Você está na página 1de 50

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 2

2 Agronegócio ................................................................................................ 3

3 Histórico e Evolução do Agronegócio Brasileiro ......................................... 4

3.1 Perspectivas Para o Agronegócio Brasileiro ........................................ 6

3.2 Importância Econômico-Social do Agronegócio Brasileiro ................... 7

3.3 Desafios do Agronegócio no Brasil ...................................................... 8

4 A EVOLUÇÃO DO AGRONEGÓCIO ........................................................ 12

5 Introdução Ao Agronegócio....................................................................... 13

5.1 Os territórios e a formação das aglomerações produtivas locais ....... 15

5.2 Os Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) ..................................... 18

6 Sistemas e cadeias agroalimentares e agroindustriais ............................. 22

6.1 Níveis de análise dos sistemas agroalimentares e agroindustriais .... 22

6.2 Cadeias Produtivas Agroalimentares e Agroindustriais (CPAs) ......... 26

6.3 Gestão de Sistemas e Cadeias Produtivas Agroalimentares e


Agroindustriais ....................................................................................................... 28

7 As aglomerações produtivas agroalimentares e agroindustriais dos


territórios rurais ......................................................................................................... 30

7.1 Os distritos agrícolas e agroindustriais italianos ................................. 32

7.2 Revisão de literatura........................................................................... 38

8 OS 10 NOVOS POLOS DO AGRONEGÓCIO .......................................... 39

9 Terra é o diferencial do Brasil ................................................................... 41

9.1 CANAIS DE ESCOAMENTO .............................................................. 42

10 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO AGRONEGÓCIO NO


BRASIL 45

11 BIBLIOGRAFIA ...................................................................................... 49
1 INTRODUÇÃO

Fonte:www.correio.rac.com.br

Sob o ponto de vista da economia, o agronegócio tem sido o responsável pelo


superávit da balança comercial, gerador de empregos, e fator irrigante de toda uma
nova sociedade que se espraia pelo interior do País. Tivemos uma queda na safra de
grãos 2016/17, predominantemente pelo fator clima, no qual recuamos para cerca de
190 milhões de toneladas. Porém, as perspectivas da nova safra, 2017/2018 apontam
para uma super safra, acima de 213 milhões de toneladas de grãos.
Dentro das atividades do agro, os fatores incontroláveis atuam de maneira
impiedosa. Estamos contando com uma perspectiva de clima normal, o que nos
permite projetar esse crescimento na safra de grãos. Os preços internacionais
também não apresentam sinais de queda nas principais culturas, e temos melhora
dos preços do açúcar, o que é estimulante para o surrado setor sucroalcooleiro, que
apanhou muito por conta da política de preços dos combustíveis.
Portanto o Brasil é grande no agronegócio, o quarto maior exportador mundial
quando incluímos todas as cadeias produtivas com o pós-porteira das fazendas, onde
despontam Estados Unidos, Holanda, Alemanha e Brasil.
Somos hoje uma agrossociedade. Isso quer dizer uma civilização que se
esparrama por todo o território, onde a base da riqueza econômica é oriunda da
moderna agropecuária, mas toda uma rede de comercio, serviços e indústrias se
estabelecem.

2 AGRONEGÓCIO

Agronegócio também chamado de agribusiness, segundo Batalha (2002), é o


conjunto de negócios relacionados à agricultura dentro do ponto de vista econômico.
Costuma-se dividir o estudo do agronegócio em três partes. A primeira parte trata dos
negócios agropecuários propriamente ditos (ou de dentro da porteira) que
representam os produtores rurais, sejam eles pequenos, médios ou grandes
produtores, constituídos na forma de pessoas físicas (fazendeiros ou camponeses) ou
de pessoas jurídicas (empresas).
Na segunda parte, os negócios à montante (ou da pré-porteira) aos da
agropecuária, representados pelas indústrias e comércios que fornecem insumos para
a produção rural. Por exemplo, os fabricantes de fertilizantes, defensivos químicos,
equipamentos, etc. E, na terceira parte, estão os negócios à jusante dos negócios
agropecuários, ou de pós-porteira, onde estão a compra, transporte, beneficiamento
e venda dos produtos agropecuários, até chegar ao consumidor final. Enquadram-se
nesta definição os frigoríficos, as indústrias têxteis e calçadistas, empacotadores,
supermercados e distribuidores de alimentos.
A definição correta de agronegócio é muito mais antiga do que se imagina e
incorpora qualquer tipo de empresa rural. Em 1957, dois pesquisadores americanos
reconheceram que não seria mais adequado analisar a economia nos moldes
tradicionais, com setores isolados que fabricavam insumos, processavam os produtos
e os comercializavam. (JUNIOR PADILHA, 2004).
Já para Callado (2006), o agronegócio é um conjunto de empresas que
produzem insumos agrícolas, as propriedades rurais, as empresas de processamento
e toda a distribuição. No Brasil o termo é usado quando se refere a um tipo especial
de produção agrícola, caracterizada pela agricultura em grande escala, baseada no
plantio ou na criação de rebanhos e em grandes extensões de terra. Estes negócios,
via de regra, se fundamentam na propriedade latifundiária bem como na prática de
arrendamentos.
O termo inclui todos os setores relacionados às plantações e às criações de
animais, como comércio de sementes e de máquinas e equipamentos, as indústrias
agrícolas, os abatedouros, o transporte da produção e as atividades voltadas à
distribuição. Este tipo de produção agrícola também é chamada de agribusiness ou
agrobusiness. (WIKIPÉDIA, 2009).
O conceito de agronegócio implica na ideia de cadeia produtiva, com seus elos
entrelaçados e sua interdependência. A agricultura moderna, mesmo a familiar,
extrapolou os limites físicos da propriedade. Depende cada vez mais de insumos
adquiridos fora da fazenda e sua decisão de o que, quanto e de que como produzir,
está fortemente relacionada ao mercado consumidor. Há diferentes agentes no
processo produtivo, inclusive o agricultor, em uma permanente negociação de
quantidades e preços.
Davis e Goldberg (1957) definem, o agronegócio como sendo a soma total das
operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas; das operações de
produção na fazenda; do armazenamento, processamento e distribuição dos produtos
agrícolas e itens produzidos a partir deles. Este conceito procura abarcar todos os
vínculos intersetoriais do setor agrícola, deslocando o centro de análise de dentro para
fora da fazenda, substituindo a análise parcial dos estudos sobre economia agrícola
pela análise sistêmica da agricultura.
No Brasil, essa abordagem sistêmica foi utilizada explicitamente por Araújo,
Wedekin e Pinazza (1990), com a finalidade de levantar as dimensões básicas do
agribusiness brasileiro. Estes autores concluíram que o agribusiness brasileiro
representava 46% dos gastos relativos ao consumo das famílias, o que correspondia
ao equivalente a 32% do PIB brasileiro em 1980. Assim, o Agronegócio é toda relação
comercial envolvendo produtos agrícolas.

3 HISTÓRICO E EVOLUÇÃO DO AGRONEGÓCIO BRASILEIRO

A história econômica brasileira, com suas implicações sociais, políticas e


culturais, têm fortes raízes junto ao agronegócio. Foi à exploração de uma madeira, o
pau Brasil, que deu nome definitivo ao nosso País. A ocupação do território brasileiro
iniciada durante o século XVI e apoiada na doação de terras por intermédio de
sesmarias, monocultura da cana-de-açúcar e no regime escravocrata foi responsável
pela expansão do latifúndio. Antes da expansão deste sistema monocultor, já havia
se instalado no país como primeira atividade econômica a extração do pau-brasil.

Fonte:www.sintecsys.com

A extinção do pau-brasil coincidiu com o início da implantação da lavoura


canavieira, que durante esse período serviu de base e sustentação para a economia.
O processo de colonização e crescimento está ligado a vários ciclos agroindustriais,
como a cana-de-açúcar, com grande desenvolvimento no Nordeste; a borracha dá
exuberância à região amazônica, transformando Manaus numa metrópole mundial, no
início do século, logo depois o café torna-se a mais importante fonte de poupança
interna e o principal financiador do processo de industrialização; mais recentemente,
a soja ganha destaque como principal commodity brasileira de exportação, (RENAI,
2007).
Da poupança da agricultura, instalam-se agroindústrias, como a do vinho e dos
móveis, da carne bovina, de suínos e aves. O progresso do Sul do Brasil também está
ligado ao agronegócio. A pecuária domina os pampas; a exploração da madeira nas
serras e a agricultura se desenvolvem com a participação das várias etnias que
compõem o mosaico populacional da região.
Em síntese, fica evidente que, a partir da década de 1930, com maior
intensidade na de 1960 até a de 1980, o produtor rural passou, gradativamente, a ser
um especialista, envolvido quase exclusivamente com as operações de cultivo e
criação de animais; por sua vez, as funções de armazenar, processar e distribuir
produtos agropecuários, bem como as de suprir insumos e fatores de produção, foram
transferidas para organizações produtivas e de serviços nacionais e/ou internacionais
fora da fazenda, impulsionando, com isso, ainda mais a indústria de base agrícola.
(VILARINHO, 2006).
O agronegócio brasileiro passou por um grande impulso entre as décadas de
1970 e 1990, com o desenvolvimento da Ciência e Tecnologia, proporcionando o
domínio de regiões antes consideradas inóspitas para a agropecuária. Isso fez surgir
à oferta de um grande número de produtos. O país passou então a ser considerado
como aquele que dominou a agricultura tropical, chamando a atenção de todos os
nossos parceiros e competidores em nível mundial.
Atualmente, produtos oriundos do complexo de soja, carnes e derivados de
animais, açúcar e álcool, madeira (papel, celulose e outros), café, chá, fumo, tabaco,
algodão e fibras têxteis vegetais, frutas e derivados, hortaliças, cereais e derivados e
a borracha natural são itens importantes da pauta de exportação brasileira
(VILARINHO, 2006). A evolução da composição do Complexo do Agronegócio
confirma que as cadeias do agronegócio adicionam valor às matérias-primas agrícolas
onde o setor de armazenamento, processamento e distribuição final constituem o
vetor de maior propulsão no valor da produção vendida ao consumidor, consolidado
na forte rede de interligação entre a agricultura e a indústria.

3.1 Perspectivas Para o Agronegócio Brasileiro

Para Contini (2001), as perspectivas são promissoras. O Brasil detém terras


abundantes, planas e baratas, como são os cerrados com uma reserva de 80 milhões
de hectares, dispõe de produtores rurais experimentes e capazes de transformar
essas potencialidades em produtos comercializáveis e detém um estoque de
conhecimentos e tecnologias agropecuárias, transformadoras de recursos em
produtos. Por qualquer ângulo que se analise o mercado, o tamanho que o Brasil
adquiriu no campo do agronegócio é impressionante.
Por conta de condições extremamente favoráveis para a contínua expansão
deste mercado, como farto espaço territorial, mão-de-obra acessível e diversas
questões ligadas à conjuntura internacional, o país é visto por muitos especialistas
como principal candidato ao posto de grande fornecedor alimentício global.
Até 2015, a participação nacional no mercado internacional de soja deve
crescer dos atuais 36% para 46%. No caso do frango, o salto será de 58% para 66%.
Nas áreas em que o país ainda tem uma fatia pequena do comércio mundial, as
evoluções devem ser muito maiores. Na suinocultura, por exemplo, de acordo com
previsões dos especialistas da área, o Brasil deve quadruplicar sua participação,
conquistando metade do mercado internacional. Num futuro próximo, a suinocultura
será tão importante para a balança comercial do país quanto são hoje o frango e a
carne bovina (NETO, 2007 apud SEIBEL, 2007).
O agronegócio é o maior negócio mundial e brasileiro. No mundo, representa a
geração de U$ 6,5 trilhões/ano e, no Brasil, em torno de R$ 350 bilhões, ou 26% do
PIB (29%, segundo a Confederação Nacional da Agricultura - CNA). A maior parte
deste montante refere-se a negócios fora das porteiras, abrangendo o suprimento de
insumos, o beneficiamento/processamento das matérias-primas e a distribuição dos
produtos. (STEFANELO, 2002). Estes são pontos que reforçam a importância do
agronegócio no Brasil, além de sua grande competitividade, utilização de alta
tecnologia e gerador de empregos e riquezas para o país.

