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'10.37885/220910198
RESUMO
Mudanças constantes nos padrões de uso da terra e o manejo inadequado têm amea-
çado a estabilidade dos serviços ecossistêmicos essenciais, causando distúrbios am-
bientais. O Sistema Agroflorestal (SAF) garante a integridade ambiental do uso da terra
e desempenha um papel fundamental na sustentabilidade e diversificação da produção
agrícola. O trabalho teve como objetivo descrever as etapas dos conhecimentos empírico,
holístico e sistemático que envolvem o sistema agroflorestal, caracterizando as etapas de
planejamento, implementação, desenvolvimento e produção, adquirido durante a vivência
na Horta Rio Grande, município de Fronteira-MG. Foi organizado um curso teórico-prático,
realizado de março a novembro de 2017, com encontros mensais. Posteriormente, foi de-
finido o modelo a ser trabalhado, com maior diversidade de plantas, chamado de quintal
florestal, ou modelo consorciado e diversificado, com a finalidade de aumentar a diversidade
dos produtos a ser ofertado para a comunidade. Neste sentido e diante do que foi exposto,
a prática agroflorestal representa uma resposta ao desafio da conciliação entre a sustenta-
bilidade na produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental.
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rurais, por estarem associados à produção de alimentos e oferecerem produtos agrícolas
de qualidade, livre de agrotóxicos, em ambientes florestais, incrementando a geração de
renda em comunidades agrícolas.
Este trabalho tem como objetivo descrever as etapas dos conhecimentos empírico,
holístico e sistemático que envolvem o sistema agroflorestal, caracterizando as etapas de
planejamento, implementação, desenvolvimento e produção, adquirido durante a vivência
na Horta Rio Grande, município de Fronteira-MG.
DETALHAMENTO DA EXPERIÊNCIA
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anotados e descritos em tópicos nesse trabalho, juntamente com um levantamento teórico
sobre os sistemas agroflorestais, com base na agroecologia.
DISCUSSÃO
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A partir desta compreensão entende-se que os sistemas agroflorestais apresentam
maior capacidade de resiliência e maior sustentabilidade quando comparados ao sistema
convencional de cultivo e manejo do solo (CAPORA; PAULUS; COSTABEBER, 2009).
A produção integrada com a floresta aproveita todos os recursos existentes, mantendo
as principais dinâmicas ecológicas que a natureza levou milhares de anos para estabelecer,
diminuindo o gasto de energia com o manejo. Assim, Caldeira (2011) relata diferentes mo-
delos de SAF’s, onde deve ser elaborado um planejamento sobre como seria a produção a
curto, médio ou longo prazo, quais as variedades herbáceas, arbustivas e arbóreas que no
espaço escolhido melhor se adaptariam e a diversidade de cultivos. O referido autor exem-
plifica o planejamento das melhores variedades que se adaptariam na área escolhida e que
tenha uma produção constante durante as diferentes estações do ano, com uma variedade
de produtos satisfatória, diminuição de manutenção, aumento da diversidade faunística e
diminuição de pragas e doenças, sem necessidade de usar agrotóxicos.
O primeiro modelo exemplificado mostra que as plantas podem ser cultivadas em linhas
de forma ordenada, protegendo o solo com serapilheira, restaurando e fertilizando o solo
de forma natural, enriquecendo e alcançando o equilíbrio biológico. O segundo modelo de
SAF é aquele em que o cultivo imita a organização da natureza, oferecendo oportunidade
dos diferentes tipos de raízes ocuparem melhor os espaços do solo sem causar dano ao
seu desenvolvimento e aproveitando seus nutrientes, ajudando a manter sua estabilidade e
nos fazendo refletir que podemos garantir a soberania alimentar se nos preocuparmos com
a diversidade das espécies, com a proteção, o armazenamento e a disponibilidade de água
com qualidade (CALDEIRA, 2011).
Segundo o trabalho desenvolvido pelo Instituto IPOEMA, os estágios de uma agro-
floresta estão relacionados ao fator tempo, ou seja, ao ciclo de vida de cada consórcio de
plantas que escolhemos (ROCHA, 2014). Os estágios representam o conjunto de espécies
que predominam ao longo dos anos nas agroflorestas, valendo ressaltar que agrofloresta
não é um tema novo, vem sendo utilizado há milhares de anos. São eles:
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A coexistência de múltiplas relações em ambientes de SAF’s, corrobora com o desen-
volvimento qualitativo e quantitativo dos nichos ecológicos, incrementando a biodiversidade,
visto que, quanto maior a variação de relações e processos no conjunto das espécies, maior
será a diversidade funcional da agrofloresta, e consequentemente o funcionamento do ecos-
sistema em formação (DÍAZ; CABIDO, 2001). Segundo Caporal, Paulus e Costabeber (2009)
os SAF’s são classificados de acordo com a natureza e arranjo de seus componentes em:
Fonte: Korasaki, 2019 (Figuras. C e E); Unsplash.com. (Figuras. A, B, D e F). Disponível em: https://unsplash.com/s/photos/livestock.
