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Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco

Reinaldo Pacheco Santos


(Organizadores)

PRODUÇÃO EE SUSTENTABILIDADE
PRODUÇÃO SUSTENTABILIDADE EM
EM PESQUISA
PESQUISA
VOL.2

editora

científica digital
VOL.2

1ª EDIÇÃO

editora

científica digital

2022 - GUARUJÁ - SP
editora

científica digital

EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


Guarujá - São Paulo - Brasil
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Diagramação e arte 2022 by Editora Científica Digital


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A281 Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa: volume 2 / Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco (Organizadora),
Reinaldo Pacheco Santos (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
E-BOOK
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Formato: PDF
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Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-199-4
DOI 10.37885/978-65-5360-199-4
1. Ecologia agrícola. I. Pacheco, Clecia Simone Gonçalves Rosa (Organizadora). II. Santos, Reinaldo Pacheco
(Organizador). III. Título.

2022
CDD 630.2745
Índice para catálogo sistemático: I. Ecologia agrícola
Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
Direção Editorial
CORPO EDITORIAL

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A agroecologia é um campo do conhecimento científico que parte de uma abordagem
holística e de uma visão sistêmica, buscando cooperar para que as sociedades
redimensionem o caminho modificado da coevolução social e ecológica, nas mais
diversas relações e influencias mútuas. Reitera-se aqui que a agroecologia não é
um novo modelo de agricultura, nem também um novo modelo de tecnologia, e muito
menos um sistema de produção, mas sim, um enfoque científico, que defende uma
agricultura de base ecológica, sendo capaz de dar arrimo a uma transição com caráter
de agricultura sustentável.
Acerca disto, a agroecologia procura agregar os conhecimentos baseados na
experiência dos povos e sociedades, com os múltiplos conhecimentos das ciências,
proporcionando, tanto a concepção, apreciação e crítica do atual modelo do
desenvolvimento e de agricultura, como a consignação de inovações estratégicas para
o desenvolvimento rural e novos desenhos de agriculturas mais sustentáveis, a partir de
uma abordagem transdisciplinar, sistêmica, e holística e harmônica entre a sociedade
APRESENTAÇÃO

e a natureza.
Com base nisto, esta obra tem sua gênese a partir de um processo colaborativo entre
pesquisadores, docentes e discentes, essencialmente de graduação e pós-graduação,
que buscam qualificar as discussões neste espaço formativo. Resulta, também, de
movimentos interinstitucionais e de ações de incentivo à pesquisa e à extensão que
congregam pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento e de diferentes
Instituições de Educação Superior públicas e privadas de abrangência nacional e
internacional.
O volume 2 da obra “Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa” tem
como objetivo agregar ações interinstitucionais nacionais e internacionais com redes de
pesquisa que tenham como foco, impulsionar a formação continuada de agroecólogos,
ambientalistas, agricultores, extensionistas, entre outros, por meio da produção e
socialização de conhecimentos, saberes e múltiplas vivências e experiências, sendo
possível orientar estratégias de desenvolvimento rural mais sustentável e de transição
para estilos de agriculturas mais sustentáveis, contribuindo assim, para melhorar a
qualidade de vida das atuais e das futuras gerações.
Assim, agradecemos aos autores pelo comprometimento, disponibilidade e dedicação
para o desenvolvimento e conclusão dessa obra. Almejamos também que esta obra sirva
de instrumento didático-pedagógico para os diversos níveis de ensino, e de base para
o desenvolvimento da pesquisa extensionista de estudantes, professores, agricultores,
comunidades rurais e movimentos socioambientais e, para os demais interessados pela
temática aqui abordada.

Dra. Clecia Pacheco


Me. Reinaldo Pacheco
SUMÁRIO
CAPÍTULO 01
1ª FEIRA AGROECOLÓGICA DE MASSAROCA E REGIÃO: UMA OPÇÃO DE AQUISIÇÃO DE PRODUTOS AGROECOLÓGICOS
NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO - BAHIA
Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto; Márcia
Rejane Lopes Cavalcante; Florisvaldo Cavalcanti dos Santos; Reginaldo da Silva Gomes; Ana Carla Pereira da Silva; Maria Victoria
Souza Gonçalves Brito; Reinaldo Pacheco dos Santos

' 10.37885/221010389.......................................................................................................................................................................... 12

CAPÍTULO 02
A AGROECOLOGIA COMO FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Ederson Rodrigues da Silva; Rayanne dos Santos Guimarães; Michel LimaVaz de Araújo; Geovana dos Santos Rodrigues Ferreira;
Marcelly Priscyla de Almeida Vieira; Rosilane Carvalho da Conceição

' 10.37885/220910368......................................................................................................................................................................... 22

CAPÍTULO 03
AGROECOLOGIA E REPRODUÇÃO CAMPONESA: UMA EXPERIÊNCIA DA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA DA REGIÃO DE
IRARÁ/BA
Andréia Silva de Alcântara; Marize Damiana Moura B. e Batista

' 10.37885/220910132.......................................................................................................................................................................... 28

CAPÍTULO 04
ANÁLISE DOS PARÂMETROS FISICO-QUÍMICA E FITOTOXICOLOGIA DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS DO PROCESSO
DE VINIFICAÇÃO
Ana Paula Rosso Balbinotti; Jorge Antonio Barbosa Dias

' 10.37885/220809746......................................................................................................................................................................... 41

CAPÍTULO 05
AVALIAÇÃO DO PNAPO APLICADO AOS PRODUTORES DE CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAIS
Marlene de Araújo

' 10.37885/220709467......................................................................................................................................................................... 60

CAPÍTULO 06
CASA DE CAMBRAIA DONA MARIA E ZÉ MIÚDO PRODUÇÃO ARTESANAL DE CAMBRAIAS EM PETROLINA -
PERNAMBUCO
Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto;
Márcia Rejane Lopes Cavalcante; José Alberto Gonçalves de Moura; Florisvaldo Cavalcanti dos Santos; Enos André de Farias; Breno
Silva Almeida; Reinaldo Pacheco dos Santos

' 10.37885/220910333......................................................................................................................................................................... 84
SUMÁRIO

CAPÍTULO 07
CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DA AGROECOLOGIA PARA A EFETIVAÇÃO DA PEDAGOGIA DA
ALTERNÂNCIA NO EJA CAMPO

Cláudio Alencar; Clécia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; Paulo Roberto Ramos

' 10.37885/220809709......................................................................................................................................................................... 95
CAPÍTULO 08
EMPREENDEDORISMO SAUDÁVEL: O MODELO DE NEGÓCIO DA BONNO DUVALLE - VIDA SEM GLÚTEN

Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto; Eryka
Fernanda Miranda Sobral; Silvio André Vital Junior; Márcia Rejane Lopes Cavalcante; Jefferson Gomes Fonseca Tolentino; Ana Paula
Batista de Oliveira; Reinaldo Pacheco dos Santos

' 10.37885/221010390.......................................................................................................................................................................... 108


CAPÍTULO 09
ENTREVISTA COM AGRICULTORES DE HORTAS URBANAS: UMA ATIVIDADE CTS NO ENSINO DE QUÍMICA

Raquel Rodrigues Teixeira Benevides; Pedro Miranda Junior

' 10.37885/220809685......................................................................................................................................................................... 119


CAPÍTULO 10
FEIRA AGROECOLÓGICA E ORGÂNICA: UMA ALTERNATIVA DE AQUISIÇÃO DE PRODUTOS AGROECOLÓGICOS E
ORGÂNICOS NO MUNICÍPIO DE JUAZEIRO - BAHIA
Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto; Márcia
Rejane Lopes Cavalcante; Florisvaldo Cavalcanti dos Santos; Reginaldo da Silva Gomes; Eryka Fernanda Miranda Sobral; Silvio André
Vital Junior; Reinaldo Pacheco dos Santos

' 10.37885/221010392.......................................................................................................................................................................... 133


CAPÍTULO 11
O FUNCIONAMENTO DE UM ENTREPOSTO DE OVOS ORIUNDO DA AGRICULTURA FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE
JUAZEIRO - BAHIA
Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto; José
Alberto Gonçalves de Moura; Florisvaldo Cavalcanti dos Santos; Enos André de Farias; Márcia Rejane Lopes Cavalcante; Breno Silva
Almeida; Reinaldo Pacheco dos Santos

' 10.37885/220910331.......................................................................................................................................................................... 142


CAPÍTULO 12
OS CAMPONESES COMO ATORES SOCIAIS: NOVAS PERSPECTIVAS PARA O DESENVOLVIMENTO RURAL SUSTENTÁVEL

Jéssica Rodrigues Pereira

' 10.37885/220910284......................................................................................................................................................................... 155


SUMÁRIO

CAPÍTULO 13
PLANTAS ESPONTÂNEAS MEDICINAIS EM QUINTAIS PERIURBANOS
Marci Aparecida Lemes; José Maria Gusman Ferraz; Rosely Yavorski

' 10.37885/220910351.......................................................................................................................................................................... 165


CAPÍTULO 14
POLÍTICAS PÚBLICAS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL NO BRASIL E COMBATE À POBREZA RURAL

Thaís Pereira de Azevedo; Cícero Adriano Vieira dos Santos; Clécia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; Francisco Ricardo Duarte;
Daniel Salgado Pifano; Lúcia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira

' 10.37885/221010419.......................................................................................................................................................................... 179


CAPÍTULO 15
PROGRAMA FLORESTA QUE TE QUERO VERDE: PLANTIO DE ÁRVORES E FRUTÍFERAS DA CAATINGA NO MUNICÍPIO
DE FLORESTA - PERNAMBUCO
Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto; Eryka
Fernanda Miranda Sobral; Silvio André Vital Junior; Márcia Rejane Lopes Cavalcante; Florisvaldo Cavalcanti dos Santos; Enos André
de Farias; Reinaldo Pacheco dos Santos

' 10.37885/220910329......................................................................................................................................................................... 195


CAPÍTULO 16
PROGRAMA JOVEM EMPREENDEDOR APICULTOR: UMA OPORTUNIDADE DE GERAÇÃO DE EMPREGO E RENDA AOS
JOVENS DO MUNICÍPIO DE REMANSO - BAHIA
Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto; Eryka
Fernanda Miranda Sobral; Silvio André Vital Junior; Márcia Rejane Lopes Cavalcante; Florisvaldo Cavalcanti dos Santos; Enos André
de Farias; Reinaldo Pacheco dos Santos

' 10.37885/220910325......................................................................................................................................................................... 207


CAPÍTULO 17
SISTEMA AGROFLORESTAL: EXPERIÊNCIAS E PRÁTICA DE IMPLANTAÇÃO NA HORTA RIO GRANDE, FRONTEIRA-MG

Jhansley Ferreira da Mata; Cássia Augusta Santos; Angela Miazaki; Gabriel Longuinhos Queiroz; Gabriel Gomes Mendes;
Vanesca Korasaki

' 10.37885/220910198.......................................................................................................................................................................... 219

SOBRE OS ORGANIZADORES............................................................................................................................. 238

ÍNDICE REMISSIVO............................................................................................................................................. 239


01
1ª Feira Agroecológica de Massaroca
e Região: uma opção de aquisição de
produtos agroecológicos no município de
Juazeiro - Bahia

Aluísio Sampaio Neto Florisvaldo Cavalcanti dos Santos


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Reginaldo da Silva Gomes


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer- Universidade do Estado da Bahia - UNEB
tãoPE

Ana Carla Pereira da Silva


José Lincoln Pinheiro Araújo Faculdade de Petrolina - FACAPE
EMBRAPA Semiárido

Maria Victoria Souza Gonçalves Brito


Antonio de Santana Padilha Neto Centro Universitário UniFTC
Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Reinaldo Pacheco dos Santos


Márcia Rejane Lopes Cavalcante Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
Centro Universitário Tabosa de Almeida - ASCES UNI- VASF
TA

'10.37885/221010389
RESUMO

A demanda por produtos agroecológicos orgânicos e naturais apresenta uma tendência cres-
cente nos últimos anos, dado a maior preocupação da população no consumo de alimentos
mais saudáveis. Objetivo: Apresentar e fazer compreender como se deu o processo de idea-
lização e realização da 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região, com propósitos
em especial para a valorização, exposição e comercialização de produtos agroecológicos
produzidos pelos agricultores familiares da localidade, em Juazeiro - BA. Método: Trata-se
de um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa. Resultados:
Surgida em abril de 2022, a 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região é composta
por mais de 10 feirantes e dispõem de uma variedade de produtos, como doces, geleias,
polpas, licores, compotas, frutas “in natura”, ovos de galinha, mel, feijão, entre outros pro-
dutos, e se encaminha com total êxito para a sua 7ª edição em agosto. Conclusão: Uma
iniciativa importante para a oferta de alimentos agroecológicos e opção de uma alimentação
mais saudável para as pessoas.

Palavras-chave: Natureza, Vida, Território Sertão do São Francisco, Tendência,


Sustentabilidade.
INTRODUÇÃO

Miguel Altieri, nos Estados Unidos, na década de 1980, procurou reunir todas as cor-
rentes propondo uma metodologia como uma visão holística, abrangendo todas as demais
alternativas numa base de pesquisa científica. Segundo ele, a agroecologia é uma ciência
que fornece os princípios ecológicos básicos para o estudo e tratamento de ecossistemas,
tanto produtivos, quanto preservadores dos recursos naturais. Logo, a agroecologia parte do
pressuposto de que tais sistemas sejam culturalmente sensíveis, socialmente justos e econo-
micamente viáveis proporcionando, assim, um agroecossistema sustentável (ALTIERI, 2012).
Segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura - FAO (2021), a agroecologia
é uma abordagem holística e integrada que aplica simultaneamente conceitos e princípios
ecológicos e sociais para a concepção e gestão de sistemas agrícolas e alimentares susten-
táveis. Ele tenta otimizar as interações entre plantas, animais, humanos e meio ambiente, ao
mesmo tempo, em que aborda a necessidade de sistemas alimentares socialmente justos
nos quais as pessoas possam escolher o que comer, como e onde é produzido.
Para Pacheco et al., (2021), a agroecologia é uma ciência que está se concretizando
cada vez mais em todo o mundo como uma teoria crítica que interroga radicalmente a agri-
cultura convencional, ao mesmo tempo, em que aprovisiona as bases teórico-conceituais e
metodológicas para o desenvolvimento de sistemas alimentares economicamente eficientes,
socialmente justos e ecologicamente sustentáveis.
Segundo Pacheco et al., (2021):

Nesse seguimento, é primordial nortear e coordenar tais experiências para que,


reunidas sob uma tática comum, possam ampliar todo o seu potencial de transi-
ção, sendo responsabilidade da agroecologia política desenhar procedimentos
e metodologias que aparelhe os distintos níveis de ação agroecológica grupal
para que ocorra efetivamente na prática, e não apenas da teoria (PACHECO,
et al., 2021, p.192).

Como conjunto de práticas agrícolas, a agroecologia busca apontar caminhos com


o objetivo de melhorar os sistemas agrícolas aproveitando os processos naturais, criando
interações e sinergias biológicas benéficas entre os componentes dos agroecossistemas,
minimizando insumos externos sintéticos e tóxicos e usando processos ecológicos e ser-
viços ecossistêmicos para o desenvolvimento e implementação de práticas agrícolas mais
sustentáveis sem agredir o meio ambiente (GLIESSMAN, 1990).
Nesse sentido, iniciativas como a 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região,
com a comercialização de produtos agroecológicos para os consumidores, visa atender
um mercado cada vez mais exigente, sobretudo, conforme Lima et al., (2019), o da classe
média brasileira, que considerado o maior da América Latina, tem buscado alimentos cada

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vez mais saudáveis. De acordo com a pesquisa “Panorama do Consumo de Orgânicos no
Brasil”, da Associação de Promoção dos Orgânicos (ORGANIS), em parceria com a Brain
Inteligência Estratégica e Unir Orgânicos, cerca de 30% dos brasileiros optaram por uma
alimentação sem agrotóxicos em 2021 (ORGANIS/BRAIN, 2021).

Agricultura de Base Ecológica

A agricultura de base ecológica tem sua gênese na Europa no século XX, fundamen-
tada em várias escolas ou correntes, sendo que seu surgimento se deu como contraponto
aos preceitos impostos pelas práticas agrícolas à base de insumos químicos, sendo tida
por muito tempo como um movimento “rebelde” para denominar o antagonismo criado pela
mesma e a forte tendência de quebra de paradigmas tradicionais (PACHECO et al., 2021a).
Esta expressão evidencia, na percepção de Candiotto e Meira (2014, p. 159), “a si-
multaneidade de várias escolas, estilos ou correntes que propõem a aplicação de princí-
pios ecológicos à produção agropecuária” e permitem a limitar ou eliminar o emprego de
insumos químicos a contar da corporificação de técnicas alternativas ao modelo convencio-
nal. Neste sentido, ficou instituído na década de 1980, o conceito de agricultura orgânica
no Estados Unidos.
Os avanços científicos e tecnológicos estimularam a crescente produção de alimentos,
apesar disso, na mesma proporção avançaram os danos ambientais provocados pela agri-
cultura industrial (convencional), refletidos na/no: diminuição da fertilidade dos solos, perda
de matéria orgânica, lixiviação de nutrientes, degradação e crescimento da erosão dos solos,
contaminação de mananciais, de ecossistemas naturais e de ambientes agrícolas, aumento
de doenças nos cultivos, além dos danos à saúde de agricultores e de trabalhadores do
sistemas agrícolas, avançando até para a destruição de insetos e microrganismos benéficos
ao equilibro ecossistêmico, entre tantas outras consequências (PACHECO et al., 2021b).
Portanto, precisamos compreender e valorizar em nosso dia a dia, o consumo de
produtos que tenham cada vez mais essa “pegada ecológica”, contribuindo dessa maneira
para a conservação dos nossos recursos naturais em harmonia com a natureza e o planeta
no qual habitamos.
Dentro desta conjuntura, percebe-se que no Brasil, bem como no Território Sertão
do São Francisco da Bahia, tem-se cada dia mais a consciência que a criação de espaços
colaborativos de comercialização de produtos orgânicos vem ganhando espaço e mercado,
tendo em vista a preocupação da população no consumo de alimentos mais saudáveis,
que segundo Altieri (2012), previne doenças, como câncer, e contribui com a minimização
de problemas ambientais, colaborando com as metas da Agenda 2030, via realização do

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Objetivo de Desenvolvimento Sustentável Dois (ODS 2), que trata de Agricultura Sustentável
(UNITED NATIONS, 2015).
Escrito no texto constitucional brasileiro de 1988 (Art. 225), não é antigo o imperativo
ecológico na produção de bens, produtos e serviços; incluindo-se, por óbvio, alimentos, en-
quanto ocupantes do primeiro degrau das necessidades humanas. Esta exigência resulta
de determinação encontrada no topo da pirâmide normativa brasileira, que, neste particular,
está “de mãos dadas” com outros sistemas jurídicos de Estados que atingiram ou buscam
alcançar o objetivo de garantir desenvolvimento, mas sem desconsiderar o respeito ao meio
ambiente saudável.
Há um dever de proteção ecológica que se impõe como obrigação a todos, numa pers-
pectiva horizontal e vertical, pois se converteu em direito humano fundamental com natureza
de direito público subjetivo; condição na qual está acima e além de qualquer outra vontade
normativa ou administrativa. Ambiente saudável e desenvolvimento sustentável não é opção;
é obrigação a ser cobrada de todos, por todos. Produzir alimentos com esse cuidado indica
que tal comunidade atingiu alto nível de cidadania, vez que este vetusto conceito nasceu
como a representação da participação do indivíduo nas questões de sua cidade e que a
todos alcançava. Voltar às bases da construção de longevos modelos sociais, ainda parece
ser compatível com os novos tempos e seus avanços tecnológicos.
Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreen­
der como se deu o processo de idealização e realização da 1ª Feira Agroecológica de
Massaroca e Região, em Juazeiro - BA, com propósitos em especial para a valorização,
exposição e comercialização de produtos agroecológicos produzidos pelos agricultores
familiares da localidade.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido em Juazeiro - BA. O município está localizado no interior


do estado, no Território Sertão do São Francisco, distante aproximadamente 507,9 km da
capital baiana, Salvador, à margem direita do Rio São Francisco, tendo acesso pela rodovia
BR-407, e que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui
uma população estimada em 219.544 mil habitantes.

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Figura 1. Mapa do Território Sertão do São Francisco.

Fonte: SEI/SEPLAN (2012).

Deste modo, este é um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem


qualitativa, desenvolvido a partir do método fenomenológico, que é empregado em pesquisa
qualitativa, e preocupa‐se com a descrição direta da experiência como ela é, sendo que a
realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
A fenomenologia é classificada como sendo uma corrente filosófica cujo precursor foi
o filósofo e matemático Edmund Husserl, que nasceu no ano de 1859 na Moravia (atual
República Tcheca), e faleceu em 1938. Sua obra literária é marcada profundamente pela
preocupação com a crise das ciências, especialmente no tocante à compreensão dos
fenômenos humanos.
“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importantes
contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de seu
legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito da
construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “revo-
luções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):

O pressuposto humanista da autonomia é diferente. Nele o ser humano não


é visto como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador
de coisas novas. As pesquisas que estão a serviço desta forma humanista de
atendimento são principalmente qualitativas, descritivas de vivências subjetivas,
buscando explicitar seus significados potenciais em relação a algum contexto
e habilitando o profissional com uma visão mais ampla do ser humano, pois é
isso que o torna mais apto a oferecer aquela relação libertadora (AMATUZZI,
2009, p. 6).

De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as

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diferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os dife-
rentes posicionamentos existentes no meio social.
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Surgida em 09 de abril de 2022, na Praça Principal do Distrito de Massaroca, Zona


Rural do município de Juazeiro - BA, a 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região
tem como propósitos principais a valorização, exposição e comercialização de produtos
agroecológicos produzidos pelos agricultores familiares da localidade.

Figura 2. Material de divulgação da 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região.

Fonte: @macambiratec (2022).

A feira agroecológica é composta por mais de 10 feirantes e dispõem de uma varieda-


de de produtos, como doces, geleias, polpas, licores, compotas, frutas “in natura”, ovos de
galinha, mel, feijão, entre outros produtos.

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Figura 3. Momento de comercialização de produtos da feira agroecológica.

Fonte: Samuel Ferreira / PMJ (2022).

A gestão da feira é realizada pela Cooperativa Agropecuária Familiar de Massaroca e


Região (COOFAMA). Para a sua idealização, contou com a assessoria técnica do Instituto
Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), por meio do Projeto Pró-Semiárido,
desenvolvido pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa vin-
culada à Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia (SDR).

Figura 4. Entrada e recepção da 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região.

Fonte: Samuel Ferreira / PMJ (2022).

Até o momento, foram realizadas 06 edições da Feira Agroecológica de Massaroca e


Região, se encaminhando com total êxito para a sua 7ª edição em agosto. Os dias e horários
sobre a feira, podem ser conferidos na página @coofa_ma, na Rede Social “Instagram”.
A primeira edição da feira teve apoio da Prefeitura de Juazeiro, por meio da Secretaria
de Meio Ambiente (SEMAURB), Agência de Desenvolvimento Econômico, Agricultura e
Pecuária (ADEAP), e da Autarquia Municipal de Abastecimento (AMA).

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CONCLUSÕES

Neste estudo, objetivou-se, apresentar e fazer compreen­der como se deu o proces-


so de idealização e realização da 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região, em
Juazeiro - BA, com propósitos em especial para a valorização, exposição e comercialização
de produtos agroecológicos produzidos pelos agricultores familiares da localidade.
A feira é composta por mais de 10 feirantes e dispõem de uma variedade de produtos,
como doces, geleias, polpas, licores, compotas, frutas “in natura”, ovos de galinha, mel,
feijão, entre outros produtos.
A razão do destaque reside no fato de ser uma iniciativa importante para a oferta de
alimentos orgânicos e opção de uma alimentação mais saudável para as pessoas, além de
representar uma manifestação popular e solução regional para a necessidade de ofertar
serviços e produtos construídos com base comunitária.

REFERÊNCIAS
1. ALTIERI, M. Agroecologia: Bases Científicas Para Uma Agricultura Sustentável.
3. Ed. rev. ampl. São Paulo, Rio de Janeiro: Expressão Popular, AS-PTA, 2012, 400 p.

2. AMATUZZI, M. M. Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Alínea, 2009.

3. BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: Um


Manual Prático. Petrópoles: Vozes, 2004.

4. CANDIOTTO, L. Z. P.; MEIRA, S. G. de. Agricultura Orgânica: Uma Proposta de

5. Diferenciação entre Estabelecimentos Rurais. CAMPO-TERRITÓRIO: revista de


geografia agrária, v. 9, n. 19, p. 149-176, out., 2014. Disponível em: <www.seer.ufu.
br/index.php/campoterritorio/article/view/26083>. Acesso em 02 de agosto de 2022.

6. FAO, IFAD, UNICEF, WFP and WHO. 2021. The State of Food Security and Nutri-
tion in the World 2021. Transforming Food Systems for Food Security, Improved
Nutrition and Affordable Healthy Diets for All. Rome, FAO. Disponível em: <www.
doi.org/10.4060/cb4474en>. Acesso em 03 de agosto de 2022.

7. GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de Pesquisa. Coordenado pela Uni-


versidade Aberta do Brasil - UAB/UFRGS e SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2009.

8. GLIESSMAN, S. R. Agroecology: Researching the Ecological Basis for


Sustainable Agriculture. In: Gliessman, S. R. (eds) Agroecology. Ecological Studies,
vol 78. Springer, New York, NY. 1990. https://doi.org/10.1007/978-1-4612-3252-0_1.
Acesso em 01 de agosto de 2022.

9. GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010. 184p.

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20
10. HOLANDA, A. F. Fenomenologia e Humanismo: Reflexões Necessárias. Juruá
Editora: Curitiba, 2014.

11. LIMA, S. K.; VALADARES, A; ALVES, F. Produção e Consumo de Produtos Orgâ-


nicos no Mundo e no Brasil. Texto para Discussão/Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada. Rio de Janeiro: Ipea, 2019.

12. PACHECO, C. S. G. R.; SANTOS, R.P.; MOREIRA, M.B.; ARAÚJO, J.F. A Transição
Agroecológica Como Caminho Para a Sustentabilidade de Agrossistemas: Um
Diálogo entre Macrae, Hill e Gliessman. In: PACHECO, C.S.G.R. (Org.). Ambiente
& Sociedade: Concepções, Fundamentos, Diálogos e Práticas para Conservação da
Natureza. Guarujá, SP: Científica Digital, 2021. Disponível em: <www.editoracientifica.
org/articles/code/210504841>. Acesso em 01 de agosto de 2022.

13. PACHECO, C.S.G.R.; MENEZES, A.J.S.; FIGUEIREDO, R.T.; MOREIRA, M. B.; ARAÚ-
JO, J.F.; LEITÃO, M.M.V.B.R.; SANTOS, V.M.L. Fundamentos, Métodos e Práticas
de Cultivo da Agricultura Orgânica: uma experiência exitosa no CAERDES - Ju-
azeiro - BA. In: OLIVEIRA, R.J. Extensão Rural: Práticas e Pesquisas para o Fortale-
cimento da Agricultura Familiar - Vol. 1. Guarujá/SP: Editora Científica Digital, 2021.
Disponível em: <www.editoracientifica.org/books/isbn/978-65-87196-70-1>. Acesso
em 04 de agosto de 2022.

14. Portal IBGE. Panorama Juazeiro - Bahia. Disponível em: <www.cidades.ibge.gov.br/


brasil/ba/juazeiro/panorama>. Acesso em 01 de agosto de 2022.

15. UNITED NATIONS. Transforming our World: The 2030 Agenda for Sustainable
Development. Sustainable Development Goals, New York, 25 set. 2015. Disponível
em: <www.sustainabledevelopment.un.org/post2015/transformingourworld>. Acesso
em 03 de agosto de 2022.

16. VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo:


Atlas, 2009.

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02
A agroecologia como ferramenta para a
educação ambiental

Ederson Rodrigues da Silva Geovana dos Santos Rodrigues Ferreira


Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

Rayanne dos Santos Guimarães Marcelly Priscyla de Almeida Vieira


Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

Michel LimaVaz de Araújo Rosilane Carvalho da Conceição


Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA Universidade Federal Rural da Amazônia - UFRA

'10.37885/220910368
RESUMO

Com o aumento da população mundial e a crescente demanda por alimentos houve uma
expansão na agricultura, intensificando o uso de tecnologias e a aplicação de fertilizantes e
agrotóxicos, ocasionando a contaminação do ecossistema como um todo, com destaque, ao
solo, rios e lagos. Como forma de amenizar este modelo insustentável de agricultura, surge
a agroecologia, que busca novas práticas e alternativas de produzir de forma sustentável e
inclusiva, integrando o conhecimento do agricultor ao meio científico. Em termos gerais, a
agroecologia é uma nova abordagem que integra os conhecimentos científicos (agronômicos,
veterinários, zootécnicos, ecológicos, sociais, econômicos e antropológicos) aos conheci-
mentos populares, para a compreensão, avaliação e implementação de sistemas agrícolas,
com vistas à sustentabilidade. Perante ao desafio de práticas sustentáveis, não se pode
deixar de inserir neste contexto a educação ambiental quando se fala em agroecologia, pois
ambas surgem da necessidade de mudança, seja da conservação da biodiversidade, ou
da adoção de novos estilos de vida. A Educação Ambiental configura-se como o principal
meio de impulsionar a ideiade uma sociedade sustentável que integra homem e ambiente,
ou seja, é um processo educativo, que conforma um conhecimento ambiental que se traduz
em valores éticos, com o objetivo de conscientizar à preservação do meio ambiente e sua
utilização sustentável. Tendo em vista a importância de aplicar os conhecimentos científicos
ao cotidiano, faz-se importante integrar a agroecologia à educação ambiental. Portanto, objeti-
vou-se com este trabalho investigar e avaliar o conhecimento dos estudantes do curso técnico
de agropecuária quanto à utilização da agroecologia no contexto da educação ambiental.

Palavras-chave: Agroecologia, Educação Ambiental, Sustentável.


MÉTODOS

O estudo caracteriza-se como uma pesquisa quantitativa, de campo e foi realizado


no Instituto Federal do Pará - IFPA, Campus de Cametá/PA,com 33 estudantes do 1º ano
do curso técnico em agropecuária, onde 58% dos alunos são do sexo feminino e 42 % do
sexo masculino e encontram-se em uma faixa etária média de 26 anos. 52 % dos alunos
entrevistados residem na área urbana e 48 % na zona rural.
O município de Cametá encontra-se no estado do Pará, no Brasil. Localiza-se a uma
latitude 02º14’40” sul e a uma longitude 49º29’45” oeste, estando a uma altitude de 10 me-
tros. Sua população estimada em 2017 era de 134.100 habitantes. Possui uma área de 3
081,367 quilômetros quadrados (IBGE, 2017).
Foi elaborado um questionário composto por 13 questões para a coleta de dados,-
voltadas ao tema abordado, onde os estudantes expressaram seu conhecimento quanto à
utilização da agroecologia como ferramenta de educação ambiental. A aplicação do questio-
nário surgiu da necessidade de conhecer o perfil dos entrevistados e sua percepção quanto
a educação ambiental desde a perspectiva da agroecologia.
Os dados obtidos através do questionário foram tabulados em planilha Excel e repre-
sentados em forma de gráficos para melhor entendimento.

RESULTADOS

Quando foram questionados se sabiam o que era agroecologia, 91% dos alunos res-
ponderam que sim. Na opinião da maioria dos entrevistados (82%) a agroecologia é uma
ciência cujos princípios primam pelo desenvolvimento de uma agricultura sustentável, outros
(9%) acreditam que a agroecologia trata da preservação do meio ambiente por meio da
agricultura orgânica, como mostra a figura 1.

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Figura 1. Respostas dos estudantes do curso Técnico em Agropecuária do IFPA acerca do que os alunos acreditam ser
agroecologia.

Questionou-se o que se entende por desenvolvimento rural sustentável, para 49 % dos


entrevistados, a qualidade de vida no campo por meio da observância dos aspectos econômi-
cos, sociais e ambientais define desenvolvimento rural sustentável, seguido pelo conceito de
abordagem preocupada com a preservaçãodo meio ambiente e da cultura (24%) (figura 2).

Figura 2. Respostas dos estudantes do curso Técnico em Agropecuária do IFPA acerca do desenvolvimento rural sustentável.

Para a maioria dos entrevistados (96%), a produção agroecológica pode ser um meio
de geração de renda para agricultura familiar.
Sobre os temas mais relevantes, os entrevistados elegeram algumas propostas con-
sideradas mais importantes para serem abordados em atividades de educação ambiental
através da agroecologia, como ilustra a figura 3.

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Figura 3. Respostas dos estudantes do curso Técnico em Agropecuária do IFPA acerca dos temas mais relevantes para
serem abordados em atividades de educação ambiental através da agroecologia.

Apenas 3% dos entrevistados acreditam que o uso de agrotóxicos não oferece ris-
cos tanto ao produtor quanto ao consumidor. Por outro lado, Waichman (2008) cita que,
na aplicação de agrotóxicos, a exposição ocupacional dos agricultores é alta, tornando-os
vulneráveis à intoxicação aguda e crônica, além do risco de contaminação crônica da popu-
lação consumidora de produtos com resíduos de agrotóxicos. Promovendo uma discussão
sobre a problemática dos agrotóxicos na atividade rural que possibilitará novas aborda-
gens agroecológicas.

CONCLUSÃO

Os resultados da pesquisa apontaram que a maioria dos entrevistados expressou


conhecimento a respeito da agroecologia voltada para a educação ambiental, visto que ela
conscientiza a sociedade quanto a importância da produção agrícola sustentável bem quanto
à preservação e uso correto dos recursos naturais.
Para que haja uma integração do conhecimento científico ao cotidiano, é necessário
que todos os agentes, pesquisadores, professores ou alunos, estejam em busca de capa-
citação e repassem todo conhecimento adquirido.

Agradecimentos

Os autores agradecem ao Instituto Federal do Pará – IFPA, Campus Cametá e ao


docente Eguinaldo dos Santos Guimarães pela oportunidade da realização da pesquisa.

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REFERÊNCIAS
1. ALMEIDA, J. A. F. de.; REIS, J. R. M.; LÔPO, C. N. F.; OLIVEIRA, A. S.; FOURNEAU,
H. L. Agroecologia. Itabuna-BA: CEPLAC, 2012. 44p.

2. CRIVELLARO, C. V. L.; CASTELL, C. H. G. P.; SILVEIRA, I. M. L.; SILVA, K. G.;


CARVALHO, R. V.; GROSSKOPF, T. A. C. Agroecologia: um caminho amigável de
conservação da natureza e valorização da vida. Rio Grande: NEMA, 2008. 28p.

3. IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Informações cidades. 2017.


Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pa/cameta/panorama. Arquivo con-
sultado em 12 de maio de 2018.

4. WAICHMAN, A. V. Uma proposta de avaliação integrada de risco do uso de agro-


tóxicos no estado do Amazonas, Brasil. Manaus, 2008.

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03
Agroecologia e reprodução camponesa:
uma experiência da escola família agrícola
da região de Irará/BA

Andréia Silva de Alcântara


Universidade Federal da Bahia - UFBA

Marize Damiana Moura B. e Batista


Universidade Estadual da Bahia - UNEB

'10.37885/220910132
RESUMO

Este texto discute agroecologia enquanto instrumento da reprodução camponesa no con-


texto do curso de formação de monitores na Escola Família Agrícola da Região de Irará
(EFAMI), realizado em 2016 com estudantes do 2º ano do curso técnico em agropecuária
integrado ao ensino médio, cujos alunos residiam nos municípios de Irará, Santanópolis,
Água Fria, Ouriçangas e Coração de Maria. Método: o método adotado como instrumento
de mediação da pesquisa é o materialista histórico dialético. Este estudo resultou do proje-
to de extensão Espaço agrário e agroecologia: a reprodução camponesa no município de
Irará (BA), decorrente de parceria da Universidade Federal da Bahia (UFBA) com a Escola
Família Agrícola da Região de Irará (EFAMI). Resultados: No modo de vida camponês,
se identifica princípios da agroecologia. No curso, objetivou-se desenvolver a consciência
política, enquanto tática de luta para a permanência no campo. Isto exigiu um trabalho de
elevação do pensamento, por meio da apropriação de consistente base teórica, articulada
à prática socioespacial. Conclusão: Este movimento possibilitou analisar a organização do
espaço agrário do município de Irará e região, em sua dimensão sócio-política e produtiva
e as relações de trabalho existentes, identificando contradições e possíveis alternativas de
superação dessa realidade. Desse modo, a formação de monitores em agroecologia da
EFAMI se localiza no plano das táticas para o empoderamento de jovens camponeses da
região de Irará.

Palavras-chave: Espaço Agrário, Agroecologia, Campesinato.


INTRODUÇÃO

O campesinato compõe uma classe social heterogênea, condição que permite enten-
dê-lo enquanto uma unidade de classe marcada pela diversidade sócio-cultural e política dos
sujeitos do campo. Esta classe se manifesta no enfrentamento ao modelo de desenvolvimento
proposto para o campo brasileiro, baseado na concentração fundiária e na agroexpotação.
Neste contexto de luta dos camponeses para assegurar a sua reprodução socioeconômica,
a agroecologia se constitui como forma de resistência e reafirmação desses sujeitos no
espaço rural brasileiro.
Neste texto, a utilização do termo região de Irará se define pelos municípios que
agregam a EFAMI. Contudo, a base de dados da discussão que se estabelece toma por
referência, a realidade do município de Irará, em virtude da referida escola encontrar-se lo-
calizada neste município. Este município apresenta características que norteiam o conceito
de agroecologia. Isto se explica porque a maior parte dos camponeses de Irará, que ocupa
as pequenas propriedades, trabalha com uma agricultura tradicional, onde se nota a exis-
tência de um saber fazer característico de uma herança cultural, marcada pela construção
de histórias de resistências e lutas no campo.
Há uma diversidade na produção, destacando-se atividades agrícolas e também ar-
tesanal, e isto se caracteriza como um dos princípios da agroecologia. Neste sentido, o
processo de formação política dos camponeses é defendido enquanto uma das táticas de
luta para a sua permanência no campo. É neste contexto que se situa o curso de formação
de monitores na EFAMI.

MÉTODO

O método é um caminho que adotamos no sentido de orientar a pesquisa. Ela funcio-


na como um guia. Porém, é preciso ser vigilante para que a mesma não nos aprisione. Por
conseguinte, o método adotado como instrumento de mediação da pesquisa é o materialista
histórico dialético.
As categorias de análise marxistas exprimem formas de modo de ser, determinações
de existências, elas são categorias ontológicas, objetivas e reais. Por isso, tanto real quanto
teoricamente, as categorias são históricas e transitórias (NETTO, 2011).
Nesse sentido a classe trabalhadora deve buscar a emancipação humana através da
autonomia política, soberania alimentar, entre outros meios. Ou seja, é uma luta pelo forta-
lecimento das organizações populares e conquista de direitos sociais (CHAUÍ, 2000). Logo,
é uma luta pela reprodução da vida. São esses fatores que justificam a necessidade da
autonomia da classe trabalhadora e seu rompimento com o processo histórico de alienação.

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30
RESULTADO

A Produção do Espaço Agrário do Município de Irará: O Camponês em Questão

Semelhante ao que ocorreu em outras partes do Brasil, a agroexpotação foi a base


econômica predominante na Bahia. Essa atividade concentrava a maior parte da produção
de cana-de-açúcar, pecuária bovina e fumo. De outro lado, a produção de subsistência era
praticada em regiões desfavoráveis ao cultivo comercial das monoculturas, tanto por peque-
nos produtores que não tinham capital suficiente para construir engenhos, quanto por escra-
vos, em seus dias de descanso, e por índios “domesticados1” (CARDOSO, 1987). É neste
contexto que a agricultura no Sertão baiano consolidou-se simultaneamente à criação do
gado bovino. A pecuária bovina se desenvolveu como atividade econômica para o mercado
estadual e nacional e a produção de alimentos primários para o mercado local e o abaste-
cimento da colônia.
Nessa direção encontra-se o município de Irará, que foi constituído no final do século
XVII e início do século XVIII. Este município pertenceu à região de Cachoeira até os anos
de 1823, quando foi incorporado ao município de Feira de Santana, até 1842, ano em que
ocorre sua independência político-administrativo (SEI, 2012).
No século XVII a produção da cana-de-açúcar era altamente rentável, ocupando a
maior parte das terras do Recôncavo Baiano. Foi com a intenção de expandir a produção
da cana-de-açúcar e do gado bovino para o sertão baiano que o capitão Antônio Homem de
Afonseca Correia e Diogo Alves Campos, ainda sob concessão de sesmarias, iniciaram em
1717, a construção do povoado de Irará, através da instalação de dois engenhos de açúcar
e de currais de gado. “A colonização veio provavelmente, através de Cachoeira, pelo sul de
nosso município. Diogo Alves Campos instalou seu curral de gado onde hoje é a Fazenda
Brotas, pois naquele sítio se erguia a Capela de Nossa Senhora das Brotas” (PMI, 1988, p.28).
Na mesma época foi construída pelo capitão Antônio Homem de Afonseca Correia
em sua propriedade, a Capela de Nossa Senhora da Purificação. A construção da capela
favoreceu a instalação dos Jesuítas na região, cuja tarefa era promover a ocupação do
espaço local. Os Jesuítas foram responsáveis pelas missões de catequização dos índios
Paiaiás2 que habitavam essas terras. Os índios organizavam frequentemente ataques as

1 Esses índios, considerados “índios de pazes” ou “índios amigos”, eram catequizados, batizados e aldeados em outras áreas, de onde
eram periodicamente retirados para prestarem serviço aos colonizadores (FREIRE, MARELHOS, 2010, p. 32).
2 Não encontramos registro do modo de vida dos Paiaiás na região, já que em Irará as aldeias missionárias concentravam índios de
etnias distintas e de origem das diversas regiões da Bahia. O que encontramos é que os “Tapuias” no século XVII eram identificados
como os índios Payayás e faziam parte da família Kariri, ramo vinculado ao tronco Macro-jê. Disponível em<http://itapicurusuahistoria.
blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html

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grandes fazendas, como forma de resistir às ações ameaçadoras dos portugueses, além de
realizar a caça ao gado na pecuária extensiva. A missão dos Jesuítas na região voltou-se
a assegurar a “domesticação” dos índios através da construção de aldeias missionárias3
(FREIRE, MARELHOS, 2010).
As aldeias foram construídas nas proximidades das capelas de Nossa Senhora da
Conceição de Bento Simões, em 1726, no povoado de Bento Simões; de Nossa Senhora
do Livramento, em 1756, no atual povoado da Caroba e de Nossa Senhora da Purificação,
na Praça da Purificação, sede do município. Foram nas capelas que os jesuítas exerceram
a administração das aldeias (SANTOS, 2008). O processo de aldeamento resultou no exter-
mínio em massa dos índios Paiaiás, pois estes mostraram resistência ao domínio português,
representando uma ameaça aos colonizadores da região (FREIRE; MARELHOS, 2010).
O Arraial de Irará (1832) se destacava pela influência econômica, através da concen-
tração do comércio (engenho de açúcar, gado, fumo, gêneros alimentícios) e por estar no
curso da rodovia estadual (BA 084), a qual se iniciava na Vila de Água Fria, passando por
Irará e seguia em direção ao porto fluvial de Cachoeira. A elevação do Arraial da Purificação
dos Campos de Irará a categoria de município ocorreu em 27 de maio de 1842, através da
Lei Provincial Nº 173, quando passaram a ser distritos de Irará os povoados de Água Fria,
Bento Simões, Serrinha, Coração de Maria, Santanópolis, Pedrão e Ouriçangas. Em 1895
através de sua influência socioeconômica, a Vila de Purificação dos Campos foi elevada
à categoria de cidade com o nome de Irará, pela Lei estadual Nº. 100, de 8 de agosto de
1895 (IRARÁ, 2012).
Fatores como o uso da mão de obra escrava, a formação dos latifúndios através das
concessões de sesmarias, o fortalecimento da pecuária extensiva, da produção do fumo e
de alimentos de subsistência (mandioca, milho, feijão), consolidaram a construção do espaço
agrário do município de Irará. Este também foi refúgio de escravos fugidos e alforriados não
só da região do Recôncavo, mas também, de Salvador e dos municípios do sertão baiano,
principalmente Feira de Santana, regiões onde o trabalho escravo, em grande escala, pre-
dominou até meados do século XIX (SANTOS, 2008).
As pequenas propriedades foram constituídas em áreas periféricas, através da constru-
ção de quilombos de negros e índios que adentravam as terras de Irará em busca de refúgio
(SANTOS, 2008). A formação dessas propriedades também se deu a partir das aldeias

3 As aldeias missionárias foram efetivamente situadas em locais próximos aos povoados portugueses. Possuíam uma igreja ou capela,
uma escola e casas para cada família, bem diferentes das malocas comunitárias e da vida que os índios levavam em suas aldeias de
origem. Seu objetivo principal era concentrar os índios, de nações e culturas diferentes, em um local de fácil acesso, onde pudessem
ser catequizados e “civilizados”, aprendendo os princípios da religião cristã e certos valores como obediência e disciplina, que os
tornavam aptos para serem integrados ao sistema colonial como força de trabalho (FREIRE, MARELHOS, 2010, p. 33-34).

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missionárias, onde pequenas frações de terra eram cedidas aos índios “domesticados”
destinados à produção da agricultura de subsistência. Daí resultam as comunidades rurais
camponesas de Irará, cuja base do sistema produtivo tem sido a produção da mandioca e
dos seus derivados (SEMAI, 2016).
Assim, é no contexto da reprodução do capital que vai se formando uma agricultura de
subsistência no município de Irará. Isto, de certa maneira vai proporcionando a participação
da burguesia no mercado agropecúario nas escalas regional, nacional e global. Ao mesmo
tempo, é do interior dessas relações de produção que as comunidades rurais camponesas
vão se formando, cujos camponeses4 vão vivendo em pequenas área de terras e dedican-
do-se à produção de alimentos. Segundo o IBGE (2006) e GeografAR (2010), em Irará as
famílias que vivem nas comunidades rurais ocupam estabelecimentos com área de menos
que 2 hectares, o que corresponde a 67% dos estabelecimentos do município. Do percentual
restante, destacam-se 9 estabelecimentos (29%) que ocupam área significativa de terras do
município, com área entre 100 a aproximadamente 500 hectares.
Desse modo, mediado por subordição, exploração e resistência, os camponeses vão
reelaborando em sua comunidade de origem, ou em outros espaços, quando necessitam
migrar, estratégias de reprodução da vida. É neste sentido, Bartra Vergés (2011), ao tratar
dos camponeses mexicanos, os coloca na condição de diversificados, obrigatoriamente
inquietos e que permanecem, sobretudo por seu modo de transformar, os quais são iden-
tificados em valores e projetos implícitos em suas múltiplas e complexas estratégias de
sobrevivência. Apesar deste autor tratar do campesinato mexicano em suas transformações
mediante sistema do capital, as reflexões que realiza, ajudam também a compreender o
campesianto no Brasil.
Nota-se assim, no espaço rural em Irará, de um lado o predomínio de uma população
vivendo um processo de fracionamento da terra de herança e com dificuldades em adquirir
novos lotes, ou mesmo produzindo em condições que limitada a sobrevivência da famí-
lia. Do outro lado, um processo de concentração das terras, levando muitos agricultores a
submeterem sua força de trabalho total ou parcial ao assalariamento e a migrar para a cidade
em busca de meios que garantam sua reprodução.

4 Para Martins (1983, p. 16), o campesinato brasileiro “é constituído com a expansão capitalista, como produto das contradições dessa
expansão. Por isso todas as ações e lutas camponesas recebem do capital, de imediato, reações de classe: agressões e violência,
ou tentativas de aliciamento, de acomodação, de subordinação.”

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Agroecologia Como Contraponto à Modernização da Agricultura no Campo Brasileiro

O processo de modernização do campo no Brasil, instituído na década de 1970 com a


Revolução Verde, foi altamente concentrador e excludente, beneficiando fortemente o gran-
de produtor, latifundiário e deixando à margem os pequenos produtores rurais (CAPORAL,
2009). Deste modo, as políticas públicas para o campo possibilitaram o aumento da oferta
dos produtos que visavam suprir as necessidades do mercado externo, deixando o mercado
interno em situação vulnerável quanto à produção de alimentos para a subsistência. Dentre
os principais produtos para a exportação, encontravam-se a cana-de-açúcar, o café, a ma-
mona, o milho e o algodão (MARTINS, 1983).
Em resposta a este processo de concentração de terras e de exclusão social, emergem
na década de 1990, mobilizações e reivindicações dos pequenos produtores organizados,
propondo políticas públicas que possibilitassem condições dignas para a sua reprodução
enquanto camponês. Neste contexto, são criados programas de desenvolvimento rural com
o objetivo de integrar o camponês ao modelo produtivo da agroindústria, tornando-o depen-
dente da indústria de agroquímicos.
Neste cenário, marcado fortemente pela orientação das políticas neoliberais, o Estado
brasileiro consolida a existência de uma nova categoria social no campo: o agricultor fami-
liar, cujo propósito era enfraquecer a organização de agricultores camponeses que lutavam
pelo acesso à terra e às condições de produção e reprodução. Os camponeses reagem,
por não se sentirem contemplados nessa categoria, uma vez que a sua inserção nesta
política comprometeria sua organização social, tirando-lhe a autonomia política e produtiva
(FERNANDES, 2003). Contrapondo-se a este modelo de desenvolvimento pautado para o
campo, os camponeses organizados em movimentos sociais propõem a agroecologia como
um caminho possível para superar o modelo de produção convencional5 (CAPORAL, 2009).
A Agroecologia apoia-se em princípios que visam uma produção que assegure aos
agricultores condições dignas de vida como moradia, saúde, educação, infraestrutura, sa-
neamento básico. Defende proposta sócio-política e econômica para os pequenos produ-
tores. Nela predomina a valorização dos aspectos culturais e regionais, promovidas pelas
experiências tradicionais dos povos (PETERSEN, 2013), onde a prioridade é a segurança
alimentar, o policultivo, e a interação da produção animal e vegetal (ALTIERI, 2004). Também
busca uma retomada histórica das técnicas da agricultura tradicional, suprimidas no processo

5 Agricultura convencional também denominada de agricultura moderna ou industrial foi consolidada após o processo de moderniza-
ção do campo como consequência da revolução verde. Esse modelo de produção tem como características o uso de agroquímicos,
sementes geneticamente modificadas, mecanização da produção e a dependência da agricultura a indústria (CAPORAL, 2009).

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capitalista de desenvolvimento rural, cujas práticas são tão antigas como a origem da agri-
cultura (HECHT, 1999).
A agroecologia é um instrumento da luta camponesa que se contrapõe ao agronegócio
e ao mesmo tempo se constitui como ferramenta de enfrentamento às políticas hegemônicas
do campo, configurando-se como instrumento de resistência do camponês. Na concepção
de Gonçalves (2009):

Agroecologia corresponde fundamentalmente a um campo de conhecimentos


de natureza multidisciplinar, que pretende contribuir na construção de estilos
de agricultura de base ecológica e na elaboração de estratégias de desenvol-
vimento rural, tendo-se como referência os ideais da sustentabilidade numa
perspectiva multidimensional de longo prazo, superando, portanto, o viés eco-
nômico e ambiental/econômico presente nas agriculturas industriais e orgânicas
(GONÇALVES, 2009 p.80).

