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PRODUÇÃO EE SUSTENTABILIDADE
PRODUÇÃO SUSTENTABILIDADE EM
EM PESQUISA
PESQUISA
VOL.2
editora
científica digital
VOL.2
1ª EDIÇÃO
editora
científica digital
2022 - GUARUJÁ - SP
editora
científica digital
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Internacional (CC BY-NC-ND 4.0).
A281 Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa: volume 2 / Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco (Organizadora),
Reinaldo Pacheco Santos (Organizador). – Guarujá-SP: Científica Digital, 2022.
E-BOOK
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Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5360-199-4
DOI 10.37885/978-65-5360-199-4
1. Ecologia agrícola. I. Pacheco, Clecia Simone Gonçalves Rosa (Organizadora). II. Santos, Reinaldo Pacheco
(Organizador). III. Título.
2022
CDD 630.2745
Índice para catálogo sistemático: I. Ecologia agrícola
Elaborado por Janaina Ramos – CRB-8/9166
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CORPO EDITORIAL
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A agroecologia é um campo do conhecimento científico que parte de uma abordagem
holística e de uma visão sistêmica, buscando cooperar para que as sociedades
redimensionem o caminho modificado da coevolução social e ecológica, nas mais
diversas relações e influencias mútuas. Reitera-se aqui que a agroecologia não é
um novo modelo de agricultura, nem também um novo modelo de tecnologia, e muito
menos um sistema de produção, mas sim, um enfoque científico, que defende uma
agricultura de base ecológica, sendo capaz de dar arrimo a uma transição com caráter
de agricultura sustentável.
Acerca disto, a agroecologia procura agregar os conhecimentos baseados na
experiência dos povos e sociedades, com os múltiplos conhecimentos das ciências,
proporcionando, tanto a concepção, apreciação e crítica do atual modelo do
desenvolvimento e de agricultura, como a consignação de inovações estratégicas para
o desenvolvimento rural e novos desenhos de agriculturas mais sustentáveis, a partir de
uma abordagem transdisciplinar, sistêmica, e holística e harmônica entre a sociedade
APRESENTAÇÃO
e a natureza.
Com base nisto, esta obra tem sua gênese a partir de um processo colaborativo entre
pesquisadores, docentes e discentes, essencialmente de graduação e pós-graduação,
que buscam qualificar as discussões neste espaço formativo. Resulta, também, de
movimentos interinstitucionais e de ações de incentivo à pesquisa e à extensão que
congregam pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento e de diferentes
Instituições de Educação Superior públicas e privadas de abrangência nacional e
internacional.
O volume 2 da obra “Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa” tem
como objetivo agregar ações interinstitucionais nacionais e internacionais com redes de
pesquisa que tenham como foco, impulsionar a formação continuada de agroecólogos,
ambientalistas, agricultores, extensionistas, entre outros, por meio da produção e
socialização de conhecimentos, saberes e múltiplas vivências e experiências, sendo
possível orientar estratégias de desenvolvimento rural mais sustentável e de transição
para estilos de agriculturas mais sustentáveis, contribuindo assim, para melhorar a
qualidade de vida das atuais e das futuras gerações.
Assim, agradecemos aos autores pelo comprometimento, disponibilidade e dedicação
para o desenvolvimento e conclusão dessa obra. Almejamos também que esta obra sirva
de instrumento didático-pedagógico para os diversos níveis de ensino, e de base para
o desenvolvimento da pesquisa extensionista de estudantes, professores, agricultores,
comunidades rurais e movimentos socioambientais e, para os demais interessados pela
temática aqui abordada.
' 10.37885/221010389.......................................................................................................................................................................... 12
CAPÍTULO 02
A AGROECOLOGIA COMO FERRAMENTA PARA A EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Ederson Rodrigues da Silva; Rayanne dos Santos Guimarães; Michel LimaVaz de Araújo; Geovana dos Santos Rodrigues Ferreira;
Marcelly Priscyla de Almeida Vieira; Rosilane Carvalho da Conceição
' 10.37885/220910368......................................................................................................................................................................... 22
CAPÍTULO 03
AGROECOLOGIA E REPRODUÇÃO CAMPONESA: UMA EXPERIÊNCIA DA ESCOLA FAMÍLIA AGRÍCOLA DA REGIÃO DE
IRARÁ/BA
Andréia Silva de Alcântara; Marize Damiana Moura B. e Batista
' 10.37885/220910132.......................................................................................................................................................................... 28
CAPÍTULO 04
ANÁLISE DOS PARÂMETROS FISICO-QUÍMICA E FITOTOXICOLOGIA DE COMPOSTAGEM DE RESÍDUOS DO PROCESSO
DE VINIFICAÇÃO
Ana Paula Rosso Balbinotti; Jorge Antonio Barbosa Dias
' 10.37885/220809746......................................................................................................................................................................... 41
CAPÍTULO 05
AVALIAÇÃO DO PNAPO APLICADO AOS PRODUTORES DE CAFÉ NO SUL DE MINAS GERAIS
Marlene de Araújo
' 10.37885/220709467......................................................................................................................................................................... 60
CAPÍTULO 06
CASA DE CAMBRAIA DONA MARIA E ZÉ MIÚDO PRODUÇÃO ARTESANAL DE CAMBRAIAS EM PETROLINA -
PERNAMBUCO
Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto;
Márcia Rejane Lopes Cavalcante; José Alberto Gonçalves de Moura; Florisvaldo Cavalcanti dos Santos; Enos André de Farias; Breno
Silva Almeida; Reinaldo Pacheco dos Santos
' 10.37885/220910333......................................................................................................................................................................... 84
SUMÁRIO
CAPÍTULO 07
CONTRIBUIÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL E DA AGROECOLOGIA PARA A EFETIVAÇÃO DA PEDAGOGIA DA
ALTERNÂNCIA NO EJA CAMPO
Cláudio Alencar; Clécia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; Paulo Roberto Ramos
' 10.37885/220809709......................................................................................................................................................................... 95
CAPÍTULO 08
EMPREENDEDORISMO SAUDÁVEL: O MODELO DE NEGÓCIO DA BONNO DUVALLE - VIDA SEM GLÚTEN
Aluísio Sampaio Neto; Clecia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; José Lincoln Pinheiro Araújo; Antonio de Santana Padilha Neto; Eryka
Fernanda Miranda Sobral; Silvio André Vital Junior; Márcia Rejane Lopes Cavalcante; Jefferson Gomes Fonseca Tolentino; Ana Paula
Batista de Oliveira; Reinaldo Pacheco dos Santos
CAPÍTULO 13
PLANTAS ESPONTÂNEAS MEDICINAIS EM QUINTAIS PERIURBANOS
Marci Aparecida Lemes; José Maria Gusman Ferraz; Rosely Yavorski
Thaís Pereira de Azevedo; Cícero Adriano Vieira dos Santos; Clécia Simone Gonçalves Rosa Pacheco; Francisco Ricardo Duarte;
Daniel Salgado Pifano; Lúcia Marisy Souza Ribeiro de Oliveira
Jhansley Ferreira da Mata; Cássia Augusta Santos; Angela Miazaki; Gabriel Longuinhos Queiroz; Gabriel Gomes Mendes;
Vanesca Korasaki
'10.37885/221010389
RESUMO
A demanda por produtos agroecológicos orgânicos e naturais apresenta uma tendência cres-
cente nos últimos anos, dado a maior preocupação da população no consumo de alimentos
mais saudáveis. Objetivo: Apresentar e fazer compreender como se deu o processo de idea-
lização e realização da 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região, com propósitos
em especial para a valorização, exposição e comercialização de produtos agroecológicos
produzidos pelos agricultores familiares da localidade, em Juazeiro - BA. Método: Trata-se
de um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem qualitativa. Resultados:
Surgida em abril de 2022, a 1ª Feira Agroecológica de Massaroca e Região é composta
por mais de 10 feirantes e dispõem de uma variedade de produtos, como doces, geleias,
polpas, licores, compotas, frutas “in natura”, ovos de galinha, mel, feijão, entre outros pro-
dutos, e se encaminha com total êxito para a sua 7ª edição em agosto. Conclusão: Uma
iniciativa importante para a oferta de alimentos agroecológicos e opção de uma alimentação
mais saudável para as pessoas.
Miguel Altieri, nos Estados Unidos, na década de 1980, procurou reunir todas as cor-
rentes propondo uma metodologia como uma visão holística, abrangendo todas as demais
alternativas numa base de pesquisa científica. Segundo ele, a agroecologia é uma ciência
que fornece os princípios ecológicos básicos para o estudo e tratamento de ecossistemas,
tanto produtivos, quanto preservadores dos recursos naturais. Logo, a agroecologia parte do
pressuposto de que tais sistemas sejam culturalmente sensíveis, socialmente justos e econo-
micamente viáveis proporcionando, assim, um agroecossistema sustentável (ALTIERI, 2012).
Segundo a Organização para a Alimentação e Agricultura - FAO (2021), a agroecologia
é uma abordagem holística e integrada que aplica simultaneamente conceitos e princípios
ecológicos e sociais para a concepção e gestão de sistemas agrícolas e alimentares susten-
táveis. Ele tenta otimizar as interações entre plantas, animais, humanos e meio ambiente, ao
mesmo tempo, em que aborda a necessidade de sistemas alimentares socialmente justos
nos quais as pessoas possam escolher o que comer, como e onde é produzido.
Para Pacheco et al., (2021), a agroecologia é uma ciência que está se concretizando
cada vez mais em todo o mundo como uma teoria crítica que interroga radicalmente a agri-
cultura convencional, ao mesmo tempo, em que aprovisiona as bases teórico-conceituais e
metodológicas para o desenvolvimento de sistemas alimentares economicamente eficientes,
socialmente justos e ecologicamente sustentáveis.
Segundo Pacheco et al., (2021):
Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa - ISBN 978-65-5360-199-4 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
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vez mais saudáveis. De acordo com a pesquisa “Panorama do Consumo de Orgânicos no
Brasil”, da Associação de Promoção dos Orgânicos (ORGANIS), em parceria com a Brain
Inteligência Estratégica e Unir Orgânicos, cerca de 30% dos brasileiros optaram por uma
alimentação sem agrotóxicos em 2021 (ORGANIS/BRAIN, 2021).
A agricultura de base ecológica tem sua gênese na Europa no século XX, fundamen-
tada em várias escolas ou correntes, sendo que seu surgimento se deu como contraponto
aos preceitos impostos pelas práticas agrícolas à base de insumos químicos, sendo tida
por muito tempo como um movimento “rebelde” para denominar o antagonismo criado pela
mesma e a forte tendência de quebra de paradigmas tradicionais (PACHECO et al., 2021a).
Esta expressão evidencia, na percepção de Candiotto e Meira (2014, p. 159), “a si-
multaneidade de várias escolas, estilos ou correntes que propõem a aplicação de princí-
pios ecológicos à produção agropecuária” e permitem a limitar ou eliminar o emprego de
insumos químicos a contar da corporificação de técnicas alternativas ao modelo convencio-
nal. Neste sentido, ficou instituído na década de 1980, o conceito de agricultura orgânica
no Estados Unidos.
Os avanços científicos e tecnológicos estimularam a crescente produção de alimentos,
apesar disso, na mesma proporção avançaram os danos ambientais provocados pela agri-
cultura industrial (convencional), refletidos na/no: diminuição da fertilidade dos solos, perda
de matéria orgânica, lixiviação de nutrientes, degradação e crescimento da erosão dos solos,
contaminação de mananciais, de ecossistemas naturais e de ambientes agrícolas, aumento
de doenças nos cultivos, além dos danos à saúde de agricultores e de trabalhadores do
sistemas agrícolas, avançando até para a destruição de insetos e microrganismos benéficos
ao equilibro ecossistêmico, entre tantas outras consequências (PACHECO et al., 2021b).
Portanto, precisamos compreender e valorizar em nosso dia a dia, o consumo de
produtos que tenham cada vez mais essa “pegada ecológica”, contribuindo dessa maneira
para a conservação dos nossos recursos naturais em harmonia com a natureza e o planeta
no qual habitamos.
Dentro desta conjuntura, percebe-se que no Brasil, bem como no Território Sertão
do São Francisco da Bahia, tem-se cada dia mais a consciência que a criação de espaços
colaborativos de comercialização de produtos orgânicos vem ganhando espaço e mercado,
tendo em vista a preocupação da população no consumo de alimentos mais saudáveis,
que segundo Altieri (2012), previne doenças, como câncer, e contribui com a minimização
de problemas ambientais, colaborando com as metas da Agenda 2030, via realização do
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Objetivo de Desenvolvimento Sustentável Dois (ODS 2), que trata de Agricultura Sustentável
(UNITED NATIONS, 2015).
Escrito no texto constitucional brasileiro de 1988 (Art. 225), não é antigo o imperativo
ecológico na produção de bens, produtos e serviços; incluindo-se, por óbvio, alimentos, en-
quanto ocupantes do primeiro degrau das necessidades humanas. Esta exigência resulta
de determinação encontrada no topo da pirâmide normativa brasileira, que, neste particular,
está “de mãos dadas” com outros sistemas jurídicos de Estados que atingiram ou buscam
alcançar o objetivo de garantir desenvolvimento, mas sem desconsiderar o respeito ao meio
ambiente saudável.
Há um dever de proteção ecológica que se impõe como obrigação a todos, numa pers-
pectiva horizontal e vertical, pois se converteu em direito humano fundamental com natureza
de direito público subjetivo; condição na qual está acima e além de qualquer outra vontade
normativa ou administrativa. Ambiente saudável e desenvolvimento sustentável não é opção;
é obrigação a ser cobrada de todos, por todos. Produzir alimentos com esse cuidado indica
que tal comunidade atingiu alto nível de cidadania, vez que este vetusto conceito nasceu
como a representação da participação do indivíduo nas questões de sua cidade e que a
todos alcançava. Voltar às bases da construção de longevos modelos sociais, ainda parece
ser compatível com os novos tempos e seus avanços tecnológicos.
Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreen
der como se deu o processo de idealização e realização da 1ª Feira Agroecológica de
Massaroca e Região, em Juazeiro - BA, com propósitos em especial para a valorização,
exposição e comercialização de produtos agroecológicos produzidos pelos agricultores
familiares da localidade.
METODOLOGIA
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Figura 1. Mapa do Território Sertão do São Francisco.
De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as
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diferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os dife-
rentes posicionamentos existentes no meio social.
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Figura 3. Momento de comercialização de produtos da feira agroecológica.
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CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
1. ALTIERI, M. Agroecologia: Bases Científicas Para Uma Agricultura Sustentável.
3. Ed. rev. ampl. São Paulo, Rio de Janeiro: Expressão Popular, AS-PTA, 2012, 400 p.
6. FAO, IFAD, UNICEF, WFP and WHO. 2021. The State of Food Security and Nutri-
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10. HOLANDA, A. F. Fenomenologia e Humanismo: Reflexões Necessárias. Juruá
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02
A agroecologia como ferramenta para a
educação ambiental
'10.37885/220910368
RESUMO
Com o aumento da população mundial e a crescente demanda por alimentos houve uma
expansão na agricultura, intensificando o uso de tecnologias e a aplicação de fertilizantes e
agrotóxicos, ocasionando a contaminação do ecossistema como um todo, com destaque, ao
solo, rios e lagos. Como forma de amenizar este modelo insustentável de agricultura, surge
a agroecologia, que busca novas práticas e alternativas de produzir de forma sustentável e
inclusiva, integrando o conhecimento do agricultor ao meio científico. Em termos gerais, a
agroecologia é uma nova abordagem que integra os conhecimentos científicos (agronômicos,
veterinários, zootécnicos, ecológicos, sociais, econômicos e antropológicos) aos conheci-
mentos populares, para a compreensão, avaliação e implementação de sistemas agrícolas,
com vistas à sustentabilidade. Perante ao desafio de práticas sustentáveis, não se pode
deixar de inserir neste contexto a educação ambiental quando se fala em agroecologia, pois
ambas surgem da necessidade de mudança, seja da conservação da biodiversidade, ou
da adoção de novos estilos de vida. A Educação Ambiental configura-se como o principal
meio de impulsionar a ideiade uma sociedade sustentável que integra homem e ambiente,
ou seja, é um processo educativo, que conforma um conhecimento ambiental que se traduz
em valores éticos, com o objetivo de conscientizar à preservação do meio ambiente e sua
utilização sustentável. Tendo em vista a importância de aplicar os conhecimentos científicos
ao cotidiano, faz-se importante integrar a agroecologia à educação ambiental. Portanto, objeti-
vou-se com este trabalho investigar e avaliar o conhecimento dos estudantes do curso técnico
de agropecuária quanto à utilização da agroecologia no contexto da educação ambiental.
RESULTADOS
Quando foram questionados se sabiam o que era agroecologia, 91% dos alunos res-
ponderam que sim. Na opinião da maioria dos entrevistados (82%) a agroecologia é uma
ciência cujos princípios primam pelo desenvolvimento de uma agricultura sustentável, outros
(9%) acreditam que a agroecologia trata da preservação do meio ambiente por meio da
agricultura orgânica, como mostra a figura 1.
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Figura 1. Respostas dos estudantes do curso Técnico em Agropecuária do IFPA acerca do que os alunos acreditam ser
agroecologia.
Figura 2. Respostas dos estudantes do curso Técnico em Agropecuária do IFPA acerca do desenvolvimento rural sustentável.
Para a maioria dos entrevistados (96%), a produção agroecológica pode ser um meio
de geração de renda para agricultura familiar.
Sobre os temas mais relevantes, os entrevistados elegeram algumas propostas con-
sideradas mais importantes para serem abordados em atividades de educação ambiental
através da agroecologia, como ilustra a figura 3.
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Figura 3. Respostas dos estudantes do curso Técnico em Agropecuária do IFPA acerca dos temas mais relevantes para
serem abordados em atividades de educação ambiental através da agroecologia.
Apenas 3% dos entrevistados acreditam que o uso de agrotóxicos não oferece ris-
cos tanto ao produtor quanto ao consumidor. Por outro lado, Waichman (2008) cita que,
na aplicação de agrotóxicos, a exposição ocupacional dos agricultores é alta, tornando-os
vulneráveis à intoxicação aguda e crônica, além do risco de contaminação crônica da popu-
lação consumidora de produtos com resíduos de agrotóxicos. Promovendo uma discussão
sobre a problemática dos agrotóxicos na atividade rural que possibilitará novas aborda-
gens agroecológicas.
CONCLUSÃO
Agradecimentos
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REFERÊNCIAS
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H. L. Agroecologia. Itabuna-BA: CEPLAC, 2012. 44p.
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03
Agroecologia e reprodução camponesa:
uma experiência da escola família agrícola
da região de Irará/BA
'10.37885/220910132
RESUMO
O campesinato compõe uma classe social heterogênea, condição que permite enten-
dê-lo enquanto uma unidade de classe marcada pela diversidade sócio-cultural e política dos
sujeitos do campo. Esta classe se manifesta no enfrentamento ao modelo de desenvolvimento
proposto para o campo brasileiro, baseado na concentração fundiária e na agroexpotação.
Neste contexto de luta dos camponeses para assegurar a sua reprodução socioeconômica,
a agroecologia se constitui como forma de resistência e reafirmação desses sujeitos no
espaço rural brasileiro.
Neste texto, a utilização do termo região de Irará se define pelos municípios que
agregam a EFAMI. Contudo, a base de dados da discussão que se estabelece toma por
referência, a realidade do município de Irará, em virtude da referida escola encontrar-se lo-
calizada neste município. Este município apresenta características que norteiam o conceito
de agroecologia. Isto se explica porque a maior parte dos camponeses de Irará, que ocupa
as pequenas propriedades, trabalha com uma agricultura tradicional, onde se nota a exis-
tência de um saber fazer característico de uma herança cultural, marcada pela construção
de histórias de resistências e lutas no campo.
Há uma diversidade na produção, destacando-se atividades agrícolas e também ar-
tesanal, e isto se caracteriza como um dos princípios da agroecologia. Neste sentido, o
processo de formação política dos camponeses é defendido enquanto uma das táticas de
luta para a sua permanência no campo. É neste contexto que se situa o curso de formação
de monitores na EFAMI.
MÉTODO
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RESULTADO
1 Esses índios, considerados “índios de pazes” ou “índios amigos”, eram catequizados, batizados e aldeados em outras áreas, de onde
eram periodicamente retirados para prestarem serviço aos colonizadores (FREIRE, MARELHOS, 2010, p. 32).
2 Não encontramos registro do modo de vida dos Paiaiás na região, já que em Irará as aldeias missionárias concentravam índios de
etnias distintas e de origem das diversas regiões da Bahia. O que encontramos é que os “Tapuias” no século XVII eram identificados
como os índios Payayás e faziam parte da família Kariri, ramo vinculado ao tronco Macro-jê. Disponível em<http://itapicurusuahistoria.
blogspot.com.br/2013_01_01_archive.html
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grandes fazendas, como forma de resistir às ações ameaçadoras dos portugueses, além de
realizar a caça ao gado na pecuária extensiva. A missão dos Jesuítas na região voltou-se
a assegurar a “domesticação” dos índios através da construção de aldeias missionárias3
(FREIRE, MARELHOS, 2010).
As aldeias foram construídas nas proximidades das capelas de Nossa Senhora da
Conceição de Bento Simões, em 1726, no povoado de Bento Simões; de Nossa Senhora
do Livramento, em 1756, no atual povoado da Caroba e de Nossa Senhora da Purificação,
na Praça da Purificação, sede do município. Foram nas capelas que os jesuítas exerceram
a administração das aldeias (SANTOS, 2008). O processo de aldeamento resultou no exter-
mínio em massa dos índios Paiaiás, pois estes mostraram resistência ao domínio português,
representando uma ameaça aos colonizadores da região (FREIRE; MARELHOS, 2010).
O Arraial de Irará (1832) se destacava pela influência econômica, através da concen-
tração do comércio (engenho de açúcar, gado, fumo, gêneros alimentícios) e por estar no
curso da rodovia estadual (BA 084), a qual se iniciava na Vila de Água Fria, passando por
Irará e seguia em direção ao porto fluvial de Cachoeira. A elevação do Arraial da Purificação
dos Campos de Irará a categoria de município ocorreu em 27 de maio de 1842, através da
Lei Provincial Nº 173, quando passaram a ser distritos de Irará os povoados de Água Fria,
Bento Simões, Serrinha, Coração de Maria, Santanópolis, Pedrão e Ouriçangas. Em 1895
através de sua influência socioeconômica, a Vila de Purificação dos Campos foi elevada
à categoria de cidade com o nome de Irará, pela Lei estadual Nº. 100, de 8 de agosto de
1895 (IRARÁ, 2012).
Fatores como o uso da mão de obra escrava, a formação dos latifúndios através das
concessões de sesmarias, o fortalecimento da pecuária extensiva, da produção do fumo e
de alimentos de subsistência (mandioca, milho, feijão), consolidaram a construção do espaço
agrário do município de Irará. Este também foi refúgio de escravos fugidos e alforriados não
só da região do Recôncavo, mas também, de Salvador e dos municípios do sertão baiano,
principalmente Feira de Santana, regiões onde o trabalho escravo, em grande escala, pre-
dominou até meados do século XIX (SANTOS, 2008).
As pequenas propriedades foram constituídas em áreas periféricas, através da constru-
ção de quilombos de negros e índios que adentravam as terras de Irará em busca de refúgio
(SANTOS, 2008). A formação dessas propriedades também se deu a partir das aldeias
3 As aldeias missionárias foram efetivamente situadas em locais próximos aos povoados portugueses. Possuíam uma igreja ou capela,
uma escola e casas para cada família, bem diferentes das malocas comunitárias e da vida que os índios levavam em suas aldeias de
origem. Seu objetivo principal era concentrar os índios, de nações e culturas diferentes, em um local de fácil acesso, onde pudessem
ser catequizados e “civilizados”, aprendendo os princípios da religião cristã e certos valores como obediência e disciplina, que os
tornavam aptos para serem integrados ao sistema colonial como força de trabalho (FREIRE, MARELHOS, 2010, p. 33-34).
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missionárias, onde pequenas frações de terra eram cedidas aos índios “domesticados”
destinados à produção da agricultura de subsistência. Daí resultam as comunidades rurais
camponesas de Irará, cuja base do sistema produtivo tem sido a produção da mandioca e
dos seus derivados (SEMAI, 2016).
Assim, é no contexto da reprodução do capital que vai se formando uma agricultura de
subsistência no município de Irará. Isto, de certa maneira vai proporcionando a participação
da burguesia no mercado agropecúario nas escalas regional, nacional e global. Ao mesmo
tempo, é do interior dessas relações de produção que as comunidades rurais camponesas
vão se formando, cujos camponeses4 vão vivendo em pequenas área de terras e dedican-
do-se à produção de alimentos. Segundo o IBGE (2006) e GeografAR (2010), em Irará as
famílias que vivem nas comunidades rurais ocupam estabelecimentos com área de menos
que 2 hectares, o que corresponde a 67% dos estabelecimentos do município. Do percentual
restante, destacam-se 9 estabelecimentos (29%) que ocupam área significativa de terras do
município, com área entre 100 a aproximadamente 500 hectares.
Desse modo, mediado por subordição, exploração e resistência, os camponeses vão
reelaborando em sua comunidade de origem, ou em outros espaços, quando necessitam
migrar, estratégias de reprodução da vida. É neste sentido, Bartra Vergés (2011), ao tratar
dos camponeses mexicanos, os coloca na condição de diversificados, obrigatoriamente
inquietos e que permanecem, sobretudo por seu modo de transformar, os quais são iden-
tificados em valores e projetos implícitos em suas múltiplas e complexas estratégias de
sobrevivência. Apesar deste autor tratar do campesinato mexicano em suas transformações
mediante sistema do capital, as reflexões que realiza, ajudam também a compreender o
campesianto no Brasil.
Nota-se assim, no espaço rural em Irará, de um lado o predomínio de uma população
vivendo um processo de fracionamento da terra de herança e com dificuldades em adquirir
novos lotes, ou mesmo produzindo em condições que limitada a sobrevivência da famí-
lia. Do outro lado, um processo de concentração das terras, levando muitos agricultores a
submeterem sua força de trabalho total ou parcial ao assalariamento e a migrar para a cidade
em busca de meios que garantam sua reprodução.
4 Para Martins (1983, p. 16), o campesinato brasileiro “é constituído com a expansão capitalista, como produto das contradições dessa
expansão. Por isso todas as ações e lutas camponesas recebem do capital, de imediato, reações de classe: agressões e violência,
ou tentativas de aliciamento, de acomodação, de subordinação.”
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Agroecologia Como Contraponto à Modernização da Agricultura no Campo Brasileiro
5 Agricultura convencional também denominada de agricultura moderna ou industrial foi consolidada após o processo de moderniza-
ção do campo como consequência da revolução verde. Esse modelo de produção tem como características o uso de agroquímicos,
sementes geneticamente modificadas, mecanização da produção e a dependência da agricultura a indústria (CAPORAL, 2009).
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capitalista de desenvolvimento rural, cujas práticas são tão antigas como a origem da agri-
cultura (HECHT, 1999).
A agroecologia é um instrumento da luta camponesa que se contrapõe ao agronegócio
e ao mesmo tempo se constitui como ferramenta de enfrentamento às políticas hegemônicas
do campo, configurando-se como instrumento de resistência do camponês. Na concepção
de Gonçalves (2009):
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Para garantir a reprodução do camponês é preciso romper com a relação de subordi-
nação ao capital e reivindicar do Estado o direito à terra e à criação efetivação de políticas
públicas que garantam preço justo, créditos, assistência técnica, equipamentos que possibi-
litem o beneficiamento da produção, além do acesso à saúde, educação e lazer. Isto requer,
um processo de luta da classe camponesa, aliado à luta dos demais trabalhadores. Porém,
esta luta demanda a construção da consciência de classe, o que se constrói com formação
qualificada por teoria revolucionária para transformação da realidade vigente.
DISCUSSÃO
O município de Irará (BA) possui área de aproximadamente 277 km². Está localizado
na microrregião de Feira de Santana e é pertencente ao Território de Identidade Portal do
Sertão. Este território é formado pelos municípios de Água Fria, Amélia Rodrigues, Anguera,
Antonio Cardoso, Conceição da Feira, Conceição do Jacuípe, Coração de Maria, Feira de
Santana, Ipecaetá, Irará, Santa Bárbara, Santanópolis, Santo Estevão, São Gonçalo dos
Campos, Tanquinho, Teodoro Sampaio e Terra Nova
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O projeto de extensão formação de monitores em agroecologia foi uma experiência
desenvolvida na EFAMI, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Atuou
na formação dos estudantes, entendidos enquanto monitores, visando apropriação de uma
consistente base teórica, para promover elevação do pensamento e leitura crítica da or-
ganização do espaço agrário do município de Irará, identificando contradições e possíveis
alternativas de superação dessa realidade.
