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Tradução autorizada do idioma inglês da edição publicada por The McGraw-Hill Companies, Inc.
Copyright © 2011 by Jeffry Timmons.
Consulte nosso catálogo completo, os últimos lançamentos e os serviços exclusivos no site www.elsevier.com.br
ISBN: 978-85-352-6458-6
ISBN (digital): 978-85-352-7412-7
ISBN (original) 978-00-780-2910-3
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do uso desta publicação.
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
Dornelas, José
Criação de novos negócios: empreendedorismo para o século 21 / Stephen Spinelli ; Robert J.
Adams Jr.; adaptação da 9ª edição americana, José Dornelas; [tradução Cláudia Mello]. - São
Paulo: Elsevier, 2014.
28 cm.
D757c
Tradução de: New venture creation: entrepreneurship for the 21st century
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-352-6458-6
1. Empresas novas. 2. Empreendedorismo. I. Spinelli, Stephen. II. Adams Jr., Robert J. III. Título.
13- CDD: 658.11
04586. CDU: 658.016.1
DEDICATÓRIA
José Dornelas
Dr. José Dornelas é um dos maiores especialistas brasileiros em empreendedorismo e plano de
negócios e um dos mais requisitados conferencistas sobre o tema no país. Leciona em cursos de
MBA na FIA – Fundação Instituto de Administração, na USP – Universidade de São Paulo, e como
professor convidado em diversos programas no país e no exterior. Realizou seu pós-doutoramento
nos EUA e foi o primeiro e único professor brasileiro como Visiting Scholar no Centro de
Empreendedorismo do Babson College – considerada a melhor escola de negócios com foco em
ensino de empreendedorismo no mundo. É engenheiro pela USP São Carlos, com mestrado e
doutorado também pela USP, especialização em marketing pela ESPM e cursos de extensão em
Harvard e no MIT.
É autor de diversos livros: “Plano de negócios, exemplos práticos”, “Plano de negócios, seu guia
definitivo”, a coleção 101 Maneiras (“Empreenda antes dos 30”, “Empreenda quase sem dinheiro”,
“Seja dono do próprio nariz”, “Ganhe dinheiro na internet”, “Revolucione o marketing da sua
empresa”, “Empreenda nos finais de semana”), “Criação de novos negócios”, “Uma dupla que faz
acontecer”, “Como conseguir investimentos para o seu negócio”, “Planos de negócios que dão
certo”, “Empreendedorismo na prática”, o best-seller nacional “Empreendedorismo, transformando
ideias em negócios”, “Planejando incubadoras de empresas” e “Empreendedorismo Corporativo”,
tendo sido, este último, finalista do Prêmio Jabuti. Tem também publicado e apresentado dezenas
de artigos premiados em congressos, seminários e revistas especializadas, nacional e
internacionalmente.
Dr. Dornelas já atendeu dezenas das 100 maiores empresas brasileiras com treinamentos,
palestras e consultorias em empreendedorismo corporativo e plano de negócios. É ainda
constantemente requisitado a proferir palestras, treinamentos, e atuar em projetos de consultoria de
criação de empresas e desenvolvimento de planos de negócios. Assessorou também mais de 60
incubadoras de empresas e centenas de empreendedores de diversos estados brasileiros. Criou o
site planodenegocios.com.br, uma referência no país no suporte aos interessados em
empreendedorismo e plano de negócios.
Como empreendedor, Dr. Dornelas fundou várias empresas de sucesso e atualmente preside a
Empreende – consultoria especializada em empreendedorismo e planejamento de negócios.
A edição brasileira deste livro comemora dezenas de anos de capital intelectual adquirido através
de pesquisas, desenvolvimento de estudos de casos, desenvolvimento de cursos, ensino e prática.
Esta última incluiu arriscar a reputação e os bolsos dos autores em uma ampla gama de empresas,
envolvendo ex-alunos e outras pessoas. Tudo isso foi possível devido ao apoio de nossas famílias.
Também foi possível devido ao apoio, ao estímulo, ao questionamento e às realizações de muitas
pessoas: colegas de Babson, Harvard, Universidade do Texas, FIA e USP, antigos professores e
mentores, sócios, empreendedores, ex-alunos e nossos muitos amigos que cultivaram esse solo. A
primeira edição brasileira de Criação de novos negócios começou a ser moldada quando um dos
autores, José Dornelas, passava nova temporada como Visiting Scholar no Babson College, em
2007. Naquela ocasião, outro autor deste livro, Steve Spinelli, então diretor do Centro de
Empreendedorismo do Babson College, fez uma proposta irrecusável: adaptar os livros Planos de
Negócios que Dão Certo, Como Conseguir Investimentos para o Seu Negócio e Criação de novos
negócios para a realidade brasileira. Proposta prontamente aceita, os autores passaram para a fase de
planejamento e, então, para a execução! Após a publicação dos dois títulos iniciais e durante o
desenvolvimento da primeira edição brasileira de Criação de novos negócios, infelizmente perdemos
o que para muitos (e também para nós) foi considerado o maior especialista mundial em
empreendedorismo de sua época, nosso amigo Jeff Timmons. Porém, como não poderia deixar de
ser e o que com certeza teria a aprovação do nosso amigo Jeff, esta obra não deixou de ser
atualizada e aperfeiçoada. Juntou-se ao time Robert Adams, que contribuiu significativamente para
as mudanças da nona edição americana (segunda edição brasileira).
Na nona edição americana houve atualizações pontuais ao longo do livro e que foram
incorporadas nesta edição brasileira. Porém, a principal mudança da edição americana, além, é
claro, de agora ter um novo coautor (Robert Adams), foi a concisão dos textos, reduzindo
parágrafos e diminuindo o número total de páginas da obra. Nesta nova edição brasileira, para
evitar perder o que acreditamos ser um diferencial, adotamos uma abordagem diferente, ao
disponibilizar os estudos de caso e exercícios no site www.josedornelas.com.br para download.
Desta maneira, a edição brasileira manteve os textos originais tais como na oitava edição,
atualizando dados e informações como o que ocorreu na nona edição americana, mas sem a
necessidade de redução ou eliminação de partes do texto dos capítulos. Acreditamos que com isso
você, leitor, terá acesso ao que há de mais atual e completo sobre o tema empreendedorismo,
adaptado para a realidade brasileira.
PREFÁCIO
Capa
Folha de Rosto
Créditos
Dedicatória
Sobre os autores
Prefácio
Parte II - A oportunidade
Capítulo 12 - Franchising
Exerícios
Parte I
Fiz muitas coisas empreendedoras, e quando v ocê pensa que existe uma grande
oportunidade, v ocê olha para ela de maneira ponderada e diz: ‘bem, se é uma
oportunidade tão grande, por que ninguém a está aprov eitando? O que eu sei ou v ejo que
mais ninguém v ê? Portanto, muitas v ezes, as oportunidades empreendedoras ocorrem
porque uma série de ev entos se reuniu — especialmente quando se trata de tecnologia — e
v ocê subitamente tem todos os ingredientes de que precisa para ser bem-sucedido em algo
que há apenas alguns instantes era impossív el. Então, supondo que v ocê seja uma boa
pessoa de negócios e um bom executor, v ocê pode conseguir se tiv er foco e souber mantê-
lo’.
Faz todo o sentido que os empreendedores prestem muita atenção na hora de escolher sócios,
parceiros importantes da empresa, e administradores com o objetiv o de complementar os pontos
fracos e os pontos fortes do empreendedor e as necessidades da empresa. Como v eremos, eles
buscam pessoas que se encaixam. Não apenas porque os pontos fracos de um empreendedor podem
ser o tendão de Aquiles de nov as empresas, mas, além disso, o todo é quase sempre maior que a soma
de suas partes.
Por fim, a ética é extremamente importante no empreendedorismo. Em situações altamente
imprev isív eis e frágeis, questões éticas não podem ser abordadas de acordo com ideias simplistas. É
fundamental que um empreendedor entenda, desenv olv a e implemente uma estratégia de
integridade eficaz para a empresa.
Capítulo 1
Tom Friedman
Autor americano, jornalista e três vezes vencedor do Prêmio Pulitzer
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Explicar como a revolução empreendedora nos Estados Unidos ajudou a “horizontalizar o mundo” e o que o
empreendedor brasileiro pode aprender com isso.
2. Avaliar por que essa revolução está impulsionando a futura prosperidade econômica em todo o mundo.
3. Discutir como empreendedores, inovadores e suas crescentes empresas são instrumentos de riqueza e criação de
empregos, inovação e novas indústrias, e como o capital de risco alimenta esse motor.
4. Descrever por que o empreendedorismo é a principal fonte de filantropia no mundo.
5. Compartilhar seus pontos de vista sobre o estudo de caso do ImageCafé.
QUADRO 1.1
• Em 2010, os trabalhadores imigrantes vivendo nos EUA enviaram $50 bilhões de volta para
suas famílias nos países de origem. A Sahara House Care, uma empresa da Índia, entrou nesse
mercado oferecendo 60 produtos e serviços que os imigrantes podem comprar para suas famílias.
Isso inclui serviços como entregar flores, encontrar compradores para imóveis, oferecer enormes
catálogos on-line para quase tudo e até mesmo acompanhar pessoas queridas ao hospital.
• Considere um grande veículo construído sobre um chassis de 18 rodas transformado em uma
instalação hoteleira móvel em que podem dormir até 44 pessoas. Tão americano impossível,
correto? Errado! Um espanhol de 36 anos de idade, Fernando Saenz de Tejada, criou o
Hotelmovil. As cinco primeiras unidades sairão de uma fábrica na Itália e serão vendidas por
$500 mil cada unidade ou alugadas por $8 mil por semana (em um cenário pós-crise europeia).
• Na Noruega, o empreendedor Jan-Olaf Willums, que já enriqueceu com seu investimento na
REC, uma empresa de energia solar, está conduzindo o desenvolvimento de um carro elétrico
que não usa carbono e é integrado à Web, chamado Think. Ele se aliou ao criador do Segway,
Dean Kamen, e aos fundadores da Google, Larry Page e Sergey Brin, e a investidores do Vale do
Silício e da Europa para conseguir $78 milhões. A visão dele: subverter o paradigma secular dos
automóveis movidos a combustível fóssil, mudando a maneira como os carros são fabricados,
vendidos, possuídos e dirigidos.
• “Qualquer coisa parece possível em Ruanda”, afirma o ex-residente de San Francisco, Josh
Ruxin, que, com a esposa Alissa, investiu suas economias no valor de $100 mil para construir o
Heaven Café na capital Kigali. O país africano de 10 milhões de pessoas — destruído pelo
genocídio de um milhão de pessoas em 1994 — agora está atraindo empreendedores
estrangeiros das áreas de turismo, telecomunicações, mineração, agricultura e imóveis.
• Todo mundo sabe, hoje em dia, como a economia chinesa se tornou dinâmica e
empreendedora nos últimos anos, apesar de uma pequena desaceleração mais recente devido à
crise econômica mundial. Mesmo assim, considere os seguintes exemplos de crescimento
disparado no país de 1,3 bilhão de pessoas. O uso de computadores aumentou de 2,1 milhões
em 1999 para 68 milhões em 2004 — um aumento de 34 vezes. E agora já chega a 1 bilhão! De
acordo com a Volkswagen, a produção automotiva, que em 2003 foi de 4,44 milhões, chegou a
13 milhões ao final de 2010. As instalações de telefones totalizaram apenas 100 milhões em
1998, mas aumentaram para 650 milhões em 2004, com os telefones celulares disparando. Em
2012 havia mais de 1 bilhão de celulares na China.
Sentindo esse gigantesco crescimento nas oportunidades, inúmeras empresas de capital de risco
dos Estados Unidos — incluindo a IDG Ventures, a Venrock e a Kleiner, Perkins, Caufield & Byers
— estabeleceram relacionamentos e operações na China e fizeram muitos investimentos bem-
sucedidos (e alguns não tão bem-sucedidos). Esses são apenas alguns exemplos do surto
empreendedor na China. Um padrão semelhante está surgindo, agora, no Brasil, na Índia e em
outros países asiáticos. Vários fundos de capital de risco de origem americana e europeia têm-se
estabelecido no Brasil, que está na rota dos investimentos internacionais, sobretudo após ser
considerado grau de investimento por várias agências de risco.
Finalmente, imagine que uma empresa de outro país, fundada por um de seus amigos próximos
na faculdade, lhe deve $100 mil que vão vencer na próxima semana. A empresa do mutuário se
saiu bem, e alguém lhe garantiu que o valor da promissória será totalmente pago. No dia seguinte,
o governo desse país anuncia uma desvalorização de três para um em sua moeda; e você só vai
receber um terço da promissória. Foi exatamente isso que aconteceu na Argentina em janeiro de
2002, gerando caos financeiro e recessão econômica. Apesar disso, um jovem empreendedor
argentino estava convencido de que ainda existiam grandes oportunidades para uma empresa de
terceirização global de tecnologia da informação com sede em Buenos Aires. Essa empresa faturou
dezenas de milhões de dólares nos últimos anos, mesmo considerando que a crise econômica na
Argentina ainda existe.
Um fenômeno macro
O trabalho de Phelps e Yunus, junto com nossos exemplos anteriores, ilustra, de maneira
tangível, como empreendedores dinâmicos e suas empresas estão alterando, globalmente, o cenário
nessa explosão empreendedora. Isso representa um padrão muito mais amplo, mais generalizado e
também variado de atividade empreendedora. Somos afortunados por termos a última versão do
estudo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) para 2011, bem como a série de Praeger
Perspectives, Engine of Growth, que cuidadosamente rastreiam esse fenômeno. Nós nos baseamos
aqui em ambas as publicações para aumentar e enriquecer seu entendimento e sua perspectiva
sobre a revolução empreendedora global. O acúmulo de vários anos de dados de pesquisas com
população adulta do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) permite uma análise internacional,
com destaque para o Brasil, conforme relato do Sebrae:
Atrás apenas da China e dos Estados Unidos, o Brasil possui 27 milhões de pessoas envolvidas em
um negócio próprio ou na criação de um. Em números absolutos, aparece em terceiro lugar no
ranking de 54 países analisados pela pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2011 (GEM),
realizada anualmente e fruto de uma parceria entre o Sebrae e o Instituto Brasileiro da Qualidade e
Produtividade (IBQP). Dos 27 milhões de empreendedores brasileiros, mais da metade, 14,4
milhões, têm entre 25 e 44 anos. Outros 3,4 milhões têm até 24 anos. Seis milhões estão na faixa de
45 a 54 anos, e 3,3 milhões têm mais de 55 anos. A renda mensal obtida por metade dos
empreendedores chega a, no máximo, três salários mínimos. Um terço deles fatura entre três e seis
salários mínimos e menos de 15% tira mais de seis salários mínimos por mês com o próprio negócio.
Oportunidade e necessidade
No Brasil, desde 2003 os empreendedores por oportunidade são maioria, sendo que a relação
oportunidade versus necessidade tem sido superior a 1,4 desde o ano de 2007. Em 2011 o Brasil
novamente supera a razão de dois empreendedores por oportunidade para cada empreendedor por
necessidade, o que já havia ocorrido em 2008 e novamente em 2010. Em 2011, para cada
empreendedor por necessidade havia outros 2,24 que empreenderam por oportunidade. Este valor
é semelhante à média dos países que participaram do estudo este ano, que foi de 2,2
empreendedores por oportunidade para cada um por necessidade. A pesquisa constata que no
Brasil os negócios são iniciados mais porque os empreendedores detectam uma oportunidade de
negócio. Para cada empresa aberta porque o trabalhador teve a necessidade de investir em um
negócio próprio, outras 2,24 são iniciadas devido à visão do empreendedor, que enxergou uma
oportunidade no mercado.
Gênero
A mulher brasileira é historicamente uma das que mais empreende no mundo. No Brasil, as
mulheres atingiram a quarta maior TEA dentre todos os 54 países participantes da pesquisa em
2011. Em 2011, entre os empreendedores iniciais, 51% são homens e 49%, mulheres, mantendo o
equilíbrio entre gêneros no empreendedorismo nacional.
Faixa etária
Em 2011 verificou-se que a faixa etária que tem a maior concentração de empreendedores iniciais
é aquela que vai dos 25 aos 34 anos. Dentre os empreendedores estabelecidos, a faixa etária com
maior concentração é a de 45 a 54 anos. Isto quer dizer que entre os brasileiros com idades entre 25
e 34 anos, 4,9 milhões estavam envolvidos em algum empreendimento em 2011. Dentre os
empreendedores estabelecidos, cerca de 3,6 milhões estão na faixa etária de 45 a 54 anos.
Fonte: Agência Sebrae de Notícias
Embora muitos não considerem a expansão internacional como parte do processo de uma nova
empresa, em sua contribuição para a série Praeger Perspectives, Going Global, Pat Dickson analisa
pesquisas que mostram como isso é corrente. Por exemplo, 80% de todas as empresas de porte
pequeno a médio são afetadas ou envolvidas pelo comércio internacional, e os avanços em
tecnologia, fabricação e logística criaram oportunidades nas quais empresas de todos os tamanhos
podem competir internacionalmente. Dickson observa que essa visão de um mercado mundial
emergente acessível até mesmo para os países e organizações mais remotos e com menos recursos é
descrita por Thomas Friedman em The World Is Flat, que traça a convergência de eventos
tecnológicos e mundiais e seu papel para trazer à tona mudanças significativas nas cadeias de
suprimento tradicionais.
É claro que a principal vertente do empreendedorismo nos Estados Unidos não apenas teve um
impacto extraordinário sobre o cenário cultural e econômico daquele país. A revolução
empreendedora dos Estados Unidos se tornou um modelo para executivos, educadores e
elaboradores de políticas em todo o mundo. Por exemplo, como parte de uma meta para “tornar a
União Europeia (UE) a mais competitiva economia do mundo até 2010”, em 2000 foi criado um
plano de ação com os seguintes objetivos amplos:
Esses objetivos espelham os fatores que foram fundamentais para o avanço do empreendedorismo
nos Estados Unidos. Em julho de 2004, uma comissão da UE complementou esses objetivos com
recomendações para estimular a mente empreendedora através da educação escolar:
A estrada à frente
Alguns anos atrás, o famoso empreendedor do setor imobiliário do Texas, Trammel Crow, foi
nomeado para a Babson’s Academy of Distinguished Entrepreneurs [Academia Babson de
Empreendedores Famosos]. Esse grande homem, tanto fisicamente quanto pela reputação, colocou
o braço em volta do ombro de Jeffry Timmons e fez a temida pergunta: “Professor Timmons” (o
tom revelava que ele sabia a própria resposta), “você realmeeeente pode ensinar alguém a ser
empreendedor [nossa ênfase fonética]?” “Sr. Crow”, respondeu Timmons, “acho que o senhor
realmente está me perguntando o seguinte: Você é tão irracional e otimista que acredita que
consegue pegar alunos medianos de faculdade e, em 15 semanas e 35 a 40 horas de tempo em sala
de aula, transformá-los no equivalente econômico de um Beethoven ou Picasso? Acho que você e
eu sabemos a resposta para essa pergunta, Sr. Crow.” Ele riu e sorriu e simplesmente disse:
“Entendo o que você quer dizer”.
À medida que o tempo passou, percebemos que a pergunta não é muito boa, e realmente não
importa. Você consegue ensinar alguém a realizar os movimentos de basquete de um Michael
Jordan, a elegância criativa de um Pelé, a velocidade e competitividade de um Cesar Cielo? Se você
aplicar esse padrão excepcional da genialidade, a maioria provavelmente vai responder que não.
Mas se você perguntar: “Podemos criar o ambiente para oferecer às pessoas a oportunidade de
aprender, construir, testar, descobrir e remodelar suas aptidões e seu talento como
empreendedores?” Durante décadas, nossa resposta foi um sonoro sim, e realmente temos feito
exatamente isso na Babson College desde sua fundação em 1919.
Em essência, as experiências programáticas cumulativas dos alunos que se envolvem em cursos,
projetos práticos e competições de plano de negócios, que de fato lançam novas empresas e que têm
inúmeras interações com o corpo docente, além de empreendedores e outros alunos, lhes
apresentam colisões e competições que lhes permitem ver muito mais claramente o que é possível
— e ter a coragem de tentar. Neste livro, nós o instigaremos a pensar grande o suficiente. Você verá
o fracasso como parte do processo de aprendizagem: não existe o fracasso de um empreendedor. As
empresas fracassam; as estratégias podem não funcionar; um produto pode ter falhas. A chave para
os iniciantes é manter o custo da educação (isto é, o investimento) baixo e aprender com a maior
rapidez e o máximo que puderem. Assim como nos esportes, se você criar o equivalente às equipes
de base no futebol ou voleibol e então as equipes juniores e profissionais, você acabará tendo um
fluxo de indivíduos que se encaixarão na curva normal de desempenho como empreendedores.
Eles descobrirão por si mesmos, nessa competição darwiniana, em que nível eles podem atuar ou
não, e decidirão se isso é bom para eles. Além disso, o melhor de todos, assim como acontece com
atletas da mais alta qualidade, não vai simplesmente se contentar com uma vitória: por isso existe o
padrão de empreendedores reincidentes e empreendedores que já são ricos e arriscam milhões para
iniciar outras empresas. Talvez um dos exemplos recentes mais extraordinários seja Dan Neeleman,
fundador da JetBlue, empresa aérea americana de preços baixos, que criou a Azul, com o mesmo
propósito, no Brasil.
Fica cada vez mais claro que, além do aprendizado dos detalhes práticos do conhecimento de
contabilidade, finanças, fluxo de caixa, plano de negócios e assuntos relacionados, existem
pensamentos que podem ser ensinados e aprendidos — maneiras de pensar e raciocinar,
habilidades, conceitos e princípios que, quando traduzidos em estratégias, táticas e práticas podem
melhorar significativamente as chances de sucesso. Essa é a essência do conteúdo e do processo em
que você vai se envolver com Criação de novos negócios. Dentre as coisas mais importantes que você
pode aprender estão: como pensar na diferença entre uma boa ideia e uma boa oportunidade; o
desenvolvimento e a modelagem da ideia para transformá-la em oportunidade; a minimização e o
controle dos recursos; e a frugalidade e a autossuficiência de recursos. Todas essas áreas podem ser
aprendidas e ensinadas. Ainda assim, uma das áreas mais importantes do pensamento
empreendedor lida com o papel do risco, do fracasso e até mesmo da falência e a atitude em relação
a isso. No Japão e na Alemanha, por exemplo, depois que você leva uma empresa à falência, é
praticamente impossível, no sentido jurídico, iniciar outra empresa.
Para o empreendedor, o pensamento quando mil experimentos fracassam é exatamente como o
de Thomas Edison: “Não foram mil fracassos; foram apenas mil maneiras que não funcionaram!” A
nova empresa nada mais é do que um quebra-cabeças de enorme e perpétuo aprendizado; é, no
mínimo, tridimensional, altamente dinâmica, caótica e não muito previsível. O processo é
caracterizado por uma enorme contradição: ele exige pensamento e planejamento cuidadosos, mas
grande parte dele é um evento não planejável, muito semelhante à obsolescência de um plano de
batalha depois que esta se inicia.
TABELA 1.1
Roxanne Quimby é uma empreendedora muito diferente, mas extraordinária. Apreciando uma
vida de subsistência básica em uma pequena fazenda nas florestas do estado de Maine, ela
concebeu a ideia de desenvolver produtos naturais a partir da cera de abelha e de outros
componentes naturais. Sua nova empresa começou devagar e era frágil. Ela atingiu o sucesso,
mudou a empresa para a Carolina do Norte e acabou vendendo a empresa por cerca de $200
milhões. Roxanne retornou ao Maine e está usando uma parcela significativa de sua fortuna para
comprar grandes lotes de terra improdutiva ao norte do Maine — mais de 110 quilômetros
quadrados até agora — que ela espera um dia se tornem parte de uma reserva federal.
Jack Stack conseguiu subir na vida, depois de abandonar a escola, e chegar à sala de
correspondência e ao chão de fábrica da International Harvester Plant em Springfield, Missouri, no
início da década de 1980, quando foi anunciado que a fábrica provavelmente ia fechar. Ele e um
grupo de colegas de trabalho fizeram uma vaquinha de $100 mil com seu próprio dinheiro e
pegaram emprestados $8,9 milhões em um banco local — observe a alavancagem de 89 para 1! — e
compraram a fábrica por 10 centavos de dólar por ação para tentar salvar a empresa e seus
empregos. A fábrica estava falindo com receitas de $10 milhões. Tendo iniciado como reconstrutora
de motores enviados aos Estados Unidos pela Mercedes, a empresa se expandiu até incluir mais de
20 empresas. O resultado é uma organização que praticamente morreu, mas passou a uma receita
atual de quase $200 milhões. O livro de Stack, The Great Game of Business, é um clássico dos
negócios.
Brian Scudamore iniciou sua empresa 1-800-GOT-JUNK? em 1989 logo que saiu do ensino
médio, com $700 e uma velha pick-up batida. Em 2006, a empresa registrou vendas de mais de
$112 milhões, saindo de apenas $2 milhões em 2000. Ao longo dos últimos dois anos, sua equipe
passou de 43 para 116 funcionários. Seu plano de duplicar novamente será parcialmente financiado
pelos seus primeiros escritórios internacionais na Austrália e na Inglaterra. Com 330 filiais e 250
franqueados, a 1-800-GOT-JUNK? é o maior serviço de remoção de entulhos do mundo.
Em 1982, Patricia Gallup e David Hall decidiram que devia haver um jeito melhor de comprar
produtos de tecnologia da informação, então eles criaram a PC Connection. Vendo uma
significativa oportunidade de negócio no novo setor de computadores pessoais, os dois
empreendedores lançaram a empresa de suprimentos para computadores com a filosofia de que
oferecer conselhos técnicos e foco no serviço ao cliente era tão importante quanto ter preços baixos.
A PC Connection lançou suas ações no mercado em 1998 e cresceu a ponto de se tornar uma
empresa da Fortune 1000, com receita de $1,7 bilhão e mais de 1.600 funcionários.
Enquanto ainda era candidata ao MBA no Babson College, Ann Stockbridge Sullivan
desenvolveu um plano de negócios para construir uma comunidade para aposentados em
Kennebunk, Maine. Ela conseguiu obter $6 milhões em capital, atingiu uma taxa de ocupação de
97% no primeiro ano, e tem uma lista de espera de dois anos desde 1993!
Wayne Postoak, um nativo americano, era um jovem professor e um técnico de basquete
altamente bem-sucedido na Universidade Haskell Indian Nations, em Lawrence, Kansas, na
década de 1970. Haskell é a única universidade nacional de quatro anos para nativos americanos,
matriculando alunos de cerca de 200 tribos em toda a América do Norte. Haskell também criou o
primeiro Centro de Estudos Empreendedores Tribais dos Estados Unidos em 1995. Os filhos de
Postoak queriam frequentar a faculdade e a escola de Medicina, pelas quais ele sabia que não
poderia pagar com seu salário de técnico e professor. Ele decidiu criar sua própria empresa de
construção, que hoje emprega quase 100 pessoas e tem vendas acima de $10 milhões. (Observe que
menos de 4% de todas as empresas dos Estados Unidos ultrapassam os $10 milhões em vendas
anuais.)
Em 2001, aos 14 anos de idade, Sean Belnick investiu $500 para iniciar uma empresa de entrega
direta de móveis de escritório — em seu quarto. A empresa com sede na Geórgia, que em 2006
tinha uma receita de $24 milhões, se expandiu para móveis residenciais, equipamentos médicos e
móveis escolares. Clientes notáveis incluem Microsoft, o programa de televisão American Idol e o
Pentágono.
Matt Coffin, aluno da Babson, fundou a LowerMyBills.com em 1999. A empresa se associou a
prestadores de serviços de mais de 20 categorias, incluindo hipotecas residenciais, empréstimos
patrimoniais residenciais, empréstimos para compras, empréstimos para consolidação de dívidas,
cartões de crédito, empréstimos para compra de automóveis, seguros e aparelhos de telefonia
celular. A empresa inventou uma ampla gama de propagandas criativas on-line para atrair os
clientes para um serviço gratuito, ganhando dinheiro com comissões dos vendedores participantes.
Em 2007, a LowerMyBills.com era uma das cinco maiores anunciantes na Internet e a número um
entre os anunciantes financeiros. Matt, um líder motivacional cheio de energia, era autossuficiente,
econômico e orientado pelos números a ponto de conseguir $13 milhões em capital de risco ao
mesmo tempo em que manteve mais de 25% de participação no negócio — um belo feito. Em maio
de 2005, ele vendeu a empresa para a Experian por aproximadamente $400 milhões.
QUADRO 1.3
TABELA 1.2
Inovação Na essência do processo empreendedor encontra-se o espírito inovador. Afinal de
contas, de Ben Franklin, passando por Thomas Edison, a Steve Jobs e Bill Gates, a história
apresenta um fluxo contínuo de brilhantes empreendedores e inovadores. Durante anos, a
imprensa, o público e os elaboradores de políticas acreditaram que as pesquisas e o
desenvolvimento que ocorriam em grandes empresas depois da Segunda Guerra Mundial e eram
impulsionados pelo nascimento da era espacial depois do Sputnik em 1957 seriam os maiores
propulsores de inovação nos Estados Unidos.
Essa crença foi comprovada como mito — de modo semelhante às crenças anteriores sobre a
criação de empregos — quando a National Science Foundation [Fundação Nacional de Ciências], o
Departamento de Comércio dos Estados Unidos e outros órgãos começaram a registrar pesquisas
nas décadas de 1980 e 1990 que surpreenderam muitas pessoas. Eles descobriram que, desde a
Segunda Guerra Mundial, as pequenas empresas empreendedoras têm sido responsáveis por metade
de todas as inovações e 95% de todas as inovações radicais nos Estados Unidos! Outros estudos
mostraram que o setor de pesquisa e desenvolvimento em empresas empreendedoras menores era
mais produtivo e eficiente que em grandes empresas: empresas menores geravam o dobro de
inovações por dólar que os gigantes investiam em P&D; o dobro de inovações por cientista de P&D
que os gigantes; e 24 vezes mais inovações por dólar de P&D versus as megaempresas com mais de
10 mil funcionários!
Evidentemente, as empresas empreendedoras menores fazem as coisas de maneira diferente
quando se fala em atividades de pesquisa e desenvolvimento. Esse ambiente inovador foi
responsável pelo desenvolvimento do transistor e, posteriormente, do semicondutor. Hoje, a Lei de
Moore — que mostrava que o poder do chip de computador duplicará a cada 18 meses por um
preço constante — está sendo superada pela moderna tecnologia de chips. Combine isso com o
postulado do guru de administração Peter Drucker: Um aumento de dez vezes na produtividade de
qualquer tecnologia resulta em descontinuidade econômica. Portanto, a cada cinco anos haverá um
aumento de dez vezes na produtividade. O autor George Gilder recentemente argumentou que a
banda de comunicação duplica a cada 12 meses, criando uma descontinuidade econômica a cada
três ou quatro anos.5 Não é necessário ter muita imaginação para ver o profundo impacto
econômico dessa produtividade galopante em todos os usos e aplicações que podem ser imaginados
para um produto. A explosão em uma ampla gama de oportunidades é iminente.
QUADRO 1.4
Esse cilindro da inovação do motor empreendedor da economia dos Estados Unidos levou à
criação de importantes novas invenções e tecnologias. O Quadro 1.4 resume algumas dessas
importantes inovações.
Hoje, o passo rápido da inovação está realmente se acelerando. Novas revoluções científicas em
biotecnologia e nanotecnologia estão impulsionando as próximas grandes ondas de inovação. Nano
significa um bilionésimo, portanto um nanômetro é um bilionésimo de metro ou 1/80.000 do
diâmetro de um fio de cabelo humano. Uma nova classe de produtos de tamanho nano nas áreas
de medicamentos, dispositivos ópticos de rede e materiais a granel está atraindo financiamentos de
pesquisas e investimento privado substanciais.6 A próxima geração de empreendedores criará
grandes empresas e riquezas nessas e em outras aplicações da nanotecnologia.
Capital de risco e capital de expansão O capital de risco tem raízes profundas na história
americana, e é ainda incipiente, mas crescente no Brasil. Esse capital de risco privado é o
combustível do motor do empreendedorismo nos Estados Unidos. Os capitalistas de risco clássicos
funcionam como coaches e sócios de empreendedores e inovadores em uma etapa muito inicial
para ajudar a formar e acelerar o desenvolvimento da empresa.7 As empresas altamente bem-
sucedidas e de rápido crescimento apoiadas por investidores de capital de risco funcionam como
um “Quem é quem na economia”: Apple Computer, Intuit, Compaq Computer, Staples, Intel,
Federal Express, Cisco, e-Bay, Starbucks Coffee, Nextel Communication, Juniper Networks,
Yahoo!, Sun Microsystems, Amazon.com, Genetech, Google, Blackberry, Microsoft e milhares de
outras. Exemplos típicos desses investimentos lendários que criaram empresas e lideraram novos
setores industriais são os seguintes:
• Em 1957, o General George Doriot, pai do moderno capital de risco americano, e seu jovem
sócio Bill Congelton da American Research & Development (ARD), investiram $70 mil por 77%
das ações de base de uma nova empresa criada por quatro alunos do MIT, liderados por
Kenneth Olsen. Quando o investimento foi vendido em 1971, valia $355 milhões. A empresa
era a Digital Equipment Corporation e se tornou líder mundial em microcomputadores na
década de 1980.
• Em 1968, Gordon Moore e Robert Noyce se associaram a Arthur Rock para lançar a Intel
Corporation com $2,5 milhões, e $25 mil de cada um dos fundadores. Hoje, a Intel é líder em
semicondutores.
• Em 1975, Arthur Rock, em busca de conceitos “que mudam a maneira como as pessoas vivem e
trabalham”, investiu $1,5 milhão na start-up da Apple Computer. O negócio foi avaliado em
$100 milhões na primeira oferta pública de ações da Apple em 1978.
• Depois de prejuízos mensais de $1 milhão, e mais, por 29 meses consecutivos, surgiu uma nova
empresa que lançou a entrega em 24 horas de pequenos pacotes. Os $25 milhões investidos na
Federal Express valiam $1,2 bilhão quando a empresa emitiu ações para o público.
Uma boa representação do longo período de gestação de empresas grandiosas como essas, cuja
expansão coletiva se transforma em setores industriais totalmente novos, é refletida no interesse
quase antigo em colher a energia do sol como fonte de energia. O movimento começou quando o
inventor francês Auguste Mouchout patenteou o primeiro motor movido a energia solar do mundo
— uma inovação considerada por ele uma alternativa à perigosa dependência do mundo
industrializado em relação ao carvão. O ano? 1861.
Por um século e meio, a inovação em fontes de energia solar nunca conseguiu gerar um modelo
competitivo em termos de custo em relação aos combustíveis fósseis. Os capitalistas de risco fizeram
apostas modestas na energia solar durante anos, mas, em 2006, tudo mudou (Gráfico 1.1). Em
2006, os capitalistas de risco investiram $590 milhões em 49 empresas de tecnologia solar e/ou
fotovoltaicas, mais do que os $254 milhões em 41 empresas ligadas à energia solar um ano antes —
um total, em dois anos, que ultrapassou os cinco anos anteriores. A empresa de consultoria Clean
Edge prevê que a indústria solar crescerá de $15,6 bilhões em 2006 para $69,3 bilhões até 2016.8
Assim, podemos concluir que é iminente um grande salto nas empresas de energia solar, agora que
o setor industrial está recebendo uma força de tração e o “dinheiro inteligente” está se
aproximando? Pelo contrário, a visão suprema que está alimentando esses investimentos — de que
a energia solar será capaz de competir com outras fontes de energia em termos de custo — ainda
está muito distante.
A recente onda de interesse do capital de risco no biocombustível também reflete esse perfil de
investimento. As empresas de biocombustível — modelos de negócios focados na criação de
alternativas baratas aos combustíveis fósseis usando plantas e materiais residuais — são propostas
caras. Essas empresas, que se apoiam muito em infraestrutura, normalmente exigem $100 milhões
em capital de risco — cerca de dez vezes o que seria necessário para uma start-up normal de
software. As empresas de biocombustível também exigem até $100 milhões adicionais em dinheiro
ininterrupto na forma de financiamento de dívidas e projetos.9 O lado positivo, claro, é que, mais
cedo ou mais tarde, uma Exxon/Mobil do biocombustível surgirá para mudar todo o cenário de uso
e produção de energia. Praticamente todos os novos setores industriais, da biotecnologia ao
software e à comunicação sem fio com a Internet, envolveram visionários empreendedores e
investidores de risco pacientes.
Milhares de empresas existem hoje devido ao apoio do capital de risco. Evidentemente, a start-up
de tecnologia se beneficiou do capital de risco — empresas como Apple Computer, Cisco,
Genentech, Google, eBay e Yahoo!. Mas inúmeras outras, como Federal Express, Staples, Outback
Steakhouse e Starbucks são exemplos de empresas tradicionais lançadas com apoio de capital de
risco.
Estudos sugerem que mais de um a cada três americanos vai usar um produto ou serviço médico
gerado por uma empresa de ciências biológicas apoiada por capital de risco.10 De acordo com a
Global Insight (www.globalinsight.com), em 2006, as empresas americanas apoiadas por capital de
risco foram responsáveis por mais de 10,4 milhões de empregos e geraram mais de $2,3 trilhões em
receitas. Praticamente um em cada dez empregos no setor privado encontra-se em uma empresa
que originalmente foi apoiada por capital de risco. Quase 18% do PIB dos Estados Unidos é gerado
por empresas apoiadas por capital de risco. O que é especialmente importante é que esses empregos
são novos e, na verdade, muitas vezes estão em novos setores industriais, como mostra o Quadro
1.4.
Além dos $201 bilhões de capital de risco, indivíduos moderadamente ricos a muito ricos
representam um consórcio anual de cerca de $120 bilhões, que eles investem em novas empresas.
Os chamados investidores anjos representam um subconjunto qualificado desse consórcio de
investidores. O mercado de investidores anjos mostrou sinais de crescimento estável em 2006, com
investimentos totais de $25,6 bilhões, um aumento de 10,8% sobre 2005, de acordo com o Centro
de Pesquisas de Capital de Risco da Universidade de New Hampshire. Um total de 51 mil
organizações empreendedoras recebeu financiamento anjo em 2006, um aumento de 3% sobre
2005. Em 2006, havia 234 mil investidores ativos. O aumento acentuado no total de dólares de
investimento foi acompanhado de um aumento mais modesto no total de transações, resultando
em um aumento de 7,5% no tamanho médio da negociação em comparação com 2005. Essa
ascensão contínua no total de investimentos aponta para um saudável mercado anjo.
GRÁFICO 1.1
Semelhantemente aos capitalistas de risco, esses anjos acrescentam muito mais do que dinheiro ao
processo empreendedor. Por serem empreendedores bem-sucedidos, eles levam experiência, curvas
de aprendizado, redes de contato, sabedoria e maturidade às empresas inexperientes nas quais
investem. Como diretores e conselheiros, funcionam como coaches, confidentes, mentores e
torcedores. Dada a explosão da economia empreendedora nos últimos 30 anos, agora existe um
núcleo de empreendedores que fizeram a colheita no país 20 a 30 vezes maior que na geração
anterior. Esse consórcio de talento, conhecimento e dinheiro continua a exercer um papel
extremamente importante no cultivo e na aceleração das capacidades da geração eletrônica.
Filantropia e liderança: retribuindo à comunidade
Outro papel menos conhecido e amplamente ignorado dos empreendedores americanos é o dos
filantropos e dos líderes de comunidade criativos. A maioria dos novos prédios, salas de aula,
instalações atléticas e cátedras mantidas por doações em universidades dos Estados Unidos foram
financiados por um fundador de empresa que fez a colheita e deseja retribuir à comunidade. As
maiores doações e a maior proporção de doadores entre qualquer grupo que doa para campanhas
de capital em universidades são empreendedores bem-sucedidos. No passado, metade do total do
fundo de doações do MIT era atribuída a doações de ações de fundadores.
Esse mesmo padrão também caracteriza igrejas, hospitais, museus, orquestras e escolas locais. A
maioria das doações financeiras a essas instituições vêm de empreendedores bem-sucedidos. De
acordo com a revista Chronicle of Philanthropy, o número de doações individuais de $100 milhões
ou mais atingiu um recorde em 2006. Essas 21 doações foram feitas, principalmente, por
empreendedores individuais a universidades, hospitais e instituições de caridade. O tempo e a
liderança criativa que os empreendedores dedicam a essas instituições comunitárias são tão
importantes quanto o dinheiro. Converse com qualquer pessoa de outro país que passou tempo
suficiente nos Estados Unidos para ver esses líderes empreendedores ativos em suas comunidades,
e elas o convencerão de como isso é verdadeiramente singular. As principais fundações dos Estados
Unidos foram todas criadas por doações dos fundadores de grandes empresas: Ford, Carnegie,
Kellogg, Mellon, Kauffman, Gates.
Como podemos imaginar, quando um empreendedor bem-sucedido se envolve no setor sem fins
lucrativos, esses esforços muitas vezes envolvem o que se tornou conhecido como filantropia “de
alto envolvimento”, uma abordagem na qual o fundador se envolve de maneira direta e pessoal
com a organização. Esse envolvimento muitas vezes implica um auxílio estratégico, como
planejamento de longo prazo, recrutamento de conselho e de executivos, coaching e alavancagem
de relacionamentos para identificar recursos adicionais e facilitar parcerias. Essa filantropia com
grande envolvimento tem um foco mais forte e investimentos mais profundos em uma quantidade
menor e mais seletiva de parceiros de investimento, e uma saudável ambição pelo alcance e a
propagação de longo prazo de seus esforços.11
Um exemplo desse tipo de organização sem fins lucrativos é a Fundação Robin Hood, lançada em
1988 por três executivos de Wall Street. Essa fundação é uma engajada fábrica de doações,
aplicando à filantropia os princípios de investimento. Desde sua fundação, a Robin Hood fornece
cerca de $175 milhões em doações de dinheiro e mais $95 milhões em doações de bens e serviços
de apoio estratégico. Pouco depois dos ataques de 11 de setembro, essa organização estabeleceu um
fundo de assistência social e até 2004 tinha fornecido $54 milhões em doações às pessoas afetadas
pelos ataques.
O Kauffman Center for Entrepreneurial Leadership [Centro Kauffman de Liderança
Empreendedora], em Kansas City, na Fundação Ewing Marion Kauffman, atualmente está entre as
quinze maiores fundações dos Estados Unidos com aproximadamente $2 bilhões em ativos. Sua
visão é clara: pessoas autossuficientes em comunidades saudáveis. A missão do Centro Kauffman
está na essência da revolução empreendedora: acelerar o empreendedorismo nos Estados Unidos.
O Sr. K. provavelmente era mais conhecido fora de Kansas City como proprietário do Kansas City
Royals (que ele posteriormente doou à cidade). Seu gênio empreendedor criou a Marion
Laboratories, Inc., que atingiu $1 bilhão em receita e $6,5 bilhões em capitalização de mercado.
Você vai conhecer melhor o notável sucesso do Sr. K. em capítulos subsequentes, mas as citações a
seguir resumem bem o espírito empreendedor e a filosofia de vida do Sr. K.:
Viva de acordo com o que você fala, faça suas ações acompanharem suas palavras. Você deve
viver de acordo com o que prega, fazer certo e mais de uma vez. Dia após dia.
Como empreendedor, você realmente precisa desenvolver um código de ética, um código de
relacionamento com as pessoas, porque são as pessoas que vêm se unir a você. Elas têm seus
próprios sonhos. Você tem o sonho da sua empresa. Eles devem se combinar de alguma forma.
Esses sentimentos são espelhados algumas vezes por megaempreendedores altamente bem-
sucedidos que criaram as principais fundações dos Estados Unidos: Carnegie, Olin, Ford, Kellogg,
Lilly, Gates e Blank, citando apenas algumas. O que é muito menos conhecido e apreciado pelo
público em geral é até que ponto essa ética da filantropia de retribuição à comunidade é repetida
por empreendedores no nível da comunidade local. Veja, por exemplo, a família Varney, de
Antrim, New Hampshire. Sua empresa Monadnock Paper Mills, uma empresa de várias gerações, é
a maior empregadora da região. Eles têm sido líderes do setor industrial na fabricação
ambientalmente limpa de papel. Na verdade, o principal rio quilômetros abaixo do moinho da
fábrica tem uma das melhores águas do estado para pesca e soltura de trutas. Eles também apoiam
muitas das causas da comunidade, desde o hospital local até o centro de artes e grandes
organizações de conservação e muito mais, para os quais a família contribuiu generosamente com
tempo e dinheiro. A extensão desse voluntariado e dessa generosidade em comunidades por todos
os Estados Unidos muitas vezes surpreende visitantes europeus e sul-americanos.
É impossível encontrar uma construção, um estádio, um centro de ciências ou artes em
universidades públicas ou privadas nos Estados Unidos que não tenha vindo da criação e da doação
de riqueza de um empreendedor altamente bem-sucedido.
Um ótimo exemplo de empreendedor filantrópico é o ex-aluno da Babson, Arthur M. Blank, co-
fundador da The Home Depot e proprietário do Atlanta Falcons. Como forma de retribuição à
comunidade, ele fundou o Centro de Empreendedorismo Arthur M. Blank no Babson College,
inaugurado em 1998, e criou a Fundação Familiar Arthur Blank para apoiar empreendimentos
inovadores, proporcionando circunstâncias melhores para jovens de baixa renda e suas famílias.
Em faculdades e universidades, hospitais, igrejas e sinagogas, escolas particulares, museus e afins,
os conselhos administrativos e os curadores que lideram, financiam e ajudam a perpetuar essas
instituições são, com muita frequência, empreendedores. Como em suas próprias empresas, sua
liderança empreendedora criativa é a contribuição mais valiosa.
• Entre 1997 e 2004, o número de empresas privadas de propriedade de mulheres negras, latinas
e outras de origem estrangeira nos Estados Unidos cresceu 54,6%, enquanto o número total de
empresas nos Estados Unidos cresceu apenas 9% no mesmo período. Essas empresas parecem
estar prosperando, já que tanto o nível de emprego (aumento de 61,8%) quanto o de vendas
(aumento de 73,6%) também cresceram durante esse período. A propriedade de empresas
femininas está em todos os grupos, mas o número de empresas de propriedade de latinas
(aumento de 63,9%) e de propriedade de asiáticas (aumento de 69,3%) cresceu especialmente
rápido.
• Um relatório de 2003 da Babson College/MassMutual sobre mulheres em empresas de
propriedade familiar descobriu que as empresas familiares de propriedade de mulheres eram
praticamente duas vezes mais produtivas que as empresas familiares de propriedade de homens.
Com receita média de $26,9 milhões, as empresas administradas por mulheres eram um tanto
menores em comparação com as equivalentes de propriedade de homens ($30,4 milhões de
receita média). No entanto, as mulheres geravam suas vendas com muito menos funcionários
em média — 26 indivíduos, comparado com 50 em empresas de propriedade de homens.
Conclusão: as mulheres nos negócios costumam fazer mais com menos.
Grupos minoritários
• Em 2003, os afro-americanos autônomos atingiram os níveis máximos em número, 710 mil, e
percentual, 5,2% (calculado como a quantidade de autônomos afro-americanos dividida pelo
número de afro-americanos na força de trabalho).
• O 2002 Panel Study of Entrepreneurial Dynamics [Estudo sobre a Dinâmica do
Empreendedorismo] (Babson College, Fundação Ewing Marion Kauffman) registrou que os afro-
americanos têm uma probabilidade 50% maior de iniciar uma empresa do que os brancos. Essa
diferença é ainda mais notável entre populações com maior formação: Os homens afro-
americanos com formação superior têm uma probabilidade 2,6 vezes maior de iniciar uma
empresa do que os equivalentes brancos.
• Os autônomos latinos aumentaram significativamente, de 241 mil em 1979 para 1 milhão em
2003. O percentual de autônomos latinos era de 7% (calculado como a quantidade de
autônomos latinos dividida pelo número de latinos na força de trabalho) em 2003.
• Os dados do Censo de 2000 mostram que, desde 1997, o número de empresas de propriedade
de nativos americanos aumentou 84%, para 197.300 e que suas rendas brutas aumentaram
179%, para $34,3 bilhões. Os asiático-americanos e os ilhéus do Pacífico constituem pouco mais
de 3% da população e são proprietários de quase 4,5% das empresas.
• Embora os esforços para promover o empreendedorismo entre as comunidades de baixa renda
tenham se expandido ao longo dos anos, apenas recentemente as comunidades de nativos
americanos começaram a se beneficiar desses programas e serviços. A Corporation for Enterprise
Development and Native American Entrepreneurship Development [Corporação para o
Desenvolvimento de Empresas e o Desenvolvimento do Empreendedorismo de Nativos
Americanos] foi criada para fortalecer o apoio ao empreendedorismo de nativos americanos em
todo o país.
Empreendedorismo jovem
• O ensino de empreendedorismo agora está firmando suas bases desde o ensino primário até o
ensino médio em pelo menos 30 estados americanos. Pelo menos oito estados aprovaram leis
que exigem esse tipo de ensino, e o Departamento Federal de Educação aprovou o primeiro
currículo, YESS/MiniSociety, criado pelo Centro Kauffman.
• A National Foundation for Teaching Entrepreneurship [Fundação Nacional para o Ensino de
Empreendedorismo] expandiu significativamente seus programas educacionais fora da escola em
cidades do interior para ajudar jovens em busca da autossuficiência e do amor-próprio através
do empreendedorismo. A NFTE agora ensina 10 mil alunos ao ano.
• Os Escoteiros e as Bandeirantes americanos criaram, em 1997, com a ajuda e o apoio do Centro
Kauffman, os primeiros distintivos de honra ao mérito no campo do empreendedorismo. O
símbolo do distintivo: uma mão tentando alcançar uma estrela!
TABELA 1.3
TABELA 1.4
TABELA 1.5
TABELA 1.6
As implicações de tudo isso são profundas para aspirantes a empreendedores e para o país. A
riqueza geral do país, representada como um balanço patrimonial dos lares americanos, aumentou
de $550 bilhões em 1970 para cerca de $9 trilhões ao final de 1997. O que pode surpreender
algumas pessoas é que mais de 95% da riqueza do país foi criada desde 1980, resultado direto dessa
revolução empreendedora. Agora os americanos estão começando a ver esse resultado chegar ao
restante do mundo.
Construindo uma sociedade empreendedora
Os pobres ficam mais ricos Um dos debates mais duradouros na sociedade americana é a sua
relação de amor e ódio com a riqueza e a distribuição de renda. No entanto, com grande frequência
ouvimos que “os ricos ficam mais ricos” e, por implicação, os pobres devem estar ficando mais
pobres.
Muitos sociólogos e economistas tradicionais apoiam essa ideia falando sobre as classes
socioeconômicas nos Estados Unidos como se fossem castas permanentes. Embora a subida a partir
de uma existência urbana pobre exija persistência, autocontrole e uma forte ética profissional, sua
ocorrência não é rara nos Estados Unidos. Em seu livro Chutes e Ladders, Katherine Newman
descreve as trajetórias econômicas e pessoais de alguns trabalhadores negros e latinos do Harlem,
bairro de Nova York com altos níveis de pobreza e baixas expectativas.14 Apesar disso, mais de 20%
dos trabalhadores que ela acompanhou ao longo de uma década deixaram de ser pobres. Sua
persistência foi recompensada como formação acadêmica, padrões de vida melhores e empregos
que pagam bem com benefícios e pensões. Ao fazerem isso, eles conseguiram se libertar e progredir
com suas famílias, saindo de um ambiente social e econômico aparentemente sem esperanças. A
seguir, veja três pessoas que fizeram essa jornada.
Adam: o caminho do sindicato. Adam é um negro que cresceu pobre no Brooklyn, e sua mãe viveu
de assistência social depois que seu pai a deixou. Sua mãe aceitou empregos com salários baixos e
aplicou longas horas para progredir e sair da assistência social. Adam aplicou a mesma ética
profissional em sua própria vida. Ele abandonou o ensino médio no segundo ano e, aos 27, foi
rejeitado para um cargo de iniciante no Burger Barn local. Ele insistiu, sobreviveu com
remunerações escassas e acabou conseguindo um emprego de iniciante em uma empresa de
entregas expressas sindicalizada na cidade de Nova York. Ele pegava todos os turnos que eles
ofereciam, conseguiu sua carteira de motorista comercial e subiu a escada do sindicato.
Aos 36 anos, Adam agora é um motorista respeitado e confiável da empresa, ganhando $70 mil
ao ano com benefícios completos. Ao longo dos anos, ele recusou oportunidades para mudar para o
setor administrativo: “Os supervisores muitas vezes são demitidos, e eu prefiro a proteção do
sindicato.” Inspirado por um cliente de entregas que tem uma empresa de serigrafia, Adam criou
um segundo emprego para si mesmo administrando uma empresa de impressão de camisetas em
casa. Ele e a esposa estão ganhando mais $30 mil ao ano com essa empresa. O dinheiro extra é
fundamental, porque agora ele tem a custódia dos dois filhos de casamentos anteriores — uma
menina de 13 anos e um menino de 6. Eles pagam aluguel no Bronx, mas estão no processo de
construção de sua própria casa na Carolina do Norte, perto de onde mora a família de Adam, e
onde as escolas são melhores que as frequentadas por seus filhos na cidade. Embora a transferência
para um novo cargo no sul na mesma empresa de entregas esteja sendo um desafio (salários
compatíveis, mas nenhum benefício), Adam está confiante de que vai conseguir descobrir uma
forma de fazer tudo funcionar.15
Helena: a escada corporativa. Dez anos atrás, Helena, uma descendente dominicana de 21 anos,
estava casada e era mãe de um menino de 2 anos. Sua primeira experiência no setor corporativo
tinha sido no ensino médio, como estagiária em uma grande empresa de seguros. Embora ela
intercalasse o tempo de estágio não remunerado com trabalhos temporários em uma Burger Barn
de seu bairro, Harlem, ela conseguiu um “emprego de verdade” como assistente administrativa
iniciante na empresa de seguros. Helena imediatamente percebeu que havia pisado no degrau mais
baixo de uma escada interna que prometia remunerações mais altas e mais responsabilidade no
emprego.
Enquanto acumulava antiguidade, segurança e habilidades, ela obteve vantagem total dos bônus e
programas educacionais oferecidos pela empresa. Agora com dois filhos, de modo criativo, fazia
malabarismo com as tarefas e o cronograma da maternidade com o marido e membros da família
estendida, ela se formou no curso técnico da faculdade júnior da City University of New York, e foi
para a City College of New York para obter o bacharelado em Administração pública. O acordo
funcionou para as duas partes; seu empregador conseguiu uma trabalhadora mais habilitada e
formada, que poderia ser promovida, e Helena terminou com um currículo bem melhor do que ela
jamais imaginou que poderia conseguir se tivesse arcado sozinha com os custos da educação. Ela
está casada e com dois filhos, e seu emprego de tempo integral na empresa de seguros como gerente
do call center rende mais de $60 mil ao ano com benefícios.16
Lanice: a rota empreendedora. Como uma adolescente afro-americana no Harlem, Lanice lutou
para encontrar um emprego estável. A Burger Barn não quis contratá-la, e as poucas empresas para
as quais ela havia trabalhado tinham falido ou se mudado. Lanice não tinha melindres: ela dizia
que trabalharia para qualquer tipo de empresa, desde que tivesse a oportunidade de progredir. Ela
terminou o ensino médio e participou de algumas aulas para adultos. Em um ano, ela se
candidatou a mais de 20 empregos, principalmente em lojas varejistas. Quando ela encontrava
trabalho, o salário era insignificante e o emprego sempre parecia que não ia durar muito.
Quase sem confiança em si mesma, Lanice conseguiu um emprego no setor de entretenimento.
Seu chefe, um capataz exigente, havia tido 17 assistentes administrativos no ano anterior. Ele
gostou de Lanice imediatamente, pois ela aprendia rápido e era uma subordinada tolerante —
alguém que não se sentia ofendida com o fluxo de anotações em Post-its deixados em sua mesa,
com as tarefas a serem realizadas escritas em letras grandes e sublinhadas. Ela está lá há dois anos,
recebe um salário de $42 mil/ano e está amando cada minuto.
A experiência e o sucesso tornaram Lanice mais ambiciosa. Aos 26 anos, ela descobriu um
emprego de que gosta, mas tem certeza que não quer ficar lá a vida toda. Agora ela tem planos
maiores. Lanice está iniciando sua própria empresa: uma empresa de consultoria que vai ajudar
indivíduos, escolas e pequenas empresas no angariamento de fundos e na construção de redes de
relacionamento. Ela já fez contato com uma empresa de contabilidade e um serviço jurídico e tem a
intenção de trabalhar (e construir uma rede de relacionamentos) para conseguir chegar ao topo.17
Crie oportunidades iguais, e não rendas iguais O que se perdeu historicamente nesse debate é
que rendas iguais não são desejáveis nem possíveis. O mais importante é que as oportunidades
estão disponíveis para qualquer pessoa que desejar se preparar e competir. O processo
empreendedor vai tomar as rédeas e resultar em expansão econômica e a subsequente mobilidade
social. Um estudo interessante do Federal Reserve Bank of Dallas fornece insights valiosos.18 Em
um experimento na década de 1970, por exemplo, três grupos de canadenses, todos na casa dos 20
anos, todos com pelo menos 12 anos de educação formal, se voluntariaram para trabalhar em uma
economia simulada, na qual o único emprego era fabricar cintos de lã em pequenos teares manuais.
Eles podiam trabalhar o quanto quisessem, ganhando $2,50 por cada cinto. Depois de 98 dias, o
resultado não foi nem um pouco igual: 37,2% da renda da economia foi para os 20% com os
maiores ganhos. Os 20% inferiores receberam apenas 6,6%.19
Empreendedorismo = mobilidade econômica e social Os autores do estudo do Federal Reserve
concordariam com o estudo de caso anteriormente apresentado, que mostrava a transformação
radical da economia americana em consequência da revolução empreendedora. Seus dados
também mostram que lá ainda é uma terra de oportunidade. A mobilidade da renda nos Estados
Unidos de 1975 a 1991 mostra que uma parte significativa daqueles que se encontravam no quintil
inferior em 1975 havia subido, incluindo 29% que subiram até o quintil mais alto (Tabela 1.7). Em
termos de ganho absoluto, os dados, ajustados de acordo com a inflação, mostraram que os pobres
estão ficando mais ricos com mais rapidez (Tabela 1.8). O estudo concluiu com este importante
resumo:
lutar para melhorar a si mesmo não é apenas uma virtude privativa. Isso dissemina as sementes
do crescimento econômico e do avanço técnico. Não há como negar que o sistema permite que
alguns americanos se tornem mais ricos que outros. Devemos aceitar isso. A igualdade de renda
não foi o que fez a economia dos Estados Unidos crescer e prosperar. Foi a oportunidade. [...]
Nosso ícone cultural adequado não é o homem comum. É o homem ou a mulher que venceu por
esforço próprio.20
Em outra comparação, o padrão de vida dos 10% mais baixos de famílias americanas em 1995 era
realmente mais alto que o da família média em 1970. Fica claro que o sucesso dos Estados Unidos
está se tornando uma história de sucesso global. Assim como o país criou e estimulou políticas e
prioridades para apoiar o processo empreendedor, países do mundo todo estão seguindo essa
tendência e, ao fazerem isso, estão fomentando e assegurando a mobilidade de oportunidades que
acabamos de descrever.
TABELA 1.7
TABELA 1.8
No Brasil, o caminho ainda é árduo, haja vista as desigualdades sociais do país, que impendem o
acesso igualitário às oportunidades. Por outro lado, muitas iniciativas estão ocorrendo por todo o
país colocando o empreendedorismo no centro do debate e como palavra-chave para o
desenvolvimento econômico e social das pequenas localidades, comunidades, cidades, estados e,
por conseguinte, do país como um todo. Está claro que a educação empreendedora em todos os
níveis será um instrumento útil na aceleração desse desenvolvimento, mas, além disso, os brasileiros
precisarão se preparar para os desafios empreendedores do século XXI para poder competir em
nível global e, quem sabe, se tornarem exemplo mundial para outras nações.
Resumo do capítulo
1. Como a economia mudou em sua região e seu país ao longo da última geração?
2. Como o número de formação de novas empresas nos Estados Unidos e no Brasil mudou nos
últimos 30 anos? Por que isso aconteceu? Esse padrão vai continuar?
3. De onde vêm os novos empregos nos Estados Unidos e no Brasil? Por quê?
4. Explique até que ponto empresas grandes versus novas e em desenvolvimento contribuem para
todas as inovações e para inovações radicais.
5. Quando foi que a grande maioria da riqueza foi criada nos Estados Unidos, e por quem? (a)
Carnegies, Vanderbilts e Rockefellers antes de 1990. (b) Magnatas das indústrias
automobilística, alimentícia e imobiliária depois de 1900 e antes de 1970. (c) Fundadores de
empresas desde 1970.
6. Quem são os milionários hoje no Brasil?
7. Cite algumas empresas excepcionais cujos fundadores estavam na casa dos 20 anos quando
lançaram suas empresas. Busque exemplos brasileiros.
8. Que papel o capital de risco exerceu na transformação econômica americana?
9. Muitas vezes, argumenta-se que “os ricos ficam mais ricos e os pobres ficam mais pobres”.
Como e por que a revolução empreendedora afeta esse estereótipo? Quais são suas implicações?
10. O que aconteceu com as empresas grandes e estabelecidas em consequência dessa onda de
novos-ricos empreendedores?
1. Como cidadão, que políticas são necessárias para estimular e construir uma sociedade
empreendedora?
2. Como as oportunidades e a disponibilidade de capital vão mudar neste novo século, em
conse-
quência dessa revolução econômica e social? Como uma pessoa pode se preparar melhor
para isso?
3. Muitas pessoas, se não a maioria, preferem a previsibilidade à imprevisibilidade. Ainda
assim, o processo empreendedor é inerentemente caótico, imprevisível e não planejável.
Quem terá sucesso e quem fracassará nesse processo dinâmico? Que habilidades e
pensamentos são necessários?
4. Se essa revolução continuar no ritmo apresentado nos últimos 30 anos (isto é, com
aumento de 10 a 15 vezes), quando você chegar à reunião de 25 anos de formatura da
faculdade, que números você poderá ver nos índices Dow Jones Industrial, NASDAQ e
Bovespa? Quantas empresas e empregos haverá? Quantos novos setores industriais sobre os
quais ninguém pensou hoje surgirão? E se esse ritmo for 50% mais rápido ou mais lento?
5. Que países oferecem as maiores oportunidades empreendedoras na próxima década? O
que você precisa fazer em relação a isso?
6. Que oportunidades empreendedoras existem para os países em desenvolvimento como o
Brasil? Por que o Brasil tem sido considerado um país prioritário para investidores
internacionais?
1
N. T.: O autor faz uma brincadeira com duas palavras em inglês: classroom (sala de aula) e clashroom (sala de debates)
2
Birch, D. L. 1979, The Job Creation Process, relatório não publicado, MIT Program on Neighborhood and Regional Change
preparado para a Economic Development Administration, U.S. Department of Commerce, Washington, DC.
3
Para obter informações sobre a dinâmica dos empregos por tamanho da empresa de 1989 a 2004, visite
www.sba.gov/advo/research/data.html#us.
4
H. Van Auken, F. L. Fry e P. Stephens. “The Influence of Role Models on Entrepreneurial Intentions”, Journal of Developmental
Entrepreneurship, junho de 2006.
5
Jeffry Timmons tem uma dívida de gratidão com Robert Compton, um colega do Conselho Administrativo do Kauffman Center for
Entrepreneurial Leadership [Centro Kauffman de Liderança Empreendedora], por atrair sua atenção para esses argumentos de
descontinuidade econômica.
6
Red Herring, “Nanotech Grows Up”, 15 de junho e 1o de julho de 2001, pp. 47–58.
7
W. D. Bygrave, W. D. e Timmons, J. A. Venture Capital at the Crossroads (Boston, MA: Harvard Business School, 1992),
Capítulo 1.
8
Thomson Venture Capital Journal, maio de 2007, pp. 21, 22.
9
Thomson Venture Capital Journal, junho de 2007, pp. 24, 25.
10
House of Representatives Committee on Ways and Means, 6 de setembro de 2007, “Hearing on Fair and Equitable Tax Policyfor
America’s Working Families”. Testemunho de Jonathan Silver, fundador e diretor administrativo, Core Capital Partners.
11
Venture Philanthropy Partners (www.vppartners.org), “High-Engagement Philanthropy: The Bridge to a More Effective Social
Sector”, 2004.
12
“The Millionaire Next Door”, Success, março de 1997, pp. 45–51..
13
Ibid., pp. 46–48
14
Newman, K. S. Chutes and Ladders (Cambridge, MA: Harvard University Press, 2006).
15
Ibid., pp. 95, 184, 218.
16
Ibid., pp. 91–92.
17
Ibid., pp. 245–46.
18
Cox, W. M. e Aim, R. “By Our Own Bootstraps: Economic Opportunity and the Dynamics of Income Distribution”, 1995 Annual
Report (Dallas, TX: Federal Reserve Bank), pp. 2–23.
19
Ibid., p. 5.
20
Ibid., p. 18
Estudo de caso
ImageCafé*
Perguntas preparatórias
1. Av alie os pontos fortes e os pontos fracos de Clarence Wooten.
2. O que v ocê acha do produto versus a conclusão do serv iço de Wooten? Quais são os pontos
fortes e os pontos fracos do argumento dele?
3. Analise e av alie a oportunidade do I mageCafé.
4. O que v ocê acha da estratégia de angariamento de fundos de Wooten?
5. Ele dev eria ter aceitado a oferta de Dw ayne Walker?
6. Ele precisa conseguir $3 milhões?
7. Como v ocê responderia à oferta da Netw ork Solutions?
8. Como v ocê faria a v aloração do I mageCafé?
9. Quais são as implicações pessoais para Wooten se ele v ender ou não?
Mantendo a autossuficiência
Com sua empresa, a I mageCafé, lutando contra a incerteza financeira, Clarence Wooten Jr.
enfrentou algumas decisões difíceis. Com um dispêndio de capital21 de cerca de $50 mil mensais, os
empréstimos ponte22 e os inv estimentos de anjos23 de $710 mil não seriam suficientes para lev ar a
empresa ao ponto de equilíbrio. Enquanto ele lutav a para fechar uma rodada de financiamento de $3
milhões, uma empresa de serv iços de I nternet com sede na Virgínia, a Netw ork Solutions I nc.,
aproximou-se de Wooten para tratar da v enda da I mageCafé. O tempo parecia estar se esgotando, e
fechar o financiamento de $3 milhões em termos aceitáv eis estav a sendo mais difícil do que Wooten
prev ira.
Será que ele dev eria v ender a I mageCafé para a Netw ork Solutions ou se arriscar a perder tudo em
nome do potencial de um ganho maior, se e quando o financiamento se concretizasse? E, se ele
decidisse v ender, qual seria o preço correto? O tempo definitiv amente não estav a a seu fav or.
*Este caso foi escrito por Kathryn F. Spinelli, sob a orientação do professor Stephen Spinelli Jr. ©
Copyright Babson College. Financiamento concedido pelo HBCU Consortium. Todos os direitos
reserv ados.
Faça o download do caso completo em www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
21
** Em inglês, burn rate, ou Taxa de queima de capital é a quantidade de dinheiro consumido por uma nova empresa. A taxa
de queima de capital normalmente é declarada em termos do dinheiro usado mensalmente, mas às vezes é declarada por
trimestre ou por ano.
22
Um empréstimo de curtíssimo prazo, ou um financiamento de curto prazo que deve ser pago rapidamente, por exemplo, por
um empréstimo subsequente de prazo maior.
23
Investidores anjos são indivíduos que oferecem capital a uma ou mais empresas start-up. Esses indivíduos normalmente são
ricos ou têm interesse pessoal no sucesso da empresa. Esses investimentos são caracterizados por altos níveis de risco e um
retorno potencialmente alto sobre o investimento.
Capítulo 2
O segredo daqueles que impressionam o mundo é que eles não consideram nada
impossível.
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Determinar se ser um empreendedor melhoraria sua vida e alimentaria suas energias criativas.
2. Discutir os aspectos fundamentais da mente empreendedora — as estratégias, os hábitos, as atitudes e os
comportamentos que funcionam para empreendedores que constroem empresas com o mais alto potencial.24
3. Descrever as características de diversos grupos empreendedores.
4. Desenvolver conceitos para avaliar uma estratégia empreendedora pessoal e um plano de aprendizado, e ser
capaz de discutir o credo do empreendedor.
5. Utilizar uma estrutura de autoavaliação e desenvolver uma estratégia empreendedora pessoal.
6. Iniciar uma autoavaliação e um processo de estabelecimento de objetivos que podem tornar-se um hábito
vitalício de questionamento e ação empreendedores.
7. Avaliar o estudo de caso da Lakota Frybread.
8. Descrever os aspectos empreendedores retratados no filme O céu de outubro.
QUADRO 2.1
A mensagem suprema é clara: grandes empresas podem ser construídas sobre princípios simples,
mas elegantes; e todo o capital, a tecnologia, a administração de serviços e as últimas informações
disponíveis não são capazes de substituir esses princípios, e também não conseguem fazer esse tipo
de cultura acontecer. Esses ideais formam a essência da diferença entre as empresas boas e as
excelentes.
Pesquisa infinita
As pesquisas não apoiam um único modelo psicológico de empreendedorismo. No entanto,
cientistas comportamentais, capitalistas de risco, investidores e empreendedores compartilham a
opinião de que o possível sucesso de uma nova empresa depende muito do talento e do
comportamento do empreendedor líder e de sua equipe.
Ainda existem alguns mitos sobre os empreendedores. O principal desses mitos é a crença de que
os líderes nascem prontos, não são feitos. As raízes de grande parte desse pensamento refletem as
suposições e as tendências de uma era anterior, quando os administradores eram da realeza e a
liderança era uma prerrogativa da aristocracia. Felizmente, essas ideias não sobreviveram aos
desafios do tempo ou à curiosidade dos pesquisadores de liderança e administração. Considere as
pesquisas recentes, que distinguem os administradores dos líderes, como resume o Quadro 2.1. A
realidade aceita hoje é que a liderança é um assunto extraordinariamente complexo, e depende
mais das interconexões entre o líder, a tarefa, a situação e os liderados do que de características
hereditárias.
QUADRO 2.2
Inúmeras maneiras de analisar o comportamento humano têm implicações no estudo do
empreendedorismo. Por exemplo, durante mais de 40 anos, os doutores David C. McClelland, da
Universidade de Harvard, e John W. Atkinson, da Universidade de Michigan, e seus colegas
tentaram entender a motivação individual.25 Sua teoria de motivação psicológica é uma parte
geralmente aceita da literatura sobre comportamento empreendedor. A teoria declara que as
pessoas são motivadas por três necessidades principais: (1) a necessidade de realização; (2) a
necessidade de poder; e (3) a necessidade de afiliação. A necessidade de realização é a necessidade
de se destacar e de obter uma realização pessoal mensurável. Uma pessoa compete contra um
padrão autoimposto que não envolve a competição com outras pessoas. O indivíduo estabelece
objetivos realistas e desafiadores e gosta de obter feedback de como está se saindo, com o objetivo
de melhorar seu desempenho. A necessidade de poder é a necessidade de influenciar outras pessoas
e de atingir um “objetivo de influência”. A necessidade de afiliação é a necessidade de obter um
“objetivo de afiliação” — o objetivo de construir um relacionamento agradável com outra pessoa
e/ou de desfrutar uma amizade mútua.
Outras pesquisas se concentraram nas atitudes e nos comportamentos comuns aos
empreendedores. Um estudo de 1983 descobriu uma relação entre atitudes e comportamentos de
empreendedores bem-sucedidos e diferentes etapas do desenvolvimento da empresa.26 Um ano
depois, outro estudo descobriu que os empreendedores eram indivíduos singulares; por exemplo,
esse estudo descobriu que “o que é característico não é tanto um tipo de empreendedor bem-
sucedido, voltado para o crescimento... O que é característico são os construtores de empresa”,27
que poderíamos denominar ainda de os que fazem acontecer. Um estudo com 118
empreendedores revelou que “aqueles que gostam de planejar têm muito mais probabilidade de
estar no grupo de sobrevivência do que os que não gostam”.28 Evidentemente, os empreendedores
que ficam ricos rapidamente não são os construtores da empresa; nem são os planejadores de
empresas bem-sucedidas. Em vez disso, é o visionário que participa na rotina diária para atingir um
objetivo de longo prazo e que geralmente é apaixonado e não exclusivamente voltado para os
lucros.
Os acadêmicos continuam a caracterizar as qualidades especiais dos empreendedores. (Veja no
Quadro 2.2 um resumo dessas pesquisas mais antigas.) Como participantes nessa busca para
entender a mente empreendedora, em janeiro de 1983, Howard H. Stevenson e Jeffry Timmons
conversaram com 60 empreendedores praticantes.29 Uma das descobertas foi que os
empreendedores achavam que deviam se concentrar em alguns pontos básicos: rapidez de resposta,
flexibilidade e capacidade de adaptação para aproveitar novas oportunidades. Esses
empreendedores falaram de outras atitudes, incluindo uma capacidade “de ativar a visão” e uma
disposição para aprender e investir em novas técnicas, ser adaptável, ter uma atitude profissional e
paciência. Eles falaram da importância de “gostar e se interessar pela empresa”, além de tratar a
empresa como “um modo de vida”.
Muitos dos pesquisados reconheceram e endossaram a importância da administração de recursos
humanos; um empreendedor disse que uma das tarefas mais desafiadoras era exercer “uma função
de liderança para atrair pessoas de alta qualidade, transmitir sua visão para elas e mantê-las e
motivá-las”. Outros empreendedores se concentraram na importância da construção de uma
organização e do trabalho em equipe. Por exemplo, o chefe de uma empresa de manufatura com
$10 milhões em vendas disse: “Entender as pessoas e saber como uni-las em prol de um objetivo
básico será meu principal desafio em cinco anos”. O chefe de uma empresa de manufatura de
roupas com 225 funcionários e $6 milhões em vendas compartilhou uma visão comum de que
umas das áreas mais críticas em que um empreendedor tem alavancagem e impacto de longo prazo
é na administração de funcionários. Ele disse: “Tratar as pessoas com honestidade e deixá-las
saberem quando se saem bem é um bom caminho”.
Alguns pesquisados acreditavam que a capacidade de conceitualizar a empresa e fazer um
planejamento estratégico seria de crescente importância, especialmente quando se pensava cinco
anos à frente. De modo semelhante, a eterna importância da sensibilidade e do respeito pelos
funcionários foi reforçada pelo diretor executivo de uma empresa com $40 milhões em vendas e
400 funcionários: “É essencial eliminar a separação entre administração e o funcionário médio. Os
alunos de um curso de administração devem ser ensinados de forma a aprender a respeitar os
funcionários, até o mais simples zelador, e aceitá-los como pessoas inteligentes e capazes”. Uma
empresa que adotou esse conceito a sério é a Stonyfield. Durante os últimos 25 anos, Gary
Hirshberg e o fundador Samuel Kaymen (agora aposentado) supervisionaram o crescimento
fenomenal da Stonyfield Farm, desde sua infância como escola de agricultura orgânica com sete
vacas em 1983 até os atuais $300 milhões em vendas anuais. Sua empresa apaixonadamente verde
e centrada nos funcionários desfrutou uma taxa de crescimento anual composta de 27,4% por mais
de 18 anos. Em 2001, a Stonyfield Farm fechou uma parceria com o Grupo Danone e, em 2005,
Hirshberg foi nomeado diretor administrativo da Stonyfield Europa, um empreendimento conjunto
entre as duas empresas para construir todo um setor industrial em torno de produtos orgânicos —
uma cadeia de suprimentos que vai desde o fazendeiro verde até o consumidor preocupado com a
saúde. Ao longo de sua história, a empresa nunca falhou em seu comprometimento para com a
crescente família de trabalhadores, oferecendo ótimas oportunidades de treinamento e
desenvolvimento, salários competitivos e fortes benefícios, bem como em perpetuar um ambiente
de trabalho divertido e apaixonante.
Um estudo de consultoria feito pela McKinsey & Co. com empresas de crescimento médio (isto é,
empresas com vendas entre $25 milhões e $1 bilhão e com aumento de vendas ou lucros de mais
de 15% ao ano durante mais de cinco anos) confirma que os diretores executivos de empresas
vencedoras se destacavam por três traços comum: perseverança, uma mentalidade de construtor e
uma forte propensão para assumir riscos calculados.30
QUADRO 2.3
Os empreendedores são competidores intensos: Eles amam vencer e amam competir — em tudo!
Os melhores direcionam toda essa energia competitiva para atingir o objetivo do negócio e para
combater seus concorrentes externos. Isso é fundamental: fundadores que se preocupam em
concorrer com colegas na empresa invariavelmente destroem a coesão e o espírito da equipe e, por
fim, a própria equipe.
FIGURA 2.1
TABELA 2.1
QUADRO 2.4
Função Motivação
1. Realização individual Desejo de realizar através de seus próprios esforços e de atribuir o sucesso a causas pessoais.
TABELA 2.2
FIGURA 2.2
Quadro 2.5
Mitos e realidades
O folclore e os estereótipos sobre empreendedores e o sucesso do empreendedor são
incrivelmente duradouros, até mesmo na nossa época de informação e sofisticação. Sabe-se mais
sobre os fundadores e o processo do empreendedorismo do que nunca.
No entanto, certos mitos recebem atenção e popularidade recorrentes, em parte porque, embora
as generalidades possam se aplicar a certos tipos de empreendedores e a situações específicas, a
grande variedade de fundadores tende a desafiar a generalização. O Quadro 2.6 enumera mitos
que persistiram sobre empreendedores e realidades apoiadas por pesquisas.
QUADRO 2.6
Os estudos indicam que 90% ou mais dos fundadores iniciam suas empresas no mesmo mercado,
tecnologia ou setor industrial em que trabalharam.58 Outros descobriram que os empreendedores
provavelmente devem ter modelos exemplares, ter oito a dez anos de experiência e ter uma boa
formação educacional. Parece, também, que os empreendedores bem-sucedidos têm uma ampla
gama de experiências em produtos/mercados e em várias áreas funcionais.59 Estudos também
mostraram que a maioria dos empreendedores bem-sucedidos inicia empresas na faixa dos 30 anos
de idade. Um estudo com fundadores de empresas de alta tecnologia da Rota 128 em Boston
mostrou que a idade média dos fundadores era 40 anos.
Foi descoberto que os empreendedores trabalham tanto mais quanto menos que seus semelhantes
em grandes organizações, que eles têm altos níveis de satisfação com seus empregos e que eles são
mais saudáveis.60 Outro estudo mostrou que quase 21% dos fundadores tinha mais de 40 anos
quando embarcou na carreira de empreendedor; a maioria estava na faixa dos 30 anos de idade e
pouco mais de 25% o fizeram quando estavam com 25 anos de idade.
• Habilidades de liderança.
• Habilidades interpessoais.
• Montagem de equipes e trabalho em equipe.
• Criatividade e engenhosidade.
• Motivação.
• Habilidades de aprendizado (versus conhecimento).
• Persistência e determinação.
• Valores, ética, honestidade e integridade.
• Orientação para o estabelecimento de objetivos.
• Autodisciplina.
• Frugalidade.
• Desenvoltura.
• Flexibilidade e capacidade de lidar com adversidades.
• Capacidade de buscar, ouvir e usar o feedback.
• Confiabilidade.
• Fidelidade.
• Senso de humor.
Não é de surpreender que algumas excelentes faculdades e universidades tenham eliminado essas
medições ou as tenham colocado sob uma perspectiva adequada. Evidentemente, isso não significa
que o empreendedorismo é para idiotas. A verdade é bem ao contrário. Na realidade, a inteligência
é um ativo muito valioso e importante para empreendedores, mas, em si, é lamentavelmente
inadequada.
Evidentemente, o simples fato de ser muito inteligente não ajuda muito se a pessoa não tiver
inúmeras outras qualidades (veja o Capítulo 9, O líder empreendedor e a equipe e o Capítulo 10,
Tomada de decisões ética, que tratam dessas outras qualidades). Um artigo fascinante de Chris
Argyris, “Teaching Smart People How to Learn”, vale muito ser lido para se obter alguns poderosos
insights sobre por que muitas vezes não é o gênio da turma que se torna o mais bem-sucedido.63
Credo do empreendedor
Muito menos tempo e espaço seriam gastos com a mente empreendedora se simplesmente
houvesse interesse acadêmico. Mas os próprios empreendedores acreditam que eles são, em grande
parte, responsáveis pelo sucesso. Quando fizemos uma pergunta aberta sobre o que os
empreendedores acreditam ser os mais críticos conceitos, habilidades e conhecimentos para se
administrar uma empresa — hoje e cinco anos atrás — suas respostas foram muito reveladoras. A
maioria mencionou atitudes mentais e filosofias baseadas nos atributos do empreendedor, em vez
de habilidades específicas ou conceitos organizacionais. Essas respostas foram reunidas no que se
pode chamar de credo do empreendedor:
• Faça o que lhe dá energia — divirta-se.
• Descubra o que pode dar certo e faça-o.
• Diga “posso fazer” em vez de “não posso” ou “talvez”.
• Illegitimi non carborundum:66* a tenacidade e a criatividade triunfarão.
• Tudo é possível se você acreditar que pode fazê-lo.
• Se você não sabe que não pode ser feito, você irá em frente e fará.
• O copo está meio cheio, e não meio vazio.
• Fique insatisfeito com a maneira como as coisas estão — e busque melhorias.
• Faça as coisas de modo diferente.
• Não assuma um risco se você não tiver que fazer isso — mas assuma um risco calculado se for a
oportunidade certa para você.
• As empresas fracassam; os empreendedores bem-sucedidos aprendem — mas mantenha baixo o
preço a pagar.
• É mais fácil implorar pelo perdão do que pedir a permissão inicial.
• Fique obcecado pela oportunidade e pelos resultados — e não pelo dinheiro.
• O dinheiro é uma ferramenta e um indicador de desempenho disponível para as pessoas certas
com a oportunidade certa no tempo certo.
• Ganhar dinheiro é até mesmo mais divertido que gastá-lo.
• Transforme outras pessoas em heróis — uma equipe constrói uma empresa; um indivíduo
ganha a vida.
• Tenha orgulho de suas realizações — isso é contagioso!
• Entenda os detalhes que são fundamentais para o sucesso.
• A integridade e a confiabilidade se equiparam ao óleo e à cola de longo prazo.
• Aceite a responsabilidade, menos da metade do crédito, e mais do que a metade da culpa.
• Faça a torta crescer — não perca tempo tentando cortar fatias menores.
• Pense no longo prazo — raramente é possível ficar rico rápido.
• Não pague demais — mas não perca o controle!
• Apenas o líder da matilha consegue uma mudança de ponto de vista.
• O sucesso é obter o que você quer: felicidade é querer o que você obtém.
• Retribua.
• Abrace a sustentabilidade.
• Nunca desista.
Resumo do capítulo
1. Quem foi Ewing Marion Kauffman, o que ele fez e qual era sua filosofia de liderança
empreendedora?
2. Qual é a diferença entre um administrador e um líder?
3. Defina os sete temas principais que caracterizam os pensamentos, as atitudes e as ações de um
empreendedor bem-sucedido. Quais são mais importantes, e por quê? Como eles podem ser
encorajados e desenvolvidos?
4. Os empreendedores são feitos, não nascem prontos. Por que isso acontece? Você concorda?
Por que sim ou por que não?
5. Explique o que significa o conceito de plano de aprendizado. Por que ele é tão importante para
jovens empreendedores?
6. Qual é sua estratégia empreendedora pessoal? Como ela deve mudar?
7. “O que para uns é presunto, para outros é veneno”. O que isso significa?
8. Você pode avaliar a fundo sua atração pelo empreendedorismo?
9. Quem deve ser empreendedor e quem não deve?
www.benlore.com The Entrepreneur’s Mind é um recurso Web que apresenta algumas histórias da
vida real e conselhos de empreendedores bem-sucedidos e experts do setor sobre muitas facetas
diferentes do empreendedorismo e de empresas em desenvolvimento.
www.entrepreneurs.about.com Sites abrangentes apoiados pela mídia sobre pequenas empresas e
empreendedores.
www.blackenterprise.com A Black Enterprise é um jornal empresarial e um recurso de
investimento voltado para empreendedores e proprietários de empresa afro-americanos.
www.examepme.com.br Essa publicação traz histórias e estratégias bem-sucedidas de
empreendedores brasileiros.
EXERCITANDO A MENTE
Os autores gostariam de agradecer a Frederic M. Alper, amigo e colega de longa data e professor
adjunto no Babson College, por seus insights e sua contribuição a este capítulo, em especial na
representação gráfica dos atributos do empreendedor e no desenvolvimento do exercício da
avaliação rápida para desenvolver uma estratégia empreendedora pessoal.
24
J. A. Timmons, The Entrepreneurial Mind (Acton, MA: Brick House, 1989).
25
J. W. Atkinson, An Introduction to Motivation (Princeton, NJ: Van Nostrand, 1964); J. W. Atkinson, Motives in Fantasy, Action and
Society (Princeton, NJ: Van Nostrand, 1958); D. C. McClelland, The Achieving Society (Princeton, NJ: Van Nostrand, 1961); J. W.
Atkinson e N. T. Feather (eds.), A Theory of Achievement Motivation (Nova York: John Wiley & Sons, 1966); e D. C. McClelland e D. G.
Winter, Motivating Economic Achievement (Nova York: Free Press, 1969).
26
N. Churchill, “Entrepreneurs and Their Enterprises: A Stage Model”, Frontiers of Entrepreneurship Research: 1983, ed. J. A.
Hornaday et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1983), pp. 1–22.
27
N. R. Smith e John B. Miner, “Motivational Considerations in the Success of Technologically Innovative Entrepreneurs”, em
Frontiers of Entrepreneurship Research: 1984, ed. J. A. Hornaday et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1984), pp. 448–95.
28
J. B. Miller, N. R. Smith, e J. S. Bracker, “Entrepreneur Motivation and Firm Survival among Technologically Innovative
Companies”, ed. N. C. Churchill et al., Frontiers of Entrepreneurship Research: 1991 (Babson Park, MA: Babson College, 1992), p. 31.
29
J. A. Timmons e H. H. Stevenson, “Entrepreneurship Education in the 80s: What Entrepreneurs Say”, em Entrepreneurship: What It
Is and How to Teach It, ed. J. Kao e H. H. Stevenson (Boston: Harvard Business School Press, 1985), pp. 115–34.
30
D. K. Clifford, Jr., e R. E. Cavanagh, The Winning Performance (Nova York: Bantam Books, 1985), p. 3.
31
Determinar as atitudes e os comportamentos “adquiríveis e desejáveis” em empreendedores representa a síntese de mais de 50
estudos de pesquisas compilados para a primeira e a segunda edições deste livro. Veja mais referências em J. A. Timmons, L. E.
Smollen, e A. L. M. Dingee, Jr., Criação de novas empresas, 2ª ed. (Homewood, IL.: Richard D. Irwin, 1985), pp. 139–69.
32
D. C. McClelland, “Achievement Motivation Can Be Developed”, Harvard Business Review, nov.–dez. 1965; D. C. Mc-Clelland e
David G. Winter, Motivating Economic Achievement (Nova York: Free Press, 1969); e J. A. Timmons, “Black Is Beautiful — Is It
Bountiful?” Harvard Business Review, nov.–dez. 1971, p. 81.
33
Até 2008, um total de 90 alistados haviam se unido à Academy of Distinguished Entrepreneurs [Academia de Empreendedores
Ilustres], incluindo os fundadores Arthur M. Blank, da Home Depot; Richard Branson, do Virgin Group; Magic Johnson; Robert
Kraft, do Kraft Group; e as famílias Molson e Forbes.
34
J. A. Hornaday e N. B. Tieken, “Capturing Twenty-One Heffalumps”, em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1983, ed. J. A.
Hornaday et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1983), pp. 23–50.
35
A. Grant, “The Development of an Entrepreneurial Leadership Paradigm for Enhancing New Venture Success”, Frontiers of
Entrepreneurship Research: 1992, ed. J. A. Hornaday et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1992).
36
D. L. Bradford e A. R. Cohen, Managing for Excellence: The Guide to Developing High Performance in Contemporary Organizations
(Nova York: John Wiley & Sons, 1984).
37
Churchill, “Entrepreneurs and Their Enterprises: A Stage Model,” pp. 1–22.
38
D. Mitton, “No Money, Know-How, Know-Who: Formula for Managing Venture Success and Personal Wealth”, Frontiers of
Entrepreneurship Research: 1984, ed. J. A. Hornaday et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1984), p. 427.
39
J. B. Miner, “Entrepreneurs, High-Growth Entrepreneurs, and Managers: Contrasting and Overlapping Motivational Patterns”,
Journal of Business Venturing 5, p. 224.
40
E. A. Fagonson, “Personal Value Systems of Men and Women Entrepreneurs versus Managers”, Journal of Business Venturing,
1993.
41
Citado em R. Little, How to Lose $100,000,000 and Other Valuable Advice (Boston: Little, Brown, 1979), p. 72.
42
W. H. Stewart, Jr., W. E. Watson, J. C. Carland, e J. W. Carland, “A Comparison of Entrepreneurs, Small Business Owners, and
Corporate Managers”, Journal of Business Venturing 14, n. 2 (1999).
43
J. C. A. Dornelas, Empreendedorismo na prática: mitos e verdades do empreendedor de sucesso (Rio de Janeiro: Campus/Elsevier,
2007).
44
W. Lee, “What Successful Entrepreneurs Really Do”, Lee Communications, 2001.
45
Comentário feito durante uma apresentação no Price-Babson College Fellows Program de junho de 1987, por Jerry W. Gustafson,
professor de empreendedorismo na Coleman-Fannie May Candies, Beloit College, no Babson College.
46
Lee, “What Successful Entrepreneurs Really Do”, Lee Communications, 2001.
47
Veja o excelente resumo de um estudo dos primeiros 21 alistados Academy of Distinguished Entrepreneurs [Academia de
Empreendedores Ilustres] do Babson College, realizado por J. A. Hornaday e N. Tieken, “Capturing Twenty-One Heffalumps”, em
Frontiers of Entrepreneurship Research: 1983, pp. 23, 50.
48
Feito durante um discurso em seu alistamento em 1982 na Academy of Distinguished Entrepreneurs [Academia de
Empreendedores Ilustres], Babson College.
49
Feito durante um discurso em seu alistamento em 1979 na Academy of Distinguished Entrepreneurs [Academia de
Empreendedores Ilustres], Babson College.
50
Timmons, Muzyka, Stevenson, e Bygrave, “Opportunity Recognition: The Core of Entrepreneurship,” pp. 42–49.
51
Este exemplo foi extraído de “Technical Data Corporation”, Casos HBS 283-072, 283-073, Harvard Business School, 1981.
52
Os autores gostariam de agradecer a contribuição a este questionamento, feita por Harvey “Chet” Krentzman, empreendedor,
palestrante, autor e fomentador de pelo menos três dúzias de empresas com mentalidade de crescimento nos últimos 20 anos.
53
K. H. Vesper, “New Venture Ideas: Don’t Overlook the Experience Factor”, Harvard Business Review, reimpresso em Growing
Concerns: Building and Managing the Smaller Business, ed. D. E. Gumpert (Nova York: John Wiley & Sons, 1984), pp. 28–55.
54
Veja R. os estudos de Ronstadt e H. Stevenson registrados em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1983.
55
“Successful Entrepreneurs’ Insights into Opportunity Recognition”, G. Hills e R. Shrader, University of Illinois, Chicago, 2000.
56
A. Cooper e W. Dunkelberg, A New Look at Business Entry (San Mateo, CA: National Federation of Independent Businesses, mar.
1984).
57
Fortune, 7 jun. 1999.
58
Um bom resumo de alguns desses estudos é fornecido em R. H. Brockhaus, “The Psychology of the Entrepreneur”, em Encyclopedia
of Entrepreneurship, ed. C. Kent, D. Sexton, e K. Vesper (Englewood Cliffs, NJ: Prentice-Hall, 1982), pp. 50, 55.
59
Mais de 80 estudos nesta área foram registrados em Frontiers of Entrepreneurship Research (Babson Park, MA: Babson College) nos
anos de 1981 a 1997.
60
Stevenson, “Who Are the Harvard Self-Employed?”, p. 233.
61
J. Gustafson, “SEEing Is Not Only about Business”, PULSE, 1988 (Babson Park, MA: Price-Babson College Fellows Program).
62
“Tests Show Nobody’s Smart about Intelligence”, The New York Times, 1º mar. 1998, p. 4–1.
63
C. Argyris, “Teaching Smart People How to Learn”, Harvard Business Review, maio–jun. 1991.
64
Stevenson, “Who Are the Harvard Self-Employed?”, pp. 233–254.
65
R. C. Ronstadt, “The Decision Not to Become an Entrepreneur”, em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1983, ed. J. A. Hornaday
et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1983), pp. 192–212; e R. C. Ronstadt, “Ex-Entrepreneurs and the Decision to Start an
Entrepreneurial Career”, em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1983, pp. 437–460.
66
*N. T.: Illegitimi non carborundum: ditado em falso latim que significa “Não deixe os canalhas derrubarem você”.
Estudo de caso
Lakota Hills*
Perguntas preparatórias
1. Discuta os desafios e as v antagens do desenv olv imento de uma empresa de comidas típicas.
2. Sua estratégia atual é o melhor caminho para construir a Lakota Hills?
3. Como eles podem integrar outros canais em seu modelo geral de v endas?
4. Como a Lakota Hills ganhará dinheiro?
5. Como inv estidor anjo, v ocê participaria da rodada de inv estimento que essa empresa está
buscando?
Em agosto de 2007, Laura Ryan e seu filho Michael estav am v oltando de av ião para o Wyoming
depois de uma exposição comercial de comidas típicas em Houston, Texas. O ev ento hav ia gerado
muito interesse por sua empresa em crescimento, a Lakota Hills. Seu produto principal, uma sacola do
tradicional pão frito nativ o americano para o v arejo, já estav a nas prateleiras de mais de 350
supermercados do meio-oeste.
Embora estiv essem fazendo progressos encorajadores, eles não estav am nem perto da massa crítica
de lojas de que precisariam para estimular um arroubo de compradores no setor industrial. Esses
tomadores de decisões não eram um grupo av entureiro quando se tratav a de comprometer tempo e
espaço de prateleira para nov as marcas; mas, ao mesmo tempo, estav am sempre em busca de
comprov ados fazedores de dinheiro. Portanto, antes de mais lojas dizerem sim, a grande maioria de
compradores e corretores continuav a a sorrir, acenar com a cabeça e dizer talv ez. Enquanto se
preparav a para o v oo, Laura deu um sorriso triste ao considerar a realidade:
O negócio de comidas típicas é bem mais difícil do que parece — talv ez porque quase todos que
têm uma cozinha, uma receita de família e algum impulso podem empacotar seu produto e v ender em
lojas locais. Chegar a nív eis nacionais é uma história muito diferente!
Ficou claro que alcançar a lucrativ idade no hipercompetitiv o canal de v arejo exigiria muito mais
v iagens dispendiosas como essa, e outras centenas de demonstrações nas lojas. Enquanto outros
canais de v endas estav am abertos à discussão, ganhar terreno nesse mercado era sua maior
prioridade. Seus inv estidores concordaram, mas com a condição de uma rodada posterior de
financiamento no curto prazo; todos os env olv idos queriam se certificar que a Lakota Hills estav a, de
fato, no melhor caminho para lucrar.
* Este estudo de caso foi preparado por Carl Hedberg, sob a orientação do professor Jeffry Timmons.
© Copyright Jeffry Timmons, 2008. Todos os direitos reserv ados.
A oportunidade
Muitas v ezes se ouv e, especialmente de empreendedores mais jov ens e mais recentes, esta frase:
“Vá em frente! Você não tem nada a perder agora. E se não funcionar? Você pode fazer tudo de
nov o. Por que esperar?”. Embora o espírito refletido nessas afirmativ as seja recomendáv el e embora
não haja nada melhor que a prática, essa empolgação pode ser um erro, a não ser que seja focada
em uma oportunidade sólida.
A maioria dos empreendedores que lançam empresas, especialmente pela primeira v ez, fica sem
dinheiro mais rápido do que consegue atrair clientes e v endas lucrativ as. Embora existam muitas razões
para isso, a primeira é que eles não focaram nas oportunidades certas. Empreendedores mal-sucedidos
normalmente equiparam uma ideia a uma oportunidade; empreendedores bem-sucedidos sabem a
diferença entre as duas!
Empreendedores bem-sucedidos sabem que é importante “pensar grande o suficiente”. Eles
entendem que não estão simplesmente criando um emprego para si mesmos e alguns funcionários; eles
estão construindo uma empresa que pode criar v alor para si mesmos e para a comunidade.
Embora existam oportunidades ilimitadas para aqueles com um gosto pelo empreendedorismo, um
empreendedor sozinho prov av elmente será capaz de lançar e construir apenas umas poucas boas
empresas — prov av elmente não mais de três ou quatro — durante seus anos dinâmicos e produtiv os.
(Felizmente, tudo que v ocê precisa fazer é progredir e colher uma empresa um tanto lucrativ a cujas
v endas ultrapassem v ários milhões de reais. O resultado será uma v ida profissional muito
recompensadora, bem como financeiramente gratificante.)
Sendo assim, quão importante é v ocê filtrar e escolher uma oportunidade com muito cuidado? Muito
importante! Não é por acaso que os inv estidores de capital de risco costumam inv estir em não mais do
que 1 ou 2% de todas as empresas que eles av aliam.
Por mais importante que seja encontrar uma boa oportunidade, até mesmo as boas oportunidades
apresentam riscos e problemas. A transação perfeita ainda está por ser realizada. I dentificar riscos e
problemas antes do lançamento, quando ainda se podem tomar medidas para eliminá-los ou reduzir
qualquer efeito negativ o, é outra dimensão da análise de oportunidades.
Capítulo 3
O processo empreendedor
Eu não faço filmes para ganhar dinheiro. Eu ganho dinheiro para fazer filmes.
Walt Disney
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Compreender a definição de empreendedorismo e do processo empreendedor — de empresas de estilo de vida a
empresas de alto potencial.
2. Descrever as questões práticas que você vai encontrar e explorar ao longo do livro.
3. Discutir como os empreendedores e seus apoiadores financeiros conseguem que as chances de sucesso fiquem a
seu favor ao desafiar o conhecido padrão de decepção e fracasso.
4. Compreender o modelo Timmons do processo empreendedor; descrever como ele pode ser aplicado a suas
aspirações de carreira empreendedora e suas ideias para empresas; e descrever como pesquisas recentes
confirmam sua validade.
5. Gerar insights e análises do estudo de caso de Roxanne Quimby.
Desmistificando o empreendedorismo
O empreendedorismo é uma forma de pensar, raciocinar e agir obcecada pela oportunidade, com
abordagem holística e equilibrada em termos de liderança, com o objetivo de criação e captura de
valor.67 O empreendedorismo resulta na criação, melhoria, realização e renovação de valor, não
apenas para os proprietários, mas para todos os participantes e interessados. Na essência do
processo estão a criação e/ou o reconhecimento de oportunidades,68 seguidos da disposição e da
iniciativa para aproveitar essas oportunidades. Ele exige uma disposição para assumir riscos — tanto
pessoais quanto financeiros —, mas de uma forma muito calculada, com o objetivo de alterar
constantemente as chances de sucesso, equilibrando o risco com a recompensa potencial.
Normalmente, os empreendedores desenvolvem estratégias engenhosas para enfrentar seus
recursos limitados.
Hoje, o empreendedorismo evoluiu para além da ideia clássica de start-up e inclui empresas e
organizações de todos os tipos, em todas as etapas. Portanto, o empreendedorismo pode ocorrer — e
também não acontecer — em empresas que são velhas e novas; pequenas e grandes; com crescimento
rápido e lento; nos setores privados, sem fins lucrativos e públicos; em todas as regiões geográficas; e
em todas as etapas do desenvolvimento de um país, independentemente da política.
Os líderes empreendedores injetam imaginação, motivação, compromisso, paixão, tenacidade,
integridade, trabalho em equipe e visão em suas empresas. Eles enfrentam dilemas e devem tomar
decisões apesar da ambiguidade e de contradições. Muito raramente o empreendedorismo é uma
proposta de enriquecimento rápido. Pelo contrário, é uma proposta de renovação contínua, pois os
empreendedores nunca ficam satisfeitos com a natureza de sua oportunidade. O resultado desse
processo de criação de valor, como vimos anteriormente, é que a torta econômica total fica maior e
a sociedade se beneficia com isso.
Empreendedorismo = paradoxos
Um dos aspectos mais desconcertantes do processo empreendedor são suas contradições. Devido
a seu caráter altamente dinâmico, fluido, ambíguo e caótico, as mudanças constantes do processo
frequentemente geram paradoxos. A seguir, veja uma amostra dos paradoxos empreendedores.
Você consegue se lembrar de outros paradoxos que você observou ou sobre os quais ouviu falar?
Uma oportunidade com nenhum potencial ou potencial muito baixo pode ser uma oportunidade
gigantescamente grande. Um dos exemplos mais famosos deste paradoxo é a Apple Computer. Os
fundadores Steve Jobs e Steve Wozniak abordaram seu empregador, a Hewlett-Packard
Corporation (HP), com a ideia de um computador pessoal desktop e receberam a resposta de que
isso não era uma oportunidade para a HP. Assim, Jobs e Wozniak iniciaram sua própria empresa.
Frequentemente, planos de negócios rejeitados por alguns capitalistas de risco se tornam sucessos
lendários quando apoiados por outro investidor. A Intuit, fabricante do software Quicken, por
exemplo, foi rejeitada por 20 capitalistas de risco antes de conseguir apoio financeiro.
Para ganhar dinheiro, primeiro você tem de perder dinheiro. É comum ouvir nas empresas de
capital de risco que os limões, ou perdedores, amadurecem em dois anos e meio, enquanto as
ameixas levam sete ou oito anos. Uma empresa start-up apoiada por capital de risco normalmente
perde dinheiro, muitas vezes $10 milhões a $25 milhões ou mais, antes de manter a lucratividade e
abrir o capital, normalmente uns cinco a sete anos depois.
Para criar e construir a riqueza deve-se renunciar a ela. Entre as empresas mais bem-sucedidas e
crescentes dos Estados Unidos, os fundadores diluem agressivamente sua participação no negócio
para criar uma empresa maior. Ao recompensar e compartilhar a riqueza com as pessoas que
contribuem significativamente para o crescimento do negócio, os proprietários motivam os
stakeholders a aumentarem o tamanho da torta.
Para ter sucesso, primeiro se deve experimentar o fracasso. É padrão comum que o primeiro
empreendimento fracassa, mas o empreendedor aprende e sai para criar uma empresa altamente
bem-sucedida. Jerry Kaplan se uniu a Mitch Kapor, fundador da Lotus Development Corporation
para lançar o primeiro computador em canetas. Depois do investimento de capital de risco no valor
de $80 milhões, a empresa foi fechada. Kaplan saiu para lançar a On-Sale, Inc., uma empresa
holandesa de leilão na Internet, que teve um crescimento rápido e abriu o capital em 1996.
O empreendedorismo requer consideráveis questionamentos, preparação e planejamento, mas é,
basicamente, um evento não planejável. O caráter altamente dinâmico e mutável da tecnologia, dos
mercados e da concorrência torna impossível conhecer todos os seus concorrentes hoje, e menos
ainda os concorrentes de daqui a cinco anos. Ainda assim, um grande esforço é investido na
tentativa de moldar e imaginar o futuro. O plano de negócios resultante inevitavelmente fica
obsoleto quando sai da impressora. Esse é um processo criativo — como massa de modelar. Você
precisa criar o hábito de planejar e reagir à medida que reavalia constantemente suas opções,
combinando as mensagens de sua mente e seus instintos, até que esse processo se torne natural.