Dessa maneira, a agroecologia se constitui como uma ferramenta teórico-prática de


disputa ideológica, econômica, técnica e cultural, que possibilita o avanço da consciência
política dos sujeitos do campo. É nela que os camponeses poderão legitimar-se como classe
necessária à conservação ambiental aliada ao desenvolvimento da produção (GUZMÁN;
MOLINA 2013). É também instrumento não apenas de promoção da agricultura sustentável,
mas de autonomia do camponês. Para Altieri (2004):
O monitoramento da produtividade, da integridade ecológica e da igualdade social deve
ir além da quantificação da produção de alimentos e do controle da qualidade do solo ou
da água. Deve incluir, além disso, os níveis de segurança alimentar, fortalecimento social,
potencial econômico e independência ou autonomia dos camponeses (ALTIERI, 2004, p.64).

No município de Irará os princípios da agroecologia se manifestam dentro


das propriedades através da organização da produção de base familiar, nas
técnicas tradicionais de manejo do solo, no respeito à biodiversidade, na reci-
clagem de nutrientes, na segurança alimentar, no trabalho coletivo através dos
mutirões. E manifesta-se para fora das propriedades por via da comercialização
na feira livre, momento em que o agricultor dialoga com a comunidade local.

Dentre as principais dificuldades que ameaçam a reprodução do pequeno produtor


no campo estão: os baixos preço dos produtos da agricultura camponesa no mercado; a
subdivisão da pequena propriedade familiar através do fracionamento da terra de herança,
já que os filhos não possuem condições econômicas para adquirir novos lotes de terra; falta
de oportunidade de emprego para a juventude; violência e migração do campo para centros
urbanos, como consequências da falta de políticas públicas que garantam a permanência
e reprodução do camponês no campo.

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Para garantir a reprodução do camponês é preciso romper com a relação de subordi-
nação ao capital e reivindicar do Estado o direito à terra e à criação efetivação de políticas
públicas que garantam preço justo, créditos, assistência técnica, equipamentos que possibi-
litem o beneficiamento da produção, além do acesso à saúde, educação e lazer. Isto requer,
um processo de luta da classe camponesa, aliado à luta dos demais trabalhadores. Porém,
esta luta demanda a construção da consciência de classe, o que se constrói com formação
qualificada por teoria revolucionária para transformação da realidade vigente.

DISCUSSÃO

Formação de Monitores em Agroecologia: Uma Experiência na Escola Familiar Agrícola


da Região de Irará (Efami)

O município de Irará (BA) possui área de aproximadamente 277 km². Está localizado
na microrregião de Feira de Santana e é pertencente ao Território de Identidade Portal do
Sertão. Este território é formado pelos municípios de Água Fria, Amélia Rodrigues, Anguera,
Antonio Cardoso, Conceição da Feira, Conceição do Jacuípe, Coração de Maria, Feira de
Santana, Ipecaetá, Irará, Santa Bárbara, Santanópolis, Santo Estevão, São Gonçalo dos
Campos, Tanquinho, Teodoro Sampaio e Terra Nova

FIGURA 1. Irará/BA – Mapa de Localização.

Elaboração: Fábia Antunes Zaloti.

Os municípios de Irará, Água Fria, Coração de Maria, Ouriçangas, Pedrão e Santanópolis


conformam a área de abrangência da Escola Família Agrícola dos Municípios Integrados
da Região de Irará (EFAMI). Esses municípios são atendidos por serviços como saúde,
educação, rede comercial, rede bancária entre outros, oferecidos em grande parte pelo
município de Irará.

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O projeto de extensão formação de monitores em agroecologia foi uma experiência
desenvolvida na EFAMI, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atuou
na formação dos estudantes, entendidos enquanto monitores, visando apropriação de uma
consistente base teórica, para promover elevação do pensamento e leitura crítica da or-
ganização do espaço agrário do município de Irará, identificando contradições e possíveis
alternativas de superação dessa realidade.
O referido curso se propôs a analisar a organização sócio-política e produtiva de base
agroecológica e as relações de trabalho no campo, assim como seus desdobramentos na
produção do espaço do município de Irará (BA). Dessa maneira a metodologia utilizada
inicialmente para compreensão da realidade do espaço rural do município de Irará foi a
análise de dados secundários e dados primários com respaldo na pesquisa empírica e nos
fundamentos teóricos críticos.
Os dados primários foram identificados no município, com trabalho de campo, incluindo
visitas com entrevistas junto aos diferentes agentes que interferem na produção do espaço
geográfico local. Dessa maneira, foram definidos os seguintes procedimentos de coleta de
dados: observação dos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais na área estuda-
da, registro audiovisual e fotográfico, aplicação de questionários e realização de entrevistas
semiestruturadas com caráter qualitativo.
Os objetivos específicos do curso foram os seguintes: analisar a estrutura fundiária do
município de Irará e suas implicações socioeconômicas; identificar os principais elementos
que estruturam a organização sócio-política dos pequenos produtores; identificar o perfil
dos agricultores que atuam nas pequenas propriedades e as atividades por eles realizadas;
analisar a divisão do trabalho no interior da unidade familiar; identificar as políticas de de-
senvolvimento rural no município de Irará e suas implicações socioespaciais.
O curso foi organizado em seis eixos, os quais foram considerados fundamentais na
compreensão do espaço rural de Irará e região: Questão agrária; Agroecologia, População,
Movimentos sociais, Políticas públicas e educação popular. No eixo a questão agrária bus-
cou-se discutir a formação do campesinato no Brasil; raízes históricas da Agricultura Familiar;
formação e atualidade da agricultura camponesa em Irará; industrialização e modernização
da agricultura e estrutura fundiária de Irará.
No eixo população foram debatidos temas como: a população e o homem; a população
e o poder; migração como elemento da dinâmica populacional. Em Agroecologia a discussão
visou compreender a evolução e características do sistema agrícola e do sistema alimentar
contemporâneo; problemas sociais, econômicos e ambientais gerados pelo agronegócio;
agriculturas alternativas e propostas de desenvolvimento agrícola sustentável; agroecologia
como proposta de superação ao agronegócio.

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No eixo Movimentos sociais buscou-se analisar os modos de produção, capitalismo
e socialismo; tarefas da revolução socialista e a formação da consciência política. O eixo
políticas públicas visou discutir as políticas públicas na contemporaneidade; políticas públi-
cas e a reprodução do campesinato e a territorialização das políticas públicas na região da
EFAMI. A discussão sobre princípios e práticas da educação popular na formação da classe
camponesa para sua organização e enfrentamento ao projeto capitalista burguês, sustentou
o trabalho do eixo Educação popular.
Além de propor diversas discussões, pautadas na análise da realidade, por meio da
leitura de textos e na exibição e síntese de filmes, realização de oficinas, o curso também
realizou ações como exemplo, rodas de conversa com a comunidade escolar; socialização
do conhecimento nas comunidades onde residem os cursistas; participação em seminários e
eventos fora do ambiente da EFAMI e construção de um jornal da realidade do espaço agrário
nos municípios da região da EFAMI. Tais ações voltaram-se ao aprofundamento das temá-
ticas Questão agrária e Agroecologia, frente à produção do espaço rural da região de Irará.

CONCLUSÃO

Em um cenário onde as relações sociais de produção priorizam a acumulação, a con-


centração da terra e a produção de alimentos para o mercado, a agroecologia é tomada
enquanto uma possibilidade de superação desse quadro. Neste contexto, o campesinato
se define enquanto classe social que estabelece suas táticas de luta e resistência para a
garantia da sua reprodução no campo.
Desse modo, constata-se que os princípios da agroecologia que tem se evidenciado
no município de Irará, se expressam por meio da agricultura tradicional nas diversas ma-
nifestações do saber fazer camponês. Tais saberes, inerentes aos camponeses de Irará
e da sua região, se revelam na diversidade da produção agropecuária e nas suas rela-
ções socioculturais.
Sendo assim, a formação de monitores em agroecologia da EFAMI se localiza no
plano das táticas e tem como propósito fundante o empoderamento da classe camponesa
na região de Irará. O horizonte a ser alcançado perpassa pelo fortalecimento da auto-or-
ganização camponesa para que a mesma possa apropriar-se dos instrumentos de luta nas
reivindicações de direitos: acesso à terra, à educação identificada com as lutas do campo,
ao crédito para a melhoria da produção e da produtividade, à assistência técnica, insumos
e tecnologias voltadas ao desenvolvimento da pequena propriedade.

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04
Análise dos parâmetros fisico-química
e fitotoxicologia de compostagem de
resíduos do processo de vinificação

Ana Paula Rosso Balbinotti


IFSUL Campus Pelotas - Visconde da Graça - CAVG

Jorge Antonio Barbosa Dias


IFSUL Campus Pelotas - Visconde da Graça - CAVG

'10.37885/220809746
RESUMO

O objetivo do trabalho foi avaliar a estabilização do resíduo proveniente do processo de


vinificação através da compostagem. Foi feita a compostagem dos resíduos provenientes
de processo de vinificação tendo casca de arroz como estruturante, foi utilizado um galpão
coberto onde foram feitas três pilhas com uma repetição cada, constituídas de bagaço de
uva branca e casca de arroz, bagaço de uva tinta e casca de arroz, e misto de uva tinta e
uva branca com casca de arroz, efetuando todas as técnicas de feitura de compostagem,
desde o controle de umidade, temperatura, aeração, pH, relação C/N, com coletas aos zero,
30, 60 e 90 dias do material compostado para análises de germinação e físico-químicas,
obtendo aos 90 dias produção de um adubo orgânico livre de toxicidade, de valor agronômi-
co, contribuindo desta forma com a possibilidade de dar um destino correto aos resíduos da
vinificação e de beneficiamento de arroz (casca) diminuindo com isto os impactos causados
por estas atividades. O experimento comprovou a redução da fitotoxicidade, chegando à
coleta final aos 90 dias com resultados que indicam que o produto (composto), considerando
os parâmetros analisados, possui valor agronômico, e não possui caráter fitotóxico.

Palavras-chave: Resíduos, Vinificação, Agroindústrias, Compostagem, Fitotoxicidade.


INTRODUÇÃO

Este capítulo tem como objetivo apresentar os resultados da avaliação da estabilização


do resíduo proveniente do processo de vinificação através da compostagem. Neste sentido, é
primordial destacar que o crescimento populacional acarreta a necessidade da produção de
alimentos de origem agrícola e/ou pecuária, em quantidade capaz de suprir a necessidade
desta população tendo como consequência negativa o volume de resíduos gerados. Com o
crescimento da população e o consequente aumento do consumo, passou a ser gerado um
volume exagerado de resíduos (SAATH, et al, 2018; EMBRAPA, 2018; PEREIRA, et al, 2022).
No contexto acrescentamos o trabalho da agroindústria que seria o beneficiamento
desta produção ou sua transformação em outros tipos de alimentos de necessidade e agrado
da população usuária (ARAÚJO, 2007).
Os subprodutos das atividades agropecuária e agroindustrial se constituem em um
problema econômico e socioambiental acarretado pelo enorme volume de resíduos líquidos
e sólidos gerados (FIORI, et al, 2008).
Os resíduos orgânicos após passarem por um processo de compostagem se trans-
formam em composto orgânico, contribuindo desta forma, na redução de despesas com
aquisição de adubos comerciais, e se produzidos em larga escala poderão competir com os
adubos artificiais, diminuindo o seu uso, produzindo alimentos mais saudáveis e reduzindo
os impactos ambientais por eles causados. Segundo Araújo (2021) a diminuição da quan-
tidade de resíduos que seriam destinados de forma incorreta, nesse processo, possibilita o
uso alternativo de materiais, assim contribuindo para a diminuição da poluição ambiental.
Quando o manejo dos resíduos é associado a uma correta gestão ambiental da ativida-
de como um todo é notável a redução de gastos, tanto em insumos quanto em tratamento,
disposição de resíduos, consumo de água e energia. Desta forma, esse tipo de gestão pode
ser considerado eficaz no trabalho de preservação dos recursos naturais, permitindo desta
forma que se possa continuar produzindo, porém, sem prejuízos de qualidade de vida para
as gerações futuras (GUEVARA, 2019).
A compostagem é uma prática, já há muito utilizada, que estabiliza os resíduos orgâni-
cos, onde o agricultor pode utilizar restos de produtos tanto de origem animal como vegetal,
assim como, resíduos gerados pela agroindústria e outros setores. O composto orgânico
gerado pode ser utilizado para melhorar as características do solo, com finalidade de obter
melhor produção (CUSTÓDIO et al, 2011).
Muitos produtores ainda fazem esse processamento sem conhecimento técnico cien-
tífico, o que pode, de alguma forma, trazer prejuízos ao invés de benefícios, por causa da
produção de material potencialmente não estabilizado, ou da concentração de microrganis-
mos patogênicos ou nutrientes em excesso (SANTOS et al, 2006).

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Dentro dos setores produtivos que mais se desenvolve no Rio Grande do Sul é a viti-
cultura, que é uma das principais atividades econômicas na região nordeste do estado. A vi-
ticultura é uma das atividades de grande importância para desenvolvimento de algumas
regiões, gera empregos nas organizações que processam a uva, tanto na produção de uva
quanto na mesa, sendo o Sul do país o maior produtor (GALLAN et al, 2015).
A uva processada industrialmente gera como resíduos principalmente o engaço, o ba-
gaço e sementes e outros de menor importância, sendo que o engaço, a baga e as sementes
se descartados de forma adequada podem ser explorados economicamente na forma de
adubo orgânico após passar por um processo de compostagem. O bagaço se constitui da
película, restos da polpa e sementes de uva, que em condições normais representa 15%
do peso do grão (GIROLETTI, 2019).
Todo o resíduo sólido e líquido do processo de vinificação tem destinos econômicos
seja na transformação em adubo orgânico, seja na produção de tanino, corantes ou outras
finalidades (RIGHI, et al, 2020). Mesmo com todas as formas viáveis de destino econômico
e ambientalmente correto destes resíduos, eles são muitos e não raras vezes desprezados
e descartados de forma incorreta, vindo a causar impactos ambientais, muitas vezes, irrever-
síveis. Segundo Gallan et al (2015) apesar do bagaço da uva agregar valor e ser benéfico
como alimento bovino, parte deste resíduo não está sendo descartado corretamente.
Além da possível contaminação direta, o maior impacto provocado pelo descarte in-
correto dos resíduos da vitivinicultura é a contaminação águas subterrâneas que s dá em
função da lixiviação, podendo chegar aos reservatórios de água usada para o consumo de
animais e humano, contaminação do próprio solo, alimentos de origem agrícola e animal.
Segundo Ferrari (2010) os resíduos da vinificação usados como fertilizante podem devolver
à própria videira 50% dos nutrientes retirados, com a vantagem de devolvê-los praticamente
livres de contaminantes.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com imensa atuação agroin-
dustrial. No país a área plantada é de aproximadamente 75 mil hectares de uva. Neste cenário
o Rio Grande do Sul é responsável pela maior área plantada no país, representando 62,68%
da área brasileira do setor no país, e produzindo em 2017, um milhão de toneladas de uva
(IBGE, 2017). O Rio Grande do Sul produziu 48,2 milhões de litros de vinho em 2021, 21%
acima da produção de 2021 (UVIBRA CONSEVITIS-RS, 2021).
O Brasil também destaca-se como um dos maiores produtores mundiais de arroz. O Rio
Grande do Sul possui uma área de plantio de arroz de cerca de 2 milhões de hectares a
maior produção do país, representando cerca de 70% da área brasileira do setor no país

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(IBGE, 2018). A casca de arroz é o subproduto gerado em quantidade mais expressiva no
seu beneficiamento representando 22% de sua massa. Conforme Zhang Chen e Xiong (2018)
a casca é normalmente queimada ao ar livre ou descartada de maneira incorreta.

Compostagem

Compostagem é o processo de transformação dos resíduos orgânicos de várias ativi-


dades em adubo orgânico, tendo como finalidade dar um destino ambientalmente adequado
para esses resíduos, além de, diminuir impactos ambientais e gerar um benefício econômico
(SIQUEIRA et al, 2016; GRIGGIO et al, 2016).
Segundo Pereira Neto (1987) e Cerri (2008) compostagem pode ser definida como
o processo de tratamento de resíduos orgânicos de origem urbana, industrial, agrícola ou
pecuária e florestal que após sua cura passa a ser utilizado como um adubo orgânico.
Pode ser feita em pilhas, leiras ou reatores, onde a relação carbono/nitrogênio é o
principal ponto a ser observado, cuja relação vai definir aumento ou diminuição da tempe-
ratura, que juntamente com a umidade, são os parâmetros principais para o aparecimento
dos microrganismos responsáveis pela decomposição do material utilizado, da eliminação
de sua toxicidade e de patógenos presentes.
O produto compostado, estabilizado e higienizado, benéfico à produção vegetal, pode
ser denominado composto orgânico (ZUCCONI, et al 1987; CONAMA, 2017).

Microrganismo

O processo de compostagem se inicia com a ação dos microrganismos que metabo-


lizam o nitrogênio orgânico, e transformam em nitrogênio amoniacal, com o decorrer do
processo a amônia é perdida por volatilização. Mas, se não houver condições aeróbicas, o
nitrato presente será perdido por desnitrificação e este fenômeno tem efeito de alcalinizar
(OLIVEIRA et al, 2008).
Segundo Chang et al (2008) o ajuste destes fatores vai resultar em condições ideais para
o desenvolvimento da microbiota original do material a ser decomposto, liberando metabólitos
e energia térmica, que vão elevar e manter a temperatura dos resíduos em decomposição.

Temperatura

A temperatura é um fator de grande importância pois transforma a matéria orgânica,


além de ser responsável pelo processo na qual a eliminação de patógenos. Para Valente
et al., (2009) a temperatura é considerada um dos fatores mais importantes e indicador da

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eficiência do processo de compostagem, por estar relacionada ao processo de atividade
dos microrganismos.
As temperaturas de um processo de compostagem podem variar de 20ºC a 65ºC
(KIEHL, 2004). Na sua fase inicial as temperaturas podem variar de 20ºC e 40°C, sendo
chamada de fase mesófila, onde existe a decomposição da matéria orgânica por meio de
bactérias que se adaptam a este nível de sua temperatura. Na fase termofílica, as tempe-
raturas podem alcançar valores acima de 65°C.
Após chegar a um determinado estágio de decomposição, a temperatura sofre o declínio
para fase mesófila, com isso, ocorre o início da estabilização do composto, neste período
se mantém a degradação do material compostado até atingir a temperatura ambiente, e é
quando o composto se encontra em estágio de maturação. Após a fase termofílica, ocorre
a fase de estabilização, a qual atinge a terceira fase, onde ocorre a maturação ou humifica-
ção (KIEHL, 1985).

Umidade

A umidade afeta diretamente a ação microbiológica, assim como, a extrutura do pro-


cesso de compostagem, teores muito baixos limitam a degradação, assim como, teores
muito altos afetam a degradação. Segundo Richard et al., (2002) o teor muito alto de umi-
dade diminui a entrata de oxigênio na pilha ou leira de compostagem, a matéria orgânica é
hidrófila, ou seja, suas moléculas de agua se aderem facilmente, fazendo com que ocorra a
saturação de seus micro e macro poros (ECOCHEM, 2004) vindo a afetar a as propriedades
físico químicas do composto (TIQUIA et al, 1998). A faixa ideal fica entre os 50% e 60%, o
que vai depender dos elementos compostados, a umidade conntida no próprio material, sua
capacidade de retenção, seu tamanho das partículas. Conforme Fernandes et al., (1999) a
atividade biológica e a biodegradação se tornam lentas a teores de umidade inferior a 40%.

pH

A compostagem é desenvolvida em uma faixa bastante ampla de pH, que varia entre
4,5 até 9,5, sendo seu valor regulado pela ação dos microrganismos.
Valores baixos de pH indicam falta de maturação devido a um processo rápido ou a
ocorrência de processos anaeróbicos no interior da pilha ou leira. Conforme a variação de pH
do composto, podemos avaliar o estado da compostagem, no início da compostagem o pH
pode decrescer e chegar a valores próximos 5, com a evolução do processo, até sua estabi-
lização, aumenta gradualmente alcançando valores entre 7 e 8 (JIMÉNEZ; GARCIA,1989).
Conforme é digerida a matéria organica pelas bactérias e fungos é liberado ácidos
orgânicos que se acumulam no meio. Após este período estes ácidos são decompostos e

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oxidados. Se o pH descer para valores inferiores a 4,5 por falta de oxigênio, haverá uma
limitação da atividade microbiana o que vai retardar o processo de compostagem. Caso isso
venha a ocorrer, revolver as pilhas ou leiras já vai solucionar o problema e o pH voltará a
subir. Para Peixoto (1988) a faixa de pH ideal se situa entre 6,5 e 8,0, e se bem conduzida
não apresenta problemas relacionados ao controle do pH.

Aeração

Segundo Lau et al., (1992) para o processo de compostagem a aeração deve ser con-
tralada, uma vez que, o excesso de aeração pode fazer com que a perda de calor seja mais
intenso e a produção de atividade microbiana diminua. Para Kader et al (2007) comenta
em sua pesquisa que o excesso de aeração pode causar o aumento da emissão de gases
poluentes e odores indesejados no processo de compostagem.

Relação C/N

Segundo Prosab (1999) a relação C/N ideal para inicio processo de compostagem
é em torno de 30:1 e no final do porcesso de compostagem é de cerca de 15:1 e 10:1, a
matéria orgânica é a energia para o processo de compostagem e são obtidos atraves do
cabono, já o nitrogênico é um material rico e tem função de acelarar o processo de com-
postagem, o nitrogênico é importante para crecimento microbiano na compostagem. São
materiais ricos em carbono, palhas, serragens e materiais ricos em nitrogenio estero, resto
de comida, entre outros.

Granulometria

Resíduos de baixa granulometria, como resíduos de corte de grama, podem favorecer


a compactação das pilhas, gerando um ambiente anaeróbico para os microrganismos. Já os
resíduos de maior granulometria também devem ser evitados, pois atrasam o processo de
compostagem. Devido a estes fatores, o tamanho das partículas se torna um fator impor-
tante para a aeração.
Segundo Bidone et al (1999) o tamanho ideal dos resíduos sólidos orgânicos para
compostagem deve se situar entre 1 cm e 5 cm, já para Fernandes et al (1999) a dimensão
ideal das partículas oscila entre 2,5 a 7,5 cm.
O principal objetivo de se fazer a redução do tamanho das partículas é aumentar a área
de superfície em relação ao volume dos resíduos compostados, o que aumentará a taxa de
decomposição. O tamanho das particulas está diretamente relacionado a disponibilidade de
materia para os micorganismos, e visa influenciar além do tempo de eficiencia no processo

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de compostagem (FEAM, 2002). Para Da Silva (2007) partículas maiores promovem melhor
aeração, e partículas muito finas podem dificultar a aeração.

Fitotoxicidade

O teste de fitotoxicidade, visa avaliar os efeitos tóxicos presentes nos meios de cultivo
das plantas (DEVESA-REY et al 2008). É utilizado para identificar água e solos contaminados
através do ídice de germinação, que pode variar entre teste crônicos e agudos, utilizando
um biodindicador.
Para a avaliação dos efeitos tóxicos de deterniamdas substâncias na compostagem
tem sido feita através da realização dos testes que utiliza organismos como sementes de
hortaliças que ficam expostas a mesma diluição da amostra e posterior observações dos
efeitos de gernimação e crescimento das plantas teste (VIEIRA, 2010).
Os diferente tipos de toxicidade podem causar doenças nos seres humanos, como
câncer, obesidade, hipertensão, entre outras doenças (DCPA, 2020).
Segundo Tavares et al (2019) na fase de germinação as sementes passam por diversas
mudanças fisiológicas, e acabam ficando sensíveis a qualquer fator de estresse ambiental,
com isso, as sementes das plantas como exemplo hortaliças que são biodindicadores de
elementos tóxicos. A lactuca Sativa é um ótimo bioindicador, devido sua simplicidade é
economicamente viável e também não precisa de uma quantidade relativa de amostras.
Para Charles et al (2011) e Guevera (2019) os ensaios fitotoxiciológicos de alface (Latuca
Sativa) tem como destaque a facilidade de implementação e não é necessário utilizar equi-
pamentos grandes.

MÉTODOS

Localização da pesquisa

A pesquisa foi desenvolvida nas imediações do setor de Indústria do campus Pelotas-


Visconde da Graça do IFSul, situado no município de Pelotas-RS, com coordenadas geográ-
ficas 31º46’19” de latitude S e 52º20’33” de longitude W, à 7m acima do nível do mar. O ex-
perimento foi conduzido de 28 fevereiro a 30 maio de 2019.

Delineamento

Foram formadas seis pilhas, com três tratamentos e duas repetições, com a mistura
de sete resíduos diferentes, denominados bagaço (bagaço de uvas brancas, tintas e mis-
tas) tendo como material estruturante casca de arroz, utilizando como volume de medida,

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um balde com capacidade de 10 litros. Cada pilha formou uma base circular de 85 cm de
diâmetro com altura de 67 cm, contendo dez volumes.

• T1: 9 volumes de resíduos de uva branca + 1 volume de casca de arroz;


• T2: 4,5 volumes de resíduos de uva branca + 4,5 resíduos de uva tinta + 1 volume
de casca de arroz;
• T3: 9 volumes de resíduos de uva tinta + 1 volume de casca de arroz;

As pilhas foram operadas simultaneamente, instaladas em galpão coberto, aberto em


duas laterais, dotadas de telas para livre circulação de ar e impedindo a circulação de ani-
mais domésticos, com piso de concreto, portanto, local livre da ação direta das intempéries.

Figura 1. Todos os Tratamentos.

Fonte: Autor (2019).

Parâmetros analisados

Os parâmetros analisados diariamente foram a temperatura das pilhas, a umidade e


temperatura ambiente.
Foram retiradas amostras de cada uma das pilhas no dia de implantação do experimento
e com 30 (trinta), 60 (sessenta) e 90 (noventa) dias, coletando de pontos acima, abaixo e
no meio da pilha, homogeneizando para formar cada amostra.

Índice de germinação

Foram realizadas análises de Índice de Germinação (IG), para o ensaio de fitotoxi-


cidade foi realizado no Laboratório de Sementes do IFSul Campus Visconde da Graça –
CAVG. As sementes utilizadas foram de Lactuca sativa (safra 2016/2017). Foram plantadas
dez sementes em quatro repetições usando água destilada denominada “Branco”, cujos
parâmetros foram a base comparativa para índice de germinação (IG). Após permanecerem

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incubadas por 48 horas em uma BOD a 22ºC, tiveram suas raízes medidas com auxílio de
um paquímetro digital. Conforme Zuconni et al (1998), utilizando a formula: IG= (G*Lm/Lc).

Análises físico-químicas

As análises físico-químicos foram realizadas no Laboratório de Solos da UFPEL /


FAEM - Faculdade de Agronomia Eliseu Maciel da Universidade Federal de Pelotas, onde
possui certificação no programa da SBCS - Sociedade Brasileira de Ciências do Solo. Foram
analisados: Carbono orgânico, Nitrogênio Total, e Relação C/N, P, K, Ca, Mg, S, Na, Cu,
Zn, Fe, Mn e umidade.

Análise estatística

A análise dos resultados referente a fitotoxicidade foi submetido ao teste de variância,


ANOVA, e para comparação dos tratamentos foi utilizado o procedimento “MEANS TRAT /
TUKEY LINES”, sendo as médias comparadas através do teste Tukey a 5% de probabilidade
(P<0,05). O programa estatístico utilizado foi o SAS-2000.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Temperatura

Segundo Bernardi (2011), a compostagem apresenta 3 fases: mesófila, termófila e


mesófila. Verifica-se que as temperaturas seguiram a mesma tendência em todas as pilhas
de todos os tratamentos e suas respectivas repetições, desde o início do processo até o seu
final, quando as pilhas atingiram temperaturas próximas ao ambiente.
Analisando as figura e podemos observar que as duas repetições de cada um dos expe-
rimentos com diferentes tipos de bagaço de uva, mas de mesmo estruturante, apresentaram
as três fases citadas, o que indica que no parâmetro temperatura o composto apresentou o
desenvolvimento correto conforme é no gráfico de Kiehl (2004).

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Figura 2. Temperaturas.

60

50

40

30 T1
T2
20 T3
Temperatura Ambiente
10
0
28/fev 28/mar 28/abr

Tempo (dias)

Fonte: Autor (2019).

A evolução das temperaturas em T1, T2 e T3 apresentaram uma fase mesófila nos


três primeiros dias, evoluindo para a fase termofílica que subiu gradativamente dos 40ºC a
56ºC em aproximadamente dois dias.
Após este pico a temperatura baixou gradativamente por aproximadamente dois dias,
mantendo está fase de cinco a seis dias, que nos garante a eliminação de todos os pató-
genos existentes, posterior notou-se uma queda gradativa de temperatura por um período
de aproximadamente 40 dias, sempre com temperaturas entre 40ºC a um mínimo de 23ºC,
período de maturação do composto para então entrar numa faixa de temperatura próxima
a temperatura ambiente assim permanecendo até completar 75 dias da evolução do com-
posto, que pode ser observado no gráfico que demonstra todos os tratamentos na figura 2.
A temperatura do composto em locais cobertos não sofre influência da temperatura
ambiente, o que se verifica analisando a temperatura ambiente e do composto em suas
diversas fases (figura 2), para Valente et al. (2009), a temperatura é considerada o mais
importante indicador da eficiência do processo de compostagem, por estar relacionada a
atividade dos microrganismos

Índice de germinação

Os resultados das análises de índice de germinação geraram dados que comparados


com índice de germinação da amostra padrão (Branco) possibilita concluir a ausência ou
presença de toxicidade nas diferentes fases do composto. A água é o principal elemento
da série de eventos fisiológicos sobre o qual passa a semente durante sua germinação, e
segundo Asahide et al (2012), a água faz com que a influência de substancias tóxicas seja
utilizada no processo como precursora de toxicidade.

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O resultado do índice de germinação das sementes de alface (Lactuca sativa) da amos-
tra coletada no início do processo de compostagem, foram inferiores a 60% comparados a
amostra padrão (branco), indica presença de elementos tóxicos, portando não podem ser
aplicados com segurança em solos agrícolas (Gómez - Brandón et al, 2008), já a análise
dos resultados obtidos na amostra coletada 30 dias após o início do processo, mostra que
todos os resultados oferecem índices de germinação satisfatórios acima dos 60%.
Analisados estatisticamente os índices de germinação dos compostos entre si nos
diferentes períodos: 30, 60 e 90 dias é possível afirmar que no período de 60 dias os
compostos T2 e T3 já poderiam ser considerados maturados, livres de toxicidade, con-
forme a tabela 1.

Tabela 1. Índices de Germinação das Amostras Coletadas.

Tabela de IGs (%)

Amostra IGs (Zero dia) IGs (30 dias) IGs (60 dias) IGs (90 dias)
T1 16,01aC 91,68aB 105,87bB 185,96aA
T2 12,91 abD
95,93 aC
120,00 aB
137,21bA
T3 3,32bC 62,90bB 120,69aA 128,18bA
BRANCO 100 100 100 100
As letras iguais significam igualdade estatística. Letras minúsculas representam diferenças estatísticas entre os tratamentos da
mesma data e mesma coluna. Letras maiúsculas representam comparação entre as diferentes datas para o mesmo tratamento.
Fonte: Autor (2019).

Os resultados das análises de índice de germinação observados na tabela 1 das


amostras coletadas aos 60 (sessenta) dias após o início do processo de compostagem, e os
resultados obtidos das amostras coletadas aos 90 (noventa) dias após o início do processo
de compostagem, mostram que todos os Índices de germinação foram superiores a 80% em
relação a amostra padrão. Sendo que na amostra coletada aos 90 (noventa) dias os índices
foram acima de 20% a maior que a amostra padrão (100%), o que nos indica total ausência
de fitotoxicidade. Segundo Young et al. (2012) é considerada tóxica a amostra que inibiu
o crescimento das sementes com resultados abaixo de 80%, e em taxas acima de 120%é
considerada existência de estímulo de crescimento, o que se torna evidente ao analisar-
mos os resultados da amostra colhida aos 80 dias com o composto já estabilizado e livre
de agentes tóxicos, onde o índice de germinação supera os 120%, com exceção de T3 que
apresentou índice bastante elevado de toxicidade nas análises no dia zero.

Parâmetros Físico-químicos

Segundo o MAPA (2020) a quantidade de carbono mínima para um composto é de 15%.

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As quantidades de carbono encontradas em todas as amostras estão de acordo com
teores mínimos aceitáveis para substratos, o que indica que o material compostado continha
a condição necessária do C em todas as fases do experimento.
Sobre o nitrogênio total, todos os resultados comprovaram que o material processado
continha o mínimo indicado pelo MAPA (2020), que é de 5,0 g. kg−1. Apesar de constatarmos
um pico no T3 em 30 dias (15,39 g. kg−1), podemos perceber uma tendência de aumento nos
valores finais com 60 dias, em relação aos iniciais, o que interfere positivamente na relação
C/N, que pode indicar claramente uma tendência de estabilização do composto.
Ao longo do processo a relação C/N tende a baixar, o que favorece a fixação de nutrien-
tes, que posteriormente serão disponibilizados as plantas por meio do composto. Uma boa
relação inicial seria em torno de 30 a 40:1, e a final, ou seja, de um composto maturado e que
pode ser considerado como substrato, seria algo em torno de 10 a 20:1. Para Kiehl (1998),
o acompanhamento desta relação C/N permite, conhecer o andamento do processo, pois
na fase de semicura ou bioestabilização a relação C/N se situa em torno de 18:1. Relações
C/N baixas iniciais favorecem a perda de nitrogênio em forma de amônia, enquanto que em
relações C/N muito altas os microrganismos não encontram N suficiente para a síntese das
proteínas, limitando assim o seu desenvolvimento e reprodução, o que interfere no processo
de compostagem, tornando-o mais lento (OLIVEIRA, 2001).

Tabela 4. Parâmetros Físico-químicos da Relação Carbono/ Nitrogênio (g. kg−1).

Tabela da Relação Carbono/Nitrogênio

Amostra C/N (Zero dias) C/N (30 dias) C/N (60 dias)

T1 34:1 21:1 17:1


T2 23:1 17:1 15:1
T3 27:1 16:1 17:1
Fonte: Autor (2019).

Durante a compostagem, a degradação da matéria orgânica leva a uma redução do


carbono orgânico, consequente aumento do nitrogênio disponível, correndo uma diminuição
da relação C/N. Assim, ao final do processo de compostagem esta relação pode chegar a
valores entre 8/1 a 12/1 (KIEHL, 1998), sendo exigido um fator máximo de 20/1 pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Um aspecto a ser considerado na avaliação do processo é o fato de que todas as pilhas
tiveram uma redução de volume de aproximadamente 1/3, o que coincide com o considerado
adequado para um composto estabilizado.
Segundo Kiehl (1998), um composto pode ter valor agronômico, mas se tiver o IG baixo
não é recomendável para o uso agrícola, o que Mendes (2011) comprova, afirmando que

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não é recomendável basear-se apenas em resultados físico-químicos para considerar um
composto como estabilizado e livre de toxicidade.

Tabela 5. Dados dos T1, T2 e T3 com análises de 60 dias dos compostos.

Trat P K Ca Mg S Na Cu Zn Fe Mn Umidade

g/kg-1 mg/kg-1 %
T1 1,44 23,35 6,15 2,20 1,27 0,18 27,17 23,77 381,39 147,06 67,38
T2 1,68 22,83 5,79 2,10 1,27 0,33 25,88 21,49 346,37 130,46 68,89
T3 2,18 22,95 4,95 1,40 1,28 0,33 27,68 20,7 292,55 109,57 68,17
Fonte: autor (2020).

Dados de cálcio com 60 dias obtiveram variações mínimas de 4,95 tratamento 3 e


máximos de 6,15 T1. Segundo a Instrução normativa n° 61 de 08 de julho de 2020 (MAPA,
2020) recomenda para aplicação ao solo uma quantidade mínima de composto de 1% (10
g kg) de Cálcio (Ca) sendo assim o composto não atendeu a esta condição, assim como no
trabalho realizado pelo Barros (2020) que alcançado dados parecidos com cerca de 5, 17
g/kg-1 (0,51%), ao final do processo de compostagem.
O Potássio (K) apresentou valores finais de 22g/kg-1, dados similares foram encontrados
na pesquisa de (PARADELO, 2009) e também pelo (BARROS, 2020).
Em relação ao Fósforo (P) foram encontrados dados Albuquerque (2006), dados simila-
res foram encontrados pelo mínimas de 1,32 g/kg-1 e máximas de 1,97g/kg-1. Ferro (Fe) foram
encontrados Albuquerque et al (2006), Segundo o autor foram encontrados ferro em concen-
trações superiores em compostagem de resíduos de vinificação valores variaram de 351,7 a
523,0 mg/kg-1 o que não interferiu no resultado final na qual obteve resultados satisfatórios,
dados encontrados na pesquisa foram de mínima 292,55mg/kg-1 e máxima 381,39mg/kg-1.
Umidade (%) dos três tratamentos foram acima de 60%. Segundo o Mapa (2020) o má-
ximo recomentado para composto é de 50% de umidade. Já para Chowdhury et al (2013) o
teor de umidade deve estar na faixa de 40 a 70% de umidade para ser considerado adequado.
Segundo Fernandes et al (2005), a aplicação dos resíduos de bagaço não tratados
colocados diretamente no solo pode conduzir ao aumento de teor de cobre (Cu), zinco (Zn)
e manganês (Mn) no solo, como consequência dos tratamentos fitossanitários realizados na
vinha, podendo possibilitar problemas de fitoxicidade com reflexos negativos no desenvol-
vimento vegetativo na produção. Os compostos não apresentaram fitotoxicidade de acordo
com o índice de germinação obtido nos testes de germinação com sementes de alface.
Magnésio (Mg) dados parecidos foram encontrados na pesquisa de Pinto et al (2018)
as características químicas e o grau de maturação destes compostos contribuem para a
fertilidade do solo e se encontram livres de elementos tóxicos.
Segundo o Mapa (2020) o teor mínimo recomendado de enxofre (S) é de 1% ou 10g/
kg, nas análises foram encontrados mínimas abaixo do recomendado pelo ministério da

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agricultura e pecuária, a máxima encontrada foi de 1,27 2 1,28 g/kg-1, cerca de 0,127 2
0,128% Sódio (Na) da pesquisa foi encontrada máxima de 0,33 g/kg-1. O Mapa (2020) não
estabelece mínimas e máximas de g/kg-1 de sódio.

CONCLUSÃO

O experimento comprovou a redução da fitotoxicidade, chegando à coleta final aos 90


dias com resultados que indicam que o produto (composto), não possui caráter fitotóxico, e
possui valor agronômico, considerando os parâmetros analisados.

Agradecimentos

Os autores agradecem a IFSUL Campus CAVG, a agroindústria do campus pela doação


dos resíduos de vinificação e também casca de arroz utilizadas no experimento, também os
laboratórios do campus pela disponibilidade.

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05
Avaliação do PNAPO aplicado aos
produtores de café no sul de Minas Gerais

Marlene de Araújo
Universitat de Valencia, España

'10.37885/220709467
RESUMO

Objetivo: compreender o uso do programa de certificação da produção de café para gerar


conversão pretendida pelo plano PLANAPO - Plano da Politica Pública PNAPO. Método:
utilizou-se de técnicas qualitativas e quantitativas em uma cadeia agrícola especifica: café
convencional e café orgânico. Resultados: no período 2007 a 2017 existiam mais produtores
de hortaliças que utilizavam recursos financeiros da Agricultura Familiar do que produtores
de café. A PLANAPO enfatizou atividades de horticultura, com sucesso. Os produtores es-
pecíficos da cadeia do café desconheciam a PLANAPO. Dos 341 produtores entrevistados
93% não a conheciam. Os programas de certificação introduzidos pelos agentes de mercado
foram os principais promotores da conversão da cultura do café convencional para orgânico.
Conclusão: a dificuldade de acesso aos recursos e a baixa oferta de assistência técnica
foram os motivos para que entre 2007 e 2015 o êxito da conversão tenha sido inferior a 2%
(1.040 produtores) em relação ao número total de produtores considerados familiares.

Palavras-chave: Plano de Pública PNAPO, PLANAPO, Avaliação, Agroecologia


e Café Orgânico.
INTRODUÇÃO

Este capítulo é resultado de uma síntese da tese de doutorado em avaliação de plano


para desenvolvimento territorial e local realizada na Universidade de Valencia, Espanha no
período de 2012 a 2017. O objetivo do estudo foi de compreender o uso do programa de
certificação da produção de café convencional para a conversão de café orgânico, uma vez
que o PLANAPO preconizava em sua pauta a urgência da redução dos usos de produtos
químicos nos manejos agrícolas. Essa proposta se materializou na pesquisa de campo com
os produtores de café orgânico no sul de Minas Gerais e, o objetivos específicos foram avaliar
em que medida os produtores tradicionais de café conheciam o PLANAPO e, se sua regu-
lamentação por meio da certificação da produção de café havia promovido mudanças nas
práticas de produção. Como também, foi analisado em que medida os serviços típicos dessa
política pública foram entregues e o nível de satisfação dos produtores com esses serviços.

MÉTODO

O método de avaliação de políticas públicas, aplicado à avaliação do plano PLANAPO,


priorizou a análise do desenho da plano em um ambiente especifico, como: organização
de atores, a mudança gerada, a percepção dos beneficiários sobre a mudança, o impacto
em relação ao progresso social-econômico e de bem-estar dos produtores. Para tento, uti-
lizou-se a pesquisa qualitativa e quantitativa para levantamentos de dados e percepções.
Elaborou-se uma matriz lógica que funcionou como marco referencial. Com base na matriz
lógica foram produzidos os questionários de avaliação do plano - PLANAPO da política
PNAPO. Com os primeiros dados das entrevistas foi possível traçar os processos de pro-
dução tradicional e a evolução para café orgânico, os fatores limitantes, fatores promotores
e seus impactos. O desenho do questionário foi baseado em quatro métodos diferentes e
complementares, a saber: Garcia (1997); Benjamin (2008); ANDERSON Fornell e Lehmann
(1994); Trevisan e Bellen (2008).
Foram entrevistados 341 produtores de café nos municípios de Alfenas, Alpinópolis,
Boa Esperança, Guaxupé, Campos Gerais, Campo do Meio, Machado, Três Pontas, Três
Corações, Varginha e Poço Fundo, no Estado de Minas Gerais.
No munícipio de Poço Fundo está localizada grande parte dos produtores certificados
em café orgânico, por meio da certificadora BCS OKO Garantie, FAIR TRADE, Produto
Orgânico Brasil, SIPAF SEAL por esse motivo, a pesquisa de campo utilizou para estes
grupos as entrevistas qualitativas de ajuda.
Este grupo foi entrevistado com questões qualitativas e quantitativas por meio de
entrevista de escuta em profundidade. Os líderes setoriais e agentes de políticas públicas

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agrícolas da região também foram ouvidos por meio de entrevistas semiestruturadas e
em profundidade.
Durante o estudo, também, se analisou documentos, decretos, normas e informes do
governo federal e estadual. Foram realizadas visitas aos especialistas em socioeconômica
que monitoram dados produtivos e econômicos, como também, aos especialistas em manejo.
Para validar as informações e dados foram feitas análises laboratoriais para comprovar as
observações realizadas nas propriedades rurais.

RESULTADOS

Os principais resultados obtidos a partir da entrevista com 341 produtores de café


arábico entre orgânicos e convencionais em 11 cidades do Sul de Minas Gerais, em 2015
serão detalhados, dando ênfase ao perfil dos entrevistados, a consecução dos objetivos do
plano, os certificadores, acesso aos recursos financeiros e seguro agrícola.
Os entrevistados possuíam a seguinte faixa etária: 42% de produtores com 40 a 59
anos de idade. 5% eram jovens entre 18 e 25 anos de idade e, 55% entre 26 e 39 anos.
Com experiência em cultivo de café tínhamos 26%, com a idade 15 a 20 anos de traba-
lho. Um pouco mais da metade (52%) já possuía terras herdadas ou compradas sem recursos
de financiamentos. As propriedades podem ser consideradas pequenas para o padrão bra-
sileiro pois, 60% possuíam propriedade de até 19 hectares. Sobre a formação educacional:
36% possuíam apenas a educação primária, 43% a secundária e 18% superior. A educação
superior era mais comum entre mulheres.
A Política Nacional de Agroecologia e Agricultura Orgânica-PNAPO, criada pelo Decreto
Presidencial 7.794 de 20/08/2012 (Brasil 2016/2019) enfatizou as atividades de produção de
hortaliças e atividades básicas de produção de alimentos, como o milho para subsistência
da família e pequenos animais. Entre os entrevistados 0,5% produziam hortaliças para o
Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Art. 19 da Lei nº 10.696, de 02/07/2003 e, por
isso, utilizavam recursos do Programa Agricultura Familiar.
Os produtores específicos da cadeia do café desconheciam essa política, dos 341 pro-
dutores de café entrevistados 93% não conhecia a PNAPO. O plano da política não obteve
sucesso nos seus objetivos de promover a produção de café entre jovens e mulheres. Entre
os produtores entrevistados 11% utilizavam o Programa de Crédito Nacional de Agricultura
Familiar- PRONAF, porém, desconheciam os programas como Créditos PRONAF Mulher e
PRONAF Jovem. O PRONAF Agroecologia era utilizado por 1,7% produtores entrevistados.
Entre 2009 e 2011, 13% dos produtores utilizaram algum tipo de crédito agrícola pú-
blico, como BNDES/FINAME para a compra de equipamentos.

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Na opinião dos produtores de café convencional e orgânico os custos do processo de
certificação eram altos. Os processos de certificação no setor de café são: Selo de Pureza
Abic, Selos de Qualidade Abic, Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA), Selo Orgânico,
Certificações Rainforest Alliance e UTZ, Indicação de Procedência, Denominação de Origem
e Cup Of Excellence. O processo mais conhecido e utilizado entre os entrevistados era o
Certificações Rainforest Alliance, UTZ, FAIR TRADE e o Sistema Participativo de Garantia.
O seguro rural, na opinião dos entrevistados, não estava dirigido para garantir a produ-
ção e a renda dos agricultores, mas sim para garantir o pagamento dos créditos do PRONAF,
isto é, para proteger o sistema bancário. Por outro lado, o seguro não estava adaptado ao
processo de produção agroecologia, colocando restrições às práticas agroecologias. Por
tanto, tudo o que está relacionado ao sistema de seguro rural é um tema distante da reali-
dade dos pequenos produtores de café. A maioria não tem a produção assegurada (73 %),
e os que têm a produção assegurada ainda estão insatisfeitos (17 %). A insatisfação está
relacionada aos parâmetros, pois, as empresas seguradoras usam métricas para avaliar as
perdas dos produtores que não acompanham as diretrizes e parâmetros oficiais, por isso,
os produtores acreditavam que não são parâmetros confiáveis. O sistema não ofertava uma
cobertura suficiente.
Foi possível confirmar que existia uma integração inicial entre PNAPO com a Política
de Agricultura Familiar- PRONAF. No processo de conversão de café convencional para
orgânico 150 produtores (43%) possuíam a Declaração de Aptidão PRONAF- DAP, o signi-
fica que estavam inseridos no Programa de Agricultura Familiar e participavam do Programa
Certifica Minas. A DAP era um requisito para ser beneficiário PNAPO, porém, os critérios
da DAP desestimulavam muitos produtores (67%) que possuíam renda maior que o mínimo
exigido pela DAP e, por isso, preferiam não entrar no processo.
O PRONAF e nem a PNAPO, na prática, não ampliaram a participação de jovens no
setor de café orgânico. Os entrevistados jovens eram 5 %, o que evidencia a sua baixa re-
presentação no setor de café nesta região.
Era necessário que jovens fossem envolvidos e que se promovesse junto aos produ-
tores mais experientes que repassem seus conhecimentos. Dever-se-ia ampliar a formação
na área de manejo, formas de boa convivência com o meio ambiente porque a legislação
ambiental, a gestão da propriedade por meio da tecnificação agrícola, como também, os
tipos de certificação estão sempre evoluindo.
Os principais agentes para a implantação do plano (PLANAPO) era a Empresa Brasileira
de Assistência Técnica- EMATER, assim como a Ater Agroecologia. Estes agentes tinham
entre seus objetivos a inclusão de princípios ecológicos. Atuavam nos municípios de Poço
Fundo e Machado. Cooperativa COOPFAM da cidade Machado trabalhava em parceria com

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a EMATER e Ater, para a capacitação e fortalecimento da implantação do café orgânico e,
a maioria do público-alvo eram mulheres, especificamente o grupo MOBI.
Nos outros municípios essa parceria não foi relatada nas entrevistas e a transferência
de conhecimento para o setor de café era prioritariamente realizado por cooperativas. Entre
7 cooperativas comportava 31 mil produtores de café em 100 cidades, porém o nicho de
café orgânico não era de interesse de todos os produtores.
As cooperativas são as instituições que agregam produtores, possuem poder de influên-
cia e credibilidade para promover mudanças até mais que as instituições governamentais,
pois essas não possuem recursos humanos e financeiros suficientes para atender grandes
áreas territoriais e monitorar o manejo de forma organizada e sistemática.
A percepção sobre o índice de satisfação dos entrevistados foi para cooperativas 55%,
em especial para as atividades de comercialização e apoio com empréstimos de recursos
públicos para custeio. As cooperativas destacaram com 32% e 35% respectivamente.
Encontrou-se entre os atores uma cooperativa com estratégias originais: a COOPFAM
que se destacou com 100% de satisfação sobre a promoção da produção do café orgânico
e proatividade na promoção do acesso dos produtores neste nicho de mercado.
A Emater foi a mais bem avaliada sobre orientações de manejo 68%, orientação técnica
sobre solo e meio ambiente 64%.
Entre os produtores se destaca o grupo MOBI. Observou-se que 40% de produtores,
deste estudo de caso, eram de mulheres produtoras de café orgânico, membros do movi-
mento Mulheres Organizadas em Busca de Independência Financeira - MOBI.
As mulheres do Grupo MOBI- Mulheres Organizadas em Busca de Independência
Financeira, 40 ao total, produziam café orgânico formaram o Sistema Participativo de Garantia,
que tinha por princípio a troca de experiências entre os produtores de café orgânico. Elas
mesmas preveniam, corrigiam não conformidades e compartilhavam a responsabilidade
pela garantia da qualidade dos produtos orgânicos e sistemas de produção. Este grupo
recebia recursos do PRONAF Custeio, porém, não puderam utilizar os recursos PRONAF
Agroecologia porque ele chegou a ser implantado.
Os produtores de café natural (secagem de café no terreiro com a luz do sol) enfati-
zaram que o preço de venda, a cada ano, é o que determina a decisão de permanecer no
negócio. A margem de contribuição era muito baixa e seria mais vantajoso aplicar os recur-
sos no mercado financeiro. Eles possuíam 15 grupos de variáveis de custos, sendo eles:
capinas e desbrotas; adubação; aplicação de herbicida; aplicação de defensivos; roçagem
e poda; transportes de produção e insumos; custos administrativos; colheita; secagem e
beneficiamento; calagem; insumos; herbicidas; fungicida e outros produtos agrícolas e im-
postos. O que pesava mais nos custos era a aplicação de herbicidas e colheita, em função

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do custo da mão de obra e combustíveis. Por esse motivo, buscavam ter alguma área da
produção convencional transformada em orgânica.
Os preços do café orgânico eram 30% maiores que o café convencional e as vezes
em função do sabor poderia chegar até 50%. Naquele momento estes eram os fatores mo-
tivacionais para refletir sobre a conversão.
Contudo, os produtores de café natural não viam compensação suficiente no cultivo
do café orgânico se não estavam em uma região apropriada, se não estavam trabalhando
com cooperativas capazes de criar estratégias para este nicho transformando o produto em
carro chefe. Estavam inseguros e preocupados que o café orgânico pudesse a vir a ser um
modismo e, como envolvia uma grande mudança de procedimentos de manejos, controles
administrativos e novos custos preferiam ter cautela.
Os produtores de café orgânico tinham três razões para fazer a conversão: o preço-
-prêmio (preços de venda até 50 % maiores, porém os custos eram de 30% maiores), os
efeitos mais positivos sobre a saúde, a garantia de assistência técnica gratuita. Usavam a
frase que estavam trocando qualidade por quantidade.

