Você está na página 1de 172

NPCT^f

Nutrição de Plantas
Ciência e Tecnologia

Dezembro 2019

DESAFIOS PARA A SUSTENTABILIDADE


DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO
COM CULTURAS ANUAIS

Silvino Guimarães Moreira1

1. INTRODUÇÃO são seguidas as premissas do sistema conservacionista, ou


seja, o solo é mantido sem revolvimento e coberto com palha
stima-se que atualmente, no Brasil, sejam cul­ durante todo o ano e há sucessão e rotação de culturas para a

E tivados 32 milhões de hectares com culturas


anuais sob sistema de semeadura direta (SSD).
Considerando-se que na safra 2018/2019 foram cultivados
formação de abundante palhada de cobertura?
Neste artigo não se pretende responder diretamente a
essas questões, mas sim apresentar alguns resultados de pes­
em tomo de 63 milhões de hectares com culturas anuais quisa para que o leitor tire suas próprias conclusões.
(CONAB, 2019), pode-se afirmar que cerca de 50% dessas
O primeiro ponto a se considerar é que na maioria das
áreas adotam o sistema conservacionista. regiões agrícolas brasileiras predomina a sucessão de culturas,
No entanto, esses dados estatísticos suscitam algumas principalmente soja/milho, soja/trigo e soja/algodão, dentre
dúvidas: Será que eles espelham realmente o total da área outras. Além disso, quando se percorre as diversas regiões
cultivada sob SSD no País? Será que nos cultivos anuais do País, inclusive as mais tradicionais, verifica-se que há

Abreviações: BA = Bahia; GO = Goiás; MA = Maranhão; MG = Minas Gerais; MS = Mato Grosso do Sul; MT = Mato Grosso; MO = matéria
orgânica; P = fósforo; PI = Piauí; RR = resistente ao glifosato; SP = São Paulo; SSD = sistema de semeadura direta.

1 Engenheiro Agrônomo, Dr., Professor da Universidade Federal de Lavras, Lavras, MG; email: silvinomoreira@ufla.br

NUTRIÇÃO DE PLANTAS CIÊNCIA E TECNOLOGIA (NPCT)


Avenida Independencia, n° 350, Edifício Primus Center, sala 141-A - Fone/Fax: (19) 3433-3254 - CEP 13419-160 - Piracicaba-SP, Brasil
Website: www.npct.com.br E-mail: Etoledo@npct.com.br Twitter: @NPCTBrasil Facebook: NPCTBrasil Instagram: NPCTBrasil

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS PATROCINADORES

ISSN 2311-5904

Publicação trimestral da
NPCT - Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia FERTCROSS Leverage
O jornal publica artigos técnico-científicos elaborados pela
comunidade científica nacional e internacional visando
o manejo responsável dos nutrientes das plantas.

COMISSÃO EDITORIAL Fort reen


Editor
Luís Ignácio Prochnow
Editora Assistente
Silvia Regina Stipp INOVE AGROCIÊNCIA
Gerente de Distribuição
Evandro Luis Lavorenti
ASSINATURAS
As assinaturas podem ser realizadas no site da NPCT: http://www.npct.com.br
Mudanças de endereço podem ser solicitadas por email para:
Ojacto
Etoledo@npct.com.br

’ kimberlit agrociências
N° 4 DEZEMBRO/2019

CONTEÚDO Mpsaíc Fertilizantes

Desafios para a sustentabilidade dos sistemas de produção


com culturas anuais LABORATÓRIO AGROPECUÁRIO
Silvino Guimarães Moreira..........................................................1
Plante
Manejo da matéria orgânica na cultura da cana-de-açúcar (g Certo
José Luiz loriatti Dematté.............................................................13 ‘ ‘A Certeza de Plantio Certo ’ ’

Sistemas integrados no manejo da produção agrícola


sustentável
Ronaldo Trecenti......................................................................... 27

Divulgando a Pesquisa.............................................................. 36
Painel Agronômico.................................................................... 37
Stoller
Cursos, Simpósios e outros Eventos........................................ 38
Evento da NPCT........................................................................39
Publicações Recentes.................................................................40 VITTIA
GRUPO
Publicação do IPNI/NPCT....................................................... 41
Ponto de Vista............................................................................ 42

NOTA DOS EDITORES


As opiniões e as conclusões expressas pelos autores nos artigos não Knovi/ledge grows
refletem necessariamente as mesmas dos editores deste jornal.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


muitas áreas de cultivo com pouca palha sobre o solo, prin­
cipalmente no Brasil Central. Também é comum observar,
em algumas regiões, que o solo foi revolvido por grades
leves, para enterrio superficial das sementes das plantas de
cobertura, como milheto e braquiária - prática utilizada por
produtores que não dispõem de equipamentos apropriados
para a semeadura. Na Figura 1 podem ser observadas três
áreas sob SSD: nas duas primeiras (Ae B), as culturas foram
cultivadas em solo com bastante palha, e na terceira (C) a
cultura foi cultivada em solo praticamente nu, no qual são
evidentes os sulcos de erosão. E todas essas áreas fazem
parte da estatística que revela a magnitude das áreas culti­
vadas sob SSD no Brasil.
No último levantamento sobre o “Estado da Arte do
Plantio Direto no Brasil em 2019”, realizado pela equipe
do Rally das Safras (FARDIM et al., 2019), avaliaram-se
1.784 lavouras em 422 municípios brasileiros. Do total de
amostras, 74% foram realizadas em lavouras de soja e 26%
em lavouras de milho. O País foi dividido em quatro regiões
distintas para o levantamento. Na denominada Região 3, com
outono/invemo quente e semi-úmido, composta pelo Estado
do Mato Grosso (MT) e partes dos Estados do Mato Grosso do
Sul (MS), São Paulo (SP), Minas Gerais (MG) e Goiás (GO),
predominaram os cultivos de milho e sorgo em segunda safra,
após soja. Na Região 4, composta pelo Estado do Tocantins
e partes dos Estados de MG, Bahia (BA), Maranhão (MA),
Piauí (PI) e GO, com outono/invemo quente e seco, a semea­
dura das culturas na época correta é dificultada pela escassez
de chuvas. Em resumo, nas Regiões 3 e 4, somente 61% e
40% das lavouras, respectivamente, apresentaram cobertura
adequada do solo, com muito resíduo de outras culturas
(40 a 100% do solo coberto) durante o cultivo da última safra.

2. SUBSOLAGEM E ESCARIFICAÇÂO DO SOLO


Atualmente, em várias regiões do País, verifica-se um
aumento na utilização de subsolagem profunda (40 a 60 cm)
(Figura 2) ou de escarificação em solos cultivados sob SSD. Figura 1. Milho e soja cultivados em sistema de semeadura direta
Em muitos casos, isso ocorre sem um correto diagnóstico da com muita palha (A e B) e milho cultivado em solo ero-
presença de camada compactada e da exata profundidade de dido (erosão hídrica) com pouca palha (C).
sua localização. Logicamente, a técnica deve ser adotada nos
locais onde foi diagnosticado o problema, mas acompanhada
de outras práticas que reduzem a necessidade de novas inter­
venções mecânicas no futuro.
Em um levantamento realizado no Mato Grosso do Sul
por Ceccon et al. (2011), observou-se que apenas 40% dos
agricultores tinham lavouras em SSD com mais de seis anos,
24% das lavouras permaneciam entre três e seis anos e 36%
não passavam de três anos de cultivo em SSD. O revolvimento
do solo era realizado para “romper camadas compactadas”,
devido à colheita da soja realizada em condições de alta
umidade no solo, ou para incorporar o calcário.
De acordo com Bergamin (2018), os efeitos da prá­ Figura 2. Área com 10 anos de cultivo sob sistema de semeadura
tica de subsolagem isolada, sem a introdução de plantas direta, subsolada a 50-60 cm, em fazenda localizada na
de cobertura com capacidade de enraizamento, são poucos Mesorregião do Campo das Vertentes, Sul de Minas.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


duradouros. Devido à elevada resiliência dos solos - ciclos muito frequente é: Qual é a quantidade de palha suficiente para
de secagem e umedecimento, chuvas, tráfico de máquinas, manter a sustentabilidade dos sistemas de produção? Trata-se
dentre outros -, as intervenções mecânicas muitas vezes preci­ de uma questão difícil, pois o importante é a manutenção
sam ser repetidas a cada ciclo de cultivo. Dessa forma, o autor do solo coberto o ano inteiro, o que não depende apenas da
recomenda a semeadura de uma gramínea forrageira, como quantidade de palha produzida por hectare, mas também da
a braquiária, logo após a prática da subsolagem/escarificação, sua relação C:N, do clima da região (umidade, temperatura do
a fim de que suas raízes ocupem os espaços deixados pelas ar e do solo, dentre outros), além do tipo de solo, topografia
hastes subsoladoras/escarificadoras, criando poros contínuos e drenagem do terreno, dentre outros.
no solo. Para maior aprofundamento sobre o tema, sugere-se a É fato que o sistema de cultivo mais adotado no Brasil
leitura de alguns artigos sobre diagnose e manejo da compac­ é a rotação soja/milho, com semeadura das culturas na prima-
tação do solo recentemente publicados (BERGAMIM, 2018; vera/verão e outono/invemo, respectivamente. Atualmente,
PEIXOTO et al., 2019a; PEIXOTO et al., 2019b). 74% do total de milho produzido no País ocorre na segunda
Conforme destacado no último relatório do “Rally safira (CONAB, 2019), com a soja ocupando a maior parte da
das Safras” (FARDIM et al., 2019), a falta de palha para área na primeira safra. Do ponto de vista técnico, a ausência
cobertura do solo nas regiões mais quentes e secas do Brasil do milho na primeira safra é preocupante, caso o produtor não
é constante. E pode-se afirmar que as operações mecânicas, inclua alguma gramínea em consórcio com o milho de segunda
como a subsolagem/escarificação, aceleram a queima dos safra. Isso porque a capacidade de produção de massa seca
restos culturais, não permitindo acúmulo de matéria orgânica (MS) por uma lavoura de milho de segunda safra é cerca da
(MO) nos solos. Moreira et al. (2019, no prelo) observaram metade da capacidade de produção de um milho de primeira
que os teores de MO das camadas superficiais do solo foram safra. Resende et al. (2016a) mostraram que na safra de verão,
inversamente proporcionais à intensidade do preparo. Os dependendo do ambiente de produção, alguns híbridos são
autores notaram que após 12 anos de cultivo de um Latossolo capazes de produzir mais de 20 Mg ha1 de MS, contabili­
argiloso do Paraná sob SSD houve um aumento de 1,2% zando-se somente as folhas e os colmos. Esse fato é de extrema
no teor de MO na camada de 0 a 5 cm, comparado ao solo importância quando se busca o aumento da MO nos solos.
sob cultivo convencional. Esse aumento de MO também se
Comparada às outras culturas comerciais de segunda
refletiu no aumento da capacidade de troca de cátions e da
safra, o milho é uma das culturas que mais produz palha no
disponibilidade de fósforo no solo sob SSD.
outono-inverno, porém, não proporciona grande cobertura
do solo (CECCON, 2011). Por outro lado, quando em con­
3. QUANTIDADE DE PALHA SOBRE 0 SOLO sórcio com uma espécie forrageira, garante alta porcentagem
Em muitos estados agrícolas importantes, como MT, de cobertura do solo. Essa modalidade de consórcio tem
MS, GO, e mesmo nos estados mais tradicionais do Sul do demonstrado ser uma importante alternativa para manter no
País, é comum a prática somente da sucessão de culturas, sistema uma cultura de rendimento econômico e aumentar o
com baixa produção de palha para o sistema. Uma dúvida aporte de massa na superfície do solo (Figura 3). As espécies

Figura 3. Aspecto visual da cobertura do solo após colheita do milho de segunda safra, em consórcio com Braquiaria ruziziensis, na
safra 2018/2019. Fazenda Santa Helena, Nazareno, MG.
Crédito das fotos: Gustavo Silva.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


de braquiárias têm alta capacidade de produção de raízes e
massa vegetal, o que contribui para o aumento da MO do solo.
Uma espécie forrageira perene em cultivo consor­
ciado com milho segunda safra pode proporcionar de 2,0 a
4,0 Mg ha1 de massa seca (CECCON et al., 2007). Ceccon
(2011) considera que esse montante de matéria seca, mais a
massa e o carbono produzidos pelo milho segunda safra e pela
soja no verão, sejam suficientes para tomar esta sucessão sus­
tentável, sob o ponto de vista de cobertura do solo, controle da
erosão e estoque de carbono no solo. No caso do consórcio de
Brachiaria ruziziensis (atualmente Urochloa ruziziensis) com
milho de primeira safra, a produção de MS pode ultrapassar
7 Mg ha1, conforme resultados de Pariz et al. (2010).

4. SOLO EM POUSIO E INCIDÊNCIA DE PRAGAS


Pior do que a sucessão soja/milho isolada, já discutida
anteriormente, é a sucessão soja/pousio, na qual o “mato” seco
é a base para a semeadura da soja da safra seguinte. Essa prática
é comum nas regiões de outono/invemo seco, mas também
em outras regiões do país sem grandes limitações climáticas
para a segunda safra, como no MT. De acordo com dados da
CONAB (2019), no estado do Mato Grosso foram cultivados,
na primeira safra 2018/2019, cerca de 10 milhões de hectares
com culturas anuais, dos quais 9,7 milhões de hectares com
soja e apenas 37,3 e 13,7 mil hectares com milho e feijão,
respectivamente. Na segunda safra, o milho ocupou cerca de
metade dessa área. Além disso, no estado é cultivado cerca de
1,1 milhão de hectares de algodão, a maior parte após o cul­
tivo de soja. Mesmo considerando que outras culturas sejam
cultivadas na segunda safra, como feijão (227 mil hectares), Figura 4. Presença de plantas daninhas de difícil controle em áreas
sorgo (32,5 mil hectares) e milheto, dentre outras, pode-se cultivadas sob sistema de semeadura direta, no Sul de
inferir que boa parte da área do estado fica em pousio na Minas Gerais.
segunda safra.
A manutenção do solo em pousio, após a cultura de verão, na pós-emergência; na dessecação antes da cultura de
verão, também deve ser evitada, já que a prática intensifica segunda safra e na pós-emergência da cultura -, aumentando
a infestação de plantas daninhas, as quais, além de não pro­ a pressão de seleção no ambiente e, consequentemente, os
duzirem volume adequado de palhada, aumentam o banco de relatos de casos de resistência.
sementes nas áreas (CAMARGO; PIZA, 2007). E o maior Atualmente, há 43 plantas daninhas resistentes ao
problema que essa falta de proteção do solo tem causado é glifosato no mundo. No Brasil, o primeiro relato sobre resis­
a proliferação de plantas daninhas de difícil controle, como tência ocorreu em 2003, com o azevém (Lolium perenne
o capim amargoso e a buva (Figura 4). Além disso, muitas ssp. multiflorum), e já existem até o momento oito casos de
plantas daninhas são hospedeiras de pragas, principalmente plantas resistentes ao princípio ativo (HEAP, 2019). Diante do
nematoides (DIAS-ARIEIRA, 2018; FAVORETO; MEYER, exposto, pode-se dizer que um dos maiores desafios atuais dos
2019), como também de doenças. sistemas de produção é o manejo de plantas daninhas, tanto
Nos últimos anos, tem aumentado em todo o mundo, do ponto de vista técnico quanto do econômico (aumento de
e principalmente no Brasil, os casos de plantas daninhas custos de produção).
resistentes ao glifosato. Esse aumento ocorreu depois da Um dos caminhos para um manejo efetivo e sustentá­
utilização frequente do produto não só na dessecação, mas vel, sobre todos os aspectos, é a diversificação de culturas nos
também como herbicida pós-emergente nas culturas de soja, sistemas de produção, com o emprego não só dos simplifica­
algodão e milho, atualmente resistentes ao glifosato (RR). dos sistemas soja/milho ou soja/algodão, mas com a inclusão
Assim, o princípio ativo que anteriormente era empregado de novas culturas. Como exemplos, os consórcios de milho
apenas uma a duas vezes por safra, nas dessecações, passou com braquiária ou “mix” de plantas, com o emprego de mais
a ser utilizado várias vezes no mesmo ano agrícola - duas de uma cultura no consórcio; a sobressemeadura de gramíneas
vezes na dessecação antes da safra verão, duas vezes na safra em soja; além de rotação de herbicidas, com o emprego de

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


outros produtos, além do glifosato, mesmo em culturas resis­ outono/invemo seco. Já foi amplamente demonstrado que,
tente à molécula (rotação de mecanismos de ação). mesmo em regiões secas, há opções para manter o solo
Ainda mais grave do que a sucessão soja/pousio é o coberto, ao invés de mantê-lo em pousio.
sistema no qual a dessecação das plantas invasoras produzi­ Nos estudos de Moreira et al. (2014), por exemplo, qua­
das no outono/invemo é substituída pelo preparo do solo. Há tro espécies de cobertura - girassol, milheto, nabo forrageiro
relatos de que essa prática vem sendo realizada por alguns e crotalária juncea - produziram, sem nenhuma adubação,
produtores com o objetivo de controlar o nematoide da parte entre 5,9 e 10,3 t ha1 de MS. O cultivo foi realizado após a
aérea das plantas, o Aphelencoides spp. Dessa forma, a colheita do milho de verão, na região central de Minas Gerais,
rotação e a sucessão de culturas vem sendo substituída pelo na qual as condições de outono/invemo seco não permitem
preparo do solo, o qual provoca perda de umidade do solo, uma segunda safra. Dessa forma, em regiões com condições
impedindo a sobrevivência do nematoide. climáticas semelhantes a essa, com outono/invemo seco, a
O nematoide Aphelenchoides besseyi é o agente baixa precipitação após a colheita de verão pode inviabilizar
etiológico da doença popularmente conhecida como “Soja a segunda safra, mas não o cultivo de plantas de cobertura
Louca II”, que causa haste verde ou retenção foliar na soja no outono/invemo.
(FAVORETO; MEYER, 2019). Além disso, as plantas Diante da dificuldade de produção de MS nas regiões
doentes apresentam folhas afiladas e falta de grãos, com que apresentam outono/invemo seco, uma alternativa para se
grandes perdas de produtividade, chegando até 100% do produzir palha para o SSD e manter o solo coberto durante
rendimento das plantas de soja mais atacadas da lavoura todo ano tem sido a adoção do consórcio milho/braquiária,
(MEYER et al., 2017). implantado nos sistemas de integração lavoura-pecuária.
Segundo Favoreto e Meyer (2019), além da soja, outras Também é possível fazer a sobressemeadura de gramíneas,
culturas são afetadas pelo nematoide, destacando-se o feijão como espécies de braquiária e milheto, nas lavouras de soja,
comum, feijão-caupi, algodão, arroz, além de morango, na fase de enchimento de grãos (entre os estádios R5 c R6).
plantas ornamentais e forrageiras. Algumas espécies de Em ambos os casos, após a colheita da cultura de verão,
plantas daninhas são hospedeiras e boas multiplicadoras do há o desenvolvimento da gramínea, a qual poderá ser utilizada
nematoide, como trapoeraba (Commelina benghalensis), como palhada para o SSD e/ou como pastagem (MOREIRA
agriãozinho-do-pasto (Synedrellopsis grisebachií), caruru et al., 2018). Um exemplo desse manejo começa a ser pra­
(Amaranthus viridis) e cordão-de-ffade (Leonotis nepetifolia) ticado na Região Central de Minas Gerais, uma região com
(FAVORETO; MEYER, 2018). Trata-se de espécies de outono/invemo seco, sem possibilidade de cultivar o milho
plantas daninhas comuns em áreas de pousio e, dessa forma, de segunda safra. Nesse caso específico, tem sido realizada
uma das maneiras de manejá-las em áreas infestadas seria a sobressemeadura da Brachiaria ruziziensis na cultura
eliminar o pousio. da soja, no estádio R5.1 (início do enchimento de grãos),
Por outro lado, diversas espécies forrageiras, como utilizando-se distribuidores de sementes posicionados na
braquiárias (Urochloa spp.), panicuns (Panicum spp.), napier barra do pulverizador (Figuras 5 A e 5B). A época de operação
Pennisetum spp.), milheto (Pennisetum glaucum), sorgo normalmente coincide com a época de aplicação dos fungi­
(Sorghum spp.) e milho (Zea mays\ não são boas hospedeiras de cidas para o controle da ferrugem asiática, o que não exige
A. besseyi. Isso demonstra a importância da sucessão/rotação do produtor gastos adicionais. Logicamente, existem outras
de culturas como prática para reduzir a população do nema­ modalidades de aplicação, como distribuidores centrífugos
toide, em substituição ao sistema soja/pousio. tratorizados e mesmo a aplicação aérea. O importante é que
as sementes sejam distribuídas antes do início da deiscência
Outro ponto importante no manejo das culturas for­
das folhas de soja, pois estas, caindo sobre as sementes da
rageiras é a dessecação com antecedência de 15 a 20 dias,
gramínea, facilitam o contato das mesmas com a umidade do
antes da semeadura das culturas de verão. No caso de áreas
solo, oferecendo melhores condições para sua germinação.
infestadas com o nematoide da parte aérea, essa prática é fun­
damental para evitar a sobrevivência do nematoide nas plan­ Após a colheita da soja, a braquiária se desenvolve,
tas vivas, bem como impedir que essas sirvam de alimento produzindo massa vegetal, ocupando a área e evitando
para os mesmos durante sua decomposição (FAVORETO; a germinação e o desenvolvimento de plantas daninhas
MEYER, 2018). (Figura 5C). Posteriormente, a braquiária é dessecada, ser­
vindo de palha para o SSD. Em muitos casos, a braquiária
é utilizada inicialmente como pastagem, principalmente
5. PLANTAS DE COBERTURA NA ROTAÇÃO E
na engorda de bovinos, oferecendo ao produtor a oportu­
SUCESSÃO DE CULTURAS nidade de obter uma “segunda safra”, mesmo em regiões
Vários trabalhos de pesquisa incluindo plantas de que apresentam condições climáticas restritivas (Figuras
cobertura no sistema de rotação/sucessão de culturas foram 5D e 5F). No entanto, quando ocorre integração lavoura-
realizados em diferentes regiões brasileiras, com resultados pecuária, o produtor deve atentar para a liberação da área
promissores, mesmo em locais da região sob Cerrado, com com a antecedência necessária à rebrota da planta forrageira

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


A

Figura 5. Sobressemeadura de Braquiária ruziziensis com distribuidores de sementes adaptados à barra de pulverização; operação reali­
zada durante a aplicação de fungicidas na Fazenda Santo Antônio, Matozinhos, MG (Ae B); massa vegetal da braquiária após
um mês da colheita da soja (C); área sendo utilizada para alimentação animal (D); aspecto da área após o pastejo, esperando
a rebrota para a dessecação (E). Milho de segunda safra em consórcio com Brachiaria ruziziensis na Fazenda Santa Helena,
em Nazareno, MG (F).
Crédito das fotos: Antônio Carlos dos Santos (A e B), Célio Santos (C), Silvino Moreira (D, E e F).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


(20 a 30 dias) para posterior dessecação, bem como respeitar o É comum os produtores atingirem produtividades, em suas
período adequado entre a dessecação e a semeadura (cerca de melhores glebas, de 90 a 100 sacas por hectare de soja e
20 a 30 dias). Assim, o ideal é liberar a área com antecedência 230 a 260 sacas por hectare de milho.
de pelo menos dois meses em relação à semeadura da cultura Um outro fator de grande preocupação é que, se a
de verão. Convencer alguns produtores sobre esse cuidado é sucessão soja/milho, sem rotação de culturas, não é interes­
um desafio para os técnicos de campo. sante do ponto de vista técnico, é sempre importante atentar
Ao contrário das regiões com outono/inverno seco, para a utilização de espécies de plantas que assegurem algum
naquelas com maior disponibilidade e melhor distribui­ retomo econômico ao produtor. Afinal, esse é o principal fator
ção de chuvas há inúmeras possibilidades de cultivo em responsável pela expansão das áreas de trigo de sequeiro no
rotação e sucessão de culturas. Um exemplo desse manejo outono-invemo e da soja na primavera-verão nas regiões
ocorre na região Sul de Minas, na qual tem-se adotado as Sul e de Campos das Vertentes, em Minas Gerais, conforme
rotações soja/milho e milho/feijão na primavera-verão, já relatado. Aqui, então, fica a pergunta: O que fazer nessas
com cultivos de trigo/aveia e feijão no outono/inverno, regiões, onde predomina a sucessão soja/milho? Qual ou
em sucessão à soja e milho, respectivamente (Figura 6). quais culturas poderiam substituir a soja no verão e o milho
No entanto, isso somente é possível por causa do aumento na segunda safra, do ponto de vista técnico e econômico?
das produtividades e do retorno econômico das culturas
utilizadas na rotação. Pragas e doenças
Vale destacar que nessa região, há cerca de 20 anos,
Com a diversificação dos sistemas de produção, os
havia basicamente a monocultura do milho, com incidência
produtores do Sul de Minas e de outras regiões conseguem
frequente de doenças. Acredita-se que, devido às perdas
manter o solo coberto todo o ano - que é uma das premissas
ocasionadas pela monocultura de milho, com reduções signi­
do SSD. Por outro lado, com a presença de plantas vivas
ficativas nas produtividades da cultura e prejuízos frequentes,
praticamente todos os dias do ano, aumentam as condições de
os produtores foram “obrigados” a cultivar outras culturas
sobrevivência de muitas espécies de insetos polífagos (pragas
em suas propriedades. Desta forma, entre os anos e 2004 a
de diversas culturas), criando-se uma “ponte verde” entre os
2007, muitos produtores da região iniciaram o cultivo da soja
sistemas, com a presença de insetos-praga o ano inteiro. Com
e, posteriormente, o de trigo e outras culturas de inverno.
isso, um dos desafios nas propriedades é o manejo integrado
O cultivo de trigo após a cultura de soja iniciou-se por
de pragas, a fim de que os insetos não atinjam populações a
volta de 2008. Nos últimos anos, a região passou a ser um
ponto de causar danos econômicos.
importante polo de produção de feijão dos grupos carioca,
vermelho e preto. Atualmente, praticamente todo produtor Os insetos mais importantes, que sobrevivem nas
de milho é produtor de feijão, pois ele cultiva uma cultura culturas de outono/inverno, tem sido os lepidópteros (por
em sucessão à outra, na mesma área. O produtor de soja é, exemplo, lagartas do complexo Spodopterá) e os percevejos
também, produtor de trigo. Deve ser ressaltado que a região barriga-verde (Dichelops sp.). Essas pragas têm atacado os
apresenta atualmente uma das melhores produtividades de cultivos de outono-invemo, podendo causar sérios problemas
soja e milho e um dos trigos de melhor qualidade do País. nas lavouras de primavera-verão, implantadas em sequên­

Figura 6. Cultura de soja implantada sobre palha de trigo (A) e resíduos de milho e trigo em lavoura de soja recém-implantada (B).
Crédito das fotos: Eduardo Diniz (A) e Silvino Moreira (B).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


cia. Algumas espécies de lagartas sobrevivem nas lavouras várias medidas, incluindo a adoção de cultivares resistentes e/ou
de outono-invemo (Figura 7A) e se escondem debaixo da com baixo fator de reprodução da praga, além do tratamento de
palhada, após a dessecação da área, dificultando sua visua­ sementes com produtos adequados. No entanto, não há manejo
lização (Figura 7B). Logo após a emergência das culturas de de nematoides sem sucessão e rotação de culturas com plantas
verão, cortam a região do colo das plantas, causando perda com baixo fator de reprodução (SILVA et al., 2018).
de estande pela morte de plantas (Figura 7C). Outro desafio Um dos maiores gargalos atuais nos sistemas de pro­
nos últimos anos, nas áreas com muita palha, em regiões mais dução é o manejo do nematoide das lesões (Pratylenchus
altas e úmidas da região Centro-Sul, tem sido a presença de brachyurus), pois trata-se de uma espécie nativa do cerrado
grande quantidade de lesmas, que também reduzem o número e não existe até o momento cultivares de soja, algodão ou
de plantas por metro em diversas culturas (Figura 8). Pen­ milho resistentes a essa praga. Dessa forma, o cultivo con­
sando-se nos insetos-praga, deve-se efetuar o monitoramento tínuo de milho ou algodão em sucessão à soja tem grande
das pragas nas áreas de plantio antes da semeadura. No caso potencial de reduzir a produtividade das culturas. Assim,
dos moluscos, o monitoramento mais preciso é o realizado
em período noturno, imediatamente após a semeadura e
durante os estádios vegetativos das culturas.
Se por um lado os produtores do Sul de Minas conse­
guiram romper a barreira da monocultura nas produtividades
de milho, como já comentado, o que predomina no Brasil hoje
é o cultivo de soja na primavera-verão, seguido do milho de
segunda safra. Essa prática durante várias safras seguidas tem
trazido muitos impactos negativos aos sistemas de produção,
sobretudo pelo aumento da população de diversas espécies de
nematoides. Atualmente, os nematoides vêm causando gran­
des perdas econômicas, tomando-se um dos maiores desafios
para o aumento de produtividade da soja e de outras culturas.
As espécies de nematoides que têm causado maiores
perdas em produtividade de soja no Mato Grosso e outros esta­
dos da região Centro-Sul do Brasil são, em ordem decrescente:
Heterodora glycines > Meloidogyne javanica = M. incógnita Figura 8. Presença de lesmas em lavoura de feijão sob sistema de
> Pratylenchus brachyurus > Rotylenchulus reniformis. semeadura direta, causando redução da área foliar.
Sabe-se também que o manejo de nematoides deve envolver Crédito da foto: Gustavo Silva.

Figura 7. Presença de Spodoptera frugiperda em lavoura do trigo na safra 2018/19 (A), sobrevivendo na palhada do trigo, após a
dessecação (B) e em plantas de soja e morta pelo ataque da lagarta - sintoma de “coração morto” (C).
Crédito das fotos: Flávio Moraes (A), Silvino Moreira (B e C).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


toma-se importante utilizar culturas com baixo fator de adequado das raízes. Ressalta-se que grande parte da agri­
reprodução do nematoide, incluindo cultivares de milheto, cultura no País é praticada em condições de sequeiro, além
Brachiaria ruziziensis, entre outras, capazes de aumentar a do fato de que os veranicos estão cada vez mais constantes.
quantidade de palha e de MO no solo, aumentando as condi­ A única maneira de evitar novas reaberturas de áreas
ções de sobrevivência dos microrganismos antagonistas do
cultivadas sob SSD é fazer uma criteriosa amostragem de
nematoide. Além disso, é importante introduzir espécies de
solo, pelo menos nas camadas de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm,
crotalária (Crotalaria spectabilis, C. ochroleuca e C. brevi-
antes da abertura inicial das áreas. Deve-se enviar as amostras
florá) no sistema, consideradas resistentes a esse e a outros
de solo a laboratórios de análises confiáveis e, posteriormente,
nematoides, antes que a população do nematoide atinja
de posse dos resultados analíticos, calcular a dose necessária
níveis considerados críticos. Para maior aprofundamento
de calcário para neutralizar o alumínio tóxico e aumentar os
sobre o manejo de nematoides nos sistemas de produção,
teores de Ca e Mg acima dos níveis críticos.
recomenda-se a leitura de Silva et al. (2018).
Recomenda-se também a incorporação profunda do
6. CORREÇÃO DA FERTILIDADE DO 20L0 calcário, em quantidade suficiente para corrigir uma camada
de pelo menos 40 cm de profundidade, fazendo uma boa
Um dos pilares importantes para a sustentabilidade
mistura do corretivo com o solo, devido à baixa solubilidade
de qualquer sistema de produção é a prévia constmção da
do CaCO3 e do MgCO3 presentes no calcário. Deve-se atentar
fertilidade do solo. Detalhes importantes sobre solos com fer­
para que a dose calculada seja suficiente para que pelo menos
tilidade construída podem ser consultados em revisão publi­
cada por Resende et al. (2016b). Atualmente, tem crescido 15% e 50% da CTC potencial dos solos seja ocupada com
no Brasil a reabertura de áreas que já estão sendo cultivadas Mg e Ca, respectivamente. Resultados promissores têm sido
sob SSD há longo tempo. Isso vem ocorrendo devido à má obtidos na produtividade de soja e de outras culturas, em solos
incorporação inicial do calcário ao solo e/ou a utilização de ácidos, de áreas de abertura e/ou de pastagens degradadas
doses de corretivo abaixo das necessárias ao desenvolvimento com incorporação profunda do calcário (MORAES, 2019).
das plantas. E comum observar, em muitas áreas, a presença Um outro grande desafio, na construção e manutenção
de acidez e de baixos teores de nutrientes abaixo da camada da fertilidade do solo nos sistemas de produção de grãos,
de 0-10 cm, mas teores adequados na camada superficial do tem sido o manejo do fósforo (P). Embora ele seja um dos
solo, como apresentado na Tabela 1. nutrientes exportados em menores quantidades pelas culturas,
Por essa razão, em muitas áreas do país, tem sido comparado aos outros macronutrientes, normalmente é o que
comum uma nova incorporação de corretivo, fazendo-se uma se aplica em maiores quantidades. O P apresenta dinâmica
nova “abertura” da área (Figura 9). Com isso, alguns dos bene­ bastante complexa no solo, principalmente por ser um
fícios acumulados ao longo dos anos nos solos sob SSD são nutriente de baixa mobilidade no solo, fácil de sofrer adsorção
perdidos. Por outro lado, é quase impossível obter altas pro­ e precipitação, além de ser transportado da solução do solo
dutividades das culturas anuais em um ambiente inadequado para as raízes por difusão, processo caracterizado por ocorrer
ao enraizamento das plantas. Em solos com baixos teores de a curtas distâncias. Por isso, normalmente, para aumentar a
Ca e altos teores de Al trocável não há um desenvolvimento eficiência no uso do nutriente, o adubo fosfatado deve ser

Tabela 1. Atributos de um solo de Tapurah, MT, cultivado com culturas anuais, com manejo superficial da fertilidade, amostrado em
diferentes profundidades.

Fonte: Zancanaro et al. (2018).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Figura 9. Área cultivada sob sistema de semeadura direta após a aplicação de calcário, seguida da incorporação de corretivo (A),
buscando-se fazer a reabertura da área para construção da fertilidade em camadas mais profundas (B).
Crédito da fotos: Matheus Silva (A) e Otávio Campos (B).

aplicado bem próximo às raízes (próximo às sementes), ou Para que as respostas da aplicação a lanço sejam mais
seja, colocado na linha de semeadura das culturas. duradouras, deve-se introduzir, nos sistemas de produção,
Muito embora a recomendação técnica seja a colocação plantas de cobertura com sistema radicular agressivo, como
do nutriente o mais próximo possível do local de absorção, as braquiárias. Essa prática permite a incorporação de carbono
atualmente, boa parte das lavouras de soja do Brasil são adu­ e nutrientes no perfil do solo ao longo dos anos. Deve-se res­
badas a lanço. Nessa condição, há suspeitas de que parte do saltar também a importância de se alternar, periodicamente, as
fertilizante aplicado seja perdida por escorrimento superficial. formas de aplicação de P nos sistemas - a lanço e incorporado
Normalmente, o arraste dos fertilizantes fosfatados pela água ao solo. Atualmente, já existem empresas que tem adotado
da chuva nem sempre é observado nas lavouras de algumas essa metodologia no Brasil, ou seja, aplicam o P a lanço por
regiões, com relevo muito plano. No entanto, principalmente três anos e depois desse período incorporam o nutriente na
em regiões com relevo ondulado, deve-se redobrar a atenção profundidade de cerca de 25 cm, por meio de escariíicadores/
com a adubação fosfatada realizada a lanço. Isso porque, adubadores (técnica ainda não consolidada pela pesquisa
quando os grânulos de adubo são aplicados na superfície, brasileira). Além disso, mesmo que os teores do P estejam
potencialmente eles podem ser arrastados pela água da chuva altos no solo, deve-se evitar aplicá-lo a lanço em locais com
e levados para as estradas ou mesmo para os mananciais. possibilidade de escorrimento superficial.
Embora a pesquisa mostre que não há diferenças na Para finalizar, pode-se inferir que os principais desafios
produtividade da cultura de soja quando o P é aplicado a lanço a serem vencidos nos sistemas de produção, buscando-se a
ou no sulco de plantio, em áreas com teores adequados ou sustentabilidade, são: (a) a construção da fertilidade dos solos,
altos do nutriente, deve-se lembrar que o nutriente apresenta principalmente com correções profundas da acidez, antes da
baixa mobilidade no solo. Portanto, quanto maior a restri­ implantação do sistema de produção de grãos e (b) a adoção
ção hídrica da região, mais restritivas serão as condições de da rotação/sucessão de culturas, buscando-se utilizar cultu-
nutrição das culturas, quando o P for aplicado a lanço. No ras/cultivares adaptados ao clima da região, com baixo fator
trabalho de Macedo (2019), em solo com alto teor inicial de de reprodução para a maioria dos nematoides, mas também
P, as produtividades de soja ou de milho, na safra de verão, com baixa possibilidade de serem hospedeiras das principais
não foram afetadas pela forma de aplicação do P. No entanto, pragas e doenças.
na época de outono/invemo, com condições hídricas mais
restritivas, a adubação no sulco mostrou-se mais vantajosa REFERÊNCIAS
do que aquela realizada a lanço. BERGAMIN, A. C. Compactação do solo em sistemas intensivos
Embora, tecnicamente, o fornecimento do P no sulco de produção. Informações Agronômicas, Piracicaba, n. 164,
de plantio seja a forma mais correta de aplicação, muito pro­ p. 1-12, dez. 2018.
vavelmente o produtor que pratica a adubação a lanço não CAMARGO, R.; PIZA, R. J. Produção de biomassa de plantas de
deixará de fazê-lo, pelo menos no curto e médio prazos. Isso cobertura e efeitos na cultura do milho sob sistema plantio direto
porque todo o seu sistema de produção, incluindo máquinas no município de passos, MG. Bioscience Journal, Uberlândia,
e equipamentos, já estão adaptados a essa condição. v. 23, p. 76-80, 2007.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


CECCON, G. Milho safrinha com solo protegido e retorno diferentes espécies de cobertura. Revista Brasileira de Milho
econômico em Mato Grosso do Sul. Revista Plantio Direto, e Sorgo, Sete Lagoas, v. 13, p. 218-231, 2014.
Passo Fundo, ano 16, n. 97, p. 17-20, 2007.
MOREIRA, S. G.; KIEHL, J. D. C.; PROCHNOW, L. L;
CECCON, G. Produção de palha para o Sistema Plantio PAULETTI, V; MARTIN NETO, L.; RESENDE, A. V.
Direto. In: SOUZA, E. D.; PINTO; F. A.; CARNEIRO, M. Soybean macronutrient availability and yield as affected by
A. C.; PAULINO, H. B. (Ed.). Anais do I Simpósio de Fer­ tillage system. Acta Scientiarum Agronomy, v. 42, p. 1-10,
tilidade do Solo em Plantio Direto no Cerrado. Jataí, MG: 2019. No prelo.
Universidade Federal de Jataí, 2011. p. 8-18.
MOREIRA, S. G.; OLIVEIRA, D. P; SILVA, C. A.; MENE­
CECCON, G.; RICHETTI, A.; SAGRILO, E.; DECIAN,
ZES, M. D.; SILVA, D. R. G.; BOTREL, E. P; LOPES, A. S.;
M.; NUNES, D. P; COLMAN, O. P. Avaliação técnica e
ANDRADE, M. J. B. Cultivo de feijão em Sistema de Plantio
econômica da produção de grãos em cultivo consorciado na
Direto no Cerrado. Belo Horizonte: Informe Agropecuário,
agricultura familiar. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE
Belo Horizonte, v. 39, p. 77-87, 2018.
SISTEMAS DE PRODUÇÃO, 7., 2007, Fortaleza. Anais...
Fortaleza, CE: Embrapa Agroindústria Tropical, 2007. PARIZ, C. M.; ANDREOTTI, M.; AZENHA, M. V; BERGA-
1 CD-ROM. MASCHINE, A. E; MELLO, L. M. M.; LIMA, R. C. Massa seca
e composição bromatológica de quatro espécies de braquiárias
CONAB. Companhia Nacional de Abastecimento. Acompa­
nhamento da safra brasileira. Safra de grãos. Disponível semeadas na linha ou a lanço, em consórcio com milho no
em: https://www.conab.gov.br/info-agro/safras. Acesso em: sistema plantio direto na palha. Acta Scientiarum Animal
21out. 2019. Sciences, Maringá, v. 32, n. 2, p. 147-154, 2010.

DIAS-ARIEIRA, C. R. Nematoides associados a plantas PEIXOTO, D. S.; SILVA, B. M.; OLIVEIRA, G. C.;
daninhas. In: Fundação MT (Ed.). Boletim de Pesquisa. Ron- MOREIRA, S. G.; SILVA, E; CURI, N. A soil compaction
donópolis, 2018. p. 150-156. (Fundação MT. Boletim, 18). diagnosis method for occasional tillage recommendation
under continuous no tillage system in Brazil. Soil & Tillage
FARDIM, B.; ASSARICE, V.; REVELES, P. Estado da arte
Research, Amsterdam, n. 194, p. 1-12, 2019a.
do Plantio Direto em 2019: Relatório final. Florianopólis,
SC: Realização: Agroconsult - Consultoria e Projetos, 2019. PEIXOTO, D. S.; SILVA, B. M.; SILVA, S. H. G.; KARLEN,
48 p. D. L.; MOREIRA, S. G.; SILVA, A. A. P; SILVA; RESENDE,
FAVORETO, L.; MEYER, M. C. Diagnose, hospedeiros e A. V; NORTON, L. D. E; CURI, N. Diagnosing, ameliora-
manejo de Aphelenchoides besseyi. In: CONGRESSO BRA­ ting, and monitoring soil compaction in no-till Brazilian soils.
SILEIRO DENEMATOLOGIA, 35., 2018, Bento Gonçalves, Agrosystems, Geosciences & Environment, Madison, n. 2,
RS. Anais... Brasília: Embrapa, 2018. p. 60-62. p. 1-14, 2019b.

FAVORETO, L.; MEYER, M. C. O nematoide da haste RESENDE, A. V; GUTIÉRREZ, A. M.; SILVA, C. G. M.;
verde. Londrina: Embrapa Soja, 2019. 12 p. (EMBRAPA. ALMEIDA, G. O.; GUIMARÃES, P. E. O.; MOREIRA, S.
Circular Técnica, 147). G.; GONTIJO-NETO, M. M. Requerimentos nutricionais
HEAP, I. International survey of herbicide resistant weeds. do milho para produção de silagem. Sete Lagoas: Embrapa
Disponível em: https://www.weedscience.org. Acesso em: Milho e Sorgo, 2016a. 12 p. (Circular Técnica, 221).
28 out. 2019. RESENDE, A. V; FONTOURA, S. M. V; BORGHI, E.;
MACEDO, J. R. Distribuição do sistema radicular da SANTOS, F. C.; KAPPES, C.; MOREIRA, S. G.; OLIVEIRA
cultura do milho em função de diferentes formas de JUNIOR, A.; BORIN, A. L. D. C. Solos de fertilidade cons­
aplicação de fósforo. 2019. 52 p. Dissertação (Mestrado) - truída: características, funcionamento e manejo. Informações
Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2019. Agronômicas, Piracicaba, n. 156, p. 1-17, 2016b.
MEYER, M. C.; FAVORETO, L.; KLEPKER, D.; SILVA, R. A.; INOMOTO, M. M.; RIBEIRO, N. R.; ALMEI­
MARCELINO-GUIMARÃES, F. C. Soybean green stem DA, A. A. Nematoides nos sistemas de produção do Mato
and foliar retention syndrome caused by Aphelenchoides Grosso. In: FUNDAÇÃO MT (Ed.). Boletim de Pesquisa.
besseyi. Tropical Plant Pathology, Brasília, v. 42, n. 5, Rondonópolis, 2018. p. 127-145. (Fundação MT. Boletim,
p. 403-409, 2017. 18).
MORAES, F. A. Dose de calcário na construção da fertili­ ZANCANARO, L.; ONO, F. B.; KAPPES, C.; VALEN-
dade do perfil do solo. 2019. 66 p. Dissertação (Mestrado) DORFF, J. D. P; CORADINI, D.; DAVID, M. A.; SEMLER,
- Universidade Federal de Lavras, Lavras, 2019. T. D.; VIDOTTI, M. V. Adubação fosfatada no sulco de
MOREIRA, S. G.; LUPP, R. M.; MARUCCI, R. C.; semeadura e em superfície. In: FUNDAÇÃO MT (Org.).
RESENDE, A. V; BORGES, I. D. Massa seca e macro- Boletim de Pesquisa 2017/2018: soja, algodão e milho.
nutrientes acumulados em plantas de milho cultivadas sob 18. ed. Cuiabá, MT: Entrelinhas Editora, 2017. p. 82-95.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


1. CONSIDERAÇÕES GERAIS à matéria orgânica (MO), na camada superficial, varia de
56 a 82% em solos com teores de argila de 5 a 64%, incluindo
conceito de matéria orgânica do solo (MOS) as Terras Roxas, representantes dos solos argilosos, e os

O é tema de muita discussão na comunidade


científica e, por isso, ainda não foi consensual­

relacionados às reações, as mais diversas, que ocorrem no


demais perfis representantes dos solos arenosos e dos solos
de textura média. Na camada de subsuperfície, na profundi­
mente definido. Esse assunto é abrangente e envolve aspectos
dade média de 74 a 150 cm, a CTC da MO é menor, porém
substancial, variando de 6 a 59%. Outros autores, como Silva
sistema solo, assim como os relativos às culturas cultivadas (2007), observaram que a contribuição do carbono orgânico
e ao clima, sendo, portanto, difícil desenvolver um artigo total (COT) na CTC do solo é 157 vezes maior que a contri­
completo sobre o tema. Para isso, sugere-se aos interessados buição da fração argila, enquanto a maioria dos autores são
consultar os compêndios e os artigos básicos publicados sobre unânimes em considerar que a CTC da MOS está na faixa de
o assunto. Por outro lado, especialmente para o cultivo da 150 a 200 emol dm 3.
cana-de-açúcar, no qual predomina a monocultura, prin­
A MO apresenta dois componentes básicos: em um
cipalmente nas socas, há falta de informações e pesquisas
deles é possível identificar parcialmente os constituintes do
básicas sobre produção, acúmulo e manejo da MOS. Sendo
material originário, e no outro o material já está bem mais
assim, é intenção neste artigo chamar a atenção dos leitores
degradado e mineralizado, contendo principalmente ácidos
sobre o que está ocorrendo nos sistemas de manejo empre­
húmicos (AH) e ácidos fúlvicos (AF). Em relação à com­
gados na cultura, assim como evidenciar esses aspectos
posição elementar, a MOS é constituída de carbono (C), na
em outras culturas anuais, bem mais estudadas em relação
faixa de 50 a 60%; oxigênio, cerca de 35%; nitrogênio (N) e
ao tema.
hidrogênio (H), na faixa de 3 a 7%; e enxofre (S) e fósforo
De maneira geral, a MOS pode ser definida como sendo (P), que ocorrem na proporção de 2% ou menos (DICK et
todo material orgânico não decomposto, de origem externa, ah, 2000).
vivo ou morto, que se encontra no solo, excluindo-se a liteira Na formação de microagregados no solo, a MOS
ou serapilheira ou cobertura. humificada tende a reagir com os coloides positivos, como os
Na região tropical, particularmente no Brasil, em solos minerais de argila, mas principalmente com os óxidos de ferro
com cargas variáveis ou dependentes de pH, grande parte das (Fe) e alumínio (Al), cristalinos ou amorfos, assim como com
reações físico-químicas são atribuídas à MOS. Ela fornece os coloides negativos, ligando-se, por meio de íons-ponte ao
macro e micronutrientes, principalmente N, P e S, e aumenta cálcio (Ca), magnésio (Mg) ou Al. Nesse aspecto, grande parte
a quantidade de água retida no solo, alterando o Ponto de da MOS está protegida nos microagregados estáveis contra
Carga Zero (PCZ). No estado de São Paulo, Raij (2011) relata o ataque dos microrganismos decompositores de material
que a capacidade de troca de cátions do solo (CTC) atribuída orgânico. A fração mineralizada das substâncias húmicas

Abreviações: AF = ácido fúlvico; AH = ácido húmico; C = carbono; Ca = cálcio; CB = carbono facilmente biodegradável; COT = carbono
orgânico total; CTC = capacidade de troca de cátions; Mg = magnésio; MOS = matéria orgânica do solo; N = nitrogênio; P = fósforo;
S = enxofre; SH = substância húmica; USA = Usina Santa Adélia; USM = Usina São Martinho.

1 Engenheiro agrônomo, Professor Titular Aposentado da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”- ESALQ/USP, Consultor,
Piracicaba, SP; email: jlid@terra.com.br

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


(SH) é constituída por uma série de misturas de substâncias Em um experimento conduzido na Usina Santa Adélia,
polidispersas, sem fórmula molecular definida, contendo os em Jaboticabal, SP, na reforma do canavial, Franco et al. (2007)
principais grupos funcionais do carbono (C). Comportam-se verificaram que 680 t ha1 de colmos (total de seis cortes)
como compostos macromoleculares de elevado peso molecu­ resultaram em 28,91 ha1 de massa seca (ou 4,7 t ha’1 ano’1) de
lar, apresentando tempo de residência de centenas a milhares soqueira e raízes, material este mineralizável e provavelmente
de anos, com origem puramente microbiana. Considera-se perdido, não aumentando a MOS do solo. Sendo assim, tudo
que o carvão tem o C pirogênico com estrutura molecular indica que os teores de MO em área de cana-de-açúcar sob
aromática, ou seja, é matéria orgânica inerte. regime de monocultura têm permanecido constantes ao longo
A elevada reatividade dos AH e dos AF, originando dos cortes.
a alta CTC da MOS, instável ou não, na faixa de 150 a
3. ER02Â0 E DECRÉ2CIM0 DA MATÉRIA
200 cmol dm 3, se deve à desprotonação de diversos grupos,
entre eles os grupos carboxilos, formando cargas negativas ORGÂNICA NO 20L0
(R-COO) e hidroxilas fenólicas (R-fenol-O), que são res­ Tem-se observado grande variação na produtividade
ponsáveis pela sua acidez (DICK et al., 2009). De maneira da cana-de-açúcar em um mesmo talhão. Apenas para
geral, a MO apresenta cargas negativas, e as cargas positivas ilustrar o fato, na região de Lençóis Paulista, SP, a produti­
somente aparecem em pH abaixo de 3,0. vidade de um talhão de cana de primeiro corte, em área de
16 hectares, variou de 93 a 1241 ha1, e no segundo corte, de
2. TEOR DE MATÉRIA ORGÂNICA N02 20L02 83 a 98 t ha’1. Tal fato ocorre, entre outras causas, devido à
CULTIVAD02 COM CANA-DE-AÇÚCAR EM erosão, assim como às raspagens realizadas na superfície do
2Â0 PAULO solo devido às mudanças de sulcação e carreadores, à cons­
trução de terraços, etc. Por outro lado, tem-se aplicado com­
A Tabela 1 resume os teores de MO de solos com
posto, ou outro material orgânico, nessas áreas na tentativa
diferentes texturas, cultivados há mais de 30 anos com cana-
de recuperar as condições normais do solo, principalmente
de-açúcar, sem aplicação de vinhaça. Nota-se que os solos
em relação ao teor de matéria orgânica.
argilosos apresentam sempre maiores teores de MO que os
arenosos. Tais teores permanecem pouco alterados, a despeito Visando estudar esse fenômeno, realizou-se uma
das frequentes reformas dos canaviais, com incorporação simulação da erosão, por meio da raspagem do solo, em uma
de MO oriunda de touceiras, restos de cana, palha, torta de área da Usina Quatá, na região de Quatá, SP. No plantio,
filtro, vinhaça, assim como de outros materiais. A questão foram aplicados composto orgânico no sulco e em área total,
que fica pendente é a seguinte: Por que não há aumento do e nas soqueiras, o fertilizante mineral. Os valores iniciais de
teor de MO nesses solos, apesar de todos os esforços que MO e de CTC estão indicados na Tabela 2. Observa-se que,
estão sendo feitos nesse sentido? Um dos pontos que devem após os quatro cortes de cana, os teores de MO e de CTC do
ser considerados é a baixa quantidade de MOS reciclada no solo nas áreas com raspagem e sem raspagem não se alte­
regime de monocultura (BAYER et al., 2006). Durante seis raram, indicando que, apesar de todos os esforços em tentar
ou mais anos de cultivo da cultura, a fitomassa formada pelos recuperar as terras, os valores não se modificaram.
sistemas radiculares e pela palha não têm sido suficientes Os resultados dos testes conduzidos nessa usina
para aumentar o teor de MOS, pelo contrário, ela tende a ser mostram que as raspagens feitas no solo a 15 e a 30 cm de
mineralizada e diminuir. profundidade removeram grande parte da MO estabilizada do

Tabela 1. Teor de matéria orgânica (MO) em solos1 cultivados com cana-de-açúcar no estado de São Paulo.

Teor de argila Teor de MO MO (t ha T1 2


Textura
(%) (%) Média (%) 25 cm 50 cm
< 10 Muito arenosa <0,6 0,40 10,0 20,0
10 a 15 Arenosa 0,6 a 1,0 0,75 18,7 37,5
16 a 25 Média-arenosa 1,1 a 1,5 1,30 32,5 65,0
26 a 40 Média-argilosa 1,6 a 2,0 1,80 15,0 90,0
41 a 60 Argilosa 2,1 a 3,2 2,65 66,2 132,4
>60 Muito argilosa 3,3 a >4,5 >3,9 >97,5 195,0

1 Amostras de solos coletadas na profundidade de 0-25 cm, obtidas nas usinas, sem aplicação de vinhaça.
2Para o cálculo da quantidade de MO do solo foi considerada densidade do solo de 1,0 g cm’3, nas profundidades de 25 e 50 cm.
Fonte: Demattê (Dados não publicados).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


solo (Tabela 2), e que as produtividades médias finais, de 84 e ao longo do tempo, como o modelo Century (PARTON et al.,
781 ha1, respectivamente, não acompanharam a produtividade 1987), descrito a seguir:
da área sem raspagem, de 941 ha1, mesmo com todos os insu- Ce=A.k1/k2
mos adicionados aos tratamentos (Tabela 3). Tal ensaio vem no qual:
mostrar que o sistema erosivo, configurado pelas raspagens,
Ce = carbono orgânico estável;
tem sido um dos fatores responsáveis pela diminuição da
A = quantidade de C adicionada ao solo anualmente pelo
MOS e da produtividade. Bayer (2006) também insiste em
sistema de cultura (Mg ha1);
que se deve considerar a erosão, representada pelo arraste dos
microagregados do solo contento MOS estabilizada com os kj = fração (ou porcentagem) de carbono orgânico adicionada
minerais de argila, como uma das principais consequências anualmente e que será incorporada à matéria orgânica do
da queda de produtividade das culturas. solo após 1 ano;
k2 = taxa anual de perda de carbono orgânico do solo.
4. BASES PARA 0 ENTENDIMENTO DO
MANEJO DA MATÉRIA ORGÂNICA Trata-se de um modelo de um compartimento sim­
ples, o qual é afetado pela quantidade de carbono orgânico
Há uma série de expressões que tentam explicar a dinâ­ adicionado ao solo pelas culturas, e que é incorporado à
mica da matéria orgânica no solo, ou a relação que existe entre matéria orgânica do solo (A.kj), e pela perda de carbono
matéria bruta que entra no sistema solo e matéria estabilizada orgânico do solo por erosão e oxidação microbiana (k2).

Tabela 2. Teores de matéria orgânica e capacidade de troca de cátions em áreas sem e com raspagem do solo.

Sem raspagem Com raspagem


Profundidade da raspagem 0 cm 15 cm 30 cm
MO do solo inicial (%) 1,10 0,80 0,65
CTC do solo (cmol cm*3) 4,0 3,0 2,5
70% da CTC devido à MO 2,8 2,1 1,8
MO do solo final (%) 1,12 0,78 0,55

Fonte: Usina Quatá, SP (dados não publicados).

Tabela 3. Produtividade de cana-de-açúcar em área sem raspagem e com raspagem do solo em função de diferentes tratamentos1. Média
de quatro cortes.
Produtividade (t ha*1)
Tratamentos Subparcelas
Sem raspagem Raspagem a 15 cm Raspagem a 30 cm

Com nematicida 92 84 80
Testemunha
Sem nematicida 88 68 61
Com nematicida 95 84 85
Adubação normal
Sem nematicida 91 78 69
Sulco 98 94 86
221 ha1 composto + adubo
Área total 94 88 75
Sulco 101 88 83
441 ha1 composto + adubo
Área total 92 87 80
Sulco 91 87 85
601 ha*1 composto + adubo
Área total 98 84 79
Média (t ha*1) 94 84 78
1 Plantio em junho de 1996. Temperatura: 2 °C e 3 °C em setembro de 1997 e 1998, respectivamente, e 4 °C em novembro de 1999.
Furadan somente no plantio. Adubação de plantio: 04-08-08 (1.250 t ha1), adubação das socas: 09-00-10 (1.100 t ha1). Composto:
três partes de torta de filtro e uma parte de cinza de caldeira.
Fonte: Usina Quatá, SP (dados não publicados).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Assim, quanto maior A e kp maior a quantidade de carbono (faixa a-b). Com a remoção da mata há desequilíbrio no sis­
estável (Ce) no solo. tema. Em consequência, o teor de MO total cai (faixa b-c ou
Outra maneira simples de entender o sistema de manejo b-e) devido à redução do b e aumento do k (tal fator é alterado
está expressa na fórmula a seguir (SANCHES, 1981): com o clima, no caso, temperatura e chuvas). Dependendo
do nível de manejo a ser instalado, o teor de MO ao longo
C = b.m/k
do tempo tende a atingir um novo equilíbrio dinâmico (faixa
na qual:
c-d ou e-f), porém, sempre inferior ao nível original (a-b).
C = carbono orgânico no solo (t ha’1);
Em solos do Tabuleiro Costeiro, em Alagoas, o teor
b = a/m = quantidade de MO bruta adicionada ao solo (t ha’1); de MO (ativa e passiva) na profundidade de 0-100 cm era de
a = adição anual de carbono orgânico no solo (t ha1); 259 t ha1 sob mata original. Após a retirada da mata, e com
m = taxa de decomposição da matéria bruta em material o cultivo de cana-de-açúcar por 35 anos, o teor de MO do
humificado do solo (%); solo foi a 148 t ha’1 (perda de 111 t ha1 de MO ativa), com
k = taxa de decomposição da matéria orgânica humificada perda anual de 1,9%. Entretanto, tal perda não chega a zero,
do solo (%). pois as condições de manejo atingiram um novo patamar, em
equilíbrio dinâmico, porém inferior ao original.
Observou-se que há sempre dois componentes do car­
bono orgânico (CO) no solo, um biodegradável, CO ativo, 5. TEOR DE MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO EM
de interesse para a cultura, principalmente com liberação de REGIÃO TROPICAL E TEMPERADA
nutrientes de CTC instável, e outro estável, com interação
entre coloide do solo e CO, não degradável ou passivo, Na região de floresta, a taxa de decomposição da
porém com liberação metaestável de nutrientes, e CTC tida matéria bruta (m%) é constante nos dois ambientes climá­
como estável. A explicação para este fato é que o CO estável ticos: tropical e temperado (Tabela 4). Na região tropical,
reage e se aloja nos ultra-microporos dos minerais de argila a quantidade de MO bruta adicionada ao solo (b) é cinco
e óxidos, inacessíveis e fora da ação dos microrganismos vezes maior do que na região temperada, entretanto, a taxa de
decompositores, e que este CO humificado permanece por decomposição da matéria orgânica humificada do solo (k%)
décadas ou milhares de anos inalterado. Portanto, o teor de é mais alta na região tropical. Com isso, o teor de MO final
CO será governado pelo k do solo. tende a ser semelhante em ambos os ambientes. Nas regiões
de cerrado tropical e pradarias americanas, região temperada,
A Figura 1 ilustra esse conceito. Em um solo sob mata,
o b e o k são semelhantes e, em consequência, também o teor
o teor de MO total (biodegradável e passivo) não se altera
de MO, uma vez que o m é constante em ambos os ambientes.
ao longo do tempo, pois está em equilíbrio dinâmico. Com a
Isso se explica por meio do clima: na pradaria americana, o
introdução de MO bruta (biodegradável), fator b, há decom­
frio intenso reduz a atividade biológica, enquanto na região
posição desta MO, fator m, e o fator k mantém o equilíbrio
de cerrado a seca que ocorre durante seis meses seguidos
também reduz a atividade biológica do solo.

Remoção da mata 6. DINÂMICA DA MATÉRIA ORGÂNICA NO


SOLO COM 0 CULTIVO DA CANA-DE-AÇÚCAR
i
Os dados a seguir foram extraídos de um dos trabalhos
a b e f
de Cerri (1986) sobre dinâmica da matéria orgânica no solo,
considerado um dos mais completos na área. Cerri estudou,
na região de Piracicaba, SP, a dinâmica do carbono orgânico
-o (CO) em Terra Roxa cultivada com cana-de-açúcar, em
| 1,0 três períodos de tempo, a saber: (a) TO, área de mata, com
71,9 t ha’1 de CO; (b) TI2, doze anos de cultivo de cana-de-
açúcar, com 36 t ha1 de CO total, e (c) T50, estimando-se
--------------- ► Tempo 50 anos de cultivo de cana-de-açúcar, com 21,21 ha’1 de CO
estável (Figura 2). Nota-se que com a remoção da mata e a
Figura 1. Dinâmica da matéria orgânica no solo com a presença introdução da cultura de cana houve uma queda de 50% no
de mata e após a remoção da mesma.
teor do CO biodegradável da mata, o qual foi substituído
Legenda:
gradativamente pelo CO da cana, também biodegradável,
faixa a-b = equilíbrio dinâmico, não há alteração da MO;
faixa b-c ou b-e = queda no teor de MO devido às alterações do k, porém, em quantidade menor do que a original. O componente
que aumenta, e do b, que diminui; estável do CO, na faixa de 20,91 ha1, permaneceu inalterado
faixa c-d ou e-f = novo equilíbrio dinâmico com as culturas. O teor ao longo dos 50 anos de estudo, enquanto a perda de CO
de MO, entretanto, é menor do que no sistema original. biodegradável foi de 69%.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Tabela 4. Estimativa da quantidade anual de matéria orgânica (MO) adicionada ao solo nas regiões tropical e temperada.

Adição Taxa de Adição anual Taxa de Carbono


de MO decomposição de carbono decomposição da orgânico
Vegetação Localização Clima
bruta da MO bruta orgânico MO humificada
(t ha1) (%) (tha1) (t ha1) (%)
(%)
Mato Grosso Ústico 5,28 50 2,64 2,5 106 2,4
Floresta tropical
Amazônia Údico 6,05 47 2,86 5,2 55 1,2

Califórnia
- 0,75 47 0,35 0,4 88 2,0
(EUA)
Floresta temperada
Califórnia
- 1,65 52 0,86 1,0 86 1,9
(Pinus)
Savana tropical Brasil Central 1.250 mm 1,43 50 0,71 1,3 55 1,2
Minessota
Pradaria temperada 870 mm 1,42 47 0,53 0,4 86 1,8
(EUA)

Fonte: Modificada de Sanches (1976).

sistema da cana-de-açúcar elas são bem menores, da ordem


de 20 kg ha1 ano1 em T12 e 17 kg ha1 ano1 ao longo de T50
(Tabela 6).
Em relação aos constituintes do húmus (ácido fúlvico
livre, ácidos fulvicos ligados a diversos extratores e ácido
húmico ligado a diversos extratores e huminas) nos dois sis­
temas estudados, nota-se um decréscimo de 40% nas huminas
ao longo do tempo, de T0 para TI2, estabilizando-se a seguir,
o mesmo ocorrendo em relação aos demais produtos, exceto
Figura 2. Representação esquemática da quantidade de carbono para o ácido fúlvico livre, que praticamente permaneceu
total (CT) no solo em função do tempo de cultivo. O constante, indicando que ele é um componente mais estável.
carbono total é representado pelo carbono estável da
Em outro trabalho sobre dinâmica da MO em solo
floresta e pelo carbono biodegradável da floresta.
argiloso, Brady e Weil (2013) observaram que na camada
Fonte: Cerri (1986).
de 0-25 cm de profundidade e no tempo zero, em solo sob
Cerri também obteve resultados da atividade biológica mata, o valor total da MO (ativa e passiva) era de 911 ha1 e o
na camada de 0-10 cm do solo nos tratamentos TO, T12 e T50. teor de MO passiva era de 441 ha1 (praticamente a metade).
Verificou que a Biomassa Microbiana (BM) e o Carbono Facil­ Após 40 anos de cultivo, a MO total foi reduzida em 50% e
mente Biodegradável (CB) decrescem ao longo do tempo, de o teor de MO passiva em 11% (39 t ha1), uma redução bem
TO para T12, e que posteriormente se estabilizam. Levando-se menor. Entretanto, havendo alterações no sistema de manejo,
em consideração o mesmo teor de CO (mg C/g CT), nota-se principalmente no conservacionista, a MO ativa foi a que
que a atividade biológica global do solo é nitidamente mais mais aumentou, dos 40 aos 100 anos de cultivo, enquanto a
importante no solo sob floresta do que no solo sob cultura, no MO passiva permaneceu inalterada.
caso a cana-de-açúcar, e que, consequentemente, a MO e o Sendo assim, e para manter o solo produtivo, é impor­
CB são mais facilmente biodegradáveis (Tabela 5). Tal resul­ tante que o fornecimento de MO biodegradável nos solos,
tado indica que o CO dos solos cultivados por longo tempo como, por exemplo, incorporação de culturas anuais, torta de
com cana-de-açúcar perde significativamente o constituinte filtro e vinhaça, seja feito, se possível, durante todo o ciclo
biodegradável e que a recuperação biológica é muito difícil da cultura principal.
de ser conquistada, por ser tempo dependente.
Tipo de sistema radicular e quantidade de matéria
As perdas de CO do solo por lixiviação na camada
orgânica produzida
0-20 cm é intensa no TO. Anualmente, são removidos natu­
ralmente pela água de percolação das chuvas um total de De longa data, sabe-se que o sistema radicular fasci-
0,35 TC ha’1 ano’1 no TO, 0,05 TC ha1 ano1 no TI2 e culado das gramíneas apresenta maior quantidade de MO do
0,03 TC ha1 ano1 no T50. As perdas de N no sistema da mata que o sistema radicular pivotante das dicotiledôneas (DICK
são apreciáveis, na faixa de 94,94 kg ha1 ano1, enquanto no et al., 2009). Para comprovar esse fato, comparou-se os per-

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Tabela 5. Carbono total do solo, biomassa microbiana e carbono facilmente biodegradável na camada de 0-10 cm do solo em diferentes
períodos de cultivo.

