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Administração de Capital

de Giro Orçamento e
Fluxo de Caixa
Nestor Alberto Rancich Filho

Administração de Capital
de Giro Orçamento e
Fluxo de Caixa
Introdução

E sta obra trata de uma área da gestão financeira denominada finanças


e controle de custos. As finanças de curto prazo, que corresponde à
gestão dos ativos circulantes e passivos circulantes, é uma das atividades
mais importantes e mais intensas do administrador financeiro.

O objetivo das finanças e controle de custos nas organizações consiste


em gerenciar, adequadamente todos os gastos, custos ou despesas bem
como , cada ativo circulante (caixa e aplicações financeiras, contas a rece-
ber e estoques) , cada passivo circulante (dívidas com os fornecedores, com
os bancos, tributos, impostos etc.) de maneira a obter lucro na operação e
manter o equilíbrio financeiro da empresa na relação rentabilidade-risco,
que contribua positivamente com o valor da empresa.

A obra foi dividida em dez capítulos, desenvolvendo-se os temas em


uma ordem lógica e ordenada. Os primeiros dois capítulos tratam da fun-
ção financeira nas empresas e dos sistemas financeiros empresariais de
decisões de investimento, decisões operacionais e decisões de financia-
mento. Do capítulo três ao sete, apresenta-se a gestão do fluxo de caixa e
o dimensionamento do capital de giro. Os últimos dois capítulos tratam de
conteúdos sob o enfoque estratégico da gestão de custos nas organizações

Ao final de cada capítulo, o aluno encontrará atividades para exercitar


sua aprendizagem e, no final da obra, referências bibliográficas para leitu-
ras complementares.
Sobre o Autor

Nestor Alberto Rancich Filho

N estor Alberto Rancich Filho é natural da cidade de Rio Grande, RS.


Cursou a graduação em Engenharia Mecânica pela Universidade Fe-
deral do Rio Grande do Sul – UFRGS (1971); o curso de pós-graduação
em Pedagogia pela Universidade Luterana do Brasil – Ulbra (1983); e o
doutorado em Administração e Ciências Empresariais pela Universidade
de Leon, na Espanha (2002). Possui mais de 30 anos de experiência pro-
fissional, cujo início deu-se na função de técnico, tornando-se, mais tarde,
gerente, tendo alcançado a posição de diretor – nas áreas de materiais,
de produção e financeira. Trabalhou nas empresas Varig (1969-1973),
Grupo Gerdau (1974-1976) e Aeromot (1976-2005), todas localizadas na
cidade de Porto Alegre, RS. É professor da Ulbra desde 1981, lecionando
disciplinas dos cursos de Administração, Engenharias, Tecnológicos e Pós
Graduação nas áreas de materiais, produção, logística, custos e finanças.
Atualmente, além de exercer a docência, é consultor de pequenas e médias
empresas nas áreas de seu conhecimento.
Sumário

1 As Finanças nas Organizações...............................................1


2 Contexto dos Sistemas Financeiros Empresariais..................18
3 Fluxo de Caixa da Empresa..................................................32
4 Planejamento Financeiro.....................................................52
5 Análise das Relações Entre Custo, Volume
e Lucro................................................................................77
6 Administração do Capital de Giro........................................89
7 Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo
Mínimo de Caixa...............................................................108
8 Concessão de Crédito........................................................125
9 Gestão de Custos, Análise de Valor, Custo Meta
e Custo Total de Posse.......................................................144
10 Teoria das Restrições Aplicada na Gestão
de Custos..........................................................................165
Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo 1

As Finanças nas
Organizações

ÂÂ
N
este capítulo, vamos apresentar a importância das fi-
nanças nas organizações, sua área de abrangência e
seus principais objetivos. Veremos também a contabilida-
de como instrumento de análise e acompanhamento para
o administrador financeiro, bem como as possibilidades
de controle estabelecidas a partir dos relatórios contábeis.
2    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Quando uma empresa é constituída, o propósito de seus


acionistas é a obtenção de lucros para a maximização de sua
riqueza. Com esse objetivo, torna-se necessário o acompa-
nhamento e o controle das atividades empresariais, permitindo
garantir que as receitas obtidas com as operações sejam sufi-
cientes para cobrir todos os custos e as despesas incorridas e
gerar lucro.

A área financeira responde pela gestão de todos os recur-


sos financeiros movimentados na empresa, desde sua capta-
ção para o financiamento das atividades empresariais até a
formulação de uma estratégia voltada para garantir o melhor
aproveitamento desses recursos.

Desse modo, a administração financeira é dividida em


duas partes:

ÂÂadministração financeira de curto prazo; e


ÂÂadministração financeira de longo prazo.

A administração financeira de curto prazo se preocupa com


a captação e a aplicação de fundos nas atividades correntes
da empresa, ou seja, com a gestão do capital de giro, a po-
lítica dos estoques, dos valores a receber, dos fornecedores e
empréstimos de curto prazo.

A administração financeira de longo prazo busca a capta-


ção de recursos para o financiamento dos projetos de investi-
mento da empresa, permitindo que ela possa crescer de forma
consistente e de acordo com o objetivo maior do proprietário:
a maximização de sua riqueza.
Capítulo 1   As Finanças nas Organizações   3

1.1 Importância da contabilidade para a


administração financeira

Os administradores financeiros se valem dos instrumentos


contábeis para auxiliar em suas decisões. Dessa forma, temos
como principais peças de análise o balanço patrimonial (BP), o
demonstrativo de resultado do exercício (DRE), o demonstrativo
das origens e aplicações de recursos (DOAR), o demonstrativo
das mutações do patrimônio líquido (DMPL) e o demonstrativo
dos fluxos de caixa (DFC).

A análise dessas demonstrações permite uma série de infor-


mações sobre a captação e a alocação dos recursos financei-
ros nas empresas, sua rentabilidade, política de investimentos
e de capital de giro, rentabilidade e lucratividade, além de
permitir uma avaliação do possível comportamento da empre-
sa nos próximos exercícios.

A contabilidade também auxilia na separação entre a ad-


ministração financeira de curto e de longo prazo. No curto
prazo, temos as contas do ativo e do passivo circulante. Já
a administração financeira de longo prazo trata do realizável
e exigível a longo prazo, do permanente e do patrimônio
líquido.

Assim, o gestor financeiro será o responsável pela busca


dos recursos financeiros necessários às atividades empresariais
e sua correta alocação, de forma a garantir o retorno para os
acionistas da empresa.
4    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

1.2 Balanço Patrimonial (BP)

É uma das principais demonstrações financeiras, refletindo a


situação patrimonial da empresa no momento de apuração,
ou seja, na data de fechamento do balanço.

O BALANÇO PATRIMONIAL é composto por duas colu-


nas: no lado direito temos o passivo, formado pelas dívidas
e pelo PATRIMÔNIO LÍQUIDO; no lado esquerdo temos o
ativo, formado pelos bens e direitos, conforme exemplificamos
no Quadro 1.1.

ATIVO PASSIVO

CIRCULANTE
CIRCULANTE Obrigações com terceiros no
Disponibilidades curto prazo
Direitos realizáveis no curso do
exercício social
Despesas do exercício seguinte EXIGÍVEL A LONGO PRAZO
Obrigações com terceiros no
REALIZÁVEL A LONGO PRAZO longo prazo
Direitos realizáveis após término
do exercício social corrente
Direitos realizáveis com partes
relacionadas
PATRIMÔNIO LÍQUIDO
NÃO CIRCULANTE Capital social
Investimentos Reservas de capital
Imobilizado Reservas de reavaliação
Diferido Reservas de lucro
Lucros ou prejuízos acumulados

Quadro 1.1   Estrutura do Balanço Patrimonial


Capítulo 1   As Finanças nas Organizações   5

Ativo
É formado pelos bens e direitos da empresa, ou seja onde
estão aplicados os recursos financeiros, tendo como critério
de disposição das contas o grau de liquidez em ordem decres-
cente dos elementos nelas registrados nas mesmas, ou seja,
a possibilidade de conversão em dinheiro desses elementos,
dos itens de maior para os itens de menor liquidez. Exemplo: a
conta Caixa, que representa o próprio dinheiro em tesouraria,
é a primeira conta do ativo circulante e os estoques de menor
liquidez, a ultim. O Ativo divide-se em: ativo circulante, ativo
realizável a longo prazo e ativo não circulante ou permanente.

