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ROBSON JOSÉ DE OLIVEIRA

(Organizador)

RECURSOS HÍDRICOS

GESTÃO, PLANEJAMENTO E TÉCNICAS


EM PESQUISA

editora

científica digital
ROBSON JOSÉ DE OLIVEIRA
(Organizador)

RECURSOS HÍDRICOS

GESTÃO, PLANEJAMENTO E TÉCNICAS


EM PESQUISA

1ª EDIÇÃO

editora

científica digital

2021 - GUARUJÁ - SP
editora

científica digital

EDITORA CIENTÍFICA DIGITAL LTDA


Guarujá - São Paulo - Brasil
www.editoracientifica.org - contato@editoracientifica.org

Diagramação e arte 2021 by Editora Científica Digital


Equipe editorial Copyright© 2021 Editora Científica Digital
Imagens da capa Copyright do Texto © 2021 Os Autores
Adobe Stock - licensed by Editora Científica Digital - 2021 Copyright da Edição © 2021 Editora Científica Digital
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(eDOC BRASIL, Belo Horizonte/MG)

R311 Recursos hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa / Organizador Robson José de Oliveira. – Guarujá, SP:
Científica Digital, 2021.
E-BOOK
ACESSO LIVRE ON LINE - IMPRESSÃO PROIBIDA

Formato: PDF
Requisitos de sistema: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-89826-78-1
DOI 10.37885/978-65-89826-78-1

1. Recursos hídricos – Brasil. 2. Desenvolvimento de recursos hídricos – Brasil. I. Oliveira, Robson José de.

2021
CDD 333.91

Elaborado por Maurício Amormino Júnior – CRB6/2422


CORPO EDITORIAL

Direção Editorial
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João Batista Quintela
Editor Científico
Prof. Dr. Robson José de Oliveira
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Universidade Federal de São João Del Rei, Brasil Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Pará, Brasil

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Universidade Federal do Pará, Brasil

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APRESENTAÇÃO
Esta obra, RECURSOS HIDRICOS, GESTÃO, PLANEJAMENTO E TÉCNICAS DE PESQUISA, constituiu-se a partir de um
processo colaborativo entre professores, estudantes e pesquisadores que se destacaram e qualificaram as discussões
neste espaço formativo. Resulta, também, de movimentos interinstitucionais e de ações de incentivo à pesquisa que
congregam pesquisadores das mais diversas áreas do conhecimento e de diferentes Instituições de Educação Superior
públicas e privadas de abrangência nacional e internacional. Tem como objetivo integrar ações interinstitucionais nacionais
e internacionais com redes de pesquisa que tenham a finalidade de fomentar a formação continuada dos profissionais da
educação, por meio da produção e socialização de conhecimentos das diversas áreas do Saberes.
As vantagens de publicar em um livro trabalhos de tão eficiência e gabarito é que podemos apresenta para sociedade
resultados, revisão do que melhor está sendo discutido, pesquisado na academia e nesse contexto que envolve a temática
de recursos hídricos numa época em que vivemos mais uma crise hídrica no pais é bom levantar discussões sobre a
questão da água e seus usos com profissionais que militam na área para que possamos apresentar soluções, resultados
e busca de melhoria do uso mais adequado de nossa agua e levando a mais pessoas possível. Os mais variados temas
envolvendo pesquisas como Indicadores de desempenho para reservatórios; Uso de sítios florestais para melhoria de áreas
degradadas; Qualidade de vida em uma cidade mineira através de índices econômicos, sociais e ambientais; Origem de
agua em reservatório sob a ótica hidrogeoquimica; Caracterização de umidade do solo, entre outras pesquisas de pessoas
que buscam a ciência como proposito de encontrar soluções para uma vida melhor nesse planeta.
Agradecemos aos autores pelo empenho, disponibilidade e dedicação para o desenvolvimento e conclusão dessa obra.
Esperamos também que esta obra sirva de instrumento didático-pedagógico para estudantes, professores dos diversos
níveis de ensino em seus trabalhos e demais interessados pela temática.
Robson José de Oliveira
SUMÁRIO
CAPÍTULO 
01
A ADOÇÃO DE PLANO DE MANEJO FLORESTAL SUSTENTÁVEL DIRECIONADO PARA A REGIÃO DA CAATINGA COMO
FERRAMENTA DE GESTÃO NA SOLUÇÃO DE CONFLITOS EM CENÁRIOS DE ESCASSEZ HÍDRICA

Ariadne Ferreira Gomes; Paloma Paiva Santiago; Enio Costa; Érika da Justa Teixeira Rocha

' 10.37885/210705535................................................................................................................................................................................... 14

CAPÍTULO 
02
A DINÂMICA HIDROLÓGICA DA ZONA RIPÁRIA MONITORADA PELO NÍVEL DO LENÇOL FREÁTICO
Claudia Moster; Walter de Paula Lima; Maria José Brito Zakia; Jean Paul Laclau

' 10.37885/210705565...................................................................................................................................................................................24

CAPÍTULO 
03
A INFLUÊNCIA DO EFLUENTE DE UMA ETE NA CARACTERÍSTICA DA MATÉRIA ORGÂNICA DISSOLVIDA DE UM RIO
Rafael Duarte Kramer; Jhonatas Antonelli; Marcelo Real Prado; Júlio Cesar Rodrigues Azevedo

' 10.37885/210705376................................................................................................................................................................................... 38

CAPÍTULO 
04
ANÁLISE COMPARATIVA DA CONCENTRAÇÃO DE METAIS PESADOS NO AQUÍFERO BAURU EM MATO GROSSO DO SUL
E EM SÃO PAULO
Denise Aguena Uechi; Sandra Garcia Gabas; Giancarlo Lastoria

' 10.37885/210705516................................................................................................................................................................................... 48

CAPÍTULO 
05
CARACTERIZAÇÃO DA UMIDADE DO SOLO NA BACIA DO PEFI
Maria del Carmen Sanz Lopez; Augusto José Pereira Filho

' 10.37885/210705506.................................................................................................................................................................................. 58

CAPÍTULO 
06
GESTÃO INTEGRADA DA INFORMAÇÃO E DO MONITORAMENTO DE DADOS AMBIENTAIS EM BACIAS HIDROGRÁFICAS
PARA GESTÃO DE RISCOS AMBIENTAIS
Maria Bernardete Guimarães

' 10.37885/210705569................................................................................................................................................................................... 71
SUMÁRIO
CAPÍTULO 
07
IMPACTOS DO ROMPIMENTO DA BARRAGEM DE FUNDÃO (MARIANA - MG) NA GEOMETRIA HIDRÁULICA DO RIO
GUALAXO DO NORTE

Diego Rodrigues Macedo; Antônio Pereira Magalhães Júnior; Regina Paula Benedetto de Carvalho; Miguel Fernandes Felippe

' 10.37885/210705526.................................................................................................................................................................................. 92

CAPÍTULO 
08
INDICADORES DE DESEMPENHO ESTATÍSTICOS PARA RESERVATÓRIOS: UMA REVISÃO DE LITERATURA
Shevine Silva Oliveira Risso; Patrícia Teixeira Leite Asano; Eduardo Lucas Subtil; Maria Cleofé Valverde Brambila

' 10.37885/210504613................................................................................................................................................................................. 112

CAPÍTULO 
09
INFLUÊNCIA DE OBRAS DE PROTEÇÃO COSTEIRA NO CONTROLE DE EROSÃO NA PRAIA CENTRAL DE MARATAÍZES (ES)
Angélica Aparecida Liandro Pinheiro; Arthur Costa Cerqueira; Idel Cristiana Bigliardi Milani

' 10.37885/210705483................................................................................................................................................................................ 140

CAPÍTULO 
10
MAPEAMENTO DAS ESTRUTURAS DE DEFESA LITORÂNEA E MITIGAÇÃO DE PROCESSOS EROSIVOS EM PERNAMBUCO
- BRASIL
Arthur Costa Cerqueira; Idel Cristiana Bigliardi Milani; Angélica Aparecida Liandro Pinheiro

' 10.37885/210705484................................................................................................................................................................................ 150

CAPÍTULO 
11
MODELAGEM E SIMULA O DA DISPERSÃO DE DIÓXIDO DE CARBONO NA REPRESA DA USINA HIDRELÉTRICA DE MANSO
E REGIÃO
Beatris Carila da Silva; André Krindges

' 10.37885/210705570................................................................................................................................................................................. 159

CAPÍTULO 
12
MONITORAMENTO DE METAIS PESADOS EM BACIA HIDROGRÁFICA
André Gorjon Neto; Cássia Maria Bonifácio; Osvaldo Tarelho Júnior; Célia Regina Granhen Tavares

' 10.37885/210805778................................................................................................................................................................................. 180


SUMÁRIO
CAPÍTULO 
13
ORIGEM DA ÁGUA DO RESERVATÓRIO DO POXIM: UMA VISÃO HIDROGEOQUÍMICA

Rosahelena Reis Morais Silva; Adnívia Santos Costa Monteiro; José do Patrocínio Hora Alves

' 10.37885/210705375................................................................................................................................................................................. 194

CAPÍTULO 
14
OS IMPACTOS DA PRESENÇA DE AGROTÓXICOS EM CURSOS D’ÁGUA NO MUNICÍPIO DE BURI – SP

Daniela Passos de Macedo; Cássia Maria Bonifácio

' 10.37885/210805776................................................................................................................................................................................. 205

CAPÍTULO 
15
PARÂMETROS DE QUALIDADE DA ÁGUA NO MONITORAMENTO AMBIENTAL

Cássia Maria Bonifácio; Maria Teresa de Nóbrega

' 10.37885/210805810................................................................................................................................................................................ 219

CAPÍTULO 
16
PLANEJAR COM AS ÁGUAS: O PAPEL DE GRUPOS EXTENSIONISTAS E ASSESSORIAS POPULARES NA CONSTRUÇÃO DE

ALTERNATIVAS DE REQUALIFICAÇÃO URBANO-AMBIENTAL

Augusto Cesar Oyama; Edimilson Rodrigues dos Santos Junior; Marcelo Montaño; Marcel Fantin

' 10.37885/210705436................................................................................................................................................................................ 233

CAPÍTULO 
17
QUALIDADE DE VIDA EM TUPACIGUARA (MG): ANÁLISES A PARTIR DE ÍNDICES SOCIOECONÔMICOS E AMBIENTAIS

Maraísa Costa da Silva; Nágela Aparecida de Melo; Beatriz Ribeiro Soares

' 10.37885/210705294................................................................................................................................................................................ 249


SUMÁRIO
CAPÍTULO 
18
SÍTIOS FLORESTAIS DE PRODUÇÃO COMO ESTRATÉGIA PARA REABILITAÇÃO DE ÁREAS RURAIS DEGRADADAS EM
CUNHA–SP
Jorcelino Rinalde de Paulo; Alfredo Akira Ohnuma Júnior; Antônio Roberto Martins Barboza de Oliveira; Ana Silva Pereira Santos

' 10.37885/210705296................................................................................................................................................................................ 264

SOBRE O ORGANIZADOR..................................................................................................................................... 277

ÍNDICE REMISSIVO.............................................................................................................................................. 278


01
A adoção de plano de Manejo Florestal
Sustentável direcionado para a região
da Caatinga como ferramenta de
gestão na solução de conflitos em
cenários de escassez hídrica

Ariadne Ferreira Gomes


IFCE

Paloma Paiva Santiago


IFCE

Enio Costa
IFCE

Érika da Justa Teixeira Rocha


IFCE

10.37885/210705535
RESUMO

Diversas atividades estão relacionadas com a degradação ambiental na região Semiárida,


podendo ser citados o sobrecultivo, a salinização das áreas irrigadas, o sobrepastoreio e
o desmatamento. Aliada à degradação ambiental, a escassez hídrica tem gerado conflitos
pelo uso da água. Buscando garantir a sustentabilidade na gestão da solução de conflitos
em cenários de escassez hídrica, o Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS surge
como alternativa viável, uma vez que norteia as ações para o gerenciamento, conforme
a perspectiva do manejo. O objetivo deste trabalho é apresentar a proposição de um
PMFS para uma fazenda localizada em uma região do Semiárido cearense onde existe
conflito pelo recurso hídrico. O PMFS deverá ser elaborado conforme a metodologia
dos Padrões Abertos para a Prática da Conservação, versão 3.0 (CMP). A partir dos
resultados obtidos, após a implementação do PMFS, poderá ser feita uma comparação
entre as diversas etapas de elaboração do Plano com os resultados observados durante
sua implantação.

Palavras-chave: Gerenciamento, Manejo, Práticas de Conservação.

15
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

As atividades relacionadas com a degradação ambiental na região Semiárida são


inúmeras, mas alguns fatores podem ser enumerados como as principais causas: sobre-
cultivo, salinização das áreas irrigadas, sobrepastoreio e desmatamento (GUERRA, 2014).
Somando-se isso à vulnerabilidade hídrica apresentada por essa região — que é marcada
pelo regime de precipitação sazonal (SILVA et al, 2012; PEREIRA, 2017) — e às especi-
ficidades sociais e ambientais (AQUINO, 2016) daquela localidade, que tem condicionado
árduas realidades para inúmeras famílias locais (PEREIRA et al, 2018) o resultado são os
conflitos pelo uso da água, cada vez mais comuns.
Na busca por implementar um Sistema de Gestão para o Desenvolvimento Sustentável
de Comunidades Rurais, que estão inseridas na região Semiárida, o Plano de Manejo Florestal
Sustentável – PMFS funciona como uma ferramenta para a melhoria da gestão ambiental
e pode auxiliar na resolução de conflitos que se originam em épocas de escassez hídrica.
O Plano de Manejo é o produto de um processo de planejamento, em que as decisões
e as orientações futuras devem ser tomadas conforme a perspectiva do manejo (THOMAS;
MIDDLETON, 2003). Este documento deve ser elaborado com base em um diálogo colabo-
rativo, buscando soluções sustentáveis. O Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS é
o documento técnico de planejamento que serve para subsidiar a operação da atividade de
exploração da vegetação nativa, e busca garantir a sustentabilidade econômica e ambiental
por ocasião da intervenção na floresta (ANA, 2004), sendo indicado o planejamento do uso
dos recursos do bioma da Caatinga.
De acordo com o Centro Nordestino de Informações sobre Plantas - CNIP, da Associação
Plantas do Nordeste - APNE, o número de PMFS ativos em 2018 era de 473, quantidade
menor do que foi observado em 2015 quando existiam 588 planos. Esses dados representam
apenas 48% do total de planos protocolados nos órgãos responsáveis e, ainda de acordo
com essa entidade, em termos de área manejada, os Planos de Manejo ativos representam
43% do total, atingindo, em 2018, apenas 283 mil há, contra os quase 400 mil ha manejados
em 2015. A Figura 1 apresenta a quantidade de PMFS ativos em 2018.

16
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 1. PMFS ativos em 2018 com base nas informações do CNIP- APNE – adaptado de CNIP-APNE.

Observando que a Floresta e a Água são recursos naturais intrinsecamente ligados


(ANA, 2004), e que a ausência de um recurso compromete profundamente a existência do ou-
tro, principalmente nos biomas susceptíveis a eventos extremos como é o caso da Caatinga,
a adoção de práticas de manejo sustentável despontam como soluções para o desenvolvi-
mento dessas regiões, atuando como forte alternativa para o gerenciamento dos sistemas
ambientais e, consequentemente, para a solução de conflitos sobre os recursos hídricos.
O objetivo deste trabalho é propor um Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS
para uma fazenda localizada em uma região do Semiárido cearense onde, no presente,
existem conflitos pelo recurso hídrico. Espera-se, com a adoção do Plano, solucionar as
disputas existentes, auxiliando o processo de gerenciamento desse recurso hídrico.

METODOLOGIA

Caracterização da área

A área de estudo está localizada no município de Pentecoste - Ce. Esse município está
na mesorregião norte cearense, situado na bacia hidrográfica rio Curu, médio Curu. O cli-
ma predominante é o Semiárido e no município, está localizado um dos maiores centros
de pesquisas ictiológicas da América do Sul, de onde são exportados alevinos de várias
espécies e tecnologia de desenvolvimento de criatórios e reprodução para todo o estado e
regiões Nordeste e Norte do país (PENTECOSTE, 2020). Além da exportação muitos alevinos
são comercializados para os próprios moradores, que investem na aquicultura. A Fazenda
Aliança, onde deve ser implantado o PMSF, tem coordenadas geográfica 3° 52’ 49” S e 39°
16’ 19” W. A Figura 2 mostra a localização da área de estudo.

17
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 2. Localização da área de estudo – MANGUEIRA (2017).

A localidade apresenta um total de 5,055 hectares e é composta por pasto natural,


com criação de bovinos. O rebanho é composto por 80 animais que são criados em sistema
extensivo, soltos, e que permanecem na área de pasto no período de agosto a dezembro
(MANGUEIRA, 2017). O proprietário também cultiva peixes – Tilápia (Oreochromis sp.),
Traíra (Hoplias sp.) e Tambaqui (Colossoma macropomum sp.) – em tanques escavados
no solo. A água para o abastecimento dos tanques de criação de peixes é retirada de um
pequeno açude localizado no interior da propriedade. A Figura 3 mostra os tanques esca-
vados para a criação dos peixes.

Figura 3. Localização dos tanques de cultivo dos peixes – autores.

Há ainda uma região com vegetação nativa do bioma da Caatinga, não muito densa,
com aparente estado de degradação. O conflito no Gerenciamento do Recurso Hídrico é
observado principalmente nos períodos de estiagem, quando a água do açude – fonte de
abastecimento – sofre com o processo de competição, sendo compartilhada entre a desse-
dentação dos rebanhos e a manutenção das condições ambientais dos tanques de peixes.

Metodologia empregada para a proposição do PMSF

A metodologia proposta para a elaboração do PMSF da Fazenda Aliança é aquela


desenvolvida pelo consórcio de organizações de conservação Aliança para as Medidas
de Conservação - CMP, denominado Padrões Abertos para a Prática da Conservação, na
18
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
versão atual 3.0. O método foi utilizado para a proposição de um Plano de Manejo de um
Parque Urbano (GOMES, 2018) e pode ser adaptado para a realidade da Fazenda Aliança.
Esse modelo de planejamento é organizado em um ciclo de gestão de projetos baseado no
Manejo Adaptativo e segue as etapas:

a) 1º passo: conceituação da visão do projeto e do contexto em que se insere;


b) 2º passo: planejamento das ações e do monitoramento;
c) 3º passo: implementação das ações e do monitoramento;
d) 4º passo: análise dos dados, utilização dos resultados e adaptação das ações;
e) 5º passo: documentação e compartilhamento do aprendizado.

A Figura 4 apresenta o ciclo de gestão de projetos dos Padrões Abertos.

Figura 4. Ciclo de gestão de projetos dos Padrões Abertos da CMP, versão 3.0 – adaptado de CMP (2013).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com base nas observações feitas após visitas técnicas à Fazenda Aliança e de diálo-
gos com os proprietários, foi elaborado o escopo do Plano de Manejo Florestal Sustentável
- PMFS, seguindo os procedimentos apresentados por Gomes (2018).

Passo 1: conceituação da visão do projeto e do contexto em que se insere

O Plano de Manejo Florestal Sustentável - PMFS da Fazenda Aliança terá como ob-
jetivo principal reduzir os conflitos sobre o uso do recurso hídrico, aplicando técnicas de
gerenciamento e ferramentas de controle. Essas técnicas serão apresentadas na etapa
de monitoramento.
Com base no que foi observado durante a visita técnica, constatou-se que há um con-
flito no gerenciamento do recurso hídrico naquela localidade. Essa competição se dá entre
os diversos usos exigidos para a água que está represada no açude da propriedade, sendo
mais perceptível nos períodos de estiagem.
19
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Além disso, chegou-se à conclusão de que o solo dessa localidade está passando
por um processo de degradação. Essa conclusão resulta da análise visual do terreno, dos
diálogos com os proprietários da Fazenda e, da análise de estudos previamente realizados
por outros pesquisadores, que indicaram, dentre outros fatores, que o pisoteio do rebanho
bovino está causando alterações na densidade do solo – caracterizando um início de de-
gradação (MANGUEIRA, 2017).
Assim, considerando que a recuperação da vegetação de Caatinga remanescente às
margens do açude poderá ajudar a regular o processo de erosão desse solo, permitindo a
redução da carga de sedimentos no açude e contribuindo para a retenção de umidade no
solo, justifica-se a proposição do PMFS para essa localidade.

Passo 2: planejamento das ações e do monitoramento

Nesta etapa, faz-se necessário a apresentação das ações, dos objetivos e das metas
definidas para o Plano de Monitoramento. Assim, o Quadro 1 detalha algumas das atividades
que nortearão o PMFS da Fazenda Aliança.

Quadro 1. Detalhamento das ações propostas para o PMFS da Fazenda Aliança.

Ação Objetivo Meta


Definir atividades que utilizam um grande
Monitoramento quantitativo da demanda da Diagnosticar o atual uso da água e propor
volume de água e viabilizar meios de reduzi-
água melhorias
los
Diagnosticar o atual uso da água e propor Identificar pontos de desperdício da água e
Monitoramento qualitativo do uso da água
melhorias saná-los
Promover uma redução de pelo menos
Reduzir a quantidade de água usada na
Recirculação da água nos tanques de tilápia 30% na quantidade de água utilizada na
piscicultura
piscicultura, através da recirculação
Monitoramento da taxa de evapotranspiração Reduzir a taxa de evapotranspiração em
Reduzir a taxa de evapotranspiração
da água de cultivo 20% até 2022
Reduzir o volume de água bruta usado na
Reuso de efluentes para fins agrícolas Reutilizar 100% do efluente para irrigação
irrigação
Recuperação da vegetação com plantio no Até 2025 a vegetação às margens do açude
Redução na carga de sedimentos no açude
entorno do açude deve estar recuperada

Como forma de monitoramento foram definidos 5 indicadores. O Quadro 2 mostra como


e com que frequência será realizado o monitoramento. Vale ressaltar sobre a importância
da definição de uma equipe para controle e acompanhamento dos indicadores.

20
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Quadro 2. Indicadores para o PMFS da Fazenda Aliança.
Frequência de acompanha-
Indicador Unidade Valor Base* Meta**
mento
Taxa de eficiência hídrica % 30% 50% Trimestralmente
Taxa de evapotranspiração % 75% 50% Quinzenalmente
Utilização da água de reuso L 100 L 500 L Mensalmente
Umidade no solo % 3% 20% Mensalmente
Taxa de recuperação da vegetação no entorno
% 15% 90% Trimestralmente
do açude
* Os valores bases são fictícios
** As metas não levaram em consideração um valor base real, e por isso, na criação do PMSF faz-se necessário a avaliação
de todos os dados que serão utilizados para uma definição realista das metas.

Passo 3: implementação das ações e do monitoramento

Com as atividades e indicadores estabelecidos é de fundamental importância que seja


elaborado o Plano de Trabalho, o Cronograma de Ações e definido o Orçamento. O Quadro
3 apresenta um modelo de cronograma de ação para o primeiro ano do PMFS da
Fazenda Aliança.

Quadro 3. Modelo de cronograma de ação para o 1º ano do PMFS da Fazenda Aliança.

2021
Ações
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Monitoramento quantitativo da demanda da
X X X X X X
água
Monitoramento qualitativo do
X X X X X X
uso da água
Recirculação da água nos tanques de tilápia X X X X X X X X X X
Monitoramento da taxa de
X X X X X X
evapotranspiração da água de cultivo
Reuso de efluentes para fins agrícolas X X X X X X X X X
Recuperação da vegetação com plantio no
X X X X
entorno do açude

O cronograma de ações é parte integrante do plano de trabalho. Este por sua vez
deve ser elaborado anualmente ou semestralmente, alinhado com as metas e estratégias
previamente definidas no PMFS.

Passo 4: análise dos dados, utilização dos resultados e adaptações das ações

Para a análise dos dados deverá ser definida a metodologia de mensuração de cada
indicador e estabelecida uma reunião mensal ou quinzenal para avaliação dos resultados ob-
tidos no período de estudo. Um sistema de indicadores só será eficiente se a equipe respon-
sável pelo seu acompanhamento estiver alinhada com o planejamento estratégico e o PMFS.
Os resultados poderão ser utilizados para produção de cartilhas e artigos, com a fina-
lidade de compartilhar o aprendizado. Além disso, ao ser observado um resultado negativo

21
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
em alguma ação, o mesmo será utilizado como diagnóstico para elaboração de uma nova
estratégia e redefinição da meta alinhada à atividade.

Passo 5: documentação e compartilhamento do aprendizado

Por fim, deve ser documentado todo o aprendizado com o primeiro ciclo de aplica-
ção do PMFS, a fim de avaliar possíveis mudanças e melhorias que tornem mais ágil o
alcance do objetivo.
O compartilhamento do aprendizado deverá ser estimulado e a Fazenda Aliança estará
aberta para receber pesquisadores e voluntários na aplicação e estudo do seu PMFS.

CONCLUSÃO

Os conflitos gerados pela exploração dos recursos hídricos, principalmente em regiões


de escassez hídrica, devem ser solucionados de forma a tornar a possível os diversos usos
requeridos, considerando-se a forma mais sustentável possível. Nesse sentido, um Plano
de Manejo Florestal Sustentável - PMFS surge como alternativa para a resolução desses
conflitos. Esse documento, técnico, deve ser elaborado com base em um diálogo colabora-
tivo, a fim de que o gerenciamento seja realizado de forma sustentável, e deve considerar a
perspectiva do manejo. Com o objetivo de gerenciar o conflito pelo uso do recurso hídrico em
uma localidade da região Semiárida cearense, o presente estudo observou que a Fazenda
Aliança, localizada em Pentecoste-CE, possui os pré- requisitos necessários para a elabora-
ção de um PMSF, que deverá ser elaborado conforme a Metodologia dos Padrões Abertos
para a Prática da Conservação (CMP). Com isso, espera-se a obtenção de um produto final,
o Plano de Manejo Florestal Sustentável dessa localidade e, a partir de seus resultados,
devem ser comparadas as diversas etapas de sua elaboração com os resultados observados
durante sua implantação. Além disso, tomando por base o pilar da viabilidade econômica,
que é de fundamental importância para a manutenção e sustentabilidade de qualquer projeto
e sabendo que a implantação das ações do PMFS acarretarão custos para os proprietários
da Fazenda Aliança deixa-se como sugestão para trabalhos futuros o estudo técnico e a
análise sobre a viabilidade econômica da implantação das ações propostas para o Plano
de Manejo Florestal Sustentável da Fazenda Aliança.

22
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
REFERÊNCIAS
1. ANA. Agência Nacional de Águas. “Água e Floresta: uso sustentável na Caatinga”. (2014)
AQUINO, M. D. (2016) “Gestão de Recursos Hídricos”. Fortaleza.144 p.

2. GOMES, A.F. (2018) “Parque Urbano da Lagoa da Viúva: diagnóstico ambiental para proposi-
ção do Plano de Manejo.”78 p.

3. GUERRA, A.J. T.; JORGE, M.C.O. (2014). Degradação dos Solos no Brasil. Brasil: Bertrand
Brasil, 320 p.

4. MANGUEIRA, R. S. (2017) “Compactação ocasionando na degradação ambiental do solo em


Pentecoste -CE”. 21 p.

5. THOMAS, L.; MIDDLETON, J. (2003). “Guidelines for Management Planning of Protected Are-
as”. IUCN Gland, Switzerland and Cambridge, 79 p.

6. PENTECOSTE. Prefeitura Municipal. “O município”.

7. PEREIRA, M. L. T; SOARES, M. P. A; SILVA, E. A. MONTENEGRO, A. A. A., SOUZA, W. M.


(2017). “Variabilidade climática no Agreste de Pernambuco e os desastres decorrentes dos
extremos climáticos”. Journal of Environmental Analysis and Progress. (2 - 4), pp. 394-402.

8. PEREIRA, T. M.S; SANTIAGO, M.S.; SILVA, J.A.L; MOURA, C. D. (2018). “Tanques de pedra:
tecnologia social voltada a gestão hídrica”. Revista Brasileira de Meio Ambiente. (1- 4), pp.16-23.

9. SILVA, C. M. S. E.; LÚCIO, P. S.; CONSTANTINO, M. H. (2012). “Distribuição Espacial da Pre-


cipitação sobre o Rio Grande do Norte: Estimativas via Satélites e medidas por Pluviômetros.”.
Revista Brasileira de Meteorologia, (3 – 27), pp. 337-346.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
02
A dinâmica hidrológica da zona ripária
monitorada pelo nível do lençol
freático

Claudia Moster
UFRRJ

Walter de Paula Lima

Maria José Brito Zakia

Jean Paul Laclau

10.37885/210705565
RESUMO

Objetivo: O objetivo da pesquisa foi acompanhar o nível freático, em uma microbacia ex-
perimental, por meio de medições em poços piezométricos, a fim de compreender a dinâ-
mica hidrológica e a possibilidade de delimitar espacialmente a zona ripária. Resultados:
Ocorreu pouca variação na profundidade do nível freático, em todos os poços, ao longo
do período. Observou-se diferença no comportamento entre margens opostas e entre
poços localizados entre a região das nascentes e a parte baixa da microbacia. O plantio
de Eucalipto não teve influência nos resultados durante o período do monitoramento.
Conclusão: As variações observadas na zona ripária confirmaram a característica do
ecótono tridimensional: variação horizontal, entre a parte agricultável e o riacho; variação
longitudinal, ao longo do curso d’água, entre a cabeceira e a rede de drenagem; variação
vertical, na influência da água subterrânea e na estrutura da vegetação. Em microbacias,
ou cabeceiras de drenagem, é possível identificar a influência da água subterrânea na
vegetação ou no solo, durante o período de maior pluviosidade ou expansão da área
variável de afluência da rede de drenagem. Devido à essa dinâmica espacial e temporal,
e suas propriedades hidrológicas e funcionais, recomenda-se o planejamento de ações,
práticas operacionais e de manejo considerando a localização das zonas ripárias.

 Palavras-chave: Mata Ciliar, Piezômetro, Microbacia.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

A pesquisa na hidrologia florestal busca compreender as relações existentes entre a


floresta e a água, no que se refere ao efeito do manejo florestal ou dos processos ecos-
sistêmicos naturais, no rendimento hídrico e nas características da água produzida na ba-
cia hidrográfica.
A teoria do rio contínuo (RCC), adequada para estudos na escala da microbacia,
é baseada na diferença dos processos que ocorrem desde a nascente à foz, com rela-
ção à área de drenagem, entrada de energia e função do ecossistema (VANNOTE et al.,
1980). Os sistemas de cabeceira, ou as áreas em que se origina uma rede de drenagem,
são caracterizados por interações entre processos hidrológicos, geomorfológicos e biológi-
cos, que variam desde a parte alta até o final da rede de drenagem e, entre os ambientes
aquático e terrestre. Segundo Gomi et al. (2002), por causa de seu isolamento geográfico, o
sistema de cabeceira também suporta espécies geneticamente isoladas, constituindo, por-
tanto, um importante componente de biodiversidade em microbacias. Entender as variações
temporais e espaciais nos processos biológicos, hidrológicos e geomorfológicos é a chave
para compreender a diversidade e a heterogeneidade de ecossistemas ripários. Dessa for-
ma, a microbacia pode ser dividida em dois sistemas, a cabeceira e a rede de drenagem,
baseando-se nas características dos processos.
O conceito de áreas ripárias depende da perspectiva de cada autor. Tipicamente, eles
centram nos componentes em que a paisagem está incluída, nas características que a com-
põe, nas escalas em que são consideradas, ou nas leis de melhoria das práticas de manejo
para qualidade da água. A função de um ecossistema engloba um conjunto de processos
que governam o fluxo de energia e materiais (como luz solar, carbono, água e nutrientes).
Para Illhardt et al. (2002), a zona ripária inclui o corpo d’água, a margem do riacho e partes
das áreas altas que têm uma forte ligação com a água. Ainda seguindo esta definição, as
bordas das áreas ripárias típicas são menos uniformes do que aquelas associadas com uma
distância pré-fixada como faixas tampão ou faixas-filtro. As áreas ripárias são delineadas
de acordo com a distância da água, que influencia na mudança de função do ecossistema.
Essas áreas são sujeitas tanto ao maior escoamento superficial como ao maior escoamento
subsuperficial (horizontes saturados próximos à água subterrânea). A definição, segundo o
autor, poderia ser descrita como: “Ecótonos de interação tridimensionais que incluem os ecos-
sistemas aquático e terrestre, desde a água subterrânea até as copas, cruzando a planície
de inundação, até as vertentes próximas que drenam a água, lateralmente no ecossistema
terrestre, ao longo do curso d’água, com comprimento variável” (ILLHARDT et al, 2002).
No Brasil, a Lei Federal n. 12.651/2012 manteve a definição de Áreas de Preservação
Permanente, ao redor de nascentes, rios e lagos naturais ou artificiais, e em locais específicos
26
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
na paisagem que apresentam susceptibilidade à erosão. É comum a percepção de que a
presença da vegetação ciliar é suficiente para garantir a manutenção do ecossistema da
microbacia. Clinnick (1985), em revisão extensiva sobre o assunto, concluiu que a largura
mais indicada para a faixa ciliar, visando a proteção do curso d’água em áreas florestais, é
de 30 metros. No entanto, é reconhecido que a delimitação da zona ripária na microbacia
nem sempre se restringe ao que estabelece a Lei Federal, porém a faixa ciliar de 30 metros
pode realizar o papel físico de proteção dos cursos d’água (ZAKIA, 1998).
A zona ripária está intimamente ligada ao curso d’água, mas seus limites não são
facilmente demarcados. Os processos físicos que moldam continuamente os leitos dos
cursos d’água impõem a necessidade de se considerar um padrão temporal de variação da
zona ripária. O limite a montante, por exemplo, seria a nascente, mas a zona saturada da
microbacia poderia se expandir consideravelmente durante parte do ano, o que implica na
necessidade de se considerar as áreas côncavas das cabeceiras como parte integrante da
zona ripária (LIMA e ZAKIA, 2004).
Em relação ao fluxo hídrico, as vertentes de uma bacia, e as zonas ripárias próximas
ao rio, respondem diferentemente a um evento de chuva (MCGLYNN e MCDONNELL, 2003)
e exibem distintas características hidrológicas, devido à sua localização no relevo e diferen-
tes combinações de declividade e da área de contribuição cotas acima. As zonas ripárias
respondem mais rapidamente a uma precipitação do que as vertentes, as quais apresentam
maior drenagem entre os eventos, resultando em maiores déficits de água no solo. Buttle e
McDonnel (2003) identificaram que as zonas ripárias e as áreas de vertentes não responde-
ram à precipitação seguindo o princípio “steady-state” (“estado de equilíbrio”). As vertentes
contribuíram mais para o escoamento das águas de chuvas anteriores com quantidades
desprezíveis de águas novas (do evento de chuva considerado), enquanto as zonas ripárias
contribuíram com mais de 89% das águas novas. Segundo Edwards (2005), as taxas de
escoamento são muito menores nas zonas ripárias, variando de um metro a cada 2-3 minu-
tos até um metro em horas ou um dia. O fluxo pode variar de acordo com a condutividade
hidráulica e a porosidade do solo. A água é temporariamente estocada nas zonas hiporrei-
cas, e devido a transformações biogeoquímicas, a água que retorna através do interfluxo é
freqüentemente diferente do que aquela na zona hiporreica.
A cobertura vegetal do ambiente ripário segue uma sucessão ecológica a partir do
curso d’água, inicialmente ocupado por vegetação herbácea, passando por uma formação
arbustiva e arbórea ripária e externamente arbórea (CIUTTI, 2003). Assim, a vegetação ri-
pária apresenta variações estruturais, de composição e de distribuição espacial, do mesmo
modo que as características do solo apresentam variações quanto às diferentes deposições
de sedimentos e condições de saturação (LIMA e ZAKIA, 2004). Para Bacchi et al. (1998) a
27
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
dinâmica da vegetação do corredor ripário é claramente influenciada pelo regime de distúr-
bios hidrológicos. Os autores sugerem que, em contraste, a produtividade e a diversidade da
vegetação podem influenciar os processos biogeoquímicos, especialmente os relacionados
com as mudanças das condições redutoras que ocorrem das cabeceiras à rede de drena-
gem. Entretanto, a ligação entre a superfície e a água subterrânea é o fator predominante
de controle da conectividade entre os ecossistemas terrestre e ripário. Os autores discutem
que espécies exóticas podem causar mudanças na dinâmica da vegetação e nos ciclos
biogeoquímicos das zonas ripárias, ou até mesmo acelerar os processos naturais.
Vidon et al. (2004) examinaram o efeito da elevação e tamanho do aqüífero, topogra-
fia e litologia do sedimento da área ripária na hidrologia subsuperficial de oito sítios ripá-
rios. A abrangência da zona ripária na microbacia em relação ao escoamento subterrâneo,
bem como, as características geológicas, controlaram a hidrologia da microbacia. Os dados
indicaram que pequenas diferenças na profundidade do sedimento permeável funcionam
como controle da duração da conexão hidrológica entre a zona ripária e as áreas adjacen-
tes. Todos os sítios ripários com profundidade aproximada de 2 metros ou mais estiveram
permanentemente conectados. O tamanho da influência da área de descarga do aqüífero
influencia a magnitude e sazonalidade dos fluxos que incidem na zona ripária. Entretanto, o
valor absoluto dessa entrada de água subterrânea deve ser tratado com cuidado por causa
do erro inerente às medições. A ocorrência de grandes entradas de água no sítio sugere
que a topografia e permeabilidade do solo são também importantes variáveis de controle
da água subterrânea na zona ripária.
Assim, pode-se afirmar que a zona ripária é uma área na paisagem que inclui, princi-
palmente, as margens e cabeceiras de drenagem dos cursos d’água, caracterizando-se por
um habitat de extrema dinâmica, diversidade e complexidade. O conjunto das interações
ripárias é responsável pela manutenção da água em termos de quantidade e qualidade,
bem como da saúde do ecossistema aquático, do controle do escoamento superficial e na
contribuição para o armazenamento de água no solo. No entanto, são áreas que sofrem
pressão antrópica, seja por modificações para a drenagem do solo ou pelo cultivo intensivo
em solos de várzea, além da ocupação territorial urbana ou rural. A compreensão dos pro-
cessos dinâmicos na zona ripária, bem como a relação entre água, solo e vegetação, são
de interesse para pesquisa pois vários estudos demonstram a relação com a capacidade
de resiliência do ambiente ripário.
A delimitação dessa área pode ser realizada por índices topográficos, mas a dinâmica
subsuperficial dos fluxos hidrológicos é mais complexa do que considerar somente os pon-
tos de concentração do escoamento superficial. Este trabalho foi uma oportunidade para

28
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
contribuir com a compreensão da dinâmica hidrológica em áreas ripárias, como subsídio
para o desenvolvimento e a implantação de práticas sustentáveis de uso do solo.
O experimento apresentado foi conduzido na microbacia experimental “Tinga”, localiza-
da na Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga, pertencente à Universidade
de São Paulo, em Itatinga – SP. A microbacia possui monitoramento desde 1991, e vários
estudos foram conduzidos na área de hidrologia florestal e indicadores hidrológicos de sus-
tentabilidade de plantações florestais. O objetivo da pesquisa foi acompanhar o nível freático,
por meio de medições em poços piezométricos, realizada no período de maio de 2005 a
abril de 2006, a fim de compreender a dinâmica hidrológica e a possibilidade de delimitar
espacialmente a zona ripária.

MÉTODO

A Estação Experimental de Ciências Florestais de Itatinga (EECF - Itatinga) possui


uma área de 2400 ha, localizada no município de Itatinga – SP, entre os paralelos 23o02’ e
23o07’ latitude sul, e os meridianos 48o35’ a 48o39’ latitude oeste de Greenwich, com altitude
variando entre 750 e 863 metros (GONÇALVES, 2003). A EECF - Itatinga é servida por dois
afluentes que formam a bacia do córrego Potreirinho. Um dos afluentes forma a microbacia
experimental do Tinga, com área de 85,81 ha. A Figura 1 apresenta a simulação da Área
Variável de Afluência (AVA) determinada através de modelagem segundo o método proposto
por Zakia (1998).
O experimento para monitoramento do nível freático foi composto por quatro transectos
perpendiculares ao riacho, desde o curso d’água até o início do plantio de eucalipto, externo
à delimitação legal de área de preservação permanente. Dois transectos, denominados “C”
e “D”, foram localizados na parte alta da microbacia, representando o sistema de cabeceira,
e os denominados “A” e “B”, foram instalados próximo ao vertedor, em margens opostas.
Durante os meses de janeiro a março de 2005 foram instalados 3 poços piezométricos em
cada transecto da microbacia, com o uso de trado motorizado, totalizando 12 poços piezo-
métricos. Cada transecto foi constituído de um poço ao lado da calha do riacho, o segundo
no meio da mata ciliar e o terceiro no início do plantio de eucalipto.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 1. Simulação da Área Variável de Afluência (AVA) da microbacia do Tinga.

A profundidade do piezômetro variou de acordo com o nível da água subterrânea,


sendo que, durante a perfuração, aprofundou-se mais dois metros a partir do surgimento
de água, para garantir água livre no poço no período de estiagem. A Tabela 1 apresenta a
distância entre os poços e o riacho e as respectivas profundidades. O desenho esquemático
dos transectos na microbacia é mostrado na Figura 2.
A medição do nível d’água nos poços foi realizada quinzenalmente, com o auxílio de
um carretel de nylon, uma bóia e um chumbo de pesca. O tamanho da linha era medido com
trena e a profundidade do nível d’água determinada através da diferença entre a leitura e a
distância do topo do poço até o nível do solo.

30
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 2. Desenho esquemático dos transectos e piezômetros, com indicação do limite da APP (considerado como 30,0
metros a partir da margem do riacho), na microbacia do Tinga.

Legenda: TA = Transecto A; TB = Transecto B; TC = Transecto C; TD


= Transecto D. A1, B1, C1, D1 = Piezômetros na posição 1, adjacente
ao riacho. A2, B2, C2, D2 = Piezômetros na posição 2, no meio da
vegetação ripária. A3, B3, C3, D3 = Piezômetros na posição 3, no início
da floresta plantada de Eucalyptus.

Tabela 1. Profundidade (m) dos poços e distância (m) entre os poços e o riacho.

Transecto / Poço Profundidade (m) Distância (m) Transecto / Poço Profundidade (m) Distância (m)
A1 2 1 C1 1 1
A2 4 15 C2 4 15
A3 11 48 C3 13 49
B1 5 1 D1 2 1,5
B2 5 14 D2 5 13
B3 11 60 D3 11 69

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 3 apresenta o perfil tranversal do riacho nos transectos A e B (Figura 3A) e


nos transectos C e D (Figura 3B), com a declividade da vertente entre os pontos de coleta
e o nível freático médio do período do estudo.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 3. Perfil tranversal do riacho nos transectos A e B (A) e nos transectos C e D (B).

18
16
14
12
Cota (m)

10
8
6
4
2
0
B3 B2 B1 Riacho A1 A2 A3

Nível Solo
Nível Freático

18
16
14
12
Cota (m)

10
8
6
4
2
0
D3 D2 D1 Riacho C1 C2 C3

Nível Solo
Nível Freático

Ocorreu diferença nas declividades por pontos entre os transectos, sendo que a maior
declividade foi encontrada entre o riacho e o poço D1, no qual a calha do riacho encontra-se
sob um degrau da vertente. A menor declividade foi encontrada entre o riacho e o poço B1,
onde existe a ocorrência de uma terceira nascente próxima e é possível observar o caminho
da água desta nascente à calha principal do riacho.
Na Figura 3 verifica-se a existência do predomínio de água subterrânea na posição
1, mas o nível freático acompanha a elevação do terreno a partir da posição 2 na vertente.
Esse resultado pode ser um indicativo da existência de uma camada impermeável, resultante
da formação geológica.
As Figuras 4 e 5 apresentam os gráficos relativos ao monitoramento do período
de maio de 2005 a abril de 2006, para a variação da profundidade da água subterrânea
em cada transecto.

32
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
C
B
A

Nível Freático (m) Nível Frático (m) Nível Freático (m)

14
12
10
8
6
4
2
0

14
12
10
8
6
4
2
0
14
12
10
8
6
4
2
0
10/05/05 10/05/05 10/05/05

07/06/05 07/06/05 07/06/05

28/06/05 28/06/05 28/06/05

13/07/05 19/07/05 19/07/05


09/08/05 16/08/05 16/08/05
06/09/05 08/09/05 08/09/05
27/09/05 04/10/05 04/10/05
25/10/05 01/11/05 01/11/05

Precipitação (mm)
Precipitação (mm)

16/11/05

Precipitação (mm)
22/11/05 22/11/05
06/12/05 13/12/05 13/12/05

C1
A1

B1
03/01/06 10/01/06 10/01/06

B2
30/01/06
A2

C2
01/02/06 01/02/06

B3
13/02/06 14/02/06 14/02/06
A3

06/03/06

C3
07/03/06

Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa


07/03/06
21/03/06 27/03/06
27/03/06
28/03/06
04/04/06 04/04/06
22/05/06

0
0

20
40
60
80
20
40
60
80

20
40
60
80

100
120
140
100
120
140
160

100
120
140
160

Precipitação (mm) Precipitação (mm) Precipitação (mm)


Figura 4. Monitoramento do nível freático e da precipitação no Transecto A (A) e Transecto B (B).

Figura 5. Monitoramento do nível freático e da precipitação no Transecto C (C) e Transecto D (D).

33
D

10/05/05

07/06/05

28/06/05

13/07/05

09/08/05

06/09/05

27/09/05

25/10/05

16/11/05

06/12/05

03/01/06

30/01/06

13/02/06

06/03/06

21/03/06

28/03/06

22/05/06
0 140
2 120

Precipitação (mm)
Nível Freático (m) 4 100
6 80
8 60
10 40
12 20
14 0

Precipitação (mm) D1 D2 D3

Os resultados indicaram pouca variação na profundidade do nível freático, em todos os


poços ao longo do período. Porém, observa-se uma maior sensibilidade à mudança, quando
não ocorreu eventos de precipitação. A maior variação no período (3,5 m) ocorreu no poço
B2, mas também foi observada nos poços A1 e B1, seguidos dos poços B2 e D2. É impor-
tante notar que, nos pontos localizados abaixo da floresta plantada, houve pouca variação
do nível freático, o que indica que o plantio de Eucalipto não teve influência nos resultados
durante o período do monitoramento.
Observou-se, também, a diferença entre margens opostas, em relação aos poços A2 e
B2. No Transecto B ocorre uma nascente intermitente, que demonstra diferença entre a altura
da água subterrânea. Principalmente na altura do poço B2, o nível freático encontra-se mais
próximo da superfície, quando comparado ao poço A2 na margem oposta. A diferença entre
os Transectos C e D, nos poços C3 e D3, ocorreu provavelmente, em função da topografia
do terreno, que resultou em uma maior altitude para o localização do poço D3.
O monitoramento da profundidade da água subterrânea demonstrou que, poucas flu-
tuações ocorreram durante o ano hidrológico do estudo, sem influência da floresta plantada
no nível freático, em todos os transectos. Quando observada a relação entre a cabeceira e
parte baixa da microbacia, foi possível verificar a maior expansão do nível freático na cabe-
ceira de drenagem (comparando-se os níveis dos poços dentro dos transectos).

CONCLUSÃO

As variações observadas na zona ripária confirmaram a característica do ecótono tri-


dimensional: variação horizontal, entre a parte agricultável e o riacho; variação longitudinal,
ao longo do curso d’água, entre a cabeceira e a rede de drenagem; variação vertical, na
influência da água subterrânea e na estrutura da vegetação. O estudo em transectos em
microbacias mostrou-se adequado, pois foi possível identificar especificidades ao longo das
34
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
vertentes de drenagem. Como foi observado em relação à cabeceira de drenagem, que
apresentou maior ligação temporal e espacial com a água subterrânea.
Assim, é certo que a restauração de ecossistemas ripários deve considerar as flutua-
ções sazonais de vazão, os afloramentos da água subterrânea, as mudanças de textura do
solo superficial, áreas de transição terrestre/aquática. A mudança na estrutura da vegetação
de acordo com a profundidade do nível freático é algo não previsto em legislação, mas in-
fluencia diretamente a entrada de energia no sistema e os processos biogeoquímicos. Para
toda a microbacia, a área a ser considerada como zona ripária deve ser delimitada através
dos processos que nela ocorrem, sendo que, a área definida como preservação permanente
(APP), nem sempre condiz com a zona ripária.
Do ponto de vista de práticas sustentáveis de manejo, uma alternativa possível, é
proteger o prolongamento das zonas ripárias além dos limites definidos por lei, como faixas
protetoras para a manutenção da qualidade dos recursos hídricos. O manejo conservacio-
nista do solo e em modelos de restauração ecológica das zonas ripárias, deve considerar a
dinâmica espacial, temporal e tridimensional do ecótono, a fim de planejar as intervenções
no período de estiagem e influenciar o mínimo possível nos fluxos subsuperficiais.
Por fim, existem diferentes metodologias para a delimitação da zona ripária com o uso
de geoprocessamento e modelagem hidrológica. No entanto, em microbacias ou cabecei-
ras de drenagem, é possível visualizar os indicadores da influência da água subterrânea.
Geralmente, a mudança na vegetação ou no solo são os mais visíveis e devem ser obser-
vadas durante o período de maior pluviosidade ou expansão da área variável de afluência
da rede de drenagem.

AGRADECIMENTOS

Agradecemos à CAPES, pelo fornecimento da bolsa de pesquisa, à ESALQ-USP e


equipe da EECF Itatinga, pelo apoio prático durante o experimento.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
REFERÊNCIAS
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37
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
03
A influência do efluente de uma ETE
na característica da matéria orgânica
dissolvida de um rio

Rafael Duarte Kramer


UTFPR

Jhonatas Antonelli
UFPR

Marcelo Real Prado


UTFPR

Júlio Cesar Rodrigues Azevedo


UTFPR

10.37885/210705376
RESUMO

A matéria orgânica dissolvida (MOD) tem papel na vital na qualidade hídrica dos corpos
aquáticos. Diferentes graus de humificação podem representar diferentes fontes possíveis
desse material. Nos últimos anos tem-se notado um crescente aumento da influência
antrópica do carbono orgânico dissolvido (COD) na composição da MOD. Muitos estudos
têm demostrado que os efluentes de estações de tratamento de efluentes (ETEs) tem
aportado cargas significativas de COD nos rios, o que tem acarretado em um desequi-
líbrio tanto dos fatores abióticos como dos bióticos. Neste estudo foi comparado as ca-
racterísticas do COD encontrado no rio Emboguaçu, da cidade de Paranaguá-PR, com o
COD do efluente da ETE de mesmo nome do rio. Por meio de análises espectroscópicas
foi possível relacionar esse material orgânico das duas diferentes fontes estudadas, e
confirmar a provável influência da ETE na qualidade hídrica do rio.

Palavras-chave: Fluorescência Molecular, Efluentes Domésticos, Contaminação.

39
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

A Matéria Orgânica Natural (MON) é formada pela mistura de compostos químicos


de diferentes tamanhos, estruturas e funções, como carboidratos, aminoácidos, peptídeos,
proteínas, ácidos carboxílicos e hidrocarbonetos, formando uma fração mais simples da es-
trutura da MON (Thurman, 1985). Por outro lado, representam uma fração mais complexa,
sendo representada pelas substâncias húmicas (SHs): ácido húmico (AH), ácido fúlvico (AF) e
humina, (Thomas, 1997). Na caracterização destas substâncias húmicas, os AH apresentam
estruturas mais complexas, tendo maior massa molecular e quantidade de anéis aromáticos
que os AF, podendo assim serem diferenciados (Wetzel, 2001).
A massa molecular e a distribuição de tamanho molecular são propriedades impor-
tantes para o entendimento das características físicas e químicas da MON, e mais especi-
ficamente, do carbono orgânico dissolvido (COD), parte essencial da MON (Mcknight et al.
2001). O COD tem duas principais origens no meio ambiente: pode ser de origem alóctone,
vindo de ambientes exteriores; e pode ser de origem autóctone, produzido pelo próprio am-
biente (Azevedo et al. 2006).
As fontes alóctones são normalmente originárias do solo (pedogênicas) ou de águas
residuárias (efluentes domésticos e industriais. Desde modo, é observado um acréscimo
da matéria orgânica quando ocorrem ligações clandestinas de esgotos, alterando as carac-
terísticas da matéria orgânica natural (MON) (Ahmad e Reynolds, 1995). Já os materiais
autóctones são formados por processos internos dos corpos d’água, como a produção fi-
toplanctônica. Processos naturais como a atividade biológica e a fotoquímica interferem na
estrutura da MON, alterando algumas características do meio (Coble, 1996). Além disso, o
transporte de matéria orgânica para o sedimento e as modificações causadas por processos
limnológicos básicos, como estratificação térmica e hipóxia, também são fatores de modifi-
cação da MON (Wetzel, 2001).
Uma das maneiras de se caracterizar a fonte do COD é através da sua estrutura quí-
mica, principalmente por meio do grau de humificação da molécula. O grau de humificação
acontece de maneiras diferentes nos ambientes aquáticos e terrestres (Thurman, 1985). Nos
solos há pelo menos quatro rotas diferentes para a origem das SHs, sendo que duas delas
envolvem modificações da lignina, gerando, neste caso, moléculas húmicas com grande
quantidade de anéis aromáticos e grupos contendo oxigênio (Carstea et al. 2014). Porém
em ambientes aquáticos, prevalece rotas como a decomposição de organismos e material
carbonáceo, o que origina moléculas mais simples, com uma maior quantidade de carbonos
alifáticos (Wetzel, 2001). A diferença das estruturas químicas entre as duas prováveis fontes
de COD no meio ambiente são essenciais para a sua caracterização por meio de técnicas
espectroscópicas, como a fluorescência molecular.
40
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
A espectroscopia de fluorescência molecular de emissão, excitação, sincronizados e
Matrizes Excitação-Emissão (MEE) é uma técnica muito utilizada para a caracterização do
COD presentes nos ambientes naturais (Coble, 1996; Peuravuori et al. 2002; Oliveira et al.
2006; Hudson et al. 2007). Essa técnica funciona por meio da capacidade de absorção da
energia radiante em um comprimento de onda por uma estrutura química e, a sua conse-
quente emissão em um comprimento de onda maior (Azevedo et al. 2006). Esse método
qualitativo é considerado como um complemento de outros parâmetros de qualidade da
água, pois com ele é possível identificar a origem da matéria orgânica, seja ela alóctone ou
autóctone. Alguns estudos têm permeado para a identificação e diferenciação do COD de
origem natural aquática, origem natural pedogênica e de origem de efluentes domésticos
(Peuravuori et al. 2002; Oliveira et al. 2006).
Estudos mais recentes tem demostrado interesse no monitoramento da matéria orgâ-
nica presente nas estações de tratamento de efluentes (ETEs), como uma forma de controle
da qualidade do efluente lançado (Yu et al. 2014; Michael et al. 2015). Segundo a litera-
tura, o COD presente nas ETEs tem característica semelhante com o encontrado advindo
da produtividade primária, sendo basicamente caracterizado por compostos com cadeias
carbônicas alifáticas (Knapik et al. 2014; Quaranta et al. 2012; Goldman et al. 2012). Essa
semelhança, em alguns casos, dificulta a identificação da origem exata do COD, porém
a utilização de outros parâmetros de qualidade da água ajudam a confirmar as prováveis
fontes (Quaranta et al. 2012).
Com base na presente problemática, este estudo teve como objetivo mostrar a influência
do carbono orgânico presente no efluente de uma ETE, na matéria orgânica encontrada em
rios próximos a ETE. Para isso foram comparados espectros de fluorescência molecular do
COD encontrado na ETE e de um rio próximo a mesma estação, em pontos de amostragem
que antecedem e sucedem a estação.