3.2 Importância Econômico-Social do Agronegócio Brasileiro

O agronegócio é também importante na geração de renda e riqueza do País.


No aspecto social, a agricultura é o setor econômico que ainda mais ocupa mão-de-
obra, ao redor de 17 milhões de pessoas, que somados a 10 milhões dos demais
componentes do agronegócio, representa 27 milhões de pessoas, no total. É o setor
que ocupa mais mão-de-obra em relação ao valor de produção: para cada R$ 1
milhão, o número de ocupados, em 1995, era de 182 para a agropecuária, 25 para a
extração mineral, 38 para a construção civil. (CONTINI, 2001).
O agronegócio como um todo envolve mais de 1/3 do PIB brasileiro. Mesmo
reconhecendo-se os benefícios da transformação de uma sociedade agrária para uma
industrial-urbana, não se pode esquecer que esta tem capacidade limitada de
absorver mão-de-obra. Principalmente em regiões menos desenvolvidas, os setores
da agricultura, da agroindustrialização e de áreas correlatas serão importantes para o
crescimento da renda e do emprego. (RENAI, 2007).
No contexto da recente crise cambial, o agronegócio tem sido um fator que
minimizou os desequilíbrios das contas externas do Brasil. A agricultura contribuiu
decisivamente para as exportações com saldo comercial setorial positivo da ordem de
US$ 40,18 bilhões de dólares em 2006 e de 49,7 bilhões em 2007.

3.3 Desafios do Agronegócio no Brasil

Fonte:www.portaldoagronegocio.com.br

Segundo indicadores da (Unctad), a Conferência das Nações Unidas para o


Comércio e Desenvolvimento, o Brasil será o maior país agrícola do mundo em dez
anos. Em 2006 as exportações cresceram 19,29% em relação a 2005, em termos de
saldo, a ampliação em 2007 foi de cerca de US$ 58,4 bilhões, um aumento de 10,8%
acima dos US$ 52,04 bilhões de 2006. O país é líder mundial de exportação de açúcar,
café, suco de laranja e soja. Assumiu também a dianteira nos segmentos de carne
bovina e frango, depois de ultrapassar tradicionais concorrentes, como Estados
Unidos e Austrália. Essas boas posições devem consolidar-se ainda mais nos
próximos anos. (BORGES, 2007).
Esse montante coloca o Brasil entre os líderes mundiais na produção de soja,
milho, açúcar, café, carne bovina e de frango. Mas todos esses bons resultados, assim
como as expectativas futuras, correm sérios riscos de sofrer um pesado revés se os
problemas relacionados à infraestrutura logística - o maior obstáculo para o
desenvolvimento do agronegócio do Brasil, não forem solucionados. Um dos grandes
entraves é a infraestrutura, em particular a precariedade da malha rodoviária do país.
De acordo com uma das pesquisas mais recentes sobre o assunto, elaborada
pela CNT Confederação Nacional do Transporte (2007), dos 84.832 quilômetros
avaliados, 37% encontram-se em estado péssimo de conservação e outros 32%
possuem alguma deficiência. Em razão desse tipo de problema, regiões com potencial
no agronegócio, como o Nordeste, ainda não conseguiram deslanchar. O agronegócio
é justamente o que mais sofre com a ineficiência dos canais de transporte, cujas
deficiências são responsáveis por prejuízo correspondente a 16% do PIB, segundo
estudo do Centro de Estudos de Logística da Universidade do Rio de Janeiro.
O gargalo logístico envolve praticamente toda a infraestrutura de transporte do
país. As ferrovias, embora tenham recebido investimentos com a privatização, ainda
estão longe de suprir a demanda do setor de agronegócio e se consolidar como uma
alternativa viável ao transporte rodoviário. Além da ampliação da malha de 30 mil
quilômetros de extensão (praticamente igual à do Japão, país 22 vezes menor que o
Brasil) é urgente a modernização do maquinário. Com os trens e bitolas atuais, a
velocidade média das composições não ultrapassa lentos 25 km/h. (BORGES, 2007).
Ainda de acordo com a mesma fonte, Ao mesmo tempo, deixamos de fazer uso
de canais de transporte de grande potencial, caso dos 42 mil quilômetros de hidrovias,
em que apenas 10 mil quilômetros são efetivamente utilizados. Como resultado,
sistemas como o do Tietê-Paraná, com 2,4 mil quilômetros e que consumiu US$ 2
bilhões em investimentos públicos em vários governos, escoa apenas 2 milhões de
toneladas de carga/ano, apenas 10% de sua capacidade total.
No transporte marítimo de cabotagem (outro canal com grande potencial no
Brasil) assistimos a uma situação semelhante. Embora a privatização tenha
contribuído para a modernização dos portos, o excesso de mão-de-obra (que chega
a ser de três a nove vezes superiores aos portos europeus e sul-americanos) ainda
mantém os padrões de produtividade baixos. Enquanto o índice internacional de
movimentação é de 40 contêineres/hora, nos portos brasileiros essa média é de 27.
É um dos motivos pelos quais todos os anos caminhões formam filas de até 150
quilômetros de extensão para descarregar suas cargas no porto de Paranaguá (PR).
Consciente de que sozinho não conseguirá reverter esse quadro, o governo
federal já busca o apoio da iniciativa privada. Por meio do plano de Parceria Público-
Privada, que pretende investir R$ 13,68 bilhões em 23 projetos de reformas em
rodovias, ferrovias, portos e canais de irrigação nos próximos anos. Na certeza que
só as Parcerias Público-Privada, não será suficiente para dotar o país de bom
infraestrutura, o Governo Federal criou o (PAC) Programa de Aceleração do
Crescimento lançado no começo de 2007, foi concebido para eliminar esse
descompasso e afastar o risco de gargalos nos próximos anos. (PAC, 2009).
O objetivo do programa é aumentar o investimento em infraestrutura para:
eliminar os principais gargalos que podem restringir o crescimento da economia;
reduzir custos e aumentar a produtividade das empresas; estimular o aumento do
investimento privado; e reduzir as desigualdades regionais. Os investimentos em
Infraestrutura logística do PAC previstos até 2010 são de R$ 58 bilhões de reais.
É preciso destacar também que, além dos recursos, a iniciativa privada ainda
tem muito a contribuir para o desenvolvimento da infraestrutura do país, incentivando
a criação de polos intermodais de transporte (integração entre os sistemas rodoviário,
ferroviário, marítimo, fluvial e aéreo) para redução de custos e aumento do nível de
serviços.
Um exemplo do potencial desses polos é representado por um estudo do
Geipot (Empresa Brasileira de Planejamento em Transportes, ligada ao Ministério dos
Transportes). Já em 2000, a empresa alertava que o melhor aproveitamento e a
utilização racional dos canais de transporte seria capaz de economizar em cerca de
US$ 75 milhões os custos anuais de escoamento de grãos. Para ilustrar o que
estamos falando, basta destacar que um único comboio na hidrovia Rio Madeira tem
capacidade para 18 mil toneladas de grãos, substituindo 600 carretas de 30 toneladas
nos eixos Cuiabá (MT) / Santos (SP) e Cuiabá (MT) /Paranaguá (PR). Essa redução
dos custos de transporte contribuiria diretamente para reduzir os custos de nossos
produtos, tornando-os mais competitivos no mercado internacional. Isso sem falar da
economia de combustível e de fretes, na redução do tráfego e desgaste das rodovias.
Outro obstáculo sério ao desenvolvimento pleno do agronegócio está
relacionado ao sistema tributário. Com uma economia aberta ao exterior, isto é com
possibilidade de exportar e importar qualquer produto do agronegócio, a carga
tributária deve ser compatível com a dos nossos competidores. Como nossos
concorrentes, inclusive no Mercosul, têm impostos baixos, fica difícil ao produtor
brasileiro competir nos mercados externos; vezes há que perde o próprio mercado
interno porque os produtos importados chegam mais baratos.

Fonte: www.sfagro.uol.com.br

Não há como o produtor rural e a agroindústria serem competitivos com


governos vorazes em criar novos impostos, aumentar os atuais e com mecanismos
complexos de arrecadação, o que aumenta os custos de produção. A reforma
tributária é urgente, com diminuição da carga e simplificação dos procedimentos na
tributação. Além das medidas de controle sanitário que também estão na relação de
assuntos importantes que vêm sendo negligenciados pelo governo.
O potencial de prejuízos que isso pode acarretar aos produtores já foi
demonstrado nos últimos anos. Por causa do surgimento de focos de febre aftosa em
Mato Grosso do Sul e no Paraná, segundo Seibel (2007) mais de 50 países
impuseram embargo à carne bovina desses estados, que estão entre os maiores
produtores nacionais. Além do embargo à carne bovina, o agronegócio brasileiro
sofreu com o surto de gripe aviária, que prejudicou as exportações mesmo de países
que não registraram casos da doença (como o Brasil).
Como se vê, os obstáculos para o crescimento do agronegócio brasileiro são
imensos, mas as soluções também existem e precisam ser colocadas em prática. O
que esperamos, é que tanto o governo nas esferas federal, estadual e municipal,
quanto a iniciativa privada, mantenham a sua determinação em modernizar a
infraestrutura brasileira, e resolva os problemas domésticos para que o pais se torne
a potência do agronegócio do futuro.

4 A EVOLUÇÃO DO AGRONEGÓCIO

No final da década de 1980, surgiu uma revolução técnico-científica na


agropecuária do Brasil chamada de Revolução Verde, a qual consistia na
disseminação de novas práticas, permitindo um enorme aumento da produção
agrícola. Essas novas práticas utilizavam-se de sementes modificadas, bem como de
insumos industriais. Além disso, melhoravam-se os recursos de irrigação e na
mecanização do trabalho.
Outro fator facilitador do aumento da produção agrícola foi a política de crédito
acessível e de preço mínimo. Esse fato gerou a multiplicação de agências
governamentais de tecnologia agrícola como: Emater, Embrapa e outras.
Com esse desenvolvimento a ampliação da produção foi imensa em espécies
como soja, milho e algodão. Esse desenvolvimento e essa nova tecnologia atingiram
também o setor de pecuária de corte e avicultura.
Nos tempos atuais, o avanço da biotecnologia ainda causa certo desconforto
entre os produtores, principalmente no estado do Paraná, onde o governo adota uma
política anti-transgênicos. Entretanto, pessoas influentes no meio agrícola e até
mesmo o Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, atestam que é inevitável o
avanço dos produtos transgênicos no Brasil e no mundo. Segundo a FAO,
Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação, a produção de
transgênicos poderá frear o aumento do problema da fome, já que a estimativa de
ampliação da população é de 2 bilhões de habitantes nos próximos 25 anos.
Em países como Estados Unidos, China e Argentina, a produção de
transgênicos é extremamente elevada. A soja, nos Estados Unidos, tem sua
composição total formada com 87% de transgênicos. Para o algodão, essa
porcentagem é de 79% e para o milho, 52%. Argentina e EUA responderam por 80%
da área de transgênicos cultivados no mundo, em 2004, enquanto o Brasil participa
com somente 6% do total.
Em todos os países, calcula-se que o consumo de produtos geneticamente
modificados tenha ultrapassado 350 milhões de toneladas e, desde 1994, não foram
registrados problemas de saúde oriundos desses alimentos.
Portanto, ainda resta muito espaço para avançar na produtividade das diversas
espécies de grãos e leguminosas, mas o principal avanço deve ocorrer na cultura e
na mudança de paradigmas do produtor brasileiro.