O ATIVO CIRCULANTE é composto por três subgrupos:

ÂÂDisponibilidades – Elementos do ativo que represen-


tam fundos (dinheiro) ou que nele podem ser converti-
dos imediatamente, podendo ser utilizáveis como meios
de pagamento. Como exemplo temos as contas caixa,
bancos, conta movimento e aplicações financeiras de
liquidez imediata.
ÂÂDireitos realizáveis no curso do exercício social (des-
pesas pagas antecipadamente) – Refere-se ao exercício
subsequente e às aplicações de recursos em despesas
do exercício seguinte; são os direitos da empresa sobre
determinados créditos ou bens, como, por exemplo: es-
toques, clientes e impostos a recuperar.
ÂÂDespesas do exercício seguinte – São as despesas
pagas antecipadamente, referentes às obrigações do
exercício seguinte. Como exemplo temos a conta de se-
guros. O prêmio pago pela empresa para garantir inde-
6    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

nizações futuras, quando corresponder a períodos de


exercício subsequente, será uma despesa antecipada,
classificada dentro do ativo circulante.

O ATIVO REALIZÁVEL A LONGO PRAZO é composto por


dois subgrupos:

ÂÂdireitos realizáveis após o término do exercício seguinte,


como aplicações financeiras de longo prazo;
ÂÂdireitos realizáveis provenientes de vendas, adiantamen-
tos ou empréstimos a sociedades coligadas ou controla-
das, diretores (administradores em geral), acionistas ou
participantes no lucro da empresa, que não constituírem
negócios usuais na exploração da atividade da empre-
sa. Como exemplo, podemos ter um empréstimo reali-
zado a um diretor da empresa.

O ATIVO NÃO CIRCULANTE também conhecido como


Permanente é composto por três subgrupos:

ÂÂInvestimentos – São as participações com caráter per-


manente em outras sociedades ou outros direitos de
qualquer natureza, não classificáveis no ativo circulan-
te, e que não se destinem à manutenção da atividade da
empresa. Como exemplo, podemos citar a participação
da empresa no capital de uma controlada ou coligada.
ÂÂImobilizado – É representado pelos recursos aplicados
em bens utilizados na atividade da empresa, mas cujos
fins não se voltam à comercialização ou à incorporação
Capítulo 1   As Finanças nas Organizações   7

de produtos fabricados para a venda. Como exemplo


temos as instalações da empresa, veículos, terrenos etc.
ÂÂDiferido – É representado pelas aplicações de recursos
em despesas que contribuam para a formação do resul-
tado de mais de um exercício social, ou seja, despesas
já incorridas, mas correspondentes a receitas ainda não
realizadas. Um exemplo dessa situação ocorre nas des-
pesas com pessoal para desenvolvimento de um softwa-
re, que somente irá gerar receitas com as vendas após
a sua conclusão.

Passivo
É formado pelas obrigações da empresa, com terceiros e
com os acionistas, ou seja as fontes dos recursos finaneiros.
Embora sem obrigatoriedade legal, por analogia ao ATIVO, o
PASSIVO tem como critério de disposição das contas o grau
de exigibilidade, em ordem decrescente, dos elementos regis-
trados nas mesmas, ou seja, o vencimento da obrigação. Por
esse critério, aparecem primeiramente as contas que tenham o
vencimento mais próximo. O PASSIVO divide-se em:

ÂÂpassivo circulante;
ÂÂpassivo exigível a longo prazo;
ÂÂresultados de exercícios futuros; e
ÂÂpatrimônio líquido.

Nas obrigações com terceiros, formadas pelo PASSIVO


CIRCULANTE e pelo PASSIVO EXIGÍVEL A LONGO PRAZO,
a divisão ocorre em função do prazo de vencimento das dívi-
8    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

das, ou seja, as obrigações com vencimento no exercício sub-


sequente ao encerramento do balanço classificam-se como
de curto prazo, no PASSIVO CIRCULANTE. As demais obriga-
ções com terceiros são classificadas no EXIGÍVEL A LONGO
PRAZO.

Nos RESULTADOS DE EXERCÍCIOS FUTUROS são classifi-


cadas as receitas de exercícios futuros, diminuídas dos custos e
das despesas a elas correspondentes. O critério mais utilizado
pela doutrina contábil para a classificação dessa conta tem
sido o de receitas antecipadas que afetarão exercícios futuros,
sobre as quais não pese nenhuma obrigatoriedade futura de
entrega de bens ou serviços ou de devolução do valor pela
empresa. Como exemplo, podemos citar o recebimento ante-
cipado de receita de aluguel, estabelecendo em contrato que
em nenhuma hipótese haverá restituição do valor recebido.

O PATRIMÔNIO LÍQUIDO é dividido em:

ÂÂCapital social – Representa o capital da empresa.


ÂÂReservas de capital – Representam receitas que não
transitam pelo resultado do exercício, como o ágio na
emissão de ações e o prêmio recebido na emissão de
debêntures.
ÂÂReservas de reavaliação – Classificam-se como reser-
vas de reavaliação as contrapartidas de aumentos de
valor que se atribuem a elementos do ativo, em virtude
de novas avaliações, com base em parecer aprovado
por uma assembleia geral.
Capítulo 1   As Finanças nas Organizações   9

ÂÂReservas de lucros – representam uma destinação


do lucro e são calculadas com base no lucro líquido
do exercício. São subdivididas em reserva legal, reser-
vas estatutárias, reservas para contingências, reserva
para retenção de lucros, reserva de lucros a realizar
e reserva especial para dividendos obrigatórios não
distribuídos.
ÂÂLucros ou prejuízos acumulados – Representam uma
parcela dos lucros ou prejuízos da empresa acumulados
ao longo de diversos exercícios.

1.3 Demonstração do Resultado do


Exercício (DRE)

A DRE reflete os resultados obtidos pela empresa em um de-


terminado período de tempo, ou seja, se está tendo lucro
ou não em seus negócios. Podemos considerar a DRE como
sendo a exposição ordenada das receitas realizadas e das
despesas incorridas no exercício, registradas de acordo com
o princípio da competência, ou seja, registradas no período
em que ocorreram.

Ao fim do exercício social, as contas de resultado têm os


saldos encerrados, fazendo com que os saldos destas não se-
jam afetados por receitas e despesas de períodos anteriores.
Dessa forma, o resultado corresponde exclusivamente às re-
ceitas e às despesas do exercício social encerrado. A seguir
apresentamos uma estrutura-padrão de DRE.
10    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

RECEITA BRUTA DAS VENDAS E SERVIÇOS 100

(–) Deduções da receita bruta das vendas e serviços


(devoluções de vendas, abatimentos, tributos incidentes sobre 5
as vendas)

(=) Receita líquida das vendas e serviços 95

(–) Custo das mercadorias vendidas e dos serviços prestados 45


(=) LUCRO BRUTO 50

(–) Despesas operacionais (despesas com vendas, despesas


financeiras, deduzidas das receitas financeiras, despesas 20
gerais e administrativas, outras despesas operacionais)

(+) Outras receitas operacionais 5

(=) Lucro ou prejuízo operacional líquido 35

(+) ou (–) resultados não operacionais 5

(–) Despesa com provisão para a contribuição social sobre o lucro 3


(=) Resultado antes do Imposto de Renda 37

(–) Despesa com provisão para o Imposto de Renda 11

(–) Participações (de debenturistas, empregados,


administradores, titulares de partes beneficiárias,
6
contribuições para instituições ou fundos de assistência ou
previdência de empregados)

(=) LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO DO EXERCÍCIO 5

LUCRO OU PREJUÍZO LÍQUIDO POR AÇÃO. (1.000


0,005
AÇOES)

Quadro 1.2   Estrutura da demonstração do resultado do exercício – DRE


Capítulo 1   As Finanças nas Organizações   11

1.4 Demonstração das origens e


aplicações de recursos (DOAR)

Outra importante demonstração financeira fornecida pela


contabilidade é a DOAR, que nos permite ter conhecimento
da situação de curto prazo da empresa, tornando possível ava-
liar a capacidade de pagamento das obrigações circulantes
da empresa, além de expor a política de financiamentos e in-
vestimentos de recursos não circulantes. Essa demonstração
evidencia as variações ocorridas no capital circulante líquido
durante o exercício.

Em capítulos posteriores, abordaremos mais especifica-


mente o conceito de CAPITAL CIRCULANTE LÍQUIDO.

