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INFORMAÇÕES

AGRONÔMICAS
Número 5
ISSN 2311-5904
Março 2020

FATORES E PROCESSOS ESSENCIAIS


PARA ALTOS RENDIMENTOS DE SOJA
Elmar Luiz Floss1
Luiz Gustavo Floss2

1. INTRODUÇÃO nibilidade de farelo de soja (proteína) e milho, o Brasil bate

N
recordes anuais na produção e na exportação de carne suína
o universo das culturas graníferas, a produ- (4º maior exportador) e de frango (2º maior exportador).
ção de grãos de soja é a que mais cresceu no
mundo (697%), passando de 45 milhões de O aumento do rendimento/produtividade da soja no
toneladas (t) em 1976, para um recorde de 359 milhões t na Brasil é resultado do desenvolvimento de novas tecnologias
safra 2019 (USDA, 2019). No Brasil, a produção evoluiu, geradas pelas pesquisas, pública e privada, bem como da
no mesmo período, de 11,2 milhões de t para 115,0 milhões t difusão e adoção dessas pelos produtores. Essa evolução no
(+ 924,6%). O rendimento da soja, no Brasil, aumentou de rendimento se deve às diferentes revoluções tecnológicas
1.750 kg ha-1, na safra 1976/1977, para 3.206 kg ha-1, na safra implementadas nos últimos 50 anos, como a calagem, a adoção
2018/2019 (+ 83,2%), conforme estimativa da Companhia do sistema plantio direto, a utilização de cultivares transgê-
Nacional de Abastecimento – CONAB (CONAB, 2019). nicos, a adubação equilibrada (macro e micronutrientes), a
No Brasil, a soja é a principal cultura em área cultivada, maior eficiência no controle de plantas daninhas, pragas e
produção e geração de divisas na exportação (mais de moléstias, o advento do uso das ferramentas da agricultura
40 bilhões de dólares no ano de 2018). E, graças à dispo- de precisão, e a interação entre esses fatores.

Abreviações: B = boro; Ca = cálcio; CESB = Comitê Estratégico Soja Brasil; CONAB = Companhia Nacional de Abastecimento; CTC =
capacidade de troca de cátions; Cu = cobre; FBN = fixação biológica de nitrogênio; IAF = índice de área foliar; IC = índice de cone; K = potássio;
Mg = magnésio; Mn = manganês; Mo = molibênio; N = nitrogênio; P = fósforo; RP = resistência à penetração.; S = enxofre; Si = silício; Zn = zinco.

1
Engenheiro Agrônomo, licenciado em Ciências, Doutor, Consultor, Professor e Diretor do Instituto Incia; email: elmar@incia.com.br
2
Engenheiro Agrônomo, Mestre, Consultor, Pesquisador, Diretor do Grupo Floss; email: luiz.gustavo@grupofloss.com

NUTRIÇÃO DE PLANTAS CIÊNCIA E TECNOLOGIA (NPCT)


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1
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PATROCINADORES

ISSN 2311-5904

Publicação trimestral da
NPCT – Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia
O jornal publica artigos técnico-científicos elaborados pela
comunidade científica nacional e internacional visando
o manejo responsável dos nutrientes das plantas.

COMISSÃO EDITORIAL
Editor
Luís Ignácio Prochnow
Editora Assistente
Silvia Regina Stipp
Gerente de Distribuição
Evandro Luis Lavorenti
ASSINATURAS
As assinaturas podem ser realizadas no site da NPCT: http://www.npct.com.br

PATROCÍNIO
Os interessados em patrocinar o Jornal Informações Agronômicas podem
entrar em contao com: ELavorenti@npct.com.br ou LProchnow@npct.com.br

No 5 MARÇO/2020

CONTEÚDO

Fatores e processos essenciais para altos rendimentos da soja


Elmar Luiz Floss, Luiz Gustavo Floss.............................................. 1

Adubação foliar: O “ajuste fino” da nutrição de plantas


Valter Casarin, Silvano Abreu, NIcolas Braga Casarin ....................... 20

Utilização de microrganismos na agricultura:


fatos e perspectivas
Tiago Domingues Zucchi .............................................................. 30

Divulgando a Pesquisa ............................................................. 36


Painel Agronômico ................................................................... 37
Cursos, Simpósios e outros Eventos ....................................... 38
Evento da NPCT ...................................................................... 39
Publicações Recentes ............................................................... 40
Publicação do IPNI/NPCT ...................................................... 41
Ponto de Vista ........................................................................... 42

NOTA DOS EDITORES


As opiniões e as conclusões expressas pelos autores nos artigos não
refletem necessariamente as mesmas dos editores deste jornal.

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A demanda mundial crescente pela soja deve-se a eficiência dos produtos químicos, os principais fatores são
muito mais à proteína do que ao óleo. Com a utilização da a rotação de culturas, o equilíbrio nutricional das plantas, a
melhor genética, das melhores práticas de manejo da cultura resistência genética dos cultivares utilizados e as modernas
(especialmente a nutrição equilibrada) e de adequadas con- tecnologias de aplicação.
dições de clima obtém-se grãos de soja com teor médio de Os “seis segredos para o sucesso da lavoura de soja”,
37 a 43% de proteína, 17 a 23% de óleo e 27 a 30% de segundo Haegele e Below (2013), são: 1) utilizar tecnologias
glicídios. Além do alto teor, a proteína da soja apresenta para mitigar os impactos negativos das condições climáticas
composição de aminoácidos e valor biológico equivalentes que não podem ser controladas; 2) melhorar a fertilidade
aos da proteína da carne, do leite e do ovo, porém, a um do solo por meio do balanço de nutrientes e tecnologias de
custo de produção muito mais baixo. Portanto, o desafio aplicação; 3) utilizar cultivares com maiores potenciais de
não é apenas aumentar o rendimento da soja, mas também rendimento e responsivas ao aumento das práticas de manejo;
produzir grãos com maiores teores de proteína e atender ao 4) proteger o rendimento e maximizar o enchimento de grãos
mercado consumidor. por intermédio da aplicação foliar de fungicidas e inseticidas;
Os grandes cenários do agronegócio acenam para a 5) melhorar a emergência e o vigor com o tratamento das
necessidade do aumento permanente da produtividade/ren- sementes com fungicidas, inseticidas e biorreguladores; e
dimento, a melhoria da qualidade dos produtos colhidos, o 6) utilizar espaçamentos e populações de plantas que maximi-
aumento da rentabilidade, da competitividade num mundo zem a interceptação da luz solar e otimizar estratégias de posi-
globalizado e sustentável sob os pontos de vista econômico, cionamento de fertilizantes em sistema de rotação soja-milho.
social e ambiental.
O aumento da produtividade ou o chamado ren- 2.1. Fatores de solo
dimento biológico (total de biomassa seca produzida por O desenvolvimento e o rendimento da soja dependem
unidade de área) ou rendimento (quantidade de produto das adequadas propriedades físicas, químicas e biológicas
econômico colhido por unidade de área; por exemplo, grãos), dos solos. O solo é o maior patrimônio dos produtores, cuja
também conhecido como fotossíntese líquida ou fotossíntese melhoria deve ser permanente para garantir produtividade
aparente, encontra-se expresso na diferença entre a taxa de crescente, com rentabilidade e sustentabilidade.
fotossíntese e a taxa de respiração acrescidas da fotorrespira-
ção, que ocorrem nas culturas do tipo C3 ou 3C, como a soja. • Propriedades físicas
Uma das mais importantes propriedades físicas dos
2. FATORES E PROCESSOS ESSENCIAIS solos é a permeabilidade/porosidade, que influi na disponibi-
lidade de água, ar e nutrientes, e no crescimento radicular. A
PARA ALTOS RENDIMENTOS DE SOJA compactação do solo reduz o espaço poroso (especialmente
A capacidade produtiva da soja, de forma eficiente, é os macroporos), limitando a penetração das raízes e a infil-
o resultado da interação de mais de 50 fatores relacionados tração e o armazenamento de água. As principais causas da
às características genéticas dos cultivares, à qualidade das compactação são o tráfego de máquinas agrícolas, em excesso
sementes e à semeadura, às condições ambientais (clima e ou de forma inadequada, o pisoteio excessivo pelos animais
solo), à nutrição/adubação equilibrada, à sanidade e às outras (na integração lavoura-pecuária), o impacto direto da chuva
práticas de manejo ou tratos culturais utilizados pelos produ- sobre solos descobertos e o adensamento dos solos.
tores, relacionando-se também a fatores internos, processos O diagnóstico da compactação do solo pode ser rea-
fisiológicos (germinação, crescimento, reprodução e produção) lizado de diversas formas, entre elas: a) retirar amostras
e ao controle hormonal de todos os processos fisiológicos indeformadas com cilindros volumétricos e determinar a
envolvidos com o desenvolvimento e a produção vegetal. densidade aparente do solo em laboratório (a densidade apa-
De forma genérica, o aumento do potencial de rendi- rente é igual ao peso seco da amostra dividido pelo volume
mento e da qualidade do produto colhido depende de fatores da amostra indeformada); b) determinar o nível de compac-
promotores da produção e de fatores mantenedores da tação por meio do penetrômetro/penetrógrafo, que mede a
produção. Os fatores promotores da produção são os mais resistência do solo à penetração (RP) ou índice de cone (IC),
importantes, e envolvem a adoção de tecnologias, como a com versões modernas, digitalizadas e georreferenciadas.
escolha do melhor cultivar, da qualidade das sementes, da Um solo ideal deve apresentar densidade aparente
adequada implantação da cultura, da adubação e da correção menor que 1,25 g cm-3; densidades de 1,25 até 1,5 g cm-3
correta do solo, da irrigação, da rotação de culturas, da utiliza- são toleradas e podem ser rompidas pelo crescimento radi-
ção do sistema de semeadura direta, dentre outras práticas. Os cular de culturas de cobertura (descompactação biológica);
fatores mantenedores da produção têm como função evitar as densidade aparente acima de 1,5 g cm-3 é limitante e requer
perdas do potencial de rendimento determinado pelos fatores a descompactação mecânica, associada à biológica. Quando
promotores, como, por exemplo, o controle adequado das a compactação é medida pela resistência à penetração (RP),
moléstias, das pragas e das plantas daninhas. Para aumentar considera-se como valores ideais até 1,5 Mega Pascal (MPa),

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valores toleráveis de 1,5 a 3 MPa (descompactação biológica, (c) Saturação por bases – cálcio (Ca), magnésio (Mg)
por meio de culturas de cobertura com diferentes sistemas e potássio (K) – acima de 70% da capacidade de troca de
radiculares) e valores restritivos ao desenvolvimento radicular cátions (CTC);
acima de 3 MPa (descompactação mecânica + biológica). (d) Alta, ou muito alta, disponibilidade de macronu-
Assim, em levantamento realizado pelo Comitê Estratégico trientes – fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio
Soja Brasil (CESB) em 26 lavouras de soja que produziram (Mg), enxofre (S), e de micronutrientes – boro (B), cobre
mais de 70 sacas ha-1 (+ 4.200 kg ha-1), a resistência do solo (Cu), ferro (Fe), maganês (Mn), molibdênio (Mo) e zinco
à penetração foi inferior a 1,4 MPa, avaliando-se até 120 cm (Zn), no solo;
de profundidade (SAKO et al., 2016). (e) Equilíbrio de bases: 50-70% da CTC ocupada pelo
A compactação do solo, além de reduzir a infiltração de Ca, 15-20% pelo Mg e 3-5% pelo K;
água, limita o crescimento de raízes e reduz significativamente (f) Neutralização do alumínio (Al) tóxico.
a absorção de nutrientes pelas culturas. Em experimento com a
cultura da soja, cultivada em vasos, em solo compactado artifi- As melhorias nas propriedades químicas do solo
cialmente, os resultados demonstraram claramente que a inibição devem atingir um perfil de 0-40 cm de profundidade. Para
de absorção se acentua em densidade superior a 1,48 g cm-3 e alcançar esse objetivo, são fundamentais a calagem, a
o nutriente mais afetado é o fósforo (ROSOLEM et al., 1994). gessagem, a adubação racional e a produção permanente
de biomassa, seguindo o princípio “colher/semear/colher”.
Quando diagnosticada a necessidade de escarifica-
Um solo bem manejado é aquele que apresenta um aumento
ção (até 25 cm de profundidade) ou subsolagem (acima de
progressivo do teor de matéria orgânica – o principal fator
25 cm de profundidade), essas devem ser realizadas após a
responsável pela melhoria das condições físicas, químicas
colheita do milho, ou outro cereal, com palhada abundante,
e biológicas do solo.
evitando a erosão do solo. A descompactação logo após a
colheita da soja deve ser evitada, pois essa cultura produz • Propriedades biológicas
cada vez menos palha (cultivares de baixa estatura e super-
A presença de material orgânico no solo é um fator
precoces), e com relação C/N estreita, cuja rápida decom-
determinante da atividade dos microrganismos, bem como do
posição gera a erosão do solo. Nesse caso, deve-se colher a
seu montante populacional, uma vez que a matéria orgânica
soja e semear imediatamente culturas de cobertura (ou fazer a
é, antes de tudo, a fonte de energia para os organismos do
sobressemeadura), de forma isolada ou consorciada, como, por
solo (DERPSCH et al., 1991). Quanto maior o volume de
exemplo, aveia preta, aveia branca, centeio, milheto, sorgo for-
palha na superfície do solo, maior a atividade microbiana e
rageiro, capim Sudão, braquiária, nabo forrageiro, ervilhacas,
maior a estabilidade na fixação biológica do nitrogênio (N)
ervilha forrageira, crotalarias, ou ainda outras, dependendo da
pelas leguminosas.
região (DERPSCH; CALEGARI, 1992).
A diversidade funcional dos organismos do solo é
Após essas culturas cobrirem o solo, deve-se realizar
bastante elevada, e inclui: bactérias fixadoras de nitrogênio
a operação mecânica, o que reduz significativamente o risco
(por exemplo, Bradyrhizobium, Azzospirilum, Pseudomonas);
de erosão. As raízes das culturas ocuparão os espaços porosos
bactérias liberadoras de fósforo, mediante a síntese de fos-
(bioporos), garantindo uma descompactação mais duradoura.
fatases (por exemplo, micorrizas, Baccillus); controladores
Os novos equipamentos apresentam resultados promissores
biológicos de pragas (Baccillus, Pocconia, Beauveria); con-
pois, ao mesmo tempo, fazem a escarificação e/ou subsola-
troladores de patógenos (por exemplo, Tricoderma, Bacci-
gem, injetam calcário em profundidade no solo e promovem a
llus), além de outros microrganismos, como as nitrobactérias,
melhoria das propriedades físicas (descompactação), químicas
sulfobactérias, dentre outros. Um solo fértil é um solo vivo.
(aumento do pH, neutralização do alumínio tóxico e aumento
dos teores de cálcio e magnésio, em profundidade) e biológicas 2.2. Fatores nutricionais e adubação
do solo (por meio dos ecxudatos radiculares das culturas de
cobertura). Esses bioporos são utilizados, preferencialmente, Entre os fatores mais importantes para a expressão do
pelas raízes da soja, cultivada em sucessão. potencial genético da soja está a nutrição adequada, junta-
mente com os demais fatores que influem na disponibilidade
• Propriedades químicas dos nutrientes no solo, no contato do nutriente com a raiz e na
Para obter altos rendimentos de soja é necessário sua absorção, transporte, assimilação e redistribuição na planta.
melhorar as propriedades químicas do solo, buscando: Com o aumento do rendimento das culturas, a neces-
sidade de nutrientes é maior. Por outro lado, o ciclo das
(a) pH em água do solo entre 6,0 e 6,5;
culturas foi reduzido nos últimos anos, o que exige uma
(b) Aumento crescente dos teores de matéria orgânica absorção maior em menos tempo. Uma nutrição adequada
– fundamental para a agregação do solo, aumento da CTC, requer o conhecimento da quantidade de nutrientes extraída
retenção de água, atividade microbiana e disponibilização e exportada pelos grãos, cuja quantidade varia de acordo com
de nutrientes; o rendimento de grãos e a quantidade de palha produzida.

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O diagnóstico da disponibilidade de nutrientes no solo quado crescimento de raízes, parte aérea e, especialmente,
deve ser realizado por intermédio da análise química e com- maior formação de grãos.
plementado pela análise foliar. A análise de solo indica, teo-
Os dados da Tabela 1 mostram que o N é o macro-
ricamente, a quantidade de nutrientes que pode ser absorvida
nutriente mais extraído pela soja para a produção de uma
pelas culturas (nutrientes disponíveis), e a análise foliar, o que é
tonelada de grãos, seguido por K, Ca, S, P e Mg. Na mesma
efetivamente absorvido naquelas condições específicas de clima
Tabela encontra-se a estimativa da extração de macronu-
e solo. No entanto, uma planta somente é nutrida adequadamente
trientes para um rendimento de 4 t ha-1, expresso em kg ha-1
se houver disponibilidade de água no solo. Sem água no solo não
(BATAGLIA; MASCARENHAS, 1977; YAMADA, 1999;
há solubilização dos corretivos e fertilizantes, crescimento de
PAULETTI, 2004; EMBRAPA, 2013; BENDER et al., 2015;
raízes, mobilidade de nutrientes no solo (fluxo de massa e difu-
FLOSS, 2017, dados não publicados).
são), transporte dos nutrientes da raiz para a folha (movimento
apoplástico), redistribuição dos nutrientes móveis (movimento Tabela 1. Extração de macronutrientes pela cultura da soja.
simplástico) e assimilação dos nutrientes nas folhas, pois as
Extração para
reações bioquímicas somente ocorrem em meio aquoso. Extração
Macronutrientes rendimento
A absorção dos nutrientes também depende da dispo- (kg t-1)
de 4 t ha-1 (kg ha-1)
nibilidade de oxigênio no solo, pois o principal processo de
N 79,4 317,6
absorção é ativo, dependente da energia química, formada por
meio da respiração aeróbia. Por isso, uma adequada estrutura P2O5 15,2 60,8
física do solo é de fundamental importância para a obtenção K2O 46,1 184,4
de altos rendimentos.
Ca 18,5 74,0
Portanto, os teores de nutrientes na biomassa das cultu-
ras variam entre cultivares e dependem das condições de solo, Mg 9,7 38,8
da disponibilidade de água e oxigênio no solo, dos fatores SO42- 16,8 67,2
climáticos, do órgão da planta e do estádio de desenvolvimento.
A extração é a quantidade total de nutrientes acumulada nos Fonte: Médias calculadas a partir de Bataglia e Mascarenhas
grãos e na palha (parte aérea e raízes). Por convenção, dada (1977), Yamada (1999), Pauletti (2004), Embrapa (2013), Bender
a dificuldade de determinar a quantidade total de nutrientes et al. (2015), Floss (2017, dados não publicados).
acumulada nas raízes, considera-se apenas a quantidade de
nutrientes na palha (parte aérea). A exportação (índice de Quanto à exportação de macronutrientes pelos grãos de
colheita de nutrientes) é a quantidade de nutrientes acumulada soja, verifica-se que o N é o nutriente mais exportado, seguido
nos grãos, exportada da lavoura e não reciclada. por K, P, S, Ca e Mg, para a produção de uma tonelada de
Existe uma relação direta entre o rendimento e a grãos (Tabela 2). Isso representa um índice de colheita de
exportação de nutrientes, mas não existe uma relação direta macronutrientes (relação exportação/extração) de 73,8 %
entre o rendimento e a extração de nutrientes, pois, para um do N, 77,6% do P, 48,1% do K, 15,6% do Ca, 24,7% do Mg
mesmo rendimento, a produção de palha pode ser menor e 47,6% do S. Tem-se também, na Tabela 2, a estimativa
(maior índice de colheita). da exportação de macronutrientes para um rendimento de
A adubação racional é calculada pela diferença entre 4 t ha-1, expresso em kg ha-1.
a necessidade da cultura (extração/exportação) e a disponi-
bilidade dos nutrientes no solo, multiplicada pelo fator de Tabela 2. Exportação de macronutrientes pela cultura da soja.
eficiência de cada nutriente. Os valores médios de extração Exportação para
e exportação de cada nutriente estão disponíveis na literatura. Exportação
Macronutrientes rendimento de 4 t ha-1
Caso os teores de nutrientes no solo estejam muito altos, a (kg.t-1)
(kg ha-1)
quantidade de nutriente aplicada deve ser igual à quantidade
N 58,6 234,4
exportada pela cultura. Em qualquer nível abaixo, a quanti-
dade aplicada deve ser equivalente à da extração. P2O5 11,8 47,2
K2O 22,2 88,8
2.2.1. Necessidade de macronutrientes pela soja
Ca 2,9 11,6
Para a obtenção de altos rendimentos pela soja há
necessidade de alta disponibilidade de macronutrientes no Mg 2,4 9,6
solo, de adequadas relações entre os nutrientes (por exemplo, SO4 -2
8,0 32,0
relação Ca/Mg/K) e, ainda, o conhecimento da extração e
exportação dos nutrientes nos níveis de rendimento obtidos Fontes: Médias calculadas a partir de Pauletti (2004); Embrapa
em cada gleba da lavoura. A adubação eficiente proporciona (2013); Bender et al. (2015); Bataglia e Mascarenhas (1977); Floss
um equilíbrio nutricional na planta, que garante um ade- (2017, dados não publicados).