1 Períodos de cultivo: TO = tempo zero; T12 = 12 anos de cultivo e T50 = 50 anos de cultivo.

Fonte: Cerri (1986).

fis de solos da região Amazônica, representando as raízes


pivotantes, com os perfis de solos da região dos Cerrados,
onde predominam as raízes fasciculadas no substrato rasteiro,
tomando-se como base o levantamento original de solos rea­
lizado pelo Projeto Radam Brasil. Na região dos Cerrados,
a contribuição das raízes das plantas é relativamente mais
importante do que em uma floresta, e o total de biomassa pro­
duzida pelo sistema radicular em profundidade é bem maior
e, portanto, a quantidade de MO produzida e a uniformidade
de sua distribuição no perfil do solo também são maiores. Na Figura 3. Quantidade de carbono orgânico em solos das regiões
região Amazônica, foram escolhidos para o estudo os perfis Amazônica e Cerrado em função do teor de argila do
de solos classificados como Acrortox (região de Manaus), solo, na camada de 0-100 cm.
Haplortox (regiões de Santarém e Purus), Paleudult (Coari) Fonte: Dick et al. (2009).
e Tropudalf (Ouro Preto, RO). Na região dos Cerrados, foram
selecionados os perfis de Haplortox (Cristalina, GO), Acrus- positivas da goethita e da gibbsita (desprotonação), for­
tox (Cocalzinho, GO), Acrustox (Catalão, GO), Acrustox mando microagregados, ou com a ajuda de íons-pontes,
(Planera, MG) e Acrustox (Uberaba, MG). Para o cálculo como cálcio, magnésio e alumínio, que unem a MO aos
do CO foram consideradas a profundidade de 0-100 cm e a minerais de argila (caulinita). Tais microagregados são
densidade de 1,00 g cm'3 em ambas as regiões. Observa-se na extremamente resistentes ao ataque dos microrganismos
Figura 3 que a quantidade total de CO nos solos da região dos do solo, os quais, para mineralizar a MO estável ou passiva,
Cerrados é sempre maior que nos solos da região Amazônica, precisam dispender muita energia. Devido a esse fato, o teor
independentemente do teor de argila no solo. de MO estável nos solos dos trópicos tem sido semelhante
ao dos solos de clima temperado.
7. FATORES QUE AFETAM 0 ESTOQUE DE
Como os solos argilosos apresentam maior quantidade
MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO da fração argila, em relação aos arenosos, as condições para a
sua reação com a MO são mais propícias e, por isso, os solos
7.1. Textura e mineralogia de solo
argilosos sempre apresentam maior teor de MO do que os
A MO do solo pode formar complexos organo- solos arenosos. Em outras palavras, os solos argilosos apre­
minerais pela reação de suas partículas com as cargas sentam fator k menor, comparado ao dos solos arenosos,

Tabela 6. Perdas de carbono e de nitrogênio na água de percolação em diferentes períodos de cultivo1.


Líquido percolado
Tratamento Carbono Nitrogênio C/N
(ppm) (kg ha1 ano1) (ppm) (kg ha1 ano *)
T0 136,08 349,09 37,01 94,94 3,7
T12 19,73 51,28 7,70 20,02 2,6
T50 11,52 30,09 6,54 17,00 1,8
1T0 = tempo zero; T12 = 12 anos de cultivo e T50 = 50 anos de cultivo.
Fonte: Cerri (1986).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


independentemente da profundidade estabelecida, ficando teor de MO (1,75%) do que em um Latossolo Vermelho
extremamente difícil aumentar o teor de MO estabilizada (2,1%), na Serra de São Pedro, SP, a 1.150 m de altitude.
nos solos arenosos.
Bayer (1996) estudou a influência da textura do solo & PRÁTICAS DE MANEJO PARA MANUTENÇÃO
sobre a taxa de decomposição da MO ativa, comparando um E/OU AUMENTO DA MATÉRIA ORGÂNICA
solo argiloso, com 71% de argila, a um solo arenoso, com DEGRADÁVEL DO SOLO
22% de argila (Tabela 7). No caso do solo argiloso, a taxa
de decomposição da MO no sistema de preparo do solo Os dados de literatura são unânimes em afirmar que
convencional foi de 1,14%, enquanto no solo argiloso foi o aumento da quantidade de MO ativa adicionada ao solo
de 4,9%. Em relação ao plantio direto, a taxa de minerali­ (fator b) por meio de matéria orgânica importada (restos cul­
zação da MO foi de 1,12% no solo argiloso e de 2,50% no turais, composto orgânico, adubo orgânico, vinhaça, torta de
solo arenoso. O pesquisador calculou a quantidade de CO filtro, palha, etc.), dependendo da quantidade, não aumenta o
anual via quantidade de fitomassa que deve ser adicionada teor de matéria orgânica estabilizada do solo, apesar de auxi­
ao solo para a manutenção do estoque inicial de C no solo, e liar no aumento da produtividade da cultura pelo aumento da
obteve 8,841 ha1 de C no sistema de preparo convencional e CTC efetiva e dos nutrientes liberados. O principal motivo se
3,92 t ha1 de C no sistema plantio direto. Valores superiores resume no fato de que a taxa de mineralização deste material
ou inferiores a estes valores críticos levam a situações de é maior do que a taxa de decomposição da matéria orgânica
acúmulo ou perda de MOS. humificada do solo (fator k). Por outro lado, se houver aplica­
ção frequente de MO bruta sempre em quantidade superior à
taxa de mineralização da matéria orgânica humificada, haverá
Tabela 7. Taxa de decomposição da matéria orgânica em função do aumento da MO instável do solo.
teor de argila e do sistema de preparo do solo.
Em experimento realizado na Usina da Barra, em
Latossolo Vermelho, 71% de argila, caulinita e óxidos Barra Bonita, SP, com cana de 18 meses, cultivada em solo
Sistema de preparo argiloso com densidade de 1,2 g cm 3 e profundidade de
0-20 cm, e adubada com torta de filtro (TF), composto
Convencional Plantio direto
orgânico e fertilizante mineral, pôde-se observar a evolução
Taxa de decomposição 1,14% 1,12% do estoque de MO do solo e da produtividade da cultura
(Tabela 8).
Argissolo Vermelho, 22% de argila, caulinita e óxidos
O composto orgânico foi aplicado ao solo em doses
Sistema de preparo
que variaram de 5,0 a 50,01 ha1, e o fertilizante 10-25-25 foi
Convencional Plantio direto aplicado na dose de 600 kg ha1. As análises de solo foram
Taxa de decomposição 4,90% 2,50% realizadas na época de instalação do experimento, designado
tempo zero, e aos 280 e 540 dias, com 6 repetições. Nota-se
Fonte: Bayer (1996). que quando se aplica TF ou composto orgânico ao solo, o
teor de MO é alto no início, porém decresce com o tempo,
indicando a degradação da MO ativa do solo. No final do
7.2. Clima experimento, observa-se que o teor de MO ativa do solo não
se alterou em relação ao teor observado no início do ciclo,
A taxa de decomposição da matéria orgânica humifi-
de 3,1 e 3,2%, respectivamente, inclusive no tratamento T6,
cada do solo também é afetada pelas condições climáticas,
que recebeu adição de fertilizante químico. Isso significa
representadas pela variação de altitude e, em consequência,
que tanto a TF quanto o composto orgânico mineralizaram
de temperatura. Numa referência empírica, a cada decrés­
com o tempo porque a taxa de decomposição da matéria
cimo de 10 °C na temperatura, aumenta de 2 a 3 vezes o teor
orgânica humificada desses materiais é superior à do solo.
de matéria orgânica do solo. Kampf e Scwetmann (1983),
De qualquer forma, houve liberação de nutrientes, princi­
estudando uma climosequência de 400 km, partindo de
palmente de fósforo (P).
Foz do Iguaçu (km zero), PR, até Guarapuava (km 400),
SP, em solos argilosos (Nitossolo Vermelho, Latossolo Ver­ O tratamento T5 foi uma exceção. Nele foram adi­
melho e Latossolo Bruno), notaram variações de altitude de cionadas 50 t ha'1 de composto na superfície do solo, o que
1.200 m a 150 m; de temperatura média anual de 17 a 22 °C e corresponde a um acréscimo de 2,0% de MO, ou um total
de teor de carbono orgânico de 4,0 a 1,5%. Observaram que de 5,1% (3,1 + 2,0). Mesmo assim, o teor de MO aumentou
os maiores teores de CO, cerca de 3,5%, encontravam-se a pouco, para 3,8%, o que corresponde a 12,3 t ha1 de MO.
1.000 m de altitude, e que estes decresciam para cerca de Portanto, pode-se concluir que somente com aplicações de
1,7% a 100 m de altitude, mostrando, com isso, a influência TF ou composto orgânico em doses superiores a 50 t ha1 é
do clima no teor de MO do solo. Em Nitossolo Vermelho da possível obter maiores teores de MO degradável e suplantar
região de Piracicaba, a 500 m de altitude, observou-se menor a taxa de decomposição da matéria orgânica humificada do

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Tabela 8. Resultados da análise de solo adubado com torta de filtro, composto e fertilizante mineral e respectivas produtividades da
cana-de-açúcar. Média de seis repetições. Usina da Barra, 2002.

1TI = 5,0 t ha’1 de torta de filtro no sulco; T2 = 5,01 ha1 de composto no sulco; T3 = 10 t ha'1 de composto no sulco; T4 = 301 ha1 de
composto na superfície do solo; T5 = 501 ha1 de composto na superfície do solo; T6 = testemuha sem fertilizante mineral.
Fonte: Usina da Barra, SP (dados não publicados).

solo. Porém, ao longo do tempo, o teor de MO do tratamento respectivamente, correspondente ao aumento da MO ativa de
T5 diminuirá a um nível semelhante ao inicial, a não ser que o 3,1 para 3,6% (Figura 4). Novamente, tal resultado mostra
aporte de MO seja sempre superior ao fator k. Por outro lado, que a quantidade de MO bruta adicionada ao solo suplanta
no T6, que recebeu somente fertilizante mineral, o teor de MO a taxa de decomposição da matéria orgânica humificada do
e a CTC não diferiram dos demais tratamentos, a não ser do solo. Entretanto, se não houver acréscimo de MO bruta no
T5, indicando que uma cultura bem adubada mantém o teor solo ao longo do tempo, a CTC efetiva tenderá a se reduzir
de MO do solo estável. Portanto, a própria cultura, quando ao nível inicial. Infclizmente, tal fato tem ocorrido com fre­
bem adubada e conduzida, torna-se grande fornecedora de quência nas usinas que utilizam TF ou composto orgânico
MO para o solo. somente no plantio.

Q. TEOR DE MATÉRIA ORGÂNICA ATIVA E 10. VINHAÇA COMO FONTE DE MATÉRIA


CTC EFETIVA DO SOLO ORGÂNICA ATIVA
No experimento anterior (Tabela 6), a CTC efetiva do A vinhaça é um subproduto da produção sucroalcoo-
solo tendeu a decrescer do tratamento inicial ao tratamento leira com elevado teor de MO, na faixa de 20 a 30 kg nr3. Em
final devido à mineralização da MO ativa, inclusive no T6, no experimento realizado na Usina São José de Macatuba, SP,
qual foi aplicado somente fertilizante químico. Isso indica a com soqueira de cana, em solo com 20% de argila, densidade
estreita relação entre MO e CTC efetiva do solo. Entretanto, 1,4 g cm'3, com 1,0% de MO na profundidade de 0-50 cm e
quando se considera somente os dados finais do experimento, teor de MO na faixa de 701 ha1, foram aplicados 200 m3 ha'1
nota-se que há aumento da CTC efetiva do solo do tratamento de vinhaça (1,2 kg K2O), ou 4,01 ha'1 ano'1 de MO ou, em um
TI (5,0 t ha’1 de composto orgânico) para o tratamento T5 ciclo de seis safras, 241 ha’1 de MO ativa, ou 34% do total, ou
(50 t ha-1 de composto orgânico), de 4,7 para 5,4 cmol dm’3, 1,34% de MO no solo. Entretanto, observou-se que o teor de

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


5;4- Esta situação pode ser visualizada
4Â 4,9 4,9
-4,7. em um experimento conduzido por Penatti
-a,6- (2007) em solo argiloso, no qual foram
3,1 2,9 3,2 3,1
2,9 comparadas duas áreas adjacentes, uma com
aplicação de vinhaça e outra sem aplicação
de vinhaça. A vinhaça foi aplicada desde a
safra de 1980, na quantidade de 200 m3 ha1
T1 T2 T3 T4 T5 T6 (1,8 kg nr3 de K2O e 20 kg nr3 de MO).
Nota-se na Tabela 9 que a média do teor de
O CTC cmol dm'3 4,7 4,8 4,9 5,4 5,4 4,9
MO no solo 1 foi de 25 g dm'3, contra 22 g
□ mo% 3,1 2,9 2,9 3,2 3,6 3,1 dm'3 no solo 2, uma diferença de 4 g m'3 ou
38,4 t, na profundidade de 0-80 cm, devido
Figura 4. Valores de CTC e matéria orgânica do solo em função de diferentes justamente à MO da vinhaça que não foi
tratamentos: TI = 5 t ha1 de torta de filtro no sulco; T2 = 5 t ha'1 de mineralizada, sendo um caso típico em que
composto orgânico no sulco; T3 = 10 t ha'1 de composto orgânico b é superior a k. O aumento da CTC no solo
no sulco; T4 = 30 t ha1 de composto orgânico na superfície do solo; 1 se deve ao maior teor de MO, uma vez que
T5 = 501 ha1 de composto orgânico na superfície do solo; T6 = teste­ o pH permaneceu constante nos dois solos.
munha, com fertilizante mineral. Usina da Barra, 2002. Entretanto, nesse caso, haverá contaminação
Fonte: Usina da Barra, SP (dados não publicados). do lençol freático, pois o solo 1 apresenta
teores de %K/CTC superiores a 5%.

MO no final do ciclo foi de 1,07%, ou seja, foram mineraliza­ 11. ÁREA DE REFORMA DE CANAVIAL E
das praticamente 241 ha1 da MO instável da vinhaça. O teor
INCORPORAÇÃO DE RESÍDUOS VEGETAIS
de 0,07% corresponde à quantidade de MO bruta adicionada
(b) que excedeu a taxa de decomposição da matéria orgânica Franco et al. (2007) quantificaram a produtivi­
humificada (k) do solo, como tem sido enfatizado. Porém, se dade da cana-de-açúcar, o aporte de resíduos culturais e
a vinhaça não for aplicada neste solo, haverá predominân­ o estoque de nutrientes incorporados ao solo na reforma
cia do k do solo e o teor de MO permanecerá em 1,0%. De do canavial de duas usinas: Usina Santa Adélia (USA) e
maneira geral, tem-se observado que nas bacias de vinhaça Usina São Martinho (USM). Observa-se na Tabela 10 que
de outras usinas o b tem sido sempre suplantado pelo k do a produtividade da cana-de-açúcar (média de seis cor­
solo, inclusive na profundidade de 0-80 cm. tes) da USA foi de 110,8 t ha1 e a quantidade de massa

Tabela 9. Características de solos argilosos com e sem vinhaça, na profundidade de 0-80 cm. Usina Santa Elisa, Sertãozinho, SP, 1998.

1 Vinhaça: 25 kg nr3 de MO; teor de potássio: 1,2 kg nr3. Dose: 200 m2 ha1 desde 1980.

Fonte: modificada de Penatti (2007).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Tabela 10. Produtividade de cana-de-açúcar, massa de matéria seca e estoque de nutrientes incorporados ao solo na refonna do canavial.
Média de cinco cortes.

Produtividade Massa seca Nutrientes incorporados ao solo


(t ha1) Total Raízes N P K Ca Mg S|

1 Usina Santa Adélia: 60% de corte manual, com despalha a fogo; Usina São Martinho: 100% de corte mecanizado, sem despalha.

Fonte: Franco et al. (2007).

□ Área de reforma em função da massa seca - Massa seca


□ Área de reforma em função da massa seca - Produtividade

Figura 5. Produtividade média da cana-de-açúcar e quantidade de massa seca incorporada ao solo na reforma do canavial.

seca incorporada ao solo por ocasião da reforma foi de 12. MATÉRIA ORGÂNICA DE ADUBOS VERDES
23,41 ha1. No caso da USM, a produtividade foi de 77,41 ha1
E DE OUTRAS CULTURAS UTILIZADAS NA
e a quantidade de massa seca incorporada ao solo foi de
REFORMA DO CANAVIAL
16,7 t ha1. Não houve incremento da CTC e do teor de MO
nos solos das duas áreas devido à baixa quantidade de material A inclusão de adubos verdes na rotação de culturas não
incorporado ao solo. tem aumentado a MO estabilizada do solo, porém, tem sido
relatado, em inúmeros artigos e trabalhos, que o resultado
Com base na Tabela 10 foi gerada a Figura 5, que
dessas rotações tem sido benéfico para a cultura principal.
relaciona a produtividade agrícola e a quantidade de resí­
Em trabalhos realizados pela Embrapa, no período 1979 a
duos incorporados ao solo por ocasião da reforma. Com a
1997, em Latossolo Vermelho-Amarelo argiloso, utilizando
maior produtividade, de 110 t ha1 de colmos, a quantidade
adubos verdes rotacionados com soja e milho, em dois níveis
de material incorporado ao solo foi de 23,2 t ha1, e com a
de adubação, notou-se que no terceiro ano, no final dos expe­
menor produtividade, de 50 t ha1, a quantidade de material
rimentos, o teor de MO do solo era semelhante ao teor inicial,
incorporado foi de 10,5 t ha’1.
no primeiro ano de cultivo (Tabela 11). A principal razão para
Em ambas as áreas, o estoque de nutrientes nos resí­ essa resposta é a baixa estabilidade da MO dessas culturas
duos incorporados ao solo obedeceu à seguinte ordem decres­ (fator b) que, ao serem incorporadas ao solo, se decompõem,
cente de grandeza: N>K>Ca>S> Mg > P. Observa-se liberando nutrientes e trazendo uma série de benefícios à
que os resíduos da USA continham maiores quantidades de cultura posterior, porém sem aumentar a MO estabilizada do
todos os nutrientes avaliados, com destaque para o nitrogênio solo. No caso da cana-dc-açúcar, o adubo verde, ou as outras
(196 kg ha1), que em grande parte foi imobilizado na MO culturas utilizadas nas reformas (soja, amendoim, etc.), não
do solo. promovem o aumento da MO estável do solo, mas protegem o

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Tabela 11. Teor de matéria orgânica em Latossolo Vermelho-Amarelo argiloso após rotação com diferentes culturas anuais e dois níveis
de adubação, no período de 1977 a 1979.

Culturas Matéria orgânica (%)


Tratamentos1
1977-78 1978-79 Dezembro 1977 Setembro 1978 Março 1979
Ad2 Soja Milho 3,3 2,8 3,3
Ad2 Mucuna preta Milho 3,2 2,9 3,1
Ad2 Sorgo Milho 3,3 2,9 3,2
Ad2 Mucuna preta + sorgo Milho 3,2 2,9 3,2
Adi Soja Milho 3,3 3,0 3,1
Adi Mucuna preta Milho 3,4 2,9 3,3
Adi Sorgo Milho 3,4 3,0 3,1
Adi Milho Milho 3,3 2,9 3,1
Adi Milho Milho + mucuna preta 3,3 2,9 3,1

1Ad2 e Adi são níveis de adubação.


Fonte: Embrapa.

solo contra a erosão e fornecem nutrientes e, como resultado, produzida é pequena, inferior a 5 t ha1, na média, com
aumentam a sua produtividade nos diversos ciclos. exceção da crotalária juncea, e, portanto, insuficiente para
Na região tropical, a taxa de decomposição da MO ins­ aumentar a quantidade de MO instável do solo, assim
como a CTC, concordando com os resultados obtidos
tável no sistema contínuo de culturas, como no caso da cana-
por Franco et al. (2007). Por outro lado, há liberação de
de-açúcar, tem sido maior do que no sistema em rotação. Já na
nutrientes, cobrindo parte das necessidades da cana-de-
região de clima temperado, nas mesmas condições de cultivo,
açúcar - 100% do N e 50% do K - e proteção do solo
a taxa de decomposição da MO tem sido menor. Entretanto,
contra a erosão. Além disso, os adubos verdes - principal­
na área que foi preparada convencionalmente e deixada sem
mente as crotalárias - promoveram um aumento médio de
cultivo, a taxa de decomposição da MO instável do solo é 6,4 t ha’1 na produtividade da cana, em relação à área em
maior do que a observada na área cultivada. pousio.
A Tabela 12 ilustra as quantidades de MO e de De acordo com a literatura, as leguminosas aqui
nutrientes dos principais adubos verdes utilizados em discutidas apresentam relação C/N inferior a 30, suficiente
rotação com a cana-de-açúcar (LUZ; VITTI, 2008). para que a atividade biológica do solo atue com eficiência
Nota-se que, em termos de matéria seca, a quantidade na decomposição do material e na liberação de nutrientes.

Tabela 12. Produtividade de matéria orgânica e nutrientes nas principais leguminosas utilizadas como adubo verde e respectiva produ­
tividade da cana-de-açúcar (média de três cortes).

Material Nutrientes na matéria seca Extração Produtividade


Leguminosas
Verde Seco N P K N P K da cana

...........(t ha1) — ............. - - (kg ha1) - - (t ha1)


Crotalária juncea 22,5 7,1 3,3 0,3 1,4 235 18 101 95,0
Crotalária spectabilis 21,6 4,2 2,7 0,2 2,2 113 9 94 97,0
Guandu 16,5 5,5 2,6 0,2 1,1 141 10 62 90,6
Mucuna-preta 15,1 3,0 2,7 0,2 1,2 81 6 36 87,3
Mucuna-anã 18,5 3,9 2,7 0,2 1,1 105 6 41 90,3
Lab-lab 14,5 3,5 2,7 0,2 1,4 94 9 48 90,3
Feijão-de-porco 21,0 5,0 3,8 0,2 1,4 190 10 67 90,2
Pousio 88,6

Fonte: Modificada de Luz e Vitti (2008).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Redução da taxa de decomposição da matéria orgâ­ 12. AÇÃO DA TEMPERATURA DO SOLO NA
nica humificada do solo (fator k)
MINERALIZAÇÃO DA TORTA DE FILTRO
Como se verificou anteriormente, o k é afetado por uma Nas usinas, a utilização da TF ou composto orgânico
série de fatores, entre eles o clima e a mineralogia do solo, e no plantio, período que se estende de maio a julho, tem sido
mais particularmente a temperatura. A redução da temperatura comum. Nessas condições climáticas mais frias, a atividade
pode proporcionar aumento no teor da MO instável do solo,
biológica dos microrganismos tende a se reduzir, bem como a
como foi visto no trabalho sobre climosequência. atividade de mineralização dos nutrientes. Em consequência,
No cultivo da cana-de-açúcar, a cobertura do solo e para auxiliar no processo de mineralização da matéria orgâ­
pela palha, após a colheita, reduz a temperatura média do nica, aplica-se também fertilizante mineral, com o objetivo
solo, conferindo vantagens e desvantagens ao sistema. Na de melhorar a eficiência dos microrganismos.
região de Ribeirão Preto, SP, por exemplo, em setembro de
Na Usina da Barra, localizada em Barra Bonita, SP,
2017, a temperatura média de uma área com palha era de
foi conduzido um experimento visando analisar o efeito da
36 °C, enquanto na área sem palha era de 25 °C - uma redução
complementação da adubação orgânica com fertilizante mine­
substancial de 11 °C. Entretanto, como foi observado, para
ral na produtividade da cana-de-açúcar. O plantio da cana,
a incorporação da MO mineralizada ao solo é necessário
variedade RB 85 5156, foi realizado em maio, com tempe­
o auxílio do sistema radicular das plantas, o que a cober­
ratura média variando de 19,5 a 20,6 °C, em área que recebe
tura morta de palha não proporciona, a não ser que, após a
vinhaça. Na adubação, foram utilizados TF úmida, na dose de
decomposição, ela seja incorporada pelas chuvas. Dados a
301 ha1, fertilizante mineral 00-18-36 nas doses de 350,440 e
este respeito, para a cultura da cana-de-açúcar, são raros e
500 kg ha1, e a fórmula mineral completa 10-25-25, na dose
incompletos.
de 500 kg ha1, em quatro repetições (Tabela 14). Observa-se
Por outro lado, a palha sobre a superfície do solo,
que a aplicação isolada de TF resultou na produtividade de
dependendo da região, tende a ser mineralizada ao longo da 96 t ha1, porém, com o acréscimo de 350 kg ha1 do fertili­
safra e, portanto, não interfere no aumento da MO e da CTC zante mineral, a produtividade passou para 104 t ha1. Isso
efetiva do solo. A Tabela 13 mostra a quantidade de palhada
indica que, nesse período, a atividade dos microrganismos
remanescente ao longo da safra de cana em diversas regiões
na mineralização dos nutrientes não foi adequada, embora a
do estado de São Paulo. Observa-se que, no início da safra,
quantidade de nutrientes contida na TF fosse suficiente para
a quantidade média de palhada remanescente das diversas
as necessidades da cultura, haja vista a composição desses
regiões é de 111 ha1, e à medida que o ciclo se desloca para
materiais.
o final, a quantidade média de palhada remanescente cai para
4,2 t ha1, o que representa a mineralização de 61,8%, sem 14. EFEITO DO SISTEMA DE MANEJO NOS
aumento do teor de MO do solo (ROSSETTO et al., 2013). Em
TEORES DE MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO
consequência, a palhada de cana não aumentou a quantidade
de MOS estável no solo. No sistema convencional de preparo do solo, a ação da
Trabalhos realizados com outras culturas, em aração e gradeação tende a reduzir o tamanho dos agregados,
experimento de longa duração (30 anos), têm indicado alterar as condições hídricas do perfil, aumentar a aeração e a
que as parcelas que receberam mais adubo apresentaram temperatura do solo, proporcionando um ambiente favorável
menor valor de k e, consequentemente, maior teor de MO, à decomposição da MO instável do solo.
quando comparadas às parcelas que não receberam adubo Bayer et al. (2006) verificaram que a taxa de decom­
(SANCHES, 1981). Por isso, a própria cultura, quando posição da MO biodegradável no sistema convencional de
bem adubada e conduzida, promove grande incorporação preparo de um Argissolo Vermelho foi de 4% ao ano, enquanto
de MO no solo.

Tabela 13. Quantidade de palhada remanescente após a colheita da cana-planta, no início, meio e final da safra da primeira soqueira, em
diversas regiões do Estado de São Paulo.

Andradina Sertãozinho Pradópolis Guaíra Orindiuva S.J. Barra Araçatuba Guaíra


Safra Média
SP 813250 RB 855453 RB 7515 1816 RB 5054 SP 367 RB 5054 SP 3250

■ - - (t ha1) - -
Início 12,8 10,8 14,0 10,5 10,2 10,2 8,2 10,0 11,0

Meio 8,0 6,2 6,0 6,2 6,0 6,0 6,0 5,2 6,0 (45,4%)
Fim 5,0 5,8 4,5 6,0 3,0 3,0 2,8 3,0 4,2 (61,8%)

Fonte: Rossetto et al. (2013).

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


Tabela 14. Produtividade da cana-de-açúcar com a aplicação de torta de filtro em solo arenoso, em junho 2004.

Tonelada de cana por hectare


Fórmula Dose (kg ha1) Torta de filtro1
(TCH)

Testemunha 0 Sim 96

Testemunha 0 Não 72

00-18-36 350 Sim 104

00-18-36 350 Não 77


00-18-36 440 Sim 99
00-18-36 440 Não 82
10-25-25 500 Sim 98

10-25-25 500 Não 81

1 Torta de filtro úmida = 301 ha1.

Fonte: Usina da Barra, SP (dados não publicados).

no sistema de plantio direto a taxa foi de 1,9% ao ano, durante


13 anos. Os autores verificaram que a necessidade anual
de C, via fitomassa, para a manutenção do estoque inicial
de C no solo foi 8,84 t ha1 no preparo convencional e de
3,921 ha1 no plantio direto, ou seja, 44,3% a menos nos solos
sem revolvimento. Adições superiores ou inferiores a esses
valores críticos levam a situações de perda ou acúmulo de
MO instável, respectivamente. No caso da cana-de-açúcar,
em situação de reforma de canavial, a quantidade de matéria
seca incorporada ao solo, incluindo as raízes e a soqueira
da cana, gira em tomo de 15%. Considerando um ciclo de
produção de 5 anos, e uma produtividade de 701 ha1, tal cul­
tura incorpora por ano o equivalente a 101 ha1 de MO. Este
Figura 7. Estrutura dos blocos de construção das substâncias
material é mineralizado, porém não aumenta a MO estável do
pécticas (ácido a-D-poligalacturônico) depositadas nas
solo. Sendo assim, tudo indica que os teores de MO em áreas microfibrilas de celulose da parede celular.
de cana-de-açúcar têm permanecido constantes ao longo dos
anos, como já foi observado.
as fibras podem liberar compostos orgânicos na forma de
15. MUDANÇAS QUÍMICAS NA RIZOSFERA E exsudação ativa, lixiviação passiva, produção de mucilagem
MATÉRIA ORGÂNICA NO SOLO e degradação de células, que estimulam a decomposição da
O sistema radicular é o responsável por realizar a inter­ MOS (FAGERIA et al., 2009).
face entre a planta e o solo, e tem importância na absorção de
16. CONSIDERAÇÕES GERAIS
água e nutrientes, fixação do vegetal ao solo e estabelecimento
de interações com os microrganismos. Considerando a absor­ Neste artigo foram discutidos os diversos fatores que
ção de nutrientes, as células da rizosfera apresentam duas governam a MO do solo, instável (biodegradável) e estável
camadas, a parede celular e a membrana plasmática. A parede (ácidos húmicos), em solo arenosos e argilosos, assim como
celular é uma estrutura com alta organização, composta de as diversas alternativas de manejo que regem o sistema. De
diferentes polissacarídios, proteínas e substâncias aromáticas maneira geral, a cultura de cana-de-açúcar é considerada
(Figura 7). Tais elementos estão na forma de fibras, gerando monocultura, principalmente as soqueiras, que recebem diver­
cargas negativas, capacidade de troca de raízes (CTCr), sos cortes a partir de um único plantio. No caso do sistema
devido à desprotonação dos radicais orgânicos, retendo água, de plantio “tira cana, planta cana” não há espaço de tempo
cátions e ânions (pH acidez ativa), que podem ser absorvidos suficiente para o plantio de culturas secundárias, a não ser no
através de diferentes sistemas de absorção, tais como bombas sistema de ano-e-meio (cana de 18 meses). Nessas condições,
iônicas, transportadores de íons e canais iônicos (MANLIO o teor de MOS no solo tenderá a permanecer constante, como
et al., 2018). Por serem constituídas de elementos orgânicos, tem sido observado ao longo do tempo.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


A quantidade de MO adicionada aos solos tem sido FAGERIA, N. K.; ARAÚJO, A. R; STONE, L. F. Mudanças
pequena, quando se considera o sistema radicular das socas, químicas na rizosfera. In: MELO,V. de E; ALLEONI, L.R.
a cobertura com palha e eventualmente a utilização de TF (Ed.). Química e mineralogia do solo: Aplicações. Viçosa,
ou composto orgânico, principalmente no plantio, exceto
MG: SBCS, 2009. v. 2, 695 p.
quando se utiliza vinhaça. Por outro lado, observou-se que
uma cultura adequadamente manejada com fertilizantes FRANCO, H. C. J.; VITTI, A. C.; FARONI, C. E.; CAN-
químicos pode auxiliar na produção de MO, aumentando a
TARELLA, EL; TRIVELIN, P. C. O. Estoque de nutrientes
produtividade e servindo de alimento para a biota do solo.
em resíduos culturais incorporados ao solo na reforma do
Alguns pesquisadores têm chamado a atenção para o fato das
raspagens desnecessárias da superfície do solo, que reduzem canavial. Revista STAB: Açúcar, Álcool e Subprodutos,
sensivelmente a MO estável do solo. v. 25, n. 3, p. 32-36, 2007.

Nos moldes atuais de manejo da cultura, nos quais a KÀMPF, F. N.; SCWERTMANNN, U. Goethite and hematite
mecanização tem sido utilizada em larga escala e há disponi­
in a climosequence in Southem Brazil and their application
bilidade de fertilizantes e corretivos a preços razoáveis, não
in classification of kaopinite soil. Geoderma, v. 29, p. 27-39,
há razão para se considerar a conservação da MO estável
como um dos principais objetivos do sistema de manejo. De 1983.
qualquer forma, a cobertura protetora do solo, via resíduos
MANLIO, S. E; SANTOS, L. A.; de SOUZA, S. R. Absorção
vegetais, ou a rotação de culturas, alternando diferentes
sistemas radiculares no solo durante as reformas, auxilia na de nutrientes. In: MELO, V. de E; ALLEONI, L. R. (Ed.).
manutenção da MO do solo, principalmente por reduzir a Química e mineralogia do solo. Parte II - Aplicações. Viçosa,
temperatura e proteger o solo contra a erosão - esta sim uma MG: SBCS, 2009.
consequência nefasta para o ambiente e para a manutenção
da produtividade. PARTON, W. J.; SCHIMEL, D. S.; COLE, C. V; OJIMA, D. S.
Analysis of factors controlling soil organic matter in great plains
17. REFERÊNCIAS grassland. Soil Science Society of América Journal, v. 51,

BAYER, C. Dinâmica da matéria orgânica em sistemas p. 1173-1179, 1987.


de manejo de solos. 1996. 241 p. Tese (Doutorado) - Uni­
PENATTI, C. P. Vinhaça e seus efeitos no solo e na planta. In:
versidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
1996. WORKSHOP TECNOLÓGICO SOBRE VINHAÇA, 2007,
Jaboticabal. Jaboticabal: FCAV/UNESP, 2007.
BAYER, C.; MARTIN-NETO, L.; MIELNICZUKI; DIE-
CKOW, J.; AMADO, T. J. C. C and N stocks and the role RA1J, B. van. Fertilidade do solo e manejo de nutrientes.
of molecular recaioitrance and organomineral interactions Piracicaba: International Plant Nutrition Institute, 2011.
is stabilizing soil organic matter in a subtropical Acrisol 420 p.
managed under no-tillage. Geoderma, Amsterdam, v. 133,
n. 3-4, p. 258-2668, 2006. ROSSETTO, R.; VITTI, A. C.; GAVA, G. J. C.; MELLIS,

BRADY, N. C.; WEIL, R. R. Elementos da natureza e pro­ E. V; VARGAS, V. R; CANTARELLA, H.; PRADO, H.
priedades do solo. Porto Alegre: Bookman, 2013. do; DIAS, F. L. E; LANDELL, M. G. A.; BRANCALIÃO,
S. R.; GARCIA, J. C. Cana-de-açúcar - cultivo com susten-
CERRI, C. C. Dinâmica da matéria orgânica do solo no
tabilidade. Informações Agronômicas, Piracicaba, n. 142,
agrossistema cana-de-açúcar. 1986. 197 p. Tese (Livre-
Docência) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Quei­ p. 1-13, junho 2013.
roz”, Piracicaba, SP, 1986.
SANCHES, P. A. Suelos dei trópico: características y
DICK, D. R; GOMES, J.; BAYER, C.; BODMANN, B. manejo. São José, Costa Rica: Instituto Interamericano de
Adsorção de ácidos húmicos em latossolo roxo natural e Cooperación para la Agricultura, 1981.
tratado om oxalato de amónio. Revista Brasileira de Ciência
do Solo, Campinas, v. 24, p. 285-294, 2000. SILVA. L. B. Caracterização e quantificação da matéria
orgânica em horizontes A de solos sob pastagem natural
DICK, D. R; NOVOTNY, E. H.; DIECKOW, I; BAYER, C.
Química da matéria orgânica do solo. In: MELO, V. de E; dos Campos de Cima da Serra, RS. 2007. 66 p. Tese (Mes­
ALLEONI, L. R. F. (Org.). Química e mineralogia do solo: trado) - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto
Aplicações. Viçosa, MG: SBCS, 2009. v. 2, 695 p. Alegre, 2007.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


SISTEMAS INTEGRADOS NO MANEJO DA
PRODUÇÃO AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL
Ronaldo Trecenti1

1. INTRODUÇÃO da Organização das Nações Unidas (ONU), denominado de


Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), tam­
egundo estimativas da Organização das Nações bém conhecidos como Objetivos Globais, os quais são um

S Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), a chamado universal para ação contra a pobreza, proteção do
população mundial deverá ultrapassar 9,7 bilhões planeta e para garantir que todas as pessoas tenham paz e
de habitantes em 2050, e para alimentar todo esse contingente
de pessoas a produção de alimentos terá que crescer 70%.
prosperidade. Esses 17 Objetivos foram construídos com base
no sucesso dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio
Espera-se que o Brasil responda por 40% desse aumento de (ODMs), incluindo novos temas, como mudança global do
produção. clima, desigualdade econômica, inovação, consumo susten­
O grande desafio da agricultura mundial atualmente é tável, paz e justiça, entre outras prioridades.
conseguir atender a esse crescimento na demanda por alimen­ Os ODS fundamentam-se no espírito de parceria e
tos, produzindo cada vez mais, em quantidade e qualidade, na pragmatismo para que sejam feitas escolhas certas, que bus­
mesma área cultivada, reduzindo a utilização de insumos e quem melhorar, de forma sustentável, a qualidade de vida da
utilizando de forma racional os recursos naturais, em especial, atual e das futuras gerações. Eles oferecem orientações claras
o solo, a água e a biota. e metas (até 2030, por isso é chamada de Agenda 2030) para
A FAO define o desenvolvimento sustentável como todos os países, de acordo com as suas prioridades e com os
a gestão e conservação da base de recursos naturais, e a desafios ambientais de todo o planeta.
orientação de mudanças tecnológicas e institucionais, de Mais recentemente foi introduzido o conceito de
modo a assegurar a consecução e satisfação continuada das “intensificação sustentável” como uma maneira de suprir
necessidades humanas para as gerações presentes e futuras. o aumento esperado da demanda de alimentos de maneira
Esse desenvolvimento sustentável preserva os solos, sustentável. A intensificação sustentável requer a melhoria
a água e a biodiversidade e é ambientalmente conservador, da eficiência no uso dos recursos de produção e a redução
tecnicamente apropriado, economicamente viável e social­ no desperdício ao longo da cadeia de suprimentos; a gestão
mente aceitável. de recursos naturais escassos - especialmente terra, água e
Outro aspecto relevante para a produção mundial de bioma; a redução na emissão de carbono em toda a cadeia
alimentos é o compromisso assumido pelos países signatários de produção de insumos e de alimentos; e a mitigação dos

Abreviações: ABC = Agricultura de Baixa Emissão de Carbono; BNDES = Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social; C = carbono; COP-15 = 15a Conferência das Partes; CTC = capacidade de troca catiônica; FAO = Organização das Nações
Unidas para Alimentação e Agricultura; FBN = fixação biológica de nitrogênio; FEBRAPDP = Federação Brasileira de Plantio Di­
reto e Irrigação; GEE = gases de efeito estufa; ILPF = sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta; MAPA = Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento; MOS = matéria orgânica do solo; N = nitrogênio; NAMAS = Ações de Mitigação Nacio­
nalmente Apropriadas; NDC = Contribuição Nacionalmente Determinada; ODMs = Objetivos de Desenvolvimento do Milênio;
ODS = Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; ONU = Organização das Nações Unidas; SAFs = sistemas agroflorestais;
SIPA = sistema integrado de produção agrícola; SPD = sistema plantio direto; UA = unidade animal; UNFCCC = Convenção-
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas.

1 Engenheiro Agrônomo, M.Sc., Consultor da Vetor Agroambiental, Brasília, DF; email: ronaldotrecenti@hotmail.com

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


impactos ambientais prejudiciais, reforçando serviços ecos- • Programa 3: Sistema Plantio Direto (SPD);
sistêmicos que fornecem funções essenciais à vida e ao bem- • Programa 4: Fixação Biológica de Nitrogênio (FBN);
estar, como biodiversidade, sequestro de carbono e controle
• Programa 5: Florestas Plantadas;
de enchentes e secas.
• Programa 6: Tratamento de Dejetos Animais; e
Na 15a Conferência das Partes (COP-15), realizada
em Copenhague (Dinamarca), em 2009, pela Convenção- • Programa 7: Adaptação às Mudanças Climáticas.
Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas Como compromisso nacional relativo à mitigação de
(UNFCCC), como Ações de Mitigação Nacionalmente Apro­ emissões de GEE pela agropecuária, o Plano ABC estabeleceu
priadas (NAMAS), o Brasil assumiu o compromisso volun­ como meta para 2020 a expansão da adoção ou utilização de
tário de reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) tecnologias que podem ser adotadas para mitigar emissões de
em 36,1% a 38,9% até 2020, em comparação com o cenário GEE e, em contrapartida, promoverem a retenção ou remo­
atual de negócios. Com a proposta voluntária de redução, o ção de CO2 na biomassa e no solo, conforme apresentado na
governo pretende prevenir que o País emita entre 975 milhões e Tabela 1.
1 bilhão de toneladas de dióxido de carbono até 2020, em
Visando estimular a adoção dessas tecnologias, o
comparação com a previsão de emissões caso nenhuma ação
Governo criou uma de linha de crédito - Programa ABC - que
fosse tomada. Em 2015, na COP-21, realizada em Paris
financia a implantação, com taxa de juros mais favoráveis,
(França), foi celebrado o Acordo de Paris, no qual o Brasil
período de carência e prazos mais longo para pagamento.
apresentou a Contribuição Nacionalmente Determinada
Essa linha de crédito é operada pelo Banco Nacional de
(NDC) com metas ambiciosas, ampliando o compromisso
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e pode ser
de reduzir a emissão de GEE para 43% até o ano de 2030.
acessada por todos os agentes financeiros públicos e privados,
Para dar suporte aos compromissos assumidos na inclusive as cooperativas de crédito.
COP-15, o Brasil criou o Plano Setorial de Mitigação e de
O Programa ABC apresenta condições atrativas de
Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de
crédito, como: limite de crédito por beneficiário, taxas de
uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricul­
juros, prazo de pagamento e carência. De 2009 a 2019, esta
tura - Plano ABC, que tem por finalidade a organização e
linha de crédito já disponibilizou R$ 17 bilhões com 34 mil
o planejamento das ações a serem realizadas para a adoção
contratos, distribuídos por 2.885 municípios. Para a safra
das tecnologias de produção sustentáveis, selecionadas com
2019/2020 o Programa ABC conta com recursos de R$ 2,096
o objetivo de responder aos compromissos de redução de
bilhões, limite de crédito por beneficiário de R$ 5 milhões,
emissão de GEE no setor agropecuário.
taxas de juros entre 5,25 e 7,0% ao ano, prazo máximo de
O Plano ABC é composto por sete programas, seis pagamento de 12 anos e carência máxima de 8 anos, quando
deles referentes às tecnologias de mitigação, e ainda um o componente florestal estiver inserido no projeto.
último programa com ações de adaptação às mudanças cli­
A agricultura brasileira vem cumprindo papel de desta­
máticas. São eles:
que na NDC, visando alcançar as metas do Acordo de Paris,
• Programa 1: Recuperação de Pastagens Degradadas; fato que pode ser constatado nos programas desenvolvidos
• Programa 2: Sistemas de Integração Lavoura-Pecuária- pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Floresta (ILPF) e Sistemas Agroflorestais (SAFs); (MAPA). Em junho de 2018, foi realizada a primeira reunião

Tabela 1. Processo tecnológico e compromisso nacional relativo à mitigação de emissões de GEE pela agropecuária.

Processo tecnológico Compromisso (aumento de área/uso)

Recuperação de pastagens degradadas1 15,0 milhões de hectares


Integração lavoura-pecuária-floresta2 4,0 milhões de hectares

Sistema plantio direto 8,0 milhões de hectares


Fixação biológica de nitrogênio 5,5 milhões de hectares

Florestas plantadas3 3,0 milhões de hectares


Tratamento de dejetos animais 4,4 milhões de metros cúbicos

1 Por meio do manejo adequado, calagem e adubação.


2 Incluindo Sistemas Agroflorestais (SAFs).
3 Não está computado o compromisso brasileiro relativo ao setor de siderurgia, e não foi contabilizado o potencial de mitigação de

emissão de GEE.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


do Comitê Diretor da Plataforma ABC (Plataforma Multins-
titucional de Monitoramento das Reduções de Emissões de
Gases de Efeito Estufa na Agropecuária) para mostrar os resul­
tados dos programas voltados à Agricultura de Baixa Emissão
de Carbono (ABC). Segundo o Comitê e a Coordenação do
Programa ABC no MAPA, os recursos oficiais repassados
pela linha de crédito já modificaram 10 milhões de hectares -
500 mil hectares com a utilização do sistema de ILPF.
Segundo dados recentes da ONU, o Brasil é o país que
mais reduziu a emissão de gases que provocam o efeito estufa
no planeta, desde 2010. Com o lançamento do Plano ABC,
aumentou o número de propriedades rurais que adotaram
soluções tecnológicas, como a recuperação de pastagens degra­
dadas, a Integração Lavoura-Pecuária (ILP), a ILPF, o SPD, a
FBN, o plantio de florestas e o tratamento de dejetos animais.
Como vantagem, o País tem condições para ampliar a
produção de alimentos para suprir as suas demandas e alimen­
tar o mundo, sem a necessidade de abrir novas áreas, atuando
principalmente na recuperação da capacidade produtiva em
áreas de pastagens degradadas por meio da expansão da ado­
ção de sistemas integrados de produção agrícola.

2. SISTEMAS INTEGRADOS NO MANEJO DA


PRODUÇÃO AGRÍCOLA SUSTENTÁVEL
Segundo dados do IBGE (Censo Agropecuário
2017), já são quase 15 milhões de hectares ocupados
com os sistemas integrados de manejo no Brasil. Desse
total, aproximadamente 83% com integração lavoura-
pecuária, 9% com integração lavoura-pecuária-floresta,
7% com integração pecuária-floresta e 1% com integração
lavoura-floresta.
Esses sistemas abrangem quatro modalidades de Figura 1. Integração lavoura-pecuária: milho consorciado com
integração: braquiária a lanço (A) e milho consorciado com braquiá-
(a) Integração lavoura-pecuária ou sistema ria na linha (B).
agropastoril

Sistema que integra os componentes agrícola e pecuá­


rio, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área, em
uma mesma safra ou por múltiplos anos (Figura 1).
(b) Integração lavoura-floresta ou sistema
silviagrícola
Sistema que integra os componentes agrícola e flo­
restal, pelo consórcio de espécies arbóreas com cultivos
agrícolas (anuais ou perenes). O componente agrícola pode
ser utilizado na fase inicial de implantação do componente
florestal ou em ciclos durante o desenvolvimento do sistema
(Figura 2).
(c) Integração pecuária-floresta ou sistema
silvipastoril

Sistema que incorpora os componentes pecuário e flo­


restal, em consórcio, de forma a produzir pastagem e animal, Figura 2. Integração lavoura-floresta: soja consorciada com
madeira e/ou fibras (Figura 3). eucalipto.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


plantas forrageiras e das árvores; e aumento da produção de
grãos, carne, leite, produtos madeireiros e não madeireiros
em uma mesma área.
Esses sistemas, aliados ao SPD, têm promovido uma
nova revolução na agricultura tropical mundial, tida como a
3a Grande Revolução Agrícola, na qual o Brasil tem sido o
protagonista da intensificação sustentável, permitindo a pro­
dução de quatro safras por ano, na mesma área, sem irrigação,
descritas a seguir:
• Ia safra: soja precoce colhida em janeiro/fevereiro;
• 2a safra: safrinha de milho ou sorgo consorciados
com capim, colhidos em maio/junho;
• 3a safra: boi safrinha engordado a pasto com a for­
ragem produzida no consórcio; e
• 4a safra: forragem remanescente do pastejo e palhada
formada pela brotação do capim com as primeiras
chuvas da primavera.
Essa intensificação proporciona a ocupação do solo
o ano todo e o atendimento aos três pilares de sustentação
do SPD: ausência de revolvimento do solo ou revolvimento
mínimo na linha de plantio, rotação de culturas e cobertura
do solo com resíduos vegetais ou palhada.
Nos últimos 20 anos, a área com adoção do SPD teve uma
grande expansão no Brasil, atingindo 35 milhões de hectares,
segundo estimativa da Federação Brasileira de Plantio Direto
e Irrigação (FEBRAPDP), principalmente na região Centro-
Oeste, onde as temperaturas são mais elevadas e predomina
uma estação seca, que vai de maio a outubro, e uma estação
Figura 3. Integração pecuária-floresta: eucalipto consorciado com chuvosa, que vai de novembro a abril.
gado de corte (A) e eucalipto consorciado com gado de As altas temperaturas, aliadas à umidade no solo, pro­
leite (B).
porcionam rápida decomposição da palhada que fica sobre o
solo, deixando-o desprotegido da ação direta da chuva, que
(d) Integração lavoura-pecuária-floresta ou pode causar erosão, e do sol, que pode causar perda de umidade.
sistema agrossilvipastoril No Centro-Oeste, até o final da década de 1990, predo­
Sistema que agrega os componentes agrícola, pecuário minava o monocultivo da soja no verão, uma leguminosa que
e florestal, em rotação, consórcio ou sucessão, na mesma área. deixa poucos resíduos vegetais para proteger o solo, os quais
O componente agrícola pode ser utilizado na fase inicial de apresentam baixa relação carbono/nitrogênio (C/N) e sofrem
implantação do componente florestal ou em ciclos durante o decomposição acelerada no solo, agravando o risco de erosão.
desenvolvimento do sistema. O componente pecuário, via de Com o advento da safrinha, que consiste no cultivo
regra, é inserido no sistema em substituição ao componente em sucessão de duas culturas no verão, predominantemente
agrícola. de soja de ciclo mais curto (precoce) e milho e/ou sorgo, foi
O crescimento na adoção desses sistemas é resultado possível melhorar a formação de palhada, pois tanto o milho
dos inúmeros benefícios que eles proporcionam, como: como o sorgo produzem boa quantidade de resíduos vegetais,
recuperação de solos degradados, em especial as áreas de com maior relação C/N.
pastagens; diversificação de atividades e melhoria de renda No entanto, a quantidade de palhada produzida na
nas propriedades rurais; rotação de culturas; formação de safrinha não é suficiente para proteger o solo e possibilitar aos
palhada para o SPD; produção de forragem de qualidade, produtores alcançar os benefícios proporcionados pelo SPD.
com baixo custo na entressafra; melhoria do bem-estar Assim, os sistemas de integração passaram a ser estudados
animal em decorrência do maior conforto térmico; manu­ e desenvolvidos por meio do plantio consorciado de plantas
tenção da biodiversidade; redução dos riscos climáticos e forrageiras com culturas de verão, principalmente arroz e
de mercado; redução das emissões de gases de efeito estufa; milho consorciados com braquiárias, permitindo a produção
sequestro de carbono pela biomassa aérea e radicular das de grãos e a formação de forragem, que passou a ser utilizada

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


para alimentação animal na entressafra (período da seca) e
para a formação de palhada para o SPD.
No início da década de 1980, a partir de estudos lide­
rados pelo Dr. João Kluthcouski, pesquisador da EMBRAPA,
foi desenvolvido o Sistema Barreirão - tecnologia de
recuperação/renovação de pastagens em consórcio com
culturas anuais. Nesse sistema, são consorciados arroz de
terras altas, milho, sorgo e milheto com gramíneas forragei­
ras - principalmente braquiárias, andropogon e panicum - ou
com leguminosas forrageiras (Figura 4).

Figura 5. Sistema Santa Fé: consórcio de milho com braquiária.

• Semeadura simultânea

Na semeadura simultânea as sementes da forrageira


são semeadas no mesmo instante da semeadura da cultura
de grãos, por meio da mistura das sementes da forrageira no
adubo de plantio da cultura, ou do uso da terceira caixa (caixa-
reservatório para sementes pequenas) nas semeadoras mais
modernas e/ou da adaptação das caixas de distribuição de
sementes de soja (discos com perfurações adaptadas para as
sementes da forrageira), mantendo-se a caixa de distribuição
Figura 4. Sistema Barreirão: consórcio de arrroz com gramínea.
de sementes de soja entre as duas caixas de sementes de milho.

No início da década de 2000 surgiu o Sistema Santa • Semeadura defasada


Fé, também idealizado por pesquisadores da EMBRAPA, que
A semeadura defasada consiste na implantação da
fundamenta-se na produção consorciada de culturas de grãos
forrageira após o período crítico de competição com a cul­
- especialmente milho, sorgo, milheto, arroz e soja - com
tura principal. No caso do milho e do sorgo, que demandam
forrageiras tropicais, principalmente as do gênero Brachiaria
adubações de cobertura com fertilizantes nitrogenados, ela
(Urochloa), em áreas de lavoura com solo parcial ou devi­
pode ser realizada concomitantemente nessa operação. Geral­
damente corrigido (Figura 5). Os principais objetivos desse
mente, as sementes da forrageira são misturadas ao fertilizante
sistema são a produção de forrageiras para a entressafra e a
nitrogenado (predominantemente a ureia), que é incorporado
de palhada, em quantidade e qualidade, para o SPD.
superficialmente ao solo.
O Sistema Santa Fé foi amplamente estudado, incor­
Outra possibilidade de semeadura defasada é a utili­
porando diversas alternativas de implantação do consórcio
zação da sobressemeadura da forrageira na cultura de grãos.
de forrageiras com as culturas de grãos:
Essa modalidade tem sido utilizada na implantação de bra­
• Pré-semeadura a lanço quiárias na cultura de milho e de soja e, mais recentemente,
de panicum na soja, em regiões do Cerrado com melhor
Nessa modalidade, as sementes da forrageira são distri­ distribuição do regime de chuvas (Sudoeste de Goiás e Norte
buídas a lanço, geralmente via trator ou avião, imediatamente do Mato Grosso), onde se cultivam variedades precoces,
antes da semeadura da cultura de grãos. A incorporação das geralmente em grandes propriedades, que dispõem de boa
sementes é parcial e ocorre em função da movimentação de estrutura de máquinas e podem lançar mão de serviços para
solo provocada pela ação dos mecanismos de sulcagem e distribuição aérea das sementes.
cobertura das sementes das semeadoras.
• Semeadura em sucessão
• Pré-semeadura na linha
Nessa modalidade, a forrageira é semeada imedia­
Consiste na semeadura da forrageira imediatamente tamente após a colheita da cultura de grãos implantada no
antes da semeadura da cultura de grãos, por meio da utilização verão, buscando-se aproveitar a umidade residual do solo e
de uma semeadora de forrageiras. as chuvas do outono, visando à produção de forragem para

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


pastejo, fenação, silagem ou produção de palhada para o SPD, tação de bovinos na entressafra, caracterizando o boi saffinha
evitando-se, assim, o pousio da área, que pode ocasionar a ou boi de terceira safra (Figuras 7 e 8).
proliferação de plantas daninhas, pragas e doenças. Em geral,
as sementes da forrageira são distribuídas a lanço c incorpora­
das com grade niveladora. A incorporação das sementes com
grade é um método tradicional, mas pouco eficiente, porque
demanda maior quantidade de sementes e envolve o preparo
do solo. O revolvimento do solo, mesmo que superficial,
provoca a queima da matéria orgânica do solo e inviabiliza
o SPD. Portanto, deve-se preferir a semeadura da forrageira
com a utilização de semeadoras de plantio direto.
No início da década de 2010, a EMBRAPA desenvol­
veu o Sistema Santa Brígida, que consiste no consórcio de
gramíneas (milho ou sorgo e forrageiras) com legumino­
sas (feijão guandu-anão e crotalária), proporcionando um
aumento do aporte de nitrogênio ao sistema, via fixação
biológica do nitrogênio atmosférico (Figura 6). Pode-se citar
como vantagens desse sistema a diversificação das palhadas
para o SPD, a melhoria na qualidade das pastagens e o enri­
quecimento da silagem com proteína. Figura 7. Cultura de soja no sistema plantio direto após pasto.

Figura 6. Sistema Santa Brígida: consórcio de milho com feijão Figura 8. Integração lavoura-pecuária: pasto após soja.
guandu-anão.

O boi safrinha é recomendado para regiões lavoureiras


Na primeira metade da década de 2010 surgiu o Sis­ com restrições pluviométricas na segunda safra de granífe-
tema São Mateus, que é um modelo de ILP indicado para ras, normalmente de milho, tais como Vale do Araguaia no
solos arenosos da região do Bolsão Sul-Mato-Grossense, Mato Grosso (MT), sul do MT e a maior parte do Cerrado
que tem como base a antecipação da correção química e brasileiro. Ainda em regiões lavoureiras, sem restrições
física do solo e do cultivo de soja em SPD para amortizar os pluviométricas, pode ser recomendado no “fechamento” da
custos de recuperação da pastagem. Tal sistema de produção segunda safra e, também, por razões econômicas muito
proporciona a diversificação das atividades, com a introdução favoráveis à pecuária.
do cultivo de grãos. Já o boi de terceira safra é recomendado para regiões
Mais recentemente, surgiram os Sistemas “Boi safri- lavoureiras, sem restrições pluviométricas para a segunda safra
nha” e “Boi de terceira safra”, que são normalmente utiliza­ do consórcio de graníferas com capim forrageiro (milho com
dos em fazendas especializadas em lavouras de grãos e que B. ruziziensis na maioria dos casos, ou suas alternativas), tais
cultivam gramíneas forrageiras, solteiras ou consorciadas na como no médio Norte e Noroeste do MT, no Vale do Xingu
segunda safra, para melhorar a cobertura de solo no SPD e, (MT) e na região de Rio Verde, Goiás (GO). Após a colheita
também, para a produção da forragem a ser usada na alimen- da cultura granífera, entre junho e julho, na maioria dos casos,

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


os bovinos são introduzidos na área para pastejar a resteva
da granífera, bem como a forrageira formada no consórcio,
até o início do próximo período chuvoso.
Recentcmcntc, foram desenvolvidos os Sistemas São
Francisco e Gravataí. O Sistema São Francisco consiste na
sobressemeadura de forrageira do gênero Panicum de porte
alto sobre lavoura de soja ou milho em final de ciclo. Ele tem
sido utilizado em solos argilosos e férteis na região Sudoeste
de Goiás, com a sobressemeadura de Panicum maximum em
soja precoce no momento em que ela inicia a maturação fisio­
lógica, isto é, quando as folhas começam a amarelar (estádios
fisiológicos R6 a R7.2), mas antes de iniciar a sua queda. Se
manejado corretamente, o Sistema São Francisco auxilia na Figura 9. Ciclagem de nutrientes na integração lavoura-pecuária.
recuperação de pastagens degradadas, garantindo forragem em
quantidade e qualidade para os rebanhos bovinos no período
seco do ano no Brasil Central e palhada suficiente para o sis­ Um dos grandes benefícios dos sistemas integrados de
tema plantio direto das culturas de verão subsequentes. produção agrícola (SIPA) na fertilidade química do solo é a
O Sistema Gravataí consiste no consórcio de feijão- capacidade de recuperação do fósforo aplicado nas adubações
caupi (Vigna unguiculata) com gramíneas do gênero das lavouras, pelas plantas forrageiras, que chega a 100%,
Brachiaria, como B. ruziziensis e B. brizantha cvs. BRS segundo resultados de pesquisa da Embrapa Cerrados.
Paiaguás e BRS Piatã, e tem como característica o grande A utilização dos SIPA tem possibilitado aumentos
acúmulo de forragem de alta qualidade (valor nutritivo) no significativos no teor de matéria orgânica do solo (MOS),
período seco do ano. Além disso, contribui para a melhoria a qual, nos solos de Cerrado, responde por mais de 80% da
do perfil do solo em áreas de lavoura com solos de textura capacidade de troca catiônica (CTC). ACTC pode ser enten­
média e/ou argilosa na sucessão com a soja. dida como o armazém de nutrientes do solo, assim, quanto
Ele é indicado para áreas de Cerrado, com solos de maior o seu teor, maior será a capacidade do solo de estocar
textura média e/ou argilosa. Deve ser estabelecido após a os nutrientes que serão fornecidos às plantas no momento
colheita da lavoura na safra, como um precedente para a safra adequado e de proporcionar altas produtividades. Ela também
seguinte. A sua introdução, após a colheita da lavoura, pode pode ser entendida como a “caixa d’água” do solo, porque
ser feita, basicamente, de três formas: (a) implantação do con­ quanto maior o teor de MOS, maior a capacidade de arma­
sórcio simultâneo, utilizando uma semeadora que contenha zenamento de água no solo, que poderá conferir às plantas
a terceira caixa de forrageira ou a mistura das sementes de maior tolerância aos períodos de estresse hídrico (veranicos),
braquiária com o adubo; (b) implantação do consórcio com conferindo maior estabilidade da produção e redução das
duas operações (consecutivas) de semeadura direta em linha, despesas com irrigação.
a primeira com semeadura de feijão-caupi e a segunda com A grande formação de palhada pelas gramíneas for­
semeadura de braquiária; (c) implantação do consórcio com rageiras favorece a formação de um colchão de palha, que
duas operações, primeiro com a semeadura da braquiária a exerce diversas funções no solo:
lanço e, logo em seguida, a semeadura do feijão-caupi na linha. • Age como um “guarda-chuva”, protegendo o solo
O revolvimento do solo decorrente da semeadura do caupi é do impacto das gotas da chuva, que provocam a sua
suficiente para encobrir as sementes de braquiária e viabilizar desestruturação e erosão;
a germinação, desde que não faltem chuvas nesse período.
• Age como um “guarda-sol”, protegendo o solo do
impacto direto dos raios solares, que provocam o seu
3. CONTRIBUIÇÕES DOS SISTEMAS superaquecimento e ressecamento;
INTEGRADOS DE PRODUÇÃO PARA 0
• Age como um “amortecedor”, reduzindo a pressão
MANEJO DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA exercida pelo tráfego de máquinas pesadas e o con­
SUSTENTÁVEL sequente adensamento e compactação do solo;

A utilização desses sistemas integrados de produção • Age como uma barreira que impede a penetração de
agrícola tem proporcionado melhoria substancial da ferti­ luz na camada superficial do solo, impedindo a ger­
lidade do solo (Figura 9) nos seus três aspectos: químico minação de plantas daninhas e de fungos causadores
(armazenamento, disponibilidade e eficiência de uso dos de doenças severas, como o mofo-branco;
nutrientes); físico (densidade, porosidade, aeração, infiltra­ • Serve como fonte de alimentos (carbono) para os
ção e retenção de água) e biológico (diversidade e atividade microrganismos que decompõem a MOS e fazem a
biológica, efeito supressivo). ciclagem de nutrientes;

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


• Serve como um ambiente favorável ao desenvolvi­ nutrientes promovida pela decomposição da palhada e das
mento da micro e mesofauna, que vão potencializar fezes dos animais; maior formação de biomassa radicular das
o controle biológico de pragas e doenças. forrageiras, estimulada pelo pastejo e rebrote das forrageiras;
e melhor plantabilidade das lavouras, proporcionada pela
O sistema radicular das gramíneas forrageiras, que é
redução do volume total de palhada no momento do plantio
volumoso e profundo (Figura 10), absorve os nutrientes que
(considerando que os animais consomem parte da forragem
foram lixiviados para as camadas mais profundas do solo,
no pastejo).
promove o seu transporte para a biomassa aérea e a sua
deposição na palhada na superfície do solo, e esta, ao ser No Oeste da Bahia, os SIPA começam a despertar
decomposta pelos microrganismos, possibilita a ciclagem grande interesse dos produtores de algodão, pois os solos
dos nutrientes e a disponibilidade para a cultura, reduzindo da região são arenosos, com baixa CTC, e a cultura é muito
a demanda por fertilizantes. Esse mesmo sistema radicular, exigente em fertilidade e dependente da umidade armaze­
ao ser decomposto, forma canalículos por onde penetram a nada no solo. O cultivo de algodão em SPD, após o milho
água e as raízes das plantas cultivadas, promovendo melhor consorciado com forrageiras, tem proporcionado excelentes
desenvolvimento e produtividade das culturas e, ainda, atua produtividades, conferindo maior resiliência aos estresses
como um descompactador do solo. hídricos.
No estado do Mato Grosso do Sul, cerca de 90% do
milho cultivado em saffinha utiliza o consórcio com gramíneas,
possibilitando a recria e a engorda de animais na entressafra
(Figura 11). Nas áreas de pastagens degradadas e recupera­
das com a ILP, a taxa de lotação da bovinocultura de corte
aumentou de 0,7 unidade animal (UA=450 kg de peso vivo)
por hectare para 2,5 UA. O ganho de peso dos animais com
a renovação da pastagem também aumentou, passando de
400 para 900 gramas/dia. E o tempo de abate reduziu-se de
36 para 19 meses.

Figura 10. Sistema radicular da braquiária.

O aumento na atividade biológica do solo tem possibi­


litado o desenvolvimento de microrganismos que potenciali­ Figura 11. Engorda do gado na integração lavoura-pecuária.
zam o controle de pragas, como os nematoides, de doenças,
como a fusariose e a rizoctoniose, e também ajudam a solu- Nos estados do Nordeste, os SIPA ganharam um
bilizar as fontes de fertilizantes menos solúveis, permitindo impulso forte com a priorização das ações de fomento e capa­
a ampliação do uso de fertilizantes naturais, organominerais citação da Rede ILPF, onde espera-se que possam auxiliar os
e remineralizadores do solo. produtores a encontrar soluções para superação dos desafios
A utilização dos SIPA tem promovido maiores produ­ de convivência na região semiárida, contando com a própria
tividades em lavouras de soja cultivadas em áreas de integra­ biodiversidade e a criatividade dos produtores.
ção, onde a forragem produzida em consórcio foi pastejada A inserção do componente florestal nos sistemas inte­
na entressaffa pelos animais, em comparação com áreas onde grados de produção agrícola, seja ILP, seja IPF, tem proporcio­
a forragem foi mantida. Para tentar explicar esses resultados, nado melhoria significativa no conforto térmico aos animais,
algumas hipóteses têm sido apresentadas: maior ciclagem de reduzindo tanto a elevação das temperaturas mais altas (que

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


provocam o estresse animal), quanto a queda das mínimas Como desafios para a ampla adoção dos SIPAno Brasil
(que podem causar a morte de animais por hipotermia e a podem-se destacar:
morte da forragem pela geada), com reflexos positivos no
• Capacitação de técnicos com visão holística e geren­
desempenho animal, possibilitando maior ganho de peso e
cial para atuar na transferência de tecnologia e assis­
maior produção de leite.
tência para os médios e pequenos produtores rurais,
O eucalipto é a espécie florestal mais estudada e conhe­
especialmente os pecuaristas;
cida no Brasil e tem sido a mais utilizada para a arborização
das pastagens devido à sua ampla adaptação às condições • Desburocratização do acesso às linhas de crédito;
edafoclimáticas, do seu rápido crescimento, da sua alta pro­ • Estímulo à organização dos produtores: formação de
dutividade em um curto espaço de tempo e da multiplicidade associações, cooperativas, etc.;
de uso da sua madeira: estacas para escoramento na cons­
• Incentivos para a implantação de polos e complexos
trução civil; biomassa para celulose; lenha para produção de
cavaco, pellets, carvão, secagem de grãos, uso nas cerâmicas, agroindustriais que demandem a produção de grãos,
agroindústrias, pizzarias, etc.; tratamento de estacas e mou- carne, leite, biomassa e madeira;
rões; serraria (construção civil rural e urbana e fabricação de • Melhoria na infraestrutura disponível para o campo:
móveis) e produção de dormentes para ferrovias. comunicação, energia elétrica, armazenamento, pro­
Na ILPF, as receitas obtidas com a produção de grãos, cessamento e transporte;
somadas às receitas resultantes da produção pecuária (carne • Criação de novos mercados, principalmente externos;
e/ou leite), praticamente têm custeado todas as despesas de
implantação do sistema, fazendo com que as receitas obtidas • Certificação da produção e da propriedade; e
com a produção gerem uma “poupança verde”. • Implantação de política de pagamento por serviços
A recuperação de pastagens degradadas com a IPF, ambientais.
também denominada de arborização das pastagens ou implan­ Hoje é possível afirmar que o Brasil, com a adoção dos
tação de quebra-ventos, tem proporcionado a manutenção das
SIPAnas áreas de pastagens degradadas, tem a possibilidade
pastagens verdes por mais tempo no período da entressafra e
de multiplicar a produção de alimentos (grãos, carne e leite)
realizado o sequestro de carbono, tanto pela biomassa aérea e
fibras e agroenergia, de forma competitiva e sustentável, e
radicular das forrageiras quanto pelas árvores, possibilitando
a neutralização da emissão do metano produzido pelo ani­ de conquistar novos mercados, ajudando a gerar emprego e
mais (dada em equivalente de carbono), fato que permitiu à renda no meio rural, melhorar a qualidade de vida no campo,
EMBRAPA a criação de um novo conceito de carne produzida garantir a sua soberania alimentar e nutricional e alimentar
com sustentabilidade, a “carne carbono neutro”. o mundo.