5 INTRODUÇÃO AO AGRONEGÓCIO

Com o aprofundamento do processo de globalização dos mercados e da


produção, aumentou também a competitividade decorrente de uma expansão da
escala de produção das indústrias, quando as empresas transnacionais procuram
organizar a sua logística dentro de um padrão operacional global.
Esse contexto tem gerado a necessidade de novas formas de atuação e
organização dos atores sociais locais e das empresas, privadas e cooperativas, de
ações institucionais e de uma perspectiva territorial para estudar os processos de
desenvolvimento regional em curso. Essas mudanças vêm acontecendo a partir das
diversificações horizontais, quando ocorrem formações de redes, alianças, fusões e
aquisições, e das diversificações verticais, quando há investimentos nos sistemas e
cadeias produtivas e nas estruturas de distribuição.
Com isso, teve início um processo de reestruturação do sistema produtivo
capitalista, reorganização da produção globalizada e, desde o final dos anos 60,
mudanças no modo de regulação fordista do período pós-guerra. Essa reestruturação
vem provocando significativas mudanças nos processos locais e territoriais de
produção e consumo e aprofundando os desequilíbrios regionais. Esse movimento
vem gerando novas demandas e formas de políticas públicas para o desenvolvimento
dos territórios. Estes, por meio de seus atores locais, tentam responder aos efeitos da
globalização, ao mesmo tempo em que passam a fazer parte, de forma mais ativa, da
trajetória da reestruturação do sistema produtivo global através de modificações,
adaptações e a formação de novos sistemas produtivos locais. Por isso, já se verificam
novas dinâmicas locais de desenvolvimento, em resposta aos efeitos da globalização
e da reestruturação produtiva global sobre os sistemas produtivos locais.
As transformações nos processos produtivos locais e os seus resultados nas
diferentes regiões, associadas às características físicas, político-culturais e
socioeconômicas internas de cada território, deram origem a diversificadas dinâmicas
de desenvolvimento local com trajetórias bastante diferenciadas e complexas. A falta
de conhecimentos sobre essas dinâmicas socioeconômicas locais tornou-se um
importante limitador do alcance dos instrumentos e políticas públicas e privadas de
desenvolvimento e das ações do Estado como agente indutor eficaz desse
desenvolvimento das aglomerações produtivas e, particularmente, dos sistemas e
cadeias agroalimentares e agroindustriais.

Fonte:www.exame.abril.com.br

Como resultado, emergiu a necessidade de mudanças nas formas de


interpretação das teorias e políticas de desenvolvimento regional, abandonando-se os
paradigmas que pretendiam explicar os desequilíbrios regionais a partir apenas da
reorganização da produção globalizada. Isso deu um novo impulso aos estudos que
utilizam abordagens teóricas que, após uma necessária constatação empírica,
pudessem explicar a gênese e o funcionamento das atuais dinâmicas de
desenvolvimento dos territórios.
Os resultados dos estudos sobre reestruturação produtiva, desenvolvimento
regional e aglomerações produtivas territoriais deram origem à perspectiva territorial
do desenvolvimento. Dessa perspectiva surgiram as abordagens dos Clusters ou
Arranjos Produtivos Locais (APLs), dos Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) e dos
distritos industriais, agroindustriais e agrícolas. Mais recentemente, as teorias do
desenvolvimento regional e rural passaram a considerar a dinâmica territorial,
superando a dicotomia rural-urbano, utilizando uma perspectiva multisetorial e
territorial do desenvolvimento, a partir de uma análise da dinâmica socioeconômica
do desenvolvimento dos territórios rurais, com uma abordagem teórica apoiada nos
Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs).

5.1 Os territórios e a formação das aglomerações produtivas locais

Com a atual crise do modelo produtivo mundial e a flexibilização geral


(organizacional e das relações de trabalho) do capitalismo, emerge um novo sistema
de regulação socioeconômica e política, na qual um grande conjunto de pequenas e
médias empresas vem garantindo a diversificação e um aumento na participação da
produção. Com isso, cresceu a importância da produção flexível, da inovação
tecnológica e das vantagens competitivas das aglomerações produtivas locais.
A evolução das novas relações nas sociedades contemporâneas demonstra
empiricamente e valida os conceitos e definições que enfatizam a relação dialética
entre as esferas local e global. As relações sociais locais são reflexos dos fatos e das
ações dos atores globais, enquanto estas são também consequências das relações e
ações locais. O global não existe sem o local, mas, em grande parte, este se
caracteriza pelas relações socioeconômicas estruturadas pelas relações
socioeconômicas e políticas globais. Como há necessidade de se buscar um equilíbrio
entre o global e o local, o foco não pode ser apenas nas relações com o exterior, mas
também nas relações e interações internas dos territórios. Nesse caso, o local reage
e responde aos estímulos provocados pelas ações dos atores globais.
Esse contexto caracteriza o que vem sendo denominado de Desenvolvimento
Territorial (MORAES, 2008).
Na esteira do debate em torno dos caminhos da reestruturação produtiva
capitalista, desde o início da década de 1980, intensificaram-se os estudos que
utilizam as abordagens locais, endógenas e, mais recentemente, territoriais do
desenvolvimento (BENKO, 2002; BENKO; LIPIETZ, 1994; REIS, 2006; SABOURIN,
2002). Assim, diversos estudos, como o de Reis (2006), passaram a dar mais ênfase
aos fatores endógenos, à ação dos atores sociais locais, à dimensão territorial, ao
papel das instituições e às aglomerações produtivas locais nos processos de
desenvolvimento.
Como resultado da relação da sociedade com o seu espaço, o conceito de
território destaca as relações da sociedade local com as suas atividades econômicas
e produtivas. Para que se tenha um território é necessário que a sociedade ou grupos
sociais apropriem-se do espaço físico, que se ampliem e se utilizem as inovações
tecnológicas e que exista um sentimento de pertencimento ou a identificação da
sociedade com o seu território.
As dinâmicas socioeconômicas de desenvolvimento de um território, região ou
conjunto de municípios são condicionadas pela organização local do seu sistema de
produção. Esses sistemas são formados pelas interações entre as empresas locais,
propiciando economias de escala, de escopo, de proximidade ou de aglomeração.
Essas geram vários mercados internos e áreas de contato com o exterior,
facilitando as trocas de informações e conhecimentos e outros bens e serviços.
Diferentemente do crescimento industrial verificado até o final dos anos 1970, os
resultados de uma ampla variedade de estudos indicam uma crescente importância
atribuída aos territórios e às aglomerações produtivas locais e o aparecimento de
novas formas de segmentação dessas (MORAES, 2008).
Uma aglomeração produtiva é a concentração de atividades similares ou
interdependentes em um determinado espaço ou território, não importando o tamanho
das empresas, nem a natureza da atividade econômica desenvolvida. Essas
atividades podem pertencer ao setor agrícola, industrial ou de serviços. Pode incluir
desde estruturas artesanais, com pequeno dinamismo, até arranjos que comportem
uma grande divisão de trabalho entre as empresas. Geralmente, os produtos
resultantes têm um elevado conteúdo tecnológico. Dentro do aglomerado, a divisão
do trabalho entre as empresas permite que o processo produtivo ganhe flexibilidade e
eficiência, já que as empresas são obrigadas a se tornarem competitivas nas suas
atividades. A concentração de produtores especializados estimula o desdobramento
da cadeia produtiva a montante, principalmente pelo surgimento de fornecedores de
matérias-primas, máquinas e equipamentos, peças de reposição e assistência
técnica, além de serviços especializados. Essa concentração estimula também o
desenvolvimento da cadeia produtiva a jusante, por meio da atração de empresas
especializadas nestes segmentos e do surgimento de agentes comerciais que levam
os produtos para mercados distantes (REIS, 1992).
Assim, emerge um debate em torno da formação e do papel das aglomerações
produtivas locais ou localizadas, resultando nas abordagens teóricas dos Arranjos
Produtivos Locais (APLs), dos Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) e dos
Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs). Esses SIALs são estruturados a partir
dos sistemas (SAGs) e das cadeias produtivas (CPA) agroalimentares e
agroindustriais presentes nos territórios rurais. Acredita-se que essas abordagens,
além de contribuírem para fornecer algumas pistas para as questões do
desenvolvimento local, possam também servir de base para políticas e instrumentos
de produção e desenvolvimento de sistemas e cadeias agroalimentares e
agroindustriais, mais ajustados ao perfil específico de cada território rural e de suas
potencialidades locais.

Fonte:www.foconopoder.com

Algumas indicações sobre as origens dos estudos sobre os territórios, SPLs,


APLs podem ser encontradas nas abordagens teóricas que tratam da concentração
espacial de empresas e das principais tipologias dos aglomerados produtivos. Como
essas têm implicações diretas na formulação de políticas industriais, podem contribuir
também para as políticas de desenvolvimento de uma determinada região ou território.
Assim, muda o enfoque que percebe a empresa como uma unidade autônoma
para outro, em que a empresa passa a ser analisada como parte do ambiente
socioeconômico e físico, ao qual ela pertence. Esse é o ambiente socioterritorial onde
ocorre o processo produtivo que, consequentemente, transforma-se em uma nova
unidade de produção e análise.
Nesse contexto, os Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) e, particularmente,
os Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs), nos territórios rurais, aparecem
como mecanismo de mediação entre os efeitos da globalização e as dinâmicas
socioeconômicas locais de desenvolvimento dos territórios, através da coordenação,
aproveitando as oportunidades externas e as potencialidades endógenas desses
territórios. Estes, então, passam a ser representados pelas suas dinâmicas locais de
desenvolvimento e tomam a forma de SPLs e SIALs. Assim, os territórios podem ser
analisados sob o ponto de vista organizacional, produtivo, social, institucional e de
suas articulações externas e internas. A partir desse mecanismo, atores e instituições
passam a gerenciar a produção e os recursos endógenos, executando ações de
coordenação do território e de suas aglomerações produtivas.