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
Nas Figuras 1 e 2 são apresentadas as marchas de Tabela 3. Extração de micronutrientes pela cultura da soja.
absorção/acumulação de macronutrientes pela cultura da
Extração para
soja em experimento conduzido em Passo Fundo, RS, na Extração
Micronutrientes rendimento
safra 2016/2017 (FLOSS, 2017, dados não publicados). Os (g t-1)
de 4 t ha-1 (g ha-1)
estádios reprodutivos abrangem quatro distintas fases do
desenvolvimento da planta, ou seja, florescimento (R1 e R2), B 80,0 320,0
desenvolvimento da vagem (R3 e R4), desenvolvimento dos Cu 21,6 86,4
grãos (R5 e R6) e maturação da planta (R7 e R8).Verifica-se
que o maior acúmulo de nutrientes ocorre a partir do estádio Fe 303,5 1.214,0
R1 até o R5, e os nutrientes mais redistribuídos da planta para Mn 162,3 649,2
os grãos são N, P, S e K. Esses resultados são semelhantes
aos obtidos por Bender et al. (2015). Mo 5,3 21,2
Zn 74,4 297,6
2.2.2. Necessidade de micronutrientes pela soja
Além dos macronutrientes, também merecem atenção Fonte: Médias calculadas a partir de Pauletti (2004); Embrapa
os micronutrientes, os quais são tão essenciais quanto aqueles, (2013); Bender, Haegele e Below (2015); Bataglia e Mascarenhas
(1977); Floss (2017, dados não publicados).
mesmo sendo extraídos e exportados em menores quantidades
(g t-1 ou g ha-1). O diagnóstico pode ser realizado por meio
da análise de solo, mas atinge maior eficiência pela análise
das folhas. A melhor correlação entre teores de micronu- Quanto à exportação de micronutrientes pela soja,
trientes e rendimento é obtida pela análise das folhas indi- nas médias calculadas a partir de resultados obtidos pelos
cadoras (folhas trifolioladas do terceiro nó), nos estádios mesmos autores, apresentadas na Tabela 4, observa-se que
R1/R2 (TANAKA; MASCARENHAS, 1992). Segundo o micronutriente mais exportado é o Fe, seguido de Zn, Mn,
esses autores, são considerados suficientes os teores (g kg-1) B, Cu e Mo. Tomando as médias por base, foi estimada a
de macronutrientes de: 40,1 a 55,0 de N; 2,6 a 5,0 de P; exportação de micronutrientes para um rendimento de 4 t ha-1
17,1 a 25,0 de K; 3,6 a 20,0 de Ca; 2,6 a 10,0 de Mg (Tabela 4), expresso em g ha-1.
e 2,1 a 4,0 de S. Para os micronutrientes, são consi-
derados suficientes os teores (mg kg -1) de: 21 a 51 de As marchas de absorção dos micronutrientes B,
B; 10 a 40 de Cu; 51 a 350 de Fe; 21 a 100 de Mn; Cu, Mn, Mo e Zn durante o desenvolvimento da soja são
1 a 5 de Mo e 21 a 50 de Zn (TANAKA; MASCARENHAS, apresentadas nas Figuras 3 e 4 (FLOSS, 2017, dados não
1992). publicados). Verifica-se que altas taxas de absorção ocorrem
a partir dos estádios de floração (R1 e R2), e que as maiores
À medida que o rendimento da soja aumenta, como taxas de exportação ocorrem para os nutrientes Zn e Cu. Isso
resultado da genética e das modernas práticas de manejo da é importante ser considerado para a definição do momento
cultura, também aumenta a frequência de respostas à aplica- mais adequado da aplicação foliar desses nutrientes.
ção de micronutrientes, via solo, semente ou foliar, bem como
o aparecimento de sintomas de deficiência. No diagnóstico
da deficiência de micronutrientes, vários fatores devem ser Tabela 4. Exportação de micronutrientes pela cultura da soja.
considerados, tais como: a) maiores potenciais de rendimento;
b) excesso de calcário em superfície; c) efeito inibidor do gli- Exportação para
Exportação
fosato; d) doses elevadas de P na linha; e) deficiência hídrica Micronutrientes rendimento de 4 t ha-1
(g t-1)
e f) qualidade dos fertilizantes foliares. (g ha-1)

B 28,6 114,4
• Altos potenciais de rendimento
Com os altos rendimentos, também ocorrem maiores Cu 11,4 45,6
extrações e exportações de micronutrientes pela cultura da Fe 103,6 414,4
soja. Na média de vários autores (MASCARENHAS, 1977;
Mn 31,4 125,6
YAMADA, 1999; PAULETTI, 2004; EMBRAPA, 2013;
BENDER et al., 2015; BATAGLIA; FLOSS, 2017, dados não Mo 3,9 15,6
publicados), verifica-se que o micronutriente mais extraído é
Zn 39,8 159,2
o Fe, seguido de Mn, B, Zn, Cu, e, por último, Mo, conforme
Tabela 3. Na mesma tabela é apresentada a estimativa de Fontes: Médias calculadas a partir de Pauletti,(2004); Embrapa
extração de micronutrientes em uma lavoura de soja, com (2013); Bender et al. (2015); Bataglia e Mascarenhas (1977); Floss
rendimento de 4 t ha-1, expressa em g ha-1. (2017, dados não publicados).

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
Nitrogênio absorvido (kg ha-1) 500

375

250

125

Estádio fenológico

50,0
Fósforo absorvido (kg ha-1)

37,5

25,0

12,5

Estádio fenológico

300
Potássio absorvido (kg ha-1)

225

150

75

Estádio fenológico

Figura 1. Marcha de absorção de nitrogênio, fósforo e potássio pela cultura da soja, em Passo Fundo, RS, na safra 2016/2017.
Fonte: Floss (2017, dados não publicados).

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
Cálcio absorvido (kg ha-1) 100

75

50

25

Estádio fenológico

60
Magnésio absorvido (kg ha-1)

45

30

15

Estádio fenológico

30,0

22,5
Enxofre absorvido (kg ha-1)

15,0

7,5

Estádio fenológico

Figura 2. Marcha de absorção de cálcio, magnésio e enxofre pela cultura da soja, em Passo Fundo, RS, na safra 2016/2017.
Fonte: Floss (2017, dados não publicados).

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
500
Boro absorvido (g ha-1)

375

250

125

Estádio fenológico

120
Cobre absorvido (g ha-1)

90

60

30

Estádio fenológico

3.000
Manganês absorvido (g ha-1)

2.250

1.500

750

Estádio fenológico

Figura 3. Marcha de absorção de boro, cobre e manganês pela cultura da soja, em Passo Fundo, RS, na safra 2016/2017.
Fonte: Floss (2017, dados não publicados).

9
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
Molibdênio absorvido (g ha-1) 14,0

10,5

7,0

3,5

Estádio fenológico

500
Zinco absorvido (g ha-1)

375

250

125

Estádio fenológico

Figura 4. Marcha de absorção de molibênio e zinco pela cultura da soja, em Passo Fundo, RS, na safra 2016/2017.
Fonte: Floss (2017, dados não publicados).

• Excesso de calcário em superfície após a aplicação (CAKMAK, 2007). Isso porque o produto
promove o aumento dos microrganismos oxidantes do Mn e
Quando o pH em água do solo é superior a 6,4, ocorre reduz os microrganismos redutores. Dessa forma, a carga do
uma indisponibilização dos micronutrientes Fe, Mn, Zn, Cu Mn aumenta de 3 para 4, reduzindo a velocidade de absorção.
e B. Por outro lado, o aumento do pH promove aumento na O amarelecimento típico varia de acordo com a cultivar e é
disponibilidade de Mo. O aumento do pH, superior a 6,4, se proporcional à dose de glifosato aplicada.
deve à aplicação de doses muito elevadas de calcário, em
superfície, em sistema plantio direto (MALAVOLTA, 1980; • Deficiência causada por déficit hídrico
FAGERIA, 2013). Nessa situação, é muito comum um pH A maioria dos micronutrientes (Fe, Mn, Cu, Zn e B)
alto nos primeiros 10 cm do solo, o que leva à deficiência é imóvel ou pouco móvel na planta (MENGEL; KIRKBY,
desses nutrientes nos estádios iniciais de desenvolvimento da 1987; MARSCHNER, 1995). Isso significa que eles não são
soja, pois o sistema radicular ainda é superficial. redistribuídos das folhas velhas para as folhas novas. Por isso,
o sintoma de deficiência desses nutrientes ocorre nas pontas de
• Efeito inibidor do glifosato crescimento (meristemas) e nas folhas novas. Assim, quando
A aplicação de glifosato em pós-emergência, em soja ocorre uma deficiência hídrica, mesmo com teores adequados
transgênica, reduz a absorção de micronutrientes, espe- no solo, a absorção e a translocação dos nutrientes da raiz
cialmente de Mn, em um período que varia de 10 a 14 dias para as folhas serão limitadas.

10
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
• Maior eficiência dos fertilizantes foliares e os inoculantes são os únicos insumos vivos utilizados na
lavoura. A sua qualidade depende das condições adequadas de
A eficiência da absorção foliar e a translocação nos
produção, beneficiamento e armazenamento. Os progressos
vegetais é aumentada quando os nutrientes são quelatizados
genéticos dos novos cultivares chegam às lavouras por meio
(metais divalentes), bem como com o uso de coadjuvantes
das sementes, para a expressão do potencial desses.
(MARSCHNER, 1995). São exemplos de quelatos o EDTA
e os derivados de substâncias húmicas (ácido húmico, ácido A semente deve ter pureza genética, pureza física,
fúlvico e lignosulfonatos) e de alguns aminoácidos. qualidade fisiológica e sanidade. A qualidade fisiológica das
sementes é caracterizada pelo alto poder germinativo, pelo
• Efeito na sanidade vigor e pela longevidade. Altos rendimentos têm maior corre-
Vários micronutrientes (Mn, Cu, Zn e B), assim como o lação com o vigor do que com o poder germinativo. O vigor
silício (Si), são constituintes ou cofatores na síntese de subs- é um conjunto de características das sementes que garante
tâncias de defesa da cultura contra patógenos e pragas, como alto poder germinativo, emergência rápida e uniforme e a
os compostos fenólicos (fitoalexinas), lignina, tanino e outros obtenção de plântulas vigorosas (BEWLEY; BLACK, 1994).
(KIRALY, 1976). A síntese desses compostos ocorre a partir Plântulas vigorosas têm maior capacidade de formar raízes,
dos aminoácidos tirosina e fenilalanina, por meio da via do maior ramificação lateral, maior índice de área foliar (IAF)
ácido chiquímico. Por essa razão, a incidência e a severidade e maior produção de matéria seca. O vigor das sementes de
são menores em plantas que apresentam equilíbrio nutricional, soja está diretamente relacionado ao conteúdo de reservas
nas quais há aumento da eficiência dos fungicidas utilizados. na semente (especialmente proteínas), aos níveis adequados
de hormônios (giberelinas, auxinas e citocininas) e aos altos
2.3. Planejamento estratégico cultural teores de Mo. Essas condições da semente são obtidas quando
o enchimento das sementes é adequado (plantas com equilí-
O rendimento da cultura sofre a interferência de estres-
brio nutricional, equilíbrio hormonal e sanidade) e essas são
ses abióticos (estiagens, excesso de chuva/encharcamento do
adequadamente colhidas, beneficiadas e armazenadas.
solo, longos períodos de dias nublados, temperaturas excessi-
vamente altas ou baixas, granizo, geadas, incidência crescente Também é de fundamental importância o tratamento
de raios ultravioleta, dentre outros). Há também a interferência adequado das sementes com os melhores inseticidas (em
por estresses bióticos, o que pode ser observado quando do função das pragas que predominam em cada lavoura) e fun-
aparecimento de novas pragas, moléstias e plantas daninhas, e gicidas (em função da predominância de patógenos existentes
no desenvolvimento de resistência a inseticidas, fungicidas e no solo e dos patógenos presentes nas sementes), o que deve
herbicidas, respectivamente. Diante disso, assume importância ser previsto mediante uma análise de sanidade dessas.
cada vez maior a rotação de culturas ou o planejamento estraté-
gico cultural, varietal (cultivares) e fitossanitário (alternância
2.6. Qualidade da semeadura
na utilização de herbicidas, fungicidas e inseticidas, eficientes A qualidade da semeadura se traduz por uma ade-
e de diferentes grupos químicos). No controle de patógenos quada distribuição das sementes, na horizontal (distribuição
do solo (necrotróficos), é importante rotacionar diferentes espacial) e na vertical (uniformidade de profundidade). É o
cultivares com diferentes graus de resistência/tolerância ato de abrir o sulco, depositar a semente e cobri-la com terra.
na mesma área. Com o advento da transgenia, há um outro Portanto, a eficiência da semeadura depende das condições
desafio, a alternância de espécies e cultivares com diferentes do solo, da dessecação antecipada, do momento ideal, da ade-
eventos biotecnológicos. quada distribuição espacial, da profundidade e da velocidade
de semeadura (< 6 km h-1).
2.4. Fatores genéticos
• Condições de solo
Cada novo cultivar desenvolvido apresenta característi-
cas diferenciais, como maior potencial de rendimento, melhor A semeadura da soja deve ser realizada, preferencial-
qualidade do grão, adaptabilidade a cada região, resistência/ mente, de forma direta, sobre a palhada. Nessa condição, há
tolerância a moléstias e pragas, além de tolerância a fatores redução significativa do risco de erosão do solo, aumento da
abióticos, como acidez/alumínio tóxico, frio, déficit hídrico, infiltração de água da chuva e diminuição da evaporação,
salinidade, etc. Nesse sentido, mudanças significativas são sendo promovida a reciclagem de nutrientes e a melhoria das
observadas nos cultivares modernos, como menor ciclo, menor propriedades físicas, químicas e biológicas do solo.
estatura de plantas, folhas mais curtas e eretas (lanceoladas),
• Dessecação antecipada
resistência ao acamamento, dentre outras características.
Quando a semeadura da soja é realizada logo após a
2.5. Fatores relacionados à qualidade
roçada ou dessecação, com as raízes ainda verdes, a quali-
das sementes dade da semeadura não é boa. A terra não corre e não cobre
Um dos fatores mais importantes para obtenção de altos as sementes, reduzindo a germinação. Além disso, a alta
rendimentos da soja é a qualidade das sementes. A semente umidade das raízes propicia o espelhamento do solo, pro-

11
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
vocado pelo disco ou sulcador. Essa condição anaeróbia no linha de semeadura, aumentando o risco de erosão e morte
solo aumenta a incidência de alguns patógenos. Por isso, é de plântulas devido ao calor excessivo.
indicada a semeadura de 14 a 21 dias após a dessecação, para
que tanto a parte aérea quanto as raízes da cultura antecessora 2.7. Fatores climáticos
de cobertura, ou adubo verde, estejam mortas (secas).
As condições climáticas não estão sob controle do
• Época de semeadura produtor, sendo extremamente variáveis nas diferentes
Três fatores climáticos determinam o início da época regiões do Brasil, principalmente influenciadas pelos efeitos
de semeadura da soja: fotoperíodo, temperatura do solo e de La Niña em determinados anos, do El Niño em outros, e
condições hídricas. A semeadura deve ser realizada quando o das condições intermediárias.
solo estiver com temperatura acima de 15-18 oC, com aeração Diante de condições climáticas instáveis, há necessi-
e adequada disponibilidade de água. A semente de soja só dade da adoção de estratégias que procuram minimizar esse
germina se sua umidade for superior a 50%. Por isso, deve risco. Quatro fatores climáticos exercem fundamental influên-
ser evitada a semeadura com solo seco. cia no comportamento de cultivares de soja: radiação solar,
Como a semente de soja apresenta, em média, 20% de temperatura, umidade relativa e disponibilidade de água.
óleo, a sua germinação depende de maiores teores de oxigênio
• Radiação solar
no solo. Por isso, em solos compactados ou encharcados há
redução significativa da germinação das sementes. A luz tem um papel fundamental como fonte de ener-
gia para a fotossíntese, dependendo da qualidade da luz, da
• Distribuição espacial intensidade da radiação e da duração do período luminoso.
A distribuição espacial das sementes (espaçamento x O fotoperíodo também tem influência na indução
número de sementes na linha) é um fator muito importante da floração da soja. A soja é uma planta sensível ao foto-
para obtenção de altos rendimentos, que varia com o cultivar, período, o que significa que passa da fase vegetativa para
a época de semeadura e as condições de solo e clima de cada a fase reprodutiva em função do comprimento do dia, que
região. Para cultivares de maior estatura e que apresentam varia com a latitude. Um cultivar adaptado à determinada
grande ramificação lateral (hábito indeterminado), o espaça- latitude terá seu ciclo tanto mais curto quanto mais perto
mento deve ser maior e o número de sementes por metro qua- estiver do Equador. Os grupos de maturação (GM) da soja
drado menor (20-30). Para cultivares de hábito determinado, são fundamentados na adaptação das plantas às diferentes
que não ramificam e apresentam ciclo curto, o espaçamento latitudes (McWILLIAMS et al., 1999). Para as regiões
deve ser menor e o número de sementes por metro quadrado mais próximas do Equador são indicados os cultivares do
maior (35-45). Grupo de Maturação (GM) de ciclo longo (GM 8 e 9),
enquanto no Sul do Brasil, com maior latitude, são indicados
A distribuição espacial ideal é aquela que promove o os cultivares de ciclo curto (GM 5 e 6, precoces e super-
fechamento de linhas nos estádios R1 a R3 (absorção de 95% precoces), e no Centro-Oeste os cultivares de GM 6 a 8.
da luz incidente), de maneira que a linha não fique aberta e
nem ocorra o crescimento das plantas de uma linha sobre a • Temperatura
outra, causando o sombreamento.
Para o desenvolvimento da soja, a temperatura ideal é
• Profundidade de semeadura de 30 ºC (FARIAS et al., 2007). A temperatura complementa
o fotoperíodo quanto às condições bioclimáticas da soja, na
A profundidade de semeadura ideal é de 3-4 cm e não indução à floração. A ação de fotoperíodos impróprios podem
mais profundo do que 5 cm. Isso garante uma emergência ser, em parte, anulados pela interferência de altas temperaturas
rápida e uniforme e a formação de plântulas mais vigorosas. (acima de 30 ºC) e baixa disponibilidade hídrica. As exigên-
Essas plantas tendem a apresentar um sistema radicular maior, cias termoperiódicas são diferentes para os diferentes grupos
fator fundamental para aumentar a eficiência de absorção de de maturação. Quanto menor o grupo de maturação (GM),
água (McWILLIAMS et al., 1999) e formar a ramificação maior é a influência da temperatura para o início das diversas
mais cedo. fases vegetativas, e menor é a influência do fotoperíodo.
A temperatura influencia o desenvolvimento da soja
• Velocidade de semeadura
desde a germinação até a maturação. Na semeadura, a tem-
A semeadura da soja deve ser realizada com velocidade peratura do solo a uma profundidade de 5 cm não deve ser
máxima de 6,5 km/h, em áreas planas e com as melhores inferior a 15 °C, caso contrário a emergência será demorada,
semeadoras. Em semeaduras com maior velocidade, há per- havendo incidência de fungos do solo sobre a semente e maior
das de sementes sobre o solo ou o enterrio em excesso das concorrência das plantas daninhas, que emergirão antes da
sementes, de modo que não originam plantas, comprometendo soja. A duração do subperíodo semeadura-emergência, com
a população e determinando maior mobilização do solo na temperatura e umidade adequadas, normalmente é de 5 a