Para que a criatividade e a capacidade de inovação prosperem, o rigor e a disciplina devem
acompanhar o processo. Durante anos, centenas de milhares de patentes para novos produtos e
tecnologias ficaram inativas nos laboratórios de pesquisas do governo e das universidades porque
não havia disciplina comercial.
O empreendedorismo exige uma tendência à ação e um sentimento de urgência, mas também
demanda paciência e perseverança. Enquanto seus concorrentes estavam adquirindo outras
empresas e se expandindo rapidamente, a equipe administrativa de um empreendedor ficou
praticamente indignada com sua inatividade. Esse empreendedor relatou que economizou pelo
menos $50 milhões a $100 milhões da empresa durante o ano anterior simplesmente mantendo sua
posição. Ele aprendeu essa lição com a série de casos da Jiffy Lube apresentados em Criação de
novos negócios, que ele estudou durante um programa de uma semana na Young Presidents
Organization (YPO), na Harvard Business School em 1991.
Quanto maior a organização, a ordem, a disciplina e o controle, menos você controla seu destino
final. O empreendedorismo exige grande flexibilidade e agilidade em estratégias e táticas. É preciso
trabalhar com os joelhos flexionados. O excesso de controle e a obsessão pela ordem são obstáculos
à abordagem empreendedora. Como disse o piloto de carros de corrida Mario Andretti, “Se eu
estiver no controle total, eu sei que estou indo devagar demais!”.
Aderir às melhores práticas administrativas, especialmente a de ficar perto do cliente, que criou
líderes do setor na década de 1980, se tornou uma semente da autodestruição e da perda de liderança
para concorrentes novos-ricos. Discutimos anteriormente o estudo de “tecnologias disruptivas”.
Para realizar o valor patrimonial de longo prazo, você deve abandonar as tentações da
lucratividade de curto prazo. A construção do patrimônio de longo prazo exige um grande e
contínuo reinvestimento em novas pessoas, produtos, serviços e sistemas de apoio, normalmente à
custa dos lucros imediatos.
O mundo do empreendedorismo não é elegante, arrumadinho, linear, consistente e previsível,
não importa o quanto gostaríamos que fosse assim.77 Na verdade, é das colisões inerentes a esses
paradoxos que se cria valor, como ilustra a Figura 3.1. Esses paradoxos ilustram quão contraditório
e caótico esse mundo pode ser. Para prosperar nesse ambiente, é necessário ser muito adepto de
enfrentar a ambiguidade, o caos e a incerteza, e de ter habilidades administrativas construtivas que
geram previsibilidade. A Tabela 3.1 exemplifica essa ambiguidade e a necessidade de ter paciência.
Por exemplo, a Apple vendeu o primeiro iPod em novembro de 2001. Oito meses depois, a Apple
vendeu a milionésima unidade e, seis meses depois, outro milhão de unidades. Em 2005, a Apple
vendeu 13 milhões de unidades. Um analista da Merrill Lynch prevê que as vendas de iPod podem
acabar chegando a 300 milhões. E então surge o iPhone, o iPad e, com certeza, surgirão outras
inovações nos próximos anos.
FIGURA 3.1
TABELA 3.1
TABELA 3.2
As taxas de fracasso de diversos setores industriais variam de acordo com a Tabela 3.2. A do setor
imobiliário, com uma taxa de 36,8% de fracasso das start-ups, é a mais baixa. O setor de tecnologia
tem uma alta taxa de fracasso: 53,9%. O segmento de software e serviços do setor de tecnologia tem
uma taxa de fracasso ainda mais alta: 55,2% das start-ups rastreadas fecharam suas portas.
Infelizmente, o recorde de sobrevivência não é bom entre todas as empresas criadas.
Para piorar as coisas, a maioria das pessoas acha que as taxas de fracasso são, na verdade, muito
mais altas. Como as ações muitas vezes são governadas pela percepção e não pelos fatos, essa
percepção do fracasso, acrescida do registro desanimador, pode ser um sério obstáculo para
aspirantes a empreendedores.
Outros estudos mostraram diferenças significativas nas taxas de sobrevivência: o comércio de
varejo, a construção e as pequenas empresas de serviço chegam a ser responsáveis por 70% de todos
os fracassos e falências. Um estudo calcula um fator de risco ou índice para as start-ups por setor
industrial, o que mostra um claro sinal de alerta para os aspirantes a empreendedor.85 No topo
estão os produtos de tabaco e na parte inferior encontram-se as organizações de afinidade e
afiliação, como clubes de milhagem. “A pescaria é melhor em alguns rios que em outros”, é um
ditado muito usado pelos autores desses estudos. Além disso, 99% dessas empresas fracassadas
tinham menos de 100 funcionários. Através da observação e da experiência prática, esses relatórios
não surpreendem. As implicações para os aspirantes a empreendedores são importantes: saber a
diferença entre uma boa ideia e uma oportunidade real é vital. Isso será abordado em detalhes no
Capítulo 5.
Um certo nível de fracasso faz parte da “autodestruição criativa” descrita por Joseph Schumpeter
em seus inúmeros escritos, incluindo Business Cycles (1939) e Capitalism. Faz parte da dinâmica da
inovação e da renovação econômica, um processo que exige nascimentos e mortes. Mais
importante, também faz parte do processo de aprendizado inerente a se criar um plano de
aprendizado empreendedor. As empresas deixam de existir, mas os empreendedores sobrevivem e
aprendem.
As provas assustadoras do fracasso apresentam duas perguntas importantes para os aspirantes a
empreendedores. Primeiro, existe alguma exceção a essa regra geral do fracasso, ou teremos de
enfrentar um penalizante jogo de roleta para empreendedores? Segundo, se há uma exceção, como
se consegue que as chances de sucesso fiquem a seu favor?
Colocando as chances a seu favor
Felizmente, existe um padrão de exceção para a taxa geral de fracasso entre a grande maioria das
pequenas empresas marginais criadas a cada ano. A maioria das pequenas empresas que deixam de
operar simplesmente não se encaixam na nossa ideia de empreendedorismo. Elas não criam,
melhoram ou perseguem oportunidades que geram valor. Elas tendem a ser substitutos de
empregos em muitas instâncias. Por terem pouco capital, uma administração ruim e muitas vezes
uma localização péssima, elas logo fracassam.
Conceito de limiar
TABELA 3.3
TABELA 3.4
Depois de quatro anos, a taxa de sobrevivência pula de aproximadamente 35 a 40% para
empresas com menos de 19 funcionários para cerca de 55% para empresas com 20 a 49
funcionários. Embora quaisquer estimativas baseadas em vendas por funcionário variem
consideravelmente de um setor industrial para outro, esse mínimo representa, grosso modo, um
limiar de $50 mil a $100 mil em vendas por funcionário ao ano. Mas empresas altamente bem-
sucedidas podem gerar muito mais vendas por funcionário. De acordo com vários relatórios, os
setores de serviço (38,6%), distribuição (28,7%) e produção (17,8%) têm os maiores níveis de
empresas fechadas depois de quatro a cinco anos.
Promessa de crescimento
A definição de empreendedorismo implica a promessa de expansão e a construção do valor de
longo prazo e, também, de fluxos de caixa duradouros.
No entanto, como discutiremos depois, é necessário muito tempo para as empresas se tornarem
estabelecidas e crescerem. Historicamente, duas de cada cinco pequenas empresas fundadas
sobrevivem por seis anos ou mais, embora poucas consigam crescer durante os primeiros quatro
anos.88 O estudo também descobriu que as taxas de sobrevivência mais que duplicam para
empresas que crescem, e quanto mais cedo na vida da empresa esse crescimento ocorrer, maiores as
chances de sobrevivência.89 O relatório INC. 500 de 2007 exemplifica isso, com uma taxa de
crescimento de 939% em três anos.90
Boa parte da verdadeira empolgação do empreendedorismo encontra-se em conceber, lançar e
construir empresas como essas.
Apoio do capital de risco
Outro notável padrão de exceção à regra do fracasso é encontrado em empresas que atraem
financiamento na fase inicial ou de start-up com empresas privadas de capital de risco bem-
sucedidas. Embora as empresas apoiadas por capital de risco sejam responsáveis por um percentual
muito pequeno de novas empresas a cada ano, mesmo nos Estados Unidos, em 2000, 238 dentre
414 IPOs, ou 57%, tinham apoio de capital de risco naquele país.91 No Brasil, a indústria do capital
de risco ainda é incipiente se comparada com a dos Estados Unidos, mas pesquisas como as do
GVcepe da Fundação Getúlio Vargas demonstram um crescimento do setor nos últimos anos e a
tendência de mais empresas brasileiras que chegam ao IPO terem conseguido aporte de capital de
risco ou private equity. O capital de risco não é essencial para uma start-up, nem é garantia de
sucesso. Das empresas do INC. 500 de 2007, cerca de 18% conseguiram capital de risco e apenas
3% tinham fundo de capital de risco na fase de start-up.92 Considere, por exemplo, que, em 2000,
apenas 5.557 empresas receberam capital de risco nos Estados Unidos.93 No entanto, empresas com
apoio de capital de risco se saem melhor no geral. Apenas 46 empresas com capital de risco
declararam falência ou se transformaram em empresas fechadas em 2000.94 Isso representa menos
de 1% das empresas que receberam capital de risco em 2000.
Esses dados irrefutáveis levaram algumas pessoas a concluírem que cerca de 10 a 15% das novas
empresas se tornarão vencedoras em termos de tamanho, criação de empregos, lucratividade,
inovação e potencial de colheita (e, portanto, realizarão um ganho de capital).
Investidores privados se unem a capitalistas de risco
Como observamos anteriormente, as dezenas de milhares de empreendedores que fizeram a
colheita se tornaram “anjos” como investidores privados na próxima geração de empreendedores.
Muitos dos empreendedores mais bem-sucedidos criaram seus próprios consórcios ou fundos de
investimento e estão competindo diretamente com os capitalistas de risco para realizar transações.
Suas experiências operacionais e seus históricos de sucesso oferecem um estudo de caso atraente
para agregar valor a uma empresa nova-rica. Veja, por exemplo, o altamente bem-sucedido
empreendedor de Boston, Jeff Parker. Sua primeira empresa, a Technical Data Corporation,
permitiu que os negociadores de títulos de Wall Street realizassem as negociações diárias através de
um computador. O software de Parker no Apple II criou um novo setor industrial no início da
década de 1980.
Depois de realizar a colheita dessa e de outras empresas, ele criou seu próprio consórcio privado
de investimentos na década de 1990. Quando ocorreu a explosão da Internet, ele foi um dos
investidores precoces a localizar oportunidades em empresas start-up. Em um desses casos, ele
persuadiu os fundadores de uma nova empresa de Internet a selecioná-lo como principal investidor
em vez de aceitar ofertas de algumas das mais prestigiadas empresas de capital de risco dos Estados
Unidos. De acordo com os fundadores, estava claro que o singular histórico empreendedor de
Parker e seu entendimento da empresa deles agregariam mais valor do que capitalistas de risco na
fase de start-up.
Investidores privados e empreendedores como Parker têm critérios de seleção semelhantes aos
dos capitalistas de risco: eles buscam as empresas de alto potencial e alto nível de crescimento. No
entanto, diferentemente dos capitalistas de risco, eles não se limitam a ter de investir tanto dinheiro
em um período relativamente tão curto que os obrigue a investi-lo em blocos mínimos de $3
milhões a $5 milhões ou mais. Portanto, os investidores privados são importantes fontes para start-
ups que precisam de menos capital e para empresas em estágio inicial. Bob Davis (Lycos) e Tom
Stemberg (Staples) seguiram um caminho semelhante com a Highland Capital.
Essa busca geral por empresas com alto potencial se tornou mais evidente nos últimos anos. A
nova geração eletrônica parece estar aprendendo as lições desses sobreviventes, capitalistas de risco,
investidores privados e fundadores de empresas de alto potencial. Centenas de milhares de alunos
universitários de agora foram expostos a esses conceitos por mais de duas décadas, e suas estratégias
para identificar empresas potenciais são manter-se atentos e disciplinados para encontrar os
ingredientes necessários ao sucesso. Diferentemente de 20 anos atrás, agora é quase impossível não
ouvir e ler sobre esses princípios, seja na televisão, em livros, na Internet ou em uma imensidão de
seminários, cursos e programas para aspirantes a empreendedores de todos os tipos.
Encontre financiadores e colaboradores que agreguem valor
Uma das mais distintas características dessas empresas com alto potencial é como os fundadores
identificam parceiros financeiros e membros importantes da equipe. Eles insistem em apoiadores e
parceiros que façam mais do que oferecer apenas dinheiro, amizade, compromisso e motivação à
empresa. Eles se cercam de apoiadores que podem agregar valor à empresa através de sua
experiência, conhecimento, redes de contato e sabedoria. Colaboradores chave são selecionados
porque são mais inteligentes e melhores do que o fundador naquilo que fazem, e eles aumentam a
média geral de toda a empresa. Esse tema será examinado em detalhes em capítulos posteriores.
Opção: A empresa de estilo de vida
Para muitos aspirantes a empreendedores, as questões de raízes familiares e localização têm
precedência. A acessibilidade a um modo de vida escolhido, seja à pesca, a caminhadas, à música,
ao surf, à escalada de montanhas, à canoagem, a um ambiente rural ou as montanhas, pode ser
mais importante do que o tamanho da empresa ou o tamanho do valor do patrimônio líquido de
uma pessoa. Outras pessoas preferem de longe estar com a família ou o cônjuge e trabalhar com ele.
Elas querem viver em uma área não urbana e que consideram muito atraente. Veja o caso de Jake e
Diana Bishop, por exemplo. Ambos têm formação acadêmica avançada em contabilidade. Eles
abriram mão de empregos com salários de seis dígitos que ambos consideravam gratificantes e
recompensadores na bela costa do Maine para retornar a seu estado natal, Michigan, por vários
motivos importantes relacionados ao estilo de vida. Eles queriam trabalhar juntos novamente em
uma empresa, algo que eles haviam feito com sucesso no início do casamento. Era importante estar
mais perto do que a distância de 14 horas até os pais de Diana, que estavam envelhecendo. Eles
também queriam que os filhos — na época, na casa dos 20 anos de idade — se juntassem a eles na
empresa. Finalmente, eles queriam viver em uma de suas regiões favoritas do país, Harbor Spring
no lago Michigan, na ponta noroeste do estado. Eles contam que nunca tiveram de trabalhar tanto
nos 50 anos de vida, mas que também nunca foram tão felizes. Eles estão fazendo sua empresa de
aluguel crescer mais de 20% ao ano, ganhando um dinheiro excelente e criando valor patrimonial.
Se feito da maneira certa, é possível ter uma empresa de estilo de vida e realmente alcançar um
potencial maior. No Brasil, muitos empreendedores estão se dirigindo para o interior do país, em
regiões que prometem grande desenvolvimento e, dessa forma, grandes oportunidades. O Norte e o
Nordeste, por exemplo, oferecem oportunidades de negócios aos brasileiros interessados em
desbravar sua biodiversidade, o turismo, e negócios no setor de serviços e comércio. Empresas
industriais também se beneficiam das singularidades e potencial de desenvolvimento dessas regiões.
Migrar para regiões com grande potencial e ainda mais calmas que os grandes centros pode ser não
só uma oportunidade de negócios, mas uma oportunidade de ter um estilo de vida mais saudável.
Ainda assim, haverá problemas que deverão ser enfrentados. Não basta criar sua pousada na praia
achando que será o segredo para unir uma vida mais tranquila e ter um negócio bem-sucedido. Em
muitos casos, empreendedores que fizeram isso descobriram as alegrias da autonomia no início,
mas depois viram que junto viriam semanas de trabalho de sete dias, com carga horária de 70 a 90
horas, funcionários que faltam ao trabalho, telhados que vazam quando menos se espera, e os
ocasionais hóspedes infernais.
FIGURA 3.2
No processo empreendedor apresentado no modelo Timmons, a forma, o tamanho e a
profundidade da oportunidade estabelecem os requisitos de forma, tamanho e profundidade dos
recursos e da equipe. Descobrimos que muitas pessoas ficam um tanto desconfortáveis quando
veem a oportunidade e os recursos em um equilíbrio um tanto precário com a equipe. É
especialmente desconcertante para alguns porque mostramos os três elementos chave do processo
empreendedor como um círculo e, assim, o equilíbrio parece frágil. Essas reações são justificadas,
precisas e realistas. O processo empreendedor é dinâmico. Aqueles que reconhecem os riscos
administram melhor o processo e conseguem um retorno maior.
A tarefa do empreendedor líder é suficientemente simples. Ele deve realizar a transação
assumindo a responsabilidade pela equação do sucesso. Nesse contexto dinâmico, a ambiguidade e o
risco, na verdade, são seus amigos. Analisar as adequações e as lacunas que existem na empresa é
fundamental para o dever de casa, a resolução criativa de problemas e a criação de estratégias, e a
devida diligência que se encontra no futuro. O que há de errado com esta oportunidade? O que
está faltando? Que boas notícias e eventos favoráveis podem acontecer, bem como desfavoráveis? O
que precisa acontecer para torná-la atraente e adequada para mim? Que riscos em termos de
mercado, tecnologia, concorrência, administração e finanças podem ser reduzidos ou eliminados? O
que pode ser mudado para fazer isso acontecer? Quem pode mudá-lo? Quais são os mínimos
recursos necessários para fazer a empresa crescer mais? Essa é a equipe certa? Por implicação, se
você puder determinar essas respostas e fazer as mudanças necessárias ao descobrir como preencher
as lacunas e melhorar a adequação e atrair atores chave que podem agregar tal valor, as chances de
sucesso aumentarão significativamente. Em essência, a função do empreendedor é administrar e
redefinir a equação risco/recompensa — tudo com um olho na sustentabilidade. Como parte do
legado do empreendedor é criar um impacto positivo sem danificar o meio ambiente, a
comunidade ou a sociedade, o conceito de sustentabilidade aparece como a fundação ou a base
subjacente no modelo.
A oportunidade Na essência do processo encontra-se a oportunidade. Empreendedores e
investidores bem-sucedidos sabem que uma ideia não é necessariamente uma boa oportunidade.
Para cada cem ideias apresentadas a investidores na forma de um plano de negócios ou proposta,
normalmente menos de quatro são financiadas. Mais de 80% dessas rejeições ocorrem nas
primeiras horas; outros 10 a 15% são rejeitados depois que investidores leram o plano de negócios
cuidadosamente. Menos de 10% atraem interesse suficiente para merecer uma devida diligência
mais profunda, através de uma análise que pode durar várias semanas ou meses. São chances muito
pequenas. Incontáveis horas e dias foram gastos por aspirantes a empreendedores buscando ideias
que não vão a lugar nenhum. Uma habilidade importante para um empreendedor ou um
investidor é ser capaz de avaliar rapidamente se existe um grande potencial, e de decidir quanto
tempo e esforço investir.
John Doerr é sócio veterano de um dos mais famosos e bem-sucedidos fundos de capital de risco
de todos os tempos, Kleiner, Perkins, Caulfield & Byers, e é considerado por alguns o mais
influente capitalista de risco de sua geração. Durante sua carreira, ele foi um exemplo típico dos
revolucionários descritos anteriormente, que criaram novos setores industriais como importantes
investidores em lendas como a Sun Microsystems, a Compaq Computer, a Lotus Development
Corporation, a Intuit, a Genentech, a Millennium, a Netscape e a Amazon.com.
Independentemente desses sucessos passados, Doerr insiste: “Nunca houve uma época melhor do
que agora para se iniciar uma empresa. No passado, os empreendedores iniciavam empresas. Hoje,
eles inventam novos modelos de negócios. Isso é uma grande diferença e cria enormes
oportunidades”.95
Outro capitalista de risco declarou recentemente: “Ciclos de exuberância irracional não são novos
nos investimentos de risco. A bolha da Internet estourou, voltamos à terra e, depois, começamos
outro período de valoração excessiva que está afundando no final de 2007 com uma redução do
crédito”.96 Depois, o que se viu foi o desastre ocorrido com a crise imobiliária e então a crise dos
bancos, principalmente nos Estados Unidos, e que afetou a economia mundial de maneira drástica
no ano de 2009. O Quadro 3.1 resume as características mais importantes das boas oportunidades.
A demanda subjacente do mercado — devido às propriedades de valor agregado do produto ou
serviço, do tamanho do mercado e um potencial de crescimento de mais de 20%, da economia da
empresa, das margens especialmente robustas (40% ou mais), e das características do fluxo de caixa
livre — orienta o potencial de criação de valor.
Construímos nosso entendimento da oportunidade focalizando, primeiro, a prontidão do
mercado: as tendências e os comportamentos dos consumidores que buscam novos produtos ou
serviços. Quando esses padrões em desenvolvimento são identificados, o aspirante a empreendedor
desenvolve um conceito de serviço ou produto e, por fim, o sistema de entrega do serviço ou
produto é concebido. E aí fazemos as perguntas articuladas no Quadro 3.1.
QUADRO 3.1
Esses critérios serão descritos em mais detalhes no Capítulo 5 e podem ser aplicados à busca e à
avaliação de qualquer oportunidade. Em resumo, quanto maior o crescimento, o tamanho, a
durabilidade e a robustez das margens bruta e líquida e do fluxo de caixa livre, maior a
oportunidade. Quanto mais imperfeito o mercado, maior a oportunidade. Quanto maiores a taxa de
mudança, as descontinuidades e o caos, maior a oportunidade. Quanto maiores as incoerências no
serviço existente e na qualidade, nos prazos de entrega e nos atrasos, e quanto maiores os vácuos e
as lacunas em termos de informações e conhecimento, maior a oportunidade.
Recursos: criativos e parcimoniosos Uma das mais comuns concepções erradas entre
empreendedores inexperientes é que você precisa, primeiro, ter todos os recursos em ordem,
especialmente o dinheiro, para ter sucesso com uma empresa. Pensar no dinheiro em primeiro
lugar é um grande erro. O dinheiro segue oportunidades de alto potencial concebidas e lideradas
por uma forte equipe administrativa. Os investidores têm lamentado há anos que existe dinheiro
demais perseguindo poucas transações. Em outras palavras, há uma escassez de empreendedores e ‐
oportunidades de qualidade, e não de dinheiro. Empreendedores bem-sucedidos desenvolvem
estratégias engenhosamente criativas e parcimoniosas para enfrentar a falta e ter controle dos
recursos (Quadro 3.2). Por mais surpreendente que possa parecer, investidores e empreendedores
bem-sucedidos muitas vezes dizem que uma das piores coisas que podem acontecer a um
empreendedor é ter dinheiro demais cedo demais.
QUADRO 3.2
Howard Head é um maravilhoso exemplo clássico do sucesso com poucos recursos. Ele
desenvolveu o primeiro esqui de metal, que se tornou líder de mercado e, posteriormente, a
raquete de tênis Prince, maior que as raquetes normais. Desenvolver duas tecnologias totalmente
não relacionadas é um feito raro. Head deixou seu emprego em um grande fabricante de aeronaves
durante a Segunda Guerra Mundial e trabalhou em sua garagem com um orçamento apertado para
criar seu esqui de metal. Foram necessárias mais de 40 versões antes que ele desenvolvesse um
esqui que funcionasse e pudesse ser vendido. Ele insiste que um dos maiores motivos para ele
finalmente alcançar o sucesso foi o fato de ter tido tão pouco dinheiro no início. Ele argumenta que,
se tivesse um financiamento total, ele provavelmente teria jogado tudo para o alto antes de chegar a
um esqui de metal funcional.
A autossuficiência é um modo de vida em empresas empreendedoras e pode gerar uma vantagem
competitiva significativa. Fazer mais com menos é uma poderosa arma competitiva. Novas empresas
eficazes lutam para minimizar e controlar os recursos, mas não necessariamente possuí-los. Quer
seja em termos de ativos para a empresa, pessoas chave, o plano de negócios ou o capital inicial de
uma start-up, os empreendedores bem-sucedidos pensam por último no dinheiro. Essas estratégias
estimulam uma disciplina de racionalidade, onde todo mundo sabe que cada dólar é importante, e
o princípio “conserve seu patrimônio” se torna uma forma de maximizar o valor dos acionistas e
donos do negócio.
A equipe empreendedora Existe pouca discussão, hoje, sobre o fato de a equipe empreendedora ser
um ingrediente chave na empresa com alto potencial. Os investidores foram cativados “pelo brilho
criativo do principal empreendedor de uma empresa: um Steve Jobs, um Bill Gates [...] e apostam
no maravilhoso histórico da equipe administrativa trabalhando como um grupo”.97 O capitalista de
risco John Doerr reafirma a máxima do General George Doriot: Prefiro um empreendedor e uma
equipe de nível A com uma ideia de nível B, do que uma equipe de nível B com uma ideia de nível
A. Doerr declarou: “No mundo de hoje, existe muita tecnologia, muitos empreendedores, muito
dinheiro, muito capital de risco. O que está em baixa são as ótimas equipes. Seu maior desafio será
montar uma ótima equipe”.98
O famoso investidor Arthur Rock falou da importância da equipe mais de uma década atrás. Ele
disse o seguinte: “Se você consegue encontrar boas pessoas, elas sempre podem mudar o produto.
Quase todos os erros que cometi foram relacionados a ter escolhido as pessoas erradas, e não a ideia
errada”.99 Por fim, como vimos anteriormente, as empresas com mais de 20 funcionários e $2
milhões a $3 milhões em vendas tinham probabilidade muito maior de sobreviver e prosperar do
que empresas menores. Na grande maioria dos casos, é muito difícil crescer mais do que isso sem
uma equipe de dois ou mais colaboradores chave.
Evidentemente, uma nova empresa exige um empreendedor líder que tenha as características
pessoais descritas no Quadro 3.3. Mas a empresa com alto potencial também exige habilidades
interpessoais para fomentar a comunicação e, portanto, a montagem de equipes.
QUADRO 3.3
O Quadro 3.3 resume os aspectos importantes da equipe. Essas equipes invariavelmente são
formadas e lideradas por um líder empreendedor muito capaz, cujo histórico apresenta realizações
e várias qualidades que a equipe deve possuir. Por ser determinador do ritmo e criador de cultura,
o empreendedor líder é fundamental para a equipe como participante e técnico. A capacidade e a
habilidade de atrair outros membros administrativos importantes e, depois, montar a equipe é uma
das capacidades mais valorizadas que os investidores buscam. O fundador que se torna líder o faz
por construir heróis na equipe. Um líder adapta uma filosofia que recompensa o sucesso e apoia o
fracasso honesto, compartilha a riqueza com aqueles que ajudam a criá-la, e estabelece padrões
altos de desempenho e conduta. Examinaremos em detalhes o líder empreendedor e a equipe da
nova empresa no Capítulo 8.
A importância da adequação e do equilíbrio Fechando o modelo das três forças propulsoras temos o
conceito de adequação e equilíbrio entre essas forças. Observe que a equipe está posicionada na
parte inferior do triângulo no modelo Timmons (Figura 3.2). Imagine o fundador, o líder
empreendedor da empresa, de pé sobre uma bola grande, equilibrando o triângulo sobre a cabeça.
Essa imagem mental é útil na apreciação do constante ato de equilibrar, pois a oportunidade, a
equipe e os recursos raramente são compatíveis. Ao imaginar o futuro de uma empresa, o
empreendedor pode perguntar: Quais armadilhas vou encontrar ao chegar perto da fronteira do
sucesso? Minha atual equipe será grande o suficiente, ou ficaremos sobrecarregados se a empresa
crescer 30% ao longo dos próximos dois anos? Meus recursos são suficientes (ou abundantes
demais)? Exemplos intensos do fracasso para manter o equilíbrio estão em toda parte, como
acontece quando grandes empresas investem recursos demais em uma oportunidade fraca e mal
definida. Por exemplo, a suposição equivocada da Lucent Technologies levou-a à lentidão para
reagir à demanda de banda larga e resultou em uma redução de quase 90% na sua capitalização de
mercado.
Sustentabilidade como base Construir uma empresa sustentável significa atingir objetivos
econômicos, ambientais e sociais sem comprometer a mesma oportunidade para futuras gerações. A
maré do empreendedorismo em termos de meio ambiente, comunidade e sociedade é
impulsionada por muitos fatores. Estamos vendo uma elevada consciência social acerca de uma
ampla gama de questões relacionadas à sustentabilidade, incluindo direitos humanos, qualidade
dos alimentos, recursos energéticos, poluição, aquecimento global e afins. Ao entender esses
fatores, o empreendedor constrói uma base mais firme, preparando a empresa para o longo prazo.
Embora os desenhos simplifiquem demais esses eventos incrivelmente complexos, eles nos
ajudam a pensar conceitualmente — um importante talento do empreendedor — sobre o processo
de criação da empresa, incluindo as implicações estratégicas e administrativas da luta para atingir o
equilíbrio e a inevitável fragilidade do processo. Visualmente, o processo pode ser apreciado como
um ato de equilíbrio constante, exigindo avaliação contínua, estratégias e táticas revisadas, e uma
abordagem experimental. Ao abordar os tipos de perguntas necessárias para formar a oportunidade,
os recursos e a equipe, o fundador começa a moldar a ideia para transformá-la em uma
oportunidade, e a oportunidade em uma empresa, da mesma forma que você moldaria uma massa
disforme para transformá-la em arte.
A Figura 3.3 mostra como esse ato de equilibrar evoluiu para a Google desde a concepção até suas
ofertas públicas inicial e secundária. Em 1996, a busca on-line era uma oportunidade enorme, com
crescimento rápido, mas ambígua. Havia muitos entrantes precoces na área de busca, mas nenhum
deles havia surpreendido. Larry Page e Sergey Brin, alunos de pós-graduação em Stanford,
começaram a trabalhar juntos em uma ferramenta de busca chamada BackRub, nomeada por sua
exclusiva capacidade de analisar os “back links”100* que apontavam para determinado site. Em um
ano, a abordagem exclusiva da análise de links estava gerando para sua ferramenta de busca feita
nos dormitórios uma crescente reputação à medida que a novidade se espalhava pelo campus.
Ainda assim, eles não tinham equipe nem capital, e sua arquitetura de servidor estava rodando em
computadores que eles pegavam emprestado do departamento de ciência da computação.
Essa incompatibilidade de ideias, recursos e talentos poderia rapidamente fugir ao controle dos
fundadores e cair nas mãos de alguém que pudesse transformá-la em uma verdadeira
oportunidade. Nesse ponto tênue, os fundadores teriam visto algo como a primeira figura, a Figura
3.3(a), com a enorme oportunidade da ferramenta de busca superando muito a equipe e os
recursos. As lacunas eram gigantescas.
Entra para o negócio o empreendedor e investidor anjo Andy Bechtolsheim, um dos fundadores
da Sun Microsystems. Os sócios da ferramenta de busca (agora chamada de Google, uma variante
de googol, um número imenso), se encontraram com Bechtolsheim em certa manhã bem cedo, na
varanda de uma casa de professor de Stanford em Palo Alto. Impressionado, mas sem tempo para
ouvir os detalhes, Bechtolsheim redigiu um cheque no valor de $100 mil. A partir daí, Page e Brin
saíram para conseguir a primeira rodada de $1 milhão. Os sócios agora estavam na posição de
preencher as lacunas dos recursos e montar a equipe.
Em setembro de 1998, eles se estabeleceram em uma garagem em Menlo Park, Califórnia, e
contrataram o primeiro funcionário: Craig Silverstein, especialista em tecnologia. Menos de um ano
depois, eles se mudaram para um novo local, que rapidamente se tornou um amontoado de mesas
e servidores. Em junho de 1999, a empresa assegurou uma rodada de financiamento que incluiu
$25 milhões da Sequoia Capital e da Kleiner, Perkins, Caufield & Byers — duas das maiores
empresas de capital de risco no Vale do Silício. A terrível confusão no escritório foi aliviada com a
mudança para a atual sede da Google em Mountain View, Califórnia.
O novo equilíbrio na Figura 3.3(b) cria um investimento justificável. A oportunidade ainda era
enorme e crescente, e alguns concorrentes também estavam conquistando a aceitação do mercado.
Para explorar totalmente essa oportunidade, atrair um grupo grande e altamente talentoso de
administradores e profissionais e criar uma força financeira ainda maior que os concorrentes como
o Yahoo!, a empresa teve de realizar uma oferta pública de ações inicial (IPO). Depois do
fechamento dessa IPO no verão de 2004, a Google valia mais do que $25 bilhões, o que lhe
proporcionava uma capitalização de mercado inicial maior que a da Amazon.com ou da General
Motors. Dentro de um ano, a empresa conseguir mais $4 bilhões em uma oferta pública secundária.
Em 2007, a Google (veja a Figura 3.3(c)) tinha ações com preços na faixa de $500 e era maior e
mais forte em termos de pessoas e recursos que qualquer concorrente direto. A empresa era o local
para trabalhar e empregava mais de 10 mil dos melhores e mais brilhantes do setor. Será que uma
força incontrolável como a Google poderia ser pega de surpresa e eclipsada por uma nova
tecnologia disruptiva, assim como a Apple Computer e a Microsoft derrubaram a IBM e a Digital
Equipment? Embora neste momento essa ideia possa parecer impossível, devido ao momentum, à
escala e à capacidade de atrair talentos da Google, a história é bem clara nesse ponto: a resposta não
é se, mas quando a Google será superada.
FIGURA 3.3(a)
FIGURA 3.3(b)
FIGURA 3.3(c)
QUADRO 3.4
Resumo do capítulo
1. Você consegue definir o que significa o empreendedorismo clássico e uma empresa com alto
potencial? Por que e como são importantes os conceitos de limiar, proteger o patrimônio, a
autossuficiência de recursos, a adequação e o equilíbrio?
2. Quantas outras metáforas e paradoxos sobre empreendedorismo você consegue identificar?
3. “As pessoas não querem ser gerenciadas, elas querem ser lideradas”. Explique o que isso
significa e sua importância e as implicações para o desenvolvimento de seu próprio estilo e
filosofia de liderança.
4. Quais são os mais importantes determinantes de sucesso e fracasso em novas empresas? Quem
tem as melhores e as piores chances de sucesso, e por quê?
5. Quais são as atividades mais importantes que você pode desenvolver para aumentar as suas
chances?
6. Que critérios e características os empreendedores de alto nível de crescimento, os capitalistas
de risco e os investidores privados buscam ao avaliar oportunidades de negócios? Como esses
critérios podem fazer a diferença?
7. Defina e explique o modelo Timmons. Aplique-o e faça um desenho, como no exemplo da
Google, para os primeiros cinco anos, mais ou menos, de uma nova empresa com a qual você
esteja familiarizado.
8. Quais são as habilidades, os valores, os talentos, as capacidades e os pensamentos mais
importantes que alguém deve cultivar como empreendedor?
EXERCITANDO A MENTE
67
Esta definição de empreendedorismo evoluiu ao longo das últimas três décadas a partir de pesquisas de Jeffry A. Timmons,
do Babson College e da Harvard Business School, e recentemente foi incrementada por Stephen Spinelli, Jr., ex-diretor de
empreendedorismo e administração global no Babson College, e atual presidente da Universidade da Philadelphia.
68
J. A. Timmons, D. F. Muzyka, H. H. Stevenson e W. D. Bygrave, “Opportunity Recognition: The Core of Entrepreneurship”, em
Frontiers of Entrepreneurship Research (Babson Park, MA: Babson College, 1987), p. 409.
69
National Venture Capital Association, Venture Impact: The Economic Importance of Venture Capital Backed Companies to the U.S.
Economy, 2007.
70
A citação favorita dos autores, vinda de Ewing M. Kauffman, fundador da Marion Laboratories, Inc., da Fundação Ewing Marion
Kauffman, Kansas City, Missouri.
71
W. J. Dennis, Jr., “Wells Fargo/NFIB Series on Business Starts and Stops”, nov. 1999.
72
J. L. Bower e C. M. Christensen, “Disruptive Technologies: Catching the Wave”, Harvard Business Review, jan.–fev. 1995, p. 43.
73
Idem, p. 47.
74
Ibid.
75
Fast Company, jun.–jul. 1997, pp. 32, 79, 104; e U. S. Rangan, “Alliances Power Corporate Renewal”, Babson College, 2001.
76
T. Wolfe, The Right Stuff (Nova York: Bantam Books, 1980), pp. 51–52.
77
Veja em H. H. Stevenson, Do Lunch or Be Lunch (Boston, MA: Harvard Business School Press, 1998) uma argumentação
provocante para a previsibilidade como uma das mais poderosas ferramentas administrativas.
78
The Global Entrepreneurship Monitor, Babson College and the London Business School, maio 2007.
79
Em resposta à pergunta de um aluno no Founder’s Day, Babson College, abr. 1983.
80
Bob Davis, Partner, Highland Capital, jun. 2007.
81
The State of Small Business: A Report of the President, Transmitted to the Congress, 1999 (Washington, DC: Small Business
Administration, 1999).
82
The State of Small Business, 1992, p. 128.
83
As informações foram extraídas dos seguintes estudos: D. L. Birch, MIT Studies, 1979–1980; M. B. Teitz et al., “Small Business and
Employment Growth in California”, Working Paper No. 348, University of California at Berkeley, mar. 1981, tabela 5, p. 22; U.S. Small
Business Administration, 29 ago. 1988; B. D. Phillips e B. A. Kirchhoff, “An Analysis of New Firm Survival and Growth”, Frontiers in
Entrepreneurship Research: 1988, ed. B. A. Kirchhoff et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1988), pp. 266–67; e BizMiner 2002
Startup Business Risk Index: Major Industry Report, Brandow Co., Inc., 2002.
84
Resumos desses estudos foram registrados por A. N. Shapero e J. Gigherano, “Exits and Entries: A Study in Yellow Pages
Journalism”, em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1982, ed. K. Vesper et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1982), pp. 113–
41, e A. C. Cooper e C. Y. Woo, “Survival and Failure: A Longitudinal Study”, em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1988, ed. B. A.
Kirchhoff et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1988), pp. 225–37.
85
BizMiner 2002 Startup Business Risk Index.
86
S. Venkataraman e M. B. Low, “On the Nature of Critical Relationships: A Test of the Liabilities and Size Hypothesis”, em Frontiers
in Entrepreneurship Research: 1991 (Babson Park, MA: Babson College, 1991), p. 97.
87
Idem, pp. 105–6.
88
B. D. Phillips e B. A. Kirchhoff, “An Analysis of New Firm Survival and Growth”, em Frontiers in Entrepreneurship Research: 1988
(Babson Park, MA: Babson College, 1988), pp. 266–67.
89
Isso reafirma a exceção à regra do fracasso citada aqui e na edição original deste livro em 1977.
90
S. Greco, “The INC. 500 Almanac,” INC., out. 2001, p. 80.
91
“Aftermarket at a Glance”, IPO Reporter, 10 dez. 2001; e “IPO Aftermarket”, Venture Capital Journal, dez. 2001.
92
www.inc.com/inc5000.
93
Venture Economics, http://www.ventureeconomics.com/vec/stats/2001q2/us.html, 30 jul. 2001.
94
VentureXpert, Thompson Financial Data Services, 2001.
95
“John Doerr’s Start-Up Manual”, Fast Company, fev.–mar. 1997, pp. 82–84.
96
Ernie Parizeau, Partner, Norwest Venture Partners, jun. 2007.
97
W. D. Bygrave e J. A. Timmons, Venture Capital at the Crossroads (Boston: Harvard Business School Press, 1992), p. 8.
98
Fast Company, fev.–mar. 1997, p. 84.
99
A. Rock, “Strategy vs. Tactics from a Venture Capitalist”, Harvard Business Review, nov.–dez. 1987, pp. 63–67.
100
*N. da T.: “Back links” são os links que fazem referência a determinado site. A quantidade desse tipo de link é um dos fatores
determinantes da popularidade de um site.
101
D. L. Sexton e F. I. Seale, Leading Practices of Fast Growth Entrepreneurs: Pathways to High Performance (Kansas City, MO:
Kauffman Center for Entrepreneurial Leadership, 1997).
Estudo de caso
Roxanne Quimby
Perguntas preparatórias
1. Quem pode ser empreendedor?
2. Quais são os riscos, as recompensas e as compensações de uma empresa de estilo de v ida versus
uma empresa de alto potencial — que v ai ultrapassar $5 milhões em v endas e crescer
substancialmente?
3. Qual é a diferença entre uma ideia e uma oportunidade? Para quem? O que se pode aprender
com as Tabelas C e D?
4. Por que a empresa tev e sucesso até o momento da preparação do caso?
5. O que Roxanne e Burt dev em fazer, e por quê?
Nosso objetivo para o primeiro ano era chegar a $10 mil em vendas totais. Imaginei que, se eu
conseguisse levar para casa metade disso, seria mais dinheiro do que eu jamais tinha visto.
Roxanne Quimby
Introdução
Roxanne Quimby estav a sentada no escritório do presidente da recém-realocada instalação de
produção da Burt’s Bees em Raleigh, Carolina do Norte. Ela estav a cercada de caixas v azias e do
silêncio das máquinas paradas sem ninguém para operá-las. Quimby olhou em v olta e se perguntou:
“Por que eu fiz isso?”. Ela se sentia sozinha e sentia saudade do Maine, a casa anterior da Burt’s Bees.
Quimby hav ia fundado e construído a Burt’s Bees, uma fabricante de produtos de cuidado pessoal
feitos com cera de abelha e artesanatos, na parte central do Maine e não estav a conv encida de que
não ia se mudar de v olta para lá. Ela explicou:
Quando chegamos à Carolina do Norte, estáv amos totalmente sozinhos. Eu percebi quanto da
empresa existia na mente dos funcionários do Maine. Ali, todo mundo tinha sua marca no processo. I sso
tudo se perdeu quando deixamos o Maine em 1994. Eu ficav a me perguntando: “Por que mudei a sede
da Burt’s Bees?” Achei que ia pegar a empresa e mudá-la e tudo ficaria igual. Nada ficou igual, exceto
que eu ainda estav a trabalhando 20 horas por dia.
Quimby tinha dúv idas profundas sobre sua mudança para a Carolina do Norte e estav a
considerando seriamente se mudar de v olta para o Maine. Ela precisav a tomar uma decisão
rapidamente, porque a Burt’s Bees estav a no processo de contratar nov os funcionários e comprar
muitos equipamentos de produção. Se ela recuasse agora, os prejuízos poderiam ser minimizados e ela
poderia recontratar cada um dos 44 funcionários que hav ia deixado no Maine, já que nenhum deles
hav ia conseguido um nov o emprego ainda. Por outro lado, seria difícil ignorar todos os motiv os pelos
quais ela hav ia decidido deixar o Maine inicialmente. Se ela mudasse a Burt’s Bees de v olta, enfrentaria
os mesmos problemas que inspiraram essa mudança. No Maine, a Burt’s Bees prov av elmente nunca
cresceria além dos $3 milhões em v endas, e Quimby achav a que tinha potencial para muito mais.
Acreditamos que existe uma cura para o desperdício de recursos que seja
lucrativa, criativa e prática. Devemos criar uma empresa que atenda às
necessidades da sociedade e do meio ambiente desenvolvendo um sistema de
produção industrial que diminua nossos custos e reduza drasticamente a
sobrecarga colocada nos sistemas vivos.
Ray Anderson
Fundador da Interface, Inc.
A Greentech poderia ser a maior oportunidade econômica do século XXI.
John Doerr Kleiner, Perkins, Caufield & Byers
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Discutir as pressões e as demandas do mercado que estão gerando oportunidades para empreendedores com
um olhar para a sustentabilidade.
2. Explicar as maneiras pelas quais as empresas empreendedoras podem obter vantagem competitiva orientando
produtos e processos que levem em conta as questões ambientais.
3. Descrever a função que a sustentabilidade exerce na construção de empresas dinâmicas e lucrativas.
4. Discutir as cinco facetas de se olhar através da lente da sustentabilidade, e descrever seu impacto sobre a
avaliação da oportunidade, os recursos e a equipe.
5. Gerar insights e análises do estudo de caso de Jim Poss.
Definição de sustentabilidade
Sustentabilidade significa que a utilização de recursos não deve extinguir o capital [natural]
existente. . . ou seja, os recursos não devem ser usados em um ritmo mais rápido que o ritmo de
renovação, e a geração de resíduos não deve ultrapassar a capacidade de carga do
ecossistema ao redor. . .
1. Evite os resíduos: Projete sínteses químicas para evitar os resíduos, não deixando nenhum
resíduo para tratar ou limpar.
2. Projete componentes e produtos químicos mais seguros: Projete componentes químicos
que sejam totalmente eficazes e apresentem pouca ou nenhuma toxicidade.
3. Projete sínteses químicas menos perigosas: Projete sínteses para usar e gerar substâncias
com pouca ou nenhuma toxicidade para os seres humanos e o meio ambiente.
4. Use matérias-primas renováveis: Use matérias-primas que sejam renováveis, e não
esgotáveis. Matérias-primas renováveis muitas vezes são feitas com produtos agrícolas ou
são os resíduos de outros processos; matérias-primas esgotáveis são feitas de combustíveis
fósseis (petróleo, gás natural ou carvão) ou são extraídos por mineração.
5. Use catalisadores e não reagentes estequiométricos: Minimize os resíduos usando reações
catalíticas. Os catalisadores são usados em pequenas quantidades e podem realizar uma
única reação várias vezes. Eles são preferíveis aos reagentes estequiométricos, que são
usados em excesso e funcionam apenas uma vez.
6. Evite derivados químicos: Evitar usar grupos de bloqueio ou proteção ou qualquer
modificação temporária, se possível. Os derivados usam reagentes adicionais e geram
resíduos.
7. Maximize a economia atômica: Projete sínteses de modo que o produto final contenha a
proporção máxima dos materiais iniciais. Deve haver pouco ou nenhum resíduo atômico.
8. Use solventes e reações mais seguros: Evite usar solventes, agentes separadores ou outros
produtos químicos auxiliares. Se esses produtos químicos forem necessários, use produtos
químicos inócuos. Se for necessário o uso de um solvente, a água é um bom meio, bem
como determinados solventes que não causam danos ao meio ambiente e que não
contribuem para a formação de poluição nem destroem a camada de ozônio.
9. Aumente a eficiência energética: Realize reações químicas na temperatura e na pressão
ambientes sempre que possível.
10. Projete produtos químicos para se decomporem depois de usados: Projeto produtos
químicos que se decomponham em substâncias inócuas depois de usados, de modo que
eles não se acumulem no meio ambiente.
11. Analise em tempo real para evitar a poluição: Inclua sistemas de monitoramento e
controle em tempo real e inseridos no processo durante a sínteses, para minimizar ou
eliminar a formação de derivados.
12. Minimize o potencial de acidentes: Projeto produtos químicos e suas formas (sólida,
líquida ou gasosa) para minimizar o potencial de acidentes químicos, incluindo explosões,
incêndios e vazamentos para o meio ambiente.
Fonte: P. T. Anastas e J. C. Warner, Green Chemistry: Theory and Practice (Nova York: Oxford University Press, 1998).
Todo esse conceito tem paralelos diretos com as maneiras como os empreendedores pensam. Dois
princípios são especialmente úteis para os empreendedores. Primeiro, o diabo está nos detalhes.
Empreendedores bem-sucedidos sabem que precisam entender os detalhes na parte inferior da
escada a abstração (a mente helicóptero que discutimos anteriormente). É difícil se lembrar de um
empreendedor que não leu nem estudou pessoalmente e com cuidado seu próprio contrato de
empréstimo, contrato de franquia ou algum outro contrato, em vez de simplesmente deixar isso
para os advogados. Os empreendedores sabem que suas perspectivas e insights são um teste
importante das implicações sutis, mas fundamentais, que contratos como esses podem apresentar.
Essa atenção aos detalhes se aplica igualmente aos processos e componentes da cadeia de
suprimentos que permitem o lançamento de sua empresa. Os benefícios da lente da
sustentabilidade e do pensamento sistêmico podem ser ampliados ou até mesmo estendidos através
de uma cadeia de suprimento.
Segundo, os líderes empreendedores sabem que até mesmo as questões e desafios mais complexos
e difíceis que enfrentam podem ser reduzidos a uma série de ataques incansáveis a pequenas partes
solucionáveis. No cativante filme O céu de outubro, é exatamente assim que os personagens
principais Homer e Quentin conseguiram provar que seu foguete não iniciou o incêndio em uma
cidade próxima. Essa sequência do filme é um exemplo perfeito de como os empreendedores
pensam como uma molécula para dividir um problema ou obstáculo na menor parte possível — que
seja solucionável — e depois seguem em frente. De maneira semelhante, rastrear materiais através
de seus respectivos ciclos de vida divide esses processos em partes essenciais para uma análise e um
reprojeto eficazes.
Até aqui, discutimos novas maneiras de pensar e ver através da lente da sustentabilidade; para
implementar essas ideias, devemos apelar para fontes inexploradas de criatividade, bem como
organizar recursos latentes.
Rede de contato de valor agregado
Sua rede de contato de valor agregado é a teia dentro da qual você já trabalha. Alguns desses
colegas entendem intuitivamente que a lente da sustentabilidade pode oferecer inspiração e novos
caminhos para frente. Às vezes, fazer uma nova pergunta a um velho parceiro ou colega pode
revelar profundidades inesperadas de conhecimento e especialização. Encontre os mecanismos
adequados para sua empresa ou rede de contato empreendedora e aplique-os com esse objetivo. Na
hora de seguir em frente, sua rede de contato de valor agregado pode funcionar como um todo
maior que a soma de suas partes.
Seja radicalmente progressivo
Depois que você ativar sua rede de contato de valor agregado, faça um mapa adequado à escala, e
esteja pronto para ajustar seu ritmo conforme necessário. Seja radicalmente progressivo. Sim, isso é
um paradoxo ou uma retórica; usamos essa terminologia deliberadamente. É absurdo sugerir que
resultados radicais podem ser obtidos quando damos pequenos passos, mas isso é possível.
Estabeleça objetivos ambiciosos, mas seja flexível no modo como você chega lá. Dar pequenos
passos em uma direção radical pode ser algo poderoso. Zero de emissões e zero de toxicidade
podem ser objetivos radicais; mas, ao estabelecê-los como objetivos estratégicos, o empreendedor
concentra sua rede de contato de envolvidos na promessa de que melhorias constantes acabarão
levando a inovações radicais em todo o sistema. Avalie e meça tudo que puder para ter referências
de sucesso no processo, e obtenha o apoio de seus envolvidos menos ousados. Acima de tudo, seja
flexível; a adaptação e o aprendizado determinam o processo e podem ajudá-lo a ajustar seus
objetivos.
Olhar através da lente da sustentabilidade lhe permite dar um passo atrás e ver todo o seu sistema
empresarial; isso lhe dá uma perspectiva mais ampla sobre as muitas maneiras pelas quais sua
empresa interage com o mundo à volta. Aceite os desafios em contextos maiores — é aí que se
encontram as oportunidades.
A sustentabilidade é um território novo para muitos de nós. Mas explorar novos territórios não é
novidade; temos muitos exemplos para seguir. Imagine, por exemplo, que você vai acompanhar os
vários exploradores do início do século XIX através do desconhecido território brasileiro naquela
época. Como havia poucos mapas do interior do Brasil, e que não passavam de rascunhos, como
você se prepararia para essa jornada? Você pode conversar com amigos e conhecidos para descobrir
o que eles sabem sobre o terreno que vocês vão percorrer. Mas, para obter informações estratégicas
vitais necessárias à sobrevivência nessa incursão ao desconhecido, você teria de sair do seu círculo
imediato para conversar com agricultores, nativos, comerciantes, e outros viajantes — pessoas de
várias áreas da vida. Você precisaria construir laços fracos104 com uma ampla gama de pessoas para
obter os dados necessários.
De modo semelhante, criar e executar uma nova empresa em território desconhecido exige que
você deixe seu círculo familiar de conselheiros e busque informações de diversas fontes. Isso é
especialmente verdadeiro quando se trata de uma incursão bem-sucedida ao desconhecido
território onde se cruzam o empreendedorismo ambiental e a sustentabilidade. Lembre-se que os
laços fracos do seu mundo são novas fontes de informações e recursos que lhe permitem ir além
dos limites normais das informações estratégicas.
Qualquer pessoa pode olhar através da lente da sustentabilidade e descobrir novas oportunidades.
As start-ups empreendedoras têm uma importante função a exercer ao estabelecer altos padrões de
inovação. Elas podem arrasar o mercado com sua flexibilidade e velocidade. E, como investidores
experientes e multinacionais comprometidas têm o poder de fundamentalmente mudar o campo do
jogo, sua inclinação para o verde certamente vai acelerar o ritmo da mudança, da descoberta e das
oportunidades empreendedoras em uma ampla gama de setores industriais.
Greentech Alliance
A Method levou o verde às principais lojas com produtos disponíveis em grandes varejistas como
a Target. Os consumidores, que estão pegando carona no movimento verde, estão comprando os
produtos da Method porque eles têm preço razoável, são notavelmente não tóxicos e funcionam.
Empacotados com estilo em embalagens recicláveis e vendidos como “limpos”, os produtos da
Method são projetados para ficarem expostos em balcões. Desde a concepção da empresa, questões
ambientais e de saúde foram consideradas parte do design do produto e dos princípios
operacionais. Na Method, limpo significa não apenas tirar a sujeira das superfícies na sua casa, mas
fazer isso sem expor crianças e adultos a produtos de limpeza poderosos e potencialmente tóxicos.
Não há necessidade de trancar esses produtos em armários. Eles não contêm toxinas; e, por serem
projetados de acordo com princípios de química verde, os produtos da Method são isentos das
exigências regulatórias REACH para produtos químicos, emitidas pela União Europeia (UE) em
2006.105 A Method se compromete a encontrar mais dessas vantagens competitivas e
diferenciadoras enquanto avança para, nas palavras do fundador Adam Lowry, “reinventar a
categoria mais uma vez”.
Considere os lenços de limpeza, um produto tradicionalmente feito de plástico derivado de
petróleo. Oitenta e três toneladas de lenços de limpeza são jogados fora todo ano nos Estados
Unidos, e os fabricantes de plásticos americanos disseram a Adam Lowry que lenços de limpeza
descartáveis de tecido não trançado não podiam ser feitos com PLA (ácido polilático), um
biomaterial vegetal recentemente comercializado pela subsidiária da Cargill, NatureWorks
(discutida a seguir). Sem desanimar, Lowry encontrou subempreiteiros chineses inovadores para
formular lenços de plástico de microfibra baseada em biomassa que pudessem se decompor e
fossem biodegradáveis. Não demorou muito para que os subempreiteiros americanos (que agora
querem uma parte do negócio) chamassem Adam de volta para dizer que haviam descoberto como
fazer. Trabalhar com fabricantes nacionais é uma estratégia de terceirização mais coerente com o
conceito de sustentabilidade de reduzir o uso do combustível em transportes e facilitar a
administração de fornecedores.
A cada virada, a Method busca ser a catalisadora de uma mudança sistêmica mais ampla. A
empresa usa caminhões movidos a biodiesel, desenvolveu empilhadeiras movidas a energia solar
para seu principal depósito em Chicago, e já é neutra em emissões de carbono devido a suas
compensações. Adam Lowry quer implementar geração de energia local sempre que possível, para
se tornar um exportador de energia. Incapaz de aproveitar diretamente as embalagens, a empresa
levou o setor industrial a usar sabão líquido ultracondensado 2X e 3X, que reduz os materiais de
embalagem, os custos de embarque e o uso de água. Para influenciar positivamente a recuperação
de embalagens, na Califórnia, a empresa investe para melhorar as tecnologias e os métodos de
reciclagem de resíduos municipais.
O codesenvolvimento de inovações com fornecedores impulsiona a capacidade da Method de
permanecer na margem competitiva. A maioria dos fornecedores iniciais era formada por pequenas
empresas que queriam ser inovadoras e aprender novos processos e designs. Muitas delas
aumentaram com sucesso, aproveitando o tremendo crescimento da Method, continuando a
oferecer insumos criativos. A imagem competitiva vem de uma rede de fornecedores semelhantes a
David, enfrentando os Golias intitulados P&G, Johnson & Johnson e Unilever.
“Encontre-o, não o construa”, é o que orienta a estratégia da empresa. A Method mantém o setor
de P&D interno, agarrando-se a uma talentosa equipe. A fabricação é terceirizada. Para permanecer
inovadora, a Method faz parceria com qualquer um que possa ajudá-la a fornecer uma “revolução
doméstica saudável e feliz” — uma frase que estabelece fronteiras interessantemente amplas em
torno da marca. Lowry também comenta que uma retórica ambiental rígida sempre o frustrou; ele
aconselha: “Não deixe a perfeição ser a inimiga do progresso” nos mercados de meio ambiente e
sustentabilidade. Ele também recomenda que os empreendedores envolvam pessoas que não
tenham nada a ver com o negócio. “Envolva pessoas que projetem outras coisas interessantes” foi
seu comentário em uma sala de aula de alunos de MBA em Stanford, em 2007.
A lente da sustentabilidade é acentuada pelo uso de laços fracos, de pensamento sistêmico e de
pensar como uma molécula e evidentemente guiará essa empresa nova-rica bem-sucedida.
Conforme as preocupações ecológicas, de saúde e comunitárias se tornam mais importantes na
sociedade, a Method pode representar uma janela para o futuro imediato, apresentando um
modelo de negócio que integra totalmente princípios ecológicos e de sustentabilidade ao design de
produtos e estratégias. É isto que os empreendedores fazem: eles criam um futuro melhor.
O fator E
A ideia da “economia de átomos” está incluída nas ferramentas de química verde e faz com que
os fabricantes façam um uso mais completo possível de cada molécula de insumo para gerar o
produto final. Se você considerar que, em média, 94% dos recursos destinados a fabricar um
produto são descartados como resíduos, esse princípio tem profundas ramificações por todo o
sistema.106
A indústria farmacêutica, adotante inicial dos princípios de química verde no processamento
industrial, usa uma métrica chamada fator E para medir a relação entre insumos e resultados em
qualquer produto. Em essência, uma medição do fator E lhe diz quantas unidades de peso do
resultado se obtêm por unidade de peso do insumo. Esse número dá às empresas uma sensação de
eficiência de processo e custos inerentes associados aos resíduos e às taxas de uso de energia e
outros recursos. Aplicar os princípios de química verde aos processos de produção farmacêutica
permitiu que as empresas farmacêuticas reduzissem drasticamente seus fatores E — e aumentassem
significativamente seus lucros.
A Merck and Co., por exemplo, “descobriu uma síntese catalítica altamente inovadora e eficiente
para a sitagliptina, o ingrediente ativo do Januvia®, seu novo tratamento para o diabetes tipo 2. Essa
síntese revolucionária gera menos 100 Kg de resíduo para cada 1/2 Kg de sitagliptina fabricada, e
aumentou o lucro geral em cerca de 50%. Ao longo da vida do Januvia®, a Merck espera eliminar a
formação de pelo menos 150 milhões de quilos de resíduos, incluindo cerca de 50 milhões de
quilos de resíduo aquoso”.107
Esse é um ótimo exemplo de como a química verde coloca a saúde humana e ecológica na
essência do projeto e da fabricação de produtos lucrativos. Ela usa a criatividade dos processos
biológicos da natureza para criar moléculas, materiais e processos que sejam seguros e tenham alto
desempenho. Além de tudo, como ela pede maior apoio de insumos renováveis, em nível macro, a
química verde proporciona os meios para mudarmos de uma economia baseada em produtos
petroquímicos para uma economia baseada em produtos biológicos. Isso gera profundas
consequências para uma ampla gama de questões, desde a saúde ambiental até a segurança dos
trabalhadores, à segurança nacional e a economia agrícola. Embora nenhuma ciência sozinha
ofereça todas as respostas, a química verde exerce uma função básica em permitir que as empresas
vejam os benefícios concretos de um design mais verde.
Resumo do capítulo
• Algumas das oportunidades mais férteis encontram-se nas áreas de maior tensão. Se conseguir
vê-las e agir movido por elas, você será capaz de diferenciar sua empresa e estabelecer o padrão
do setor industrial para se encaixar melhor nas capacidades da sua empresa.
• As cinco facetas estratégicas de se olhar através da lente da sustentabilidade são os laços fracos,
o pensamento sistêmico, pensar como uma molécula, as redes de contatos de valor agregado e o
incrementalismo radical.
• Aplicar técnicas de química verde pode não apenas reduzir os custos dos processos e o risco de
responsabilidade na produção e nos produtos, mas pode gerar novos produtos e abrir novos
mercados.
• A química verde coloca a saúde humana e ecológica na essência do projeto e da fabricação de
produtos lucrativos. Ela usa a criatividade dos processos biológicos da natureza para criar
moléculas, materiais e processos que sejam seguros e tenham alto desempenho.
• Coerente com a ênfase do modelo Timmons na oportunidade e nos recursos que uma equipe
empreendedora visionária põe em prática, hoje muitos líderes empreendedores estão olhando
através da lente da sustentabilidade e criando novos espaços competitivos no mercado.
• O empreendedor que lê essas tendências e se adianta a elas pode estar pronto quando o
mercado começar a mudar — e pode realmente ajudar a mudar o mercado apenas oferecendo
alternativas seguras.
• Como está ficando cada vez mais difícil fabricar diferentes qualidades de produtos para diversos
regimes regulatórios, é melhor atender ao padrão global mais alto — não apenas para simplificar
a cadeia de suprimentos, mas para evitar ser pego vendendo produtos “abaixo do padrão” ou até
mesmo contaminados em um país e produtos “limpos” em outro.
• Embora os antiquados líderes empresariais possam estar inclinados a lutar contra as medidas de
sustentabilidade, os empreendedores, por sua vez, gastarão seu tempo criando novos processos e
produtos que estejam à frente dessas regulamentações — e, ao fazerem isso, acabarão liderando
o mercado.
• As oportunidades empreendedoras existem hoje e estão crescendo no mundo todo, à medida
que os líderes empresariais criativos se adaptam e evoluem em reação às pressões mais complexas
em termos sociais, econômicos e ambientais.
Perguntas para estudo
EXERCITANDO A MENTE
Você já pensou nisso?
1. Na próxima década, centenas de milhões (se não bilhões) de dólares em valor serão
criados por oportunidades no comércio limpo. O que você tem de fazer para ajudar isso a
acontecer?
2. Como pode você transformar as oportunidades de independência energética e comércio
limpo em sua próxima empresa?
3. Qual será uma das próximas iniciativas regulatórias significativas com um produto ou
processo que ainda não esteja no domínio do verde, e como isso pode representar uma
oportunidade de mudança de maré?
4. Quais empresas líderes de comércio limpo serão as melhores para se trabalhar em seus
primeiros três a cinco anos depois de formado?
5. Você acredita que percebeu uma enorme oportunidade de mercado envolvendo técnicas
de química verde, mas você não tem um histórico na ciência necessária para explorar
melhor esse conceito. E agora?
6. Se você atualmente está escrevendo um plano de negócios ou operando uma empresa,
cite três ações que você pode considerar ditadas pela lente da sustentabilidade.
102
Agradecemos extremamente ao professor adjunto Andrea Larson, da Darden Graduate School of Business Administration,
na Universidade da Virginia, e à Dra. Karen O’Brien, da Advancing Green Chemistry, pela contribuição de seu trabalho
pioneiro a este capítulo. Líderes nesse campo em desenvolvimento, os autores compartilharam um olhar muito criterioso
sobre o que significa o movimento do comércio limpo e da sustentabilidade e como isso se traduz em enormes oportunidades
para a próxima geração de empreendedores globais.
103
M. Granovetter, “The Strength of Weak Ties”, American Journal of Sociology 6 (1973), pp. 1360–1380.
104
Ibid.
105
Veja http://ec.europa.eu/enterprise/reach/index_en.htm.
106
A definição de fator E está evoluindo enquanto escrevemos este livro. As empresas farmacêuticas envolvidas na química verde
ainda estão discutindo se devem incluir fatores de insumo como energia, água e outros insumos não tradicionais.
107
http://www.epa.gov/greenchemistry/pubs/pgcc/winners/gspa06.html.
108
http://www.epa.gov/greenchemistry/pubs/pgcc/winners/gspa06.html.
Estudo de caso
Jim Poss*
Perguntas preparatórias
1. Aplique a estrutura do processo empreendedor de Timmons (equipe–recursos–oportunidade) para
analisar este caso. Preste muita atenção às características do empreendedor e como ele reuniu
recursos para seu empreendimento.
2. Discuta as estratégias de angariamento de fundos de Jim. Que outras opções poderiam ser
consideradas para lev antar os fundos de que a SPC precisa? É um bom inv estimento?
3. Discuta a estratégia de crescimento. Que mercado(s) adicional(is) v ocê recomendaria que eles
buscassem conforme seguem adiante?
Em seu caminho até o Logan Airport, em Boston, Jim Poss parou em uma banca de jornal para folhear
a reportagem de capa de junho de 2004 da National Geographic, que declarav a: “O fim do petróleo
barato”. Dentro hav ia uma imagem em duas páginas de uma família americana sentada entre uma
ampla gama de bens domésticos que foram deriv ados, pelo menos em parte, de produtos à base de
petróleo: laptops, telefones celulares, roupas, calçados, equipamentos esportiv os, panelas e
recipientes de todas as formas e tamanhos. Sem petróleo, o mundo será um lugar muito diferente. Jim
balançou a cabeça.
E aqui estamos nós queimando esse recurso finito, importado e insubstituív el para alimentar esses
bebedores de gasolina suburbanos de três toneladas com para-choques que contêm adesiv os do tipo
“essas cores não correm”!
A empresa de Jim, Seahorse Pow er Company (SPC), foi uma start-up de engenharia que motiv ou a
adoção de métodos geração de energia amigáv eis ao meio ambiente atrav és da concepção de
produtos que eram mais baratos e mais eficientes do que as tecnologias do século XX. Jim estav a certo
de que seu primeiro produto, uma patente pendente de compactador de lixo mov ido a energia solar,
podia fazer uma diferença real.
Apenas nos Estados Unidos, 180 milhões de caminhões de lixo consomem mais de 1 bilhão de litros de
diesel ao ano. [...]
Ao compactar o lixo no local e de maneira autossuficiente, a “BigBelly”, com tamanho de uma caixa
de correio, poderia reduzir as coletas em 400%. O protótipo — concebido em tempo real a um custo de
$10 mil — tinha sido v endido por $5.500 para a Vail Ski Resorts, no Colorado. A tecnologia v erde estav a
trabalhando conforme prometido desde fev ereiro, poupando ao resort uma grande quantidade de
tempo e dinheiro em v iagens seguidas até uma cabana remota, que só podia ser acessada usando-se
uma máquina de nev e.
Jim v iu a perda de $4.500 na v enda como um marketing extremamente v álido e uma despesa de
prov a de conceito. Agora que eles estav am fazendo o negócio progredir, com uma tiragem de 20
máquinas, Jim e sua equipe na SPC tinham de encontrar uma maneira de reduzir os custos de
componentes e aumentar a eficiência da produção.
Jim dev olv eu a rev ista para a prateleira e caminhou até o portão de transferência do aeroporto de
Nov a York. Um grupo de inv estidores da cidade hav ia pedido uma nov a reunião, e Jim sentia que era
hora de ele começar a fazer as perguntas difíceis sobre o negócio que eles estav am propondo. Esses
inv estidores em empresas socialmente responsáv eis tinham de fazer uma escolha: escrev er o cheque
que estav am prometendo — e deixá-lo administrar a SPC do jeito que ele bem entendesse — ou se
recusar a inv estir completamente, para que ele pudesse se concentrar em encontrar outras fontes de
financiamento para fechar a rodada de capital semente no v alor de $250 mil. Até então, tudo que Jim
tinha recebido desse grupo eram comentários preocupados e pedidos de melhores condições — já
era hora de fechar o negócio ou seguir em frente.
* Este estudo de caso foi preparado por Carl Hedberg sob a superv isão do professor William Bygrav e.
© Copyright Babson College, 2004. Financiamento concedido pela Franklin W. Olin Graduate School.
Eu raramente era capaz de ver uma oportunidade, até que ela deixava de ser
uma.
Mark Twain
Resultados esperados
Após terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Discutir a importância de “pensar grande o suficiente” e as realidades que acompanham a maioria dos novos
empreendimentos.
2. Descrever como os empreendimentos de alto potencial mais bem-sucedidos completam um “círculo de êxtase” e
se adequam ao apetite dos investidores na “cadeia alimentar” dos empreendimentos.
3. Definir as diferenças entre uma ideia e uma oportunidade.
4. Avaliar a oportunidade através de uma lente de aumento em relação aos critérios utilizados por
empreendedores bem-sucedidos, anjos e investidores de capital de risco na avaliação de empreendimentos em
potencial.
5. Explicar o papel que as ideias, o reconhecimento de padrões e o processo criativo exercem no
empreendedorismo.
6. Identificar fontes de informação para buscar e filtrar oportunidades de negócio.
7. Gerar algumas ideias de novos empreendimentos e seus critérios pessoais usando os exercícios de geração de
três ideias.
8. Conceber as próximas alterações de marés relacionadas a recentes avanços na tecnologia e às tendências sociais,
demográficas e ambientais.
9. Gerar insights e fazer uma análise do estudo de caso da Burt’s Bees.
FIGURA 5.1
A Tabela 5.1 capta o conceito de cadeia alimentar, que será novamente discutida em maior
detalhes no Capítulo 13. Diferentes participantes da cadeia alimentar têm capacidades e
preferências muito diferentes para o tipo de empreendimento em que desejam investir. A grande
maioria dos empreendedores de start-ups gasta tempo demais perseguindo as fontes erradas com a
empresa errada. Um dos objetivos deste capítulo, e novamente no Capítulo 13, é oferecer uma
imagem clara do que são esses critérios e compreender o que significa “pensar grande o suficiente”
para os participantes da cadeia alimentar. Esse é um crítico passo inicial para evitar o desperdício de
tempo que persegue os capitalistas de risco, os anjos e outras pessoas quando há um desajuste
desde o início. Como disse um CEO: “Existem tantos investidores por aí que você poderia passar o
resto de sua carreira se reunindo com eles e, ainda assim, não alcançar todos eles”. Na verdade, o
problema é agravado quando se procuram investidores anjo ou informais, porque existem centenas
de vezes mais deles do que capitalistas de risco.
TABELA 5.1
Por que perder tempo pensando pequeno demais e em empresas para as quais não há apetite no
mercado financeiro? Saber como os fornecedores de capital e os empreendedores pensam sobre o
processo de criação e reconhecimento de oportunidades, sua busca e suas estratégias de avaliação e
o que eles procuram é uma ótima referência.
Quando uma ideia pode ser uma oportunidade?
A essência: quatro âncoras Se uma ideia não é uma oportunidade, o que é uma oportunidade?
Oportunidades de negócios superiores têm as seguintes quatro âncoras fundamentais:
1. Elas criam ou agregam valor significativo para um cliente ou usuário final.
2. Elas fazem isso resolvendo um problema significativo, removendo uma séria dificuldade ou
atendendo a um desejo ou necessidade significativos — pelo qual alguém esteja disposto a pagar
um preço premium.
3. Elas têm características robustas de mercado, margem e lucratividade que permitem ao
empreendedor estimar e transmitir um valor sustentável a stakeholders potenciais: grande o
suficiente ($50 milhões +), alto crescimento (20%+), altas margens brutas (40%+), fluxo de caixa
livre constante e precoce (receita recorrente, poucos ativos e capital de giro), alto potencial de
lucro (10 a 15% + depois dos impostos), e retornos realizáveis atraentes para os investidores (25
a 30%+ de TIR).
4. Elas têm uma boa adequação ao(s) fundador(es) e à equipe administrativa na época e no
mercado — junto com um atraente equilíbrio entre risco e recompensa.
Quando uma oportunidade tem essas qualidades, a “janela de oportunidade”109 está se abrindo e
permanecerá aberta por tempo suficiente. Além disso, a entrada em um mercado com as
características certas é viável, e a equipe administrativa é capaz de alcançá-lo. A empresa possui ou é
capaz de conseguir uma vantagem competitiva (ou seja, para conseguir alavancagem). Finalmente,
a economia da empresa é gratificante e indulgente o suficiente para permitir significativos lucro e
potencial de crescimento.
Para resumir: Uma oportunidade superior tem as qualidades de ser atraente, durável e em tempo
oportuno e está ancorada em um produto ou serviço que cria ou agrega valor para seu comprador ou
usuário final — geralmente por resolver um problema muito sério e difícil.110 Os mais bem-sucedidos
empreendedores, capitalistas de risco e investidores privados têm foco na oportunidade; isto é, eles
começam com o que os clientes e o mercado desejam, e não perdem isso de vista.
O mundo real
As oportunidades são criadas, ou construídas, utilizando-se ideias e criatividade empreendedoras.
No entanto, embora a imagem de um carpinteiro ou pedreiro trabalhando seja útil, na realidade, o
processo é mais parecido com a colisão de partículas em uma reação nuclear ou com a reprodução
de furacões sobre o oceano. As ideias interagem com as condições do mundo real e a criatividade
empreendedora em determinado ponto no tempo. O produto dessa interação é uma oportunidade
em torno da qual uma nova empresa pode ser criada.
O ambiente de negócios em que um empreendedor inicia sua empresa não pode ser alterado
significativamente. Apesar das suposições frequentemente feitas sobre organizações sociais e sem
fins lucrativos, elas também estão sujeitas às forças do mercado e às restrições econômicas.
Considere, por exemplo, o que aconteceria com as doações se alguém percebesse que uma
organização sem fins lucrativos não estava reinvestindo seus excedentes, mas, em vez disso, estava
pagando salários administrativos absurdos. Ou se uma organização de cunho social concentrasse
todos os seus esforços na missão social, negligenciando as receitas? É claro que lidar com
fornecedores, custos de produção, mão de obra e distribuição é fundamental para a saúde dessas
corporações sociais. Dessa forma, as organizações sociais e sem fins lucrativos também se
preocupam com o fluxo de caixa positivo e em gerar fluxos de caixa suficientes, mesmo que operem
em um tipo diferente de mercado que as organizações com fins lucrativos. As empresas com fins
lucrativos operam em um sistema de livre empresa caracterizado pela propriedade privada e pelos
lucros.
Reprodutores e propulsores de oportunidades
Em um sistema de livre empresa, circunstâncias mutáveis, caos, confusão, incoerências, atrasos ou
tempos de entrega, lacunas de conhecimento e informação e uma variedade de outros buracos em
um setor industrial ou mercado semeiam oportunidades.
As mudanças no ambiente de negócios e a capacidade de antecipar essas mudanças são tão
importantes para o empreendedorismo que estar constantemente alerta a mudanças é um hábito
valioso. Um empreendedor com credibilidade, criatividade e determinação pode aproveitar uma
oportunidade enquanto outros a estudam.
As oportunidades são situacionais. Algumas condições sob as quais as oportunidades são
semeadas são idiossincráticas, enquanto outros são generalizáveis e podem ser aplicadas a outros
setores industriais, produtos ou serviços. Dessa forma, a associação cruzada pode provocar na
mente empreendedora o reconhecimento bruto de oportunidades existentes ou iminentes.
Frequentemente se supõe que um mercado dominado por grandes jogadores multibilionários é
impenetrável por empresas menores e empreendedoras. Você não pode concorrer com empresas
entrincheiradas, ricas em recursos e estabelecidas. O oposto pode ser verdadeiro por diversas
razões. Uma série de projetos de pesquisa tem mostrado que pode demorar anos ou mais para uma
grande empresa mudar sua estratégia e ainda mais tempo para implementar a nova estratégia,
porque pode levar 10 anos ou mais para ela mudar a cultura o suficiente para funcionar de forma
diferente. Para uma empresa nova ou pequena, 10 ou mais anos é uma eternidade. Quando a
Cellular One foi lançada em Boston, a gigante NYNEX era a única concorrente. Estima-se que a
NYNEX tenha construído duas vezes mais torres (por $400 mil cada), gastado duas a três vezes
mais em publicidade e marketing, e tido mais funcionários. No entanto, a Cellular One saiu do zero
para $100 milhões em vendas em cinco anos e conquistou três clientes para cada um que a NYNEX
conquistou. O que fez essa diferença substancial? A Cellular One tinha uma equipe de gestão
empreendedora.
Algumas das oportunidades mais interessantes vêm de campos que a sabedoria convencional
considera domínio das grandes empresas: inovação tecnológica. O desempenho das pequenas
empresas em inovação tecnológica é notável — 95% das inovações radicais desde a Segunda Guerra
Mundial vieram de empresas novas e pequenas, e não dos gigantes. Um estudo da National Science
Foundation constatou que as empresas menores geraram 24 vezes mais inovações por dólar de
pesquisa e desenvolvimento que as empresas com 10 mil ou mais empregados.111
Pode haver excelentes oportunidades em negócios “simples” que nunca atraíram a atenção dos
investidores de capital de risco. Por exemplo, a odontologia está mudando rapidamente com
inovações nas abordagens cosméticas e com novas abordagens aos segmentos de mercado. Alex
Faigel, um jovem empreendedor dental em Boston, atende a pacientes transeuntes porque localiza
seus cinco consultórios perto de estações de metrô. A Keystone Automotive, uma empresa de
armazenamento e distribuição de autopeças, cresceu rapidamente e se tornou uma empresa
nacional, utilizando sofisticados sistemas de planejamento de recursos empresariais.
Mudanças tecnológicas e regulatórias alteraram profundamente e continuarão a alterar nossa
forma de perceber as oportunidades. A televisão a cabo, com suas centenas de canais, chegou na
década de 1990 e trouxe consigo novas oportunidades na venda e distribuição de produtos através
de infomerciais, redes de compras e pay-per-view. A Internet tem criado um leque ainda mais
diversificado de oportunidades de vendas e distribuição, mais notadamente a Amazon.com, a
Priceline, o eBay e o YouTube.
Considere a seguinte ampla gama de exemplos que ilustram o fenômeno de lacunas em que as
oportunidades são geradas:
• A desregulamentação das telecomunicações e das companhias aéreas levaram à formação de
dezenas de milhares de novas empresas na década de 1980, incluindo a Cellular One (agora
Cingular) e a Federal Express.
• No início da década de 1980, os microcomputadores ultrapassaram de longe o desenvolvimento
de software. A indústria era altamente dependente do desenvolvimento de software, levando a
esforços agressivos por parte da IBM, da Apple e outras, para incentivar os empreendedores de
software a fecharem essa lacuna.
• Indústrias tradicionais fragmentadas, que têm um caráter de ofício ou mamãe e papai podem
ter pouco apreço ou know-how em marketing e finanças. Essas possibilidades podem variar de
alojamentos de pesca, pousadas e hotéis a produtos de limpeza/lavanderias, lojas de ferragens,
farmácias, instalações de administração de resíduos, floriculturas, creches, acampamentos e
mecânicos de automóveis.
• Em nossa economia dominada pelos serviços (70% das empresas são de serviços, contra 30% há
apenas 30 anos), o atendimento ao cliente, e não o próprio produto, pode ser o fator crítico de
sucesso. Um estudo realizado pela Fórum Corporation, em Boston, mostrou que 70% dos
clientes somem por causa de um serviço ruim e apenas 15% por causa do preço ou da qualidade
do produto. Você consegue pensar em sua última experiência de “Uau” com um serviço
excepcional ao cliente?
• A tremenda mudança da fabricação de produtos que usam muita mão de obra e muito
transporte para o exterior, mais especificamente para a Ásia, a Europa Oriental e o México, como
produtos de consumo de informática e microprocessadores, é um excelente exemplo.
• Em uma ampla variedade de indústrias, os empreendedores às vezes percebem que são os
únicos que podem realizar. Áreas como consultoria, projetos de software, serviços financeiros,
engenharia de processos, produtos e serviços técnicos e médicos estão repletas de exemplos de
monopólios de conhecimento. Às vezes, uma equipe administrativa é simplesmente a melhor em
uma indústria e insubstituível no curto prazo, como é o caso de grandes treinadores com
registros de vitórias.
O Quadro 5.1 resume os principais tipos de descontinuidades, assimetrias e mudanças que podem
resultar em oportunidades de alto potencial. Criar essas mudanças através da inovação técnica
(PCs, telecomunicações sem fio, servidores de Internet, software), influenciar e criar as novas regras
do jogo (companhias aéreas, telecomunicações, serviços financeiros e bancários, produtos médicos,
música e vídeo) e antecipar os diversos impactos dessas mudanças são fatores essenciais para o
reconhecimento de oportunidades.
QUADRO 5.1
Busca de mudanças de maré
Um critério simples para os empreendimentos com o mais alto potencial vem do famoso
capitalista de risco Arthur Rock: “Procuramos as ideias que mudarão a maneira como as pessoas
vivem ou trabalham”. Como principal investidor na Apple Computer e anfitrião de outras start-ups
de primeira linha, ele sabe do que está falando. O melhor lugar para começar a tentar identificar
essas ideias em um sentido macro é identificar significativas mudanças de maré que estão
ocorrendo ou vão ocorrer. Pense do profundo impacto que a computação pessoal, a biotecnologia e
a Internet tiveram sobre a geração passada. Os grandes novos empreendimentos da próxima
geração passarão pelo mesmo processo e definirão essas próximas grandes mudanças de maré. A
Figura 5.2 resume algumas categorias para pensar sobre essas mudanças. Elas incluem mudanças
tecnológicas, de mercado e sociais, e até mesmo oportunidades geradas a partir dos excessos
produzidos pelos grandes avanços da Internet. A lei de Moore (o poder de processamento de um
chip dobra a cada 18 meses) tem sido uma gigantesca impulsionadora de grande parte da nossa
revolução tecnológica nos últimos 30 anos. Os avanços no mapeamento e na clonagem de genes, na
biotecnologia e na nanotecnologia e as mudanças trazidas pela Internet continuarão a criar grandes
oportunidades para a próxima geração. Além da visão macro das mudanças de maré, como se pode
pensar em oportunidades em um sentido mais prático e menos abstrato? Quais são alguns dos
parâmetros dos modelos de negócio/receitas que aumentam as probabilidades de pensar grande o
suficiente e, portanto, atrair a cadeia alimentar? Ao final deste capítulo temos o exercício da
mudança de maré, que vai desafiá-lo a pensar de forma criativa e expansiva sobre como as
descobertas de novas tecnologias vão conduzir as próximas novas indústrias. Esse padrão persiste
até hoje.
FIGURA 5.2
Métricas desejáveis de modelos de negócios/receitas
Vamos enfatizar de vez em quando, em Criação de novos negócios, que a felicidade é um fluxo de
caixa positivo! — mas só pense no dinheiro por último. Você não tem uma estratégia de entrada até
que tenha dito não a muitas ideias; ideias que simplesmente chegam até você normalmente não são
oportunidades; e os números que mostram o tamanho da oportunidade não importam, mas a sua
viabilidade econômica é o que realmente importa.
Reconhecimento de padrões
O fator experiência
Não se pode construir um negócio bem-sucedido sem ideias, assim como não se pode construir
uma casa sem um martelo. Nesse sentido, a experiência é vital quando avaliamos ideias para novos
empreendimentos.
Com alguma frequência, empreendedores experientes apresentam uma capacidade de reconhecer
rapidamente um padrão — e uma oportunidade — enquanto ele ainda está tomando forma. O
falecido Herbert Simon, prêmio Nobel, e professor da cadeira Richard King de ciência da
computação e psicologia da Universidade Carnegie-Mellon University, escreveu muito sobre
reconhecimento de padrões. Ele descreveu o reconhecimento de padrões como um processo
criativo que não é apenas lógico, linear e aditivo, mas também intuitivo e indutivo. Isso envolve,
segundo ele, o vínculo criativo, ou associação cruzada, de dois ou mais “blocos” profundos de
experiência, know-how e contatos.116 Simon sustentava que são necessários 10 anos ou mais para as
pessoas acumularem o que ele chamava de “50 mil blocos” de experiência que lhes permitia serem
altamente criativas e reconhecer padrões — circunstâncias familiares que podem ser transferidas de
um local para outro.
Assim, o processo de selecionar ideias e reconhecer um padrão também pode ser comparado ao
processo de montagem de peças de um quebra-cabeças tridimensional. É impossível montar esse
tipo de quebra-cabeças olhando para ele como uma unidade inteira. Em vez disso, é preciso ver as
relações entre as peças e conseguir encaixar algumas que aparentemente não se encaixam antes que
o todo seja visível.
Reconhecer as ideias que podem se tornar oportunidades empreendedoras se origina de uma
capacidade de ver o que os outros não veem — que um mais um é igual a três. Considere os
seguintes exemplos do segmento comum de reconhecimento de padrões e a criação de novos
negócios, ligando o conhecimento em um campo ou mercado com conhecimentos técnicos,
empresariais ou de mercado bem diferentes:
Em 1973, Thomas Stemberg trabalhou para a Star Market, em Boston, onde ficou conhecido por
lançar a primeira linha de alimentos genéricos de baixo preço. Doze anos depois, ele aplicou o
mesmo modelo de negócio de supermercados de baixo custo e grande volume aos materiais de
escritório. O resultado foi a Staples, a primeira superloja de material de escritório e, hoje, uma
empresa multibilionária.117
Durante uma viagem pela Europa, os fundadores da Crate & Barrel frequentemente viam
produtos elegantes e inovadores para a cozinha e a casa que ainda não estavam disponíveis nos
Estados Unidos. Quando voltaram para casa, os fundadores criaram a Crate & Barrel para oferecer
esses produtos para os quais a pesquisa de mercado já tinha sido feita, em certo sentido. Na Crate &
Barrel, o conhecimento dos hábitos de compra dos consumidores de uma região geográfica, a
Europa, foi transferido com êxito para outra, os Estados Unidos.
Quando a Sycamore Systems abriu seu capital em outubro de 1999, seus fundadores, Desh Dias e
Daniel Smith, se tornaram multibilionários — pelo menos no papel. Mas o sucesso da Sycamore e
de seus fundadores não veio por acaso. O casal tinha experiência anterior na fundação da Cascade
Communications Corp., uma das start-ups de telecomunicações mais elogiadas na década de 1990.
Essa empresa vendia comutadores e softwares que os acompanhavam para lidar com a crescente
demanda de dados através de linhas telefônicas convencionais. Na Sycamore, Deshpande e Smith
usaram sua experiência com a Cascade para prever a necessidade de computadores e softwares
semelhantes que aumentariam a eficiência de carregamento de dados das novas redes nacionais de
fibras ópticas. Uma ideia que levou ao nascimento de duas empresas gigantes das
telecomunicações.118 A Sycamore sobreviveu ao colapso do setor de telecomunicações em 2000, e
hoje a empresa tem uma capitalização de mercado bilionária.
Expandindo o pensamento criativo
O pensamento criativo que acabamos de descrever é de grande valia no reconhecimento de
oportunidades, bem como em outros aspectos do empreendedorismo. A ideia de que a criatividade
pode ser aprendida ou reforçada tem implicações importantes para os empreendedores que têm
necessidade de ser criativos em seu pensamento. A maioria das pessoas certamente consegue
identificar um talento criativo. As crianças parecem tê-lo, e muitos parecem perdê-lo. Vários
estudos sugerem que a criatividade realmente tem picos na época do primeiro ano escolar, porque a
vida de uma pessoa tende a se tornar cada vez mais estruturada e definida pelos outros e pelas
instituições. Além disso, o desenvolvimento da disciplina intelectual e do rigor no pensamento
assume mais importância na escola nos anos de formação, e a maior parte de nossa educação além
da escola reforça um modo lógico e racional de pensar de maneira ordenada. Finalmente, as
pressões sociais tendem a ser uma influência para domar a criatividade.
As provas sugerem que é possível melhorar o pensamento criativo mesmo em idade avançada. A
empresa Eureka! Ranch (www.eurekaranch.com) foi fundada de acordo com o princípio de que a
criatividade é inerente à maioria das pessoas e pode ser desencadeada se a libertarmos das
convenções. Algumas vezes, os executivos são imersos em água quando saem de seus veículos para
o rancho.
Um dos autores participou de uma dessas sessões de treinamento e ficou evidente, durante as
sessões, que os métodos realmente desbloquearam o processo de pensamento e geraram soluções
muito criativas.
Abordagens para despertar a criatividade
Desde a década de 1950, aprendeu-se muito sobre o funcionamento do cérebro humano. Hoje há
um consenso geral de que os dois lados do cérebro processam informações de maneiras diferentes.
O lado esquerdo executa funções racionais e lógicas, enquanto o lado direito comanda os modos
intuitivos e irracionais do pensamento. As pessoas usam ambos os lados; na verdade, alternam
entre um modo e outro (veja o Quadro 5.2). Abordar as ideias de forma criativa e maximizar o
controle desses modos de pensamento pode ser valioso para o empreendedor.
QUADRO 5.2
Mais recentemente, os professores têm se concentrado no processo criativo. Por exemplo, Michael
Gordon salientou a importância da criatividade e da necessidade de brainstorming em uma
apresentação sobre os elementos do poder pessoal. Ele sugere que usar as seguintes 10 regras de
brainstorming pode melhorar a visualização criativa:
1. Defina seu objetivo.
2. Escolha os participantes.
3. Escolha um facilitador.
4. Faça o brainstorm de maneira espontânea.
5. Nenhuma crítica, nenhuma negação.
6. Registre todas as ideias em detalhes.
7. Invente para o “vazio”.
8. Resista a se comprometer com uma ideia.
9. Identifique as ideias mais promissoras.
10. Aperfeiçoe e identifique as prioridades.
Criatividade da equipe
Equipes de pessoas podem gerar uma criatividade que pode não existir em um único indivíduo. A
criatividade de uma equipe de pessoas é impressionante, e têm sido observadas soluções criativas
comparáveis ou melhores para problemas de evolução a partir da interação coletiva de um pequeno
grupo de pessoas.
Um bom exemplo da criatividade gerada pela utilização de mais de uma cabeça é a de uma
empresa fundada por um graduado do Babson College com pouca formação técnica. Ele se associou
a um inventor talentoso, e os conhecimentos de negócios e de empreendedorismo do fundador
complementaram as habilidades criativas e técnicas do inventor. O resultado foi um
empreendimento multimilionário de crescimento rápido no campo dos equipamentos cirúrgicos
que usam vídeos.
Os alunos interessados em explorar esse assunto um pouco mais podem fazer o exercício dos
quadrados criativos ao final do capítulo.
Grandes oportunidades com pouco capital
Dentro do sistema dinâmico de livre empresa, as oportunidades são evidentes para um número
limitado de indivíduos — e não apenas para os indivíduos com recursos financeiros. Ironicamente,
empreendedores bem-sucedidos como Howard Head atribuem seu sucesso à disciplina dos recursos
limitados de capital. Assim, na década de 1990, muitos empreendedores aprenderam que a chave
do sucesso está na arte da autossuficiência, que “em uma start-up, é como ter estoque zero em um
sistema just in time: revela problemas escondidos e obriga a empresa a solucioná-los”.119 Considere
o seguinte:
Um estudo de 1991 revelou que, de 110 start-ups pesquisadas, 77 tinham sido lançadas com $50
mil ou menos; 46% foram iniciadas com $10 mil ou menos de capital semente. Além disso, a
principal fonte de capital foi esmagadoramente a poupança pessoal (74%), e não investidores
externos com bolsos recheados.120 Esse padrão de frugalidade em start-ups é tão verdadeiro hoje
quanto era naquela época.
Na década de 1930, Josephine Esther Mentzer ajudava seu tio vendendo bálsamo para cuidado
da pele e rapidamente criou seus próprios produtos, com investimento inicial de $100 dólares.
Depois de convencer as lojas de departamento — e não as farmácias — a venderem seus produtos,
Estee Lauder estava a caminho de se tornar uma corporação de $4 bilhões.121
Reunindo seus talentos (desenhos animados e finanças), Roy e Walt Disney se mudaram para a
Califórnia e iniciaram seu próprio estúdio de filmagens, com $290 em 1923. Em meados de 2007, a
Walt Disney Co. tinha uma capitalização de mercado superior a $35 bilhões.122
Enquanto trabalhava para uma companhia de seguros de Chicago, um rapaz de 24 anos de idade
enviou 20 mil perguntas sobre a criação de um boletim para negros. Com 3 mil respostas positivas e
$500, John Harold Johnson publicado a Jet pela primeira vez em 1942. Na década de 1990, a
Johnson Publishing publica várias revistas, incluindo a Ebony.123
Com $100, Nicholas Graham, aos 24 anos de idade, foi a uma loja de tecidos local, escolheu
alguns tecidos e fez $100 em laços. Depois de vender os laços a lojas especializadas, Graham foi
abordado pela Macy’s para colocar seus padrões em cuecas masculinas. Foi assim que nasceu a Joe
Boxer Corporation, e “seis meses depois do segundo ano da Joe Boxer, as vendas já ultrapassavam
$1 milhão”.124
Os fundadores da Cabletron, Craig Benson e Bob Levine, literalmente iniciaram sua empresa em
uma garagem e a fizeram crescer a ponto de chegar a $1,4 bilhão em receita em menos de 10 anos.
A Vineyard Vines é uma empresa de gravatas criativas que foi iniciada em Martha’s Vineyard,
com $40 mil de dívida no cartão de crédito.
Tempo real
As oportunidades existem ou são criadas em tempo real e têm o que chamamos de janela de
oportunidade. Para um empreendedor aproveitar uma oportunidade, a janela deve estar aberta e
permanecer aberta por tempo suficiente para conseguir os retornos necessários ao mercado.
O Gráfico 5.1 ilustra uma janela de oportunidade para um mercado generalizado. Os mercados
crescem a taxas diferentes ao longo do tempo, e conforme um mercado rapidamente se torna
maior, mais e mais oportunidades são possíveis. Quando o mercado se torna estabelecido, as
condições não são tão favoráveis. Assim, no ponto em que o mercado começa a se tornar
suficientemente grande e estruturado (por exemplo, em cinco anos no Gráfico 5.1), a janela se abre;
a janela começa a se fechar conforme o mercado amadurece (por exemplo, aos 12–13 anos no
gráfico)
GRÁFICO 5.1
A curva mostrada descreve o típico padrão de crescimento rápido de novas indústrias como
microcomputadores e softwares, telefones celulares, mudanças rápidas de óleo, e biotecnologia. Por
exemplo, a implantação da “portabilidade de números” (mudar de uma empresa de telefonia para
outra sem ter de alterar seu número) de telefones na telefonia fixa nos EUA ocorreu em 1998 e até
2004 cerca de 14% da base de assinantes mudou de operadora. No Brasil, a portabilidade de
telefonia celular ocorreu a partir de 2009 e tem possibilitado maiores disputas das operadoras pelos
milhões de usuários brasileiros. Uma grande janela de oportunidade já começa a se abrir no setor.
Ao considerar a janela de oportunidade, a duração do tempo em que a janela estará aberta é
importante. É preciso um período considerável de tempo para determinar se um novo
empreendimento é um sucesso ou um fracasso. E, se for um sucesso, os benefícios precisam ser
colhidos.
O Gráfico 5.2 mostra que, no caso de empresas apoiadas por capital de risco, os limões (ou seja, os
perdedores) amadurecem em cerca de dois anos e meio, enquanto as pérolas (isto é, os vencedores)
levam sete ou oito anos. Um exemplo extremo da duração de tempo que pode levar para uma
pérola ser colhida é a experiência de uma empresa de capital de risco do Vale do Silício, que
investiu em uma nova empresa em 1966 e finalmente conseguiu um ganho de capital no início de
1984.
GRÁFICO 5.2
Outra maneira de pensar sobre o processo de criação e aproveitar uma oportunidade em tempo
real é pensar nisso como um processo de seleção de objetos (oportunidades) em uma esteira em
movimento através de uma janela aberta — a janela de oportunidade. A velocidade da correia
transportadora muda, e a janela através da qual se move está constantemente abrindo e fechando.
O contínuo abrir e fechar da janela e a velocidade em mudança constante da correia transportadora
representam a natureza volátil do mercado e a importância do sincronismo. Para que a
oportunidade seja criada e aproveitada, ela precisa ser selecionada da correia transportadora antes
que a janela se feche.
A capacidade de reconhecer uma oportunidade potencial quando ela aparece e o senso de
sincronismo de agarrar essa oportunidade quando a janela está se abrindo, e não fechando, são
fundamentais. Uma declaração feita por Ken Olsen, então presidente e fundador da Digital
Equipment Corporation, em 1977, ilustra o fato de que as oportunidades existem em função do
tempo real: “Não há nenhum motivo para que um indivíduo tenha um computador em sua casa”.
Não é fácil, mesmo para os principais especialistas do mundo, prever exatamente quais ideias e
conceitos inovadores para novos negócios evoluirão para se tornar as principais indústrias de
amanhã. Isso é vividamente ilustrado por várias citações de inovadores muito famosos. Em 1901,
dois anos antes do famoso voo, Wilbert Wright disse: “O homem não vai voar até daqui a 50 anos”.
Em 1910, Thomas Edison disse: “A bateria de níquel-ferro vai fazer com que a gasolina [...] saia do
mercado em pouco tempo”. E, em 1932, Albert Einstein deixou claro: “Não existe a menor
indicação de que algum dia será possível obter a energia nuclear. Isso significaria que a divisão do
átomo teria de ser controlada”.
Relação com a estrutura de análise
As oportunidades de sucesso, uma vez reconhecidas, adequam-se às outras forças da criação de
novos empreendimentos. Esse processo iterativo de avaliar e reavaliar a adequação entre as forças
propulsoras centrais na criação de um novo empreendimento foi mostrado no Capítulo 3. A
adequação do empreendedor líder e da equipe de gestão a uma oportunidade é de extrema
importância. Boas oportunidades são desejáveis e atingíveis por aqueles da equipe que usam os
recursos disponíveis.
Para entender como a visão empreendedora se relaciona à estrutura analítica, pode ser útil olhar
para uma oportunidade como um mapa em relevo tridimensional, com seus vales, montanhas e
afins, todos representados. Cada oportunidade tem três ou quatro fatores críticos (por exemplo,
licença proprietária, inovação patenteada, direitos de distribuição exclusiva, uma equipe
administrativa de primeira linha, tecnologia revolucionária). Esses elementos saltam aos olhos do
observador, pois indicam enormes possibilidades onde outras pessoas poderão ver obstáculos.
Assim, é fácil ver por que existem milhares de oportunidades excepcionais que se encaixam em uma
grande variedade de empreendedores, mas que talvez não se encaixem perfeitamente na estrutura
delineada no Quadro 5.3.
QUADRO 5.3
QUADRO 5.3
Filtrando oportunidades
Foco na oportunidade
Reunindo informações
Encontrando ideias
Fatores sugerem que a procura de uma oportunidade potencial é, na maioria das vezes, uma
questão de ser a pessoa certa, no lugar certo, na hora certa. Como você pode aumentar suas chances
de ser o próximo Eike Batista? Inúmeras fontes de informação podem ajudar a gerar ideias.
Empresas existentes Comprar um negócio existente é uma excelente maneira de encontrar uma
ideia de novo negócio. Esse caminho para um novo empreendimento pode economizar tempo e
dinheiro e também pode reduzir o risco. Os banqueiros de investimento e os corretores de negócios
conhecem bem as empresas que estão à venda, assim como os avaliadores. No entanto, os
corretores não anunciam as melhores empresas privadas à venda, e as verdadeiras joias são
compradas por indivíduos ou empresas mais próximos deles, como administradores, diretores,
clientes, fornecedores ou financiadores. Os juízes de falência têm um fluxo contínuo de empresas
em sérias dificuldades. Oportunidades excelentes podem estar enterradas sob os restos financeiros
de uma empresa falida.
Franquias O franqueamento é outra maneira de entrar em uma indústria, quer iniciando uma
operação de franquia ou se tornando um franqueado. Essa é uma área fértil. O número de
franqueadores no Brasil é de mais de 1.600, de acordo com a Associação Brasileira de Franchising e
os franqueadores são responsáveis por bem mais de $63 bilhões em vendas anuais. Nos Estados
Unidos esse número supera os $600 bilhões.136 Veja no Capítulo 11 uma discussão mais
aprofundada sobre franquia, incluindo informações sobre recursos.
Patentes Os corretores de patentes são especializados em vender patentes que são de propriedade
de inventores individuais, corporações, universidades ou outras organizações de pesquisa àqueles
que procuram novos produtos comercialmente viáveis. Alguns corretores são especializados em
licenciamento internacional de produtos e, ocasionalmente, um corretor de patentes compra uma
invenção para revendê-la. Embora, ao longo dos anos, uns poucos corretores inescrupulosos
tenham manchado a imagem do corretor de patentes, aquisições realizadas por corretores
respeitáveis resultaram em novos produtos significativos. Notáveis entre estes são a aquisição da
Bausch & Lomb, através da National Patent Development Corporation, do direito, nos Estados
Unidos, ao hídron, um material usado em lentes de contato.
Licenciamento de Produtos Uma boa maneira de se expor a muitas ideias de produtos
disponíveis em universidades, corporações e investidores independentes é pesquisar em
universidades. Além disso, corporações, instituições de pesquisa sem fins lucrativos também são
fontes de ideias.
Corporações As corporações engajadas em setor de pesquisa e desenvolvimento muitas vezes
desenvolvem invenções ou serviços que eles não pretendem explorar comercialmente. Essas
invenções ou não se encaixam nas linhas de produtos existentes ou programas de marketing ou não
representam mercados suficientemente grandes para interessar às grandes corporações. Um bom
número de corporações licencia esse tipo de invenção, quer através de corretores de patentes,
serviços de informação de licenciamento de produtos ou de seus próprios esforços de venda de
patentes. Contatar diretamente uma corporação com um programa de licenciamento pode render
frutos.
Institutos de pesquisa sem fins lucrativos Essas organizações sem fins lucrativos fazem pesquisa e
desenvolvimento sob contratos para o governo e setores privados, bem como alguma pesquisa e
desenvolvimento patrocinados internamente e o desenvolvimento de novos produtos e processos
que podem ser licenciados para corporações privadas para posterior desenvolvimento, fabricação e
venda. Um exemplo de como isso funciona é a participação do Battelle Memorial Institute no
desenvolvimento da xerografia e no subsequente licenciamento da tecnologia para a Corporação
Haloid, agora Xerox Corporation. No Brasil, há centros de pesquisa, como a Embrapa, que têm
licenciado tecnologia para a iniciativa privada através de parcerias com incubadoras de empresas e
empreendedores, como ocorre na unidade de São Carlos, em São Paulo.
Universidades Inúmeras universidades são ativas em pesquisas nas ciências físicas e buscam ‐
licenciar invenções que resultam dessas pesquisas diretamente ou através de uma fundação de
pesquisas associada que administra um programa de patentes. Nos Estados Unidos, o
Massachusetts Institute of Technology e o California Institute of Technology publicam relatórios
periódicos contendo resumos de invenções de sua propriedade que estão disponíveis para
licenciamento. Além disso, como algumas ideias muito boas desenvolvidas em universidades nunca
chegam a estabelecimentos de licenciamento formal, outra maneira de encontrar essas ideias é
conhecer o trabalho de pesquisadores em sua área de interesse. Vale a pena conhecer o que se faz
em pesquisa em universidades de referência no Brasil, como a USP, UFABC, Unicamp, Unesp,
UFRJ, PUC, UFMG, UnB, entre outras.
Contatos na indústria e no comércio
Feiras comerciais e reuniões em associações Feiras comerciais e reuniões em associações de alguns
setores industriais podem ser uma excelente maneira de analisar os produtos de muitos
concorrentes potenciais, encontrar os distribuidores e representantes de vendas, aprender sobre
produtos e tendências de mercado e identificar produtos potenciais. No site do Sebrae
(www.sebrae.com.br) pode-se encontrar uma relação das principais feiras e eventos empresariais
que ocorrem no Brasil.
Clientes Contatar clientes potenciais de determinado tipo de produto pode ajudar a identificar
uma necessidade e onde os produtos existentes são deficientes ou inadequados. Conversas com
profissionais que chefiam serviços médicos em hospitais pode levar a ideias de produtos no setor de
equipamentos biomédicos.