A visão ambiental

A produção de café em geral é um setor de baixo risco ambiental, posto que café é uma
espécie arbórea e 95% dos produtores aplicam medidas de proteção ambiental conforme
as normas ambientais oficiais. Entre os entrevistados, a Área de Proteção Permanente e
Reservas Legal eram respeitadas por 95% dos entrevistados. Porém, entre este total, 40%
de produtores precisavam recuperar áreas de pastagens e 30% ainda planejavam recuperar
áreas de proteção nas margens rios.
Os produtores de café orgânico e convencional utilizam dois tipos adubos e fertilizantes,
tanto orgânico como químico, na mesma propriedade. Normalmente escolhem áreas de mon-
tanhas para cultivar o café orgânico e nas áreas planas cultivam café convencional. As áreas
de montanhas são mais frias devido à altitude e possuem mais vegetação que ajudam a
proteger contra as pragas, o que favorece o processo de produção orgânica. Na entrevista os
produtores não mencionaram o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (PRONARA).
Este programa era 2014 e foi defendido por especialistas em saúde humana em função do
consumo de pesticidas no Brasil.
O plano da PNAPO, isto é, o PLANAPO foi formulado para funcionar integrado aos
serviços de outras políticas públicas como PRONAF - recursos financeiros-, Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA) - acesso ao mercado de consumo escolar-; PRONAF
Agroecologia - recursos especifico para conversão de modelo de produção-, e PRONARA -
redução e resíduos contaminantes- porém a integração não funcionou bem, porque, agentes

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importantes para a implantação, como: bancos, rede de produção de adubos orgânicos não
conheciam estes procedimentos integrados. O plano no momento da formulação não criou
meios para a execução integrada e, por isso, apesentou debilidades. A ausência dos produ-
tores rurais, dos bancos, dos produtores de adubos orgânicos e as cooperativas agrícolas
na formulação da política foi um fator determinante de insucesso.
No depoimento n◦ 9. Pesquisa de Campo, Campo do Meio-MG. (05/10/2014) informaram
que na época, participaram da formulação representantes do Partido dos Trabalhadores,
do Partido Comunista, as associações rurais e dos sindicatos rurais. Estes agentes eram
representantes políticos e de classes. Possuíam importância ideológica e de fortalecimento
do discurso, não obstante, não os se poderia qualificá-los como suficiente.
As outras partes interessadas que poderiam reforçar suas estratégicas de execução
para novos negócios e em novos nichos de mercado, como: os produtores de insumos quí-
micos e cooperativas se sentiram ameaçadas com a ambição do PLANAPO. Normalmente,
as cooperativas de café são parceiras da indústria química de adubos e fertilizantes e o seu
negócio de venda para os produtores de café já estava bem consolidado. A consequência foi
um abaixo apoio das cooperativas de café associadas a essas empresas, pois não estavam
dispostas a criar novas linhas de negócios para diferenciar e valorizar o café orgânico de
seus cooperados. Porém, a posição da cooperativa é importante na decisão do produtor de
café sobre fazer a conversão ou não fazer.
Em resumo, o êxito dos produtores de café orgânico da cidade de Poço Fundo só foi
possível devido o acesso ao crédito do Programa de Agricultura Familiar - PRONAF e pela
visão da cooperativa local (COOPFAM), que construiu uma parceria com estes produtores
e com os fornecedores de insumos orgânicos, como também, transformou o café orgânico
como carro chefe na sua comercialização.

O PRONAF no café orgânico

O empréstimo do PRONAF, ao longo do tempo foi sendo reduzido e passou a ter uma
chancela política. Os critérios passaram a ter mais revisões e se tornaram restritivos aos
novos contratantes, o que reduziu o interesse da conversão em outros municípios. Ainda
que o Programa Certifica Minas, a Pastoral da Terra e a COOPFAM tenham feito um bom
trabalho no município de Poço Fundo e deram um bom exemplo, o resultado na regional
foi insignificante. A região estudada em entre 2013 e 2014, tinha 119 produtores orgânicos
0,64% do total de produtores de café: 31 mil. Estes produtores obrigatoriamente deveriam
fazer parte do Programa de Agricultura Familiar. Nas cidades estudadas havia 31 mil pro-
dutores de café convencional e 10.723 produtores cadastrados no programa no Programa
de Agricultura Familiar (MAPA, 2016).

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No depoimento e análises de diretores de cooperativas a dificuldade de acesso aos
recursos e a baixa oferta de assistência técnica foram os motivos para que entre 2007 e
2015 o êxito da conversão tenha sido inferior a 2% (1.040 produtores) em relação ao número
total de produtores considerados familiares (DEPOIMENTO N◦ 52, POÇO FUNDO, 2014).
Para os agentes da política, o processo de conversão era considerado muito lento
porque “ser orgânico” estava perdendo o status de produto diferenciado e os processos com
menos uso de pesticidas estavam se tornando uma obrigatoriedade. Porém para os técnicos
do Certifica Minas, o motivo da lentidão estava no analfabetismo de muitos produtores ca-
dastrados programa de Agricultura Familiar pois, não tinham facilidade de lidar com gestão
da informação e gestão de custos.
Quanto às opiniões sobre a Política Ambiental, os produtores de café em geral per-
cebiam a política como coercitiva e pouco integrada a Política Agrícola. Um entrave para a
gestão da propriedade. Eles entendiam que os fiscais da Política Ambiental não estavam
bem estruturados para difundir o conhecimento, os princípios da conversão e da recupera-
ção ambiental. O órgão tinha caráter punitivo e não educativo e, se mantinha distante do
produtor. A grande maioria 60% preferiam cultivar árvores exóticas em suas propriedades,
porque se cultivassem árvores nativas estariam impedidos de utilizá-las como madeira.

DISCUSSÃO

A história da Política Agrícola Brasileira é complexa, extensa e antiga. As primeiras


inciativas podem ser organizadas em quatro grandes fases na política agrícola, segundo
Coelho (2001, pág. 03), a saber:

De 1931 a 1964: agricultura primitiva;


De 1965 a 1984: modernização da agricultura;
De 1985 a 1994: transição da agricultura;
De 1995 aos dias atuais: agricultura sustentável.

As ações de promoção do desenvolvimento econômico por meio de políticas públicas


setoriais foram todas iniciadas pelo Estado Brasileiro e, bem recebidas pelos setores pro-
dutivos, como por exemplo: a criação e implantação do Sistema Nacional de Crédito Rural-
SNCR (Lei nº 4.595, 31 de dezembro de 1964; Fundo da Defesa da Economia Cafeeira
– FUNCAFÉ (Decreto-Lei nº 2.295, 21/11/1986); Política Nacional da Agricultura Familiar
e Empreendimentos Familiares Rurais (Lei n◦ 11.326, 24/07/2006) e a Política Nacional de
Agroecologia e Produção Orgânica (BRASIL, 2012).

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O Brasil desenha boas políticas públicas, porém, o bom desenho não garante o su-
cesso na implantação, por motivos variados, mas, principalmente diagnósticos equivoca-
dos. A sociedade e o mercado são dinâmicos e exigem que o setor esteja atendo às suas
necessidades e, nem sempre o Estado está fazendo o mesmo tipo de “antenagem”, como
também, não possui a estrutura e profissionalismo suficiente para alcançar o produtor ru-
ral. E, em muitas vezes os comandos diretivos e autoritários típicos da alternância de go-
vernos, nem sempre aguardam que uma política amadureça e se consolide para alterar e
avançar no desenho. As instituições que executam as políticas públicas não acompanham
e não avaliam a trajetória do que foi proposto na agenda, como foi o caso das políticas da
“pseudo” promoção do café. Segundo Schneider (IPEA, 2013, pág 24), diz que ironicamente,
a política governamental do maior exportador de café do mundo fez pouco para promover
o setor de café.
A política para o café, anterior aos anos de 1980, fez pouco para estimular a produção
de qualidade, alterar a cultura da produção em quantidade sem agregação de valor para a
cultura de qualidade com agregação de valor e criação de novos produtos a base de café.
A política agrícola do etanol já foi muito diferente. Schneider (IPEA, 2013, pág. 2) continua:

A sua principal a ênfase foi em substituir importações em vez de promover


as exportações. A facilidade com que as associações privadas de café pro-
moveram a produção de qualidade assim que o governo fechou a agência
governamental reguladora, o Instituto Brasileiro de Café (IBC), sugere que esta
promoção não era exigente em termos de recursos e de pessoal.

E refletindo sobre a opinião de Schneider, se torna claro que, novas técnicas e conheci-
mento de manejos que levassem à qualidade com alinhamento aos requisitos de conservação
ambiental poderia não ser a exigência de mercado da época. Essas exigências surgem com
o evento ECO 1992. Antes disso, o mercado não estava atento às questões ambientais e
se nem estava disposto a pagar o preço da conversão. De fato, os agentes governamentais
precisam estar antenados nas demandas de produção, sociais e culturais de cada época.
Ainda está por desenvolver essa cultura de gestão de política pública, onde se possa exe-
cutar, monitorar, acompanhar os ciclos e a evolução da política, com o propósito de gerar
aprendizado e aperfeiçoamento contínuo.
A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica é uma política pública criada
para tentar implantar as tão desejadas ações de desenvolvimento rural sustentável. Tinha
como base de sustentação, no seu desenho formal, o público de agricultores específicos da
reforma agrária, com ênfases em grupos femininos, comunidades tradicionais indígenas, qui-
lombolas, jovens de pequenas propriedades rurais e, também, para àqueles que desejassem
reforçar e trocar as práticas de produção baseadas em insumos químicos para sistemas de

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produção orgânica e ecológica, porém, o desenvolvimento sustentável não se faz apenas
com as classes minoritárias. Por que os outros produtores não foram comtemplados dentro
dos seus contextos de produção?
Em 2012, a PNAPO nasceu com intenções tímidas. A produção de café não estava no
seu foco como uma ação direta. As pessoas que faziam parte dos Movimentos Sem Terra-
MST e, que não tinham conhecimentos ou tradição agrícola, mas, que poderiam atuar na
produção de hortaliças estavam contempladas nas diretrizes dessa política. Considerando
esse perfil de clientela, a política foi entendida como alicerçada no viés ideológico do Estado
de Bem-Estar que estava no poder em 2012.
Entre as diretrizes da PNAPO, as pautas eram grandes, ousadas e complexas. A Lei nº
7.794, de 20/08/2012 que foi alterada constantemente e, a cada alteração ela se tornou mais
integrada a Lei de Agricultura Familiar. A inconstância no texto da lei dificultou a avaliação
da política, porém discutiremos aqui, as suas principais pautas.
Promover a soberania, a segurança alimentar e nutricional e os direitos humanos a
uma alimentação adequada e saudável; promover o uso sustentável dos recursos naturais,
promover sistemas justos e sustentáveis de produção e agroecológica e contribuir para
diminuir as desigualdades de gênero, por meio de ações e programas que promovem a
autonomia econômica das mulheres.
Ajudar na conservação e restauração de ecossistemas modificados por meio de siste-
mas de produção que reduzem resíduos contaminantes e a dependência de insumos externos
para a produção agrícola; ajudar na conservação e restauração de ecossistemas modificados
por meio de sistemas de produção que reduzem resíduos contaminantes; ampliar a partici-
pação de jovens das comunidades rurais na produção orgânica e de base agroecológica.
Para compreender o espírito governamental da época discutiremos cada uma dessas
pautas, individualmente, visando identificar pontos fortes e fracos.

• Promover a soberania, a segurança alimentar e nutricional e os direitos hu-


manos a uma alimentação adequada e saudável.

Promover, é um verbo de baixo comprometimento. Essa é uma pauta ampla, que


envolve fatores de acesso a vários tipos de recurso: terra, crédito, insumos, tecnologia,
conhecimentos, articulações mercadológicas, integração com cadeias produtivas e condi-
ção econômica de investimento e, ainda, possuir transversalidade com outras políticas de
segurança alimentar. Considerando as limitações de produtividade e rendimento da agroe-
cologia em terras tropicais essa pauta possui riscos de se tornar um vago discurso. Típico
de políticas do Estado de Bem-estar Social, onde o Estado atua como Estado-providência,
pois nele o governo adota medidas que intencionam proteger a saúde e o bem-estar geral

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dos cidadãos, especialmente aqueles com necessidades financeiras, porém, na produção
agrícola, o discurso por si só não promove transformações. Neste caso era melhor uma
política social de repasse de recursos financeiros diretos, porém, com contrapartidas.
A produção de alimentos sem o uso de agrotóxicos nos trópicos não é simples. A agri-
cultura orgânica, o controle de pragas é realizado com métodos biológicos e produtos naturais
que possuem custo alto e, sem manejo correto é incipiente. A preparação do solo para o
plantio sem o uso de substâncias químicas, apenas com insumos naturais, como: farinha de
ossos, compostagem e etc., só é possível, na vida prática, em algumas áreas da propriedade.
Não é possível em toda a propriedade porque não há equilíbrio entre custos e benefícios.
Caso o produtor adotasse a estratégia de agricultura orgânica em toda propriedade, ele
não teria produção e rendimento suficiente para se manter no negócio e, não produziria na
quantidade adequada para atender as demandas de seu mercado. Deve-se levar em conta,
que os insumos naturais são caros, escassos e não estão disponíveis perto das áreas de
produção. O seu uso aumenta em muito o custo de produção dos produtos orgânicos, de-
vido aos custos de transporte e combustíveis. Por esse, motivo essa ideologia, acabou se
tornando um nicho de mercado, no qual as demandas de alguns consumidores por produtos
agroecológicos serão atendidas se estes estiverem dispostos a pagar mais pelo produto.

• Promover o uso sustentável dos recursos naturais.

Em 2012, o Brasil já exercitava a Lei nº 9.605 de 12/02/1998, que dispunha sobre as


sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio am-
biente. Já existiam instituições de fiscalização (como IBAMA) bastante atuantes, em especial,
junto aos produtores rurais. Essa lei de caráter punitiva de crimes contra fauna, contra flora,
crimes de poluição e outros crimes ambientais- artigo 62 - foi um marco no crescimento e
desenvolvimento da cultura relacional entre homem e meio-ambiente no Brasil. Essa lei,
ainda que pese muitos vetos e alterações ao longo de 24 anos, é uma das mais completas
quando comparadas com as Lei ambientais da União Europeia.
Enquanto o Brasil preserva 70% das florestas, na Europa chegava aos 37% incluindo
áreas reflorestadas. A floresta realmente nativa na UE era de apenas 4%, catalogada como
“não alterada pelo o homem”. A maioria destas florestas eram pequenas, fragmentadas e dis-
persas em paisagens predominantemente humanizadas e suscetíveis a perturbações huma-
nas. Segundo M. Svoboda, em Sabatini et al (2018, pág 9.) “desse total de 37% de florestas
reflorestas e 4% primárias, uma grande fração delas 54% não estão sob proteção rigorosa”.

Isso significa que, pelo menos em alguns países europeus, a extração de


madeira ou operações de gestão florestal podem colocar em risco a natureza
intocada dessas florestas. Grandes áreas de floresta primária estão sendo
cortadas em muitas áreas montanhosas, na Roménia e na Eslováquia e em
alguns países dos Balcãs. A crescente procura por biocombustíveis juntamente

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com as altas taxas de extração ilegal de madeira podem conduzir à destrui-
ção deste património natural insubstituível, muitas vezes sem entender que a
floresta que está sendo cortada se encontra num estado primário. Em muitos
casos, a extração dessa madeira na União Europeia é feita legalmente, também
dentro de parques naturais. Sabatini; F.M et al, 2018. pág. 9).

O projeto Co-benefícios e conflitos entre o sequestro de CO2 e a conservação da


biodiversidade nas Florestas Europeias’ (FOREST and CO) observa que a devastação das
florestas na Europa está ligada à “recente expansão dos mercados da madeira (SABATINI;
e et al, 2018. pág. 10).
No Brasil a regulamentação da Lei 9.605/1998 permitiu fortalecer leis de educação
ambiental, desenvolveu o direito ambiental, a melhoria no manejo na produção agrícola, tra-
tamento de resíduos e definição de áreas de preservação ambiental dentro das propriedades
e, também, influenciou na melhoria da logística, provendo maior segurança para transportes
de resíduos e produtos perigosos (BRASIL, 1988).
O PLANAPO já não tinha muito que avançar depois da Lei n 9.605/1998 e, por isso
veio como um mecanismo de especialização para alguns setores muito específicos, atentos
ao perfil de seus consumidores e assim, foi entendida pelas associações e cooperativas de
produtores de café. De fato, foi uma oportunidade de desenvolvimento de nichos mercados
na percepção das cooperativas e, neste sentido desenvolveram novas linhas de produtos:
os produtos orgânicos. Permitiu fortalecer e ampliar suas carteiras de clientes, com produ-
tores rurais que não possuíam nenhum tipo de organização e suporte para interagir com o
mercado. E, com essas medidas, ainda foi possível, fidelizar produtores para operações de
venda de café e compra de insumos de seus parceiros.

• Ajudar na conservação e restauração de ecossistemas modificados por meio


de sistemas de produção que reduzem resíduos contaminantes e a depen-
dência de insumos externos para a produção agrícola.

Esta pauta ainda merece um estudo de auditoria com pesquisas de campo para ava-
liar a situação anterior do PLANAPO. A questão que precisa ser respondida: qual era nível
áreas degradadas que foram usadas para a produção agrícola incentivada pelo Planapo?
Avaliar o impacto pós PLANAPO, em especial, junto aos produtores que buscaram
recursos financeiros no PRONAF para este fim. Este estudo, ainda, não existe.
Restaurar áreas degradadas exige recursos financeiros, conhecimentos, articulação de
muitos atores e, aparentemente, nem sempre o resultado esperado é aquele que foi plane-
jado. No VIII Simpósio de Restauração Ecológica realizado em São Paulo, 2019, discutiu-se
sobre restauração de áreas degradas. Devide (2019, pág 45) citado em Barbosa, 2019, nos
conta um pouco sobre este esforço:

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No projeto Vitrine Agroecológica, desenvolvido no Vale do Paraíba, utilizou
a metodologia participativa ‘aprender fazendo’, unindo cientistas, agriculto-
res familiares, produtores orgânicos ou em transição, técnicos de assistência
técnica e extensão rural (ATER), educadores e acadêmicos, para implantar
e manejar os Sistemas Agroflorestais - SAFs em mutirões, promovendo o
contínuo desenvolvimento de processos e pessoas e a ligação espiritual às
forças da natureza. Ao integrar a pesquisa, ensino e extensão, suprem-se
as deficiências de ATER para trabalhos holísticos com SAFs. Essas e outras
ações coletivas impulsionaram a formação da Rede Agroflorestal do Vale do
Paraíba, que está disseminando os SAFs na bacia hidrográfica.

Na Rede Agroflorestal do Vale do Paraíba, para produtores de citros realizaram o dia de


mutirão. Neste dia de trabalho de campo estudaram a paisagem: tipos de solos e vegetação,
direção do sol e dos ventos, feições do relevo, vertentes (soaleira ou noruega), processos
de iluviação (processo de deposição de material removido de um horizonte imediatamente
superior para um inferior, resultando na formação de uma camada compacta de solo) e
eluviação (movimento de soluções ou de coloides em suspensão, de cima para baixo, nos
solos, quando há excesso de chuvas sobre a evaporação) e, aspectos determinantes para o
planejamento agroflorestal. Muitas propriedades familiares realizaram o plantio de frutíferas,
com predomínio de Citrus sp., quase sempre em declínio da doença greening.
Segundo Devide (2019, pág 46) citado em Barbosa (2019) orientou que quando pos-
sível, deve-se fazer a conversão agroflorestal visando a regeneração. Nos casos em que
predominam módulos de monoculturas, que estimulasse integração em faixas de Sistemas
Agroflorestais para fortalecer a produção de alimentos e água, em paisagens alteradas que
ainda abrigam razoável percentual de fauna e flora nativas. O foco foi proteger a atividade
produtiva de flutuações extremas do clima, associando cultivos com árvores com a partici-
pação familiar no planejamento.
Nota-se que atuação da coordenação da política, no âmbito regional e local, era de
fundamental importância para criar o ambiente, organizar e difundir conhecimentos e en-
volver produtores para que as ações de gestão ambiental da propriedade e restauração
acontecessem. Neste estudo, sobre o PLANAPO no Sul de Minas Gerais, não ocorreu ações
sistematizadas no sentido de educar e informar para restaurar a biodiversidade local. Os en-
trevistados se limitaram a relataram que transformaram suas áreas de pastos em culturas
de café orgânico, porém, não transformou toda a propriedade, apenas de 1 a 5 hectares.
Existem outras discussões sobre a restauração ecológica em pequenas propriedades
rurais que os proprietários perderam a motivação quando refletem sobre as alterações im-
postas pelo novo Código Florestal (Lei 12. 651/2012), que condicionou muitos aspectos e
possibilidades da preservação e restauração da vegetação natural ao número de módulos
fiscais da propriedade. A medida gera graves distorções e injustiças no tratamento das obri-
gações previstas nessa lei, gerando mais desigualdades no meio rural.

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Mônico; A.C. e Gandolfi; S. (2019, pág.128) citado em Barbosa (2019) exemplificam
que hoje, abaixo de quatro módulos fiscais dispensa-se o proprietário rural de restaurar a
Reserva Legal da propriedade, se ela tiver sido degradada, ou até mesmo totalmente elimi-
nada. Assim, em certos municípios de São Paulo, uma propriedade de apenas 21 hectares
terá de restaurar sua Reserva Legal, enquanto outra com 440 hectares, no Mato Grosso,
não precisará fazê-lo. Ou seja, se considerarmos como pequena uma propriedade que tenha
apenas um módulo fiscal, isso pode significar uma propriedade de 5 ha em São Paulo, ou
uma de 110 ha no Mato Grosso, e elas, obviamente, tem características e potencialidades
produtivas muito diversas, necessitando, ou não, de ajuda pública.
A grande maioria dos entrevistados não comentaram sobre o custo de recuperação de
áreas degradadas, porque já não as usavam devido a obrigatoriedade de tê-las transforma-
das em Áreas de Proteção Ambiental- APPs. 20% de cada propriedade na região sudeste
desde 1989 é APP. Comentaram sobre o custo de transformar área de pastagens em áreas
produtivas de café orgânico, mas, é considerado investimento e custos de produção.
Os 5% dos entrevistados que refletiram sobre o tema “custo da restauração de áreas
degradadas” entendiam como “custo de desocupação de áreas de preservação”, que esta-
vam irregularmente ocupadas e, gerava renda ao agricultor. No entanto, não pensavam na
desocupação como “custo” uma vez que essas áreas são espaços especialmente protegidos
em lei. Os produtores não foram ressarcidos por não utilizar essas áreas, porém compreen-
diam que não deviam ser remunerados até que a sociedade entendesse que a preservação
é a produção de bens naturais para o bem comum da sociedade. Bens como: água, solo,
infiltração de água no solo, ar limpo, preservação e fauna, flora, em especial, recuperação
de biodiversidade com potencial de extinção. Acreditavam que a sociedade brasileira e, em
geral, ainda não tinha conhecimentos relevantes para discutir o valor, a complexidade de
recuperação e a preservação das áreas.
Para os produtores, o custo de recuperação de áreas era relativo. Que o preço poderia
alterar em função da área, do método, da capacidade de produção e de pagamento para
conduzir a operação de recuperação. E, que quando se cria a política pública é preciso ter em
mente a realidade sobre a relatividade de capacidade de pagamento de cada tipo de produtor.
Sintetizando a discussão desse tema podemos enfatizar que a informação básica sobre
paisagem, relevos, preservação da qualidade natural do solo e manejos não foram priori-
zadas de forma equitativa para todas as regiões. Quando elas existiram, foram iniciativas
isoladas de algumas instituições.
No desenho dessa política não estava bem caracterizado os tipos de capacitação
necessária e não se levou em consideração o perfil dos diversos públicos-alvo, os tipos de
produção e demandas específicas sobre recuperação e restauração de biodiversidade.

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A boa política pública se caracteriza pelo oferecimento de serviços, como: crédito, ca-
pacitação, possibilidades de novas tecnologias, como por exemplo: em algumas regiões do
semiárido poderia ter difundido a técnica de se produzir em casas de vegetação, em função
da condição de clima e solo daquele território.
Poderia, ainda, ter criado formas de usos para os resíduos de casca de café: compos-
tagem para adubos orgânicos ou para produção de plásticos biodegradáveis, entre outros.
Pensando bem, nesta política esses serviços eram até mais urgentes porque visava à trans-
formação nos processos produtivos, culturais e, por isso deveria ter elaborado um plano de
ação técnico-pedagógica, a partir de um diagnóstico de novas tecnologias e necessidade
de recuperação ambiental em cada setor.
Em seu desenho deveria, também, ter um programa de crédito específico para o
PLANAPO, o que não ocorreu. Essa política compartilhou o serviço de crédito com o PRONAF
e, este não possuía os mesmos objetivos, parâmetros e critérios para que pudesse facilitar
o acesso do produtor aos recursos financeiros.

• Promover sistemas justos e sustentáveis de produção, distribuição consumo


de alimentos.

Essa pauta sobre a promoção de “sistemas justos” não ficou claro as estratégias de
suporte para o desenvolvimento desse “sistema justo”. Para torná-lo realidade precisaria de
uma forte oferta de serviços financeiros, acessíveis para implantação e para o custeio de
projetos de produção. O sistema bancário continuou o mesmo, não foi sensibilizado para
ser um ator neste processo.
Para o sucesso e evolução da proposta precisaria, também, que os produtores familiares
tivesse acesso a conhecimentos técnicos por meio de instituições públicas, que na época já
eram escassos de pessoal e estavam com os seus esforços voltados para o apoio ao MST,
por isso, a transferência de tecnologias de forma abrangente e neutra (não ideológica) não
estava disponível.

A Emater do Sul de Minas Gerais por falta de capacidade dirigiu seu aten-
dimento apenas aos assentamentos de reforma agrária, priorizados pelos
movimentos de esquerda e pelos grupos da Pastoral da Terra. Deveria ter
banco de sementes que pudesse atender a pequenos produtos, com grande
variedade de produtos básicos, como: milho e feijão, porém fortaleceram ape-
nas bancos de sementes hortaliças. (DEPOIMENTO N◦ 142. PESQUISA DE
CAMPO, MACHADO-MG. 02/10/2014).

A pauta do PLANAPO ainda tratava de:

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• Promover a valorização da biodiversidade agrícola e produtos do sócio biodi-
versidade e estimular as experiências locais de usos, manejo e conservação
de recursos genéticos.

Esse tema era quase desconhecido e, quando conhecido, era de difícil entendimento
entre os produtores rurais. É um tema para pesquisadores e para gestores na implantação
do PLANAPO. Não foram planejadas e realizadas ações para nivelar o conhecimento sobre
valorização da biodiversidade agrícola. Não se propôs ações práticas de acompanhamento e
monitoramento visando criar casos de benchamarking ou para difundir as práticas conscientes
e bem-sucedidas na região. Talvez, a introdução e fortalecimento dos bancos de sementes
em comunidade rurais seria o primeiro passo para essa pauta virar uma vivência. Contudo,
até os bancos de sementes mais básicas possuíam restrições, porque a sua implantação
interferia em interesses de grandes grupos produtores de sementes e mudas. E, o sistema
de registro de sementes que visava à garantia de qualidade e procedência padronizou o
acesso de sementes de forma que inciativas de compartilhamento social de sementes per-
deram a credibilidade. Critérios como: constância da disponibilidade do insumo e garantia da
qualidade do insumo estariam garantidos em um banco público de sementes? Essas ideais
são de difícil implantação porque criam conflitos com normas pré-estabelecidas.

• Ampliar a participação de jovens das comunidades rurais na produção orgâ-


nica e de base agroecológica.

Em janeiro de 2014, o Estado de Minas Gerais foi o primeiro a comunicar que iria im-
plementar uma Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica. Publicou uma Lei
Estadual, a Lei nº 21.146/2014 que tinha como objetivo:

ampliar e fortalecer a produção, o processamento e o consumo de produ-


tos agroecológicos, orgânicos e a transição agroecológica, com ênfase nos
mercados locais e regionais. As ações eram destinadas prioritariamente aos
agricultores familiares, urbanos e aos povos e comunidades tradicionais (MG,
Lei nº 21.146/2014).

Na época, o Estado de Minas Gerais possuía 366 agricultores orgânicos certificados


pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, isso incluía produtores
café e outros produtos. Em 2022, no mesmo cadastro, contou-se 46 produtores de café e
outros produtos certificados. Todos certificados pela ECOCERT. Por tanto, conclui-se que
o número era pequeno em comparação ao ritmo de crescimento da demanda por produtos
sem agrotóxicos no mundo e, o crescimento deste cadastro é lento.

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No estudo de caso, entre os entrevistados em processo de certificação, o percentual
de jovens na produção café orgânico era de 17 pessoas, 4,9%, com a idade ente 20 e 29
anos e, era a menor representação entre os produtores.
O cadastro do MAPA é nacional e internacional, ele abrange o tipo de entidade cer-
tificadora, o país, a cidade, se o produtor é ativo ou não, o CPF, CNPJ e NIF (quando es-
trangeiro), nome do produtor, escopo da atividade, atividade, contato e telefone, porém não
registra a faixa etária do produtor. Neste caso, não dá para confirmar se de fato ampliou a
participação de jovens das comunidades rurais na produção orgânica e de base agroecoló-
gica. Este objetivo pode ser uma pauta de pesquisa para futuros estudos.

• Contribuir para diminuir as desigualdades de gênero, por meio de ações e


programas que promovem a autonomia econômica das mulheres.

A pauta diminuir as desigualdades de gênero causou intenso debate e, surgiram muitas


propostas de construção participativa com diferentes instituições de governo, movimentos
sociais e grupos que representavam o movimento da reforma agrária. Nota-se que a política
foi construída num ambiente de forte componente político e ideológico, na qual o discurso
priorizava a necessidade de inserir as mulheres produtoras ao mercado e promover o aces-
so delas aos serviços da política, como: recursos financeiros, conhecimentos, assistência
técnica e bancos de sementes. Estes serviços deveriam que ir além dos serviços oferecidos
no PRONAF- Programa Nacional de Agricultura Familiar.
Em 2022, analisando o cadastro MAPA encontrou-se apenas 14 mulheres com café
orgânico certificado pelo ECOCERT, o que se supõe que este sistema de cadastramento
oficial não é de conhecimento de todos as mulheres que realizaram a conversão ou que os
esforços foram reduzidos em 2017. O cadastro oficial é o do MAPA, porém as cooperativas
possuem os registros de produtoras certificados, mesmo porque os seus sistemas de arma-
zenamento são diferenciados para cada tipo de café.
O estudo de campo, em 2014, registrou 40 mulheres no município de Poço Fundo em
Processo de Certificação, no Sistema Participativo de Garantia e Fair Trade. As entrevistas
do grupo MOBI alegaram que muitas mulheres não obtiveram sucesso no processo de cer-
tificação por causa do formato da Lei 11.326/2006:

Quando a produtora ia ao gerente do banco em busca de informações sobre


o empréstimo PRONAF, o gerente apenas tinha como parâmetro o texto da
Lei da Agricultura Familiar que considerava agricultor familiar e empreendedor
familiar rural aquele que pratica atividades no meio rural, atendendo, simul-
taneamente, aos requisitos de não ter, a qualquer título, área maior do que 4
módulos fiscais; que utilizassem predominantemente mão de obra da própria
família nas atividades econômicas do estabelecimento; que tivesse percentual
mínimo da renda familiar originada de atividades econômicas do estabeleci-
mento; e que dirigisse o estabelecimento com a família (DEPOIMENTO N°
148. PESQUISA DE CAMPO, POÇO FUNDO-MG. 02/10/2014).

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Até 2014 maioria dos produtores tradicionais que tinha a intenção em iniciar ou testar
em 1 hectare de suas terras com as práticas ecológicas se decepcionavam, porque nada
cabia naquela forma de Lei genérica. O produtor rural, naturalmente, possui noção de risco
e, não é porque tinha uma lei que ele iria assumir o risco de tentar produzir em toda a sua
área com técnicas mais caras. Até por cautela eles iniciavam aos poucos.

Perfil MOBI

O MOBI – Mulheres Organizadas em Busca de Independência era um projeto da


COOPFAM. O movimento na época da pesquisa de campo (2014 a 2015) estava empenhado
no processo de conversão do café convencional para café orgânico com o objetivo de obter
acesso ao mercado e ampliar os recursos financeiros da família. Eram mulheres da cidade
de Poço Fundo e de Machado. O grupo possuía 30 mulheres diretamente produzindo café
orgânico, produção de rosas e artesanato.
As participantes do grupo buscavam conhecimento continuamente sobre as novas téc-
nicas de produção e novas culturas que pudessem ser consorciadas. Frequentavam vários
cursos e seminários oferecidos por diversos parceiros da cooperativa, como: IFSULDEMINAS,
SENAR e SEBRAE. O grupo MOBI contava com uma representante na direção da Cooperativa
que, realizava a gestão do projeto.
Os clientes e a cooperativa demonstravam confiança no produto final do grupo MOBI
porque as mulheres que iniciaram o projeto de produção de café orgânico desenvolveram
um sistema de conformidade e certificação da produção no modelo de participação social.
Quando uma produtora atingia o nível máximo dos parâmetros e critérios da certificação
atuava como juiz das que estavam em processo. Em 2016, já vendiam os seus produtora
para o Japão e Estados Unidos.
Cabe enfatizar que o grupo MOBI - possuía consciência dos princípios de desenvolvi-
mento regional e local porque planejavam as ações no sentido de envolver mulheres, parcei-
ros técnicos, coordenavam e monitoravam, permanente, visando a redução da desigualdade
social no rural/ local. Nas entrevistas informaram que a visão do grupo sobre estratégias foi
construída nas discussões com grupos católicas, em específico, com a Comissão Pastoral
da Terra, desde 1978.
Quando comparado com o grupo Movimento Sem Terra - MST, este não tinha a visão
de desenvolvimento da terra, de desenvolvimento da propriedade, de desenvolvimento
de mercado, teste de implantação, novas culturas, criação de novos produtos e busca de
novos clientes, ao ponto que seguidores do grupo MST se uniram ao MOBI e, em 2015,
o grupo já possuía 40 pessoas. O grupo não fazia diferença e nem adotava o critério de

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gênero. O critério era de comprometimento com a produção. O conceito de gênero começou
a ser utilizado no marketing, em 2015, pela COOPFAM.
A constância e garantia da entrega da produção do MOBI possibilitou a COOPFAM
desenvolver três linhas de café orgânico. Essas linhas comunicam valor ao produto orgânico
em função do gênero: café orgânico que se obtêm das plantações conduzidas por homens,
café orgânico feminino das Mulheres do MOBI e café orgânico produzido pelos jovens - que
estava em formação. São linhas de produtos baseadas no marketing de gênero que são
vendidas no mercado de Fair Trade nos Estados Unidos e na Europa. Comentaram que no
Brasil essa estratégia não é valorizada (DEPOIMENTO No 53, POÇO FUNDO, 2014)
Durante o estudo, solicitou-se que nos informassem sobre os seus conhecimentos
repassados pelas organizações sociais que se relacionavam. Os temas mais difundidos na
comunidade pelos técnicos eram sobre os riscos dos produtos químicos, especialmente, os
glifosatos herbicidas.
O Grupo MOBI se posicionou sobre o uso de glifosatos herbicidas comentando que
são resistentes ao uso por prevenção da saúde humana e, apresentaram seus cadernos
de contabilidade demonstrando que de fato utilizam vários tipos de adubos orgânicos. Não
era barato executar essa escolha. Estes adubos eram produzidos em outras cidades ou até
em outros Estados, precisando planejar compras conjuntas para compartilhar o custo do
frete. Por esse motivo, era a cooperativa que coordenava a compra do grupo. Estes adubos
aumentavam até em 30% o custo de produção do café orgânico.
Outra característica importante do grupo MOBIO é a visão ambiental no processo de
produção. O resíduo de café, que é a casca do grão de café utiliza-se na produção de arte-
sanato, como: vasos para flores, jarras, bandejas, caixa de presentes, adornos para árvores
de Natal, botões, cesta de pães e fruteiras e, as sacarias que não são utilizadas na produção
se tornam aventais e sacolas. Essa atividade artística está evoluindo com novos métodos
e materiais como, por exemplo, utilizando cola branca, borra de café em altas temperaturas
para fazer utensílios de cozinha mais duráveis, um tipo de cerâmica negra.
As mulheres se organizam e transmitem a sua história e os seus processos de trabalho
de forma oral. Isso é um fato complicador para utilizar essas informações para benchmarking.
Para obter essas informações foi preciso uma escuta pessoal de cada uma delas. Registrar a
história dessas mulheres pode ser um tema de pesquisa para futuros pesquisadores sociais.

Mulheres MOBI e a política PRONAF:

No segmento de mulheres, muitas herdeiras iniciaram como produtores individuais. Elas


haviam saído das cidades após aposentadorias e possuíam de 5 a 20 módulos fiscais. Com
este perfil supunham ser um público potencial do PLANAPO e do PRONAF. Essas pessoas

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se sentiram sem estímulo e apoio para se tornarem entrantes no processo de produção
orgânica, porque não atendiam o requisito da renda gerada no estabelecimento.
Elas possuíam o perfil correto para a conversão porque eram pessoas alfabetizadas
e empreendedoras, o que encurtaria o tempo de conversão. Porém 100% de suas rendas
provinham das aposentadorias urbanas o que naturalmente as excluíam do Programa de
Agricultura Familiar. A Lei não considerou a possibilidade de subsidiar produtores entran-
tes. O entrante fará inicialmente investimentos e não terá renda gerada pela propriedade
pelo ao menos por 2 a 4 anos, até que a primeira colheita seja realizada.
Os formuladores da política não diagnosticaram a evolução e tendência que os saídos
das zonas rurais nos anos de 1970, poderiam ter voltado as áreas rurais dos familiares. E, isso
ocorreu após os anos de 2000. Que herdeiros voltaram após suas aposentadorias urbanas e,
por não estar contemplados nas políticas agrícolas, apenas tiveram a opção de se organizar
para à demanda por bens e serviços não-vinculados diretamente à produção agropecuária,
como: artesanato, lazer e turismo rural, os quais podem ser desenvolvidos no próprio meio
rural, apesar de serem consumidos, majoritariamente, por residentes nos centros urbanos;
Havia outros critérios limitantes que os gerentes banco deveriam resguardar como:
produtores deveriam residir na propriedade rural ou em uma localidade próxima; utilizar mão
de obras de terceiros apenas como algo excepcional e sazonal (se os empregados forem
fixos, é preciso ser em menor número que os integrantes da família);
No período de 1990 a 2016 viver no campo era perigoso. Os partidos de esquerda in-
flavam os Movimentos Sem Terra para invadir propriedades e, estes utilizavam de violências
em suas ações. Analisando entre vantagens e desvantagens do programa de Agricultura
Familiar e a realidade no campo os produtores rurais decidiam não utilizar estes financiamen-
tos, os apoios e assistência porque entendiam que possuía um público ideológico definido.
Entre 2016 e 2017, a política já havia ampliado o espectro de beneficiários com a re-
solução do Banco Central n ° 2629/2001 e passou caracterizar grupos mais diversos. Além
disso, a Declaração de Aptidão PRONAF -DAP- classificou os agricultores familiares em
quatro grupos, de acordo com critérios de renda e de acesso a políticas públicas:

Grupo “A”: Grupo “B”: Grupo “A/C”: Grupo “D”:


Assentados pelo Programa Nacio- Aquelas com renda bruta familiar Egressos do Grupo A Demais Unidades Familiares de
nal de Reforma Agrária – ou Progra- anual de até R$.20 mil reais. Produção Rural – Aquelas cuja
ma Nacional de Crédito Fundiário. renda bruta familiar anual não ul-
trapasse R$ 360 mil reais.
Fonte: Banco Central, 2001.

O acompanhamento e avaliação do impacto de políticas públicas durante a implanta-


ção é roteiro para evitar erros no desenvolvimento regional. Fatores como a dinâmica da
sociedade em função dos deslocamentos do ambiente urbano para o rural e vice-versa (isso

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ocorreu em período de pandemias) precisam ser diagnosticados. Os resultados das políticas
já implementadas precisam ser entendidos como insumos importantes para correção de
rumos dos serviços da política pública em vigor e, para checar a coerência dos parâmetros
e critérios com a realidade.
Em certos setores, como no café orgânico, o PLANAPO só foi implantada pelos es-
forços dos certificadores. Neste caso, se pode afirmar que a certificação foi estratégia para
a implantação do PLANAPO, porém, essa estratégia atingiu um nível ótimo de evolução?
Não se sabe, este é outro tema para investigação. E, antes mesmo que se promova
uma política pública para a certificação de carbono em café é preciso corrigir diversos fa-
tores críticos que foram entraves no PLANAPO, como: baixa alfabetização dos produtores,
critérios limitantes de créditos e serviços de políticas públicas obrigatórios não fornecidos.

CONCLUSÃO

A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica – PNAPO inicialmente prio-


rizou as atividades de horticultura e produção de alimentos para sobrevivência da família
rural. No período 2007 a 2017 existia mais produtores de hortaliças que utilizavam recursos
financeiros da Agricultura Familiar do que produtores de café. O plano PLANAPO no setor
de café era desconhecida para 93% dos produtores de café.
O plano PLANAPO não atingiu os objetivos previstos na sua formulação, em especial,
sobre diminuir desigualdades de gênero e de inclusão de 10 mil jovens na produção orgâni-
ca. As mulheres que produzem café orgânico do Grupo MOBI haviam se organizado antes
da criação da política pública.
No que se refere à articulação e integração de políticas públicas pode se afirmar que
ocorreu uma integração com a Política de Agricultura Familiar. No processo de conversão
de café convencional para café orgânico havia 150 produtores, nas cidades estudadas, que
possuíam a Declaração de Aptidão PRONAF-DAF. A DAF era o critério para estar inserido
no Programa de Agricultura Familiar e ter acesso aos recursos financeiros.
Os produtores orgânicos que utilizavam os recursos do Programa de Crédito Nacional
de Fortalecimento Agricultura Familiar – PRONAF Custos representavam 11% de 341 produ-
tores. Porém não conheciam a linha de Crédito denominada PRONAF MULHER e PRONAF
JOVEM. A linha de crédito PRONAF Agroecologia não chegou a ser implantada.
Os produtores de café orgânico têm a terminação de desenvolver essa cultura por tres
razões: o preço prêmio chega a 50% a mais em relação ao preço do café convencional, pela
saúde humana e pela assistência técnica gratuita.
Na época os agentes da implantação do plano PLANAPO era a Empresa Brasileira de
Assistência Técnica - Emater, a Ater Agroecologia que trabalharam a difusão dos princípios

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agroecológicos e atuavam nas cidades de Poço Fundo e Machado. Entre os municípios
visitados só a COOPFAM trabalhou com um conjunto de estratégias e associada à Emater
e Ater para capacitar os produtores de café orgânico.

Agradecimentos

Agradeço atenção e dedicação do orientador-professor Javier Esparcia, do Instituto de


Desenvolvimento Territorial e Local da Universitat de Valencia, Espanha. A dedicação do
conselheiro Eliseu Alves, da Embrapa; o apoio o professor José Marcio Carvalho, da FACE/
Unb e Rosaura Gazzola, Embrapa.

REFERÊNCIAS
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06
Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo
produção artesanal de cambraias em
Petrolina - Pernambuco

Aluísio Sampaio Neto José Alberto Gonçalves de Moura


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Florisvaldo Cavalcanti dos Santos


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer- Universidade do Estado da Bahia - UNEB
tãoPE

Enos André de Farias


José Lincoln Pinheiro Araújo Universidade do Estado da Bahia - UNEB
EMBRAPA Semiárido

Breno Silva Almeida


Antonio de Santana Padilha Neto Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer-
Universidade do Estado da Bahia - UNEB tãoPE

Márcia Rejane Lopes Cavalcante Reinaldo Pacheco dos Santos


Centro Universitário Tabosa de Almeida - ASCES UNI- Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
TA VASF

'10.37885/220910333
RESUMO

A culinária nordestina é rica em ingredientes e sabores. Atrai e cativa paladares no país intei-
ro. Tendo forte influência das culinárias portuguesa, indígena e africana. Objetivo: Apresentar
e fazer compreender o surgimento da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo, em 1995,
no município de Petrolina - PE, que produz e comercializa em especial a Cambraia, um
alimento saboroso produzido de maneira simples, com a fécula de mandioca, rica em fonte
de energia e cálcio, e, que não possui glúten. Método: É um estudo de caráter exploratório,
bibliográfico e descritivo, com abordagem qualitativa. Resultados: Atualmente, trabalham
04 mulheres produzindo cambraias com sabor tradicional e exótico, como alho, cebola, be-
terraba, couve-flor, orégano e doce. Também são produzidos sequilhos doces. A produção
diária das iguarias é de aproximadamente 2.500 unidades. São comercializadas na região,
como também, em outros lugres do país. Conclusão: A cambraia é bastante popular na
região Nordeste. Com um sabor inigualável e de fácil preparo, ela é versátil, podendo ser
salgada, doce ou recheada, agradando a todos os paladares.

Palavras-chave: Sabor, Tradição, Cultura, Qualidade, Saúde.


INTRODUÇÃO

A produção artesanal é normalmente caracterizada por técnicas manuais, na maior


parte do processo, e em pequenas escalas. Comumente, os produtos artesanais remetem à
alguma característica local ou cultural e são evitados ingredientes industrializados em suas
receitas, muitas vezes compartilhadas de geração a geração.
Contudo, o uso de algumas tecnologias, porém, não tira a propriedade do produto de
ser artesanal. Durante a fabricação dos alimentos por exemplo, é possível utilizar batedeiras,
liquidificadores e fornos, os quais devem ser usados apenas para facilitar o processamento
da matéria prima.
A mandioca (Manihot esculenta Crantz), é uma espécie de grande interesse agronô-
mico que pode ser classificada como doce ou amarga. É um dos vegetais mais cultivados
do mundo, especialmente nos trópicos sendo o Brasil um dos principais países produtores
(AGUIAR, 1982). Segundo Lustosa (2021), a tapioca é comumente elaborada à maneira de
comida de rua, desde as preparadas em frigideiras nos braseiros ou chapas dos mercados
públicos e seu entorno até à venda ambulante nas areias das praias e nos quiosques da
área litorânea. Como exemplos de alimentos que podem ser produzidos artesanalmente,
temos: cambraia, cuscuz, tapioca, geleia, queijo, etc.
A tapioca é cosmopolita e também pode ser adquirida e consumida nos refinados cafés
dos grandes centros de compras e moderníssimos shoppings centers ou mesmo em uma
nova tipologia de estabelecimento gastronômico urbano, a tapiocaria. Alcançou a escala de
patrimônio cultural e imaterial, a exemplo do que ocorrera em Pernambuco, incluindo aí a
organização de uma associação de tapioqueiras no município de Olinda - PE, assim como a
singela manjubinha (ginga), com tapioca, preparação típica do litoral potiguar e que consiste
em ginga, frita no óleo bem quente e envolta com goma de mandioca (Ibidem).
A medula central da raiz da mandioca é a polpa branca, reserva de amido. A fécula é
a forma mais ampla de aproveitamento industrial da mandioca e é empregada como ma-
téria-prima no processamento da farinha e da goma de mandioca. A goma de mandioca,
base do produto tema deste texto, surge após o processo de decantação do suco branco,
acre e leitoso, da polpa da mandioca ralada e espremida, e sucessiva secagem e moagem
da fécula até se chegar à um pó branco e fino (Ibidem).
A fécula, goma ou polvilho (doce e azedo), hidratada e peneirada, não se limita ape-
nas ao preparo da afamada tapioca, o “pão do Brasil mas está na cadeia produtiva de uma
série de produtos alimentares e especialidades gastronômicas do repertório culinário na-
cional, como o saboroso biscoito de polvilho, o envolvente biscoito sequilho, o cremoso pão
de queijo e a gomosa chipa, parente portenha dessa iguaria mineira e que domina os cafés
da tarde no Centro-Oeste brasileiro. Ao nível industrial, a tapioca possui outras aplicações,

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geralmente como espessante e estabilizante, destacando-se pela falta de contribuição e
alteração do sabor, permitindo a detecção plena e imediata do sabor do próprio alimento,
assim como possibilita o desenvolvimento de filmes nanoestruturados comestíveis (Ibidem).
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreender
o surgimento da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo, em 1995, no município de
Petrolina - PE, que produz e comercializa em especial a Cambraia, um alimento saboroso
produzido de maneira simples, com a fécula de mandioca, rica em fonte de energia e cálcio,
e, que não possui glúten.
A cambraia é bastante popular na região Nordeste. Com um sabor inigualável e de
fácil preparo, ela é versátil, podendo ser salgada, doce ou recheada, agradando a to-
dos os paladares.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido na Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo, localiza-


da no município de Petrolina - PE, que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), possui uma população estimada em 359.372 habitantes. A cidade está
localizada na Região Sertão do São Francisco (figura 1), distante 713,5 km da capital per-
nambucana, Recife, à margem esquerda do Rio São Francisco, tendo acesso pelas rodovias
BR-428 e BR-232.
A população de Petrolina convive com restrições naturais típicas da região do Semiárido
brasileiro, chuvas escassas, irregulares, longos períodos de estiagem e, que, entretanto,
buscam nas inúmeras potencialidades do município, os recursos necessários para a vivência.

Figura 01. Mapa da Região Sertão do São Francisco.

Fonte: Reprodução/Internet (2022).

Deste modo, este é um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem


qualitativa, desenvolvido a partir do método fenomenológico, que é empregado em pesquisa
qualitativa, e preocupa‐se com a descrição direta da experiência como ela é, sendo que a

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realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
A fenomenologia é classificada como sendo uma corrente filosófica cujo precursor foi
o filósofo e matemático Edmund Husserl, que nasceu no ano de 1859 na Moravia (atual
República Tcheca), e faleceu em 1938. Sua obra literária é marcada profundamente pela
preocupação com a crise das ciências, especialmente no tocante à compreensão dos
fenômenos humanos.
“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importantes
contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de seu
legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito da
construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “revo-
luções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):

O pressuposto humanista da autonomia é diferente. Nele o ser humano não


é visto como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador
de coisas novas. As pesquisas que estão a serviço desta forma humanista de
atendimento são principalmente qualitativas, descritivas de vivências subjetivas,
buscando explicitar seus significados potenciais em relação a algum contexto
e habilitando o profissional com uma visão mais ampla do ser humano, pois é
isso que o torna mais apto a oferecer aquela relação libertadora (AMATUZZI,
2009, p. 6).

