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dos Sedimentos
2a edição
Cristiano Poleto
Gustavo H. Merten
Qualidade
dos Sedimentos
2a edição
2013
© dos autores
2a edição: 2013
ISBN 978-85-60308-39-2
CDU.551.3
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE RECURSOS HÍDRICOS
DIRETORIA
Biênio 2012/2013
Presidente
Luiz Gabriel Todt de Azevedo
Vice-Presidente
Jussara Cabral Cruz
Diretoria de Publicações
Arisvaldo Mello Júnior
Diretoria de Eventos
Vladimir Caramori de Souza
Cristiano Poleto
Engenheiro Civil
Doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental pelo
IPH/UFRGS, Porto Alegre
Pós-doutor pela Coventry University, Inglaterra
Universidade Tecnológica Federal do Paraná, UTFPR
poleto@utfpr.edu.br
João Kaminski
Engenheiro Agrônomo
Doutor em Ciência do Solo pela UFRGS, Porto Alegre
Pós-doutor pela Michigan State University, USA
Universidade Federal de Santa Maria, UFSM
joao.kaminski@gmail.com
Rosane Martinazzo
Engenheira Agrônoma
Doutora em Ciência do Solo pela UFRGS, Porto Alegre
Pesquisadora da Embrapa Clima Temperado
rosane.martinazzo@embrapa.br
Apresentação
Capítulo 1 17
Rede de monitoramento e coleta de amostras.................................................. 19
1.1 | Introdução.................................................................................................. 19
1.2 | Objetivos do monitoramento...................................................................... 21
1.3 | Escolha e instalações de uma rede de monitoramento............................. 21
1.4 | Amostragem de sedimentos em suspensão.............................................. 26
1.4.1 Método igual incremento de largura (iil)................................................ 29
1.4.2 Método igual incremento de descarga (iid)........................................... 32
1.5 | Cálculo do fluxo de elementos químicos associados aos sedimentos ..... 35
1.6 | Frequência de amostragem....................................................................... 36
1.7 | Escolha dos equipamentos........................................................................ 39
1.8 | Cuidados com a preservação de amostras................................................ 42
1.9 | Aspectos de segurança.............................................................................. 44
1.10 | Referências bibliográficas ....................................................................... 45
Capítulo 2 47
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo
como fonte de sedimentos.................................................................................. 49
2.1 | Função ecológica do solo.......................................................................... 49
2.2 | Gênese, processos e classes de solos...................................................... 50
2.2.1 Fatores de formação ........................................................................... 50
2.2.2 Processos de formação ....................................................................... 58
2.2.3 Principais classes de solo .................................................................... 60
2.3 | Atributos da fração mineral do solo e qualidade de sedimentos................ 63
2.3.1 Textura e estrutura................................................................................ 63
2.3.2 Mineralogia ......................................................................................... 65
2.3.2.1 Minerais não silicatados................................................................ 65
2.3.2.2 Minerais silicatados....................................................................... 67
2.3.3 Origem das cargas dos argilominerais................................................. 69
2.3.4 Principais argilominerais....................................................................... 70
2.3.5 Reações químicas no solo.................................................................... 71
2.3.6 Modelos de distribuição de cargas....................................................... 73
2.3.7 Ponto de carga zero (pcz)..................................................................... 74
2.3.8 Processos de oxi-redução ................................................................... 74
2.4 | Considerações finais ................................................................................. 76
2.5 | Bibliografia citada e consultada................................................................. 76
Capítulo 3 79
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza
mineralógica das partículas................................................................................ 81
3.1 | Introdução ................................................................................................. 81
3.2 | Principais métodos de estudo de partículas ............................................. 82
3.2.1 Pré-tratamento de amostras................................................................. 82
3.2.1.1 Eliminação da matéria orgânica.................................................... 83
3.2.1.2 Eliminação de fe e al livres............................................................ 83
3.2.1.3 Dispersão das amostras ............................................................... 84
3.2.2 Métodos para determinar a distribuição do tamanho de partículas ..... 85
3.2.2.1 Métodos clássicos......................................................................... 85
3.2.2.2 Métodos instrumentais................................................................... 93
3.2.3 Principais métodos para determinar a natureza das partículas ......... 102
3.2.3.1 Área superficial específica – ase................................................. 102
3.2.3.2 Difração de raios-x....................................................................... 108
3.3 | Considerações finais.................................................................................114
3.4 | Referências bibliográficas.........................................................................116
Capítulo 4 121
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos,
composição e reações....................................................................................... 123
4.1 | Introdução: definição, formação e composição da matéria orgânica....... 123
4.1.1 Definição............................................................................................. 123
4.1.2 Formação............................................................................................ 125
4.1.3 Composição química ......................................................................... 126
4.2 | Fracionamento da matéria orgânica: métodos, distribuição e composição das
frações............................................................................................................. 130
4.2.1 Fracionamento e isolamento de moa ................................................. 130
4.2.2 Fracionamento químico da mo .......................................................... 133
4.2.3 Fracionamento físico da mo ............................................................... 136
4.3 | Reações da matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos....... 137
4.3.1 Reações com íons e minerais ............................................................ 138
4.3.2 Reações com moléculas orgânicas ................................................... 141
4.4 Referências bibliográficas.......................................................................... 142
Capítulo 5 147
Poluentes orgânicos e inorgânicos.................................................................. 149
5.1 | Introdução................................................................................................ 149
5.2 | Poluentes inorgânicos.............................................................................. 149
5.3 | Poluentes orgânicos................................................................................. 156
5.3.1 Substâncias orgânicas naturais: origem e constituição...................... 156
5.3.2 Substâncias orgânicas sintéticas: principais compostos e características .159
5.4 | Interação dos poluentes com os sedimentos........................................... 162
5.4.1 Reatividade dos sedimentos............................................................... 162
5.4.2 Interação entre elementos químicos ou moléculas em solução com os
grupos funcionais de superfície dos sedimentos......................................... 166
5.4.3 Modelos químicos para a distribuição dos poluentes na água e nos
sedimentos................................................................................................... 172
5.4.3.1 Modelos matemáticos empíricos ao equilíbrio químico instantâneo.173
5.4.3.2 Modelos matemáticos mecanísticos ao equilíbrio químico instantâneo..175
5.4.3.3 Modelos matemáticos cinéticos................................................... 177
5.4 | Referências bibliográficas........................................................................ 179
Capítulo 6 183
Qualidade das amostras e valores de referência............................................ 185
6.1 | Introdução................................................................................................ 185
6.2 | Protocolo de controle para estudos de qualidade.................................... 185
6.3 | Cuidados nos procedimentos e conservação das amostras.................... 186
6.4 | Amostras em “branco” para controle........................................................ 188
6.5 | Amostras de background ou de base....................................................... 188
6.6 | Material de referência padrão ou certificado............................................ 189
6.7 | Guidelines ou valores de referência......................................................... 191
6.8 | Análises ecotoxicológicas........................................................................ 196
6.8.1 Tipos de testes de toxicidade.................................................................. 197
6.8.2 Testes de toxicidade aguda................................................................ 198
6.8.3 Testes de toxicidade crônica............................................................... 200
6.8.4 Testes de toxicidade para multiespécies............................................ 201
6.8.5 Perspectivas gerais............................................................................. 202
6.9 | Exposição humana a sedimentos contaminados..................................... 203
6.10 Riscos à saúde humana........................................................................... 204
6.11 Referências bibliográficas........................................................................ 206
Capítulo 7 211
Processamento de amostras e extrações sequenciais.................................. 213
7.1 | Introdução................................................................................................ 213
7.2 | Processamento de amostras de sedimentos após a coleta..................... 213
7.3 Métodos de extração sequencial............................................................... 219
7.3.1 Protocolo desenvolvido por tessier..................................................... 220
7.3.2 Protocolo desenvolvido pela união européia...................................... 224
7.3.3 Vantagens e limitações das extrações sequenciais............................ 227
7.2 | Aplicabilidade ao gerenciamento ambiental............................................. 228
7.3 | Estudo de caso........................................................................................ 230
7.4 | Referências bibliográficas........................................................................ 232
Capítulo 8 235
Influência do sedimento em ecossistemas aquáticos.................................... 237
8.1 | Introdução................................................................................................ 237
8.2 | Influência do sedimento em diferentes níveis de organização ecológica:
organismo, população, comunidade e ecossistema........................................ 241
8.3 | Qualidade do sedimento e os indicadores biológicos.............................. 244
8.4 | Leitura de eventos pretéritos e atuais em ecossistemas aquáticos......... 247
8.4 | Sedimento e a restauração ecológica...................................................... 247
8.6 | Referências bibliográficas........................................................................ 251
Capítulo 9 257
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem
dos processos de emissão de sedimentos em bacias hidrográficas........... 259
9.1 | Introdução................................................................................................ 259
9.2 | Processos de ligação entre os ecossitemas terrestres e aquáticos........ 260
9.3 | Interações entre sedimentos, contaminantes e elementos traçadores.... 262
9.3.1 Composição dos sedimentos em ambientes tropicais e propriedades
conservativas dos elementos traçadores..................................................... 263
9.3.2 Mecanismos de sorção entre sedimentos e contaminantes ou elementos
traçadores.................................................................................................... 264
9.3.3 Características do meio aquoso que afetam a relação sedimentos e
poluentes ou elementos traçadores............................................................. 265
9.4 | Identificação de fontes de sedimentos..................................................... 270
9.4.1 Histórico.............................................................................................. 270
9.4.2 Exemplo de aplicação da técnica de identificação de fontes de
sedimentos................................................................................................... 274
9.4.2.1 Características da bacia.............................................................. 274
9.4.2.2 Coleta das amostras das fontes de sedimentos e dos sedimentos em
suspensão............................................................................................... 276
9.4.2.3 Caracterização física e química das amostras............................ 277
9.4.2.4 Discriminação das fontes de sedimentos.................................... 277
9.4.2.5 Classificação das amostras de sedimentos em suspensão........ 280
9.5 | Consideração final................................................................................... 282
9.6 | Referências bibliográficas........................................................................ 282
Rede de Monitoramento
e Coleta de Amostras
Capítulo 1
1.1 | INTRODUÇÃO
Tradicionalmente, a preocupação com sedimentos fluviais nos ecossistemas
aquáticos tem sido abordada mais como um problema físico relacionado com os
processos deposicionais, como por exemplo, o assoreamento de reservatórios, e com
as questões de estabilidade da calha fluvial (Vanoni, 1975). Mais recentemente, tem
sido reconhecido que os sedimentos atuam também como vetores que transferem
nutrientes e poluentes dos ecossistemas terrestres para os ecossistemas aquáticos
(Horowitz, 1991). Uma vez presentes no ecossistema aquático, os sedimentos
passam a ter um papel importante para a biota através do fornecimento de nutrientes
e energia sendo que esse assunto será tratado no Capítulo 8. Além disso, os
sedimentos também cumprem uma função na regulação da qualidade da água por
sua capacidade de reter e liberar poluentes como fósforo e metais (Golterman et
al., 1983; Forstner, 2004). Neste contexto, a quantificação do fluxo de nutrientes e
poluentes transportados pelos sedimentos em suspensão nos rios passa a ter um
papel importante nas questões relacionadas com a gestão dos recursos hídricos.
Nutrientes e alguns poluentes como metais pesados presentes na água, por
exemplo, encontram-se presentes tanto na fase sólida como na fase dissolvida. Por
definição a fase dissolvida é considerada aquela obtida a partir da filtração da água
através de filtros com porosidade de 0.45 μm. No caso de metais e alguns nutrientes,
por exemplo, a fase sólida normalmente apresenta uma contribuição maior em termos
percentuais desses elementos químicos conforme pode ser verificado através da
Figura 1.1. Estudos realizados para a bacia do rio Mississippi nos Estados Unidos
mostraram que 75% do fósforo, 50% do carbono e 30% do nitrogênio se encontram
ligados aos sedimentos (Horowitz, 2013).
Tradicionalmente a determinação na água da fase dissolvida e particulada de
um elemento químico é realizada a partir da coleta de uma amostra que é sub-dividida
em duas onde em uma sub-amostra a análise química é realizada sobre o material
filtrado (filtro 0.45 μm de porosidade) – fase dissolvida enquanto que na segunda
sub-amostra a análise química é realizada em toda a amostra – fase dissolvida +
particulada. Nessa condição, a fase particulada (ligada aos sedimentos) é obtida
através da diferença entre a concentração total do elemento químico (dissolvido +
particulado) menos a concentração do elemento químico na fase dissolvida (de Vries
& Klaver, 1994). Pelo fato do volume de água amostrada ser muito pequeno (< 1
Cu [04]
[05]
Pb [04]
[05]
Zn [04]
[05]
Cd [04]
[05]
Elementos Químicos
Cr [04]
[05]
Ni [04]
[05]
Ba [04]
[05]
Fe [04]
[05]
Mn [04]
[05]
Al [04]
[05]
Tot. P [04]
[05]
Tot. N [04]
[05]
0 20 40 60 80 100
Contribuição (%)
Sedimentos Dissolvidos
Figura 1.1 – Contribuição de alguns elementos químicos na fase sólida e dissolvida da água
verificada em um rio urbano na cidade de Atlanta nos Estados Unidos para os
anos de 2004 (04) e 2005 (05).
Fonte: Horowitz (2008)
1 2
3 4
Figura 1.2 – Foto de estruturas hidráulicas para medição de vazão: (1) vertedor de grande
porte; (2) vertedor de médio porte; (3) calha Parshall; e, (4) calha e vertedor de
pequeno para avaliação de escoamento em bacias sem a presença de um canal
fluvial (bacias de ordem zero).
Foto: Merten (2010)
Figura 1.3 – Foto de uma seção de monitoramento instalada sobre uma seção natural de um
rio.
Foto: Merten (2004)
SSC [04]
[05]
Cu [04]
[05]
Pb [04]
[05]
Zn [04]
[05]
Cd [04]
Elementos Químicos
[05]
Cr [04]
[05]
Ni [04]
[05]
Ba [04]
[05]
Fe [04]
[05]
Mn [04]
[05]
Al [04]
[05]
Tot. P [04]
[05]
Tot. N [04]
[05]
0 20 40 60 80 100
Contribuição (%)
Cheia Fluxo de Base
Figura 1.5 – Foto de uma seção de monitoramento instalada sobre uma ponte.
Foto: Merten (2007)
(1) (2)
Sensor de nível
ultrassom
Régua de
leitura de nível
Mangueira de amostragem
de sedimentos por uso de
equipamento tipo ISCO
Figura 1.6 – Foto ilustrando uma régua linimétrica e um cano onde se encontra um sensor de
nível para instalações em rios (1) e sensor de ultrassom e régua de nível instalada
em calha para avaliações em bacias de ordem zero sem cana fluvial (2).
Foto: Merten (2009)
480
460
440
420
400
380
360
Cota (cm)
340
320
300
280
260
240
220
200
180
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34 36 38 40 42 44 46 48 50 52 54 56 58 60
Vazão (m³/s)
Figura 1.7 – Exemplo de uma curva-chave de vazão onde a partir da cota (altura do nível de
água) se estabelece uma relação com a vazão.
Figura 1.8 – Foto de um amostrador do tipo torpedo para acumular sedimentos adaptado de
tubo de PVC. Fonte: Minella (2012)
Figura 1.9 – Foto de um amostrador do tipo automático ISCO adaptado para amostragem de um
volume suficiente de água para possibilitar a análise geoquímica dos sedimentos.
Foto: Merten (2010)
amostragem
manual
amostragem pontual
Profundidade (m)
Figura 1.11 – Desenho esquemático da aplicação do método IIL na seção transversal de um rio.
(PI refere-se ao ponto inicial de medição).
Fonte: Merten (2008)
Vt = Ve * K (Equação 1.1)
2p
t = (Equação 1.2)
Vt
Figura 1.12 – Fotografia de um balde fracionador utilizado para armazenar a mistura de água
e sedimentos coletada no rio e posterior fracionamento de sub-amostras para
análises de SSC e química.
Foto: Merten (2010)
Figura 1.13 – Figura representativa de uma seção dividida em igual incremento de vazões
(20%) e posições de amostragens no centro do incremento das vazões.
Fonte: Merten (2008)
Tabela 1.2 – Modelo de tabela utilizado no cálculo da vazão acumulada para aplicação
do método IID
Vertical Distância Profundidade Velocidade Vazão % vazão Vazão
PI do PI (m) (m) (m/s) (m³/s) total acumulada
1 2 1,5 0,15 0,1 0,1 0,1
2 5 3,5 0,34 1,9 1,3 1,4
3 8 4,6 0,47 4,9 3,6 5,0
4 11 5,1 0,67 8,2 5,9 10,9
5 14 5,1 0,82 11,2 8,1 19,0
6 17 5,1 0,83 12,5 9,0 27,9
7 20 5,1 0,87 13,0 9,3 37,3
8 23 5,1 0,98 14,2 10,2 47,5
9 26 5,1 0,79 13,6 9,8 57,3
10 29 5,0 0,80 12,1 8,7 66,0
11 32 5,2 0,74 11,7 8,4 75,7
12 35 4,5 0,53 9,2 6,6 81,0
13 38 3,3 2,42 17,2 12,4 93,4
14 40 3,2 0,29 8,7 6,3 99,7
PF 42 0,0 0,00 0,5 0,4 100,0
Total 139,1
*PI e PF correspondem aos pontos iniciais e finais, respectivamente.
Onde: CTP é a concentração total do elemento químico particulado (mg.L-1 = g.m-3), CPS
é a concentração do elemento químico particulado (μg.g-1) e CSS é a concentração
de sedimentos em suspensão (mg.L-1).
7/20
7/24
7/14
7/14
7/15
7/16
7/16
7/17
7/17
7/18
7/18
7/19
7/19
7/20
7/21
7/21
7/22
7/22
7/23
7/23
7/24
7/25
7/25
7/26
7/26
7/27
7/27
7/28
Tempo (dias)
Figura 1.11 – Gráfico referente a um hidrograma de uma enchente de um rio de médio porte (rio
Pelotas).
600
500
Q (m3 s-1)
400
300
200
100
0
23:11
0:11
0:41
1:11
1:41
2:11
2:41
3:11
3:41
4:11
4:41
20:41
21:11
21:41
22:11
22:41
23:41
Tempo (minutos)
Figura 1.12 – Gráfico referente a um hidrograma de uma enchente de um rio de pequeno porte
(arroio Lajeado Ferreira).
0,6000 3,000
0,5000 2,500
Vazão (m3 s-1)
P total (g s-1)
0,4000 2,000
0,3000 1,500
0,2000 1,000
0,1000 0,500
0,0000 0,000
21:11
20:41
21:41
22:11
22:41
23:11
23:41
0:11
0:41
1:11
1:41
2:11
2:41
3:11
3:41
4:11
4:41
Tempo (min)
vazão Ptotal
Figura 1.14 – Gráfico ilustrativo da evolução de uma enchente em uma pequena bacia rural (1
km²) e o fluxo de fósforo (Ptotal = fósforo total).
Adapatado de: Gonçalves (2007)
Tabela 1.5 – Relação dos tipos de materiais possíveis de serem utilizados nos
equipamentos de amostragem de sedimentos para fins de avaliação de
qualidade
Condições para análise de
Tipo de material substâncias
Inorgânicas Orgânicas
Polímeros de Fluorocarbono (Teflon, Kynar e Tefzel) apropriado 1
apropriado2
Polypropyleno apropriado não apropriado
PVC apropriado não apropriado
Silicone apropriado 3
não apropriado
Nylon apropriado não apropriado4
Metais com Fe, Cu, Pb, Al e material galvanizado não apropriado apropriado5
Vidros, borasílica e cerâmica apropriado6 aproriado
1 Fonte potencial de ferro
2 Pode provocar adsorção de alguns materiais orgânicos
3 Material muito poroso e fonte de silício
4 Exceto para CFC
5 Não deve ser usado se o material apresentar sinais de corrosão
6 Fonte potencial de boro e sílica
Fonte: Wilde et al. (1998)
Método da integração
Medições Prof. até 4,5 m Prof. até 11 m Prof. até 34 m Prof. até 67m
a vau
US DH-81 US DH-95 US DH 2 US DH 96 US DH 99
ANKLEY, G. T.; DI TORO, D. M.; HANSEN, D. J.; BERRY, W. J. 1996. Technical Basis
and Proposal for Deriving Sediment Quality Criteria for Metals. Environmental
Toxicology and Chemistry. v.15, n.12, pp.2056-2066.
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Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 49
sedimentos significa também entender seus atributos físicos e mineralógicos que
podem facilitar o transporte de elementos tóxicos para os cursos de água (Brady,
2007).
O solo é um sistema aberto, que troca energia e matéria com o ambiente.
Sua composição é trifásica, ou seja, apresenta uma fase líquida, uma fase gasosa e
uma fase sólida (Vezzani e Mielniczuk, 2009). A fase sólida é composta pela fração
mineral e pela fração orgânica. A composição ideal do solo (Figura 2.1) é aquela em
que a fase líquida ocupa de 30 a 35% do total, a fase gasosa ocupa 15 a 20% e a
fase sólida ocupa 50%, com 45% de fração mineral e 5% de fração orgânica.
O solo também pode ser entendido como um corpo tridimensional resultante
de processos químicos físicos e biológicos, que lhe conferem atributos característicos,
especialmente no que diz respeito a mineralogia, por isso é impossível entender
um dado solo e as características dos sedimentos dele derivados sem entender
inicialmente o processo de formação do mesmo.
Espaço Poroso
Figura 2.1– Composição ideal do solo.
50 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
região. Embora o solo seja um corpo tridimensional e que não se individua na
paisagem convencionou-se o seu estudo a partir de cortes bidimensionais chamados
de perfis de solo. A Figura 2.2 ilustra um perfil de Latossolo Vermelho localizado em
Goiânia e a unidade de paisagem que ele representa.
Figura 2.2 – Perfil de Latossolo Vermelho Escuro sob pastagem e a unidade de paisagem em
que está contido.
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 51
O
Figura 2.3 – Perfil hipotético de solo destacando-se alguns horizontes e o material de origem.
Adaptado de: USDA (2004)
A compreensão da gênese do solo favorece a compreensão de seus atributos,
uma vez que estes são resultantes dos fatores de formação, e, por conseguinte, facilita
a compreensão de importantes características que conferem diferentes propriedades
aos sedimentos que um dado solo origina. Jenny (1945) propôs que o solo era o
resultado da interação de diferentes fatores, como exemplificado na equação:
Solo = ƒ (clima, organismos, relevo, material de origem) tempo
Esta equação pode ser lida assim: O solo é função da interação entre os
fatores clima, organismos, material de origem ou rocha subjacente num determinado
intervalo de tempo. É a partir da interação entre clima, vegetação e relevo que se
formarão as principais características do solo, que por sua vez será determinante
para a formação do território enquanto espaço de produção humana.