MATERIAIS E MÉTODOS

Área de Estudo

Rio

O rio Emboguaçu tem aproximadamente 4 km de extensão e seu traçado permeia a


cidade de Paranaguá na porção oeste. Em sua margem estão localizados manguezais e
alguns bairros com intensa urbanização. Devido a isso, a ETE Emboguaçu que se localiza
próxima ao rio lança seus efluentes no rio Emboguaçu-mirim, que deságua no rio Emboguaçu.

41
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
O rio Emboguaçu foi amostrado em março de 2011. Foram coletados 1L de amostra
em três diferentes pontos: o primeiro próximo a foz do rio na baia de Paranaguá (C1), o
segundo logo após o deságue do rio Emboguaçu-mirim na ponte da avenida Senador Atílio
Fontana (C2) e o terceiro ponto foi coletado próximo ao bairro Jardim Araca (C3).

ETE

Foram feitas duas amostragens na ETE Emboguaçu, 02 de junho (C1) e 03 de agosto


(C2), no ano de 2014. Foi coletado 1 L de amostra na entrada e na saída da ETE, para avaliar
o processo de tratamento da matéria orgânica. A ETE tem uma configuração semelhante
a um sistema de aeração prolongada, sem a presença de um decantador primário. As ca-
racterísticas de operação da ETE durante o período amostral estão presentes na Tabela 1.

Tabela 1. Características de da ETE Emboguaçu durante o período amostral.

Vazão 1TDH Idade do lodo 2Xv


Amostragens
m3d-1 horas dias mgL-1
Junho/14 2592 8,6 15 1420
Agosto/14 1728 12,9 41 1572
1 – Tempo de Detenção Hidráulico; 2- Concentração microbiológica no reator biológico.

Caracterização da Matéria Orgânica

Para a análise de fluorescência molecular e COD, as amostras coletadas foram fil-


tradas (membranas Millipore de éster de celulose, 0,45 µm), acidificadas (pH<2, H2SO4) e
armazenadas em frascos de polietileno de alta densidade (PEAD) em temperatura abaixo
de 4°C, para posterior leitura.
O COD foi determinado empregando o equipamento Hiper TOC Thermo Scientific
na UTFPR. A fluorescência molecular foi realizada no equipamento Varian Cary Eclipse
Fluorescence Spectrophotometer, da UTPFR. Para esta análise foi utilizada uma lâmpada de
Xenônio e uma voltagem de 900 V. Para a realização dos espectros de MEE foram obtidos
comprimentos de onda de 200 a 700 nm, tanto na emissão como na excitação. Todos os
espectros obtidos foram utilizando 240 nm.min–1 e fenda de 5 nm. As amostras foram lidas
em cubeta de quartzo multifacetada de 1 cm, com água ultra pura para a leitura dos brancos
e controle do sinal analítico, principalmente para a eliminação do espalhamento de Raman.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Com relação a ETE, a concentração da DBO foi baixa na entrada da estação (afluente)
nas duas amostragens (40 mg L–1 e 60 mg L–1, respectivamente), comparando com a da
42
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
faixa apresentada por Metcalf e Eddy (2003) para esgoto sanitário (Tabela 2). As baixas
concentrações encontradas podem estar relacionadas à provável diluição do esgoto, devi-
do à rede coletora apresentar entrada de águas pluviais. Essa mistura, além de alterar as
concentrações da matéria orgânica dissolvida (MOD), pode modificar as características da
mesma, fazendo com que materiais mais refratários vindos do solo, por exemplo, sejam
encontrados no esgoto.

Tabela 2. Resultados da DBO5, DQO e COD da ETE e do rio Emboguaçu.

DBO5 DQO COD


Local Coletas Ponto
mg L-1 mg L-1 mg L-1
ETE Afluente 40 209 ± 7 27,37
C1
ETE Efluente 20 156 ± 51 18,02
ETE Afluente 60 255 ± 43 24,14
C2
ETE Efluente 5 57 ± 6 16,28
P1 - - 13,43
Rio Emboguaçu - P2 - - 11,56
P3 - - 2,87

A DQO apresentou a mesma peculiaridade com concentrações mais baixas do es-


perado, podendo ter a mesma causa da DBO. As remoções de DBO foram de 50% (C1)
e aproximadamente 92% (C2), o que gerou a eliminação de quase 95 kg d–1 na última
amostragem. Por ter eficiência média acima dos 70%, a ETE Emboguaçu se enquadrou no
CONAMA 430/11, que exige remoções de no mínimo 60% de DBO. Com relação a DQO as
eficiências foram menores, tendo no máximo 75% (C2) e o mínimo de 25% (C1). A coleta de
maior eficiência teve uma remoção de aproximadamente 342 kg d–1 de carga de DQO. A ETE
teve uma eficiência de remoção média de COD, entre as duas coletas, de aproximadamente
33% e uma carga média removida de 14,86 kg d–1 de COD. Em termos gerais a segunda
amostragem teve as maiores remoções de matéria orgânica, sendo a diferença maior para
a DQO e a menor para o COD. Já o rio Emboguaçu teve uma queda nas suas concentra-
ções de COD ao longo do percurso do rio, que sai de 13,43 mg L–1 (P1) para 2,87 mg L–1
(P3). A maior concentração de COD pode estar relacionada com a entrada da água da baia
de Paranaguá no P1, que pode estar vindo com uma carga orgânica mais significativa.
Com os gráficos de contorno da MEE (Figura 1) foi possível verificar a presença de
alguns picos de fluorescência que indicam a característica da matéria orgânica presente na
amostra. Nesta figura foram comparadas as MEE do afluente e do efluente, referentes as
duas amostragens realizadas. No gráfico foram assinalados os principais picos de estudo,
que são: T1 e T2, os quais representam compostos semelhantes à proteína triptofano de
fácil degradação (Yu et al. 2014); B, que representa compostos semelhantes à proteína
tirosina (Henderson et al. 2009); M, que indica a presença de material húmico microbioló-
gico, com maior complexidade (Ishii e Boyer, 2012); e os picos A e C, os quais apontam
43
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
para substâncias associadas com ácidos fúlvicos, substâncias mais pesadas e complexas
(Henderson et al. 2009).
Os compostos semelhantes às proteínas triptofano (T1 e T2) denotam a presença de
material lábil proveniente de esgoto doméstico, como foi possível verificar na MEE da en-
trada da coleta 2 (Figura 1). Já no efluente os picos T1 e T2 apresentaram intensidade de
fluorescência emitida menor em relação ao afluente, comprovando a remoção de compostos
orgânicos mais lábeis. Os demais picos (A, C e M) representam compostos orgânicos mais
complexos, de difícil degradação (como substâncias húmicas), e foi perceptível o aumento
da intensidade de fluorescência nesta região. Na primeira coleta os picos das proteínas não
são bem definidos, apresentado uma baixa intensidade no afluente. No efluente se destacam
nitidamente a presença dos picos A e M, indicadores de materiais aromáticos, comprovan-
do a maior representação desse tipo de material na saída da ETE. O mesmo acontece na
segunda amostragem, em que as intensidades de fluorescência estão bem destacadas no
efluente, reafirmando a eliminação de material refratário e degradação do material mais lábil.
Segundo Hudson, et al. (2007), os picos de fluorescência do triptofano (pico T2) tende a ser
reduzido em até 90% nas estações de tratamento de esgotos.

Figura 1. Espectros de contorno da MEE do afluente e efluente da coleta 1 (acima) e do afluente e efluente da coleta 2
(abaixo). Todos os gráficos foram normalizados pelos seus respectivos valores de COD.

Já na Figura 2 estão presentes os gráficos da MEE dos pontos amostrados no rio


Emboguaçu. Esses resultados mostram de maneira clara que há uma mudança na carac-
terística do COD presente no rio ao longo dos pontos amostrados. Enquanto no P1 havia
uma predominância do material representado pelo pico B (tirosina), que é típico de material
lábil fitoplantônico, ao decorrer do rio o material húmico se tornou predominante, com a
44
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
presença dos picos A e M, representantes do material húmico. Essa mudança pode estar
relacionada com uma possível erosão das margens do rio, ressuspensão do sedimento,
influência dos manguezais ou até mesmo do efluente da ETE (Jiang et al. 2017, Tremblay
et al. 2007). O efluente que foi caracterizado como predominante de material húmico tem
entrada no rio Emboguaçu-mirim, que deságua pouco antes do P2 no rio Emboguaçu. A va-
zão efluente da ETE pode ser de tal significância para a vazão do rio, que consegue alterar
as características do material orgânico do rio.

Figura 2. Espectros de contorno da MEE das amostras do rio Emboguaçu. Todos os gráficos foram normalizados pelos
seus respectivos valores de COD.

CONCLUSÃO

A matéria orgânica tem substancial importância para a dinâmica de ambientes aquá-


ticos e no rio Emboguaçu não é diferente. A mudança que ocorre ao longo do rio é notável
e peculiar, considerando a presença de uma ETE que elimina seus efluentes próximo ao
rio. De certa maneira, a influência da ETE é visível e pode ser a principal responsável pela
alteração da característica do material orgânico. Além disso, a presença da ETE pode estar
causando uma ação antrópica indesejável na região, pois está alterando a característica
da matéria orgânica presente no rio e este fato pode representar a entrada de substâncias
químicas não naturais, como fármacos, produtos de higiene pessoal e entre outros.

AGRADECIMENTOS

Esse estudo tem apoio e financiamento da UTFPR, do PNPD/CAPES e do NIPTA.


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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
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47
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
04
Análise comparativa da concentração
de metais pesados no aquífero Bauru
em Mato Grosso do Sul e em São Paulo

Denise Aguena Uechi


UFMS

Sandra Garcia Gabas


UFMS

Giancarlo Lastoria
UFMS

10.37885/210705516
RESUMO

O desenvolvimento econômico com consequente uso e ocupação desordenada do solo


acentuam o nível de vulnerabilidade dos recursos hídricos subterrâneos. Os metais pesa-
dos, por serem de difícil remediação e não serem biodegradáveis se tornam contaminan-
tes de grande preocupação ao atingirem os aquíferos, pois em elevadas concentrações
trazem riscos à saúde e ao meio ambiente. Objetivou-se comparar as concentrações dos
metais cobre, cromo, ferro, manganês e zinco presentes no Sistema Aquífero Bauru nos
Estados do Mato Grosso do Sul e de São Paulo. Verificou-se que Mato Grosso do Sul
possui concentrações superiores as de São Paulo para o cobre, ferro, manganês e zinco
em relação aos valores analisados. Embora o período estudado seja restrito para conclu-
sões, este estudo verificou que áreas pertencentes a um mesmo sistema aquífero podem
apresentar características hidroquímicas distintas, como verificado entre os dois Estados.

Palavras-chave: Metais Pesados, Aquífero Livre, Contaminação.

49
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

O aumento da industrialização, urbanização e demográfico tem gerado problemas na


exploração das águas subterrâneas que muitas vezes desenfreada e sem controle acaba
colocando em risco a saúde da própria população e do meio ambiente.
A contaminação de aquíferos por metais pesados é um problema mundial por serem
de difícil remediação e não serem biodegradáveis (BAILEY, 1999). São elementos de gran-
de preocupação, pois em elevadas concentrações podem provocar efeitos tóxicos sobre
organismos vivos podendo até ocasionar a morte (WHO, 2011).
Os metais pesados ocorrem naturalmente como parte de muitos minerais primários e
secundários em todos os tipos de rochas presentes na crosta terrestre e podem se tornar
móveis em solos, lixiviando e ficando solubilizados nas águas subterrâneas por processos
naturais ou por mudança no pH do meio (HASHIM et al., 2011). No entanto, a água subter-
rânea também pode ser contaminada pela infiltração do chorume, esgoto, rejeitos de minas,
eliminação de resíduos líquidos, lagoas de resíduos industriais ou de derrames industriais e
vazamentos. O tipo e a concentração de metais disponibilizados irão depender das condições
específicas do local (EVANKO; DZOMBAK, 1997).
Mato Grosso do Sul (MS) e São Paulo (SP) são potenciais economias agrícolas do
Brasil, tendo em comum extensas culturas de cana-de-açúcar, soja, milho, silvicultura e pas-
tagens, o que torna indispensável o uso de fertilizantes e agroquímicos para o controle de
pragas. Geralmente, os fertilizantes minerais contêm traços de impurezas – entre as quais
se destaca a presença de metais pesados, como o cobre (Cu) e o zinco (Zn) (OTERO et al.,
2005) —, sendo que alguns metais também fazem parte efetivamente dos seus compostos
ativos (TANJI; VALOPPI, 1989; LALAH et al., 2009).
Em Mato Grosso, com economia potencialmente agrícola, Viana (2006) detectou con-
taminações por metais pesados em área de agrossilvicultura, dentre as quais se destacam o
cromo (Cr) e o zinco (Zn), que são alguns dos produtos da decomposição de agrocorretivos
e agrotóxicos. Ferro (Fe), manganês (Mn) e alumínio (Al) foram detectados nas águas do
Sistema Aquífero Bauru (SAB) localizadas sob área de fertirrigação com vinhaça em usina
sucroalcooleira no centro-oeste da região de São Paulo (HASSUDA et al., 1990).
Extensas áreas de pastagens geralmente atraem muitos frigoríficos e curtumes que se
instalam próximos aos seus centros fornecedores. No Mato Grosso do Sul, Freitas (2006)
verificou a presença de cromo (Cr) nos efluentes de três curtumes instalados na região.
Cabe ressaltar que o MS ainda não possui sistema de monitoramento de águas sub-
terrâneas até o momento, ao contrário de SP, que possui uma Rede de Monitoramento da
Qualidade das Águas Subterrâneas desde 1990 e valores de referência de qualidade (VRQ)
– valores de cada parâmetro que representam a qualidade natural (background) das águas
50
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
subterrâneas (BRASIL, 2008) – definidos pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo
– CETESB (Tabela 1), de forma a orientar ações de prevenção e controle de contaminação
das águas subterrâneas, dos seus aquíferos (São Paulo, 2013).
Considerando as principais fontes da economia dos dois Estados, este estudo optou
por comparar as concentrações dos metais cobre (Cu), cromo (Cr), ferro (Fe), manganês
(Mn) e zinco (Zn) nas águas subterrâneas do SAB no MS e em SP.

MATERIAIS E MÉTODOS

O estudo abrangeu as águas subterrâneas do SAB, aquífero livre e poroso, vulnerável


à contaminação, compreendidas nos Estados de MS e de SP.

Figura 1. Mapa das sub-bacias hidrográficas e poços da SANESUL e CPRM no Sistema Aquífero Bauru no Mato Grosso do Sul.

Fonte: Adaptado de Mato Grosso do Sul (2011).

O SAB no MS aflora em cerca de 37% do seu território (Mato Grosso do Sul, 2010),
de área total de 357.145,532 km² (IBGE, 2010), na porção centro-oriental estendendo-se
desde o limite das ocorrências dos basaltos da Formação Serra Geral, na região centro-sul,
até o rio Paraná (CPRM, 2012).
O SAB em SP aflora em cerca de 40% do seu território (SÃO PAULO, 2013) de área total
de 248.221,996 km² do Estado (IBGE, 2010), abrangendo a região noroeste, com espessura
média saturada de 75 metros, atingindo até 300 metros na região do Planalto Residual de
Marília, estando sobreposta aos basaltos da Formação Serra Geral (SÃO PAULO, 2013).
51
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
O SAB é composto por rochas sedimentares de idade cretácea superior, o Grupo
Caiuá, e por rochas sedimentares de idade neocretácea, mais jovem e que está sobreposta
ao Caiuá, o Grupo Bauru. O Grupo Bauru-Caiuá compõe o último episódio significativo de
deposição sobre a Bacia Sedimentar do Paraná e está sobreposta as rochas basálticas da
Formação Serra Geral (CPRM et al., 2006).

Figura 2. Mapa das sub-bacias e poços de monitoramento da CETESB do Sistema Aquífero Bauru.

Fonte: Adaptado de São Paulo (2013).

Em SP, a litoestratigrafia que compõe o SAB é melhor definida e caracterizada, desta-


cando-se a proposta de Fernandes (1998) com divisão em dois grupos – Caiuá (Formações
Rio Paraná, Goio-Erê e Santo Anastácio) e Bauru (Formações Vale do Rio do Peixe,
Araçatuba, São José do Rio Preto, Presidente Prudente, Marília e Uberaba). Em MS, há
uma discrepância entre diversos pesquisadores na caracterização dos aspectos litológico,
estratigráfico, ambiental e/ou tectônico, inclusive na divisão das Formações que compõem
o Grupo Bauru-Caiuá. Não havendo estudos estratigráficos, adota-se a geologia de Mato
Grosso do Sul proposta pela CPRM et al. (2006) que considerou os Grupo Bauru (Formações
Marília e Vale do Rio do Peixe) e Grupo Caiuá Indiviso (Formações Santo Anastácio e Caiuá).
Para a análise comparativa foram obtidos do SAB no MS, os resultados de 2009 a
2013 das concentrações dos metais em estudo de 39 poços em operação da Empresa
de Saneamento Básico de Mato Grosso do Sul – SANESUL, que captam água em maior
proporção e/ou somente do SAB, distribuídos em toda a extensão da área em estudo, a
partir do banco de dados da empresa, adicionados aos resultados de 2012 e 2013 dos sete
poços monitorados pela Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais – CPRM, na região
(Figura 1). Estes foram comparados aos valores das concentrações de metais de 75 poços
52
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
da CETESB, que explotam o SAB em SP do período de 2010 a 2012, obtidos no Relatório
de Qualidade das águas subterrâneas do Estado de São Paulo 2010-2012, publicado e
disponibilizado no site da CETESB (Figura 2).
Os dados das concentrações dos metais estudados por sub-bacias hidrográficas no
Estado de São Paulo e no Estado do Mato Grosso do Sul foram sintetizados por metais/ano
da CESTESB em SP e da SANESUL e CPRM em MS, e comparados entre si.
A comparação do teor dos metais foi realizada a partir de análise estatística básica
(mínimo, máximo, mediana e 3º quartil), com ênfase no 3º quartil nas análises sintetizadas
por ano para cada estado. Buscou-se maior relevância na avaliação de valores dos metais a
partir do 3º quartil, devido a maior amplitude e a distribuição normal dos resultados obtidos.
Esse método de avaliação tem sido utilizado pela CETESB desde 2001 para a avaliação da
qualidade das águas subterrâneas de São Paulo.
Além disso, o estudo comparou os resultados dos dois Estados em relação aos valo-
res de intervenção (VI), que são valores orientadores para águas subterrâneas, e indicam
as concentrações máximas de certos parâmetros acima das quais existe potencial de risco
à saúde humana em um cenário genérico (Tabela 1). Tais valores se limitam aos valores
máximos permitidos para consumo humano definidos na Portaria do Ministério da Saúde
nº 2.914 de 2011 (SÃO PAULO, 2013). Os resultados de SP também observaram os VRQ
definidos pela CETESB.

Tabela 1. Valores de Referência de Qualidade e Valores de Intervenção das águas subterrâneas.

Parâmetro Valor de Referência de Qualidade (mg/L) Valor de Intervenção (mg/L)


Cobre Total <0,01 2
Cromo Total 0,04 0,05
Ferro Total 0,04 0,3
Manganês Total <0,005 0,1
Zinco Total 0,03 1,050*
* Valor máximo permitido (VMP) para consumo humano definido na Resolução CONAMA nº 420/09.
Fonte: SÃO PAULO, 2012.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram analisadas as concentrações de Cu, Cr, Fe, Mn e Zn dos poços que explotam
águas do SAB e que são explorados pela CETESB em SP, e pela SANESUL e CPRM no
MS, conforme mostra Tabela 2.
Observando-se os terceiros quartis, as concentrações de cobre encontram-se dentro do
Valor máximo permitido (VMP) para o consumo humano (2,00 mg/L) nos dois Estados. A sua
concentração aumenta em 230% de 2010 para 2011 em SP apresentando valores superiores
ao VRQ estabelecido para o cobre no SAB do Estado, que é menor que 0,01 mg/L, mas essa
53
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
variação não é significativa para iniciar processo de investigação de possível contaminação
antrópica, pois há a diminuição do teor de cobre nestes mesmos pontos em 500% em 2012,
estando todos dentro do padrão de background local. Em MS, o teor de cobre, nos poços da
SANESUL, sofreram uma redução em 500% de 2009 a 2010, mantendo-se constante até
2013. Os poços da CPRM não sofreram variações. Comparando-se os valores de cobre total
entre os dois Estados percebe-se que sua concentração no MS, em termos de qualidade
natural do SAB, é pelo menos seis vezes superior ao de SP.
Em geral, os poços não apresentaram concentrações de cromo acima do VMP de 0,05
mg/L, no Estado de SP, mas atentando-se aos valores máximos, nota-se a ocorrência de
poços com valor superior ao VMP e consequentemente ao VRQ do Estado. Isso indica que
atividades antrópicas pontuais podem estar atingindo as águas subterrâneas do SAB com
cromo, apesar de que estudos realizados por Bertolo et al. (2011a) e Bertolo et al. (2011b)
verificaram que há ocorrência de cromo acima do VMP nas águas subterrâneas na região
oeste do Estado, nas imediações do município de Urânia, entretanto foi detectado que a
origem é natural. O teor de cromo tendeu a aumentar em SP de 2010 a 2012. No MS, os
poços monitorados pela CPRM tenderam a aumentar a concentração de Cr em 600% de
2012 a 2013. Já os poços da SANESUL sofreram um aumento de 2009 a 2010 de 171%,
mantendo-se constante até 2012 e reduzindo em 2013. Comparando-se os valores de cro-
mo total entre os dois Estados percebe-se que, em geral, sua concentração em MS é pelo
menos uma vez e meia inferior ao background do Estado de SP.

Tabela 2. Concentrações cobre, cromo, ferro manganês e zinco total por ano no SAB, em poços explorados pela CETESB em
São Paulo e por poços explorados pela SANESUL e monitorados pela CPRM no Mato Grosso do Sul (3° quartil, em mg/L).
COBRE CROMO FERRO MANGANÊS ZINCO
SP - MS - MS - SP - MS - MS - SP - MS - MS - SP - MS - MS - SP - MS - MS -
CETESB SANESUL CPRM CETESB SANESUL CPRM CETESB SANESUL CPRM CETESB SANESUL CPRM CETESB SANESUL CPRM
Mínimo - 0,010 - - 0,010 - - 0,010 - - 0,060 - - 0,010 -
Máximo - 0,150 - - 0,100 - - 0,800 - - 0,130 - - 0,270 -
2009
Mediana - 0,040 - - 0,010 - - 0,105 - - 0,060 - - 0,060 -
3° quartil - 0,070 - - 0,013 - - 0,125 - - 0,060 - - 0,080 -
Mínimo 0,005 0,010 - 0,003 0,010 - 0,020 0,030 - 0,020 0,060 - 0,020 0,010 -
Máximo 0,038 0,070 - 0,081 0,050 - 0,192 0,250 - 0,030 0,170 - 0,840 0,390 -
2010
Mediana 0,005 0,025 - 0,017 0,030 - 0,020 0,080 - 0,020 0,060 - 0,020 0,060 -
3° quartil 0,006 0,030 - 0,028 0,030 - 0,020 0,115 - 0,020 0,060 - 0,020 0,090 -
Mínimo 0,005 0,010 - 0,002 0,010 - 0,010 0,050 - 0,020 0,060 - 0,011 0,010 -
Máximo 0,054 0,850 - 0,076 0,050 - 4,720 0,800 - 0,030 0,140 - 0,440 0,920 -
2011
Mediana 0,005 0,030 - 0,015 0,020 - 0,020 0,080 - 0,020 0,060 - 0,020 0,065 -
3° quartil 0,020 0,040 - 0,029 0,030 - 0,020 0,110 - 0,020 0,060 - 0,039 0,100 -
Mínimo 0,005 0,010 0,002 0,003 0,010 0,002 0,005 0,011 0,018 0,003 0,006 0,004 0,003 0,010 0,003
Máximo 0,066 0,110 0,025 0,094 0,050 0,002 0,061 17,000 0,036 0,023 0,222 0,293 0,490 0,340 0,014
2012
Mediana 0,005 0,040 0,002 0,018 0,020 0,002 0,005 0,110 0,025 0,003 0,018 0,018 0,017 0,070 0,005
3° quartil 0,005 0,040 0,002 0,031 0,030 0,002 0,008 0,120 0,027 0,003 0,060 0,025 0,046 0,140 0,006
Mínimo - 0,020 0,002 - 0,010 0,011 - 0,080 0,037 - 0,006 0,012 - 0,040 0,005
Máximo - 0,320 0,002 - 0,050 0,014 - 1,430 0,049 - 0,194 0,355 - 1,800 0,005
2013
Mediana - 0,040 0,002 - 0,010 0,012 - 0,150 0,041 - 0,028 0,017 - 0,160 0,005
3° quartil - 0,045 0,002 - 0,020 0,014 - 0,220 0,044 - 0,043 0,021 - 0,250 0,005

O ferro manteve-se dentro dos padrões organolépticos de potabilidade nos dois


Estados (0,30 mg/L), mas observando o valor máximo em 2011, verificou-se que um ponto
em SP apresentou valor extremamente superior à norma, cerca de 1700% acima, mas que no
ano seguinte, houve redução do seu teor, dentro dos limites organolépticos de potabilidade.
54
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Não há como alegar que houve contaminação antrópica pontual sem estudos em detalhe no
local. Os poços da SANESUL e da CPRM tenderam a aumentar sua concentração de 2012
a 2013 em 83% e 63% respectivamente, e os da CETESB tenderam a diminuir de 2011 a
2012, em 300%. Comparando-se os valores de ferro total entre os dois Estados percebe-
-se que, em geral, sua concentração em MS é duas vezes e meia superior ao background
do Estado de SP.
O manganês manteve-se dentro dos limites organolépticos de potabilidade (0,10 mg/L),
seja em SP ou no MS. Observando o terceiro quartil, houve uma redução do teor de manga-
nês nos poços da CETESB de 2011 a 2012, em 760%. Em MS, houve redução de cerca de
200% de 2012 a 2013 nos poços da SANESUL e da CPRM. Comparando-se os valores de
manganês total entre os dois Estados percebe-se que, em geral, sua concentração no MS é
até dez vezes superior ao background do Estado de SP.
O zinco, apesar de estar dentro dos limites organolépticos de potabilidade (1,05 mg/L)
em ambos os Estados, houve um aumento de sua concentração com taxa inferior a 100% nos
anos analisados consecutivamente, em São Paulo e nos poços da SANESUL. Os poços da
CPRM sofreram uma redução de cerca de 220% entre os anos de 2012 e 2013, no teor de
zinco de suas águas. Comparando-se os valores de zinco entre os dois Estados percebe-se
que, em geral, sua concentração no MS é uma vez superior ao background e aos valores
analisados do Estado de SP.
Em geral, nota-se que as concentrações de substâncias dissolvidas nas águas sub-
terrâneas possuem proporções extremamente inferiores em relação às aguas superficiais,
devido à melhor qualidade e menor vulnerabilidade, entretanto, a menor variação hidroquí-
mica pode significar um aumento ou redução percentual muito expressivo, da ordem de
grandeza de até 103.
Verificou-se que o MS possui concentrações superiores as de SP para os metais
analisados, com exceção do cromo, decorrentes da variação do uso e ocupação do solo e
variações faciológicas entre os dois Estados.

CONCLUSÕES

O SAB é uma importante fonte de abastecimento de água nos Estados de São Paulo
e de Mato Grosso do Sul. Em ambos os estados, possuem extensas áreas de afloramento,
40% da área total de São Paulo e 37% de Mato Grosso do Sul. Trata-se, portanto, de um
aquífero livre naturalmente mais vulnerável à contaminação por atividades antrópicas.
As áreas de afloramento do SAB estão ocupadas principalmente com culturas de cana-
-de açúcar e pastagens no Estado de São Paulo e com pastagens e cultura de eucalipto em

55
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Mato Grosso do Sul. Tais atividades, associadas a outras mais pontuais, como os curtumes,
podem estar associadas a fontes de metais pesados em aquíferos livres.
Foram comparadas as concentrações de Cu, Cr, Fe, Mn e Zn nas águas subterrâneas
do Aquífero Bauru, entre MS e SP e verificou-se que MS possui concentrações superiores
às de São Paulo para o cobre, ferro, manganês e zinco. Tais diferenças podem ser naturais
devido a variações faciológicas do depósito ou decorrentes a interações com o uso da terra.
Embora o período estudado seja restrito para conclusões, é importante que esse com-
parativo sirva para verificar as tendências dos metais no SAB e avaliar suas causas e provi-
denciar medidas de controle e proteção desses poços de abastecimento, em estudos futuros.

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14. MATO GROSSO DO SUL. Secretaria de Estado de Meio Ambiente, do Planejamento, da Ciên-
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18. SÃO PAULO. Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB. Relatório de qua-
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19. VIANA, V. M. F. C. Estudo Hidrogeoquímico das Veredas do Rio do Formoso no Muni-


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21. WORLD HEALTH ORGANIZATION – WHO. Guidelines for drinking-water quality. 4th ed.
Geneva: WHO, 2011.

57
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
05
Caracterização da umidade do solo na
Bacia do PEFI

Maria del Carmen Sanz Lopez


IAG USP

Augusto José Pereira Filho


IAG USP

10.37885/210705506
RESUMO

Caracterizou-se a umidade do solo de acordo com a profundidade em dois locais na mi-


crobacia do Parque Estatual e Fontes do Ipiranga (PEFI). O primeiro local esta dentro do
cercado meteorológico junto à Estação Meteorológica Automática (EMA) do Laboratório
de Hidrometeorologia (LABHIDRO) com dois sensores de umidades na superfície (0 cm)
e a 20 cm de profundidade. O segundo, dentro da mata do PEFI com dez sensores de
umidade na superfície, a 20 cm, 30 cm, 40 cm, 50 cm, 60 cm, 80 cm, 100 cm, 200 cm e
300 cm de profundidade. Utilizou-se refletômetros CS615-G no domínio do tempo calibra-
dos para o solo dos locais de teste. Analisou-se a evolução temporal da umidade do solo
(m3 m–3) entre outubro de 2007 a setembro de 2008 na zona aerada do solo. Obteve-se a
estratificação da umidade do solo dos períodos mais secos e mais úmidos. As taxas de
infiltração e percolação no solo foram utilizadas para estimar a constante hidráulica do
solo k para eventos de precipitação específicos. A evolução temporal dos perfis verticais
médios de umidade do solo (m3 m-3) entre outubro de 2007 a setembro de 2008 apre-
sentam características hidráulicas similares com variação da umidade absoluta média
em cada camada de solo e retardo da onda de frente de molhamento associado com a
precipitação na superfície.

Palavras- chave: Refletômetro no Domínio de Frequência, Micro Bacia Hidrográfica,


Umidade do Solo.

59
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

O solo é considerado um reservatório de água em constante movimento. Com entradas


e saídas, aumentos e diminuições da umidade. A água da chuva pode ter vários destinos
após atingir a superfície do solo: infiltração, evaporação, absorção pelas raízes da vegeta-
ção, escoamento superficial. Quando o solo atinge seu ponto de saturação, a água passa
a escoar sobre a superfície em direção aos vales. A parcela da água que se infiltra vai dar
origem à água subterrânea. Características do solo tais como porosidade, grau de compac-
tação, vegetação, tipo de solo, entre outras afetam a distribuição e armazenamento da água.
A taxa de infiltração de água no solo depende de fatores tais como: a) Porosidade –
solos argilosos tem menor porosidade e reduzem a infiltração; b) Cobertura Vegetal – solos
com cobertura vegetal são mais permeáveis do que um solos sem cobertura vegetal; c)
Declividade do Solo – terrenos com maior declividade aceleram o escoamento superficial e
reduzem a infiltração; d) Taxa de Precipitação – taxas de precipitação acima da capacidade
de infiltração geram escoamento superficial e, abaixo, infiltração completa da precipita-
ção. As definições de capacidade de infiltração, taxas de infiltração e percolação no solo
podem ser obtidas de Tucci (2012) e das propriedades físicas de Digman (2015).
Os principais processos hidrológicos de uma bacia hidrográfica estão ilustrados na
Figura 1. A precipitação é interceptada pela vegetação, infiltrada e escoada superficialmen-
te. A água no solo pode se deslocar para regiões de menor potencial gravitacional indo até os
cursos d´água e evapotranspirar por meio da vegetação. A precipitação interceptada pela ve-
getação pode evaporar para a atmosfera assim como da superfície de lagos e cursos d´água.

Figura 1. Ilustração dos principais processos hidrológicos numa micro bacia hidrográfica.

Fonte: (CICCO, 2013).


60
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Utilizaram-se neste estudo as medições de umidade do solo e precipitação em dois
sítios dentro do PEFI entre outubro de 2007 a setembro de 2008: 1) Mata do Parque Estadual
e Fontes do Ipiranga (PEFI), próximo a margem esquerda da nascente do Rio Ipiranga e; 2)
Cercado meteorológico da Estação Meteorológica Automática conforme mostrado na Figura
2. O PEFI esta na região sul da Cidade de São Paulo com área total de 526,4 ha com 357,0
ha desta área para a reserva biológica (Figura 2). A microbacia hidrográfica do Parque de
Ciência e Tecnologia (CIENTEC) da USP possui 59,0 ha com altitudes entre 770 m e 834
m. Identificaram-se cinco horizontes principais de solos no PEFI: horizonte de alteração; ho-
rizontes indiscriminados de várzea; horizontes argilosos com restos de couraça; horizontes
latossólicos e horizontes hidromórficos.
Os principais objetivos deste estudo foram: 1) A análise de medições de umidade vo-
lumétrica (m3 m–3); 2) Análise da evolução temporal da umidade do solo com a profundidade
do solo e; 3) Estimativa de taxas de infiltração e a condutividade hidráulica saturada para
os dois sítios de medição no Cercado da EMA e e na mata do Parque Cientec (Figura 2).

Figura 2. Mapa de localização dos sítios de medição de umidade do solo no Parque e Fontes do Ipiranga na Região
Metropolitana de São Paulo.

Fonte: Google Maps e própria.


61
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
METODOLOGIA

A precipitação que infiltra no solo está submetida a duas forças fundamentais: gravitacio-
nal e capilar. Volumes pequenos de água no solo se distribuem uniformemente na superfície
de pequenas parcelas de solo. A força capilar é maior do que a força gravitacional que age
sobre a água e, assim, a água permanece nas camadas menos profundas do solo. Taxa de
precipitação baixa e de curta duração é completamente infiltrada no solo. A percolação até
a zona saturada do solo requer a ação das forças gravitacional e capilar.
O solo se divide em duas zonas: zona aerada e zona saturada. A zona aerada se divide
em três camadas: zona de umidade do solo – superficial; zona intermediária - onde a umi-
dade é menor do que na zona de franja capilar e maior do que na zona superficial do solo
e; zona de franja de capilaridade – camada mais próxima ao nível d’água no solo. A zona
saturada é a camada onde os poros do solo estão totalmente preenchidos por água. A Figura
1 mostra as zonas aerada ou não saturada e saturada.
A taxa de infiltração é a velocidade com que a precipitação penetra o solo a parti de
uma velocidade inicial máxima. Analisar-se-á esta velocidade de acordo com o modelo
empírico de Horton (DA PAIXÃO, 2009). A variação temporal da taxa de infiltração dada
por (TUCCI, 2012):

(1)

onde,
t = tempo decorrido desde a saturação superficial do solo;
It = taxa de infiltração;
Ii = taxa de infiltração inicial;
Ib = taxa minima de infiltração e;
k = condutividade hidráulica saturada.
Assim, a taxa de infiltração é depende da condutividade hidráulica do solo.
A integração da Equação (1) entre um tempo inicial (t = 0) e um t futuro, resulta:

(2)

A Infiltração acumulada entre os instantes t = 0 e t = ∞ é dada por:

(3)

Utilizaram-se refletômetros CS615-G (Pereira Filho et. al. 2007) para estimar a umidade
volumétrica do solo (m3 m–3) no Parque CIENTEC em dois sítios conforme mostrado na Figura
62
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
2. O primeiro na mata do Parque CIENTEC e, o segundo, junto a Estação Meteorológica
Automática com um total de dez e dois sensores, respectivamente. Os sensores são pre-
viamente calibrados para o tipo de solo existente no local (BRUNO, 2004). Estes sensores
medem a constante dielétrica do solo (permissividade dielétrica), convertida em umidade
(m3 m–3). Os refletômetros foram dispositivos verticais em diferentes profundidades (Figura
2) com amostragem a cada 30 minutos e resolução de 30 cm de espessura.
Obteve-se o perfil médio de umidade mensal do solo, a taxa de infiltração e as curvas
de perfil médio mensal da umidade para cada camada de solo monitorada. Determinou-se
ainda os períodos de secagem e umidificação das camadas. A secagem ocorre entre o fim de
um episódio de chuva e intervalo de tempo (longo) até o próximo episódio de chuva. A umidi-
ficação ocorre durante vários episódios de chuva e, portanto, maior volume de precipitação.
Obteve-se também as curvas de umidade do solo da superfície e a 20 cm para a EMA
do Parque CIENTEC. Selecionou-se eventos de precipitação para o cálculo da taxa de in-
filtração e condutividade hidráulica saturada k.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Medições da umidade do solo na mata do Parque CIENTEC

A Figura 3 mostra a variação temporal da umidade do solo entre 0 cm e 300 cm no pe-


ríodo de setembro de 2007 e outubro de 2008. Houve dois períodos de estiagem em outubro
de 2007 e entre meados de maio a meados de setembro de 2008. Entre estes dois períodos,
a umidade do solo flutuou com tendência de aumento da umidade nas várias camadas bem
como a partir da segunda quinzena de setembro de 2008.
A umidade do solo foi separada em três níveis de profundidade. A Figura 4a apre-
senta a variação da umidade do solo nas camadas de 0 cm, 20 cm, 30 cm, 40 cm e 50 cm
denominada de zona de umidade do solo. A Figura 4b mostra a variação da umidade nas
profundidades de 60 cm, 80 cm, 100 cm e 200 cm denominada de zona intermediária.

63
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 3. Evolução da umidade do solo na mata do Parque CIENTEC entre setembro de 2007 e outubro de 2008. Estão
indicadas as profundidades de 0 cm a 300 cm e os período úmidos (azul claro).

A Figura 4c apresenta a variação da umidade na profundidade de 300 cm ou zona de


franjas capilares. A infiltração de água ocorre até a camada onde está localizado o sensor
de 50 cm. A redistribuição de água, mais acentuada, ocorre nas camadas entre 60 cm e 100
cm. Havendo redistribuição nos outros níveis onde se encontram sensores.

Figura 4. Variação da umidade do solo (m3 m–3) da superfície do solo até 50 cm de profundidade denominada de zona de
umidade (a), entre 60 cm e 200 cm onde esta a zona intermediária (b) e, abaixo de 300 cm, zona de franjas capilares (c).

(a)

(b)

64
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
(c)

O perfil médio mensal da umidade do solo apresentou comportamento similar entre


outubro de 2007 e setembro de 2008, com pequenas variações, conforme mostrado na
Tabela 1 e Figura 5.
A evolução dos perfis médios da umidade do solo (m3 m–3) nas diversas profundidades,
na Mata no PEFI tem o mesmo comportamento. Havendo apenas uma variação no valor
médio absoluto da umidade em cada nível, mostrado na Figura 5a intervalo umido e Figura
5b intervalo seco.

Tabela 1. Umidade média mensal do solo por profundidade entre outubro de 2007 e setembro de 2008 na mata do Parque
CIENTEC. Destacam-se os valores de umidade minima (amarelo) e máxima (verde) nos períodos seco (rosa) e úmido (azul).

Profundidade (cm) 0 20 30 40 50 60 80 -100 -200 -300


Out/07 (m3/m3) 0,117 0,172 0,146 0,139 0,107 0,074 0,119 0,055 0,077 0,274
Nov/07 (m3/m3) 0,172 0,223 0,194 0,184 0,145 0,100 0,138 0,063 0,078 0,273
Dez/07 (m3/m3) 0,178 0,226 0,195 0,186 0,146 0,104 0,146 0,066 0,087 0,280
Jan/08 (m /m )
3 3
0,192 0,238 0,199 0,196 0,152 0,115 0,154 0,070 0,089 0,285
Fev/08 (m3/m3) 0,201 0,236 0,197 0,195 0,156 0,117 0,157 0,073 0,090 0,289
Mar/08 (m3/m3) 0,172 0,216 0,181 0,181 0,148 0,108 0,148 0,071 0,086 0,284
Abr/08 (m3/m3) 0,179 0,220 0,183 0,183 0,155 0,108 0,147 0,073 0,085 0,281
Variação(m3/m3) 0,084 0,066 0,053 0,057 0,049 0,083 0,038 0,020 0,013 0,016
Mai/08 (m3/m3) 0,172 0,217 0,184 0,182 0,153 0,110 0,150 0,075 0,087 0,282
Jun/08 (m3/m3) 0,167 0,217 0,183 0,182 0,154 0,108 0,148 0,075 0,085 0,281
Jul/08 (m3/m3) 0,136 0,183 0,160 0,156 0,129 0,096 0,136 0,070 0,082 0,280
Ago/08 (m /m )
3 3
0,155 0,207 0,174 0,169 0,144 0,101 0,135 0,070 0,079 0,277
Set/08 (m3/m3) 0,136 0,183 0,153 0,150 0,120 0,091 0,130 0,070 0,079 0,276
Variação(m3/m3) 0,031 0,034 0,030 0,032 0,034 0,017 0,018 0,005 0,006 0,005

Mínimo umidade Máximo umidade

65
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 5. Variação da umidade média mensal no período úmido (a) e seco (b). Nota-se a recarga de água no solo até 50
cm, percolação entre 60 cm a 200 cm e a zona de franja capilar abaixo de 300 cm.

(a) (b)

A Figura 5a corresponde ao período de chuvas mais frequentes exceto para outubro


de 2007. A Figura 5b corresponde ao período seco. A série de dados indica que o mês de
menor umidade do solo julho. Ainda, há pouca variação de umidade entre as profundidades
de 100 cm e 200 cm. Maior variação da umidade do solo ocorreu entre 50 cm e 100 cm
onde se encontram o sistema radicular da vegetação com bombeamento da umidade para
a atmosfera por evapotranspiração.
Considerando-se a umidade mínima como a taxa de infiltração de equilíbrio, ,a
taxa de infiltração e a taxa de infiltração inicial , pode-se inferir a constante hidráulica
saturada, em cada camada de solo. A Tabela 2 apresenta a variação dessa variáveis
causadas por eventos de chuva entre 0 cm e 50 cm.

Tabela 2. Estimativa da infiltração de equilíbrio , da taxa de infiltração e da taxa de infiltração inicial e


constante hidráulica do solo para dois eventos de chuva indicados entre 0 cm e 50 cm.

Volume Profundidade eq
Precipitação
(mm) (m) (m3.l/h) (m3/m3) (m3/m3)

Inicio 0 0,19 0,113 0,119 0,0316


24/10/07 20 3,65 0,153 0,248 0,0260
06:00
54,61 30 3,30 0,123 0,209 0,0260
fim
25/10/07 40 0,88 0,124 0,147 0,0261
08:30 50 3,69 0,089 0,186 0,0263

inicio 0 9 0,113 0,131 0,002


27/10/07 20 8 0,153 0,231 0,010
16:30
10,922 30 2 0,123 0,201 0.039
Fim
27/10/07 40 0 0,124 0,179 --
17:30 50 26 0,089 0,181 0,0035

A constante hidráulica do solo do evento de chuva de 24/10/2007 foi maior na super-


fície e constante de 20 cm a 50 cm. Esta é variável para o evento de chuva de 27/10/2007
por causa da redistribuição da água no solo do evento antecedente.

66
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Medições da umidade do solo junto a EMA

Análises e gráficos similares foram obtidos para a medições em dois níveis junto a
estação meteorológica automática (EMA) do Parque CIENTEC entre outubro de 2007 e
outubro de 2008 mostrados na Figura 6.

Figura 6. Variação temporal da umidade do solo medida junto a Estação Meteorológica Automática colocados junto ao
pluviômetro da mesma (Figura 2, sítio 2) entre outubro de 2007 e março de 2008 (a) e abril a outubro de 2008 (b). Os
círculos azuis são alguns eventos de precipitação apenas sentidos no sensor de superfície. Estão destacados eventos de
chuva de baixa acumulação (elipse azul).

(a)

(b)

Eventos de precipitação de baixo volume de chuva causam variação de umidade na


camada da superficial conforme mostrado na Figura 6 e Tabela 3. A Tabela 4 mostra a esti-
mativa da infiltração de equilíbrio (Ib), da taxa de infiltração I(t) e da taxa de infiltração inicial
(Ii) e constante hidráulica do solo (k) para eventos de chuva de maior acumulação junto a
EMA. Nota-se a maior variação das variáveis hidráulicas nas duas camadas de solo em 0
cm e a 20 cm de profundidade.

67
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Tabela 3. Estimativa da infiltração de equilíbrio (Ib), da taxa de infiltração I(t) e da taxa de infiltração inicial (Ii) e constante
hidráulica do solo (k) para eventos de chuva de baixa acumulação (destaque azul na Fig. 6) para a camada superficial de
solo da junto a EMA.

Volume eq
Precipitação Profundidade (m)
(mm) (m3.l/h) (m3/m3) (m3/m3)
31/10/07 das
7,874 0 36 0,157 0,250 0,0026
14:05 às 14:20
10/12/07 das
5,334 0 27 0,157 0,272 0,0043
13:15 às 13:35
25/12/07 das
4,826 0 5 0,157 0,268 0,0222
18:15 às 19:05
29/12/07 das
8,128 0 13 0,157 0,259 0,0078
16:50 às 18:00
11/01/08 das
9,398 0 22 0,157 0,272 0,0052
18:50 às 19:50
16/01/08 das
6,096 0 5 0,157 0,275 0,0236
17:15 às 18:05
20/03/08 das
4,572 0 14 0,157 0,281 0,0089
17:10 às 17:40
02/04/08 das
5,842 0 24 0,157 0,245 0,0037
14:25 às 14:40
10/04/08 das
5,080 0 9 0,157 0,283 0,0140
18:30 às 19:30
30/05/08 das
8,636 0 6,8 0,157 0,223 0,0097
02:15 às 04:50
21/06/08 das
7,112 0 10 0,157 0,255 0,0098
17:40 às 18:10

Tabela 4. Estimativa da infiltração de equilibrio (Ib), da taxa de infiltração I(t) e da taxa de infiltração inicial (Ii ) e constante
hidráulica do solo (k) para eventos de precipitação de maior volume de chuva acumulada (Fig. 6) para as duas camadas
solo em 0 cm e 20 cm junto a EMA.

Volume eq
Precipitação Profundidade (m)
(mm) (m3.l/h) (m3/m3) (m3/m3)
24/10/07 das 0 9,4 0,157 0,284 0,0135
44,450
6:40 às 20:45 20 12,3 0,167 0,327 0,0130
01/11/07 das 0 34 0,157 0,280 0,0036
13,716
17:15 às 8:15 20 81 0,167 0,325 0,0020

19/11/07 das 0 38 0,157 0,303 0,0038


15,494
5:35 às 6:45 20 75 0,167 0,331 0,0022

CONCLUSÃO

Medições de umidade do solo na mata do Parque CIENTEC

A evolução dos perfis médios da umidade do solo (m3 m–3) nos diversos horizontes
de solo na mata no Parque CIENTEC entre outubro de 2007 e setembro de 2008 apresen-
taram características similares em fase com variação da média absoluta da umidade em
cada camada mostrados na Figuras 5 e respectivos valores na Tabela 1. Os mínimos de
umidade do solo ocorreram nos meses de outubro de 2007 exceto na zona de franja capilar
observado em novembro de 2007, consistente com o período seco. Os máximos de umidade
ocorreram entre janeiro e fevereiro de 2008 após o período de chuvoso. Houve discrepâncias
68
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
nas medições de umidade no nível de 100 cm, onde o máximo de umidade ocorreu entre
abril e maio de 2008.
A variação da umidade volumétrica próximo à superfície para eventos isolados de
precipitação é muito próximo ao volume de chuva medido pelo pluviômetro. Nota-se que
a umidade por camada até 50 cm de profundidade na Figura 4a variam sicronamente, ou
seja, na zona aerada, o sistema radicular da vegetação permite a infiltração da água até
esta profundidade quase instantaneamente por ação gravidacional.
A variação da umidade do solo entre 60 cm e 200 cm mostrado na Figura 4b ocorre
algum tempo após a variação da umidade na camada de solo acima após cessar a chuva
que resulta no processo de redistribuição da água subterrânea por percolação na zona
intermediária. Por último, há pouca variação da umidade do solo abaixo de 300 cm de pro-
fundidade devido a zona de franjas conforme mostrado na Figura 4c.

Medições de umidade volumétrica do solo junto a EMA

Notou-se que as variações de umidade superficiais de pequenos volumes de chuva


não atinge a camada abaixo em 20 cm de profundidade com infiltração superficialmente.
Este efeito foi destacado na Figura 6 e Tabela 3. Por outro lado, eventos com volume maior
de chuva produzem maior variação de umidade nas duas camadas conforme mostrado na
Tabela 4. Essas medições foram realizadas em solo descoberto sem vegetação, reduz a
taxa de infiltração particularmente para solos com alto teor de argila.

AGRADECIMENTOS

Este projeto foi financiado pela FAPESP processo 13952-2. O primeiro autor agra-
dece a FUNDESPA pela bolsa de estudos de Iniciação Científica para realização desta
pesquisa. O segundo autor agradece ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico pela bolsa de produtividade, processo 301149/2017-8.

69
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
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4. DA PAIXÃO, Francisco JR et al. Ajuste da curva de infiltração por meio de diferentes modelos
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5. DINGMAN, S. Lawrence. Physical hydrology. Waveland press, 2015.

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Região Metropolitana de São Paulo. São Paulo: Linear B, 2007, v.1. p.282.

7. TUCCI, Carlos EM et al. Hidrologia: ciência e aplicação. Porto Alegre: Editora da Universi-


dade, v. 2, 2012.

70
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
06
Gestão integrada da informação e do
monitoramento de dados ambientais
em bacias hidrográficas para gestão
de riscos ambientais

Maria Bernardete Guimarães

10.37885/210705569
RESUMO

Este trabalho estudou a criação e a implantação de um Sistema de Informação on line,


para diminuir o tempo de resposta aos eventos climáticos críticos e melhorar a ges-
tão ambiental e dos recursos hídricos nas bacias hidrográficas brasileiras. Analisou-se
os Sistemas de Informações em Recursos Hídricos de alguns estados brasileiros: São
Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do Sul, Distrito Federal, Minas Gerais, Pará,
Mato Grosso do Sul, Ceará, Pernambuco, Paraíba, Bahia e Espírito Santo e os dados
do Sistema de Informações da ANA-Agência Nacional de Águas e Saneamento. A partir
desta análise é proposto um Portal Integrado de Informações Georreferenciadas, unindo
diversas informações, tabelas, gráficos e mapas temáticos das bacias, contribuindo assim
para melhorar a gestão dos riscos ambientais.