O referido curso se propôs a analisar a organização sócio-política e produtiva de base
agroecológica e as relações de trabalho no campo, assim como seus desdobramentos na
produção do espaço do município de Irará (BA). Dessa maneira a metodologia utilizada
inicialmente para compreensão da realidade do espaço rural do município de Irará foi a
análise de dados secundários e dados primários com respaldo na pesquisa empírica e nos
fundamentos teóricos críticos.
Os dados primários foram identificados no município, com trabalho de campo, incluindo
visitas com entrevistas junto aos diferentes agentes que interferem na produção do espaço
geográfico local. Dessa maneira, foram definidos os seguintes procedimentos de coleta de
dados: observação dos aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais na área estuda-
da, registro audiovisual e fotográfico, aplicação de questionários e realização de entrevistas
semiestruturadas com caráter qualitativo.
Os objetivos específicos do curso foram os seguintes: analisar a estrutura fundiária do
município de Irará e suas implicações socioeconômicas; identificar os principais elementos
que estruturam a organização sócio-política dos pequenos produtores; identificar o perfil
dos agricultores que atuam nas pequenas propriedades e as atividades por eles realizadas;
analisar a divisão do trabalho no interior da unidade familiar; identificar as políticas de de-
senvolvimento rural no município de Irará e suas implicações socioespaciais.
O curso foi organizado em seis eixos, os quais foram considerados fundamentais na
compreensão do espaço rural de Irará e região: Questão agrária; Agroecologia, População,
Movimentos sociais, Políticas públicas e educação popular. No eixo a questão agrária bus-
cou-se discutir a formação do campesinato no Brasil; raízes históricas da Agricultura Familiar;
formação e atualidade da agricultura camponesa em Irará; industrialização e modernização
da agricultura e estrutura fundiária de Irará.
No eixo população foram debatidos temas como: a população e o homem; a população
e o poder; migração como elemento da dinâmica populacional. Em Agroecologia a discussão
visou compreender a evolução e características do sistema agrícola e do sistema alimentar
contemporâneo; problemas sociais, econômicos e ambientais gerados pelo agronegócio;
agriculturas alternativas e propostas de desenvolvimento agrícola sustentável; agroecologia
como proposta de superação ao agronegócio.
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No eixo Movimentos sociais buscou-se analisar os modos de produção, capitalismo
e socialismo; tarefas da revolução socialista e a formação da consciência política. O eixo
políticas públicas visou discutir as políticas públicas na contemporaneidade; políticas públi-
cas e a reprodução do campesinato e a territorialização das políticas públicas na região da
EFAMI. A discussão sobre princípios e práticas da educação popular na formação da classe
camponesa para sua organização e enfrentamento ao projeto capitalista burguês, sustentou
o trabalho do eixo Educação popular.
Além de propor diversas discussões, pautadas na análise da realidade, por meio da
leitura de textos e na exibição e síntese de filmes, realização de oficinas, o curso também
realizou ações como exemplo, rodas de conversa com a comunidade escolar; socialização
do conhecimento nas comunidades onde residem os cursistas; participação em seminários e
eventos fora do ambiente da EFAMI e construção de um jornal da realidade do espaço agrário
nos municípios da região da EFAMI. Tais ações voltaram-se ao aprofundamento das temá-
ticas Questão agrária e Agroecologia, frente à produção do espaço rural da região de Irará.
CONCLUSÃO
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04
Análise dos parâmetros fisico-química
e fitotoxicologia de compostagem de
resíduos do processo de vinificação
'10.37885/220809746
RESUMO
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Dentro dos setores produtivos que mais se desenvolve no Rio Grande do Sul é a viti-
cultura, que é uma das principais atividades econômicas na região nordeste do estado. A vi-
ticultura é uma das atividades de grande importância para desenvolvimento de algumas
regiões, gera empregos nas organizações que processam a uva, tanto na produção de uva
quanto na mesa, sendo o Sul do país o maior produtor (GALLAN et al, 2015).
A uva processada industrialmente gera como resíduos principalmente o engaço, o ba-
gaço e sementes e outros de menor importância, sendo que o engaço, a baga e as sementes
se descartados de forma adequada podem ser explorados economicamente na forma de
adubo orgânico após passar por um processo de compostagem. O bagaço se constitui da
película, restos da polpa e sementes de uva, que em condições normais representa 15%
do peso do grão (GIROLETTI, 2019).
Todo o resíduo sólido e líquido do processo de vinificação tem destinos econômicos
seja na transformação em adubo orgânico, seja na produção de tanino, corantes ou outras
finalidades (RIGHI, et al, 2020). Mesmo com todas as formas viáveis de destino econômico
e ambientalmente correto destes resíduos, eles são muitos e não raras vezes desprezados
e descartados de forma incorreta, vindo a causar impactos ambientais, muitas vezes, irrever-
síveis. Segundo Gallan et al (2015) apesar do bagaço da uva agregar valor e ser benéfico
como alimento bovino, parte deste resíduo não está sendo descartado corretamente.
Além da possível contaminação direta, o maior impacto provocado pelo descarte in-
correto dos resíduos da vitivinicultura é a contaminação águas subterrâneas que s dá em
função da lixiviação, podendo chegar aos reservatórios de água usada para o consumo de
animais e humano, contaminação do próprio solo, alimentos de origem agrícola e animal.
Segundo Ferrari (2010) os resíduos da vinificação usados como fertilizante podem devolver
à própria videira 50% dos nutrientes retirados, com a vantagem de devolvê-los praticamente
livres de contaminantes.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O Brasil é um dos maiores produtores agrícolas do mundo, com imensa atuação agroin-
dustrial. No país a área plantada é de aproximadamente 75 mil hectares de uva. Neste cenário
o Rio Grande do Sul é responsável pela maior área plantada no país, representando 62,68%
da área brasileira do setor no país, e produzindo em 2017, um milhão de toneladas de uva
(IBGE, 2017). O Rio Grande do Sul produziu 48,2 milhões de litros de vinho em 2021, 21%
acima da produção de 2021 (UVIBRA CONSEVITIS-RS, 2021).
O Brasil também destaca-se como um dos maiores produtores mundiais de arroz. O Rio
Grande do Sul possui uma área de plantio de arroz de cerca de 2 milhões de hectares a
maior produção do país, representando cerca de 70% da área brasileira do setor no país
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(IBGE, 2018). A casca de arroz é o subproduto gerado em quantidade mais expressiva no
seu beneficiamento representando 22% de sua massa. Conforme Zhang Chen e Xiong (2018)
a casca é normalmente queimada ao ar livre ou descartada de maneira incorreta.
Compostagem
Microrganismo
Temperatura
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eficiência do processo de compostagem, por estar relacionada ao processo de atividade
dos microrganismos.
As temperaturas de um processo de compostagem podem variar de 20ºC a 65ºC
(KIEHL, 2004). Na sua fase inicial as temperaturas podem variar de 20ºC e 40°C, sendo
chamada de fase mesófila, onde existe a decomposição da matéria orgânica por meio de
bactérias que se adaptam a este nível de sua temperatura. Na fase termofílica, as tempe-
raturas podem alcançar valores acima de 65°C.
Após chegar a um determinado estágio de decomposição, a temperatura sofre o declínio
para fase mesófila, com isso, ocorre o início da estabilização do composto, neste período
se mantém a degradação do material compostado até atingir a temperatura ambiente, e é
quando o composto se encontra em estágio de maturação. Após a fase termofílica, ocorre
a fase de estabilização, a qual atinge a terceira fase, onde ocorre a maturação ou humifica-
ção (KIEHL, 1985).
Umidade
pH
A compostagem é desenvolvida em uma faixa bastante ampla de pH, que varia entre
4,5 até 9,5, sendo seu valor regulado pela ação dos microrganismos.
Valores baixos de pH indicam falta de maturação devido a um processo rápido ou a
ocorrência de processos anaeróbicos no interior da pilha ou leira. Conforme a variação de pH
do composto, podemos avaliar o estado da compostagem, no início da compostagem o pH
pode decrescer e chegar a valores próximos 5, com a evolução do processo, até sua estabi-
lização, aumenta gradualmente alcançando valores entre 7 e 8 (JIMÉNEZ; GARCIA,1989).
Conforme é digerida a matéria organica pelas bactérias e fungos é liberado ácidos
orgânicos que se acumulam no meio. Após este período estes ácidos são decompostos e
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oxidados. Se o pH descer para valores inferiores a 4,5 por falta de oxigênio, haverá uma
limitação da atividade microbiana o que vai retardar o processo de compostagem. Caso isso
venha a ocorrer, revolver as pilhas ou leiras já vai solucionar o problema e o pH voltará a
subir. Para Peixoto (1988) a faixa de pH ideal se situa entre 6,5 e 8,0, e se bem conduzida
não apresenta problemas relacionados ao controle do pH.
Aeração
Segundo Lau et al., (1992) para o processo de compostagem a aeração deve ser con-
tralada, uma vez que, o excesso de aeração pode fazer com que a perda de calor seja mais
intenso e a produção de atividade microbiana diminua. Para Kader et al (2007) comenta
em sua pesquisa que o excesso de aeração pode causar o aumento da emissão de gases
poluentes e odores indesejados no processo de compostagem.
Relação C/N
Segundo Prosab (1999) a relação C/N ideal para inicio processo de compostagem
é em torno de 30:1 e no final do porcesso de compostagem é de cerca de 15:1 e 10:1, a
matéria orgânica é a energia para o processo de compostagem e são obtidos atraves do
cabono, já o nitrogênico é um material rico e tem função de acelarar o processo de com-
postagem, o nitrogênico é importante para crecimento microbiano na compostagem. São
materiais ricos em carbono, palhas, serragens e materiais ricos em nitrogenio estero, resto
de comida, entre outros.
Granulometria
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de compostagem (FEAM, 2002). Para Da Silva (2007) partículas maiores promovem melhor
aeração, e partículas muito finas podem dificultar a aeração.
Fitotoxicidade
O teste de fitotoxicidade, visa avaliar os efeitos tóxicos presentes nos meios de cultivo
das plantas (DEVESA-REY et al 2008). É utilizado para identificar água e solos contaminados
através do ídice de germinação, que pode variar entre teste crônicos e agudos, utilizando
um biodindicador.
Para a avaliação dos efeitos tóxicos de deterniamdas substâncias na compostagem
tem sido feita através da realização dos testes que utiliza organismos como sementes de
hortaliças que ficam expostas a mesma diluição da amostra e posterior observações dos
efeitos de gernimação e crescimento das plantas teste (VIEIRA, 2010).
Os diferente tipos de toxicidade podem causar doenças nos seres humanos, como
câncer, obesidade, hipertensão, entre outras doenças (DCPA, 2020).
Segundo Tavares et al (2019) na fase de germinação as sementes passam por diversas
mudanças fisiológicas, e acabam ficando sensíveis a qualquer fator de estresse ambiental,
com isso, as sementes das plantas como exemplo hortaliças que são biodindicadores de
elementos tóxicos. A lactuca Sativa é um ótimo bioindicador, devido sua simplicidade é
economicamente viável e também não precisa de uma quantidade relativa de amostras.
Para Charles et al (2011) e Guevera (2019) os ensaios fitotoxiciológicos de alface (Latuca
Sativa) tem como destaque a facilidade de implementação e não é necessário utilizar equi-
pamentos grandes.
MÉTODOS
Localização da pesquisa
Delineamento
Foram formadas seis pilhas, com três tratamentos e duas repetições, com a mistura
de sete resíduos diferentes, denominados bagaço (bagaço de uvas brancas, tintas e mis-
tas) tendo como material estruturante casca de arroz, utilizando como volume de medida,
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um balde com capacidade de 10 litros. Cada pilha formou uma base circular de 85 cm de
diâmetro com altura de 67 cm, contendo dez volumes.
Parâmetros analisados
Índice de germinação
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incubadas por 48 horas em uma BOD a 22ºC, tiveram suas raízes medidas com auxílio de
um paquímetro digital. Conforme Zuconni et al (1998), utilizando a formula: IG= (G*Lm/Lc).
Análises físico-químicas
Análise estatística
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Temperatura
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Figura 2. Temperaturas.
60
50
40
30 T1
T2
20 T3
Temperatura Ambiente
10
0
28/fev 28/mar 28/abr
Tempo (dias)
Índice de germinação
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O resultado do índice de germinação das sementes de alface (Lactuca sativa) da amos-
tra coletada no início do processo de compostagem, foram inferiores a 60% comparados a
amostra padrão (branco), indica presença de elementos tóxicos, portando não podem ser
aplicados com segurança em solos agrícolas (Gómez - Brandón et al, 2008), já a análise
dos resultados obtidos na amostra coletada 30 dias após o início do processo, mostra que
todos os resultados oferecem índices de germinação satisfatórios acima dos 60%.
Analisados estatisticamente os índices de germinação dos compostos entre si nos
diferentes períodos: 30, 60 e 90 dias é possível afirmar que no período de 60 dias os
compostos T2 e T3 já poderiam ser considerados maturados, livres de toxicidade, con-
forme a tabela 1.
Amostra IGs (Zero dia) IGs (30 dias) IGs (60 dias) IGs (90 dias)
T1 16,01aC 91,68aB 105,87bB 185,96aA
T2 12,91 abD
95,93 aC
120,00 aB
137,21bA
T3 3,32bC 62,90bB 120,69aA 128,18bA
BRANCO 100 100 100 100
As letras iguais significam igualdade estatística. Letras minúsculas representam diferenças estatísticas entre os tratamentos da
mesma data e mesma coluna. Letras maiúsculas representam comparação entre as diferentes datas para o mesmo tratamento.
Fonte: Autor (2019).
Parâmetros Físico-químicos
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As quantidades de carbono encontradas em todas as amostras estão de acordo com
teores mínimos aceitáveis para substratos, o que indica que o material compostado continha
a condição necessária do C em todas as fases do experimento.
Sobre o nitrogênio total, todos os resultados comprovaram que o material processado
continha o mínimo indicado pelo MAPA (2020), que é de 5,0 g. kg−1. Apesar de constatarmos
um pico no T3 em 30 dias (15,39 g. kg−1), podemos perceber uma tendência de aumento nos
valores finais com 60 dias, em relação aos iniciais, o que interfere positivamente na relação
C/N, que pode indicar claramente uma tendência de estabilização do composto.
Ao longo do processo a relação C/N tende a baixar, o que favorece a fixação de nutrien-
tes, que posteriormente serão disponibilizados as plantas por meio do composto. Uma boa
relação inicial seria em torno de 30 a 40:1, e a final, ou seja, de um composto maturado e que
pode ser considerado como substrato, seria algo em torno de 10 a 20:1. Para Kiehl (1998),
o acompanhamento desta relação C/N permite, conhecer o andamento do processo, pois
na fase de semicura ou bioestabilização a relação C/N se situa em torno de 18:1. Relações
C/N baixas iniciais favorecem a perda de nitrogênio em forma de amônia, enquanto que em
relações C/N muito altas os microrganismos não encontram N suficiente para a síntese das
proteínas, limitando assim o seu desenvolvimento e reprodução, o que interfere no processo
de compostagem, tornando-o mais lento (OLIVEIRA, 2001).
Amostra C/N (Zero dias) C/N (30 dias) C/N (60 dias)
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não é recomendável basear-se apenas em resultados físico-químicos para considerar um
composto como estabilizado e livre de toxicidade.
Trat P K Ca Mg S Na Cu Zn Fe Mn Umidade
g/kg-1 mg/kg-1 %
T1 1,44 23,35 6,15 2,20 1,27 0,18 27,17 23,77 381,39 147,06 67,38
T2 1,68 22,83 5,79 2,10 1,27 0,33 25,88 21,49 346,37 130,46 68,89
T3 2,18 22,95 4,95 1,40 1,28 0,33 27,68 20,7 292,55 109,57 68,17
Fonte: autor (2020).
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agricultura e pecuária, a máxima encontrada foi de 1,27 2 1,28 g/kg-1, cerca de 0,127 2
0,128% Sódio (Na) da pesquisa foi encontrada máxima de 0,33 g/kg-1. O Mapa (2020) não
estabelece mínimas e máximas de g/kg-1 de sódio.
CONCLUSÃO
Agradecimentos
REFERÊNCIAS
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orgânicos. Embrapa Semi-Árido, Universidade Estadual da Bahia, 2006
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05
Avaliação do PNAPO aplicado aos
produtores de café no sul de Minas Gerais
Marlene de Araújo
Universitat de Valencia, España
'10.37885/220709467
RESUMO
MÉTODO
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agrícolas da região também foram ouvidos por meio de entrevistas semiestruturadas e
em profundidade.
Durante o estudo, também, se analisou documentos, decretos, normas e informes do
governo federal e estadual. Foram realizadas visitas aos especialistas em socioeconômica
que monitoram dados produtivos e econômicos, como também, aos especialistas em manejo.
Para validar as informações e dados foram feitas análises laboratoriais para comprovar as
observações realizadas nas propriedades rurais.
RESULTADOS
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Na opinião dos produtores de café convencional e orgânico os custos do processo de
certificação eram altos. Os processos de certificação no setor de café são: Selo de Pureza
Abic, Selos de Qualidade Abic, Brazilian Specialty Coffee Association (BSCA), Selo Orgânico,
Certificações Rainforest Alliance e UTZ, Indicação de Procedência, Denominação de Origem
e Cup Of Excellence. O processo mais conhecido e utilizado entre os entrevistados era o
Certificações Rainforest Alliance, UTZ, FAIR TRADE e o Sistema Participativo de Garantia.
O seguro rural, na opinião dos entrevistados, não estava dirigido para garantir a produ-
ção e a renda dos agricultores, mas sim para garantir o pagamento dos créditos do PRONAF,
isto é, para proteger o sistema bancário. Por outro lado, o seguro não estava adaptado ao
processo de produção agroecologia, colocando restrições às práticas agroecologias. Por
tanto, tudo o que está relacionado ao sistema de seguro rural é um tema distante da reali-
dade dos pequenos produtores de café. A maioria não tem a produção assegurada (73 %),
e os que têm a produção assegurada ainda estão insatisfeitos (17 %). A insatisfação está
relacionada aos parâmetros, pois, as empresas seguradoras usam métricas para avaliar as
perdas dos produtores que não acompanham as diretrizes e parâmetros oficiais, por isso,
os produtores acreditavam que não são parâmetros confiáveis. O sistema não ofertava uma
cobertura suficiente.
Foi possível confirmar que existia uma integração inicial entre PNAPO com a Política
de Agricultura Familiar- PRONAF. No processo de conversão de café convencional para
orgânico 150 produtores (43%) possuíam a Declaração de Aptidão PRONAF- DAP, o signi-
fica que estavam inseridos no Programa de Agricultura Familiar e participavam do Programa
Certifica Minas. A DAP era um requisito para ser beneficiário PNAPO, porém, os critérios
da DAP desestimulavam muitos produtores (67%) que possuíam renda maior que o mínimo
exigido pela DAP e, por isso, preferiam não entrar no processo.
O PRONAF e nem a PNAPO, na prática, não ampliaram a participação de jovens no
setor de café orgânico. Os entrevistados jovens eram 5 %, o que evidencia a sua baixa re-
presentação no setor de café nesta região.
Era necessário que jovens fossem envolvidos e que se promovesse junto aos produ-
tores mais experientes que repassem seus conhecimentos. Dever-se-ia ampliar a formação
na área de manejo, formas de boa convivência com o meio ambiente porque a legislação
ambiental, a gestão da propriedade por meio da tecnificação agrícola, como também, os
tipos de certificação estão sempre evoluindo.
Os principais agentes para a implantação do plano (PLANAPO) era a Empresa Brasileira
de Assistência Técnica- EMATER, assim como a Ater Agroecologia. Estes agentes tinham
entre seus objetivos a inclusão de princípios ecológicos. Atuavam nos municípios de Poço
Fundo e Machado. Cooperativa COOPFAM da cidade Machado trabalhava em parceria com
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a EMATER e Ater, para a capacitação e fortalecimento da implantação do café orgânico e,
a maioria do público-alvo eram mulheres, especificamente o grupo MOBI.
Nos outros municípios essa parceria não foi relatada nas entrevistas e a transferência
de conhecimento para o setor de café era prioritariamente realizado por cooperativas. Entre
7 cooperativas comportava 31 mil produtores de café em 100 cidades, porém o nicho de
café orgânico não era de interesse de todos os produtores.
As cooperativas são as instituições que agregam produtores, possuem poder de influên-
cia e credibilidade para promover mudanças até mais que as instituições governamentais,
pois essas não possuem recursos humanos e financeiros suficientes para atender grandes
áreas territoriais e monitorar o manejo de forma organizada e sistemática.
A percepção sobre o índice de satisfação dos entrevistados foi para cooperativas 55%,
em especial para as atividades de comercialização e apoio com empréstimos de recursos
públicos para custeio. As cooperativas destacaram com 32% e 35% respectivamente.
Encontrou-se entre os atores uma cooperativa com estratégias originais: a COOPFAM
que se destacou com 100% de satisfação sobre a promoção da produção do café orgânico
e proatividade na promoção do acesso dos produtores neste nicho de mercado.
A Emater foi a mais bem avaliada sobre orientações de manejo 68%, orientação técnica
sobre solo e meio ambiente 64%.
Entre os produtores se destaca o grupo MOBI. Observou-se que 40% de produtores,
deste estudo de caso, eram de mulheres produtoras de café orgânico, membros do movi-
mento Mulheres Organizadas em Busca de Independência Financeira - MOBI.
As mulheres do Grupo MOBI- Mulheres Organizadas em Busca de Independência
Financeira, 40 ao total, produziam café orgânico formaram o Sistema Participativo de Garantia,
que tinha por princípio a troca de experiências entre os produtores de café orgânico. Elas
mesmas preveniam, corrigiam não conformidades e compartilhavam a responsabilidade
pela garantia da qualidade dos produtos orgânicos e sistemas de produção. Este grupo
recebia recursos do PRONAF Custeio, porém, não puderam utilizar os recursos PRONAF
Agroecologia porque ele chegou a ser implantado.
Os produtores de café natural (secagem de café no terreiro com a luz do sol) enfati-
zaram que o preço de venda, a cada ano, é o que determina a decisão de permanecer no
negócio. A margem de contribuição era muito baixa e seria mais vantajoso aplicar os recur-
sos no mercado financeiro. Eles possuíam 15 grupos de variáveis de custos, sendo eles:
capinas e desbrotas; adubação; aplicação de herbicida; aplicação de defensivos; roçagem
e poda; transportes de produção e insumos; custos administrativos; colheita; secagem e
beneficiamento; calagem; insumos; herbicidas; fungicida e outros produtos agrícolas e im-
postos. O que pesava mais nos custos era a aplicação de herbicidas e colheita, em função
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65
do custo da mão de obra e combustíveis. Por esse motivo, buscavam ter alguma área da
produção convencional transformada em orgânica.
Os preços do café orgânico eram 30% maiores que o café convencional e as vezes
em função do sabor poderia chegar até 50%. Naquele momento estes eram os fatores mo-
tivacionais para refletir sobre a conversão.
Contudo, os produtores de café natural não viam compensação suficiente no cultivo
do café orgânico se não estavam em uma região apropriada, se não estavam trabalhando
com cooperativas capazes de criar estratégias para este nicho transformando o produto em
carro chefe. Estavam inseguros e preocupados que o café orgânico pudesse a vir a ser um
modismo e, como envolvia uma grande mudança de procedimentos de manejos, controles
administrativos e novos custos preferiam ter cautela.
Os produtores de café orgânico tinham três razões para fazer a conversão: o preço-
-prêmio (preços de venda até 50 % maiores, porém os custos eram de 30% maiores), os
efeitos mais positivos sobre a saúde, a garantia de assistência técnica gratuita. Usavam a
frase que estavam trocando qualidade por quantidade.
A visão ambiental
A produção de café em geral é um setor de baixo risco ambiental, posto que café é uma
espécie arbórea e 95% dos produtores aplicam medidas de proteção ambiental conforme
as normas ambientais oficiais. Entre os entrevistados, a Área de Proteção Permanente e
Reservas Legal eram respeitadas por 95% dos entrevistados. Porém, entre este total, 40%
de produtores precisavam recuperar áreas de pastagens e 30% ainda planejavam recuperar
áreas de proteção nas margens rios.
Os produtores de café orgânico e convencional utilizam dois tipos adubos e fertilizantes,
tanto orgânico como químico, na mesma propriedade. Normalmente escolhem áreas de mon-
tanhas para cultivar o café orgânico e nas áreas planas cultivam café convencional. As áreas
de montanhas são mais frias devido à altitude e possuem mais vegetação que ajudam a
proteger contra as pragas, o que favorece o processo de produção orgânica. Na entrevista os
produtores não mencionaram o Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (PRONARA).
Este programa era 2014 e foi defendido por especialistas em saúde humana em função do
consumo de pesticidas no Brasil.
O plano da PNAPO, isto é, o PLANAPO foi formulado para funcionar integrado aos
serviços de outras políticas públicas como PRONAF - recursos financeiros-, Programa
de Aquisição de Alimentos (PAA) - acesso ao mercado de consumo escolar-; PRONAF
Agroecologia - recursos especifico para conversão de modelo de produção-, e PRONARA -
redução e resíduos contaminantes- porém a integração não funcionou bem, porque, agentes
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importantes para a implantação, como: bancos, rede de produção de adubos orgânicos não
conheciam estes procedimentos integrados. O plano no momento da formulação não criou
meios para a execução integrada e, por isso, apesentou debilidades. A ausência dos produ-
tores rurais, dos bancos, dos produtores de adubos orgânicos e as cooperativas agrícolas
na formulação da política foi um fator determinante de insucesso.
No depoimento n◦ 9. Pesquisa de Campo, Campo do Meio-MG. (05/10/2014) informaram
que na época, participaram da formulação representantes do Partido dos Trabalhadores,
do Partido Comunista, as associações rurais e dos sindicatos rurais. Estes agentes eram
representantes políticos e de classes. Possuíam importância ideológica e de fortalecimento
do discurso, não obstante, não os se poderia qualificá-los como suficiente.
As outras partes interessadas que poderiam reforçar suas estratégicas de execução
para novos negócios e em novos nichos de mercado, como: os produtores de insumos quí-
micos e cooperativas se sentiram ameaçadas com a ambição do PLANAPO. Normalmente,
as cooperativas de café são parceiras da indústria química de adubos e fertilizantes e o seu
negócio de venda para os produtores de café já estava bem consolidado. A consequência foi
um abaixo apoio das cooperativas de café associadas a essas empresas, pois não estavam
dispostas a criar novas linhas de negócios para diferenciar e valorizar o café orgânico de
seus cooperados. Porém, a posição da cooperativa é importante na decisão do produtor de
café sobre fazer a conversão ou não fazer.
Em resumo, o êxito dos produtores de café orgânico da cidade de Poço Fundo só foi
possível devido o acesso ao crédito do Programa de Agricultura Familiar - PRONAF e pela
visão da cooperativa local (COOPFAM), que construiu uma parceria com estes produtores
e com os fornecedores de insumos orgânicos, como também, transformou o café orgânico
como carro chefe na sua comercialização.
O empréstimo do PRONAF, ao longo do tempo foi sendo reduzido e passou a ter uma
chancela política. Os critérios passaram a ter mais revisões e se tornaram restritivos aos
novos contratantes, o que reduziu o interesse da conversão em outros municípios. Ainda
que o Programa Certifica Minas, a Pastoral da Terra e a COOPFAM tenham feito um bom
trabalho no município de Poço Fundo e deram um bom exemplo, o resultado na regional
foi insignificante. A região estudada em entre 2013 e 2014, tinha 119 produtores orgânicos
0,64% do total de produtores de café: 31 mil. Estes produtores obrigatoriamente deveriam
fazer parte do Programa de Agricultura Familiar. Nas cidades estudadas havia 31 mil pro-
dutores de café convencional e 10.723 produtores cadastrados no programa no Programa
de Agricultura Familiar (MAPA, 2016).
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No depoimento e análises de diretores de cooperativas a dificuldade de acesso aos
recursos e a baixa oferta de assistência técnica foram os motivos para que entre 2007 e
2015 o êxito da conversão tenha sido inferior a 2% (1.040 produtores) em relação ao número
total de produtores considerados familiares (DEPOIMENTO N◦ 52, POÇO FUNDO, 2014).