Dentre os fatores de formação do solo, o clima é o mais ativo, pois influencia
na quantidade de água que estará presente num determinado sistema, na temperatura
que acelerará ou atenuará os processos e, ainda nos organismos que surgirão sobre
um determinado ambiente. Isto favorece a ocorrência de uma série de reações
químicas e físicas que caracterizam o intemperismo, processo de transformação
(físico-químico) das rochas em solo. O processo intempérico será mais acelerado em
regiões de clima quente e úmido, pois a presença de água combinada com elevadas
52 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
temperaturas favorece o intemperismo químico das rochas e a formação de solos. É
por isso que nas regiões tropicais os solos são geralmente profundos e pobres em
fertilidade natural. Nestas regiões geralmente os solos rasos ocorrem nos pontos em
que o relevo não é favorável a infiltração da água.
Em regiões de clima quente e seco predominará o intemperismo físico das
rochas, resultando na fragmentação das mesmas. Regiões de clima frio e úmido
terão o processo intempérico limitado pela ausência de calor para acelerar as reações
químicas. Por outro lado, são propícias ao acúmulo de matéria orgânica devido à
baixa taxa de decomposição da mesma. Em regiões de frio extremo, em que a água
permaneça a maior parte do tempo em estado sólido, predominarão os processos de
intemperismo físico.
Na condição bioclimática de frio seco, há predomínio dos processos de
intemperismo físico sobre os químicos, e não haverá lavagem do perfil, pois não
há água disponível. Esta situação resultará em solos rasos e com grande acúmulo
de bases no perfil, devido à ausência de lixiviação. Se o bioclima for frio e úmido,
ocorrerá translocação de materiais de um horizonte para outro (A para B). Em
bioclimas quentes e secos, ou seja, com temperaturas elevadas e pouca água
predominarão os processos de intemperismo físico, resultando em solos rasos e
pedregosos. Nestes casos também não haverá lavagem do perfil. O acúmulo de
matéria orgânica será muito pequeno, por isso os solos deste bioclima tendem a ser
salinos ou salinizados, pois a combinação da ausência de lixiviação do perfil com o
pequeno aporte de matéria orgânica resulta nesta condição.
Nos locais de clima quente e úmido predominarão os processos de latolização
e ferralitização. Ocorrerá intensa transformação de materiais seguida de remoção de
sílica e bases do perfil. Os solos resultantes deste processo serão muito profundos,
lixiviados e altamente intemperizados.
Ao avaliar a condição climática de uma região é importante lembrar-se que
o clima atmosférico não se reproduz fielmente no solo, e que alguns fatores podem
fazer com que ocorram diferenças relacionadas ao clima em solos muito próximos.
A fonte primária de água para o solo sempre será a precipitação, que é reflexo
direto do clima de uma determinada região. Porém, o comportamento da água no
solo está relacionado a algumas propriedades e características do solo, que podem
fazer com que o regime hídrico do solo seja diferente do regime hídrico atmosférico.
A Figura 2.4 apresenta dois perfis de Latossolo, um localizado em Pato
Branco, PR, e outro em Palmas, PR. A diferença entre os dois deve-se à diferença
no clima entre os dois municípios.
Enquanto o primeiro está a cerca de 600 metros de altitude, o segundo está
cerca de 1000 metros acima do nível do mar, apresentando, portanto, clima mais frio.
Todos os demais fatores entre os municípios são semelhantes são semelhantes, mas
a diferença na altitude faz com que o clima em Palmas seja mais ameno que em Pato
Branco. Ao longo dos anos esta diferença modificou os solos dos locais, enquanto o
solo de Pato Branco adquiriu matiz vermelha o de Palmas em função do acúmulo de
matéria orgânica tornou-se bruno.
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 53
Figura 2.4 – (a) Perfil de Latossolo Vermelho no município de Pato Branco – PR; (b) Perfil de
Latossolo Bruno, no município de Palmas – PR. A vegetação e material de origem
de ambos os solos é a mesma, a diferença é devida ao clima.
54 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
Raízes de Culturas
Horizonte A
Horizonte B
Raízes de Árvores
Horizonte C
Rocha
Figura 2.5 – Esquema demonstrando a exploração do perfil de solo pelo sistema radicular das
plantas. Plantas de lavoura exploram os horizontes superficiais, enquanto raízes
de árvores podem chegar até a rocha subjacente.
Figura 2.6 – Efeito do relevo sobre a formação dos solos em toposequência avaliada em
Chopinzinho – PR. O material de origem é basalto do derrame do Trapp e o clima da
região é Cfb (clima chuvoso, sem estação seca, verão brando e com temperaturas
para o mês mais quente e mais frio, respectivamente inferiores a 22°C e 18°C).
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 55
A água que chega à superfície através da precipitação pode infiltrar-se ou
escoar sobre esta, dependendo das condições oferecidas pelo relevo. Quando
a declividade é elevada, a oportunidade de infiltração da água é menor, e maior
quantidade de água escoará sobre a superfície. Este fenômeno faz com que o
intemperismo atue de forma diferenciada, dando origem a solos mais rasos nestes
locais. Além disto, a combinação de declividade elevada com facilidade de escoamento
superficial facilita a remoção de materiais, de forma que predominam processos de
remoção e transporte de materiais, o que impede a formação de solos mais profundos.
Se a declividade é baixa e predomina o processo de infiltração sobre escoamento
ocorre a formação de perfis de solos mais profundos e mais intemperizado, devido
a maior presença de água. Outro fator importante é que nestes locais predominam
os processos de deposição, ou seja, material removido das áreas mais declivosas
podem ser depositados nestes ambientes, favorecendo a formação de solos mais
profundos.
Para a produção de sedimentos, a lógica é a mesma, ou seja, solos situados
em áreas mais declivosas tendem a produzir mais sedimentos que aqueles situados
em áreas menos declivosas, especialmente quando o manejo não é adequado. Do
ponto de vista da qualidade dos sedimentos produzidos, no entanto, as áreas mais
intemperizadas tendem a apresentar solos mais evoluídos, com partículas de tamanho
muito pequeno e maior capacidade de adsorção (como será discutido mais a frente)
e, portanto, apresentam maior potencial de exportação de elementos adicionados as
cargas e consequentemente maior potencial de contaminação ambiental.
Material de origem é o termo utilizado para designar a rocha que deu origem
ao solo. O solo é dito autóctone quando é formado diretamente sobre a rocha que
lhe deu origem, e alóctone quando é formado sobre sedimentos não consolidados
oriundos de outros locais.
Todo solo guarda importantes resquícios do material que lhe deu origem,
tais como cor, textura, mineralogia, composição química etc. Materiais de origem
diferentes sob um mesmo clima condicionam, portanto, solos diferentes. Conhecer
o tipo de material de origem do solo pode facilitar o entendimento de seus atributos
e também do tipo e a qualidade dos sedimentos que este pode produzir. No entanto,
um mesmo material de origem, sob variação de outros fatores, pode gerar solos
distintos.
Em condições normais, os horizontes superiores são mais alterados em
relação ao material de origem, enquanto o horizonte C guarda ainda muitos resquícios
e semelhanças com a rocha que lhe deu origem. De maneira geral, vários atributos
do solo são condicionados pelo material de origem, mas o que apresenta maior
relação é a textura do solo. A Figura 2.7 mostra dois perfis de solo da região de Ponta
Grossa, PR. O primeiro é um Cambissolo Háplico, de textura arenosa, formado sobre
o arenito Furnas, uma rocha sedimentar psamítica, cuja granulometria principal é
composta por areia. O segundo é um Cambissolo Húmico, de textura argilosa e
com grande acúmulo de matéria orgânica cujo material de origem é um folhelho da
formação Ponta Grossa, com granulometria principal formada por argila e silte.
56 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
Figura 2.7 – Perfis de Cambissolo Háplico (a) e Cambissolo Húmico (b) localizados em Ponta
Grossa, PR. O primeiro tem como material de origem o arenito Furnas, e o
segundo, folhelhos da formação Ponta Grossa.
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 57
2.2.2 Processos de formação
58 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
O ambiente oxidante favorece a formação de óxidos de ferro (goethita e
hematita) e de alumínio (gibbsita), que tendem a acumular. O silício remanescente no
sistema pode combinar-se com alumínio formando caulinita. Devido à acumulação
de Fe e Al no solo, esse processo é chamado de ferralitização. Os principais solos
formados nestas condições são os Latossolos e os Nitossolos. Estes solos em geral
são altamente lixiviados, ácidos e pobres em nutrientes. Do ponto de vista da produção
de sedimentos, os solos formados sob este processo são ideais, pois apresentam
boa estrutura física e portanto maior resistência aos processos erosivos e portanto
quando bem manejados ou sob vegetação nativa geram pouco sedimentos. Quanto
a qualidade dos sedimentos produzidos, nestes solos predominam argilas e óxidos,
que possuem cargas e podem transportar elementos tóxicos para os cursos hídricos.
A Lessivagem é basicamente um processo de translocação de minerais do
horizonte superficial para os horizontes subsuperficiais. O material transportado
geralmente é a fração argila fina (<0,2 μm). Este processo gera diferenciação entre
os horizontes, de forma que o superior por perder argila torna-se mais arenoso
e é chamado de horizonte eluvial, e o subsuperficial acumula argila, tornando-se
mais argiloso, sendo o horizonte iluvial. Existe nomenclatura específica para estes
horizontes, o que perde argila é representado pela letra E (somente quando o
processo é muito intenso) e o que ganha argila recebe a letra t, de textural, pois surge
uma diferença textural entre os horizontes. As classes de solo Argissolo, Planossolo
e Luvissolo são as principais classes de solo no Sistema Brasileiro de Classificação
que apresentam este processo.
Uma das características resultantes do acúmulo de argila no horizonte
B é a redução da capacidade de infiltração de água no solo, por isto estes solos
geralmente apresentam maior produção de sedimentos que aqueles formados por
Ferralitização. Como no horizonte superficial ocorre redução de argila, os riscos de
contaminação são menores, devido a menor quantidade de cargas presentes nos
sedimentos gerados.
Os processos Paludização e Podzolização são relacionados à presença de
materiais orgânicos. Do primeiro resultam as turfeiras e os Organossolos, e o segundo
caracteriza-se pela mobilização de materiais orgânicos dos horizontes superficiais
para subsuperficiais, gerando os Espodossolos. Sempre que há presença de matéria
orgânica, há presença de cargas elétricas, que podem acentuar processos de
contaminação ambiental quando os solos são utilizados sem critérios.
A Gleização dá origem aos Gleissolos, que se caracterizam pelas cores
acinzentadas, típicas de ambientes de redução. Este processo se caracteriza pela
ausência de oxigênio, ocorre em ambiente com excesso de água, nos quais ocorre a
redução do ferro, que resulta na mudança da coloração do solo, de tons avermelhados
e alaranjados para o cinza característico dos Gleissolos (Figura 2.9).
A presença de sais no perfil de solo pode elevar a produção de sedimentos,
devido a dispersão das argilas, e alterar a qualidade dos sedimentos produzidos
,especialmente quando há predomínio do Sódio. O processo de Salinização causa
o acúmulo de sais solúveis no perfil de solo, principalmente nos períodos de seca,
quando os sais do subsolo podem ser translocados para a superfície por capilaridade.
O processo de Sodificação ou Solonização causa o mesmo efeito, porém o sal
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 59
acumulado é o sódio, que passa a dominar a capacidade de troca catiônica (CTC)
do solo causando colapso da estrutura do solo, facilitando o processo erosivo e
potencializando a produção de sedimentos.
Figura 2.9 – (a) Paisagem com indícios de alagamento de água; (b) Perfil de solo nela formado
com predomínio do processo de gleização. A diferença de cor entre o horizonte
superficial e o subsuperficial deve-se à redução do ferro.
Fonte: www.landcareresearch.co.nz
60 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
de Solos, visto que os primeiros esforços neste sentido datam de meados dos anos
40, o SisBCS atualmente contempla do 1º ao 4º nível categórico, o 5º e 6º ainda não
estão sistematizados. O sistema possui ao todo 13 ordens distintas de solo, que
por sua vez apresentam sub-ordens de tal forma que no segundo nível categórico
existem 43 tipos distintos de solo, e assim sucessivamente, até o 4º nível categórico,
quando contam-se 447 tipos distintos de solos.
No 1º nível categórico, ou Ordem, as classes foram separadas de acordo
com características como presença ou ausência de um determinado atributo ou
horizonte diagnóstico, passíveis de serem vistas a campo. Este nível reflete, portanto,
os principais atributos deixados pelos processos de formação do solo. No 2º nível
categórico, ou Subordem, estão refletidos a atuação conjunta de processos ou fatores
que diferenciaram os processos dominantes e envolvem propriedades conferidas
pela gênese do solo que são muito importantes para o desenvolvimento das plantas
e uso do solo ou propriedades que reflitam variação dentro das classes do 1º nível.
No 3º nível categórico, ou Grandes Grupos, as classes são separadas por
uma ou mais das seguintes características: tipos e arranjamento de horizontes,
atividade de argila, condição de saturação, presença de horizontes ou propriedades
que restringem o uso do solo. O 4º nível categórico representa os Subgrupos, as
classes são separadas conforme representem o conceito central de solos daquela
classe (solos típicos), sejam intermediários para os demais níveis ou representem
solos com propriedades únicas.
A nomenclatura dos solos foi elaborada de forma a agregar importantes
informações técnicas. No primeiro nível categórico (ordem) os nomes são formados
pela associação entre um elemento formativo mnemônico e a terminação ssolos. As
principais características das classes estão listadas a seguir.
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 61
CHERNOSSOLOS: Solos com horizonte A rico em matéria orgânica e básico. A
evolução não muito expressiva, com manutenção de cátions
básicos e eventual acumulação de carbonatos.
62 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
2.3 | ATRIBUTOS DA FRAÇÃO MINERAL DO SOLO E QUALIDADE DE
SEDIMENTOS
Figura 2.10 – Escala de Atteberg (escala superior) e a adaptação feita pelo U.S.D.A. para
classificação de solos (escala inferior).
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 63
Kiehl, 1979).
A formação da fase mineral do solo tem início com o intemperismo da rocha
que ocorre em longos espaços de tempo. Neste processo estão envolvidos clima,
relevo, fauna e flora, e características intrínsecas do material de origem. Estas
transformações, além de serem químicas e físicas, são sobretudo estruturais com
importante reorganização e transferência dos minerais formadores do solo entre os
níveis superiores do manto de alteração. A estrutura do solo é portanto o resultado da
busca de equilíbrio físico e químico entre os diversos novos compostos que surgem
no processo de formação do perfil de solo.
Blocos Angulares
Colunar Laminar
Blocos Subangulares
Prismática
Grãos Simples
Granular
Figura 2.11 –
Nomenclatura de estrutura do solo utilizados no Sistema Brasileiro de
Classificação do Solo. Além desta há também a estrutura massiva ou maciça.
64 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
superior da estrutura colunar e pelo aspecto compacto que esta apresenta. Por fim,
a estrutura laminar apresenta dominância do eixo horizontal. Maiores informações
sobre a estrutura dos solo podem ser encontradas na literatura específica.
2.3.2 Mineralogia
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 65
solubilidade destes materiais e, portanto, a facilidade com que são intemperizados e
removidos do perfil. Sua acumulação só ocorre em situações bastante específicas,
por isso para o foco da qualidade de sedimentos apresentam pouca importância. No
grupo dos sulfitos, o principal mineral é a pirita, que aparece na natureza associada a
rochas formadas a partir de sedimentos orgânicos. No processo de oxidação da pirita
ocorre a formação de ácido sulfúrico, o que causa redução do pH do solo. Em áreas
de mineração de carvão os problemas decorrentes da acidificação do solo devido
à oxidação da pirita podem alterar os sedimentos, conferindo-lhes características
diferenciadas, mas este processo também é restrito a alguns locais e processos de
formação do solo.
Na classe dos minerais não silicatados, os mais expressivos para a
qualidade de sedimentos são os óxidos (termo geral utilizado para identificar óxidos,
oxihidroxidos e óxidos hidratados), presente na maioria dos solos brasileiros. Estes
são minerais secundários, formados no solo pelo intemperismo de outros minerais, e
podem possuir ferro, alumínio, manganês ou titânio em sua estrutura.
Os óxidos de ferro são os mais abundantes óxidos metálicos nos solos. Podem
ser utilizados como indicadores de ambientes pedogênicos e geoquímicos, pois além
de conferirem propriedades específicas, como a cor, por exemplo, podem persistir
no solo por longo tempo, mesmo após mudanças ambientais (Kampf & Curi, 2000).
Também são associados ao comportamento físico e químico do solo, em função
principalmente de sua elevada área superficial específica, e pelo caráter variável
de suas cargas, que podem assumir valores positivos (Inda, 2002). A presença de
cargas elétricas positivas, o que lhes permite ligarem-se a ânions é importantes no
contexto da limnologia, pois permite o transporte de elementos de baixa mobilidade
como por exemplo alguns compostos fosfatados, para os cursos hídricos.
Os óxidos mais comumente encontrados no solo são a goethita (α-FeOOH)
e a hematita (α-Fe2O3), além de outras formas menos frequentes como a maghemita
(γ-Fe2O3), magnetita (Fe3O4), ferrihidrita (Fe5O8x4H2O) e lepidocrocita (γ-FeOOH).
O elemento Fe ocorre em minerais primários na forma de Fe2+, o qual, após
a intemperização do mineral que o contém, é liberado, oxida a Fe3+ e precipita,
originando óxidos de ferro. No caso Fe3+, a precipitação do Fe origina ferrihidrita
ou goethita, dependendo da taxa de liberação do Fe durante o intemperismo. A
ferrihidrita é um óxido mal cristalizado que, por arranjo interno e desidratação, da
origem a hematita, sendo o precursor necessário para a formação desta. A goethita
forma-se de íons Fe3+ da solução ou dissolvidos da ferrihidrita.
Para o Fe2+, a partir da oxidação de sais do grupo hidroxi- Fe2+-Fe3+ (green rust)
poderão ser formadas a lepidocrocita ou goethita, ou ainda a ferrihidrita. Os fatores
que favorecem a formação de um ou outros destes óxidos são: concentração de Fe2+,
a velocidade de oxidação, a presença de carbonatos ou CO2 e a concentração de
Al (Kämpf, 1986). A formação dos óxidos é altamente influenciada pela quantidade
de água, de matéria orgânica, pH e tipo de clima. Maiores informações sobre estes
processos específicos podem ser obtidas em Kämpf & Curi (2000) e Inda (2002).
Todos os óxidos apresentam como característica comum a estrutura
superficial e a dependência de sua carga superficial ao pH do solo. Os cristais de
óxido de Fe no solo, frequentemente presentes em faixas de tamanho de 5 a 150nm,
66 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
exibem uma grande área superficial específica (70 a 170 m².g-1) e um alto ponto de
carga zero (PCZ pH 7 - 9) (Kämpf, 1997). A área superficial específica (ASE) varia de
acordo com a forma do cristal. Óxidos de baixa cristalinidade expõem maior ASE.
A ferrihidrita e a lepidocrocita são óxidos de baixa cristalinidade e de alta
reatividade, mas são metaestáveis, enquanto que a goethita e hematita são altamente
variáveis na sua formação, causando altas faixas de ASE e apresentando menor
reatividade e alta estabilidade em ambientes oxídicos.
Uma das principais características dos óxidos é a presença de cargas elétricas
que podem ser positivas ou negativas, dependendo o pH do solo. A superfície do
óxido pode ser hidroxilada ou hidratada (protonação e desprotonação do grupo OH)
gerando assim cargas positivas ou negativas, conforme ocorre adsorção ou desorção
de H+ ou OH-. Geralmente a carga líquida dos óxidos é positiva, pois em solos ácidos
o balanço entre cargas resulta em cargas positivas. No valor de pH 8 o balanço de
cargas é zero. Se o pH aumenta, superando este valor, o balanço de cargas passa a
ser negativo. A equação abaixo demonstra o processo de protonação/desprotonação
dos óxidos:
OH2 + OH2 0 OH -
+OH- +OH-
Fe A- Fe Fe C+
+ H+ + H+
-
OH2 OH OH
PCZ
Este é o modelo proposto por Schwertmann & Taylor, (1989) e a partir de seu
estudo percebe-se que os íons de Fe não participam diretamente no desenvolvimento
das cargas. O PCZ equivale ao ponto de carga zero, ou seja, o valor de pH em
que o balanço das cargas é zero. No solo quando ocorre aumento excessivo de
cargas superficiais positivas ou negativas estas são balanceadas por ânions (A-) ou
cátions (C+) em quantidade suficiente para preencher as cargas existentes, por isso
é possível inferir que a as cargas dos óxidos também dependem da concentração de
eletrólitos, valência e íons e da força iônica.
Os óxidos também conferem importantes propriedades físicas aos solos,
como cores típicas e capacidade de agregação elevada. Recentemente, também
têm sido associados aos processos de estabilização da matéria orgânica nos solos.
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 67
Como os íons de oxigênio são maiores que o silício, o arranjo tetraedral permite que
este último fique no centro da molécula, entre os oxigênios, como demonstrado na
Figura 2.12a. Outro fator importante do tipo de arranjo estrutural feito pelo silício é
a ausência de estabilidade eletrostática, ou seja, as cargas elétricas negativas do
oxigênio não são satisfeitas pelo silício, que possui apenas quatro cargas positivas,
de forma que restam cargas livres.
O silício pode também combinar-se com oxidrilas OH, formando ácido silícico
e assim tornar-se neutro, ou ainda ligar-se à moléculas de água, o que também
confere neutralidade elétrica à molécula.
Do ponto de vista de formação do solo e de sedimentos, o processo mais
importante é a capacidade de polimerização que o tetraedro de silício apresenta
(Figura 2.12b).
68 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
Oxigênio Silício
Tetraedro de Silício
Lâmina Tetraedral
A ligação das camadas pode ser feita por ligação eletrostática entre os O e
OH, por pontes de cátions como o K, Ca, Mg entre outros ou ainda por forças de van
der Waals (Sparks, 1995).
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 69
2.3.4 Principais argilominerais
70 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
áreas em que este mineral predomina sejam potenciais contaminantes ambientais.
Arestas Arestas de
de 1m 0,001m
ASE = 6m²
ASE = 600m²
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 71
revertidas, como ilustrado na Figura 2.15. Neste exemplo, ocorre deslocamento dos
cátions trocáveis que estavam adsorvidos na superfície pelo efeito de massa da
adição de grande quantidade de cálcio no solo.
Figura 2.15 – Representação gráfica do efeito da lei das massas no solo. Os cátions NH4+, em
maior quantidade, deslocam os demais da superfície dos colóides até que se
atinja um novo equilíbrio com a solução do solo.
72 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
propriedades transmitem-se para os sedimentos gerados nestas áreas.