De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as di-
ferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os diferentes
posicionamentos existentes no meio social.
Já o estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

O surgimento da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo

Por volta da década de 1990, no Bairro Jardim Amazonas, situado na Zona Norte do
município de Petrolina - PE, pelas mãos do casal Dona Maria e Seu Zé Miúdo, tem o início
da produção artesanal de uma iguaria típica da culinária nordestina, a Cambraia, um ali-
mento saboroso produzido de maneira simples, com a fécula de mandioca, rica em fonte de
energia e cálcio, e, que não possui glúten.

Figura 02. Produção de cambraia em um forno a lenha.

Fonte: Jonas Santos (2021).

Como um incremento na fonte de renda do casal, o produto era comercializado de


porta a porta pelas redondezas. Dona Maria, uma mulher sertaneja guerreira, com veia
empreendedora pulsante, em 1992, resolveu convidar 09 mulheres da localidade, para
formar um grupo e assim aumentar a produção, comercialização e renda por meio das
cambraias. O produto com o passar do tempo foi conquistando cada vez mais o paladar das
pessoas da região e atravessando fronteiras, para cidades próximas e até mesmo para a
capital do estado, Recife. Fazendo um sucesso enorme as cambraias, em 1995, o governo
municipal contemplou com um espaço para a produção das cambraias, batizado de Casa
de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo.

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Figura 03. Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo.

Fonte: Jonas Santos (2021).

Em 1999, o marido de Dona Maria, Seu Zé Miúdo, infelizmente falece. No ano de


2001, Dona Maria também falece. Mesmo diante dos episódios tristes, a produção das
cambraias seguiu fortemente pelas demais produtoras, sem perder o toque especial desen-
volvido pelo casal.

Figura 04. O casal Dona Maria e Seu Zé Miúdo (in memorian).

Fonte: Sampaio Neto (2022).

Em 2021, o governo municipal deu início a uma reforma e ampliação do espaço, or-
çado no valor de R$ 291,644,83 mil, pois as instalações já não atendiam mais as necessi-
dades da produção.

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Figura 05. Trabalhadores na reforma e ampliação do espaço.

Fonte: Divulgação/PMP (2021).

Após alguns meses em obras, o espaço foi totalmente revitalizado, agora dispondo de
um local para atendimento, administração, produção e armazenamento de produtos adequa-
dos, e ainda, com acessibilidade para pessoas com deficiência. A nova Casa de Cambraia
Dona Maria e Zé Miúdo foi inaugurada em 2022.

Figura 06. A nova Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

O novo espaço também possui um pequeno museu, onde é apresentado a histó-


ria e exposto alguns utensílios domésticos que foram utilizados na produção das cam-
braias antigamente.

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Figura 07. Museu da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

Atualmente, na Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo trabalham 04 mulheres.


Cambraias com sabor tradicional e exótico são produzidas, como alho, cebola, beterraba,
couve-flor, orégano e doce. Também são produzidos sequilhos doces. A produção diária
das iguarias é de aproximadamente 2.500 unidades. São comercializadas na região, como
também, em outros lugres do país.

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Figura 08. Amostra de alguns produtos da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

A Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo funciona de segunda a sexta-feira, das


8h às 18h, e aos sábados, das 8h às 12h. Está localizado na Rua 16, em frente à Praça do
Bairro Jardim Amazonas. Os produtos também podem ser adquiridos via on-line, pela página
@casadacambraia, na Rede Social Instagram, e, pelo Celular/WhatsApp (87) 9 8815-2615.

Agradecimentos

As cambraieiras Luzia Amorim, Marta Maria, Nádia Raquel e Sandra Cristina, que
abriram as portas da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo para apresentar-nos a
sua história e espaço de produção e comercialização.

CONCLUSÃO

Neste estudo, objetivou-se apresentar e fazer compreender o surgimento da Casa de


Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo, em 1995, no município de Petrolina - PE, que produz
e comercializa em especial a Cambraia, um alimento saboroso produzido de maneira sim-
ples, com a fécula de mandioca, rica em fonte de energia e cálcio, e, que não possui glúten.
Fazendo um sucesso enorme as cambraias, em 1995, o governo municipal contemplou
com um espaço para a produção das cambraias, batizado de Casa de Cambraia Dona
Maria e Zé Miúdo.
Atualmente, trabalham 04 mulheres produzindo cambraias com sabor tradicional e
exótico, como alho, cebola, beterraba, couve-flor, orégano e doce. Também são produzidos
sequilhos doces. A produção diária das iguarias é de aproximadamente 2.500 unidades.

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A cambraia é bastante popular na região Nordeste. Com um sabor inigualável e de
fácil preparo, ela é versátil, podendo ser salgada, doce ou recheada, agradando a to-
dos os paladares.

REFERÊNCIAS
1. AMATUZZI, M. M. Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Alínea, 2009.

2. AGUIAR, P. Mandioca: Pão do Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982.


(Coleção Retratos do Brasil, v. 166).

3. GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de Pesquisa. Coordenado pela Uni-


versidade Aberta do Brasil - UAB/UFRGS e SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2009.

4. GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010. 184p.

5. LUSTOSA, R. L. T. A Nova Onda da Tapioca: Versões da Tapioca no Mercado Fitness


e Gourmet. In: SIQUEIRA, A. de M. O. Tapioca: Tradição da Raiz ao Paladar - Editora
Micélio: Recife, 2021. ISBN 978-655-992907-1-8. Disponível em: <www.ufrpe.br/sites/
www.ufrpe.br/files/TapiocaISBN.pdf>. Acesso em 30 de setembro de 2022.

6. Portal IBGE. Petrolina (PE) | Cidades e Estados | IBGE. Disponível em: <www.ibge.
gov.br/cidades-e-estados/pe/petrolina.html>. Acesso em 21 de setembro de 2022.

7. VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo:


Atlas, 2009.

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07
Contribuição da educação ambiental e
da agroecologia para a efetivação da
Pedagogia da alternância no EJA Campo

Cláudio Alencar
Universidade Federal de Pernambuco - UNIVASF

Clécia Simone Gonçalves Rosa Pacheco


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer-
tãoPE

Paulo Roberto Ramos


Universidade Federal de Pernambuco - UNIVASF

'10.37885/220809709
RESUMO

O presente artigo tem como objetivo averiguar a contribuição da Educação Ambiental e


da Agroecologia para auxiliar a práxis educacional docente e a efetivação da Pedagogia
da Alternância no EJA Campo na perspectiva de construção de uma formação crítica dos
discentes. A metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica, com abordagem qualitativa,
com caráter exploratório, visando subsidiar a leitura e a interpretação no conjunto de artigos
científicos e capítulos de livros que contemplem a temática de pesquisa. Os trabalhos en-
contrados estabeleceram uma relação sobre as temáticas envolvidas: Educação Ambiental
dentro das políticas educacionais da EJA Campo; a Agroecologia como ciência e sua rele-
vância para as práxis educacionais da Pedagogia da Alternância; das ações da Agricultura
Familiar cooperando com as estratégias agroecológicas.

Palavras-chave: EJA Campo, Práxis Educacional, Formação Crítica.


INTRODUÇÃO

A Educação Ambiental é um instrumento que compreende o reconhecimento dos va-


lores, habilidades, atitudes e competências sociais com foco na sustentabilidade socioam-
biental. Evidenciado na legislação e em programas governamentais no mundo e no Brasil,
agregado no processo de ensino em todos os níveis e modalidades, como conteúdo inter-
disciplinar e transversal no ensino formal (NASCIMENTO; NOGUEIRA; RAMOS, 2020).
A Educação Ambiental cria oportunidades de desenvolver ações e aprimoramentos
nos processos de ensino e aprendizagem nas escolas, elencando possibilidades de uma
participação mais ativa dos discentes e docentes na conscientização da proteção da natureza
e de um pensamento mais ecológico.
As Diretrizes e Parâmetros Curriculares enfatizam como a Educação Ambiental tem
como base a interdisciplinaridade, sendo trabalhada em diversos eixos e modalidade de
ensino, baseando-se na ciência e nas tecnologias para a sensibilização e na mudança da
conduta dos discentes na utilização dos recursos ambientais e na proteção da natureza.
Na Educação de Jovens e Adultos (EJA) não é diferente, suas diretrizes curriculares
trabalham os aspectos ambientais, políticas públicas e práticas pedagógicas inclusivas,
fomentando o fortalecimento das experiências no campo, proporcionando capacitação e
práticas de ensino educacional, ressaltando a participação social e estímulo das ações
dentro das turmas (SEE DE PERNAMBUCO, 2015).
A modalidade da EJA propõe atender a um público com faixa etária elevada que não
conseguiu concluir os seus estudos na faixa etária recomendada pelo MEC, ou pela defa-
sagem no desempenho durante o período letivo, tendo como papel de fortalecer as bases
da formação desse individuo, restaurando um direito negado, proporcionando acesso à
educação de qualidade, formação crítica e promoção na inclusão social (Ibidem).
A partir disso, elencou-se a seguinte problemática: Até que ponto a Educação Ambiental
auxilia as práxis educacionais dos docentes da EJA Campo para uma perspectiva de for-
mação crítica dos discentes? Qual a relevância da Agroecologia enquanto ciência para a
práxis da Pedagogia da Alternância no EJA Campo?
A metodologia está pautada numa revisão bibliográfica que visa subsidiar a leitura e
a interpretação no conjunto de artigos científicos e capítulos de livro que contemplem a te-
mática de pesquisa, focando em produções acadêmicas através da ferramenta de pesquisa
“Google Acadêmico” e “SciELO - Brasil”, buscando os descritores “Educação Ambiental”,
“Agroecologia” e “EJA Campo”, com corte temporal dos últimos 05 anos (2018-2022) em
páginas em português.
O presente trabalho tem como objetivo geral averiguar a contribuição da Educação
Ambiental e da Agroecologia para auxiliar a práxis educacional docente e a efetivação da

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Pedagogia da Alternância no EJA Campo na perspectiva de construção de uma formação
crítica dos discentes.
Dentre os objetivos específicos tem-se: a) Compreender o Ensino da Educação
Ambiental dentro das políticas educacionais da EJA; b) Analisar a relevância da Educação
Ambiental enquanto ferramenta interdisciplinar necessária para a sensibilização e construção
de uma consciência ecológica no ensino do EJA Campo; c) Dialogar com o pensamento
ecológico na perspectiva da Educação Ambiental no ensino da EJA Campo; d) Discutir a
relevância da Agroecologia na Pedagogia da Alternância da EJA Campo.
Nesse sentido, justifica-se este estudo pelos prováveis ganhos oriundos dessa revisão
de literatura, sendo uma investigação que proporcionará uma ênfase sobre a Agroecologia,
e como tem um papel fundamental na conscientização na construção do conhecimento
voltado no desenvolvimento rural e na educação do campo, dentro da interdisciplinaridade
da Educação Ambiental.

MARCO TEÓRICO

Educação Ambiental: Conceituação

A Educação Ambiental é evidenciada na legislação e em programas governamentais


como instrumento que prega uma educação acessível a todos os níveis e modalidades de
ensino formal, de forma transversal e interdisciplinar, visando o equilíbrio no meio ambiente
e a sustentabilidade socioambiental (NASCIMENTO; NOGUEIRA; RAMOS, 2020).
A Educação Ambiental tem sua base na promoção das mudanças e valores para integrar
suas ações aos aspectos sustentáveis, culturais, éticos e políticos, buscando contribuir no
desenvolvimento da discussão no âmbito escolar (MARQUES; RIOS; ALVES, 2022). Neste
sentido, Nascimento, Nogueira, Ramos (2020) discorrem como a Educação Ambiental propõe
promover sujeitos ecológicos capazes de identificar e problematizar as questões socioam-
bientais e agirem sobre elas. Proporcionando uma formação adequadas de sujeitos sociais
emancipados, sendo atores da sua própria história.
Voltada para as questões socioambientais, a Educação Ambiental está potencializando
uma pedagogia participativa, integrada e multidimensional, ocasionando um desenvolvimento
nos pensamentos e nas ações dos docentes e discentes nas escolas (Ibidem).
De acordo com Marques, Rios e Alves (2022) a Educação Ambiental pode criar um
sistema educativo para auxiliar na discussão e no debate, envolvendo um senso de preo-
cupação da população com o meio ambiente, proporcionando entendimento crítico e global
sobre a natureza.

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Nesta perspectiva, está envolvida na educação pelas questões ambientais, promo-
vendo e permitindo recursos para o desenvolvimento de dimensões da sustentabilidade,
atendendo as bases da sociedade na implantação de uma ética ecológica (MARQUES;
RIOS; ALVES, 2022). A partir disso, contextualizada numa formação continuada, a Educação
Ambiental deve estar inserida no centro do currículo escolar, apontando ações e refle-
xões sobre as possibilidades de inserção dentro da comunidade escolar (NASCIMENTO;
NOGUEIRA; RAMOS, 2020).

Agroecologia e sua relevância enquanto ciência

Santos, Sousa e Ferreira (2021) discorrem sobre como a Agroecologia fornece o conhe-
cimento e a metodologia para auxiliar no desenvolvimento da agricultura saudável. Buscando
a viabilidade econômica, sustentável e de sua alta produtividade, disponibilizando princípios
básicos sobre o estudo dos ecossistemas e sobre seu tratamento, focando na conservação
dos recursos naturais (MACHADO, 2009).
De acordo com Ferrari e Oliveira (2019), a Agroecologia é uma ciência destinada a
apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencio-
nais para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis, representando uma
abordagem agrícola que incorpora cuidados relativos ao meio ambiente, desde os problemas
sociais, incluindo a sustentabilidade ecológica do sistema da produção, como um todo.
Sendo assim, a Agroecologia é uma ciência destinada na utilização de conceitos e de
princípios ecológicos para o manuseio dos agroecossistemas sustentáveis, permitindo a
logicidade ecológica da agricultura familiar, além do desenvolvimento de táticas de cultivo
(PACHECO et al., 2021).
Corroborando, Menezes et al. (2020), discorrem a Agroecologia como uma área de
conhecimento interdisciplinar, na construção de modelos de agricultura rural com base eco-
lógica e construção de uma iniciativa de avanço rural - com princípio na sustentabilidade.
Endossando, Pacheco et al. (2021) acrescenta que a Agroecologia é uma abordagem
científica que busca transicionar nos tempos atuais como transição do desenvolvimento rural
e da agricultura convencional para uma agricultura mais sustentável, apresentando como
ciência, valorizando a dinâmica de funcionamento de sistemas agrícolas distintos.

METODOLOGIA

O presente trabalho está pautado numa revisão bibliográfica, tendo uma abordagem
qualitativa, classificando-se como de caráter exploratório, que visa subsidiar a leitura e a

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interpretação no conjunto de artigos científicos e capítulos de livros que contemplem a te-
mática de pesquisa.
O critério trabalhado para a realização da pesquisa foi o processo de condução de
busca independente, focando em produções acadêmicas, através da ferramenta de pes-
quisa “Google Acadêmico” e “SciELO - Brasil”, com os descritores “Educação Ambiental”,
“Agroecologia” e “EJA Campo”, com corte temporal dos últimos 10 anos (2012-2022) em
páginas em português.
Logo abaixo, o fluxograma da pesquisa, o processo de refinamento de inclusão e ex-
clusão dos trabalhos acadêmicos, e dos critérios abordados.

Fluxograma 01: Fluxograma da pesquisa, processo de refinamento e critérios abordados.

Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

O processo de exclusão de outros documentos acadêmicos, se baseou nos requisi-


tos que fogem da temática abordada pela pesquisa, do corte temporal e que o idioma não
era o português.

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RESULTADOS E DISCUSSÕES

Mediante dos trabalhos selecionados, composto por artigos científicos e capítulos de


livros focados na temática e que se enquadram no objetivo do trabalho, conforme descrito
na metodologia, se discutirá nos próximos tópicos a relação da Educação Ambiental dentro
das Políticas Educacionais do EJA Campo e, a Agroecologia como Educação Ambiental
Transformadora no auxílio práxis educacionais dos docentes da EJA no Campo (Grifo nosso).
Dando ênfase nos autores: Nascimento, Nogueira e Ramos (2020); Marques, Rios
e Alves (2022); Santos, Souza e Ferreira (2021); Machado (2012); Pacheco et al. (2021);
Moura et al. (2021); Menezes et al. (2020); Santos e Oliveira (2015); Fragoso et al. (2021);
e, Ferrari e Oliveira (2019). Além de complementar com os documentos públicos oficiais
publicados pela Secretaria de Educação e Esporte de Pernambuco, entre os anos de 2015
e 2021, informando conforme quadro 01, a organização e classificação dos trabalhos.

Quadro 01. Organização e Classificação das referências, segundo seu Tipo/Qualis.

Nº Autores Obra Ano Tipo Qualis


Nascimento, Noguei- Educação Ambiental no Semiárido Baiano: conheci-
01 2020 Artigo B2
ra e Ramos mento, aplicações e necessidades
Marques, Rios e A Percepção Ambiental na aplicação da Educação
02 2022 Artigo B2
Alves Ambiental em Escolas
Educação ambiental e agroecologia: uma proposta
Santos, Souza e
03 para o entrelaçar de saberes nas escolas rurais do 2021 Artigo B2
Ferreira
município de Castanhal - PA
A educação ambiental ecomunitarista e a agroecolo-
04 Machado 2012 Artigo B2
gia intervindo na agricultura familiar
Agroecologia como temática de educação ambiental
05 Santos e Oliveira 2015 Artigo B2
na preservação dos ecossistemas
Educação do Campo e Agroecologia: possibilidades
06 Ferrari e Oliveira de articulação a partir da identidade e diversidade 2019 Artigo B2
em suas concepções e práticas
A Agroecologia e a Relação
07 Menezes et al. Sociedade/Natureza: um diálogo para além da 2020 Capítulo de Livro Sem Qualis
Academia
Fundamentos teórico-conceituais da transição agro-
08 Pacheco et al. 2021 Capítulo de Livro Sem Qualis
ecológica a partir de uma revisão integrativa
Educação ambiental como ferramenta para a sus-
09 Moura et al. 2021 Capítulo de Livro Sem Qualis
tentabilidade dos paleoagroecossistemas
Estratégias agroecológicas na agricultura familiar do
10 Fragoso et al. 2021 Capítulo de Livro Sem Qualis
Semiárido Brasileiro: uma revisão sistemática
Parâmetros Curriculares da EJA - Educação de
11 SEE de Pernambuco 2015 Documento Sem Qualis
Jovens e Adultos
Diretrizes Operacionais para a Educação de Jovens
12 SEE de Pernambuco 2021 Documento Sem Qualis
e Adultos.
Fonte: Elaborado pelos autores (2022).

Logo, o processo para a organização e classificação das referências que serão debati-
dos na discussão da revisão bibliográfica foi através do seu tipo de trabalho acadêmico e do
seu Qualis. Ao todo foram 12 trabalhos selecionados, desde 06 artigos acadêmicos (Qualis
B2), 04 capítulos de livros (Sem Qualis) e 02 documentos (Sem Qualis).

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101
• Importância da Educação Ambiental dentro das Políticas Educacionais da
EJA Campo

Conforme o Artigo 1º - I, na Instrução Normativa nº 02/2015 da Secretaria de Educação


e Esporte de Pernambuco (2021), a EJA – Educação de jovens e Adultos Campo tem como
objetivo de garantir o acesso e a permanência de jovens e adultos do campo dentro da
educação básica, atendendo em especial o seguinte público-alvo:

Artigo 1º - I: Jovens e adultos do campo na educação básica, com especial


atenção às demandas diferenciadas entre as populações campesinas:
a) agricultores familiares;
b) extrativistas;
c) pescadores artesanais;
d) ribeirinhos;
e) assentados e acampados;
f) trabalhadores assalariados rurais;
g) caiçaras;
h) indígenas;
i) quilombolas; e
j) outras populações (SEE DE PERNAMBUCO, 2021, p. 01).

Existindo particularidades na organização das políticas educacionais nas escolas que


atendem ao público do campo, desenvolvida a partir do eixo articulador “Trabalho e Educação
do Campo”, e separado em quatro eixos temáticos, que são: trabalho, produção e suas for-
mas de organização no campo; política, emancipação, estado e sociedade; questão agrária e
organizações sociais do campo; e, Cultura e Territorialidade (SEE DE PERNAMBUCO, 2021).
Dentro desses eixos temáticos são subsidiados no ensino da Educação Ambiental:
o desenvolvimento local sustentável e norteando sobre a relação com o meio ambiente; a
formação humana e intercultural do indivíduo; desenvolvimento de prática associativas e
solidárias; estímulo ao jovem e ao adulto para a vida em comunidade; a formação humana
e a intercultural do indivíduo.
A Secretaria de Educação e Esporte de Pernambuco (2021) pontua que a Educação
do Campo (EJA) tem a finalidade de ser pensada através dos interesses sociais, políticos e
culturais dos sujeitos, fomentando a formação humana, para uma reflexão e reconhecimento
dos direitos constitucionais, e do direito à cidadania. Dentro do processo de escolarização,
na EJA Campo, possui os seguintes objetivos:

• Integração da escolarização a uma qualificação profissional e social;


• Integração dos saberes escolares, aos saberes da realidade e aos saberes ligados
à experiência da vida do discente;
• Formação da Identidade da população do campo como sujeito de um projeto de
emancipação humana e do desenvolvimento para o Campo (Ibidem).

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A Educação de Jovens e Adultos do Campo, a partir de suas particularidades e dos
eixos temáticos, traz uma dimensão de universalidade da educação, vinculado a um proces-
so de formação humana, para a reflexão e reconhecimento dos seus direitos da cidadania.
Através desses segmentos, a Educação Ambiental é uma ferramenta interdisciplinar
necessária para a sensibilização e construção de uma consciência ecológica no ensino do
EJA Campo, fomentando em ações educativas e maior envolvimento dos docentes na inser-
ção da Educação Ambiental em situações do cotidiano, desenvolvendo um processo mais
vivenciado e de ensino-aprendizagem dos estudantes, gerando uma postura mais crítica e
de valorização ao meio ambiente.

• A Agroecologia como ciência e sua relevância para a práxis da Pedagogia da


Alternância no EJA Campo

Buscando criar uma nova consciência de valor sobre o meio ambiente, a Educação
Ambiental proporciona a realização de novas experiências criativas e inovadoras em diver-
sos segmentos da população em vários níveis de formação (MOURA et al, 2021). Na EJA
Campo, a Educação Ambiental auxilia na construção da integração e transformação no
pensamento crítico dos estudantes, promovendo discussões sobre as questões ambientais
e fortalecendo a sensibilização para a natureza e da agricultura familiar.
Partindo deste pressuposto, faz-se necessário abordar resumidamente sobre a defi-
nição de Pedagogia da Alternância, visto que está é uma expressão polissêmica que de-
tém elementos triviais, mas que se consolida de díspares maneiras, ou seja, “conforme os
sujeitos que as assumem, as regiões onde acontecem as experiências, as condições que
permitem ou limitam e até impedem a sua realização e as concepções teóricas que alicer-
çam suas práticas” (RIBEIRO, 2008, p. 30). A partir desta visão ampla, é possível afirmar
que “a Pedagogia da Alternância tem o trabalho produtivo como princípio de uma formação
humanista que articula dialeticamente ensino formal e trabalho produtivo” (Ibidem).
Neste aspecto, a Pedagogia da Alternância é uma opção metodológica de “formação
profissional agrícola de nível técnico para jovens, inicialmente do sexo masculino, filhos de
camponeses que perderam o interesse pelo ensino regular porque este se distanciava total-
mente da vida e do trabalho camponês” (RIBEIRO, 2008, p. 31), reforçando aqui sua rele-
vância para a formação do jovem da EJA Campo. Sendo assim, a Pedagogia da Alternância
pode utilizar os parâmetros práticos da ciência agroecológica, com vistas a capacitação de
jovens do campo.
Deste modo, cabe aqui reiterar a definição da Agroecologia. Segundo Caporal (2009)
a Agroecologia pode ser definida como sendo uma nova ciência em construção, ou um
paradigma, cujos princípios e bases epistemológicas nasce a convicção de que é possível

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reorientar o curso alterados dos processos de uso e manejo dos recursos naturais, de forma
a ampliar a inclusão social, reduzir os danos ambientais e fortalecer a segurança alimentar
e nutricional, com a oferta de alimentos sadios para todos os brasileiros.
Através disso, a Agroecologia tem um papel importante na Educação Ambiental trans-
formadora, surgindo como uma possibilidade para o desenvolvimento sustentável, buscando
integrar novas estratégias para o desenvolvimento rural, novos desenhos da agricultura,
gerenciamento da água e dos meios de produção (FRAGOSO et al., 2021).
Fragoso et al. (2021) disserta como a Agroecologia integra diferentes saberes e outras
dimensões, implementando a aplicação de políticas públicas voltadas ao fortalecimento da
agricultura familiar, e no direcionamento do desenvolvimento rural. Sua abordagem propõe
mudanças profundas nos sistemas e nas formas de produção, propondo novas maneiras de
apropriação dos recursos naturais que devem se materializar em estratégias e tecnologias
condizentes com a filosofia base (SANTOS; OLIVEIRA, 2015).
Nesta perspectiva, a relevância da Agroecologia enquanto ciência, para a práxis da
Pedagogia da Alternância dentro da EJA Campo é integrar esses saberes e dimensões para
complementar o ensino e aprendizagem dos estudantes, fomentando discussões e ações/
projetos educacionais naquela comunidade do campo, proporcionando novas metodologias
de ensino e ferramentas voltadas no fortalecimento das estratégias agroecológicas na agri-
cultura familiar.
Ademais, é indispensável dialogar sobre os saberes da Agroecologia, desde sua de-
finição como ciência e sua importância dentro da Educação Ambiental e na Educação do
Campo, com vistas a proporcionar novas estratégias para o desenvolvimento rural e de
novos desenhos na agricultura familiar mais sustentável, com foco na conservação do solo
e da preservação dos recursos naturais.
Pode-se afirmar que a Agroecologia mais do que simplesmente tratar sobre o manejo
ecologicamente responsável dos recursos naturais, constitui-se em um campo do conhe-
cimento científico que, partindo de um enfoque holístico e de uma abordagem sistêmica,
contribui para que as sociedades possam redirecionar o curso alterado da coevolução social
e ecológica, nas suas mais diferentes inter-relações e mútua influência (CAPORAL, 2009),
e neste viés que pode ser associada com a Educação Ambiental para viabilizar as práticas
da Pedagogia da Alternância.
Portanto, a Agroecologia se consolida como enfoque científico na medida em que este
novo paradigma se nutre de outras disciplinas científicas, assim como de saberes, conheci-
mentos e experiências dos próprios agricultores, o que permite o estabelecimento de marcos
conceituais, metodológicos e estratégicos com maior capacidade para orientar não apenas

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o desenho e manejo de agroecossistemas mais sustentáveis, mas também processos de
desenvolvimento rural mais humanizados (CAPORAL, 2009).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Finalizando essa revisão bibliográfica, averiguamos a conceitualização da Educação


Ambiental, da Agroecologia, da EJA Campo e da Pedagogia da Alternância, detalhado como
seria o fluxograma da pesquisa, seu processo de refinamento e dos critérios abordados para
cada documento, capítulo de livro e artigo selecionado.
Através da questão norteadora que impulsionou na realização desta revisão biblio-
gráfica, foi notado que nas discussões realizadas e levantadas em relação as temáticas da
Educação Ambiental e da Agroecologia, destacam seu auxílio às práxis educacionais docen-
tes, sendo trabalhado suas interdisciplinaridades na efetivação da Pedagogia da Alternância
dentro do ensino da Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Campo. Fomentando ações e
metodologias educativas que auxiliam no ensino e aprendizagem dos estudantes, desenvol-
vendo uma formação crítica e que integra no fortalecimento da agricultura familiar do campo.
Conforme comentado anteriormente, os autores apontaram em seus estudos, o diálogo
e os fundamentos da Educação Ambiental, e como a ciência da Agroecologia pode com-
plementar aos ensinamentos da EJA Campo. Suas concepções interdisciplinares podem
alcançar uma proposta educativa bastante rica em conhecimento e nas aplicações práticas
da agricultura familiar e na comunidade rural.

Agradecimentos

A Deus pela força para perseverar e me dar força. A minha mãe e meu pai, pelo carinho
e amor incondicional, por me instruírem e me apoiaram nesta jornada. Aos meus orienta-
dores e professores mestres – Clécia Pacheco e Paulo Roberto, pela paciência e auxílio na
realização deste trabalho.

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Educação Básica de Pernambuco, 2015. Disponível em: http://www.educacao.pe.gov.
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13. SEE – SECRETARIA DE EDUCAÇÃO E ESPORTE DE PERNAMBUCO. RESOLUÇÃO


Nº 01/2021 DE 25 DE MAIO DE 2021. Diretrizes Operacionais para a Educação de
Jovens e Adultos. Brasília: 25 DE MAIO DE 2021. Disponível em: https://www.gov.br/
mec/pt-br/media/acesso_informacacao/pdf/DiretrizesEJA.pdf. Acesso: 21 mar. 2022.

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Empreendedorismo Saudável: o modelo
de negócio da Bonno DuValle - vida sem
glúten

Aluísio Sampaio Neto Silvio André Vital Junior


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Márcia Rejane Lopes Cavalcante


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer- Centro Universitário Tabosa de Almeida - ASCES UNI-
tãoPE TA

José Lincoln Pinheiro Araújo Jefferson Gomes Fonseca Tolentino


EMBRAPA Semiárido PEPSICO Brasil

Antonio de Santana Padilha Neto Ana Paula Batista de Oliveira


Universidade do Estado da Bahia - UNEB Faculdade de Petrolina - FACAPE

Eryka Fernanda Miranda Sobral Reinaldo Pacheco dos Santos


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
VASF

'10.37885/221010390
RESUMO

O Quadro de Modelo de Negócios ou “Business Model Canvas”, como também é conhe-


cido, é uma ferramenta que permite planejar, criar ou reformular algum empreendimento.
Desenvolvido pelo suíço Alex Osterwalder, é um instrumento que visa compreender de
maneira fácil e lógica, a estrutura de um negócio, a partir da descrição de elementos e fa-
ses que compõem um empreendimento, como: Proposta de Valor, Canais, Segmento de
Clientes, Relacionamento com Clientes, Recursos Principais, Atividades Principais, Parcerias
Principais, Estrutura de Custos e Fontes de Receita. Objetivo: Analisar e fazer compreender
o modelo de negócio exitoso da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”, desenvolvida por
um jovem casal, que comercializa alimentos sem glúten, especialmente para pessoas que
sofrem restrição a essa proteína (celíacos, alérgicos e intolerantes). Método: É um estudo de
caráter exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa. Resultados: Surgida em feve-
reiro de 2022, como necessidade, uma possibilidade para empreender, impulsionar a renda
familiar e principalmente, manter a saúde, a “Bonno DuValle - Vida sem Glúten” produz de
maneira artesanal, diversos alimentos sem glúten, como, bolo, macarronada, pastel, pizza,
sanduíche, torta, entre outros, bastante saborosos e com qualidade. O pequeno negócio
vem prosperando e a aceitabilidade dos produtos pelos clientes cresce a cada dia mais .
Conclusão: Devido a popularização da internet e das redes sociais, vêm sendo modificada
a forma com que as pessoas se relacionam, e principalmente, a aquisição de produtos e
serviços, demonstrando que o comércio virtual tem potencial crescente no país e no mundo.

Palavras-chave: Business Model Canvas, Internet, Região Sertão do São Francisco,


Qualidade, Saúde.
INTRODUÇÃO

O empreendedorismo é considerado um projeto ou movimento capaz de alavancar


mudanças, gerar impactos positivos e promover o desenvolvimento econômico em um
país. No Brasil, o empreendedorismo começou a ganhar espaço em meados do ano de
1990, e esse termo se expandiu principalmente pela alta taxa de mortalidade dos pequenos
empreendimentos e pela grande instabilidade econômica advindos da globalização, sendo
que, as grandes organizações precisaram buscar ações para adquirir competividade, redução
de custo, além de, se manter competitivos no mercado (DORNELAS, 2016).
Para tanto, o crescimento e a diversificação das atividades empreendedoras devem-
-se, em grande parte, a crises econômicas, mas, vale destacar que as oportunidades não
param de surgir e de se reinventar. Consequentemente, o empreendedorismo está pautado
na ideia de criação e na iniciativa de geração de renda, se configurando como um veículo
que contribui para o crescimento econômico, sobretudo, propiciando benefícios sociais e
culturais (MINNITI, 2008; RIBEIRO-SORIANO; GALINDO-MARTÍN, 2012).
O empreendedorismo busca visualizar negócios e oportunidades, com inovação per-
manente e riscos calculados, com o objetivo de obter rendimentos, reconhecimento e cresci-
mento no mercado. Empreendedorismo significa fazer algo novo, diferente, mudar a situação
atual e buscar, de forma incessante, novas oportunidades de negócios, tendo como foco a
inovação e a criação de valor (DORNELAS, 2003).
Segundo Sarkar (2010, p. 31), empreendedorismo é o processo de identificação, de-
senvolvimento e captação de uma ideia para a vida. A visão pode ser inovadora, uma
oportunidade ou simplesmente uma forma melhor de fazer algo. O resultado final deste
processo é a criação de uma nova empresa, formada em condições de risco e de uma in-
certeza considerável.
De acordo com o autor supracitado, o empreendedorismo vai muito além da cria-
ção de negócios, reflete uma forma de ver e fazer coisas onde a criatividade tem um
papel fundamental.

INSTAGRAM

O empreendedorismo digital se desenvolve cada vez mais, e é evidenciado na socieda-


de brasileira, tendo como base, a criação de um negócio centrado principalmente em meios
digitais ou na transformação de negócios existentes, utilizando novas tecnologias (FANG;
COLLIER, 2017).
Diante desse contexto, para atender cada vez mais os consumidores de maneira mais
prática, econômica e objetiva, os novos empreendedores do século XXI, criam cada vez mais

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seus negócios dentro das redes sociais, e o “Instagram” é atualmente uma ferramenta de
“marketing” e comercialização. É uma das redes sociais que vem se destacando atualmente,
tanto pelo uso das pessoas, como também no meio empresarial, para divulgação de produtos
e vendas “on-line”, de acordo com Aragão et al., (2015) apud Filippi e Dockhorn (2017, p.6):

O “Instagram” foi lançado por Mike Krieger e Kevin Systrom, é um aplicativo


que permite compartilhar sua vida através de fotos e vídeos curtos. Por dia
são postadas 60 milhões de imagens em todo o mundo. É a mídia social que
mais agencia o engajamento dos consumidores com as marcas, possibilitando
oportunidades empresariais. É possível criar perfil pessoal ou empresarial,
com informações de contato que ficam visíveis a todos os outros usuários.

Empresas e empreendedores digitais, vem se tornando a preferência dos consumidores


e clientes, pois, como característica comum, utilizam sistemas que não requerem presença
física para realizar negócios (ESTRADA, 2005), evitando assim, deslocamentos desne-
cessários, objetivando mais eficácia nas negociações e aquisição de produtos e serviços,
facilitando efetivamente a vida das pessoas.

GLÚTEN

De acordo com Silva (2010), tornou-se corriqueiro encontrar nos mercados produ-
tos industrializados que tradicionalmente não teriam glúten, mas que durante o proces-
so de fabricação se contaminam em razão do uso de uma linha comum de produtos
que contém glúten.
Segundo o Codex Alimentarius e o Food and Drug Administration (FDA)
dos EUA, alimentos livres de glúten devem apresentar um nível detectável de até 20 mg por
kg de produto (CODEX ALIMENTARIUS, 2008).
No Brasil, a rotulagem de produtos que contêm glúten, é regulamentada con-
forme a Lei nº 10.674 de 2003 e Resolução RDC nº 40 de 2002. As mesmas evi-
denciam que os fabricantes da indústria alimentícia devem descrever nos rótulos
das embalagens de todos os alimentos industrializados de forma clara, precisa e
legível se aquele produto contém ou não contém glúten, essa avaliação deve ser
realizada através de avaliação dos ingredientes utilizados e/ou contaminação
cruzada dentro dos processos produtivos (BRASIL, 2003).
Aliado a isto, não se pode esquecer que, para a constituição, desenvolvimento e ino-
vação em empreendimento, é indispensável a busca por procedimentos que auxiliem as
empreendedoras na compreensão da estrutura dos negócios. Neste sentido, o Quadro
de Modelo de Negócios ou “Business Model Canvas”, é uma ferramenta que o planeja-
mento, a criação ou reformulação de algum empreendimento, contribui assim, para tornar

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mais favorável tal modelo de negócio. Esta metodologia foi desenvolvida pelo suíço Alex
Osterwalder, sendo um instrumento criado para assimilar de maneira explícita e coerente,
a estrutura de um empreendimento.
A referida ferramenta visa descrever os elementos e fases que compõem um negó-
cio, que são eles: Proposta de Valor, Canais, Segmento de Clientes, Relacionamento com
Clientes, Recursos Principais, Atividades Principais, Parcerias Principais, Estrutura de Custos
e Fontes de Receita.
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, analisar e fazer compreender o
modelo de negócio exitoso, desenvolvido por um casal de jovens no município de Petrolina
- PE, na Região Sertão do São Francisco, que por necessidade, identificou a possibilida-
de para empreender, impulsionar a renda familiar e principalmente, manter a saúde, com
a criação da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten, por meio da Rede Social “Instagram”,
comercializando alimentos sem glúten, especialmente para pessoas que sofrem restrição a
essa proteína (celíacos, alérgicos e intolerantes).
Devido a popularização da “internet” e das redes sociais, vêm sendo modificada a forma
com que as pessoas se relacionam, e principalmente, a aquisição de produtos e serviços,
demonstrando que o comércio virtual tem potencial crescente no país e no mundo.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido no empreendimento “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”, lo-
calizado no município de Petrolina - PE, que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), possui uma população estimada em 359.372 habitantes. A cidade está
localizada na Região Sertão do São Francisco (figura 1), distante 713,5 km da capital per-
nambucana, Recife, à margem esquerda do Rio São Francisco, tendo acesso pelas rodovias
BR-428 e BR-232.

Figura 01. Mapa da Região Sertão do São Francisco.

Fonte: SDT / MDA (2011).

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Deste modo, este é um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem
qualitativa, desenvolvido a partir do método fenomenológico, que é empregado em pesquisa
qualitativa, e preocupa‐se com a descrição direta da experiência como ela é, sendo que a
realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto a natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).
O estudo foi dividido em 05 fases:

1) Na primeira fase, buscou-se conhecer a problemática em tese a partir da leitura


de teóricos e de trabalhos publicados que abordam sobre tal temática, por meio
de busca em sites de periódicos como “Scielo” e “Google Acadêmico”, a partir das
palavras-chave “modelo de negócio”, “loja virtual” e “glúten”;
2) Na segunda fase, buscou-se conhecer “in loco”, a partir da observação, como é
desenvolvido o empreendimento de comercialização de alimentos sem glúten, vi-
sando compreender melhor o contexto;
3) Em seguida, fez-se uma entrevista visando conhecer mais do desenvolvimento do
empreendimento, buscando trabalhar a partir daí a ferramenta Quadro de Modelo
de Negócios ou “Business Model Canvas”;
4) Por último, elencou-se uma análise que se julga adequada para tal empreendimen-
to;
5) Finalmente, apresentou-se ao casal, as características do empreendimento com a
utilização da metodologia “Business Model Canvas”.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

O surgimento da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”

O pequeno negócio de comercialização de alimentos sem glúten, “Bonno DuValle


- Vida sem Glúten”, surgiu em fevereiro de 2022, pelo jovem casal Estefanía Malla e
Pedro Oziel, por uma necessidade, tendo como missão, proporcionar saúde e qualidade de
vida as pessoas que sofrem restrição alimentar ao glúten (celíacos, alérgicos e intoleran-
tes). Em 2021, a esposa recebeu o diagnóstico de alergia ao glúten, levando a restrições

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alimentícias de produtos que contenham essa proteína ou que sofram contaminação cru-
zada (transferência acidental, direta ou indireta, aos alimentos, de contaminantes físicos,
químicos ou biológicos).
À vista disso, pela dificuldade de encontrar uma variedade de alimentos sem glúten
e com preços acessíveis na cidade, o casal logo percebeu uma oportunidade de negócio
e principalmente, manter a saúde, decidindo empreender no segmento de alimentos sem
glúten, por meio da Rede Social “Instagram” (@bonnoduvalle), e com isso, incrementar
a renda familiar.

Figura 02. Logomarca da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”.

Fonte: “Bonno DuValle - Vida sem Glúten” (2022).

São produzidos de maneira artesanal, diversos alimentos sem glúten, como, bolo, ma-
carronada, pastel, pizza, sanduíche, torta, entre outros, bastante saborosos e com qualidade.

Figura 03. Pizza e sanduíches produzidos pela “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”.

Fonte: “Bonno DuValle - Vida sem Glúten” (2022).

A “Bonno DuValle - Vida sem Glúten” vem prosperando e a aceitabilidade dos pro-
dutos pelos clientes cresce a cada dia mais.

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O Modelo de Negócio da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”

O Quadro de Modelo de Negócios ou “Business Model Canvas”, é uma metodologia


surgida em meados dos anos 2000, pelo empreendedor, palestrante, consultor e teórico
da Administração, o suíço Alex Osterwalder, resultante de sua pesquisa de doutorado pela
“Faculté des Hautes Études Commerciales de l’Université de Lausanne” - HEC Lausanne”
(OSTERWALDER; PIGNEUR, 2010).
É uma ferramenta bastante eficiente e simples, em formato de um quadro, que permite
criar ou remodelar, modelo de negócios, considerando 09 elementos que todo empreen-
dimento possui: Proposta de Valor, Canais, Segmento de Clientes, Relacionamento com
Clientes, Recursos Principais, Atividades Principais, Parcerias Principais, Estrutura de Custos
e Fontes de Receita, colaborando com o empreendedor, planejar um negócio de sucesso e
inovador (OSTERWALDER; PIGNEUR, 2010).

Figura 04. Quadro de Modelo de Negócios ou “Business Model Canvas”.

Fonte: Reprodução / Portal Dinamize (2020).

Por meio dos dados coletados e analisados, foi possível compreender o modelo de
negócio desenvolvido pela “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”, com a comercialização
de alimentos sem glúten, apresentando as seguintes características:

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Figura 05. Modelo de Negócio da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”.

Fonte: Dados da Pesquisa (2022).

Pelas informações do Quadro de Modelo de Negócios, ele demonstra-se da forma abaixo:

• Proposta de Valor: Pães, bolos, tortas, pizzas, pastéis, esfirras, coxinhas, biscoi-
tos, sanduíches e macarronada, além de proporcionar bem-estar, saúde e qualida-
de de vida.
• Canais: Contato telefônico, “delivery” na cidade, no próprio domicílio, pela Rede
Social “Instagram” e aplicativo de mensagens e chamadas de voz para “smartpho-
nes”, “WhatsApp”.
• Segmento de Clientes: Celíacos, alérgicos e intolerantes ao glúten e, pessoas
comuns.
• Relacionamento com Clientes: Contato telefónico, atendimento direto, “Insta-
gram” e “WhatsApp”.
• Recursos Principais: Financeiro, para aquisição de bens, materiais e pagamentos
diversos, físico, como armário, mesa, prateleira, entre outros e humano, a mão-de-
-obra dos empreendedores.
• Atividades Principais: Comercialização, produção e “marketing”.
• Parcerias Principais: Rádio Ponte FM 91.5, com apoio e divulgação do empreen-
dimento, “Chef” Susan Martha - Amor Pela Comida e, Marta Midori Gluten “Free”,
via cursos de gastronomia, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-
presas (SEBRAE), por meio de cursos, oficinas e palestras sobre gestão, empre-
endedorismo, “marketing digital”, finanças, redes sociais e posicionamento digital,
e, Mercado Pago, por intermédio de recebíveis de vendas.
• Estrutura de Custos: Água, luz, “internet”, matéria-prima, embalagem, rótulo, ma-
terial de limpeza, remuneração e transporte.

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• Fontes de Receita: Dinheiro em espécie, cartão de crédito e débito, PIX e transfe-
rência bancária.

Portanto, da análise e discussão obtidas e apresentadas nos itens anteriores, pode-se


notar a potencialidade e viabilidade da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”, com a comer-
cialização de alimentos sem glúten, por meio da Rede Social “Instagram”.

CONCLUSÃO

Diante do exposto, objetivou-se, com o presente estudo, analisar e fazer compreender


o modelo de negócio exitoso, desenvolvido pela “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”, por
meio da Rede Social “Instagram”, que por necessidade, foi identificado a possibilidade para
empreender, impulsionar a renda familiar e principalmente, manter a saúde, comercializando
alimentos sem glúten, especialmente para pessoas que sofrem restrição a essa proteína
(celíacos, alérgicos e intolerantes).
O pequeno negócio vem prosperando e a aceitabilidade dos produtos pelos clientes
cresce a cada dia mais.
Devido a popularização da internet e das redes sociais, vêm sendo modificada a forma
com que as pessoas se relacionam, e principalmente, a aquisição de produtos e serviços,
demonstrando que o comércio virtual tem potencial crescente no país e no mundo.

Agradecimentos

Ao casal de empreendedores Estefanía Malla e Pedro Oziel, que abriram as portas do


seu empreendimento para apresentar-nos a sua experiência exitosa.

REFERÊNCIAS
1. BRASIL. Decreto - Lei nº 10674, de 16 de Maio de 2003. Obriga que os Produtos
Alimentícios Comercializados Informem Sobre a Presença de Glúten, como Medida
Preventiva e de Controle da Doença Celíaca. Diário Oficial da República Federativa
do Brasil, Brasília 16 de maio de 2003; 182o da Independência e 115º da República.

2. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução


RDC nº 40, de 08 de Fevereiro de 2002. Regulamento Técnico para Rotulagem de
Alimentos e Bebidas Embalados que Contenham Glúten, Constante do Anexo desta
Resolução. Diário Oficial da União, Brasília, 2002.

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252F%252Fworkspace.fao.org%252Fsites%252Fcodex%252FStandards%252FCXS
%2B118-1979%252FCXS_118e_2015.pdf>. Acesso em 04 de agosto de 2022.
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5. DORNELAS, José. Empreendedorismo: Transformando Ideias em Negócios. 6.
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09
Entrevista com agricultores de hortas
urbanas: uma atividade CTS no ensino de
Química

Raquel Rodrigues Teixeira Benevides


Instituto Federal do Paraná - IFPR

Pedro Miranda Junior


Instituto Federal de São Paulo - IFSP

'10.37885/220809685
RESUMO

Objetivo: Neste trabalho apresentamos a análise da atividade - entrevista com agricultores de


hortas urbanas - desenvolvida em uma das etapas de uma sequência de ensino investigativa
com o tema “agricultura convencional versus agroecologia”, realizada em uma perspectiva
CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) com alunos da 3ª série do Ensino Médio. Portanto,
este trabalho tem por objetivo descrever a análise das entrevistas realizadas por estudantes
do ensino médio com agricultores de hortas urbanas, a partir de questões por eles elabora-
das que abordam seus interesses, dúvidas, demandas e percepções relacionadas ao tema.
Métodos: A pesquisa é de cunho qualitativo e teve como cenário uma escola estadual do
município de Embu das Artes, SP, sendo os participantes desta pesquisa uma turma de 25
alunos da 3ª série do Ensino Médio e a professora de química da turma. As questões das
entrevistas foram analisadas a partir dos pressupostos da análise de conteúdo (BARDIN,
2011), que se refere à análise de significados, propondo inferências e interpretações se-
gundo os objetivos, ou realizando descobertas. Resultados: Emergiram da análise das
questões categorias que indicam um amplo interesse dos alunos acerca da prática agrícola,
assim como, a curiosidade sobre os conhecimentos dos agricultores, de suas práticas e os
impactos socioambientais da agricultura convencional. Conclusão: Consideramos que a
estratégia de ensino – elaboração de entrevistas pelos alunos – contribuiu para o processo
de aprendizagem e análise crítica dos estudantes mediante o tema apresentado, promovendo
a articulação de elementos CTS. A atividade também promoveu a participação e a interação
dos estudantes, sobretudo a habilidade de trabalho em grupo.

Palavras-chave: Ensino por Investigação, CTS, Ensino de Química.


INTRODUÇÃO

Pozo e Crespo (2009) descrevem em sua obra o cenário angustiante vivenciado por
professores da educação básica, em que muitos deles estão frustrados pelo pouco sucesso
alcançado mediante o esforço despendido no ensino, visto que os alunos aprendem cada
vez menos e apresentam concepções errôneas e persistentes, mesmo após vários anos de
estudos escolares, além de terem pouco interesse pela apreensão do conhecimento cientí-
fico e, como consequência, apresentam dificuldades em solucionar problemas da atividade
científica que envolve o uso do raciocínio lógico.
O desinteresse dos alunos na aprendizagem de Ciências é consequência de uma prá-
tica escolar que prioriza a execução de tarefas rotineiras como a resolução de problemas
com pouco significado científico, tendo como consequência a falta de utilidade dos conceitos
trabalhados em sala de aula e a perda de interesse do aluno pelo conhecimento científico
(POZO; CRESPO, 2009).
Considerando que a imagem distorcida da ciência presente nos meios de comunicação
social, e que essa visão é ainda reforçada nas ações em sala de aula, acreditamos que o
ensino de ciências pautado em uma abordagem CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) pode
contribuir para que os estudantes adquiram uma visão holística do conhecimento científico
e suas relações com a tecnologia.
Gordillo (2009) considera que a inserção de temas (temas transversais, temas sociais
relevantes e temas controversos) nos materiais didáticos de disciplinas científicas e hu-
manísticas contribui para a aprendizagem científica e para a participação cidadã no debate
de problemas relacionados à ciência e à tecnologia, como por exemplo, “controvérsias so-
bre problemas reais de interação entre ciência, tecnologia e sociedade em âmbitos como
a saúde, o meio ambiente, o urbanismo, etc.” (GORDILLO, 2009, p.71, tradução nossa).
Logo, partimos da hipótese de que a abordagem de temas gerais e amplos como
“Agricultura” no ensino de química é de grande relevância na formação do aluno, visto que
esse tema é abordado nos livros didáticos aprovados pelo PNLD - 2015, 2016 e 2017 e na
Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2012). A prática agrícola repre-
senta uma das atividades sociais mais importantes desenvolvidas pelo ser humano, além
de proporcionar uma evolução histórica em sua forma de vida, necessitou com o tempo
de aprimoramento técnico para atender a crescente demanda da população por produtos
agrícolas. Como o aumento da produção agrícola pode ser atingido por diferentes tecnolo-
gias de cultivo, diferentes visões surgem nesse contexto, como o debate entre agricultura
convencional e agricultura orgânica.
O tipo de agricultura praticada na sociedade, por ser um tema controverso, favore-
ce o desenvolvimento de atividades que estimulam a argumentação e o debate entre os

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estudantes, consequentemente, possibilita mobilização de conhecimentos e a consideração
de questões éticas, políticas e sociais no desenvolvimento do tema em sala de aula, con-
tribuindo para realização de uma educação CTS para a cidadania (SANTOS, 2008, 2012).
Embora o Brasil seja o país que mais faça uso de agrotóxicos, segundo o Ministério do
Meio Ambiente (BRASIL, 2016), resultando em elevados índices de intoxicação de pessoas,
e a frequente discussão de questões acerca desse tema nos meios de comunicação, muitos
dos estudantes da turma que participou desta pesquisa desconhecem a procedência dos
alimentos que consomem e seus processos de produção como, por exemplo, a questão do
uso de agrotóxicos.
No sentido de aproximar os estudantes acerca do tipo de agricultura praticada na
sociedade para posterior debate sobre agricultura convencional versus agroecologia, rea-
lizamos com a turma a atividade “entrevista com agricultores de hortas urbanas”. Portanto,
este trabalho tem por objetivo analisar as questões formuladas pelos estudantes durante as
entrevistas realizadas com agricultores de hortas urbanas.
A pesquisa desenvolvida neste trabalho é qualitativa do tipo pesquisa-ação, desenvol-
vida nas aulas de Química com uma turma de estudantes da 3ª série do Ensino Médio de
uma escola estadual do município de Embu das Artes – SP.