5.2 Os Sistemas Produtivos Localizados (SPLs)

Os estudos sobre os Sistemas Produtivos Localizados (SPLs) têm origem nos


trabalhos de Alfred Marshall, ainda no final do século XIX, sobre a organização da
produção, identificando a formação dos distritos industriais. Esses estudos serviram
de ponto de partida para o surgimento de um leque de variantes a partir do conceito
de distrito industrial, que buscam identificar e classificar a formação de aglomerações
produtivas.
Marshall destacava a localização das indústrias como fator gerador de diversas
vantagens para a população local dos territórios, tais como a transmissão quase
espontânea dos conhecimentos do ofício de uma geração a outra, o desenvolvimento
de tecnologias inovadoras relativas ao ofício e à transmissão das formas de
organização do negócio entre os atores, as facilidades geradas pela concentração de
mão de obra especializada, para os trabalhadores encontrarem trabalho e para as
empresas encontrarem mão de obra de boa qualidade e o aumento da concorrência
de fornecedores e de serviços associados, favorecido pela concentração das
indústrias, o que diminui os custos de produção das empresas (MARSHALL, 1992).
A abordagem dos SPLs tanto pode englobar uma cadeia produtiva estruturada
localmente como se concentrar em um ou mais segmentos de uma cadeia produtiva
específica de abrangência nacional e/ou internacional. Entre os atores que atuam nos
SPLs, incluem-se, entre outros, o Estado, empresas produtoras, fornecedoras de
insumos, financeiras e prestadoras de serviços, associações de classe, associações
comerciais, instituições de suporte, serviços, fomento, ensino e pesquisa (POMMIER,
2002).
No Brasil, a Rede de Pesquisa em Sistemas Produtivos e Inovativos Locais
(Redesist), coordenada pelo Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de
Janeiro (CASSIOLATO; LASTRES, 2002) define Arranjo Produtivo Local (APL) como
um aglomerado de agentes econômicos, políticos e sociais, localizados em um
mesmo território, que apresentam fortes vínculos de articulação, interação,
cooperação e aprendizagem. Uma das principais vantagens dos estudos focados nos
SPLs e APLs, segundo Cassiolato & Lastres (2003), é o fato de esses representarem
uma unidade prática de investigação que vai além da tradicional visão baseada na
empresa, no setor ou somente em uma cadeia produtiva. Assim, permite-se
estabelecer uma ponte entre o território e as atividades econômicas; focalizar um
grupo diversificado, tanto de agentes ligados diretamente à produção como de
atividades conexas (principal característica de um sistema produtivo e inovativo local);
representar o território a partir de um espaço no qual são oferecidas as condições para
a inovação; representar um importante desdobramento da implementação de políticas
de desenvolvimento.
Atualmente, entende-se que os SPLs representam os mecanismos de
mediação entre os efeitos do capitalismo global e as propostas locais-endógenas para
o desenvolvimento territorial, por meio da coordenação e negociação.
A definição de SPL destaca a forma de organização, o processo de
desenvolvimento local e o papel dos atores e instituições dentro do sistema. Enquanto
o desenvolvimento local corresponde à dimensão social do SPLs, implicando
melhores condições de vida, a forma de organização corresponde a processos
históricos de consolidação sobre um espaço físico de uma população que desenvolve
relações culturais e de identidade com o território, além da localização das indústrias
em um determinado espaço geográfico (CORREA, 2004).
Desde o início da década de 1970, os sistemas produtivos locais (SPLs) de
diversos territórios do Brasil vêm caminhando para uma crescente articulação ou
integração socioeconômica com setores capitalistas mundiais, por intermédio de
cadeias globais de produção e consumo. Essa articulação e/ou integração tem sido o
caminho seguido por algumas regiões ou territórios como respostas locais às
mudanças provocadas pela reestruturação do sistema produtivo global e à
modernização tecnológica dos processos produtivos (MORAES, 2008).

Fonte:www.cut.org.br

O Setor agroalimentar e as cadeias globais de produção e consumo Bonanno


(1999) cita William H. Friedland como autor de uma alternativa crítica importante aos
pressupostos das teorias da pauta dos debates sobre a evolução dos sistemas
agroalimentares e agroindustriais globais e o fim do fordismo.
A proposta de Friedland, na segunda metade da década de 1990, reconhece
tanto a natureza contraditória da evolução da economia global como a ação das
diferentes classes sociais envolvidas nesse processo e vê a globalização como um
fenômeno desigual que não afeta da mesma forma e com a mesma abrangência todas
as regiões, setores e mercadorias. Embora reconhecendo que as tendências para a
especialização e a globalização da produção tenham sido confirmadas, Friedland
afirma que essas tendências não são caracterizadas pela produção artesanal. Ele cita
como exemplo o caso da produção de frutas e vegetais in natura na Holanda, onde a
presença de pequenas unidades familiares de produção e a descentralização de um
amplo sistema de integração vertical não representa o fim da produção em massa e a
emergência de um sistema manufatureiro baseado na forma artesanal.
Segundo ele, indica o desenvolvimento de um sistema de produção em massa
bem mais sofisticado (talvez mais apropriado fosse chamar de um neofordismo), que
está ancorado nas pequenas unidades familiares de produção Essas pequenas
unidades não podem ser consideradas independentes, porque são controladas pelas
grandes corporações transnacionais, que empregaram esquemas técnicos e legais
para fragmentarem o poder de barganha das unidades de produção. Esse parece ser
um caso semelhante ao que acontece na produção de tabaco no sul do Brasil.
Para Friedland, a formação de nichos de mercado é o tópico principal para se
entender a produção em massa individualizada, pois esse fenômeno é a fragmentação
de um mercado de massa-padrão em uma variedade de mercados com produtos
especializados. Isso responde à crise nos mercados homogêneos de massa, pois
introduz um sortimento de produtos necessários para o atendimento das novas
demandas dos consumidores globais. Na essência, apesar da aparente
independência dos produtores, o processo de trabalho e os produtos mantêm seu
caráter fordista e continuam totalmente controlados por aqueles setores que estão
acima dos produtores. Foi a teoria dos nichos de mercado que permitiu a Friedland
rejeitar as teses do fim do fordismo e a transição para um pós-fordismo.
No entanto, no debate brasileiro em torno do desenvolvimento rural, já se
identifica uma mudança de visão nas novas abordagens utilizadas para compreender
o papel do mundo rural no desenvolvimento do país. Uma nova perspectiva de estudo
vem substituindo a visão tradicional, que se apoiava na dicotomia rural-urbana e via o
rural como sinônimo de agrícola, por uma visão sobre o mundo rural baseada na
possibilidade desse território rural incluir, também, as pequenas cidades do interior e
oferecer novas alternativas de emprego e renda e diversas outras formas de melhoria
na qualidade de vida da sua população. Espera-se que, assim, o território rural possa
utilizar o seu potencial local, suas características históricas e culturais e, ao mesmo
tempo, as oportunidades externas, levando a uma nova ruralidade e contribuindo para
o desenvolvimento desses territórios.

6 SISTEMAS E CADEIAS AGROALIMENTARES E AGROINDUSTRIAIS

As regiões rurais estão, cada vez mais, diversificando as suas atividades e


trajetórias de desenvolvimento que, nos novos espaços rurais, são coordenadas por
diferentes redes (MURDOCH, 2000). Então, destacam-se as significativas interações
entre os sistemas e cadeias agroalimentares e agroindustriais e os territórios,
decorrentes do fato de que as lógicas das cadeias produtivas e a dos territórios serem
inseparáveis (SAUTIER, 2002). Essas interações, que são também relações de
interdependência, encarregam-se de explicar as dinâmicas territoriais-locais e as
formas específicas de articulação entre o local e o global, uma vez que no espaço
local é onde ocorre a convergência entre o rural e o urbano, onde se encontram o
mundo urbano e o mundo rural (WANDERLEY, 2001).
Nos conceitos adotados nas abordagens dos sistemas agroalimentares e
agroindustriais (SAGs) e das cadeias produtivas agroalimentares e agroindustriais
(CPAs), agribusiness ou agronegócios e, consequentemente, dos Sistemas
Agroalimentares Localizados (SIALs), destacam-se os relacionamentos entre a
produção agrícola, as empresas agroindustriais e de serviços (fornecedores,
processadores e distribuidores) e o ambiente socioeconômico. Essas abordagens
interpretativas são formadas por três grandes segmentos, o segmento antes da
porteira, os fornecedores para a agropecuária (ou agricultura), o dentro da porteira, a
produção agropecuária, e os segmentos depois da porteira, as empresas
agroindustriais, as indústrias de alimentos e as distribuidoras do produto final.

6.1 Níveis de análise dos sistemas agroalimentares e agroindustriais

Os professores da Universidade Harvard, Ray Goldberg e John Davis,


publicaram, em 1957, o livro A Concept of Agribusiness, que trouxe um novo conceito
para a análise da agricultura, saindo da tradicional visão isolada para a análise do
sistema que vai desde a produção de insumos até a distribuição, passando pela
produção agrícola e agroindustrial. Dessa maneira, a agricultura, em um contexto
sistêmico de cadeia produtiva, foi denominada de Agribusiness e definido como: a
soma das operações de produção e distribuição de insumos para a agricultura, das
operações de produção nas unidades agrícolas, do armazenamento, processamento
e distribuição dos produtos agrícolas e itens produzidos a partir delas (BATALHA,
1997, p. 25).
O Agribusiness ou Agronegócio compõe-se de sistemas e cadeias produtivas
agroalimentares e agroindustriais que operam em diferentes ecossistemas ou
sistemas naturais. No contexto geral do agronegócio, existe um conglomerado de
instituições de apoio e coordenação, de organizações de crédito, pesquisa,
assistência técnica, entre outras, e um aparato legal e normativo, exercendo forte
influência no seu desempenho (DAVIS; GOLDBERG, apud BATALHA, 1997).

Fonte:www.trecsson.com.br

Consequentemente, a gestão do agronegócio busca mobilizar conceitos e


instrumentos de intervenção nos sistemas e cadeias produtivas, como o crédito
agrícola, a inovação tecnológica e gerencial, as normas de taxação, serviços de apoio,
entre outros, para melhorar o desempenho em relação a indicadores específicos.
Essas intervenções entretanto, só se tornam eficazes quando é possível compreender
sistematicamente, o que ocorre todos os segmentos em que a produção agropecuária
se insere.
No entanto, o Agribusiness apresenta enfoques metodológicos diferentes. Em
1968, Goldberg publicou outro trabalho onde utilizou a noção de commodity systems
approach (CSA), dentro de uma visão sistêmica, tendo como início uma matéria prima
básica, conhecido, no Brasil, por Complexo Agroindustrial (CAI). As cadeias de
agribusiness são operações organizadas de forma vertical e percorrida pelo produto
desde sua produção, elaboração industrial e distribuição, podendo ser coordenadas
via mercado, ou por meio da intervenção de agentes diversos ao longo da cadeia, que
contribuem ou interferem de alguma maneira no produto final. Essa coordenação pode
ter maior importância naquelas cadeias expostas à competição internacional e,
especialmente, às crescentes pressões dos clientes, que são os alvos finais das
cadeias e a quem estas devem adaptar-se (ZYLBERSTAJN; NEVES, 2000).
A Escola Francesa de Organização Industrial desenvolveu, na década de 1960,
o conceito de analyse de filières, que visava analisar parcialmente o agribusiness.
Esse modelo foi traduzido para o português como cadeia de produção ou cadeia de
produção agroindustrial (CPA). Nesse caso, a análise parte do produto final em
direção à matéria-prima que lhe deu origem, diferente do modelo (CSA) proposto
anteriormente por Goldberg, que partia de uma matéria-prima básica.
Apesar de terem surgidos em locais e épocas diferentes, as metodologias de
análise da cadeia proposta por Goldberg e pela escola francesa (analyse de filières)
possuem muitas semelhanças. Por exemplo, as duas utilizam cortes verticais no
sistema econômico de um determinado produto/serviço final (mais comum na escola
francesa) ou a partir de uma matéria-prima de base, para posteriormente estudar sua
lógica de funcionamento. Além disso, ambas dividem o sistema em três subsetores
distintos: agricultura, indústria e serviços e partem da premissa que a agricultura deve
ser vista dentro de um sistema mais amplo, do qual participam também produtores de
insumos, indústria processadora (agroindústrias e indústrias de alimentos) e
segmentos de distribuição e comercialização (atacado e varejo).
As duas metodologias de análise apontam nas mesmas direções: estratégia e
marketing, política industrial, gestão tecnológica, modelo de delimitação de espaços
de análise dentro do sistema produtivo e ferramenta de descrição técnico-econômica
de um setor. Os dois conceitos usam a noção de sucessão de etapas produtivas,
desde a produção de insumos até o produto acabado, como forma de orientar a
construção de suas análises. Ambos destacam o dinamismo do sistema e propõem
um caráter prospectivo.
A diferença principal está na importância atribuída ao consumidor final como
agente dinamizador da cadeia. A análise de filières privilegia o mercado final (produto
acabado/serviço) em direção à matéria-prima básica para a sua produção.
Os dois principais aspectos destacados pelas duas metodologias são o caráter
mesoanalítico e sistêmico dos estudos de cadeias produtivas agroindustriais
(BATALHA, 1997).
Ainda, segundo Batalha (1997), a literatura que trata da problemática
agroindustrial no Brasil não tem feito uma boa diferenciação entre as expressões
Sistema Agroindustrial, Complexo Agroindustrial e Cadeia de Produção
Agroindustrial. Esses conceitos representam espaços de análise diferentes, têm
diferentes objetivos e todos foram desenvolvidos como instrumentos de visão
sistêmica. Parte-se da premissa que a produção de bens e serviços pode ser
representada como um sistema, no qual os diversos atores estão interconectados por
fluxos de materiais, de capital e de informação, objetivando suprir um mercado
consumidor final com os produtos do sistema.
A partir desse ponto do texto, com o objetivo de se tornarem mais abrangentes
e práticos, esses termos serão acrescidos da palavra agroalimentar, ou seja, serão
denominados de Sistema Agroalimentar e Agroindustrial (SAG), Complexo
Agroalimentar e Agroindustrial (CAI) e Cadeia de Produção Agroalimentar e
Agroindustrial (CPA).
Um Sistema Agroalimentar e Agroindustrial (SAG) não está associado a
qualquer matéria-prima agropecuária ou produto final específico. Pode-se entender o
SAG como sendo composto pelos seis conjuntos de atores: (1) agricultura, pecuária
e pesca; (2) indústrias agroalimentares (IAA); (3) distribuição agrícola e alimentar; (4)
comércio internacional; (5) consumidor; e (6) indústrias e serviços de apoio. O SAG é
definido por Batalha (1997, p.30) como o conjunto de atividades que concorrem para
a produção de produtos agroindustriais, desde a produção dos insumos até a chegada
do produto final ao consumidor. Dessa forma, um SAG específico é composto por
empresas ou firmas entre as quais são realizadas várias transações.
Existem diferentes sistemas agroindustriais dentro do agribusiness associados
a diferentes produtos, bem como diferentes formas de organização.
O Complexo Agroalimentar e Agroindustrial (CAI) tem como ponto de partida
uma determinada matéria-prima básica (café, algodão, leite, soja, uva). Essa matéria-
prima pode originar diferentes produtos finais (queijo, nata, manteiga), formando
várias cadeias de produção, cada uma delas associada a um produto final (BATALHA,
1997). A arquitetura de um CAI parte de uma matéria-prima principal que o originou,
segundo os diferentes processos industriais e comerciais que ela pode sofrer até se
transformar em diferentes produtos finais. A formação de um CAI exige a participação
de um conjunto de cadeias de produção (CPA), cada uma delas associada a um
produto ou família de produtos. Como as CPAs são as unidades básicas para os CAIs,
SAGs e demais formas de aglomerações produtivas agroalimentares e
agroindustriais, elas serão abordadas com mais detalhes a seguir.