Para os agentes da política, o processo de conversão era considerado muito lento
porque “ser orgânico” estava perdendo o status de produto diferenciado e os processos com
menos uso de pesticidas estavam se tornando uma obrigatoriedade. Porém para os técnicos
do Certifica Minas, o motivo da lentidão estava no analfabetismo de muitos produtores ca-
dastrados programa de Agricultura Familiar pois, não tinham facilidade de lidar com gestão
da informação e gestão de custos.
Quanto às opiniões sobre a Política Ambiental, os produtores de café em geral per-
cebiam a política como coercitiva e pouco integrada a Política Agrícola. Um entrave para a
gestão da propriedade. Eles entendiam que os fiscais da Política Ambiental não estavam
bem estruturados para difundir o conhecimento, os princípios da conversão e da recupera-
ção ambiental. O órgão tinha caráter punitivo e não educativo e, se mantinha distante do
produtor. A grande maioria 60% preferiam cultivar árvores exóticas em suas propriedades,
porque se cultivassem árvores nativas estariam impedidos de utilizá-las como madeira.
DISCUSSÃO
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O Brasil desenha boas políticas públicas, porém, o bom desenho não garante o su-
cesso na implantação, por motivos variados, mas, principalmente diagnósticos equivoca-
dos. A sociedade e o mercado são dinâmicos e exigem que o setor esteja atendo às suas
necessidades e, nem sempre o Estado está fazendo o mesmo tipo de “antenagem”, como
também, não possui a estrutura e profissionalismo suficiente para alcançar o produtor ru-
ral. E, em muitas vezes os comandos diretivos e autoritários típicos da alternância de go-
vernos, nem sempre aguardam que uma política amadureça e se consolide para alterar e
avançar no desenho. As instituições que executam as políticas públicas não acompanham
e não avaliam a trajetória do que foi proposto na agenda, como foi o caso das políticas da
“pseudo” promoção do café. Segundo Schneider (IPEA, 2013, pág 24), diz que ironicamente,
a política governamental do maior exportador de café do mundo fez pouco para promover
o setor de café.
A política para o café, anterior aos anos de 1980, fez pouco para estimular a produção
de qualidade, alterar a cultura da produção em quantidade sem agregação de valor para a
cultura de qualidade com agregação de valor e criação de novos produtos a base de café.
A política agrícola do etanol já foi muito diferente. Schneider (IPEA, 2013, pág. 2) continua:
E refletindo sobre a opinião de Schneider, se torna claro que, novas técnicas e conheci-
mento de manejos que levassem à qualidade com alinhamento aos requisitos de conservação
ambiental poderia não ser a exigência de mercado da época. Essas exigências surgem com
o evento ECO 1992. Antes disso, o mercado não estava atento às questões ambientais e
se nem estava disposto a pagar o preço da conversão. De fato, os agentes governamentais
precisam estar antenados nas demandas de produção, sociais e culturais de cada época.
Ainda está por desenvolver essa cultura de gestão de política pública, onde se possa exe-
cutar, monitorar, acompanhar os ciclos e a evolução da política, com o propósito de gerar
aprendizado e aperfeiçoamento contínuo.
A Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica é uma política pública criada
para tentar implantar as tão desejadas ações de desenvolvimento rural sustentável. Tinha
como base de sustentação, no seu desenho formal, o público de agricultores específicos da
reforma agrária, com ênfases em grupos femininos, comunidades tradicionais indígenas, qui-
lombolas, jovens de pequenas propriedades rurais e, também, para àqueles que desejassem
reforçar e trocar as práticas de produção baseadas em insumos químicos para sistemas de
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produção orgânica e ecológica, porém, o desenvolvimento sustentável não se faz apenas
com as classes minoritárias. Por que os outros produtores não foram comtemplados dentro
dos seus contextos de produção?
Em 2012, a PNAPO nasceu com intenções tímidas. A produção de café não estava no
seu foco como uma ação direta. As pessoas que faziam parte dos Movimentos Sem Terra-
MST e, que não tinham conhecimentos ou tradição agrícola, mas, que poderiam atuar na
produção de hortaliças estavam contempladas nas diretrizes dessa política. Considerando
esse perfil de clientela, a política foi entendida como alicerçada no viés ideológico do Estado
de Bem-Estar que estava no poder em 2012.
Entre as diretrizes da PNAPO, as pautas eram grandes, ousadas e complexas. A Lei nº
7.794, de 20/08/2012 que foi alterada constantemente e, a cada alteração ela se tornou mais
integrada a Lei de Agricultura Familiar. A inconstância no texto da lei dificultou a avaliação
da política, porém discutiremos aqui, as suas principais pautas.
Promover a soberania, a segurança alimentar e nutricional e os direitos humanos a
uma alimentação adequada e saudável; promover o uso sustentável dos recursos naturais,
promover sistemas justos e sustentáveis de produção e agroecológica e contribuir para
diminuir as desigualdades de gênero, por meio de ações e programas que promovem a
autonomia econômica das mulheres.
Ajudar na conservação e restauração de ecossistemas modificados por meio de siste-
mas de produção que reduzem resíduos contaminantes e a dependência de insumos externos
para a produção agrícola; ajudar na conservação e restauração de ecossistemas modificados
por meio de sistemas de produção que reduzem resíduos contaminantes; ampliar a partici-
pação de jovens das comunidades rurais na produção orgânica e de base agroecológica.
Para compreender o espírito governamental da época discutiremos cada uma dessas
pautas, individualmente, visando identificar pontos fortes e fracos.
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dos cidadãos, especialmente aqueles com necessidades financeiras, porém, na produção
agrícola, o discurso por si só não promove transformações. Neste caso era melhor uma
política social de repasse de recursos financeiros diretos, porém, com contrapartidas.
A produção de alimentos sem o uso de agrotóxicos nos trópicos não é simples. A agri-
cultura orgânica, o controle de pragas é realizado com métodos biológicos e produtos naturais
que possuem custo alto e, sem manejo correto é incipiente. A preparação do solo para o
plantio sem o uso de substâncias químicas, apenas com insumos naturais, como: farinha de
ossos, compostagem e etc., só é possível, na vida prática, em algumas áreas da propriedade.
Não é possível em toda a propriedade porque não há equilíbrio entre custos e benefícios.
Caso o produtor adotasse a estratégia de agricultura orgânica em toda propriedade, ele
não teria produção e rendimento suficiente para se manter no negócio e, não produziria na
quantidade adequada para atender as demandas de seu mercado. Deve-se levar em conta,
que os insumos naturais são caros, escassos e não estão disponíveis perto das áreas de
produção. O seu uso aumenta em muito o custo de produção dos produtos orgânicos, de-
vido aos custos de transporte e combustíveis. Por esse, motivo essa ideologia, acabou se
tornando um nicho de mercado, no qual as demandas de alguns consumidores por produtos
agroecológicos serão atendidas se estes estiverem dispostos a pagar mais pelo produto.
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com as altas taxas de extração ilegal de madeira podem conduzir à destrui-
ção deste património natural insubstituível, muitas vezes sem entender que a
floresta que está sendo cortada se encontra num estado primário. Em muitos
casos, a extração dessa madeira na União Europeia é feita legalmente, também
dentro de parques naturais. Sabatini; F.M et al, 2018. pág. 9).
Esta pauta ainda merece um estudo de auditoria com pesquisas de campo para ava-
liar a situação anterior do PLANAPO. A questão que precisa ser respondida: qual era nível
áreas degradadas que foram usadas para a produção agrícola incentivada pelo Planapo?
Avaliar o impacto pós PLANAPO, em especial, junto aos produtores que buscaram
recursos financeiros no PRONAF para este fim. Este estudo, ainda, não existe.
Restaurar áreas degradadas exige recursos financeiros, conhecimentos, articulação de
muitos atores e, aparentemente, nem sempre o resultado esperado é aquele que foi plane-
jado. No VIII Simpósio de Restauração Ecológica realizado em São Paulo, 2019, discutiu-se
sobre restauração de áreas degradas. Devide (2019, pág 45) citado em Barbosa, 2019, nos
conta um pouco sobre este esforço:
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No projeto Vitrine Agroecológica, desenvolvido no Vale do Paraíba, utilizou
a metodologia participativa ‘aprender fazendo’, unindo cientistas, agriculto-
res familiares, produtores orgânicos ou em transição, técnicos de assistência
técnica e extensão rural (ATER), educadores e acadêmicos, para implantar
e manejar os Sistemas Agroflorestais - SAFs em mutirões, promovendo o
contínuo desenvolvimento de processos e pessoas e a ligação espiritual às
forças da natureza. Ao integrar a pesquisa, ensino e extensão, suprem-se
as deficiências de ATER para trabalhos holísticos com SAFs. Essas e outras
ações coletivas impulsionaram a formação da Rede Agroflorestal do Vale do
Paraíba, que está disseminando os SAFs na bacia hidrográfica.
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Mônico; A.C. e Gandolfi; S. (2019, pág.128) citado em Barbosa (2019) exemplificam
que hoje, abaixo de quatro módulos fiscais dispensa-se o proprietário rural de restaurar a
Reserva Legal da propriedade, se ela tiver sido degradada, ou até mesmo totalmente elimi-
nada. Assim, em certos municípios de São Paulo, uma propriedade de apenas 21 hectares
terá de restaurar sua Reserva Legal, enquanto outra com 440 hectares, no Mato Grosso,
não precisará fazê-lo. Ou seja, se considerarmos como pequena uma propriedade que tenha
apenas um módulo fiscal, isso pode significar uma propriedade de 5 ha em São Paulo, ou
uma de 110 ha no Mato Grosso, e elas, obviamente, tem características e potencialidades
produtivas muito diversas, necessitando, ou não, de ajuda pública.
A grande maioria dos entrevistados não comentaram sobre o custo de recuperação de
áreas degradadas, porque já não as usavam devido a obrigatoriedade de tê-las transforma-
das em Áreas de Proteção Ambiental- APPs. 20% de cada propriedade na região sudeste
desde 1989 é APP. Comentaram sobre o custo de transformar área de pastagens em áreas
produtivas de café orgânico, mas, é considerado investimento e custos de produção.
Os 5% dos entrevistados que refletiram sobre o tema “custo da restauração de áreas
degradadas” entendiam como “custo de desocupação de áreas de preservação”, que esta-
vam irregularmente ocupadas e, gerava renda ao agricultor. No entanto, não pensavam na
desocupação como “custo” uma vez que essas áreas são espaços especialmente protegidos
em lei. Os produtores não foram ressarcidos por não utilizar essas áreas, porém compreen-
diam que não deviam ser remunerados até que a sociedade entendesse que a preservação
é a produção de bens naturais para o bem comum da sociedade. Bens como: água, solo,
infiltração de água no solo, ar limpo, preservação e fauna, flora, em especial, recuperação
de biodiversidade com potencial de extinção. Acreditavam que a sociedade brasileira e, em
geral, ainda não tinha conhecimentos relevantes para discutir o valor, a complexidade de
recuperação e a preservação das áreas.
Para os produtores, o custo de recuperação de áreas era relativo. Que o preço poderia
alterar em função da área, do método, da capacidade de produção e de pagamento para
conduzir a operação de recuperação. E, que quando se cria a política pública é preciso ter em
mente a realidade sobre a relatividade de capacidade de pagamento de cada tipo de produtor.
Sintetizando a discussão desse tema podemos enfatizar que a informação básica sobre
paisagem, relevos, preservação da qualidade natural do solo e manejos não foram priori-
zadas de forma equitativa para todas as regiões. Quando elas existiram, foram iniciativas
isoladas de algumas instituições.
No desenho dessa política não estava bem caracterizado os tipos de capacitação
necessária e não se levou em consideração o perfil dos diversos públicos-alvo, os tipos de
produção e demandas específicas sobre recuperação e restauração de biodiversidade.
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A boa política pública se caracteriza pelo oferecimento de serviços, como: crédito, ca-
pacitação, possibilidades de novas tecnologias, como por exemplo: em algumas regiões do
semiárido poderia ter difundido a técnica de se produzir em casas de vegetação, em função
da condição de clima e solo daquele território.
Poderia, ainda, ter criado formas de usos para os resíduos de casca de café: compos-
tagem para adubos orgânicos ou para produção de plásticos biodegradáveis, entre outros.
Pensando bem, nesta política esses serviços eram até mais urgentes porque visava à trans-
formação nos processos produtivos, culturais e, por isso deveria ter elaborado um plano de
ação técnico-pedagógica, a partir de um diagnóstico de novas tecnologias e necessidade
de recuperação ambiental em cada setor.
Em seu desenho deveria, também, ter um programa de crédito específico para o
PLANAPO, o que não ocorreu. Essa política compartilhou o serviço de crédito com o PRONAF
e, este não possuía os mesmos objetivos, parâmetros e critérios para que pudesse facilitar
o acesso do produtor aos recursos financeiros.
Essa pauta sobre a promoção de “sistemas justos” não ficou claro as estratégias de
suporte para o desenvolvimento desse “sistema justo”. Para torná-lo realidade precisaria de
uma forte oferta de serviços financeiros, acessíveis para implantação e para o custeio de
projetos de produção. O sistema bancário continuou o mesmo, não foi sensibilizado para
ser um ator neste processo.
Para o sucesso e evolução da proposta precisaria, também, que os produtores familiares
tivesse acesso a conhecimentos técnicos por meio de instituições públicas, que na época já
eram escassos de pessoal e estavam com os seus esforços voltados para o apoio ao MST,
por isso, a transferência de tecnologias de forma abrangente e neutra (não ideológica) não
estava disponível.
A Emater do Sul de Minas Gerais por falta de capacidade dirigiu seu aten-
dimento apenas aos assentamentos de reforma agrária, priorizados pelos
movimentos de esquerda e pelos grupos da Pastoral da Terra. Deveria ter
banco de sementes que pudesse atender a pequenos produtos, com grande
variedade de produtos básicos, como: milho e feijão, porém fortaleceram ape-
nas bancos de sementes hortaliças. (DEPOIMENTO N◦ 142. PESQUISA DE
CAMPO, MACHADO-MG. 02/10/2014).
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• Promover a valorização da biodiversidade agrícola e produtos do sócio biodi-
versidade e estimular as experiências locais de usos, manejo e conservação
de recursos genéticos.
Esse tema era quase desconhecido e, quando conhecido, era de difícil entendimento
entre os produtores rurais. É um tema para pesquisadores e para gestores na implantação
do PLANAPO. Não foram planejadas e realizadas ações para nivelar o conhecimento sobre
valorização da biodiversidade agrícola. Não se propôs ações práticas de acompanhamento e
monitoramento visando criar casos de benchamarking ou para difundir as práticas conscientes
e bem-sucedidas na região. Talvez, a introdução e fortalecimento dos bancos de sementes
em comunidade rurais seria o primeiro passo para essa pauta virar uma vivência. Contudo,
até os bancos de sementes mais básicas possuíam restrições, porque a sua implantação
interferia em interesses de grandes grupos produtores de sementes e mudas. E, o sistema
de registro de sementes que visava à garantia de qualidade e procedência padronizou o
acesso de sementes de forma que inciativas de compartilhamento social de sementes per-
deram a credibilidade. Critérios como: constância da disponibilidade do insumo e garantia da
qualidade do insumo estariam garantidos em um banco público de sementes? Essas ideais
são de difícil implantação porque criam conflitos com normas pré-estabelecidas.
Em janeiro de 2014, o Estado de Minas Gerais foi o primeiro a comunicar que iria im-
plementar uma Política Estadual de Agroecologia e Produção Orgânica. Publicou uma Lei
Estadual, a Lei nº 21.146/2014 que tinha como objetivo:
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No estudo de caso, entre os entrevistados em processo de certificação, o percentual
de jovens na produção café orgânico era de 17 pessoas, 4,9%, com a idade ente 20 e 29
anos e, era a menor representação entre os produtores.
O cadastro do MAPA é nacional e internacional, ele abrange o tipo de entidade cer-
tificadora, o país, a cidade, se o produtor é ativo ou não, o CPF, CNPJ e NIF (quando es-
trangeiro), nome do produtor, escopo da atividade, atividade, contato e telefone, porém não
registra a faixa etária do produtor. Neste caso, não dá para confirmar se de fato ampliou a
participação de jovens das comunidades rurais na produção orgânica e de base agroecoló-
gica. Este objetivo pode ser uma pauta de pesquisa para futuros estudos.
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Até 2014 maioria dos produtores tradicionais que tinha a intenção em iniciar ou testar
em 1 hectare de suas terras com as práticas ecológicas se decepcionavam, porque nada
cabia naquela forma de Lei genérica. O produtor rural, naturalmente, possui noção de risco
e, não é porque tinha uma lei que ele iria assumir o risco de tentar produzir em toda a sua
área com técnicas mais caras. Até por cautela eles iniciavam aos poucos.
Perfil MOBI
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gênero. O critério era de comprometimento com a produção. O conceito de gênero começou
a ser utilizado no marketing, em 2015, pela COOPFAM.
A constância e garantia da entrega da produção do MOBI possibilitou a COOPFAM
desenvolver três linhas de café orgânico. Essas linhas comunicam valor ao produto orgânico
em função do gênero: café orgânico que se obtêm das plantações conduzidas por homens,
café orgânico feminino das Mulheres do MOBI e café orgânico produzido pelos jovens - que
estava em formação. São linhas de produtos baseadas no marketing de gênero que são
vendidas no mercado de Fair Trade nos Estados Unidos e na Europa. Comentaram que no
Brasil essa estratégia não é valorizada (DEPOIMENTO No 53, POÇO FUNDO, 2014)
Durante o estudo, solicitou-se que nos informassem sobre os seus conhecimentos
repassados pelas organizações sociais que se relacionavam. Os temas mais difundidos na
comunidade pelos técnicos eram sobre os riscos dos produtos químicos, especialmente, os
glifosatos herbicidas.
O Grupo MOBI se posicionou sobre o uso de glifosatos herbicidas comentando que
são resistentes ao uso por prevenção da saúde humana e, apresentaram seus cadernos
de contabilidade demonstrando que de fato utilizam vários tipos de adubos orgânicos. Não
era barato executar essa escolha. Estes adubos eram produzidos em outras cidades ou até
em outros Estados, precisando planejar compras conjuntas para compartilhar o custo do
frete. Por esse motivo, era a cooperativa que coordenava a compra do grupo. Estes adubos
aumentavam até em 30% o custo de produção do café orgânico.
Outra característica importante do grupo MOBIO é a visão ambiental no processo de
produção. O resíduo de café, que é a casca do grão de café utiliza-se na produção de arte-
sanato, como: vasos para flores, jarras, bandejas, caixa de presentes, adornos para árvores
de Natal, botões, cesta de pães e fruteiras e, as sacarias que não são utilizadas na produção
se tornam aventais e sacolas. Essa atividade artística está evoluindo com novos métodos
e materiais como, por exemplo, utilizando cola branca, borra de café em altas temperaturas
para fazer utensílios de cozinha mais duráveis, um tipo de cerâmica negra.
As mulheres se organizam e transmitem a sua história e os seus processos de trabalho
de forma oral. Isso é um fato complicador para utilizar essas informações para benchmarking.
Para obter essas informações foi preciso uma escuta pessoal de cada uma delas. Registrar a
história dessas mulheres pode ser um tema de pesquisa para futuros pesquisadores sociais.
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se sentiram sem estímulo e apoio para se tornarem entrantes no processo de produção
orgânica, porque não atendiam o requisito da renda gerada no estabelecimento.
Elas possuíam o perfil correto para a conversão porque eram pessoas alfabetizadas
e empreendedoras, o que encurtaria o tempo de conversão. Porém 100% de suas rendas
provinham das aposentadorias urbanas o que naturalmente as excluíam do Programa de
Agricultura Familiar. A Lei não considerou a possibilidade de subsidiar produtores entran-
tes. O entrante fará inicialmente investimentos e não terá renda gerada pela propriedade
pelo ao menos por 2 a 4 anos, até que a primeira colheita seja realizada.
Os formuladores da política não diagnosticaram a evolução e tendência que os saídos
das zonas rurais nos anos de 1970, poderiam ter voltado as áreas rurais dos familiares. E, isso
ocorreu após os anos de 2000. Que herdeiros voltaram após suas aposentadorias urbanas e,
por não estar contemplados nas políticas agrícolas, apenas tiveram a opção de se organizar
para à demanda por bens e serviços não-vinculados diretamente à produção agropecuária,
como: artesanato, lazer e turismo rural, os quais podem ser desenvolvidos no próprio meio
rural, apesar de serem consumidos, majoritariamente, por residentes nos centros urbanos;
Havia outros critérios limitantes que os gerentes banco deveriam resguardar como:
produtores deveriam residir na propriedade rural ou em uma localidade próxima; utilizar mão
de obras de terceiros apenas como algo excepcional e sazonal (se os empregados forem
fixos, é preciso ser em menor número que os integrantes da família);
No período de 1990 a 2016 viver no campo era perigoso. Os partidos de esquerda in-
flavam os Movimentos Sem Terra para invadir propriedades e, estes utilizavam de violências
em suas ações. Analisando entre vantagens e desvantagens do programa de Agricultura
Familiar e a realidade no campo os produtores rurais decidiam não utilizar estes financiamen-
tos, os apoios e assistência porque entendiam que possuía um público ideológico definido.
Entre 2016 e 2017, a política já havia ampliado o espectro de beneficiários com a re-
solução do Banco Central n ° 2629/2001 e passou caracterizar grupos mais diversos. Além
disso, a Declaração de Aptidão PRONAF -DAP- classificou os agricultores familiares em
quatro grupos, de acordo com critérios de renda e de acesso a políticas públicas:
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ocorreu em período de pandemias) precisam ser diagnosticados. Os resultados das políticas
já implementadas precisam ser entendidos como insumos importantes para correção de
rumos dos serviços da política pública em vigor e, para checar a coerência dos parâmetros
e critérios com a realidade.
Em certos setores, como no café orgânico, o PLANAPO só foi implantada pelos es-
forços dos certificadores. Neste caso, se pode afirmar que a certificação foi estratégia para
a implantação do PLANAPO, porém, essa estratégia atingiu um nível ótimo de evolução?
Não se sabe, este é outro tema para investigação. E, antes mesmo que se promova
uma política pública para a certificação de carbono em café é preciso corrigir diversos fa-
tores críticos que foram entraves no PLANAPO, como: baixa alfabetização dos produtores,
critérios limitantes de créditos e serviços de políticas públicas obrigatórios não fornecidos.
CONCLUSÃO
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agroecológicos e atuavam nas cidades de Poço Fundo e Machado. Entre os municípios
visitados só a COOPFAM trabalhou com um conjunto de estratégias e associada à Emater
e Ater para capacitar os produtores de café orgânico.
Agradecimentos
REFERÊNCIAS
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ROPE’S LAST PRIMARY FORESTS? Diversity and Distributions. <Disponível em
Centro de Ecologia Aplicada/Willey. https://onlinelibrary.wiley.com/doi/epdf/10.1111/
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Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa - ISBN 978-65-5360-199-4 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
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Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo
produção artesanal de cambraias em
Petrolina - Pernambuco
'10.37885/220910333
RESUMO
A culinária nordestina é rica em ingredientes e sabores. Atrai e cativa paladares no país intei-
ro. Tendo forte influência das culinárias portuguesa, indígena e africana. Objetivo: Apresentar
e fazer compreender o surgimento da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo, em 1995,
no município de Petrolina - PE, que produz e comercializa em especial a Cambraia, um
alimento saboroso produzido de maneira simples, com a fécula de mandioca, rica em fonte
de energia e cálcio, e, que não possui glúten. Método: É um estudo de caráter exploratório,
bibliográfico e descritivo, com abordagem qualitativa. Resultados: Atualmente, trabalham
04 mulheres produzindo cambraias com sabor tradicional e exótico, como alho, cebola, be-
terraba, couve-flor, orégano e doce. Também são produzidos sequilhos doces. A produção
diária das iguarias é de aproximadamente 2.500 unidades. São comercializadas na região,
como também, em outros lugres do país. Conclusão: A cambraia é bastante popular na
região Nordeste. Com um sabor inigualável e de fácil preparo, ela é versátil, podendo ser
salgada, doce ou recheada, agradando a todos os paladares.
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geralmente como espessante e estabilizante, destacando-se pela falta de contribuição e
alteração do sabor, permitindo a detecção plena e imediata do sabor do próprio alimento,
assim como possibilita o desenvolvimento de filmes nanoestruturados comestíveis (Ibidem).
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreender
o surgimento da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo, em 1995, no município de
Petrolina - PE, que produz e comercializa em especial a Cambraia, um alimento saboroso
produzido de maneira simples, com a fécula de mandioca, rica em fonte de energia e cálcio,
e, que não possui glúten.
A cambraia é bastante popular na região Nordeste. Com um sabor inigualável e de
fácil preparo, ela é versátil, podendo ser salgada, doce ou recheada, agradando a to-
dos os paladares.
METODOLOGIA
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realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
A fenomenologia é classificada como sendo uma corrente filosófica cujo precursor foi
o filósofo e matemático Edmund Husserl, que nasceu no ano de 1859 na Moravia (atual
República Tcheca), e faleceu em 1938. Sua obra literária é marcada profundamente pela
preocupação com a crise das ciências, especialmente no tocante à compreensão dos
fenômenos humanos.
“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importantes
contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de seu
legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito da
construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “revo-
luções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):
De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as di-
ferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os diferentes
posicionamentos existentes no meio social.
Já o estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Por volta da década de 1990, no Bairro Jardim Amazonas, situado na Zona Norte do
município de Petrolina - PE, pelas mãos do casal Dona Maria e Seu Zé Miúdo, tem o início
da produção artesanal de uma iguaria típica da culinária nordestina, a Cambraia, um ali-
mento saboroso produzido de maneira simples, com a fécula de mandioca, rica em fonte de
energia e cálcio, e, que não possui glúten.
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Figura 03. Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo.
Em 2021, o governo municipal deu início a uma reforma e ampliação do espaço, or-
çado no valor de R$ 291,644,83 mil, pois as instalações já não atendiam mais as necessi-
dades da produção.
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Figura 05. Trabalhadores na reforma e ampliação do espaço.
Após alguns meses em obras, o espaço foi totalmente revitalizado, agora dispondo de
um local para atendimento, administração, produção e armazenamento de produtos adequa-
dos, e ainda, com acessibilidade para pessoas com deficiência. A nova Casa de Cambraia
Dona Maria e Zé Miúdo foi inaugurada em 2022.
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Figura 07. Museu da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo.
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Figura 08. Amostra de alguns produtos da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo.
Agradecimentos
As cambraieiras Luzia Amorim, Marta Maria, Nádia Raquel e Sandra Cristina, que
abriram as portas da Casa de Cambraia Dona Maria e Zé Miúdo para apresentar-nos a
sua história e espaço de produção e comercialização.
CONCLUSÃO
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A cambraia é bastante popular na região Nordeste. Com um sabor inigualável e de
fácil preparo, ela é versátil, podendo ser salgada, doce ou recheada, agradando a to-
dos os paladares.
REFERÊNCIAS
1. AMATUZZI, M. M. Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Alínea, 2009.
4. GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010. 184p.
6. Portal IBGE. Petrolina (PE) | Cidades e Estados | IBGE. Disponível em: <www.ibge.
gov.br/cidades-e-estados/pe/petrolina.html>. Acesso em 21 de setembro de 2022.
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07
Contribuição da educação ambiental e
da agroecologia para a efetivação da
Pedagogia da alternância no EJA Campo
Cláudio Alencar
Universidade Federal de Pernambuco - UNIVASF
'10.37885/220809709
RESUMO
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Pedagogia da Alternância no EJA Campo na perspectiva de construção de uma formação
crítica dos discentes.
Dentre os objetivos específicos tem-se: a) Compreender o Ensino da Educação
Ambiental dentro das políticas educacionais da EJA; b) Analisar a relevância da Educação
Ambiental enquanto ferramenta interdisciplinar necessária para a sensibilização e construção
de uma consciência ecológica no ensino do EJA Campo; c) Dialogar com o pensamento
ecológico na perspectiva da Educação Ambiental no ensino da EJA Campo; d) Discutir a
relevância da Agroecologia na Pedagogia da Alternância da EJA Campo.
Nesse sentido, justifica-se este estudo pelos prováveis ganhos oriundos dessa revisão
de literatura, sendo uma investigação que proporcionará uma ênfase sobre a Agroecologia,
e como tem um papel fundamental na conscientização na construção do conhecimento
voltado no desenvolvimento rural e na educação do campo, dentro da interdisciplinaridade
da Educação Ambiental.