ORIGENS DE RECURSOS
Lucro líquido do exercício
+ Despesas com depreciação, amortização e exaustão.
+ ou (–) Outras receitas e despesas que não afetam o Capital
Circulante Líquido (CCL)
+ ou (–) Variações nos resultados de exercícios futuros
+ ou (–) Ajustes de exercícios anteriores que afetam o CCL
= Total das origens geradas pelas operações da empresa
+ Realização do capital social
+ Contribuições para reservas de capital
+ Recursos de terceiros, originários:
do aumento do passivo exigível a longo prazo
da redução do ativo realizável a longo prazo
da alienação de investimentos permanentes
da alienação de direitos do ativo imobilizado
= Total das origens de recursos
12    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

APLICAÇÕES DE RECURSOS
Dividendos distribuídos
+ Aquisição de direitos do imobilizado
+ Aumento do ativo realizável a longo prazo
+ Aumento dos investimentos permanentes
+ Aumento do ativo diferido
+ Redução do passivo exigível a longo prazo
= Total das aplicações de recursos

Excesso ou insuficiência das origens sobre as aplicações


Total das origens de recursos
(Total das aplicações de recursos)
Aumento ou redução do CCL

Quadro 1.3   Estrutura da DOAR

1.5 Demonstração das mutações do


patrimônio líquido (DMPL)

A DMPL expõe as variações ocorridas durante o exercício, em


todas as contas do patrimônio líquido, inclusive na conta Lu-
cros ou Prejuízos Acumulados, sendo mais abrangente que a
Demonstração dos Lucros ou Prejuízos Acumulados (DLPA).
Além disso, a DMPL deve indicar o montante do dividendo por
ação do capital social, discriminando a parcela de dividendo
das ações ordinárias e preferenciais, inclusive por classe de
ações, se for o caso. O dividendo é a parcela do lucro a ser
paga aos acionistas. No caso do lucro ou prejuízo líquido, é
expresso na DRE.
Capítulo 1   As Finanças nas Organizações   13

Como exemplo, apresentamos no Quadro 1.4, a seguir,


uma possível estrutura da DMPL.

Total - Patrimônio líquido


Reserva de reavaliação

Reservas de lucros

Lucros acumulados
Reserva de capital
Capital realizado

Ações tesouraria
Saldos em 32/12/XXX0
Aumento de capital
mediante novas
subscrições

com lucros e reservas


Lucro líquido do
Exercício
Proposta de destinação
dos lucros
transferências para
reservas
legal
estatutária
para contingências
para plano de expansão
de lucros a realizar
juros a pagar sem o
capital próprio
dividendos a pagar
14    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Reversões de reservas
para contingências
de lucros a realizar
Parcela realizada da res.
reavaliação
Ajustes de exercícios
anteriores
mudança de critério
contábil
retificação de erro de
exercícios anteriores
Saldos em 31/12/XXX1

Quadro 1.4   Estrutura da DMPL

1.6 Demonstração dos fluxos de caixa (DFC)

A DFC mostra as variações ocorridas nas disponibilidades da


empresa, em um determinado exercício ou período, por meio
da exposição dos fluxos de recebimentos e pagamentos. Além
das variações ocorridas no saldo da conta caixa, a DFC deve
apresentar as alterações sofridas pelas demais disponibilida-
des, inclusive a conta banco, conta movimento e os investi-
mentos de elevada liquidez.

A DFC pode ser elaborada levando-se em conta a movi-


mentação ocorrida nas disponibilidades, todas as contas que
tenham tido pagamentos ou recebimentos durante o período
de apuração da DFC.
Capítulo 1   As Finanças nas Organizações   15

A DFC é dividida em fluxos das atividades operacionais,


atividades de financiamentos e atividades de investimentos,
conforme é apresentado no Quadro 1.5.

ATIVIDADES OPERACIONAIS
Recebimentos Pagamentos
Pagamentos de clientes De fornecedores
Recebimentos de juros e De despesas operacionais e
dividendos antecipadas
De salários, encargos sociais e
Outros recebimentos
benefícios.
De impostos e contribuições
Outros pagamentos

ATIVIDADES DE FINANCIAMENTOS
Da realização de capital De parcelas de empréstimos e
(novo sócio, subscrição de financiamentos (principal mais
novas ações) juros)
De empréstimos e Outros pagamentos de
financiamentos financiamentos
ATIVIDADES DE INVESTIMENTOS
De empréstimos e De investimentos em bens
financiamentos concedidos imobilizados e do permanente
Do resgate de investimentos
De bens do diferido
temporários
Vendas de bens imobilizados Saldo inicial menos saldo final das
e do permanente disponibilidades

Quadro 1.5   Estrutura da DFC


16    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Atividades

1) Descreva as principais funções e atribuições de um adminis-


trador financeiro.

2) Qual a contribuição da contabilidade empresarial ao admi-


nistrador financeiro?

3) Como são classificados os ativos e os passivos de uma em-


presa e qual a diferença que pode existir entre seus valores
relativos relacionados a uma indústria fabricante de pro-
dutos e ao comércio?

4) Qual é o objetivo do administrador financeiro na avaliação


e na análise da DRE de uma empresa em determinado
período?

5) Qual é o objetivo do administrador financeiro na avaliação e


análise da DFC de uma empresa em determinado período?

GABARITO
1. O administrador financeiro responde pela gestão de todos
os recursos financeiros, de curto e longo prazo, movimen-
tados na empresa, desde sua captação para o financia-
mento das atividades empresariais até a formulação de
uma estratégia voltada para garantir o melhor aproveita-
mento desses recursos.
Capítulo 1   As Finanças nas Organizações   17

2. Os administradores financeiros valem-se dos instrumentos


contábeis para auxiliar em suas decisões. Os principais
instrumentos contábeis são: a) balanço patrimonial (BP); b)
demonstrativo de resultado do exercício (DRE); c) demons-
trativo das origens e aplicações de recursos (Doar); d) de-
monstrativo das mutações do patrimônio líquido (DMPL);
e) demonstrativo dos fluxos de caixa (DFC).

3. Basicamente, os ativos são classificados em circulante rea-


lizável em longo prazo e permanente ou fixo e os passivos,
em circulante exigível em longo prazo, resultados de exer-
cícios futuros e patrimônio líquido. A diferença que pode
existir entre indústria e comércio está relacionada à po-
sição relativa dos ativos. Normalmente, a indústria apre-
senta um ativo permanente maior que o ativo circulante,
enquanto é comum que o comércio apresente um valor de
ativo circulante superior ao ativo permanente.

4. O objetivo é verificar se os negócios da empresa estão


gerando lucro ou não, bem como o percentual de partici-
pação quanto à incidência de cada componente do DRE
(CPV, despesas administrativas, despesas com vendas, des-
pesas financeiras e outros) sobre o valor das vendas.

5. A DFC mostra as variações ocorridas nas disponibilidades


da empresa, em um determinado exercício ou período, por
meio da exposição dos fluxos de recebimentos e paga-
mentos nas atividades operacionais, de financiamentos e
de investimentos.
Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo 2

Contexto dos Sistemas


Financeiros Empresariais
Capítulo 2    Contexto dos Sistemas Financeiros Empresariais    19

A área das finanças afeta, diretamente, a vida das pessoas


e das organizações. Portanto, é ampla e dinâmica. Gitman1
define finanças como a arte e a ciência da gestão do dinheiro.
Praticamente todos os indivíduos e as organizações recebem,
gastam ou investem dinheiro.

A administração financeira é a ciência de administrar re-


cursos financeiros, considerados os mais diversos tipos de or-
ganizações: indústria, comércio, serviços, empresas estatais,
empresas privadas, governo, escolas, hospitais, clubes recrea-
tivos, ONGs, igrejas, entre outras.

A função financeira das empresas pode ser simples ou mui-


to complexa. Nas pequenas empresas, é usual que um dos
sócios proprietários cuide das finanças da empresa, inclusive
acumulando, ou não, outras funções, tais como comercial,
administrativa ou operacional. Sua atividade, basicamente,
consiste na gestão do caixa do dia a dia da empresa, as co-
branças, pagamentos e relação com os bancos para tomada
ou aplicação de recursos. A contabilidade da empresa, nesse
caso, é, na maioria das vezes, terceirizada, realizada por es-
critórios contábeis.
20    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Já nas grandes empresas, existe sempre uma estrutura


bem maior, em nível de vice-presidência ou diretoria finan-
ceira, e as funções são divididas em tesouraria e controla-
doria. O Quadro 2.1, a seguir, detalha as principais ativi-
dades.

TESOURARIA CONTROLADORIA (Controller)

Administração de caixa
Administração de custos e preços
Administração de crédito e
Auditoria interna
cobrança
Contabilidade
Administração de risco
Controle do orçamento
Administração de câmbio
Controle do patrimônio
Decisão de financiamento
Planejamento tributário
Decisão de investimento
Emissão dos relatórios gerenciais
Planejamento e controle financeiro
das finanças
Proteção dos ativos
Desenvolvimento e
Relações com acionistas e
acompanhamento de sistemas de
investidores
informação financeira
Relações com os bancos

Quadro 2.1   Funções da administração financeira de tesouraria e


controladoria. Fonte: Adaptado de Lemes Jr., Rigo, Cherobim, 2005, p. 5.

