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DOI:10.17765/2176-9168.2020v13n1p149-171
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Mestre em Ciências Ambientais, do Programa de Pós-Graduação em Uso Sustentável de Recursos Naturais
– PPgUSRN do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN), Brasil.
E-mail: houtran.silva@gmail.com
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Doutora em Recursos Naturais, docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Uso Sustentável de
Recursos Naturais – PPgUSRN do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte
(IFRN), Brasil.
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INTRODUÇÃO
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aos recursos naturais, uma vez que provoca a contaminação do meio ambiente, à
saúde do trabalhador rural e consumidores de hortifrútis, dos quais os impactos
provocados por agrotóxicos, pesticidas e adubos químicos podem desencadear
contaminação e poluição do solo, da água e do ar.
Nas últimas décadas a agricultura tradicional5 vem atravessando profundas
transformações, possibilitando o surgimento de diversas tecnologias desenvolvidas
visando potencializar a produção e, por conseguinte, os lucros, apresentando baixo
rendimento e baixa produtividade. Conforme Alves (1997, p. 33), esta pressupõe o
emprego de uma tecnologia que utiliza terra e mão-de-obra, ou seja, sem emprego
de insumos modernos. Segundo Sambuichi et al. (2014, p. 61), a agricultura familiar
é responsável por boa parte da ocupação no campo e da distribuição de renda no
meio rural.
A agricultura orgânica6 vem conquistando espaço no contexto mundial.
De modo geral, toda a sociedade está se preocupando com uma alimentação
mais saudável e que possa contribuir para promover a saúde e consequentemente
melhorar a qualidade de vida de todos. Segundo o documento IFOAM (2019), a área
de agricultura orgânica aumentou de 11 para mais de 69,8 milhões de hectares de
terras agrícolas orgânicas entre 1999 e 2017. Por isso, a agricultura orgânica é muito
importante, tendo em vista que esse modo de produção assegura o fornecimento de
alimentos saudáveis, mais saborosos e de maior durabilidade, com principal objetivo
o respeito ao meio ambiente e para os animais, com foco na saúde e no bem-estar.
Não utilizam agrotóxicos, preservam a qualidade da água usada na irrigação, não
poluem o solo e nem tampouco o lençol freático com substâncias químicas tóxicas,
auxiliam na melhoria da saúde dos seres humanos e muitas vezes trazem mais
nutrientes benéficos.
Através de um sistema de produção alternativo, os agricultores estão
assumindo o progresso do plantio de diversas culturas sustentáveis e uma delas
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A que se baseiam “exclusivamente nos fatores de produção já utilizados pelos agricultores geração após
geração, praticada em pequenas propriedades utilizando técnicas rudimentares” (SCHULTZ, 2013, p. 93,
tradução nossa).
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Convencionou-se chamar de agricultura orgânica “todos os modelos de agricultura alternativa em que a
produção de alimentos bane o uso de produtos químicos sintéticos prejudiciais para a saúde humana e o
meio ambiente, como: fertilizantes e agrotóxicos sintéticos” (ROEL, 2002, p. 58).
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2 MATERIAL E MÉTODOS
Figura 1. Localização do Projeto Amigo Verde: Bairro Gramorezinho, Zona Norte de Natal (RN).
Fonte: Autoria própria (2018).
Com base nas informações colhidas pelos agricultores que fazem parte do
projeto citado, a comunidade do Gramorezinho é composta por uma população de
514 pessoas com renda familiar média mensal de um salário mínimo.
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3 RESULTADO E DISCUSSÃO
ainda mais desperdício financeiro e também com minha saúde”. Sabe dizer se a sua
produção aumentou? (X5): “Não. Mas minha variedade aumentou. Produzia quatro
tipos de hortaliças, hoje produzo até 32 tipos de hortifrútis”; (X6): “Sim, minha
produção de orgânicos aumentou e dá mais opções para os meus consumidores”.
Você queria alguma melhoria? (X7): “Gostaria que houve mais apoio para nós
agricultores”; (X8): “Sim. Que os órgãos públicos nos desses mais visibilidade”.
Você saberia informar se existe alguma reclamação do consumidor? (X9): “Risos [...]
alguns dizem que falta o produto que eles procuram, por isso que a quantidade de
agricultores, mais opções de variedades de hortifrútis”; (X10): “Olha, muitos dizem
que adoram hortaliças orgânicas, outros acham besteiras, fazer o que né? Estamos
contribuindo para o meio ambiente e saúde das pessoas”.