MARCO TEÓRICO
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Nesta perspectiva, está envolvida na educação pelas questões ambientais, promo-
vendo e permitindo recursos para o desenvolvimento de dimensões da sustentabilidade,
atendendo as bases da sociedade na implantação de uma ética ecológica (MARQUES;
RIOS; ALVES, 2022). A partir disso, contextualizada numa formação continuada, a Educação
Ambiental deve estar inserida no centro do currículo escolar, apontando ações e refle-
xões sobre as possibilidades de inserção dentro da comunidade escolar (NASCIMENTO;
NOGUEIRA; RAMOS, 2020).
Santos, Sousa e Ferreira (2021) discorrem sobre como a Agroecologia fornece o conhe-
cimento e a metodologia para auxiliar no desenvolvimento da agricultura saudável. Buscando
a viabilidade econômica, sustentável e de sua alta produtividade, disponibilizando princípios
básicos sobre o estudo dos ecossistemas e sobre seu tratamento, focando na conservação
dos recursos naturais (MACHADO, 2009).
De acordo com Ferrari e Oliveira (2019), a Agroecologia é uma ciência destinada a
apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencio-
nais para estilos de desenvolvimento rural e de agriculturas sustentáveis, representando uma
abordagem agrícola que incorpora cuidados relativos ao meio ambiente, desde os problemas
sociais, incluindo a sustentabilidade ecológica do sistema da produção, como um todo.
Sendo assim, a Agroecologia é uma ciência destinada na utilização de conceitos e de
princípios ecológicos para o manuseio dos agroecossistemas sustentáveis, permitindo a
logicidade ecológica da agricultura familiar, além do desenvolvimento de táticas de cultivo
(PACHECO et al., 2021).
Corroborando, Menezes et al. (2020), discorrem a Agroecologia como uma área de
conhecimento interdisciplinar, na construção de modelos de agricultura rural com base eco-
lógica e construção de uma iniciativa de avanço rural - com princípio na sustentabilidade.
Endossando, Pacheco et al. (2021) acrescenta que a Agroecologia é uma abordagem
científica que busca transicionar nos tempos atuais como transição do desenvolvimento rural
e da agricultura convencional para uma agricultura mais sustentável, apresentando como
ciência, valorizando a dinâmica de funcionamento de sistemas agrícolas distintos.
METODOLOGIA
O presente trabalho está pautado numa revisão bibliográfica, tendo uma abordagem
qualitativa, classificando-se como de caráter exploratório, que visa subsidiar a leitura e a
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interpretação no conjunto de artigos científicos e capítulos de livros que contemplem a te-
mática de pesquisa.
O critério trabalhado para a realização da pesquisa foi o processo de condução de
busca independente, focando em produções acadêmicas, através da ferramenta de pes-
quisa “Google Acadêmico” e “SciELO - Brasil”, com os descritores “Educação Ambiental”,
“Agroecologia” e “EJA Campo”, com corte temporal dos últimos 10 anos (2012-2022) em
páginas em português.
Logo abaixo, o fluxograma da pesquisa, o processo de refinamento de inclusão e ex-
clusão dos trabalhos acadêmicos, e dos critérios abordados.
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RESULTADOS E DISCUSSÕES
Logo, o processo para a organização e classificação das referências que serão debati-
dos na discussão da revisão bibliográfica foi através do seu tipo de trabalho acadêmico e do
seu Qualis. Ao todo foram 12 trabalhos selecionados, desde 06 artigos acadêmicos (Qualis
B2), 04 capítulos de livros (Sem Qualis) e 02 documentos (Sem Qualis).
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• Importância da Educação Ambiental dentro das Políticas Educacionais da
EJA Campo
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A Educação de Jovens e Adultos do Campo, a partir de suas particularidades e dos
eixos temáticos, traz uma dimensão de universalidade da educação, vinculado a um proces-
so de formação humana, para a reflexão e reconhecimento dos seus direitos da cidadania.
Através desses segmentos, a Educação Ambiental é uma ferramenta interdisciplinar
necessária para a sensibilização e construção de uma consciência ecológica no ensino do
EJA Campo, fomentando em ações educativas e maior envolvimento dos docentes na inser-
ção da Educação Ambiental em situações do cotidiano, desenvolvendo um processo mais
vivenciado e de ensino-aprendizagem dos estudantes, gerando uma postura mais crítica e
de valorização ao meio ambiente.
Buscando criar uma nova consciência de valor sobre o meio ambiente, a Educação
Ambiental proporciona a realização de novas experiências criativas e inovadoras em diver-
sos segmentos da população em vários níveis de formação (MOURA et al, 2021). Na EJA
Campo, a Educação Ambiental auxilia na construção da integração e transformação no
pensamento crítico dos estudantes, promovendo discussões sobre as questões ambientais
e fortalecendo a sensibilização para a natureza e da agricultura familiar.
Partindo deste pressuposto, faz-se necessário abordar resumidamente sobre a defi-
nição de Pedagogia da Alternância, visto que está é uma expressão polissêmica que de-
tém elementos triviais, mas que se consolida de díspares maneiras, ou seja, “conforme os
sujeitos que as assumem, as regiões onde acontecem as experiências, as condições que
permitem ou limitam e até impedem a sua realização e as concepções teóricas que alicer-
çam suas práticas” (RIBEIRO, 2008, p. 30). A partir desta visão ampla, é possível afirmar
que “a Pedagogia da Alternância tem o trabalho produtivo como princípio de uma formação
humanista que articula dialeticamente ensino formal e trabalho produtivo” (Ibidem).
Neste aspecto, a Pedagogia da Alternância é uma opção metodológica de “formação
profissional agrícola de nível técnico para jovens, inicialmente do sexo masculino, filhos de
camponeses que perderam o interesse pelo ensino regular porque este se distanciava total-
mente da vida e do trabalho camponês” (RIBEIRO, 2008, p. 31), reforçando aqui sua rele-
vância para a formação do jovem da EJA Campo. Sendo assim, a Pedagogia da Alternância
pode utilizar os parâmetros práticos da ciência agroecológica, com vistas a capacitação de
jovens do campo.
Deste modo, cabe aqui reiterar a definição da Agroecologia. Segundo Caporal (2009)
a Agroecologia pode ser definida como sendo uma nova ciência em construção, ou um
paradigma, cujos princípios e bases epistemológicas nasce a convicção de que é possível
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reorientar o curso alterados dos processos de uso e manejo dos recursos naturais, de forma
a ampliar a inclusão social, reduzir os danos ambientais e fortalecer a segurança alimentar
e nutricional, com a oferta de alimentos sadios para todos os brasileiros.
Através disso, a Agroecologia tem um papel importante na Educação Ambiental trans-
formadora, surgindo como uma possibilidade para o desenvolvimento sustentável, buscando
integrar novas estratégias para o desenvolvimento rural, novos desenhos da agricultura,
gerenciamento da água e dos meios de produção (FRAGOSO et al., 2021).
Fragoso et al. (2021) disserta como a Agroecologia integra diferentes saberes e outras
dimensões, implementando a aplicação de políticas públicas voltadas ao fortalecimento da
agricultura familiar, e no direcionamento do desenvolvimento rural. Sua abordagem propõe
mudanças profundas nos sistemas e nas formas de produção, propondo novas maneiras de
apropriação dos recursos naturais que devem se materializar em estratégias e tecnologias
condizentes com a filosofia base (SANTOS; OLIVEIRA, 2015).
Nesta perspectiva, a relevância da Agroecologia enquanto ciência, para a práxis da
Pedagogia da Alternância dentro da EJA Campo é integrar esses saberes e dimensões para
complementar o ensino e aprendizagem dos estudantes, fomentando discussões e ações/
projetos educacionais naquela comunidade do campo, proporcionando novas metodologias
de ensino e ferramentas voltadas no fortalecimento das estratégias agroecológicas na agri-
cultura familiar.
Ademais, é indispensável dialogar sobre os saberes da Agroecologia, desde sua de-
finição como ciência e sua importância dentro da Educação Ambiental e na Educação do
Campo, com vistas a proporcionar novas estratégias para o desenvolvimento rural e de
novos desenhos na agricultura familiar mais sustentável, com foco na conservação do solo
e da preservação dos recursos naturais.
Pode-se afirmar que a Agroecologia mais do que simplesmente tratar sobre o manejo
ecologicamente responsável dos recursos naturais, constitui-se em um campo do conhe-
cimento científico que, partindo de um enfoque holístico e de uma abordagem sistêmica,
contribui para que as sociedades possam redirecionar o curso alterado da coevolução social
e ecológica, nas suas mais diferentes inter-relações e mútua influência (CAPORAL, 2009),
e neste viés que pode ser associada com a Educação Ambiental para viabilizar as práticas
da Pedagogia da Alternância.
Portanto, a Agroecologia se consolida como enfoque científico na medida em que este
novo paradigma se nutre de outras disciplinas científicas, assim como de saberes, conheci-
mentos e experiências dos próprios agricultores, o que permite o estabelecimento de marcos
conceituais, metodológicos e estratégicos com maior capacidade para orientar não apenas
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o desenho e manejo de agroecossistemas mais sustentáveis, mas também processos de
desenvolvimento rural mais humanizados (CAPORAL, 2009).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agradecimentos
A Deus pela força para perseverar e me dar força. A minha mãe e meu pai, pelo carinho
e amor incondicional, por me instruírem e me apoiaram nesta jornada. Aos meus orienta-
dores e professores mestres – Clécia Pacheco e Paulo Roberto, pela paciência e auxílio na
realização deste trabalho.
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REFERÊNCIAS
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sição a agriculturas mais sustentáveis. Embrapa. Brasília/DF: 2009. 30p. Disponível
em: http://www.cpatsa.embrapa.br:8080/public_eletronica/downloads/OPB2442.pdf.
Acesso em: 05 ago. 2022.
5. MARQUES, Welington Ribeiro Aquino, RIOS, Diego Lisboa; ALVES, Kerley dos San-
tos. A percepção ambiental na aplicação da Educação Ambiental em escolas (2022).
Revista Brasileira De Educação Ambiental (RevBEA), 17(2), 527–545. https://doi.
org/10.34024/revbea.2022.v17.11612. Acesso em: 17 jun. 2022.
7. MOURA, José Alberto Gonçalves de; MOURA, Rosimary de Carvalho Gomes; NETO,
Antonio de Santana Padilha; ALMEIDA, Hortência Silva; PACHECO, Clecia Simone
Gonçalves Rosa; OLIVEIRA, Deranor Gomes de. Revista Ambiente & Sociedade:
Concepções, Fundamentos, Diálogos e Práticas para Conservação da Natureza.
Editora Científica Digital. DOI: 10.37885/210604987. Disponível em: https://www.edi-
toracientifica.org/articles/code/210604987. Acesso: 21 mar. 2022.
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106
8. NASCIMENTO, Regina; NOGUEIRA, Eliane Maria de Souza; RAMOS, Paulo Roberto.
Educação Ambiental no Semiárido Baiano: conhecimento, aplicações e necessidades.
Revista Brasileira de Educação Ambiental (Revbea), [S.L.], v. 15, n. 7, p. 423-439,
10 dez. 2020. Universidade Federal de São Paulo. Disponível em: https://periodicos.
unifesp.br/index.php/revbea/article/view/10199. Acesso em: 17 jun. 2022.
10. SANTOS, Suellen Lemes Freire, Sousa, Romier da Paixão, & Ferreira, Cícero Paulo.
Educação ambiental e Agroecologia: uma proposta para o entrelaçar de saberes nas
escolas rurais do município de Castanhal - PA (2021). REMEA - Revista Eletrônica
Do Mestrado Em Educação Ambiental, 38(1), 244–265. Disponível em: https://doi.
org/10.14295/remea.v38i1.12210. Acesso: 21 mar. 2022.
11. SANTOS, Tiarles Rosa dos; OLIVEIRA, Helena Silva. Agroecologia como temática de
educação ambiental na preservação dos ecossistemas através da redução de agrotó-
xicos no contexto rural (2015). REMEA - Revista Eletrônica Do Mestrado Em Edu-
cação Ambiental, 135–147. Disponível em: https://periodicos.furg.br/remea/article/
view/4671. Acesso em: 17 jun. 2022.
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08
Empreendedorismo Saudável: o modelo
de negócio da Bonno DuValle - vida sem
glúten
'10.37885/221010390
RESUMO
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seus negócios dentro das redes sociais, e o “Instagram” é atualmente uma ferramenta de
“marketing” e comercialização. É uma das redes sociais que vem se destacando atualmente,
tanto pelo uso das pessoas, como também no meio empresarial, para divulgação de produtos
e vendas “on-line”, de acordo com Aragão et al., (2015) apud Filippi e Dockhorn (2017, p.6):
GLÚTEN
De acordo com Silva (2010), tornou-se corriqueiro encontrar nos mercados produ-
tos industrializados que tradicionalmente não teriam glúten, mas que durante o proces-
so de fabricação se contaminam em razão do uso de uma linha comum de produtos
que contém glúten.
Segundo o Codex Alimentarius e o Food and Drug Administration (FDA)
dos EUA, alimentos livres de glúten devem apresentar um nível detectável de até 20 mg por
kg de produto (CODEX ALIMENTARIUS, 2008).
No Brasil, a rotulagem de produtos que contêm glúten, é regulamentada con-
forme a Lei nº 10.674 de 2003 e Resolução RDC nº 40 de 2002. As mesmas evi-
denciam que os fabricantes da indústria alimentícia devem descrever nos rótulos
das embalagens de todos os alimentos industrializados de forma clara, precisa e
legível se aquele produto contém ou não contém glúten, essa avaliação deve ser
realizada através de avaliação dos ingredientes utilizados e/ou contaminação
cruzada dentro dos processos produtivos (BRASIL, 2003).
Aliado a isto, não se pode esquecer que, para a constituição, desenvolvimento e ino-
vação em empreendimento, é indispensável a busca por procedimentos que auxiliem as
empreendedoras na compreensão da estrutura dos negócios. Neste sentido, o Quadro
de Modelo de Negócios ou “Business Model Canvas”, é uma ferramenta que o planeja-
mento, a criação ou reformulação de algum empreendimento, contribui assim, para tornar
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111
mais favorável tal modelo de negócio. Esta metodologia foi desenvolvida pelo suíço Alex
Osterwalder, sendo um instrumento criado para assimilar de maneira explícita e coerente,
a estrutura de um empreendimento.
A referida ferramenta visa descrever os elementos e fases que compõem um negó-
cio, que são eles: Proposta de Valor, Canais, Segmento de Clientes, Relacionamento com
Clientes, Recursos Principais, Atividades Principais, Parcerias Principais, Estrutura de Custos
e Fontes de Receita.
Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, analisar e fazer compreender o
modelo de negócio exitoso, desenvolvido por um casal de jovens no município de Petrolina
- PE, na Região Sertão do São Francisco, que por necessidade, identificou a possibilida-
de para empreender, impulsionar a renda familiar e principalmente, manter a saúde, com
a criação da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten, por meio da Rede Social “Instagram”,
comercializando alimentos sem glúten, especialmente para pessoas que sofrem restrição a
essa proteína (celíacos, alérgicos e intolerantes).
Devido a popularização da “internet” e das redes sociais, vêm sendo modificada a forma
com que as pessoas se relacionam, e principalmente, a aquisição de produtos e serviços,
demonstrando que o comércio virtual tem potencial crescente no país e no mundo.
METODOLOGIA
O estudo foi desenvolvido no empreendimento “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”, lo-
calizado no município de Petrolina - PE, que de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE), possui uma população estimada em 359.372 habitantes. A cidade está
localizada na Região Sertão do São Francisco (figura 1), distante 713,5 km da capital per-
nambucana, Recife, à margem esquerda do Rio São Francisco, tendo acesso pelas rodovias
BR-428 e BR-232.
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Deste modo, este é um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem
qualitativa, desenvolvido a partir do método fenomenológico, que é empregado em pesquisa
qualitativa, e preocupa‐se com a descrição direta da experiência como ela é, sendo que a
realidade é construída socialmente e entendida da forma que é interpretada, não se colo-
cando como única, podendo existir tantas quantas forem suas interpretações (GIL, 2010).
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto a natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).
O estudo foi dividido em 05 fases:
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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alimentícias de produtos que contenham essa proteína ou que sofram contaminação cru-
zada (transferência acidental, direta ou indireta, aos alimentos, de contaminantes físicos,
químicos ou biológicos).
À vista disso, pela dificuldade de encontrar uma variedade de alimentos sem glúten
e com preços acessíveis na cidade, o casal logo percebeu uma oportunidade de negócio
e principalmente, manter a saúde, decidindo empreender no segmento de alimentos sem
glúten, por meio da Rede Social “Instagram” (@bonnoduvalle), e com isso, incrementar
a renda familiar.
São produzidos de maneira artesanal, diversos alimentos sem glúten, como, bolo, ma-
carronada, pastel, pizza, sanduíche, torta, entre outros, bastante saborosos e com qualidade.
Figura 03. Pizza e sanduíches produzidos pela “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”.
A “Bonno DuValle - Vida sem Glúten” vem prosperando e a aceitabilidade dos pro-
dutos pelos clientes cresce a cada dia mais.
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O Modelo de Negócio da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”
Por meio dos dados coletados e analisados, foi possível compreender o modelo de
negócio desenvolvido pela “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”, com a comercialização
de alimentos sem glúten, apresentando as seguintes características:
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Figura 05. Modelo de Negócio da “Bonno DuValle - Vida sem Glúten”.
• Proposta de Valor: Pães, bolos, tortas, pizzas, pastéis, esfirras, coxinhas, biscoi-
tos, sanduíches e macarronada, além de proporcionar bem-estar, saúde e qualida-
de de vida.
• Canais: Contato telefônico, “delivery” na cidade, no próprio domicílio, pela Rede
Social “Instagram” e aplicativo de mensagens e chamadas de voz para “smartpho-
nes”, “WhatsApp”.
• Segmento de Clientes: Celíacos, alérgicos e intolerantes ao glúten e, pessoas
comuns.
• Relacionamento com Clientes: Contato telefónico, atendimento direto, “Insta-
gram” e “WhatsApp”.
• Recursos Principais: Financeiro, para aquisição de bens, materiais e pagamentos
diversos, físico, como armário, mesa, prateleira, entre outros e humano, a mão-de-
-obra dos empreendedores.
• Atividades Principais: Comercialização, produção e “marketing”.
• Parcerias Principais: Rádio Ponte FM 91.5, com apoio e divulgação do empreen-
dimento, “Chef” Susan Martha - Amor Pela Comida e, Marta Midori Gluten “Free”,
via cursos de gastronomia, Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Em-
presas (SEBRAE), por meio de cursos, oficinas e palestras sobre gestão, empre-
endedorismo, “marketing digital”, finanças, redes sociais e posicionamento digital,
e, Mercado Pago, por intermédio de recebíveis de vendas.
• Estrutura de Custos: Água, luz, “internet”, matéria-prima, embalagem, rótulo, ma-
terial de limpeza, remuneração e transporte.
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• Fontes de Receita: Dinheiro em espécie, cartão de crédito e débito, PIX e transfe-
rência bancária.
CONCLUSÃO
Agradecimentos
REFERÊNCIAS
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Alimentícios Comercializados Informem Sobre a Presença de Glúten, como Medida
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09
Entrevista com agricultores de hortas
urbanas: uma atividade CTS no ensino de
Química
'10.37885/220809685
RESUMO
Pozo e Crespo (2009) descrevem em sua obra o cenário angustiante vivenciado por
professores da educação básica, em que muitos deles estão frustrados pelo pouco sucesso
alcançado mediante o esforço despendido no ensino, visto que os alunos aprendem cada
vez menos e apresentam concepções errôneas e persistentes, mesmo após vários anos de
estudos escolares, além de terem pouco interesse pela apreensão do conhecimento cientí-
fico e, como consequência, apresentam dificuldades em solucionar problemas da atividade
científica que envolve o uso do raciocínio lógico.
O desinteresse dos alunos na aprendizagem de Ciências é consequência de uma prá-
tica escolar que prioriza a execução de tarefas rotineiras como a resolução de problemas
com pouco significado científico, tendo como consequência a falta de utilidade dos conceitos
trabalhados em sala de aula e a perda de interesse do aluno pelo conhecimento científico
(POZO; CRESPO, 2009).
Considerando que a imagem distorcida da ciência presente nos meios de comunicação
social, e que essa visão é ainda reforçada nas ações em sala de aula, acreditamos que o
ensino de ciências pautado em uma abordagem CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade) pode
contribuir para que os estudantes adquiram uma visão holística do conhecimento científico
e suas relações com a tecnologia.
Gordillo (2009) considera que a inserção de temas (temas transversais, temas sociais
relevantes e temas controversos) nos materiais didáticos de disciplinas científicas e hu-
manísticas contribui para a aprendizagem científica e para a participação cidadã no debate
de problemas relacionados à ciência e à tecnologia, como por exemplo, “controvérsias so-
bre problemas reais de interação entre ciência, tecnologia e sociedade em âmbitos como
a saúde, o meio ambiente, o urbanismo, etc.” (GORDILLO, 2009, p.71, tradução nossa).
Logo, partimos da hipótese de que a abordagem de temas gerais e amplos como
“Agricultura” no ensino de química é de grande relevância na formação do aluno, visto que
esse tema é abordado nos livros didáticos aprovados pelo PNLD - 2015, 2016 e 2017 e na
Proposta Curricular do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2012). A prática agrícola repre-
senta uma das atividades sociais mais importantes desenvolvidas pelo ser humano, além
de proporcionar uma evolução histórica em sua forma de vida, necessitou com o tempo
de aprimoramento técnico para atender a crescente demanda da população por produtos
agrícolas. Como o aumento da produção agrícola pode ser atingido por diferentes tecnolo-
gias de cultivo, diferentes visões surgem nesse contexto, como o debate entre agricultura
convencional e agricultura orgânica.
O tipo de agricultura praticada na sociedade, por ser um tema controverso, favore-
ce o desenvolvimento de atividades que estimulam a argumentação e o debate entre os
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estudantes, consequentemente, possibilita mobilização de conhecimentos e a consideração
de questões éticas, políticas e sociais no desenvolvimento do tema em sala de aula, con-
tribuindo para realização de uma educação CTS para a cidadania (SANTOS, 2008, 2012).
Embora o Brasil seja o país que mais faça uso de agrotóxicos, segundo o Ministério do
Meio Ambiente (BRASIL, 2016), resultando em elevados índices de intoxicação de pessoas,
e a frequente discussão de questões acerca desse tema nos meios de comunicação, muitos
dos estudantes da turma que participou desta pesquisa desconhecem a procedência dos
alimentos que consomem e seus processos de produção como, por exemplo, a questão do
uso de agrotóxicos.
No sentido de aproximar os estudantes acerca do tipo de agricultura praticada na
sociedade para posterior debate sobre agricultura convencional versus agroecologia, rea-
lizamos com a turma a atividade “entrevista com agricultores de hortas urbanas”. Portanto,
este trabalho tem por objetivo analisar as questões formuladas pelos estudantes durante as
entrevistas realizadas com agricultores de hortas urbanas.
A pesquisa desenvolvida neste trabalho é qualitativa do tipo pesquisa-ação, desenvol-
vida nas aulas de Química com uma turma de estudantes da 3ª série do Ensino Médio de
uma escola estadual do município de Embu das Artes – SP.
REFERENCIAL TEÓRICO
Concordamos com Chassot (2000) que a função do ensino de Ciências não é formar
cientistas, mas contribuir para formação de cidadãos críticos que compreendam o mundo e
por meio do conhecimento possam transformá-lo. Assim afirma Chassot:
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alfabetização científica refere-se à construção de conhecimentos e conceitos científicos para o
entendimento de situações cotidianas e a interferência nas mesmas a partir do conhecimento
adquirido por meio da compreensão da natureza da ciência, suas metodologias e questões
éticas, políticas envolvidas, possibilitando abordagem de temas sociocientíficos que promo-
vem o estabelecimento das relações entre ciência, tecnologia, sociedade e meio ambiente.
O ensino investigativo é caracterizado por promover um ambiente de potencial alfa-
betização científica, segundo Carvalho e Sasseron (2008), visto que permite ao aluno o
acesso a dados e teorias e promove a articulação destes para a resolução de problemas.
Uma sequência de ensino investigativa (SEI) apresenta uma sequência de atividades espe-
cíficas envolvendo respectivamente: a problematização com resolução, sistematização do
conhecimento construído e contextualização (CARVALHO, 2013).
O professor atua como mediador no processo de ensino-aprendizagem e o aluno am-
plia sua cultura e linguagem científica, relacionando-as com situações presentes em sua
realidade, reinterpretando suas experiências, facilitando a compreensão do mundo em que
vive e transcendendo o senso comum (CHASSOT, 2000; MORTIMER, 1996). Corroborando
as ideias de Chassot e Mortimer, Carvalho (2013) aponta para a ressignificação do conhe-
cimento do senso comum do estudante:
Mortimer (1996) considera que para aprender ciências os alunos constroem uma nova
maneira de pensar e explicar o mundo, por um processo de “enculturação”, ou seja, viven-
ciando práticas e as formas de pensar da comunidade científica, utilizando representações
simbólicas próprias desta comunidade, não de forma a substituir as concepções prévias
do aluno por ideias científicas, mas sim, de forma que ele possa ter esse desenvolvimento
paralelo e empregá-las em contextos apropriados.
Na concepção de alguns projetos de ensino investigativo que surgiram no Brasil a partir
da década de 1970, a investigação deve superar atividades de coleta e análise de dados,
abordando as relações e implicações sociais e políticas da atividade científica (VIEIRA, 2012).
Consideramos que a articulação do ensino investigativo com o enfoque CTS no ensino de
Ciências possibilita que os conceitos internalizados pelos estudantes sejam utilizados para
tomada consciente de decisões frente a situações envolvendo questões científicas e tecno-
lógicas e suas implicações sociais.
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O enfoque CTS na educação
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pessoas e é inevitável; b) superioridade dos modelos de decisões tecnocráticas: ideia de
que a ciência e a tecnologia podem solucionar problemas técnicos e sociais de forma neu-
tra; c) perspectiva salvacionista da ciência e tecnologia: aponta para a concepção linear de
progresso na qual desenvolvimento científico promove desenvolvimento tecnológico, que
promove desenvolvimento econômico, que por sua vez promove desenvolvimento social.
A visão ampliada de ACT estuda as relações CTS relacionando o ensino de conceitos
à problematização desses “mitos”, despertando a compreensão da natureza da ciência e
seu papel na sociedade e a capacidade de tomada de decisão consciente.
As atividades da SEI tiveram como foco o desenvolvimento da ACT na perspectiva
ampliada, em que a proposta de realização da entrevista apresentou-se como mais uma
atividade que busca o desenvolvimento do espírito investigativo dos estudantes e a “encul-
turação científica”, visto que entrevistas são ferramentas importantes de coleta de dados em
determinados tipos de pesquisas, além de contribuir para o desenvolvimento de habilidades
comunicativas (LÜDKE; ANDRÉ, 2014).
MÉTODOS
Esta pesquisa foi desenvolvida numa abordagem qualitativa, visto que o cenário edu-
cacional é complexo e dificilmente conseguimos isolar suas variáveis e relacioná-las a deter-
minado efeito, ainda que a preocupação com o processo seja maior do que com o produto
(LÜDKE; ANDRÉ, 2014).
O cenário da pesquisa foi uma escola estadual do município de Embu das Artes, SP,
sendo os participantes desta pesquisa uma turma de 25 alunos da 3ª série do Ensino Médio
e a professora de química da turma, a qual é uma das autoras deste trabalho. As entrevistas
dos agricultores de hortas urbanas constituíram uma das etapas da SEI realizada na pers-
pectiva CTS, desenvolvida acerca do tema “agricultura convencional versus agroecologia”.
A visita à horta urbana para realização da entrevista dos agricultores representou a
última atividade do primeiro ciclo da SEI, com o objetivo de mobilizar conteúdos com os
seguintes propósitos: fazer entrevistas (segundo o gênero textual), registrar observações;
correlacionar conceitos e técnicas de plantio; relacionar o tema abordado na SEI com a
sociedade, a economia solidária e o meio ambiente; contribuir para a aprendizagem em um
local diferente da sala de aula convencional; articular a experiência da visita à construção
de conhecimentos, promover a articulação entre os elementos da tríade ciência, tecnologia
e sociedade; promover a inserção dos estudantes na cultura científica e subsidiar a cons-
trução da horta vertical na escola.