Acesso em: 10 jul. 2020.
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Também são formas de cultivos agroflorestais praticados em regiões tropicais
(NAIR, 1985) os:
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transição de modelos simplificados em modelos de produção complexos por meio de estra-
tégias participativas e sistêmicas, reconhecendo o potencial endógeno e sociocultural local.
Implantação agroflorestal
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Nardele e Conde (2010) ressaltam que devem ser observadas características físicas locais
como relevo, solo, orientação das vertentes, vegetação nativa, direção e intensidade dos
ventos, disponibilidade de água, entre outros fatores, a fim de potencializar o desenvolvi-
mento da agrofloresta.
Os SAF’s devem imitar ao máximo a natureza na composição das espécies e no pro-
cesso de sucessão ecológica (BERTOLOTO, 2014). Odum e Barrett (2007) ressalta que
muitas espécies possuem comportamentos diferentes quando estão em conjunto com outras
espécies, assim, fatores como competição, mutualismo e simbiose devem ser considerados
no processo de implantação agroflorestal.
Tezza (2012) considera a importância da introdução de espécies de ciclo curto, médio
e longo, para fornecimento de produtos desde o primeiro ano de implantação, permitindo a
utilização de culturas perenes, que ao longo do tempo irão diminuir a demanda de mão de
obra, mas continuarão gerando renda aos proprietários. Outro aspecto a ser considerado na
implantação dos SAF’s é o movimento cíclico dos nutrientes, visto que as plantas absorvem
do solo e os usam nos processos metabólicos.
Gliessman (2005) discorre que nos ecossistemas a ciclagem de nutrientes está rela-
cionada ao movimento circular de fluxo de energia, e os nutrientes ao se decomporem são
novamente disponibilizados nas camadas mais superficiais, facilitando a absorção pelas
plantas. Visando a produção sustentável e sem necessidade de entrada de insumos ex-
teriores ao processo, é importante a utilização de espécies que servirão para adubação
verde e cobertura viva do solo, pois elas desempenham funções de fixação de nutrientes e
aumentam a taxa de matéria orgânica no solo (DANIEL et al., 2014).
A produção agroflorestal gera impactos positivos conforme as características funcionais
do ecossistema, neste sentido, o conjunto de informações socioeconômicas, associado às
potencialidades locais possibilitam o desenvolvimento adequado da agrofloresta.
Desenvolvimento agroflorestal
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para o consórcio e no segundo serão selecionados os indivíduos para produção de grande
quantidade de matéria orgânica.
Após a retirada da cobertura (viva e morta) que está sobre o solo, faz-se o plantio das
espécies selecionadas nos canteiros, aproveitando ao máximo o espaço e direcionando
sementes e mudas para que venham a ocupar da melhor forma possível seus estratos ao
longo do processo sucessional (SIMÕES, 1989). O plantio é realizado em “berços”, faixas
de terra no qual as plantas são semeadas, considerando suas necessidades de desenvol-
vimento e ciclos (curto, médio, longo).
Nas agroflorestas, ocorre manejo intensivo de plantas, especialmente no plantio, na
poda e na organização do material podado no solo. Todo o material podado é picado e co-
locado de maneira a facilitar o processo de decomposição, garantindo a cobertura do solo
e reduzindo a regeneração de espécies inadequadas àquele momento da sucessão da
agrofloresta, conforme explica Miccolis et al. (2016).
Desde que os sistemas atendam aos critérios ambientais, podem ser incluídas diver-
sas espécies com função de gerar diferentes benefícios para a família, como, segurança
alimentar, remédios, fibras, energia, entre outros. Uma vez escolhidas as principais espécies
a serem implantadas nos SAF’s, é possível iniciar o planejamento econômico, valorizando
e planejando o manejo dos diferentes produtos da biodiversidade.