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7 dias. Pode, contudo, ser maior ou menor, em função da j) Evitar os efeitos da imobilização de N na fase inicial
profundidade de semeadura. A indução à floração da soja de crescimento, em cultivo sobre palhada de cereais.
somente ocorre em temperaturas superiores a 13 oC (FARIAS O dano por excesso de chuva é maior logo após a
et al., 2007). floração, e o dano por deficiência de nutrientes é maior ime-
diatamente antes da floração (provoca queda excessiva de
• Disponibilidade de água
flores) e durante o estádio de enchimento de grãos. O excesso
A soja necessita de uma quantidade relativamente de chuva durante a maturação e a colheita resulta em má
pequena de água, se bem distribuída durante todo o período qualidade das sementes.
vegetativo da cultura. Uma precipitação de 500 a 700 mm ao
longo do ciclo da cultura é tida como suficiente. 2.8. Fatores relacionados à fisiologia
Porém, observa-se que existem regiões nas quais a pre- da produção
cipitação situa-se dentro desses limites, mas que normalmente
apresentam deficiências hídricas mais ou menos limitantes Durante o desenvolvimento da soja, tanto o cresci-
mento como a diferenciação dos órgãos vegetativos e repro-
devido à desuniformidade da distribuição das chuvas. Dois
dutivos, bem como os processos fisiológicos, determinam a
subperíodos são particularmente críticos à falta ou excesso
quantidade de biomassa produzida, sua distribuição e, espe-
hídrico: a germinação e o enchimento de grãos (NEUMAIER
cialmente, sua acumulação nos grãos – o produto econômico.
et al., 2000). Segundo Berlato e Bergamaschi (1979), a
O desenvolvimento da soja passa por dois estádios: a) estádio
evapotranspiração (mm dia-1) da soja (cv. Bragg), durante o
vegetativo: crescimento de raízes e parte aérea, formação
período de 1974/1977, em Taquari, RS, nos diversos subperío-
de folhas, ramificação e nodulação e b) estádio reprodutivo:
dos fenológicos, foi de: 2,2 mm da semeadura à emergência,
floração, formação de legumes/vagens, formação de grãos e
5,1 mm do VE ao R1, 7,4 mm do R1 ao R3, 6,6 mm do R3 ao
maturação, conforme expressa a Figura 5 (Escala Fenológica
R7 e 3,7 mm do R7 ao R8. Deficiência ou excesso hídrico na
de Fehr e Caviness, 1977, modificada por Ritchie et al., 1977).
semeadura resulta em germinação desuniforme, com baixas
populações. O déficit hídrico gera diversos efeitos, como: O estádio V0 corresponde ao momento da semea-
a) distúrbios nutricionais (sem água não há nutrição); b) redução dura. Com a emergência dos cotilédones (5 a 7 dias após a
da atividade fotossintética e fixação biológica de N; c) distúr- semeadura), a planta entra no estádio VE. A perda dos dois
cotilédones nesse estádio, ou logo após ao VE, reduz o ren-
bios hormonais (inibição da síntese de hormônios promotores
dimento da soja entre 8 e 9% (McWILLIAMS et al., 1999).
e aumento dos hormônios inibidores); d) antecipação e desu-
Quando as folhas unifolioladas estiverem completamente
niformidade da floração; e) abortamento de flores e legumes;
expandidas chega-se ao estádio VC. A partir desse estádio,
f) redução do número de sementes/legume e menor enchi-
inicia-se a formação de folhas trifolioladas, correspondendo
mento de grãos; g) retenção foliar e caule verde; e h) senes-
aos estádios V1 a Vn. Do estádio V1 ao estádio V5 é formada
cência antecipada (redução da fase de enchimento de grãos).
uma folha no período de 3 a 5 dias, e a partir desse estádio é
Para minimizar os efeitos do estresse hídrico, devem formada uma nova folha a cada 2 a 3 dias (McWILLIAMS
ser adotadas práticas de manejo, como: et al., 1999).
a) Diversificação de cultivares de diferentes ciclos e Nos cultivares precoces/superprecoces, dependendo
diferentes épocas de semeadura; das condições ambientais, a floração se inicia nos estádios
b) Utilização de sementes de vigor e adequada quali- V5/V6. Em cultivares de soja de hábito determinado, o cres-
dade de semeadura; cimento vegetativo cessa a partir do início da floração. Em
c) Melhoramento das propriedades físicas, químicas cultivares de hábito de crescimento indeterminado (a maioria
e biológicas dos solo; cultivados no Brasil), o crescimento vegetativo continua
após o início da floração, prolongando o período de floração
d) Formação de boa palhada (aumenta a infiltração de
e reduzindo as perdas por riscos climáticos. A partir desse
água quando chove e reduz a evaporação);
estádio inicia-se a fase reprodutiva da soja: floração (R1/
e) Controle da salinidade (evitar, por exemplo, altas R2), formação de legumes (R3/R4), formação e enchimento
doses de K na linha de semeadura); de grãos (R5/R6), maturação fisiológica (R7) e colheita (R8),
f) Utilização de bioreguladores – giberelinas, citocini- conforme a Figura 5.
nas e auxinas, no tratamento de sementes; O alto potencial de rendimento biológico e econô-
g) Tratamento adequado das sementes com inseticidas mico requer um adequado balanço entre os fatores que o
e fungicidas; determinam, quais sejam: a) tamanho do aparelho fotos-
sintético (índice de área foliar – IAF); b) duração da área
h) Neutralização do alumínio e aumento da disponibi-
foliar (DAF); c) taxa de fotossíntese líquida ou eficiência
lidade de Ca, P, S, B, Mn e Zn em profundidade;
do aparelho fotossintético (teor de clorofila, arquitetura e
i) Uso de inoculantes (Azospirillum brasiliense); espessura foliar); d) taxa de transporte e distribuição dos

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
Figura 5. Estádios fenológicos da soja, com base na escala de Fehr e Caviness.
Fonte: Fehr e Caviness (1977), modificada por Ritchie et al. (1977).

fotoassimilados para os órgãos reprodutivos; e) capacidade que cultivares cada vez mais precoces e de baixa estatura
de acumulação de fotoassimilados (número de legumes/ apresentam sistema radicular mais superficial. O crescimento
vagens, número de grãos/legume e massa individual dos das raízes se inicia com a formação da raiz seminal (raiz pivo-
grãos). tante), e a formação de raízes secundárias e terciárias ocorre
principalmente nos estádios VE a V5 (McWILLIAMS et al.,
2.8.1. Germinação de sementes 1999), quando os fotoassimilados (açúcares, aminoácidos e
A germinação das sementes de soja se inicia com a hormônios) são preferencialmente redistribuídos para as raízes.
hidratação – no mínimo 50% de umidade e temperatura Para aumentar a eficiência na absorção de água e
superior a 15 oC. As primeiras reações metabólicas tem nutrientes, é necessário que as plantas desenvolvam um bom
início com a atividade hormonal. As giberelinas ativam o sistema radicular mediante: utilização de sementes de vigor,
DNA da semente, que se duplica, é transcrito (formação de qualidade da semeadura, emprego de biorreguladores (cito-
RNAs) e traduzido em uma sequência de aminoácidos (sín- cininas e auxinas) e eliminação de fatores limitantes físicos
tese de proteínas). Essas proteínas são enzimas (amilases, (compactação do solo), químicos (altos teores de Al3+ e baixos
lipases, proteinases/proteases) que catalisam a degradação teores de N, Ca, P, S, B, Mn e Zn) e biológicos (pragas e pató-
das reservas de amido, lipídios e proteínas. Essa degradação,
genos) no solo. A eficiência de absorção de água e nutrientes
em condições aeróbias, produz energia química (ATP), fun-
é função direta entre a superfície de raízes em contato com a
damental para o crescimento do embrião. Havendo energia
superfície do solo (MARSCHNER, 1995). Além da absorção,
química disponível, o hormônio citocinina promove as divi-
as raízes também têm como função a fixação da planta ao solo
sões celulares (mitoses) das células do embrião. Então, tem
e a síntese de citocininas.
início a elongação das novas células, por ação fisiológica
das auxinas, até a emergência das plântulas (estádio VE).
2.8.3. Nodulação e fixação biológica de N
2.8.2. Enraizamento A nodulação da soja normalmente se inicia no estádio
O emprego de práticas de manejo que visam promover V2, 10 a 12 dias após a emergência (HUNGRIA et al., 2007).
o aumento do sistema radicular, especialmente em profun- A soja obtém até 85% do N por meio da fixação biológica
didade, é uma necessidade cada vez maior, considerando do nitrogênio (FBN), realizada pelas bactérias do gênero

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
Bradyrhizobium, nos nódulos das raízes, e pelo Azzospiri- Mn na folha inibe a assimilação do N pela soja (PURCELL,
llum (AMADO et al., 2010; HUNGRIA et al., 2007). Esse 2004). A conversão da ureia em amônia é catalisada pela
N começa a ser liberado para a soja somente a partir dos enzima urease, que tem como cofator obrigatório o níquel
estádios V4-V5. Até esses estádios, o suprimento de N pro- (Ni), conforme Purcell (2004). Então, finalmente, esse N
vém da mineralização da matéria orgânica ou do fertilizante será assimilado pela folha de soja, formando os mais dife-
nitrogenado aplicado na semeadura. A inoculação adequada rentes compostos nitrogenados, como clorofila, aminoácidos/
das sementes, ou no sulco de semeadura, deve ser realizada proteínas, DNA/RNA, hormônios, vitaminas, entre outros.
anualmente, com a utilização de pelo menos duas doses do
Aproximadamente 15% do N são absorvidos do solo
inoculante Bradyrhizobium japonicum e B. elkanii (HUN-
pela soja, principalmente na forma de nitrato. Esse nitrato
GRIA et al., 2007) e uma dose de Azzospirilum brasiliense
precisa ser reduzido à amônia na planta, reação catalisada pela
(HUNGRIA, 2011), de boa qualidade e bem conservado.
enzima nitrato redutase, tendo como cofator o Mo. Portanto,
Porém, para que a nodulação seja efetiva, há necessidade de
o Mo tem um papel-chave no suprimento de N para a planta
alta disponibilidade de Mo, Co, Ca, Mg, P, S e B.
de soja, seja via FBN, seja na assimilação do N absorvido
Somente são ativos os nódulos com coloração rosa do solo (MARSCHNER, 1995). Por isso, na busca por altos
a avermelhada no seu interior, que se deve à leghemoglo- rendimentos, quando a soja sucede uma palhada de cereais/
bina, que tem como núcleo central o Co (McWILLIAMS gramíneas (milho, arroz, trigo, aveia-branca, sorgo, milheto,
et al., 1999). Os nódulos grandes, junto à raiz principal, braquiária, dentre outras), deve-se fazer uma adubação nitro-
são mais eficientes do que os nódulos pequenos, localiza- genada na semeadura, da ordem de 5 kg de N por t de palha
dos nas raízes secundárias e terciárias. Segundo Hungria seca remanescente, para compensar a imobilização do N
et al. (2007), no estádio de florescimento, uma planta de na fase inicial. O N proveniente da fixação somente é libe-
soja bem nodulada deve apresentar de 15 a 30 nódulos ou rado do nódulo para a planta a partir do estádio V4 (quatro
100 a 200 mg de nódulos secos por planta (Figura 6). A folhas). Esse N pode ser fornecido por meio de fertilizante
temperatura ideal para uma eficiente FBN é de 27-30 oC nitrogenado, na semeadura, ou pela matéria orgânica (cama
(PURCELL, 2004). de aviário, esterco bovino ou suíno), ou pelo cultivo de
fabáceas (leguminosas) como cobertura verde, antecedendo
a soja (ervilhaca, ervilha, crotalaria, dentre outras), ou pelo
cultivo de nabo forrageiro como cultura de cobertura. Quanto
ao suprimento de N a partir da matéria orgânica do solo, deve
ser considerado o teor existente e uma taxa de mineralização
média de 2% ao ano, bem como o número de dias do ciclo
da cultura.
A deficiência de N na folha de soja, além de promover
redução no rendimento, também reduz o teor de proteínas
nos grãos – a principal reserva exigida pelo mercado, para
uso na alimentação humana ou animal. Como a densidade
da proteína é maior que a do óleo, com o seu aumento, os
grãos apresentam maior massa individual, contribuindo para
o aumento do rendimento e da qualidade.

2.8.4. Ramificação lateral


Figura 6. Planta de soja bem nodulada. Na maioria dos cultivares de soja utilizadas no Brasil,
Crédito da foto: Elmar Luiz Floss. o número de legumes, principal componente de rendimento,
depende da ramificação lateral. Quanto mais cedo a planta
A fixação do nitrogênio atmosférico (N2) combinado ramificar, maior será o número de axilas por ramo e maior o
com o H2 ocorre no nódulo, e a reação é catalisada pela rendimento. As ramificações podem ser formadas nos nós do
enzima nitrogenase, constituída por Mo e Fe, formando a pecíolo das folhas cotiledonares, unifoliolada e trifoliolada,
amônia (NH3). Essa amônia é assimilada, forrmando a amida iniciando a partir dos estádios V3 até o estádio V6 (McWI-
glutamina. Na soja, essa glutamina é convertida em ureídeos LLIAMS et al., 1999; ZANON et al., 2018). Essa indução
(ácido alantoico/alantoinas), que apresentam 4 C e 4 N ocorre quando o teor do hormônio citocinina (produzido nas
(SCHUBERT, 1986). Esses ureídeos passam do nódulo para raízes) no nó for maior do que a concentração de auxinas
a raiz e, em seguida, são transportados pela água até as folhas. (produzidas pelas folhas). Por isso, há uma correlação positiva
Nas folhas, os ureídeos são degradados, formando duas molé- entre o número de raízes (síntese de citocininas) e a emissão
culas de ureia, reação que tem como cofator obrigatório o de ramificações laterais, especialmente nos cultivares de
Mn. Portanto, qualquer fator que reduza a disponibilidade de hábito de crescimento indeterminado.

15
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
2.8.5. Tamanho da superfície fotossintetizante substância orgânica pelas plantas é o resultado da atividade
do processo da fotossíntese. Esse processo utiliza a água
O índice de área foliar (IAF) determina a quantidade de absorvida pelas raízes e o gás carbônico (CO2) absorvido
radiação solar que é absorvida, a qual é decisiva para o ren- pelos estômatos nas folhas para a síntese de açúcares, tendo
dimento biológico e o rendimento econômico. A introdução como fonte de energia a luz solar. A taxa assimilatória líquida
de novos cultivares com maiores potenciais de rendimento, na soja é de 20 mg dm-3 de CO2 no estádio de floração e de
bem como a melhoria das condições de cultivo, tem afetado 40 mg dm-3 de CO2 no estádio de enchimento dos grãos
enormemente os valores de IAF. (MIYASAKA; MEDINA, 1981).
Para que a planta expresse o seu potencial de rendi- Apesar da atividade respiratória promover uma perda
mento é necessário que, ao atingir o estádio de floração (início de biomassa vegetal, ela é imprescindível ao desenvolvimento
da formação dos produtos econômicos, como os grãos), a normal das plantas. Já a fotorrespiração é um processo fisio-
cultura apresente pelo menos 4 a 6 metros quadrados de área lógico que ocorre nas plantas C3, como a soja. Esse processo
foliar verde por metro quadrado de solo, denominado índice ocorre nos horários de maior luminosidade e representa uma
de área foliar (IAF). O IAF ideal é aquele em que 95% da perda de 25 a 33% de toda a biomassa seca produzida na fotos-
radiação solar incidente, ao meio dia, quando a incidência é síntese. Na soja, as perdas devido à fotorrespiração variam
perpendicular em relação à superfície foliar, são absorvidos de 42 a 75% (ZELITH, 1979). Além da perda significativa
pelas folhas. Cultivares que apresentam folhas lanceoladas de matéria vegetal, a fotorrespiração causa a formação de
têm IAF maior, pois há maior eficiência na absorção da luz água oxigenada. Como a água oxigenada é muito tóxica para
solar e menor autosombreamento (PURCELL, 2004). Essa as células, pois causa uma dessecação e formação de radi-
arquitetura favorece a aplicação de fungicidas e inseticidas cais livres, ao longo da evolução, as plantas desenvolveram
no interior do dossel, que promove um aumento do número mecanismos de desintoxicação. Essa desintoxicação diária é
de legumes no terço médio e inferior da planta. realizada por meio de enzimas denominadas de peroxidase/
Na avaliação da relação entre o IAF e o rendimento de catalase, ascobato oxidase e superóxido dismutase (TAIZ;
cultivares de soja, Tragliapietra et al. (2018) verificaram que ZEIGER, 2004). Todo e qualquer fator que acelera a ativi-
para rendimentos superiores a 4,5 kg ha-1, o IAF no estádio dade dessas enzimas mantém o teor de clorofila e aumenta a
R1 variou entre 3 e 4 para cultivares de hábito de crescimento duração da área foliar verde.
indeterminado, e entre 4 a 5 para cultivares de hábito de
crescimento determinado, com valores máximos entre 6,0 e 2.8.8. Taxa de transporte e distribuição de
6,5 para cultivares indeterminados e determinados, respec- fotoassimilados
tivamente. Os autores concluíram que as práticas de manejo A taxa de transporte e distribuição de fotoassimilados
de lavouras de soja que envolvem IAF e altos potenciais na soja é dependente da água (transporte) e do B (libera o
de rendimento devem ser ajustadas em função do grupo de carregamento dos açúcares no floema). Esse processo fisio-
maturação e hábito de crescimento dos cultivares e da época lógico permite que os açúcares e os aminoácidos produzidos
de semeadura, sob condições de ambiente subtropical. na folha sejam armazenados nos grãos.
2.8.6. Duração da área foliar verde e sadia 2.8.9. Capacidade de armazenamento
Para os mesmos valores de IAF, verifica-se um aumento A formação da produção econômica ou os componentes
na produção de grãos por área de terreno com o aumento da primários do rendimento da soja compreendem: número de
duração da área foliar verde (DAF) e sadia. A DAF parece plantas por área, número de legumes (vagens) por planta,
ter maior correlação com o rendimento de grãos durante a número de grãos por legume e massa de grãos. Portanto,
fase reprodutiva. A deficiência nutricional, os desequilíbrios o rendimento de grãos de soja é uma função do número de
hormonais, a incidência de moléstias e as pragas na fase de grãos obtidos por unidade de área, multiplicado pela massa
enchimento de grãos são importantes fatores que aceleram dos grãos. O número de grãos depende do número de legu-
a senescência das folhas, diminuindo a DAF da soja. Isso mes/vagens e do número de grãos por legume/vagem. Sem
reforça a importância do controle eficiente das moléstias dúvida, o componente de rendimento mais importante na soja
e pragas nesses estádios da planta e da nutrição e balanço é o número de legumes/vagens por unidade de área. Portanto,
hormonal equilibrado. todo o manejo da cultura deve ser realizado de maneira que
a planta emita o maior número possível de legumes/vagens e
2.8.7. Taxa de fotossíntese líquida haja a formação de maior número de grãos por legume/vagem.
A correlação entre os valores de IAF e DAF e o rendi- O adequado enchimento de grãos completa a expressão do
mento das culturas também é afetada por outras característi- potencial de rendimento.
cas, como a eficiência fotossintética ou a taxa assimilatória A planta da soja produz botões florais em abundância
líquida (TAL) nos tecidos. A síntese de toda e qualquer (estádios R1/R2), mas o abortamento dos ovários é muito