Distribuidores e atacadistas Contatar as pessoas que distribuem determinado tipo de produto pode
gerar informações completas sobre os pontos fortes e fracos dos produtos existentes e os tipos de
melhorias de produtos e novos produtos de que os clientes precisam.
Concorrentes Examinar os produtos oferecidos por empresas concorrentes em uma indústria pode
mostrar se um design existente é protegido por patente e se pode ser melhorado ou imitado.
Empregadores anteriores Inúmeros negócios são iniciados com produtos ou serviços, ou ambos,
baseados em tecnologias e ideias desenvolvidas por empreendedores enquanto trabalhavam para
outras pessoas. Em alguns casos, os laboratórios de pesquisa não estavam interessados na exploração
comercial da tecnologia, ou a entidade patronal anterior não estava interessada em ideias para
novos produtos, e os direitos foram abandonados ou vendidos. Em outros casos, as ideias foram
desenvolvidas sob contratos com o governo e estavam em domínio público. Além disso, algumas
empresas ajudam os empreendedores a criar empresas em troca de ações.
Contato profissionalAs ideias também podem ser encontradas através do contato com profissionais
como advogados de patentes, contadores, bancos comerciais e capitalistas de risco que entram em
contato com aqueles que pretendem licenciar patentes ou iniciar um negócio utilizando produtos
ou processos patenteados.
Consultoria Um método para obter ideias que tem sido bem-sucedido para empreendedores com
treinamento técnico é prestar serviços de consultoria e ter projetos exclusivos de engenharia para
pessoas em áreas de interesse. Por exemplo, um empreendedor que deseja estabelecer uma empresa
de equipamentos médicos pode fazer uma consultoria ou pode projetar equipamentos
experimentais para pesquisadores médicos. Esses tipos de atividades muitas vezes levam a
protótipos que podem ser transformados em produtos necessários para inúmeros pesquisadores. Por
exemplo, essa abordagem foi utilizada na criação de uma empresa para produzir equipamentos de
testes psicológicos que evoluíram a partir de uma consultoria feita no Hospital Geral de
Massachusetts e, novamente, em uma empresa para projetar e fabricar instrumentos oceanográficos
que foram desenvolvidos a partir de uma consultoria feita para um instituto oceanográfico.
Rede de contatos A sua rede de contatos pode ser um estímulo e uma fonte de novas ideias, bem
como uma fonte de contatos valiosos com as pessoas. Grande parte disso requer uma iniciativa
pessoal informal. As iniciativas de redes de contatos organizadas podem facilitar e acelerar o
processo de fazer contatos e encontrar novas ideias de negócios. É o que ocorre com ex-alunos de
universidades de negócios, por exemplo, bem como empresas focadas em desenvolver o
relacionamento profissional entre pessoas com interesses afins.
Moldando sua oportunidade
Você vai precisar investir em uma pesquisa minuciosa para moldar sua ideia e transformá-la em
uma oportunidade. Os dados disponíveis sobre características do mercado, concorrentes e assim por
diante com frequência são inversamente relacionados ao real potencial de uma oportunidade; ou
seja, se os dados de mercado estão facilmente disponíveis e se os dados mostram claramente um
potencial significativo, um grande número de concorrentes entrará no mercado e a oportunidade
diminuirá.
A boa notícia: a maioria dos dados será incompleta, imprecisa e contraditória, e seu significado
será ambíguo. Para os empreendedores, é essencial reunir as informações necessárias, ver as
possibilidades e fazer ligações onde outros veem apenas o caos.
Leonard Fuld definiu a inteligência do concorrente como informações altamente específicas e
oportunas sobre uma corporação.137 Quando falamos com fontes de inteligência é difícil, mas não
impossível, até mesmo em setores industriais emergentes, descobrir sobre os planos de vendas dos
concorrentes, os principais elementos de suas estratégias corporativas, a capacidade de suas fábricas
e a tecnologia usada nelas, quem são seus principais fornecedores e clientes, e que novos produtos
rivais estão em desenvolvimento.138
Usar recursos publicados é uma fonte desse tipo de informação. Entrevistar pessoas e analisar
dados também são passos críticos. Fuld acredita que, como as transações comerciais geram
informações que fluem para o domínio público, é possível localizar fontes de inteligência quando
entendemos como a inteligência se comporta e flui.139
Isso pode ser feito de maneira legal e ética. Evidentemente, existem táticas menos éticas (para não
dizer ilegais), que incluem realizar falsas entrevistas de trabalho, pedir aos clientes para lançarem
pedidos falsos, e mentir, enganar e roubar. Os empreendedores precisam ter cuidado para evitar
essas práticas e deveriam consultar um advogado quando estiverem em dúvida sobre uma
determinada prática.
As fontes de informação fornecidas a seguir são apenas um pequeno começo. Muita criatividade,
trabalho e análise estão envolvidos para se encontrar a inteligência e para ampliar as informações
obtidas e transformá-las em algo útil. Por exemplo, a declaração de rendimentos e o balanço
patrimonial de um concorrente raramente estarão disponíveis. Em vez disso, essas informações
devem ser obtidas a partir de informações em documentos públicos ou artigos em jornais e revistas
ou de relatórios de crédito, índices financeiros e entrevistas.140
Fontes públicas
O primeiro passo é uma pesquisa completa de materiais em bibliotecas e na Internet. Você pode
encontrar uma enorme quantidade de informações, bancos de dados e outras fontes publicadas
sobre indústrias, mercados, concorrentes e funcionários. Algumas dessas informações estarão
abertas quando você estiver procurando ideias. Listamos aqui fontes adicionais que devem ajudá-lo
a começar.
Guias e informações empresariais
Existem valiosas informações disponíveis em edições especiais e nos sites da BusinessWeek, Forbes,
INC., The Economist, Fast Company, e Fortune nos Estados Unidos; e Exame, Pequenas Empresas
Grandes Negócios, Exame PME, Valor Econômico etc. no Brasil.
Sites da Internet
Sites das revistas citadas anteriormente e, ainda: Endeavor.com.br, Ernst & Young
(http://www.ey.com), Empreendedor (http://www.empreendedor.com.br), Plano de Negócios
(www.planodenegocios.com.br).
Artigos de jornais (impressos e on-line)
Reuters, The Wall Street Journal, New York Times, O Estado de S. Paulo, Folha de S. Paulo, O
Globo.
Estatísticas
• U.S. Census Bureau (http://www.census.gov) e Stat-USA (www.stat-usa.gov) — sites do
governo dos Estados Unidos para dados econômicos, comerciais e comerciais, e pesquisa de
mercado.
• IBGE (www.ibge.gov.br) — site similar brasileiro.
• Sites das secretarias municipais do comércio e indústria.
• Global Insight (http://www.globalinsight.com).
• International Financial Statistics — Fundo Monetário Internacional.
• Indicadores de Desenvolvimento Mundial — Banco Mundial.
• Banco de dados Bloomberg.
Gastos dos consumidores
• New Strategist Publications.
• Euromonitor.
Projeções e Previsões
• ProQuest.
• InfoTech Trends.
• Value Line Investment Survey.
Estudos de mercado
• MarketResearch.com.
• Simmons Market Research Bureau.
Outras fontes
Relatórios anuais e sites das empresas. Obs.: no site www.planodenegocios.com.br há uma relação
de links sobre fontes para pesquisa de mercado no Brasil.
Mais fontes de inteligência
Tudo que os empreendedores precisam saber não será encontrado em bibliotecas, pois essas
informações precisam ser altamente específicas e atuais. Essa informação é mais provável de estar
disponível com pessoas — especialistas da indústria, fornecedores e outros (veja o quadro na
próxima página). Resumimos a seguir algumas fontes úteis de inteligência.
Associações comerciais. Associações comerciais, especialmente os editores de suas publicações e
funcionários que lidam com informações, são boas fontes de informações.141 As feiras comerciais e
as conferência são locais importantes para descobrir as atividades mais recentes dos concorrentes.
Empregados. Os empregados que saíram de uma empresa concorrente podem fornecer muitas
informações sobre o concorrente, especialmente se o empregado saiu com raiva da empresa. Além
disso, uma empresa pode contratar pessoas vindas de um concorrente. Embora a consideração ética
nessa situação seja importante, o número de pessoas experientes em todas as indústrias é limitado,
e os concorrentes devem provar que uma empresa contratou uma pessoa intencionalmente para
obter segredos comerciais específicos, a fim de abrir um processo jurídico. Alunos que trabalharam
para concorrentes são outra fonte de informação.
Empresas de Consultoria. As empresas de consultoria frequentemente realizam pesquisas do
setor e, em seguida, disponibilizam essa informação. Frequentemente, em ramos como o de
computadores ou softwares, os concorrentes usam os mesmos consultores de design, e esses
consultores podem ser fontes de informação.
Empresas de pesquisa de mercado. As empresas que fazem estudos de mercado, como as listadas
anteriormente sob o título fontes publicadas, podem ser fontes de inteligência.
Principais clientes, fabricantes, fornecedores, distribuidores e compradores. Esses grupos
muitas vezes são uma importante fonte de informação.
Registros públicos. Registros públicos federais, estaduais e locais, como registros na CVM
(Comissão de Valores Mobiliários) e INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) podem
revelar uma quantidade surpreendente de informações. Existem empresas que processam
solicitações desse tipo.
Engenharia reversa. A engenharia reversa pode ser usada para determinar os custos de produção
e, às vezes, até mesmo os métodos de produção. Um exemplo dessa prática é a experiência da
Advanced Energy Technology, de Boulder, Colorado, que aprendeu em primeira mão essas táticas.
Assim que acabou de anunciar um novo produto, que era patenteado, ela recebeu 50 pedidos,
sendo que metade deles vinha de concorrentes que compravam apenas um ou dois desses itens.
Rede de contatos. As redes de contatos mencionadas no Capítulo 3 como fontes de ideias para
novos empreendimentos também podem ser fontes de inteligência do concorrente.
Outros. Anúncios classificados, guias de compradores, sindicatos, agentes imobiliários, tribunais,
repórteres locais, e assim por diante; todos eles podem fornecer informações.34
Resumo do capítulo
• As ideias existem em profusão. Talvez uma em cada cem se torne um negócio verdadeiramente
excelente, e uma em 10 a 15 se torna uma empresa de alto potencial. A complexa transformação
de uma ideia em uma verdadeira oportunidade é semelhante a uma lagarta se tornar uma
borboleta.
• As oportunidades de alto potencial invariavelmente resolvem um importante problema, desejo
ou necessidade pelo qual alguém está disposto a pagar neste momento. Nas palavras do
renomado capitalista de risco Arthur Rock: “Eu busco as ideias que vão mudar a forma como as
pessoas vivem e trabalham”.
• Existem padrões decididos em oportunidades superiores, e reconhecer esses padrões é uma
habilidade empreendedora que os aspirantes a empreendedores precisam desenvolver.
• As rápidas mudanças e rupturas nos fluxos de tecnologia, regulamentação e informação e afins
geram a criação de oportunidades. A jornada para transformar uma ideia em oportunidade de
alto potencial exige navegar em um mapa tridimensional ondulante e em constante
transformação, ao mesmo tempo que se inventam o veículo e o mapa de relevo ao longo do
caminho.
• Algumas das melhores oportunidades realmente exigem o mínimo de capital, especialmente
quando se trata da Internet.
• As melhores oportunidades muitas vezes não começam dessa maneira. Elas são criadas,
formadas, moldadas e reinventadas em tempo real e no espaço do mercado. A adequação ao
empreendedor e aos recursos, o sincronismo e o equilíbrio entre risco e recompensa governam o
potencial final.
• As empresas de maior potencial são encontradas em mercados de alto crescimento, com altas
margens brutas e características robustas de fluxo de caixa livre, porque seus produtos ou
serviços subjacentes agregam um valor significativamente maior para o cliente, em comparação
com as melhores alternativas.
• O método da tentativa e erro, ou aprender fazendo sozinho, não é suficiente para o
desenvolvimento de empreendimentos revolucionários, que exigem experiência, criatividade e
conceituação.
Perguntas para estudo
www.ideafinder.com Este site singular apresenta produtos e serviços inovadores. Inclui História,
Fatos & Mitos, Mostruário de Ideias, e Ideias Futuras que podem estimular ideias para seu próprio
negócio.
www.enterpriseforum.mit.edu/ O MIT Enterprise Forum, Inc. constrói ligações entre
empreendedores de tecnologia e as comunidades em que residem.
www.planodenegocios.com.br Portal com comunidades de negócios, informação, fontes para
pesquisa de mercado e cursos para empreendedores.
EXERCITANDO A MENTE
109
A janela de oportunidade é definida como o período de crescimento da receita nos ciclos de vida do setor industrial almejado
quando a inclinação da curva da receita é crescente. A janela de oportunidade começa a se fechar assim que a curva da receita fica
desnivelada.
110
Veja J. A. Timmons, New Business Opportunities (Acton, MA: Brick House, 1989).
111
Leifer, McDermott, O’Connor, Peters, Rice e Veryzer, Radical Innovation: How Mature Companies Can Outsmart Upstarts (Boston:
Harvard Business School Press, 2000).
112
P. R. Nayak e J. M. Ketterman, Breakthroughs: How the Vision and Drive of Innovators in Sixteen Companies Created Commercial
Breakthroughs That Swept the World (Nova York: Rawson Associates, 1986), capítulo. 3.
113
T. Corrigan, “Far More Than the Viagra Company: Essential Guide to William Steere”, Financial Times (Londres), 31 ago. 1998, p.
7.
114
J. Godfrey, Our Wildest Dreams: Women Entrepreneurs, Making Money, Having Fun, Doing Good (Nova York: Harper Business,
1992), p. 27.
115
Este exemplo foi fornecido pelo professor William A. Sahlman da Harvard Business School durante uma sessão do 2004 no
Symposium for Entrepreneurship Educators (SEE) no Babson College.
116
H. A. Simon, “What We Know about the Creative Process”, em Frontiers in Creative and Innovative Management, ed. R. L. Kuhn,
(Cambridge, MA: Ballinger, 1985), pp. 3–20.
117
J. Pereira, “Focus, Drive and an Eye for Discounts: Staples of Stemberg’s Business Success”, The Wall Street Journal, 6 set. 1996, p.
A9B. Usado com permissão da Dow Jones & Co. Inc. através do Copyright Clearance Center.
118
P. C. Judge, “Can Even a Proven Team Deliver on This Switchmaker’s Astonishing IPO?” BusinessWeek, 20 dez. 1999, pp. 150–56.
119
A. Bhide, “Bootstrap Finance”, Harvard Business Review, nov.-dez. 1992, p. 112.
120
E. B. Roberts, Entrepreneurs in High Technology: Lessons from MIT and Beyond (Nova York: Oxford University Press, 1991), p. 144,
Tabela 5–2.
121
T. Lammers e A. Longsworth, “Guess Who? Ten Big-Timers Launched from Scratch”, INC., set. 1991, p. 69.
122
Dados financeiros extraídos de Dow Jones Interactive, http://www.djnr.com.
123
Ibid.
124
R. A. Mamis, “The Secrets of Bootstrapping”, INC., set. 1991, p. 54.
125
Veja J. A. Timmons, D. F. Muzyka, H. H. Stevenson e W. D. Bygrave, “Opportunity Recognition: The Core of Entrepreneurship”,
em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1987, ed. Neil Churchill et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1987), p. 409.
126
E. Parizeau, sócio, Norwest Venture Partners, em um discurso para os MBAs do Babson College, em dezembro de 2000.
127
M. Neal, “Cataloger Gets Pleasant Results”, Direct Marketing, maio 1992, p. 33.
128
B. Dumaine, “How to Compete with a Champ”, Fortune, 10 de jan.1994, p. 106.
129
Comentário feito durante uma apresentação no Babson College, maio 1985.
130
S. W. Kunkel e C. W. Hofer, “The Impact of Industry Structure on New Venture Performance”, Frontiers of Entrepreneurship
Research: 1993 (Babson Park, MA: Babson College, 1993).
131
J. A. Timmons, W. Bygrave e N. Fast, “The Flow of Venture Capital to Highly Innovative Technology Ventures”, um estudo para a
National Science Foundation, registrado em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1984 (Babson Park, MA: Babson College, 1984).
132
Para obter uma descrição mais detalhada do fluxo de caixa livre, veja “Note on Free Cash Flow Valuation Models”, de W.
Sahlman, HBS 9-288-023, Harvard Business School, 1987.
133
W. A. Sahlman, “Sustainable Growth Analysis”, HBS 9-284-059, Harvard Business School, 1984.
134
R. D. Kahn, presidente da Interactive Images, Inc., falando no Babson College sobre suas experiências como diretor de marketing
internacional da McCormack & Dodge, de 1978 a 1983.
135
Esta observação foi feita por J. Willard Marriott, Jr., no Dia do Fundador no Babson College, 1988.
136
Veja também “Economic Impact of Franchised Businesses”, International Franchise Association, IFA Educational Foundation,
2004.
137
L. M. Fuld, Competitor Intelligence: How to Get It: How to Use It (Nova York: John Wiley & Sons, 1985), p. 9.
138
Ibid. Veja também “How to Snoop on Your Competitors”, Fortune, 14 maio 1984, pp. 28–33, e também informações publicadas
pelos escritórios de contabilidade, como Sources of Industry Data, publicado pela Ernst & Young.
139
Fuld, Competitor Intelligence, pp. 12–17.
140
Idem, p. 325.
141
Ibid., pp. 46, 48.
Estudo de caso
Burt’s Bees*
Introdução
Em abril de 1997, a Burt’s Bees tinha 20 funcionários e estav a no caminho certo para fazer entre $6
milhões e $8 milhões em v endas naquele ano. As margens da Burt’s Bees eram, em média, de 35% das
v endas. Um recipiente de hidratante labial da Burt’s Bees, que custa 23 centav os para produzir
(incluindo custos indiretos), era v endido por $2,25–$2,50 nas lojas. A empresa distribuía para todos os
estados dos Estados Unidos, podia ser encontrada em mais de 3 mil lojas de todo o país e tinha
acabado de entrar nos mercados europeu e japonês. Os produtos da Burt’s Bees também tinham
entrado nos estoques de v arejistas conv encionais, como a Eckerds, o Drug Emporiom e a Fred Meyer.
Roxanne Quimby, presidente e fundadora da Burt’s Bees, explicou:
Não é muito div ertido ir a essas lojas — é uma obrigação. Eles percebem isso, então procuram nov os
produtos criativ os para animar as coisas, tornar as compras uma experiência mais agradáv el. Estamos
começando a obter uma série de solicitações de lojas tradicionais. No entanto, eles não têm uma
inclinação artística para o merchandising, por isso lhes damos estrados e mostruários pré-fabricados de
chão para ajudar no cenário e dar sentido aos produtos para o consumidor.
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Utilizar, de maneira eficaz, duas metodologias de filtragem — QuickScreen e os exercícios de filtragem de
oportunidades de negócio (EFON) — que poderão ajudá-lo a determinar se suas ideias são oportunidades em
potencial.
2. Aplicar os critérios de oportunidade do Capítulo 5 a suas ideias e começar a avaliar a adequação da
lucratividade a você, sua equipe, seus recursos e o equilíbrio entre risco e recompensa.
3. Articular com mais criatividade e profundidade o que você precisa fazer para melhorar a adequação e a relação
entre risco e recompensa.
4. Determinar se sua melhor ideia desta vez tem potencial suficiente para buscar o desenvolvimento de um plano
de negócios minucioso.
5. Avaliar se você acredita que pode alterar suficientemente a ideia e sua estratégia para criar uma boa adequação e
um equilíbrio atraente entre risco e recompensa para você e seus investidores.
6. Discutir e compartilhar ideias sobre o caso da Globant e analisá-lo.
www.planodenegocios.com.br O site oferece ferramentas para se iniciar o seu plano de negócios on-
line (easyplan) e orientações práticas, incluindo guias e dicas de como avaliar uma oportunidade.
Faça o download dos exercícios QuickScreen e EFON do Capítulo 6 em
www.elsevier.com.br/josedornelas ou www.josedornelas.com.
Estudo de caso
Globant
Perguntas preparatórias
1. Discuta a natureza do desafio que a equipe enfrenta à medida que tenta construir uma empresa
global. Quais são os pontos fortes e os pontos fracos de seu modelo?
2. Descrev a o ciclo de v endas nos serv iços de TI no exterior. Em que fatores diferenciadores a
equipe da Globant dev e se concentrar?
3. Que segmento(s) da indústria apresenta(m) a melhor oportunidade para a equipe da Globant, e
por quê?
Martin Migoya coloca de lado seu exemplar do La Nación, um jornal popular de Buenos Aires. A
Globant, uma empresa em crescimento que ele cofundou com o CTO Guibert Engleibenne quatro anos
antes, agora chegav a às manchetes empresariais como a maior empresa independente de
terceirização de tecnologia da informação (TI ) na Argentina.
Migoya olhou para o grande Rio de la Plata cintilante ao sol da manhã. Era bom estar em casa,
mesmo que apenas por um curto período. Como CEO, parecia que ele estav a sempre em outro lugar
ou no caminho para lá: Londres, Boston, Dallas, Dubai, Madrid. [...] Desde o início, ele e seus sócios
hav iam alimentado as v endas acionando suas redes de contatos e acompanhando com sucesso
cada indicação e referência que chegav a até eles. Esses esforços certamente v aleram a pena. Com
600 funcionários e uma receita mensal aproximada de $1 milhão, a Globant parecia estar bem no
caminho para se tornar uma marca de classe mundial em um mercado enorme e crescente. Essa era a
boa notícia.
O lado negativ o era que, no final de 2007, o impulso continuado da Globant por v itórias hav ia
gerado um portfólio amplo e div ersificado de clientes e ofertas de serv iços. I sso representav a um
desafio significativ o; cada v ez mais, os principais clientes potenciais estav am escolhendo parceiros de
serv iços de TI que pudessem demonstrar um entendimento profundo e amplo de seus setores
específicos. Além disso, a v antagem da Argentina — um consórcio de talentos instruídos, uma
economia com salários competitiv os e um fuso horário fav oráv el para atender a Europa e os Estados
Unidos — tinha começado a atrair uma multidão de concorrentes estrangeiros.
Agora estav a claro que, a menos que a Globant desenv olv esse uma abordagem mais focalizada e
tática para o desenv olv imento de negócios, ela se tornaria, na melhor das hipóteses, uma participante
marginalizada. Migoya estav a determinado a ev itar esse destino. Ele olhou para o relógio e v irou para
desligar o laptop. Ele tinha de pegar um av ião.
Somos muito gratos à professora Silv ia Torres Carbonell, da I AE Business School, Univ ersidad Austral de
Buenos Aires, Argentina, por contribuir para este caso, originalmente desenv olv ido por quatro
candidatos ao MBA da MI T Sloan School que fizeram uma apresentação de um estudo no exterior na
I AE em 2006. São eles: Shingo Murakami, Roger Premo, I na Trantchev a e Erik Yeager. O caso foi
rev isado e atualizado pelos professores Carbonelli e Carl Hedberg.
Bill Drayton
CEO e fundador da Ashoka (http://ashoka.org)
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Entender como o empreendedorismo social é, ao mesmo tempo, semelhante e diferente do empreendedorismo
tradicional.
2. Definir o empreendedorismo social que engloba empreendimentos sociais e organizações sem fins lucrativos
empreendedoras.
3. Aplicar o modelo Timmons de empreendedorismo ao contexto do empreendedorismo social.
4. Discutir como o conceito de agregar valor se refere a organizações voltadas para o social.
5. Avaliar e discutir o caso da Northwest Community Ventures.
QUADRO 7.1
FIGURA 7.1
Empreendimentos com objetivos sociais
Os empreendimentos com objetivos sociais (Figura 7.1, quadrante 1) se baseiam na premissa de
que um problema social será resolvido, ainda que o empreendimento pretenda o lucro e que o
impacto sobre o mercado normalmente seja visto como econômico. Lembra-se do estudo de caso de
Jim Poss no Capítulo 4? Esse é um ótimo exemplo de um empreendedor social iniciando um
empreendimento social como esse. Poss fundou a Seahorse Power Company, com o objetivo de
construir uma empresa que pudesse ajudar o meio ambiente. Ao mesmo tempo, o impacto
econômico de seu compactador de lixo Big Belly, movido a energia solar, é impulsionar as vendas e
o crescimento de sua empresa. De acordo com Poss:
O problema em geral é que existem 180 mil caminhões de lixo nos Estados Unidos, que queimam
mais de um bilhão de galões de diesel a cada ano. São partículas pesadas — poluentes que causam
câncer e asma. Evidentemente, gases que provocam o efeito estufa estão sendo emitidos. Aqueles
180 mil caminhões de lixo também custam cerca de $50 bilhões ao ano. Então, [as empresas de
resíduos] estão despejando um monte de dinheiro em um sistema que é incrivelmente ineficiente.
A frequência da coleta [de lixo] é orientada pelo recipiente — o receptáculo. Então, quando ele está
cheio, é necessário fazer uma viagem com o caminhão de lixo. Usamos uma tecnologia [no
receptáculo] para reduzir cerca de cinco vezes a frequência de coleta.143
Poss se considera um empreendedor social. Ele começou a estudar o meio ambiente em 1992, e
descobriu que os problemas e as potenciais consequências da ação humana eram alarmantes. Aos
olhos de Poss, começar um negócio foi a melhor maneira de resolver alguns dos problemas
ambientais do mundo. Empreendimentos sociais como esse são voltados para uma missão e
economicamente sustentáveis. Lembre-se que a missão de Poss é social — ajudar o meio ambiente
— mas ele reconhece a importância da economia de negócios sustentáveis: “Se você tem um
negócio que pode se sustentar economicamente e fazer algo benéfico para o meio ambiente, ele
pode estar no caminho de crescimento sem a necessidade de angariação de fundos a cada ano para
se sustentar”.144
Organizações sem fins lucrativos empreendedoras
Para agravar a confusão sobre o empreendedorismo social existe uma ideia preconcebida de que
todo o empreendedorismo em curso nos setores sociais é reservado às organizações sem fins
lucrativos. Como sabemos a partir da história de Jim Poss, nem todos os empreendedores sociais
iniciam organizações sem fins lucrativos. Além disso, nem todas as organizações sem fins lucrativos
são empreendedoras. É por isso que o termo “organizações sem fins lucrativos empreendedoras” é
utilizado no quadrante 2, na Figura 7.1.
Poderíamos argumentar que qualquer start-up de organização sem fins lucrativos é
empreendedora. No entanto, de acordo com o foco deste livro e das pesquisas de
empreendedorismo, a ampliação e a sustentabilidade de novos empreendimentos são
extremamente importantes para a economia (como no caso de empresas com fins lucrativos) e para
mudanças sistêmicas (como no caso de organizações sem fins lucrativos). Não é suficiente, tanto de
uma perspectiva econômica quanto social, simplesmente iniciar um empreendimento; ele deve ser
escalonável e sustentável. Com a longevidade, a inovação e um olho no crescimento, é possível
provocar um impacto significativo.
Existem dois tipos de organizações sem fins lucrativos empreendedoras. O primeiro tipo utiliza
atividades de receita recebida, uma forma de capital de risco, para gerar a totalidade ou uma parte
da receita total. Em muitos aspectos, as organizações sem fins lucrativos empreendedoras aplicam os
princípios do empreendedorismo para gerar receita para sustentar suas organizações voltadas para
uma missão. O segundo tipo tem foco no crescimento e na sustentabilidade econômica. Essa
organização sem fins lucrativos empreendedora pode incorporar o investimento externo, sob a
forma de filantropia de risco, para escalonar de forma significativa a organização para gerar um
impacto maior em direção à mudança social sistêmica. Assim como um empreendimento social
pode receber capital de risco de valor agregado ou investimento de anjos, uma organização sem fins
lucrativos empreendedora pode receber financiamento da filantropia de risco, que é diferente de
subvenções ou doações. A filantropia de risco é uma mistura de assistência financeira com um alto
nível de engajamento profissional por parte do financiador. Esse conceito de financiamento será
abordado mais adiante neste capítulo.
Independentemente do tipo, as organizações sem fins lucrativos empreendedoras representam
uma forma de empreendedorismo social. Além de sua missão social, seu impacto sobre o mercado é
social, porque o lucro só existe para canalizar fundos operacionais para a organização. Enquanto os
empreendimentos sociais podem distribuir lucros aos proprietários, as organizações sem fins
lucrativos empreendedoras, por lei, não podem.
A KickStart Internacional é um exemplo de organização sem fins lucrativos empreendedora que
tem atividades de rendimento do trabalho e filantropia de risco. Martin Fisher e Nick Moon
fundaram a KickStart em 1991 com a missão de acabar com a pobreza na África subsaariana. Eles
começaram no Quênia e hoje têm escritórios na Tanzânia e em Mali. Embora Fisher e Moon
tenham introduzido muitas tecnologias relacionadas à irrigação, ao processamento de petróleo e à
construção, seu maior sucesso até hoje é com as bombas de microirrigação, conhecidas como
MoneyMaker. Esse sistema de irrigação de baixo custo tem ajudado os agricultores rurais no
Quênia a aumentarem sua produção agrícola dez vezes, permitindo que os agricultores produzam
culturas não só para a sobrevivência da família, mas para obter um retorno lucrativo. Suas métricas
de apoio ao sucesso são inspiradoras. No início de 2010, a KickStart destacou as seguintes
estatísticas em seu site:145
• 144 mil bombas estão sendo usadas por agricultores pobres.
• 466 mil pessoas foram retiradas da pobreza.
• 138 mil empregos criados
• As bombas geram $94 milhões ao ano em novos lucros e salários.
• Mais de 50% das bombas são administradas por mulheres empreendedoras.
Vencedora do prêmio de capitalista social da Fast Company em 2007 e 2008, a KickStart e suas
formas empreendedoras estão fazendo grandes progressos em sua missão de combate à pobreza.
Um estudo foi realizado pela Yale School of Management e pela Goldman Sachs Foundation em
parceria com a Nonprofit Ventures para entender melhor como e por que organizações sem fins
lucrativos empreendedoras exercem suas atividades de rendimento do trabalho.146 Das 519
organizações sem fins lucrativos que participaram do estudo, 42% tinham empreendimentos com
rendimento do trabalho, 5% havia tentado, mas com pouco sucesso, e 53% nunca havia tentado
seguir qualquer tipo de atividade geradora de rendimentos além do angariamento de fundos,
solicitação de doações e outras atividades. Algumas das principais conclusões do estudo são
interessantes. As organizações sem fins lucrativos que procuram atividades de rendimento do
trabalho:147
• Têm mais funcionários. Cinquenta e cinco por cento das organizações sem fins lucrativos
empreendedoras tinham 100+ trabalhadores em comparação com 36% que nunca tinham
participado de qualquer tipo de atividade de risco.
• Acreditam que são mais empreendedoras. Setenta e sete por cento das organizações sem fins
lucrativos empreendedoras se definiam como empreendedoras, em comparação com 46% que
nunca tinham participado de qualquer tipo de atividade de risco.
• Normalmente, elas não esperam terminar o financiamento para começar um negócio.
• Têm orçamentos de $5 milhões a $25 milhões. Esse é um número importante, porque a maioria
das organizações sem fins lucrativos nos Estados Unidos nunca ultrapassa orçamentos de $1
milhão, como é também o caso das ONGs no Brasil.
• Fazem isso para financiar outros programas (66%), se tornarem autossustentáveis (52%) ou
diversificar fontes de receita (51%). Outras razões incluem a criação de empregos e a construção
de comunidades.
• Têm um forte desejo de ver seus empreendimentos crescerem e se reproduzirem — mas apenas
55% realmente redigiram um plano de negócios. No entanto, 56% disseram que encontrariam
ajuda para redigir um plano de negócios valioso.
Modelos híbridos de empreendedorismo social
Muitos tipos de empresas no domínio do empreendedorismo social não se encaixam bem nos
quadrantes 1 ou 4 da Figura 7.1. Na verdade, provavelmente existem mais modalidades híbridas de
empreendimentos sociais e organizações sem fins lucrativos empreendedoras combinadas. Em uma
pesquisa recente, 2 mil empreendedores foram questionados sobre os principais objetivos de suas
empresas.148 Os empreendedores escolhiam uma das seguintes quatro opções:
• Com fins lucrativos — principalmente atingir objetivos econômicos.
• Com fins lucrativos — principalmente atingir objetivos sociais.
• Sem fins lucrativos — enfatizar igualmente objetivos sociais e econômicos.
• Sem fins lucrativos, cumprindo uma missão social.
Como você acha que 2 mil empreendedores aleatórios nos Estados Unidos, não necessariamente
classificados como empreendedores sociais, responderam a essa pergunta?
Como se poderia esperar, a maioria (49%) era de empreendedores tradicionais (quadrante 1).
Eles identificavam suas empresas como empreendimentos com fins lucrativos e objetivos puramente
econômicos. Outros 9% classificaram suas empresas como empreendimentos com fins lucrativos
com um objetivo puramente social — semelhante a Jim Poss e seu compactador de lixo movido a
energia solar, o Big Belly. Apenas 8% dos empreendedores entrevistados se identificaram como sem
fins lucrativos. O mais interessante foram os 31% de empreendedores que alegaram ter fins
lucrativos com objetivos sociais e econômicos. Esses resultados mostram que estão surgindo novas
formas de organização: organizações de duplo propósito, com missões que enfatizam igualmente
objetivos econômicos e sociais.
A Scojo Vision, uma empresa de óculos, é um exemplo de modelo híbrido. Fundada em Nova
York por dois empreendedores, Scott Berrie e Jordon Kassalow, a missão da empresa lida com
necessidades econômicas e sociais. Além das elegantes linhas de óculos, eles criaram um programa
que leva cuidados com os olhos e óculos de leitura a preços acessíveis às áreas rurais da América
Latina e da Índia. O programa, administrado pela Fundação Scojo, treina mulheres
empreendedores para construir negócios vendendo óculos de leitura baratos para trabalhadores que
dependem da visão para sua subsistência, como alfaiates, operários têxteis e tecelões.149
Recentemente, surgiu uma nova classificação de organização chamada “com fins benéficos”. Um
crescente exército de voluntários e empreendedores sociais interessados está participando de uma
comunidade chamada Fourth Sector Project [Projeto Quarto Setor].150 O quarto setor emerge de
uma classificação histórica quase inalterada de empresas que serviram no setor privado ou no
público, mas não em ambos. Existem entidades com fins lucrativos, organizações sociais sem fins
lucrativos (não governamentais) e governos. O Projeto Quarto Setor busca reconhecer um novo
modelo, o modelo com fins benéficos, à medida que os setores começam a se confundir.
Os modelos híbridos não são exemplos de responsabilidade social corporativa — um termo que
está crescendo em popularidade, tanto na teoria quanto na prática. A responsabilidade social
corporativa (RSC) enfatiza fazer o bem e servir às comunidades ao mesmo tempo em que se obtém
lucro. Você pode estar pensando: “Bem, isso certamente parece um modelo híbrido de
empreendedorismo social!”. Volte à Figura 7.1 e lembre-se que a principal diferença entre o
empreendedorismo social tradicional e as visões mais tradicionais e comerciais do
empreendedorismo é a missão pretendida. A principal missão de empreendimentos sociais e
organizações sem fins lucrativos empreendedoras é social, independentemente do impacto no
mercado. O modelo híbrido enfatiza igualmente objetivos sociais e econômicos.
Corporações com práticas de RSC têm impacto sobre as comunidades em que operam e outros
stakeholders em muitos aspectos, mas a RSC não é o componente central de seus modelos de
negócio. Por exemplo, a Dow Chemical doa isopor para a Habitat for Humanity para isolamento em
novas casas. A Starbucks constrói relações com os agricultores locais, paga preços justos de mercado
e concede crédito aos agricultores locais para que eles possam aumentar seus negócios de grãos de
café. Em 2005, o Wal-Mart anunciou ambiciosos objetivos de longo prazo para demonstrar seu
apoio ao meio ambiente. Essas metas afirmam que o Wal-Mart se esforçaria para receber 100% de
energias renováveis, criar zero de resíduos, e vender produtos ecologicamente corretos.
Esses exemplos de RSC são inúmeros e crescentes, e muitas grandes corporações estão gerando
um impacto positivo sobre o mundo. Algumas empresas criaram cargos de RSC. Por exemplo, a The
Walt Disney Company possui um departamento de responsabilidade corporativa liderado por um
gerente sênior de responsabilidade corporativa. Cargos semelhantes podem ser encontrados em
outras empresas como a The Gap e a American Express. Mas a RSC é uma função de apoio. Essas
empresas não foram fundadas com base em missões voltadas para resolver os mais prementes
problemas sociais do mundo. As atividades de RSC beneficiam muitas pessoas, mas não são
consideradas parte do domínio do empreendedorismo social. As atividades de RSC se alinham
melhor com as empresas de “Consequências Sociais” apresentadas no quadrante três da Figura 7.1.
QUADRO 7.2
Podemos usar o envelhecimento da população dos Estados Unidos como um excelente exemplo
de problema cabeludo; esse é um problema social significativo que os americanos estão enfrentando
e continuarão a enfrentar quando os baby boomers se aposentarem. Entre 2010 e 2020, vamos ver,
pela primeira vez na história, as pessoas com mais de 65 anos de idade ultrapassaram as crianças
com menos de 5.153 Devido aos avanços na área da saúde, especificamente no controle de doenças,
as pessoas estão vivendo mais. Em 1903, por exemplo, 15% das mulheres brancas americanas
viveram até a idade de cerca de 80 anos; mas hoje perto de 70% das mulheres brancas vivem até os
80 anos de idade.154
Esse fenômeno não é exclusivo dos Estados Unidos. No Brasil, a expectativa de vida das pessoas
também tem aumentado nos últimos anos. Atualmente, a expectativa média de vida dos brasileiros
é de 73 anos, uma das mais altas do mundo.
Esse envelhecimento da população cria desafios significativos para a sociedade. As pensões e os
rendimentos de aposentadoria terão de durar mais tempo. Os custos de saúde tendem a aumentar.
A economia de serviços vai capturar um percentual maior do PIB à medida que os idosos exigem
mais ajuda vinda de serviços, e não de produtos. Considere, também, que a força de trabalho paga
por muitos dos benefícios sociais dos idosos. Conforme a população envelhece, existem menos
contribuintes apoiando o crescente número de aposentados que não trabalham. Mas, além dessas
questões tangíveis, existem as intangíveis, como os lados emocionais e físicos do envelhecimento. O
envelhecimento da população cria desafios sociais e econômicos, mas também existem questões
relacionadas aos direitos humanos:
Pessoas jovens perdem compromissos e fazem saques a descoberto em suas contas correntes. Mas,
quando os idosos fazem as mesmas coisas, experimentam uma dupla acusação. Seus erros não são
considerados acidentes, mas a perda da capacidade. Esses erros têm implicações para sua
liberdade.155
Assim como acontece com muitas questões, esse grande desafio social representa um crescente
espaço de oportunidade para empreendedores sociais que estão atentos. Vamos considerar um
aspecto dessa questão usando as características dos problemas cabeludos como pano de fundo. A
maioria dos idosos quer manter sua independência pelo maior tempo possível; portanto, para
muitos, mudar para uma instalação de vida assistida ou casa de repouso é a última opção e a menos
desejada. Além disso, conforme a população envelhece e os baby boomers entram em seus anos de
declínio, a disponibilidade dessas facilidades de vida assistida vai diminuir. A solução pode ser criar
a próxima geração de casas inteligentes que permitam que os idosos permaneçam em suas casas e
ainda obtenham os benefícios e a segurança da vida assistida. Vamos supor que a tecnologia está
estabelecida e que adaptar as casas existentes é possível. Será que essa é uma boa solução? Na
superfície, sim, mas considere outros desafios:
• Nem todos os idosos se sentem confortáveis com a tecnologia.
• As pessoas mais velhas podem não ganhar dinheiro suficiente para pagar pelas características
inteligentes.
• Pessoas idosas que ficam em suas próprias casas podem exigir auxílio para chegar a hospitais em
casos de emergência; dessa forma, ter mais idosos em casa pode aumentar as exigências ao
sistema de emergências.
• As cidades e vilas podem criar serviços para uma população maior de idosos, e esses serviços
podem ser financiados por impostos adicionais sobre a propriedade.
A lista poderia continuar, mas a ideia é que às vezes não entendemos um problema totalmente
até que uma solução é desenvolvida (#1). Mas vamos continuar com a ideia das casas inteligentes
para idosos. Que nível de independência deve ser inserido nas casas? Quais são as compensações de
ser capaz de usar os dois andares de uma casa de dois andares, e não apenas o andar de baixo? Será
que a casa toda precisa ser inteligente? Problemas cabeludos não têm uma regra de parada
predeterminada (#2), de modo que o empreendedor social é obrigado a fazer escolhas racionais
com base em uma avaliação rigorosa das compensações. O empreendedor social tem de aceitar que
um problema cabeludo nunca é totalmente resolvido e que a solução possivelmente não vai
satisfazer todas as expectativas; isso também é conhecido como comportamento satisfatório. Como
declara a característica #3, não existem soluções certas ou erradas. Se as casas inteligentes forem
construídas, haverá críticas quanto às escolhas feitas ou não feitas.
A vida independente para os idosos é um problema social singular (#4), e a interpretação desse
dilema depende do observador. O problema nesse exemplo afeta não apenas as pessoas mais velhas,
mas também muitos outros stakeholders. As possíveis soluções para problemas cabeludos são
conhecidas por terem consequências durante um período prolongado. Uma casa inteligente pode
ser uma boa ideia para uma pessoa de idade que queira manter sua independência, mas considere a
quantidade de trabalho envolvido na adaptação de uma casa. Quais sistemas precisam ser
instalados? Que mudanças na estrutura da casa são antecipadas? Finalmente, o quão difícil será
vender uma casa “inteligente para os idosos” no mercado, e seria fácil ou desejável tirar a
“inteligência” da casa depois da morte do idoso independente? Talvez haja muitas outras
consequências de se fazer uma casa inteligente nesse contexto, mas, no caso de um problema
cabeludo, só o tempo dirá. A independência dos idosos é apenas um aspecto do problema social
que enfrentaremos à medida que a população envelhece. Existem inúmeras possibilidades, e a
teoria do problema cabeludo nos diz que não existe um conjunto finito de soluções (#6). Talvez
alguns vejam isso como uma limitação; mas os empreendedores sociais veem um oceano de
possibilidades e oportunidades.
O envelhecimento da população (nacional e internacionalmente) é apenas um dos muitos
problemas cabeludos que estão sendo abordados por empreendedores sociais. Para obter uma
compreensão melhor dos desafios sociais enfrentados pelo planeta, os Objetivos de
Desenvolvimento do Milênio, das Nações Unidas, são um bom ponto de partida. Os objetivos
foram desenvolvidos em 2000, em um evento historicamente significativo, quando líderes mundiais
se reuniram para tratar das mais prementes questões sociais do mundo. A colaboração resultou na
inspiradora Declaração do Milênio das Nações Unidas. De acordo com o então Secretário-Geral
Kofi Annan, os oito objetivos (Quadro 7.3) com prazo de cumprimento até 2015 constituem um
modelo aceito por todos os países do mundo e as principais instituições de desenvolvimento do
mundo — um conjunto de objetivos simples, mas poderosos, que todo homem e mulher na rua, de
Nova York a Nairobi e Nova Deli, pode facilmente entender e apoiar. Desde sua adoção, os
Objetivos têm reunido esforços sem precedentes para atender às necessidades dos mais pobres do
mundo.156
QUADRO 7.3
Embora esses objetivos representem a visão das Nações Unidas de nossos mais prementes
problemas sociais, os espaços de oportunidade para empreendedores sociais (em áreas com fins
lucrativos e sem fins lucrativos) são amplos e promissores. A simplicidade do empreendedorismo
aplicado a problemas cabeludos cria uma força poderosa para a humanidade. Uma oportunidade é
apenas a visão positiva de um problema ou desafio. Sabemos, pelos capítulos anteriores, que os
empreendedores pensam de maneira diferente e identificam oportunidades que outras pessoas não
conseguem ver. Que oportunidades você pode identificar nesses espaços?
Recursos
Não ao contrário das tradicionais organizações empreendedoras discutidas ao longo deste livro, a
aquisição de recursos é fundamental para o sucesso de empreendimentos sociais, organizações sem
fins lucrativos empreendedoras, e até mesmo formas híbridas. A maioria dos empreendedores
sociais admite que o acesso ao capital é um desafio crescente à medida que surgem mais e mais
empreendimentos sociais, especialmente com aspirações de crescimento elevadas e visões de
escalabilidade internacional. A autossuficiência prevalece entre os apaixonados empreendedores
sociais, que muitas vezes são silenciosos em sua abordagem à medida que se esforçam para
construir modelos de negócios sustentáveis. Duas fontes de capital têm surgido para
empreendedores sociais.
O capital de risco social (CRS) é um subconjunto do tradicional mercado de capital de risco. Os
CRSs buscam investir em empreendimentos com fins lucrativos, não apenas pelo retorno financeiro,
mas também pelo retorno social e ambiental; isso também é conhecido como resultado duplo ou
resultado triplo. Pesquisas da Universidade de Columbia estimam que $2,6 bilhões estão sob a
administração do mercado de private equity de resultado duplo.157
Dentro do território do capital de risco social existem três tipos de fundos. Primeiro, há o fundo
“focado”. Por exemplo, a Expansion Capital Partners, com escritórios em São Francisco e Nova
York, investe unicamente em empresas de tecnologia limpa em estágio de expansão, relacionadas à
energia, à água, aos transportes e à fabricação. De modo semelhante, a Commons Capital, que
funciona na periferia de Boston, investe em empresas nos estágios iniciais que funcionam em uma
das quatro áreas de preocupação social: educação, saúde, energia e meio ambiente. Ambas as
empresas promovem explicitamente o foco ambiental e social de seus fundos. O segundo tipo de
fundo é o fundo “comunitário”; sua finalidade normalmente é o desenvolvimento econômico e a
criação de empregos em áreas pobres. A CEI Ventures, com sede em Portland, Maine, investe em
empresas que operam em mercados mal atendidos. Cada empresa do portfólio da CEI tem de
contratar funcionários com históricos de salários baixos da comunidade na qual a empresa está
operando. O caso ao final do capítulo é um exemplo desse tipo de CRS. O terceiro tipo de fundo é o
que tem sido chamado de “capital de risco com consciência”.158 Esses fundos estipulam que
determinado percentual será investido em empresas socialmente responsáveis relacionadas às suas
áreas de investimento alvo. Por exemplo, a Solstice Capital possui escritórios em Boston,
Massachusetts e em Tucson, Arizona. Ela investe 50% de seus fundos em tecnologia da informação
e os restantes 50% em empresas socialmente responsáveis. Segundo seu site, “investimentos
socialmente responsáveis podem gerar retornos superiores de capital de risco e fazer uma
contribuição positiva para os ambientes natural e social”.159
A filantropia de risco prevê o financiamento de valor agregado para organizações sem fins
lucrativos, com o objetivo de aumentar seu potencial de impacto social. Embora a origem da
filantropia de risco seja atribuída a John D. Rockefeller III, em 1969, quando ele falou perante o
Congresso Americano em apoio à reforma fiscal, a versão moderna parece mais com o capital de
risco, mas com um retorno social sobre o investimento.160 Existem várias definições de filantropia
de risco, e a European Venture Philanthropy Association (EVPA) [Associação Europeia de
Filantropia de Risco] adotou vários dogmas da filantropia de risco que são semelhantes a todas as
definições de filantropia de risco — tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, onde o conceito
de filantropia de risco está conquistando uma popularidade sem precedentes (Quadro 7.4).
QUADRO 7.4
A New Profit Inc., com sede em Cambridge, Massachusetts, exemplifica a filantropia de risco
utilizando a metodologia de capital de risco. Com 25 funcionários em tempo integral, a New Profit
tem um fundo de capital de risco que, até 2007, tinha investido em 20 organizações sem fins
lucrativos, com planos de aumentar seu portfólio total para 50 organizações até 2012. O
investimento médio em cada organização foi de $1 milhão ao longo de um período de quatro anos.
No entanto, a New Profit tende a permanecer com as organizações por mais de quatro anos para
alcançar a sustentabilidade e a escala desejada. Além de proporcionar o financiamento de capital de
expansão, as organizações do portfólio recebem apoio estratégico de um administrador de portfólio
da New Profit e da parceira da New Profit, o Monitor Group — uma empresa de consultoria global
e de serviços financeiros. A Monitor Group, através de uma parceria colaborativa e sem
precedentes, oferece consultoria gratuita às organizações do portfólio da New Profit, além de
fornecer à New Profit recursos operacionais adicionais. Estima-se que, desde 1999, o Monitor
Group tenha fornecido à New Profit e às organizações de seu portfólio mais de $30 milhões em
serviços gratuitos. Dada a capacidade de investimento de valor agregado da New Profit, essa
organização de filantropia de risco é capaz de duplicar o impacto de cada dólar de investimento dos
doadores, como ilustra o Quadro 7.5. Assim, os doadores (ou investidores) da New Profit sabem
que, para cada dólar que investem, a organização sem fins lucrativos do portfólio de fato recebe
$1,98, devido aos serviços, ao suporte e ao capital intelectual oferecido pela equipe da New Profit
em conjunto com o Monitor Group.
A New Profit aumentou significativamente o impacto social de muitas organizações sem fins
lucrativos em vários setores, incluindo educação, desenvolvimento da força de trabalho e cuidados
com a saúde. No período de 1999–2008 o portfólio da New Profit como um todo apresentou uma
impressionante taxa de crescimento anual composta de 44% das receitas e de 49% de crescimento
composto anual em termos de “vidas atendidas”. Em 1999, as organizações do portfólio da New
Profit atenderam cerca de 3 mil vidas; até 2007, esse número saltou para mais de 700 mil.161 A
abordagem inovadora de filantropos de risco como a New Profit ilustra o poder dos princípios
empresariais para escalonar organizações sem fins lucrativos com o objetivo de atingir um alcance
social inigualável.
QUADRO 7.5
Resumo do capítulo
http://www.netimpact.org A Net Impact é uma rede global de líderes que estão mudando o mundo
através das empresas.
http://www.echoinggreen.org Desde 1987, a Echoing Green vem concedendo financiamento
semente e apoio a cerca de 450 empreendedores sociais com ideias arrojadas para a mudança social,
a fim de lançar organizações revolucionários no mundo todo.
http://www.se-alliance.org Um número crescente de organizações está trabalhando em prol da
inovação social sustentável, através da aplicação do poder de estratégias baseadas no mercado para
promover mudanças sociais. A Social Enterprise Alliance serve como único ponto de referência e
apoio e uma fonte de educação e contatos entre credores, investidores, doadores, consultores,
pesquisadores e educadores que reconhecem o crescente impacto do empreendimento social.
http://www.svn.org Fundada em 1987 por Josh Mailman e Wayne Silby, a Social Venture Network
(SVN) é uma rede sem fins lucrativos comprometida com a construção de um mundo justo e
sustentável, através dos negócios.
www.ashoka.org.br A Ashoka é uma organização mundial, sem fins lucrativos, pioneira no campo
da inovação social e trabalho e apoio aos empreendedores sociais – pessoas com ideias criativas e
inovadoras capazes de provocar transformações com amplo impacto social.
EXERCITANDO A MENTE
142
http://www.philanthropy.com/free/update/2007/04/2007042301.htm.
143
Entrevista com Jim Poss no Babson College em 28 de novembro de 2007.
144
Ibid.
145
http://www.kickstart.org.
146
C. W. Massarsky e S. L. Beinhecker, “Enterprising Nonprofits: Revenue Generation in the Nonprofit Sector”, 2002.
147
Idem, pp. 5–12.
148
Perguntas relacionadas ao empreendedorismo social foram incluídas na pesquisa Global Entrepreneurship Monitor para os
Estados Unidos, patrocinada pelo Babson College. Os resultados do empreendedorismo social estão incluídos em H. Neck, C. Brush
e E. Allen, “Exploring Social Entrepreneurship Activity in the United States: For-Profit Ventures Generating Social and Economic
Value”, Working Paper, Babson College.
149
http://www.scojo.com/eyewear.aspx.
150
Acesse http://www.fourthsector.net/ para mais informações.
151
H. Rittel e M. Webber, “Dilemmas in a General Theory of Planning”, Policy Sciences 4 (1973), pp. 155–69.
152
Idem, p. 160.
153
www.state.gov/g/oes/rls/or/81537.htm.
154
Ibid.
155
M. Pipher, “Society Fears the Aging Process”, em The Aging of the Population, ed. L. Egendorft (1999), p. 53.
156
The Millennium Development Goals Report 2005, p. 3 (http://www.un.org/millenniumgoals/background.html).
157
C. Clark, “RISE Capital Market Report: The Double Bottom Line Private Equity Landscape in 2002–2003”, Columbia Business
School, 2003.
158
Ibid.
159
http://www.solcap.com/objective.html.
160
R. John, “Venture Philanthropy: The Evolution of High-Engagement Philanthropy in Europe”, Working Paper, Oxford Said
Business School, Skoll Center for Entrepreneurship, 2006.
161
http://www.newprofit.com.
162
C. Preston, “Entrepreneurs Are among Most Generous Wealthy, Report Finds”, Chronicle of Philanthropy 20, n. 5 (13 dez. 2007).
Estudo de caso
Perguntas preparatórias
1. Discuta a adequação da GBI ao caminho com fins lucrativ os que Eileen O’Brien escolheu.
2. Quando é que se pode abandonar o lucro econômico a fim de aumentar os retornos sociais?
Como podem ser medidos os retornos sociais? Você consegue atribuir um v alor monetário aos
benefícios sociais e ambientais?
3. Qual é a v antagem para Michelle Foster se a NCV for bem-sucedida? Quais são os riscos
profissionais que ela enfrenta?
4. Como Foster dev e posicionar a si mesma e à equipe antes de lev antar um fundo de follow-on?
Michelle Foster olhou para os crachás que ainda estav am sobre a mesa da frente. O clima
estranhamente tempestuoso no noroeste tinha deixado muitas pessoas longe de sua conferência sobre
alternativ as de financiamento para empresas em crescimento. O ev ento foi parcialmente patrocinado
pelo fundo de capital de Foster, a Northw est Community Ventures (NCV). Depois de obter permissão
para inv estir em comunidades rurais em Oregon e no estado de Washington, o grupo de Foster
dependia desse tipo de ev ento para atrair e construir a confiança dos empreendedores rurais que
trabalhav am longe do mundo do capital de risco tradicional.
No início de 2005, a NCV tinha pouco mais de oito anos restantes de sua carta de dez anos. No
entanto, Foster já estav a pensando em como se posicionar melhor para lev antar um fundo de follow -
on no ano 3. Como acontece com qualquer fundo de risco, ela estav a à procura de inv estidores muito
antes de aparecerem os resultados de desempenho por seu esforço atual. Sua preocupação era
saber se os inv estidores institucionais poderiam ser atraídos para a marca da NCV de capital de risco
socialmente responsáv el — especialmente se retornos melhores estiv essem disponív eis em outros
lugares, com menor risco.
No entanto, seu principal desafio era Eileen O’Brien, fundadora apaixonada de uma organização
irmã da NVC, sem fins lucrativ os e de alto nív el. No início, suas filosofias de negócios muito diferentes
tinham sido uma fonte de respeito, curiosidade filosófica e até mesmo div ersão. Cada v ez mais, no
entanto, esse relacionamento foi sendo estressado pelas pressões que as duas mulheres estav am
enfrentando para satisfazer suas respectiv as — e altamente díspares — metas e obrigações.
* Este estudo de caso foi preparado por Carl Hedberg, sob a orientação da professora Natalie Taylor.
Copyright Babson College, 2005. Financiamento concedido pela F.W. Olin Graduate School e uma
doação da turma de 2003. Todos os direitos reserv ados.
FIGURA A
FIGURA B
O plano de negócios
Resultados esperados
Após terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Utilizar um modelo de plano de negócios comprovado — aperfeiçoado ao longo de quase 40 anos de uso.
2. Determinar o que precisa ser incluído no plano, por que e para quem.
3. Identificar algumas armadilhas no processo de elaboração do plano de negócios e entender como evitá-los.
4. Articular o que tem de ser feito para desenvolver e concluir um plano de negócios para seu empreendimento
proposto, e compreender o nível de compromisso necessário para transformar essa visão em um documento
escrito.
5. Explicar como um plano de negócios bem articulado é uma parte importante do processo empreendedor, e não
um fim em si mesmo.
6. Discutir e trocar ideias sobre o estudo de caso da Newland Medical Technologies, e avaliar o plano de negócios
desenvolvido por essa jovem empreendedora para levantar capital para sua empresa de dispositivos médicos.
QUADRO 8.1
O que fazer e o que não fazer na preparação de um plano de negócios
Fazer
Envolver toda a equipe administrativa na preparação do plano de negócios.
Demonstrar compromisso com o empreendimento investindo um montante significativo de tempo e dinheiro na preparação do plano.
Articular quais são os riscos e premissas críticos e como e por que são toleráveis.
Enunciar a proposta de negociação — quanto pagar por que parcela de propriedade das ações — e como os investidores vão ganhar.
Lembrar que o plano não é o negócio e que um quilo de implementação vale dois quilos de planejamento.
Aceitar encomendas e clientes que vão gerar um flux o de caix a positivo, mesmo que isso signifique que você tem de adiar a redação do plano.
Conhecer seus grupos alvo de investidores (por ex emplo, capitalistas de risco, investidores anjo, bancos ou empresas de leasing) e o que eles realmente
querem e do que gostam, e adequar seu plano nesse sentido.
Deix ar projeções realistas de mercado e de vendas impulsionarem as premissas subjacentes às planilhas financeiras, e não o inverso.
Não fazer
Ter pessoas anônimas e misteriosas na equipe administrativa (por ex emplo, um “Sr. G”, que atualmente é vice-presidente financeiro de outra empresa e que
vai se unir à sua empresa no futuro).
Fazer declarações ambíguas, vagas ou infundadas, como uma estimativa de vendas com base no que a equipe gostaria de produzir.
Descrever os produtos técnicos ou processos de fabricação usando jargão ou de uma forma que só um especialista pode compreender, porque isso limita a
utilidade do plano.
Gastar dinheiro no desenvolvimento de brochuras enfeitadas, apresentações em Pow erPoint e em Flash, e outros “enfeites”, em vez de mostrar o “filé”.
Perder tempo redigindo um plano quando você poderia estar fechando vendas e fazendo dinheiro.
Supor que você tem um negócio fechado quando você tem um aperto de mão ou um compromisso verbal, mas nenhum dinheiro no banco. (O negócio é
feito quando o cheque é compensado!).
Algumas dicas das trincheiras
As lições mais valiosas sobre como preparar um plano de negócios e conseguir capital de risco vêm
de empreendedores que tiveram sucesso nesses esforços. Tom Huseby163 é fundador e chefe da
Seapoint Ventures, nos arredores de Seattle, uma empresa de capital de risco aliada à Venrock
Venture Capital, à Venture Oak Partners e à Sevin-Rosen Venture Partners. Formado em
engenharia pela Universidade de Columbia e com um MBA de Stanford, Huseby passou 18 anos
na Raychem Corporation of California, trabalhando inicialmente em vendas, depois desenvolvendo
e administrando novos negócios e, por fim, administrando os negócios da Raychem em vários
países. Tom é um empreendedor notável que já arrecadou mais de $80 milhões de capital de risco
como CEO de duas empresas de telecomunicações start-up no início e em meados da década de
1990, que posteriormente se tornaram empresas de capital aberto: Innova Corporation (NASDAQ:
INNV) e Metawave Corporation (NASDAQ: MWAV). Considere a seguinte sabedoria que Tom
adquiriu a partir de sua própria experiência em ambos os lados da mesa de negociações:
CEO/empreendedor e capitalista de risco.
Capitalistas de risco
• Existem muitos capitalistas de risco. Quando você conhece um, pode acabar conhecendo todos
os mais de 700 deles.
• Obter um “não” dos capitalistas de risco não é tão difícil quanto conseguir um “sim”; qualifique
seus alvos e force os outros a dizerem não.
• Seja vago sobre quaisquer outros capitalistas de risco com quem você esteja falando.
• Nunca se reúna com um associado ou membro júnior de um fundo de capital de risco duas
vezes sem também se reunir com um sócio dessa empresa de capital de risco.
O plano
• Certifique-se que seus investidores atuais estejam tão desesperados quanto você.
• Crie um mercado para sua empresa.
• Nunca diga “não” a um preço de oferta.
• Recorra a um advogado com experiência em fechamento de negócios de risco.
• Não pare de vender até que o dinheiro esteja no banco.
• Transforme o acordo em um desafio.
• Nunca minta.
O processo de obtenção de recursos
• É muito mais difícil do que você jamais pensou que poderia ser.
• Você consegue durar muito mais tempo do que jamais pensou que pudesse.
• Os capitalistas de risco já fizeram isso antes e têm de fazer isso para o resto de suas vidas!
Esse conselho é especialmente valioso para qualquer empreendedor em busca de capital externo e
que está na expectativa de lidar com investidores.164
Como determinar se os investidores podem agregar valor
Uma das oportunidades mais frequentemente perdidas em todo o processo de desenvolvimento
de um plano de negócios e de tentar convencer investidores externos a contribuírem com seu
dinheiro é uma consequência da miopia dos fundadores em vender-vender-vender! A capacidade
de vender é um dos denominadores comuns entre a maioria dos empreendedores bem-sucedidos.
No entanto, com muita frequência, os empreendedores — geralmente sem dinheiro ou quase sem
— ficam tão obcecados com a venda para investidores potenciais que não fazem boas perguntas e
escutam pouco. Como resultado, esses fundadores aprendem pouco com esses investidores
potenciais, embora eles provavelmente saibam muito sobre a tecnologia, o mercado e os
concorrentes. Afinal de contas, esse é o negócio do investidor.
Os empreendedores que não apenas têm sucesso no desenvolvimento de um ótimo conceito de
negócio, mas também atraem os investidores certos que podem agregar um grande valor ao
empreendimento através de sua experiência, sabedoria e redes de contato geralmente são ouvintes
muito habilidosos. Eles usam a oportunidade, além de apresentarem seu plano e se venderem, para
fazer uma investigação cuidadosa com os investidores potenciais: Você já viu nosso conceito, nossa
história e nossas estratégias; o que nos falta? Onde estamos vulneráveis? Como você nos lançaria?
Quem vai nos lançar? Como você modificaria nossa estratégia? O que você faria diferente? Quem
precisamos contratar para fazer isso dar certo? O que você acha que tem de acontecer para fazer
disso um grande sucesso? Seja o mais franco possível.
Duas forças poderosas são desencadeadas nesse processo. Em primeiro lugar, como fundador,
você vai começar a perceber o nível de inteligência, conhecimento e, mais importante, criatividade
dos investidores em relação ao negócio proposto. Será que eles têm ideias criativas, insights e
maneiras alternativas de pensar sobre a oportunidade e a estratégia que você e sua equipe podem
não ter pensado? Isso permite que você, o fundador, saiba exatamente o valor que os investidores
podem agregar ao empreendimento e se sua abordagem para dizer a você e sua equipe que vocês
estão “completamente errados” em algumas coisas é aceitável. Será que o relacionamento o
desgastaria ao longo do tempo e o desmoralizaria? Nesse processo, você vai aprender muita coisa
sobre seu plano e os investidores.
A segunda força poderosa é a mensagem implicitamente enviada aos investidores quando você faz
essa consulta genuína e ouve, em vez de começar a discutir e ficar na defensiva (isso é que eles
podem tentar levar você a fazer): Isso é o melhor que podemos fazer. Estamos altamente
comprometidos com nosso conceito e acreditamos que temos a estratégia certa, mas nossas mentes
estão abertas. Nós ouvimos; aprendemos; temos os joelhos dobrados; nós nos adaptamos e
mudamos quando as provas e ideias são convincentes; não somos cabeças-duras. Os investidores
ficam muito mais propensos a concluir que você é um fundador e tem uma equipe com quem eles
podem trabalhar.
O plano de negócios desidratado
Um plano de negócios desidratado geralmente tem de 4 a 10 páginas, mas raramente mais. Ele
abrange os pontos importantes, como aqueles sugeridos para o sumário executivo no guia de plano
de negócios que se segue. Essencialmente, um plano desse tipo documenta a análise e as
informações sobre a essência da oportunidade de negócio, as vantagens competitivas que a empresa
terá e os insights criativos que um empreendedor costuma ter.
Como eles geralmente podem ser preparados em poucas horas, é preferido pelos empreendedores
que têm dificuldade para encontrar tempo livre suficiente durante a operação de uma empresa para
escrever um plano completo. Em muitos casos, os investidores preferem um plano desidratado na
fase de triagem inicial.
Um plano desidratado não se destina a ser usado exclusivamente no processo de conseguir
dinheiro ou tomar emprestado; ele pode ser uma bússola valiosa para manter seu foco. Considere-o
um mapa do principal campo de batalha à frente, mas lembre-se que ele não fornece os dados e os
planos táticos necessários para realizar a batalha.
Quem elabora o plano de negócios?
Às vezes se pensa em contratar um profissional externo para preparar o plano de negócios de
modo que a equipe administrativa possa usar seu tempo para obter o financiamento e começar o
negócio.
Existem duas boas razões pelas quais não é uma boa ideia contratar profissionais externos. Em
primeiro lugar, no processo de planejamento e redação do plano de negócios, as consequências de
diferentes estratégias e táticas e os requisitos humanos e financeiros para o lançamento e a
construção do empreendimento podem ser examinados antes que seja tarde demais. Por exemplo,
um empreendedor descobriu, enquanto preparava seu plano de negócios, que o principal mercado
para seu produto biomédico estava em clínicas de repouso, e não em salas de emergência de
hospitais, como ele e seu sócio médico tinham presumido. Essa percepção mudou o foco do esforço
de marketing. Se ele tivesse deixado a preparação para alguém externo, isso poderia não ter sido
descoberto ou, no mínimo, é improvável que ele tivesse a mesma sensação de confiança e
compromisso com a nova estratégia.
Um olhar mais atento ao “quê”
A relação entre metas e ações
Considerar uma equipe entusiasmada com a ideia de uma nova empresa e que já passou por uma
boa dose de considerações e trabalho inicial avaliando a oportunidade (por exemplo, preenchendo
minuciosamente os “Exercícios de filtragem de oportunidades de negócios” do Capítulo 6). Os
membros da equipe acreditam que o negócio que estão considerando tem excelentes perspectivas
de mercado e se encaixa bem com as habilidades, a experiência, os objetivos pessoais, os valores e as
aspirações do empreendedor líder e da equipe administrativa. Eles agora precisam pesquisar sobre
os mais significativos riscos e problemas envolvidos no lançamento da empresa, as perspectivas de
lucro no longo prazo e as necessidades de financiamento futuro e de fluxo de caixa. A equipe deve
determinar as demandas operacionais em termos de requisitos relacionados a prazos de entrega,
sazonalidade, localização de instalações, marketing e estratégia de preços e assim por diante para
que possa agir.
Essas perguntas agora precisam ser respondidas de forma convincente com suas devidas provas
por escrito. O planejamento e o desenvolvimento de um plano de negócios desse tipo não é fácil
nem rápido. Na verdade, o planejamento eficaz é um processo difícil que exige tempo, disciplina,
compromisso, dedicação e prática. No entanto, também pode ser estimulante e divertido à medida
que são encontradas soluções e estratégias inovadoras para resolver problemas irritantes.
As habilidades para redigir um plano de negócios não são necessariamente as necessárias para
fazer com que um empreendimento seja um sucesso (embora algumas dessas habilidades
certamente sejam úteis). O melhor ponto de partida para o processo de planejamento — e uma
âncora durante — é o lema de uma pequena placa no escritório de Paul J. Tobin, ex-presidente da
Cellular One, uma empresa que foi pioneira no negócio de telefonia celular nos Estados Unidos. O
lema diz: “Podemos fazer” e é adequado para o planejamento e para assegurar que um plano tem a
finalidade prática à qual se destina.
Além disso, se uma empresa pretende utilizar o plano de negócios para levantar capital, é
importante a equipe fazer o planejamento e escrever o plano. Os investidores dão muita
importância à qualidade da equipe administrativa e a seu completo entendimento do negócio em
que estão se preparando para entrar. Dessa forma, os investidores querem ter certeza de que o que
eles veem é o que vão receber — ou seja, a análise da equipe e o entendimento da possibilidade de
risco e seu compromisso para com ela. Os investidores geralmente correlacionam a capacidade de
uma equipe para transmitir a visão com sua capacidade de torná-lo realidade. Eles vão investir em
uma equipe e em um líder, e não em um consultor. Nada menos que isso é aceitável, e tudo que
estiver abaixo disso normalmente é óbvio.
Segmentação e integração de informações
Ao planejar e redigir um plano de negócios é necessário organizar a informação de forma que ela
possa ser administrada e que seja útil.
Uma forma eficaz de organizar a informação com a ideia de desenvolver um plano de negócios é
segmentar a informação em seções, como mercado-alvo, indústria, concorrência, plano financeiro e
assim por diante, e depois integrar a informação em um plano de negócios.
Esse processo funciona melhor se as seções forem discretas e as informações que estiverem nelas
forem digeríveis. Então, a ordem em que as seções são desenvolvidas pode variar, e seções
diferentes podem ser desenvolvidas simultaneamente. Por exemplo, como o coração e a alma de
um plano se encontram na análise da oportunidade de mercado, da concorrência e de uma
resultante estratégia competitiva vencedora, é uma boa ideia começar com essas seções e integrar as
informações ao longo do caminho. Como os aspectos financeiros e operacionais do
empreendimento serão impulsionados pela taxa de crescimento e pela magnitude e pela substância
específica dos planos de receita do mercado, esses pontos podem ser desenvolvidos posteriormente.
A informação é posteriormente integrada ao plano de negócios. O sumário executivo é preparado
por último.
Estabelecendo etapas intermediárias
As etapas seguintes, centradas em ações a serem tomadas, delineiam o processo pelo qual um
plano de negócios é escrito. Essas etapas são apresentadas no exercício “Guia do plano de negócios”
ao final deste capítulo.
• Segmentando a informação. Deve ser elaborado um plano geral para o projeto, por seção, e ele
deve incluir as prioridades — quem é responsável por cada seção, o prazo de um primeiro
rascunho e o prazo para um projeto final.
• Criando uma agenda geral. Em seguida, crie uma lista de tarefas mais específicas; identifique
prioridades e quem ficará responsável por elas. Determine quando elas devem ser iniciadas e
quando serão concluídas. Essa lista precisa ser o mais específica e detalhada possível. As tarefas
devem ser divididas nos menores componentes possíveis (por exemplo, uma série de chamadas
telefônicas pode ser necessária antes de uma viagem). Em seguida, a lista deve ser analisada em
busca de conflitos e falta de realidade nas estimativas de tempo. Pares e parceiros de negócios
podem ser convidados a rever a lista e avaliar o realismo, o sincronismo e as prioridades.
• Criando um calendário de ação. As tarefas na lista de fazer precisam ser colocadas em um
calendário. Quando o calendário estiver completo, ele precisa ser reexaminado em busca de
conflitos ou falta de realismo.
• Fazendo o trabalho e escrevendo o plano. O trabalho necessário precisa ser feito, e o plano,
escrito. Os ajustes na lista de fazer e no calendário devem ser feitos, se necessários. Como parte
desse processo, é importante pedir a um advogado para revisar o plano para assegurar que não
contenha qualquer declaração enganosa, informação desnecessária e embargos. O plano também
precisa ser revisado por uma pessoa objetiva de fora da empresa, como um executivo com
mentalidade empreendedora que tenha significativa responsabilidade sobre os resultados de seu
negócio, ou um capitalista de risco que não seria um investidor potencial. Não importa o quanto
o empreendedor líder e sua equipe sejam bons em planejamento, haverá questões que eles vão
ignorar e certos aspectos da apresentação que são inadequados ou pouco claros. Um bom revisor
também pode atuar como caixa de ressonância no processo de desenvolvimento de soluções
alternativas para os problemas e de responder às perguntas que os investidores provavelmente
devem fazer.
QUADRO 8.2
Sumário do plano de negócios
I. SUM ÁRIO EXECUTIVO VII. PLANO DE FABRICAÇÃO E OPERACIONAL
Descrição do conceito do negócio e da oportunidade e da estratégia do Ciclo operacional.
negócio. Localização geográfica.
M ercado- alvo e projeções. Instalações e benfeitorias.
Vantagens competitivas. Estratégia e planos.
A equipe. Regulamentação e assuntos jurídicos.
A oferta. VIII. EQUIPE DE GESTÃO
II. A INDÚSTRIA (SETOR INDUSTRIAL) E A EM PRESA E SEU(S) PRODUTOS(S) OU Organização.
SERVIÇO(S) Pessoal administrativo chave (os principais gestores).
A indústria (setor). Remuneração e participação acionária dos principais gestores.
A empresa e o conceito. Outros investidores.
O(s) produto(s) ou serviço(s). Emprego e outros acordos e planos de opções de ações e bônus.
Estratégia de entrada e de crescimento. Conselho administrativo.
III. PESQUISA E ANÁLISE DE M ERCADO Outros acionistas, direitos e restrições.
Clientes. Consultores e serviços profissionais de apoio.
Dimensão do mercado e tendências. IX. SUSTENTABILIDADE E IM PACTO
Concorrência e vantagens competitivas. Questões de sustentabilidade do empreendimento.
Estimativa de participação de mercado e vendas. Impacto sobre o meio ambiente.
Avaliação contínua do mercado. Impacto sobre a comunidade.
IV. ANÁLISE ECONÔM ICA DA EM PRESA X. CRONOGRAM A GERAL
M argens bruta e operacional. XI. RISCOS, PROBLEM AS E HIPÓTESES CRÍTICOS
Potencial de lucro e durabilidade. XII. O PLANO FINANCEIRO
Custos fix os, variáveis e semivariáveis. Demonstração de resultados e balanço patrimonial atuais (caso a empresa já
M eses para atingir o ponto de equilíbrio. ex ista).
M eses para atingir o flux o de caix a positivo. Demonstrações de resultados pro forma (projetado).
V. PLANO DE M ARKETING Balanço patrimonial pro forma (projetado)
Estratégia global de marketing. Análise do flux o de caix a pro forma (projetado).
Precificação. Gráfico e cálculo do ponto de equilíbrio (projetado).
Táticas de vendas. Controle de custos.
Serviço e políticas de garantia. Destaques.
Publicidade e promoção. XIII. A OFERTA
Distribuição. Financiamento desejado.
VI. PLANOS DE DESIGN E DESENVOLVIM ENTO A oferta.
S t at us e tarefas de desenvolvimento. Capitalização.
Dificuldades e riscos. Utilização dos recursos (usos e fontes).
M elhoria do produto e novos produtos. Retorno dos investidores.
Custos. XIV. APÊNDICES
Questões proprietárias.
Um plano para expansão de um negócio ou para uma situação como uma aquisição alavancada
normalmente leva metade desse esforço, porque se sabe mais sobre o negócio, incluindo o mercado,
a concorrência, informações financeiras e contábeis, e assim por diante.
O Quadro 8.2 é um exemplo de sumário de um plano de negócios (não confundir com sumário
executivo, que é a síntese do plano de negócios). A informação apresentada é incluída na maioria
dos planos de negócios mais eficazes e é uma boa estrutura a seguir. Organizar o material em seções
faz com que as informações sejam mais administráveis. Além disso, embora a quantidade de
detalhes e a ordem de apresentação possam variar para uma empresa específica de acordo com suas
circunstâncias, a maioria dos planos de negócios eficazes contém essa informação de alguma forma.
(A quantidade de detalhes e a ordem em que as informações são apresentadas são importantes.
Elas podem variar para cada situação específica e dependem do objetivo do plano e do tempo e da
fase do empreendimento, entre outros fatores.)
Esta lista vai ajudá-lo a alocar seu tempo e manter seu foco!
Esses pontos também serão importantes enquanto você se preparar para uma apresentação
oral do plano de negócios.
Apresente sua ideia rapidamente e dê hierarquia aos seus dados — os detalhes são
importantes!
→ Prenda os leitores, especialmente no sumário executivo, apresentando uma oportunidade
irrefutável em que você pode:
• Identificar uma necessidade ou oportunidade em um mercado grande e crescente.
• Conceituar um negócio que vai preencher essa necessidade ou aproveitar essa
oportunidade.
• Demonstrar que você tem o conhecimento e a equipe para construir de maneira eficaz um
negócio rentável e sustentável (ou identificar o modo como você vai desenvolver esse tipo de
equipe).
→ Priorize suas ideias em três categorias:
• Essencial — sem isso o plano não faz sentido.
• É bom saber — apoia diretamente e fornece o contexto para suas ideias essenciais.
• Interessante — oferece um alto nível de entendimento da dinâmica do mercado, do setor
industrial, e assim por diante, mas pode não se relacionar diretamente aos detalhes práticos
de seu plano de negócios. Informações interessantes devem ser relegadas para o apêndice, de
modo a não atrapalhar o leitor.
→ Articular o tamanho de seu mercado: quem são seus clientes, por que eles vão comprar
seu produto ou serviço, quanto eles vão comprar e a que preço.
→ Incluir evidências de clientes — isso aumenta sua credibilidade.
→ Discutir a concorrência, e por que o cliente vai comprar seu produto ou serviço e não o
dos concorrentes.
→ Articular sua estratégia de marketing. Como os clientes têm conhecimento de seu produto
e serviço, e como você vai comunicar os benefícios?
→ Ser específico ao discutir sua equipe. Articular quais experiências relevantes cada um leva
para o negócio. Se você não consegue identificar gestores (ou não tem a equipe completa),
deve indicar o tipo de experiência que deseja e fazer um plano para recrutar essa pessoa.
→ Editar os detalhes — foco na clareza e evitar erros de digitação — uma apresentação
desleixada diz muito!
* Os autores agradecem a Greg White, da Chicago Venture Partners, que desenvolveu esta lista, e ao amigo de longa data e
empreendedor Frederic Alper por compartilharem esse conteúdo conosco.
Resumo do capítulo
EXERCITANDO A MENTE
1. Você pode ter a miopia que leva ao pensamento de apenas vender-vender-vender, mas
ela deve ser equilibrada com ouvir, investigar, e aprender. Você consegue pensar em uma
época em que tenha vendido demais? O que você aprendeu com essa experiência?
2. Em que condições e circunstâncias não é vantagem para você preparar um plano de
negócios?
3. Identifique três empresas com mais de $10 milhões em vendas que são rentáveis e não
tinham um plano de negócios quando foram criadas (pesquise exemplos na revista Exame
PME). Por que, e o que você aprendeu com isso?
4. Algumas das críticas e informações mais valiosas para seu empreendimento virão de fora
de sua equipe. Quem mais deve avaliar seu plano? Quem conhece a
indústria/mercado/tecnologia/concorrentes?
5. Um amigo pede para você dar uma olhada em um plano de negócios. Você é diretor de
uma empresa que é concorrente potencial do empreendimento proposto no plano. O que
você faria?
Acesse www.elsevier.com.br/josedornelas ou www.josedornelas.com e faça o download dos
exercícios do Capítulo 8, incluindo “Guia do plano de negócios” e “A equipe de confiança
virtual”.
163
Os autores são extremamente gratos a Tom Huseby, um velho amigo, pescador companheiro e explorador do mundo selvagem,
por compartilhar seu talento e seus insights extraordinários ao longo dos anos em aulas no Babson College, Harvard Business School
e no Kauffman Fellows Program, e por sua contribuição aqui.
164
Veja também W. A. Sahlman, “How to Write a Great Business Plan”, Harvard Business Review, jul.–ago. 1997, pp. 98–108, um
excelente artigo sobre planos de negócios.
Estudo de caso
Perguntas preparatórias
1. Discuta o processo pelo qual Sarah Foster e seus parceiros passaram para lev ar ao mercado seus
dispositiv os médicos. Como eles poderiam ter ev itado alguns dos perigos com que se depararam?
2. Examine a estratégia da New land à luz das circunstâncias especiais desse setor industrial. Qual é
sua recomendação para impulsionar a empresa à frente?
3. Em v ista de seu plano estratégico para a New land Medical, como Foster pode conseguir um
equilíbrio entre seus objetiv os e compromissos pessoais e profissionais?
Tudo parecia um plano perfeito. Com dois inv estidores anjos assertiv os guiando sua empresa de
equipamentos médicos para o que parecia ser uma v ia de aquisição rápida, Foster e seu marido
decidiram que era o momento certo para começar uma família. No entanto, no outono de 2005 (na
metade do primeiro trimestre da grav idez), tudo mudou.
Foster, cofundadora e presidente da New land Medical Technologies, agora se sentia obrigada a
reconsiderar seriamente o curso que hav ia estabelecido para a empresa. Com isso, ela teria de fazer
algumas escolhas difíceis para tentar equilibrar a maternidade e suas paixões profissionais.
Reconhecimento da oportunidade
Sarah Foster estav a trabalhando com projetos de implante de quadril para a Johnson & Johnson em
Massachusetts hav ia dois anos, quando a sede corporativ a da empresa anunciou que estav a
mudando sua div isão para I ow a, em direção ao oeste dos Estados Unidos. Foster adorav a o trabalho,
mas ela e o marido, professor em uma faculdade local, também gostav am de v iv er na área de Boston.
Ela rejeitou a oferta e, em v ez disso, conseguiu se graduar em engenharia no MI T e em Stanford para
garantir um emprego perto de casa. Ainda assim, a brilhante engenheira nunca perdeu de v ista seu
principal objetiv o de carreira:
Eu estav a procurando uma oportunidade v oltada para equipamentos médicos desde que saí da
Johnson & Johnson. Então um amigo meu — urologista no Brigham and Women’s Hospital, em Boston —
disse-me que hav ia uma necessidade de melhores stents1 em urologia, pois a maior parte do foco da
indústria é v oltada para a área cardíaca. Ele ressaltou que, apesar de ser conhecido que o ureter
naturalmente se dilata na presença de um corpo estranho, nenhum stent tinha aprov eitado totalmente
esse fato. Sentimos que estimular suav emente uma dilatação maior melhoraria o fluxo de urina e
poderia até mesmo ajudar a passar os cálculos renais.
Os cálculos renais, ou pedras ureterais, eram uma doença debilitante que afetav a cerca de 10% da
população americana. A dor da doença prov eniente do cálculo era mais grav e quando o cálculo se
alojav a no ureter e obstruía o fluxo da urina.
Um paciente que chegav a com cálculos renais geralmente era tratado como uma emergência. Os
médicos das salas de emergência geralmente administram um medicamento para dor e quase sempre
consultam um urologista. O tratamento imediato e de curto prazo tinha de ser seguro e eficaz e manter
as opções do paciente em aberto para procedimentos posteriores.
Até o final da década de 1990, a maioria dos urologistas atendia a essas necessidades com o “duplo
J” — um stent padrão de poliuretano inserido no ureter para aliv iar a dor, permitindo que a urina fluísse
ao redor do cálculo. Com o duplo J, os cálculos muitas v ezes permaneciam no ureter; a escolha do
procedimento para remov er esses cálculos estav a relacionada ao tamanho e à localização do
cálculo, bem como ao acesso a equipamentos sofisticados.
Pacientes com cálculos menores que 5 mm normalmente esperav am, com dor, alguns dias ou até
semanas para o cálculo passar. Os cálculos maiores eram quebrados usando-se tecnologias de
ultrassom e laser — deixando fragmentos pequenos demais para retirar, mas grandes o suficiente para
garantir uma passagem dolorosa. O uso de cestos era um procedimento secundário muito eficaz na
remoção de fragmentos isolados de cálculo, mas exigia um cirurgião qualificado e um longo tempo de
cirurgia.
No inv erno de 1999, Foster e o Dr. Grainer começaram a fazer um brainstorming para um stent
coberto que pudesse ser implantado da mesma maneira e com o mesmo material que o duplo J. Uma
v ez dentro do ureter, o rev estimento seria retirado e seus stents alargariam a passagem com uma série
de bulbos de expansão ao longo de seu comprimento. Embora seu objetiv o fosse liberar o fluxo de
urina em um grau maior do que os produtos concorrentes, durante seus testes iniciais em suínos, eles
notaram que, conforme o dispositiv o era lentamente retirado do ureter, os cálculos ficav am presos nos
bulbos que pareciam cestos. A remoção de cálculos do ureter sem traumas nunca tinha sido feita
antes; agora eles tinham seu produto.
* Este estudo de caso foi preparado por Carl Hedberg, sob a orientação do professor Stephen Spinelli.
© Copyright Babson College, 2005.
O fundador e a equipe
Os fundadores empreendedores dev em assumir uma função pessoal de atrair, motiv ar, inspirar e
manter uma equipe eficaz de especialistas e generalistas. A qualidade dessa equipe nunca foi tão
crítica e importante quanto é agora. O nov o milênio anunciou uma onda de nov as oportunidades que
exigirão equipes inteligentes e criativ as. Algumas autoridades intitularam esta época como a era da
comunicação, caracterizada pela inov ação galopante — alimentada pela capacidade de
engenheiros inv entiv os e empreendedores criativ os de instantaneamente acessar e compartilhar
informações no mundo todo. Pressionados pelo estouro da bolha das pontocom e pela recessão que
se seguiu, inv estidores priv ados e de capital de risco têm uma apreciação renov ada pela sabedoria
testada pelo tempo de que nov as empresas bem-sucedidas muitas v ezes o são dev ido à equipe. Nesta
seção, v eremos as questões de liderança inerentes à construção de uma empresa do zero — e as
significativ as habilidades de recrutamento, v endas e administração que o(s) fundador(es) dev em
aplicar à medida que a empresa cresce e passa por v árias etapas.
Os liv ros de empreendedorismo agora dominam as seções de negócios nas maiores liv rarias e um
número crescente de alunos e profissionais estão buscando oportunidades de carreira como
empreendedores. Embora isso tenha criado um significativ o consórcio de talentos para apoiar o
desenv olv imento de nov as empresas, um dos aspectos mais críticos do empreendedorismo é ser
capaz de atrair as pessoas certas: participantes da equipe cujas habilidades e conhecimentos sejam
fundamentais para o sucesso do empreendimento. A ambiguidade, o risco e a necessidade de
coletiv amente jogar uma moeda em cenários competitiv os em constante mudança exigem que as
equipes empreendedoras sejam maiores que a soma de suas partes. Assim como em um casamento,
formar e construir essa equipe pode ser uma experiência um tanto não científica, ocasionalmente
imprev isív el e frequentemente surpreendente. Também colocaremos uma lente de aumento sobre a
parte “pessoas” do modelo Timmons.
O empreendedor solitário pode se sair bem, mas é o montador de equipes que desenv olv e uma
organização e uma empresa com v alores sustentáv eis e atraentes opções de colheita. A v isão do que
esses fundadores estão tentando realizar oferece as regras tácitas básicas que se tornam o tecido, o
caráter e o objetiv o por trás da empresa. Empreendedores líderes eficazes são capazes de construir
uma cultura em torno da missão e da marca da empresa ao recompensar o sucesso, encorajar o
fracasso honesto, compartilhar a riqueza com aqueles que ajudaram a criá-la, e estabelecer altos
padrões éticos de conduta. O Capítulo 10 — A ética e o empreendedor — aborda as questões
complexas e delicadas da ética e da integridade para o empreendedor, e como essas decisões e
escolhas podem ter um impacto significativ a sobre o sucesso futuro.
Capítulo 9
Resultados esperados
Após terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Explicar a diferença entre um líder empreendedor e um administrador ou gerente, e discutir por que a equipe é
tão importante.
2. Identificar as habilidades que são relevantes para liderar uma empresa através de águas turbulentas.
3. Entender as habilidades, competências e filosofias do pensamento empreendedor que os fundadores aplicam
conforme formam, constroem e lideram a equipe de um novo empreendimento, e discutir as questões críticas e
obstáculos que eles enfrentam.
4. Analisar questões de recompensas e participação no capital de um novo empreendimento, e desenvolver uma
abordagem pro forma para seu próprio empreendimento.
5. Analisar e discutir o caso Maclean Palmer.
O líder empreendedor
A citação com que começamos este capítulo diz tudo: as pessoas querem ser lideradas — e não
gerenciadas, manipuladas ou forçadas a fazerem coisas só porque precisam de um salário. Essa é a
razão pela qual, nas duas últimas décadas nos Estados Unidos, e agora no mundo todo, a batalha
por consciência e talento, de vez em quando, está sendo vencida por líderes empreendedores. Os
jovens de hoje são atraídos para os ambientes de trabalho empolgantes, energéticos e apaixonantes
criados por uma nova geração de empreendedores.
Você ama o lugar onde trabalha e para quem trabalha? Você o recomendaria para seus melhores
amigos e família? Por quê? Existe um círculo familiar para as respostas; elas se resumem à liderança
empreendedora e à cultura de equipe que são criadas e construídas pelos fundadores da
companhia. Eles criam energia e entusiasmo e transformam ideias e sonhos em visões palpáveis que
as pessoas acreditam que podem atingir. Em um extremo estão a Microsoft e Bill Gates, uma das
mais bem-sucedidas start-ups e o líder empreendedor do século passado. Um exemplo menos
conhecido, mas igualmente impressionante é o de Matt Coffin, que se formou na Babson College
em 1999. Ele fez o LowerMyBills.com sair do nada e chegar até 2.501 funcionários, e em maio de
2005 ele vendeu o site para a Experian por $330 milhões. Ele permaneceu lá por dois anos para
administrar a empresa como um líder dinâmico e motivador antes de decidir que estava na hora de
começar algo novo. As habilidades de liderança empreendedora que ele desenvolveu
impulsionaram a empresa para um crescimento rápido e bem-sucedido. É a habilidade de conduzir
uma empresa de grande potencial pelos estágios de crescimento que define o empreendedor do
século XXI.
Os líderes empreendedoras como Gates e Coffin sintetizam o raciocínio, as atitudes, os valores e
as crenças empreendedoras que discutimos em detalhes no Capítulo 2. Sua abordagem à liderança
em si se manifesta em ações e comportamentos que atraem e mantêm os melhores talentos. O que
há de tão atraente neles? Por um lado, eles lideram através de ações, não palavras, e dão o exemplo
com um trabalho altamente ético, integro, honesto e justo. Eles geralmente têm um aguçado senso
de humor e uma espontaneidade que gera lealdade, bem como confiança: O que você vê é o que
você recebe. Sua criatividade e sua capacidade de inovação, especialmente no processo de criação
de oportunidades com novas ideias de produtos ou serviços, ou para resolver um complicado
problema de pessoal ou da organização, invariavelmente lhes rendem confiança e seguidores
entusiasmados. Eles são rápidos em dar crédito e reconhecer bons desempenhos, e sempre aceitam
mais do que a sua parcela de culpa quando as coisas não funcionam. Eles são construtores de
equipes, transformam os outros em heróis e não precisam estar no centro das atenções e do
reconhecimento.
Isso é vital em novos empreendimentos, pois a chave para seu sucesso, como demonstramos
anteriormente, é o talento e a qualidade do líder empreendedor e da equipe de fundadores. Existe
pouco tempo ou prioridade em uma start-up para coaching, treinamento, aconselhamento e
desenvolvimento de novas contratações. Cada novo contratado tem de pensar e agir como um dos
donos e agir sem muita orientação e direção.
As pessoas reconhecem os líderes quando se deparam com eles
Durante anos, pesquisas têm mostrado que colegas são mais eficientes para identificar e classificar
líderes que observadores externos, pesquisadores e especialistas. Tanto no caso do time de esportes
da escola, de um clube ou de alguma outra organização, as pessoas têm um senso estranho e
intuitivo de quem são e quem serão os melhores líderes. Eles sabem quando alguém está
verdadeiramente comprometido em vez de apenas dizer palavras e apresentar movimentos. Eles
distinguem o empreendedor excepcionalmente criativo e inventivo, com um olfato para
oportunidades. Eles sabem quando as pessoas realmente se interessam e mostram respeito pelos
outros. Uma conversa recente, por exemplo, com o chefe de uma clínica médica de mais de 30
profissionais revelou que, embora o chefe seja considerado um bom gerente, ele claramente não é
um líder. “Ele simplesmente não parece se importar com quem eu sou ou o que faço. Estou aqui há
mais de um ano e ele nunca perguntou sobre meus dois filhos, minha mulher ou qualquer um dos
meus interesses pessoais”. Compreensivelmente, esse talentoso médico no meio da carreira planeja
mudar de emprego assim que puder.
Pense em alguns dos termos coloquiais que descrevem muitos gerentes e administradores que não
são líderes: controlador, banana, defensivo, caxias, burocrata, dominador ou ditador, detalhista,
acusador, manipulador, egocêntrico, e assim por diante. Não é de admirar que os líderes
empreendedores estejam ganhando a corrida para atrair e manter os melhores talentos.
A importância da equipe
A ligação com o sucesso
As evidências sugerem que uma equipe de gestão pode fazer toda a diferença no sucesso de um
empreendimento. Existe uma forte ligação entre o potencial de crescimento de um novo
empreendimento (e sua capacidade de atrair capital além dos recursos dos fundadores vindos de
apoiadores privados e de capital de risco) e a qualidade de sua equipe administrativa.
A existência de uma equipe administrativa de qualidade é uma das principais diferenças entre
uma empresa de alto potencial e uma empresa que fornece a seu fundador simplesmente uma
alternativa de emprego e a capacidade de empregar, talvez, alguns membros da família e outras
pessoas. O empreendedor solitário pode conseguir se sustentar, mas o construtor de equipes cria
uma organização e uma empresa com valor substancial e opções de colheita.
Empreendimentos que não possuem equipes não são necessariamente predestinados ao cemitério
dos novos empreendimentos. No entanto, construir um empreendimento de alto potencial sem
uma equipe é extremamente difícil. Alguns empreendedores adquiriram um desgosto por parceiros,
e alguns líderes empreendedores só conseguem ser felizes se tiverem controle total; ou seja, eles
querem empregados, não parceiros, seja internamente ou como investidores externos. Veja, por
exemplo, o caso de um empreendedor que fundou uma empresa de alta tecnologia que cresceu de
forma constante, mas lenta, ao longo de dez anos e chegou a quase $2 milhões em vendas. Como
novos padrões e avanços tecnológicos em fibra óptica atraíram muito interesse de capitalistas de
risco, ele conseguiu mais de uma oferta de até $5 milhões em financiamento, que ele rejeitou
porque os investidores queriam ser donos de 51% ou mais de seu empreendimento. De maneira
simples e direta, ele disse: “Não quero abrir mão do controle sobre algo que eu trabalhei tão
arduamente e por tanto tempo para criar”. Embora seja claramente uma exceção à regra, esse
empreendedor conseguiu fazer o empreendimento crescer e chegar a mais de $20 milhões em
vendas.
Desde a década de 1970, inúmeros estudos têm apontado para a importância de uma abordagem
de equipes à criação de novos empreendimentos. Equipes sólidas são muito mais propensas a atrair
capital de risco; start-ups lideradas por equipes têm uma chance maior de sobrevivência; e as
empresas muitas vezes percebem maiores retornos globais do que empresas dirigidas por
empreendedores individuais.
Não apenas a existência de uma equipe é importante, mas também a qualidade dessa equipe.
Devido a isso, os investidores de capital de risco frequentemente são muito ativos para ajudar a
modelar — e remodelar — equipes administrativas. Um estudo realizado no final da década de
1990 demonstrou a importância crescente da formação da equipes, do histórico de trabalho em
equipe e da cooperação entre as equipes de novos empreendimentos e os capitalistas de risco.165
Isso é especialmente verdadeiro hoje, com empreendimentos altamente técnicos em áreas como
biotecnologia, nanotecnologia e fotônica.
Existe, então, uma função importante que o(s) parceiro(s) certo(s) pode(m) exercer em um
empreendimento. Além disso, cada vez mais evidências sugerem que os empreendedores
enfrentam a solidão, o estresse e outras pressões. No mínimo, encontrar o parceiro certo pode
atenuar essas pressões.166 A chave é identificar e trabalhar com o(s) parceiro(s) certo(s). Conseguir
os parceiros certos e trabalhar com eles de forma bem-sucedida geralmente envolve antecipar e
lidar com algumas questões críticas e obstáculos quando ainda não for cedo demais nem tarde
demais.
Fases de crescimento
Uma visão teórica
Você pode ver rapidamente as implicações e a importância do conceito de equipe quando pensa
sobre o que Matt Coffin durante o crescimento de uma empresa que chegou a mais de 250
empregados em um curto espaço de tempo. Desafios únicos, que você nunca enfrentou antes,
podem ocorrer conforme uma empresa cresce e passa por diferentes fases, mais ou menos como ir
da infância à adolescência e à idade adulta.
É evidente que o empreendedorismo não é estático. O Gráfico 9.1 representa uma visão teórica do
processo de gestação e crescimento de novos empreendimentos e as transições que ocorrem em
diferentes limites nesse processo. Os empreendimentos são plantados: eles brotam, crescem e são
colhidos. Mesmo aquelas iniciativas bem-sucedidas que não são cultivadas até a colheita (ou seja,
aquelas que foram definidas como “atraentes”) passam por fases de crescimento. Essa curva suave
em forma de S no gráfico raramente é replicada no mundo real. Se nós realmente registrássemos o
progresso da maioria das empresas emergentes, a curva seria uma linha irregular e recortada, com
muitos altos e baixos; essas empresas experimentam períodos de rápido progresso, seguidos de
recuos e crises.
GRÁFICO 9.1
Para efeito de ilustração, as fases de um empreendimento são apresentadas em termos de tempo,
vendas e número de empregados. É nas fronteiras entre as fases que os novos empreendimentos
parecem experimentar transições. Diversos pesquisadores notaram que um novo empreendimento
invariavelmente passa por transições e enfrentam determinadas questões. Assim, o gráfico mostra as
transições cruciais durante o crescimento e as principais tarefas administrativas do CEO ou dos
fundadores. Mais importante e mais difícil para o empreendedor fundador ou um CEO é lidar com
as transições cruciais e com a mudança no foco da liderança — que passa da liderança para gerentes
líderes — conforme uma empresa cresce e passa de cerca de 30 funcionários para 50, 75 e assim por
diante.
A fase de pesquisa e desenvolvimento, por vezes denominada estágio inicial, é caracterizada por
um único empreendedor aspirante, ou uma pequena equipe, fazendo as investigações e diligências
necessárias para sua ideia de negócio. O estágio inicial pode levar apenas alguns meses ou pode
durar anos. Pesquisas indicam que, se uma ideia não se transforma em uma preocupação constante
dentro de 18 meses, as chances de uma start-up caem drasticamente. Os empreendedores
emergentes têm muitos ajustes e começos, e o modelo de negócios pode mudar muitas vezes no
processo.
A fase de start-up normalmente abrange os primeiros dois ou três anos, mas talvez até sete anos, é
de longe a fase mais perigosa e é caracterizada pelo impulso direta e exaustiva, pela energia e pelo
talento empreendedor de um líder empreendedor e de um ou dois membros importantes da
equipe. É aqui que se estabelece uma massa crítica de resultados humanos, de mercado e
financeiros, e a flexibilidade dos concorrentes, enquanto se conquista a confiança de investidores,
banqueiros e clientes. O nível de vendas alcançado varia muito, mas normalmente fica entre $2
milhões e $20 milhões.
A nova empresa inicia, então, sua fase de alto crescimento, caracterizada por uma taxa
constantemente maior de crescimento ou a inclinação da curva de receita. O ponto exato em que
isso ocorre raramente pode ser identificado por uma data no calendário até bem depois do fato. É
nessa fase que novos empreendimentos apresentam uma taxa de fracasso superior a 60%; ou seja, é
nessa fase que os limões apodrecem.
Assim como acontece nas outras fases, o tempo necessário para atravessar a fase de alto
crescimento, bem como a magnitude das mudanças que ocorrem durante o período, varia muito.
Provavelmente, o desafio mais difícil para o empreendedor fundador ocorre durante a fase de alto
crescimento, quando ele descobre que é necessário abrir mão do poder e do controle (através de
veto) sobre as principais decisões que ele sempre teve, e quando as maiores responsabilidades
precisam ser delegadas sem se abdicar da liderança e da responsabilidade por resultados. Mas os
desafios não param por aí. Por exemplo, as vendas da divisão de forno de micro-ondas Litton
chegaram a $13 milhões, e a empresa tinha 275 empregados. O plano de longo alcance exigia
chegar a um volume de vendas de $100 milhões em cinco a sete anos (isto é, crescendo a uma taxa
composta de 40% ao ano). O chefe da divisão disse: “Depois de ter estudado o mercado nos últimos
dois anos, eu estava convencido de que o único limite para nosso crescimento era a incapacidade de
nossa organização crescer tão rapidamente quanto as oportunidades de mercados”.167
Depois da fase de alto crescimento, a empresa passa então ao que é chamado de fase de
maturação. Nesta fase, a questão principal da empresa não é mais a sobrevivência; em vez disso, é
um crescimento lucrativo e estável. A fase de estabilidade geralmente se segue.
Gerenciando para o crescimento rápido
A transição da fase de rápido crescimento para a maturidade e a estabilidade é ainda menos
reconhecível e menos garantida no século XXI. Taxas mais altas de adoção de novas tecnologias e a
redução da importância da densidade de ativos para obter a escala do modelo de negócio fazem
com que as fases de maturidade e estabilidade sejam menos duradouras. O empreendedorismo se
tornou uma competência essencial a ser exigida da empresa moderna.
Administrar para o crescimento rápido envolve uma orientação de liderança não encontrada em
ambientes maduros e estáveis. (Esse assunto será abordado novamente no Capítulo 17.) Por um
lado, o princípio de que nossa responsabilidade deve ser igual à autoridade de uma pessoa muitas
vezes é contraproducente em uma empresa de rápido crescimento. Em vez disso, os resultados
geralmente exigem uma estreita colaboração do administrador com pessoas que não sejam seus
subordinados, e os administradores invariavelmente têm responsabilidades muito superiores à sua
autoridade. A política e o poder pessoal podem ser uma forma de vida em muitas instituições
maiores e estagnadas, conforme administradores fazem manobras para conseguir influência e um
pedaço de uma torta que está encolhendo em um jogo de soma zero; mas, em empresas de
crescimento rápido, o poder e o controle são delegados e a liderança é compartilhada. Todo mundo
está empenhado em fazer com que a torta fique maior, e o poder e a influência são provenientes
não apenas de atingir seus objetivos, mas também de contribuir para as realizações dos outros. A
influência também deriva de se manter em mente as metas globais, de resolver diferenças e de
desenvolver uma reputação como uma pessoa que obtém resultados, consegue liderar outras
pessoas e também consegue construir talento de liderança.
Portanto, entre empreendedores bem-sucedidos e empreendedores líderes, existe uma
capacidade bem desenvolvida de exercer influência sem poder formal. Essas pessoas são adeptas da
resolução de conflitos. Eles sabem quando usar a lógica e quando persuadir, quando fazer uma
concessão e quando exigir algo. Para administrar uma empresa bem-sucedida, o empreendedor
aprende a se entender com muitos eleitorados diferentes, muitas vezes com metas conflitantes — o
cliente, o fornecedor, o apoiador financeiro e o credor, bem como os sócios e outras pessoas dentro
da empresa. Da mesma forma, um líder empresarial deve operar em um mundo que está cada vez
mais interdependente. Na tentativa de aconselhar os administradores sobre a forma de exercer
“influência sem autoridade”, David L. Bradford e Allan R. Cohen afirmaram que, como líder, “você
não precisa apenas exercitar habilidades de influência com seus colegas e seu próprio patrão, mas
também ajudar as pessoas que trabalham para você a serem influenciadores eficazes —
influenciando até mesmo você — já que isso o libertará de passar um tempo maior buscando novas
oportunidades e trabalhando na organização acima de você e ao seu redor.”168
Considerando que os empreendedores bem-sucedidos são interpessoalmente apoiadores e
protetores — e não interpessoalmente competitivos — líderes empresariais bem-sucedidos
compreendem suas interdependências e aprenderam a incorporar o respeito mútuo, a
transparência, a confiança e o benefício a seu estilo de liderança. Fundamental para esse estilo
progressivo é a percepção e a prática da reciprocidade para ganho mútuo.169 Quando uma forte
necessidade de controlar, influenciar e exercer poder sobre outras pessoas caracteriza o
empreendedor líder, ou quando ele tem um apetite insaciável por derrubar um colaborador, a
empresa normalmente sofre com isso. Um estilo administrativo ditatorial, antagônico e dominador
torna difícil atrair e manter pessoas que têm sede de realização, responsabilidade e resultados.