6.2 Cadeias Produtivas Agroalimentares e Agroindustriais (CPAs)

Uma cadeia produtiva é formada pelo conjunto de componentes interativos,


incluindo os segmentos produção agrícola, fornecedores de insumos e serviços,
industriais de processamento e transformação, agentes de distribuição e
comercialização, além de consumidores finais. O objetivo é suprir o consumidor final
de determinados produtos ou subprodutos (CASTRO, 1998).

Fonte:www.agriculturaemar.com
A Cadeia Produtiva Agroalimentar e Agroindustrial (CPA) é definida a partir da
identificação do produto final que, após identificado, é encadeado de jusante a
montante pelas várias operações técnicas, comerciais e logísticas necessárias a sua
produção (BATALHA, 1997). A CPA dos vinhos finos do Rio Grande do Sul pode ser
um exemplo.
Conforme Batalha (1997), uma CPA pode ser segmentada, de jusante a
montante, em três macro segmentos, que são:
a) Comercialização - É representada pelas empresas que mantém contato com
o cliente final da cadeia de produção e que criam condições para o consumo e o
comércio dos produtos finais (supermercados, restaurantes, cantinas, etc.), podendo,
ainda, serem incluídas nesse segmento empresas que se responsabilizam pela
logística de distribuição dos produtos acabados.
b) Industrialização - É constituída pelas empresas que transformam as
matérias-primas em produtos acabados destinados ao consumo.
c) Produção de matéria-prima - É formado pelas firmas que fornecem matérias-
primas iniciais para que outras empresas produzam o produto final destinado ao
consumo.
Um SAG, um CAI ou uma CPA representam uma série de transações (T1, T2,
T3, T4, T5), que interligam os diferentes segmentos, desde o setor de insumos,
passando pela produção agropecuária, indústria (agroindústria e indústria de
alimentos), distribuição (atacado e varejo), até a chegada do produto ao consumidor.
Além disso, deve ser destacada a importância do ambiente institucional, que
define as regras do jogo, e do ambiente organizacional, que é o processo de ação
coletiva das empresas, por exemplo, por meio de associações e/ou sindicatos.
Esses conceitos foram introduzidos no Brasil, inicialmente, com a denominação
de complexo agroindustrial, negócio agrícola e agronegócio e são definidos não
apenas em relação ao que ocorre dentro dos limites das propriedades rurais, mas em
todos os processos interligados que propiciam a oferta dos produtos da agricultura
aos seus consumidores (ZYLBERSZTAJN; NEVES, 2000). Daí nasceu o conceito de
cadeia produtiva, como subsistema (ou sistemas dentro de sistemas) do agronegócio,
composto por muitas cadeias produtivas, ou subsistemas do negócio agrícola. As
cadeias produtivas, por sua vez, possuem entre os seus componentes ou subsistemas
os diversos sistemas produtivos agropecuários e agroflorestais (CASTRO et al.,
1998). Essa generalidade do enfoque permite que se possa referir, de uma maneira
geral, a um enfoque sistêmico em cadeias produtivas.
A mesoanálise tem sido definida como a análise estrutural e funcional dos
subsistemas e de suas interfaces e interdependências dentro de um sistema produtivo
integrado. Essas alterações são basicamente resultado do conjunto de cinco fatores:
políticos, econômico-financeiros, tecnológicos, socioculturais e legais ou jurídicos.
Conceitualmente, uma cadeia produtiva é o encadeamento de atividades
econômicas pelas quais passam e vão sendo transformados e transferidos os diversos
insumos, incluindo desde as matérias-primas, máquinas e equipamentos, produtos
intermediários e finais, sua distribuição e comercialização. Resulta de uma crescente
divisão de trabalho, na qual cada agente ou conjunto de agentes especializa-se em
etapas distintas do processo produtivo. Essas cadeias produtivas podem ser
identificadas a partir da análise de relações interindustriais expressas em matrizes
insumo-produto.

6.3 Gestão de Sistemas e Cadeias Produtivas Agroalimentares e


Agroindustriais

De acordo com Castro (1998), a compreensão do funcionamento do


agronegócio é essencial para a sua gestão. Esse conhecimento pode ser ampliado
aplicando-se a lógica e as técnicas de análise de sistemas. A análise do agronegócio
como sistema pode fornecer importantes subsídios para a formulação de macro
políticas e de estratégias de desenvolvimento setorial. Os resultados das análises de
cadeias produtivas oferecem, no entanto, maiores oportunidades de aplicação, pela
sua maior especificidade e possibilidade de aprofundamento, seja no plano do
desenvolvimento setorial, na gestão e coordenação das cadeias ou na identificação
de demandas tecnológicas para P&D.
A análise de cadeias produtivas é uma ferramenta poderosa para investigar as
várias interfaces que permeiam a dinâmica de um sistema agroalimentar e
agroindustrial, pois a partir da premissa que o alimento ou uma matéria-prima
energética deve ser produzido, industrializado e encaminhado até o consumidor final,
qualquer disfunção em uma dessas etapas básicas compromete o abastecimento e a
competitividade do sistema. Portanto, somente após a realização da análise dos
aspectos tecnológicos, comerciais e logísticos de uma cadeia de produção
agroindustrial, assim como dos fatores externos que a influenciam (socioeconômicos,
legais e governamentais), é que poderão ser identificadas as disfunções e propiciar
subsídios adequados à formulação e à implementação de uma política agroindustrial
eficiente para o país, assim como tornar o sistema ou o segmento mais competitivo
em nível internacional (BATALHA, 1997).
A competitividade de uma cadeia produtiva agroalimentar e agroindustrial é
construída através da coordenação entre todos os seus agentes. Uma cadeia é
composta pelas indústrias de suprimentos para a produção agropecuária,
infraestrutura de transporte e a comunicação, a produção agropecuária,
agroindústrias, indústria de alimentos, redes de distribuição e consumo e outros
prestadores de serviços.

Fonte:www.onortao.com.br

Para o estudo de competitividade, dentro de uma visão sistêmica de


agronegócios, deve ser efetuado um corte vertical do sistema econômico. A análise
de competitividade é realizada de forma integrada, com evidentes vantagens na
coordenação, pois essa é resultante de importantes arranjos contratuais entre os
vários agentes e atores. Essa análise sistêmica de competitividade de cadeias
produtivas deve utilizar modelos teórico-metodológicos que facilite a identificação da
estrutura das cadeias produtivas e dos fatores que afetam o desempenho de todo o
sistema (BATALHA, 1997). Para isso, a análise sistêmica pode ser conceitualmente
conduzida pelos princípios do Enfoque Sistêmico do Produto (CSA) e pela abordagem
do Desenvolvimento Territorial Rural.
A representação de um sistema produtivo agroalimentar ou agroindustrial
estruturado sobre uma cadeia produtiva constitui-se em uma importante ferramenta
para o estudo ou identificação, por exemplo, de modificações ocorridas a montante
(segmentos localizados antes da porteira ou fornecedores de insumos e serviços para
agropecuária) e a jusante (segmentos localizados depois da porteira ou
processadores e distribuidores da produção agropecuária) do processo de inovação
original. De acordo com Batalha (1997), essa análise pode ainda avaliar as
consequências das inovações como espaço analítico inicial (análise vertical), assim
como junto a outras cadeias produtivas que se relacionem com ela (análise
horizontal).
O crescimento econômico de uma região está associado ao desempenho de
suas diversas cadeias produtivas. Frequentemente, variáveis de desenvolvimento
social, como nível de emprego, saúde, habitação, também estão associadas ao
desempenho de determinadas cadeias produtivas. Assim, o planejamento do
desenvolvimento regional também é beneficiado pela base ampliada de informação
gerada pelos resultados das análises prospectivas de cadeias.