------ o
CURSO ONLINE DE
NUTRIÇÃO E ADUBAÇÃO
DAS PRINCIPAIS CULTURAS
COMERCIAIS DO BRASIL

CURSO COMPLETO
Dezoito palestras, contendo mais de 30
horas de aula. PATROCÍNIO

MÓDULO APLICADO
Sete palestras, contendo mais de 12 horas
de aula.
@jacto
MÓDULO BÁSICO
Onze palestras, contendo mais de 19 horas
de aula.

AULAS INDIVIDUAIS
Adquira aulas específicas dos temas e
palestrantes de interesse.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


DIVULGANDO A PESQUISA

ADSORÇAO E DISPONIBILIDADE DE FOSFORO


EM RESPOSTA A DOSES DE ÁCIDO HÚMICO
EM SOLOS CORRIGIDOS POR CaCO3 OU MgCO3
Henrique José Guimarães Moreira Maluf1; Carlos Alberto Silva1; Nilton Curi1; Lloyd Darrell Norton2; Sara Dantas Rosa1.
Ciência e Agrotecnologia, v. 42, n. 1, p. 7-20, 2018.

lantas cultivadas em solos tropicais apresentam • A escolha correta da dose de AH reduziu a FCPm

P baixa eficiência de absorção de fósforo (P), uma


vez que as taxas de recuperação dos fertilizantes
em até 40% e aumentou a disponibilidade de P no
Latossolo em 17%.
fosfatados variam de 5 a 25%. Essa baixa recuperação ocorre • A aplicação de MgCO , em vez do CaCO , reduziu
devido à adsorção específica do fosfato, que raramente é
3
a adsorção de P em ambos os solos. Assim, houve
3

devolvido à solução do solo, em solos altamente intemperi- correlação positiva entre o teor de Ca2+ e a FCPm.
zados, impedindo a absorção do elemento pelas plantas. Entre
• A dose ótima de AH e a predominância de Mg2+ sobre
outros fatores, o aumento da adsorção de P no solo tropical
Ca2+ no volume de solo adubado com P são práticas
se deve ao menor pH e à predominância de caulinita e de
efetivas para reduzir a adsorção e aumentar a dispo­
óxidos de Fe e Al na fração argila. Comparado aos solos da
nibilidade de P, especialmente, no Latossolo argiloso.
região temperada, as altas quantidades de P fixadas nos solos
brasileiros explicam as altas doses de fertilizantes aplicadas 2 2
• Resina: y = 174,38 + 0,20***x - S^W)** (R = 0,87)
para atender às exigências da cultura em P. 2
• Mehlich-1: y = 83,29 + 0,04***x (R = 0,88)
i i Resina
Além da calagem do solo, a aplicação de ácido húmico
(AH) é uma estratégia utilizada para reduzir a adsorção de P
em solos tropicais. O AH pode reduzir a adsorção e aumentar
a disponibilidade de P nos solos, entretanto, a magnitude desse
efeito é diferente quando o Ca2+ prevalece sobre o Mg2+ em
solos com acidez corrigida.
Nesse experimento, objetivou-se avaliar os efeitos de
doses de AH e de fontes de carbonato - carbonato de cálcio
(CaCO3) e carbonato de magnésio (MgCO3) - na adsorção,
• Resina: y = y i----- 1 Resina
fator capacidade de P máximo (FCPm) e disponibilidade de P
em solos contrastantes. Amostras de Latossolo e de Gleissolo
foram primeiramente incubadas com as seguintes doses de AH:
0, 20, 50, 100, 200 e 400 mg kg1, combinadas com doses de
CaCO3 ou MgCO3, para avaliar a adsorção de P. Em sequên­
cia, as amostras de solo foram novamente incubadas com P
(400 mg kg1), para determinar a disponibilidade do elemento.
Resultados:
• A aplicação de AH reduziu a capacidade máxima de
adsorção, aumentou a energia de ligação do P e não Figura 1. Teores de fósforo em amostras de Latossolo (A) e Gleis­
solo (B), extraídos por Resina e Mehlich-1, tratadas com
alterou o FCPm do Gleissolo.
doses de ácido húmico (HA) e fontes de carbonato.
• O teor de P disponível aumentou com o acréscimo * p < 0,05 ;**p<0,01;***p< 0,001. Médias seguidas pela
das doses de AH no Latossolo, contudo, não foi mesma letra não diferem estatisticamente entre si pelo teste
alterado no Gleissolo (Figura 1). F (p < 0,05). Barras representam o erro padrão da média.

1 Universidade Federal de Lavras/UFLA, Departamento de Ciência do Solo/DCS, Lavras, MG.


2 Purdue University, Department of Agricultural and Biological Engineering, West Lafayette, Indiana, USA.

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


i-----------------------=; pAiNEL AGRONOMICO '=

PLANTIO DIRETO DO ALGODOEIRO AUMENTA REMOÇÃO DA PALHA DE CANA-DE-AÇÚCAR PODERÁ


O TEOR DE CARBONO E DE NITROGÊNIO NO GOLO DOBRAR A DEMANDA DE EERTILIZANTEG EM 2050

O cultivo do algodoeiro em sistema plantio direto Uma pesquisa publicada na Bioenergy Research alerta
aumenta o estoque de carbono no solo, incrementa o teor de que a remoção dos resíduos culturais (palha) da cana-de-
nitrogênio e ainda faz aumentar a produtividade, em compara­ açúcar para a produção de bioenergia (eletricidade ou etanol
ção com o sistema de preparo convencional do solo. Foi o que de segunda geração) pode impactar a demanda de fertilizantes
demonstrou um estudo realizado ao longo de nove anos por do país. Com 10 milhões de hectares, o Brasil é responsável
cientistas da Embrapa Algodão (PB) no Cerrado brasileiro. por cerca de 40% da produção global de cana-de-açúcar, e o
O experimento comparou o sistema plantio direto e o preparo aproveitamento da palha como matéria-prima para a indús­
convencional do solo, com sucessão ou rotação de culturas tria tem se destacado como uma estratégia promissora para
— algodão, soja, milho e braquiária (Urochloa ruziziensis). aumentar a produção de bioenergia e a lucratividade do setor.
Os melhores resul­ “No entanto, a palha tem um papel muito importante
tados foram obtidos para sustentar diversas funções do solo e serviços ecossistê-
no sistema plantio micos associados, incluindo ciclagem de nutrientes e produ­
direto do algodoeiro tividade das culturas”, lembra Maurício Cherubin, professor
em rotação com a do Departamento de Ciência do Solo, da Escola Superior de
soja consorciada com Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq/USP), autor do estudo
braquiária, e com o realizado em colaboração com outros docentes e estudantes.
milho em consórcio Cherubin reforça que a quantidade de nutrientes
com braquiária. exportados via palha deve ser quantificada e adequadamente
Depois de quase uma década, o sistema plantio direto restituída via fertilizantes para evitar a degradação da fertili­
incrementou em 55% o teor de carbono, nos primeiros 5 cm dade do solo e, consequentemente, os impactos negativos na
de profundidade do solo, e em 20% o estoque de carbono na produtividade das plantas ao longo do tempo. Os resultados
camada até 40 cm de profundidade. “Essa taxa de aumento revelaram que a exportação potencial de nutrientes via palha
do carbono no solo é quase cinco vezes maior do que a meta atingiu, em média, 69 kg ha1 de N, 7 kg ha1 de P e 92 kg ha1
mundial proposta pela iniciativa ‘4 por 1.000’, apresentada de K por ano, representando um custo adicional com fertili­
durante a 21a Conferência das Nações Unidas sobre as zantes de US$ 90 por hectare.
Mudanças do Clima (COP21). Isso mostra o potencial do “A análise dos cenários indicou que o consumo de
cultivo do algodoeiro em sistema plantio direto para contri­ fertilizantes NPK pela cultura da cana-de-açúcar na região
buir com os compromissos assumidos pelo Brasil com vários Centro-Sul do Brasil tem aumentado na taxa de 46,5 mil tone­
outros países em prol da redução do aquecimento global”, ladas por ano nos últimos 30 anos, totalizando 1,75 milhões
avalia o pesquisador da Embrapa Alexandre Cunha de Bar- de toneladas em 2016, o que representa 11,6% do consumo
cellos Ferreira, que coordenou o estudo. total de fertilizantes no país”.
O sistema conservacionista de preparo do solo também Se mantida essa mesma tendência, as projeções indi­
resultou em acúmulo de nitrogênio e em ganhos na produti­ caram que o consumo de fertilizantes pela cana-de-açúcar
vidade da fibra de algodão. O teor de nitrogênio no solo em crescerá cerca de 80% em 2050, mesmo sem remoção de palha.
sistema plantio direto, nos primeiros 5 cm, foi 50% maior do “No entanto, se os nutrientes exportados via palha forem cor­
que os teores encontrados nos demais sistemas. Já a produti­ retamente repostos, este consumo em 2050 será muito maior,
vidade registrada foi cerca de 10% maior e tem potencial de representando incremento adicional de 14 e 28% nos cenários
aumentar até 30%. de remoção menos intensivos, os quais preveem a manutenção
Nos últimos sete anos do estudo, após a consolidação das folhas verdes (mais ricas em NPK) no campo e a remoção
dos sistemas de cultivo e manejo do solo, a produtividade apenas das folhas secas”, pondera Cherubin. Por outro lado,
total de fibra foi de 13.958 kg ha1 no sistema plantio direto, a adoção do cenário mais drástico (remoção total), poderá
enquanto no monocultivo com preparo convencional do solo duplicar a demanda de fertilizante NPK em 2050, comparado
foi de 12.698 kg ha’1. “No sistema plantio direto houve o com o manejo sem remoção. “Neste cenário, o consumo de
incremento na produtividade de fibra de 1.260 kg ha1, o que fertilizantes fosfatados poderá aumentar 25%, enquanto o de
equivale praticamente a uma nova safra”, observa Ferreira fertilizantes nitrogenados e potássicos mais do que duplicará
(EMBRAPA Notícias). (126% e 147%)”, aponta o docente. (ESALQ Notícias)

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


/f--------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- X\

CURSOS, SIMPOSIOS E OUTROS EVENTOS

1. SHOWTEC 7. X SIMPÓSIO BRASILEIRO DE EDUCAÇÃO EM


SOLOS
Local: Estrada da Usina Velha, km 2, Maracaju, MS
Data: 22 a 24/JANEIRO/2020 Local: Campus UNIVASF, Juazeiro, BA
Informações: Fundação MS Data: 16 a 20/JUNHO/2020
Telefone: (67) 3454-2631 Informações: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
Website: http://www.portalshowtec.com.br Email: sbcs@sbcs.org.br
Website: https://www.sbcs.org.br

2. 7o INTERNATIONALTEMPERATE RICE
CONFERENCE 8. 2o SIMPÓSIO NACIONAL DA AGRICULTURA
DIGITAL - MANEJO EFICIENTE NO CAMPO
Local: Embrapa Clima Temperado, Pelotas, RS
Data: 9 a 12/FEVEREIRO/2020 Local: ESALQ/USP, Piracicaba, SP
Informações: Embrapa Clima Temperado Data: 9 e 10/JULHO/2020
Email: andre.andres@embrapa.br Informações: FEALQ
Website: http://www.itrconference2020.com Email: cdt@fealq.com.br
Website: https://fealq.org.br

3. IV CURSO: TECNOLOGIA DE PRODUÇÃO DE


SEMENTE DE SOJA 9. IV SIMPÓSIO DESAFIOS DA FERTILIDADE DO
SOLO NA REGIÃO DO CERRADO
Local: Hotel Crystal, Londrina, PR
Data: 30/MARÇO a 3 ABRIL/2020 Local: Centro de Convenções de Goiânia, GO
Informações: Embrapa Soja Data: 22 e 23/JULHO/2020
Email: cnpso.cursosementes@embrapa.br Informações: GAPE
Website: http://www.embrapa.br Fone: 3417-2138
Website: https://www.simpcerrado.com

4. FEIRA INTERNACIONAL DA IRRIGAÇÃO 10. FERTBIO 2020


BRASIL 2020
Local: Centro de Convenções da UFAC, Rio Branco, AC
Local: Royal Palm Hall, Campinas, SP Data: 10 e 14/OUTUBRO/2020
Data: 31/MARÇO a 2/ABRIL/2020 Informações: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
Informações: Secretaria Executiva Email: sbcs@sbcs.org.br
Email: comercial@feiradeirrigacao.com.br Website: https://www.sbcs.org.br
Website: https://www.feiradeirrigacao.com.br

11. 5o CONGRESSO NACIONAL DAS MULHERES


5. AGRISHOW 2020
DOAGRONEGÓCIO
Local: Rodovia Prefeito Antônio Duarte Nogueira, km 321,
Local: Transamerica Expo Center, São Paulo, SP
Ribeirão Preto, SP
Data: 27 e 28/OUTUBRO/2020
Data: 27/ABRIL a l/MAIO/2020
Informações: Secretaria Executiva
Informações: Secretaria Executiva
Email: contato@mulheresdoagro.com.br
Email: agrishow@feirasecongressos.com.br
Website: http://www.mulheresdoagro.
Website: https://www.agrishow.com.br
com.br

6. 46a EXPOCITROS 2020 12. XII REUNIÃO DE MANEJO E CONSERVAÇÃO


DO SOLO E DA ÁGUA
Local: Centro de Citricultura Sylvio Moreira,
Cordeirópolis, SP Local: Casa Garcia, Uberlândia, MG
Data: 1 e 4/JUNHO/2020 Data: 22 a 26/NOVEMBRO/2020
Informações: Secretaria Executiva Informações: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo
Email: eventos@ccsm.br Email: sbcs@sbcs.org.br
Website: http://www.ccsm.br Website: https://www.sbcs.org.br

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


EVENTOS DO IPNI

SIMPÓSIO
OTIMIZANDO A PRODUTIVIDADE EM
SISTEMAS DE PRODUÇÃO SOJA-MILHO

Local: Ciudad dei Este, Paraguai Informações: Nutrição de Plantas Ciência e Tecnologia - NPCT
Data: 6 e 7 de Maio de 2020 Contato: Elisangela Toledo
Inscrições: Somente através do website da NPCT: Telefone: (19) 3433-3254
https://www.npct.com.br/conference/sojamilho2020 Email: EToledo@npct.com.br

PROGRAMA PREUMIWAR

6/MAIO/2020 - QUARTA-FEIRA 7/MAIO/2020 - QUINTA-FEIRA

MÓDULO 1 -PARA INÍCIO DE CONVERSA! MÓDULO 3 -PROTEÇÃO DAS PLANTAS E MINIMIZA-


Moderador: Dr. André Vinícius Zabini, Agronómico do ÇÃO DO ESTRESSE: SEM ISTO BEM FEITO
Paraguai TAMBÉM NÃO DÁ!
Moderador: Em definição
09:00-09:20 h Abertura do evento. Agronómico do Paraguai,
NPCT e Convidados 08:00-08:40h Palestra 8: Manejo inteligente de ervas daninhas.
Dr. Jamil Constantin, UEM
09:20-09:40 h Palestra 1: Agricultura com base em evidências.
Dr. Luís I. Prochnow, NPCT 08:40-09:20 h Palestra 9: Manejo inteligente de nematoides.
Dr. Jaime Maia dos Santos, UNESP Jaboti-
09:40-10:20 h Palestra 2: Ambientes de produção. Dr. Jairo cabal
Antonio Mazza, Consultor
09:20-10:00 h Palestra 10: Uso eficiente de defensivos agrí­
10:20-10:50 h Coffee break colas visando o controle de pragas e doenças.
Dr. Hamilton Humberto Ramos, IAC
10:50-ll:30h Palestra 3: Do monocultivo aos sistemas inte­
grados de produção. Eng. Agr. José Eduardo de 10:00-10:30h Coffee break
Macedo Soares Jr, Agricultor
11:30-12:20 h Debate 10:30-11:10 h Palestra 11:0 que podemos fazer para minimi­
zar o estresse relacionado a fatores climáticos.
Dr. Evandro Binotto Fagan, UNIPAM
MÓDULO 2 - MANEJO DO SOLO: SEM ISTO BEM
FEITO NÃO DÁ! 11:10-12:00 h Debate

Moderador: Eng. Agr. MSc Ronaldo Friedrich, Genial


MÓDULO 4 - PRESTA ATENÇÃO NOS PROFISSIONAIS
14:00-14:40 h Palestra 4: Manejo das propriedades físicas E NO MERCADO
do solo. Cássio Antonio Tormena, UEM
Moderador: Dr. Luis I. Prochnow, NPCT
14:40-15:20 h Palestra 5: Manejo da acidez no perfil do solo.
Dr. Eduardo Fávero Caires, UEPG 14:00-15:30 h Mesa redonda. Agrônomos convidados

15:20-16:00 h Palestra 6: Nutrição e adubação da soja. 15:30-16:30 h Palestra 12: Tendência de mercado futuro para
Dr. Fernando Garcia, Consultor soja e milho. Eng. Agr. MSc Cleber Vieira, Agro-
consult
16:00-16:30 h Coffee break
16:30-16:45 h Encerramento. NPCTe Agronómico do Paraguai
16:30-17:10 h Palestra 7: Nutrição e adubação do milho.
Dr. Hugo Abelardo Gonzáles Villalba, Dekalpar

17:10-18:00 h Debate

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


PUBLICAÇÕES RECENTES
\S -S/

1. RECUPERAÇÃO DE PASTAGENS DEGRADADAS 3. COLEÇÃO 500 PERGUNTAS 500 RESPOSTAS:


NA AMAZÔNIA SOJA

Editores: Dias-Filho, M. B. e Andrade, C. M. S.; 2019. Editores: Oliveira, A. B. et al.; 2019.


Conteúdo: Breve histórico das pesquisas em recuperação Conteúdo: Origem e evolução; Estruturas da planta e fases
de pastagens degradadas na Amazônia; pro­ de desenvolvimento; exigências climáticas;
cessos e causas de degradação de pastagens na genética e melhoramento; cultivares; manejo
Amazônia; opções de forrageiras para pasta­ do solo; calagem e adubação; fixação biológica
gens na Amazônia; convivendo com a síndrome de nitrogênio; sistemas de produção; semea­
da morte do braquiarão na Amazônia; manejo dura; manejo de plantas daninhas; manejo de
da fertilidade do solo na reforma e recuperação pragas; manejo de doenças; colheita, beneficia-
de pastagens na Amazônia; manejo de plantas mento e armazenamento; produção de semen­
daninhas em pastagens na Amazônia; manejo tes; soja na alimentação; agroindustrialização;
de insetos-praga em pastagens na Amazônia; soja orgânica; aspectos econômicos.
técnicas de reforma de pastagens degradadas Preço: R$ 30,00
na Amazônia; integração lavoura-pecuária para Número de páginas: 274
recuperar pastagens na Amazônia; aspectos Editora: Embrapa Soja
econômicos da recuperação de pastagens na Website: https://www.embrapa.br/livraria
Amazônia; principais forrageiras disponíveis
no Brasil.
Preço: R$ 40,00 4. DA ROCHA AO SOLO: ENFOQUE AMBIENTAL
Número de páginas: 443
Autores: Resende, M.; Curi, N.; Rezende, S. B.; Silva,
Editora: Embrapa Amazônia Oriental
S. H. G.; 2019.
Website: https ://www.embrapa.br/livraria
Conteúdo: Terra e tempo geológico; América do Sul e
Brasil; mudanças climáticas; minerais, rochas
e seu ciclo; rochas: pedologia e ambiente;
2. CONHECIMENTOS PRÁTICOS SOBRE CLIMA pedogênese e erosão; radiação, água e nutrien­
E IRRIGAÇÃO tes; paisagens: cortes e sequências; questões e
cálculos; perguntas para reflexão.
Autor: Antônio Tubelis; 2019. Preço: R$ 95,00
Conteúdo: O livro ensina, de forma didática, a medir a Número de páginas: 512
temperatura do ar, a quantidade de chuva, e Editora: Editora UFLA
como processar, representar e analisar estas Website: http://www.livraria.editora.ufla.br
informações. A obra é uma fonte riquíssima
de informações, dados, cálculos, gráficos e
tabelas para melhor utilizar os instrumentos
5. MANEJO E CONSERVAÇÃO DO SOLO E DA ÁGUA
climáticos. A obra é essencial para engenheiros
agrônomos, agrimensores, técnicos agrícolas, Autores: Bertol, I.; de Maria, I. C.; Souza, L. da S.; 2019.
geógrafos, estudantes dessas áreas e produtores Conteúdo: O livro apresenta o manejo, controle da erosão
rurais que se interessam por conhecimentos e e conservação do solo e da água nos principais
anotações meteorológicas. O livro traz ainda ambientes de cultivo brasileiros. São 42 tópi­
um guia atualizado de compras de instrumentos cos abordados por 156 profissionais altamente
meteorológicos para auxiliar quem pretender qualificados, conhecedores da diversidade dos
instalar uma estação meteorológica em sua solos e dos manejos em todo o país e compro­
propriedade. metidos com a sustentabilidade destes solos.
Preço: R$ 45,50 Preço: R$ 280,00
Número de páginas: 243 Número de páginas: 1355
Editora: Aprenda Fácil Editora: Sociedade Brasileira de Ciência do Solo - SBCS
Website: https://www.afe.com.br Website: http://www.sbcs.org.br

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


PUBLICAÇÃO DO IPNI/NPCT

ARNALDO AMTONIO RODtLLA

requisitos de
qualidade dos
FERTILIZANTES MINERAIS

Autor: Arnaldo Antonio Rodella; 2018.


Conteúdo: O presente livro oferece uma visão abrangente sobre os
requisitos de qualidade dos fertilizantes minerais sólidos.
Para tanto, são considerados os fundamentos básicos, os
métodos de determinação e, sempre que possível, o emprego
desses parâmetros em pesquisas envolvendo a qualidade dos
fertilizantes.

Preço: R$ 160,00

Número de páginas: 226

Pedidos: NPCT
Website: https://loja.npct.com.br

41
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019
Ponto de Vista

SISTEMAS DE PRODUÇÃO SUSTENTÁVEIS

Luís Ignácio Prochnow

ste número do Jornal Informações Agronômicas poderia ter grande chance de ser bem-sucedido por longo

E é especial, trazendo artigos importantes sobre


sustentabilidade dos sistemas de produção.
Sabe-se que a agricultura é um processo em evolução,
e que poderá sempre ser aprimorado. Durante muito tempo
tempo. Assim, a adoção de sistemas de produção mais com­
plexos, com a inclusão de várias espécies, é, de certa forma,
o resgate, mesmo que parcial, de um sistema natural, mais
diverso e mais eficiente.
foram utilizadas práticas de manejo visando obter a máxima É com orgulho que observamos a pesquisa no Brasil
produtividade das culturas, sem prestar adequada atenção à liderando esforços no sentido de criar várias alternativas
saúde do sistema ao longo do tempo. No início, o sistema interessantes para diferentes sistemas de produção, com
mostrava-se produtivo, porém, devido ao emprego de práticas diversificação adaptada às regiões e às situações edafoclimá-
de produção fundamentadas no monocultivo ou em rotações ticas. O emprego racional de técnicas agrícolas modernas está
simples de culturas, e com o revolvimento constante do solo, aumentando a produtividade e, ao mesmo tempo, melhorando
este tipo de agricultura tomou-se insustentável.
a fertilidade do solo e protegendo o ambiente, o que corres­
A natureza, por si só, mistura as espécies, e normal­ ponde ao objetivo sustentável.
mente há várias delas em uma mesma área. Assim, o cultivo
Com estes artigos esperamos contribuir para o avanço
de uma única cultura em uma mesma área durante várias
cada vez mais significativo dos sistemas de produção inteli­
safras pode provocar a queda de produtividade, pois favorece
gentes no Brasil. Sabemos que é uma singela contribuição,
o desenvolvimento de pragas, doenças e plantas daninhas,
mas trata-se da transferência de conhecimento e de tecnolo­
bem como a degradação física, química e biológica do solo.
Além disso, o plantio convencional, envolvendo aração, gias que devem nortear os agricultores no caminho da maior
gradagem e demais atividades de movimento do solo, conduz sustentabilidade na atividade agrosilvopastoril.
a uma série de danos ao ambiente, salientando-se o elevado Com os votos de um excelente ano de 2020 a todos
índice de erosão e empobrecimento do solo, o que não aqueles de boa vontade para com o nosso setor!

NUTRIÇÃO DE PLANTAS CIÊNCIA E TECNOLOGIA


Avenida Independência, n° 350, Edifício Primus Center, sala 141A

NPCT^P
Fone/Fax: (19)3433-3254 - CEP 13419-160 - Piracicaba (SP) - Brasil

LUÍS IGNÁCIO PROCHNOW - Diretor Geral, Eng° Agr°, Doutor em Agronomia


E-mail: LProchnow@npct.com.br
Nutrição de Plantas
Ciência e Tecnologia EVANDRO LUÍS LAVORENTI - Diretor de TI, Analista de Sistemas
E-mail: Elavorenti@npct.com.br

*••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••••*

INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS NPCT N° 4 - DEZEMBRO/2019


K£p potÕFÕS ENCARTE TÉCNICO

SISTEMAS DE CULTIVO
E DINÂMICA DA MATÉRIA ORGÂNICA
Lucien Séguy1
Serge Bouzinac2
Angelo Carlos Maronezzi3

os teores de matéria orgânica dos solos (CAMBARDELLA &


1. INTRODUÇÃO ELLIOT, 1994; DICK et al., 1998; BAYER et al., 2000; SÁ et al.,
2000a,b).
o início deste novo milênio, a agricultura mundial Se estes resultados do Plantio Direto, já confirmados em

N deverá efetuar uma verdadeira revolução para se


adaptar, simultaneamente, à globalização dos mer­

que exigem produtos sadios e de qualidade, e a dos pesquisadores


longos períodos, são animadores e nos tranqüilizam quanto ao fu­
turo do planeta pela sua capacidade de produzir mais, sustentável­
cados e do conhecimento, à pressão crescente dos consumidores
mente e a um custo menor, poluindo menos (ELLIOT et al., 1989;
REICOSKY et al., 1995), eles ainda se revelam insuficientes para
e da sociedade civil em geral para a salvaguarda do planeta. bem explicitar cientificamente e dominar na prática a dinâmica do
As estratégias e os modelos de desenvolvimento terão de carbono em função da natureza dos sistemas de cultivo praticados,
levar em conta a necessidade de produzir mais por unidade de re­ e principalmente para construir os sistemas conservadores de ama­
cursos naturais, e assim sendo, será imperativo reduzir e até supri­ nhã, os quais deverão ser ainda mais atuantes a esse respeito, sa­
mir os efeitos negativos provocados pela atividade agrícola na na­ tisfazendo também os “pré-requisitos” da agricultura sustentável e
tureza. Atualmente, estimativas oriundas de pesquisas recentes os objetivos dos agricultores.
(LAL et al., 1995; IPCC, 1996) evidenciam que o volume de CO2 emi­ Há mais de 20 anos no Brasil, mais de 15 anos na ilha da
tido do planeta para a atmosfera contribui com 50% para o efeito Réunion, mais de 10 anos em Madagascar e mais recentemente na
estufa e que a atividade agrícola representa mais de 23% do CO2 Ásia (Vietnam e Laos), o CIRAD constrói, com seus parceiros de
total emitido. pesquisa e de desenvolvimento no Sul, diversos sistemas de culti­
Se esta revolução ainda está por acontecer no planeta, na vo em Plantio Direto4 que devem responder a essas exigências.
última década do século passado surgiu, sob a pressão das catás­ O presente trabalho reúne, de modo muito sintético5, os prin­
trofes ecológicas mundiais repetidas, uma consciência coletiva em cipais resultados desta construção da Pesquisa-Ação conduzida
favor da proteção do meio ambiente. A agricultura conservacionista pelo CIRAD-CA e contempla sucessivamente:
já tem realizado, a este respeito, uma verdadeira revolução nas prá­
• A apresentação de nossa metodologia geral de interven­
ticas e nos espíritos, particularmente no continente americano, e
ção nos sistemas de cultivo, que atua em ligação direta no ambiente
sobretudo no Brasil, que constitui o exemplo mais significativo,
e com a participação efetiva dos atores do desenvolvimento;
através do desenvolvimento exponencial da gestão dos solos e
das unidades de paisagem em Plantio Direto. • A análise das tendências evolutivas da matéria orgânica
em função da natureza dos sistemas de cultivo existentes e dos
No continente americano, atual sede desta revolução agrí­
sistemas inovadores e preservadores do meio-ambiente. Os resul­
cola (EUA e sobretudo Brasil e países do Cone Sul), inúmeros tra­
tados são discutidos e comparados com os obtidos em outras gran­
balhos de pesquisa conduzidos em eco e agrossistemas muito con­
des eco-regiões do mundo, principalmente nos EUA, em clima tem­
trastados com modos de gestão de longo prazo, mostram que, tan­
perado, e no Brasil, em clima subtropical;
to sob clima temperado quanto tropical ou subtropical, os sistemas
praticados em Plantio Direto4, sem jamais preparar o solo, compara­ • A avaliação das performances agronômicas, técnicas e
dos aos mesmos sistemas de cultivo usando as diversas técnicas econômicas dos sistemas de cultivo, e sua evolução no decorrer do
convencionais de preparo do solo, permitem aumentar notavelmente tempo. Os resultados dos melhores sistemas apropriáveis são con­

1Eng°Agr3 do CIRAD-CA, sediado em Goiânia-GO, coordenador da Rede Plantio Direto do Programa GEC. Telefone: (62)280-6286. E-mail: lseguy@zaz.com.br
2 Eng° Agr° do CIRAD-CA, trabalha em equipe com L. Séguy no Brasil e na Rede Plantio Direto GEC. E-mail: lseguy@zaz.com.br
3 Eng° Agr° e diretor da empresa de pesquisa privada AGRONORTE, Sinop-MT, parceiro do CIRAD-CA/GEC. Telefone: (65) 515-8383. E-mail:

agronort@terra.com.br
4 O Plantio Direto (PD) é um sistema conservacionista de gestão dos solos e das culturas no qual a semente é colocada diretamente no solo. Somente
um pequeno buraco ou um sulco é aberto, de profundidade e largura suficientes, com implementos concebidos para este fim, para garantir uma boa
cobertura e um bom contato da semente com o solo. A eliminação das invasoras, antes e depois do plantio, durante o cultivo, se faz com herbicidas,
os menos poluentes possíveis para o solo, que deve sempre permanecer coberto.
5 Para mais informações, o leitor poderá consultar o Dossiê “ Sistemas de cultivo e dinâmica da matéria orgânica” de L. Séguy, S. Bouzinac e A.C.
Maronezzi, 2001. 203p. (Documento Interno CIRAD-CA).
34398 - Montpellier Cedex 5 França, 2001.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 1


frontados com sua capacidade em seqüestrar o carbono e em con­ longo prazo, com uso mínimo de insumos, até sem nenhum, num
servar o potencial produtivo do patrimônio solo a médio prazo e ao ambiente totalmente protegido (Escalas das unidades de paisa­
menor custo. gem, dos “terroirs ”6).
Levando em consideração os inúmeros resultados já acu­ Simultaneamente, e num enfoque holístico e heurístico, es­
mulados no que diz respeito às performances dos sistemas de cul­ tes objetivos são:
tivo na “Rede Plantio Direto do CIRAD-CA”, só trataremos neste • construir, com os agricultores, soluções práticas e apro­
trabalho de alguns exemplos mais destacados nos planos ecológi­
priáveis para vencer os obstáculos à fixação das agriculturas tropi­
cos e sócio-económicos que tiveram comprovação efetiva, e que
cais sustentáveis (critérios dos produtores, dos extensionistas e
alimentam ativa e significativamente a difusão e a apropriação pe­
dos pesquisadores)',
los agricultores dos sistemas de cultivo preservadores do meio-am-
biente. • explicar e modelar o funcionamento dos agrossistemas
cultivados, sustentáveis, para poder adaptá-los logo para outros
eco e agrossistemas tropicais;
2. MATERIAIS E MÉTODOS • analisar e avaliar preventivamente seus impactos: na evo­
lução da fertilidade dos solos na escala das unidades de paisagem
O método de Pesquisa-Ação utilizado, chamado de “Cria­ representativas dos “terroirs” e das microbacias, no comportamen­
ção-Difusão”, faz parte dos modelos de pesquisa fundamentados to dos agricultores e das sociedades rurais.
na experimentação em meio real (SÉGUY, 1994; SÉGUY et al., 1996;
TRIOMPHE, 1989) (Figura 1). 2.1. CRIAÇÃO DA OFERTA TECNOLÓGICA ‘‘Sistemas
Partindo de várias situações pedoclimáticas e sócio-econó­ de cultivo” COM OS PRODUTORES
micas regionais (diagnóstico inicial, tipologia das fazendas que A pesquisa-ação cria, em cada grande eco-região, com seus
levam à análise dos maiores fatores limitantes para a fixação de parceiros de desenvolvimento (agricultores, extensionistas), um du­
agriculturas sustentáveis), a pesquisa-ação consiste essencial­ plo dispositivo operacional com vocações complementares:
mente em adaptar, construir, para e com os agricultores, nos seus
ambientes, sistemas de cultivo sustentáveis baseados em técnicas • Algumas unidades experimentais “sistemas de cultivo”,
de gestão conservacionistas dos solos, facilmente apropriáveis pe­ geridas em meio real controlado pela pesquisa e pelos agricultores
los produtores. Em primeiro lugar, estes sistemas devem melhorar, - representam as vitrinas da oferta tecnológica (matrizes dos siste­
restaurar e, em seguida, manter o potencial produtivo do solo a mas)',

FIGURA 1. PESQUISA-AÇÃO PARA, COM E NAS FAZENDAS DOS AGRICULTORES


FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA-GEC, 1997

nquetes
agnósti CO

k rápido

I
• Tradução das inovações
em técnicas praticáveis
• Reprodutibilidade

I
Exercício operacional
real em real grandeza
Sistemas de Criação-difusão-formação
Pesquisa-ação, participativa Matriz modelada dos
cultivo sistemas de cultivo
dos agricultores Funções essenciais perenizados:
*
| REFERÊNCIA, - Oferecer escolha de sistemas • Atuais
Estados do meio: diferenciados • Futuros possíveis
- Físico - Produzir conhecimentos
- Antecipar o desenvolvimento | MODELAGEM |
- Sócio-econômico ^-Treinar os atores • Praticabilidade Funcionamento
• Tecnicidade *
dos sistemas
• Economicidade
1 HIERARQUIZAÇÃO 1
dos componentes
dos sistemas

Acopladas com pesquisasA


V em laboratório f

Definição de “terroirs”: conjunto de parcelas homogêneas caracterizadas por uma mesma estrutura e uma mesma dinâmica ecológica (agrossistema)
assim como pelo mesmo tipo de aproveitamento e instalações agrícolas (G. Duby, A. Vallon).

2 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


• Várias fazendas de referência, em meio real, onde são • Um lugar de ação, de criação da inovação e de formação dos
aplicados, em grande escala, um ou vários sistemas de cultivo pro­ atores, no qual a montagem matricial dos sistemas permite avaliar
cedentes das unidades, escolhidos pelos produtores que os apli­ suas performances agronômicas, técnicas e econômicas, comparadas
cam integralmente ou os readaptam em função de seus próprios nas mesmas condições de solo e clima, e classificá-los no decorrer do
objetivos. Este conjunto constitui um dispositivo de intervenção tempo (respostas de sua estabilidade ou flutuações em relação aos
multilocal de longa duração que abrange as variabilidades riscos climático ou econômico); enfim, extrair as leis de funcionamen­
pedoclimática e sócio-econômica regional (Figura 2). to dos sistemas (condições de reprodutibilidade e modelagem);
• Um laboratório de vigilância, precioso para os cientistas,
Os sistemas de cultivo (tradicionais + inovadores) estão
permitindo avaliar, de modo antecipado em relação à adoção dos
organizados e modelados em “matrizes dos sistemas”, sobre topo-
sistemas pelos agricultores, seus impactos no meio ambiente (ero­
seqüências representativas do meio físico e da paisagem agrícola.
são, qualidade biológica dos solos, externalidades, xenobióticos)
Partindo dos sistemas tradicionais, os novos sistemas são elabora­
[conceitos de CHAUSSOD, 1996]. Portanto, trata-se de um lugar
dos por incorporação progressiva, sistemática e controlada de fa­
privilegiado para confrontar performances de produção dos siste­
tores de produção mais performantes (modos de gestão dos solos e
mas com seus modos de funcionamento e impactos ambientais den­
das culturas, produtos temáticos tais como variedades, níveis de
tro de um enfoque preventivo que oferece soluções reais aos agri­
adubação - Figura 3).
cultores e às autoridades, a fim de conciliar as exigências da socie­
A construção das matrizes “sistemas de cultivo” obedece a dade civil (impactos ambientais) e os objetivos dos produtores
regras precisas (SÉGUY, 1994; SÉGUY et al., 1996), que permitem a (produtividades dos sistemas, do trabalho, das margens, etc.);
interpretação dos efeitos diretos e acumulados dos componentes
• Manutenção da memória viva = os sistemas tradicionais e
dos sistemas no decorrer do tempo, tanto nas suas performances
suas evoluções estão perenizados para medir os progressos con­
de produção quanto nos seus impactos na fertilidade dos solos, na
seguidos no decorrer do tempo (performances agronômicas e téc-
biologia das invasoras ou das pragas, etc.
nico-econômicas, impactos ambientais). Da mesma forma, os sis­
As matrizes “sistemas de cultivo” e a rede multilocal de temas mais destruidores do recurso-solo devem estar presentes
fazendas de referência constituem os suportes operacionais do durante todo o estudo - eles são as testemunhas vivas do que não
estudo; estes dispositivos experimentais, de longa duração, repre­ se deve fazer, e são imprescindíveis para a formação da memória
sentam ao mesmo tempo: viva (cronoseqüências de evolução dos sistemas controlados).

FIGURA 2. ENFOQUE DA PESQUISA-AÇÃO PARA, COM E NAS PROPRIEDADES DOS AGRICULTORES


■ NÍVEIS DE ESCALAS E FUNÇÕES -

í Toposeqüências representativas A MEIO CONTROLADO


matriz perenizada dos • Representatividade dos fluxos
V sistemas de cultivo y • Local de criação, de treinamento
• Local de avaliação comparada
dos sistemas
( "X
• Laboratório de vigilância
Recuperação científica:
externalidades - Avaliação antecipada dos
impactos ambientais,
- Modelagem do funcionamento
dos sistemas.
• Manutenção memória viva,
• Aprendizagem do domínio
prático e técnico das inovações
Repetições de 2 sistemas
(gradiente fertilidade)

MEIO REAL
• Validação x ajustes
dos sistemas
• Levarem conside­
ração limitações
sócio-econômicas
• Formação dos atores

Contribuição a:
(*) TERROIR: Conjunto de parcelas homogêneas
- Adoção,
caracterizadas por uma mesma estrutura e uma mesma
dinâmica (agrossistema), assim como o mesmo tipo de - Organização dos
aproveitamento e instalação agrícola. agricultores

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; A. C. Maronezzi, AGRONORTE, Sinop/MT - 1978/2000

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 3


do tempo), e a comprovação do fechamento do sistema
FIGURA 3. METODOLOGIA DE ESTUDO DO “solo-cultura” (SÉGUY et al., 1996), sem perda de nutrien­
FUNCIONAMENTO DOS SISTEMAS DE CULTIVO tes, graças aos sistemas de cultivo em Plantio Direto con­
duzidos com um baixo nível de adubação, que só repõe as
MODELAGEM DOS SISTEMAS DE CULTIVO MATRIZ exportações de nutrientes pelos grãos.
PERENIZADA DOS SISTEMAS EM AMBIENTES ECOLÓGICOS
DIVERSIFICADOS, CONTROLADOS E REAIS (Unidades de ♦ A influência preponderante e capital da gestão prioritária
paisagem representativas) das propriedades físicas e biológicas (estreitamente li­
(modos de gestão do solo)-------- (níveis de adubação gadas) sobre as performances agronômicas dos sistemas
de cultivo no decorrer do tempo, em relação às das proprie­
Técnicas de ontem, destruidoras dades químicas nos solos tropicais (latossolos dominan­
(preparo do solo) tes, mais ou menos degradados).
Técnicas de hoje,
restauradoras e mantenedoras 1 - Atual
da fertilidade (Plantio direto - (referência) CONTEÚDO DAS MATRIZES “Sistemas de cultivo”
sucessões anuais)
PERENIZADAS:
Técnicas de amanhã mais X 2 - Potencial
performantes (Plantio direto -
Elas reúnem na mesma unidade experimental e nas mes­
integração agricultura-pecuária) -
Performances agronômicas
3 ■ = Exportações mas condições pedoclimáticas:
pelos grãos
e técnico-econômicas
• O/os sistemas tradicionais representativos da região;
(Relação custo/benefício)

• Sistemas inovadores, preservadores do meio ambiente em


constante evolução, que usam novas técnicas de Plantio Direto,
ACOMPANHAMENTO-AVALIAÇÃO OBSERVATÓRIO
NO DECORRER DO TEMPO PERMANENTE inspirados diretamente no funcionamento do ecossistema florestal:
o plantio direto sobre cobertura permanente do solo (SÉGUY et al.,
Análise da 1996).
estabilidade
interanual e a Três grandes tipos de sistemas de cultivo foram elaborados
longo prazo pelo CIRAD-CA inspirados no ecossistema florestal (vide Figuras
4 8 a 10):
Sistemas
abertos ou • Nas coberturas mortas,
fechados
• Nas coberturas vivas,
FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD CA-GEC; Goiânia, GO -1998 • Nas coberturas com vocação mista.

Nos sistemas com cobertura morta permanente, a cobertu­


• Um viveiro de sistemas de cultivo que reúne a agricultura ra provêm, além dos resíduos de colheita das culturas comerciais,
de ontem (compreparo do solo), a agricultura de hoje (as culturas de uma cultura de biomassa vegetal (espécie com a vocação de
dos agricultores conduzidas em Plantio Direto) e a agricultura de produção de grãos ou forrageira, ou ambas associadas), extrema­
amanhã (sistemas em plantio direto construídos com maior diver­ mente potente, implantada antes ou depois da cobertura comercial,
sidade de culturas, com integração da agricultura com a pecuá­ em condições pluviométricas freqüentemente aleatórias (Figura 4).
ria e com recolocação das árvores no espaço cultivado). Esta forte biomassa é dessecada com herbicidas logo antes do plantio
direto da cultura comercial, o qual se realiza na cobertura graças a
Todos estes sistemas de cultivo são conduzidos com três plantadeiras especialmente concebidas para este fim.
níveis de adubação (Figura 3):
Nos sistemas com cobertura viva permanente, é utilizada
• A adubação tradicional, ou recomendada pela pesquisa sempre uma espécie forrageira perene através de órgãos de multi­
ou pela extensão, ou a que é usada pela maioria dos agricultores da plicação vegetativa (estolões, rizomas). A cultura comercial é im­
região, plantada na cobertura em que somente a parte aérea foi dessecada
(preservando totalmente os órgãos de reprodução vegetativa com
• Um nível baixo de adubação, que corresponde, a grosso
herbicidas idôneos, baratos e pouco poluidores). A cobertura é
modo, só ao exportado pelos grãos das culturas,
mantida viva, mas não compete com a cultura comercial (com ajuda
• Uma adubação não limitante (expressão do potencial de herbicidas seletivos, usados em baixíssima dosagem), até que a
agronômico na oferta pedoclimática local). cultura comercial, gerida para este fim, assegure um sombreamento
total acima dela. Quando a cultura comercial amadurece, ela deixa a
• Estes três níveis de adubação, combinados aos modos luz penetrar, e a cobertura viva volta a crescer cobrindo logo o solo,
diferenciados de gestão dos solos e das culturas, pode­ e pode ser pastoreada pelos animais após a colheita (sucessões
rão evidenciar, no decorrer do tempo: anuais = produção de grãos + produção de carne ou leite) (Figu­
ra 5).
• A importância das possibilidades de restauração da ferti­
lidade lato sensu pela via organo-biológica (velocidade Os sistemas mistos (Figura 6) são intermediários entre os
de restauração, importância na produtividade de maté­ dois modelos anteriores e são edificados sobre sucessões anuais
ria seca total em função dos níveis de adubação mine­ que incluem: uma cultura comercial + uma cultura de biomassa para
ral, expressão do potencial produtivo do solo no passar produção de grãos consorciada com uma cultura forrageira; por-

4 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


L. Séguy, S. Bouzinac - MT/1993

FIGURA 5. SISTEMAS DE CULTIVO EM PLANTIO DIRETO


SOBRE COBERTURAS VIVAS"’ - PRINCÍPIOS BÁSICOS

1. COBERTURA COM ESTOLÕES E/OU RIZOMAS A

(1) • Gêneros Cynodon (Tifton), Arachis,


Pennisetum, Paspalum, Stenotaphrum,
Axonopus
• Sistemas: Sucessões anuais__________
| Soja, Arroz, Algodão, Milho + Pastagem

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac - CIRAD CA-GEC, 1993/98

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 5


FIGURA 6. SISTEMAS DE CULTIVO EM PLANTIO DIRETO
NAS COBERTURAS VIVAS - PRINCÍPIOS BÁSICOS
2. COBERTURAS CONSORCIANDO BOMBAS BIOLÓGICAS'1’ + BRACHIARIA RUZIZIENSIS
k A

Dessecação: herbicidas de Colheita de Milho, Cobertura


manejo nas rebrotas Sorgo, Milheto,
Herbicida pós-emergente Colheita Brachiaria
g Girassol Stylosanthes
(mínimo ou facultativo) de Soja
(pastoreio
u Plantio direto de
Milho, Sorgo, ou repouso)
Milheto, Girassol
_ Í- -
Brachiaria <
Stylosanthes jM/

oooo

Ciclagem, • Cobertura ativa


estrutura na estação seca
• Resposta ao
fogo

(1) • Bombas biológicas:


Sorgos, Milhetos + Brachiaria
• Sistemas possíveis com Soja,
Arroz de alta tecnologia, Algodão

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac - CIRAD CA-GEC, 1993/98

tanto, colhe-se as duas culturas sucessivas durante a estação chu­ ♦ Seu conteúdo em nutrientes: C N, P, Ca, Mg, K, S e micro-
vosa, e em seguida, durante a estação seca, tem-se uma produção nutrientes.
de carne ou de leite assegurada pela cultura forrageira (Figura 6).
Estas medições são efetuadas sistematicamente:
A duração da estação chuvosa e a importância da pluvio-
metria determinarão as possibilidades de aplicação de um ou outro ♦ antes do plantio direto das culturas comerciais,
tipo de sistema de Plantio Direto com cobertura permanente dos
♦ depois da colheita de grãos, e após a das biomassas de
solos.
cobertura instaladas em safrinha.
2.2. ACOMPANHAMENTO - AVALIAÇÃO E ANÁLISE O registro destes parâmetros informa sobre a dinâmica do
DE IMPACTOS carbono e dos nutrientes procedentes da mineralização das restevas
das culturas comerciais e das biomassas de cobertura oriundas
2.2.1. ACOMPANHAMENTO-AVALIAÇÃO tanto da parte aérea quanto da radicular (funções das coberturas:
alimentar, recicladora e reestruturadora, de recarregamento em
Depende das escalas de intervenção:
carbono).
♦ NA ESCALA DA PARCELA estão avaliadas as performan­
ces comparadas dos sistemas de cultivo com o passar do tempo, em Igualmente são acompanhados, em cada sistema de cultivo,
termos: o parasitismo dos solos e das culturas, e a evolução da flora dani­
nha (função de controle das coberturas).
a) agronômicos: produtividade de matéria seca das culturas
comerciais ou alimentares (biomassas aéreas = grãos + palhas, e b) técnicos = factibilidade (exeqüibilidade) técnica dos sis­
biomassas radiculares) e seus teores em nutrientes; produtividade temas de cultivo, capacidade de trabalho dos equipamentos meca­
das culturas “biomassas de cobertura” ou “bombas biológicas” nizados e da mão-de-obra, sua flexibilidade de uso, sua penosidade.
que desempenham sua multifúncionalidade nos solos e que consti­
tuem o leito no qual efetua-se o plantio direto das culturas comer­ c) econômicos = custos de produção, margens brutas e lí­
ciais. São registrados: quidas, relação custo/beneficio. No caso das agriculturas manuais,
também o número de dias de trabalho e a sua valorização.
• Os rendimentos em matéria seca das partes aéreas e radi­
culares e sua dinâmica de crescimento, O registro desses dados mínimos permite, em todos os casos:

6 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


• classificar os sistemas de cultivo a partir de suas perfor­ mente da dinâmica de colonização radicular (velocidade, caracte­
mances anuais e interanuais, nos planos agronômico, téc­ rísticas de exploração do perfil).
nico e econômico. Análises mais detalhadas, necessárias para quantificar a
• comparar e compreender seus principais modos de funcio­ dinâmica do carbono e dos íons:
namento agronômicos no passar do tempo (relações solo- • dinâmica dos nitratos de Ca e de K (tipo defuncionamen­
culturas), avaliá-los e classificá-los face aos riscos climá­ to do sistema “solo-culturas aberto ou fechado [conceito SEGUY,
ticos maiores. 1996)].

• identificar os sistemas mais estáveis e de menor risco do • propriedades biológicas: caracterização da fauna (macro
ponto de vista da gestão econômica frente às variabilida­ e meso), biomassa microbiana, biomassa microbiana/C, C e N orgâ­
des climáticas e econômicas. nico, dinâmica do C (C13/C12) (CERRI et al., 1985), método do fracio­
namento granulométrico das matérias orgânicas (FELLER, 1995),
índice da atividade biológica global (Bourguignon C., 1995/2000,
• NA ESCALA DA TOPOSEQÜÊNCIA comunicação pessoal).
• Dinâmica da erosão e do escorrimento (qualitativo),
• NAS EXTERNALIDADES
• Avaliação das extemalidades: carga sólida, teores em ni­
tratos, bases, P, moléculas xenobióticas, recuperadas na Na escala de toposeqüências representativas ou parte de
parte “a justante” das toposeqüências (Figura 2). microbacias:

• Manutenção das infra-estruturas: estradas, caminhos, ins­


• NA ESCALA DAS FAZENDAS DEREFERÊNCIAE DOS talações hidráulicas (operações, custos).
“TERROIRS” (meio real)
• Rios, poços, lençóis freáticos: poluição lato sensu (nitra­
• Performances comparadas dos sistemas de cultivo e de tos, pesticidas).
produção a partir dos critérios precedentes: agronômicos, técnicos
e econômicos.
• NA MENTALID ADE DOS AGRICULTORES
• Difusão espontânea dos sistemas de cultivo em Plantio
• Relações com meio-ambiente (replantio de árvores, insta­
Direto (importância, pontos fortes e fracos).
lação de cercas vivas, respeito à fauna)',
• Identificação dos agricultores líderes, formadores de opi­
• Levar em conta a qualidade da produção;
nião (amplificação da difusão).
• Organização da profissão agrícola (clubes e associações
• Modificação dos sistemas de cultivo e de produção, da
de Plantio Direto, outros tipos de organização da produção, do
ocupação do espaço; importância da árvore no espaço cultivado,
crédito, dos insumos);
do pousio.
• Natureza de suas decisões, visão de seu futuro.
• NA ESCALA REGIONAL

• A partir da rede experimental (matrizes + fazendas de refe­ • NA ECONOMIA REGIONAL


rência), criação de referências agronômicas e técnico-econômicas • Continuums produtivos e comerciais por produto, merca­
regionais (banco de dados) sobre os sistemas de cultivo em Plantio dos, transformação dos produtos.
Direto nas coberturas vegetais.
• Redes de abastecimento em fatores de produção, em cré­
• Modelagem do funcionamento comparado dos sistemas ditos.
de cultivo (leis de funcionamento dos agrossistemas e possibilida­
des de extrapolação para demais ecologias). • Lugar da agricultura na economia regional.

2.2.2. ANÁLISE DOS IMPACTOS


2.3. ESCOLHA DAS ECO-REGIÕES

• NO SOLO Dentro deste estudo, três grandes ecologias foram esco­


lhidas a título de exemplos demonstrativos. Elas são muito diferen­
Evolução da fertilidade dos solos (escala das topose­ tes nos planos geomorfológico, pedológico, climático e sócio-eco-
qüências, dos sistemas de cultivo, do ambiente natural)'. nômico, porém, todas foram submetidas a uma erosão intensa quan­
do os solos foram preparados.
Análises de rotina

• Propriedades químicas: pH, S, CTC, P total e trocável (Re­


• Os Trópicos Úmidos (TU) foram representados pela re­
gião das frentes pioneiras do Sul da Bacia Amazônica no Brasil (de
sina), K, Ca, Mg, Al, S e micronutrientes;
11 a 12° de latitude Sul) e a região de Boumango, no Gabão, no
• Propriedades físicas: M.O., N orgânico, propriedades Oeste da África (2 o de latitude N). Elas correspondem ao domínio
hidrodinâmicas = água utilizável, sua velocidade de infiltração sob dos Latossolos sobre rocha ácida, altamente dessaturados, sob
culturas, a tipologia dos agregados e do espaço poral; caracteriza­ clima quente com alta pluviometria anual, com uma ou duas esta­
ção e acompanhamento permanente do perfil cultural e especial­ ções chuvosas, variando entre 2.000 e mais de 3.000 mm, distribuí-

ENC ARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 7


das em 7 a 8 meses. As unidades geomorfológicas mais representa­ nos (localidade de Ibity), ou sobre aluviões lacustres antigos (lo­
tivas são as colinas em meia-laranja, cujo declive vai de 2% até mais calidade de Sambainá), e são geralmente ricos em matéria orgânica
de 6%. Dois grandes ecossistemas estão lado a lado: o das FLO­ de baixíssima atividade. Se a agricultura concentra suas atividades
RESTAS e o dos CERRADOS (savanas). na rizicultura irrigada dos vales de altitude, praticada manualmente
ou com tração animal, a densidade crescente de ocupação dos so­
• Região das FLORESTAS TROPICAIS do Centro-Oeste
los leva à colonização cada vez maior das colinas com fortíssimo
brasileiro (17ode latitude Sul), representativa dos Latossolos Ver­ declive, cobertas de latossolos humíferos fortemente dessaturados;
melho-Escuros eutróficos com fortes potencialidades sobre rochas a agricultura praticada manualmente é de baixíssima produtividade,
basálticas (os “trapps basálticos” cobrem 750.000 km2 no Bra­ sem insumos químicos, os solos são “arados” com pá tradicional
sil)', o clima é mais fresco na estação seca e a pluviometria variável (Angady).
de um ano para outro, oscila entre 900 e 1.600 mm, em 6 meses. As
unidades geomorfológicas são constituídas de “dedos” basálticos
com fortes declives (6 a 20%). 3. RESULTADOS
Nessas duas grandes ecologias abertas para a agricultura
no final dos anos 70 desenvolveu-se uma agricultura mecaniza­ 3.1. DINÂMICA DA MATÉRIA ORGÂNICA EM FUNÇÃO
da, praticada em grandes fazendas dominantes, e baseada em DA NATUREZA DOS SISTEMAS DE CULTIVO E DAS
culturas industriais, tais como soja, algodão, ou em culturas ali­ ECOLOGIAS
mentares, como arroz e milho, ou ainda a pecuária extensiva. Várias regras podem ser enunciadas a respeito da dinâmi­
• Região das Altas Terras da ilha de Madagascar, que se ca do carbono em função dos sistemas de cultivo, nas diversas
beneficia de condições climáticas subtropicais, frescas e úmidas grandes eco-regiões tropicais e subtropicais (Figuras 7, 8 e 9):
(19°de latitude Sul), com altitude entre 1.200 e 2.000 m, e submetida a) Em todos os casos estudados, as técnicas de preparo de
a um regime ciclônico de chuvas; a pluviometria varia de 1.200 a solo (gradagens, arações) combinadas com sistemas de monocul­
1.800 mm e as chuvas podem ser excepcionalmente agressivas du­ tura com uma só cultura anual, que só utiliza uma pequena fração
rante os ciclones. Os solos são Latossolos sobre maciços cristali­ do potencial hídrico disponível, levam sempre a perdas expressivas

FIGURA 7. RESUMO DAS TENDÊNCIAS DE EVOLUÇÃO DOS TEORES MÉDIOS


ANUAIS DE CARBONO DO SOLO (em Mg C.ha j, EM FUNÇÃO DA
NATUREZA DOS SISTEMAS DE CULTIVO PRATICADOS

4 1 - Latossolos sobre rocha ácida na zona tropical úmida1 J


AS PERDAS + Mg C.ha1 OS GANHOS
Ecologia das
florestas
4 Ecologia
dos cerrados > 4 Ecologia
das florestas > 4 Ecologia
dos Cerrados

5 ANOS 10 ANOSl; 3 ANOS 3 ANOS ; 3 ANOS ■ 3 ANOS ■ 3 ANOS 3 ANOS ; 3 ANOS 6 ANOS 5 ANOS

PD2 sobre cobertura morta PD2 sobre PD2 sobre cobertura morta
cobertura Produção de grãos/Pastagem
viva Pastagem
—^66
-0,66 Soja sobre Milho S°jaMiihA+n^ firac/7/ã/7aL Panicum
Tifton sobre Milheto^ brizantha Pu maximum
Arachis

Gradagens Gradagens ; I^HCamada 0-10 cm


x x
Monocultura Monocultura I Plantio direto
I^Bl Camada 10-20 cm :
Soja Soja I Soja
I; :
1- Brasil e Gabão; 2 - PD = Plantio direto
FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA/GEC; M. Matsubara, Faz. Progresso; A. C. Maronezzi, Agronorte; S. Boulakia et al., CIRAD - 1994/99 - Sinop/MT

8 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


FIGURA 8. RESUMO DAS TENDÊNCIAS DE EVOLUÇÃO DOS TEORES MÉDIOS
ANUAIS DE CARBONO DO SOLO (em Mg C.ha1), EM FUNÇÃO DA
NATUREZA DOS SISTEMAS DE CULTIVO PRATICADOS

2. Latossolos Vermelho-Escuros sobre basalto da ecologia das florestas

1- PD = Plantio direto
FONTE: E. Maeda, M. Esaki, Grupo Maeda; L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA/GEC; Porteirão/GO, 1995/1999

FIGURA 9. RESUMO DAS TENDÊNCIAS DE EVOLUÇÃO DOS TEORES MÉDIOS


ANUAIS DE CARBONO DO SOLO (em Mg C.ha1), EM FUNÇÃO Da
NATUREZA DOS SISTEMAS DE CULTIVO PRATICADOS

f 3. Latossolos sobre rocha ácida das altas y


V terras de Madagascar - Região ciclônica y
+ Mg C.ha1
AS PERDAS OS GANHOS
Localidade: Ibity Localidade: Sambaina Localidade: Ibity Localidade: Sambaina

5 ANOS 5 ANOS | 3,0- 5 ANOS 5 ANOS

2,5- 2,4

2,0- 1,8

1,5
1,0
0,5-

PD1 sobre PD1 sobre PD1 sobre


-0,5- cobertura cobertura cobertura
-0,48
morta morta morta
; Aração -1,0-
Aveia + Feijão Soja/Milho Soja sobre Kikuyu
x
I Monocultura -1,5- I ICamada 0-10 cm
Soja
Gradagens ^HCamada 10-20 cm
x - Mg C.ha1 I ICamada 0-20 cm
Aveia + Feijão
1. PD = Plantio direto
FONTE: ONG TAFA; R. Michellon, P. Julien, CIRAD-CA/GEC - Antsirabé, 1999 - MADAGASCAR

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 9


de matéria orgânica, cuja importância varia em função das condi­ todas as espécies que testamos até hoje (biomassa seca radicular
ções de clima, solo, declive, técnicas de preparo do solo e estado de superior a 5 t/ha na camada 0-50 cm, em 80 dias).
degradação do perfil cultural:
Os sistemas em plantio direto de soja, milho (de arroz e
• Nos Trópicos Úmidos, na ecologia de florestas com topo­ algodão possíveis também) sobre coberturas vivas perenes, res­
grafia plana, as perdas se concentram no horizonte de 0-10 cm e pectivamente de Cynodon dactylon Tifton e Arachispintoi, permi­
variam entre - 0,7 e -1,2 Mg C.ha1.ano’1, mas podem também afetar tem igualmente seqüestrar o carbono de modo muito eficiente; em
a camada de 10-20 cm, como no caso dos cerrados, onde a decli- três anos, a quantia anual de C seqüestrado é de:
vidade é maior e a erosão é mais ativa.
• + 1,5 Mg C.ha1 no horizonte 0-10 cm e de + 0,8 Mg C.ha1
• Em regiões subtropicais de altitude, com relevo montanho­ no nível 10-20 cm para o sistema mais atuante: soja em cima de
so, os latossolos sobre “maciço-cristalino”, submetidos a um regime Tifton,
ciclônico de chuvas, podem perder entre -1,0 e -1,4 Mg C.ha1 .ano1. • +1,0 Mg C.ha1 .ano1 mas somente na camada 0-10 cm para
o sistema milho sobre Arachis pintoi.
• Em regiões de florestas tropicais sobre basalto, com fortes
declives no Centro-Oeste brasileiro (Sul de Goiás), os latossolos • Após um período de seis anos de prática contínua do
mais argilosos e com fortes potencialidades se revelam menos sen­ sistema soja + milheto ou sorgo, em plantio direto, e partindo de um
síveis a estes modos de gestão (gradagem x monocultura de algo­ perfil cultural parcialmente restaurado em M.O. pelo sistema de plan­
dão) e perdem somente entre - 0,2 e - 0,45 Mg C. ha1.ano1. tio direto, se implantarmos, sempre em plantio direto, espécies
forrageiras que serão pastoreadas durante os 5 anos seguidos sem
b) Todos os sistemas de cultivo em Plantio Direto sobre insumos (1,8 UA/ha), o porcentual de M.O. do solo aumenta mais
coberturas vegetais permanentes permitem, em todas as situações rapidamente e a quantidade de carbono seqüestrado anualmente é
pedoclimáticas, recarregar o perfil cultural em M.O. e controlar to­ mais elevada com a espécie Brachiaria brizantha (cv. Brizantão)
talmente a erosão, qualquer que seja o declive, a pluviometria e o do que com a espécie Panicum maximum (cv. Tanzânia)'. + 0,7 Mg
tipo de solo. C.ha1 para esta última no horizonte 0-10 cm contra + 0,9 Mg C.ha1
para o brizantão, na mesma camada;
c) Se a importância da seqüestração de C depende das con­
dições de solo e clima (o clima subtropical de altitude, fresco e • No horizonte 10-20 cm a taxa de seqüestração anual de C
úmido, é o que mais acumula C), esta é principalmente condiciona­ é muito elevada: + 1,68 Mg C.ha1.ano1 com Brachiaria brizantha
da, em cada grande eco-região, pela natureza dos sistemas de culti­ contra + 1,08 Mg C.ha1.ano1 cova Panicum maximum.
vo praticados em Plantio Direto e pelo estado de degradação físico-
Portanto, essas duas espécies recarregam fortemente o per­
biológico do perfil cultural inicial. Nos Trópicos Úmidos7, onde as
fil cultural abaixo de 10 cm de profundidade.
condições climáticas são ideais para um funcionamento máximo do
“reator - mineralização da M.O.”, a taxa de seqüestração anual de C Resultados similares de seqüestração de C sob Plantio Direto
pode então variar de 1 para 2 em função da natureza dos sistemas foram obtidos nas savanas gabonenses, em condições pedoclimá­
praticados; partindo de perfis culturais já muito degradados, empo­ ticas próximas e a partir de sistemas de cultivo de produção de
brecidos em M.O.: grãos semelhantes, que transferimos do Brasil (cf. cronoseqüências
Gabão; BOULAKIA et al., 1999) (Figura 7). Como no caso das fren­
• + 0,83 Mg C.ha1.ano1 para sucessão anual soja + milheto tes pioneiras dos Trópicos Úmidos do Brasil, o preparo profundo
(0-10 cm) do solo, praticado a cada ano na entrada de uma sucessão anual
• + 1,16 Mg C.ha1.ano1 para a sucessão anual soja + sorgo milho + soja, induz à perda progressiva de M.O.; as perdas anuais
de C são, em três anos, de -1,0 Mg C.ha1 no horizonte 0-10 cm, e de
(0-10 cm)
- 0,7 Mg C.ha1 no nível 10-20 cm na presença de uma forte aduba-
• + 1,33 Mg C.ha1.ano1 no horizonte 0-10 cm e + 1,4 Mg ção mineral anual. Quando é usado um nível de adubação médio a
C.ha1.ano1 na camada 10-20 cm para a sucessão soja + sorgo ou baixo a perda anual de C é menor.
milheto consorciados com Brachiaria ruziziensis, dentro da qual a
Como nos Cerrados brasileiros, a prática, em plantio direto
pastagem continua produzindo biomassa verde após a colheita do
contínuo, de sistemas com duas culturas anuais em sucessão domi­
sorgo e durante toda a estação seca (biomassas aéreas e radicu­
nados por gramíneas, semelhantes aos utilizados no Brasil, leva a
lar es)',
níveis de seqüestração anual de C idênticos aos observados neste
• + 1,66 Mg C.ha1.ano1 no horizonte 0,10 cm e + 1,8 Mg país: + 1,0 Mg C.ha1 no horizonte 0-10 cm e + 0,8 Mg C.ha1 na
C.ha1.ano1 na camada 10-20 cm com o sistema: arroz + Eleusine camada 10-20 cm (Figura 7).
coracana no primeiro ano, seguido de soja + Eleusine coracana d) Qualquer que seja o tipo de solo e as condições climáti­
no 2o ano, e de arroz + Eleusine coracana no 3o ano, ou seja, cinco cas, quanto mais o perfil cultural inicial estiver desestruturado e
gramíneas em três anos incluindo três ciclos de Eleusine coracana, empobrecido em M.O., mais rápido será o recarregamento em car­
gramínea anual que possui o sistema radicular mais possante entre bono através de sucessões em PD onde as gramíneas têm um papel
dominante (milheto, mas sobretudo sorgo, Eleusine, aveia, espé­
cies forrageiras).
7 A parte relativa aos 15 anos da cronoseqüência três em ecologia de floresta Sob pluviometria menor (900 a 1.600 mm), com solos argilo­
(Figura 16) e a cronoseqüência de Cerrados (Figura 17) incluem, na realidade,
sos naturalmente bem estruturados e ricos em M.O., como os
dois a três anos de arroz logo após desmatamento. Esta cultura faz parte
integrante do desmatamento-abertura das terras. Ela restitui entre 7 e llt/ Latossolos Vermelho-Escuros sobre basalto do Sul de Goiás, sub­
ha.ano'1 de resíduos com C/N elevado, que permite manter o teor de M.O. do metidos a gradagens em monocultura de algodão, sob fortes decli­
perfil cultural do início (SÉGUY et al., 1996). ves, as perdas de M.O. são nitidamente inferiores às registradas