Palavras-chave: Sistema de Informação, Gestão de Riscos Ambientais, Bacias Hidrográficas.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

Na última Conferência Mundial de Redução de Desastres da ONU, em 2015 no Japão,


foram estabelecidas quatro estratégias de enfrentamento aos desastres naturais: compreen-
são dos riscos em todas as dimensões; fortalecimento da governança do risco; investimento
de recursos públicos e privados em prevenção; melhorar a preparação, reabilitação e re-
construção pós-tragédia (ONU,2015). Na Conferência de 2015 várias metas globais para
reduzir o risco de desastres foram estipuladas, entre elas estão: a diminuição dos números
de mortos, de pessoas afetadas e das perdas econômicas de agora até 2030 em comparação
com os índices registrados entre 2005-2015; aumentar o número de países com estraté-
gias locais e nacionais para combater os riscos de desastres e diminuir os riscos de danos
às infra-estruturas e serviços básicos, como hospitais e escolas; melhorar a cooperação
internacional com os países em desenvolvimento e aumentar o acesso de todas as nações
aos sistemas de alerta contra desastres naturais e sua complexidade (ONU,2015). A lei nº
12.608 (BRASIL,2012) institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil - PNPDEC,
que dispõe sobre o Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil - SINPDEC e o Conselho
-CONPDEC, e autoriza a criação de sistema de informações e monitoramento de desastres.
Segundo a CPRM (2020) no Brasil ao menos quatro milhões de pessoas vivem em áreas de
risco, segundo mapeamento realizado entre 2011 e 2020 pelo Serviço Geológico do Brasil.
Mas este mapeamento considerou apenas 1.605 cidades, cerca de 1/5 dos municípios bra-
sileiros. O estudo indicou 14.443 áreas com alto risco e 954 mil moradias nestas condições,
sendo que em apenas 194 municípios não foram identificados riscos. Em situações de risco
um bom sistema de alerta é importante, e ele depende de um bom sistema de informações
hidrológicas, sedimentológicas, pluviométricas e meteorológicas. Afinal o clima influi no
risco a desastres naturais, e monitorá-lo é importante para a escolha do tipo de alerta a ser
implantado. Segundo a ONU (2015) no mundo, no período de 2005 a 2015, 700 mil pes-
soas morreram por causa de desastres e mais de 1,4 milhão ficaram feridas. Somente entre
2008 e 2012, 144 milhões de pessoas ficaram desabrigadas. No total 1,5 bilhão de pessoas
foram afetadas de alguma forma pelos desastres, sendo que os mais atingidos são mulhe-
res, crianças e os considerados mais vulneráveis. Além disso a perda econômica passou
de 1,3 trilhões de dólares, aproximadamente 4,2 trilhões de reais. No Brasil as equipes do
CPRM identificaram mais de 298 mil pessoas vivendo em áreas sujeitas a deslizamentos
de terras, inundações, enxurradas, processos erosivos e queda de rochas, em 45 cidades
de 17 estados (CPRM, 2020). Grande parte das áreas de risco no país estão relacionadas
às inundações (34%) e aos deslizamentos (49%).
No estado do Espírito Santo, analisando os dados da Defesa Civil em seu relatório
PEPDEC de 2020, referentes aos desastres que ocorreram em todo o estado do Espírito
73
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Santo de 2013 a 2020, verifica-se a ocorrência de 673 registros até 29 de fevereiro de 2020
(CDCES, 2020). O maior desastre que ocorreu em solo capixaba foi no final do ano de
2013. O evento resultou, sobretudo, em enxurradas, inundações e deslizamentos de ter-
ra. De um total de 78 municípios, 55 foram diretamente afetados e mais de 60 mil pessoas
precisaram, em algum momento, deixar seus lares. Vinte e seis pessoas morreram. Foram
registrados acumulados com valores superiores a 100 mm em 24 horas nas Regiões Sul
e Serrana. No norte capixaba, municípios se destacaram com chuvas que superaram 200
mm em 48 horas. Chuvas intensas atingiram a região central do estado, incluindo a região
metropolitana de Vitória e o nordeste serrano, contribuindo para a cheia de rios. Segundo
a Defesa Civil do Espírito Santo, até 30 de janeiro de 2020, havia dez mortos, dez feridos,
2.030 desabrigados e 12.735 desalojados por conta das fortes chuvas no ES. Além de queda
de barreiras, deslizamentos, perdas de pontes, rodovias interditadas, perda de estradas,
queda de residências, perda de safras inteiras, queda de edifícios inteiros, lama nas ruas,
carregamento de veículos e perdas, enchentes extremas e inundação de grandes áreas
agrícolas e urbanas.
Rupturas em barragens também tem ocorrido, sendo o rompimento da barragem de
Fundão, de mineração da Samarco, no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana-MG, em
5 de novembro de 2015 o maior desastre, pois a lama percorreu o leito e margens do rio
Doce em MG e no ES, até chegar à foz no dia 22 novembro, contaminando o rio e o mar
com rejeitos de minério. Uma onda de destruição e sofrimento.
Porém, o capixaba sofre não só com o excesso de água, mas também com a falta
dela (CDCES, 2020). Segundo o PEPCEC, Plano Estadual de Defesa Civil do ES-Brasil, a
estiagem foi o desastre que mais ocorreu no estado entre os anos de 2013 e 2020, um total
de 235 decretações de situação anormal, considerando todos os desastres que atingiram
nosso estado, até 29 de fevereiro de 2020. Segundo o relatório da Defesa Civil de 2020,
os danos humanos ocasionados pela estiagem são menores quando comparados com os
provocados pelas chuvas intensas, mas os prejuízos econômicos e sociais são grandes,
uma vez que esse tipo de desastre tem efeitos prolongados sobre uma sociedade, devido,
por exemplo, à perda de colheitas e dificuldade de pagar os financiamentos realizados em
função do investimento em sementes e fertilizantes. E na maioria dos casos a produção
agrícola se revela como única fonte de renda dos afetados, o que faz com que os efeitos
do desastre reflitam ao longo do tempo. Devido a grave crise hídrica enfrentada foi criado o
Programa Estadual de Construção de Barragens, e a implantação de sessenta reservatórios
de água no interior (CDCES,2020).
De acordo com a Política Nacional de Recursos Hídricos no art. 25, BRASIL (1998)
o Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos é um sistema de coleta, tratamento,
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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos e fatores interve-
nientes em sua gestão. Os dados gerados pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional
de Gerenciamento de Recursos Hídricos serão incorporados ao Sistema Nacional de
Informações sobre Recursos Hídricos. São princípios básicos para o funcionamento do
Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos (BRASIL, 1998): descentralização da ob-
tenção e produção de dados e informações; coordenação unificada do sistema; acesso aos
dados e informações garantido à toda a sociedade. De acordo com o artigo 26 são objetivos
do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos (BRASIL, 1998): reunir, dar
consistência e divulgar os dados e informações sobre a situação qualitativa e quantitativa dos
recursos hídricos no Brasil; atualizar permanentemente as informações sobre disponibilida-
de e demanda de recursos hídricos em todo o território nacional; fornecer subsídios para a
elaboração dos Planos de Recursos Hídricos. Os Planos Estaduais tem também destacado
a importância dos sistemas de informação.
Os impactos com as alterações no clima estão nos relatórios do IPCC - Intergovernmental
Panel on Climate Change - Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas, já são 5
reportagens de 1990, 1995, 2001, 2007 e 2014 e são causa da reunião de vários países
para a elaboração de novas metas e reanálise das antigas (IPCC, 2014). No estado do ES a
estiagem no ano hidrológico de 2014-2015 foi avaliada por Ramos et al. (2015). O trabalho
concluiu que foram observadas anomalias positivas de temperaturas máximas de até 1
°C no setor sul/sudeste do estado do ES. As áreas ao norte da região noroeste foram as
mais atingidas pela estiagem e menores valores de precipitação. No sul e sudeste ocorreu
má distribuição de chuvas, e as temperaturas ficaram acima do normal. O verão de 2015
apresentou anomalias positivas de temperatura máxima em todo o estado, chegando a va-
lores de até 3 ºC acima da média, devido à escassez de chuvas no período. Galeano et al.
(2015) avaliaram as perdas em 2015 com a estiagem prolongada no ES, sendo que foram a
cafeicultura, a fruticultura e a olericultura que mais perdas tiveram. Foram 745,6 milhões na
cafeicultura, com 19,2% de redução, 165,9 milhões na fruticultura, com 17,3% de redução
e 144,3 milhões na olericultura, com 11,8%, de redução, sendo de 30 milhões na cana-de-
-açúcar, 19,4% de redução. Foram ao total 1,04 bilhão de perdas monetárias em 2015.
As inundações em 2020 deram prejuízos de 88 milhões para a agropecuária capixa-
ba (principalmente para a cafeicultura, fruticultura e horticultura), com chuvas e desastres
em 20 municípios, com 71 mortos, 75 feridos e 10.289 desabrigados (WIKIPÉDIA,2021).
Fernandes (2020) informou que a maior parte das perdas em 2020 foi com infra-estrutura
(pontes, rodovias, contenções), sendo estimado, a princípio, em mais de 666 milhões reais em
fevereiro de 2020; 39 municípios afetados e 60.605 pessoas atingidas. As geadas em 2021
tem estragado as safras em vários estados, principalmente no sul do país, com temperaturas
75
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
bem abaixo de zero graus célsius. Outro fator é o planejamento considerando as mudanças
climáticas nas Bacias Hidrográficas, destacam-se dentre os principais impactos nas bacias,
com a mudança climática: o aumento nas áreas secas, desertificação, aumento na escassez
hídrica, aumento das enchentes e cheias, o avanço do nível do mar provocando aumento
da cunha salina nos rios de abastecimento público, erosão, assoreamentos, incêndios flo-
restais, perdas de espécies vegetais e animais, desabastecimento, perda de colheitas (frio
intenso e calor intenso), ondas de calor e perda na qualidade de vida, perda de corais, falta
de disponibilidade de água, perda no valor nutricional dos alimentos e na produtividade
desses alimentos, isto para um cálculo de um aumento de temperaturas de 0,5 ºC (IPCC,
2014). Um adequado sistema de informações integrado possibilitará ao tomador de decisão
e gestor público avaliar as metas, as ações e reformular suas intervenções nas bacias hi-
drográficas considerando a geologia, a economia, os recursos hídricos e naturais, as áreas
de preservação, o meio ambiente, a geomorfologia, a população e a arqueologia, o cenário
atual, os planos e projetos, os futuros cenários com a mudança no clima, a ocupação e o uso
do solo (agricultura, pecuária, indústria, abastecimento público, irrigação, outros) de forma
ágil e eficiente, sendo possível o input das informações obtidas no local e sua visualização
através de mapas e tabelas, gráficos e estatísticas, relatórios e análises num mesmo local.

MÉTODO

A concepção de um Sistema de Informações Geográficas (SIG) para subsidiar a ges-


tão dos recursos hídricos de uma bacia hidrográfica, deverá valer-se do SIG-sistema de
informações do Plano de bacia e do plano estadual de recursos hídricos e nas bases de
informações disponíveis nos estados.
Segundo o PIRH DOCE (2010) um SIG é qualquer sistema de gerenciamento de infor-
mações capaz de coletar, armazenar e recuperar informações baseadas nas suas localiza-
ções espaciais; identificar locais dentro de um ambiente que tenha sido selecionado a partir
de determinados critérios; explorar relações entre os dados de certo ambiente. Além disso,
deve ainda, analisar os dados espaciais para subsidiar critérios de formulação sobre decisões;
facilitar a exportação de modelos analíticos capazes de avaliar alternativas de impactos no
meio ambiente, exibir e selecionar áreas, tanto graficamente como numericamente, antes
e/ou depois das análises. No caso do SIG-Plano, estas feições estão georreferenciadas, ou
seja, possuem uma posição no globo terrestre em relação a um referencial geodésico. Desta
forma é possível apresentar graficamente todos os dados compilados para o estudo, além
de realizar cruzamentos com outros dados quantitativos e qualitativos, externos ao banco de
dados, que apresentem a mesma posição geográfica. A necessidade de atualização depende
exclusivamente da disponibilidade de informações e da necessidade real do usuário. Por
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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
isso, é importante estabelecer procedimentos de atualização para os temas armazenados
no banco de dados garantindo desta forma que os dados finais sejam compatíveis com a
realidade da região em estudo. É recomendável utilizar as mesmas rotinas de outros órgãos
buscando assim acordos de cooperação para que todos os dados novos sejam integrados
ao sistema (PIRH DOCE,2010). Segundo o PIRH DOCE (2010) a atualização do banco
de dados pode ser feita diretamente no dado tabular sem a necessidade de um software
especifico para SIG, contudo, esta forma está mais susceptível ao erro. É recomendável
vinculações automáticas onde o usuário interfira o mínimo possível na digitação ou geração
das informações. Um SIG bem estruturado deve seguir as etapas de modelagem conceitual,
lógica e física, visando atender as fases de criação e maturação deste complexo processo.
Segundo o PIRH DOCE (2010):

¾ Modelagem Conceitual: nesta etapa da construção do SIG é contemplado


o estudo das informações a serem inseridas no sistema bem como de que
forma estes dados serão adicionados. Para tanto devem ser levantadas as
funções e aplicações de cada plano de informação. Além disso, existe também
a necessidade da definição do fluxo de informações para uma definição da
forma de construção do sistema.

¾ Modelagem Lógica: trata-se da estruturação dos dados dentro do sistema,


ou seja, é feito a implementação da lista de atributos dos dados alfanuméricos
e espaciais, levantados na modelagem conceitual. É neste momento que se
decide agrupamento dos dados em entidades lógicas e são definidos os re-
lacionamentos entre eles, bem como as formas de identificação de entidades
visando facilitar o manuseio das informações.

¾ Modelagem Física: com o uso de ferramentas de modelagem de dados é


definida a estrutura do banco, que busca sempre a praticidade e uma fácil
manutenção. Esta modelagem da estrutura trata da definição de nomes físi-
cos de objetos (tabelas), tipos e tamanhos de campos (colunas). Nesta fase
se consolida a forma em que as informações levantadas serão realmente
armazenadas no banco de dados.

A coleta e consistência dos dados interferem nos resultados de um SIG. Segundo o


PIRH DOCE (2010):

A funcionalidade de um SIG está atrelada diretamente a consistência dos


dados que o originaram, portanto, a documentação do processo e fontes de
dados fidedignas se faz de extrema importância para confiabilidade de suas
informações e tomada de decisões. Todas estas características fazem com
que um SIG seja, sobretudo, um sistema dinâmico com diversas aplicabilida-
des. Sendo assim, o que se propõe para bacia do rio Doce será um sistema
capaz de ser integrado a sistemas já existentes, garantindo que o processo
de atualização seja o mais eficiente possível. Para que um SIG opere como
uma ferramenta eficaz de gestão é necessário o atendimento de requisitos
mínimos em termos de equipamentos computacionais, software específicos,
recursos humanos qualificados e fonte de dados atualizados.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
O armazenamento das informações depende da escolha de um servidor de dados
apropriado, segundo o PIRH DOCE (2010):

O armazenamento das informações é uma característica fundamental ao


servidor de dados apropriado para armazenar um SIG, já que o mesmo pos-
sui elevado custo computacional. Sugere-se ainda que o mesmo possua alta
capacidade de processamento, sistema de backup e antivírus eficiente para
dar segurança aos dados armazenados.

Na figura 1 tem-se um sistema em SIG e um sistema de suporte à decisão (BRAGA,


BARBOSA e NAKAYAMA, 1998).

Figura 1. Sistemas Informação Geográfica-SIG e Sistemas de Suporte à Decisão.

Fonte: BRAGA;BARBOSA;NAKAYAMA (1998)

Este trabalho identificou os procedimentos necessários para a implantação de um


Sistema de Informação on -line, visando diminuir o tempo de resposta aos eventos climáticos
críticos. Inicialmente analisou-se o sistema existente no estado do Espírito Santo, dados
do INCAPER (2020) (setor de Meteorologia), da AGERH (2020)(monitor de secas, sala de
situação e informação sobre bacias hidrográficas) e da ANA(2020)(estações do HIDROWEB
e Monitor de secas, dados de programas e projetos).
Numa segunda etapa analisou-se os sistemas de informação em recursos hídricos
existentes em outros estados do Brasil, para subsidiar a implantação do sistema proposto e
sua melhor interação com o público. A partir desta análise é proposto um Portal Integrado
de Informações, para atingir um sistema de monitoramento e alerta para um cenário em
que as respostas aos eventos críticos sejam mais eficazes em todas as bacias hidrográ-
ficas do estado. No caso do estado do Espírito Santo, por exemplo, o INCAPER-Instituto
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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Capixaba de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural, através do Centro Capixaba de
Meteorologia, divulga alertas meteorológicos e relatórios, gráficos de vazão, temperatura,
radiação, pluviometria e dados históricos. A ANA implantou a Sala de Situação, situada na
AGERH - Agência Estadual de Recursos Hídricos e monitora os rios Jucu e Santa Maria da
Vitória e outros. A SEAMA possui estações telemétricas, de pluviometria e fluviometria que
fornecem dados diários para a construção dos relatórios de situação destes rios. As PCHs-
Pequenas Centrais Hidrelétricas e as Usinas Hidrelétricas da ANEEL-Agência Nacional
de Energia Elétrica, tem postos de monitoramento fluviométricos e pluviométricos para o
licenciamento na SEAMA/IEMA e as companhias de saneamento (CESAN, SAAE, outras)
tem um monitoramento de seus mananciais. A CPRM e a UFES realizaram levantamentos
das áreas de risco no estado do ES.
A partir das análises do sistema de informações em recursos hídricos do Ceará, de São
Paulo, e de outros estados, propõem-se através da tabela a construção de um Sistema de
Informações completo. Na figura 2 os desastres que ocorrem em 2020 e na última década
nos municípios capixabas, provocando perdas materiais, humanas, econômicas, de qualidade
de vida, assoreamento em rios, destruição de imóveis, quedas de barreiras e construções,
enchentes e inundações em áreas urbanas.

Figura 2. Eventos no ES na última década. Mapa com localização por município.

Fonte: CDCES (2020).

A proposta através deste Portal Unificado é reunir as informações e o monitoramen-


to atualmente realizado, visando minimizar o tempo de resposta a estes fenômenos cli-
máticos e antrópicos nas bacias hidrográficas. O estado do Ceará possui um PORTAL
onde as informações são compartilhadas de forma transparente e ágil, possibilitando a
consulta aos dados de fluviometria e pluviometria de cada estação, PCH, UHE, açude e
barragem no estado (COGERH, 2020). A SABESP (2020) - Companhia de Saneamento
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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
de São Paulo, tem seu sistema de suporte a decisões com dados de todos seus monito-
ramentos. A AGERH do ES emite um boletim diário da situação dos postos fluviométri-
cos e pluviométricos administrados pela SEAMA-secretaria de meio ambiente e recursos
hídricos do estado, e através do programa Monitor de Secas temos dados e mapas da
situação do estado quanto à SECA. A CPRM mapeou as áreas de risco a inundações e
geológicos. Na figura 3 os Instrumentos de Gestão de Recursos Hídricos e dentre esses
o SISTEMA DE INFORMAÇÕES (BRASIL,1998). Da figura 4 à figura 16 os dados pesqui-
sados para subsidiar a implantação do futuro Sistema de Informações sugerido. Na figura
16 o sistema SIGA GUANDU do RJ.(RIO DE JANEIRO,2021). As figuras 4, 5, 6, 7, 8 e 9
mostram o atual sistema de informação no ES (IEMA,2021). Nas figuras 10, 12, 13, 14 e 15
o sistema de informações da ANA (2021), e o HIDROWEB.

Figura 3. Gestão Integrada dos Recursos Hídricos e os Instrumentos de Gestão.

Fonte: ANA(2018) Adaptado pela autora.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 4. Monitor da SECA, SALA de SITUAÇÃO (fonte: ANA (2020) e AGERH-ES (2020); Estações Meteorológicas do
INCAPER. Mapa de Estações Meteorológicas, INCAPER (2020), ATLAS de vulnerabilidade à inundação no ES e ARES -ATLAS
de áreas de risco no ES (fonte: CDCES, 2020).

Fonte: INCAPER (2020), CDCES(2020).

Figura 5. Dados de diversos órgãos para o Sistema de Informação.

Fonte: IEMA (2009);INCAPER(2009); INMET(2017).

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 6. Dados constantes no sistema GEOIEMA.

Fonte:IEMA(2021)-GEOIEMA.

Figura 7. Dados constantes do sistema MONITORAMENTO DE RIOS, Boletins AGERH (2021).

Fonte: AGERH (2021).

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 8. Dados constantes do sistema GEOIEMA (2021).

Fonte: GEOIEMA (2021)-IEMA (2021).

Figura 9. SISTEMA DE INFORMAÇÃO BACIA DO RIO DOCE.

Fonte: CPRM (2021), ANA(2021).

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 10. Monitor de Secas e precipitação média em Minas Gerais e Espírito Santo, de 1998 a 2015.

Fonte: CPRM (2015), (ANA,2021).

Figura 11. Grandes Bacias Brasileiras, Secas e Enchentes.

Fonte: ANA(2018), adaptado pela autora.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 12. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos– MAPAS INTERATIVOS.

Fonte: ANA (2021).

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Figura 13. Dados do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos Hídricos– MAPAS INTERATIVOS.

Fonte: ANA (2021).

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 14. Dados do Sistema HIDROWEB (estações pluviométricas e fluviométricas, reservatórios).

Fonte: ANA (2021)

Figura 15. Dados do HIDROWEB (ANA, 2021).

Fonte: ANA (2021).

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 16. SISTEMA DE INFORMAÇÕES DO RIO DE JANEIRO-SIGA GUANDU (RIO DE JANEIRO,2021).

Fonte: ANA (2021)

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da análise dos modelos atuais de informação propõe-se um novo modelo


integrado com dados meteorológicos e ambientais (fotos dos pontos de risco geológico,
vulnerabilidade a enchentes e inundações, pontos de monitoramento com valores medidos
dos parâmetros, dados dos planos de bacias e suas ações, barramentos, barragens e da-
dos de monitoramento, cidades e dados socio e econômicos, outros), onde os dados sejam
georreferenciados e compartilhados em tempo real, com todos os atores locais. Um dos as-
pectos críticos na gestão do risco, segundo Souza e Caiado (2014) é a vulnerabilidade das
comunidades instaladas nas áreas de riscos, conjunto de características e condições que
as tornam mais frágeis aos efeitos de um evento danoso. Uma condição, por exemplo, é a
falta de informação e de consciência dos riscos a que está exposta. O sucesso das políticas

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
de gestão de risco de desastres, por exemplo, está associado ao grau e à qualidade da
participação das comunidades expostas.
Outro aspecto crítico é o fator impermeabilização do solo, provocada pelo processo
de urbanização, segundo Souza e Caiado (2014) sem drenagem adequada, associado às
escavações e exposição do solo ao intemperismo transformam áreas de baixo risco em áreas
de risco elevado. Ações que minimizem estes fatores dependem da análise dos locais e de
visualizar novos cenários futuros, que através do sistema de informação georreferenciado
possibilita a criação de cenários para a discussão, avaliação, planejamento e definição de
metas. Através da análise conjunta de vários mapas e dados georreferenciados uma pos-
sível “Tragedy of Communs” (HARDIN, 1968) pode ser minimizada ou evitada, como secas
severas e perdas severas de alimentos e água, deslocamentos de populações e êxodos,
perdas de terras e disputas por água.
As medidas para implantar o Portal são: reunir e analisar todas as informações exis-
tentes, escolher as principais informações, ter um banco de dados atualizado diariamente e
compartilhado via portal e integrar os atores do processo de gestão, criar um plano de comu-
nicações eficiente, georreferenciar os dados e integrar diversos bancos de dados. E monitorar
o sistema implantado criando indicadores. Atualizar os dados diariamente para a análise dos
gestores e para reavaliar ações e metas, indicadores e planos de risco. O Portal proposto
pela autora está na figura 17.

Figura 17. Proposta de Sistema de Informações Integradas.

Fonte: Autora (2020).

CONCLUSÃO

A proposta visa integrar os diversos sites e dados com informações atualizadas num
único Portal, que permitirá minimizar o tempo nas respostas do Sistema de Gestão de Riscos
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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Ambientais no estado e uma melhor gestão e planejamento ambiental dos riscos nas bacias
hidrográficas. O grande desafio futuro é capacitar gestores públicos no sistema, formar e
contratar novos profissionais para a área e gerar novas informações para o sistema. Outros
desafios são trabalhar com novos softwares que permitam suportar e armazenar dados de
séries longas, realizar operações de cálculo que permitam a interface com a sociedade para
agilizar ações de curto prazo nestas áreas. Mas é preciso investir em Inovação e Tecnologia,
tanto para criar sistemas novos quanto para melhorar a comunicação das informações em
tempo real, permitindo minimizar os prejuízos econômicos, financeiros, humanos e ambientais
nas áreas impactadas por ações antrópicas e ações climáticas. O futuro depende de investir-
mos em Capital Humano, em Ciência e Tecnologia, Inovação e Meio Ambiente (Preservação,
Conservação, Biodiversidade, Desenvolvimento Sustentável, Cobertura Vegetal e Florestal,
Mata Ciliar) para uma melhor qualidade de vida em nossas bacias hidrográficas, sem atin-
girmos uma Tragedy of Communs.

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91
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
07
Impactos do rompimento da barragem
de Fundão (Mariana - MG) na geometria
hidráulica do Rio Gualaxo do Norte

Diego Rodrigues Macedo


UFMG

Antônio Pereira Magalhães Júnior


UFMG

Regina Paula Benedetto de Carvalho


UFMG

Miguel Fernandes Felippe


UFJF

10.37885/210705526
RESUMO

Em 5 de novembro de 2015 ocorreu o rompimento da barragem de Fundão, no Município


de Mariana em Minas Gerais, liberando 34 milhões de m³ de rejeitos de minério e cau-
sando diversos danos ambientais, sociais e econômicos. Dados os potenciais impactos
hidrogeomorfológicos do evento, este trabalho tem como objetivo compreender como os
rejeitos alteraram a dinâmica de ajuste do canal do rio Gualaxo do Norte, um dos mais
afetados pelo rompimento. Tendo sido menos atingido pelos rejeitos, o Rio do Carmo foi
adotado como referência para comparação devido às semelhanças hidrogeomorfológicas.
Foram calculados parâmetros da geometria hidráulica de ambos os rios com base em
dados de duas estações fluviométricas, uma no rio Gualaxo do Norte e uma no Rio do
Carmo, entre os anos de 2011 a 2015 (antes do rompimento) e 2016 a 2020 (depois do
rompimento). Os parâmetros de vazão (Q), largura (w), profundidade (d) e velocidade
(v) foram avaliados através do ajuste de modelo de regressão, diagramas de dispersão
e testes estatísticos. Os resultados indicam que os rejeitos alteraram o equilíbrio do
canal do rio Gualaxo do Norte e este sofreu processos de reajustes após o acréscimo
de carga sedimentar.

Palavras- chave: Rejeitos Minerais, Desastres Ambientais, Barragens de Rejeito, rio


Gualaxo do Norte.

93
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

No dia 5 de novembro de 2015 o rompimento da barragem de rejeitos de minério de


ferro de Fundão, no município de Mariana (MG), liberou grande quantidade de lama e resí-
duos de mineração na bacia do rio Doce, gerando danos ambientais, sociais e econômicos
(FERNANDES et al., 2016; SEDRU, 2016; MILANEZ; LOSEKANN, 2016; RUCHKYS et al.,
2019). Após o rompimento, o fluxo viscoso atingiu a Barragem de Santarém, à jusante, cau-
sando o seu galgamento, e irrompendo em direção aos fundos de vales, percorrendo até
600 km de distância até alcançar o litoral Atlântico no município de Linhares (ES). Foram
liberados 34 milhões de m3 de rejeitos de textura fina sob a forma de fluxos de lama, dentre
os quais cerca de 18 milhões m³ foram imediatamente carreados pela drenagem e cerca
de 16 milhões de m3 foram depositados no fundo do vale do rio Gualaxo do Norte, na bacia
do Alto rio Doce, sendo gradativamente carreados para jusante pelos fluxos fluviais, princi-
palmente nos períodos chuvosos (IBAMA, 2015). Os vales do córrego Santarém (MENDES
et al., 2019) e do rio Gualaxo do Norte (SANTANA, 2021) foram os mais impactados em
termos hidrossedimentológicos (SANTANA, 2021), pois abrangem a área diretamente afe-
tada pelo rompimento (Figura 1). O volume do rejeito e a energia do seu deslocamento
causaram alterações na morfologia e na dinâmica hidrossedimentológica do sistema fluvial,
além de alterações na qualidade da água (ÁVILA et al., 2017; DA CUNHA RICHARD, 2020;
CARVALHO et al., 2021; SANTANA, 2021). A massa sedimentar se comportou como fluido,
tal como descargas sedimentares lamosas típicas de inundações episódicas (CPRM/ANA,
2015a; 2015b. VERVLOET, 2016).
O fornecimento repentino de tão elevada carga sedimentar impactou a capacidade e a
competência de transporte fluvial, alterando a dinâmica de ajuste do canal em termos geo-
morfológicos (ÁVILA et al., 2017; CPRM/ANA,2015a; 2015b). A investigação destas altera-
ções pode ser baseada na mensuração de parâmetros de geometria hidráulica, como vazão,
profundidade, largura e velocidade de fluxo (LEOPOLD et al., 1964; CHRISTOFOLETTI,
2011; GRISON; KOBIYAMA, 2011).
A aplicação de variáveis de geometria hidráulica permite analisar a dinâmica de com-
portamento de parâmetros dos cursos d´água em termos espaço-temporais, sendo rele-
vantes para o grau de eficiência de intervenções que buscam a mitigação e a recupera-
ção de impactos ambientais (CHRISTOFOLETTI, 2011; MACEDO et al., 2020; MACEDO;
MAGALHÃES JÚNIOR, 2020; SANTANA, 2021). Neste sentido, a interpretação dos parâ-
metros deve considerar que a configuração morfológica de cada curso d’água resulta de
processos de esculturação que buscam otimizar a energia empregada no escoamento de
água e sedimentos. Variáveis como a seção largura-profundidade, o perfil longitudinal fluvial
e a organização espacial dos canais, dependem não apenas das características do fluxo
94
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
(magnitude, velocidade e regime) mas também do tipo de substrato (rochoso ou aluvial),
da natureza da carga sedimentar (de fundo, suspensa ou dissolvida) e da quantidade de
material transportado (DINGMAN, 2009; STEVAUX & LATRUBESSE, 2017; MAGALHÃES
JÚNIOR et al., 2020). As relações entre parâmetros de geometria hidráulica podem, portan-
to, trazer indicadores úteis à investigação dos impactos de rompimentos de barragens de
rejeito, os quais tornaram-se recorrentes no panorama nacional e internacional a partir do
Século XX (AZAM, 2010; MARSHALL, 2017; REIS et al., 2020).
Considerando o potencial de alteração hidrogeomorfológica dos sistemas diretamente
afetados pelo rompimento, buscou-se avaliar os ajustes do canal do rio Gualaxo do Norte
por meio das relações entre vazão (Q), profundidade (d), largura (w) e velocidade do fluxo
(v). A comparação dos valores dessas variáveis antes e após o desastre pode evidenciar
possíveis alterações na dinâmica fluvial e sua capacidade de ajuste às novas condições
hidrogeomorfológicas.

MÉTODO

Área de estudo

Com 83.400 km² de área, a bacia do rio Doce situa-se na região sudeste do país,
abrangendo os estados de Minas Gerais e Espírito Santo. O rio Doce nasce da confluência
dos rios Piranga e Carmo, com nascentes nos municípios de Ressaquinha e Ouro Preto
(MG) e foz no oceano Atlântico, em Linhares (ES). O regime fluvial regional é perene e
acompanha o comportamento climático tropical, com vazantes entre os meses de agosto
a setembro e picos de cheias entre dezembro e março. Cerca de 98% da bacia se insere
no bioma Mata Atlântica e 2% no Cerrado, apresentando relevo ondulado, montanhoso e
acidentado (CBH-DOCE, 2019).
O rio Gualaxo do Norte é um dos principais afluentes do Alto rio Doce (bacia com cer-
ca de 561,55 km²), e foi o curso d’água de maior porte mais afetado pelo rompimento (DA
CUNHA RICHARD, 2020; SANTANA, 2021). Os rejeitos entulharam de imediato os córregos
Ferrugem e Santarém, atingindo o Gualaxo do Norte até a confluência com o Rio do Carmo
em Barra Longa. Este último foi utilizado como sistema de referência para comparação pois
não foi atingido diretamente pelo desastre e possui porte semelhante ao Gualaxo do Norte,
ambos de 6ª ordem (sensu Strahler). Além disso, as estações hidrológicas que são fontes
dos dados utilizados nos dois rios estão situadas nas mesmas declividades (4°) e faixas
altimétricas (279 a 483m) - Fig. 1. No Gualaxo do Norte, a distância entre a nascente e a
estação (afetada) é em torno de 78,13 km, com desnível topográfico de 636m. Já a distância

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
entre a nascente do Rio do Carmo e a estação (controle) é de 65,42 km, com um desnível
topográfico de cerca de 1136m.

Figura 1. Rios Gualaxo do Norte e do Carmo e estações hidrológicas (fontes de dados).

Fonte: elaborado pelos autores; extraído de IBGE (2014) e ANA (2015).

A bacia do rio Gualaxo do Norte abrange as unidades geológico-geomorfológicas do


Quadrilátero Ferrífero (QF), no Alto curso, e os Planaltos dissecados do Centro-Sul e do
Leste de Minas no restante da área (IBGE, 2021). O QF possui cerca de 7000 km², sendo
delimitado por morfoestruturas serranas sustentadas por rochas resistentes à desnuda-
ção, e onde se concentra a maior parte das reservas minerais do estado de Minas Gerais.
Diversos estudos destacam o papel da tectônica e do complexo quadro estrutural na con-
figuração do relevo regional (VARAJÃO, 1991; ALKMIM; MAGALHÃES JÚNIOR; SAADI,
1994; MARSHAK, 1998; SALGADO et al., 2008; LANA; CASTRO, 2010). Conforme trazem
Barros e Magalhães Júnior (2019), o QF pode ser dividido em unidades geológicas a partir
da sistematização das informações publicadas em diferentes trabalhos como os de Maxwell
(1972), Dorr (1969), Varajão (1991) e Alkmim e Marshak (1998) - Fig. 2: (i) Complexos crista-
linos (gnaisses, migmatitos e granitóides) expressos em estruturas dômicas; (ii) Supergrupo
Rio das Velhas, principalmente, xistos e filitos, expresso por uma sequência tipo greenstone
belt com base vulcânica; (iii) Supergrupo Minas, um pacote metassedimentar proterozóico
constituído principalmente por quartzitos e itabiritos, estes últimos sendo formações ferrífe-
ras bandadas adotadas como critério de delimitação do QF (ALKMIM; MARSHAK, 1998);
(iv) Grupo Itacolomi, formado por quartzitos fluviais proterozóicos; (vii) Bacias sedimentares
96
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
cenozóicas; (viii) Formações superficiais inconsolidadas que envolvem cangas e depósitos
aluviais e coluviais quaternários (BARROS; MAGALHÃES JÚNIOR, 2020).
Conforme a Figura 2, pode-se observar que a drenagem do rio Gualaxo do Norte pos-
sui condicionamento litológico semelhante ao Rio do Carmo, o qual foi utilizado para fins
de comparação dos dados hidrológicos. O Alto vale dos rios Gualaxo do Norte e do Carmo
assenta-se em litologias do Supergrupo Minas (filitos, dolomitos, itabiritos e xistos) e, par-
cialmente (a partir de tributários), quartzitos e filitos do Grupo Itacolomi, onde também está
localizada a barragem de Fundão. A maior parte dos médio-baixos vales de ambos os rios
atravessa as rochas proterozóicas do Embasamento Cristalino, basicamente xistos, quartzi-
tos ferruginosos, tonalitos e granitóides. Em segmentos específicos, os vales são cortados
por rochas do Supergrupo Rio das Velhas (xistos, conglomerados, filitos) e por granulitos
do Embasamento Cristalino (CPRM, 2007).

Figura 2. Geologia regional.

.
Fonte: elaborado pelos autores, extraído do CPRM (2007) e ANA (2015).

A geologia regional exerce importante controle nos processos de dissecação do relevo,


fato expresso no alinhamento de cristas, na morfologia das encostas e no encaixamento
fluvial (IBGE, 2021). As áreas serranas, onde está a barragem de Fundão, são sustentadas
por itabiritos e quartzitos mais resistentes à denudação, enquanto na maior parte do vale do
Gualaxo do Norte o relevo ondulado de morros e colinas reflete a influência das rochas do
embasamento cristalino (BARROS; MAGALHÃES JÚNIOR, 2013; SALGADO et al., 2008).

97
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
A passagem da onda de rejeito pelo fundo do vale do Gualaxo do Norte afetou trechos
de confluências com tributários a jusante, ora erodindo ora se acumulando ao longo das
calhas fluviais (Fig. 3 e 4). Outra parte do fluxo continuou se deslocando e alcançou o rio
Doce (CPRM/ANA, 2015a; 2015b; VERVLOET, 2016). No Gualaxo, a lama seguiu a direção
preferencial da drenagem com elevada energia. Já nos tributários houve duas ondas de
passagem: na primeira, os sedimentos lamosos invadiram as confluências em processos de
fluxos remontantes, ocupando a maior parte dos leitos e reduzindo as seções disponíveis
para a circulação da água; como consequência, os processos de inundação que se seguiram
removeram parte dos depósitos gerados pela primeira onda, formando planícies de rejeito
de minério de ferro (VERVLOET, 2016).

Figura 3. Fundo do vale do rio Gualaxo do Norte em Barra Longa (A) e Ponte do Gama (B).

Fotos: Regina Carvalho (19/07/2018).

Figura 4. Deposição de rejeito nas margens (A) e leito (B) do rio Gualaxo do Norte.

Fotos: Diego Macedo (07/04/2018).

Procedimentos e técnicas

Foram analisados dados de duas estações fluviométricas da Agência Nacional de Águas


– ANA (2020), disponíveis na plataforma Hidroweb (http://www.snirh.gov.br/hidroweb). A es-
tação 56335001, localizada no Rio do Carmo (latitude S 20° 21’ 41.04’’; longitude W 43° 8’
21.84’’) não foi atingida pelo rejeito e foi considerada como “referência”. A estação 56337000,
localizada no rio Gualaxo do Norte (latitude S 20° 16’ 1.92’’; longitude W 43° 6’ 2.88’), foi
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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
impactada pelo rejeito. Foram utilizados dados de vazão, profundidade, largura do canal e
velocidade do fluxo, antes (2011-2015) e após o rompimento (2016-2020). A base de dados
foi dividida para que fosse utilizado o mesmo número de medições antes e após o rompimen-
to em ambas as estações (n=15). A análise da dinâmica de ajustes do canal foi realizada
através de elementos inter-relacionados da geometria hidráulica (LEOPOLD & MADDOCK,
1953), os quais podem ser expressos por relações matemáticas (Equações 1-3):

Largura w = aQb (1)


Profundidade d = cQf (2)
Velocidade v = kQ m
(3)

Sendo: Q = descarga ou vazão (velocidade x área); a, c, k os coeficientes; b, f, m os


expoentes, onde b + f + m = 1.
Quando as equações 1, 2 e 3 são representadas graficamente em relação aos valores
de vazão (Q), em escala logarítmica, os valores de b, f e m correspondem à inclinação da
reta (β1) em um modelo de regressão linear. Neste sentido, as equações de relação entre a
vazão, largura, profundidade e velocidade foram calculadas nos momentos antes e após o
rompimento da barragem de Fundão nos rios Gualaxo do Norte e do Carmo. As retas foram
plotadas em diagramas de dispersão para análise visual, sendo que a semelhança estatística
entre a inclinação das retas (β1) e o intercepto (β0) foram testadas entre os dois momentos,
utilizando análise de covariância (ANCOVA). Foi testada a hipótese nula que os coeficien-
tes β1 e β0 são iguais ao nível de significância de 5%. Adicionalmente, o erro-padrão dos
ajustes das retas foram plotados no diagrama de dispersão, para auxiliar na interpretação
dos ajustes das equações.
A pesquisa foi complementada por trabalhos de campo entre abril e julho de 2018,
novembro de 2019, maio e novembro de 2020, e maio de 2021, nos quais foi realizado o
reconhecimento da área e observações macroscópicas de possíveis mudanças na mor-
fologia do canal.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados devem ser analisados sob a ótica de que a configuração morfológica


dos cursos d’água resulta de complexos processos de ajustes em prol de um estado de
equilíbrio (dinâmico) entre diferentes variáveis. Quando a dinâmica dos fluxos é alterada,
principalmente em situações de impactos intensos, os choques referentes aos inputs de
matéria e energia exigem um grau de resiliência que dificilmente é alcançado pelos sistemas
fluviais para manter a sua configuração original. Os ajustes são, portanto, particularmente
99
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
necessários no tocante à geometria dos canais fluviais, mas os mesmos ocorrem e se es-
tabelecem em função de um conjunto de fatores físicos e do grau de interferência antrópica
(GREGORY, 2006; DEY, 2014).
A Figura 5 mostra a dinâmica de ajuste do Gualaxo do Norte após o rompimento da
barragem em 2015. Os resultados indicam que o rio teve a largura, profundidade e velocida-
de da água alterados (representado pelo valor do intercepto ou β0), no entanto a inclinação
das retas são similares (coeficiente β1). Além disso, o momento após o rompimento possui
um maior erro-padrão, ou seja, o ajuste da equação possui um maior erro em relação ao
valor médio estimado.
A redução da largura e a diminuição da profundidade do canal do rio Gualaxo do Norte
(estreitamento da seção fluvial) condicionaram o aumento da velocidade do fluxo no trecho
estudado, mostrando ajustes característicos de trechos fluviais de porções superiores das
bacias, onde há a tendência de maiores declividades e energia de transporte (STEVAUX;
LATRUBESSE, 2017; MAGALHÃES JÚNIOR et al., 2020). Por outro lado, o canal do Rio
do Carmo não apresentou modificações significativas, conforme o esperado, pois os de-
pósitos de rejeitos ficaram restritos à zona de confluência com o Gualaxo do Norte (fluxos
remontantes) – Fig. 6.

100
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 5. Relações entre variáveis geométricas do rio Gualaxo do Norte nos períodos pré (2011-2015) e pós-rompimento
(2016-2020). O sombreado indica o erro-padrão relativo ao ajuste das retas de regressão.

Fonte: elaborado pelos autores, extraído da ANA (2020).

101
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 6. Relações entre variáveis geométricas do Rio do Carmo nos períodos pré (2011-2015) e pós-rompimento (2016-
2020). O sombreado indica o erro-padrão relativo ao ajuste das retas de regressão.

Fonte: elaborado pelos autores, extraído da ANA (2020).

A Tabela 1 permite aferir o comportamento dos expoentes b, f e m no rio Gualaxo do


Norte e no Rio do Carmo, e as alterações das relações da geometria fluvial geradas pelo
aporte de sedimentos. Enquanto há diferenças nos coeficientes β0 - que indicam as altera-
ções na profundidade, largura e velocidade, os expoentes b, f e m não são estatisticamente
102
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
diferentes (p > 0,05). No Rio do Carmo todas as relações continuam semelhantes no mo-
mento pós rompimento, explicitando que os ajustes no Gualaxo do Norte não são de origem
natural/regional, como seria o caso de ajustes hidrogeomorfológicos em função de mudanças
no regime fluvial (Tabela 1).

Tabela 1. Diferenças dos coeficientes β1 e β0 nas relações entre parâmetros hidráulicos no rio Gualaxo do Norte (* p-valor
< 0,05 denota diferenças significativas) e Rio do Carmo (não há diferença entre os ajustes).

Largura vs Vazão Profundidade vs Vazão Velocidade vs Vazão


Trecho Coeficientes
β0 β1 (b) β0 β1 (f) β0 β1 (m)
Antes 3,129 0,030 -0,91 0,28 -2,221 0,69
Rio Gualaxo
Depois 2,92 0,11 -1,418 0,42 -1,490 0,46
do Norte
Teste-t (Ancova) -0,208* 0,080 -0,574* 0,167 2,74* -1,567
Antes 3,554 0,040 -1,304 0,415 -2,242 -2,156
Rio do Depois 3,485 0,060 -1,313 0,437 0,541 0,497
Carmo
Teste-t (Ancova) -0,049 0,013 0,019 0,011 0,038 -0,028
Fonte: elaborado pelos autores, extraído da ANA (2020).

Diversos estudos no campo da geomorfologia fluvial mostram relações estreitas entre


a granulometria da carga sedimentar e a relação entre largura (w) e profundidade (d) de
cursos d´água (SCHUMM, 1963; 1977; GRAF, 1998; DODOV, B.; FOUFOULA-GEORGIOU,
2004). Apesar dos coeficientes b, f, e m aparentemente não terem se alterado, o aumento
do valor do erro-padrão nos ajustes após o rompimento (Fig. 5) indica a desorganização
dessas relações, causada por distúrbio no sistema devido ao aporte da lama. Neste sentido,
canais com maior proporção de lama tendem a ser mais estreitos e profundos em longo
termo em função da coesão que as argilas oferecem aos leitos e margens, e provavelmente
isso ocorrerá futuramente no Gualaxo do Norte. Entretanto, os resultados mostram que o
canal ficou mais estreito e raso com o entulhamento, o que foi compensado com o aumento
da velocidade do fluxo. Neste sentido, Stevaux & Latrubesse (2017) salientam que vários
autores têm substituído o expoente m da fórmula da velocidade da água (apresentada aci-
ma) pela relação da carga suspensa e da carga de fundo, o que amplia as possibilidades
analíticas de dados hidrológicos nos estudos de ajustes de canais. No entanto, são poucas
as estações da rede nacional de monitoramento hidrológico que realizam a aferição de se-
dimentos (MACEDO et al., 2018).
Por outro lado, apesar do rejeito ter se comportado como material fluido durante o
evento, e ser quimicamente rico em ferro, a sua coesão não se apresenta elevada quando
o material está seco, fato favorecido pela textura do material (CPRM/ANA,2015a; 2015b).
Almeida et al. (2018) mostram que o rejeito é de textura silto-arenosa, formado por 47,5%
de silte, 42% de areia e somente 10,6% de argila. Os autores também informam que predo-
minam os minerais caulinita, ilita, goethita e hematita, na fração argila, referentes a óxidos
e filossilicatos, além de quartzo e mica. Na composição química do rejeito destacam-se
103
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
ferro, alumínio, manganês e cromo. Estas características conferem propriedades bastante
diferentes ao material entre os estados úmido e seco no que se refere à plasticidade e à
resistência à erosão. Sulcos erosivos na planície recoberta por rejeito mostram que, quando
seco, o material silto-arenoso pode ser removido durante as chuvas e levado para a calha
fluvial, o que ressalta a importância do monitoramento do rejeito ao longo do tempo (Figura 7).

Figura 7. Depósitos de rejeito remobilizado no rio Gualaxo do Norte.

Fotos: Regina Carvalho (07/04/2018).

A mobilização expressiva de sedimentos da planície não confirmaria os resultados do


trabalho de Estigoni et al. (2020), para os quais a maior parte dos sedimentos remobilizados
do rejeito no vale do Gualaxo do Norte, nos últimos anos, provém do próprio leito fluvial, já
que a remoção dos sedimentos na planície seria limitada pela insuficiente energia dos fluxos
para atingir as áreas marginais durante as cheias.
A deposição do rejeito na planície deve ter modificado a resistência dos ambientes
marginais aos processos de recuo e à migração lateral do Gualaxo do Norte. Porém, os da-
dos da Figura 4 não mostram que os depósitos silto-arenosos tenham facilitado a abertura
da seção transversal do canal pela erosão marginal ou pela desestabilização das margens
(quedas, desbarrancamentos), já que o mesmo tornou-se mais estreito. Este fato pode estar
associado à maior resistência conferida pelos demais materiais das margens, em relação
ao rejeito (o qual é removido por processos predominantemente pluviais), a saber: o subs-
trato rochoso e o antigo material aluvial da planície (areno-argiloso). Porém, é importante
lembrar que o intervalo temporal de análise é relativamente curto para a confirmação destas
hipóteses, exigindo um maior período de monitoramento.
Já o leito fluvial, por sua vez, foi assoreado, em grande parte, pelo rejeito quando do
rompimento. Entretanto, a elevada energia dos fluxos nas cheias (associada ao aumento
da velocidade) vem gradualmente removendo parte do mesmo, enquanto nos ambientes de
baixa energia o rejeito vem sendo encoberto por aluviões arenosos e detríticos da dinâmica
atual. Os processos de remoção sedimentar e incisão ainda não se refletiram em encai-
xamento do leito no substrato rochoso, com base nos resultados. Em trabalhos de campo
pôde-se constatar que, atualmente, há segmentos com leito aluvial (clastos e areia) e outros
104
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
em substrato rochoso que, frequentemente, coincidem com corredeiras já existentes antes
do rompimento (Figura 8).

Figura 8. Trecho do rio Gualaxo do Norte com corredeira em leito rochoso ao fundo e leito aluvial em primeiro plano (A)
e trecho com leito rochoso (B).

Fotos: Jhonathan Magalhães (26/05/2021).

Como visto, os ajustes na seção fluvial nos trechos analisados não têm explicação
aparente nas características físicas do rejeito presente na calha. Sendo predominantemen-
te silto-arenoso, o material tende a ter baixa coesão e resistência, facilitando o recuo das
margens. Outra hipótese a ser considerada nos ajustes da seção do canal envolve os im-
pactos físicos do rompimento na remoção de materiais de leito que encobriam e protegiam
um substrato aluvial e rochoso friável. A elevada energia do fluxo de rejeito pode ter atuado
como um eficiente mecanismo de arraste da cobertura aluvial mais resistente que era pouco
mobilizada pelos fluxos fluviais ordinários e formava um pavimento detrítico no leito. Esse
fenômeno, entendido como encouraçamento na literatura, é comum em sistemas fluviais do
Quadrilátero Ferrífero, seja sob forma de pavimentos de clastos, seja sob forma de couraças
ferruginosas (COTA et al., 2018; FIGUEIREDO FILHO et al., 2019). Com a remoção desta
barreira protetora, consolidada ao longo de um período geológico incerto, os fluxos podem
passar a erodir as camadas inferiores mais friáveis, formadas por aluviões mais finos e/ou
pouco coesos, além do próprio saprolito alterado, aumentando a incisão do canal com o
tempo. A própria massa de rejeito deve ter removido significativa parte deste substrato aluvial
friável na sua passagem. No caso do rio Gualaxo do Norte, a existência de encouraçamento
e o seu papel na dinâmica fluvial devem ser futuramente investigados.

CONCLUSÕES

O trabalho mostrou que o rompimento da barragem de Fundão provocou impactos na


morfologia do rio Gualaxo do Norte, particularmente na largura (tornou-se mais estreito) e na
profundidade (tornou-se mais raso) e consequentemente ocorreu o aumento da velocidade
da água. O rejeito de textura fina e rico em ferro contribui para os processos de incisão fluvial
105
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
e, contrariamente ao que se poderia esperar, não apresenta elevada coesão e resistência
aos processos erosivos. Este cenário é ilustrado pelos indicativos de erosão do rejeito nas
planícies afetadas, com formação de sulcos ao longo dos quais os sedimentos são carreados
pelas chuvas para o leito fluvial. Os ajustes são dinâmicos e a incisão do canal no substrato
rochoso poderá ocorrer no futuro.
O comportamento dos parâmetros b, f e m em relação a Q, mostram a ocorrência de
adaptações do canal após a liberação da elevada carga de rejeitos de minério de ferro. O Rio
do Carmo, por sua vez, não apresenta alterações estatisticamente significativas em suas
variáveis de ajuste do canal, o que permite concluir que não houve modificações de cunho
natural/regional (p.ex. alteração no regime de vazões) que possam ter alterado a dinâmica
do rio Gualaxo do Norte.
Falar em “equilíbrio fluvial” é complexo e pouco consensual, pois não há parâme-
tros claros sobre a definição de um estado de equilíbrio mensurável, como já salientavam
Langbein e Leopold (1964) e Schumm (2005). Esta noção somente adquire sentido em uma
avaliação temporal de relativa duração marcada por períodos com certos comportamentos
fluviais específicos. Entretanto, em termos gerais, o rompimento da barragem pode ser
considerado um evento de rompimento do estado de relativa estabilidade vigente à época,
ou de um limiar de absorção dos impactos causados pelo acréscimo sedimentar exagerado,
levando-o a adaptações em sua morfologia. Os resultados ilustram, portanto, o decisivo
papel do homem como agente geomorfológico no Antropoceno, alterando a morfologia e a
dinâmica fluvial no Planeta, como vem sendo abordado por diversos autores como Peloggia
(1997), Hooke (2000), Rózsa (2010) e Steffen et al. (2015).
Os resultados podem ser complementados futuramente por outras possibilidades analí-
ticas, considerando que as baseadas em imagens de satélite e modelos de terreno são limi-
tadas, dado que não há informações pretéritas sobre o desastre em alta resolução espacial.

AGRADECIMENTOS

Ao CNPq pelo financiamento da pesquisa (Projetos 402907/2016-7 e 407704/2018-3)


e pelas bolsas de produtividade PQ-305175/2017-3 e PQ-309763-2020-7; à CAPES (códi-
go 001) pelo financiamento da pesquisa; ao grupo de pesquisa RIVUS - Geomorfologia e
Recursos Hídricos.