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
elevado (60 a 75%), e a abscisão de legumes recém-formados O principal inibidor do desenvolvimento das plantas é
ocorre com o avanço da floração. Portanto, o número de o etileno, produzido quase imediatamente como resposta ao
legumes é primariamente determinado nos primeiros estádios estresse, a partir do aminoácido metionina. A alta concentra-
de desenvolvimento do legume (dentro de cinco dias após a ção de etileno promove a expressão de genes responsáveis
antese) (McWILLIAMS et al., 1999; THOMAS; COSTA, pela síntese da enzima clorofilase, que catalisa a degradação
2010). A fase de conversão das flores em legumes (estádios antecipada da clorofila. Isso determina uma redução da dura-
R3/R4) é a fase mais sensível, pois qualquer estresse biótico ção da área foliar verde e, por conseguinte, a redução da taxa
ou abiótico nessa fase promove a abscisão de flores e legu- fotossintética e a consequente redução da taxa de enchimento
mes. Esse pegamento de legumes/vagens é dependente dos de grãos. O etileno também promove a expressão de genes
teores adequados de citocinina (CARLSON et al., 1987) e é responsáveis pela síntese das enzimas poligalacturonase e
inibido pelo etileno. celulase, que promovem a degradação da parede celular, pro-
O número de grãos por legume é o que menos varia vocando a abscisão de folhas, flores e legumes. Portanto, em
entre cultivares. Em média, há dois a três grãos por legume lavouras de soja com alto potencial de rendimento, indica-se
e, raras vezes, quatro e cinco grãos por legume (THOMAS; a aplicação de biorreguladores ou aminoácidos precursores
COSTA, 2010). Em cultivares com arquitetura foliar lanceolada (produtos sintéticos ou extratos de algas) no tratamento de
é frequente encontrar legumes com quatro ou cinco grãos. semente e/ou nos estádios V3/V4, junto com os herbicidas, e/
A massa de grãos é o componente de rendimento final, ou nos estádios de floração/pegamento de legumes (R1 a R3).
que apresenta valor característico para cada cultivar (grãos
2.10. Fatores sanitários
maiores ou menores) e varia de acordo com as condições
ambientais e de manejo impostos à cultura (THOMAS; Considerando-se as características dos novos cultivares
COSTA, 2010). Fatores como deficiência hídrica, dias nubla- (alto potencial de rendimento, precocidade, baixa estatura,
dos, desfolhamento e incidência de moléstias e pragas foliares menor área foliar e sistema radicular por planta) e as moder-
diminuem a massa de grãos e o número de vagens (THOMAS; nas práticas de manejo hoje disponíveis (uso crescente das
COSTA, 2005; FARIAS et al., 2007). ferramentas da agricultura de precisão), é de fundamental
importância o controle rigoroso de plantas daninhas, pragas e
2.9. Controle fisiológico do desenvolvimento moléstias, para evitar que uma fatia significativa da produção
O desenvolvimento pleno de uma planta depende do seja perdida. Assevera-se que, mesmo que a aplicação de her-
equilíbrio nutricional, do equilíbrio hormonal e de sanidade. bicidas, inseticidas e fungicidas seja um fator mantenedor,
Os fatores ambientais são os principais responsáveis pela não significa que seja menos importante do que os fatores
mudança hormonal, que, por sua vez, determina a expressão promotores.
genética. Os hormônios vegetais são classificados em pro- A eficiência na busca de plantas sadias depende da ado-
motores e inibidores. ção de sistemas integrados de controle, mediante diagnósticos
Os hormônios promotores são as auxinas, as gibere- cada vez mais precisos, que envolvem práticas como a rotação
linas e as citocininas, responsáveis pela germinação e pelo de culturas/cultivares, a nutrição equilibrada, a resistência
crescimento das raízes e da parte aérea, por meio da divisão genética dos cultivares (diferentes eventos biotecnológicos),
celular e da elongação das células. Especialmente, as citocini- o uso de sementes com vigor, a qualidade da semeadura, a
nas são responsáveis pela germinação e pelo crescimento das escolha dos melhores produtos, para cada situação, a rotação
raízes, pela ramificação lateral, pela síntese de clorofila e de de diferentes princípios ativos (retardar a perda de eficiência
proteínas e pegamento de legumes (CARLSON et al., 1987), dos produtos), e melhores tecnologias de aplicação.
promovendo o aumento do número de grãos (NAGEL et al., É crescente a combinação de melhores inseticidas e
2001) de forma isolada ou em interação com as auxinas e gibe- fungicidas com produtos biológicos para controle de pragas e
relinas. Como consequência, há um aumento da área foliar, da patógenos (Tricoderma, Baccillus, Pocconia, dentre outros),
duração da área foliar verde e do teor de clorofila e proteínas. bem como o uso de indutores de defesas (fosfitos, ácido sali-
No entanto, qualquer estresse biótico (incidência cílico, aminoácidos tirosina e fenilalanina, dentre outros). O
de pragas e moléstias) ou abiótico (déficit hídrico, calor controle biológico atende ao desafio do aumento crescente dos
excessivo, salinidade, raios ultravioleta, geadas, deficiência rendimentos e com a qualidade dos grãos produzidos.
de aeração no solo devido à compactação ou à saturação de
água, etc.), promove a síntese de hormônios inibidores do 3. REFERÊNCIAS
desenvolvimento, como o etileno, ácido abscísico e outros. AMADO, T. J. C.; SCHLEINDWEIN, J. A.; FIORIN, J. E. Manejo
Como consequência, ocorre a degradação da clorofila, o do solo visando à obtenção de elevados rendimentos de soja sob
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CURSO ON-LINE SOBRE


NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO DAS PRINCIPAIS
CULTURAS COMERCIAIS DO BRASIL

19
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
ADUBAÇÃO FOLIAR:
O “AJUSTE FINO” DA NUTRIÇÃO DE PLANTAS

Valter Casarin1
Silvano Abreu2
Nicolas Braga Casarin3

1. INTRODUÇÃO Os fertilizantes foliares enfrentam barreiras físicas con-

O
sideráveis antes de penetrar no interior das células foliculares
s ancestrais das plantas terrestres – as plantas da epiderme (MENGEL, 2002). Vários estudos mostram que a
aquáticas – têm a capacidade de absorver adubação foliar deve ser um método complementar à adubação
minerais por meio de seus órgãos foliares. via solo, e não alternativo (LING; SILBERBUSH, 2002; STA-
Embora o processo evolutivo do reino vegetal terrestre RAST et al., 2002; TOSCANO et al., 2002; MENGEL, 2002).
tenha levado à especialização das folhas nos mecanismos de Há décadas, a agricultura utiliza métodos tradicionais
respiração e fotossíntese, as plantas terrestres mantiveram de cultivo para atender à demanda crescente por alimentos de
esse vestígio de seus ancestrais aquáticos (MARSCHNER, alta qualidade, e que precisam chegar à mesa dos consumido-
1995). Desde essa descoberta, mais e mais produtores estão res da maneira mais adequada possível. Dessa forma, com o
utilizando a adubação foliar para controlar as deficiências tempo, foram feitas alterações em vários aspectos do manejo,
minerais das culturas. No entanto, muitos desses produtores como na nutrição das plantas, a qual sempre foi considerada
continuam céticos quanto aos efeitos benéficos dessa prática. mais eficiente quando realizada por meio da adubação via
As inúmeras publicações de artigos científicos sobre o assunto solo, uma vez que permite, aparentemente, ótima absorção
indicam que eles não estão errados e nem certos. de água e nutrientes pelas plantas.
Numerosos resultados de pesquisa demonstram clara- Mas, por que recorrer à adubação foliar? As conclusões
mente os efeitos positivos da adubação foliar no crescimento, de vários estudos a definem como uma ferramenta confiável
desenvolvimento e até no rendimento das culturas, enquanto para nutrir as plantas quando a adubação via solo não foi efe-
outras pesquisas mostram a ineficácia dessa prática. Os tiva e o solo mostra sinais de deficiência e indisponibilidade
resultados divergentes são devidos aos muitos fatores que de nutrientes – uma condição desfavorável para a nutrição de
governam a eficácia da adubação foliar. Esses fatores limitan- qualquer cultura. Algumas condições, como pH inadequado
tes estão, por um lado, relacionados às condições climáticas e estresse por temperatura ou umidade, impedem as plantas
(SCHÖNHERR, 2001, 2002) e, por outro, à natureza do de absorver nutrientes por meio de suas raízes. Portanto, o
produto utilizado (FURUYA; UREMIYA, 2002; BUKO- fornecimento de nutrientes através das folhas se torna uma
VAC et al., 2002; SILVA et al., 2003). Todos atuam direta solução viável. Outra razão importante é a complementação
ou indiretamente na absorção e translocação estomatológica da adubação edáfica e o “ajuste fino” da nutrição, especial-
e cuticular de nutrientes em toda a planta. mente com micronutrientes, que, aplicados na folha, apre-

Abreviações: B = boro; Ca = cálcio; Cl = cloro; Cu = cobre; Fe = ferro; K = potássio; Mg = magnésio; Mo = molibdênio; Mn = manganês;
N = nitrogênio; P = fósforo; Zn = zinco.

1
Engenheiro Agrônomo, Engenheiro Florestal, Dr., Coordenador Científico da Iniciativa Nutrientes para a Vida e professor do Programa
SolloAgro de Educação Continuada da ESALQ/USP; email: valcasarin@gmail.com
2
Engenheiro Agrônomo, Ph.D., Consultor em Solos e Nutrição de Plantas; email: silvano@silvanoabreu.com
3
Engenheiro Agrônomo, MSc., Doutorando, CENA/USP; email: nicolas.casarin@usp.br

20
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
sentam menor perda devido ao menor número de fatores que limitar o crescimento da planta e causar redução na absorção
competem por eles, como adsorção e lixiviação. ou subutilização de outros nutrientes pelas plantas. Devido
Hoje, mais do que nunca, o produtor rural está con- ao fato de que os elementos nutricionais no solo nem sempre
siderando maneiras de melhorar a produtividade de suas estão em formas totalmente disponíveis para a absorção pelas
lavouras. E um dos produtos comercializados, que pode aju- plantas, e considerando a complexa dinâmica do sistema solo-
dar na conquista deste objetivo, é o adubo foliar. Este artigo ambiente-planta-microrganismos, é comum a ocorrência de
fornece uma visão objetiva do manejo de nutrientes por meio desequilíbrios nutricionais nas plantas.
da adubação foliar das culturas. A nutrição foliar é uma ferramenta que pode compensar
e estabelecer o devido balanço nutricional, principalmente
2. PRINCÍPIOS DA ADUBAÇÃO FOLIAR quando a oferta de nutrientes no solo não atende totalmente
A adubação foliar consiste em pulverizar nutrientes a demanda da cultura para expressar seu máximo potencial
em soluções ou suspensões diretamente na parte aérea das produtivo. São vários os fatores que tornam os nutrientes
plantas. O efeito deste tipo de adubação é muito rápido, por- indisponíveis no solo, reduzindo o fornecimento adequado
que os nutrientes são imediatamente absorvidos e utilizados dos nutrientes para as plantas. Dentre eles, pode-se citar:
pelas plantas. O objetivo da adubação foliar é recobrir as • Ausência ou pouca disponibilidade do nutriente;
folhas de uma determinada cultura com uma solução contendo • Desequilíbrio entre nutrientes;
nutrientes e permitir que eles penetrem no interior das folhas.
• Condições climáticas (seca, alagamento, frio);
Para penetrar na folha, os nutrientes contidos no fertilizante
foliar precisam atravessar a cutícula da folha. As folhas são • pH (ácido, alcalino);
capazes de absorver água e nutrientes, minerais ou orgânicos, • Compactação;
através de seus tecidos epidérmicos. • Baixo teor de matéria orgânica;
A adubação foliar auxilia no desenvolvimento da • Material de origem do solo.
planta, fornecendo os nutrientes de forma rápida e eficiente.
Mais precisamente, a adubação foliar permite compensar a O caminho para reduzir esses efeitos negativos é o for-
deficiência de nutrientes por meio de uma solução auxiliar ou necimento de nutrientes diretamente no local onde as plantas
pontual para ativar o processo de crescimento. A sua utilização necessitam: as folhas. Embora as raízes sejam os principais
é benéfica em cada estádio fenológico da planta. órgãos de absorção, as plantas são capazes de absorver os
nutrientes através de suas folhas. A pulverização foliar tem
A adubação foliar visa suplementar e/ou complementar
a vantagem de fornecer qualquer nutriente necessário e no
a nutrição da planta, principalmente nos períodos de grande
momento exato para nutrir a planta. É uma ferramenta que tem
consumo de nutrientes e, assim, favorecer o equilíbrio
a vantagem de não ser afetada pelos fatores que interferem
nutricional necessário. Trata-se de uma prática que fornece
na disponibilidade de água e de nutrientes, como ocorre com
macronutrientes e, especialmente, micronutrientes, evitando
o solo (GOODING; DAVIES, 1992).
os fatores do solo que limitam a disponibilidade dos mesmos.
Como a capacidade de absorção foliar das plantas é, em
Para avaliar a necessidade da aplicação do fertilizante
geral, baixa, um programa nutricional que envolva nutrientes
foliar, o primeiro passo é identificar qual nutriente está em
exigidos em grande quantidade pelas plantas, como nitrogê-
deficiência na planta. Os métodos para se avaliar os sintomas
nio (N), fósforo (P), potássio (K) e outros macronutrientes,
de deficiência nutricional em uma planta são o diagnóstico
não pode ser realizado somente com uma ou duas aplicações
visual e a análise foliar. Posteriormente, seleciona-se o
foliares. É altamente improvável que a adubação foliar for-
fertilizante foliar a ser utilizado, avaliando-se dose, fonte,
neça em quantidade suficiente esses nutrientes e atenda toda
época e frequência de aplicação. Outro fator importante a ser
a demanda da planta. Por outro lado, alguns micronutrientes
considerado é o modo de aplicação do fertilizante, ou seja:
podem ser supridos com as aplicações foliares. Isso ocorre
(a) o fertilizante foliar sozinho, (b) em conjunto com outros
porque os micronutrientes são exigidos em pequenas quan-
fertilizantes ou (c) associado a um tratamento fitossanitário.
tidades, e até uma única aplicação foliar pode ser suficiente
para melhorar a nutrição da planta. Já a adubação foliar com
3. ADUBAÇÃO VIA SOLO E VIA FOLIAR macronutrientes pode ser benéfica se utilizada de forma
Geralmente, as aplicações de fertilizantes via solo não complementar à adubação do solo, e com critérios técnicos
são totalmente eficazes porque os nutrientes aplicados reagem que permitam sua máxima eficiência.
com o próprio solo. Como resultado, os nutrientes podem ficar É importante ressaltar que quando uma área apresenta
pouco disponíveis ou indisponíveis às plantas. Isso se aplica um histórico com problemas nutricionais relacionados a
a todos os nutrientes, tanto macro quanto micronutrientes. micronutrientes, deve-se aplicar os micronutrientes no solo,
O conceito de equilíbrio nutricional é muito antigo. obedecendo o programa de adubação via solo. Este manejo
Em 1867, Justus von Liebig estabeleceu a Lei do Mínimo, fornece resultados mais consistentes do que somente o manejo
a qual propõe que qualquer nutriente em deficiência pode com adubação foliar.