Muitas vezes são escolhidos sócios e gerentes submissos. Frequentemente surgem conflitos
destrutivos sobre quem tem a palavra final, quem está certo e quais prerrogativas são o quê.
No cenário corporativo, a capacidade de “criar heróis” é identificada como um atributo essencial
de líderes empreendedores bem-sucedidos.170 Esses criadores de heróis tentam tornar a torta maior
e melhor, em vez de se agarrar possessivamente a uma torta pequena que é toda deles. Eles também
têm uma capacidade para relacionamentos interpessoais objetivos, que lhes permite suavizar as
diferenças individuais de opinião mantendo a atenção concentrada no objetivo comum a ser
atingido.171
O Quadro 9.1 caracteriza prováveis crises que as empresas em crescimento enfrentarão, incluindo
a erosão da criatividade pelos fundadores e membros da equipe; confusão ou ressentimento, ou
ambos, sobre papéis, responsabilidades e metas ambíguos; fracasso na clonagem dos fundadores;
especialização e erosão da colaboração; desejo de autonomia e controle; necessidade de
mecanismos e controles operacionais; e conflito e divórcio entre fundadores e membros da equipe.
O quadro traça outras questões que os líderes empresariais enfrentam.
QUADRO 9.1
QUADRO 9.2
O que os líderes empresariais precisam saber
Grande parte da educação empresarial tradicionalmente enfatiza e prepara os alunos para a vida
na administração. Não há nada de errado com isso, mas a educação que prepara os alunos para
iniciar e conduzir novos empreendimentos vibrantes e em crescimento não pode se dar ao luxo de
enfatizar a eficiência administrativa, as tarefas de manutenção, a propriedade de recursos e a
formalização institucional. Em vez disso, esse programa precisa enfatizar as habilidades necessárias
para a vida no empreendedorismo. Por exemplo, os líderes empreendedores eficazes precisam ser
especialmente habilidosos na gestão de conflitos, resolver as diferenças, equilibrar múltiplos pontos
de vista e demandas, e construir trabalho em equipe e consenso. Essas habilidades são
especialmente difíceis quando se trabalha com pessoas de fora da cadeia imediata de comando
formal.
Ao falar sobre empresas maiores, Kanter identifica como necessários: o poder e as habilidades de
persuasão; a habilidade na gestão de problemas que acompanham a participação da equipe e dos
funcionários; e a habilidade no entendimento de como a mudança é concebida e construída em
uma organização. Kanter observa:
Em resumo, os indivíduos não têm de fazer “grandes coisas”, a fim de que suas realizações
cumulativas acabem resultando em grande desempenho para a empresa. [...] Eles raramente são os
inventores do sistema “revolucionário”. Eles raramente fazem algo totalmente original ou que
ninguém, em nenhuma organização, jamais pensou. Em vez disso, eles frequentemente aplicam
ideias que se provaram em outros lugares, ou reorganizam as peças para criar um resultado melhor,
ou se dão conta de um problema potencial antes que ele se transforme em uma catástrofe e
mobilizam as ações para antecipá-lo e resolvê-lo.175
Um estudo de empresas de crescimento médio com vendas entre $25 milhões e $1 bilhão e com
crescimento de vendas e de lucro de mais de 15% ao ano durante cinco anos confirma a
importância de muitos desses mesmos fundamentos de administração de empresas.176 Por um lado,
essas empresas praticaram a administração voltada para a oportunidade. Segundo o estudo, elas
alcançaram o primeiro sucesso com um produto único ou uma maneira distinta de fazer negócios e,
muitas vezes, se tornaram líderes em nichos de mercado oferecendo um valor superior aos clientes,
em vez de através de preços baixos. Elas são altamente comprometidas com o atendimento aos
clientes e prestam muita atenção a eles. Por outro lado, essas empresas enfatizam o controle e a
gestão financeira de cada elemento da empresa.
Em um livro que acompanha as questões de implementação de como fazer para a administração
intermediária buscar e praticar a excelência empreendedora (termo que ficou inicialmente famoso
no livro In Search of Excellence, de Tom Peters e Bob Waterman), dois autores observam que
alguns dos fundamentos importantes praticados por empreendedores que constroem equipes —
que são mais voltados para obter resultados do que simplesmente fazer tudo do seu próprio jeito —
também são simulados por gerentes intermediários eficazes.177 Ou, como explicou John Sculley, da
Apple Computer:
O estilo heroico — o cowboy solitário a cavalo — não é mais a figura que adoramos na Apple. Na
nova corporação, os heróis não personificam um conjunto único de realizações. Em vez disso, eles
personificam o processo. Eles podem ser considerados guardiões, portadores de informação e
equipes. Originalmente, os heróis da Apple eram os hackers e os engenheiros que criavam os
produtos. Agora, mais equipes são consideradas heroicas.178
A capacidade de moldar e guiar uma equipe coesa é especialmente crítica em empresas de alta
tecnologia, onde o cenário competitivo pode mudar drasticamente diante de tecnologias
disruptivas. Em seu livro O Dilema da Inovação, Clayton Christensen mostra que até mesmo as
organizações agressivas, inovadoras e voltadas para o cliente podem se tornar quase obsoletas se não
tomarem ações decisivas e, às vezes, radicais para se manterem competitivas.179 O ponto de maior
perigo para o desenvolvimento de um mercado de alta tecnologia, escreve Geoffrey Moore em seu
livro Crossing the Chasm, situa-se em fazer a transição de um mercado precoce, dominado por
alguns poucos clientes visionários, para um mercado mainstream, que é dominado por um grande
bloco de clientes que têm orientação predominantemente pragmática.180 No Gráfico 9.2, Ed
Marram, diretor do Centro de Empreendedorismo Arthur M. Blank no Babson College, retrata os
aspectos da liderança conforme uma empresa cresce até atingir a maturidade.
Gráfico 9.2
Líderes empreendedores cujas empresas penetram com sucesso no mercado de massa devem
encontrar uma forma de administrar o hipercrescimento e receitas gigantescas que podem resultar
de uma onda internacional de demanda.181 Vários administradores empreendedores que
negociaram de forma habilidosa essas águas da alta tecnologia são bem conhecidos pelas empresas
que fundaram: pense em Dell, Gates, Jobs e Ellison. Que tipos de habilidades e personalidades são
necessários para atingir níveis tão elevados de desempenho em um mercado dinâmico e incerto?
Como retratado na obra clássica de Stephen Covey, Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes,
esses indivíduos são construtores de equipes curiosos e proativos que têm uma paixão pela melhoria
e renovação contínuas em suas vidas e em seus empreendimentos. Talvez o mais importante nesse
contexto: Esses líderes têm “a capacidade de imaginar, de ver o potencial, de criar com suas mentes
aquilo que eles não podem ver no presente com os olhos...”.182
Competências e habilidades
Os empreendedores que constroem empresas substanciais que crescem e atingem mais de $10
milhões em vendas e 75 a 100 funcionários são bons empreendedores e bons administradores.
Normalmente, eles desenvolvem uma base sólida e uma ampla variedade de habilidades e
conhecimento ao longo de vários anos trabalhando em diferentes áreas (por exemplo, vendas,
marketing, manufatura e finanças). Seria incomum que qualquer empreendedor individual fosse
incrível em todas as áreas. Mais provavelmente, um único empreendedor terá forças em uma área,
como fortes habilidades de gestão de pessoas, habilidades de resolução de problemas conceitual e
criativa, conhecimento de marketing, bem como alguns pontos fracos significativos. Embora seja
arriscado generalizar, muitas vezes os empreendedores cujo histórico é técnico são fracos em
marketing, finanças e administração geral. Os empreendedores que não têm uma formação técnica,
como se poderia esperar, normalmente são os mais fracos em aspectos técnicos ou de engenharia.
Ao longo deste livro, o conceito de ajuste tem sido reforçado. Ter uma equipe administrativa
cujas competências são complementares é importante — e não um indivíduo possuir um conjunto
único e absoluto de competências ou um perfil. A arte e o ofício do empreendedorismo envolvem
reconhecer as competências e o conhecimento necessários para ter sucesso em um
empreendimento, saber o que cada membro da equipe sabe ou não sabe, e, em seguida, compensar
deficiências, quer levando as pessoas chave para a empresa com o intuito de preencher espaços
vazios ou um indivíduo acumulando os “blocos” adicionais antes de entrar na empresa. Afinal, o
empreendimento e as pessoas são produtos inacabados.
Habilidades de construção de uma cultura empreendedora
Os líderes de empresas empreendedoras precisam reconhecer e lidar com a inovação, correr riscos
e responder rapidamente, bem como com a incorporação de grandes obstáculos. Os líderes mais
eficazes parecem prosperar em meio ao ritmo frenético e, às vezes, caótico, e o consideram
desafiador e estimulante, em vez de frustrante ou esmagador. Eles usam uma abordagem
consensual para construir uma equipe motivada e comprometida, equilibram as demandas e
prioridades em conflito, e administram os conflitos com habilidade.
Esses líderes, portanto, precisam de habilidades interpessoais e de trabalho em equipe que
envolvem (1) a capacidade de criar, através da liderança, um clima e um espírito propícios ao alto
desempenho, incluindo a pressão pelo desempenho ao mesmo tempo que recompensa o bem feito
e estimular a inovação, a iniciativa e os riscos calculados; (2) a capacidade de entender os
relacionamentos entre tarefas e entre o líder e seus seguidores; e (3) a capacidade de liderar nas
situações em que for adequado, incluindo uma disposição para administrar ativamente e
supervisionar e controlar as atividades de outras pessoas através de orientações, sugestões e afins.
Essas habilidades interpessoais podem ser chamadas de habilidades de influência empreendedora,
porque têm muito a ver com a forma como esses líderes exercem influência sobre os outros.
Liderança, visão e influência Esses líderes são hábeis para conseguir clareza em meio à confusão, à
ambiguidade e à incerteza. Esses líderes empresariais conseguem definir habilmente e obter um
acordo sobre quem tem qual responsabilidade e autoridade. Além disso, eles fazem isso de uma
maneira que aumenta a motivação e o comprometimento com metas interdepartamentais e
corporativas, e não apenas interesses paroquiais. Mas isso não é percebido pelos outros
administradores como um esforço para extirpar zelosamente e guardar o campo de atuação pessoal
e as prerrogativas. Pelo contrário, isso é visto como um esforço genuíno para esclarecer as funções,
tarefas e responsabilidades, e para assegurar que existem prestação de contas e aprovações
apropriadas. Isso não funciona a menos que o líder seja visto como alguém disposto a renunciar a
suas prioridades e seu poder em prol do interesse de um objetivo global. Também requer uma
habilidade em assegurar que as pessoas certas estejam incluídas na definição das metas
interfuncionais ou interdepartamentais e na tomada de decisões. Quando as coisas não vão tão bem
quanto se esperava, os líderes mais eficazes fazem com que eles cheguem a um acordo. Os que
estão acostumados a funções tradicionais de linha/staff ou a cadeias de comando muitas vezes ficam
confusos e frustrados em seu novo papel. Enquanto alguns podem ser bem eficazes para lidar com
seus próprios subordinados, é uma nova tarefa de administrar e trabalhar com seus pares, os
subordinados dos outros, e até mesmo superiores fora de uma cadeia de comando.
Ajudando, fazendo coaching e administrando conflitos Os líderes mais eficazes são criativos e
habilidosos para lidar com conflitos, gerando decisões consensuais e compartilhando seu poder e
suas informações. Eles conseguem levar as pessoas a se abrirem em vez de se fecharem; colocam os
problemas na mesa em vez de embaixo do tapete; e não ficam na defensiva quando os outros
discordam de seus pontos de vista. Eles parecem saber que as decisões de alta qualidade exigem um
rápido fluxo de informações em todas as direções e que o conhecimento, a competência, a lógica e
as provas devem prevalecer sobre o status oficial ou classificação formal na organização. A forma
como resolvem conflitos é intrigante. Eles conseguem fazer com que adversários potenciais sejam
criativos e colaborem, buscando uma conciliação de pontos de vista. Em vez de enfatizar as
diferenças e fazer o papel de negociador durão ou advogado do diabo para forçar uma solução
própria, eles misturam ideias. Eles estão mais dispostos a arriscar a vulnerabilidade pessoal nesse
processo — muitas vezes, abrindo mão de seu próprio poder e recursos — que seus colegas menos
eficazes. Eles insistem na lealdade e na integridade no curto e no longo prazo, e não no ganho de
curto prazo. As compensações não são fáceis: No início, essa abordagem envolve mais pessoas, leva
mais tempo, muitas vezes parece render alguns resultados imediatos e parece ser uma forma mais
dolorosa de trabalhar. Mais tarde, no entanto, os ganhos obtidos com a motivação, o
comprometimento e o trabalho em equipe ancorado no consenso são impressionantes. Para
começar, ações rápidas e decisivas e acompanhamento ocorrem porque a negociação, o
compromisso e a aceitação das prioridades ficaram no passado. Além disso, as novas discórdias que
surgem geralmente não interrompem o progresso porque há muita objetividade e ampla aceitação
dos objetivos gerais e das prioridades subjacentes. Sem esse consenso, cada novo problema ou
discórdia sempre precisa de um confronto e de uma renegociação demorados e dolorosos
simplesmente porque isso não foi feito inicialmente.
Trabalho em equipe e influência Outra forma de influência empreendedora tem a ver com o
incentivo à criatividade e à inovação e com a tomada de riscos calculados. Os líderes
empreendedores constroem a confiança incentivando a inovação e os riscos calculados, em vez de
punir ou criticar o que é menos do que perfeito. Eles alimentam o pensamento empreendedor
independente esperando e incentivando outras pessoas a encontrar e corrigir seus próprios erros e
resolverem seus próprios problemas. Isso não significa que eles seguem uma abordagem de “jogar
todo mundo para os lobos”. Em vez disso, seus colegas e outros administradores os veem como
acessíveis e dispostos a ajudar quando necessário, e eles oferecem os recursos necessários para
permitir que outras pessoas façam seu trabalho. Quando é apropriado, eles defendem seus colegas e
subordinados, mesmo quando sabem que nem sempre podem ganhar. A capacidade de
transformar outros membros da equipe e colaboradores em heróis e assegurar que os outros estejam
no centro das atenções, em vez de aceitar essas coisas por si mesmo, é outra habilidade
fundamental.
A capacidade de gerar confiança — a cola que une uma organização ou uma relação — é crítica.
Os líderes mais eficazes são considerados confiáveis; eles se comportam de forma a criar e gerar
confiança. Eles fazem isso sendo simples e diretos. Eles fazem o que dizem que vão fazer. Eles não
são os portadores de rumores corporativos. Eles são abertos e espontâneos, e não fechados e
cuidadosos com cada palavra. E são percebidos como honestos e diretos. Eles tratam os
colaboradores com respeito, como gostariam de ser tratados. Eles compartilham as riquezas com
aqueles que ajudam a criá-la pelo seu alto desempenho. Além disso, é fácil imaginar o tipo de
histórico e reputação que esses líderes empreendedores constroem para si mesmos. Eles têm uma
reputação de obter resultados, porque entendem que a tarefa de administrar uma empresa de
rápido crescimento normalmente vai muito além de uma cadeia de comando imediato. Eles têm
uma reputação de obter resultados e se tornam conhecidos como solucionadores criativos de
problemas que têm um talento especial para misturar e equilibrar diversos pontos de vista e
demandas. Seus riscos calculados funcionam com mais frequência do que fracassam. E eles têm
uma reputação de desenvolvimento do capital humano (isto é, eles treinam outros líderes de equipe
eficazes com seu exemplo e sua orientação, e recompensa realizadores tanto financeira quanto
culturalmente; eles criam heróis).
Outras competências de liderança
Os líderes empreendedores precisam de uma base sólida no que são consideradas competências
administrativas tradicionais. Curiosamente, no estudo de empreendedores praticantes mencionados
anteriormente, ninguém atribuiu muita importância aos modelos de preços de ativos de capital,
coeficientes beta, programação linear e assim por diante — as “novas técnicas administrativas”
predominantes e altamente elogiadas.183
A lista a seguir é dividida em duas áreas interfuncionais (administração e direito e tributação) e
quatro áreas funcionais chave (marketing, operações/produção, finanças, liderança empreendedora,
legislação e impostos, e tecnologia da informação). As habilidades técnicas únicas para cada
empreendimento também são necessárias.
Marketing
• Angariação de fundos. Capacidade de decidir como é melhor adquirir fundos para start-ups e
empresas em crescimento; capacidade de prever as necessidades de fundos e de preparar
orçamentos; e familiaridade com fontes formais e informais e veículos de financiamento de curto
e de longo prazos.
• Gerenciando o fluxo de caixa. Capacidade de projetar requisitos de caixa, estabelecer um
controle de caixa, e administrar a posição de caixa da empresa, e a capacidade de identificar
quanto capital é necessário, quando e onde o dinheiro vai acabar e quando vai ocorrer o ponto
de equilíbrio.
• Administração de créditos e cobranças. Capacidade de desenvolver políticas de crédito e critérios
de seleção e de controlar contas a pagar e a receber, e entendimento do uso das agências de
cobrança e de quando começar a ação judicial.
• Alternativas de financiamento de curto prazo. Compreensão da gestão de contas a pagar e a
utilização do financiamento intercalar, como empréstimos bancários, factoring de contas a
receber, penhor e venda de promissórias e contratos, conhecimentos de embarque e aceitação do
banco; e familiaridade com as demonstrações financeiras e planejamento de orçamentos/lucros.
• Ofertas públicas e privadas. Capacidade para desenvolver um plano de negócios e um
memorando de oferta que possa ser usado para levantar capital, familiaridade com os requisitos
legais de ofertas de ações públicas e privadas, e capacidade para administrar as relações com
acionistas e negociar com as fontes de financiamento.
• Escrituração, contabilidade e controle. Capacidade para determinar sistemas adequados de
escrituração e contabilidade à medida que a empresa começa e cresce, incluindo vários livros e
contas e as necessidades de contratação de seguro.
• Outras habilidades específicas. Capacidade de ler e preparar uma declaração de rendimentos e
um balanço, e capacidade de fazer uma análise e um planejamento de fluxo de caixa, incluindo
análise de ponto de equilíbrio, análise de contribuição, demonstrativo de resultados e
administração do balanço patrimonial.
Liderança empreendedora
Os empreendedores mais bem-sucedidos parecem ancorar sua visão do futuro em certas filosofias e
atitudes empreendedoras (ou seja, atitudes sobre o que é uma equipe, qual é sua missão e como ele
vai ser recompensado). A alma dessa visão diz respeito ao que o(s) fundador(es) está(ão) tentando
realizar e as regras básicas não escritas que se tornam o tecido, o caráter e a finalidade que orientam
como uma equipe vai trabalhar em conjunto, ter sucesso e cometer erros juntos, e realizar uma
colheita juntos. As recompensas, a remuneração e as demais estruturas de incentivo se apoiam
nessa filosofia e nessas atitudes.
Essa mentalidade fundamental muitas vezes fica evidente no sucesso que se segue. A fixação
dessa visão vai além de todas as questões práticas críticas abordadas nos capítulos e nos casos sobre
a oportunidade, o plano de negócios, o financiamento e assim por diante. Cada uma dessas
questões é vital, mas cada uma por si só não pode levar ao sucesso. Um único fator raramente
consegue isso, se é que consegue.
A capacidade do líder empreendedor de criar uma visão e, em seguida, conduzir, inspirar,
convencer e persuadir as pessoas chave a se inscreverem e realizarem o sonho faz uma enorme
diferença entre o sucesso e o fracasso, entre as perdas e os lucros e entre uma colheita substancial e
“entregar as chaves” para sair de enormes garantias pessoais de dívidas. Incutir uma visão — e a
paixão por vencer — ocorre muito cedo, muitas vezes durante discussões informais, e parece
disparar uma série de profecias autorrealizadoras que levam ao sucesso, em vez de a “quases” ou ao
fracasso. Em um estudo para determinar a existência real de líderes empreendedores em empresas
da INC. 500, constatou-se quem entre as equipes macroempreendedoras, os líderes
empreendedores existem e têm uma forte visão empresarial e autoeficácia e autoconfiança maiores
para agir de acordo com sua visão e torná-la real.184
Assim, líderes empreendedores e membros da equipe que compreendem a construção de equipe
e o trabalho em equipe têm uma arma secreta. Muitos com excelentes habilidades técnicas ou
outras habilidades relevantes, credenciais educacionais e assim por diante vão ser, ao mesmo
tempo, prisioneiros e vítimas da competitividade altamente individualista que os levou até onde
estão. Eles podem ser fantásticos empreendedores solitários, e alguns podem até mesmo “falar que
jogam em equipe”. Mas, quando se trata de como eles se comportam e atuam, seus egos raramente
cabem dentro de um hangar de avião. Eles simplesmente não têm a mentalidade de equipe.
Quais são essas filosofias e atitudes de equipe que os melhores empreendedores têm e que são
capazes de identificar ou inculcar nos futuros parceiros e membros da equipe? Elas podem ser
rastreadas até o pensamento empreendedor discutido no Capítulo 2 — uma mentalidade que pode
ser vista ativamente em ação no desafio de construção de equipes. Embora existam inúmeras
misturas e variações, provavelmente as equipes dessas empresas que conseguem se tornar grandes
compartilharão muitas das seguintes características:
• Coesão. Os membros de uma equipe acreditam que estão nisso juntos e, se a empresa vencer,
todo mundo vence. Os membros acreditam que ninguém pode ganhar a menos que todos
ganhem e, inversamente, se alguém perde, todos perdem. As estruturas de recompensa,
remuneração e incentivo se apoiam na construção de valor da empresa e no retorno sobre o
capital investido, não importa seu tamanho.
• Trabalho em equipe. Uma equipe que funciona como equipe, em vez de uma em que são
criados heróis individuais, pode ser a única função distintiva da empresa do mais alto potencial.
Assim, nessas equipes, são feitos esforços para tornar as tarefas de outras pessoas mais fáceis,
para transformar os parceiros e pessoas chave em heróis, e para motivar as pessoas celebrando
seus sucessos. Como disse muitas vezes Harold J. Seigle, o altamente bem-sucedido, agora
aposentado, presidente e diretor executivo das Sunmark Companies: “O alto desempenho gera
amizades sólidas!”.
• Integridade. Escolhas difíceis e compensações são feitas sobre o que é bom para o cliente, a
empresa e a criação de valor, em vez de ser baseada na ética puramente utilitarista ou
maquiavélica ou em estreitas necessidades e preocupações pessoais ou departamentais. Existe
uma crença e um compromisso com a ideia de fazer o trabalho sem sacrificar a qualidade, a
saúde ou padrões pessoais.
• Compromisso com o longo prazo. Como a maioria das organizações, novos empreendimentos
prosperam ou definham de acordo com o nível de comprometimento de suas equipes. Os
membros de uma equipe comprometida acreditam que estão jogando para o longo curso e que a
empresa não é um exercício de enriquecimento rápido. Pelo contrário, o risco é visto como um
jogo de gratificação atrasada em que pode demorar cinco, sete ou mesmo dez anos ou mais para
realizar uma colheita. Ninguém consegue um lucro extraordinário por se inscrever agora mas
desistindo cedo ou quando as coisas ficam difíceis. Acordos de aquisição refletem esse
compromisso. Por exemplo, as ações geralmente serão adquiridas ao longo de cinco ou sete anos,
de modo que quem sai mais cedo, por qualquer motivo, pode manter as ações que ganhou até a
data, mas é obrigado a vender o restante de volta à companhia, ao preço inicialmente pago.
Naturalmente, esse acordo de aquisição geral prevê que, se a empresa for inesperadamente
vendida ou se for feita uma oferta pública muito antes do período de cinco ou sete anos, as ações
são 100% investidas automaticamente com esse evento.
• Pensamento de colheita. Uma colheita bem-sucedida é o nome do jogo. Isso significa que
eventuais ganhos de capital são vistos como o indicador de desempenho, em vez do tamanho de
um salário mensal, a localização e o tamanho de um escritório, determinado carro ou coisa
parecida.
• Compromisso com a criação de valor. Os membros da equipe estão comprometidos com a
criação de valor — fazer com que a torta seja maior para todos, incluindo agregar valor para os
clientes, permitir que os fornecedores ganhem conforme a equipe tem sucesso e ganhar dinheiro
para os participantes da equipe e os vários stakeholders.
• Desigualdade igual. Em empresas emergentes bem-sucedidas, a democracia e a igualdade cega
geralmente não funcionam bem, e esforços diligentes são feitos para determinar quem tem qual
responsabilidade pelas tarefas chave. O presidente é quem define as regras do jogo e molda o
clima e a cultura da empresa. Bill Foster, fundador e presidente da Stratus Computer, foi
questionado para saber se ele e seus sócios eram todos iguais. Ele disse: “Sim, somos, só que eu
recebo mais dinheiro e sou dono da maioria das ações”.185 For exemplo, as ações normalmente
não são divididas igualmente entre os fundadores e os principais gerentes. Em uma empresa de
quatro pessoas chave, as ações foram divididas da seguinte forma: 34% para o presidente, 23%
para cada vice-presidente de marketing e técnico, e 6% para o diretor financeiro. O restante foi
para fora diretores e conselheiros externos. Em outra empresa, os sete fundadores dividiram a
empresa da seguinte forma: 22% para o presidente, 15% para cada um dos quatro vice-
presidentes, e 9% para cada um dos dois outros contribuidores. Um exemplo de como o fracasso
em diferenciar em termos de como a propriedade tem impacto sobre uma empresa é visto em
uma terceira empresa, onde cada um dos quatro proprietários tinham partes iguais das ações. No
entanto, dois dos proprietários contribuíram com praticamente tudo, enquanto os outros dois
realmente prejudicaram a empresa. Devido a esse problema sem solução, a empresa não
conseguiu atrair capital de risco e nunca conseguiu crescer de forma drástica.
• Equidade. As recompensas para os funcionários chave e a propriedade de ações com base na
contribuição, no desempenho e nos resultados ao longo do tempo. Como estes só podem ser
estimados em antecedência, e como sempre haverá surpresas e desigualdades, tanto positivas
quanto negativas, conforme o tempo passa, devem ser feitos ajustes. Um bom exemplo é uma
empresa que obteve resultados espetaculares em apenas dois anos no negócio de telefonia
celular. Quando a empresa foi vendida, ficou claro que dois dos seis membros da equipe tinham
contribuído mais do que se refletia em sua posição de participação acionária. Para remediar essa
situação, outro membro da equipe deu a um dos dois membros da equipe ações no valor de
várias centenas de milhares de reais. Como a equipe estava envolvida em outro
empreendimento, o presidente fez ajustes nas diversas posições de propriedade no novo
empreendimento, com a concordância de cada membro, to compensar irregularidades passadas.
Além disso, foi decidido separar 10% da próxima empresa para oferecer algum poder
discricionário em futuras adaptações para contribuições inesperadas para o sucesso final.
• Partilha da colheita. Esse senso de justiça e equidade parece ser prorrogado pelos
empreendedores mais bem-sucedidos para a colheita de uma empresa, mesmo quando não há
obrigação legal ou ética para fazê-lo. Por exemplo, cerca de 10% a 20% dos “ganhos” é
frequentemente reservado para distribuir aos funcionários chave. Em uma recente safra desse
tipo, os funcionários ficaram assustados e repletos de alegria quando receberam a informação de
que cada um iria receber o salário de um ano depois que a empresa foi vendida. No entanto, isso
nem sempre acontece. Em outra empresa, 90% da qual era de propriedade de um empreendedor
e sua família, o presidente, que era a única pessoa mais responsável pelo sucesso da empresa e
sua valorização espetacular, precisou despender um esforço considerável para conseguir que os
proprietários concordassem em dar bônus para outros funcionários chave no valor de cerca de $3
milhões, uma quantidade pouco maior do que 1% do preço de venda, de $250 milhões. (Vale a
pena considerar como esse senso de justiça, ou a falta dele, afeta os fluxos futuros de pessoas e
oportunidades de qualidade a partir dos quais os empreendedores podem escolher novos
empreendimentos.)
Um processo de evolução
Um empreendedor considerando questões de formação de equipe raramente vai descobrir
respostas em preto e branco e à prova de balas que se mantenham ao longo do tempo. Também não
estamos sugerindo que um empreendedor precisa de respostas para todas as perguntas sobre o que
requer a oportunidade, e quando, antes de avançar. A ênfase na importância das equipes de novos
empreendimentos também não significa que cada novo empreendimento deve começar com uma
equipe completa que mergulha no negócio. Pode levar algum tempo para a equipe se unir conforme
uma empresa cresce, e sempre haverá alguma dúvida, uma esperança por mais do que um potencial
parceiro pode oferecer, e uma recalibração constante. Mais uma vez, atos criativos, como correr
uma maratona ou empreender, são cheios de incógnitas, solo desconhecido e surpresas. A
preparação é uma apólice de seguro, e pensar nessas questões de equipe e nesses conceitos de
formação de equipe com antecedência é um seguro barato.
A combinação da equipe certa de pessoas com uma oportunidade de empreendimento certa pode
ser muito poderosa. Nesses casos, o todo é maior que a soma das partes. No entanto, as chances de
equipes altamente bem-sucedidas no empreendimento são bem raras. Mesmo que uma empresa
sobreviva, a taxa de rotatividade entre os membros da equipe durante os primeiros anos
provavelmente ultrapassa a taxa de divórcio nacional. Estudos de equipes de novos
empreendimentos em busca de capital de risco mostram que muitos nunca saem do papel. Eles
costumam esgotar seus próprios recursos e compromissos antes de levantar o capital de risco
necessário para lançar seus empreendimentos. Daqueles que são financiados, cerca de 1 em cada 20
se torna muito bem-sucedido em três a cinco anos, em que ele vai retornar mais de cinco vezes o
investimento inicial em ganhos de capital realizável.
A formação e o desenvolvimento de uma equipe de novo empreendimento parecem ser
idiossincráticos, e parece haver uma infinidade de maneiras pelas quais os parceiros de risco se
unem. Algumas equipes se formam por acidentes geográficos, interesses comuns, ou pelo trabalho
conjunto. Talvez o interesse comum seja simplesmente que os membros da equipe desejam iniciar
um negócio, enquanto, em outros casos, o interesse é uma ideia que os membros acreditam que
responde a uma necessidade do mercado. Outros formam equipes em virtude de amizades do
passado. Por exemplo, colegas de quarto ou amizades próximas na faculdade ou pós-graduação
frequentemente levam a parcerias comerciais. Isso foi o que aconteceu com dois colegas de turma
de Jeff Timmons no programa MBA na Harvard Business School. Concluindo que eles acabariam
por entrar no negócio juntos após compartilharem um quarto durante uma semana, Leslie Charm e
Carl Youngman têm sido parceiros há mais de 32 anos como proprietários de três empresas de
franquia nacional, uma empresa de consultoria em gestão e administração de empresas
encrencadas, e uma empresa de capital de risco, a AIGIS Ventures, LLC. A Jiffy Lube foi fundada
pelo treinador de futebol universitário Jim Hindman e alguns de seus treinadores e jogadores,
incluindo Steve Spinelli.
Na evolução das equipes de negócios, dois padrões distintos são identificáveis. No primeiro, uma
pessoa tem uma ideia (ou simplesmente quer começar um negócio) e, depois, três ou quatro
companheiros se juntam à equipe nos próximos um a três anos, conforme a empresa toma forma.
Como alternativa, uma equipe inteira se forma desde o início com base em fatores como uma ideia
compartilhada, uma amizade, uma experiência, e assim por diante.
Preenchendo as lacunas
Não há solução prática e simples para a formação de uma equipe; por outro lado, existem muitas
abordagens à formação de equipes, pois há várias empresas com diversos fundadores (veja o
Quadro “Impacto da Internet”).
Os empreendedores bem-sucedidos procuram pessoas e formam e constroem uma equipe com
base no que a oportunidade exige e quando.186Os membros da equipe contribuem com um alto
valor para um empreendimento se eles complementarem e equilibrarem o líder empreendedor — e
uns aos outros. No entanto, ironicamente, enquanto uma quantidade substancial de pensamento
geralmente acompanha a decisão das pessoas de entrarem no negócio em conjunto, uma
superabundância do pensamento, especialmente entre os menos experientes, pode se concentrar
em questões menos críticas, como títulos, nome da empresa, papel timbrado ou que tipo de
advogado ou contador será necessário. Assim, as equipes muitas vezes são mal concebidas desde o
início, e podem facilmente ficar mergulhadas de cabeça em respostas inesperadas e não planejadas
para crises, conflitos e mudanças.
Uma equipe começa com um líder empreendedor. Em uma situação de start-up, o líder
empreendedor normalmente usa muitos chapéus. Além disso, a comparação da natureza e das
exigências do empreendimento e as capacidades, motivações e interesses do líder empreendedor
sinalizará as lacunas que existem e que precisam ser preenchidas por outros membros da equipe ou
acessando outros recursos externos, como um conselho administrativo, consultores, advogados,
contadores e afins.
Assim, por exemplo, se os pontos fortes do líder empreendedor ou de um membro da equipe são
técnicos, outros membros da equipe ou recursos externos precisam preencher espaços vazios em
marketing, finanças etc. Em termos realistas, haverá uma sobreposição e um compartilhamento de
responsabilidades, mas os membros da equipe precisam complementar, e não duplicar, os recursos
do líder empreendedor e dos outros membros da equipe.
Observe que um subproduto da formação de uma equipe pode ser a alteração de uma estratégia
de entrada se uma lacuna crítica não puder ser preenchida. Por exemplo, uma empresa pode
descobrir que simplesmente não pode atacar determinado mercado porque não pode contratar a
pessoa certa de marketing. Mas ela pode descobrir que poderia atrair uma pessoa de alto nível para
explorar outro nicho com um produto ou serviço modificado.
Mais importante, o processo de avaliar e decidir o que é necessário, e quando, é dinâmico, e não
um evento único. Que conhecimentos, habilidades e competências são necessários? Quais são as
principais tarefas e etapas da ação que precisam ser realizadas? Quais são os requisitos para o
sucesso? Qual é a competência distintiva da empresa? Que contatos externos são necessários? Quão
extensas e críticas são as lacunas? Quanto a empresa pode pagar? O empreendimento terá acesso à
especialidade de que necessita através de acréscimos ao conselho administrativo ou consultores
externos? Perguntas como essas determinam quando e como essas necessidades poderiam ser
preenchidas. E as respostas a essas perguntas mudam ao longo do tempo.
Os itens a seguir, organizados em torno da estrutura analítica apresentada no Capítulo 3, podem
orientar a formação de equipes em novos empreendimentos.
O Fundador O tipo de equipe que será necessário depende da natureza da oportunidade e do que
o líder empreendedor leva para o jogo. Um passo fundamental na formação de uma equipe é o
líder empreendedor avaliar sua estratégia empreendedora. (O exercício “Estratégia empreendedora
pessoal” no Capítulo 2 é um insumo valioso para abordar essas questões.) Assim, o líder
empreendedor precisa considerar, em primeiro lugar, se a equipe é desejável ou necessária e se ele
quer fazer crescer uma empresa de alto potencial. Ele, então, precisa avaliar que talentos,
conhecimentos, habilidades, históricos, contatos e recursos estão sendo levados para a mesa — isto
é, que “blocos” foram adquiridos. (Veja o exercício “Habilidades de liderança e avaliação de
conhecimento”, disponível para download). Uma vez que esta é determinada, o líder
empreendedor precisa considerar o que o empreendimento precisa ter para chegar ao sucesso, de
quem ele precisa para complementar a si mesmo, e quando. Os melhores empreendedores são
otimistas realistas e têm um desejo real de melhorar seu desempenho. Eles trabalham para saber o
que eles sabem e não sabem e são honestos consigo mesmos. O líder empreendedor precisa
considerar questões como estas:
• Que conhecimento e experiência relevantes da indústria, do mercado e tecnológicos são
necessários para vencer, e será que eu os levo para a empresa? Eu conheço o modelo de receitas
e custos melhor do que ninguém?
• Minhas forças pessoais e de negócios nessas áreas específicas são críticas para o sucesso do
negócio proposto?
• Eu tenho os contatos necessários (e os que eu tenho fazem uma diferença competitiva), ou eu
busco parceiros nessa área?
• Posso atrair uma equipe de “primeira” só com estrelas interna e externamente, e posso
administrar essas pessoas e outros membros da equipe de forma eficaz?
• Por que eu decidi levar a cabo esta oportunidade especial agora, e o que eu quero com esse
negócio (ou seja, quais são meus objetivos e minhas aspirações de renda e colheita)?
• Eu sei quais serão os sacrifícios e o compromisso, e estou preparado para fazer isso?
• Quais são os riscos e recompensas envolvidos, estou confortável com eles, e eu busco alguém
com uma orientação diferente de tomada de riscos?
Muitas vezes, um aluno que passa por esse processo conclui que uma pessoa mais experiente será
necessária para tocar o empreendimento.
A oportunidade A necessidade de membros da equipe é algo em que um empreendedor pensa
constantemente, ainda mais na fase de ideia antes da start-up. O que é necessário no caminho de
uma equipe depende do jogo entre o líder empreendedor e a oportunidade, e de quão rápido e
agressivo ele ou ela pretende continuar. (Veja os exercícios do Capítulo 6 disponíveis para
download, incluindo: “Guia de filtragem de oportunidades de negócios”.) Embora a maioria dos
novos empreendimentos planejem ser autossuficientes e contratar membros adicionais da equipe
apenas quando a empresa puder pagar por eles, o problema é que, se uma empresa está à procura
de capital de risco ou de investidores privados sérios, com uma equipe criada ela terá uma valoração
maior na avaliação e uma propriedade menor para compartilhar. Aqui estão algumas perguntas que
precisam ser consideradas:
• Já defini bem o valor agregado e a economia do negócio? Já considerei como (e com quem) a
empresa pode ganhar dinheiro neste negócio? Por exemplo, se uma empresa for vender navalhas
ou lâminas de barbear, isso faz a diferença na necessidade de diferentes membros da equipe.
• Quais são as variáveis críticas de sucesso no negócio que quero iniciar, e o quê (ou quem) é
necessário para influenciar positivamente essas variáveis?
• Eu tenho — ou tenho acesso a — as relações externas críticas com investidores, advogados,
banqueiros, clientes, fornecedores, agências reguladoras, e assim por diante, que são necessários
para buscar minha oportunidade? Preciso de ajuda nesta área?
• Em qual vantagem competitiva e estratégia devo me concentrar? Que pessoas são necessárias
para levar a cabo essa estratégia ou vantagem?
Recursos externos A lei Sarbanes-Oxley nos Estados Unidos, por exemplo, torna importantes as
questões de governança, mesmo para empreendimentos na fase de start-up, o que também tem
sido motivo de atenção dos legisladores no Brasil.187 As lacunas podem ser preenchidas por meio
do acesso a recursos externos, como conselhos de administração, contabilistas, advogados,
consultores, e assim por diante.188 Normalmente, consultores tributários e jurídicos podem ser mais
bem obtidos inicialmente em meio período. Outras competências (por exemplo, conhecimentos
necessários à concepção de um sistema de controle de estoque) são especializadas e necessárias
apenas uma vez. Geralmente, se o recurso for um esforço único ou periódico, ou se a necessidade
for periférica às principais tarefas, metas e atividades exigidas pela empresa, então faz sentido uma
alternativa, como a utilização de consultores. No entanto, se a competência é obrigatória para o
empreendimento no início e o líder empreendedor não consegue fornecê-la ou aprendê-la
rapidamente, uma ou mais pessoas devem ser contratadas. Algumas questões a considerar são as
seguintes:
• A necessidade de conhecimentos especializados, uma única vez ou em meio período, é
periférico ou crítica?
• Será que os segredos comerciais ficarão comprometidos se eu obtiver esse conhecimento
externamente?
A equipe de confiança Ao longo do livro, você vai ver referências à equipe de confiança e, no
Capítulo 10, vai realizar um exercício que vai ajudar a promover seu pensamento e sua rede de
contatos para desenvolver sua própria equipe de confiança. Esse é um conceito importante e uma
ferramenta para o empreendedor e parte integrante da equipe externa à empresa. A equipe de
confiança pode fazer a diferença entre o sucesso e o fracasso no marketing, na angariação de fundos
e na contratação de talentos e diretores importantes de uma empresa. Por exemplo, um
empreendedor de primeira viagem queria iniciar um serviço de informações econômicas e
financeiras baseado na Internet que envolvesse os mercados emergentes. Ao apresentá-lo ao
investidor e diretor potenciais certos, um de seus professores economizou meses de trabalho,
ligando-o ao investidor perfeito: um empreendedor cuja primeira start-up colocou os primeiros
computadores desktop em Wall Street para os negociantes de títulos no início da década de 1980.
Este novo membro de sua equipe de confiança se tornou presidente do conselho e ajudou a
empresa a conseguir quase $15 milhões de capital de risco e acabou vendendo a empresa por $55
milhões, quando tinha apenas $10 milhões em vendas.
Em outro caso, o CEO de uma empresa de telecomunicações em rápido crescimento estava
pensando em abrir o capital de sua empresa ou vendê-la. Embora ele tivesse vendido outra
empresa, essa era uma situação completamente diferente, porque ele não tinha nenhuma
experiência em IPO. Um membro de sua equipe de confiança conseguiu conectá-lo a um líder
empreendedor que tinha feito uma IPO muito bem-sucedida em condições semelhantes no
mercado de capitais e lhe deu conselhos valiosos sobre como selecionar um subscritor, armadilhas
para as quais deveria ficar alerta, dicas para fazer uma rodada de investimentos etc.
Como você verá no exercício do Capítulo 10, seu objetivo é pensar além da equipe interna para as
tarefas críticas e os desafios futuros e identificar as pessoas externas que sabem muito mais do que
você ou qualquer um dos membros de sua equipe. Eles se tornarão mentores, conselheiros e,
muitas vezes, recursos valiosos para você. Se você os tratar como ouro, eles o ajudarão muito mais
do que você jamais poderia pagar em dinheiro ou em ações — algo que você deve fazer, além de
agradecê-los pessoalmente e com frequência, quando eles o ajudarem. Uma palavra de alerta: Não
basta enviar uma mensagem de e-mail de agradecimento. Em vez disso, envie um bilhete
personalizado de agradecimento ou um presente criativo.
O erro de $501 milhões Alguns anos atrás, o professor Timmons apresentou um estudante a um
velho amigo que vamos chamar de Fred. Fred era um dos mais importantes especialistas do país em
produtos vendidos em supermercados. Ele tinha anos de experiência bem-sucedida na
transformação de uma pequena empresa familiar de corretagem de alimentos em uma empresa de
serviços de marketing integrado com 450 pessoas. Por exemplo, sua empresa tinha um banco de
dados informatizado que constantemente monitorava produtos em determinadas categorias de
alimentos em praticamente todas as prateleiras de supermercados de New England. Ele passava
horas com o aluno, fornecendo insights e aconselhamentos valiosos sobre seu plano de negócios e
sua estratégia, bem como apresentação a CEOs importantes e a compradores no setor alimentar. A
start-up do aluno se tornou muito bem-sucedida e foi vendida.
Alguns anos depois, o ex-aluno estava lançando outro negócio relacionado a alimentos e tinha
perdido o número de Fred. Ele ligou para o autor e conseguiu o número. Um mês depois, quando
o autor viu Fred, perguntou se ele havia falado com o ex-aluno. “Sim”, respondeu Fred. “Como
está ele e o que está fazendo agora?” Sua resposta foi breve: “Eu nunca retornei a chamada”.
Acontece que o aluno nunca tinha enviado a Fred um bilhete de agradecimento, ligado para ele,
dado-lhe uma atualização ou qualquer coisa do tipo. Nossa estimativa é que esse comportamento
não profissional custou ao ex-aluno algo entre $50 milhões e $100 milhões! O empreendimento
que ele estava tentando começar teria sido um casamento perfeito para ter Fred como principal
investidor, diretor e conselheiro. Ele nunca conseguiu fazer o empreendimento sair do papel.
Essa é uma lição que esperamos que você nunca esqueça. Os três autores têm compartilhado e
ensinado essa história e lição com seus alunos há anos.
Considerações adicionais
Formar e construir uma equipe é, assim como o casamento, um exercício pouco científico, por
vezes imprevisível e frequentemente surpreendente — não importa o quanto tentemos fazer o
contrário! A analogia do matrimônio e da família, com todas as complexidades e consequências que
os acompanham, é particularmente útil. Formar uma equipe tem muitas das características do ritual
do namoro e do casamento, envolvendo decisões parcialmente com base na emoção. Pode haver
certa paixão entre os membros da equipe e uma aura de admiração, respeito e muitas vezes
lealdade ardente. De modo semelhante, as complexas alegrias, frustrações e incertezas psicológicas
que acompanham o nascimento e a criação de filhos (o produto ou serviço) também são vivenciadas
em equipes empreendedoras.
Assim, as seguintes questões adicionais precisam ser consideradas:
• Valores, metas e compromisso. É fundamental que a equipe esteja bem ancorada em termos de
valores e objetivos. Em qualquer novo empreendimento, os participantes estabelecem contratos e
climas psicológicos. Embora estes normalmente sejam estabelecidos quando o líder
empreendedor estimula padrões de excelência e respeito pelas contribuições dos membros da
equipe, a seleção dos membros da equipe cujos objetivos e valores concordam pode facilitar
muito o estabelecimento de um contrato psicológico e um clima empreendedor. Em empresas
bem-sucedidas, os objetivos e valores pessoais dos membros da equipe se alinham bem, e as
metas da empresa também são defendidas pelos membros da equipe. Embora o alinhamento
possa ser menos exato em grandes corporações de capital aberto e maior em pequenas empresas
de capital fechado, a sobreposição significativa entre os objetivos de um membro da equipe com
os de outros membros da equipe e a sobreposição das metas corporativas e metas dos membros
da equipe são desejáveis. Em termos práticos, essas avaliações dos membros da equipe são
algumas das mais difíceis de fazer.
• Definição de papéis. Um esforço diligente precisa ser feito para determinar quem fica
confortável e quem tem qual responsabilidade pelas tarefas importantes para que a duplicação de
capacidades ou responsabilidades seja minimizada. Os papéis não podem ser fixados
precisamente para todas as tarefas, pois algumas tarefas e problemas importantes simplesmente
não podem ser antecipados, e as contribuições nem sempre são feitas pelas pessoas inicialmente
previstas para isso. Manter uma estrutura solta, flexível e plana, com responsabilidade e
informações compartilhadas é desejável para a utilização das forças individuais, da flexibilidade,
da aprendizagem rápida e da tomada de decisão responsiva.
• Grupos de pares. O apoio e a aprovação da família, dos amigos e dos colegas de trabalho podem
ser úteis, especialmente quando surgem adversidades. A aprovação de grupos de referência pode
ser uma importante fonte de reforço positivo para a escolha de carreira de uma pessoa e,
portanto, para sua autoimagem e identidade.189 Idealmente, deve existir um apoio de grupo de
pares para cada membro da equipe. (Se não houver, o líder empreendedor pode ter de aceitar o
encargo adicional de incentivar e apoiar nos momentos difíceis, uma carga que pode ser
considerável.) Portanto, as questões de saber se o cônjuge ou um membro potencial da equipe é
solidamente a favor de sua decisão de buscar uma carreira empreendedora e da equidade do
suor necessário e se os amigos próximos do membro da equipe serão uma fonte de apoio e
incentivo ou de detração ou negativismo precisam ser consideradas.
Problemas comuns
Pode haver dificuldades na aplicação prática dessas filosofias e atitudes, independentemente da
oportunidade de negócio e das pessoas envolvidas. A empresa pode ficar desunida antes de
começar, pode ter morte precoce ou pode viver eternamente mergulhada em conflitos
desagradáveis e lutas de poder que inviabilizarão seu potencial, mesmo que eles não matem a
empresa.
Muitas vezes, uma equipe não tem habilidade e experiência em lidar com essas difíceis questões
da fase de start-up, não tem tempo para passar por uma “dança de acasalamento” prolongada entre
os parceiros potenciais durante a fase de namoro anterior ao lançamento do empreendimento ou
não busca o auxílio de conselheiros competentes. Como resultado, uma equipe pode não conseguir
lidar com questões sensíveis como quem recebe quanto de propriedade, quem comprometerá que
parcela de tempo e dinheiro ou outros recursos, como as divergências serão resolvidas, e como um
membro da equipe pode sair ou ser demitido. Dessa forma, discussões iniciais cruciais entre
membros da equipe às vezes levam a uma dissolução prematura de equipes promissoras com sólidas
ideias de negócios. Ou, na pressa de seguir em frente, ou porque os fundos para pagar por ajudas
nessas áreas são escassos, uma equipe pode ficar junta, mas não resolver, mesmo que de forma
grosseira, muitas dessas questões. Essas equipes não tiram proveito da fase de namoro para testar o
compromisso e a contribuição feita pelos membros da equipe. Por exemplo, para construir um
negócio substancial, um parceiro precisa estar totalmente comprometido com o empreendimento. O
sucesso da empresa é o objetivo mais importante do parceiro, e outras prioridades, incluindo sua
família, vêm em segundo lugar.190 Outra vantagem de usar esse período turbulento com eficácia é
que os riscos inerentes a fatores como compromisso prematuro com decisões permanentes sobre
salários e ações são menores.
A abordagem comum para a formação de uma equipe de novo empreendimento também pode
ser uma armadilha comum para as equipes do novo empreendimento. Aqui, dois a quatro
empreendedores, geralmente amigos ou conhecidos de trabalho, decidem demonstrar sua
igualdade com enfeites democráticos, como propriedade de ações iguais, salários iguais, igualdade
de espaço em escritórios e vagas de garagem e outros itens que simbolizam seu status perante os
pares. Ficam sem respostas as perguntas sobre quem está no comando, quem toma as decisões finais
e como as verdadeiras diferenças de opinião serão resolvidas. Embora uma sobreposição de funções
e um compartilhamento e negociação das decisões sejam desejáveis em um novo empreendimento,
deixar tudo solto demais gera fraqueza. Mesmo acordos sofisticados de compra e venda entre
parceiros muitas vezes não conseguem resolver os conflitos.
Outra armadilha é a crença de que não há deficiências no líder empreendedor ou na equipe
administrativa. Ou uma equipe é excessivamente fascinada com uma ideia de produto ou é
comprometida demais. Por exemplo, um líder empreendedor que não está disposto ou é incapaz de
identificar suas próprias deficiências e fraquezas e adicionar membros da equipe adequados para
compensar isso e que ainda carece de uma compreensão do que é realmente necessário para fazer
um novo empreendimento crescer e se transformar em uma empresa bem-sucedida caiu nessa
armadilha.191
Deixar de reconhecer que a criação e a construção de um novo empreendimento é um processo
dinâmico é um problema para algumas equipes. Portanto, essas equipes não conseguem perceber
que os acordos iniciais provavelmente não refletem as contribuições efetivas dos membros da
equipe ao longo do tempo, independentemente de quanto tempo eles dedicam a tarefas de
construção da equipe e independentemente dos acordos que os membros da equipe fazem antes da
fase de start-up. Além disso, eles não consideram que as equipes podem mudar sua composição ao
longo do tempo. O falecido Richard Testa, advogado cuja empresa lidou com empreendimentos
como a Lotus Development Corporation e com inúmeras empresas de capital de risco, uma vez
surpreendeu os participantes de um seminário sobre a obtenção de capital de risco ao dizer:
A única coisa que posso dizer com grande certeza sobre esse negócio de start-up é que tem a ver
com você e seus parceiros. Eu posso praticamente garantir, com base em mais de uma década de
experiência, que, daqui a cinco anos, pelo menos um dos fundadores terá deixado sua empresa aqui
representada hoje.192
Essa equipe, portanto, não cria mecanismos para facilitar e ajudar a estruturar divórcios graciosos
e para oferecer os ajustes internos necessários à medida que o empreendimento cresce.
Motivações destrutivas em investidores, membros potenciais da equipe ou no líder empreendedor
significam confusão. As equipes sofrem se eles não estão atentos a sinais de motivações
potencialmente destrutivas, como uma preocupação precoce de um membro da equipe com o poder
e o controle. Nesse contexto, tem-se argumentado que a administração de conflitos é uma tarefa
essencial para os membros das equipes. Um estudo de equipes autofortalecidas descobriu que o
modo como os membros da equipe administram seus conflitos pode afetar sua autoeficácia, bem
como o desempenho geral da equipe. Os membros da equipe nesse estudo foram mais eficazes
quando reconheceram que queriam resolver o conflito em benefício mútuo e que o objetivo é
ajudar uns aos outros a conseguirem o que os outros realmente precisam e valorizam, e não tentar
vencer ou superar uns aos outros.193
Por fim, as equipes do novo empreendimento podem presumir que a confiança é garantida. A
integridade é importante para o sucesso do negócio no longo prazo, e o mundo está cheio de
pessoas éticas de alta qualidade; mas o mundo real também é habitado por predadores, bandidos,
tubarões, fraudes e impostores. O Capítulo 10 contém uma discussão detalhada sobre a importância
da integridade em atividades empreendedoras. É paradoxal que um empreendedor não consiga ter
sucesso sem confiança, mas ele provavelmente também não consegue ter sucesso com uma
confiança cega. Confiança é algo que se conquista, geralmente aos poucos; ela exige muita paciência
e muitos testes no mundo real. Essa é, sem dúvida, uma das principais razões por que os
investidores preferem ver equipes que trabalharam em estreita colaboração. Quando se trata de
confiança, o cinismo passa ao largo, e as equipes que não prestam atenção aos detalhes, como
realizar a devida diligência em relação a uma pessoa ou empresa, podem cair em uma armadilha.
Recompensas e incentivos
Fatiando a torta do fundador
Uma das perguntas mais frequentes de jovens empreendedores é: Quanta participação acionária
deve ir para cada participante? (O Capítulo 13 examina as diversas metodologias utilizadas pelos
capitalistas de risco e investidores para determinar quais partes da empresa são exigidas pelo
investidor em diferentes rodadas de investimento.) Considere as recentes discussões com Jed, um
ex-aluno, que obteve um financiamento substancial na fase inicial de John Doerr, da Kleiner,
Perkins, Caufield & Byers. O conselho de Jed e de todos os outros é o mesmo.
Primeiramente, começo com uma filosofia e um conjunto de valores que se resumem ao grande
princípio de Ewing Marion Kauffman: Compartilhe sua riqueza com aqueles que ajudam a criar
valor e, portanto, riqueza. Depois de superar esse obstáculo, é menos provável que você fique
pendurado sobre o percentual na sociedade. Afinal, 51% de nada é nada. A chave é fazer a torta
ficar tão grande quanto possível. Em segundo lugar, o objetivo final de qualquer empresa apoiada
por capital de risco é realizar a colheita por um preço pelo menos 5 a 10 vezes o investimento
inicial. Assim, a empresa vai ser vendida através de uma oferta pública inicial (IPO) ou para uma
empresa maior. É útil pensar de trás para frente, da estrutura de capital no momento da IPO até a
visualização e definição do que vai acontecer e quem vai conseguir o quê. A maioria das IPOs de
pequenas empresas apoiadas por capital de risco durante os mercados de capitais robustos do final
da década de 1990 teria de 12 a 15 milhões de ações em circulação após a IPO. Na maioria das
situações para empresas americanas, de 2,5 a 4 milhões ações são vendidas ao público
(principalmente a investidores institucionais) de $12 a $15 por ação, em função da qualidade
percebida pelos clientes da empresa e da robustez do apetite para IPOs no momento. O número
poderia ser reduzido pela metade ou duplicado. Normalmente, o fundador/CEO possui de 1
milhão a 3 milhões de ações após a IPO, com valor entre $12 milhões e $45 milhões. Analisando
sob essa perspectiva, é muito mais fácil ver por que encontrar uma grande oportunidade, construir
uma grande equipe e compartilhar a riqueza com a ampla participação acionária da equipe é muito
mais importante do que saber qual percentual da empresa é de propriedade do empreendedor.
Por último, especialmente para os jovens empreendedores na casa dos 20 ou 30 anos de idade,
esse não será seu último empreendimento. A única coisa mais importante é que ele seja bem-
sucedido. Faça isso acontecer, e as futuras possibilidades serão ilimitadas. Tudo isso pode ser
arruinado se o fundador/CEO simplesmente ficar ganancioso e supercontrolador, mantendo a
maioria da empresa para si mesmo, em vez de criar uma torta enorme e compartilhada.
Uma abordagem para conseguir recompensas e acumular patrimônio
Existem cinco realidades fundamentais em quase qualquer novo empreendimento:
1. O caixa é o rei, e nunca é suficiente.
2. Você ficará sem dinheiro muito mais cedo do que imagina.
3. As vendas são o que mais importa.
4. O talento é a chave para o sucesso.
5. A criação e a realização de patrimônio determinam o retorno.
Portanto, pensar em como os fundadores vão remunerar a si mesmos e à equipe, os novos
talentos e a equipe de confiança é uma tarefa inicial essencial dos fundadores. Ter em mente alguns
princípios válidos pode orientar esse esforço e criar um projeto e as expectativas para o futuro.
Princípio #1: Compartilhe a riqueza com as pessoas de alto desempenho que contribuem para sua
criação. Isso implica uma participação acionária maior que o normal e uma saudável opção de
ações. Os investidores geralmente gostam de ver 10 a 20% das ações da empresa totalmente
diluídas e reservadas para atrair futuros talentos e para criar incentivos e recompensas pelo alto
desempenho. No exercício disponível para download neste capítulo, que chamamos de
“Cortando a torta do patrimônio”, apresentamos algumas diretrizes e sugerimos que você pense
na estrutura de capital e da participação acionária do empreendimento, reconhecendo que isso
vai levar tempo, e que um cronograma de cinco a sete anos ajudará a minimizar qualquer erro
de contratação.
Princípio #2: O conceito de justiça — trate os outros como você gostaria de ser tratado. Essa
participação e essa remuneração são um negócio que você consideraria justo e razoável se
estivesse na situação da outra pessoa? Isso não significa que todos devem ter igualdade na
sociedade. É aqui que a equipe de confiança pode ser valiosa para ajudar a orientar os números
que representam o mercado de talentos em sua área, seja ele de marketing, financeiro ou
técnico. Imagine quais seriam esses números em São Paulo para uma pessoa de grande talento
técnico versus uma pequena cidade rural do interior do país. Se você não consegue ter uma boa
visão da abrangência do mercado, você ainda não tem a equipe de confiança certa para receber
conselhos e não fez o dever de casa de maneira adequada.
Princípio #3: Recompense os resultados, e especialmente aqueles que criam receita e atraem e
desenvolvem talentos chave. Isso pode parecer óbvio, mas é incrível como outros critérios podem
ficar no caminho. Por exemplo, um gênio técnico inteligente, articulado e forte de espírito que é
o fundador de primeira viagem de uma empresa pode sofrer da ilusão de que sua contribuição
técnica por si só impulsionará o sucesso da empresa e, portanto, deve reter 15 a 25% ou mais do
patrimônio da empresa. Uma estrutura societária como essa tornará praticamente impossível
levantar capital de risco e atrair talentos chave para a empresa. Esse princípio também implica
uma programação de aquisição, geralmente de pelo menos cinco e, às vezes, sete anos ou mais,
segundo a qual as ações são limitadas e recebidas de acordo com o desempenho de cada pessoa.
As pessoas chave que não trabalham arduamente recebem apenas as ações a que têm direito, e o
restante fica à disposição da empresa para premiar e motivar outras pessoas.
Princípio #4: O patrimônio suado é importante — e muito! Os estágios iniciais de uma empresa
exigem um trabalho muito árduo e muitos sacrifícios. Jae Chang, fundador e gênio de TI da
empresa de serviço de informações baseado na Internet mencionada anteriormente, vivia com
$695 por mês em Boston em meados da década de 1990, incluindo o aluguel. Ele recebeu ações
da empresa em vez de salário porque os fundadores tinham levantado um pouco mais de $100
mil de capital semente e não tinham recursos para pagar salários. Os irmãos fundadores
compartilhavam um pequeno apartamento, e um deles dormiu no sofá durante o primeiro ano.
Assim, um bom teste para os fundadores é a vontade dos membros potenciais da equipe de se
sacrificarem, mesmo sabendo das realidades da concorrência que você enfrenta para atrair
talentos.
Princípio #5: Química – química – química. O talento mais brilhante, o produto ou serviço mais
criativo e o plano de negócios mais bem desenvolvido e financiado do planeta não terão sucesso
se não houver uma química forte entre a equipe de fundadores que é incorporada à cultura da
empresa. As habilidades de respeitar uns aos outros e trabalhar bem em conjunto, especialmente
quando a estrada é a mais íngreme e a mais cheia de buracos e a mais escura, são cruciais.
Quando você e os membros potenciais da equipe começam a falar seriamente sobre fazer um
empreendimento juntos, pode ser útil chegar a um acordo sobre alguns princípios orientadores.
Você pode ter outras pessoas para adicionar, mas estas servirão bem no processo. Sem esses
princípios subjacentes, o processo muitas vezes descamba para as negociações intermináveis e uma
empresa natimorta. Isso não garante que você vai concordar com uma estrutura de propriedade,
mas certamente pode ajudar.
Considerações de valor
As contribuições dos membros da equipe podem variar em natureza, extensão e sincronismo. No
desenvolvimento do sistema de recompensas, especialmente na distribuição de ações, as
contribuições em algumas áreas são de especial valor para um empreendimento:
• Ideia. Nessa área, o criador da ideia precisa ser considerado, especialmente se foram
desenvolvidos segredos comerciais ou uma tecnologia especial para um protótipo ou se foi feita
uma pesquisa de mercado ou de produto.
• Preparação do plano de negócios. A elaboração de um plano de negócios aceitável, em termos de
recursos financeiros e horas gastas, precisa ser considerada.
• Comprometimento e risco. Um membro da equipe pode investir um grande porcentual de seu
patrimônio líquido na empresa, estar em perigo se a empresa fracassar, ter de fazer sacrifícios
pessoais, trabalhar longas horas e com grande esforço, arriscar sua reputação, aceitar um salário
reduzido ou já ter usado uma grande quantidade de horas em prol do empreendimento. Esse
compromisso e esses riscos precisam ser considerados.
• Habilidades, experiência, reputação ou contatos. Um membro da equipe pode levar para o
empreendimento habilidades, experiências, reputação ou contatos em áreas como marketing,
finanças e tecnologia. Se esses forem de importância crítica para o novo empreendimento e não
estiverem facilmente disponíveis, precisam ser considerados.
• Responsabilidade. A importância do papel dos membros da equipe para o sucesso da empresa
deve ser considerada.
Ser o autor da ideia ou gastar uma grande quantidade de tempo ou dinheiro na preparação do
plano de negócios muitas vezes é algo supervalorizado. Se esses fatores são avaliados em termos do
verdadeiro sucesso da empresa ao longo do caminho, é difícil justificar muito mais do que 15% a
20% de participação em função disso. Comprometimento e risco, competências, experiência e
responsabilidade contribuem muito mais para gerar o sucesso de um empreendimento.
A lista anterior é valiosa na tentativa de ponderar com justiça as contribuições relativas de cada
membro da equipe. As contribuições em cada uma dessas áreas têm algum valor; cabe à equipe
chegar a um acordo sobre como atribuir valor às contribuições e, ainda, deixar flexibilidade
suficiente para permitir alterações.
Resumo do capítulo
EXERCITANDO A MENTE
Maclean Palmer*
Perguntas preparatórias
1. Av alie a decisão da Maclean Palmer de criar um nov o fundo de capital de risco em 2000 e seu
progresso até hoje.
2. Qual é a sua av aliação da equipe?
3. Destaque os principais riscos que v ocê v ê, as questões due diligence (auditoria/v erificação) que
v ocê enfocaria, e quem v ocê contataria como analista de fundos de pensões para o fundo.
4. Prepare um esboço detalhado do que v ocê incluiria em um memorando de emissão priv ada de
ações para div ulgar o fundo para inv estidores potenciais.
5. Quem dev e inv estir em um fundo de capital de risco?
Maclean Palmer
Maclean Palmer caminhou até uma praia em Martha’s Vineyard para desfrutar do sol quente que se
punha no dia que se rev elou crucial em sua tentativ a de iniciar um fundo de private equity de $200
milhões. Naquela tarde de agosto de 2000, Palmer e seus quatro parceiros escolhidos tinham tomado
uma decisão coletiv a que, para melhor ou para pior, mudaria suas v idas para sempre.
Em menos de dois meses, os parceiros encerraram seus trabalhos, v enderam suas casas e mudaram
com suas famílias para Boston para começar a criar um memorando de oferta para um fundo de
private equity que eles estav am certos que atrairia um fluxo lucrativ o e diferenciado de transações.
Com 2000 se preparando para ser o ano de maior angariação de fundos de capital de risco na história,
parecia que eles não poderiam ter escolhido um momento melhor para agir por conta própria.
* Este caso foi preparado por Carl Hedberg sob a direção do professor Jeffry Timmons, Franklin W. Olin
Distinguished Professor of Entrepreneurship no Centro de Empreendedorismo Arthur M. Blank, Babson
College. © Copyright Babson College, 2004. Financiamento concedido pela Fundação Franklin W. Olin.
Todos os direitos reserv ados.
A ética e o empreendedor
Resultados esperados
A linha tênue entre o sucesso e o fracasso de uma empresa muitas vezes se resume à ética e à integridade dos
fundadores e da equipe. Carreiras e empresas floresceram e se desintegraram por causa de decisões éticas fantásticas ou
lamentáveis dos fundadores. Nenhum assunto neste livro todo é mais importante ou mais difícil de dominar do que
este.
Após terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Discutir um pouco da história, filosofia e pesquisas sobre a natureza da ética nos negócios e o contexto para
refletir sobre o comportamento ético.
2. Relacionar a importância da consciência ética e de padrões elevados em uma carreira empresarial.
3. Examinar decisões que envolvam questões éticas e suas próprias decisões e argumentações em situações éticas.
4. Discutir com outras pessoas as implicações éticas das decisões que você tomou, e identificar como elas podem
afetar você, seus parceiros, seus clientes e seus concorrentes nos contextos descritos.
5. Descrever algumas orientações práticas, dicas e conselhos para enfrentar e tomar decisões éticas sólidas.
Os autores são muito gratos aos professores James Klingler e William Bregman, do Centro de
Empreendedorismo na Universidade Villanova, Villanova, PA, por suas contribuições para nossa
reflexão sobre esse assunto importante e desafiador. Incluímos seu trabalho criterioso e prático ao
longo deste capítulo revisado. Seu trabalho influenciou como pensamos e apresentamos este
material agora.
Resumo de ética
A grande maioria dos empreendedores bem-sucedidos acredita que altos padrões de ética e
integridade são extremamente importantes para o sucesso no longo prazo. Por exemplo, Jeffry
Timmons e sua colega Howard H. Stevenson realizaram um estudo com 128
presidentes/fundadores presentes no programa Owner/President Management (OPM) da Harvard
Business School em 1983.194 Suas empresas normalmente tinham vendas de $40 milhões, e as
vendas variavam de $5 milhões a $200 milhões. Esses empreendedores também eram muito
experientes, com idade média em torno dos 40 anos, e cerca de metade tinham fundado suas
empresas. Eles foram convidados a nomear os mais importantes conceitos, habilidades e
conhecimentos para o sucesso em suas empresas na época e o que eles seriam dali a cinco anos. A
resposta a essa pergunta foi surpreendente o bastante para que o New York Times de domingo
relatasse os resultados: 72% dos presidentes que responderam afirmaram que altos padrões éticos
foram o único fator mais importante para o sucesso de longo prazo.195 Um estudo de maio de 2003
realizado pelo Aspen Institute, descobriu que os alunos de MBA estão preocupados que as escolas
não estejam fazendo o suficiente para prepará-los para os dilemas éticos que eles podem enfrentar
no mundo empresarial. Setecentos alunos de MBA dos Estados Unidos, Canadá e Grã-Bretanha
foram examinados, e os resultados, somados às reações dos alunos, são abordados na edição de 21
de maio de 2003, do Chronicle of Higher Education. A preocupação e a consciência desses alunos
não são surpreendentes, dada a recente onda de escândalos corporativos. Os lapsos de ética dos
executivos da Enron, por exemplo, destroem a confiança na atividade empresarial em todos os
níveis. O estudo terminou em maio de 2006, com veredictos de culpado para os antigos altos
executivos Kenneth Lay e Jeffrey Skilling.
As disciplinas éticas convencionais foram acusadas de lidar com o campo empresarial definindo
um escopo estreito de investigação para poder oferecer uma resposta definitiva. O que é ético nem
sempre é óbvio; em vez disso, situações que envolvem questões éticas muitas vezes são ambíguas.
Hoje, como acontecia durante boa parte do último século, alunos, executivos e outras pessoas têm
recebido muitos sinais conflitantes, já que “primeiro os artistas e intelectuais, depois segmentos mais
amplos da sociedade, desafiaram todas as convenções, proibições e regulamentações que sufocavam
o espírito humano ou bloqueavam seus apetites e ambições”.196
Essa discussão também gerou muita controvérsia. Por exemplo, um artigo provocador e
controverso publicado na Harvard Business Review afirmou que a ética dos negócios não era a
mesma da sociedade, mas a de um jogo de pôquer.197 O autor do artigo argumentou: “A maioria
dos executivos não são indiferentes à ética em suas vidas privadas, todos concordam com isso.
Minha ideia é que, em suas vidas profissionais, eles deixam de ser cidadãos privados; eles se tornam
jogadores que devem ser orientados por um conjunto um pouco diferente de padrões éticos”. O
autor argumentou, também, que a ética pessoal e a ética empresarial muitas vezes não estão em
harmonia, e deve-se chegar a uma solução através da negociação ou da concessão. O artigo
provocou uma tempestade de respostas. A pergunta permanece: Como se espera que os executivos
atuem neste sistema capitalista?
Além disso, a lei, que você poderia esperar que fosse preto no branco, está cheia de questões
espinhosas. As leis não têm apenas autoridade, mas também limitações. As leis são feitas com
premeditação e com o deliberado propósito de garantir a justiça. Elas são, portanto, éticas na
intenção e merecem respeito. No entanto, as leis são feitas em legislaturas, não no céu. Eles não se
antecipam às novas condições; elas nem sempre têm o efeito que se destinavam a ter; às vezes elas
conflitam umas com as outras; e eles são, na sua redação factual, incapazes de fazer julgamentos
quando várias considerações éticas estão na balança ou parecem em guerra umas com as outras.
Assim, desde os primórdios da história registrada no Egito e no Oriente Médio, um código de leis
sempre esteve acompanhado de um intérprete das leis humanas, um juiz, para decidir quando a
quebra da carta da lei não viola o espírito ou a situação que a lei foi destinada a cobrir. Grandes
momentos da história, da religião, da filosofia e da literatura se concentram no dilema jurídico-
ético, e as equipes de debates enfraqueciam o dilema se quisessem que ele desaparecesse.
Estereótipos éticos
Agora, como no passado, os Estados Unidos são vistos como um país que oferece um clima
convidativo e acolhedor para aqueles que desejam iniciar suas próprias empresas e colher as
recompensas. Até certo ponto, isso ocorre porque o governo federal tem incentivado, em um grau
maior que na maioria dos outros países, uma atmosfera em que as forças do mercado livre, da
iniciativa privada e da responsabilidade individual e da liberdade possam prosperar. Isso ainda está
engatinhando no Brasil, que apesar de apresentar taxas crescentes, ano após ano, de abertura de
empresas, ainda cria muitas barreiras aos empreendedores para que esses constituam empresas
legalmente, seguindo todas as premissas legais.
No caso americano, essas leis, promulgadas em resposta às mudanças de percepção da sociedade
sobre o que constituem as práticas empresariais éticas, tiveram o mesmo efeito desejável de
estimular aqueles em muitas indústrias a desenvolverem códigos de ética — em grande parte,
porque eles queriam ter liberdade para definir suas próprias regras em vez de ter regras que lhes
foram impostas por legislações.
Como o clima ético das empresas mudou, a imagem do empreendedor também mudou. Horatio
Alger personifica o estereótipo do bom. Os empreendedores que faziam negócios no clima
econômico irrestrito do século XIX — a era dos barões ladrões, em que os atos de sabotagem
industrial eram comuns — representam o estereótipo cruel. As batalhas de James Hill e Edward
Harriman sobre os direitos das ferrovias, a suposta sabotagem de John D. Rockefeller às refinarias
de seus concorrentes no ramo do petróleo, a exploração do trabalho infantil, entre outros exemplos,
deixaram um sabor desagradável para os empreendedores mais eticamente conscientes de hoje.
No entanto, os historiadores atentos do empreendedorismo americano também se lembram que,
independentemente das normas pelas quais eles são julgados ou das motivações que lhes são
atribuídas, alguns empreendedores americanos devolveram à sociedade instituições como a
Biblioteca Morgan e a Fundação Rockefeller. O legado extraordinário de Andrew Carnegie é outro
exemplo. (Acadêmicos são muito mais inclinados a analisar e dissecar o comportamento ético do
setor empresarial, em comparação ao clero ou mesmo à própria academia. Em muitas comparações,
o comportamento do setor empresarial pareceria completamente puro.)
O caso de Carnegie também é interessante porque ele descreve a mudança total de atitude que
veio depois que ele tinha acumulado sua fortuna. Carnegie, filho de um tecelão escocês, criou uma
fortuna pessoal de $300 milhões na produção de aço bruto entre 1873 e 1901. (Isso representa
$130 bilhões em dólares de hoje!) Carnegie acredita que a concorrência “garante a sobrevivência
dos mais aptos em cada departamento”. Carnegie também achava que “o fato de que esse talento
para organização e administração é raro entre os homens é provado pelo fato de que,
invariavelmente, ele assegura enormes recompensas para quem o possui”.198 Carnegie parecia tão
satisfeito com a justeza de sua visão que não tentou conciliá-la com o fato de que os trilhos de aço
britânicos foram efetivamente excluídos por uma tarifa de proteção de mais da metade do preço de
produção de cada tonelada de trilhos de aço.199 No entanto, o fato de que a mente de Carnegie não
estava confortável com sua fortuna é evidente a partir de sua declaração: “Eu daria ao meu filho
uma maldição do dinheiro todo-poderoso”.200 Depois de 1901, quando vendeu a Carnegie Steel
para a United States Steel sob pressão de um grupo liderado por J. P. Morgan, Carnegie
supervisionou pessoalmente doações de mais de $300 milhões nos Estados Unidos e na Grã-
Bretanha. Entre suas doações para a humanidade estavam mais de 2.800 bibliotecas, um
Endowment for International Peace, e o Instituto Carnegie de Pittsburgh.
Do ponto de vista de hoje, pode-se descrever que esses empreendedores agem em interesse
próprio. No entanto, quando o mesmo tipo de generosidade empresarial é demonstrada hoje por
pessoas como Armand Hammer, da Occidental Petroleum; Ted Turner, da famosa CNN; e Bill
Gates, da Microsoft, estamos mais propensos a falar de seus atos como filantropia, e não como
cumprimento de seus contratos sociais.
Um toque de desconfiança ainda atinge a atividade empresarial, e a palavra empreendedor ainda
pode conotar a alguns uma pessoa que pertence a um grupo intrigante e impiedoso que se encontra
bem abaixo dos anjos. Em 1975, a Time sugeriu que um executivo poderia ser o candidato mais
qualificado para a presidência dos Estados Unidos, mas destacou a “desconfiança americana
profundamente enraizada quanto à motivação dos executivos”.201 Citando John T. Conner,
Presidente da Allied Chemical e ex-chefe da Merck and Company, os editores da Time
acrescentaram: “Qualquer um com experiência profissional anterior se torna imediatamente
suspeito. Certos segmentos acham que ele não consegue tomar uma decisão em prol do interesse
público”.202 No entanto, em 1988, a profecia da Time foi cumprida quando George Bush,
empresário do petróleo, foi eleito presidente dos Estados Unidos. Na virada do século,
empreendedores comprovados, como o prefeito de Nova York, Michael Bloomberg, eram vistos
como inovadores que poderiam levar um novo estilo de liderança para o governo.
A ética deve ser ensinada?
Assim como a década de 1990 marcou o início de uma nova era do empreendedorismo mundial,
Andrew Stark afirma que o mundo da ética empresarial se redefiniu:
Os defensores da nova ética empresarial podem ser identificados pela sua aceitação de dois
princípios fundamentais. Embora concorde com seus colegas que a ética e o interesse podem entrar
em conflito, eles tomam essa observação como ponto de partida, e não como ponto final de uma
tarefa analítica do eticista. [...] Em segundo lugar, a nova perspectiva reflete uma consciência e uma
aceitação do trabalho sujo de motivos mistos.203
O desafio para este novo grupo de especialistas em ética empresarial é a ponte entre os filósofos
morais e os administradores. Os eticistas empresariais falam de “moderação, pragmatismo,
minimalismo”204 em sua tentativa de “conversar com administradores de verdade em uma
linguagem relevante para o mundo que habitam e os problemas que eles enfrentam”.205 Com esse
enfoque no lado prático da tomada de decisões, cursos sobre ética podem ser úteis para
empreendedores e todos os administradores.
TABELA 10.1
QUADRO 10.1
QUADRO 10.2
QUADRO 10.3
Eu sabia o que seria necessário para eles terem sucesso na conquista do tipo de penetração de
mercado que procurávamos. Eu também sabia que a economia de seus negócios definitivamente
precisava das margens mais altas de 15%, e não dos royalties mais baixos. Então percebi que, se eu
lhes oferecesse o total de royalties, eles perceberiam que eu estava do lado deles e que isso criaria
uma boa vontade tamanha que, quando tivéssemos algum problema grave ao longo do caminho —
e eles sempre aparecem —, nós conseguiríamos trabalhar juntos para resolvê-los. E foi exatamente
isso que aconteceu... Se eu tivesse explorado sua ansiedade de ser nosso distribuidor, isso teria
voltado para me assombrar depois.
Revisão do exercício de ética
As seguintes declarações são feitas frequentemente, mesmo por empreendedores praticantes:
Como podemos pensar em ética quando não temos tempo suficiente nem mesmo para pensar sobre
a administração de nosso empreendimento? Os empreendedores são fazedores, e não pensadores
— e ética é um conceito abstrato demais para ter qualquer relação com as realidades empresariais.
Quando você está lutando para sobreviver, não está preocupado com os meios que utiliza — você
está lutando por uma coisa: a sobrevivência.
A empresa depende de todas as pessoas com quem trabalhamos para salvaguardar nossos
padrões e ética. Embora as exigências éticas às vezes sejam pouco claras, as seguintes
perguntas fornecem uma boa orientação para aqueles em dúvida quanto à sua conduta:
• Será que minhas ações são éticas em todos os aspectos?
• Será que minhas ações cumprem integralmente a legislação e as normas da empresa?
• Será que minhas ações serão questionadas por supervisores, colaboradores, familiares e
público em geral?
• Como eu me sentiria se minha ação fosse relatada no jornal?
• Como eu me sentiria se outro empregado, empreiteiro, cliente ou fornecedor agisse da
mesma maneira?
• Será que minhas ações têm a aparência de impropriedade?
Fonte: The MENTOR Network (www.TheMentorNetwork.com). Fundada em 1980, The MENTOR Network é uma rede de
prestadores de serviços humanos que oferece um leque de serviços comunitários de qualidade para adultos e crianças com
deficiências de desenvolvimento ou danos cerebrais adquiridos; para crianças e adolescentes com desafios emocionais,
comportamentais e médicos complexos; e para idosos que necessitam de cuidados em casa.
Resumo do capítulo
http://www.managementhelp.org Uma gama de trabalhos e artigos (em inglês) sobre ética da Free
Management Library.
http://www.pdcnet.org A Business Ethics Quarterly publica artigos acadêmicos (em inglês) com
uma variedade de orientações disciplinares que se concentram no tópico geral da aplicação da ética à
comunidade empresarial internacional.
http://www.business-ethics.org Um instituto internacional que fomenta práticas globais de
negócios para promover o desenvolvimento econômico equitativo, a sustentabilidade dos recursos e
formas justas de governo.
http://www.business-ethics.com A Business Ethics é uma publicação on-line que oferece
informações, opiniões e análises de questões críticas no campo da responsabilidade corporativa.
http://www.etco.org.br Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial. Congrega empresas e entidades
empresariais não governamentais com o objetivo de promover a melhoria no ambiente de negócios e
estimular ações que evitem desequilíbrios concorrenciais causados por evasão fiscal, informalidade,
falsificação e outros desvios de conduta.
EXERCITANDO A MENTE
Você já pensou nisso?
194
J. A. Timmons e H. H. Stevenson, “Entrepreneurship Education in the 1980s”, apresentado no 75th Anniversary Entrepreneurship
Symposium, Harvard Business School, Boston, 1983. Proceedings, pp. 115–34.
195
Para uma visão geral dos fundamentos filosóficos da ética e uma estrutura de tomada de decisões, consulte “A Framework for
Ethical Decision Making”, J. L. Livingstone et al., Babson College Case Development Center, 2003.
196
D. Bok, “Ethics, the University, & Society”, Harvard Magazine, maio–jun. 1988, p. 39.
197
Reproduzido com autorização de Harvard Business Review. Um trecho de “Is Business Bluffing Ethical?” de A. Z. Carr, jan.–fev.
1968, pp. 145–52. Copyright © 1967 do presidente e colegas da Harvard College.
198
“Introduction to Contemporary Civilization in the West”, The Gospel of Wealth (Nova York: Century, 1900), p. 620.
199
W. E. Woodward, A New American History (Garden City, NY: Garden City Publishing, 1938), p. 704.
200
Idem, p. 622.
201
“Time Essay: New Places to Look for Presidents”, Time, 15 de dezembro de 1975, p. 19.
202
Ibid.
203
A. Stark, “What’s the Matter with Business Ethics?” Harvard Business Review, maio-jun. 1993, p. 46.
204
Idem, p. 48.
205
Ibid.
206
D. Bok, “Is Dishonesty Good for Business?” Business & Society Review, verão de 1979, p. 50.
207
J. A. Byrne, “Can Ethics Be Taught? Harvard Gives It the Old College Try”, BusinessWeek, 6 abr. 1992, p. 34.
208
C. Nayak, “Why Ethics DMEV Is under the Microscope”, The Harbus, 1989.
209
A. Stark, “What’s the Matter with Business Ethics?” Harvard Business Review, maio-jun. 1993, p. 38.
210
D. P. Boyd, “Enhancing Ethical Development by an Intervention Program”, manuscrito não publicado, Northeastern University,
1980.
211
Lawrence Kohlberg foi professor na Harvard University. Ele se tornou famoso por seu trabalho lá como psicólogo do
desenvolvimento e, em seguida, se mudou para o campo da educação moral. Seu trabalho se baseou em teorias de que os seres
humanos se desenvolvem filosófica e psicologicamente de uma forma progressiva. Kohlberg acreditava e demonstrava em vários
estudos publicados que as pessoas evoluíam em seu raciocínio moral (ou seja, em suas bases de comportamento ético) através de
uma série de seis fases identificáveis.
212
L. S. Paine, “Managing for Organizational Integrity”. Harvard Business Review, mar.–abr. 1994, pp. 105–17.
213
“Letter to Editor”, The Wall Street Journal, 17 out. 1975.
214
D. McClelland, Achieving Society (Nova York: Van Nostrand, 1961), p. 331.
Parte IV
Financiando empresas
empreendedoras
Uma estratégia de financiamento dev e ser impulsionada por metas corporativ as e pessoais, por
necessidades financeiras resultantes e, em última instância, pelas alternativ as disponív eis. Em última
análise, essas alternativ as são geridas pelo relativ o poder de barganha do empreendedor e por sua
habilidade na administração e orquestramento dos mov imentos para angariamento de fundos. Por sua
v ez, esse poder de barganha é gerido, em grande parte, pela crueldade do tempo real, quando a
empresa fica sem dinheiro dev ido à sua atual taxa de queima de capital.
Hoje, existem mais alternativ as para financiamento de uma empresa do que nunca. Muitos afirmam
que o dinheiro continua abundante para empresas bem administradas em desenv olv imento e com a
promessa de crescimento lucrativ o. Empreendedores experientes dev em permanecer v igilantes em
relação aos alertas apontados aqui, a fim de ev itar a tentação míope de “pegar o dinheiro e sair
correndo”. Os custos do dinheiro podem v ariar de modo consideráv el.
Embora algumas dessas alternativ as pareçam distintas e afastadas, uma estratégia de financiamento
prov av elmente englobará uma combinação de dív ida e capital patrimonial (equidade). Ao considerar
quais são as melhores alternativ as financeiras para uma empresa em qualquer etapa específica de
crescimento, é importante extrair a experiência de outros empreendedores, inv estidores profissionais,
credores, contadores e outros profissionais.
Na busca pela dív ida ou pelo capital patrimonial, os empreendedores dev em assumir uma
abordagem profissional à seleção e apresentação de suas iniciativ as a inv estidores e credores.
Capítulo 11
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Descrever as atitudes e as abordagens singulares de um empreendedor bem-sucedido em relação a recursos —
pessoas, capital e outros ativos.
2. Identificar as questões importantes na seleção e na utilização eficaz de profissionais externos, como membros de
um conselho administrativo, advogados, contadores e consultores.
3. Articular decisões sobre recursos financeiros.
4. Analisar e discutir o caso da Quick Lube Franchise Corporation.
5. Criar simples demonstrações financeiras e de fluxo de caixa e um balanço patrimonial.
6. Descrever as maneiras pelas quais os empreendedores transformam menos em mais.
• Empreendedores eficazes são capazes de represent ar graficament e sua rede de cont at os at ual e a distinguir entre laços produtivos e laços simbólicos.
• Empreendedores eficazes são capazes de visualizar redes de cont at os eficazes como um aspect o fundament al para garant ir o sucesso de suas
empresas.
• Empreendedores eficazes são capazes de est abilizar e mant er redes de cont at os para aumentar sua eficácia e eficiência.
Empreendedores eficazes têm maior probabilidade de realizar ações com o intuito de aumentar a densidade e diversidade de suas redes de contatos do que
outras pessoas.
• Empreendedores eficazes reservam um tempo para atividades puramente aleatórias — coisas realizadas sem nenhum problema específico em mente.
• Empreendedores eficazes são capazes de verificar a densidade da rede de cont at o a fim de evitar um ex cesso de sobreposições (porque estas
afetam a eficiência da rede de contato) ao mesmo tempo que mantêm a solidariedade e a coerência.
• Empreendedores eficazes multiplicam, através da ex tensão do alcance de suas redes de contatos, o incentivo para uma melhor e mais rápida
adaptação às mudanças.
Fonte: Adaptado de P. Dubini e H. Aldrich, “Ex ecutive Forum: Personal and Ex tended Netw orks Are Central to the Entrepreneurial Process”, J ournal of Business
Vent uring 6, n. 5 (set. 1991), pp. 310–12. Copyright 1991, com permissão da Elsevier.
Existem muitos exemplos de controle de recursos das pessoas em vez de possuir esses recursos. No
ramo imobiliário, mesmo as maiores empresas não empregam grandes arquitetos em tempo
integral, mas, em vez disso, os contratam por projeto. A maioria das pequenas empresas não
emprega advogados; em vez disso, elas buscam assistência jurídica quando necessitam. Consultores
técnicos, engenheiros de projeto e programadores são outros exemplos de profissionais que podem
ser usados apenas quando necessários. Um exemplo dessa abordagem é uma empresa que cresceu e
alcançou $20 milhões em vendas em cerca de dez anos com $7.500 em dinheiro, uso liberado de
cartões de crédito, renda reduzida para os fundadores, trabalho árduo e muitas horas. Essa empresa
não teve de levantar nenhum capital ou investimento extra.
Um exemplo de ponto de vista contrário é ilustrado pela proposta de uma nova empresa na
indústria de software para minicomputadores. O plano de negócios pedia cerca de $300 mil, um
valor que pagaria apenas pelo desenvolvimento dos primeiros produtos. A maior prioridade no
posicionamento dos recursos financeiros da empresa, conforme determinado no plano de negócios,
era adquirir, logo no início, um computador que custava aproximadamente $150 mil. Os
fundadores se recusaram a levar em conta outras opções, como arrendar o computador ou arrendar
o tempo do computador. A empresa foi incapaz de atrair capital de risco, apesar de ter um plano de
negócios que, de outra forma, seria excelente. Os $150 mil levantados com investidores privados
informais não foram suficientes para perseguir a oportunidade, e os fundadores decidiram devolver
os recursos e abandonar a iniciativa. Uma equipe mais empreendedora teria descoberto um modo
de continuar sob essas circunstâncias.
Recursos financeiros
Analisando necessidades financeiras
Depois que a oportunidade for avaliada, a equipe da nova empresa for criada e todos os recursos
necessários forem identificados, é hora de o empreendedor avaliar o tipo, a quantidade e o
momento certo dos recursos financeiros.
Como foi observado anteriormente, existe uma tentação de se colocar o carro à frente dos bois. Os
empreendedores ficam tentados a iniciar a avaliação das oportunidades de negócio —
especialmente seu pensamento sobre planos de negócios formais — analisando planilhas, em vez de
se concentrar primeiro em definir a oportunidade, decidir como aproveitá-la e preparar as
estimativas de necessidade financeira.
No entanto, quando chega o momento de analisar as necessidades financeiras, é importante
perceber que o caixa é a alma de uma empresa. Como disse James Stancill, professor de finanças da
Marshall School of Business da University of Southern Califórnia: “Qualquer empresa, não importa
o tamanho, se movimenta com o caixa, e não com os lucros. Você não pode pagar as contas com os
lucros, apenas com o caixa. Você não pode pagar os funcionários com os lucros, apenas com
caixa”.250 Os recursos financeiros quase sempre são limitados, e é necessário fazer compensações
importantes e significativas ao avaliar as necessidades de uma empresa e o momento certo dessas
necessidades.
Planilhas Os computadores e os programas de planilha são ferramentas que poupam tempo e
aumentam enormemente a produtividade e criatividade. As planilhas nada mais são do que peças
de contabilidade adaptadas para uso no computador.
As origens do primeiro programa de planilha, o VisiCalc, revela sua importância para os
empreendedores. Ele foi desenvolvido por um aluno de MBA, Dan Bricklin, enquanto frequentava
a Harvard Business School. O aluno precisava analisar demonstrações financeiras e balanços
patrimoniais pro forma, fluxos de caixa e pontos de equilíbrio para seus estudos de casos. A
pergunta “E se você considerasse isso e aquilo?” era feita com frequência.
A principal vantagem oferecida pelas planilhas para analisar as necessidades de capital é a
capacidade de responder a esse tipo de pergunta. Como observa Stancill, isso também assume uma
importância especial quando se considera o seguinte:
As medidas comuns de fluxo de caixa — receita líquida mais depreciação ou lucro antes dos juros
e impostos (EBIT) — oferecem uma indicação realista da posição financeira da empresa apenas
durante um período de vendas estáveis.251
Pense nas projeções de fluxo de caixa. Um empreendedor poderia responder a perguntas como “E
se as vendas crescerem apenas 5%, em vez de 15%?”, “E se apenas 50%, e não 65%, dos valores
faturados forem pagos em 30 dias?”. É possível ver o impacto das mudanças nessas projeções sobre
o fluxo de caixa.
O mesmo processo “e se” também pode ser utilizado em demonstrações financeiras e balanços
patrimoniais pro forma, orçamentos e cálculos de ponto de equilíbrio. Para ilustrar, ao alterar as
suposições sobre receitas e custos de tal forma que o caixa chegue a zero, o ponto de equilíbrio pode
ser analisado.
Um exemplo de como as análises feitas por computadores podem ser muito valiosas é a
experiência de um colega que estava pensando seriamente em lançar uma nova editora. Sua análise
da oportunidade era animadora, e fatores importantes como relevantes experiência e compromisso
do empreendedor líder estavam presentes. Também foram reunidas suposições a respeito de custos
fixos e variáveis, estimativas de mercado e prováveis necessidades de recursos iniciais. A próxima
tarefa era gerar fluxos de caixa mensais detalhados, a fim de determinar com maior precisão a
natureza econômica da empresa, incluindo o impacto da natureza sazonal do negócio. Essa análise
permitiria que o empreendedor determinasse a quantidade de dinheiro necessária para lançar a
empresa e a quantidade e o tempo necessário para recompensas potenciais. Em menos de três
horas, as suposições sobre receitas e despesas associadas à start-up foram inseridas em um modelo
no computador. Dentro de mais duas horas, ele conseguiu ver como a empresa ficaria, em termos
financeiros, nos primeiros 18 meses e o impacto de vários cenários “e se” diferentes. O resultado
líquido foi o abandono da ideia da nova empresa, pois a quantidade de dinheiro necessária parecia
maior do que o potencial de recompensa.
A força da análise feita por computadores também é uma fonte de problemas para
empreendedores que colocam sua “preferência” à frente dos fatos. Com tantas partes mutáveis,
uma análise que não é baseada em percepções sólidas sobre uma oportunidade provavelmente é
imprecisa.
Resumo do capítulo
1. Os empreendedores pensam e agem de modo criativo quando se trata de recursos. O que isso
significa, e por que é tão importante?
2. Descreva pelo menos dois recursos criativos de autossuficiência.
3. Por que a Internet se tornará um portal cada vez mais importante para o controle de recursos?
4. Ao selecionar conselheiros externos, consultores e afins, quais são os critérios mais importantes,
e por quê?
EXERCITANDO A MENTE
Perguntas preparatórias
1. Que motiv os a QLFC teria para entrar com uma ação contra a Huston?
2. Por que v ocê acha que a Huston solicitou uma reunião com Herget?
3. Que conselhos v ocê daria a Herget em relação ao pedido da Huston de realizar uma reunião com
a QLFC?
4. Como parte desse conselho, quanto v ale a QLFC?
5. Sua resposta à Pergunta 4 depende de como será a “colheita” da QLFC?
Faz um ano desde que a Huston, uma grande empresa de petróleo, adquiriu 80% da Super Lube, I nc.,
a franqueadora número um em centros de serv iço rápido de lubrificação e troca de óleo nos Estados
Unidos, com 1.000 estabelecimentos. Como resultado dessa incorporação, o maior franqueado da
Super Lube, a Quick Lube Franchise Corporation (QLFC), ficou em uma posição na qual seu principal
fornecedor, v eículo de financiamento principal e franqueador são a mesma entidade. Seria isso uma
oportunidade ou um desastre? Em abril de 1991, Frank Herget, fundador, presidente e CEO da QLFC
enfrentou uma das mais importantes decisões de sua v ida.
Histórico
A Super Lube foi inov adora no conceito de lubrificação rápida, atendendo às necessidades de
motoristas em relação a lubrificantes, óleos para motor e filtros em um edifício especial com
procedimentos altamente requintados. A empresa foi fundada em março de 1979 por Jeff Martin. Frank
Herget foi um dos quatro membros fundadores da equipe de Martin. Depois de alguns anos, Herget se
decepcionou com a v ida na sede do franqueador em Dallas. Ele acreditav a que o futuro da Super
Lube estav a na operação de centros de serv iço. I sso o colocou em div ergência com o fundador,
presidente e CEO Jeff Martin, que estav a entusiasticamente comprometido em franquear centros de
serv iços o mais rápido possív el. Martin e Herget se conheciam há muito tempo; então, procuraram
resolv er suas diferenças de modo aceitáv el para ambos. Suas discussões rapidamente resultaram na
decisão de que Herget compraria um centro de serv iços de propriedade da empresa ao norte da
Califórnia, trocando suas ações de fundador da Super Lube, no v alor de $64 mil, que ele originalmente
hav ia adquirido por $13 mil. Estav a fundada a Quick Lube Franchise Corporation.
* Este estudo de caso foi preparado pelos professores Stephen Spinelli e William Bygrav e. © Copyright
Babson College, 1991. Todos os direitos reserv ados.
Franchising
Resultados esperados
Após terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Explicar o que é franchising (franqueamento) e discutir a natureza das funções dos franqueadores e dos
franqueados.
2. Discutir os critérios para se tornar franqueado de um sistema existente, bem como para se tornar um
franqueador.
3. Descrever um método básico de seleção para avaliar as franquias com mais altas probabilidades de sucesso.
4. Analisar o modelo de relacionamento em franquias e seu uso como diretriz para o desenvolvimento de uma
empresa de franquia de alto potencial.
5. Analisar e discutir a estratégia de crescimento da franquia de uma empresa iniciante, Bagelz, e as decisões de
carreira de um de seus fundadores, Mike Bellobuono.
Introdução
Neste capítulo, vamos explorar o franqueamento e como ele se encaixa na definição de
empreendedorismo do Modelo Timmons. Vamos considerar o escopo do franqueamento e
examinar os critérios para determinar o tamanho da franquia a partir da perspectiva do franqueado
potencial e de um franqueador existente ou potencial. Apresentaremos vários padrões e modelos
que serão úteis na realização da devida diligência em uma oportunidade de franquia.
Vamos considerar como o franqueamento se encaixa em nossa definição de empreendedorismo
dada nos Capítulos 2 e 3. Você deve se lembrar que o foco de nossa definição de
empreendedorismo é o reconhecimento de oportunidades no intuito da criação de riqueza. O foco
do franqueamento é exatamente o mesmo. O franqueamento oferece um sistema cuidadoso para
remodelar e executar um sistema de fornecimento desenvolvido para extrair o valor máximo da
oportunidade. Assim como a oportunidade, o pensamento e a ação são elementos cruciais de uma
iniciativa empreendedora, além de serem componentes importantes de uma oportunidade de
franquia. O franqueamento também se encaixa em nossa definição de empreendedorismo porque
cada parceiro entende as expectativas de riqueza do outro e trabalham juntos em busca dessas
metas; o “vínculo” dos dois está selado como parceiros de uma aliança empreendedora de franquia.
Conforme eloquentemente descrito por Bob Rosenberg na introdução do capítulo, o
franqueamento é, em sua essência, uma aliança empreendedora entre duas organizações: o
franqueador e o franqueado. A relação bem-sucedida de um franqueamento define e explora uma
oportunidade como uma equipe. O franqueador é o inovador de conceitos que cresce ao buscar
parceiros ou franqueados para operar o conceito em mercados locais. Um franqueador pode nascer
quando existe pelo menos uma loja da empresa e a oportunidade foi testada. Uma vez que o
conceito tenha sido comprovado, o franqueador e o franqueado celebram um acordo para
desenvolver o conceito com base na crença de que existem vantagens mútuas para a aliança. A
natureza dessas vantagens é definida pela capacidade dos parceiros de explorar aspectos específicos
da oportunidade para a qual cada um, respectivamente, está mais adequado que o outro. O cerne
do franqueamento é o empreendedorismo — a busca e a intenção de obter riqueza explorando
determinada oportunidade. Um aspecto singular do franqueamento é que ele une duas partes,
ambas com intenções individuais de criação de riqueza através da exploração de oportunidade, mas
que decidem alcançar suas metas trabalhando juntas. Devido ao fato de o franqueamento alinhar
diferentes grupos de habilidades e capacidades do franqueador e do franqueado, o todo da
oportunidade de franquia é maior do que a soma de suas partes.
Em seu nível mais fundamental, o franqueamento é uma oportunidade de crescimento em ampla
escala, com base em uma parceria, e não somente através do esforço individual. Uma vez que a
empresa esteja operando com êxito, de acordo com o Modelo Timmons, é adequado pensar no
franqueamento como uma ferramenta de crescimento. A soma das atividades entre os parceiros é
coalescente em uma marca registrada ou comercial. A missão da aliança empreendedora é manter e
construir a marca. A marca sinaliza uma relação entre preço e valor nas mentes dos consumidores.
A receita é impulsionada porque o mercado responde à marca com mais compras ou compras a
preços maiores em relação à concorrência.
TABELA 12.1
Qualquer pessoa que esteja explorando oportunidades empreendedoras deve pensar seriamente
na opção de franqueamento. Como franqueador ou franqueado, esta opção pode ser uma forma
viável de compartilhar risco e recompensa, criar e fazer uma oportunidade crescer e levantar capital
humano e financeiro.
Como discutimos anteriormente, o nome comercial e a marca comercial são os bens mais valiosos
de um sistema de franquias. O sucesso de um franqueado depende muito da venda dos produtos
que se baseiam no patrimônio da marca e na força do franqueador. Tão importante quanto um
projeto de prestação de serviços bem fundamentado é para a fundação do conceito para o sucesso,
o regime de treinamento potencial é igualmente importante. Sem indivíduos adequadamente
treinados, um produto excepcional nunca chegará às mãos do consumidor. Portanto, um programa
de treinamento deficiente inevitavelmente diluirá a entrega constante e padronizada do produto e
pode até mesmo, em última análise, desgastar o valor da marca comercial.
Apoio em campo
Semelhante ao programa de treinamento que acabamos de mencionar está o apoio em campo.
Este terá pelo menos duas formas: um representante do franqueador visitará o local do franqueado
em pessoa e o franqueador vai reter especialistas residentes em sedes corporativas em cada uma das
disciplinas administrativas essenciais disponíveis para consulta. De modo ideal, o contrato de
licença proporcionará visitas programadas pelos agentes do franqueador à loja do franqueado com
os objetivos prescritos, como análise de desempenho, treinamento em campo, inspeção de
instalações, análise de marketing local e auditoria de operações. Infelizmente, alguns franqueadores
utilizam sua função de campo como exercício diplomático ou pejorativo em vez de para
treinamento e suporte. Quanto maior a essência das funções de campo, mais fácil o franqueado
justificar os custos com direitos autorais. Além disso, no ambiente controverso em que vivemos
atualmente, um programa de apoio em campo bem fundamentado deve amenizar as reclamações
dos franqueados sobre a falta de apoio do franqueador.
Uma forma de entender a motivação do apoio em campo do franqueador é investigar o modo
como o pessoal de apoio em campo é remunerado. Se os membros da equipe de campo são
remunerados de forma proporcional ao desempenho do franqueado e à lucratividade final, a
política terá um papel reduzido. Os principais sinais de alerta em relação a isso surgem quando são
pagos bônus pelo crescimento no número de lojas versus o crescimento de lojas individuais ou pelo
uso de produtos (fornecidos pelo franqueador) pelo franqueado. Evidentemente, assim como os
programas de treinamento prescritos pelo franqueador e acordados pelo franqueado, um programa
de qualidade no apoio em campo é outro fator integrante de sucesso. Um programa de apoio
deficiente pode acabar se tornando problemático.
Marketing, propaganda e promoção
As atividades de marketing certamente são uma das áreas mais sensíveis na relação contínua do
franqueado com o franqueador, porque imprimem o nome comercial e a marca comercial na mente
do consumidor para conseguir percepção — o produto mais importante da franquia. Se a entrega
do produto validar a mensagem de marketing, o valor da franquia é aumentado; no entanto, caso
não seja congruente, pode haver um efeito prejudicial tanto em nível local quanto nacional. À
medida que o número de lojas aumenta, os orçamentos de marketing aumentam e se espalham por
toda a organização em expansão, otimizando, assim, o programa de marketing.
Geralmente, os programas de marketing são financiados e implementados em três níveis
diferentes: nacional, regional e local. O orçamento nacional de propaganda normalmente é
controlado pelo franqueador e cada franqueado contribui para o fundo de propaganda com um
percentual sobre o faturamento nas vendas. O franqueador produz materiais (propagandas para
televisão, rádio e jornal; peças de mala direta e material para ponto de venda) para serem usados
pelos franqueados e, dependendo do tamanho do fundo, também compra tempo de mídia ou
espaço em nome dos franqueados. Como é impossível distribuir esses serviços igualmente entre os
franqueados de diferentes tamanhos em mercados diferentes, o contrato de licença deve especificar
o uso dos “melhores esforços” para se oferecer um tratamento quase igual entre os franqueados.