106
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
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111
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
08
Indicadores de desempenho
estatísticos para reservatórios: uma
revisão de literatura

Shevine Silva Oliveira Risso


UFABC

Patrícia Teixeira Leite Asano


UFABC

Eduardo Lucas Subtil


UFABC

Maria Cleofé Valverde Brambila


UFABC

10.37885/210504613
RESUMO

O presente estudo apresenta a aplicação dos índices de desempenho estatísticos para


sistemas hídricos preconizados por Hashimoto et al. (1982), que tratam-se de critérios que
envolvem aspectos particularmente importantes a serem considerados em reservatórios
de usos múltiplos. Devido às consequências do desenvolvimento econômico, como o
aumento da intensidade e variedade dos usos dos recursos hídricos que proporcionam
desequilíbrios entre a demanda e a oferta de água, ocasionando conflitos entre usuários,
como exemplo do que ocorre no Reservatório Billings, inserido na bacia do Alto Tietê no
Estado de São Paulo, e foi criado inicialmente, com a finalidade de atender o abasteci-
mento de energia elétrica de origem hidráulica, e atualmente o mesmo é utilizado tam-
bém para o atendimento do abastecimento público. Baseado neste contexto, buscou-se
verificar o seu desempenho quanto ao atendimento do seu recurso água para atender
as demandas de abastecimento urbano e de geração de energia concomitantemente.

Palavras-chave: Indicadores de Desempenho, Reservatório, Usos Múltiplos.

113
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

Os índices comumente utilizados para medir o desempenho de um reservatório são a


confiabilidade, a resiliência e a vulnerabilidade, desenvolvidas por Hashimoto et al. (1982).
Estes critérios detêm aspectos particulares do possível desempenho do sistema, que são
especialmente importantes durante os períodos de seca, nas demandas de pico, ou em
condições meteorológicas extremas.
Estas são medidas de desempenho muito úteis no gerenciamento de recursos hídricos,
como auxílio para determinação de metas, configurações políticas operacionais e na seleção
da capacidade do sistema de recursos hídricos. E contribuem na análise do desempenho
do sistema hídrico, além de oferecer melhores condições para o analista prever cenários
futuros (CELESTE, 2006).
Segundo Srinivasan et al. (1999), as falhas na operação de sistemas de reservatório
são inevitáveis, deste modo, as características de falhas de cada sistema podem ser repre-
sentadas através dos indicadores de desempenho propostos por Hashimoto et al. (1982),
que juntos caracterizam “risco” no contexto de operação e planejamento de reservatório.
Em 1997, Loucks propõem uma combinação dos indicadores de confiabilidade, re-
siliência, e vulnerabilidade usadas por Hashimoto, em um índice e usadas como medida
de mudanças na sustentabilidade relativa do sistema ao longo do tempo. Segundo o au-
tor, a capacidade de quantificar a sustentabilidade em sistemas de reservatórios, permite
comparar planos, alternativas políticas e incluir a sustentabilidade como um dos múltiplos
objetivos a serem considerados nas tomadas de decisões quanto à concepção e operação
destes sistemas.
Inúmeras aplicações dos índices de desempenho em sistema de reservatório têm sido
realizadas, destacam-se os estudos de Asefa et al. (2014), para avaliação de um sistema
de abastecimento de água, sob diversas condições climáticas na cidade de Tampa, EUA.
Adeloye et al. (2016), aplicou na avaliação do impacto das mudanças climáticas sobre o
escoamento no reservatório Pong na Índia, no qual foi possível demonstrar que, a vulnera-
bilidade do reservatório se torna significativa com os efeitos das mudanças do clima.
Bolouri-Yazdeli et al. (2014), em seus estudos no Reservatório IV Karoon no Irã, uti-
lizaram diferentes regras de operação, como: a de operação padrão, a de programação
dinâmica estocástica, e a de decisão não-linear com diferentes volumes de armazenamento,
para diferentes cenários de desempenho do sistema.
Cai et al. (2002), dentro do contexto da gestão sustentável da água para a Bacia do rio
Syr, na Ásia Central, utilizou critérios de desempenho quantificados em um modelo de otimiza-
ção de longo prazo. De forma que garantisse a minimização dos riscos no abastecimento de
água, conservação ambiental, a equidade na distribuição da água e eficiência econômica no
114
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
desenvolvimento de infraestrutura hídrica. Os resultados do modelo demostraram a eficácia
desta ferramenta para análise de políticas dentro do contexto da bacia do rio Syr.
Algumas evoluções na metodologia proposta por Loucks (1997) foram realizadas,
como o de Ahmad e Simonovic (2011), que aplicou a lógica fuzzy para estudos de indica-
dores desempenho na bacia do Rio Vermelho em Manitoba, Canadá. Neste, apresentaram
uma nova metodologia que aborda a variabilidade espacial e temporal de diversas fontes
de incertezas na avaliação da gestão de inundações. E concluíram que a implementação
dos índices com a lógica fuzzy no tempo e no espaço fornecem uma abordagem eficaz e
eficiente para capturar a variação do risco de inundação, o que auxilia na minimização dos
danos causados pela mesma.
Ermini e Ataoui (2014), apresentam uma nova metodologia baseada na abordagem
hierárquica do sistema. O trabalho inicia avaliando o desempenho hidráulico de uma rede de
abastecimento, através dos indicadores (Confiabilidade – Resiliência - Vulnerabilidade). Em se-
guida, aplicam o Analytic Hierarchy Process (AHP) para atribuir peso para cada indica-
dor. E finalmente, a técnica de lógica fuzzy é aplicada, o que permite a agregação de todos
os indicadores anteriores em um único índice que retratam a condição do sistema.

DESENVOLVIMENTO

Os estudos de desempenho nos reservatórios inseridos na África do Sul e Zimbábue,


como os publicados por Kjeldsen e Rosbjerg (2001; 2004) e McMahon et al. (2006), que
contribuíram com informações para a aplicação dos indicadores de desempenho nos reser-
vatórios inseridos no semiárido no Brasil, principalmente, por apresentarem comportamentos
muito semelhantes, como por exemplo, as secas hídricas extremas.
A Figura 1 exemplifica um possível gráfico de séries temporais de valores de vazão ou
volume de oferta hídrica em um sistema reservatório. Neste exemplo, os valores satisfatórios,
ou seja, valores em que a demanda hídrica foi atendida, encontram-se acima do limite inferior
(acima da reta de demanda (1)). Valores de oferta hídrica, abaixo do limite inferior (abaixo
da reta de demanda (1)), são considerados insatisfatórios, ou seja, a demanda requerida
para o reservatório não foi atendida.

115
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 1. Esboço de definição para variáveis usadas para calcular índices de desempenho.

Fonte: LOUCKS (1997), adaptado.

Segundo Loucks (1997), este gráfico facilita o entendimento dos conceitos dos indica-
dores de desempenho em reservatórios. A confiabilidade seria representada pela quantidade
de oferta hídrica que atenderam plenamente a demanda, ou seja, a quantidade de oferta
hídrica (podendo ser dado em vazão ou volume) que localizam-se na região dos “valores
satisfatórios”, no caso acima da reta de demanda (1). As ofertas hídricas que estão na re-
gião dos “valores insatisfatórios”, abaixo da reta de demanda (1), representam um estado
de falha para o sistema quanto ao atendimento da demanda e assim reduz a confiabilidade
do reservatório.
A resiliência está relacionada com o tempo de duração da falha no sistema (área ha-
churada em vermelho). Esta duração do estado da falha, simplificadamente, seria o tempo
em que ocorre a mudança da curva no ponto (a) – que sai da região dos “valores satisfató-
rios” para a região dos “valores insatisfatório” e retorna para o ponto (b) – sai da região dos
“valores insatisfatórios” e retorna para a região dos “valores satisfatórios” novamente. Desse
modo têm-se o tempo de duração da falha no sistema reservatório.
Por último a vulnerabilidade, representada pela área hachurada do gráfico, que está
relacionada ao déficit de demanda hídrica, que seria considerado como o volume ou vazão em
que a demanda hídrica deixou de ser atendida devido a baixa oferta hídrica no reservatório.
Uma vez definidos estes dados, é possível calcular estatísticas de confiabilidade, resi-
liência e vulnerabilidade associadas para porções sucessivas dessa série de tempo. E com
base nestes indicadores, obtém-se os Índice de Sustentabilidade Hídrica.
Baseado no contexto apresentado e alinhado ao objetivo deste trabalho de pesquisa,
buscou-se realizar um levantamento bibliográfica detalhado para que pudesse identificar
os principais trabalhos vigentes na literatura que envolvessem a aplicação dos critérios de
confiabilidade, resiliência e vulnerabilidade na determinação do desempenho aplicados à
Reservatórios de forma que os aspectos científicos propostos pudessem ser adequadamen-
te fundamentados.

116
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Sendo assim, na Tabela 1, são apresentados os principais trabalhos publicados envol-
vendo a aplicação de indicadores de desempenho.

Tabela 1. Principais publicações que aplicaram indicadores de desempenho em sistemas hídricos.

ANO AUTORES ARTIGO ÁREA DE ESTUDO


Reliability of water supply performed by means of a storage reservoir wi-
1967 Klemeš, V. Caso hipotético
thin a limited period of time.
1969 Klemeš, V. Reliability Estimates for a Storage Reservoir with seasonal input. Rio Bečva, Tchecoslováquia
1982 Fiering, M. B. Alternative Indices of Resilience. TEORIA
1982 Fiering, M. B. Estimates of resilience indices by simulation. Casos hipotéticos
Hashimoto, T.
Reliability, resiliency, and vulnerability criteria for water resource system
1982 Stedinger, J. R. TEORIA
performance evaluation.
Loucks, D. P.
Moy, W. S.
A Programming Model for Analysis of the Reliability, Resilience, and Vul-
1986 Cohon, J. L. TEORIA
nerability of a Water Supply Reservoir.
Revelle, C. S.
Risk assessment of water allocation and pollution treatment policies in a
Haynes, K. E. Bacia de Yellowstone, Montana,
1989 regional economy: reliability, vulnerability and resiliency in the Yellowsto-
Georgianna, T. D. EUA
ne Basin of Montana.
Kindler, J. Multicriteria evaluation of decision rules in the design of a storage reser- Reservatório Dobczyce, Cracó-
1989
Tyszewski, S. voir. via, Polônia
Kundzewicz, Z. W. Multiple criteria for evaluation of reliability aspects of water resource sys- Bacias dos rios Radomka e Wie-
1995
Kindler, J. tems. prz, Lublin e Radom, Polônia
Vogel, R. M.
Storage-reliability-resilience-yield relations for Northeastern United Sta- 166 bacias no nordeste dos
1995 Fennessey, N. M.
tes. Estados Unidos
Bolognese, R. A.
Kumar, V. V. 15 reservatórios nos rios Goda-
1996 Rao, B. V. Optimal operation of a multibasin reservoir system. vari, Kfishna, Pennar e Cauvery,
Mujumdar, P. P. Índia
1997 Loucks, D. P. Quantifying trends in system sustainability. TEORIA
Sistemas de abastecimento em
2000 Kay, P. A. Measuring sustainability in Israel’s water system.
Israel
Província de KwaZulu-Natal
Kjeldsen, T. R.
2001 A framework for assessing the sustainability of a water resources system. province,
Rosbjerg, D.
Africa do Sul
Rios Palala e Quencwe, África
Kjeldsen, T. R.
do Sul
2001 Rosbjerg, D. Sustainability Assessment of Water Resources Systems.
Rios Mazoe e Umshagashi,
Knudsen, J.
Zimbabue
Maier, H. R.
Lence, B. J. First-order reliability method for estimating reliability, vulnerability, and
2001 Rio Willamette, Oregon EUA
Tolson, B. A. resilience.
Foschi, R. O.
Paixão, M. P.
Studart, T. Aplicação de Indicadores de Performance na Avaliação de Sistemas Hídri- Bacia do Curu, Ceará
2002
Campos, J. N. B. cos: um estudo de caso. Brasil
Carvalho, R.
Fowler, H. J.
Modeling the impacts of climatic change and variability on the reliability,
2003 Kilsby, C. G. Yorkshire, Reino Unido
resilience, and vulnerability of a water resource system.
O’Connell, P. E.
Castellarin, A.
Galeati, G.
51 bacias
2004 Brandimarte, L. Regional flow-duration curves: reliability for ungauged basins.
Itália
Montanari, A.
Brath, A.

117
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Tabela 1. Principais publicações que aplicaram indicadores de desempenho em sistemas hídricos (continuação).

ANO AUTORES ARTIGO ÁREA DE ESTUDO


El‐Baroudy, I. Simo-
2004 Fuzzy criteria for the evaluation of water resource systems performance. Casos hipotéticos
novic, S. P.

Rios Palala e Quencwe,


Kjeldsen, T. R. Choice of reliability, resilience and vulnerability estimators for risk assess- África do Sul
2004
Rosbjerg, D. ments of water resources systems. Rios Mazoe e Umshagashi,
Zimbabue

Loucks, D. P.
Van Beek, E.
Water resources systems planning and Management: an introduction to
2005 Stedinger, J. R. Di- TEORIA
methods, models and applications.
jkman, J. P.
Villars, M. T.
Brandão, J. L. B. SFPLUS: Modelo para Avaliação do Desempenho de Sistemas de Reserva- Bacia do São Francisco,
2006
Barros, M. T. L. D. tórios com Usos Múltiplos. Brasil

Rio Ganham, UK;


McMahon, T. A.
Rio Hatchie EUA;
2006 Adeloye, A. J. Understanding performance measures of reservoirs.
Rio Richmond, Austrália;
Zhou, S. L.
Rio Vis, África do Sul.

Ahmad, S. Medway Creek, Londres, In-


2007 A methodology for spatial fuzzy reliability analysis.
Simonovic, S. glaterra e Ontário, Canadá

Li, Y.
2007 Estimating resilience for water resources systems. TEORIA
Lence, B. J.

Jain, S. K. Reservatório Dharoi, bacia


2008 Reliability, resilience and vulnerability of a multipurpose storage reservoir.
Bhunya, P. K. do Sabarmati, Índia

Andrade, P. R. G. S.
Aplicação de critério de sustentabilidade na avaliação de desempenho de Bacia do rio Capibaribe,
2009 Curi, W. F.
um sistema hídrico de usos múltiplos. PE – Brasil
Curi, R. C.

Reservatório Dharoi, bacia


2009 Jain, S. K. Statistical performance indices for a hydropower reservoir.
do Sabarmati, Índia

Wang, C. H.
2009 Resilience Concepts for Water Resource Systems. TEORIA
Blackmore, J. M.

Investigating the behavior of statistical indices for performance assess- Reservatório Dharoi, bacia
2010 Jain, S. K
ment of a reservoir. do Sabarmati, Índia

Raje, D. Reservoir performance under uncertainty in hydrologic impacts of climate Reservatório Hirakud, rio
2010
Mujumdar, P. P. change. Mahanadi, Orissa, Índia

Sandoval-Solis, S.
Bacia do Rio Grande,
2010 McKinney, D. C. Sustainability index for water resources planning and management.
EUA e México
Loucks, D. P.
Vieira, A. Reservatórios Engenheiro
Escolha das regras de operação racional para subsistema de reservatórios
2010 Santos, V. Ávidos e São Gonçalo,
no semiárido nordestino
Curi, W. Paraíba, Brasil

Ahmad, S. S. Rio Vermelho


2011 A three-dimensional fuzzy methodology for flood risk analysis
Simonovic, S. P. Canadá

Celeste, A. B. Improving Implicit Stochastic Reservoir Optimization Models with Long-


2012 Reservatório Ceará, Brasil
Billib, M. -Term Mean Inflow Forecast.

118
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Tabela 1. Principais publicações que aplicaram indicadores de desempenho em sistemas hídricos (continuação).

ANO AUTORES ARTIGO ÁREA DE ESTUDO


Hoque, Y. M.
Tripathi, S. Watershed reliability, resilience and vulnerability analysis under Bacia Cedar Creek, Indiana,
2012
Hantush, M. M. uncertainty using water quality data. EUA
Govindaraju, R. S
Lee, D. R. 16 reservatórios de múlti-
Performance Evaluation of Water Supply for a Multi-purpose
2013 Moon, J. W. plo uso
Dam by Deficit-Supply Operation.
Choi, S. J. Coréia do Sul
Lee, G. M.
Analysis of Non-monotonic Phenomena of Resilience and Vulne- 7 reservatórios
2013 Cha, K. U.
rability in Water Resources System. Coréia do Sul
Yi, J.
Water Supply Performance Assessment of Multipurpose Dams 15 reservatórios
2013 Lee, G. M.
Using Sustainability Index. Coréia do Sul
Arunkumar, R. Evaluation of a multi-reservoir hydropower system using a simu- UHE Koyna
2014
Jothiprakash, V lation model. Índia
Asefa, T.
Performance evaluation of a water resources system under
Clayton, J. Tampa Bay Water, Tampa,
2014 varying climatic conditions: Reliability, Resilience, Vulnerability
Adams, A. EUA
and beyond.
Anderson, D.
Bolouri-Yazdeli, Y.
Haddad, O. B. Evaluation of real-time operation rules in reservoir systems ope- Reservatório IV Rio Karoon,
2014
Fallah-Mehdipour, E. ration. Karoon, Irã
Mariño, M. A.
Ermini, R.
2014 Computing a global performance index by fuzzy set approach. TEORIA
Ataoui, R
Ghimire, B. N. Optimization and uncertainty analysis of operational policies for Reservatório Hirakud,
2014
Reddy, M. J. multipurpose reservoir system. Orissa, Índia
Hoque, Y. M. 05 bacias hidrográficas em
On the scaling behavior of reliability–resilience–vulnerability in-
2014 Hantush, M. M. Govinda- Indiana/Ohio/ Michigan
dices in agricultural watersheds.
raju, R. S. EUA
Sharma, P. J.
Performance evaluation of a multi-purpose reservoir using simu- Reservatório Ukai, rio Tapi,
2014 Patel, P. L.
lation models for different scenarios. India
Jothiprakash, V.
Teegavarapu, R. S. Simo- Simulation of multiple hydropower reservoir operations using
2014 Manitoba, Canadá
novic, S. P. system dynamics approach.
Adeloye, A. J.
Effect of Hedging-Integrated Rule Curves on the Performance of
Soundharaja, B. S. Reservatório Pong,
2015 the Pong Reservoir (India) During Scenario-Neutral Climate Chan-
Ojha, C. S. P. Índia
ge Perturbations
Remesan, R.
Akhbari, M. Managing Water Resources Conflicts: Modelling Behavior in a Califórnia
2015
Grigg, N. S. Decision Tool EUA
Ataoui, R. Basilicata
2015 Resiliency Assessment Model.
Ermini, R. Itália
Galaitsi, S. E.
Huber-Lee, A. Using water insecurity to predict domestic water demand in the
2015 Cisjordânia, Palestina
Vogel, R. M. Palestinian West Bank.
Naumova, E. N.
Girard, C. Index-Based Cost-Effectiveness Analysis vs. Least-Cost River Basin
Bacia do rio Orb
2015 Rinaudo, J. D. Optimization Model: Comparison in the Selection of a Program-
Sul da França
Pulido-Velazquez, M. me of Measures at the River Basin Scale.
Goharian, E.
Burian, S. J. Incorporating Potential Severity into Vulnerability Assessment of Salt Lake City,
2015
Bardsley, T. Water Supply Systems under Climate Change Conditions Utah, EUA
Strong, C.

119
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Tabela 1. Principais publicações que aplicaram indicadores de desempenho em sistemas hídricos (continuação).

ANO AUTORES ARTIGO ÁREA DE ESTUDO


Lee, T. L.
Chen, C. H. Development of a Meteorological Risk Map for Disaster Mitiga- Bacia Chishan
2015
Pai, T. Y. tion and Management in the Chishan Basin, Taiwan. Taiwan
Wu, R. S.
Motevalli, M.
Using Monte-Carlo approach for analysis of quantitative and qua- Reservatórios Karun 3,
Zadbar, A.
2015 litative operation of reservoirs system with regard to the inflow Karun 4, Khersan 1, Khu-
Elyasi, E.
uncertainty. zestão, Irã
Jalaal, M.
Rousta, B. A. Development of a Multi Criteria Decision Making Tool for a Water Bacia do rio Gorganrud,
2015
Araghinejad, S. Resources Decision Support System. Irã
Bozorg-Haddad, O.
Development of a Comparative Multiple Criteria Framework for
Azarnivand, A.
2016 Ranking Pareto Optimal Solutions of a Multiobjective Reservoir Reservatório IV Karun, Irã
Hosseini-Moghari, M.
Operation Problem.
Loáiciga, H. A.
Soundharajan, B. S.
Evaluating the variability in surface water reservoir planning cha-
2016 Adeloye, A. J. Bacia do rio Indo, Índia
racteristics during climate change impacts assessment.
Remesan, R.

Através das publicações apresentadas, pode-se ter uma ampla ideia da quantidade
de estudos que aplicaram os indicadores de desempenho, e que remontam desde o século
passado ao atual, e a sua abrangência internacional, onde tem sido aplicado em estudos
de reservatórios e açudes no Brasil, em países europeus, e pode-se destacar diversas pu-
blicações asiáticas como do Irã, Israel, Palestina, Índia e Coreia do Sul.
Finalizada essa importante etapa de revisão bibliográfica e com conhecimento da
importância dos indicadores para a pesquisa, a seguir será feita uma breve descrição dos
principais indicadores de desempenho aplicados a estudos e análises de reservatórios.

CONFIABILIDADE

A confiabilidade é um conceito que tem feito parte do vocabulário associado a estudos


de reservatório quanto ao seu armazenamento, rendimento e desempenho, desde a época
em que Hazen (1913) introduziu uma abordagem racional para determinar o tamanho do
reservatório. Este definiu a confiabilidade como a probabilidade em que um reservatório será
capaz de satisfazer, dentro do período de simulação, a demanda de destino em qualquer
dado intervalo de tempo (frequentemente ano ou um mês).
Segundo Kundzewicz e Kindler (1995), as três definições de confiabilidade mais fre-
quentemente utilizadas em gestão de recursos hídricos foram introduzidas por Kritskiy e
Menkel em 1952 e mais tarde discutida por Klemeš em 1967. Eles incluíram a confiabilidade
de ocorrência – calculada como a razão entre o número de intervalos de tempo em que o
sistema não entrou no estado insatisfatório, para o número total de intervalos de tempo con-
siderados; confiabilidade temporal – sendo determinada a partir da razão entre o tempo em
que o sistema está em estado de satisfatório, para o período de tempo total considerado, e
a confiabilidade volumétrica – que é definida como a razão entre o volume de água fornecida
120
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
que satisfaz a demanda de um volume total estabelecido. Kjeldsen e Rosbjerg (2004), cita
que a definição mais aceita e aplicada é a confiabilidade de ocorrência.
Em 1967, o pesquisador Vit Klemĕs, introduziu o termo confiabilidade em seu estudo
aplicado a um reservatório voltado para o abastecimento de água. Neste, utilizou o termo
“confiabilidade anual”, ou seja, seria a confiabilidade dentro de um período de tempo limitado
que segundo ele, representava a probabilidade média de atender o projeto-alvo em qualquer
ano particular (KLEMEŠ, 1967).
Posteriormente, em 1969, Klemĕs amplia o estudo de confiabilidade de reservatório
com entradas sazonais, que segundo ele, a confiabilidade da operação de armazenamento
do reservatório pode ser julgada a partir de três pontos de vista diferentes, considerando: o
número de anos de falha dentro de um determinado período; ou a duração total de falhas;
ou o déficit de água não fornecido ao consumidor (KLEMEŠ, 1969).
Hashimoto et al. (1982), conceitua a confiabilidade como sendo o oposto de risco. Isto
é, o risco ou probabilidade de falha é simplesmente um menos a confiabilidade. Porém, a
confiabilidade não descreve a gravidade ou prováveis consequências de um fracasso. A pos-
sível severidade das falhas pode ser descrita por outros critérios, tais como a resiliência e a
vulnerabilidade. Assim, definem a confiabilidade conforme a Equação [1]:

(1)

ou seja, dado um conjunto (Xt), a confiabilidade no tempo (Rt) será a probabilidade da


operação deste sistema pertencer a um estado satisfatório (S).
Simplificadamente, a confiabilidade pode ser definida também como proposto por
McMahon et al. (2005), de acordo com a Equação [2]:

(2)

onde, Ns é o número de intervalos que a demanda meta foi plenamente atingida e N é


o número total de intervalos, cobrindo o período de análise histórica.
Karamouz e Houck (1982) relataram que a confiabilidade é uma medida de desempenho
do sistema no atendimento às demandas, o que é um indicador importante para analisar o
desempenho de sistemas de recursos hídricos em condições normais.
Sharma et al. (2014) citam que a confiabilidade pode ser definida como a probabilidade
de um reservatório ser capaz de satisfazer, dentro do período de simulação, a demanda de
destino em qualquer dado intervalo de tempo.
De acordo com Paixão et al. (2002), pode-se dizer que ocorreu uma falha (o sistema en-
trou em um estado insatisfatório) ou que o mesmo entrou em colapso, ou seja, a estabilidade
121
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
de operação de um reservatório é dada quando a oferta hídrica é maior ou igual à demanda
do sistema, quando esta oferta reduz para níveis menores do que a demanda.
Jain (2010), adverte que a aplicação do indicador confiabilidade deve ser cuidadosa,
como demonstraram nos estudos do comportamento dos índices estatísticos no reservató-
rio Dharoi, da bacia Sabarmati, na Índia. Neste ficou evidente que em regiões semiáridas,
as perdas por evaporação são elevadas e se estas forem ignoradas, podem sobrestimar a
confiabilidade do reservatório em até 10%.

Resiliência

Uma das primeiras abordagens que descreveu a resiliência dentro do contexto de


sustentabilidade têm sua origem no campo da ecologia com os estudos apresentados por
Holling (1973), onde descreve-a como “uma medida de tempo de persistência de sistemas
e de sua capacidade de absorver mudanças e perturbações e ainda manter as mesmas
relações entre populações ou variáveis de estado”.
Nas análises do desempenho de sistemas hídricos, o estudo da resiliência foi intro-
duzido por Matalas e Fiering em 1977, que a definiu como uma métrica que determina a
rapidez com que um reservatório irá se recuperar de uma falha (McMAHON et al., 2006).
Fiering (1982) sugeriu em seus estudos onze diferentes estimadores de resiliência, porém
a proposta mais operacional, e amplamente utilizada é discutida no trabalho de Hashimoto
et al. (1982), quando definem a resiliência como o inverso da duração média de insucesso,
ou seja, é a probabilidade de sucesso de um ano após um ano de falha. Moy et al. (1986),
conceituou como uma expressão alternativa para a resiliência, a resiliência máxima de um
sistema, que seria a duração da mais longa da sequência contínua de falhas. Definem então
a resiliência como uma probabilidade condicional, sendo expressa segundo a Equação [3]:

(3)

Sendo (Xt+1) a variável de estado do sistema considerado no momento t+1, Xt a


variável de estado do sistema considerado no momento t e os termos S e F referem-se
respectivamente ao sistema satisfatório e insatisfatório (falho).
A resiliência pode, simplificadamente, ser definida como proposto por McMahon et al.
(2005), segundo a Equação [4]:

122
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
(4)

onde, fs é o número de sequencias contínuas individuais de períodos de falha e fd


é a duração de todas as falhas, em outras palavras, a Re é o inverso da duração mé-
dia de insucesso.
Kundzewicz e Kindler (1995), consideram que a estimativa de resiliência com base no
valor máximo é melhor do que o realizado com base no valor médio, isto porque os pequenos
acontecimentos insignificativos podem reduzir o valor médio. Para Jain (2009) a resiliência
equivale a probabilidade média de uma recuperação de falha num intervalo de tempo e pode
ser equiparada ao inverso da média do tempo que o sistema passa num estado satisfatório.
No mesmo contexto, Zhuang et al. (2012) e Li e Lence (2007), definiram resiliência como
a probabilidade condicional que, dada uma falha do sistema em determinado momento, o
sistema se recupera em momento posterior. Outra definição de resiliência foi proposta por
Todini (2000), baseado em estudos de rede de distribuição de água, este considera que a
resiliência está fortemente ligada à capacidade intrínseca do sistema superar as falhas, e
na equalização dos fluxos de energia da rede.
Considerando estas definições, Kjeldsen e Rosbjerg (2004) afirmam que, um bom sis-
tema é aquele que retorna rapidamente para um estado satisfatório após uma falha. Quando
as falhas são prolongadas e a recuperação do sistema é lenta, implicará que o projeto do
sistema será falho, portanto, é preferível um sistema com maior resiliência.
Ataoui e Ermini (2015), citam que uma avaliação eficaz da resiliência no sistema ser-
ve como um guia para as companhias de água, pois auxiliam na construção de planos de
prioridade para atualizações de segurança, modificações de procedimentos operacionais e/
ou mudanças de políticas para mitigar os riscos e os custos associados.

Vulnerabilidade

Hashimoto et al. (1982) define a vulnerabilidade como a medida da gravidade volumé-


trica média de falha durante um período de falha. Segundo Sharma et al. (2014), a vulnera-
bilidade é uma medida dos danos prováveis devido a uma falha ocorrida. Para Paixão et al.
(2002), quanto maior o déficit hídrico, que pode ser considerado uma falha, mais vulnerável
será o sistema, e este pode apresentar-se pouco resiliente, porém, bastante vulnerável ou de
maneira oposta. Hashimoto et al. (1982) definem a vulnerabilidade conforme a Equação [5]:

123
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
(5)

onde, sj é o déficit volumétrico, ou vazão durante jth sequência de fracasso contínuo e


fs é o número de sequências de falhas contínuas. Uma expressão mais útil de vulnerabilidade
é a sua forma sem dimensão dada por McMahon et al. (2005) de acordo com a Equação [6]:

(6)

onde, Vul é a métrica da vulnerabilidade adimensional, conhecida como a razão da


vulnerabilidade neste trabalho, e Df é a (constante) demanda alvo durante a falha.
Kjeldsen e Rosbjerg (2004), simplificam a vulnerabilidade como o valor médio dos
eventos falhos. Segundo Asefa et al. (2014), a vulnerabilidade está preocupada em res-
ponder quão grave é o estado insatisfatório ou os parâmetros que causaram, esta revelaria
a diferença máxima entre oferta e demanda ao longo de um período. Por este motivo em
algum momento é expressa como déficit (Sandoval-Solis et al., 2010).
Cutter et al. (2003) definem a vulnerabilidade como “o pré-evento, características in-
trínsecas ou qualidades de sistemas sociais que criam o potencial para causar danos”.
Assim, os parâmetros fundamentais para dar forma a vulnerabilidade de um sistema são
a sua exposição, sensibilidade e capacidade de adaptação a um dano potencial (stress ou
choque) (Adger, 2006).
Asefa et al. (2014), introduziram uma nova abordagem de quantificar a vulnerabilidade
do sistema de recursos hídricos através da análise de perda de produção em períodos de
retorno (definido como déficit em relação à meta de produção de água) dos níveis selecio-
nados que são importantes para o funcionamento do sistema.

O Reservatório Billings

O Reservatório Billings é o maior reservatório superficial de água doce existente na


Região Metropolitana de São Paulo, com 108,14 km2 de espelho d´água, que corresponde
a 18,6% da área total da bacia hidrográfica. Recobre uma área de 130 km2 com capacidade
para armazenamento de 1,1 bilhões de metros cúbicos de água, quando atinge a cota má-
xima de 746,5 m do nível do mar.
Foi idealizado a partir dos estudos de implantação do “Projeto da Serra” pelo engenheiro
Asa White Kenney Billings. O projeto baseava-se na utilização das águas da bacia do Alto
Tietê para geração de energia elétrica na UHE de Henry Borden, localizada em Cubatão,
124
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
proporcionado a partir do aproveitamento do desnível de 750 m da Serra do Mar, o perfil do
Sistema da Concessão do Projeto Serra, é apresentado na Figura 2.

Figura 2. Sistema Hidráulico da EMAE: perfil do Sistema da Concessão do Projeto Serra.

Fonte: EMAE (2016a).

Para aumentar a capacidade de geração de energia da Usina Henry Borden e atender


a demanda por energia elétrica do polo industrial próximo ao Porto de Santos, que se desen-
volvida rapidamente, inicia-se, em 1925, a construção do reservatório Billings, autorizado pelo
Decreto Federal nº. 6.884, assinado pelo então Presidente Artur Bernardes (ALVES, 2010).
A inundação da área do Reservatório foi possível graças a construção da Usina
Elevatória de Pedreira iniciada em 1927, no curso do rio Grande (ou Jurubatuba), cuja cons-
trução foi realizada pela antiga Light “The São Paulo Tramway Light and Power Company,
Limited”, atual AES Eletropaulo, assim, as águas do Reservatório Billings passaram a ser
transferidas através da barragem reguladora Billings-Pedras, para alimentar a Usina de
Henry Borden (SÃO PAULO, 2010; SÃO PAULO, 2013; ALVES, 2010).
No início dos anos 40, iniciou-se a operação de reversão do Rio Pinheiros, por meio
da construção das Usinas Elevatórias de Pedreira e Traição. O desvio de parte da água do
rio Tietê e seus afluentes para o canal Pinheiros tem como objetivo aumentar a vazão do
Reservatório Billings e, consequentemente, ampliar a capacidade de geração de energia
elétrica na UHE Henry Borden, na Figura 3 a Bacia do Tietê é representada de modo es-
quemático com as reversões a ela associadas (SÃO PAULO, 2010; ALVES, 2010).
Devido ao crescimento populacional e a consequente demanda por abastecimento,
as águas do Reservatório Billings passam a ser utilizadas para abastecimento público em
1958, iniciando-se a captação de água no Rio Grande para os Municípios de Santo André,
São Bernardo e São Caetano do Sul (ALVES, 2010).

125
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 3. Esquema hidráulico da Bacia do Alto Tietê

Fonte: DAEE, Hidroplan (2016).

O crescimento da RMSP e a carência na coleta e tratamento de esgotos levaram à


intensificação da poluição do Tietê e seus afluentes, que, por sua vez, passaram a compro-
meter a qualidade da água da Billings. Em consequência da grande quantidade de efluentes
não tratados, em dezembro de 1981, surge a necessidade de interceptação total do bra-
ço do Rio Grande.
A separação das águas do braço do Rio Grande foi solucionada com a construção da
Barragem Anchieta, atualmente conhecida como Barragem do Rio Grande. Assim, garantiu
águas com melhor qualidade para o ABC. Esta barragem possui uma área aproximada de
7,4 km2 e 10 km de extensão, e abrange os municípios de São Bernardo do Campo, Santo
André, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra.
Ampliando o uso do Reservatório Billings para fins de abastecimento público a
Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - SABESP, à partir do ano 2000,
implanta um sistema de captação e transferência da água da Billings para o Reservatório
Guarapiranga através do Braço do Taquacetuba (Figura 4), que perdura até os dias atuais.

126
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 4. Representação dos Sistemas Produtores do Guarapiranga-Billings-Rio Grande.

Fonte: FUSP (2009).

A expansão da utilização do Reservatório para o abastecimento público defronta-se


com a questão da qualidade das águas e com o uso dos recursos hídricos para a geração
de energia elétrica nas usinas Henry Borden. Entre estes braços, destaca-se o braço do rio
Pequeno, incluído no Plano Diretor de Abastecimento de Água da SABESP para a RMSP
(PDAA), como uma alternativa de grande interesse, especialmente para a região do ABC
paulista (SÃO PAULO, 2014).
Há ainda um aspecto operacional do reservatório Billings a ser destacado. O amorteci-
mento de ondas de cheia nesse reservatório depende dos volumes de espera e das condições
operacionais de sangradouros localizados nos braços do Taquacetuba, sangradouro Preto-
Monos (atualmente fora de operação), e do rio Pequeno, sangradouro Pequeno-Perequê,
bem como da barragem Rio das Pedras.
Tais sangradouros são utilizados atualmente apenas em situações de emergência;
normalmente, o amortecimento é realizado pelo volume disponível para esta finalidade no
próprio reservatório Billings e contando com a vazão descarregada na UHE Henry Borden
(SÃO PAULO, 2013).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Para a aplicação dos indicadores de desempenho do Reservatório Billings foi consi-


derado o cenário de oferta hídrica em vigor, cujo bombeamento de transferência de águas
foi suspenso a fim de atendimento da Resolução SMA-SSE-02, de 19 de fevereiro de 2010. 127
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Apesar do bombeamento em períodos de inundação possam ser efetuados, para esta apli-
cação, estes períodos não foram adotados, porque priorizou-se a análise do Reservatório
em uma situação mais crítica de oferta hídrica, desse modo a oferta considerou apenas a
contribuição da vazão natural histórica provinda dos mananciais.
Para as demandas hídricas, serão estabelecidos diferentes valores de atendimento,
dado que os estudos de planejamento têm focado para o aumento da captação de água
para o abastecimento público para a RMSP. Esta diferenciação é em função das demandas
adotadas pelo ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) para o Reservatório Billings,
e do crescimento das demandas para o abastecimento público na RMSP, observada entre
as fontes pesquisadas. Desse modo, a vazão demandada iniciou com os valores de de-
mandas consuntivas adotadas pelo ONS para a Billings no ano de 2016 (UCONS ), somada
a demanda mínima para manutenção da UHE Henry Borden, igual a 6 m3/s com base na
restrição mínima de vazão apresentada no Inventário das Restrições Hidráulicas Operativas
dos Aproveitamentos Hidrelétricos (ONS, 2016), que segundo EMAE (2009 apud ALMEIDA,
2010), esta é a vazão suficiente para manter os equipamentos em funcionamento e con-
tribui com a captação de água para o abastecimento público na Baixada Santista atra-
vés do rio Cubatão.
Os demais valores de vazão de usos consuntivos, serão aumentados progressivamente
de meio em meio (0,5 m3/s), com base nos estudos de projeção de demanda da Sabesp
(2015), que segundo este, o crescimento populacional demonstra uma curva contínua, deman-
dando aproximadamente um acréscimo anual na produção de água de pelo menos 0,5 m³/s.
Quanto ao acréscimo de demandas no Reservatório, sem o bombeamento, verifica-se a
grande vulnerabilidade que o sistema fica sujeito, conforme a Figura 5. Isso se deve a baixa
contribuição dos mananciais, que não conseguem suprir as vazões de retirada. Observa-se
claramente a dependência da transferência de águas, para que possam obter um melhor
aproveitamento do Reservatório. Pode-se verificar que a confiabilidade do sistema e a resi-
liência reduzem bruscamente apenas com um acréscimo de 1,5 vezes na demanda, ou seja,
para uma demanda de água duplicada, o desempenho do reservatório cai consideravelmente.

128
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 5. Relação entre indicadores de desempenho e ISH do Reservatório Billings sem considerar a transferência de
águas do sistema Tietê-Pinheiros-Billings versus vazões de demanda.

Fonte: AUTOR (2016).

Ressalta-se que, apenas com a duplicação de demanda de água, pode-se observar


que a confiabilidade do sistema cai para 12,6%, ou seja, 87,4% do sistema está no estado
de falha, com uma resiliência de 10,3% (9 meses aproximadamente), e uma vulnerabilidade
que em termos de demanda para abastecimento pode ser considerável, 8,6 m3/s, que deixa
de ser atendido pelo o sistema Billings, o que significa dizer que 31% do total da demanda
não foi obedecida, como pode ser visto na Tabela 2.

Tabela 2. Indicadores de desempenho do Reservatório Billings.


Demanda requerida no Reservatório Billin-
gs (m3/s) Resiliência Vulnerabilidade
Confiabilidade Resiliência Vulnerabilidade
(mês) (m3/s)
Abastecimento Energia Total
7,83 6 13,83 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000
10,33 6 16,33 1,000 1,000 0,000 0,000 0,000
10,83 6 16,83 0,385 0,228 4,38 0,016 0,271
21,33 6 27,33 0,128 0,105 9,56 0,301 8,221
21,83 6 27,83 0,126 0,103 9,68 0,311 8,657
25,33 6 31,33 0,074 0,062 16,02 0,377 11,825
25,83 6 31,83 0,070 0,059 16,95 0,386 12,290
30,33 6 36,33 0,039 0,037 27,22 0,456 16,561
30,83 6 36,83 0,038 0,036 28,03 0,463 17,042
80,09* 6 86,09 0,001 0,001 1019,00 0,766 65,968
82,84** 6 88,84 0,001 0,001 1019,00 0,773 68,715
*Demanda de água projeta para o cenário tendencial para 2025 na RMSP realizado pela DAEE – Departamento de Águas e Energia (2013).
**Demanda de água projetada para o Cenário Tendencial para 2035 na RMSP realizado pela DAEE – Departamento de Águas e Energia
(2013).
Fonte: Autor (2016).

Cabe destacar, que o reservatório sob estas condições, sem o auxílio de um aporte de
água, não poderia atender demandas futuras para a RMSP, as vazões de 80,09 m3/s para
129
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
2025 e de 82,84 m3/s para 2035, acarretariam a total insustentabilidade do sistema. Assim,
os valores de desempenho, principalmente no que tange a resiliência e a vulnerabilidade
são de extrema importância e devem ser avaliadas pelo operador, porque cabe ao mesmo
analisar se a magnitude da falha, é significativa ou não, e quais os meios para garantir
melhor eficiência no seu processo para que o impacto de uma falha não torne oneroso sua
produção seja ela de energia ou de água tratada.
A magnitude de uma falha pode ser significativa, por exemplo, quando se trata de uma
demanda que não possua meios de realizar sua reserva. Como as demandas hídricas que
visam garantir a geração de energia hidroelétrica, a falha do atendimento, não poderia ser
compensado por termoelétricas devido a sua posição geográfica perto de um grande centro
de carga que é a capital paulista, bem como, sua importância para o setor elétrico brasileiro
no caso de uma recomposição devido a apagões, conforme mostrado por Silva (2016).
Já para o abastecimento de água, o não atendimento, atualmente está sendo compen-
sado por captações em outras bacias, que de acordo com o Plano de Bacia Hidrográfica
do Alto Tietê, para atendimento ao consumo de água para a RMSP, tem sido praticado a
importação de água da Bacia do rio Piracicaba, localizada ao norte da Bacia do Alto Tietê,
e outras menores nos rios Capivari e Guaratuba (FUSP 2009). Isto leva a grandes sistemas
integrados, maior custo na operação e uma dependência da RMSP de outras bacias.
A Bacia do Alto Tietê sofreu importantes intervenções antrópicas que foram realizadas
gradativamente ao longo do século passado. Além disso, a operação do sistema hidráulico
que foi sendo implantado alterou-se ao longo do tempo, onde os usos da água foram tendo
suas prioridades alteradas, da geração de energia elétrica, para diluição de efluentes e o
abastecimento urbano, envolvendo ainda o controle de cheias da RMSP.
A crescente conscientização da opinião pública relacionadas às questões ambien-
tais, fez com que fossem implantadas ao longo do tempo diferentes opções de manejo do
Reservatório, a fim de obter melhorias das condições ambientais. Assim, a partir de 1975,
estabeleceu-se como parâmetro que a vazão de água bombeada do Rio Pinheiros deveria
estar em função da operação das turbinas geradas de energia em Cubatão, o que eviden-
ciava a preferência pela geração de energia elétrica em detrimento dos valores ambien-
tais (LITTLE, 2003).
Porém, a aprovação da legislação de proteção de mananciais metropolitanos de 1975
(especificamente Billings e Guarapiranga) evidenciou uma mudança de paradigmas na so-
ciedade. Neste momento iniciou-se um embate com o setor energético, quando a legislação
passou a focar na preservação da capacidade de suporte da bacia por meio de restrição e
regulação das formas de uso e ocupação do solo (VICTORINO, 2002).

130
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
No início da década de 1980, o aumento da ocupação urbana agravou mais a pro-
blemática da poluição, e em 1984, a SABESP implementou a “operação balanceada”, que
consistia na operação considerando o saneamento e a geração de energia elétrica, em que
seria bombeada apenas metade da vazão disponível no Alto Tietê para a Billings, deixando
a outra parte seguir o seu curso natural do rio em direção ao Médio Tietê. Esta ação seria
operada mesmo provocando perda na geração de energia em Henry Borden (SABESP,
2009; ESCAMES, 2011).
Segundo o Plano da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, a bacia do Alto Tietê sofreu gra-
dativas intervenções que alteraram significativamente o regime fluvial do rio Tietê e da rede
hídrica. Além do processo gradativo de urbanização da bacia hidrográfica existiram impor-
tantes intervenções de obras e operação (FUSP, 2009), dentre as quais pode-se mencionar:

• 1935 a 1950: período de poucas intervenções na bacia do Alto Tietê, destacando-


-se o início do processo de inversão dos cursos d’água naturais dos rios Tietê e
Pinheiros em 1939 e a implantação da estrutura da UE Retiro em 1942;
• 1951 a 1955: período de estiagem severa na região Sudeste e a instalação em
1955 de uma unidade reversível em Edgard de Souza com capacidade de 50 m3/s;
• 1956 a 1975: operação do Alto Tietê com prioridade para a geração de energia em
Henry-Borden, destacando-se a implantação da barragem e reservatório de Pirapo-
ra em 1956 e o aumento das capacidades de bombeamento nas Usinas Elevatórias
de Traição e Pedreira, atingindo 140 e 170 m3/s, respectivamente;
• 1976 a 1989: a geração de energia deixa de ser a prioridade de uso d’água no Alto
Tietê, tendo sido aplicadas diferentes filosofias de operação, denominadas Sane-
amento, Saneamento-Balanceada, Energética, entre outras. Em 1977, as capaci-
dades de bombeamento em Traição e Pedreira foram ampliadas para 280 e 270
m3/s, respectivamente. Em 1981 a capacidade de bombeamento de Pedreira foi
aumentada para 320 m3/s;
• 1989 a Setembro/1992: diminuição gradativa da vazão bombeada para o Reser-
vatório Billings;
• 06/Outubro/1992 até os dias atuais: operação do sistema do Alto Tietê tendo
como prioridade o controle de cheias. Não obstante, a capacidade de bombeamen-
to em Pedreira aumentou em 1993 para 385 m3/s, permitindo um melhor controle
de cheias no rio Pinheiros.

A suspensão do bombeamento do Rio Pinheiros para a Billings, tornam-se conflitantes


em função do uso e alocação crescente de volumes expressivos de água e da degradação
da qualidade dessas. No entanto, as tipologias de usos exigem diferentes níveis de qualidade
131
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
de água, enquanto que o uso para geração de energia e drenagem da capital não demandam
grandes indicativos de qualidade da água, os usos para balneabilidade e principalmente para
abastecimento tornam a qualidade um requisito fundamental para a região (LITTLE, 2003).
Atualmente as águas do Reservatório Billings são destinadas aos seguintes fins:

• regularização das vazões da bacia do Tietê Alto-Zona Metropolitana, através do


bombeamento das águas do canal do rio Pinheiros para o Reservatório Billings;
• geração de energia elétrica em Cubatão, pela tomada d’água no reservatório Rio
das Pedras para a UHE Henry Borden;
• manancial abastecedor da região do ABC pela captação d’água no braço secciona-
do do rio Grande pela SABESP, e da Baixada Santista, em situações emergenciais
de abastecimento;
• corpo receptor de esgotos da RMSP, quando se dá o bombeamento da UE Pedrei-
ra;
• irrigação de culturas hortifrutícolas;
• pesca comercial, atualmente bastante reduzida devido a degradação da qualidade
da água da represa;
• pesca artesanal, no corpo central da represa, que se mantém principalmente junto
à ponte da rodovia dos Imigrantes e junto às balsas de João Basso, Taquacetuba
e Bororé;
• recreação e lazer, sendo comum as atividades de contato secundário, pesca recre-
ativa, navegação; e as de contato primário, como a natação.

O cenário atual, portanto, é de grande complexidade e de difícil equacionamento. A pro-


vável solução para esses conflitos (geração de energia x lazer x abastecimento de água
x drenagem urbana x ocupação desordenada x desenvolvimento econômico), passa pela
necessidade de contínua negociação entre os atores sociais envolvidos na problemática.
Que acaba até extrapolando os limites da bacia, e atingindo outras, como no caso do Rio
Cubatão, cujo município orientou sua ocupação no cenário da reversão de águas para a
baixada santista.

CONCLUSÃO

A aplicação dos indicadores de desempenho em reservatórios possibilitou verificar o


desempenho do Reservatório Billings em um cenário crítico, indicando que o planejamento
de um sistema de reservatório é um fator essencial para que ele possa satisfazer as múltiplas
demandas pela água nas quais podem estar submetidas.
132
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Já para o caso em que o bombeamento é considerado, para os diferentes incrementos
de vazões estabelecidos, verifica-se a completa influência nos resultados em relação ao
aumento da transferência de águas. A necessidade deste incremento para o reservatório é
de grande importância para que as demandas tanto de energia como abastecimento sejam
atendidas, o que reflete no aumento de suas receitas líquidas seja, pela maior produção de
energia e de abastecimento de água.
A questão principal deste trabalho, não foi apenas apresentar uma aplicação de in-
dicadores de desempenho para o Reservatório Billings, mas demonstrar a importância do
planejamento da demanda por recurso hídrico. E que a inserção da prática das análises dos
reservatórios com diferentes usos, é um ponto importante a ser considerado, pois poderá
auxiliar na alimentação hídrica do reservatório, até que a transferência de águas dos rios
Tietê e Pinheiros volte a ser viabilizada, como foi inicialmente projetada.
Finalizando, destaca-se que é de extrema importância analisar as condições operativas
do reservatório, bem como, todos os impactos aos quais o sistema pode estar sujeito, quando
se busca um incremento da demanda hídrica. Vale ressaltar também que, para realização
de um planejamento integrado do recurso, é necessário que todos os agentes envolvidos
apresentem suas demandas em prol de um plano estratégico que vise a sustentabilidade
do recurso: “Água”.

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139
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
09
Influência de obras de proteção
costeira no controle de erosão na
praia central de Marataízes (ES)

Angélica Aparecida Liandro Pinheiro


UFPel

Arthur Costa Cerqueira


UFPel

Idel Cristiana Bigliardi Milani


UFPel

Artigo original publicado em: 2018


Revista Brasileira de Recursos Hídricos - ISSN: 2359-2141.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/210705483
ABSTRACT

The coastal zones are regions with great movement of energy, that are located under
a transition area, between the continent and the sea. This region is characterized by a
great diversity of natural and biological resources, which draws attention to economic in-
vestments in the real estate market, industries and port movement, in addition to tourism.
The development of these activities generates the anthropic impact associated with the
oceanographic, geological and climatic characteristics of the site, provoking or stimulating
the erosive processes, which constitute coastal erosion. Coastal erosion involves the
transport of sediments from one site to another, forming environments with deposition
and removal of sediments. The Espirito Santo coast presents fragility in relation to the
erosive processes that occur along its coast, considering this theme, the present study
will address the action of coastal protection works, as a way to mitigate the occurrence
of erosive processes in Central Beach in municipality of Marataizes.

Palavras-chave: Sedimentos, Costa, Obras de Proteção.

141
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

No processo de ocupação da região costeira, observam-se inúmeras problemáticas


envolvendo as fragilidades inerentes nesta zona de transição entre o continente e o mar.
Logo, trata-se de uma região onde há grande circulação de energia, sendo o gradiente se-
dimentar importante agente morfológico que pode ser verificado e quantificado em locais
com deposição e remoção de sedimentos (ESPINOZA; HERZOG, 2016).
Para caracterizar os processos que ocorrem em uma região costeira, é necessário
avaliar a geologia do local, uma vez que a evolução geológica condiciona tanto a fisiografia
da costa, quanto a abundância e as propriedades dos sedimentos. De acordo com Albino
et al. (2001) a evolução da costa depende de processos morfodinâmicos que respondem às
condições externas de natureza geológica e climática e consequentemente interferem nas
propriedades sedimentares, tais como tamanho, densidade, forma e natureza. Estes são
fatores determinantes no resultado final de transporte de sedimentos, assim como o balanço
sedimentar, representado por perdas e ganhos.
O processo de remoção natural de material sedimentar em um ponto da linha de costa
caracteriza a erosão costeira, a qual compõe a morfodinâmica costeira e possui influência
direta de fatores como, por exemplo, as variações relativas do nível do mar, a energia das
ondas, a disponibilidade e o tipo de sedimentos presentes no local. Embora a erosão costeira
seja um processo natural, as interferências antrópicas no meio ambiente podem intensificar
o déficit sedimentar na linha de costa, devido, por exemplo, o uso e ocupação irregular da
região costeira, construções de empreendimentos na linha de costa (MACEDO et al., 2012).
A erosão costeira e as suas problemáticas associadas é um importante aspecto inerente
no gerenciamento da zona costeira em todo o mundo. No Brasil, há extensa linha de costa
que apresenta focos de erosão onde o processo ocorre com alta intensidade, o que requer
medidas de recuperação e mitigação. Apesar da compreensão obtida acerca dos impactos
negativos da erosão costeira, as políticas de planejamento e ordenamento territorial têm
incorporado poucas estratégias de gestão capazes de solucionar as consequências destes
processos (SOUZA, 2009).
No município de Marataízes, no Espírito Santo, observa-se ao longo de toda sua costa,
extensas faixas erodidas, onde a expressiva porção da zona de praia apresenta evidências
de uma costa em recuo, com a presença de falésias vivas (ALBINO et al., 2001). Tendo
em vista o potencial dissipativo ao longo da costa de Marataízes, o presente trabalho visa
compreender o comportamento desta linha de costa, entre os anos de 2010 e 2017, na praia
Central do município de Marataízes, no que concerne a construção de estruturas de proteção
costeira, avaliando seus efeitos de proteção e de prevenção de danos.
142
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
• Área de Estudos

O município de Marataízes está localizado na Microrregião do Litoral Sul do Estado do


Espírito Santo à 115 Km da capital Vitória, sob as coordenadas geográficas com Latitude
21°02’36”S e Longitude 40°49’28”W. Segundo dados do Incaper (2011) o município apre-
senta uma área de 134,96 km2, equivalente a 0,29% do território estadual, tendo 25,6 Km de
extensão de praia e representando 6,53% da costa do estado capixaba. (Figura 1).
Marataízes é um município cercado por importantes corpos hídricos (lagoas, rios e
mar) que compõem a natureza e os quais movimentam a economia da região. Suas lagoas
localizam-se paralelamente às praias (INCAPER, 2011).
A composição da área litorânea apresenta 49% de praias dissipativas e intermediá-
rias, 23% de abrasão rochosa, 14% de falésias precedidas de praias, 9% de falésias vivas
e 5% de desembocaduras fluviais, com a presença da vegetação de restingas e mangues
(PREFEITURA MUNICIPAL DE MARATAÍZES, 2018). O clima é quente, porém, ameniza-
do pelas fortes brisas marinhas. A média anual de precipitação pluviométrica situa-se em
torno de 900 mm.