21
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
A adubação foliar é particularmente útil após momen- • Ajuda a contornar os efeitos limitantes do solo, como,
tos de estresse – condições de transplante, frio, calor, seca por exemplo, alto pH na diminuição da disponibilidade de
– ou em caso de deficiência grave de um ou mais nutrientes. micronutrientes catiônicos.
Ela pode resolver um problema de deficiência a curto prazo. • Permite correções rápidas e eficazes durante o ciclo
Para uma solução de longo prazo, é importante atacar a causa vegetativo. A intervenção imediata é uma vantagem distinta
do desequilíbrio. Por exemplo, se a deficiência mineral é da nutrição foliar: o efeito é muito mais rápido, comparado
consequência do pH muito ácido do solo, será necessário ao da aplicação via solo. A planta absorve nutrientes ime-
corrigir o problema diretamente no solo; no caso, por meio diatamente. Eles são encontrados quase imediatamente no
da aplicação de calcário. metabolismo da folha, onde a planta mais precisa.
Dessa forma, a adubação foliar é uma técnica com- • Torna possível fazer acréscimos de contribuições, espe-
plementar de um programa de adubação, especialmente para cialmente quando se trata de nutrientes pouco ou muito pouco
elementos que não estão prontamente disponíveis no solo móveis no solo, exigindo mais tempo para chegar às raízes.
(micronutrientes). De qualquer forma, não se pode substituir
completamente a adubação via solo. • Pode ser mais eficaz e econômica do que a suplemen-
tação via solo, especialmente para micronutrientes.
A adubação foliar pode ser utilizada como adubação
preventiva, corretiva ou substitutiva: 4. MECANISMOS DE ABSORÇÃO FOLIAR
• Adubação foliar preventiva: em solos com baixa fer-
tilidade, pobre em nutrientes, ela pode eventualmente corrigir As folhas são conhecidas por coletar a luz, efetuar a
as deficiências. A aplicação via foliar pode ser feita com um fotossíntese, transportar açúcares para outras partes da planta
ou mais nutrientes, sem a certeza de sucesso. É utilizada em e realizar a transpiração. Os estômatos representam 10% da
condições de baixa tecnologia. superfície da folha e são responsáveis por 90% da circulação
de água e de gases na folha. As folhas são cobertas com uma
• Adubação foliar corretiva: utilizada quando é
cutícula cerosa, tornando-as praticamente impermeáveis à
constatada a deficiência e é aplicado o nutriente necessário.
água e ao dióxido de carbono. De modo a mover-se na folha,
Apresenta resposta mais efetiva, com rápida correção, com a
os nutrientes aplicados via foliar devem penetrar na cutícula
condição de identificação do nutriente em falta e da aplicação
cerosa ou através dos estômatos e membranas celulares.
no momento correto.
Por conseguinte, apenas uma pequena quantidade de íons
• Adubação foliar substitutiva: tem como objetivo inorgânicos (adubo foliar) pode entrar na planta através da
substituir a adubação via solo. É utilizada principalmente superfície da folha.
para a aplicação de micronutrientes e raramente de macro-
Por muito tempo foi defendida a ideia de que a cutí-
nutrientes.
cula foliar das plantas era impermeável, e que a absorção de
Algumas premissas relacionadas à adubação foliar nutrientes ocorria somente pelas raízes. Atualmente, sabe-se
são de ordem: que a cutícula seca é impermeável, porém, quando em con-
• Ambiental: limitação das perdas de nutrientes, prin- dições de umidade, ela se expande e permite a absorção de
cipalmente de P e N; água e nutrientes.
• Agronômica: ineficiência de fertilizantes aplicados Um nutriente aplicado via foliar pode atravessar a
ao solo em condições de seca, rápido desenvolvimento de superfície da folha através da própria cutícula, ao longo de
uma deficiência (3-4 dias) (FAGERIA et al., 2009); fissuras ou imperfeições da cutícula ou através de estrutu-
ras epidérmicas modificadas, como estômatos, tricomas e
• Técnica: possibilidade de aplicação conjunta, em lenticelas.
tratamentos fitossanitários;
A facilidade com a qual uma solução de nutrientes pode
• Econômica: aumento no teor de proteínas dos cereais, penetrar no tecido da planta depende das características da
aumento de produtividade, melhor conservação dos frutos superfície foliar – as quais podem variar com o órgão, espécie,
(CHAPAGAIN; WIESMAN, 2004). variedade e condições de crescimento – e com as propriedades
da composição da solução foliar aplicada (FERNÁNDEZ et
A adubação foliar proporciona várias vantagens: al., 2013).
• Melhora o desenvolvimento radicular. A capacidade A absorção dos nutrientes aplicados via foliar envolve
total de absorção do sistema radicular é, portanto, aumen- uma série de processos e eventos complexos. Os principais
tada. A planta é capaz de absorver mais água e nutrientes processos incluem a formulação da solução nutritiva, a ato-
porque atinge um volume maior de solo. Como resultado, mização da solução de pulverização, o transporte das gotas
a planta faz melhor uso dos fertilizantes e das reservas do de pulverização para a superfície da planta, a molhagem,
solo. Assim, melhor alimentada, será mais produtiva e de o espalhamento, a retenção da solução pela superfície da
melhor qualidade. planta, a formação de um resíduo de pulverização sobre a

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superfície, a penetração e a distribuição do nutriente para A função dos estômatos e sua intervenção no processo
o local metabólico de reação (YOUNG, 1979). de adubação foliar são estudadas há muitos anos. Eichert e
O requisito fundamental para uma aplicação eficaz de Goldbach (2008) mostraram que a água pura não pode se
nutrientes é a penetração do ingrediente ativo na superfície infiltrar espontaneamente nos estômatos, a menos que se
da planta de modo a tornar-se metabolicamente ativo nas aplique uma solução contendo surfactante.
células-alvo, onde o nutriente é exigido. Nesse contexto, os estômatos desempenham um papel
fundamental no processo de absorção foliar, pois permitem
4.1. Estrutura foliar e vias de penetração melhor captação celular dos nutrientes incorporados, que
finalmente atingem os compartimentos celulares metabolica-
O sucesso da aplicação foliar ocorre com a eficiente
mente ativos da folha. Segundo Eichert e Burkhartdt (2001),
absorção dos nutrientes pelas folhas. Desta forma, é impor-
a absorção foliar dos íons está estreitamente correlacionada
tante o conhecimento de algumas estruturas das folhas, para
com o número de estômatos presentes (Figura 1). Além disso,
que se possa entender o processo de absorção foliar.
existe também estreita correlação entre quantidade absorvida
A lâmina foliar é constituída por uma epiderme supe- e número de estômatos abertos (Figura 2).
rior, a qual é revestida por uma espessa camada de cutícula
cerosa. Em seu interior encontram-se o mesófilo, com espa-
ços intercelulares, e os elementos condutores do floema e do
xilema. Na epiderme inferior, que é revestida por uma camada
fina de cutícula, existem as aberturas estomatais.
Os minerais a serem absorvidos podem estar em
formas moleculares complexas (por exemplo, quelatos) ou
em formas iônicas (cátions e ânions). As propriedades físico-
químicas dos solutos que controlam sua penetração na cutí-
cula são: afinidade pela fase aquosa ou lipídica e tamanho das
moléculas (FERNANDEZ; EICHERT, 2009). A via de pene-
tração mais lógica seria a difusão passiva através da cutícula
(MARSCHNER, 2012), porém, deduz-se que existam outras
formas de penetração na fase aquosa, ao longo de filmes de
água adsorvidos, como, por exemplo, nas células de proteção
das folhas (SCHÖNNER, 2006). Assim, os estômatos teriam,
indiretamente, um papel importante na penetração de minerais
nas folhas, mas em nenhum caso seria por fluxo de massa. Figura 1. Efeito da densidade de estômatos da epiderme na absor-
ção foliar.
4.2. Translocação dos elementos Fonte: Eichert e Burkhartdt (2001).

Após a absorção, o nutriente é transportado da folha


para os outros órgãos, preferencialmente pelo floema. Este é
um processo que exige gasto de energia. Ocorrem respostas
diferentes quanto à velocidade de translocação dos micro-
nutrientes pelo floema. Tem-se os micronutrientes modera-
damente móveis: cloro (Cl), molibdênio (Mo) e zinco (Zn);
os pouco móveis: cobre (Cu), ferro (Fe) e manganês (Mn); e
quase imóvel: boro (B).

4.3. Estômatos e sua principal função


A troca de gases nas plantas é realizada através dos
estômatos, que são pequenos poros localizados na parte infe-
rior das folhas de grande parte das espécies vegetais. Cada
um dos estômatos está envolvido por células denominadas
"células-guarda", cuja tarefa é regular a passagem de qualquer
substância estranha à planta.
Além de regular a troca de gases, como oxigênio e Figura 2. Efeito da luz e da umidade relativa do ar na absorção
dióxido de carbono, os estômatos têm a tarefa de garantir o de nutrientes pela folha (escuro = estômatos fechados).
fluxo adequado de água nas folhas. Fonte: Eichert e Burkhartdt (2001).

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5. FATORES QUE INTERFEREM NA condição favorece a eficiência da adubação foliar quando
ADUBAÇÃO FOLIAR realizada em folhas com deficiência do mesmo nutriente
contido no adubo.
O sucesso da adubação foliar está relacionado aos • Estágio de crescimento: o estádio fenológico e os
fatores que interferem diretamente na eficiência desta prática. picos de exigência de nutrientes, assim como a dimensão das
Os fatores são agrupados em três grupos: planta, ambiente e células, podem afetar a absorção.
solução nutritiva (Tabela 1).
5.2. Ambiente
Tabela 1. Fatores que afetam a eficiência da adubação foliar.
O ambiente tem função de grande relevância na eficiên-
Solução de cia da adubação foliar. A temperatura e a umidade interferem
Planta Ambiente
nutrientes na turgidez das folhas e, consequentemente, na absorção dos
Tipo de cutícula Temperatura Concentração nutrientes pelas folhas. Evitar as condições de estresse hídrico
e de vento permitem maior sucesso na aplicação. Assim, é
Idade da folha Luz Dose
recomendado dar preferência para efetuar a adubação foliar
Número de no início da manhã ou no final da tarde, com temperatura
Fotoperíodo Aplicação
estômatos amena e com menor risco de chuva.
Presença de Intensidade do • Disponibilidade de nutrientes: dentro de limites, quanto
Forma química
tricomas vento maior a concentração do nutriente, maior será a sua absorção.
Turgor Umidade Relativa Adjuvantes • Aeração: a quantidade de oxigênio influencia na
Umidade superficial Seca pH respiração celular e, portanto no fornecimento de energia
CTC Horário Polaridade para a absorção e utilização dos nutrientes.
Estado nutricional Estresse nutricional Higroscopicidade • Temperatura e umidade do ar: a temperatura e a
umidade do ar são dois fatores que têm grande relação com a
Estádio de Interações entre eficiência da adubação foliar. Temperaturas mais altas e baixa
crescimento nutrientes
umidade do ar afetam a velocidade de secamento da solução,
reduzindo, assim, a eficiência da aplicação. Plantas bem hidra-
5.1. Planta tadas mantêm a cutícula úmida e as células-guarda túrgidas.No
âmbito da planta, a desnaturação de proteínas que auxiliam
As espécies vegetais diferem quanto às características no processo de absorção, devido às altas temperaturas, pro-
morfológicas das folhas, espessura das cutículas, estrutura move efeito inibidor na absorção. As temperaturas elevadas
arquitetônica da planta e densidade de folhagem. Cada um até um limite podem favorecer a concentração do soluto na
desses fatores tem influência no aproveitamento do adubo superfície foliar, facilitando sua entrada. Em temperaturas
foliar pela planta. muito baixas, a atividade enzimática diminui, e a maior
• Tricomas ou pelos: a presença deles aumenta a super- concentração de orvalho, por exemplo, favorece a lavagem
fície de contato com a solução. Sabe-se que a superfície infe- dos nutrientes das folhas.
rior das folhas absorve mais intensamente a solução, assim • Luz: a presença de luz é um fator primordial para
como a região da nervura principal e as margens foliares. a absorção foliar. A luz é fundamental para que o processo
• Cutícula: quanto mais espessa a cutícula, maior a fotossintético aconteça. É através da fotossíntese que ocorre
dificuldade para a absorção foliar. o fornecimento de energia para que o processo de absorção
• Umidade superficial: o grau de hidratação da super- foliar ocorra de forma regular.
fície foliar tem grande influência na velocidade de absorção • Seca: se a falta de chuva penaliza a absorção de fer-
dos nutrientes. De forma geral, quanto mais úmida a cutícula, tilizantes no solo, também penaliza a absorção de nutrientes
maior é a absorção dos nutrientes. na adubação foliar. Para penetrar na folha, o nutriente precisa
• Idade da folha: as folhas mais jovens, além de apre- atravessar a cutícula. Uma higrometria ideal é, portanto,
sentarem cutícula mais fina, apresentam maior atividade essencial. A falta de água causa menor absorção de nutrientes
metabólica e menor estado iônico interno, permitindo con- pela cultura, independentemente da sua forma. O tempo seco
sumir mais nutrientes nos processos realizados, o que resulta é, portanto, tão desfavorável à eficiência dos fertilizantes
em maior absorção. foliares quanto à dos fertilizantes de solo.
• Estado iônico interno: este é um caso de diferença
de concentração entre o interior e o exterior da folha.
5.3. Solução de nutrientes
Folhas com baixa concentração interna de um determinado As características da solução têm grande influência na
nutriente apresentam maior velocidade de absorção, quando eficiência da adubação foliar. Assim, a forma do nutriente no
comparadas com folhas em melhor estado nutricional. Esta fertilizante (cloreto, sulfato, nitrato, óxido, quelato, amino-

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ácido, etc.), o íon acompanhante e o pH da solução pulveri- com suas principais propriedades: espalhantes (quebra a
zada têm relação direta com a quantidade do nutriente que é tensão superficial das gotas), molhantes, adesivos (aumen-
absorvida pela folha. tam a adesão da solução, diminuindo o escorrimento),
• Concentração da solução: quanto maior a concen- umectantes (dificultam a evaporação da água, diminuindo
tração da solução, mais rápida a absorção foliar. Os elementos o risco de fitotoxidade nas folhas), dispersantes e emulsio-
minerais são absorvidos por difusão, assim, quanto maior nantes (promovem a separação por superfícies hidrofílicas
a concentração, maior é sua eficácia. No entanto, se a con- e lipofílicas).
centração da solução for muito alta, pode ocorrer aumento • Ângulo de contato: o ângulo de contato é definido
na salinidade da solução. Isso pode aumentar os riscos de como o ângulo formado pela gota e a superfície da folha.
fitotoxicidade, de queimaduras e, em alguns casos, alteração Quanto maior o ângulo, menor é a superfície foliar coberta.
da epiderme da fruta (russeting), especialmente com cobre, A eficiência de absorção do nutriente está associada ao
enxofre e cloro. molhamento da folha, portanto, quanto menor o ângulo de
• Composição da solução: a forma na qual o ele- contato, melhor será o molhamento. Os fatores que influen-
mento se encontra na solução também afeta a velocidade de ciam o ângulo de contato da gota são a superfície e a tensão
absorção. Por exemplo, no caso do nitrogênio, o N amídico superficial da solução. A Figura 3 mostra que quanto menor
da ureia é mais rapidamente absorvido do que o N nítrico, o o ângulo entre a gota e a superfície da folha (situação C),
qual, por sua vez, é absorvido mais rapidamente do que o N melhor será o molhamento e, consequentemente maior será
amoniacal. Os micronutrientes apresentam diferentes veloci- a superfície molhada da folha, contribuindo, assim, para a
absorção mais eficiente de nutrientes. Tem-se ainda que,
dades de absorção. É de suma importância que os nutrientes
na sequência de A para C diminui o ângulo entre a gota e a
estejam em formas químicas adequadas para que as plantas
superfície, mas aumenta a área de contato entre a gota e a
possam absorvê-los. A presença de outros nutrientes pode
superfície foliar.
ajudar ou prejudicar a absorção de um determinado nutriente.
Por exemplo, Blanco (1970), trabalhando com o cafeeiro,
mostrou que o B diminui a absorção foliar de Zn quando são
aplicados simultaneamente, podendo o mesmo fenômeno
ocorrer em outras culturas.
• pH: cada nutriente, dependendo da fonte utilizada,
seja ela ácida ou básica, apresenta um pH ideal de absor-
ção. O pH da solução tem um efeito direto na eficiência de
absorção dos micronutrientes. Alguns nutrientes têm valores Figura 3. Ângulos formados entre uma gota e a superfície foliar.
de pH diferentes para uma maior eficiência de absorção. O
B tem sua máxima absorção em pH entre 7 e 8. O Zn tem
sua melhor absorção em pH próximo de 7. Por outro lado, o O emprego de agente espalhante permite diminuir o
N, o P e o K são melhor absorvidos em pH mais ácido, em ângulo de contato entre a gota e a superfície da folha. A adição
torno de 4. Alguns fertilizantes foliares são mais ácidos, de do agente adesivo contribui para que não haja o escorrimento
maneira que podem ser utilizados também como redutores superficial, resultando em maior eficiência na aplicação da
de pH da solução para caldas com pH elevado (> 7,5). solução com micronutrientes.
• Sinergismo iônico: quando a presença de um íon
aumenta a absorção de outro. 6. FERTILIZANTES FOLIARES
• Inibição competitiva ou não-competitiva: quando Os fertilizantes foliares podem ser classificados de
dois elementos competem pelo mesmo sítio de absorção, acordo com sua composição em nutrientes.
trata-se de uma inibição competitiva, já quando a inibi- • Um ou mais nutrientes primários: N, P, K;
ção da absorção de um é causada pela presença do outro,
• Um ou mais nutrientes secundários: Ca, Mg, S;
mas não se manifestam no mesmo local de absorção, é
não-competitiva. • Um ou mais micronutrientes: Fe, Cu, Zn, Mn, Mo e
B, entre outros;
• Velocidade de absorção:
• Uma combinação de macro e micronutrientes;
Ânions: Cl- > NO3- > SO42- > H2PO4-
• Alguns produtos também podem conter vitaminas,
Cátions: NH4+ > K+ > Na+ > Mg2+ > Ca2+ proteínas, aminoácidos, ácidos húmicos/fúlvicos ou outras
• Surfatantes: são substâncias que, quando adiciona- moléculas orgânicas que podem melhorar a nutrição das
das às soluções, modificam as propriedades de superfície dos plantas;
líquidos, aumentando a eficiência ou modificando determi- • Presença de moléculas que facilitam a penetração de
nadas propriedades da solução. São classificados de acordo certos elementos (quelatos).

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6.1. Fertilizantes foliares solúveis Tabela 3. Teores foliares de zinco e manganês em citros1.

Existem várias fontes de fertilizantes com micro- Fonte Teor de Zn Teor de Mn


nutrientes. As mais tradicionais são os sulfatos, cloretos e - - - - - - - - - - - (ppm) - - - - - - - - - - - -
nitratos. Atualmente, outras fontes de menor solubilidade Controle 16 37
estão sendo utilizadas, como os carbonatos e os óxidos. Para
as fontes tradicionais, resultados da literatura mostram que Sulfatos 36 (4.400) 63 (3.000)
os cloretos são absorvidos com maior eficiência e rapidez Cloretos 36 (800) 54 (480)
que os nitratos, enquanto os nitratos são mais eficientes que
os sulfatos. Malavolta et al. (1995) fizeram a comparação de 1
Valores entre parênteses referem-se às doses dos produtos
diferentes fontes de Zn, juntamente com o sulfato quelatizado, aplicados (g kg-1).
na absorção e translocação de 65Zn em uma planta de café Fonte: Caetano (1982).
(Tabela 2). Nesse trabalho, fica evidente a maior absorção de
Zn pela fonte cloreto (cloreto > nitrato > sulfato quelatizado
> sulfato). A menor absorção da fonte sulfato quelatizado
é compensada pela sua maior translocação na planta. Em
função da maior velocidade de absorção da fonte cloreto, é
necessário reduzir a dose aplicada a fim de evitar problemas
de toxidez nutricional.
Na Tabela 3 é possível verificar que os teores deseja-
dos para uma folha de citros podem ser obtidos tanto com a
fonte cloreto quanto com a fonte sulfato – a diferença está na
dose utilizada. Neste caso, pode-se verificar que para atingir
o mesmo teor de Zn na folha de citros foi necessário aplicar
uma dose de cloreto de zinco 5,5 vezes menor que a dose
de sulfato de zinco. No caso do Mn, a dose de cloreto foi
6,5 vezes menor que a de sulfato. Esses resultados evidenciam
Figura 4. Absorção de 65Zn por folhas de cafeeiro.
que as duas fontes podem atender a demanda nutricional da Fonte: Adaptada de Blanco (1970).
planta. A diferença está na eficiência de absorção e, conse-
quentemente, na dose do produto a ser aplicada.
Observa-se na Figura 4 que o Zn, quando aplicado na 6.2. Fertilizantes foliares quelatizados
forma de cloreto de zinco, é absorvido em curto espaço de O agente quelante é uma molécula orgânica que apre-
tempo (97% do total de Zn aplicado foi absorvido pelas folhas senta duas ou mais cargas negativas que se combinam com as
em 1 hora), o que pode provocar injúrias nas folhas, como fito- cargas positivas de um metal. Esse metal pode ser um micro-
toxidez. Portanto, a aplicação da dose correta deve ser um fator nutriente catiônico, ou seja, que tem cargas positivas (Zn, Mn,
importante a ser considerado quando se utiliza a fonte cloreto. Fe e Cu, por exemplo). Quando o micronutriente catiônico

Tabela 2. Absorção e translocação de 65Zn em partes da planta de café.