Os cátions não são retidos de maneira homogênea na superfície dos
argilominerais, a valência interfere na força com que ele será retido. A ordem de
retenção é:
Al3+ > Ca2+ > Mg2+ > K+ > Na+
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 73
Figura 2.16 – Representação gráfica do complexo de esfera externa (para o cátion Ca2+) e
complexo de esfera interna (para o íon H2PO4) Os cátions Ca2+ não perdem a água
de solvatação.
74 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
solo natural, os elementos que podem oxi-reduzir são carbono, nitrogênio, oxigênio,
enxofre, manganês e ferro. Outros metais como o cromo, chumbo, arsênio, etc,
também podem sofre oxi-redução, mas não são usualmente encontrados em solos.
O que determina a ocorrência de uma reação redox é a mudança de potencial,
que gera um campo de força, ou pela força eletromotriz.
O potencial de reação redox pode ser medido conforme expresso na equação
abaixo, adaptada de Camargo et al. (2001):
ox + n elétrons → reduzidos
ou para 25º C:
Onde: R = constante dos gases (8,314 JK-1 mol-1), T = temperatura absoluta (K), F
= faraday (9,65x104 Cmol-1), (red) e (ox) são, respectivamente, as atividades das
espécies reduzidas e oxidadas, e Eº ox,red é o potencial padrão de meia célula. Eo
ox, red é definido como o potencial Eh no qual (red) = (ox) sendo a medida feita com
referência a um eletrodo de hidrogênio “normal” à cuja meia célula é arbitrariamente
estabelecido o potencial zero volt.
Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
| Capítulo 2L 75
última análise todas as reações tratam do comportamento de prótons e elétrons.
A importância das reações de redução vem da possibilidade destas em
aumentar ou diminuir a concentração dos elementos em solução. Em alguns casos
aumenta-se a solubilidade porque o elemento em sua forma reduzida é mais solúvel
que o elemento em sua forma oxidada e desta maneira aumenta a concentração do
elemento na solução do solo. O manganês sofre este efeito ao ser reduzido. Sua
forma Mn2+ é mais solúvel que as demais.
O inverso também pode ocorrer, ou seja, a redução pode reduzir a concentração
de um elemento porque sua forma reduzida é menos solúvel que a oxidada. Para a
qualidade de sedimentos talvez o elemento com mais importância seja o cromo, que
é oxidado de Cromo III para Cromo IV quando na presença de óxidos, comuns em
solos tropicais. A espécie Cromo IV é altamente tóxica e potencialmente cancerígena
para seres humanos.
AJAYI, A. E. et al. 2009. Relation of strength and mineralogical attributes in Brazilian latosols.
Soil and Tillage Research, v.102, pp.14-18.
76 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
BELLO, I. R. 2004. Relatório técnico anual. Ano base 2004. Secretaria de Meio Ambiente e
Desenvolvimento Econômico do Município de Mariópolis. Mariópolis, PR.
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| Capítulo 2L 77
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78 M Capítulo 2 | Relação entre a fração mineral do solo e qualidade de sedimentos – o solo como fonte de sedimentos
Metodologias para Estudos de
Sedimentos: Ênfase na Proporção e na
Natureza Mineralógica das Partículas
Capítulo 3
3.1 | INTRODUÇÃO
O presente capítulo se propõe a apresentar e discutir algumas metodologias
e seus instrumentos de relevante importância para o estudo de constituintes de solos
ou sedimentos. Uma atenção especial será dada às metodologias que permitem o
estudo do tamanho das partículas e da natureza mineralógica. Vale ressaltar que
os organismos vivos presentes em no solo e no sedimento são também relevantes,
porém não serão abordados aqui.
Nesse contexto, algumas considerações básicas acerca dos constituintes
minerais devem ser relembradas antes das metodologias serem apresentadas.
Primeiro, entende-se por partícula mineral uma partícula natural cuja estrutura sólida
pode ser amorfa ou apresentar diferentes graus de cristalinidade. As partículas
minerais apresentam uma composição química definida e propriedades físico-químicas
intrínsecas. Entretanto, elas podem variar em tamanho, forma e as propriedades em
concordância com sua natureza química e mineralógica. No geral, essas características
são dependentes do grau de evolução do material que deu origem as partículas. Por
exemplo, nos solos partículas mais finas e mal cristalizadas são geralmente mais
antigas e sofreram em consequência maior grau de alteração. Também, partículas
com estrutura cristalográfica similares, podem se apresentar adicionalmente com um
ou outro cátion na estrutura (Dixon & Weed, 1989). Isso é importante porque pode
determinar o tipo de mineral e as suas propriedades físico-químicas.
Outro ponto que merece atenção é a capacidade apresentada pelas partículas
de se associarem (forças de coesão), quer sejam partículas de mesma natureza ou de
natureza diferentes (associações entre argilominerais - óxidos - compostos orgânicos)
(Chenu, 2001). Tal capacidade confere aos constituintes propriedades interessantes.
Entretanto, causam problemas quando se deseja conhecer as características e
propriedades elementares dos constituintes de materiais heterogêneos. Por exemplo,
a distribuição de tamanho de partículas em classes de tamanho e sua função no
todo é afetada pela formação de agregados - assembléia de partículas elementares
devido à existência de ligantes orgânicos ou minerais.
Em particular os estudos sobre sedimentos devem considerar as associações
entre as partículas e sua natureza. Partículas em suspensão na água de rios,
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 81
lagos e mares são constituintes normalmente minerais e orgânicos, pertencentes
a diferentes frações (em tamanho), que se originaram de superfícies da crosta
terrestre sensíveis ao processo de erosão. Áreas agrícolas e de estradas de terra
são potencialmente produtoras de sedimento (Minella et al., 2007). Por este motivo,
as partículas presentes no sedimento se constituem de tamanho, forma e natureza
mineralógica variadas, mas concordante com o tipo de material que as originaram.
Nesse sentido, pode ser possível rastrear a região de origem do sedimento por meio
da análise de sua constituição mineralógica (Hsieh, 1984), como também, permite
melhor compreender processos acerca da transferência de poluentes dos sistemas
terrestres aos aquáticos (Pellegrini et al., 2010; Rheinheimer et al., 2010). Já, a
estimação da reatividade do sedimento como um todo passa pela identificação da
natureza e reatividade das partículas que compõem os sedimentos. Por essa razão,
determinar parâmetros, tais como a proporção do tamanho das partículas de um
sedimento e a natureza mineralógica destes, além das propriedades físico-químicas
intrínsecas a estas partículas, são fundamentais e devem integrar os estudos sobre
sedimentos (Filella et al., 1997; Ledin et al., 1995).
Estudos de materiais heterogêneos do ponto de vista granulométrico e
mineralógico como são os solos e sedimentos demandam a aplicação de forma
conjugada de várias técnicas e metodologias. A distribuição do tamanho de partículas
em uma amostra diz respeito a uma quantificação relativa de classes de tamanhos de
partículas elementares constituídas numa amostra. Em função disso, é fundamental
desagregar as partículas para que possamos de maneira matemática agrupá-las em
classes para aplicar outros métodos. A caracterização mineralógica de uma amostra,
por exemplo, é realizada sobre classes de tamanho de partículas específicas ao
objetivo do estudo, normalmente a classe argila (< 2 μm) considerada mais reativa.
Por fim, estudos que necessitem a caracterização de materiais heterogêneos, como
sedimentos e solos, devem conjugar técnicas de pré-tratamento de amostras, de
extração de frações granulométricas definidas e de caracterização mineralógica.
Nesse sentido, o presente capítulo preocupa-se em apresentar algumas
metodologias sobre granulometria e mineralogia, utilizadas em estudos de partículas
minerais, como sedimentos. Nosso objetivo é também tecer comentários acerca
destas técnicas. Métodos clássicos que usam a lei de Stokes e instrumentais
que usam a difração laser serão abordados para contemplar as metodologias de
determinação do tamanho de partículas, assim como a área superficial específica e
a difração de raios-X, métodos usados para caracterizar quali-quantitativamente os
materiais, inclusive sedimentos.
82 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
formar associações ou agregados de partículas de tamanhos elementares diferentes.
As técnicas normalmente utilizadas para esse fim apresentam algumas variações
quanto à quantidade inicial de material a ser utilizada, a natureza e a concentração dos
reagentes dispersantes e o grau de estresse mecânico que a amostra é submetida.
Nesse sentido, este capítulo se preocupará mais com o princípio da medida do que
com as possíveis variações dos métodos.
A premissa básica para qualquer determinação granulométrica é partir de uma
dispersão total e homogênea da amostra. Isso permitirá a separação e a estimação
de uma determinada classe de tamanho de partículas entre todas as partículas da
amostras. Para isso, a subtração de agentes de cimentação, como a matéria orgânica
óxidos de Fe e Al que fazem a ponte entre partículas pode ser necessária. Convém
notar que as técnicas aqui descritas são algumas entre tantas outras utilizadas,
como a eliminação de sais e de carbonatos descritas detalhadamente em EMBRAPA
(1997), AFNOR (1996) e Kunze & Dixon (1986).
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 83
de ditionito de sódio como redutor de íons de Fe livre, de citrato de sódio como agente
complexante e o bicarbonato como agente tampão da solução. O procedimento pode
ser sucintamente descrito como: uma massa de material é submetido a ação de citrato
e bicarbonato de sódio, para acelerar a reação a amostra é mantida em temperatura
elevada (80ºC em banho Maria). A adição de ditionito age como complexante de
íons Fe e Al que após flocular com ajuda de centrifugação o sobrenadante pode ser
utilizado para se dosar Fe e Al, e o depósito é usado para a análise de granulometria.
84 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
3.2.2 Métodos para determinar a distribuição do tamanho de partículas
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 85
e físicas das argilas.
Fração Classes
AREIA 0,05 – 2 mm
Areia muito grossa 2-1 mm
Areia grossa 1-0,5 mm
Areia mediana 0,5-0,25 mm
Areia fina 0,25-0,10 mm
Areia muito fina 0,10-0,05 mm
SILTE 0,05 – 0,002 mm
Silte grosso 0,05-0,005 mm
Silte fino 0,005-0,002 mm
ARGILA < 0,002 mm
Argila grossa 2-0,2 μm
Argila fina < 0,2 μm
Fonte: USDA (1996)
Fração Classes
AREIA 0,05 – 2 mm
Areia muito grossa 2-1
Areia grossa 1-0,5
Areia mediana 0,5-0,25
Areia fina 0,25-0,125
Areia muito fina 0,125-0,063
SILTE 0,002 – 0,063 mm
Silte grosso 0,063-0,0156
Silte médio 0,0156-0,0078
Silte fino 0,0078-0,0039
Silte muito fino 0,0039-0,002
ARGILA < 0,002 mm
Fonte: Mudroch & Azcue (1995)
86 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
Classes sistemáticas de 2, 8, 12, 16, 20, 24, 28, 32, 34 μm de diâmetro
também podem ser encontradas para caracterizar sedimentos (Stumm & Morgan,
1996). As classes de sedimentos são expressas em porcentagens de volume, número
ou área superficial. É importante notar que, para certas análises, pode-se pré-definir
o tamanho de partículas, como é o caso da determinação do fósforo solúvel reativo,
proposto por Murphy & Riley (1962), onde se separa, por filtração, a fração inferior a
0,45 μm.
A divisão em classes de tamanho de partículas para amostras de solos
seguem a lógica da função de cada classe de tamanho de partícula tem dentro do
solo. A fração argila, por exemplo, é uma classe cujas partículas apresentam alta
reatividade no solo, já a fração areia apresenta uma presença física em função do
grande tamanho das partículas, porém sem nenhuma reatividade química. A fração
silte por sua vez apresenta ambas as características, logo está em uma classe
intermediária de tamanho. Para sedimentos, a separação granulométrica, parece ser
arbitrária comparada àquela para solos. Assim, a escolha das classes de tamanho
de partículas de sedimentos pode ser definida em função das necessidades exigidas
em cada estudo.
Princípio da medida granulométrica clássica: partindo-se de uma amostra
de material com massa conhecida, onde partículas heterogêneas estão suspensas
em um meio aquoso, têm-se as seguintes premissas: i) as partículas são sólidas e
de formato esférico e suspensas de forma homogênea em um determinado volume
de água; ii) a velocidade das partículas na queda em função da gravidade é afetada
unicamente pela viscosidade do meio; iii) a velocidade de queda das partículas é
uniforme, sem interferência de outras partículas. Assim, a velocidade de queda da
partícula em suspensão no fluido vai depender então de seu raio, da densidade da
partícula e da temperatura do líquido. As partículas de maior diâmetro migrarão mais
rapidamente que as de menor tamanho. Ao final de um tempo t, as partículas com
diâmetro inferior àquele pré-determinado são amostradas a uma altura previamente
estabelecida.
O tempo que certos tamanhos de partículas, suspensas em um meio aquoso
dentro de uma proveta, necessitam para migrar verticalmente depende, ainda,
das características do meio (viscosidade e densidade do líquido), do ambiente
(temperatura e aceleração da gravidade) e da própria partícula (sua densidade e seu
diâmetro), e é regida pela seguinte equação:
Onde:
t = tempo de queda, em s;
η = viscosidade da água, em g.cm-1.s-1;
h = altura de queda, em cm;
g = aceleração devido a gravidade, em cm.s-2;
ρs = densidade do sólido, em g.cm-³;
ρl = densidade do líquido, em g.cm-³;
Φ = diâmetro da classe de partículas, em cm.
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 87
Com esta equação, define-se o tempo, em segundos, no qual todas as
partículas com diâmetro superior ao definido, Φ, deslocar-se-ão até a profundidade
h. Um maior detalhamento desta equação poderá ser encontrado em USDA (1996).
A velocidade de queda das partículas pode ser acelerada com a modificação
do parâmetro g, através do uso de centrífugas. Utilizando-se a centrífuga, o princípio de
sedimentação é o mesmo, porém, através de uma velocidade de queda mais intensa,
pode-se separar frações mais finas de partículas, inviáveis com a sedimentação em
proveta. Tendo como referência uma temperatura de 20ºC, e densidade de partículas
de 2,6 g.cm-³, a velocidade de queda de um determinado tamanho de partículas
segue a seguinte equação:
Onde:
t = tempo, em min;
r = raio da partícula, em μm;
N = rotações por minuto, em 1000 min-1;
Log nep = Logarítimo Neperiano;
Xo = distância entre o eixo da centrífuga e o nível da suspensão no tubo da
centrífuga devidamente instalada no rotor, em cm;
X = distância entre o eixo da centrífuga e a altura onde a suspensão será
coletada, em cm.
Eixo do
rotor xo
x
Tubo da centrífuga
88 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
Para determinar quantitativamente a classe argila pode-se lançar mão da
extração e estimação de cada classe de tamanho de partículas (método direto,
pipeta), ou da hidrometria, método de Bouyoucus (Bouyoucus, 1962), que determina
indiretamente a concentração de partículas em suspensão.
O método da pipeta pode ser utilizado com grande segurança em provetas,
como demonstra a Figura 3.2.
Saída
Sifão
xo
Partículas com raio
inferior ao calculado
x
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 89
sobre uma amostra em branco. Em seguida, pipetar 50 mL da suspensão a 5 cm
de profundidade para uma cápsula de porcelana. Deixá-la evaporar e determinar a
massa da argila em balança analítica.
A quantidade relativa entre as classes é produto de relações matemáticas
que levam em conta a quantidade de material inicial e a massa destes materiais após
extração. A fração silte, neste caso, é determinada por diferença da quantidade das
outras frações.
O método do hidrômetro (Figura 3.3) segue de maneira similar o anterior,
para a fração areia e silte. Contudo, utiliza-se uma quantidade maior de material
inicial (50 g), e a fração argila é definida como sendo a diferença de leitura entre o
densímetro da amostra e de uma prova em branco. Para obter o teor de argila da
amostra, agite a suspensão na proveta; dê o tempo necessário para sedimentar as
frações superiores à da argila; transfira o volume correspondente à fração argila para
a proveta de 250 mL e introduza o densímetro para então fazer a leitura.
O uso desses métodos para estudos de sedimentos é possível. Em ambos
os métodos, a quantidade de material inicial é grande e muitas vezes incompatível
com a disponibilidade de material para estudos de sedimentos. Essa situação muitas
vezes inviabiliza a determinação de classes de tamanho de partículas.
Escala
Leitura
Suspensão de
partículas
Hidrômetro
Peso
Proveta
Figura 3.3 – Método do hidrômetro (Bouyoucus). Esse esquema mostra a condição de leitura
do teor de argila suspensa em um meio aquoso.
90 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
apresentam problemas, principalmente quando parte do princípio que não há interação
entre as partículas durante a queda na proveta. É notório que partículas maiores
podem arrastar partículas de menor tamanho durante a queda. Este fenômeno não
interfere na determinação relativa das frações, visto que as partículas maiores são
eliminadas anteriormente e, no caso do silte, determinadas por diferença do total.
Contudo, este fato deve ser levado em conta quando o objetivo é extrair determinada
fração de tamanho de partícula, exigência para as determinações mineralógicas. A
composição mineralógica é realizada sobre uma fração conhecida de tamanho de
partículas, logo, se deve evitar contaminação com outras frações.
Robert & Tessier (1964) aperfeiçoaram um sistema de separação e
extração de frações de tamanho de partículas para fins de estudos mineralógicos.
Este procedimento baseia-se no uso conjugado de tamisagem, sedimentação
e centrifugação, o que facilita a extração de inúmeras frações de uma amostra
heterogênea. Um fluxograma demonstrando este procedimento pode ser visualizado
na Figura 3.4.
Neste procedimento, introduz-se a noção de esgotamento da fração suspensa
na amostra. Esgotamento nada mais é do que a aplicação dos mesmos parâmetros de
operação em sucessivas extrações do sobrenadante, até que o mesmo não apresente
partículas em suspensão da fração requerida. Com isto, repete-se o procedimento
de pipetagem, coletando-se quatro vezes a mesma fração de partículas, o que, por
consequência, vai esgotá-la da suspensão total. Tal processo se faz necessário,
devido: i) a presença de partículas de tamanho inferior ao procurado abaixo do ponto
de sucção da pipeta, ii) ao fato de na queda das partículas haver o carreamento de
partículas com raio menor. A cada extração preenche-se novamente a proveta com
água até completar 1 L, agita-se o conteúdo e se espera o momento de extrair a
fração desejada. Assim, as partículas que estavam suspensas abaixo do ponto de
sucção retornam em suspensão, possibilitando sua extração (AFNOR, 1996).
As partículas da fração areia são separadas por tamisagem em malha 50
μm, enquanto a fração silte 5-50 μm por sedimentação em proveta, controlando-
se o tempo de sifonamento e a temperatura do meio. Para a separação da fração
2-5 μm daquela inferior a 2 μm, utiliza-se uma centrífuga. Para uma centrífuga com
parâmetros de X = 21 cm e X0 = 21 cm, operando a 800 rpm (rotação por minuto)
durante três minutos, pode-se separar a fração < 2 μm, que estará em suspensão
daquela superior que ficará depositada no fundo do tubo. A fração < 0,2 μm pode ser
também separada em centrifuga daquela entre 0,2 e 2 μm, porém, aplica-se uma
maior rotação (2900 rpm) e tempo (26,4 min), para uma condição de temperatura de
20 ºC.
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 91
Sedimento
Separação granulométrica
Amostra total de sedimento Concentração de
alíquota sedimento, g L-1
Sobrenadante
Centrifugação extração Fração argila fina
da fração < 2 μm < 0,2 μm, g kg-1
92 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
importante quanto maior for a amplitude de tamanhos de partículas na composição
de um sedimento. Outro problema diz respeito à operacionalização dos métodos.
Em estudos de sedimentos, frequentemente depara-se com amostras pouco
concentradas em partículas suspensas, o que se torna um problema, principalmente
quando o objeto de estudo são as partículas finas, por consequência, determinações
da granulometria com métodos clássicos são prejudicadas. Por fim, o pré-tratamento
dado às amostras de sedimentos pode alterar a composição do sedimento. Processos
de dissolução de minerais finos podem ser acelerados com procedimentos agressivos
como o aquecimento e o uso de dispersantes.
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 93
que pode ser aquoso ou gasoso. A luz ao interagir com a partícula sofre transformações,
podendo, a princípio, ser absorvida ou difundida no meio. A luz absorvida transforma-
se em calor, ou é capaz de provocar o processo de fosfo ou fluorescência, enquanto
que a luz difusa decompõe-se em três fenômenos - a reflexão, a difração e a refração.
A difusão luminosa pode ser enquadrada no domínio de Rayleigh quando o diâmetro
da partícula for menor que um décimo do comprimento de onda laser; o domínio
de Rayleigh-Gans-Debye aplica-se quando o diâmetro for menor que a metade do
comprimento de onda. A Figura 3.5 apresenta um demonstrativo da interação entre
luz e partícula.
Figura 3.5 – Esquema demonstrativo da interação luz/partícula. Pode-se observar que parte
da luz laser é absorvida e parte é difundida no meio. A luz difusa é oriunda de três
fenômenos - a refração, a reflexão e o principal, a difração. É importante notar
que a partícula é representada de forma esférica, premissa do método de difração
laser.
Adaptado de: Coulter (1997)
94 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
de duas partículas de tamanhos diferentes.
O tamanho das partículas, ou classes destas partículas, é estimado através
dos dados desses diagramas de luz. Assim, o diagrama de distribuição de tamanho
de partículas segue como a interação de todas as respostas de luz de cada partícula
que chegam ao detector.
Detectores para
grandes ângulos - PIDS
Detectores
Feixe de luz laser
Partícula
Detector
central
Medidor
eletrônico
Raio
Partícula
Lente de
Fourier
Computador
Figura 3.6 – Esquema demonstrativo da interação da luz sobre uma partícula grande e uma
pequena. Pode-se observar que a luz é difratada com ângulos diferentes, conforme
o tamanho da partícula, sendo captados em detectores diferentes, a partir do
detector central. Observa-se que os detectores estão conectados ao computador.
Adaptado de: Schildberg (1993)
partícula grande
Intensidade da luz
partícula pequena
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 95
O programa de computador tem a função de considerar n diagramas
experimentais de cada partícula, e integrar em n classes granulométricas do total de
partículas contidas na amostra. A aplicação dos cálculos matriciais permite obter a
fração volumétrica de cada classe de tamanho a partir de seu diâmetro e apresentá-
la na forma de histograma que relaciona a área superficial, o volume e o número de
partículas referente a cada classe de tamanho de partículas.
As premissas de detecção e estimação dos tamanhos de partículas são
regidas pelas teorias de Mie & Fraunhofer, o que permite que a medida abranja
uma variada gama de tamanhos de partículas. A teoria de Fraunhofer é adaptada
às partículas grandes com bordos irregulares e com grande capacidade de absorver
a luz. Isso porque as partículas grandes têm tamanho similar ao comprimento de
onda do feixe laser utilizado. Nesta teoria, é possível que as propriedades ópticas do
material e do meio de suspensão sejam ignoradas. Assim, parâmetros, como o índice
de refração, tornam-se desnecessários para partículas superiores a 7 μm, mesmo
que essas partículas apresentem-se com formato outros do que uma esfera e com
completa impermeabilidade à luz.