Embora os “melhores esforços” invariavelmente deixem alguns franqueados com mais exposição de
propaganda e alguns com menos, essa situação deve se estabilizar ao longo do tempo. Essa é uma
área de marketing que exige um monitoramento cuidadoso por ambas as partes.
O marketing, a propaganda e a promoção regionais são estruturados com base na área de maior
influência (AMI). Todas as lojas em uma determinada AMI devem contribuir com um porcentual
de seu faturamento de vendas para a “cooperativa” de propaganda da AMI.257 A função principal
da cooperativa normalmente é comprar mídia utilizando propaganda fornecida ou aprovada pelo
franqueador e coordenar promoções locais e regionais. Caso a franquia possua uma exigência de
cooperativa de propaganda regional no contrato de licença, esta também deve possuir estatutos de
cooperativa AMI padronizados. Esse estatuto delineia os direitos de voto e os parâmetros de gastos,
entre outros assuntos. Muitas vezes, um franqueado com uma única loja pode estar em
desvantagem em uma cooperativa organizada de modo ineficiente, enquanto um contribuinte
maior pode achar seus direitos de voto desproporcionalmente baixos em determinada cooperativa.
O terceiro cenário final de marketing normalmente é apelidado de propaganda local ou
marketing local de loja. Nesse nível, o franqueado está contratualmente obrigado a realizar gastos
diretos com propaganda. Existe, muitas vezes, um grande espectro admissível de gastos com
propaganda, dependendo das diretrizes do franqueador no contrato de licença. Infelizmente, o
contrato de licença provavelmente não será específico. Os franqueadores tentarão manter discrição
sobre essa questão para conseguir maior flexibilidade no mercado, enquanto os franqueados
competirão para controlar essa área. As lojas de propriedade da empresa devem ter exigências de
propaganda iguais às das unidades franqueadas para evitar que um franqueador receba uma
propaganda de graça; em relação a essa questão, o comportamento histórico é a melhor medida da
racionalidade.
O franqueador deve monitorar e forçar os gastos com marketing. Por exemplo, o cliente de um
franqueado que deixa uma AMI e entra em outra terá sido afetado pela propaganda das regiões
adjacentes. Além disso, os gastos com propaganda não realizados são impressões de marketing
desperdiçadas para o sistema. Quando isso acontece, a alavancagem de marketing inerente no
franqueamento não é otimizada.
Suprimentos
Na maioria dos sistemas de franquia, os principais benefícios incluem compras em grandes
volumes e controle de estoque. No contrato de licença existem várias maneiras de contabilizar essa
vantagem de economia de escala. A franquia deve empregar um padrão de melhores esforços e
boa-fé para obter contratos de suprimento nacional e regional.
Dependendo da natureza do produto ou serviço, os negócios regionais podem fazer mais sentido
que os negócios nacionais. O contato regional pode oferecer maiores vantagens ao franqueado
devido ao peso da remessa e às exigências de serviço ou custo. O franqueador inteligente reconhece
esse fato e implementa um plano de aquisição flexível. Quando existem as vantagens locais e o
franqueador não age adequadamente, os franqueados preenchem o vazio. A reunião mensal da
área de maior influência (AMI) então se torna um fórum expandido para os franqueados
expressarem suas avaliações e preocupações. Os resultados dessas organizações para fins específicos
podem ser a redução do controle de qualidade e a expansão da associação de franqueados além dos
limites do contrato de licença. A atividade avançada dessa natureza pode, muitas vezes, fracionar
um sistema de franquia e até mesmo fazer com que o franqueador se torne obsoleto. Em alguns
casos, o franqueador e as cooperativas de aquisição administradas pelo franqueado convivem
pacificamente, atuando como concorrentes e baixando os custos para o operador. No entanto, as
cooperativas de aquisição dupla reduzem as economias de escala e diluem os recursos do sistema.
Elas também oferecem um solo fértil para conflitos dentro da aliança de franquia.
Para fins de controle de qualidade, o franqueador se reserva o direito de publicar uma lista de
especificações de produto. A lista estabelece de modo claro os padrões de qualidade das matérias-
primas ou mercadorias usadas na operação. A partir dessas especificações, é gerada uma lista
posterior de fornecedores aprovados. Essa lista pode evoluir para um “acordo de exclusividade” de
franquia, que ocorre quando o contrato de licença de franquia no formato de empresa vincula o
franqueado à compra de um produto de marca especificado. Isso varia a partir da lista de
especificação de produtos porque a marca comercial, e não o conteúdo do produto, é a
especificação qualificada. A questão importante aqui é: o acordo de exclusividade de franquia e
produto cria uma melhoria para o franqueado no mercado? Em caso afirmativo, os controles com
isenção de interesses estão adequados para garantir que a precificação, livre de valor aumentado,
trará resultados positivos? Infelizmente, isso é impossível de ser quantificado de modo preciso. No
entanto, caso o acordo de exclusividade seja especificado no contrato de licença, aconselha-se que o
proprietário de franquia potencial faça uma avaliação antes de adquirir a franquia. Com esse tipo de
decisão em mãos, o franqueador deve provar o valor do acordo de exclusividade ou abandoná-lo.
Outra forma sutil de acordos de exclusividade ocorre quando o contrato de licença especifica uma
lista de fornecedores aprovados que, no fim das contas, inclui apenas um fornecedor. Caso seja
quase impossível adicionar fornecedores à lista, existe, de fato, um acordo de exclusividade. Além
disso, outro tipo de acordo de exclusividade pode ocorrer quando a especificação do produto é
escrita para que apenas uma marca comercial possa se qualificar. Um franqueador deve revelar
qualquer remuneração obtida pelo franqueador ou seus diretores, direta ou indiretamente, a partir
da aquisição do produto no sistema de franquia. Nesse caso, o teste de melhoria de valor de
mercado do franqueador é, novamente, a comprovação de um acordo verossímil.
FIGURA 12.1
O MRF é um quebra-cabeças, uma série de princípios sobre franquia, e cada um deles se encaixa
nos outros para formar um conceito de entrelaçamento de negócio que se solidifica à medida que as
ligações são implementadas de modo mais eficiente. Embora o processo tenha início no centro, com
o cliente, passe para o sistema de prestação de serviços e siga adiante a partir dali, o perímetro
externo de meios e mecanismos impulsiona a vantagem competitiva de um sistema de franquia. As
principais áreas de preocupação além do cliente e do SPS são a análise de transações, a estrutura
financeira, as questões de agência e a dinâmica das relações.
A análise de transações considera que as transações são mais bem atendidas em nível nacional
pelo franqueador e devem ser atendidas em nível local pelo franqueado.258 As funções típicas do
franqueador estão centradas nas economias de escala. As funções do franqueado incluem aquelas
que exigem capacidade empreendedora local, como contratação e promoção local. A estrutura ‐
financeira flui a partir da análise pro forma da demanda do cliente e dos custos associados ao
desenvolvimento e à execução do sistema de prestação de serviços. As questões de agência se
relacionam a delegar responsabilidade ao parceiro.259 Nenhum franqueador pode saber com certeza
que o franqueado está “fazendo a coisa certa” no nível da loja. Os franqueados não têm condição
de saber se o franqueador está sempre agindo em prol de seus interesses. A dinâmica das relações é
a área que permite que a parceria entre o franqueador e o franqueado seja continuamente alterada
e se desenvolva à medida que a empresa continua a se expandir.260 Qualquer parceria que segue
estritamente o que dita o contrato acaba em litígio.
O modelo de relacionamento em franquias (Figura 12.1) é dinâmico: à medida que os eventos
afetam um aspecto do modelo, todos os outros aspectos devem ser revistos em um processo
iterativo. Por exemplo, caso a renegociação do contrato de licença resulte em uma redução nos
direitos autorais, o modelo deve ser alterado. Uma alteração nos direitos autorais poderia ditar uma
alteração nos serviços que o franqueador fornece. Qualquer mudança cria um efeito cascata por
todo o sistema — uma reconstrução do quebra-cabeças.
O modelo de relacionamento em franquias começa com o reconhecimento e a moldagem de
oportunidades (cliente) e articula as vantagens competitivas e os custos do sistema de prestação de
serviços que deduzirão a demanda (SPS) e criarão um retorno sobre o investimento. A
sustentabilidade competitiva da franquia está embutida no delineamento de responsabilidades
entre o franqueador e o franqueado e no plano consciente do sistema de prestação de serviços. As
tarefas do franqueador são executadas centralmente e têm foco nas economias de escala; o
franqueado se concentra nas responsabilidades que exigem intensidade empreendedora local
(análise de transação). A estrutura financeira emergente é a expressão da interação entre o cliente
alvo principal e o sistema de prestação de serviços. Ao compartilhar o encargo do sistema de
prestação de serviços e o potencial de retorno sobre o investimento, a aliança empreendedora de
franquia é formada.
Um ponto central à estabilidade de longo prazo do sistema de franquia é a seleção adequada de
parceiros e o monitoramento das principais responsabilidades do parceiro (questões de agência). No
entanto, até mesmo na relação mais estável, o ambiente de negócios dinâmico dita ajustes na
relação para garantir uma vantagem competitiva contínua. Entender a zona de tolerância no
desempenho e reagir às mudanças de mercado pode ser padronizado através de programas de
análise formal e mantido não estruturado por meio de negociações informais (dinâmica das
relações). O não reconhecimento da necessidade de gestão dinâmica da relação pode, muitas vezes,
resultar em litígio, conforme observado.
O modelo de relacionamento em franquias ilustra como um inovador de conceito pode construir
uma empresa de franqueamento e o caminho para implementá-la da maneira mais
empreendedora. O modelo também elimina as ideias que são mais bem desenvolvidas usando uma
outra estratégia de crescimento, como direitos de distribuição, licenciamento ou lojas de
propriedade corporativa.
Agora entendemos que o franqueamento é empreendedor e que os componentes únicos do
franqueamento que permitem uma aliança empreendedora.
Impacto da Internet: recursos
A rede ampliada
Resumo do capítulo
1. Descreva a diferença entre o franqueador e o franqueado. De que maneira essas diferenças são
estrategicamente alinhadas para gerar vantagem competitiva?
2. Descrevemos o franqueamento como um “caminho para o empreendedorismo” que oferece
um espectro de oportunidades empreendedoras. O que isso significa para você?
3. Quais são os fatores mais importantes para determinar se o franqueamento é um método
adequado para fazer um conceito crescer rapidamente?
4. Quais são os cinco componentes do modelo de relacionamento em franquias? Descreva a ‐
natureza interativa desses componentes.
5. Na sua opinião, por que os franqueadores de capital aberto superam constantemente o
desempenho do S&P 500?
6. Quais seriam os aspectos mais atraentes do franqueamento para você? Qual é a parte menos
atraente do franqueamento?
EXERCITANDO A MENTE
252
IFA http://www.franchising.org, acessado em dez. 2009.
253
S. Spinelli, Jr., B. Leleux, e S. Birley, “An Analysis of Shareholder Return in Public Franchisors”, apresentação na Society of
Franchising, 2001.
254
S. Shane, “Hybrid Organizational Arrangements and Their Implications for Firm Growth and Survival: A Study of New
Franchisors”, Academy of Management Journal 39 (1996), pp. 216–34.
255
Bob Rosenberg agora é professor adjunto no Babson College e ensina no departamento de empreendedorismo. Os autores
consultaram o professor Rosenberg sobre várias questões relacionadas ao empreendedorismo, incluindo o franqueamento.
256
Um sistema de negócio disruptivo é aquele que modifica essencialmente a proposição de valor. O McDonald’s e a Dairy Queen
criaram o conceito de fast-food. A Midas, a Aamco e a Jiffy Lube foram pioneiros na especialização em serviços automotivos.
257
As cooperativas de propaganda são comuns no franqueamento. Uma cooperativa é um acordo contratual por meio do qual os
franqueados em determinada região geográfica estão obrigados a contribuir com um percentual de sua receita para um fundo que
executa um plano de marketing, normalmente incluindo compras de mídia. A cooperativa normalmente é controlada pelos
franqueados participantes e, às vezes, inclui representação do franqueador e da agência de propaganda.
258
O. E. Williamson, “Comparative Economic Organizations: The Analysis of Discrete Structural Alternatives”, Administrative
Science Quarterly (jun. 1991), pp. 269–288.
259
F. Lafontaine, “Agency Theory and Franchising; Some Empirical Results”, RAND Journal of Economics 23 (1992), pp. 263–68.
260
I. R. Mcneil, “Economic Analysis of Contractual Relations: Its Shortfalls and Need for a ‘Rich Classification Apparatus’”,
Northwestern University Law Review, fev. 1980, pp. 1018–63.
Estudo de caso
Mike Bellobuono*
Mike Bellobuono sabia que tinha muito a considerar. Era um momento muito emocionante para a
indústria de bagel. O nív el das v endas da indústria tinha disparado, e sua empresa, a Bagelz, uma rede
de bagels com sede em Connecticut, estabeleceu sete lojas de v arejo em três anos. Hav ia uma
grande oportunidade de crescimento, mas Bellobuono sabia que a empresa precisav a alcançar um
crescimento rápido ou arriscaria uma incapacidade de competir contra participantes de maior porte.
A empresa estav a no ponto em que a equipe administrativ a de quatro membros dev ia decidir se
começaria a v ender franquias ou permaneceria como uma operação totalmente de propriedade da
empresa. Hav ia muita coisa em jogo nessa decisão para o presidente Joe Amodio, o v ice-presidente
Wes Becher, o gerente de desenv olv imento territorial Jamie Whalen, e o diretor de operações Mike
Bellobuono. Originalmente, eles hav iam planejado permanecer como uma operação totalmente de
propriedade da empresa, mas depois conheceram Fred DeLuca, que sugeriu o franqueamento e
ofereceu financiamento. DeLuca, fundador da Subw ay, uma franquia multimilionária de sanduíches,
tinha o potencial para ser um trunfo enorme para a Bagelz. Ele tinha acesso a grandes quantidades de
capital, uma série de recursos, como publicidade e apoio jurídico, e, sobretudo, experiência: sua
empresa tinha mais estabelecimentos nos Estados Unidos do que qualquer outra franqueadora. No
entanto, Bellobuono sabia que Amodio e a equipe não queriam que a Bagelz simplesmente se tornasse
uma extensão do império DeLuca. Os quatro estav am acostumados a operar como membros de uma
equipe pequena e unida e não tinham certeza se a parceria com DeLuca resultaria na perda do
controle de toda a operação.
Se eles decidissem abrir a franquia, Bellobuono se perguntav a se eles conseguiriam encontrar
franqueados que tiv essem as finanças, a motiv ação e a habilidade para administrar com êxito uma loja
Bagelz. Ele também tinha ouv ido muitas histórias sobre os conflitos decorrentes das relações entre
franqueado e franqueador. É v erdade que alguns desses conflitos poderiam ter sido ev itados, mas
inev itav elmente hav eria dificuldades que poderiam terminar em questões legais. I sso lhe causav a uma
grande preocupação; ele sabia que franqueados insatisfeitos representariam mal a empresa, e ele não
tinha certeza se o crescimento acelerado v aleria as dores de cabeça e a possibilidade de que os
franqueados insatisfeitos prejudicassem a reputação da empresa. Ele também estav a preocupado
com a manutenção do alto padrão de operações nas lojas franqueadas que a Bagelz tinha posto em
prática em suas sete lojas próprias. Ele sabia como era difícil para construir um nome e como um
incidente ruim poderia destruí-lo sem possibilidade de reparo. Ele pensou sobre o que aconteceu com
a Jack-in-the-box, outra grande empresa de franquia de fast-food. Em janeiro de 1993, um cliente ficou
doente e morreu por causa de bactérias presentes em um hambúrguer mal cozido. Na sequência
desse incidente, a empresa contratou inspetores independentes para rev er todas as franquias
indiv iduais e assegurar que todos respeitav am o processo de cozimento regulamentado pelo Conselho
de Saúde. Nem uma outra v iolação foi encontrada em qualquer um das centenas de
estabelecimentos, mas, apesar disso, na sequência desse incidente, os franqueados experimentaram
declínios nas receitas de até 35%.
Por outro lado, se eles decidissem não abrir a franquia, estariam se arriscando a ficar de fora de
certas áreas geográficas dev ido à concorrência. A Bruegger’s Bagels estav a abrindo unidades em
toda New England, e a Manhattan Bagel, uma participante nov a no setor, tinha aberto seu capital,
dando à empresa acesso a grandes quantidades de capital para a expansão. Operar como uma
cadeia de lojas, como a Bagelz estav a fazendo naquele momento, limitav a a taxa de crescimento
potencial da empresa. Se a empresa se decidisse contra a franquia, a equipe se perguntav a se a
Bagelz conseguiria resistir ao ataque da concorrência, que certamente ocorreria. Eles queriam tomar a
decisão certa, mas não hav ia muita coisa a considerar, e a oferta de parceria com DeLuca não ficaria
em cima da mesa por muito tempo. As guerras do bagel estav am esquentando, e Bellobuono sabia
que eles tinham de desenv olv er uma estratégia superior de crescimento.
* Este caso foi preparado por Andrea Alyse com ajuda de Dan D’Heilly sob a direção do professor
Stephen Spinelli. © Copyright Babson College, 1996. Financiamento concedido pela Fundação Ew ing
Marion Kauffman. Todos os direitos reserv ados.
Resultados esperados
Após terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Descrever as questões críticas no financiamento de novos empreendimentos.
2. Discutir a diferença entre finanças empresariais e finanças convencionais administrativas ou corporativas.
3. Descrever o processo de elaboração de estratégias financeiras e de captação de recursos e as variáveis críticas
envolvidas, incluindo a identificação dos ciclos de vida financeiros de novos empreendimentos e as preferências
dos investidores.
4. Avaliar criticamente o estudo de caso da Midwest Lighting.
QUADRO 13.1
O ponto crucial: antecipação e vigilância financeira
Para evitar alguns dos piores poços de lama, os empreendedores precisam de respostas às perguntas que ligam as decisões empresariais estratégicas a
planos e escolhas financeiros. O ponto crucial é a antecipação: O que tem mais possibilidade de acontecer? Quando? O que pode dar certo no caminho?
O que pode dar errado? O que tem de acontecer para atingirmos nossos objetivos empresariais e para aumentar ou preservar nossas opções?
Empreendedores financeiramente espertos sabem que essas perguntas disparam um processo que pode levar a soluções criativas para seus desafios e
problemas financeiros. Em um nível prático, empreendedores e gerentes financeiramente astutos mantêm vigilância sobre inúmeras perguntas estratégicas
e financeiras essenciais:
• Quais são as consequências financeiras e implicações das decisões empresariais fundamentais, como formação de preços, volume e alterações na
política, que afetam o balanço patrimonial, a demonstração de lucros e perdas e o flux o de caix a? De que maneira isso pode mudar ao longo do
tempo?
• Como podemos medir e monitorar mudanças em nossa estratégia e estrutura financeira por uma perspectiva gerencial, e não apenas dos GAAP?*
• O que significa crescer rápido demais em nosso setor? Com que rapidez podemos crescer sem precisar de dívidas ou capital ex terno? De quanto capital
precisamos se aumentarmos ou diminuirmos nosso crescimento em X%?
• O que acontecerá com nosso flux o de caix a, nossa lucratividade, nosso retorno sobre ativos e nosso capital de acionistas se crescermos mais rápido ou
mais devagar, em um ritmo de X%?
• Quanto capital isso ex igirá? Quanto pode ser financiado internamente e quanto terá de vir de fontes ex ternas? Qual é a combinação razoável de
dívidas e capital?
• E se formos 20% menos lucrativos do que declara nosso plano? Ou 20% mais lucrativos?
• Quais devem ser nosso foco e nossas prioridades? Quais são os pontos de equilíbrio de flux o de caix a e de receita líquida para cada uma das nossas
linhas de produtos? E para nossa empresa? E para nossa unidade de negócios?
• O que podemos dizer sobre formação de preços, volume e custos? Quão sensíveis são nosso flux o de caix a e nossa receita líquida a aumentos ou
diminuições em preços, volumes ou custos variáveis? Que combinação entre preço e volume nos permitirá chegar ao mesmo flux o de caix a e à mesma
receita líquida?
• De que maneira essas alterações em preços, volume e custos afetam nossas tax as financeiras essenciais, e como nos comparamos aos outros em nosso
setor? Como nossos financiadores verão isso?
• Em cada estágio — empresa com crescimento rápido, estagnada ou madura —, como devemos pensar sobre essas perguntas e questões?
FIGURA 13.1
FIGURA 13.2
Se você determinou que sua empresa tem potencial de crescimento, pode começar a examinar os
requisitos financeiros em termos de (1) necessidades de ativo (para expansão de instalações,
equipamentos, pesquisa e desenvolvimento e outros gastos aparentemente únicos); e (2)
necessidades operacionais (isto é, capital de giro para as operações). Essa estrutura nos dá um
amplo espaço para gerar uma estratégia financeira, para identificar fontes de investimento
criativamente, para montar um plano de angariação de fundos e para estruturar negociações.
Cada estratégia de angariação de fundos, junto com sua estrutura de negociação, faz com que a
empresa se comprometa com ações que geram custos reais e em tempo real e podem melhorar ou
inibir opções futuras de financiamento. De modo semelhante, cada fonte de recursos tem requisitos
e custos específicos — tanto aparentes quanto ocultos — que têm implicações para a estratégia
financeira e os requisitos financeiros. A premissa é que empreendedores bem-sucedidos estão
conscientes de situações potencialmente punitivas e que eles são cuidadosos para “aprofundar os
detalhes” e proceder com certo grau de prudência à medida que avaliam, selecionam, negociam e
criam relacionamentos de negócios com fontes potenciais de financiamento. Ao fazer isso, eles têm
mais possibilidade de encontrar as fontes certas no momento certo e com os termos e condições
certos. Eles também têm maior possibilidade de evitar potenciais combinações malfeitas, desvios
dispendiosos para fontes erradas e a consequente união desastrosa com essas fontes.
Certas mudanças no clima financeiro, como as ondas de choque sentidas depois de outubro de
1987 e março de 2000, e ainda no segundo semestre de 2007, e depois em 2008 e 2009, podem
causar repercussões nos mercados financeiros e instituições que atendem a empresas de menor
porte. Estas assumem a forma de maior cautela tanto para credores quanto para investidores que
procuram aumentar sua proteção contra o risco. Quando o clima financeiro se torna mais severo, a
capacidade de um empreendedor para elaborar estratégias de financiamento e de lidar eficazmente
com as fontes de financiamento pode ser esticada até o limite e além. Por exemplo, a crise do
crédito imobiliário no verão de 2007 nos Estados Unidos causou confusão entre os mercados de
capitais. Veja, por exemplo, um complexo de 400 unidades residenciais na região sudeste
americana. Construído entre 2003 e 2004, um contrato de compra e venda foi executado em junho
de 2007. O preço de mais de $40 milhões teria significado um excelente retorno para os fundadores
e investidores. O negócio deveria ser concluído até meados de setembro, mas infelizmente o
financiamento do comprador caiu — vítima de mercados de crédito muito mais apertados e com
menos liquidez.
Além disso, certas iscas de oferta de dinheiro que surgem sem nenhuma suspeita aparente
acabam sendo um arroubo na carteira. (O próximo capítulo aborda algumas dessas iscas
potencialmente fatais e algumas das questões e considerações necessárias para reconhecer e evitar
essas armadilhas, ao mesmo tempo que cria uma estratégia de angariação de fundos, avaliação e
negociação com diferentes fontes.)
Fluxo de caixa livre: taxa de desperdício, OOC e TTC
O conceito central na determinação das necessidades de financiamento externo da empresa é o
fluxo de caixa livre. Três corolários vitais são a taxa de desperdício ou “burn rate” (projetada ou
real), o tempo para OOC (“out of cash” ou quando a empresa vai ficar sem dinheiro), e o TTC
(“time to close” ou o tempo para conseguir o financiamento e ter o cheque compensado). Estes têm
um impacto importante sobre as escolhas e o relativo poder de barganha do empreendedor com
diversas fontes de capital de risco e de financiamentos (dívida), que estão representadas no Gráfico
13.2. O Capítulo 15 aborda os detalhes de estruturação da transação, termos, condições e acordos.
GRÁFICO 13.2
A mensagem é clara: Se você ficar sem dinheiro em 90 dias ou menos, está em grande
desvantagem. Chegar ao OOC mesmo em seis meses é perigosamente cedo. Mas, se você tem um
ano ou mais, as opções, os termos, os preços e os convênios que você vai conseguir negociar vão
melhorar drasticamente. A implicação é óbvia: o ideal é levantar dinheiro quando você não precisa
dele.
O fluxo de caixa gerado por uma empresa ou projeto é definido como segue:
Lucro antes dos juros e impostos (EBIT)
Os economistas chamam esse resultado de fluxo de caixa livre. A definição leva em conta os
benefícios do investimento, a renda gerada, e o custo do investimento, o montante do investimento
em capital de giro e instalações e equipamentos necessários para gerar determinado nível de vendas
e receita líquida.
A definição pode ser refinada de maneira mais proveitosa. O capital de giro operacional é
definido como segue:
Saldo em caix a das transações
M ais Estoque
M ais Outros ativos circulantes operacionais (por ex emplo, despesas pagas antecipadamente)
GRÁFICO 13.3
Fonte: Adaptado e atualizado do original de W . H. W etzel, Jr., “The Cost of Av ailability of Credit and Risk Capital in New England”, em A
Region’s Struggling Savior: Sm all Business in New England, ed. J. A. Timmons e D. E. Gumpert (W altham, MA: Small Business Foundation of
America, 1979), p. 175.
* Capital mezanino: também conhecido como capital de expansão,é o financiamento que ajudará a empresa crescer, comprar
equipamentos, inv estir em infraestrutura etc.
Capital ponte: faz a “ponte” entre o seu financiamento atual e o próximo nív el de financiamento. Normalmente este tipo de aporte é
feito em empresas que pretendem ingressar na bolsa de v alores em um prazo de até 2 anos.
Managem ent Buy-Out (MBO): é o processo de aquisição de uma empresa pelos próprios executiv os que nela trabalham, em geral
associados a fundos de inv estimento.
Leveraged Buy-Out (LBO): ocorre quando um grupo de inv estidores, que pode incluir os administradores da empresa em questão,
assume seu controle acionário utilizando empréstimos e usando a própria empresa como garantia.
Muitas das fontes de capital não estão disponíveis até a empresa ir além dos estágios iniciais de
seu crescimento. Algumas fontes disponíveis para empresas na fase inicial, especialmente fontes
pessoais, amigos e outros investidores informais ou anjos, serão insuficientes para satisfazer as
necessidades de financiamento geradas em fases posteriores, se a empresa continuar a crescer com
êxito.
Outro fator chave que afeta a disponibilidade de financiamento é o potencial de crescimento de
uma empresa. Entre as mais de 600 mil novas empresas de todos os tipos esperando para ser
lançadas no Brasil em 2010, provavelmente 5% ou menos vão conseguir os níveis de crescimento e
vendas das empresas de elevado potencial. As empresas de base totalizarão cerca de 8% a 12% de
todas as empresas novas, que vão crescer mais lentamente, mas vão ultrapassar $1 milhão em
vendas e podem chegar a até $20 milhões com 50 a 500 funcionários. Os restantes são as empresas
tradicionais e estáveis de estilo de vida. Empresas de alto potencial (aquelas que crescem
rapidamente e podem ultrapassar $20 milhões a $25 milhões ou mais em vendas) são fortes
candidatas a uma oferta pública e têm a mais ampla gama de alternativas de financiamento,
incluindo combinações de dívida e capital próprio e outras possibilidades (que serão observadas
posteriormente), enquanto as empresas de base têm menos, e as empresas de estilo de vida são
limitadas aos recursos pessoais de seus fundadores e ao que conseguiram acumular de patrimônio
líquido ou garantias.
Em geral, os investidores acreditam que quanto mais jovem a empresa, mais arriscado o
investimento. Essa é uma variação do velho ditado no negócio de capital de risco: Os limões
amadurecem em dois anos e meio, mas as ameixas levam sete ou oito.
Embora a linha do tempo ou cronograma e os limites monetários mostrados sejam apenas
diretrizes, eles refletem o modo como essas fontes de dinheiro veem o grau de risco e, portanto, a
taxa de retorno exigida, das empresas em vários estágios de desenvolvimento.
Resumo do capítulo
• O caixa é o rei e a rainha. A felicidade é um fluxo de caixa positivo. Mais dinheiro é melhor que
menos dinheiro. Dinheiro mais cedo é melhor que dinheiro mais tarde. Dinheiro menos
arriscado é melhor que dinheiro mais arriscado.
• O conhecimento, os problemas e a análise financeiros muitas vezes são os calcanhares de
Aquiles dos empreendedores.
• Finanças empreendedoras são a arte e a ciência de quantificar a criação de valor, fatiar a torta
do valor e administrar e cobrir o risco financeiro.
• Determinar os requisitos de capital, moldar estratégias financeiras e de angariação de fundos, e
administrar e orquestrar o processo financeiro são fundamentais para o sucesso do novo
empreendimento.
• As estratégias de colheita são tão importantes para o processo empreendedor quanto a criação
de valor em si. O valor que não é realizado pode não ter nenhum valor.
Perguntas de estudo
1. Defina os termos a seguir e explique por que eles são importantes: taxa de desperdício (ou
queima de capital/“burn rate”), fluxo de caixa livre, OOC, TTC, miopia da administração
financeira, miragem da planilha.
2. Por que as finanças para novos empreendimentos são simultaneamente as partes menos e mais
importantes do processo empreendedor? Explique esse paradoxo.
3. Que fatores afetam a disponibilidade, a adequação e o custo dos vários tipos de financiamento?
Por que esses fatores são críticos?
4. O que se entende por fluxo de caixa livre, e por que os empreendedores precisam entender
isso?
5. Por que empreendedores financeiramente esclarecidos fazem as perguntas financeiras e
estratégicas apresentadas no Quadro 13.1? Você consegue responder a essas perguntas para seu
empreendimento?
Recursos da Internet para o Capítulo 13
EXERCITANDO A MENTE
1. Até que ponto você pode estar sofrendo de miopia financeira e miragem das planilhas?
2. As pessoas que acreditam que você primeiro tem de ter dinheiro em grandes quantidades
para depois ganhar dinheiro são ingênuas e sofrem de ignorância financeira. Por que isso
acontece? Você concorda?
3. Quem você precisa conhecer bem para fortalecer o conhecimento de finanças de sua
equipe?
4. Você pode falar com alguém que teve um revés financeiro devido à mais recente crise dos
mercados financeiros mundiais? O que essa pessoa aprendeu?
261
Esta seção foi elaborada a partir de J. A. Timmons, “Financial Management Breakthrough for Entrepreneurs”.
262
Para mais detalhes, veja B. C. Hurlock e W. A. Sahlman, “Star Cablevision Group: Harvesting in a Bull Market”, HBS
Case 293-036, Harvard Business School Publishing.
263
Seus resultados têm variado de morte a sucesso moderado a downsizing radical, seguidos de recuperação drástica.
264
Devemos um agradecimento especial a Bert Twaalfhoven, fundador e presidente da Indivers, a empresa holandesa que elaborou
este resumo e que possui a empresa na qual o gráfico se baseia. O Sr. Twaalfhoven também é uma figura chave na promoção do
empreendedorismo na Europa.
265
Veja P. A. Gompers e W. A. Sahlman, Entrepreneurial Finance (Nova York: John Wiley & Sons, 2002).
266
N. A. Nichols, “In Question: Efficient? Chaotic? What’s the New Finance?” Harvard Business Review, mar.-abr. 1993, p.50.
267
Idem, p. 52.
268
Idem, p. 60.
269
Esta estrutura foi desenvolvida para o curso de financiamento de organizações empreendedoras no Babson College e tem sido
utilizado no curso de Finanças Empresariais na Harvard Business School.
270
Esta seção foi extraída diretamente de “Note on Free Cash Flow Valuation Models”, HBS 288-023, pp. 2–3.
271
Além da compra de ações comuns, o financiamento de capital próprio é feito para incluir a compra de ações e dívidas
subordinadas, ou dívidas subordinadas com características de conversão em ações ou garantias de compra de ações.
272
Para fins de concessão de empréstimos, os bancos comerciais levam em conta a dívida subordinada como capital. Os investidores
de capital de risco normalmente condicionam seus empréstimos comerciais aos empréstimos concedidos pelo banco ou outras
instituições financeiras.
273
Os padrões de empréstimo bancário pelos trustes de investimento imobiliário (REIT) em 1975 e em 1989-91 são exemplos da falta
de recursos para fornecer proteção na ausência de uma administração sólida e um capital adequado.
274
W.H. Wetzel, Jr., da Universidade de New Hampshire, originalmente mostrou os diferentes tipos de capital que estão disponíveis
para os três tipos de empresas. A figura se baseia em um gráfico de Wetzel que os autores atualizaram e modificaram. Veja W. H.
Wetzel, Jr., “The Cost of Availability of Credit and Risk Capital in New England”, em A Region’s Struggling Savior: Small Business in
New England, ed. J. A. Timmons e D. E. Gumpert (Waltham, MA: Small Business Foundation of America, 1979).
Estudo de caso
Perguntas de preparação
1. Av alie a empresa. Quanto v ocê acha que a empresa v ale? Traga para a aula uma proposta por
escrito, mostrando o quanto v ocê pagaria por ela se v ocê fosse Scott e Peterson.
2. O que eles dev eriam fazer para resolv er a questão da propriedade?
3. Como v ocê financiaria a compra da empresa?
4. Suponha que v ocê tenha comprado a empresa: quais ações específicas v ocê tomaria no
primeiro dia? E até o final da primeira semana? E até o final do semestre? Explique como e por quê.
Jack Peterson estav a desmotiv ado dev ido aos conflitos com seu parceiro, Dav id Scott, e buscav a,
desde 1996, conselhos com amigos e colaboradores para resolv er a situação. Em 2005, Jack tinha
começado a acreditar que ele e Scott hav iam crescido muito afastados para continuarem juntos.
Peterson tev e de encontrar uma forma de realizar a separação que fosse acordada por ambos. Uma
alternativ a era comprar a parte do outro sócio, porém eles teriam de chegar a um acordo primeiro,
além de encontrar um método aceitáv el para isso. Scott não parecia interessado em tal solução.
As diferenças entre os sócios cresceram no ano de 2004. As oscilações na liderança foram
prejudiciais para o funcionamento e deixaram os funcionários desconfortáv eis.
No início de 2005, a situação estav a ficando insuportáv el. Em janeiro, Peterson conv ocou a reunião
de planejamento anual do comitê executiv o:
Foi um desastre total. Houv e discussões acaloradas e v iolentos desentendimentos. Foi tão ruim que
ninguém mais queria participar das reuniões. Estáv amos arrasados.
O mais difícil foi o fato de que cada um de nós realmente acreditav a estar certo. Em div ersas
ocasiões, outras pessoas na empresa apoiariam nossos pontos de v ista. Normalmente essas diferenças
eram, na v erdade, diferenças de opinião, mas a política também começou a fazer parte do problema.
O dinheiro é como um sexto sentido sem o qual não é possível fazer uso completo
dos outros cinco.
W. Somerset Maugham
Servidão humana
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Discutir a cadeia alimentar dos mercados de capitais e suas implicações
2. Identificar as fontes formais e informais de capital de patrimônio/equidade.
3. Localizar, contatar e lidar com investidores.
4. Descrever como os investidores de capital de risco tomam decisões.
5. Apresentar comentários e ideias sobre a Forte Ventures, um caso sobre as estratégias de angariação de fundos
de um empreendedor para iniciar e crescer um novo negócio no pior momento possível na história da indústria
de capital de risco dos Estados Unidos.
QUADRO 14.1
A linha inferior na Tabela 14.1 mostra essa evolução final do estágio de P&D até a IPO, quando
os mercados de capital geralmente estão dispostos a pagar $12 a $18 por ação para novas emissões
de pequenas empresas. É óbvio que esses preços são mais baixos quando a chamada janela da IPO
está espremida ou fechada, como esteve de 2000 até meados de 2003. Os preços para as poucas
ofertas na Bolsa de Nova Iorque (1 a 3 por semana, contra mais de 50 por semana em junho de
1996) foram de um dígito: $5 a $9 por ação. Em períodos aquecidos de IPO, 1999, por exemplo, os
preços de oferta chegaram a ser tão elevados quanto $20 por ação ou mais. É o que ocorreu
também com muitos IPOs no Brasil antes da crise de 2008/2009. O ano de 2007 foi um bom
exemplo disso, já que as ofertas públicas iniciais de ações na BM&FBovespa bateram recordes tanto
em número de operações (64) como em volume de captação ($ 55,5 bilhões). Segundo a Revista
BM&FBovespa, 2007 foi o melhor desde 1994, ano do lançamento do Plano Real. “A medida do
salto é clara: em 2004, houve sete IPOs, em 2005, nove; em 2006, 26 IPOs e, em 2007, 146% mais
operações”. Já a partir de meados de 2008 o cenário econômico mundial mudou esse ritmo, que
promete uma retomada a partir de 2010.
Nos Estados Unidos, em 2004, houve o início de uma recuperação modesta nos mercados de
oferta pública inicial com 91 ofertas apoiadas por capital de risco, o maior número desde o “boom”
de 1999 e 2000, segundo a National Venture Capital Association [Associação Nacional de Capital
de Risco]. Essa tendência continuou em 2006 e se tornou muito robusta em 2007, como no caso
brasileiro. Para ilustrar, de acordo com o The Wall Street Journal (1º de outubro de 2007), no
terceiro trimestre de 2007 existiam 248 IPOs emitidas por empresas dos Estados Unidos no mundo
todo. Destas, 69 foram na Europa e 21 na América Latina, sendo 85% no Brasil. Muitos negócios
foram em energia solar, software e finanças.
Os mercados de private equity para fusões e aquisições, como seria de se esperar, sofreram muito
com o colapso do crédito de julho-agosto de 2007. Em 2006, por exemplo, as transações mundiais
corresponderam aos picos de 1999 e 2000 de $4 trilhões mundialmente, e abril de 2007 viu $695
bilhões em negócios fechados, ainda de acordo com The Wall Street Journal e a Dealogic. Em
agosto, esse valor caiu para $222 bilhões — uma vítima direta do colapso dos mercados de crédito e
capital, que começou em meados de julho.
Podemos ver a rapidez com que as marés do mercado de capitais podem mudar. Como muitas
vezes são necessários de 6 a 12 meses durante os mercados de capitais robustos para levantar
dinheiro para um novo empreendimento ou para adquirir uma empresa, você pode facilmente ficar
cego no meio de sua captação de recursos. No entanto, os negócios de alta qualidade ainda serão
feitos.
Uma das decisões mais difíceis para os fundadores é a questão de abrir mão da participação e,
implicitamente, do controle, para ter uma chance na criação de um valor muito significativo. A
linha “% da empresa mantido na IPO” mostra que, quando uma empresa abre seu capital, os
fundadores podem ter vendido 70% a 80% ou mais de seu patrimônio. Desde que a capitalização
de mercado da empresa seja de pelo menos $100 milhões ou mais, os fundadores criaram um valor
significativo para os investidores e para si mesmos. Durante o pico da mania das pontocom na
década de 1990, as empresas abriram seu capital com capitalizações de mercado de $1 bilhão a $2
bilhões ou mais. As ações dos fundadores valiam, no papel, pelo menos inicialmente, $200 milhões
a $400 milhões ou mais. Essas avaliações eram verdadeiramente incríveis e sem precedentes, e isso
não era sustentável. Veja a Sycamore Networks, por exemplo. De start-up a IPO em menos de 24
meses, cada um dos fundadores Desh Deshpanda e Don Smith alcançou um valor contábil na casa
dos bilhões.275 Ao final de 2004, os fundadores tinham perdido mais de 90% do valor contábil de
suas ações.
No restante do capítulo, discutiremos essas diferentes fontes de capital e como identificar e lidar
com elas. O Quadro 14.1 resume a recente cadeia alimentar do capital de risco. Nas três primeiras
rodadas, séries A, B, C, podemos ver que, em média, a quantidade de capital investido foi muito
substancial: $1–$4 milhões, $6–$10 milhões e $10–$15 milhões.
O momento certo
Existem dois momentos para uma empresa jovem levantar o dinheiro: quando há muita esperança ou
muitos resultados, mas nunca no espaço intermediário entre os dois momentos.
Georges Doriot
O momento certo também é fundamental. Um empreendimento não deve esperar para buscar
capital até passar por uma falta de dinheiro séria. No caso de uma start-up, especialmente uma que
não tenha nenhuma experiência ou sucesso em levantar o dinheiro, é desaconselhável a demora
para buscar o capital, pois ela provavelmente vai levar seis meses ou mais para levantar o dinheiro.
Além dos problemas com fluxo de caixa, a falta de planejamento implícito em esperar até que haja
uma escassez de dinheiro pode minar a credibilidade da equipe gerencial de um empreendimento e
impactar negativamente sua capacidade de negociar com investidores.
Mas, se um empreendimento tenta obter capital cedo demais, a situação patrimonial dos
fundadores pode ser diluída desnecessariamente e a disciplina instilada pela fraqueza financeira
pode ser corroída inadvertidamente.
Encontrar esses apoiadores não é fácil. Um especialista observou: “Os investidores informais,
essencialmente os indivíduos endinheirados e os empreendedores bem-sucedidos, são um grupo
diverso e disperso, com uma preferência pelo anonimato. Técnicas criativas são necessárias para
identificá-los e chegar até eles”.281 A Internet forneceu aos empreendedores um método eficaz de
localizar esses investidores. Fontes formais, como a Garage Technology Ventures (garage.com) e a
Business Partners (businesspartners.com) nos EUA oferecem valiosos conselhos, assistência e
informação sobre os investidores potenciais e ajudam a forjar o elo entre investidores e
empreendedores que procuram capital. Assistência especializada para mulheres inclui a
womenangels.net (womenangels.net), o Center for Women & Enterprise [Centro para Mulheres &
Empreendimentos] (cweboston.org) nos EUA, mas ainda não existem iniciativas similares no Brasil.
Invariavelmente, apoiadores financeiros também são encontrados na própria rede de parceiros de
negócios e outros contatos de um empreendedor. Outros empreendedores bem-sucedidos os
conhecem, assim como muitos advogados tributaristas, contadores, investidores formais (capitalistas
de risco) e outros profissionais. Além do “acaso”, a melhor maneira de encontrar investidores
informais é buscar referências de advogados, contadores, parceiros de negócios, professores
universitários e empreendedores que lidam com novos empreendimentos e podem conhecer essas
pessoas. Como esses investidores aprendem com as oportunidades de investimento de seus
parceiros comerciais, empreendedores conhecidos e amigos, e como muitos investidores informais
investem juntos em uma série de situações de novos empreendimentos, um contato com um
investidor informal pode levar o empreendedor a contatos com outros.
Artigos sobre investidores anjos também podem ser encontrados em periódicos como Forbes,
Fortune, The Wall Street Journal (WSJ up.com-Start), BusinessWeek, Red Herring e Wired nos EUA,
e na Exame PME no Brasil e em seus respectivos sites.
Contatando investidores
Se um empreendedor consegue uma indicação, ele precisa de permissão para usar o nome da
pessoa que fez a indicação quando o investidor é contatado. Uma reunião com o investidor
potencial pode, então, ser arranjada. Nessa reunião, o empreendedor precisa fazer uma
apresentação sucinta das principais características do empreendimento proposto, respondendo às
seguintes perguntas:
• Qual é a oportunidade de mercado?
• Por que ela é interessante?
• Como o empreendimento faz ou fará dinheiro?
• Em quanto tempo o negócio pode atingir um fluxo de caixa positivo?
• Por que essa é a equipe certa na hora certa?
• Como é que um investidor sai do investimento?
Desde o estouro da bolha das pontocom, os investidores de toda a cadeia alimentar dos mercados
de capital vêm retornando a esses princípios fundamentais para avaliar transações potenciais.
Os empreendedores precisam evitar se reunir com mais de um investidor informal ao mesmo
tempo. A reunião com mais de um investidor muitas vezes resulta em um investidor reforçando
algum ponto de vista negativo gerado por outro investidor. Também é mais fácil lidar com as
reações negativas e perguntas de um único investidor ao mesmo tempo. Como um lobo na caça, se
um empreendedor isola uma “presa” alvo e, em seguida, se concentra no fechamento, ele aumenta
as chances de sucesso.
Quer o resultado desse encontro seja ou não um constante interesse de investimento, o
empreendedor precisa tentar obter os nomes de outros investidores potenciais a partir dessa
reunião. Se isso puder ser feito, o empreendedor vai desenvolver uma lista crescente de investidores
potenciais e encontrar o caminho para entrar em uma ou mais redes de investidores informais. Se o
resultado for positivo, muitas vezes a participação de um investidor que tenha conhecimento sobre
o produto e seu mercado desencadeará a participação de outros investidores.
Processo de avaliação
Um investidor informal vai querer analisar um plano de negócios, conhecer a equipe gerencial
plena, ver algum protótipo ou projeto do produto que possam existir, e assim por diante. O
investidor vai realizar verificações de histórico sobre a equipe do empreendimento e o potencial de
seu produto, normalmente através de alguém que ele sabe que conhece o empreendedor e o
produto. O processo não é diferente da devida diligência dos investidores profissionais, mas pode
ser menos formal e estruturado. O empreendedor de um novo empreendimento, se tiver escolha,
será sábio se escolher um investidor informal que possa agregar conhecimento, sabedoria e redes de
contato como um conselheiro e cujos objetivos sejam coerentes com os seus.
A decisão
Se o investidor decidir investir, ele pedirá a um advogado para redigir um acordo de
investimento. Esse acordo pode ser um pouco mais simples do que os utilizados por investidores
profissionais, como empresas de capital de risco. Todas as advertências e conselhos sobre
investidores e acordos de investimento que serão discutidos mais adiante neste capítulo também se
aplicam aqui.
Provavelmente, o contrato de investimento com um investidor informal vai incluir alguma forma
de “opção de venda”, pela qual o investidor tem o direito de exigir que a empresa recompre suas
ações após determinado número de anos, por um preço especificado. Se a empresa não for vendida
ou gerar algum tipo de colheita, essa opção de venda fornecerá ao investidor um retorno
financeiro.282
FIGURA 14.1
GRÁFICO 14.1
GRÁFICO 14.2
A indústria do capital de risco
Embora as raízes do capital de risco possam ser traçadas a partir de investimentos feitos por
famílias ricas em 1920 e 1930, a maioria dos observadores da indústria credita a ideia a Ralph E.
Flanders, então presidente do Federal Reserve Bank of Boston. Em 1946, Flandres reuniu uma
equipe de alto nível para fundar a American Research and Development Corporation — a primeira
empresa, em oposição a indivíduos, a oferecer capital de risco a empresas novas e em rápido
crescimento, a maioria das quais voltadas para a manufatura e a tecnologia.
Apesar do sucesso da American Research and Development, a indústria de capital de risco não
experimentou um surto de crescimento até a década de 1980, quando a indústria enlouqueceu.
Antes de 1980, as atividades de investimento de capital de risco poderiam ser chamadas de
dormentes; apenas $460 milhões foram investidos em 375 empresas em 1979. No final da década
de 1980, a indústria subiu para mais de 700 empresas de capital de risco, que investiram $3,94
bilhões em 1.729 empresas de portfólio. A sonolenta indústria da década de 1970 foi transformada
em um mercado de capital de risco e de participação vibrante, dinâmico, às vezes frenético e
ocasionalmente míope.
O boom da década de 1990
Como podemos ver nos Gráficos 14.4 e 14.5, a indústria experimentou um aumento de oito vezes
na década de 1990. Embora os dólares absolutos comprometidos e investidos em 2000 fossem
enormes, a taxa de crescimento na década de 1980 foi muito maior, de $1 bilhão em 1979 para $31
bilhões em 1989.
No início da década de 2000, não só os compromissos mudaram, mas também uma nova
estrutura foi surgindo, cada vez mais especializada e focada. A Tabela 14.2 resume algumas das
importantes mudanças no setor, que têm implicações para os empreendedores que buscam dinheiro
e para aqueles que investem. As principais tendências estruturais que surgiram no final da década
de 1980 continuaram até a década de 1990:
1. O tamanho médio do fundo cresceu mais e mais, e esses megafundos de mais de $500 milhões
corresponderam a quase 80% de todo o capital sob administração. Fundos de alto desempenho,
como o Spectrum Equity Partners e o Weston-Presidio, cujo primeiro fundo apenas sete anos
antes estava na faixa de $100 milhões a $200 milhões, constituíram fundos de mais de $1 bilhão
em 2000.
2. A dimensão média dos investimentos também cresceu proporcionalmente e se tornou muito
maior. Inédito anteriormente, rodadas de start-up e iniciais de $20 milhões, $40 milhões, até
$80 milhões eram comuns no frenesi das pontocom e das telecom no final da final da década de
1990.
3. O padrão de especialização, que começou na década de 1980, se expandiu para o mainstream
e os megafundos. A Oak Venture Partners, por exemplo, abandonou seu investimento de longa
data no setor de saúde para investir em tecnologia da informação, junto com muitos outros.
A tendência significativa que foi revertida na década de 1990 é uma notícia especialmente boa
para os empreendedores de start-ups. Em 1990, à medida que os fundos cresceram mais e mais, o
investimento em empreendimentos nos estágios de start-up e iniciais desapareceu. Durante a
década de 1990, os fundos nos estágios de start-up e na fase inicial experimentaram um
renascimento conforme as principais oportunidades nos setores de Internet, software, tecnologia da
informação e telecomunicações, e redes de computação explodiram.
Além da quebra de 2000: o ciclo de capital de risco se repete
A quebra da NASDAQ começou em março de 2000, resultando em uma queda de mais de 60%
no valor ao final do verão de 2001. Essa grande quebra nos valores das participações iniciou um
turbilhão e uma virada para pior nos mercados de participação privada e de ações públicas cujas
repercussões e consequências ainda têm impacto sobre o mercado de capital de risco e de
crescimento. Típicas da quebra das pontocom, muitas empresas que voavam alto se tornaram
públicas em 1998 e 1999 com preços altos, viram seu valor subir rapidamente para mais de $150 a
$200 por ação e, em seguida, afundaram e chegaram a preços baixos, com um dígito. Veja a
Sycamore Networks, que se tornou pública em outubro de 1999 ao preço de $38 por ação, subiu
rapidamente para quase $200 na primeira semana e era comercializada a $3,50 por ação ao longo
da maior parte do ano de 2005. A lista de pontocons que foram totalmente à falência é significativa.
De modo semelhante, começando no final do verão de 2000, muitas jovens empresas de
telecomunicações viram suas ações começarem a cair rapidamente, perdendo 90% ou mais de seu
valor em menos de um ano. Essas descidas varreram todos os mercados de capital de risco e de
participação privada. Em meados de 2001, a quantidade de dinheiro que era investido havia caído
pela metade do ano recorde de 2000 e as valorações despencaram. Rodadas inferiores —
investimentos por um preço mais baixo que o da rodada anterior — eram a brincadeira do dia.
Desde os períodos de 1969–1974 e 1989–1993 os empreendedores não haviam vivido uma virada
desse tipo.
Para ilustrar as consequências para os proprietários de pequenas empresas e investidores, em
2001, à medida que as empresas queimavam seu capital investido e enfrentavam uma nova rodada
de financiamento, as valorações caíam dolorosamente. Mesmo empresas com desempenho de
acordo com o planejado viam os preços de suas ações 15–30% abaixo da rodada anterior um ano ou
dezoito meses antes. Nos casos em que o desempenho ficava muito abaixo do plano de negócios, a
rodada inferior podia chegar a 50% ou mais abaixo da valoração anterior do financiamento. Para
piorar as coisas para os empreendedores, o ritmo de investimento diminuiu significativamente. A
due diligence em empresas era realizada em 45 dias ou menos durante a farra de 1998–1999. Em
2002, os investidores registraram uma fase de due diligence durante seis a oito meses, que seria bem
próxima da regra vivida antes do frenesi.285
A dura realidade de tudo isso é que o ciclo de capital de risco — bem como o das imobiliárias —
parece se repetir. A escassez de capital leva a retornos elevados, que atraem uma superabundância
de capital novo, o que leva os retornos para baixo. O novo milênio recebeu bem o verdadeiro
problema do “Y2K”. O colapso dos mercados de capital de risco e de private equity repetiu o padrão
de 1969-1974 e 1988-1992.
A curva senoidal acontece em torno de 2005
Historicamente, o ciclo de capital de risco de altos e baixos assumiu a forma de uma curva
senoidal, um “S” virado de lado. Felizmente, após um período de perdas dolorosas, muito tempo
trabalhando em empresas do portfólio complicadas, e muito poucas saídas em 2002-2003, a
indústria começou a se recuperar em 2004, quando, por exemplo, o número total de empresas que
receberam investimento aumentou pela primeira vez desde a bolha de 2000: de 2.825 para 2.873.
Voltando aos Gráficos 14.4 e 14.5, vemos que a indústria vem obtendo ganhos constantes. Os
compromissos dos fundos em 2006 chegaram a $26,3 bilhões, e o total de capital de risco sob
administração, embora tenha diminuído ligeiramente, ultrapassou $235 bilhões. O Gráfico 14.3,
que capta um pouco mais de granularidade sobre a natureza dos investimentos de risco desde 1990,
mostra que os investimentos totais aumentaram de $18,95 bilhões em 2003 para $26,3 bilhões em
2006. A dimensão média das transações também cresceu de $6,65 milhões para $7,4 milhões.286
Como discutimos anteriormente neste capítulo, sempre que houver um mercado de IPO robusto
como o de 2007, os retornos sobre o capital de risco invariavelmente ficam muito melhores, e
megavitórias como as do Google e do YouTube despertam um novo frenesi nas atividades de
investimento. Por outro lado, em épocas mais complicadas para os mercados de capital, como o
período que vai de meados de 2008 ao início de 2010, tudo fica mais vagaroso. Quando há uma
época de frenesi, os investidores institucionais, como fundos de pensão, fundações e outros, ficam
ansiosos para entrar na festa, de modo que mais dinheiro entra na indústria. Isso ocorreu no pico
de 2000, como mostra o Gráfico 14.3. Com investimento anual de $25–$30 bilhões, a indústria
parece ter chegado a um certo equilíbrio — um oxímoro nesse tumultuado mundo do
empreendedorismo. O impacto líquido para os empreendedores de alto potencial é positiva, já que
a disponibilidade de capital permanece robusta.
GRÁFICO 14.3
O investimento de capital de risco é global
O capital de risco já existia na Europa desde o final da década de 1970 e começou a se enraizar
em outras partes do mundo nas décadas de 1980 e 1990. Em muitos países, como Alemanha e
França, os bancos muitas vezes eram os primeiros a criar fundos. Na Inglaterra, foram lançadas
empresas privadas, muitas vezes com associações a empresas dos Estados Unidos. No início da
década de 1980, até a Suécia começou uma indústria de capital de risco privado. Na antiga União
Soviética, as empresas de capital de risco geralmente eram formadas por americanos que
trabalhavam com conexões locais empresariais e financeiras. Um bom exemplo é a Delta Capital,
formada e liderada por Patricia Cloherty, a primeira mulher presidente da National Venture
Capital Association [Associação Nacional de Capital de Risco] e presidente da Patricoff and
Company, uma importante empresa de capital de risco e de private equity de Nova York.
No novo século, o crescimento explosivo dos países emergentes levou à criação de fundos de risco
semelhantes na América Latina, na China, na Índia e até no Vietnã. Grandes empresas de capital
de risco dos Estados Unidos, como Kleiner Perkins, Caufield & Byers, IDG Venture Capital e
Venrock, lançaram fundos dedicados a determinados países. A IDG, por exemplo, tem sido ativa
na China desde 1992. Vários novos fundos estão sendo formados na Índia e na China, e alguns
retornos espetaculares foram conseguidos a partir de investimentos como o Baidu, o equivalente
chinês do Google. Isso tudo é uma boa notícia para os empreendedores americanos, porque os
investidores agora recebem positivamente planos de negócios para empresas que buscam esses
mercados globais.
A Figura 14.2 representa as atividades centrais do processo de capital de risco. No coração desse
fluxo dinâmico existe a colisão de empreendedores, oportunidades, investidores e capital.287 Como
o capitalista de risco proporciona, além de dinheiro, experiência, redes e contatos da indústria, um
capitalista de risco profissional pode ser muito atraente para um novo empreendimento. Além
disso, uma empresa de capital de risco tem bolsos profundos e contatos com outros grupos que
podem facilitar a captação de dinheiro conforme a empresa se desenvolve.
O processo de capital de risco ocorre no contexto da maior parte dos mercados de capitais
privados e um tanto imperfeitos para empresas novas e emergentes de médio porte (isto é, empresas
com $5 milhões a $200 milhões em vendas). A disponibilidade e o custo desse capital dependem de
uma série de fatores:
• Percepção de risco, tendo em conta a qualidade da equipe administrativa e da oportunidade.
• Indústria, mercado, atratividade da tecnologia e adequação.
• Potencial positivo e exposição negativa.
• Taxa de crescimento antecipada.
• Idade e estágio de desenvolvimento.
• Quantidade de capital necessário.
• Metas dos fundadores em relação ao crescimento, ao controle, à liquidez e à colheita.
• Adequação aos objetivos e estratégias dos investidores.
• Posições relativas de barganha dos investidores e fundadores, dados os mercados de capitais no
momento da negociação.
FIGURA 14.2
No entanto, não mais de 2% a 4% dessas empresas que contatam fundos de capital de risco
recebem financiamento deles. Apesar do aumento dos fundos nos anos recentes de boom,
observadores comentam que os angariadores de fundos repetidos “ficam longe dos investimentos
em fase semente e em fase inicial, em grande parte, porque os negócios tendem a exigir um
montante relativamente pequeno de capital, e os megafundos, com $500 milhões ou mais para
investir, gostariam de fazer compromissos maiores”.288 Além disso, um empreendedor pode abrir
mão de 15% a 75% de seu capital para receber financiamentos semente/start-up. Assim, depois de
várias rodadas de financiamento de risco terem sido cumpridas, o empreendedor pode não deter
mais do que 10% a 20% do empreendimento.
Os critérios rigorosos dos capitalistas de risco para seus investimentos limitam o número de
empresas que recebem dinheiro de capital de risco. Os investidores de capital de risco olham para
empreendimentos com potencial de crescimento muito elevados, com os quais eles podem
quintuplicar seu investimento em cinco anos; eles dão muita importância à qualidade da gestão de
uma empresa, e eles gostam de ver uma equipe gerencial com competências empresariais
complementares liderada por alguém que tenha experiência anterior com a criação e gestão de
novos negócios, o empreendedorismo na prática, gerindo receitas e controlando custos. Na
verdade, esses investidores estão procurando o “supernegócio”. Os supernegócios atendem aos
critérios de investimento previstos no Quadro 14.2.
QUADRO 14.2
Características da supertransação clássica pela perspectiva do investidor
M issão
• Dar peso para uma empresa altamente lucrativa que pode se tornar líder de mercado e dominar o setor.
• Tornar-se pública ou se fundir dentro de quatro a sete anos com um alto múltiplo preço/ganho (P/E) ou vender para uma empresa maior com um alto
P/E
• Tem produto ou serviço com propriedades de alto valor agregado, resultando em rápido retorno do investimento para o usuário
• Tem nível de vendas atuais em torno de $200 milhões ou mais e cresce mais de 25% ao ano
• Tem necessidades de capital “digeríveis” na primeira rodada (isto é, mais do que $1 milhão e menos que $10 milhões)
• Capaz de retornar dez vezes o investimento original em cinco anos com P/E de quinze vezes ou mais
Fonte: Reproduzido com autorização de Harv ard Business School Press. Extraído de Venture Capital at the Crossroads, de W . D. Bygrav e
e J. A. Timmons. Boston, MA 1992. Copyright © 1992 da Harv ard Business School Publishing Corporation; todos os direitos reserv ados.
Rev isado e atualizado para 2008.
É importante ter em mente que os capitalistas de risco veem muitas propostas, às vezes cem ou
mais por mês. Normalmente, eles investem em apenas uma a três delas. As sugestões a seguir
podem ser úteis quando você trabalhar com eles.
Se possível, obtenha uma introdução ou apresentação pessoal de alguém bem conhecido dos
investidores (um diretor ou fundador de uma das empresas de seu portfólio, um sócio limitado do
fundo deles, um advogado ou contador que trabalhou com eles em negócios) e que os conheça
bem. Depois de identificar os melhores alvos (os principais fundos), você deve criar um mercado
para sua empresa com vários clientes potenciais. Seja vago sobre as outras pessoas de outros fundos
com quem você está conversando. O problema é que você pode acabar com uma rejeição de todos,
se as outras empresas souberem qual foi a primeira empresa que rejeitou você. Também é muito
mais difícil receber um sim do que um não. E você pode passar uma enorme quantidade de tempo
sem receber uma resposta.
Quando pressionado pelos investidores para indicar com quais outros fundos e/ou anjos você está
conversando, diga simplesmente: “Todos os nossos conselheiros acreditam que a informação é
altamente confidencial para a empresa, e nossa equipe concorda. Estamos falando com outros
investidores de alta qualidade, como você. Aqueles que tiverem a química certa que puderem fazer
maior diferença em nossa empresa e estiverem preparados para investir primeiro serão nossos
parceiros. Quando tivermos um contrato com os termos e a negociação na mesa, se você também
quiser coinvestidores, ficaremos mais do que felizes em compartilhar os nomes desses outros
investidores”. Não seguir essa política normalmente o coloca em uma posição bem desfavorável na
negociação.
A maioria dos investidores com interesse real terá ideias claras sobre como melhorar sua
estratégia, linha de produtos, posicionamento e diversas outras áreas. Esse é um dos modos pelos
quais eles podem agregar valor — se estiverem certos. Consequentemente, você precisa estar
preparado para eles desmontarem seu plano de negócios — e remontá-lo novamente. Eles
provavelmente têm seu próprio formato e seus próprios modelos financeiros. Trabalhar com eles
nesse processo é uma boa maneira de conhecê-los.
Nunca minta. Como disse um empreendedor: “Você tem de vender a verdade, mas não minta”.
Não pare de vender até que o dinheiro esteja no banco. Deixe que os fatos falem por si mesmos.
Seja capaz de cumprir as alegações, declarações e promessas que fizer ou deixar implícitas no plano
de negócios e nas apresentações. Tom Huseby acrescenta uma sabedoria final: “É muito mais difícil
do que você jamais imaginou que seria. Pode durar muito mais tempo do que você jamais pensou
que poderia. Eles têm de fazer isso pelo resto de suas vidas!”. Por fim, nunca diga não a um preço
de oferta. Existe um velho ditado que diz que sua primeira oferta pode ser sua melhor oferta.
Perguntas que o empreendedor pode fazer
A fase de apresentação para o investidor no processo de busca de capital de risco é esgotante e
tem muita pressão, o que é adequado nesse jogo de apostas altas. Os capitalistas de risco têm uma
enorme responsabilidade legal e fiduciária para com seus sócios limitados, sem mencionar um
poderoso próprio interesse. Portanto, eles são minuciosos na due diligence e no questionamento
para avaliar a inteligência, integridade, agilidade e criatividade da mente empreendedora em ação.
Depois que a apresentação e a sessão de perguntas e respostas estiver completa, a equipe gerencial
pode aprender muito sobre os investidores — e melhorar sua própria credibilidade — fazendo
algumas perguntas simples:
• Você acredita que nosso plano de negócios possa fazer nossa empresa progredir?
• Diga-nos o que acha de nossa estratégia, de como enfrentaremos os concorrentes e de nosso
plano de jogo. O que deixamos passar? Quem deixamos passar?
• Existe algum concorrente que não percebemos? Em quê estamos vulneráveis, e como devemos
concorrer? Qual é a resposta provável dos principais concorrentes?
• Como você mudaria o modo como estamos pensando em fazer a empresa progredir e
planejando aproveitar as oportunidades maiores?
• Nossa equipe é forte como você gostaria? Como você a melhoraria e quando?
• Dê-nos uma ideia do que acha que seria uma faixa razoável de valor para nossa empresa se você
investisse uma quantidade X de reais.
As respostas revelarão se eles fizeram o dever de casa e se conhecem bem seu setor, tecnologia,
concorrentes etc. Isso lhe dará ideias interessantes sobre se e como eles podem verdadeiramente
agregar valor ao empreendimento. Ao mesmo tempo, você terá uma ideia melhor sobre a franqueza
e a integridade deles: são diretos e francos, mas conhecem o impacto das respostas que dão? Por
fim, essas perguntas podem transmitir uma mensagem muito favorável aos investidores: essa equipe
gerencial é inteligente, mente aberta, receptiva e autoconfiante o suficiente para pedir nosso
feedback e opiniões, mesmo que possamos ter visões opostas.
Due diligence: uma via de mão dupla
Pode levar várias semanas ou até meses para realizar a due diligence em uma empresa, embora
possa ser muito mais rápida se os investidores conhecerem você. A verificação de fatos, históricos e
reputações de pessoas importantes, estimativas de satisfação do cliente e do mercado, habilidades
técnicas do produto, direitos proprietários etc. é uma investigação trabalhosa para os investidores.
Eles vão querer conversar com seus diretores, conselheiros, equipe gerencial, clientes chave e
principais fornecedores. Facilite isso ao máximo para eles, tendo currículos muito detalhados, listas
de dez a vinte referências (com números de telefone e endereços), incluindo antigos clientes,
banqueiros e revendedores que podem atestar suas realizações. Prepare cópias adicionais de
materiais como artigos publicados, relatórios, estudos, pesquisas de mercado, contratos, ordens de
compra e especificações técnicas para apoiar suas alegações.
Um projeto de pesquisa examinou como 86 empresas de capital de risco americanas realizavam
sua due diligence intensiva. Para avaliar a oportunidade, a gerência, os riscos e os concorrentes e
para pesar o lado positivo contra o negativo, as empresas gastavam de 40 a 400 horas, sendo que a
empresa média gastava 120 horas. Isso significa quase três semanas de esforço em tempo integral.
No lado extremo, algumas empresas faziam o dobro de due diligence.291 Fundamentais para essa
investigação foram as verificações cuidadosas das referências da gerência e a verificação de
históricos e habilidades.
Enquanto tudo isso está acontecendo, faça sua própria due diligence sobre o fundo. Peça os nomes
e os telefones de alguns dos negócios bem-sucedidos deles, alguns que não deram certo e os nomes
que presidentes que eles acabaram substituindo. Quem são os conselheiros jurídicos e contábeis?
Que marcas eles deixaram no caminho em termos de qualidade, reputação e histórico de realmente
agregar valor às empresas em que investiram? Por fim, avalie se há química entre a equipe gerencial
e o sócio geral que será responsável pelo investimento e, provavelmente, terá uma cadeira no
conselho. Se você não tiver um sócio capitalista que você respeita e com quem possa trabalhar de
perto, provavelmente se arrependerá de ter aceito o dinheiro.
GRÁFICO 14.4
Em 1991, quando o mercado de IPO começou a esquentar, uma empresa de biotecnologia de
Cambridge foi convencida por seus investidores e bancos de investimento a abrir o capital da
empresa. Na primavera, a janela de IPO se abriu quando as ações de empresas médicas e de
biotecnologia tiveram o melhor desempenho de todos os grupos de indústrias. Até maio eles
tinham arrumado a escrituração contábil; em junho, o road show começou no Japão, passou pela
Europa e terminou nos Estados Unidos em julho. Quando a data prevista para a IPO se aproximou,
o mesmo aconteceu com o prazo das Nações Unidas para Saddam Hussein. Após a participação dos
Estados Unidos, o mercado das novas emissões sofreu uma queda, enquanto a administração da
empresa de biotecnologia viu o preço de suas ações caírem de $14 para $9 por ação.295
Um exemplo clássico recente ocorreu em 2000, quando o Nasdaq desmoronou e o mercado de
IPO fechou. Uma empresa que chamaremos NetComm tinha levantado mais de $200 milhões em
private equity e em dívida, estava no caminho para ultrapassar $50 milhões em receitas, e estava a
18 meses do fluxo de caixa positivo. Seriam necessários mais $125 milhões em capital para chegar a
esse ponto. A empresa tinha concluído o registro e estava pronta para uma IPO em maio de 2000,
mas já era tarde demais. Não só foi a IPO foi cancelada, mas também os esforços posteriores para
fundir a empresa fracassaram; a empresa foi liquidada por 20 centavos por cada dólar no outono de
2000! Dezenas de empresas experimentaram um destino semelhante durante esse período. Em
2004, a atividade se recuperou de forma significativa. O número de emissões quase triplicou em
relação ao ano anterior; de 85 para 247. Em 2006, 207 IPOs geraram receitas brutas de $45,9
bilhões. Como mostra a Tabela 14.3, 2002 terminou com apenas 22 IPOs apoiadas por capital de
risco das empresas dos Estados Unidos para um tamanho de oferta total de $1,9 bilhão, uma queda
significativa a partir do recorde de $19,3 bilhões de 2000. A recuperação foi evidente em 2004,
embora tenha havido menos atividade em 2005 e 2006.
TABELA 14.3
Já no Brasil, a BM&FBovespa tem apresentado nos últimos anos um volume crescente de IPOs e
de capitalização de mercado pelas empresas listadas. Em 2007 foram 66 IPOs, um aumento
superior a 150% se comparado com o ano de 2006, quando houve 26 IPOs. Apesar da crise
internacional, que levou a uma queda das ofertas públicas em 2008 e 2009, tudo indica que a partir
de 2010 o crescimento do número de IPOs deve voltar, ainda mais após agências internacionais de
classificação de risco elevar o Brasil a grau de investimento, ou seja, o país está mais seguro para os
investidores internacionais. Mas sempre haverá a suscetibilidade dos mercados de capitais mundiais
a novas crises, já que cada vez mais os mercados de ações no mundo estão interligados, permitindo
aos investidores mudarem suas estratégias rapidamente.
Quanto mais madura uma empresa for quando fizer sua oferta pública, melhores serão os termos.
Uma alta valoração pode ser dada à empresa, e menos participação será entregue pelos fundadores
pelo capital necessário.
Uma empresa empreendedora pode decidir tornar-se pública para obter algumas das vantagens a
seguir:
• Para levantar mais capital com menos diluição do que ocorre com emissões privadas de ações ou
capital de risco
• Para melhorar o balanço patrimonial e/ou para reduzir ou eliminar dívidas, aumentando, assim,
o patrimônio líquido da empresa
• Para obter dinheiro para buscar oportunidades que, de outra forma, seriam impossíveis
• Para ter acesso a outros fornecedores de capital e para aumentar o poder de barganha, já que a
empresa busca capital adicional quando menos precisa
• Para melhorar a credibilidade com os clientes, revendedores, pessoal chave e clientes potenciais
• Para dar a impressão de estar “jogando nos melhores times”
• Para obter liquidez para proprietários e investidores
• Para criar opções de adquirir outras empresas com uma compra de ações livre de impostos, em
vez de ter de usar seu dinheiro
• Para criar incentivos de participação para empregados novos e existentes
Apesar do que mencionamos, as IPOs podem ser desvantajosas por algumas razões:
• Os custos legais, contábeis e administrativos de levantar dinheiro através de uma oferta pública
são mais desvantajosos do que outras maneiras de levantar dinheiro.
• Uma grande quantidade de esforço gerencial, tempo e despesas são necessários para cumprir as
regras e as exigências de relatórios da SEC nos EUA e da CVM no Brasil para manter o status de
empresa pública. Esse desvio das tarefas de administrar a empresa pode ter efeitos adversos sobre
seu desempenho e seu crescimento.
• A gerência pode ficar mais interessada em manter o preço das ações da empresa e em calcular
os ganhos de capital do que em administrar a empresa. Atividades de curto prazo para manter
ou aumentar os ganhos do ano atual podem ter precedência sobre programas de longo prazo
para desenvolver a empresa e aumentar seus ganhos.
• A liquidez das ações de uma empresa conseguida através de uma oferta pública pode ser mais
aparente do que real. Sem uma quantidade suficiente de ações em circulação pode não haver um
mercado real para as ações e, portanto, nenhuma liquidez.
• Os bancos de investimento que desejam levar a público uma empresa nova ou inexperiente
podem ser aqueles com as quais a empresa não gostaria de fazer negócio e estabelecer um
relacionamento de longo prazo.
Resumo do capítulo
• Entender os mercados de capitais como uma cadeia alimentar que busca empresas nas quais
investir é fundamental para entender motivações e necessidades.
• Os empreendedores têm de determinar a necessidade dos investidores externos, se eles querem
investidores externos e, se quiserem, quem são as pessoas escolhidas.
• O singular mercado de capitais dos Estados Unidos e, mais recentemente, do Brasil, inclui uma
ampla gama de investidores privados, desde “anjos” até capitalistas de risco.
• A busca de capital pode ser muito demorada, e a pessoa de quem você consegue dinheiro é
mais importante do que quanto dinheiro você consegue.
• Diz-se que é mais difícil obter um “não” de um capitalista de risco do que um “sim”.
• Os empreendedores que sabem o quê e quem procurar — e o que evitar — aumentam suas
chances de sucesso.
Perguntas de estudo
1. O que querem dizer os seguintes termos, e por que eles são importantes: proteger seu
patrimônio; anjos; capital de risco; valoração (valuation); devida diligência; IPO; mezanino;
emissões privadas; ESOPs?
2. O que se procura em um investidor, e por quê?
3. Como os fundadores podem se preparar para a devida diligência e o processo de avaliação?
4. Descreva o processo de investimento de capital de risco e suas implicações para a angariação de
fundos.
5. A maioria dos capitalistas de risco diz que há dinheiro demais à disposição e negócios de
menos. Por que isso acontece? Quando isso acontece? Por que e quando isso vai ocorrer
novamente?
6. Que outras fontes de capital estão disponíveis, e como elas são acessadas?
7. Explique a cadeia alimentar dos mercados de capitais e suas implicações para os
empreendedores e investidores.
1. Alguns empreendedores dizem que você só deve levantar capital de risco se não tiver
alternativa. Você concorda ou discorda, e por quê?
2. Identifique um fundador/CEO que levantou capital externo e depois foi demitido pelo
conselho administrativo. Quais são as lições aqui?
3. Como os capitalistas de risco ganham dinheiro? Quais são os aspectos econômicos do
capital de risco como um negócio?
275
A. Pham, “MassFirm Takes $14B Rocket Ride”, The Boston Globe, 23 out. 1999.
276
Extraído de uma palestra em 4 de março de 1993, na Harvard Business School, apresentada por Paul A. Maeder e Robert F.
Higgins da Highland Capital Partners, uma empresa de capital de risco de Boston.
277
R. A. Mamis, “The Secrets of Bootstrapping”, INC., set. 1992, p. 72.
278
Idem, p. 76.
279
Ibid.
280
R. Harrison e C. Mason, Informal Venture Capital: Evaluating the Impact of Business Introduction Services, Hemel Hempstead,
Woodhead Faulkner, 1996.
281
W. H. Wetzel, Jr., “Informal Investors — When and Where to Look”, em Pratt’s Guide to Venture Capital Sources, 6ª ed., ed. S. E.
Pratt (Wellesley Hills, MA: Capital Publishing, 1982), p. 22.
282
Para ter acesso a exemplos de documentos para esses acordos de empreendimentos, acesse www.josedornelas.com.
283
A menos que haja alguma observação em contrário, esta seção foi extraída de W. D. Bygrave e J. A. Timmons, Venture Capital at
the Crossroads (Boston: Harvard Business School Press, 1992), pp. 13–14. Copyright ©1992 de William D. Bygrave e Jeffry A.
Timmons.
284
“Note on the Venture Capital Industry (1981)”, HBS Case 285–096, Harvard Business School, 1982, p. 1.
285
O renascimento das pontocom, especialmente em relação a sites com conteúdo gerado por usuários e sites de colaboração e redes
sociais como o MySpace, muitas vezes é chamado de Web 2.0. Esse termo também costuma se referir à próxima geração de empresas e
software on-line.
286
Venture Capital Journal, fev. 2005, pp. 29–30.
287
Bygrave e Timmons, Venture Capital at the Crossroads, p. 11.
288
Vachon, “Venture Capital Reborn”, p. 35.
289
Para mais detalhes, veja H. A. Sapienza e J. A. Timmons, “Launching and Building Entrepreneurial Companies: Do the Venture
Capitalists Build Value?” em Proceedings of the Babson Entrepreneurship Research Conference, maio de 1989, Babson Park, MA. Ver
também J. A. Timmons, “Venture Capital: More Than Money”, em Pratt’s Guide to Venture Capital Sources. 13a ed., ed. J. Morris
(Needham, MA: Venture Economics, 1989), p. 71.
290
Os autores agradecem a Thomas Huseby da SeaPoint Ventures, em Washington, por seus valiosos insights nas duas próximas
seções.
291
G. H. Smart, “Management Assessment Methods in Venture Capital”, tese de doutorado não publicada, 1998 (Claremont, CA:
Claremont Graduate University), p. 109.
292
Esta seção foi extraída de D. P. Remey, “Mezzanine Financing: A Flexible Source of Growth Capital”, em Pratt’s Guide to Venture
Capital Sources, ed. D. Schutt (Nova York: Venture Economics Publishing, 1993), pp. 84–86.
293
Os exemplos a seguir são extraídos diretamente de Garner, Owen, e Conwav, The Ernst & Young Guide to Raising Capital, pp. 51–
52.
294
T. N. Cochran, “IPOs Everywhere: New Issues Hit a Record in the First Quarter”, Barron’s, 19 abr. 1993, p. 14. Embora tenha
arrefecido em 1997, o mercado de IPOs permanece robusto de acordo com qualquer outro padrão anterior.
295
“Rational Drug Design Corporation”, HBS Case 293-102. Copyright © 1992 Harvard Business School. Usado com autorização da
Harvard Business School; todos os direitos reservados.
296
Garner, Owen, and Conway, The Ernst & Young Guide to Raising Capital, pp. 52–54.
297
Idem, p. 281.
Estudo de caso
Forte Ventures
Perguntas de preparação
1. Av alie a situação dos fundadores do Forte Ventures em abril de 2001 e o Memorando de Emissão
Priv ada de Ações (PPM) (Apêndice A) preparado para conv encer os inv estidores institucionais a
inv estirem.
2. O que Maclean Palmer e seus sócios dev em fazer, e por quê?
3. Quais são os aspectos econômicos do negócio de capital de risco? Suponha que a Forte Ventures
seja um fundo “quartil superior” em termos de desempenho. Quais serão os salários e as distribuições
cumulativ as para os sócios limitados e os sócios gerais ao longo de 10 anos?
Forte Ventures
Morda mais do que você consegue mastigar, e então mastigue.
Roger Babson,
discurso no Empire Club of Canada, 1922
Maclean Palmer desligou o telefone e deu outra rápida olhada em um artigo do site da empresa
sediada em Boston, Hale & Dorr:
6 de abril de 2001: Mercado urso deixa as I POs em hibernação
Uma nova deterioração dos mercados de capitais em meio à crescente preocupação com a saúde
da economia global e dos Estados Unidos resultou em um começo sombrio para o mercado de IPO
em 2001. Houve também uma redução no número de empresas no registro, enquanto os saques
continuavam a exceder os arquivamentos novos. IPOs concluídas arrastaram o número de saques a
cada semana durante o primeiro trimestre. . .
A insistência de Roger Babson agora assombrav a Palmer quando ele se perguntav a se hav ia
mordido mais do que podia mastigar ao tentar lev antar um fundo de risco iniciante de $200 milhões.
Será que um colapso do capital de risco e dos mercados de private equity v inha na pior hora possív el?
Seria melhor fechar, minimizar as perdas e rev isitar a angariação de fundos, quando os mercados
rev iv essem? Ou eles dev eriam pressionar? Quando ele v iu o número da próxima perspectiv a
endinheirada em sua lista, Palmer sorriu tristemente para si mesmo.
Que diferença faz um ano. . .
No inv erno passado, quando ele começou a reunir uma equipe jov em e talentosa de private equity
de todo o país, os inv estimentos de risco em nov os fundos estav am na maior elev ação de todos os
tempos, e os mercados de capitais ainda estav am surfando na onda da I nternet. Seus parceiros deram
o salto com ele em setembro: deixaram seus empregos, v enderam suas casas, e mudaram suas famílias
para Boston.
Conv encer os inv estidores institucionais de alocar uma parcela de seu capital de risco em um
inv estimento de longo prazo, ilíquido, sem direito de regresso com uma equipe sem comprov ação era
o desafio enfrentado por todos os nov os grupos de inv estimento de risco que partiam para lev antar
dinheiro. Na primav era de 2001, no entanto, um enfraquecimento da economia aumentou
significativ amente esse nív el de dificuldade.
Com as I POs em declínio, e o capital de risco na fase inicial sendo desv iado para sustentar
inv estimentos de portfólio já existentes, os inv estidores institucionais tinham apertado ainda mais seus
critérios sobre o que constitui uma nov a oportunidade digna de financiamento. Além disso, o grupo
Forte Ventures estav a encontrando objeções relacionadas à própria estratégia que eles achav am
que lhes dav a uma v antagem distintiv a. Dav e Mazza, sócio da Grov e Street Adv isors (GSA), explicou:
O pano de fundo para tudo isso é que tem hav ido uma grande quantidade de fundos liderados por
afroamericanos nos Estados Unidos; eles eram predominantemente SBI Cs (fundos com recursos
públicos, entre outras fontes), e alguns deles chegaram perto do desempenho do quartil superior que
temos esperado de inv estidores de private equity. Nós não tínhamos qualquer dúv ida sobre quais eram
os motiv os dessa equipe, mas, nas mentes de alguns sócios limitados, eles sempre v ão equiparar os
dois.
Apesar do ambiente hostil, a notícia não foi de todo ruim. O Grupo GSA — que tinha apoiado o
conceito de Palmer desde o início — recentemente tinha comprometido $10 milhões à Forte, com a
promessa de $15 milhões a mais depois a equipe tiv esse angariado compromissos de $50 milhões.
Agora que o guardião influente tinha dado um aceno oficial para o grupo Forte, uma série de fundos
de pensão do estado começou a prestar mais atenção. Ainda assim, Palmer e seus parceiros, que
estav am v iv endo esse esforço na autossuficiência de suas economias, entenderam que seu primeiro
fechamento almejado de $100 milhões prov av elmente estav a muito longe de se concretizar.
James Hindman
Fundador, CEO e presidente, Jiffy Lube International
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Descrever as metodologias utilizadas por capitalistas de risco e investidores profissionais para estimar o valor
de uma empresa.
2. Discutir como e por que os percentuais de participação no negócio são alocados para os investidores.
3. Descrever como os negócios são estruturados, incluindo prazos críticos, condições e estratégias.
4. Discutir os aspectos-chave da negociação e do fechamento das negociações.
5. Diferenciar acordos bons de ruins e identificar algumas das arapucas que os empreendedores enfrentam no
financiamento de risco.
6. Analisar e discutir o caso da Lightwave Technology.
TABELA 15.2
51%
Podemos ver facilmente que a mudança de qualquer uma das variáveis-chave mudará os
resultados sensivelmente.
Se os capitalistas de risco exigem os ROIs mencionados anteriormente, a propriedade ou
participação que eles também exigem é determinada como segue: Na fase de start-up, de 25 a 75%
para investir todos os recursos necessários; além da fase de start-up, de 10 a 40%, dependendo do
montante investido, da maturidade e da reputação da empresa; em uma empresa experiente, nas
rodadas posteriores de investimento, de 10 a 30% para oferecer os fundos adicionais necessários
para sustentar seu crescimento.
TABELA 15.3
GRÁFICO 15.1
A realidade
Os últimos 30 anos viram a indústria de capital de risco explodir do investimento de apenas $50
milhões para $100 milhões ao ano para quase $100 bilhões em 2000. A Figura 15.1 mostra como as
muitas realidades do mercado de capitais estão atuando e como as atuais condições de mercado,
fluxo de negócios e relativo poder de barganha influenciam as ofertas reais conseguidas. O Gráfico
15.2 mostra como a explosão das pontocom e a queda dos mercados de capitais levaram a valores
muito mais baixos para empresas privadas. O índice Nasdaq caiu de mais de 5.000 para menos de
2.000, uma queda de 63% em cerca de nove meses no final do ano de 2000. Em 2005, o Nasdaq
estava pouco acima de 2.000 e em maio de 2010 estava em cerca de 2.300 pontos.
FIGURA 15.1
Quando ocorre uma queda rápida na valoração (exemplo de 2003)
Nesse ambiente, que também existiu após a quebra do mercado de ações de outubro de 1987, os
empreendedores enfrentam choques violentos na segunda ou terceira rodada de financiamento.
Em vez de um substancial aumento de quatro ou mesmo cinco vezes na valoração da Série A para a
B ou da B para a C, eles são agredidos com o que é chamado de rodada “para baixo”: o preço
normalmente fica entre um quarto e dois terços da última rodada, como mostra o Gráfico 15.2. Isso
dilui gravemente a participação dos fundadores, já que os investidores normalmente estão
protegidos contra a diluição. A diluição do fundador como resultado do fracasso na execução é
uma coisa, mas a diluição porque o índice Nasdaq e os mercados de IPO colapsaram parece injusta.
Mas isso faz parte da realidade da valoração.
GRÁFICO 15.2
Veja, por exemplo, duas excelentes empresas jovens, uma lançada em 1998 e uma em 1999. No
outono de 2001, a primeira tinha assegurado duas rodadas de financiamento de risco, estava
dentro da meta de ultrapassar $20 milhões em receitas, e estava buscando uma rodada de $25
milhões de private equity. A rodada anterior estava em $4,50 por ação. A rodada da Série C teve
seu preço fixado em $2,88 por ação, um desconto de 36% da rodada anterior. A segunda empresa
cumpriu ou excedeu todas as suas metas do plano de negócios e tinha expectativa de alcançar $25
milhões de EBITDA em 2001. Sua rodada da Série B anterior custava $8,50 por ação. A nova Série
C foi fixada em $6,50 por ação: um desconto de cerca de 24%.
Em muitos financiamentos em 2001 e 2002, onerosas condições adicionais foram impostas, como
um retorno de três a cinco vezes para os investidores da Série C antes de os investidores das Séries
A ou B receberem um centavo! Tanto os fundadores quanto os investidores da rodada inicial foram
gravemente punidos por esses financiamentos para baixo. O princípio do último dinheiro que entra
definir os termos do acordo ainda prevalece.
Podemos perceber o nível de vulnerabilidade e volatilidade da valoração de uma empresa nesses
mercados imperfeitos, quando eventos externos, como o colapso da Nasdaq, desencadeiam uma
espiral descendente. Também temos uma nova perspectiva sobre como o tempo é extremamente
importante. Mesmo essas duas empresas com ótimo desempenho foram empurradas para baixo.
Imagine as empresas que não cumpriram seus planos: elas foram esmagadas, se é que conseguiram
financiamento. Foi uma surpreendente inversão do boom das pontocom em 1998-1999, quando as
empresas em fase conceitual (sem nenhum produto, nenhum modelo identificável ou defensável de
como ganhariam dinheiro ou até mesmo chegariam ao ponto de equilíbrio, e nenhuma equipe de
gestão com experiência comprovada) arrecadaram $20, $50, $70 milhões ou mais e tiveram uma
IPO com valorações multimilionárias. A história pergunta: O que há de errado com essa imagem? A
história também oferece a resposta: A felicidade é um fluxo de caixa positivo!
Valorações melhoradas
Como vimos no capítulo anterior, tanto os fluxos de capital de risco e do mercado de IPO
continuaram sua forte recuperação em 2007, mas como se sabe, logo depois sofreram de novo com
a crise imobiliária do final de 2008 e de 2009. As IPOs estabelecem uma alta marca para as
valorações, e isso afeta todas as valorações ao longo de toda a cadeia alimentar dos mercados de
capitais. Rodadas ruins punidoras e acordos de retorno preferencial — comuns apenas alguns anos
antes — tinham desaparecido. Para os empreendedores, as avaliações mais elevadas eram um
contraste refrescante depois do estouro da bolha da Internet. No geral, olhando para o início de
2008, o clima do capital de risco e as valorações mais generosas mais uma vez estavam
demonstrando vigor. Em seguida, em 2009, houve um pequeno retrocesso novamente, mas há
perspectivas de melhoria gradativa a partir de 2010, apesar da eminente crise econômica aguda,
agora proveniente da Europa.
Métodos de valoração
O método do capital de risco299
Este método é adequado para investimentos em uma empresa com fluxos de caixa negativos no
momento do investimento, mas que em certo número de anos projeta gerar ganhos significativos.
Como discutido no Capítulo 14, os capitalistas de risco são os investidores profissionais mais
prováveis para participar neste tipo de investimento – sendo, portanto, a referência para o método
do capital de risco. Os passos envolvidos neste método são os seguintes:
1. Estimar o lucro líquido da empresa em alguns anos, no momento em que o investidor planeja
colher (recuperar o investimento – momento da colheita!). Essa estimativa baseia-se em
projeções de vendas e margens apresentadas pelo empreendedor no plano de negócios.
2. Determinar o índice de preço/lucros adequado, ou índice P/E. O índice P/E adequado pode
ser determinado através do estudo dos múltiplos atuais de empresas com características
econômicas semelhantes.
3. Calcular o valor terminal projetado através da multiplicação do lucro líquido esperado no
ponto em que você espera dar liquidez aos investidores vezes o índice P/E.
4. O valor terminal pode, então, ser descontado para encontrar o valor presente do investimento.
Capitalistas de risco usam índices de desconto entre 35% a 80% por causa do risco envolvido
nesse tipo de investimento.
5. Para determinar o percentual de propriedade (qual a participação percentual da sua empresa
você oferecerá como contrapartida ao investimento) exigido pelo investidor, com base no
investimento inicial, divide-se o investimento inicial pelo valor presente estimado.
Para resumir as etapas citadas, pode-se usar a seguinte fórmula:
(1 + IRR)anos (investimento)
=
Por fim, o número de ações e o preço das ações devem ser calculados com o uso da seguinte
fórmula:
Novas ações =
Por definição, o preço da ação é igual ao preço pago dividido pela quantidade de ações.
Este método é comumente usado por capitalistas de risco, pois eles fazem investimentos de
participação em setores que normalmente exigem um grande investimento inicial com receitas
projetadas significativas, além do fato de que, nas negociações, o percentual de propriedade, ou
participação, é uma questão fundamental.
A pequena empresa com mente voltada para o crescimento pode afetar as variáveis no cálculo
para obter vantagens. Se você já tem um mercado comprovado e um fluxo de caixa positivo, a taxa
de retorno exigida pelo investidor diminui de 40–70% em uma start-up para 25–40% em uma
empresa em crescimento. Isso efetivamente reduz em até 50% a quantidade de participação
percentual da qual você terá de abrir mão para receber o investimento!
O método fundamental
O método fundamental é simplesmente o valor presente do fluxo de lucros futuros (veja a Tabela
15.4). O método fundamental pode ser problemático para você porque os lucros em uma empresa
em crescimento são empurrados para o futuro. Depois que uma empresa escolhe uma estratégia
com alto potencial de crescimento, não há lucros calculáveis porque todo o dinheiro (incluindo os
lucros) é aplicado para aumentar a taxa de crescimento. O objetivo desta estratégia é colher um
enorme aumento nos lucros em anos futuros. Mas lembre-se que a taxa de retorno exigida pelo
investidor é atualizada anualmente.
TABELA 15.4
Probabilidade (sucesso)
(Valor terminal previsto)
Essa fórmula301 difere da fórmula do capital de risco básica original de duas maneiras. Primeiro, a
fórmula básica supõe que não há fluxo de caixa entre o investimento e a colheita no ano 5. O valor
futuro dos fluxos de caixa imediatos é subtraído do valor futuro do investimento porque a diferença
entre eles é o que deve ser recuperado do valor terminal. Segundo, a fórmula básica não faz
distinção entre o valor terminal previsto e o valor terminal esperado. O método tradicional usa o
valor terminal previsto, que é ajustado através do uso de uma alta taxa de desconto. A fórmula
aplica o valor esperado do valor terminal. A Tabela 15.5 é um exemplo de uso desse método.
TABELA 15.5
TABELA 15.6
Diluição da propriedade302
O exemplo anterior é irrealista, pois, na maioria dos casos, várias rodadas de investimentos são
necessárias para financiar um empreendimento de alto potencial. Veja, por exemplo, a planilha de
precificação apresentada na Tabela 15.6, em que três rodadas de financiamento são esperadas.
Além de estimar a taxa de desconto apropriada para a rodada atual, o capitalista de risco da
primeira rodada agora deve estimar as taxas de desconto que são mais suscetíveis de serem
aplicadas nas rodadas seguintes, que são projetadas para os Anos 2 e 4. Embora uma taxa de 50%
ainda seja apropriada para o Ano 0, estima-se que os investidores na Hitech, Inc. vão exigir um
retorno de 40% no Ano 2 e um retorno de 25% no Ano 4. A propriedade final que cada investidor
deve receber, tendo em conta um índice terminal de preço/lucro de 15, pode ser calculada através
da fórmula de valoração básica:
Rodada 1:
Valor futuro
(investimento)
= 1,50 5 x $1,5 milhão
30,4% de propriedade
Valor terminal
15 x $2,5 milhões
(empresa)
Rodada 2:
(1,403 x $1 milhão) / (15 x $2,5 milhões) = 7,3%
Rodada 3:
(1,251 x $1 milhão) / (15 x $1,5 milhão) = 3,3%
Negociações
As negociações são definidas por muitos especialistas em uma variedade de maneiras, como
demonstram os exemplos a seguir. Herb Cohen, autor de You Can Negotiate Anything, define
negociação como “um campo de conhecimento e empenho que se concentra em conquistar a
aprovação das pessoas de quem queremos algo”312 ou, de modo semelhante, como “o uso de
informações e poder para afetar o comportamento em uma ‘rede de tensão’”313 Outros especialistas
no campo das negociações, Roger Fisher e William Ury, afirmam que “as negociações são uma
comunicação de mão dupla feita para chegar a um acordo quando você e o outro lado têm alguns
interesses que são compartilhados e outros que são opostos”.314
O que é negociável?
Há muito mais coisas negociáveis do que os empreendedores pensam.315 Por exemplo, uma
jogada normal do advogado que representa os investidores é insistir, como quem não quer nada,
que “essa é nossa proposta” e que o empreendedor deve pegar ou largar. Ainda assim, é possível
um empreendedor negociar e chegar a um acordo que represente suas necessidades.
Durante a negociação, os investidores avaliam as habilidades de negociação, a inteligência e a
maturidade do empreendedor. O empreendedor tem exatamente a mesma oportunidade para
avaliar o investidor. Se os investidores vêem algo que abala sua segurança ou confiança,
provavelmente se retiram do negócio. De modo semelhante, se um investidor demonstra ser
arrogante, irritadiço e tem má vontade para ver as necessidades do outro lado e para se
comprometer, e parece insistir em obter cada centavo do negócio prendendo o empreendedor ao
máximo de “cláusulas onerosas” possível, o empreendedor também pode muito bem querer se
retirar. Ao longo das negociações, os empreendedores precisam ter em mente que uma negociação
bem-sucedida é aquela em que ambos os lados acreditam que fecharam um negócio justo. Os
melhores negócios são aqueles em que nenhuma das partes ganha nem perde, e esses negócios são
possíveis. Essa abordagem é articulada em maior profundidade nos trabalhos de Roger Fisher e
William Ury, que não se concentraram em táticas de negociação fáceis ou difíceis, mas na
negociação com princípios, um método desenvolvido no Harvard Negotiation Project. Esse método
afirma que o objetivo das negociações é “decidir as questões com base em seus méritos, e não em
um processo disputado concentrado no que cada lado diz que vai ou não fazer. Ele sugere que você
busque lucros mútuos sempre que possível e que, nos pontos em que seus interesses sejam
conflitantes, você deve insistir que o resultado se baseie em algum padrão justo,
independentemente do desejo de cada lado”.316 Eles continuam a descrever as negociações com
princípios nos seguintes quatro pontos:
Pessoas: Separe as pessoas do problema.
Interesses: Concentre-se nos interesses, e não em posições.
Opções: Crie várias possibilidades antes de decidir o que fazer.
Critérios: Insista que o resultado se baseie em algum padrão objetivo.
Outros já falaram sobre esse método da negociação com princípios. Por exemplo, Bob Woolf, da
Bob Woolf Associates, empresa com sede em Boston que já representou muita gente, de Larry Bird
a Gene Shalit, declara simplesmente “você quer que o outro lado seja razoável, e não defensivo —
para trabalhar com você. Assim, você terá mais chances de conseguir o que quer. Trate a pessoa do
modo como gostaria de ser tratado, e terá sucesso a maior parte das vezes.317
GRÁFICO 15.3
Arapucas319
Circunferência estratégica
Cada estratégia de levantamento de fundos dá origem a algumas ações e compromissos dos
gestores que acaba formando uma circunferência estratégica em torno da empresa em termos de
suas opções de financiamento atuais e futuras. Essas opções futuras permitem graus variados de
liberdade como resultado das ações anteriores. Aqueles que não conseguem pensar nas
consequências de uma estratégia de levantamento de fundos e do efeito sobre sua liberdade
acabam caindo nessa armadilha.
É impossível evitar completamente a circunferência estratégica. E, embora em alguns casos a
formação de uma circunferência estratégica seja claramente intencional, outras podem não ser
intencionais e, infelizmente, podem ser inesperadas. Por exemplo, uma empresa que planeja
permanecer privada ou planeja manter um índice de endividamento do capital de 1,5 a 1,0 (razão
dívida/patrimônio) intencionalmente criou uma circunferência estratégica.
Circunferência legal
Muitas pessoas têm aversão a se envolver em minúcias jurídicas e contábeis. Elas acreditam que,
como pagam honorários profissionais de bom tamanho, seus conselheiros devem e vão prestar
atenção aos detalhes.
A documentação jurídica define os termos, condições, responsabilidades e direitos das partes em
uma transação. Visto que fontes diferentes têm maneiras diferentes de estruturar negócios, e visto
que esses detalhes jurídicos e contratuais aparecem no final do processo de levantamento de
fundos, um empreendedor pode chegar a um ponto sem volta, enfrentando algumas condições e
cláusulas muito onerosas que não são apenas difíceis de conviver com, mas também geram
limitações e restrições pesadas — circunferência legal — sobre opções futuras que são
potencialmente desastrosas. Os empreendedores não podem confiar em advogados e conselheiros
para protegê-los nessa questão vital.
Para evitar essa armadilha, os empreendedores precisam ter um preceito fundamental: “O diabo
está nos detalhes”. É imprudente um empreendedor não ler cuidadosamente documentos finais e é
muito arriscado usar um advogado que não seja experiente e competente. Também é útil manter
algumas opções em vista e economizar dinheiro. Isso também pode ajudar a manter o outro lado da
mesa mais conciliador e flexível.
Atração pelo status e pelo tamanho
Parece que existe uma atração cultural por um status mais alto e um tamanho maior quando se
trata de levantar capital. Simplesmente almejar as maiores empresas de investimento ou as mais
conhecidas ou prestigiadas é uma armadilha na qual os empreendedores normalmente caem. Essas
empresas costumam ser mais visíveis por causa de seu tamanho e atividade de investimento e
porque já estão no mercado há muito tempo. Ainda assim, como a indústria do capital de risco se
tornou mais heterogênea, além de outras razões, essas empresas podem não ser uma boa ideia.
Veja, por exemplo, um empreendedor que tinha um dispositivo patenteado inovador que estava
pronto para ser usado por fabricantes de semicondutores. Ele estava ficando sem dinheiro de uma
rodada anterior de investimento de capital de risco e precisava de mais dinheiro para seu
dispositivo ser colocado em testes adicionais e, então, presumivelmente, em produção. Embora os
testes de laboratório tivessem sido bem-sucedidos, seus apoiadores anteriores não queriam investir
mais porque ele estava há quase dois anos atrasado em seu plano de negócios. Durante um ano, ele
concentrou seus esforços em muitas das maiores e mais conhecidas empresas e celebridades no
negócio de capital de risco, mas sem sucesso. Com a ajuda de consultoria externa, ele decidiu
buscar uma estratégia alternativa de captação de recursos. Primeiro ele listou as empresas que eram
os clientes potenciais mais prováveis para o dispositivo. Em seguida, procurou identificar os
investidores que já tinham investimentos em sua base de clientes potenciais; pensava-se que estes
seriam os apoiadores potenciais mais prováveis, porque seriam os mais informados sobre sua
tecnologia, seu potencial de valor agregado, e qualquer vantagem competitiva potencial que a
empresa pudesse alcançar. Menos de uma dezena de empresas de capital de risco foram
identificadas (de um conjunto de mais de 700 na época), mas nenhuma havia sido contatada
anteriormente pelo empreendedor. Na verdade, muitas eram praticamente desconhecidas para ele,
embora fossem investidores muito ativos na indústria. Em menos de três meses, havia ofertas sobre
a mesa de três delas, e o financiamento foi fechado.
É melhor evitar essa armadilha, concentrando seus esforços na direção dos apoiadores financeiros,
quer de dívida ou de patrimônio, que têm profundo conhecimento e experiência em primeira mão
com a tecnologia, o mercado e as redes de contato e de conhecimentos na arena competitiva que
você e sua empresa atuam. Concentre-se naqueles com conhecimento relevante e que possam ser
caracterizados como parceiros mais adequados para uma boa união.
Território desconhecido
Aventurar-se em território desconhecido é outro problema. Os empreendedores precisam
conhecer o terreno em detalhes suficientes, especialmente os requisitos e as alternativas de várias
fontes de participação. Se não o fizerem, podem cometer erros estratégicos críticos e perder tempo.
Uma ilustração de estratégia de levantamento de fundos mal concebida e, efetivamente, uma
loteria — em vez de uma busca bem pensada e focada — é a da empresa da indústria de fibras
ópticas chamada Opti-Com.320 A Opti-Com foi a start-up de uma subsidiária de uma empresa
pública muito conhecida na indústria. A equipe gerencial era totalmente confiável, mas os membros
não eram considerados superestrelas. O plano de negócios sugeria que a empresa podia alcançar
mágicos $50 milhões em vendas em cinco anos, que foi o que um conselheiro externo disse ser o
tamanho mínimo que os investidores de capital de risco considerariam. O plano propunha levantar
$750.000 em troca de cerca de 10% das ações ordinárias da empresa. Pensando de modo realista,
como a empresa era um fornecedor personalizado para aplicações especiais, em vez de um
fornecedor de nova tecnologia com vantagem proprietária significativa, uma estimativa de vendas
de $10 milhões a $15 milhões em cinco anos teria sido mais plausível. O mesmo conselheiro insistiu
que o plano de negócios fosse submetido a 16 empresas de capital de risco importantes na área de
Boston. Quatro meses depois, eles haviam recebido 16 rejeições. Os empreendedores então foram
instruídos a “ver empresas de capital de risco da mesma qualidade em Nova York”. Um ano depois,
os fundadores estavam quase sem dinheiro e não tiveram sucesso na busca de capital. Quando
foram redirecionadas para uma fonte mais adequada, um fundo pequeno especificamente criado
em Massachusetts — para fornecer capital de risco para empresas emergentes que poderiam não ser
robustas o suficiente para atrair capital de risco convencional, mas seriam uma boa adição à
renovação econômica do estado — o encaixe foi perfeito. A Opti-Com levantou o capital necessário,
mas com uma valoração muito mais alinhada com o mercado de negócios start-up.