As funções financeiras também são classificadas pelo pe-


ríodo de tempo entre curto e longo prazo. A administração fi-
nanceira de curto prazo é também chamada de administração
do capital circulante. O Quadro 2.2, a seguir, apresenta as
funções de curto e longo prazo.
Capítulo 2    Contexto dos Sistemas Financeiros Empresariais    21

CURTO PRAZO LONGO PRAZO

Administração do caixa Orçamento das fontes de capital


Administração do crédito Estrutura do capital
Administração das contas a Custo do capital
receber e a pagar Relacionamento com investidores
Administração dos estoques
Administração dos
financiamentos de curto prazo
Elaboração do planejamento
financeiro
Elaboração do planejamento
tributário

Quadro 2.2   Funções da administração financeira de curto e longo prazo.


Fonte: Adaptado de Lemes Jr., Rigo e Cherobim, 2005, p. 5.

Independente do tamanho da empresa – pequena, mé-


dia ou grande –, a administração financeira pode ser descrita
como um sistema de relações financeiras e de movimentações
de dinheiro acionado por decisões meramente administrativas.
Uma empresa administrada com sucesso gerará sempre fluxos
monetários positivos ou, nas palavras de Helfert2, “o sucesso
da operação do desempenho e da viabilidade a longo prazo
de qualquer negócio depende de uma sequência contínua de
decisões individuais ou coletivas tomadas pela equipe geren-
cial”. O autor observa também que o mundo empresarial apre-
senta uma variedade infinita de atividades. Empreendimentos
de todos os tamanhos ocupam-se de atividades como fabricar,
comercializar, financiar e prestar uma variedade enorme de
22    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

serviços, usando estruturas legais e organizacionais muito di-


ferentes e envolvendo, frequentemente, operações internacio-
nais e investimentos de longo prazo.

2.1 Decisões de investimento

Para Helfert3, “o investimento é a força motriz básica da ati-


vidade empresarial”, consistindo na aplicação de capital em
algum ativo tangível ou intangível. Também “é a fonte de cres-
cimento que sustenta as estratégias competitivas explícitas da
administração e, normalmente, está baseado em planos (orça-
mento de capital) comprometidos com fundos NOVOS ou já
existentes”, destinados a três áreas principais:

ÂÂCAPITAL DE GIRO – Capital necessário para suportar o


ciclo operacional da empresa.
ÂÂATIVOS FIXOS OU PERMANENTES – Terrenos, prédios,
máquinas e equipamentos (de segurança e para reduzir
impactos ambientais), móveis e utensílios, veículos, etc.,
necessários para as operações da empresa.
ÂÂPESQUISA E DESENVOLVIMENTO (P&D) – Despesas
com desenvolvimento de novos produtos, conquista de
novos mercados, pesquisa e desenvolvimento de novas
tecnologias, etc.

Lemes Jr., Rigo e Cherobim4 citam alguns dos principais


investimentos realizados, de acordo com diferentes atividades
econômicas. Para os autores, nas indústrias, a maioria dos in-
Capítulo 2    Contexto dos Sistemas Financeiros Empresariais    23

vestimentos ocorre na tecnologia de processo e produto, atra-


vés dos equipamentos de bens de capital, do desenvolvimento
de produtos e melhorias, da adoção de novas tecnologias, etc.
No setor de agronegócios, os investimentos ocorrem nas má-
quinas e nos implementos agrícolas, na construção de silos e
armazéns, no melhoramento genético do solo, no aumento da
produtividade, na formação de cooperativas, na informatiza-
ção do controle da produção e nos canais de comercialização.
No setor de serviços, os investimentos ocorrem nas instala-
ções, nos sistemas de informações gerenciais e de comunica-
ções com o mercado. No comércio, os investimentos ocorrem
nas instalações necessárias para o atendimento, nos sistemas
computacionais de controle de estoques, na mercadoria de
giro em estoque, entre outros.

Para todo e qualquer investimento que se faça em qualquer


organização, deve-se sempre questionar dois pontos: o que o
investimento irá agregar de valor para a empresa perante seus
clientes e mercado e o que o investimento irá reduzir de custos
ou desperdícios para a organização?

Se essas duas questões não tiverem respostas convincentes,


certamente, o investimento torna-se desnecessário.

Outras questões também devem ser respondidas, levando-


-se em consideração a estrutura do ATIVO, o que, por sua vez,
dependerá do tipo de negócio de cada empresa. Algumas em-
presas necessitam mais investimentos nos ativos permanentes,
como é o caso das indústrias, enquanto outras necessitarão
mais de investimentos no circulante, como é o caso do varejo
e comércio.
24    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

ATIVO QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS

ATIVO CIRCULANTE • Onde estão aplicados os recursos


• Caixas e bancos financeiros?
• Contas a receber • Quanto foi aplicado no circulante?
• Estoques • Quanto foi aplicado no permanente?
• Outros • Quais os riscos dos investimentos?
• Qual o retorno dos investimentos?
REALIZÁVEL A LONGO
• Como maximizar a rentabilidade dos
PRAZO
investimentos?
• Contas a receber
• O que deve ser descartado, reduzido
• Adiantamento a coligadas
ou eliminado por não agregar valor no
ATIVO NÃO CIRCULANTE negócio da empresa?
• Imobilizado • Quais as novas alternativas de
• Investimentos investimentos, para melhorar as
• Diferido vantagens competitivas da empresa?

Quadro 2.3   Decisão de investimentos. Fonte: Lemes Jr., Rigo, Cherobim,


2005, p. 7.

2.2 Decisões operacionais

As decisões operacionais consistem na utilização efetiva dos


capitais investidos. Isso torna necessário, segundo Helfert5,
“selecionar o mercado-alvo e fixar políticas adequadas de
preços e serviços que sejam competitivos para atender as ne-
cessidades dos clientes e que se baseiem nas competências
essenciais da empresa”.

Todas as operações de uma empresa ou de um negócio


devem ser executadas a um custo eficiente e mantidas como
tal, para obter sucesso sobre a concorrência. O lucro ope-
racional do negócio será consequência do volume das ven-
Capítulo 2    Contexto dos Sistemas Financeiros Empresariais    25

das, do preço e da relação dos custos fixos e variáveis. Os


resultados operacionais dependem em parte de entender e de
explorar a alavancagem operacional, ou seja, o efeito sobre
a rentabilidade da empresa causado pela relação dos custos
fixos em relação aos custos variáveis resultantes da operação.
Algumas das principais questões que devem ser respondidas
nas decisões operacionais são apresentadas no Quadro 2.4.

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS

RECEITA OPERACIONAL BRUTA • Quais os resultados obtidos das


(–) Deduções de impostos operações?
(–) Devoluções • Como melhorá-los?
(=) Receita operacional líquida • Qual o crescimento das vendas?
(–) Custos operacionais Dos custos? Das despesas?
(=) Lucro operacional bruto • Qual a participação dos custos e
(–) Despesas administrativas despesas em relação às receitas?
(–) Despesas com vendas • Qual a margem líquida?
(–) Despesas financeiras • Quais custos e despesas podem
(+) Resultado não operacional ser reduzidos?
(=) Lucro antes do Imposto • As receitas estão compatíveis com
Renda (Lair) os investimentos?
(–) Provisão para o Imposto de • Lucro tem atingido as metas?
Renda • Como estão os lucros comparados
(=) Lucro Líquido com as melhores empresas do ramo?

Quadro 2.4   Resultado das operações. Fonte: Lemes Jr., Rigo e Cherobim,
2005, p. 9.

2.3 Decisões de financiamento

As decisões de financiamento envolvem a escolha da estrutura


de capital e seus respectivos custos. Segundo Rosa Filho, tais
26    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

decisões implicam lidar com as “várias opções disponíveis de


financiamento para a administração lastrear os investimentos
e as operações do negócio a longo prazo”6.

Os financiamentos são sustentados por fundos que podem


ser representados por capital próprio, lucros retidos da empresa,
recursos de órgãos financiadores de negócios, tais como BN-
DES, Finame, Finep, Eximbank e outros. No Quadro 2.5 apre-
sentamos algumas questões cujas respostas visam a sustentar a
tomada de decisão em financiamento. De forma semelhante
às decisões de investimento sobre os ATIVOS, as decisões de
financiamento são levantadas sobre os PASSIVOS. As decisões
de financiamento devem ser estruturadas de tal forma que per-
mitam obter o menor custo do capital para a empresa.

PASSIVO QUESTÕES A SEREM RESPONDIDAS


PASSIVO CIRCULANTE • Qual a estrutura de capital?
• Fornecedores • Qual a origem dos recursos?
• Empréstimos e Financiamentos • Qual a participação de capital
• Debêntures próprio?
• Outros • Qual o perfil do endividamento?
• Qual o custo do capital? Como
EXIGÍVEL DE LONGO PRAZO
reduzi-lo?
• Financiamentos
• Fontes dos financiamentos e
PATRIMÔNIO LÍQUIDO respectivos custos?
• Capital social • Qual o risco financeiro?
• Reservas • Qual o sincronismo entre os
• Lucros ou prejuízos acumulados vencimentos das dívidas e a
• Total do passivo geração dos meios de pagamentos?