REFERENCIAL TEÓRICO

O ensino por investigação e a alfabetização científica (AC)

Concordamos com Chassot (2000) que a função do ensino de Ciências não é formar
cientistas, mas contribuir para formação de cidadãos críticos que compreendam o mundo e
por meio do conhecimento possam transformá-lo. Assim afirma Chassot:

A nossa responsabilidade maior no ensinar Ciência é procurar que nossos


alunos e alunas se transformem, com o ensino que fazemos, em homens
e mulheres mais críticos. Sonhamos que com o nosso fazer Educação, os
estudantes possam tornar-se agentes de transformações – para melhor – do
mundo em que vivemos (CHASSOT, 2000, p.27).

Consideramos que o processo de empoderamento dos estudantes para que se tornem


agentes da transformação de sua realidade passa pela sua alfabetização científica, a qual
fornecerá instrumentos para a articulação e construção do conhecimento subsidiando ações
transformadoras.
Carvalho e Sasseron (2008) identificaram eixos estruturantes da AC após análise de
diversos trabalhos, visto que este termo pode apresentar diferentes nomenclaturas e concei-
tos de acordo com o contexto histórico e referencial teórico. Consideramos, portanto que a

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alfabetização científica refere-se à construção de conhecimentos e conceitos científicos para o
entendimento de situações cotidianas e a interferência nas mesmas a partir do conhecimento
adquirido por meio da compreensão da natureza da ciência, suas metodologias e questões
éticas, políticas envolvidas, possibilitando abordagem de temas sociocientíficos que promo-
vem o estabelecimento das relações entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente.
O ensino investigativo é caracterizado por promover um ambiente de potencial alfa-
betização científica, segundo Carvalho e Sasseron (2008), visto que permite ao aluno o
acesso a dados e teorias e promove a articulação destes para a resolução de problemas.
Uma sequência de ensino investigativa (SEI) apresenta uma sequência de atividades espe-
cíficas envolvendo respectivamente: a problematização com resolução, sistematização do
conhecimento construído e contextualização (CARVALHO, 2013).
O professor atua como mediador no processo de ensino-aprendizagem e o aluno am-
plia sua cultura e linguagem científica, relacionando-as com situações presentes em sua
realidade, reinterpretando suas experiências, facilitando a compreensão do mundo em que
vive e transcendendo o senso comum (CHASSOT, 2000; MORTIMER, 1996). Corroborando
as ideias de Chassot e Mortimer, Carvalho (2013) aponta para a ressignificação do conhe-
cimento do senso comum do estudante:

[...] condições de trazer seus conhecimentos prévios para iniciar os novos,


terem ideias próprias e poder discuti-las com seus colegas e com o professor
passando do conhecimento espontâneo ao científico e adquirindo condições
de entenderem conhecimentos já estruturados por gerações anteriores (CAR-
VALHO, 2013, p.9).

Mortimer (1996) considera que para aprender ciências os alunos constroem uma nova
maneira de pensar e explicar o mundo, por um processo de “enculturação”, ou seja, viven-
ciando práticas e as formas de pensar da comunidade científica, utilizando representações
simbólicas próprias desta comunidade, não de forma a substituir as concepções prévias
do aluno por ideias científicas, mas sim, de forma que ele possa ter esse desenvolvimento
paralelo e empregá-las em contextos apropriados.
Na concepção de alguns projetos de ensino investigativo que surgiram no Brasil a partir
da década de 1970, a investigação deve superar atividades de coleta e análise de dados,
abordando as relações e implicações sociais e políticas da atividade científica (VIEIRA, 2012).
Consideramos que a articulação do ensino investigativo com o enfoque CTS no ensino de
Ciências possibilita que os conceitos internalizados pelos estudantes sejam utilizados para
tomada consciente de decisões frente a situações envolvendo questões científicas e tecno-
lógicas e suas implicações sociais.

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O enfoque CTS na educação

Na perspectiva de Santos (2007), a função social do ensino de ciências apresenta


pontos em comum com a abordagem CTS e alfabetização científica e tecnológica (ACT)
defendida por Auler e Delizoicov (2001). O ensino CTS está ligado à formação da cidadania
dos estudantes, para que participem da sociedade de forma crítica e consciente (SANTOS;
SCHNETZLER, 2010; SANTOS; MORTIMER, 2001), ou seja, o objetivo central do ensino
CTS na educação básica é subsidiar a tomada de decisão responsável sobre questões
envolvendo ciência e tecnologia por meio da construção de conhecimentos, valores e habi-
lidades (SANTOS, 2007a; SANTOS; SCHNETZLER, 2010; SANTOS; MORTIMER, 2000).
Assim, essa perspectiva de ensino busca a interação entre educação científica, tecnológica
e social, na qual discussões históricas, éticas, políticas e sociocientíficas são articuladas
a conteúdos científicos e tecnológicos, permitindo ao estudante a compreensão de como
o desenvolvimento da ciência e tecnologia depende de interesses políticos e econômicos,
valores e ideologias da cultura na qual está inserido (SANTOS, 2007b).
Santos (2010) aponta um segundo objetivo desta proposta de ensino, além da capaci-
dade de tomada de decisão, qual seja “a compreensão da natureza da ciência e seu papel
na sociedade” (SANTOS, 2010, p.76), corroborando o artigo 35o da LDB apresentado nas
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica, que apresenta a quarta finalidade
do Ensino Médio, a “compreensão dos fundamentos científicos e tecnológicos presentes
na sociedade contemporânea, relacionando a teoria com a prática” (BRASIL, 2013, p. 39),
salientando ainda a construção do senso crítico, autonomia intelectual e formação ética em
consonância com esta proposta de ensino.
Santos (2007b), Auler e Delizoicov (2001) e Auler e Bazzo (2001) questionam a neutra-
lidade e valores do modelo de desenvolvimento científico e tecnológico atual e destacam a
importância de trazer este debate para a sala de aula, promovendo uma educação científica
crítica, na qual conteúdo é organizado a partir de temas sociais, em que ciência e tecnologia
se apresentam em prol do interesse social, valorizando a natureza das ciências, a linguagem
científica e o argumento científico, defendendo a recontextualização do movimento CTS por
meio da busca de um modelo de ciência e tecnologia pautado na justiça social e subsidiado
por uma educação em que as discussões envolvem os aspectos sociais da ciência e da tec-
nologia com foco crítico e atuante na busca de um mundo mais sustentável (SANTOS, 2008).
Porém, é importante refletir as considerações feitas por Auler e Delizoicov (2001),
que alertam sobre a possibilidade de a ACT seguir para uma visão reducionista, a qual não
reflete os objetivos do ensino CTS, cuja caracterização se dá na visão ampliada de ACT,
ou seja, a visão reducionista trata a ciência como neutra e pautada nos seguintes “mitos”:
a) determinismo tecnológico: onde a inovação tecnológica só trará melhora para a vida das

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pessoas e é inevitável; b) superioridade dos modelos de decisões tecnocráticas: ideia de
que a ciência e a tecnologia podem solucionar problemas técnicos e sociais de forma neu-
tra; c) perspectiva salvacionista da ciência e tecnologia: aponta para a concepção linear de
progresso na qual desenvolvimento científico promove desenvolvimento tecnológico, que
promove desenvolvimento econômico, que por sua vez promove desenvolvimento social.
A visão ampliada de ACT estuda as relações CTS relacionando o ensino de conceitos
à problematização desses “mitos”, despertando a compreensão da natureza da ciência e
seu papel na sociedade e a capacidade de tomada de decisão consciente.
As atividades da SEI tiveram como foco o desenvolvimento da ACT na perspectiva
ampliada, em que a proposta de realização da entrevista apresentou-se como mais uma
atividade que busca o desenvolvimento do espírito investigativo dos estudantes e a “encul-
turação científica”, visto que entrevistas são ferramentas importantes de coleta de dados em
determinados tipos de pesquisas, além de contribuir para o desenvolvimento de habilidades
comunicativas (LÜDKE; ANDRÉ, 2014).

MÉTODOS

Esta pesquisa foi desenvolvida numa abordagem qualitativa, visto que o cenário edu-
cacional é complexo e dificilmente conseguimos isolar suas variáveis e relacioná-las a deter-
minado efeito, ainda que a preocupação com o processo seja maior do que com o produto
(LÜDKE; ANDRÉ, 2014).
O cenário da pesquisa foi uma escola estadual do município de Embu das Artes, SP,
sendo os participantes desta pesquisa uma turma de 25 alunos da 3ª série do Ensino Médio
e a professora de química da turma, a qual é uma das autoras deste trabalho. As entrevistas
dos agricultores de hortas urbanas constituíram uma das etapas da SEI realizada na pers-
pectiva CTS, desenvolvida acerca do tema “agricultura convencional versus agroecologia”.
A visita à horta urbana para realização da entrevista dos agricultores representou a
última atividade do primeiro ciclo da SEI, com o objetivo de mobilizar conteúdos com os
seguintes propósitos: fazer entrevistas (segundo o gênero textual), registrar observações;
correlacionar conceitos e técnicas de plantio; relacionar o tema abordado na SEI com a
sociedade, a economia solidária e o meio ambiente; contribuir para a aprendizagem em um
local diferente da sala de aula convencional; articular a experiência da visita à construção
de conhecimentos, promover a articulação entre os elementos da tríade ciência, tecnologia
e sociedade; promover a inserção dos estudantes na cultura científica e subsidiar a cons-
trução da horta vertical na escola.
A SEI foi organizada em dois ciclos de atividades acerca de questões envolvendo as
formas de plantio e os impactos socioambientais relacionados à agricultura convencional e

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agroecologia. O ciclo 1 era constituído por: problematização; leitura de textos de divulgação
científica; leitura e interpretação de tabelas; vídeo “O veneno está na mesa 2”; sistemati-
zação das discussões realizadas em aula por meio do uso de multimídia; reavaliação das
hipóteses; elaboração de texto argumentativo; visita a uma horta urbana para realização
de entrevistas com agricultores e construção da horta vertical. O ciclo 2 era constituído
por: problematização, busca de informações sobre o tema utilizando a sala de informática
da escola, divulgação das informações pesquisadas pelos grupos, preparação do adubo e
adubação da horta, atividade lúdica – jogo das funções orgânicas, aula de exercícios, júri
simulado para debater o tema, aula expositiva dialogada, elaboração de relatório sobre o
experimento realizado e questionário final.
As entrevistas foram analisadas a partir dos pressupostos da análise de conteúdo
(BARDIN, 2011), que se refere à análise de significados, propondo inferências e interpreta-
ções segundo os objetivos, ou realizando descobertas, cuja realização se dá em três etapas:
(a) pré-análise, correspondente a sistematização das ideias iniciais, como a determinação
do corpus de análise e seu objetivo, expostos anteriormente para este trabalho; (b) explo-
ração do material, em que os dados são recortados em unidades comparáveis que permi-
tam a descrição de suas características definidos por unidades de registro, representadas
nesta pesquisa pelas perguntas das entrevistas codificadas com atribuição de significado;
(c) tratamento dos dados, inferências e interpretação, correspondente a categorização das
unidades de registro representando de forma simplificada os dados brutos, e respectivas
caracterizações e interpretações, apresentadas nos resultados desta pesquisa.

RESULTADOS

Foram realizadas cinco entrevistas codificadas como E1, E2, E3, E4 e E5. As entrevistas
E2, E3 e E4, realizadas em grupos de alunos, foram em hortas comunitárias, enquanto as
entrevistas E1 e E5, realizadas de forma individual, foram em hortas particulares. Os alunos
que realizaram as entrevistas individualmente justificaram que não conseguiram organizar o
próprio grupo para fazer a atividade. Como a entrevista foi realizada fora do período de aula,
alguns estudantes pelo fato de trabalhar, tiveram dificuldades em se reunir com os colegas.
As categorias temáticas emergentes do corpus de análise representam os interesses,
as dúvidas, as demandas, as percepções e as impressões dos estudantes em relação à
horta urbana, expostos nas questões das entrevistas com os agricultores, e estão listadas
a seguir: C1) técnicas de plantio; C2) impactos socioambientais do uso de agrotóxicos; C3)
horta urbana e comunidade; C4) características do produto; C5) motivação dos agricultores;
C6) experiência dos agricultores; C7) ação transformadora. As questões sobre dados pes-
soais não foram categorizadas visto que não refletiam os objetivos da pesquisa.

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Para cada uma das categorias apresentamos a seguir exemplos de algumas questões
(Q) presentes nas entrevistas (E) elaboradas pelos estudantes.
A categoria C1 – técnicas de plantio – agrupa questões que expressam o interesse
dos estudantes sobre as tecnologias utilizadas na horta visitada, ou seja, as técnicas de
preparação do solo, adubação, tempo de crescimento das plantas para a colheita, variedades
de plantas cultivadas, rotina de cuidados com a horta, técnicas para o combate de pragas,
resultados obtidos com as técnicas de plantio; portanto envolvendo questões tecnológicas
articuladas pela tríade CTS:
(E1, Q9) “Como é o consumo dessas plantas”. O aluno questiona o modo de preparo
das plantas medicinais para uso.
(E2, Q7) “Quais outros meios você conhece para o combate das pragas?
Quais você utiliza?”.
(E3, Q1) “Quais são suas formas de plantação?”.
A categoria C2 ─ impactos socioambientais do uso de agrotóxicos ─ articula conceitos
envolvidos no eixo sociedade da tríade CTS, como efeitos do uso de agrotóxicos na saúde
dos trabalhadores do campo e dos consumidores do produto final, contaminação do meio
ambiente e dos seres vivos:
(E2, Q2) “Além da degradação do meio ambiente, o que você acha que a utilização
dos agrotóxicos afeta?”.
(E4, Q7) “O que a senhora acha, não usar agrotóxico, ajuda na nossa saúde?”.
A categoria C3 – horta urbana e comunidade – as questões agrupadas nesta categoria
propõem relações entre a horta e a comunidade ao redor, benefícios da horta para a co-
munidade, e questões sobre o comércio de produtos, desde o preço até especificações de
produtos vendidos e com qual finalidade, envolvendo assim relações econômicas e sociais,
evidenciando a curiosidade dos alunos acerca da possibilidade de venda dos produtos além
do consumo próprio, mesmo que em pequena escala de produção:
(E2, Q3) “O que o plantio de alimentos orgânicos influencia nessa comunidade?”.
(E4, Q9) “Qual o preço dos alimentos orgânicos? Nesta horta comunitária os alimen-
tos são vendidos?”.
A categoria C4 – características do produto – envolve questões a respeito da aparên-
cia, cor, gosto, benefícios ou malefícios para a saúde, comparação entre as características
de orgânicos e convencionais e qualidade dos produtos, demonstrando a curiosidade dos
alunos em relação a diferentes produtos, especialmente sobre os orgânicos. Esta categoria
aponta para o eixo da ciência na tríade CTS, porém abordada de forma popular, não supe-
rando o senso comum:
(E4, Q5) “Há diferença na cor e sabor do alimento com a plantação orgânica?”.

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(E1, Q6, Q8) “O que seria no seu ponto de vista erva medicinais? Para que ser-
ve essa planta?”.
(E3, Q5) “Qual a diferença que a senhora percebe entre alimento orgânico e com
‘protuto’ ?”. “Produto” no sentido de alimento convencional.
A categoria C5 ─ motivação dos agricultores ─ reflete o interesse dos estudantes
em saber o que levou as pessoas a plantar na cidade, visto que os produtos são facilmente
comprados e não representam grades gastos, tornando-os acessíveis a uma grande quan-
tidade de pessoas:
(E1, Q4) “O que te levou a plantar e cultivar diferentes tipos de plantas?”.
(E1, Q12) “Apesar desse negócio de venda de erva medicinais não ser muito reconhe-
cido, e não dá muito lucro, você se considera uma empresária pelo fato de ter seu próprio
negócio, ou você faz isso por prazer?”.
A sexta categoria C6 – experiência dos agricultores – agrupa questões relacionadas ao
tempo de experiência das pessoas entrevistadas que praticam a horta urbana, apresentando
a curiosidade dos estudantes sobre a questão:
(E5, Q1) “Há quanto tempo o senhor trabalha com agricultura orgânica, deixando de
usar veneno nas plantações?”.
(E1, Q3) “Há quanto tempo você já plantar?”.
A categoria C7 – ação transformadora – apresenta uma reflexão importante dos alunos,
demonstrando a preocupação com o domínio do agronegócio sobre a agricultura familiar,
reflexo das discussões realizadas em sala durante o desenvolvimento da SEI, além da
mobilização e conscientização de agricultores para mudar seu modelo de plantio para um
modelo sustentável, demonstrando a postura crítica por parte dos alunos, promovendo a
transformação da sociedade:
(E2, Q4) “Você acha que algum dia esse projeto de plantio orgânico poderia se ma-
ximizar e algum dia desbancar as grandes empresas?”.
(E2, Q5) “Qual a solução que você criaria para convencer os agricultores a reorgani-
zarem sua forma de plantio?”.
A Tabela 1 apresenta a relação entre as categorias emergentes e as questões presentes
em cada uma das cinco entrevistas realizadas pelos estudantes.

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Tabela 1. Relação entre as categorias (C) e as questões (Q) presentes em cada entrevista (E). ─ (não apresentou)

Categoria
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
Entrevista
E1 Q9, Q11 ─ Q5 Q6, Q7, Q8 Q4, Q12 Q3 ─
E2 Q1, Q7 Q2 Q3, Q6 Q8 ─ ─ Q4, Q5
Q1, Q2, Q3,
E3 ─ ─ Q5 ─ ─ ─
Q4, Q6
Q1, Q2, Q3,
E4 Q7 Q9 Q4, Q5, ─ ─ ─
Q6, Q8
E5 Q2 Q4 ─ Q3 ─ Q1 ─

DISCUSSÃO

A partir dos dados da Tabela 1, observamos que todas as entrevistas apresentaram


questões relacionadas aos aspectos tecnológicos da agricultura (C1), e apenas os alunos
que elaboraram as E1 e E3 não elencaram aspectos sociais e ambientais envolvidos na
agricultura (C2). A qualidade e características dos produtos (C4) apareceram como uma
curiosidade frequente em todas as entrevistas. A motivação dos agricultores (C5) ao cultivar
foi abordada apenas pela E1. Somente a E2 apresentou preocupação com a mudança da
forma de cultivo convencional dos alimentos (C7), refletindo uma das contribuições do ensino
CTS, a preparação dos alunos para atuarem na sociedade democrática de forma respon-
sável a partir da tomada de consciência. (SANTOS, 2008; SANTOS e MORTIMER, 2001).
Praia, Pérez e Vilches (2007) afirmam que para o exercício da cidadania de forma
ética não é necessário o desenvolvimento de conhecimentos científicos específicos e pro-
fundos, mas sim o desenvolvimento de uma análise ampla sobre a problemática analisada,
proporcionando a tomada de decisão fundamentada. A análise dos dados desta pesquisa,
realizada em uma perspectiva CTS, corrobora a afirmação destes autores.
A prática investigativa contribui para a “compreensão significativa dos conceitos” por
articular conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais segundo Praia, Pérez e
Vilches (2007), promovendo a imersão dos estudantes na cultura científica e tecnológica e a
reflexão coletiva e crítica acerca da temática “agricultura convencional versus agroecologia”
proporcionando a análise ampla da problemática estudada.

CONCLUSÃO

Nas entrevistas, verificamos interesses diversos dos estudantes por questões técni-
cas e científicas acerca do tema “ agricultura convencional versus agroecologia”, tais como
a motivação, a experiência e os conhecimentos dos agricultores. As entrevistas, na sua
maioria, abordaram questões técnicas do cultivo de alimentos, impactos socioambientais da
agricultura convencional, relações entre a horta e a comunidade e os benefícios sociais da

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agricultura urbana, sendo possível a articulação dos elementos da tríade CTS. As questões
propostas pelos estudantes evidenciaram aspectos científicos, tecnológicos e sociais, pos-
sibilitando o esclarecimento de suas dúvidas e curiosidades em relação ao tema. Além dos
conhecimentos científicos, outros conhecimentos relevantes foram suscitados, tais como o
preço dos alimentos orgânicos e convencionais, a lucratividade da atividade agrícola e a
experiência de vida de pequenos agricultores de hortas urbanas.
Consideramos que a estratégia de ensino – elaboração de entrevistas pelos alunos –
contribuiu para o processo de ACT dos estudantes, promovendo a articulação de elementos
CTS. A atividade também promoveu a participação e a interação dos estudantes, sobretudo
a habilidade de trabalho em grupo, o que se mostrou um desafio, visto que somente dois
estudantes não conseguiram formar um grupo e realizaram as entrevistas individualmente.
Na elaboração das questões das entrevistas, os estudantes utilizaram seus conheci-
mentos prévios e os novos conhecimentos adquiridos durante a SEI, além de um conceito
desenvolvido na aula de Língua Portuguesa; o desenvolvimento do gênero textual entrevis-
ta, articulando-os para a compreensão do mundo em uma visão crítica e consciente e para
transformação de sua realidade. Verificamos que a elaboração e realização de entrevistas
como atividade da SEI proporcionou, além de um trabalho interdisciplinar, a aprendizagem
em ambientes distintos do ambiente formal de ensino e que este tipo de atividade fortalece
as relações CTS abordadas durante a sequência de ensino investigativa, destacadas nas
questões Q4 e Q5 da E2, em que se discutiu um modelo de agricultura pautado na justiça
social e na preservação do meio ambiente, indicando o desejo de que alguma atitude seja
tomada para a transformação do modelo predominante de agricultura.
Auler e Bazzo (2001) consideram um desafio para a sociedade brasileira, a construção
de uma cultura de participação em questões envolvendo ciência e tecnologia. Consideramos
que as questões das entrevistas realizadas pelos estudantes, mesmo de forma singela,
demonstram possibilidades de construção da cultura de participação crítica na sociedade,
ressaltando a importância e a necessidade de mais estudos sob esta perspectiva.

Agradecimentos

Agradecemos às Instituições de Ensino a que estamos vinculados e a escola pública


e alunos participantes desta pesquisa.

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10
Feira agroecológica e orgânica: uma
alternativa de aquisição de produtos
agroecológicos e orgânicos no município
de Juazeiro - Bahia

Aluísio Sampaio Neto Florisvaldo Cavalcanti dos Santos


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Reginaldo da Silva Gomes


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer- Universidade do Estado da Bahia - UNEB
tãoPE

Eryka Fernanda Miranda Sobral


José Lincoln Pinheiro Araújo Universidade de Pernambuco - UPE
EMBRAPA Semiárido

Silvio André Vital Junior


Antonio de Santana Padilha Neto Universidade Federal de Pernambuco - UFPE
Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Reinaldo Pacheco dos Santos


Márcia Rejane Lopes Cavalcante Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
Centro Universitário Tabosa de Almeida - ASCES UNI- VASF
TA

'10.37885/221010392
RESUMO

A demanda por produtos agroecológicos orgânicos e naturais apresenta uma tendência


crescente nos últimos anos, dado a maior preocupação da população no consumo de ali-
mentos mais saudáveis. Objetivo: Apresentar e fazer compreender como se deu o pro-
cesso de idealização e surgimento da Feira Agroecológica e Orgânica, com objetivo de
comercialização de produtos agroecológicos e orgânicos da Economia Solidária regional,
em Juazeiro - BA. Método: Trata-se de um estudo de caráter exploratório e descritivo, com
abordagem qualitativa. Resultados: Surgida em junho de 2022, a Feira Agroecológica e
Orgânica é composta por mais de 10 feirantes e dispõem de uma variedade de produtos,
como frutas, verduras, legumes, entre outros produtos. Conclusão: Uma iniciativa impor-
tante para a oferta de alimentos agroecológicos e orgânicos, e, opção de uma alimentação
mais saudável para as pessoas.

Palavras-chave: Natureza, Vida, Território Sertão do São Francisco, Tendência,


Sustentabilidade.
INTRODUÇÃO

A agricultura de base ecológica tem sua gênese na Europa no século XX, fundamen-
tada em várias escolas ou correntes, sendo que seu surgimento se deu como contraponto
aos preceitos impostos pelas práticas agrícolas à base de insumos químicos, sendo tida
por muito tempo como um movimento “rebelde” para denominar o antagonismo criado pela
mesma e a forte tendência de quebra de paradigmas tradicionais (PACHECO et al., 2021a).
Esta expressão evidencia, na percepção de Candiotto e Meira (2014, p. 159), “a si-
multaneidade de várias escolas, estilos ou correntes que propõem a aplicação de princí-
pios ecológicos à produção agropecuária” e permitem a limitar ou eliminar o emprego de
insumos químicos a contar da corporificação de técnicas alternativas ao modelo convencio-
nal. Neste sentido, ficou instituído na década de 1980, o conceito de agricultura orgânica
no Estados Unidos.
Os avanços científicos e tecnológicos estimularam a crescente produção de alimentos,
apesar disso, na mesma proporção avançaram os danos ambientais provocados pela agri-
cultura industrial (convencional), refletidos na diminuição da fertilidade dos solos, perda de
matéria orgânica, lixiviação de nutrientes, degradação e crescimento da erosão dos solos,
contaminação de mananciais, de ecossistemas naturais e de ambientes agrícolas, aumento
de doenças nos cultivos, além dos danos à saúde de agricultores e de trabalhadores do
sistemas agrícolas, avançando até para a destruição de insetos e microrganismos benéficos
ao equilibro ecossistêmico, entre tantas outras consequências (PACHECO et al., 2021b).
Portanto, precisamos compreender e valorizar em nosso dia a dia, o consumo de
produtos que tenham cada vez mais essa “pegada ecológica”, contribuindo dessa maneira
para a conservação dos nossos recursos naturais em harmonia com a natureza e o planeta
no qual habitamos.
Dentro desta conjuntura, percebe-se que no Brasil, bem como no Território Sertão
do São Francisco da Bahia, tem-se cada dia mais a consciência que a criação de espaços
colaborativos de comercialização de produtos orgânicos vem ganhando espaço e mercado,
tendo em vista a preocupação da população no consumo de alimentos mais saudáveis,
que segundo Altieri (2012), previne doenças, como câncer, e contribui com a minimização
de problemas ambientais, colaborando com as metas da Agenda 2030, via realização do
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável Dois (ODS 2), que trata de Agricultura Sustentável
(UNITED NATIONS, 2015).
Nesse sentido, iniciativas como a Feira Agroecológica e Orgânica, com a comer-
cialização de produtos agroecológicos e orgânicos para os consumidores, visa atender
um mercado cada vez mais exigente, sobretudo, conforme Lima et al., (2019), o da classe

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média brasileira, que considerado o maior da América Latina, tem buscado alimentos cada
vez mais saudáveis.
Na consequência da marcha evolutiva da espécie humana, ocupar-se com a produção
de alimentos, bens e serviços, obedecendo critérios de sustentabilidade e, por consequên-
cia, respeitando o meio ambiente, é imperativo ético e jurídico; cabendo salientar que este
último aspecto implica responsabilidades nos âmbitos cível, penal e administrativo, além
da própria repulsa social, se não forem atendidos anseios decorrentes de uma crescente
compreensão da dignidade da pessoa humana, para a qual um dever de proteção ecológica
paira sobre todos.
O sistema brasileiro de regras jurídicas, enquanto expressão de vontades sociais bro-
tadas do exercício de uma democracia representativa, é pródigo na produção de normas
conducentes a esse respeito à vida e todas suas manifestações. O legislador constitucional
elevou ao mais alto nível essa preocupação com o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado (CF/88, art. 225, caput), do que resulta uma vasta produção infraconstitucional,
jurisprudência e doutrinária. Neste último aspecto está, v.g., um nascente direito constitu-
cional ecológico (RODRIGUES et al, 2017), que tendo status de direito fundamental, ocupa
posição privilegiada de conjunto de preceitos acima e além de qualquer outra regra/norma.
Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreender
como se deu o processo de idealização e surgimento da Feira Agroecológica e Orgânica,
em Juazeiro - BA, com objetivo de comercialização de produtos agroecológicos e orgânicos
da Economia Solidária regional.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido em Juazeiro - BA. O município está localizado no interior


do estado, no Território Sertão do São Francisco, distante aproximadamente 507,9 km da
capital baiana, Salvador, à margem direita do Rio São Francisco, tendo acesso pela rodovia
BR-407, e que, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), possui
uma população estimada em 219.544 mil habitantes.

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Figura 1. Mapa do Território Sertão do São Francisco.

Fonte: SEI / SEPLAN (2012).

Deste modo, este é um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem


qualitativa, desenvolvido a partir do método fenomenológico, que é empregado em pesquisa
qualitativa, e preocupa‐se com a descrição direta da experiência como ela é, sendo que a
realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
A fenomenologia é classificada como sendo uma corrente filosófica cujo precursor foi
o filósofo e matemático Edmund Husserl, que nasceu no ano de 1859 na Moravia (atual
República Tcheca), e faleceu em 1938. Sua obra literária é marcada profundamente pela
preocupação com a crise das ciências, especialmente no tocante à compreensão dos
fenômenos humanos.
“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importantes
contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de seu
legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito da
construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “revo-
luções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):

O pressuposto humanista da autonomia é diferente. Nele o ser humano não


é visto como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador
de coisas novas. As pesquisas que estão a serviço desta forma humanista de
atendimento são principalmente qualitativas, descritivas de vivências subjetivas,
buscando explicitar seus significados potenciais em relação a algum contexto
e habilitando o profissional com uma visão mais ampla do ser humano, pois é
isso que o torna mais apto a oferecer aquela relação libertadora (AMATUZZI,
2009, p. 6).

De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as

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diferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os dife-
rentes posicionamentos existentes no meio social.
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Surgida em 30 de junho de 2022, no pátio do Armazém da Caatinga, situado na


Vila Bossa Nova, Orla 2, às margens do Rio São Francisco, em Juazeiro - BA, a Feira
Agroecológica e Orgânica tem como objetivo comercializar produtos agroecológicos e
orgânicos da Economia Solidária regional.

Figura 2. Material de divulgação da Feira Agroecológica e Orgânica.

Fonte: Armazém da Caatinga (2022).

A feira agroecológica é composta por mais de 10 feirantes e dispõem de uma variedade


de produtos, como frutas, verduras, legumes, entre outros produtos.

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Figura 3. Cliente adquirindo produtos da feira agroecológica.

Fonte: Armazém da Caatinga (2022).

A feira é uma iniciativa da Cooperativa Agropecuária Familiar Orgânica do Semiárido


(COOPERVIDA), em parceria com o Armazém da Caatinga e apoio da Central de
Comercialização das Cooperativas da Caatinga (CENTRAL DA CAATINGA), Instituto
Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA), e Prefeitura de Juazeiro.

Figura 4. Entrada e recepção da Feira Agroecológica e Orgânica no pátio do Armazém da Caatinga.

Fonte: Armazém da Caatinga (2022).

A viabilização da estrutura física da feira agroecológica foi por meio do Pró-Semiárido,


projeto executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), uma empre-
sa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia (SDR), com cofinanciamento
do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA).
A Feira Agroecológica e Orgânica acontece às quintas e sextas-feiras, no horário
das 16h às 20h, e, aos sábados, das 07h às 12h00. Informações e novidades sobre a feira,
podem ser conferidas na página @armazemdacaatinga, na Rede Social “Instagram”.

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CONCLUSÕES

Neste estudo, objetivou-se, apresentar e fazer compreen­der a idealização e surgimento


da Feira Agroecológica e Orgânica, em Juazeiro - BA, com objetivo de comercialização
de produtos agroecológicos e orgânicos da Economia Solidária regional.
A feira agroecológica é composta por mais de 10 feirantes e dispõem de uma variedade
de produtos, como frutas, verduras, legumes, entre outros produtos.
Uma iniciativa importante para a oferta de alimentos agroecológicos e orgânicos, e,
opção de uma alimentação mais saudável para as pessoas.

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11. Portal IBGE. Panorama Juazeiro - Bahia. Disponível em: <www.cidades.ibge.gov.br/


brasil/ba/juazeiro/panorama>. Acesso em 01 de agosto de 2022.

12. UNITED NATIONS. Transforming our World: The 2030 Agenda for Sustainable
Development. Sustainable Development Goals, New York, 25 set. 2015. Disponível
em: <www.sustainabledevelopment.un.org/post2015/transformingourworld>. Acesso
em 04 de agosto de 2022.

13. VERGARA, S. C. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração. São Paulo:


Atlas, 2009.

Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa - ISBN 978-65-5360-199-4 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
141
11
O funcionamento de um entreposto de
ovos oriundo da agricultura familiar no
município de Juazeiro - Bahia

Aluísio Sampaio Neto Florisvaldo Cavalcanti dos Santos


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Enos André de Farias


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer- Universidade do Estado da Bahia - UNEB
tãoPE

Márcia Rejane Lopes Cavalcante


José Lincoln Pinheiro Araújo Centro Universitário Tabosa de Almeida - ASCES UNI-
EMBRAPA Semiárido TA

Antonio de Santana Padilha Neto Breno Silva Almeida


Universidade do Estado da Bahia - UNEB Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer-
tãoPE

José Alberto Gonçalves de Moura


Universidade do Estado da Bahia - UNEB Reinaldo Pacheco dos Santos
Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
VASF

'10.37885/220910331
RESUMO

Entreposto de ovos corresponde ao beneficiamento deles, com atividades de recebimento,


classificação, acondicionamento, identificação e distribuição in natura. Objetivo: Apresentar
e fazer compreender o funcionamento do Entreposto “Ovos da Caatinga”, criado em 2019,
na Comunidade de Canoa, localizada 10 km da sede do Distrito de Massaroca, no município
de Juazeiro-BA. Método: É um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem
qualitativa. Resultados: O entreposto possui um total de 08 compartimentos em sua estru-
tura física, sendo 04, para a realização das atividades, dotados de piso e parede revestidos
por material impermeável e lavável, como Gabinete Sanitário, Higienização, Ovoscopia e
Classificação, Embalagem e Armazenamento. Conclusão: As potencialidades econômicas
locais são amplas, contribuindo bastante para o alcance e manutenção do desenvolvimento
sustentável, consequentemente, para uma convivência adequada no Semiárido nordestino.

Palavras-chave: Atividade, Desenvolvimento, Sustentável, Qualidade, Natureza.


INTRODUÇÃO

Conforme disposto no Art. 29, Parágrafo I do RIISPOA - Regulamento da Inspeção


Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal (1990), entende-se por Entreposto
de Ovos o estabelecimento destinado ao recebimento, classificação, acondicionamento,
identificação e distribuição de ovos in natura, dispondo ou não de instalações para sua
industrialização.
Para efeito de produção de conservas de ovos, que é o resultado do tratamento do
ovo sem casca ou partes do ovo que tenham sido congelados, salgados, pasteurizados,
desidratados ou qualquer outro processo, os estabelecimentos enquadrados nesta categoria
devem atender todas as disposições contidas nas presentes normas para as instalações
destinadas a produção de conservas de ovos.
Os entrepostos de ovos devem dispor de local para recepção de ovos, classificação,
ovoscopia (exame para verificação da condição da casca do ovo, bem como o seu aspecto
interno), embalagem, armazenagem, expedição, depósito de embalagens, lavagem de reci-
pientes, bandejas ou similares e esterilização, dispor, quando necessário, de câmaras frigo-
ríficas, e quando for o caso, de dependências para industrialização, e vestiários e sanitários.
A agricultura familiar é a principal responsável pela produção dos alimentos que são
disponibilizados para o consumo da população brasileira. É constituída de pequenos pro-
dutores rurais, povos e comunidades tradicionais, assentados da reforma agrária, silvi-
cultores, aquicultores, extrativistas e pescadores. O setor se destaca pela produção de
milho, raiz de mandioca, pecuária leiteira, gado de corte, ovinos, caprinos, olerícolas, fei-
jão, cana, arroz, suínos, aves, café, trigo, mamona, fruticulturas e hortaliças (PORTAL
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2019).
Na agricultura familiar a gestão da propriedade é compartilhada pela família e a ativi-
dade produtiva agropecuária é a principal fonte geradora de renda. Além disso, o agricultor
familiar tem uma relação particular com a terra, seu local de trabalho e moradia. A diversi-
dade produtiva também é uma característica marcante desse setor, pois muitas vezes alia
a produção de subsistência a uma produção destinada ao mercado (Ibidem).
O Censo Agropecuário 2017, realizado pelo IBGE, aponta que 77% dos estabelecimen-
tos agrícolas do país, foram classificados como da agricultura familiar. Em extensão de área,
a agricultura familiar ocupava no período da pesquisa 80,9 milhões de hectares, o que repre-
senta 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Ainda segundo o
Censo, a agricultura familiar empregou mais de 10 milhões de pessoas em setembro de 2017,
o que representa 67% do total de pessoas ocupadas na agropecuária. A agricultura familiar
também foi responsável por 23% do valor total da produção dos estabelecimentos agropecuá-
rios (PORTAL MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO, 2019).

Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa - ISBN 978-65-5360-199-4 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
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Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreender
o funcionamento do Entreposto “Ovos da Caatinga”, criado em 2019, sendo o primei-
ro empreendimento da Agricultura Familiar do Território Sertão do São Francisco e pio-
neiro no Estado da Bahia a receber certificação oficial por meio do Serviço de Inspeção
Municipal (S.I.M.).

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido no Entreposto “Ovos da Caatinga”, situado na Comunidade


de Canoa, localizada a 10 km da sede do Distrito de Massaroca, no município de Juazeiro-
BA, localizado no Território Sertão do São Francisco, no Semiárido baiano, à margem direita
do Rio São Francisco, abrigando o ecossistema Caatinga, e que compreende boa parte da
região Nordeste do país, território de um povo marcado por adaptabilidade, superação e
esperança no futuro, localizado a 453,3 km da capital do estado, Salvador, pelas rodovias
BR-407 e BR-314, conforme figura 01 abaixo.

Figura 01. Localização da Comunidade de Canoa, em Juazeiro-BA.

Fonte: Google Earth (2022).

Deste modo, este é um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem


qualitativa, desenvolvido a partir do método fenomenológico, que é empregado em pesquisa
qualitativa, e preocupa‐se com a descrição direta da experiência como ela é, sendo que a
realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
A fenomenologia é classificada como sendo uma corrente filosófica cujo precursor foi
o filósofo e matemático Edmund Husserl, que nasceu no ano de 1859 na Moravia (atual
República Tcheca), e faleceu em 1938. Sua obra literária é marcada profundamente pela
preocupação com a crise das ciências, especialmente no tocante à compreensão dos
fenômenos humanos.

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“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importan-
tes contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de
seu legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito
da construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “re-
voluções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):

O pressuposto humanista da autonomia é diferente. Nele o ser humano não


é visto como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador
de coisas novas. As pesquisas que estão a serviço desta forma humanista de
atendimento são principalmente qualitativas, descritivas de vivências subjetivas,
buscando explicitar seus significados potenciais em relação a algum contexto
e habilitando o profissional com uma visão mais ampla do ser humano, pois é
isso que o torna mais apto a oferecer aquela relação libertadora (AMATUZZI,
2009, p. 6).

De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as di-
ferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os diferentes
posicionamentos existentes no meio social.
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o pro-
blema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo ex-
plicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA, 2009).
Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Entreposto “Ovos da Caatinga”

A criação de animais de pequeno porte como, bode, cabra, porco e galinha, sempre foi
uma atividade econômica bastante praticada pelas famílias rurais do interior do Semiárido
nordestino. Quando bem cuidados e manejados, proporcionam resultados importantes na
alimentação e principalmente na renda dessas famílias, pois são de fácil manejo, o consumo
de água é relativamente pouco e procriam rapidamente (PORTAL IRPAA, 2012).
A criação de galinhas é uma prática antiga dos moradores da Comunidade de Canoa,
que vinha se perdendo por causa da introdução de galinhas de granja, mas que por meio de
diversas políticas públicas, que trabalham com caráter produtivo e social na região, a partir

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de um projeto executado e incentivado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária
Apropriada (IRPAA), foi sendo retomada aos poucos.
Em meados do ano de 2009, a Comunidade de Canoa recebeu com certo receio um
projeto de criação de galinhas, onde garantiu a implantação de galinheiros, ração por um
determinado período e formação técnica. No início foi complicado encontrar quem se in-
teressasse em receber os galinheiros. Foi um desafio convencer criadores e criadoras da
caprinovinocultura, prática muito comum na região, a dedicar parte de seu tempo em outra
atividade, ou seja, a criação comercial de aves e ovos, algo que acontecia apenas para o
consumo da família, era difícil. Mesmo com muitas incertezas, os poucos que aceitaram a no-
vidade, mais o IRPAA, foram convencendo gradativamente demais pessoas sobre a atividade.

Figura 02. Construção de galinheiros em mutirões na região.

Fonte: Reprodução/IRPAA (2013).

Os primeiros desafios foram surgindo, como: prazo de retorno do investimento, dificul-


dades em encontrar canais de comercialização, pouca experiência com criação de aves e
variação no custo de produção dos ovos. Diante disso, grande parte dos criadores acabaram
desistindo da ideia. Os poucos que ainda acreditavam, mesmo com enormes dificuldades,
foram persistindo no desenvolvimento do projeto. Com o passar do tempo, a criação de
galinhas e produção de ovos se tornou significativa e foi entusiasmando outras pessoas na
comunidade e atraindo os desistentes.

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Figura 03. Criatório de galinhas de um dos moradores da comunidade.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

Com o impulso da criação de aves e produção de ovos, instituições públicas da esfera


federal e estadual, em busca da sustentabilidade na Caatinga, visando gerar uma renda
complementar para diversas famílias de agricultores da região, as quais já tinham sua eco-
nomia baseada em práticas no extrativismo e criação de caprinos e ovinos, investiram na
construção de um pequeno entreposto de ovos de galinha na Comunidade de Canoa, para
receber a produção local, realizar o processo de sanitização, ovoscopia, classificação, acon-
dicionamento, embalagem e comercialização do produto.
Batizado como “Ovos da Caatinga”, o entreposto foi inaugurado em 22 de fevereiro de
2019, orçado com investimento em estrutura, máquinas e equipamentos da ordem de R$ 409
mil, por meio do Pró-Semiárido, projeto executado pela Companhia de Desenvolvimento e
Ação Regional (CAR), empresa pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural
(SDR), cujos recursos são oriundos de empréstimos contraídos pelo Governo do Estado da
Bahia junto ao Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização
das Nações Unidas (ONU). O referido projeto foi assessorado pelo IRPAA.

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Figura 04. Entreposto “Ovos da Caatinga” e um produtor da comunidade.

Fonte: Pró-Semiárido (2020).

O entreposto de ovos é o primeiro empreendimento da agricultura familiar do Território


Sertão do São Francisco e pioneiro no Estado da Bahia a receber certificação oficial por meio
do Serviço de Inspeção Municipal (S.I.M.), emitido pela Agência Municipal de Desenvolvimento
Econômico, Agricultura e Pecuária (ADEAP), órgão pertencente a prefeitura do município.

Estrutura e funcionamento do entreposto

O entreposto possui um total de 08 compartimentos em sua estrutura física, sendo 04,


para a realização das atividades, dotados de piso e parede revestidos por material imper-
meável e lavável. A sua composição e funcionamento é organizado da seguinte maneira:
1) Gabinete Sanitário: A entrada principal dos colaboradores no entreposto, dispõe
de 01 Lava Botas e Mãos em Aço Inoxidável (aço inox), para higiene das mãos e pés das
pessoas, e, vestimenta de avental e touca.
2) Higienização: Por onde os ovos são recebidos e passam por um processo de limpe-
za, por meio de uma máquina de higienização. Além da máquina de higienização, o espaço
possui uma bancada e pia em aço inox.

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Figura 05. Higienização dos ovos.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

A figura 05 demonstra o processo de limpeza dos ovos, por meio de uma máquina
de higienização.
3) Ovoscopia e Classificação: Local onde os ovos são verificados por meio de uma
máquina de ovoscopia, que consiste em observar o interior do ovo, mediante uma fonte de
luz em ambiente escuro. Esse procedimento verifica a existência de trincas ou rachaduras
na casca, como também, a qualidade interna do ovo, se possui alguma mancha de sangue,
embriões, gemas múltiplas ou duplas, entre outros, elementos anormais. Passado por esse
procedimento, os ovos são transferidos para a mesa de classificação, onde são classificados
de modo manual, por classe, tipo P, M ou G (pequeno, médio ou grande), e pesados de
maneira eletrônica por uma balança digital.

Figura 06. Ovoscopia dos ovos.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

A figura 06 demonstra o processo de ovoscopia para verificação da qualida-


de interna do ovo.

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Figura 07. Classificação dos ovos.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

A figura 07 demonstra o processo de classificação dos ovos de maneira manual, por


classe, tipo P, M ou G (pequeno, médio ou grande).
4) Embalagem e Armazenamento: Espaço para embalar, selar, rotular e datar as
embalagens do produto, com a utilização de uma máquina seladora e um datador manual,
com apoio de uma mesa e duas prateleiras em aço inox. Além disso, possui 01 depósi-
to de materiais e produtos, 01 corredor, fazendo divisória entre 01 vestuário e 01 depó-
sito de embalagem.

Figura 08. Embalagem dos ovos.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

A figura 08 demonstra o processo de embalagem dos ovos por meio da utilização de


uma máquina seladora.

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Figura 09. Processo de datação manual.

Fonte: Sampaio Neto (2022).

A figura 09 demonstra o processo de datação manual com informações do produto,


como validade, fabricação e lote.

Figura 10. Estrutura física, compartimentos e equipamentos.do entreposto.

Fonte: Reprodução Documental/COOFAMA (2020).

A figura 10 demonstra a estrutura física e os compartimentos do Entreposto “Ovos


da Caatinga”, para a realização da atividade de beneficiamento de ovos.

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Figura 11. Dúzia de ovos “Ovos da Catinga”.

Fonte: COOFAMA (2020).

A figura 11 demonstra uma dúzia de ovos “Ovos da Catinga”, beneficiado pelo en-
treposto, de acordo com as normas e padrões estabelecidos pelo Serviço de Inspeção
Municipal (S.I.M.).
Uma atividade bastante interessante, com prática simples, não apresentar impac-
to ambiental significativo no meio rural e ainda, ofertar um produto de qualidade e se-
gurança alimentar.

CONCLUSÃO

Neste estudo, objetivou-se apresentar e fazer compreender o funcionamento do


Entreposto “Ovos da Caatinga”, criado em 2019, sendo o primeiro empreendimento da
Agricultura Familiar do Território Sertão do São Francisco e pioneiro no Estado da Bahia a
receber certificação oficial por meio do Serviço de Inspeção Municipal (S.I.M.).
O entreposto possui um total de 08 compartimentos em sua estrutura física, sendo
04, para a realização das atividades, dotados de piso e parede revestidos por material im-
permeável e lavável, como Gabinete Sanitário, Higienização, Ovoscopia e Classificação,
Embalagem e Armazenamento.
Deste modo, o Entreposto “Ovos da Caatinga” foi orçado com investimento em
estrutura, máquinas e equipamentos da ordem de R$ 409 mil, por meio do Pró-Semiárido,
projeto executado pela Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR), empresa
pública vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural (SDR), cujos recursos são oriundos
de empréstimos contraídos pelo Governo do Estado da Bahia junto ao Fundo Internacional

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de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização das Nações Unidas (ONU). O referido
projeto foi assessorado pelo IRPAA.
As potencialidades econômicas locais são amplas, contribuindo bastante para o alcance
e manutenção do desenvolvimento sustentável, consequentemente, para uma convivência
adequada no Semiárido nordestino.

REFERÊNCIAS
1. AMATUZZI, M. M. Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Alínea, 2009.

2. BAUER, M. W.; GASKELL, G. Pesquisa Qualitativa com Texto, Imagem e Som: Um


Manual Prático. Petrópolis: Vozes, 2004.

3. BRASIL. Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal


(RIISPOA), 1990. Decreto nº 30.691 de 29 de março de1952. Disponível em: <www.
gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/inspecao/produtos-animal/empresario/arquivos/Por-
taria11990ovos.pdf/view>. Acesso em 04 setembro de 2022.

4. CENSO AGROPECUÁRIO 2017. Resultados Definitivos. Instituto Brasileiro de Geo-


grafia e Estatística. 2019. Disponível em: <www.biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/
periodicos/3096/agro_2017_resultados_definitivos.pdf>. Acesso em 04 de setembro
de 2022.

5. GERHARDT, T. E.; SILVEIRA, D. T. Métodos de Pesquisa. Coordenado pela Uni-


versidade Aberta do Brasil - UAB/UFRGS e SEAD/UFRGS. Porto Alegre: Editora da
UFRGS, 2009.

6. GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010. 184p.

7. HOLANDA, A. F. Fenomenologia e Humanismo: Reflexões Necessárias. Juruá


Editora: Curitiba, 2014.

8. PORTAL IRPAA. Criação de Galinha Garante Alimento e Renda para Famílias do


Sertão. Disponível em: <www.irpaa.org/noticias/523/criacao-de-galinha-garante-ali-
mento-e-renda-para-familias-do-sertao>. Acesso em 04 de setembro de 2022.

9. PORTAL IRPAA. Famílias do Interior de Juazeiro Constroem Galinheiros em Mutirões.


Disponível em: <www.irpaa.org/noticias/795/familias-do-interior-de-juazeiro-constro-
em-galinheiros-em-mutiroes>. Acesso em 04 de setembro de 2022.

10. PORTAL MINISTÉRIO DA AGRICULTURA, PECUÁRIA E ABASTECIMENTO. Agri-


cultura Familiar. Disponível em: <www.antigo.agricultura.gov.br/assuntos/agricultura-
-familiar/agricultura-familiar-1>. Acesso em 07 de setembro de 2022.

11. VERGARA Sylvia Constant. Projetos e Relatórios de Pesquisa em Administração.


11. ed. São Paulo: Atlas, 2009.

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12
Os camponeses como atores sociais: novas
perspectivas para o desenvolvimento rural
sustentável

Jéssica Rodrigues Pereira


Faculdade UnB Planaltina - FUP/UnB

'10.37885/220910284
RESUMO

Este ensaio teórico apresenta uma reflexão inicial teórica relacionados a Perspectiva Orientada
ao Ator, com base nos autores Alberto Arce e Norman Long, buscando dialogar com outras
referências em busca de pensar essa metodologia na realidade dos agricultores familiares
camponeses como atores sociais dos processos de desenvolvimento rural sustentável.