Para a aplicação da Lei de Mie, alguns pré-supostos são exigidos, como o de
que as partículas assumam um formato esférico, denotando um volume, mesmo que
o formato original da partícula seja outro. Nesse caso, o volume é construído a partir
da medida do maior diâmetro da partícula, como um diâmetro de revolução. Outro pré-
suposto refere-se ao fato da captação da luz difratada pelo detector de somente uma
partícula. A interação da luz difusa sobre outras partículas não é considerada. Além
destas premissas, a teoria de Mie focaliza-se na resposta das pequenas partículas
à luz laser. Isso porque o comprimento de onda do feixe laser é muito próximo do
tamanho das partículas finas. A quantidade de luz absorvida ou difundida depende,
então, das características ópticas do material. A refletividade, embora seja diferente
para partículas de diferentes tamanhos e naturezas, assume-se que é homogênea
para partículas finas, inferior a 7 μm.
A fim de contornar o problema de detecção de partículas pequenas, através do
uso da teoria de Lorentz-Mie, detectores colocados de forma perpendicular aos feixes
laser para os grandes ângulos, os quais se constituem na tecnologia PIDS (Polarized
Intensity Differential Scattering). Esse sistema pôde ser visualizado anteriormente na
Figura 3.6. O sistema visa captar a luz difratada de partículas finas de aproximadamente
40 nm, que mesmo com capacidade de difratar a luz em pequenos ângulos, a luz é de
pequena intensidade. Assim, esses detectores recebem luz polarizada sob diferentes
comprimentos de onda capazes de captar, ainda, a difusão lateral e a retro-difusão da
luz com intensidade superior aquelas para grandes ângulos.
Índice de refletância (i.r): esse índice é um parâmetro importante, pois pode
alterar o comportamento da luz difusa, e o diagrama de luz de partículas de mesmo
diâmetro. Este índice varia em função da temperatura do meio em que se mede a
amostra, da pressão e do comprimento de onda do laser. O uso de i.r. adequado, tanto
para as partículas quanto para o meio (água e gás), é fundamental para estudos de
partículas finas em sedimento e solos, por necessitarem da teoria de Mie. No entanto,
pode-se usar um mesmo i.r. em difração laser, para que abranja diferentes proporções
96 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
de tamanhos e de natureza de partículas. Nesse sentido, índices de refletâncias
foram estimados para grupos de partículas cuja natureza é similar. Por exemplo, para
a água, o i.r. é de 1,33. Para as argilas de solos e de sedimentos convenciona-se, um
i.r variando de 1,45 a 1,56, valores referente a caulinita. Para materiais como metais,
verifica-se que os valores de i.r. podem ser superiores, na ordem de 2 a 3,5. A cor
do material pode alterar o i.r. Contudo, para misturas de materiais, como o caso do
sedimento, usa-se o índice que mais se adapta às condições da composição. Já o
coeficiente de absorção pode varia de 0,01-10, onde os minerais se localizam entre
0,01 e 0,1. Dur et al. (2004) utilizaram em seus estudos com solos um i.r. de 1,55 e
um coeficiente de absorção de 0,1, valores coerentes com os minerais em geral.
Outro fator a ser levado em conta é a concentração de partículas em
suspensão na câmara de leitura. Essa informação é integrada no parâmetro grau de
obscuração, dado em porcentagem, que é o bloqueio da luz difratada que alcança os
detectores dos grandes ângulos (PIDS). O Grau de obscuração pode ser diferente,
o que produz variações no diagrama final do tamanho das partículas, como as
observadas por Muggler et al. (1997).
Instrumentação: Atualmente, existem vários modelos de equipamentos que
utilizam a luz laser como forma de estimar a granulometria de materiais. Guardando as
diferentes características próprias de cada equipamento, o modo de funcionamento
segue o demonstrado na Figura 3.6. A precisão e a exatidão deste método podem
ser testadas através da análise de materiais certificados de referência (Konert &
Vandenberghe, 1997). Contudo, Pye & Blott (2004) verificaram variações nestes
parâmetros devido a um viés instrumental. Entretanto, a reprodutibilidade dos dados
pode ser resultante muito mais do processo de pré-tratamento e das condições em
que a medida foi realizada, que propriamente das diferenças nos equipamentos.
Dentre as características interessantes presentes nos equipamentos de
difração laser citam-se algumas em especial:
1. Possibilidade de medida em meio gasoso, aquoso e sólido;
2. Receptáculo das amostras de pequeno volume e com condição de
recuperação das mesmas após a análise; Este ponto é importante,
principalmente quando se tem pouca amostra, situação típica de
estudos com sedimentos. A possibilidade de recuperação da amostra
também é interessante caso exista previsão de aplicação de tratamentos
posteriores. Por exemplo: pode-se passar uma amostra sem dispersão e
posteriormente aplicar dispersantes;
3. Trabalhar com concentrações variáveis de partículas em suspensão;
Os equipamentos podem trabalhar com graus de obscuração variados;
porém, existe uma faixa de obscuração que produzem diagramas mais
confiáveis, normalmente próximo a 50% de PIDS;
4. Possuir um programa de computador de fácil uso e que possa gerenciar
automaticamente o equipamento;
5. Ter a possibilidade de alteração dos parâmetros que interferem na medida,
como o i.r e a índice de absorção;
6. Oferecer rapidez nas medidas e na limpeza do compartimento da amostra.
Presença de agitador e ultrassons na câmara de leitura.
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 97
Na Figura 3.8 são apresentados exemplos de equipamentos estacionários
que usam o princípio laser para determinação da granulometria de partículas. Na
figura estão representados os modelos: BeckmanCoulter® LS230, CILAS® 1180 e
Malvern® Mastersizer, entre outros.
98 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
escolher o volume da câmara de leitura, são algumas das opções para a técnica
(Kammer & Forstner, 1998; Kammer & Kammer et al., 2005). Escolher a gama de
tamanho de partículas analisadas pelo instrumento de forma a ser compatível com o
nível de detalhamento que queremos dar para a amostra. Mais, escolher previamente
o estado das amostras, secas ou em suspensão, e a possibilidade de aplicação
de tratamentos (químicos ou mecânicos) dentro da câmara de leitura são também
opções importantes a serem consideradas.
Concernindo os resultados das análises granulométricas, estes são expressos
em porcentagem do volume, do número ou da área superficial específica das classes
de tamanho de partículas (Tabela 3.3).
Tabela 3.3 – Formato de arquivo produzido pelo difratômetro laser modelo Coulter®
LS 230
COULTER LS ########
File name: DomJesus.$01
Group ID: DomJesus
Sample ID: Dom Jesus (Ca, MO)
Operator: jcd
Comments:
Comments:
Bar Code:
Instrument: LS 230, Small Volume Module
Run number: 1
Start time: ########
Run length: 61
Optical model: Sol-502.rfd PIDS included
Obscuration: 4
PIDS Obscur: 19
Obscuration: LOW
Serial Number: 6984
From 0.04
To 2000
Volume 100
Mean: 0.868
Median: 1.006
D(4,3): 1.252
Mode: 0.91
S.D.: 2.644
Variance: 6.99
Skewness: -0.802
Kurtosis: 0.118
Specific Surf. Area:
1.22E+05
%< Size
1 0.0718
25 0.59
50 1.006
75 1.757
99 4.29
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 99
Na Tabela 3.3 pode-se ter um exemplo de arquivo de dados de uma amostra
submetida à difração laser, onde são apresentados algumas análises estatísticas
descritivas e o início da apresentação dos resultados para as classes (0,04 e 0,044
μm). Com o total dos dados por classe é possível gerar curvas indicando a quantidade
relativa de cada categoria de tamanho de partícula, mas também os resultados
acumulados.
A preparação das amostras a serem submetidas a DL não apresenta
um protocolo único e infalível, depende da amostra e do objetivo que se deseja
alcançar. Trata-se da etapa mais importante e delicada do processo de estimação
da granulometria em tecnologia laser. Para isso, dispõe-se de uma vasta quantidade
de informações acerca dos procedimentos de preparação e as consequências
em termos de granulometria de material decorrentes das escolhas tomadas. Por
exemplo, Muggler et al. (1997), ao trabalharem com dois graus de obscuração e
três sistemas de dispersão (dispersos em água, tratados em H2O2 e tratados com
H2O2 e ditionito), verificaram que o nível de agregação das partículas dependem
do agente de cimentação. Poleto et al. (2007) testaram vários níveis de energia
na dispersão de amostras de sedimento com ultra-sons, obtendo diferenças na
agregação das partículas após dispersão total em função do tempo. Assim, percebe-
se que pode haver uma reorganização das partículas por afinidade dentro da câmara
de leitura o que pode apresentar um viés à medida de DL. Estes autores alertam
para a importância da padronização dos tratamentos referentes à preparação da
amostra para a leitura em DL. Apesar de estudos darem a impressão de baixa
eficácia da DL, o método se mostrou confiável em testes com materiais de referência
(Konert & Vandenberghem, 1997). Isso reforça a ideia de aplicar a DL em materiais
heterogêneos. Em amostras de solos (fração inferior a 2000 μm dispersa em água)
que são submetidas à DL podem apresentar uma subestimação dos teores de argila
em relação a outros métodos de estimação, como o da pipeta (Beuselinck et al., 1998;
Konert & Vandenberghem, 1997). Isso se deve as diferentes características ópticas
das frações em estudo como também devido aos diferentes formatos das partículas
(Blott & Pye, 2006). Para frações maiores (50-2000 μm), obtidas por peneiramento, a
correlação entre os métodos é considerada boa. Para Beuselinck et al. (1998), esses
resultados seguem a tendência para diferentes amostras, desde que a mineralogia
seja similar. Dur et al. (2004), compararam diagramas da fração argila, obtidos em DL
e por microscopia eletrônica à transmissão – MET, e encontraram boa confiabilidade
na predição de 116 classes dentro.
Nesse sentido, o uso de frações previamente separadas pode melhor
discriminar as classes de partículas em DL, oferecendo maior confiabilidade. Por
exemplo, Bortoluzzi et al. (2004) estudaram em DL a granulometria da fração fina de
sedimentos fluviais oriundos de áreas com diferentes usos do solo (Figura 3.9). Os
resultados puderam auxiliar no estudo tanto da mineralogia do sedimento quanto na
predição das suas funções no rio (Pellegrini et al., 2010). Duas informações principais
acerca do método de difração laser podem ser observadas: a primeira diz respeito
à precisão do método, visto que a variação entre as três observações é pequena; a
segunda, diz respeito a informação propriamente dita, com excelente discriminação
dos tratamentos, no caso, os locais que as amostras representam.
100 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
Em função do exposto, percebe-se uma grande potencialidade no uso da
difração laser em estudos de materiais heterogêneos, tais como solos e sedimentos.
Contudo, protocolos de tratamento e utilização da difração laser devem ser
implementados de forma clara e completa, para que os resultados obtidos de diversos
estudos possam ser confrontados.
Como considerações finais pode-se inferir que apesar dos inconvenientes
apresentados pela metodologia clássica para se determinar a distribuição do tamanho
de partículas seu uso é ainda necessário. Ao se dispor qualquer intervalo de tamanho
de partículas de um material heterogêneo pode-se aplicar na sequência metodologias
mais pontuais como as análises em difração laser. Os métodos clássicos apresentam
pouco detalhamento das classes de tamanho, sendo esse a sua maior limitação. Já
o método de difração laser produz um maior detalhamento das classes de tamanho
de partículas. Ainda esse método permite o maior detalhamento de uma fração
específica, como por exemplo a fração argila (< 2 μm), eliminando o viés óptico e
do formato das partículas que geram interferências na medida. Contudo, a aplicação
de pré-tratamentos nas amostras deve estar em concordância com os objetivos do
estudo, para que o uso da difração laser seja viável.
Coletor 1
5 Coletor 2
Coletor 3
Coletor 4
4
Volume %
0
0,01 0,1 1 10 100 1000
Diâmetro µm (log)
Figura 3.9 – Diagrama da distribuição de partículas obtidas em difração laser de um sedimento
sob dispersão total, oriundos dos coletores 1, 2, 3 e 4 da MBH do arroio Lino em
Agudo, em um evento pluviométrico.
Adaptado de: Bortoluzzi (2004)
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 101
3.2.3 Principais métodos para determinar a natureza das partículas
Onde:
Au = área externa da esfera, expressa em m²;
π = constante pi, equivalente a 3,1416;
d = diâmetro da esfera, expresso em m.
Onde:
Vu = volume da esfera, expresso em m³;
102 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
ASEe = 6/d (Equação 3.5)
Onde:
ASEe = área superficial da esfera, expressa em m².m-³;
d = diâmetro da esfera, em m.
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 103
Na Tabela 3.5 encontram-se a ASE de vários argilominerais, normalmente
encontrados em solos e sedimentos.
104 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
Figura 3.10 – Equipamento BET para determinação da área superficial específica externa por
adsorção de N2.
Foto de: E.C. Bortoluzzi
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 105
Figura 3.11 – Esquema do aparato usado para medir a área superficial específica por EGME.
Adaptado de: Carter et al. (1965)
Tabela 3.6 – Passos para determinação da área superficial específica total por
adsorção de EGME
Etapas Descrição
1 Saturação da amostra com cátion conhecido: saturações com CaCl2 e lavagens
sucessivas para eliminação do excesso de íons.
2 Padronização do teor de umidade: em dessecador em presença de sílica ou em
estufa;
3 Saturação das amostras com EGME: em atmosfera confinada (dentro de
dessecador) colocar placa de petri com EGME e proceder ao vácuo com auxílio
de bomba peristáltica;
4 Processo de eliminação do excesso de EGME: Nesta fase, todos os dias pela
manhã e a tarde, deve-se retirar o vácuo e trocar a cápsula de CaCl2 abaixo das
amostras. Proceder a determinação da massa das amostras
5 Manter o procedimento acima até a massa constante, ou seja, quando a
quantidade de EGME não é mais perdida, estado de monocamada sobre as
partículas.
6 Cálculo da área da amostra em m².g-1
Adaptado de: Carter et al. (1965)
106 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
Considerações finais: É compreensível que partículas pequenas apresentem
maior área superficial específica que as partículas maiores. Isto porque uma partícula
sólida e compacta, ao se dividir, tem sua área superficial aumentada a cada nova
fratura criada, sem que a massa do conjunto de partículas seja alterada. Contudo, duas
partículas com tamanho similar podem apresentar uma área superficial específica
diferente. Isso acontece porque a estrutura e a evolução mineralógica ocorrida
preteritamente pode não ter sido a mesma para as duas partículas. Neste sentido,
nos solos, a redução do tamanho das partículas minerais à medida da evolução do
solo, processo chamado de argilificação, ocorre concomitantemente com a evolução
mineralógica dessas partículas. Nos solos é possível relacionar um parâmetro físico,
como a área superficial específica, com a capacidade de troca catiônica, parâmetro
regido pela presença de sítios de carga negativa nas partículas. Bigorre (2000)
verificou a possibilidade de estimar a capacidade de troca de cátions (CTC) através
da área superficial específica de constituintes minerais de solos. Verifica-se nesta
figura que quanto menor a partícula, maior a área superficial específica e a CTC.
A determinação da ASE se constitui em um parâmetro de fácil estimação a
ser aplicado para inferir sobre a reatividade de materiais, como constituintes de solo
e sedimento. Pode-se estimar a ASE sobre materiais totais ou frações conhecidas
deste material, sendo necessária neste caso, a aplicação prévia de técnicas de
extração e separação de determinados tamanhos de partículas.
A técnica, por necessitar um recobrimento de monocamada de moléculas de
EGME sobre a superfície das partículas, apresenta problemas quando a amostra é
composta de materiais minerais e orgânicos. Os constituintes orgânicos apresentam
uma superfície diferente daquelas dos minerais, além de modificar a sua estrutura
(forma) quando submetidas a diferentes estados de umidade, ou solvatação com
moléculas de EGME, por exemplo. A presença de matéria orgânica pode apresentar-
se como um viés na determinação da ASE. Há uma subestimação da área superficial
externa, medida por BET, em presença de matéria orgânica (Kaiser & Guggenberger,
2003; Mayer & Xing, 2001). Os mesmos autores encontraram um aumento da ASE
com a destruição da matéria orgânica das amostras. Contudo, a área superficial total,
medida por adsorção de EGME, pode ser aumentada, visto que a matéria orgânica
constitui-se também em uma superfície afim para a molécula de EGME (Dejou, 1987).
É importante notar que a diferença das áreas superficiais determinadas
por BET (externa) e por EGME (interna e externa) pode ser atribuída unicamente à
superfície interna das partículas que, por conseguinte, são de estrutura do tipo 2:1
expansíveis.
Em ambos os métodos, há a necessidade de um pré-tratamento das amostras.
Isto porque as amostras apresentam quantidades significativas de gases não inertes
e diferentes cátions hidratados na entrecamadas. Essa condição engendra um viés,
influenciando o bom recobrimento da superfície pela molécula de N ou EGME. Nesse
sentido, realizam-se procedimentos prévios de degazagem e de desidratação, além
de uma saturação catiônica com CaCl2, por exemplo, que permitirá uma melhor
uniformização dos espaços interfoliares e posterior recobrimento.
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 107
3.2.3.2 Difração de raios-X
108 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
Lei de Bragg:
nλ = 2d sen θ (Equação 3.6)
Onde:
λ = comprimento de onda Kα do anti-cátodo, em Ǻ;
θ = ângulo de incidência e reflexão dos raios-X, em graus;
dhkl = distância dos índices de Miller, em Ǻ;
n = 1.
θ θ
B
d hkl θ θ
A C
Planos iônicos
B´ coerentes
d hkl
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 109
Obtenção de difratogramas de raios-X em amostras de pó de partículas
desorientadas: quando uma amostra de uma determinada fração é seca e submetida
a difração de raios-X, existe uma alta probabilidade de todas as faces dos minerais
serem representadas e expostas aos raios-X. Desta forma, os planos hk são
preferencialmente observados no domínio de Bragg. Assim, para representar um
conjunto de distâncias dos planos atômicos hk de partículas minerais, deve-se
programar para que o conjunto de graus do domínio de Bragg seja contemplado, isto
é, de 2 a 75 ou 80º 2θ.
110 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
Figura 3.15 – Preparação de amostras de depósito orientado da fração argila proveniente de
um sedimento pluvial. Nos francos estão as suspensões de sedimento, fração <
2 μm. Abaixo, estão as lâminas de vidro já contendo uma cobertura de argila.
Foto de: E. C. Bortoluzzi
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 111
Para os testes de solvatação (EG ou Glicol) e de aquecimento (200, 300 e
550°C), usa-se somente o domínio de Bragg, compreendido dos pequenos ângulos,
intervalo de 2 a 16º θ. Testes específicos também podem ser realizados para verificar
a presença de haloisita desidratada através do uso da formamida (Churchman et al.,
1984).
Após Após
aquecimento aquecimento
Condição Após EG 200 e 300 ºC 550 ºC
Normal Família das
Pico 7,15 Ǻ Pico 7,15 Ǻ Pico 7,15 Ǻ caulinitas
desaparece
Pico 7 Ǻ
Após formamida
Pico 7,2 Ǻ Pico 10 Ǻ Haloisita
Difratograma
de raios-X
00l
Família das
Pico 10 Ǻ Micas/ilitas
Amostras Após aquecimento
saturadas com 200 ºC
Ca ou Mg
Pico 17 Ǻ Pico 10 Ǻ Esmectitas
Após aquecimento
Pico 14-15 Ǻ
300 ºC saturação K
Figura 3.16 – Fluxograma dos picos de Raios-X 00l em função de tratamentos; da esquerda
para a direita: a) condição normal; b) após etileno-glicol (EG); c) aquecimentos a
200, 300 e 550°C; d) famílias de minerais correspondentes aos tratamentos.
Adaptado de: Brindley & Brown (1980)
112 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
CCc <2µm saturada Ca2+
17,12Å
'
-15,21Å (montmorilonita)
-10,00Å
- 3,03Å
Intensidade
-7,2Å
CCb Aq 200o C
- 3,346Å
-4,05Å Feldaspato
- 3,85Å Calcita
-3,23Å Feldaspato
-4,25Å Qz
CCb EG
CCc N
5 10 15 20 25 30 35 40
o 2
Figura 3.17 – Diagrama de raios-X (DRX) da fração < 2 µm, saturada com Ca2+ do sedimento
coletado no exutório da Microbacia Hidrográfica de Agudo-RS, Brasil. Amostra
coletada durante um evento pluviométrico em outubro de 2003.
Adaptado de: Bortoluzzi et al. (2006)
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 113
2+
CCb N Ca
Diagrama Bruto
Curva Modelada
Fases
Intensidade
9,93Å 7,53Å
0% 7%
15,26Å Ilita Caol
93%
Mt
2 4 6 8 10 12 14 16 18
o
2
Figura 3.18 – Diagrama modelado de raios-X (radiação Co), em condição normal (temperatura
de 25°C) da fração < 2 µm, saturada com Ca2+ de um sedimento da máxima vazão
(CCb) de um evento pluviométrico, coletado no exutório da bacia hidrográfica do
Arroio Lino – Agudo.
Adaptado de: Bortoluzzi (2004)
114 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
transmitem a programas de computador específicos que estimam a proporção de
todos os elementos detectados na amostra e permitem a quantificação de cada
espécie química na ordem de partes por milhão (mg.kg-1). Vale ressaltar que os
elementos químicos estimados por esse método não permitem a identificação da
espécie química do elemento muito menos se compõem a fase sólida de partículas
ou encontra-se nas posições de troca (grupos funcionais). Mas dão uma excelente
informação dos elementos que compõem a amostra.
Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 115
quanto a sua origem e a transferência de poluentes dos sistemas terrestres aos
aquáticos ainda merecem estudos. Uma grande evolução nesse sentido, já foi dada
por meio de medidas in situ da granulometria de sedimentos (Kammer & Forstner,
1998; Kammer et al., 2005). Até lá, a estratégia de amostragem e preparação das
amostras de acordo com a finalidade do estudo deverão ser o foco principal para
estudos de sedimentos.
Neste contexto, a separação do tamanho de partículas dispersas, ainda é
condição fundamental para a caracterização de materiais, sejam eles de pedológicos
ou de sedimento. Dentre as técnicas de maior impacto, a DL tem seu lugar em
estudos de sedimentos, visto que, permite com pouca amostra detalhar sem destruir.
A partir daí, técnicas tradicionais poderão ser utilizadas para o estudo de uma ou
outra classe de tamanho de partícula, tais como a difração e a fluorescência de
raios-X, a espectrometria infravermelho, a análise térmica diferencial, a microscopia
óptica e a microscopia eletrônica a varredura e à transmissão (Elsass et al., 2008).