A SEI foi organizada em dois ciclos de atividades acerca de questões envolvendo as
formas de plantio e os impactos socioambientais relacionados à agricultura convencional e
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agroecologia. O ciclo 1 era constituído por: problematização; leitura de textos de divulgação
científica; leitura e interpretação de tabelas; vídeo “O veneno está na mesa 2”; sistemati-
zação das discussões realizadas em aula por meio do uso de multimídia; reavaliação das
hipóteses; elaboração de texto argumentativo; visita a uma horta urbana para realização
de entrevistas com agricultores e construção da horta vertical. O ciclo 2 era constituído
por: problematização, busca de informações sobre o tema utilizando a sala de informática
da escola, divulgação das informações pesquisadas pelos grupos, preparação do adubo e
adubação da horta, atividade lúdica – jogo das funções orgânicas, aula de exercícios, júri
simulado para debater o tema, aula expositiva dialogada, elaboração de relatório sobre o
experimento realizado e questionário final.
As entrevistas foram analisadas a partir dos pressupostos da análise de conteúdo
(BARDIN, 2011), que se refere à análise de significados, propondo inferências e interpreta-
ções segundo os objetivos, ou realizando descobertas, cuja realização se dá em três etapas:
(a) pré-análise, correspondente a sistematização das ideias iniciais, como a determinação
do corpus de análise e seu objetivo, expostos anteriormente para este trabalho; (b) explo-
ração do material, em que os dados são recortados em unidades comparáveis que permi-
tam a descrição de suas características definidos por unidades de registro, representadas
nesta pesquisa pelas perguntas das entrevistas codificadas com atribuição de significado;
(c) tratamento dos dados, inferências e interpretação, correspondente a categorização das
unidades de registro representando de forma simplificada os dados brutos, e respectivas
caracterizações e interpretações, apresentadas nos resultados desta pesquisa.
RESULTADOS
Foram realizadas cinco entrevistas codificadas como E1, E2, E3, E4 e E5. As entrevistas
E2, E3 e E4, realizadas em grupos de alunos, foram em hortas comunitárias, enquanto as
entrevistas E1 e E5, realizadas de forma individual, foram em hortas particulares. Os alunos
que realizaram as entrevistas individualmente justificaram que não conseguiram organizar o
próprio grupo para fazer a atividade. Como a entrevista foi realizada fora do período de aula,
alguns estudantes pelo fato de trabalhar, tiveram dificuldades em se reunir com os colegas.
As categorias temáticas emergentes do corpus de análise representam os interesses,
as dúvidas, as demandas, as percepções e as impressões dos estudantes em relação à
horta urbana, expostos nas questões das entrevistas com os agricultores, e estão listadas
a seguir: C1) técnicas de plantio; C2) impactos socioambientais do uso de agrotóxicos; C3)
horta urbana e comunidade; C4) características do produto; C5) motivação dos agricultores;
C6) experiência dos agricultores; C7) ação transformadora. As questões sobre dados pes-
soais não foram categorizadas visto que não refletiam os objetivos da pesquisa.
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Para cada uma das categorias apresentamos a seguir exemplos de algumas questões
(Q) presentes nas entrevistas (E) elaboradas pelos estudantes.
A categoria C1 – técnicas de plantio – agrupa questões que expressam o interesse
dos estudantes sobre as tecnologias utilizadas na horta visitada, ou seja, as técnicas de
preparação do solo, adubação, tempo de crescimento das plantas para a colheita, variedades
de plantas cultivadas, rotina de cuidados com a horta, técnicas para o combate de pragas,
resultados obtidos com as técnicas de plantio; portanto envolvendo questões tecnológicas
articuladas pela tríade CTS:
(E1, Q9) “Como é o consumo dessas plantas”. O aluno questiona o modo de preparo
das plantas medicinais para uso.
(E2, Q7) “Quais outros meios você conhece para o combate das pragas?
Quais você utiliza?”.
(E3, Q1) “Quais são suas formas de plantação?”.
A categoria C2 ─ impactos socioambientais do uso de agrotóxicos ─ articula conceitos
envolvidos no eixo sociedade da tríade CTS, como efeitos do uso de agrotóxicos na saúde
dos trabalhadores do campo e dos consumidores do produto final, contaminação do meio
ambiente e dos seres vivos:
(E2, Q2) “Além da degradação do meio ambiente, o que você acha que a utilização
dos agrotóxicos afeta?”.
(E4, Q7) “O que a senhora acha, não usar agrotóxico, ajuda na nossa saúde?”.
A categoria C3 – horta urbana e comunidade – as questões agrupadas nesta categoria
propõem relações entre a horta e a comunidade ao redor, benefícios da horta para a co-
munidade, e questões sobre o comércio de produtos, desde o preço até especificações de
produtos vendidos e com qual finalidade, envolvendo assim relações econômicas e sociais,
evidenciando a curiosidade dos alunos acerca da possibilidade de venda dos produtos além
do consumo próprio, mesmo que em pequena escala de produção:
(E2, Q3) “O que o plantio de alimentos orgânicos influencia nessa comunidade?”.
(E4, Q9) “Qual o preço dos alimentos orgânicos? Nesta horta comunitária os alimen-
tos são vendidos?”.
A categoria C4 – características do produto – envolve questões a respeito da aparên-
cia, cor, gosto, benefícios ou malefícios para a saúde, comparação entre as características
de orgânicos e convencionais e qualidade dos produtos, demonstrando a curiosidade dos
alunos em relação a diferentes produtos, especialmente sobre os orgânicos. Esta categoria
aponta para o eixo da ciência na tríade CTS, porém abordada de forma popular, não supe-
rando o senso comum:
(E4, Q5) “Há diferença na cor e sabor do alimento com a plantação orgânica?”.
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(E1, Q6, Q8) “O que seria no seu ponto de vista erva medicinais? Para que ser-
ve essa planta?”.
(E3, Q5) “Qual a diferença que a senhora percebe entre alimento orgânico e com
‘protuto’ ?”. “Produto” no sentido de alimento convencional.
A categoria C5 ─ motivação dos agricultores ─ reflete o interesse dos estudantes
em saber o que levou as pessoas a plantar na cidade, visto que os produtos são facilmente
comprados e não representam grades gastos, tornando-os acessíveis a uma grande quan-
tidade de pessoas:
(E1, Q4) “O que te levou a plantar e cultivar diferentes tipos de plantas?”.
(E1, Q12) “Apesar desse negócio de venda de erva medicinais não ser muito reconhe-
cido, e não dá muito lucro, você se considera uma empresária pelo fato de ter seu próprio
negócio, ou você faz isso por prazer?”.
A sexta categoria C6 – experiência dos agricultores – agrupa questões relacionadas ao
tempo de experiência das pessoas entrevistadas que praticam a horta urbana, apresentando
a curiosidade dos estudantes sobre a questão:
(E5, Q1) “Há quanto tempo o senhor trabalha com agricultura orgânica, deixando de
usar veneno nas plantações?”.
(E1, Q3) “Há quanto tempo você já plantar?”.
A categoria C7 – ação transformadora – apresenta uma reflexão importante dos alunos,
demonstrando a preocupação com o domínio do agronegócio sobre a agricultura familiar,
reflexo das discussões realizadas em sala durante o desenvolvimento da SEI, além da
mobilização e conscientização de agricultores para mudar seu modelo de plantio para um
modelo sustentável, demonstrando a postura crítica por parte dos alunos, promovendo a
transformação da sociedade:
(E2, Q4) “Você acha que algum dia esse projeto de plantio orgânico poderia se ma-
ximizar e algum dia desbancar as grandes empresas?”.
(E2, Q5) “Qual a solução que você criaria para convencer os agricultores a reorgani-
zarem sua forma de plantio?”.
A Tabela 1 apresenta a relação entre as categorias emergentes e as questões presentes
em cada uma das cinco entrevistas realizadas pelos estudantes.
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Tabela 1. Relação entre as categorias (C) e as questões (Q) presentes em cada entrevista (E). ─ (não apresentou)
Categoria
C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7
Entrevista
E1 Q9, Q11 ─ Q5 Q6, Q7, Q8 Q4, Q12 Q3 ─
E2 Q1, Q7 Q2 Q3, Q6 Q8 ─ ─ Q4, Q5
Q1, Q2, Q3,
E3 ─ ─ Q5 ─ ─ ─
Q4, Q6
Q1, Q2, Q3,
E4 Q7 Q9 Q4, Q5, ─ ─ ─
Q6, Q8
E5 Q2 Q4 ─ Q3 ─ Q1 ─
DISCUSSÃO
CONCLUSÃO
Nas entrevistas, verificamos interesses diversos dos estudantes por questões técni-
cas e científicas acerca do tema “ agricultura convencional versus agroecologia”, tais como
a motivação, a experiência e os conhecimentos dos agricultores. As entrevistas, na sua
maioria, abordaram questões técnicas do cultivo de alimentos, impactos socioambientais da
agricultura convencional, relações entre a horta e a comunidade e os benefícios sociais da
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agricultura urbana, sendo possível a articulação dos elementos da tríade CTS. As questões
propostas pelos estudantes evidenciaram aspectos científicos, tecnológicos e sociais, pos-
sibilitando o esclarecimento de suas dúvidas e curiosidades em relação ao tema. Além dos
conhecimentos científicos, outros conhecimentos relevantes foram suscitados, tais como o
preço dos alimentos orgânicos e convencionais, a lucratividade da atividade agrícola e a
experiência de vida de pequenos agricultores de hortas urbanas.
Consideramos que a estratégia de ensino – elaboração de entrevistas pelos alunos –
contribuiu para o processo de ACT dos estudantes, promovendo a articulação de elementos
CTS. A atividade também promoveu a participação e a interação dos estudantes, sobretudo
a habilidade de trabalho em grupo, o que se mostrou um desafio, visto que somente dois
estudantes não conseguiram formar um grupo e realizaram as entrevistas individualmente.
Na elaboração das questões das entrevistas, os estudantes utilizaram seus conheci-
mentos prévios e os novos conhecimentos adquiridos durante a SEI, além de um conceito
desenvolvido na aula de Língua Portuguesa; o desenvolvimento do gênero textual entrevis-
ta, articulando-os para a compreensão do mundo em uma visão crítica e consciente e para
transformação de sua realidade. Verificamos que a elaboração e realização de entrevistas
como atividade da SEI proporcionou, além de um trabalho interdisciplinar, a aprendizagem
em ambientes distintos do ambiente formal de ensino e que este tipo de atividade fortalece
as relações CTS abordadas durante a sequência de ensino investigativa, destacadas nas
questões Q4 e Q5 da E2, em que se discutiu um modelo de agricultura pautado na justiça
social e na preservação do meio ambiente, indicando o desejo de que alguma atitude seja
tomada para a transformação do modelo predominante de agricultura.
Auler e Bazzo (2001) consideram um desafio para a sociedade brasileira, a construção
de uma cultura de participação em questões envolvendo ciência e tecnologia. Consideramos
que as questões das entrevistas realizadas pelos estudantes, mesmo de forma singela,
demonstram possibilidades de construção da cultura de participação crítica na sociedade,
ressaltando a importância e a necessidade de mais estudos sob esta perspectiva.
Agradecimentos
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Feira agroecológica e orgânica: uma
alternativa de aquisição de produtos
agroecológicos e orgânicos no município
de Juazeiro - Bahia
'10.37885/221010392
RESUMO
A agricultura de base ecológica tem sua gênese na Europa no século XX, fundamen-
tada em várias escolas ou correntes, sendo que seu surgimento se deu como contraponto
aos preceitos impostos pelas práticas agrícolas à base de insumos químicos, sendo tida
por muito tempo como um movimento “rebelde” para denominar o antagonismo criado pela
mesma e a forte tendência de quebra de paradigmas tradicionais (PACHECO et al., 2021a).
Esta expressão evidencia, na percepção de Candiotto e Meira (2014, p. 159), “a si-
multaneidade de várias escolas, estilos ou correntes que propõem a aplicação de princí-
pios ecológicos à produção agropecuária” e permitem a limitar ou eliminar o emprego de
insumos químicos a contar da corporificação de técnicas alternativas ao modelo convencio-
nal. Neste sentido, ficou instituído na década de 1980, o conceito de agricultura orgânica
no Estados Unidos.
Os avanços científicos e tecnológicos estimularam a crescente produção de alimentos,
apesar disso, na mesma proporção avançaram os danos ambientais provocados pela agri-
cultura industrial (convencional), refletidos na diminuição da fertilidade dos solos, perda de
matéria orgânica, lixiviação de nutrientes, degradação e crescimento da erosão dos solos,
contaminação de mananciais, de ecossistemas naturais e de ambientes agrícolas, aumento
de doenças nos cultivos, além dos danos à saúde de agricultores e de trabalhadores do
sistemas agrícolas, avançando até para a destruição de insetos e microrganismos benéficos
ao equilibro ecossistêmico, entre tantas outras consequências (PACHECO et al., 2021b).
Portanto, precisamos compreender e valorizar em nosso dia a dia, o consumo de
produtos que tenham cada vez mais essa “pegada ecológica”, contribuindo dessa maneira
para a conservação dos nossos recursos naturais em harmonia com a natureza e o planeta
no qual habitamos.
Dentro desta conjuntura, percebe-se que no Brasil, bem como no Território Sertão
do São Francisco da Bahia, tem-se cada dia mais a consciência que a criação de espaços
colaborativos de comercialização de produtos orgânicos vem ganhando espaço e mercado,
tendo em vista a preocupação da população no consumo de alimentos mais saudáveis,
que segundo Altieri (2012), previne doenças, como câncer, e contribui com a minimização
de problemas ambientais, colaborando com as metas da Agenda 2030, via realização do
Objetivo de Desenvolvimento Sustentável Dois (ODS 2), que trata de Agricultura Sustentável
(UNITED NATIONS, 2015).
Nesse sentido, iniciativas como a Feira Agroecológica e Orgânica, com a comer-
cialização de produtos agroecológicos e orgânicos para os consumidores, visa atender
um mercado cada vez mais exigente, sobretudo, conforme Lima et al., (2019), o da classe
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média brasileira, que considerado o maior da América Latina, tem buscado alimentos cada
vez mais saudáveis.
Na consequência da marcha evolutiva da espécie humana, ocupar-se com a produção
de alimentos, bens e serviços, obedecendo critérios de sustentabilidade e, por consequên-
cia, respeitando o meio ambiente, é imperativo ético e jurídico; cabendo salientar que este
último aspecto implica responsabilidades nos âmbitos cível, penal e administrativo, além
da própria repulsa social, se não forem atendidos anseios decorrentes de uma crescente
compreensão da dignidade da pessoa humana, para a qual um dever de proteção ecológica
paira sobre todos.
O sistema brasileiro de regras jurídicas, enquanto expressão de vontades sociais bro-
tadas do exercício de uma democracia representativa, é pródigo na produção de normas
conducentes a esse respeito à vida e todas suas manifestações. O legislador constitucional
elevou ao mais alto nível essa preocupação com o direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado (CF/88, art. 225, caput), do que resulta uma vasta produção infraconstitucional,
jurisprudência e doutrinária. Neste último aspecto está, v.g., um nascente direito constitu-
cional ecológico (RODRIGUES et al, 2017), que tendo status de direito fundamental, ocupa
posição privilegiada de conjunto de preceitos acima e além de qualquer outra regra/norma.
Nesse contexto, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreender
como se deu o processo de idealização e surgimento da Feira Agroecológica e Orgânica,
em Juazeiro - BA, com objetivo de comercialização de produtos agroecológicos e orgânicos
da Economia Solidária regional.
METODOLOGIA
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Figura 1. Mapa do Território Sertão do São Francisco.
De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as
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diferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os dife-
rentes posicionamentos existentes no meio social.
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Figura 3. Cliente adquirindo produtos da feira agroecológica.
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CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
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3. Ed. rev. ampl. São Paulo, Rio de Janeiro: Expressão Popular, AS-PTA, 2012, 400 p.
6. GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010. 184p.
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10. PACHECO, C.S.G.R.; MENEZES, A.J.S.; FIGUEIREDO, R.T.; MOREIRA, M. B.; ARAÚ-
JO, J.F.; LEITÃO, M.M.V.B.R.; SANTOS, V.M.L. Fundamentos, Métodos e Práticas
de Cultivo da Agricultura Orgânica: uma experiência exitosa no CAERDES - Ju-
azeiro - BA. In: OLIVEIRA, R.J. Extensão Rural: Práticas e Pesquisas para o Fortale-
cimento da Agricultura Familiar - Vol. 1. Guarujá/SP: Editora Científica Digital, 2021.
Disponível em: <www.editoracientifica.org/books/isbn/978-65-87196-70-1>. Acesso
em 04 de agosto de 2022.
12. UNITED NATIONS. Transforming our World: The 2030 Agenda for Sustainable
Development. Sustainable Development Goals, New York, 25 set. 2015. Disponível
em: <www.sustainabledevelopment.un.org/post2015/transformingourworld>. Acesso
em 04 de agosto de 2022.
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11
O funcionamento de um entreposto de
ovos oriundo da agricultura familiar no
município de Juazeiro - Bahia
'10.37885/220910331
RESUMO
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Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreender
o funcionamento do Entreposto “Ovos da Caatinga”, criado em 2019, sendo o primei-
ro empreendimento da Agricultura Familiar do Território Sertão do São Francisco e pio-
neiro no Estado da Bahia a receber certificação oficial por meio do Serviço de Inspeção
Municipal (S.I.M.).
METODOLOGIA
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“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importan-
tes contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de
seu legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito
da construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “re-
voluções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):
De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as di-
ferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os diferentes
posicionamentos existentes no meio social.
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o pro-
blema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo ex-
plicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA, 2009).
Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A criação de animais de pequeno porte como, bode, cabra, porco e galinha, sempre foi
uma atividade econômica bastante praticada pelas famílias rurais do interior do Semiárido
nordestino. Quando bem cuidados e manejados, proporcionam resultados importantes na
alimentação e principalmente na renda dessas famílias, pois são de fácil manejo, o consumo
de água é relativamente pouco e procriam rapidamente (PORTAL IRPAA, 2012).
A criação de galinhas é uma prática antiga dos moradores da Comunidade de Canoa,
que vinha se perdendo por causa da introdução de galinhas de granja, mas que por meio de
diversas políticas públicas, que trabalham com caráter produtivo e social na região, a partir
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de um projeto executado e incentivado pelo Instituto Regional da Pequena Agropecuária
Apropriada (IRPAA), foi sendo retomada aos poucos.
Em meados do ano de 2009, a Comunidade de Canoa recebeu com certo receio um
projeto de criação de galinhas, onde garantiu a implantação de galinheiros, ração por um
determinado período e formação técnica. No início foi complicado encontrar quem se in-
teressasse em receber os galinheiros. Foi um desafio convencer criadores e criadoras da
caprinovinocultura, prática muito comum na região, a dedicar parte de seu tempo em outra
atividade, ou seja, a criação comercial de aves e ovos, algo que acontecia apenas para o
consumo da família, era difícil. Mesmo com muitas incertezas, os poucos que aceitaram a no-
vidade, mais o IRPAA, foram convencendo gradativamente demais pessoas sobre a atividade.
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Figura 03. Criatório de galinhas de um dos moradores da comunidade.
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Figura 04. Entreposto “Ovos da Caatinga” e um produtor da comunidade.
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Figura 05. Higienização dos ovos.
A figura 05 demonstra o processo de limpeza dos ovos, por meio de uma máquina
de higienização.
3) Ovoscopia e Classificação: Local onde os ovos são verificados por meio de uma
máquina de ovoscopia, que consiste em observar o interior do ovo, mediante uma fonte de
luz em ambiente escuro. Esse procedimento verifica a existência de trincas ou rachaduras
na casca, como também, a qualidade interna do ovo, se possui alguma mancha de sangue,
embriões, gemas múltiplas ou duplas, entre outros, elementos anormais. Passado por esse
procedimento, os ovos são transferidos para a mesa de classificação, onde são classificados
de modo manual, por classe, tipo P, M ou G (pequeno, médio ou grande), e pesados de
maneira eletrônica por uma balança digital.
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Figura 07. Classificação dos ovos.
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Figura 09. Processo de datação manual.
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Figura 11. Dúzia de ovos “Ovos da Catinga”.
A figura 11 demonstra uma dúzia de ovos “Ovos da Catinga”, beneficiado pelo en-
treposto, de acordo com as normas e padrões estabelecidos pelo Serviço de Inspeção
Municipal (S.I.M.).
Uma atividade bastante interessante, com prática simples, não apresentar impac-
to ambiental significativo no meio rural e ainda, ofertar um produto de qualidade e se-
gurança alimentar.
CONCLUSÃO
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de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), da Organização das Nações Unidas (ONU). O referido
projeto foi assessorado pelo IRPAA.
As potencialidades econômicas locais são amplas, contribuindo bastante para o alcance
e manutenção do desenvolvimento sustentável, consequentemente, para uma convivência
adequada no Semiárido nordestino.
REFERÊNCIAS
1. AMATUZZI, M. M. Por uma Psicologia Humana. São Paulo: Alínea, 2009.
6. GIL, Antônio Carlos. Como Elaborar Projetos de Pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2010. 184p.
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Os camponeses como atores sociais: novas
perspectivas para o desenvolvimento rural
sustentável
'10.37885/220910284
RESUMO
Este ensaio teórico apresenta uma reflexão inicial teórica relacionados a Perspectiva Orientada
ao Ator, com base nos autores Alberto Arce e Norman Long, buscando dialogar com outras
referências em busca de pensar essa metodologia na realidade dos agricultores familiares
camponeses como atores sociais dos processos de desenvolvimento rural sustentável.
DESENVOLVIMENTO
1 Segundo González et al (2015, p.104) os discursos da “teoria da modernização propõe o desenvolvimento como um movimento pro-
gressivo a formas mais complexas e integradas desde o ponto de vista tecnológico e institucional, por outro lado, a economia política
(teorias marxistas e neomarxistas) acentua a natureza de extração de mais valia e acumulação do capital.”
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No contexto brasileiro, os processos de modernização agrícola, advém de muitas es-
tratégias de aumento da produção, seja através da intensificação ou da expansão das terras
agrícolas, sendo reconhecidas por degradar os ecossistemas, impactando negativamente a
biodiversidade (POWER, 2010).
Cabral et al., (2021) demonstram a influência duradoura da Revolução Verde no Brasil.
Essa influência de modelo agrícola se dá através de narrativas épicas sobre sucessos agrí-
colas passados, alimentando imaginários de modelos de referências agrícolas moderniza-
dos. No Brasil, esta narrativa foi em torno da ‘revolução tropical’2, com o intuito da moderni-
zação agrícola e introdução da soja no país, especificamente no Centro-Oeste, vendendo a
soja como uma modernidade e a revolução tropical, como um grande evento.
O modelo proposto chama atenção para uma parte da sociedade que tem uma visão
produtivista do desenvolvimento se nutrindo em termos de oposição de trabalho e capital,
dando pouca atenção para as relações capital-natureza e as lutas sociais na defesa do
território e dos bens comuns da natureza (SVAMPA, 2019). Esse modelo agrícola nos traz
o “fracasso do desenvolvimento”, como apontado por Rist (2008) que conclui o “paradigma
do desenvolvimento” tropeçando nos seus próprios pés (RADOMSKY, 2011).
Propondo a necessidade de mudanças as agressividades causadas pela moderni-
zação da agricultura para um modelo que apresente respeito pela terra, pelos povos e
seus territórios.
Boaventura Santos (2000) traz em sua obra a reflexão sobre a ciência moderna, cuja
paradigma dominante se encontra em declínio, através da absorção do pilar da emancipa-
ção pelo da regulação, fruto do conhecimento científico ocidental fazendo-se necessário um
novo paradigma em que ele chama de conhecimento-emancipação.
Volta-se, assim, a necessidade de pensar o desenvolvimento da agricultura com uma
ciência que estimula e integra os conhecimentos científicos com os conhecimentos popu-
lares, tradicionais e indígenas, para se ter uma tecnologia apropriada ou uma versão do
entendimento completo, que leva em consideração a interação entre os valores como os
contextos sociais, ecológicos, econômicos e humanos (LACEY, 2008). E que “reposicione
os conhecimentos nos estudos em desenvolvimento rural” (ARCE; LONG, 1994).
Para isso, as experiências de camponeses e camponesas, suas organizações e conhe-
cimentos, são fundamentais para a construção social a partir dos mundos de vida dos atores.
2 Segundo Cabral et al (2021) No Brasil, a expansão da agricultura moderna no Cerrado, por exemplo, se deu por meio da conversão
tecnológica desde meados da década de 1970, considerada a própria “revolução tropical” do país, que acabou transformando o Brasil
em uma potência agrícola global.
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Atores em ação: camponeses, territórios da reforma agrária e conhecimentos
Categoria que reúne natureza e cultura através das relações de poder sobre
as condições materiais da vida. (...) Com isso, sinalizam que no mesmo estado
territorial habitam múltiplas territorialidades e que não há território que não seja
fruto de um processo de territorialização entre diferentes sentidos – territoria-
lidades - para estar com a terra (GONÇALVES, 2015, p. 245).
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Segundo Petersen (2013), a agricultura familiar camponesa, além de produzir alimentos
saudáveis, em uma relação harmônica com o ambiente, gera renda por meio da diversificação
de sistemas produtivos, se adaptando às flexibilidades sociais, econômicas e socioculturais.
Os camponeses e camponesas com seus sistemas produtivos e observações sobre
os ecossistemas, possuem íntima relação com os territórios que habitam, a partir das quais,
florescem saberes ancestrais que articulam biodiversidade e cultura. Contribuem para a
conservação e a ampliação da base genética assim como dos saberes e fazeres a ela asso-
ciados; consequentemente, amplia-se também as práticas agroalimentares dessas famílias
e de outras com as quais elas se relacionam em circuitos de comercialização.
Inspirado nos estudos etnográficos de Arce e Long (1994) propostos a partir da
Perspectiva Orientada ao Ator, a etnografia propõe uma íntima análise entre os conhecimen-
tos em ações dos atores, suas práticas e organizações. Podendo estender essa perspectiva
para os estudos da formação do campesinato, os conflitos e a luta pela terra, resultando
em processos de reterritorialização, como no caso dos assentamentos de reforma agrária.
Essa proposta etnográfica pode ser guiada pelo diálogo de saberes, pelo encontro de
seres culturalmente diversos, com seus saberes igualmente diversos (LEFF, 2009). Sendo
o conhecimento que resulta deste encontro direcionado para a construção de uma susten-
tabilidade partilhada.
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de construtivismo social, abordando duas percepções sobre o conhecimento o técnico-cien-
tífico e o prático-cotidiano, estando relacionados aos processos de desenvolvimento agrário.
Essas duas linhas vão evidenciar um conceito da POA que são os atores sociais, sendo
compreendidos como indivíduos e organizações sociais onde “todos lutam para promover
seus próprios interesses e ter uma palavra a dizer sobre o que acontece com os recursos
rurais a curto e longo prazo” (LONG; JINLONG, 2009, p.65). Os atores são considerados
agentes coletivos que trazem a possibilidade de repensar a ciência na prática do fazer
(ARCE; LONG, 1994).
Aliado a este conceito temos a perspectiva da agência humana, que evidencia os atores
sociais como centrais nos processos de desenvolvimento.
Para tanto, na POA são estabelecidos outros conceitos-chaves como “campos”, “domí-
nios” e “arenas sociais – interface”, que permitem compreender as relações das ações dos ato-
res e como seus processos de conhecimento são constituídos e transformados (LONG, 2007).
Para Long (2007) a noção de campo social traz uma imagem de espaço aberto, com
uma paisagem irregular com limites mal definidos, composto por diversos elementos, por
exemplo, recursos, informações, capacidades tecnológicas, entre outros. Esses elementos
são produtos de intervenções humanas e não humanas, resultantes de um processo coope-
rativo e competitivo. Esse conceito irá direcionar para as ações sociais através das diferentes
intersecções dos domínios sociais.
O conceito de domínio é fundamental para “entender como os ordenamentos sociais
operam e para analisar como as fronteiras sociais e simbólicas são criadas e defendidas”
(LONG, 2007, p.124), sendo originado a partir das experiências compartilhadas da vida
social dos atores.
Enquanto às arenas, são os espaços onde ocorrem as disputas entre as diferentes
práticas e valores dos atores, podendo envolver uma ou mais formas de domínios; Elas
buscam resolver os conflitos a partir das interpretações entre os diversos interesses dos
atores (LONG, 2007).
A noção de interface se dá a partir da interação das arenas, campos sociais ou domínio,
como aponta Arce e Long (1994):
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Definimos interfaces como os pontos críticos de intersecção entre diferentes
campos sociais, ou domínio das práticas dos atores, nos quais provavelmen-
te serão encontradas descontinuidades, por sua vez fundadas a partir das
diferenças entre as múltiplas visões de mundo, valores e interesses sociais
(ARCE; LONG, 1994, p.8).