Quadro 2.5   Decisão de financiamento Fonte: Lemes Jr., Rigo e


Cherobim, 2005, p. 7.
Capítulo 2    Contexto dos Sistemas Financeiros Empresariais    27

A Figura 2.1 apresenta o contexto dos sistemas financeiros


empresariais.

Figura 2.1   Contexto dos sistemas financeiros empresariais. Fonte:


Adaptado de Helfert, 2000, p. 22.

Segundo Helfert7, a base para uma administração próspe-


ra consiste em “desenvolver e manter um conjunto coerente de
estratégias empresariais, de objetivos de investimento, de me-
tas operacionais e de políticas financeiras que se reforcem uns
aos outros, ao invés de gerar conflitos entre si. As estratégias
devem ser escolhidas por análise consciente e cuidadosa das
várias compensações econômicas envolvidas, individualmente
e em conjunto”. As estratégias devem ser alvo de um desem-
28    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

penho-padrão de longo prazo, que estabelecerá e reforçará as


expectativas positivas dos acionistas sobre os fluxos de caixa
futuro provenientes de investimentos prósperos existentes e de
novos investimentos sólidos ou advindos de desinvestimentos
ou de desempenhos ruins das divisões da empresa.

Figura 2.2   Demonstrativo geral do contexto e sistemas financeiros.


Fonte: Adaptado de Helfert, 2000, p. 41.
Capítulo 2    Contexto dos Sistemas Financeiros Empresariais    29

Para verificar os efeitos combinados das decisões de inves-


timento, operacionais e de financiamento, a análise conjunta
do demonstrativo de resultado operacional do período e dos
balanços do início e do final do período proporciona mais
informações do que a análise isolada de qualquer demonstra-
tivo. As decisões administrativas não só afetam o lucro do pe-
ríodo, mas também causam mudanças na maioria dos ativos
e passivos, particularmente nas contas que compõem o capital
de giro, como caixa, contas a receber, estoques e contas a
pagar. O demonstrativo do fluxo de caixa concentra os resul-
tados operacionais correntes e as conseqüentes mudanças
no BALANÇO PATRIMONIAL. Na Figura 2.2 apresentamos o
demonstrativo geral do contexto e sistemas financeiros, consi-
derando a DRE, a DFC e as consequentes alterações no BA-
LANÇO ao final do período, a partir do BALANÇO no início
do período1.

Atividades

1) Descreva a importância da administração financeira para a


gestão da empresa.
2) Descreva as principais funções e aponte as diferenças entre
a TESOURARIA e a CONTROLADORIA na administração
financeira?

1  O capítulo 4 apresenta um exemplo de planejamento financeiro onde as cor-


relações entre a DRE, a DFC e as consequentes alterações no balanço ao final do
período, a partir do balanço no início do período, poderão ser melhor percebidas.
30    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

3) Sob o enfoque das FINANÇAS, quais são os principais fato-


res a serem considerados nas decisões de investimento?

4) Sob o enfoque das FINANÇAS, quais são os principais fato-


res a serem considerados nas decisões das operações?

5) Sob o enfoque das FINANÇAS, quais são os principais fato-


res a serem considerados nas decisões de financiamento?

GABARITO
1. É a ciência de administrar recursos financeiros, incluin-
do a gestão do caixa do dia a dia, as cobranças, os
pagamentos e a relação com os bancos para tomada
ou aplicação de recursos. Uma empresa administrada
com sucesso gerará sempre fluxos monetários positivos.

2. As funções de tesouraria englobam administração do


caixa, crédito e cobrança, riscos, operações de câmbio,
decisões sobre investimentos e financiamentos, planeja-
mento e controle financeiro, seguro dos ativos, relações
com os acionistas, investidores e os bancos. As funções
de controladoria envolvem administração de custos e
preços, contabilidade, controle orçamentário, auditoria
interna, controle do patrimônio, planejamento tributário,
emissão dos relatórios gerenciais das finanças da em-
presa e desenvolvimento e acompanhamento dos siste-
mas de informações financeiras.

3. Devem ser considerados dois fatores: primeiro, ques-


tionar o que o investimento irá agregar de valor para a
Capítulo 2    Contexto dos Sistemas Financeiros Empresariais    31

empresa perante seus clientes e mercado; e, segundo,


questionar o que o investimento poderá reduzir de cus-
tos ou desperdícios para a organização.

4. A quantidade e o preço de vendas dos produtos e sua


relação com os respectivos custos variáveis e o custo
fixo.

5. Analisar as fontes disponíveis de financiamentos e seus


respectivos custos.
Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo ?
3

Fluxo de Caixa da
Empresa

ÂÂ
N
este capítulo, vamos ver como funciona o fluxo de
caixa de uma empresa e, através de projeções, ve-
rificar se as operações e decisões gerenciais da empresa
irão gerar caixa ao longo do tempo ou déficit de caixa.
No momento em que as projeções operacionais revelam
déficit ou falta de caixa, tem-se à mão um instrumento de
tomada de decisão. Na realidade, o saldo de caixa nun-
ca pode ser negativo. Quando isso ocorre, existem duas
possibilidades: alguma(s) conta(s) não é (são) paga(s) ou
a empresa obtém recursos em operações de crédito junto
ao mercado para suprir o déficit de caixa.
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    33

A Figura 3.1 ilustra os fluxos de caixa da empresa. As apli-


cações financeiras (títulos negociáveis), nesse caso, são con-
sideradas como disponibilidades de caixa. Mesmo que não
tenham liquidez imediata, podem servir de garantia para ope-
rações de crédito que suprirão o caixa. O fluxo de caixa é di-
vidido em: fluxos operacionais, fluxos de investimentos e fluxos
de financiamentos.

Figura 3.1   Representação do fluxo de caixa da empresa. Fonte:


Adaptado de Gitman, 2004, p. 87.
34    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Os FLUXOS OPERACIONAIS são as entradas e saídas de


dinheiro resultantes das operações da empresa (venda de pro-
dutos fabricados, vendas de serviços ou revenda de merca-
dorias). Os pagamentos dos clientes representam entradas de
caixa e todos os pagamentos da mão de obra, matérias-pri-
mas e custos indiretos de fabricação geram saídas de caixa.

Os FLUXOS DE INVESTIMENTOS são aqueles associados


à compra ou à venda de ativos imobilizados da empresa (ter-
renos, prédios, máquinas e equipamentos, veículos etc.) e as
participações na estrutura de capital em outras empresas. As
operações de compra de ativos ou participações geram saídas
de caixa enquanto a venda desses ativos gera entradas de caixa.

Os FLUXOS DE FINANCIAMENTOS decorrem de opera-


ções de captações de recursos de terceiros e de capital pró-
prio. A empresa pode captar recursos de terceiros por meio
de empréstimos em instituições financeiras ou pela venda de
ações e essas operações geram entradas de caixa. A empresa,
ao pagar empréstimos, juros e dividendos a acionistas, terá
saídas de caixa.

Uma vez combinados os três fluxos (operacionais, de in-


vestimentos e de financiamentos) em um determinado perío-
do de tempo, obtém-se o resultado do saldo final de caixa
de cada dia do período. O fluxo de caixa de uma empresa
é realizado diariamente partindo-se do saldo inicial de caixa
mais todas as entradas de caixa, menos todas as saídas de
caixa do dia, resultando no saldo final do dia que será o sal-
do inicial do dia seguinte.
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    35

3.1 Fontes e aplicações de caixa

Na realidade, a demonstração de fluxos de caixa sintetiza as


entradas e as saídas de caixa em um determinado período de
tempo. As entradas de caixa são consideradas fontes de caixa
e as saídas de caixa resultam nas aplicações de caixa.

Fontes de caixa são recursos financeiros que aumentam o


caixa da empresa. Exemplos: venda de ativos, depreciações
dos ativos permanentes, venda de ações da empresa, aumento
na margem dos produtos, reduções nos custos operacionais.

Aplicações de caixa são recursos financeiros que reduzem o


caixa da empresa. Exemplos: compra de ativos, prejuízos ope-
racionais, diminuição de um passivo exigível, pagamento de
dividendos, recompra de ações, amortizações de empréstimos.

Em resumo, qualquer redução das contas do ativo ou au-


mento de qualquer conta do passivo resultará em entrada (fon-
tes) de caixa. Por outro lado, qualquer aumento na conta dos
ativos ou redução de qualquer conta do passivo resultará em
saída (aplicações) de caixa.