Em face do exposto neste capítulo, percebe-se que uma técnica não substitui
outra, elas são complementares. Por essa razão, espera-se que o capítulo tenha
suscitado o interesse dos colegas no uso de ferramentas de análises mineralógicas
a fim de implementar estudos que caracterizam os sedimentos.
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Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul | Capítulo 3L 119
120 M Capítulo 3 | Metodologias para estudos de sedimentos: ênfase na proporção e na natureza mineralógica das partícul
Matéria Orgânica em Ambientes
Terrestres e Aquáticos: Compartimentos,
Composição e Reações
Capítulo 4
4.1.1 Definição
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 123
não-húmico e matéria orgânica humificada.
A matéria orgânica humificada é constituída por uma mistura de substâncias
polidispersas, sem fórmula molecular definida, contendo os principais grupos
funcionais do carbono, comportando-se como compostos macromoleculares de alto
peso molecular, em geral ≥ 2 kilodaltons (Hayes & Clapp, 2001). No ambiente terrestre
e em sedimentos, essa fração pode apresentar elevado tempo de permanência
no solo, de centenas a milhares de anos. Este comportamento é atribuído às
características químicas e estéreo-químicas da matéria humificada, como também à
formação de complexos organo-minerais (Stevenson, 1994; Christensen, 1996). Do
ponto de vista do comportamento em meio aquoso com diferentes níveis de pH, as
substâncias húmicas são divididas em três grupos principais: ácidos húmicos (AH)
- fração solúvel em meio básico e que precipita em meio ácido; ácidos fúlvicos (AF)
- fração solúvel tanto em meio ácido como em meio básico, e huminas (HU) - fração
não-ácida insolúvel em qualquer valor de pH.
A fração não-húmica é composta por substâncias orgânicas simples de
fórmula molecular e características conhecidas, tais como carboidratos, proteínas,
lipídios, ácidos orgânicos e outros, que são liberados durante a decomposição dos
organismos. Essas substâncias são facilmente decompostas no solo e seu tempo de
permanência no meio é da ordem de dias a alguns meses (Sparks, 1995).
O carbono orgânico dissolvido (COD) na solução do solo e meio aquático não
corresponde necessariamente à fração não-húmica, pois sua definição é vinculada
ao método empregado na sua obtenção. Essa fração é uma mistura complexa de
compostos variando de ácidos simples e polissacarídeos a substâncias húmicas
complexas. Metodologicamente, o COD é considerado como sendo aquela fração
orgânica solúvel que passa em membrana de 0,45 µm (Thurman, 1985).
Substâncias húmicas aquáticas (SHA) contribuem de 40 a 60% para o COD, e
representam a fração mais abundante da matéria orgânica natural em águas naturais
(Thurman, 1985). Grande parte das SHA é composta de AF (em geral em torno de
90%), enquanto os AH ocorrem em menor abundância (Rocha & Rosa, 2003).
Em ambientes marinhos, a quantidade da fração da MOD excede a da MOP
em 10 a 20 vezes. No mar, a MOP compreende em grande parte organismos vivos,
tais como o fitoplâncton e resíduos cuja proporção relativa depende da localização
e da profundidade (Riley, 1970). A MOP é extremamente importante para a cadeia
alimentar marinha, uma vez que fornece nutrientes para diversos organismos,
porém, também representa a primeira etapa na acumulação de poluentes (Kördel et
al., 1997).
Os compostos orgânicos solúveis desempenham papel importante na
nutrição de plantas, pois atuam como fonte imediata de nutrientes. Do ponto de
vista ambiental, a importância dessas substâncias está associada a sua elevada
reatividade. Essa fração pode atuar localmente como agente mitigador do efeito
tóxico de metais pesados, devido à acentuada capacidade complexante de metais
apresentada por alguns ácidos orgânicos, como também de compostos xenobióticos
orgânicos, devido à interação desses com as estruturas hidrofóbicas presentes nas
moléculas. Por outro lado, esses compostos podem atuar como carreadores desses
contaminantes para lençóis freáticos em processos de lixiviação, e para cursos de
124 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
água adjacentes, quando apresentam elevada mobilidade.
4.1.2 Formação
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 125
relativamente lábil e a contribuição antropogênica (Ertel et al., 1986).
No ambiente marinho se destacam quatro fontes principais de carbono
orgânico (Stumm & Morgan, 1996):
a. Solo: material orgânico de solo é transportado para o mar principalmente
pelos rios e, em menor quantidade, por via eólica;
b. Decomposição de organismos mortos: este tipo de decomposição
ocorre simultaneamente por autólise e por ação bacteriana. A contribuição de cada
mecanismo para o produto final dependerá das condições em que se encontra o
material morto e da disponibilidade das bactérias;
c. Excreção de produtos extracelulares de algas: algas podem liberar
quantidades consideráveis de compostos orgânicos resultantes da sua fotossíntese;
d. Excreção de animais marinhos: excreções de animais marinhos e
zooplâncton podem constituir uma fonte importante de compostos orgânicos.
Analogamente às SHA de água doce, as SHA marinhas podem ser
classificadas segundo sua formação como alóctone (origem terrestre) e autóctone
(origem aquática) (Kordel et al., 1997).
Tabela 4.1 – Composição elementar, relação C/N, razões atômicas H/C e O/C, teor de
carboxilas, hidroxilas fenólicas e acidez total de substâncias húmicas de
solos de diferentes regiões do mundo
OH- Acidez
C H O N COOH* fenólica* total*
SH C/N H/C O/C
% cmol kg-1
ÁH 50 - 59 3,9 - 6,2 32 - 40 3,1 - 5,0 10 - 17 0,80 - 1,2 0,42 - 0,57 150 - 570 210 - 570 560 - 890
ÁF 41 - 51 4,3 - 7,0 40 - 53 0,9 - 3,3 18 - 38 0,93 - 1,4 0,65 - 1,0 520 - 1120 30 - 570 640 - 1420
HU 57 - 59 4,5 - 5,5 33 - 35 2,7 - 3,0 19 - 22 0,92 - 2,1 0,42 - 0,46 180 - 220 290 - 330 490 - 530
* determinado por métodos químicos (via úmida)
Dados de: Stevenson (1994), Sparks (1995), Kang et al. (2003), Tan (2003) e Song et al. (2005)
126 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
função do material que a compõe. A sua insolubilidade em meio aquoso pode ser
simultaneamente devido tanto à sua elevada hidrofobicidade como também à forte
interação com os componentes inorgânicos. Essa fração pode conter componentes
lipídicos, estruturas de carboidratos e aromáticas em diferentes proporções (Rice,
2001).
Os AF aquáticos são mais ricos em oxigênio do que os AF terrestres. As
composições químicas de AF e de AH aquáticos possuem relativamente mais
semelhança entre si do que no caso de AF e AH terrestres (Visser, 1983).
Tabela 4.2 – Dados de composição elementar, relação C/N e razões atômicas H/C e
O/C para substâncias húmicas de matrizes de diversas regiões do Brasil
Fração, C H N O
procedência,
vegetação do C/N H/C O/C Referência
solo e número de
amostras %
AH - Latossolo,
Argissolo e Dick et al. (1998)
Chernossolo (RS), 52 - 54 4,4 - 5,1 4,6 - 7,2 35 - 39 7,3 - 15 1,03 - 1,16 0,49 - 0,58 Empinotti (1999)
vegetação nativa Dick et al. (2003)
e culturas, 8
amostras
HU - Latossolo e
Chernossolo (RS), 43 - 45 3,7 - 4,0 4,6 - 6,0 46 6,8 - 9,9 0,98 - 1,11 0,76 - 0,80 Dick et al. (2003)
vegetação nativa,
2 amostras
AF - Latossolo e
Chernossolo (RS), 42 - 49 2,3 - 4,8 1,0 - 3,5 48 - 49 12 - 49 0,57 - 1,36 0,74 - 0,87 Dick et al. (1999)
vegetação nativa,
2 amostras
AH - solos
hidromórficos 51 - 55 4,3 - 5,7 2,0 - 4,8 35 - 41 11 - 26 0,94 - 1,25 0,48 - 0,60 Nascimento
(2004)
(ES), 7 amostras
Araújo et al.
SH aquáticas (RS) 33 - 38 0,6 - 1,6 1,4 - 4,0 n.d. 25 - 72 0,4 - 1,3 n.d. (2002)
AH de carvão 58 - 64 4,2 - 4,4 1,2 - 1,8 29,6 - 36,2 36 - 53 0,83 - 0,88 0,35 - 0,47 Dick et al. (2002)
(RS), 4 amostras
n.d. não determinado
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 127
Tabela 4.3 – Principais grupos funcionais da matéria orgânica do solo
Grupo Funcional Estrutura
Carboxila R-COOH
Enol R-CH=CH-OH
OH fenólica Ar-OH
Quinona Ar=O
OH-alcoólico R-CH2-OH
Éter R-CH2-O-CH2-R
Cetona R-C=O(-R)
Aldeído R-CH=O
Éster R-C=O(-OR)
Amina R-CH2-NH2
Amida R-C=O(-NH-R)
Adaptado de: Sparks (1995)
128 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
neo-formação das mesmas. Também, é preciso considerar que a substituição do anel
aromático por grupos funcionais contribui para a diminuição da razão H/C. Portanto,
recomenda-se a utilização deste índice para comparação de amostras de origem
semelhante e de baixo teor de cinzas, com confirmação das indicações obtidas por
outras técnicas.
Em SHA, valores baixos de H/C foram obtidos para AF e AH cuja absorção
específica no UV foi elevada, indicando maior insaturação do C (Abbt-Braun et al., 2004).
A razão molar O/C pode ser utilizada para inferir-se sobre o grau de oxidação
e o teor de carboidratos (Abbt-Braun et al., 2004). Entre as três frações húmicas,
separadas pelo fracionamento químico, AF tende a apresentar razão O/C mais
elevada devido ao seu maior teor de grupos carboxilas (Tabelas 4.1 e 4.2). Este
comportamento também é observado em SHA.
As huminas apresentam, em geral, razão H/C semelhante ou mais elevada
do que os respectivos AH, sugerindo um caráter alifático elevado. Dados de RMN
13C confirmam a elevada proporção de estruturas alifáticas (54 a 70%) (Hayes &
Malcolm, 2001; Kang et al., 2003; Song et al., 2005; Dick et al., 2006).
O ambiente de formação da SH afeta sua composição química. SHA podem
apresentar ampla variação de razão H/C, porém baixos teores de N são comumente
observados (Tabela 4.2). Em contrapartida, AH de carvão se destacam pelo baixo
teor de N e de O, que se reflete nos elevados valores de razão C/N e razão O/C (Dick
et al., 2002).
A MO em sistemas naturais apresenta uma variedade de grupos funcionais
de C e alguns de N (Tabela 4.3). Os grupos carboxílico, enol, OH fenólico e quinona
apresentam comportamento ácido, enquanto os grupos funcionais nitrogenados são
básicos. Os restantes são considerados neutros.
Nas SHA o oxigênio encontra-se principalmente na forma de carboxilas e
hidroxilas fenólicas, cuja concentração varia 500 a 1000 cmol.Kg-1 e 100 a 300 cmol.Kg-1,
respectivamente (Rocha e Rosa, 2003). O teor de carboxilas das SHA tende a ser
superior ao de SH terrestres (Tabela 4.3).
A proporção de carboxilas nos AF é geralmente superior à dos AH, levando
a uma maior acidez trocável naquela fração húmica. Já nos AH, carboxilas e
hidroxilas fenólicas contribuem na mesma proporção para a acidez total. As huminas
apresentam relativamente baixa acidez, o que contribui, ao lado da forte associação
com minerais, para sua insolubilidade em meio aquoso alcalino.
A identificação dos grupos funcionais de C e a determinação das respectivas
proporções são usualmente realizados por espectroscopia de ressonância magnética
nuclear do 13C no estado sólido, com polarização cruzada e rotação da amostra em
torno do ângulo mágico (RMN 13C CPMAS). O espectro de RMN 13C de MO, seja
essa particulada ou húmica, pode ser dividido nas seguintes bandas espectrais e
respectivos tipos de carbono: a) 0 a 45 ppm - C alquil, que engloba o C metila (-CH3)
e o C metileno (-CH2-); b) 45 a 60 ppm – N alquil + C metoxil; c) 60 a 110 ppm - C O
alquil; d) 110 a 160 ppm – C aromático; e) 160 a 190 ppm - C carboxílico; e, f) 190 a
220 ppm - C cetônico (Stevenson, 1994).
AH tendem a ser mais aromáticos e menos carboxilados do que os respectivos
AF (Tabela 4.4).
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 129
Tabela 4.4 – Proporção de grupos funcionais de carbono determinados por
Espectroscopia de 13C RMN em amostras de substâncias húmicas e
matéria orgânica
C N alquil + C-O C C C
Fração alquil C metoxil alquil aromático carboxílico cetônico
(número de 0 - 45 45 - 60 60 - 110 110 - 160 160 - 190 190 - 220
amostras) ppm ppm ppm ppm ppm ppm
Fração fúlvica 12,5 - 2,5 - 5 22,5 - 54 7,5 - 25 9 - 21 4 - 7,5
de solo (8) 22,5
17,3 - 12,2 -
AH de solo (8) 4,2 - 9,4 23,6 - 42,4 12,2 - 17,9 3,8 - 6,6
29,7 18,4
AF aquáticos 31 - 41 4-7 9,5 - 18 10,3 - 13,8 16,2 - 19 4,8 - 11,1
22,8 -
AH aquáticos 4,8 - 5,9 9,0 - 20,7 29 - 35,5 13,8 - 17,2 6,2 - 7,9
29,7
AH = ácido húmico; AF = ácido fúlvico
Adaptado de: Stevenson (1994)
130 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
Tabela 4.5 – Concentrações de substâncias húmicas aquáticas extraídas de alguns
sistemas aquáticos
Concentração de SHA
Amostras Referências
estimada (mg.L-1)
Águas superficiais 7 Rocha et al. (2001)
8 Rocha et al. (1998)
16 Áster, Burba & Broekaert (1996)
30 Suffet & MacCarthy (1989)
Águas subterrâneas 20 Suffet & MacCarthy (1989)
Águas marinhas 0,0029* Malcolm (1990)
*Teor de ácidos húmicos aquáticos (fração das SHA) obtido
Adaptado de: Rocha & Rosa (2003)
Amostra de água
Filtragem a 0,45 µm
Particulado Dissolvido
Substâncias Resina
húmicas (ácidos, Amberlite
bases e neutros XAD 8
hidrofóbicos)
Resina
MSC 1
Bases hidrofílicas (catiônica)
Duolite A7
Ácidos hidrofílicos (aniônica)
Hidrofílicos neutros
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 131
submetendo-se a suspensão à passagem em resinas XAD em pH ácido (pH ≤ 2) (Rocha
& Rosa, 2003). Estes sorventes são resinas macro-porosas não iônicas compostas por
estireno-divinilbenzeno (XAD-2 e XAD-4) ou por éster acrílico (XAD-7 e XAD-8). As SHA
(AF e AH) ficam sorvidas na resina XAD, sendo posteriormente dessorvidas por eluição
com solução aquosa alcalina (pH ≥ 12). Os AHA podem ser ainda isolados dos AFA por
acidificação da suspensão de SHA a pH 2, onde AHA precipitam.
O material orgânico que não é sorvido na resina XAD em pH ácido é
denominado de substância não-húmica aquática (SNHA), a qual pode ser, todavia,
fracionada em bases hidrofílicas e ácidos hidrofílicos e neutros (Figura 4.1). As frações
separadas são usualmente concentradas/secadas por liofilização ou por evaporação
sob pressão reduzida (rotavapor) para serem posteriormente analisadas. Deve-se
levar em conta, porém, que estes métodos de concentração podem também conduzir
a um enriquecimento em material inorgânico que pode eventualmente interferir nas
técnicas analíticas.
As SHA podem ainda ser fracionadas segundo seu tamanho molecular aparente
e sua carga, sendo que estes procedimentos são geralmente empregados para fins de
investigação do seu comportamento no ambiente (Rocha & Rosa, 2003). Entre estes
métodos destacam-se métodos cromatográficos (cromatografia de permeação em gel
(GPC), cromatografia líquida (HPLC, entre outros), osmometria, eletroforese (eletroforese
capilar (CE), “focusing” isoelétrico, eletroforese capilar de zoneamento (CEZ), etc), ultra-
filtração, ultra-centrifugação e espectrometria de massas (Kudryavtsev et al., 2000;
Schmitt-Koppling et al., 2002; Ubner et al., 2004; Leenheer & Croué, 2003; Abbt-Braun
et al., 2004). Estas técnicas são muito úteis na separação de misturas complexas de
SHA, podendo ser acoplados à técnicas de caracterização química e estrutural, tais com
fluorescência, ICP-MS e espectroscopia de UV (Specht & Frimmel, 2000).
Uma outra técnica, que se baseia nos diferentes tamanhos moleculares das
SHA, vem sendo frequentemente empregada. O sistema de ultra-filtração sequencial
desenvolvido por Burba, Shkinev & Spivakow (1995) foi posteriormente modificado
por Rocha et al. (2000) que utilizaram filtros disponíveis comercialmente constituídos
de membranas de poli-eter-sulfonas. Entre as principais vantagens deste sistema
de fracionamento sequencial por ultrafiltração (SFSU), destaca-se: a possibilidade
de fracionar e concentrar SH em seis frações de diferentes tamanhos moleculares
aparentes (>100, 50-100, 30-50, 10-30, 5-10 e <5 kDa) e a viabilidade de se trabalhar
com grandes volumes de amostra líquida, fracionando as SH e concentrando as
respectivas frações.
Em amostras de água coletadas do Rio Negro (AM), submetidas ao SFSU,
Rocha et al. (1999) observaram que o COD concentrou-se principalmente na fração <5
kDa (27%) seguido da fração 50-100 kDa (18%) e apenas 8,5% do COD foi observado
na fração >100 kDa. O grau de aromaticidade da SHA decresceu gradualmente de
35% na fração >100 kDa a 25% na fração <5 kDa. Após fracionamento de amostras
do Rio Negro (AM) com SFSU, Sargentini et al. (2001) constataram a complexação
preferencial de íons metálicos (Ni, Cu, Cd, Zn e Pb) com moléculas húmicas
aquáticas de massa molecular mais elevada. Resultados semelhantes foram obtidos
por Specht & Frimmel (2000), empregando cromatografia de exclusão por tamanho
(SEC) acoplada à técnica analítica de ICP-MS. Neste estudo foi constatado que
132 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
Fe, Pb e Al se associaram preferencialmente com SHA extraídas de lago (Hohloh,
Alemanha), que apresentaram maior tamanho molecular.
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 133
A distribuição do C orgânico nas três principais frações húmicas depende
do tipo de solo, do tipo de vegetação, do uso e manejo do solo. Em geral, em
horizontes superficiais do solo, a proporção do C contido na HU pode variar de 45
a 90% do C total, enquanto 25 a 40% do C total são verificados na forma de AH e
de 10 a 20% na forma de AF (Stevenson, 1994; Benites et al., 2001; Santos, 2003).
A solução diluída de Na4P2O7 (0,1 a 0,2 mol.L-1), um solvente mais
moderado do que a solução de NaOH, também é frequentemente empregado,
porém, apresenta rendimento inferior à solução de NaOH (Schnitzer & Schuppli,
1989; Senesi et al., 1994; Clapp & Hayes, 1996; Hayes et al., 1996). Solventes
orgânicos, tais como dimetilsulfóxido (DMSO), dimetilformamida (DMF), piridina e
solução ácida de acetona, que extraem SH de caráter mais hidrofóbico, conduzem
a um baixo rendimento (Hayes et al., 1975; Piccolo, 1988; Stevenson, 1994). A
contaminação da SH com o extrator orgânico pode também representar um
obstáculo na sua caracterização química e espectroscópica.
A alteração da composição química das SH devido a reações de oxidação
durante a extração alcalina, quando a mesma não se realiza sob atmosfera inerte,
tem sido questionada (Senesi et al., 1994). Porém, estudos sistemáticos realizados
com diferentes extratores e em diferentes valores de pH não constataram a formação
de produtos artefatos (Tan et al., 1991; Hayes et al., 1996; Dick et al., 1999; Hayes
& Malcolm, 2001).
Hayes & Clapp (2001) sugerem que “quando são usados procedimentos de
isolamento relativamente brandos, a composição dos componentes das SH será
muito similar àquela que se apresenta nos solos, apesar das associações poderem
ser bem distintas”.
O pré-tratamento com HCl 0,5 mol.L-1 (Figura 4.2) visa remover carbonatos
(caso ocorram) e cátions trocáveis que estejam realizando pontes catiônicas entre
moléculas orgânicas, e entres essas e a superfície dos minerais.
A solubilização de SH solúveis (AH e AF) com solução de NaOH se verifica
principalmente pelos seguintes mecanismos:
a) Rompimento de ligações de hidrogênio entre as moléculas orgânicas
entre si e com a superfície mineral;
b) Desprotonação dos grupos carboxílicos e fenólicos que realizam
interações eletrostáticas com os íons Na+ em abundância, o que, por
sua vez, aumenta a espessura da dupla camada elétrica, levando à
dipersão;
c) Reação de troca de ligantes entre as hidroxilas do meio e os grupos
carboxílicos e fenólicos da substância húmica, pelos quais a molécula
orgânica se encontra coordenada na superfície do mineral;
d) Aumento da repulsão eletrostática entre a MOS e a superfície dos
minerais pelo aumento da carga de ambos como consequência da
desprotonação de grupos hidroxilas (orgânicos e inorgânicos) e de
carboxilas.
A extração de SH solúveis com solução de pirofosfato de sódio consiste
principalmente no rompimento das pontes catiônicas que unem as moléculas
orgânicas entre si e com a superfície dos minerais. Devido à elevada afinidade do
134 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
pirofosfato pelos cátions di e trivalentes, tais como Ca+2 e Al+3, ocorre uma remoção
do cátion do complexo metal-húmico e consequente formação de complexo
pirofosfato-cátion (Stevenson, 1994; Cornejo & Hermosín, 1996). Além do efeito
complexante, o pH 10 da solução diluída de pirofosfato de sódio, exerce efeito
dispersante similar ao da solução de NaOH, porém menos intenso.
A acidificação do meio alcalino contendo as chamadas SH solúveis
provoca precipitação do AH enquanto o AF permanece em solução (Figura 4.2).
Provavelmente a protonação dos grupos funcionais oxigenados leva à precipitação
de estruturas macromoleculares e/ou micelares de comportamento macromolecular
de AH. Os AF são mais oxigenados e são constituídos por moléculas menores
do que os AH, ou ainda, formam micelas de menor tamanho, que permanecem
em solução mesmo quando protonadas. Adicionalmente, a elevada força iônica do
meio favorece a solubilização do AF.