Figura 1. Localização do Município de Marataízes- ES, com destaque para a área de estudo, praia Central de Marataízes.

Fonte: Albino et al., 2006.

As ondas mais frequentes são de NE – E seguidas das de SE – S, com as alturas mais


frequentes variando em torno de 0,9 e 0,6m, podendo alcançar alturas de 1,5m no caso
de frentes frias, e os períodos mais frequentes variando de 5 a 6s, podendo alcançar 9s
(HOMSI, 1981). A amplitude de maré é de 1,40m, alcançando 1,70 por ocasião de marés
meteorológicas (PREFEITURA MUNICIPAL DE MARATAÍZES, 2018).
Diante de todas as características presentes na região costeira do município de
Marataízes, nota-se que a região apresenta potencial para desenvolver erosão ao logo
de sua costa, suas características geológicas e climáticas associadas aos impactos
143
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
antrópicos causados pela urbanização, somam fatores que tornam esse ambiente extre-
mamente vulnerável.
Perante essa problemática, foram projetadas algumas obras de proteção costeira,
que visam cessar os processos erosivos. Alfredini e Arasaki (2009) descrevem as obras de
proteção como intervenções estruturais cujas funções são agir no balanço do transporte
sólido, favorecer a estabilização ou a ampliação da linha de costa.
Inicialmente como forma a conter o processo erosivo na região, foram construídos mo-
lhes perpendiculares à linha de costa na praia Central de Marataízes, porém essa foi uma
tentativa frustrante de conter a erosão. Já em 2010 a proposta de conter a erosão contava
com a construção de quatro espigões e de ferraduras sequenciais, como pode ser observado
na figura 2, (GEOLOGIA MARINHA E COSTEIRA, 2010).
Lyra (2012) afirma que os espigões estão entre as obras de proteção costeira das
mais utilizadas para o controle de erosão marinha. Eles podem ser utilizados isoladamente,
em grupo e associados a outras obras longitudinais aderentes, destacadas e alimentação
artificial de praias.

Figura 2. Projeto proposto pelo DHI para recuperação da praia em Marataízes. Inclui a construção de ferraduras e
enroncamentos nas terminações do trecho.

Fonte: GEOLOGIA MARINHA E COSTEIRA, 2010.

Segundo Lyra (2012) o efeito de um único espigão é o acréscimo da praia a barlamar


e a erosão da praia a sotamar, devido a modificações dos fenômenos hidrodinâmicos as-
sociados às ondas, às marés e às interferências nas correntes de deriva litorânea. A sua
eficácia depende do volume de sedimentos transportados no balanço sedimentar de um
trecho praial, uma vez que o seu efeito consiste em provocar a deposição de sedimentos
através da interceptação do fluxo longitudinal.

144
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
METODOLOGIA

Após definir a área de estudo iniciou-se a fase de coleta de dados sobre a temáti-
ca proposta, verificando a disponibilidade de referenciais teóricos que apresentem estu-
dos realizados na praia Central de Marataízes, evidenciando a existência de erosão em
sua faixa costeira.
Paralela à busca por referências bibliográficas foi realizada uma análise temporal na
Praia Central de Marataízes entre os anos de ?2003? e 2017, utilizando a ferramenta Google
Earth Pro, a qual possibilita identificar imagens com alta resolução espacial ao longo do tempo.
O presente estudo utilizou, prioritariamente, as imagens do ano 2010, antes da cons-
trução das obras de proteção costeira na praia Central, comparando com as imagens do
ano de 2017, tendo a finalidade de avaliar a influência espaço-temporal destas obras no
processo de contenção de sedimentos e redução do processo erosivo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As obras de proteção e as intervenções na praia Central de Marataízes foram con-


cluídas no ano de 2010, mediante a construção de 4 espigões no formato ferradura e 2 en-
roncamentos nas terminações dos trechos. Observa-se que os espigões foram construídos
em forma de ferradura, o que estabelece um ambiente abrigado que, ao ser preenchido
com aterro hidráulico, a estrutura passa a ter a função de reter os sedimentos depositados
(Figura 3). O principal resultado desta intervenção é o engorde efetivo da zona de praia,
uma vez que o enrocamento minimiza a perda de sedimentos devido as forçantes marítimas,
proporcionando mais espaço para uso recreativo da praia.

Figura 3. Projeto de construção dos espigões em formato de ferradura mediante preenchimento com aterro hidráulico.

Fonte: GEOLOGIA MARINHA E COSTEIRA, 2010.

145
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
A partir das imagens de satélite dos anos de 2010 e 2017 é possível observar a va-
riação na zona de praia obtida mediante a implementação das obras de proteção costeira
construídas na praia Central de Marataízes (Figura 4). Analisando a região no ano de 2010,
observam-se pontos onde a linha de costa se mostrava reduzida, devido as característi-
cas dissipativas da praia, onde há grande fluxo de energia gerando a destruição das du-
nas frontais indicando o mais alto grau de erosão no ciclo morfodinâmico e intermediário
(ALBINO et al., 2006).

Figura 4. A) Praia Central de Marataízes no ano de 2010, antes das obras de proteção costeira; B) Praia Central de
Marataízes no ano de 2017 após a construção das estruturas de proteção costeira.

Fonte: Google Earth Pro, 2018.

Ao observar a imagem de 2017 da mesma região praial e ao compará-la com a imagem


no ano de 2010, antes da realização das obras de proteção, nota-se que, através das inter-
venções realizadas a linha de costa, a área da praia sofreu um acréscimo significativo (Figura
4). Tais resultados estão associados a eficiência estrutural de proteção da orla, modificando
a região inclusive em aspectos socioeconômicos, uma vez que amplia as possibilidades de
usos recreativos da praia Central de Marataízes.
Neto (2013) verificou que entre os anos de 1969 e 2005 o processo de erosão acelerou
ao longo do tempo. A praia que em 1970 possuía 65 metros de extensão em média atin-
giu seu ápice da erosão em 2005 (Figura 5), aumentando para 10 metros em 2008, com a
construção de vários quebra-mares perpendiculares à linha de costa e em 2013 já possuía
uma extensão máxima de 170 metros devido as obras que foram realizadas.

146
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 5. Posição da linha de costa entre 1969 e 2010 da praia Central de Marataízes.

Fonte: Neto, 2013.

Os atuais enrocamentos são compostos por blocos de grande porte e não mais com
pedras de porte pequeno que acabaram sendo levadas pela maré, em projetos anteriores
(Figura 6). O projeto atual de recuperação da região costeira de Marataízes aparenta uma boa
proposta que realmente está gerando resultados positivos, atuando em termos de proteção
da linha costeira, minimizando impactos sociais na região e trazendo benefícios econômicos
à mesma, pois potencializou ainda mais o desenvolvimento turístico.

Figura 6. Enroncamentos e espigões ao longo da praia Central de Marataízes.

Fonte: LYRA, 2016.

Projetos de estruturas de defesa litorânea devem ser implantados de forma a permitir


o preenchimento equilibrado das praias, com o mínimo de erosão à sotamar (LYRA, 2012).
Portanto, é imprescindível avaliar a obra ao longo do tempo para verificar a necessidade de 147
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
ampliação do campo de espigões, de correções com implementação de outras estruturas,
em função da evolução no tempo de enchimento da praia (LYRA, 2012). Desse modo, é
imprescindível a avaliação da região costeira de forma integrada, ou seja, apurar se regiões
adjacentes estão sendo influenciadas pela retenção de sedimentos das estruturas instala-
das em Marataízes, quais são as alterações no transporte sedimentar, principalmente nas
correntes de deriva litorânea, ocasionadas pelas mesmas e sobretudo a comprovação do
potencial erosivo destas estruturas em outros pontos da linha de costa do Espírito Santo.

CONCLUSÃO

As obras de proteção costeira são de fundamental importância para manter protegida


as regiões costeiras, principalmente em locais onde os processos erosivos são mais inten-
sos. No entanto, para que estas estruturas tenham a eficiência esperada é necessário que
tenha sido projetada de maneira adequada e para função correta, visto que cada estrutura
age de determinada maneira no ambiente.
Logo, erros nos projetos podem agravar as situações ou originar outras problemáti-
cas. É fundamental ter em mente que toda obra causa algum impacto negativo no ambiente,
logo devido à grande de energia e dinâmica presente nesta região é necessária uma análise
completa e minuciosa sobre os impactos que possam surgir.
As obras realizadas em Marataízes estão surtindo o efeito esperado, tendo em vista
que a imagem obtida no ano de 2017 mostra que esta região continua sendo acrescida em
balanço sedimentar. Porém é necessário que haja investimentos para monitorar os fatores
que influenciam os processos erosivos, para que as obras de proteção sofram as devidas
manutenções e continuem atuando nas funções propostas, sem prejudicar regiões adjacen-
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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
4. ESPINOZA, J. A. A.; HERZOG, I. B. (2016). “Estudo da Efetividade de Obras de Contenção de
Erosão Costeira em Conceição da Barra – Es”. Revista Guará., N.6, p. 71 - 80.

5. GEOLOGIA MARINHA E COSTEIRA (2010). “Proteção da Linha de Costa do Espírito Santo”.


Disponível em <http://geologiamarinha.blogspot.com.br/2010/09/protecao-da-linha-de-cos-
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6. INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISA, ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL (In-


caper). “PROGRAMA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA E EXTENSÃO RURAL - PROATER 2011
– 2013”. Planejamento e Programação de Ações-(2011).

7. LYRA, M. (2012). “Considerações Sobre Obras de Proteção Costeira: Espigões”. Disponível


em < http://marcolyra.blogspot.com.br/2012/10/consideracoes-sobre-obras-de-protecao.html
> acessado em 28 de abril de 2018.

8. LYRA, M. (2016). “Marataízes Evita Avanço do Mar e Protege Moradores em Área de Risco
(ES)”. Disponível em <http://marcolyra.blogspot.com.br/2016/12/marataizes-evita-avanco-do-
-mar- e.html> acessado em 28 de abril de 2018.

9. MACEDO, R. J. A.; MANSO, V. A. V.; PEREIRA, N. S.; FRANÇA, L. G. (2012).“Transporte de


Sedimentos e Variação da Linha de Costa em Curto Prazo na Praia de Maracaípe (PE), Brasil”.
Revista da Gestão Costeira Integrada., V. 12, p. 343 - 355.

10. MINISTÉRIO DE MEIO AMBIENTE (MMA, 2018). Disponível em <http://www.mma.gov.br/port/


se/pnma/ecos16.html> acessado em 13 de abril de 2018.

11. PREFEITURA MUNICIPAL DE MARATAÍZES. Aspectos Gerais. Disponível em < https://www.


marataizes.es.gov.br/pagina/ler/1001/aspectos_gerais> acessado em 28 de abril de 2018.

149
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
10
Mapeamento das estruturas de defesa
litorânea e mitigação de processos
erosivos em Pernambuco - Brasil

Arthur Costa Cerqueira


UFPel

Idel Cristiana Bigliardi Milani


UFPel

Angélica Aparecida Liandro Pinheiro


UFPel

Artigo original publicado em: 2018


Revista Brasileira de Recursos Hídricos - ISSN: 2359-2141.
Oferecimento de obra científica e/ou literária com autorização do(s) autor(es) conforme Art. 5, inc. I da Lei de Direitos Autorais - Lei 9610/98

10.37885/210705484
ABSTRACT

Coastal erosion is characterized by the exchange of energy between the terrestrial and
marine environments through the sedimentary balance. This process has as main factors
climatic, oceanographic and topographic conditions. Human settlement in the coastal
zone is one of the main aggravating factors for erosive processes along the coastline,
resulting in serious socio- environmental problems, which are commonly mitigated by the
implementation of rigid coastline stabilization structures. The coast of Pernambuco has
visibility in the search for solving problems of coastal erosion and mitigation of intense
human occupation in one of the shorter coastal stretches of Brazil. The presence of coastal
protection on the beaches of Pernambuco have unknown impacts on sedimentary circu-
lation patterns, especially in the coastal currents, such effects may generate undesirable
results in beach morphology and anomalies in the medium to long term. The present
study seeks to understand the distribution of these shaping structures of the coastline,
as well as to analyze through a sample section in the coastline the temporal evolution of
the effects of sedimentary accumulation caused by the use of coastal protection structu-
res. These analyzes were obtained by remote sensing, geographic information system
environment and database about the evidence of problems related to coastal erosion on
the beaches of Pernambuco.

Palavras-chave: Erosão, Zona Costeira, Estruturas de Proteção.

151
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

A costa brasileira possui aproximadamente 8.500 km de extensão e caracteriza-se por


ter alternância entre planícies costeiras, falésias e costões rochosos (Brandão, 2008). O li-
toral do Nordeste brasileiro possui aproximadamente 3.300 km de extensão. A partir de es-
tudos realizados por Diniz e Oliveira (2016), a costa nordestina pode ser dividida em Costa
dos Deltas, Costa das Dunas, Costa Branca, Costa Mista de Dunas e Falésias, Costa das
Falésias e Costa dos Cordões Arenosos.
A erosão costeira se processa a partir do desbalanceamento da circulação de sedi-
mentos em um litoral, ou seja, quando há redução no volume de sedimento que alimenta
uma praia e a sua linha de costa começa a recuar. Este processo está condicionado às
flutuações do nível do mar ao longo do tempo geológico, e pode ter a ação humana como
agravante (Brandão, 2008).
Neste contexto, as obras de proteção costeira e retenção de sedimentos surgem
para mitigar e tentar solucionar a erosão marinha e problemas associados. De acordo com
Sarawagi (1995), é necessário entender a escala temporal e espacial do processo de erosão
costeira em determinada localidade para aprimorar a técnica interventiva utilizada.
O presente estudo visa compreender a situação atual da linha de costa do estado de
Pernambuco, no que concerne ao seu potencial erosivo, relacionando a sua alteração pela
presença de obras de proteção costeira e retenção de sedimentos. Tal entendimento surgi-
rá da análise correlacionada das zonas susceptíveis a erosão costeira, da observação dos
focos de obras de proteção costeira e da comparação entre imagens de satélites de alta
resolução espaçadas ao longo do tempo.

Área de Estudos

O litoral de Pernambuco possui 187 km de extensão (Figura 1), o que corresponde a


cerca de 3% da linha de costa do Brasil. A Zona Costeira de Pernambuco abrange 21 mu-
nicípios, os quais concentram 56% da população do estado. No entanto, na faixa litorânea
encontram-se apenas 13 municípios de Pernambuco, os quais estão setorizados em Norte,
Núcleo Metropolitano e Sul (Lino et al., 2014).
Segundo Manso et al. (2006), a zona costeira de Pernambuco possui clima tropical úmi-
do (Ams’), segundo classificação por Kröppen, o que configura maiores índices pluviométricos
concentrados no litoral do estado, tais índices podem ter média anual superior a 2000 mm
de chuva. O regime de ventos do litoral pernambucano é sazonal e possui regularidade de
direção de sopro pela direção SE, devido à influência dos ventos alísios e brisas marítimas.

152
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 1. Localização da Área de estudos.

Fonte: o Autor.

As principais características oceanográficas que influenciam na plataforma continen-


tal adjacente ao estado de Pernambuco são a temperatura do mar que varia de 27o C a
28,7o C, a salinidade apresenta valores máximos de 36,0 ‰ e mínimos de 32,2 ‰, ambas
as características possuem comportamento sazonal (Santos, 2008). O regime de marés é
condicionado prioritariamente por fatores astronômicos, cuja amplitude média de sizígia é
de 2,0 metros e quadratura de 0,7 metros, sendo classificada como mesomaré semidiurna
(Manso et al., 2006).
De acordo com Santos (2008), o clima de ondas do litoral pernambucano mostra a
ocorrência de ondas de gravidade com altura significativa média anual de, aproximadamente,
1,05 metros. A periodicidade identificada nas ondas na região costeira de Pernambuco possui
valores médios anuais em torno de 6,5 segundos, sendo as maiores ondulações ocorridas
entre os meses de setembro a janeiro e as menores de março a julho, que são os períodos
de chuva e estiagem, respectivamente.

Erosão Costeira em Pernambuco como Problemática Ambiental

Segundo Manso et al. (2006), a erosão costeira no estado de Pernambuco teve seus
primeiros registros no início do século 20, feito por Ferraz (1914). Em meados do século
passado, estudos indicaram a necessidade de construção de obras de proteção costeira
do tipo espigão e quebra-mar nas praias dos Milagres, Carmo e Farol, inseridas na região
pernambucana. Porém, posteriormente foi constatado que a construção destas estruturas
apenas mudou a posição da ocorrência de erosão costeira, não solucionando a problemática.

153
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Estudos recentes a respeito da vulnerabilidade de erosão costeira no estado de
Pernambuco indicam que a influência antrópica é o fator que mais contribui para incidência
de erosão das praias. A urbanização na linha de praia, ou seja, a presença de edificações
e impermeabilização destas áreas bem como intervenções na circulação dos sedimentos
são agravantes para a ocorrência de erosão costeira (Menezes, 2016).
Martins (2015), em seu estudo sobre a região costeira de Pernambuco, desenvolveu
o Mapeamento do Grau de Vulnerabilidade à Erosão Costeira em seus diferentes setores,
sendo eles o Setor Norte, Setor Metropolitano e Setor Sul, com diferentes graus de vulne-
rabilidade (Figura 2).

Figura 2. Mapa de Grau de Vulnerabilidade à Erosão Costeira em Pernambuco.

Fonte: Martins, 2015.

De acordo com Martins (2015), o Setor Norte da zona costeira de Pernambuco apre-
senta 19 km da faixa litorânea com baixa vulnerabilidade à erosão, 27 km da linha de praia
deste setor apresenta vulnerabilidade moderada e 7 km da extensão litorânea possui alta
vulnerabilidade à erosão. Os presentes valores representam, respectivamente, 36%, 50%
e 14% da linha de costa do Setor Norte do litoral pernambucano.
O Setor Metropolitano, que contempla os municípios Olinda, Recife e Jaboatão dos
Guararapes, possui 2 km (7%) do litoral com baixa vulnerabilidade à erosão costeira, apro-
ximadamente 14 km (50%) da faixa litorânea com moderada vulnerabilidade a erosão e 12
km (43%) apresentam alta vulnerabilidade à erosão praial (Martins, 2015). Este trecho é o
mais urbanizado entre os três setores da zona costeira, sendo a zona costeira de Olinda
154
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
87,9% intensamente urbanizada, o litoral de Recife possui 67% da sua área intensamente
urbanizada enquanto 68,3% da faixa litorânea de Jaboatão dos Guararapes está intensa-
mente urbanizada (Menezes, 2016).
O Setor Sul do litoral pernambucano apresenta os índices de vulnerabilidade a erosão
costeira mais baixos do estado, sendo 43 km (47%) de faixa litorânea com baixa vulnerabi-
lidade, 44 km (49%) de praia com média vulnerabilidade a erosão e 3,5 km (4%) de litoral
com alta vulnerabilidade a erosão marinha (Martins, 2015). Estes indicadores podem ser
correlacionados com a intensidade e o tipo de ocupação do litoral sul do estado, que de modo
geral apresenta baixa intensidade de urbanização em linha de praia, e possui percentuais
equivalentes a 19,9% de baixa urbanização no litoral de Cabo de Santo Agostinho, 10,1%
no litoral de São José da Coroa Grande e apenas 8,7% do litoral de Tamandaré possui baixa
intensidade de urbanização (Menezes, 2016).

METODOLOGIA

A primeira etapa metodológica consistiu na realização de um referencial teórico biblio-


gráfico a respeito das evidências de erosão costeira no estado de Pernambuco e os seus
problemas associados. Em seguida, iniciou-se a etapa de verificação da ocorrência de obras
de engenharia costeira no litoral de Pernambuco.
A varredura no litoral pernambucano foi realizada com o programa de visualização
de imagem de satélite de alta definição, Google Earth Pro, o qual disponibilizou imagens
de satélite da Google, da CNES/Airbus, da Europa Technologies e da Digital Globe, datam
de 2018. Conforme o litoral era percorrido, as estruturas de proteção costeira foram sendo
registradas a partir de marcadores.
As estruturas identificadas foram espigões, molhes e quebra-mares, pois podem ser
facilmente distinguidas por meio do sensoriamento remoto devido às suas diferenças funcio-
nais no desempenho da defesa litorânea. As informações foram salvas em extensão KML,
sendo possível projetá-las em ambiente de Sistema de Informações Geográficas (SIG) para
elaboração de mapeamento das obras de defesa de litoral de Pernambuco.
A partir do mapa gerado, a análise temporal se deu a partir da escolha de um trecho
amostral identificado como o mais crítico devido à presença destas estruturas. Utilizou-se
recursos do Google Earth Pro a partir dos quais foi possível delimitar área da zona de praia
nos anos de 2009 e 2017, viabilizando o entendimento das alterações significativas destas
estruturas costeiras.

155
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
RESULTADOS

As estruturas de defesa litorânea da linha de costa do tipo espigões, molhes e quebra-


-mar, desempenham a função de proteger a linha de costa da erosão marítima, combatendo
a ação das forçantes oceânicas deste processo. O mapeamento das estruturas de proteção
costeira ao longo da linha de costa de Pernambuco corresponde a distribuição esquemati-
zada na Figura 3.

Figura 3. A) Distribuição das estruturas de proteção de linha de costa e retenção de sedimentos ao longo do litoral
pernambucano; B) Zoom temático no Setor Metropolitano; C) Zoom temático no Setor Norte; D) Zoom temático no
Setor Sul.

A partir da análise da Figura 3 – A), percebe-se que o litoral pernambucano possui


três focos de intervenção na erosão costeira por estruturas rígidas de estabilização da li-
nha de costa, os quais são em praias dos municípios de Goiana, Paulista, Olinda, Recife
e Ipojuca. O Setor Metropolitano, sendo o mais intensamente remodelado com obras de
proteção, apresenta os três tipos de estruturas abordadas neste estudo.
Ao longo do Trecho Norte do litoral pernambucano, há estruturas de defesa litorânea
concentradas nos municípios de Goiana, que possui espigões, e Paulista, adjacente ao
setor metropolitano, cuja linha de costa é modificada com o uso de sucessivos quebra-ma-
res. A única evidência de uso de obras de proteção de linha de costa no Setor Sul do litoral
pernambucano se dá por meio de molhes e um quebra-mar construído junto com recifes de
arenito, esta intervenção justifica-se devido à atividade portuária do Porto de Suape.

156
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 4. A) Trecho do litorâneo com intenso uso de estruturas de proteção costeira e área destacada da Praia do Janga.
B) Linha de costa da Praia do Janga em 2017. C) Linha de costa da Praia do Janga em 2009.

A análise da evolução temporal, em momento de preamar, das alterações do trecho


de praia correspondente a área de influência de 5 quebra-mares consecutivos na Praia do
Janga, do município de Paulista, percebe-se significativa mudança na circulação sedimentar
da área num intervalo de 8 anos, entre os anos de 2009 e 2017. A zona de praia em 2009
tinha uma área equivalente a 54.139 m², enquanto que em 2017 passou a ser de 65.291 m²,
um aumento de, aproximadamente 21% na zona de praia, no entanto, nota-se, também, um
avanço na ocupação urbana na zona de praia, sobretudo por meio de implementação de
calçadão de orlas e criação de ruas, possibilitado por este avanço praial.

CONCLUSÃO

A partir do presente estudo, nota-se que as estruturas de proteção costeira são am-
plamente utilizadas em determinados trechos de praia considerados intensamente erodi-
dos. As estratégias de mitigação dos problemas erosivos da linha de costa não possuem uma
ação coordenada, resultando, frequentemente, em intervenções cujos efeitos mitigadores se
sobrepõem ou são inclusive indesejados. Como é verificado no trecho da Praia do Janga, no
município de Paulista, onde foi identificado sucessivos quebra-mares estabelecendo função
de engorde de praia e a ocupação urbana avançando nesta área de engorde.

157
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
As informações apresentadas sugerem que os efeitos mitigadores estão voltados a
recuperação funcional das áreas degradadas pela ocupação urbana e as estruturas de defe-
sa da linha de costa promovem a interceptação de sedimentos de deriva litorânea oriundos
também da erosão costeira. Neste cenário, mostra-se necessário um planejamento voltado
a recuperar a qualidade ambiental destas áreas degradadas. Portanto, deve haver práticas
de recuperação por meio de barreiras naturais às forçantes oceânicas, bem como o replantio
de vegetação nativa em linha de costa e a manutenção de vegetação em desembocaduras
de rios na linha de costa deveriam ser métodos previstos em plano de ordenamento da zona
costeira do estado.

REFERÊNCIAS
1. BRANDÃO, R. L. (2008). “Regiões Costeiras”, in Geodiversidade do Brasil: conhecer o passado
para entender o presente e prever o futuro, Org. por SILVA, C. R, CPRM, Rio de Janeiro – RJ,
pp. 90 - 97.

2. DINIZ, M. T. M.; OLIVEIRA, G. P. (2016). “Proposta de compartimentação em mesoescala para


o litoral do Nordeste brasileiro”. Revista Brasileira de Geomorfologia., v.17, n.3, p. 565 – 590.

3. LINO, A. P.; MARTINS, K. A.; PEREIRA, P. S.; LIMA, J. P.; ARAÚJO, A. S.; GONÇALVES, R.
M.; OLINTO, A.; OLIVEIRA, A.; FISCHER, A.; ARAÚJO, R. J.; LIRA, V. A. (2014). Mapeamento
da linha de costa de Pernambuco. Centro de Tecnologia e Geociências, Secretaria de Meio
Ambiente e Sustentabilidade, Recife/PE, 10 p.

4. MANSO, V. A. V.; COUTINHO, P. N.; GUERRA, N. C.; JUNIOR, C. F. A. S. (2006). “Pernam-


buco”, in Erosão e progradação da costa brasileira. Org. por Ministério do Meio Ambiente,
Brasil, pp. 181 – 196.

5. MARTINS, K. A. (2015). Vulnerabilidade a erosão costeira e mudanças climáticas através de


indicadores em Pernambuco, Brasil. UFPE, Recife/PE, 107 p.

6. MENEZES, A. F. (2016). Análise da vulnerabilidade à erosão costeira no estado de Pernambuco


através de indicadores ambientais e antrópicos. UFPE, Recife/PE, 100 P.

7. SANTOS, U. S. T. (2008). Avaliação geoambiental das praias do município de Jaboatão dos


Guararapes, região metropolitana de Recife. UFPE, Recife/PE, 115 p.

8. SAWARAGI, T. (1995). Coastal Engineering – Waves, Beaches, Wave - Structure Interactions.


Elsevier, Osaka/Japan, 497 p.

158
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
11
Modelagem e Simula o da Dispersão
de Dióxido de Carbono na Represa da
Usina Hidrelétrica de Manso e Região

Beatris Carila da Silva


UFMT

André Krindges
UFMT

10.37885/210705570
RESUMO

O problema de dispersão de dióxido de carbono nos últimos anos vem sendo monito-
rado devido ao sério risco para o meio ambiente. Neste artigo, propõem se um modelo
matemático tridimensional (3D) sobre o problema de dispersão de dióxido de carbono
no meio água-ar e simulação numérica com cenários sobre uma região circunvizinha à
usina hidrelétrica do Manso. O processo de dispersão é modelado através de um sis-
tema de Equações Diferenciais Parciais do tipo Difusão advecção, com os campos de
velocidades apresentando variação no tempo adotados como parâmetro na equação de
difusão, com condições de fronteiras variando no espaço e no tempo. A implementação
de um programa computacional com dados reais do local da pesquisa possibilitou simu-
lações e criação de diferentes cenários, que permitiu ilustrar a capacidade qualitativa do
modelo, sua abordagem computacional e verificar o comportamento da concentração de
dióxido de carbono de forma inédita nesta área, o que é fundamental para compreender
os efeitos da mudança nos ciclos biogeoquímicos globais e regionais, bem como o papel
dos ecossistemas terrestres tropicais no balanço de dióxido de carbono neste local.

Palavras-chave: Equação Diferencial Parcial, Elementos Finitos, Simulação Computacional.

160
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

O dióxido de carbono, também conhecido como anidrido carbônico, é um composto


químico constituído por dois átomos de oxigênio e um átomo de carbono. A representação
química é CO2 e foi descoberto pelo escocês Joseph Black em 1754. A partir da segunda
metade do século XV III até a atualidade, a concentração de CO2 da atmosfera tem aumen-
tado. Juntamente com o vapor d'água, o dióxido de carbono na atmosfera exerce influência
sobre o clima local. Esse composto químico, de forma geral, é produzido no solo pelas raízes
e organismos do solo e, em pequena escala pela oxidação de materiais que contém carbono
no solo (RAICH e SCHLESINGER, 1992). A respiração do solo origina-se da decomposição
microbiana heterotróca da matéria orgânica, da respiração autotrófica da rizosfera e da as-
sociação micorrízica (HANSEN et al., 2000).

MÉTODO

A equação a ser utilizada é conhecida por equação de difusão-advecção, que modela


fenômenos relacionados a dispersão de poluentes em sistema lacustres e está associada
a análises em ecologia matemática e situações gerais. Tem sua origem nas leis de con-
servação de massa.
Um modelo geral para o nosso estudo é dada por:

(2,1)

Denota se por u(x, y, z, t) a concentração de CO2 no ponto (x, y, z), sendo que represen-
tam: x a longitude, y a latitude, z a altitude e t o instante de tempo, com (x, y, z, t)
. Com . O segundo termo pode ser descrito genericamente por:
div(uxo) = difusão + advecção
Desta forma, os termos da modelagem clássica ficam:
difusão = , (cf. OKUBO, 1980)
transporte = , (cf. DINIZ, 2003)
decaimento = , (cf. BASSANEZI, (2002)
Então a equação denominada equação de transporte que modela o fenômeno da dis-
persão de um determinado poluente, neste caso, a concentração de CO2, é dada por:

(2,2)

com, 161
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
αu = αu(x, y, z, t), o coeficiente de difusibilidade efetiva no meio;
V = V (x, y, z, t), o campo de velocidades no meio aéreo;
σu = σu(x, y, z, t), a taxa de degradação global no meio aéreo.
f = f(x, y, z, t), é o termo fonte de CO2.
Na equação (2.2) o termo div [α∇u] está representando a difusão para o meio, ou seja,
o espalhamento natural devido a movimentos moleculares ou movimentos relacionados à
turbulência, depende do próprio gás, neste caso, da posição, do tempo, da temperatura; o
termo div modela o transporte advectivo, relacionado a agentes externos, nesta situa-
ção, o transporte de dióxido de carbono, seguindo a direção dada pelo vetor das correntes
de ventos dominantes, o termo σu está ligado a fenômenos relacionados a alterações so-
fridas pelo gás ao reagir com o meio externo com o passar do tempo, perdendo massa e
excluindo-se do meio.
A solução de qualquer equação diferencial dependente do tempo requer a especifica-
ção de condições na fronteira do sistema estudado e condições de início do processo físico.
Para que seja útil em aplicações, um problema de valor sobre o contorno deve ser bem
posto. Isto é, estabelecidas determinadas condições para o problema, haverá então solução
única, que depende continuamente das condições envolvidas.
As condições de contorno, para este problema, serão consideradas como as de Robin
ou de von Neumann, em função da passagem de gás pela fronteira, dadas por

• Condição de Robin

(2.3)

Dióxido de Carbono no Manso

onde temos que:


α representa o coeficiente de difusibilidade;
η é a normal exterior unitária à fronteira;
κ é a taxa de passagem do gás pela fronteira devido a diferença de concentra-
ção entre os meios;
u é a concentração de dióxido de carbono nos pontos da fronteira; Γ é a fron-
teira do domínio Ω.
A condição de contorno de Robin é uma condição de contorno híbrida, é a combinação
linear de condições de contorno de Dirichlet e de Neumann.

• Condição de von Neumann homogênea

162
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
(2.4)

sendo,
η é o vetor normal exterior unitário ao longo do domínio Γ;
α representa o coeficiente de difusibilidade.

• Condição de von Neumann não-homogênea

(2.5)

onde g(x, y, z, t) é uma função dada.

DESCRIÇÃO DO PROBLEMA E O MODELO MATEMÁTICO

A formulação variacional do problema na sua formulação clássica e suas soluções via o


Método dos Elementos Finitos para aproximar numericamente a solução do modelo, para a
qual será proposta uma solução denominada fraca, isto é, introduzir as derivadas no sentido
das distribuições, que no campo variacional possibilitam de solução, a ser procurada num
espaço métrico conveniente. Assim, na nova formulação reduz a ordem da equação diferen-
cial do problema e, ainda, obtêm solução muito próxima da formulação variacional clássica.
Da formulação fraca ou variacional, é feita uma discretização no domínio do proble-
ma, aproximando a solução fraca por uma apropriada chamada função teste, são funções
contínuas por partes fazendo, com isto, um problema de EDP reduzirse-à a resolução de
sucessivos sistemas de equações lineares algébricas. Para isso exige-se que:
Considera se um sub-espaço do espaço H1 chamado de espaço de Sobolev, denotado
por , das funções teste, cujas as derivadas parciais também serão fracas.

(3.1)

onde L2 é o espaço das funções de quadrado integrável, no sentido de Lebesgue.


Para obter a formulação variacional se faz o seguinte processo:

I. Consideram-se as derivadas da equação (2.2) no sentido de distribuições;


II. Efetua-se o produto interno de cada termo das equações por uma função , deno-
minada função teste, sendo esta pertencente ao sub-espaço .

Em o produto interno é definido da seguinte maneira:


163
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
(3.2)

(3.3)

(3.4)

Agora, prossegue se efetuando a multiplicação da equação (2.2) por uma função teste
não nula, e integrando a equação resultante no sentido de Lebesgue sobre
o domínio Ω e considerando as condições dadas, segue que:

(3.5)

em que, considera se que as componentes advectivas, isto é, o transporte do meio


aéreo, sejam Vx, Vy e Vz e aplicando produto interno, temos

(3.6)

Usando a primeira identidade de Green, (Iório e Iório, 1988) no segundo termo do lado
esquerdo da equação (3.5), para os operadores aqui analisados:

(3.7)

substituindo na equação (??), nos fornece a expressão

(3.8)

A equação (3.8) é conhecida como formulação variacional ou formulação


fraca do problema.

Existência e Unicidade da Solução Fraca

A fim de construir métodos para aproximar a solução de 3.8 precisa se garantir a exis-
tência e unicidade da solução procurada. Considerando a formulação variacional do problema

164
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
obtido, para tal propósito usa se o Teorema de Lions LIONS (1961) e seguindo procedimentos
adotados por: DINIZ (2003), OLIVEIRA (2003), CASTRO (1993) e MISTRO (1992).
A demonstração encontra-se em LIONS (1961) e de um modo geral para o caso em
que a é não linear MEYER (1997) faz a demonstração para um problema similar.
Segue na construção da formulação variacional do modelo para o caso da região do
Manso. Da equação (3.8). Reescrevendo-a de forma compacta, tem se:

(3.9)

e, aplica se as condição de contorno de Robin, em que considera que existe uma perda
de CO2 para as laterais do paralelepípedo, incluindo a emissão para a atmosfera. Essas
perdas são proporcionais à quantidade presente na respectiva fronteira:

(3.10)

E a de von Neumann não homogênea, para as fronteiras inferiores do domínio,


pois ocorre o ingresso do CO2, isto é, através da emissão de CO2 pela água do lago e
emissão pelo solo.

(3.11)

Multiplicando pela função teste em que e integrando, tem:

Usando a identidade: , na terceira parcela da equação


acima. E, reescrevendo o segundo termo da equação acima, , vem:

(3.12)

sendo, .
Aplicando as condições de fronteiras, na segunda parcela do segundo termo na ex-
pressão acima, fica:

(3.13)

Assim, substituindo na equação (3.9), obtêm:

165
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
(3.14)

(3.15)

Usando a notação de Produto Interno (P.I.), chega se na seguinte expressão:

(3.16)

(3.17)

A equação (3.17) descreve a formulação variacional para o modelo tridimen-


sional em estudo.

MÉTODO NUMÉRICO

Método dos Elementos Finitos (MEF) - Galerkin

O MEF foi desenvolvido em 1909 por Walter Ritz (1878 − 1909), para determinar a
solução aproximada de problemas em mecânica dos sólidos deformáveis. O MEF é uma
técnica robusta chamada Método dos Elementos Finitos, ela ajuda a resolver estes tipos
de problemas. Foi aplicado o Método dos Elementos Finitos via Galerkin, na aproximação
numérica de soluções para Equações Diferenciais Parciais.
O Método dos Elementos Finitos, via Galerkin, envolve a divisão do domínio da so-
lução num número nito de subdomínios simples (os elementos nitos) e usando conceitos
variacionais construir uma aproximante da solução sobre a coleção de elementos nitos
CAREY, ODEN (1981). Dada a formulação variacional do problema foi dividido o domínio
(meio contínuo) do problema em sub-regiões de geometria simples (formato tetraedro e
triangular). Os elementos nitos, utilizados na discretização (subdivisão) do domínio do pro-
blema são conectados entre si por determinados pontos, denominados nós ou pontos no-
dais. Ao conjunto de elementos nitos e pontos nodais, usualmente, dá-se o nome de malha
de elementos finitos.

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DOMÍNIO TRIDIMENSIONAL

Para discretizar um domínio tridimensional, em geral, os elementos nitos mais adequa-


dos sãos tetraedros, eles são uma extensão natural e conveniente dos elementos triangulares.
Denota se por uma família nita de NT tetraedros Ωe, dois a dois disjuntos ou
tendo como interseção no máximo uma face, ou uma aresta ou um vértice e tais que :

(5.1)

associa a esta malha o parâmetro h dado por:

(5.2)

e, desta forma, denota a família .


A relação entre um elemento nito qualquer Ωe, e seu correspondente elemento , no
sistema referencial de coordenadas, sendo que as funções que compõem a base B do
sub-espaço , são tais que:

(5.3)

dado que o delta de Kronecker, NT o número total de nós e o j-ésimo nó da


malha. Define-se o tetraedro com vértices (1, 0, 0), (0, 1, 0), (0, 0, 0) e (0, 0, 1), como sendo
de referência: .
Assim, as funções restritas a esse elemento de referência, terão a forma:

A transformação afim Te:


(1, 0, 0) → (x1, y1, z1)
(0, 1, 0) → (x2, y2, z2)
(0, 0, 0) → (x3, y3, z3)
(0, 0, 1) → (x4, y4, z4)
O método de elementos nitos é implementado aplicando a técnica em que requer que
se dena uma transformação afim que relaciona um elemento referência ,a
um elemento genérico .

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Dentre os diferentes sub-espaços nitos que podem ser escolhidos para definir ,
considerado o espaço das funções polinomiais de três variáveis de grau menor ou igual a
1, 2 definidos em , isto é,

(5.4)

Dene se os sub-espaços da seguinte maneira:

DISCRETIZAÇÃO ESPACIAL

Para a discretização espacial da formulação variacional do modelo através do Método


dos Elementos Finitos, precisa se do sub-espaço Uh do espaço , de dimensão nita,
gerado pelas funções testes , com .
A escolha das funções da base , que são definidas
globalmente sobre os Elementos Finitos, será do tipo linear por partes.
Assim, escreve se a concentração como combinação linear das funções base , isto é,

(6.1)

e a derivada expressa por,

(6.2)

Substituindo as funções base e derivadas na formulação variacional,

(6.3)

As soluções uj (t) não dependem de (x, y, z). E como v ϵ Uh, logo é suficiente avaliar
para os elementos da base de Uh, então:
Fazendo uh = (u1(t), u2(t), ..., uNh (t))T , pode se escrever a expressão (6.3) sob a forma
de um sistema de equações Diferenciais Ordinárias de primeira ordem. 168
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(6.4)

sendo,

(6.5)

com,

DISCRETIZAÇÃO TEMPORAL: CRANK-NICOLSON

O método de Crank-Nicolson (MDF) é um método das diferenças nitas , de segunda


ordem no tempo e no espaço, implícito no tempo e numericamente estável, usado para
resolver numericamente a equação do calor e equações diferenciais parciais similares. Ele
foi desenvolvido por John Crank e Phyllis Nicolson na metade do século 20.
Baseado em diferenças centradas no espaço e na regra trapezoidal no tempo, a idéia
básica desse método é substituir as derivadas presentes na equação diferencial por ex-
pressões algébricas construídas a partir da série de Taylor. É utilizado como método al-
ternativo para a obtenção da solução aproximada de equação diferencial parcial, o MDF
consiste em transformar em um sistema de equações algébricas para a resolução de uma
equação diferencial.
Para obter uma solução via diferenças nitas de uma equação diferencial, de- nida
sobre um domínio, é necessário discretizar o domínio, isto é, a solução numérica é obtida
em pontos do domínio. A escolha destes pontos irá definir o domínio discretizado,
enquanto o conjunto destes pontos irá definir a malha, em nosso caso uma malha retangular
com espaçamento h na direção x e com passo de tempo ∆t para discretização temporal,
isto é, um método implícito alternativo que consiste em implementar as aproximações de
diferenças no ponto médio do incremento de tempo.
Para efeitos desta discretização do problema considerou se as seguintes aproximações
para cada , onde fixo e arbitrário, e .
As aproximações temporais consistem em tomar a aproximação no tempo como
média de dois tempos subsequentes. Isto é, diferenças centradas em .
Então, obtem se

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(7.1)

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onde,

(7.2)

(7.3)

com unj representando a concentração no j-ésimo nó, para o instante tn e u j(n+1) a con-
centração no j-ésimo nó, para o instante tn+1. Para o caso geral, relembrou que uj denota a
concentração na discretização temporal. Chega se na seguinte equação:

(7.4)

RESULTADO

Nesta seção são apresentados os resultados numéricos das simulações obtidas a partir
do modelo matemático proposto no estudo da dispersão de dióxido de carbono na usina
hidrelétrica de Manso e região próxima.
Para obter resultados próximos à realidade, recorreu se aos dados coletados do local,
para estimar os valores dos parâmetros necessários para simulação e teste do código nu-
mérico para o modelo adotado, dentre eles: o coeficiente de difusão na água e no solo e a
velocidade de transporte. Estes parâmetros utilizados foram estimados dentro de espectros
plausíveis para o modelo matemático em discussão na simulação de cenários e teste de
códigos numéricos desenvolvidos.
A análise da dispersão de poluentes na região do Manso tornou-se um desafio conside-
rando suas dimensões e particularidades, desta forma, buscou se abordagens alinhadas aos
estudos teóricos. Também a busca por coeficientes adequados à realidade deste fenômeno
ambiental, constituiu em um grande desafio para este trabalho de pesquisa. Isto, decorreu
devido a grande dificuldade de se obter dados coletados no local e a escassez de trabalhos
realizados que dispusessem de tais dados.
Para solucionar esse problemas recorreu se aos dados da empresa privada de meteo-
rologia a Clima e Tempo. Comprou se os dados referente a intensidade e direção do vento,
temperatura, precipitação e umidade relativa do período de janeiro de 2016 a dezembro de
2017 na região da usina, da represa e no reservatório.
Os dados de efluxo de CO2 foram fornecidos pelo pesquisador PINTO-JR, (2007),
após contato pessoal. As coletas foram realizadas em solo com características similares
ao da região estudada, solos com cobertura vegetal do cerrado, para os anos de 2014 a
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2018. As taxas de efluxo de CO2 dependem da temperatura e umidade, índice de nutriente,
respiração da raiz, processos microbióticos, matéria orgânica, aeração do solo, porosidade
do solo, disponibilidade de água do solo, produtividade primária líquida (PPL) e o tipo da
vegetação existente na área. O efluxo de CO2 do solo mediu se com o aparelho de absorção
de infravermelho que calcula as emissões de CO2 provenientes do solo, o EGM-1/WMA-2
(PP System, Hitchin Hertz, UK), junto com sua câmera de retenção de CO2 com 1170cm3,
cobrindo uma área no solo de 78, 5cm2. PINTO-JR, (2007).
Para obter os resultados utilizou se rotinas em ambiente computacional no Matlab, cuja
interface gráfica permite facilidades na análise dos fenômenos tratados. Também dispõe de
animações que descrevem o processo evolutivo da dispersão no domínio discretizado, num
intervalo de tempo previamente determinado.
A região do reservatório da hidrelétrica de Manso, também tem se impacto ambiental
devido à inundação do solo das regiões próximas, juntamente com o lago, é um local com
potencial para emissões acentuadas de CO2.
É interessante ressaltar que a não existência de floresta densa na região do Manso,
fator que reduziria a atividade convectiva, contribuiria para a acumulação nos baixos níveis
da troposfera, próximas a superfície. A troposfera corresponde a 80% do peso atmosférico,
com espessura em torno de 12km até 17km nos trópicos. Praticamente todos os fenômenos
meteorológicos confina se a esta camada, na sua base está a Camada Limite Planetária
(CLP) ou também conhecida como Camada Limite Atmosférica (CLA). Esta camada é a
parte da troposfera que está mais próxima da superfície terrestre, e é diretamente afetada
por ela, principalmente através da difusão turbulenta.
As emissões em reservatórios variam se de forma ampla de acordo com a localização
geográfica, com a profundidade, tipo de vegetação, temperatura, dentre outros. A cobertura
vegetal deste local é caracterizada como cerrado e em alguns locais apresenta mata de
galeria, com árvores de 15 metros de altura com copas não muito densas e raízes pouco
profundas. E o solo grande parte coberta por gramíneas ralas. O clima da região apresenta
temperatura média entre 27, 60C a 230C. De acordo com a classificação de Köppen o clima
da região do tipo AW (clima savânico), tropical semi-úmido, com dois períodos distintos: um
seco e frio, de maio a outubro e o outro chuvoso e quente, de novembro a abril.
Para a obtenção da simulação na região Ω (paralelepípedo) adotou se as seguin-
tes dimensões: a altura (h) de 17.000m, o comprimento (c) de 65.678m e largura (L) de
53.836m. Na face inferior do paralelepípedo tem se o Lago do Manso inserido.
As coordenadas dos nós converteu se em UTM - Universal Transversa de Mercator,
que utiliza um sistema de coordenadas cartesianas bidimensional para dar localizações
na superfície da Terra. É uma representação de posição horizontal, isto é, é utilizada para
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identificar os locais na Terra independentemente da posição vertical, mas difere do método
tradicional de latitude e longitude
Abaixo encontra se a gura (1) que demonstra a discretização em tetraedros do domínio,
e na face inferior as duas regiões Γ1 e Γ2 pertencentes ao lado inferior do domínio.

Figura 1. Discretização espacial de Ω em tetraedros.

Para o domínio Ω tem se as fronteiras representadas por Γi com i = 1, 2, ..., 7. A Γ1


representa o lago e Γ2 é a região retangular excluindo Γ1 (o lago). Juntas determinam a
face inferior de Ω. Conforme vê na gura 2.

Figura 2. Fronteiras Γ1 e Γ2.

A discretização resultou em 417078 de nós, 2451453 elementos tetraedros e 129792


triângulos (elementos da fronteira). Como pode ser visto na gura 3 abaixo como uma parte
do domínio discretizado.

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Figura 3. Discretização do domínio.

DISCUSSÃO

Simulação de Cenários

Para simulação na região utilizou se 300 iterações para cada cenário.

Cenário 1

Para determinar alguns dos parâmetros variáveis para o cenário 1, recorreu se aos
dados reais do local interpolados. Juntamente com os parâmetros constantes, tem se na
tabela 1 todos os parâmetros necessários para o primeiro cenário.

Tabela 1. Parâmetros utilizados no cenário 1.

A figura 4 representa as iterações iniciais e a evolução da dispersão de dióxido de


carbono e observa se o gás espalhando na região, com pouca influência do vento.

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Figura 4. Concentração de CO2 nas fronteiras Γ1 e Γ2.

(a) itera o de n mero 02 (b) itera o de n mero 06

Figura 5. Concentração de CO2 nas fronteiras Γ1 e Γ2.

(a) itera o de n mero 130 (b) itera o de n mero 298

A figura 5 representa a dispersão do dióxido de carbono para as iterações 130 e 298,


apresenta se um nível de concentração maior nos locais mais úmido, essas regiões pos-
sivelmente tem considerável quantidade de biomassa como fonte presente no solo e na
profundidade do lago, pois a decomposição da biomassa alagada é considerada a principal
fonte de gases em reservatórios após o alagamento. A menor profundidade possui maior
emissão, o que pode ser atribuído a temperatura mais baixa da maior profundidade afetando
a pressão e a solubilidade do dióxido de carbono.
Também analisou se a dispersão de dióxido de carbono através dos gráficos das guras
6 e 7, que mostram o perfil dos blocos das iterações. Indicam um espalhamento acentuado
sobre a região na altura de cerca de 4km, onde claramente vê se, que o solo está alagado e
locais próximos do lago apresentam maior emissão do gás, pois a concentração de matéria
orgânica tais como madeira, galhos e folhas de árvores, podem depositar-se sobre o solo ou
nas profundezas do lago, daí possibilita a decomposição e as reações químicas, o que pode
alterar a quantidade de emissões nesta região. Nota se que a medida que o tempo evolui,
aumentam a dispersão e de forma mais acentuada, gradativamente, próximo ao solo. Porém
para os intervalos das larguras entre 15 a 20 quilômetros e outros de 35 a 40 quilômetros
pertencentes ao lago apresenta dispersão moderada.

174
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Figura 6. Nível da concentração de CO2 na faixa entre 37km a 39km na iteração 40.

Figura 7. Nível da concentração de CO2 na faixa entre 37km a 39km nas iterações 40s 150 e 298.

(a) itera o de n mero 150 (b) itera o de n mero 298

O aumento da concentração desse gás no ar com o avanço das iterações é perceptível,


evidenciou se o caráter dispersivo que ele sofre ao liberar-se para a atmosfera. Uma outra
observação é que o gás permanece sobre a área alagada, com uma concentração mais
acentuada nas pequenas áreas alagadas.

Cenário 2

Para o segundo cenário utilizou se os parâmetros descritos na tabela 2

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Tabela 2. Parâmetros utilizados no cenário 2.

Figura 8. Concentração de CO2 nas fronteiras Γ1 e Γ2.

(a) it=02 (b) it=06

No cenário 2, o parâmetro k7, o coeficiente de difusibilidade no ar, foi aumentado, em


outras palavras, tem se difusibilidade no ar maior que no cenário 1. Novamente, encontrou se
para a superfície não alagada, próxima do lago, a dispersão do gás também mais acentuada.
Nas guras 8 e 9, vê se que próximo do solo há maior concentração do dióxido de carbono,
isso acontece porque a emissão que pelo solo é mais elevada do pela água.

Figura 9. Concentração de CO2 nas fronteiras Γ1 e Γ2.

(a) itera o de n mero 130 (b) itera o de n mero 300

Verifica se através da gura (10 : a) que a dispersão do gás ocorre inicialmente nas
regiões de pouca umidade e onde o nível de água é baixo, devido possivelmente a fatores
como os citados para o cenário 1. Para os mesmos intervalos da largura entre 15 a 20 quilô-
metros e outros de 35 a 40 quilômetros pertencentes ao lago, a dispersão não é acentuada. 176
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Após a inundação, o sistema antes neutro passa a ser emissor de gases de efeito estufa,
como o dióxido de carbono.
Para regiões alagadas de baixa profundidade, pode acelerar o processo emissivo, a
maior quantidade de matéria orgânica, como galhos, árvores e folhas, somado a águas com
pouca mobilidade, podem ser responsáveis por uma parcela importante nas emissões.

Figura 10. Nível da concentração de CO2 na faixa entre 37km a 39km na iterações 150 e 300.

(a) itera o de n mero 150 (b) itera o de n mero 300

Observa se que não houve diferença significativa ao mudar o valor de k7, possivelmente
devido as extensas dimensões das fronteiras adotadas para o modelo.. A representação
da dispersão de CO2 na gura (10 : b) mostra se, que ela torna efetiva sobre toda a região,
espalhando sobre ela com o aumento das iterações.
Analisando os gráficos, em todos os cenários, interpreta se este fenômeno, como caso
real, resultante do processo natural do aumento da umidade do solo na região mais próxima
do lago, a concentração de dióxido de carbono é maior. Possivelmente essa irregularidade
se dá de acordo com o período de cheia ou vazante da parte alagada.
Na região estudada, a dispersão de dióxido de carbono produz uma concentração
estabilizada, para todos nós do domínio. Algumas instabilidades numéricas que podem
ocorrer em aproximação, é decorrente do termo advectivo quando torna-se preponderante
na equação, isso sucede quando as dimensões da malha é maior em um determinado valor
ou quando o valor de V (termo adevectivo) for muito maior que o de α (coeficiente de difu-
são) para o caso constante, por exemplo. Daí, o sistema é mal condicionado, pois a matriz
associada ao termo advectivo passa a ser assimétrica porém, pode ser contornado com o
uso de malhas refinadas.
As simulações obtidas respeitaram as condições de Peclet, e a escolha dos parâmetros
de discretização levou em consideração a condição de estabilidade do método, obtendo
assim confiabilidade numérica nos resultados.