Conduzidas sob lógica agroecológica, os SAF’s transcendem qualquer modelo pronto e
incorporam a sustentabilidade quando se desenham agroecossistemas adaptados ao poten-
cial natural do lugar, aproveitando os conhecimentos locais. Neste sentido, não existem mo-
delos, e sim, princípios, fundamentos e práticas que devem ser adaptadas a cada realidade.
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Conforme a agrofloresta se desenvolve, haverá maior diversificação de produção e
consequentemente aumento da renda familiar (NEVES, 2014). Segundo Souza e Junqueira
(2007, p. 23-24) em SAF’s:
Estudo de caso
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Figura 2. Características geográficas geral da área de estudo.
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Figura 3. Visão aérea da área de estudo.
O preparo do solo foi realizado pelos integrantes do curso, por meio de roçada manual,
a biomassa da entre linhas foi capinada e utilizada nos canteiros, assim foi mantido 30%
das plantas nativas, que abrigam informações originais dos microrganismos e da relação
da interação solo-planta, uma vez que o solo é rocha decomposta em sistema gasoso, que
se expande e contrai, com síntese de proteínas da interação entre o solo e a planta, e são
responsáveis pela humificação e preservação do equilíbrio genético original. O planejamento
é que em cada linha sejam plantadas hortaliças, frutíferas e arbóreas exóticas.
As entrelinhas foram deixadas em pousio com a vegetação nativa (Figura 4D), e os
alunos do curso de agrofloresta realizam o preparo do solo, somente nas linhas alternadas,
com a implantação de espécies nativas do bioma Cerrado (em consórcio com abóbora
(Cucurbita pepo), tomate (Solanum lycopersicum), tomate cereja (Solanum lycopersicum var.
cerasiforme), berinjela (Solanum melongena), espinafre (Spinacia oleracea), jiló (Solanum
aethiopicum), brócolis chinês (Brassica oleracea), acelga (Beta vulgaris var. cicla), beterraba
(Beta vulgaris) e repolho (Brassica oleracea var. capitata)), em espaçamento de 20 m uma
da outra, que corresponde a distância em que toda a microvida do solo e raízes se interco-
muniquem. Hortaliças, frutíferas e espécies exóticas, assim como os eucalipto (Eucalyptus
grandis) e mamão (Carica papaya) que se encontravam na estufa, foram inseridos no sis-
tema na época da próxima chuva, e com o passar dos anos servirão de matéria orgânica
para enriquecimento do solo.
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Figura 4. Aula expositiva do curso de Agrofloresta (A e B); Reconhecimento do sistema agroflorestal (C e D); Incorporação
do material vegetal (E) e Cobertura vegetal no canteiro (F).
Uma vez roçada e determinado a permanência das plantas nativas (jequitibá (Cariniana
estrellensis), jambo (Syzygium jambos), jenipapo (Genipa americana), ipê (Handroanthus
albus), cedro (Cedrela fissilis), guapururu (Schizolobium parahyba), entre outros), foi rea-
lizada a abertura dos berços (50 cm de profundidade), misturando-se 50 g de Yoorin em
cada cova, Super Thorg (300 g m-²) e calcário nos canteiros (506 g m-²) para correção do
pH, além de solo solto, para o melhor desenvolvimento do sistema radicular e geração de
plantas saudáveis, com solo nutricionalmente rico próximo a raiz.
Ressalta-se que tanto o curso de agrofloresta, assim como, o próprio desenvolvimento
da agrofloresta na propriedade estão em processo de desenvolvimento (Figuras 4C e 4D).
Das espécies plantadas os tomateiros foram os mais sensíveis, influenciados pela defi-
ciência de cálcio no solo, característico dos solos do cerrado, e pelo fato de que a área era
uma pastagem degradada. Os tomates colhidos foram aproveitados principalmente para o
processamento de tomates secos, onde os potes de 150 g de tomate seco eram vendidos,
e se tornam uma possibilidade de renda à família.
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Com o manejo da cobertura vegetal (Figura 4E), associado à poda das espécies frutí-
feras e nativas, o solo se enriquecerá em fibra, palha, celulose e lignina, e com isso estará
protegido, evoluindo e adquirindo características de solo de floresta. Além da prestação
de serviços ambientais, as espécies arbóreas introduzidas promovem cobertura dos solos
(Figura 4F), deposição de matéria orgânica, redução de erosão e aumento da biodiversidade.
Os sistemas agroflorestais visam diversificar a produção agropecuária e florestal, au-
mentando a biodiversidade e resiliência agroecossistêmica. Neste sentido e diante do que
foi exposto, a prática agroflorestal representa uma resposta ao desafio da conciliação entre
a sustentabilidade na produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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