Nesse sentido, vai se ter um cenário onde as interfaces e as conexões entre os atores
sociais e os cientistas se tornam centrais para soluções mais aceitáveis para enfrentar os
avanços e excessos do desenvolvimento tecnológico e econômico moderno no meio rural
(ARCE; LONG, 1994).
Dessa forma, a Perspectiva Orientada ao Ator surge, com bases nos encontros de
conhecimento nas diferentes visões de mundo dos atores, possibilitando ir além das pri-
meiras colocações do construtivismo social, que sugere essa dicotomia entre as diferentes
formas de conhecimento. O enfoque orientado ao ator evidencia os atores sociais – aqui
entendidos como os camponeses, com seus papéis, valores e suas diferentes formas de
entender o mundo na construção do conhecimento e no desenho de uma nova perspectiva
para o desenvolvimento rural.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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REFERÊNCIAS
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pectivas Rurales Nueva Época, n. 25, p. 101-121, 2015.
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14. RADOMSKY, Guilherme Francisco Waterloo. Desenvolvimento, pós-estruturalismo
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Agroecologia: produção e sustentabilidade em pesquisa - ISBN 978-65-5360-199-4 - Editora Científica Digital - www.editoracientifica.org - Vol. 2 - Ano 2022
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Plantas espontâneas medicinais em
quintais periurbanos
Rosely Yavorski
Unini - Funiber
'10.37885/220910351
RESUMO
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na natureza, tendo em vista que a natureza é o mestre do médico por ser mais antiga do
que ele, existindo dentro e fora do homem. Dentre outras coisas ele também afirmava a
existência do corpo astral do homem, ao qual denominava aventrum, e do corpo astral das
plantas que denominava leffas (NOGUEIRA; MONTANARI; DONNICI, 2009, p. 232).
Na medicina popular, as plantas com potencial Com o surgimento dos medicamentos
químicos, a utilização das plantas in natura como fonte de prevenção e cura de doenças,
gradativamente caiu no obsoletismo. Contudo, os saberes e fazeres tradicionais sobre o co-
nhecimento das plantas e os seus usos terapêuticos, continuaram a ser repassados oralmente
de forma intergeracional. No território brasileiro, a tradição de cura utilizando plantas remonta
à fase anterior ao descobrimento, visto que, os indígenas se serviam da diversidade vegetal
para cura das suas enfermidades. Após o descobrimento, tanto europeus quanto africanos
contribuíram não só com os seus conhecimentos, mas também com espécies trazidas nas
suas bagagens durante os processos migratórios espontâneos ou forçados. Algumas dessas
espécies passaram pelo processo de naturalização e podem ser encontradas com facilidade
na natureza ou em cultivos (MONTEIRO & BRANDELLI, 2017, p. 09).
Tendo em vista que o hábito do consumo de plantas medicinais tem a sua origem na
maioria das vezes na tradição familiar, os quintais vêm sendo ao longo dos tempos o repo-
sitório desses exemplares e os seus coletores e cultivadores os guardiões dessa sabedoria
de uso. Isso faz dos quintais um espaço de preservação dos conhecimentos culturais e
tradicionais, por serem o palco da transmissão de forma intergeracional da cultura familiar
e dos ensinamentos das atividades de coleta e de cultivo agrícola de pequeno esforço físico
(SANTOS et al., 2013; SILVA et al., 2013).
No Brasil, de acordo com Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, “quintal” é “o
terreno com horta e jardim próximo à casa de habitação”. Os quintais são também conside-
rados espaços de terreno no entorno das residências utilizados geralmente por um grupo
familiar onde se praticam atividades de convivência, lazer, criação de animais, cultivo de
plantas, etc. (SALIN, 2012).
Áreas periurbanas são zonas de transição entre espaços rurais e urbanos onde ambas
atividades se misturam, não sendo possível definir os limites físicos e sociais destes dois
territórios (ÁVILA, 2001).
Na medicina popular as plantas com potencial curativo são utilizadas na automedicação
visando além da manutenção da saúde a prevenção e cura de doenças, mas a pouca infor-
mação sobre o uso correto dessas plantas contribui para que esse uso seja negligenciado
ou abandonado (RODRIGUES et al., 2004; OLIVEIRA; BARROS; MOITA NETO, 2010;
OLIVEIRA e MENINI NETO, 2012; ARNOUS, SANTOS e BEINNER, 2005).
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Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) no início dos anos 90, cerca de 65%
a 80% da população de países em fase de desenvolvimento tinham como base as plantas
medicinais como única forma de acesso aos cuidados básicos de saúde (AKERELE, 1993).
Dessa maneira, os levantamentos etnobotânicos e os registros dos conhecimentos tradi-
cionais de identificação e de uso são de fundamental importância para garantir a segurança
na utilização das espécies.
Ante a importância das plantas espontâneas medicinais na garantia do direito humano
à saúde, o levantamento bibliográfico mostrou que os estudos e pesquisas científicas sobre
o tema ainda são de número reduzido. Considerando estes fatores, fazem-se necessários
estudos, visando o levantamento de informações sobre a diversidade das espécies existen-
tes, identificação taxonômica, conhecimento e utilização para consumo humano, divulgação
das espécies, forma de consumo, etc.
Nesse sentido, o objetivo principal da pesquisa foi o de efetuar um levantamento et-
nobotânico para listar as espécies encontradas nos quintais estudados e verificar qual o
conhecimento que os entrevistados possuem sobre as plantas e os seus usos na medicina
popular e, qual a forma que efetuam o repasse desses conhecimentos. A pesquisa se justi-
fica pelo fato de que os resultados nela obtidos poderão contribuir para o registro formal dos
conhecimentos da comunidade estudada, bem como, poderão servir de fonte para novas
pesquisas sobre as plantas espontâneas medicinais.
MATERIAL E MÉTODOS
Esta pesquisa tem como recorte quatro quintais considerados periurbanos (espaços
onde as atividades rurais e urbanas se misturam) no município de Roncador, pertencente a
unidade federativa do Paraná, no Brasil como pode ser obsevado nas Figuras 1 e 2.
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Figura 2. Vista satélite do município de Roncador e dos 04 quintais periurbanos objeto do estudo.
Fonte: Mapas de estradas e ruas de Roncador. Localização e distâncias em Paraná, Brasil. Disponível em: http://www.mapasruasestradas.
com/Parana/Roncador/. Acesso em fev. de 2018. Adaptado pelos autores.
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botânicas das espécies encontradas foram realizados por meio de comparação com a lite-
ratura especializada (LORENZI; SOUZA, 2008).
DISCUSSÃO E RESULTADOS
Quadro 1. Perguntas que fazem parte do Roteiro de entrevista aplicado aos informantes chave.
Nº Perguntas
1 Nome:
2 Idade:
Conhece alguma planta que nasce sozinha em seu quintal
3
e que serve para tratar alguma doença?
Utiliza alguma planta que nascem sozinhas em seu quintal
4 para tratar alguma doença sua ou de membro da família?
Se usa, indique qual.
Quando utiliza percebe algum efeito desejado ou não após
5
o consumo?
Saberia informar se outras doenças além das informadas,
6 podem ser tratadas ou prevenidas com alguma dessas
plantas?
Por qual nome conhece a planta que está mostrando (nome
7
popular)?
8 Para qual doença ela é indicada?
Qual parte da planta pode ser usada? (planta inteira seca
8 ou in natura, folha verde, folha seca, fruto, flor, raiz, galho,
semente, outros)
9 Qual parte da planta você prefere utilizar e por quê?
De que forma se dá a
preparação para o uso (chá, infusão, decocção; xarope;
10
tintura; maceração; compressa; cataplasma)? Qual a parte
da planta foi usada?
11 Qual a sua forma preferida para o preparo e por quê?
Como adquiriu o conhecimento sobre a planta, sua indica-
12
ção de seu uso e modo de preparo para combater doenças?
Você ensina a outras pessoas como identificar e utilizar
13
essas plantas como remédio?
Fonte: Elaboração própria (2021).
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de espécies levantadas comparado ao número de quintais estudados é expressivo se com-
parado aos resultados do estudo efetuados por Vasco-dos-Santos et. al. (2018), sobre
plantas medicinais utilizadas em tratamento helmíntico, em cujo entrevistou 31 informantes
em uma Aldeia indígena e levantou 21 espécies de plantas medicinais (nativas e exóticas)
distribuídas em 14 famílias botânicas, constantes no Quadro 3.
Quadro 2. Plantas espontâneas medicinais citadas pelo uso popular nos quintais da área periurbana do município de
Roncador, Paraná, Brasil, de acordo com sua indicação de uso, 2018.
Nome popular Nome binominal Família botânica Ação e modos de uso Partes utilizadas
Antisséptica
Analgésica
Porophyllum Cicatrizante
Arnica Paulista ou
ruderale (Jacq.) Asteraceae (compressas e Planta toda
arnica do mato
Cass tinturas).
Obs.: somente
para uso externo
Emoliante, Antiinflamatória,
Arrebenta cavalo ou Solanum palinacanthum Antisséptica. (Compressas e
Solanaceae Frutos
Erva Moura L. cataplasmas)
Obs.: apenas uso externo
Antiinflamatório, Antisséptico,
Alternanthera tenella Antioxidante, Analgésico, Car- Partes aéreas (folhas,
Apaga fogo ou periquito Amaranthaceae
Colla minativa, Eupéptica. ramos e inflorescência)
(chá e compressas)
Digestiva, Sudorífica, Antiinfla-
Beldroega Portulaca oleracea L. Portulacaceae matória. Folhas e ramos
(chá e in natura)
Anticancerígeno,
Eleusine indica (L.) Semente,
Capim Pé de galinha Gramineae Antiinflamatório, Antihelminti-
Gaertn (ELEIN) Raiz.
co, Tônico. (Chá)
Antiespasmódica, Tônica,
Catinga de mulata Tanacetum vulgare L. Asteraceae Eupéptica. Capítulos florais
(chá e infusão)
Acanthospermum
Antisséptica, Antiinflamatória, Folhas,
Carrapicho de carneiro hispidum Asteraceae
Tônica, (chá) Raízes
DC.
Antisséptico, Antiinflamató-
Caruru de mancha Amaranthus viridis L Amaranthaceae rio, Antiblenorrágico. (chás e Planta toda
compressas)
Pyrostegia venusta (Ker Emoliante (compressas)
Cipó de São João Bignoniaceae Partes aéreas
Gawl.). Miers Obs: Uso externo
Antiinflamatória, Antisséptica,
Waltheria douradinha St. Folhas e cascas dos
Douradinha do campo Sterculiaceae Tônica, Sudorífica, Emoliante.
Hilaire ramos.
(Infusão e compressa)
Emoliante, Espasmódico, Anti-
Chelidonium majus microbiana, Antiespasmódico, Raíz, Talos, Folhas
Erva andorinha Papaveraceae
L. Cicatrizante. Flores.
(Chá e compressas)
Hepatoprotetora Adstringente
Antiofídica Antiviral Cicatri-
Erva de Botão Eclipta alba (L.) L. Asteraceae Planta toda
zante Laxante Tônica. (Chá e
cataplasma)
Commelina erecta Antiemorrágica,
Erva de Santa Luzia Commelinaceae Folha
L. Sp. Pl. 1: 41. 1753. Antiinflamatória (infusão)
Antiinflamatório, Cicatrizante,
Erva de Santa Maria ou Chenopodium ambro- Anti-séptico, Folhas e
Amaranthaceae
Mastruço sioides Anti-helmintico Sementes
(Chá).
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Nome popular Nome binominal Família botânica Ação e modos de uso Partes utilizadas
Antioxidante, Analgésica,
Espinheira Santa Maytenus ilicifolia Celastraceae Antitumoral Folhas
(chá e compressa)
Espinho de cachorro ou
Cenchrus echinatus L. Poaceae Antiinflamatório (Chá) Folhas
capim carrapicho
Sida rhombifolia Antiinflamatória, Antisséptica, Folha, Raiz, Semente,
Guanxuma Malvaceae
L. Tônica (Chá) Flor.
Sarna do Elephantopus Adstringente, Tônico, Antiinfla- Folhas, Flores,
.Lingua de vaca Asteraceae
EU. matório. (Chá) Raízes.
Antiinflamatória, Antiespasmó-
Sida cordifolia Folhas,
Malva branca Malvaceae dica, Carminativa, Cicatrizante,
L. Flores.
Estimulante sexual. (Chá)
Antihelmintico, Antiinflamató-
Maria preta Diatenopteryx sorbifolia Solanaceae rio, Laxante. Folhas
(Decocção)
Analgésico, Anti-reumática,
Folhas, Partes aéreas
Mentrasto Ageratum conyzoides L. Asteraceae Antiinflamatório,
sem as flores
Cicatrizante (Chá)
Analgésica, Antisséptica,
Dysphania ambrosioides Antihelmintica, Antibacteriana,
Mentruz ou mastruço Amaranthaceae Parte aérea
(L.) Mosyakin & Clemants Antiviral.
(Chá, compressas e cataplasma)
Cicatrizante, Antiinflamatória,
Antibacteriana, Antiespasmó-
Galinsoga parviflora Cav.
Picão branco Asteraceae dica, Antioxidante, Vermífuga, Planta toda
1796
Digestiva, Antiviral e Excitante.
(Chá )
Antiinflamatório,
Picão preto Bidens pilosa L. Asteraceae Planta toda
Anti-séptico (chá e compressas)
Antioxidante, Antiviral, Anti-
Phyllantus niruri
Quebra pedra Phyllanthaceae bacteriano, Antiespasmódico, Flor, Raiz, Semente.
L.
Hipoglicêmico. (Chá)
Antioxidante, Antiinflamatória,
Sonchus oleraceus Tônico, Adstringente, Fortifican-
Serralha Asteraceae Planta toda
L. 1753 te do sistema nervoso (Chás e
compressas)
Antiinflamatória Anti-hemorrá-
Tanchagem ou erva-de- Plantago major
Plantaginaceae gica Cicatrzante, Diurética. Folhas, Sementes.
-ovelha L.
(chás e cataplasmas)
Hemostática,
Urtiga Urtica dioica L Urticaceae Planta toda
Antiinflamatória,
Ação e modos de uso Remine-
Nome popular Nome binominal Família botânica Partes utilizadas
ralizante (chá)
Fonte: Elaboração própria (2021).
Para ilustrar a discussão, no Quadro 3 fez-se um comparativo entre parte dos resul-
tados alcançados no presente estudo de Lemes e Ferraz que abrange as propriedades
medicinais das plantas espontâneas encontradas nos quintais a qualquer tipo de doença e
os obtidos por Vasco-dos-Santos et al. (2018), que foca nas plantas nativas e exóticas com
propriedades medicinais encontradas na Aldeia do grupo Batida, empregadas apenas no
tratamento de parasitoses intestinais.
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Quadro 3. Comparativo de resultados entre os estudos de Lemes e Ferraz e Vasco-dos-Santos et al. (2018).
Vasco-dos-Santos et al.
Dados informados Lemes e Ferraz
(2018).
4 quintais Grupo Batida, matriz da
Quantidade de quintais/comuni- (área periurbana do Municí- etnia Kantaruré (zona rural
dades visitados. pio de Roncador no Estado do município de Glória, no
do Paraná, Brasil. nordeste baiano, Brasil).
Quantidade de informantes-chave
4 31
entrevistados.
Número de homens entrevistados. 1 10
Número de mulheres entrevis-
3 21
tadas.
Variação de faixa etária dos entre-
22 a 72 20 a 50 anos
vistados.
Forma de aquisição do conheci- 100% de forma intergera-
91 % de forma hereditária.
mento e de uso. cional
Vasco-dos-Santos et al.
Dados informados Lemes e Ferraz
(2018).
Intensidade de uso medicinal das
plantas como primeiro recurso 75% 35%
de cura.
Número de espécies botânicas 28 21
espontâneas/nativas. Espontâneas. Nativas e exóticas.
Família botânica predominante
Asteraceae. Euphorbiaceae.
em espécies.
Parte da planta mais utilizada. Folhas. Predominância das cascas.
Modo de uso predominante Chá. Deixar de molho.
Fonte: Elaboração própria (2021).
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bioma da Caatinga do nordeste brasileiro as folhas caem no período da seca, dessa forma
o que permanece disponível o ano todo são as cascas. Por motivos preservacionistas, a
preferência pela utilização de determinadas partes das plantas se dá em virtude da maior
disponibilidade.
No que se refere ao modo de preparo nessa pesquisa os chás (obtido pela fervura
da planta ou partes dela) aparecem em destaque, a preferência pelo modo está atrelada
à facilidade de execução e de administração. De igual modo, o detectado na pesquisa de
Vasco-dos-Santos et al. (2018), o método de “deixar a planta de molho na água” também
se relaciona as mesmas facilidades de execução e administração.
No que se refere a predominância de informantes mulheres tanto nessa pesquisa quanto
na de Vasco-dos-Santos et al. (2018), o fato se dá por serem elas em sua grande maioria
as responsáveis pelo cultivo dos quintais e pelos cuidados da saúde da família.
Da mesma maneira, os informantes de maior idade revelam possuir maior conhecimento
de identificação e de uso comparado aos de idade inferior, resultado também assemelhado
entre às duas pesquisas.
Nessa pesquisa, 100% dos atores, disseram fazer uso habitual das plantas medicinais
existentes nos seus quintais, incluindo as espontâneas, utilizando-as como primeiro recurso
em quadros de doença, só partindo para alopatia quando não observam melhora.
Nesse aspecto, a pesquisa de Vasco-dos-Santos et al. (2018) apresenta resultado dis-
tinto, pois 65% dos informantes disse buscar nas plantas medicinais o primeiro recurso em
quadros de doenças e 35% disseram buscar na alopatia o primeiro recurso. Esse é um dado
interessante a se destacar, pois o esperado seria que numa comunidade tradicional indígena
a preferência pelo primeiro recurso de cura fosse pelas plantas medicinais e não pela alopatia.
No que tange a aquisição e repasse dos conhecimentos tradicionais referente ao conhe-
cimento e as formas de uso das plantas medicinais em ambos os estudos ficou destacado,
que esses se dão de forma intergeracional.
Do comparativo efetuado no Quando 2 inferiu-se que os quintais periurbanos de
Roncador, PR., possuem em proporção a Aldeia do Grupo Batida, na zona rural do mu-
nicípio de Glória, no nordeste baiano, maior diversidade de espécies e famílias botânicas.
Contudo, são análogos em ambos os estudos as correlações: conhecimento/comunidade;
geração com idade mais elevada/maior conhecimento sobre as espécies de plantas medici-
nais e os seus modos de uso, apenas divergindo na predominância das famílias botânicas
que nesse estudo são das Asteraceae e no de Vasco-dos-Santos et al. (2018) são das
Euphorbiaceae. As Asteraceae pertencem a maior família do grupo de plantas angiospérmi-
cas, apresentam-se sob a forma de ervas, arbustos e árvores, sendo que, muitas das suas
espécies são consideradas importantes fontes vegetais de interesse terapêutico (JUDD et al.,
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1999). As Euphorbiaceae estão entre as famílias botânicas mais representativas da Caatinga,
apresentando-se como arbóreas, arbustivas, subarbustos e ervas (SÁTIRO; ROQUE, 2008).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Dessa maneira, sugere-se que ações governamentais sejam promovidas com a finalida-
de de orientar e instruir a coleta segura e o uso adequado de PEM. Iniciativas governamen-
tais nesse sentido, poderão se tornar importantes ferramentas: de prevenção; de doenças a
custo zero; de reforço da transmissão dos conhecimentos tradicionais adquiridos de forma
intergeracional à toda população; de revalorização dessas plantas tidas como daninhas. Isso
importará na quebra ou mudança de paradigmas sobre sua importância, utilidade e inclusão
no rol das alternativas terapêuticas populares.
Por fim, espera-se que esse trabalho contribua para o surgimento de novos estudos,
estimulando a reflexão não só da academia, mas também da sociedade na totalidade da
importância das plantas espontâneas medicinais na promoção da soberania e da segurança
terapêutica da população mundial.
REFERÊNCIAS
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las relaciones campo-ciudad en algunos países de Europa y América. Investi-
gaciones Geográficas, Boletín del Instituto de Geografía, nº 45, UNAM. Ciudad de
México, 2001 (p.108-127).
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– conhecimento popular e interesse por cultivo comunitário. Revista Espaço para a
Saúde, Londrina, v. 6, n. 2, p 1-6, jun. 2005.
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derland, 1999, p. 283.
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na Kwatá-Laranjal, Amazonas. 2012. 203 f. Dissertação (Mestrado em Ciências de
florestas Tropicais) - Instituto Nacional de pesquisas da Amazônia, Manaus-AM, 2012
12. SÁTIRO, L. N.; ROQUE, N. A família Euphorbiaceae nas caatingas arenosas do médio
rio São Francisco, BA, Brasil. Acta Botanica Brasilica. 22 (1). Mar. 2008. Disponível
em <https://doi.org/10.1590/S0102-33062008000100013>. Acesso em jul. 2021.
13. SILVA, M. A de. Levantamento das plantas espontâneas e suas potencialidades te-
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15. VASCO DOS SANTOS, D. R.; SANTOS, J. V.; ANDRADE, W. M.; SANTOS LIMA,
T. M.; LIMA, L. N.; DIAS LIMA, A. G.; ANDRADE, M. J. G.; VANIER SANTOS, M. A.;
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Kantarur-e-Batida (NE- Brasil): Etnobotânica e riscos de erosão dos saberes locais.
Ambiente e Sociedade, v. 21, p. 1-20, 2018.Sage Fdtn., 1984.
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14
Políticas Públicas de Desenvolvimento
Territorial Sustentável no Brasil e Combate
à Pobreza Rural
'10.37885/221010419
RESUMO
O caminho percorrido pelos movimentos sociais rurais é longo e marcado por Políticas
Públicas seletivas que favorecem o médio e grande produtor rural. No período militar, os
camponeses sofreram as consequências trágicas de um país que promoveu a implantação
de pacotes tecnológicos com o discurso de que para alcançar o progresso necessitava-se de
um país industrializado. Nesse caminho, o Governo pouco propôs e pouco fez pelo agricultor
familiar, que começou a ganhar destaque em 1996 com a criação do PRONAF. Mesmo com
esta mudança, o caminho de Políticas Públicas adequadas que promovam o desenvolvi-
mento territorial sustentável ainda é longo e grita por mudanças. Nesse sentido, o presente
trabalho propõe um relato histórico das principais políticas públicas para o desenvolvimento
territorial sustentável por meio de uma revisão de literatura.
No Brasil, a discussão sobre o combate à pobreza não é recente, pois a fome sem-
pre teve lugar de destaque no país. Nos anos de 1940, Josué de Castro, com o seu livro
Geografia da Fome, já chamava a atenção da sociedade para o descaso do poder público
sobre o tema, traçando o mapa das áreas alimentares do Brasil, apontando as cinco regiões
do país onde ocorria a fome.
Segundo a FAO (2019), a procura por alimentos é crescente e projeta-se uma neces-
sidade de aumento da produção em 70% até 2050, com isso, torna-se iminente a busca por
produtividades cada vez maiores, provocando um favorecimento da agricultura industrial e
da globalização.
Esta prospecção modifica a agricultura e provoca impactos e riscos econômicos, so-
ciais e ecológicos potencialmente severos. Para Altieri (2010), os riscos são aumento de
inundações, da frequência e severidade de secas em áreas semiáridas e condições de calor
excessivo, o que pode afetar a produtividade agrícola.
Com este cenário, a discussão sobre formas de agricultura mais sustentável ganhou
destaque. Apesar da sociedade de um modo geral associar a prática de uma agricultura
mais sustentável à substituição inicial de insumos, isso não é suficiente, devendo passar
pelo fortalecimento da agricultura de base familiar, por profundas modificações na estrutura
fundiária do país e por políticas públicas adequadas e coerentes que promovam a emanci-
pação de milhões de brasileiros da miséria.
A partir dos anos 2000, a situação do Brasil começou a mudar, sendo dos poucos
países no mundo que conseguiu reduzir as desigualdades sociais e econômicas e gerar
processos de inclusão social e melhoria nas condições de vida de sua população (GRISA;
SCHNEIDER, 2015).
Segundo Grisa e Schneider (2015), o Brasil passou a ser indicado como um dos paí-
ses em que há políticas e ações a serem seguidas e os resultados alcançados devem‑se a
uma combinação de fatores e processos, relacionados ao modo como a ação do Estado e
das políticas públicas influenciou e foi retroalimentada pelos atores e agentes da sociedade
civil. O meio rural brasileiro talvez seja um dos espaços em que os efeitos desta construção
social tenham sido mais intensos e gerado mudanças mais notáveis.
A partir de 2003, com a chegada de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência do Brasil, os
movimentos sociais juntamente com acadêmicos e o governo, começaram a sistematizar e a
colocar em prática uma nova abordagem de desenvolvimento denominada Desenvolvimento
Territorial Sustentável (MDA, 2005). Essa estratégia estava sendo usada na Europa desde os
anos 1990, mas somente a partir de 2003 o governo brasileiro instituiu um grupo de trabalho
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para estruturar a proposta e criar os territórios rurais de identidades, que a partir de 2008 é
transformado nos Territórios da Cidadania.
O Programa Território da Cidadania é uma evolução do Programa Territórios Rurais,
onde foram criados um total de 164 Territórios Rurais no Brasil, sendo que destes, 120 foram
transformados em Territórios da Cidadania e os outros 44 são considerados Territórios de
Identidade Rural abrangendo 2.500 municípios (OLIVEIRA et al, 2017).
Diante do exposto, este trabalho buscou realizar um estudo teórico por meio de uma
revisão narrativa de literatura sobre políticas públicas rurais de desenvolvimento territorial
sustentável e combate à pobreza no Brasil. Para isso, foi realizada a busca de artigos na-
cionais e internacionais, dos últimos vinte anos, nas bases de dados do SciELO, Google
Acadêmico, além de notícias e publicações em jornais e revistas on-line.
DESENVOLVIMENTO
Este texto foi construído a partir de uma revisão narrativa de literatura, buscando-se
realizar a síntese de conhecimentos, descrever e discutir o desenvolvimento ou o ‘estado da
arte’ das Políticas Públicas de Desenvolvimento Territorial Sustentável no Brasil e Combate à
Pobreza Rural. Segundo Rother (2007), na revisão narrativa de literatura, essas discussões
podem ocorrer sob o ponto de vista teórico ou conceitual e os textos constituem a análise
da literatura científica na interpretação e análise crítica do autor, contribuindo no debate de
determinadas temáticas, levantando questões e colaborando na aquisição e atualização do
conhecimento em curto espaço de tempo.
Para isso foram consultados artigos nacionais e internacionais, dos últimos vinte anos
(2001 a 2021), nas bases de dados eletrônicas Scientific Electronic Library Online Brasil
(SciELO) e Google Acadêmico, buscando-se temas como desenvolvimento territorial e sus-
tentabilidade, políticas públicas, erradicação da fome e reforma agrária.
As informações foram coletadas de forma não sistemática, no período de julho a setem-
bro de 2022 com as palavras-chave: desenvolvimento territorial, desenvolvimento sustentável,
fome, políticas públicas e reforma agrária. Como critérios de inclusão foram selecionados
os artigos que abordavam políticas públicas rurais e para o desenvolvimento territorial com
acesso gratuito. Foram excluídos artigos que após a leitura do resumo não trouxessem as
informações de interesse deste trabalho. Inicialmente foram eleitos 31 artigos, dos quais 14
foram selecionados.
A análise foi realizada a partir da leitura dos resumos, selecionando os materiais que
possuíam relação direta com o objeto de estudo. Assim, neste capítulo de livro, a análise
efetivou-se por meio de uma síntese narrativa dos dados encontrados nos estudos, consi-
derando o objetivo proposto.
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Histórico das Políticas Públicas de Desenvolvimento Territorial no Brasil
O Brasil é um país com elevada desigualdade social, onde a pobreza atingiu 62,9
milhões de brasileiros em 2021, segundo estudo “Mapa da Nova Pobreza”, desenvolvida
pelo FGV Social, a partir de dados disponibilizados pela Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios Contínua (PNADC), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) (NERI, 2022). Essa situação é preocupante, principalmente porque o direito à alimen-
tação é fato presente e relevante na legislação nacional, que garante o acesso adequado
para preservação da saúde, fortalecido pela constituição de 1988 (BRASIL, 1988).
Diante desta condição histórica, várias ações de combate a pobreza no meio rural
foram realizadas para permitir que a população tenha alimentos saudáveis e de qualidade,
que forneçam os nutrientes necessários para sobrevivência das famílias.