10 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


nos Trópicos Úmidos e são principalmente localizadas nos cortes as tendências de evolução da CTC acompanham estritamente as da
de erosão (erosão linear dominante). M.O.: nos sistemas de cultivo que perdem M.O. (com preparo de
solo x monocultura), a CTC dos horizontes de superfície decresce;
e) O clima fresco e úmido de altitude nas terras altas de Ma­
pelo contrário, ela cresce junto com a M.O., quando o teor desta
dagascar permite seqüestrar a maior quantidade de carbono anual­
aumenta nos sistemas em Plantio Direto. Com as técnicas de Plantio
mente, quando as gramíneas perenes muito possantes são os su­
Direto, cria-se um poder de retenção dos adubos minerais propor­
portes dominantes dos sistemas em PD (Pennisetum clandestinum):
cional ao nível de seqüestração do C, e se pode assim reduzir suas
de + 1,8 a + 2,4 Mg C.ha1 no horizonte 0-20 cm.
perdas por lixiviação (SÉGUY et al., 2001).
f) A taxa de seqüestração de C nos sistemas de Plantio Direto
O Plantio Direto influencia igualmente, de modo significati­
mais atuantes pode ser tão rápida e importante quanto são as per­
vo, o teor de saturação das camadas superiores do perfil cultural e
das sob gestão inadequada com preparo do solo. Os sistemas em
principalmente o horizonte 10-20 cm onde as variações se mostram
Plantio Direto mais eficientes a esse respeito são os que usam
mais sensíveis (SÉGUY et al., 2001). Para um mesmo nível de aduba-
safrinhas a base de “biomassas de cobertura” ou “bombas biológi­
ção mineral aplicado, o teor de saturação acompanha as variações
cas”, possantes fornecedoras de biomassa (matéria seca aérea e
da M.O. e da C.T.C.. O caso mais demonstrativo a esse respeito é o
radicular) tais como milhetos, sorgos consorciados cova Brachiaria
da cronoseqüência Cerrado dos Trópicos Úmidos, na qual as espé­
ruziziensis, Eleusine coracana, Cynodon dactylon, nos Trópicos
cies forrageiras implantadas em Plantio Direto, em 5 anos, têm o
Úmidos, as espécies forrageiras perenes dos gêneros Pennisetum
papel de “bombas de cátions” e fazem crescer fortemente o teor de
(clandestinum), e Desmodium (intortum) nas regiões subtropicais
saturação das camadas superficiais, como se fossem aplicadas
de altitude. Estes sistemas levam, até em períodos curtos de 3 a 5
calagens em altas dosagens, enquanto nenhuma adubação mineral
anos, a recuperar as taxas de M.O. dos ecossistemas originais e até
nem calagem foram aplicadas durante esses 5 anos (Figura 10).
a ultrapassá-las.
Perfis culturais realizados a cada ano, em todas as cronose­
g) O recarregamento em carbono, a curto prazo, do perfil
qüências nas safrinhas “biomassa de cobertura - bombas biológi­
cultural com os melhores sistemas de Plantio Direto é interessante,
cas”, mostram que os enraizamentos dessas safrinhas são muito
de modo preferencial, para o horizonte 0-10 cm, mas também para o
profundos nesses latossolos e ultrapassam freqüentemente 2 a 2,5
de 10-20 cm, quando espécies forrageiras foram usadas em rotação,
m de profundidade na floração; assim sendo, essas safrinhas têm a
tais como Brachiaria, Eleusine, Cynodon, Pennisetum.
capacidade de reciclar, a cada ano, as bases e os nitratos que esca­
A comparação dos resultados obtidos com os de demais param das culturas comerciais. Tal é o caso das espécies dos gêne­
autores dessas regiões tropicais e subtropicais, evidencia: ros = sorgo, Brachiaria, Panicum, Eleusine, Crotalaria, Pennisetum,
Cynodon, fechando assim o sistema “solo-cultura” (conceitos de
• Uma boa concordância com os resultados produzidos por
SÉGUY etal., 1996).
CORRAZA et al. (1999) na eco-região dos cerrados do Centro-Oes­
te brasileiro, que mostram uma taxa de seqüestração anual de C de
+2,18 Mg C.ha1.
3.3. PERFORMANCES AGRONÔMICAS, TÉCNICAS E
• Na região Sul do Brasil, em condições subtropicais, os ECONÔMICAS DOS SISTEMAS DE CULTIVO
resultados recentes obtidos por AMADO et al. (1999), BAYER et al. CONFRONTADAS COM A DINÂMICA DA M.O.
(2000) e SÁ et al. (2000a), com taxas anuais de seqüestração de C de
+ 1,6, de + 1,33 e de 0,99 Mg C.ha1, respectivamente, são bastante 3.3.1. ECO-REGIÃO DOS TRÓPICOS ÚMIDOS (TU)
comparáveis aos que obtivemos nas Terras Altas de Madagascar
A evolução das performances agronômicas dos sistemas de
em clima subtropical fresco e úmido, com taxas variando entre +1,3
cultivo baseados nas culturas de arroz de sequeiro e de soja, cria­
e + 2,4 Mg C.ha1.
dos pela pesquisa, foi reconstituída para o período 1986-2000. As
• Como no presente estudo, vários exemplos no Kentucky Figuras 11 e 12, que retratam esta evolução em 14 anos, evidenciam
(EUA) em clima temperado e em Ponta Grossa no Brasil subtropical, os resultados reprodutíveis seguintes:
citados por SÁ et al. (2000a,b), mostram que o estoque de carbono
• A produção de matéria seca aérea total por hectare passou
acumulado durante longos períodos (15 a 20 anos) em Plantio Direto
de 4 a 8 t/ha em 1986, para os sistemas iniciais com uma só cultura
pode ser superior ao do ecossistema sob vegetação nativa e que
anual, para 25 a 28 t/ha no ano 2000, para a média dos melhores
diz respeito preferencialmente à camada 0-10 cm (LAL, 1997; DICK
sistemas em PD com três culturas por ano (Figuras 11 e 12).
etal., 1998;KERN& JOHNSON, 1993).
• A variação dos teores de M.O. das camadas superficiais
Outra conclusão concordante deste estudo com os dos au­
tores já citados: apesar da taxa de decomposição da M.O. em re­ acompanhou estritamente a da produção de matéria seca total aé­
giões tropicais e subtropicais ser de 5 a 10 vezes maior do que nas rea: os sistemas mais produtivos em PD acumularam, em média,
regiões temperadas (LAL & LOGAN, 1995), os ganhos de M.O. entre 1992 e 2000, entre 1,7 e 2,1% de M.O. nesses oito anos (Figu­
ligados à prática contínua do Plantio Direto podem ser equivalen­ ras 11 e 12).
tes e até superiores nos trópicos: a natureza dos sistemas pratica­
• A produtividade da soja, principal cultura da região, pas­
dos em PD permite explicar este paradoxo. sou, assim, de 1.700 kg/ha (28 sc/há), em 1986, a mais de 4.600 kg/ha
(77 sc/ha) no ano 2000; a do arroz de sequeiro, no mesmo período,
3.2. DINÂMICA DO CARBONO, DA CTC E DO TEOR DE passou de 1.800-2.000 kg/ha (30 a 33 sc/ha) a mais de 8.000 kg/ha
SATURAÇÃO (V%) (133 sc/ha) (SÉGUY et al., 1998a; SÉGUY & BOUZINAC, 1998b).
Em todas as cronoseqüências estudadas em latossolos va­ Nos últimos cinco anos, com benefícios de todos os pro­
zios quimicamente no início e com CTC efetiva baixa (LOPES, 1984), gressos adquiridos na construção de 15 anos de sistemas de culti-

ENC ARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 11


FIGURA 10. TENDÊNCIAS DE EVOLUÇÃO DOS TEORES DE MATÉRIA ORGÂNICA (M.O.%), DA CAPACIDADE DE
TROCA CATIÔNICA (CTC em meq/100 g) E DA TAXA DE SATURAÇÃO POR BASES (V%), EM
FUNÇÃO DA NATUREZA DOS SISTEMAS DE CULTIVO PRATICADOS EM VÁRIOS AGROSSISTEMAS
CONTRASTADOS, TROPICAIS E SUBTROPICAIS

2 - Agrossistemas dos cerrados


úmidos do Centro-Norte do M.O. % CTC meq/100g V%

• Latossolos Vermelhos-Amarelos sobre rocha ácida


• Situação = Latitude 12°58’ Sul - Longitude 55°54’ W 45-53% argila
• Topografia = Colinas com longos declives 2% a > 10% - Altitude 450 m 31-35% areia fina Camada 0-10 cm
• Pluviometria -1.500 a 2.500 mm em 7 a 7,5 meses
• Granulometria (0-20 cm) r 8% areia grossa
3-5% silte
Camada 10-20 cm

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA/SCV; Munefumi Matsubara, Fazenda Progresso - Lucas do Rio e Verde/MT -1978/1998

FIGURA 11. TENDÊNCIAS DE EVOLUÇÃO DAS PERFORMANCES DAS CULTURA DA SOJA NOS SISTEMAS DE
CULTURAS DURÁVEIS CRIADOS PELA PESQUISA E CONSEQÜÊNCIAS SOBRE A PRODUÇÃO DE
BIOMASSA AÉREA E A TAXA DE MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO
Latossolos oxidados e hidratados sobre rocha ácida das frentes pioneiras do Centro-Norte
do Mato Grosso - Ecologia de florestas e cerrados úmidos

Situação 19
inicial Duas culturas anuais
Duas culturas anuais/ano
♦ kg/ha alternadas com
uma só cultura anual
em sucessão +
engorda na estação
Monocultura seca (1,8 UA/ha)
Soja x qradaqens . 4.000-

O
% M.O. (0-10 cm)

Solos degradados
♦ 3.000-
Produtividade
baixa de Soja: o
1.700 kg/ha 2.000- r-

I I % M.O.
— Intervalo avaliado M.O. 1.000 -I
□□ Baixa tecnologia Soja
E3 Baixa tecnologia,
biomassa Milheto,
Sorgo, outras Biomassa aérea
— Intervalo avaliado totalt/ha/ano
produtividade • Plantio direto sobre Soja
Maiores • Plantio direto generalizado x Rotações de todas as
I I Alta tecnologia Soja • Rotação com Arroz, Milho
+ Biomassas (Sorgo, Milheto) culturas + Pastoreio integrado (Arroz, Soja, Algodão,
progressos • Plantio direto na Soja e Milhe
I I Alta tecnologia, • Plantio direto no Arroz + biomassas de cobertura = Milheto, Sorgo, Pé-de-
tecnológicos • Aração no Arroz
biomassa Milheto, • Integração Soja + Biomassas galinha, Brachiarias, etc.)
e pastagens, em plantio direto • Pastagem na estação seca,
Sorgo, outras
(Rotação em 3-4 anos) • Biomassas as mais performantes: Pé-de-galinha,
Brachiaría ruziziensis consorciada com Milheto e Sorgo
• Baixos custos e economia de adubo

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; M. Matsubara, Fazenda Progresso; A. Trentini, Cooperlucas; A.C. Maronezzi, Agronorte-MT, 1986/2000

12 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


FIGURA 12. TENDÊNCIAS DE EVOLUÇÃO DAS PERFORMANCES DA CULTURA DO ARROZ DE SEQUEIRO
NOS SISTEMAS DE CULTURAS DURÁVEIS CRIADOS PELA PESQUISA E CONSEQÜÊNCIAS
SOBRE A PRODUÇÃO DE BIOMASSA AÉREA E A TAXA DE MATÉRIA ORGÂNICA DO SOLO
Latossolos oxidados e hidratados sobre rocha ácida das frentes pioneiras do Centro-
Norte do Mato Grosso - Ecologia de florestas e cerrados úmidos

| Situação inicial
1986
Duas culturas anuais
Arroz - cultura de aber­ kg/ha em sucessão +
z~ 'Duas culturas anuais/ano
tura das terras novas Uma so cultura alternadas com
Engorda na estação
seca (1,8 UA/ha)
(Cerrados e florestas) 8.000 uma só cultura anual

7.000
Qualidade de grãos
medíocre 6.000

4
5.000-
Poucos insumos
(P, K, N, Ca + Zn) 4.000
3.000-
Produtividade entre
1.800 e 2.200 kg/ha 2.000
O % M.O. 1.000 d
— Intervalo avaliado M.O.
□□ Baixa tecnologia Soja
O Baixa tecnologia,
biomassa Milheto,
Biomassa aérea
total t/ha/ano
17,0 a 8,6 03 17,3 22,5 20,5 28,4

Sorgo, outras Maiores | * Plantio direto sistemas • Plantio direto x Rotações de todas as culturas + Pasto­
• Rotação com Soja
l-Grão de qualidadel com 2 culturas anuais reio integrado (Arroz, Soja Algodão, + biomassas de
— Intervalo avaliado progressos * Aração contínua
em sucessão = cobertura = Milleto, Sorgo, Pé-de-galinha, Brachiárias, etc.)
produtividade tecnológicos ________ - Soja e Arroz + Biomassas • Pastagem na estação seca,
□□ Alta tecnologia Soja de cobertura (Milheto, • Biomassas as mais performantes: Pé-de-galinha +
I I Alta tecnologia, Sorgo, crotalária) Crotalária; Brachiaría consorciada com Milheto e Sorgo
biomassa Milheto, • Qualidade de grão superior à das variedades de arroz
Sorgo, outras irrigado

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; M. Matsubara, Fazenda Progresso; A. Trentini, Cooperlucas; A. C. Maronezzi, Agronorte-MT, 1986/2000

vo em PD cada vez mais atuantes, e igualmente de um domínio genético sempre é nitidamente melhor no PD do que na aração para
técnico aprimorado, a análise das performances agronômicas com­ as principais doenças fúngicas do aparelho vegetativo e reprodutor
paradas dos sistemas de cultivo leva às seguintes conclusões: (SÉGUY et al., 1998b).

• O rendimento da soja, tanto de ciclo curto (cv. Conquista) Se a produtividade da soja em PD está estreitamente correlata
à produção de biomassa seca de gramíneas, o arroz de sequeiro
quanto de ciclo médio (cv. FT 114), é sempre nitidamente superior
responde da mesma forma desde que a nutrição nitrogenada não
nos sistemas em PD do que na testemunha preparada. A diferença
seja limitante (SÉGUY et al., 2001).
de produtividade cresce, ano a ano, em prol do PD; ela é propor­
cional à importância da biomassa seca na qual está implantada a Os sistemas de PD sobre coberturas mortas e vivas mais
soja em PD: na presença de um baixíssimo nível de adubação mine­ produtivos em biomassa seca por ano são também aqueles que
ral (0 N-40 P?O5 + 40 K2O), essa diferença de rendimento a favor do produzem mais grãos e que melhor seqüestram o carbono.
Plantio Direto vai de 13 a 17%, no primeiro ano, a 30 a 42% no
terceiro ano para os melhores sistemas, qualquer que seja o ciclo da • Num mesmo ano agrícola, pode-se produzir (e reprodu­
variedade (Figura 13). Quando a adubação aplicada é duplicada zir) 6 a 7 t/ha de arroz de sequeiro de grão agulhinha ou 4 a 5 t/ha de
(0 N-80 P9O5 + 80 K2O), as diferenças em favor dos melhores siste­ soja, seguidos em safrinha, de 3 a 5 t/ha de cereais “bombas bioló­
mas em PD oscilam de 15 a 25%, no primeiro ano, para ambos os gicas”, consorciadas com espécies forrageiras que formarão uma
ciclos, para 18-24% para o ciclo curto, e 31 a 47% para o ciclo médio pastagem durante toda a estação seca, a qual pode agüentar 1,5 a
no terceiro ano (Figura 13). 2,0 cabeças de gado/ha nesses 3 meses (produção de 50 a 90 kg/
ha de carne)', estas três culturas anuais sucessivas, que abrangem
• A produtividade do arroz de sequeiro é, como a da soja,
os 12 meses do ano, conduzidas em Plantio Direto, consomem mui­
sempre maior em Plantio Direto do que em solo preparado (Figura to pouca adubação mineral: 50 a 115 kg N.ha hano1 no total, con­
14). O rendimento médio das três melhores variedades, em 1997/98, forme a cultura de cabeceira (soja ou arroz, respectivamente), 100 a
é de 5.420 kg/ha (90 sc/hd) em PD sobre cobertura morta de pé-de- 110 kgP^.ha hano1,110 a 130 kg K^O. ha1.ano1.
galinha (Eleusine coracand) contra 4.260 kg/ha (71 sc/hd) na aração
Também é possível produzir entre 3.000 e 4.600 kg/ha de
com a mesma rotação, ou seja, um ganho de produtividade de 23%
algodão (200 a 307 @/hd) em plantio direto após possantes
a favor do PD. Em 1998/99, na mesma rotação, o rendimento médio
biomassas de cobertura, em rotação com sucessões precedentes.
do Plantio Direto para essas mesmas cultivares é de 5.025 kg/ha
(83,7 sc/hd) contra 2.885 kg/ha (48 sc/hd) na aração, ou seja, um Portanto, a produtividade das principais culturas quase
ganho de 43% para o PD. Além disso, o estado sanitário do material triplicou em 15 anos; os progressos marcantes realizados são impu-

ENC ARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 13


FIGURA 13. REGRESSÕES1 ENTRE QUANTIDADE E NATUREZA DA BIOMASSA SECA E
PRODUTIVIDADE DA SOJA DE CICLO MÉDIO (FT114) EM TRÊS ANOS
DE PLANTIO DIRETO (1997/2000) - AGRONORTE - SINOP/MT, 2000

(1) 6 Repetições/nível de adubação/cada ano


FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; A. Maronezzi, G.L. Lucas, M. Bianchi, AGRONORTE - Sinop/2000

EVOLUÇÃO, EM TRÊS ANOS, DA PRODUTIVIDADE DA SOJA EM PLANTIO DIRETO (PD),


(Variedades Conquista e FT 114) E DAS MELHORES BIOMASSAS DE COBERTURA
(média do peso seco de Pé de Galinha; Sorgo, Milheto + Brachiaria ruziziensis) ■
Ecologia das florestas do Centro-Norte do Mato Grosso - Sinop/MT ■ 1997/2000

■ (T) Gradagens x Monocultura x 0 N + 40 P2O5 + 40 K20 + micros I I (T) Gradagens x Monocultura x 0 N + 80 P2O5 + 80 K20 + micros
Plantio direto x 0 N + 40 P2O5 + 40 K2O + micros I I I Plantio direto x 0 N + 80 P2O5 + 80 K2O + micros

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac,CIRAD-CA; A.C. Maronezzi, Agronorte - Sinop/MT, 1997/2000

14 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


FIGURA 14. PERFORMANCES MÉDIAS REGIONAIS DAS MELHORES VARIEDADES AGRONORTE
DE ARROZ DE SEQUEIRO DE QUALIDADE SUPERIOR DE GRÃO, NO ESTADO DO
MATO GROSSO, EM SISTEMA DE PLANTIO DIRETO, DE 1997 A 2000

Ç AGRONORTE - SINOP/MT - 2000

Variedades de ciclo curto a intermediário Variedades de ciclo médio


95 a 110 dias 115 a 130 dias
8FA 281-2 YM 94 Cedro 8FA 337-1 Sucupira YM 200 YM198 YM114 YM 65 Best 2000
Produtividade média - ktg/ha
• Alta tecnologia 6.0661 5.403 4.925 4.851 I I 4.486 I I 6.044 I 5.862 5.751 5.412 5.328
• Baixa tecnologia 4.921 4.872 13.9401 4.011 | 3.545 | | 5.150 | 5.059 15.031 | 4.817. 5.127

Intervalo 115 I 110 114 81 107 109 I 102 94 90


I 107 I
a a a a a a a a a a
% das testemunha 179 | 167 | 148 | 131 142 145 139 | 124 | 126 121
N° de experimentos 11 11 10 11 10 11 10 7 11 7

Produtividade máxima2
6.698 5.620 5.525 5.513 4.822 6.375 6.299 7.023 5.768 6.273
e C. V. S. S. C. N. P. C. P. C. N. P. S. C. N. P. S.
S.
Campo experimental

Campos experimentais S. = Sinop; C. V. = Campo Verde; C N. P. = Campo Novo dos Parecis

1997/98 ^CIRAD 141


1. Testemunhas: 1998/99 Ciclos curtos e intermediários = Best 3; ^►'Ciclos médios = CIRAD 141
1999/2000 ^►Ciclos curtos e intermediários = Primavera; Ciclos médios = Maravilha

2. Produtividade máxima registrada em área comercial Best 2000 em 1998/99 = 8.500 kg/ha, em Campo Novo dos Parecis

FONTE: Séguy L, Bouzinac S., CIRAD-CA; Maronezzi A., Lucas G. L., Bianchi M., Rodrigues F. G., AGRONORTE - Sinop/2000

táveis mais aos avanços decisivos, que foram progressivamente econômico. Em função do nível de risco escolhido pelo agricultor,
construídos e conquistados na gestão dos solos e das culturas em os custos de produção podem variar de US$ 300 a 600/ha nos siste­
Plantio Direto do que aos do melhoramento varietal (SÉGUY & mas em PD com base em arroz, soja, milho + safrinhas seguidas de
BOUZINAC, 1992/2000; SÉGUY et al., 1996). engorda na estação seca, ou praticados sobre coberturas vivas
(Figura 16), e até US$ 1.300/ha com a cultura algodoeira de alta
• As consequências técnico-econômicas da utilização dos
tecnologia (PD + alta dose de insumos). As margens líquidas por
sistemas de cultivo em PD ou em solo preparado refletem as suas hectare vão de 100 a mais de US$ 600/ha, apesar da penalização
performances agronômicas. econômica, e em função das escolhas e dos preços pagos aos pro­
A região das frentes pioneiras do Centro-Norte do Mato dutores (Figura 16).
Grosso enfrentou desde o início de sua abertura, nos princípios Os encargos de mecanização puderam ser reduzidos drasti­
dos anos 80, uma situação econômica caótica e padeceu das camente com a adoção do PD: o número de tratores e de plantadeiras
reestruturações econômicas sucessivas do país. Afastada dos gran­ pode ser dividido por dois, assim como o consumo de combustível
des centros de transformação, dos portos de exportação (mais de (Figura 17).
1.500 km), a região só tem uma estrada asfaltada, geralmente em
Pressões e penalizações econômicas que levaram à adoção
estado de conservação precário, a qual onera muito os custos dos
maciça do PD desde 1995 transformaram essa região na campeã
fretes. Este isolamento se traduz por uma penalização que oscila
brasileira de produtividade em soja e arroz de sequeiro de alta
entre 25 e 40% de sobrecustos de produção em relação aos custos
tecnologia (Figura 18). Se a média de produtividade da soja ultra­
dos grandes Estados produtores do Sul do país (SÉGUY et al.,
passa amplamente 3.000 kg/ha (50 sc/ha) na região, em mais de
1996) (Figura 15).
1,3 milhão de ha (Figura 18), produtividades de arroz de sequeiro
Nesta conjuntura, os custos de produção da soja, cultura entre 4.000 e 5.500 kg/ha (67e 92 sc/ha) são, hoje em dia, corriquei­
industrial mais estável, podem variar de 280 a mais de US$ 430/ha ras para os agricultores. Pouco a pouco, “na marra”, nasceu, e em
em função do nível de tecnologia e do ano. Para o arroz de sequeiro, seguida se fortaleceu, um perfil de agricultores muito atuantes, ap­
os custos variaram ainda mais no período 1987/2000 de algodão. tos a afrontar a globalização sem subsídios.
As melhores performances técnico-econômicas são sempre
obtidas em plantio direto; elas permitem, apesar da situação econô­ 3.3.2. ECO-REGIÃO DAS FLORESTAS TROPICAIS
mica muito instável, construir afolhamentos (= distribuição anual SOBRE BASALTO DO CENTRO-OESTE
das diversas culturas na fazenda) mais estáveis e de menor risco BRASILEIRO (Sul do Goiás, Norte de São Paulo)

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 15


FIGURA 15. EVOLUÇÃO DOS PREÇOS PAGOS AOS PRODUTORES1 PARA AS PRINCIPAIS
PRODUÇÕES DE ARROZ E SOJA NAS FRONTEIRAS AGRÍCOLAS DO
CENTRO-NORTE DO ESTADO DO MATO GROSSO - Sinop/MT -1987/2000

14H

D)
12d
O
CD 10H
LU
O
8H
O
o
6d
<
CD
4H
CD
2d

0 -1
1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000

ANO
1 - Período: Fevereiro-Março, a cada ano

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA/SCV - A. C. Maronezzi, Agronorte; Cooperlucas; Cooasol; Comicel;


Prefeitura de Sinop - Sinop/MT - 1987/2000

♦ As performances agro-econômicas comparadas dos mo­ • NO PLANO ECONÔMICO, os custos de produção do


dos de gestão dos solos e das culturas, relativas à cronoseqüência PD, cada vez mais dominados, revelam-se, em média, 5 a 10% infe­
de 4 anos no Sul do Estado de Goiás, estão reunidas na Figura 19 e riores aos dos preparos convencionais (Figuras 20 e 21); como nas
evidenciam: frentes pioneiras, o número de máquinas pode ser reduzido em 50%,
assim como o consumo de combustível (SÉGUY et al., 1998d).
♦ Na presença de um nível de adubação mineral médio de 85
N + 50 P2O5 +100 K2O + micros, os sistemas em Plantio Direto (PD) • As margens líquidas/ha são muito variáveis de um ano
são sempre mais produtivos do que os sistemas em solo preparado:
para outro em função dos preços pagos aos produtores, eles tam­
a diferença de produtividade de algodão a favor do PD varia de + 15
bém são muito flutuantes. As margens sempre são, como as produ­
a +18% nos anos climáticos favoráveis, qualquer que seja o estado
tividades, mais estáveis e nitidamente maiores no PD do que no
de degradação do solo no início, a mais de 30% em solo pouco
preparo convencional: de 30 a 50% em função dos anos (Figuras 19,
degradado, e até mais de 65% em solo muito erodido nos anos
20e21).
climáticos muito desfavoráveis ao algodoeiro, tais como 1997/98 e
1998/99 (Figura 19).
♦ Quando o solo foi fortemente poluído e de modo dura­ 3.3.3. ECO-REGIÃO DAS ALTAS TERRAS DE
douro por herbicidas de longa permanência, aplicados em dosa­ MADAGASCAR
gens altas demais, como o Sulfentrazone, algumas biomassas de
Nas propriedades dos agricultores das Terras Altas, as per­
cobertura, como o sorgo, demonstraram um poder despoluidor e
formances agro-econômicas e técnicas de sistemas de cultivo prati­
desintoxicador muito rápido, recuperando logo os melhores níveis
cados nos Tanety (colinas), com solos ácidos, são irrelevantes: pa­
de produtividade do algodão (SÉGUY et al., 1999).
ra a cultura do milho, por exemplo, a qual é importantíssima nesta
♦ Esta mesma cobertura de sorgo (tipo Guined), de decom­ região, a produtividade nos solos ácidos varia entre 700 e 1.000 kg/ha
posição lenta e com forte efeito alelopático para o controle da flora com 5 t/ha de esterco e um calendário cultural extremamente carre­
daninha, permite controlar natural e eficientemente a praga vegetal gado com mais de 200 dias/ha em cultivo manual (De RH AM et al.,
Cyperus rotundus, que constitui o maior obstáculo para o cultivo 1995 ; FEYT et al., 1999). Estes números indicam bem, ao mesmo
nos solos oriundos de rocha vulcânica (SÉGUY et al., 1999). tempo, um calendário cultural muito constrangedor e condições de

16 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


FIGURA 16. INTEGRAÇÃO DE TODAS AS CULTURAS EM SISTEMAS
DE PLANTIO DIRETO DIVERSIFICADOS DE PRODUÇÃO
DE GRÃOS OU INTEGRADOS COM A PECUÁRIA
+
• CRIAÇÃO DE MATERIAL GENÉTICO COM ALTO VALOR AGREGADO
NOS SISTEMAS DE CULTIVO EM PLANTIO DIRETO
Ecologia das florestas e cerrados do Mato Grosso - MT/2000

(*) Sistemas ainda não difundidos (reprodutíveis, apropriáveis)

Performances das culturas Custo (C) Benefício (B)


nos sistemas de cultivo C/B
US$/ha US$/ha
em plantio direto

SOJA + SAFRINHA + ENGORDA NA SECA


450 150 1,3
• 4.000 a 4.600 kg/ha soja +
a a a
• 1.500 a 3.500 kg/ha safrinha (Sorgo, Milheto, Pé-de-galinha)+
520 350 3,4
• 1 a 1,5 UA/ha2, 90 dias de estação seca

SOJA SOBRE COBERTURA VIVA DE TIFTON 300 200 0,75


• 3.200 a 4.600 kg de Soja a a a
+ 1 a 1,5 UA/ha, 90 dias de estação seca 380 400 1,9

420 100 0,84


ARROZ DE SEQUEIRO DE ALTA TECNOLOGIA
a a a
• 4.200 a > 7.000 kg/ha
630 500 6,3

ARROZ DE SEQUEIRO DE ALTA TECNOLOGIA 450 100 3,0


como reforma de pasto a a a
• 3.000 a 4.000 kg/ha 550 150 5,5

900 100 2,25


ALGODÃO COMO CULTURA PRINCIPAL o o O
d d d
• 3.000 a > 5.000 kg/ha
1300 400 13

ALGODÃO COMO SAFRINHA


500 200 0,8
sobre forte biomassa ou em sucessão
a a a
de Soja ou Arroz, de ciclo curto
650 600 3,2
• 2.400 a > 3.000 kg/ha

Safrinha = cultura de sucessão, com insumos mínimos ou sem insumos.


2
UA = unidade animal = 450 kg de peso vivo.

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac - CIRAD-CA/ GEC; N. Maeda, M. A. Ide, A. Trentini, Grupo Maeda;
A. C. Maronezzi, AGRONORTE, Sinop/MT, 2000

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 17


FIGURA 17. Comparação dos rendimentos dos equipamentos e índices técnico-econômicos entre sistema
convencional e plantio direto em 38.000 ha no Estado do Mato Grosso (Rondonópolis, 19951)

Critérios de Preparo mecanizado Plantio Diferença


avaliação convencional direto %

Área (ha) trabalhada 163,6 276,9 + 70%


por trator de 90 HP

índice HP/ha 0,556 0,325 + 70%

Área (ha) plantada por 426,6 612,0 + 43,4%


plantadeira de 9 linhas

índice linha/ha 47,7 68,0 + 43,4%

Investimentos em 271,0 158,6 -41,4%


tratores (US$/ha)

Investimentos em 32,8 29,4 -10,3%


plantadeira (US$/ha)

1 Fonte: Prof. Luiz Vicente Gentil, Monsanto, Semeato, Fundação MT, Rondonópolis-MT, 1995

baixíssima fertilidade dos solos quando se usa tão somente a aduba- ♦ Com 5 t/ha de esterco somente, as técnicas de PD permi­
ção orgânica (o rendimento do milho cai para menos de 400 kg/ha tem tirar partido destes solos considerados inprodutivos em culti­
sem nenhuma adubação). vo tradicional.
♦ A Figura 23, referente ao tempo gasto em dias/ha nas ope­
• Os sistemas de cultivo em PD sobre as culturas de milho,
rações manuais, estabelecidos num período de cinco anos na rede
soja e feijão produzem mais a cada ano, qualquer que seja o nível de
regional de localidades, em função de diferentes sistemas de culti­
adubação; com aração, a produtividade fica estagnada ou se mos­
vo, evidencia:
tra muito flutuante em presença dos mesmos níveis de insumos
(Figura 22). ♦ Os sistemas de plantio direto consomem muito menos mão-
de-obra do que os sistemas com aração: os manejos técnicos relati­
• Em relação ao manejo com aração, os sistemas em PD pro­ vos às culturas de trigo, milho, arroz de sequeiro, feijão e soja ne­
duzem no 4 o ano: cessitam respectivamente, em média: 74,84,96 e 90 dias homem/ha
qualquer que seja o tipo de solo, contra 190 a mais de 220 dias/
♦ Três a quatro vezes mais milho, qualquer que seja o nível homem/ha para os manejos das mesmas culturas com aração;
de adubação; ♦ O Plantio Direto proporciona, portanto, uma grande eco­
nomia de mão-de-obra em relação à aração, e justamente nas opera­
♦ Quatro vezes mais soja, somente com esterco, e 2,5 a 3 ve­ ções mais penosas do calendário cultural: preparo do solo e capi­
zes mais com esterco + adubação mineral média ou for­ nas. A aração faz uso de 50 dias/ha, em média, contra somente
te; 4 dias/ha para tratar as biomassas da parcela ou com herbicida total
de pré-plantio, ou para trazer biomassa seca exógena e assim refor­
♦ Quatro vezes mais feijão, somente com esterco, e 1,5 a 2,5
çar a cobertura do solo.
mais com esterco + adubação mineral média e forte, res­
pectivamente (F igura 22). ♦ O controle das invasoras nas parcelas cultivadas ne­
cessitam de 60 a 70 dias/ha de capinas na aração, contra somen­
• Nos solos ácidos, improdutivos com as técnicas tradicio­ te 6 a 12 dias/ha nos sistemas em PD (uso de herbicida seletivo ou
nais de aração, o plantio direto permite alcançar, no 4o ano, de capina manual mínima ou ambos combinados).
3.000 até 6.000 kg/ha de milho dependendo do nível de adubação ♦ No final, os tempos gastos nos itinerários técnicos em PD
utilizado, de 1.400 a 2.300 kg/ha de feijão, e de 1.800 a 3.000 kg/ha de são reduzidos de 58 a 65% em relação aos conduzidos com aração e
soja, nessas mesmas condições. capinas tradicionais.

18 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


FIGURA 18. EVOLUÇÃO DA ÁREA PLANTADA DE SOJA E DE SUA
PRODUTIVIDADE MÉDIA NO ESTADO DO MATO GROSSO,
NA REGIÃO CENTRO-NORTE E NO BRASIL - 1998

IBGE/LSPA = Dados sobre o Brasil e o Estado do Mato Grosso


FONTE |
(1) Estimativas = Extraídos de dados da Emater, Secretarias de agricultura dos principais municípios,
I— produtores do Centro-Norte do Estado, Cooperativas.

PRODUTIVIDADE DO ARROZ DE SEQUEIRO DE ALTA TECNOLOGIA EM DIVERSAS


ECOLOGIAS DO ESTADO DO MATO GROSSO-MT - (Trópicos Úmidos) - 1996/98

1996/1997 1997/1998

FONTE: AGRONORTE; CIRAD CA - GEC; Sorriso/MT, 1998

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 19


FIGURA 19. EVOLUÇÃO DAS PERFORMANCES MÉDIAS AGRO-ECONÔMICAS DO ALGODOEIRO,
EM 4 ANOS, EM FUNÇÃO DOS SISTEMAS DE CULTIVO PRATICADOS
Ecologia das florestas tropicais e latossolos sobre basalto do Sul do Estado de Goiás - Centro-Oeste do Brasil

FONTE: E. Maeda, M. Esaki, GRUPO MAEDA; L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA/GEC; Porteirão/GO, 1995/1999

♦ Os custos de produção são sistematicamente menores no cultura que melhor valoriza a adubação mineral e proporciona a
PD, qualquer que seja o nível de adubação e o tipo de solo, graças maior valorização do dia de trabalho: US$ 5,80 na adubação média +
a uma grande redução da mão-de-obra: 12 a 30% de economia em esterco e US$ 6,00 na adubação forte + esterco.
função da cultura e do nível de adubação (Figura 24). Os sistemas de cultivo praticados com aração nos solos
ácidos induzem a valorizações de dia de trabalho próximas ao salá­
♦ As margens líquidas sempre são muito maiores no Plantio
rio mínimo diário unicamente para as culturas de milho e soja.
Direto do que na aração, para todas as culturas e qualquer que seja
o nível de adubação. As mais interessantes, nos solos ácidos, são,
em PD: 4. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES
♦ Para a cultura de milho somente com esterco: + US$ 323/ha
contra US$ 58,00 na aração; O Plantio Direto sobre coberturas permanentes do solo é
provavelmente o paradigma mais completo construído até hoje para
♦ Para a cultura de soja com esterco + adubação mineral o desenvolvimento planetário de uma agricultura sustentável, pre­
média: + US$ 469/ha contra + US$ 122/ha na aração; servadora do meio ambiente, manejado de modo mais “biológico”
♦ Para a cultura de feijão somente com esterco: + US$ 139/ha possível.
contra uma margem negativa de - US$ 104/ha na aração Mais do que portador de esperança, o PD mostra sua capa­
(Figura 24). cidade de restauração do estatuto orgânico dos solos tão rapida­
mente quanto este se degrada com o preparo destruidor nas gran­
Em relação ao salário mínimo diário de US$ 0,87 pago na des eco-regiões subtropicais e tropicais. O exemplo dos Trópicos
região em 1997/98, os sistemas em PD praticados somente com es­ Úmidos é eloqüente a este respeito, onde os processos que coman­
terco que valorizam melhor o dia de trabalho (Figura 24) oferecem dam a degradação do recurso-solo (erosão) e a mineralização da
remunerações diárias oscilando entre US$ 2,13 e US$ 4,65 nos solos M.O. andam mais depressa do que em qualquer outro lugar do
ácidos de baixa fertilidade, em função das culturas, ou seja, de 3 planeta. O estatuto orgânico dos solos pode, com o uso dos siste­
a 5 vezes o salário mínimo diário. mas em PD mais atuantes, alcançar logo e ainda ultrapassar o dos
O milho revela-se a cultura mais remuneradora em solo ácido ecossistemas naturais (florestas, cerrados), até nessas eco-regiões
em PD somente com esterco, seguido da soja e do feijão. A soja é a com climas excessivos, onde temperatura e pluviometrias são altas

20 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


como se encontram na espécie Eleusine coracana,
FIGURA 20. CUSTOS DE PRODUÇÃO DETALHADOS E MARGENS LÍQUIDAS
EM US$/ha DE DUAS VARIEDADES DE ALGODÃO EM FUNÇÃO DE cultivada pura ou consorciada com leguminosas
DOIS SISTEMAS DE GESTÃO DO SOLO ■ LATOSSOLO SOBRE pivotantes, ou as do gênero Brachiaria, consorcia­
BASALTO DEGRADADO PELA EROSÃO, EMBAIXO DO DECLIVE - das com bombas biológicas recicladoras, tais como
FAZENDA SANTA JACINTA, ITUVERAVA, SP ■ 1998
milheto e sorgo.
Nestes sistemas, a produção de matéria seca é
contínua durante o ano todo, através da utilização
progressiva de uma enorme reserva hídrica, numa gran­
de espessura de solo, e as concentrações em M.O.
aumentam na superfície do solo (Figura 25). O recar-
regamento em carbono interessa principalmente no
horizonte de 0-10 cm, mas também no de 10-20 cm,
quando gramíneas com sistema radicular mais poten­
te são usadas (Eleusine, Brachiaria consorciada com
sorgo, milheto ou em pastagem em 4 a 5 anos; espé­
cies perenes usadas como coberturas vivas, tais como
Cynodon dactylon ou Pennisetum clandestinum). O
acréscimo de M.O. na superfície aumenta a resistên­
cia dos microagregados e a proteção da M.O.; ou seja,
a M.O. aumenta a estabilidade dos agregados onde se
encontram, e os agregados mais estáveis, por sua vez,
protegem a M.O. nele incorporada, estabelecendo as­
sim relações recíprocas entre dinâmica da M.O. e esta­
bilidade da agregação (autoregulação, auto-prote-
ção).

A evolução das performances agronômicas e


técnico-econômicas dos sistemas de cultivo acompa­
nha, em todas as grandes eco-regiões, a evolução do
estatuto orgânico dos solos:
• Nos Trópicos Úmidos, entre 1986 e 2000, em
agricultura moderna mecanizada, os rendimentos das
culturas tropicais soja e arroz foram mais do que du­
plicados e a produção de matéria seca total por hecta­
re foi multiplicada por 4 a 5, permitindo produzir duas
culturas anuais de grãos em sucessão e também carne
I I Pré olantio PreParo do s°l° + corretivos, no convencional
------ p LSemeio cobertura + dessecação, no plantio direto ou leite na estação seca, e ao mesmo tempo proteger
totalmente o solo;
I I Plantio + sementes + adubos + herbicida total, se necessário

I | Desenvolvimento = Herbicidas pré, pós, capinas, coberturas N, K, • Na ecologia das florestas tropicais do Cen­
Inseticidas, Pix tro-Oeste do Brasil, sobre latossolos oriundos de
| | Custos de colheita, de transporte, custos fixos, custos de administração basaltos, com fortes declives, o plantio direto, em cul­
tivo moderno e mecanizado, propicia a controle total
(*) Resultados obtidos em lavoura comercial | Preço pluma ^22,4 US$/@
da erosão, o acréscimo de 10 a 30% na produtividade
FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; M.A.Ide, A. Trentini, GRUPO MAEDA - Ituverava, SP do algodoeiro, a diversificação da produção, contro­
lando a peste vegetal “tiririca” (Cyperus rotundus).

• Na eco-região subtropical de altitude das terras altas de


e onde os solos são “vazios quimicamente”, e apresentam um po­
Madagascar, local com erosão catastrófica, onde se pratica peque­
der de retenção irrelevante em relação aos adubos minerais.
na agricultura familiar, manual e com tração animal, com insumos
Se o Plantio Direto (PD) sobre cobertura vegetal propicia mínimos, a produtividade dos sistemas em PD é de 2 a 5 vezes supe­
sempre, em todas as grandes eco-regiões estudadas, a seqüestração rior à dos sistemas com preparo do solo para as culturas principais
do carbono, a importância desta seqüestração depende da natureza de milho, feijão e soja.
e da tipologia dos sistemas de cultivo praticados: os mais atuantes
Em todas as grandes eco-regiões, qualquer que seja o tipo
para esta função são aqueles que produzem mais biomassa aérea
de agricultura, os sistemas em PD controlam totalmente a erosão e
com C/N e teor de lignina elevados, e que possuem sistemas
são sempre nitidamente mais lucrativos do que os sistemas com
radiculares muito desenvolvidos na superfície e em profundidade
preparo do solo; as economias de mão-de-obra ou de máquinas e
para poder utilizar eficientemente a água profunda do solo, abaixo
combustível são espetaculares, a favor do Plantio Direto (PD).
da área de atuação radicular das culturas comerciais. Os sistemas
radiculares mais resistentes à mineralização estão cercados de “man­ Estes resultados obtidos em eco-regiões muito diferencia­
gas” importantes de microagregados que protegem a M.O. (polis- das evidenciam que o Plantio Direto na cobertura vegetal perma­
sacarídeos, endomicorrizas vesiculo-arbusculares, polifenóis), nente do solo propicia maior produção, de modo mais estável, e

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 21


situ, forem capazes de criar esses sistemas de culti­
FIGURA 21. CUSTOS DE PRODUÇÃO E MARGENS LÍQUIDAS (em US$/ha),
vo do futuro, mais atuantes em, simultaneamente,
DO ALGODOEIRO (CV. DELTA OPAL), SOB TRÊS MODOS DE
seqüestrar o carbono, reciclar os nitratos e as ba­
GESTÃO DO SOLO - Latossolo Vermelho-Escuro sobre basalto
ses, degradar os xenobióticos (critérios dos cien­
(^Fazenda Santa Bárbara - Grupo Maeda - Ituverava/SP, 1999/2000 J tistas e da sociedade civil), e que satisfaçam os
critérios de escolha da agricultura sustentável e os
dos agricultores (agronômicos e técnico-econô-
micos).
A metodologia de Pesquisa-Ação apresen­
tada neste documento permite responder às exi­
gências de todos e conciliá-las. A modelização dos
sistemas de cultivo leva, partindo dos sistemas vi­
gentes, a construir para e com os produtores, nos
seus ambientes, uma tipologia muito diversificada
dos sistemas de cultivo possíveis e apropriáveis.
Esta experiência mostra como nosso enfoque expe­
rimental leva a recolocar in situ, no quadro dos
sistemas inovadores edificados com os agriculto­
res, estudos tão fundamentais como os relativos à
dinâmica do carbono, a eficiente reciclagem anual
dos nitratos e das bases, a degradação dos xeno­
bióticos, a biorremediação em geral.
No decorrer do enfoque experimental prati­
cado in situ, estas temáticas fundamentais são tra­
tadas e confrontadas com as performances agro­
nômicas e técnico-económicas dos sistemas de
cultivo que poderão ser utilizados no futuro pelos
produtores; assim, o impacto econômico da dinâ­
mica do carbono, dos nitratos, das bases e dos
xenobióticos, pode ser avaliado de modo preventi­
vo. Portanto, é uma maneira de incorporar e tratar
as exigências da sociedade civil e da ciência dentro
da tipologia dos sistemas de cultivo, na prática
mesmo das agriculturas regionais.

(1) Preparo do solo + corretivos, no convencional


Esta experiência revela também a importân­
I I Pré plantio
Semeio cobertura + dessecação, no plantio direto cia dos Trópicos Úmidos como “simulador excep­
I I Plantio + sementes + adubos + herbicida total, se necessário cional” para o estudo científico da dinâmica do car­
I I Desenvolvimento = Herbicidas pré, pós, capinas, coberturas N, K, bono: num clima com alta pluviometria em 7,5 a
Inseticidas, Pix
8 meses, e com temperatura média muito elevada,
| | Custos de colheita, de transporte, custos fixos, custos de administração
as velocidades de reação dos processos fundamen­
(*) Resultados obtidos em lavoura comercial | Preço pluma ^16,75 US$ÃãT tais que comandam a dinâmica do carbono, mas
FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; N. Maeda, M.A. Ide, A. Trentini, GRUPO MAEDA - Ituverava, SP também a lixiviação dos nitratos e das bases, são
muito maiores do que em qualquer outro lugar, e
permitem apreender a dinâmica, até a curtíssimo
mais limpo, dando uma parte crescente para a fertilidade de origem prazo, destes processos fundamentais de funcionamento. E um
organo-biológica na capacidade do solo em produzir. Este tipo de modo acadêmico e rigoroso de elucidar estes fenômenos, encurtan­
agricultura que insere a noção de “biomassa anual”, “bomba bioló­ do o espaço-tempo, portanto um auxílio precioso de modelagem
gica” como “reforço” das culturas comerciais, pode agir como para a pesquisa, que permitirá antever essas dinâmicas para as de­
armazenador líquido de CO2 e não mais como produtor líquido. mais grandes eco-regiões do planeta onde a velocidade das rea­
Os efeitos benéficos na qualidade biológica dos solos, da ções é muito mais lenta.
água, podem ser muito rápidos, permitindo caracterizar esta ativida­ As unidades operacionais de criação-difusão desses cená­
de como despoluidora, e, nesse sentido, receber subsídios da socie­ rios de agricultura sustentável de amanhã estão organizados numa
dade civil por sua participação na limitação do efeito estufa, na rede tropical e subtropical no CIRAD-CA. Este conjunto muito di­
preservação das paisagens, das infra-estruturas rurais e da fauna: versificado nos planos dos ambientes físicos e sócio-econômicos
“créditos-carbono” poderiam constituir um meio estimulador para reúne uma malha de unidades operacionais de campo, monitoradas
sustentar o desenvolvimento agrícola nessa direção. Estes crédi­ pela pesquisa com o apoio das agriculturas locais, que são labora­
tos poderiam ser modulados em função da capacidade dos manejos tórios de vigília para a análise antecipada dos impactos dos siste­
técnicos e dos sistemas de cultivo em seqüestrar o carbono, cons­ mas em PD no ambiente e nos homens que o cultivam, e para a
tituindo, então, argumentos decisivos na escolha dos agricultores. modelagem científica dos funcionamentos destes sistemas que es­
Porém, estes cenários só serão reais e possíveis se os diver­ tão em ligação direta com as realidades agrícolas regionais. Estas
sos atores do desenvolvimento, trabalhando de mãos dadas in unidades, que pré-figuram os cenários da agricultura “limpa” de

22 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


FIGURA 22. EVOLUÇÃO DAS PRODUTIVIDADES MÉDIAS DE MILHO, FEIJÃO E SOJA EM FUNÇÃO
DO MODO DE GESTÃO DO SOLO E DAS CULTURAS, EM CULTURA MANUAL
Latossolos e solos vulcânicos das terras altas de Madagascar - Antsirabé, 1995/99

• MÉDIA DE QUATRO LOCALIDADES EM SOLOS


ÁCIDOS DE BAIXA FERTILIDADE

Q Q Plantio direto: Milho + leguminosas associadas


■--------- ■ Plantio direto: Milho + leguminosas associadas + “ecobuage”
±-------- A Aração: Milho cultura pura

o----------o Feijão x Plantio direto x Sucessão Aveia + Feijão


A--------- A Feijão de final de ciclo x Aração

o----------- o Soja x Plantio direto no Kikuyu


■---------- ■ Soja x Plantio direto x sucessão Soja + Aveia
A---------▲ Soja x Aração x rotação com Milho

FONTE: L. Séguy, CIRAD/GEC - ONG TAFA, Antisirabé, 1999

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 23


FIGURA 23. TEMPO GASTO NAS OPERAÇÕES MANUAIS POR ITINERÁRIO TÉCNICO EM
DIAS/HA EM FUNÇÃO DOS MODOS DE GESTÃO DOS SOLOS E DAS CULTURAS
- Latossolos e solos vulcânicos das altas terras de Madagascar - Antsirabé, 1994/99

Todas as operações manuais


| | MÍNIMO
- Preparo da parcela para plantio
- Plantio
■ MÁXIMO - Capinas
- Colheita

COMPARAÇÃO DO TEMPO MÉDIO GASTO NAS OPERAÇÕES EM FUNÇÃO DOS MODOS


DE GESTÃO DOS SOLOS E DAS CULTURAS NA SOJA, NO MILHO E NO TRIGO
- Latossolos e solos vulcânicos das altas terras de Madagascar - Antsirabé, 1994/99

24 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


FIGURA 24. CUSTOS DE PRODUÇÃO, MARGENS LÍQUIDAS E VALORIZAÇÃO DO DIA DE TRABALHO
DAS CULTURAS DE MILHO, SOJA E FEIJÃO EM FUNÇÃO DOS MODOS DE GESTÃO DOS
SOLOS E DAS CULTURAS EM AGRICULTURA MANUAL
- Latossolos e solos vulcânicos das terras altas de Madagascar - Antsirabé, 1997/98

• MÉDIA DE QUATRO LOCALIDADES: Solos ácidos de baixa fertilidade natural


□□Sistema tradicional com aração I BI Plantio direto1
Li—J Mão-de-obra L±J Insumos

□□Sistema tradicional com aração I IPlantio direto1

Em 1997/98,1FF = 921 Fmg -1 US$-5426 Fmg (Fmg = Franco de Madagascar)


FONTE: L. Séguy, CIRAD/GEC - ONG TAFA, Antisirabé, 1999

Adubação 1=5 t/ha esterco


Adubação 2 = 5 t/ha esterco + 500 kg/ha/ano calc. dolom. + 100 N + 68P2O5 + 48K2O/ha/ano ■ Milho + 30 N + 68 P2O5 + 48 K2O/ha/ano - leg.
Adubação 3 = 5 t/ha esterco + 2.000 kg/ha/ano calc. dolom. + 130 N + 136 P2O5 + 96 K2O/ha/ano - Milho + 60 N + 136 P2O5 + 96 K2O/ha/ano ■ leg.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 25


FIGURA 25. EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS DE CULTIVO, DA BIOMASSA DAS
RESTEVAS E DA UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS -
Ecologia dos cerrados e florestas úmidas do Centro-Norte do Mato Grosso -1986/2000

------------- Estação chuvosa ------------- ► 1 Estação seca

SON DJF MAM JJASON

Pico inicial de Grodogens


mineralização
Mineralizaçao O x
, rápida da Monocultura
* resteva Soja
Biomassa da
resteva 6-8 t/ha

0
PLANTIO DIRETO
• Duas culturas em
sucessão anual
Sendo:
- Uma cultura comercial
+
- Uma biomassa
de reforço
"Bomba biológica"

Biomassa
das restevas
18-22 t/ha

A PLANTIO
DIRETO
• Duas culturas em
sucessão anual
Sendo:
- Uma cultura comercial
+
- Uma biomassa
de reforço
“Bomba biológica”
+
-1 pasto temporário
na estação seca

Biomassa
das restevas
26-32 t/ha

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; A. Maronezzi, Agronorte - Sinop/MT - 2001

26 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


amanhã, estão muito adiantadas em relação aos cenários atuais de CERRI, C.; FELLER, C.; BALESDENT, L; VICTORIA, R.;
desenvolvimento e, portanto, constituem ferramentas preciosas de PLENECASSAGNE, A. Application du traçage isotopique
monitoramento da agricultura do futuro para conciliar as exigências naturel en C à 1’étude de la dynamique de la matière organique
da sociedade civil (luta contra o efeito estufa, produtos alimentí­ dans les sois - Comptes. Rendus de L’académie des Sciences,
cios sadios) e as dos agricultores (agricultura sustentável e lucra­ Paris, v.300,p.423-428,1985.
tiva, ao menor custo, num ambiente protegido e limpo). A “Rede
Plantio Direto sobre cobertura vegetal do CIRAD-CA”, que se es­ CHAUSSOD, R. La qualité biologique des sois - évaluation et
tende a passos largos graças ao apoio da cooperação francesa (FD, implications. AFES, v.3,n.4, p.261-278,1996.
MAE, FFEM), abrange a América Latina com o Brasil e o México, o
CORAZZA, E.J.; SILVA, J.E.; RESCK, D.V.S.; GOMES, A.C. Com­
Oceano Indico em Madagascar (trabalhos de H. Charpentier,
portamento de diferentes sistemas de manejo como fonte ou
R. Michellon do CIRAD, ONGs TAFA e ANAE, FOFIFA e ONGs
depósito de carbono em relação à vegetação de cerrado. R.
associadas) e na Ilha da Réunion (trabalhos de R. Michellon,
Bras. Ci. Solo, v.23, p.425-432,1999.
A. Chabanne, J. Boyer, F Normand, APR, DDA), a Ásia com o Laos
(trabalhos de P Julien, F Tivet e pesquisa laociana) e o Vietnã
DE RHAM et al. Enjeu des tanety pour le développement paysan en
(trabalhos de O. Husson, P. Lienard, S. Boulakia e pesquisa imerina. FAFIALAONG - ANTANANARIVO- MADAGAS­
vietnamita), e vai se abarcar para a África no início dos anos 2000
CAR 1995. 20p.
(Tunísia já em andamento, Camarões, Mali, e Etiópia por vir).
Esta rede pluri-ecológica de unidades experimentais “siste­ DICK, W.A.; BLEVINS, R.L.; FRYE, W.W.; PETERS, S.E.;
mas de cultivo em Plantio Direto” do CIRAD-CA é também um CHRISTENSEN, D.R.; PIERCE, F.J.; VITOSH, M.L. Impacts of
suporte de treinamento e formação para todos os atores do desen­ agricultural management practices on C sequestration in forest-
volvimento e pode se tomar uma referência mundial (diversidade derived soils of the eastem Com Belt. Soil & Till. Res., v.47,
das ecologias, dos sistemas de cultivo, do nível de domínio), onde p.235-344,1998.
a pesquisa antecipa, cria os sistemas de amanhã, modela seu funcio­
DOSS, D.D.; BAGYARAJ, D.J.; SYAMASUNDAR, J. Morpholo-
namento, avalia e explica para a sociedade civil seus impactos nos
gical and histochemical changes in the roots of finger millet
ambientes físicos e humanos, antes deles serem adotados em gran­
Eleusine coracana colonized by VA mycorrhiza. Proc. índia
de escala. Este enfoque reencontra o princípio de precaução e a
Natl. Sei. Acad., v.54, p.291-293,1989.
necessidade, que é sempre preferível, de prevenir do que remediar
(papel de laboratório de vigília, de aviso). ELLIOT, E.T. Aggregate structure and carbon, nitrogen and
phosphorus in native and cultivated soils. Soil Sei. Soe. Am. J.,
v.50,p.627-633,1989.
5. LITERATURA C0N2ULTADA
ESWARAN, H.; VAN DER BERG, E.; REICH, P. Organic carbon in
soils of the world. Soil Sei. Soe. Am. J., v.57, p. 192-194,1993.
AMADO, T.J.; PONTELLI, C.B.; JÚNIOR, G.G.; BRUM, A.C.R.;
ELTZ, F.L.F.; PEDRUZZI, C. Seqüestro de carbono em sistemas FEBRAPDP - Federação brasileira de plantio direto na palha 2000.
conservacionistas na Depressão Central de Rio Grande do Sul. Evolução da área de plantio direto no Brasil - dados estatísti­
In: REUNIÓN BIENAL DE LA RED LATINOAMERICANA DE cos. http://www.agri.com.br/febrapdp/pd.
AGRICULTURA CONSERVACIONISTA, 5., Florianópolis, 1999.
p.42-43. FELLER, C. La matière organique dans les sois tropicaux à argile
1:1. Recherche de compartiments organiques fonctionnels. Une
BATJES, N.H. Total carbon and nitrogen in the soils of the world. approche granulométrique. Orstom, 1995. 393p. Tese (Douto­
Eur. J. Soil Sei., v.47, p. 151 -163,1996. rado) - Université Louis Pasteur, Strasbourg, França.

FEYT, EL, MENDEZ DEL VILLAR, P; RAVOHITRARIVO, C.P.;


BAYER, C.; MIELNICZUK, J.; AMADO, T.J.C.; MARTIN-NETO, RABENJANAHARYE. ENQUETES -Étudesdelavariabilité
L.; FERNANDES, S.V. Organic matter storage in a sandy clay de la filière semences de FIFAMANOR dans le cadre du
loam acrisol affected by tillage and cropping systems in désengagement de 1’état. DOC FOFIFA - CIRAD - ANJANANA-
southem Brazil. Soil & Till. Res., v.54, p. 101-109,2000. RTVO- MADAGASCAR, 1999.

BORGES, G. Especial 10 anos - retrospectiva dos principais fatos IPCC. Climate change 1995. Working group 1. Cambridge:
que foram notícia. Revisão Plantio Direto, edição n° 59,48p., Cambridge University Press, 1996.
Setembro/outubro de 2000.
KERN, J.S.; JOHNSON, M.G. Conservation tillage impacts on
national soil and atmospheric carbon leveis. Soil Sei. Soe. Am.
BOULAKIA, S.; MADJOU C.; SÉGUY, L. Impacts de quelques
J., v.57,p.200-210,1993.
itinéraires techniques de Semis Direct, comparés au travail
du sol, sur des indicateurs fondamentaux de gestion de la LAL, R. Long-term tillage and maize monoculture effects on a tropi­
fertilité sous climat équatorial. Montpellier Cedex 5 France, cal Alfisol in Western Nigéria. II. Soil Chemicalproperties. Soil
1999. p.34398. (Doc. Interne CIRAD, 11) & Till. Res., v.42,p. 161-174,1997.

CAMBARDELLA, C.A.; ELLIOT, E.T. Carbon and nitrogen LAL, R. Soil management and restoration for C sequestration to
dynamics of soil organic matter fractions from cultivated mitigate the accelerated greenhouse effect. Progress in Env.
grassland soils. Soil Sei. Soe. Am. J., v.58, p.123-130,1994. Sc.,v.4,p.307-326,1999.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 27


LAL, R.; LOGAN, T.J. Agricultural activities and greenhouse gas SÉGUY, L. Quelques éléments simples et utiles: à la compréhension
emissions from soils of the tropics. In: LAL, R.; KIMBLE, J.M.; de la démarche du CIRAD-CA en matière d’agroécologie - à la
LEVINE, E.; STEWART, B.A. (eds.). Soil management rédaction d’un projet scientifique SCV. France, 2001b. 23p.
greenhouse effect. BocaRaton: CRC Press, 1995. p.293-307. (Document CIRAD).

LAL, R.; KIMBLE, J.; LEVINE, E.; WHITMAN, C. World soils and SÉGUY, L.; BOUZINAC, S. Cultiver durablement et proprement
greenhouse effect: An overview. In: LAL, R.; KIMBLE, J.; les sois de la planète, en Semis direct. France, 1998b. 45p.
LEVINE, E.; STEWART, B.A. (eds.). Soils and global change. (Doc. INTERNE CIRAD).
BocaRaton: CRC Press, 1995. p.1-7.
SÉGUY, L.; BOUZINAC, S. Rapports annuels de recherches sur
les fronts pionniers du Mato Grosso. ZTH -1992/2000. (Doc.
LOPES, A.S. Solos sob Cerrado - características, propriedades e INTERNES CIRAD)
manejo. Piracicaba: POTAFOS, 1984. 162p.

SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; MARONEZZI, A.C. Les plus récents


MIYAZAWA, M.; PAVAN, M.A.; FRANCHINI, J.C. Neutralização progrès technologiques réalisés sur la culture du riz pluvial
da acidez do perfil de solo por resíduos vegetais. Informações de haute productivité et à qualité de grain supérieure, en sys­
Agronômicas, POTAFOS, n.92, Dezembro/2000. tèmes de semis direct. Ecologies des forêts et cerrados du
Centre Nord de 1’Etat du Mato Grosso. Agronorte - Sinop-MT.
NEUFELDT, H.; AYARZA, M.A.; RESK, D.V.S.; ZECH, W. France, 1998a. 4p.
Distribution of water-stable aggregates and aggregating agents
in Cerrado Oxisols. Geoderma, v.93, p.85-99,1999. SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; MARONEZZI, A.C. Semis direct et
résistance des cultures aux maladies. France, 1998b. 4p. (Doc.
CIRAD)
RAIJ, B. VAN. Fertilidade do solo e adubação. Piracicaba: POTAFOS,
1991. 343p
SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; MARONEZZI, A.C. Systèmes de culture
et dynamique de la matière organique. France, 2001.200p. (Doc.
REICOSKY, D.C.; KEMPER, W.D.; LANGDALE, G.W.; DOUGLAS CIRAD).
Jr., C.L.; RASMUSSEN, PE. Soil organic matter changes resulting
from tillage and biomass production. J. Soil Water Cons., v.50, SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; MAEDA, E.; MAEDA,N. Brésil: semis
p.253-261,1995. direct du cotonnier en grande culture motorisée. Agriculture
et développement, n. 17, Mars 1998c. p.3-23.
SÁ, J.C.M.; CERRI, C.C.; DICK, W.A.; LAL, R. Plantio Direto -
Recupera a matéria orgânica do solo e reduz a emissão de CO9 SÉGUY, L.j BOUZINAC, S.; MAEDA, E.; MAEDA, N. Large scale
para a atmosfera. Revista Plantio Direto, n. 59, setembro/outu- mechanized direct drilling of cotton in Brazil. The ICAC
bro de 2000a. p.41-45. Recorder. Technical Information Section, v. 16, n. 1, march 1998d.
p.11-17.

SÁ, J.C.M.; CERRI, C.C.; LAL, R.; DICK, W.A.; VENZKE FILHO,
SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; MAEDA, E.; IDE M, A.; TRENTINI, A.
S.P.; PICCOLO, M.; FEIGL, B. Organic matter dynamics and
La maítrise de Cyperus rotundus par le semis direct en culture
sequestration rates for a tillage chronosequence in a Brazilian
cotonnière au Brésil. Agriculture et développement, n.21, p.87,
Oxisol. Soil Sei. Soc. Am. J., 2000b.
1999.

SÉGUY, L. Contribution à 1’étude et à la mise au point des systèmes SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; TAFFAREL, W; TAFFAREL, J. Mé­
de culture en milieu réel: petit guide d’initiation à la méthode thode de défrichement préservant la fertilité du sol. In: Bois et
de création-diffusion de technologies en milieu réel, - résumés forêts des tropiques,n.263,1° trimestre 2000. p.75-79.
de quelques exemples significatifs d’application. France,
Octobre 1994. 191p. (Doc.CIRAD) SÉGUY, L.; BOUZINAC, S.; TRENTINI, A.; CORTEZ, N.A.
L’agriculture brésilienne des fronts pionniers. Agriculture et
SÉGUY, L. Les techniques de semis direct sur couvertures végéta- développement, n. 12, décembre 1996. p.2-61.
les dans la région des Hauts Plateaux de Madagascar. Partie
d’un document collectif sur Madagascar à paraitre pendant TRIOMPHE, B. Méthodes d’expérimentation agronomique en
1’année - 34398 Montpellier cedex 5 - France, 2001a. 100p. (Doc. milieu paysan. Approche bibbographique. Collection Mémoires
CIRAD provisoire). et travaux de 1TRAT 19. CIRAD-CA, 1989.223p.

28 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


ANEXO

0 CONCEITO DE
MULTIEUNCIONALIDADE DAS
BIOMASSAS DE COBERTURA
EM PLANTIO DIRETO

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 29


FIGURA 26. 0 CONCEITO DE MULTIFUNCIONALIDADE DAS BIOMASSAS DE
COBERTURA EM PLANTIO DIRETO
/\
Sistemas ÍSistemas sustentáveis Sistemas
de sequeiro I em plantio direto irrigados
\/

Sobre coberturas mortas Sobre coberturas vivas Mistos


(grãos) (grãos + pecuária) (grãos + pecuária)

MULTIFUNCIONALIDADE DAS COBERTURAS

1
ACIMA DO SOLO NO PERFIL CULTURAL

1 1
Função Função de Função Função de Função Função Função de
alimentar
1 controle protetora “costurar” recicladora reestruturadora recarregamento
das o solo pelo (NO3, bases) pelos em carbono
iI------- J---------- l1
Culturas Gado,
invasoras
Sombreamento Temperatura,
sistema
radicular ♦ sistemas
radiculares
CTC


fauna
+ alelopatia Precipitação
Xenobióticos
(Polissacarídeos) Conexão
com reserva
profunda

Esqueleto
Desenvolvimento da
atividade biológica
de água de (fauna, microflora)
sustentação Poder tampão
do solo desintoxicador

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; A. C. Maronezzi, AGRONORTE, Sinop/MT - 1978/2000

FIGURA 27. FUNÇÃO ALIMENTAR

VELOCIDADE DE MINERALIZAÇÃO

_____________________________

NUTRIENTES + ÁCIDOS ORGÂNICOS + METABÓLITOS M.O.

I---------- ---------------1-----'----------------------------1------------ -------- 1


ALIMENTAÇÃO NEUTRALIZAÇÃO NEUTRALIZAÇÃO ATIVIDADE
DAS CULTURAS, ACIDEZ, TOXIDEZ Al SALINIDADE BIOLij)GICA
GADO, FAUNA
|__ Poder tampão
Poder tampão _ |
complexante, desintoxicante

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; A. C. Maronezzi, AGRONORTE, Sinop/MT - 1978/2000

30 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


• PROTEÇÃO CONTRA A EROSÃO
FIGURA 28. FUNÇÕES • PODER REESTRUTURANTE
• RECARREGAMENTO DO CARBONO

PROTEÇÃO CONTRA A EROSÃO

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; A. C. Maronezzi, AGRONORTE, Sinop/MT - 1978/2000

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; A.C. Maronezzi, AGRONORTE, Sinop/MT - 1978/2000

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96-DEZEMBRO/2001 31


FIGURA 30. FUNÇÃO:
CONTROLE DAS INVASORAS
< BIOMASSAS DOMINANTES, ALTAMENTE COMPETITIVAS, A
<EXCLUSIVAS DAS DEMAIS ESPÉCIESJ

"X

ANUAIS PERENES,
INCLUINDO
k ERVAS DANINHAS

Brachiaría, Cynodon, Paspalum,


GRAM. Pennisetum, Stenotaphrum,
Axonopus, etc.
• Eleusine coracana Trifolium, Stylosanthes, Cassia,
• Sorgo sp. LEG. Arachis, Pueraria, Calopogonium,
• Milhetos, Setárias, _Desmodium, etc.
Echinochloa
ERVAS DANINHAS
• Crotalárias, Vigna, etc.
Mimosa, Chromolaena,
Imperata, Cyperus, etc.

