café

De acordo com o levantamento da safra de Janeiro de 2020, a safra prevê,

em quase todas as regiões produtoras de café do país, a influência (sobretudo

no café arábica) da bienalidade positiva, estimando assim uma produção maior

que aquela obtida em 2019, devendo alcançar entre 57,2 milhões e 62,02

milhões de sacas beneficiadas. A área destinada a essa produção, 1.885,5 mil


hectares, apresenta crescimento de 4% e o volume a ser produzido entre 15,9%

e 25,8% em relação à temporada passada. Café Arábica: produção estimada

entre 43,2 milhões e 45,93 milhões de sacas, representando aumento em

comparação ao volume produzido na safra passada, entre 26% e 34,1%,

respectivamente. Café Conilon: produção estimada entre 13,95 milhões e 16,04

milhões de sacas, representando redução de 7,1%, e crescimento de 6,8%,

respectivamente, em comparação ao volume produzido na safra passada.

O estado de Minas Gerais, o maior produtor brasileiro, participou com 54,3% da

produção nacional de café, seguido pelo Espírito Santo com 19,7%, São Paulo -

9,8%, Bahia - 7,5%, Rondônia - 4,3% e Paraná com 2,7%. Apesar do café ser

um commodity4, é fruto também do trabalho da agricultura familiar.

1.2.5. Arroz

De acordo com nono levantamento da CONAB (2020), com a colheita próxima a

finalizar-se, a produção está estimada em 11,1 milhões de toneladas, 6,5%

superior ao volume produzido na safra passada. Dessas, 10,2 milhões de

toneladas em áreas de cultivo irrigado e 0,9 milhão de toneladas em áreas de

plantio de sequeiro. Apesar da redução da área cultivada nos últimos anos, a

proporção do plantio de arroz realizada em áreas irrigadas gera maior

produtividade, o que vem permitindo a manutenção da produção ajustada ao

consumo nacional. A produção para esta safra está prevista atingir 11,13 milhões

de toneladas, representando aumento de 6,5% em relação à safra passada. O

quadro da seca, que ocorreu no Rio Grande do Sul, maior produtor nacional,

4
corresponde a produtos de qualidade e características uniformes, que não são
diferenciados de acordo com quem os produziu ou de sua origem, sendo seu preço
uniformemente determinado pela oferta e procura internacional.
acabou por favorecer a cultura do arroz, já que houve a combinação fortuita de

eventos que contribuíram para o bom desempenho das lavouras. A colheita na

Região Sul está finalizada e encaminha para o encerramento na Região

Nordeste do país.

1.2.6. Cereais de Inverno

De acordo com o nono levantamento da CONAB (2020), as culturas da aveia,

canola, centeio, cevada, trigo e triticale estão com plantio em andamento.

Estima-se crescimento de 5,5% na área a ser plantada. Especificamente para o

trigo, o plantio está em andamento e as perspectivas são boas, indicando

crescimento de 6,7% na área a ser cultivada, situando-se em 2,18 milhões de

hectares e a produção dependendo, do comportamento climático, em 5,7

milhões de toneladas.

1.2.7 Soja

De acordo com o nono levantamento da CONAB (2020), a produção

estimada para esta safra atingiu 120,4 milhões de toneladas, recorde histórico,

representando um acréscimo de 4,7% em relação ao exercício passado. Apesar

do forte impacto causado pelo desempenho da safra no Rio Grande do Sul, a

cultura apresentou produtividades recordes em Mato Grosso, Paraná, Goiás,

São Paulo, Tocantins, Maranhão Rondônia e Distrito Federal.

Na Região Nordeste, particularmente no Matopiba, as condições

climáticas trouxeram transtornos durante à semeadura, causando a necessidade

de replantio em algumas regiões. O quadro climático mudou substancialmente e

as chuvas a partir de janeiro favoreceram o desenvolvimento das lavouras,


beneficiando os níveis de produtividade. A soja também é uma commodity, mas

ainda assim 16% da soja no Brasil é cultivada por agricultores familiares.

1.2.8 Outros cultivos explorados pela Agricultura Familiar

Além desses produtos em destaque na agricultura brasileira, também

cabe ressaltar a importância socioeconômica de outras culturas também

amplamente cultivadas no território brasileiro, como o cacau, e a horticultura,

entre outros.

1.2.8. Tabaco

O fumo é um dos poucos grandes produtos da agropecuária

brasileira que são, em maior parte, produzidos em pequenas

propriedades. O seu cultivo em folhas no país é o segundo maior do

planeta, atrás somente da China, de modo que o Brasil é o maior

exportador. A maior parte da produção ocorre na região Sul do país, que

responde por mais de 90% de todo o tabaco cultivado em território

brasileiro, com destaque para o Rio Grande do Sul, que, sozinho, produz

47%. Ao todo, mais de 180 mil famílias brasileiras dependem da produção

de fumo, embora alguns estudos venham diagnosticando a migração para

outras culturas, principalmente de produtos agrícolas orgânicos.

Referências:

BITTENCOURT, G. A.; BIANCHINI, V. Agricultura familiar na região sul do


Brasil, Consultoria UTF/036-FAO/INCRA, 1996.

CARMO, R.B.A. A Questão Agrária e o Perfil da Agricultura Brasileira 1999


Disponível em http://www.cria.org.br/gip/gipaf/itens/pub/sober. Acesso em
junho 2001.
CONAB - Cia Nacional de Abastecimento nono levantamento da safra brasileira.
Disponível em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras/graos. Acesso em:30
jun de 2020.

GUANZIROLI, C.; CARDIM, S. E. (Coord.). Novo Retrato da Agricultura Familiar:


O Brasil redescoberto. Brasília: Projeto de Cooperação Técnica FAO/INCRA,
fev/2000. 74 p. Disponível em: http://www.incra.gov.br/fao/pub3.html.

JACTO (2019) blog da empresa disponível em:


https://blog.jacto.com.br/agricultura-familiar-no-brasil/

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