A ocorrência de diferentes mecanismos extratores nos métodos químicos
permite a extração seletiva de SH que diferem quanto às características químicas
e estruturais.
A extração de SH de Gleissolo em diferentes valores de pH permitiu a Hayes
et al. (1996) distinguir AH e AF mais ricos em grupos ácidos e mais aromáticos
(extraídos em pH 7) de AH e AF com maior teor de carboidratos, extraídos em
pH alcalino (10,6 e 12,6). As SH extraídas em pH neutro apresentaram maior
grau de humificação do que as extraídas em meio alcalino. Dick & Burba (1999)
obtiveram valores superiores para a massa molecular aparente média nos extratos
húmicos de pirofosfato quando comparados às respectivas frações húmicas
extraídas com solução de NaOH, de Latossolo Vermelho e de Chernossolo. Esses
resultados podem ser considerados como uma indicação de que o rompimento
de ligações intermoleculares, tais como as ligações de H, pela solução alcalina
provocou a desagregação das micelas formadas por moléculas húmicas de menor
massa molecular. Esse fato corroboraria o modelo de estrutura supramolecular
de SH proposto por Piccolo (2001). Nessas mesmas amostras Dick et al. (1999)
constataram que AH e AF extraídos com solução alcalina de NaOH (AHN e AFN)
apresentaram menor teor de oxigênio do que as frações húmicas extraídas com
solução neutra de pirofosfato (AHP e AFP). A proporção de grupos carboxila
determinada por ressonância magnética nuclear (RMN) de 13C foi superior no AHP
(25%), enquanto que a proporção de grupos C O alquil, estruturas mais suscetíveis
à decomposição, foi superior no AHN . As características diferenciadas das frações
húmicas segundo o tipo de extrator podem também estar relacionadas com o tipo
de mecanismo de interação da MO com os outros componentes no solo.
A maior proporção de carboxilas, que é o principal grupo complexante das SH,
associada à maior massa molecular aparente de AHP, verificados por Dick & Burba
(1999), sugere que moléculas húmicas maiores se associam preferencialmente
com cátions através desse grupo funcional. Kipton et al. (1992) propuseram que
Al+3 e Fe+3 interagem preferencialmente com moléculas húmicas maiores, sendo
que a solução de pirofosfato apresenta elevada afinidade por esses cátions.
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 135
4.2.3 Fracionamento físico da MO
136 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
em Latossolo argiloso podem ser devido à presença de agregados organo-minerais
resistentes à sonicação (Santos, 2005). A MO associada às frações silte e argila
apresentam grau de decomposição mais avançado do que as frações particuladas,
correspondendo à MO humificada. A variação da composição química e grau de
humificação da MOS entre essas frações depende principalmente do tipo de solo e
do uso e manejo. Em geral, em horizontes superficiais, acima de 50% do COT pode
ser encontrado nas frações associadas aos minerais.
sobrenadante MOP
SOLO 63 µm Oclusa
areia
suspensão argila
63 µm
SILTE
sedimentação
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 137
e Cd, e com moléculas de pesticidas, tais como atrazina, pode levar à
contaminação de lençóis freáticos e cursos de água. Estes complexos,
onde a MO atua como carreador, quando atingem o ambiente aquático,
podem ser sorvidos nos sedimentos, levando a uma acumulação do
material (Kördel et al., 2004);
c. Formação de complexos insolúveis com metais pesados e com
xenobióticos orgânicos, diminuindo sua toxidez no ambiente. Em longo
prazo, este processo conduz à acumulação destes materiais, os quais
podem ser posteriormente remobilizados pela alteração das condições
físico-químicas do ambiente.
Por sua vez, a interação da MO com a superfície de minerais afeta
principalmente os seguintes processos:
a. Intemperismo dos minerais, pois atua tanto na dissolução como na
formação de novos minerais (Stevenson, 1994);
b. Aumento da capacidade de troca catiônica do colóide inorgânico, pois, ao
sorver na superfície do mineral, a MO confere carga negativa à superfície.
As principais reações da MO no ambiente, os grupos funcionais envolvidos e
respectivos mecanismos encontram-se relacionados na Tabela 4.6.
138 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
Tabela 4.6 – Reações da matéria orgânica no ambiente
Principais grupos Reagente ou Grupo
Reação funcionais da MOS funcional com o qual Mecanismo de reação
envolvidos interage
1. Reações de troca
Troca catiônica/ complexo
R-COO- e -R fenol- O- Cátions em solução do solo Interação eletrostática
esfera externa
2. Formação de compostos
de coordenação com metais
R-C(H)=O, R-SH,
Complexação com cátions/ Metais de transição, Al e metais Coordenação com cátions
R-NH2 R-COOH e R-OH
complexo de esfera interna traços na solução do solo em solução
(fenólicas)
3. Interações de superfície
com minerais
Grupos protonados
R-NH2, NH em ciclo superfícies com cargas
a.Troca catiônica Interação eletrostática
alifático, N em anel negativas
aromático
superfícies de cargas positivas
b.Troca aniônica R-COO- e O--fenol-R Interação eletrostática
de minerais de carga variável
c. Sorção via ponte
catiônica
R-COOH, -R-NH2, Cátions trocáveis da superfície Interação eletrostática
c.1.esfera externa
R>C=O, R-OH do mineral (pontes de H2O)
R-COOH, -R-NH2, Cátions coordenados às Coordenação com cátions
c.2.esfera interna
R>C=O, R-OH superfícies coordenados à superfície
d. Coordenação na -FeOH e Al-OH de superfície de
R-COO- e O--fenol-R Troca de ligantes
superfície minerais de carga variável
H da hidroxila de superfície
Amino, carbonila,
e. Protonação O-H de supefície protona O ou N da MOS
carboxilato
sem se desligar do mineral
Molécula de H2O de hidratação
Amino, carbonila,
f. ligações de hidrogênio do cátion de superfície ou da Ligação de hidrogênio
carboxila, OH-fenólico
superfície hidratada
g. Forças de van der Estuturas apolares da
OH da superfície Íon-dipolo
Waals MOS
Mecanismo de “expulsão”
Frações alifáticas e Superfícies hidrofóbicas de
h. Interação hidrofóbica das frações hidrofóbicas do
aromáticas hidrofóbicas mineras
meio hidrofílico
4. Reações com moléculas
orgânicas
Grupos nitrogenados protonados
a.Troca catiônica R-COOH e OH-fenol-R ou cátions orgânicos em solução Interação eletrostática
do solo
-COOH, -OH, R-HC=O,
b. Pontes de H Grpos C=O e amino Ligação de hidrogênio
-NH2
c. Forças de van der Estruturas polares e Dipolo-diplo (induzido ou
Estruturas apolares
Waals apolares da MOS permanente)
Mecanismo de “expulsão”
Frações alifáticas e Superfícies hidrofóbicas de
d. Interação Hidrofóbica das frações hidrofóbicas do
aromáticas hidrofóbicas moléculas orgânicas
meio hidrofílico
e. Transferência de Estrutras quinonas Anéis aromáticos ou triazínicos
carga (elétron aceptor) (elétron doador) Ligação covalente tipo r*-r
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 139
Ao interagir com a superfície de minerais via atração eletrostática, a MO
pode atuar tanto como cátion (Tabela 4.6 - reação 3a) ou como ânion (Tabela 4.6 -
reação 3b). No primeiro caso, o N quaternário de estruturas alifáticas ou aromáticas,
com carga positiva, desloca um cátion (geralmente monovalente) do sítio de troca.
Considerando-se que o teor de N na MO do ambiente é relativamente baixo (≤ 5%
para MOS e ≤ 3% para MOA) e que o pH dos ambientes aquáticos e da solução
do solo encontra-se acima de 4,5, esta reação é pouco expressiva. No segundo
caso, grupos carboxilatos deslocam ânions monovalentes dos sítios de troca, que
consistem de hidroxilas de superfícies protonadas (-OH+2), sendo esse mecanismo
mais comum em solos de carga variável.
A sorção da MO via ligação catiônica pode ocorrer via reação de coordenação
do cátion à superfície do mineral (complexo de esfera interna, Tabela 4.6 - reação
3c1), como também por interação eletrostática entre carga negativa da MO e carga
positiva de cátion polivalente, sendo que o cátion mantém sua esfera de hidratação
(complexo de esfera externa, Tabela 4.6 - reação 3c2).
A coordenação de superfície (Tabela 4.6 - reação 3d) ocorre quando o grupo
carboxilato (ligante) se coordena diretamente com a superfície contendo Fe-OH ou
Al-OH, deslocando a hidroxila original. Em situações de elevada densidade de sorção
associada à elevada afinidade entre o ligante orgânico e o cátion da superfície ocorre
remoção deste do retículo mineral na forma de complexo. Esta reação representa uma
das etapas iniciais do intemperismo químico de minerais hidroxilados, como também
contribui para a disponibilização de Fe para as plantas pela ação de sideróforos
(Benite & Machado, 2002).
O mecanismo de protonação (Tabela 4.6 - reação 3e) se verifica quando o
próton do grupo funcional de superfície se associa ao N ou ao O (carbonila, carboxila)
do grupo funcional da MO. Também, o próton de molécula de água de solvatação de
cátion divalente, apresentando caráter ácido, pode interagir por este mecanismo com
a MO. A protonação pode se tornar relevante em condições de pH ácido do solo ou
de baixa umidade, quando a acidez de superfície é elevada. A ligação de hidrogênio
(Tabela 4.6 - reação 3f) é um mecanismo de interação fraca e pouco expressivo,
pois os grupos funcionais orgânicos, como aqueles das superfícies de argilominerais
e óxidos, não apresentam eletronegatividade suficiente para o estabelecimento de
ligações por hidrogênio.
As forças de Van der Waals (Tabela 4.6 - reação 3g), que são ligações fracas
quando consideradas separadamente, tornam-se um importante mecanismo de
interação entre estruturas poliméricas orgânicas e superfície dos minerais, onde se
verifica seu efeito aditivo. Em condições de pH em que a carga líquida da estrutura
orgânica é baixa ou nula, ou, também, para a MO contendo baixa proporção de
grupos hidrofílicos, as interações por forças de Van der Waals estabelecidas entre
os inúmeros sítios apolares da MO e a superfície dos minerais se somam resultando
numa relativamente forte associação organo-mineral.
A interação hidrofóbica (Tabela 4.6 - reação 3h) ocorre com estruturas da
MO de caráter hidrofóbico que, devido a sua baixa solubilidade em meio aquoso, se
concentram junto à superfície do mineral (veja abordagem da reação 4d).
140 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
4.3.2 Reações com moléculas orgânicas
Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações | Capítulo 4L 141
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146 M Capítulo 4 | Matéria orgânica em ambientes terrestres e aquáticos: compartimentos, composição e reações
Poluentes Orgânicos e Inorgânicos
Capítulo 5
5.1 | INTRODUÇÃO
A relação do homem com o ambiente é cada vez mais complexa. Por um
lado, o ambiente está em constante mudança, como consequência de fenômenos
naturais e da própria ação antrópica; por outro lado, o homem está constantemente
produzindo novos compostos, cuja interação com o ambiente, pouco conhecida e
cercada de incertezas, é objeto de estudos.
A necessária busca da harmonia na relação do homem com o ambiente
aquático vem sendo investigada há vários anos. Para melhor inferir sobre as
consequências dos poluentes orgânicos e inorgânicos na qualidade do ambiente
e de vida do homem faz-se necessário identificar essas espécies, considerando
especialmente as substâncias orgânicas naturais ou sintéticas. Os sedimentos jogam
um papel importante nesse processo, já que sua grande área superficial os torna
potencialmente capazes de interagir de várias formas com os poluentes. Contudo,
a multiplicidade dessas interações faz com que modelos químicos e matemáticos
sejam cada vez mais empregados nesses estudos. Talvez um dos maiores desafios
da atualidade seja compreender de que forma os fenômenos naturais, aliados àqueles
causados pelo homem, se relacionam com a qualidade do ambiente e o que isso pode
significar para a qualidade de vida do homem e de todos os seres vivos que habitam
nosso planeta. O objetivo deste capítulo é apresentar informações sobre poluentes
e sua reatividade os sedimentos, particularmente aqueles de tamanho coloidal, para
subsidiar discussões mais qualificadas sobre a relação do homem com o ambiente.
Até praticamente o século XIX era possível criar animais e cultivar plantas sem
a utilização de qualquer substância sintética (embora algumas substâncias naturais
anteriormente empregadas no manejo dos sistemas de produção, tais como extratos
de plantas e caldas, também apresentassem alguma toxicidade humana). Com a
era industrial, especialmente no início do século XX e, sobretudo, após a II Guerra
Mundial, através do desenvolvimento do conhecimento científico e dos processos
produtivos, houve uma grande generalização na produção e uso de substâncias
químicas sintéticas. Nesse contexto, a agricultura passou a se utilizar fortemente da
aplicação de agrotóxicos, além de outros produtos, levando à banalização da prática
e a sua utilização, por vezes sem qualquer tipo de restrições ou cuidados específicos.
De outro modo, os processos industriais em zonas urbanas também produziram uma
série de compostos orgânicos que podem atingir o ambiente, especialmente quando
não sofrem nenhum tipo de tratamento ou controle de suas emissões.
Nas últimas décadas, centenas de milhares de novas substâncias químicas
foram criadas com a finalidade de facilitar os processos produtivos, as quais atingem
o solo e os recursos hídricos, interagindo com os sedimentos ali presentes. Entre
as primeiras substâncias orgânicas sintéticas utilizadas, formou-se um grupo de
compostos que são altamente tóxicos e perigosos denominados genericamente
de Poluentes Orgânicos Persistentes (POPs). Os POPs são substâncias químicas
produzidas em diversas atividades industriais, e podem ser considerados como os
principais representantes: bifenilos policlorados (PCBs); dioxinas e furanos; aldrin,
endrin e dieldrin; DDT; heptacloro e clordano; hexaclorobenzeno (HCB); mirex e
toxafeno. São chamados de persistentes porque não se degradam facilmente na
natureza e podem contaminar mesmo durante décadas após terem sido utilizados
uma única vez.
Os POPs estão em todo lugar e são repassados de geração a geração,
acumulando-se no ambiente e nos corpos de pessoas, animais e plantas. Estas
substâncias tóxicas são geradas em diversos processos industriais, dentre eles:
produção do PVC (plástico utilizado em brinquedos, utensílios domésticos, tubos e
Tabela 5.2 – Grupos funcionais, valência de Pauling, carga sobre o oxigênio e carga
residual
Onde:
r é a distância de separação entre as partículas;
f é a constante dielétrica do solvente.
1-pK Stern 2-pK Stern
DDL Modelo Puramente Difuso
DDL + 1 camada eletrostática Modelo Básico de Stern
DDL + 2 camadas eletrostáticas Modelo do Triplo Plano Modelo da Tripla Camada
Fonte: Ponthieu (2003)
Qmax K L M água
M adsorvido (Equação 5.2)
1 K L M água
com a qual é possível obter a concentração máxima do poluente adsorvido
(Qmax) e o valor de KL (semelhante ao Kd), em função da quantidade de poluente livre
na água (Mágua).
Esse modelo considera apenas adsorção física em monocamada e que há
apenas um tipo de grupo funcional, consequentemente, o valor de KL não varia com a
cobertura dos grupos funcionais e nem com as variações das condições geoquímicas.
Pode-se incluir a competitividade entre dois íons no mesmo modelo, já que, em tese,
eles são trocáveis. Também há possibilidade de estender-se a equação de Langmuir
para vários grupos funcionais (multisítios). Os grupos funcionais são distribuídos de
forma discreta, cada um apresentando uma afinidade própria pelo próton e pelo íon
Onde a quantidade do íon adsorvido depende do teor livre na água e das constantes
de afinidades desse íon com cada grupo funcional.
A isoterma de Freundlich ajusta-se aos dados experimentais pela Equação
5.4:
M adsorvido K F M água
n
(Equação 5.4)
Onde:
KF varia conforme aumenta a quantidade de poluente dissolvido na água,
cuja atenuação do KF é dado pela constante n, geralmente menor do que a unidade.
Esse modelo considera a adsorção física e química. Similarmente ao modelo
anterior, é possível de considerar-se a competitividade entre os íons pelo mesmo
grupo funcional. Mesmo assim, o modelo de Freundlich não pode ser utilizado para
prever variações nos constituintes coloidais e nem nas condições geoquímicas. Para
tal, pode-se linearizar o modelo (logaritmo) e incluir outros parâmetros físico-químicos
dos sedimentos e da água na equação (equação linear múltipla), como o teor de
matéria orgânica dos sedimentos, a quantidade de carbono orgânico dissolvido na
água, os teores de argila e de óxidos, a capacidade de troca de cátions e a atividade
do próton.
Para metais pesados, a variação do teor dissolvido na água (solução do solo
quando se trabalha com solo) é bem ajustada pelo teor total do metal nos colóides
e o teor de matéria orgânica e pH. O aumento no coeficiente de determinação pela
adição de um novo parâmetro é difícil, salvo em solos e sedimentos que contenham
altos teores de óxidos e argilas e baixos teores de matéria orgânica. Nesse sentido,
Schröder et al. (2005), ao compararem esse procedimento estatístico com modelos
mecanísticos geoquímicos para a relação metais pesados e arsênio da solução /
adsorvido em 194 amostras de solos alagados, e que recebem sedimentos dos rios
Rhine e Meuse na Holanda, constataram que, através da utilização de equações
lineares múltiplas, foi possível predizer com alta precisão as variações na quantidade
de íons na solução a partir de atributos do solo-sedimento. No caso do cobre, por
exemplo, a expressão foi:
log Cusolução = -3,692 + 0,414 log Cutotal + 0,374 log COS + 0,108 pH + 0,404 log COD – 0,368 log Fetotal
(Equação 5.5)
] (Equação 5.6)
1 K M
LF água
de Freundlich Generalizado:
K M
[ t M adsorvido F água ] (Equação 5.7)
1 M
água
Onde:
zt é a isoterma total.
Nos três modelos, é suficiente introduzir o parâmetro b (índice de
heterogeneidade), que varia de 0 a 1. Quando ele é igual a 1, não há heterogeneidade
e a isoterma retorna ao modelo de Langmuir normal.
Independentemente do modelo utilizado, os dados experimentais são bem
ajustados matematicamente. No entanto, o problema que se põe é a dificuldade
de extrapolação dos valores das constantes obtidas pelos modelos para condições
geoquímicas diferentes e para previsão de como o sistema evoluirá no futuro.
im Cim Cm Cim
t (Equação 5.9)
Onde:
iim é o conteúdo de água na fase móvel;
Cim e Cm são a concentração de poluentes nas fases imóvel e móvel,
respectivamente; e,
~ é o coeficiente de transferência de massa.
Esse modelo é bastante utilizado em estudos de migração de poluentes em
solos e deve ter aplicação restrita no estudo da dinâmica de poluentes em sedimentos.
Os modelos de cinética química consideram que os poluentes estão adsorvidos
aos grupos funcionais em complexos de esfera interna e, então, os processos de
adsorção e dessorção são dependentes de temperatura e tempo. Existem vários
procedimentos analíticos para descrever as reações de cinética química em solos
(Weber et al., 1991; Selim, 2002), como, por exemplo:
M adsorvido
M água M adsorvido (primeira ordem) (Equação 5.10)
t
M adsorvido
M água M adsorvido (n ordem)
n
t (Equação 5.11)
M adsorvido
M águaQmax M adsorvido M adsorvido (Langmuir cinética)
t (Equação 5.12)
M adsorvido
M água M adsorvido (Poder) (Equação 5.13)
n m
t
M adsorvido
BG (Elovich) (Equação 5.14)
Ae
t
Onde:
a and m representam as taxas de formação e degradação, respectivamente;
n é o expoente cinético; e,
m, A, B e G são parâmetros de ajuste.
Q Q1 1 et Q2 1 et (Equação 5.15)
A fração do íon não dessorvida (Q3) é obtida pela diferença entre a quantidade
total do íon no sedimento (QT) e o valor de Q. Fangueiro et al. (2005) concluíram que
esse modelo foi uma ferramenta adequada para estudar a mobilidade de metais
pesados em sedimentos. Rheinheimer et al. (2006b) obtiveram sucesso com esse
modelo no estudo da dinâmica de metais pesados (Zn e Pb) em solos contaminados,
relacionando a fração Q1 com a transferência desses elementos ao lençol freático.
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6.1 | INTRODUÇÃO
Muitos estudos mostram que a maior parte das falhas detectadas durante
o desenvolvimento e análise dos dados em projetos e pesquisas são devidas a
problemas tanto da falta de um planejamento adequado quanto de um conhecimento
técnico sobre as diversas fontes de contaminação das amostras durante sua coleta,
armazenamento e manipulação nos laboratórios.
Assim, uma atenção especial deve ser dada aos riscos em se adquirir
informações que possam sofrer algum tipo de influência externa, o que limitaria ou
impossibilitaria a sua utilização.
Um outro fator, também muito importante, é o que fazer depois com esses
dados, se eles mostram ou não a contaminação de um determinado local. Outro
assunto de interesse é o fato de muitos estudos apresentarem comparações de
dados ou valores de referência (Guidelines) de determinadas regiões com as de
outros continentes. Muitos se perguntam até que ponto isso é válido, ou se não passa
de um erro ou mesmo falta de aprofundamento sobre o assunto. Em muitos casos, a
falta de valores de referência local, ou regional, faz com que sejam utilizados esses
valores como parâmetros.
Neste capítulo, procurou-se abordar esses tópicos, dando uma ênfase
principal para os estudos comparativos e procurando esclarecer alguns aspectos
importantes de como se obtém um valor de referência.
Esses critérios têm sido adotados por muitos países da Europa e usados
em numerosos estudos de poluição por metais em diversos países, como meio de
avaliação dos níveis de contaminação (Macklin & Klimek, 1992; Visser, 1993; Macklin
et al., 2003; Bird et al., 2003; Lee et al., 2005). Além disso, os valores de referência
holandeses têm sido usados em muitas bacias hidrográficas no mundo todo, porque
esses se estabeleceram há muito tempo, foram muito experimentados e testados
100
90
80
70
As (mg.g-1)
60
50
40
30
20
10
0
out-03 mar-04 ago-04 dez-04 mai-05
Figura 6.1 – Variabilidade dos valores de referência quando comparados entre si e os valores
de background de um local específico.
Precisão Exatidão
A exposição humana aos vários contaminantes que hoje são lançados ao meio
ambiente pode provocar vários tipos de doenças e reações diversas nos organismos
vivos. Assim, para o Instituto de Meio Ambiente do Canadá (Environment Canadá,
2003a), a presença de sedimentos contaminados, além de implicações negativas
para qualidade da água, pode alterar o equilíbrio do ecossistema aquático através da
eutrofização, ou seja, um aumento da disponibilidade de nutrientes (especialmente do
fósforo), causando um aumento na produção da biomassa vegetal (algas e macrófitas).