Jaime et al. (2018) trazem que “no Brasil, o direito à saúde e à alimentação são ga-
rantias constitucionais inseridas entre os direitos sociais”. E ainda segundo os autores “A
alimentação adequada é um requisito básico para a promoção e a proteção da saúde,
sendo reconhecida como um fator determinante e condicionante da situação de saúde de
indivíduos e coletividades”.
Assim, a promoção e a garantia de uma alimentação adequada mobilizam esforços de
diferentes setores do governo brasileiro, e de entidades e movimentos da sociedade civil,
mas que nem sempre apresentaram os mesmos objetivos (ALVES; JAIME, 2014).
Em meados de 1950, o governo brasileiro adotou de forma mais agressiva a estra-
tégia de industrialização em substituição à grande necessidade de importação, com isso,
tentava se aproximar das economias capitalistas industrializadas (BIELSCHOWSKY, 2006).
Neste caminho, o Estado atuou criando infraestruturas estatais; sendo agente financeiro,
promovendo a transformação da estrutura industrial; articulando capitais privados nacionais
e internacionais; bem como criador e executor de políticas macroeconômicas e setoriais,
privilegiando o fortalecimento de uma economia industrial (DELGADO, 2010).
Apesar dos esforços, com o início da ditadura militar, essas ações do Estado se mos-
traram frágeis em razão das dificuldades no abastecimento alimentar interno, do aumento
da inflação, do esgotamento da capacidade de importar bens necessários à industrialização
do país e da emergência de críticas ao padrão dependente e excludente seguido pela in-
dustrialização (DELGADO, 2010, 1988; COELHO, 2001; CASTRO, 1984).
Essa fragilidade, segundo Grisa e Schneider (2015) trouxe exigências por parte de po-
líticos, acadêmicos e movimentos sociais, que ganharam espaço na agenda pública. Porém,
esses três grupos buscavam interferências diferentes. Os movimentos sociais, representados
pelas ligas camponesas, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, Trabalhadores Agrícolas
do Brasil e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura – Contag, buscavam
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um conjunto de reformas de base, como a reforma agrária, objetivando dinamizar o mercado
interno. A elite agrária e os acadêmicos, ligados aos militares, defendiam a modernização
tecnológica da agricultura (GRISA, 2012; DELGADO, 2005).
Naquela época, defendia-se que a agricultura precisava modernizar‑se para cumprir
suas funções no desenvolvimento econômico do país, e, com este objetivo, várias ações e
políticas públicas foram implantadas (GRISA; SCHNEIDER, 2015).
Mas, como sempre ocorreu historicamente no Brasil, as ações e políticas implantadas
beneficiavam os médios e os grandes agricultores, produtores de produtos direcionados à
exportação ou de interesses de grupos agroindustriais, o que deixou o pequeno agricultor
desassistido. As ações políticas da época foram: crédito rural, garantia de preços mínimos,
seguro agrícola, pesquisa agropecuária, assistência técnica e extensão rural, incentivos
fiscais às exportações, subsídios à compra de insumos, expansão da fronteira agrícola, e o
desenvolvimento de infraestruturas (DELGADO, 2010).
Enquanto perdurou a ditadura militar, a agricultura familiar não encontrou espaço na
arena pública para discutir e construir em conjunto com os gestores públicos políticas para
a categoria social, sendo esta marginalizada.
A marginalização da agricultura familiar no Brasil é fruto tanto da herança colonial do
país, como do processo de modernização desigual da agricultura nacional no período dita-
torial (AQUINO; SCHNEIDER, 2015). Esse processo social resultou na configuração de uma
estrutura agrária marcada por significativas desigualdades socioespaciais.
A concentração fundiária e a generalidade da estrutura agrária brasileira são resultado
da formação de sua economia, advinda da formação do país desde a colonização, e que
perdura, até hoje. A colonização e a ocupação progressiva do território que daria origem ao
Brasil, sempre foi um empreendimento mercantil para fornecer produtos tropicais ao comércio
europeu, principalmente Portugal (JÚNIOR, 1969; BEZERRA, 2019).
A agricultura brasileira sempre esteve voltada para exportação e a estrutura agrária
extremamente concentrada nas mãos de poucos (STEDILE, 2003). Como por exemplo, 1%
da população é proprietária de 47,6% das terras agricultáveis do Brasil (CAPETTI, 2019;
IBGE, 2019). Então, como forma de diminuir a miséria no campo e o êxodo rural, e através
da pressão dos movimentos sociais, a reforma agrária passou, a partir do final dos anos 50
e início dos anos 60, a construir uma das principais pautas deste país (SILVA, 1980).
Depois da deposição, através de um golpe Militar, do Presidente Jango (João Goulart)
por ser um presidente favorável a reforma agrária, os militares aprovaram o Estatuto da Terra
(Lei nº 4504/64) em 1964, embora este estatuto nunca foi colocado em prática. A partir do
primeiro governo militar, o Brasil acompanhou uma modernização da agricultura com a ado-
ção da Revolução Verde, que consistia no uso da mecanização e insumos agrícolas criados
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e massificados após a segunda guerra. Assim, a agricultura brasileira industrializou-se e
tornou-se extremamente dependente destes insumos. Silva (1980) coloca que os pacotes
tecnológicos, além de incentivar os monocultivos, somente são favoráveis aos grandes
agricultores e exemplifica:
Tomemos uma economia imaginária que produza 100 pães. Uma coisa é esses
pães serem produzidos por camponeses que plantam eles mesmos o trigo,
fazem a farinha e consomem os pães. Outra coisa é quando o trigo é produ-
zido por uma fazenda, que por sua vez compra os adubos químicos de uma
fábrica, depois vende o trigo aos moinhos, que por sua vez compram sacos de
algodão, para embalar a farinha, de outra fábrica, a qual por sua vez compra
algodão, para fazer sacos, de outra fazenda; finalmente é vendida às padarias
que fazem os mesmos 100 pães, que são vendidos aos que trabalham nas
fábricas e nas fazendas (SILVA, 198, p. 16).
Apesar do Estatuto da Terra não ter sido levado em consideração pelo governo em
favorecimento aos agricultores sem-terra, define como reforma agrária o conjunto de medidas
para promover a melhor distribuição da terra mediante modificações no regime de posse e
uso, a fim de atender aos princípios de justiça social, desenvolvimento rural, preservação
dos recursos naturais e aumento de produção.
O desenvolvimento territorial é uma estratégia de indução de processos de desen-
volvimento socioeconômico-político-cultural-ambiental, que a partir da construção coletiva
e participativa dos atores sociais do território e/ou comunidades e através de redes de
interações sociais e produtivas, buscam promover melhoria na qualidade de vida e o equi-
líbrio ambiental. É com base nessa discussão de desenvolvimento com foco no local que a
Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER brasileira, desde sua reformulação nos anos
1980, passa a utilizar metodologias participativas e incentivar a construção de sistemas
produtivos sustentáveis nas intervenções de trabalho.
Nesta época, os extensionistas brasileiros fazem fortes críticas ao modelo de desen-
volvimento promovido pelo Estado, que desde os anos de 1960 construía um projeto de
desenvolvimento nacional focado no “difusionismo produtivista” e começam uma nova fase
na extensão rural, denominada de Humanismo Crítico, desenvolvendo trabalhos utilizando
o planejamento participativo e a sustentabilidade ambiental, incentivados pela Pedagogia
da Libertação de Paulo Freire (OLIGER, 2006; RUAS, 2006).
Em 1989, final do governo Sarney, começa o desmonte do serviço de extensão rural bra-
sileiro. Em 1990 a Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural – EMBRATER
é extinta pelo presidente Collor com a implantação das políticas neoliberais de estado mí-
nimo e o país fica até 2003 sem serviço de Assistência Técnica e Extensão Rural - ATER
federal – apenas alguns estados da federação mantém suas Emater’s em funcionamento.
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No final dos anos de 1980, durante o processo de redemocratização da sociedade
brasileira, vários movimentos sociais do campo voltaram a lutar por antigas reivindicações,
no intuito de conquistar políticas e ações que minimizassem os efeitos negativos da política
econômica durante o período da ditadura militar (1964‑1985). Consequentemente, após a
Constituição de 1988 e o afastamento do presidente Collor de Mello, o Estado brasileiro
reconhece as demandas dos movimentos sociais do campo e cria, em 1996, o Programa
Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), com o objetivo de construir um
novo modelo de desenvolvimento rural no país (AQUINO; SCHNEIDER, 2015).
A criação do PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento à Agricultura Familiar
em 1996 é resultante de uma reivindicação e acúmulo dos movimentos sociais e assim a
CONTAG – Confederação dos Trabalhadores da Agricultura, juntamente com alguns pesqui-
sadores do meio rural brasileiro, trazem ao debate a necessidade de se “pensar o processo
de desenvolvimento para o âmbito municipal, ainda que com uma perspectiva mais ligada à
viabilidade econômica” (MOURA; PONTES, 2020, p.189 apud GUIMARÃES, 2013).
Foi nesse mesmo período que o Estado brasileiro iniciou a elaboração de um conjunto
de políticas públicas direcionadas à agricultura familiar. Essa movimentação em prol dos
agricultores familiares ocorreu devido à mobilização de organizações sociais rurais e ao
aumento do número de estudos que demonstraram a importância socioeconômica desse
segmento social.
Diante da pressão das organizações sociais e do destaque que a agricultura familiar
ganhava, o Estado criou dois ministérios dedicados à gestão de políticas públicas de desen-
volvimento rural e agrícola, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) e o
Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA). A criações desses ministérios viabilizariam o
apoio do Estado às unidades agrícolas familiares que tinham grande apoio dos movimentos
sociais pela reforma agrária e por políticas específicas para esse segmento. O MAPA, era o
órgão voltado ao mercado de commodities e às agroindústrias de grande porte e o MDA res-
ponsável por coordenar as políticas fundiárias e apoiar a agricultura familiar (CAZELLA, 2016).
Brito (2017), estudando o conceito de território, políticas públicas e sua evolução no
Brasil durante os governos de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e Lula enfatiza a criação
em 2003 da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT), ligada ao extinto Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA) e coloca a “incorporação da dimensão espacial de de-
senvolvimento rural”, contrapondo-se a dinâmica do desenvolvimento regional adotada pelo
governo anterior de FHC.
Como mencionado, na década de 1990, a contribuição do governo federal para a assis-
tência técnica e extensão rural não teve expressão, tendo sido retomada a partir do primeiro
governo Lula (2003‑2006). A contribuição do governo federal à assistência técnica e extensão
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rural mostrou‑se fortemente vinculada à institucionalização da política de desenvolvimento
rural e de fortalecimento da agricultura familiar. Atendendo à demanda dos movimentos so-
ciais, o governo se comprometeu, com a renovação das concepções e do formato institucional
de sua atuação nessa área. A partir daí, estabeleceu‑se a Política Nacional de Assistência
Técnica e Extensão Rural (Pnater), lançada em 2004 (DIESE; DIAS; NEUMANN, 2015).
O Brasil é considerado um país agroexportador desde sua origem, exportando commo-
dities como açúcar, algodão, café e mais recentemente soja, álcool e carnes para o mundo
inteiro produzidas sempre em grandes propriedades latifundiárias, enquanto grande parcela
de seus habitantes vive em minifúndios e/ou sem-terra.
Dados publicados no caderno de conflitos da Comissão Pastoral da Terra, de 1985 a
2020 foram assassinados no Brasil por conflitos fundiários 1.841 trabalhadores. A resposta
do poder público na resolução desses assassinatos é de apenas 8% (COSTA et al., 2021).
Segundo dados publicados por Mattei (2012), em 30 anos, menos de um milhão de
famílias assentadas continuavam em terras da reforma agrária. Como resultado da luta
dos trabalhadores rurais e agricultores sem-terra foram criados de 1984 a 2010, segundo
dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, 8.641 projetos de
assentamentos e assentadas 1.238.502 famílias, sendo que apenas 920.412 famílias per-
manecem no campo. Esses assentamentos foram construídos em latifúndios improdutivos,
muito deles resultantes de grandes projetos decadentes e falidos como de usinas de cana
de açúcar do nordeste.
Fernandes (2004) discutindo questão agrária, conflito e desenvolvimento territorial
coloca que através dos conflitos entre trabalhadores rurais e latifundiários é possível com-
preender os processos de criação, recriação e reinvenção do campesinato, demonstrando
que há possibilidades de construir espaços políticos diversos para resistir ao processo de
territorialização do capital e desterritorialização do campesinato. O autor acrescenta nessa
discussão o diálogo como base para o desenvolvimento territorial com sustentabilidade.
Cosme (2016) estudando a Reforma Agrária no Brasil do século XXI, destaca que uma
reforma agrária distributiva que não atacasse o modelo agrícola/agrário hegemônico não
atenderia a sociedade brasileira. Continua sua crítica ao que denomina reforma agrária de
mercado, onde o governo assenta milhares de famílias em terras muitas vezes improdutivas
pagando valores acima do mercado. O autor apresenta como proposta para superação desse
modelo de reforma agrária brasileiro e destaca uma experiência de desenvolvimento territorial
numa região pobre do agreste paraibano, que através da organização foram protagonistas.
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rais nessa sociedade capitalista patriarcal, o campesinato agroecológico do
território da Borborema, organizado em 15 Sindicatos de Trabalhadores Rurais
e Trabalhadoras Rurais (STR’s) e aproximadamente 150 associações comuni-
tárias, segue sua luta e resistência emancipatória (COSME, 2016, p. 16-17).
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descontentes com os impactos negativos da revolução verde implantada pelos governos
militares pós-golpe de 1964 (RUAS, 2006).
Coelho Neto (2013) cita um relato encontrado numa ata do CONDRAF (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável) de 10 de março de 2004 sobre uma visita de
oito conselheiros a Andaluzia/Espanha com o objetivo de conhecer a experiência de gestão
territorial e das institucionalidades daquele país. É importante destacar que o referido autor
cita de forma recorrente a presença dos pesquisadores brasileiros José Eli da Veiga, Ricardo
Abramovay e Tânia Bacelar como sujeitos basilares nessa abordagem de desenvolvimento
territorial da Secretaria de Desenvolvimento Territorial.
O carro chefe das políticas públicas voltadas ao meio rural e à agricultura familiar do
Governo Federal brasileiro a partir de 2003, e para uniformizar a política de implantação dos
Territórios Rurais a SDT adota o conceito de Território como:
O Programa Território da Cidadania está inoperante desde 2017 junto como o Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA) que foi extinto em 2017, quando o governo Temer
fundiu com o antigo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS) e
criou o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário (NASCIMENTO, 2019). Atualmente
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estes ministérios foram extintos e as ações ligadas a agricultura familiar estão sendo ope-
racionalizadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA (PIRES,
2019). A política de desenvolvimento territorial acertadamente foi muito importante para o
desenvolvimento rural brasileiro, pois mesmo depois de quase duas décadas e ser extinta
pelo governo, sobrevive até hoje em muitas localidades de forma autônoma.
Por fim, é válido destacar nessa discussão, como política pública rural, o Programa de
Aquisição de Alimentos (PAA), criado pelo art. 19 da Lei nº 10.696, de 02 de julho de 2003,
com duas finalidades básicas, promover o acesso à alimentação e incentivar a agricultura
familiar. Ele apresenta como beneficiários diretos os agricultores familiares (fornecedores)
e as pessoas em situação de risco alimentar (consumidores), atuando por meio de diversas
modalidades e formas de implementação (SAMBUICHI, 2020).
O PAA funciona comprando alimentos produzidos pela agricultura familiar, com dispensa
de licitação, e os destina para consumo às pessoas em situação de insegurança alimentar
e nutricional e àquelas atendidas pela rede socioassistencial, pelos equipamentos públicos
de segurança alimentar e nutricional e pela rede pública e filantrópica de ensino, percebe-
-se assim o estímulo à agricultura familiar com o fornecimento de alimento seguro à uma
significativa parcela da população vulnerável.
Santos, Soares e Benavides (2015), ao avaliarem o PAA, destacam que se observa
um aumento na quantidade de produtos vendidos pelos agricultores, com impactos positi-
vos em receita média, lucro líquido, investimentos totais e tempo de retorno do capital das
unidades produtivas. Mais que isso, a garantia de comercialização proporcionada pelo PAA
com consequente aumento da renda dos agricultores familiares permitem o aumento do
consumo dessas famílias, promovendo um ciclo positivo de desenvolvimento na economia
local (AGAPTO et al., 2012).
Sambuichi et al., (2019a), ao investigarem o perfil dos municípios que acessaram o
PAA entre os anos de 2011 e 2016, apontaram que aqueles que apresentam um menor
Produto Interno Bruto (PIB) per capita, menor índice de desenvolvimento humano municipal
(IDHM), maior número de agricultores familiares e maior percentual de habitantes na extrema
pobreza apresentam maior probabilidade de acesso ao programa, sendo o Nordeste e o
Norte, onde se concentram os maiores índices de pobreza rural, as regiões que mais aces-
saram o programa. Esses resultados apontam que as finalidades da política de promover
a inclusão social dos agricultores mais pobres e atender às populações mais vulneráveis
estão sendo alcançadas.
Vários estudos demonstram que o PAA, é uma política que afeta positivamente a
agricultura familiar, sendo, portanto, uma política com foco rural de sucesso. Este pro-
grama tem a capacidade de promover acesso à alimentação e melhorar a qualidade e
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os hábitos alimentares das populações mais fragilizadas, sendo importante na mitigação
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Programa floresta Que Te Quero Verde:
Plantio de árvores e frutíferas da Caatinga
no município de Floresta - Pernambuco
'10.37885/220910329
RESUMO
Várias cidades brasileiras vem desenvolvendo uma política de proteção ao meio ambiente,
seja com arborização ou atividades de conscientização da população sobre a importância da
preservação ambiental. Objetivo: Apresentar e fazer compreender a idealização e surgimento
do Programa Floresta Que Te Quero Verde, criado pela Prefeitura de Floresta - PE, que
visa fortalecer a qualidade ambiental e proporcionar locais mais saudáveis e de bem-estar,
na zona urbana e rural, por meio do plantio de árvores e frutíferas da Caatinga em avenidas,
praças e calçadas, como também, em qualquer instituição pública ou estabelecimento comer-
cial da cidade. Método: É um estudo de caráter exploratório e descritivo, com abordagem
qualitativa. Resultados: A expectativa do programa é que cerca de 5.000 árvores e frutíferas
sejam plantadas nos próximos 3,5 anos. Até o momento, o programa contabilizou mais de
3.000 mil solicitações de mudas. Conclusão: O processo de arborização desenvolvido pelo
município de Floresta vem gerando vários benefícios, como locais sombreados, redução da
temperatura e dispersão de poluentes, aumento da umidade do ar, entre outras melhorias,
tornando a cidade mais agradável, saudável e confortável.
ARBORIZAÇÃO
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Enquanto, para alguns, a presença das plantas era de máxima relevância
para a sobrevivência da comunidade, para outros, elas tinham um caráter
meramente estético. Nos dias atuais, a presença da vegetação dentro dos
centros urbanos vem adquirindo extrema importância, pois quebra a artificia-
lidade do meio, além de possuir um papel primordial na melhoria da qulidade
do mesmo. Dessa forma, a arborização urbana vem se tornando cada vez
maisum agente importante na melhoria do micro-clima local, assim como na
diminuição da poluição, sem contar o papel estético inerente ao seu próprio
uso (BONAMETTI, 2020, p. 52).
Nesse contexto, é relevante que o plantio de árvores deva ocorrer em diversas áreas,
em especial, onde o ser humano tenha desmatado ou provocado queimadas, melhorando a
condição da vegetação naquela região, e assim, ajudando a manter o equilíbrio do ecossis-
tema. Para tanto, de acordo com Bonametti (2020), não podemos esquecer da intervenção
de profissionais especializados que minimizem questões relacionadas à má qualidade de
arborização urbana no sistema viário.
Assim, nesta relação entre o homem e a natureza, percebemos a grande necessidade
de discussões sobre a criação de políticas públicas que possam ser adotadas para um melhor
aproveitamento de áreas não edificadas, sendo indispensável o preenchimento destas áreas
com árvores que promovam uma melhoria funcional, estética e o bem-estar do cidadão.
POLÍTICAS PÚBLICAS
O conceito de políticas públicas tem como teor basilar a presença estatal nas diver-
sas ações que envolve a existência e a sobrevivência de alguns setores sociais, como por
exemplo, a agricultura familiar ou mesmo dos programas de apoio e incentivo as pequenas
e médias empresas. As políticas públicas tem como objetivo assegurar a existência de uma
sociedade mais justa e com igualdade de condições para sua população. Para Oliveira (2021,
p. 14), as “políticas públicas conduzem o destino de nosso povo e mudam a realidade onde
moramos [...] nosso nível de cidadania, o futuro dos nossos jovens e até mesmo o equilíbrio
ambiental do planeta”. Essas mudanças ocorrem porque as condições econômicas e sociais
de uma população, e as formas de organização, tem no Estado, o detentor do poder impo-
sitivo e também executivo, buscando a utópica e constitucional lição de que todos somos
iguais, em direitos e deveres.
A noção de Estado, herança do capitalismo mercantil e da crise do feudalismo, na
metade do século XV, surgiu na Europa e teve suas efetivadas pelos filósofos iluministas
nos séculos XVII e XVIII, quando pensaram a ideia da tripartição de poderes para evitar um
novo absolutismo real, quando sugeriram o contrato social entre o cidadão e o administra-
dor das cidades, e quando buscou na fisiocracia de Adam Smith, por exemplo, distinguir o
papel do mercado sem a intervenção estatal. É na noção de contrato social, proposta por
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Jean-Jaques Rousseau, um dos mais importantes pensadores do século XVIII, que se per-
cebe a efetividade do Estado como organizador da sociedade civil, até porque a Ele cabe
a concretização do ideal de estado do bem-estar social e também do poder de polícia, na
aplicação de multas, cobranças de impostos, e o aprisionamento dos corpos, quando des-
cumprem os códigos e leis impostas (RIBEIRO, 2022).
As políticas públicas estatais são vistas no cotidiano da sociedade civil, seja na esco-
la onde os filhos estudam, no posto de saúde onde o atendimento humanizado está mais
próximo das famílias, ou mesmo, na concretização de antigas políticas de reforma agrária
(com assentamentos e colonizações) realizada pelo Instituto Nacional de Colonização e
Reforma Agrária (INCRA), ou mesmo, o abastecimento de água feito em carros pipas, mas
muitas operações do Exército Brasileiro ou dos órgãos dos entes federados, para suprir a
demanda hídrica em tempos de estiagem no Nordeste. São ações técnicas, pontuais ou
permanentes, que buscam suprir as necessidades da população em suas necessidades
básicas de qualidade de vida.
Foi nesse contexto de melhoria da vida da população que em plena pandemia cau-
sada pela COVID-19, onde milhares de pessoas morreram, e que o mundo precisou entrar
em lockdown, para evitar a catástrofe de milhares de mortes, que percebemos a mão forte
do Estado, afinal, foram os investimentos públicos na pesquisa que fez com que institutos,
laboratórios e universidades, mundo a fora, se juntassem na busca rápida por uma vacina
para combater o vírus nefasto. Os investimentos dos poderes públicos salvaram a vida de
milhares de vidas mundo a fora, mas precisamente nos países que acreditaram na eficácia
da vacina e que tinha condições econômicas para aportar valores na concretização das
pesquisas. Aqueles países sem condição econômica, passou a necessitar da ajuda de ou-
tras nações na oferta de demanda de vacina, o que demorou mais ainda o sofrimento de
toda uma população.
Por mais que se observe por parte de céticos, críticas ao papel desenvolvido pelo
Estado, muitas vezes fazendo papel de “pai e mãe” de parte da sociedade, quando distribui
renda através dos auxílios econômicos (Bolsa Família, Bolsa Escola, Auxílio Brasil), esse
ente utópico não deixou o mundo capitalista colapsar em 1929, quando a Bolsa de Valores
de Nova Iorque foi a bancarrota, e exigiu rápida intervenção no controle e efetivação da
compra de “papeis podres” de bancos e investidores, para evitar um colapso ainda maior.
“Vimos isso no Brasil claramente quando o Governo brasileiro comprou e estocou milhares
de sacas de café, mandando queimar ou mesmo lançar ao mar, estoques inteiros, para evi-
tar prejuízos maiores por parte dos cafeicultores do Vale do Paraíba, conforme menciona
Mapa” (2018, p. 17).
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No século XX, diante na necessidade latente por proteção e preservação do meio
ambiente, é pelo viés estatal que se vivencia investimentos na manutenção dos povos tra-
dicionais das florestas, guardiães da natureza, e que é por eles que vem o combate inicial
aqueles que estão dizimando a fauna e a flora na busca por riquezas minerais ou mesmo a
extração da biodiversidade. Na Caatinga, ecossistema predominante no Sertão do Semiárido
brasileiro, o papel do Estado como propositor ou patrocinador de polícias públicas de “recaa-
tingamento”, contribuindo para a inversão do processo de desertificação e fuga da população
sertaneja que vivem e sobrevivem neste ambiente, e, de onde retiram todo seu sustento e
recursos naturais.
O Programa Floresta Que Te Quero Verde, é uma dessas iniciativas em que as polí-
ticas públicas efetivadas tem seus resultados efetivados. Criado pela Prefeitura de Floresta
- PE, o mesmo visa fortalecer o recaatingamento, a qualidade ambiental, a necessidade de
um combate efetivo a desertificação, proporcionando no espaço urbano ou nas pequenas
vilas e lugarejos, locais agradáveis e saudáveis para o bem-estar daquela população, por
meio do plantio de árvores da Caatinga e plantas frutíferas, arborizando avenidas, praças
e calçadas, bem como, instituições públicas, como escolas, parques de esportes, ou esta-
belecimentos comerciais.
METODOLOGIA
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Figura 01. Mapa da Região Sertão de Itaparica.
De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as
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diferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os dife-
rentes posicionamentos existentes no meio social.
O estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
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Figura 03. Momento de lançamento do Programa Floresta Que Te Quero Verde.
Figura 04. Muda de Tamarindo sendo plantada em uma praça da cidade, pelos moradores do bairro em conjunto com
a equipe da gestão municipal.
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Aos poucos, a cidade vai se transformando em um canteiro ambiental. As espécies
mais solicitadas e plantadas são o Ipê-roxo (Handroanthus impetiginosus), Flamboyant
(Delonix regia), Pau d’Arco (Tabebuia) e o Tamarindo (Tamarindus indica). A expectativa do
Programa Floresta Que Te Quero Verde é que cerca de 5.000 árvores e frutíferas sejam
plantadas nos próximos 3,5 anos, como se vê na figura 05.
Figura 05. Muda de Craibeira sendo plantada em um parque da cidade, por alunos da rede pública estadual de ensino
e pela vice-prefeita do município.
CONCLUSÃO
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Até o momento, o programa contabilizou mais de 3.000 mil solicitações de mudas
de árvores e frutíferas, gerando vários benefícios, como locais sombreados, redução da
temperatura e dispersão de poluentes, aumento da umidade do ar, entre outras melhorias,
tornando o município mais agradável, saudável e confortável aos florestanos.
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30 de setembro de 2022.
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Programa Jovem Empreendedor Apicultor:
Uma oportunidade de geração de emprego e
renda aos jovens do município de Remanso
- Bahia
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RESUMO
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(LEDOUX, 2017, p.52). Era um lugar de retirantes descansarem, mas também era uma
cidade de homens valentes, e de muita influência na política regional e estadual.
Conforme Ledoux (2017, p. 54),
O escritor Wilson Lins1, em 1967, que era filho de Pilão Arcado escreveu em sua
obra “Remanso da Valentia”, a saga daquela gente com suas lutas, batalhas, chegadas
e partidas, sempre sob a benção e proteção de São Francisco, que das águas brotavam
peixes em abundância.
O Rio da Integração Nacional ocupou parte do desenvolvimento do norte baiano, servin-
do como estrada para as Gaiolas, no escoamento da produção e no transporte das pessoas
do médio para o alto São Francisco. Durante um período importante da história regional, o
Velho Chico foi o centro de toda a economia da região, sendo por ele abastecido o comércio
dos pequenos vilarejos com mercadorias trazida nos vapores.