Palavras-chave: Agricultura Familiar Camponesa, Sociologia Rural, Desenvolvimento


Rural Sustentável.
INTRODUÇÃO

Com os avanços da ciência e tecnologia sobre as práticas agrícolas, como a Revolução


Verde, conhecida pela exclusão dos pequenos agricultores e suas terras, introdução da
agricultura mecanizada, agrotóxicos e técnicas de transgenia, avançou-se com o auxílio do
conhecimento científico e tecnológico moderno. Desenvolvido a partir dos interesses do ca-
pital, esse modelo agrícola demonstra cada vez mais insustentabilidade no que diz respeito
à preservação da natureza e da vida humana (LACEY, 2008).
Essas atividades promovem um impacto na exploração da biodiversidade. A agricultura
convencional foi beneficiada às custas da perda da biodiversidade, gerando a degradação
dos ecossistemas e ameaçando valores culturais das populações rurais. Esses processos
identificados como “desenvolvimento” trouxeram mais problemas de desigualdade social e
de degradação ambiental, falhando em reconhecer o papel fundamental do conhecimento
científico na construção social da sociedade e da mudança social (ARCE E LONG, 1994).
Nessa perspectiva, urge a necessidade de uma metodologia que reconheça o prota-
gonismo dos agricultores na produção do conhecimento, trazendo um novo olhar para o
desenvolvimento rural. A Perspectiva Orientada aos Atores (POA) auxilia nos estudos do
desenvolvimento rural, reconhecendo os atores sociais e seus valores na construção do
conhecimento em seus diferentes mundos de vida (ARCE E LONG, 1994).
E neste escopo, que este ensaio será dividido nos seguintes tópicos: 1) Ciência moder-
na e o desenvolvimento tecnológico para a agricultura no contexto brasileiro; 2) Atores em
ação: camponeses, territórios da reforma agrária e conhecimentos; 3) Perspectiva Orientada
ao Ator: conceitos e estratégias para o desenvolvimento rural sustentável. Na sequência,
apresenta-se algumas considerações finais.

DESENVOLVIMENTO

Ciência moderna e o desenvolvimento tecnológico para a agricultura no contexto


brasileiro

Segundo Long e Arce (1994) o processo de desenvolvimento concentra-se na proble-


mática dos discursos1 de modernização através da ciência e conhecimento, onde ambos
faziam parte dos discursos da modernização e dos neomarxistas. Ambos discursos apre-
sentavam falhas e a necessidade de se tornarem efetivos para o desenvolvimento agrário.

1 Segundo González et al (2015, p.104) os discursos da “teoria da modernização propõe o desenvolvimento como um movimento pro-
gressivo a formas mais complexas e integradas desde o ponto de vista tecnológico e institucional, por outro lado, a economia política
(teorias marxistas e neomarxistas) acentua a natureza de extração de mais valia e acumulação do capital.”

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No contexto brasileiro, os processos de modernização agrícola, advém de muitas es-
tratégias de aumento da produção, seja através da intensificação ou da expansão das terras
agrícolas, sendo reconhecidas por degradar os ecossistemas, impactando negativamente a
biodiversidade (POWER, 2010).
Cabral et al., (2021) demonstram a influência duradoura da Revolução Verde no Brasil.
Essa influência de modelo agrícola se dá através de narrativas épicas sobre sucessos agrí-
colas passados, alimentando imaginários de modelos de referências agrícolas moderniza-
dos. No Brasil, esta narrativa foi em torno da ‘revolução tropical’2, com o intuito da moderni-
zação agrícola e introdução da soja no país, especificamente no Centro-Oeste, vendendo a
soja como uma modernidade e a revolução tropical, como um grande evento.
O modelo proposto chama atenção para uma parte da sociedade que tem uma visão
produtivista do desenvolvimento se nutrindo em termos de oposição de trabalho e capital,
dando pouca atenção para as relações capital-natureza e as lutas sociais na defesa do
território e dos bens comuns da natureza (SVAMPA, 2019). Esse modelo agrícola nos traz
o “fracasso do desenvolvimento”, como apontado por Rist (2008) que conclui o “paradigma
do desenvolvimento” tropeçando nos seus próprios pés (RADOMSKY, 2011).
Propondo a necessidade de mudanças as agressividades causadas pela moderni-
zação da agricultura para um modelo que apresente respeito pela terra, pelos povos e
seus territórios.
Boaventura Santos (2000) traz em sua obra a reflexão sobre a ciência moderna, cuja
paradigma dominante se encontra em declínio, através da absorção do pilar da emancipa-
ção pelo da regulação, fruto do conhecimento científico ocidental fazendo-se necessário um
novo paradigma em que ele chama de conhecimento-emancipação.
Volta-se, assim, a necessidade de pensar o desenvolvimento da agricultura com uma
ciência que estimula e integra os conhecimentos científicos com os conhecimentos popu-
lares, tradicionais e indígenas, para se ter uma tecnologia apropriada ou uma versão do
entendimento completo, que leva em consideração a interação entre os valores como os
contextos sociais, ecológicos, econômicos e humanos (LACEY, 2008). E que “reposicione
os conhecimentos nos estudos em desenvolvimento rural” (ARCE; LONG, 1994).
Para isso, as experiências de camponeses e camponesas, suas organizações e conhe-
cimentos, são fundamentais para a construção social a partir dos mundos de vida dos atores.

2 Segundo Cabral et al (2021) No Brasil, a expansão da agricultura moderna no Cerrado, por exemplo, se deu por meio da conversão
tecnológica desde meados da década de 1970, considerada a própria “revolução tropical” do país, que acabou transformando o Brasil
em uma potência agrícola global.

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158
Atores em ação: camponeses, territórios da reforma agrária e conhecimentos

A Perspectiva Orientada ao Ator não faz distinção entre os tipos de conhecimento e


suas origens (ARCE; LONG, 1994). Nesta concepção os territórios rurais são em partes,
criações dos próprios atores que confluem com os conhecimentos dos próprios para outras
formas de desenvolvimento e construção social.
No Brasil, esses territórios estão repletos pela diversidade cultural e é formada pelos
povos originários, quilombolas, povos e comunidades tradicionais e do campesinato que
possuem conhecimentos locais indígenas e afro-indígenas, que vêm resistindo e influen-
ciando com seus modos de vida.
Concentrando-me nos assentamentos da reforma agrária, as experiências das fa-
mílias agricultoras dos assentamentos de reforma agrária trazem como desafio, além, da
interpretação da paisagem e do envolvimento com o território, as condições ambientais em
que a área destinada aos assentamentos se encontra. Na maioria dos casos, os assenta-
mentos são criados em áreas que se encontram degradadas pela exploração da agricultura
industrializada.
Delgado et al., (2017) nos trazem que no Brasil, os camponeses e camponesas vem
de uma trajetória marcada pela luta, para conquistar suas terras e suas liberdades. Nesses
territórios de resistência são encontrados os conhecimentos locais de camponeses e cam-
ponesas que constroem juntos uma nova perspectiva de relação com a natureza, através
da agricultura e vida no campo.
Mazzetto (2009) salienta que a conservação da biodiversidade está relacionada ao
reconhecimento e uso de saberes tradicionais, enraizados nos ecossistemas. Nesse sentido,
os assentamentos rurais da reforma agrária que possuem uma relação de construção com
o território, onde desenvolvem uma identidade própria, com uma forte ligação com a terra,
articulando saberes sobre a biodiversidade. Assim, nesses territórios tem-se a diversidade
de saberes dessas famílias como forma de proteção do ecossistema local.
O conceito de território adotado neste estudo parte da compreensão do território, como:

Categoria que reúne natureza e cultura através das relações de poder sobre
as condições materiais da vida. (...) Com isso, sinalizam que no mesmo estado
territorial habitam múltiplas territorialidades e que não há território que não seja
fruto de um processo de territorialização entre diferentes sentidos – territoria-
lidades - para estar com a terra (GONÇALVES, 2015, p. 245).

Neste processo, o local, a territorialidade, ganha importância no desenvolvimento da


reconstrução dos territórios em que essas famílias passam, reconfigurando os espaços rurais
inseridos, promovendo novos processos produtivos e reescrevendo as histórias de suas vidas.

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Segundo Petersen (2013), a agricultura familiar camponesa, além de produzir alimentos
saudáveis, em uma relação harmônica com o ambiente, gera renda por meio da diversificação
de sistemas produtivos, se adaptando às flexibilidades sociais, econômicas e socioculturais.
Os camponeses e camponesas com seus sistemas produtivos e observações sobre
os ecossistemas, possuem íntima relação com os territórios que habitam, a partir das quais,
florescem saberes ancestrais que articulam biodiversidade e cultura. Contribuem para a
conservação e a ampliação da base genética assim como dos saberes e fazeres a ela asso-
ciados; consequentemente, amplia-se também as práticas agroalimentares dessas famílias
e de outras com as quais elas se relacionam em circuitos de comercialização.
Inspirado nos estudos etnográficos de Arce e Long (1994) propostos a partir da
Perspectiva Orientada ao Ator, a etnografia propõe uma íntima análise entre os conhecimen-
tos em ações dos atores, suas práticas e organizações. Podendo estender essa perspectiva
para os estudos da formação do campesinato, os conflitos e a luta pela terra, resultando
em processos de reterritorialização, como no caso dos assentamentos de reforma agrária.
Essa proposta etnográfica pode ser guiada pelo diálogo de saberes, pelo encontro de
seres culturalmente diversos, com seus saberes igualmente diversos (LEFF, 2009). Sendo
o conhecimento que resulta deste encontro direcionado para a construção de uma susten-
tabilidade partilhada.

Perspectiva Orientada ao Ator: conceitos e estratégias para o desenvolvimento rural


sustentável

A Perspectiva Orientada ao Ator (Actor Oriented Approach) surge em meados dos


anos 1950 no Departamento de Antropologia da Universidade de Manchester, na Inglaterra
(ARCE; MARQUES, 2021). Tendo os pesquisadores Alberto Arce, Jan Douwe Van der Ploeg
e Norman Long, como os principais representantes desta metodologia.
Buscando propor nessa perspectiva uma tentativa centrada de investigação de como
os atores organizam suas práticas e representam em suas ações cotidianas, fugindo dos
sistemas culturais e institucionais fechados em si mesmos, buscando outras formas de es-
tudo do desenvolvimento a partir da construção social (ARCE; LONG, 1994).
Segundo Arce e Long (1994) a análises inspiradas em POA teve início na década de
1960 nos estudos de sociologia e antropologia, mas havendo pouco espaço dentro dos
estudos de desenvolvimento rural, onde os processos de desenvolvimento estavam mais
ligados a transferências de tecnologia para modernização da agricultura.
Esse modelo de desenvolvimento tecnológico atribui apenas aos processos individuais,
afastando os processos coletivos para construção social da sociedade e na mudança social.
Dessa maneira, os autores trazem que a sociologia do conhecimento vai adotar uma ideia

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de construtivismo social, abordando duas percepções sobre o conhecimento o técnico-cien-
tífico e o prático-cotidiano, estando relacionados aos processos de desenvolvimento agrário.
Essas duas linhas vão evidenciar um conceito da POA que são os atores sociais, sendo
compreendidos como indivíduos e organizações sociais onde “todos lutam para promover
seus próprios interesses e ter uma palavra a dizer sobre o que acontece com os recursos
rurais a curto e longo prazo” (LONG; JINLONG, 2009, p.65). Os atores são considerados
agentes coletivos que trazem a possibilidade de repensar a ciência na prática do fazer
(ARCE; LONG, 1994).
Aliado a este conceito temos a perspectiva da agência humana, que evidencia os atores
sociais como centrais nos processos de desenvolvimento.

Em um esforço para melhorar as formulações iniciais, muitos escritores recu-


aram para reconsiderar a natureza essencial e parte importante da “agência
humana”. Essa noção metateórica está no coração de qualquer paradigma
revitalizado de ator social, e forma o eixo em torno do qual as abordagens
que tentam conciliar as noções de estrutura e ator (...) No entanto, embora
a quintessência da agência humana possa parecer incorporada na pessoa
individual, os indivíduos não são as únicas entidades que tomam decisões,
agem em conjunto e monitorar resultados. (LONG, 2007, p. 48).

Para tanto, na POA são estabelecidos outros conceitos-chaves como “campos”, “domí-
nios” e “arenas sociais – interface”, que permitem compreender as relações das ações dos ato-
res e como seus processos de conhecimento são constituídos e transformados (LONG, 2007).
Para Long (2007) a noção de campo social traz uma imagem de espaço aberto, com
uma paisagem irregular com limites mal definidos, composto por diversos elementos, por
exemplo, recursos, informações, capacidades tecnológicas, entre outros. Esses elementos
são produtos de intervenções humanas e não humanas, resultantes de um processo coope-
rativo e competitivo. Esse conceito irá direcionar para as ações sociais através das diferentes
intersecções dos domínios sociais.
O conceito de domínio é fundamental para “entender como os ordenamentos sociais
operam e para analisar como as fronteiras sociais e simbólicas são criadas e defendidas”
(LONG, 2007, p.124), sendo originado a partir das experiências compartilhadas da vida
social dos atores.
Enquanto às arenas, são os espaços onde ocorrem as disputas entre as diferentes
práticas e valores dos atores, podendo envolver uma ou mais formas de domínios; Elas
buscam resolver os conflitos a partir das interpretações entre os diversos interesses dos
atores (LONG, 2007).
A noção de interface se dá a partir da interação das arenas, campos sociais ou domínio,
como aponta Arce e Long (1994):

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Definimos interfaces como os pontos críticos de intersecção entre diferentes
campos sociais, ou domínio das práticas dos atores, nos quais provavelmen-
te serão encontradas descontinuidades, por sua vez fundadas a partir das
diferenças entre as múltiplas visões de mundo, valores e interesses sociais
(ARCE; LONG, 1994, p.8).

Nesse sentido, vai se ter um cenário onde as interfaces e as conexões entre os atores
sociais e os cientistas se tornam centrais para soluções mais aceitáveis para enfrentar os
avanços e excessos do desenvolvimento tecnológico e econômico moderno no meio rural
(ARCE; LONG, 1994).
Dessa forma, a Perspectiva Orientada ao Ator surge, com bases nos encontros de
conhecimento nas diferentes visões de mundo dos atores, possibilitando ir além das pri-
meiras colocações do construtivismo social, que sugere essa dicotomia entre as diferentes
formas de conhecimento. O enfoque orientado ao ator evidencia os atores sociais – aqui
entendidos como os camponeses, com seus papéis, valores e suas diferentes formas de
entender o mundo na construção do conhecimento e no desenho de uma nova perspectiva
para o desenvolvimento rural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste ensaio, apresentou-se uma reflexão inicial teórico/metodológico dos conceitos e


estratégias da Perspectiva Orientada ao Ator para ações metodológicas nos territórios rurais
no contexto brasileiro, especificamente os assentamentos da reforma agrária.
Arce e Long (1994) apontam caminhos a partir do conhecimento de como ele pode
ser importante com suas teorias e práticas para pensarmos possibilidades de reposicionar
os estudos do desenvolvimento rural. Um desses caminhos são os estudos etnográficos
que demonstram ser uma estratégia para as análises com os atores em desenvolvimento.
Para tanto, refletiu-se neste ensaio uma aplicação de uma metodologia que amplie o
protagonismo de novos atores sociais e suas diversas formas de conhecimento. A Perspectiva
Orientada ao Ator contribui nesses novos arranjos a partir dessa integração através da
diversidade, aspectos culturais, sensibilidade na realidade dos agricultores e agricultoras,
através dessa proximidade entre os agricultores e pesquisadores possibilitada pelo enfoque
orientado ao ator. Sendo um caminho para novas perspectivas de desenvolvimento, tendo
os agricultores como agentes centrais destes processos. Conclui-se que essa abordagem
tem sido bastante utilizada para intervenções nos estudos do desenvolvimento rural.

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Plantas espontâneas medicinais em
quintais periurbanos

Marci Aparecida Lemes


Universidade de Araraquara - UNIARA

José Maria Gusman Ferraz


Universidade de Araraquara - UNIARA

Rosely Yavorski
Unini - Funiber

'10.37885/220910351
RESUMO

Objetivo: Verificar o conhecimento, a forma e a intensidade de uso das Plantas Espontâneas


Medicinais por 4 informantes residentes em 4 quintais da área periurbana do Município de
Roncador, PR., Brasil, escolhidos intencionalmente, bem como, o interesse dos participan-
tes em adquirir mais conhecimentos sobre essas espécies de plantas e seus potenciais
usos. Métodos: Trata-se de pesquisa descritiva com estratégia de estudo de caso e mé-
todo misto, realizada de fevereiro a maio de 2018. O estudo dividiu-se em duas etapas:
revisão da literatura e pesquisa de campo. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas
com 1 morador por domicílio, turnês guiadas, checklists com imagens de plantas para a
confirmação taxonômica das espécies e levantamento quantitativo. Os dados coletados
foram agrupados e tratados estatisticamente e os resultados transformados em quadros.
Resultados: Foram registradas 28 espécies medicinais espontâneas, distribuídas em 15
famílias botânicas, destacando-se em número de espécies as Asteraceae, Amarantaceae,
Solanaceae e Malvaceae com 8, 4 e 2 espécies respetivamente, as demais apresentaram
apenas uma espécie cada. A família botânica que mais se destacou entre as mais conhecidas
e consumidas foi a Asteraceae. A maioria absoluta dos entrevistados disse fazer uso habitual
das plantas espontâneas medicinais existentes nos seus quintais como primeiro recurso em
quadros de doença. A transmissão dos conhecimentos tradicionais sobre o conhecimento e
uso é feita de forma intergeracional. Considerações finais: O levantamento etnobotânico
possibilitou relacionar a diversidade de espécies de plantas espontâneas medicinais. O es-
tudo revelou que os atores da pesquisa possuem relevante conhecimento sobre as plantas
espontâneas e os seus potenciais usos medicinais. A divulgação dos conhecimentos tradi-
cionais levantados, contribuirá para o fortalecimento e propagação dos saberes e fazeres
terapêuticos relacionados a essas plantas, oportunizando ainda o incentivo à população
em geral explorar melhor o território dos quintais em busca de primeiros recursos em qua-
dros de doenças, podendo com isso, diminuir a demanda pela compra de medicamentos
alopáticos, importando no aumento da sustentabilidade ambiental e alcance da soberania e
segurança terapêutica da população em geral, assim como ocorre na parcela da população
estudada. O estudo sugeriu ações governamentais e novas pesquisas sobre o tema ante a
demonstração pelos atores do desejo de adquirirem maiores conhecimentos sobre essas
plantas e os seus potenciais usos terapêuticos.

Palavras-chave: Etnobotânica, Usos e Costumes, Segurança e Soberania Terapêutica.


INTRODUÇÃO

As Plantas Espontâneas (PE) fazem parte do ecossistema e possuem a capacidade de


nascer e de se desenvolver em ambientes pouco propícios a outras espécies, por esse motivo
recebem a denominação de plantas invasoras ou daninhas (LORENZI, 2000). Em verdade,
essas plantas não são de todo mal, algumas variedades possuem potencial uso terapêutico.
Embora muitos exemplares tenham sido objeto de estudados científicos e os seus princípios
ativos e terapêuticos passado por validação, são os conhecimentos tradicionais que guar-
dam o maior volume de informações e de indicações de uso. Assim, a transmissão desses
conhecimentos é de fundamental importância não só para a sua preservação, mas também
para contribuir com a soberania e segurança terapêutica da população, em geral (ALTIERI
et al., 2003; LORENZI, 2000; SILVA, 2010).
As plantas medicinais são espécies vegetais, cultivadas, nativas ou espontâneas, que
possuem nas suas composições substâncias químicas que lhes conferem o potencial tera-
pêutico. O grau de potencialidade das substâncias ativas no uso medicamentoso é relativo,
pois, depende do grau de concentração dos princípios ativos de cada planta individualmente,
da maneira como cada organismo humano as absorve e das formas de preparo e de admi-
nistração. Dessa forma, o grau de eficácia no uso preventivo e curativo dessas espécies não
depende apenas dos princípios ativos, mas também, de outros fatores a serem considerados
(BRASIL, 2011; ORLANDI; VERVLOET, 1983).
A variabilidade de espécies vegetais com potencialidades medicinais existentes no
ecossistema brasileiro, aliadas a cultura popular de uso, oportuniza à população, em geral,
se beneficiar da utilização de princípios ativos medicamentosos a um custo praticamente
zero, bastando apenas o conhecimento adequado para o consumo seguro (OLIVEIRA et al.,
2006; MARIZ, 2007).
A tradição de utilizar espécies vegetais na busca da prevenção, cura ou do alívio às
doenças, remonta aos primórdios da humanidade. Historicamente foram os chineses que
iniciaram o registro formal desses usos e costumes na obra intitulada Pen Ts’ao (“A Grande
Fitoterapia”), de Shen Nung. A obra remonta a 2.800 a.C. Outras civilizações, a exemplo dos
sumérios, egípcios, hindus e gregos, de igual forma e em momentos distintos igualmente
efetuaram os seus registros (ELDIN; DUNFORD, 2001; CORRÊA JÚNIOR et al. 1991).
Os alquimistas também contribuíram de maneira significativa para o desenvolvimento
da cura pelas plantas. Nas suas práticas laboratoriais reuniam ciência, arte e magia em
busca da obtenção da pedra filosofal que possibilitaria a medicina universal. Tanto o é,
que as bases da medicina natural foram lançadas por um médico e alquimista que usava o
pseudônimo de Paracelso. Na concepção desse alquimista a medicina se fundamenta na
natureza e a natureza é a medicina. Para ele os homens devem buscar a sua cura somente

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na natureza, tendo em vista que a natureza é o mestre do médico por ser mais antiga do
que ele, existindo dentro e fora do homem. Dentre outras coisas ele também afirmava a
existência do corpo astral do homem, ao qual denominava aventrum, e do corpo astral das
plantas que denominava leffas (NOGUEIRA; MONTANARI; DONNICI, 2009, p. 232).
Na medicina popular, as plantas com potencial Com o surgimento dos medicamentos
químicos, a utilização das plantas in natura como fonte de prevenção e cura de doenças,
gradativamente caiu no obsoletismo. Contudo, os saberes e fazeres tradicionais sobre o co-
nhecimento das plantas e os seus usos terapêuticos, continuaram a ser repassados oralmente
de forma intergeracional. No território brasileiro, a tradição de cura utilizando plantas remonta
à fase anterior ao descobrimento, visto que, os indígenas se serviam da diversidade vegetal
para cura das suas enfermidades. Após o descobrimento, tanto europeus quanto africanos
contribuíram não só com os seus conhecimentos, mas também com espécies trazidas nas
suas bagagens durante os processos migratórios espontâneos ou forçados. Algumas dessas
espécies passaram pelo processo de naturalização e podem ser encontradas com facilidade
na natureza ou em cultivos (MONTEIRO & BRANDELLI, 2017, p. 09).
Tendo em vista que o hábito do consumo de plantas medicinais tem a sua origem na
maioria das vezes na tradição familiar, os quintais vêm sendo ao longo dos tempos o repo-
sitório desses exemplares e os seus coletores e cultivadores os guardiões dessa sabedoria
de uso. Isso faz dos quintais um espaço de preservação dos conhecimentos culturais e
tradicionais, por serem o palco da transmissão de forma intergeracional da cultura familiar
e dos ensinamentos das atividades de coleta e de cultivo agrícola de pequeno esforço físico
(SANTOS et al., 2013; SILVA et al., 2013).
No Brasil, de acordo com Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, “quintal” é “o
terreno com horta e jardim próximo à casa de habitação”. Os quintais são também conside-
rados espaços de terreno no entorno das residências utilizados geralmente por um grupo
familiar onde se praticam atividades de convivência, lazer, criação de animais, cultivo de
plantas, etc. (SALIN, 2012).
Áreas periurbanas são zonas de transição entre espaços rurais e urbanos onde ambas
atividades se misturam, não sendo possível definir os limites físicos e sociais destes dois
territórios (ÁVILA, 2001).
Na medicina popular as plantas com potencial curativo são utilizadas na automedicação
visando além da manutenção da saúde a prevenção e cura de doenças, mas a pouca infor-
mação sobre o uso correto dessas plantas contribui para que esse uso seja negligenciado
ou abandonado (RODRIGUES et al., 2004; OLIVEIRA; BARROS; MOITA NETO, 2010;
OLIVEIRA e MENINI NETO, 2012; ARNOUS, SANTOS e BEINNER, 2005).

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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) no início dos anos 90, cerca de 65%
a 80% da população de países em fase de desenvolvimento tinham como base as plantas
medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (AKERELE, 1993).
Dessa maneira, os levantamentos etnobotânicos e os registros dos conhecimentos tradi-
cionais de identificação e de uso são de fundamental importância para garantir a segurança
na utilização das espécies.
Ante a importância das plantas espontâneas medicinais na garantia do direito humano
à saúde, o levantamento bibliográfico mostrou que os estudos e pesquisas científicas sobre
o tema ainda são de número reduzido. Considerando estes fatores, fazem-se necessários
estudos, visando o levantamento de informações sobre a diversidade das espécies existen-
tes, identificação taxonômica, conhecimento e utilização para consumo humano, divulgação
das espécies, forma de consumo, etc.
Nesse sentido, o objetivo principal da pesquisa foi o de efetuar um levantamento et-
nobotânico para listar as espécies encontradas nos quintais estudados e verificar qual o
conhecimento que os entrevistados possuem sobre as plantas e os seus usos na medicina
popular e, qual a forma que efetuam o repasse desses conhecimentos. A pesquisa se justi-
fica pelo fato de que os resultados nela obtidos poderão contribuir para o registro formal dos
conhecimentos da comunidade estudada, bem como, poderão servir de fonte para novas
pesquisas sobre as plantas espontâneas medicinais.

MATERIAL E MÉTODOS

Esta pesquisa tem como recorte quatro quintais considerados periurbanos (espaços
onde as atividades rurais e urbanas se misturam) no município de Roncador, pertencente a
unidade federativa do Paraná, no Brasil como pode ser obsevado nas Figuras 1 e 2.

Figura 1. Localização do município de Roncador no Brasil e no Estado do Paraná.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Roncador. Acesso em fev. de 2018. Adaptado pelos autores.

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Figura 2. Vista satélite do município de Roncador e dos 04 quintais periurbanos objeto do estudo.

Fonte: Mapas de estradas e ruas de Roncador. Localização e distâncias em Paraná, Brasil. Disponível em: http://www.mapasruasestradas.
com/Parana/Roncador/. Acesso em fev. de 2018. Adaptado pelos autores.

A Sua distância da capital do Estado é de 427,06 km. O município encontra-se situa-


do na Microrregião de Campo Mourão, tendo as coordenadas geográficas nas latitudes
24° 36′ 10″ S e longitude 52° 16′ 30″ W. É considerado de pequeno porte com área terri-
torial de 741,241 km², com altitude variando entre 500 a 765 m acima do nível do mar. Faz
limite com os municípios de Luiziana, Iretama, Palmital, Mato Rico, Nova Tebas e Nova
Cantu. O seu território é 100% composto pelo bioma Mata Atlântica e o clima é predomi-
nantemente subtropical (IPARDES, 2010).
Segundo o Censo 2010 a população total é de 11.537 hab., desses 7.120 hab. per-
tencem à zona urbana (3.482 homens e 3.638 mulheres) e 4.417 hab. a zona rural (2.341
homens e 2.076 mulheres). A religião predominante é a católica. A densidade demográfica
é 15,55 hab./km², com predominância de raça e cor auto declarada branca tanto na zona
rural quanto urbana. O IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) é de 0,681 e
o Índice de Gini da Renda Domiciliar Per Capita é 0,5362 (IBGE, 2010).
Utilizou-se metodologia de caráter descritivo e abordagem qualiquantitativa, objeti-
vando descrever os conhecimentos dos atores da pesquisa sobre as plantas espontâneas
medicinais e a sua utilização terapêutica em humanos, bem como, conhecer a quantidade
de espécies espontâneas medicinais existentes nos quintais periurbanos visitados.
A amostra foi composta por 4 quintais, escolhidos intencionalmente e caracterizado
por uma população de faixa etária ampla, variando de 22 a 72 anos.
A coleta de dados deu-se durante os meses de fevereiro a maio de 2018, de conformi-
dade com o proposto por Albuquerque et al. (2010) e Albuquerque; Lucena (2004) em duas
etapas: visita aos quintais das propriedades e estabelecimento de um primeiro contato com
os atores da pesquisa e entrevistas seguidas de “turnê guiada” na propriedade.
À medida que o entrevistado mostrava as espécies, informava o nome popular, a in-
dicação de uso, as partes da planta utilizas e os modos de preparo, as informações eram
anotadas em fichas e na sequência a planta era fotografada. Posteriormente as espécies
foram listadas por família botânica, nomenclatura binominal, nome popular, ação, modo
de uso e formas de consumo, de acordo com Kinupp (2007). Os registros e identificações

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botânicas das espécies encontradas foram realizados por meio de comparação com a lite-
ratura especializada (LORENZI; SOUZA, 2008).

DISCUSSÃO E RESULTADOS

De fevereiro a maio de 2018 foram visitados 4 quintais periurbanos e entrevistadas 4


pessoas, sendo um homem e três mulheres, todos alfabetizados. A faixa etária dos informan-
tes variou de 22 a 72 anos. As informações foram levantadas em parte por uma entrevista
semiestruturada, conforme o demonstrado no Quadro 1, onde contém algumas perguntas
que integram o roteiro de entrevista.

Quadro 1. Perguntas que fazem parte do Roteiro de entrevista aplicado aos informantes chave.

Nº Perguntas
1 Nome:
2 Idade:
Conhece alguma planta que nasce sozinha em seu quintal
3
e que serve para tratar alguma doença?
Utiliza alguma planta que nascem sozinhas em seu quintal
4 para tratar alguma doença sua ou de membro da família?
Se usa, indique qual.
Quando utiliza percebe algum efeito desejado ou não após
5
o consumo?
Saberia informar se outras doenças além das informadas,
6 podem ser tratadas ou prevenidas com alguma dessas
plantas?
Por qual nome conhece a planta que está mostrando (nome
7
popular)?
8 Para qual doença ela é indicada?
Qual parte da planta pode ser usada? (planta inteira seca
8 ou in natura, folha verde, folha seca, fruto, flor, raiz, galho,
semente, outros)
9 Qual parte da planta você prefere utilizar e por quê?
De que forma se dá a
preparação para o uso (chá, infusão, decocção; xarope;
10
tintura; maceração; compressa; cataplasma)? Qual a parte
da planta foi usada?
11 Qual a sua forma preferida para o preparo e por quê?
Como adquiriu o conhecimento sobre a planta, sua indica-
12
ção de seu uso e modo de preparo para combater doenças?
Você ensina a outras pessoas como identificar e utilizar
13
essas plantas como remédio?
Fonte: Elaboração própria (2021).

Embora as perguntas acima tenham sido elaboradas de forma simples, possibilitaram a


captação dos dados necessários para responder aos objetivos da pesquisa. A apresentação
em forma de quadro colabora para a compreensão do contexto da pesquisa, ajudando na
discussão dos resultados.
Na área objeto do estudo foram identificadas ao todo 28 espécies de plantas espontâ-
neas medicinais, distribuídas em 15 famílias botânicas, organizadas no Quadro 2. O número

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de espécies levantadas comparado ao número de quintais estudados é expressivo se com-
parado aos resultados do estudo efetuados por Vasco-dos-Santos et. al. (2018), sobre
plantas medicinais utilizadas em tratamento helmíntico, em cujo entrevistou 31 informantes
em uma Aldeia indígena e levantou 21 espécies de plantas medicinais (nativas e exóticas)
distribuídas em 14 famílias botânicas, constantes no Quadro 3.

Quadro 2. Plantas espontâneas medicinais citadas pelo uso popular nos quintais da área periurbana do município de
Roncador, Paraná, Brasil, de acordo com sua indicação de uso, 2018.

Nome popular Nome binominal Família botânica Ação e modos de uso Partes utilizadas
Antisséptica
Analgésica
Porophyllum Cicatrizante
Arnica Paulista ou
ruderale (Jacq.) Asteraceae (compressas e Planta toda
arnica do mato
Cass tinturas).
Obs.: somente
para uso externo
Emoliante, Antiinflamatória,
Arrebenta cavalo ou Solanum palinacanthum Antisséptica. (Compressas e
Solanaceae Frutos
Erva Moura L. cataplasmas)
Obs.: apenas uso externo
Antiinflamatório, Antisséptico,
Alternanthera tenella Antioxidante, Analgésico, Car- Partes aéreas (folhas,
Apaga fogo ou periquito Amaranthaceae
Colla minativa, Eupéptica. ramos e inflorescência)
(chá e compressas)
Digestiva, Sudorífica, Antiinfla-
Beldroega Portulaca oleracea L. Portulacaceae matória. Folhas e ramos
(chá e in natura)
Anticancerígeno,
Eleusine indica (L.) Semente,
Capim Pé de galinha Gramineae Antiinflamatório, Antihelminti-
Gaertn (ELEIN) Raiz.
co, Tônico. (Chá)
Antiespasmódica, Tônica,
Catinga de mulata Tanacetum vulgare L. Asteraceae Eupéptica. Capítulos florais
(chá e infusão)
Acanthospermum
Antisséptica, Antiinflamatória, Folhas,
Carrapicho de carneiro hispidum Asteraceae
Tônica, (chá) Raízes
DC.
Antisséptico, Antiinflamató-
Caruru de mancha Amaranthus viridis L Amaranthaceae rio, Antiblenorrágico. (chás e Planta toda
compressas)
Pyrostegia venusta (Ker Emoliante (compressas)
Cipó de São João Bignoniaceae Partes aéreas
Gawl.). Miers Obs: Uso externo
Antiinflamatória, Antisséptica,
Waltheria douradinha St. Folhas e cascas dos
Douradinha do campo Sterculiaceae Tônica, Sudorífica, Emoliante.
Hilaire ramos.
(Infusão e compressa)
Emoliante, Espasmódico, Anti-
Chelidonium majus microbiana, Antiespasmódico, Raíz, Talos, Folhas
Erva andorinha Papaveraceae
L. Cicatrizante. Flores.
(Chá e compressas)
Hepatoprotetora Adstringente
Antiofídica Antiviral Cicatri-
Erva de Botão Eclipta alba (L.) L. Asteraceae Planta toda
zante Laxante Tônica. (Chá e
cataplasma)
Commelina erecta Antiemorrágica,
Erva de Santa Luzia Commelinaceae Folha
L. Sp. Pl. 1: 41. 1753. Antiinflamatória (infusão)
Antiinflamatório, Cicatrizante,
Erva de Santa Maria ou Chenopodium ambro- Anti-séptico, Folhas e
Amaranthaceae
Mastruço sioides Anti-helmintico Sementes
(Chá).

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Nome popular Nome binominal Família botânica Ação e modos de uso Partes utilizadas
Antioxidante, Analgésica,
Espinheira Santa Maytenus ilicifolia Celastraceae Antitumoral Folhas
(chá e compressa)
Espinho de cachorro ou
Cenchrus echinatus L. Poaceae Antiinflamatório (Chá) Folhas
capim carrapicho
Sida rhombifolia Antiinflamatória, Antisséptica, Folha, Raiz, Semente,
Guanxuma Malvaceae
L. Tônica (Chá) Flor.
Sarna do Elephantopus Adstringente, Tônico, Antiinfla- Folhas, Flores,
.Lingua de vaca Asteraceae
EU. matório. (Chá) Raízes.
Antiinflamatória, Antiespasmó-
Sida cordifolia Folhas,
Malva branca Malvaceae dica, Carminativa, Cicatrizante,
L. Flores.
Estimulante sexual. (Chá)
Antihelmintico, Antiinflamató-
Maria preta Diatenopteryx sorbifolia Solanaceae rio, Laxante. Folhas
(Decocção)
Analgésico, Anti-reumática,
Folhas, Partes aéreas
Mentrasto Ageratum conyzoides L. Asteraceae Antiinflamatório,
sem as flores
Cicatrizante (Chá)
Analgésica, Antisséptica,
Dysphania ambrosioides Antihelmintica, Antibacteriana,
Mentruz ou mastruço Amaranthaceae Parte aérea
(L.) Mosyakin & Clemants Antiviral.
(Chá, compressas e cataplasma)
Cicatrizante, Antiinflamatória,
Antibacteriana, Antiespasmó-
Galinsoga parviflora Cav.
Picão branco Asteraceae dica, Antioxidante, Vermífuga, Planta toda
1796
Digestiva, Antiviral e Excitante.
(Chá )
Antiinflamatório,
Picão preto Bidens pilosa L. Asteraceae Planta toda
Anti-séptico (chá e compressas)
Antioxidante, Antiviral, Anti-
Phyllantus niruri
Quebra pedra Phyllanthaceae bacteriano, Antiespasmódico, Flor, Raiz, Semente.
L.
Hipoglicêmico. (Chá)
Antioxidante, Antiinflamatória,
Sonchus oleraceus Tônico, Adstringente, Fortifican-
Serralha Asteraceae Planta toda
L. 1753 te do sistema nervoso (Chás e
compressas)
Antiinflamatória Anti-hemorrá-
Tanchagem ou erva-de- Plantago major
Plantaginaceae gica Cicatrzante, Diurética. Folhas, Sementes.
-ovelha L.
(chás e cataplasmas)
Hemostática,
Urtiga Urtica dioica L Urticaceae Planta toda
Antiinflamatória,
Ação e modos de uso Remine-
Nome popular Nome binominal Família botânica Partes utilizadas
ralizante (chá)
Fonte: Elaboração própria (2021).

Para ilustrar a discussão, no Quadro 3 fez-se um comparativo entre parte dos resul-
tados alcançados no presente estudo de Lemes e Ferraz que abrange as propriedades
medicinais das plantas espontâneas encontradas nos quintais a qualquer tipo de doença e
os obtidos por Vasco-dos-Santos et al. (2018), que foca nas plantas nativas e exóticas com
propriedades medicinais encontradas na Aldeia do grupo Batida, empregadas apenas no
tratamento de parasitoses intestinais.

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Quadro 3. Comparativo de resultados entre os estudos de Lemes e Ferraz e Vasco-dos-Santos et al. (2018).
Vasco-dos-Santos et al.
Dados informados Lemes e Ferraz
(2018).
4 quintais Grupo Batida, matriz da
Quantidade de quintais/comuni- (área periurbana do Municí- etnia Kantaruré (zona rural
dades visitados. pio de Roncador no Estado do município de Glória, no
do Paraná, Brasil. nordeste baiano, Brasil).
Quantidade de informantes-chave
4 31
entrevistados.
Número de homens entrevistados. 1 10
Número de mulheres entrevis-
3 21
tadas.
Variação de faixa etária dos entre-
22 a 72 20 a 50 anos
vistados.
Forma de aquisição do conheci- 100% de forma intergera-
91 % de forma hereditária.
mento e de uso. cional
Vasco-dos-Santos et al.
Dados informados Lemes e Ferraz
(2018).
Intensidade de uso medicinal das
plantas como primeiro recurso 75% 35%
de cura.
Número de espécies botânicas 28 21
espontâneas/nativas. Espontâneas. Nativas e exóticas.
Família botânica predominante
Asteraceae. Euphorbiaceae.
em espécies.
Parte da planta mais utilizada. Folhas. Predominância das cascas.
Modo de uso predominante Chá. Deixar de molho.
Fonte: Elaboração própria (2021).

Para ilustrar a discussão e demonstrar a validade externa dessa pesquisa faremos a


comparação dos resultados nela obtidos com os resultados obtidos na pesquisa de Vasco-
dos-Santos et al. (2018). A comparação permite, através da exploração das semelhan-
ças e das diferenças, encontrar as variações de um fenômeno ou os seus padrões ge-
rais (TILLY, 1984).
No que tange aos resultados dessa pesquisa as famílias botânicas que mais se destaca-
ram em número de espécies foram a Asteraceae, Amarantaceae, Solanaceae e Malvaceae
com 8, 4 e 2 espécies respectivamente. As demais famílias botânicas apresentaram apenas
uma espécie cada de conformidade com o Quadro 1.
A semelhança de resultados nos levantamentos efetuados por essa pesquisa e nos
da pesquisa de Vasco-dos-Santos et al. (2018), embora tenham objetivos e regiões do
Brasil distintas, demonstra a similaridade dos conhecimentos tradicionais relacionados a
medicina popular.
De todas as partes das plantas utilizada na pesquisa efetuada na região sul, as folhas
foram as que receberam maior destaque na utilização para o preparo de receitas terapêuticas
com maior número de indicação, sendo que, na pesquisa efetuada na região nordeste, as
cascas foram as mais utilizadas. Isso se dá em virtude da característica dos biomas. No bioma
Mata Atlântica as folhas das plantas permanecem disponíveis o ano todo, ao passo que no

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bioma da Caatinga do nordeste brasileiro as folhas caem no período da seca, dessa forma
o que permanece disponível o ano todo são as cascas. Por motivos preservacionistas, a
preferência pela utilização de determinadas partes das plantas se dá em virtude da maior
disponibilidade.
No que se refere ao modo de preparo nessa pesquisa os chás (obtido pela fervura
da planta ou partes dela) aparecem em destaque, a preferência pelo modo está atrelada
à facilidade de execução e de administração. De igual modo, o detectado na pesquisa de
Vasco-dos-Santos et al. (2018), o método de “deixar a planta de molho na água” também
se relaciona as mesmas facilidades de execução e administração.
No que se refere a predominância de informantes mulheres tanto nessa pesquisa quanto
na de Vasco-dos-Santos et al. (2018), o fato se dá por serem elas em sua grande maioria
as responsáveis pelo cultivo dos quintais e pelos cuidados da saúde da família.
Da mesma maneira, os informantes de maior idade revelam possuir maior conhecimento
de identificação e de uso comparado aos de idade inferior, resultado também assemelhado
entre às duas pesquisas.
Nessa pesquisa, 100% dos atores, disseram fazer uso habitual das plantas medicinais
existentes nos seus quintais, incluindo as espontâneas, utilizando-as como primeiro recurso
em quadros de doença, só partindo para alopatia quando não observam melhora.
Nesse aspecto, a pesquisa de Vasco-dos-Santos et al. (2018) apresenta resultado dis-
tinto, pois 65% dos informantes disse buscar nas plantas medicinais o primeiro recurso em
quadros de doenças e 35% disseram buscar na alopatia o primeiro recurso. Esse é um dado
interessante a se destacar, pois o esperado seria que numa comunidade tradicional indígena
a preferência pelo primeiro recurso de cura fosse pelas plantas medicinais e não pela alopatia.
No que tange a aquisição e repasse dos conhecimentos tradicionais referente ao conhe-
cimento e as formas de uso das plantas medicinais em ambos os estudos ficou destacado,
que esses se dão de forma intergeracional.
Do comparativo efetuado no Quando 2 inferiu-se que os quintais periurbanos de
Roncador, PR., possuem em proporção a Aldeia do Grupo Batida, na zona rural do mu-
nicípio de Glória, no nordeste baiano, maior diversidade de espécies e famílias botânicas.
Contudo, são análogos em ambos os estudos as correlações: conhecimento/comunidade;
geração com idade mais elevada/maior conhecimento sobre as espécies de plantas medici-
nais e os seus modos de uso, apenas divergindo na predominância das famílias botânicas
que nesse estudo são das Asteraceae e no de Vasco-dos-Santos et al. (2018) são das
Euphorbiaceae. As Asteraceae pertencem a maior família do grupo de plantas angiospérmi-
cas, apresentam-se sob a forma de ervas, arbustos e árvores, sendo que, muitas das suas
espécies são consideradas importantes fontes vegetais de interesse terapêutico (JUDD et al.,

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1999). As Euphorbiaceae estão entre as famílias botânicas mais representativas da Caatinga,
apresentando-se como arbóreas, arbustivas, subarbustos e ervas (SÁTIRO; ROQUE, 2008).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente estudo propôs a verificação dos conhecimentos tradicionais sobre as plantas


espontâneas medicinais e a forma de aquisição e repasse desses conhecimentos, por parte
da parcela da população periurbana do Município de Roncador, PR, Brasil.
A pesquisa possibilitou relacionar a diversidade de espécies de plantas espontâneas
medicinais existentes nos quintais periurbanos estudados.
Tais conhecimentos poderão incentivar a população em geral a explorar melhor o ter-
ritório dos quintais em busca de primeiros recursos em quadros de doenças. Isso diminuirá
a demanda pela compra de medicamentos alopáticos, importando no aumento da sustenta-
bilidade ambiental e alcance da soberania e segurança terapêutica da população em geral,
assim como ocorre na parcela da população estudada.
A pesquisa oportunizou com a publicação de seus resultados a ampliação dos conhe-
cimentos e a visibilidade do potencial uso das plantas espontâneas como fonte de recursos
terapêuticos na medicina popular, contribuindo para a disseminação e popularização des-
ses conhecimentos.
Revelou ainda que os atores da pesquisa possuem relevante conhecimento sobre as
plantas espontâneas e seus potenciais usos medicinais e consciência ambiental preservacio-
nista revelada pelo manejo controlado das espécies em seus quintais, mantendo exemplares
suficientes para utilização na medicina caseira.
A pesquisa oportunizou com a publicação de seus resultados: a ampliação dos co-
nhecimentos das espécies e a visibilidade do potencial uso das plantas espontâneas como
fonte de recursos terapêuticos na medicina popular, contribuindo para a disseminação e
popularização desses conhecimentos; a divulgação dos conhecimentos tradicionais levan-
tados, contribuindo para o fortalecimento e propagação dos saberes e fazeres terapêuticos
relacionados as plantas espontâneas.
A difusão dos conhecimentos poderá contribuir também para uma possível mudança
de paradigmas com relação a esse gênero de plantas por parte da população em geral,
que poderá deixar de vê-las apenas como um problema, para passar enxergá-las como
uma possibilidade de solução às agruras relacionadas a saúde humana. Isso importará na
contribuição para a manutenção e preservação dessa categoria de plantas nos quintais,
mesmo que de maneira controlada como constatado nos quintais estudados, contribuindo
dessa maneira para a manutenção da biodiversidade nesses espaços e no seu entorno.

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Dessa maneira, sugere-se que ações governamentais sejam promovidas com a finalida-
de de orientar e instruir a coleta segura e o uso adequado de PEM. Iniciativas governamen-
tais nesse sentido, poderão se tornar importantes ferramentas: de prevenção; de doenças a
custo zero; de reforço da transmissão dos conhecimentos tradicionais adquiridos de forma
intergeracional à toda população; de revalorização dessas plantas tidas como daninhas. Isso
importará na quebra ou mudança de paradigmas sobre sua importância, utilidade e inclusão
no rol das alternativas terapêuticas populares.
Por fim, espera-se que esse trabalho contribua para o surgimento de novos estudos,
estimulando a reflexão não só da academia, mas também da sociedade na totalidade da
importância das plantas espontâneas medicinais na promoção da soberania e da segurança
terapêutica da população mundial.

REFERÊNCIAS
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las relaciones campo-ciudad en algunos países de Europa y América. Investi-
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em comunidades rurais de Oeiras, semiárido piauiense. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu,
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Extensão Universitária. Belo Horizonte: [s.n.], set. 2004.

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florestas Tropicais) - Instituto Nacional de pesquisas da Amazônia, Manaus-AM, 2012

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T. M.; LIMA, L. N.; DIAS LIMA, A. G.; ANDRADE, M. J. G.; VANIER SANTOS, M. A.;
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Kantarur-e-Batida (NE- Brasil): Etnobotânica e riscos de erosão dos saberes locais.
Ambiente e Sociedade, v. 21, p. 1-20, 2018.Sage Fdtn., 1984.

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14
Políticas Públicas de Desenvolvimento
Territorial Sustentável no Brasil e Combate
à Pobreza Rural

Thaís Pereira de Azevedo Francisco Ricardo Duarte


Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI- Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
VASF VASF

Cícero Adriano Vieira dos Santos Daniel Salgado Pifano


Universidade Federal de Alagoas - UFAL Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
VASF

Clécia Simone Gonçalves Rosa Pacheco


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer- Lúcia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira
tãoPE Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
VASF

'10.37885/221010419
RESUMO

O caminho percorrido pelos movimentos sociais rurais é longo e marcado por Políticas
Públicas seletivas que favorecem o médio e grande produtor rural. No período militar, os
camponeses sofreram as consequências trágicas de um país que promoveu a implantação
de pacotes tecnológicos com o discurso de que para alcançar o progresso necessitava-se de
um país industrializado. Nesse caminho, o Governo pouco propôs e pouco fez pelo agricultor
familiar, que começou a ganhar destaque em 1996 com a criação do PRONAF. Mesmo com
esta mudança, o caminho de Políticas Públicas adequadas que promovam o desenvolvi-
mento territorial sustentável ainda é longo e grita por mudanças. Nesse sentido, o presente
trabalho propõe um relato histórico das principais políticas públicas para o desenvolvimento
territorial sustentável por meio de uma revisão de literatura.

Palavras-chave: Políticas Públicas, Desenvolvimento Rural, Sustentabilidade.


INTRODUÇÃO

No Brasil, a discussão sobre o combate à pobreza não é recente, pois a fome sem-
pre teve lugar de destaque no país. Nos anos de 1940, Josué de Castro, com o seu livro
Geografia da Fome, já chamava a atenção da sociedade para o descaso do poder público
sobre o tema, traçando o mapa das áreas alimentares do Brasil, apontando as cinco regiões
do país onde ocorria a fome.
Segundo a FAO (2019), a procura por alimentos é crescente e projeta-se uma neces-
sidade de aumento da produção em 70% até 2050, com isso, torna-se iminente a busca por
produtividades cada vez maiores, provocando um favorecimento da agricultura industrial e
da globalização.
Esta prospecção modifica a agricultura e provoca impactos e riscos econômicos, so-
ciais e ecológicos potencialmente severos. Para Altieri (2010), os riscos são aumento de
inundações, da frequência e severidade de secas em áreas semiáridas e condições de calor
excessivo, o que pode afetar a produtividade agrícola.
Com este cenário, a discussão sobre formas de agricultura mais sustentável ganhou
destaque. Apesar da sociedade de um modo geral associar a prática de uma agricultura
mais sustentável à substituição inicial de insumos, isso não é suficiente, devendo passar
pelo fortalecimento da agricultura de base familiar, por profundas modificações na estrutura
fundiária do país e por políticas públicas adequadas e coerentes que promovam a emanci-
pação de milhões de brasileiros da miséria.
A partir dos anos 2000, a situação do Brasil começou a mudar, sendo dos poucos
países no mundo que conseguiu reduzir as desigualdades sociais e econômicas e gerar
processos de inclusão social e melhoria nas condições de vida de sua população (GRISA;
SCHNEIDER, 2015).
Segundo Grisa e Schneider (2015), o Brasil passou a ser indicado como um dos paí-
ses em que há políticas e ações a serem seguidas e os resultados alcançados devem‑se a
uma combinação de fatores e processos, relacionados ao modo como a ação do Estado e
das políticas públicas influenciou e foi retroalimentada pelos atores e agentes da sociedade
civil. O meio rural brasileiro talvez seja um dos espaços em que os efeitos desta construção
social tenham sido mais intensos e gerado mudanças mais notáveis.
A partir de 2003, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do Brasil, os
movimentos sociais juntamente com acadêmicos e o governo, começaram a sistematizar e a
colocar em prática uma nova abordagem de desenvolvimento denominada Desenvolvimento
Territorial Sustentável (MDA, 2005). Essa estratégia estava sendo usada na Europa desde os
anos 1990, mas somente a partir de 2003 o governo brasileiro instituiu um grupo de trabalho

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para estruturar a proposta e criar os territórios rurais de identidades, que a partir de 2008 é
transformado nos Territórios da Cidadania.
O Programa Território da Cidadania é uma evolução do Programa Territórios Rurais,
onde foram criados um total de 164 Territórios Rurais no Brasil, sendo que destes, 120 foram
transformados em Territórios da Cidadania e os outros 44 são considerados Territórios de
Identidade Rural abrangendo 2.500 municípios (OLIVEIRA et al, 2017).
Diante do exposto, este trabalho buscou realizar um estudo teórico por meio de uma
revisão narrativa de literatura sobre políticas públicas rurais de desenvolvimento territorial
sustentável e combate à pobreza no Brasil. Para isso, foi realizada a busca de artigos na-
cionais e internacionais, dos últimos vinte anos, nas bases de dados do SciELO, Google
Acadêmico, além de notícias e publicações em jornais e revistas on-line.