7 AS AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS AGROALIMENTARES E


AGROINDUSTRIAIS DOS TERRITÓRIOS RURAIS

A nova perspectiva sobre o mundo rural tem como base argumentos que abrem
a possibilidade de o território rural também oferecer alternativas de emprego e renda
e diversas outras formas de melhoria na qualidade de vida da população local.
Entretanto, para oferecer isso, o território rural deve utilizar o seu potencial local,
aproveitar as oportunidades externas e suas características históricas e culturais
particulares e também estar integrado com a economia e a sociedade local.
Esses são os contornos que poderão levar a uma nova ruralidade e contribuir
para o desenvolvimento local dos territórios rurais.
Essa transformação alterou profundamente a estrutura socioeconômica e
cultural do rural agrícola, com este deixando de ser exclusivamente agrícola para se
tornar um conjunto fragmentado, diversificado e heterogêneo de territórios, formando
uma complexa articulação de sistemas territoriais. Com isso, a agricultura deixa de
ser o foco central da economia do território e as atividades produtivas agrícolas,
industriais e de serviços passam a coexistir internamente e dividir esse papel.
As oportunidades externas estão, principalmente, nas possibilidades de acesso
aos mercados agrícolas nacionais e internacionais. Desde a década de 1970, os SPLs
ligados aos territórios rurais do sul do Brasil, onde a estrutura agrária é marcada pela
agricultura familiar, vêm caminhando para uma crescente articulação e, em alguns
casos, até para a integração socioeconômica, com o setor agroalimentar global, por
intermédio de cadeias globais de produção e consumo.
Essa articulação e/ou integração tem sido o caminho seguido por alguns
territórios, como resposta local às mudanças provocadas pela reestruturação do
sistema produtivo global, ao modelo atual de modernização tecnológica dos processos
produtivos agroindustriais e ao crescente acesso das famílias rurais aos diversos
mercados locais (de trabalho, de bens e serviços e de fatores).
Muitos desses territórios rurais ainda se sustentam economicamente por meio
de atividades de produção agropecuárias, nem sempre voltadas para produtos de
melhor qualidade e/ou de maior valor agregado, ao lado de atividades agroindustriais,
exercidas por pequenas e médias empresas, que procuram se manter em equilíbrio
com o ambiente natural. Enfim, o desenvolvimento desses territórios depende tanto
das dinâmicas externas, na maioria das vezes determinadas pelo processo de
globalização, a partir dos mercados agrícolas ou agroindustriais, como também da
capacidade dos seus agentes locais atraírem fluxos de recursos (capital para
investimento produtivo, turistas ou trabalhadores capacitados) e dos seus capitais
territoriais: ambiental, cultural, social, institucional e o saber-fazer.
Quando os territórios são rurais, os seus principais sistemas produtivos também
podem ser caracterizados e/ou denominados de Distritos Agrícolas, Distritos
Agroindustriais ou Sistemas Agroalimentares Localizados (SIALs), com uma estrutura
produtiva alicerçada nos Sistemas Agroalimentares e Agroindustriais (SAGs) e nas
Cadeias Produtivas Agroalimentares e Agroindustriais (CPAs).
Enquanto os dois primeiros foram estudados por economistas agrícolas
italianos, a abordagem dos SIALs é uma proposição da escola francesa. Essas
denominações variam de acordo com as suas tendências setoriais, na medida em que
associam características dos setores industrial e de serviços, e com o grau de
intensidade das relações socioeconômicas, institucionais e de proximidade. A seguir,
demonstram-se as origens conceituais e teóricas dessas duas formas específicas de
sistemas produtivos.

7.1 Os distritos agrícolas e agroindustriais italianos

Na década de 1970, economistas italianos iniciaram estudos sobre a


importância da competitividade das empresas e dos processos de inovação, tendo
como referência os conceitos de redes, meios inovadores e efeitos de proximidade,
da teoria Marshalliana. Essa teoria foi resgatada por Beccattini (1994) para explicar o
crescimento econômico de algumas concentrações industriais na Itália. Então, por
meio do conceito de distrito industrial, foi possível caracterizar as concentrações de
pequenas empresas, onde as relações de proximidade e os efeitos derivados dessas
relações serviam para promover o desenvolvimento local.

Fonte:www.alternize.com.br

A mudança de foco das estruturas nacionais para as redes heterogêneas foi


seguida pela territorialização do espaço rural, fazendo com que também alguns
economistas agrícolas iniciassem um processo de adaptação da base conceitual do
distrito industrial, para a formação dos conceitos de distrito agrícola e distrito
agroindustrial. Esses termos surgiram para descrever os modelos organizacionais
econômicos, típicos do sistema agroalimentar italiano, baseado em clusters de PMEs
desse setor, regionalmente concentrados (CECCHI, 2001; BERTI, 2005).
Segundo Brunore e Rossi (2007), essas formas de análise foram desenvolvidas
para explicar a relevância dos sistemas econômicos regionais dentro do sistema
agroindustrial italiano.
Nos distritos agrícolas ou nos agroindustriais, destacam-se os relacionamentos
entre a produção agrícola, as empresas industriais e de serviços (fornecedores,
processadores e distribuidores) e o ambiente socioeconômico. Essa é a configuração
teórica, muito semelhante aos conceitos e interpretações dos sistemas ou cadeias
agroindustriais, de agribusiness ou de agronegócio. Essa abordagem interpretativa é
formada por três fases, o antes da porteira, os fornecedores para a agropecuária (ou
agricultura), o dentro da porteira, a produção agropecuária, e o depois da porteira, as
empresas agroindustriais e as distribuidoras do produto.
Essa adaptação para distrito agroindustrial foi possível porque este guarda
algumas características similares ao do distrito industrial, tais como a concentração
de pequenas e médias empresas (PMEs) e a estrutura organizacional muito
parecidas, a predominância da produção de um bem típico, a concentração e a
especialização de empresas, os relacionamentos inter-industriais facilitam o
funcionamento do mercado local e, por fim, os relacionamentos pessoais que criam
uma atmosfera favorável para as trocas de conhecimentos.
Porém, há uma diferença fundamental entre distrito agrícola e distrito
agroindustrial. O primeiro se forma a partir, apenas, do segmento da agropecuária
(agricultura) e do segmento fornecedor de insumos, crédito, máquinas e
equipamentos para esta. O distrito agroindustrial se forma a partir destes dois, mas
também se inclui os segmentos que vêm depois da porteira, o segmento que realiza
o processamento do produto agrícola, a agroindústria e indústria de alimentos, e o
segmento que faz a distribuição desse produto, o atacado e o varejo.
Para Cecchi (2001), o distrito agrícola é o interior territorial dos clusters em que
a agricultura é a força que impulsiona as outras atividades do distrito, que só existem
por causa da produção agrícola local. As características principais do distrito agrícola
são similares às do distrito agroindustrial com relação ao realce da sua produção
agrícola e da sua dependência em relação à indústria processadora, mas nos distritos
agroindustriais a indústria processadora sempre está presente e com um alto
percentual de processamento de produtos agrícolas vindo de fora do distrito.
Os principais efeitos do processo de reestruturação produtiva mundial sobre os
sistemas agroalimentares e agroindustriais são imigrações urbano-rurais,
descentralização industrial, declínio da importância agrícola em termos econômicos e
de ocupação, a diversificação da agricultura, a crescente importância do setor de
serviços na geração de empregos e as mudanças nos modelos de consumo (BERTI,
2005).
Mais recentemente, sob um ponto de vista muito parecido com o dos italianos,
Sautier (2002), Requier-Desjardins (2002b) e Muchnik (2002) propuseram a noção de
Systèmes Agroalimentaires Localisès (SYAL), ou Sistema Agroalimentar Localizado
(SIAL), em vez de simplesmente utilizar a noção de APL ou SPL do setor
agroalimentar, porque os SIALs têm especificidades que os diferenciam
significativamente dos outros SPLs. Conforme os autores, as principais
especificidades dos SIALs são: o papel específico dos bens alimentares, por serem
os únicos que são literalmente incorporados pelos consumidores no ato de consumo,
em vez de serem somente utilizados como os demais bens de consumo; a
especificidade da matéria-prima produzida, pois a atividade agroalimentar tem origem
em uma matéria-prima agrícola, viva, heterogênea, sazonal e perecível; a relação com
o ambiente e com a gestão dos recursos naturais; por fim, a vinculação frequente das
atividades agroalimentares, mais do que outras atividades produtivas com uma parte
significativa do saber-fazer local (intransferível) e com os conhecimentos transmitidos
por aprendizagem.
Em quase todas as definições de SIAL, chama a atenção o destaque dado ao
papel dos atores e/ou do capital social dentro desses sistemas. De acordo com
Requier-Desjardins (1999), a definição de capital social reconhece tanto o seu
componente social como o seu componente econômico. Assim, o capital social não
se refere apenas às regras e normas empresariais e às relações de confiança e de
amizade entre os indivíduos e as redes sociais, mas também às vantagens
econômicas dos indivíduos obtidos a partir do capital social. Esse rendimento é gerado
pela troca de informações, conhecimentos, mão de obra ou outras formas de
cooperação.
Assim, nos SIALs, há uma relação muito próxima entre os modos de fabricação
dos produtos e as preferências dos consumidores, com a produção e a economia rural
centrada na transformação e na comercialização de produtos vindos,
predominantemente, de unidades rurais familiares de pequena escala. Na definição
de Requier-Desjardins (2002a e 2002b), o conjunto das relações sociais de trabalho
e produção é o que constitui um SIAL. Essas relações possuem uma historicidade e
uma especificidade que diferenciam esses sistemas produtivos locais (SPL), tanto em
relação ao exterior como entre eles. Assim, procura-se mostrar que, nos SIALs, há
uma relação muito próxima entre os modos de fabricação dos produtos e as
preferências dos consumidores com a produção e a economia rural centrada na
transformação e na comercialização de produtos, predominantemente vindos de
unidades rurais familiares, com uma pequena escala produtiva e estruturados a partir
de sistemas ou cadeias produtivas agroalimentares ou agroindustriais.