Para Ledoux (2017, p. 78),
Wilson Lins (1967), contava em suas obras, com riqueza de detalhes, aquilo que pre-
senciou na infância e o que vivenciava no presente, no cotidiano encarnado pelas crendices,
memórias e um cenário de riquezas, por onde revisitava localidades como Pilão Arcado,
1 O nome do escritor era Wilson Mascarenhas Lins de Albuquerque. Ele era natural de Pilão Arcado (a antiga cidade também inundada
pelas águas do Rio São Francisco), sendo filho do Coronel Franklin Albuquerque, um dos mandatários da cidade. O mesmo exerceu
cargo político, exercendo o mandato de deputado estadual em várias legislaturas. Pela sua obra, em 1967 foi eleito para a cadeira
38, da Academia de Letras da Bahia.
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Sento-Sé, saindo na Barra e um pouco depois, Ibotirama. Sua influência e a influência de
sua família acabaram levando-o para o campo político.
Pelo Decreto Federal nº 10, de 28 de janeiro de 1977, a sede do município de Remanso
foi transferida para local distante sete quilômetros da cidade velha, onde sua população viu
a chegada das primeiras águas do grande lago. Nesse novo espaço territorial já nasceram
novas gerações cuja história é reescrita todos os dias, pelos 41.008 habitantes, conforme
divulgação do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A densidade demográfica no
novo território corresponde a 4.684 km² (IBGE, 2022).
POLÍTICA PÚBLICA
Durante o ápice da renascença, coube aos fisiocratas tecer o pensamento sobre o que
seria o papel do Estado diante do novo cenário que nascia com “a era das luzes” e com o
apagar dos absolutistas. Um novo cenário estava sendo formatado, com teorias que extinguia
o papel supremo da monarquia e que colocava no poder, pessoas escolhidas pelo povo, ou
mesmo, representantes do povo perante os reis e rainhas que viriam a permanecer em seus
tronos, como “déspotas esclarecidos” ou mesmo renunciando ao privilégio real de comandar
o Estado, em nome do parlamentarismo.
Os fisiocratas passaram a construir análises sobre o papel do Estado perante o povo,
criando teses como foi a do liberalismo, por Adam Smith. Coube a Adam Smith apontar em
“A riqueza das nações”, livro composto por dois volumes, escrito em 1776, que não cabia
ao Estado intervir na economia, nas liberdades individuais e na propriedade. Segundo seu
pensamento, o indivíduo deveria ser livre para decidir todos os aspectos relacionados à sua
existência, seus negócios, suas relações sociais, trabalhistas e com o dinheiro. Uma nação
rica era aquela que aceitava que seus membros fossem bem-sucedidos, e que fazem gerar
riquezas a partir do bom uso do seu capital, como frisou Smith (1983).
O Estado enquanto ente detentor do poder de controlador social, não poderia intervir
na economia, antes, deveria incentivar sua população a produzir riquezas. Quando o Estado
intervém demais, gera déficit de concorrência, cujos sujeitos passam a ser dependentes do
mesmo, não alcançando suas independências econômicas. O Estado não deveria se con-
fundir com seu povo, antes, deveria lutar por ele, como menciona Smith (1983).
Passados dois séculos da construção idearia de Adam Smith, um novo olhar para sua
teoria é lançado, e ganha força com a crise do petróleo, na década de 1970. Dar-se o nome
de “neoliberalismo” a essa nova teoria, que critica práticas de políticas estatais voltadas
para o bem-estar social. Segundo Pena (2019), o neoliberalismo é uma crítica pontual ao
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Keynesianismo2, que nasceu durante a crise da bolsa de valores de Nova Iorque, no final
da década de 1920. No Keynesianismo as políticas de proteção social fazem parte do en-
redo de virtudes do Estado, mas são atacadas pelos novos liberais, quem apontam para a
desvirtuação do papel do Estado quando interfere no mercado, regulando contratos, carga
horária de empregados, ou mesmo, controlando o preço da cesta básica.
Mas o que seria da população brasileira sem a mão forte do Estado durante períodos
de crises? Em 2020 e 2021, o mundo passou por uma pandemia sem precedência na história
recente. Um vírus abalou o mundo, trancando a população em suas casas, vigiando aque-
les cujas ações acabavam provocando novas contaminações. Tudo parou, da produção ao
turismo. Como então não deixar que quase 7 bilhões de pessoas não morressem de fome?
Coube ao Estado não deixar que isso viesse acontecer.
O Estado é um ente de “mão forte”, cujo alcance deve chegar a todos, e suas políticas
públicas devem servir aqueles que mais precisam. Foi assim na pandemia da COVID-19
quando desonerou a folha de pagamento, eliminando tributos sobre a receita bruta das em-
presas, evitando o desemprego em massa, e contribuindo para o crescimento da produção e
manutenção dos empregos formais. É assim quando bancos públicos apoiam pequenos pro-
dutores ou criadores, emprestando dinheiro para compra de insumos, melhoria do rebanho,
ou mesmo para reposição de estoques, com juros pequenos e prazos alongados. As políticas
públicas são necessárias e urgentes, e cabe ao Estado constitui-las para ajudar o pequeno
produtor, o pequeno comerciante, a empresa que opera, que contrata, que produz riqueza.
Delimitando nosso olhar para o espaço de observação, diríamos que o Semiárido
brasileiro, onde o município de Remanso - BA está localizado, desde o período colonial que
recebe investimentos públicos. Primeiramente, para combater as secas mais prolongadas,
evitando assim migrações em massa para os grandes centros. Depois percebe-se que
não há como combater as secas, que elas são cíclicas, que elas voltam em períodos de
10 em 10 anos, portanto, era necessário pensar uma possibilidade de convivência com o
Semiárido. A Declaração do Semiárido de 19993, é uma ruptura com esse olhar nefasto da
utilização política dos investimentos públicos.
A Articulação do Semiárido (ASA), fórum de organizações e instituições não-governa-
mentais, passa a cobrar ações de permanência do homem no campo, propondo construir
uma consciência de permanência ao invés de uma consciência de desapego. As tecnologias
2 Keynesianismo é uma teoria econômica formulada pelo economista John Maynard Keynes (1883/1946). O mesmo defende a plena
ação do Estado nas políticas econômicas para atingir o pleno emprego e o equilíbrio econômico.
3 Documento formalizado pela Articulação do Semiárido (ASA), em 1999, cujo teor visa uma ruptura com as ações do combate à seca,
apontando para medidas estruturantes voltada ao desenvolvimento sustentável da região nordeste, pautando um conjunto de medi-
das políticas e práticas de convivência com o Semiárido.
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sociais apropriadas passam a servir como base desse novo olhar. Uma das primeiras políticas
desse novo olhar, é a concretização do Programa Um Milhão de Cisternas (P1MC). A ASA
concretiza o P1MC em 1999, sendo abraçado pela Igreja Católica através das pastorais ru-
rais, e em 2003, passa a incorporar a agenda de políticas públicas emergenciais de fomento
a convivência com o Semiárido brasileiro.
O Programa Jovem Empreendedor Apicultor, objeto de análise, é um desses programas
de fomento. O mesmo foi pensado pela Prefeitura de Remanso - BA, com apoio e concepção
do Sindicato dos Produtores Rurais de Remanso, buscando aprimorar no seio da juventude
rural daquela urbe, a garantia de renda com a apicultura, a preservação dos ecossistemas,
e a formação de uma consciência ambiental coletiva. São práticas de sustentabilidade que
efetiva a permanência do homem no campo e gera condições de fixação do mesmo no
Semiárido brasileiro.
As políticas públicas aparecem como um dos instrumentos de concretização do direito
ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, sendo necessárias para que se alcancem
patamares cada vez mais elevados do nível de proteção de tal direito. Assim, a adoção de
medidas retrocessivas, em relação aos estágios protetivos já alcançados, enseja verdadeira
ofensa ao próprio direito fundamental de tutela do meio ambiente que se busca concretizar
(RAMACCIOTTI, 2020).
As políticas públicas definem-se como sendo ações, realizadas pelos governos, com
o objetivo de assegurar o bem comum e melhores condições para uma vida digna. Além
disso, por meio das políticas públicas, identificam-se prioridades – diante da escassez de
recursos disponíveis, não é possível atender a todas as demandas sociais e aplicam-se
os recursos de acordo com um planejamento, visando à consecução de objetivos estabe-
lecidos (DIAS; MATOS, 2017 apud RAMACCIOTTI, 2020, p. 689). “São os programas de
ação do governo para a realização de objetivos determinados num espaço de tempo certo”
(BUCCI, 1997, p. 95).
APICULTURA
Desde o início do século XXI, a comercialização de mel brasileiro tem crescido tanto
nacionalmente como internacionalmente (RÊGO et al, 2017). A apicultura em geral, é uma
atividade de baixo custo de implantação e manutenção. A mesma, consegue aproveitar a
maior parte da população rural ativa, podendo ser fonte de emprego e renda. Porém, obser-
va-se que os apicultores são poucos instruídos com relação a potencialidade dessa atividade,
dando uma importância maior a criação de caprinos e ovinos, somando-se a isso, a falta de
políticas públicas direcionadas ao segmento, bem como, o baixo estímulo aos produtores
e baixo nível de investimentos por parte dos governos locais (PADILHA NETO et al; 2021).
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Diante disso, o presente estudo tem como objetivo, apresentar e fazer compreender
a idealização e surgimento do Programa Jovem Empreendedor Apicultor, criado pela
Prefeitura de Remanso - BA, visando promover uma oportunidade de emprego e renda
aos jovens da região, beneficiando um total de 40 jovens, entre 16 a 29 anos de idade, da
Comunidade Xique-Xique, Zona Rural da cidade.
METODOLOGIA
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“A fenomenologia é um dos marcos da história da Filosofia e uma das mais importantes
contribuições ao pensamento contemporâneo. A envergadura de suas reflexões e de seu
legado pode mesmo ser comparada às demais “revoluções paradigmáticas” no âmbito da
construção e constituição do conhecimento e na história da filosofia, como foram as “revo-
luções” proporcionadas por Sócrates, Descartes e Kante” (HOLANDA, 2014, p. 24-25).
Segundo Amatuzzi (2009):
De acordo com Bauer e Gaskell (2004, p. 68), “a finalidade real da pesquisa qualitativa
não é contar opiniões ou pessoas, mas ao contrário, explorar o espectro de opiniões, as di-
ferentes representações sobre o assunto em questão”, ou seja, é compreender os diferentes
posicionamentos existentes no meio social.
Já o estudo exploratório para Gil (2010), busca proporcionar maior familiaridade com o
problema em estudo, visando torná-lo mais explícito, e, por conseguinte, o estudo descritivo
explicita particularidades de um dado grupo, captando aspectos descritivos (VERGARA,
2009). Quanto à natureza, este estudo traz uma abordagem qualitativa, onde se buscou
compreender os fenômenos sociais com o menor afastamento possível do ambiente estu-
dado, procurando compreender e explicar a dinâmica das relações sociais (GERHARDT;
SILVEIRA, 2009).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Com objetivo de promover uma oportunidade de emprego e renda aos jovens reman-
senses, por meio da atividade apícola, a prefeitura municipal, em parceria com o Sindicato
dos Produtores Rurais de Remanso (SPRR), Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e
Esporte da Bahia (SETRE), e Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional (CAR),
uma empresa vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Rural da Bahia (SDR), criou o
Programa Jovem Empreendedor Apicultor (figura 2).
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Figura 02. Mídia de divulgação do Programa Jovem Empreendedor Apicultor.
Figura 03. Uma jovem recebendo o “kit” de vestimenta pelas mãos do prefeito.
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A apicultura é uma atividade interessante, pois não se faz necessário um grande vo-
lume de terras, é de baixo impacto ambiental, traz retorno financeiro em curto prazo, e, o
município de Remanso é bastante favorável para o desenvolvimento da atividade.
CONCLUSÃO
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Sistema Agroflorestal: experiências e
prática de implantação na horta Rio
Grande, Fronteira-MG
'10.37885/220910198
RESUMO
Mudanças constantes nos padrões de uso da terra e o manejo inadequado têm amea-
çado a estabilidade dos serviços ecossistêmicos essenciais, causando distúrbios am-
bientais. O Sistema Agroflorestal (SAF) garante a integridade ambiental do uso da terra
e desempenha um papel fundamental na sustentabilidade e diversificação da produção
agrícola. O trabalho teve como objetivo descrever as etapas dos conhecimentos empírico,
holístico e sistemático que envolvem o sistema agroflorestal, caracterizando as etapas de
planejamento, implementação, desenvolvimento e produção, adquirido durante a vivência
na Horta Rio Grande, município de Fronteira-MG. Foi organizado um curso teórico-prático,
realizado de março a novembro de 2017, com encontros mensais. Posteriormente, foi de-
finido o modelo a ser trabalhado, com maior diversidade de plantas, chamado de quintal
florestal, ou modelo consorciado e diversificado, com a finalidade de aumentar a diversidade
dos produtos a ser ofertado para a comunidade. Neste sentido e diante do que foi exposto,
a prática agroflorestal representa uma resposta ao desafio da conciliação entre a sustenta-
bilidade na produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental.
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rurais, por estarem associados à produção de alimentos e oferecerem produtos agrícolas
de qualidade, livre de agrotóxicos, em ambientes florestais, incrementando a geração de
renda em comunidades agrícolas.
Este trabalho tem como objetivo descrever as etapas dos conhecimentos empírico,
holístico e sistemático que envolvem o sistema agroflorestal, caracterizando as etapas de
planejamento, implementação, desenvolvimento e produção, adquirido durante a vivência
na Horta Rio Grande, município de Fronteira-MG.
DETALHAMENTO DA EXPERIÊNCIA
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anotados e descritos em tópicos nesse trabalho, juntamente com um levantamento teórico
sobre os sistemas agroflorestais, com base na agroecologia.
DISCUSSÃO
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A partir desta compreensão entende-se que os sistemas agroflorestais apresentam
maior capacidade de resiliência e maior sustentabilidade quando comparados ao sistema
convencional de cultivo e manejo do solo (CAPORA; PAULUS; COSTABEBER, 2009).
A produção integrada com a floresta aproveita todos os recursos existentes, mantendo
as principais dinâmicas ecológicas que a natureza levou milhares de anos para estabelecer,
diminuindo o gasto de energia com o manejo. Assim, Caldeira (2011) relata diferentes mo-
delos de SAF’s, onde deve ser elaborado um planejamento sobre como seria a produção a
curto, médio ou longo prazo, quais as variedades herbáceas, arbustivas e arbóreas que no
espaço escolhido melhor se adaptariam e a diversidade de cultivos. O referido autor exem-
plifica o planejamento das melhores variedades que se adaptariam na área escolhida e que
tenha uma produção constante durante as diferentes estações do ano, com uma variedade
de produtos satisfatória, diminuição de manutenção, aumento da diversidade faunística e
diminuição de pragas e doenças, sem necessidade de usar agrotóxicos.
O primeiro modelo exemplificado mostra que as plantas podem ser cultivadas em linhas
de forma ordenada, protegendo o solo com serapilheira, restaurando e fertilizando o solo
de forma natural, enriquecendo e alcançando o equilíbrio biológico. O segundo modelo de
SAF é aquele em que o cultivo imita a organização da natureza, oferecendo oportunidade
dos diferentes tipos de raízes ocuparem melhor os espaços do solo sem causar dano ao
seu desenvolvimento e aproveitando seus nutrientes, ajudando a manter sua estabilidade e
nos fazendo refletir que podemos garantir a soberania alimentar se nos preocuparmos com
a diversidade das espécies, com a proteção, o armazenamento e a disponibilidade de água
com qualidade (CALDEIRA, 2011).
Segundo o trabalho desenvolvido pelo Instituto IPOEMA, os estágios de uma agro-
floresta estão relacionados ao fator tempo, ou seja, ao ciclo de vida de cada consórcio de
plantas que escolhemos (ROCHA, 2014). Os estágios representam o conjunto de espécies
que predominam ao longo dos anos nas agroflorestas, valendo ressaltar que agrofloresta
não é um tema novo, vem sendo utilizado há milhares de anos. São eles:
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A coexistência de múltiplas relações em ambientes de SAF’s, corrobora com o desen-
volvimento qualitativo e quantitativo dos nichos ecológicos, incrementando a biodiversidade,
visto que, quanto maior a variação de relações e processos no conjunto das espécies, maior
será a diversidade funcional da agrofloresta, e consequentemente o funcionamento do ecos-
sistema em formação (DÍAZ; CABIDO, 2001). Segundo Caporal, Paulus e Costabeber (2009)
os SAF’s são classificados de acordo com a natureza e arranjo de seus componentes em:
Fonte: Korasaki, 2019 (Figuras. C e E); Unsplash.com. (Figuras. A, B, D e F). Disponível em: https://unsplash.com/s/photos/livestock.
Acesso em: 10 jul. 2020.
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Também são formas de cultivos agroflorestais praticados em regiões tropicais
(NAIR, 1985) os:
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transição de modelos simplificados em modelos de produção complexos por meio de estra-
tégias participativas e sistêmicas, reconhecendo o potencial endógeno e sociocultural local.
Implantação agroflorestal
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Nardele e Conde (2010) ressaltam que devem ser observadas características físicas locais
como relevo, solo, orientação das vertentes, vegetação nativa, direção e intensidade dos
ventos, disponibilidade de água, entre outros fatores, a fim de potencializar o desenvolvi-
mento da agrofloresta.
Os SAF’s devem imitar ao máximo a natureza na composição das espécies e no pro-
cesso de sucessão ecológica (BERTOLOTO, 2014). Odum e Barrett (2007) ressalta que
muitas espécies possuem comportamentos diferentes quando estão em conjunto com outras
espécies, assim, fatores como competição, mutualismo e simbiose devem ser considerados
no processo de implantação agroflorestal.
Tezza (2012) considera a importância da introdução de espécies de ciclo curto, médio
e longo, para fornecimento de produtos desde o primeiro ano de implantação, permitindo a
utilização de culturas perenes, que ao longo do tempo irão diminuir a demanda de mão de
obra, mas continuarão gerando renda aos proprietários. Outro aspecto a ser considerado na
implantação dos SAF’s é o movimento cíclico dos nutrientes, visto que as plantas absorvem
do solo e os usam nos processos metabólicos.
Gliessman (2005) discorre que nos ecossistemas a ciclagem de nutrientes está rela-
cionada ao movimento circular de fluxo de energia, e os nutrientes ao se decomporem são
novamente disponibilizados nas camadas mais superficiais, facilitando a absorção pelas
plantas. Visando a produção sustentável e sem necessidade de entrada de insumos ex-
teriores ao processo, é importante a utilização de espécies que servirão para adubação
verde e cobertura viva do solo, pois elas desempenham funções de fixação de nutrientes e
aumentam a taxa de matéria orgânica no solo (DANIEL et al., 2014).
A produção agroflorestal gera impactos positivos conforme as características funcionais
do ecossistema, neste sentido, o conjunto de informações socioeconômicas, associado às
potencialidades locais possibilitam o desenvolvimento adequado da agrofloresta.
Desenvolvimento agroflorestal
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para o consórcio e no segundo serão selecionados os indivíduos para produção de grande
quantidade de matéria orgânica.
Após a retirada da cobertura (viva e morta) que está sobre o solo, faz-se o plantio das
espécies selecionadas nos canteiros, aproveitando ao máximo o espaço e direcionando
sementes e mudas para que venham a ocupar da melhor forma possível seus estratos ao
longo do processo sucessional (SIMÕES, 1989). O plantio é realizado em “berços”, faixas
de terra no qual as plantas são semeadas, considerando suas necessidades de desenvol-
vimento e ciclos (curto, médio, longo).
Nas agroflorestas, ocorre manejo intensivo de plantas, especialmente no plantio, na
poda e na organização do material podado no solo. Todo o material podado é picado e co-
locado de maneira a facilitar o processo de decomposição, garantindo a cobertura do solo
e reduzindo a regeneração de espécies inadequadas àquele momento da sucessão da
agrofloresta, conforme explica Miccolis et al. (2016).
Desde que os sistemas atendam aos critérios ambientais, podem ser incluídas diver-
sas espécies com função de gerar diferentes benefícios para a família, como, segurança
alimentar, remédios, fibras, energia, entre outros. Uma vez escolhidas as principais espécies
a serem implantadas nos SAF’s, é possível iniciar o planejamento econômico, valorizando
e planejando o manejo dos diferentes produtos da biodiversidade.
Conduzidas sob lógica agroecológica, os SAF’s transcendem qualquer modelo pronto e
incorporam a sustentabilidade quando se desenham agroecossistemas adaptados ao poten-
cial natural do lugar, aproveitando os conhecimentos locais. Neste sentido, não existem mo-
delos, e sim, princípios, fundamentos e práticas que devem ser adaptadas a cada realidade.
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Conforme a agrofloresta se desenvolve, haverá maior diversificação de produção e
consequentemente aumento da renda familiar (NEVES, 2014). Segundo Souza e Junqueira
(2007, p. 23-24) em SAF’s:
Estudo de caso
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Figura 2. Características geográficas geral da área de estudo.
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Figura 3. Visão aérea da área de estudo.
O preparo do solo foi realizado pelos integrantes do curso, por meio de roçada manual,
a biomassa da entre linhas foi capinada e utilizada nos canteiros, assim foi mantido 30%
das plantas nativas, que abrigam informações originais dos microrganismos e da relação
da interação solo-planta, uma vez que o solo é rocha decomposta em sistema gasoso, que
se expande e contrai, com síntese de proteínas da interação entre o solo e a planta, e são
responsáveis pela humificação e preservação do equilíbrio genético original. O planejamento
é que em cada linha sejam plantadas hortaliças, frutíferas e arbóreas exóticas.
As entrelinhas foram deixadas em pousio com a vegetação nativa (Figura 4D), e os
alunos do curso de agrofloresta realizam o preparo do solo, somente nas linhas alternadas,
com a implantação de espécies nativas do bioma Cerrado (em consórcio com abóbora
(Cucurbita pepo), tomate (Solanum lycopersicum), tomate cereja (Solanum lycopersicum var.
cerasiforme), berinjela (Solanum melongena), espinafre (Spinacia oleracea), jiló (Solanum
aethiopicum), brócolis chinês (Brassica oleracea), acelga (Beta vulgaris var. cicla), beterraba
(Beta vulgaris) e repolho (Brassica oleracea var. capitata)), em espaçamento de 20 m uma
da outra, que corresponde a distância em que toda a microvida do solo e raízes se interco-
muniquem. Hortaliças, frutíferas e espécies exóticas, assim como os eucalipto (Eucalyptus
grandis) e mamão (Carica papaya) que se encontravam na estufa, foram inseridos no sis-
tema na época da próxima chuva, e com o passar dos anos servirão de matéria orgânica
para enriquecimento do solo.
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Figura 4. Aula expositiva do curso de Agrofloresta (A e B); Reconhecimento do sistema agroflorestal (C e D); Incorporação
do material vegetal (E) e Cobertura vegetal no canteiro (F).
Uma vez roçada e determinado a permanência das plantas nativas (jequitibá (Cariniana
estrellensis), jambo (Syzygium jambos), jenipapo (Genipa americana), ipê (Handroanthus
albus), cedro (Cedrela fissilis), guapururu (Schizolobium parahyba), entre outros), foi rea-
lizada a abertura dos berços (50 cm de profundidade), misturando-se 50 g de Yoorin em
cada cova, Super Thorg (300 g m-²) e calcário nos canteiros (506 g m-²) para correção do
pH, além de solo solto, para o melhor desenvolvimento do sistema radicular e geração de
plantas saudáveis, com solo nutricionalmente rico próximo a raiz.
Ressalta-se que tanto o curso de agrofloresta, assim como, o próprio desenvolvimento
da agrofloresta na propriedade estão em processo de desenvolvimento (Figuras 4C e 4D).
Das espécies plantadas os tomateiros foram os mais sensíveis, influenciados pela defi-
ciência de cálcio no solo, característico dos solos do cerrado, e pelo fato de que a área era
uma pastagem degradada. Os tomates colhidos foram aproveitados principalmente para o
processamento de tomates secos, onde os potes de 150 g de tomate seco eram vendidos,
e se tornam uma possibilidade de renda à família.
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Com o manejo da cobertura vegetal (Figura 4E), associado à poda das espécies frutí-
feras e nativas, o solo se enriquecerá em fibra, palha, celulose e lignina, e com isso estará
protegido, evoluindo e adquirindo características de solo de floresta. Além da prestação
de serviços ambientais, as espécies arbóreas introduzidas promovem cobertura dos solos
(Figura 4F), deposição de matéria orgânica, redução de erosão e aumento da biodiversidade.
Os sistemas agroflorestais visam diversificar a produção agropecuária e florestal, au-
mentando a biodiversidade e resiliência agroecossistêmica. Neste sentido e diante do que
foi exposto, a prática agroflorestal representa uma resposta ao desafio da conciliação entre
a sustentabilidade na produção de alimentos e a sustentabilidade ambiental.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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SOBRE OS ORGANIZADORES
Clecia Simone Goncalves Rosa Pacheco
PhD em Educação (UCSF - Argentina); Doutorado Profissional em Agroecologia e Desenvolvimento
Territorial pelo Programa de Pós-Graduação em Agroecologia e Desenvolvimento Territorial
(PPGADT/UNIVASF); Master of Sciece em Educação (UI - Lisboa/Portugal); Mestrado Profissional
em Tecnologia Ambiental (ITEP/PE); Especialista em Auditoria e Perícia Ambiental (Universidade
Estácio Sá/SP); Geógrafa (UPE); Docente efetiva do Instituto Federal do Sertão Pernambucano
(IFSertãoPE) no Colegiado de Tecnologia em Alimentos. Docente permanente do Programa de
Pós-Graduação em Dinâmicas de Desenvolvimento do Semiárido (PPGDiDeS/UNIVASF). Membro
de la Rede Iberoamericana del Médio Ambiente (REIMA/Brasil); Membro da Associação Brasileira
de Agroecologia (ABA) atuando no GT - Manejo de Agroecossistemas; Docente Correspondente
de la Academía Internacional de Ciencias, Educación, Tecnologías y Humanidades (Valencia/
España); Líder do Grupo de Pesquisas Interdisciplinar em Meio Ambiente (GRIMA/CNPq) e
Núcleo de Pesquisa Geoambiental (NuPGEO/CNPq). Docente e Coordenadora do Curso de
Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental e Sustentabilidade nos Territórios Semiáridos (TASTS/
IF Sertão-PE); Membro do Corpo Editorial da Editora Científica Digital; Membro do Corpo Editorial
da Brazilian Journal of Animal and Environment Research (BJAER) e da South Florida Journal
of Environmental and Animal Science. Revisora de periódicos científicos, entre eles: GEOUSP:
espaço e tempo; OPARÁ: Etnicidade, Movimentos Sociais e Educação; Revista Iberoamericana
Anmbiente & Sociedade; Revista Científica Diversidad Biologica y su Gestión Integrada; Diversitas
Journal; Journal of Edication, Society an Behavioural Science. Colaboradora da Rede MapsBioma
Árida; Palestrante nacional e internacional. ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7621-0536.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/6358715394273386
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ÍNDICE REMISSIVO
A Ensino por Investigação: 132
Agroecologia: 20, 23, 27, 28, 29, 34, 35, 36, 37, F
38, 39, 61, 63, 64, 65, 66, 68, 69, 76, 81, 82, 83, 96,
97, 98, 99, 100, 101, 103, 104, 105, 106, 107, 140, Fitotoxicidade: 48
163, 178, 188, 191, 205, 222, 227, 235, 236
Formação: 36, 96, 102, 208, 237
Agrofloresta: 220, 229, 233, 235
Formação Crítica: 96
Atividade: 143
I
Avaliação: 58, 59, 60, 61, 83, 191
Internet: 87, 109, 118, 201
Avanço: 208
N
B
Natureza: 13, 21, 101, 106, 132, 134, 140, 143,
Biodiversidade: 205, 220, 235 193, 196, 236
D Q
Desenvolvimento: 16, 19, 82, 135, 139, 143, 148, Qualidade: 64, 85, 109, 143, 196
149, 153, 154, 156, 163, 164, 170, 179, 181, 182,
183, 186, 188, 189, 192, 193, 206, 208, 215, 218, Qualidade de Vida: 196
228, 236
R
Desenvolvimento Rural Sustentável: 156, 189,
206 Região Sertão de Itaparica: 196, 200, 201
EJA Campo: 95, 96, 97, 98, 100, 101, 102, 103, S
104, 105
Sabor: 85
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ÍNDICE REMISSIVO
Saúde: 85, 109, 117, 169, 177, 191, 193, 235, 237
T
Tendência: 13, 134
Território: 13, 15, 16, 17, 36, 134, 135, 136, 137,
145, 149, 153, 182, 189, 193, 208, 214
Tradição: 85, 94
V
Vida: 13, 109, 112, 113, 114, 115, 116, 117, 134,
196
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