O custo de oportunidade
O fascínio pelo dinheiro muitas vezes leva a uma armadilha comum – a armadilha do custo da
oportunidade. O otimismo de um empreendedor o leva a concluir que, com boas pessoas e
produtos (ou serviços), tem de haver um monte de dinheiro por aí com o “nosso nome escrito
nele”! Nesse processo, os empreendedores tendem a subestimar o custos reais de fazer o dinheiro
chegar ao banco. Além disso, os empreendedores também subestimam o tempo real, o esforço e a
energia criativa necessários. Na verdade, o grau de esforço que a angariação de fundos requer talvez
seja o aspecto menos valorizado da obtenção de capital. Em ambos os casos, existem custos de
oportunidade de gastar esses recursos em determinada direção, quando tanto o relógio quanto o
calendário estão se movendo.
Em uma empresa start-up, por exemplo, os fundadores podem dedicar quase todo seu tempo
disponível durante meses à procura de investidores para contar sua história. Pode demorar seis
meses ou mais para obter um “sim” e até um ano para um “não”. Nesse meio-tempo, uma
quantidade considerável de dinheiro e capital humano está saindo em vez de entrar, e esse
dinheiro e esse capital poderiam ter sido mais bem gastos em outro lugar.
Uma dessas start-ups começou sua busca por capital de risco em 2006. Um ano depois, os
fundadores tinham esgotado $200.000 de seu próprio capital semente e tinham largado seus
empregos para se dedicarem em tempo integral ao novo negócio. No entanto, eles não tiveram
sucesso depois de abordarem mais de 35 fontes de capital. Os custos de oportunidade são claros.
Também existem custos de oportunidade nos negócios já existentes e emergentes. Em termos de
capital humano, é comum a alta administração dedicar quase a metade de seu tempo tentando
levantar uma quantia maior de capital externo. Novamente, isso também requer uma quantidade
enorme de energia emocional e física, das quais existe uma quantidade finita para dedicar às
demandas operacionais diárias da empresa. O efeito sobre o desempenho de curto prazo é
invariavelmente negativo. Além disso, se as expectativas de um esforço bem-sucedido de angariação
de fundos são seguidas de uma falha para levantar o dinheiro, o moral pode se deteriorar e pessoas
importantes podem ser perdidas.
Custos de oportunidade significativos também incorreram em negócios e oportunidades de
mercado abandonados que poderiam ter sido buscados. Veja, por exemplo, a empresa start-up que
acabamos de comentar. Quando lhe perguntaram qual o nível de vendas que a empresa teria
conseguido no ano se tivesse gastado os $200.000 do capital semente dos fundadores em gerar
clientes e negócios, o fundador respondeu sem hesitação: “Estaríamos com $1 milhão de vendas
agora, e provavelmente estaríamos gerando um pequeno lucro”.
Subestimando outros custos
Os empreendedores tendem a subestimar os custos paralelos associados tanto a levantar o
dinheiro quanto a viver com ele. Existem custos progressivos depois que a empresa abre seu capital.
A SEC ou a CVM requerem demonstrações financeiras regulares auditadas e vários relatórios;
existem taxas de diretores externos e prêmios de seguros de responsabilidade civil; existem taxas
legais associadas a mais exigências de extensos relatórios, e assim por diante. Esses custos podem
aumentar rapidamente, muitas vezes, chegando a $500.000 ou mais por ano.
Outro custo que pode ser facilmente esquecido é a divulgação que pode ser necessária para
convencer um apoiador a participar com seu dinheiro. Um empreendedor pode ter de revelar
muito mais sobre a empresa e suas outras finanças pessoais do que jamais imaginou. Assim,
fraquezas da empresa, mecanismos compensatórios e de propriedade, demonstrações financeiras
pessoais e corporativas, planos de marketing e estratégias competitivas, e assim por diante podem
ter de ser revelados a pessoas que o empreendedor realmente não conhece e confia e com quem ele
pode acabar não fazendo negócios. Além disso, a capacidade de controlar o acesso à informação se
perde.
Ganância
O empreendedor – especialmente aquele que está sem dinheiro ou quase – pode achar o dinheiro
irresistível. Uma das experiências mais emocionantes para um empreendedor é a prospecção para
levantamento de sua primeira grande injeção de capital externo ou de obter aquela linha bancária
substancial necessária para a expansão. No entanto, se os fundamentos da empresa forem sólidos,
haverá dinheiro lá fora.
Ficar ansioso demais
Normalmente, depois de meses de trabalho árduo, de encontrar a fonte certa e de negociar o
acordo de investimento, outra armadilha aguarda o empreendedor faminto mas incauto, e muitas
vezes a tentação é enorme. É a armadilha de acreditar que o negócio está feito e encerrar as
discussões com outras pessoas cedo demais. Os empreendedores caem nessa armadilha porque
querem acreditar que o negócio está feito com um aperto de mão (ou talvez com uma carta de
intenção que o acompanha ou um term sheet assinado).
A manipulação magistral de uma situação como essa ocorreu quando um empreendedor e um
vice-presidente chave de uma empresa com $30 milhões em vendas estavam negociando com
diversos capitalistas de risco, três grandes sócios estratégicos, e uma fonte de mezanino por quase
seis meses. A empresa estava reduzida a 60 dias de dinheiro, e os investidores de mezanino sabiam
disso. Eles ofereceram ao empreendedor $10 milhões como uma proposta do tipo pegar-ou-largar.
O vice-presidente, ao resumir a relativa posição de barganha da empresa, disse: “Foi a única
alternativa que tínhamos deixado; tudo tinha parado no final do mês anterior, e as negociações com
as três grandes empresas não atingiram estágios sérios. Sentimos como se estivéssemos pedindo
demais, mas precisávamos do dinheiro.” Contudo, os dois conseguiram manter essa fraqueza
escondida do mezanino. Cada vez que as negociações eram agendadas, o empreendedor se
assegurava de marcar também um encontro com uma das outras empresas maiores no final da
tarde (uma distância de duas horas de avião). Com efeito, ele conseguiu criar a ilusão de que essas
discussões com outros investidores eram muito mais sérias do que realmente eram. O negócio foi
fechado em termos aceitáveis para ambos. A empresa abriu seu capital seis meses depois e ainda é
muito bem-sucedida hoje.
Impaciência
Outra armadilha é ser impaciente quando um investidor não compreende rapidamente, e não
percebe que cada negócio tem sua velocidade e seu ritmo.
Os esforços de um grupo de gestores para adquirir uma empresa no negócio de telefonia celular
que está sendo vendida por seus empregadores oferecem um exemplo. Como membros da equipe
administrativa, eles foram os primeiros a saber, em maio, que a empresa seria vendido pelos
proprietários. No início de julho, os executivos do banco de investimento que representam os
vendedores deveriam ter o memorando de oferta pronto para o mercado aberto. Tentar comprar a
empresa privada exigiria que a equipe levantasse compromissos para cerca de $150 milhões em três
a quatro semanas – dificilmente tempo suficiente para montar até mesmo um plano de negócios
bruto, muito menos levantar um montante tão elevado. O trem estava se movendo a 140
quilômetros por hora e ganhando velocidade a cada dia. Os fundadores identificaram cinco grandes
empresas de compra alavancada de controle acionário e de capital de risco interessadas e se
sentaram com representantes de cada uma para analisar o resumo do plano de negócios e o
financiamento proposto. Uma empresa excelente enviou um parceiro normalmente muito
experiente e capaz, mas seu interrogatório indicou como ele sabia pouco sobre esse negócio. A
equipe sabia que tinha de procurar em outros lugares.
Se o grupo tivesse sido muito impaciente simplesmente porque o trem estava se movendo tão
rapidamente, eles teriam se exposto a um risco adicional. Esse investidor potencial não tinha
conhecimento elementar da indústria e do modelo de negócio e não tinha feito seu dever de casa.
Se eles tivessem esperado que esse investidor se tornasse conhecedor do negócio, teria sido tarde
demais.
A miopia “pegue-o-dinheiro-e-saia-correndo”
Uma armadilha final na hora de levantar dinheiro para uma empresa é a miopia pegue-o-
dinheiro-e-saia-correndo que invariavelmente impede o empreendedor de avaliar uma das
questões mais importantes no longo prazo: Até que ponto o investidor pode agregar valor à empresa
além do dinheiro? Cai nessa armadilha o empreendedor que não tem uma noção clara de que seu
potencial parceiro financeiro tem experiência e conhecimento relevantes do mercado e do setor
industrial, os contatos de que o empreendedor precisa mas não tem, a esperteza e a reputação que
agregam valor no relacionamento com o investidor – e, ainda assim, pega o dinheiro.
Como já foi dito antes, o desenvolvimento bem-sucedido de uma empresa pode ser gravemente
afetado pela interação da equipe de gestão com os parceiros financeiros. Se um relacionamento
eficaz puder ser estabelecido, a sinergia de valor agregado pode ser um poderoso estimulante para o
sucesso. Muitos fundadores negligenciam as contribuições de alto valor agregado que alguns
investidores estão acostumados a fazer e erroneamente optam por uma “oferta melhor”.
Resumo do capítulo
Perguntas de estudo
1. Por que pode haver variações tão amplas nas valorações que os investidores e fundadores
fazem das empresas?
2. Quais são os fatores determinantes do valor de uma empresa (valuation)?
3. Defina e explique por que os seguintes termos são importantes: criação de valor de longo
prazo, IRR, parcela de propriedade exigida pelo investidor, Fluxo de caixa descontado, estrutura
do acordo de investimento, e armadilhas na captação de recursos.
4. Explique cinco métodos mais utilizados na valoração de uma empresa e seus pontos fortes e
fracos, dadas as suas hipóteses subjacentes.
5. O que é um compromisso de capital em etapas, e por que é importante?
6. Quanto vale uma empresa? Explique a teoria e a realidade da valoração.
7. O que é uma rodada “para baixo”?
8. Quais são alguns dos conflitos inerentes entre investidores e empreendedores, e como e por
que eles afetam as probabilidades de sucesso de uma empresa?
9. Quais são as questões e problemas mais importantes a considerar na estruturação de um
acordo de investimento? Por quê?
10. Que questões podem ser negociadas em um investimento de risco, e por que elas são
importantes?
11. Quais são os perigos e as armadilhas na angariação de fundos, e por que às vezes os
empreendedores não conseguem evitá-las?
Recursos da Internet para o Capítulo 15
EXERCITANDO A MENTE
1. Quem deve e quem não deve ter investidores externos em suas empresas?
2. Diz-se que uma boa estrutura de acordo de investimento não pode transformar um mau
negócio em um bom, mas muitos bons negócios foram destruídos por uma estrutura de
acordo de investimento ruim. Por que isso acontece? Encontre um exemplo de cada um.
3. Que crenças e suposições são reveladas pelas apostas feitas em diferentes acordos de
investimento?
4. O que é um bom negócio? Por quê?
5. Você pode negociar qualquer coisa. Por quê?
298
1 IRR é um sinônimo para taxa interna de retorno, calculada anualmente.
299
O método de valoração do capital de risco é adaptado de W. A. Sahlman, “A Method for Valuing High-Risk, Long-Term
Investment: The ‘Venture Capital Method’”, Note 9-288-006, Harvard Business School 1988, pp. 2–4. Copyright © 1988 do presidente
e colegas da Harvard College.
300
Este parágrafo é adaptado de Sahlman, “A Method for Valuing High-Risk, Long-Term Investments”, p. 56.
301
Ibid., pp. 58–59.
302
Ibid., p. 24.
303
J. A. Timmons, “Valuation Methods and Raising Capital”, palestra, Babson College, 2006.
304
Observe que é WACC, e não fluxo de caixa livre, por causa do fator dos impostos.
305
J. A. Timmons, “Deals and Deal Structuring”, palestra, Babson College, 2006.
306
W. A. Sahlman, “Structure of Venture Capital Organizations”, Journal of Financial Economics 27 (1990), pp. 506–7. Reimpresso
com autorização da Elsevier.
307
Extraído de “Note on Financial Contracting Deals”, de W. A. Sahlman, Harvard Business School Note 99-288-014, 1988, p. 1.
Copyright © 1988 Harvard Business School Publishing; todos os direitos reservados.
308
Ibid., pp. 35–36.
309
Ibid., p. 43.
310
Dornelas, Timmons, Spinelli, e Zacharakis, “Como conseguir investimentos para o seu negócio”, Campus/Elsevier, 2007.
311
Timmons, “Deals and Deal Structuring”, palestra, Babson College, 2006.
312
H. Cohen, You Can Negotiate Anything (Nova York: Bantam Books, 1982), p. 15.
313
Ibid., p. 16.
314
R. Fisher e W. Ury, Getting to Yes (Nova York: Penguin Books, 1991), p. xvii.
315
Veja, por exemplo, H. M. Hoffman e J. Blakey, “You Can Negotiate with Venture Capitalists”, Harvard Business Review, março–
abril de 1987, pp. 16–24.
316
Fisher e Ury, Getting to Yes, p. xviii.
317
Citado em P. B. Brown e M. S. Hopkins, “How to Negotiate Practically Anything”. Reimpresso com autorização da revista INC.
(fevereiro de 1989), p. 35. Copyright © 1989 do Goldhirsh Group, Inc., 38 Commercial Wharf, Boston, MA 02110.
318
J. A. Timmons, “Deals and Deal Structuring”, palestra, Babson College, 2006.
319
Copyright © 1990 de Jeffry A. Timmons.
320
Este é um nome fictício para uma empresa real.
Estudo de caso
Perguntas preparatórias
1. Como preparação de uma I PO, os co-fundadores dev eriam ter mais uma rodada de
financiamento ponte? Por quê?
2. Como v ocê estruturaria e analisaria esta rodada e por quê?
3. O que Kinson e Weiss dev eriam fazer para que sua empresa crescesse?
4. Como a empresa dev eria av aliar e decidir sobre a busca de uma I PO desta v ez? Como foi o
planejamento e a administração desse processo?
O sucesso dos diodos emissores de luz (LEDs) está em sua longev idade (os LEDs duram dez v ezes mais
que as lâmpadas incandescentes), eficiência de energia, durabilidade, baixos custos de manutenção
e tamanho compacto. A substituição das lâmpadas conv encionais pelas de LED, apenas nos Estados
Unidos, trará benefícios energéticos de até $100 bilhões no ano de 2025, economizando 120 gigaw atts
por ano.
LightEmitting Diodes 2002; cúpula estratégica para iluminação de LEDs
No v erão de 2003, os empreendedores experientes George Kinson e Dr. Schyler Weiss estav am
av aliando mais uma v ez se buscav am uma oferta pública inicial (I PO) para sua jov em e dinâmica
empresa de iluminação, a Lightw av e Technology.
A primeira v ez eles que consideraram tal saída foi em 2001, exatamente antes do estouro da bolha da
internet. Nos meses posteriores à dramática rev irav olta no mercado de capitais, os sócios foram
forçados a implementar um plano de reestruturação para reorganizar suas operações. Além de uma
amortização dolorosa, a retração econômica subsequente contrariou os esforços da empresa em
tomar v antagem de sua posição de liderança neste mercado em desenv olv imento. Apesar disso, sua
recuperação foi bem-sucedida – em grande parte dev ido às capacidades únicas e exclusiv as da
Lightw av e. Em apenas alguns anos, a empresa v oltou a tomar o rumo certo.
Dev ido ao fato de o mercado de I PO em 2003 ainda estar muito tranquilo e ninguém arriscar supor
quando ele se recuperaria, Kinson tev e que imaginar se seria melhor continuar como uma empresa
priv ada até que tiv esse atingido números melhores, bem como dominância em um número de
segmentos chav e do mercado de iluminação. Por outro lado, uma I PO bem-sucedida forneceria
capital e notoriedade no setor que poderia ter um impacto significativ o na sua capacidade de fazê-lo.
* Este estudo de caso foi preparado por Carl Hedberg sob superv isão do Professor Jeffry A. Timmons.
© Copyright Jeffry A. Timmons, 2005. Todos os direitos reserv ados.
Alavancar uma empresa é como dirigir seu carro com uma vara afiada apontada
para seu coração através do volante. Enquanto a estrada estiver suave, funciona
bem. Mas, se você encontrar um buraco na estrada, pode morrer.
Warren Buffet
Resultados esperados
Os mercados de capitais podem causar, e causam impacto sobre empresas emergentes, como vimos. Uma vez que a
maioria das novas empresas não possui capital e tem pouca, ou simplesmente nenhuma elegibilidade para financiar
dívidas, os mercados de crédito de dívida não são diretamente relevantes para as empresas iniciantes. No entanto,
uma vez que uma empresa consegue se desenvolver e obtém um fluxo de caixa positivo, o crédito bancário é
frequentemente uma parte importante da estratégia financeira da empresa em crescimento. Nos anos recentes vimos
crises de crédito e um ambiente de empréstimo mais severo, como o ocorrido depois do colapso dos mercados de capital
em 2000 e com a crise dos empréstimos subprime de 2007. Este capítulo visa prepará-lo a lidar melhor com essas
realidades nos mercados de capitais de dívida. Mas, mesmo quando os mercados de crédito melhoram, as lições
aprendidas aqui fornecem importantes vantagens competitivas.
Os autores agradecem ao Sr. Leslie Charm, colega no Babson College e amigo de longa data, por
suas contribuições significativas nas revisões do presente capítulo.
2007: empréstimos subprime afundam mercados de crédito
Justamente quando a economia e as perspectivas parecem mais otimistas, em geral os problemas
parecem vir em seguida. Essa foi a história inesperada do verão de 2007, principalmente nos EUA,
mas que impactou a economia mundial. A economia estava passando pela maior expansão
econômica da história sem pelo menos uma correção de 10% do mercado mobiliário - 71 meses até
outubro de 2007, que foi de 12 meses mais do que o recorde anterior de 1982-1987 de 64 meses. O
boom imobiliário do pós-colapso do mercado de ações de 2000 e recuperação econômica pós
11/09/01 estava chegando ao fim. Empréstimos subprime de risco haviam alimentado uma nova
versão de “exuberância irracional” que levou os preços de empréstimos e de imóveis residenciais a
níveis insustentáveis. Em poucos dias, com início em meados de julho, a festa tinha acabado, com
grandes repercussões em todo o sistema bancário e de crédito. Seguiu-se uma crise de liquidez; os
bancos simplesmente não tinham dinheiro suficiente para cumprir as suas obrigações. Como
aconteceu em 1987, o Federal Reserve (Banco Central americano) interveio para emprestar
dinheiro ao sistema bancário a fim de evitar um aprofundamento da crise. Em setembro de 2007,
reduziu a taxa de desconto do Federal Reserve em surpreendentes 50 pontos base pela primeira vez
em mais de quatro anos, e mais reduções seriam esperadas nos meses seguintes. O objetivo do Fed
era suavizar a recessão na habitação e evitar uma recessão econômica maior nos Estados Unidos.
As principais fontes322 de capital emprestado para desenvolver empresas são crédito comercial,
bancos comerciais, empresas financeiras, empresas de factoring e empresas de leasing. As vantagens
e desvantagens323 dessas fontes, resumidas no Quadro 16.1, são basicamente determinadas por
dimensões óbvias como taxa de juros ou custo de capital, os termos principais, condições e
cláusulas, a adequação com a situação do proprietário e as necessidades da empresa no momento.
A qualidade do negócio que você vai fechar é função de sua posição de barganha relativa e da
concorrência entre as alternativas. O mais importante de tudo — dado um negócio em um limite
aceitável ou acima dele — é a pessoa com quem você vai negociar, e não a quantidade, os termos
ou a instituição. Em outras palavras, você deve procurar o gerente do banco certo (ou outro
fornecedor de capital) em vez do banco certo. Mais uma vez, as características da indústria e do
mercado, o estágio e a saúde da empresa em termos de fluxo de caixa, cobertura de dívida e penhor
são fundamentais no processo de avaliação. Claramente, a pequena empresa lucrativa com um
plano de crescimento inteligente tem muitas vantagens na hora de obter capital de dívida. E
lembre-se: o capital de dívida é quase sempre mais barato que o capital de participação, pois o que
você precisa fazer é pagar o empréstimo, sem ceder participação de sua empresa para o investidor.
Por fim, uma questão que os empreendedores sempre fazem é: O que é possível emprestar —
quanto posso esperar conseguir com base em meu balanço patrimonial? O Quadro 16.2 resume
algumas diretrizes gerais para responder a essa pergunta. Como a maioria dos empréstimos e linhas
de crédito são empréstimos baseados em ativos, é muito importante conhecer as diretrizes usadas
pelos financiadores para determinar quanto vão emprestar para a empresa. Quando você observa os
percentuais dos ativos fundamentais no balanço patrimonial que são utilizáveis como penhor, note
que são apenas faixas e que variam de uma região para outra, para diferentes tipos de negócios e
para cada estágio no ciclo da empresa. Por exemplo, bens de consumo não perecíveis versus
produtos técnicos que podem ter um risco considerável de obsolescência seriam tratados de modo
muito diferente na hora de se fazer o cálculo do penhor de um empréstimo. Se a empresa já tem
uma dívida significativa e empenhou todos os seus ativos, pode não haver muito espaço para
negociação. Um banco com penhor total de uma empresa com problemas de fluxo de caixa é
improvável de abrir mão dessa posição para permitir que a empresa atraia outro financiador,
mesmo que o penhor seja mais do que suficiente para cumprir essas diretrizes.
QUADRO 16.1
QUADRO 16.2
Crédito comercial324
O crédito comercial é uma importante fonte de fundos de curto prazo para pequenas empresas.
Na verdade, o crédito comercial representa 30–40% do passivo exigível de empresas não
financeiras, com percentuais geralmente mais altos em empresas menores. O crédito comercial
reflete-se nos balanços patrimoniais como contas a pagar ou vendas a pagar — comércio. Se uma
pequena empresa é capaz de comprar bens e serviços e receber 30, 60 ou 90 dias para pagar por
eles, essa empresa essencialmente recebeu um empréstimo de 30 a 90 dias.
Muitas pequenas empresas novas são capazes de conseguir esse crédito comercial quando
nenhuma outra forma de financiamento por endividamento está disponível para elas. Os
fornecedores oferecem o crédito comercial como modo de seduzir novos clientes e muitas vezes
incluem o risco de inadimplência em seus preços. Além disso, os parceiros do canal que fornecem
crédito comercial normalmente o fazem com mais conhecimento específico do setor do que os
bancos comerciais.325 A capacidade de uma pequena empresa obter crédito comercial depende da
qualidade e da reputação de sua gerência e dos relacionamentos que estabelece com seus
fornecedores. Uma palavra de alerta: o atraso contínuo no pagamento ou o não-pagamento pode
levar os fornecedores a cortarem suprimentos ou a vender apenas à vista — e você desenvolve
muito rapidamente uma reputação, tanto formalmente, por meio de relatórios de crédito, quanto
informalmente, através do boca-a-boca. Um segredo para manter o crédito comercial aberto é pagar
continuamente, mesmo que não seja o valor total. Além disso, o custo real de usar crédito
comercial pode ser muito alto — por exemplo, a perda dos descontos para pagamento à vista. Como
o custo do crédito comercial raramente é expresso como um valor anual, ele deve ser analisado com
cuidado, e você deve escolher os melhores termos. O crédito comercial pode assumir uma das
seguintes formas: termos de crédito estendidos; prazos especiais ou sazonais, em que um fornecedor
envia os produtos antes da época de pico de vendas do comprador e aceita pagamentos 90–120 dias
depois, durante a época de pico; consignação de estoque, no qual o pagamento só é feito depois da
venda do produto; e empréstimo ou aluguel de equipamentos.
Financiamento de banco comercial
Os bancos comerciais preferem emprestar para empresas existentes que têm um histórico de
vendas, lucros, clientes satisfeitos e um arquivo que mostre poucos ou nada de atrasos. A
preocupação com as altas taxas de inadimplência em novas empresas pode deixá-los desanimados
quanto a emprestar para essas empresas. Eles querem ser financiadores de baixo risco, o que é
coerente com suas margens de lucro. Para se protegerem, eles buscam, primeiro, um fluxo de caixa
positivo e, depois, uma garantia, e, em empresas novas e jovens (dependendo do ambiente de
crédito), eles provavelmente exigem garantias pessoais dos proprietários. Assim como os
investidores de participação, eles atribuem um grande peso à qualidade da equipe gerencial, mas no
caso brasileiro, um peso ainda maior às garantias. Apesar desses fatores, certos bancos raramente
fazem empréstimos a pequenas empresas com muito financiamento de participação. Isso é
especialmente verdadeiro em centros de atividade empreendedora e de capital de risco, como o
Vale do Silício, Boston e Los Angeles, mas não é comum no Brasil, já que o mercado de capital de
risco ainda é pequeno se comparado com o mercado de financiamento por dívida.
Os bancos comerciais são a principal fonte de capital de dívida para empresas existentes (não
novas). Os empréstimos para pequenas empresas podem ser tratados pelo departamento de
empréstimos a pequenas empresas do banco ou através de uma pontuação de crédito (no qual a
aprovação do crédito é feita “de acordo com os números”). Vale notar que sua própria história de
crédito pessoal também terá impacto sobre a matriz de pontuação de crédito. Empréstimos maiores
podem exigir a aprovação de um comitê de empréstimos. Se um empréstimo ultrapassa os limites de
um banco local, parte (ou todo) do valor do empréstimo será oferecido a bancos “correspondentes”
em comunidades vizinhas e centros financeiros próximos. Essa rede de correspondentes permite,
por exemplo, que os bancos menores em áreas rurais lidem com empréstimos que, de outra forma,
não seriam feitos.
A maioria dos empréstimos feitos por bancos comerciais são com prazo de um ano ou menos.
Alguns desses empréstimos não têm garantias, enquanto outros são garantidos por contas a receber,
estoques ou outros ativos. Os bancos comerciais também fazem uma grande quantidade de
empréstimos de prazo intermediário (ou empréstimos a prazo) com vencimento em um a cinco
anos. Em cerca de 90% desses empréstimos a prazo, os bancos exigem penhor, geralmente
compostos de ações, maquinaria, equipamentos e imóveis. A maioria dos empréstimos a prazo é
resgatada por pagamentos sistemáticos, mas não necessariamente iguais, ao longo da vida do
empréstimo. Além das hipotecas imobiliárias, os empreendedores podem buscar as garantias de
crédito através da assessoria do Sebrae, que tem se emprenhado em auxiliar as pequenas empresas a
conseguir financiamento, através dos fundos de aval.
Alguns bancos também prestam inúmeros serviços às pequenas empresas, como preparação de
folha de pagamento computadorizada, cartas de crédito, serviços internacionais, financiamento de
leasing e contas de aplicação no mercado aberto.
Empréstimos por linhas de crédito
Uma linha de crédito é um acordo formal ou informal entre um banco e um tomador (quem
empresta) acerca do valor máximo de empréstimo que o banco permitirá ao tomador no período de
um ano. O banco costuma cobrar uma tarifa (normalmente, um percentual da linha de crédito)
pelo compromisso explícito de fazer o empréstimo quando solicitado. Os fundos de linha de crédito
são usados para financiamentos sazonais, como acúmulo de estoque e financiamento de contas a
receber. Esses dois itens costumam ser os maiores e mais financiáveis do balanço patrimonial de um
empreendimento. É prática geral pagar esses empréstimos com as vendas e a redução dos ativos de
curto prazo que eles financiaram. As linhas de crédito podem não ter garantias ou o banco pode
exigir um penhor do estoque, de contas a receber, de equipamentos ou outros ativos aceitáveis.
Linhas de crédito sem garantias não têm direito de retenção sobre os ativos do tomador e não têm
prioridade sobre o credor comercial, mas os bancos podem exigir que todas as dívidas para com os
gestores e acionistas da empresa estejam subordinadas à dívida da linha de crédito. Os bancos
comerciais também podem geralmente exigir que um tomador mantenha uma conta-corrente no
banco com um saldo mínimo (“compensatório”).
No caso de uma empresa grande e financeiramente sólida, as taxas de juros para uma linha de
crédito de “risco preferencial” serão cotadas de acordo com uma taxa preferencial. Uma pequena
empresa pode ser obrigada a pagar uma taxa mais alta. Observe que os verdadeiros cálculos de juros
precisam levar em consideração as diversas tarifas a serem aplicadas ao empréstimo. Qualquer
exigência de saldo compensatório ou outras tarifas também aumentam as taxas de juros efetivas, ou
o custo efetivo total.
Financiamento de vendas
Muitos revendedores ou fabricantes que oferecem termos de pagamento a prazo para os
compradores de seus equipamentos não podem financiar, eles mesmos, o parcelamento ou
contratos de vendas condicionais. Nessas situações, eles vendem e repassam o contrato de
parcelamento a um banco ou empresa de financiamento de vendas. (Alguns fabricantes muito
grandes fazem seu próprio financiamento através de empresas financeiras cativas. A maioria das
empresas varejistas muito pequenas meramente repassa os contratos de parcelamento ao cliente
para empresas de financiamento de vendas, que oferecem a maioria desses financiamentos — e
com termos mais flexíveis.)
Do ponto de vista do fabricante ou do revendedor, o financiamento de vendas é, de fato, um
modo de obter financiamento de curto prazo para contas a receber parceladas de longo prazo. Do
ponto de vista do comprador, é um modo de financiar a compra de novos equipamentos.
Quando ocorre um financiamento de vendas, o banco compra os contratos de parcelamento com
um desconto sobre o valor total e recebe, como garantia, a transferência dos juros do
fabricante/revendedor no contrato de vendas condicionais. Além disso, o financiamento bancário
das contas a receber parceladas inclui recursos para o vendedor no caso de o comprador não pagar
o empréstimo. Assim, o banco tem a obrigação de pagamento do comprador do equipamento, a
garantia dos juros do fabricante/revendedor sobre o equipamento comprado, e o recurso para o
fabricante/revendedor no caso de não-pagamento. O banco também retém uma parte do
pagamento (5% ou mais) como reserva do negociador até que a nota promissória seja paga. Como a
reserva se torna um percentual crescente da nota à medida que o contrato é pago, normalmente se
faz um acordo quando vários contratos são financiados, para garantir que a reserva para todos os
contratos não ultrapasse, por exemplo, mais ou menos 20%.
O preço de compra do equipamento sob um acordo de financiamento de venda inclui um
“diferencial de preço de venda” (por exemplo, um aumento de 10% para cobrir o desconto)
recebido pelo banco que faz o financiamento. O recebimento dos parcelamentos pode ser feito
diretamente pelo banco ou indiretamente pelo fabricante/revendedor.
Empréstimos a prazo
Os empréstimos bancários a prazo geralmente são feitos por períodos de um a cinco anos, e
podem ser com ou sem garantias. A maioria das características básicas dos empréstimos bancários a
prazo é igual para empréstimos com ou sem garantia.
Os empréstimos a prazo oferecem o capital de crescimento necessário às empresas. Eles também
são um substituto para uma série de empréstimos de curto prazo feitos na esperança de renovação
tanto pelo tomador quanto pelo banco. Os bancos fazem isso geralmente com base na
previsibilidade de fluxo de caixa positivo.
Os empréstimos a prazo têm três características peculiares: (1) os bancos os fazem por períodos de
até cinco anos (e ocasionalmente mais); (2) exige-se resgate periódico; e (3) os acordos de
empréstimo a prazo são feitos para atender às necessidades e exigências específicas do tomador (por
exemplo, os pagamentos podem ser menores no começo do empréstimo e maiores no final).
Como os empréstimos a prazo só vencem em alguns anos, período durante o qual pode haver
uma mudança significativa na situação e na riqueza do tomador, o banco deve avaliar
cuidadosamente os clientes potenciais e a administração da empresa mutuária. Até mesmo a
proteção fornecida por ativos inicialmente sólidos pode ser consumida por vários anos de grandes
prejuízos. Os financiadores de empréstimos a prazo dão ênfase específica às capacidades
empreendedoras e administrativas da empresa mutuária. O banco também considera
cuidadosamente coisas como clientes potenciais de longo prazo da empresa e do setor, sua
lucratividade atual e projetada e sua capacidade de gerar o caixa necessário para realizar os
pagamentos do empréstimo, como demonstra seu desempenho passado. O preço de um
empréstimo a prazo pode ser mais alto, refletindo um risco percebido maior no longo prazo.
Para minimizar os riscos envolvidos em empréstimos a prazo, o banco exige algumas cláusulas
restritivas no contrato de empréstimo. Essas cláusulas podem proibir empréstimos adicionais, a
fusão da empresa, o pagamento de dividendos, a venda de ativos, salários mais altos para os
proprietários etc. Além disso, o banco provavelmente exigirá cláusulas financeiras para receber
avisos antecipados de deterioração da empresa, como dívidas para participações e fluxo de caixa
para cobertura dos juros.
Alienação fiduciária e empréstimos com base em equipamentos
Atribuir uma posse adequada (bem móvel) como garantia é um modo comum de fazer
empréstimos a prazo garantidos. O bem móvel pode ser qualquer maquinaria, equipamento ou
propriedade da empresa que se transforma em penhor de um empréstimo do mesmo modo que
uma hipoteca sobre um imóvel. O bem móvel permanece com o tomador a menos que haja
inadimplência, caso em que o bem móvel é transferido para o banco. Geralmente, o crédito para
maquinarias e equipamentos é restrito principalmente a itens novos ou usados em excelente
funcionamento e em condições de ser revendido.
Contratos de vendas condicionais
Os contratos de vendas condicionais são usados para financiar uma parte substancial dos novos
equipamentos comprados pelas empresas. Sob um contrato de vendas, o comprador concorda em
comprar um equipamento, paga uma entrada nominal e paga o saldo em parcelas ao longo de um
período de um a cinco anos. Até que o pagamento esteja completo, o vendedor mantém o direito
de propriedade do equipamento. Portanto, a venda é condicionada ao término dos pagamentos do
comprador.
Um contrato de vendas é financiado por um banco que tem recursos para o vendedor caso o
comprador não pague o empréstimo. Isso dificulta o financiamento da compra de um bom
equipamento usado em um leilão. Não há recurso para o vendedor se o equipamento for comprado
em um leilão; o banco teria de vender o equipamento se o empréstimo não for pago.
Ocasionalmente, uma empresa em busca de financiamento com base em equipamentos novos e
existentes vende alguns de seus equipamentos para um revendedor e os recompra, junto com novos
equipamentos, para obter um contrato de venda condicional em um banco.
A taxa de juros efetiva em um contrato de venda condicional geralmente é alta, mesmo para os
padrões de juros já altos dos empréstimos bancários no Brasil, e o empreendedor deve pesquisar
bastante antes de tomar esta decisão. O comprador/tomador deve, portanto, assegurar-se que o
pagamento de juros seja coberto pelo aumento da produtividade e da lucratividade resultante do
novo equipamento.
QUADRO 16.3
O que buscar em um banco
Conhecimento bancário: Poucos gerentes de banco intencionalmente o induzirão ao erro. M as leve em consideração que nem todos saberão ex atamente
qual é a melhor opção de financiamento para o seu negócio. Por isso, é sempre bom buscar ouvir mais de uma opinião e visitar agências diferentes de um
mesmo banco ou mesmo vários bancos diferentes.
Sentimento de urgência: O “horário bancário” pode ser uma ideia em decadência, mas as ideias de um CEO e de um gerente de banco sobre um
financiamento normalmente estão a dias ou mesmo semanas de distância. Tom Kinder, co-proprietário da Pure Patience, uma empresa de venda por
catálogo de produtos de cama em Sharon, Vermont, descobriu que o gerente do banco onde tem conta era capaz de cumprir seu prazo reduzido para um
empréstimo de $100.000 — e estava ex tremamente disposto a isso. Kinder diz que até recebia ligações à noite em casa, deix ando-o atualizado quanto ao
progresso. Um dos motivos para a diferença na percepção de tempo é que o banco começa a contar o tempo quando todos os dados de que eles
precisam estão nas mãos dele, enquanto o empreendedor começa a contar logo depois de fazer a primeira ligação!
Talento para ensinar: M uitos gerentes de banco não podem — ou não querem — articular o que eles esperam dos clientes e como o banco toma suas
decisões. M as Dw ight M ulch, presidente da Preferred Products Corp., distribuidor de materiais de construção em Burlington, Iow a, diz que recebe os dois
tipos de informação de seu ex ecutivo de empréstimos no First Star Bank e se beneficiou muito disso. “Ele praticamente me levou pela mão. Ele me mostrou
o que colocar no plano e ainda me diz como o sistema funciona”, diz M ulch. M as isso, infelizmente, ainda é ex ceção.
Conhecimento do setor: Qualquer que seja o seu setor industrial, ajuda muito quando o gerente de banco conhece um pouco do seu tipo de empresa.
Estabilidade financeira: Quando teve chance, Kevin Whalen, conselheiro chefe de finanças da Tw in M odal, Inc., uma empresa de agenciamento de
transportes de M inneapolis, não escolheu o banco que estava oferecendo o acordo mais agressivo. E também foi bom, diz ele, “que o banco estivesse com
problemas com os legisladores e tivesse recuado”. Antes de escolher o M arquette Bank, Whalen, onde também já foi gerente de banco, fez planilhas de
comparação entre vários bancos, comparando os retornos sobre ativos, os índices de capital/ativos etc. “Achei que, no longo prazo, ficaríamos melhor com
o banco mais conservador da região.”
Administração corajosa: Os bancos têm políticas, observa M ike Walker, presidente da Walker Communications Inc., empresa de relações públicas em
Scottsdale, Arizona, “mas você precisa de um gerente que tenha coragem para passar por cima delas se isso fizer sentido”. O gerente da filial de Walker no
First Interstate Bank of Arizona, por ex emplo, permite que ele saque cheques imediatamente depois que eles são depositados e normalmente age como
solucionador de problemas no banco. “Eu não sei o que o manual diz”, comenta Walker, “mas acho que você precisa de alguém que possa assumir uma
posição firme.” (Isso vale quando a solicitação é razoável.)
Fonte: Atualizado e adaptado com permissão de “What to Look for in a Bank”. Conforme visto na edição da revista Inc. de julho de 1992. Copyright © 1992
Gruner & Jahr USA Publishing. Todos os direitos reservados.
QUADRO 16.4
Etapas essenciais para se obter um empréstimo
Antes de escolher e abordar um banco ou outro financiador, o empreendedor e sua equipe gerencial devem passar pelas etapas a seguir na preparação
para pedir um empréstimo.
• Decidir quanto querem crescer e em que velocidade, observando o ditado de que o financiamento segue a estratégia.
• Determinar de quanto dinheiro precisam, quando precisam e quando podem pagar. Para este fim, eles devem:
• Revisar e atualizar o “perfil corporativo” em seu plano de negócios. Isso deve conter:
— a história da empresa
— um resumo das principais estratégias, fatos e lógica que orienta a empresa em seu crescimento
• Identificar fontes potenciais para o tipo de dívida que buscam, além de quantidade, tax a, termos e condições.
• Selecionar um banco ou outra instituição de empréstimo, demonstrar interesse e preparar uma apresentação.
Depois que o empréstimo for concedido, é importante que os tomadores mantenham um relacionamento eficaz com o ex ecutivo de empréstimos
(credor).
Fonte: Atualizado de Jeffry A. Timmons, Financing and Planning the New Venture (Acton, MA: Brick House Publishing, 1990), pp. 82–83.
Primeiro, você precisa descrever a empresa e o setor. O Quadro 16.5 sugere como um gerente de
banco “vê uma empresa” a partir do que o empreendedor diz. O que você vai fazer com o dinheiro?
O uso do empréstimo faz sentido para a empresa? Parte do dinheiro solicitado — ou todo —
deveria ser em capital de participação, e não em dívida? Para a maioria das empresas, os
financiadores não gostam de ver índices de dívida total sobre o capital maiores que 1. As respostas a
estas perguntas também determinarão o tipo de empréstimo (por exemplo, linha de crédito ou
empréstimo a prazo).
1. De quanto você precisa? Você deve estar preparado para justificar a quantidade solicitada e
descrever como a dívida se encaixa no plano geral de financiamento e desenvolvimento da
empresa. Além disso, o valor do empréstimo deve prever uma reserva para permitir situações
imprevistas.
2. Quando e como você quitará o empréstimo? Esta é uma decisão importante. Empréstimos de
curto prazo para estoques sazonais ou para financiar contas a receber são mais fáceis de obter do
que empréstimos de longo prazo, especialmente no caso de empresas no estágio inicial. A
pergunta fundamental é como o empréstimo será quitado. Presume-se que você esteja pegando
dinheiro emprestado para financiar atividades que vão gerar caixa suficiente para quitar o
empréstimo. Qual é seu plano de contingência se tudo der errado? Você consegue descrever
esses riscos e indicar como vai lidar com eles?
3. Qual é a fonte secundária de quitação? Existem ativos ou um fiador com recursos?
4. Quando você precisa do dinheiro? Se você precisa do dinheiro amanhã, pode esquecer, pois
significa que você é um péssimo planejador e administrador. Por outro lado, se você precisa do
dinheiro para o próximo mês ou daqui a dois meses, você demonstrou uma capacidade de
planejar o futuro e deu ao banco tempo para investigar e processar um pedido de empréstimo.
Normalmente, é difícil chegar a uma decisão de empréstimo no curto prazo.
QUADRO 16.5
Uma das melhores maneiras de os empreendedores responderem a essas perguntas é ter um
plano de negócios bem preparado. O site planodenegocios.com.br oferece várias dicas aos
interessados em entender como elaborar um plano de negócios de sucesso. Esse plano deve conter
projeções de fluxo de caixa, lucros e perdas e balanços patrimoniais que demonstrem a necessidade
do empréstimo e como ele será quitado. O financiador prestará atenção especial ao valor dos ativos
e ao fluxo de caixa da empresa, e a índices financeiros como ativos circulantes e passivos circulantes,
margens brutas, patrimônio líquido em relação às dívidas, contas a receber e datas de vencimento,
giros de estoque e lucro líquido em relação às vendas.
Os índices do empreendimento do tomador serão comparados com as médias de empresas
concorrentes para ver se o tomador potencial está à altura delas.
No caso de uma empresa existente, o financiador vai rever as declarações financeiras de anos
anteriores preparadas ou auditadas por um contador, uma lista de contas a receber e a pagar, o giro
do estoque e listas de clientes e credores importantes. O financiador também vai querer saber se
todos os pagamentos de impostos estão em dia. Por fim, ele vai precisar de detalhes sobre ativos
fixos e penhores de contas a receber, estoque ou ativos fixos.
Você deve considerar seus contatos com o banco como uma missão de vendas e fornecer
prontamente os dados solicitados e em um formato rapidamente compreensível. Quanto melhor o
material que você fornece para demonstrar a credibilidade de sua empresa, mais fácil e mais rápido
será obter uma decisão de empréstimo positiva. Você também deve pedir, logo no início, para se
reunir com o chefe do seu gerente de banco. Isso pode ajudar muito na hora de obter o
financiamento. Lembre-se que você precisa construir um relacionamento com o banco, não apenas
com o gerente.
A decisão de emprestar
Uma das mudanças significativas no ambiente de empréstimos de hoje é a centralização da
decisão de pegar emprestado. Tradicionalmente, os executivos de empréstimos tinham autoridade
de emprestar até muitos milhões de reais e podiam fazer empréstimos para pequenas empresas.
Além da capacidade de crédito da empresa, conforme determinada pela análise de seus resultados
passados através do balanço patrimonial, da demonstração de lucros e perdas, do fluxo de caixa e
das garantias, a avaliação do financiador sobre o caráter e a reputação do empreendedor era
fundamental para a decisão. À medida que as decisões de empréstimo são, cada vez mais, tomadas
por comitês de empréstimos ou pontuação de crédito, essa parte cara a cara do processo de decisão
deu lugar a uma análise mais profunda do plano de negócios da empresa, os itens que melhoram
ou pioram o fluxo de caixa, o ambiente competitivo e as reservas para recuperação do empréstimo
considerando o plano de negócios e a estrutura financeira da empresa.
A implicação gera exigências para os empreendedores: você não pode mais confiar apenas em sua
capacidade de vender e no bom relacionamento com o executivo de empréstimos para obter uma
decisão de empréstimo favorável. Você ou o membro mais importante da equipe deve preparar a
análise e a documentação necessárias para convencer as pessoas (que você pode nunca chegar a
conhecer) de que o empréstimo será liquidado. Você também precisa conhecer os índices
financeiros e os critérios usados para comparar sua solicitação de empréstimo com as normas do
setor e para defender a análise. Essa apresentação pode facilitar e agilizar a aprovação de um
empréstimo, pois dá ao seu gerente de relacionamento a munição para defender sua solicitação de
empréstimo.
Resumo do capítulo
• Os ciclos comerciais têm impacto sobre os ciclos de empréstimo, com um comportamento mais
ou menos restritivo.
• As start-ups geralmente não são candidatas a crédito bancário, mas inúmeras fontes de capital
de dívida ficam disponíveis assim que são estabelecidos a lucratividade e um balanço patrimonial
decente.
• Administrar e orquestrar o relacionamento bancário antes e depois da decisão de empréstimo
são tarefas importantes para os empreendedores.
• As cláusulas de empréstimo podem ter um profundo impacto sobre como você pode e não pode
administrar o empreendimento. O diabo está nos detalhes do contrato de empréstimo.
• Para a grande maioria das pequenas empresas a alavancagem funciona apenas durante os
períodos de expansão econômica mais favorável de disponibilidade de crédito. A alavancagem é
um desastre se o empreendimento azeda.
• Quando o banco diz “não” a um pedido de empréstimo, várias questões importantes precisam
ser abordadas em um esforço para reverter a decisão; ou você precisa procurar outras fontes de
crédito que não sejam bancos.
Perguntas de estudo
1. Defina e explique os termos seguintes e por que são importantes: fontes de financiamento de
dívida, crédito comercial, linha de crédito, financiamento de contas a receber, factoring.
2. Que segurança pode ser usada para um empréstimo, e que percentual do seu valor
normalmente os bancos emprestam?
3. Quais são os atributos a buscar na avaliação de um credor, e por que elas são importantes?
4. Que critérios os credores utilizam para avaliar um pedido de empréstimo, e o que pode ser
feito antes e depois da decisão do empréstimo para facilitar um pedido de empréstimo?
5. Que restrições e cláusulas um credor pode exigir, e como e por que elas devem ser evitadas
sempre que possível?
6. Que questões precisam ser abordadas para lidar com a rejeição do pedido de empréstimo?
7. Por que os empreendedores de empresas menores precisam ficar especialmente atentos à
alavancagem?
8. Quando uma empresa deve pegar dinheiro emprestado?
EXERCITANDO A MENTE
321
Esta seção foi retirada de Jeffry A. Timmons, Financing and Planning the New Venture (Acton, MA: Brick House Publishing
Company, 1990).
*O empreendedor garante pessoalmente que o empréstimo será pago. Se a empresa falir, o empreendedor é pessoalmente
responsável pelo pagamento do empréstimo com seus ativos (bens) pessoais, o que pode levar à falência pessoal, além da
falência empresarial.
322
Ibid., p. 68.
323
Ibid., p. 33.
324
Ibid., pp. 68–80.
325
Neelam Jain, “Monitoring Costs and Trade Credit”, Quarterly Review of Economics and Finance 41, no. 1 (primavera de 2001), pp.
89–111.
326
Ibid., pp. 81–82.
327
G. B. Baty, Entrepreneurship: Playing to Win (Reston, VA: Reston Publishing Company, 1974); J. M. Stancill, “Getting the Most
from Your Banking Relationship”, Harvard Business Review, março/abril de 1980.
328
Esta seção foi retirada de Timmons, Financing and Planning the New Venture, pp. 85–88.
329
Ibid., pp. 90–94.
330
Baty, Entrepreneurship: Playing to Win.
Parte V
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Discutir como empresas com alto potencial, de crescimento rápido, criaram novos paradigmas organizacionais
para substituir o capitalismo brontossauro.
2. Descrever como empresas com alto potencial “ficam maiores” e os requisitos especiais em termos de problemas,
organização e liderança do crescimento rápido.
3. Discutir conceitos de cultura e clima organizacionais, e como os líderes empreendedores estimulam culturas
favoráveis.
4. Identificar sinais e dicas específicos que podem alertar gestores empreendedores para impedir crises, e descrever
os sintomas quantitativos e qualitativos dos problemas.
5. Descrever os principais métodos de diagnóstico usados para criar planos de intervenção e recuperação, e
identificar ações corretivas para lidar com credores, devedores e funcionários.
6. Analisar e discutir o estudo de caso da Telephony Translations, Inc..
Os autores são especialmente gratos a dois especialistas, Leslie B. Charm e Carl Youngman, que
juntos possuíam três empresas de franquia em nível nacional nos EUA, uma empresa de
administração de negócios com problemas e consultoria empreendedora e uma empresa de capital
de risco, a AIGIS Ventures, LLC; e a Leland Goldberg, da Coopers & Lybrand, Boston, que
contribuiu enormemente para os esforços de Bateman, Douglas e Morgan e para o material. Somos
muito gratos a Carl Youngman por sua criteriosa revisão e acréscimos a este capítulo.
Inventando novos paradigmas organizacionais
No início deste livro, examinamos como as empresas empreendedoras rápidas e ligeiras
superaram as velhas gigantes corporativas com novas abordagens de liderança, uma paixão pela
criação de valor e uma obsessão pela oportunidade que têm sido invencíveis no mercado de talento
e ideias. Essas organizações empreendedoras vivenciaram um crescimento de rápido a explosivo e se
tornaram os investimentos recomendados da comunidade de capital de risco em todo mundo.
Devido à sua natureza criativa e a inovações competitivas, as empresas empreendedoras têm
demonstrado uma capacidade notável de inventar novos tipos de organização e gerência. Elas
abandonaram as práticas e estruturas organizacionais típicas dos gigantes industriais desde o pós-
Segunda Guerra Mundial até os anos 90. Empresas maiores tendem a carecer de criatividade e
flexibilidade para lidar com a ambiguidade e a mudança rápida. Muitas delas compensaram isso
com regras, estruturas, hierarquia e análise quantitativa.
O melhor exemplo desse padrão é o Sistema Hay, que, por volta dos anos 80, tornou-se o método
principal de definição e classificação de empregos gerenciais em grandes empresas. Ter uma
pontuação alta no sistema Hay era a chave para um salário maior, uma posição mais alta na
hierarquia e mais poder. Os critérios para a pontuação Hay incluem número de pessoas
diretamente subordinadas, valor dos ativos administrados, volume de vendas, quantidade de
produtos, metragem das instalações, tamanho total do orçamento operacional e de capital etc. É
fácil ver como se pode progredir em um sistema como esse: ser burocrático, ter mais pessoal e
orçamento maior, aumentar a contagem de pessoas e níveis sob seu controle e gerar os projetos com
maior capital. Observe que, nesses critérios, faltam todos os componentes básicos do
empreendedorismo que vimos neste livro: criação de valor, criação/busca/aproveitamento da
oportunidade, frugalidade de recursos, estratégias de progredir sem ajuda, comprometimentos de
capital em etapas, montagem de equipe, obter melhores ajustes/adequação e malabarismos com
paradoxos.
Compare as várias camadas de níveis hierárquicos semelhantes aos militares que usam o comando
e o controle que caracterizam o capitalismo de brontossauros com os padrões comuns em empresas
empreendedoras: elas são achatadas (normalmente com apenas uma ou duas camadas), adaptáveis
e flexíveis; parecem círculos entrelaçados em vez de escadas; concentram-se nos clientes e em
missões críticas; baseiam-se na formação acadêmica e na influência em vez de no cargo e no poder.
Os empreendedores lideram mais através de influência e persuasão, que se originam do
conhecimento e do desempenho, e não do status formal, da posição ou da antiguidade. Elas criam
uma cultura de aprendizagem perpétua. Valorizam as pessoas e compartilham a riqueza com as
pessoas que ajudaram a criá-la.
Por exemplo, avalie uma start-up argentina de TI de 2003 cujo fundador adotou uma abordagem
organizacional radicalmente diferente à administração e às questões de recursos humanos. Em vez
de ter um departamento de recursos humanos, ele criou o que chamou de “Departamento de
Cuidado com as Pessoas”. Sua abordagem e sua mensagem iam muito além da esfera da
administração de recursos humanos tradicional (cuidados com os benefícios e planos de saúde,
férias e dias de afastamento por doença, estruturas de salário e remuneração e afins). Esse
departamento altamente inovador desenvolveu diversos serviços que transmitiram uma mensagem
poderosa sobre o quanto ele se importava com seu pessoal e o quanto eles eram importantes. As
medidas incluíam áreas de lazer especiais e creche para os colaboradores com filhos, e dias de folga
especiais para dedicar atenção extra aos eventos familiares importantes. Essas práticas progressivas
permitiram que a empresa atraísse e mantivesse os melhores talentos da área.
Líderes empreendedores não são administradores ou gerentes
Na empresa em crescimento, o foco geral é nas decisões que proprietários empreendedores
tomam para reconhecer e selecionar oportunidades, alocar recursos, motivar empregados e manter
o controle — ao mesmo tempo em que estimulam ações inovadoras que levam uma empresa a
crescer. O desafio do proprietário de uma pequena empresa é aprender a dançar com elefantes sem
ser pisoteado até a morte! O objetivo final do empreendedor é desenvolver a empresa até o ponto
de ela ser capaz de conduzir os elefantes no salão de dança.
Considere as seguintes citações de dois líderes empresariais distintos: “Os MBAs são pessoas que
trabalham em empresas da Fortune 500 que fazem carreira por dizerem não!” — Fred Smith,
fundador, presidente e CEO da Federal Express. “Não existe uma empresa que um MBA formado
em Harvard não possa analisar!” — General George Doriot, pai do capital de risco norte-americano
e professor na Harvard Business School.
Essas declarações são profundas, dadas as fontes. Essas percepções também ajudam a explicar a
estagnação e, por fim, a morte do capitalismo de brontossauros. Afinal, legiões de graduados em
MBA nas décadas de 1950, 1960, 1970 e início da década de 1980 aprenderam o modelo
brontossáurico de administração. Até a década de 1980, praticamente todos os casos, problemas e
palestras nos programas de MBA eram sobre empresas de grande porte estabelecidas. Isso mudou
ao longo da última década, à medida que mais programas de MBA incluem disciplinas básicas e
avançadas sobre empreendedorismo. Ainda assim, o modelo brontossáurico está longe da extinção.
Considere a comparação de suposições e orientações fundamentais do que pode ser ensinado
como a tradição da administração geral versus o que chamamos de liderança empreendedora e a
organização empreendedora, conforme observado no quadro a seguir.
Pergunte a si mesmo: “Que conjunto de características é mais atraente para mim?” Não é difícil
ver por que os líderes empreendedores e suas abordagens inovadoras e revigorantes à organização
conquistaram os corações e as mentes dos jovens de hoje. Essas crenças fundamentais se
transformaram em práticas que libertam o talento e incentivam o desempenho de alto nível. Não é
de admirar que essas abordagens tenham vindo para ficar e que tantas empresas grandes do mundo
todo estão buscando reinventar sua obsoleta abordagem de administração geral às pessoas. Em
termos de vantagens competitivas, essas formas criativas de organizar e liderar não fazem uso
intensivo de capital de maneira alguma; elas fazem uso intensivo de liderança. Que maneira
emocionante de viver e barata de vencer! O espírito e os princípios de Ewing Marion Kauffman
ainda vivem!
Estratégia revolucionária: F.W. Olin Graduate School do Babson College
O primeiro programa de MBA do mundo a quebrar a rigidez dos 50 anos anteriores foi a
Faculdade de Administração Franklin W. Olin do Babson College. Em 1992, praticando o que
ensinavam, os membros do corpo docente deixaram de lado a tradicional abordagem funcional de
um curso de MBA, composta de disciplinas individuais e independentes de contabilidade,
marketing, finanças, tecnologia da informação, operações e recursos humanos em sequência e com
aulas demais.
Um currículo revolucionário para o primeiro ano do MBA tomou seu lugar: um currículo
inteiramente novo e ensinado pela equipe em uma série de módulos altamente integrados
ancorados conceitualmente no modelo de processo empreendedor do livro Criação de novos
negócios. Os MBAs agora experimentam uma curva de aprendizado única que os envolve no
primeiro ano em casos, tarefas e conteúdo que têm aplicabilidade imediata e relevante ao processo
empreendedor. As empresas empreendedoras emergentes são os pontos focais de muitos estudos
de casos, enquanto as empresas maiores e estabelecidas que buscam recapturar seu espírito
empreendedor e sua abordagem administrativa são examinadas em outros. Depois de mais de dez
anos, alunos, empregadores e corpo docente caracterizaram o programa como um sucesso
ressonante. (Visite o site do Babson College: www.babson.edu.)
Crescendo e amadurecendo
Estágios do crescimento revisitado
As empresas com alto potencial não permanecem pequenas por muito tempo. Embora um
empreendedor possa ter feito um bom trabalho ao avaliar uma oportunidade, montar uma nova
equipe empreendedora, orientar recursos, planejar e assim por diante, administrar e fazer crescer
esse empreendimento é um jogo de liderança diferente.
Os empreendimentos no estágio de alto crescimento enfrentam os problemas discutidos no
Capítulo 9. Eles incluem forças que limitam a criatividade dos fundadores e da equipe; que causam
confusão e ressentimento em relação a funções, responsabilidades e objetivos; que exigem
especialização e, por isso, desgastam a colaboração; que requerem mecanismos e controles da
operação; e muito mais.
Lembre-se, também, que os fundadores de empreendimentos de crescimento rápido em geral são
relativamente inexperientes para lançar um novo empreendimento e ainda enfrentar situações em
que o tempo e a mudança se misturam e em que os eventos não são lineares e paramétricos.
Geralmente, as estruturas, os procedimentos e os padrões são flexíveis, e a tomada de decisões
precisa seguir padrões inesperados e não convencionais.
O Capítulo 9 discutiu os estágios ou fases pelos quais as empresas passam durante seu
crescimento. Lembre-se que, de modo geral, os três primeiros anos antes da start-up são chamados
de estágio de pesquisa e desenvolvimento (P&D); os primeiros três anos após o lançamento, de
estágio de start-up; os anos de 4 a 10, de estágio de crescimento inicial; do 10º ao 15º ano ou mais,
maturidade; e, após o 15º ano, de estágio da estabilidade. Essas estimativas de tempo são
aproximadas e podem variar.
Diversos modelos, e a nossa discussão anterior, descreveram o ciclo de vida de uma empresa em
crescimento como uma curva suave, com vendas e lucros crescendo rapidamente e um nivelamento
para o pico e, então, mergulhando para o declínio.
No entanto, na verdade, muito poucas empresas novas e em crescimento passam por essas fases
de crescimento suaves e lineares – se é que alguma passa. Se as curvas de crescimento real das
novas empresas forem traçadas nos primeiros 10 anos, as curvas se parecerão mais com as subidas e
descidas de uma viagem de montanha-russa do que com as progressões suaves geralmente
retratadas. Durante a vida de uma típica empresa em crescimento, existem períodos de empurrões,
pancadas, soluços, indigestão e renovação intercalados com períodos de tranquilidade. Algumas
vezes, há um progresso crescente contínuo através de tudo isso, mas algumas empresas
ocasionalmente parecem perto do colapso ou, no mínimo, em perigo considerável. Ed Marram
caracteriza os cinco estágios de uma empresa como Maravilha, Instabilidade, Explosão, Maturação e
Quebra (veja o Gráfico 17.1). Maravilha é um período cheio de incertezas relacionadas à
sobrevivência. Instabilidade é o estágio de crescimento em que muitas empresas tropeçam e
fracassam. O estágio da Explosão ocorre quando o crescimento é robusto e o empreendedor
construiu uma equipe de gestão sólida. O fluxo de caixa é robusto durante a Maturação, mas, na
Quebra, a empresa precisa se renovar ou entrará em declínio.
GRÁFICO 17.1
TABELA 7.1
Esses números são limites que se movem constantemente como resultado da dinâmica da
concorrência. As vendas por funcionário podem ilustrar como uma empresa avança no seu setor,
mas lembre-se que o número é uma medida relativa; as VPFs podem variar tremendamente de um
setor para outro e dependendo do tamanho da empresa. Considere, por exemplo, que a varejista
Wal-Mart, com vendas de $370,5 bilhões em 2007, tinha uma VPF de $195.000, enquanto a
empresa de biotecnologia Genentech (vendas de $11,5 bilhões em 2007) estava gerando uma VPF
de mais de um milhão. Curiosamente, outra grande varejista, a Costco, com vendas de $66 bilhões
em 2007, estava perto do topo de nossa lista com uma VPF pouco abaixo de $974.000.
Durante cada estágio de crescimento de uma empresa, existem crises empreendedoras, ou
obstáculos, que muitas empresas enfrentam. O Quadro 17.1 e a discussão a seguir consideram
algumas indicações de crise por etapa.333 Como mostra o quadro, para cada força propulsora
fundamental do empreendedorismo, inúmeros sinais indicam que as crises são iminentes. Embora a
lista seja longa, esses não são os únicos indicadores de crise – apenas os mais comuns. Cada um
desses sinais não necessariamente indica que crises específicas acontecerão para todas as empresas
em todas as etapas, mas, quando os sinais aparecem, dificuldades graves podem estar por perto.
O problema do ritmo de crescimento
As dificuldades em reconhecer os sinais de crise e desenvolver abordagens gerenciais são
aumentadas pela própria taxa de crescimento. Quanto mais rápida a taxa de crescimento, maior o
potencial de dificuldade; isso se deve a diversas pressões, caos, confusão e perda de controle. Não é
exagero dizer que essas pressões e demandas aumentam geometricamente, em vez de linearmente
(veja a discussão no Capítulo 9).
O ritmo de crescimento afeta todos os aspectos de uma empresa. Assim, conforme as vendas
aumentam, quanto mais pessoas são contratadas, e quanto mais o estoque aumenta, as vendas
ultrapassam a capacidade de fabricação. As instalações são ampliadas, as pessoas são movidas de
um edifício para outro, os sistemas e controles contábeis não conseguem acompanhar, e assim por
diante. A taxa de queima de capital acelera. Conforme essa aceleração continua, as curvas de
aprendizado fazem o mesmo. O pior de tudo é que a cobrança de dinheiro (arrecadação) fica
atrasada, como mostra o Gráfico 17.2.
Foram consideradas questões distintas causadas pelo crescimento rápido nos seminários no
Babson College com os fundadores e presidentes de empresas com crescimento rápido – empresas
com vendas de no mínimo $1 milhão e crescendo mais de 30% ao ano.334 Esses fundadores e
presidentes apontaram o seguinte:
• Excesso de oportunidades. Em vez de não ter vendas suficientes ou novas oportunidades de
mercado (uma preocupação clássica em empresas maduras), essas empresas enfrentavam uma
abundância. Escolher dentre elas era um problema.
• Abundância de capital. Enquanto a maioria das empresas estáveis ou estabelecidas de pequeno
ou médio porte costuma ter dificuldades para obter financiamento por participação e por
endividamento, a maioria das empresas em crescimento rápido não era limitada por isso. Em vez
disso, o problema era como avaliar investidores como “sócios” e os termos dos negócios que lhes
eram apresentados.
• Falta de alinhamento entre a taxa de queima de capital e os recebimentos. Todas essas empresas
citaram problemas de índice de queima de capital correndo na frente dos recebimentos. Elas
descobriram que, a menos que haja sistemas e controles integrados de contabilidade, estoque,
compras, distribuição e faturamento, essa falta de alinhamento pode levar ao caos e ao colapso.
Uma empresa, por exemplo, havia triplicado suas vendas em três anos: de $5 milhões para $16
milhões. Subitamente, o presidente pediu demissão, insistindo que, com os sistemas que estavam
sendo usados, a empresa seria capaz de crescer até $100 milhões. No entanto, o sistema de
computação era absolutamente inadequado, o que realçava os outros pontos fracos
administrativos. A geração de qualquer informação financeira e contábil verossímil em que se
pudesse confiar não foi possível durante alguns meses. Perdas de mais de $1 milhão ao ano se
acumulavam, e os financiadores da empresa entraram em pânico. Para piorar a situação, os
auditores só conseguiram tomar as rédeas da situação quando era tarde demais, e foram
substituídos. Embora a empresa tenha sobrevivido, teve de reestruturar o negócio, que caiu para
$6 milhões em vendas, para quitar dívidas bancárias e evitar a falência.
• Tomada de decisões. Muitas das empresas tiveram sucesso porque executaram decisões
funcionais diárias e semanais, em vez de criar estratégias. A estratégia teve de ficar em segundo
lugar. Muitos dos representantes dessas empresas argumentaram que, em condições de
crescimento rápido, a estratégia era apenas cerca de 10% da história.
• Expandindo instalações e espaço... e surpresas. A expansão do espaço ou das instalações é um
problema e um dos eventos mais desintegradores durante o crescimento precoce explosivo de
uma empresa. Os gerentes de muitas dessas empresas não estavam preparados para as surpresas,
os atrasos, as dificuldades organizacionais e as interrupções no sistema que essa expansão
causou.
QUADRO 17.1
Crises e sintomas
Pré-Start-Up (Anos –3 a Zero)
Empreendedores
• Foco. O fundador é realmente um empreendedor, dedicado a construir uma empresa, ou um inventor, um técnico amador ou algo parecido?
• Técnica de vendas. A equipe tem as habilidades necessárias de vendas e negociação para criar o plano de negócios e cumpri-lo no prazo?
• Gerenciament o. A equipe tem as habilidades gerenciais necessárias e uma ex periência relevante ou é especializada em uma ou duas áreas (por
ex emplo, finanças ou tecnologia)?
• Propriedade. As decisões críticas sobre divisão de propriedade e patrimônio foram resolvidas, e os membros estão comprometidos com essas decisões?
Oportunidade
• Foco. A empresa é realmente voltada (por uma necessidade) para o usuário, o cliente e o mercado ou é voltada para uma invenção e um desejo de
criar?
• Client es. Os clientes foram identificados com nomes, endereços e números de telefone e seus níveis de compra foram estimados — ou a empresa está
apenas no estágio conceitual?
• S upriment o. Os custos, as margens e os prazos de entrega para adquirir suprimentos, componentes e contratar pessoas importantes são conhecidos?
• Est rat égia. O plano de entrada é uma espingarda com estratégia de colher cerejas ou é um tiro de rifle em um nicho bem específico?
Recursos
• Capit al criat ivo. As estratégias de autossuficiência estão sendo usadas criativamente? A equipe de confiança está sendo construída?
Empreendedores
• Liderança. Um líder superior foi aceito ou os fundadores estão disputando o papel de decisão ou insistindo na igualdade em todas as decisões?
• Met as. Os fundadores compartilham e têm metas e estilos de trabalho compatíveis ou estão entrando em conflito e divergindo, agora que a empresa
está funcionando e a pressão se acumula?
• Gerenciament o. Os fundadores estão antecipando e se preparando para passar da ex ecução para a administração e a liberação — das decisões e do
controle — que serão necessárias para cumprir o plano no prazo?
Oportunidade
• Economia. Os benefícios econômicos e o retorno para o cliente estão realmente sendo cumpridos e no prazo?
• Est rat égia. A empresa tem apenas um produto sem uma novidade à vista?
Recursos
• Dinheiro. A empresa está enfrentando um esmagamento monetário como resultado de não ter um plano de negócios (e um plano de finanças)? Isto é,
ela está enfrentando um esmagamento porque ninguém está perguntando: Quando ficaremos sem dinheiro? Os bolsos dos proprietários estão vazios?
• Cronograma. A empresa está apresentando desvios graves das projeções e estimativas de tempo no plano de negócios? A empresa é capaz de
conseguir recursos de acordo com o plano e no prazo?
Empreendedores
• Execução ou administ ração. Os fundadores ainda estão ex ecutando ou estão administrando para obter resultados de acordo com um plano? Os
fundadores começaram a delegar e abrir mão de decisões críticas ou eles mantêm poder de veto sobre decisões significativas?
• Foco. A mentalidade dos fundadores é apenas operacional ou também há um pensamento estratégico sério?
Oportunidade
• Mercado. As vendas repetidas e as vendas para novos clientes estão sendo realizadas no prazo, de acordo com o plano e devido à interação com os
clientes ou isso está acontecendo através do grupo de engenharia, P&D ou planejamento? A empresa está passando a se orientar para o mercado
sem perder seu instinto para fechar vendas?
• Concorrência. Os preços e a qualidade estão sendo culpados pela perda de clientes ou por uma incapacidade de atingir metas no plano de vendas,
enquanto o serviço ao cliente raramente é mencionado?
Recursos
• Cont role financeiro. Os sistemas e o controle contábil e de informação (pedidos de compra, estoque, faturamento, cobrança, análise de custo e lucro,
gerenciamento de caix a etc.) estão no mesmo ritmo do crescimento e à disposição quando necessários?
• Dinheiro. A empresa está sempre sem dinheiro — ou quase — e ninguém está perguntando quando ele vai terminar nem sabe por quê ou o que fazer
para resolver isso?
• Cont rat os. A empresa desenvolveu as redes de contato ex ternas de que precisa para continuar a crescer?
Empreendedores
• Met as. Os sócios estão em conflito em relação ao controle, às metas ou a valores e ética básicos?
• S aúde. Ex istem sinais de instabilidade no casamento, na saúde ou nas emoções de algum dos fundadores (ou seja, ex istem casos ex traconjugais,
problemas com drogas e/ou álcool ou brigas e conflitos com parceiros ou cônjuges)?
• Trabalho em equipe. Ex iste uma sensação de construção de equipe para um “objetivo maior”, com os fundadores agora liderando pessoas chave, ou
há conflito quanto ao controle da empresa e desintegração?
Oportunidade
• Economia/concorrência. Os produtos e/ou serviços que fizeram a empresa chegar até aqui estão passando por uma economia sem perdão como
resultado da perecibilidade, de pontos cegos dos concorrentes, de novas tecnologias ou concorrentes estrangeiros — e ex iste algum plano de reação?
• Est rat égia. A empresa continua a colher cerejas em mercados de rápido crescimento, resultando em falta de definição estratégica (a quais
oportunidades deve dizer não)?
Recursos
• Desenvolviment o/informações. O crescimento saiu do controle, não sendo acompanhado por sistemas, treinamento e desenvolvimento de novos
gerentes?
Empreendedores
• S ucessão/propriedade. Ex istem mecanismos definidos para a sucessão gerencial e a solução de questões de sociedade (especialmente familiares)?
• Met as. As metas e prioridades pessoais e financeiras dos sócios entraram em conflito e divergem? Ex iste algum fundador simplesmente entediado ou
cansado, e eles estão buscando uma mudança de ponto de vista e atividades?
• Paixão empreendedora. Houve algum desgaste na paix ão pela criação de valor através do reconhecimento e da busca da oportunidade? A
construção de um espaço próprio, a aquisição de status e símbolos de poder e a obtenção de controle são favorecidas?
Oportunidade
• Est rat égia. Ex iste um espírito de inovação e renovação na empresa (por ex emplo, uma meta de que metade das vendas da empresa venha de
produtos ou serviços com menos de cinco anos de idade) ou a letargia se instalou?
• Economia. A economia essencial e a durabilidade da oportunidade se desgastaram tanto que a lucratividade e o retorno sobre o investimento estão
tão baix os quanto os das empresas que aparecem na Fortune 500?
Recursos
• Dinheiro. A falta de dinheiro foi resolvida aumentando a dívida com bancos porque os fundadores não querem — ou não concordam — abrir mão do
patrimônio?
• Cont abilidade. As questões contábeis e jurídicas, especialmente sua relevância para a construção de riquezas e o planejamento de propriedades e
impostos, foram antecipadas e administradas? O conceito de colheita fez parte do processo de planejamento de longo prazo?
GRÁFICO 17.2
O caos acontece
Os ambientes de grande incerteza são excelentes bases de aprendizado para os empreendedores.
Não há melhor maneira de ver se você consegue marcar um gol do que vivenciando a experiência e
marcando um! Evidentemente, desafios e ambientes caóticos não são exclusividades enfrentadas
por poucos empreendedores. A turbulência da indústria é comum em territórios novos e
inexplorados, onde muitas vezes se encontram as melhores oportunidades. As empresas com taxas
de crescimento mais altas em geral são encontradas em setores que estão se desenvolvendo
rapidamente. Muitas vezes, esses setores são caracterizados por muitos novos entrantes com
produtos ou serviços concorrentes e com substitutos.
A turbulência na indústria de semicondutores na década de 1980 é um bom exemplo. De junho
de 1984 a junho de 1985, o preço de chips de memória de 64K para fabricantes de equipamentos
originais (OEMs) caiu de $2,50 cada para $0,50. O preço dos chips de 256K para os OEMs caiu de
$15 para $3. O mesmo efeito devastador na indústria se manifestou nos anos 2000-2002, quando o
preço do tempo de transmissão pelo celular despencou em mais de 50%. Imagine a desordem que
isso causou no mercado e nas projeções de vendas, no planejamento financeiro e na previsão de
caixa, entre outros, para as empresas desses setores. Muitas vezes, também, ocorrem rápidas
mudanças nas curvas de custo e de experiência. As consequências das etapas perdidas para a
empresa em crescimento são profundas. Considere os exemplos da Polaroid e da Xerox mostrados
no Gráfico 17.3.
GRÁFICO 17.3
QUADRO 17.2
Relação entre saldo líquido e ativos totais
onde
Fonte: J. Shulman, “Primary Rule for Detecting Bankruptcy: Watch the Cash”, Financial Analyst J ournal, setembro de 1988.
A ameaça de falência
Nos últimos anos, houve uma mudança drástica nos procedimentos controlados pelos credores.
Agora os devedores estão orientados de maneira que, quando estão perto da falência, eles devem
prestar atenção a todos os grupos de credores. Embora esse modelo de controle de credores possa
sofrer alterações com base em decisões judiciais tanto nos EUA como no Brasil, os credores ainda
têm uma grande influência e, em muitos casos, definem o controle sobre o dinheiro. Para ajudar
ainda mais a controlar o dinheiro, os credores sempre exigem que a empresa contrate especialistas
em treinamento para orientar os devedores durante o processo – para beneficiar os credores.
Além disso, a maioria dos casos de falência hoje é resultado de uma mudança de propriedade.
Negociar empresas em falência se tornou um grande negócio, e isso torna a falência uma jornada
traiçoeira para todos os empreendedores. É provável que essa tendência continue, porque existem
novos grupos bem capitalizados que se especializam em adquirir empresas e tecnologia dessa
maneira.
Falência voluntária
A Nova Lei de falências em vigor no Brasil desde 2005 possibilita a reestruturação de empresas
economicamente viáveis, mas que estão com dificuldades momentâneas, não havendo mais a
concordata. Assim, estas empresas podem manter os empregos e os pagamentos aos credores.
Segundo Lilian Del Bianco Santos (www.lopespinto.com.br), “há pontos chave da Nova Lei que
devem ser entendidos pelos empreendedores”:
• Negociação extrajudicial Pela nova lei, o envolvimento direto do Judiciário é precedido de uma
tentativa de negociação informal entre devedor e credores, por meio de uma proposta de
recuperação apresentada pelo devedor a uma assembléia de credores. É o que a lei define como
negociação extrajudicial.
• Assembléia geral de credores A criação da Assembléia Geral de Credores é uma importante
novidade que aproxima o Brasil do padrão internacional. Uma vez que a experiência de outros
países relativa à aprovação de um plano de recuperação recomenda que essa decisão seja de uma
assembléia de credores - os clientes, os credores de créditos trabalhistas, os fornecedores, os
bancos.
• Recuperação judicial A recuperação judicial, principal inovação da Nova Lei, visa sanear
situação de crise econômico-financeira da empresa por meio de ação judicial, o que permite o
controle do Poder Judiciário.
Poder de barganha
Para os credores, uma empresa ir à falência não é especialmente atraente. A falência, portanto, é
uma enorme fonte de poder de barganha para a empresa com problemas. A falência não é atraente
para os credores, porque, uma vez concedida a proteção à empresa, os credores devem aguardar
pelo dinheiro. Além disso, eles não vão mais lidar com a empresa em dificuldades, mas com o
sistema judicial, assim como com os outros credores. Mesmo que os credores estejam dispostos a
aguardar pelo dinheiro, eles podem não receber o pagamento integral e podem ter de aceitar o
pagamento de uma forma não atraente. Por último, os custos jurídicos e administrativos da
falência, que podem ser altos, geralmente são pagos antes que sejam efetuados quaisquer
pagamentos aos credores.
Intervenção
Ume empresa em dificuldades geralmente deseja usar os serviços de um consultor externo
especializado em recuperações.
A situação que o consultor externo geralmente encontra na intervenção não é animadora. Muitas
vezes, a empresa está tecnicamente insolvente ou tem valor líquido negativo. Seus fornecedores já
podem tê-la obrigado a pagar apenas em dinheiro. Ela pode estar inadimplente com empréstimos
ou, se não estiver, provavelmente está violando os termos do empréstimo. Opções de compra
podem ser exercidas. Nesse ponto, à medida que a situação se deteriora ainda mais, os credores
podem tentar forçar a empresa ir à falência, e a organização fica desmoralizada.
A principal tarefa é diagnosticar rapidamente a situação, desenvolver um entendimento da
posição de barganha da empresa com seus diversos credores, e produzir um plano de negócios com
um detalhado fluxo de caixa para recuperar a organização. Para esse fim, o consultor de
recuperação costuma sinalizar rapidamente que uma mudança está a caminho. Ele elevará a função
financeira, deixando a “pessoa do dinheiro” (muitas vezes o consultor) encarregada dos negócios.
Alguns pagamentos podem ser adiados até que os problemas sejam diagnosticados e as ações
corretivas sejam decididas.
Diagnóstico
O diagnóstico pode ser complicado pela mistura de erros estratégicos e financeiros. Por exemplo,
em uma empresa com valor alto de contas a receber, é necessário responder se as contas a receber
estão infladas por conta da política de crédito deficiente ou porque a empresa está em um negócio
no qual são necessários termos de crédito bem liberais para competir.
O diagnóstico ocorre em três áreas: a postura estratégica apropriada da empresa, a análise da
administração e “os números”.
Análise estratégica Em uma recuperação, esta análise tenta identificar os mercados nos quais a
empresa consegue competir e decidir sobre uma estratégia competitiva. No caso de empresas
pequenas, os especialistas em recuperação declaram que a maioria dos erros estratégicos diz respeito
ao envolvimento das empresas em linhas de produtos, clientes e áreas geográficas não lucrativas.
Está fora do escopo deste livro tratar a análise estratégica em detalhes. (Consulte os diversos textos
na área.)
Análise da administração A análise da administração consiste em entrevistar membros da equipe
administrativa e chegar a um julgamento subjetivo de quem pertence e quem não pertence a ela.
Os consultores de recuperação podem não dar a fórmula de como isso é feito, exceto de que isso é
resultado de um julgamento que vem da experiência.
Os números Envolvida “nos números” existe uma análise detalhada do fluxo de caixa, que revelará
as áreas para ações corretivas. A tarefa é identificar e quantificar o núcleo lucrativo da empresa.
• Determinar o dinheiro disponível: A primeira tarefa é determinar o quanto de dinheiro a
empresa tem disponível no curto prazo. Isso se consegue observando os saldos bancários, as
contas a receber (aquelas que não estão sendo usadas como garantia) e o registro de pedidos de
compra confirmados.
• Determinar para onde o dinheiro está indo: Esta é uma tarefa mais complexa do que parece.
Uma técnica comum é chamada de análise de subcontas, em que todas as contas que se movem
para o caixa são encontradas e as contas são organizadas em ordem descendente dos gastos de
caixa. As contas são examinadas em busca de padrões. Esses padrões podem indicar as áreas
funcionais em que existem problemas.
• Calcular as relações de porcentagem de vendas para diferentes áreas de uma empresa e analisar
as tendências em termos de custos: Normalmente, diversas tendências mostram os pontos
flexíveis em que os custos relativos mudaram. Por exemplo, no caso de uma empresa que se
envolveu em um grande projeto, foi observado um aumento no custo de vendas, que coincidiu
com um aumento na capacidade e no orçamento de propaganda. Outra análise revelou que esse
projeto não estava produzindo o suficiente em contribuição monetária para justificar sua
existência. Uma vez eliminado o projeto, a capacidade excedente poderia ser reduzida para
baixar o ponto de equilíbrio da empresa.
• Reconstruir a empresa: Depois de determinar de onde o dinheiro está vindo e para onde está
indo, a próxima etapa é fazer uma comparação entre como a empresa deveria estar e como ela
está. Isso envolve reconstruir a empresa de baixo para cima. Por exemplo, um exercício de
orçamento de caixa pode ser realizado, e os recolhimentos, pagamentos e afins podem ser
determinados para determinado volume de vendas. Ou o problema pode ser abordado pela
determinação dos custos de mão-de-obra, matérias-primas ou outros diretos e as despesas gerais
necessárias para produzir esse volume de vendas. Essencialmente, é criado um plano de negócios
com foco no fluxo de caixa.
• Determinar as diferenças: Finalmente, o plano de negócios com foco no fluxo de caixa é preso
ao balanço e demonstrativo de resultado pro forma. O plano de fluxo de caixa e as
demonstrações financeiras ideais são comparados às atuais demonstrações financeiras da
empresa. Por exemplo, as demonstrações de resultado pro forma podem ser comparadas às
demonstrações existentes para ver onde as despesas podem ser reduzidas. As diferenças entre as
demonstrações financeiras projetada e real formam a base do plano de recuperação e das ações
corretivas.
As áreas mais comumente encontradas para cortes e melhorias potenciais são estas: (1)
administração do capital de giro, desde o processamento e o faturamento do pedido até as contas a
receber, controle de estoque e, é claro, a administração do dinheiro; (2) folha de pagamento; e (3)
capacidade excessiva e ativos subutilizados. Mais de 80% do potencial de redução das despesas
geralmente podem ser encontrados na redução da força de trabalho.
O plano de recuperação
O padrão da indústria para recuperações é o plano de fluxo de caixa de 13 semanas que se baseia
em um modelo de fluxo de caixa de prazo mais longo. Em sua experiência como especialista em
recuperações, Carl Youngman exige o seguinte:
• Um modelo de fluxo de caixa de 12 meses.
• Um plano de fluxo de caixa rotativo de 13 semanas, atualizado semanalmente.
• Uma projeção rotativa diária de fluxo de caixa de 30 dias.
O plano de recuperação não apenas define as ações corretivas, mas, como é um conjunto
detalhado de projeções, também oferece um meio de monitorar e controlar a atividade de
recuperação. Além disso, se as suposições sobre o volume de vendas unitário, os preços, os
recolhimentos e o sucesso das negociações são variadas, pode-se oferecer um meio pelo qual
podemos construir os piores cenários possíveis – completos, com planos de contingência.
Como as medidas de curto prazo podem não resolver a crise de dinheiro, um plano de
recuperação dá à empresa credibilidade suficiente para conseguir tempo para colocar outras ações
corretivas em vigor. Por exemplo, o consultor de uma empresa pode abordar seu banco para
conseguir tempo com o seguinte: Reduzindo a folha de pagamento e descontando as contas a
receber, podemos melhorar o fluxo de caixa para indicar onde a empresa pode estar positiva em
cinco meses. Se tivermos sucesso em negociar prazos maiores com os credores comerciais, a empresa
pode estar positiva em três meses. Se a empresa conseguir vender alguns ativos subutilizados com
desconto de 50%, ela pode ficar positiva imediatamente.
O plano de recuperação ajuda a tratar das questões organizacionais. O plano substitui a incerteza
por um conjunto de ações e responsabilidades claramente definido. Como ele indica à organização
que uma ação está sendo tomada, também ajuda a tirar os funcionários do modo de sobrevivência.
Um plano eficiente divide as tarefas em unidades alcançáveis menores, de modo que a conclusão
bem-sucedida dessas ações simples logo acontece e a organização começa a experimentar o sucesso.
Em pouco tempo, a espiral descendente do moral da empresa é quebrada.
Finalmente, o plano de recuperação é uma fonte importante de poder de barganha. Ao identificar
os problemas e oferecer medidas corretivas, o plano de recuperação permite que os consultores da
empresa cheguem até os credores e lhes digam, de maneira bem detalhada, como e quando eles
receberão seus pagamentos. Se o plano de recuperação comprovar que os credores ficam em
condições melhores se trabalharem com a empresa de forma contínua, em vez de liquidá-la, é mais
provável que eles fiquem dispostos a negociar suas reivindicações e prazos de pagamento. Podem
ser desenvolvidos cronogramas de pagamento que consigam manter a empresa em pé até o término
da crise.
Caixa rápido O ideal é que o plano de recuperação estabeleça confiança do credor suficiente para
adquirir tempo do consultor de recuperação para levantar capital adicional e transformar em
dinheiro os ativos subutilizados. No entanto, é fundamental conseguir dinheiro rapidamente. O
resultado das ações descritas a seguir deve ser uma melhoria no fluxo de caixa. No entanto, a
solução está longe de ser completa, pois os fornecedores precisam ficar satisfeitos.
Para os fins de dinheiro rápido, as contas de capital de giro são a maior esperança.
As contas a receber são o ativo mais líquido além do caixa. As contas a receber podem ser
fatoradas, mas negociar esses acordos leva tempo. A melhor direção para o caixa é descontar as
contas a receber. O quanto das contas a receber pode ser descontado depende do fato de elas
estarem garantindo um empréstimo. Por exemplo, considere que um banco poderia emprestar até
80% do valor das contas a receber em menos de 90 dias. Quando o vencimento das contas a
receber passa de 90 dias, o banco precisa ser pago. Os novos fundos são antecipados conforme as
novas contas a receber são estabelecidas, desde que sejam atendidos os critérios de 80% e menos de
90 dias. As contas a receber com menos de 90 dias podem ser descontadas no máximo 20% se a
obrigação do banco for atendida. As contas a receber com mais de 90 dias podem ser descontadas à
medida que sejam necessárias para recolhê-las, já que não estão garantindo financiamento
bancário. É preciso usar o discernimento ao decidir o tamanho exato do desconto a oferecer. Um
método comum é oferecer um desconto generoso com um limite de tempo sobre ele, após o qual o
desconto não é mais válido. Isso serve de incentivo para o cliente pagar imediatamente.
Os consultores concordam que é melhor oferecer um desconto muito grande do que um muito
pequeno. Se o desconto for muito pequeno e precisar ser seguido de novos descontos, os clientes
podem parar de pagar, na esperança de que surja uma nova rodada de descontos. Em geral, são os
devedores atrasados que causam os problemas, e o desconto pode não ajudar. Ao entrar na lista de
choradores de um cliente que não paga, você pode receber atenção. Uma solução possível é emitir
uma promissória com o objetivo de fazer com que o cliente comece a pagar de forma regular; além
disso, somar um pequeno valor adicional a cada novo pedido ajuda a melhorar o saldo.
O estoque não é tão líquido quanto as contas a receber, mas ainda pode ser liquidado para gerar
dinheiro rápido. As “queimas” de estoque dividem a opinião dos especialistas em recuperação. A
objeção mais comum é que o estoque excedente muitas vezes é obsoleto. A segunda objeção é que,
como grande parte do estoque é de produtos inacabados, ele não tem condições de ser vendido e
exige muito dinheiro para colocá-lo nessa condição. A terceira é que descontar o estoque de
produtos acabados pode gerar dinheiro, mas pode criar resistência do cliente às margens
restabelecidas após a recuperação da empresa. A venda do estoque de matérias-primas para os
concorrentes geralmente é considerada o melhor caminho. Outra opção é tentar vender o estoque a
preços com desconto para novos canais de distribuição. Nesses canais, os preços com desconto
podem não afetar a próxima venda.
Uma opção interessante para a empresa com estoque repleto de produtos inacabados é facilitar os
termos de crédito. Muitas vezes é possível conseguir mais empréstimos em relação às contas a
receber do que ao estoque. Ao facilitar os termos de crédito, a empresa pode aumentar sua
capacidade de empréstimo talvez o suficiente para ter dinheiro para terminar os produtos
inacabados. Essa opção pode ser difícil de implantar, porque, no momento da intervenção, é
provável que os credores estejam acompanhando a empresa bem de perto e podem vetar os
arranjos.
O que também é relevante para gerar dinheiro rápido é a política relacionada à atividade de
vendas atual. Os critérios de orientação para isso precisam incluir aumento do valor total da
margem em reais, gerar dinheiro rapidamente e manter o capital de giro em sua forma mais líquida.
Os descontos de preço e dinheiro precisam ser aumentados, e os termos de crédito, facilitados. No
entanto, facilitar os termos de crédito pode gerar conflito com a política de contas a receber que
acabamos de descrever. Evidentemente, é necessário prestar atenção para manter uma política
coerente. Facilitar o crédito é, na verdade, uma política de “estoque excedente”. A ideia geral é
alavancar a política primeiro em favor do dinheiro, depois das contas a receber e, por último, do
estoque.
Colocar todas as contas a pagar em suspenso é a próxima opção. Isso claramente facilita a
sobrecarga do fluxo de caixa no curto prazo. Embora precisem ser feitos alguns arranjos para pagar
os fornecedores, os usos mais importantes do dinheiro neste estágio são satisfazer a folha de
pagamento e pagar os credores. Os credores são importantes, mas, se você não consegue que os
fornecedores lhe enviem produtos, você está fora dos negócios. Fazer com que os fornecedores
enviem produtos é essencial. Uma empresa com fluxo de caixa negativo simplesmente precisa
priorizar seu uso do dinheiro.
Lidando com credores A próxima etapa na recuperação é negociar com os credores. Para continuar
a fazer negócios com a empresa, os credores precisam se convencer de que há uma solução viável
no longo prazo.
No entanto, no ponto da intervenção, é mais provável que a empresa esteja em inadimplência
com seus pagamentos. Ou, se os pagamentos estão em dia, é provável que a situação financeira
tenha se deteriorado a ponto de a empresa estar violando os acordos de empréstimo. Também é
provável que muitos dos ativos da empresa tenham sido penhorados como garantia. Para piorar, é
provável que o empreendedor com problemas tenha evitado seus credores durante o período de
gestação e tenha demonstrado que não está no controle da situação. A credibilidade foi perdida.
É importante uma empresa saber que não é a primeira a ficar inadimplente em um empréstimo,
que em geral o credor está disposto a discutir as questões e que ela ainda está em posição de
barganhar.
Estrategicamente, existem duas fontes de poder de barganha. A primeira é que a falência é um
resultado não atraente para um credor, apesar de suas grandes reivindicações. Uma empresa com
margem baixa não consegue absorver grandes perdas com facilidade.
A segunda é a credibilidade. A empresa que, através de seu especialista em recuperação,
diagnosticou o problema e criou um plano de recuperação detalhado com os melhores e os piores
cenários possíveis, cujo objetivo é provar para o credor que a empresa é capaz de pagar, está em
uma posição de barganha melhor. O plano detalha ações específicas (demissões temporárias,
transferências de ativos, mudanças nas políticas de crédito etc.) que serão realizadas, e esse plano
deve ser cumprido para se reconquistar a credibilidade.
Existem, também, duas fontes táticas de poder de barganha. Primeiro, a força da garantia do
credor. A segunda é o conhecimento inferior do banco sobre as reposições e a capacidade superior
do empreendedor de vender.
O exemplo a seguir ilustra que, quando a garantia do credor é fraca, ele tem pouca opção além de
olhar para o empreendedor em busca de uma saída sem prejuízo. Isso também mostra que o
conhecimento superior do empreendedor sobre seu negócio e sua capacidade de vender podem
tirar tanto a empresa quanto o credor do problema. Uma empresa em recuperação no ramo de
couro fez uma compra de estoque excessiva em certo ano; ao mesmo tempo, um concorrente
anunciou um novo produto que tornou seu estoque quase obsoleto. Como o empreendedor levou o
problema ao credor, este estava disposto a trabalhar com ele. O empreendedor tinha planos de
vender o estoque a preços reduzidos e ainda entrar em um novo mercado que parecia atraente. O
problema era que ele precisava de mais dinheiro para fazer isso, e ele já estava bem além de seu
limite de crédito. O credor se viu diante da certeza de perder 80% de seu dinheiro e colocar seu
cliente fora dos negócios ou a possibilidade de perder dinheiro apostando um bom dinheiro em um
negócio arriscado. O credor decidiu trabalhar com o empreendedor. Ele conseguiu uma taxa de
juros mais alta e colocou o empreendedor em um “mecanismo de acompanhamento completo”,
que significava que todos os pagamentos seriam enviados para um cofre. O credor processou os
cheques e reduziu sua exposição antes de colocar dinheiro em sua conta.
Outro exemplo ilustra a existência do poder de barganha com um credor que não tem garantias e
está pronto para ter um grande prejuízo. Uma empresa estava importando da Europa sósias da
boneca Cabbage Patch. Isso era financiado com uma carta de crédito. No entanto, quando as
bonecas chegaram aos Estados Unidos, a empresa não conseguiu vendê-las porque a febre da
boneca Cabbage Patch havia acabado. As bonecas, e a garantia do banco, eram inúteis. A empresa
achou que as cabeças das bonecas poderiam ser substituídas e, com as novas cabeças, elas não se
pareceriam com as Cabbage Patch. Também acharam que um comprador de bonecas ficaria com
todo o estoque. A empresa precisava de $30.000 para comprar as novas cabeças e trocá-las, então
voltou ao banco. O banco disse que, se a empresa queria dinheiro, os principais membros da equipe
de gestão teriam de penhorar suas casas. Quando isso foi recusado, o gerente do banco ficou
surpreso. Mas o que ele devia fazer? A empresa acabou por achar um jeito de conseguir o dinheiro.
Os credores estão sempre dispostos a adiantar dinheiro para a empresa cumprir sua folha de
pagamento. Isso é predominantemente uma consideração de relações públicas. Além disso, se uma
empresa não cumpre sua folha de pagamento, uma crise pode ser precipitada antes que o credor
possa considerar suas opções.
Quando a situação começa a melhorar, o credor pode exigir o pagamento do empréstimo. Esse
movimento resolverá o problema do credor, mas pode ferir a empresa. Embora muitos bancos
neguem que isso aconteça, alguns admitem que essa ocorrência depende do analista de crédito.
Lidando com credores comerciais Ao lidar com credores comerciais, a primeira etapa é
compreender a força da posição de barganha da empresa. Os credores comerciais geralmente têm as
reivindicações de prioridade mais baixa para a empresa e, por isso, muitas vezes são os mais
dispostos a negociar.
Outro poder de barganha impulsionado com os credores comerciais é a existência de um plano de
recuperação. A relativa fraqueza na posição dos credores comerciais permitiu que alguns
consultores de recuperação negociassem acordos impressionantes. Por exemplo, uma empresa
conseguiu que os credores comerciais concordassem com um cronograma de pagamento de 24
meses para todas as contas em aberto. Em troca, a empresa prometeu manter todos os novos
pagamentos em dia. O empreendedor conseguiu impedir a empresa de negociar em uma base
monetária com muitos de seus credores e converter as contas a pagar de curto prazo em algo que se
resumiria a uma dívida de longo prazo. O efeito sobre o fluxo de caixa corrente foi muito favorável.
A segunda etapa é priorizar os credores comerciais de acordo com sua importância para a
recuperação. A empresa precisa tomar conta dos credores mais importantes. Por exemplo, um
empreendedor disse para seu controlador nunca assumir um compromisso que ele não pudesse
manter. O controlador recebeu a informação de que, se a empresa estivesse a ponto de perder um
compromisso, ele deveria pegar o telefone e ligar. Os fornecedores mais importantes receberam a
informação de que, se algo acontecesse e eles precisassem do pagamento antes do que fora
acordado, eles deveriam comunicar à empresa e esta faria o máximo para conseguir o dinheiro.
A terceira etapa ao negociar com credores comerciais é trocar os fornecedores, se necessário. Os
fornecedores com prioridade mais baixa colocarão a empresa para pagar em dinheiro ou se
recusarão a fazer negócios. A empresa com problemas precisa poder trocar de fornecedores, e sua
relação com os fornecedores prioritários a ajudará a fazer isso porque eles podem dar referências de
crédito. Uma empresa disse: “Pedimos aos nossos melhores fornecedores que fossem o mais
generosos possível com as referências de crédito. Não sei se poderíamos ter estabelecido novas
relações sem eles.”
A quarta etapa ao negociar com credores comerciais é se comunicar de maneira eficaz. “Negociar
com o comércio é tão simples quanto dizer a verdade”, disse um consultor. Se uma empresa é
honesta, pelo menos o credor pode se planejar.
Reduções da força de trabalho Com a redução da força de trabalho representando 80% da redução
de despesas potenciais, as demissões temporárias são inevitáveis em uma situação de recuperação.
Diversos especialistas em recuperação recomendam que as demissões temporárias sejam
anunciadas para uma organização como uma redução única na força de trabalho e seja feita de uma
vez. Eles recomendam, ainda, que as demissões temporárias sejam concluídas tão logo seja possível,
porque os funcionários nunca retomarão sua produtividade até que se sintam seguros. Finalmente,
eles sugerem que a empresa faça um corte mais profundo do que o que parece necessário para
compensar outras ações corretivas que podem ser difíceis de implantar. Por exemplo, uma coisa é
começar a reduzir a capacidade pela metade, e outra bem diferente é vender ou sublocar metade da
fábrica.
Ações corretivas de longo prazo
Se o plano de recuperação gerou credibilidade suficiente e conseguiu mais tempo para a empresa,
podem ser implantadas ações corretivas de longo prazo.
Em geral, essas ações se enquadram em três categorias:
• Sistemas e procedimentos: Os sistemas e procedimentos que contribuíram para o problema
podem ser melhorados, ou podem ser implantados outros.
• Transferências de ativos: Os ativos que não poderiam ser liquidados em um período de tempo
mais curto podem ser liquidados. Por exemplo, bens imóveis podem ser vendidos. Muitas
empresas menores, especialmente as mais antigas, mantêm bens imóveis em seus balanços
patrimoniais por preços bem abaixo do valor de mercado. Eles podem ser vendidos e arrendados
de novo ou podem virar garantias com o objetivo de gerar dinheiro.
• Soluções criativas: As soluções criativas precisam ser descobertas. Por exemplo, uma empresa
tinha uma grande quantidade de estoque que era inútil para seu negócio atual. No entanto, ela
descobriu que se o estoque pudesse ser montado e transformado em peças, haveria mercado
para isso. A empresa enviou o estoque para montagem na Jamaica, onde os custos de mão-de-
obra são baixos, e conseguiu vender todo o estoque de forma muito lucrativa.
Muitas empresas – até mesmo empresas que estão insolventes ou têm valor líquido negativo ou
ambos – podem ser resgatadas e voltar à lucratividade. Talvez seja útil recordar outra citação de
Winston Churchill: “Não tenho nada a oferecer além de sangue, trabalho, lágrimas e suor”.
QUADRO 17.3
Resumo da Johnsonville Sausage Company
Os aspectos críticos da transição:
1. Começou de cima: Ralph Stayer reconheceu que era o centro do problema e reconheceu a necessidade de mudança – o passo mais difícil.
2. A visão era ancorada na gestão dos recursos humanos e em uma ideia específica da cultura da empresa:
3. Stayer decidiu empurrar a responsabilidade para baix o na direção dos tomadores de decisões da linha de frente:
• Os que estão na linha de frente estão mais próx imos do cliente e do problema.
A cadeia da excelência
Conforme refletimos sobre essas três grandes empresas, podemos ver que claramente existe um
padrão aqui, com alguns denominadores em comum tanto nos ingredientes quanto no processo.
Assim, a cadeia da excelência se torna reforçada e perpétua (veja a Figura 17.1). A liderança que
infunde pela empresa uma visão de excelência e uma mentalidade de proprietário é um começo
comum. Uma filosofia de aprendizado perpétuo por toda a organização, acompanhada de altos
padrões de desempenho, é a chave para as culturas empreendedoras que criam valor nessas três
empresas. Uma cultura que ensina e recompensa o trabalho em equipe, as melhorias e o respeito
pelo outro oferece os ingredientes para fazer as coisas funcionarem. Finalmente, um sistema justo e
generoso de recompensas de curto e de longo prazo, assim como a educação necessária para se
certificar que todos conhecem e sabem usar os números, cria um mecanismo para compartilhar a
riqueza com aqueles que contribuíram para ela. Os resultados falam por si: níveis extraordinários de
conquistas pessoais, profissionais e financeiras.
FIGURA 17.1
Impacto da Internet: oportunidade
Poder do consumidor
A Internet começou a alterar profundamente a relação entre compradores, vendedores e
produtores. Os consumidores on-line esperam conveniência, velocidade, informações comparativas
diretas, melhores preços e serviço 24 horas por dia, sete dias por semana.
Fortalecidos por softwares de bloqueio e o clique de um mouse, os clientes são cada vez mais
capazes de selecionar e controlar o conteúdo comercial que visualizam. Portanto, a tolerância com
anúncios exagerados está baixa. Anúncios berrantes, pop-ups flagrantes e mensagens banais são
evitados em prol de conteúdos objetivos como análises independentes, informações específicas do
vendedor e fóruns de comunidades nos quais os clientes podem receber feedback de pessoas que
não têm interesse velado no produto ou serviço em questão.
A Internet está alimentando a criação de um mercado global em tempo real, no qual as transações
são coordenadas, consumadas e atendidas 24 horas por dia, 7 dias por semana. Usando plataformas
de serviço sofisticadas, empresas de comércio eletrônico como a Amazon.com, a Expedia.com, e o
Submarino.com.br conseguem se associar a uma ampla variedade de produtores cujos dados de
produtos, processos de atendimento e finanças estão ligados nos bastidores de portais fáceis de usar.
O que os clientes querem é a possibilidade de criar uma conta pessoal com armazenamento de
dados de faturamento, pagamento, histórico de compra e preferências. A partir daí, eles podem
navegar pelas mercadorias, fazer pedidos de produtos e escolher as formas de envio e outras opções
de atendimento. De quartos de hotel a materiais de escritório e livros, os vendedores on-line devem
lutar por sua participação de mercado da maneira antiga: oferecendo aos consumidores um
excelente serviço e valor.
Resumo do capítulo
1. Por que os antigos paradigmas de administração hierárquica deram lugar a novos paradigmas
organizacionais?
2. Que problemas e crises especiais os novos empreendimentos podem esperar enquanto
crescem? Por que eles ocorrem?
3. Que papel a cultura e o clima organizacionais exercem em um empreendimento de
crescimento rápido?
4. Por que a taxa de crescimento é o propulsor central dos desafios que um empreendimento em
crescimento enfrenta?
5. O que os empreendedores precisam saber sobre como as empresas entram e saem de uma
encrenca? Por quê?
6. Por que a maioria dos especialistas em recuperação invariavelmente descobre que a gestão
administrativa é a causa básica dos problemas?
7. Por que é difícil para os gestores detectar e agir desde cedo sobre os sinais de crise?
8. Quais são alguns dos indícios e sinais importantes que alertam para um problema iminente?
9. Que diagnóstico é feito para detectar problemas, e por quê e como o caixa exerce a função
central?
10. Quais são os principais componentes de um plano de recuperação, e por que são tão
importantes?
11. O que é a cadeia de excelência, e como os empreendedores podem se beneficiar desse
conceito?
EXERCITANDO A MENTE
Você já pensou nisso?
1. Muitas grandes empresas agora estão tentando se reinventar. Qual será o maior desafio
nesse processo, e por quê?
2. Com que velocidade uma empresa deve crescer? O que se pode chamar de rápido
demais, em termos organizacionais e financeiros?
3. Na década de 1970, a IBM tinha mais dinheiro em seu balanço patrimonial do que as
vendas totais de toda a indústria de computadores. Por quê, e como, a IBM teve tantos
problemas dez anos depois?
4. Fale ao vivo com um empreendedor que tenha garantias de empréstimo pessoal e já
passou pelo processo de falência. Que lições foram aprendidas?
5. A Google poderia se tornar uma empresa encrencada? Quando, e por quê?
6. Em seu mundo ideal, como você descreveria a vida e o trabalho dentro da organização
empreendedora perfeita?
331
Agradecemos especialmente à Ernst & Young LLP e ao Kauffman Center for Entrepreneurial Leadership [Centro Kauffman de
Liderança Empreendedora] pela permissão para incluir aqui o resumo de suas pesquisas.