Fonte de zinco
Parte da planta
Cloreto Nitrato Sulfato Sulfato quelatizado
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (µg planta-1 de Zn) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Raízes 2 2 4 19
Caule e ramos abaixo 4 5 4 10
Folhas abaixo 5 5 4 31
Folhas tratadas 609 357 80 216
Caule e ramos acima 5 6 5 10
Folhas acima 8 7 6 17
Total 633 382 103 303

Fonte: Malavolta et al. (1995).

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se liga ao quelato, ele perde sua característica catiônica e, A absorção foliar de fertilizantes pouco solúveis em sus-
assim, fica menos sujeito a reações de precipitação ou de pensão é influenciada pela umidade relativa do ambiente e pela
insolubilização na calda de pulverização. Normalmente, umidade relativa na qual o sal se torna um soluto, chamado de
os produtos quelatizados apresentam baixa concentração POD. Assim, a absorção foliar e a dissolução das partículas depo-
do nutriente quelatado devido ao tamanho da molécula final sitadas sobre a superfície foliar serão mais eficientes quanto
(quelato + elemento). Contudo, é a forma mais segura para a maior for a umidade relativa do ar (SCHÖNHERR, 2006).
utilização em caldas com misturas, pois os nutrientes quela- Os dados de pesquisa apresentam resultados positivos e
tados não reagem com fungicidas, inseticidas ou herbicidas. outros negativos para as fontes pouco solúveis. Macedo (2016)
Existem diferentes agentes quelantes, entre eles os mostrou que as fontes pouco solúveis de B e Zn, caracterizadas
sintéticos, como o ácido etilenodiaminotetracético (EDTA) como micropartículas, supriram as plantas de café de forma
e o ácido etilenodiamina di-hidroxifenilacético (EDDHA). semelhante ou superior, quando comparadas às fontes solúveis
Os quelatos sintéticos são participantes essenciais na nutri- (sulfato de zinco e ácido bórico). A autora realça o potencial
ção equilibrada dos sistemas de cultivo (SEKHON, 2003; das fontes pouco solúveis para o desenvolvimento de novos
SANCHEZ et al., 2005; MARSCHNER, 2012). fertilizantes foliares na nutrição do cafeeiro.Já Migliavacca
Os quelatos fornecem vários benefícios sobre os fer- (2018) não conseguiu reverter sintomas de deficiência de Mn
tilizantes simples, incluindo: redução da competição entre em soja com a aplicação foliar de fontes insolúveis, mas obteve
minerais, principalmente cátions, redução de antagonismo sucesso com a fonte solúvel MnSO4. Apesar do aumento de
e interferência entre nutrientes minerais e maior biodisponi- Mn nas partes tratadas da planta, a fonte insolúvel demonstrou
bilidade de elementos nutricionais, aumentando a tolerância ação limitada no metabolismo e na nutrição das plantas de soja.
das plantas a vários estresses (SOURI, 2016). Os resultados conflitantes podem estar relacionados ao
Na literatura são encontrados trabalhos de pesquisa tipo de cultura. Nas culturas perenes, as folhas mantêm-se em
comparando fontes solúveis com quelatos. Boaretto e Muraoka atividade por mais tempo, o que permite que os fertilizantes
(1997) aplicararam, na cultura do milho, diferentes fontes de insolúveis tenham maior tempo de ação, enquanto nas culturas
Mn, observando que as fontes inorgânicas foram mais eficientes anuais o tempo de atividade das folhas é mais curto.
do que as quelatizadas (Mn-lignosulfonato e Mn-EDTA). Igual-
mente, Ferrandon e Chamel (1988) observaram que o MnSO4 7. APLICAÇÃO DE NUTRIENTES COM
foi mais absorvido pelas folhas do que a fonte Mn-EDTA. DEFENSIVOS AGRÍCOLAS
Entretanto, a fonte Mn-EDTA apresentou maior redistribuição
na planta, em comparação ao MnSO4. Muitos produtores preferem aplicar fertilizantes folia-
Silva (2017) relatou que as folhas de soja apresenta- res combinados aos tratamentos com defensivos agrícolas
ram absorção de Mn muito dependente da fonte utilizada. como forma de economia. Nesse contexto, deve-se considerar
A fonte cloreto foi a mais absorvida pela planta e a fonte os seguintes pontos:
Mn-EDTA foi pouco absorvida, porém, aumentou o con- • Índice de área foliar (IAF)
teúdo de Mn nas hastes. Isso reforça a maior mobilidade Dependendo do estádio de desenvolvimento da cultura,
das fontes quelatizadas, favorecendo a redistribuição do Mn pode haver pouca área foliar no momento da aplicação foliar.
no interior da planta. Quanto do produto pulverizado chega às folhas? A área foliar é
um parâmetro importante para se definir o momento adequado
6.3. Fertilizantes insolúveis ou pouco solúveis
da aplicação. Em condições de baixo índice de área foliar,
Outras fontes de micronutrientes bastante promissoras dificilmente haverá resultados positivos com a pulverização
são os óxidos e os carbonatos. Diferente dos sais solúveis em foliar. Por exemplo, no trigo, o índice ideal de área foliar para
água, como os sulfatos, cloretos e nitratos, os óxidos e carbo- uma boa eficácia da adubação foliar é de 2 a 4 (FAGERIA et al.,
natos são produtos pouco solúveis. Sabe-se que a eficiência 2009). Isso exclui a aplicação de nutrientes quando as plantas
do fertilizante para aplicação foliar depende da solubilidade, são pequenas e a área foliar é insuficiente para absorção foliar.
mas também do tamanho das partículas, principalmente no • Concentração salina
caso das fontes pouco solúveis. Estes produtos permitem a
A alta concentração salina da mistura pode ocasionar
absorção de nutrientes pelas plantas por um período mais
queima das folhas.
longo e reduzem o risco de toxicidade imediatamente após
a aplicação, diminuindo a necessidade de maior frequência • Uniformidade de aplicação
de aplicação (WESTFALL et al., 1999). O processo de lenta As aplicações de glifosato geralmente empregam volu-
solubilização deste tipo de fertilizante pode atender os picos mes de pulverização mais baixos e não umedecem completa-
de demanda da cultura durante seu ciclo vegetativo e repro- mente a superfície das folhas. Para maximizar a penetração
dutivo (DU et al., 2015). A particularidade dos fertilizantes de nutrientes, as folhas devem ser cobertas uniformemente.
pouco solúveis está no fato das partículas permanecerem Por esse motivo, o glifosato não costuma ser um bom produto
aderidas à superfície foliar por longos períodos. para combinação com fertilizantes foliares.

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• Interação da mistura Os mecanismos de absorção foliar são complexos. A
As aplicações de fungicidas normalmente utilizam alto absorção pelos estômatos desempenha um papel importante
volume de calda, suficiente para umedecer adequadamente na eficiência da adubação foliar. É por isso que a escolha das
as superfícies das folhas. Porém, alguns fertilizantes foliares condições climáticas e do momento de aplicação pode ter uma
usados em combinação com fungicidas podem causar lesões grande importância na eficácia do produto:
nas folhas. Por isso, deve-se sempre ler as instruções do rótulo • Evitar as horas quentes do dia, quando a temperatura
do produto para evitar interações nas misturas. do ar excede 25 °C (os estômatos estão fechados);
Os resultados referentes à eficiência da pulverização • Escolher as horas do dia associadas à umidade mais
foliar são extremamente variáveis. Embora estudos raros alta do ar (com umidade relativa do ar maior que 60%, os
sugiram perdas no rendimento ou nos níveis de proteína estômatos estarão abertos). É mais provável que essa condição
em comparação com os controles fertilizados via solo ocorra pela manhã, evitando as condições de ocorrência de
(GIRMA et al., 2007), a maioria dos estudos conclui que orvalho intenso, o que leva ao risco de escoamento do produto,
os efeitos são muito positivos, como o de McBeath et al. ou ao final da tarde, em momentos de temperatura mais amena.
(2011), mostrando um aumento de 25% na produção de • Realizar a pulverização em clima calmo, na ausência
trigo com apenas 5 kg de P pulverizado. A hipótese de tal de vento ou com ventos fracos (não superiores a 12 km/h),
eficiência é que o P teria contribuído para prolongar a vida para garantir uma distribuição uniforme da pulverização e
das folhas, permitindo, assim, melhor assimilação de car- limitar a deriva devido ao vento.
bono (BENBELLA; PAULSEN, 1998). A alta amplitude
• Evitar a aplicação foliar antes de chuvas para impedir
dos resultados é explicada pelo fato de que a eficiência da
a lavagem da folha e o arraste do produto para o solo. Por ser
pulverização está relacionada com a arquitetura da folhagem
um fertilizante, o produto não será perdido, mas sua eficá-
e a morfologia das folhas, que são dependentes de fatores
cia será menor, porque os elementos minerais levarão mais
bióticos (idade das plantas, recursos hídricos, luz, minerais)
tempo para serem absorvidos pelas raízes e alguns poderão
e práticas culturais.
ser insolubilizados em contato com o solo.
8. BOAS PRÁTICAS DE PREPARAÇÃO
9. CONCLUSÕES
E APLICAÇÃO FOLIAR
Para permitir maior eficiência na absorção dos nutrien- A adubação foliar é uma ferramenta que tem se tor-
tes pelas plantas, é indicado o uso de produtos que ajudem nado cada vez mais comum por proporcionar alta eficiência e
no espalhamento e na aderência do fertilizante na folha. A rápida absorção dos nutrientes através das folhas, em relação
finalidade é cobrir uma grande proporção das folhas e limitar à adubação tradicional via solo e sistema radicular. Ela atua
o escoamento e o arrastamento do produto para o solo. Os em momentos de grande demanda nutricional, durante o ciclo
nutrientes podem ser absorvidos pelas raízes, mas o caminho da lavoura, favorecendo o equilíbrio dos nutrientes na planta.
é mais longo e dificultoso. A adubação foliar deve ser integrada ao plano de aduba-
A escolha dos nutrientes e sua concentração devem ção da cultura como um método complementar à adubação via
garantir a ausência de danos às folhas. A fitotoxidez (quei- solo, a fim de responder de maneira mais eficiente aos objeti-
madura) pode ocorrer se a concentração do nutriente for vos qualitativos e quantitativos estabelecidos pelo agricultor.
muito alta, especialmente para os fertilizantes nitrogenados Para alcançar e garantir a eficácia do fertilizante foliar, devem
e as fontes cloretos. Portanto, a quantidade de água deve ser ser respeitadas as doses recomendadas, as etapas precisas da
suficiente para diluir o produto na dose prescrita. aplicação e o período fenológico da cultura.
A preparação do tanque de pulverização compreende
as seguintes etapas: 10. REFERÊNCIAS
• Encher o tanque com ¾ de água, mantendo a agitação; BENBELLA, M.; PAULSEN, G.M. Efficacy oftreatments for
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• Primeiro, dissolver os produtos sólidos; under field conditions. Agronomy Journal, v. 90, p. 332-338, 1998.
• Na sequência, adicionar os produtos líquidos em BLANCO, H. G. Estudos sobre a absorção de zinco pela folha
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Agricultura “Luiz de Queiroz”, Universidade de São Paulo, Pira-
• Completar o tanque com água, enquanto mantém a
cicaba, 1970.
agitação.
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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
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29
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
UTILIZAÇÃO DE MICRORGANISMOS
NA AGRICULTURA:
FATOS E PERSPECTIVAS

Tiago Domingues Zucchi1

A A
1. INTRODUÇÃO racionalizar o uso de alguns fertilizantes (inoculantes). De
maneira geral, esses microrganismos apresentam as seguintes
prática da agricultura nas regiões tropicais não vantagens: (a) não agridem o meio ambiente, (b) são seguros
é uma tarefa fácil. Se não bastassem as intem- para manipulação e (c) otimizam a utilização dos nutrientes
péries climáticas (secas, excesso de chuva, pelas plantas.
altas temperaturas, geadas, etc.), o agricultor ainda tem que
Com relação aos inoculantes, sua maior vantagem é
combater, praticamente o ano todo, pragas e doenças, que
a economia na utilização de fertilizantes e a promoção do
podem causar danos severos às plantações. Entretanto, com o
crescimento das raízes das plantas. Em comparação com os
desenvolvimento de pesquisas específicas para essas áreas e
defensivos químicos, os biodefensivos apresentam várias
com o emprego crescente de novas tecnologias, a produtividade
nessas regiões vem crescendo paulatinamente. vantagens, como: (a) maior seletividade ao organismo-alvo,
(b) ação exclusiva sobre as espécies-pragas, (c) baixa ou
É interessante notar que algumas das tecnologias
nenhuma pressão de seleção para indivíduos resistentes,
que ocasionaram aumentos expressivos da produtividade
(d) baixa presença ou ausência de resíduos tóxicos (e) são
na era pós-Revolução Verde (JAIN, 2010) são, atualmente,
ideais para introdução em programas de Manejo Integrado
apontadas como “ameaças” ao desenvolvimento sustentável
de Pragas (MIP).
da agricultura. Não obstante, muitas técnicas da agricultura
tradicional degradam o solo, poluem rios e lençóis freáticos Nos últimos anos, o número de empresas especializa-
e consomem uma quantidade considerável de energia. Esses das na produção e comercialização de produtos compostos
fatores têm levado ao aumento da percepção pública sobre os por microrganismos vem aumentando. Parte desse aumento
aspectos ambientais e, principalmente, sobre a contaminação deve-se à necessidade dos produtores de encontrar alternati-
dos seres humanos e animais (LYSON, 2002). vas para o manejo de pragas. Por outro lado, as empresas estão
Contudo, da mesma forma que os problemas decor- focadas no mercado multibilionário envolvendo a utilização
rentes das técnicas propostas pela Revolução Verde foram desses produtos. Para se ter uma ideia, o mercado mundial
surgindo, novas técnicas, mais sustentáveis ao meio ambiente de defensivos biológicos aumentou de US$ 1,6 bilhão, em
e à saúde humana e animal, também foram desenvolvidas. 2014, para US$ 3,2 bilhões, em 2018 (CLAUDINO, 2019).
Como exemplo, pode-se citar o desenvolvimento da enge- Estima-se, ainda, que esse mercado se expandirá para
nharia genética para o controle de pragas. Porém, essa tecno- US$ 7,7 bilhões até 2025.
logia também causa receios na população, evitando que ela Isso posto, será mostrado, a seguir, como a agricultura
seja amplamente difundida. Nesse contexto, a utilização de explora as diversas funções desses importantes organismos,
microrganismos na agricultura surgiu como uma forma não muitas vezes mascarados como agentes de biocontrole ou
apenas de controlar pragas (biodefensivos), mas também de inoculantes.

Abreviações: AIA = ácido indol acético; Fe = ferro; K = potássio; MIP = manejo integrado de pragas; N = nitrogênio; P = fósforo.

1
Engenheiro Agrônomo, Dr., Hinove Agrociência S.A., Araraquara, SP; email: tiago_zucchi@hotmail.com

30
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
2. AGRICULTURA TRADICIONAL interações planta-microbioma-solo. Sabe-se que uma popu-
VERSUS MICROBIOMA lação de microrganismo exógeno, quando introduzida em um
microbioma, apresenta três comportamentos: ou prolifera, ou
Pode-se dizer que, de maneira geral, a produtividade se estabiliza ou sucumbe. O sucesso do tratamento biológico
das lavouras está diretamente relacionada aos fatores bióticos dependerá intrinsicamente dessas interações. No passado, a
e abióticos. Assim, clima, solo, variedade da cultura, práti- utilização desses microrganismos estava associada à relação
cas de manejo, pragas e fitopatógenos interferem de forma de causa-efeito decorrente da eficiência de um único orga-
positiva ou negativa na produtividade final da lavoura. De nismo; por exemplo, a aplicação de Trichoderma harzianum
todas essas variáveis, apenas o clima não pode ser controlado. para o controle de Sclerotinia sclerotiorum, agente causal do
Sabe-se, atualmente, que as práticas agrícolas tradi- mofo-branco. À luz dessas novas descobertas, faz sentido
cionais causaram, em várias situações, problemas ao meio utilizar várias espécies de microrganismos para aumentar a
ambiente por remover a cobertura vegetal (floresta) pre- eficiência do tratamento. Essa característica já vem sendo
viamente estabelecida e em equilíbrio, e por empregar, por explorada pelas empresas, ou pelo emprego de produtos
muitos anos, a monocultura, sem considerar adequadamente contendo mais de um organismo, ou pelo manejo de vários
os problemas fitossanitários e nutricionais das plantas. Esses organismos ao longo do desenvolvimento da cultura, e os
fatores levaram, ao longo do tempo, ao desequilíbrio do sis- resultados têm se mostrado, muitas vezes, melhores do que
tema, acarretando perdas de produção. os obtidos com a aplicação de um único organismo.
No passado, essas perdas de produtividade eram con-
sideradas como resultado da adubação desequilibrada ou de 3. PROMOTORES DE CRESCIMENTO
problemas fitossanitários. Entretanto, dados de pesquisas DE PLANTAS
recentes mostraram que um fator importante no sistema – o Como já comentado, o número de empresas que traba-
microbioma – foi negligenciado por muitos anos. A utilização lham com produtos biológicos específicos para a agricultura
intensiva de fertilizantes, defensivos químicos e a monocul- tem aumentado consideravelmente. Assim, é de se esperar
tura modificaram o microbioma do solo. que haja um aumento, cada vez maior, desses produtos.
Deve-se lembrar que a interação das plantas com os Nesse ínterim, muito tem sido comentado sobre as diversas
microrganismos da rizosfera iniciou-se há milhões de anos. funcionalidades desses pequenos seres vivos. Entretanto,
Durante a história evolutiva desses orga- vale ressaltar que muitas dessas funções são
nismos, a planta aprendeu a “selecionar” inerentes às espécies microbianas as quais
os microrganismos que, de uma maneira A utilização de produtos elas frequentemente estão associadas. O fato
ou outra, são benéficos para o seu desen- com base biológica vem é que existem nuances específicas nas diver-
volvimento (BERENDSEN et al., 2012; ao encontro dessa nova sas linhagens comercializadas que podem
ANDRADE et al., 2018). Entretanto, devido, interpretação das favorecer uma ou outra característica do
principalmente, à manipulação genética para complexas interações microrganismo que promove o crescimento
gerar linhagens de plantas mais adaptadas, planta-microbioma-solo vegetal. Ainda, o modo como esses micror-
essa capacidade dos microrganismos pode ganismos interagem com a planta depende
ter sido perdida. Da mesma forma, a pres- muito mais das interações envolvidas no
são de seleção imposta pela agricultura tradicional também complexo planta-microrganismo-microbiota-ambiente do que
interferiu negativamente na diversidade da comunidade de das funções que esses microrganismos realmente são capazes
microrganismos. E esse desequilíbrio pode ser a porta de de exercer. Além disso, muito do que se sabe sobre o modo
entrada para o surgimento de doenças oportunistas. de ação de cada microrganismo foi descrito em condições de
Os estudos que envolvem o entendimento da atuação laboratório, sendo que podem não ocorrer no campo, ocasio-
do microbioma da rizosfera no desenvolvimento das plantas nando, por exemplo, falhas no manejo (WELLER, 1988).
têm mostrado resultados interessantes sobre o manejo de fito- Dessa forma, avançando um pouco mais sobre esse
patógenos (MENDES et al., 2011). Essas pesquisas buscam o assunto, é necessário definir o que são microrganismos pro-
chamado “solo supressivo”, isto é, solos que, por si sós, são motores de crescimento de plantas. Por definição, o termo
capazes de evitar a proliferação de um dado patógeno (CAR- promotores de crescimento de plantas é usado para descre-
RIÓN et al., 2019). Vale salientar que esses estudos estão ver “o aumento no crescimento da planta ou da produção
avançando rapidamente, mas, até o momento, não atingiram decorrente da inoculação de sementes ou raízes com certos
um patamar prático-comercial. Entretanto, o conhecimento microrganismos”. Existem diversas formas de classificar
do real papel de cada população nesses microbiomas, e como esses microrganismos benéficos. Alguns autores focaram
eles interagem entre si, poderá conduzir a saltos expressivos nos efeitos diretos e indiretos da interação (GUPTA et al.,
de produtividade. 2000) antes de categorizá-los, enquanto outros separaram
Assim, a utilização de produtos com base biológica esses microrganismos de acordo com seu modo de ação
vem ao encontro dessa nova interpretação das complexas (LUGTENBERG et al., 2013). Independentemente da forma