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CONCLUSÕES

Este modelo, introduz um aspecto inovador que retrata os cenários expostos da disper-
são de gás dióxido de carbono no ar e água, num domínio tridimensional, com alguns parâ-
metros variáveis no espaço e tempo, com condições de fronteiras adotadas não constantes
sobre a região do reservatório da hidrelétrica de Manso e região adjacente, fenômeno este,
bastante complexo devido as dificuldades encontradas na dinâmica advectiva, como reações
químicas e processos naturais, ação antropogênica, em particular sobre a região. E ainda,
deparou se com o problema da escassez de recursos computacionais à altura do volume
de dados reais manipulados.
Os cenários apresentados mostraram-se coerentes em relação a quantidade de CO2
emitida pelo solo e também pela água, com estudos teóricos sobre o processo de emissão
desse gás. As regiões analisadas apresentaram resultados nas simulações de acordo com
o esperado, sendo observada a nuvem de gás baixa na região, ou seja, a intensidade de
gás e a ordem com que cada ponto passa a receber o poluente, tudo isso em concordância
com os estudos teóricos e esperado em cada cenário.
Generalizando, pode se dizer que a modelagem, a discretização e a simulação do
problema criaram resultados coerentes com todas as hipóteses teóricas feitas. Os algorit-
mos mostrou se robustos, pois pode ser utilizado para variados problemas de dispersão de
gases. Para chegar na estabilidade da concentração de CO2, foram em média 1500 horas de
processamento usadas, em testes com cada diferentes valores para alguns parâmetros de
cada cenário. De acordo com a característica principal do trabalho, desde o início relatado,
em construir um modelo de modo mais geral possível, agora dispõem se de um algoritmo
que pode tratar de vários problemas dessa categoria. Destaca se ainda neste texto o trata-
mento teórico original, que nos garante existência e unicidade da solução do problema em
sua formulação variacional e também a convergência dos métodos.
Também em termo da computação científica envolvida e que merece ser comentada, de
trabalhar com elementos nitos tri-dimensionais em concordância com a descrição do domínio
apresentado, suas características geométricas (irregular) e as inerentes dificuldades algorít-
micas, o código principal independe totalmente desta situação, sendo facilmente adaptado
mesmo se considerar domínios bem mais irregulares, para isso, basta introduzir uma nova
malha de elementos nitos descritiva da situação de domínio a ser trabalhada. Em outras
palavras, a simulação numérica resultante independe, nesse sentido, de especificidades
geométricas do domínio.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
REFERÊNCIAS
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its relation ship to vegetation and climate. Tellus, v.44B, n.2, p.81 − 99, b1992.

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Grande/RJ: modelagem, análise num rica e simulares. Tese de doutorado.95F IMECC-U-
nicamp, Campinas/SP. 2003.

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9. MISTRO, D. C. O problema de poluição em rios por merc rio metálico: modelagem e


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10. LIONS, J. L. Equations Di erentelles Operationelles. Springer. 1961.

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12. CAREY, G. F.; ODEN, J. T. Finite Elements: mathematical aspects. N. York: John Wiley &
Sons, 1981. v. 4.

13. PINTO-JR, O. B.. Efluxo de CO2 do Solo em Floresta de Transi o Amazônica Cerrado e
em rea de Pastagem. Cuiab , 2007. 79p. Disserta o (Mestrado) - Instituto de Ciências Exatas
e da Terra, Universidade Federal de Mato Grosso. 2007.

179
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
12
Monitoramento de metais pesados em
bacia hidrográfica

André Gorjon Neto


UEM

Cássia Maria Bonifácio


UFSCAR

Osvaldo Tarelho Júnior


UEM

Célia Regina Granhen Tavares


UEM

10.37885/210805778
RESUMO

Muitos dos metais estão presentes na água de maneira natural, porém a ação antrópica
produz o aumento destas concentrações. O monitoramento de metais fez-se necessário,
pois a água superficial é utilizada para fins de produção de alimentos, abastecimento
público e recreação, e a presença de concentrações elevadas de metais pode prejudicar
a saúde humana. Neste estudo foram monitorados, de forma mensal, as concentrações
de metais totais (Zn, Ca, Pb, Mn, Na, Ni, Ba, Cd, Co, Cr, K) e metais dissolvidos (Al, Fe,
Cu) nas águas superficiais do rio Pirapó - PR, entre Outubro de 2012 a Janeiro de 2014.
Com o monitoramento foi possível observar que alguns metais apresentaram concen-
trações acima do estipulado pelo CONAMA 357/2005 para um rio de Classe 2, e do que
poderia ser esperado pela composição do solo, indicando assim a existência de fontes
de origem antrópica.

Palavras-chave: Metais, Monitoramento, Pirapó-PR.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

Os fenômenos naturais e a atuação do homem são os fatores determinantes da qua-


lidade da água. A qualidade de uma determinada água varia em função das condições
naturais, como também conforme o tipo de uso e ocupação do solo em uma determinada
bacia hidrográfica.
Desse modo, em relação às condições naturais, a qualidade da água é afetada pelo
escoamento superficial, resultante da precipitação atmosférica. Enquanto que, por outro
lado, a interferência antrópica, de forma concentrada, como na geração de efluentes domés-
ticos ou industriais, ou de uma forma dispersa, como na aplicação de defensivos agrícolas
no solo, contribui na introdução de compostos na água, afetando a sua qualidade (VON
SPERLING, 2007).
A partir dessas considerações, pode-se dizer com um elevado grau de confiabilidade
que a qualidade da água está intimamente relacionada ao uso que se deve dar a esta água
(GORJON NETO, 2014).
Sendo assim, para o trabalho em questão, foi realizado um monitoramento de deter-
minados metais pesados nas águas da bacia hidrográfica do rio Pirapó - PR.
É importante destacar que as substâncias conhecidas como metais podem ser encontra-
das na água em condições naturais. Alguns metais apresentam efeitos benéficos, enquanto
outros possuem um grande potencial tóxico, de acordo com o elemento e a concentração da
espécie química na água. Essas substâncias são introduzidas nos ecossistemas tanto por
processos naturais, através do intemperismo das rochas, e por processos antropogênicos,
através de diversas atividades humanas (FALQUETO, 2008).
Em geral, metais tóxicos estão presentes em pequenas concentrações no meio aquático
por ação de fenômenos naturais, mas podem ser despejados em quantidades significativas
por atividades industriais, agrícolas e de mineração. Mesmo em concentrações diminutas, eles
podem gerar danos importantes aos organismos aquáticos ou ao homem. Em muitos casos,
tais concentrações são inferiores à capacidade de detecção dos aparelhos utilizados nos la-
boratórios encarregados do monitoramento da qualidade das águas (VON SPERLING, 1996).
Alguns metais presentes em águas naturais como Alumínio, Bário, Cádmio, Cálcio,
Cobre, Cobalto, Cromo, Chumbo, Ferro, Manganês, Níquel, Sódio, Potássio, Zinco tem
sido determinados de forma mais corrente devido à sua importância para os processos de
poluição de águas e a presença em efluentes gerados por indústrias de elevada impor-
tância econômica.

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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
MATERIAIS E MÉTODOS

Coleta, preservação e análises

As amostras foram acondicionadas em recipientes de vidro (previamente lavados e


esterilizados) e recipientes de polietileno tereftalato (PET), dependendo da análise a ser
realizada. Para a preservação das amostras ao longo do período de coleta, estas foram
armazenadas em recipientes térmicos com gelo e acidificadas com ácido nítrico ou sulfúrico
de acordo com a metodologia APHA (1998).
A determinação dos metais foi realizada em laboratório, com a utilização do equipamen-
to espectrofotômetro de absorção atômica. Os seguintes metais foram analisados: Alumínio,
Ferro, Cobre, Chumbo, Zinco, Manganês, Cromo, Cobalto, Níquel, Bário, Cádmio, Sódio
e Cálcio. Para a análise de metais totais foi efetuada a digestão das amostras e filtração
em membranas com porosidade de 0,45 µm. Para determinação dos metais dissolvidos as
amostras foram filtradas em membranas com porosidade de 0,45 µm.

Localização dos pontos de coleta e monitoramento

A determinação dos pontos de monitoramento teve como base a estrutura geoecológica


da bacia hidrográfica, conforme os compartimentos de paisagem, como também a acessi-
bilidade para as coletas (BONIFÁCIO, 2013; NÓBREGA et al, 2015). Foram selecionados
nove pontos na extensão do rio Pirapó – PR, de sua montante à jusante. O monitoramento
foi realizado de forma mensal, no período de um ano e três meses.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os metais Cobalto, Cromo e Ferro são encontrados naturalmente nas águas superfi-
ciais, e durante o período de monitoramento não foram identificados valores superiores ao
estabelecido em legislação para estes metais. A seguir são avaliadas as concentrações de
metais que ultrapassaram os valores limites estabelecidos em legislação.

Alumínio

As concentrações de alumínio na água superficial do rio Pirapó em quase a totalidade


das amostras valores superiores ao limite estabelecido. A Figura 01 apresenta a variação da
concentração de alumínio nas águas superficiais ao longo dos trechos monitorados. A maio-
ria das concentrações medidas variam em entre 0,1mg L–1 a 0,45 mg L–1 para todos os
pontos de monitoramento, sendo que não foi possível determinar uma causa pontual para
esta contaminação.
183
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 01. Variação da concentração de alumínio.

De acordo com Schneider (2009) para a região de estudo o aumento da concentração


de alumínio nas águas superficiais do rio Pirapó pode estar relacionada tanto a erosão do
solo quanto ao lançamento de efluente da estação de tratamento da cidade de Maringá.
O processo de erosão é a desagregação de partículas do solo pela ação de processos
naturais, potencializados pela ação dos seres humanos. Como verificado anteriormente,
nos períodos de chuvas intensas ocorre o aumento das concentrações de sólidos totais nas
águas superficiais do rio Pirapó, e este fator poderia explicar o aumento das concentrações
de alumínio. Porém a elevação das concentrações de alumínio foi observada para todo
o período de monitoramento, período este que compreende tanto as estações chuvosas
quanto secas. Assim pode-se estimar que exista outras fontes de poluição que não puderam
ser determinadas.

Bário

A resolução CONAMA N° 357/2005 estabelece um limite de concentração para o metal


bário nas águas superficiais de um rio Classe 2 em 0,7 mg L–1. A Figura 02 apresenta as
concentrações obtidas durante o período de monitoramento.
Verifica-se que todas as amostras obtidas apresentaram concentrações superiores ao
limite estabelecido, sendo o maior valor observado em janeiro/2014 no ponto referente ao
trecho 1 com uma concentração de 18,58 mg L–1.

184
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 02. Variação da concentração de bário.

De acordo com CETESB (2008a) o bário é uma substância que pode ser encontrada
naturalmente nas águas superficiais em decorrência dos minerais presentes no solo. Uma
parte da contaminação de bário poderia ser explicada pela presença de sólidos nas águas
superficiais, uma vez que a maior parcela da bacia hidrográfica é de domínio rural e pode
ocorrer a lixiviação de produtos agrícolas, que contribuam para o aumento da poluição di-
fusa de bário. No entanto não é possível descartar a presença de fontes de poluição que
contribuam em grande parte para o aumento da poluição causada por bário.

Cádmio

A Figura 03 apresenta os dados referentes a concentração de cádmio nas águas su-


perficiais do rio Pirapó.
O limite estabelecido para rios de Classe 2 é de 0,001 mg L–1 e pode-se observador
que as concentrações para todos os trechos de monitoramento apresentaram valores su-
periores ao limite.
Uma vez que todos os trechos de monitoramento apresentaram concentrações elevadas
de cádmio, pode-se inferir que esta contaminação esta ligada a fontes de poluição difusa,
sendo neste caso a agricultura. A aplicação de defensivos agrícolas pode conter cádmio e
pode ocorrer o arraste deste material para a água.

185
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 03. Variação da concentração de cádmio.

Chumbo

As concentrações de chumbo no período monitorado foram superiores ao limite de 0,01


mg L–1 estabelecido para rios de Classe 2, como pode ser observado na Figura 04.

Figura 04. Variação da concentração de chumbo.

Com exceção para o ponto 6 em Agosto de 2013, verifica-se que o período de


Fevereiro/2013 e Março/2013 apresentaram as maiores concentrações deste metal. Não
foi possível identificar fontes pontuais de contaminação deste parâmetro sendo que esta

186
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
contaminação é resultado de fontes de poluição difusa, tendo origem principalmente no
arraste de algum defensivo agrícola utilizado na área de estudo.

Cobre

As concentrações de cobre foram superiores ao limite permitido por legislação (0,009


mg L–1) para todos os pontos de monitoramento. A Figura 05 apresenta a variação da con-
centração de cobre durante o período de monitoramento.
De acordo com a CETESB o cobre no meio ambiente pode ter origem com o uso de
algicidas, efluente de estações de tratamento de esgotos e uso de compostos agrícolas
com cobre. Uma vez que foram verificadas altas concentrações deste composto para todos
os trechos de monitoramento pode se supor que a contaminação ocorra devido a fontes de
poluição difusa, principalmente decorrente do uso de algicidas em locais de criação de peixe
e pela lixiviação deste composto nas áreas agrícolas.

Figura 05. Variação da concentração de cobre.

Manganês

De acordo com a CETESB (2014) o manganês pode ser encontrado naturalmente em


águas superficiais, porém ações antropogênicas são também responsáveis pela contami-
nação da água. A Figura 06 apresenta a variação da concentração de manganês durante o
período de monitoramento.

187
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 06. Variação da concentração de manganês.

Como é possível observar diversas amostras obtiveram concentrações superior ao


estabelecido na legislação para rios de Classe 2, que é de 0,1 mg L–1. Percebe-se também
que estas concentrações acima do limite foram encontradas durante os meses em que as
precipitações são mais intensas, e para os trechos monitorados que estão localizados em
áreas de maior susceptibilidade a processos erosivos (trechos dos pontos 5 a 9).
Assim pode-se estimar que as concentrações verificadas tenham origem no carreamento
deste composto a partir do solo e também do uso de compostos agrícolas que contenha em
sua composição o manganês.

Níquel

A concentração limite de níquel nas águas superficiais (0,025 mg L–1), para o rio Pirapó
não foi ultrapassada na maioria das amostras, sendo que apenas nas coletas referentes
aos meses de Fevereiro/2013 (trechos 1, 2, 3 e 8), Março/2013 (trecho 9) e Novembro/2013
(trechos 6, 7, e 9).
A Figura 07 apresenta a variação da concentração de níquel durante o período
de monitoramento.

188
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 07. Variação da concentração de níquel.

Freire (2010) cita que a principal fonte de contaminação de níquel em águas superficiais
tem origem no escoamento superficial em áreas urbanas, uma vez que a maior contribuição
de níquel provém do uso industrial. Este fato pode ser facilmente verificado uma vez que os
meses de maior concentração corresponderam aos meses de precipitação de maior inten-
sidade, e os pontos que apresentaram valores superiores estão localizados a montante de
trechos onde ocorre o lançamento de efluentes industriais. A única exceção está no ponto1
(Fevereiro/2013) onde não foi possível determinar as causas do aumento da concentração
deste parâmetro.

Potássio

De acordo com a CESTEB (2014) o potássio é encontrado naturalmente em concentra-


ções muito baixas, já que as rochas que contenham potássio são relativamente resistentes
às ações do tempo. Porém sais de potássio são amplamente utilizadas nas industriais e em
fertilizantes de uso agrícola, e as concentrações observadas tem origem na descarga de
efluentes e na lixiviação dos solos agrícolas.
A Figura 08 apresenta a variação da concentração de potássio para o período de moni-
toramento, sendo que para este composto não existe nenhum limite definido em legislação.

189
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 08. Variação da concentração de potássio.

As concentrações observadas entre Outubro/2012 e Agosto/2013 estão em um intervalo


que vai de 0,2 à 0,9 mg L–1, enquanto as concentrações no período entre novembro/2013 e
janeiro/2014 estão em um intervalo que vai de 0,5 a 1,9 mg L–1. Segundo ainda a CETESB
(2014), nas águas naturais geralmente são encontrados valores inferiores a 10 mg L–1,
desta forma pode-se concluir que as concentrações obtidas não indicam contaminação das
águas por potássio.

Sódio

A resolução CONAMA n°357/2005 não estabelece nenhum valor limite para este com-
posto, pois o sódio pode ser encontrado naturalmente em qualquer água superficial já que
é um dos elementos mais abundante na terra. A Figura 09 apresenta a variação da concen-
tração deste elemento durante o período de monitoramento.
Verifica-se através dos dados obtidos é possível observar três momentos distintos
para as concentrações deste elemento. Não é possível determinar com exatidão quais os
fatores que causaram o aumento das concentrações, pois como citado anteriormente ele
corresponde a um dos elementos químicos mais abundantes na terra.

190
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 09. Variação da concentração de sódio.

Os dados obtidos permitem observar 3 momentos diferentes para as concentrações


de sódio nas águas superficiais do rio Pirapó: o período entre Outubro/2012 e Janeiro/2013
onde mediu-se as maiores concentrações; o período entre Fevereiro/2013 e Junho/2013
onde as concentrações não ultrapassaram o valor de 1 mg L–1; e as amostragens para os
meses de Agosto/2013, Novembro/2013, Dezembro/2013 e Janeiro/2014, em que não foram
encontradas concentrações deste elemento.

Zinco

O período que entre os meses de Outubro/2013 e Janeiro/2013 apresentou valores su-


periores ao limite (0,18 mg L–1) estabelecido em legislação para o elemento zinco. Enquanto
para os demais meses de monitoramento apenas os trechos representados pelo ponto 1
(Fevereiro/2013) e ponto 6 (Março/2013) mediu-se valores superiores ao limite estabeleci-
do. As concentrações medidas para zinco ao longo do período de monitoramento é apre-
sentada na Figura 10.

191
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 10. Variação da concentração de zinco.

A poluição por zinco pode ser associada tanto ao lançamento de efluentes quanto
ao uso de compostos agrícolas que contenha zinco em sua composição. Não foi possível
determinar as causas do comportamento deste parâmetro nas águas superficiais do rio
Pirapó. O que pode ser suposto é que por ocorrer concentrações superiores ao limite em
todos os pontos entre os meses de Outubro/2012 e Janeiro/2013, a contaminação ocorre
por uso de produtos agrícolas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em geral percebe-se que grande parte da contaminação registrada na bacia hidrográ-


fica do rio Pirapó tem origem de fontes difusas, e está relacionada à agricultura extensiva
praticada em quase a totalidade da bacia hidrográfica, agricultura esta que utiliza uma vasta
variedade de produtos que possuem, muito provavelmente, a maior parte dos compostos
com concentração superior ao estabelecido na Resolução CONAMA n° 357/2005.
As concentrações de metais apresentaram uma grande variabilidade entre os meses
de monitoramento e entre os pontos de monitoramento. Para alguns metais a composição
dos solos da bacia hidrográfica pode ser a respostas para as concentrações observadas.
Entretanto, alguns metais apresentaram concentrações acima do que poderia ser es-
perado pela composição do solo, como é o caso do Al, Ba, Cd, Cu, Mn, e acima dos limites
estabelecidos para um rio de Classe 2, indicam a existência de fontes de origem antrópica.
Essa origem antrópica no caso da bacia hidrográfica do rio Pirapó é provavelmente rela-
cionada ao uso de produtos agrícolas nas áreas rurais que apresentam esses metais na

192
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
sua composição. Assim é possível concluir que existe a necessidade de tomada de ações
mitigadoras para a manutenção da qualidade da água do rio Pirapó.

REFERÊNCIAS
1. BONIFÁCIO, C. M. Avaliação da fragilidade ambiental em bacias hidrográficas do alto vale do
rio Pirapó, Norte do Paraná: proposta metodológica. 2013. Dissertação. Universidade Estadual
de Maringá, 2013.

2. FREIRE, R. Monitoramento da qualidade da água da bacia hidrográfica do ribeirão Maringá –


PR. 2010. Dissertação. Universidade Estadual de Maringá, Maringá.

3. GORJON NETO, A. Monitoramento da qualidade da água na bacia do rio Pirapó. Dissertação.


Universidade Estadual de Maringá, Maringá. 2014.

4. NÓBREGA et al. Landscape structure in the Pirapó, Paranapanema 3 and 4 Hydrographic


Unit, in the state of Paraná, Brazil. Braz. J. Biol. vol. 75, no. 4, suppl. 2, pp. S107-S119, 2015.

5. SCHNEIDER, R. M. Qualidade da água e deposição de sedimentos em trechos da bacia hidro-


gráfica do rio Pirapó representados pelo ribeirão Maringá. 2009. Tese. Universidade Estadual
de Maringá, Maringá.

6. VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgoto: Princípios


do tratamento biológico de águas residuárias. 2ª ed. revisada. Vol. 1. Belo Horizonte: Depar-
tamento de Engenharia Sanitária e Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais, 1996.

7. ______. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias: Estudos e Modelagem da


Qualidade da Água de Rio. 1ª ed. Vol. 7. Belo Horizonte: Departamento de Engenharia Sani-
tária e Ambiental, Universidade Federal de Minas Gerais, 2007.

193
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
13
Origem da água do reservatório do
POXIM: uma visão hidrogeoquímica

Rosahelena Reis Morais Silva


UFS

Adnívia Santos Costa Monteiro


UFS

José do Patrocínio Hora Alves


UFS

10.37885/210705375
RESUMO

Nesse trabalho foram utilizados o diagrama de Gibbs e as razões iônicas, como traça-
dores dos processos hidrogeoquímicos envolvidos na composição iônica da água do
reservatório Poxim, localizado em São Cristóvão, no estado de Sergipe, Nordeste do
Brasil. Foram realizadas oito campanhas de amostragem, nos períodos seco e chuvoso,
dos anos de 2013, 2014, 2015, 2017 e 2019. Em cada amostra foram determinados os
seguintes parâmetros: temperatura, pH, sólidos totais dissolvidos, Na+, K+, Ca2+, Mg2+,
HCO3-, SO42- e Cl-. A abundância iônica ocorreu na seguinte ordem Ca2+ > Na+ > Mg2+
> K+ e HCO3- > Cl- > SO2-. O diagrama de Gibbs indicou uma nítida evolução do domínio
da precipitação para o intemperismo e nessas condições, a interação água – rocha passa
a ser o principal mecanismo que controla os constituintes iônicos dissolvidos na água.
Através das razões iônicas foi possível inferir que a dissolução do sal marinho carreado
através da deposição atmosférica, seguido do intemperismo da biotita e dissolução da
calcita, foram os principais processos geoquímicos responsáveis pelas características
químicas da água do reservatório Poxim.

Palavras-chave: Hidrogeoquímica, Intemperismo, Razões Iônicas.

195
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

A construção de barragens é uma das estratégias utilizadas para atender a deman-


da, em regiões de escassez hídrica, como o Nordeste do Brasil. Alguns reservatórios em
Sergipe já apresentam processo de salinização elevada (ALENCAR, 2020; SILVA, 2020),
inviabilizando os usos para os quais foram inicialmente destinados. Assim, a problemática
da salinização aponta para importância de manter não só a quantidade, mas também a
qualidade das águas reservadas.
É importante portanto, conhecer a origem da composição iônica das águas, a fim de
compreender a dinâmica de interação água - rocha e ainda, interpretar as variações quími-
cas associadas aos processos de salinização dos reservatórios (NAGARAJU et al., 2018;
GUO et al., 2018). Apesar disso, a grande maioria dos estudos de qualidade da água, não
contemplam a abordagem hidrogeoquímica.
A interação água – rocha leva a dissolução de minerais e a composição química da
água reflete o equilíbrio entre as alterações induzidas pela dissolução dos minerais ter-
modinamicamente instáveis e a formação de novos minerais estáveis. O intemperismo é
considerado a principal origem da composição iônica das águas superficiais e é influencia-
do principalmente, pelo tempo de retenção da água, pela temperatura e pelo pH (MORÁN-
RAMÍREZ et al., 2016).
Os minerais mais solúveis e que estão presentes nas rochas em maior quantidade
são os evaporitos, carbonatos e silicatos, por isso, os íons mais importantes na composi-
ção química das águas são o Na+, K+, Ca2+, Mg 2+, HCO3-, SO42- e Cl- (JIANG et al. 2015;
WAHED et al., 2015).
O rio Poxim, que já representou 70 % da água de abastecimento da região metropoli-
tana da cidade de Aracaju, capital do estado de Sergipe, atualmente contribui apenas com
aproximadamente 30%. Com a construção da barragem é possível ampliar o aproveitamento
da água do rio Poxim, visto que permite acumular água durante os períodos chuvosos e de
maior vazão do rio. A expectativa é que o reservatório do rio Poxim garanta o abastecimento
da região metropolitana de Aracaju pelos próximos 20 anos (NEVES et al., 2016).
Esse estudo é o primeiro a investigar a origem das características química da água do
reservatório Poxim, através de uma visão hidrogeoquímica, utilizado o diagrama de Gibbs
(1970) e as razões iônicas dos dados hidroquímicos.

196
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
MÉTODO

Área de estudo

O reservatório Poxim é formado pelo barramento do rio Poxim-Açu, inserido na bacia


hidrográfica do Rio Sergipe, possui uma capacidade de acumulação de 32.730.000 m3 e
altura máxima de 25 m. Está localizado no Povoado Timbó no município de São Cristóvão
- Sergipe, nas coordenadas geográficas 10o 54´ 42,8´´ S e 37o 12´ 40,3´´O (Figura 1). Foi pro-
jetado para garantir o abastecimento de água da região metropolitana da cidade de Aracaju
para as próximas duas décadas. Sua construção teve início em 2001 e começou a operar
em 2013. As condições climáticas predominantes na região são o clima tropical úmido, com
período seco de setembro a março e período chuvoso de abril a agosto, com precipitação
anual variando de 1.600 a 1.900 mm. A temperatura média é de 23 °C, para os meses mais
frios, junho a agosto, e de 31 °C para os meses mais quentes, dezembro a fevereiro (NEVES
et al., 2016). Na região próxima ao reservatório Poxim predominam rochas sedimentares
da formação Barreiras e depósitos flúvio-lagunares, apresentando solos do tipo vertissolos
e argissolos (SERGIPE, 2012).

Figura 1. Localização do reservatório Poxim com o ponto de amostragem.

Amostragem e análises químicas

Nesse estudo foram utilizados os dados gerados no Programa de Monitoramento de


Qualidade da Água das Bacias Hidrográficas do Estado de Sergipe (ALVES et al., 2018),
para os seguintes parâmetros: pH, temperatura, sólidos totais dissolvidos (STD), HCO3-,
SO42-, Cl–, Na+, K+, Ca2+ e Mg2+.

197
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
As amostras de água superficial foram coletadas em oito campanhas amostrais em
um único ponto (Figura 1), nos anos de 2013, 2014, 2015, 2017 e 2019. As amostras fo-
ram coletadas e analisadas pelo Laboratório de Química da Água do Instituto Tecnológico
e de Pesquisas do Estado de Sergipe (ITPS), usando a metodologia descrita no Standard
Methods (APHA, 2012).
A precisão das análises foi determinada por meio do balanço iônico, usando a se-
guinte a equação:

x 100 (1)

Onde,
∑cátions = somatório das concentrações em meq L–1 de Ca+2, Mg+2, Na+ e K+; ∑ânions
= somatório das concentrações em meq L–1 de HCO3-, SO42-, Cl- e A é a percentagem de
erro do balanço iônico.
O valor de A, para as amostras analisadas variaram de – 6,2 % a 4,0 % com um valor
médio absoluto de 1,3 %. De acordo com YAOUTI et al. (2009) um erro de ± 10 % no balanço
iônico é aceitável para esse tipo de estudo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Hidroquímica

A estatística descritiva dos parâmetros medidos é apresentada na Tabela 1. Os valo-


res do pH variaram de 6,9 a 7,8 com valor médio de 7,5 ± 0,3, enquanto os sólidos totais
dissolvidos (STD) apresentaram uma variação de 81,00 a 111,2 mg L–1 com média de
93,85 ± 11,67. O total de cátions e ânions foi em média 28,65 e 65,41 mg L–1, respectiva-
mente. A abundância iônica em relação ao total de cátions e ânions, mostrou a seguinte
distribuição: Ca2+ (49,1 %) > Na+ (36,4 %) > Mg2+ (8,8 %) > K+ (5,6 %) e HCO3- (71,3 %) >
Cl– (25,3 %) > SO42- (3,4 %).

Tabela 1. Estatística descritiva dos parâmetros medidos para a água do reservatório Poxim. (Média±dp = média ± desvio
padrão, T = temperatura da água, STD = sólidos totais dissolvidos).

Parâmetros Mínimo - Máximo Média ± dp

pH 6,9 – 7,8 7,5 ± 0,3


T ( C)
o
25,0 – 30,0 27,7 ± 1,7
STD (mg L–1) 81,00 – 111,2 93,85 ± 11,67
Na+ (mg L–1) 6,54 - 14,30 10,42 ± 2,63
K+ (mg L–1) 0,77 – 3,63 1,62 ± 0,94
Ca (mg L )
2+ –1
10,80 – 20,59 14,07 ± 3,00

198
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Parâmetros Mínimo - Máximo Média ± dp

Mg2+ (mg L–1) 1,90 – 3,50 2,54 ± 0,58


SO (mg L )
4
2- –1
1,53 – 3,60 2,20 ± 0,69
Cl– (mg L–1) 13,19 – 19,89 16,54 ± 2,64
HCO3- (mg L–1) 43,16 – 55,77 46,67 ± 4,26

Hidrogeoquímica

Para identificar os processos que controlam a composição química de águas superfi-


ciais tem sido amplamente utilizado o diagrama de Gibbs (GIBBS, 1970; MARANDI; SHAND,
2018; MONTEIRO, et al., 2021).
O diagrama foi construído plotando as razões Na+/(Na++Ca2+) em função dos STD e
tem a forma de um “bumerangue”. Águas com elevada proporção de Na+/ (Na+ + Ca2+) (apro-
ximadamente 1,0) se distribuem nos extremos do “bumerangue” e podem ser resultantes
do processo de evaporação (extremo superior direito) ou influenciadas pela precipitação
(extremo inferior direito). Enquanto águas com razão Na+/ (Na+ + Ca2+) < 0,5 se localizam à
esquerda da parte do meio do “bumerangue”, por apresentarem concentrações maiores de
Ca2+ e HCO3- comparadas às concentrações de Na+ e Cl–, indicando que o mecanismo final
dominante é o intemperismo.
As amostras de água do reservatório Poxim estão situadas na interface entre a preci-
pitação e o intemperismo, mas com uma nítida evolução para o domínio do intemperismo
(Figura 2). De acordo Marandia e Shand (2018), na evolução para o domínio do intemperismo,
a interação com as rochas passa a ser o processo mais importante e geralmente ocorre com
relativa rapidez, passando o domínio iônico da água a ser Ca2+ e HCO3-. É exatamente isso
que se observa na água do reservatório Poxim, onde o Ca2+ e HCO3- se destacaram como
íons dominantes (Tabela 1).

Figura 2. Distribuição das amostras do reservatório Poxim no diagrama de Gibbs.

Fonte: Adaptado de Gibbs, 1970.


199
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Para identificar os principais processos geoquímicos responsáveis pela composição
iônica da água, tem sido utilizadas as razões iônicas dos dados hidroquímicos. (BARZEGAR
et al., 2018; ZHANG et al., 2018).
A relação Na+ versus Cl– é geralmente utilizada para identificar a origem desses íons.
Uma relação 1:1 pode estar associada a dissolução da halita (Eq. 1) de origem litogênica
ou ao sal marinho depositado no solo (deposição seca) e arrastado para água pelo escoa-
mento superficial, enquanto uma relação 1:0,85 corresponde a relação do sal marinho na
precipitação atmosfera (DREVER, 1982).

NaCl (1)

A Figura 3a mostra a relação do Na+ com o Cl–, onde se observa a distribuição das
amostras do Poxim próximas as linhas 1:0,85 e 1:1. Considerando que o reservatório está
localizado numa região próxima a costa e sem evidencias de presença de evaporitos, con-
clui-se que o aerossol marinho trasportado pela precipitação atmosférica e pela deposição
seca, deve ser a principal origem do Cl– e Na+. Comportamento semelhante foi observado
para a água do reservatório Jacarecica I (ALVES et al., 2021).
Os minerais carbonatados (calcita e dolomita) e sulfatados (gipsita), de modo geral,
são as principais origens dos íons Ca2+ e Mg2+ nas águas naturais, pois possuem maior so-
lubilidade que os silicatos. Na Figura 3b, se todas as amostras se distribuíssem em torno da
linha 1:1, os cátions Ca2+ e Mg2+ seriam originários principalmente, da dissolução da calcita,
dolomita e gipsita. Observa-se, no entanto, que a maioria dos pontos estão abaixo da linha
1:1, indicando a contribuição de outras fontes além dos carbonatos e sulfatos.

Figura 3. Gráficos de dispersão: a) Na+ vs Cl–, b) Ca2+ + Mg2+ vs HCO3- + SO42-.

(b)

Em relação aos carbonatos, quando a contribuição da calcita é predominante, a relação


HCO3-/Ca2+ na água é igual a 2 (Eq. 2) e quando predomina a contribuição da dolomita essa
relação é igual a 4 (Eq. 3).

(2)
200
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
(3)

Na Figura 4a a proximidade das amostras com a linha 1:2 sugere que a dissolução da
calcita é mais significativa que a da dolomita.
Na Figura 4b as amostras ficaram muito abaixo da linha 1:1, linha de dissolução da
gipsita (Eq. 4), evidenciando a baixa contribuição da gipsita para as concentrações do cálcio.

(4)

Além da gipsita, outra fonte potencial de SO42- é a precipitação atmosférica, poden-


do ainda ter alguma contribuição de aportes antropogênicos (MORÁN-RAMÍREZ et al.,
2016). Na água do reservatório Poxim, a razão média do SO42-/Cl– foi de 0,100±0,034 meq
L–1, que é equivalente a razão no aerossol marinho (0,104 meq L–1), sugerindo, portanto, que
nesse caso, a precipitação atmosférica deve ser a principal fonte de SO42-.
A contribuição do intemperismo dos silicatos corresponde a dissolução ou alteração
dos minerais presentes na base rochosa, que se degradam de forma incongruente, gerando
fases sólidas (geralmente argilas) juntamente com as espécies iônicas dissolvidas (DREVER,
1982). A relação do (Ca2+ + Mg2+) com o total de cátions (∑ cátions) gerados na reação de
degradação do silicato, tem sido utilizada para entender a contribuição do intemperismo dos
silicatos (BARZEGAR et al., 2018). A proximidade das amostras do Poxim da linha 1:0,6
(Figura 4c) indica a contribuição também, do intemperismo dos silicatos, para as concentra-
ções do Ca2+ e Mg2+ na água do reservatório, de acordo com a equação 5, onde a relação
(Ca2+ + Mg2+)/total de cátions é igual a 209/330 = 0,6 (DREVER, 1997).

(5)

201
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 4. Gráficos de dispersão: a) HCO3- vs Ca2+, b) SO42- vs Ca2+, c) Ca2+ + Mg2+ vs ∑cátions.

(a)

CONCLUSÕES

A combinação do diagrama de Gibbs e as razões iônicas permitiram identificar com


sucesso os principais processos geoquímicos responsáveis pelas características químicas
da água do reservatório Poxim.
O diagrama de Gibbs indicou a interações água – rocha como o principal mecanismo
que controla os constituintes iônicos dissolvidos na água.
Através das razões iônicas foi possível inferir que a dissolução do sal marinho carreado
através da deposição atmosférica, seguido do intemperismo da biotita e dissolução da calcita,
foram os principais processos geoquímicos responsáveis pelas características químicas da
água do reservatório Poxim.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq): Esse


trabalho é parte do projeto “Hidrogeoquímica dos processos que controlam a salinização

202
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
dos reservatórios de Sergipe”, aprovado na Chamada Universal 2018, e conta com finan-
ciamento do CNPq.
A CAPES pela concessão da bolsa de mestrado.
Esse trabalho utilizou os dados gerados no Projeto “Monitoramento de Mananciais
Superficiais e Reservatórios do Estado de Sergipe”. Por isso apresentamos nossos agrade-
cimentos à Superintendência Especial de Recursos Hídricos e Meio Ambiente (SERHMA/
SEDURBS) e ao Instituto Tecnológico e de Pesquisas de Sergipe (ITPS).

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204
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
14
Os impactos da presença de
agrotóxicos em cursos d’água no
município de Buri – SP

Daniela Passos de Macedo


UFSCAR

Cássia Maria Bonifácio


UFSCAR

10.37885/210805776
RESUMO

O presente trabalho versa sobre os defensivos agrícolas e sua interferência no meio


ambiente, sendo que tal relação implica, inevitavelmente, diversas alterações na saúde
humana, atingindo, assim, tanto o indivíduo em sua singularidade quanto o corpo social
em que está inserido. Nesse contexto, esta pesquisa tem como objetivo geral verificar,
de forma indireta, se há presença de agrotóxicos nas águas superficiais do município de
Buri – SP, além de averiguar a possível interferência de tais agrotóxicos na saúde huma-
na. Especificamente, este estudo visa comparar a quantidade de agrotóxicos encontrada
no ambiente pesquisado com o limite estabelecido pela legislação europeia e elucidar
os problemas que tais agrotóxicos geram à saúde humana. Trata-se de uma pesquisa
exploratória, de cunho qualitativo, por meio da pesquisa bibliográfica e documental. Por
fim, conclui-se que essas substâncias são encontradas em altas taxas nos ambientes
estudados, o que ameaça a saúde nas esferas individual, público e ambiental.

Palavras-chave: Pesticidas, Saúde Pública, Legislação.

206
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

A água é um elemento fundamental para a manutenção dos ecossistemas, entretanto,


a escassez e a degradação deste recurso são assuntos cada vez mais recorrentes. Segundo
a Agência Nacional de Águas (ANA), o Brasil obtém aproximadamente 12% da água doce
do mundo. Ainda assim, existem diversos fatores que podem alterar sua qualidade nas di-
ferentes escalas de uma bacia hidrográfica (DING et al., 2016).
Entre esses fatores há dualidades: antrópicos e naturais. Nesse sentido, ações antrópi-
cas acarretam prejuízos na qualidade da água de forma pontual (lançamentos de efluentes
urbanos residenciais e industriais) e difusa (carreamento de insumos agrícolas), por meio
da urbanização, industrialização e de determinados usos agrícolas (BORSOI et al., 2014).
No sistema natural também há fragilidades, das quais pode decorrer a alteração da
qualidade das águas - como o efeito splash sobre o solo e o grau de inclinação das verten-
tes, os quais propiciam um acelerado processo de carreamento partículas para áreas mais
baixas e a deposição e transporte de sedimentos aos cursos d’água. Dessa forma, aspectos
antrópicos e naturais podem influenciar sobre a qualidade da água de determinada região
(SINGH et al., 2009).
Todavia, é importante destacar que a influência antrópica sobre os recursos hídricos
não implica somente a adição de sedimentos aos sistemas fluviais – conforme acontece
com a influência natural – mas que, aliados a tais sedimentos, estão adsorvidos também os
contaminantes, os quais alteram e degradam a qualidade da água de diferentes maneiras
nos corpos hídricos (MERTEN, POLETO, 2013).
Considerando-se o uso e ocupação do solo, desde pequenas propriedades à exten-
sas áreas agrícolas, a poluição difusa pode ocorrer de forma contínua, associando fatores
naturais (precipitação, textura do solo e relevo) a fatores antrópicos, (agricultura intensiva,
manejo inadequado de agrotóxicos e herbicidas), os quais serão determinantes frente às
características e qualidade da água dos cursos d’água daquele ambiente.
Com base na influência desses fatores sobre a qualidade das águas, o Ministério da
Saúde determinou, por meio da Portaria n. 2.914/2011, que toda água destinada ao consu-
mo humano deve atender ao padrão de potabilidade e aos critérios de controle e vigilância,
não oferecendo riscos à saúde (BRASIL, 2011). Tal Portaria abrange a instância federal,
contudo, faz-se necessária a averiguação de determinadas regiões e localidades, visando
aferir se a qualidade da água local está de fato sendo cumprida conforme o padrão e crité-
rios estipulados pelo Órgão.
Dessa forma, considerando uma escala de análise em detalhe, o trabalho em questão
tem como objetivo avaliar a presença de agrotóxicos em amostras de águas superficiais,
com dados de 2018, disponibilizados pelo sistema de informação de vigilância da qualidade
207
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
da água para consumo humano (SISAGUA), coletadas em cursos d’água do município de
Buri, pertencentes à bacia hidrográfica do Alto Paranapanema, região sudoeste do Estado
de São Paulo, de modo a avaliar o impacto do uso de agrotóxicos sobre os recursos hídri-
cos e saúde humana.

MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia adotada para o desenvolvimento deste trabalho foi inspirada nos estudos
de documentação indireta. A análise foi realizada em três fases:
Na primeira procedeu-se uma revisão bibliográfica, com o objetivo de reunir a bibliografia
sobre o tema estudado. Para isso fez-se uso de fontes de documentos, tais quais: artigos,
dissertações e teses, em plataformas de busca de acesso público e pela plataforma Cafe-
UFSCar. Sobre os critérios de escolha da bibliografia, foram considerados somente artigos
em revistas indexadas, assim como dissertações e teses publicadas entre o período de
(2010 a 2020), visando um referencial teórico mais atualizado. As palavras-chave utilizadas
para a busca foram: “agrotóxicos em água”, “pesticidas em água”, “efeito dos agrotóxicos
na saúde humana”, “agrotóxicos na legislação brasileira”.
A segunda fase consistiu em pesquisa documental, visando a coleta de dados por
documentos. Nesta fase foram consultados dados do Ministério da Agricultura, IBGE, ANA,
SEMAs e Prefeituras. Tais documentos tiveram foco de um levantamento quantitativo sobre
os agrotóxicos disponíveis nas águas superficiais do município de Buri - SP, como também
um levantamento qualitativo, no que tange às possibilidades de interferência de tais agro-
tóxicos na saúde humana.
E a terceira fase abordou sobre a possível relação entre os agrotóxicos encontrados nos
municípios e os possíveis efeitos nos munícipes. Para isso fez-se uma consulta na Portaria
nº 518/2004 do Ministério da Saúde, que discorre sobre a caracterização dos agrotóxicos.
Vale destacar que os limites considerados para análise foram os da União Europeia, uma
vez que o Brasil não considera um limite máximo de agrotóxico a ser aplicado nos cultivos ou
encontrado nos cursos hídricos, há somente um parâmetro definido pela ANVISA que leva
em consideração a quantidade de agrotóxico encontrada no produto final para o consumidor,
não questionando sobre os resíduos que permanecem no meio ambiente.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O município de Buri encontra-se na região sudoeste do Estado de São Paulo, localizado


a 48º35’34”O e 23º35’30”S (Figura 1).

208
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 1. Contexto de localização do município de Buri – SP.

Fonte: Autoria própria.

O município pertence à bacia hidrográfica do Alto Paranapanema - UGRHI 14, onde


Buri tem sua área territorial na sub-bacia do Baixo Apiaí-Guaçu (ANA, 2020). Em relação
à densidade demográfica, o município de Buri possui 19.926 mil habitantes (IBGE, 2020).
Conforme os dados do IBGE (2019), o PIB do município caracteriza-se amplamente
pela produção agrícola, na qual se concentra em culturas temporárias, com maior cultivo
de cana-de-açúcar, soja e milho, além de abranger demais produtos, conforme apresen-
tado na Tabela 1.

Tabela 1. Produção agrícola do município de Buri - SP em 2019.

Produção agrícola Quantidade produzida (t)

Milho 79.306
Soja 66.066
Trigo 17.128
Tomate 16.800
Batata-inglesa 16.300
Feijão 4.410
Batata-doce 3.034
Sorgo 3.000
Melancia 720

Neste sentido, a produção agrícola do município consiste em culturas temporárias de


agricultura intensiva, as quais utilizam amplamente insumos agrícolas e agrotóxicos.
209
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Pignati et al (2017) destacam que a soja é a cultura que mais utiliza agrotóxicos no
Brasil, seguida do milho e da cana de açúcar, com 63%, 13% e 5% respectivamente.
É importante destacar que em determinados momentos, principalmente no pós-colheita,
o solo fica exposto, facilitando assim o efeito splash com a desagregação das partículas
pela chuva, das quais são escoadas para a baixa vertente, chegando aos cursos d’água
(BONIFÁCIO, 2019). Nota-se que as partículas que chegam aos corpos hídricos são acom-
panhadas por demais compostos, que são adsorvidos e transportados juntamente para a
água – contaminando as águas superficiais.
Ademais, os agrotóxicos podem afetar diretamente a saúde humana por duas formas
de consumo: pela água e pelo alimento contaminado. Nesta perspectiva de risco à saúde
humana, o Ministério da Agricultura classificou os agrotóxicos, de acordo com sua toxicidade,
por meio do Decreto nº 4.074/2002, conforme apresentado na Tabela 2.

Tabela 2. Classificação de toxicidade em relação à saúde humana.

Classe Toxicidade Dosagem Letal Cor indicada na embalagem

I Extremamente tóxico 5 mg/kg Faixa vermelha


II Altamente tóxico Entre 5 e 50 mg/kg Faixa amarela
III Moderadamente tóxico Entre 50 e 500 mg/kg Faixa azul
IV Pouco tóxico Entre 500 e 5000 mg/kg Faixa verde
Fonte: WHO, 1990; OPS/WHO, 1996 – apud PERES et al., 2003, p. 28.

Com o aumento da utilização desses compostos, amplia-se a necessidade de fiscalizar


e monitorar as possíveis contaminações. Esse cenário se agrava com as taxas de substân-
cias que estão em processo de análise pela ANVISA ou no período de retirada do mercado.
Ainda assim, como demonstra Carneiro et. al. (2015), agrotóxicos como o glifosato,
endosulfan, metamidofós, 2.4D, parationa-metílico e o acefato, são detectados em amostras
de alimentos e, mesmo os que estão nas etapas de reavaliação, são comercializados em
larga escala no país.
Nesse sentido, entre os últimos dados da Organização Internacional do Trabalho e da
Organização Mundial da Saúde (OMS), avaliam que anualmente os países em desenvolvi-
mento apresentam setenta mil intoxicações agudas e crônicas letais, além de pelo menos
sete milhões de doenças agudas e crônicas não fatais. Assim, nota-se a importância do
conhecimento das substâncias e seus efeitos, como os que estão demonstrados na Tabela
3, incluindo o limite estabelecido pela União Europeia.

210
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Tabela 3. Agrotóxicos detectados na água do município de Buri – SP.

Substâncias Categoria Situação (ANVISA)

Aldicarbe Inseticida Banido


Carbendazim Fungicida Autorizado
Carbofurano Inseticida Banido
Clorpirifós Inseticida Autorizado
Diuron Herbicida Autorizado
Acima do limite reco-
mendado pela União Glifosato Herbicida Autorizado
Europeia 2017
Mancozebe Fungicida Autorizado
Parationa Metílica Inseticida Banido
Profenofós Inseticida Autorizado
Tebuconazol Fungicida Autorizado
Terbufós Inseticida Autorizado
2,4 D + 2,4,5 T Herbicida Autorizado
Alaclor Herbicida Autorizado
Aldrin Inseticida Banido
Atrazina Herbicida Autorizado
Clordano Inseticida Autorizado
DDT+DDD+DDE Inseticida DDT Banido
Endossulfan Fungicida/Inseticida Banido
Endrin Inseticida Banido
Outros
Lindano Inseticida Banido
Metamidofós Inseticida Banido
Metolacloro Herbicida Banido
Molinato Herbicida Banido
Pendimetalina Herbicida Autorizado
Permetrina Inseticida Autorizado
Simazina Herbicida Autorizado
Trifluralina Herbicida Autorizado
Fonte: SISAGUA, 2018.

O 2,4 D possui a classificação toxicológica máxima (Classe I). Segundo SISAGUA


(2011), é um dos compostos encontrados com valores acima do padrão de potabilidade es-
tabelecido. Embora apresente diversos efeitos adversos, o herbicida é autorizado no Brasil
pela Anvisa e no último relatório a instituição descreveu que não há indícios suficientes de
efeitos graves à saúde humana ou animal (ANVISA, 2019).
O Alaclor pertence à classe toxicológica III, sendo moderadamente tóxico. Segundo
o estudo de Knapp et al. (2003) descreveram que é um agrotóxico frequentemente encon-
trado em águas superficiais com impactos do setor agrícola. Na saúde humana, Sanches,
Crespo e Pereira (2010) avaliam o alaclor como um composto carcinogênico e que promove
alterações endócrinas.
Sendo a única substância com taxas maiores do que o estabelecido como seguro no
Brasil, o Aldrin é um inseticida banido no território brasileiro definitivamente desde 1998, por
211
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
meio da Portaria nº 12 do Ministério da Saúde. Esse composto foi relacionado ao câncer,
disfunções no sistema reprodutor, endócrino e imunológico. Estima-se que a dose letal é de
5g e pode estar associado ao câncer de fígado e vesícula biliar (STEVENSON et al., 1999).
O Carbendazim é um fungicida classificado como medianamente tóxico (classe
III). O composto é relacionado a potenciais mutagênicos e/ou carcinogênicos (SILVA et al.,
2014). Embora apresente essas características, além de defeitos congênitos e distúrbios
endócrinos, é autorizado em território brasileiro. Desse modo, é utilizado em diversas mo-
noculturas, inclusive na produção de laranja, o qual foi responsável pela contaminação
do suco exportado e devolvido pelo governo americano, já que o fungicida é banido pelo
país (FDA, 2012).
O Carbofurano possui alta toxicidade aguda, já que possui suspeita de desregulação
endócrina. Encontra-se banido pela Anvisa, além de ser proibido na Comunidade Europeia
e nos Estados Unidos.
O inseticida Clorpirifós é classificado como altamente tóxico (classe II). Atualmente,
é autorizado pela Anvisa, mas estudos como o de Eaton et al (2008) o avaliam como um
composto neurotóxico. Em adição, o clorpirifós já foi relacionado a alterações no sistema
reprodutivo masculino de ratos tratados por via oral, provocou alterações histopatológicas
de testículos e, por fim, diminuiu a contagem de espermatozoides e a fertilidade animal
(JOSHI et al., 2007).
Já o inseticida DDT é alvo de debates desde a década de 1970, como a obra citada de
Rachel Carson. No Brasil, é responsável pela Lei nº 11.936 de 14 de maio de 2009, a qual
dispõe a proibição da fabricação, importação, exportação, manutenção em estoque, comer-
cialização e o uso, além de outras providências. Dessa forma, banido no país, é relacionado
à persistência dos seus ingredientes ativos em toda a cadeia alimentar, contaminando até
o leite materno.
O herbicida Diuron é classificado como moderadamente tóxico (Classe III) e autorizado
em território brasileiro pela Anvisa. Utilizado como forma de controle para ervas daninhas, o
composto é cancerígeno, sendo comprovado em tratos urinários de ratos e sendo tóxico para
a reprodução de animais marinhos, como ostras e ouriços do mar. Ademais, é relacionado
a alterações nocivas em desenvolvimento fetal, além de defeitos congênitos e distúrbios
endócrinos (HUOVINEN et. al., 2015).
O Endossulfan é um inseticida classificado com alta toxicidade aguda, já que possui
suspeita de desregulação endócrina e toxicidade reprodutiva. Nesse sentido, estudos de-
monstram que a substância provoca quebras na fita de ácido desoxirribonucleico (DNA),
troca entre cromátides irmãs e aumento na frequência de micronúcleos (LU et al., 2000;
BAJPAYEE et al., 2006). Outros efeitos já foram avaliados como a redução da fertilidade
212
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
feminina por endometriose (FOSTER et al, 2002), além da possibilidade de estar envolvido
em casos de câncer de mama (SOTO et al., 1994), já que também é imunossupressor em
baixas doses, causando a diminuição na produção de anticorpos humorais, agindo no de-
senvolvimento de tumores. O composto foi banido no Brasil em 2013 e também é proibido
na Comunidade Europeia e na Índia (permitida apenas a produção).
O Glifosato é um herbicida permitido em território brasileiro e classificado como classe
IV. O composto está relacionado a efeitos adversos como câncer, defeitos congênitos, além
de mal de Parkinson, depressão e outros distúrbios comportamentais (HESS & NODARI,
2015). Atualmente possui solicitação para a revisão da Ingestão Diária Aceitável (IDA) e,
apesar de não possuir resultados analíticos acima do valor máximo permitido, está incluso
nas análises de água devido ao alto consumo no país.
O Lindano, atualmente, é um inseticida banido no Brasil e indicado com a mais alta
classificação da Agência Internacional de Pesquisas do Câncer (IARC/WHO). Essa denomi-
nação ocorre devido a ligação direta com a origem do Linfoma Não-Hodgkin, o qual atinge
os gânglios (DIAS, 2015).
O Metamidofós é classificado com alta toxicidade aguda, sendo proibido na Comunidade
Europeia, na China e na Índia, além de estar proibido no Brasil desde julho de 2012. O inse-
ticida é responsável por alterações endócrinas e ultraestruturais da tireoide (SATAR et al.,
2005; 2008), além de estar relacionado a neurotoxicidade.
O inseticida Parationa metílica é classificado como extremamente tóxico (classe
I). O composto causa alterações no sistema reprodutor de ratos, além de aberrações cro-
mossômicas e quebras de DNA em amostras biológicas de seres humanos expostos (SUNIL
KUMAR et al., 1993; RASHID et al., 1984). Ademais, está relacionado a neurotoxicidade,
além de desregulação endócrina, mutagenicidade e carcinogenicidade. Atualmente é banido
no Brasil, assim como na Comunidade Europeia e na China.
O Profenofós é um inseticida autorizado pela Anvisa e classificado como altamente
tóxico (classe II). Está diretamente relacionado a alterações genéticas na cultura de linfócitos
humanos (PRABHAVATHY et al., 2006) e mutações cromossômicas e no sistema reprodu-
tivo de camundongos expostos por via oral (FAHMY et al., 1998; MOUSTAFA et al., 2007).
O Tebuconazol é classificado como pouco tóxico (classe IV). Entretanto, mesmo consi-
derado seguro em baixas dosagens, é um agrotóxico fungicida ligado a alterações na síntese
de hormônios, na reprodução de ratos (TAXVIG et al., 2007) e durante o desenvolvimento
neuronal (MOSER et al., 2001).
Contudo, segundo os corpos d’água amostrados pela Cetesb (2017), o Diuron se des-
taca entre os agrotóxicos quantificados mais frequentes, atingindo 85% das análises. Já o

213
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Carbendazim e o Carbofurano, agrotóxicos também detectados na água do município de Buri,
se encontram na quarta e sétima posição, com 45% e 25% das amostras, respectivamente.
Além disso, vale ressaltar que muitos desses agrotóxicos que foram encontrados nas
águas superficiais do município de Buri são banidos pela legislação internacional. Já a le-
gislação brasileira, pela Portaria do Ministério da Saúde nº518 de 2004, que dispõe sobre
a qualidade da água, regulamenta substâncias que representam riscos à saúde humana,
sendo elas 54 substâncias químicas, das quais 22 são agrotóxicos.
Neste sentido, ressalta-se que as estações de tratamento de água (ETA) convencio-
nais do Brasil, em sua maioria, não dispõem de um sistema de tratamento avançado, logo
tais substâncias podem passar pelo sistema de tratamento e chegar ao consumo humano
(FERNANDES NETO, SARCINELLI, 2009). Assim, várias doenças crônicas são relacionadas
ao uso e consumo de agrotóxicos: pela água, alimento, ar ou contato direto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos no mundo e tal fato não representa
somente a alta produtividade agrícola, mas evidencia o descaso com a fiscalização ou es-
tabelecimento de normas e padrões para tais insumos agrícolas.
Conforme observado a produção agrícola do município de Buri - SP é voltada em
sua maior parte para cana-de-açúcar, soja e milho. Esses cultivos utilizam diversos tipos
de agrotóxicos e estão sobre solos com baixa fertilidade natural, o que aumenta a chance
desses produtos no ambiente – no caso, nos cursos d’água superficiais.
O levantamento mostrou que a qualidade dos recursos hídricos do município encon-
tra-se prejudicada, uma vez que há detecção de agrotóxicos em suas águas, que podem
comprometer tanto o recurso quanto o ecossistema aquático.
Além disso, os munícipes podem estar condicionados à diversas doenças crônicas
desencadeadas pelo consumo de agrotóxicos. Assim, vale lembrar a importância de uma
fiscalização efetiva e de uma gestão adequada, a fim de garantir a saúde da população e a
qualidade ambiental.