• CAMADA PROTETORA ^VELOCIDADE DE DECOMPOSIÇÃO


o. . (C/N, teor em lignina)
a '
- Sombreamento '
- Proteção total dos solos
contra moléculas xenobióticas

• EFEITOS ALELOPÁTICOS

DESENVOLVIMENTO DE CENÁRIOS DE
PRODUÇÃO DE GRÃOS INTEGRADOS
OU NÃO COM A PECUÁRIA
• Sem herbicidas ^Agricultura biológica
• Somente com herbicidas totais em baixa
dosagem, num solo coberto, protegido

FONTE: L. Séguy, S. Bouzinac, CIRAD-CA; A. C. Maronezzi, AGRONORTE, Sinop/MT - 1978/2000

32 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 96 - DEZEMBRO/2001


fK7p]potQFÕS ENCARTE TÉCNICO
INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N°112-DEZEMBRO/2005

PLANTAS PARA COBERTURA DO SOLO


E ADUBAÇÃO VERDE APLICADAS
AO PLANTIO DIRETO
Edmilson J. Ambrosano1 Gláucia M. B. Ambrosano4
Nivaldo Guirado1 Roberto A. Arévalo1
Heitor Cantarei la3 Eliana A. Schammas5
Raffaella Rossetto1 Irineu Arcaro Júnior2
Paulo C. Doimo Mendes1 Dulcinéia E. Foltran1
Fabricio Rossi1

INTRODUÇÃO com a finalidade precípua de enrique­


cer o solo com sua massa vegetal,
erosão do solo sem­ quer produzida no local ou importa­

A pre foi uma grande


preocupação na co­
munidade agronômica e está fre-
qüentemente ligada ao sucesso ou
da” (KIEHL, 1979). Embora conside-
re-se como adubação verde o cultivo
de várias espécies vegetais, naturais
ou cultivadas, as leguminosas (Faba-
fracasso das civilizações. Com o de- ceae) são as plantas mais utilizadas
correr da história da agricultura, a consciência da preservação do para essa finalidade.
solo se desenvolveu e foram criadas práticas conservacionistas e No Brasil, esta prática já era recomendada por Dutra (1919),
de mínimo revolvimento do solo, atingindo sua plenitude com o autor da publicação “Adubos verdes: sua produção e modo de
plantio direto sobre a palha, o que tem garantido um excelente con­ emprego”, destacando o efeito dessas culturas na recuperação
trole da erosão. Para tanto, foram criados estudos sobre rotação de dos solos e o fato universalmente aceito de que seu êxito depen­
cultivos e plantas de cobertura e adubação verde. dia apenas da escolha das plantas a serem utilizadas para esse
A evolução social da coletividade moderna está na depen- fim.
dência cada vez maior dos recursos naturais, contudo, as práticas A partir desse trabalho, o assunto mereceu atenção dentro
agrícolas muitas vezes arruinam o bem mais precioso dos agroecos- dos vários programas realizados no Instituto Agronômico, intensi-
sistemas, que é o solo. Relatos bíblicos de mais de 3.000 anos des­ ficando-se com Neme, no período de 1934 a 1958, que conduziu
crevem solos férteis onde hoje estão localizados os desertos da vários projetos visando determinar quais as principais leguminosas
Pérsia (Irã), Mesopotâmia e Norte da África. para cobertura e produção de adubo verde, e, ao mesmo tempo, os
Os restos culturais deixados pelas culturas anuais nem sem­ efeitos da matéria orgânica sobre a produção do milho, em várias
pre estão em quantidade e permanência suficientes para uma prote­ localidades do Estado de São Paulo. Nestes trabalhos destacaram-
ção do solo que garanta a máxima eficiência do sistema de plantio se como produtoras de massa verde a mucuna-preta, a crotalária
direto na palha. Sendo assim, para garantir a devida proteção do paulina e o feijão-de-porco, sendo que a mucuna se destacou tam­
solo, já é aceito que a quantidade mínima de resíduos deva chegar bém por ter proporcionado aumentos significativos na produção
a cerca de 7 t ha1. do milho, que seguiu o adubo verde. Foi notado, também, efeito da
A prática de rotação de culturas pode beneficiar quem dese­ mucuna no controle de nematóide.
ja alcançar a máxima eficiência no sistema de plantio direto na palha, Com a prática da adubação verde é possível recuperar a
tendo-se observado que as gramíneas (Poaceae) são as que produ­ fertilidade do solo proporcionando aumento do teor de matéria or­
zem resíduos com maior permanência; contudo, é das leguminosas gânica, da capacidade de troca de cátions e da disponibilidade de
(Fabaceae) os resíduos de melhor qualidade e que trazem melhores macro e micronutrientes; formação e estabilização de agregados;
resultados. Com isso, a adubação verde ou as plantas de cobertura melhoria da infiltração de água e aeração; diminuição diuturna da
podem ser manejadas para proporcionar os melhores resultados. amplitude de variação térmica; controle dos nematóides e, no caso
A definição mais difundida sobre adubo verde é aquela das leguminosas, incorporação ao solo do nutriente nitrogênio (N),
que diz: “denomina-se adubo verde a planta cultivada, ou não, efetuada através da fixação biológica (IGUE, 1984).

1 Diretor do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento, APTA/Pólo Regional do Centro-Sul, Piracicaba, SP; e-mail: ambrosano@aptaregional.sp.gov.br
2 APTA/DDD - Ação Regional, Av. Brasil, 2340, CEP 13070-178, Campinas, SP.
3 APTA/IAC - Centro de Solos e Recursos Agroambientais, Caixa Postal 28, CEP 13001-970, Campinas, SP.
4 UNICAMP/FOP- Departamento de Odontologia Social, Bioestatística, Caixa Postal 52, CEP 13414-903, Piracicaba, SP.
5 Instituto de Zootecnia, Bioestatística, Rua Heitor Penteado, 56, CEP 13460-000, Nova Odessa, SP.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112-DEZEMBRO/2005 1


Durante as últimas décadas, devido à intensificação dos para a cultura seguinte e evitar, assim, adubos altamente solúveis
cultivos e aumento da disponibilidade de fertilizantes químicos de que podem poluir o ambiente (KOHL et al., 1971).
baixo custo, houve um declínio no uso da adubação verde (SINGH Além dessa associação, é conhecida, também, a capacidade
et al., 1991). das leguminosas em formar relações simbióticas mutualísticas com
O manejo inadequado do solo pode trazer, com os cultivos, fungos, dando origem às micorrizas. Essas são relações fundamen­
sérias conseqüências, exaurindo-o de suas reservas orgânicas e tais na agricultura ecológica, que não dispõe de insumos solúveis e
minerais, transformando-o em terras de baixa fertilidade. Nos solos prontamente disponíveis para as plantas. Com isso, as leguminosas
tropicais, suscetíveis a esse fenômeno, toma-se necessário o em­ têm uma grande vantagem: as micorrizas proporcionam aumento na
prego constante de práticas que visam minimizar esse problema área explorada pelas raízes, colaborando para o desenvolvimento
(MELLO e BRASIL SOBRINHO, 1960). de plantas mais tolerantes à seca, com maior capacidade de nutri­
Atualmente, observa-se a procura de um sistema de produ­ ção, principalmente de fósforo, nitrogênio e outros elementos es­
ção agrícola que seja capaz de recuperar a fertilidade do solo, in­ senciais, e a fixação biológica do nitrogênio é garantida pelas bacté­
cluindo a utilização de leguminosas como cobertura no outono- rias (rizóbio).
inverno, e que tenha apresentado resultados satisfatórios na ob­ E de fundamental importância para a agricultura ecológica
tenção de renda extra e efeitos benéficos na cultura subseqüente que se tenha plantas micorrizadas, e isso é muito fácil de se obter
(BULISANIetal., 1987). pois são raras as famílias de plantas em que não se observa esse
No Brasil, a prática da adubação verde vem sendo utilizada tipo de associação. Sua presença é constatada em 80% das espé­
há mais de 30 anos com excelentes resultados, sob as mais diversas cies vegetais estudadas até o momento (AZCON et al., 1991).
condições de produção (MIYASAKA, 1984), sendo observados Os fungos formadores de micorrizas são simbiontes obriga­
resultados positivos quanto ao fornecimento de N para a cultura tórios e não crescem fora das raízes. Devido a isso, até pouco tempo
seguinte, nas culturas de milho cultivado após a soja (MASCA- passavam desapercebidos pelos microbiologistas e, levando-se em
RENHAS et al., 1986), algodão após a soja, cana-de-açúcar após a conta que também não são produzidas mudanças morfológicas nas
soja, em áreas de reforma, e milho após o tremoço (GALLO et al., raízes, sua presença foi tampouco detectada pelos fisiologistas. Em
1983 e 1986; PEREIRA et al., 1988; KANTHACK et al., 1991; contraste com a grande quantidade e diversidade de plantas que
TANAKAetal., 1992). formam micorrizas, somente cerca de 150 espécies de fungos são
Embora encontrem-se dados de pesquisa obtidos nas mais responsáveis pela infecção dessas plantas.
diversas instituições do país, indicando o efeito favorável na Além dos benefícios citados acima, as micorrizas são impor­
produção agrícola, a prática da adubação verde ainda continua tantes também no combate às doenças causadas pelo complexo de
restrita a um reduzido número de agricultores (FREITAS et al., fungos de solo. A planta micorrizada adquire uma certa resistência à
1984). infecção pelos fungos patogênicos. Se pensarmos num sistema
conduzido ecologicamente, onde os adubos verdes utilizados em
USO DE LEGUMINOSAS NA ADUBAÇÃO VERDE rotação de cultivos propiciam um equilíbrio de elementos nutrien­
tes no solo, juntamente com as plantas micorrizadas atuando na
A razão da preferência pelas leguminosas na adubação ver­
proteção contra os fungos patogênicos, teremos uma completa pro­
de é, principalmente, pelo fato destas, em simbiose com bactérias
teção dessas plantas.
do gênero Rhizobium e Bradyrhizobium, fixarem N do ar em quan­
tidade suficiente para satisfazer suas necessidades e gerar exce­ Algumas das razões para essa proteção das plantas micor­
dentes para a cultura que a sucede. Sua composição química e rizadas contra os fungos patogênicos são listadas por Azcón (1999)
relação C/N são outras importantes características. Assim, as legu­ como sendo: melhor nutrição da planta, assegurada pelas mi­
minosas, em comparação com as gramíneas, são mais ricas em N, corrizas; grande competição por sítios de infecção que agora es­
fósforo (P), potássio (K) e cálcio (Ca). Porém, a adubação verde não tão tomados pelas micorrizas; competição por fotossintetizados e
supre o solo em relação às suas deficiências minerais totais. Em mudanças fisiológicas e anatômicas do sistema radicular. Além
solos deficientes em P, K, Ca e magnésio (Mg) há necessidade de se disso, a presença das micorrizas desencadeia uma resposta do
aplicar os referidos elementos, de preferência nas culturas econô­ sistema de defesa da planta, que tenta se defender da própria
micas usadas em sucessão ou rotação. Por outro lado, é preciso ter infecção das micorrizas até que elas possam ser identificadas e
cuidado com o desequilíbrio na fertilidade, principalmente em fun­ aceitas pelo hospedeiro.
ção da disponibilidade de N, em determinada fase da decomposição Outro fato importante a considerar é o sistema radicular das
da matéria orgânica. leguminosas, que pode alcançar grandes profundidades, absorver
O enterrio de restos vegetais pobres em N nem sempre pro­ água e extrair elementos minerais destas camadas do solo, proporcio­
porciona os resultados esperados, isto porque a flora microbiana nando, assim, reciclagem e redistribuição de nutrientes. Contudo, o
não tem à sua disposição quantidade suficiente de N para seu de­ efeito das raízes na adubação verde é pouco estudado devido às
senvolvimento. A porção de N não utilizada pelas bactérias é que, dificuldades em se obter os dados.
transformada em nitrato, fica disponível para as plantas cultivadas Deve-se considerar também a proteção oferecida pela co­
ou para se perder por lixiviação. A leguminosa em decomposição bertura vegetal ao solo na diminuição diuturna da amplitude de
apresenta proporção de N mais favorável à biologia do solo e con- variação térmica, contra o impacto das gotas de chuva e o escor­
seqüente efeito positivo nas lavouras. rimento superficial, proporcionando temperatura mais estabilizada
Segundo Franco e Souto (1984), as leguminosas comumente e protegendo-o contra importantes perdas de água e nutrientes.
usadas em adubação verde fixam e adicionam ao solo, em média, Sendo assim, um sistema de rotação de culturas empregan­
188 kg ha1 ano1 de N, podendo-se, assim, racionalizar o uso de N. do leguminosas traz, além dos benefícios citados, incremento na
Com esta prática pode-se recuperar a fertilidade do solo, perdida produtividade e economia de adubo nitrogenado na cultura que a
devido ao manejo inadequado e à adoção de monocultivo, obter N sucede no esquema de sucessão ou de rotação.

2 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112 - DEZEMBRO/2005


O fato de certas leguminosas serem más hospedeiras de dio de desenvolvimento das plantas, exceto a soja no florescimento
nematóides formadores de galhas e a facilidade de produção de e frutificação e a crotalária nas fases iniciais de crescimento, os
sementes contribuem para a difusão de seu uso em sistemas de prejuízos por deficiência hídrica são poucos aparentes.
produção. A ação das leguminosas sobre os nematóides, segundo
Mascarenhas et al. (1984), pode ser caracterizada sob dois aspec­ BENEFÍCIOS DA ADUBAÇÃO VERDE
tos: primeiro, pela ação direta na inadequada hospedagem de algu­ NO PLANTIO DIRETO NA PALHA
mas espécies e, segundo, pelo maior equilíbrio microbiológico que
as leguminosas utilizadas conferem ao solo por ocasião da distri­ Com a prática da adubação verde pode-se alcançar a sus-
buição da fitomassa. tentabilidade agrícola na medida em que a fertilidade do solo pode
ser preservada e até ser incrementada pelos seguintes benefícios:
FATORES LIMITANTE2 À IMPLANTAÇÃO E • Proteção contra a erosão do solo. Com o terreno coberto
DESENVOLVIMENTO DE LEGUMINOSAS com planta ou palha a energia das gotas de chuva é dissipada,
impedindo a desagregação do solo e evitando o selamento super­
Não se considerando os fatores sócio-econômicos e cultu­
ficial.
rais da implantação dos sistemas agrícolas que incluem leguminosas
como cobertura do solo, no período de outono-invemo, podem ser • Aumento da infiltração de água no corpo do solo, possibi­
apontados como fatores limitantes ao pleno desenvolvimento das litando maior armazenamento e evitando o escorrimento superficial.
plantas: • Possibilidade de se aumentar a matéria orgânica do solo,
• Temperatura pelo uso contínuo dessa prática.
• Diminuição da amplitude de variação térmica do solo, man­
As diversas espécies vegetais estão divididas segundo a
tendo a temperatura mais amena, o que permite o crescimento dos
adaptação térmica em leguminosas de verão e de inverno, incluindo
microrganismos e o retomo da vida no solo.
nas primeiras as mais conhecidas, cuja semeadura é efetuada na
primavera-verão; e outras menos conhecidas, de semeadura no ve­ • Funciona como um arado biológico, uma vez que as raízes
rão-outono. das leguminosas são profundas e a sua decomposição futura cria
galerias e macroporos que são interessantes para promover o cres­
• Golo cimento de microrganismos em profundidade e com isso romper
Apesar das leguminosas apresentarem ampla adaptação aos barreiras físicas do solo.
diversos tipos de solo, elas são exigentes a um mínimo de fertilida­ • Promove reciclagem de nutrientes pelo crescimento vigo­
de, traduzido principalmente por uma disponibilidade adequada de roso do sistema radicular das leguminosas, que tem capacidade de
P, KCaeMg. explorar um volume maior de solo e com isso promover eficiente
Dos poucos ensaios de adubação mineral executados com reciclagem de nutrientes. Foram encontradas raízes de lablabe a até
leguminosas adubos verdes (MASCARENHAS et al., 1994a), fica 3,4 metros de profundidade, o que comprova a exploração de maior
patente que plantas dessa família respondem mais à fertilidade do volume do solo (Figura 1).
solo do que à adubação direta. Por esse motivo, nos sistemas que
envolvem rotação com essas plantas, a cultura econômica principal
é a que deve ser racionalmente adubada, não se podendo prescin­
dir do monitoramento da fertilidade do solo através de sua análise
periódica, enquanto a leguminosa aproveitaria o efeito residual da­
quela adubação. Ainda em relação à disponibilidade de nutrientes,
deve-se considerar a presença de alumínio (Al) e de manganês (Mn)
em níveis tóxicos . Segundo as pesquisas, as leguminosas são mais
sensíveis ao Mn do que as gramíneas, portanto exigem quantida­
des mais elevadas de corretivo para imobilizá-lo. Por outro lado, as
gramíneas são mais sensíveis à toxicidade de alumínio do que as
leguminosas.

• Disponibilidade hídrica
A quantidade e a distribuição pluvial irão definir o maior ou
menor desenvolvimento da planta no outono-invemo. Conside­
rando-se a implantação das culturas já no final da estação chuvosa,
Figura 1. Plantio de lablabe, planta multi-funcional (adubo verde e
portanto em condição marginal de distribuição hídrica, é normal,
forrageira).
principalmente para semeaduras mais tardias, a ocorrência de déficit
acentuado, tanto mais freqüente e intenso quanto mais ao norte do
paralelo 22°S. Assim, semeaduras mais antecipadas em sentido in­ • Promove aumento da CTC efetiva do solo e na disponibi­
verso a essa tendência são garantia de menor risco. lidade de macro e micronutrientes.

A fase crítica na implantação das leguminosas é, sem dúvi­ • Colabora para a diminuição da acidez potencial do solo
da, a da germinação e emergência das plântulas, ocasião em que a com conseqüente aumento na soma de bases e no V%.
falta de água restringe ou impede a obtenção de população adequa­ • Fornece nitrogênio, no caso de se utilizar leguminosas
da. Posteriormente, pela natureza do sistema radicular, pela menor (Fabaceae), para as culturas seguintes pelo processo de fixação
demanda de água devido o avançar do outono-invemo e pelo está­ biológica do nitrogênio.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112-DEZEMBRO/2005 3


• Atua na redução da população de plantas daninhas pelos mineralização e a liberação de N para o milho. Os principais resulta­
processos de supressão e alelopatia. Neste caso, é preciso um co­ dos estão na Figura 2.
nhecimento das relações entre espécies. No caso do feijoeiro, cons-
tatou-se inibição na germinação em extrato aquoso de plantas de
nabo forrageiro e tremoço e no seu desenvolvimento em extratos de
trigo, aveia, centeio, tremoço e nabo forrageiro.
• Melhora a eficiência no aproveitamento de adubos mine­
rais pelas culturas seguintes e diminui a lixiviação de nutrientes,
principalmente de nitrogênio.
• Promove a integração das atividades agrícolas, uma vez
que as leguminosas podem ser utilizadas como forragem na alimen­
tação de animais.
A = Crotalaria juncea, parte aérea, Latossolo Vermelho eutroférrico
• Atua no controle de fitonematóides, principalmente aque­
B = Crotalaria juncea, raízes, Latossolo Vermelho eutroférrico
les formadores de galhas e cistos, e na redução de inóculos de C = Mucuna-preta, parte aérea, Latossolo Vermelho eutroférrico
doenças e pragas, atuando na quebra do ciclo. D = Mucuna-preta, raízes, Latossolo Vermelho eutroférrico
E = Crotalaria juncea, parte aérea, Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico
Assim, a prática da adubação verde deve ser introduzida no F = Crotalaria juncea, raízes, Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico
sistema de plantio direto na palha porque as plantas utilizadas são G = Mucuna-preta, parte aérea, Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico
de alta eficiência de desenvolvimento e, no caso das leguminosas, H = Mucuna-preta, raízes, Argissolo Vermelho-Amarelo distrófico
incrementam o solo em N e micorrizas e combatem nematóides for­
Figura 2. Balanço de nitrogênio em leguminosas usadas como adubação
madores de galhas.
verde.

EFICIÊNCIA NO USO DE NITROGÊNIO DAS


RESULTADOS DE PESQUISA UTILIZANDO-SE
LEGUMINOSAS UTILIZADAS NA ADUBAÇÃO VERDE
LEGUMINOSAS COMO ADUBO VERDE NAS
Fala-se muito no benefício do fornecimento de N com a prá­ CULTURAS DE CANA-DE-AÇÚCAR, CITROS E ARROZ
tica da adubação verde, contudo, são poucos os trabalhos que
quantificam a transferência de N para os diversos compartimentos Pesquisas com leguminosas adubos verdes em
do sistema agrícola. cana-de-açúcar
Com a adoção da técnica nuclear, usando-se marcador 15N, O Brasil é um dois maiores produtores de cana-de-açúcar do
foi possível quantificar a passagem do N da leguminosa para o mundo, atendendo aos mercados internos e externos de açúcar,
solo, para a planta e o perdido para fora do sistema (AMBRO- atuando como gerador de divisas e, também, tendo como meta subs­
SANO, 1995). O estudo foi feito em casa de vegetação usando o tituir alguns derivados de petróleo pelo etanol nacional (MURAO-
milho como planta subseqüente à adubação verde, em dois tipos KAetal., 1995).
de solo, um argiloso e outro arenoso, e os resultados foram os Com a expansão da cultura canavieira e a incorporação de
seguintes: novas áreas, geralmente de baixa fertilidade, para a produção de
• A eficiência da adubação verde chegou a 36%; isso signi­ açúcar e energia renovável, é de fundamental importância recuperar
fica que, do total de N presente no milho, 36% veio da leguminosa. e manter a fertilidade para alcançar produções econômicas. Portan­
to, os adubos verdes têm um papel de destaque como condiciona­
• A mineralização do nitrogênio foi maior em solo arenoso
dores do solo, fornecedores de nutrientes, N no caso de leguminosas,
sendo maior, também, a transferência desse N para as plantas de
além de exercer controle contra nematóides e plantas daninhas.
milho.
No Estado de São Paulo, o estudo do comportamento da
• A decomposição foi muito rápida, não havendo predomi­
cana-de-açúcar em sucessão a adubos verdes foi iniciado por Car­
nância de imobilização de N.
doso (1956), que verificou maior rendimento nesta gramínea após o
• A adubação verde contribui para preservação da matéria cultivo de Crotalaria juncea do que após mucuna-preta. Em outras
orgânica original do solo, economizando-se, assim, o N original do regiões testadas, as duas espécies tiveram rendimentos semelhan­
solo. tes, mas sempre superiores aos das espécies guandu, lablabe e
Em estudos desenvolvidos no IAC utilizando-se as legumi­ testemunha.
nosas mucuna-preta e crotalária juncea, incorporadas em dois so­ Wutke e Alvarez (1968) observaram que o resíduo de
los, sendo um de textura argilosa e outro arenosa, com posterior Crotalaria juncea proporcionou aumento da produtividade da
cultivo de milho, pôde-se observar que de 60% a 80% do N da cana-de-açúcar e, para o primeiro corte, o efeito da leguminosa foi
leguminosa permaneceu na matéria orgânica do solo, de 15% a 30% superior ao do N mineral. Em estudo semelhante, Caceres (1994)
foi para a planta de milho e de 5% a 10% perdeu-se do sistema solo- observou que a adubação verde teve efeito sobre a produtividade
planta. Nestes estudos, utilizando-se isótopos traçados (15N), pôde- da cana-de-açúcar apenas no primeiro corte.
se determinar com precisão que o fornecimento de N para o milho se Mascarenhas et al. (1998), em estudos realizados em Sales
dá de forma constante no tempo. Oliveira (SP), mostraram que crotalária juncea e mucuna foram os
Outros pontos importantes observados foram: o N é mi­ melhores tratamentos para o plantio posterior de cana. Outra vanta­
neralizado preferencialmente da nova fonte de N, ficando preserva­ gem atribuída à adubação verde, utilizando-se essas espécies, é o
do o N nativo do solo; a mucuna-preta teve maior participação no fato de ambas atuarem no controle dos nematóides M. incógnita e
N recuperado no milho e o solo de textura arenosa facilitou a M. javanica (SHARMA et al., 1984).

4 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112 - DEZEMBRO/2005


Campos (1977) instalou ensaios demonstrativos em solos N mineral, com o objetivo de avaliar o efeito de dois anos de legu­
de tabuleiro do norte do Estado do Rio de Janeiro e obteve resulta­ minosas no controle de nematóides, principalmente M. javanica
dos positivos utilizando Crotalaria juncea e lablabe. Apesar de (Figura 3).
ambas as leguminosas terem proporcionado aumentos na produ­
ção de cana, o autor recomenda a C. juncea, por ser mais rústica e
resistente às condições climáticas adversas.
O aumento da produtividade da cana-de-açúcar com a incor­
poração de leguminosas ao solo ocorre devido aos diversos benefí­
cios que advêm desta prática (MIYASAKA et al., 1983; MIYAS AKA &

e OKAMOTO, 1993), principalmente pelos teores de nutrientes es­


senciais que as leguminosas contêm. Estas apresentam elevados va­
lores de N e K que poderão proporcionar a total substituição da
fertilização mineral para a cana-de-açúcar, pelo menos até o primeiro
corte (Tabelai) (ALBUQUERQUE et al., 1980; GLÓRIA et al., 1980).

Tabela 1. Quantidade de nutrientes deixados no solo pelas leguminosas. Figura 3. Análise econômica da rotação de culturas em cana-de-açúcar.
Receita líquida após adubação verde.
Espécie N P K Ca Mg S
Nesse ensaio, o cultivo de cana-de-açúcar sucedendo a dois
- - - (kg ha1) - -
anos de crotalária, dois anos de mucuna e soja-mucuna, foi o me­
Mucuna-preta 215 37 102 133 142 31
lhor tratamento, não diferindo entre si, quando se avaliaram os ren­
Crotalaria juncea 234 35 76 78 90 46 dimentos médios bianuais da cana-de-açúcar. Quando o segundo
Soja 38 13 33 61 23 9 cultivo da leguminosa foi soja, independente da espécie anterior, a
produtividade da cana-de-açúcar
foi menor que a dos tratamentos
Mascarenhas et al. (1994a)
testados. Isso pode significar
estudaram um sistema de suces­
que o efeito da matéria orgânica
são de culturas envolvendo um
produzida pela mucuna no pri­
único cultivo das leguminosas
meiro cultivo já havia desapare­
Crotalaria juncea, mucuna-pre-
cido, mesmo com o posterior cul­
ta e soja, e tratamentos sem legu­
tivo da soja.
minosas (pousio), com ou sem a
aplicação de N mineral. Em se­ Os tratamentos soja-soja
guida, a cana-de-açúcar foi im­ e mucuna-soja proporcionaram
plantada e foram efetuados três respostas estatisticamente seme­
cortes. Nos últimos cultivos, as lhantes entre si e ligeiramente su­
produtividades da cana-de-açú- periores ao pousio-pousio + N
car após a mucuna-preta e a cro- mineral, provavelmente pela
talária foram semelhantes e su­ mesma causa apontada anterior­
periores aos demais tratamentos. mente, ou seja, baixa produção
Na média dos três cultivos de de matéria orgânica pela soja. A
cana-de-açúcar, as sucessões testemunha pousio-pousio foi o
com crotalária e mucuna propor­ pior tratamento, e os demais tra­
cionaram acréscimos de produ­ tamentos apresentaram acrésci­
tividade de 27 t ha’1 e 25 t ha’1 mos percentuais de 39% (crota-
de cana e 3,0 t ha1 e 3,2 t ha1 de açúcar, respectivamente, quando lária-crotalária), 33% (mucuna-mucuna), 27% (mucuna-soja), 26%
comparados com a testemunha, sem adubo verde. Por outro lado, (soja-soja) e 20% (pousio-pousio).
com a aplicação de N houve aumento de somente 9,0 t ha1 de Não obstante o pequeno retomo em produção de cana para
cana e 1,1 t ha1 de açúcar, comprovando os benefícios físicos que o tratamento sucedendo a soja, economicamente este leva vanta­
o pré-cultivo das leguminosas traz à cana-de-açúcar. gem devido à possibilidade de venda dos grãos, uma vez que sua
Com a soja não foram observadas as mesmas taxas de incre­ produtividade de massa é pequena.
mento, provavelmente devido à menor capacidade de produção de Trabalhos mais recentes realizados no Pólo Centro-Sul rea­
matéria orgânica, comparada aos outros adubos verdes testados. O firmam que a adubação verde exerce um importante papel na recu­
sistema radicular menos vigoroso e a ineficiência no controle de peração da fertilidade do solo, proporcionando aumento da capaci­
nematóides podem, também, ter contribuído para a menor resposta. dade de troca de cátions; disponibilidade de macro e micronutrientes;
Os acréscimos médios na produtividade de cana-de-açúcar formação e estabilização de agregados; melhoria da infiltração de
em relação aos tratamentos sem adubo verde foram de 22%, 20%, 7% água e aeração; diminuição diuturna da amplitude de variação tér­
e 4%, após, respectivamente, crotalária, mucuna, pousio + N e soja. mica; controle de nematóides e, no caso de leguminosas, incorpo­
Em outro estudo com rotação de culturas, Mascarenhas et ração de N ao solo através da fixação biológica.
al. (1994b) efetuaram cultivo de cana-de-açúcar sucedendo a dois Observa-se na Tabela 2 o efeito da mucuna nas característi­
anos de leguminosas - crotalária, mucuna e soja -, consecutiva ou cas químicas mais importantes do solo, que ajudam a melhorar sua
associativamente, e dois anos de pousio com ou sem a aplicação de fertilidade.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112-DEZEMBRO/2005 5


Tabela 2. Resultado da análise de solo coletado na profundidade de 0-20 cm, na época da Em relação à presença de micorrizas nas
colheita das mucunas. raízes, pode-se observar maior porcentagem (72%)
nas raízes do tratamento 2 (amendoim Caipó) se­
Tratamento K Ca Mg H + Al CTC SB
guido do tratamento 6 (girassol - IAC Uruguai)
(mmolc dm'3) (Tabela 4, Figuras 4 e 5).
Mucuna-anã 0,43 b* 41,8 ab 28,0 ab 19,50 ab 89,83 ab 70,27 ab Quanto à produção de massa seca, soma
Mucuna-preta 0,30 b 39,0 ab 27,0 ab 18,16 b 84,65 ab 66,30 ab da parte aérea com as raízes, observa-se maior pro­
Mucuna-cinza 0,43 b 34,0 b 23,3 b 20,67 ab 78,65 b 57,76 b dução do girassol IAC-Uruguai (15.1001 ha1) se­
Mucuna-verde 0,26 b 45,6 a 33,3 a 18,50 ab 97,98 a 79,26 a guido da Crotalaria juncea (10.542 t ha1). Já a
produção de grãos alimentícios foi maior na soja
Testemunha 0,80 a 34,0 b 22,8 b 21,33 a 79,37 b 57,63 b
IAC-17 (1.8051ha'1).
CV% 43,79 20,86 27,56 11,83 15,76 23,29
Na Tabela 5 são apresentados o peso de
* Médias seguidas de letras distintas na vertical diferem entre si pelo teste de Duncan
amostras de cana-de-açúcar e suas produtividades.
(p < 0,05).

Nota-se que a presença do adubo verde provocou algumas Tabela 4. Produtividade de material vegetal verde e seco e produtividade
alterações no solo que puderam ser detectadas pela sua análise, de grãos de culturas utilizadas em sistema de rotação com cana-
como incremento significativo na soma de bases, devido ao aumen­ de-açúcar. IAC/APTA, Piracicaba, 2002.
to de cálcio e magnésio e, conseqüentemente, maiores valores de Parte aérea
CTC. A presença de ácidos orgânicos na massa vegetal pode ser a Tratamento Micorrizas Produção
Verde Seca
causa dessa mudança. Observou-se também um acréscimo signifi­
cativo na acidez potencial da testemunha, sem leguminosa como (%) ■ - (kg ha1) - -
adubo verde. 1* 62 2.370 1.609 1.287
Com o objetivo de quantificar a produtividade da cana-de- 2 72 7.165 1.905 1.192
açúcar cultivada em sistema de rotação com leguminosas, foi insta­ 3 49 17.960 6.231 -
lado um experimento em Piracicaba, SP, em área do Pólo Regional
4 62 20.160 5.247 -
Centro-Sul (DDD/APTA), durante os anos de 2000 e 2001. A rota­
ção da cana-de-açúcar foi realizada com sete culturas, das quais 5 57 15.532 5.436 1.805
seis eram leguminosas: amendoim Tatu, amendoim IAC-Caiapó, 6 70 21.090 14.404 -
Crotalaria juncea, mucuna-preta, soja, girassol, feijão mungo e um 7 55 9.340 4.920 966
tratamento testemunha. Cada parcela foi constituída por cinco li­
* Tratamentos: 1 = amendoim Tatu, 2 = amendoim IAC-Caiapó, 3 =
nhas de 10 metros de comprimento, espaçadas 1,35 metros entre si.
Crotalaria juncea, 4 = mucuna-preta, 5 = soja, 6 = girassol, 7 = feijão
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados
mungo.
com cinco repetições. A Tabela 3 contém as características do solo
no qual o experimento foi instalado.
Observa-se que os melhores resul­
tados de produtividade da cana-de-açú­
Tabela 3. Características químicas do solo do experimento. Pólo Regional Centro-Sul (DDD/APTA),
car ocorreram após rotação com girassol
Piracicaba, SP, ano arícola 2000-2001. Médias dos tratamentos.
IAC-Uruguai (13 8,91 ha1), amendoim IAC
Solos Prof. MO pH p K Ca Mg H+Al SB CTC V caipó (135,1 tha1), sojaIAC-17 (1351 ha1)
(g dm'3) (CaCl2) (mg dm'3) " ^IIIIIIUI^ C111I f " (%)
e Crotalaria juncea (131,72 t ha1). Há
grande evidência de que as relações mi-
Solo sem 1* 17 5,0 9 0,4 17 11 34 28,4 62,7 45 crobiológicas possam estar afetando po­
adubo verde 2 17 4,7 4 0,3 15 7 42 22,3 64,6 35
sitivamente o desempenho da cana-de-
Solo com 1 21 5,6 12 0,2 32 20 22 52,2 74,7 70 açúcar nessa rotação.
adubo verde 2 17 5,2 7 0,7 22 15 31 37,7 68,5 55 Isso também fica evidente com o
* Profundidade da amostragem 1 = 0-20 cm e da amostragem 2 = 20-40 cm. comportamento dos insetos-pragas. A Fi­
gura 6 apresenta os dados de colmos infes-
As leguminosas foram incorporadas ao solo com o auxílio tados com broca da cana-de-açúcar, onde se observa que o tratamento
de um triturador, em meados de abril de 2001, e em seguida plantada com soja apresentou o menor índice de infestação.
a cana-de-açúcar (variedade IAC-87-3396). Porém, devido a um
veranico prolongado, houve necessidade de replantio da cana-de-
açúcar na primeira quinzena de outubro de 2001. Após o desenvol­
vimento, durante o período de 12 meses, a cana-de-açúcar foi colhi­ ■ Tatu
da em setembro de 2002, sendo avaliados o peso de uma amostra de □ Caiapó
cana-de-açúcar contendo 15 colmos e sua produtividade. As pro­ □ C. juncea
dutividades do material vegetal (verde e seco) e de grãos das cultu­ □ Mucuna
ras utilizadas em rotação com cana-de-açúcar também foram avalia­ □ Soja
das. Na Tabela 4 são apresentadas as produtividades do material □ Girassol
vegetal (verde e seco) e de grãos e a porcentagem de infecção por □ Mungo
Tratamentos
micorrizas FMVA das culturas utilizadas em rotação com cana-de-
açúcar. Figura 4. Percentagem de infecção de raízes por micorrizas.

6 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112 - DEZEMBRO/2005


cana; apresenta custos relativamente baixos; promove aumentos
significativos nas produções de cana-de-açúcar em pelo menos
dois cortes; protege o solo contra a erosão e evita a multiplicação
de plantas daninhas.
Diversas leguminosas podem ser usadas na adubação ver­
de, sendo a definição da espécie condicionada à adaptação local, à
produção de massa verde, ao preço e à facilidade da obtenção de
sementes.
Na Região Centro-Sul do país, as leguminosas mais empre­
gadas são: Crotalaria juncea, mucuna-preta, soja e amendoim.
No Nordeste, a mucuna-preta tem merecido especial atenção (Fi­
gura 7).

Tabela 5. Dados referentes ao peso de uma amostra de cana-de-açúcar


contendo 15 colmos e produtividade de acordo com os diferen­
tes tratamentos. APTA/IAC, Piracicaba, 2002.

Tratamentos Amostra Produção

(kg) (t ha1)
Amendoim Tatu 17,5 B* 121,1 B
Amendoim IAC-Caiapó 19,6 AB 135,1 AB
Testemunha sem adubo verde 13,8 C 95,2 C
Crotalaria juncea 19,1 AB 131,7 AB
Mucuna-preta 17,7 B 122,5 B
SojaIAC-17 19,6 AB 135,0 AB
Figura 7. Cultivo de mucuna-preta. Além de adubo verde, das suas
Girassol IAC-Uruguai 20,2 A 138,9 A
sementes são extraídas substâncias medicinais.
Feijão mungo (Ml46) 17,8 B 123,1 B
CV (%) 8,63 8,68
Outro sistema de cultivo utilizado na cana-de-açúcar é o
* Médias seguidas de mesma letra não diferem estatisticamente pelo teste cultivo intercalar, segundo Romanini, citado por Lombardi e Carva­
de Duncan a 5% de probabilidade. lho (1981). As culturas mais freqüentes são feijão, soja e amendoim,
por aumentarem o excedente econômico do produtor sem alterarem
significativamente a produtividade da cana-de-açúcar. Em geral, as
não-leguminosas têm um efeito competitivo, o que pode diminuir a
produtividade da cana-de-açúcar.
Esse sistema difere do uso de leguminosas para a adubação
verde pois, nesse caso, o retomo econômico aparece no aumento
da produtividade da cana-de-açúcar, bem como na economia de N
mineral.
Com a rotação cana-soja, nas áreas de reforma do canavial,
a semeadura da soja é efetuada em outubro, permanecendo na área
até fevereiro, mantendo uma cobertura num período crítico de muita
chuva. A receita da soja cobre praticamente 60% dos custos de
produção da cana, além de dispensar a adubação nitrogenada na
T1 = amendoim Tatu T5 = mucuna-preta
T2 = amendoim IAC-Caipó T6 = soja
cana-planta.
T3 = testemunha T7 = girassol Antes de efetuar o plantio da leguminosa deve-se verificar
T4 = Crotalaria juncea T8 = feijão mungo se o controle de plantas foi efetuado com herbicidas, pois muitos
Figura 6. índice de infestação média de Diatraea saccharalis (broca da
produtos usados recentemente podem ser prejudiciais às legu­
cana-de-açúcar) em colmos de cana submetida à rotação com minosas. Verificar, também, através da análise química do solo, a
leguminosas em áreas de reforma. necessidade de correção de alguns elementos, pois as leguminosas
são exigentes em P, Ca e Mg, além de serem pouco tolerantes à
A prática da adubação verde com leguminosas na cultura acidez do solo.
da cana-de-açúcar é recomendada durante a reforma do canavial A leguminosa adubo verde deve ser incorporada quando
(CARDOSO, 1956), proporcionando as seguintes vantagens: não 50% das plantas apresentarem florescimento, recomendando-se o
implica na perda de um ano agrícola; não interfere na germinação da plantio da cana-de-açúcar aos 20 dias após esta operação.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112-DEZEMBRO/2005 7


APROVEITAMENTO DO NITROGÊNIO DA vidade da cana-de-açúcar foram calculados o N-acumulado, NPPF
(% e kg ha1), QNPPF (kg ha1) bem como a recuperação percentual
Crotalaria juncea E DO SULFATO DE AMÓNIO
do N do fertilizante R (%).
PELA CANA-DE-AÇÚCAR
Observa-se na Figura 8 que, três meses antes da colheita
No final da década de 50, estudos realizados com adubos (amostra 3c), a percentagem de N na planta proveniente da fonte
verdes em áreas de reforma do canavial indicavam incremento na orgânica nos colmos da cana-de-açúcar foi baixa, menor que 5%, e
produtividade da cana-de-açúcar e no açúcar provável. Entretanto, na época da colheita ela aumentou para aproximadamente 10%. Essa
tem sido dada pouca ênfase na quantificação do fornecimento de característica foi observada com menor intensidade na época inter­
nutrientes dos adubos verdes para as culturas. A técnica isotópica, mediária de amostragem e não foi confirmada pela análise estatísti­
utilizando o isótopo 15N, permite obter informações precisas da di­ ca. Entretanto, na primeira época de amostragem (8 meses após
nâmica do nitrogênio no sistema solo-planta. plantio), essas diferenças foram detectadas pela análise estatística,
Com base no exposto, desenvolveu-se um experimento com mostrando claramente maior percentagem de N na cana-de-açúcar
o objetivo de avaliar o desempenho da prática da adubação verde e proveniente da fonte orgânica de N. Nas amostragens de planta e
da fertilização mineral com nitrogênio, aplicados juntos ou separa­ de colmo de 28 de maio de 2002 (amostra 3 e 3c da Figura 8) obser­
damente, o aproveitamento dessas fontes de N e a produção de vou-se diferenças significativas, com maior proporção de N vindo
material vegetal natural e seco da cana-de-açúcar. do N-mineral.
O experimento foi desenvolvido no Centro APTA/IAC, em
Sem adubo verde + N15 Com adubo verde15 + N
Piracicaba, SP, em solo classificado como Argissolo Vermelho-Ama­
relo distrófico e as características químicas em diferentes profundi­
dades, antes do plantio da cana-de-açúcar, após corte do adubo
verde nos tratamentos correspondentes, estão apresentadas na Ta­
bela 6 (AMBROSANO et al., 2005).

Tabela 6. Características químicas do solo antes do plantio da cana-de-


açúcar, nos tratamentos com e sem adubo verde, em duas pro­
fundidades. Épocas de amostragem

Solo sem adubo verde Solo com crotalaria Figura 8. Nitrogênio na Planta Proveniente da Fonte marcada (NPPF%)
Variáveis
0-20 cm 20-40 cm 0-20 cm 20-40 cm nas diferentes amostragens (3c = amostra de colmos e 4c =
amostras de colmos na colheita final).
pH 4,1 4,0 4,5 4,7
MO (g dm’3) 26 22 24 22 Com os resultados isotópicos apresentados na Tabela 7,
P (mg dm’3) 3 14 6 6 constata-se que, na colheita final, não houve diferença nas quanti­
S (mg dm’3) 12 15 8 8 dades de nitrogênio (QNPPF) encontradas na cana-de-açúcar pro­
K (mmolc dm’3) 0,7 0,5 0,3 0,3 veniente das fontes de N, indicando que tanto a fonte orgânica
Ca (mmolc dm’3) 7 6 12 11 quanto a mineral foram capazes de suprir a demanda pela cana-de-
Mg (mmolc dm’3) 6 5 11 10 açúcar; entretanto, na primeira época de amostragem pode-se ob­
H + Al (mmolc dm’3) 50 68 36 31 servar que houve mais N na cana-de-açúcar proveniente da fonte
Al (mmolc dm’3) 10 11 2 2 orgânica na presença do N-SA, seguida da fonte orgânica sem SA
SB (mmolc dm’3) 13,7 11,5 23,3 21,3 e, finalmente, só a fonte mineral.
CTC (mmolc dm’3) 63,7 79,5 59,3 52,3
Na colheita final não se observou diferença entre as fontes
V% 22 14 39 41 de nitrogênio, o que pode estar indicando, independente da forma
de N aplicada, que a percentagem de N na cana-de-açúcar prove­
O experimento constou de duas etapas, sendo a primeira niente das duas fontes foram semelhantes, isto é, apresentaram a
referente à semeadura e marcação do adubo verde com 15N, como mesma utilização pela cultura. Em adição, pode-se dizer que quando
descrita por Ambrosano et al. (2003), que culminou com a obtenção se efetua a adubação verde, em proporções semelhantes às do pre­
de material vegetal marcado seco que continha 2,412% em átomos sente estudo, pode-se suprimir a fertilização mineral nitrogenada de
de 15N em excesso, em uma massa seca equivalente a 9,150 t ha1 cobertura em cana-planta, uma vez que os dados de produtividade
contendo 21,4 g kg1 de N, totalizando um aporte de 195,8 kg ha1 de agrícola da Tabela 8 também apontam para esse fato.
N adicionados ao solo. Na última amostragem, as diferenças entre tratamentos no
Na segunda fase do experimento estudou-se o aproveita­ NPPF desapareceram, e se observa nitidamente uma crescente di­
mento do N pela cana-de-açúcar fertilizada com adubo verde luição do N-fontes na planta de cana-de-açúcar que cresce rapida­
Crotalaria juncea e sulfato de amónio (SA) marcados com 15N, mente (Figura 8). Outro fator que deve estar contribuindo para es­
utilizando-se cinco tratamentos: TI = testemunha, sem adubo ver­ ses resultados observados na primeira época de amostragem pode
de e sem SA; T2 = sem adubo verde, com SA-15N; T3 = com adubo ser a conservação da umidade nos tratamentos com adubo verde e
verde-15N e com SA; T4 = com adubo verde-15N, sem SA; T5 = com esta umidade estar favorecendo a atividade microbiológica, o cres­
adubo verde e com SA-15N . cimento da cana-de-açúcar e o melhor aproveitamento do nitrogê­
Foram feitas quatro amostragens de folhas +3 e cortados nio; contudo, não foram feitas medidas da umidade a fim de dar
2 metros lineares da cultura para estimativa da produtividade. Com suporte a estas inferências.
os resultados dos teores de N (g kg1) e da abundância isotópica Dos resultados observados pode-se concluir que as maio­
de N (% em átomos de 15N) das amostras de folhas +3 e da produti­ res percentagens de NPPF foram encontradas após 8 meses de

8 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112 - DEZEMBRO/2005


Épocas de amostragem
Tratamentos
29 de outubro de 2001 20 de fevereiro de 2002 28 de maio de 2002

..................................................................... QNPPF (kg ha4)


Sem adubo verde e com N mineral* 1,85 Bb1 14,63 Aa 16,11 Aa
Com adubo verde* e com N mineral 11,21 Aa 16,34Aa ll,08Aa
Com adubo verde* e sem N mineral 6,91 AB a 12,24 A a 10,73 A a
Com adubo verde e com N mineral* 3,56 ABb 24,53 A a 21,65Aa
CV% = 20,05

...............................................................Recuperação do N (%).........................................................................
Sem adubo verde e com N mineral* 2,64 A b 20,89 AB a 23,01 A a
Com adubo verde* e com N mineral 5,72 A a 8,34 BC a 5,66 B a
Com adubo verde* e sem N mineral 3,53 A a 6,25 C a 5,47 B a
Com adubo verde e com N mineral* 5,09 A b 35,05 A a 30,93 A a
CV% = 27,31

* Fonte de N marcada com 15N.


1Médias seguidas de letras maiusculas distintas na vertical e minúsculas na horizontal, em cada variável, diferem entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05).

Tabela 8. Peso de material vegetal de cana-de-açúcar natural e seco em diferentes amostragens.

Épocas de amostragem
Tratamentos 29 de outubro 20 de fevereiro 28 de maio 24 de agosto Média
de 2001 de 2002 de 2002 de 2002

...................................................................Material natural (t ha1).......................................................................................


Sem adubo verde e sem N mineral 7,2 24,9 32,5 85,9 37,6 B
Sem adubo verde e com N mineral* 9,8 31,2 36,6 106,2 46,0 B
Com adubo verde* e sem N mineral 12,2 36,4 43,3 92,4 46,1 AB
Com adubo verde* e com N mineral 13,1 36,3 37,7 128,7 54,0 A
Média 10,6c 32,2 c 37,5 b 103,3 a
CV % = 4,96

..................................................................... Material seco (t ha1).........................................................................................


Sem adubo verde e sem N mineral 1,9 6,1 10,3 25,5 ll,0B
Sem adubo verde e com N mineral* 2,4 7,4 10,9 29,2 12,5 B
Com adubo verde* e sem N mineral 2,9 8,8 13,9 27,6 13,3 AB
Com adubo verde* e com N mineral 3,2 8,6 11,2 37,9 15,2 A
Média 2,6 c 7,7 c 11,6b 30,1 a
CV % = 7,98

*Fonte de N marcada com 15N.


Médias seguidas de letras distintas maiúsculas na vertical e minúsculas na horizontal diferem entre si pelo teste de Tukey (p < 0,05).

plantio da cana para os tratamentos com adubo verde sem N-mine- Não obstante, observa-se uma retração na área plantada e a neces­
ral, e adubo verde com N-mineral, e foram de 15,3% e 18,4%, res­ sidade de melhorar cada vez mais a produtividade dos pomares,
pectivamente. A maior recuperação do N foi observada na colhei­ com menor custo. E é nessa redução de custo que a prática da
ta, 18 meses após o plantio, sendo que o tratamento com N- mineral adubação verde pode colaborar com o agricultor, garantindo menor
apresentou 34,8% e na soma N-mineral mais N-adubo verde apre­ uso de insumos importados, como fertilizantes e herbicidas.
sentou 39,9%. Os tratamentos alteraram significativamente os valo­
O manejo inadequado do solo pode trazer sérias conse­
res de produtividade agrícola da cana-de-açúcar, indicando o me­
quências com os cultivos, exaurindo-o de suas reservas orgânicas
lhor desempenho para o uso conjunto de adubo verde e N-SA,
e minerais, transformando-o em terras de baixa fertilidade. Nos so­
quando comparado com a testemunha, porém sem apresentar dife­
los tropicais, suscetíveis a esse fenômeno, toma-se necessário o
rença com o tratamento utilizando-se somente adubo verde.
emprego constante de práticas que visem minimizar esse problema.

PESQUISAS COM LEGUMINOSAS ADUBOS A prática da adubação verde permite recuperar a fertilidade
do solo proporcionando aumento do teor de matéria orgânica, da
VERDES EM CITROS
capacidade de troca de cátions e da disponibilidade de macro e
No Estado de São Paulo, também chamado “Pomar do Mun­ micronutrientes; formação e estabilização de agregados; melhoria
do”, cerca de 670 mil hectares são ocupados com laranja, produzin­ da infiltração de água e aeração; diminuição diuturna da amplitude
do mais de 15 milhões de toneladas que, em grande parte, são ex­ de variação térmica; controle dos nematóides, redução da infestação
portadas e ajudam no superávit da balança comercial brasileira. de plantas daninhas, aumento na infecção das raízes por fungos

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112-DEZEMBRO/2005 9


micorrízicos e, no caso das leguminosas, incorporação ao solo do Apesar de não ter sido observada alteração significativa da
N, efetuada através da fixação biológica. produção de frutos pela diminuição da adubação nitrogenada, os
Atualmente, observa-se a procura de um sistema de produ­ tratamentos com crotalária e guandu apresentaram as maiores pro­
ção agrícola que seja capaz de recuperar a fertilidade do solo, in­ duções. Veja detalhes na Tabela 11.
cluindo a utilização de leguminosas como cobertura no outono- A adubação verde também reduz a incidência de plantas
invemo, que têm apresentado resultados satisfatórios na obtenção daninhas e incrementa a reciclagem de nutrientes em pomares de
de ganhos de produtividade e economia de insumos. citros.

USO ADEQUADO DOS ADUBOS VERDES EM CITROS EFEITOS QUÍMICOS MO SOLO


Atualmente, ocorre uma tendência mundial de busca por A fertilidade do solo é bastante influenciada pelos efeitos
alimentos saudáveis provenientes de agricultura equilibrada, com dos adubos verdes, como o aumento do teor de matéria orgânica
uso de práticas agrícolas com um mínimo de degradação ambiental. do solo ao longo dos cultivos, pela adição da fitomassa. Eles atuam
Neste contexto, e buscando reduzir os custos de produção, na redução do alumínio e da acidez potencial, proporcionando in­
a utilização de adubação verde, ou de seus princípios, deve ser cremento da saturação por bases do solo.
incrementada no Brasil. Trabalhos científicos mostram os efeitos Observa-se na Tabela 10o efeito da adubação verde sobre a
benéficos desta prática milenar na agricultura, que são observados redução de H+Al, o que acarreta um significativo aumento do pH e
quando sua aplicação é freqüente. Dentre eles pode-se destacar: da saturação por bases do solo na área de projeção da copa de
citros. Os resultados são claros em mostrar o efeito benéfico na
• Cielagem de nutrientes redução da acidez potencial nos tratamentos com a utilização de
A prática da adubação verde permite maior ciclagem de nu­ adubos verdes.
trientes para as camadas mais superficiais do solo, o que é impor­
tante para a cultura de citros. • Efeitos físicos no solo
Nesta cultura, o emprego de adubos verdes intercalares con­ A prática da adubação verde proporciona aumento na
tribui para a redução da aplicação de N mineral, sendo a Crotalaria porosidade total do solo, influenciando, principalmente, na macro-
juncea o mais indicado para pomares em formação. porosidade e redução na densidade do solo. Como conseqüência,
A Tabela 9 apresenta as quantidades médias de nutrientes tem-se um aumento da capacidade de armazenamento de água no
que são incorporadas ao solo pelas leguminosas. solo.

• Efeitos biológicos
Tabela 9. Quantidades médias de nutrientes incorporadas ao solo pelas leguminosas após quatro anos de
semeadura intercalar ao citros. A utilização da adubação
verde, segundo Silva et al. (1999),
Macromitrientes (kg ha1) Micronutrientes (g ha-1)
±i aiaiiiviiius pode vir a constituir num dos mé­
N p 2 o5 k2 o Ca Mg S B Cu Fe Mn Zn todos mais baratos no controle de
nematóides, Meloidogyne princi­
C. juncea 183,4 39,2 204,4 104,8 52,4 13,1 236 92 4.153 721 275
palmente, desde que se escolha as
C. spectabilis 44,3 10,2 56,1 38,4 9,8 3,4 74 30 561 170 64
espécies adequadas de plantas no
Guandu 143,6 29,9 131,3 54,7 20,5 9,6 157 82 3.119 506 144
sistema. Algumas espécies contri­
Mucuna-preta 85,6 18,8 72,6 39,2 14,2 6,4 93 64 8.095 612 103 buem para o incremento popula­
Mucuna-anã 91,0 15,3 54,6 31,5 14,0 7,0 91 74 5.768 714 105 cional, enquanto outras, como as
Lablab 67,4 19,2 69,3 41,7 19,3 7,1 93 32 4.565 578 100 crotalárias, mucunas e guandu, re­
Feijão-de-porco 169,4 30,6 137,9 108,9 30,3 10,9 169 42 4.005 780 133 duzem sua população no solo.
O manejo associado com
Obs: Quantidade de nutrientes considerando plantio em área total; para área de citros, considerar 50% dos
vegetação espontânea, roçada por
valores.
Fonte: SILVA (1995).
todo ano, e com uso de feijão-de-
porco plantado nas águas e roça-

Elemento Tratamentos
analisado Ano NPK 2NPK Crotalaria juncea Guandu Mucuna-preta Mucuna-anã Feijão-de-porco

(mmol dm*3)

90/91 42 ab 49 a 34 b 37 ab 40 ab 38 ab 43 ab
91/92 60 ab 70 a 40 c 43 c 42 c 42 c 47 bc
92/93 56 ab 68 a 40 c 37 c 42 bc 40 c 50 bc
CV% 19,09

Médias seguidas por letras distintas na horizontal não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey (p < 0,05).
Fonte: SILVA (1995).

10 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112 - DEZEMBRO/2005


do na seca, apresentaram os melhores resultados de colonização pleno florescimento, por apresentarem maiores teores de nutrientes
radicular por fungos, mas quando comparados aos métodos mecâ­ na parte aérea e relação C/N baixa, devendo o material ficar sobre a
nicos de controle do mato, por criarem condições mais favoráveis, superfície do solo, protegendo-o.
no solo, para a permanência e multiplicação desse fungos. Dentre A Tabela 12 apresenta um guia para a implantação ideal dos
os métodos mecânicos, o manejo da leguminosa nas ruas da cultura adubos verdes no cultivo intercalar dos citros.
apresentou o melhor resultado de colonização radicular em relação
à vegetação espontânea (CARVALHO et ah, 1995).
SISTEMAS RECOMENDADOS
ADUBAÇÃO VERDE EM CITROS A semeadura de adubos verdes nos pomares novos ou
nas áreas de renovação ou implantação admitem semeadura em
Trabalhos clássicos conduzidos por Rodrigues (1957,1969), área total, obtendo-se, assim, maior produção de biomassa e prote­
citados por Neves (1998), mostram que o uso contínuo de aduba- ção do solo, sendo que as mudas de citros podem ser plantadas em
ção verde e cobertura morta propiciou aumentos significativos na área manejada ou intercalar ao adubo verde. A sugestão para esse
produtividade de citros, quando comparados com práticas como sistema é utilizar o feijão guandu ou a Crotalaria juncea, semeados
gradagens, herbicidas e arações. entre setembro e dezembro (o ideal é outubro-novembro). O feijão
A Tabela 11, extraída de Silva et al. (1999), dá uma visão clara guandu pode permanecer na área por mais de um ano; procedendo
do potencial da adubação verde e da possibilidade de redução da desta forma pode-se optar por semear rua sim, rua não, para facilitar
adubação química sem prejuízo na produtividade de laranja Pêra. os tratos culturais nos citros.
Em caso de semeadura intercalar em pomares já instalados,
Tabela 11. Produção de frutos de laranja Pêra em pomar com diferentes porém em fase de formação, pode-se utilizar adubos verdes de ve­
cultivos intercalares. rão, como Crotalaria juncea ou feijão guandu, no sistema rua sim,
Produtividade (t ha'1) rua não, até o quarto ano, ou, se optar por uma planta de porte
11 illilllIClllU»
menor, como feijão guandu-anão, Crotalaria breviflora (Figura 9),
90/91 91/92 92/93 Média
feijão-de-porco ou lablabe, pode-se semear em todas as ruas.
NPK 2,34 15,11 18,80 12,08 a
2NPK 3,19 14,60 19,99 12,59 a
Crotalaria juncea 3,85 19,09 21,81 14,92 a
Crotalaria spectabilis 1,60 13,68 16,66 10,65 a
Guandu 3,08 18,12 23,02 14,74 a
Mucuna-preta 3,49 18,80 19,63 13,97 a
Mucuna-anã 2,59 17,49 19,08 13,05 a
Lablabe 2,14 14,82 17,57 11,51 a
Feijão-de-porco 1,68 13,84 18,18 11,22 a

Médias seguidas por letras distintas não diferem entre si estatisticamente


pelo teste de Tukey (p < 0,05).
Fonte: SILVA (1995).

MANEJO DOS ADUBOS VERDES


A semeadura de adubos verdes em pomares novos pode ser
realizada com auxílio de grade leve, pois nesta fase as raízes dos Figura 9. Crotalaria breviflora, espécie muito utilizada em cultivos
consorciados com citros.
citros ainda não atingiram a área intercalar, mas em pomares mais
velhos, com plantas adultas,
essa prática poderá ser preju­
dicial. Sempre que possível, Tabela 12. Densidade de sementes e espaçamentos de adubos verdes mais utilizados em sistemas de produção com
citros 1.
adotar técnicas como uso do
escarifícador, para quebrar Sementes Densidade Espaçamento Semear Cortar
camadas mais compactadas e Espécies (kg ha1) (sem./m linear) entre linhas (m) ----- (meses)---------
remover plantas daninhas, ou
plantio direto. O capricho na Crotalaria juncea 30 25 0,5 9/12 3/4

época de semeadura irá garan­ Crotalaria spectabilis 15 38 0,5 9/12 3/4

tir o estande ideal e o melhor Cajanus cajan - feijão guandu 50 17 0,5 9/12 4/5

crescimento das plantas. Cajanus cajan - feijão guandu-anão 25 20 0,5 9/12 3/4
Mucuna aterrima - mucuna-preta 65 4 0,5 9/12 4/5
Geralmente não se
Mucuna deeringiana - mucuna-anã 80 8 0,5 9/12 3/4
deve adubar os adubos ver­
Dolichos labe-labe - lablabe 60 13 0,5 9/12 3/4
des, a não ser para corrigir
Canavalia ensiformis - feijão-de-porco 100 5 0,5 9/12 3/4
alguma deficiência nutricional
Milheto africano 15 70 0,3 9/12 3/4
ou como parte do manejo da
Nabo forrageiro 15 30 0,3 3/5 7/8
adubação dos citros.
1 Recomendações baseadas no peso de 1.000 sementes e adaptadas para citros.
A época ideal para o
Fonte: SILVA (1995).
corte dos adubos verdes é no

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112-DEZEMBRO/2005 11


Para pomares em produção recomenda-se plantas de baixo OUTRAS CULTURAS
porte e, de preferência, o uso de práticas de cultivo mínimo, como
plantio direto na palha, para não provocar danos nas raízes de citros Em estudos realizados com mandioca, Mondardo e Lavina
que, nessa idade, já invadiram a área central das ruas. Nesse caso, (1998) demonstraram que as leguminosas Crotalaria mucronata,
pode-se semear em todas as ruas, e os tratos culturais do citros Crotalaria ochroleuca e guandu não influenciaram positivamente
podem ser feitos sem dificuldade com os implementos passando a produção desta cultura nos quatro primeiros anos, sendo neces­
por sobre as leguminosas. Vale ressaltar que para pomares mais sária a utilização da adubação química recomendada.
velhos e mais fechados o feijão-de-porco tem se adaptado muito Segundo Miller e Schaffrath (1998), a mucuna e a crotalária,
bem nessas condições. O manejo, nesse caso, deve ser feito com as em cultivo intercalar com a mandioca, proporcionaram apenas um
plantas em pleno florescimento, entre abril e maio, liberando o po­ maior controle de plantas daninhas, sem melhorar o estado nutricional
mar para os meses de déficit hídrico, lembrando que a filosofia des­ da planta no mesmo ciclo.
se manejo é a máxima produção de biomassa no verão e cobertura Wutke (1998), estudando o feijoeiro em rotação com milho e
morta no inverno. adubação verde, observou que a utilização de mucuna-preta e de
O manejo de plantas de cobertura no inverno também pode Crotalaria juncea no outono-inverno promoveu efeitos favorá­
ser utilizado em citros, sendo os melhores resultados obtidos com a veis no feijoeiro em sucessão, relativamente aos teores foliares de
utilização de nabo forrageiro plantado de março a maio, com gran­ K, cobertura vegetal do solo e índice de área foliar.
des benefícios na descompactação do solo e com intensa produção A rotação de feijão com milho e adubos verdes também favo­
de flores, que abrigam e alimentam inimigos naturais para o equilí­ receu a redução da resistência do solo à penetração, a manutenção
brio biológico de pragas e doenças nos pomares. Outra opção inte­ do teor normal de matéria orgânica do solo, a possibilidade de redu­
ressante é o uso de mistura de plantas de cobertura, o chamado ção da acidez e o aumento da saturação por bases em profundidade.
“coquetel”, que tem a preferência principalmente dos produtores
orgânicos. Observe a Figura 10 para melhor compreender este sis­ PESQUISAS COM LEGUMINOSAS ADUBOS
tema.
VERDES EM ARROZ
Ago. Set. Out. Nov. Dez. Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Experimentos foram realizados em Pindorama, SP, e Votu-
Espécies poranga, SP, nas Estações Experimentais do IAC com o objetivo de
espontâneas avaliar a eficiência das leguminosas Crotalaria juncea e mucuna-
preta, usadas como adubos verdes, em suprir a cultura do arroz com
N e de estudar sua interação com outra fonte de N (uréia) e o fracio­
namento diante da nova forma de cultivo com adubo verde (MU-
Nabo forrageiro
RAOKAetal., 1999).
e/ou coquetel
de inverno Inicialmente, as leguminosas foram cultivadas nos trata­
mentos experimentais correspondentes e simultaneamente foram
Figura 10. Esquema de manejo de sistemas de adubos verdes em citros.
produzidas leguminosas marcadas com 15N em área adjacente ao
experimento. As leguminosas foram cortadas logo após o flores­
CONSIDERAÇÕES FINAIS cimento e sua massa vegetal foi incorporada superficialmente antes
Diante das informações apresentadas, pode-se recomendar do plantio do arroz. O fertilizante nitrogenado foi aplicado fra-
a prática da adubação verde em citros, principalmente nas áreas de cionadamente (15 + 25 kg ha1 ou 30 + 50 kg ha1 de N). Tanto uréia-
15N como leguminosas-15N foram aplicadas em sub-parcelas dentro
menor fertilidade do solo ou depauperadas pelo uso contínuo e,
muitas vezes, com problema de erosão. Esta prática, bem aplicada, de cada parcela principal.
poderá contribuir para a recuperação da fertilidade do solo, a melhoria Pôde-se observar que as leguminosas são excelentes fontes
da produtividade e a conservação do solo e outros benefícios adicio­ de N, equivalentes a 40 kg ha1 de N como uréia para produção de
nais, como aumento da biodiversidade do sistema agrícola. grãos de arroz (Tabela 13). A produtividade obtida com a combinação

Tabela 13. Efeito dos adubos verdes crotalária e mucuna-preta quando aplicados separadamente ou em conjunto com uréia na produtividade de grãos de
arroz cultivados em Pindorama e Votuporanga, SP.

Locais
Tratamentos ------—--------------------------------------------——;----------------------------------------- -——-----------;--------
Votuporanga Pindorama Analise conjunta

-----------Produtividade (kg ha1)------------------


T, 0 kg ha’1 N 1.830 1.936 1.883 d2
L 80 (30 + 50) kg ha’1 N 3.183 (74%)’ 3.900 (101%) 3.542 ab

t3 40(15 + 25) kg ha’*N 2.513 (37%) 2.944 (52%) 2.727 c


t4 adubo verde mucuna (AV ) 2.459 (34%) 3.080 (59%) 2.770 c
t5 adubo verde crotalária (AV ) 2.480 (35%) 3.495 (80%) 2.988 bc
T6 AVm + N(15 + 25 kg ha’1) 3.517 (92%) 4.183 (116%) 3.850 a
T7 AVc + N (15 + 25 kg ha4) 3.034 (66%) 3.314 (71%) 3.174 bc
cv% 18,72 19,62 19,34

1 Os valores entre parêntesis nas colunas de grãos correspondem aos incrementos em relação à testemunha.
2 Médias seguidas por letras distintas diferem entre si pelo teste de Duncan (P < 0,05).