O preparo da área é um procedimento praticado por todos os produtores
antes do plantio de cada hortifrútis, visto que a manutenção de um solo saudável,
vivo e equilibrado assegurará o desenvolvimento de culturas saudáveis, capazes
de suportar as adversidades, tais como fatores climáticos desfavoráveis, ataques
de pragas e doenças. No projeto Amigo Verde nenhum dos produtores faz uso
da adubação química porque utilizam sempre adubos orgânicos, principalmente
estercos de animais, restos de frutas, legumes e folhagens, buscando manter o
sistema de produção orgânica. Mesmo assim alguns produtores fazem o composto
de maneira incorreta, não aplicando o procedimento recomendado conforme
orientação técnica da EMATER e SEBRAE.
Outra prática bastante utilizada nas hortifrútis é a rotação de culturas e
também a utilização de palhas de coqueiro como cobertura morta para proteger as
pequenas mudas do sol forte, vento e chuvas que, além de reter a umidade natural
do solo, mantém a temperatura do solo mais ameno, entre outras particularidades.
Neste diagnóstico é possível observar as não conformidades em relação ao
processo de compostagem, aplicabilidade do uso das ferramentas de manuseio e
técnicas sugeridas pela equipe técnica de apoio ao projeto para a sistemática da
produção das hortifrútis. A compostagem produzida no Gramorezinho é um processo
de material orgânico de pequenas quantidades, sendo, contudo, satisfatório para as
hortas dos produtores.
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Como percebido, boa parte dos agricultores do projeto não faz uso de
alguns equipamentos de proteção individual como chapéu, botas e óculos, além
do mais o trabalho direto na lavoura requer a proteção de mãos e demais partes
do corpo que ficam expostas ao sol, além de cuidados com a postura, evitando
assim riscos ergonômicos que podem prejudicar os trabalhadores no âmbito físico
ou psicológico através de doenças ou desconforto.
Conforme Sambuichi et al. (2014, p. 78), “[...] um caminho para minimizar
as perdas de escala é promover a organização dos agricultores em cooperativas que,
ao juntar a produção de vários agricultores, permitem obter ganhos de escala na
comercialização”.
De acordo com Pelicioni e Phillipi (2014) o processo da compostagem
através da desintegração da matéria orgânica vegetal e/ou animal dá origem ao
húmus. Desse modo, melhora a qualidade física e química do solo, pois contém sais
minerais e nutrientes para as plantas, transformando-se em fonte de energia para os
microrganismos, os quais liberam substâncias a serem utilizadas pelas plantas. Logo,
podem ser aplicados como adubo. Kiehl (1998) afirma que os resíduos orgânicos
utilizados para o processo de compostagem são geralmente utilizados como
fertilizantes orgânicos. No entanto, os resíduos orgânicos são, na verdade, excelentes
fontes de matéria-prima para produção de fertilizantes orgânicos humificados.
A constatação de que parte dos agricultores não realiza a compostagem da
forma correta demonstra fragilidade da AMIGs diante do que é exigido como padrão
de produção para a existência do selo de comprovação de produto orgânico, bem
como diante da confiabilidade do mercado, uma vez que o aspecto das hortaliças
produzidas de forma orgânica é distinguível daquelas que tiveram agrotóxicos e
outros produtos químicos em seu cultivo. A etapa do processo de produção e o
uso da compostagem orgânica do grupo de agricultores, junto com as ferramentas
da qualidade, deve contribuir para levantar características do processo, analisá-las
e tratá-las de forma a melhorar o processo, seja com finalidades de produtividade,
rentabilidade financeira e melhor qualidade das hortifrútis.
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No ciclo PDCA (Figura 04) são exibidas quatro etapas para a identificação e
resolução do problema: a primeira fase: Planejar, onde foram apontadas as ocorrências
das falhas no processo da compostagem e que deveram definir metas e objetivos. A
segunda: Fazer, onde será necessário realizar o treinamento dos produtores sobre
o método correto do composto. A terceira: Checar, pois é preciso acompanhar se as
metas estão sendo cumpridas e analisar as melhorias e os resultados das tarefas. A
quarta: Agir, uma vez que é preciso sempre aperfeiçoar o processo caso o objetivo
seja alcançado, devendo estabelecer novas metas.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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5 AGRADECIMENTO
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REFERÊNCIAS
BENNIS, W. G.; BENNE, K. D.; CHIN, R. The planning of change: Readings in the
applied behavioral sciences. In: HOFFMANN, V. Beratung als lebenshilfe: hu-
mane konzepte für eine ländkuche entwicklung. New York: Verlag Josef Margraf.
Weikersheim, 1992. (Tradução nossa).
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