332
Harvey “Chet” Krentzman descreveu este fenômeno para os autores há muitos anos. O princípio ainda se aplica.
333
As crises aqui discutidas são aquelas que os autores consideram especialmente importantes. Normalmente, a falha em superar
mesmo que poucas crises pode colocar uma empresa em perigo em determinado estágio. No entanto, existem muito mais, mas um
tratamento completo de todas elas está fora do escopo deste livro.
334
Estes seminários foram realizados no Babson College, perto de Boston, em 1985 e 1990. Uma boa parte das empresas
representadas tinha vendas de mais de $1 milhão, e muitas estavam crescendo mais de 100% ao ano.
335
Veja J. A. Timmons, “The Entrepreneurial Team: Formation and Development”, artigo apresentado na reunião anual da
Academia de Administração, Boston, agosto de 1973.
336
G. H. Langeler, “The Vision Trap”, Harvard Business Review, março-abril de 1992, reedição 92204.
337
Ibid., p. 4.
338
Ibid., p. 5.
339
J. Stack, The Great Game of Business (Nova York: Currency/Doubleday Books, 1991), p. 5.
340
Ibid., p. 93.
341
Para uma excelente discussão sobre essa transformação, veja “The Johnsonville Sausage Company”, estudo de caso HBS 387-103,
rev. 27 de junho de 1990. Copyright © 1990 pelo presidente e membros da Harvard College. Veja, também, R. Stayer, “How I Learned
to Let My Workers Lead”, Harvard Business Review, novembro-dezembro de 1990. Copyright © 1990 pelo presidente e membros da
Harvard College.
342
Stayer, “How I Learned to Let My Workers Lead”, p. 1.
343
Ibid., pp. 3–4.
344
Ibid., p. 4.
Estudo de caso
Perguntas de preparação
1. Av alie o pensamento e a liderança empreendedores de Dav e Santolli na Faxtech e na TTI .
2. Que lições e insights são mais importantes para v ocê aqui?
3. Av alie o progresso e a situação que a TTI enfrentou em 2006. O que a empresa dev e fazer? O que
os inv estidores e diretores dev em fazer?
A carreira empreendedora de Dav e Santolli há muito hav ia incorporado a ideia de que a v ida é uma
jornada, e não um destino. Aos 42 anos de idade, ele experimentou tanto o brilho do sucesso do
empreendimento quanto o ferrão do fracasso nos negócios. Ele ficou diante do terrív el impacto de
descobrir que sua esposa, Terry, estav a enfrentando uma crescente batalha contra o câncer, e sentiu
ondas de alív io quando ela se recuperou.
No início de 2005, parecia que tudo tinha sido apenas uma preparação para a atual enxurrada de
desafios. Seu último empreendimento – uma incrív el inv ersão do destino – ainda o assombrav a na
forma de um processo mov ido por um inv estidor, e as custas com a defesa jurídica arrasaram seus
recursos pessoais ao ponto de Dav e e Terry agora estarem v iv endo sem um lastro de segurança.
Como uma empresa jovem, com um potencial global, $50 milhões em receita, 650 funcionários e
mais de $280 milhões em capitalização é forçada a uma liquidação total através de uma falência da
noite para o dia?
O nov o empreendimento de Dav e, a Telephony Translations, I nc. (TTI ), ainda não estav a dando lucro
depois de cinco anos. Embora Dav e insistisse que tais prejuízos poderiam ser esperados, seus
inv estidores o substituíram como CEO para terem uma segunda opinião e perspectiv a sobre isso.
Enquanto os negócios pareciam estar no caminho certo com uma complexa solução de tecnologia
desenv olv ida bem à frente de uma demanda prev ista, esse era um período extremamente crítico no
desenv olv imento da oportunidade.
E, mesmo assim, lá estav a Dav e, informando seu staff estupefato que ele tinha uma forma de câncer
especialmente maligno que o afastaria por alguns meses dev ido a um estado de desconforto que lhe
impossibilitaria de oferecer um mínimo de orientação ou liderança. Ele garantiu ao grupo que v oltaria e
que sua empresa superaria a crise muito em brev e. O que mais ele poderia dizer?
*Este estudo de caso foi preparado por Carl Hedberg, sob a orientação do professor Jeffry Timmons.
© Copyright Jeffry Timmons, 2007. Todos os direitos reserv ados.
Empreendedorismo familiar
Quem poderia pensar que defender as marcas, ativos e clientes que fizeram da
sua empresa um sucesso constituiria um comportamento de risco? Mas,
atualmente, é um risco – se sua empresa estiver fazendo somente isso. Ao
conservar os recursos e aperfeiçoar eficiências operacionais, empresas
estabelecidas tentam garantir que nunca haja um lado negativo inesperado. Ao
fazer isso, geralmente perdem a chance de ação real na economia de hoje:
capitalizar o potencial positivo de novas ideias.
Gary Hamel345
Resultados esperados
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Descrever a contribuição econômica e empreendedora significativa que as famílias dão às comunidades e países
em todo o mundo.
2. Debater os diferentes papéis que as famílias desempenham como parte do processo empreendedor.
3. Fornecer uma definição de empreendimento familiar e empreendedorismo transgeracional.
4. Avaliar sua família quanto à mentalidade e aos métodos para o empreendimento familiar e identificar questões
cruciais para o diálogo familiar.
5. Explorar questões cruciais sobre as seis dimensões para o empreendimento familiar.
6. Analisar os recursos e capacidades de sua família e entender suas vantagens e limitações.
7. Analisar e discutir o estudo de caso da Indulgence Spa Products.
Quer você ame ou odeie a Wal-Mart, a família Walton permanece no topo da lista dos
legados de criação de riqueza em família. A família ainda controla quase 40% da maior
empresa do mundo, com 288 bilhões de dólares em receita anual. A fortuna da família
totaliza US$ 100 bilhões - mais do que Bill Gates e Warren Buffet combinados, ou mais que o
PIB de Cingapura. Há cinco membros da família Walton350 no top 10 da lista dos americanos
mais ricos,351 e eles contribuíram com mais de US$ 700 milhões em doações para caridade,
sendo 80% de suas doações para a educação desde 1998. A ligação visível entre a empresa e a
família é o presidente da Wal-Mart, Rob Walton, que é elogiado pela revista Fortune como
um dos “mais reconhecidos presidentes não-executivos dos negócios americanos.” O pai de
Rob, Sam Walton, tinha uma visão de permitir que as pessoas comuns comprassem o que
antes apenas as pessoas ricas podiam comprar. Essa aspiração foi traduzida para o slogan da
empresa “preços baixos todos os dias”. O presidente Rob Walton deixa claro que a visão de
Walton está viva e bem, proclamando que “o Wal-Mart é ainda uma empresa em
crescimento”.352
GRÁFICO 18.1
FIGURA 18.1
TABELA 18.1
Uma vez que reconhecemos a importância econômica das famílias, podemos entender melhor o
conjunto significativo de recursos e o potencial que eles representam para a atividade
empreendedora. Houve uma época em que “negócios” significava “família” porque se entendia que
a família era fundamental para todo progresso socioeconômico355. Hoje, no entanto, é preciso mais
intencionalmente categorizar os papéis que as famílias desempenham no âmbito econômico e
empreendedor. A tabela 18.2 apresenta cinco papéis diferentes que as famílias podem desempenhar
no processo empresarial e distingue entre uma aplicação formal e informal desses papéis.
TABELA 18.2
TABELA 18.3
A esse respeito, as categorias são tanto descritivas como prescritivas. Elas descrevem que papéis as
famílias desempenham e como elas o fazem, mas também uma sugestão de uma receita para uma
abordagem mais formal para o empreendedorismo no contexto familiar. “Formal” significa
estabelecer disciplinas individuais e organizacionais e a estrutura do processo empreendedor. Não
queremos dizer “burocrática”. Muitos empreendedores familiares, particularmente os
empreendedores da geração mais velha, abraçam o mito de que qualquer formalização vai restringir
o seu comportamento empreendedor. Nada poderia estar mais longe da verdade. Com intuição
informada, processos disciplinados, benchmarks financeiros claros, prestação de contas
organizacionais, as equipes da família podem gerar empreendimentos de alto potencial e obter as
probabilidades em seu favor para o empreendedorismo transgeracional e a criação de riqueza.
O primeiro e dominante papel que as famílias desempenham é o que chamamos de empresas
start-ups influenciadas pela família. Dados do relatório GEM indicaram que havia 25 milhões de
“novas empresas familiares”, iniciados em 2002 em todo o mundo.356 Como as famílias são
dirigidas por forças sociais de sobrevivência, de criação de riqueza, e filhos, é natural que as
empresas em início de atividade pensem na família em primeiro lugar. Inícios de atividade
influenciados pela família são novos negócios onde a visão da propriedade familiar e / ou a
influência da liderança causa impacto à intenção estratégica, tomada de decisão e às metas
financeiras da empresa. Eles podem ter o envolvimento da família no início, a intenção de ter o
envolvimento da família, ou acabar por ter a participação da família durante os estágios de
formação da empresa. Algumas famílias começam a experiência do empreendedorismo coletivo
com uma visão e processo de planejamento mais formais que delineiam como a família vai captar
uma nova oportunidade. Essa abordagem geralmente esclarece o papel que os membros da família
vão desempenhar no início de atividade e coloca-os em um caminho mais rápido para alcançar com
êxito suas metas familiares e financeiras.
A categoria negócios corporativos familiares ocorre quando uma empresa da família ou grupo
existente começa novos negócios. As famílias são frequentemente, e é bastante natural, os
empreendedores de portfólio que montam diversos negócios sob uma organização familiar. Embora
não possam sempre crescer cada uma das empresas em seu pleno potencial, as empresas novas são
muitas vezes sinérgicas, criam empregos para a comunidade, e fazem crescer o patrimônio da
família. Muitas vezes eles são iniciados de forma que os membros da família têm suas próprias
empresas para gerir. A abordagem mais formal para a corporação familiar faz do novo processo de
negócio parte de um plano estratégico global para a crescente riqueza da família, aproveitando os
recursos e as capacidades dos membros da família.
A renovação de corporação familiar ocorre quando a atividade empreendedora da família está
centrada na criação de novos fluxos de valor dentro da empresa ou do grupo através de atividades
de inovação e mudança transformacional. As empresas que lançam novos produtos ou serviços, que
entram em novos mercados, ou criam novos modelos de negócio estão renovando as suas
estratégias para o futuro. Esse tipo de renovação estratégica ou estrutural é particularmente
prevalente durante as transições de gerações da família ou quando a família percebe que seu legado
de negócios não pode mais competir. Uma abordagem mais formal para a renovação corporativa é
proativa, contínua e institucionalizada contra o ato de esperar por transições ou gatilhos
competitivos para iniciar o processo de renovação.
Um dos principais papéis que as famílias desempenham é fornecer dinheiro privado da família
para os membros da família que queiram iniciar um negócio. Mais de 63% das empresas na fase de
planejamento e até 85% dos novos empreendimentos existentes usaram fundos da família. Entre
30% e 80% de todos os financiamentos informais (capital que não é de risco) vêm de família. Nos
Estados Unidos, isso equivale a quase 5% do PIB e chega a 3% do PIB na Coréia do Sul357. Na
maioria das vezes, o dinheiro da família é dado com base em sentimentos altruístas da família ao
em vez de ter critérios mais formais de investimento. Ainda que fornecer capital inicial, formal ou
informal, tenha claramente um papel significativo no processo empreendedor, ter alguns critérios
formais de investimento pode evitar futuras confusões ou conflitos entre os membros da família.
Também cria uma maior disciplina e responsabilidade para os empreendedores familiares. (Ver
Tabela 18.3.)
Fundos de investimento familiares são fundos de capital de família que as famílias utilizam para
atividades empreendedoras. Esses fundos da família, tanto formais como informais, estão se
tornando cada vez mais comuns à medida que as famílias encontram-se cheias de dinheiro. Na
maioria das vezes, os fundos de investimento formal da família são criados após uma família ter
liquidado a totalidade ou parte de seu grupo familiar. Esses fundos são geralmente formados em
conjunto com um escritório de investimentos da família, os chamados family offices. Fundos de
investimento informal da família são fundos de dinheiro, geralmente a partir de fluxos de caixa,
que os líderes da família investem em atividades empreendedoras como uma forma de diversificar
seus portfólios de família e/ou por diversão. Eles costumam investir em conjunto com sua rede de
contatos, e os investimentos são geralmente não-operacionais em empresas ou negócios
imobiliários. Esses investimentos são muitas vezes porções significativas de sua riqueza total.
Quando catalogamos a grande variedade de papéis informais e formais que as famílias podem
desempenhar no processo empreendedor, vemos a contribuição que eles são capazes de fazer para a
economia empreendedora. Nós acreditamos que as famílias empreendedoras que estão interessadas
em empreendedorismo e criação de riqueza transgeracionais devem cultivar a abordagem mais
formal para o empreendedorismo. O restante deste capítulo auxilia as famílias na formalização de
seus papéis no empreendedorismo. Apresentamos três quadros de estratégia que se baseiam no
Modelo Timmons apresentado no Capítulo 3. Os quadros enfocam os componentes controláveis do
processo empreendedor que podem ser avaliados, influenciados e alterados.
Como a atração gravitacional que nos mantém ligados à terra, as famílias enfrentam uma
série de desafios inerentes que podem mantê-los vinculados às estratégias do passado em vez
de buscar novas oportunidades.
1. As famílias supõem que seu sucesso passado vai garantir seu sucesso futuro.
2. Os membros da família atribuem “valor de legado” a seus negócios ou ativos, mas esse
valor não se traduz em um valor ou vantagem de mercado.
3. As famílias querem um “passe de legado” no mercado - “Estamos com 50 anos e
merecemos mais 50 anos já que vimos sendo tão bons cidadãos.”
4. Os líderes tentam equilibrar o perfil de risco (expectativas de risco e recompensa) dos
seus acionistas com o risco e as demandas de investimento do mercado.
5. As gerações mais velhas e sucessoras têm perfis de risco e objetivos diferentes para a
forma como o negócio deve crescer no futuro.
6. As famílias têm dificuldade em passar os compromissos empreendedores e as
capacidades da geração mais velha a uma geração sucessora “com menos apetite”.
7. As famílias constroem seus negócios de primeira geração segundo a intuição do
fundador, mas o negócio nunca estabelece processos empreendedores mais intencionais
para manter vivas as contribuições empreendedoras.
8. As famílias não vão usar muitas das estratégias financeiras que os empreendedores usam
para fazer crescer os negócios: a dívida, o capital acionário, alianças estratégicas e parcerias.
9. As famílias não vertem ativos não produtivos e negócios de baixo desempenho para
realocar recursos em locais mais produtivos.
10. Membros da família da geração sucessora se sentem no direito de iniciar um negócio
em vez de procurar a oportunidade empreendedora da próxima geração.
11. Os líderes mais velhos comunicam para a próxima geração que o planejamento de
negócios e a análise empreendedora são um desperdício de tempo.
12. Os familiares recebem uma empresa para gerir como parte de seu legado, e isso é visto
como empreendedorismo na família.
GRÁFICO 18.2
Muitas vezes, é útil para a definição de um conceito entender o que o mesmo não é. Judith
Penrose toma essa abordagem, contrastando o conceito de empreendimento com três
categorias de empresas que não são necessariamente empreendimentos.*
“Somente fez crescer empresas”: A categoria “somente fez crescer” são aquelas que estavam
no lugar certo na hora certa. Eles foram na onda de um mercado em expansão, e tiveram de
expandir para atender à demanda. A decisão de crescer era automática, e porque foram
capazes de se capitalizar com as circunstâncias, eles cresceram. A situação pode continuar por
muito tempo, mas uma vez que os mercados não se expandem indefinidamente e os
concorrentes preenchem a lacuna de oportunidade, o crescimento das empresas e a empresa
chegarão a um fim.
“As empresas de conforto”: Esta categoria é muitas vezes referida como empresas de estilo de
vida. Há empresas que se abstêm de tirar pleno partido das oportunidades de expansão, pois
isso aumentaria o seu esforço e risco. Empresas que estão confortáveis com os seus
rendimentos e situação não têm incentivo para crescer além do nível aceitável de lucro. Essas
são as empresas onde os objetivos dos proprietários para estar confortáveis estão estreitamente
alinhados com os objetivos da empresa. Como as empresas “somente fizeram crescer”, as
“empresas de conforto” podem continuar por décadas, mas no final, reunir as necessidades de
conforto dos proprietários não é um impulso para vantagem ou renovação.
“Empresas administradas com competência”: Muitas empresas são geridas com competência
e, consequentemente, são capazes de encontrar retornos normais por períodos relativamente
longos ao manter a sua eficiência operacional. Empresas geridas com competência com
frequência estão se esforçando para manter os esforços empreendedores de um fundador.
Podem estar competindo em circunstâncias mais tradicionais, menos dinâmicas, ter um nicho
de mercado distinto, ou manter uma vantagem regional como um negócio favorecido.
Embora essas estratégias sejam exploráveis, não são inerentemente sustentáveis e podem
desaparecer rapidamente.
* J. E. Penrose, The Theory of the Growth of the Firm, 3ª ed. (Nova York: Oxford University Press, 1995).
FIGURA 18.2
No contínuo de métodos, a Backerhaus Veit não tinha os métodos empreendedores para explorar
o plano de Toby. Sabine individualmente tinha as capacidades e Toby acreditava que tinha, mas a
equipe e organização empreendedores teriam que ser construídos. Havia claramente uma
incongruência significativa da família com a ideia do novo modelo de negócio. O desafio para
Sabine e Toby era estabelecer um plano e um processo para alinhar sua mentalidade e métodos, se
quisessem captar a nova oportunidade e tornar-se uma família de empreendedores.
Há uma série de coisas que Toby e Sabine precisavam fazer para garantir que eles eram uma
família de empreendedores. Primeiro, eles precisavam desenvolver habilidades de comunicação
para ter um diálogo eficiente. A maioria das famílias pressupõe que são capazes de manter um
diálogo, simplesmente porque são uma família. Na realidade, a familiaridade de uma família pode
tornar muito difícil confrontar suposições e falar sobre pontos de vista divergentes. Muitas vezes, as
famílias precisam de um facilitador para ajudá-los a desenvolver habilidades de comunicação e
manter um diálogo.
Em segundo lugar, eles precisavam ter certeza que seus pontos de vista do futuro eram os
mesmos. Muitas vezes as famílias têm uma vaga noção de “trabalhar juntos”, e supõem que vão
perceber os detalhes ao longo do tempo. Esta é uma fórmula clara para o descontentamento e os
conflitos futuros. Na realidade, Toby e Sabine tinham visões muito diferentes para seus futuros. A
visão de Sabine era de desfrutar sua paixão por pães, equilibrando o crescimento com os interesses
de seu estilo de vida. A visão de Toby era explorar sua paixão por pães através da construção de
novos negócios com a reputação e as habilidades da família.
Em terceiro lugar, Toby e Sabine tinham perfis de risco muito diferentes. O que Sabine estava
disposta a arriscar para retornos futuros era muito diferente do que Toby estava disposto a arriscar e
os retornos que ele desejava. Não é surpreendente que a geração sucessora esteja disposta a arriscar
mais do que a geração mais velha. A chave é manter a conversa até que você entenda a perspectiva
do outro. Depois de entender um ao outro, você pode criar um modelo de negócios e estruturas
que acomodem os perfis de risco de ambas as gerações. Travar-se em uma ou outra perspectiva
geracional sufoca as forças coletivas de uma equipe multigeracional.
Em quarto lugar, lembre-se que a noção de tempo é tudo. Normalmente, para os sucessores o
tempo é agora e para os mais velhos, o tempo é algum dia. São grandes as chances de que ambas as
gerações vão acabar deixando um pouco sua zona de conforto. Toby e Sabine perceberam que a
noção de tempo era realmente uma questão de estratégia de como iriam proceder, não apenas se e
quando iriam proceder.
Em quinto lugar, seja criativo. Você pode ter certeza que o resultado final não será exatamente
como nenhum de vocês dois imaginou. Através do diálogo, ficou claro para Toby e Sabine que o
leque de opções era bastante extenso. Costumamos dizer aos membros da família para “lembrar a
sua álgebra” quando se trata de diálogo. Só porque “a é igual a b” não significa que “a” pode não ser
igual a “c, d, ou mesmo e, f e g”. A questão é que, uma vez que se inicie um verdadeiro diálogo,
você pode encontrar muitas mais opções do que imaginou inicialmente.
Sua família tem uma visão que faz sentido para o mercado de amanhã?
Todas as gerações descreveriam a visão como convincente?
A visão foi desenvolvida por todos da família?
A visão tem relevância para a sua tomada de decisões e sua vida?
Sua família revisa e testa regularmente a visão como um grupo de propriedade?
A visão é transgeracional?
A visão é maior do que os interesses pessoais da família?
A visão mobiliza outros a criar novos fluxos de valor?
Todos os membros da família compartilham as recompensas tomadas da visão?
Dimensão da estratégia: sua família tem uma estratégia deliberada para encontrar sua vantagem
competitiva como uma família?
Já dissemos que há uma aplicação mais intencional e formal do processo empreendedor dentro do
contexto familiar. Parte dessa abordagem formal é desenvolver estratégias tanto para cultivar, como
para captar novas oportunidades de negócio. Mas, para as famílias, significa muito mais. O
pensamento estratégico e o planejamento da família devem ser baseados na percepção de como
explorar os seus recursos e capacidades únicos de base familiar para encontrar vantagens em
empreender. Embora isso seja abordado mais especificamente na próxima seção, inclui coisas como
encontrar sinergias com o ativo circulante, alavancar redes de relações pessoais, cultivar os
empreendedores da próxima geração, e ampliar o poder da reputação da família. Uma vez que as
famílias tendem a não pensar muito sobre seus recursos e capacidades influenciados pelos
familiares, muitas vezes eles não conseguem ver as oportunidades que representam para lhes
oferecer uma vantagem de longo prazo para o empreendimento.
Perguntas de diagnóstico da dimensão de estratégia
Como sua família lhe proporciona uma vantagem na criação de riqueza empreendedora?
Que recursos e capacidades são exclusivos da sua família?
Sua família tem um processo de planejamento formal para dirigir o seu espírito
empreendedorismo?
Sua organização tem sistemas formais para cultivar e captar novas oportunidades?
Sua família serve de mentora para membros da próxima geração se tornarem empreendedores?
Seu pensamento e planejamento estratégico fortalecem a sua família para cumprir sua visão
transgeracional?
Que papel desempenha a sua família no processo de estratégia?
Dimensão de governança: sua família tem estruturas e políticas que estimulem a mudança e o crescimento
da família e da organização?
Poucos líderes de família considerariam que as estruturas e as políticas de governança podem
realmente estimular o crescimento e a mudança. A maioria associaria a palavra governança a
burocracias e, na melhor das hipóteses, reconheceria que as estruturas e políticas são um mal
necessário a ser tolerado e minimizado. Mas nós oferecemos duas perspectivas diferentes. Em
primeiro lugar, a falta de estruturas e políticas de governança eficazes cria uma ambiguidade
significativa nas famílias e restringe o empreendedorismo. Em segundo lugar, quando os processos
empreendedores são institucionalizados através das estruturas e políticas de governança, isso
promove o crescimento e muda as atividades. Por exemplo, quando a percepção de propriedade,
patrimônio ou valor não é clara ou não se pode discutir, isso desestimula os empreendedores
familiares. Mas, quando as conversas financeiras são parte da cultura profissional e existem
estruturas de propriedade transparentes, os empreendedores familiares têm regras de jogo claras.
As estruturas de governança são, portanto, críticas para o espírito empreendedor e a criação de
riqueza transgeracionais.
Perguntas de diagnóstico da dimensão de governança
Sua família vê a governança como uma parte positiva de suas vidas familiares e empresariais?
Suas estruturas de governança são estáticas ou maleáveis?
Suas estruturas e políticas promovem a unidade da família?
Suas estruturas e políticas de governança dão uma voz apropriada aos membros da família?
Suas estruturas e políticas de governança os ajudam a encontrar sua vantagem familiar?
Você tem processos formais que institucionalizam o processo empreendedor em sua família e
negócios?
Suas estruturas e políticas de governança promovem o envolvimento e empreendedorismo na
próxima geração?
Dimensão de desempenho: seu desempenho cumpre os requisitos para o empreendedorismo e a criação
de riqueza transgeracional?
A dimensão do desempenho é onde as famílias esclarecem se são ou não realmente
comprometidas com o empreendedorismo familiar. Famílias que têm espírito empreendedor são
orientadas para o mercado e buscam acelerar a criação de riqueza através de suas ações
empreendedoras oportunistas. Elas têm claras referências e informações financeiras para avaliar o
seu desempenho em relação ao mercado. Empresas de estilo de vida muitas vezes partem do
princípio que têm um bom desempenho porque estão sustentando seus estilos de vida. Empreender
também implica um processo de alinhamento das competências centrais da organização com as
oportunidades externas para criar novos fluxos de valor. Famílias empreendedoras não dependem
do desempenho passado como um indicador de que eles vão fazer bem no futuro; nem definem o
sucesso com a manutenção de um ativo. Suas medidas de sucesso são a sua capacidade para
cumprir a sua visão transgeracional da criação de riqueza social e econômica.
Perguntas de diagnóstico da dimensão de desempenho
Sua família fala abertamente sobre questões de desempenho financeiro, ou as finanças são
secretas?
Você está no modo estilo de vida ou empreendedor?
Suas estratégias são conduzidas por uma clara orientação para o mercado?
Os proprietários familiares concordam quanto ao seu risco e expectativas de retorno?
As expectativas de desempenho estão claras para os empreendedores da próxima geração?
Há estruturas claras de transparência e responsabilização em relação ao cumprimento das
expectativas de desempenho?
Existe diálogo familiar sobre as expectativas de desempenho: crescimento, dividendos,
reinvestimento, retorno sobre o patrimônio?
Quadro três: a vantagem do senso de família para o
empreendedorismo familiar
Todo o sucesso empreendedor e a oportunidade de captar retornos acima da média são
presumidos na busca de uma vantagem sobre seus concorrentes. Do mesmo modo, o potencial para
encontrar uma vantagem está enraizado nos recursos e capacidades distintos que uma organização
possui. Os aspecto de “recursos” do modelo Timmons é onde o empreendedorismo pode ficar
empolgante para as famílias. Como cada família é única, elas podem gerar feixes muito
idiossincráticos de recursos e capacidades que lhes podem dar uma vantagem no processo
empreendedor se eles souberem como identificá-los e aproveitá-los. Nós nos referimos a esse feixe
idiossincrático de recursos e capacidades como senso de família.
O modelo de sistemas de senso de família da Figura 18.3 mostra como é gerado o feixe de senso
de família dos recursos e capacidades. Conforme a visão, a história, e as capacidades coletivas da
família interagem com os objetivos, habilidades e compromissos dos membros individuais de cada
família, e eles, por sua vez, interagem com a história, cultura e recursos organizacionais das
entidades empresariais, isso cria esse efeito de senso de família ou o “fator f” de recursosf e
capacidadesf. Se pensarmos nas quatro categorias de recursos: pessoas, financeiros, bens e plano,
podemos explorar como a família sistêmica influencia impactos, mudanças, ou de alguma forma
reconfigura as propriedades do recurso. Identificamos recursos e capacidades de senso de família
com um índice “f”, como o capitalf, liderançaf, networkingf, conhecimentof, reputaçãof.
FIGURA 18.3
O quadro de avaliação do senso de família ajuda as famílias a se tornarem realistas. O que
queremos dizer é que o processo de avaliação leva as famílias a avaliar, de forma realista, onde a sua
influência familiar pode ser positiva e onde ela pode ser negativa. Uma das ideias-chave deste
modelo é o entendimento de que a família não pode ser caracterizada como boa ou má. Em vez
disso, a influência da família deve ser vista como um dos insumos que os empreendedores precisam
gerenciar intencionalmente. Quando os líderes da família gerenciam as ações e os resultados dentro
dos subsistemas: unidade familiar, indivíduos e entidades empresariais, e entre os subsistemas, eles
estão controlando seu conjunto de recursosf e capacidadesf.
Quando esses recursosf e capacidadesf de senso de família conduzem a uma vantagem competitiva
para a família, nós nos referimos a eles como “senso de família distintivo” ou um “f+”. Quando eles
limitam a capacidade competitiva empreendedora da família, nós nos referimos a eles como “senso
de família restritivo” ou “f-”. A figura 18,4 permite que as famílias coloquem seus recursos e
capacidades em um contínuo de avaliação. O trabalho das famílias que desejam ser
empreendedoras é perceber como gerar e explorar seu senso de família distintivo e minimizar ou
sufocar seu senso de família restritivo. Quando as famílias começam a avaliar e planejar com base
no senso de família distintivo e restritivo, elas saem de um modo intuitivo e informal para o modo
intencional e formal de empreendedorismo familiar.
Para entender melhor o senso de família, vamos voltar para a decisão de empreendedorismo
familiar que Toby e Sabine têm de fazer em relação à Backerhaus Veit (BV). Se analisarmos o senso
de família distintivo (f +) e restritivo (f-) na situação deles, podemos trazer o foco significativo para
o diálogo e movê-los ao longo do caminho de congruência mentalidade e métodos.
A figura 18.5 é o contínuo de recursos e capacidades de senso de família no que se refere à
oportunidade do novo empreendimento. Quando você vê a avaliação f+ f-, é um retrato
abrangente e revelador da sua contribuição individual e organizacional para o novo
empreendimento. Mas não é apenas o retrato final que é útil para as famílias. A conversa para
identificar os recursos e capacidades e determinar onde devem ser colocados é o resultado real da
aprendizagem.
FIGURA 18.4
FIGURA 18.5
Primeiro, você vai notar que existem recursos e capacidades claros especificamente associados com
as gerações mais velha e sucessora e outras que estão misturadas. Enquanto o impulso de sucessor
de Toby é um f+, suas capacidades empresariais e falta de experiência são um f-. Sabine admite
prontamente que, sem o impulso de Toby, ela nunca consideraria essa oportunidade. Mas os
conselheiros de Sabine estão preocupados que Toby possa superestimar sua capacidade e
contribuição. Essa discussão é muito natural para o empreendedorismo da próxima geração, e as
famílias devem “normalizar” isso e não permitir que se torne pessoal. Por outro lado, as capacidades
sênior de Sabine, redes de contatos empresariais, e reputação são + f para o novo empreendimento
de Toby. Toby admite que o papel de Sabine faz de seu plano de negócios um empreendimento de
potencial muito mais elevado. Por outro lado, o perfil de risco de Sabine e seus objetivos de vida são
um significativo f- e uma restrição ao empreendedorismo. Mas é preciso lembrar que eles se
encaixam muito bem para a estratégia atual dela.
Em segundo lugar, há recursos e capacidades associadas com a BV. O plano de negócios de Toby
exige que a BV forneça valiosos recursos compartilhados, tais como o abastecimento de pão por
atacado, contabilidade, equipamentos usados, serviços de reparo, e assim por diante. Essa
oportunidade cria uma vantagem de recurso muito significativa que poderíamos chamar de “plano
de f+”, porque somente membros da família com as empresas existentes poderão incorporá-las no
seu plano. As capacidades de equipe de gestão existentes são também um f+, mas, como a equipe já
existente não é empreendedora (na verdade, eles vêem o novo empreendimento como um dreno
no negócio existente), nós temos que dar um f- para a equipe empreendedora.
Em terceiro lugar, alguns recursos estão associados tanto com Sabine como com Toby. O mais
importante é o f+ para o conhecimento tácito de pão. Ambos sabem fazer o pão, mas o ponto
particularmente interessante é ver o quanto Toby é avançado como uma pessoa jovem, porque
cresceu na indústria de panificação. Do mesmo modo, o f- para o varejo é significativo. Enquanto
Sabine cresceu na indústria de panificação de varejo (sua família tem 70 padarias de varejo na
Alemanha), ela não conhece a indústria de panificação casual (como a Panera Bread Company), e
este é o alvo do plano de Toby. Enquanto a tomada de decisão é um f+, a comunicação na família é
um f-. A família tem grandes relacionamentos, mas no cenário de negócios, às vezes eles se
comunicam como mãe e filho em vez de parceiros de negócios.
O contínuo f+ f- torna o trabalho de “pré-estreia” de Sabine e Toby muito claro. Gerenciar o
contínuo f+ f- é como as famílias constroem seu feixe de recursos e capacidades como parte da
formalização do processo empreendedor. É um passo fundamental no sentido de obter as
probabilidades mais em seu favor. Toby e Sabine agora precisam criar um plano de trabalho para
cada um dos recursos limitadores para movê-los para um ponto de neutralidade ou vantagem.
Uma percepção adicional a partir dessa análise é ver a sinergia potencial entre as gerações
sucessora e sênior para o empreendedorismo familiar. Quatro coisas ficam imediatamente claras a
partir da análise. Primeiro, como já observado, Sabine jamais exploraria ou captaria essa
oportunidade se não fosse a condução do processo por parte de Toby. Em segundo lugar, Toby não
tem os recursos e capacidades sinérgicas de senso de família se ele tentar fazer o negócio por conta
própria. Em terceiro lugar, ao passo que existem razões positivas para fazê-lo juntos, há também
restrições que devem ser abordadas. Em quarto lugar, o empreendedorismo familiar vai ocorrer
quando decidirem fazê-lo juntos como uma família, ao invés de não fazê-lo, ou de Toby fazê-lo por
conta própria. Isso não quer dizer que uma maneira é certa ou errada, mas simplesmente que fazê-
lo em conjunto é uma abordagem de empreendedorismo familiar.
Vamos fornecer uma avaliação final de Sabine e Toby a partir do Modelo Timmons para discutir
o ajuste/casamento e equilíbrio. É evidente que a oportunidade para a Backerhaus Veit entrar no
mercado de varejo de comida casual e rápida é muito grande e crescente. Na verdade, a
oportunidade é provavelmente maior do que os atuais recursos e capacidades da BV, Toby, e
Sabine para atendê-las sem recursos externos. Atualmente, o elo mais fraco do modelo é a equipe.
Embora Toby e Sabine tenham grande conhecimento de pão, eles não têm equipe empreendedora
para a iniciativa de varejo. Além disso, os dirigentes e conselheiros da BV estão fortemente
empenhados em gerir os seus ativos circulantes em vez de lançar um negócio empreendedor. A
figura 18.6 mostra que o modelo está “fora de equilíbrio” e reafirma as conclusões da nossa
avaliação anterior de que existe um significativo trabalho de pré-lançamento a ser feito para
assegurar um ajuste. Se fizerem esse trabalho de pré-lançamento e puderem levar o Modelo
Timmons ao equilíbrio, no entanto, eles têm um grande empreendimento de alto potencial para a
família.
FIGURA 18.6
Conclusão
Para as famílias envolvidas em negócios que gostariam de agir de forma mais empreendedora e
tornar-se famílias empreendedoras intencionais que tenham múltiplas gerações buscando
oportunidades de maior potencial, pensamos que a probabilidade é de que quatro mudanças
estratégicas precisam ocorrer:
De uma empresa de estilo de vida que tem o objetivo de conforto pessoal para uma família de
empreendedores comprometidos com o espírito empresarial e a criação de riqueza transgeracional.
De uma empresa familiar intuitiva que “vai chutando a bola” (como um empreendedor familiar)
para ver que novas oportunidades aparecem para um processo empreendedor intencional que visa
gerar e captar novas oportunidades.
De uma empreendedora da geração mais velha que faz para um processo e equipe
empreendedora da geração sucessora que cria oportunidades para outros fazerem.
De uma família empreendedora de baixo potencial que cria negócios únicos na medida do
possível para uma família empreendedora com um potencial mais alto que mobiliza recursos para
criar riqueza transgeracional.
Resumo do capítulo
• Começamos demonstrando as contribuições significativas que as famílias dão à economia e ao
processo empreendedor. Muitas vezes não se dá atenção ao fato de que a maioria das empresas
no mundo inteiro é controlada e gerida por famílias, incluindo muitas das grandes empresas que
normalmente não associamos com famílias.
• As famílias desempenham um número diverso de funções formais e informais no processo
empreendedor. Descrevemos esses papéis como (a) start-ups influenciadas pela família, (b)
negócios corporativos familiares, (c) renovação de corporação familiar, (d) dinheiro privado da
família, e (e) fundos de investimento familiares.
• O empreendimento familiar foi definido como a busca pró-ativa e contínua de oportunidades
de crescimento quando a expansão não é nem urgente nem é particularmente evidente. O
resultado do empreendimento familiar é o empreendedorismo e a criação de riqueza
transgeracionais através do equilíbrio no Modelo Timmons.
• O contínuo de mentalidade avalia o perfil de risco da família, e os interessados em empreender
mudam de uma estratégia operacional para uma estratégia de investidor financeiro. O contínuo
de métodos avalia o comportamento organizacional de líderes e organizações e exige uma
mudança de estratégias gerenciais para empreendedoras para o empreendimento.
• Existem seis dimensões para o empreendimento familiar que foram descritos como
antecedentes da literatura sobre empreendedorismo: liderança, relacionamento, visão, estratégia,
governança e desempenho. O capítulo apresentou questões-chave para cada dimensão para
ajudar as famílias a se tornarem mais empreendedoras.
• Definimos o senso de família de uma organização como o conjunto exclusivo de recursos e
capacidades que resultam da interação entre a família e os membros individuais da família com
as entidades empresariais. As famílias podem ter uma influência familiar positiva e negativa, que
descrevemos como um f+ ou f-.
http://www.fbn-i.org/ The Family Business Network é a principal rede mundial de famílias que
possuem empresas e possui escritório no Brasil: www.fbn-br.org.br
http://familybusinessmagazine.com/ A biblioteca The Family Business é um acervo com
mecanismo de busca que cobre um vasto leque de assuntos sobre negócios da família.
http://www.ffi.org/ O Family Firm Institute (FFI) é uma organização profissional internacional
dedicada a fornecer educação interdisciplinar e oportunidades de networking para os negócios da
família e conselheiros de riqueza da família, consultores, educadores e pesquisadores e a aumentar a
consciência pública sobre as tendências e os desenvolvimentos nos campos de negócio familiar e
riqueza da família.
EXERCITANDO A MENTE
345
Os conceitos e modelos apresentados neste capítulo baseiam-se na pesquisa e redação de Timothy Habbershon e colegas,
incluindo T.G. Habbershon e M.L. Williams, “A Resource Based Framework for Assessing the Strategic Advantages of Family Firms”,
Family Business Review 12, 1999, pp. 1–25; T. G. Habbershon, M. Williams, e I. C. MacMillan, “A Unified Systems Perspective of
Family Firm Performance”, Journal of Business Venturing 18(4), 2003, pp. 451–65; e T. G. Habbershon e J. Pistrui, “Enterprising
Families Domain: Family-Influenced Ownership Groups in Pursuit of Transgenerational Wealth,” Family Business Review 15(1),
2002, pp. 223–37.
G. Hamel, “Bringing Silicon Valley Inside”, Harvard Business Review 77, no.5 (setembro-outubro de 1999), p. 70.
346
Dados iniciais financeiros, de desempenho e propriedade da Hoovers Online.
347
“A New Cable Giant”, BusinessWeek, 18 de novembro de 2002, p. 108.
348
«Forbes 400 List», 24 de setembro de 2004, Forbes, http://www.forbes.com/400richest/.
349
J. Weber et al. «Family Inc.», BusinessWeek, 10 de novembro de 2003.
350
Em 27 de junho de 2005, John Walton, filho de Sam Walton, morreu tragicamente em um acidente com seu avião ultraleve perto
de Jackson Hole, Wyoming. João estava empatado como a quarta pessoa mais rica de acordo com a Forbes, com um patrimônio
líquido de US$ 18 bilhões. Ainda é incerto o que será feito com sua fortuna restante.
351
«Forbes 400 List», 24 de setembro de 2004, Forbes, http://www.forbes.com/400richest/.
352
A. Serwer et al. «The Waltons: Inside America’s Richest Family», Fortune 150, no. 10 (15 de novembro de 2004), p. 86.
353
J. H. Astrachan e M. C. Shanker, “Family Businesses’ Contribution to the U.S. Economy: A Closer Look”, Family Business Review
16, no. 3 (setembro de 2003), p. 211.
354
“IFERA. Family Businesses Dominate”, Family Business Review 16, no. 4 (dezembro de 2003), p. 235.
355
H. E. Aldrich e J. E. Cliff, “The Pervasive Effects of Family on Entrepreneurship: Toward a Family Embeddedness Perspective”,
Journal of Business Venturing 18, no. 5 (setembro de 2003), p. 573.
356
GEM 2002, Relatório Especial sobre Novos Empreendimentos Patrocinados por Famílias.
357
Ibid.
358
J. E. Penrose, The Theory of the Growth of the Firm, 3rd ed. (Nova York: Oxford University Press, 1995).
359
O conteúdo e as questões dos inventários de mentalidade e métodos são baseados na seguinte literatura: J. G. Covin e D. P. Slevin,
“Strategic Management in Small Firms in Hostile and Benign Environments”, Strategic Management Journal 10, no. 1 (1989), pp. 75–
87.
R. G. McGrath e I. MacMillan, The Entrepreneurial Mindset: Strategies for Continuously Creating Opportunity in an Age of Uncertainty
(Boston: Harvard Business School Press, 2000).
D. L. Mconaughy, C. H. Matthews, e A. S. Fialko, “Founding Family Controlled Firms: Performance, Risk, and Value”, Journal of Small
Business Management 39, no. 1 (janeiro de 2001), p. 31.
D. Miller, “The Correlates of Entrepreneurship in Three Types of Firms”, Management Science 29, no. 7 (1983), p. 770.
D. Miller e P. H. Friesen, “Innovation in Conservative and Entrepreneurial Firms: Two Models of Strategic Momentum”, Strategic
Management Journal 3, no. 1 (janeiro a março de 1982), p. 1.
S. Zahra, “Entrepreneurial Risk Taking in Family Firms”, Family Business Review 18, no. 1 (março de 2005), p. 23.
360
J. G. Covin e D. P. Slevin, “Strategic Management in Small Firms in Hostile and Benign Environments”, Strategic Management
Journal 10, no. 1 (1989), p. 75.
361
Ibid.
362
R. G. McGrath e I. MacMillan, The Entrepreneurial Mindset: Strategies for Continuously Creating Opportunity in an Age of
Uncertainty (Boston: Harvard Business School Press, 2000).
363
D. R. Ireland e M. A. Hitt, “Achieving and Maintaining Strategic Competitiveness in the 21st Century: The Role of Strategic
Leadership”, The Academy of Management Executive 13, no. 1 (fevereiro de 1999), p. 43.
Estudo de caso
Perguntas de preparação
1. Esta família e este caso dizem respeito a um “negócio de família” ou a uma “família
empreendedora”? Como v ocê delinearia as diferenças? Por que essa distinção importa para a
compreensão do caso?
2. Av alie a família/empresa Daw son usando o modelo de mentalidade e métodos para a família
empreendedora.
3. Em que medida Jimella está preparada para fazer a I ndulgence Spa crescer? Quais são seus
pontos fortes e fracos? I dentifique quais os recursos e capacidades que ela representa para o
grupo familiar e para seu negócio em início de ativ idade.
4. Quais são as diferenças de demanda de mercado que a I ndulgence enfrentará contra o
mercado-alv o da Daw son Products? Como essas diferenças afetarão o modelo de negócios da
I ndulgence? O nov o mercado-alv o muda as exigências de recursos e capacidades?
5. Modele uma série de recomendações para Jimella de como ela pode aumentar seu negócio
empreendedor, enquanto lev a adiante uma estratégia de família empreendedora. As duas se
excluem mutuamente? Como suas recomendações prev eem questões de sucessão e de herança
familiar nesse caso?
Jimella, a caçula dos Daw son, sorriu ao dar uma espiada no escritório de sua mãe.
“Bom dia, mamãe! Você tem um minuto?”
“Claro, entre. Estou só me preparando para uma reunião. Você v eio cedo esta manhã, Jimella.
Pensei que eu era a única aqui.”
Ulissa não estav a realmente surpresa ao v er a filha. Jimella, 32 anos, gostav a de trabalhar
arduamente. Jimella aprendeu todos os aspectos do negócio da família de produtos de cuidados
pessoais: desde encher e tampar recipientes na linha até trabalhar com mercados, spas e salões. Hav ia
começado a v ender produtos de porta em porta, quando tinha 11 anos. Após concluir o curso de
graduação da Wharton e de receber o MBA da Duke, ela agora era diretora de marketing da
Daw son. Pouco depois de assumir esse cargo, ela orquestrou uma limpeza geral do departamento -
uma mov imentação ousada que exigiu a transferência de um trabalhador querido de 45 anos, e a
demissão de div ersos funcionários que ela hav ia percebido que tinham hábitos de trabalho
preguiçosos e improdutiv os. Até então, a empresa hav ia desenv olv ido uma reputação de ser um lugar
acolhedor, de orientação familiar, onde os trabalhadores, mesmo os improdutiv os, podiam se sentir
confiantes de estar empregados a longo prazo. Não somente o nov o estilo agressiv o de gestão de
Jimella despertou os empregados menos comprometidos, mas a sua iniciativ a cortou o orçamento de
marketing em um terço e dobrou os lucros, assim como seu planilhas tinham dito que aconteceria.
Ulissa tinha esperado esse tipo de desempenho proativ o, excepcional de suas filhas (Angela, 39 anos,
foi diretora operacional da Daw son). Agora que seu marido e co-fundador, Robert Daw son, tinha
começado a passar muito do seu tempo falando e ensinando em todo o país sobre a necessidade de
afroamericanos de se tornar economicamente auto-suficientes, Jimella e Angela tornaram-se figuras-
chav e da trajetória de crescimento de seu empreendimento familiar. E aqui estav a nov amente a
caçula, parecendo que estav a se preparando para dar mais um passo ousado. Ulissa ficou intrigada.
“Em que v ocê está pensando, Jimella?”
“Vou seguir em nov as direções com meus planos para a I ndulgence Spa Products, e gostaria de sua
opinião.”
“Claro.”
“Antes de tudo, estou mudando minha estratégia de marketing. Meu mercado-alv o serão todas as
mulheres, não apenas as mulheres de cor. Estes produtos são excelentes, e a I ndulgence está limitando
seu crescimento, ao não se posicionar como uma empresa que cria produtos de spa de luxo para
todas as mulheres.”
“Soa interessante, Jimella. Mas como v ocê pretende fazer isso?”
O brev e silêncio de Jimella aumentou a curiosidade da mãe.
“Meu principal método de marketing serão as v endas diretas – a mesma estratégia básica que
recentemente começamos a usar na Daw son’s Cosmetics.Vou montar uma equipe nacional de
consultore de beleza independentes que v enderão principalmente atrav és de ligações a domicílio e
festas em casa da I ndulgence”.
Desta v ez, a pausa de Jimella deixou Ulissa mais preocupada do que curiosa.
“E então?”
“E para fazer isso direito, v ou precisar tornar a I ndulgence uma empresa separada da Daw son
Products.”
“Mãe”, acrescentou Jimella da maneira mais delicada possív el, “eu decidi caminhar com as próprias
pernas”.
*Este caso foi preparado por Sandra Sow ell-Scott. © Copyright Babson College, 2005.
Além da colheita
Resultados esperados
O antigo ditado “A vida é uma jornada, não um destino” nunca foi tão verdadeiro quanto na arena do
empreendedorismo. As alegrias e as decepções são lendárias; e você já as estudou e as encontrou ao longo do livro. Este
capítulo lança os desafios do futuro, a alegria da colheita e seu paradoxo: E então, o que vem depois?
Ao terminar este capítulo, você será capaz de:
1. Discutir a importância de primeiro se construir uma grande empresa e, com isso, criar opções de colheita.
2. Explicar por que a colheita é um elemento fundamental do processo empreendedor, e não necessariamente
significa abandonar a empresa.
3. Identificar as principais opções de colheita, incluindo a venda da empresa, a abertura do capital e o fluxo de
caixa (que chamamos de “vaca leiteira”).
4. Discutir a importância de se criar um legado de longo prazo de riqueza pessoal e familiar pela busca de
atividades filantrópicas e pela contribuição para a renovação da comunidade.
5. Gerar insights e análises do estudo de caso Optitech.
Riqueza da família
Este é o título do maravilhoso livro de Charles W. Collier, conselheiro filantrópico sênior na
Universidade de Harvard. É um livro que precisa ser lido: repleto de sabedoria, lições e conselhos
práticos sobre o tema delicado, contraditório e muitas vezes desconcertante que é lidar com a
riqueza da família. Em praticamente todas as culturas existe uma versão equivalente do provérbio
“Pai rico, filho nobre, neto pobre”. Na China, por exemplo, se diz: “Do arrozal ao arrozal, em três
gerações”. Em todo o mundo, a revolução empreendedora global está criando uma riqueza familiar
sem precedentes. Como diz o provérbio, essa prosperidade pode se tornar uma maldição ou um
veículo para renovação.
O livro de Collier traz vários relatos de como famílias bem-sucedidas lidam com suas riquezas —
como ensinam à próxima geração um significado mais profundo de riqueza, incutem a paixão pelo
trabalho e expressam seu bem-estar financeiro através da filantropia, e não apenas do consumo.
Esses estudos de caso demonstram como as famílias usam a riqueza para renovação pessoal, para
criar uma noção de responsabilidade social na próxima geração e para criar um legado de renovação
social pela lei do retorno. De vez em quando, essa filantropia se torna uma atividade familiar
compartilhada que expressa valores pessoais e familiares profundos e criam legados familiares
significativos. Wealth in Families também é um excelente livro de pesquisa, com uma ampla
bibliografia de sites e fontes de informações. Leia-o e compartilhe-o com sua família.
Opções de colheita
Existem sete avenidas principais pelas quais uma empresa pode realizar a colheita do valor criado
por ela. Nas próximas páginas, descrevemos as opções que parecem mais comuns, na ordem em que
estão listadas. Não tentamos descrever profundamente cada uma das avenidas porque existem
livros inteiros sobre cada uma delas, incluindo suas peculiaridades legais, contábeis e tributárias.
Vaca do capital
A “vaca do capital” é para o empreendedor o que a “vaca leiteira” é para uma grande corporação.
No fundo, a empresa com alta margem de lucro (a vaca) desperdiça mais capital para uso pessoal (o
leite) do que a maioria dos empreendedores tem tempo e usos ou inclinações para gastar. O
resultado é uma empresa com muito capital e com muito dinheiro e com uma enorme capacidade
para arcar com dívidas e fazer reinvestimentos. Pense, por exemplo, em uma empresa de planos de
saúde iniciada no começo da década de 1970, que logo se tornou bem-sucedida e abriu seu capital.
Vários anos depois, os fundadores decidiram comprar a empresa de volta dos acionistas públicos e
retornar à condição de empresa com capital fechado. Hoje, a empresa tem vendas que ultrapassam
o valor de $100 milhões e gera um capital adicional de vários milhões de dólares a cada ano. Essa
vaca do capital permitiu que seus empreendedores criassem entidades para investir em várias outras
empresas de alto potencial, incluindo a participação na compra alavancada do controle acionário de
uma divisão de vendas no valor de $150 milhões de uma empresa maior e em algumas negociações
de capital de risco. Às vezes, a criação de uma vaca do capital resulta em posses substanciais de
imóveis pelo empreendedor, não contabilizados pela empresa original. Isso permite uma
flexibilidade maior na distribuição do fluxo de caixa e a posterior alocação da riqueza.
Plano de participação acionária para funcionários (ESOP)
Os planos de participação acionária para funcionários se tornaram muito populares entre
empresas de capital fechado, como mecanismo de valoração para ações que não estão no mercado
formal. Também são veículos utilizados pelos fundadores para trazer liquidez de suas ações através
das vendas para o plano e para outros funcionários. E, como um ESOP normalmente cria uma
disseminada propriedade de ações entre funcionários, ele também é visto como um instrumento
motivacional positivo.
Aquisição do controle acionário da empresa
Outra avenida, chamada de aquisição do controle acionário da empresa (MBO – Management
buyout), é aquela na qual um fundador pode realizar um ganho com uma empresa vendendo-a
para parceiros existentes ou outros gestores importantes da empresa. Se a empresa tem ativos e um
fluxo de caixa saudável, o financiamento pode ser obtido junto a bancos, seguradoras e instituições
financeiras que fazem compras de controle acionário alavancadas (LBOs – Leveraged buyouts) e
MBOs. Mesmo que os ativos sejam fracos, um fluxo de caixa saudável que possa pagar os juros da
dívida para financiar o preço de compra pode convencer credores a fazerem uma MBO.
Normalmente, o problema é que os executivos que querem adquirir o controle acionário dos
proprietários e continuar a administrar a empresa geralmente não têm o capital. A menos que o
comprador tenha dinheiro de imediato – e este raramente é o caso –, essa venda pode ser muito
frágil e a realização total do ganho é questionável. As MBOs normalmente exigem que o vendedor
tenha um valor limitado de dinheiro antecipadamente e uma promissória para o saldo do preço de
compra por vários anos. Se o preço de compra estiver ligado à rentabilidade futura da empresa, o
vendedor fica totalmente dependente da capacidade e da integridade do comprador. Além disso, a
administração, mediante esse tipo de acordo, pode diminuir o preço ao fazer a empresa crescer o
mais rapidamente possível, investindo em novos produtos e pessoal, tendo pouco lucro no período.
Nesses casos, muitas vezes se vê que, depois que uma empresa marginalmente lucrativa é vendida
por um preço de barganha, em dois ou três anos ela está bem posicionada, com excelentes ganhos.
O vendedor vai acabar na faixa inferior desse tipo de transação.
Fusão, aquisição e aliança estratégica
A fusão com outra empresa é outra maneira de um fundador realizar os ganhos. Por exemplo,
dois fundadores que haviam desenvolvido programas de treinamento de alta qualidade para a
indústria de computadores pessoais em rápido crescimento consumaram uma fusão com outra
empresa. Esses empreendedores tinham muito mais experiência com computadores do que com
marketing ou administração geral, e os resultados da empresa nos primeiros cinco anos refletiram
essa lacuna. As vendas eram inferiores a $500.000, com base em programas personalizados e
nenhuma ação de marketing, e eles eram incapazes de atrair capital de risco, até mesmo durante o
mercado de 2001–2002. A empresa com a qual eles se fundiram valia $15 milhões e gozava de
excelente reputação por seus programas de treinamento em gestão, uma base de clientes da Fortune
1000, vendas recorrentes de 70% da base de clientes e tinha solicitações da equipe de vendas de
campo para programas de treinamento de administradores no uso de computadores pessoais. O
comprador conseguiu 80% das ações da empresa menor para consolidar as receitas e os lucros da
empresa resultante da fusão em seus relatórios financeiros, e os dois fundadores da empresa menor
mantiveram a propriedade de 20% de sua empresa. Os dois fundadores também conseguiram
contratos de trabalho e o comprador forneceu $1,5 milhão em adiantamentos de capital durante o
primeiro ano da nova empresa. Mediante o acordo estabelecido, os fundadores poderão realizar um
ganho sobre seus 20% da empresa, dependendo do desempenho da iniciativa nos próximos poucos
anos.369 Os dois fundadores agora são subordinados ao presidente da empresa controladora, e um
dos fundadores da empresa controladora assumiu a posição de principal executivo na empresa
menor, uma abordagem comum em fusões entre empresas de capital fechado.
Em uma aliança estratégica, os fundadores podem atrair o capital altamente necessário, em
quantidades substanciais, de uma grande empresa interessada em suas tecnologias. Esse tipo de
acordo muitas vezes pode levar a compras completas do controle acionário dos fundadores.
Venda direta
A maioria dos consultores vê a venda direta (Outright sale) como o caminho ideal a seguir,
porque é preferível ter capital imediato do que a maioria das ações, embora estas possam resultar
em uma negociação isenta de impostos.370 Na troca de ações por outras, o problema é a volatilidade
e a imprevisibilidade do preço das ações da empresa compradora. Muitos empreendedores foram
deixados com uma fração do preço de compra original quando o preço das ações da empresa
compradora desvalorizava constantemente. Muitas vezes, a empresa compradora quer trancar por
muitos anos os gestores principais em contratos de trabalho (impedindo que os mesmos deixem a
empresa e atuem em outras empresas do mesmo setor, por exemplo). O sentido disso tudo depende
dos objetivos e das circunstâncias do empreendedor individual.
Oferta pública
Provavelmente a vaca do negócio mais sagrada de todas – além da vaca do capital – é a ideia de
abrir o capital da empresa.371 A visão ou a fantasia de ter uma empresa listada na bolsa de valores
desperta paixões relacionadas à ganância, à glória e à excelência. Para muitos aspirantes a
empreendedores, esse desejo não é questionado e é extremamente sedutor. Ainda assim, para
todos menos alguns escolhidos, a abertura de capital da empresa e a convivência com isso pode
tomar muito mais tempo e preocupação — e dinheiro — do que ela vale.
Depois da quebra do mercado de ações nos EUA de outubro de 1987, o mercado para novas
emissões de ações encolheu para uma fração do robusto mercado de IPOs (oferta pública inicial) de
1986 e uma fração do mercado de 1983 e 1985 também. O número de novas emissões e o volume
de IPOs não se recuperaram; pelo contrário, eles se retraíram entre 1988 e 1991. Então, em 1992 e
no começo de 1993, a janela das IPOs foi reaberta. Durante este frenesi das IPOs, “pequena
empresas com ativos totais inferiores a $500.000 emitiram mais de 68% de todas as IPOs”.372
Empresas anteriormente pequenas ainda não estavam ativas no mercado de IPOs. (Empresas como
a Lotus, a Compaq, e a Apple Computer realmente conseguem atenção sem precedentes, mas essas
empresas foram verdadeiras exceções.)373 A SEC tentou “reduzir os custos de emissão e os encargos
de registro e relatório para pequenas empresas, começando pela simplificação do processo de
registro por meio da adoção do Formulário S-18, que se aplica a ofertas de menos de $7.500.000 e
reduz as exigências de transparência”.374 De maneira semelhante, o Regulamento D criou exceções
de registro de até $500.000 em um período de 12 meses.375
Esse padrão cíclico se repetiu de meados da década de 1990 até 2002. O mercado de IPOs
explodiu como as pontocom, as telecomunicações e as redes, que sofreram aceleração de 1995 a
2000. Em junho de 1996, por exemplo, quase 200 pequenas empresas tiveram ofertas públicas
iniciais, e o ritmo permaneceu muito forte durante 1999, até os primeiros dois meses de 2000.
Quando a NASDAQ entrou em colapso, em março de 2000, a janela das IPOs praticamente se
fechou. Em 2001, houve meses em que não ocorreu nem uma única IPO e, durante o ano, o total
ficou bem abaixo de 100 (pouco para os padrões americanos)! Poucos sinais de recuperação foram
sentidos em 2002. A lição é clara: depender do mercado de IPOs para uma colheita é uma
estratégia altamente cíclica, que pode causar muita alegria e decepção. Essa é a realidade dos
mercados de ações. No Brasil, apesar do mercado de IPOs ainda ser incipiente, se comparado ao
mercado americano, este ciclo também ocorre. Note a diferença entre o número de novos IPOs
(excluindo emissões de empresas já listadas na bolsa) ocorridos na BM&FBovespa de 2004 a 2009.
O ano de 2007 foi atípico para os padrões brasileiros, mas os anos de 2008 e 2009 foram afetados
negativamente pela crise econômica mundial. As expectativas são de retomada e início de um novo
ciclo ascendente a partir de 2010. Os Gráficos 19.1 e 19.2 mostram esse padrão cíclico para os casos
americano e brasileiro.
GRÁFICO 19.1
GRÁFICO 19.2
Existem diversas vantagens de se abrir o capital, muitas delas relativas à capacidade da empresa de
financiar seu rápido crescimento. Mercados de patrimônio público dão acesso ao capital de longo
prazo enquanto também suprem as necessidades subsequentes de capital. As empresas podem usar
os recursos de uma IPO para expandir a empresa no mercado existente ou para se mudar para um
mercado relacionado. Os fundadores e os investidores iniciais podem estar buscando liquidez, mas
as restrições da SEC ou da CVM de limitar o tempo de resposta e a quantidade de ações de que os
funcionários, diretores e executivos com informações privilegiadas podem dispor no mercado
público são cada vez mais rigorosas. Como resultado, podem ser necessários vários anos depois de
uma IPO para que o ganho líquido seja possível. Além disso, de acordo com Jim Hindman (da Jiffy
Lube), uma oferta pública não apenas aumenta a percepção pública da empresa, mas também
contribui para a capacidade de colocação dos produtos no mercado, incluindo franquias.
No entanto, também existem algumas desvantagens em ser uma empresa de capital aberto. Por
exemplo, 50% das empresas de software pesquisadas por Holmberg concordaram que o foco nos
resultados de curto prazo em termos de lucros e desempenho era um atributo negativo de ser uma
empresa de capital aberto.376 Além disso, devido às exigências de transparência, as empresas
públicas perdem um pouco de sua confidencialidade operacional, sem falar de terem de arcar com
os custos contínuos da transparência pública, auditorias e declarações tributárias. Com os acionistas
públicos a administração da empresa deve ser cuidadosa com o fluxo de informações por conta do
risco do uso de informações privilegiadas em proveito próprio. Assim, é fácil ver por que as
empresas precisam pensar nos atributos positivos e negativos de ser uma empresa de capital aberto.
Em várias partes do livro, demonstramos que os valores e princípios são muito importantes.
Estimulamos você a considerar os de Ewing M. Kauffman e a desenvolver suas próprias âncoras.
Essa é uma parte vital de sua abordagem de liderança e diz muito sobre quem e o que você é:
• Trate as outras pessoas como você gostaria de ser tratado.
• Compartilhe a riqueza com as pessoas de alto desempenho que o ajudaram a criá-la.
• Retribua para a comunidade e a sociedade.
Poderíamos adicionar um quarto princípio do espírito dos nativos americanos e também dos
brasileiros de considerar cada ação tendo em mente seu impacto na próxima geração:
• Seja um guardião do ar, da terra, da água e do meio ambiente.
Um dos principais legados dos líderes empreendedores para as gerações futuras pode ser a
sustentabilidade de nossas atividades econômicas. É possível combinar a paixão pelo
empreendedorismo com o amor pela terra e pelo meio ambiente. O trabalho de diversas
organizações é possibilitado financeiramente pelas contribuições de empreendedores altamente
bem-sucedidos na forma de dinheiro, tempo e liderança. Essa também é uma das formas mais
duradouras de se retribuir. Para praticar o que prega, o professor Timmons, pouco antes de falecer,
em conjunto com sua esposa fez uma doação permanente de quase 500 acres (2 milhões de metros
quadrados) de sua fazenda em New Hampshire para uso na conservação. Outros vizinhos também
participaram, resultando em um total de mais de 1.000 acres (4 milhões de metros quadrados) de
terras preservadas para sempre, que nunca serão desenvolvidas. Isso gerou um movimento regional
que envolve proprietários de terras de uma dezena de cidades vizinhas.
• Os empreendedores prosperam nos desafios e nas satisfações do jogo: é uma jornada, e não um
destino.
• Acima de tudo, os empreendedores bem-sucedidos lutam para construir uma ótima empresa: a
riqueza acompanha esse processo.
• As opções de colheita significam mais do que simplesmente vender a empresa, e essas opções
são parte importante do conhecimento do empreendedor.
• Os empreendedores sabem que, para perpetuar o sistema para futuras gerações, eles devem
retribuir para suas comunidades e investir tempo e capital na próxima geração empreendedora.
1. Por que Walt Disney disse: “Eu não faço filmes para ganhar dinheiro. Eu ganho dinheiro para
fazer filmes”?
2. Por que é essencial se concentrar, primeiro, na construção de uma grande empresa, em vez de
apenas ficar rico?
3. Por que uma meta de colheita é tão crucial para empreendedores e para a economia?
4. Defina as principais opções de colheita, os prós e contras de cada uma e por que cada uma
delas é valiosa.
5. Além da colheita, o que fazem os empreendedores para retribuir à sociedade, e por que isso é
tão importante para suas comunidades e para o seu país?
EXERCITANDO A MENTE
364
Este exemplo foi retirado da revista “Parenting Magazine”, caso da Harvard Business School 291–015.
365
L. M. Fisher, “The Entrepreneur Employee”, New York Times, 2 de agosto de 1992, p. 10.
366
Para ter acesso ao plano de negócios da TDC, veja “Technical Data Corporation Business Plan”, caso da Harvard Business School
283–973. Revisado em novembro de 1987. Para maiores informações sobre o progresso e a estratégia de colheita da TDC, veja
“Technical Data Corporation”, caso da Harvard Business School 283–072. Revisado em dezembro de 1987.
367
Para obter uma descrição detalhada deste processo, veja o caso da Harvard Business School 289–027, revisado em fevereiro de
1989.
368
S. R. Holmberg, “Value Creation and Capture: Entrepreneurship Harvest and IPO Strategies”, em Frontiers of Entrepreneurship
Research: 1991, ed. N. Churchill et al. (Babson Park, MA: Babson College, 1991), pp. 191–205.
369
Este é um acordo no qual dois fundadores podem forçar (a opção de venda) o adquirente a comprar seus 20% a um preço
predeterminado e negociado.
370
Veja vários artigos relevantes sobre a venda de uma empresa em Growing Concerns, ed. D. E. Gumpert (Nova York: John Wiley &
Sons, 1984), pp. 332–98.
371
As empresas de contabilidade Big Five, como a Ernst & Young, publicam informações sobre a decisão de abrir o capital da
empresa, assim como a NASDAQ. Veja também R. Salomon, “Second Thoughts on Going Live with Wall Street”, Harvard Business
Review, reimpressão no. 91309.
372
S. Jones, M. B. Cohen, e V. V. Coppola, “Going Public”, em The Entrepreneurial Venture, ed. W. A. Sahlman e H. H. Stevenson
(Boston: Harvard Business School Publishing, 1992), p. 394.
373
Para uma discussão atualizada sobre estas questões, veja C. Bagley e C. Dauchy, “Going Public”, em The Entrepreneurial Venture,
2ª ed. W. A. Sahlman e H. H. Stevenson (Boston: Harvard Business School Publishing, 1999), pp. 404–40.
374
Jones et al., p. 395.
375
Ibid.
376
Holmberg, “Value Creation and Capture”, p. 203.
377
J. A. Hornaday, “Patterns of Annual Giving”, em Frontiers of Entrepreneurship Research: 1984, ed. J. A. Hornaday et al. (Babson
Park, MA: Babson College, 1984).
Estudo de caso
Optitech*
Perguntas de preparação
1. Que caminho estratégico Jim Harris dev eria escolher? Quais são as principais questões que
influenciam sua opinião?
2. Discuta o processo e os métodos usados para v alorizar uma empresa de capital fechado.
3. Discuta os dilemas, as decisões e as escolhas estratégicas futuras que Harris enfrenta.
4. Av alie a análise apresentada por Shields and Company nos quadros e figuras deste estudo de
caso. Que critérios v ocê usaria para av aliar e selecionar um banco de inv estimentos?
Janeiro de 2008. De v olta a Denv er, Jim Harris taxiav a seu Lear 35 na pequena pista empoeirada a
leste de Tucson. Seu outro jato, um Lear 55, estav a ganhando seu sustento no nov o negócio paralelo
de Harris, táxi aéreo, e era bom estar de v olta aos controles desta aeronav e clássica.
Enquanto esperav a pela alfândega, Harris pensav a na Optitech, uma empresa que ele construíra por
quase 14 anos — e que lhe dera os meios para manter seu amor por v oar. Ele era muito apaixonado
por essa empresa, mas ele estav a env olv ido em conv ersas que poderiam resultar na v enda da
empresa. Por mais lucrativ o que esse passo pudesse ser, Harris queria garantir que a v ida pós-colheita
fosse tão repleta de div ersão e desafio quanto o momento atual.
*Este estudo de caso foi preparado por Carl Hedberg sob a superv isão do professor Jeffry Timmons. ©
Copyright Jeffry Timmons, 2008. Todos os direitos reserv ados.
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
Exercício 1
Ao entrevistar empreendedores que, nos últimos 5 a 10 anos, lançaram empresas cujas vendas
agora ultrapassam $ 2 milhões a $ 3 milhões e são lucrativas, você pode obter insights sobre os
motivos, as estratégias, as abordagens e as motivações de um empreendedor para iniciar e ser
proprietário de uma empresa. Reunir informações por meio de entrevistas é uma habilidade valiosa
a se praticar. Você pode aprender muito em pouco tempo com entrevistas, se você se preparar de
maneira ponderada e dedicada.
Este exercício (“Visita a um empreendedor”) ajudou alunos a entrevistar empreendedores bem-
sucedidos. Embora não exista uma forma correta de se estruturar uma entrevista, o formato deste
exercício foi testado com sucesso em várias ocasiões. Uma reunião de café da manhã, almoço ou
jantar muitas vezes é um excelente veículo.
Selecione dois empreendedores e empresas sobre os quais você gostaria de aprender. Pode ser
alguém que você considere um exemplo ou um modelo que quer seguir, ou de quem você sabe o
mínimo, mas está ansioso para descobrir mais. Entreviste pelo menos dois empreendedores com
experiências diferentes, como uma empresa de alto potencial (isto é, receita superior a $ 5 milhões)
e uma empresa de estilo de vida (normalmente muito pequena, mas não necessariamente).
A visita a um empreendedor
PASSO 1
Contate a pessoa que v ocê selecionou e agende uma v isita
Assegure-se de explicar por que você quer fazer a visita e faça uma estimativa realista do tempo de
que vai precisar.
PASSO 2
I dentifique perguntas específicas que gostaria de fazer e as áreas gerais sobre as quais v ocê gostaria de
obter informações (v eja a entrev ista no Passo 3)
Usar uma combinação de perguntas abertas, do tipo perguntas gerais sobre como o empreendedor
começou, o que aconteceu depois e assim por diante, e perguntas fechadas, como perguntas
específicas sobre quais eram seus objetivos, se ele teve de encontrar sócios e assim por diante, ajuda
a manter o foco da entrevista e, ainda assim, permite comentários e insights inesperados.
PASSO 3
Realize a entrev ista
Gravar essa entrevista pode ser útil e é recomendado, a menos que você ou a pessoa que está
sendo entrevistada se oponha. Além do áudio, você pode gravar em vídeo e colocar na internet o
resultado para compartilhar com outras pessoas o resultado da experiência (recomenda-se pedir
uma autorização ao empreendedor antes de publicar a entrevista). Lembre-se, também, que muito
provavelmente você aprenderá mais se for um ouvinte interessado.
A entrevista
Perguntas para obter informações
• Você poderia me falar de si mesmo antes de iniciar sua primeira empresa?
Você conhecia alguém na sua infância que tivesse iniciado sua própria empresa ou fosse dono de
empresa? Como essa pessoa o influenciou? Houve alguma outra pessoa depois que você tinha 21
anos de idade?
Seus pais, parentes ou amigos próximos eram empreendedores? Em que sentido?
Você teve modelos ou pessoas que considera exemplos para serem seguidos?
Qual foi sua experiência anterior (formação acadêmica)? Olhando para trás, ela foi útil? De que
maneira?
Você tinha uma empresa ou era autônomo durante sua juventude?
Em especial, você teve alguma experiência com vendas ou marketing? Que importância isso teve
ou não no lançamento de sua empresa?
Quando, sob quais circunstâncias, e de quem você obteve o interesse em empreendedorismo e
aprendeu algumas das lições básicas?
• Descreva como você decidiu criar um emprego iniciando sua empresa em vez de conseguir um
emprego com alguém.
Como você percebeu a oportunidade? Como ela surgiu?
Quais eram seus objetivos? Quais eram as necessidades de seu estilo de vida ou outros requisitos
pessoais? Como você conjugou tudo isso?
Como você avaliou a oportunidade em termos dos elementos fundamentais para o sucesso? E a
concorrência? E o mercado? Você tinha critérios específicos aos quais queria atender?
Você procurou ou teve sócios? Que tipo de planejamento você fez? Que tipo de financiamento
você teve?
Você tinha um plano de negócios formal ou informal? Pode me falar sobre ele?
Quanto tempo levou desde a concepção até o primeiro dia da empresa? Quantas horas por dia
você gastou nisso?
De quanto capital precisou? Quanto tempo levou para atingir um fluxo de caixa positivo e um
volume de vendas que levasse ao ponto de equilíbrio? Se você não tivesse dinheiro suficiente na
época, de que maneiras poderia ter impulsionado a empresa (permutas, empréstimos etc.)? Fale
um pouco sobre as pressões e as crises durante esse período inicial de sobrevivência.
Que ajuda externa você obteve? Você teve conselheiros experientes? Advogados? Contadores?
Especialistas em tributos e impostos? Especialistas em patentes? Como você desenvolveu essa
rede de contato e quanto tempo demorou?
Como os conselheiros externos fizeram a diferença em sua empresa?
Qual era sua situação familiar na época?
Quais foram os pontos que você considerava fortes na sua empresa? E os pontos fracos?
Qual foi seu momento mais triunfal? E o seu pior momento?
Você queria ter sócios ou fazer tudo sozinho? Por quê?
Aplicações ilimitadas
Você pode imaginar rapidamente ilimitadas outras aplicações e usos para este exercício simples,
mas poderoso. Pense, por exemplo, na nova oportunidade de negócio em que está trabalhando
neste semestre ou trimestre. Todas as pesquisas e devidas diligências relacionadas a concorrentes,
novos entrantes, soluções ou produtos substitutos e alternativos, canais de distribuição, margens e
estruturas de custos típicas na cadeia de suprimento, fornecedores terceirizados na China... Todas
essas pesquisas agora podem ser realizadas com este método. Experimente-o! Isso economizará
muito tempo e aumentará significativamente a qualidade e a eficiência de sua devida diligência.
Capítulo 2
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
Exercício 1
Moldar uma estratégia empreendedora pessoal pode ser visto como o equivalente pessoal do
desenvolvimento de um plano de negócios. Assim como o planejamento em outras situações, o
processo em si é mais importante que o plano.
O segredo é o processo e a disciplina que tornam um indivíduo responsável por avaliar e moldar
escolhas e iniciar uma ação que faz sentido, em vez de simplesmente deixar as coisas acontecerem.
Ter um senso de direção de longo prazo pode ser altamente motivador. Também pode ser
extremamente útil para se determinar quando dizer não (o que é muito mais difícil do que dizer
sim) e pode amenizar palpites impulsivos com um objetivo estratégico mais ponderado. Isso é
importante porque as escolhas de hoje, sejam elas pensadas ou não, se tornam os fatos registrados
de amanhã. Eles podem acabar moldando o empreendedor de maneiras que ele pode não
considerar tão atraentes dez anos depois e, pior, também podem resultar no fracasso em conseguir
exatamente as experiências necessárias para proporcionar oportunidades de alta qualidade no
futuro.
Portanto, a estratégia pessoal pode ser inestimável, mas não precisa ser uma ordem de prisão. É
um ponto de partida, e não um contrato de escravidão, e pode mudar ao longo do tempo – e
certamente o fará. Esse processo de desenvolvimento de uma estratégia pessoal para a carreira de
um empreendedor é muito individual e, em certo sentido, é impulsionado pelo próprio indivíduo.
Os motivos para o planejamento são semelhantes àqueles para o desenvolvimento de um plano de
negócios (veja o Capítulo 7). O planejamento ajuda um empreendedor a administrar os riscos e as
incertezas do futuro; ajuda a trabalhar melhor, em vez de simplesmente trabalhar mais; mantém o
indivíduo em um quadro mental voltado para o futuro; ajuda a desenvolver e atualizar uma
estratégia mais aguçada por testar a sensibilidade de suas ideias e abordagens com outras pessoas;
ajuda a motivar; proporciona uma “orientação para resultados”; ajuda a tornar o indivíduo eficaz
para administrar e lidar com algo que é, por natureza, uma função estressante; e assim por diante.
As explicações e motivos apresentados para não se fazer um planejamento, como aquelas que
abordaremos no Capítulo 7, são que os planos tornam-se desatualizados assim que ficam prontos e
que ninguém sabe o que o futuro lhe reserva e que é perigoso se comprometer com tantas
incertezas. Além disso, a pessoa ansiosa e precavida pode achar que estabelecer objetivos pessoais
cria mais uma fonte de tensão e pressão e aumenta o medo do fracasso. Também existe a
possibilidade de que opções futuras ou ainda desconhecidas, que realmente podem ser mais
atraentes que a escolhida, podem ser perdidas ou excluídas.
O compromisso com um objetivo voltado para a carreira, especialmente no caso de um
empreendedor mais jovem e que não tem muita experiência com o mundo real, pode ser
prematuro. Para a pessoa inclinada a ser um competidor e realizador compulsivo e obsessivo,
estabelecer objetivos pode botar ainda mais lenha na fogueira. E, invariavelmente, alguns eventos e
fatores ambientais além de seu controle podem impulsionar ou afundar os melhores planos.
Planos pessoais fracassam pelos mesmos motivos que) os planos de negócios, incluindo a
frustração quando o plano parece não funcionar imediatamente e problemas de mudança de
comportamento de uma rotina voltada a atividades para uma rotina voltada a objetivos. Outros
problemas são o desenvolvimento de planos baseados em missões admiráveis, como melhorar o
desempenho, em vez dos objetivos, e o desenvolvimento de planos que não conseguem antecipar
obstáculos e aqueles que não apresentam marcas de progresso, avaliações etc.
QUADRO 2.7
Descascando a cebola
Desconhecida do empreendedor e da
Conhecida do empreendedor e da equipe
equipe
Existem dois obstáculos potenciais aos esforços de autoavaliação. Primeiro, é difícil obter
feedback; segundo, é difícil receber e se beneficiar dele. Todo mundo possui um quadro pessoal de
referências, valores etc., que influencia as primeiras impressões. Portanto, é quase impossível um
indivíduo obter de outra pessoa uma visão imparcial de si mesmo. Além disso, na maioria das
situações sociais, as pessoas normalmente apresentam autoimagens que elas desejam preservar,
proteger e defender; e normalmente existem regras de comportamento que proíbem as pessoas de
dizer às outras que estas apresentam um rosto ou uma impressão que difere do que a pessoa pensa
que está sendo apresentado. Por exemplo, a maioria das pessoas não diz a um desconhecido,
durante uma conversa, que há um pedaço de alface escandalosamente preso em seus dentes da
frente.
O primeiro passo para autoavaliação de um indivíduo é gerar dados através da observação de seus
pensamentos e ações e obter feedback de outras pessoas para o objetivo de (1) tomar consciência de
pontos cegos e (2) reforçar ou mudar a percepção existente de pontos fortes e pontos fracos.
Depois que o indivíduo gera os dados necessários os próximos passos no processo de
autoavaliação são estudar os dados gerados, desenvolver insights e estabelecer objetivos de estudo
para conquistar aprendizados, experiências etc.
Por fim, as escolhas podem ser feitas em termos de objetivos e oportunidades a serem criados ou
aproveitados.
Um provérbio escocês diz: “O maior presente que Deus nos deu é nos vermos como os outros nos
veem”. Um denominador comum entre empreendedores bem-sucedidos é o desejo de saber como
estão se saindo e em que ponto estão. Eles têm um talento especial incomum para fazer as
perguntas certas sobre seu desempenho no tempo certo. Essa sede de saber é impulsionada por uma
percepção aguçada de que esse feedback é vital para melhorar seu desempenho e aumentar suas
chances de sucesso.
Receber feedback de outras pessoas pode ser uma experiência muito difícil. A seguinte lista de
orientações para receber feedback pode ajudar:
• O feedback precisa ser solicitado, de preferência, daqueles que conhecem bem o indivíduo (por
exemplo, alguém com quem ele trabalhou) e sejam de confiança. O contexto no qual a pessoa é
conhecida precisa ser considerado. Por exemplo, um colega de trabalho pode ser mais capaz de
comentar as habilidades administrativas de um indivíduo do que um amigo. Ou um amigo pode
ser capaz de comentar sobre a motivação ou os possíveis efeitos sobre a situação familiar. É
importante conversar com a pessoa antes de lhe pedir para fornecer qualquer impressão escrita
específica e para indicar as áreas específicas que ela pode comentar. Uma forma de fazer isso é
formular as perguntas primeiro. Por exemplo, pode-se dizer à pessoa: “Estou me fazendo a
seguinte pergunta [...] e gostaria muito de suas impressões sobre essa questão”.
• É necessário solicitar comentários específicos em áreas que são especialmente importantes em
termos pessoais ou para o sucesso da empresa e pedir mais detalhes se a pessoa que está dando o
feedback não for clara. Uma boa forma de verificar se uma declaração está sendo entendida
corretamente é parafrasear a declaração. A pessoa precisa ser estimulada a descrever e dar
exemplos de situações ou comportamentos específicos que influenciaram as impressões que ela
desenvolveu.
• O feedback é mais útil se não for totalmente positivo ou totalmente negativo, mas deve ser
possível tomar alguma ação a seu respeito.
• O feedback precisa ser obtido por escrito, de modo que a pessoa possa separar um tempo para
pensar nas perguntas, e para que seja possível reunir o feedback de diversas fontes.
• A pessoa que está pedindo feedback precisa ser honesta e direta consigo mesma e com os
outros.
• O tempo é precioso demais, e o caminho para o sucesso da nova empresa é traiçoeiro demais
para se confundir essa atividade com uma brincadeira ou com objetivos ocultos. A pessoa que
está recebendo feedback precisa evitar ficar na defensiva e levar os comentários negativos para o
lado pessoal.
• É importante ouvir cuidadosamente o que está sendo dito e pensar a respeito. Deve-se evitar
responder, debater ou racionalizar.
• É necessário fazer uma avaliação de se a pessoa que solicitou o feedback considerou todas as
informações importantes e foi realista em suas inferências e conclusões.
• É necessário pedir ajuda na identificação de assuntos ou padrões em comum, possíveis
implicações dos dados da autoavaliação e certos pontos fracos (incluindo inferências ou
conclusões alternativas) e outras informações relevantes que possam estar faltando.
• É necessário buscar feedback adicional de outras pessoas para verificar o feedback e
complementar os dados.
• Chegar a conclusões ou decisões finais é algo que precisa ser deixado para depois.
Juntando tudo
A Figura 2.3 mostra a adequação relativa entre um empreendedor e uma oportunidade de
negócio, considerando suas atitudes e comportamentos relevantes e habilidades administrativas
gerais, experiência, conhecimento e contatos relevantes, e considerando as demandas da função da
oportunidade da empresa. Uma avaliação perfeita é quase impossível. A autoavaliação não é tão
simples. O processo é cumulativo e o que um empreendedor faz em relação aos pontos fracos, por
exemplo, é muito mais importante do que quais são especificamente os pontos fracos. Afinal de
contas, todo mundo tem pontos fracos.
FIGURA 2.3
Pensando no futuro
Assim como acontece com o desenvolvimento de planos de negócios, o estabelecimento de
objetivos é importante no planejamento pessoal. Poucas pessoas são eficazes como estabelecedoras
de objetivos. Talvez menos de 5% algum dia se comprometeu com seus objetivos a ponto de
escrevê-los, e talvez menos de 25% dos adultos sequer estabeleceram objetivos mentalmente.
Mais uma vez, o estabelecimento de objetivos é um processo, uma forma de lidar com o mundo.
O eficaz estabelecimento de objetivos exige tempo, autodisciplina, compromisso, dedicação e
prática. Os objetivos, depois de estabelecidos, não se tornam alvos estáticos.
Algumas etapas distintas estão envolvidas no estabelecimento de objetivos, etapas estas que são
repetidas diversas vezes quando mudam as condições:
• Estabelecer objetivos que sejam SMART, ou seja, específicos e concretos (e não abstratos e
desfocados), mensuráveis, alcançáveis, realistas e relacionados ao tempo (isto é, específicos
quanto ao que será realizado ao longo de determinado período).
• Estabelecer prioridades, incluindo a identificação de conflitos e compensações e como estes
podem ser resolvidos.
• Identificar problemas e obstáculos potenciais que podem impedir que os objetivos sejam
alcançados.
• Especificar ações que devem ser realizadas para se alcançar o objetivo.
• Indicar como os resultados serão medidos.
• Estabelecer marcos para analisar o progresso e assinalar datas específicas em um calendário.
• Identificar os riscos envolvimentos no cumprimento dos objetivos.
• Identificar ajudas e outros recursos que podem ser necessários para atingir os objetivos.
• Analisar periodicamente o progresso e rever os objetivos.
Exercício 2
O exercício a seguir vai ajudar você a reunir dados, vindos de si mesmo e de outras pessoas;
avaliar os dados que você reuniu; e moldar uma estratégia empreendedora pessoal.
O exercício exige sua participação ativa. O tempo estimado para realizar o exercício é de 1,5 a 3
horas. Aqueles que realizaram o exercício — alunos, empreendedores praticantes e outros —
relatam que o processo de autoavaliação valeu a pena e exigiu esforço. As questões abordadas
exigirão uma boa quantidade de raciocínio e, é claro, não existem respostas erradas.
Embora este seja um exercício de autoavaliação, será útil receber feedback. Você deve decidir se
vai solicitar feedback e se vai compartilhar com outras pessoas os dados que reuniu. O exercício só
será valioso se você for honesto e realista em sua abordagem.
Está muito claro que um conjunto complexo de fatores transforma alguém em um empreendedor
de sucesso. Nenhum indivíduo tem todas as qualidades pessoais, habilidades administrativas e afins
indicadas no exercício. E, mesmo que um indivíduo possuísse a maioria deles, seus valores,
preferências etc. podem transformá-lo em alguém com pouca possibilidade de ter sucesso como
empreendedor.
A presença ou ausência de qualquer fator não garante o sucesso ou o fracasso de um
empreendedor. Antes de continuar, lembre-se que não é vergonhoso tentar alcançar as estrelas e
não conseguir. O fracasso é não tentar alcançar as estrelas.
Nome:
Data:
O que rouba sua energia, e por quê? Estes itens proporcionam a você a maior quantidade de
insatisfação pessoal, ansiedade ou descontentamento e roubam sua energia e sua motivação.
Classificação (do maior para o menor) dos itens que você acabou de listar:
Daqui a 20 ou 30 anos, como você gostaria de passar um mês ideal? Inclua em sua descrição seus
desejos em termos de estilo de vida, estilo de trabalho, renda, amigos etc., e um comentário sobre o
que atrai você e o que o afasta desse ideal.
Complete o guia de geração de ideias no Capítulo 5 e liste os atributos comuns aos dez negócios
dos quais você gostaria de participar e aos dez negócios dos quais não gostaria:
Quais desses atributos dariam energia a você e quais a roubariam, e por quê?
20 minutos ou menos 5 4 3 2 1
30 minutos ou menos 5 4 3 2 1
60 minutos ou menos 5 4 3 2 1
M ais de 60 minutos 5 4 3 2 1
M ais de 70 horas 5 4 3 2 1
55 a 60 horas 5 4 3 2 1
40 horas ou menos 5 4 3 2 1
Casamento 5 4 3 2 1
Família 5 4 3 2 1
M ais de 60% 5 4 3 2 1
30% a 60% 5 4 3 2 1
M enos de 30% 5 4 3 2 1
Nunca 5 4 3 2 1
Padrão de vida
Cinto apertado/ganhos de capital adiados 5 4 3 2 1
Desenvolvimento pessoal
Utilização de habilidades e formação acadêmica 5 4 3 2 1
Contribuição à sociedade 5 4 3 2 1
Status e prestígio 5 4 3 2 1
Capital necessário
Seu 5 4 3 2 1
De outras pessoas 5 4 3 2 1
Outras considerações 5 4 3 2 1
Imagine que você tivesse $ 1.000 para comprar os itens que você classificou na página anterior.
Indique a seguir como você alocaria o dinheiro. Por exemplo, o item mais importante deve receber
a maior quantidade. Você pode não gastar nada em alguns itens, gastar uma quantidade igual em
outros, e assim por diante. Depois que você alocar os $ 1.000, classifique os itens em ordem de
importância, sendo que o mais importante é o número 1.
Discuta o que você aprendeu sobre si mesmo, sobre ser autônomo, sobre a administração de
pessoas e sobre trabalhar em troca de dinheiro e para outra pessoa, versus criar ou aproveitar uma
oportunidade e construir algo do zero.
Liste e discuta sua experiência de trabalho em tempo integral, incluindo a descrição de tarefas
específicas nas quais você inovou e liderou algo, o número de pessoas que você liderou, se você foi
bem-sucedido, e assim por diante.
Discuta por que você se envolveu em cada uma das atividades de emprego listadas e quais
influenciaram especificamente cada uma de suas decisões.
Discuta o que você aprendeu sobre si mesmo; sobre a criação, a inovação ou a geração de um
projeto, clube ou empresa; e sobre fazer dinheiro.
Liste e discuta outras atividades, como esportes, das quais você participou; indique se cada
atividade foi individual (por exemplo, xadrez ou tênis) ou em equipe (por exemplo, futebol). Você
teve uma função de liderança?
Se você alguma vez foi demitido ou pediu demissão de um emprego de meio expediente ou
expediente integral, indique o emprego, por que você foi demitido ou pediu demissão, as
circunstâncias, e o que você aprendeu e que diferença isso fez na hora de escolher trabalhar por
conta própria ou para outra pessoa.
Se você mudou de emprego ou foi transferido, indique o emprego, por que a mudança ocorreu, as
circunstâncias e o que você aprendeu com essas experiências.
Dentre os indivíduos que foram seus mentores e que mais o influenciaram, algum deles possui e
administra sua própria empresa ou está envolvido independentemente em uma profissão (por
exemplo, um profissional liberal, um contador etc.)? Como essas pessoas o influenciaram? Como
você vê essas pessoas e suas funções? O que você aprendeu com elas sobre autonomia? Inclua uma
discussão das coisas que o atraem ou afastam, as compensações que eles tiveram de considerar, os
riscos que enfrentaram e as recompensas que receberam, e as estratégias de entrada que
funcionaram para eles.
Se você alguma vez iniciou uma empresa de qualquer tipo ou trabalhou em uma pequena
empresa, liste as coisas de que mais gostava e as de que menos gostava, e por quê:
Se você alguma vez trabalhou em uma grande empresa (mais de 500 funcionários ou mais de $ 50
milhões em vendas), liste as coisas de que mais gostava e as de que menos gostava no trabalho, e
por quê.
Tenacidade 5 4 3 2 1
Disciplina 5 4 3 2 1
Coragem
Força moral 5 4 3 2 1
Ex perimento destemido 5 4 3 2 1
M inimiza o risco 5 4 3 2 1
Compartilha o risco 5 4 3 2 1
Capacidade de se adaptar 5 4 3 2 1
Liderança
Ser pró-ativo 5 4 3 2 1
Ter paciência 5 4 3 2 1
Estresse
Os custos da acomodação 5 4 3 2 1
Valores
Até que ponto os valores convencionais são mantidos 5 4 3 2 1
Ética e integridade 5 4 3 2 1
Planejamento de marketing 5 4 3 2 1
Precificação de produtos 5 4 3 2 1
Administração de vendas 5 4 3 2 1
Telemarketing 5 4 3 2 1
Serviço ao cliente 5 4 3 2 1
Administração de distribuição 5 4 3 2 1
Administração de produtos 5 4 3 2 1
Operações/produção
Administração de produção 5 4 3 2 1
Controle de estoque 5 4 3 2 1
Controle de qualidade 5 4 3 2 1
Compras 5 4 3 2 1
Avaliação do emprego 5 4 3 2 1
Finanças
Contabilidade 5 4 3 2 1
Provisão de capital 5 4 3 2 1
Administração
Resolução de problemas 5 4 3 2 1
Comunicação 5 4 3 2 1
Tomada de decisões 5 4 3 2 1
Administração de projetos 5 4 3 2 1
Negociação 5 4 3 2 1
Administração de pessoal 5 4 3 2 1
Computadores/TI/Internet 5 4 3 2 1
Interpessoal/equipe
Liderança/visão/influência 5 4 3 2 1
Feedback 5 4 3 2 1
Administração de conflitos 5 4 3 2 1
Leis
Corporações e empresas limitadas 5 4 3 2 1
Contratos 5 4 3 2 1
Impostos 5 4 3 2 1
Leis imobiliárias 5 4 3 2 1
Falência 5 4 3 2 1
Habilidades únicas 5 4 3 2 1
PASSO 4
Com base em uma análise das informações fornecidas nos Passos 1-3, indique os itens que v ocê gostaria de
adicionar a uma lista de “fazer”, incluindo (1) necessidade de conselheiros externos na equipe de confiança;
(2) composição do conselho; (3) membros de equipe adicionais; e (4) outros
conhecimentos/habilidades/experiências.
20 minutos ou menos Fo A Fr Sc
30 minutos ou menos Fo A Fr Sc
60 minutos ou menos Fo A Fr Sc
M ais de 60 minutos Fo A Fr Sc
M ais de 70 horas Fo A Fr Sc
55 a 60 horas Fo A Fr Sc
40 horas ou menos Fo A Fr Sc
Casamento Fo A Fr Sc
Família Fo A Fr Sc
M ais de 60% Fo A Fr Sc
30% a 60% Fo A Fr Sc
M enos de 30% Fo A Fr Sc
Nunca Fo A Fr Sc
Padrão de vida
Cinto apertado/ganhos de capital adiados Fo A Fr Sc
Desenvolvimento pessoal
Utilização de habilidades e formação acadêmica Fo A Fr Sc
Contribuição à sociedade Fo A Fr Sc
Status e prestígio Fo A Fr Sc
Capital necessário
Seu Fo A Fr Sc
De outras pessoas Fo A Fr Sc
Outras considerações Fo A Fr Sc
Por favor, faça quaisquer comentários que puder sobre assuntos adicionais, como minha energia,
saúde e estabilidade emocional; minha criatividade e capacidade de inovação; minha inteligência;
minha capacidade de inspirar; meus valores; e assim por diante.
PASSO 2
Por favor, marque a coluna adequada próxima às declarações sobre os atributos das funções de
empreendedores para indicar minha adequação e acrescente quaisquer comentários adicionais que
você queira fazer.
Estresse
Os custos da acomodação Fo A Fr SC
Valores
Até que ponto os valores convencionais são mantidos Fo A Fr SC
Ética e integridade Fo A Fr SC
Comentários adicionais:
PASSO 3
Por fav or, marque a coluna adequada próxima às declarações sobre as competências administrativ as e
acrescente quaisquer comentários adicionais que v ocê queira fazer.
Planejamento de marketing Fo A Fr SC
Precificação de produtos Fo A Fr SC
Administração de vendas Fo A Fr SC
M ala direta/vendas por catálogo Fo A Fr SC
Telemarketing Fo A Fr SC
Serviço ao cliente Fo A Fr SC
Administração de distribuição Fo A Fr SC
Administração de produtos Fo A Fr SC
Operações/produção
Administração de produção Fo A Fr SC
Controle de estoque Fo A Fr SC
Controle de qualidade Fo A Fr SC
Compras Fo A Fr SC
Avaliação do emprego Fo A Fr SC
Finanças
Contabilidade Fo A Fr SC
Provisão de capital Fo A Fr SC
Administração
Resolução de problemas Fo A Fr SC
Comunicação Fo A Fr SC
Tomada de decisões Fo A Fr SC
Administração de projetos Fo A Fr SC
Negociação Fo A Fr SC
Administração de pessoal Fo A Fr SC
Computadores/TI/Internet Fo A Fr SC
Interpessoal/equipe
Liderança/visão/influência Fo A Fr SC
Feedback Fo A Fr SC
Administração de conflitos Fo A Fr SC
Leis
Corporações e empresas limitadas Fo A Fr SC
Contratos Fo A Fr SC
Impostos Fo A Fr SC
Leis imobiliárias Fo A Fr SC
Falência Fo A Fr SC
Habilidades únicas Fo A Fr SC
Comentários adicionais:
PASSO 4
Por fav or, av alie meus pontos fortes e meus pontos fracos.
Em que área ou áreas você vê maior potencial ou existência de pontos fortes em termos da
oportunidade de negócio que discutimos, e por quê?
Em que área ou áreas você vê maior potencial ou existência de pontos fracos em termos da
oportunidade de negócio que discutimos, e por quê?
Se você conhece meus sócios e a oportunidade de negócio, qual é sua avaliação de sua adequação
a mim e a adequação entre eles?
Dada a oportunidade de negócio, o que você sabe dos meus sócios e sua avaliação dos meus
pontos fracos, devo considerar algum membro adicional para minha equipe administrativa, meu
conselho administrativo e minha equipe de confiança de conselheiros? Em caso positivo, quais
devem ser seus pontos fortes e experiências relevantes? Você pode sugerir alguém?
Por favor, faça quaisquer outras sugestões que seriam úteis para mim (por exemplo, comentários
sobre o que você percebe que eu gosto de fazer, meu estilo de vida, estilo de trabalho, padrões
evidentes no meu estoque de habilidades, as implicações de minha constelação particular de pontos
fortes e pontos fracos administrativos e histórico, as implicações de duração do aprendizado, ou
pessoas importantes que você considera que eu deveria conhecer).
PASSO 2
Liste, em 3 minutos, os objetiv os a serem alcançados nos próximos 7 anos. (Se v ocê for um estudante
univ ersitário, considere os próximos 4 anos.)
PASSO 3
Liste, em 3 minutos, os objetiv os que v ocê gostaria de alcançar se tiv esse exatamente 1 ano de v ida a partir
de hoje. Pressuponha que v ocê terá uma boa saúde neste ínterim, mas não poderia adquirir um seguro de
v ida ou pegar emprestada uma grande quantidade de dinheiro para um “lance final”. Além disso,
pressuponha que v ocê poderia passar este último ano de v ida fazendo qualquer coisa que v ocê queira.
PASSO 4
Liste, em 6 minutos, seus objetiv os reais e os objetiv os que v ocê gostaria de alcançar ao longo de toda a
v ida.
PASSO 5
Discuta a lista a partir do Passo 4 com outra pessoa e, em seguida, aperfeiçoe e esclareça suas declarações
de objetiv os.
PASSO 6
Classifique seus objetiv os de acordo com a prioridade.
PASSO 7
Concentre-se nos três objetiv os do topo e faça uma lista de problemas, obstáculos, incoerências etc. que
v ocê v ai encontrar ao tentar alcançar esses objetiv os.
PASSO 8
Decida e declare como v ocê v ai eliminar quaisquer problemas, obstáculos, incoerências etc. importantes.
PASSO 9
Para os três objetiv os do topo, escrev a todas as tarefas ou ações que v ocê precisa desenv olv er para ajudá-
lo a alcançar cada objetiv o e indique como serão medidos os resultados.
É importante organizar os objetivos em ordem de prioridade.
PASSO 12
Faça uma lista de problemas, obstáculos, incoerências etc.
PASSO 13
Decida e declare como v ocê v ai eliminar quaisquer problemas, obstáculos, incoerências etc. importantes e
ajuste a lista do Passo 12.
PASSO 14
I dentifique os riscos env olv idos e os recursos e outras ajudas necessárias.
Observação sobre o estabelecimento de objetivos: Extraia a Parte V deste exercício, mantenha
uma cópia em arquivo, e repita o mesmo exercício pelo menos uma vez ao ano ou quando ocorrer
um evento crítico (mudança de emprego, casamento, filhos, morte na família).
Capítulo 5
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
Exercício 1
O devastador tsunami na Ásia no final de dezembro de 2004 foi um lembrete do impacto absurdo
e que muda nossas vidas que um evento como esse pode ter. A metáfora da mudança da “maré” foi
usada em edições anteriores para alertar os aspirantes a empreendedores a investigarem, fazerem
brainstorm e visualizarem as futuras alterações quânticas na tecnologia e na sociedade. Como
vimos, as mudanças de maré, como a eletricidade, o avião, o circuito integrado (Lei de Moore) e as
comunicações sem fio têm sido as origens de novos grandes setores industriais. Quais serão as
prováveis mudanças tecnológicas e sociais durante os próximos 20 a 30 anos que vão gerar a
próxima geração de novas indústrias? Empreendedores e inovadores que antecipam as respostas a
essa pergunta complexa se tornarão o Gates ou o Jobs da próxima geração.
Objetivo
O objetivo deste exercício é fornecer um caminho para explorar esta questão. Esperamos poder
ampliar seu horizonte de conhecimento tecnológico e enriquecer sua visão do próximo quarto de
século — a janela de sua vida em que você tem a melhor chance de criar e aproveitar as
megaoportunidades que se aproximam.
Pedimos que você faça um pouco de pesquisa e reflexão sobre os futuros rumos da tecnologia e
como as pesquisas científicas que estão acontecendo hoje podem levar a revoluções no
conhecimento. Esses novos conhecimentos científicos, por sua vez, levarão a inovações. Quando
abastecidas, inflamadas e dirigidas pelo empreendedorismo, algumas dessas inovações se tornarão
comercializadas e, durante esse processo, vão criar indústrias totalmente novas.
Os passos seguintes vão ajudá-lo nessa tarefa de investigação, mas você não deve limitar seus
esforços apenas a estes passos. Você também precisa buscar o máximo possível de outras fontes
usando o Google e outros recursos. Certifique-se de “seguir os dados e seu instinto”. Se você
encontrar uma área da ciência e da tecnologia que o anima — ou que você instintivamente acredita
que pode mudar a maneira como as pessoas vão viver, trabalhar, aprender ou relaxar — vá atrás
dela.
PASSO 1
Visite o resumo (em inglês) da National Science Foundation sobre as 50 descobertas que a NSF
acredita terem tido o maior impacto sobre a vida das pessoas
(<www.nsf.gov/about/history/nifty50/index.jsp>). Você vai encontrar descobertas revolucionárias,
como códigos de barra, CAD/CAM, genoma, reconhecimento de voz, técnicas de visualização do
computador e navegadores web. Todos são exemplos de mudanças da maré — os semeadores e
orientadores de novas indústrias que discutimos neste capítulo e no Capítulo 3.
PASSO 2
Selecione uma ou duas das 50 descobertas que mais interessam a você. Agora examine o número
10 na lista: “técnicas de visualização no computador”. Observe as 11 indústrias e campos que foram
significativamente impactados por essa descoberta básica. Dessas 11, escolha uma ou duas sobre
a(s) qual(is) você sabe menos, mas pela(s) qual(is) tem mais paixão. Realize algumas buscas de
palavras-chave no Google e afins para identificar produtos, empresas ou segmentos de mercado que
são dirigidos pelos empresários por trás dessas inovações. Repita esse processo para todas as grandes
descobertas que atraem você. Depois de ter uma boa noção de como essas relações existem vá para
o Passo 3.
PASSO 3
Reúna-se com 2 a 5 de seus colegas de turma no café da manhã, almoço ou jantar e compartilhe o
que você aprendeu, suas observações e insights sobre como as indústrias nascem, e que novos
campos potenciais podem surgir.
• Que padrões e características comuns você encontrou? Quais são os prazos de entrega e os
indicadores iniciais?
• Quais tecnologias têm o maior impacto potencial futuro sobre a forma como as pessoas vivem,
trabalham, aprendem?
• Quem são os empreendedores que criam as empresas baseadas em tecnologia que utilizam essas
descobertas? Quais são seus antecedentes, preparação, habilidades, experiência, e assim por
diante? Existe algum denominador comum?
• Alguma de suas ideias, suposições e crenças foram alteradas em relação a onde e quando as
próximas grandes oportunidades vão surgir?
PASSO 4
Visite os websites da Finep (<www.finep.gov.br>) e Fapesp (<www.fapesp.br>) e encontre a lista
de 10 áreas de programas diferentes, inclusive de geociências, nanotecnologia, pesquisa ambiental e
engenharia. Selecione uma que interesse mais e sobre a qual você sabe menos. Vá até o site e
identifique as subvenções de pesquisa concedidas por essas instituições a esse tema ao longo dos
últimos anos.
• Que temas e problemas estão atraindo mais dinheiro e atividade? Por que isso acontece?