12 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112 - DEZEMBRO/2005


mucuna-preta e 40 kg ha1 N superou a 4.500-1 Votuporanga Pindorama
produzida com 80 kg ha1 N. Ambas forne­
4.000-
ceram praticamente a mesma quantidade
3.500-
de N para o arroz, sendo 26% e 25% do N CÜ
-C

I iLI Lí
do grão proveniente da mucuna-preta e CD 3.000-

Crotalaria juncea, respectivamente, em (D 2.500-


"O
Pindorama, e 38% e 37%, respectivamen­ ■o 2.000-
te, em Votuporanga. Estas leguminosas >
Z5 1.500-
podem suprir à cultura grandes quanti­ "0
O
1 L_
dades de N (crotalária = 149 kg ha' N e CL 1.000-
mucuna-preta = 362 kg ha'1 N). Os adubos 500-
verdes proporcionaram melhor uso do N
0 i i i i i r
do fertilizante nas aplicações de cobertu­ Testemunha 40 kg ha1 N 80 kg ha'1 N Mucuna Crotalária Mucuna + Crotalária +
40 kg ha1 N 80 kg ha'1 N
ra, permitindo eficiência de até 79%. Mais
Tratamentos
detalhes das produtividades de arroz
podem ser vistos na Figura 11. Figura 11. Efeito dos adubos verdes crotalária e mucuna-preta quando aplicados separadamente ou
Recentes trabalhos de pesquisa em conjunto com uréia na produtividade de grãos de arroz cultivados em Pindorama e
têm demonstrado o ganho em produtivi­ Votuporanga, SP.
dade com a rotação de cultivos utilizan­
do-se de leguminosas.
Tabela 14. Produtividade de milho, arroz e soja, no terceiro ano de ex­
Mascarenhas et al. (1998) trabalharam em Pindorama, SP, perimentação, sob diferentes rotações, intercaladas ou não
em um solo Podzólico Vermelho-Amarelo, fase arenosa, e avalia­ com crotalária juncea, em Pindorama, SP.
ram o efeito da rotação entre milho, soja e arroz, com e sem
Tratamentos1
Crotalaria juncea de outono-invemo. A soja (leguminosa) não Milho Arroz Soja
Seqüência de rotação
respondeu com aumentos de produtividade, porém o arroz e o - (kg ha1) -
Ano 1 Ano 2 Ano 3
milho (gramíneas) tiveram suas produções acrescidas, quando
comparadas com o monocultivo dessas culturas (Tabela 14). S/C A/C M 7.470 a
s A/C M 7.045 a
PESQUISA COM LEGUMINOSAS s A M 7.595 a
ADUBOS VERDES EM HORTALIÇAS M M M 5.384 b
M S/C A/C 2.996 a
Tamiso et al. (2001) trabalharam em Piracicaba, SP, em uma M S A/C 2.746 a
associação de solo Latossolo Vermelho Escuro e Podzólico Verme­ M s A 2.735 a
lho Escuro latossólico e avaliaram o efeito da adubação verde com A A A 1.901 b
tremoço, crotalária juncea e chicharo nas culturas de pimentão, ce­ A/C M S/C 4.610 a
noura e alface (Tabela 15). A/C M s 4.694 a
Nota-se que o tremoço e a crotalária foram os adubos ver­ A M s 4.029 a
des que apresentaram os melhores resultados para as culturas de S S s 4.280 a
alface e pimentão, porém na cultura de alface o tratamento com C.V. (%) 10,64 11,90 9,74
crotalária não diferiu da testemunha. Interessante notar que a cul­ 1 C = Crotalaria juncea, M = milho, A = arroz e S = soja.
tura de cenoura não se beneficiou da adubação verde. Médias seguidas por letras distintas, nas colunas, diferem entre si pelo
A Figura 12 apresenta as leguminosas feijão-vigna e teste de Duncan a 5%.
Crotalaria ocrholeuca em consórcio com alface
- novas tecnologias que garantem a sustenta- Tabela 15. Produtividade das culturas de cenoura, pimentão e alface em função da adubação
bilidade do sistema. verde induzida.

Cenoura Pimentão Alface


CONCLUSÃO Média1 s2 Média s Média s

O equilíbrio biológico e nutricional do solo ------ (g/parcela)----------------- --------- (g/pe)------------


pode ser obtido com a utilização da adubação ver­ Testemunha 2.676,67 a 404,15 1.602,23 b 298,76 134,88 b 20,06
de, como planta de cobertura. Tremoço 2.613,33 a 344,43 4.429,63 a 769,08 210,13 a 18,14
A utilização de leguminosas no sistema Crotalária 2.626,67 a 557,52 3.460,00 a 563,20 154,33 ab 48,99
promove a reciclagem de nutrientes devido a sua Chicharo 2.693,33 a 401,04 2.171,77 b 651,94 157,19 ab 29,47
grande capacidade de exploração do solo, pro­ 1Médias seguidas de letras distintas na vertical diferem entre si pelo teste de Duncan a 5%;
porcionando maior equilíbrio nutricional para as 2s = desvio padrão.
plantas e contribuindo para maior resistência do CV% dados transformados log (x) = 2,78.
sistema ao aparecimento de pragas e doenças.
As leguminosas utilizadas em adubação verde fixam gran­ cação em sistemas agroecológicos. A tríplice simbiose observada
des quantidades de nitrogênio, que é fornecido para as culturas em no sistema planta-bactéria-fungo micorrízico é de fundamental im­
sucessão de maneira constante e equilibrada, colaborando para a portância para o equilíbrio biológico e garante, também, maior pro­
melhor nutrição com este elemento, tão importante e de difícil apli- teção às plantas contra pragas e doenças.

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112-DEZEMBRO/2005 13


AGRADECIMENTO
Aos Técnicos de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica
Angela Maria C. da Silva, Gilberto Farias, Benedito Mota e Maria
Aparecida C. de Godoy.

LITERATURA CONSULTADA E RECOMENDADA


ALBUQUERQUE, G. A. C. de; ARAÚJO FILHO, J. T; MARINHO, M. L.
Adubação verde e sua importância econômica. Boletim IAA/PLA-
NALSUCAR-COONE, Rio Largo, 1980. 10 p.
ALCÂNTARA, P. B.; BUFARAH, G. Plantas forrageiras: gramíneas e
leguminosas. 4. ed. São Paulo: Ed. Nobel, 1992. 162 p.
ALLISON, F. E. The fate of nitrogen applied to soils. Advances in Agronomy,
New York, v. 18, p. 219-258, 1966.
ALVARENGA, D. A. Efeitos de diferentes sistemas de semeadura na
consorciação milho-soja. 1995. 46 p. Tese (Mestrado) - Universidade
Federal de Lavras, Lavras, 1995.
AMBROSANO, E. J. Avaliação do crescimento e aproveitamento de
fertilizante nitrogenado pelo capim colonião var. Tobiatã em diferen­
tes épocas. 1989. 110 p. Tese (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura
“Luiz de Queiroz”/CENA, USP, Piracicaba, 1989.
AMBROSANO, E. J. Dinâmica do nitrogênio dos adubos verdes,
crotalária juncea (Crotalaria juncea) e mucuna-preta (Mucuna aterrima),
em dois solos cultivados com milho. 1995. 83 p. Tese (Doutorado) -
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP, Piracicaba, 1995.
AMBROSANO, E. J.; TRIVELIN, P. C. O.; MURAOKA, T. Estabelecimento
de técnica para marcação dos adubos verdes crotalária juncea e mucuna-preta
com 15N para estudos de dinâmica do nitrogênio. Bragantia, v. 56, n. 1,
p. 219-224, 1996.
AMBROSANO, E. J.; WUTKE, E. B.; BULISANI, E. A. Feijão-adzuki. In:
FAHL, J. I. et al. (Coord.). Instruções agrícolas para as principais cultu­
Figura 12. Leguminosas em cultivo intercalar com alface: (a) feijão-vigna,
ras econômicas. 6. ed. Campinas: IAC, 1998. p. 283-284. (Boletim, 200)
Caupi e (b) Crotalaria ocrholeuca, que, além de adubo verde,
funciona como atrativo de pragas. AMBROSANO, E. J.; WUTKE, E. B.; BRAGA, N. R.; MIRANDA, M. A. C.
Leguminosas: alternativas para produção ecológica de grãos em diferentes
regiões agroecológicas do Estado de São Paulo. In: AMBROSANO, E. J. (Coord.).
Deve-se estar sempre atento às novas oportunidades e al­
Agricultura Ecológica. São Paulo, 1999. p. 160-178.
ternativas que se apresentam no mercado, principalmente para agri­
AMBROSANO, E. J.; TRIVELIN, P. C. O.; CANTARELLA, H.; AMBROSANO
cultura familiar, como é o caso dos feijões - feijão-adzuki e feijão-
G. M. B.; SCHAMMAS, E. A.; GUIRADO, N.; ROSSI, F.; MENDES P. C. D.;
mungo - que, além de fácil produção, podem ser comercializados na MURAOKA, T. Utilization of nitrogen from green manure and mineral
forma de broto de feijão (moyashi) (Figura 13), com maior valor fertilizer by sugarcane. Scientia Agrícola, v. 62, n. 6, p. 534-542, 2005.
agregado. Como todo o processo é realizado dentro da proprieda­ AMBROSANO, E.J.; TRIVELIN, P.C.O.; CANTARELLA, H.; ROSSETTO,
de, a atividade restabelece e mantém a agricultura familiar, fazendo R.; MURAOKA, T; BENDASSOLLI, J. A.; AMBROSANO, G. M. B.; TAMISO,
rotação de cultivos e introduzindo N no sistema. L. G; VIEIRA, F.C.; PRADA NETO, I. Nitrogen-15 labeling of Crotalaria
juncea Green Manure. Scientia Agrícola, v. 60-1, p. 181-184, 2003.
ASSIS, V. L. G de. Uso de Sesbania rostrata Brem como fonte de nitrogê­
nio para arroz irrigado. 1992. 80 p. Tese (Doutorado) - “Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz”, USP, Piracicaba, 1992.
AZCÚN, R. Importância de los microorganismos rizosféricos en el crescimiento,
nutrición vegetal y sostenibilidad agrícola. In: AMBROSANO, E. J. (Coord.).
Agricultura Ecológica. São Paulo, 1999. p. 313-332.
AZCÓN, R.; RUBRO, R.; BAREA, J. M. Selective interactions between different
species of mycorrhizal fungi and Rhizobium meliloti strains and theirs effects
on growth, N2 fixation (15N) and nutrition of Medicago sativa L. New
Phytologist, v. 117, p. 399-404, 1991.
BATAGLIA, O. C.; FURLANI, A. M. C.; TEIXEIRA, J. P. F.; FURLANI, P.
R.; GALLO, J. R. Métodos de análise químicas de plantas. Campinas:
Instituto Agronômico, 1983. 48 p. (Boletim Técnico, 78).
BRAGA, N. R.; WUTKE, E. B.; AMBROSANO, E. J.; BULISANI, E. A.
Feijão-de-porco. In: FAHL, J. I. et al. (Coord.). Instruções agrícolas para
as principais culturas econômicas. 6. ed. Campinas: IAC, 1998. p. 285.
Figura 13. Feijão-mungo, opção de rotação e geração de renda com elevado
(Boletim, 200).
valor agregado. Seqüência da fabricação de brotos de feijão:
limpeza da semente, molho por 12 horas, drenagem da água e BRAGA, N. R.; WUTKE, E. B.; AMBROSANO, E. J.; BULISANI, E. A.
Leguminosas perenes. In: FAHL, J. I. et al. (Coord.). Instruções agrícolas
permanência em local escuro para completar a germinação. Em
para as principais culturas econômicas. 6. ed. Campinas: IAC, 1998.
quatro dias tem-se o broto pronto para consumo.
p. 292-293. (Boletim, 200).

14 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112 - DEZEMBRO/2005


BRAGA, N. R.; WUTKE, E. B.; AMBROSANO, E. J.; BULISANI, E. A. FRANCO, A. A.; SOUTO, S. M. Contribuição da fixação biológica de N2 na
Mucuna-anã. In: FAHL, J. I. et al. (Coord.). Instruções agrícolas para as adubação verde. In: Adubação verde no Brasil. Campinas: Fundação Cargill,
principais culturas econômicas. 6. ed. Campinas: IAC, 1998. p. 295. 1984. p. 199-215.
(Boletim, 200).
FREITAS, J. A. D.; COELHO, M. A.; FERREYRA, H. F. F. Efeitos de correti­
BRAGA, N. R.; WUTKE, E. B.; AMBROSANO, E. J.; BULISANI, E. A. vos químicos e materiais orgânicos no movimento da água e estrutura do solo
Mucuna-preta. In: FAHL, J. I. et al. (Coord.). Instruções agrícolas para as salino-sódico. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 8,
principais culturas econômicas. 6. ed. Campinas: IAC, 1998. p. 296. p. 261-264, 1984.
(Boletim, 200).
GALLO, P. B.; MASCARENHAS, H. A. A.; BATAGLIA, O. C.; QUAGGIO, J. A.
BRAGA, N. R.; MIRANDA, M. A. C. de; WUTKE, E. B.; AMBROSANO, E. I; Interação calagem-adubação nitrogenada na produção de sorgo sob deficiência
BULISANI, E. A. Crotalárias (C. spectabilis, C.paulina, C. juncea). In: FAHL, hídrica em rotação com soja. Bragantia, Campinas, v. 45, n. 2, p. 231-
J. I. et al. (Coord.). Instruções agrícolas para as principais culturas 238, 1986.
econômicas. 6. ed. Campinas: IAC, 1998. p. 278-279. (Boletim, 200).
GALLO, P. B.; SAWAZAKI, E.; HIROCE, R.; MASCARENHAS, H. A. A. Produ­
BREMNER, J. M. Total nitrogen. In: BLACK C. A. et al. (Ed.). Methods of ção de milho afetada pelo nitrogênio mineral e cultivos anteriores com soja.
soil analysis. Madison, WI: ASA, 1965. p. 1149-1178. Revista Brasileira de Ciência do Solo, Campinas, v. 7, p. 149-152, 1983.
BULISANI, E. A.; BRAGA, N. R. Mucuna-preta. In: Instruções agrícolas GLÓRIA, N. A. da; MATIAZZO, M. E.; PEREIRA, V; PARO, J. M. Avaliação
para o Estado de São Paulo. Campinas: IAC, 1987. p. 154. (Boletim 200) da produção de adubos verdes. Saccharum-STAB, v. 3, n. 8, p. 31-35, 1980.
BULISANI, E. A.; BRAGA, N. R. Potencialidades para a utilização de HEINRICHS, R. Ervilhaca e aveia preta cultivadas simultaneamente
leguminosas como cobertura vegetal de inverno no Estado de São Paulo. In: como adubo verde e sua influência no rendimento do milho. 1996. 65 p.
Atualização em plantio direto. Campinas: Fundação Cargill, 1985. 343 p. Tese (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP,
BULISANI, E. A.; BRAGA, N. R.; ROSTON, A. J. Utilização de leguminosas Piracicaba, 1996.
como cobertura de solo em sistemas de adubação verde ou rotação de culturas. IGUE, K. Dinâmica da matéria orgânica e seus efeitos na propriedade do solo.
In: ENCONTRO PAULISTA DE PLANTIO DIRETO, L, 1987, Piracicaba. In: Adubação verde no Brasil. Campinas: Fundação Cargill, 1984. p. 232-
ESALQ, 1987. p. 63-70. 267.
BULISANI, E. A.; COSTA, M. B. da; MIYASAKA, S. Adubação verde em São JÓRDAN, H. L. Forrajicultura y plasticultura. Barcelona: Salvat, 1995.
Paulo. In: COSTA, M. B. B. da (Coord.). Adubação verde no Sul do Brasil. 591 p.
Rio de Janeiro: AS-PTA, 1992. 346 p.
KAGE, H. Adubação verde para a melhoria da fertilidade dos solos do
BULISANI, E. A.; WUTKE, E. B.; AMBROSANO, E. J. Cultivo da ervilha. In: cerrado. Guaíra, 1979. (dados não publicados).
CURSO DE ATUALIZAÇÃO DE FITOTECNIA, 1., 1991, Piracicaba. ESALQ/
USP, 1991. p. 15-21. KANTHACK, R. A. D.; MASCARENHAS, H. A. A.; CASTRO, O. M. de;
TANAKA, R. T. Nitrogênio aplicado em cobertura no milho após tremoço.
CACERES, N. T. Adubação verde com leguminosas em rotação com Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 26 , n. 1, p. 99-104,
cana-de-açúcar (Saccharum ssp). 1994. 45 p. Tese (Mestrado) - Escola 1991.
Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP, Piracicaba, 1994.
KIEHL, E. J. Manual de edafologia. São Paulo: CERES, 1979. 262 p.
CALEGARI, A.; ALCÂNTARA, P. B.; MIYASAKA, S.; AMADO, T. J. C.
Caracterização das principais espécies de adubo verde. In: In: COSTA, M. B. B. KOHL, D. H.; SHEARER, G. B.; COMMONER, B. Fertilizer nitrogen contri-
da. (Coord.). Adubação verde no Sul do Brasil. Rio de Janeiro: AS-PTA, buition to nitrate in surface water, in a combelt watershed. Science, Washin­
1992. 346 p. gton, 1971, v. 174, p. 1331-1334, 1971.

CALVACHE ULLOA, A. M.; LIBARDI, P. L.; REICHARDT, K. Utilização LOMBARDI, A. C.; CARVALHO, L. C. C. Agricultura energética e a
do nitrogênio fertilizante por dois híbridos de milho. Campinas: Fun­ produção de alimentos: possibilidades de compatibilização. Piracicaba:
dação Cargill, 1982. 66 p. PLANALSUCAR, 1981. 28 p. (Boletim técnico).

CAMPOS, J. C. B. Relatório sobre campos demonstrativos de adubação MASCARENHAS, H. A. A; TANAKA, R. T. Rotação de culturas. In: CURSO
verde na cana-de-açúcar. Campos dos Goytacazes: FUNDENOR, 1977. 6 p. SOBRE ADUBAÇÃO VERDE NO INSTITUTO AGRONÔMICO, 1., Campi­
nas, 1993. p. 71-86. (Documentos IAC-35).
CARDOSO, E. de M. Contribuição para o estudo da adubação verde dos
canaviais. 1956. 109 p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura MASCARENHAS, H. A. A.; BULISANI, E. A.; BRAGA, N. R. Rotação de
“Luiz de Queiroz”, USP, Piracicaba, 1956. culturas. In: SIMPÓSIO SOBRE SISTEMAS DE PRODUÇÃO AGRÍCOLA,
1984. Campinas: FUNDAÇÃO CARGILL. v. 1. p. 87-111.
CARVALHO, J. E. B. de; BRITO, Z. U.; COSTA NETO, A. de O.; CALDAS,
R.C. Efeito de práticas culturais sobre o estabelecimento e permanência de MASCARENHAS, H. A. A.; NAGAI, V; GALLO, P. B.; PEREIRA, J. C. V.
fungos micorrízicos arbusculares (MAs), na laranjeira ‘Pêra’. Revista Brasi­ N. A.; TANAKA, R. T. Sistemas de rotação de culturas de milho, algodão e
leira de Fruticultura, Cruz das Almas, BA, v. 17, n. 3, p. 33-46, 1995. soja e seu efeito sobre a produtividade. Bragantia, v. 52, n. 1, p. 53-61,
1993.
CAVALERI, P. A.; FUZATTO, M. G. Adubação do algodoeiro. XIV Experiên­
cias com mucuna e adubos minerais. Bragantia, v. 22, n. 26, p. 331-350, MASCARENHAS, H. A. A.; NOGUEIRA, S. S. S.; TANAKA, R. T; MARTINS,
1963. Q. A. C.; CARMELLO, Q. A. C. Efeito da produtividade da rotação de culturas
de verão e crotalária de inverno. Scientia Agrícola, v. 55, n. 3, p. 534-537,
DERPSCH, R.; CALEGARI, A. Guia de plantas para a adubação verde de
1998.
inverno. Londrina: IAPAR, 1985. 96 p. (Documentos do IAPAR, 9).
DREYFUS, B.; DOMMERGUES, Y. Stemnodules on the tropical legume MASCARENHAS, H. A. A,; TANAKA, R. T.; COSTA, A. A.; ROSA, F. V;
Sesbania rostrata. In: GIBSON, A. H.; NEWTON, W. E. Current pes- COSTA, V. F. Efeito residual das leguminosas sobre o rendimento
pectives in nitrogen fixation. Amesterdan: Elsevier, 1981. p. 471. físico e econômico da cana-planta. Campinas: IAC, 1994a. 15 p. (Boletim
Científico IAC-32).
DUTRA, G. R. D. Adubos verdes: sua produção e modo de emprego.
Campinas: Instituto Agronômico, 1919. 76 p. MASCARENHAS, H. A. A. et al. Efeito residual do adubo aplicado na soja
(Glycine max. (L.) Merrill) sobre a cana-de-açúcar (Saccharum ssp.) In: REU­
EBELHAR, S. A.; FRYE, W. W; BLEVINS, R. L. Nitrogen from legume cover NIÃO BRASILEIRA DE FERTILIDADE DO SOLO E NUTRIÇÃO DE PLAN­
crops for no-tillage com. Agronomic Journal, v. 76, p. 51-55, 1984. TAS, 21., 1994b, Petrolina. Anais... p. 210-211.
FERRAZ, C. A. M. Rotação de culturas no controle de nematóides. In: Pro­ MASCARENHAS, H. A. A.; HIROCE, R.; BRAGA, N. R.; MIRANDA, M. A.
gresso en Biologia dei suelo. Actas dei primer coloquio Latinoamericano C. de ; BULISANI, E. A.; POMMER, C. A.; SAWAZAKI, E.; GALLO, E.;
de Bilogia dei suelo. Bahia Blanca, Argentina, 1965. p. 181-182. PEREIRA, J. C. V. N. A. Efeito do nitrogênio residual de soja na produ­
FERRAZ, C. A. M.; CIA, E.; SABINO, N. P. Efeito da mucuna e do amendoim ção de milho. 2. ed. Campinas: Instituto Agronômico, 1986. 24 p. (Boletim
em rotação com algodoeiro. Bragantia, v. 36, n. 1, p. 1-9. 1977. Técnico 58).

ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112-DEZEMBRO/2005 15


MELLO, F. A. E; BRASIL SOBRINHO, M. O. C. Efeitos da incorporação de RIBEIRO, G. de A. Efeito de períodos de incubação de adubos verdes
resíduos de mucuna-preta, Crotalaria juncea L. e feijão-baiano. In: Influência (mucuna e pueraria) na liberação de nitrogênio (15N) e enxofre (35S)
sobre a produção de arroz. Revista de Agricultura, Piracicaba, v. 35, n. 1, para o arroz. 1996. 82 p. Dissertação (Mestrado) - Centro de Energia
p. 33-40, 1960. Nuclear na Agricultura/USP, Piracicaba, 1996.

MENDES, C. T. Adubos verdes. 3. ed. São Paulo: Secretaria da Agricultura, RIZZARDI, M. A. Semeadura de milho em sucessão ao girassol. In: REUNIÃO
Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, 1938. 80 p. CENTRO-SUL DE ADUBAÇÃO VERDE E ROTAÇÃO DE CULTURAS, 5.,
1998, Chapecó, SC. Trabalhos técnicos... Chapecó: Gerência de Editoração
MENEGÁRIO, A. Leguminosas forrageiras. Campinas: DPV-DATE, 1967.
e Documentação/EPAGRI, 1998, p. 108-110.
MILLER, P. R; SCHAFFRATH, V. R. Efeitos de culturas de cobertura interca­
SÁ, J. C. de M. Manejo da fertilidade do solo no sistema de plantio direto. In:
ladas sobre a mandioca (Manihot esculenta) e plantas daninhas. In: REUNIÃO
Plantio direto no Brasil. Passo Fundo: Embrapa-CNPT, cap. 4, 1993.
CENTRO-SUL DE ADUBAÇÃO VERDE E ROTAÇÃO DE CULTURAS, 5.,
p. 37-60.
1998, Chapecó, SC. Trabalhos técnicos... Chapecó: Gerência de Editoração
e Documentação/EPAGRI, 1998. p. 151-153. SCARANARI, H. J.; INFORZATO, R. Sistema radicular das principais
leguminosas empregadas como adubo verde em cafezal. Bragantia, v. 12,
MIYASAKA, S. Economia de energia na adubação de culturas. Uso de n. 7/9, p. 291-7, 1952.
resíduos orgânicos. Campinas: Instituto Agronômico de Campinas, 1983.
47 p. SHARMA, R. D.; PEREIRA, J.; RESCK, D. V. S. Eficiência de adubos verdes
no controle de nematóides associados à soja nos cerrados. In: Adubação
MIYASAKA, S. Histórico do estudo de adubação verde, leguminosas viáveis e verde no Brasil. Campinas: Fundação Cargill, 1984. p. 42-43.
suas caraterísticas. In: Adubação verde no Brasil. Campinas: Fundação
Cargill, 1984. p. 64-123. SILVA, J. A. A. da. Consorciação de adubos verdes na cultura de citros
em formação. 1995. 116 p. Tese (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura
MIYASAKA, S.; OKAMOTO, H. Matéria orgânica. In: WUTKE, E. A.; “Luiz de Queiroz”, USP, Piracicaba, 1995.
MASCARENHAS, H. A. A. (Coord.). CURSO SOBRE ADUBAÇÃO VERDE
NO INSTITUTO AGRONÔMICO. Campinas, 1993. p. 1-12. SILVA, R. Potencial da mucuna preta como adubo verde para o arroz
de sequeiro em latossolo amarelo da Amazônia. 1991. 136 p. Tese
MIYASAKA, S. et al. Adubação orgânica, adubação verde e rotação de (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, USP,
culturas no Estado de São Paulo. Campinas: Fundação Cargill, 1984. 138 p. Piracicaba, 1991.
MONDARDO, E.; LAVINA, M. L. Rotação mandioca x adubação verde e SILVA, J.A.A., DONADIO L.C., DONIZETI-CARLOS, J.A. Adubação verde
adubação química, em solo areia quartzosas. In: REUNIÃO CENTROSUL DE em citros. Boletim Citrícola, Jaboticabal, 1999. 7 p.
ADUBAÇÃO VERDE E ROTAÇÃO DE CULTURAS, 5., 1998, Chapecó, SC.
Trabalhos técnicos... Chapecó: Gerência de Editoração e Documentação/ SILVEIRA, G. M.; KURACHI, S. A. H. O sistema de cultivo e a estrutura do
solo em cafezal. Parte II. Bragantia, v. 44, n. 1, p. 179-85, 1985.
EPAGRI, 1998. p. 147-150.
SINGH, Y; KHIND, C. S.; SINGH, B. Eficient management of leguminous
MONEGAT, C. Plantas de cobertura do solo: características e manejo
green manures in wetland rice. Advances in Agronomy, New York, v. 45,
em pequenas propriedades. Chapecó, 1991. 37 p.
p. 137-87, 1991.
MURAOKA, T. Utilização de técnicas nucleares nos estudos da adubação
SMITH, J. H.; LEEG, J. O.; CÁRTER, J. N. Equipment on 15N analysis of soil
verde. In: ENCONTRO SOBRE ADUBAÇÃO VERDE, 1983, Rio de Janeiro.
and plant material with the mass spectrometer. Soil Sei., New Brunswick,
Anais... Campinas: Fundação Cargill, 1984. p. 330.
v. 96, p. 313-318, 1963.
MURAOKA, T.; ORLANDO FILHO, L; BOARETTO, A. E.; AMBROSANO,
STEVENSON, F. J. Organic forms of soil nitrogen. In: Nitrogen in
E. J. Management of crop residues in sugarcane and cotton systems in Brazil.
Agricultural Soils. Madison: ASA/SSSA, 1982. p. 67-122.
In: LEFROY, R. D. B.; BLAIR, G. L; CRASWELL, E. T. (Eds.). Soil Organic
Management for Sustainable Agriculture. Camberra: ACIAR, 1995. TAMISO, L. G; TESSARIOLI-NETO, J.; AMBROSANO, E. J. PRADA-NETO,
p. 27-31. L; VIEIRA, F. C. Uso de leguminosas adubos verdes em cultivo orgânico de
hortaliças. Horticultura Brasileira, v. 19, p. 225-25, 2001.
MURAOKA, T.; AMBROSANO, E. J.; ZAPATA, E; BORTOLETTO, N.;
MARTINS, A. L. M.; TRIVELIN, P. C. O; BOARETO, A. E.; SCIVITTARO, TANAKA, R.T.; MASCARENHAS, H. A. A.; DIAS, O. S.; CAMPIDELLI, C.;
W. B. Eficiência de abonos verdes, Crotalaria juncea y mucuna, y urea, apli­ BULISANI, E. A. Cultivo da soja após incorporação de adubo verde e orgâni­
cados solos o conjuntamente, como fúentes de N para el cultivo de arroz. In: co. Pesquisa Agropecuária brasileira, Brasília, v. 27 , n. 11, p. 1477-
CONGRESO LATINOAMERICANO DE LA CIÊNCIA DEL SUELO, 14., 1483, 1992.
1999, Pucon Chile. Anais... Chile, 1999. p. 341.
VASCONCELLOS, C. A.; PACHECO, E. B. adubação verde e rotação de cultu­
NEME, N. A. Relatório anual da Seção de Leguminosas. Campinas, ras. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 13, n. 147, p. 37-45, 1987.
1961. 60 p. WUTKE, A. C. P.; ALVAREZ, R. Restauração do solo para a cultura de cana-
NEVES, C.S.V.J. Influência de manejo em características de tangerina de-açúcar. Bragantia, v. 27, n. 18, p. 201-217, 1968.
‘Ponkan’ sobre limão ‘Cravo’ e de um latossolo roxo. 1998. 158 p. Tese WUTKE, E. B. Adubação verde: manejo da fitomassa e espécies utilizadas no
(Doutorado em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”, Estado de São Paulo. In: CURSO SOBRE ADUBAÇÃO VERDE NO INSTI­
USP, Piracicaba, 1998. TUTO AGRONÔMICO, 1., Campinas, Instituto Agronômico, 1993. p. 17-29.
NEVES, O. S. Relatório dos trabalhos sobre algodão. Seção de algodão do WUTKE, E. B. Desempenho do feijoeiro em rotação com milho e
Instituto Agronômico, Campinas, 1948. (não publicado) adubos verdes. 1998. 146 p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricul­
ORLANDO FILHO, J. Nutrição e adubação da cana-de-açúcar no Bra­ tura “Luiz de Queiroz”, USP, Piracicaba, 1998.
sil. Piracicaba: IAA/PLANALSUCAR, 1983. 368 p. WUTKE, E. B.; MIRANDA, M. A. C. de; AMBROSANO, E. J.; BRAGA, N.
PEDRO JUNIOR, M. J. et al. Instruções agrícolas para o Estado de São R; BULIS ANI, E. A. Guandu. In: FAHL, J. I. et al. (Coord.). Instruções
Paulo. 4. ed. Campinas: IAC, 1987. 231 p. (Boletim 200). agrícolas para as principais culturas econômicas. 6. ed. Campinas, 1998.
p. 288-289. (Boletim, 200).
PEREIRA, J. C. V. N. A.; MASCARENHAS, H. A. A; MARTINS, A. L. M.;
YATES, F. Análise de uma experiência de rotação. Bragantia, v. 12, n. 7-9,
BRAGA, N. R; SAWAZAKI, E.; GALLO, P. B. Efeito da adubação nitrogenada
em cobertura no cultivo contínuo do milho e do algodão e em rotação com p. 213-228, 1952.
soja. Revista de Agricultura, Piracicaba, v. 63, p. 95-108, 1988. YOSHII, R. J. Cana-de-açúcar. Informações Econômicas, São Paulo, v. 24,
n. 1, 1994. 50 p.
RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J. A.; FURLANI, A. M. C.
Recomendações de adubação e calagem para o Estado de São Paulo. ZIRLIS, A. E. F. Avaliação da safra de 1993/94. Informações Econômicas,
2. ed. Campinas: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. São Paulo, v. 24, n. 1, p. 9-27, 1994.

16 ENCARTE DO INFORMAÇÕES AGRONÔMICAS N° 112 - DEZEMBRO/2005


Sociedade Brasileira de Ciência do Solo

Maneje eConservaçãe lo Solo e da Ágoa


lldegardis Bertol, Isabella Clerici De Maria e Luciano da Silva Souza
(Editores)
XI - SISTEMAS DE MANEJO
CONSERVACIONISTA E QUALIDADE
DE SOLOS, COM ÊNFASE NA MATÉRIA
ORGÂNICA
Cimélio Bayerv, Jeferson Dieckow^, Paulo César Conceição37&
Júlio Cézar Franchini dos Santosv

,z Faculdade de Agronomia, Departamento de Solos, Universidade Federal do Rio Grande do Sul


Porto Alegre, RS E-mail: cimelio.baycr@ufrgs.br
27 Departamento de Solos e Engenharia Agrícola, Universidade Federal do Paraná. Curitiba, PR.
E-mail: jefersondieckow@ufpr.br
3/ Coordenação de Agronomia, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Campus Dois Vizinhos
Dois Vizinhos PR E-mail: paulocesar@utfpr.edu br
4/ Embrapa Soja. Londrina, PR. E-mail. julio.franchini@embrapa.br

Conteúdo

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 315
TERMODINÂMICA. FUNDAMENTOS DO MANEJO CONSERVACIONISTA E QUALIDADE
DO SOLO............................................................................................................................................ 316
PRODUTIVIDADE DAS CULTURAS................................................................................................ 322
DINÂMICA DA MATÉRIA ORGÂNICA NO SOLO......................................................................... 324
FRACIONAMENTO DA MATÉRIA ORGÂNICA............................................................................ 331
Fracionamento físico granulométrico................................................................................................. 332
Fracionamento físico densimétrico .................................................................................................... 332
TÉCNICAS ESPECTROSCÓPICAS NO ESTUDO DA MATÉRIA ORGÂNICA .......................... 333
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................................. 336
LITERATURA CITADA ...................................................................................................................... 337

INTRODUÇÃO

Sistemas conservacionistas de manejo visam a produção de alimentos em longo


prazo, com a preservação dos recursos naturais. O não revolvimento e o alto aporte de

Bertol I, De Maria IC, Souza LS, editores. Manejo e conservação do solo e da água. Viçosa, MG: Sociedade
Brasileira de Ciência do Solo; 2018.
316 ClMÉLIO BAYER ET AL.

lilomassas residuais são fundamentos do manejo conscrvacionista em regiões tropicais c


subtropicais úmidas, e sua adoção permite que a intensidade dos processos ordenativos
seja superior a dos processos dissipativos (ordenalivos/dissipalivos > 1). Assim, os solos
agrícolas apresentam um ganho em qualidade, com reflexos na produtividade das culturas.
A recuperação da qualidade do solo é um processo de natureza biológica, pois todos os
processos ordenativos no solo sAo mediados pela microbiota, cuja atividade é decorrente
dos fluxos ile energia e matéria oriundos das transformações do C fotossintetizado. A
recuperaçAo de solos degradados, quando da adoção de sistemas consei vacionistas de
manejo, passa pela formação de palhada, com reflexos em curto prazo na produtividade
das culturas, O máximo potencial produtivo, por sua vez, ê decorrente do acumulo de
matéria orgânica no solo, processo que demanda um período de tempo usualmente
superior a 10 anos. Quanto ao acúmulo de matéria orgânica, a diversificação dos sistemas
de cultura e o aporto de biomassa de maior qualidade são conceitos a serem introduzidos
tanto em nível do setor produtivo como o da pesquisa científica. Os benefícios do ambiente
menos oxidalivo do solo sob sistemas conservacionistas de manejo sobre a matéria
orgânica extrapolam aspectos quantitativos relacionados aos estoques de C e N no solo,
envolvendo aspectos relacionados ao acúmulo de frações Libeis da matéria orgânica, que
tem forte impacto na qualidade do solo. Conceitos mais recentes como a proteção física e
a coloidal da matéria orgânica e saturação de C no solo são importantes para o adequado
entendimento do impacto de sistemas de manejo sobre a matéria orgânica em solos com
dilerenles textura e mineralogia.

TERMODINÂMICA, FUNDAMENTOS DO MANEJO


CONSERVACIONISTA E QUALIDADE DO SOLO
rcrmodinamicamenle, o solo é um sistema aberto. Isso significa que o solo troca
energia e matéria com o ambiente ao seu redor, onde a entrada de energia solar alimenta
processos ordenativos e dissipalivos que ocorrem no solo. A relação entre ambos determina
a degradação (ordenalivos/dissipalivos < I) ou conservação/recuperação (ordenativos/
dissipalivos > I) do solo.
A intensidade dos processos dissipalivos e ordenativos e, consequentemente, a
qualidade do solo são drasticamente acometidas pelas práticas de manejo. Práticas que
constituem sistemas convencionais de manejo de solo intensificam processos dissipativos
e minimizam processos ordenativos, promovendo uma intensa degradação do solo. O
revol vime2756814522 t açAo e gradagens determina que a sua superfície fique exposta
A radiação solar e, nesta condição, ocorra a máxima entrada de energia diretamente pela
sua superfície, aquecendo-o e intensificando processos dissipativos como a decomposição
microbiana da matéria orgânica e a desagregação do solo.
Aincorporaçâo de energia solar em compostos orgânicos via processo de íotossíntese
pela planta determina uma entrada de energia e matéria no solo, intensificando os
processos ordenativos; entretanto, esse processo é minimizado pela adoção de práticas
como pousio invernal, monocullivo de espécies de baixo aporte de fitomassas residuais
<• queima de filomassa dos cereais de inverno, práticas que simbolizaram o manejo dos
solos nas détadas de I J70-I JKl) no sul do Brasil. A associação de preparo intenso do

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Consehvacionista e qualidade de ... 317

solo e o baixo aporte de filomassa residual, pela nlla frequência de pousio Invernal,
monocultura e queima de filomassa residual determinam uma baixa intensidade dnft
processos ordenalivos e elevada intensidaile de processos dissipativos (ordenalivos/
dissipativos < 1), promovendo diminuição no nível de ordem do solo (aumento da
entropia) e redução da energia armazenada no solo (redução de enlalpia). Assim, com
estas práticas de manejo, os solos agrícolas brasileiros experimentaram uma Inlcnsa e
rápida degradação (Mielnicz.uk, 1999).
A análise da termodinâmica do sistema solo permite inferir que o manejo
conservacionisla do solo deve envolver dois fundamentos: o não revolví mento e o
alto aporte de filomassas residuais, cuja adoção concomitante é essencial para que
a intensidade dos processos ordenalivos seja superior ã intensidaile dos processos
dissipativos (ordenalivos/dissipativos > 1), fazendo com que o solo passe a experimentar
uma melhoria gradual da sua qualidade. Na figura I, exemplificam-se os fluxos de (' em
Argissolo sob preparo convencional (preparo convencional-PC, lavração e gradagem) e
baixo aporte de filomassas residuais (aveia/milho - A/M, sem adubação nilrogenada).
Nesta situação, os processos ordenalivos no solo são alimentados pela incorporação
anual de 0,9 l ha'1 ano-1 de C na matéria orgânica do solo. Por sua vez, os processos
dissipativos ocorrem a uma intensidade equivalente a 1,4 I ha-1 de C, demonstrando que
nesse manejo, que não apresenta nenhum dos fundamentos do manejo conservacionisla,
a intensidade dos processos dissipativos é superior a dos processos ordenalivos (Figura
1a) e o solo perde qualidade ao longo do tempo. A partir da adoção simultânea dos
fundamentos de não revolvimenlo (semeadura direla-SD) c do alto aporte ile filomassas
residuais (aveia+ervilhaca/milho+caupi - A+Ij/M+C), a laxa dos processos dissipativos
(equivalente a 1,1 l ha'1 ano 1 de C) passa a ser menor do que a dos processos ordenalivos
(equivalente a 1,6 I ha'1 ano 1 de C) (Figura 1b), e o solo passa acumular matéria orgânica
e aumenta a qualidade.
Solos submetidos a sistemas convencionais de manejo (ordenalivos/dissipalivos • I)
apresentam um decréscimo no nível de ordem (Figura 2a). Por sua vez solos submetidos
a sistemas conservacionislas de manejo (ordenalivos/dissipalivos > I), que contemplam
os dois fundamentos do manejo (não revolvimenlo e alto aporte de filomassíis residuais),
tendem a se organizar e a apresentar nível de ordem mais elevado (Figura 2a). Na figura
2b, verifica-se a similaridade entre a evolução dos estoques de C d.i matéria orgânica do
solo ao longo de 13 anos de aplicação de diferentes sistemas de manejo de solo (Uayer et
al., 2000), em relação ao comportamento teórico da organização do solo em relação aos
sistemas de manejo adotados (Figura 2a)
Cabe salientar que os sistemas de manejo que constam na figura 2b são os mesmos
da figura 1. Verifica-se, assim, que os sistemas de manejo, que determinam processos
ordenalivos menos intensos do que os processos dissipalivos(PC A/M) no solo, resultam
numa diminuição do nível de ordem no solo, caracterizado por um rápido c intenso
processo de degradação (Figuras la e 2b). Por sua vez, sistemas de manejo que envolvem
a adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo (não revolvimenlo do solo v alto
aporte de filomassas residuais, SI) ATF./M+C) determinam um balanço positivo dos
processos ordenalivos em relação aos processos dissipativos (ordenalivos/dissipalivos:-1)
e uma elevação no nível de ordem do solo, promovendo a conservação ou melhoria da
qualidade do solo (Figuras 1 b e 2b).

Manejo e Conservação do Solo e da Água


318 ClMÉLIO BAYER ET AL.

Figura l.Ciclagem de C num Argissolo submetido a um (a) manejo com intenso revolvimento (preparo
convencional-PC, lavração e duas gradagens) e baixo aporte de fitomassas residuais (aveia/
nulho-A/M, sem adubação mtrogenada), e a (b) manejo que contempla os fundamentos do não
revolvimento (semeadura direta-SD) e do alto aporte de fitomassas residuais (aveia+ervilhaca/
milho+caupi - A+E/M+C). Fluxos de C calculados a partir de Lovato et al. (2004).

O conceito do solo como "sistema" significa que o solo é formado por sub-sistemas
(físico, químico e biológico), que interagem entre si. Isto implica que a adoção de sistemas
conservacionistas de manejo determina melhoria em indicadores químicos, físicos e
biológicos de qualidade do solo, resultando na melhoria da qualidade do solo como
um todo. Os indicadores de qualidade do solo são referidos por alguns autores como
"propriedades emergentes” (Vezzani, 2001), sugerindo que se tratam de propriedades
que o solo somente passa a apresentar quando submetido a sistemas conservacionistas de
manejo.
Nos diferentes estados de organização do solo, que estão representados na figura 2a,
surgem as propriedades emergentes. No nível de ordem alto, caracterizado pela presença
de estruturas mais complexas, que são os macroagregados, e grande quantidade de matéria
orgânica retida, as propriedades emergentes que se destacam são: resistência às erosões
hídrica e eólica, aumento da CTC e do estoque de nutrientes, adsorção e complexação de
compostos orgânicos e inorgânicos, favorecimento dos organismos do solo, promoção da

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 319

ciclagem dos elementos químicos, sequestro de C, aumento da diversidade da população


microbiana, resistência a perturbações e resiliência. Estas propriedades emergentes
conduzem o solo a aumentar a habilidade de produzir quantidades crescentes de matéria
vegetal, favorecendo a retroalimentação de energia e matéria geradora de ordem. Nessa
condição, o solo é capaz de cumprir suas funções e, dessa forma, atingir qualidade (Vezzani,
2001).

Nível de ordem alto

Figura 2. (a) Figura teórica da razão entre os processos ordenativos e dissipativos e a organização do
sistema solo sob os sistemas de manejo PC A/M e SD A+E/M+C [adaptado de Vezzani (2ÜÜ1)
em analogia a Prigogine (1996)] e sua similaridade com o (b) comportamento dos estoques de C
orgânico verificado em Argissolo subtropical sob os mesmos sistemas de manejo.
Fonte: (Bayer et al, 200Ü).

Manejo e Conservação do Solo e da Água


320 ClMÉLIO BAYER ET AL.

Na figura 3, são apresentadas as propriedades emergentes o -30 0

manejo PC A/M e SD A+E/M+C, onde os atributos do solo sob vege aça P°


nativo) são considerados como referência (=100). Verifica-se que com a m< c e

C fotossintetizado e o menor revolvimento do solo, este avançou para niv °r ern


mais elevados, e surgiram propriedades emergentes como o aumen o < aee
biomassa microbiana, estoques de C e N na matéria orgânica e na açao p a a,
potencial mente mineralizável, entre outras (Conceição, 2002).

sem adubação nitrogenada) e manejo conservacionista que envolve os dois fundamentos


do manejo (não revolvimento - semeadura direta (SD) e alto aporte de fitomassas residuais
vegetais pelo sistema aveia+crvilhaca/milho+caupi - A+E/M+C), em comparação ao solo sob
vegetação natural (campo nativo; referència=100). C. org= C de compostos orgânicos, NMP= N
polencialmente mineralizável, 053= C na matéria orgânica particulada, C-Bio- C na biomassa
microbiana, Ntotal=nitrogênio total, C-CO,=atividade microbiana, N>53= N na matéria
orgânica particulada c Quoc. Met = quociente metabólico.
Fonte: Adaptado de Conceição (2002)

Manejo e Conservação do Solo e da Água


Hl ÜI^H-HA !>!■■ MaIIIHIi I MiHlhIA I ijUAI IHhlil lll , 171

lllii rnipdi In iiiipmIiihIii ihuiIiI dlm ihhi/|ii n ipidl d ijiinlilldiidd dl» hliiiiiiHiiiii 7";'/')nl
hid iipuildild nilliiilliiidilii pdld liidlilid ii i|lldllddili' llli niilli N luiiHl du*i
ripri'Mi<liliidn« lin ll|'llld 4, piidc nr Inlidll i|||d d ld/)1li ídllll' mi pniimi/uio tmli‘liiillviiil
c dlnelpnllviih ui) tiniu pdnhii d imr iiiipdiloi *i I (iildi')ldllvii»i/dbi<ilpilllvn*i • ll "In fd 6
illlrillilii D npnili1 di< liliiiiiiiniiii 6 lj«iliil nu nilpidlid ii iiiiiii-liihnliiiiii'lih‘ lll I ll/i 1 iilin1
ili’ HiiilóiIn iici n ilim i iilluidn 1'inliiiiln, n nilli,Hii dlillnl di< II) I lin 1 d ifihiiillilinli' tli<
1'liiiiliinnii lidlldiln iniiiii i«<li*H'in ln pdlil d liiiiliilli')|i,ilii dil ipinlldndi' d<‘ ni/lon i'lii l '<l i
1'ur hiiii ve/, iMiittnIiiQ iinli |'( , n t|iidiilliliiili< iiiiiiiil ili' Idiiiiiiiniiii vi<p/'ldl n »im mlh hiiimlrt/
Vhdinlii iiiiinh'i ii i|ihilli|inli< ilti iiiilii,piiniiii d imr iiiipidlm n 17 I lin ii n liillii ih1 opi,/m'i
tli' Mhilciium de i 1111111 n<>, i|IH« pi'Hllllillll npiil liil i|lillillli|i|llli| i"ihd i|lldiil)dmli’ ih> hlidiinmm
V»'||i’ldl( Hiipllni i|ili' ii iipili iilliiiii i iiiiViMli Irifhil/ min loim» i')/i iildlidildM hiiii llih'11'in
|i'Viilvlliii'llhi llli uniu, hi')d liivliivi'1, lei llli i| i' il||||i|l>||ldllllllllli|/ idii li'j'1/m'i )l»ip|ldl‘> /*
nilhlmplrnl» ll111111>im, pui idhlllldl i'lll il(*|i|lldillli,'ílii dil imlil,

I JllkilrtlIVliw/1 )|iiii||'llllvini I livilhl f/lllll)


I'!/)"<■
) 147 iiidl/iiiin
II % «i|<llii

♦I
nu * .

p <' » í f > (i f i
h in r/ h • it in

«I

AlIllJlH IIIlHlll lll» hllHlHIHIIH (I llli')

llguni 'I. hi/flodii IiiIimpiIiIimIihIiim |«h-mmmimmhthnihIIvhhí< tIIhhI)oilIv«iu im»hmIm •iv.iIi.hI i


|H>ln hlHH dl* nlhHHÇniHllllhll (I llli 1 IHIH () llli IMlllM|lll‘ dl' < lll* • HHIpinllH lil|»iúl|l h>i p f M im ihIii
Clll didu |Ul'|iiU(Hi ilu holli (|’( *-|»H’piHH i i Hl Vi'IH liUlill i* hl1 HiMiiH/idlHii dllplii) i» dii i|lhililldiidi>
Ik< ( ililh Inibido HHIhlIllHHlh' I IlIlUhin
lll» hllduh ••ui i'hil (MH)

Iiinilmin, mil dtipmln liiipmliiiili' é d diidllni' rniiipnrdllvd 1'iiln1 ri'|'(lí)i"i liiiphnl'i/


Miililmplriilni’ li'iiipci'rtdd)i/i|ii<'podi)iiiiii'i iiliin'i viiiln mi ll|’iirii'l < hi ii'iiiilld(liiiiilidiiini'ilidiii
lllld I'lli|lldlll<> níli) lIPtiViniirldii llldlll di' 17 I lld 1 dl' ildlçilli dlllldl dl' liliililiimid V«'|',i'lill
prird i'nliilii,li'< i,r (llli lidldlii,'ii i'lilH' un pim'i'ii!niii <ndi'liiillV()H i' dlHNlpiillViin idii niiluii miiIi
plcpdlii nillViMirlldldl 110 nillillúpli li l'ld'dli'llii, lllllll lll lll) lld lllKTld, i (llli Icdllid dlliilldl,
I'iw bdlillliji ó nhlldii rum il iidli,lbi dl1 iipeiimi I I lld 1 dliii1 I! Iiilm »ii' di'Vi' Imnli iihiiuiIk nu
Idlil lll' I|III’ d i,ll<*l|llld rii|'(*|ilild viu Iddlm.ilH llolill i' 111<I<ih111ld11d11li• 1111• li diiluii lidd |P)||hi'u
lltipli dlh/idlli|l’iipli dln ('IIHI rui VIII ' d ') du <|(li‘ llilll hUiipiildildd (.'llli i dl ui ’ d i< buiu |i<m
íiirli' lmplkm;flii min liixdn dou prm |i|iniiii di' iinliiiivd lilulii|',l< d

MANDO I CúNJd HVAI.Aí) l)() SlJlU I HA AiíIIA


322 ClMÉLIO BAYER ET AL.

É importante ressaltar que essa maior energia incidente tem re exos na maior axa os
processos de natureza biológica, o que faz com que, em regiões tropicais e su ropicais, o
balanço dos processos ordenativos e processos dissipativos no solo somente seja a cançado
a partir da adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo de solo (não reyo vimento
do solo e alto aporte de biomassa vegetal). Isso significa relatar que a a oçao iso a a e um
ou de outro fundamento do manejo não terá o resultado esperado em re açao a me oria da
qualidade do solo. Essa análise permite inferir as implicações negativas a a ta requência
de pousio invernal e da monocultura, entre outras práticas, sobre a qua i a e e so os em
semeadura direta.

PRODUTIVIDADE DAS CULTURAS

A produtividade das culturas em diferentes manejos responde às alterações que


ocorrem na qualidade do solo (Figura 5). Resultados de rendimento de soja de experimento
de longa duração conduzido na Embrapa-Soja (Londrina, PR) evidenciam as diferentes
fases da SD. No período inicial (3-5 anos) de adoção desse manejo conservacionista, as
alterações no solo são pouco intensas e caracterizam uma fase crítica de transição onde os
rendimentos das culturas em SD são similares ou até inferiores aos verificados no solo sob
PC Posterior a essa fase, a SD entra numa fase de consolidação em que as alterações na
qualidade do solo já são mais expressivas e se refletem em produtividade das culturas um
pouco mais elevadas em relação ao solo em PC. A partir de aproximadamente 10 anos, a
magnitude das alterações na qualidade do solo já entra numa fase de estabilização, e a SD
entra em maturidade, fase em que a produtividade das culturas responde sensivelmente às
alterações ocorridas na qualidade do solo em SD, e passa a ser consistentemente superior à
produtividade das culturas no solo em PC.
Os períodos de tempo que caracterizam cada fase da SD são variáveis em razão
das práticas de manejo adotadas e, possivelmente, variam em função do hpo de solo e
das condições iniciais do solo (grau de degradação) quando da implantação do manejo
conservacionista, além das condições climáticas da região. Nesse sentido, merece destaque,
na figura 5, a influência do sistema de culturas adotado em relação à duração das diferentes
fases. Verifica-se que na monocultura trigo-soja a fase crítica se estende até o 5° ano após
a implantação, seguida pelas fases de consolidação (5o ao 11° ano) e de maturidade (a
partir do 11° ano). Por sua vez, a utilização de um sistema de rotação de culturas, com a
introdução de leguminosas e gramíneas de cobertura, no inverno, e de milho em rotação
com soja, no verão, resultou numa redução desses períodos. A fase crítica se estendeu
apenas até o 3 ano, e a fase de maturidade já foi atingida no 7° ano, após a implantação da
SD, representando uma antecipação de quatro anos na consolidação desse manejo. Estes
resultados indicam que a adoção de um sistema de culturas diversificado e com maior
aporte de fitomassas residuais intensifica a melhoria na qualidade do solo, e isso se reflete
na produtividade das culturas.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 323

Figura 5. Diferença na produtividade de soja (kg ha’1) entre semeadura direta e preparo convencional
(SD-PC, em que valores + = SD > PC; e valores - = SD < PC) em diferentes fases que ocorrem
no decorrer do período de adoção da SD (crítica, consolidação, maturidade) em L.itossolo
Vermelho na monocultura trigo-soja e na rotação de culturas tremoço-milho/aveia prela-soja/
trigo-soja/trigo-soja, ns e * = diferença não significativa e significativa em nível de 5 % (Tukvy),
respectivamente. Embrapa-Soja, Londrina, PR.
Fonte: Dcbiasi et al (2013).

Em relação ao efeito da matéria orgânica (MO) e da cobertura do solo na produtividade


das culturas em solos em SD, a figura 6 é muito ilustrativa. A variação do teor de matéria
orgânica de 18 g kg'1 para 35 g kg'1 determinou um incremento na produtividade da soja
de 12 sc ha'1 (720 kg ha1), enquanto a variação de 0,3 I ha 1 para 7,6-7,9 I ha 1 de palhada
sobre o solo em SD determinou um incremento na produtividade de 22 sc ha'1 (I 320 kg

Manejo e Conservação do Solo e da Água


324 ClMÉLIO BAYER ET AL.

ha ’). O efeito combinado desses dois fatores totalizou 34 sc ha ou g ia c e soja.


Esses resultados reforçam o entendimento de que um manejo sem reyo vimen o, mas corn
baixo aporte de biomassa vegetal, apresentará pequeno incremento c o teor c e no solo
c terá uma baixa quantidade de palhada sobre o solo e evidenciará um e ei o astante
restrito na produtividade das culturas, decorrente das alterações pouco expressivas na
qualidade do solo. Estes resultados também indicam que o piocesso e recuperação da
qualidade do solo começa pelo aumento na produção de palhada, o que tem impacto sobre
a produtividade no curto prazo. No entanto, para que o máximo potência pio utiyo seja
atingido é necessário que o aumento de qualidade do solo relacionado ao aumento c o teor
da MO ocorra, e este é um processo que demanda um maior período de tempo (> 10 anos).

Figura 6. Produtividade de soja em função do teor de matéria orgânica c da cobertura de solo em


semeadura direta, em Lucas do Rio Verde, MT, safra 2010/TI.
Fonte: Adnptndo de Costa et al (2014)

Considerando a grande importância da MO na melhoria das condições químicas,


físicas e biológicas de solos agrícolas submetidos a sistemas conservacionistas de manejo,
será apresentada a seguir uma abordagem amplificada da dinâmica da fração orgânica
no solo, das técnicas de I racionamento utilizadas para um melhor entendimento dos
fatores envolvidos na estabilização da MO no solo e do uso de técnicas espectroscópicas na
avaliação da qualidade da matéria orgânica do solo.

DINÂMICA DA MATÉRIA ORGÂNICA NO SOLO

A variação do estoque de C orgânico no solo (dC/dt) depende da adição (k,A) e


da perda (k2C) anual de CO do solo, em que k( é o coeficiente iso-húmico e representa a

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 325

proporção do C fotossintetizado (parte aérea e raízes) adicionado ao solo, que é incorporado


na matéria orgânica do solo no prazo de um ano; e k2, a taxa anual de decomposição
microbiana do C estocado na matéria orgânica do solo (Figura 7). Esta dinâmica é expressa
na seguinte equação:

dC (D
~di = k,A-k2C

Figura 7. Balanço de entradas (lqA) e das perdas de C (k,C) são determinantes dos estoques de C na
matéria orgânica no solo.
Fonte: Adaptado de Bayer et al (2006a).

A integração desta expressão ilustra a variação dos estoques de C no solo ao longo


dos anos de adoção de diferentes manejos, que integra as perdas de CO do solo decorrente
da oxidação microbiana (Coe-b') e o acúmulo de C adicionado pela biomassa vegetal ao
A' A
solo (1 “ e'’)], em que t é o tempo (anos); CO,o estoque de C inicial no solo, e e, base
natural dos logaritmos neperianos.

Ct = COe^' (1 - e*)

A partir das expressões 1 e 2, pode-se inferir que, para manter ou recuperar os estoques
de C no solo, os manejos deverão implementar um elevado aporte de fitomassas residuais
(A) e uma reduzida taxa de decomposição (k,) de MO de forma que haja um equilíbrio
(k1A=JC,C) ou um balanço positivo das entradas em relação às perdas de C (k,A > k,C).
Basicamente, a adoção simultânea dos dois fundamentos do manejo de solo resultam
normalmente no balanço positivo das entradas em relação às perdas de C, em razão do efeito
do alto aporte de fitomassas residuais, que define uma alta adição de C fotossintetizado, e
o não revolvimento do solo em SD, que determina uma redução da taxa de decomposição
da MO em relação a solos sob PC. Portanto, a adoção dos dois fundamentos do manejo
impactam favoravelmente a dinâmica da MO no solo, tanto reduzindo perdas como
aumentando as adições, tendo como resultado uma variação positiva dos estoques de C no
solo (dC/dt > 0).
Na figura 8 é ilustrado o impacto de diferentes preparos (PC e SD) nas taxas de
decomposição da matéria orgânica em dois solos com textura e mineralogia distintas, e no
quadro 1, o efeito de sistemas de preparo e de culturas nos estoques de C orgânico no solo
e no tempo médio de residência (TMR) da matéria orgânica num Argissolo subtropical.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


326 ClMÉLIO BAYER ET AL.

Temperatura média anual f’C)19,4 21,2

Precipitação (mm ano’1) 1440 1713

Teor dc argila (%) 22 68

(8 kfi’) 11,8 87,6

Pc.. (8 k8 ) 0,9 23

Figura H, laxas anuais de decomposição (k;) da matéria orgânica cm Lalossolo e Argissolo


subtropicais, sob preparo convencional (PC) c semeadura direta (SD).
1'nrilr Ihiyri (IW6)

Quadro I. liíclto de diferentes preparos (POpreparo convencional e SD-semeadura direta) e de


sistemas de cultura (A/M"nvein/milho e A^lí/M-rC^aveia+ervilhaca/milho^caupi) sobre
o*i cf»toc|iieH e C orgânico original remanescente, C das culturas estocado no solo ao final do
período de 13 anos de adnçAo tios diferentes sistemas de preparo e de cultura e tempo médio de
residência da matéria orgânica (TMR) no solo, sob os diferentes manejos

Manejos c c frriUHUHCriilr
^cullurat ÇuUl TMR
........... ........ I ha'1 — anos
PC A/M 32,55 19,29 6,34 25,70 25
AHi/MtC 19,29 11,27 30,63 25

SD A/M 25,52 6,59 32,02 40


AHÍ/MtC 25,52 11,60 37,03 40
I milri Ihyvr vl «I (/<•<*•••>

Um cornp(A2$$/6C (k;*0,040 ano'), a üllminaçflo cio revolviincnto cio solo


(IchTmiiMiu iim.i !•<•<luçílo exprcHHlv.i da laxa de ducoinpoHiçflo anual da MO no solo cm

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 327

SD (0,025 ano1). Esse ambiente menos oxidativo do solo em SD discrimina um aumento no


tempo médio de residência (TMR = ) da MOS no solo, que é o tempo que o C permanece
nele, ou seja, o tempo que lranscorre’desde a entrada do C íolossintelizado no solo até a
sua oxidação microbiana a COr Verifica-se que a redução da laxa de decomposição anual
da MOS no solo aumenta o TMR de 25 para *10 anos (Quadro 1), ou seja, a permanência
da MOS no solo em SD é bem superior do que no solo em PC, e isso é muito importante
pois amplia os benefícios da ciclagem da MOS no solo. Além do efeito benéfico da SD na
preservação do C residual ("velho") do solo, os resultados também evidenciam o impacto
do aporte de litomassas residuais (A+E/M+C > A/M) no acúmulo de C das culturas
("novo"), proveniente de adição recente de C folossintetizado.
Além das condições ambientais, principalmente da temperatura, as taxas de
decomposição (k2) da MO e, em consequência, o TMR são fortemente influenciados pela
textura e mineralogia do solo. Na figura 8, verificam-se os valores de k2 mais elevados
e o maior impacto da SD em reduzir o valor de k, em relação ao PC num Argissolo da
Depressão Central do RS do que num Lalossolo da região do Planalto do RS, e essa variação
não tem relação com a temperatura média e o volume de chuvas anual nestas regiões, mas
sim com a maior estabilização do C no Lalossolo argiloso com teor mais elevado de óxidos
de ferro do que no Argissolo de textura média e com predomínio de caulinila (Bayer, 1996).
Em razão da interação organomineral, os microrganismos podem ter alguma restrição de
acesso ao substrato orgânico pela interação com a superfície mineral através de grupos
funcionais hidrofílicos e exposição de grupos hidrofóbicos, a qual tem caráter aditivo às
dificuldades que os microrganismos tem de remover o composto orgânico da superfície
mineral onde está adsorvido, além da adsorção de enzimas (Chrislensen, 1996; Sollins et
al., 1996). A interação organomineral é o principal mecanismo controlador da estabilidade
em longo prazo da MO (Kõgel - Knabner et al., 2008), enquanto a recalcilrância e oclusão
teriam papéis mais relevantes na estabilidade em curto prazo. Em Latossolos oxídicos do
Cerrado, a textura e mineralogia do solo (interação organomineral) também são reportadas
como fatores mais importantes que a estrutura do solo (oclusão) no processo de retenção
de C (Zinn et al., 2007).
Nas mais de quatro décadas de SD no Brasil, muito se constatou sobre os benefícios
ambientais e econômicos deste manejo (Casão-Junior et al., 2012). Em termos de
acúmulo de C no solo, Bayer et al. (2006c) estimaram que solo sob SD sequestra 0,48 e
0,35 t ha’1 ano 1 na camada de 0-20 cm em regiões subtropicais e tropicais brasileiras,
respectivamente. Estimativas de Bernoux et al. (2006) para a mesma camada e regiões
são um pouco maiores: 0,68 e 0,65 t ha’1 ano’1 na subtropical e tropical, respectivamenle.
Entretanto, contabilizando estoques até 1 m de profundidade, Boddey et al (2010)
estimaram que as taxas de sequestro de C em solos sob SD podem ser quase 60 % maiores
do que as estimadas para a camada 0-20 cm, principalmente, no caso de sistemas de rotação
de culturas intensivos e com a inserção de leguminosas de cobertura do solo.
O preparo do solo, por influenciar o grau de mobilização dos agregados, determina o
coeficiente A’,. Jastrow (1996) definiu isso como a reciprocidade do tumover de agregados
e do fiimover da MO. A proteção física da MO por oclusão em agregados de solo dificulta
a ação de microrganismos e de suas enzimas sobre o substrato orgânico, por atuar como
uma barreira física e diminuir a disponibilidade de O, para os processos oxidalivos
de decomposição (Baldock et al., 1992, I lassink e Whitmore, 1997; Sextone et al., 1985;
Balesdent et al., 2000b). Six et al. (2000) utilizaram essa ideia de liimover de agregados
e de MO e propuseram um modelo para explicar mecanislicamenle o acúmulo de C

Manejo e Conservação do Solo e da Agua


328 ClMÉLIO BAYER ET AL.

em solo sob SD. De acordo com este modelo, a fitomassa resi ua an o na corno
no PC é incorporado inicialmente em macroagregados, na forma e ma ria orgânica
parliculada (MOP) grosseira (> 250 pm). Com o tempo, a tv par ícu a a (MOP)
grosseira é decomposta para MOP fina e incorporada em microagregados(< 250 yni)
dentro dos macroagregados, num grau de proteção física maior, om a ecomposiçào
da MOP grosseira, os macroagregados eventualmente podem ser desestabilizados e
liberar os microagregados. Entretanto, com nova adição de fitomassa cultural residual,
os microagregados se unem novamente em macroagregados, reiniciando o ciclo da
agregação". No caso do solo manejado em PC, a mobilização rompe os macioagregadose
se inicia a decomposição acelerada da MOP grosseira, sem que esta tenha oportunidade
de ser incorporada e protegida na forma de MOP fina em microagregados.
Embora haja evidência clara de a SD proporcionar acúmulo de C nos solos tropicais
e subtropicais brasileiros (Sá et al., 21)01, Amado et al., 2006; Bayer et al., 2006c; Bernoux
et al , 2006, Boddey et al., 2010), em nível internacional, alguns estudos questionam o
papel da SD em acumular MO e mitigar aquecimento global (Baker et al., 2007; Angers
e Eriksen-Hamel, 2008; Blanco-Canqui e Lai, 200S; Powlson et al., 2014; Vandenbygaart,
2016) Na abordagem de Angers e Eriksen-Hamel (2008), os estoques de C no solo sob
SD ou PC são equivalentes, sob a argumentação que o acúmulo de C em superfície no
solo sob SD é compensado pelo acúmulo de C na parte inferior da camada arável"
(até 21 -25 cm) do solo sob PC, em razão da simples inversão de camada e incorporação
de fitomassa residual superficial neste manejo. No entanto, trabalhos conduzidos em
condições tropicais e subtropicais indicam que o acúmulo de C na SD pode se extender
para bem além dos 21-25 cm de profundidade (Sisti et al., 2004; Dieckovv et al., 2005b;
Boddey et al 2010). Seguindo com os questionamentos, Vandenbygaart (2016) afirma
que a capacidade da SD em mitigar mudanças globais do clima é um mito, pois, em seu
entendimento, não está totalmente provado que a SD globalmente promove sequestro
de C no solo, e, mesmo que promovesse, este não seria quantitativamente significativo
numa mitigação das emissões globais.
lndependentemente dessa discussão, o fato é que a SD bem manejado e aliado a
sistemas de culturas de alta produção primaria líquida (alto aporte de biomassa vegetal)
apresenta resultados promissores de sequestro de C no solo. O que convém, no entanto,
é o questionamento aulocrítico de como a SD está sendo praticado, especialmente nas
lavouras brasileiras, e se a rotação de culturas e o manejo de cobertura e estrutura do solo
estão sendo eteti vamente tratados conforme os princípios da agricultura conservacionista.
Na maior parte das lavouras de grãos do Brasil, o desafio da conversão do PC para aSD
ioi superado, ou está mais próximo de ser superado. Agora, nas áreas de SD, o desafio
corrente é trabalhar o sistema de culturas visando um alto aporte de palhada (A), além
da diversificação de espécies.
Embora a adição A seja o fator mais manejável nos sistemas de culturas, o coeficiente
k, não pode ser negligenciado. Quanto maior o k{, melhor, e isso depende da recalcitráncia
molecular (razão hgnina/N), mas, possivelmente, em maior parte, da acessibilidade
microbiana à biomassa residual (Balesdent e Balabane, 1996, Bohnder et al., 1999). A
recalcitráncia molecular da MOS refere-se à resistência intrínseca das moléculas orgânicas
ao ataque microbiano. Atualmente, porém, se reconhece que a recalcitráncia não é o mais
importante mecanismo de estabilização da matéria orgânica (von Lützow et al., 2006;
Marschner et al., 2U08; Dieckow et al., 2009, Kõgel-Knabner e Kleber, 2012). Estruturas
de carboidratos, supostamente mais "lábeis" são observadas em frações físicas (argila)

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - SlSTEMA DG MaNGJO CONSGUVACIONISTA E QUALIDADE DE ... 329

onde a matéria orgânica leni maior tempo tle lurnover (IJick et a!., 2005, Dicckow et al.,
2009). No entanto, cabe deslocar que a recalcllrâncin ainda lem sua devida importância
nas fases iniciais de decomposição das íilomassas residuais (von l.tltzow et al., 2006;
Carvalho et al., 2009; Kógel-Knabner e Kleber, 2012).
O ã( de raízes é geralmenle maior que o da parle aérea, possivelmente por raízes
estarem enterradas no solo e fisicamente protegidas em agregados e por lerem maior
relação lignina/N (Bolinder et al., 1999). O da parte aérea varia entre 0,08 e 0,26 e é em
média 0,12 (Gregorich et al., 1995; Bolinder et al., 1999). Para sistemas de culturas anuais
e subtropicais brasileiros com aveia-preta, ervilhaca, caupi e milho, Bayer et al. (2006b)
estimaram um kt conjunto de parte aérea e raiz de 0,15, tanto em solo em PC como em
SD. Para a cana-de-açúcar, Cerri (1986) obteve um k, = 0,20.
Seguindo o entendimento de que o coeficiente iso-húmico (k() de raízes é maior que
o da parte aérea, vários estudos indicam que a raiz é o principal contribuinte para formar
a MO do solo e não a parte aérea. Katlerer et al. (2011) estimaram, para nove culturas
agrícolas, um kt médio de raízes 2,3 vezes maior que o da parle aérea (0,35 vs 0,15); um
resultado coerente com o TMR 2,4 vezes maior para C-raiz que C-partc aérea da revisão
de Rasse et al (2005). No sul do Brasil, Tahir (2015) verificou, com marcação 11C, que
após um ano do cultivo de ervilhaca, ervilha forrageira e trigo, em média 30 % do C de
suas raízes ainda estavam presentes no solo (0-30 cm), contra somente 5 % do C da parte
aérea, numa clara indicação da maior contribuição de raízes ao estoque de MOS.
Paradoxalmcntc, justamente a quantificação da adição por raízes é uma das
maiores dificuldades nos estudos de manejo de solo e matéria orgânica. Amostragens
de solo+raízes geralmenle são trabalhosas e danificam as parcelas dos experimentos
de manejo do solo de longa duração, as quais normalmente apresentam pequena
dimensão. Além disso, os métodos de avaliação de raizes não consideram a quantidade
de C adicionado ao solo via rizodeposição, embora Bolinder et al. (2007) proponham que
C,il/ihlrponi^u
, = C.l'hiniâM>n
, x 0,65.
ralrcs

Na quantificação das raízes, o emprego da razão parle aérea-raiz, (sliool lo root) e


prática, pois basta ler a biomassa da parte aérea para estimar a de raízes, mas não está
livre da enorme variabilidade que existe por trás de cada valor de razão parte aérea-
raiz. Bolinder et al (2007) estimaram em ambiente temperado razões parte aérea-raiz
de 7,4 para cereais de inverno; 5,6 para milho; 5,2 para soja; e 1,6 para forrageiras, com
expressivos coeficientes de variação de 50-75 %.
Com relação ao potencial de espécies leguminosas de cobertura de solo em
aumentar o estoque de MOS, é importante destacar o papel delas no acúmulo de C e N
no solo, seja pelo seu efeito no aporte de biomassa vegetal ao solo pela própria produção
de fitomassa, seja pelo benefício do N fixado simbioticamenle no aporte de espécies
gramíneas (normalmenle o milho) cultivadas em sucessão (Amado et al., 2002; Dieckow
et al., 2005b). Recentemenie, Colrufo et al. (2013) estabeleceram uma análise teórica que
relaciona a maior qualidade da fitomassa residual em uma maior eficiência no acúmulo
de CeN no solo, em comparação a íilomassas residuais com menor qualidade (menor
teor de N, por exemplo). A figura 9 ilustra a análise teórica realizada por Colrufo et al.
(2013).