31
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
escolhida para agrupá-los, uma coisa é certa, essa subdivisão mais volumosas são capazes de absorver mais nutrientes e de
não será perfeita, pois um único organismo pode combinar suportar eventual escassez de água.
diversos mecanismos (LUGTENBERG et al., 2013). Os efeitos indiretos são aqueles relacionados à melho-
Assim, utilizando-se da definição mais ampla, pode-se ria do tônus e sanidade vegetal, eliminando fatores que podem
dizer que os efeitos diretos dos microrganismos são aqueles levar à diminuição da produtividade. Encaixam-se aqui os
que tem ação direta no crescimento das plantas, isto é, em subprodutos microbianos que atuam principalmente no con-
eventos ou subprodutos que aumentam a produtividade. Exis- trole biológico de pragas e aqueles que agem para conferir
tem diversos mecanismos que podem ser explorados, mas, resistências às intempéries ambientais. Assim, os microrga-
de maneira geral, esses efeitos diretos ocorrem por meio da: nismos promotores de plantas podem produzir:
a) Fixação biológica do nitrogênio • Antibióticos
Estima-se que bactérias simbiontes (Bradyrhizobium Esse é, geralmente, o modo de ação preferencial de
spp. e Rhizobium spp.), associadas às plantas, sejam capazes muitos agentes de biocontrole. Esses compostos orgânicos
de fixar entre 30 e 40 kg ha-1 ano-1 de nitrogênio (N) (GUPTA têm ação direta nos organismos-alvo e são amplamente
et al., 2000). Entretanto, bactérias não simbiontes mostraram explorados para a seleção de agentes microbianos. Em alguns
que elas também possuem capacidade de fixar N (SANTI et casos, os antibióticos são purificados e comercializados como
al., 2013). Embora a fixação de N seja inibida na presença defensivos químicos, como, por exemplo, avermectina e
de fontes de nitrogênio, o real balanço entre spinosina. Entretanto, quando o bioproduto
as bactérias não simbiontes fixadoras de N é utilizado de forma isolada, muito do
e a adubação nitrogenada ainda carece de O interesse pelos potencial do maquinário biossintético dos
investigação. microrganismos capazes microrganismos promotores de crescimento
de solubilizar o fósforo de plantas é deixado de lado. Além disso, a
b) Solubilização do fósforo vem crescendo, devido, utilização de moléculas isoladas, mesmo que
principalmente, a possível provenientes de microrganismos, acarreta os
Existem diversos mecanismos pelos escassez desse nutriente
quais os microrganismos disponibilizam o mesmos problemas proporcionados pela uti-
num futuro próximo lização de defensivos químicos (seleção de
fósforo (P) do solo para as plantas, muitos
dos quais ainda não completamente elu- populações resistentes, contaminações, etc.).
cidados. O mais comum ocorre pela produção de ácidos Sabe-se hoje que uma espécie de microrganismo é, nor-
orgânicos (geralmente ácido glucônico), que diminuem o malmente, capaz de produzir diversas classes de antibióticos por
pH do solo em volta do microrganismo e, consequentemente, diferentes vias biossintéticas. Entretanto, a forma como essas vias
liberam o P inorgânico adsorvido no solo (RODRIGUEZ et serão expressas depende de pressões ambientais, além da planta
al., 2006), que fica prontamente disponível para as plantas. hospedeira, do patógeno, da microbiota endógena e do estado
Em outro mecanismo, os microrganismos secretam enzimas fisiológico e nutricional do microrganismo (RAAIJMAKERS
específicas (fitases) ou não (fosfatases) capazes de liberar o et al., 2002). Independentemente do uso do subproduto ou da
fósforo orgânico (LUGTENBER et al., 2013). Ultimamente, biomassa, é inegável a participação desses compostos orgâni-
o interesse pelos microrganismos capazes de solubilizar o P cos no sucesso da mitigação de pragas e patógenos agrícolas.
vem crescendo, devido, principalmente, a possível escassez
desse nutriente num futuro próximo.
• Enzimas hidrolíticas
Da mesma forma que os antibióticos, esses compostos
c) Produção de fitormônios apresentam ação direta nos organismos-alvo. São, geralmente,
Diversos microrganismos são capazes de produzir representadas por quitinases e celulases, que agem no tegu-
hormônios, que promovem o crescimento das plantas. Nos mento de insetos e/ou parede celular de fungos fitopatogê-
programas de seleção de microrganismos, a capacidade de nicos. São as primeiras “armas” utilizadas pelo agente de
produção de ácido indol acético (AIA) e de outras auxinas controle biológico no processo de infecção da praga/patógeno.
tem sido levada em consideração (KAVAMURA et al., 2013).
• Resistência sistêmica
Esses compostos, quando excretados pelo microrganismo, são
absorvidos pelas raízes das plantas e promovem o alonga- Podemos definir esse processo como “a resistência
mento celular e a regulação do crescimento. Da mesma forma, ativa dependente das barreiras físicas ou químicas das plan-
alguns microrganismos são capazes de produzir giberelina e tas hospedeiras, ativadas por agentes bióticos ou abióticos”
compostos análogos, que têm importância na quebra de dor- (KLOEPPER et al., 1992). É um processo que vem sendo
mência e também na divisão celular (GUPTA et al., 2000). amplamente estudado, principalmente para elucidar o seu
Todos esses hormônios auxiliam no aumento do número de papel na proteção da planta. Inicia-se com um processo de
raízes secundárias (pelos radiculares) e, consequentemente, infecção, no qual as plantas respondem com uma cascata de
elevam o volume de raízes (COHEN et al., 2015). Essas raízes sinalização dependente de ácido salicílico, que leva à expres-

32
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
são sistêmica de resistência duradoura e de amplo espectro, Não obstante, diversos trabalhos de seleção de micror-
eficiente contra fungos, bactérias e vírus (SAHARAN; ganismos para uso agrícola levam em consideração as diver-
NEHRA, 2011). De maneira similar, embora desencadeada sas funcionalidades do microrganismo antes de avaliar sua
por outras vias metabólicas, essa resposta sistêmica pode ser ação direta no campo (KAVAMURA et al., 2013). Assim,
ativada por microrganismos não patogênicos, diminuindo a podemos utilizar, como exemplo, Bacillus subtilis. Esse
incidência e a severidade das doenças organismo é amplamente utilizado em
(Van LOON et al., 1998). diversos programas de controle bioló-
Uma espécie de gico. O primeiro motivo de sua escolha
• Sideróforos microrganismo é capaz de é a facilidade de sua produção em larga
O ferro (Fe) é um elemento essen- produzir diversas classes de escala e formulação. O segundo motivo
cial para o crescimento de todos os seres antibióticos por diferentes vias é o fantástico maquinário biossintético
vivos. Sua baixa disponibilidade no solo biossintéticas. Entretanto, a que essa bactéria apresenta, e que permite
gera uma competição ferrenha por ele. forma como essas vias serão a produção de uma vasta gama de com-
Ao longo da evolução, os microrganis- expressas depende de pressões postos bioativos (antibióticos e enzimas
mos desenvolveram mecanismos para ambientais, além da planta hidrolíticas). Entretanto, sua função vai
recuperar esse elemento do ambiente. hospedeira, do patógeno, da muito além de ser considerada “apenas”
Assim, em condições limitantes de Fe, um agente de biocontrole (SANTOYO et
microbiota endógena e do
os microrganismos promotores de cres- al., 2012). Diversas linhagens de Bacillus
estado fisiológico e nutricional
cimento de plantas produzem compos- subtilis são descritas também como solu-
tos orgânicos de baixo peso molecular, do microrganismo bilizadoras de P e potássio (K), indutoras
conhecidos como sideróforos, capazes de de resistência, produtoras de fitormônios,
quelatizar o Fe. Por meio dos sideróforos os microrganismos sideróforos e exopolissacarídeos (compostos que conferem
conseguem “capturar” o Fe do solo e trazê-lo para o interior proteção a estresse hídrico e osmótico) (SIVASAKTHI et
da parede celular e, assim, utilizá-los em seus processos al., 2014). No mesmo caminho, pode-se citar outras espécies
biológicos. Como esse elemento é muito requerido durante de Bacillus, Pseudomonas fluorescens, Trichoderma spp. e
a infecção dos fungos, para penetração na parede celular Streptomyces spp., que, apesar de serem comercializadas por
das células vegetais, na sua falta diminuem as chances de o uma única função (antibióticos ou enzimas hidrolíticas), apre-
patógeno causar algum dano. sentam características inerentes que podem, e são, expressas
durante seu ciclo de vida nos campos agrícolas.
• Exopolissacarídeos
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Da mesma forma que os pesquisadores têm focado seus
esforços em otimizar o uso do P por meio de microrganismos, Atualmente, o foco na utilização de microrganismos na
eles também procuram soluções para melhorar a produção em agricultura está, principalmente, nos agentes de controle bio-
condições climáticas adversas. Alguns microrganismos, em lógico. Muito tem sido pesquisado sobre as vantagens desses
condições de estresse hídrico ou osmótico, secretam substân- microrganismos frente aos defensivos químicos. Alguns cogitam
cias que os protegem nessas adversidades (KAVAMURA et até que eles irão substituir totalmente os defensivos. Entretanto,
al., 2013). Essas substâncias são conhecidas como exopolis- da mesma forma que a utilização comercial de inoculantes na
sacarídeos, sendo a glicina-betaína um dos compostos mais cultura da soja, ao longo de mais de 30 anos, não substituiu
estudados. Esses compostos, quando produzidos por micror- a adubação nitrogenada, o emprego de defensivos biológicos
ganismos rizosféricos, transferem uma parte da proteção, por dificilmente substituirá por completo os pesticidas. O que pro-
exemplo, contra estresse hídrico, para a planta e, dessa forma, vavelmente ocorrerá, será a utilização dos defensivos químicos
a planta tolera um tempo maior de estiagem. Levando-se de forma mais racional, preservando, assim, a molécula, contra o
em conta essa característica, é provável que muito em breve surgimento de populações resistentes, e o meio ambiente, contra
serão disponibilizados produtos biológicos específicos para possíveis contaminações. Além disso, é de se esperar que à medida
diminuir os efeitos do estresse hídrico. que mais conhecimento seja gerado sobre as interações planta-
microbioma-ambiente, o uso de defensivos biológicos se torne
Em síntese, os microrganismos desempenham várias
mais assertivo. Consequentemente, dentro de um programa de
funções no crescimento das plantas, que podem ser utilizadas
manejo integrado de pragas (MIP), esses defensivos se tornarão
em produtos comerciais (Tabela 1). Vale ressaltar que, por
a primeira opção contra pragas e patógenos, e os defensivos quí-
se tratar de um organismo vivo, o microrganismo promotor
micos serão utilizados para corrigir possíveis falhas no controle.
de crescimento de plantas utiliza mais de um mecanismo
Dessa forma, os efeitos secundários, diretos e indiretos, dos agen-
para obter vantagem adaptativa no microbioma ao qual foi
tes de biocontrole poderão ser melhor explorados e, quem sabe,
inserido. Assim, essas características, ao longo do desenvolvi-
num futuro próximo, viveremos uma nova Revolução Verde...
mento do microrganismo, se sobrepõem e podem representar
o sucesso ou não do uso do produto biológico. Mas, dessa vez, ela será Microbiológica!

33
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
Tabela 1. Funções e principais características dos microrganismos promotores de crescimento de plantas utilizados em produtos comerciais.

Funções Microrganismos Referências

Rhizobium spp.
Bradyrhizobium spp.
Fixação biológica de N2
Bacillus spp.
Azospirillum spp.
Bacillus spp.
Efeitos diretos
Trichoderma spp.
Solubilização de fósforo
Pseudomonas spp. Gupta et al. (2000)

Purpureocillium lilacinum Fravel (2005)

Bacillus spp. Ganeshan e Kumar (2005)


Produção de fitormônio Thomas e Read (2007)
Trichoderma spp.
Zucchi et al. (2008)
Bacillus spp.
Canova et al. (2010)
Antibiótico Streptomyces spp.
Ahmad et al. (2011)
Trichoderma spp.
Saharan e Nehra (2011)
Bacillus spp.
Santoyo et al. (2012)
Beauveria bassiana
Kavamura et al. (2013)
Enzimas hidrolíticas Metarhizium anisopliae
Lugtenberg et al. (2013)
Efeitos indiretos Streptomyces spp.
Cohen et al. (2016)
Trichoderma spp.
Trichoderma spp.
Indução de resistência
Pseudomonas spp.
Bacillus spp.
Produção de sideróforos
Trichoderma spp.
Exopolissacarídeos Bacillus spp.

5. REFERÊNCIAS des from Paenibacillus sp. (IIRAC30) suppressing Rhizoctonia


solani. World Journal of Microbiology & Biotechnology, v. 26,
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34
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
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wenhoek, v. 81, p. 537-547, 2002. p. 2153-2160, 2008.

– FERRAMENTA DRIS –
SISTEMA DE INTERPRETAÇÃO DE ANÁLISE FOLIAR

NOVIDADES na NPCT!
O DRIS, agora reformulado e com funcionamente mais rápido, já
está disponível no site da NPCT.
O sistema DRIS é uma ferramenta que possibilita verificar o estado
nutricional da cultura. Com a entrada de dados de análise de tecido vegetal
(normalmente teores foliares), o sistema realiza inúmeros cálculos, com-
parando os valores obtidos com os de uma lavoura-padrão de alta produ-
tividade. Com esse relatório, é possível verificar os nutrientes deficientes
e também aqueles em excesso, bem como ajustar as recomendações de
adubação no sentido de produzir plantas mais sadias sob o ponto de vista
nutricional. O DRIS está disponível para as seguintes culturas: algodão,
café, citros, maçã, manga, milho, soja e eucalipto.
O programa tem sido utilizado com sucesso por inúmeros consul-
tores em todo o Brasil.
Acesse o site da NPCT (https://www.npct.com.br/DRIS), contrate
o serviço e faça uso desta importante ferramenta!

35
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
DIVULGANDO A PESQUISA

MANEJO DO NITROGÊNIO EM GRAMÍNEAS FORRAGEIRAS


QUANTO À NUTRIÇÃO, PRODUÇÃO DE SEMENTES E
NUTRIENTES NA PALHADA RESIDUAL
Tiago A. Catuchi1, Rogério P. Soratto2, Amarildo Francisquini Júnior1, Fernando V. C. Guidorizzi2, Carlos S. Tiritan1. Pes-
quisa Agropecuária Brasileira, v. 54, e00114. Epub April 29, 2019. https://doi.org/10.1590/s1678-3921.pab2019.v54.00114

O
objetivo deste trabalho foi avaliar a nutrição, a • A adubação nitrogenada em cobertura, independen-
quantidade de nutrientes na palhada residual, a temente da forma do fracionamento de N, resultou em
produtividade de sementes puras e a qualidade aumento da concentração de N, na folha-bandeira e na palhada
de sementes das gramíneas forrageiras tropicais 'Mombaça' residual, e das quantidades de N acumulado pelas forrageiras
e 'Xaraés', quando submetidos ao manejo de nitrogênio em 'Mombaça' e 'Xaraés'.
cobertura. Foram conduzidos experimentos em campo nos
• A aplicação de todo ou da maior parte de N na fase
municípios de Rancharia e de Presidente Prudente, SP. Os
vegetativa aumentou a quantidade de palhada residual e de
tratamentos consistiram de uma testemunha (sem N em cober-
P e K acumulados pela gramínea 'Mombaça'.
tura) e quatro formas de fracionamento de N, em diferentes
estádios das gramíneas: 150 kg ha-1 de N, na fase vegetativa; • A aplicação de todo ou da maior parte do N na fase
150 kg ha-1 de N, no início da fase reprodutiva, entre os estádios reprodutiva proporcionou maior produtividade de sementes
de iniciação floral e emborrachamento; 100 kg ha-1 de N na fase puras e eficiência de uso do N em ambas as forrageiras. A
vegetativa e 50 kg ha-1 na fase reprodutiva; e 50 kg ha-1 de N qualidade fisiológica das sementes das forrageiras não é
na fase vegetativa e 100 kg ha-1 na fase reprodutiva. afetada pela adubação nitrogenada de cobertura.

Tabela 1. Concentração de nutrientes (N, P, K, Ca, Mg e S) na folha bandeira em duas espécies de gramíneas forrageiras tropicais como
resultado da aplicação fracionada de fertilizante nitrogenado1.
N P K Ca Mg S
Manejo do nitrogênio2
- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - (g kg-1) - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
Megathyrsus maximus ‘Mombaça’ - 2013
N0 24,3 b 2,8 a 15,9 a 8,0 a 3,8 a 1,8 a
N150-0 30,5 a 2,9 a 17,0 a 7,6 a 4,0 a 2,1 a
N0-150 30,6 a 3,1 a 18,0 a 7,1 a 4,0 a 2,1 a
N100-50 30,7 a 3,2 a 18,1 a 7,8 a 4,6 a 2,3 a
N50-100 39,2 a 3,0 a 16,8 a 7,1 a 4,1 a 1,7 a
CV (%) 10,4 6,6 12,3 20,2 17,6 15,9
Urochloa brizantha ‘Xaraés’ - 2013/2014
N0 15,7 b 1,6 a 17,6 a 4,5 a 5,3 a 0,8 a
N150-0 19,1 ab 2,3 a 23,2 a 3,3 a 4,1 a 1,1 a
N0-150 19,4 ab 2,1 a 23,7 a 3,4 a 3,6 a 1,1 a
N100-50 20,0 a 2,2 a 22,3 a 3,5 a 3,9 a 1,1 a
N50-100 20,1 a 1,9 a 19,1 a 3,7 a 5,5 a 1,0 a
CV (%) 10,5 14,7 16,1 24,3 20,2 17,8
1
Médias seguidas por letras diferentes, nas colunas, são significativamente diferentes pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.
2
N0 = sem N; N150-0 = 150 kg ha-1 de N na fase vegetativa; N0-150 = 150 kg ha-1 de N entre os estádios de iniciação floral e emborra-
chamento; N100-50 = 100 kg ha-1 de N na fase vegetativa mais 50 kg ha-1 de N entre os estádios de iniciação floral e emborrachamento;
N50-100 = 50 kg ha-1 de N na fase vegetativa mais 100 kg ha-1 de N entre os estádios de iniciação floral e emborrachamento.

1
Universidade do Oeste Paulista, Presidente Prudente, SP; e-mail do autor correspondente: tiago@unoeste.br
2
Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Ciências Agronômicas, Fazenda Experimental Lageado, Botucatu, SP.