Fonte:www.florestalbrasil.com

Medidas de incentivo à demanda por bens industriais têm sido recentemente


realizadas pelo governo brasileiro como estímulo ao crescimento econômico.
Exemplos desta prática são as reduções do Imposto sobre Produto Industrializado
(IPI) sobre alguns produtos específicos, como eletrodomésticos e automóveis.
Entretanto, o País é reconhecidamente competitivo na sua produção agropecuária, e
políticas de incentivo à demanda dos mesmos não têm sido estabelecidas na mesma
magnitude daquelas dos produtos industriais. Além disto, faltam incentivos à
industrialização, como política para aumento do valor adicionado na produção
agrícola. Um exemplo característico deste fato é representado por um dos setores
agrícolas de maior expressão do País: setor de soja. Na década de 2000, o Brasil
exportou, em valores monetários, cerca de 5 vezes mais soja em grão do que óleo de
soja, que é um dos produtos originados da industrialização deste grão (FAO, 2012).
Além disto, considerando-se os últimos 20 anos, a taxa anual de crescimento do valor
das exportações de grão de soja foi de 13%, contra apenas 7% de crescimento anual
no valor das exportações do óleo (FAO, 2012).
O setor agrícola tem grande importância na economia brasileira. Em 2005, toda
a cadeia de agronegócio no País gerou 28% do PIB nacional (GUILHOTO et al., 2007).
Além disto, o Brasil é também um dos maiores produtores mundiais neste setor.
Considerando-se o valor da produção agropecuária dos países da Organização
Econômica para Cooperação e Desenvolvimento (OECD), a produção brasileira perde
apenas para a europeia e americana. Entretanto, o País tem ainda grande potencial
de crescimento. Em 2007, a produção agropecuária da União Europeia foi mais de 2,5
vezes superior à brasileira. Já o valor da produção dos Estados Unidos foi o dobro da
produção do Brasil naquele mesmo ano (OECD, 2011).
Dada a importância do agronegócio na economia do País, este estudo tem
como objetivo fazer uma avaliação comparativa dos encadeamentos provocados pelo
aumento de demanda de alguns dos principais setores agrícolas (brutos ou
processados), com aqueles induzidos em alguns setores não agrícolas selecionados
(seja com alta produção no País ou cujas demandas são constantemente incentivadas
pelo governo brasileiro). Ou seja, pretende-se responder às seguintes perguntas: para
incentivar o aumento de renda e emprego no País, que leva ao crescimento
econômico, o estímulo de demanda nos setores industriais que tiveram recentes
desonerações fiscais tem mais impactos na economia do que incentivos em setores
agrícolas? Além disto, considerando a terra como recurso escasso, quanto o
processamento de produtos agrícolas brutos aumenta os impactos econômicos e
sociais por área cultivada? Tais questões são importantes para promover não apenas
o crescimento do setor agropecuário como toda a economia por meio dos efeitos
multiplicadores identificados.
Neste sentido, os setores eleitos para esta análise foram, entre os setores
agroindustriais: arroz, milho, soja, cana-de-açúcar, silvicultura, álcool, abate de
bovinos e outros, abate de aves, abate de suínos e óleos vegetais. Os quatro primeiros
são setores caracteristicamente agrícolas e ocuparam, em 2009, 73% de toda área
colhida com vegetais e responderam por 60% da produção de lavouras temporárias e
permanentes no País (IBGE, 2011c). Além disto, segundo dados da Produção
Agrícola Municipal – PAM (IBGE, 2011c), de 1999 a 2009, este crescimento foi
superior a 10% ao ano para todos os produtos. Os que tiveram maior crescimento
foram soja (18% ao ano) e cana-de-açúcar (17% ao ano). Entretanto, a maior parte
da área dos estabelecimentos agropecuários no País é utilizada com pecuária e
criação de outros animais. Segundo o IBGE (2011a), enquanto estes últimos
ocuparam 62% da área dos estabelecimentos no País em 2006 (dados mais recentes
disponíveis), a produção vegetal foi responsável por apenas 31% desta área. Por este
motivo, além dos produtos vegetais anteriormente citados, este trabalho analisou
também o impacto na produção das principais carnes produzidas no País: bovina,
suína e de frango. Já para os setores não agrícolas foram considerados: refino do
petróleo e coque; fabricação de aço e derivados e máquinas, aparelhos e materiais
elétricos por serem, dentre os setores não agrícolas, aqueles com altos valores na
produção nacional, e eletrodomésticos, material eletrônico e automóveis, camionetas
e utilitários os quais, apesar de terem baixa produção, são setores considerados como
de alto nível tecnológico e cujos consumos têm sido constantemente incentivados pelo
governo federal, principalmente pela redução de IPI. Produtos do setor máquinas,
aparelhos e materiais elétricos também tiveram incentivos de demanda por medidas
de redução de IPI e combustíveis provenientes do setor refino do petróleo e coque, a
partir de 2012 apresentam preços deprimidos para o consumidor, os quais são
subsidiados pelo governo. Embora o objetivo do subsídio neste último setor não seja
o de incentivar a demanda, mas, sim, de controlar a inflação, o estímulo à demanda
proveniente desta política é inevitável. Os setores agroindustriais e os não agrícolas
selecionados responderam por 5% e 6%, respectivamente, de todo o valor consumido
de bens e serviços pela demanda final da economia em 2006.
7.2 Revisão de literatura

Alguns estudos com objetivos distintos ao apresentado neste trabalho, mas


utilizando metodologia similar, foram revisados para mostrar alguns resultados
semelhantes aos que o presente trabalho busca apresentar. Tais trabalhos utilizaram
o instrumental da matriz insumo-produto, mas consideraram um número menor de
setores agrícolas e desagregados por estados ou regiões específicas do País (por
exemplo, citam-se os estudos de SANTOS et al., 2009; COSTA et al., 2006;
FIGUEIREDO et al., 2005).

No trabalho realizado por Santos et al. (2009), em que foram analisados os


setores da economia mineira para 1995, os autores verificaram que os maiores
multiplicadores de produção são observados para setores de produtos processados
do agronegócio: indústria do café e outras indústrias de produtos alimentares, que
apresentaram o primeiro e o terceiro maiores impactos, respectivamente. Já os
maiores multiplicadores de renda foram observados para os setores de agropecuária
para produtos não processados.

Fonte:www.portaldoagronegocio.com.br

Em Costa et al. (2006), os autores tiveram como objetivo identificar a


importância dos setores sucroalcooleiros (cana-de-açúcar, açúcar e etanol),
distintamente nas regiões Centro-Sul e Norte-Nordeste do País. Para isto, vários
indicadores foram utilizados: índices de ligação para frente e para trás; índices puros
de ligação e multiplicadores de produção. Neste caso, foram utilizadas as matrizes
regionais estimadas para 1999. Observou-se que, junto aos setores de metalurgia,
têxteis e outros serviços para famílias, os setores agroindustriais: indústria do açúcar
e outros produtos alimentares foram aqueles com impactos mais significativos na
economia em ambas as regiões. Isto mostra a importância do aumento de demanda
sobre os produtos agrícolas processados na economia do Brasil.
Considerando a matriz insumo-produto do estado de Mato Grosso, Figueiredo
et al. (2005) descreveram os setores-chaves da economia daquele estado,
procurando identificar a importância dos setores de produção e processamento da
soja. Utilizando os índices de Hirschman-Rasmussen, os autores descrevem que os
setores que mostraram impactos mais expressivos para trás naquela economia foram,
em ordem decrescente: eletroeletrônicos; abate de bovinos; peças e veículos;
indústria do café e fabricação de óleos vegetais. Entretanto, utilizando os índices
normalizados, ou seja, levando em conta a importância de cada setor na economia do
estados, os setores com maiores impactos foram: comércio; administração pública e
fabricação de óleos vegetais.
Destes estudos pode-se perceber a importância de diferentes setores do
agronegócio impactando a economia em diferentes estados e regiões brasileiras.
Entretanto, observa-se também que alguns setores industriais são também
importantes para o seu desenvolvimento.

8 OS 10 NOVOS POLOS DO AGRONEGÓCIO

O paranaense Walter Yukio Horita chegou à Bahia em 1984, aos 21 anos, com
uma tarefa — desbravar uma nova fronteira agrícola para o pai, Satoshi, um imigrante
japonês que começou a vida no Brasil colhendo algodão com as mãos. A família tinha
pouco mais de 500 hectares no Paraná e, para crescer, precisava buscar terras mais
baratas. Walter encontrou o que procurava num fim de mundo chamado São
Desidério. Para tomar posse e cultivar a nova propriedade, de 1 210 hectares, ele
abriu picadas pelo cerrado e aceitou viver no isolamento, sem luz e sem telefone.
Passadas duas décadas, a família é dona do grupo Horita, com 21 550 hectares de
algodão e soja em oito fazendas — no cultivo do algodão, é apontado como o maior
da região e um dos dez maiores do país. Sua frota conta com mais de 100 máquinas
e equipamentos agrícolas, além de três aviões. São motivo de orgulho 14
colheitadeiras importadas dos Estados Unidos — cada uma custou 320 000 dólares e
faz o trabalho de 1 000 homens num único dia. As fazendas da família estão numa
das regiões mais pujantes do Brasil de hoje, o oeste baiano, cuja maior cidade é Luís
Eduardo Magalhães, apelidada de LEM, suas iniciais. Trata-se de uma área que, em
poucos anos, tornou-se verdadeira máquina de produzir crescimento, renda e
prosperidade. Estamos vivendo o auge, diz Walter Horita. Na agência do Banco do
Brasil em Luís Eduardo Magalhães é fechado quase um terço dos financiamentos
agrícolas da Bahia. A concessionária John Deere, aberta há pouco menos de três
anos, nem sentiu a crise que se abateu sobre a agricultura na última safra. Entre as
53 lojas da rede no país, a de LEM está entre as cinco que mais vendem
equipamentos agrícolas.
Histórias de garra, superação e conquistas como a dos Horita não faltam no
oeste da Bahia e em outras regiões que, apesar das crises cíclicas do campo, como
a que aflige atualmente parte dos produtores nacionais, não param de brotar no Brasil
e hoje são os novos polos do agronegócio. São lugares que oferecem grandes
extensões de terras agricultáveis e colecionam os mais recentes recordes de
produtividade. Que atraem as principais multinacionais do setor. Que geram emprego
e são referência de tecnologia de ponta. Para identificar quais são as cidades mais
dinâmicas na fronteira agrícola brasileira, EXAME ouviu consultores, empresários,
produtores rurais, pesquisadores, entidades do setor e integrantes do governo. Os
dez municípios que receberam mais indicações dos especialistas, em ordem
alfabética, são: Balsas (MA), Linhares (ES), Luís Eduardo Magalhães (BA), Mineiros
(GO), Primavera do Leste (MT), Rio Verde (GO), Santarém (PA), Sorriso (MT), Uruçuí
(PI) e Vilhena (RO). Algumas são cidades criadas recentemente — caso de LEM e
Sorriso. Outras são antigas regiões produtoras só agora alçadas à condição de
centros importantes, como Santarém e Linhares. Em comum, todas apresentam uma
fantástica taxa de crescimento — tanto populacional como dos negócios.
9 TERRA É O DIFERENCIAL DO BRASIL

O quadro mostra a área total que pode ser utilizada para a agricultura em
importantes países produtores e o quanto já foi efetivamente cultivado (Em milhões
de hectares)
País Área já ocupada pela Área total disponível para
agricultura a agricultura
Brasil 66 394
Estados Unidos 188 269
Federação Russa 132 220
União Européia 116 176
Índia 169
China 96 138
Canadá 45 76
Argentina 27 71
Fonte: FAO/IBGE

A expansão desses polos segue o padrão das áreas de fronteira. O que ocorre
é que os produtores do Sul não têm como expandir a produção, diz Guilherme Leite
da Silva Dias, professor de economia agrícola da Universidade de São Paulo (USP).
Procurar oportunidades em lugares novos torna-se a melhor alternativa. Por essa
razão, é difícil encontrar um habitante nativo em cidades como Luís Eduardo
Magalhães. Gente do mundo inteiro — paranaenses, gaúchos, paulistas, chineses,
australianos, americanos — é atraída pela oportunidade de um bom negócio. A cidade
viveu à sombra de Barreiras, o município mais próximo, até 1998, quando passou a
se chamar Luís Eduardo Magalhães em homenagem ao deputado federal morto
naquele ano, filho do senador Antônio Carlos Magalhães. Até hoje comenta-se que a
honraria foi uma esperta manobra para conquistar o apoio de ACM, que não iria
suportar ver o nome de seu filho associado a um lugarejo inexpressivo. O fato é que
a cidade se emancipou em 2000 e, desde então, não parou de crescer. A população
mais que dobrou em cinco anos e soma quase 45 000 habitantes. Aqui a taxa de
desemprego é praticamente zero, afirma Eduardo Yamashita, secretário de
Agricultura e Desenvolvimento Econômico do município. Trabalho e oportunidades de
negócio não faltam.
Uma característica dos novos polos é a preponderância das culturas de
exportação. Luís Eduardo Magalhães tornou-se importante produtor de algodão, soja,
café, milho e frutas, além de aves e bovinos. Em 2004, a cidade exportou 208 milhões
de dólares, 65% mais que no ano anterior. Um pouco ao norte, já no estado do Piauí,
está a cidade de Uruçuí, de desenvolvimento ainda recente — começou a despontar
no agronegócio há pouco mais de um ano. Forte em soja e milho, ela é citada como a
região de maior potencial agrícola no Piauí — possui 4 milhões de hectares cultiváveis,
área semelhante à da Suíça. Uruçuí despertou o interesse da maior empresa de
alimentos do mundo, a Bunge, que inaugurou há dois anos no local uma unidade de
processamento de soja. Instalamos a planta mais moderna do mundo no Piauí porque
acreditamos no potencial desse polo, diz Adalgiso Telles, diretor de comunicação
corporativa da Bunge. Fica numa posição estratégica, mais próxima de portos na
Europa e nos Estados Unidos, além de ter como vizinhos mercados consumidores
muito atraentes, como Fortaleza e Recife.