• Que novos conhecimentos científicos e/ou avanços revolucionários podem ser esperados, e
quais são alguns dos impactos potenciais da mudança de maré?
• Quais aplicações comerciais potenciais podem ser vislumbradas a partir dessas novas
tecnologias?
• Que tecnologias, produtos e serviços existentes têm maior probabilidade de ser interrompidos e
substituídos por essas inovações?
• Quais são as tendências sociais que podem ser combinadas com essas tecnologias futuras para
criar indústrias totalmente novas?
PASSO 5
Na sala de aula, ou em grupos informais, discuta e explore as implicações de suas descobertas a
partir do exercício.
• Cite 2 ou 3 mudanças de maré futuras que você prevê.
• Que outras explorações você precisa fazer?
• Como você pode se preparar melhor para ser capaz de reconhecer e aproveitar essas
oportunidades futuras agora, daqui a 10 anos e daqui a 15 anos?
• Que implicações você vê para sua estratégia empreendedora pessoal, que você começou a
desenvolver no Capítulo 2 — especialmente no que diz respeito aos projetos nos quais trabalhar,
próxima formação acadêmica e experiência de trabalho e acréscimos na equipe de confiança e
mentores?
Exercício 2
Depois de ter digerido totalmente as discussões deste capítulo, você deve se voltar para o preparo
de uma análise da indústria, utilizando os critérios listados no Quadro 5.3 (Veja as páginas 134-
135). Deve ser uma análise inicial, e não um esforço excessivamente exaustivo. Sua cadeia de
valores deve ser traçada em uma ou duas páginas no máximo, com as outras perguntas/questões
respondidas em itens listados em uma a duas páginas no máximo. Em vez de um esforço exaustivo,
este exercício é projetado para fazer você chegar a uma forma específica de pensar.
Sua tarefa é completar uma análise simples, clara e articulada da cadeia de valor de uma indústria
que seja de seu interesse. Analise a cadeia de valor como ela é atualmente. Em seguida, realize uma
análise do fluxo de informações dessa cadeia de valor, cobrindo uma análise do fluxo de
informações através das diversas fases da cadeia de valor. Em seguida, amplie seu pensamento para
criar um grupo de valores dessa indústria. Certifique-se de pensar multidimensionalmente, e não
apenas de forma linear. Descreva ou represente visualmente o impacto dessas múltiplas dimensões
sobre o fluxo de bens/serviços e informações. Explique como a expansão da cadeia de valor
aumenta ou intensifica o valor total para esse setor, em comparação com a cadeia linear. Por fim,
forneça uma análise sucinta das margens praticadas em cada etapa da cadeia de valor (quais etapas
têm maiores e menores margens? Que etapas da cadeia são as mais lucrativas?), com ênfase
específica nas condições extremas (máximas/mínimas).
Em síntese, considere o seguinte:
Se você está planejando levar para o mercado um produto de alta tecnologia deve considerar a
estrutura discutida em Cruzando o abismo, de Geoffrey Moore e Regis McKenna, e olhar para a
cadeia de valor e o(s) segmento(s) específico(s) da indústria em que pretende se concentrar. Você
também deve considerar a análise dos textos de Clayton M. Christensen sobre inovação disruptiva
em O dilema da inovação, entre outros.
Exercício 3
Quadrados criativos
PASSO 1
Div ida seu grupo: (a) separando-o em v ários grupos de três ou mais pessoas cada e (b) tendo, pelo menos,
cinco pessoas trabalhando sozinhas.
PASSO 2
Mostre a figura a seguir a todos e peça aos grupos e aos indiv íduos para contarem o número total de
quadrados na figura. Suponha que a figura é uma caixa quadrada em um plano. Na contagem, os ângulos
de qualquer quadrado dev em ser retos, e as laterais dev em ser de igual comprimento.
PASSO 3
Discuta os processos criativ os pelos quais os grupos e os indiv íduos chegaram a suas respostas.
Exercício 4
Nome:
Data:
PASSO 1
Gere uma lista com o máximo possív el de ideias para nov as empresas
Como consumidor ou usuário pagante, pense nas maiores, mais frustrantes e mais dolorosas
tarefas ou situações que você deve enfrentar continuamente, e que seria muito bom eliminar ou
minimizar. Muitas vezes, estas são as sementes de oportunidades reais. Pensar em qualquer
necessidade insatisfeita ou mal satisfeita dos clientes que você sabe que resultaram de mudanças
regulatórias, mudanças tecnológicas, conhecimentos e lacunas de informações, atrasos, assimetrias,
incoerências e afins vai ajudar você a gerar essa lista. Além disso, pense sobre vários produtos e
serviços (e seus respectivos substitutos) e os fornecedores desses produtos ou serviços. Se você
souber de alguma fraqueza ou vulnerabilidade pode descobrir ideias para novos empreendimentos.
PASSO 2
Aumente sua lista, se isso for possív el
Pense em seus interesses pessoais, seu estilo de vida desejado, seus valores, o que você acha que
pode fazer muito bem, e as contribuições que você gostaria de fazer.
PASSO 3
Peça a pelo menos três pessoas que o conhecem bem para olharem sua lista, e rev eja-a para refletir sobre
as nov as ideias que surgiram com esse intercâmbio. Veja a discussão sobre como obter feedback no
Capítulo 2.
PASSO 4
Anote insights, observ ações e conclusões que surgiram sobre suas ideias de negócios ou suas preferências
pessoais.
Quais delas resolvem o maior ponto de dor/sofrimento/agravamento/frustração pelo qual você (e
outras pessoas com quem você tem falado) pagaria um preço premium significativo para eliminar?
Capítulo 6
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
Exercício 1
QuickScreen
Potencial geral:
Preços e custos
Vantagem do tempo de atendimento (produto, tecnologia, recursos humanos, Concorrência lenta Nenhuma
recursos, localização)
Potencial geral
378
IV. Potencial geral
2. Vantagens competitivas
6. Tempo de resposta
a.
b.
c.
d.
e.
Descreva rapidamente sua visão, o conceito da oportunidade e sua estratégia. Qual é sua visão
para a empresa? Qual é a proposta de criação de valor? Qual é o problema, desejo ou necessidade
significativo que ela vai resolver? Por que esse problema/gargalo/ponto crítico/irritação/alegria é
importante o suficiente para um cliente ou usuário final pagar um preço premium ou acima da
média por ele? Por que essa oportunidade existe agora para você? Você consegue descrever o
conceito e sua estratégia de entrada em 25 palavras ou menos?
Exercício 3
Preencha este perfil indicando, para cada critério, onde sua empresa está localizada no continuum
potencial. Marque sua melhor estimativa de onde sua ideia se apoia, sendo o mais específico
possível. Se você tiver dificuldades, é possível encontrar informações em revistas e boletins
informativos de outros empreendedores, feiras comerciais e exposições ou em recursos on-line.
M ercado: Orientado pelo mercado; identificado; receita recorrente Sem foco; receita única
Necessidade Nicho
Estrutura de mercado Indústria emergente ou imperfeita, competição fragmentada Indústria altamente concentrada ou madura ou
em declínio
Tamanho do mercado Potencial de $ 100+ milhões a $ 1 bilhão em vendas Desconhecido, menos de $ 20 milhões ou vendas
multibilionárias
Análise Econômica
Lucros depois dos impostos 10% a 15% ou mais; durável M enos de 15% e frágil
Potencial de ROI 25% ou mais; alto valor M enos de 15% a 20%; baix o valor
Tax a interna de retorno potencial 25% ou mais por ano M enos de 15% por ano
Características do flux o de caix a livre: Favorável; sustentável; 20 a 30% ou mais de vendas M enos de 10% de vendas
Tempo para o ponto de equilíbrio — M enos de 2 anos; ponto de equilíbrio estacionado M ais de 4 anos; ponto de equilíbrio subindo
flux o de caix a
Tempo para o ponto de equilíbrio — M enos de 2 anos; ponto de equilíbrio estacionado M ais de 4 anos; ponto de equilíbrio subindo
P&L
Valuations múltiplas e comparáveis P/L = 20+ X; 8–10+ X EBIT; P/L = 5+ X; EBIT = 3–4+ X;
1,5–2+ X Receita Receita = 0,4X
flux o de caix a livre 8–10+ X
M ecanismo e estratégia de saída Opções presentes ou estimadas Indefinidos, investimento sem liquidez
Contex to do mercado de capitais Valuations favoráveis, tempo de resposta, capital disponível; Desfavorável; restrição de crédito
liquidez realizável
Custos fix os e variáveis M ais baix o; alta alavancagem operacional M ais elevado
Barreiras à entrada:
Equipe de gestão
Honestidade intelectual Saber o que eles não sabem Não quer saber o que eles não sabem
Critérios pessoais
Objetivos e adequação Conseguir o que quer, mas querer o que você ganha Surpresas
Questões positivas/negativas Sucesso alcançável/riscos limitados Linear; no mesmo continuum
Custos de oportunidade Cortes aceitáveis em salários etc. Confortáveis com o status quo
Tolerância ao risco/recompensa Risco calculado; baix a proporção R/R Avesso a riscos ou apostador
Diferenciação estratégica
Ponto de checagem
Antes de você seguir para os outros exercícios, certifique-se de que a oportunidade que você
delineou é irresistível e você pode responder à pergunta: “Por que a oportunidade existe agora?”. É
possível que você tenha de abandonar ou alterar o produto ou a ideia do serviço por trás de sua
empresa nesse ponto. A quantidade de dinheiro e de tempo necessária para colocar o produto ou
serviço no mercado e para abrir a empresa podem estar além dos seus limites. Fique atento para as
oportunidades para as quais as recompensas potenciais são muito grandes comparadas aos riscos e
vulnerabilidades e à obsolescência e à competição.
Exercício 4
Articule as razões que o fazem acreditar que sua ideia é uma oportunidade. Isso provavelmente
afetará ou “modelará” sua oportunidade. Listamos algumas questões importantes que você deve
resolver, mas você também pode querer acrescentar outras perspectivas. O principal objetivo deste
exercício é focar as lentes nos principais componentes da sua oportunidade.
Avalie a atratividade de sua oportunidade de negócio aplicando critérios de filtragem. Inclua o
seguinte:
• Qual é o problema, desejo ou necessidade crítico que seu produto ou serviço vai resolver?
• Por que esse é um problema crítico ou um sério ponto crítico que exige solução?
Quem pagará um preço premium, comparado com demais alternativas, se você puder resolver
esse problema ou desejo?
• Qual é a proposta de criação de valor? Como e por que ela vai se pagar, gerar grandes
benefícios/vantagens, e assim por diante?
• Uma breve descrição do(s) mercado(s) ou nicho(s) de mercado(s) em que você quer entrar;
• Uma descrição exata do(s) produto(s) ou serviço(s) a serem vendidos e, se for um produto,
seu(s) provável(is) uso(s) final(is). (Se seu(s) produto(s) ou serviço(s) já está(ão) comercialmente
disponível ou existe(m) como protótipo, anexe especificações, fotografias, amostras de trabalhos
etc.);
• Uma estimativa de quão perecíveis o(s) produto(s) ou serviço(s) é(são), incluindo se ele(s)
deve(m) se tornar obsoleto(s) e quando;
• Uma avaliação da existência de substitutos para o(s) produto(s) ou serviço(s);
• Uma avaliação do status do desenvolvimento e uma estimativa de quanto tempo e dinheiro
serão necessários para completar o desenvolvimento, testar o(s) produto(s) ou serviço(s) e
apresentar o(s) produto(s) ou serviço(s) ao mercado:
Tarefas de desenvolvimento
Tarefas de desenvolvimento Dinheiro necessário Meses para completar
• Uma avaliação de quaisquer grandes dificuldades na fabricação do(s) produto(s) ou prestação
do(s) serviço(s) e quanto tempo e dinheiro serão necessários para resolvê-las:
• Uma avaliação de seu principal grupo de clientes:
– Uma descrição das principais razões por que seu principal grupo de clientes vai comprar seu
produto ou serviço, incluindo se os clientes nesse grupo são acessíveis e receptivos e como seu
produto ou serviço vai acrescentar ou criar valor e o que isso significa para sua estratégia de
entrada ou de expansão:
• Uma descrição do suporte ao cliente que será necessário, como garantias, reparos e treinamento
de técnicos, vendedores, prestadores de serviço ou outros:
• Uma avaliação dos pontos fortes e fracos em relação à concorrência, à adequação do(s)
produto(s) ou serviço(s) às necessidades dos clientes, incluindo uma descrição do retorno e do
valor agregado pelo(s) serviço(s) ou produto(s):
– Uma lista de 5 a 10 perguntas cruciais que você precisa que sejam respondidas e outras
informações que você precisa conhecer para identificar bons clientes potenciais:
– Uma indicação de como os clientes compram produtos ou serviços (por exemplo, vendas diretas
de atacado ou varejo; através de representantes ou corretores de manufaturas; através de
catálogos; por mala direta, na internet):
– Uma descrição do processo de compra (isto é, onde ele ocorre e quem é o responsável final pela
aprovação dos gastos; o quê e quem influencia a venda; quanto tempo leva desde o primeiro
contato até o fechamento, a entrega e o recebimento do pagamento; e suas conclusões sobre as
vantagens competitivas que você pode conseguir e como seu produto ou serviço pode adicionar
ou criar valor):
• Uma avaliação do potencial de mercado para os produtos ou serviços da sua empresa, a
concorrência e o que for necessário para levar o produto ou serviço até o cliente e vender para
ele. (Essa análise não precisa ser exata ou abrangente, mas deve eliminar de outras considerações
as empresas que têm dificuldades óbvias no mercado.) Inclua as seguintes informações:
– Uma estimativa, para o passado, o presente e o futuro, do tamanho aproximado do potencial
total de mercado conforme medido em unidades e em Reais ou número de clientes. Ao fazer
suas estimativas, use dados de mercado disponíveis para estimar intervalos de valores e para
identificar a área (país, região, local etc.) e os dados para cada segmento, se o mercado for
segmentado:
Vendas em reais
Fontes de dados:
Pesquisador:
• Uma avaliação dos tipos de mercado em termos de preço, qualidade e serviço; grau de controle;
e assim por diante; e suas conclusões sobre quais abordagens são necessárias para entrar,
sobreviver e vencer:
• Que boas novidades ou informações chegarão (ou você pode fazer chegar) para melhorar sua
oportunidade?
• Quais são as chances de (a) sucesso na implementação ou (b) magnitude suficiente do novo
empreendimento?
• O que você pode alterar ou adicionar para melhorar a oportunidade?
• O que você pode fazer ou aprender para fazer de você o concorrente mais conhecedor nesse
setor industrial?
• Outras questões prementes.
Exercício 5
O empreendedorismo é uma atividade de contato total. Esse contato é, acima de tudo, com os
clientes com potencial para gerar receita. É essencial que você se comunique com os clientes e
documente suas respostas. Tente harmonizar as reações dos clientes nesta seção à “Pesquisa e
exercício de modelagem de oportunidade” (Exercício 4). Por favor, forneça o seguinte:
• Uma avaliação, baseada em uma pesquisa de clientes, da frequência com que seus clientes
fazem negócios e que passos investigativos são necessários a seguir:
Pesquisa de clientes
Clientes
No. 1 No. 2 No. 3
Natureza dos clientes
Empresa ou função
Reações
Positiva
Negativa
Perguntas
Usos/necessidades específicas
Cronograma
Quem toma as decisões
Limites financeiros
Clientes pesquisados
No. Nome
378
Valor estratégico pode ter muitos significados. No contexto do reconhecimento de oportunidades, o valor estratégico existe
quando uma empresa na cadeia de valor em que você entraria poderia se beneficiar substancialmente do lançamento do seu
empreendimento.
Exercício 6
Sua oportunidade deve ser colocada no contexto de um ambiente competitivo e de uma cadeia de
valor existente que você acredite que pode ser melhorada e alterada de forma a criar valor. Além de
traçar o movimento de bens físicos, você também deve mapear o fluxo da informação e as margens
resultantes que fluem para os participantes do canal. Por favor, forneça uma avaliação de como seu
produto ou serviço se posicionará no mercado, incluindo o seguinte:
• Uma declaração de qualquer proteção proprietária com patentes, direitos de uso ou segredos
comerciais e o que isso significa para a vantagem competitiva:
– Uma avaliação de quaisquer vantagens competitivas que você pode alcançar nos níveis de
qualidade, serviço e assim por diante, incluindo uma descrição objetiva de quaisquer pontos
fortes (e fracos) do produto ou serviço:
– Uma avaliação da sua estratégia de preços versus a dos competidores:
380
Estratégia de preços3
Preço mais alto Preço médio Preço mais baixo
Varejo
Atacado
Distribuidores
Internet
Fabricação
Outros canais
– Uma avaliação dos competidores em seu setor industrial ou nicho de mercado em termos de
preço versus desempenho/benefícios/valor agregado:381
– Uma indicação de como você planeja distribuir e vender seus produtos ou serviços (por
exemplo, através de vendas diretas, catálogo, representantes das fábricas) e os prováveis custos
de vendas, marketing e propaganda/promoções comerciais:
– Um plano de distribuição para seu(s) produto(s) ou serviço(s), incluindo quaisquer requisitos
especiais (por exemplo, refrigeração), e qual será o percentual de custos de distribuição em
relação às vendas e aos custos totais:
• Complete este quadro dos três fluxos (físico, informacional e marginal) para encontrar a cadeia
de valor para seu produto ou serviço. Seguindo o fluxo físico, mapeie como seu produto ou
serviço chegará ao usuário final ou consumidor, a fração do preço final de venda realizada em
cada passo e a margem de lucro em reais e percentual e a margem bruta em reais e percentual
por unidade. Este exercício o ajudará a identificar as anomalias do mercado (positivas e
negativas) que podem identificar espaços nos quais você pode criar sua oportunidade. A cadeia
de valor formada a partir desses fluxos é construída para um produto de consumo generalizado e
precisa ser modificada para seu produto, serviço, setor industrial ou região específicos:
M argem bruta: M argem bruta: M argem bruta: M argem bruta: M argem bruta:
Reais Reais Reais Reais Reais
Percentual Percentual Percentual Percentual Percentual
Dados importantes Dados importantes Dados importantes Dados importantes Dados importantes
M eio de transferência de dados M eio de transferência de dados M eio de transferência M eio de transferência M eio de transferência de
de dados de dados dados
Exercício 7
Sua exploração da cadeia de suprimentos (Exercício 6) deve apresentar uma visão do “espaço
vazio” para sua empresa. Nesta seção, pedimos que você comece a quantificar o espaço e a estimar o
tempo e os recursos que serão necessários para preencher esse espaço. Essas avaliações preliminares
vão fornecer o alicerce para o desenvolvimento de seus relatórios financeiros, incluindo declaração
de receita, balanço patrimonial, fluxo de caixa e ponto de equilíbrio. Por favor, forneça as seguintes
informações:
• Uma estimativa realista das vendas e da participação de mercado aproximadas para seu produto
ou serviço na área de mercado que sua empresa pode atingir em cada um dos cinco primeiros
anos:
Ano
1 2 3 4 5
M ercado Total:
Unidades
Reais
Vendas estimadas:
Unidades
Reais
Fontes de dados:
Pesquisador:
Ponto de checagem
Considere que ou você sofre da miopia da ratoeira ou ainda não tem experiência suficiente para
estabelecer este negócio nesse estágio. É possível que, se o negócio não passar por essa avaliação,
você pode simplesmente não ir tão longe quanto havia pensado. Lembre-se: o maior fator
individual que contribui para empresas natimortas e para aquelas que vão amadurecer como limões
é a falta de foco na oportunidade. Se você não conseguir preencher a tabela de “vendas e
participação de mercado do produto/serviço” na página anterior ou se não souber muito bem como
respondê-la, é possível que precise trabalhar um pouco mais antes de continuar com esse negócio.
• Uma avaliação dos custos e da lucratividade de seu produto ou serviço:
Custos e lucratividade do produto/serviço
Produto/serviço:
Preço de venda:
Nível de venda:
M argem bruta
Custos fix os
• Uma avaliação dos recursos mínimos necessários para “abrir as portas e fazer a receita entrar” —
os custos, os dados necessários, os meios alternativos de obter controle (mas sem
necessariamente possuí-los) e o que essa informação diz a você:
Necessidade de recursos
– Uma estimativa do número de pessoas que serão necessárias para lançar a empresa e as tarefas
principais que elas terão de realizar:
– Uma avaliação de como você vai lidar com essas dificuldades e sua estimativa do tempo e do
dinheiro necessários para resolvê-las e começar uma produção escalonável:
• Uma identificação do fluxo de caixa e do ciclo de conversão de caixa para sua empresa depois
dos primeiros 15 meses (incluindo uma consideração sobre prazos/atrasos para obter vendas,
fabricar seu produto ou serviço, entregar seu produto ou serviço e faturamento e coleta de
dinheiro). Mostre em um gráfico de barras o tempo e a duração de cada atividade aqui:
• Uma declaração preliminar da estimativa de fluxo de caixa para o primeiro ano, incluindo
considerações sobre os recursos necessários para a start-up e seu ciclo de conversão de dinheiro:
• Estimativas de (1) quantidade total de ativo e capital de giro necessários em meses de pico e (2)
quantidade de dinheiro necessária para chegar a um fluxo de caixa positivo, quantidade de
dinheiro necessária para atingir o ponto de equilíbrio e uma indicação dos meses em que cada
um ocorrerá:
• Crie uma planilha de ponto de equilíbrio semelhante à seguinte:
Para calcular o número de unidades necessárias para o ponto de equilíbrio: $ Preço de venda –
Custos Variáveis = $ Margem de contribuição/Custos fixos por unidade/$ Margem de contribuição
= Unidades para o ponto de equilíbrio.
O montante e a natureza das necessidades de capital para o lançamento de uma nova empresa
devem ser articulados no contexto das necessidades do(s) fornecedor(es) de recursos. Nesta seção,
você deve ligar intencionalmente as necessidades de capital e as exigências desse(s) fornecedor(es).
Especificamente, o investidor costuma obter uma recompensa na colheita. O sincronismo e a
natureza realistas da colheita vão ajudar a definir o investidor ou investidores lógicos.
Depois de revisar o Capítulo 5 e o Capítulo 14, pense sobre sua oportunidade no contexto da
cadeia alimentar dos mercados de capitais. Faça a si mesmo as seguintes perguntas:
Para quem é esta oportunidade, e para quem não é?
Quem vai e não vai investir neste empreendimento?
Quem deve investir?
Por favor, forneça as seguintes informações:
• Uma declaração de como você pretende levantar o capital, incluindo todos os tipos (por
exemplo, capital de risco, financiamentos obtidos com credores de ativos, financiamento de
estoque, contas a receber, equipamentos e imóveis), quando e de quem:
• Uma declaração de quando você pretende colher os frutos do seu empreendimento, como e
quando isso deve ocorrer e as perspectivas. (Se você não pretende fazer a colheita — por
exemplo, vender a empresa —, inclua uma declaração sobre as perspectivas de que os lucros
serão duráveis e grandes o suficiente para serem atraentes.)
• Uma avaliação das fontes de valor, como a estratégica, para outra empresa que já está no
mercado ou que pretende entrar, e uma indicação e se há comprador(es) lógico(s) para sua
empresa:
– O que empresas semelhantes à sua vendem como múltiplo de vendas, EBIT, fluxo de caixa,
lucro depois dos impostos e outras métricas?
– Quem pode ajudá-lo a encontrar essas respostas?
• Uma avaliação de quanto seria necessário para liquidar a empresa, se você decidisse sair e se
esse valor for alto:
Ponto de checagem
Reconsidere se sua oportunidade de negócio é atraente. Tenha o cuidado de garantir que seu
empreendimento seja economicamente indulgente e recompensador. Por exemplo, você está
convencido de que o valor que precisa conseguir é razoável em relação ao potencial e do risco do
empreendimento? Outras pessoas estão convencidas? Se não estão, o que você sabe que eles não
sabem (e vice-versa)? A maioria das start-ups fica sem dinheiro antes de garantir suficiente número
de clientes lucrativos para sustentar um fluxo de caixa positivo. Suas estimativas preliminares das
necessidades financeiras precisam estar dentro do valor que um investidor anjo, capitalista de risco
ou outro credor está disposto a comprometer em uma única empresa ou do que você pode levantar
pessoalmente. Mesmo que sua ideia não seja candidata a um financiamento de capital de risco, vale
a pena olhar para seu empreendimento dessa forma.
Exercício 9
Cada empresa tem um concorrente ou substituto! Seus clientes estavam colocando o dinheiro
deles em algum lugar antes de você criar seu negócio. Olhe para os concorrentes diretos e para os
indiretos. Quem é a pessoa ou concorrente mais experiente neste mercado? Como isso afeta você,
sua equipe e sua oportunidade de negócio? Quem pode/deve fazer isso, além de você? Como você
se tornará essa pessoa?
Você pode ter adquirido informações sobre concorrentes quando falou com clientes potenciais no
exercício de “Pesquisa de contato com clientes” (Exercício 5). É importante ter posições relativas e
estimativas dos concorrentes. Quando você tem um entendimento relativo dos concorrentes, você
deve avaliar sua posição entre essas empresas em termos de vantagens competitivas sustentáveis.
Por favor, forneça as seguintes informações:
• Uma avaliação dos concorrentes no mercado, incluindo aqueles que vendem produtos
substitutos:
• Um perfil do concorrente:
Perfil do concorrente
Concorrente no.
1 2 3 4
Vendas estimadas/ano ($)
Táticas de marketing
Termos de venda
Propaganda/promoção
Canal de distribuição
Serviço/treinamento/apoio
Preço
Ativos % % % % %
Dinheiro
Títulos negociáveis
Contas a receber líquidas
Estoque líquido
Outros ativos circulantes
Total circulante
Ativos fix os líquidos
Todos os outros não circulantes
Total
Passivo
Dívida a bancos – curto prazo
Dívida com o comércio
Imposto de renda
Dívida circulante de longo prazo com
data de vencimento
Todos os outros circulantes
Total de dívida circulante
Dívida não circulante, insubordinada
Total de dívida insubordinada
Dívida subordinada
Valor líquido tangível
Total
Dados de receita
Vendas líquidas
Custo das vendas
Lucro bruto
Todas as outras despesas líquidas
Lucro antes dos impostos
Proporções (índices)
Fix os/valor
Dívida/valor
Dívida insubordinada/fundos patrimoniais
Vendas/contas a receber
Custo de vendas/estoque
Vendas/capital de giro
Vendas/valor
Lucro percentual antes dos
impostos/valor
Lucro percentual antes dos
impostos/ativo total
Vendas líquidas/ativo total
M = milhar.
MM = milhão.
• Uma avaliação, para cada produto ou serviço do concorrente, de seus custos e lucratividade:
Preço de venda
Nível de vendas
Para cada:
M argem bruta
Custos fix os
• Uma avaliação do histórico e das projeções de lucros dos concorrentes e médias do setor:
Depois de 2 anos
Ano corrente
Vendas/funcionário
Lucros/funcionário
• Uma classificação dos concorrentes em termos de custo:
No. Concorrente
• Uma avaliação do grau de controle do mercado (incluindo o controle sobre preços, custos e
canais de distribuição e por fornecedores, compradores etc.) e o quanto você pode influenciá-lo
ou estará sujeito à influência de outros:
• Uma avaliação dos prazos atuais para mudanças na tecnologia, na capacidade, na inovação do
produto e do mercado e assim por diante:
• Uma avaliação de como sua empresa vai desfrutar de vantagens ou desvantagens de custos na
produção e no marketing e distribuição e uma indicação de quando sua empresa terá o mais
baixo, médio ou mais alto custo de produção, marketing e distribuição:
• Uma avaliação de outras vantagens competitivas que você tem ou pode obter, como você
poderia assegurá-las, e quanto tempo e dinheiro são necessários, incluindo o seguinte:
– Uma indicação de como seu produto ou serviço vai se beneficiar de, ou estará sujeito a,
quaisquer regulamentações e do status de qualquer direito de propriedade, segredos comerciais,
patentes ou acordos de licenças e distribuição ou franquia:
– Uma avaliação de se você acha que pode ser competitivo em termos de preço e obter lucro, ou
outras maneiras, como a diferenciação do produto, nos quais você possa competir:
Ponto de checagem
Você tem vantagens competitivas suficientes? Lembre-se: uma empresa bem-sucedida vende para
um mercado que é grande e crescente, no qual capturar uma pequena participação de mercado
pode gerar um volume de vendas significativo, no qual não enfrenta barreiras significativas à
entrada e no qual sua concorrência é lucrativa, mas não tão forte a ponto de ser intransponível.
Além disso, uma empresa bem-sucedida tem um produto ou serviço que resolve problemas
significativos que os clientes têm com produtos concorrentes, como má qualidade, serviço ruim,
entrega deficiente e assim por diante, e um preço de venda que permite a você entrar no mercado.
Exercício 10
Para a equipe concluir que a ideia é realmente uma oportunidade, os fundadores devem avaliar o
comprometimento de seus parceiros. Existem muitos aspectos do comprometimento, incluindo —
mas não limitados a — confiança, uma compreensão e a crença em responsabilidades, contribuição
financeira e extração, e a crença geral na equipe. Por favor, forneça uma avaliação de seus parceiros
e/ou equipe de gestão:
– Uma avaliação da forma como os fundadores e/ou a equipe de gestão estão suficientemente
comprometidos com a oportunidade e o quanto estão pessoalmente dispostos a sacrificar e
investir em termos de tempo, dinheiro, garantias pessoais e assim por diante:
Ponto de checagem
Você pode fazer? Lembre-se: a equipe é uma força básica na condução de empresas
empreendedoras bem-sucedidas. É importante questionar os pressupostos de acordo os quais sua
equipe foi formada; por exemplo, igualdade de salários e participação acionária podem indicar que
as suposições sobre tarefas, funções e responsabilidades são ingênuas. Alguém de sua equipe precisa
ser experiente e competente nas áreas de dinâmica e administração de equipes, ou a equipe precisa
conseguir atrair alguém que seja.
Se você tiver concluído os Exercícios de 1 a 10 e revisado cada ponto de controle, deve ter uma
boa noção se sua ideia é uma oportunidade e terá completado a maior parte da devida diligência
necessária para escrever um plano de negócios. Completar os dois próximos exercícios será muito
útil conforme você constrói uma estratégia para o momento do lançamento.
Exercício 11
Liste cronologicamente as 10 a 15 ações mais críticas que você precisa tomar durante os próximos
seis meses e as dificuldades que devem ser superadas para converter sua ideia em uma
oportunidade real. É uma boa ideia pedir a outra pessoa para rever o que você listou e ajustar a
lista, se isso se justificar:
Data Ação
Faça um cronograma semanal das principais tarefas a serem executadas, quando devem ser
realizadas, e por quem. Divida tarefas maiores em seus menores componentes possíveis. Esteja
alerta para os conflitos:
Ponto de checagem
É importante olhar atentamente as suposições que você fez, tanto implícitas quanto explícitas, e
avaliar o risco do empreendimento. De tempos em tempos, empreendedores de primeira viagem
superestimam as vendas e os prazos de entrega, e subestimam o esforço e o tempo necessários para
executar a oportunidade e chegar a um fluxo de caixa positivo. Além disso, embora cada novo
negócio tenha seus riscos e problemas, bem como suas oportunidades, as dificuldades devem ser
identificadas o mais rápido possível para que possam ser evitadas ou eliminadas ou para que seu
impacto possa ser minimizado.
Exercício 13
Reveja os Exercícios 2 e 3.
PONTO DE CHECAGEM FINAL: Suas respostas ao EFON o ajudarão a determinar se você quer
continuar com o empreendimento e desenvolver um plano de negócios completo. Se sua empresa
passou pelos testes, uma questão crucial a considerar antes de proceder é: o que eu quero conseguir
com o negócio? Você deve pensar duas vezes se a empresa se ajusta firmemente a seus objetivos
pessoais, valores e necessidades; é isso que dá energia a você; e o conduz no caminho que você quer
seguir e para mais além e até a oportunidades ainda melhores. Lembre-se: você é o que você faz. Se
você conseguiu realizar todos os exercícios, se está seguro de que a maioria dos resultados é positiva
e as respostas às questões pessoais são “sim” (veja o exercício “Estratégia Empreendedora Pessoal” no
Capítulo 2), então vá em frente!
Depois de completar todos os exercícios anteriores, você deve ter uma percepção muito mais
apurada de até que ponto sua boa ideia exibe as quatro âncoras descritas no início do capítulo.
Pergunte, também, a si mesmo: Quem são as duas melhores pessoas no planeta para responder às
seguintes perguntas, e qual é seu efeito sobre mim, minha equipe e essa oportunidade?
Enquanto trabalha em seu negócio, você precisa considerar constantemente as seguintes
perguntas, porque os insights criativos que podem fazer uma diferença significativa podem ocorrer a
qualquer momento:
Como a proposição de valor pode ser desenvolvida e melhorada?
O que pode ser mudado, acrescentado, modificado ou eliminado para melhorar a adequação?
O que pode ser feito para melhorar a cadeia de valor e as características do fluxo de caixa livre?
O que pode ser feito para melhorar o equilíbrio entre risco e recompensa?
379
O espaço vazio se refere às lacunas em uma indústria ou mercado nas quais sua oportunidade se encaixa. Quando completar o
exercício da cadeia de valor — olhando para o fluxo das margens físicas, informacionais e financeiras —, você será capaz de ver as
anomalias do mercado (positivas ou negativas) que criam espaço para sua oportunidade.
380
Considere o processo de reconhecimento de oportunidade que conduziu a empresa de escova de dentes rotativa elétrica descrita
no capítulo anterior.
381
Se houver uma margem ou difusão de 10 a 30 vezes (ou mais) entre os produtos concorrentes, existe uma oportunidade à espreita.
Capítulo 8
O plano de negócios
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
Exercício 1
Um exercício e estrutura
Este “Guia do Plano de Negócios” segue a ordem de apresentação descrita no Quadro 8.2. Com
base em um guia desenvolvido originalmente na Venture Founders Corporation por Leonard E.
Smollen e o falecido Brian Haslett, e em mais de 30 anos de observação e trabalho com
empreendedores e realmente preparando e avaliando centenas de planos, este guia pretende
facilitar essa tarefa desafiadora.
Não há uma única maneira melhor de se redigir um plano de negócios; a tarefa vai evoluir de
uma forma adequada para você e sua situação. Embora existam muitas maneiras de se abordar a
preparação e a elaboração de um plano de negócios, é recomendado que você comece com as
seções de pesquisa de mercado e análise. Ao redigir seu plano, você deve se lembrar de que,
embora uma das funções importantes de um plano de negócios seja influenciar investidores, em vez
de preparar uma apresentação extravagante, você e sua equipe precisam provar para si e outras
pessoas que sua oportunidade vale a pena e construir os meios pelos quais vai buscá-la. A coleta de
informações, a tomada de decisões difíceis e os planos de desenvolvimento vêm em primeiro lugar.
O “Guia do Plano de Negócios” mostra como apresentar a informação de forma sucinta e em um
formato aceitável para os investidores. Embora seja útil manter em mente quem é seu público e que
as informações que não estão claramente apresentadas provavelmente não devem ser utilizadas,
também é importante não se preocupar apenas com o formato. O “Guia do Plano de Negócios”
indica questões específicas e mostra a você o que precisa ser incluído em um plano de negócios e
por quê.
Você pode achar que já viu muito disso antes. Você deveria. O guia se baseia na estrutura
analítica descrita no livro e se apoia nos “Exercícios de filtragem de oportunidades de negócios” do
Capítulo 6. Se você ainda não realizou os exercícios de “Filtragem de oportunidades”, é importante
fazê-lo antes de continuar. O “Guia do Plano de Negócios” vai permitir que você extraia dados e
análises desenvolvidas nos “Exercícios de filtragem de oportunidades de negócios” enquanto você
prepara seu plano de negócios.
Conforme você progride no “Guia do Plano de Negócios”, lembre-se de que as declarações devem
ser apoiadas em dados sempre que possível. Note, também, que às vezes é mais fácil apresentar os
dados em uma forma gráfica, visual. Inclua a fonte de todos os dados, os métodos e/ou suposições
utilizados e as credenciais das pessoas que fizeram a pesquisa. Se os dados em que uma afirmação se
baseia estiverem disponíveis em outras partes do plano, não se esqueça de fazer referências.
Lembre-se de que o “Guia do Plano de Negócios” é apenas isto: um guia. Destina-se a ser
aplicável a uma ampla gama de empresas de produtos e serviços. Algumas questões críticas são
exclusivas para algumas indústrias ou mercados. Na indústria química, por exemplo, algumas
questões especiais significativas atualmente existentes, como os regulamentos cada vez mais
rigorosos em todos os níveis de governo em relação à utilização de produtos químicos e a operação
de processos, diminuindo a viabilidade de instalações de processamento químico para objetivos
específicos de alto custo de capital e que atendem a um mercado pequeno, e os longos prazos de
entrega de equipamentos de processamento. Na indústria de eletrônicos, as questões especiais
podem ser a futura disponibilidade e preço de novos tipos de circuitos integrados de larga escala. O
senso comum deve governar a aplicação do guia a seu empreendimento específico.
O guia
Nome:
Empreendimento:
Data:
PASSO 1
Segmente as informações em seções principais
Estabeleça prioridades para cada seção, incluindo as responsabilidades individuais e os prazos dos
rascunhos e da versão final. Ao segmentar sua informação, é vital manter em mente que o plano
precisa ser integrado logicamente e que a informação deve ser coerente. Como a seção de
oportunidade de mercado é o coração e a alma do plano, ela pode ser a parte mais difícil de redigir;
mas é melhor atribuir uma prioridade alta e começar a trabalhar primeiro nessa seção. Lembre-se
de incluir na lista tarefas como a impressão.
Seção ou Prioridade Pessoa(s) Data de Prazo para o primeiro Prazo para versão final ou
tarefa responsável(is) início rascunho conclusão
PASSO 2
Liste as tarefas que precisam ser realizadas
Elabore um cronograma geral para a elaboração do plano atribuindo prioridades, pessoas
responsáveis e prazos para cada tarefa necessária para concluir o plano. É importante dividir os itens
maiores (trabalho de campo para coletar informações dos clientes e dos concorrentes, visitas a feiras
comerciais etc.) em pequenos componentes mais administráveis (como telefonemas necessários
antes da realização de uma viagem) e incluir os componentes como uma tarefa. Seja o mais
específico possível.
PASSO 3
Combine a lista de segmentos e a lista de tarefas para criar um calendário
Ao combinar suas listas, considere se alguma coisa foi omitida e se você tem sido realista naquilo
que as pessoas podem fazer, quando podem fazê-lo, o que precisa ser feito, e assim por diante. Para
criar seu calendário, coloque um X na semana em que a tarefa deve ser iniciada e um X na semana
em que deve ser concluída e, em seguida, conecte o Xs. Depois de colocar todas as tarefas no
calendário, olhe atentamente mais uma vez em busca de conflitos ou falta de realismo. Em especial,
avalie se os membros da equipe estão sobrecarregados.
Semana
Tarefa 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
PASSO 4
Uma estrutura para desenv olv er e redigir um plano de negócios
Como foi discutido, a estrutura aqui segue a ordem da apresentação do sumário mostrado no
Quadro 8.2. Ao preparar seu próprio plano, você muito provavelmente vai querer colocar as seções
em uma ordem diferente da exibida nesse quadro. (Além disso, quando você integra suas seções no
plano final, você pode optar por apresentar um material um pouco diferente.)
Capa
A capa inclui o nome da empresa, seu endereço, seu número de telefone, a data e as garantias
oferecidas. Normalmente, o nome, o endereço, o número de telefone e a data são centrados na
parte superior da página e as garantias oferecidas são listadas na parte inferior. Também sugerimos
que a parte inferior da capa contenha o seguinte texto:
Este plano de negócios é confidencial e foi apresentado a investidores selecionados e altamente
qualificados em conjunto com as garantias acima e não deve ser usado por quaisquer outras
pessoas. Também não poderá ser reproduzido, armazenado ou copiado de forma nenhuma. Ao
aceitar a entrega deste plano, o receptor se compromete a devolver este exemplar à empresa no
endereço listado acima se o receptor decidir não concordar com a oferta. Não copie, envie por fax,
reproduza ou distribua sem permissão.
Sumário
O sumário inclui uma lista das seções, subseções e quaisquer apêndices, e as páginas em que eles
podem ser encontrados. (Veja o Quadro 8.2.)
I. Sumário Executivo (SE)
A primeira seção do corpo do plano de negócios geralmente é um sumário executivo. O sumário
executivo geralmente é curto e conciso (uma ou duas páginas). O sumário executivo articula quais
são as condições da oportunidade e por que elas existem, quem vai executar a oportunidade e por
que são capazes de fazê-lo, e como a empresa vai conseguir entrada e penetração no mercado —
isso responde às perguntas que fizemos no Capítulo 5: “Por qual motivo esse empreendimento
existe e para quem?”.
Em essência, o SE para seu empreendimento precisa espelhar os critérios mostrados no Quadro
5.3 e nos “Exercícios de filtragem de oportunidades de negócios” no Capítulo 6. Esta é sua chance
de articular claramente como seu negócio é durável e oportuno, e como ele vai criar ou agregar
valor para o comprador ou usuário final.
O SE deve ser preparado depois que as outras seções do plano de negócios estão prontas. À
medida que as outras seções são elaboradas, é importante anotar uma ou duas frases importantes e
alguns fatos e números de cada uma.
O SE é importante para os empreendimentos que tentam conseguir investimentos junto a fundos
ou buscam empréstimos. Muitos investidores, banqueiros, administradores e outros leitores usam o
SE para determinar rapidamente se consideram o empreendimento interessante. Portanto, a menos
que o resumo seja atraente e convincente, ele pode ser a única seção lida, e você pode nunca ter a
chance de fazer uma apresentação ou discutir seus negócios ao vivo.
Reserve muito tempo para preparar o SE. (Oradores públicos bem-sucedidos costumam gastar
uma hora de preparação para cada minuto de seu discurso.)
O sumário executivo normalmente contém um ou dois parágrafos sobre cada um dos seguintes
itens:
A. Descrição do negócio e do conceito do negócio. Descreva o conceito do negócio para o negócio
em que está ou pretende estar. Certifique-se de que a descrição de seu conceito explica como seu
produto ou serviço vai mudar fundamentalmente a forma como os clientes atualmente fazem
certas coisas. Por exemplo, Arthur Rock, o maior investidor na Apple Computer e na Intel,
afirmou que ele se concentra em conceitos que vão mudar a maneira como as pessoas vivem
e/ou trabalham. Você precisa identificar quando a empresa foi formada, o que ela vai fazer, o
que há de especial ou proprietário em seu produto, serviço ou tecnologia, e assim por diante.
Inclua um resumo das informações sobre qualquer tecnologia proprietária, segredos comerciais
ou capacidades exclusivas que dão a você uma vantagem no mercado. Se a empresa já existe há
alguns anos, deve aparecer um breve resumo de seu tamanho e progresso. Tente fazer sua
descrição em 25 palavras ou menos, e descreva rapidamente o produto ou serviço específico.
B. A oportunidade e a estratégia. Resuma qual é a oportunidade, por que ela é atraente, e a
estratégia de entrada prevista para explorá-la. Declare com clareza o principal ponto ou benefício
que você vai abordar. Essa informação pode ser apresentada como uma síntese dos principais
fatos, condições, vulnerabilidades dos concorrentes (“sonolência”, lentidão, serviço de má
qualidade etc.), tendências da indústria (é fragmentada ou emergente?), e outras provas e lógicas
que definem a oportunidade. Apresente planos de crescimento e expansão além da entrada de
produtos ou serviços em outros segmentos de mercado (como os mercados internacionais),
conforme o caso.
C. O mercado alvo e projeções. Identifique e explique brevemente a indústria e o mercado, quem
são os principais grupos de clientes, como o(s) produto(s) ou serviço(s) será(ão) posicionado(s), e
como você pretende alcançar e atender a esses grupos. Inclua informações sobre a estrutura do
mercado, o tamanho e a taxa de crescimento dos segmentos de mercado ou nichos que você está
buscando, suas estimativas de vendas em unidades e em reais, sua previsão de participação de
mercado, o período de retorno para seus clientes, e sua estratégia de preços (incluindo
considerações de preço versus desempenho/valor/benefícios).
D. As vantagens competitivas. Indique as vantagens competitivas significativas que você desfruta
ou pode criar como resultado de seu produto, serviço e estratégia inovadores; vantagens no
prazo de entrega ou nas barreiras à entrada; pontos fracos e vulnerabilidades dos concorrentes; e
outras condições da indústria.
E. A equipe. Resuma o conhecimento, a experiência, o know-how e as habilidades relevantes do
empreendedor líder e de todos os membros da equipe, observando as realizações anteriores,
especialmente aquelas que envolvem responsabilidade por receitas e despesas e administração
geral e experiência em gestão de pessoas. Inclua informações importantes, como o tamanho de
uma divisão, projeto ou negócio anterior do qual o empreendedor líder ou um membro da
equipe foi a força propulsora.
F. A oferta. Indique rapidamente a quantidade necessária de financiamento de risco ou de
dívida, quanto da empresa você está preparado para oferecer por esse financiamento, qual será o
uso principal do capital, e como o investidor, credor ou parceiro estratégico conseguirá sua taxa
de retorno desejada. Lembre-se de que seu provedor de recursos almejado tem um apetite bem
definido, e você deve entender o “Círculo de êxtase do capital de risco” (Figura 5.1).
A. Clientes.
• Discuta quem são ou serão os clientes para o(s) produto(s) ou serviço(s). Observe que os
clientes potenciais devem ser classificados por grupos relativamente homogêneos com
características de identificação comuns (por exemplo, por principal segmento de mercado). Por
exemplo, uma peça automotiva pode ser vendida para fabricantes e distribuidores de peças para
abastecer o mercado de reposição, de modo que o debate deve refletir os dois segmentos de
mercado.
• Mostre quem são e onde estão os principais compradores do(s) produto(s) ou serviço(s) em
cada segmento de mercado. Inclua regiões nacionais e países estrangeiros, se for o caso.
• Indique se os clientes são facilmente acessíveis e receptivos, como os clientes compram (venda
por atacado, através de representantes dos fabricantes etc.), onde são feitas as decisões de
compra em suas organizações, e quanto tempo é necessário para tomar uma decisão. Descreva os
processos de compra dos clientes, incluindo as bases em que se tomam decisões de compra (por
exemplo, preço, qualidade, sincronismo, prazos de entrega, treinamento, serviços, contatos
pessoais ou pressões políticas) e por que eles podem mudar as decisões de compra atuais.
• Liste todos os pedidos, contratos ou cartas de compromisso que você tem em mãos. Esses são os
dados mais poderosos que você pode oferecer. Liste, também, todos os clientes potenciais que
manifestaram interesse no(s) produto(s) ou serviço(s) e indique o motivo. Liste, também,
quaisquer clientes potenciais que não demonstraram interesse no produto ou serviço proposto, e
explique por que eles não se interessaram e o que você vai fazer para superar a reação negativa
dos clientes. Indique a velocidade com que você acredita que o produto ou serviço será aceito no
mercado.
• Se você tem um negócio já existente, liste seus principais clientes atuais e discuta as tendências
em suas vendas para eles.
B. Precificação.
• Discuta a estratégia de precificação, incluindo os preços a serem cobrados pelo seu produto e
serviço, e compare sua política de precificação com as de seus principais concorrentes, incluindo
uma breve discussão sobre o retorno (medido em meses) para o cliente.
• Discuta a margem de lucro bruto entre os custos de fabricação e os custos finais de venda, e
indique se essa margem é grande o suficiente para permitir a distribuição e a venda, a garantia, o
treinamento, o serviço, a amortização de custos de desenvolvimento e equipamentos, a
concorrência de preços, e assim por diante, e ainda permitir um lucro.
• Explique como o preço que você definir vai permitir que (1) faça com que o produto ou serviço
seja aceito, (2) mantenha e aumente sua participação de mercado frente à concorrência, e (3)
produza lucros.
• Justifique sua estratégia de precificação e as diferenças entre seus preços e os preços dos
produtos ou serviços concorrentes ou substitutos em termos de retorno econômico para o cliente
e valor agregado através da inovação, qualidade, garantia, sincronismo, desempenho, serviço,
redução de custos, eficiência, e assim por diante.
• Se o produto terá preços mais baixos que os da concorrência, explique como você vai fazer isso e
manter a rentabilidade (por exemplo, através de um maior valor agregado por conta de eficácia
na produção e distribuição, custos de mão de obra mais baixos, custos de material mais baixos,
despesas menores, ou outros componentes de custo).
• Discuta sua política de precificação, incluindo uma discussão sobre a relação entre preço,
participação de mercado e lucros.
C. Táticas de vendas.
• Descreva os métodos (por exemplo, força de vendas própria, representantes de vendas,
parcerias com fabricantes de pronta entrega, mala direta ou distribuidores) que serão utilizados
para realizar vendas e distribuir o produto ou serviço e os planos iniciais e os planos de longo
prazo para uma força de vendas. Inclua uma discussão sobre quaisquer requisitos especiais (por
exemplo, refrigeração dos produtos/armazenagem).
• Discuta a cadeia de valor e as margens resultantes a serem oferecidas a varejistas, distribuidores,
atacadistas e vendedores e quaisquer políticas especiais em matéria de descontos, direitos de
distribuição exclusiva, e assim por diante oferecidas a distribuidores ou representantes de
vendas, e compare com os oferecidos por seus concorrentes. (Veja os exercícios “Guia de
filtragem de oportunidades de negócios”.)
• Descreva como os distribuidores ou representantes de vendas, se forem utilizados, serão
selecionados, quando vão começar a representá-lo, as áreas que vão cobrir e a quantidade de
revendedores e representantes por mês, e as vendas que se espera de cada um.
• Se for usada uma força de vendas diretas, indique como ela será estruturada e em que taxa
(quantidade) será construída; indique se ela deve substituir um revendedor ou organização
representante e, em caso afirmativo, quando e como.
• Se forem usadas vendas por mala direta, revistas, jornais ou outros meios de comunicação,
telemarketing ou catálogo, indique os canais ou veículos específicos, os custos (por 1.000), as
taxas de resposta esperada, e assim por diante. Discuta como eles vão ser construídos.
• Mostre as vendas previstas por vendedor por ano e que comissão, incentivo e/ou salário eles
estão programados para receber e compare estes números com a média de sua indústria.
• Apresente um cronograma de vendas e um orçamento de vendas que inclua todos os custos de
promoção e serviços de marketing.
E. Publicidade e promoção.
• Descreva as abordagens que a empresa usará para levar seu produto ou serviço à atenção dos
compradores potenciais.
• No caso de fabricantes de equipamentos originais e de fabricantes de produtos industriais,
indique os planos de participação em feiras comerciais, anúncios em revistas comerciais, mala
direta, a elaboração de fichas técnicas e material promocional dos produtos, e a utilização de
agências de publicidade.
• No caso de produtos de consumo, indique que tipo de campanha publicitária e promocional
pretende introduzir o produto, inclusive ajudas nas vendas a concessionários, feiras comerciais, e
assim por diante.
• Apresente um cronograma e os custos aproximados de promoção e publicidade (mala direta,
telemarketing, catálogos etc.) e discuta como esses custos serão incorridos.
F. Distribuição.
• Descreva os métodos e os canais de distribuição que pretende utilizar. Discuta a disponibilidade
e a capacidade desses canais.
• Indique a sensibilidade do custo de transporte como um percentual do preço de venda.
• Aponte quaisquer questões ou problemas específicos que precisam ser resolvidos ou apresente
vulnerabilidades potenciais.
• Se houver envolvimento de vendas internacionais, anote como as vendas serão realizadas,
incluindo distribuição, transporte, seguros, crédito e cobrança.
VI. Planos de design e desenvolvimento
A natureza e a extensão de todo o trabalho de design e desenvolvimento e o tempo e o dinheiro
necessários antes que um produto ou serviço seja considerado vendável devem ser considerados em
detalhes. (Note que os custos de design e de desenvolvimento frequentemente são subestimados.)
O design e o desenvolvimento podem ser o trabalho de engenharia necessário para converter um
protótipo laboratorial em um produto acabado; o projeto de ferramentas especiais; o trabalho de
um designer industrial para fabricar um produto mais atraente e vendável; ou a identificação e
organização dos funcionários, equipamentos e técnicas especiais, como equipamentos, novos
softwares para computadores e habilidades necessários para a verificação computadorizada de
crédito para implementar uma empresa de serviços.
B. Dificuldades e riscos.
• Identifique quaisquer problemas de design e desenvolvimento importantes antecipados e defina
abordagens para sua solução.
• Discuta os possíveis efeitos desses problemas sobre o custo de design e desenvolvimento, sobre o
momento de introdução no mercado, e assim por diante.
D. Custos.
• Apresente e discuta o orçamento do design e desenvolvimento, incluindo custos de mão de
obra, materiais, honorários de consultoria, e assim por diante.
• Discuta o impacto sobre as projeções de fluxo de caixa de subestimar este orçamento, incluindo
o impacto de uma contingência de 15% a 30%.
E. Questões proprietárias.
• Descreva todas as patentes, marcas registradas, direitos autorais ou direitos de propriedade
intelectual que você possui ou está buscando.
• Descreva quaisquer direitos ou acordos contratuais que dão a você exclusividade ou direitos
proprietários.
• Discuta o impacto de quaisquer questões não resolvidas ou ações pendentes existentes ou
possíveis, como contestação de direitos de propriedade, relacionadas a direitos proprietários e
sobre qualquer vantagem competitiva que você pressupôs.
VII. Plano de fabricação e operacional
O plano de fabricação e operacional precisa incluir fatores como a localização da fábrica, o tipo de
instalações necessárias, os requisitos de espaço, os requisitos de capital para equipamento e os
requisitos de força de trabalho (tanto em tempo integral quanto parcial). Para uma empresa de
fabricação, o plano de fabricação e operacional deve incluir políticas de controle de estoque,
compras, controle de produção e quais peças do produto serão compradas e quais operações serão
realizadas por sua força de trabalho (chamadas de decisões de fazer ou comprar). A empresa de
serviços pode exigir uma atenção especial em termos da localização (proximidade com os clientes
geralmente é um fator essencial), da minimização das despesas gerais e da obtenção de
produtividade competitiva de uma força de trabalho.
A. Ciclo operacional.
• Descreva os tempos de atendimento/atraso que caracterizam o ciclo de operação fundamental
em seu negócio. (Inclua um gráfico similar ao encontrado nos “Exercícios de filtragem de
oportunidades de negócios”).
• Explique como quaisquer cargas de produção sazonal serão tratadas sem uma perturbação grave
(por exemplo, através da construção de estoque ou usando funcionários de meio período nos
períodos de pico).
B. Localização geográfica.
• Descreva a localização geográfica planejada da empresa. Inclua todas as análises de localização
que você tenha feito.
• Discuta as vantagens ou desvantagens da localização da empresa em termos de mão de obra
(incluindo a disponibilidade de trabalho, se os trabalhadores são sindicalizados, salários e
terceirização), proximidade dos clientes e/ou fornecedores, acesso a transporte, impostos e leis
estaduais e locais (inclusive regulamentações de impacto ambiental), acesso a serviços públicos
(uso de energia e sustentabilidade) etc.
C. Instalações e benfeitorias.
• No caso de uma empresa já existente, descreva as instalações, incluindo espaço de fábricas e
escritórios, áreas de armazenamento e terra, ferramentas especiais, máquinas e outros
equipamentos de capital atualmente utilizados para conduzir os negócios da empresa, e discuta
se essas instalações são adequadas e em conformidade com as regulamentações relacionadas à
saúde, à segurança e ao meio ambiente. Discuta todas as economias de escala.
• No caso de uma start-up, descreva como e quando serão adquiridas as instalações necessárias
para iniciar a produção.
• Discuta se o equipamento e espaço serão alugados ou adquiridos (novos ou usados) e indique
os custos e o calendário dessas ações e quanto do financiamento proposto será dedicado a
instalações e equipamentos.
• Explique futuras necessidades de equipamentos para os próximos três anos.
• No caso de start-ups que pretendem terceirizar a produção, indique a localização e o tamanho
da empresa e discuta as vantagens, os riscos e o regime de monitoramento.
• Discuta como e quando, nos próximos três anos, o espaço e os equipamentos da fábrica serão
ampliados e as capacidades exigidas por projeções de vendas futuras e eventuais planos para
melhorar ou adicionar um espaço de fábrica existente. Discuta os impactos ambientais
relacionados a esses requisitos de expansão. Se houver planos para mudar as instalações,
terceirizar a mão de obra ou transferir a produção para o exterior, discuta o impacto que isso terá
sobre a comunidade local. Indique a data e o custo dessas aquisições.
D. Estratégia e planos.
• Descreva os processos de fabricação envolvidos na produção de seu(s) produto(s) e todas as
decisões no que diz respeito à subcontratação de fabricantes de peças, em vez da fabricação total
interna.
• Justifique sua proposta de política de fazer ou comprar em termos de financiamento de estoque,
qualificações profissionais disponíveis e outras questões não técnicas, bem como questões de
produção, custos e capacidade.
• Discuta quem são os subempreiteiros e/ou fornecedores potenciais para contratar e todas as
informações sobre esses subempreiteiros e fornecedores, ou quaisquer investigações que tenham
sido feitas.
• Apresente um plano de produção que mostre as informações de custo/volume/nível de estoque
em diversos níveis de vendas de operação com escassez de material, mão de obra, componentes
comprados e custos indiretos de fabricação aplicáveis.
• Descreva sua abordagem ao controle de qualidade, ao controle da produção e ao controle de
estoque; explique quais os procedimentos de controle e inspeção de qualidade a empresa vai usar
para minimizar problemas de atendimento e a insatisfação do cliente associada a esses
problemas.
A. Organização.
• Apresente as principais funções administrativas na empresa e os indivíduos que vão ocupar cada
cargo. (Se a empresa for estabelecida e de tamanho suficiente, um organograma deve ser
acrescentado.)
• Se não for possível ocupar cada função executiva com uma pessoa em tempo integral, sem
acrescentar despesas excessivas, indique como essas funções serão executadas (por exemplo,
usando consultores ou especialistas em meio período para executar algumas funções), quem vai
executá-los, e quando eles serão substituídos por um membro da equipe em tempo integral.
• Se algum indivíduo chave não estiver a bordo no início do empreendimento, indique quando
eles vão se juntar à empresa.
• Discuta as situações atuais ou passadas em que as pessoas chave da administração trabalharam
em conjunto e que podem indicar como suas habilidades se complementam mutuamente,
resultando em uma equipe administrativa eficaz.
B. Pessoal administrativo chave (os principais gestores)
• Para cada pessoa chave, descreva em detalhes os destaques da carreira, especialmente
conhecimento, habilidades e registro histórico de realizações relevantes, que demonstram sua
capacidade para desempenhar o papel que foi atribuído a você.
• Inclua na sua descrição as realizações em termos de vendas e lucratividade (tamanho do
orçamento, número de subordinados, lançamentos de novos produtos etc.) e outros resultados
administrativos empreendedores ou gerais anteriores.
• Descreva as funções e responsabilidades exatas de cada um dos principais membros da equipe
administrativa.
• Os currículos completos de cada membro chave da administração devem ser incluídos aqui ou
em um quadro à parte e precisam reforçar treinamentos, experiências e realizações concretas
relevantes, como melhoria no lucro e nas vendas, sucesso na administração de mão de obra,
resultados de produção ou técnicos, e cumprimento de orçamentos e cronogramas.
D. Outros investidores.
• Descreva aqui todos os outros investidores em sua empresa, o número e o percentual de ações
que eles possuem, quando foram adquiridas e a que preço.
E. Emprego e outros acordos e planos de opções de ações e bônus.
• Descreva quaisquer acordos trabalhistas existentes ou projetados ou outros acordos com os
principais membros.
• Indique quaisquer restrições sobre ações e investimentos que afetam a propriedade e a
alienação de ações.
• Descreva todas as opções de ações ou planos de bônus dependentes de desempenho.
• Resuma todas as opções de ações de incentivo ou outros planos de propriedade de ações
planejados ou em vigor para pessoas chave e funcionários.
F. Conselho administrativo.
• Discuta a filosofia da empresa em relação ao tamanho e à composição do conselho.
• Identifique quaisquer membros propostos para o conselho e inclua uma declaração de uma ou
duas frases sobre o histórico de cada membro que mostre o que ele pode levar para a empresa.
F. Controle de custos.
Descreva como você vai obter informações sobre os custos de relatório e com que frequência,
quem será responsável pelo controle de diversos elementos de custo, e como você vai agir em
caso de derrapagens orçamentais.
G. Destaques.
Destaque as conclusões importantes, incluindo o montante e o tempo máximo de dinheiro, o
montante de capital de dívida e de patrimônio, com que velocidade as dívidas podem ser pagas,
e assim por diante.
XIII. Oferta proposta de empresa
O objetivo desta seção do plano é indicar a quantidade de dinheiro que está sendo procurado, a
natureza e o montante dos valores mobiliários oferecidos aos investidores, uma breve descrição dos
usos que serão feitos do capital levantado, e um resumo de como se espera que o investidor atinja
sua taxa de retorno almejada. É recomendado que você leia a discussão sobre financiamento na
Parte IV.
As condições de financiamento que você propõe aqui para sua empresa são os primeiros passos no
processo de negociação com os interessados em investir, e é muito possível que seu financiamento
envolva tipos de recursos diferentes do que o inicialmente proposto.
A. Financiamento desejado.
Com base em suas projeções de fluxo de caixa em tempo real e sua estimativa de quanto dinheiro
é necessário ao longo dos próximos três anos para realizar o desenvolvimento e/ou expansão do
seu negócio, indique quanto desse requisito de capital será obtido por essa oferta e quanto será
obtido através de empréstimos com vencimento determinado e linhas de crédito.
B. Oferta.
• Descreva o tipo (por exemplo, ações ordinárias, debêntures conversíveis, dívida com garantias,
dívida acrescida de ações), preço unitário e valor total dos títulos a serem vendidos nessa oferta.
Se os títulos não são apenas ações ordinárias, indique por tipo, interesse, maturidade e condições
de conversão.
• Mostre o percentual da empresa que os investidores dessa oferta vão possuir depois que ela for
concluída ou depois do exercício de qualquer conversão de ações ou da compra dos direitos em
caso de debêntures conversíveis ou garantias.
• Os títulos vendidos através de uma injeção de capital privado e que, portanto, são isentos de
registro na SEC (similar à CVM no Brasil), devem incluir a seguinte declaração, nesta parte do
plano:
As ações que estão sendo vendidas ao abrigo da presente oferta de valores mobiliários são
restritas e não podem ser revendidas imediatamente. O investidor potencial deve reconhecer que
esses títulos podem ser restritos à revenda por um período indefinido de tempo. Cada
comprador será obrigado a assinar um Acordo de Não Distribuição satisfatório em formulário
para o conselho corporativo.
C. Capitalização.
• Apresente, em forma de quadro, o número atual e proposto (após a oferta) de ações ordinárias
em circulação. Indique quaisquer ações oferecidas por pessoas chave da administração e mostre
o número de ações que eles vão possuir depois da conclusão do financiamento proposto.
• Indique quantas ações ordinárias de sua empresa ficarão autorizadas, mas não serão emitidas
após a oferta, e quantas delas serão reservadas para opções de ações para futuros funcionários
chave.
D. Utilização de fundos.
Os investidores querem saber como o dinheiro deles será gasto. Forneça uma breve descrição de
como o capital levantado será usado. Resuma o mais especificamente possível qual o montante
que será usado em itens como design e desenvolvimento de produtos, bens de capital, marketing
e necessidades gerais de capital de giro.
Encontrar o parceiro certo para toda a vida é um desafio assustador. Todos concordam que a
química certa pode fazer ou quebrar um relacionamento. Isso certamente é verdadeiro em novos
empreendimentos. Hoje, todos os diferentes sites de redes sociais e a conectividade internacional
da internet abriram um leque de novas possibilidades para identificar e construir a parte mais
importante da equipe externa: a equipe de confiança do empreendimento. Como você viu (e vai
continuar a ver) em livros, casos e debates, as empresas raramente têm sucesso isoladamente.
Invariavelmente existe um ou alguns mentores ou conselheiros externos (que muitas vezes também
são investidores), técnicos e fontes de grande conhecimento, insights e contatos dos quais a
empresa precisa desesperadamente, mas não tem. Os membros da sua equipe de confiança devem
ser diretos e honestos e serem voltados para seus melhores interesses. Eles podem ser indivíduos
muito valiosos.
Considere o seguinte exemplo: em 1994, Gary Mueller e seu irmão George, ambos ainda na
faculdade e por volta dos 20 anos de idade, estavam desenvolvendo um plano de negócios para
lançar uma empresa que se chamaria Internet Securities, Inc. (<www.internetsecurities.com>).
Começando como um projeto de curso, o empreendimento dos dois procurava desenvolver um
serviço de informações financeiras, econômicas, sobre os mercadores de ações e de títulos e outras
informações relacionadas — primeiro da Polônia e da Rússia e, posteriormente, de outros mercados
emergentes — tudo pela internet. Os irmãos talentosos, motivados e muito empreendedores
tinham alguns bons contatos, mas era seu primeiro empreendimento sério, e havia muitas coisas
que eles sabiam que não sabiam. Uma questão básica era como empacotar, dar preço e vender este
novo serviço a clientes como bancos de investimento, bancos comerciais, empresas de serviços
financeiros, grandes empresas de contabilidade e afins. A pergunta principal que eles fizeram foi a
seguinte: quem sabe mais sobre isso do que qualquer pessoa no mundo?
Essa é a pergunta chave a fazer quando você começa sua busca de potenciais membros de sua
própria equipe de confiança. No caso dos irmãos Mueller, o professor Timmons conhecia o
fundador do que se tornou a First Call: Jeff Parker, que tinha criado um novo empreendimento no
início da década de 1980 que colocou o primeiro computador desktop (um Apple II) sobre as mesas
dos corretores de títulos em Wall Street. Essa empresa de grande sucesso levou a outros novos
empreendimentos e a uma riqueza de conhecimentos, redes e experiências nesse mercado. Unir os
irmãos Mueller a Parker gerou uma série de resultados importantes. Por um lado, Parker
concordou em investir $ 1 milhão e se tornar presidente do conselho. Esse foi um grande trunfo
para a empresa devido ao conhecimento e à credibilidade que ele levou para o empreendimento.
Também significou que os irmãos Mueller conseguiram conservar o patrimônio por não terem de
levantar capital de risco. Um capitalista de risco queria investir mais dinheiro, mas em troca de uma
participação majoritária na empresa; Parker pediu 25%. Esse empreendedor experiente também
conhecia as melhores pessoas do ramo a partir de uma perspectiva de vendas e conseguiu contratar
seu ex-gerente nacional de vendas para a ISI. Isso fez uma enorme diferença — desde o início, com
preços e estratégias de venda e, posteriormente, na consecução das metas de receita previstas.
Aqui você pode ver o potencial e a importância da equipe de confiança externa. Este exercício vai
ajudá-lo a começar a identificar e se conectar com conselheiros potenciais para a equipe de
confiança que podem se tornar inestimáveis para o sucesso do empreendimento.
PASSO 1
I dentifique e relacione as lacunas nesta fase do empreendimento
Aplicar o modelo Timmons à sua oportunidade e empreendimento potencial colocou uma lente
de aumento em cada aspecto crítico de sua empresa — a oportunidade, os recursos e a equipe
(interna e externa) — e revelou lacunas importantes e a extensão do ajuste ao empreendimento.
Lembre-se de que muitas lacunas são descobertas por uma avaliação honesta da confiança que você
tem nas premissas críticas que você fez no seu plano; quanto mais fraca sua confiança, maior a
necessidade de apoio de uma equipe de confiança. Essas peças em falta no quebra-cabeça vão
apontar para os fatos, pessoas, informações, acessos, ideias e afins de que seu empreendimento
precisa e que nenhum membro da equipe atualmente possui; sem essas peças, o empreendimento
provavelmente vai fracassar; com elas, as probabilidades de sucesso aumentam. Faça uma lista
dessas lacunas críticas e das necessidades.
PASSO 2
Pense: quem sabe o que não sabemos?
Esta etapa vai recorrer à sua rede de contato. Com a internet, você pode articular cuidadosamente
a especialidade/conhecimento/experiência que está buscando e começar a perguntar às pessoas que
você conhece quem pode levar você a uma fonte. Sites de redes sociais como Facebook, MySpace e
LinkedIn podem ser plataformas de pesquisa especialmente frutíferas. Combine essa lista de
potenciais membros da equipe de confiança com a lista de lacunas críticas e necessidades.
PASSO 3
Volte ao Passo 1 conforme o empreendimento se desenv olv e
Durante o curso, conforme trabalha em seu plano de negócios, você pode aplicar esse método
para vários aspectos de sua lente de aumento. Mergulhe nas nuanças da oportunidade, da equipe e
dos recursos mínimos necessários de que você precisa para melhorar o ajuste, preenchendo as
lacunas e administrando o risco e a recompensa. Muita coisa vai mudar à medida que sua ideia se
transforma em uma oportunidade legítima e, em seguida, em um empreendimento vivo: atrair
membros importantes da equipe, valorizar o negócio, levantar capital, estruturar e negociar o
acordo e outras negociações importantes com contratados e fornecedores chave. Tentar aprender
todas as coisas necessárias para ter sucesso na primeira vez, fazendo tudo sozinho, é um caminho de
risco elevado e de preço alto que vai encantar seus concorrentes! Fazer contato com pessoas que
mais podem ajudá-lo faz uma enorme diferença — e é claramente uma das competências
empreendedoras mais importantes.
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
Exercício 1
Nome:
Empreendimento:
Data:
Inventário de competências
Classificação Conhecimento Algum Nenhum Importância
profundo e conhecimento conhecimento (1–3 anos)
e experiência ou
experiência (mais ou experiência
(bem feito) menos) (nova área)
Marketing
Pesquisa de mercado e avaliação
Localizar e interpretar a indústria e as informações do
concorrente; projetar e conduzir pesquisas de mercado,
analisar e interpretar dados de pesquisa de mercado; etc.
Planejamento de mercado
Planejar programas globais de vendas, publicidade e
promoção; planejar e criar sistemas eficazes de distribuição
ou representação de vendas etc.
Precificação de produtos
Determinar estruturas competitivas de preços e margens e
análise de ponto de equilíbrio; posicionar produtos em
termos de preços; etc.
Administração de vendas
Organizar, recrutar, supervisionar, remunerar e motivar uma
força de vendas diretas; analisar o potencial de vendas por
território e por conta; administrar forças de vendas; etc.
Vendas diretas
Identificar, reunir e desenvolver novos clientes, fornecedores,
investidores, equipe de confiança e equipe de trabalho;
fechar vendas; etc.
Administração de produtos
Integrar informações de mercado, necessidades percebidas,
pesquisa e desenvolvimento e publicidade em um plano
racional de produtos; etc.
Operações/produção
Administração de produção
Gerenciar a produção para fabricar produtos dentro das
limitações de prazo, custo e qualidade; conhecer o
planejamento de recursos de fabricação; etc.
Controle de estoque
Usar técnicas de controle de estoque de produtos em
andamento e produtos acabados; etc.
Controle de qualidade
Criar sistemas de inspeção e padrões para o controle eficaz
da qualidade em insumos, produtos em andamento e
produtos acabados; etc.
Compras
Identificar fontes adequadas de suprimentos; negociar
contratos com fornecedores; administrar o flux o de entrada
de materiais no estoque; etc.
Avaliação do emprego
Analisar a produtividade do trabalhador e as necessidades
de funcionários adicionais; calcular os aspectos de redução
de custos de ajuda temporária versus permanente; etc.
Finanças
Contabilidade
Determinar sistemas adequados de escrituração e
contabilidade; preparar e utilizar as declarações de
rendimentos e os balanços patrimoniais; analisar o flux o de
caix a, o ponto de equilíbrio, a margem de contribuição e
demonstrativo de resultados; etc.
Provisão de capital
Preparar orçamentos; decidir a melhor forma de adquirir
fundos para as fases de start-up e crescimento; prever as
necessidades de fundos; etc.
Liderança empreendedora
Resolução de problemas
Antecipar problemas e planejar para evitá-los; analisar e
resolver problemas; etc.
Cultura e Comunicações
Comunicar-se de forma eficaz e clara, tanto oralmente
quanto por escrito, com os clientes, pares, subordinados e
ex ternos; tratar os outros como você gostaria de ser
tratado, compartilhar a riqueza, retribuir; etc.
Planejamento
Capacidade de estabelecer metas realistas e atingíveis,
identificar os obstáculos para atingir as metas e desenvolver
planos de ação detalhados para alcançar essas metas.
Tomada de decisões
Tomar decisões com base na análise de dados incompletos;
etc.
Competência ética
Habilidade para definir e dar vida aos valores que orientam
uma organização; criar um ambiente que apoia o
comportamento eticamente sólido; e incutir um senso de
responsabilidade compartilhada entre os funcionários.
Administração de projetos
Organizar as equipes de projeto; definir as metas do projeto;
definir as tarefas do projeto; monitorar a concretização das
tarefas em face dos problemas e limitações de
custo/qualidade; etc.
Negociação
Trabalhar de maneira eficaz nas negociações; etc.
Administração de pessoal
Configurar as funções de folha de pagamento, contratação,
remuneração e treinamento; identificar, administrar e
orientar adequadamente consultores ex ternos; etc.
Equipe interpessoal
Liderança/Visão/
Influência empreendedoras
Liderar ativamente, incutindo visão e paix ão nos outros, e
administrar as atividades de outras pessoas; criar um clima e
um espírito que conduzem a um alto desempenho; etc.
Ajuda
Determinar quando o aux ílio se justifica e pedir ou oferecer
essa assistência.
Feedback
Oferecer feedback eficaz ou recebê-lo; etc.
Administração de conflitos
Confrontar as diferenças de forma aberta e resolver os
problemas usando as evidências e a lógica; etc.
Legislação
Corporações
Entender as formas de organização das empresas e os
direitos e obrigações dos agentes, acionistas e diretores; etc.
Contratos
Compreender os requisitos dos contratos, licenças,
concessões e outros acordos públicos e comerciais; etc.
Impostos
Entender as ex igências municipais, estaduais e federais;
entender proteções fiscais, planejamento imobiliário,
benefícios; etc.
Títulos
Compreender as regulamentações da Comissão de Valores
M obiliários e os órgãos dedicados a títulos, tanto registrados
quanto não registrados; etc.
Imóveis
Compreender os acordos necessários para o aluguel ou
compra e venda de imóveis; etc.
Falência
Compreender as opções e os passivos perdoáveis e não
perdoáveis dos fundadores, ex ecutivos, diretores e afins; etc.
Habilidades únicas
Listar as competências únicas necessárias:
1.
2.
3.
Depois de analisar as questões e os critérios discutidos neste capítulo, neste exercício, o líder
empreendedor vai começar a compreender as traiçoeiras e delicadas alocações de remunerações e
patrimônio. Uma vez que a empresa de responsabilidade limitada está pronta para ser legalmente
constituída, essas decisões precisam ser tomadas.
Em primeiro lugar, apelamos a você para ancorar essas deliberações em diversos princípios e
realidades:
• As melhores empresas compartilham sua riqueza com pessoas de alto desempenho que a criam
através de incentivos e recompensas criativos.
• A justiça é uma consideração primordial.
• Quando se trata de salários dos fundadores, menos é mais.
• As contribuições de valor agregado dos principais participantes conduzirão a propriedade.
Em segundo lugar, é útil pensar sobre a estrutura de capital e propriedade da empresa em uma
possível IPO — mesmo que você nunca vá nessa direção. Como vimos nos mercados de capitais da
cadeia alimentar no Capítulo 5, depois da IPO, a propriedade ficará aproximadamente 50% nas
mãos de investidores externos (anjos, família, capitalistas de risco etc.) e 20–25% nas mãos do
público; o resto (25-30%) será de propriedade dos fundadores, gerentes e diretores/conselheiros,
incluindo opções de ações para demais funcionários chave. Também seria comum uma empresa ter
15-20 milhões de ações em circulação, depois da IPO em uma base totalmente diluída. Assim, a
propriedade das ações pode aproximar-se do seguinte:
Fundadores:
Conselheiros e diretores podem ter 0,25–1%, ou cerca de 10 K a 200 K ações, dependendo de seu
valor percebido e da negociação.
Atribuição do fundador
PASSO 1
Elabore um resumo de uma página de como você acredita que serão, neste momento inicial, os
salários e participação de ações (propriedade dos membros de uma empresa limitada) no
lançamento de seu empreendimento. Seja específico em relação a valores em reais, número de
ações e percentuais para cada um.
PASSO 2
Discuta seu projeto com pelo menos três membros da sua equipe de confiança, de preferência que
tenham sido foram fundadores/diretores de uma empresa que tenha aberto seu capital, ou com
assessores jurídicos. Isso serve para testar suas ideias, suas suposições e sua avaliação das potenciais
contribuições da equipe.
PASSO 3
Depois de digerir suas reações e sugestões, faça as revisões apropriadas.
PASSO 4
Peça a cada membro da equipe de fundadores (se você tiver uma neste ponto) para fazer o
mesmo. Compartilhe cada rascunho e tente chegar a um consenso.
Certifique-se de evitar a tentação, como apontado neste capítulo, de simplesmente tornar todos
iguais. Embora isso possa funcionar e funcione, muitas vezes não dá certo, e é uma forma de evitar
a realidade de que nem todos terão a mesma responsabilidade, risco e contribuições.
Capítulo 10
A ética e o empreendedor
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
Exercício 1
Ética
Neste exercício, serão tomadas decisões em situações eticamente ambíguas e, em seguida, elas
serão analisadas. Como no mundo real, não estarão disponíveis todas as informações sobre cada
situação, e você terá de fazer suposições.
Recomenda-se que o exercício seja concluído antes de ler o material a seguir e, depois, revisado
depois de ter concluído o capítulo.
Nome:
Data:
Parte I
PASSO 1
Tome decisões nas seguintes situações.
Você não terá todas as informações básicas sobre cada situação; em vez disso, você deve fazer
todas as suposições que você acha que faria se realmente fosse confrontado com as opções de
decisão descritas. Selecione a opção de decisão que representa melhor a decisão que você acha que
tomaria. Você deve escolher as opções de decisão mesmo que consiga imaginar outras soluções
criativas que não foram incluídas no exercício.
Situação 1. Você está em um curso muito difícil de química e precisa passar nesse curso para
manter sua bolsa de estudos e para evitar problemas na sua matrícula na faculdade. Química não é
seu forte, e por causa de uma média pouco abaixo da reprovação no curso, você precisa tirar pelo
menos 9 na prova final, que ocorrerá em dois dias. Um faxineiro que está ciente de sua situação
informa que encontrou o gabarito da prova final de química em uma lata de lixo e guardou. Ele
pode vendê-lo a você por um preço alto, mas que você pode pagar. O que você faria?
_____ (a) Eu diria ao faxineiro: “Obrigado, mas não quero”.
_____ (b) Eu denunciaria o faxineiro aos funcionários da escola.
_____ (c) Eu compraria a prova e não contaria a ninguém.
_____ (d) Eu não compraria o exame para mim, mas deixaria que alguns dos meus amigos, que
também estão quase reprovados no curso, soubessem que ele está disponível.
Situação 2. Você está trabalhando em alguns dados analíticos complexos há dois dias. Parece que,
cada vez que você pensa que eles terminaram, seu chefe aparece com uma nova hipótese ou outra
pergunta do tipo “e se...?”. Se você tivesse uma cópia de um novo programa de software para seu
computador pessoal, você poderia inserir as novas suposições e analisar as estimativas com
facilidade. Então, um colega se oferece para fazer uma cópia de um software que é protegido por
direitos autorais. O que você faria?
_____ (a) Aceitaria prontamente a oferta generosa do meu amigo e faria uma cópia do software.
_____ (b) Recusaria a cópia e continuaria inserindo manualmente os números.
_____ (c) Decidiria comprar uma cópia do software por $ 300 e esperaria ser reembolsado pela
empresa dali a um ou dois meses.
_____ (d) Solicitaria outra extensão de prazo para um projeto que já está atrasado.
Situação 3. Sua pequena empresa de fabricação está em séria dificuldade financeira. Um grande
pedido de seus produtos está pronto para ser entregue a um cliente importante, quando você
descobre que o produto simplesmente não está certo. Ele não vai atender todas as especificações de
desempenho, poderá causar problemas para seu cliente e exigirá retrabalho no campo; mas esses
problemas, sabe como é, só vão se tornar evidentes depois de o cliente ter recebido e pagado pelo
pedido. Se você não enviar o pedido e receber o pagamento conforme o esperado, sua empresa
pode ser obrigada a declarar falência. E, se atrasar a remessa ou informar ao cliente sobre esses
problemas, você pode perder o pedido e também ir à falência. O que você faria?
_____ (a) Não enviaria o pedido e colocaria minha empresa em falência voluntária.
_____ (b) Informaria ao cliente e declararia falência voluntária.
_____ (c) Enviaria o pedido e informaria ao cliente depois de ter recebido o pagamento.
_____ (d) Enviaria o pedido e não informaria ao cliente.
Situação 5. Você está em uma viagem de marketing para seu novo empreendimento, ligando para
o agente de compras de um importante cliente potencial. Sua empresa está fabricando um sistema
eletrônico que você espera que o agente de compras decida adquirir. Durante a conversa, você
percebe sobre a mesa cheia do agente de compras várias cópias de uma proposta de um de seus
concorrentes diretos para os custos de um sistema. Esse agente de compras relatou previamente o
extravio de várias propostas de sua própria empresa e pediu cópias adicionais. O agente de compras
sai da sala por um momento para pegar uma xícara de café para você, deixando-o sozinho com as
propostas do seu concorrente a menos de um braço de distância. O que você faria?
_____ (a) Não faria nada, apenas esperaria o agente retornar.
_____ (b) Daria uma olhadinha rápida na proposta, procurando os valores totais.
_____ (c) Colocaria a cópia da proposta na minha pasta.
_____ (d) Esperaria o agente voltar e pediria sua permissão para ver a cópia.
Parte II
PASSO 1
Com base nos critérios que você usou, coloque suas respostas para cada uma das situações
descritas ao longo do continuum de comportamento mostrado aqui:
Situação 1
Situação 2
Situação 3
Situação 4
Situação 5
PASSO 2
Depois de dividir a turma em equipes de 5 a 6 pessoas, registre aqui as respostas dadas por cada
membro de sua equipe sobre o formulário. Registre as respostas de cada membro da equipe em
cada caixa e a solução da equipe na coluna da extrema direita:
Situação 2
Situação 3
Situação 4
Situação 5
PASSO 3
Chegue a uma decisão por consenso em cada situação (se possível) e registre o consenso que sua
equipe atingiu no gráfico anterior. Dê 20 a 30 minutos para concluir este passo.
PASSO 4
Registre para todo o grupo as conclusões de sua equipe e discuta com eles como o consenso, se for
o caso, foi alcançado. A discussão deve se concentrar nas seguintes questões:
• Foi um consenso do grupo?
• Esse consenso foi difícil ou fácil de conseguir? Por quê?
• Que tipos de questões éticas surgiram?
• Se houve conflitos, como eles foram resolvidos? Ou eles ficaram sem solução?
• Que soluções criativas você encontrou para resolver os problemas difíceis sem comprometer sua
integridade?
PASSO 5
Discuta com o grupo as seguintes questões:
• Que papel desempenham as questões éticas? Quão importantes elas são para a formação de
uma equipe de gestão para um novo empreendimento?
• Que papel desempenham as questões éticas e quão importantes elas são na obtenção de capital
de risco? Ou seja, como é que os investidores se sentem sobre a ética e o quão importante ela é
para eles?
• Que sentimentos incomodam a maioria dos participantes sobre o debate e o consenso
alcançado? Por exemplo, se um participante considera que sua própria conduta foi considerada
eticamente menos do que perfeita, ele sente uma perda de amor-próprio ou um sentimento de
inferioridade? Será que ele teme o julgamento dos outros, e assim por diante?
• O que significa fazer a coisa certa?
PASSO 6
Defina a posição ética geral de cada membro do grupo e observe se a posição ética deles é
semelhante ou diferente da sua:
PASSO 7
Decida quem você gostaria e quem você não gostaria de ter como parceiro de negócios com base
nas posições éticas deles:
Aqui estão três interessantes situações de decisão ética na vida real para sua consideração.
Compra de calotas
Jeremy, um empreendedor bem-sucedido na indústria automotiva, é um fanático por carros e
apaixonado por ter seus veículos com a aparência mais recente e mais legal com suas calotas. Uma
nova linha de calotas está na moda e, depois de verificar os preços ($ 1.500 cada), ele decide entrar
em contato diretamente com o fabricante e ver se consegue fazer um negócio melhor que comprar
no varejo. O fabricante explica que as calotas só são vendidas em lojas de corrida e lojas de
personalização, e que em sua área não tem um representante de vendas. Se ele concordar em se
tornar um representante e comprar um total de $ 10.000 pelo preço de atacado, o fabricante lhe
vende um conjunto de calotas pelo preço de custo, além de lhe pagar uma comissão. Jeremy
concorda. Agora ele sabe como vai comprar suas calotas novas.
Primeiro, Jeremy vai à maior e melhor loja de corrida nas proximidades e pede as calotas pelo
nome. O proprietário diz que nunca ouviu falar delas. Jeremy, depois de dizer ao proprietário que
essas calotas são realmente um produto popular e que ele é o representante de vendas, deixa alguns
panfletos e diz que vai ligar novamente. Entretanto, ele contrata quatro estudantes do sexo
masculino de uma faculdade local para irem à loja uma vez nas próximas duas semanas e pedir as
calotas pelo nome. Eles devem dar a entender que as comprariam se eles estivessem disponíveis.
Para isso, cada aluno recebe $ 100. Ele retorna depois de três semanas, e o proprietário relata que as
calotas realmente devem ser tão legais quanto Jeremy diz — os jovens estão perguntando por elas.
Ele faz um pedido de calotas no valor de $ 15.000 para serem entregues ao longo de seis meses.
Jeremy consegue comprar um conjunto de calotas do fabricante por $ 335 cada e recebe $ 380 de
comissão sobre o total da venda. O dono da loja de corrida vende $ 30.000 em calotas e faz um
novo pedido depois de quatro meses. Jeremy continua a ser o representante de vendas que recebe
comissões, mas não promove ativamente as calotas.
As ações de Jeremy foram éticas? Por quê? O que ele deveria ter feito?
Ternos vazios
Fred estava animado para fazer seu discurso de venda para alguns investidores anjos; mas ele se
sentiu um pouco desconfortável porque, embora tivesse usado os termos equipe e nós em todo o
plano de negócios, ele era o único envolvido no empreendimento. Ele ainda não tinha conseguido
atrair nenhum membro para sua equipe, mas teve várias conversas com membros potenciais. Seu
contato pessoal no grupo de anjos lhe disse que seu empreendimento provavelmente poderia ser
financiado, mas haveria um foco considerável em sua equipe; muitas coisas estavam caminhando
na reunião. Para a apresentação do grupo, ele levou quatro de seus melhores amigos, nem todos
ligados ao negócio, vestidos em seus melhores ternos profissionais, até a apresentação, pediu que
eles se sentassem ao fundo da sala e não dissessem nada. Ele esperava dar a impressão de que tinha
uma equipe. Ele fez um ótimo trabalho na reunião, e sua “equipe” saiu atrás dele.
Fred estava sendo ético? Por quê? Como ele deveria ter lidado com a situação?
Um aviso de mudança
Susana vem lutando com a mudança de sua fábrica de móveis de jardim para a região do ABC
paulista, saindo do Rio Grande do Sul, onde sua mãe e seu pai fundaram a empresa há 58 anos.
Tudo sobre seu negócio será mais fácil lá: estará mais perto de seus mercados, terá redução de
custos de mão de obra, terá redução dos custos de matérias-primas, terá menores custos de
transporte, não há problemas com o clima e há acesso a um contingente de mão de obra que se
adapta melhor à sua empresa. Ela finalmente toma a decisão de se mudar, mas o local que ela
escolheu não estará disponível pelos próximos seis meses. Embora sua empresa tenha o capital
aberto (ela detém 35%) e seu conselho a esteja pressionando para manter os níveis de produção
elevados no Sul por mais tempo, ela decide que, em deferência para com seus pais e seu legado na
comunidade, ela deve contar a sua decisão aos funcionários. Quatro dias depois da assinatura do
contrato para o novo local no ABC, ela convoca uma reunião com o pessoal do chão de fábrica e
conta tudo aos funcionários, sendo que muitos deles provavelmente perderão seus empregos.
Naquela tarde, ela realiza uma entrevista coletiva.
Susana foi ética? Por quê?
Quais são as implicações e as lições que você extraiu da discussão sobre os três casos? Que papel as
questões éticas desempenham na formação de uma equipe, na seleção de consultores e
investidores, e em outras atividades empreendedoras?
Capítulo 11
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
www.josedornelas.com.
Exercício 1
3. Conclusões: o que e quem podem fazer a maior diferença na empresa? Normalmente, apenas
de uma a três pessoas ou recursos importantes podem fazer uma enorme diferença.
2. Caso não consiga ser apresentado, você terá de usar sua inteligência e sua criatividade para
conseguir uma reunião pessoal:
° Esteja altamente preparado e seja eloquente.
° Envie antecipadamente o sumário executivo e a pauta da reunião.
° Conheça as razões e os benefícios que serão mais atraentes para essa pessoa.
° Mantenha contato e seja lembrado — envie um bilhete escrito a mão, e não apenas mais uma
mensagem de e-mail.
Você receberá insights significativos sobre si e sua empresa — além de descobrir o quão
entendido e criterioso o membro em potencial da equipe de confiança é acerca de seu negócio —
com as perguntas que ele faz e com as perguntas que você faz. Você logo saberá se a pessoa está
interessada e se pode agregar valor.
4. Aumente a equipe de confiança para fazer a empresa crescer. Pense na empresa daqui a dois
anos e acrescente à equipe de confiança pessoas que já tenham navegado pelas águas turbulentas
nas quais você espera navegar.
Exercício 2
Empreendedorismo familiar
Este material é parte integrante do livro Criação de Novos Negócios e pode ser
distribuído livremente desde que citada a fonte: www.elsevier.com.br/josedornelas ou
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Exercícios
Descubra onde sua família está no continuum de mentalidade e métodos e que vantagem em
termos de família você pode ter para o empreendedorismo. Preencha as pesquisas de avaliação,
descreva seu grupo familiar no modelo de empreendedorismo familiar e preencha o continuum de
recursos e capacidades.
Continuum de mentalidade
O continuum de mentalidade estabelece o risco financeiro da família e as expectativas de retorno
e sua postura competitiva em relação ao mercado. Não há respostas certas e erradas. A proposta da
avaliação é mapear as crenças dos membros da família e alimentar o diálogo familiar.
Usando os continuums de avaliação, faça com que os acionistas membros da família e futuros
acionistas respondam às perguntas sobre o continuum de mentalidade listadas aqui. Circule o
número entre as duas afirmações que melhor reflita a força da sua crença sobre a família como um
grupo de acionistas. As pontuações totais variam entre 12 e 84, refletindo visões desde as mais
tradicionais até as mais empreendedoras.
Sacrificariam um maior retorno para preservar o legado da família. 123 Estão dispostos a vender e realocar ativos para encontrar um retorno mais
456 elevado no mercado.
7
Tendem a pensar em cultivar nossos negócios atuais para retornos atuais. 1 2 3 Desejam crescer, criando novos flux os de receitas com maiores
456 possibilidades de retorno.
7
Têm um compromisso em operar os negócios e em fornecer 123 Têm um compromisso em ser mentores da próx ima geração de
oportunidades de emprego para a família. 456 empreendedores para criar novos flux os de valor.
7
Sentem que temos um bom modelo de negócios que vai nos levar para 123 Sentem que deveríamos continuamente revisitar os pressupostos de nosso
o futuro. 456 modelo de negócios.
7
Sentem que nossos negócios e produtos atuais nos servirão bem no 123 Supõem que um percentual significativo de nossos negócios se tornarão
futuro. 456 obsoletos.
7
Desejam evitar dívidas e crescer com o dinheiro gerado internamente 123 Estão dispostos a alavancar os negócios para crescer e encontrar retornos
tanto quanto possível. 456 mais elevados no mercado.
7
Desejam aumentar nossa capacidade financeira para proporcionar 123 Desejam reinvestir mais agressivamente para ter um crescimento mais
distribuições e/ou liquidez. 456 rápido e retornos mais elevados.
7
Desejam crescer dentro de nossas estruturas atuais de capital e 123 Estão dispostos a usar as alianças e parcerias, dividir patrimônio, ou diluir
financeira, a fim de assegurar o controle sobre nosso destino. 456 posições de quotas, a fim de crescer.
7
Poderiam descrever a nós mesmos mais como uma empresa 123 Descreveriam a nós mesmos como um grupo que assume riscos, buscando
conservadora satisfazendo os objetivos financeiros e pessoais da nossa 456 maiores retornos totais para a família como grupo de investimento.
família. 7
Descreveriam nossos modelos e estratégia de negócio mais como 123 Estão dispostos a ser inovadores em nossos modelos e estruturas de
sólidos do que focados em oportunidades. 456 negócios, a fim de buscar novas oportunidades.
7
Acreditam que uma abordagem firme e consistente nos permitirá 123 Acreditam que atos ousados de grande amplitude são necessários para
cumprir a visão e as metas para o futuro de nossa família. 456 atingir nossos objetivos de investimento familiar no ambiente de hoje.
7
TOTAL:
Continuum de métodos
O continuum de métodos estabelece orientação e ações empreendedoras da organização. Ele
reflete as crenças dos acionistas e das partes interessadas sobre como os líderes estimulam o
empreendedorismo na organização.
Usando os continuums de avaliação, faça com que os acionistas membros da família e futuros
acionistas respondam às perguntas sobre o continuum de métodos listadas aqui. Circule o número
entre as duas afirmações que melhor reflita a força da sua crença sobre a família como um grupo de
acionistas. As pontuações totais variam entre 12 e 84, refletindo visões desde as mais tradicionais
até as mais empreendedoras.
Colocam uma forte ênfase na busca de retornos, reinvestindo em 123 Colocam uma forte ênfase na busca e captação de novas oportunidades
negócios já testados e reais. 456 de investimento em negócios.
7
Não perseguiram novas oportunidades de investimento fora de nossa 123 Buscaram muitas novas oportunidades de investimento fora de nossa
arena central de operação (nos últimos cinco anos). 456 arena central de operação (nos últimos cinco anos).
7
Acreditam que nossa principal competência está na gestão de negócios 1 2 3 Acreditam que nossa principal competência está na inovação para o
eficientes. 456 crescimento via novas oportunidades.
7
Fizeram pequenas mudanças em nossos negócios, produtos, serviços, 123 Fizeram mudanças significativas em nossos produtos, serviços, mercados ou
mercados, ou unidades de negócios durante a atual geração de líderes. 456 unidades de negócios à medida que o mercado o ex igia.
7
Reagem de maneira típica às ações que a concorrência ou o mercado 123 Normalmente iniciam ações e mudanças competitivas para liderar o
iniciam. 456 mercado e vencer concorrentes.
7
Reagem de maneira típica às ações que a concorrência ou o mercado 123 São frequentemente pioneiros em investir para desenvolver ou adotar
iniciam. 456 novas tecnologias e processos tecnológicos em nossa indústria.
7
Tendem a evitar confrontos competitivos, preferindo a competição 123 Normalmente, adotam uma postura competitiva de “desfazer o
amigável “viva e deix e viver”. 456 competidor” quando tomam decisões de investimento.
7
São mais intuitivos e informais na maneira como a organização pensa 123 Criaram estruturas e políticas formais para institucionalizar o processo
quanto a procurar ou captar novas oportunidades. 456 empreendedor dentro da organização.
7
Confiam em chefes de família para conhecer os mercados e clientes e 123 Têm planos e abordagens mais formais quanto a como obter e divulgar
levar as informações à organização. 456 informações de mercado.
7
Confiam em chefes de família para definir o tom e garantir que a 123 Estimulam e capacitam as pessoas em todos os níveis da organização a
organização seja competitiva ao longo do tempo. 456 pensarem e agirem como os competidores.
7
Normalmente adotam uma postura prudente de “esperar e ver” para 123 Normalmente adotam uma postura ousada, agressiva para max imizar a
minimizar a probabilidade de tomar decisões de investimento custosas. 456 probabilidade de ex plorar oportunidades de investimento em potencial.
7
TOTAL
Terras (fazendas etc.) Tratamento dos funcionários Conhecimento específico da empresa Capital paciente (de longo prazo)
Sistemas de distribuição Ambiente de aprendizagem Produtividade dos funcionários Estratégia de decisões e planejamento
Processos de fabricação Levantamento de inteligência de mercado Práticas de trabalho flex íveis Horizontes temporais
Além da colheita
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Exercício
“A sabedoria da colheita”
Entrev ista com um empreendedor que fez a colheita
O sucesso é conseguir o que você deseja. A felicidade é desejar o que você
consegue!
Dorothy Stevenson
No começo do livro, pedimos que você entrevistasse um empreendedor que tivesse construído
uma empresa nos últimos 10 anos, aproximadamente, atingindo vendas no valor de $ 10 milhões
ou mais. Agora, imbuídos do espírito de sabedoria de Dorothy Stevenson, sugerimos que há muito
a aprender a partir do envolvimento de um empreendedor na outra ponta do ciclo de vida da
criação e realização de valor.
Tim Russert, um jornalista americano, em seu livro Wisdom of our Fathers, coletou histórias
criteriosas e desoladoras sobre a relação entre as crianças e seus pais. O livro se baseia em dezenas
de milhares de cartas que ele recebeu dessas crianças — atualmente com idades entre 30 e 50 anos
— depois de terem lido seu outro livro Big Russ and Me, uma crônica sobre o amor e a sabedoria
adquiridos de seu próprio pai. O terceiro livro que você deve ler é de Charlie Collier: Wealth in
Families, mencionado anteriormente neste capítulo. Esses livros são altamente recomendados por
nós, e eles darão a você uma excelente base para este exercício e as entrevistas.
Encontre um fundador, com idade entre 45 e 60 anos de idade ou mais, que tenha um valor
líquido muito substancial, realizado a partir da construção e da colheita de sua empresa. Como
orientação, se a empresa ultrapassar $ 50 milhões a $ 100 milhões em receita, as chances são de que
ela tenha sido avaliada em um valor semelhante ou maior. Além disso, determine se esse
empreendedor tem alguma intenção de se aposentar; é muito provável que ele esteja envolvido em
outra empresa, ou até mesmo 2 ou 3, como fundador, cofundador ou investidor anjo que também
trabalha como consultor ou diretor.
Esse padrão é mais a regra do que a exceção. Veja, por exemplo, John Connolly. Ele fundou a
Course Technology em Boston no começo da década de 1990. Posteriormente, sua empresa
conseguiu uma IPO e se tornou uma das primeiras empresas muito bem-sucedidas de tecnologia
educacional. Quando estava com cerca de 40 anos, John adquiriu outra empresa, a MainSpring, por
mais ou menos $ 20 milhões; ele a virou do avesso, melhorou a empresa e a vendeu por mais de $
600 milhões. Agora, aos 54 anos e com condições financeiras de se aposentar e nunca mais
trabalhar, ele deixou claro, em uma conversa recente, que essa é a última coisa que passa por sua
cabeça. Ele disse: “eu adoro construir e iniciar empresas e ser diretor executivo. Acho que nunca
vou me aposentar!”.
Existem preciosos insights e lições a serem aprendidos em uma hora ou mais, com uma xícara de
café ou um almoço com empreendedores que fizeram a colheita como John. Aqui estão algumas
perguntas para orientar sua conversa e compartilhar o que aprendeu com os colegas de turma, os
amigos e a família. É interessante que você busque muitas dessas entrevistas ao longo de sua própria
jornada empreendedora.
1. Fale sobre sua empresa, sua decisão de vender/fundir ou abrir o capital e o que tem feito desde
então, e por quê.
2. Quais foram os mais difíceis conflitos, dilemas éticos e decisões com que você teve de lidar
durante a jornada e na época em que decidiu fazer a colheita?
3. Quais foram os aspectos mais desafiadores e gratificantes de equilibrar seu casamento, sua vida
familiar e o bem-estar de seus colaboradores e investidores?
4. Houve alguma experiência ou tribulação durante o caminho que você tenha ficado feliz de não
saber de antemão, senão você jamais teria tentado iniciar uma empresa? Como esse conselho
pode se traduzir para mim?
5. Alguns empreendedores (talvez cegamente) muito ambiciosos são tão consumidos pela vitória
e pelo sucesso financeiro que abandonam sua integridade pessoal e sua reputação pela conduta
ética. Eles parecem ser capazes de racionalizar seu comportamento, acreditando, no caminho da
prisão ou do túmulo, que nada fizeram de errado — como no caso de Koslowski, na Tyco, e de
Skilling e Delay, na Enron. Que conselhos e sugestões você teria, a partir de suas observações
tanto dos empreendedores que tenham mantido sua reputação pela integridade como daqueles
que não o fizeram?
6. Quantos anos tinham seus filhos quando você se tornou financeiramente bem-sucedido? Eles
tinham noção do estado financeiro privilegiado de sua família? Você falava sobre os bens de sua
família, os valores familiares e a filantropia? Que impacto isso teve sobre as crenças, os valores e
as expectativas (carros, férias, bens materiais etc.) deles e que motivação eles tiveram para
trabalhar arduamente?
7. Houve alguma coisa específica que você tenha dito ou feito com seus filhos, durante os anos de
formação deles, para mantê-los com os pés no chão, para lhes dar a ideia de frugalidade e de
ética profissional e para deixar um legado de ambição e retorno à sociedade?
8. O que você considera as melhores e as piores atitudes em como outros empreendedores bem-
sucedidos lidam com essas questões com seus filhos e quais foram os resultados? O que eles — e
você — gostariam de preservar, além dos ativos financeiros?
9. Quais as famílias ricas mais inspiradoras e as mais problemáticas que você conhece (não precisa
revelar nomes) no trato com a visibilidade, as pressões de colegas e as circunstâncias que essas
famílias tenham enfrentado durante o crescimento? O que cada uma delas considera como
verdadeiros ativos da família?
10. Para alguém que, como eu, aspira ter sua(s) própria(s) empresa(s) e torná-la(s) muito bem-
sucedida(s), quais são os mais importantes conselhos, insights e lições que você pode dar?
11.Alguns empreendedores parecem conseguir equilíbrio em suas vidas, ter casamentos
significativos, contribuir para a comunidade e ter filhos que se tornam acréscimos valiosos para a
família e a comunidade. Outras pessoas contam histórias terríveis sobre ricos empreendedores,
que incluem casos de alcoolismo e uso de drogas (dos pais e, consequentemente, dos filhos),
casos extraconjugais que levam a casamentos fracassados, pouco envolvimento com a
comunidade e outros tristes acontecimentos que parecem contrariar as mais sensatas ideias de
sucesso. Você já observou coisas desse tipo? Na sua experiência, qual é a diferença para se chegar
a esses resultados? O que um jovem empreendedor pode fazer para seguir o primeiro exemplo e
evitar o segundo?
12. O que o levou a decidir não se aposentar e continuar a buscar mais empresas? Quais as
recompensas pessoais e psicológicas que isso traz a você?
13. O quão ricos você gostaria que seus filhos e netos fossem, e por quê?
14. Existem outras coisas que você gostaria de compartilhar comigo e que não tenham sido
mencionadas?
Por fim, adicione outras perguntas que você desejar:
Resumo e compartilhamento
Faça um resumo de 1 ou 2 páginas dos resultados encontrados, das lições e insights que você
considere importantes e de que maneira você acredita que esta atividade vai alterar seus próprios
objetivos e pensamentos. Compartilhe seus resultados com os colegas de turma.
Você provavelmente vai querer rever esses tópicos ao longo de sua própria carreira de
empreendedor.