DESENVOLVIMENTO

Este texto foi construído a partir de uma revisão narrativa de literatura, buscando-se
realizar a síntese de conhecimentos, descrever e discutir o desenvolvimento ou o ‘estado da
arte’ das Políticas Públicas de Desenvolvimento Territorial Sustentável no Brasil e Combate à
Pobreza Rural. Segundo Rother (2007), na revisão narrativa de literatura, essas discussões
podem ocorrer sob o ponto de vista teórico ou conceitual e os textos constituem a análise
da literatura científica na interpretação e análise crítica do autor, contribuindo no debate de
determinadas temáticas, levantando questões e colaborando na aquisição e atualização do
conhecimento em curto espaço de tempo.
Para isso foram consultados artigos nacionais e internacionais, dos últimos vinte anos
(2001 a 2021), nas bases de dados eletrônicas  Scientific Electronic Library Online Brasil
(SciELO) e Google Acadêmico, buscando-se temas como desenvolvimento territorial e sus-
tentabilidade, políticas públicas, erradicação da fome e reforma agrária.
As informações foram coletadas de forma não sistemática, no período de julho a setem-
bro de 2022 com as palavras-chave: desenvolvimento territorial, desenvolvimento sustentável,
fome, políticas públicas e reforma agrária. Como critérios de inclusão foram selecionados
os artigos que abordavam políticas públicas rurais e para o desenvolvimento territorial com
acesso gratuito. Foram excluídos artigos que após a leitura do resumo não trouxessem as
informações de interesse deste trabalho. Inicialmente foram eleitos 31 artigos, dos quais 14
foram selecionados.
A análise foi realizada a partir da leitura dos resumos, selecionando os materiais que
possuíam relação direta com o objeto de estudo. Assim, neste capítulo de livro, a análise
efetivou-se por meio de uma síntese narrativa dos dados encontrados nos estudos, consi-
derando o objetivo proposto.

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Histórico das Políticas Públicas de Desenvolvimento Territorial no Brasil

O Brasil é um país com elevada desigualdade social, onde a pobreza atingiu 62,9
milhões de brasileiros em 2021, segundo estudo “Mapa da Nova Pobreza”, desenvolvida
pelo FGV Social, a partir de dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNADC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) (NERI, 2022). Essa situação é preocupante, principalmente porque o direito à alimen-
tação é fato presente e relevante na legislação nacional, que garante o acesso adequado
para preservação da saúde, fortalecido pela constituição de 1988 (BRASIL, 1988).
Diante desta condição histórica, várias ações de combate a pobreza no meio rural
foram realizadas para permitir que a população tenha alimentos saudáveis e de qualidade,
que forneçam os nutrientes necessários para sobrevivência das famílias.
Jaime et al. (2018) trazem que “no Brasil, o direito à saúde e à alimentação são ga-
rantias constitucionais inseridas entre os direitos sociais”. E ainda segundo os autores “A
alimentação adequada é um requisito básico para a promoção e a proteção da saúde,
sendo reconhecida como um fator determinante e condicionante da situação de saúde de
indivíduos e coletividades”.
Assim, a promoção e a garantia de uma alimentação adequada mobilizam esforços de
diferentes setores do governo brasileiro, e de entidades e movimentos da sociedade civil,
mas que nem sempre apresentaram os mesmos objetivos (ALVES; JAIME, 2014).
Em meados de 1950, o governo brasileiro adotou de forma mais agressiva a estra-
tégia de industrialização em substituição à grande necessidade de importação, com isso,
tentava se aproximar das economias capitalistas industrializadas (BIELSCHOWSKY, 2006).
Neste caminho, o Estado atuou criando infraestruturas estatais; sendo agente financeiro,
promovendo a transformação da estrutura industrial; articulando capitais privados nacionais
e internacionais; bem como criador e executor de políticas macroeconômicas e setoriais,
privilegiando o fortalecimento de uma economia industrial (DELGADO, 2010).
Apesar dos esforços, com o início da ditadura militar, essas ações do Estado se mos-
traram frágeis em razão das dificuldades no abastecimento alimentar interno, do aumento
da inflação, do esgotamento da capacidade de importar bens necessários à industrialização
do país e da emergência de críticas ao padrão dependente e excludente seguido pela in-
dustrialização (DELGADO, 2010, 1988; COELHO, 2001; CASTRO, 1984).
Essa fragilidade, segundo Grisa e Schneider (2015) trouxe exigências por parte de po-
líticos, acadêmicos e movimentos sociais, que ganharam espaço na agenda pública. Porém,
esses três grupos buscavam interferências diferentes. Os movimentos sociais, representados
pelas ligas camponesas, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Trabalhadores Agrícolas
do Brasil e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag, buscavam

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um conjunto de reformas de base, como a reforma agrária, objetivando dinamizar o mercado
interno. A elite agrária e os acadêmicos, ligados aos militares, defendiam a modernização
tecnológica da agricultura (GRISA, 2012; DELGADO, 2005).
Naquela época, defendia-se que a agricultura precisava modernizar‑se para cumprir
suas funções no desenvolvimento econômico do país, e, com este objetivo, várias ações e
políticas públicas foram implantadas (GRISA; SCHNEIDER, 2015).
Mas, como sempre ocorreu historicamente no Brasil, as ações e políticas implantadas
beneficiavam os médios e os grandes agricultores, produtores de produtos direcionados à
exportação ou de interesses de grupos agroindustriais, o que deixou o pequeno agricultor
desassistido. As ações políticas da época foram: crédito rural, garantia de preços mínimos,
seguro agrícola, pesquisa agropecuária, assistência técnica e extensão rural, incentivos
fiscais às exportações, subsídios à compra de insumos, expansão da fronteira agrícola, e o
desenvolvimento de infraestruturas (DELGADO, 2010).
Enquanto perdurou a ditadura militar, a agricultura familiar não encontrou espaço na
arena pública para discutir e construir em conjunto com os gestores públicos políticas para
a categoria social, sendo esta marginalizada.
A marginalização da agricultura familiar no Brasil é fruto tanto da herança colonial do
país, como do processo de modernização desigual da agricultura nacional no período dita-
torial (AQUINO; SCHNEIDER, 2015). Esse processo social resultou na configuração de uma
estrutura agrária marcada por significativas desigualdades socioespaciais.
A concentração fundiária e a generalidade da estrutura agrária brasileira são resultado
da formação de sua economia, advinda da formação do país desde a colonização, e que
perdura, até hoje. A colonização e a ocupação progressiva do território que daria origem ao
Brasil, sempre foi um empreendimento mercantil para fornecer produtos tropicais ao comércio
europeu, principalmente Portugal (JÚNIOR, 1969; BEZERRA, 2019).
A agricultura brasileira sempre esteve voltada para exportação e a estrutura agrária
extremamente concentrada nas mãos de poucos (STEDILE, 2003). Como por exemplo, 1%
da população é proprietária de 47,6% das terras agricultáveis do Brasil (CAPETTI, 2019;
IBGE, 2019). Então, como forma de diminuir a miséria no campo e o êxodo rural, e através
da pressão dos movimentos sociais, a reforma agrária passou, a partir do final dos anos 50
e início dos anos 60, a construir uma das principais pautas deste país (SILVA, 1980).
Depois da deposição, através de um golpe Militar, do Presidente Jango (João Goulart)
por ser um presidente favorável a reforma agrária, os militares aprovaram o Estatuto da Terra
(Lei nº 4504/64) em 1964, embora este estatuto nunca foi colocado em prática. A partir do
primeiro governo militar, o Brasil acompanhou uma modernização da agricultura com a ado-
ção da Revolução Verde, que consistia no uso da mecanização e insumos agrícolas criados

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e massificados após a segunda guerra. Assim, a agricultura brasileira industrializou-se e
tornou-se extremamente dependente destes insumos. Silva (1980) coloca que os pacotes
tecnológicos, além de incentivar os monocultivos, somente são favoráveis aos grandes
agricultores e exemplifica:

Tomemos uma economia imaginária que produza 100 pães. Uma coisa é esses
pães serem produzidos por camponeses que plantam eles mesmos o trigo,
fazem a farinha e consomem os pães. Outra coisa é quando o trigo é produ-
zido por uma fazenda, que por sua vez compra os adubos químicos de uma
fábrica, depois vende o trigo aos moinhos, que por sua vez compram sacos de
algodão, para embalar a farinha, de outra fábrica, a qual por sua vez compra
algodão, para fazer sacos, de outra fazenda; finalmente é vendida às padarias
que fazem os mesmos 100 pães, que são vendidos aos que trabalham nas
fábricas e nas fazendas (SILVA, 198, p. 16).

Apesar do Estatuto da Terra não ter sido levado em consideração pelo governo em
favorecimento aos agricultores sem-terra, define como reforma agrária o conjunto de medidas
para promover a melhor distribuição da terra mediante modificações no regime de posse e
uso, a fim de atender aos princípios de justiça social, desenvolvimento rural, preservação
dos recursos naturais e aumento de produção.
O desenvolvimento territorial é uma estratégia de indução de processos de desen-
volvimento socioeconômico-político-cultural-ambiental, que a partir da construção coletiva
e participativa dos atores sociais do território e/ou comunidades e através de redes de
interações sociais e produtivas, buscam promover melhoria na qualidade de vida e o equi-
líbrio ambiental. É com base nessa discussão de desenvolvimento com foco no local que a
Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER brasileira, desde sua reformulação nos anos
1980, passa a utilizar metodologias participativas e incentivar a construção de sistemas
produtivos sustentáveis nas intervenções de trabalho.
Nesta época, os extensionistas brasileiros fazem fortes críticas ao modelo de desen-
volvimento promovido pelo Estado, que desde os anos de 1960 construía um projeto de
desenvolvimento nacional focado no “difusionismo produtivista” e começam uma nova fase
na extensão rural, denominada de Humanismo Crítico, desenvolvendo trabalhos utilizando
o planejamento participativo e a sustentabilidade ambiental, incentivados pela Pedagogia
da Libertação de Paulo Freire (OLIGER, 2006; RUAS, 2006).
Em 1989, final do governo Sarney, começa o desmonte do serviço de extensão rural bra-
sileiro. Em 1990 a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMBRATER
é extinta pelo presidente Collor com a implantação das políticas neoliberais de estado mí-
nimo e o país fica até 2003 sem serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER
federal – apenas alguns estados da federação mantém suas Emater’s em funcionamento.

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No final dos anos de 1980, durante o processo de redemocratização da sociedade
brasileira, vários movimentos sociais do campo voltaram a lutar por antigas reivindicações,
no intuito de conquistar políticas e ações que minimizassem os efeitos negativos da política
econômica durante o período da ditadura militar (1964‑1985). Consequentemente, após a
Constituição de 1988 e o afastamento do presidente Collor de Mello, o Estado brasileiro
reconhece as demandas dos movimentos sociais do campo e cria, em 1996, o Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com o objetivo de construir um
novo modelo de desenvolvimento rural no país (AQUINO; SCHNEIDER, 2015).
A criação do PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Familiar
em 1996 é resultante de uma reivindicação e acúmulo dos movimentos sociais e assim a
CONTAG – Confederação dos Trabalhadores da Agricultura, juntamente com alguns pesqui-
sadores do meio rural brasileiro, trazem ao debate a necessidade de se “pensar o processo
de desenvolvimento para o âmbito municipal, ainda que com uma perspectiva mais ligada à
viabilidade econômica” (MOURA; PONTES, 2020, p.189 apud GUIMARÃES, 2013).
Foi nesse mesmo período que o Estado brasileiro iniciou a elaboração de um conjunto
de políticas públicas direcionadas à agricultura familiar. Essa movimentação em prol dos
agricultores familiares ocorreu devido à mobilização de organizações sociais rurais e ao
aumento do número de estudos que demonstraram a importância socioeconômica desse
segmento social.
Diante da pressão das organizações sociais e do destaque que a agricultura familiar
ganhava, o Estado criou dois ministérios dedicados à gestão de políticas públicas de desen-
volvimento rural e agrícola, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A criações desses ministérios viabilizariam o
apoio do Estado às unidades agrícolas familiares que tinham grande apoio dos movimentos
sociais pela reforma agrária e por políticas específicas para esse segmento. O MAPA, era o
órgão voltado ao mercado de commodities e às agroindústrias de grande porte e o MDA res-
ponsável por coordenar as políticas fundiárias e apoiar a agricultura familiar (CAZELLA, 2016).
Brito (2017), estudando o conceito de território, políticas públicas e sua evolução no
Brasil durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Lula enfatiza a criação
em 2003 da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), ligada ao extinto Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA) e coloca a “incorporação da dimensão espacial de de-
senvolvimento rural”, contrapondo-se a dinâmica do desenvolvimento regional adotada pelo
governo anterior de FHC.
Como mencionado, na década de 1990, a contribuição do governo federal para a assis-
tência técnica e extensão rural não teve expressão, tendo sido retomada a partir do primeiro
governo Lula (2003‑2006). A contribuição do governo federal à assistência técnica e extensão

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rural mostrou‑se fortemente vinculada à institucionalização da política de desenvolvimento
rural e de fortalecimento da agricultura familiar. Atendendo à demanda dos movimentos so-
ciais, o governo se comprometeu, com a renovação das concepções e do formato institucional
de sua atuação nessa área. A partir daí, estabeleceu‑se a Política Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Pnater), lançada em 2004 (DIESE; DIAS; NEUMANN, 2015).
O Brasil é considerado um país agroexportador desde sua origem, exportando commo-
dities como açúcar, algodão, café e mais recentemente soja, álcool e carnes para o mundo
inteiro produzidas sempre em grandes propriedades latifundiárias, enquanto grande parcela
de seus habitantes vive em minifúndios e/ou sem-terra.
Dados publicados no caderno de conflitos da Comissão Pastoral da Terra, de 1985 a
2020 foram assassinados no Brasil por conflitos fundiários 1.841 trabalhadores. A resposta
do poder público na resolução desses assassinatos é de apenas 8% (COSTA et al., 2021).
Segundo dados publicados por Mattei (2012), em 30 anos, menos de um milhão de
famílias assentadas continuavam em terras da reforma agrária. Como resultado da luta
dos trabalhadores rurais e agricultores sem-terra foram criados de 1984 a 2010, segundo
dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, 8.641 projetos de
assentamentos e assentadas 1.238.502 famílias, sendo que apenas 920.412 famílias per-
manecem no campo. Esses assentamentos foram construídos em latifúndios improdutivos,
muito deles resultantes de grandes projetos decadentes e falidos como de usinas de cana
de açúcar do nordeste.
Fernandes (2004) discutindo questão agrária, conflito e desenvolvimento territorial
coloca que através dos conflitos entre trabalhadores rurais e latifundiários é possível com-
preender os processos de criação, recriação e reinvenção do campesinato, demonstrando
que há possibilidades de construir espaços políticos diversos para resistir ao processo de
territorialização do capital e desterritorialização do campesinato. O autor acrescenta nessa
discussão o diálogo como base para o desenvolvimento territorial com sustentabilidade.
Cosme (2016) estudando a Reforma Agrária no Brasil do século XXI, destaca que uma
reforma agrária distributiva que não atacasse o modelo agrícola/agrário hegemônico não
atenderia a sociedade brasileira. Continua sua crítica ao que denomina reforma agrária de
mercado, onde o governo assenta milhares de famílias em terras muitas vezes improdutivas
pagando valores acima do mercado. O autor apresenta como proposta para superação desse
modelo de reforma agrária brasileiro e destaca uma experiência de desenvolvimento territorial
numa região pobre do agreste paraibano, que através da organização foram protagonistas.

A experiência territorial agroecológica desenvolvida pelas camponesas e cam-


poneses do Polo da Borborema, agreste paraibano é uma, entre inúmeras
Brasil afora, que merece o nosso destaque. Com o protagonismo das mulheres
e dos jovens, aliás um processo que sem o qual não haverá rupturas estrutu-

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rais nessa sociedade capitalista patriarcal, o campesinato agroecológico do
território da Borborema, organizado em 15 Sindicatos de Trabalhadores Rurais
e Trabalhadoras Rurais (STR’s) e aproximadamente 150 associações comuni-
tárias, segue sua luta e resistência emancipatória (COSME, 2016, p. 16-17).

Durante muito tempo foi confundido o conceito de Desenvolvimento como crescimento


econômico. O prêmio Nobel de economia de 1993, Amartya Sen define desenvolvimento
como o processo de ampliação das capacidades de os indivíduos fazerem escolhas. Na rea-
lidade, a busca do bem-estar vai além da capacidade produtiva de uma sociedade. O dife-
rencial está em saber se o aumento desta capacidade produtiva traz bem-estar.
A partir dos anos 1970 começa na Europa, mais especificamente entre a França e Itália,
um movimento em que a melhor forma para construir estratégias de processos de desenvol-
vimento é através de abordagem e articulação local ou regional. Nessa discussão, merece
destaque as elaborações de pesquisadores Italianos como Calògeno Mascarà, Giuseppe
Damatteis, Giacomo Becattini, Gioachino Garofoli, Arnaldo Basgnasco, Alberto Magnaghi,
entre outros (ALVES et al., 2008).
Pesquisadores das áreas de geografia, sociologia e economia vem integrando seus
conhecimentos e construindo conceitos para desenvolvimento com mais sustentação teó-
rica e que na prática tem mostrado viabilidade política com o chamado Desenvolvimento
Territorial (ALVES et al, 2008).
Alves et al. (2008) em seu livro Desenvolvimento Territorial e Agroecologia destaca a
importância dos pesquisadores Arnaldo Bagnasco e Giuseppe Dematteis como duas referên-
cias no cenário internacional em território e desenvolvimento, afirmando que as intepretações
do território e/ou iniciativas de desenvolvimento territorial precisam considerar os seguintes
elementos/componentes e processos:

[...] A articulação de classes e a constituição de redes e tramas locais e extra-


locais, que significam relações de poder, efetivadas em cada lugar e entre os
lugares, em virtude de suas desigualdades, diferenças e especificidades; o
caráter (i)material, conciliando-se os fatores e elementos culturais, políticos,
econômicos e naturais, em unidade; a produção de mercadorias (ou exce-
dentes), a recuperação e a preservação da natureza exterior ao homem; a
valorização das pequenas e médias iniciativas produtivas; a valorização dos
saberes locais e das identidades; a consideração do processo histórico e do
patrimônio de cada lugar; a produção ecológica de alimentos; a organização
política local, com vistas conquista de autonomia. a diminuição das injustiças
e das desigualdades sociais, dentre outros (ALVES et al., 2018, p. 28).

A discussão sobre desenvolvimento local é um marco para o processo de construção


participativa do desenvolvimento que iniciou no Brasil no final dos anos 1980 e começo
dos anos de 1990, fruto de um acúmulo de conhecimentos de extensionistas e acadêmicos

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descontentes com os impactos negativos da revolução verde implantada pelos governos
militares pós-golpe de 1964 (RUAS, 2006).
Coelho Neto (2013) cita um relato encontrado numa ata do CONDRAF (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável) de 10 de março de 2004 sobre uma visita de
oito conselheiros a Andaluzia/Espanha com o objetivo de conhecer a experiência de gestão
territorial e das institucionalidades daquele país. É importante destacar que o referido autor
cita de forma recorrente a presença dos pesquisadores brasileiros José Eli da Veiga, Ricardo
Abramovay e Tânia Bacelar como sujeitos basilares nessa abordagem de desenvolvimento
territorial da Secretaria de Desenvolvimento Territorial.
O carro chefe das políticas públicas voltadas ao meio rural e à agricultura familiar do
Governo Federal brasileiro a partir de 2003, e para uniformizar a política de implantação dos
Territórios Rurais a SDT adota o conceito de Território como:

Um espaço físico, geograficamente definido, geralmente contínuo, compreen-


dendo cidades e campos, caracterizado por critérios multidimensionais, tais
como o ambiente, a economia, a sociedade, a cultura, a política e as institui-
ções, e uma população com grupos sociais relativamente distintos, que se
relacionam interna e externamente por meio de processos específicos, onde
se pode distinguir um ou mais elementos que indicam identidade e coesão
social, cultural e territorial (SDT/MDA, 2005, p. 28).

Para orientar as ações da nova política de desenvolvimento territorial a SDT/MDA pu-


blica em maio de 2005 o Marco Referencial para Apoio ao Desenvolvimento de Territórios
Rurais como estratégia para reduzir a pobreza, combater a exclusão social e diminuir as
desigualdades sociais e regionais (SDT/MDA, 2005). No mesmo documento o MDA enfatiza
que irá concentrar esforços em três áreas integradas de atuação: ampliação e fortalecimento
da agricultura familiar; reforma e reordenamento agrário; promoção do desenvolvimento sus-
tentável dos territórios rurais. Destaca-se logo no item primeiro a inclusão de forma especial
os assentados da reforma agrária. Dentro deste contexto, o Marco Referencial definiu como
objetivos da Estratégia de apoio ao desenvolvimento sustentável dos territórios rurais:

[...] Objetivos Específicos: Promover e apoiar: 1. a gestão, a organização e o


fortalecimento institucional dos atores sociais dos territórios rurais, especial-
mente daqueles que atuam na representação dos agricultores familiares, dos
assentados da reforma agrária e de populações rurais tradicionais (BRASIL,
2005, p. 07. Grifos do autor).

O Programa Território da Cidadania está inoperante desde 2017 junto como o Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA) que foi extinto em 2017, quando o governo Temer
fundiu com o antigo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e
criou o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (NASCIMENTO, 2019). Atualmente

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estes ministérios foram extintos e as ações ligadas a agricultura familiar estão sendo ope-
racionalizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (PIRES,
2019). A política de desenvolvimento territorial acertadamente foi muito importante para o
desenvolvimento rural brasileiro, pois mesmo depois de quase duas décadas e ser extinta
pelo governo, sobrevive até hoje em muitas localidades de forma autônoma.
Por fim, é válido destacar nessa discussão, como política pública rural, o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA), criado pelo art. 19 da Lei nº 10.696, de 02 de julho de 2003,
com duas finalidades básicas, promover o acesso à alimentação e incentivar a agricultura
familiar. Ele apresenta como beneficiários diretos os agricultores familiares (fornecedores)
e as pessoas em situação de risco alimentar (consumidores), atuando por meio de diversas
modalidades e formas de implementação (SAMBUICHI, 2020).
O PAA funciona comprando alimentos produzidos pela agricultura familiar, com dispensa
de licitação, e os destina para consumo às pessoas em situação de insegurança alimentar
e nutricional e àquelas atendidas pela rede socioassistencial, pelos equipamentos públicos
de segurança alimentar e nutricional e pela rede pública e filantrópica de ensino, percebe-
-se assim o estímulo à agricultura familiar com o fornecimento de alimento seguro à uma
significativa parcela da população vulnerável.
Santos, Soares e Benavides (2015), ao avaliarem o PAA, destacam que se observa
um aumento na quantidade de produtos vendidos pelos agricultores, com impactos positi-
vos em receita média, lucro líquido, investimentos totais e tempo de retorno do capital das
unidades produtivas. Mais que isso, a garantia de comercialização proporcionada pelo PAA
com consequente aumento da renda dos agricultores familiares permitem o aumento do
consumo dessas famílias, promovendo um ciclo positivo de desenvolvimento na economia
local (AGAPTO et al., 2012).
Sambuichi et al., (2019a), ao investigarem o perfil dos municípios que acessaram o
PAA entre os anos de 2011 e 2016, apontaram que aqueles que apresentam um menor
Produto Interno Bruto (PIB) per capita, menor índice de desenvolvimento humano municipal
(IDHM), maior número de agricultores familiares e maior percentual de habitantes na extrema
pobreza apresentam maior probabilidade de acesso ao programa, sendo o Nordeste e o
Norte, onde se concentram os maiores índices de pobreza rural, as regiões que mais aces-
saram o programa. Esses resultados apontam que as finalidades da política de promover
a inclusão social dos agricultores mais pobres e atender às populações mais vulneráveis
estão sendo alcançadas.
Vários estudos demonstram que o PAA, é uma política que afeta positivamente a
agricultura familiar, sendo, portanto, uma política com foco rural de sucesso. Este pro-
grama tem a capacidade de promover acesso à alimentação e melhorar a qualidade e

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os hábitos alimentares das populações mais fragilizadas, sendo importante na mitigação
da pobreza rural.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As políticas de desenvolvimento rural brasileira ao longo da história recente, a partir


dos anos de 1950, tiveram como discurso a melhoria da qualidade de vida do homem do
campo. Mas, na prática, observa-se que nos governos militares a política de desenvolvimento
adotada foi voltada para a modernização do latifúndio, que ao invés de reduzir a pobreza no
campo, aumentou o êxodo rural e a pobreza nas grandes cidades.
Após o processo de redemocratização do país, os governos, a partir do Fernando
Henrique Cardoso, também adotaram o discurso de redução da pobreza rural e os projetos
de desenvolvimento do meio rural voltam a ter destaque, porém, as ações realizadas através
de incentivos a processos de desenvolvimento local em parceria com a iniciativa privada do
governo de FHC também foi um fracasso.
Apenas a partir do governo Lula, com a criação da SDT e fortalecimento do MDA, foi
que o projeto de desenvolvimento rural, com foco territorial avançou no combate à pobreza
no campo. Porém nos últimos anos, com a extinção desta política, a pobreza e fome voltou
de forma assustadora no Brasil. Assim, é urgente que o próximo governo retome as propos-
tas e execução de políticas públicas de desenvolvimento territorial como forma de dinamizar
a agricultura familiar, melhorar a vida do homem pobre do campo e produzir alimento de
qualidade para o cidadão urbano e rural.

REFERÊNCIAS
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15
Programa floresta Que Te Quero Verde:
Plantio de árvores e frutíferas da Caatinga
no município de Floresta - Pernambuco

Aluísio Sampaio Neto Silvio André Vital Junior


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Márcia Rejane Lopes Cavalcante


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer- Centro Universitário Tabosa de Almeida - ASCES UNI-
tãoPE TA

José Lincoln Pinheiro Araújo Florisvaldo Cavalcanti dos Santos


EMBRAPA Semiárido Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Antonio de Santana Padilha Neto Enos André de Farias


Universidade do Estado da Bahia - UNEB Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Reinaldo Pacheco dos Santos


Eryka Fernanda Miranda Sobral Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
Universidade de Pernambuco - UPE VASF

'10.37885/220910329
RESUMO

Várias cidades brasileiras vem desenvolvendo uma política de proteção ao meio ambiente,
seja com arborização ou atividades de conscientização da população sobre a importância da
preservação ambiental. Objetivo: Apresentar e fazer compreender a idealização e surgimento
do Programa Floresta Que Te Quero Verde, criado pela Prefeitura de Floresta - PE, que
visa fortalecer a qualidade ambiental e proporcionar locais mais saudáveis e de bem-estar,
na zona urbana e rural, por meio do plantio de árvores e frutíferas da Caatinga em avenidas,
praças e calçadas, como também, em qualquer instituição pública ou estabelecimento comer-
cial da cidade. Método: É um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem
qualitativa. Resultados: A expectativa do programa é que cerca de 5.000 árvores e frutíferas
sejam plantadas nos próximos 3,5 anos. Até o momento, o programa contabilizou mais de
3.000 mil solicitações de mudas. Conclusão: O processo de arborização desenvolvido pelo
município de Floresta vem gerando vários benefícios, como locais sombreados, redução da
temperatura e dispersão de poluentes, aumento da umidade do ar, entre outras melhorias,
tornando a cidade mais agradável, saudável e confortável.

Palavras-chave: Sustentabilidade, Proteção, Região Sertão de Itaparica, Natureza, Qua-


lidade de Vida.
INTRODUÇÃO

O desmatamento de florestas nativas é uma preocupação geral em muitas regiões


do mundo por diversas razões. Por um lado, a perda de cobertura florestal e as mudanças
do uso do solo são uma das principais causas de emissões de gases de efeito estufa e,
portanto, contribuem diretamente para as mudanças climáticas (CASTELLETTI et al., 2003;
GALINDO et al., 2008; CURTIS et al., 2018).
Nesse sentido, várias cidades e regiões brasileiras buscam desenvolver políticas pú-
blicas visando a conservação do meio ambiente, através ações que visam a arborização de
áreas degradadas aliadas a atividades de conscientização da população sobre a importância
da conservação ambiental.
A restauração ecológica é o processo de auxílio ao restabelecimento de um ecossis-
tema que foi degradado, danificado ou destruído. O ambiente restaurado apresenta-se, do
ponto de vista biótico e abiótico, capaz de continuar seu desenvolvimento sem auxílio ou
subsídios adicionais; será capaz de se manter tanto estruturalmente quanto funcionalmente;
demonstrará resiliência normal aos limites normais de estresse e distúrbio ambientais e in-
teragirá com ecossistemas contíguos em termos de fluxos bióticos e abióticos e interações
culturais (SOCIETY FOR ECOLOGICAL RESTORATION, 2004).
Segundo a FAO (2015), em terras secas como é o caso do ecossistema caatinga, o
plantio de árvores e o crescimento de plantas desempenham um papel central ao fornecer
benefícios para a população e para a biodiversidade. A copa das árvores e a parte aérea de
plantas menores reduzem os impactos da chuva, reduzindo a energia cinética das gotas de
chuva quando atingem o solo, o que diminui a possibilidade de erosão; do vento, reduzindo
o movimento aéreo das partículas de solo, e do Sol, protegendo o solo contra a evaporação
excessiva e destruição da microfauna. Além disso, o sistema radicular das plantas mantém
a porosidade do solo, auxiliando a infiltração de água. Ademais, a vegetação também con-
tribuem para a quantidade de matéria orgânica do solo, o que aumenta a sua fertilidade.

ARBORIZAÇÃO

Considera-se que a arborização é um conjunto de árvores existentes tanta na zona rural


quanto urbana, e é de elevada importância para as cidades, pois, pode provocar diminuição
de temperatura, melhoria da qualidade do ar, conforto térmico adequado, sobrevivência
de pássaros, espaço de lazer em contato com a natureza, absorção do carbono, dentre
outros benefícios.

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Enquanto, para alguns, a presença das plantas era de máxima relevância
para a sobrevivência da comunidade, para outros, elas tinham um caráter
meramente estético. Nos dias atuais, a presença da vegetação dentro dos
centros urbanos vem adquirindo extrema importância, pois quebra a artificia-
lidade do meio, além de possuir um papel primordial na melhoria da qulidade
do mesmo. Dessa forma, a arborização urbana vem se tornando cada vez
maisum agente importante na melhoria do micro-clima local, assim como na
diminuição da poluição, sem contar o papel estético inerente ao seu próprio
uso (BONAMETTI, 2020, p. 52).

Nesse contexto, é relevante que o plantio de árvores deva ocorrer em diversas áreas,
em especial, onde o ser humano tenha desmatado ou provocado queimadas, melhorando a
condição da vegetação naquela região, e assim, ajudando a manter o equilíbrio do ecossis-
tema. Para tanto, de acordo com Bonametti (2020), não podemos esquecer da intervenção
de profissionais especializados que minimizem questões relacionadas à má qualidade de
arborização urbana no sistema viário.
Assim, nesta relação entre o homem e a natureza, percebemos a grande necessidade
de discussões sobre a criação de políticas públicas que possam ser adotadas para um melhor
aproveitamento de áreas não edificadas, sendo indispensável o preenchimento destas áreas
com árvores que promovam uma melhoria funcional, estética e o bem-estar do cidadão.

POLÍTICAS PÚBLICAS

O conceito de políticas públicas tem como teor basilar a presença estatal nas diver-
sas ações que envolve a existência e a sobrevivência de alguns setores sociais, como por
exemplo, a agricultura familiar ou mesmo dos programas de apoio e incentivo as pequenas
e médias empresas. As políticas públicas tem como objetivo assegurar a existência de uma
sociedade mais justa e com igualdade de condições para sua população. Para Oliveira (2021,
p. 14), as “políticas públicas conduzem o destino de nosso povo e mudam a realidade onde
moramos [...] nosso nível de cidadania, o futuro dos nossos jovens e até mesmo o equilíbrio
ambiental do planeta”. Essas mudanças ocorrem porque as condições econômicas e sociais
de uma população, e as formas de organização, tem no Estado, o detentor do poder impo-
sitivo e também executivo, buscando a utópica e constitucional lição de que todos somos
iguais, em direitos e deveres.
A noção de Estado, herança do capitalismo mercantil e da crise do feudalismo, na
metade do século XV, surgiu na Europa e teve suas efetivadas pelos filósofos iluministas
nos séculos XVII e XVIII, quando pensaram a ideia da tripartição de poderes para evitar um
novo absolutismo real, quando sugeriram o contrato social entre o cidadão e o administra-
dor das cidades, e quando buscou na fisiocracia de Adam Smith, por exemplo, distinguir o
papel do mercado sem a intervenção estatal. É na noção de contrato social, proposta por

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Jean-Jaques Rousseau, um dos mais importantes pensadores do século XVIII, que se per-
cebe a efetividade do Estado como organizador da sociedade civil, até porque a Ele cabe
a concretização do ideal de estado do bem-estar social e também do poder de polícia, na
aplicação de multas, cobranças de impostos, e o aprisionamento dos corpos, quando des-
cumprem os códigos e leis impostas (RIBEIRO, 2022).
As políticas públicas estatais são vistas no cotidiano da sociedade civil, seja na esco-
la onde os filhos estudam, no posto de saúde onde o atendimento humanizado está mais
próximo das famílias, ou mesmo, na concretização de antigas políticas de reforma agrária
(com assentamentos e colonizações) realizada pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA), ou mesmo, o abastecimento de água feito em carros pipas, mas
muitas operações do Exército Brasileiro ou dos órgãos dos entes federados, para suprir a
demanda hídrica em tempos de estiagem no Nordeste. São ações técnicas, pontuais ou
permanentes, que buscam suprir as necessidades da população em suas necessidades
básicas de qualidade de vida.
Foi nesse contexto de melhoria da vida da população que em plena pandemia cau-
sada pela COVID-19, onde milhares de pessoas morreram, e que o mundo precisou entrar
em lockdown, para evitar a catástrofe de milhares de mortes, que percebemos a mão forte
do Estado, afinal, foram os investimentos públicos na pesquisa que fez com que institutos,
laboratórios e universidades, mundo a fora, se juntassem na busca rápida por uma vacina
para combater o vírus nefasto. Os investimentos dos poderes públicos salvaram a vida de
milhares de vidas mundo a fora, mas precisamente nos países que acreditaram na eficácia
da vacina e que tinha condições econômicas para aportar valores na concretização das
pesquisas. Aqueles países sem condição econômica, passou a necessitar da ajuda de ou-
tras nações na oferta de demanda de vacina, o que demorou mais ainda o sofrimento de
toda uma população.
Por mais que se observe por parte de céticos, críticas ao papel desenvolvido pelo
Estado, muitas vezes fazendo papel de “pai e mãe” de parte da sociedade, quando distribui
renda através dos auxílios econômicos (Bolsa Família, Bolsa Escola, Auxílio Brasil), esse
ente utópico não deixou o mundo capitalista colapsar em 1929, quando a Bolsa de Valores
de Nova Iorque foi a bancarrota, e exigiu rápida intervenção no controle e efetivação da
compra de “papeis podres” de bancos e investidores, para evitar um colapso ainda maior.
“Vimos isso no Brasil claramente quando o Governo brasileiro comprou e estocou milhares
de sacas de café, mandando queimar ou mesmo lançar ao mar, estoques inteiros, para evi-
tar prejuízos maiores por parte dos cafeicultores do Vale do Paraíba, conforme menciona
Mapa” (2018, p. 17).

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No século XX, diante na necessidade latente por proteção e preservação do meio
ambiente, é pelo viés estatal que se vivencia investimentos na manutenção dos povos tra-
dicionais das florestas, guardiães da natureza, e que é por eles que vem o combate inicial
aqueles que estão dizimando a fauna e a flora na busca por riquezas minerais ou mesmo a
extração da biodiversidade. Na Caatinga, ecossistema predominante no Sertão do Semiárido
brasileiro, o papel do Estado como propositor ou patrocinador de polícias públicas de “recaa-
tingamento”, contribuindo para a inversão do processo de desertificação e fuga da população
sertaneja que vivem e sobrevivem neste ambiente, e, de onde retiram todo seu sustento e
recursos naturais.
O Programa Floresta Que Te Quero Verde, é uma dessas iniciativas em que as polí-
ticas públicas efetivadas tem seus resultados efetivados. Criado pela Prefeitura de Floresta
- PE, o mesmo visa fortalecer o recaatingamento, a qualidade ambiental, a necessidade de
um combate efetivo a desertificação, proporcionando no espaço urbano ou nas pequenas
vilas e lugarejos, locais agradáveis e saudáveis para o bem-estar daquela população, por
meio do plantio de árvores da Caatinga e plantas frutíferas, arborizando avenidas, praças
e calçadas, bem como, instituições públicas, como escolas, parques de esportes, ou esta-
belecimentos comerciais.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido em Floresta - PE. O município está localizado no interior


do estado, na Região Sertão de Itaparica, distante 438,2 km da capital pernambucana,
Recife, à margem esquerda do Rio Pajeú, tendo acesso pela rodovia BR-232, possuindo
uma população estimada em 33.488 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE).
A população de Floresta (figura 1), convive com restrições naturais típicas da região do
Semiárido brasileiro, chuvas escassas, irregulares, longos períodos de estiagem e, que, en-
tretanto, buscam nas potencialidades do município, os recursos necessários para a vivência.

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Figura 01. Mapa da Região Sertão de Itaparica.

Fonte: Reprodução/Internet (2022).

Deste modo, este é um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem


qualitativa, desenvolvido a partir do método fenomenológico, que é empregado em pesquisa
qualitativa, e preocupa‐se com a descrição direta da experiência como ela é, sendo que a
realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
A fenomenologia é classificada como sendo uma corrente filosófica cujo precursor foi
o filósofo e matemático Edmund Husserl, que nasceu no ano de 1859 na Moravia (atual
República Tcheca), e faleceu em 1938. Sua obra literária é marcada profundamente pela
preocupação com a crise das ciências, especialmente no tocante à compreensão dos
fenômenos humanos.
“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importantes
contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de seu
legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito da
construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “revo-
luções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):

O pressuposto humanista da autonomia é diferente. Nele o ser humano não


é visto como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador
de coisas novas. As pesquisas que estão a serviço desta forma humanista de
atendimento são principalmente qualitativas, descritivas de vivências subjetivas,
buscando explicitar seus significados potenciais em relação a algum contexto
e habilitando o profissional com uma visão mais ampla do ser humano, pois é
isso que o torna mais apto a oferecer aquela relação libertadora (AMATUZZI,
2009, p. 6).

De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as

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diferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os dife-
rentes posicionamentos existentes no meio social.
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Programa Floresta Que Te Quero Verde

Com objetivo de fortalecer a qualidade ambiental e proporcionar locais mais saudáveis


e de bem-estar, na zona urbana e rural, a Prefeitura de Floresta, por meio da Secretaria
de Produção Rural, Meio Ambiente e Recursos Hídricos, criou o Programa Floresta
Que Te Quero Verde (figura 2).

Figura 02. Mídia de divulgação do Programa Floresta Que Te Quero Verde.

Fonte: Reprodução/PMF (2021).

Lançado em 14 de junho de 2021, o programa vem realizando plantio de árvores e


plantas frutíferas da Caatinga, em espaço como, avenidas, praças e calçadas, como tam-
bém, em qualquer instituição pública ou estabelecimento comercial da cidade. Além do mais,
atividades de sensibilização da população sobre a importância da conservação ambiental
são desenvolvidas regularmente, como se vê na figura 3.

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Figura 03. Momento de lançamento do Programa Floresta Que Te Quero Verde.

Fonte: Reprodução/PMF (2021).

Para favorecer o processo de arborização, a Secretaria de Produção Rural, Meio


Ambiente e Recursos Hídricos dispõe de um contato por Celular/WhatsApp, denominado
ZAP VERDE: (87) 9 9117-0503, onde a população do município pode solicitar gratuita-
mente o plantio.
Após receber o chamado, uma equipe técnica vai até o local do chamado para averiguar
o espaço a ser plantado e analisa qual a melhor espécie de árvore ou frutífera, apresenta as
variedades e o cidadão escolhe de acordo com a sua preferência (figura 4). Posteriormente,
é realizado o plantio e orientações quanto aos cuidados são repassados ao solicitante.

Figura 04. Muda de Tamarindo sendo plantada em uma praça da cidade, pelos moradores do bairro em conjunto com
a equipe da gestão municipal.

Fonte: @bianumeriano (2022).

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Aos poucos, a cidade vai se transformando em um canteiro ambiental. As espécies
mais solicitadas e plantadas são o Ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus), Flamboyant
(Delonix regia), Pau d’Arco (Tabebuia) e o Tamarindo (Tamarindus indica). A expectativa do
Programa Floresta Que Te Quero Verde é que cerca de 5.000 árvores e frutíferas sejam
plantadas nos próximos 3,5 anos, como se vê na figura 05.

Figura 05. Muda de Craibeira sendo plantada em um parque da cidade, por alunos da rede pública estadual de ensino
e pela vice-prefeita do município.

Fonte: @bianumeriano (2022).

Até o momento, o Programa Floresta Que Te Quero Verde contabilizou mais de


3.000 mil solicitações de mudas de árvores e frutíferas, e, gerando vários benefícios, como
locais sombreados, redução da temperatura e dispersão de poluentes, aumento da umidade
do ar, entre outras melhorias, tornando o município mais agradável, saudável e confortável
aos florestanos.

CONCLUSÃO

Neste estudo, objetivou-se, apresentar e fazer compreender a idealização e surgimento


do Programa Floresta Que Te Quero Verde, criado pela Prefeitura de Floresta - PE, que
visa fortalecer a qualidade ambiental e proporcionar locais mais saudáveis e de bem-estar,
na zona urbana e rural, por meio do plantio de árvores e frutíferas da Caatinga em aveni-
das, praças e calçadas, como também, em qualquer instituição pública ou estabelecimento
comercial da cidade.
As espécies mais solicitadas e plantadas são o Ipê-roxo (Handroanthus impetigino-
sus), Flamboyant (Delonix regia), Pau d’Arco (Tabebuia) e o Tamarindo (Tamarindus indi-
ca). A expectativa do programa é que cerca de 5.000 árvores e frutíferas sejam plantadas
nos próximos 3,5 anos.

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Até o momento, o programa contabilizou mais de 3.000 mil solicitações de mudas
de árvores e frutíferas, gerando vários benefícios, como locais sombreados, redução da
temperatura e dispersão de poluentes, aumento da umidade do ar, entre outras melhorias,
tornando o município mais agradável, saudável e confortável aos florestanos.

REFERÊNCIAS
1. ALTIERI, M. Agroecologia: Bases Científicas Para Uma Agricultura Sustentável.
3. Ed. rev. ampl. São Paulo, Rio de Janeiro: Expressão Popular, AS-PTA, 2012, 400 p.

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4. BONAMETTI, João Henrique. Arborização Urbana. Revista Terra e Cultura, ano XIX,
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ainda resta da Caatinga? Uma estimativa preliminar. In: Silva, J.M.C., Tabarelli, M.,
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am/35400000/1260/1/MONOGRAFIA_OfertaExporta%C3%A7%C3%A3oCaf%C3%A9.
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206
16
Programa Jovem Empreendedor Apicultor:
Uma oportunidade de geração de emprego e
renda aos jovens do município de Remanso
- Bahia

Aluísio Sampaio Neto Silvio André Vital Junior


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade Federal de Pernambuco - UFPE

Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco Márcia Rejane Lopes Cavalcante


Instituto Federal do Sertão Pernambucano - IFSer- Centro Universitário Tabosa de Almeida - ASCES UNI-
tãoPE TA

José Lincoln Pinheiro Araújo Florisvaldo Cavalcanti dos Santos


EMBRAPA Semiárido Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Antonio de Santana Padilha Neto Enos André de Farias


Universidade do Estado da Bahia - UNEB Universidade do Estado da Bahia - UNEB

Eryka Fernanda Miranda Sobral Reinaldo Pacheco dos Santos


Universidade de Pernambuco - UPE Universidade Federal do Vale do São Francisco - UNI-
VASF

'10.37885/220910325
RESUMO

O empreendedorismo jovem vem crescendo em nosso país. A inquietude, associada à difi-


culdade de conseguir um emprego, tem feito os jovens buscarem o empreendedorismo como
oportunidades de ocupação e geração de renda. Objetivo: Apresentar e fazer compreender
a idealização e surgimento do Programa Jovem Empreendedor Apicultor, criado pela
Prefeitura de Remanso - BA, que visa promover uma oportunidade de emprego e renda aos
jovens da região, por meio da atividade apícola. Método: É um estudo de caráter exploratório
e descritivo, com abordagem qualitativa. Resultados: Lançado em julho de 2022, o programa
beneficia um total de 40 jovens, entre 16 a 29 anos de idade, da Comunidade Xique-Xique,
Zona Rural da cidade. Cada jovem, recebeu 10 caixas com ninho, melgueira, telas excluí-
doras e um “kit” de vestimenta para a retirada segura do mel (máscara, macacão, luvas,
botas, formão, fumigador). Conclusão: Uma importante iniciativa do Governo Municipal para
intensificar o empreendedorismo jovem, a geração de emprego e renda, além de proporcio-
nar a inovação, o estímulo ao mercado de consumo e crescimento da economia regional.

Palavras-chave: Formação, Desenvolvimento, Território Sertão do São Francisco, Prospe-


ridade, Avanço.
INTRODUÇÃO

O empreendedorismo é considerado um projeto ou movimento capaz de alavancar


mudanças, gerar impactos positivos e promover o desenvolvimento econômico em um
país. No Brasil, o empreendedorismo começou a ganhar espaço em meados do ano de
1990, e esse termo se expandiu principalmente pela alta taxa de mortalidade dos pequenos
empreendimentos e pela grande instabilidade econômica advindos da globalização, sendo
que, as grandes organizações precisaram buscar ações para adquirir competitividade, re-
dução de custo, além de, se manter competitivos no mercado (DORNELAS, 2016).
Para tanto, o crescimento e a diversificação das atividades empreendedoras devem-
-se, em grande parte, a crises econômicas, mas, vale destacar que as oportunidades não
param de surgir e de se reinventar. Consequentemente, o empreendedorismo está pautado
na ideia de criação e na iniciativa de geração de renda, se configurando como um veículo
que contribui para o crescimento econômico, sobretudo, propiciando benefícios sociais e
culturais (MINNITI, 2008; RIBEIRO-SORIANO; GALINDO-MARTÍN, 2012).
Deste modo, o empreendedorismo busca visualizar negócios e oportunidades, com
inovação permanente e riscos calculados, com o objetivo de obter rendimentos, reconheci-
mento e crescimento no mercado. Empreendedorismo significa fazer algo novo, diferente,
mudar a situação atual e buscar, de forma incessante, novas oportunidades de negócios,
Segundo Sarkar (2010, p. 31), “empreendedorismo é o processo de identificação, desenvol-
vimento e captação de uma ideia para a vida. A visão pode ser inovadora, uma oportunidade
ou simplesmente uma forma melhor de fazer algo”. O resultado deste processo é a criação
de uma nova empresa, formada em condições de risco e de uma incerteza considerável.
De acordo com o autor supracitado, o empreendedorismo vai muito além da cria-
ção de negócios, reflete uma forma de ver e fazer coisas onde a criatividade tem um
papel fundamental.

CONTEXTUALIZANDO O LUGAR/ESPAÇO DA PESQUISA

O município de Remanso está localizado às margens do Rio São Francisco, perten-


cendo a Microrregião de Juazeiro, no norte baiano. Aquele território não é o mesmo que
gerações passadas viveram: o anterior foi coberto pelas águas que formaram o Lago da
Usina Hidroelétrica de Sobradinho, no final da década de 1970, sendo considerado a época
o maior lago artificial do mundo, cujas águas inundaram diversas cidades no espaço onde
o lago alcançou. “A Remanso antiga primeiro foi um arraial, que pertencera a Manoel Félix
da Veiga e posteriormente, a Joaquim José Gonçalves, por volta de 1829, conforme conta”

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209
(LEDOUX, 2017, p.52). Era um lugar de retirantes descansarem, mas também era uma
cidade de homens valentes, e de muita influência na política regional e estadual.
Conforme Ledoux (2017, p. 54),

O município de Remanso originou-se às margens do Rio São Francisco, por


onde se fizeram os primeiros povoamentos pelos colonizadores no vale. Nos
primeiros anos de colonização, com a dizimação dos indígenas para firmar o
domínio europeu, o território de Remanso passou a pertencer a Pernambuco.
Entretanto, após a contribuição dada à expulsão dos holandeses, o território de
Remanso foi doado à “Casa da Torre” de Garcia D’Ávila que mantinha grandes
propriedades na região. Graças aos objetivos da “Casa Da Torre”, de chegar
ao que hoje corresponde ao território do estado do Piauí, foi construída uma
base no local que corresponde atualmente ao município de Pilão Arcado - BA,
naquela época considerado distrito e vila do município de Juazeiro - BA, que
tinha o intuito de fornecer apoio e descanso aos trabalhadores, além de criação
de currais e exploração de salinas próximas.

O escritor Wilson Lins1, em 1967, que era filho de Pilão Arcado escreveu em sua
obra “Remanso da Valentia”, a saga daquela gente com suas lutas, batalhas, chegadas
e partidas, sempre sob a benção e proteção de São Francisco, que das águas brotavam
peixes em abundância.
O Rio da Integração Nacional ocupou parte do desenvolvimento do norte baiano, servin-
do como estrada para as Gaiolas, no escoamento da produção e no transporte das pessoas
do médio para o alto São Francisco. Durante um período importante da história regional, o
Velho Chico foi o centro de toda a economia da região, sendo por ele abastecido o comércio
dos pequenos vilarejos com mercadorias trazida nos vapores.
Para Ledoux (2017, p. 78),

O transporte fluvial na época era composto por três companhias de navegação


que posteriormente se fundiram em uma só se tornando assim a Companhia de
Navegação do São Francisco. Os vapores mais conhecidos eram o Benjamim
Constant, São Francisco, Barão de Cotegipe e o Guimarães Brás. Existiam
também os pequenos barcos que eram produzidos na celha cidade, numa
pequena fábrica.

Wilson Lins (1967), contava em suas obras, com riqueza de detalhes, aquilo que pre-
senciou na infância e o que vivenciava no presente, no cotidiano encarnado pelas crendices,
memórias e um cenário de riquezas, por onde revisitava localidades como Pilão Arcado,

1 O nome do escritor era Wilson Mascarenhas Lins de Albuquerque. Ele era natural de Pilão Arcado (a antiga cidade também inundada
pelas águas do Rio São Francisco), sendo filho do Coronel Franklin Albuquerque, um dos mandatários da cidade. O mesmo exerceu
cargo político, exercendo o mandato de deputado estadual em várias legislaturas. Pela sua obra, em 1967 foi eleito para a cadeira
38, da Academia de Letras da Bahia.

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Sento-Sé, saindo na Barra e um pouco depois, Ibotirama. Sua influência e a influência de
sua família acabaram levando-o para o campo político.
Pelo Decreto Federal nº 10, de 28 de janeiro de 1977, a sede do município de Remanso
foi transferida para local distante sete quilômetros da cidade velha, onde sua população viu
a chegada das primeiras águas do grande lago. Nesse novo espaço territorial já nasceram
novas gerações cuja história é reescrita todos os dias, pelos 41.008 habitantes, conforme
divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A densidade demográfica no
novo território corresponde a 4.684 km² (IBGE, 2022).