Elaboração da demonstração de fluxos de caixa


A demonstração de fluxos de caixa para o período de um
ano é elaborada a partir da demonstração de resultados jun-
tamente com os balanços de início e final de período.

Apresentamos, a seguir, um exemplo de demonstração


de resultados de uma empresa no período de um ano e os
balanços do início e final de ano (ano 1 e ano 2), para mos-
36    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

trar como as variações das contas dos ativos e passivos se


correlacionam e fecham com os saldos de caixa e aplicações
financeiras.

A Tabela 3.1 apresenta as demonstrações de resultados do


ano encerrado, referenciado como 2, para referenciar o ba-
lanço inicial como sendo o ano 1. Os balanços corresponden-
tes encerrados no final do ano 1 e ano 2 estão na tabela 3.2.

Tabela 3.1  Demonstração de resultados (Ano 2)


DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADOS - R$ 1.000,00 ANO 2
VENDAS LÍQUIDAS 1.700
Custo dos produtos vendidos (CPV) 1.000
LUCRO BRUTO 700
Despesas de vendas 70
Despesas administrativas 160
Depreciação 100

LUCRO ANTES DOS JUROS E DO IMPOSTO DE


370
RENDA (LAJIR)

Despesas financeiras 70
LUCRO TRIBUTÁVEL 300

Imposto de Renda (40%) 120


Lucro líquido 180
Dividendos 80

LUCROS RETIDOS 100


Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    37

Tabela 3.2   Balanços encerrados em 31 dez. do Ano 2 e do Ano 1


Ano 2 Ano 1 Ano 2 Ano 1
ATIVO PASSIVO
2.000 1.900 1.400 1.400
CIRCULANTE CIRCULANTE
Caixa 400 300 Contas a pagar 700 500
Aplicações
600 200
Financeiras
Empréstimos
600 700
Bancos
Despesas a
Contas a receber 400 500 100 200
pagar
Estoques 600 900
EMPRÉSTIMOS
ATIVO FIXO 1.200 1.000 600 400
LONGO PRAZO
Terrenos e
1.200 1.050
prédios
Máquinas e Patrimônio
850 800
equipamentos líquido
Moveis e CAPITAL
300 220 700 700
utensílios SOCIAL
LUCROS
Veículos, outros 150 130 600 500
RETIDOS
Depreciação 1.300 1.200

PARTICIPAÇÕES 100 100


TOTAL
Total ativos 3.300 3.000 3.300 3.000
PASSIVOS
38    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

A demonstração do fluxo de caixa encerrado no ano 2 é


apresentada na Tabela 3.3. O fluxo de caixa das operações
(Tabela 3.3), igual a 780, resulta do lucro líquido (180) da
DRE, mais a depreciação (100), pois ela não é uma saída de
caixa, mas sim uma reserva contábil para a empresa renovar
seus ativos, depois de depreciados, mais a redução dos esto-
ques no período (300 = 900 – 600), mais a redução das con-
tas a receber no período (100 = 500 – 400), mais o aumento
das contas a pagar no período (200 = 700 – 500), mais a re-
dução das despesas a pagar no período (– 100 = 100 – 200).
Assim, o aumento do caixa pelas operações foi dado por: 780
= 180+100+300+100+200-100.

O fluxo dos investimentos (Tabela 3.3), igual a – 300 re-


sulta do aumento que houve nos ativos no período de 300 sem
considerar a depreciação já incluída no fluxo das operações.
A variação dos ativos é obtida pela variação de 150 (1200 –
1050 de terrenos e prédios), mais a variação de 50 (850 – 800
de máquinas e equipamentos) mais a variação de 80 (300 –
220 de móveis e utensílios), mais a variação de 20 (150 – 130
de veículos e outros). Desse modo, a redução do caixa pelo in-
vestimento em ativos imobilizados foi dada por: 300 = 150 +
50 + 80 + 20. O fluxo de financiamentos (Tabela 3.3 inferior
direita) igual a 20 resulta da redução do valor de empréstimos
de bancos (– 100 = 600 – 700) mais o aumento de 200 (600
– 400) do exigível de longo prazo (ELP), mais os dividendos
pagos aos acionistas de 80. Assim, o aumento do caixa pelo
fluxo de financiamento foi dado por: 20 = – 100 + 200 – 80.

A variação no saldo de caixa e aplicações financeiras do


balanço igual a 500 (400 + 600 – 300 – 200) fecha com os
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    39

valores das entradas e saídas de caixa pelo fluxo das operações,


dos investimentos e financiamentos (780 – 300 + 20 = 500).

Tabela 3.3   Demonstração do saldo final de caixa e aplicações financeiras

FLUXO DE CAIXA DAS FLUXO DOS


780 –300
OPERAÇÕES INVESTIMENTOS
Lucro líquido 180 Variação no ativo fixo 300
Depreciação 100 Variação participações 0
Variação nos estoques 300
Fluxo dos
Variação das contas a receber 100 20
financiamentos
Variação empréstimos
Variação das contas a pagar 200 –100
Bancos
Variação das despesas a pagar –100 Variação ELP 200
Variação capital social 0
VARIAÇÃO NO SALDO
DE CAIXA E APLICAÇÕES 500 Dividendos pagos -80
FINANCEIRAS

3.2 Orçamento empresarial

O orçamento de qualquer organização é um dos enfoques


mais importantes no processo de administração e gestão,
compreendendo os conceitos e as técnicas de planejamento e
controle de resultados. O orçamento empresarial deve, segun-
do Moraes1, incluir
40    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

um enfoque sistemático e formal à execução das responsabi-


lidades de planejamento, coordenação e controle da admi-
nistração. Especificamente, envolve a preparação e utiliza-
ção de: (1) objetivos globais e de longo prazo da empresa;
(2) um plano de resultados em longo prazo, desenvolvido
em termos gerais; (3) um plano de resultados em curto pra-
zo detalhado de acordo com diferentes níveis relevantes de
responsabilidade (divisões, produtos, projetos, etc.); e (4)
um sistema de relatórios periódicos de desempenho, mais
uma vez para os vários níveis de responsabilidade.

Cabe apresentarmos o significado de alguns termos e ex-


pressões usualmente adotados na elaboração de um orça-
mento empresarial:

• Período Orçamentário – normalmente de 12 me-


ses, podendo ser inferior ou superior sem ser obriga-
toriamente múltiplo de 12 meses;

• Unidade Temporal – dia para período semanal, se-


mana para período mensal e mês para período anual;

• Acompanhamento Orçamentário – diário, se-


manal ou mensal, com análise das causas e efeitos
das variações;

• Revisões Orçamentárias – geralmente mensais,


bimensais, trimestrais (nem sempre coincidem com o
acompanhamento);

• Simulações Orçamentárias – processo de ava-


liação dos efeitos nos principais indicadores eco-
nômico-financeiros em função das mudanças de
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    41

premissas das variáveis externas (cenários, ambiente


dos negócios) e internas da empresa (redução de
custos, melhoria de produtividade etc.). Recomen-
da-se trabalhar no mínimo com três simulações: oti-
mista, mais provável e pessimista.

Também devemos considerar as etapas previstas para o


planejamento financeiro e orçamento empresarial:

• Projeções das Vendas – É prevista em função


da análise da concorrência, do cenário (ameaças
e oportunidades) e tendências macroeconômicas.
Possibilita que seja planejado o volume de produção
dos produtos e serviços e respectivos preços.

• Projeções dos Custos – Custos da matéria-prima


da mão de obra direta e dos custos indiretos de fa-
bricação, em função das previsões de vendas e da
política de estoques adotada.

• Projeções das Despesas de Administração e


Vendas – Projeções das despesas administrativas
(RH, suprimentos, contabilidade, comercial, vendas).

• Resultado (orçamento de caixa) – Elabora-se o


orçamento de caixa e se determina a necessidade
de capital de giro, plano de imobilizações, plano de
P&D e as fontes dos recursos.

• Resultado (contábil e patrimonial) – Elabora-se


a DRE e o balanço patrimonial e calcula-se os índi-
ces de liquidez, rentabilidade, endividamento, taxas
de retorno sobre ativos e patrimônio líquido.
42    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Para se elaborar um orçamento empresarial, recomenda-


mos, ainda, detalhar todas as despesas e custos em todos os
setores da empresa, tanto os produtivos, como os indiretos e
os administrativos. No Quadro 3.1, apresentamos um plano
que contém as principais contas para um orçamento.