Manejo e Conservação do Solo e da Água


330 ClMÉLIO BAYER ET AL.

Alia
Eficiência microbiana de uso do substrato

'
Al
K*j
Qualidade do resíduo
xAlcitmnic^H Etfmlural

Metabólico

Qualidade dos subprodutos


da decomposição
Rcvalciiranle

LAbil

Figura 9. Ilustração do impacto da maior eficiência cm acumular matéria orgânica no solo a partir de
fitomassas residuais de maior qualidade.
Fonte: Adaptado de Colrufo cl al (2013).

A maior eficiência em acumular C e N no solo para fitomassas residuais de alta


qualidade, como os provenientes de espécies leguminosas de cobertura de solo somado ao
efeito destas espécies em ampliar o aporte de biomassa vegetal ao solo, resulta em elevadas
taxas de acúmulo de C e N em comparação a sistemas de culturas constituídos apenas
de espécies gramíneas, e isso vem sendo comprovado em inúmeras pesquisas (Dieckow
et al., 2005b; Amado et al., 2006; Boddey et al„ 2010; Conceição et al., 2013), que deverão
contribuir para desmistificar o entendimento existente de que espécies leguminosas, em
razão da rápida decomposição de suas fitomassas residuais, pouco contribuem para o
acúmulo de MO no solo.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 331

Nas condições subtropicais do sul do Brasil, deslaca-se o cultivo de espécies como


a ervilhaca-comum (Vicia saliva L.), ervilhaca-peluda (Vicia villosa Rolh), tremoço-azul
(Lupinus anguslifolitis L.), chicharo (Lalhyrus salivas L), comichão (Lolas coraiculnlas L),
além de outras. O nabo-forrageiro (Raphaiiiis salivas L. var. olciferas Metzg.), apesar de
não ser uma leguminosa, possui papel de destaque na reciclagem c fornecimento de N
no outono e no inverno. Com relação às leguminosas estivais ou de clima tropical, cabe
destacar o cultivo de caupi (Vigaa aagaiculala (L.) Walp.),crotalárias (CwMMr/flsp.), guandu
(Cajanus cajans), lab-lab (Lablab purpurcus (L.) Svveet) e mucuna (Macaaa praricas).Mém da
sua importância no acúmulo de MO, essas espécies são muito importantes como fonte de
N para culturas comerciais cultivadas em sucessão, permitindo redução dos custos com a
adubação nitrogenada.
A introdução de forrageiras e animais no sistema de produção, como na integração
lavoura-pecuária (ILP), também pode aumentar a adição de fitomassa e o estoque de C no
solo (Studdert et al., 1997;Salton, 2005; Jantalia et al., 2006; Tracy e Zhang, 2008; Carvalho
et al.. 2010; Salton et al., 2011; Carvalho et al., 2014), pois o animal dinamiza o sistema solo-
planta-animal-atmosfera pelos ciclos de pastejo-rebrote (Moraes et al., 2007; Sulc eTracy,
2007). No Cerrado sul-mato-grossense, uma rotação de nabo forrageiro/milho/aveia
preta/soja/trigo/soja praticamente não alterou o estoque inicial de 41.9 t ha*' de C em 0-20
cm de um Latossolo argiloso após nove anos; entretanto a ILP, com pastagem de Brachiaria
decumbens por dois anos e trigo/soja por mais dois, aumentou esse estoque para 48,0 l ha '
de C, a uma taxa de ~0,7 t ha'1 ano-’ de C (Salton et al., 2011). Ainda no Cerrado, Carvalho
et al. (2010) relataram taxa de sequestro de 1,0 t ha’1 de C na ILP Contudo, nem sempre
ocorre aumento no estoque de C com adoção da ILP (Souza et al., 2008; Ernst e Siri-Prielo,
2009; Salvo et al., 2010; Franzluebbers e Stuedemann, 2013; Piva et al., 2014).
Num Latossolo Bruno de região fria no Paraná (clima Cfb), a ILP com pastagem de
azevém e lavoura de milho não alterou o estoque de C até 1 m de produndidade após 3,5
anos de adoção (Piva et al., 2014), e nem após nove anos (Ramalho, 2016) Tais resultados
pelo menos demonstram não haver efeito negativo da ILP e seus ciclos de pastejo sobre
estoques de C do solo (Franzluebbers e Stuedemann, 2013), sem prejuízo, portanto, para as
demais vantagens produtivas e econômicas da ILP (Macedo, 2009;Moraes et al 2014). Não
há uma condição única de ILP com efeitos replicáveis em todos os locais. Clima (tropical
ou subtropical), tipo de rotação (plurianual, com pasto por alguns anos seguido de lavoura
por outros; ou anual, com pasto e lavoura no mesmo ano safra), espécie de pasto e de
cultura de grãos e outros fatores podem interferir no potencial da ILP em alterar estoques
de C e N no solo.

FRACIONAMENTO DA MATÉRIA ORGÂNICA

Diversos métodos têm sido utilizados no estudo dos mecanismos de estabilização da


MO (Hassink et al., 1993,1997, Skjemstad et al., 1993; Balesdent et al., 2000b; Six et al., 2002).
Entre esses, o mais difundido é o fracionamento da MO, que pode ser químico ou físico. O
químico é mais utilizado principalmenle no estudo da composição da MO, no que se refere
ao tipo de compostos presentes (ácidos fúlvicos, húmicos e huminas), obtidos de acordo
com a solubilidade dos compostos orgânicos em solução extratora. Os métodos físicos,

Manejo e Conservação do Solo e da Água


332 ClMÉLIO BAYER ET AL.

no entanto, permitem estudar a relação entre a composição da MO e a sua localização na


estrutura do solo e interação com a fração mineral (Christensen, 1992).
O I racionamento físico pode ser densimétrico ou granulométrico, ou a combinação de
ambos Tais métodos têm sido amplamente utilizados em estudos da MOS (Cambardella e
Elliotl, 1992, Beare cl al., 1994; Golchin et al., 1994b,Barrios et al., 1996; Besnard et al 1996;
Jastrow, 1996, Aoyama et al., 1999; Six et al., 1999; Puget et al., 2000; Bayer et al., 2001; Roscoe
et al., 2001; Bayer cl al., 2002b; Conceição, 2002, Freixo et al., 2002b; Pinheiro et al., 2004,),
visando avaliar a importância das interações entre componentes orgânicos e inorgânicos
do solo no tempo de permanência da MOS (Christensen, 2001). O uso do fracionamento
físico resulta em separação de reservatórios funcionais e dinâmicos da MOS.

Fracionamento físico granulométrico


O fracionamento físico granulométrico baseia-se na separação de frações em razão
do tamanho de partículas, permitindo a separação de complexos organo-minerais (COM)-
secundários, ou a separação de COM-primários definidos pela classe de tamanho: areia,
sille e argila (Roscoe e Machado, 2002).
A fração de MO recuperada na fração tamanho areia ( > 53 um) pelo método
granulométrico, também chamada de fração grosseira, matéria orgânica particulada (MOP)
ou carbono orgânico parliculado (COP) (Cambardella e Elliott, 1992; Six et al., 1999 2002) é
constituída principalmente por biomassas residuais em estádios iniciais de decomposição,
sendo possível a identificação de fragmentos de material vegetal (Christensen, 2000)
similar ás frações leves obtidas pelo fracionamento densimétrico (Six et al., 2002). Em razão
da sua área superficial específica (ASE) reduzida e baixa densidade superficial de carga, a
fração tamanho areia apresenta pouco ou nenhum material orgânico associado a ela, tendo
menor participação na manutenção de MO como COM-primários (Baldock et al., 1992;
Christensen, 1992).
Por sua vez, as frações de tamanho sille e argila (< 53 gm) contém material mais
humiíicado, sendo constituintes fundamentais dos COM-primários do solo (Christensen,
1996; Fel ler e Beare, 1997)

Fracionamento físico densimétrico


O fracionamento densimétrico baseia-se na diferença de densidade entre as frações
orgânica e mineral do solo (geralmente maior que 2,6 kg dm3). Para esse fim, diversas
soluções densas têm sido utilizadas, sendo, no entanto, as mais comuns o lodeto de Sódio
(Nal) e o politungstato de Sódio (PTS). Durante o processo de decomposição, parte da
MO associa-se fortemente a partículas minerais do solo, acumulando-se em frações de
maior densidade (Barrios et al., 1996), e a parte não decomposta, que constitui a fração
leve (FL), permanece no interior dos agregados (FLO) ou livre entre os agregados (FLL).
A obtenção da FLL ocorre mediante agitação branda em líquido de densidade conhecida
antes da dispersão completa dos agregados em COM-primários. A FLO é separada após
a completa dispersão do solo em suas partículas primárias (por agitação ou sonicação),
e a fração pesada (FP) corresponde ao C ligado aos COM-primários (Roscoe e Machado,
2002).

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de 333

O fracionamento físico densimétrico permite a obtenção de compartimentos


relacionados com a localização, mecanismos de proteção e funções no solo: o primeiro
(FLL), menos decomposto (Baldock et al., 1990, Christensen, 1992, Golchin ei al., 1994b;
Skjemstad et al., 1996; Pillon, 2000; Freixo et al., 2002a), mas mais exposto à ação dos agentes
oxidativos, tendo como único mecanismo de proteção a recalcilrància molecular (Sollins et
al., 1996); o segundo (FLO), mais decomposto, porém protegido em razão da recalcilrància
e da sua localização dentro de agregados; e o terceiro (FP), onde os três mecanismos de
proteção estão atuantes.
A quantidade de FLL é influenciada pelo tipo de vegetação, normalmente havendo
um acúmulo nos horizontes superficiais, pois o mecanismo de proteção aluando na FLL é
a recalcitTância do material constituinte dessa fração (Sollins et al., 1996). Portanto, a FLL
tende a ser a mais disponível para a microbiota entre as frações densimétricas (Golchin et
al., 1994a). Em sistemas dominados pela deposição superficial de liteira, como florestas
e savanas densas, este acúmulo é mais acentuado que em sistemas onde predomina a
deposição de liteira subterrânea (fitomassas residuais de raízes), como pastagens nativas
e cultivadas (Roscoe et al., 2001). A FLL da MO encontra-se depositada na superfície dos
agregados, sendo também denominada de fração interagregados.
A FLO compreende um diversificado conjunto de compostos orgânicos, incluindo
fitomassas residuais de plantas, peletes fecais, pelos radiculares e estruturas fúngicas
com um tamanho reduzido e um grau de decomposição mais avançado em comparação à
FLL (Golchin et al., 1994a; Christensen, 2000; Pillon, 2000; Christensen, 2001 Freixo et al.,
2002a,). Assim como a FLL, a quantidade de FLO tende a decrescer com a profundidade,
uma vez que o teor total de C também reduz com a profundidade. A FLO é também
dita fração intra-agregados por causa da sua localização no interior dos agregados, e os
mecanismos dominantes para proteção dessas estruturas são a recalcilrància molecular e,
principalmente, a oclusão ou proteção física por agregados (Sollins et al 1996).
Finalmente, a FP é constituída, basicamente, por materiais orgânicos em avançado
estádio de decomposição, não identificáveis visualmente, fortemenle ligados ã fraçao
mineral, constituindo os COM-primários (Christensen, 1992) É uma fração dominada por
compostos orgânicos de elevada recalcitrância, como remanescentes de cu tina e suberina,
assim como materiais resistentes sintetizados pela microbiota durante o processo de
decomposição (Baldock et al., 1992). É considerada a mais estável das frações densimétricas,
sendo caracterizada por uma baixa taxa de ciclagem, pois todos os processos de proteção
da MOS (recalcitrância química, oclusão e proteção coloidal) podem estar envolvidos na
sua estabilização no solo (Christensen, 2000).

TÉCNICAS ESPECTROSCÓPICAS NO ESTUDO DA


MATÉRIA ORGÂNICA

Apesar do volume significativo de informações quantitativas sobre o efeito do manejo


do solo nos estoques de matéria orgânica, informações sobre o efeito em sua qualidade ainda
são relativamente limitadas, principalmente para solos de regiões tropicais e subtropicais.
As razões disso incluem algumas carências de métodos de preparo e análise de amostras tão
complexas e heterogêneas, como são as de solo, onde, por exemplo, constituintes minerais

Manejo e Conservação do Solo e da Água


334 ClMÉLIO BAYER ET AL.

podem interferir na análise da matéria orgânica, como também carências instrumentais por
causa do custo elevado de aquisição e manutenção de equipamentos analíticos. Várias técnicas
desenvolvidas originalmente na química analítica são empregadas na Ciência do Solo para
identificar e quantificar estruturas moleculares da MO, destacando-se as espectroscópicas
como a ressonância magnética nuclear (RMN) (Knicker e Lüdemann, 1995; Kõgel-Knabner,
2000) ressonância paramagnélica eletrônica (EPR) (Senesi e Steelink, 1989; Martin-Neto et
al., 1994) e fluorescência induzida por laser (FIL) (Bayer et al., 2002a; Milori et al., 2002).
Resultados de ressonância magnética nuclear do IJC com polarização cruzada e ângulo
mágico de giro (CPMAS ”C RMN), RMN no estado sólido indicam que a distribuição
espectral da intensidade relativa do sinal de 13C em solos brasileiros segue um padrão
mais ou menos definido (Dick et al., 2005, Dieckow et al., 2005a; 2009; Boeni et al., 2014),
com o sinal de C-o-alquil predominando, seguido por C-alquil, C-aromártico e C-carbonil.
O interessante neste padrão é que o tipo de C mais abundante, C-o-alquil, é um associado
às estruturas moleculares potencialmente lábeis, como a de carboidratos/polisacarídeos,
enquanto o C-aromático, potencialmente mais recalcitrante, está em proporção bem menor
A interação entre os polisacarideos e a superfície de óxidos de ferro e a estabilização,
por óxidos em geral, de microagregados (< 250 pm), que protegem físicamente a matéria
orgânica (Balesdent et al., 2000a; Krull et al., 2003; von Lützow et al., 2006), são processos que
podem explicar essa predominância do C lábil o-alquil. Ao contrário do entendimento que
MO é constituída pnncipalmente por estruturas polimericas de natureza mais aromática
e alto peso molecular (Stevenson, 1994), espectros de RMN de amostras de solo indicam
que MO é uma mistura de estruturas derivadas de carboidratos, lipídios, peptídios e
lignina de origem vegetal ou microbiana. Isso se refere à substituição da teoria de estrutura
macromolecular da MO humifícada pela teoria da estrutura supramolecular. muito
discutida nas últimas duas décadas (Wershaw, 1999; Piccolo, 2001; Burdon, 2001;Kleber e
Johnson, 2010).
Mudanças de uso da terra como a conversão de cerrado ou campo nativo em lavoura
anual em PC, além de reduzirem o estoque de MO, alteram significativamente sua
composição original, com diminuição de C-o-alquil e C-alquil e aumento da concentração
relativa de C-aromático, C-carbonil e da razão aromático/o-alquil (Dieckow et al., 2005a,
2009). Tais alterações de composição indicam que houve mineralização preferencial, mas
nãocompleta, de constituintes como polisacarideos (o-alquil) e lipídios (alquil), aumentando
assim a concentração relativa de estruturas mais recalcitrantes como as aromáticas, mas
não sua quantidade absoluta.
No entanto, com a substituição do PC pela SD ocorre uma recuperação parcial da
composição original da MO, principalmente com incremento de C-o-alquil e diminuição
da concentração relativa de C-aromático (Dieckow et al., 2005a,2009). Isso é um indicativo
que a recalcitrância não é o principal mecanismo responsável pela estabilização de C no
solo, e reforça a hipótese que a proteção física por oclusão, melhorada por agregados mais
estáveis, e a interação com as superfícies minerais estejam desempenhando o papel mais
relevante na estabilização de C no solo sob SD
Radicais livres estáveis, como semiquinona, derivados possivelmente de estruturas
aromáticas (Steelink e Tollin, 1962; Riffaldi eSchnitzer, 1972), geralmente apresentam
maiores concentrações em solos manejados sob PC em relação aos manejados sob SD.
Aplicando a técnica EPR, Bayer et al. (2002a) verificaram que a concentração de 14,0 x IO'7
spins g’1 de radicais livres da fração ácido húmico da camada de 0-2,5 cm de um Argissolo

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 335

Vermelho sob PC reduziu em quase seis vezes no solo em SD por nove anos (2,4 * 10'
spins g').
O grau de humificação da MO da camada de 0-2,5 cm de Lalossolo Vermelho do
Cerrado íoi medido via FIL por Milori el al (2006), os quais encontraram um índice de
humiíicação de 195*10*’ (unidades arbitrárias) em solo sob PC e uma redução para I24 *
10*, quando em SD, indicando novamente a maior recalcilráncia da MO em solos sob PC
Avaliando o potencial da ILP com um ou dois anos de lavoura seguidos por dois
ou três anos de pastagem de Bnichinrifi tlecuttibeita em alterar qualitativamente a matéria
orgânica, Boeni el al. (2014), trabalhando em três experimentos de longa duração no
Cerrado, observaram que este sistema, comparado â lavoura contínua sob.semeadura direta,
também aumentou a proporção de C-o-alquil, tanto do solo inteiro como das frações físicas
leve livre, leve oclusa e pesada. No solo sob pastagem perene de Brncliinriu tleciimbois, este
aumento foi ainda maior. Tanto na ILP como na pastagem perene, o incremento de o-alquil
pode ser atribuído ao respectivo incremento na adição de filomassa destes sistemas, aliado
a não mobilização do solo.
Enquanto mudanças de uso do solo ou de sistema de preparo alteram mais
significativamente a qualidade da MO, o mesmo não pode ser afirmado com relação aos
efeitos de sistemas de culturas de grãos em SD, que parecem exercer menor influência sobre
a composição da MO, apesar de promover significativas alterações no estoque (Skjcmstad
el al., 1986; Oades et al., 1988; Colchin el al., 1995a; Dieckow el al., 2005a) Porém, o fato de
não se detectar alterações não significa que essas não existam; pode ser uma limitação da
técnica em não possuir sensibilidade suficiente ou em sofrer interferência de outros fatores,
como a presença de Fe3* sobre sinais de RMN.
Contudo, sistemas de culturas tendem a modificar a composição da MOP, numa
tendência de se aproximar da composição do tecido das plantas, mas não o suficiente para
que isso seja perceptível na composição da matéria orgânica total do solo (Oades el al.,
1988; Dieckow et al., 2005a). Apesar disso, tal efeito não deve ser desprezado e merece
ser investigado com mais profundidade, no sentido de entender melhor o papel da
composição das plantas sobre a composição da MOP e, por conseguinte, sobre o acumulo
de C nessa fração. O índice de hidroíobicidade (III) (Spaccini et al., 2002) da parle aérea de
plantas parece exercer um controle na decomposição de filomassas residuais e no acumulo
de MOP; por exemplo, o maior ll l da parte aérea de guandu (III 0,45) parece ser um
fator que explica o maior acúmulo de MOP no sistema guandu+milho, em relação ao
sistema aveia-preta/milho, onde a parle aérea da aveia tem um III de 0,22 (adaptado de
Dieckow el al. (2005a) J. O tempo de decomposição de filomassas residuais na superfície
do solo também parece Ler uma relação mais estreita com o III do que com a relação C:N
da filomassa residual das espécies e demonstra a vantagem que as leguminosas tropicais
como miicuna (II 1=0,44) e guandu (111=0,45) apresentam nesse sentido (Carvalho el al.,
2009).
Na fração argila, a similaridade na composição da matéria orgânica entre sistemas
de culturas pode estar associada ao fato de essa MO associada aos minerais ser derivada
principalmenle de produtos microbianos (Oades el al., 1988; Colchin et al., 1995a) Portanto,
a não ser que as mudanças ocorram na comunidade microbiana e nos seus correspondentes
metabólitos e mucilagens, a composição da matéria orgânica associada aos minerais tende
a permanecer a mesma, independentemenle da quantidade e qualidade da filomassa
cultural residual adicionada.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


336 ClMÉLIO BAYER ET AL.

Assim como sistemas de cultura não têm influenciado a composição ca matéria


orgânica, a aplicação de N também não, de acordo com resultados de (Randall
et al., 1995; Dieckow et al., 2005a). No entanto, Capnel (1997) ap icou espectroscopia
infravermelho (DRIFT) e observou um maior índice de hidrofobicida e (grupos I) no
solo adubado com NPK, em relação ao não adubado. Também, com uso c e espectroscopia
infravermelho, Ellerbrock et al. (1999) observaram alterações na composição ca matéria
orgânica em razão de utilizar adubação orgânica + adubação mineral, de maneira que a
intensidade da banda de C carboxílico foi maior em sistemas adubados em relação ao não
adubado, com reflexos positivos na CTC do solo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A energia solai que chega à superfície terresle em ambientes tropicais e subtropicais


é de aproximadamente 400 cal cm’2 d', aproximadamente o dobro do que em ambientes
temperados. Nesses ambientes, a obtenção de uma razão positiva entre a intensidade dos
processos ordenalivos e de dissipativos, que ocorrem no solo (ordenativos/dissipativos > 1)
para que não haja degradação da qualidade do solo, demanda que dois fundamentos
do manejo sejam adotados simultaneamente: não revolvimento do solo e alto aporte de
fitomassas residuais. A implementação desses dois fundamentos caracteriza sistemas
conservacionistas de manejo de solo. Nesses sistemas, ocorre uma melhoria da qualidade
do solo, dependente de processos de natureza biológica, que se expressa na produtividade
das culturas.
A alta energia solar incidente que promove o aquecimento do solo e a ciclagem da
matéria orgânica nos ambientes tropicais e subtropicais resulta em taxas elevadas de
decomposição microbiana e torna o período de permanência da MO no solo curto. Portanto,
a eliminação do revolvimento do solo, em razão do seu efeito na taxa de decomposição,
é uma prática primordial quando objetiva-se promover o acúmulo de MO no solo. Em
solos de textura média, a taxa de decomposição da MO em solos sob SD é praticamente a
metade da taxa verificada em solos sob PC, sendo esse efeito menos expressivo em solos de
textura argilosa e com médio a alto teor de óxidos de ferro e alumínio. Com a diminuição
da taxa de decomposição no solo em SD, o tempo médio de permanência da MO no solo
aumenta consideravelmente. O tempo médio de permanência da MO é um fator muito
importante em relação ao impacto dos sistemas conservacionistas de manejo na qualidade
física, química e biológica de solos agrícolas.
A adoção de sistemas de culturas com alto aporte de fitomassas residuais promove
aumento nos estoques de MO, com destaque para sistemas envolvendo plantas leguminosas
de cobertura. Resultados de pesquisa recentes têm contribuído para a desmistificação
que estas espécies apresentam uma baixa contribuição para o acúmulo de MO no solo,
impressão errónea decorrente da rápida decomposição das fitomassas culturais residuais
sobre o solo. Conceitos mais recentes, como a maior eficiência de acumulo de C e N no solo
a partir de fitomassas residuais de alta qualidade e a saturação de C no solo, deverão ser
cada vez mais aprofundados e considerados na interpretação dos resultados de pesquisa e,
somente assim, serão alcançados avanços no entendimento da dinâmica da MO em solos
agrícolas e na influência dos sistemas conservacionistas de manejo na qualidade do solo.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 337

O fracionamento físico e as técnicas cspcctroscópicas propiciam aprofundar o


conhecí mento cm aspectos relacionados <1 estabilização e qual idade da MO.respectivamente.
A proteçào física é sugerida como um dos principais mecanismos relacionados ao acúmulo
de frações lábeis da MO (alta qualidade) em solos sob sistemas conservacionistas de
manejo, contribuindo para a melhoria na qualidade do solo.

LITERATURA CITADA

Amado IJC, Bayer C, ConceiçSoPC, Spagnollo E, Campos BI IC, Veiga M Potenli.il of carbon
accumulation in no-lill soils wilh intensivo use and covcr crops in southern Brazil. J Environ
Qual. 2006; 1599-1607, 2006.
Amado TJC, Mielniczuk J, Aila C. Recomendação de adubação nilrogenada para o milho no RS •
SC adaptada ao uso de culturas de cobertura do solo, sob plantio direto. Rev Bras Cicnc Solo.
2002;26:241-8
Angers DA, Eriksen-Hamel NS. Full-inversion tillage and organic carbon dislribulion in soil profiles:
A mcla-analysis. Soil Sei Soc Am J. 2008;72:1370-4.
Aoyama M, Angers DA, N'dayegamiye A Partícula te and inineral-associated organic malter in
waler-slable aggregates as aííecled by mineral fertilizer and manure applications Can | Soil Sei
1999;79:295-302.
Baker JM, Ochsner TE, Venlerea RT, Grifíis TJ. Tillage and soil carbon sequeslration Whal do vve
rcalh know? Agr Ecosysl Environ. 2007;118:1-5.
Baldock )A, Oades JM, Vassallo AM, Wilson MA. Solid-slale CP/MAS Cn NMR analysis of particle-
size and densily íractions of a soil incubated wilh uniformly labeled Cn-Clucosc. Aust I Soil
Res. 1990;28:193-212.
Baldock J A, Oades JM, Waters AC, PengX, Vassallo AM, Wilson MA Aspedsof lhechemical-struclure
of soil organic materiais as revealed by solid-slale Cn NMR-Speclroscopy. Biogeochemislry
1992;16:1-42.
Balesdenl J, Balabane M. Major conlribulion oí rools lo soil carbon storage inferred from maize
cultivnled soils. Soil Biol Biochein. 1996;28:1261-3.
Balesdenl J, Chenu C, Balabane M. Relationshipol soil organic maller dynamics lo physical prolection
and tillage. Soil l ill Res 2000a;53:215-30.
Balesdenl J, Chenu C, Balabane M. Relationshipof soil organic maller dynamics to physical prolection
and tillage. Soil l ill Res 2000b;2l5-30.
Barrios E, Buresh RJ, Sprenl JI. Organic maller in soil parlicle size and dcnsitv íractions from maize
and legume cropping systems. Soil Biol Biochein. 1996;28:185-93.
Bayer C. Dinâmica da matéria orgânica em sistemas de manejo de solos. Porto Alegre: Universidade
Federal do Rio Grande do Sul; 1996.
Bayer C, Lovalo T, Dieckow I, Zanalla J, Mielniczuk J. A method for eslimaling coeííicienls oí soil
organic maller dynamics based on long-term experinienls. Soil l ill Res.2U06a;91:217-26.
Bayer C, Lovalo I, Divckow J, Zanalla JA, Mielniczuk J. A method for eslimaling coeflicienlh oí soil
organic maller dynamics based on longderm experiments. Soil l ill Res. 2006b; 217-26
Bayer C, Marlin Neto 1 , Mielniczuk J. Pavinato A, DieckowJ. Carbon sequeslration in l\vo Brazilian
Cerrado soils under no-lill. Soil I ill Res 2(K)6c:86:21/-45.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


338 ClMELIO BAYER ET AL.

Bayer C, Marlin-Nelo L Mielniczuk J, Pillon CN, Sangoi L. Changes in soil organic matler íractions
under subtropical no-lill cropping syslcms. Soil Sei Soc Am I 2001;65:1473-8.
Bayer C, Marlin-Nelo L, Mielniczuk J, Saab SD, Milori DMP, Bagnato VS. Tillagc anil croppfog
syslcm cffecls on soil huniic aciil characterisiics as delermined by clcctron spin resonance and
fluorescence spcclroscopies Geoderma. 2002a; 105:81-92.
Bayer, C , Mielniczuk, J„ Amado, T J. C, Marlin-Nelo, L„ Fernandes, S. V Organic rnalter slorage
in a sandy clay loam Acrisol affected by lillage and cropping syslcms in soulhern Brazil. Soil
Tillage Rcsearch, 2000; 54:101-109.
Bayer C, Mielniczuk J. Marlin-Nelo L, Ernam PR. Stocks and luimificalion degree of organic rnalter
íractions as affected by no-lillage on a subtropical soil Planl Soil. 2002b;238.133-40,
Beare Ml I, Hendrix PF, Coleman DC Waler-slable aggregates and organic-malter fraclions m
convenlional-tillage and no-lillage soils. Soil Sei Soc Am J 1994;58:777-86
Bernoux M, Cerri CC, Cerri CEP, Siqueira-Nelo M, Melay A, Perrin AS, Scopel E, Razafimbelo T,
Blavel D, Piccolo MD, Pavei M, Milne E. Cropping syslcms, carbon sequestration and erosion m
Brazil, a review Agron Suslain Dev 2006,261-8.
Bcsnard E, Chenu C, Balesdenl J, Pugel P, Arrouays D. Fale ol particulale organic rnalter in soil
aggregates during cullivalion. Eur J Soil Sei. 1996,47:495-503.
Blanco-Canqui H, Lai R. No-lillage and soil-profile carbon sequeslralion: An on-farm assessment.
Soil Sei Soc Am |. 2008;72:693-701
Boddey RM, Janlalia CP, Conceição PC, Zanatla JA, Bayer C, Mielniczuk J, Dieckow J, Dos Santos
IÍP, Denardin JE, Aita C, Giacomini SJ, Alves BJR, Urquiaga S. Carbon accumulation at deplh in
Fcrralsols under zero-lill subtropical agricultura. Global Change Biol. 2010,16:784-95.
Boem M, Bayer C, Dieckow J, Conceição PC, Dick DP, Knicker H, Sallon JC, Macedo MCM. Organic
rnalter composition in density íractions of Cerrado Fcrralsols as revealed by CPMAS 13C
NMR- Influence oí paslureland, cropland and integrated crop-livestock. Agric Ecosyst Environ
2014,190:80-6
Bolínder MA, Angers DA, Ciroux M, Laverdiere MR. Estimaling C inputs retained as soil organic
matler from corn (Zea Mays L ) Planl Soil 1999;215:85-91
Bolinder MA, Janzen HH, Gregorich EG, Angers DA,van den Bygaart A). An approach for estimating
nel primary produetivity and annual carbon mputs to soil for common agncultural crops in
Canada. Agric Ecosyst Environ 2007;l 18-29-42
Burdon J. Are lhe Iradilional concepls of lhe slructures of humie substances realislic? Soil Sei
2001,166 752-69
Cambardella CA, Elliotl ET. Parliculate soil organic-malter changes across a grassland cullivalion
sequence Soil Sei Soc Am J. 1992,56:777-83.
Capriel P. Hydrophobicity of organic matler in arable soils: influence ot management. Eur J Soil Sei
1997;48:457-62.
Carvalho AM, Bustamanle MMC, Alcântara FA, Resck IS, Lemos SS.Characterization by solid-state
CPMAS ”C NMR spectroscopy ol decomposing planl residues in convenlional and no-lillage
syslcms in Central Brazil. Soil Till Res. 2009; 102.144-50.
Carvalho JLN, Raucci GS, Cerri CEP, Bernoux M, Feigl BJ, Wruck FJ, Cerri CC Impact of pasture,
agricullure and crop-liveslock syslcms on soil C stocks in Brazil. Soil Till Res. 2010;110:175-86.
Carvalho JLN, Raucci GS, Frazao LA, Cerri CEP. Bernoux M, Cerri CC. Crop-pasture rolation. A
stralegy to reduce soil greenhouse gas emissions in lhe Brazilian Cerrado. Agric Ecosyst
Environ. 2014;183:167-75.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 339

Casão-Junior R, Araújo AG, Llanillo RR Plantio direto no Sul do Brasil: Fatores que facilitaram a
evolução do sistema e o desenvolvimento da mecanização conservacionista. Londrina: lapar;
2012.
Cerri CC. Dinâmica da matéria orgânica do solo no agroucossistema cana-de-açúcar [tese] Piracicaba:
Universidade de São Paulo; 1986.
Christensen BI. Physical fraclionalion of soil and organic matler in primary particle size and densitv
scparales. Adv Soil Sei. 1992;20:1-90.
Christensen BT. Carbon in primary and secondary organomineral complexes. In: Cárter MR, Stewart
BA, editors. Structure and organic matler storage in agricullural soils. Boca Raton: CRC Lewis;
1996. p.97-165.
Christensen BT. Organic matler in soil - structure, function and turnover Copenhagen: 2000. 95p.
Christensen BT. Physical fraclionalion oí soil and structural and functional complexily in organic
matler turnover. Eur | Soil Sei. 2001;52:345-53
Conceição PC Indicadores de qualidade do solo visando a avaliação de sistemas de manejo do solo
Santa Maria* Universidade Federal de Santa Maria; 2002
Conceição PC, Dieckow J, Bayer C. Combincd role oí no-lillage and cropping syslems in soil carbon
stocks and slabilization. Soil Till Res. 2013;129:40-7.
Costa MJND, Pasqualli RM, Prevedello R. Efeito do teor de matéria orgânica do solo, cultura
de cobertura e sistema de plantio no controle de Pralylenchus brachyurus em soja. Summa
Phylopathol. 2014:40:63-70.
Colrufo MF, Walienslcin MD, Boot CM, Denef K, Paul E The Microbial Eííiciency-Matrix Slabilization
(MEMS) framework integrates plant litter dccomposilion wilh soil organic matler slabilization:
do labile plant inputs form slable soil organic matler? Global Change Biol 2013;19:988-95.
Debiasi H, Franchini JC, ConleO,Balbinol Junior A A, Torres E, Saraiva OF, Oliveira MCND Sistemas
de preparo do solo: trinta anos de pesquisas na Embrapa Soja. Londrina: Embrapa Soja; 2013.
Dick DP Gonçalves CN, Dalmolin RSD Knicker I I, Klaml E, Kõgel-Knaber I, Simões ML, Marlin-
Nclo L. Characlerislics oí soil organic matler oí diíferenl Brazilian Ferralsols under nativu
vegelalion as a íunclion oí soil deplh. Geoderma. 2005;124:319-33.
Dieckow J Bayer C,Conceição PC, Zanalla JA, Marlin-Nelo L, Milori DBM, Sallon JC. Macedo, MM,
Mielniczuk J, J lernani LC.Land use, tillage, lexture and organic matler slock and compontion
in tropical and subtropical Brazilian soils. Eur J Soil Sei. 2009;60:240-9.
Dieckow J, Mielniczuk J Knicker H, Bayer C, Dick DP, Koegel-Knabner I Composition of organic
matler in a subtropical Acrisol as iníluenced by land use, cropping and N fertilizalion, assessed
by CPMAS nC NMR spectroscopy Eur J Soil Sei. 2005a;56;705-15.
Dieckow J, Mielniczuk J, Knicker II, Bayer C, Dick DP, Kogel-Knabner 1. Soil C and N stocks as
affected by cropping syslems and nitrogen íerlilisalion in a southern Brazil Acrisol managed
under no-lillage íor 17 years. Soil I ill Res. 2005b;81:87-95
Ellerbrock RH, Hühn A. Gerkc 11 Characlerizalion oí soil organic matler írom a sandy soil in relation
lo management praclice using Fl -IR spectroscopy, Plant Soil 1999;213:55-61.
Ernsl O, Siri-Priulo G. Impacl oí perennial pasture and tillage syslems on carbon input and soil
quality indicators Soil I ill Res. 2009;105:260-8.
Feller C, Beare MH. Physical control oí soil organic matler dynamics in lhe tropies. Geoderma.
1997;79:69-116.

Manejo e Conservação do Solo e da Agua


340 ClMÉLIO BAYER ET AL.

Franzluebbcrs AJ, Stuedcmann JA. Soil-profile distribution of organic C and N aíter 6 years of tillagc
and grazing managemenl. Eur I Soil Sei 2013;64:558-66
Freixo AA, Canellas LP, Machado PLOA Propriedades espectrais da matéria orgamea leve-livre
e leve intra-agregados de dois latossolos sob plantio direto e preparo convenciona . Rev Bras
Cienc Solo. 2002a;26:445-53.
Freixo A A, Machado PLOA, Dos Santos HP, Silva CA, Fadigas FS. Estoques de carbono e nitrogénio
e distribuição de frações orgânicas de Latossolo do cerrado sob diferentes sistemas de cultivo
Rev Bras Cienc Solo 2002b;26'425-34.
Golchin A, Clarke P Oades JM, Skjemstad JO. The effecls of cultivation on the composition of organic
matter and structural stability of soils Aust J Soil Res 1995a;33 975-93.
Golchin A, Oades JM, Skjemstad JO, Clarke P. Soil-structure and carbon cycling. Aust J Soil Res.
1994a;32,1043-68.
Golchin A, Oades JM, Skjemstad JO, Clarke P Study of free and occluded particulate organic-malter
m soils by sohd-siale PC CP/MAS NMR-Spcctroscopy and scanning electron-microscopy. Aust
I Soil Res 1994U32 285-309
Gregonch EG, Ellert BF1, Monreal CM. Turnover of soil organic matter and storage of corn residue
carbon eslimated from natural ”C abundance. Can J Soil Sei. 1995;75:161-7
Hassink |, Bouwman LA, Zwart KB, Bloem J, Brussaard L. Relationships between soil texture,
physical proteclion of organic matter, soil biota, and C and N minerahzation in grassland soils
Gcoderma. 1993;57:105-28
Hassink J, Whitmore AP A model of Lhe physical protection of organic matter in soils. Soil Sei Soc
Am J 1997,61 131-9
Hassink J, Whitmore AP Kubat J. Size and density fractionation of soil organic matter and the
physical capacity ol soils to protect organic matter Eur J Agron. 1997;189-99.
Jantalia CP, Vilela L, Alves BJR, Boddey RM, Urquiaga S. Influência de pastagens e sistemas de
produção de grãos no estoque de carbono e nitrogênio em um Latossolo Vermelho. Seropédica:
Embrapa Agrobiologia; 2006. (Boletim de P&D, 11)
Jastro w J Soil aggregate forma tion and the accrual of particulate and mineral-associated organic
matter. Soil Biol Biochem 1996;28:665-76
KatlererT Bolinder MA, Andren O, Kirchmann H, Menichetti L. Roots contnbute more to retractory
soil organic matter lhanabovc-ground crop residues, as revealed by a long-term field experinienl.
Agnc Ecosyst Environ 2011;141:184-92
Kleber M, Johnson MG Advances in understandmg the molecular strueture of soil organic matter
Implications for interaclions in the environment. Adv Agron. 2010;106:77-142.
Knicker H, Lüdemann HD.’5N and nC CPMAS and Solulion NMR studies of ,5N enriched plant
material during 600 days of microbial degradation. Org Geochem. 1995;23:329-41.
Kügel-Knabner I. Analylical approaches for characterizing soil organic matter Org Geochem.
2000;31:609-25.
Kõgel-Knabner I, Kleber M. Mineralogical, physicochemical, and microbiological controls on soil
organic matter slabilization and turnover. IniHuangPM, Li Y, Sumner ME, editors. Hanbookof
soil sciences: resource managemenl and environmental impacts. 2ӟ ed. Boca Raton CRC Press;
2012. p.7.1-7 22.
Kõgel-Knabner I, Guggenberger G, Kleber M, Kandeler E, Kalbitz K, Scheu S, Eusterhues K
Leinweber P Organo-mineral associaüons m temperate soils: Integrating biologv mineralogy,
and organic matter chemistry J Plant NutrSoil Sei. 2008;171:61-82.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 341

Kruil ES, Baldock JA, Skjcmslad JO linporlance oí mcchanisms and processes of lhe slabilisation of
soil organic maller for modclling carbon lurnover. Funct Planl Biol. 2003;30:207-22.
Lovato I, Mielniczuk J, Bayer C, Vczzani F Adição de carbono e nitrogênio e soa relação com os
estoques no solo e com o rendimento do milho em sistemas de manejo. Rev Bras Cienc Solo,
2004;28:175-87
Macedo MCM, Integração lavoura e pecuária: o estado da arte e inovações tecnológicas. Rev Bras
Zoolec. 2009;38:133-46.
Martin-Nelo L, Andriulo AE, Traghelta DG. Efíecls of cultivalion on ESR speclra of organic maller
from soil size íractions of a Mollisol. Soil Sei. 1994;157:365-72.
Mielniczuk J Manejo do solo no Rio Grande do Sul: uma síntese histórica. Rev Agron 1999/12*11-22.
Mielniczuk J, Bayer C, Vezzani FM, Lovato T, Fernandes FF, Debarba L, Curi N, Marques JJ,
Gquilherme LRG, Lima JM. Manejo de solo e culturas e sua relação com os estoques de carbono
e nitrogénio do solo. Tópicos Ci Solo. 2003;3:209-48.
Milori D, Martin-Nelo L, Bayer C, Mielniczuk J, Bagnalo VS.l Iumiíication degree of soil humie acids
determined bv íluorescence spectroscopy. Soil Sei 2002/167:739-49.
Milori DMBP, Galeti HVA, Martin-Nelo L, Dieckow J, Gonzálcz-Pérez M, Bayer C, Salton JC. Organic
maller sludy of whole soil samples using laser-induced íluorescence spectroscopy. Soil Sei Sor
Am J. 2006;70:57-63
Moraes A, Carvalho PCF. Pelissari A, AlvesSJ, Lang CR. Sistemas de integração lavoura-pecuária no
Subtrópico da América do Sul: Exemplos do Sul do Brasil. In: Conference Sistemas de integração
lavoura-pecuária no Subtrópico da América do Sul: Exemplos do Sul do Brasil. Curiliba:2007..
p.1-27
Moraes A, De Faceio Carvalho PC, Anghinoni I, Campos Lustosa SB, Gigante De Andrade Costa,
SEV, Kunrath TR Inlegraled crop-liveslock systems in lhe Brazilian sublropics. Eur J Agrou
2014;54:4-9.
Oades JM, Waters AG, Vassallo AM, Wilson MA, Jones GP Influence oí managemenl on the
composition oí organic maller in a Red-Brown Earlh as shown bv nC nuclear magnetie
resonance. Ausl J Soil Res. 1988;26:289-99.
Piccolo A. The supramolecular slructure oí humie subslances. Soil Sei. 2001;75:810-32
Pillon CN. Alterações no conteúdo e qualidade da matéria orgânica do solo induzido por sistemas
de culturas em plantio direto Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2000.
Pinheiro EFM, Pereira MG, Anjos LHC Fracionamento densi métrico da matéria orgânica do solo
sob diferentes sistemas de manejo e cobertura vegetal em Paly do Alferes (RI). Rev Bras Cienc
Solo. 2004;28:731-7
Piva JT, Dieckow J, Bayer C, Zanalla JA, De Moraes A, Tomazi M, Pauletti V Barlh G, Piccolo MDC.
Soil gaseous N2Ó and CH4 emissions and carbon pool due lo inlegraled crop-livestock in a
subtropical Ferralsol. Agric Ecosyst Environ. 2014;190:87-93.
Powlson, D.S, Stirling, C M, Jal, M L, Gerard, B G, Palm, C.A, Sanchez, P.A, Cassman, K.G. Limiled
polenlial of no-tillagricullureíorclimalechangemiligalion. NatureClun Change.2014,4:678-83..
Prigogine I. O fim das certezas. São Paulo: Universidade Estadual Paulista; 1996.
Pugel P, Chenu C, Balesdenl J. Dynamics oí soil organic maller associaled wilh parlicle-size íractions
of water-slable aggregates. Eur J Soil Sei. 2000;51:595-605..
Ramalho B. Carbono, nitrogénio e semiquinonas cm Latossolo subtropical sob sistemas de preparo e
integração lavoura-pecuária Curitiba: Universidade Federal do Paraná; 2016

Manejo e Conservação do Solo e da Água


342 ClMÉLIO BAYER ET AL.

Randall FAV, Mahicu N, Pmvlson DS, Christensen BT. Fertilizalion effecls on organic matter
in physically fraclionated soils as studied by ”C NMR: Rcsults írom two long-term field
experimenls. Eur | Soil Sei. 1995;46:557-65.
Rasse DP, Runipel C, Dignac MF.Is soil carbon mostly root carbon? Mechanisms for a spccific
slabilisation. Plant Soil. 2005;269:341-56
Riffaldi R, Schnilzer M. Eleclron spin resonance spectrometry of humie substances. Soil Sei Soc Am
J. 1972,36 301-5.
Roscoe R, Buurman P, Vcllhorst EJ, Vasconcellos C.A Soil organic matter dynamics in density and
parlicle size fraclions as revealed by the ”C/,2C isotopic ratio in a Cerrado s oxisol. Geoderma.
2001,104:185-202..
Roscoe R, Machado PLOA. Fracionamento físico do solo em estudos da matéria orgânica. Dourados:
Embrapa Agropecuária Oeste; 2002
Sã JCM, Cem CC, Dick VVA, Lai R, Venske-Filho SP, Piccolo MC, Feigl BE Organic matter dynamics
and carbon sequestration rales for a tillage chronosequence in a Brazilian Oxisol Soil Sei Soc
Am J. 2001;65:1486-99
Salton JC. Matéria orgânica e agregação do solo na rotação lavoura-pastagem em ambiente tropical.
Porto Alegre- Universidade Federal do Rio Grande do Sul; 2005.
Salton JC, Mielmcz.uk J, Bayer C, Fabricio AC, Macedo MCM, Broch DL. Teor e dinâmica do carbono
no solo em sistemas de integração lavoura-pecuária. Pesq Agropec Bras. 2011;46;1349-56.
Salvo L, Hernandez J, Ernsl O Distributioii of soil organic carbon in different size fractions,
under pasture and crop rotaLions with convenlional tillage and no-till systems. Soil Till Res.
2010;109:116-22.
Senesi N, SteeLink C. Application ot ESR spectrometrv to the study of humie substances. In:
HayesMFlB, MacCarthy P. Malcolm RL, Swift, RS, editors. Humie substances II.New York: John
VViley, 1989. p.373-408.
Sextone AJ, Revsbech NP, Parkin TB, Tiedje JM Direct measurement of oxigen profiles and
denitrification rates in soil aggregates. Soil Sei Soc Am J, 1985;49:645-51.
Sisti CPJ, Santos HP, Kohhann R, Alves BJR, Urquiaga S, Boddey RM. Change in carbon and mtrogen
slocks in soil under 13 years of convenlional or zero tillage in southem Brazil. Soil Till Res.
2004,76 39-58.
Six J, Elliotl ET, Pauslian K. Aggregate and soil organic matter dynamics under conventional and
no-tillage systems Soil Sei Soc Am J 1999,63 1350-8
Six J, Elliotl ET, Paustian K. Soil macroaggregate turnover and microaggregate formation: a mecharusm
for C sequestration under no-tillage agriculture Soil Biol. Biochem. 2000,32:2099-103
Six J, Feller C, Denef K, Ogle SM, Sa JCD, Albrecht A. Soil organic matter, biota and aggregation in
temperate and tropical soils - Effecls of no-tillage. Agronomie. 2002;22:755-75
Skjemstad JO, Clarke P, Taylor JA, Oades JM, Mcclure SG The chemistrv and nature ot protected
carbon in soil. Aust J Soil Res 1996;34:251-71.
Skjemstad JO, Dalal RC, Barron PF Speclroscopic investigations ot cultivation effects on organic
matter of Vertisols. Soil Sei Soc Am J. 1986;50:354-9.
Skjemstad JO, Janik LJ, I lead MJ, Mcclure SG High-energy ultraviolet photooxidation - a novel
techmque for studying physically protected organic-matter in clay-sized and silt-sized
aggregates J Soil Sei 1993;44'485-99.

Manejo e Conservação do Solo e da Água


XI - Sistema de Manejo Conservacionista e qualidade de ... 343

Sollins P, Homann P, Caldwell BA Stabilization and destabilization of soil organic matter:


mechanisms and controls Geoderma. 1996;74:65-105.
Souza ED, Costa SEVGA, Lima CVS, Anghinoni I, Meurcr EJ, Carvalho PCD. Carbono orgânico
e fósforo microbiano em sistema de integração agricultura-pecuária submetido a diferentes
intensidades de pastejo em plantio direto Rev Bras Cienc Solo, 2008;32:1273-82
Spaccini R. Piccolo A, Conte P, Haberhaucr G, Gerzabek MH. Increased soil organic carbon
sequestration through hydrophobic protection by humic substances. Soil Biol Biochem.
200234:1839-51.
Steelink C, Tollin G. Stable free radicais in soil humic acid. Biochim Biophys Acta. 1962;59:25-34.
Stevenson FJ. Humus chemistry. 2nd ed. New York:, John Wiley; 1994
Studdert GA, Echeverria HE, Casanovas EM.Crop-pasture rotation for sustaining the qualify and
productivity of a typic Argiudoll. Soil Sei Soc Am J. 1997;61:1466-72.
Sulc RM, Tracy BF. Íntegrated crop-livestock systems in the US com belt. Agron I 2007;99:335-45.
Tahir MM Destino do carbono de raízes e parte aérea de culturas de inverno enriquecidas com nC
em solo sob plantio direto. Santa Maria: Universidade Federal de Santa Maria; 2015.
Tracy BF, Zhang Y. Soil compaction, com yield response, and soil nutrient pool dynamics wilhin an
integrated crop-livestock system in lllinois. Crop Sei. 2008;48:1211-8.
Vandenbygaart AJ. The myth that no-till can mitigate global climate changc. Agric Ecosyst Environ.
2016;216:98-9.
Vezzani FM. Qualidade do sistema solo na produção agrícola. Porto Alegre: Universidade Federal
do Rio Grande do Sul; 2001.
von Lützow M, Kõgel-Knabner I, Ekschmitt K, Matzner E, Guggenberger G, Marschner B, Flessa
H. Stabilization of organic matter in temperate soils: mechanisms and their relcvance under
difíerent soil conditions - a review Eur J Soil Sei. 2006;57:426-45
Wershaw RL. Molecular aggregation of humic substances. Soil Sei. 1999;164:803-13.
Zinn YL, Lai R, Bigham JM, Resck DVS Edaphic controls on soil organic carbon retention m the
Brazilian Cerrado: Soil strueture. Soil Sei Soc Am J. 2007;71:1215-24

Manejo e Conservação do Solo e da Água


MANEJO DE SOLO E CULTURAS E SUA
RELAÇÃO COM OS ESTOQUES DE
CARBONO E NITROGÊNIO DO SOLO

J. MIELNICZUK®, C. BAYER(1), F. M. VEZZANI(2) 3 4,


T. LOVATO®, F. F. FERNANDES® & L. DEBARBA®

Introdução................................................................................................................................. 209
Qualidade do Solo como Produto da Interação entre Minerais, Plantas e Organismos........... 216
Práticas de Manejo e a Dinâmica do Carbono e Nitrogênio no Solo..................................223
Modelagem da Dinâmica do Carbono e Nitrogénio no Solo.....................................................231
Considerações Finais.............................................................................................................. 240
Literatura Citada.........................................................................................................................241

INTRODUÇÃO

O Brasil é um país predominantemente tropical, situando-se entre os


paralelos 34 ° Se6 ° N. Nesta posição, recebe intensa radiação solar, que
varia de 8,38 MJ nr2 d’1 no inverno a 20,95 MJ m’2 d'1 no verão, no Sul, e
em torno de 16,76 MJ nr2 d'1 próximo ao Equador, durante todo o ano. A
radiação líquida que chega à superfície terrestre depende de vários fatores,
entre eles o comprimento do dia, que varia entre 10:40 h, no inverno, e
13:30 h, no verão, nos estados do Sul, e permanece em torno de 12:10 h,
no Equador (Tubelis & Nascimento, 1937; Sanchez, 1976).

(1) Professores Titulares Aposentado e Adjunto, respectivamente, do Departamento de Solos


da Universidade Federal do Rio Grande do Sul — UFRGS. Caixa Postal 776, CEP 90001-
970 Porto Alegre (RS). Pesquisadores do CNPq. E-mail: mieln@vortex.ufrgs.br;
cimelio.bayer@ufrgs.br
(2) Professores Adjuntos, respectivamente, do Departamento de Solos da Universidade Fede­

ral de Santa Maria -UFSM. CEP 97105-900 Santa Maria (RS). Bolsista do CNPq. E-mail:
fvezzani@terra.com.br; thlovato@ccr.ufsm.br
(3) Professora Adjunta do Departamento de Solos da Universidade Federal de Pelotas - UFPel.

CEP 96010-900 Pelotas (RS). E-mail: flaviaff@ufpel.tche.br


(4) Técnico da Fundação Estadual de Proteção Ambiental - FEPAM. Rua Carlos Chagas 55,

CEP 90030-020 Porto Alegre (RS). E-mail; debarba@cpovo.net


210 J. MIELNICZUK et al.

Pela classificação de Kõppen (Brasil, 1969), ocorrem no Brasil os tipos


de clima Cfa e Cfb, no Sul; Cwa e Cwb, no Centro Leste; Aw, nos Cerrados;
Af e As, no litoral do Nordeste; Bsh, no interior do Nordeste; e Af e Am, no
Norte (Figura 1).

No Sul, as temperaturas do ar são amenas no inverno, nas demais


regiões, elevadas durante todo o ano. As médias normais (1960-1990) das
mínimas do mês mais frio, no Sul, oscilam entre 9 e 12 °C, e as das máximas
do mês mais quente, entre 28 e 32 °C. Próximo à linha do Equador, as
diferenças entre as médias normais mínimas e máximas mensais são
menores, oscilando entre 20-25 e 30-35 °C, respectivamente (Brasil, 1992).
As temperaturas do ar são modificadas para menos pela altitude, na ordem
de 0,6 °C a cada 100 m em relação ao nível do mar. As temperaturas do
solo, nas camadas superficiais, correlacionam-se com as do ar, embora
também sejam afetadas pela umidade e cobertura do solo (Wambeke, 1992).

Am: Quente e úmido, com curto


período seco

At: Quente e úmido todo o ano


(Amazônia)

BSh: Quente e semi-


árido (Caatinga)

As: Tropical, verão


seco

Af: Quente e úmido


todo o ano (Floresta
Atlântica)

Aw: Tropical com


inverno seco
(Cerrado)

Cwb: Inverno seco,


verão ameno
Cwa: Inverno seco,
verão quente
Cfb: Úmido todo o ano, com verão
ameno
Úmido todo o ano, com verão
quente

Figura 1. Tipos de clima no Brasil, segundo a classificação de Kõppen.


Fonte: Adaptado por Bergamaschi (comunicação pessoal) de Brasil (1969).

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono. .. 211

A precipitação normal média anual varia entre 500 e 700 mm no interior


dos estados do Nordeste e entre 2.800 e 3.200 mm na Região Amazônica.
Nos estados do Sul e Sudeste ela se situa entre 1.500 e 1.900 mm (Brasil,
1992). No entanto, a característica principal das chuvas das regiões tropicais
e subtropicais é a sua alta intensidade, resultando em alta energia erosiva,
diferentemente das chuvas de regiões temperadas e frias, que são de baixa
erosividade (Hudson, 1973).

As características climáticas do território brasileiro possibilitam o cultivo


de uma diversidade de espécies vegetais durante todo o ano. Segundo
Sanchez (1976) e Greenland et al. (1992), o potencial de produção de
biomassa vegetal nos trópicos e subtrópicos, corrigidas as condições
edáficas e hídricas adversas, chega a 60 t ha'1 ano'1, em comparação a
30 t ha'1 ano'1 em regiões temperadas e frias. Entretanto, a ocorrência de
temperaturas elevadas e a disponibilidade de água resultam em taxas de
decomposição dos resíduos vegetais e da matéria orgânica do solo mais
altas que nas regiões temperadas e frias. Esse fato, associado à ocorrência
de chuvas de alta erosividade, exige práticas de manejo do solo que
priorizem a cobertura deste e a manutenção da matéria orgânica (Lai, 1976;
Derpsch et al., 1985; Lopes et al., 1987; Bayer et al., 2000a,b,c).

Em grande parte do território brasileiro predominam solos altamente


intemperizados pertencentes às ordens dos Oxissolos, Ultissolos e
Alfissolos, pela Classificação Americana, correspondendo, aproximadamente,
aos Latossolos e Argissolos pela atual Classificação Brasileira (EMBRAPA,
1999). De acordo com Demattê (1981), 80 % dos solos da Amazônia, 61 %
do Centro-Norte, 54 % do Centro-Sul e aproximadamente 50 % do Sul
pertencem a essas três ordens. Segundo Sanchez & Logan (1992), não é
regra geral que estes solos sejam de baixa fertilidade, baixa CTC, ácidos,
com toxidez de Al e alta capacidade de reter P em formas indisponíveis
para as plantas. Essas características geralmente se manifestam com maior
intensidade nos solos cultivados inadequadamente, devido à drástica
redução do teor de matéria orgânica, a qual contribui com grande parte da
CTC do solo e atua na complexação do Al tóxico e no bloqueio dos sítios
reativos com os íons fosfato (Oades et al., 1989). No entanto, uma
característica comum desses solos é a presença de óxidos e de argilas
1:1, que lhes confere, juntamente com a matéria orgânica, carga variável
dependente de pH. Em solos com esta característica, a matéria orgânica
exerce papel importante em manter o PCZ baixo e a CTC do solo adequada
em valores de pH 5,5 a 6,0, que é normal em solos agrícolas (Oades et al.,

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


212 J. MIELNICZUK et al.

1989; Sanchez & Logan, 1992; Wambeke, 1992). Também estes solos,
quando argilosos, apresentam elevada área superficial específica,
possibilitando a formação de complexos organominerais, que dificultam a
decomposição da matéria orgânica e favorecem a formação de agregados .
estáveis. A proteção física e coloidal que decorre dessas reações é
apontada como a principal causa da manutenção da matéria orgânica em
solos de regiões tropicais, mesmo que as condições climáticas sejam
favoráveis à decomposição microbiana dos compostos orgânicos (Greenland
et al., 1992; Oades et al., 1989).
A ocorrência de alta produtividade de biomassa vegetal durante todo o
ano e as características de solo que possibilitam acúmulo da matéria
orgânica podem ser utilizadas para desenvolver sistemas de manejo que
potencializem esses benefícios. Historicamente, no Brasil predominou o
preparo convencional do solo para implantação das culturas. Esse sistema
caracteriza-se pelo revolvimento do solo uma ou duas vezes ao ano, com
incorporação total dos resíduos da cultura anterior, deixando o solo
praticamente descoberto na fase de implantação e desenvolvimento inicial
das culturas. Essa prática, que foi trazida das regiões temperadas e frias,
mostrou-se inadequada para as regiões tropicais e subtropicais, sendo
apontada como a principal causa da degradação dos solos nestas regiões,
pela deterioração da estrutura, devido à redução da matéria orgânica, e
pelo favorecimento à ocorrência de erosão (Põtkker, 1977; Bayer et al.,
2000b; Derpsch et al., 1990). Nos estados do Sul, o fenômeno atingiu o
seu pico no final dos anos 70 e início dos anos 80. A devastação sem
precedentes provocou uma reação enérgica de técnicos, produtores e poder
público, ainda em tempo de reverter o processo e colocar o Brasil na
vanguarda em manejos conservacionistas entre os países tropicais em
desenvolvimento. A seguir, serão apresentados alguns fatos históricos que
colocaram o país nessa posição.
As primeiras ações conservacionistas foram iniciadas nos anos 50,
coordenadas pelo Ministério da Agricultura e Secretarias Estaduais de
Agricultura, centrando-se basicamente no terraceamento. Em solos ainda
não degradados e mobilizados apenas uma vez por ano, o sistema de
terraços era eficiente no controle da erosão. Com a expansão da cultura
da soja a partir dos anos 70 e o aumento da mecanização, o solo passou a
ser mobilizado duas vezes por ano. Extensas áreas permaneciam sem culturas
no inverno e início da primavera, ao mesmo tempo em que os resíduos
culturais de trigo eram sistematicamente queimados. A semeadura, na sua
totalidade, era feita em solo descoberto, pulverizado na superfície e com

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono. .. 213

presença de uma camada compactada a baixa profundidade (pé-de-arado


e pé-de-grade). Os terraços, nas condições de degradação avançada da
estrutura, perderam a sua eficiência no controle da erosão. As chuvas da
primavera, de grande intensidade, causavam enormes danos por erosão,
exigindo ressemeadura das lavouras de soja em mais de 60 % da área em
muitos casos (Cassol, 1984).
Em meados da década de 1970, iniciaram-se as pesquisas em manejo
e conservação de solos nos estados da região Sul, principalmente no IAPAR,
em Londrina (PR); na Embrapa Trigo, em Passo Fundo (RS); na Estação
Experimental Agronômica da UFRGS, em Eldorado do Sul, mediante um
programa de cooperação entre o IPRNR/SA e DS/UFRGS; e na UFSM, em
Santa Maria (RS). Dados locais de pesquisas foram gerados sobre perdas
de solo e água em sistemas de preparo e cobertura do solo, temperatura e
umidade, estrutura do solo e, mais recentemente, dinâmica da matéria
orgânica e dos nutrientes em sistemas conservacionistas. As pesquisas
serviram de base para a implantação de diversos projetos em manejo e
conservação do solo, envolvendo universidades, instituições de pesquisa,
extensão e a iniciativa privada. Estes projetos introduziram profundas
modificações no manejo do solo nos estados da região Sul, no período
entre o final da década de 1970 e o início dos anos 80.
O projeto Paraná Rural, com financiamento internacional, estendeu a
todo o estado, por meio do subprograma de Manejo e Conservação do
Solo, o Programa de Microbacias Hidrográficas iniciado em Toledo. Nesse
subprograma foi dada ênfase a práticas de manejo do solo que objetivavam
aumento na infiltração de água e redução do escoamento superficial
(Paraná, 1989). No Rio Grande do Sul desenvolveu-se o PIUCS - Projeto
Integrado de Uso e Conservação do Solo (Wünsche et al., 1980), o qual
abrangeu a área cultivada com trigo no inverno e soja no verão e teve por
objetivo: eliminar a queima da palha do trigo, que era praticada em mais de
80 % das lavouras; reduzir a mobilização do solo com arado e grade, que
eram usados em mais de 90 % das lavouras, passando para o uso de
escarificadores e, em fases mais adiantadas, adoção do plantio direto; e
introduzir o uso de culturas de cobertura do solo em áreas sob pousio no
inverno, que representavam mais de 70 % da área total cultivada. O PIUCS
não teve financiamento específico. As instituições e os agricultores
participantes assumiram seus próprios custos. No início da década de
1980 também foram implantados programas de manejo do solo em
Microbacias Hidrográficas nos estados do Rio Grande do Sul, pela EMATER,
e de Santa Catarina, pela ACARESC.

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


214 J. MIELNICZUK et al.

Os programas tiveram grande aceitação pelos agricultores. A queima


da palha foi praticamente eliminada em dois anos em todas as regiões de
atuação do PIUCS (Mielniczuk et al., 1983). A figura 2 mostra a evolução
da adoção de sistemas de preparo conservacionistas na região do Planalto
Médio, no Rio Grande do Sul, em uma área de aproximadamente
1.000.000 hectares cultivados. Antes da implantação do PIUCS, em 1979,
aproximadamente 91 % da área estava sob preparo convencional, 7 % sob
preparo reduzido e 2 % sob plantio direto. Em 1994, a área sob preparo
convencional foi reduzida para 21 %, e as áreas sob preparo reduzido e
plantio direto aumentaram para 42 e 37 %, respectivamente. Essas
mudanças estão intimamente ligadas à atuação do PIUCS e do programa
de microbacias na região. A partir de 1992, aos efeitos da atuação do
PIUCS e do programa de microbacias somou-se a atuação do projeto
METAS (viabilização e difusão do sistema plantio direto no planalto do Rio
Grande do Sul), que teve por objetivo a divulgação do plantio direto e a
remoção de entraves relacionados com a mecanização e o controle de
ervas daninhas (Denardin, 1997). Em decorrência da atuação do projeto, o
plantio direto já era praticado em mais de 80 % da área no ano de 2000
(Figura 2).
A sustentabilidade do sistema convencional de preparo de solo já era
questionada nos Estados Unidos no início do século passado (Falkner,

Figura 2. Evolução da adoção dos sistemas de preparo convencional (PC),


preparo reduzido (PR) e plantio direto (PD) na região do Planalto Médio
do estado do Rio Grande do Sul.
Fonte: 1979: Wünsche et al. (1980); 1994 e 2000: Dados compilados de relatórios de levan­
tamentos realizados pelo Escritório Regional do Planalto da EMATER (não publicados).