POLÍTICA PÚBLICA

Durante o ápice da renascença, coube aos fisiocratas tecer o pensamento sobre o que
seria o papel do Estado diante do novo cenário que nascia com “a era das luzes” e com o
apagar dos absolutistas. Um novo cenário estava sendo formatado, com teorias que extinguia
o papel supremo da monarquia e que colocava no poder, pessoas escolhidas pelo povo, ou
mesmo, representantes do povo perante os reis e rainhas que viriam a permanecer em seus
tronos, como “déspotas esclarecidos” ou mesmo renunciando ao privilégio real de comandar
o Estado, em nome do parlamentarismo.
Os fisiocratas passaram a construir análises sobre o papel do Estado perante o povo,
criando teses como foi a do liberalismo, por Adam Smith. Coube a Adam Smith apontar em
“A riqueza das nações”, livro composto por dois volumes, escrito em 1776, que não cabia
ao Estado intervir na economia, nas liberdades individuais e na propriedade. Segundo seu
pensamento, o indivíduo deveria ser livre para decidir todos os aspectos relacionados à sua
existência, seus negócios, suas relações sociais, trabalhistas e com o dinheiro. Uma nação
rica era aquela que aceitava que seus membros fossem bem-sucedidos, e que fazem gerar
riquezas a partir do bom uso do seu capital, como frisou Smith (1983).
O Estado enquanto ente detentor do poder de controlador social, não poderia intervir
na economia, antes, deveria incentivar sua população a produzir riquezas. Quando o Estado
intervém demais, gera déficit de concorrência, cujos sujeitos passam a ser dependentes do
mesmo, não alcançando suas independências econômicas. O Estado não deveria se con-
fundir com seu povo, antes, deveria lutar por ele, como menciona Smith (1983).
Passados dois séculos da construção idearia de Adam Smith, um novo olhar para sua
teoria é lançado, e ganha força com a crise do petróleo, na década de 1970. Dar-se o nome
de “neoliberalismo” a essa nova teoria, que critica práticas de políticas estatais voltadas
para o bem-estar social. Segundo Pena (2019), o neoliberalismo é uma crítica pontual ao

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Keynesianismo2, que nasceu durante a crise da bolsa de valores de Nova Iorque, no final
da década de 1920. No Keynesianismo as políticas de proteção social fazem parte do en-
redo de virtudes do Estado, mas são atacadas pelos novos liberais, quem apontam para a
desvirtuação do papel do Estado quando interfere no mercado, regulando contratos, carga
horária de empregados, ou mesmo, controlando o preço da cesta básica.
Mas o que seria da população brasileira sem a mão forte do Estado durante períodos
de crises? Em 2020 e 2021, o mundo passou por uma pandemia sem precedência na história
recente. Um vírus abalou o mundo, trancando a população em suas casas, vigiando aque-
les cujas ações acabavam provocando novas contaminações. Tudo parou, da produção ao
turismo. Como então não deixar que quase 7 bilhões de pessoas não morressem de fome?
Coube ao Estado não deixar que isso viesse acontecer.
O Estado é um ente de “mão forte”, cujo alcance deve chegar a todos, e suas políticas
públicas devem servir aqueles que mais precisam. Foi assim na pandemia da COVID-19
quando desonerou a folha de pagamento, eliminando tributos sobre a receita bruta das em-
presas, evitando o desemprego em massa, e contribuindo para o crescimento da produção e
manutenção dos empregos formais. É assim quando bancos públicos apoiam pequenos pro-
dutores ou criadores, emprestando dinheiro para compra de insumos, melhoria do rebanho,
ou mesmo para reposição de estoques, com juros pequenos e prazos alongados. As políticas
públicas são necessárias e urgentes, e cabe ao Estado constitui-las para ajudar o pequeno
produtor, o pequeno comerciante, a empresa que opera, que contrata, que produz riqueza.
Delimitando nosso olhar para o espaço de observação, diríamos que o Semiárido
brasileiro, onde o município de Remanso - BA está localizado, desde o período colonial que
recebe investimentos públicos. Primeiramente, para combater as secas mais prolongadas,
evitando assim migrações em massa para os grandes centros. Depois percebe-se que
não há como combater as secas, que elas são cíclicas, que elas voltam em períodos de
10 em 10 anos, portanto, era necessário pensar uma possibilidade de convivência com o
Semiárido. A Declaração do Semiárido de 19993, é uma ruptura com esse olhar nefasto da
utilização política dos investimentos públicos.
A Articulação do Semiárido (ASA), fórum de organizações e instituições não-governa-
mentais, passa a cobrar ações de permanência do homem no campo, propondo construir
uma consciência de permanência ao invés de uma consciência de desapego. As tecnologias

2 Keynesianismo é uma teoria econômica formulada pelo economista John Maynard Keynes (1883/1946). O mesmo defende a plena
ação do Estado nas políticas econômicas para atingir o pleno emprego e o equilíbrio econômico.
3 Documento formalizado pela Articulação do Semiárido (ASA), em 1999, cujo teor visa uma ruptura com as ações do combate à seca,
apontando para medidas estruturantes voltada ao desenvolvimento sustentável da região nordeste, pautando um conjunto de medi-
das políticas e práticas de convivência com o Semiárido.

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sociais apropriadas passam a servir como base desse novo olhar. Uma das primeiras políticas
desse novo olhar, é a concretização do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). A ASA
concretiza o P1MC em 1999, sendo abraçado pela Igreja Católica através das pastorais ru-
rais, e em 2003, passa a incorporar a agenda de políticas públicas emergenciais de fomento
a convivência com o Semiárido brasileiro.
O Programa Jovem Empreendedor Apicultor, objeto de análise, é um desses programas
de fomento. O mesmo foi pensado pela Prefeitura de Remanso - BA, com apoio e concepção
do Sindicato dos Produtores Rurais de Remanso, buscando aprimorar no seio da juventude
rural daquela urbe, a garantia de renda com a apicultura, a preservação dos ecossistemas,
e a formação de uma consciência ambiental coletiva. São práticas de sustentabilidade que
efetiva a permanência do homem no campo e gera condições de fixação do mesmo no
Semiárido brasileiro.
As políticas públicas aparecem como um dos instrumentos de concretização do direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo necessárias para que se alcancem
patamares cada vez mais elevados do nível de proteção de tal direito. Assim, a adoção de
medidas retrocessivas, em relação aos estágios protetivos já alcançados, enseja verdadeira
ofensa ao próprio direito fundamental de tutela do meio ambiente que se busca concretizar
(RAMACCIOTTI, 2020).
As políticas públicas definem-se como sendo ações, realizadas pelos governos, com
o objetivo de assegurar o bem comum e melhores condições para uma vida digna. Além
disso, por meio das políticas públicas, identificam-se prioridades – diante da escassez de
recursos disponíveis, não é possível atender a todas as demandas sociais e aplicam-se
os recursos de acordo com um planejamento, visando à consecução de objetivos estabe-
lecidos (DIAS; MATOS, 2017 apud RAMACCIOTTI, 2020, p. 689). “São os programas de
ação do governo para a realização de objetivos determinados num espaço de tempo certo”
(BUCCI, 1997, p. 95).

APICULTURA

Desde o início do século XXI, a comercialização de mel brasileiro tem crescido tanto
nacionalmente como internacionalmente (RÊGO et al, 2017). A apicultura em geral, é uma
atividade de baixo custo de implantação e manutenção. A mesma, consegue aproveitar a
maior parte da população rural ativa, podendo ser fonte de emprego e renda. Porém, obser-
va-se que os apicultores são poucos instruídos com relação a potencialidade dessa atividade,
dando uma importância maior a criação de caprinos e ovinos, somando-se a isso, a falta de
políticas públicas direcionadas ao segmento, bem como, o baixo estímulo aos produtores
e baixo nível de investimentos por parte dos governos locais (PADILHA NETO et al; 2021).

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Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreender
a idealização e surgimento do Programa Jovem Empreendedor Apicultor, criado pela
Prefeitura de Remanso - BA, visando promover uma oportunidade de emprego e renda
aos jovens da região, beneficiando um total de 40 jovens, entre 16 a 29 anos de idade, da
Comunidade Xique-Xique, Zona Rural da cidade.

METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido em Remanso - BA. O município está localizado no interior


do estado, no Território Sertão do São Francisco (figura 1), distante aproximadamente 717
km da capital baiana, Salvador, à margem direita do Rio São Francisco, tendo acesso pelas
rodovias BR-235, BR-407, BR-116 e BR-324, e que, de acordo com o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), possui uma população estimada em 41.324 mil habitantes.
A população de Remanso convive com restrições naturais típicas da região do Semiárido
brasileiro, chuvas escassas, irregulares, longos períodos de estiagem e, que, entretanto,
buscam nas potencialidades do município, os recursos necessários para a vivência.

Figura 01. Mapa do Território Sertão do São Francisco.

Fonte: SEI/SEPLAN (2012).

Deste modo, este é um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem


qualitativa, desenvolvido a partir do método fenomenológico, que é empregado em pesquisa
qualitativa, e preocupa‐se com a descrição direta da experiência como ela é, sendo que a
realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
A fenomenologia é classificada como sendo uma corrente filosófica cujo precursor foi
o filósofo e matemático Edmund Husserl, que nasceu no ano de 1859 na Moravia (atual
República Tcheca), e faleceu em 1938. Sua obra literária é marcada profundamente pela
preocupação com a crise das ciências, especialmente no tocante à compreensão dos
fenômenos humanos.

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“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importantes
contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de seu
legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito da
construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “revo-
luções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):

O pressuposto humanista da autonomia é diferente. Nele o ser humano não


é visto como simples resultado de múltiplas influências, mas como o iniciador
de coisas novas. As pesquisas que estão a serviço desta forma humanista de
atendimento são principalmente qualitativas, descritivas de vivências subjetivas,
buscando explicitar seus significados potenciais em relação a algum contexto
e habilitando o profissional com uma visão mais ampla do ser humano, pois é
isso que o torna mais apto a oferecer aquela relação libertadora (AMATUZZI,
2009, p. 6).

De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as di-
ferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os diferentes
posicionamentos existentes no meio social.
Já o estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Programa Jovem Empreendedor Apicultor

Com objetivo de promover uma oportunidade de emprego e renda aos jovens reman-
senses, por meio da atividade apícola, a prefeitura municipal, em parceria com o Sindicato
dos Produtores Rurais de Remanso (SPRR), Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e
Esporte da Bahia (SETRE), e Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR),
uma empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia (SDR), criou o
Programa Jovem Empreendedor Apicultor (figura 2).

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Figura 02. Mídia de divulgação do Programa Jovem Empreendedor Apicultor.

Fonte: PMR (2022).

Lançado em 24 de julho de 2022, o programa beneficia um total de 40 jovens, entre 16 a


29 anos de idade, da Comunidade Xique-Xique, Zona Rural da cidade. Cada jovem, recebeu
10 caixas com ninho, melgueira, telas excluídoras e um “kit” de vestimenta para a retirada
segura do mel, contendo máscara, macacão, luvas, botas, formão e fumigador (figura 3).

Figura 03. Uma jovem recebendo o “kit” de vestimenta pelas mãos do prefeito.

Fonte: PMR (2022).

O Programa Jovem Empreendedor Apicultor dispõe de capacitação e assistência


técnica especializada, proporcionando aos jovens uma formação profissional para o desen-
volvimento da atividade apícola na localidade.

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A apicultura é uma atividade interessante, pois não se faz necessário um grande vo-
lume de terras, é de baixo impacto ambiental, traz retorno financeiro em curto prazo, e, o
município de Remanso é bastante favorável para o desenvolvimento da atividade.

CONCLUSÃO

Neste estudo, objetivou-se, apresentar e fazer compreender a idealização e surgimento


do Programa Jovem Empreendedor Apicultor, criado pela Prefeitura de Remanso - BA,
com vistas a promover uma oportunidade de emprego e renda aos jovens da região, por
meio da atividade apícola, beneficiando um total de 40 jovens, entre 16 a 29 anos de idade,
da Comunidade Xique-Xique, Zona Rural da cidade.
Cada jovem participante do programa recebeu os equipamentos necessários para o
desenvolvimento da atividade de apicultura, e, ainda, formação especializada.
Uma importante iniciativa do Governo Municipal para intensificar o empreendedoris-
mo jovem, a geração de emprego e renda, além de proporcionar a inovação, o estímulo ao
mercado de consumo e crescimento da economia regional.

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17
Sistema Agroflorestal: experiências e
prática de implantação na horta Rio
Grande, Fronteira-MG

Jhansley Ferreira da Mata Gabriel Longuinhos Queiroz


Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG

Cássia Augusta Santos Gabriel Gomes Mendes


Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG

Angela Miazaki Vanesca Korasaki


Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG Universidade do Estado de Minas Gerais - UEMG

'10.37885/220910198
RESUMO

Mudanças constantes nos padrões de uso da terra e o manejo inadequado têm amea-
çado a estabilidade dos serviços ecossistêmicos essenciais, causando distúrbios am-
bientais. O Sistema Agroflorestal (SAF) garante a integridade ambiental do uso da terra
e desempenha um papel fundamental na sustentabilidade e diversificação da produção
agrícola. O trabalho teve como objetivo descrever as etapas dos conhecimentos empírico,
holístico e sistemático que envolvem o sistema agroflorestal, caracterizando as etapas de
planejamento, implementação, desenvolvimento e produção, adquirido durante a vivência
na Horta Rio Grande, município de Fronteira-MG. Foi organizado um curso teórico-prático,
realizado de março a novembro de 2017, com encontros mensais. Posteriormente, foi de-
finido o modelo a ser trabalhado, com maior diversidade de plantas, chamado de quintal
florestal, ou modelo consorciado e diversificado, com a finalidade de aumentar a diversidade
dos produtos a ser ofertado para a comunidade. Neste sentido e diante do que foi exposto,
a prática agroflorestal representa uma resposta ao desafio da conciliação entre a sustenta-
bilidade na produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental.

Palavras-chave: Agricultura Familiar, Agrofloresta, Biodiversidade, Sustentabilidade.


INTRODUÇÃO

O modelo convencional de produção agrícola tem causado transformações profundas


na paisagem rural, conduzindo ao declínio da biodiversidade, perturbando o equilíbrio natural
dos ecossistemas, comprometendo a base de recursos naturais, da qual os seres humanos
e a agricultura dependem (GLIESSMAN, 2005; LANNER, 2012). Diante da sensibilização
da conservação ambiental, e considerando a necessidade de sistemas produtivos susten-
táveis que valorizem os aspectos ambientais, econômicos e sociais, surgem os sistemas
agroflorestais (SAF’s), como alternativas sustentáveis para aumentar os níveis de produção
agrícola, animal e florestal (RIBASKI; MONTOYA; RODIGHERI, 2001).
Os SAF’s são responsáveis por proporcionar melhores condições produtivas às uni-
dades de exploração agrícola, sendo um modelo de cultivo guiado na construção de alter-
nativas sustentáveis de produção, lançando mão de conhecimentos ecológicos modernos,
populares e tradicionais para modelar e manejar o agroecossistema, enxergando o solo
como um organismo vivo e complexo, sob uma visão holística e sistêmica, e este modelo
está intimamente ligado com a agroecologia (CAPORAL; COSTABEBER, 2004).
Sendo um modelo dinâmico baseado no manejo de recursos naturais diversificados,
por meio da integração de árvores, cultivos agrícolas e animais, que contribuem para a
sustentabilidade da produção, promovendo o aumento significativo dos benefícios ambien-
tais, econômicos e sociais nas propriedades rurais (LEÔNIDAS et al., 1998). Os SAF’s são
inspirados na dinâmica cíclica das florestas onde a diversidade biológica possibilita maior
aproveitamento dos recursos naturais (luz, solo, água e nutrientes) em função das diferentes
características e necessidades nutricionais de cada espécie, dentro de uma determinada
área, melhorando assim a economia local (ALMEIDA et al., 2002).
Contemporaneamente, existem diferentes tipos de agroflorestas, visto a complexidade
e aplicação dos princípios ecológicos, objetivos de produção e características socioeconô-
micas. No entanto, a característica comum entre eles está na preocupação em reproduzir
ao máximo a arquitetura das formações naturais, tendo em vista o conhecimento prévio
das espécies utilizadas, considerando seu tempo e o espaço, a fim de reproduzir de forma
natural, para melhor aproveitamento da radiação, umidade e nutrientes (ROCHA, 2014;
NARDELE; CONDE, 2010).
Como práticas agroecológicas os SAF’s consideram o papel fundamental dos proces-
sos ecológicos, como a decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, fluxo
de energia, sucessão ecológica, regulação de populações e as relações complexas interde-
pendentes na promoção das melhores condições de solo que permitem a produção agrícola
sustentável (GLIESSMAN, 2015). Além de contribuir para conservação do meio ambiente, os
benefícios dos sistemas agroflorestais despertam interesse de pesquisadores e produtores

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rurais, por estarem associados à produção de alimentos e oferecerem produtos agrícolas
de qualidade, livre de agrotóxicos, em ambientes florestais, incrementando a geração de
renda em comunidades agrícolas.
Este trabalho tem como objetivo descrever as etapas dos conhecimentos empírico,
holístico e sistemático que envolvem o sistema agroflorestal, caracterizando as etapas de
planejamento, implementação, desenvolvimento e produção, adquirido durante a vivência
na Horta Rio Grande, município de Fronteira-MG.

DETALHAMENTO DA EXPERIÊNCIA

O trabalho proposto foi realizado na Horta Rio Grande, município de Fronteira-


MG. A propriedade apresenta certificação orgânica, Certifica Minas pelo Instituto Mineiro
de Agropecuária (IMA) desde 2016, além, das certificadoras Brota Cerrado e Associação
de Agroecologia Familiar (ECOFAM) em 2019. O trabalho foi baseado em um curso teóri-
co-prático realizado na Horta Rio Grande para a Implantação de Sistemas Agroflorestais,
ministrado pelo Sr. Marcelo Fabiano Sambiase, realizado de março a novembro de 2017,
com encontros mensais.
O curso foi baseado na vivência, por meio de um processo participativo das comu-
nidades e instituições de interesse para a implantação do sistema agroflorestal em suas
propriedades ou a disseminação do conhecimento. Durante o curso, o palestrante explicou
as etapas da implantação e os participantes trocavam informações e sanavam as dúvidas.
Durante as vivências as bases teóricas para a implementação do sistema agroflorestal fo-
ram discutidas, aplicando a sensibilização agroecológica (ambiental, social e econômica) e
estimulando a educação acerca da produção, preservação e conservação do meio ambiente
propriamente dito (solos, animais e espécies nativas da região), para a mitigação dos im-
pactos das atividades agropecuárias e da melhoria nas condições de produção, geração de
renda e segurança alimentar para as famílias das comunidades.
No primeiro momento foi repassado o conhecimento empírico, holístico e sistemático
sobre o sistema agroflorestal e a importância da aplicação biodinâmica. A área de implan-
tação do sistema agroflorestal foi demarcada e os berços foram preparados para o plantio
das espécies arbóreas selecionadas, sendo em consórcio ou realizando rotação de cultura,
levando em consideração a necessidade fisiológica de cada espécie, e as características
físicas, químicas e biológicas do solo. Como o curso foi realizado por meio de conhecimento
teórico e prático (vivências), ocorreu grande troca de saberes, onde cada um pôde relatar
as reais necessidades das suas propriedades e então, pode-se pensar em adaptação para
cada área, região e sistema tecnológico de cada produtor rural. Todos esses passos foram

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anotados e descritos em tópicos nesse trabalho, juntamente com um levantamento teórico
sobre os sistemas agroflorestais, com base na agroecologia.

DISCUSSÃO

O sistema agroflorestal como sistema agrícola

Globalmente a agricultura convencional é uma das atividades mais impactantes sobre o


ambiente, utilizando em torno de 80% da água doce disponível, provocando processos ero-
sivos e contaminações ambientais (podendo ser irreversíveis) em escala elevada (GANEM,
2015). No Brasil, este quadro é alarmante, pois desde o ano de 2016, o país passou a ser
o maior consumidor de agrotóxicos, ocupando o primeiro lugar no ranking mundial de con-
sumo (INPE, 2016).
Apesar do caráter alarmante, o uso de agrotóxicos que em outros países estão proi-
bidos, é prática normal no Brasil. Segundo a Anvisa, dos 50 agrotóxicos mais utilizados
nas lavouras de nosso país, 22 são proibidos na União Europeia (CARNEIRO et al., 2015),
mostrando a ineficiência por parte dos gestores, no tocante a tomada de decisões favorá-
veis e metodologias alternativas de cultivo e exploração sustentável dos recursos naturais.
A diferença de orientação do processo produtivo, como proposto na prática agroflo-
restal, contribui para a sustentabilidade da produção de alimentos, além disto, o desafio de
conservar as áreas de florestas e recuperar as áreas degradadas, harmonizando agricultura
e conservação dos recursos naturais, pode ter nos Sistemas Agroflorestais (SAF’s) uma
alternativa viável e eficiente.
O Ministério do Meio Ambiente, por meio da Instrução Normativa nº 05 de 2009, define
Sistema Agroflorestal como:

Sistema de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas perenes são


manejadas em associação com plantas herbáceas, arbustivas, arbóreas, cultu-
ras agrícolas, forrageiras em uma mesma unidade de manejo, de acordo com
arranjo espacial e temporal, com alta diversidade de espécies e interações
entre estes componentes (MMA, 2009, s.p.).

As agroflorestas contemplam os princípios básicos e preenchem os requisitos da sus-


tentabilidade, em função da inclusão de árvores no sistema de produção, uso de práticas de
manejo que otimizam a produção combinada, geração de numerosos serviços ambientais,
além de possibilitar renda ao longo do ano, por meio da comercialização dos diferentes
produtos obtidos no agroecossistema (GLIESSMAN, 2005).

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A partir desta compreensão entende-se que os sistemas agroflorestais apresentam
maior capacidade de resiliência e maior sustentabilidade quando comparados ao sistema
convencional de cultivo e manejo do solo (CAPORA; PAULUS; COSTABEBER, 2009).
A produção integrada com a floresta aproveita todos os recursos existentes, mantendo
as principais dinâmicas ecológicas que a natureza levou milhares de anos para estabelecer,
diminuindo o gasto de energia com o manejo. Assim, Caldeira (2011) relata diferentes mo-
delos de SAF’s, onde deve ser elaborado um planejamento sobre como seria a produção a
curto, médio ou longo prazo, quais as variedades herbáceas, arbustivas e arbóreas que no
espaço escolhido melhor se adaptariam e a diversidade de cultivos. O referido autor exem-
plifica o planejamento das melhores variedades que se adaptariam na área escolhida e que
tenha uma produção constante durante as diferentes estações do ano, com uma variedade
de produtos satisfatória, diminuição de manutenção, aumento da diversidade faunística e
diminuição de pragas e doenças, sem necessidade de usar agrotóxicos.
O primeiro modelo exemplificado mostra que as plantas podem ser cultivadas em linhas
de forma ordenada, protegendo o solo com serapilheira, restaurando e fertilizando o solo
de forma natural, enriquecendo e alcançando o equilíbrio biológico. O segundo modelo de
SAF é aquele em que o cultivo imita a organização da natureza, oferecendo oportunidade
dos diferentes tipos de raízes ocuparem melhor os espaços do solo sem causar dano ao
seu desenvolvimento e aproveitando seus nutrientes, ajudando a manter sua estabilidade e
nos fazendo refletir que podemos garantir a soberania alimentar se nos preocuparmos com
a diversidade das espécies, com a proteção, o armazenamento e a disponibilidade de água
com qualidade (CALDEIRA, 2011).
Segundo o trabalho desenvolvido pelo Instituto IPOEMA, os estágios de uma agro-
floresta estão relacionados ao fator tempo, ou seja, ao ciclo de vida de cada consórcio de
plantas que escolhemos (ROCHA, 2014). Os estágios representam o conjunto de espécies
que predominam ao longo dos anos nas agroflorestas, valendo ressaltar que agrofloresta
não é um tema novo, vem sendo utilizado há milhares de anos. São eles:

Tabela 1. Estágios e ciclo de vida da agroflorestal.

NOME DO ESTÁGIO CICLO DE VIDA


Placenta 1 de 0 a 6 meses
Placenta 2 de 6 meses a 1,5 ano
Secundária 1 de 1,5 ano a 5 anos
Secundária 2 de 5 anos a 15 anos
Secundária 3 de 15 anos a 50 anos
Primária de 50 anos a 80 anos
Transicional acima de 80 anos
Fonte: Rocha (2014).

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A coexistência de múltiplas relações em ambientes de SAF’s, corrobora com o desen-
volvimento qualitativo e quantitativo dos nichos ecológicos, incrementando a biodiversidade,
visto que, quanto maior a variação de relações e processos no conjunto das espécies, maior
será a diversidade funcional da agrofloresta, e consequentemente o funcionamento do ecos-
sistema em formação (DÍAZ; CABIDO, 2001). Segundo Caporal, Paulus e Costabeber (2009)
os SAF’s são classificados de acordo com a natureza e arranjo de seus componentes em:

• Silviagrícolas: combinação de árvores e/ou de arbustos com culturas agrícolas


(Figuras 1A e 1B);
• Silvipastoris: combinação de árvores e/ou de arbustos com pastagens e/ou ani-
mais (Figuras 1C e 1D);
• Agrossilvipastoris: combinação de árvores e/ou arbustos com culturas agrícolas,
pastagens e/ou animais (Figuras 1E e 1F).

Figura 1. Classificação do Sistema Agroflorestal. A e B - Modelo Silviagrícola; C e D - Modelo Silvipastoril; E e F – Modelo


Agrossilvipastoris.

Fonte: Korasaki, 2019 (Figuras. C e E); Unsplash.com. (Figuras. A, B, D e F). Disponível em: https://unsplash.com/s/photos/livestock.
Acesso em: 10 jul. 2020.

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Também são formas de cultivos agroflorestais praticados em regiões tropicais
(NAIR, 1985) os:

• Quintais agroflorestais: O quintal agroflorestal, também chamado de horto casei-


ro ou pomar caseiro, consiste na associação de espécies florestais, agrícolas, me-
dicinais, ornamentais e animais, ao redor da residência, com o objetivo de fornecer
várias formas de bens e serviços (LUNZ, 2007).
• Cultivo de faixas em culturas perenes: Consiste em plantar as culturas em faixas
de largura variável, de tal forma que, a cada ano, se alternem em determinada área,
plantas com cobertura densa e outras que ofereçam menor proteção ao solo, sendo
as faixas dispostas sempre em nível (ZONTA et al., 2012).
• Multiestratos: Este sistema é definido como policultivos multiestratificados ou sim-
plesmente agrofloresta. É uma mistura de um número limitado de espécies perenes
associado a outras espécies vegetais, formando diversos estratos verticais. É um dos
modelos mais utilizados nos estados do Acre, Amazônia e Rondônia (ALVES, 2009).
• Capoeira melhorada: Consiste no enriquecimento da capoeira por meio da intro-
dução de espécies secundárias e intervenções como desbastes e cortes de cipós,
favorecendo a regeneração (ALVES, 2009).
• Cerca viva: A cerca viva atua como filtro natural segurando a poeira, pó de asfalto
e outras impurezas. São utilizadas em questão que envolve segurança e privaci-
dade, delimitação de espaços, redução de ruídos e poluição, funcionando como
quebra-vento. E é conforme sua função que se escolhe a espécie mais apropriada,
as opções são inúmeras (YONEYA, 2010).

No tocante à presença dos componentes dos SAF’s ao longo do tempo, distinguem-se


duas principais categorias, segundo May e Trovatto (2008):

• SAF’s concomitantes (ou simultâneo): onde todos os componentes são associa-


dos no mesmo período, durante todo o ciclo das culturas existentes (por exemplo:
o consórcio “café – ingá – louro-pardo”);
• SAF’s sequenciais: onde há uma relação cronológica entre os componentes do
sistema, se sucedendo no tempo, como é o caso da sequência “lavoura branca -
capoeira - lavoura branca”.

Como exposto, a prática da agrofloresta visa potencializar os processos de acumulação


de biomassa, formando sistemas altamente produtivos e eficientes funções ambientais, sob
este contexto, e ao interagir com os princípios agroecológicos, os SAF’s potencializam a

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transição de modelos simplificados em modelos de produção complexos por meio de estra-
tégias participativas e sistêmicas, reconhecendo o potencial endógeno e sociocultural local.

Sistemas agroflorestais como práticas agroecológicas

Os sistemas agroflorestais (SAF’s), conduzidos sob uma lógica agroecológica, promo-


vem visão holística e integrada dos agroecossistemas e se relacionam com a agrobiodiversi-
dade ao integrar valores socioculturais e manejo ecológico dos recursos naturais (NODARI;
GUERRA, 2015). Sob este ponto de vista, os SAF’s consideram o papel fundamental dos
processos ecológicos (decomposição da matéria orgânica, ciclagem de nutrientes, fluxo de
energia, sucessão ecológica, regulação de populações, entre outros) na promoção das condi-
ções de solo e produção agrícola sustentável (ARMANDO et al., 2003; GLIESSMAN, 2015).
Para Götsch (1995) esta prática transcende qualquer modelo pronto e sugere susten-
tabilidade a partir da escolha e combinação das espécies, densidade adequada, capina e
podas seletivas, cobertura do solo com material vegetal, aproveitando os conhecimentos
locais e desenhando sistemas adaptados para o potencial natural do lugar. São sistemas
fundamentados em interações sistêmicas, como as condições climáticas, ambientais e fi-
siológicas, determinantes para o crescimento e desenvolvimento das culturas, e envolvem
processos físicos, químicos e biológicos extremamente complexos (CAMARGO, 2016).
A implantação e desenvolvimento da agrofloresta depende de alguns fatores impor-
tantes como: observação do agricultor, manejo, compreensão de como a própria natureza
se recupera e se recompõe, escolha das espécies adequadas à região, combinação correta
das espécies, de forma a minimizar a competição e observação do espaçamento adequado
(LAMÔNICA; BARROSO, 2008). Os modelos que possuem muitas espécies e buscam re-
produzir nos SAF’s os processos do ecossistema florestal potencializam a geração de dife-
rentes produtos e serviços ecossistêmicos, colaborando com a renda dos produtores rurais.
Quanto mais diversificados e integrados forem os sistemas de cultivos e criações, mais
próximos estarão da sustentabilidade ambiental desejada e possível. Logo, um dos primeiros
passos da aplicação da Agroecologia aos sistemas produtivos, deve ser a ampliação (ou
manutenção) da biodiversidade. Portanto, a meta deve-se estar no redesenho dos agroe-
cossistemas, considerando o conjunto das relações bióticas e abióticas que ocorrem nos
sistemas manejados pelo homem.

Implantação agroflorestal

No processo de implantação do sistema agroflorestal devem ser considerados os aspec-


tos relacionados à realidade cultural da comunidade, objetivos do proprietário, tipo e tamanho
da produção, histórico de uso da terra, mão de obra disponível e custos da implantação.

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Nardele e Conde (2010) ressaltam que devem ser observadas características físicas locais
como relevo, solo, orientação das vertentes, vegetação nativa, direção e intensidade dos
ventos, disponibilidade de água, entre outros fatores, a fim de potencializar o desenvolvi-
mento da agrofloresta.
Os SAF’s devem imitar ao máximo a natureza na composição das espécies e no pro-
cesso de sucessão ecológica (BERTOLOTO, 2014). Odum e Barrett (2007) ressalta que
muitas espécies possuem comportamentos diferentes quando estão em conjunto com outras
espécies, assim, fatores como competição, mutualismo e simbiose devem ser considerados
no processo de implantação agroflorestal.
Tezza (2012) considera a importância da introdução de espécies de ciclo curto, médio
e longo, para fornecimento de produtos desde o primeiro ano de implantação, permitindo a
utilização de culturas perenes, que ao longo do tempo irão diminuir a demanda de mão de
obra, mas continuarão gerando renda aos proprietários. Outro aspecto a ser considerado na
implantação dos SAF’s é o movimento cíclico dos nutrientes, visto que as plantas absorvem
do solo e os usam nos processos metabólicos.
Gliessman (2005) discorre que nos ecossistemas a ciclagem de nutrientes está rela-
cionada ao movimento circular de fluxo de energia, e os nutrientes ao se decomporem são
novamente disponibilizados nas camadas mais superficiais, facilitando a absorção pelas
plantas. Visando a produção sustentável e sem necessidade de entrada de insumos ex-
teriores ao processo, é importante a utilização de espécies que servirão para adubação
verde e cobertura viva do solo, pois elas desempenham funções de fixação de nutrientes e
aumentam a taxa de matéria orgânica no solo (DANIEL et al., 2014).
A produção agroflorestal gera impactos positivos conforme as características funcionais
do ecossistema, neste sentido, o conjunto de informações socioeconômicas, associado às
potencialidades locais possibilitam o desenvolvimento adequado da agrofloresta.

Desenvolvimento agroflorestal

O desenvolvimento em Sistemas Agroflorestais (SAF’s) envolve o conhecimento de


processos vitais presentes na natureza, como ciclos biogeoquímicos e relações ecológicas,
para identificar e ampliar a fertilidade, produtividade e biodiversidade agroecossistêmica
(OLIVEIRA, 2014). Nestes sistemas, a fertilidade da terra e do ambiente é produzida de for-
ma coordenada, cooperativa e sequencial pelos consórcios de seres vivos que nela vivem.
Desde o início do desenvolvimento agroflorestal é importante criar mecanismos para
provisão de matéria orgânica ao longo do tempo, tanto na organização do terreno como nos
canteiros e entrelinhas (ENGEL, 1999). No primeiro são plantadas todas espécies planejadas

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para o consórcio e no segundo serão selecionados os indivíduos para produção de grande
quantidade de matéria orgânica.
Após a retirada da cobertura (viva e morta) que está sobre o solo, faz-se o plantio das
espécies selecionadas nos canteiros, aproveitando ao máximo o espaço e direcionando
sementes e mudas para que venham a ocupar da melhor forma possível seus estratos ao
longo do processo sucessional (SIMÕES, 1989). O plantio é realizado em “berços”, faixas
de terra no qual as plantas são semeadas, considerando suas necessidades de desenvol-
vimento e ciclos (curto, médio, longo).
Nas agroflorestas, ocorre manejo intensivo de plantas, especialmente no plantio, na
poda e na organização do material podado no solo. Todo o material podado é picado e co-
locado de maneira a facilitar o processo de decomposição, garantindo a cobertura do solo
e reduzindo a regeneração de espécies inadequadas àquele momento da sucessão da
agrofloresta, conforme explica Miccolis et al. (2016).
Desde que os sistemas atendam aos critérios ambientais, podem ser incluídas diver-
sas espécies com função de gerar diferentes benefícios para a família, como, segurança
alimentar, remédios, fibras, energia, entre outros. Uma vez escolhidas as principais espécies
a serem implantadas nos SAF’s, é possível iniciar o planejamento econômico, valorizando
e planejando o manejo dos diferentes produtos da biodiversidade.
Conduzidas sob lógica agroecológica, os SAF’s transcendem qualquer modelo pronto e
incorporam a sustentabilidade quando se desenham agroecossistemas adaptados ao poten-
cial natural do lugar, aproveitando os conhecimentos locais. Neste sentido, não existem mo-
delos, e sim, princípios, fundamentos e práticas que devem ser adaptadas a cada realidade.

Agrofloresta e sua produção

Os Sistemas Agroflorestais (SAF’s) constituem-se modalidades viáveis de uso da terra,


que permitem aumento produtivo, total ou de maneira escalonada, por meio da integração
de florestas com culturas agrícolas e/ou criações, aplicando práticas de manejo compatíveis
com os padrões culturais da população local (MACEDO, 2000).
Em decorrência das interações ecológicas, e econômicas entre os diferentes compo-
nentes, as agroflorestas são sistemas estrutural e funcionalmente mais complexos que as
monoculturas (DANTAS, 1994). A própria natureza diversificada dos SAF’s, em que diferen-
tes organismos compartilham o mesmo espaço, o ambiente físico influencia e interage com
os demais sistemas de modo complexo ao longo das fases de cada ciclo, com reflexos no
crescimento das culturas (VALERI et al., 2003).

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Conforme a agrofloresta se desenvolve, haverá maior diversificação de produção e
consequentemente aumento da renda familiar (NEVES, 2014). Segundo Souza e Junqueira
(2007, p. 23-24) em SAF’s:

Pode estar produzindo espécies de início de sucessão (arroz, milho, feijão)


numa parcela enquanto as outras espécies ainda estão crescendo, colhendo
outras plantas como mandioca, mamão, maracujá em outra parcela, enquanto
as árvores que estão juntas encontram-se ainda em crescimento, e tirando
produção de frutas, lenha e madeira em parcelas mais avançadas na sucessão.

Para que possamos produzir alimentos de forma sustentável, mantendo as melho-


res condições locais, aproveitando da melhor forma possível à energia solar, procura-se
plantar muitos tipos de plantas, de diferentes espécies e tempos de vida, combinando-as,
de forma que possam ocupar todos os estratos. Conforme o agroecossistema atinge sua
maturidade, pode-se baixar os produtos e recomeçar o processo, tendo grande quantidade
de matéria orgânica sobre o solo em excelentes condições para cultivar as espécies para
nossa alimentação.
Ressalta-se a importância da sensibilidade e observação do pesquisador no manejo
do agroecossistema, sendo necessário que ele perceba a complexidade das relações no
sistema produtivo, os processos ecológicos, ciclos de nutrientes, interações predador/presa,
competição, mutualismo e sucessões, procurando entender o funcionamento, mediante a
sistematização e consolidação de saberes e práticas (empíricos tradicionais ou científicos).

Estudo de caso

A Fazenda Rio Grande (Figura 2) abrange uma área aproximadamente 49 hectares, às


margens do Rio Grande, próximo à BR-153, no município de Fronteira, MG. O clima da região
é o AW, segundo a classificação de Köppen (ALVARES et al., 2014), caracterizado como
clima tropical de savana com inverno seco. Está localizada em vertente convexa, na bacia
hidrográfica do Córrego da Olaria, sobre a bacia sedimentar do Paraná, formada por rochas
vulcânicas de composição básica. Seu relevo é plano e suave ondulado, com altitudes que
variam entre 440 e 476 metros, em área de Cerrado, no qual predomina os remanescentes
de cerradão, sob os Latossolos Vermelhos distrófico (EMBRAPA, 2018).

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Figura 2. Características geográficas geral da área de estudo.

Fonte: MIAZAKI (2016).

A proposta de criação de um sistema agroflorestal surgiu a partir da iniciativa da família


dos produtores Lucas Marco Morais e Sirlene Soares dos Santos, e foi ofertado por meio de
parcerias entre as instituições Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), Empresa
de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (EMATER) e Prefeitura
Municipal de Frutal entre março de 2007 a novembro de 2007.
A primeira etapa do curso consistiu na apresentação dos conceitos teóricos sobre os
sistemas agroflorestais (SAF’s) e sobre a agroecologia, pelo professor Marcelo Sambiase
(Figuras 4A e 4B). Posteriormente, foi definido o modelo a ser trabalhado, com maior di-
versidade de plantas, chamado de quintal florestal, ou modelo consorciado e diversificado,
com a finalidade de aumentar a diversidade dos produtos a ser ofertado para a comunidade.
A área em que foi implantada a agrofloresta possui aproximadamente um hectare
(Figura 3) e anteriormente era ocupada por plantas espontâneas diversas, como gramíneas
nativas e exóticas, além de outras plantas como corda-de-viola, crotalária nativa, guanxuma,
picão-preto, fedegoso, capim-elefante, dormideira e leguminosas nativas. A área de 150 m
de base e 80 metros de altura foi dividida em 11 canteiros.

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Figura 3. Visão aérea da área de estudo.

Fonte: SANTOS (2017).

O preparo do solo foi realizado pelos integrantes do curso, por meio de roçada manual,
a biomassa da entre linhas foi capinada e utilizada nos canteiros, assim foi mantido 30%
das plantas nativas, que abrigam informações originais dos microrganismos e da relação
da interação solo-planta, uma vez que o solo é rocha decomposta em sistema gasoso, que
se expande e contrai, com síntese de proteínas da interação entre o solo e a planta, e são
responsáveis pela humificação e preservação do equilíbrio genético original. O planejamento
é que em cada linha sejam plantadas hortaliças, frutíferas e arbóreas exóticas.
As entrelinhas foram deixadas em pousio com a vegetação nativa (Figura 4D), e os
alunos do curso de agrofloresta realizam o preparo do solo, somente nas linhas alternadas,
com a implantação de espécies nativas do bioma Cerrado (em consórcio com abóbora
(Cucurbita pepo), tomate (Solanum lycopersicum), tomate cereja (Solanum lycopersicum var.
cerasiforme), berinjela (Solanum melongena), espinafre (Spinacia oleracea), jiló (Solanum
aethiopicum), brócolis chinês (Brassica oleracea), acelga (Beta vulgaris var. cicla), beterraba
(Beta vulgaris) e repolho (Brassica oleracea var. capitata)), em espaçamento de 20 m uma
da outra, que corresponde a distância em que toda a microvida do solo e raízes se interco-
muniquem. Hortaliças, frutíferas e espécies exóticas, assim como os eucalipto (Eucalyptus
grandis) e mamão (Carica papaya) que se encontravam na estufa, foram inseridos no sis-
tema na época da próxima chuva, e com o passar dos anos servirão de matéria orgânica
para enriquecimento do solo.

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Figura 4. Aula expositiva do curso de Agrofloresta (A e B); Reconhecimento do sistema agroflorestal (C e D); Incorporação
do material vegetal (E) e Cobertura vegetal no canteiro (F).

Fonte: KORASAKI (2017).

Uma vez roçada e determinado a permanência das plantas nativas (jequitibá (Cariniana
estrellensis), jambo (Syzygium jambos), jenipapo (Genipa americana), ipê (Handroanthus
albus), cedro (Cedrela fissilis), guapururu (Schizolobium parahyba), entre outros), foi rea-
lizada a abertura dos berços (50 cm de profundidade), misturando-se 50 g de Yoorin em
cada cova, Super Thorg (300 g m-²) e calcário nos canteiros (506 g m-²) para correção do
pH, além de solo solto, para o melhor desenvolvimento do sistema radicular e geração de
plantas saudáveis, com solo nutricionalmente rico próximo a raiz.
Ressalta-se que tanto o curso de agrofloresta, assim como, o próprio desenvolvimento
da agrofloresta na propriedade estão em processo de desenvolvimento (Figuras 4C e 4D).
Das espécies plantadas os tomateiros foram os mais sensíveis, influenciados pela defi-
ciência de cálcio no solo, característico dos solos do cerrado, e pelo fato de que a área era
uma pastagem degradada. Os tomates colhidos foram aproveitados principalmente para o
processamento de tomates secos, onde os potes de 150 g de tomate seco eram vendidos,
e se tornam uma possibilidade de renda à família.

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Com o manejo da cobertura vegetal (Figura 4E), associado à poda das espécies frutí-
feras e nativas, o solo se enriquecerá em fibra, palha, celulose e lignina, e com isso estará
protegido, evoluindo e adquirindo características de solo de floresta. Além da prestação
de serviços ambientais, as espécies arbóreas introduzidas promovem cobertura dos solos
(Figura 4F), deposição de matéria orgânica, redução de erosão e aumento da biodiversidade.
Os sistemas agroflorestais visam diversificar a produção agropecuária e florestal, au-
mentando a biodiversidade e resiliência agroecossistêmica. Neste sentido e diante do que
foi exposto, a prática agroflorestal representa uma resposta ao desafio da conciliação entre
a sustentabilidade na produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A implantação dos sistemas agroflorestais é uma excelente opção para reorientar o


atual modo de produção, potencializando os sistemas produtivos e os processos naturais,
otimizando a produção, tanto das espécies de interesse quanto da biodiversidade. Por meio
de sua visão integradora, sua análise considera não apenas os aspectos ecológicos, mas
também os sociais e econômicos.
Os SAF’s podem, e devem ser desenvolvidos, visando à redução dos insumos externos,
guiando o manejo adequado do agroecossistema, considerando as características intrínse-
cas locais, visto que não há fórmulas padrões para sua implementação. SAF’s biodiversos
são a melhor opção para uma matriz de qualidade, capaz de contribuir para a conservação
e manutenção da biodiversidade, e geração de renda aos produtores rurais.
As rendas ou diminuição dos gastos tem como modelo as mata ou floresta nativa, onde
existe uma grande variedade de plantas, animais, pássaros, insetos e fontes de água. Tudo
em um perfeito equilíbrio. Da mesma maneira, é possível imaginar uma agricultura onde
se possam combinar várias plantas em uma mesma área. Plantas que produzam matéria
orgânica para servir de adubo e melhorar o solo; alimento para os animais; madeira para
construções ou para lenha; alimento, produtos medicinais e renda para a família.
O princípio da agrofloresta é fazer com que a produção seja a mais diversificada pos-
sível, e que o solo seja produtivo durante o ano todo. Para se chegar a uma agrofloresta
diversificada e produtiva, deve-se seguir gradativamente, ano após ano, onde terá sempre
um produto a ser colhido, independente da sazonalidade.
Apoiados sob perspectivas empírica, holística e sistemática, os SAF’s destacam-se
como possibilidade de minimizar os efeitos negativos, relacionados ao manejo ecológico
inadequado do ecossistema, fornecendo bases científicas e metodológicas para a transição
do atual modelo de produção em agroecossistemas sustentáveis, com a inclusão e trans-
formação dos produtores rurais em atores sociais participativos.

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SOBRE OS ORGANIZADORES
Clecia Simone Goncalves Rosa Pacheco
PhD em Educação (UCSF - Argentina); Doutorado Profissional em Agroecologia e Desenvolvimento
Territorial pelo Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial
(PPGADT/UNIVASF); Master of Sciece em Educação (UI - Lisboa/Portugal); Mestrado Profissional
em Tecnologia Ambiental (ITEP/PE); Especialista em Auditoria e Perícia Ambiental (Universidade
Estácio Sá/SP); Geógrafa (UPE); Docente efetiva do Instituto Federal do Sertão Pernambucano
(IFSertãoPE) no Colegiado de Tecnologia em Alimentos. Docente permanente do Programa de
Pós-Graduação em Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido (PPGDiDeS/UNIVASF). Membro
de la Rede Iberoamericana del Médio Ambiente (REIMA/Brasil); Membro da Associação Brasileira
de Agroecologia (ABA) atuando no GT - Manejo de Agroecossistemas; Docente Correspondente
de la Academía Internacional de Ciencias, Educación, Tecnologías y Humanidades (Valencia/
España); Líder do Grupo de Pesquisas Interdisciplinar em Meio Ambiente (GRIMA/CNPq) e
Núcleo de Pesquisa Geoambiental (NuPGEO/CNPq). Docente e Coordenadora do Curso de
Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Sustentabilidade nos Territórios Semiáridos (TASTS/
IF Sertão-PE); Membro do Corpo Editorial da Editora Científica Digital; Membro do Corpo Editorial
da Brazilian Journal of Animal and Environment Research (BJAER) e da South Florida Journal
of Environmental and Animal Science. Revisora de periódicos científicos, entre eles: GEOUSP:
espaço e tempo; OPARÁ: Etnicidade, Movimentos Sociais e Educação; Revista Iberoamericana
Anmbiente & Sociedade; Revista Científica Diversidad Biologica y su Gestión Integrada; Diversitas
Journal; Journal of Edication, Society an Behavioural Science. Colaboradora da Rede MapsBioma
Árida; Palestrante nacional e internacional. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7621-0536.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6358715394273386

Reinaldo Pacheco dos Santos


Perito Ambiental (InBS); Graduado em Pedagogia pela Universidade Norte do Paraná (2008).
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido
(PPGDiDeS) pela Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF); Especialista em
Gestão Escolar pelo Instituto Superior de Teologia Aplicada (2010). Graduando em Geografia
pela Universidade de Pernambuco (UPE). Membro da la Red Iberoamericana de Medio Ambiente
(REIMA); Vice-líder do Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Meio Ambiente (GRIMA) do Instituto
Federal do Sertão Pernambucano - Campus Petrolina, atuando nas seguintes Linhas de Pesquisa:
1. Ecopedagogia e Sustentabilidade Socioambiental; 2; Geografia Contextualizada, Educação e
Sustentabilidade Semiárida; 3. Ecodinâmica Ambiental e Recuperação de Áreas Degradadas. Vice-
líder do Grupo de Núcleo de Pesquisas Geoambientais (NupGeo). Membro do Comitê Científico
e Editorial da Editora Científica Digital. Autor de diversos artigos na área de Educação, Educação
Ambiental, Ecopedagogia;Territórios Semiáridos; Ecossistemas e Paleoecossistemas. ORCID:
https://orcid.org/0000-0002-5300-5986.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/9147174509760048

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ÍNDICE REMISSIVO
A Ensino por Investigação: 132

Agricultura Familiar: 156, 163, 220 Espaço Agrário: 29

Agricultura Familiar Camponesa: 156 Etnobotânica: 178

Agroecologia: 20, 23, 27, 28, 29, 34, 35, 36, 37, F
38, 39, 61, 63, 64, 65, 66, 68, 69, 76, 81, 82, 83, 96,
97, 98, 99, 100, 101, 103, 104, 105, 106, 107, 140, Fitotoxicidade: 48
163, 178, 188, 191, 205, 222, 227, 235, 236
Formação: 36, 96, 102, 208, 237
Agrofloresta: 220, 229, 233, 235
Formação Crítica: 96
Atividade: 143
I
Avaliação: 58, 59, 60, 61, 83, 191
Internet: 87, 109, 118, 201
Avanço: 208
N
B
Natureza: 13, 21, 101, 106, 132, 134, 140, 143,
Biodiversidade: 205, 220, 235 193, 196, 236

Business Model Canvas: 109, 111, 113, 115 P


C PLANAPO: 61, 62, 64, 66, 67, 72, 73, 75, 76, 79,
81
Café Orgânico: 61
Plano de Pública PNAPO: 61
Campesinato: 29, 39
Políticas Públicas: 37, 191, 192, 193
Compostagem: 45, 56, 57, 58
Práxis Educacional: 96
CTS: 119, 120, 121, 122, 123, 124, 125, 127, 129,
130, 131, 132 Prosperidade: 208

Cultura: 39, 85, 102, 205 Proteção: 66, 74, 196

D Q
Desenvolvimento: 16, 19, 82, 135, 139, 143, 148, Qualidade: 64, 85, 109, 143, 196
149, 153, 154, 156, 163, 164, 170, 179, 181, 182,
183, 186, 188, 189, 192, 193, 206, 208, 215, 218, Qualidade de Vida: 196
228, 236
R
Desenvolvimento Rural Sustentável: 156, 189,
206 Região Sertão de Itaparica: 196, 200, 201

E Região Sertão do São Francisco: 87, 109, 112

Educação Ambiental: 101, 107 Resíduos: 42, 47, 55

EJA Campo: 95, 96, 97, 98, 100, 101, 102, 103, S
104, 105
Sabor: 85

Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa - ISBN 978-65-5360-199-4 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
239
ÍNDICE REMISSIVO

Saúde: 85, 109, 117, 169, 177, 191, 193, 235, 237

Segurança: 191, 237

Sertão do São Francisco: 13, 15, 16, 17, 87, 109,


112, 134, 135, 136, 137, 145, 149, 153, 208, 214

Sociologia Rural: 156

Sustentabilidade: 13, 21, 57, 134, 140, 196, 220

Sustentável: 16, 20, 58, 135, 140, 143, 156, 179,


181, 182, 189, 193, 205, 206

T
Tendência: 13, 134

Território: 13, 15, 16, 17, 36, 134, 135, 136, 137,
145, 149, 153, 182, 189, 193, 208, 214

Tradição: 85, 94

V
Vida: 13, 109, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 134,
196

Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa - ISBN 978-65-5360-199-4 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
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