Quadro 3.1   Plano de contas para setores produtivos, indiretos e


administrativos.
PESSOAL
Nº de pessoas no setor
Salários
Encargos sociais
Provisão 13º salário
Provisão férias
Material de segurança
FUNCIONAMENTO
Manutenção
Depreciação
Energia elétrica
Telefone
Despesa com veículos
Viagens e estadias
Material de expediente
SERVIÇOS TERCEIROS
Vigilância
Refeitório
Vale transporte
Auditoria
Serviços jurídicos
Aluguel
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    43

3.3 P
 lanejamento de caixa (orçamento de
caixa)

O planejamento de caixa, ou previsão de caixa, é uma de-


monstração que apresenta as entradas e as saídas de caixa
planejadas pela empresa, com a finalidade de identificar as
necessidades de caixa no curto prazo. A seguir, apresentamos
um exemplo para elaborar o orçamento de caixa de uma
empresa.

Orçamento de caixa – exemplo


A empresa ABC está desenvolvendo um orçamento de caixa
para os meses de março, abril e maio. O saldo inicial de caixa
no início do mês de março da empresa totaliza R$ 30.000 e,
como segurança, para imprevistos, a empresa deseja ter to-
dos os meses um saldo mínimo de caixa de R$ 5.000,00. As
vendas dos dois meses anteriores (janeiro e fevereiro) foram,
respectivamente, de R$ 100.000 e R$ 200.000 e as suas con-
dições de recebimento foram: 20% a vista, 50% com prazo de
30 dias e 30% das vendas com prazo de 60 dias. A empresa
possui uma aplicação financeira em um banco que poderá ser
resgatada no segundo mês (abril) no valor de R$ 30.000, in-
cluindo principal e juros. As previsões de vendas dos próximos
três meses são respectivamente de R$ 400.000, R$ 300.000 e
R$ 200.000 e as condições de pagamento são consideradas
idênticas às dos dois meses anteriores.
44    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

As programações de pagamentos ocorrem segundo as se-


guintes informações:

• Compras de materiais – representam 60% das


vendas do mês anterior; e os pagamentos aos forne-
cedores nas seguintes condições: 10% à vista, 70%
em 30 dias e 20% em 60 dias.

• Salários e encargos – são calculados sobre a


base de 15% das vendas mensais mais o custo fixo
de R$ 20.000.

• Aluguel, energia, telefone – R$ 12.000 pagos


mensalmente.

• Impostos – 26% das vendas pagos no mês se-


guinte.

• Aquisição de equipamento – um novo software


integrado está sendo implantado na empresa e há
um saldo a pagar ao fornecedor de R$ 30.000 para
o mês de abril.

Consideradas essas informações, desejamos saber:

• O orçamento de caixa no período de março a maio.

• Haverá saldo excedente de caixa no período?

Para solucionar o problema proposto, elaboram-se três ta-


belas, conforme mostramos a seguir.

A primeira (Tabela 3.4), dos recebimentos, representa as


entradas de caixa da empresa no momento (mês) que efe-
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    45

tivamente ocorrem. Por exemplo, quando se prevê que 20%


das vendas de março ocorrerão à vista, significa dizer que o
dinheiro entra no caixa da empresa no próprio mês de março
(20% de R$ 400.000,00 = R$ 80.000,00). Já os 50% das
vendas do mês de março ocorrem em 30 dias significam que o
dinheiro entrará no caixa da empresa no mês de abril (50% de
R$ 400.000,00 = R$ 200.000,00), e assim sucessivamente
para todos os meses do período analisado.

Tabela 3.4   Recebimentos


Jan. Fev. Mar. Abr. Maio

Vendas do mês 100.000 200.000 400.000 300.000 200.000

À vista 80.000 60.000 40.000

30 dias 100.000 200.000 150.000

60 dias 30.000 60.000 120.000

Outros 30.000

Total 210.000 350.000 310.000

O mesmo raciocínio aplica-se à Tabela 3.5, dos pagamen-


tos, na qual devemos lançar os valores de cada categoria de
despesa no momento (mês) em que efetivamente ocorrem. As
compras representam 60% das vendas do mês anterior, e o
pagamento a fornecedores, 10% a vista, 70% no mês seguinte
e 20% dois meses depois.
46    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Tabela 3.5   Pagamentos


Jan. Fev. Mar. Abr. Maio
Compras de materiais 45.273 60.000 120.000 240.000 180.000

À vista 12.000 24.000 18.000

30 dias 42.000 84.000 168.000


60 dias 9.055 12.000 24.000

Salários e encargos 50.000 80.000 65.000

Aluguel, energia,
12.000 12.000 12.000
telefone etc.
Impostos 52.000 104.000 78.000
Aquisição de
30.000
equipamentos

Outros

Total 177.055 346.000 365.000

A Tabela 3.6, terceira e última, apresenta o orçamento


de caixa, o qual consiste na obtenção da diferença entre os
TOTAIS DOS RECEBIMENTOS e dos PAGAMENTOS mês a
mês. Esse cálculo permite obter o fluxo líquido de caixa de
cada mês que, somado ao saldo inicial de caixa, permite
que se chegue ao saldo final de caixa mês a mês. No saldo
final de caixa de cada mês, verifica-se se a empresa terá
excedente ou não de caixa. Quando o saldo final de caixa
resultar negativo, a empresa será obrigada a deixar de pa-
gar alguma conta ou deverá buscar recursos para suprir seu
déficit de caixa.
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    47

Tabela 3.6   Orçamento de caixa


Jan. Fev. Mar. Abr. Maio

Recebimentos (+) 210.000 350.000 310.000

Pagamentos (–) 177.055 346.000 365.000


Fluxo líquido de caixa (=) 32.945 4.000 (55.000)
Saldo inicial de caixa (+) 10.000 42.945 46.945
Saldo final de caixa (=) 42.945 46.945 (8.055)
Saldo mínimo de caixa 5.000 5.000 5.000
Saldo ou suprimento de
37.945 41.945 (13.055)
caixa

Note-se que, nos meses de março e abril, a empresa terá


excedente de caixa e, no último mês, de maio, um déficit de R$
13.055,00 (8.055 das operações mais 5.000 de saldo míni-
mo de caixa), e terá de levantar esses recursos por operações
de crédito junto ao mercado ou terá de postergar o pagamen-
to de alguma das contas desse mês.

3.4 Linhas de crédito

Quando uma empresa apresentar déficit de caixa no seu or-


çamento de caixa, poderá buscar fontes de recursos junto a
instituições financeiras para supri-lo ou a necessidade de ca-
pital de giro, em função do ciclo do seu negócio. A seguir,
apresentamos as principais linhas de crédito disponibilizadas
pelas instituições financeiras.
48    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

• ADIANTAMENTO DE CONTRATO DE CÂMBIO


(ACC) – Crédito utilizado para financiar o capital
de giro de empresas exportadoras, sendo liberado
antes do embarque efetivo da mercadoria para o
exterior, com um prazo de até 360 dias antes do
embarque. Essa linha de recursos somente poderá
ser obtida por empresas exportadoras.

• ADIANTAMENTO DE CONTRATO DE EXPOR-


TAÇÃO (ACE) – Operação semelhante ao ACC,
sendo os recursos liberados após a comprovação
do embarque da mercadoria para o exterior, com
um prazo de até 180 dias após a data de embarque.
Esta linha de recursos somente poderá ser obtida
por empresas exportadoras.

• EXPORT NOTES – É uma operação com direitos


creditórios de exportação, na qual são comprados
e vendidos direitos a recebimentos em moeda es-
trangeira provenientes de exportações já realizadas
ou futuras exportações a realizar, cujo pagamento
ainda não foi recebido.

• FINANCIAMENTO À IMPORTAÇÃO (FINIMP)


– É um empréstimo destinado a financiar materiais
e equipamentos importados. Apresenta o risco da
variação cambial, por serem recursos de funding ex-
terno. Essa linha de recursos somente poderá ser
obtida por empresas importadoras.

• DESCONTO DE DUPLICATAS – Linha de cré-


dito muito utilizada pelas empresas para capital de
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    49

giro, fornecendo como garantia valores recebíveis


de vendas realizadas. Os bancos antecipam o valor
ao emitente, descontando juros antecipados e, na
falta de pagamento do cliente, exercem o direito de
regresso contra a empresa.

• VENDOR – Crédito que financia o comprador,


mas o aval da operação é dado pelo emitente (ven-
dedor).

• COMPROR – Trata-se de financiamento ao capital


de giro, em que o financiado é o vendedor e o emi-
tente (comprador) é o avalista da operação.

• CAPITAL DE GIRO – É um empréstimo para capi-


tal de giro sem vinculação a vendas. Exige garantias
que pode ser hipoteca, recebíveis, como duplicatas
a receber entregues em caução.

• HOT MONEY – Crédito para atender suprimento


de caixa de curtíssimo prazo ou para cobrir emer-
gências.

• CONTA GARANTIA – É uma linha de crédito que


também visa cobrir emergências. É realizada por um
contrato onde o banco assegura um limite de crédito
disponível, no prazo do contrato.