Essa condição associada ao fluxo de material orgânico (efluentes domésticos) terá
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7.1 | INTRODUÇÃO
Os estudos voltados para qualidade dos sedimentos apresentam uma vasta
opção de procedimentos e que irão seguir diferentes metodologias, sendo essas as
mais adequadas a cada local ou tipo de estudo.
O que passa muitas vezes desapercebido é como as amostras de água foram
resultar em pequenas amostras de sedimentos e, assim, todo processo envolvido
nesse procedimento não recebe a devida atenção. Este capítulo apresentará algumas
possibilidades de processamento de sedimentos, que poderão ser utilizadas para a
obtenção de amostras secas de sedimentos e para estudos de elementos dissolvidos.
Na sequência, serão expostas as principais metodologias de extração
sequencial química de metais, suas limitações e sua utilização como uma ferramenta
para os estudos ambientais.
-1
10 mg L (concentração de sedimentos em suspensão)
100
80
Porcentagem
60
40
20
0
Cu Zn Cd Cr Pb Co Ni As Sb Se Hg
Figura 7.2 – Proporção entre as concentrações de alguns elementos, distribuídas entre a fase
sólida (sedimentos) e a dissolvida.
Fonte: Horowitz (1991)
-1
100 mg L (concentração de sedimentos em suspensão)
100
80
Porcentagem
60
40
20
0
Cu Zn Cd Cr Pb Co Ni As Sb Se Hg
Figura 7.3 – Proporção entre as concentrações de alguns elementos distribuídas entre a fase
sólida (sedimentos) e a dissolvida.
Fonte: Horowitz (1991)
Figura 7.4 – Conjunto formado por motor e centrífuga de fluxo contínuo (movida à gasolina) e
utilizada para a realização de centrifugação diretamente no campo.
Efluente
(água clarificada)
Aleta
Câmara 1
Câmara 2
Câmara 3
Câmara 4
(Cúpula)
Após a centrifugação de uma amostra, todas as partes constituintes da
centrífuga acumulam pequenas porções de sedimentos e, portanto, precisarão ser
lavadas com água deionizada (Figura 7.8), para que haja a recuperação de toda a
amostra que foi centrifugada. Como diferentes frações se acumulam em diferentes
partes da centrífuga, todas as partes deverão receber o mesmo tratamento. Esse
procedimento deve ser cuidadoso, para se evitar que todo o trabalho anterior, de se
evitar contaminações, seja perdido.
Figura 7.8 – Recuperação dos sedimentos acumulados em uma das partes constituintes da
cúpula de uma centrífuga.
Elemento: Zinco
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
média
Amostra 1
Amostra 2
Amostra 3
Amostra 4
Amostra 5
Amostra 6
Amostra 7
Figura 7.9 – Gráficos de colunas gerados pelos resultados obtidos através de extrações
sequenciais.
Tabela 7.1 – Protocolo de extração sequencial de metais proposto por Tessier et al.
(1979)
Tempo de agitação,
Estágio Reagentes (concentrações ou
Fração ou de reação, e
ou Fase quantidades) temperatura
1 Trocáveis 8 mL 1 mol MgCl2 (pH = 7) 25ºC por 1 hora
Associado aos
2 8 mL 1 mol NaOAc (pH = 5) 25ºC por 5 horas
carbonatos
Associado aos 20 mL 0,04 mol NH2OH.HCl em
3 óxidos de Fe-Mn 96ºC por 6 horas
(ou reduzíveis) 25% v/v HOAc
3 mL 0,02 mol HNO3 5 mL 30% v/v H2O2 85ºC por 2 horas
Associado a +
4 matéria orgânica 3 mL 30% m/v H2O2 85ºC por 3 horas
(ou oxidáveis) +
5 mL 3,2 mol NH4OAc 25ºC por 30 minutos
12 mL Acqua régia 200ºC até quase secar
(HNO3 - HCl 3:1) (aparência gelatinosa)
+
6 mL HF – 2 mL HClO4 200ºC até quase secar
+
5 Residual 6 mL HF – 2 mL HClO4 200ºC até quase secar
+
2 mL HClO4 200ºC até quase secar
+
Diluição: 5 mL 5% v/v HNO3 em 50
mL H2O
“in natura” F5
F5
F1: MgCl
F5
F2: NaOAc + HOAc
F5
F3: NH2OH.HCl
Deve ser pesado 0,5 gramas de amostra para se iniciar a primeira etapa da
extração sequencial, e as amostras devem ser analisadas em duplicata, mais 01
branco e o Material de Referencia Certificado em triplicata.
A Tabela 7.3 mostra um exemplo de dados de sedimentos CRM-601,
aplicando-se o esquema de extração sequencial da Comunidade Européia. Como
os dados certificados são apresentados somente para determinados elementos, a
exatidão para os demais elementos estudados foi realizada, conforme relatado acima,
através da comparação entre o somatório das etapas das extrações sequenciais e a
digestão total.
Para os elementos que apresentam certificação, os resultados foram, de
forma geral, satisfatórios, diminuindo na fração redutível, principalmente para o Ni.
Um erro maior do Ni na fração redutível também foi relatado pela equipe da CE
(Lopez Sanchez et al., 1998).
O Cr e o Zn apresentaram erro na fase carbonática, cerca 18%, e, em menor
intensidade, o último elemento também mostrou um erro de 11% para a fase redutível,
evidenciando uma certa compensação de extração entre estas duas fases.
Primeira 3.99 11.4 7.44 8.01 215 264 0.3 0.36 255 41.4 93.2 1.93
etapa
Segunda 2.97 47.2 10.9 6.05 202 182 7.5 1.43 161 3048 2948 3.49
etapa
Terceira 1.71 99.6 6.96 8.55 120 137 24.2 18.3 64.5 2918 1579 2.10
etapa
Quarta 0.48 56.1 57.8 --- 195 --- 102 --- 644 41600 59696 13.2
etapa
R 9.15 215 83.1 --- 733 --- 134 --- 1125 47608 64316 20.7
Extração 10.6 210 71.1 --- 785 --- 139 --- 1127 49950 66449 22.4
total
Erro % 13,7 2,00 16,9 --- 6,60 --- 3,30 --- 0,20 4,70 3,20 7,60
1
CRM–601 Material de referência certificado
Protocolo Etapa Cd Cr Cu Ni Pb Zn
BCR original: 1º 4,43±0,63 0,35±0,09 10,2 ± 0,8 8,22± 0,83 2,07 ±0,49 259± 13
Protocolo de 2º 3,09±0,88 1,42±0,79 7,87 ± 5,14 5,55± 1,42 37,3± 17,7 175 ±15
extração sequencial 3º 2,01±1,22 20,1±2,0 116± 9 6,75 ±0,82 108± 18 124± 17
BCR Modificado: 1º 4,45±0.67 0,35±0,08 10,5± 0,8 7,82± 0,84 2,28± 1,17 261± 13
Protocolo de 2º 3,95±0.53 10,6±0.9 72,8 ± 4,9 10,6 ±1,3 205 ±11 266± 17
extração sequencial 3º 1,91±1,43 14,4±2,6 78,6± 8,9 6,04± 1,25 19,7± 5,8 106± 11
Cromo Cobre
Trocáveis Óxidos M.O. Fração Residual Solução Trocáveis Óxidos M.O. Fração Residual Solução
Cobalto Níquel
Trocáveis Óxidos M.O. Fração Residual Solução Trocáveis Óxidos M.O. Fração Residual Solução
Figura 7.11 –
Extração sequencial de elementos traço associados com sedimentos em
suspensão e a porcentagem das concentrações desses elementos dissolvidos.
Adaptado de: Gibbs (1977)
Porém, a fase que proporciona a maior disponibilidade é a trocável, que
nesse caso apresenta-se como a menor concentração presente nos sedimentos
em suspensão. É interessante perceber que os elementos dissolvidos apresentam
concentrações significativas para todos os elementos traço.
Em um estudo realizado por Poleto & Merten (2007), em uma bacia urbana
na região metropolitana de Porto Alegre, os autores aplicaram uma adaptação da
metodologia de Tessier et al. (1979) utilizada em laboratórios americanos, e obtiveram
os resultados apresentados em cinco compartimentos geoquímicos, conforme é visto
na Figura 7.12.
Os resultados englobaram amostras de sedimentos em suspensão coletadas
em um período de 4 anos, e contemplaram elementos como Co, As e Zn. Os resultados
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40%
30%
20%
10%
0%
Co As Zn
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8.1 | INTRODUÇÃO
O universo de formas em que os sedimentos influenciam os ecossistemas
aquáticos não é pequeno. Diversos são os estudos que enfatizam as influências
químicas, físicas e biológicas (biogeoquímica) dos sedimentos nos corpos d’água.
Os sedimentos são constituídos de partículas de grande variedade de
tamanhos, formas geométricas e composições químicas, que são transportados
por água, ar ou degelo de seus locais de origem, nos ecossistemas terrestres, e
depositados no fundo de rios, lagos e oceanos (Mudrock & MacKnight, 1994a),
constituindo um dos compartimentos dos ecossistemas aquáticos. Além dessas
origens, os sedimentos depositados contêm materiais precipitados em grande
número de processos químicos e biológicos nesses ambientes aquáticos, sendo que
a proporção entre as partículas de origem terrestre (fontes alóctones) e as de origem
interna (fontes autóctones) varia muito para diferentes ambientes e em escalas de
observações.
Muito já se comentou a respeito da influência do sedimento nos sistemas
aquáticos, desde a gênese dos corpos lagunares (e.g., Vilwock, 1972; 1994;
Schwarzbold & Schäfer, 1984), sua influência na distribuição de organismos, como
plantas aquáticas – macrófitas, invertebrados bentônicos, aves aquáticas, entre
outros (Figura 8.1) -, os quais podem resultar em classificações ou tipologias dos
sistemas aquáticos. No entanto, se considerarmos as particularidades de cada
ecossistema, natural ou impactado, a influência do sedimento pode estar diretamente
relacionada a trofia, ou seja, a produtividade de matéria e trocas de energia, tornando
os sistemas muitas vezes possíveis de serem classificados e avaliados do ponto de
vista ecológico, que em pesquisas avançadas de restauração ecológica, estão no
topo como sistemas mais próximos do natural (van Andel & Aronson, 2006).
Porém, o sedimento pode ser considerado a base da maioria dos processos,
tanto em nível morfológico como ecossistêmico.
Por outro lado, estas classificações servem tanto de base para o
desenvolvimento de novas tecnologias e engenharia do meio ambiente, quanto para
a elaboração de programas de avaliação e monitoramento de impactos em sistemas
aquáticos e suas relações com a paisagem. Mas será que é suficiente avaliar apenas
o compartimento físico e/ou químico se não avaliarmos o compartimento de fundo
Recursos alimentares
Microcrustáceos
Moluscos
Insetos
Peixes
Titel X-Achse
Algas
Macrófitas
outros Insetos
Detrito
Sedimento
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Freqüencia [%]
Figura 8.3 – Distribuição de frequência dos recursos alimentares na dieta de peixes em
uma lagoa costeira do Rio Grande do Sul. Sedimento, detritos e invertebrados
bentônicos (insetos, microcrustáceos, entre outros) correspondem aos itens
consumidos.
Fonte: Hartz (1997); Rodrigues & Hartz (2001)
Figura 8.5 – Cápsula cefálica de uma larva sub-fóssil de Chironomidae (Insecta, Diptera),
coletada em frações de sedimento acumuladas ao longo do tempo.
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9.1 | INTRODUÇÃO
Os crescentes problemas ambientais relacionados com a degradação dos
solos, qualidade da água e a saúde humana enfatizam a urgente necessidade de
estudos com características multidisciplinares capazes de esclarecer os efeitos da
dinâmica do uso e manejo do solo e seus impactos aos recursos naturais. Parte
significativa dos impactos negativos à qualidade da água é causada pelos sedimentos
erodidos, especialmente daqueles originados de áreas com presença de poluentes,
como os agrícolas, os de mineração e os urbanos. Sedimentos são vetores de
poluentes, pois a sua natureza geoquímica (agregados formados pela presença de
partículas primárias, óxidos e matéria orgânica) permite tanto a adsorção como a
liberação de poluentes capazes de afetar severamente a biota aquática e a qualidade
da água. Sendo assim, dados referentes à “qualidade dos sedimentos” são importante
para a compreensão dos processos de degradação ambiental. Abaixo são citados
alguns exemplos de aplicação dos estudos de qualidade de sedimentos:
a) características e potencial dos microagregados, flocos, e partículas
primárias na adsorção e desorção de contaminantes (Horowitz, 1991; Droppo et al.,
1998; Droppo, 2001);
b) transporte de contaminantes para rios, lagos e planícies fluviais
associados aos sedimentos (Walling et al., 2003; Minella et al., 2004), e os fatores
que regulam a interação entre sedimentos e contaminantes em ambientes aquáticos
(Förstner & Wittmann, 1983; Salomons & Stigliani, 1995);
c) uso de propriedades traçadoras dos sedimentos para identificação de
fontes de sedimentos (Walling & Woodward, 1995; Collins et al., 1997; Foster et al.,
2002; Minella et al., 2008).
Para Förstner & Wittmann (1983), o desenvolvimento de análises mais
detalhadas e precisas das características dos sedimentos, subsidiaram o surgimento
de uma nova área de pesquisa denominada “qualidade de sedimento”, a qual integra
áreas como a sedimentologia, a hidrologia, a biologia e a química. Algumas linhas de
pesquisa têm investigado como a “qualidade dos sedimentos” pode contribuir para
a compreensão dos mecanismos de transferência dos sedimentos das vertentes
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 259
para a rede de drenagem. Uma linha importante destes estudos está baseada em
métodos diretos de comparação das características físicas e químicas dos sedimentos
transportados nos rios com a qualidade dos sedimentos nas suas fontes (Walling,
1990).
= EB − DS (Equação 9.1)
PS
Onde:
PS é a produção de sedimentos (t.km-2.ano-1);
EB é a erosão bruta (t.km-2.ano-1); e,
DS é a quantidade de material erodido depositado na bacia (t.km-2.ano-1)
O conhecimento da conexão entre a quantidade sedimento produzida nas
vertentes (erosão bruta) e a quantidade de sedimento que chega no exutório da
bacia (produção de sedimento) é importante para a avaliação do impacto do uso das
terras na degradação das bacias e para a investigação do movimento dos sedimentos
associados com nutrientes e poluentes (Walling, 1988). A relação entre a erosão
bruta nas vertentes e a produção de sedimento monitorada nos rios é conhecida
como “razão de emissão de sedimentos” ou “SDR - sediment delivery ratio”:
PS
SDR = (Equação 9.2)
EB
Onde:
SDR é a razão de emissão de sedimentos (adimensional);
260 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
PS é a produção de sedimentos (t.km-2.ano-1); e,
EB a erosão bruta (t.km-2.ano-1).
A razão de emissão de sedimentos é influenciada por uma larga quantidade
de fatores geomorfológicos, hidrológicos e humanos, incluindo a natureza, a extensão
e a localização das fontes de sedimentos. Sabe-se que apenas uma pequena fração
do solo erodido que é convertido em sedimento nas vertentes chega até o exutório
da bacia, sendo que a magnitude desta fração diminui principalmente com o aumento
do tamanho da bacia (Walling, 1988; NCASI, 1999). Esta relação inversa entre o
tamanho da bacia e a emissão de sedimentos é explicada pelo decréscimo dos
gradientes das rampas e canais, e pelo aumento das condições de deposição e
interceptação (Walling, 1988). Em geral, o suprimento dos sedimentos é controlado,
primariamente, pelo uso e manejo do solo e pelo clima, enquanto que a emissão de
sedimentos é controlada, principalmente, por aspectos relacionados com a fisiografia
local (Coleman & Scatena, 1986).
NCASI (1999) descreve características importantes dos sedimentos e da
bacia que influenciam a complexidade da conexão entre os processos que ocorrem
nas vertentes e o que monitoramos no rio que são denominados “efeitos cumulativos
de bacia”. Para os sedimentos do tamanho silte e areia, os principais problemas
estão relacionados com a descontinuidade do movimento das partículas em direção
ao exutório, e os fatores controladores seriam a declividade e a forma das vertentes
(NCASI, 1999). Para os sedimentos do tamanho argila ou microagregados, os
principais problemas estão relacionados com os processos de floculação e dispersão
das argilas que dependem das condições físico-químicas do meio e do tipo de
material que compõe os sedimentos finos (Hillel, 1998). O transporte de sedimentos
provenientes de áreas fontes através das vertentes e sistemas de canais é controlado
por uma sequência de processos descontínuos, o qual alterna eventos de transporte
rápido com eventos de longo período de armazenamento (NCASI, 1999).
A partir da década de 70, alguns estudos iniciaram a investigação da
variabilidade espacial e temporal da emissão de diferentes fontes de sedimentos
para o exutório da bacia (Wolman, 1977; Walling et al., 1979; Grimshaw & Lewin,
1980; Ongley, 1982; Yu & Oldfield, 1989). O objetivo fundamental desses estudos foi
identificar a contribuição de diferentes ambientes de uma bacia para a produção total
de sedimentos. O princípio fundamental é utilizar as características dos solos das
fontes e comparar com as dos sedimentos em suspensão coletados nos rios. Esses
estudos são classificados como “métodos diretos” de modelagem da erosão hídrica
na escala da bacia. Com essa informação, foi possível avançar significativamente
na compreensão dos processos que determinam as taxas de emissão da bacia e
na quantificação real do potencial poluidor de cada fonte. Sendo assim, os métodos
diretos são úteis e importantes para a modelagem dos processos erosivos e
ambientais na escala de bacia.
Algumas características naturais dos solos e dos sedimentos apresentam
propriedade traçadora. A viabilidade e a eficiência da modelagem dependem da
conservatividade desses elementos e da sua capacidade de distinguir as diferentes
fontes. Consequentemente, um dos principais pressupostos para a utilização das
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 261
características dos solos e dos sedimentos erodidos nessa metodologia é que os
sedimentos erodidos devem manter na sua estrutura as mesmas características do
elemento ou a característica traçadora presente na fonte. Sendo assim, a escolha
dos elementos traçadores deve considerar seu comportamento no ambiente. Cada
elemento químico ou substância apresenta um comportamento diferente em relação
aos inúmeros fatores ambientais que influenciam nesse percurso. As taxas de
enriquecimento e depleção podem comprometer a aplicação de métodos diretos.
Sabendo que muitos poluentes são transportados associados com os
sedimentos é importante conhecer em que situação ambiental (pH, oxidação-redução,
temperatura, etc.) os contaminantes podem dissociar-se dos sedimentos e ficar em
uma forma reativa ou disponível. No próximo item, iremos explorar as principais
características dos sedimentos e os fatores ambientais que afetam a interação entre
os elementos químicos e os sedimentos.
Neste item é feita uma breve abordagem dos principais fatores químicos e
físicos que determinam: (i) a capacidade de alguns elementos serem utilizados como
traçadores naturais, e (ii) dos fatores que afetam a capacidade de dos sedimentos
em transportar e tornar disponíveis os contaminantes das diferentes fontes. No
primeiro caso, o ponto de interesse é estabelecer em que condições os elementos
químicos estão retidos pelos sedimentos e em que condições irão dissociar-se. No
segundo caso, nos interessa saber como os contaminantes são transportados pelos
sedimentos e em que condições esses contaminantes se tornam disponíveis ao
ambiente, ocasionando os problemas de poluição.
A compreensão dos diferentes mecanismos de associação entre os elementos
ou substâncias químicas e sedimentos, baseia-se no entendimento dos mecanismos
de enriquecimento/depleção que ocorrem nos ambientes úmidos e/ou aquáticos.
Inúmeras reações de sorção podem ocorrer entre a superfície de minerais e colóides
com os poluentes. A abrangência na qual as reações ocorrem é determinada pelos
mecanismos de fixação e pelas características do meio, às quais influenciam esses
mecanismos. Apesar das diferentes origens e formas químicas dos elementos, e
dos diferentes meios em que ocorrem, eles apresentam semelhanças quanto aos
mecanismos de conexão, o que possibilita compreendermos, em parte, a dinâmica
geoquímica desses elementos nos ambientes aquáticos.
Nesses termos, o estudo dos fenômenos relacionados com a qualidade dos
sedimentos tem se mostrado muito importante nos fatores que afetam a distribuição
espacial e temporal, e principalmente, a dinâmica biogeoquímica nos solos e
sedimentos.
262 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
9.3.1 Composição dos sedimentos em ambientes tropicais e propriedades
conservativas dos elementos traçadores
Nas regiões tropicais, o principal componente da fração argila dos solos é o mineral
do tipo Caulinita (argilo-mineral 1:1). A Caulinita apresenta uma baixa área superficial
específica (ASE), definida como uma medida de superfície exposta de um objeto em
relação ao seu volume. A ASE das caulinas varia entre 10 e 20 m².g-1, a da vermiculita
(argilo-mineral 2:1) apresenta valores de ASE entre 300 e 500 m².g-1 e a das partículas
primárias, como o silte e a areia fina, apresentam uma ASE < 1 m².g-1 e < 0,1 m².g-1,
respectivamente. A importância da ASE sobre as propriedades químicas dos sedimentos
está relacionada a sua reatividade química. Assim, à medida que aumenta a ASE, maior
será a reatividade dos sedimentos com moléculas orgânicas ou íons do meio.
Entretanto, Förstner & Wittmann (1983) alertam que os minerais de argila
podem não apresentar uma relação direta com a concentração de elementos traçadores
e os poluentes, sendo que a principal função dos argilo-minerais seria a de servir como
substrato mecânico para floculação e precipitação de matéria orgânica e minerais
secundários (p.ex., sesquióxidos de ferro e manganês). Os argilo-minerais, uma vez
combinados com os óxidos e a matéria orgânica, formam microagregados estáveis e,
dessa forma, apresentam um grande potencial para concentrar e transportar elementos
traçadores e poluentes nos ecossistemas aquáticos.
Os óxidos hidratados de manganês, alumínio e ferro, conhecidos como
sesquióxidos, são também componentes importantes da fração argila em regiões
tropicais. Os sesquióxidos atuam como agentes cimentante na estabilização de
agregados. Os sesquióxidos de ferro e manganês constituem a mais importante fração
mineral de comportamento coloidal na água nos ambientes tropicais. Por causa de sua
estrutura e alta área superficial por unidade de peso, os sesquióxidos apresentam uma
alta tendência de se unir com substâncias químicas e minerais (Hillel, 1998).