214
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
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.

218
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
15
Parâmetros de qualidade da água no
monitoramento ambiental

Cássia Maria Bonifácio


UEM

Maria Teresa de Nóbrega


UEM

10.37885/210805810
RESUMO

Este estudo parte do princípio de que para a gestão das águas é necessário entender
esse recurso como resultado das intensas interações entre os atores sociais e o meio
físico. Reconhece, por outro lado, que o conhecimento das características e condições
ambientais deve ser apreendido de modo integrado e transmitido para os diversos atores
relacionados à gestão e ao uso das bacias hidrográficas. Na gestão integrada dos re-
cursos hídricos, o monitoramento da água é o fator primordial, pois norteia e estabelece
ações de planejamento, fiscalização e enquadramento de cursos d’água. Desse modo, a
água deve ser sistematicamente monitorada, em termos de qualidade e de quantidade.
Neste sentido, a qualidade da água não denota somente a seu estado de pureza, mas às
suas características físico-químico-microbiológicas, que são avaliados por parâmetros de
qualidade, e que determina seus diversos usos. Desse modo, os parâmetros químicos,
físicos e biológicos servem de apoio ao entendimento das influências sobre os recursos
hídricos e aplicação da Resolução Conama 357/2005, visando o aproveitamento múltiplo
e integrado da água.

Palavras-chave: Parâmetros, Cursos d’Água, Qualidade Ambiental.

220
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

A água é um recurso natural dinâmico e requer uma visão sistêmica, dentro da gestão
dos recursos hídricos, pois, por circular por outros sistemas, qualquer alteração, pode refletir
na quantidade e qualidade da hidrosfera (MOTTER e FOLETO, 2010).
Nesse sentido, Lacerda e Cândido (2013) destacam que a gestão integrada de recursos
hídricos busca estabelecer um conjunto de ações que visam o controle e a proteção dos
recursos, frente à legislação e normas pertinentes.
Figueirêdo et al. (2008) destacam ainda que a água deve ser sistematicamente moni-
torada, em termos de qualidade e de quantidade e, Coimbra (1991), complementa sobre o
aproveitamento múltiplo e integrado da água.
De acordo com Yassuda (1993), o monitoramento corrobora para a previsão e controle
ambiental, devendo ser aplicado na gestão dos recursos hídricos. Alves (2006) menciona que
o monitoramento, além de ser um instrumento de controle e avaliação, visa compreender as
influências dos fatores naturais e das ações antrópicas, sobre o ambiente. Segundo a autora,
o monitoramento deve ser realizado por análise de tendências qualitativas e quantitativas,
a fim de identificar alterações nas características analisadas.
Desse modo, Farias (2006) destaca que o monitoramento da qualidade da água é uma
importante ferramenta na gestão dos recursos hídricos, pois fornece informações e dados,
dos quais, segundo Teixeira (2000), refletem o uso e ocupação das bacias hidrográficas.
Conforme Tucci (1997), a qualidade da água é influenciada por inúmeros fatores – for-
mação geológica, solos, geomorfologia, clima e cobertura vegetal – particulares de cada bacia
hidrográfica, variando assim, entre períodos sazonais e os cursos d’água. Já Von Sperling
(2005) destaca que qualidade da água pode ser transformada por condições naturais e por
ações antrópicas:
“Condições naturais: mesmo com a bacia hidrográfica preservada nas suas condições
naturais, a qualidade das águas é afetada pelo escoamento superficial e pela infiltração no
solo, resultantes da precipitação atmosférica. O impacto é dependente do contato da água
em escoamento ou infiltração com as partículas, substâncias e impurezas no solo. Assim, a
incorporação de sólidos em suspensão (partículas de solo) ou dissolvidos (íons oriundos da
dissolução de rochas) ocorre, mesmo na condição em que a bacia hidrográfica esteja total-
mente preservada em suas condições naturais (ocupação do solo com matas e florestas).
Neste caso, têm grande influência a cobertura e a composição do solo.
Ações antrópicas: a interferência do homem, seja de forma concentrada, como na
geração de despejos domésticos e industriais, ou de forma dispersa, como na aplicação
de defensivos agrícolas no solo, contribui na introdução de compostos na água, afetando a

221
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
sua qualidade. A forma em que o homem usa e ocupa o solo tem uma implicação direta na
qualidade da água (VON SPERLING, 2005, p.15).
Além disso, Freire (2010) menciona que a qualidade da água pode ser alterada, ainda,
durante o percurso dos cursos d’água, da nascente à foz, pois ocorre o carreamento de
sedimentos e demais materiais, que podem ser fontes geradoras de poluição.
Nesse contexto, a qualidade da água pode ser retratada por meio de parâmetros, que
determinam suas características físicas, químicas e biológicas, denominados de parâmetros
de qualidade água (SANTOS et al., 2001; PAIVA e PAIVA, 2003; VON SPERLING, 2007).

METODOLOGIA

A metodologia adotada para o desenvolvimento deste trabalho foi inspirada nos estudos
de documentação indireta, no qual procedeu-se uma revisão bibliográfica, visando elaborar
uma base conceitual acerca do tema abordado.
Neste sentido, para alcançar o arcabouço teórico fez-se uma busca em plataformas
de acesso público, dos quais foram encontrados artigos, livros, dissertações e teses. Para
a seleção dos trabalhos foram consideradas pesquisas aplicadas e autores conceituados
na temática. As palavras-chave utilizadas para a busca foram: “parâmetros de qualidade da
água”, “recursos hídricos”, “monitoramento ambiental”.

DISCUSSÃO

Parâmetros físicos e químicos da água

Os parâmetros físicos e químicos são determinados pelas características particulares


da bacia hidrográfica – geologia, relevo e solos associados, condições climáticas e aspectos
de uso e cobertura vegetal, e, representados pelos sólidos, matéria orgânica e inorgânica,
presentes na água (PAIVA e PAIVA, 2003; VON SPERLING, 2005). Dentre esses parâme-
tros estão: temperatura, oxigênio dissolvido, demanda bioquímica de oxigênio, nitrogênio
amoniacal, fósforo total, sólidos, turbidez e pH.

Temperatura da água

De acordo com Von Sperling (2005) e Alves (2006), o parâmetro Temperatura é a


medida da intensidade de calor, e, sua alteração se dá por origens naturais, relacionada à
transferência de calor por radiação, condução e convecção entre a atmosfera e o solo e,
por origens antrópicas, por efluentes, por águas de torres de resfriamento industriais, usinas
termoelétricas entre outros.
222
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Segundo os autores, o aumento da temperatura da água eleva a velocidade das reações
químicas e exacerbado crescimento de determinadas comunidades aquáticas, ocasionando
um acréscimo no consumo de oxigênio dissolvido, além da diminuição da solubilidade de
gases dissolvidos, que terá mau cheiro, por liberação de gases com odores desagradáveis.

Oxigênio Dissolvido (OD)

O oxigênio é essencial para todas as formas de vida, e, na vida aquática influencia dire-
tamente nos organismos que realizam a autodepuração nos cursos d’água (VON SPERLING,
2005). Segundo Freire (2010) a quantificação do oxigênio dissolvido (OD) em águas é um
indicador expressivo da qualidade do recurso hídrico.
De acordo com Collischonn e Dornelles (2013), há um limite superior de concentra-
ção de oxigênio dissolvido, conforme as condições de temperatura e pressão atmosférica,
chamada de concentração de saturação e, conforme Wef (2006), esta concentração de
saturação relaciona-se negativamente com os sólidos dissolvidos, pois aumenta conforme
há um incremento de sólidos.
Além disso, o oxigênio dissolvido pode ser influenciado com valores acrescidos pela
turbulência das águas (natural ou artificial), como também apresentar uma concentração
mais baixa, causada naturalmente pela temperatura – no caso de águas mais quentes e
com maior quantidade de matéria orgânica, e pela influência antrópica, em cursos d’água
que percorrem centros urbanos e recebem efluentes com grande aporte de matéria orgâni-
ca (FARIAS, 2006).
Conforme Von Sperling (2007) concentrações superiores de saturação de 9,2 mg.L-¹,
na temperatura de 20ºC, indica a presença de organismos produtores de oxigênio, como as
algas. Entretanto, valores abaixo da concentração estão relacionados ao acúmulo de matéria
orgânica no curso d’água. Já Tavares (2006) destaca valores de oxigênio dissolvido entre
8 a 10 mg.L-¹, para um rio em condições naturais.

Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO)

A Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) é a relação da quantidade de oxigênio


disponível na água que seria necessária para oxidar a matéria orgânica, para uma forma
inorgânica estável (VON SPERLING, 2005). E, de acordo com Bowie et al (1995) a DBO é
uma estimativa indireta do consumo de oxigênio nos cursos d’água.
Assim, a DBO é normalmente definida como a quantidade de OD consumida durante um
determinado período de tempo, em uma temperatura específica de incubação. Para a oxidação
da matéria orgânica, conforme Von Sperling (2005), a DBO5,20 é a quantidade de OD con-
sumida durante o período de tempo de 5 dias, em temperatura de incubação de 20°C. 223
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Segundo Freire (2010), este parâmetro é importante para o controle da poluição da
água, já que reflete a matéria orgânica biodegradável, e, além disso, influencia nos níveis
de autodepuração dos cursos d’água.
A matéria orgânica presente nos cursos d’água e nos efluentes é utilizada pelos mi-
croorganismos, em suas sínteses metabólicas, consumindo OD. Conforme Von Sperling
(2007), os principais componentes orgânicos são as proteínas, carboidratos, gorduras, ureia,
pesticidas entre outros. Para Dick e Martinazzo (2006), a matéria orgânica pode ainda atuar
como carreador de contaminantes. Desse modo, o aumento da DBO é provocado por efluen-
tes de origem predominantemente orgânica.
É importante destacar que a DBO está intimamente ligada ao OD, pois uma concen-
tração elevada de matéria orgânica na água pode induzir ao completo consumo de oxigênio
da água, o que ocasiona um impacto direto na vida aquática, como o desaparecimento de
peixes e outras espécies do local (CETESB, 2008).
Além disso, APHA (1995) destaca que os fatores como a quantidade de sólidos suspen-
sos e de formas reduzidas de nitrogênio (orgânico e amoniacal), pode influenciar a precisão
da determinação da DBO.

Nitrogênio Amoniacal

O nitrogênio amoniacal é o primeiro composto produzido pela degradação de matéria


orgânica, sendo a forma mais reduzida do nitrogênio, caracterizada por demonstrar a polui-
ção em seu estágio inicial (VON SPERLING, 2007).
A principal fonte de nitrogênio amoniacal nos cursos d’água, na área urbana, é o lan-
çamento de efluentes, caracterizado pela hidrólise da ureia na água, pela decomposição de
proteínas e aminoácidos. Já na área rural, as fontes podem ser associadas ao uso de ferti-
lizantes nas plantações, que é carreado para os cursos d’água pela ação da chuva. Assim,
Silva et al. (2010) mostraram que há relação entre o uso de fertilizantes e a concentração
de formas de nitrogênio em águas superficiais.
Conforme Esteves (1998) a amônia na forma NH3 é uma substância tóxica, que em
concentrações, nos cursos d’água, pode impactar a vida aquática, e causar a morte de
peixes. Essa elevada concentração é proveniente de efluentes domésticos, industriais e
agrícolas (ALVES, 2006).
Farias et al. (2007) e Oliveira, Souza e Castro (2009) destacam que quando há o lan-
çamento de efluentes, o excesso dessa substância em conjunto com o fósforo, pode causar
a eutrofização do curso d’água, tendo sérias consequências ao sistema aquático.

224
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Fósforo Total

O fósforo é essencial para o desenvolvimento dos microrganismos responsáveis pela


estabilização da matéria orgânica, e está presente em ecossistemas aquáticos, tendo origem
natural – pela dissolução das rochas, compostos do solo, decomposição da matéria orgâni-
ca – e por ação antrópica, pelos efluentes de origem doméstica e industrial, pela presença
de detergentes, fertilizantes/pesticidas e excrementos de animais (VON SPERLING, 2007).
Paiva e Paiva (2003) destacam que o fósforo, assim como o nitrogênio, é um dos prin-
cipais nutrientes utilizado nos processos biológicos, sendo um macro nutriente. Além disso,
o fósforo é indispensável para o crescimento de algas, que, associado a altas concentrações
e em ambiente lêntico, pode gerar a proliferação exacerbada desses organismos – carac-
terizando uma eutrofização, que segundo Von Sperling (2005) é o crescimento excessivo
de plantas e algas nos cursos d’água, que gera um grande consumo de oxigênio dissolvido
que prejudica a vida aquática e compromete a qualidade dos recursos hídricos.

Sólidos

A qualidade das águas é afetada pelo escoamento superficial, em condições naturais.


Assim, a interferência na qualidade depende do material carreado por este escoamento,
podendo ser sedimentos e impurezas do solo. Desse modo, conforme Von Sperling (2007),
a incorporação de sólidos (em suspensão - partículas de solo resultantes da dissolução das
rochas) ocorre mesmo em um ambiente natural, e, o que dá o maior grau de proteção, frente
ao escoamento, é a cobertura vegetal e a composição/textura do solo.
Todavia, Mello (2006) destaca que quando há interferência da ação antrópica, o escoa-
mento superficial remove as partículas sólidas do solo e as transporta aos cursos d’água,
comprometendo sua qualidade. Assim, todos os contaminantes, com exceção dos gases,
fazem parte da carga de sólidos.
Para Merten e Poleto (2006) a quantificação do fluxo de poluentes transportados pelos
sedimentos em suspensão tem um papel importante para a gestão dos recursos hídricos.
Além disso, destacam que a granulometria fina dos sólidos (fração silte e argila) está ligada
ao transporte de contaminantes.
Desse modo, Von Sperling (2005) descreve que é possível realizar a divisão dos sólidos
totais, presentes na água, por tamanho, onde as menores partículas correspondem aos só-
lidos dissolvidos, sendo capazes de passar por um papel de filtro de tamanho especificado,
enquanto que as retidas pelo filtro são denominadas de sólidos em suspensão.
É importante destacar que os sólidos podem causar danos ao canal hídrico, com as-
soreamento e alteração da morfologia da drenagem, como também impactos para a vida
225
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
aquática e comprometimento da qualidade da água, uma vez que podem reter poluentes e
resíduos orgânicos no leito dos rios. Assim, conforme Poleto e Laurenti (2008), a identificação
do material carreado, pelo escoamento superficial, é de suma importância para se avaliar o
potencial poluidor e inferir sobre os impactos gerados por eles.

Turbidez

A turbidez é uma medida fotométrica, em que se analisa a matéria em suspensão e sua


capacidade de interferir no fluxo de energia luminosa, ou seja, a turbidez representa o grau
de interferência à passagem da luz na água, ocasionando uma aparência turva (SINCERO
e SINCERO, 2003).
De acordo com Branco et al (1991) a redução da turbidez na água ocorre pela presença
de sólidos em suspensão, como as partículas de solo (areia, silte e argila) e matéria orgânica
(plâncton, bactérias, algas). Enquanto Barcellos et al. (2006) descrevem que alguns mine-
rais presentes nos solos, como o ferro e manganês, conferem um aumento da coloração e
turbidez à água.
Assim, nos períodos de intensa precipitação, que podem gerar um o escoamento
exacerbado, há uma lixiviação do solo, influenciando na turbidez dos cursos d’água. Nesse
contexto, Freire (2010) e Gorjon Neto (2014) mencionam que a concentração da turbidez
é um efeito decorrente do carreamento de partículas dos solos pela ação da precipitação e
escoamento. Descrevem que este parâmetro é influenciado também pela vazão dos cursos
d’água, uma vez que, quando há precipitação e alteração da vazão, há o desencadeamento
de processos erosivos.
Com o escoamento para os cursos d’água, toda microbiota natural e compostos oriundos
de práticas agropecuárias geram um aporte de materiais que alteram as condições físico-
-químicas das águas (CARVALHO, SCHITTLER, TORNISIELO, 2000). Conforme Tarelho
Júnior (2014) há inter-relações de problemas de um ambiente (solo, ar, água) para outro.
Além disso, segundo a CETESB (2008), o acréscimo da turbidez nas águas pode ainda
ser causado pelo lançamento de efluentes industriais e domésticos e por esgotos, que geram
um impacto ainda maior em relação à qualidade do corpo hídrico.
Desse modo, altas concentrações de turbidez podem influenciar nas comunidades aquá-
ticas, pois limita a penetração de raios solares e reduz a reposição do oxigênio, como também
afeta diversos usos da água, como o doméstico, industrial e recreacional (SÃO PAULO, 2008).

226
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Potencial hidrogeniônico (pH)

O potencial hidrogeniônico (pH) é a medida de concentração dos íons hidrogênio H+,


que dá uma indicação sobre a condição de acidez, neutralidade ou alcalinidade da água,
cuja escala varia de 0 a 14 (VON SPERLING, 2005).
Para Esteves (2009) os cursos d’água superficiais apresentam a água com um pH entre
6 e 9, sendo ligeiramente alcalinas, isso se deve à presença de carbonatos e bicarbonatos,
dissolvidos das rochas locais e solos associados, ou seja, o pH pode refletir o tipo de solo que
a água percorre. Todavia, para o mesmo autor, quando este parâmetro se apresenta na esca-
la de muito ácido ou muito alcalino, está associado à presença de lançamentos de efluentes.
De acordo com Iost (2008), o pH é um dos parâmetros mais difíceis de interpretar, uma
vez que existe um grande número de fatores que podem causar influência em suas concen-
trações, como os sólidos dissolvidos, temperatura da água, oxidação da matéria orgânica e
a fotossíntese, e também efluentes domésticos, industriais e esgotos.
Assim, conforme Collischonn e Dornelles (2013) o pH influencia no equilíbrio dos com-
postos químicos nos cursos d’água, podendo acelerar o processo de decomposição de
materiais tóxicos, em sua condição ácida, como aumentar a concentração de amônia livre
(NH3), em condição básica, ou seja, tem um alcance direto sobre os ecossistemas aquáticos.

Parâmetros biológicos

Em relação aos parâmetros biológicos, têm-se destaque aos microrganismos. Esses


são responsáveis por diversas funções, sendo de suma importância frente aos processos de
transformação da matéria orgânica dentro dos ciclos biogeoquímicos. Todavia, em relação à
qualidade da água, são indicadores de contaminação fecal (grupo dos coliformes) e podem
estar associados a doenças de veiculação hídrica (WHO, 2004; VON SPERLING, 2007).

Coliformes Termotolerantes

Von Sperling (2005) e Who (2004) destacam que é possível realizar uma determinação
da potencialidade da transmissão de doenças de veiculação hídrica, de forma indireta, por
meio dos organismos indicadores de contaminação fecal, pertencentes principalmente ao
grupo dos coliformes. Esse grupo é formado, segundo Pelczar (1996) por um número de
bactérias que inclui os gêneros Klebsiella, Escherichia, Serratia, Erwenia e Enterobactéria.
Com exceção da Escherichia, as demais bactérias do grupo coliformes, segundo Tarelho
Júnior (2014), podem ocorrer em águas com altos teores de matéria orgânica, de efluentes
industriais, como também na decomposição da matéria vegetal no solo, ou seja, sem qual-
quer poluição evidente por material de origem fecal.
227
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Assim, Echerichia coli pertence ao grupo coliforme fecal (termotolerantes), sendo en-
contrada em esgotos, efluentes e águas naturais, sujeitas a contaminação por atividades
agropecuárias e animais, exclusivamente por origem fecal. A presença desse microrganismo
nas águas demonstra ainda falhas no processamento, ou contaminação pós-processamento
de uma estação de tratamento de efluentes, sendo utilizada como indicador da eficiência de
remoção de patógenos no processo de tratamento de esgotos (SÃO PAULO, 2008).
Desse modo, os coliformes termotolerantes são utilizados como padrão para qualidade
microbiológica, conforme a Legislação brasileira, de águas superficiais destinadas a abas-
tecimento, irrigação, recreação e piscicultura (CETESB, 2008).

Enquadramento em classes de usos

Para assegurar a disponibilidade de água, para a atual e futuras gerações, em quanti-


dade e padrões de qualidade, bem como promover uma utilização racional e integrada dos
recursos hídricos, foi criada a Lei 9.433/97, conhecida como Lei das Águas.
Assim, para atingir o objetivo do estabelecimento dos padrões de qualidade, emba-
sados por um suporte legal, foi realizado um enquadramento dos cursos d’água – que é o
nível de qualidade a ser alcançado ou mantido em um segmento do curso hídrico ao longo
do tempo – como referência a ser utilizado aos demais instrumentos de gestão de recursos
hídricos e de gestão ambiental (FREIRE, 2010).
Além disso, foi realizada uma classificação, pelo Ministério do Meio Ambiente, por
uma Portaria da Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) n°357
de 17 de março de 2005, dos corpos de água e diretrizes ambientais, em relação ao
uso (BRASIL, 2005).
Desse modo, a Resolução CONAMA n° 357/2005, estabeleceu o controle sobre as
condições de qualidade de água em 12 parâmetros indicadores de qualidade, dividiu as
águas do território nacional em águas doces, salobras e salinas e estabeleceu as classes
em função dos usos previstos, com uma determinada qualidade a ser mantida. O Art. 4º
desta Resolução destaca a classificação das águas doces em:

– Classe especial: águas destinadas:

a) Ao abastecimento para o consumo humano, com desinfecção;


b) À preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e
c) À preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção
integral

– Classe 1: águas que podem ser destinadas:


228
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
a) Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado;
b) À proteção das comunidades aquáticas;
c) À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho,
conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000;
d) À irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvol-
vam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e
e) À proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas.

– Classe 2: águas que podem ser destinadas:

a) Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional;


b) À proteção das comunidades aquáticas;
c) À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho,
conforme Resolução CONAMA nº 274, de 2000;
d) À irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de espor-
te e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e
e) À aquicultura e à atividade de pesca.

– Classe 3: águas que podem ser destinadas:

a) Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avan-


çado;
b) À irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras;
c) À pesca amadora;
d) À recreação de contato secundário; e
e) À dessedentação de animais.

– Classe 4: águas que podem ser destinadas:

a) À navegação; e
b) À harmonia paisagística.

Além disso, a Resolução nº 357/2005 dá destaque à importância do enquadramento,


visto que o controle da poluição das águas está relacionado com a proteção da saúde e
com uma garantia do meio ambiente ecologicamente equilibrado. E, segundo Alves (2006)
essa Resolução é de suma importância, pois é um instrumento de melhoria do sistema de
gestão de recursos hídricos no Brasil.

229
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
CONCLUSÃO

O monitoramento de parâmetros físicos, químicos e biológicos de qualidade da água


permite a obtenção de dados para a verificação da qualidade da água em bacias hidro-
gráficas. Tais parâmetros associados à Resolução CONAMA nº. 357/2005 aferem sobre
a situação dos recursos hídricos da escala analisada e, norteiam quanto a gestão destes.
Além disso, por meio dos parâmetros, ainda é possível perceber as fontes de poluição
hídrica, quanto a sua localidade - se são de origem pontual ou difusa, e tempo - se a con-
taminação é recente ou remota.
Neste sentido vale destacar que a qualidade da água é também resultante dos pro-
cessos que ocorrem nas bacias hidrográficas, sendo influenciada pela fragilidade ambiental
potencial, assim como pelas atividades antrópicas na fragilidade ambiental emergente, no
qual por meio dos parâmetros de qualidade é possível entender sobre o sistema hídrico e
propor medidas para a tomada de decisão.

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232
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
16
Planejar com as águas: o papel de
grupos extensionistas e assessorias
populares na construção de
alternativas de requalificação urbano-
ambiental

Augusto Cesar Oyama


USP

Edimilson Rodrigues dos Santos Junior


USP

Marcelo Montaño
USP

Marcel Fantin
USP

10.37885/210705436
RESUMO

Este capítulo apresenta a experiência de uma prática extensionista baseada em asses-


soria técnica em uma comunidade localizada na área central do município de São José
dos Campos e que, historicamente, encontra-se ameaçada de remoção. O trabalho foi
articulado junto à participação dos moradores da comunidade envolvida, com vistas à
elaboração de um projeto de urbanismo de impacto ambiental mínimo integrado a um
Plano Popular para a promoção da regularização fundiária em compatibilidade aos atri-
butos do meio. Um dos eixos estruturantes do projeto foi desenvolvido a partir de uma
abordagem sistêmica sobre as interações do território com o ciclo hidrológico, buscando
alternativas para o manejo das águas pluviais, e com a perspectiva de aproveitamento
de antigos canais de drenagem do terreno, oriundos de ciclos anteriores de ocupação
da área, como elemento projetual estratégico. A produção de uma base cartográfica de-
talhada com o auxílio de Aeronave Remotamente Pilotada e o uso de geotecnologias foi
essencial nesse processo. Os resultados e perspectivas evidenciaram a potencialidade
de projetos urbanísticos fundamentados em conceitos hidrológicos, em consonância com
as dimensões ambientais, sociais e territoriais que integram o território.

Palavras-chave: Comunidade do Banhado, Grupos Extensionistas, Assessorias Populares,


Drenagem, Geotecnologias, Urbanismo.

234
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

“O BANHADO RESISTE E PROPÕE”. Foi com essa palavra de ordem que morado-
res da comunidade do Banhado, localizada na área central do município de São José dos
Campos - SP - Brasil, celebraram a luta centenária pela permanência expressa no Plano
Popular de Regularização Fundiária e Urbanística, que envolveu diversas escalas de ação
e atores, incluindo uma assessoria popular em habitação de interesse social, um grupo
extensionista, PExURB, do Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos (IAU/USP),
uma ONG ambientalista, Veracidade, e a participação ativa de moradores no processo de
produção do Plano, especialmente no mapeamento comunitário de conflitos ambientais e
qualificação de propostas infraestruturais amparadas na valorização do ciclo hidrológico. É a
partir desta e de tantas outras importantes experiências pelo Brasil (e pela América Latina)
de apropriação da técnica pelas comunidades e reflexão do lugar do saber popular que este
trabalho se insere.
Nessa discussão, cabe destacar a origem das assessorias técnicas, as quais vin-
culam-se à atuação histórica de arquitetos, engenheiros e outros profissionais ao lado de
movimentos urbanos de luta pela redemocratização do país, disputando processos contra
um Estado autoritário, e que possibilitou o desenho inicial de políticas públicas direcionadas
à população mais pobre, incluindo a participação popular e a leitura do contexto da cidade
real (SANTO AMORE, 2016). A partir desse cenário, uma das múltiplas formas pelas quais
assessorias técnicas e populares têm se manifestado (ou constituído parcerias) é através do
eixo da extensão universitária, que possui por excelência um viés de formação a qual idea-
liza a aproximação do estudante com a realidade e como forma de prestação de serviço à
comunidade, preconizando o enfrentamento de problemas da sociedade (FOPROEXT, 2012).
Como escreve Vainer (2021), o desafio hoje é que a assessoria popular seja experi-
mentada pelos dois lados, em consonância com uma relação entre conhecimento científico
e saber popular; que seja palco da construção de um conhecimento científico-acadêmico
comprometido com a vivência, mesmo que localizada e limitada, desafiando o monopólio e
a colonialidade do saber dominante e dialogando com saberes construídos fora dos cânones
e espaços da universidade, que é muitas vezes entendida como negócio, empreendimento e
lugar da técnica. Assessorias populares e grupos extensionistas constituem, nesse sentido,
possíveis campos de legitimidade da função social e política das universidades.
Diante desse cenário, este trabalho busca discutir a experiência de um Plano Popular
como suporte para regularização fundiária e visando um desenho de projeto de urbanismo
de impacto mínimo com valorização dos recursos hídricos locais. Em um período no qual
intervenções urbanas estão cada vez mais norteadas pelo empresariamento urbano, que
tem o estado como sujeito ativo da dinamização da economia urbana por meio da atração
235
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
de investimentos imobiliários (HARVEY, 1996), projetos de urbanismo alternativos cumprem
um papel fundamental e podem ser palco interessante para mudanças de paradigmas quanto
às práticas sobre as águas urbanas.

MÉTODO

Fundamentação: O caso da Comunidade do Banhados

O caminho metodológico trilhado neste trabalho parte de um encontro entre diferentes


campos disciplinares à fundamentação de um Plano Popular para o Banhado, Município de
São José dos Campos, SP. Como marco inicial deste percurso, tem-se a atuação de agen-
tes hegemônicos em diferentes escalas sobre o espaço, Santos (2006) afirma que todos os
territórios e redes estão sujeitos a influências advindas de grupos que dispõe de informações
e meios adequados, suficientes para fazer valer com precisão seus planos, projetos e, por
extensão, ter sua parcela na composição da paisagem. É nesse sentido que os lugares
carregam consigo distinções quanto à sua rentabilidade, envolvendo tanto a infraestrutura,
acessibilidade e disponibilidade de equipamentos, quanto a aspectos legislativos, econômi-
cos, trabalhistas e culturais.
Para o autor, a produtividade dos territórios fica vinculada a uma localização eficiente
(sob o aspecto mercantil) e instaura a competição entre lugares, impulsionando a renova-
ção técnica direcionada ao aumento da eficiência, porém indiferente às realidades locais e
ambientais (SANTOS, 2006), pré-estabelecendo usos e contando com a vocação invasora
de sistemas técnicos hegemônicos. Ainda assim, conclui, as cidades podem também ser o
lugar da solidariedade, da memória e da imbricação de diferentes temporalidades obrigadas à
convivência, à sobrevivência do conjunto a partir das regulações criadas no próprio território.
Em um período onde as intervenções urbanas estão cada vez mais norteadas pelo
empresariamento urbano, que tem o estado como sujeito ativo da dinamização da economia
urbana por meio da atração de investimentos imobiliários (HARVEY, 1996), projetos de ur-
banismo alternativos cumprem um papel fundamental e podem ser palco interessante para
mudanças de paradigmas quanto às práticas sobre as águas urbanas.
Representativo dessa dimensão e situado na área central do município de São José
dos Campos, o Banhado (Figura 1) apresenta-se como caso emblemático, concentrando
um histórico de uso e ocupação tanto por atividades agropecuárias que demarcaram estru-
turas de drenagem associadas a áreas de plantio e de várzea do Rio Paraíba do Sul até a
década de 1970, desdobrando-se no que atualmente é identificado como um aglomerado de
chácaras e usos rurais; quanto para moradias de populações que atualmente distribuem-se
em dois núcleos habitacionais adensados, comunidade historicamente em luta pela sua
236
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
permanência no Banhado através do desafio da regularização fundiária, compatibilizando
desenvolvimento social e preservação ambiental. A área ocupada aproxima-se de 255.000
m², abrigando cerca de 460 famílias, população cujos vínculos territoriais iniciaram-se há
mais de 80 anos.

Figura 1. Localização do Município de São José dos Campos e da comunidade do Banhado.

Fonte: Base Cartográfica do IBGE e Base Maps do Arcgis 10.1 (2019).

O Banhado acumula também pressões advindas do setor imobiliário, cujo interesse


central traduz-se pelo projeto de implementação da “Via Banhado”, oferecendo conectivida-
de viária para setores de condomínios de classe média, passando pelo centro da cidade e
valorizando os imóveis locais segundo as práticas historicamente hegemônicas, cujo “custo”
é a repetição de diferentes modos de segregação e fragmentação territorial experienciadas
em metrópoles brasileiras, como detalha VILLAÇA (1998) em sua explicação sobre a estru-
turação dos espaços intra-urbanos no Brasil.
Além disso, diferentes perspectivas acerca das questões ambientais locais corroboram
com discursos e práticas controversas que têm em comum a negação da comunidade do
Jardim Nova Esperança, condenando-a previamente como causadora de um cenário am-
biental degradado por uma “cidade ilegal” e assumindo sua remoção como fato consumado
em detrimento à adoção de estratégias de planejamento urbano condizentes com as pos-
sibilidades de regularização fundiária sustentável e potencializadora da memória do lugar
(SILVA; VIANNA; ZANETTI, 2017).
237
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Diante desse cenário – que abarca também um quadro institucional nas formas da Lei
Estadual Nº 11.262 de 2002, que estabelece a Área de Proteção Ambiental do Banhado, e
da Lei Municipal nº 8.756 de 2012, que cria o Parque Natural Municipal do Banhado – en-
tende-se haver ampla oportunidade de inauguração de uma estratégia social inovadora e
restauradora da memória, reiterando-se a necessidade de tanto limitar o avanço da ocupação
humana na planície do Banhado, como também de requalificar – na forma urbana e ambien-
tal propícia ao local – os “bolsões de pobreza” instalados. Dessa forma, considera-se que
aproveitar (e resgatar) as potencialidades dos espaços públicos procurando harmonizar os
mundos urbano e rural em conflito no Banhado, em contrapartida ao “assalto à orla do platô”
das classes privilegiadas (Ab’Sáber, 1991), é um dos caminhos para a busca de soluções
ao desenvolvimento social e proteção ambiental em São José dos Campos.

Aspectos Metodológicos

Observando-se mútuas relações entre a comunidade e os recursos hídricos locais,


somando-se a levantamentos de campo realizados pelo grupo PExURB, identificou-se tes-
temunhos dos caminhos da drenagem pluvial como elementos estruturantes da paisagem
e organização dos núcleos adensados (Figura 2). É a partir de tais caminhos, cujas origens
remontam o traçado e os remanescentes construtivos da antiga linha férrea que cruza a base
da escarpa do Banhado ou associam-se a usos do passado e do presente, que se verifica o
modo de distribuição das moradias que integram o Jardim Nova Esperança, expressando-se
assim também na estruturação da vida social local.

Figura 2. Canais de escoamento presentes na comunidade do Banhado.

Fonte: Augusto Cesar Oyama (2019).

Deste modo, a partir de componentes da estrutura do lugar, que potencializam as pos-


sibilidades de projetos e técnicas populares, mobilizadoras de poucos recursos e em convi-
vência com as demandas sociais e ambientais, foram estabelecidas as diretrizes orientadoras
para a elaboração de um plano alternativo de urbanização a partir de um olhar multiescalar.
238
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Procurou-se adaptar a abordagem orientadora da Avaliação de Impacto Ambiental
para fundamentar o planejamento territorial no Jardim Nova Esperança. Para isso, foram
elaborados diagramas relacionais para identificação de processos e impactos ambientais
(Figura 3) para subsidiar de maneira preliminar uma proposta de zoneamento ambiental para
o Banhado, em consonância com as exigências do meio físico-natural e social da região
segundo sua inserção no sistema de várzeas do Rio Paraíba do Sul. Procurou-se colocar
em evidência relações de causalidade (entre fontes de pressão, instituições e componentes
ambientais) e acumulação temporal e espacial de efeitos adversos sobre o meio ambiente,
fornecendo elementos de entrada para o zoneamento.
Os critérios assim utilizados foram o uso e ocupação correntes (grandes áreas agropas-
toris, vegetação predominantemente arbórea densa ou arbustiva em recuperação, o núcleo
adensado, área de agricultura familiar da comunidade do Banhado) e áreas de fragilidade
ambiental (área de preservação ambiental do Rio Paraíba do Sul, e áreas de proteção ao
redor dos canais de drenagem existentes e dos afloramentos avistados in loco).

Figura 3. Exemplo de um dos diagramas elaborados como suporte ao zoneamento ambiental no Banhado.

Fonte: Elaboração do grupo PExURB (2019).

239
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Como auxílio à obtenção de dados primários, foi realizado um aerolevantamento com
uso de Aeronave Remotamente Pilotada (RPA), utilizando um DJI Phantom 4 Pro com câ-
mera acoplada, a qual possui sensor CMOS de 20 MP e lente com abertura f/2.8, de modo
a se obter uma base aerofotogramétrica para a produção de mapas planialtimétricos, ca-
dastrais e temáticos. Essa foi a opção mais viável em termos técnicos e financeiros e que
possibilitou a elaboração de um material cartográfico fundamental a partir de imagens com
alta resolução espacial (da ordem de três centímetros).
No caso do uso de RPA, cumpre mencionar que Gevaert et al. (2018) salientam que o
desenho de melhorias urbano-ambientais demandam informações geoespaciais que geral-
mente estão relacionadas aos dados sobre a planialtimetria do terreno, incluindo a delimitação
das edificações existentes, vias, linhas de energia elétrica, sistemas de abastecimento de
água, rede de drenagem, classificação de tipos de uso e ocupação do solo, limites adminis-
trativos, bem como informações sobre áreas de risco geotécnico e suscetíveis à inundação.
Contudo, faltam informações geoespaciais adequadas e atualizadas para as favelas, uma vez
que as mesmas são negligenciadas pelas coletas de dados oficiais. As fontes tradicionais de
sensoriamento remoto, que poderiam auxiliar nessa tarefa, não são suficientes para abordar
a complexidade das favelas, incluindo a identificação de unidades residenciais individuais,
mapeamento detalhado de infraestruturas internas ou detalhamento das condições ambientais
locais. É dentro desse contexto que os RPA se apresentam como uma excelente alternativa
de baixo custo e com qualidade compatível para o planejamento comunitário.
Nessa etapa, foram empregados sete planos de voo organizados por meio do aplicativo
Pix4D Capture com a finalidade de recobrir integralmente a área a ser levantada (cerca de
58,4 ha), mantendo uma sobreposição de fotos lateral e longitudinal de 80% e uma altura
média de 80 metros. Após a fase de aquisição das imagens, por meio do processamento
das imagens com o software Agisoft PhotoScan, foram gerados um ortomosaico da área
de estudo e um modelo digital do terreno, a partir do qual se extraiu curvas de nível com
equidistância de 1 metro. De forma complementar ao levantamento realizado pela equipe
de campo, foi possível, com o suporte do SIG QGIS, vetorizar moradias e suas caracterís-
ticas construtivas, inclusive em áreas nas quais a equipe em terra foi impossibilitada de ter
acesso, e foram traçadas e hierarquizadas as vias (Figura 4).

240
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 4. Processo de obtenção e organização de dados espaciais da comunidade do Banhado.

Fonte: Augusto Cesar Oyama; Ivan Langone Francioni Coelho; Erick Rodrigues (2019).

As etapas seguintes consistiram na identificação, em campo, de precariedades ha-


bitacionais, áreas de risco de alagamento e de risco geológico-geotécnico, precariedades
sanitárias, espaços livres públicos, espaços potenciais para reassentamento, e, sobretudo,
na compreensão do traçado dos canais de água que se ramificam pela comunidade (Figura
5), as quais estão ausentes nas cartografias oficiais do município. Esses pequenos cursos
de água constituem um elemento paisagístico bastante particular na comunidade e muitos
deles necessitam de uma intervenção para recuperação. Assim, com a produção de uma
base física detalhada e o auxílio da comunidade envolvida, além de um resgate histórico e
bibliográfico sobre o território, os canais de drenagem foram então definidos como eixos ao
desenho deste projeto de urbanismo de baixo impacto.

Figura 5. Canais de drenagem mapeados que atravessam a comunidade do Banhado e o ortomosaico de alta resolução
gerado a partir do aerolevantamento.

Fonte: elaboração do grupo PExURB (2019).

241
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
RESULTADOS E DISCUSSÃO

A relação entre a espacialidade das cidades e os processos naturais, em alguns ca-


sos de cumplicidade, mas muitas vezes de conflito, manifesta-se de modo particularmente
intenso naquilo que diz respeito à transformação do ciclo da água (infiltração, escoamento
subterrâneo e superficial, evapotranspiração, entre outros). Tal relação tem estimulado o
surgimento de diferentes propostas de abordagem para o enfrentamento das questões de-
rivadas, reportadas por Canholi (2005), Rezende, Miguez e Veról (2013) e Spirn (1995). Tal
referencial reconhece os problemas de abordagens tradicionais de gestão das águas urbanas
e oferecem concepções de sistemas alternativos que consideram arranjos mais próximos de
sistemas de drenagem natural, que restauram a capacidade de absorção e permeabilidade
do solo em áreas de mancha urbana através do amortecimento ou detenção do escoamento
superficial e a promoção da sua infiltração (controle na fonte).
A eficácia local dessas abordagens tradicionais em reduzir problemas sanitários crô-
nicos, ancoradas particularmente numa visão higienista, cristalizou suas bases conceituais
nos projetos de drenagem pluvial. Esses projetos conduziram, de forma ampla no país, à
desnaturalização do sistema de águas urbanas por intermédio de retificações e canaliza-
ções, e descaracterização dos ciclos e processos hidrológicos naturais. O objetivo é o afas-
tamento rápido dos resíduos ao mesmo tempo em que o curso d’água é ocultado das áreas
de fluxo de pessoas e transportes, tendo como justificativa o conforto ambiental (SOUZA;
CRUZ; TUCCI, 2012).
Nesse contexto, uma das consequências é o desligamento físico dos corpos de água de
suas importantes funções urbanas, como aquelas de natureza cênica e social, o que termina
por instaurar uma perspectiva de estranhamento e de desligamento afetivo dos sistemas de
drenagem. Porém, as críticas mais difundidas referem-se à base projetual: a aceleração do
escoamento transfere para jusante o problema das inundações e da redução de espaços
naturais (CANHOLI, 2005). Como escreve Anne Spirn:

Cobertos e esquecidos, antigos cursos d’água ainda correm através da cidade


[...]. Seu ruído abafado pode ser ouvido sob as ruas após uma chuva pesada;
eles são invisíveis, mas sua contribuição potencial às enchentes a jusante não
é, todavia, diminuída [...]” (SPIRN, 1995, p. 146).

Zoneamento ambiental orientador: instrumento de contestação e de planejamento


territorial

O zoneamento ambiental proposto (Figura 6) teve, como primeira função, fornecer di-
retrizes e elementos limitantes, reforçando a necessidade de limitar o avanço da ocupação
humana na planície do Banhado, para estabelecer um projeto compatível com o sistema
242
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
ambiental Banhado e promover a conservação do solo local. Entende-se, neste caso, haver
dois sistemas interligados pelas condições ambientais do território, as quais devem ser objeto
de requalificação: a área atualmente ocupada pela comunidade e o restante do território
conectado à APA do Banhado.

Figura 6. Zoneamento ambiental orientador proposto.

Fonte: elaboração do grupo PExURB (2019).

O zoneamento proveu suporte à decisão para o debate existente, configurando-se como


potencial base de contestação para uma opção alternativa de traçado ao Parque Municipal
do Banhado, com a possibilidade, inclusive, de orientar a elaboração de seu Plano de Manejo
(atualmente inexistente), tendo em vista usos admissíveis em função de seus objetivos de
proteção ambiental.
De fato, como foi registrado no Plano Popular de Urbanização e Regularização Fundiária,
não se verifica, neste estudo, aspectos que possam sugerir a incompatibilidade entre a exis-
tência de uma ocupação consolidada no local e a conservação do solo, da diversidade bioló-
gica e, em especial, da proteção dos recursos hídricos locais; há, sim, uma incongruência na
avaliação que exclui este fator social na identificação estratégica da proteção ambiental, em
243
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
prejuízo de um desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, a validade das leis de unidades
de conservação que incidem sobre esse território depende da avaliação e transparência
dos estudos técnicos, das chamadas públicas e outros mecanismos de fornecimento de
informações à população que as fundamentaram (TAVARES, FANTIN, 2019).

O Plano Popular e as propostas de manejo de águas pluviais: uma abordagem junto


aos canais testemunhos

Reconhecendo a memória e o valor de identidade que as águas conferem ao Banhado,


território que, segundo Fantin e Miranda (2005), exerceu a função de planície de inundação
do rio Paraíba do Sul até o momento de construção de um conjunto de represas à montante,
adotou-se a denominação canais testemunhos para esses cursos d’água. Assim, mais do
que um elemento paisagístico e identitário do local, a recuperação (e conservação) desses
cursos d’água foi compreendida, dentro deste contexto, como parte essencial de um con-
junto de estratégias de permanência para uma comunidade com risco de remoção. Deste
modo, o projeto resultante é voltado para o manejo das águas pluviais a partir do resgate
das funções ambientais dos canais testemunhos.
A proposta para esses canais articula-se, de maneira integrada e interdisciplinar, com
outras diretrizes de intervenções importantes, como a redução de riscos de alagamento, uso
e abastecimento de água, gestão dos resíduos sólidos, soluções alternativas ao tratamento
de esgoto (privilegiando dispositivos individuais ou para agrupamentos), além da redefinição
da largura e traçado das vias (hierarquizando-as em rua compartilhada, rua de pedestre
e rua de servidão), de modo a estruturar uma rede de serviços urbanos como luz, água e
esgoto. Nesse percurso, foram identificadas referências para a concepção das soluções a
serem adotadas pelo projeto (Figura 7) e estabelecimento de alternativas, procurando-se
compatibilizar as diferentes demandas pela reestruturação do espaço urbano.

Figura 7. Exemplos das referências para projeto: (A) canal de água com desníveis - Fazenda do Pinhal, São Carlos/SP; (B)
Parque Manancial de Águas Pluviais - Haerbin, Heilongjiang, China; (C) Parque Urbano da Orla do Guaíba - Porto Alegre,
Rio Grande do Sul.

Fontes: (A) registro de foto do grupo PexURB 92019); (B) e (C) archdaily (2020).
244
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Dentre as propostas, destaca-se a utilização de espaços livres públicos (como praças,
por exemplo) próximos a canais testemunhos para receber a água precipitada, retendo-as
temporariamente até que ocorra a infiltração, o que resgata simbolicamente a função de
uma várzea. De modo complementar, o conjunto de técnicas de manejo das águas pluviais
previu, em especial, a utilização de pisos drenantes para as vias, sistemas distribuídos de
infiltração como canteiros pluviais, biovaletas, bacias de detenção e reserva de áreas per-
meáveis nos lotes. A Figura 8 mostra algumas pranchas produzidas para ilustrar as propostas
do projeto de urbanismo.

Figura 8. Pranchas esquemáticas destacando algumas das propostas para uma rua compartilhada na comunidade do
Banhado. É conservada a configuração natural do pequeno canal de água, sendo previstos mecanismos de proteção e
amortecimento, como canteiros pluviais e faixas permeáveis.

Fonte: elaboração do grupo PExURB (2019).

Por fim, apresentam-se na Figura 9 as propostas e diretrizes integradas para o plano


popular de regularização fundiária e urbanística elaborado em interação com a comunida-
de. O plano propõe uma rede de serviços e intervenções considerando infraestruturas-tronco
com o objetivo de controlar o adensamento através do desenho urbanístico das glebas e
das quadras. A rede de serviços prevê o atendimento: aos serviços públicos articulados
(mobilidade, saneamento, energia elétrica e comunicação), aos equipamentos sociais e
de convívio (equipamentos públicos e comunitários, mobiliário urbano e paisagismo) e ao 245
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
aspecto habitacional (melhoria na construção de moradias). Nesse desenho, a alternativa
de manejo das águas procura colaborar na recuperação do ciclo hidrológico sem deixar de
interagir com demais componentes do plano (elementos ambientais, patrimoniais, culturais,
sociais e produtivos).

Figura 9. Diretrizes e propostas do plano popular de regularização fundiária e urbanística para a comunidade do Banhado.

Fonte: elaboração do grupo PExURB.

CONCLUSÃO

A partir do resgate de elementos paisagísticos e identitários estruturantes à vida so-


cial da comunidade, especialmente dos canais de drenagem da área do Banhado carto-
grafados com o uso de RPA e geotecnologias, algumas práticas alternativas de manejo
de águas pluviais foram apontadas como estratégia à construção de um Plano Popular de
Regularização Fundiária e Urbanística. O Plano fornece, assim, diretrizes que privilegiam
processos ambientais relacionados aos recursos hídricos, reconhecidos como camadas
integradoras da comunidade ao meio, criando-se caminhos para argumentar pela perma-
nência dos moradores e de seus vínculos a partir de argumentos ambientais apropriados
ao contexto. Os frutos dessa abordagem inovam ao revelar alternativas metodológicas que
não dissociam as necessidades de proteção ambiental da existência de grupos humanos
tradicionalmente vinculados ao território.
246
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
A metodologia construída de forma coletiva tem como virtude a valorização da relação
complexa entre ambiente e sociedade no contexto de projetos de regularização fundiária,
reforçando e potencializando a convivência da comunidade com as dimensões ambientais
de modo integrado, desafiando assim intervenções hegemônicas ao cruzar e transitar com
aportes tecnológicos e participativos nessas diferentes escalas.
Durante todo o processo, a participação social cumpriu um papel fundamental, tanto
nas oficinas participativas, quanto nas visitas de campo. O contato direto com os moradores
do Banhado permitiu construir propostas a partir de uma discussão coletiva (olhar técnico-
-comunitário). Nesse processo foram identificadas, por exemplo, as áreas alagáveis que
necessitam de tratamento ou alguma forma de intervenção, a relação cotidiana da comu-
nidade com os recursos hídricos, além de apontamentos e questões dos moradores, que
permitiram corrigir e qualificar algumas proposições. Ainda, a utilização de um ortomosaico
supriu a ausência de informações na escala intraurbana e contribuiu para a interação com
as aspirações da comunidade a partir de um olhar totalizante sobre o território na formulação
do Plano Popular de regularização, legitimado ao final deste processo como um instrumento
de negociação com as institucionalidades públicas municipais.

REFERÊNCIAS
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ÇÃO SUPERIOR BRASILEIRAS (FOPROEXT). Política Nacional de Extensão Universitária,
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Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
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10. SANTO AMORE, C. Assessoria e Assistência técnica: arquitetura e comunidade na po-


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Institute, 1998.