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relaçào com os Estoques de Carbono... 215

1945). No entanto, o maior impulso na pesquisa para a mudança desse


sistema foi dado nos anos 60 por Shirley Philips e colaboradores na
Universidade de Kentucky, EUA (Philips & Young Jr., 1973). No Brasil,
ocorreram diversas iniciativas nesse sentido a partir do final dos anos 60 e
início dos anos 70 (Borges, 1993). Contribuição importante foi também
dada pela equipe de pesquisadores do IAPAR, em convênio com o GTZ, na
introdução da prática de culturas de cobertura e seu manejo (Derpsch et
al., 1985, 1990).
Em 1972, produtores dos Campos Gerais, na região de Ponta Grossa
(PR), insatisfeitos com os resultados da agricultura com preparos
convencionais de solo, após uma visita aos trabalhos do Prof. Philips no
estado de Kentucky (EUA), passaram a utilizar com sucesso o plantio direto
e incentivar a criação dos Clubes Amigos da Terra e das Associações de
Produtores. A partir de 1981, passaram a organizar os Encontros Nacionais
do Sistema Plantio Direto, divulgando o sistema em nível nacional
(Encontros..., 1998). A grande contribuição desse grupo de produtores foi
a ênfase à importância da palha sobre o solo por ocasião da semeadura,
designando o sistema de “Sistema de Plantio Direto na Palha”. Esse conceito
é vital para o sucesso do sistema em regiões tropicais e subtropicais.
Em razão das iniciativas aqui relatadas, no início dos anos 90, muitos
avanços em manejo do solo já haviam sido alcançados nos estados do
Centro-Sul. O fogo já havia sido banido como prática de manejo de resteva,
os preparos conservacionistas já estavam sendo amplamente utilizados e
as culturas de cobertura de solo no inverno já eram utilizadas na maior
parte da área cultivada. Embora existissem nessa época aproximadamente
1.000.000 de hectares sob plantio direto em todo o Brasil, com muitos bons
exemplos em todos os estados da região Centro-Sul, o sistema ainda não
havia sido adotado em larga escala. Nesse sentido, foi dado um grande
impulso no Rio Grande do Sul, a partir de 1992, com a implantação do
projeto METAS, referido anteriormente. Após a implantação do projeto, a
área sob sistema de plantio direto no estado passou de 240.000 ha em
1992 para 3.800.000 ha em 1998 (Farias & Ferreira, 2000). Em nível
nacional, os Encontros Nacionais de Plantio Direto (Encontros..., 1998) e
os Encontros Latino-americanos de Plantio Direto em Pequenas
Propriedades (Encontro, 1993, 1998) deram um grande impulso ao sistema.
Atualmente o plantio direto é amplamente utilizado nos estados do Rio
Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina, na Região dos Cerrados de Goiás e
Mato Grosso do Sul e está em expansão em São Paulo, Minas Gerais e outros
estados brasileiros. Estimativas indicam que em 1999/2000 utilizou-se no

Tópicos Ci. Solo, 3:209 248, 2003


216 J. M1ELNICZUK et al.

Brasil o sistema de plantio direto em aproximadamente 14.000.000 de


hectares (Derpsch, 2000).
O sucesso do sistema de plantio direto depende, além dos cuidados
com a compactação de solo, do desenvolvimento de sistemas de culturas
que propiciem renda aos agricultores e deponham sobre o solo quantidade
adequada de resíduos. Inicialmente, os sistemas conservacionistas
objetivavam o controle da erosão - a resultante negativa mais perceptível
da agricultura convencional. À medida que esse objetivo foi sendo atingido,
a pesquisa se direcionou para o entendimento e a quantificação dos efeitos
dos sistemas conservacionistas sobre a qualidade do solo e do ambiente,
aliados à obtenção de alta produtividade das culturas.

QUALIDADE DO SOLO COMO PRODUTO


DA INTERAÇÃO ENTRE MINERAIS,
PLANTAS E ORGANISMOS

No final do século passado, a comunidade científica, consciente da


importância do solo na preservação ambiental, iniciou a discussão sobre a
qualidade do solo e sua relação com a degradação dos recursos naturais e
a sustentabilidade agrícola (American Journal of Alternative Agriculture, 1992).
Qualidade do solo foi definida como a capacidade de um solo funcionar
dentro dos limites de um ecossistema natural ou manejado, a fim de
sustentar a produtividade biológica, manter ou aumentar a qualidade
ambiental e promover a saúde das plantas e dos animais (Doran & Parkin,
1994). Para cumprir esses três requisitos, o solo deve ser capaz de exercer
suas funções na natureza (Doran, 1997). Estas se caracterizam pela
habilidade de o solo funcionar como um meio para o crescimento das
plantas; regular e compartimentalizar o fluxo de água no ambiente; estocar
e promover a ciclagem de elementos na biosfera; e servir como um tampão
ambiental na formação, atenuação e degradação de compostos prejudiciais
ao ambiente (Larson & Pierce, 1994; Karlen et al., 1997).
Uma questão fundamental em relação à qualidade do solo é identificar
indicadores que possam auxiliar na avaliação de terras em relação à
degradação, fazer estimativas de necessidades de pesquisa e de
financiamentos e julgar práticas de manejo utilizadas, a fim de monitorar
as mudanças na sustentabilidade e na qualidade ambiental (Granatstein &
Bezdicek, 1992; Parr et al., 1992; Doran & Parkin, 1994). Nesse sentido,

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 217

surgiram várias linhas de pensamento. Em síntese, uma linha procura


identificar os melhores indicadores de qualidade de solo, de ordem física,
química ou biológica (Doran et al., 1994; Doran & Jones, 1996). Outra
linha considera a matéria orgânica do solo como o melhor indicador e busca
identificar compartimentos da matéria orgânica que melhor expressem as
alterações no manejo do solo (Gregorich et al., 1994; Lai, 1997; Pulleman
et al., 2000). Há ainda uma linha alternativa, que deixa de lado a busca de
atributos e analisa processos no sistema solo-planta (Addiscott, 1995;
Coleman et al., 1998).
Nas trés linhas de pensamento, a pesquisa busca a identificação de
atributos, expressões matemáticas ou procedimentos para avaliar a
qualidade do solo, adaptados para cada região, considerando as condições
dos recursos naturais e as necessidades socioeconômicas locais. Contudo,
além disso, nas propostas de medição de atributos ideais está implícita a
idéia de buscar determinações que representem a interação de todos os
componentes do sistema agrícola, com a finalidade de estas refletirem o
adequado funcionamento do solo como um todo, que é a própria qualidade
do solo.
Centrando a abordagem na linha alternativa, o solo pode ser considerado
como resultado de uma rede de relações complexas entre os subsistemas
minerais, plantas e organismos, representada de forma simplificada na
figura 3. A matéria mineral é produto de eventos que agem sobre o material
de origem e ocorrem simultaneamente, ou em seqüência, durante um longo
período de tempo (Buol et al., 1973). Nos solos de regiões tropicais e
subtropicais, área de interesse deste trabalho, o subsistema mineral é
constituído, predominantemente, por argilominerais do tipo 1:1, óxidos de
ferro e de alumínio e quartzo. A caulinita apresenta cargas negativas
permanentes e cargas dependentes do pH nas extremidades (Schulze,
1989). Os óxidos de ferro e de alumínio também apresentam carga variável,
pela dissociação dos grupos funcionais em sua superfície, e imprimem fortes
características aos solos, devido à sua alta reatividade (Kãmpf, 1999). Por
sua vez, o quartzo é um mineral eletricamente neutro (Drees et al., 1989) e
compõe, principalmente, as frações silte e areia.
As plantas transformam energia luminosa em energia química e
adicionam ao solo a energia e a matéria (na forma de compostos de C)
necessárias para o funcionamento do sistema. Pelo processo de
fotossíntese, captam energia solar e CO2 atmosférico, além de nutrientes e
água do solo, para produção de exsudatos, e de tecidos da parte aérea e
das raízes. A contribuição dos compostos de C para o solo ocorre

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


218 J. M1ELN1CZUK etal.

continuamente durante o ciclo vegetativo, por meio das raízes, pelo processo
de exsudação de compostos orgânicos e pelo desprendimento de células
das raízes (Oades, 1989; Paul & Clark, 1996). Ao final do ciclo vegetativo,
as raízes e a parte aérea das plantas que aportam à superfície do solo são
decompostas pelos microrganismos.

Figura 3. Representação esquemática do sistema solo, seus subsistemas


(minerais, plantas e organismos) e a interação entre eles.

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 219

Os organismos do solo, em especial os microrganismos, são


responsáveis em transformar a energia e matéria produzidas pelas plantas
em forma adequada para o funcionamento do sistema solo. Os
microrganismos utilizam o tecido da parte aérea e das raízes e os exsudatos
das plantas para extrair energia e C que necessitam para a sua atividade e
o seu desenvolvimento, havendo a formação de compostos orgânicos como
subproduto desse processo. Dessa forma, convertem a energia e a matéria
de uma forma para outra, o que caracteriza o fluxo de compostos orgânicos
no sistema solo. Em função desse fluxo, os componentes do solo interagem
e se auto-organizam em estados de ordem, seguindo uma hierarquia de
complexidade.

A organização inicia-se com a interação da matéria mineral entre si e da


matéria mineral com os compostos orgânicos (produto da interação dos
subsistemas plantas e microrganismos), formando agregados na ordem de
nm. A organização prossegue com a interação desses agregados com os
compostos orgânicos, resultando na formação de agregados maiores e de
estrutura mais complexa, que podem atingir um tamanho em torno de
0,25 mm de diâmetro, o que se define por microagregados (Edwards &
Bremner, 1967). Durante esse processo, ocorre a retenção de matéria
orgânica no solo, devido à proteção química e física à decomposição
microbiana. Quimicamente, a matéria orgânica é protegida por interagir
fortemente com minerais e com cátions polivalentes (Edwards & Bremner,
1967; Muneer & Oades, 1989), que não permitem o seu consumo pelos
microrganismos. Fisicamente, a matéria orgânica é protegida por estar
incorporada dentro dos microagregados em poros de reduzido diâmetro e
inacessíveis mesmo a bactérias e suas enzimas (Tisdall, 1996). A formação
de agregados maiores que 0,25 mm (macroagregados) é resultado da ação
mecânica de raízes finas e das hifas de fungos, principalmente micorrízicos
(Bradfield, 1937; Tisdall & Oades, 1982; Gupta & Germida, 1988; Miller &
Jastrow, 1990). As raízes e as hifas entrelaçam unidades de microagregados,
formando estruturas maiores, mais complexas e diversificadas. Partes do
tecido vegetal encrostado com partículas minerais e microagregados
também formam macroagregados (Golchin et al., 1994; Six et al., 1999). O
processo de organização do solo pode, assim, ser considerado resultante
da magnitude do fluxo de energia e matéria que passa por ele. Prigogine
(1996) propôs uma teoria para o funcionamento de sistemas abertos, na
qual o fluxo de energia e matéria conduz o sistema a diferentes níveis de
ordem. O solo pode ser interpretado segundo esta teoria. A figura 4,
baseada em Prigogine, representa esquematicamente dois níveis

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


220 J. MIELNICZUK et al.

hierárquicos da estrutura do solo resultantes do fluxo. Quando o fluxo é


alto, ou seja, grande quantidade de energia e matéria está entrando através
das plantas, o sistema solo tem condições de se auto-organizar em níveis
de ordem sucessivamente mais elevados. Nessa situação, o solo pode
atingir a formação de estruturas grandes, complexas e diversificadas, que
são os macroagregados, contendo alta quantidade de energia e matéria
retida na forma de compostos orgânicos, caracterizando um nível de ordem
alto. Por outro lado, quando a magnitude do fluxo é baixa - pequena
quantidade de energia e matéria está sendo adicionada pelas plantas - o
sistema solo se auto-organiza em estruturas menores e mais simples, que
são os microagregados, com menor quantidade de compostos orgânicos
retidos, caracterizando um nível de ordem baixo.
Nos diferentes estados de organização do solo, que estão representados
na figura 4, surgem as propriedades emergentes. No nível de ordem alto,
caracterizado pela presença de estruturas mais complexas, que são os
macroagregados, e pela grande quantidade de matéria orgânica retida, as
propriedades emergentes se destacam por: resistência à erosão hídrica e
eólica, infiltração e retenção de água, capacidade de retenção de cátions,
aumento do estoque de nutrientes, adsorção e complexação de compostos

Figura 4. Representação esquemática da relaçao do fluxo de matéria e energia


com a organização do sistema solo.
Fonte: Adaptado de Prigogine (1996).

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 221

orgânicos e inorgânicos, favorecimento dos organismos do solo, promoção


da ciclagem dos elementos químicos, seqüestro de C, aumento da
diversidade aa população microbiana e do sistema solo, resistência a
perturbações e resiliência. Essas propriedades emergentes conduzem o
solo a aumentar a habilidade de produzir quantidades crescentes de matéria
vegetal, favorecendo a retroalimentação de energia e matéria geradora de
ordem. Nessa condição de nível de ordem alto, o solo é capaz de cumprir
suas funções e, dessa forma, atinge qualidade.
No nível de ordem baixo, caracterizado pela presença de estruturas mais
simples, que são os microagregados, e pela menor quantidade de matéria
orgânica retida, as propriedades emergentes do sistema solo se destacam
por: deterioração da estrutura, erosão hídrica e eólica, lixiviação de
nutrientes e compostos orgânicos e inorgânicos, contaminação de águas
superficiais e subterrâneas, liberação de CO2 para atmosfera, diminuição
da microbiota e da mesofauna, diminuição da diversidade do sistema solo,
redução da resistência a perturbações e da resiliência. Nessa situação, o
solo tem baixa capacidade de produzir matéria vegetal e,
conseqüentemente, de formar estruturas mais complexas. Assim, o solo
não tem habilidade de cumprir suas funções e não atinge qualidade.
Os subsistemas plantas e microrganismos são essenciais para que o
sistema solo seja capaz de atingir estados de ordem em níveis cada vez
mais elevados. Por outro lado, Oades & Waters (1991) afirmam que a
hierarquia na formação de agregados induzida pela matéria orgânica não
ocorre em solos oxídicos, pois nestes os óxidos são, supostamente, o agente
dominante na estabilidade dos agregados (Ferreira et al., 1999ab). Um
exemplo da ação biológica sobre a organização hierárquica de Argissolo
Vermelho distrófico com 103 g kg’1 de Fe2O3 no solo foi apresentado por
Vezzani (2001). Nesse exemplo, dois sistemas conduzidos por 17 anos, a
partir da mesma condição inicial de solo altamente degradado química e
fisicamente, são considerados. Um sistema foi mantido praticamente sem
plantas (adição de 0,7 t ha’1 ano’1 de C) e o outro com plantas de pangola
(Digitaria decumbens), gramínea estolonífera perene, com adição de
5,4 t ha’1 ano’1 de C.
As plantas foram fundamentais para a auto-organização do solo em
estruturas maiores e mais complexas. Descontada a massa de partículas
de quartzo livre (não compondo agregados de solo) das respectivas classes
de agregados, o sistema pangola resultou em cerca de 49 % dos agregados
nas classes > 2 mm, enquanto no solo descoberto os agregados, nestas
classes, somaram apenas 16 % (Figura 5). A diferença na quantidade de

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


222 J. MIELNICZUK et al.

C retido no solo agregado foi de 2,8 t ha'1 de C em favor do sistema pangola.


Também um sistema agrícola em plantio direto com gramíneas e
leguminosas consorciadas no inverno [aveia (Avena strigosa) + ervilhaca
(Vicia sativa)] e no verão [milho (Zea mays) + caupi (Vigna unguiculata)],
com adição anual de 7,2 t ha*1 de C durante 15 anos, em área contígua
aos sistemas anteriores e com a mesma condição inicial, teve
comportamento semelhante ao cultivo da gramínea perene, atingindo um
estado de organização muito próximo ao do sistema pangola. A produção
de grãos de milho no décimo quarto ano desse sistema foi de 5,9 t ha'1
(Lovato, 2001), indicando que o solo está cumprindo a função de produção
de alimentos e, ainda, favorecendo as condições para formação de nível
de ordem alto, que conduz à qualidade do solo.
Nesse contexto, a diversidade da comunidade vegetal traz benefícios
além da produção de energia e matéria. Cada planta possui zonas de
influência diferentes, causando estímulo diferenciado na biota do solo, o
que favorece as interações entre os componentes do sistema (Beare et al.,
1995). Quanto mais complexas as interações bióticas, maior a probabilidade
de resultarem propriedades emergentes importantes na regulação das
funções do solo.

Classes de diâmetro dos agregados, mm


Figura 5. Proporção de agregados, após descontada a massa de partículas
de quartzo livre, em diferentes classes de diâmetro, na camada de 0-
7,5 cm de um Argissolo Vermelho distrófico sob os sistemas solo
descoberto e pangola (17 anos) e plantio direto (PD) - aveia (A) + ervilhaca
(V)/milho (M) + caupi (C) (15 anos), em Eldorado do Sul (RS).
Fonte: Vezzani (2001).

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 223

O processo de organização do solo é dinâmico. Assim como a biota


edáfica utiliza o material vegetal para sua atividade e, juntamente com os
metabólitos deste processo, promove a organização do solo, ela também
utiliza os compostos orgânicos do solo para o mesmo fim. Por essa razão,
quando a quantidade de C fotossintetizado adicionada não é suficiente para
suprir a demanda da microbiota, os microrganismos utilizam os agentes
ligantes e formadores dos agregados como fonte de energia e C,
enfraquecendo as estruturas formadas. A macroagregação é a primeira a
ser destruída, pois depende de compostos orgânicos facilmente
decomponíveis. Na seqüência, os compostos orgânicos que apresentam
interação mais forte com a matriz mineral são consumidos. Com isso, a
ordem se desfaz e partículas minerais, nutrientes, compostos orgânicos e
inorgânicos, que estavam fazendo parte da estrutura, ficam livres e sujeitos
a perdas por mineralização, lixiviação e erosão. O revolvimento do solo
acelera esses processos ao promover a ruptura de agregados pela ação
mecânica de máquinas e implementos e pela exposição a ciclos de umidade
e à ação da chuva, expondo a matéria orgânica intra-agregado à
decomposição microbiana, com degradação da qualidade do solo (Roth et
al., 1991; Campos et al., 1995; Balesdent et al., 2000).
Sistemas de produção agrícola de regiões tropicais e subtropicais têm
todo o potencial para determinar qualidade do solo, desde que contemplem
o cultivo intensivo de plantas, preferencialmente de espécies diferentes, e
o não-revolvimento do solo. Atualmente, as práticas de plantio direto e
rotação de culturas, que avançam nessas regiões, estão conduzindo o solo
para uma recuperação e incremento de sua qualidade. O aproveitamento
do clima favorável à produção vegetal durante todo o ano é uma ferramenta
para a agricultura cumprir o papel de produzir alimentos, preservando os
recursos naturais do ambiente terrestre.

PRÁTICAS DE MANEJO E A DINÂMICA DO


CARBONO E NITROGÊNIO NO SOLO

Os estoques de matéria orgânica do solo são determinados pela diferença


entre as quantidades de carbono (C) adicionadas (l^ A) e perdidas (-k2C),
sendo sua variação temporal expressa pela equação (Dalal & Mayer, 1986):

— = k1.A-k2.C (1)
dt

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


224 J. MIELNICZUK et al.

Nesta equação, A representa o C fotossintetizado adicionado ao solo na


forma de resíduos, exsudatos radiculares e raízes, e C representa o estoque
de G na matéria orgânica do solo. Utilizam-se as unidades de t ha’1 ano'1
para o A e de t ha'1 para o G contido numa determinada camada de solo.
Os coeficientes kí e k2 representam, em base anual, a fração do C
adicionado (A) efetivamente retido na matéria orgânica do solo (coeficiente
de humificação) e a fração do C na matéria orgânica do solo perdido pela
decomposição microbiana, erosão e lixiviação, respectivamente (Dalal &
Mayer, 1986).
Os coeficientes kf e k2 são afetados por temperatura, umidade, textura,
mineralogia e práticas de manejo, especialmente o grau de revolvimento
do solo, entre outros fatores. Em regiões tropicais e subtropicais, o
coeficiente k2 é mais elevado, podendo alcançar valores de até 10 %
(0,10 ano’1) (Cerri, 1986; Cerri & Andreux, 1990; Bayer et al., 2000b),
enquanto nas regiões temperadas e frias ele se situa em valores inferiores
a 2 % (0,02 ano'1) (Balesdent et al., 1990). Normalmente, solos argilosos e
com predomínio de minerais de carga variável, a exemplo dos Latossolos,
apresentam menores taxas de decomposição da matéria orgânica; além
disso, estas são menos afetadas pelos sistemas de preparo de solo, em
comparação a solos arenosos e menos intemperizados (Bayer, 1996). Este
autor estimou, num Latossolo Bruno (620 g kg'1 de argila e 211 g kg'1 de
Fe2O3) sob preparo convencional, uma taxa anual de decomposição de
1.4 % (k2 = 0,014 ano'1), a qual diminuiu para 1,2 % (k2 = 0,012 ano’1) no
solo sob plantio direto. Por outro lado, num Argissolo Vermelho distrófico
(220 g kg'1 de argila e 103 g kg'1 de Fe2O3), a taxa de decomposição foi de
5.4 % (k2 = 0,054 ano’1) sob preparo convencional e de 2,9 %
(k2 = 0,029 ano’1) sob sistema plantio direto.
Considerando que um mesmo sistema de manejo de solo afeta de forma
semelhante os regimes de temperatura e umidade, bem como o
fracionamento e a incorporação dos resíduos vegetais em ambos os solos,
o efeito diferenciado dos sistemas de preparo na taxa de decomposição
deve-se, provavelmente, a aspectos relacionados à capacidade de proteção
da matéria orgânica contra a ação decompositora dos microrganismos. No
Latossolo, além da mais alta proteção física da matéria orgânica pela maior
capacidade de formação de agregados, a matéria orgânica encontra-se,
em grande parte, associada a superfícies minerais de óxidos de ferro, sendo
pouco afetada pelo sistemas de manejo do solo, devido à sua alta
estabilidade química (Oades et al., 1989). No Argissolo, entretanto, a
capacidade do solo em proteger fisicamente a matéria orgânica é menor,

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 225

além da sua menor estabilidade química, devido ao menor teor de óxidos


de ferro. Neste solo, o revolvimento, ao promover uma exposição dos
agregados do solo a ciclos de umedecimento e secamento e ao impacto
das gotas de chuva, disponibiliza a matéria orgânica, anteriormente
protegida no interior dos agregados, à ação dos microrganismos e de suas
enzimas. Como conseqüência, a eliminação do revolvimento do solo
conserva a agregação, refletindo numa maior proteção física da matéria
orgânica e, portanto, na recuperação dos estoques de C e N do solo.
Os valores de k! do C adicionado pela parte aérea das culturas variam
entre 7,7 e 23 % = 0,077 e 0,23), tendo o valor de 12,2 % (kj = 0,122)
como média (Bolinder et al., 1999; Gregorich et al., 1995). O C adicionado
pelo sistema radicular apresenta maiores valores de k1t o que tem sido
relacionado aos maiores teores de lignina nas raízes, mas, principalmente,
ao fato de que, ao promover a agregação do solo, a raiz intensifica a proteção
física do C adicionado diretamente na matriz do solo (Balesdent & Balabane,
1992, 1996). Bolinder et al. (1999) apresentam a faixa de variação de k1
para C derivado de raízes de 14,4 a 30 % (^ = 0,144 a 0,30), com um valor
médio de 21,1 % (kj = 0,211).
Quando em condições naturais, as altas taxas de decomposição da
matéria orgânica são contrabalanceadas pela adição de maiores
quantidades de C pela vegetação, e os estoques de matéria orgânica dos
solos tropicais e subtropicais não se diferenciam dos verificados em solos
de regiões temperadas (Sanchez, 1976; Greenland et al., 1992). A proteção
física da matéria orgânica no interior de agregados de solo (Feller & Beare,
1997), bem como a estabilidade química da matéria orgânica associada a
superfícies oxídicas em solos de carga variável (Parfitt et al., 1997), também
são importantes fatores determinantes dos estoques de matéria orgânica
em solos tropicais e subtropicais. No entanto, quando estes solos são
submetidos ao uso agrícola, baseado em práticas convencionais de manejo,
apresentam declínio no estoque de matéria orgânica, sendo este muito
mais rápido do que o verificado em solos de regiões temperadas. Enquanto
nestas regiões perdas equivalentes à metade do estoque original de matéria
orgânica do solo ocorrem entre 50 e 100 anos de cultivo (Bowman et al.,
1990), em regiões de clima quente e úmido perdas similares ocorrem em
períodos de apenas 10 a 15 anos (Põttker, 1977; Tiessen et al., 1994;
Veldkamp, 1994).
Em razão das condições climáticas mais favoráveis à decomposição
microbiana, a quantidade de resíduos vegetais necessária para manutenção
dos estoques de matéria orgânica do solo em regiões tropicais e subtropicais

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


226 J. MIELNICZUK et al.

é muito superior àquela exigida em regiões temperadas. A figura 6


exemplifica esse contraste por meio da síntese dos resultados obtidos em
experimentos de longa duração por Paustian et al. (1992), na Suécia, e por
Lovato (2001), no Sul do Brasil. Em clima temperado frio, a uma temperatura
média anual de 5,4 °C, foi necessário adicionar, em sistema de revolvimento
manual, apenas 1,5 t ha'1 ano'1 de C fotossintetizado para manter os
estoques de C orgânico que o solo apresentava no início do experimento
(32,38 t ha'1). Por sua vez, no Sul do Brasil (19,5 °C), foi necessária a adição
de resíduos vegetais numa quantidade equivalente a 8,5 t ha'1 ano'1 de C
para manutenção do estoque inicial de C orgânico no solo (32,55 t ha'1),
sob sistema de preparo convencional com lavração e gradagem.

Geralmente os coeficientes k! e k2 são determinados utilizando-se


técnicas isotópicas de C marcado (14C) ou a abundância natural do 13C e
sua discriminação relativa ao 12C pelas plantas da rota metabólica C3 em
relação à rota C4, aplicando-se a técnica da relação ô13C (Cerri, 1986;
Balesdent et al., 1990; Balesdent & Balabane, 1992; Gregorich et al., 1995).
De posse desses coeficientes e dos valores de A, cenários de manejo para
tempos futuros podem ser simulados pela equação (Woodruff, 1949; Dalal
& Mayer, 1986; Bayer, 1996; Lovato, 2001):

Ct = Coe_k2|+L^-(1-e_k2t) ( 2)
k2
em que Ct é o estoque de C em um determinado tempo t; Co, o estoque
inicial de C orgânico no solo; e, a base natural dos logaritmos neperianos.
Modelos pluricompartimentais mais complexos, utilizados com a mesma
finalidade, serão tratados no item seguinte.
De forma aproximada, os coeficientes k1 e k2 também podem ser obtidos
em experimentos de longa duração, com valores de A e Co conhecidos,
conforme será exemplificado com base nos dados representados na figura 6.
A partir dos coeficientes das equações lineares que relacionam as
quantidades anuais de C adicionado (A) e a variação dos estoques de
C orgânico no solo em relação ao início do experimento (Figura 6), podem-
se estimar os valores aproximados do coeficiente de humificação (k-j) e
das taxas de decomposição da matéria orgânica (k2) nas distintas regiões,
assumindo-se perdas negligenciáveis de C por erosão e lixiviação. Os
valores de kn que representam a fração do C adicionado que permanece
no solo após o período de um ano, consistem no coeficiente angular das
equações. Observa-se que, na região temperada, uma maior fração do C
fotossintetizado adicionado (22,6 % ou k! = 0,226) foi incorporada à matéria

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 227

C adicionado ao solo, t ha’1 ano’1

Figura 6. Variação dos estoques de carbono orgânico total (COT) no solo em


função das quantidades de C fotossintetizado adicionado ao solo em
diferentes condições climáticas e sistemas de manejo do solo (O Manual=
revolvimento manual; PC= preparo convencional; O PD = plantio direto.
Fonte: Paustian et al. (1992), sistema com revolvimento manual na Suécia; Lovato (2001),
sistemas PC e PD no Sul do Brasil.

orgânica do solo após um ano, em comparação à região subtropical (12,1 %


ou ki = 0,121). Estes valores encontram-se dentro da faixa normal dos
valores de k-i (0,077 a 0,23) sugerida por Bolinder et al. (1999) e Gregorich
et al. (1995). Entretanto, os maiores valores de para regiões temperadas
discordam das afirmações de Sanchez (1976), para o qual os valores de k!
seriam semelhantes em diferentes ambientes. Isso não ocorre devido ao
coeficiente ser calculado em bases anuais, e, assim, a ciclagem mais lenta
da matéria orgânica particulada em regiões temperadas e frias (Gregorich
et al., 1995) determina um tempo médio de residência no solo bem superior
aos verificados em regiões tropicais e subtropicais (Feller & Beare, 1997).
A taxa de decomposição (k2) da matéria orgânica nos solos pode ser
estimada, a partir da equação 1, numa condição em que os estoques de C
orgânico do solo encontram-se estáveis (dC/dt = zero). Nesta condição,
k! A = k2 C e k2 = k1 A/C, sendo, portanto, o k2 obtido a partir da razão entre as
quantidades de C adicionadas (k-. A) e os estoques de C orgânico do solo
(Dalal & Mayer, 1986). Na figura 6, os valores de k1 A para dC/dt = zero
correspondem a 0,341 ha'1 ano1 de C (1,5 t ha'1 ano'1 x 0,226) para o solo da
região temperada (C = 32,28 t ha'1 de C) e a 1,03 t ha'1 ano'1 de C (8,5 t ha"1
ano'1 x 0,121) para o solo da região subtropical (C = 32,55 t ha'1 deC). A partir

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


228 J. MIELNICZUK et al.

do procedimento descrito, estima-se que a taxa de decomposição da matéria


orgânica no solo da região subtropical (k2 = 0,0320 ano'1 ou 3,2 %) seja
três vezes superior à taxa de decomposição da matéria orgânica no solo
da região temperada (k2 = 0,0105 ano'1 ou 1,05 %). Apesar de o método
prover apenas valores aproximados dos coeficientes da dinâmica da matéria
orgânica nas diferentes regiões, estes auxiliam no entendimento da
importância de práticas de manejo do solo que determinem altas adições
de C e N ao solo, bem como a diminuição da taxa de decomposição da
matéria orgânica do solo, para o desenvolvimento de sistemas sustentáveis
de produção em regiões tropicais e subtropicais.
Com o não-revolvimento do solo no sistema plantio direto (Figura 6), a
quantidade de C necessária para manter os estoques estáveis de C orgânico
no solo (dC/dt = zero) no Sul do Brasil reduziu para 4,4 t ha'1 ano'1, em
comparação à quantidade de 8,5 t ha'1 ano'1 necessária no solo em preparo
convencional. Isso se deveu ao fato de que a taxa de decomposição da
matéria orgânica no solo diminuiu de 3,2 % (k2 = 0,032 ano'1), no solo em
preparo convencional, para aproximadamente 1,7 % (k2 = 0,017 ano'1) no
solo em plantio direto, considerando-se o valor de ki de 0,125 ano'1
(Figura 6). A alteração nos regimes de temperatura e umidade do solo, o
menor fracionamento e a não-incorporação dos resíduos vegetais
diminuindo o contato solo-resíduo e, principalmente, a proteção física da
matéria orgânica no interior dos agregados do solo, são fatores fundamentais
na diminuição da decomposição microbiana da matéria orgânica em solos
sob plantio direto (Feller & Beare, 1997; Balesdent et al., 2000). Utilizando
diferentes métodos de cálculo, Lovato (2001) estimou taxas de
decomposição de 4,9 % (k2 = 0,049 ano’1) no solo em preparo convencional
e de 2,5 % (k2 = 0,025 ano'1) no solo em plantio direto, que são valores
coerentes, mas um pouco superiores aos obtidos a partir da interpretação
dos resultados da figura 6. Os valores mais elevados se devem, em parte,
ao fato de que este autor utilizou um valor fixo de 0,20 para k-j, proposto
por Cerri (1986).
Experimento de longa duração conduzido no Sul do Brasil, interpretado
anteriormente para a obtenção dos valores de ki e k2, relatado por Lovato
(2001), permite avaliar o efeito de práticas de manejo na recuperação dos
estoques de C e N de solos degradados. Na figura 7, pode-se verificar o efeito
de diferentes combinações dos preparos de solo (PC e PD), sistemas de cultura
(aveia/milho e aveia + ervilhaca/milho + caupi) e doses de N (0 e 139 kg ha'1)
nos estoques de C e N de um Argissoio Vermelho. O cultivo por 15 anos
(de 1969 a 1983) do solo originalmente sob campo nativo (44,76 t ha'1 de

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 229

C e 3,62 t ha’1 de N na camada de 0 - 17,5 cm), associado a práticas


inadequadas de manejo, resultou na diminuição de 12,21 t ha’1 no estoque
de C e 0,91 t ha'1 no estoque de N do solo. Nesta condição de solo
degradado (32,55 t ha'1 de C e 2,71 t ha’1 de N) foi instalado o experimento
para avaliar a recuperação dos estoques de C e N do solo. Verificou-se
que, após 14 anos, o sistema com revolvimento do solo (alto k2) associado
a baixa adição de resíduos vegetais no sistema aveia/milho sem adubação
nitrogenada (A - 4,11 t ha’1 ano'1 de C) resultou num declínio continuado
dos estoques de G e N do solo. Por outro lado, a associação do sistema
plantio direto (baixo k2) com o sistema aveia+ervilhaca/milho + caupi e

----------------- 1998 ------------------


Figura 7. Efeito de sistemas de preparo de solo, sistemas de cultura e da
adubação nitrogenada nos estoques de carbono (a) e nitrogênio (b) de
um Argissolo Vermelho (0 - 17,5 cm) no Sul do Brasil. PC = preparo
convencional; PD = plantio direto; A = aveia; V = ervilhaca; M = milho,
C = caupi; SN = sem nitrogênio; CN = com nitrogênio.
Fonte: Lovato (2001).

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


230 J. MIELNICZUK et al.

adubação nitrogenada (A = 8,14 t ha*1 ano*1 de C) resultou na recuperação


de 7,09 t ha*1 nos estoques de C e de 1,01 t ha*1 nos estoques de N do
solo, em comparação ao início do experimento, atingindo valores
semelhantes aos observados no solo em campo nativo, principalmente no
caso do N.
Diversos estudos têm demonstrado que a baixa disponibilidade de N é
o principal fator limitante à produção de biomassa vegetal em solos
degradados (Bayer & Mielniczuk, 1997; Burle et al., 1997; Amado et al.,
2001), com todas as implicações que isso representa para a recuperação
dos estoques de matéria orgânica e demais propriedades físicas, químicas
e biológicas do solo. Nesse sentido, ênfase deve ser dada à inclusão de
leguminosas em sistemas de culturas quando se visa a recuperação dos
estoques de C e N do solo. Estas espécies, além do C fotossintetizado que
adicionam ao solo pela biomassa vegetal, adicionam também, via resíduos
vegetais, o N2 atmosférico fixado simbioticamente. A mineralização do N
dos resíduos e o N orgânico acumulado no solo aumentam o suprimento
deste nutriente para as espécies não-leguminosas que participam do
sistema de rotação, o que contribui para a maior adição de C fotossintetizado
ao solo. Esse efeito das leguminosas pode ser observado na figura 7, em
que a inclusão de duas leguminosas (ervilhaca e caupi) no sistema de
culturas aumentou os estoques de C e N do solo em plantio direto e diminuiu
o efeito da adubação nitrogenada no que se refere ao acúmulo de C e N no
solo, em comparação ao sistema de culturas composto exclusivamente por
gramíneas. Efeitos semelhantes nos estoques de matéria orgânica do solo
podem ocorrer pela utilização de adubação nitrogenada (Lovato, 2001).
Como decorrência do efeito diferenciado dos sistemas de preparo sobre
a dinâmica da matéria orgânica em função da textura e mineralogia do
solo, das condições climáticas e das quantidades de resíduos vegetais e N
que os sistemas de cultura adicionam ao solo, ocorrem taxas variadas de
acúmulo líquido de C e N em solos sob plantio direto. As taxas de acúmulo
variam de nulas (Wander et al., 1998; Needeiman et al., 1999) a valores
relativamente elevados. Lai et al. (1999) estimaram taxas de acúmulo de C
sob plantio direto entre 0,10 e 0,5 t ha*1 ano*1 de C para solos dos Estados
Unidos. Na região tropical do Cerrado brasileiro foram determinadas taxas
de acúmulo de C orgânico no solo que variam de valores próximos a zero
(Roscoe et al., 2001) até valores de 0,15 - 0,69 t ha*1 ano'1 (Bayer et al.,
2001a). No País, as maiores taxas têm sido verificadas no Sul, variando
de 0,15 a 0,94 t ha'1 ano*1 de C (Bayer et al., 2001b). Portanto, ao contrário
do que inicialmente se pensava, as taxas de acúmulo de C em solos tropicais

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 231

e subtropicais em plantio direto podem ser inclusive superiores àquelas


verificadas em solos de regiões de clima temperado, e isso pode representar
um importante aspecto quanto à contribuição do sistema plantio direto no
seqüestro do CO2 atmosférico pelo solo e mitigação das alterações
climáticas globais motivadas pelo efeito estufa antrópico. No contexto do
Protocolo de Quioto, torna-se importante também que o sistema plantio
direto seja certificado como uma atividade que atua na redução das
emissões, de modo que possa ser efetivamente incluído nos acordos de
créditos por emissão de C.

MODELAGEM DA DINÂMICA DO CARBONO


E NITROGÊNIO NO SOLO

Os modelos matemáticos buscam representar a realidade de uma forma


simplificada (Addiscott, 1993). Embora possam ser entendidos como
importantes ferramentas para o caso específico do desenvolvimento de
sistemas de manejo sustentável, seu uso também tem sido visto com
reservas. A evolução dos modelos acompanhou o desenvolvimento
acelerado da capacidade e velocidade de trabalho dos computadores e de
sua relativa disponibilidade, levando ao uso indiscriminado e provocando
críticas como as de Philip (1972), Sinclair & Seligman (1996) e Monteith
(1996). Estas se devem principalmente ao uso de relações empíricas em
detrimento de bases mecanísticas nos modelos, atribuídas arbitrariamente
na forma de coeficientes, mas também por terem contribuído muito pouco
para a real solução dos problemas a que se propuseram (Monteith, 1996).
Certamente há fundamento em algumas dessas ressalvas, embora não
se apliquem a todas as situações. Favoravelmente, contudo, Boote et al.
(1996) e Addiscott (1993) ressaltam que a utilidade dos modelos baseia-se
principaimente na possibilidade de se extrapolarem resultados
experimentais para períodos de tempo mais longos, podendo constituir-se
em instrumentos valiosos, seja na pesquisa ou no apoio a tomadas de
decisão, inclusive com redução de custos. Conforme Sinclair & Seligman
(1996), a elaboração inteligente, consistente e transparente das idéias,
assim como a observação, experimentação e experiência, não deverão ser
substituídas pelo uso de modelos, e sim apoiadas por eles.
Já foi comentado anteriormente que os solos podem se comportar como
fonte ou dreno de C e N, uma vez que estão sujeitos a mudanças à medida
que seu uso é alterado (Greenland, 1995). Levando-se em consideração

Tópicos Ci. Solo, 3;209-248, 2003


232 J. MIELNICZUK et al.

que, no primeiro metro superficial, os solos armazenam o dobro da


quantidade de C presente na atmosfera e mais de três vezes a da biomassa
vegetal terrestre e que existem no mundo pelo menos 2 x 109 ha de solos
com algum grau de degradação, pode-se afirmar que o uso de sistemas de
manejo conservacionistas teria o potencial de gerar impacto significativo
sobre a concentração dos gases associados ao efeito estufa, como CO2 e
NOX (Lai et al., 1995). Alie-se a isso o fato de que estes elementos são
constituintes da matéria orgânica do solo e que esta também é necessária
para a manutenção da sua fertilidade e contribui significativamente para a
ciclagem de nutrientes e de resíduos antropogênicos, sendo, portanto,
essencial para que o solo possa desempenhar suas funções básicas e
apresentar qualidade (Vezzani, 2001). Assim, o estudo do efeito da
interferência do homem sobre a dinâmica e a capacidade de armazenamento
destes elementos pelos solos, seja pelo aspecto da manutenção da
capacidade produtiva, ou pela perspectiva ambiental relacionada ao
seqüestro de C e N, é de fundamental importância para o entendimento
dos processos envolvidos.

Os principais fatores relacionados com a dinâmica da matéria orgânica


do solo já foram identificados, mas a diferenciação dos graus de importância
entre cada um deles só ocorreu mais recentemente. A combinação de
dados de experimentos de campo com os obtidos em ambiente controlado,
em laboratório, permitiu quantificar o impacto daqueles fatores via
modelagem (Parton et al., 1996).

Os modelos mais simples usados para descrever a dinâmica da matéria


orgânica do solo são unicompartimentais e baseados em equações
diferenciais de primeira ordem. Um exemplo desse tipo de modelo, conforme
referido anteriormente, é o proposto por Henin & Dupuis (1945) e aplicado
por Woodruff (1949) para o N, tendo sido posteriormente adaptado e usado
para o C por Dalal & Mayer (1986), Bayer (1996), Andriullo et al. (1999) e
Lovato (2001). O maior problema no uso desses modelos consiste em
considerar a matéria orgânica como um componente uniforme do solo com
uma taxa média de decomposição.

Sabendo, entretanto, que os compostos orgânicos ciciam em tempos


variáveis no solo, devido a diferentes mecanismos simultâneos de sua
estabilização no solo, pode-se construir um modelo que considere essas
particularidades. Isso é possível nos modelos multicompartimentais, como
o CENTURY, proposto por Parton et al. (1987). Neste modelo, a divisão da
matéria orgânica do solo em diferentes compartimentos, com tempos

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relaçào com os Estoques de Carbono... 233

distintos de permanência, imita a dinâmica nos compartimentos no solo


como um todo. Essa tarefa é realizada aplicando-se taxas de decomposição
diferenciadas para cada compartimento e fluxos de compostos orgânicos
entre os compartimentos, dependentes do material adicionado e das
características do solo. Modificadores dessas taxas, relativos ao clima e
ao manejo, também são utilizados. Uma das vantagens desses modelos é
permitir simular essa dinâmica em cenários de manejo, constituídos por
blocos definidos ao longo do tempo, tarefa mais difícil de ser realizada por
modelos unicompartimentais.
O modelo CENTURY (Parton et al., 1987; Metherell et al., 1994) tem
mostrado acurácia em diversos biomas naturais e cultivados, tipos de solo
e climas (Kelly et al., 1997; Smith et al., 1997). No Brasil, foi aplicado por
Silveira et al. (2000), Vezzani (2001), Fernandes (2002) e Debarba (2002),
entre outros. É composto por submodelos interligados relacionados à
dinâmica de C, N, S, P, água e plantas (culturas, pastagens, florestas e
savanas). O submodelo do C apresenta oito compartimentos, de acordo
com o tempo médio de ciclagem (taxas de permanência) e com as
características de decomposição da matéria orgânica do solo (Kelly et al.,
1997). Quatro compartimentos são de adição, representados pelas adições
da parte aérea (estrutural e metabólico) e das raízes (estrutural e
metabólico) das plantas; há um compartimento relativo à biomassa
microbiana sobre o solo e três compartimentos do solo propriamente dito.
Portanto, o C presente no solo é dividido em dois compartimentos de adição,
metabólico (CMSo) e estrutural (CESo) do solo, oriundos do sistema planta
(raízes e parte aérea incorporada), cuja partição pelo modelo se dá em
decorrência da relação lignina/N do resíduo, e em três compartimentos de
solo propriamente dito, ativo (COA), lento (COL) e passivo (COP), conforme
pode ser observado no quadro 1. A taxa de permanência dos compostos
orgânicos em cada compartimento pode variar desde um mês (CMSo) a
2.000 anos (COP) (Metherell et al., 1994). A soma dos compartimentos do
C presente no solo representa o carbono orgânico total (COT) do solo.
Para exemplificar a aplicação da modelagem da dinâmica de C e N,
serão apresentados a seguir dois trabalhos. No primeiro, usaram-se
simulações para 180 anos (1900 a 2080) com o modelo CENTURY v. 4.0
(Parton et al., 1987; Metherell et al., 1994), comparando-se os valores
simulados do COT com os resultados obtidos com os diferentes manejos
em um experimento de longa duração. O segundo aborda a evolução dos
estoques de COT do solo em quatro cenários de manejo de um solo no
Planalto Riograndense, em um período de 150 anos (1900 a 2050).

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


234 J. MIELNICZUK et al.

No quadro 2 consta o histórico de manejo da área experimental da


UFRGS, localizada no município de Eldorado do Sul (RS), onde foi instalado,
em 1985, o experimento com sistemas de preparo de solo, sucessão de
culturas e adubação nitrogenada. Os dados de C e N no solo obtidos neste
experimento foram apresentados e discutidos no item anterior (Figura 7)
para os tratamentos extremos. Os resultados gerados de COT com o modelo
CENTURY v. 4.0 são apresentados na figura 8a, para os tratamentos sem
N, e na figura 8b, com adição de N, em que os pontos representam os
valores experimentais observados e as linhas, os valores simulados.
Verifica-se na figura 8a, sem adição de N, que os sistemas de cultura e
preparos de solo afetaram os estoques de C no solo. Enquanto o sistema
com leguminosas sob plantio direto (PD-A + V/M + C) aumentou o estoque,
o mesmo sistema de culturas sob preparo convencional (PC-A + V/M + C)
apenas manteve a quantidade original de C do solo. Por outro lado, os
sistemas sem leguminosas, tanto sob plantio direto como sob preparo
convencional, proporcionaram redução dos estoques de C no solo. Essas
tendências observadas experimentalmente no período de 14 anos (1985-
1998) foram magnificadas quando extrapoladas para períodos mais longos
pelo modelo. Os resultados decorrem da adição de N nos sistemas com
leguminosas e de sua contínua exportação nos sistemas só com gramíneas.
O efeito desses dois processos a longo prazo reflete-se na produção de
biomassa pelos sistemas, afetando o estoque de C no solo. Quando foi
aplicado N mineral (Figura 8b), o sistema com gramínea sob plantio direto

Quadro 1. Distribuição dos compartimentos de C do solo sob vegetação no


modelo CENTURY v.4.0.

Proporção Tempo de
Compartimento0’ Sigla Composição
do total Permanência

% ano

Metabólico CMSo Resíduos vegetais de fácil decomposição - 0,1 a 1

Resíduos vegetais de decomposição mais


Estrutural CESo - 1a5
difícil, como celulose, hemicelulose e lignina

Biomassa microbiana e produtos de 4- 5


Ativo COA até 3
exsudação

Material vegetal resistente e produtos


Lento COL 30 - 70 20- 50
estabilizados no solo

Material muito resistente à decomposição, 400 - 2.000


Passivo COP 30 - 50
estabilizado física e quimicamente

(1)O carbono orgânico total do solo (COT) é representado pela soma dos compartimentos.
Fonte: Parton et al. (1987), Metherell et al. (1994) e Leal (1996).

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono. .. 235

Quadro 2. Descrição dos eventos de manejo usados na simulação dos


estoques de C orgânico pelo modelo CENTURY v. 4.0 na camada de
0 - 20 cm de um Argissolo Vermelho distrófico, em Eldorado do Sul (RS)

Adição anual de C pelo


sistema de cultura Perda de
Tratamento Período Evento
solo
0 kg ha’1 de N 138 kg ha’1 de N

CN 1900-1969 campo nativo 596 - 0


com pastejo leve

CG 1970-1984 preparo convencional - 469 100


colza/girassol

PC-A/M 1985-2080 preparo convencional 411 725 100


aveia/milho

PC-A + V/M + C 1985-2080 preparo convencional 679 814 100


aveia + ervilhaca/milho
+ caupi

PD-A/M 1985-2080 plantio direto 411 725 100


aveia/milho

PD-A + V/M + C 1985-2080 plantio direto aveia + 679 814 100


ervilhaca/milho + caupi

Fonte: Fernandes (2002).

(PD-A/M) superou o sistema com leguminosas e preparo convencional (PC-


A + V/M + C), evidenciando o efeito positivo da aplicação do N mineral e o
efeito negativo do revolvimento do solo sobre o estoque de C orgânico, já
discutidos no item anterior.
Na figura 9 estão representados, em cortes no tempo (1965, 1985,1998
e 2080), os resultados obtidos com a simulação dos compartimentos de C
do solo de dois tratamentos sem aplicação de N: PC-A/M (Figura 9a) e PD-
A + V/M + C (Figura 9b). Conforme o modelo, a redução dos estoques de
COT no solo ocorre devido principalmente à redução do compartimento
lento (COL). Este diminuiu de 50,9 % no campo nativo (CN) para 14,9 %
no sistema PC-A/M em 2080. Da mesma forma, a recuperação do COT no
solo proporcionada pelo sistema de manejo PD-A + V/M + C ocorreu pela
recuperação do COL, o qual passaria de 37,4 % em 1985 (início da utilização
do sistema) para 43,6 % em 2080. Os resultados obtidos são coerentes
com a afirmação de que as frações da matéria orgânica menos protegidas
(COL) são mais afetadas pelo manejo (Duxbury et al., 1989). A aplicação
de N ao sistema só de gramíneas teve efeito semelhante ao de leguminosas
sobre os compartimentos de C do solo.

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


236 J. MIELNICZUK et al.

6,000
(a)

5.000 CN
------------------------ PD - A+V/M+C

CG
4.000 PC - A+V/M+C

• PC - A/M obs.
3.000 © PC - A+V/M+C obs.
X. PD-A/M
▼ PD - A/M obs.
PD - A+V/M+C Obs.
2.000 PC-A/M
CMi
E
O)

O
D.UUU -J
(b)

5.000 CN -
PD - A+V/M+C
-— PD-A/M
4.000 CG *. Z'
’ PC - Á+V/M+C
PC-A/M

3.000

2.000

1900 1950 2000 2050 2100


Tempo, ano
Figura 8. Simulação dos estoques de carbono orgânico total (COT) na camada
de 0 - 20 cm de um Argissolo Vermelho distrófico, pelo modelo
CENTURY v. 4.0, sob diferentes sistemas de preparo e de sucessão de
culturas, na ausência de adubação nitrogenada (a) e com 138 kg ha'1 de
N (b). Os símbolos representam os estoques de COT do solo
determinados por Freitas (1988) em 1985 e Lovato (2001) em 1998. CN =
campo nativo; CG = experimentos com colza e girassol em preparo
convencional; PC-A/M = preparo convencional aveia/milho; PC-A + V/M +
C = preparo convencional aveia+ervilhaca/ milho+caupi; PD-A/M = plantio
direto aveia/milho; PD-A + V/M + C = plantio direto aveia + ervilhaca/
milho + caupi.
Fonte: Fernandes (2002).

No quadro 3 estão descritos quatro cenários de manejos de solo


aplicados em uma área com vegetação original de floresta subtropical, com
o objetivo de simular os estoques de COT no período de 1900 a 2050 por
meio do modelo CENTURY. Os cenários envolvem corte da floresta e um
período comum a todos os cenários com culturas coloniais e preparo do

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 237

6.000 t

5.000 -
CM
E 4.000 -
CD
3.000
Ó*
ü 2.000 -COT
COP
1.000 |
-COL

CN 1965 CG 1985

6.000

5.000
■COT
CM
4.000
E
O)
3.000
Ó COL
Q 2.000 COP

1.000
COA
0
1900 2000 2050
\ Tempo, ano

CN 1965 CG 1985 PD-A+V/M+C 1998 PD - A+V/M+C 2080

Figura 9. Dinâmica dos compartimentos do carbono orgânico (CO) no solo e


sua distribuição percentual, simuladas pelo modelo CENTURY v. 4.0, em
cortes no tempo, para um Argissolo Vermelho sob (a) preparo
convencional na sucessão aveia/milho (A/M) e (b) sob plantio direto e
sucessão aveia + ervilhaca/milho + caupi (PD-A + V/M + C), na ausência
de adubação nitrogenada. CN = campo nativo; CG = experimentos com
colza e girassol em preparo convencional; COA = compartimento ativo;
COL = compartimento lento; COP = compartimento passivo; COT = carbono
orgânico total; outros = demais compartimentos de carbono.
Fonte: Fernandes (2002).

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


238 J. MIELNICZUK et al.

Quadro 3. Descrição dos cenários e eventos de manejo utilizados na


simulação para um Latossolo Vermelho pertencente à Unidade de
Mapeamento Santo Ângelo, do Planalto Riograndense com vegetação
original de floresta subtropical

Cenário Adição Perda


de Período Eventos de manejo(1) de de solo
manejo carbono por erosão

— t ha'1 ano'1 —

1 1900 Corte da floresta, retirada de 90 % da madeira e queima do restante - -


1901-1970 Culturas coloniais, preparo do solo com tração animal (Cult. colon.) 2,8 2,0
1971-2050 PC trigo/soja, queima anual da palha de trigo (PC TS c/Q) 2.7 12,0

2 1901-1970 Culturas coloniais, preparo do solo com tração animal (Cult. colon.) 2,8 2,0
1971-1980 PC trigo/soja, queima anual da palha do trigo (PC TS c/Q) 2,7 12,0
1981-2050 PR trigo/soja, sem queima da palha do trigo (PR TS s/Q) 3,2 4,0

3 1901-1970 Culturas coloniais, preparo do solo com tração animal (Cult. colon.) 2,8 2,0
1971-1980 PC trigo/soja, queima anual da palha do trigo (PC TS c/Q) 2,7 12,0
1981-1990 PR trigo/soja, sem queima da palha do trigo (PR TS s/Q) 3,2 4,0
1991-2050 PD trigo/soja, aveia/soja, aveia/milho (PD TS AS AM s/Q) 5,4 1,5

4 1901-1970 Culturas coloniais, preparo do solo com tração animal (Cult. colon.) 2.8 2,0
1971-1980 PC trigo/soja, queima anual da palha do trigo (PC TS c/Q) 2,7 12,0
1981-1990 PR trigo/soja, sem queima da palha do trigo (PR TS s/Q) 3,2 4,0
1991-2050 PD trigo/soja, aveia/milho (PD TS AM s/Q) 5,9 1,5

(1)PC: preparo convencional; PR: preparo reduzido; PD: plantio direto.


Fonte: Debarba (2002).

solo com tração animal (1901 até 1970). A partir desta data, o cenário 1
prevê a utilização de preparo mecanizado convencional, com trigo e soja, e
queima anual da palha do trigo, até 2050. Os cenários 2, 3 e 4 mantêm
estas práticas somente no período de 1971 até 1980. No período de 1981
a 1990 foi introduzido o preparo reduzido sem queima da palha do trigo,
permanecendo o cenário 2 com estas práticas até 2050. Nos cenários 3 e
4 foi introduzido o plantio direto com rotação de culturas de baixa (cenário 3)
e de alta (cenário 4) adição de C, até 2050. A cada cenário corresponde
uma adição de C ao solo, bem como uma taxa de perda de solo por erosão
(Quadro 3).

Os resultados dos estoques de C orgânico numa camada de 0 - 20 cm,


obtida pela simulação dos cenários por meio do modelo, encontram-se na
figura 10. Os valores representam os estoques de COT da camada de
solo, em que as perdas por erosão da camada superficial foram
compensadas pelo modelo, com a camada imediatamente inferior.

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 239

1900 1970 1980 2050


l r- T" ----- 1
E Ccn. 1 —Cult. Colon.—► — -►
Cen. 2 —Cult. Colon.- —►
A Cen. 3 —Cult. Colon.- PD TSASAM —►
❖ Cen. 4 —Cult. Colon.- PD TSAM —►

Ano

Figura 10. Simulação do estoque de carbono orgânico total (COT) na camada


de 0 - 20 cm de um Latossolo Vermelho (Unidade de Mapeamento Santo
Ângelo) pelo modelo CENTURY v. 4,0, com a compensação do carbono
orgânico perdido por erosão, a partir da condição original de floresta
subtropical. A descrição dos eventos de manejo nos respectivos cenários
é apresentada no quadro 3.
Fonte: Debarba (2002).

Observa-se na figura 10 que o modelo, ao estimar o COT da camada,


foi sensível à variação das práticas de manejo nos períodos que envolveram
a aplicação dos diferentes cenários. Dessa forma, com a utilização do
cenário 1 de 1900 a 1970 e do cenário 2 de 1970 a 1980, o estoque original
de COT (65,26 t ha’1 em 1900) reduziu para 41,38 t ha*1 em 1980 e para
28,96 t ha’1 em 2050. A adoção do preparo reduzido no cenário 2 em 1980
interrompeu a tendência de queda nos estoques observada no cenário 1.
Quando foram introduzidos o plantio direto e as rotações de culturas a partir
de 1990, houve nítida recuperação dos estoques de COT, com efeito maior

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


240 J. MIELNICZUK et al.

no cenário 4, que inclui uma rotação de culturas com maior adição de


resíduos. Os dados representados na figura 10 não podem ser usados
diretamente para o cálculo da emissão de CO2 pelo solo. Para este cálculo
são necessárias simulações sem a compensação automática das perdas
por erosão pelo COT da camada subjacente, assim como a contribuição
em CO2 emitido da decomposição da matéria orgânica removida por erosão.
Pelos resultados obtidos, verifica-se que o modelo apresentou
estimativas de COT coerentes, indicando o seu potencial para a estimativa
dos efeitos de manejo sobre o COT do solo em diferentes cenários de
manejo. As simulações dos estoques de N total do solo (NT) seguiram a
mesma tendência observada para o COT, porém com valores
superestimados (dados não apresentados). Esses resultados demonstram
a necessidade de reavaliação dos coeficientes do submodelo do N, para a
sua utilização em ambientes tropicais e subtropicais.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil é um país essencialmente tropical, com predominância de clima


quente e úmido, durante o ano todo ou parte dele (Cerrados), e solos
altamente intemperizados. Historicamente, no Brasil foram utilizados
sistemas convencionais de manejo, caracterizados pelo intenso
revolvimento, que se mostraram inadequados, causando severa degradação
e erosão hídrica dos solos agrícolas. Pesquisas iniciadas na região Sul do
Brasil, a partir dos anos 70 do século passado, demonstraram ser
necessário e possível desenvolver sistemas agrícolas menos destrutivos,
baseados no manejo adequado da cobertura por plantas e seus resíduos e
no mínimo revolvimento do solo.
Com base nessas pesquisas e na crescente literatura internacional sobre
manejo de solos em regiões tropicais e subtropicais, foram implantados
diversos programas de extensão na região. Os programas tiveram boa
aceitação entre os agricultores, com ampla adoção de práticas
conservacionistas, especialmente a cobertura do solo, a redução do
revolvimento e o plantio direto. A divulgação desses exemplos positivos
está motivando a adoção das práticas em outras regiões do País, com
excelentes resultados.
Inicialmente, as práticas de manejo correto da cobertura do solo e a
redução do revolvimento foram introduzidas para o controle da erosão.
Controlada a erosão, atualmente grande esforço está sendo canalizado

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


Manejo de Solo e Culturas e sua Relação com os Estoques de Carbono... 241

pela pesquisa no entendimento do efeito dessas práticas sobre a


recuperação da qualidade do solo e o papel do solo na manutenção da
qualidade ambiental. Os resultados obtidos mostram que é possível utilizar
o solo nas regiões tropicais e subtropicais para a produção de alimentos,
geração de riquezas e, ainda, melhorar sua qualidade e a do ambiente.
Os avanços na pesquisa e na adoção de sistemas conservacionistas de
manejo no Brasil foram muito significativos até o momento. Grandes desafios
ainda existem para estender essas conquistas para todo o País. O contínuo
aprimoramento dos sistemas também se faz necessário, mesmo nas regiões
onde as práticas já estão sendo plenamente adotadas. Centram-se essas
necessidades no aumento da biodiversidade dos sistemas agrícolas pela
substituição das monoculturas por sistemas de rotação de culturas cada
vez mais complexos, com utilização intensiva de plantas e grande aporte
de resíduos culturais sobre o solo durante todo o ano.

LITERATURA CITADA

ADDISCOTT, T.M. Entropy and sustainability. Eur. J. Soil Sei., 46:161-168, 1995.

ADDISCOTT, T.M. Simulation modelling and soil behaviour. Geoderma, 60:15-40, 1993.

AMADO, T.J.C.; BAYER, C.; ELTZ, F.L.F. & BRUM, A.C.R. Potencial de plantas de cobertura
em acumular carbono e nitrogênio no solo no plantio direto e a melhoria da qualidade
ambiental. R. Bras. Ci. Solo, 25:189-197, 2001.

AMERICAN JOURNAL OF ALTERNATIVE AGRICULTURE. Soil quality. Greenbelt, Institute


for Alternative Agriculture, 1992. 93p. (Special Issue, v.7, n.1-2)

ANDRIULLO, A.; MARY, B. & GUERIF, J. Modelling soil carbon dynamics with various cropping
sequences on the rolling pampas. Agronomie, 19:365-377, 1999.

BALESDENT, J. & BALABANE, M. Maize root-derived soil organic matter estimated by


natural 13C abundance. Soil Biol. Biochem., 24:97-101, 1992.

BALESDENT, J. & BALABANE, M. Major contribution of roots to soil carbon storage inferred
from maize cultivated soils. Soil Biol. Biochem., 28:1261-1263, 1996.

BALESDENT, J.; CHENU, C. & BALABANE, M. Relationship of soil organic matter dynamics
to physical protection and tillage. Soil Till. Res., 53:215-230, 2000.

BALESDENT, J.; MARIOTI, A. & GUILLET, B. Natural 13C abundance as a tracer for soil
organic matter dynamics studies. Soil Biol. Biochem., 19:25-30, 1990.

BAYER, C. Dinâmica da matéria orgânica em sistemas de manejo de solos. Porto Alegre,


Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 1996. 241 p. (Tese de Doutorado)

BAYER, C. & MIELNICZUK, J. Conteúdo de nitrogénio total num solo submetido a diferentes
métodos de preparo e sistemas de cultura. R. Bras. Ci. Solo, 21:235-239, 1997.

Tópicos Ci. Solo, 3:209-248, 2003


08/11/2022

MANEJO DA MATÉRIA ORGÂNICA DO


SOLO (MOS)

Fixação do C nas plantas


lJ

Atthe cell levei:


HgO
chlorophyll
(green plant
absorbs sunlight)

General Photosyntliesis. chemical reaction


sunlight
6CO2 + 6H2O --------------- * *■ CgH j 2 Og ■+ 6O2
sunlight
carbon + water --------------- * sugar (glucose) + oxygen

1
08/11/2022

ORIGEM DO CARBONO DO SOLO

Na floresta:

ORIGEM ÚNICA
PLANTAS C3

ORIGEM DO CARBONO DO SOLO


MUDANÇA DA
VEGETAL

Carbono
introduzido
AO pela cultura
A_A
Carbono
remanescente
da floresta
ÚNICA DUAS
ORIGEM ORIGENS

2
08/11/2022

Conversão do C da palha e perdas via oxidação pela


microbiota

Decomposição
Palhada
resíduos

Conversão do C das raizes e perdas via oxidação pela


microbiota

Raízes Decomposição

60%
CQ

3
08/11/2022

4
08/11/2022

Estoque de Carbono nos solos Brasileiros e no Mundo

8,5 milhões km2 - 72 Pg (lm) e 105 Pg (2m


de profundidade) - corresponde a 40% de
todo o C armazenado nos solos da América
Latina (Bernoux & Volkoff, 2006) -
concentrações variam entre -0,5 a 0,9
t ha1 ano1

No mundo (12,8 bilhões de ha) -


1.576 Pg de C estocados até lm de
profundidade (Eswaran et al., 1993)

787 Pg em solos sob florestas

500 Pg em solos sob pastagens


TT-

Observação: 1 Pg (Petagrama) - 1015 gramas 170 Pg em solos sob cultivo agrícola

Ministério da
Agricultura. Pecuária
• Abactacimento

conve - 'í
■tf- à z
vegetaçao nativa em area
agrícola no Carbono e nos
atributos do solo?
Macroaggregate

Recent mulch
OW mulch

5
08/11/2022

Mecanismos de armazenamento (sequestro) de C


no solo

O preparo do solo rompe a estrutura expondo a MO protegida dentro


dos agregados ao ataque microbiano

6
08/11/2022

•••

Fonte: Tivet et al. (2013)

7
08/11/2022

lixiviado)]

Saída de C

Biomassa rn í h
LU2 liberado + w transportado e lixiviado
(Resíduos culturais) .
V
Y '
C 1
' í.
perdas
11 , JL ».

©COT = C Biomassa - C Perdas


___________________________________

8
08/11/2022

Balanço de C
Entradas e saídas de C causadas pelo manejo do solo

9
08/11/2022

Alterações da MOS em função do manejo do solo


Conversão da vegetação natural
Início do uso agrícola

T3

■o
<
X
O
Q.
E
o

10
08/11/2022

Perda de C devido ao preparo do solo associado com a


monocultura em três regiões climáticas contrastantes

Região Tempo de Perda de Taxa anual Referência


Climática Cultivo C ío/\

Campbell e Souster,
Temperada
1982
(Canadá- 50 48-58 1,0
EUA)
Sá et al, 2001
Sub-tropical (P.
Grossa) 35 3,5

Tropical (GO N Resck, 1998

' 35-69 7,0 a 13 Seguy e Bouzinac,


-MT) 5
2002

Tx. de conversão:
C-resíduos para C-solo

Sub-tropical = 14 a 26,4% 85,7


Tropical = 11 a 20,5% 12° <

Adição de 1.0 ton de


de C via palhada

Fonte: Sá et al. SSSAJ 2001; Sá et al., Edafologia 2006; Tivet et al., 2013, Soil Tillage Research; Sá et al., 2014, Soll and

11
08/11/2022

Sistemas de preparo x acúmulo de C no solo

Estoque de C Tempo de Variação em relação ao Cerrado nativo


no solo adoção Estoque de C no Taxa de acúmulo
Sistema de uso solo ou perda
Mg ha 1 ano1 Ano —Mg ha 1 ano 1.................

Cerrado 133

Grade pesada 125 12 -8 -0,67


Arado de disco 128 15 -5 -0,33

Pastagem
150 18 +17 +0,94
cultivada

Eucalipto 148 12 +15 +1,25

Plantio direto 155 15 +22 +1,47

Fonte: modificado de Corazza et al. (1999)

Estoques de COT sob influência de


sistemas de uso e manejo do solo

Estoques de COT no solo:


entradas
dC/dt (t ha-1) = (kjÁJ-fkjCj
onde: Taídas
C=conteúdo de COT no solo (t ha'1);
A=taxa anual de adição de C ao solo (t ha'1 ano'1)
K^coeficiente de humificação
K2=taxa de decomposição da COT no solo (ano'1)

12
08/11/2022

Fatores que afetam o acúmulo de MOS

-Adição de resíduos vegetais -

C = K1 . A____
k2
- Preparo do solo
-Textura e mineralogia do solo
- Condições climáticas

Entradas de C (K1.A): I
Saídas de C (K2.C):
I
I
I

J Biomassa vegetal : J Decomposição da


I
I
I MOS
^Biomassa animal ;
I
I
I “Erosão”
J Em solos cultivados:: I

restos culturais I
I
Lixiviação
I
I
I

J Adubos orgânicos:;
estercos, lodo de esgoto,:
composto de lixo, tortas emi
geral, compostos em geral I

13
08/11/2022

Tx de Decomposição da MOS (k2)

Bayer et al. (2006)

14
08/11/2022

Redução da matéria orgânica devido ao


preparo convencional em monocultivos na
ecoregião tropical (Cerrado 13 to 11° LS)
Anos de Cultivo

49% de perda
em solo argiloso
(> 30%)

69% de perda
em solo arenoso
(< 15% argila)

Resck, 1998

15
08/11/2022

Anos
Bayer et al. (2000)

Preparos vs C orgânico total

16
08/11/2022

Evolução da matéria orgânica dos solos submetidos ao manejo


orgânico durante 10 anos (Incaper, 2000)

17
08/11/2022

Quantidade dos resíduos culturais


adicionados ao solo
Variação em função da vegetação nativa e condição climática:

> Região Subtropical (Sul): 6 a 7 t MS/ha/ano = sistema


estável (Bayer et al. 2004; Amado et al. 2006)

> Região Subtropical (baixas altitudes transição Sul-


Cerrado): 7,5 a 8 t MS/ha/ano = sistema estável (Sá et al.
2004, 2008)

> Região tropical (Cerrado, Norte e Nordeste): 10 a 12 t


MS/ha/ano = sistema estável (Bayer et al. 2006; Seguy et al.
2006)

18
08/11/2022

Condição básica para aumento do teor de


matéria orgânica do solo

As entradas de C devem ser maiores do que as


perdas na forma de gases e compostos
orgânicos solúveis

1) Reduzir as perdas por mineralização e/ou erosão


Mínima mobilização do solo

2) Aumentar a adição de carbono (biomassa vegetal


parte aérea e raízes) e nitrogênio

19

Você também pode gostar