Os óxidos de ferro são resultantes do intemperismo e da pedogênese que
ocorrem em regiões tropicais com boa disponibilidade de umidade. Os óxidos de
manganês são o resultado das mesmas condições anteriores associados a áreas
onde haja alteração constante de condições de oxi-redução. Exemplos dessas áreas
seriam as vertentes convergentes e margens dos rios. Estes elementos químicos
podem apresentar grande estabilidade no ambiente, devido ao estado de oxidação
presente (Inda, 2002). Elementos traços, associados aos óxidos de ferro e manganês,
serão estáveis ou ambientalmente indisponíveis, a menos que exista um decréscimo
substancial na quantidade de oxigênio ou um aumento significativo na atividade
biológica (Inda, 2002). Dessa forma, os elementos associados a esse compartimento
químico apresentam uma boa conservatividade e ótima capacidade discriminante
(Collins et al., 1997; Walling & Collins, 2000).
A matéria orgânica é outra fração que tem um papel importante nas trocas
de cátions e na formação de complexos com poluentes. Devido ao seu baixo
peso molecular, grande área superficial e elevada quantidade de cargas negativas
superficiais, as moléculas orgânicas podem formar complexos estáveis com metais,
aumentando a capacidade de deslocamento dos poluentes metálicos.
Já para os elementos químicos que se encontram associados à estrutura
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 263
cristalina dos sedimentos estes apresentam uma alta conservatividade, entretanto,
se não existem diferenças significativas na geologia ou tipo de solo na bacia, a
concentração dos elementos traçadores associados à fase cristalina é similar entre as
fontes, ou seja, não apresenta propriedade discriminante.
Um exemplo que ilustra a conservatividade de alguns metais ligados
aos sedimentos é apresentado na Tabela 9.1 (Horowitz, 1991). Neste trabalho, o
autor procurou avaliar a presença de alguns elementos químicos nos diferentes
compartimentos geoquímicos formadores do sedimento. Assim aqueles elementos
químicos encontrados nos componentes geoquímicos, cujo processo de ligação são
mais estáveis (óxidos e fase cristalina), estariam representando uma condição de
conservatividade desse elemento traçador.
264 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
íons por meio de reações de adsorção e desorção, respectivamente. Segundo
McBride (1994), adsorção é a transferência de íons da fase aquosa para a fase
sólida; e desorção a transferência da fase sólida para a aquosa. O termo sorção é um
processo complexo que engloba a adsorção e a absorção. A liberação ou a fixação
de poluentes nos sedimentos dependerá das características físicas e químicas
do sedimento, do poluente e do meio em que se encontram. A compreensão dos
diferentes mecanismos de associação entre poluentes e sedimentos (Tabela 9.2) é
fundamental para o entendimento dos níveis reais da concentração de poluentes, e
principalmente do potencial de liberação destes para os sistemas aquáticos (Forstner
& Wittmann, 1983).
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 265
Processo seletivo com sorção preferencial de cátions específicos:
• SiOH-, AlOH2- e AlOH- $ minerais de argila
• FeOH-, MnOH- $ sesquióxidos de ferro e manganês
• Fenólicos e carboxílicos OH- $ substâncias orgânicas (L)
2. Sorção de Ânions
a) sítios de troca positivos dos colóides dos solos
5. Complexos Ternários
a) complexo ternário A, um íon metálico (Mx+), une a superfície (S) com o ânion (An-)
>S-OH + M + A = >S-O-M-A + H+
b) complexo ternário B, na qual um ânion forma uma ponte entre a superfície e o
metal
>S-OH + M + A = >S-A-M + OH-
266 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
aquelas que envolvem mudanças no estado de oxidação dos reagentes, havendo
uma transferência de elétrons entre elementos (Manahan, 2000).
*
+e-
OXIDAÇÃO REDUÇÃO
-e-
Tabela 9.3 – Metais traçadores inorgânicos que podem estar estáveis sobre condições
de oxidação e redução
Metal Condição de oxidação Condição de redução
Cádmio CdCO3 CdS
Cobre Cu2(OH)2CO3 CuS
Ferro Fe2O3 . x(H2O) FeS, FeS2
Mercúrio HgO HgS
Manganês MnO2 . x(H2O) MnS, MnCO3
Níquel Ni(OH)2 , NiCO3 NiS
Chumbo Fe2O3 . x(H2O) PbS
Zinco ZnCO3 , ZnSiO3 ZnS
Fonte: Manahan (2000)
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 267
CO2 O2
troca de elementos
químicos com sedimentos
O2
Oxidação
Redução
Baixo nível de O2
Figura 9.1(b) – Dinâmica dos elementos químicos em corpos de água profundos e com pouca
turbulência.
Fonte: Manahan (2000)
b) Acidez (pH)
Na química ambiental o pH é um parâmetro controlador, influenciando a
troca de íons, dissolução/precipitação, adsorção e reações de complexão. Porém,
268 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
o seu valor corresponde à quantidade de H+, e não de todos os cátions que estão
competindo pelos sítios de adsorção dos sedimentos. Para o caso da capacidade
de troca de cátions a ocorrência de um ambiente ácido irá diminuir a possibilidade
de cátions metálicos e de outros poluentes em fixarem-se aos minerais de argila,
óxidos, colóides, etc. A alta/baixa concentração de íons H+ em um sistema aquoso,
irá determinar a dissolução/adsorção de cátions metálicos pela competição dos sítios
de troca (McBride, 1994; Atkins, 1978).
Como mostra a Figura 9.2, a adsorção de metais é altamente dependente
do pH e de forma não linear. Isto significa que pequenas alterações no pH causam
um grande aumento ou decréscimo nos níveis de metal dissolvidos. Uma diminuição
de duas unidades na escala de pH pode dissociar, praticamente, 100% dos metais.
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 269
9.4 | IDENTIFICAÇÃO DE FONTES DE SEDIMENTOS
9.4.1 Histórico
270 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
apresentavam diferenças na composição química e física dos solos. Desta forma,
foram encontrados pequenos grupos de variáveis, capazes de explicar a variabilidade
total das fontes. O segundo passo importante dado em direção à evolução do
método de identificação de fontes de sedimentos foi a classificação das amostras
de sedimento em suspensão, a partir de um modelo estatístico multivariado (Peart &
Walling, 1986). O trabalho deteve-se na distinção dos sedimentos provenientes do
leito dos rios e dos solos superficiais.
A utilização do Cs137 como elemento traçador determinou um avanço importante
na modelagem direta dos processos erosivos. O uso desse elemento possibilitou uma
grande evolução no entendimento da dinâmica dos processos de transferência dos
sedimentos da bacia vertente para a calha fluvial. Desde 1945, testes e acidentes
nucleares injetaram na atmosfera uma grande quantidade deste radionucleotídeo,
que, gradativamente, se depositou em toda a superfície terrestre, principalmente no
hemisfério norte. As partículas de argila da superfície do solo adsorvem fortemente
o Cs137, tornando-o um bom traçador para discriminar fontes oriundas de camadas
superficiais e subsuperficiais do solo. Walling (1990) sugere que as concentrações
de Cs137 do material das fontes e sedimentos em suspensão oferecem uma excelente
capacidade identificadora de fontes de sedimentos. Diferentes fontes de sedimentos
são caracterizadas por diferentes concentrações de Cs137, as quais irão refletir seu
grau de incorporação com o solo e a profundidade do processo erosivo. O solo
atingido pela precipitação do Cs137 adsorverá fortemente o elemento na fração fina,
sendo preferencialmente concentrado perto da superfície. Nos locais em que o solo é
cultivado, a camada superficial é constantemente revolvida, diluindo a concentração
do Cs137, sendo que a concentração do Cs137 na superfície do solo será menor que
aquelas encontradas em solos não cultivados (Walling & Bradley, 1988; Walling &
Bradley, 1990). Além do Cs137, outros elementos radioativos, como Pb210, Be7, Ra226,
também são utilizados para identificação de fontes de sedimentos (Peters et al.,
1993; Foster et al., 2002; Walling & Quine, 1991; Olley et al., 1993).
Outras propriedades traçadoras que têm sido utilizadas são os constituintes
orgânicos do solo, como o carbono e o nitrogênio. Peart (1995) monitorou uma
bacia de 20 km² na região de Hong Kong com o objetivo de reconhecer duas fontes
potenciais a partir da análise de parâmetros orgânicos nos sedimentos em suspensão
e do leito. As fontes avaliadas foram solos superficiais e subsuperficiais, este último
foi dividido em dois grupos: estradas e construções. O primeiro resultado foi que o
parâmetro nitrogênio total não apresentou diferenças significativas entre as fontes;
e, por isso, não poderia ser utilizado como discriminante. Os outros três parâmetros,
carbono orgânico, relação carbono/nitrogênio e matéria orgânica total, apresentaram
diferenças entre o material superficial e subsuperficial, mas não foi possível separar
as duas fontes do grupo dos solos subsuperficiais (estradas e construções). Para os
sedimentos do leito, as médias dos parâmetros carbono orgânico e matéria orgânica
total estiveram próximos aos valores da fonte solos subsuperficiais, entretanto,
os valores da razão C/N encontrados foram próximos aos valores da fonte solo
superficial, sugerindo que poderia haver contribuição desta fonte também. Para os
sedimentos em suspensão, os valores da matéria orgânica total assemelham-se com
a fonte solos superficiais. Em contraste, o valor de carbono orgânico situava-se entre
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 271
as fontes solo superficial e subsuperficial, o que sugeria que a fonte subsuperficial
poderia também estar contribuindo para os sedimentos em suspensão (Peart,
1995). O mesmo autor concluiu que, quando há mobilidade dos sedimentos do leito,
é possível usar os parâmetros orgânicos para a identificação de fontes. Por outro
lado, na condição onde os sedimentos do leito estão estáveis, a matéria orgânica de
plantas aquáticas e da ictiofauna se acumula e, certamente, altera as relações C/N
e os valores de matéria orgânica total. Tal fato impossibilitaria a comparação dos
sedimentos no rio com aqueles das fontes.
Outra propriedade importante dos sedimentos utilizada para a identificação
das fontes de sedimentos está relacionada com as propriedades magnéticas.
Propriedades magnéticas ocorrem devido à presença de minerais magnéticos que
compõem a massa dos sedimentos. A partir da intensidade magnética emitida por
estes materiais, parâmetros são estabelecidos, e estes são utilizados como variáveis
traçadoras. Tal como na outra propriedade, são comparadas as características
magnéticas das fontes com as mesmas características medidas nos sedimentos
erodidos presentes no rio. Entretanto, existem componentes dos sedimentos aonde
essas propriedades são mais efetivas, bem como as faixas granulométricas.
Caitcheon (1998) estudou quais os componentes do material de fundo de um
rio que apresentam propriedades magnéticas que podem auxiliar na determinação
das fontes de sedimentos em bacias hidrográficas. O estudo mediu a contribuição
das diferentes frações que compõem os sedimentos: fração leve (componentes
associados à superfície dos minerais e componentes constituintes das partículas) e
fração mineral pesada. Foi analisada a areia fina de amostras de sedimento de fundo.
Os resultados mostram que mais que 60% dos componentes minerais magnéticos
estão associados com as partículas de sedimentos (fração leve).
Horowitz (1991) estudou em quais frações granulométricas ocorre maior
reatividade (magnetismo), possibilitando usá-las como elementos traçadores. Os
resultados demonstram que a eficiência da utilização das propriedades magnéticas
é maior nos sedimentos finos.
A distribuição dos tamanhos das partículas, a constituição química, a morfologia
e a mineralogia foram analisadas por Boer & Crosby (1995) para distinguir fontes de
sedimentos de áreas de uso com floresta e com agricultura por meio de microscopia
eletrônica de varredura e espectometria. A análise da distribuição do tamanho das
partículas, a mineralogia e a constituição química não foram capazes de distinguir
as fontes. Entretanto, uma importante diferença ocorreu na morfologia das argilas.
As argilas provenientes das áreas florestais apresentaram formas irregulares, e as
argilas provenientes das áreas agrícolas apresentaram formas arredondadas. Isto
reflete a alteração das condições físicas do solo que a mecanização impõe aos solos
agrícolas. O revolvimento pelas práticas de cultivo causa o aumento do atrito entre
as partículas, que gradativamente perdem suas formas originais, assumindo formas
arredondadas. Desta forma, a microscopia eletrônica pode auxiliar na comparação
entre os sedimentos em suspensão com os sedimentos das fontes.
A grande evolução do método de identificação de fontes de sedimentos por
propriedades traçadoras ocorreu na década de noventa quando se passou a utilizar
um conjunto de propriedades traçadoras combinado com uso de testes estatísticos
272 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
rigorosos e um modelo que permitiu não só discriminar fontes, mas também informar
a contribuição de cada fonte. Um trabalho pioneiro nesta nova direção foi realizado
por Collins et al. (1997), que aplicou uma técnica de identificação de fontes em
duas bacias experimentais, utilizando um modelo multivariado que combina várias
propriedades. A principal contribuição deste trabalho foi a descrição quantitativa
dos tipos de fontes em quatro níveis de avaliação (contribuição média das fontes
no período de monitoramento, variabilidade sazonal, variabilidade entre eventos e
variabilidade nos eventos de chuva-vazão).
Dois aspectos devem ser considerados como importantes na aplicação
do método de identificação de fontes de sedimentos. O primeiro diz respeito à
importância de selecionar corretamente o grupo de parâmetros discriminantes
das fontes de sedimentos (Collins & Walling, 2002). Este fato é muito importante
para a aplicação das técnicas de traçamento de sedimentos, visto que cada região
geográfica apresenta particularidades geológicas e pedológicas importantes que
podem auxiliar na capacidade discriminante das fontes. Por exemplo, nas regiões
tropicais o grupo dos óxidos de Mn, Fe e Al podem ser considerados elementos
com grande potencial de discriminação de fontes. O segundo aspecto diz respeito
ao uso de composições de propriedades traçantes combinadas com procedimentos
estatísticos eficientes e adequados, como análise de discriminação e classificação
multivariada. A combinação deste procedimento possibilita a identificação de fontes
com um baixo grau de incerteza.
Fatores limitantes relacionados com a técnica de identificação das fontes de
sedimentos foram discutidos por Symader & Strunk (1992) e Small & Rowan (2002).
Segundo esses autores, os fatores limitantes da aplicação do método podem ser
agrupados em três fatores:
a) efeito de enriquecimento dos sedimentos - o processo seletivo da erosão
hídrica remove e transporta em maiores quantidades as frações finas
(enriquecimento físico), e como as argilas apresentam maior reatividade,
os teores químicos vinculados com o enriquecimento da matéria orgânica
podem aumentar significativamente, impossibilitando a comparação
direta entre sedimentos em suspensão e fontes;
b) efeito de conservação das propriedades físico-químicas e magnéticas
utilizadas como traçadoras – em condições de ambiente fluvial ocorrem
alterações químicas, físicas e biológicas (pH, redox, concentração iônica,
oxigênio dissolvido, biodisponibilidade, etc.) diferentes dos ecossitemas
terrestres sendo que essa alteração poderia influenciar as condições das
propriedades dos sedimentos utilizadas como traçadoras;
c) efeito do tempo de residência dos sedimentos na calha fluvial – condições
de longo tempo de armazenamento de sedimentos na calha fluvial e
posterior remobilização dos sedimentos possibilitam maiores chances das
propriedades traçadoras serem modificadas em relação a sua condição
de origem no ecossistema terrestre.
Por outro lado Walling & Collins (2000) e Förstner & Wittmann (1983)
consideram que as limitações da aplicação do método de identificação das fontes
de sedimentos discutidos no parágrafo acima poderiam ser superadas a partir das
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 273
seguintes condições:
a) determinação das frações específicas de cada elemento, que sejam mais
estáveis;
b) seleção das propriedades que apresentem uma dinâmica geoquímica
mais conservativa sobre as condições ambientais da área de estudo;
c) avaliação da proximidade das áreas fontes em relação ao local de
amostragem dos sedimentos em suspensão;
d) aplicação de fatores de correção, como a granulometria do material e as
quantidades de matéria orgânica;
e) utilização de modelos estatísticos mais robustos e com a análise de
incertezas.
274 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
Figura 9.3 – Localização da área de estudo.
Tabela 9.4 – Porcentagem dos diferentes usos e manejo do solo em relação a área
total da bacia experimental de Arvorezinha
Floresta, pastagem Lavouras sem Lavouras com
Períodos e pousio conservação do solo conservação do solo
(Abril-Março)
% % %
2001-2002 67,9 32,1 0
2002-2003 55,9 44,1 0
2003-2004 49,3 29,7 21,0
2004-2005 38,6 42,3 19,1
2005-2006 36,0 20,8 43,2
Fonte: Minella et al. (2008)
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 275
conservação do solo (2002-2004) e num período com conservação do solo (2004-
2006).
276 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
9.4.2.3 Caracterização física e química das amostras
Onde:
Zsi é a concentração corrigida das fontes e do elemento químico analisado (i);
Co é a concentração média original do elemento químico analisado; e,
Fars é a porcentagem da fração maior que 63 μm das amostras da fonte.
12 k
Rs2
H
n(n 1) s1 nl
3(n 1) (Equação 9.4)
Onde:
Rs refere-se à soma dos ranks ocupados pela fonte s;
nl é o número de observações da fonte s;
n a soma dos nl’s;
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 277
k o número de fontes.
Para cada variável o teste foi aplicado verificando-se sua capacidade
discriminante entre as fontes. A hipótese nula (H0) a ser testada é que as populações
são idênticas, e a hipótese alternativa (H1) é que as populações diferem.
Quando o valor de H calculado exceder o valor crítico de H, com k-1 graus de
liberdade e grau de significância 5%, dizemos que a hipótese nula deve ser rejeitada,
ou seja, a probabilidade é pequena (5% ou menos) de serem observadas diferenças
entre as amostras, se as observações são provenientes da mesma população, ou
seja, a variável apresenta capacidade discriminante entre as fontes (Tabela 9.5).
Os resultados do teste Kruskal-Wallis mostra que 9 elementos foram
selecionados usando um nível de significância de 99% (Hcrítico = 9,21), e 10
elementos foram selecionados quando o nível de significância foi reduzido para 90%
(Hcrítico = 4,61). Esse conjunto representa um número suficiente de elementos para
o procedimento de identificação das fontes; além disso, são distintos em relação a
suas propriedades químicas e ambientais (Minella et al., 2008).
278 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
controles e comportamentos do processo de emissão de sedimentos para maximizar
o grau de discriminação fornecido pelo conjunto de variáveis (Collins et al., 1997). Isso
foi realizado com o auxílio do programa GENSTAT@, através de um algoritmo do tipo
“stepwise”, baseado na minimização do parâmetro Wilks’ lambda (K*) (Equação 9.5),
teste F de Snedecor e a distribuição Qui-quadrada (|2) (Johnson & Wichern, 1992).
W
(Equação 9.5)
B W
Onde:
|W| é o determinante da matriz da soma dos quadrados devido ao erro;
|B + W| é o determinante da matriz da soma dos quadrados totais corrigido
pela média, sendo que B é a matriz da soma dos quadrados devido ao tratamento.
Quanto menor for K*, a hipótese de rejeitar H0 é mais evidente, indicando que
o conjunto de variáveis testadas apresenta capacidade discriminante. A comparação
dos valores de K* determinou o melhor conjunto de variáveis que maximiza a análise
discriminante e que minimiza a quantidade de variáveis a serem utilizadas, para as
quais os resíduos (erros) são minimizados.
Os resultados da análise de discriminação multivariada, através da
determinação dos parâmetros Wilk`s Lambda (K*), aproximação do teste F de
Snedecor e distribuição Qui-quadrado (|2), determinaram o grupo de variáveis que
otimiza a discriminação das fontes e diminui a dimensionalidade (Tabela 9.6). O
método testou a contribuição de cada variável e selecionou o menor conjunto que
minimiza o valor de K* e os correspondentes valores de F e |2.
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 279
utilizadas como variáveis traços, apesar de selecionadas na análise discriminante.
As concentrações destes elementos nos sedimentos em suspensão apresentaram
enriquecimento, acima dos quais os fatores de correção são capazes de corrigir. A
hipótese provável é que o aporte de adubos solúveis e os dejetos animais lançados
na rede de drenagem estão aumentando a adsorção de N e COT nos sedimentos,
além da variabilidade temporal de produção de biomassa.
Onde:
yi é o valor da variável i obtida no sedimento em suspensão;
ais são os coeficientes do modelo linear (concentração do elemento químico
i na fonte s);
Ps é a proporção da massa da fonte s, que podem ser apresentados como
um conjunto de funções lineares de m variáveis e n fontes.
A estimativa dos valores de P’s é realizada pela minimização de uma função
objetiva (Walling & Woodward, 1995; Collins et al., 1997):
2
m
n
Ci Ps C si Z s / C
i (Equação 9.7)
i 1
s 1
Onde:
I é a concentração da variável traçadora i na amostra de sedimento em
suspensão;
Ps é a proporção de contribuição da fonte s;
Csi é o valor médio da variável traçadora i obtida na fonte s;
Zs é o fator de correção da granulometria para a fonte s.
Os resultados finais da proporção de cada fonte são apresentados na Tabela
9.7. O modelo de otimização foi eficiente na minimização da função objetivo e na
determinação dos valores da contribuição relativa das três fontes de sedimentos
para cada evento. Os baixos valores dos erros médios relativos (EMR) demonstram
que os resultados da minimização da função objetivo são aceitáveis. Os resultados
fornecem as estimativas da contribuição relativa das três fontes para a produção de
sedimentos de cada evento amostrado e uma estimativa da contribuição média total
280 M Capítulo 9 | Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...]
dos eventos ponderada pela produção de sedimentos medida das três fontes de
sedimentos para os períodos pré e pós-tratamento.
Aplicação das características químicas e físicas dos sedimentos na modelagem dos processos [...] | Capítulo 9L 281
Os resultados apresentados indicam que a melhoria nas práticas de manejo
do solo na bacia de Arvorezinha resultou numa significativa mudança na importância
relativa das três fontes de sedimentos. Uma comparação entre a média ponderada
dos períodos sem e com conservação do solo indicam que as contribuições das
lavouras e das estradas reduziram de 61% e 37% para 53% e 29% respectivamente,
enquanto a contribuição do canal aumentou de 2% para 18%.
A contribuição relativa das fontes foi sensível quando houve sedimento
disponível nas mesmas, como na retificação das estradas ou no revolvimento das
lavouras, a proporção é sensivelmente alterada. Igual suposição é aplicada quando
protegemos uma fonte e mantemos a outra em condições normais. Por exemplo,
quando a cobertura vegetal nas lavouras aumenta no inverno e as estradas
permanecem nas mesmas condições.
A redução na importância relativa das lavouras e estradas como fontes
de sedimentos é consistente com a adoção da prática de cultivo mínimo, com a
consequente redução do escoamento superficial, redução na erosão e redução da
mobilização de sedimentos das lavouras. O aumento na importância da contribuição
da fonte canal de drenagem reflete o aumento na capacidade de transporte do
escoamento proveniente das lavouras e estradas com menor concentração de
sedimentos (Minella et al., 2008).
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