36
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
PAINEL AGRONÔMICO

NANOSSENSOR RASTREIA FRUTAS E UNIVERSIDADE FEDERAL DE LAVRAS DESENVOLVE


MONITORA A SUA QUALIDADE SISTEMA DE AVISO DE DOENÇAS
Um sensor de baixo custo, com nanotecnologia e Com o objetivo de reduzir o uso de agroquímicos na
inteligência artificial, capaz de rastrear e monitorar o grau produção cafeeira, pesquisadores da Universidade Federal de
de maturação das frutas que amadurecem depois da colheita Lavras (UFLA) desenvolveram um sistema de aviso de doenças
– chamadas climatéricas –, é a novidade desenvolvida por pes- que utiliza modelagem matemática para apoiar a tomada de
quisadores da Embrapa decisão dos técnicos e produtores. O Sistema de Aviso de Doen-
Instrumentação, no âmbito ças (SAD) é programado para identificar a possível ocorrência,
de um projeto de inovação em um futuro próximo, da ferrugem e da mancha de phoma. A
aberta com a Siena Com- tecnologia funciona com base em variáveis ambientais, como
pany. Os testes foram fei- chuva e temperatura, e possui um nível de controle para prever
tos com manga, mamão e se pulverizações deverão ser realizadas.
banana, mas o sensor pode “Na prática, o sistema avisa quando a doença vai ocor-
ser aplicado em várias rer, fazendo com que não seja necessário pulverizar o tempo
outras frutas. todo”, explica o professor do Departamento de Fitopatologia
O sensor colorimé- Edson Pozza, que coordena a pesquisa. O SAD utiliza sistemas
trico denominado Yva de cores para informar ao agrônomo, engenheiro agrícola ou
(fruta, em tupi-guarani) é produtor, com uma antecedência de 15 dias, sobre a provável
Sensor colorimétrico Yva
similar a uma etiqueta QR ocorrência das doenças. “O sistema não vai sinalizar para pul-
Code, o que permite ser analisado por qualquer câmera de verizar ou não. Ele vai avisar se a doença pode ou não ocorrer
celular. Trata-se de um sistema de codificação de informações naquela região. É claro que depende de outros fatores, como
por meio de imagens, similar a uma etiqueta de identificação, a nutrição da planta, a condução de podas, a produtividade,
que serve para a organização de conteúdos na web. entre outros. Por isso, recebendo o aviso, ainda é importante
O Yva é descartável e deverá chegar ao mercado com que o produtor vá ao campo com o agrônomo ou com o técnico
custo estimado entre 8 e 10 centavos de real por quilo de agrícola para, juntos, decidirem se a pulverização será feita”,
fruta. Ele detecta a liberação do etileno – hormônio natural completa Edson.
no amadurecimento de frutos climatéricos – que, ao reagir Estudos com o
com nanopartículas em pó, vai mudando de cor, conforme o SAD também estão
fruto amadurece. A mudança é interpretada por meio de um sendo feitos para, em
aplicativo de celular, que, entre suas funcionalidades, indica breve, identificar valo-
quando o fruto deverá estar maduro e adequado para o con- res dos teores ideais
sumo ou indicar o ponto específico em que atingirá o estágio dos nutrientes no solo e
de melhor apreciação pelo consumidor final. na planta e possibilitar
O nanosensor pode ser acondicionado dentro de emba- a previsão da ocorrên- Mancha de phoma nas folhas
lagens plásticas ou em caixas de frutas, é destinado a vários cia da cercosporiose.
segmentos de mercado, entre eles, produtores e processadores Há uma preocupação mundial para que o uso de
de frutas, atacadistas e varejistas, associações, cooperativas e agrotóxicos seja reduzido nas plantações. Nesse sentido, o
empresas exportadoras. A versatilidade da tecnologia permite pesquisador explica que o SAD contribui para uma produção
diversas aplicações, entre elas, a de monitorar a qualidade sustentável nos cafeeiros, pois não será preciso que o pro-
desde a colheita até chegar ao consumidor. Também será dutor pulverize o tempo todo. “Ao fazer no momento certo,
capaz de auxiliar a gestão dos estoques de frutos, seguindo o produtor economiza, reduz as pulverizações e, também, a
a metodologia de estocagem utilizada com perecíveis na emissão de carbono caso a atividade seja mecanizada. Além de
qual a ordem de saída obedece às datas de expiração de cada aumentar a sustentabilidade ambiental no agroecossistema em
produto. Ela é conhecida pela sigla em inglês como FEFO que está inserido, reduz custos, proporcionando também uma
(first expire, first out). A nova tecnologia deverá aprimorar a estabilidade social do produtor no meio rural. Sendo assim, o
eficiência do sistema e reduzir perdas de alimentos. O Brasil professor insere sua produção no mercado, com responsabi-
chega a perder 26 milhões de toneladas por ano, quantidade lidade social e ambiental, atendendo à demanda globalizada
suficiente para alimentar 13 milhões de pessoas. (EMBRAPA) por medidas de menor impacto ambiental”. (Portal UFLA)

37
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
CURSOS, SIMPÓSIOS E OUTROS EVENTOS

Face à atual situação que se encontra o país devido ao coronavírus, a data desses eventos deve ter sido remarcada.
Caso haja interesse em participar de algum evento, favor confirmar a data da realização dos
mesmos junto ao setor de informações de cada entidade.

1. IX ENCONTRO TÉCNICO DE 5. 46ª EXPOCITROS 2020


FORRAGICULTURA - TECFOR
Local: Centro de Citricultura Sylvio Moreira,
Local: Campus Umuarama - Bloco 4K, Universidade Cordeirópolis, SP
Federal de Uberlândia, MG Data: 1 e 4/JUNHO/2020
Data: 1 e 2/ABRIL/2020 Informações: Secretaria Executiva
Informações: Secretaria Executiva Email: eventos@ccsm.br
Email: manoel.rozalino@ufu.br Website: http://www.ccsm.br
Website: http://www.eventos.ufu.br/
famev/ixtecfor
6. 2º SIMPÓSIO NACIONAL DA AGRICULTURA
DIGITAL – MANEJO EFICIENTE NO CAMPO
2. AGRISHOW 2020 Local: ESALQ/USP, Piracicaba, SP
Data: 9 e 10/JULHO/2020
Local: Rodovia Prefeito Antônio Duarte Nogueira, km 321, Informações: FEALQ
Ribeirão Preto, SP Email: cdt@fealq.com.br
Data: 27/ABRIL a 1/MAIO/2020 Website: https://fealq.org.br
Informações: Secretaria Executiva
Email: agrishow@feirasecongressos.com.br
Website: https://www.agrishow.com.br
7. IV SIMPÓSIO DESAFIOS DA FERTILIDADE DO
SOLO NA REGIÃO DO CERRADO
3. 1ª REUNIÃO DE ATUALIZAÇÃO TÉCNICA Local: Centro de Convenções de Goiânia, GO
SOBRE CALAGEM E ADUBAÇÃO EM Data: 22 e 23/JULHO/2020
FRUTÍFERAS Informações: GAPE
Fone: 3417-2138
Local: Auditório da Fundação Casa das Artes de Bento Website: https://www.simpcerrado.com
Gonçalves, Bento Gonçalves, RS
Data: 5 a 7/MAIO/2020
Informações: Secretaria Executiva 8. 43ª REUNIÃO DE PESQUISA DE SOJA DA
Email: uva-e-vinho.eventos@embrapa.br REGIÃO SUL
Website: https://www.ufsm.br
Local: Centro de Convenções da Universidade Federal de
Santa Maria, Santa Maria, RS
Data: 11 a 13/AGOSTO/2020
4. IV ENCONTRO MATO-GROSSENSE DE
Informações: Centro de Ciências Rurais – CCR
INTEGRAÇÃO LAVOURA-PECUÁRIA
Email: noticiasccr@ufsm.br
Local: Ideia’s Buffet, Avenida Josefa Machado de Rezende, Website: https://www.ufsm.br
2807, Parque Sagrada Família, Rondonópolis, MT
Data: 15 e 16/MAIO/2020
Informações: Secretaria Executiva 9. FERTBIO 2020
Telefone: (66) 99625-2010 Local: Centro de Convenções da UFAC, Rio Branco, AC
Website: https://www.sympla.com.br/ Data: 10 e 14/OUTUBRO/2020
iv-encontro-mato-grossense- Informações: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
de-integracao-lavoura- Email: sbcs@sbcs.org.br
pecuaria__746304 Website: https://www.sbcs.org.br

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
EVENTO DA NPCT

SIMPÓSIO “OTIMIZANDO A PRODUTIVIDADE EM


SISTEMAS DE PRODUÇÃO SOJA-MILHO”
Local: Ciudad del Este, Paraguai Informações: Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia – NPCT
Data: 6 e 7 de Maio de 2020 Contato: Elisangela Toledo
Inscrições: Somente através do website da NPCT: Telefone: (19) 3433-3254
https://www.npct.com.br/conference/sojamilho2020 Email: EToledo@npct.com.br

Esse evento foi adiado em razão da pandemia causada pelo novo Coronavírus (COVID-19).
O Simpósio será realizado em data a ser divulgada futuramente, assim que a normalidade for reestabelecida.
Agradecemos a compreensão de todos.

PROGRAMA
6/MAIO/2020 – QUARTA-FEIRA 17:10-18:00 h Debate

MÓDULO 1 – PARA INÍCIO DE CONVERSA! 7/MAIO/2020 – QUINTA-FEIRA


Moderador: Dr. André Vinicius Zabini, Agronómico do
Paraguai MÓDULO 3 – PROTEÇÃO DAS PLANTAS E MINI-
MIZAÇÃO DO ESTRESSE: SEM ISTO
09:00-09:20 h Abertura do evento. Agronómico do Para- BEM FEITO TAMBÉM NÃO DÁ!
guai, NPCT e Convidados Moderador: Eng. Agr. MSc Ricardo Batelli, Consultor
09:20-09:40 h Palestra 1: Agricultura com base em evidên- 08:00-08:40 h Palestra 8: Manejo inteligente de ervas dani-
cias. Dr. Luís I. Prochnow, NPCT nhas. Dr. Jamil Constantin, UEM
09:40-10:20 h Palestra 2: Ambientes de produção. Dr. Jairo 08:40-09:20 h Palestra 9: Manejo inteligente de nematoides.
Antonio Mazza, Consultor Dr. Jaime Maia dos Santos, UNESP Jabo-
10:20-10:50 h Coffee break ticabal

10:50-11:30 h Palestra 3: Do monocultivo aos sistemas inte- 09:20-10:00 h Palestra 10: Uso eficiente de defensivos agrí-
grados de produção. Eng. Agr. José Eduardo colas visando o controle de pragas e doenças.
de Macedo Soares Jr, Agricultor Dr. Hamilton Humberto Ramos, IAC

11:30-12:20 h Debate 10:00-10:30 h Coffee break

10:30-11:10 h Palestra 11: O que podemos fazer para minimi-


MÓDULO 2 – MANEJO DO SOLO: SEM ISTO BEM zar o estresse relacionado a fatores climáticos.
FEITO NÃO DÁ! Dr. Evandro Binotto Fagan, UNIPAM
Moderador: Eng. Agr. MSc Ronaldo Friedrich, Genial
11:10-12:00 h Debate
14:00-14:40 h Palestra 4: Manejo das propriedades físicas
do solo. Cássio Antonio Tormena, UEM MÓDULO 4 – PRESTA ATENÇÃO NOS
PROFISSIONAIS E NO MERCADO
14:40-15:20 h Palestra 5: Manejo da acidez no perfil do
solo. Dr. Eduardo Fávero Caires, UEPG Moderador: Dr. Luis I. Prochnow, NPCT
15:20-16:00 h Palestra 6: Nutrição e adubação da soja. 14:00-15:30 h Mesa redonda. Agrônomos convidados
Dr. Fernando Garcia, Consultor
15:30-16:30 h Palestra 12: Tendência de mercado futuro
16:00-16:30 h Coffee break para soja e milho. Eng. Agr. MSc Cleber
Vieira, Agroconsult
16:30-17:10 h Palestra 7: Nutrição e adubação do milho.
Dr. Hugo Abelardo Gonzáles Villalba, Dekalpar 16:30-16:45 h Encerramento. NPCT e Agronómico do Paraguai

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
PUBLICAÇÕES RECENTES

1. PEDOLOGIA, FERTILIDADE, ÁGUA E PLANTA: 3. ADUBAÇÃO DO MILHO SAFRINHA NO ESTADO


INTER-RELAÇÕES E APLICAÇÕES DO MATO GROSSO
(Fundação MT. Boletim de Pesquisa, 20)
Autores: Resende, M.; Curi, N.; Poggere, G. C.; Barbosa,
J. Z.; Pozza, A. A. A.; 2019. Autores: Duarte, A. P.; Kappes, C.; Zancanaro, L.; Ono,
Conteúdo: Este livro tem o objetivo de embasar as inter- F. B.; Cantarella, H.; 2019.
relações e aplicações da Pedologia-Fertilidade- Conteúdo: Calagem e gessagem; adubação de sistemas
Água-Planta no sistema solo. As informações produtivos; conceito da adubação de semea-
extraídas dos conhecimentos pedológicos e sin- dura a lanço; doses de N, P e K; fertilizantes
tetizadas nos conceitos de classes e atributos de nitrogenados: parcelamento, fontes e perdas.
solos, em associação às práticas de uso e manejo Preço: Gratuito, disponível no website para download
de solos com maior ou menor deficiência de Número de páginas: 30
nutrientes, considerando a água e a planta, são Editora: Fundação MT
enfatizadas. Mais especificamente, procura-se Website: http://www.fundacaomt.com.br
mostrar que o enfoque do solo como corpo
natural tridimensional “in situ” é insubstituível, 4. GEMAS BROTADAS DE CANA-DE-AÇÚCAR:
em particular como adequado estratificador de PRODUÇÃO SUSTENTÁVEL E UTILIZAÇÃO
ambientes, aumentando a probabilidade da uti- EXPERIMENTAL NA FORMAÇÃO DE ÁREAS
lização de relações mais simples e práticas no DE MULTIPLICAÇÃO
manejo de nutrientes; aproveitar rico acervo de (Documentos IAC, 215)
informações geradas pelos levantamentos de
solos, enriquecidas por dados complementares, Autores: Xavier, M. A. et al.; 2020.
embasando tomadas de decisão em vários níveis Conteúdo: Cultivares e manejo; corretivos e nutrição;
de detalhe; valorizar a análise química na avalia- irrigação: uso racional da água para mudas pré-
ção da fertilidade do solo; e interpretar atributos brotadas - transplantio; proteção e controle de
da terra (inclui todos os elementos do ambiente: pragas; núcleo de produção de gemas brotadas
solos, geologia, relevo, clima, recursos hídricos, e utilização.
flora e fauna; como também os efeitos da ação Preço: disponível no website para download
humana) relativos aos nutrientes, à água e às Número de páginas: 52
plantas no sistema solo, estimulando novas Editora: Instituto Agronômico de Campinas – IAC
observações e avaliações neste contexto. Website: http://www.iac.sp.gov.br/publicacoes
Preço: R$ 85,00
Número de páginas: 254 4. CAFEICULTURA DO CERRADO MINEIRO:
Editora: Universidade Federal de Lavras – UFLA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E ANÁLISE
Website: http://www.livraria.editora.ufla.br BIBLIOMÉTRICA
Autor: Tony Garcia Silva; 2019.
2. EUCALIPTO EM SISTEMAS AGROFLORESTAIS
Conteúdo: O livro condensa e analisa de forma crítica os
– 2a edição revisada e ampliada
trabalhos científicos publicados até agora – nas
Autores: Macedo, R. L. G.; Vale, A. B.; Carvalho, F.; bases de dados citadas, fato que colabora não
Venturin, N.; Nieri, E. M.; 2018. só para se averiguar as ações consolidadas,
Conteúdo: Esta obra reune as informações existentes sobre como também para propor caminhos para novas
o uso das espécies do gênero Eucalyptus, con- pesquisas. Além disso, colabora também para
sorciadas com culturas anuais, perenes e com demonstrar a importância da análise biblio-
animais, facilitando o uso desta tecnologia para métrica para a gestão de pesquisas científicas,
as comunidades agropecuária, empresarial e utilizando-se, para tanto, do ambiente produtivo
universitária. da cafeicultura da região do cerrado mineiro.
Preço: R$ 80,00 Preço: R$ 46,00
Número de páginas: 351 Número de páginas: 75
Editora: Universidade Federal de Lavras – UFLA Editora: Universidade Federal de Viçosa – UFV
Website: http://www.livraria.editora.ufla.br Website: https://www.editoraufv.com.br

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
PUBLICAÇÃO DO IPNI/NPCT

Autor: Bernardo van Raij; 2019 - 2a edição


Conteúdo: Esta obra atualizada, é, sem dúvida, uma contribuição de imensa utilidade
para os estudantes e os praticantes do manejo da fertilidade do solo visando a
adequada nutrição das culturas comerciais. Em tempos nos quais há, cada vez
mais, necessidade de otimizar a utilização dos insumos agrícolas, este livro traz
as bases necessárias para que isto seja realizado em prol de produtividades
economicamente viáveis, do ambiente e da sociedade em geral.
Preço: R$ 150,00
Número de páginas: 420
Pedidos: NPCT
Website: https://loja.npct.com.br

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INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT Nº 5 – MARÇO/2020
Ponto de Vista

MUITA CALMA NESTA HORA!

Luís Ignácio Prochnow

E
stamos, a grande maioria, surpresos e apreen- Vejo com apreensão algumas atitudes tomadas pelas
sivos com a situação da rápida disseminação autoridades, pois podem afetar a oferta de insumos aos agri-
do coronovírus pelo mundo e pelo Brasil. O cultores. Veja, por exemplo, a questão dos fertilizantes, cujo
momento é de cuidado, de cumprimento de diretrizes que uso adequado pode garantir até 50% da produção das áreas
fazem sentido e de nos ajudarmos mutuamente. Não importa agrícolas. Em sua maior parte, estes insumos são depen-
o tamanho do desafio, o fato é que quem consegue manter a dentes da importação de matéria-prima para a produção das
serenidade consegue também tomar as melhores decisões em fórmulas e produtos finais que os produtores utilizam em
prol de si mesmo e da coletividade. Nem sempre é possível suas fazendas. Fechar portos e/ou afetar meios de trasporte
e/ou paralisar serviços podem comprometer o abastecimento
resolver tudo, é verdade, mas com calma chegamos sempre
destes insumos, o que poderá se voltar contra nós mesmos em
muito mais longe. Não deve haver dúvida sobre isto!
curto espaço de tempo devido ao desabastecimento destes e
Neste momento de pandemia, nós, que trabalhamos de outros insumos agrícolas.
com a produção de alimentos, precisamos manter a serenidade A situação é complexa! Tentar preservar a todos e, ao
acima de tudo e de todos. As decisões tomadas poderão afetar mesmo tempo, garantir o abastecimento aos agricultores e à
o produtor rural e a produção agrícola. O processo produtivo população em geral exige tranquilidade e decisões acertivas.
necessita de insumos e de tecnologia para girar o processo e Que sirva de alerta, que precisamos resolver este problema
garantir o abastecimento de alimentos. juntos. Portanto, muita calma nesta hora!

NUTRIÇÃO DE PLANTAS CIÊNCIA E TECNOLOGIA


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Fone/Fax: (19) 3433-3254 - CEP 13419-160 - Piracicaba (SP) - Brasil

LUÍS IGNÁCIO PROCHNOW - Diretor Geral, Engo Agro, Doutor em Agronomia


E-mail: LProchnow@npct.com.br

EVANDRO LUÍS LAVORENTI - Diretor de TI, Analista de Sistemas


E-mail: ELavorenti@npct.com.br

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