248
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
17
Qualidade de vida em Tupaciguara
(MG): análises a partir de índices
socioeconômicos e ambientais

Maraísa Costa da Silva


UFU

Nágela Aparecida de Melo


UFU

Beatriz Ribeiro Soares


UFU

10.37885/210705294
RESUMO

Este artigo versa sobre o tema qualidade de vida e tem como objeto de estudo o municí-
pio de Tupaciguara (MG). Trata-se de um município de pequeno porte demográfico, cuja
dinâmica recente é marcada por decréscimos e baixo crescimento populacional. A sua
economia é pouco diversificada, sendo baseada na agropecuária e no setor de servi-
ços. O presente estudo tem como objetivo analisar a qualidade de vida de Tupaciguara
a partir de índices socioeconômicos e ambientais. Para o desenvolvimento das análises,
utilizaram-se os seguintes índices: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice
Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS), Índice de Vulnerabilidade Social e Índice
de Qualidade Vida Urbana/Brasil. Na análise dos índices selecionados, estabeleceram-
-se comparações com dados de outros municípios de porte demográfico semelhan-
te ao de Tupaciguara, localizados na mesorregião geográfica Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba. Os resultados demonstram que o município de Tupaciguara apresenta uma
condição de qualidade de vida intermediária, conforme o contexto da análise. Nos índices
mais generalistas, Tupaciguara destaca-se nas faixas mais elevadas de desenvolvimento.
Entretanto, quando se observam as variáveis referentes a emprego e renda, educação,
saúde, meio ambiente e saneamento, os índices são mais baixos.

Palavras-chave: Qualidade de Vida, Tupaciguara, Municípios de Pequeno Porte.

250
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

O tema qualidade de vida não é propriamente um assunto novo. Ele está presente nos
debates acadêmicos, na política pública e na percepção das pessoas. Por muitas vezes este
assunto é visto como um conceito vago, relativo, adjetivo e sem aplicabilidade. Qualidade de
vida também é considera como um assunto complexo, cujos debates e avanços, sobretudo
no âmbito teórico e metodológico, podem contribuir para uma melhor qualificação e quan-
tificação das condições de vida da população, sobretudo nas cidades. Foi, portanto, com
base nessa segunda abordagem que o presente trabalho foi desenvolvido.
A questão da qualidade de vida é tratada em diferentes escalas espaciais. Pode-se
analisar a qualidade de vida na escala mundial, dos países, das regiões, das grandes ci-
dades e também das pequenas localidades. A escala é função dos objetivos definidos nos
estudos sobre qualidade de vida.
No âmbito dos estudos urbanos, a qualidade de vida das cidades é bastante discuti-
da. As condições de qualidade de vida de uma cidade são resultantes do processo de urbani-
zação que, ao longo do tempo, materializa formas e conteúdos específicos no espaço urbano.
Esta produção do espaço, por sua vez, relaciona-se com as decisões políticas e econômicas
tomadas por agentes locais, regionais e nacionais, bem como sofre influências de um pro-
cesso socioeconômico geral delineado nas tramas do próprio desenvolvimento do capital.
No estudo de pequenas cidades, além disso, vale considerar que estas possuem suas
especificidades próprias. Assim, refletir sobre qualidade de vida em pequenas cidades é um
esforço de entender este tema a partir das particularidades destes espaços.
No caso das pequenas cidades brasileiras, em geral, quando se pensa em indicadores
como segurança, tranquilidade, tempo de deslocamento e amenidades ambientais, estas
aparecem com destacável qualidade de vida.
No entanto, para apreender os aspectos principais da qualidade de vida em pequenas
cidades faz-se necessário estabelecer alguns indicadores específicos de modo a represen-
tar a realidade desses espaços. Por exemplo, em geral, o transporte intermunicipal é muito
importante para as condições de deslocamento e mobilidade das pessoas das pequenas
cidades. No entanto, ainda são poucas as referências que proporcionam metodologias pró-
prias para a compreensão da qualidade de vida nas pequenas cidades brasileiras.
Neste estudo, apresentam-se análises sobre a qualidade de vida da cidade de
Tupaciguara (MG), - que é uma cidade de pequeno porte demográfico, localizada na me-
sorregião geográfica Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba.

251
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
MÉTODO

Este trabalho foi desenvolvido a partir de revisão bibliográfica e levantamento, sistema-


tização e análises de dados secundários apresentados na forma índices sociais, econômicos
e ambientais sintéticos.
Os índices selecionados foram: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Índice
Mineiro de Responsabilidade Social (IMRS), Índice de Vulnerabilidade Social e Índice de
Qualidade Vida Urbana/Brasil.
Realizou-se uma análise comparativa dos dados, na qual procurou estabelecer uma
percepção dos índices obtidos por Tupaciguara em relação aos demais municípios da me-
sorregião Triângulo Mineiro/ Alto Paranaíba com população entre 10 e 30 mil habitantes.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Análise da qualidade de vida de Tupaciguara a partir de índices sintéticos

O conceito de qualidade de vida é complexo, às vezes subjetivo e apresenta inúmeras


definições e instrumentos de avaliação. Em geral, estes instrumentos têm como objetivo quan-
tificar e qualificar o bem-estar humano, a promoção da saúde e o desenvolvimento humano.
Entre as formas de analisar e avaliar a qualidade de vida, destacam-se índices so-
ciais sintéticos amplamente divulgados no Brasil, tais como o Índice de Desenvolvimento
Humano do Municípios (IDH-M), o Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) e o Índice de
Qualidade de Vida Urbana dos Municípios Brasileiros (IQVU- BR) e o Índice Mineiro de
Responsabilidade Social (IMRS).
Neste estudo, optou-se por realizar uma análise comparativa da qualidade de vida
do município de Tupaciguara, considerando demais municípios da mesorregião Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba com faixa populacional (população total) de 10.000 a 30.000 habi-
tantes, conforme o Censo Demográfico do IBGE do ano 2010.
A referida mesorregião geográfica é composta por 66 municípios (IBGE, 2010). Trata-
se de uma região com predominância de municípios de pequeno porte demográfico, sendo
que 50 % deles têm população total inferior a 10 mil habitantes e aproximadamente 33%
possuem população total entre 10 e 30 mil habitantes. Entretanto, vale ressaltar que a po-
pulação dessa região se encontra distribuída de forma assimétrica, apresentando 69,29 %
desta em 11 municípios de população superior a 30 mil habitantes. Isto fica ainda mais evi-
dente quando se observa que apenas 4 municípios contêm mais da metade da população
da região (IBGE, 2010).

252
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Em 2010, 22 municípios da referida mesorregião possuíam população total entre 10 mil
e 30 mil habitantes, os quais apresentavam 18% da população regional. São, portanto, esses
municípios que serão objetos de análise e comparação neste estudo. A seguir, listam-se os
nomes e o número de habitantes de cada deles (Quadro 1).

Quadro 1. Mesorregião Geográfica Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: municípios com população total entre 10.000 a
30.000 habitantes no ano de 2010.
População total em
Município População total em 2010 Município
2010
Campina Verde 19.324 Monte Alegre de Minas 19.619
Campos Altos 14.206 Nova Ponte 12.812
Canápolis 11.365 Perdizes 14.404
Capinópolis 15.290 Planura 10.384
Carmo do Paranaíba 29.735 Prata 25.802
Centralina 10.266 Rio Paranaíba 11.885
Conceição das Alagoas 23.043 Sacramento 23.896
Coromandel 27.547 Santa Juliana 11.337
Fronteira 14.041 Santa Vitória 18.138
Itapagipe 13.656 Serra do Salitre 10.549
Lagoa Formosa 17.161 Tupaciguara 24.188
Fonte: IBGE, 2010. Elaboração: Autoras, 2018.

O IDH dos municípios selecionados é relativamente uniforme, pois as variações en-


tre os valores mínimos e máximos são pequenas. Cerca de 75% dos municípios possuem
IDH-municipal alto e apenas 25% deles apresentam IDH-municipal médio. O município de
Tupaciguara tem destaque neste índice, visto que ele está inserido na parcela de 25% da
amostra que apresentou o maior IDH-M. O índice de longevidade é, dos componentes do IDH
municipal, o que apresenta maior desenvolvimento na área em estudo. Todos os municípios
analisados estão classificados com IDHM - Longevidade muito alto (Figura 1). Este índice
é obtido pela esperança de vida ao nascer, a qual vem, em geral, evoluindo positivamente
no país. Este é um fator que, associado como a diminuição da taxa de fertilidade, chama a
atenção para o processo de envelhecimento da população.

253
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 1. Mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: IDH dos municípios com população total entre 10.000 a 30.000
habitantes, 2010.

Nota: O IDH é classificado em: muito alto (índice de 0,800 a 1), alto (índice de 0,700 a 0,799), médio (índice de
0,600 a 0,699), baixo (índice de 0,500 a 0,599) e muito baixo (índice de 0 a 0,499).
Fonte: PNUD, 2015. Elaboração: As autoras, 2018.

Melo (2008) verificou uma tendência de envelhecimento populacional nos municípios


e cidades de pequeno porte por ela estudados. Neste caso, observou-se que, por um lado,
trata-se de um processo integrante das mudanças que estão ocorrendo na estrutura demo-
gráfica brasileira; por outro, em muitos municípios e cidades de pequeno porte o processo
mostra-se mais acelerado. Esta situação pode ser explicada, em geral, pela baixa capacidade
do campo (entorno das pequenas cidades) e das cidades de absorver mão-de-obra, gerar
renda, oferecer serviços e fixar a população. “Visto por este ângulo, o envelhecimento, nas
pequenas cidades, se relaciona também, com outro aspecto comum nesses lugares, que
especificamente, na área em estudo, é identificado pela migração de população, sobretudo
de jovens, para centros maiores” (MELO, 2008, p. 273).
Apesar do envelhecimento da população poder, de alguma forma, ser relacionado com
a melhoria nas condições de vida, sobretudo em relação à saúde humana, é preciso con-
siderar a realidade socioeconômica do país. Diferentemente do que ocorreu, em geral, no
continente europeu, no Brasil o envelhecimento não está se processando em um contexto
que a população tenha atingido condição satisfatória de vida. A população idosa no Brasil
é marcada por um perfil bem específico: em geral, são pessoas que nasceram no campo,
população com alta taxa de analfabetismo e de baixa escolaridade entre os alfabetizados;
de baixa renda familiar; as mulheres são em números maiores que os homens, entre outras
características (BERQUÓ, 2001).
254
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Este aspecto, no contexto dos municípios e das cidades de pequeno porte, deve ser
visto do ponto de vista de que o aumento da população idosa gera novas demandas ao
poder público municipal, sobretudo, em termos de assistência social e saúde.
O município de Tupaciguara, assim como os demais da área estudada, apresenta
IDHM - Longevidade muito alto (0.863), acima da média brasileira (0.816) e da do estado de
Minas Gerais (0.838). Na porção espacial analisada, a melhor situação em relação a este
índice foi registrada em Perdizes, com IDHM - Longevidade de 0.880.
Por outro lado, a Figura 1 também evidência que educação e renda são os componentes
que apresentam o menor desempenho nas localidades em análise.
Em relação ao IDHM - Educação, verifica-se, na Figura 1, que este índice é classificado
como baixo em mais de 75% da amostra. Apenas 3 municípios apresentaram IDHM - Educação
médio, sendo em ordem decrescente: Sacramento, Tupaciguara, Itapagipe e Capinópolis.
Este índice é composto pelos subíndices frequência escolar de crianças e jovens e
escolaridade da população adulta. Portanto, a variável que apresenta menor índice é a es-
colaridade da população adulta, ou seja, o percentual de pessoas de 18 anos e mais com
ensino fundamental completo é baixo. As localidades analisadas oferecem para a população
o ensino fundamental, no entanto, a melhoria deste índice, em geral, passará por programas
que consigam inserir pessoas adultas na educação formal.
O IDHM - Renda dos municípios analisados, neste trabalho, apresenta-se um pouco
menos homogêneo se comparado com o IDHM. Verifica-se, comparativamente com demais
índices apresentados na Figura 1, uma maior distância entre o limite do primeiro quartil e o
valor mínimo. No entanto, nenhum município apresentou baixo IDHM – renda.
O IDHM - Renda do município de Tupaciguara situa-se, no contexto considerado, no
limite do primeiro quartil, ou seja, está entre 25% da amostra com menor índice. Entretanto,
o seu IDHM referente a renda (0,711) insere na classe de alto desenvolvimento.
Este índice é calculado a partir da renda per capita, no entanto, ele não é capaz de
demostrar a questão de desigualdade de renda entre a população, o nível de rendimento
das pessoas, a população sem renda, entre outras informações que possibilitam uma melhor
análise das condições econômicas.
A renda das pessoas nos municípios brasileiros de pequeno porte (localizados em
regiões não metropolitanas e sem uma atividade âncora), em geral, é bastante baixa. Isto é
comumente explicado pela ausência, nas cidades, de estabelecimentos de médio e grande
porte capazes de dinamizar a economia local e gerar empregos e renda. Enquanto que, no
campo, sobretudo onde há o predomínio de atividades agrícolas modernas, a concentração
da riqueza e da renda é elevada (MELO, 2008).

255
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Os resultados dos IDHM referentes à educação e à renda, nos municípios em estudo,
reforçam a colocação anterior de que o envelhecimento atual de suas populações é fator que
deve despertar preocupações e ações proativas pelo poder municipal, haja visto que parte
muito significativa dos idosos constitui uma parcela que dependerá de assistência pública
para ter necessidades fundamentais atendidas.
Outro índice que auxilia na compreensão da qualidade de vida, aqui considerado, é
o IMRS. Este considera as dimensões saúde, educação, renda, assistência social, segu-
rança pública, saneamento, habitação, meio ambiente, cultura, esporte, turismo e finan-
ças públicas. O cálculo do mesmo é realizado por média ponderada dos índices de cada
dimensão. Os resultados do IMRS variam de 0 a 1, quanto maior o índice, melhores se-
rão as condições.
Conforme pode ser observado no Figura 2, a área analisada não apresentou, em média,
elevado desempenho no IMRS.

Figura 2. Mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: IMRS dos municípios com população total entre 10 mil e 30
mil habitantes, 2010.

Fonte: FJP. 2016. Elaboração: das Autoras, 2018.

Entre os municípios considerados neste estudo, o que apresentou o melhor IMRS foi,
Canápolis com índice igual a 0,65, contrapondo a Conceição das Alagoas, Campos Altos,
Serra do Salitre e Campina Verde com IMRS de 0,55, menor índice da área analisada.
256
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Tupaciguara, por sua vez, teve IMRS de 0,57, ficou, portanto, abaixo da média registrada
para os municípios comparados que foi de 0,59 e muito próximo do limite inferior da amos-
tra. Isto demostra condição desfavorável deste município com relação ao IMRS no contexto
analisado. Entretanto, a variabilidade entre os valores máximos e mínimos do IMRS dos
municípios analisados é baixa.
Quando se consideram, separadamente, as dimensões do IMRS, percebem-se algumas
diferenças na área analisada. As categorias de Esporte, Turismo e Lazer e de Cultura, apre-
sentaram maior distância entre os escores máximos e mínimos. O município de Tupaciguara,
nesses aspectos, ficou em situação intermediária, visto que atende parcialmente os requisitos
avaliados, entre os quais destacam-se, neste município, a existência de duas bibliotecas
públicas e um museu (SILVA, 2016).
O IMRS para as dimensões Saúde, Assistência Social e Finanças Públicas apresen-
taram-se mais homogêneos entre os municípios considerados, pois a amplitude entre os
valores máximos e mínimos é relativamente menor em relação as demais categorias que
compõem o IMRS (Figura 2).
Observa-se também que os IMRS de Saúde, Saneamento, Habitação e Meio Ambiente,
Segurança Pública, Renda e Emprego e Finanças Municipais são os índices em que o mu-
nicípio de Tupaciguara apresentou-se em situação mais desfavorável, no contexto espacial
considerado. Os IMRS de Tupaciguara para estas dimensões encontram-se entre os 25%
menores índices da amostra (Figura 2).
Com relação ao serviço de saúde em Tupaciguara, ressalta-se que este município
oferece localmente apenas o atendimento básico de saúde. O mesmo vem apresentando
melhorias em muitos dos indicadores de mortalidade, tal como a taxa de mortalidade infantil.
Este município possui Programa de Saúde da Família, o qual apresentou, em 2010 e 2011,
uma cobertura aproximadamente 71% da população. Entretanto, no conjunto dos indicadores
de saúde, Tupaciguara apresenta baixo desempenho. Um exemplo pode ser dado a partir das
internações hospitalares por condições sensíveis à atenção primária. Em 2013, internações
desta natureza representaram 40,41% neste município (FJP, 2016). Silva (2016) registrou,
em seu trabalho, que em Tupaciguara, é também frequente o deslocamento da população
para outras localidades em busca do serviço de saúde.
Com relação ao serviço de saneamento em Tupaciguara, destacam-se que: neste
município a cobertura da rede de esgotamento sanitário, em 2010, era de 88,79%, abaixo
ainda da média do estado de Mina Gerais (98,22%); 100% do esgoto doméstico coleta-
do, em 2016, era lançado em córregos sem tratamento; cerca de 98% dos domicílios, em
2010, eram atendidos com coleta de resíduos sólidos; todo o resíduo sólido coletado era
destinado em um aterro controlado, situação ambientalmente inadequada e em desacordo
257
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
com a Política Nacional de Resíduos Sólidos; o município não possui Plano de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos (dado de 2016); apesar disso, há nessa localidade sistema
de coleta seletiva realizado por uma cooperativa de catadores de materiais recicláveis (FJP,
2016; SILVA, 2016).
No geral, os municípios de pequeno porte da mesorregião Triângulo Mineiro/Alto
Paranaíba não apresentam indicadores elevados de criminalidade, de forma que possa
afetar significativamente os índices de segurança pública. Um aspecto que contribui IMRS
Segurança Pública ser baixo em Tupaciguara é a ausência de infraestrutura e serviços
como delegacia especializada no atendimento a mulher, delegacia de proteção da infância
e adolescência, unidade de internação de menores infratores, guarda municipal e outros
serviços considerados na avaliação do IMRS. No geral, Tupaciguara ainda é um local tran-
quilo, marcado por relativa segurança, aspecto comum em pequenas cidades da região,
sobretudo por se tratar de uma dimensão populacional que há conhecimento mútuo entre
as pessoas e relações de parentescos frequentes.
A questão da renda e do emprego em Tupaciguara é apresentada como uma das faces
de uma economia municipal pouco dinâmica. A renda per capita neste município é baixa,
sendo que, em 2010, foi de R$ 671,38 (IBGE, 2016). De forma semelhante, verifica-se que
aproximadamente 37% dos domicílios estavam, em 2010, na classe de rendimento nominal
mensal per capita domiciliar de mais de ½ a 1 salário mínimo e 82,97% do total de domicílios
não passavam de 2 salários de renda per capita domiciliar (IBGE, 2016).
Em Tupaciguara, os serviços e a agropecuária são os principais setores da economia
municipal, com relação a ocupação da população, sendo o primeiro responsável 38,79% dos
postos de trabalho e, o último, por 25,54% destes (IBGE, 2016). Vale ressaltar que o setor
de serviços nesta cidade não é bem desenvolvido, sendo os serviços públicos (educação,
saúde e segurança-pública, entre outros) os responsáveis por grande parte dos empregos.
Isto, de certa forma, reforça de dependência em relação ao Estado, realidade de muitas
das pequenas cidades e municípios de pequeno porte no país, fato constatado também em
outros trabalhos como os de Pereira (2007), Melo (2008) e Bacelar (2008).
Outro índice aqui considerado é o IVS. Este apresenta variações na escala de 0 a 1,
sendo que quanto mais próximo de 1, pior será situação do município, ou seja, há alta vul-
nerabilidade social na localidade avaliada.
O IVS apresenta três dimensões: i) infraestrutura urbana; ii) capital humano; e iii) ren-
da e trabalho” (IPEA, 2016). A primeira dimensão busca avaliar o acesso aos serviços de
infraestrutura urbana como o saneamento e a mobilidade. A segunda abrange informações
sobre condições de saúde e educação das famílias que influem nas perspectivas de inclusão
social. Nesta dimensão, foram considerados indicadores
258
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
de mortalidade infantil; da presença, nos domicílios, de crianças e jovens que
não frequentam a escola; da presença, nos domicílios, de mães precoces,
e de mães chefes de família, com baixa escolaridade e filhos menores; da
ocorrência de baixa escolaridade entre os adultos do domicílio; e da presença
de jovens que não trabalham e não estudam (IPEA, 2017).

A terceira dimensão procura caracterizar a renda e o trabalho das famílias, conside-


rando além da insuficiência de renda, a desocupação de adultos; a ocupação informal de
adultos pouco escolarizados; a dependência com relação à renda de pessoas idosas; e o
trabalho infantil (IPEA, 2017).
Tupaciguara obteve IVS igual a 0,29 no ano de 2010, condição abaixo da média dos
municípios considerados neste estudo (Figura 3). O município de Sacramento, por sua vez,
foi aquele onde se registrou o melhor IVS (0,20) em 2010, enquanto o pior índice, ou seja, o
maior valor, foi registrado em Canápolis (0,468). Verifica-se também que há certa heteroge-
neidade entre os dados registrados nos municípios, visto que as variações entre os escores
máximos e mínimos no Figura 3 são significativas.

Figura 3. Mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: IVS dos municípios com população total entre 10.000 a 30.000
habitantes, 2010.

Fonte: IPEA. 2016. Elaboração: das Autoras, 2018.

Observa-se, por meio do Figura 3, que o melhor desempenho no IVS, em todos os


municípios considerados neste estudo, ocorreu na dimensão infraestrutura urbana. Nesta,
destaca-se que a mobilidade, em geral, é um fator positivo em municípios de pequeno
259
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
porte não localizados em regiões metropolitanas. Como a mobilidade, neste caso, é ava-
liada considerando o tempo gasto para chegar até o trabalho, mesmo quando se trata, por
exemplo, de trabalhadores agrícolas que residem nas pequenas cidades, os deslocamentos
não são frequentemente de longa duração, haja visto que isto ocorre, em geral, da área
urbana para zona rural dentro do município em municípios vizinhos e em situação em que
o tráfego é rápido.
No que diz respeito ao saneamento, o referido índice só considera a coleta de resíduos
sólidos e as condições de acesso ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário.
Aspectos como a destinação final de resíduo, tratamento e controle da qualidade da água
e tratamento de esgoto doméstico não são contabilizados no referido índice. Isto também
auxilia na condição favorável dos municípios de pequeno porte, aqui referidos, quanto a
infraestrutura urbana. Na região estudada, em geral, os municípios possuem rede geral de
abastecimento de água, no entanto, o tratamento nem sempre é realizado. Da mesma forma,
o tratamento de esgoto doméstico também não é realizado, como é o caso de Tupaciguara
que não dispõe de estação de tratamento de esgoto.
Por outro lado, verifica-se maior vulnerabilidade nos municípios analisados quando se
consideram as dimensões renda e trabalho e capital humano (Figura 3).
Com relação à renda e trabalho, a contribuição no sentido de maior vulnerabilidade
está, principalmente, associada ao trabalho infantil, à taxa de desocupação e à baixa escola-
ridade e ao trabalho informal. Em Tupaciguara, conforme dados de 2010, a taxa de trabalho
informal na população sem ensino fundamental completo foi de 42,1%, enquanto a média
do estado de Minas Gerais foi de 36,12% (IPEA, 2017).
Outro índice selecionado para este estudo é o Índice de Qualidade de Vida Urbana para
os Municípios Brasileiros (IQVU-BR). Este foi desenvolvido, entre 2004 e 2005, pelo Ministério
das Cidades e tem como objetivo avaliar a possibilidade espacial da população ter acesso a
serviços e recursos urbanos e de auxiliar no planejamento municipal. A metodologia utiliza-
da foi a mesma desenvolvida para Índice de Qualidade de Vida Urbana de Belo Horizonte.
O IQVU-BR avalia variáveis referentes ao comércio e aos serviços, à cultura, à eco-
nomia, à educação, à habitação, à saúde, aos instrumentos de gestão urbanística, à parti-
cipação e organização sócio-política, ao meio ambiente urbano, à segurança pública e aos
transportes. O cálculo deste índice é realizado por média ponderada dos indicadores e os
resultados variam de 0 a 1, quanto maior o índice, melhores serão as condições.
Entre os municípios da mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba considerados
neste estudo, Sacramento, com IQVU-BR de 0,68, apresentou o melhor índice. Tupaciguara,
encontra-se na terceira posição, junto com Canápolis e Fronteira, entre os melhores índices,
acima da média dos municípios em estudo que foi de 0,576 (Figura 4).
260
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 4. Mesorregião Triângulo Mineiro/Alto Paranaíba: IQVU-BR dos municípios com população total entre 10.000 a
30.000 habitantes, 2010.

Fonte: NAHAS, et al., 2006. Elaboração: das Autoras, 2018.

Os dados do IQVU-BR dos municípios em questão, não apresentam variações inten-


sas entre escores máximos e mínimos e, 75% desses possuíam IQVU-BR entre 0,5006 e
0,6012 (Figura 4).
Ao observar o conjunto das variáveis consideradas no referido índice, constata-se
que os indicadores de menor desempenho são aqueles ligadas à dinâmica da economia
municipal, à saúde, à participação e organização política, segurança pública e transporte.
Por outro lado, as melhores condições foram verificadas no âmbito da cultura, habitação,
gestão urbanística e meio ambiente.

CONCLUSÕES

Os estudos sobre a qualidade de vida podem servir para orientar as ações dos gestores
públicos, fornecer parâmetros para sociedade apresentar suas demandas ao poder público,
auxiliar os técnicos nas decisões sobre o planejamento territorial e em outras práticas que
colaborem com a melhoria da condição de vida e do bem-estar da população.
Os índices sintéticos ajudam na percepção e quantificação dos aspectos relacionados
com a qualidade de vida. A partir das análises dos índices sociais, econômicos e ambientais
de Tupaciguara, feitas neste trabalho, conclui-se que o município de Tupaciguara se apre-
senta em uma condição intermediária de desenvolvimento, conforme o contexto espacial e
as faixas de valores dos índices considerados nessa análise. Quando se observam índices
mais generalistas como o IDH-municipal, o referido município destaca-se na faixa de alto
desenvolvimento. Entretanto, quando são consideradas variáveis como saúde, educação,
saneamento, meio ambiente, emprego e renda, percebe-se que a condição é de médio a
baixo desenvolvimento.
261
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Os índices mais elevados observados nas análises de Tupaciguara foram aqueles
relacionados com a longevidade, cultura, esporte, turismo e lazer. Os índices de menor de-
senvolvimento são os que dizem respeitos às condições de emprego e renda, saúde, meio
ambiente e saneamento.
Verificou-se que há fortes semelhanças entre as condições de qualidade de vida dos
municípios de pequeno porte da mesorregião geográfica Triângulo Mineiro considerados
neste estudo, visto que, apesar das variações significativas entre os escores máximos e
mínimos de alguns dos índices avaliados, a baixa dinamicidade da economia local (princi-
palmente com relação à geração de emprego e renda), a dependência de cidades médias
ou grandes para o provimento da assistência à saúde, a baixa escolaridade da população
adulta e o envelhecimento populacional, são aspectos comuns entre os municípios.
Os índices analisados indicam que os municípios de pequeno porte da região Triângulo
Mineiro/Alto Paranaíba apresentam, portanto, condições sociais, econômicas e ambientais
semelhantes, sem grandes disparidades.
Por fim, ressalta-se que o uso de índices sintéticos pode ser uma boa opção para a
análise socioeconômica e ambiental dos municípios, portanto, da qualidade de vida. No en-
tanto, este procedimento não dispensa o conhecimento empírico da realidade local. Muitas
das análises aqui estabelecidas foram possíveis, justamente, pelo acervo de informação
produzido em pesquisas de campo.

REFERÊNCIAS
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MG: ABEP, 2006. Disponível em: <http://www.abep.nepo.unicamp.br/encontro2006/docspdf/
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lândia, Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil (MG), 2016.

263
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
18
Sítios florestais de produção como
estratégia para reabilitação de áreas
rurais degradadas em Cunha–SP

Jorcelino Rinalde de Paulo

Alfredo Akira Ohnuma Júnior

Antônio Roberto Martins Barboza de


Oliveira

Ana Silva Pereira Santos

10.37885/210705296
RESUMO

A reabilitação de áreas rurais degradadas no município de Cunha-SP tem como principal


objetivo a revitalização produtiva e ambiental de suas terras, o que contribui diretamente
para recuperação de espaços territoriais pertencentes à bacia hidrográfica do Paraíba do
Sul. Nesse sentido, com base na importância hidrográfica do município de Cunha-SP e
no histórico de degradação florestal e pouca produtividade de suas terras, este trabalho
propõe a concepção de Sítios Florestais de Produção (SFP) como estratégia para revita-
lização socioeconômica e ambiental desses ambientes. A característica desta proposta é
a reabilitação da vegetação nativa em Áreas de Preservação Permanente (APP) e Áreas
de Reserva Legal Florestal (ARLF) com posterior exploração econômica da vegetação
por meio de Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS). A metodologia do trabalho
consiste da apresentação das fases de implantação da proposta e do respectivo método
de manejo a ser utilizado para exploração econômica da vegetação. Os resultados pre-
vistos sugerem que o uso de SFP é uma opção tecnicamente viável para recuperação
produtiva e ambiental da região de Cunha-SP, bem como um mecanismo eficiente ao
cumprimento da demanda de recomposição de APP e ARLF disposta na Lei nº 12.651
de 2012 e suas alterações.

Palavras-chave: Sítios Florestais de Produção; Reabilitação de Áreas Rurais Degradadas;


Município de Cunha-SP.

265
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
INTRODUÇÃO

A localização da bacia hidrográfica do Paraíba do Sul está situada em uma das regiões
mais desenvolvidas, urbanizadas e exploradas do Brasil, sobretudo na região Sudeste em
especial na bacia do Atlântico Sudeste. A falta de sustentabilidade do modelo desmatamen-
to-agropecuária extensiva adotado no Vale do Paraíba reflete na dimensão dos problemas de
infraestrutura das áreas urbanas, onde vivem 87% da população da bacia (CAMPOS, 2001).
Nesse contexto, torna-se fundamental para a região a busca por propostas sustentáveis
que objetivem proporcionar a reabilitação de áreas degradadas por meio do equacionamento
de melhorias socioeconômicas e ambientais.
A área de drenagem da bacia hidrográfica do Paraíba do Sul, com cerca de 55.400 km2,
responde pelo abastecimento de água potável de aproximadamente quatorze milhões de
pessoas (BRAGA, 2008), o que denota a importância da recuperação de vegetação nativa
em espaços rurais da bacia, cuja revitalização está diretamente relacionada à manutenção e
ao aumento da disponibilidade de recursos hídricos locais. Desse modo, a possibilidade de
exploração econômica da vegetação recuperada pode ocorrer por meio de Plano de Manejo
Florestal Sustentável (PMFS).
Paulo (2017) expõe que, conforme estudo realizado, a estrutura conceitual da proposta
de Sítios Florestais de Produção (SFP) pode ser descrita por duas fases: (1) a reabilitação flo-
restal de espaços degradados com ação prioritária sobre as Áreas de Preservação Permanente
(APP) e Áreas de Reserva Legal Florestal (ARLF), e (2) a exploração econômica de produtos
florestais segundo as regras de um Plano de Manejo Florestal Sustentável (PMFS).
A reabilitação florestal ou reflorestamento é o elemento base para proposta de SFP,
de modo que a ação deve permear o repovoamento de áreas degradadas por meio do plan-
tio de espécies florestais capazes de conduzir os processos de regeneração espontânea
da vegetação com a devida restituição das formas e funções dos ecossistemas florestais
(VALCARCEL & SILVA, 1997).
O desmatamento do espaço territorial, sob a influência da urbanização e da expansão
das culturas do café e da cana-de-açúcar, representa uma vertente acelerada de deterio-
ração da bacia do Paraíba do Sul. A monocultura e a criação extensiva de gado são os
principais fatores que contribuíram para a destruição da floresta atlântica no Médio e Alto
Vale do Paraíba (SILVA, 2002).
A cobertura florestal natural na região do Paraíba do Sul foi reduzida de 82 % da área
original para cerca de 5 %. A destruição do bioma atlântico resultou em modificações no
clima, até então, com uma baixa amplitude térmica característica; e o clima sempre úmido,
baseado em chuvas convectivas originadas da evapotranspiração da floresta pluvial limitava
o impacto dos sistemas frontais (DANTAS & COELHO NETTO, 1996).
266
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Além disso, na porção do território paulista, a erosão e o transporte de sedimentos
dos ciclos econômicos pretéritos já comprometem a qualidade da água que abastece os
reservatórios do Paraibuna. O atual carregamento de sedimentos para os reservatórios
devido ao corte raso de florestas plantadas aumenta o impacto das enxurradas, reduzindo
o tempo de concentração na bacia, com aumento de processos erosivos (RANZINI et al.,
2004). A cobertura florestal age de maneira positiva no combate a erosividade do solo,
melhorando os processos de infiltração, percolação e armazenamento de água, além de
diminuir o escoamento superficial (LIMA adaptado, 1986).
A integração do reflorestamento nativo com o comercial em uma solução ecológica e
econômica possibilita a recuperação de áreas degradadas, pois o reflorestamento comer-
cial gera renda e ajuda a proteger do fogo as pastagens e matas nativas em recuperação
(ROMERO et al., 2004).
O objetivo deste trabalho é discutir a proposta de emprego de Sítios Florestais de
Produção (SFP) como estratégia para recuperação produtiva e ambiental da região do Alto
Paraíba, no município de Cunha-SP. O emprego desta proposta encontra-se instituída pela
Lei nº 12.651 de 2012, que regulamenta a adequação e a regularização ambiental de todas
as propriedades rurais do país, bem como no Decreto nº 3.420, de 20 de abril de 2000, que
cria o Programa Nacional de Florestas (PNF).

MATERIAIS E MÉTODOS

O município de Cunha-SP está localizado na Zona do Planalto do Paraitinga caracteri-


zada pelo conjunto de longas serras com altitude de 1.300 m decrescendo, com amplitude de
300 m, rios caudalosos e planícies aluviais pouco desenvolvidas, exceção à do rio Paraibuna
e seus afluentes. Esse cenário compõe a morraria do Paraitinga e do Paraibuna, o conjunto
de serras alongadas divisoras de águas. (DIAS et al., 2004).
A região de Cunha-SP está inserida na macrorregião do Vale do Paraíba Paulista que,
em termos geológicos, pertence ao domínio morfoclimático de “mares de morro”, predomi-
nando formas residuais e curtas em sua convexidade, resultados da mamelonização, que se
constituiu de processos de arredondamento e inclinação em terrenos cristalinos, formando
superfícies aplainadas de cimeira ou intermontante (AB‟SABER, 2000). Basicamente, na por-
ção paulista do Vale do Paraíba existem duas províncias geomorfológicas: o Planalto Atlântico
e a Província Costeira. O Planalto Atlântico compreende cinco zonas: Planalto do Paraitinga,
Planalto da Bocaina, Médio Vale do Paraíba, Serra da Mantiqueira e Planaltos de Campos
de Jordão. A província Costeira compreende a zona Serranias Costeiras (ALMEIDA, 1964).
Considerada uma área estratégica e prioritária, a região de Cunha-SP atualmente é
emergente de demandas por ações econômicas e ambientais que possam revitalizar o amplo
267
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
histórico de degradação florestal e de baixa produtividade de suas terras, principalmente por
estarem vinculadas às nascentes dos rios Paraibuna e Paraitinga, dois corpos hídricos de vital
importância para a formação da represa do Paraibuna, que dá origem ao corpo principal do
rio Paraíba do Sul, cuja nascente localiza-se no estado de São Paulo, na serra da Bocaina,
a 1.800 m de altitude (TOTTI, 2008). Situada em área de domínio do bioma atlântico esta
bacia sofreu drásticas transformações com o crescimento e o avanço da cultura agrícola,
principalmente devido ao cultivo do café, cuja prática foi responsável pelo surgimento de um
ciclo de desmatamento e ocupação desordenado da terra, com consequente transformação
da paisagem regional. (CAMPOS, 2001).
No Vale do Paraíba Paulista, a maior parte dos espaços rurais que, em uma visão
sustentável poderiam estar produzindo alimentos, madeira ou outros produtos de origem
florestal, encontra-se subutilizados e em acelerado processo de degradação.
De acordo com dados coletados no Plano Municipal de Desenvolvimento Rural
Sustentável de Cunha-SP, (PDRS – 2010/2013), disponível para consulta no portal eletrô-
nico da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, a economia do
município era de subsistência e passou por diferentes ciclos de culturas ao longo do tempo,
como a da cana de açúcar nos anos de 1778, a atividade cafeeira por volta de 1865, o ciclo
de produção de algodão até a metade dos anos de 1870 e a cultura bem difundida do fumo,
cujo ciclo perdurou até o inicio do século XX.
Atualmente, conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
o município ocupa uma área total de 144.000 hectares, sendo 137.826 ha de áreas rurais e
6.174 ha de áreas urbanas. Segundo dados coletados na Prefeitura da Cidade de Cunha-SP
(Figura 1), a altitude média do município é de 1.100 metros e seus pontos culminantes são
o Pico da Pedra da Macela (1.840 metros) e o Pico do Cume (1.630 metros).

Figura 01. Localização do município de Cunha-SP.

Fonte: Raphael Lorenzeto de Abreu . Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cunha_(S%C3%A3o_Paulo)#/media/File:SaoPaulo_


Municip_Cunha.svg . Acesso em fev., 2017.

Conforme informações disponíveis na Carta de Suscetibilidade a Movimentos


Gravitacionais de Massa e Inundações do município de Cunha – SP, o relevo predominan-
te da região é caracterizado por vastas extensões de terreno montanhoso e afloramento
268
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
rochoso próximo à superfície, com camada de terra fértil superficial e cultivado tradicional-
mente com aração “morro a baixo”. A classificação Köppen, na região de Cunha-SP os dois
tipos climáticos prevalecentes são: (a) Cwb, caracterizado como mesotérmico, com verão
chuvoso e temperaturas amenas e estiagem no inverno; e Cbf, característico de terras altas,
clima seco e temperado, com temperaturas médias no verão variando entre 18 e 25º C, e
no inverno entre 2 e 12º C.
A temperatura média anual no município é de 19,6 °C, oscilando entre mínima média de
13,4 °C e máxima média de 25,7 °C, com precipitação média anual de 1.351,8 mm. De acordo
com o PDRS de Cunha–SP, os solos presentes na região são compostos por: Cambissolos,
Neossolos, Plantossolos, Latossolos, Argissolos, Luvissolos, e outros, sendo os principais:
Argissolos, Latossolos e Neossolos.
Embora haja presença de Unidades de Conservação Ambiental na cidade de Cunha,
a cobertura vegetal nativa encontra-se drasticamente fragmentada, principalmente pela
ação da agropecuária extensiva e pelo desmatamento. Conforme dados do Sistema de
Informações Florestais do Estado de São Paulo (SIFESP - 2017), a Figura 2 demonstra o
mapa da cobertura florestal na região de Cunha-SP.

Figura 02. Cobertura florestal de Cunha-SP.

Fonte: Sistema de Informações Florestais do Estado de São Paulo . (Disponível em http://s.ambiente.sp.gov.br/sifesp/cunha.pdf, acesso
em Out, 2017).

Conforme Paulo (2017) as Figuras 3 e 4 apresentam respectivamente a posição estra-


tégica do município na composição dos rios Paraibuna e Paraitinga e o zoneamento priori-
tário de sítios florestais de produção. (SFP). A confluência desses rios resulta na formação
da represa de Paraibuna, em um espaço compreendido entre os municípios de Natividade
da Serra, Paraibuna e Redenção da Serra – SP, onde se dá a origem do curso principal do
rio Paraíba do sul. 269
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 03. Posição estratégica do município de Cunha-SP. Figura 04. Zoneamento prioritário para emprego da
proposta de SFP.

Ainda segundo Paulo (2017), a proposta de um programa de reabilitação florestal a


nível municipal que fomente a revitalização das zonas ripárias do território de Cunha, por
meio do emprego de Sítios Florestais de Produção, com consequente consolidação de Áreas
de Preservação Permanente (APP) e Áreas de Reserva Legal Florestal (ARLF), em acordo
com o previsto na legislação atual, sugere o favorecimento de uma maior disponibilidade
hídrica para as microbacias presentes nessa região, cuja consequência está diretamente
relacionada com uma maior produção e fornecimento de água para o rio Paraíba do sul.
Desta forma, com base no estudo realizado sobre os aspectos ambientais e socioeco-
nômicos do município, a proposta de implantação de Sítios Florestais de Produção (SFP)
nesse território foi determinada em respeito à importância das zonas ripárias presentes em
seus domínios espaciais, bem como de acordo com o mapeamento das APP e ARLF iden-
tificadas pelo Cadastro Ambiental Rural de Cunha-SP.
Considerando que o Cadastro Ambiental Rural do município de Cunha-SP, segundo
dados do Serviço Florestal Brasileiro de outubro de 2017, apresentou um total de 2.858
imóveis rurais cadastrados e uma área total de 96.343 ha disponíveis, é possível avaliar o
zoneamento de áreas prioritárias como uma ação estratégica, pois a identificação dos imó-
veis rurais cadastrados no CAR de Cunha-SP demonstra uma estimativa do total de áreas
que podem ser contempladas com Programas de Regularização Ambiental (PRA) a que se
refere a Lei 12.651/12.
Além de trabalhos acadêmico-científicos que tratam da reabilitação florestal em áreas
rurais degradadas, foram realizadas pesquisas nos documentos: Plano Municipal Integrado
de Saneamento Básico de Cunha e Região; Plano Municipal de Desenvolvimento Rural
Sustentável (PDRS) do município de Cunha – SP; Carta de Suscetibilidade a Movimentos
Gravitacionais de Massa e Inundações do município de Cunha – SP; legislações federais,
estaduais e municipais pertinentes, assim como em documentos oficiais de órgãos públicos
e da Prefeitura Municipal da cidade.
A metodologia utilizada na pesquisa retrata o emprego de Sítios Florestais de Produção
(SFP) na região de Cunha-SP que consistiu, basicamente, em um estudo com apresentação
270
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
das fases de implantação da proposta, por meio da definição do processo de reabilitação
florestal a ser utilizado na recuperação de APP e ARLF, bem como pela determinação da
sistemática de manejo adotada, composto das fases:
Proposta de reabilitação florestal em APP considerando a média de 1.664 plantas por
hectares (ha), sendo 832 árvores para dois cada grupo florestal distinto (Figura 5).
Padrão de reabilitação florestal proposto para Áreas de Reserva Legal Florestal
(ARLF) (Figura 6).
A sistemática de manejo a ser adotada na proposta de Sítios Florestais de
Produção (Figura 7).

Figura 05. Ilustra o método de plantio Figura 06. Método de plantio para Figura 07. Método para manejo em
para APP. ARLF. ARLF.

Conforme Tabela 1, o ciclo de manejo a ser realizado no horizonte temporal de 30 anos.

Tabela 1. Ciclo de Manejo Previsto.

Prazo Idade (anos) Módulo (B) Desbaste Produto Finalidade

Espécies Nativas Indústria Madeireira/


Seletivo de 40 Madeira Fina e
Médio 7º ao 15º com Potencial de Química / Farma-
% das plantas Média
Exploração cêutica

Espécies Nativas Indústria Madeireira/


Seletivo de 60% das Madeira Média e
Longo 20º ao 30º com Potencial de Química /
plantas Grossa
Exploração Farmacêutica

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados para o estudo realizado demonstram que a proposta de SFP na região


de Cunha-SP possui um potencial favorável à reabilitação de expressiva parcela do bio-
ma atlântico local, sobretudo pelo aumento considerável de espécies nativas empregadas
em sua execução.
Em relação aos aspectos quantitativos da proposta, o estudo concluiu que o custo
médio para implantação efetiva de SFP em área rural degradada do município de Cunha-
SP, por hectare é estimado em R$ 36.878,00 para Área de Reserva Legal Florestal (ARLF)
e de R$ 23.206,00 para Áreas de Preservação Permanente (APP). Também foi possível

271
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
determinar que, no o horizonte de 30 anos previsto para o ciclo de manejo florestal da pro-
posta de SFP, há possibilidade de um resultado financeiro de R$ 574.200,00 por hectare.
Em contrapartida, em relação aos aspectos qualitativos da proposta, os resultados
constam descritos nas Tabelas 2 e 3.

Tabela 2. Resultados qualitativos de reabilitação de APP.

Ação realizada Resultados previstos


Atendimento ao disposto na Resolução SMA nº 47, de 26 de novembro de 2003 da
Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que disciplina as orientações
Emprego do grupo de diversidade
para o reflorestamento heterogêneo de áreas degradadas e dá providências corre-
latas.
Priorização das áreas consideradas de preservação permanente pela Lei Federal nº
Recomposição da vegetação as
12.652 de 2012 e a permissão da interligação de fragmentos florestais remanescen-
margens de corpo hídrico
tes na paisagem regional (corredores ecológicos).
Atendimento ao disposto na Resolução nº 48 de 21 de setembro de 2004, da Secreta-
Uso de múltiplas plantas nativas
ria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que publica a lista oficial das espécies
da região com oportunidade para
da flora do Estado ameaçadas de extinção, seguindo recomendação do Instituto de
plantio de espécies em extinção
Botânica de São Paulo.

Tabela 3. Resultados qualitativos previstos para ARLF.

Ação realizada Resultados previstos ARLF

Viabilidade de quantificação e seleção das espécies florestais a serem plantadas na


Plantio de alta concentração de revitalização do ecossistema original do local, em corroboração ao disposto na Reso-
espécies nativas no Módulo A lução n° 48 de 21 de setembro de 2004, da Secretaria do Meio Ambiente do Estado
de São Paulo, que trata da lista de espécies em extinção.
Exploração econômica de forma sustentável, sem descaracterizar a cobertura vege-
Implantação do Módulo B consti- tal e sem prejudicar a conservação da vegetação nativa, além de assegurar a manu-
tuído de espécies nativas / exóticas tenção da diversidade das espécies e permitir o manejo de árvores exóticas com a
para posterior exploração econômica adoção de medidas que favoreçam a regeneração de espécies nativas, em cumpri-
mento no disposto no artigo 22 da Lei nº 12.651 de 2012.
Admissão da remoção de madeira sem descaracterizar a cobertura florestal do mó-
Demarcação de arruamentos laterais dulo a ser manejado, bem como favorecer a recuperação dos impactos ambientais
para remoção de madeira de manejo resultantes do manejo, auxiliando a chuva de sementes da vegetação nativa do en-
torno.
Escolha do manejo seletivo para Exploração sustentável realizada de acordo com a maturidade financeira da árvore,
exploração de insumos florestais com aplicação de corte ou exploração de insumos por individuo em potencial.

Quanto aos aspectos econômicos, o estudo revelou que o emprego de Sítios Florestais
de Produção pode ser analisado como uma nova fonte para geração de renda aos produtores
rurais instalados na região, principalmente sob o escopo da comercialização de madeiras e
da possibilidade de formação de cooperativas locais que possam subsidiar o processamento
do produto florestal nas proximidades da área de plantio, além de favorecer uma melhor
valorização e preço final do produto.
O estudo também avalia a possibilidade do surgimento de determinados componentes
da cadeia produtiva do setor florestal após a aplicação da proposta de SFP na área delimitada
desta pesquisa, o que favorece o crescimento e desenvolvimento do produtor rural. (Figura 8)

272
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
Figura 08. Elementos da cadeia produtiva do setor florestal.

Em relação aos aspectos ambientais, os resultados sugerem que o emprego de SFP


favorece o aumento da absorção de carbono na região de Cunha-SP, que segundo Boletim
do Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF, 2016), do Serviço Florestal Brasileiro
(SFB), é cerca de 50% da biomassa total da área florestal.
Ao considerar que o volume da madeira é uma expressão usada para quantificar, ge-
ralmente em metros cúbicos, o espaço ocupado por uma determinada árvore ou um conjunto
delas existente em um povoamento, parcela ou talhão, é possível inferir que a reabilitação
de Áreas de Reserva Legal Florestal (ARLF) e Áreas de Preservação Permanente (APP),
com elevada concentração de vegetação nativa durante o emprego da proposta de Sítios
Florestais de Produção, colabora diretamente com o aumento das variáveis que compõem
o estoque florestal do bioma atlântico, principalmente se o modelo for adotado em um pro-
grama de reabilitação a nível municipal, cujo percentual de crescimento pode atingir um
índice significativo.
Pode-se considerar também que nas florestas tropicais a interceptação pluvial varia
de 4,5 % a 24,0 % da precipitação, onde o restante da água escoa pelos troncos das árvo-
res, alcançando o solo por meio da infiltração sem a ocorrência do escoamento superficial,
o que normalmente não se dá em uma área desprovida de vegetação. (ARCOVA et al.,
2003). Em áreas com florestas preservadas a água percola o solo e alimenta gradualmente
o lençol freático, possibilitando que um rio tenha vazão regularizada ao longo do ano, inclu-
sive nos períodos de estiagem, com oferta de água, boa distribuição e melhor qualidade.

CONCLUSÕES

Este trabalho permite concluir a partir do levantamento de dados que:

1. o consórcio entre a recuperação e a exploração de áreas florestais, por meio pro-


posta de Sítios Florestais de Produção (SFP), representa uma estratégia eficaz
para recuperação produtiva e ambiental da região de Cunha-SP;
2. o emprego da proposta de SFP também viabiliza o processo de reabilitação de im-
273
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
portantes fragmentos florestais do bioma atlântico, o que contribui diretamente para
salvaguarda de mananciais hídricos e para revitalização de espaços pertencentes
à bacia hidrográfica do Paraíba do Sul;
3. o princípio do uso sustentável dos recursos florestais fornece elementos suficientes
para a revitalização social e econômica da terra, o que colabora de forma relevante
para o processo de reabilitação produtiva de áreas rurais degradas no Alto Paraíba;
4. a implantação da proposta de Sítios Florestais de Produção com reabilitação de
ARLF e APP na região de Cunha-SP sugere que, ao passar dos anos, com a recu-
peração das áreas florestais, possa haver um aumento significativo na produção de
água e na recarga do lençol freático local, assim como a promoção de um regime
sustentável de produção hídrica no lugar; e
5. O emprego da proposta de Sítios Florestais de Produção (SFP) indica que seu uso
é uma alternativa que atende a demanda de recomposição de Áreas de Preserva-
ção Permanente (APP) e Áreas de Reserva Legal Florestal (ARLF) prevista na Lei
nº 12.651 de 2012 e suas alterações.

AGRADECIMENTOS

Primeiramente a DEUS, pela vida e saúde, minha e de meus familiares.


Ao meu orientador, Prof. Dr. Ing. Antônio Roberto Martins Barboza de Oliveira, pelo
exemplo de profissionalismo e competência.
Ao Prof. Dr. Alfredo Akira Ohnuma Júnior, pela excelência das contribuições e pela
eficiência e apoio dispensados.
A Prof.ª Dra. Ana Silva Pereira Santos pela qualidade e riqueza de dados prestados
a esta pesquisa.

274
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
REFERÊNCIAS
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275
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
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276
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
SOBRE O ORGANIZADOR

Robson José de Oliveira


Possui graduação em Engenharia Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (2002), mestrado em Ciência Florestal
pela Universidade Federal de Viçosa (2004) e doutorado em Ciência Florestal pela Universidade Federal de Viçosa (2008).
Atualmente é professor associado I da Universidade Federal do Piauí/CTT em Teresina -PI. Tem experiência na área de Recursos
Florestais e Engenharia Florestal, com ênfase em Legislação Florestal, Colheita, Estradas e Transportes Florestais, atuando
principalmente nos seguintes temas: estradas, transportes, estabilização, pavimentação, redes neurais artificiais, ferramentas
computacionais aplicadas ao setor florestal, logística, politica e legislação ambiental, avaliação de impactos ambientais,
pericia ambiental, educação ambiental, colheita florestal, ergonomia, qualidade, gestão de projetos, ética e deontologia.

Lattes: http://lattes.cnpq.br/2371730431088108

277
Recursos Hídricos: gestão, planejamento e técnicas em pesquisa
ÍNDICE REMISSIVO

Metais Pesados: 49
A
Monitoramento: 20, 21, 33, 50, 56, 90, 108,
Áreas Rurais: 192, 264, 265, 268, 270, 274, 276 180, 193, 197, 203, 230, 231, 232
Assessorias Populares: 235 Município: 57, 93, 143, 236, 237, 247, 248, 253,
265, 275, 276
C
O
Comunidade: 212, 213, 236
Obras de Proteção: 141
Contaminação: 39, 49
P
Costa: 14, 140, 141, 149, 150, 152, 194, 249
Parâmetros: 173, 176, 198, 219, 220, 222, 227
D
Pesticidas: 206
Drenagem: 247
Pirapó: 181, 182, 183, 184, 185, 188, 191, 192,
E 193, 215, 230, 231
Efluentes: 39 Q
Equação Diferencial Parcial: 160 Qualidade de Vida: 249, 251, 263
Erosão: 148, 149, 151, 153, 154, 158
R
G Reabilitação: 265
Gerenciamento: 15, 18, 75
Rejeitos: 93
H
Reservatório: 113, 114, 117, 118, 119, 120, 124,
Hídricos: 23, 46, 72, 74, 75, 79, 80, 85, 86, 90, 125, 126, 127, 128, 129, 130, 131, 132, 133, 138
91, 106, 117, 134, 138, 140, 150, 203, 204, 230,
Rio: 23, 41, 43, 52, 57, 61, 72, 92, 93, 95, 96, 97,
248, 276
98, 100, 102, 103, 106, 108, 110, 111, 115, 117,
Hidrogeoquímica: 199, 202 118, 119, 125, 126, 127, 130, 131, 132, 134, 138,
158, 193, 197, 215, 216, 230, 231, 232, 236,
I 239, 244, 247, 248, 253, 275, 276
Indicadores de Desempenho: 112, 113, 129
S
L
Sedimentos: 141, 149, 232
Legislação: 206, 228
Sítios Florestais: 264, 276
M
U
Manejo: 14, 15, 16, 17, 19, 22, 23, 243, 248,
265, 266, 271 Urbanismo: 235

Metais: 49, 181

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