9.1 CANAIS DE ESCOAMENTO

Fonte: www.portosenavios.com.br
Um dos principais canais de escoamento da produção de Uruçuí é o porto
maranhense de Itaqui. É para lá também que segue boa parte da produção de soja
do polo de Balsas, localizado no sul do Maranhão. Fronteira ainda nova, Balsas tem
potencial para dobrar a produção em pouco tempo, segundo afirma João de Almeida
Sampaio, presidente da Sociedade Rural Brasileira. A vinda de empresas de
alimentos de grande porte não vai tardar, o que estimulará ainda mais a produção, diz
Sampaio. O principal catalisador do desenvolvimento desses polos tem sido a soja. É
esse grão que movimenta a economia de Primavera do Leste, no sudeste de Mato
Grosso. Há 20 anos, Primavera era um simples vilarejo. Hoje, as maiores empresas
do agronegócio estão na região e há três universidades, diz Sampaio. Ao norte de
Primavera fica Sorriso, o município que mais produz soja no Brasil. A cidade se
destaca também no milho — é o quarto produtor nacional. A grande oferta de grãos
levou a Perdigão a comprar neste ano, na vizinha cidade de Nova Mutum, um
abatedouro com capacidade para 60 000 aves por dia. A empresa pagou 40 milhões
de reais e pretende investir mais 45 milhões na expansão da fábrica para atingir a
produção diária de 140 000 aves em 2006. O frango nada mais é do que milho
convertido em ave, diz Nelson Vas Hacklauer, diretor de desenvolvimento de negócios
da Perdigão. Por isso, vamos para onde haja grande oferta da nossa principal matéria
prima. Pelo mesmo motivo, a Perdigão construiu em 2000 em Rio Verde, no sudoeste
de Goiás, uma unidade de abate de frangos e suínos que lhe deu fôlego para ampliar
as exportações. Agora, junto com seus criadores integrados, a empresa está
investindo 540 milhões de reais em um complexo industrial em Mineiros, a 180
quilômetros de Rio Verde. A nova unidade, destinada à produção de peru e chester
para exportação, deve entrar em operação em 2007 e gerar 6 500 empregos.
Instalar-se em regiões de terra abundante e enorme potencial de produção tem
seu preço. O principal aspecto é a infraestrutura deficiente. O roteiro é conhecido —
a produção cresce sempre à frente da capacidade de escoamento. Em Vilhena, sul
de Rondônia, o maior gargalo é a logística. Como ocorre tradicionalmente no
desbravamento de novas fronteiras, o início da ocupação dessa região se deu com a
exploração de madeira e, depois, com a introdução da pecuária. Agora que estão
entrando com grãos, o problema será escoá-los, diz Luiz Carlos Carvalho, diretor da
Associação Brasileira de Agribusiness (Abag). Vai demorar um pouco para ter a
infraestrutura desenvolvida, mas vale a pena, porque a terra é de excelente qualidade.
A produtividade da soja nesse polo chega a 3,2 toneladas por hectare, 40% acima da
média nacional. Grande parte da produção de grãos do estado é escoada pela hidrovia
do Madeira até o porto de Itacoatiara, no Amazonas, de onde segue para a Europa.
Outro polo que está sofrendo com a precariedade da infraestrutura é Linhares,
no norte do Espírito Santo. Lá, as culturas de destaque são café, mamão e madeira
para as indústrias de papel e celulose. As maiores exportadoras mundiais de mamão
— a Gaia e a Caliman — estão instaladas na região. Linhares produz, anualmente,
600 000 toneladas de mamão, das quais menos de 5% seguem hoje para o mercado
externo. O problema é que os produtores precisam embarcar suas frutas pelo porto
de Salvador, a 1 100 quilômetros de distância. O porto de Vitória fica bem mais perto,
a 130 quilômetros, mas ali não passam navios-frigoríficos em escala regular. A
aviação está muito cara e o escoamento marítimo não é adequado à fruticultura no
Brasil, diz Francisco Caliman, dono da empresa que leva seu sobrenome.
Um polo que conta com boa estrutura portuária é Santarém, no Pará. Maior
produtor de arroz do estado, a cidade tem tudo para tornar-se um dos principais canais
de exportação do país. Há dois anos, a americana Cargill instalou no local um porto
graneleiro com o objetivo de escoar para a Europa a soja produzida no cerrado. Para
chegar a Santarém, a soja de Mato Grosso viaja 900 quilômetros por rodovia até Porto
Velho e mais 1 600 quilômetros em barcaças pelos rios Madeira e Amazonas. No
futuro, a Cargill espera usar a BR-163 (Cuiabá Santarém) para encurtar o caminho
entre os produtores do Centro-Oeste e o mercado externo. O problema é que o projeto
de asfaltamento da BR-163 — obra que exigiria investimento de 1 bilhão de reais —
é alvo de críticas de ambientalistas, pois a rodovia atravessa uma das regiões da
Amazônia mais ricas em biodiversidade. O desmatamento na área vem aumentando
desde o anúncio do asfaltamento, diz Nilo D’Ávila, coordenador de campanha de
florestas do Greenpeace.
O exemplo das dez cidades listadas pelos especialistas evidencia o fantástico
potencial do agronegócio no país. O Brasil já é o terceiro maior exportador agrícola do
mundo. É líder na venda de carne, soja e açúcar, entre outros produtos.
Diferentemente do que ocorre com peso pesados internacionais, como Estados
Unidos e China, a produção brasileira ainda tem um enorme espaço para avançar.
Dos 152 milhões de hectares disponíveis à agricultura — sem incluir na conta
nenhuma área de floresta nativa –, apenas 62 milhões são utilizados. O agronegócio
brasileiro tem ainda enorme potencial de crescimento, diz o ministro da Agricultura,
Roberto Rodrigues. O que precisa ser feito agora é apoiar o setor para superar suas
atuais dificuldades e retomar a rota de crescimento.

10 IMPACTOS AMBIENTAIS CAUSADOS PELO AGRONEGÓCIO NO BRASIL

Embora a economia brasileira tenha se dinamizado, o agronegócio ainda é


muito importante para o país. Para se ter uma ideia, estima-se* que cerca de 21% de
todo o PIB brasileiro em 2014, cerca de 5,52 trilhões, seja oriundo dessa atividade,
que se encontra em plena expansão, mesmo durante a crise que o país atravessa
atualmente. Nos últimos quarenta anos, a área cultivada cresceu* cerca de 53%. Dos
851 milhões de hectares que o Brasil possui, cerca de 329,9 milhões estão ocupados
por propriedades rurais, e a produtividade passou de 1.258 kg por hectare para 3.484
kg.

Fonte:www.domchico.blogspot.com.br

Esses números de crescimento do agronegócio são muito animadores em uma


perspectiva meramente econômica. Contudo, em uma perspectiva ambiental, esse
avanço gera preocupação em virtude dos diversos impactos ambientais causados
pela superexploração do meio ambiente. Na busca pelo desenvolvimento e lucro
imediato, muitas empresas desrespeitam as legislações ambientais e exploram o meio
ambiente sem se importar com as consequências dessa exploração, causando
diversos problemas ambientais no espaço agrário. Entre esses problemas, destacam-
se:
O Desmatamento é a primeira consequência da atividade agropecuária no
Brasil. Desde o início da colonização, grande parte das áreas de vegetação nativa do
litoral, região Sul e Centro-Oeste do Brasil foi desmatada para abrir espaço para áreas
de pastagem e cultivo. Em virtude desse crescente desmatamento, o Cerrado e a
Mata Atlântica já foram introduzidos na lista mundial de biomas com grande
diversidade que estão ameaçados de extinção (os chamados Hotspots), existindo
ainda a previsão do desaparecimento do Pantanal e da Amazônia nos próximos anos
caso sejam mantidos os mesmos índices de desmatamento nesses biomas.
Perda da biodiversidade: Com o desmatamento, muitas espécies da fauna e da
flora entram em extinção, pois não conseguem garantir a sua sobrevivência nas
pequenas reservas que restam de seu ecossistema.

Fonte:www.bocadopovonews.com.br

Degradação do solo: O desenvolvimento extensivo da agricultura tem


causado a degradação do solo, que acaba se tornando improdutivo ao longo do
tempo, gerando não só problemas ambientais, mas também problemas econômicos
para aqueles que o degradaram. As técnicas de cultivo inadequadas, o uso intensivo
de máquinas e a não rotatividade das culturas produzidas no solo podem ocasionar o
esgotamento dos nutrientes, compactação, erosão e aceleração da desertificação. Na
pecuária, o pisoteamento contínuo do gado pode compactar o solo e favorecer o
desenvolvimento de processos erosivos.
Esgotamento dos mananciais: em todo processo produtivo das atividades
relacionadas com o espaço agrário, utiliza-se grande quantidade de água. Para se ter
uma noção, na produção de milho, gastam-se 1750 litros por quilo produzido. Já para
a produção de carne no Brasil, gastam-se, em média, 4325 litros por quilo de frango,
15.400 litros por quilo de carne bovina e 10.400 litros para cada quilo de carne suína.
A progressiva retirada de água de mananciais e de reservatórios de águas
subterrâneas por essas atividades pode acarretar a diminuição do volume ou até
mesmo o esgotamento de rios e lençóis freáticos.

Fonte:www.educacao.globo.com

Contaminação do solo, ar e água. O uso indiscriminado de agrotóxicos,


fertilizantes e antibióticos tem causado a contaminação do ar, do solo e da água no
meio rural brasileiro. O agrotóxico, ao ser lançado nas plantações ou no pasto, pode
espalhar-se pelo ar, infiltrar-se no solo, atingir o lençol freático ou ser levado pela água
da chuva para os mananciais.
Geração de resíduos: é cada vez maior a quantidade de resíduos gerados
durante a produção agropecuária no Brasil. Esse fato pode ocasionar problemas no
descarte desses materiais e, como resultado, contaminação ambiental, já que muitos
dos resíduos gerados, como potes de agrotóxicos e as fezes dos animais, devem ter
uma destinação especial.
Nos últimos anos, tem sido crescente o incentivo por práticas agrárias mais
conscientes e que haja um desenvolvimento sustentável do agronegócio no Brasil. A
sustentabilidade favorece não só o meio ambiente, mas também aumenta a
produtividade das empresas e diminui os gastos futuros. Pórem, ainda é muito comum
o desrespeito com as leis ambientais, já que, como a fiscalização ainda é ineficiente,
raramente se pune algum tipo de crime ambiental no país e, quando isso acontece,
na maioria dos casos, as punições são relativamente brandas, as medidas de
reparação exigidas não são postas em prática ou não conseguem recuperar a área
degradada.
11 BIBLIOGRAFIA

LOURENÇO, Joaquim Carlos, César Emanoel Barbosa de Lima; Evolução Do


Agronegócio Brasileiro, Desafios E Perspectivas disponível em
http://www.eumed.net/cursecon/ecolat/br/09/clbl.htm. Acesso em jan/2018.

MORAES, Jorge Luiz Amaral de; O papel dos Sistemas e Cadeias Agroalimentares e
Agroindustriais na formação das aglomerações produtivas dos territórios rurais
disponível em www.lume.ufrgs.br. Acesso em jan/2018.

SALOMÃO, Alexa; Felipe Seibel; Os 10 novos pólos do agronegócio disponível em


https://exame.abril.com.br acesso em jan/2018.

SILVA, Thamires Olimpia. Impactos ambientais causados pelo agronegócio no Brasil;


Brasil Escola. Disponível em <http://brasilescola.uol.com.br/brasil/impactos-
ambientais-causados-pelo-agronegocio-no-brasil.htm>. Acesso em 03 de janeiro de
2018.

TEJON, José Luiz; Agronegócio em 2017: além da economia disponível em


http://www.abag.com.br/conteudos/interna/abag-agronegocio-em-2017. Acesso em
jan/2018.

Você também pode gostar