• FACTORING – Operação adotada por pequenas


e médias empresas que possuem dificuldades de
obter créditos junto aos bancos. É oferecido por em-
presas de fomento mercantil, que compram a cartei-
ra de cobrança de outras empresas que, nesse caso,
50    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

estão terceirizando sua cobrança. Por outro lado, a


empresa de fomento assume os riscos, com o direito
de regresso.

Atividades

1) O que são fontes de caixa? Dê três exemplos.

2) O que são aplicações de caixa? Dê três exemplos.

3) O que ocorre no saldo de caixa se as fontes de caixa forem


inferiores às aplicações de caixa?

4) Como os fluxos de investimentos podem aumentar ou dimi-


nuir o saldo de caixa?

5) Uma empresa apresentou a seguinte movimentação de cai-


xa, iniciando o período com um saldo de 2.000,00:

Total Mês 1 Mês 2 Mês 3


Entradas 125.000 110.000 120.000
Saídas 118.000 120.000 115.000

Assinale a alternativa correta:

a) 
O déficit máximo de caixa no período foi de R$
10.000,00
Capítulo 3    Fluxo de Caixa da Empresa    51

b) 
O déficit máximo de caixa no período foi de R$
1.000,00

c) O excedente máximo de caixa no período foi de R$


1.000,00

d) O excedente máximo de caixa no período foi de R$


7.000,00

GABARITO
1. Fontes de caixa são recursos financeiros que aumentam
o caixa da empresa. Por exemplo: venda de ativos, au-
mento na margem dos produtos, reduções nos custos
operacionais.

2. Aplicações de caixa são recursos financeiros que reduzem


o caixa da empresa. Exemplos: compra de equipamen-
tos, prejuízos operacionais, pagamento de dividendos.

3. Ocorrerá déficit de caixa.

4. Investimentos classificados como conta do passivo re-


sultarão em entrada (fontes) de caixa; e investimentos
classificados como conta do ativo resultarão em saída
(aplicação) de caixa.

5. b
Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo ?
4

Planejamento Financeiro
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   53

O desempenho financeiro futuro provável de uma empresa


pode ser obtido a partir do desenvolvimento do seu planeja-
mento financeiro através de três conjuntos de projeções. O
primeiro é o DEMONSTRATIVO DE RESULTADO (DR), que re-
presenta um plano e análise operacional da empresa e permi-
te verificar qual foi o seu lucro. O DR consiste em lançar os
valores das vendas e de todos os custos e despesas ocorridas
no período e alocadas nos produtos e ou serviços vendidos,
inclusive os impostos. A segunda projeção trata do FLUXO DE
CAIXA (FC), o qual apresenta e expõe os movimentos espera-
dos por categoria de conta do caixa da empresa nas previsões
futuras, fornecendo uma visão mais dinâmica das mudanças
esperadas no cenário e dos recursos da empresa. A terceira
projeção trata do BALANÇO PATRIMONIAL (BP), o qual reflete
o impacto cumulativo antecipado das decisões futuras presu-
midas conforme sua condição financeira.

Todos os três demonstrativos são preparados tomando-se


como base as estimativas ou premissas consideradas nas ativi-
dades futuras do mercado e/ou da empresa e projetando-se,
conta por conta, os resultados e as condições pressupostas. A
abordagem não está baseada em transações contábeis deta-
lhadas, mas principalmente no uso criativo do conjunto das
receitas e contas como uma estrutura pela qual se organizam
e desempenham as expectativas futuras.

O planejamento do lucro envolve a elaboração da de-


monstração do resultado e do balanço patrimonial projetados.
Para preparar corretamente as projeções do demonstrativo de
resultados e do balanço, é necessário definir todas as pre-
missas preliminares desejadas às previsões futuras. Sua ela-
boração exige uma integração cuidadosa de inúmeros pro-
54    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

cedimentos que levem em conta os cenários, as previsões das


vendas, os custos e as despesas, as obrigações, os ativos e as
participações acionárias, resultantes do nível de operações an-
tecipadas. Os passos fundamentais nesse processo são apre-
sentados na Figura 4.1.

4.1 Método das demonstrações projetadas

O método para elaborar as demonstrações projetadas inicia


com um plano das previsões de vendas, do qual se desenvolve
um plano de produção que leva em conta o tempo necessário
para se converter a matéria-prima em produto pronto. Com
base nessas estimativas, programa-se quando e quanto com-
prar de matéria-prima, bem como são definidas as necessida-
des de mão de obra (custos diretos de produção).

Os custos indiretos de produção podem ser estimados pelo


comportamento histórico operacional da empresa, cujas despe-
sas operacionais (vendas e administrativas) são estimadas com
base no nível de operações necessário para sustentar as vendas
previstas. Depois de ter definidos esses pontos, pode-se elaborar
o orçamento de caixa (trimestral, mensal e diário de pagamentos
e recebimentos). Conhecendo-se o orçamento de caixa, o plano
de investimentos de capital e o balanço do período corrente, po-
de-se desenvolver o balanço projetado da empresa. A demons-
tração de resultados fornecerá a variação dos lucros retidos, de-
preciação e Imposto de Renda. O orçamento de caixa fornecerá
o saldo de caixa, títulos a pagar, duplicatas a receber e a pagar,
empréstimos de curto e longo prazo. O plano de investimentos
de capital indica as variações esperadas nos ativos fixos.
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   55

A Figura 4.1 apresenta o fluxograma das etapas a serem


elaboradas para projetar os resultados futuros de uma empre-
sa com base em premissas preestabelecidas.

Figura 4.1   Etapas do planejamento financeiro. Fonte: Adaptado de


Gitman, 2004, p. 93.
56    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Exemplo de aplicação: demonstrações


projetadas
A empresa Mano Móveis (MM) produz e vende dois mode-
los básicos de móveis para escritórios (X e Y). As informações
relativas ao ano anterior (últimos 12 meses), tais como peças
vendidas, preços de vendas, custos e despesas são as seguintes:

VENDAS X Y

Preço unitário de venda R$ 200,00 270,00

Unidades vendidas 1.000 3.000

Tabela 4.1  Preço unitário e quantidade vendida

MÃO DE OBRA DIRETA – (MOD) X Y

MOD (homens hora)/produto 2 hh 2,5 hh

Custo R$ MOD/hora R$ 30,00/hh R$ 30,00/hh

Custo total da MOD/produto R$ 60,00 R$ 75,00

Unidades vendidas 1.000 3.000

Custo total MOD no ano R$ 60.000,00 R$ 225.000,00

Tabela 4.2   Custo da mão de obra direta por produto


Capítulo 4   Planejamento Financeiro   57

X Y

Matéria-prima A 1 unidade 1 unidade

Matéria-prima B 2 unidades 3 unidades

Custo matéria-prima A R$ 20,00 R$ 20,00

Custo matéria-prima B R$ 5,00 R$ 5,00

Custo total MP/produto R$ 30,00 R$ 35,00

Unidades vendidas 1.000 3.000

Custo total MP no ano R$ 30.000,00 R$ 105.000,00

Tabela 4.3   Custo da matéria-prima por produto

CUSTOS DE FABRICAÇÃO R$ / ANO


MO indireta 60.000,00
Compras/almoxarifado 52.000,00
Energia e material de consumo 20.000,00
Supervisão 80.000,00
Manutenção 35.000,00
Engenharia 55.000,00
Impostos e seguros 28.000,00
Depreciação 50.000,00
Total 380.000,00

Tabela 4.4   Custos indiretos de fabricação


58    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

DESPESAS ADMINISTRATIVAS R$ / ANO


Salários e encargos 31.000,00
Materiais de escritório 7.000,00
Telefone 3.000,00
Serviços jurídicos 9.000,00
Total 50.000,00

Tabela 4.5   Despesas administrativas

DESPESAS COM VENDAS R$ / ANO


Salários e encargos – vendedores 30.000,00
Propaganda 12.000,00
Despesas viagem 8.000,00
Total 50.000,00

Tabela 4.6   Despesas com vendas

As demonstrações dos resultados e o balanço do exercício


em questão são apresentados a seguir:
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   59

VENDAS R$ ORIGEM DOS DADOS


Modelo X 200.000,00 Tabela 4.1 R$ 200 x 1000 un
Modelo Y 810.000,00 Tabela 4.1 R$ 270,00 x 3000 un
Totais 1.010.000,00
CPV
MOD 285.000,00 Tabela 4.2 (60.000 + 225.000)
MP 135.000,00 Tabela 4.3 (30.000 + 105.000)
Custo indireto 380.000,00 Tabela 4.4
Total 800.000,00
R$ 1.010.000,00 – R$
Lucro bruto 210.000,00
800.000,00
Despesas operacionais
Vendas 50.000,00 Tabela 4.5
Administrativas 50.000,00 Tabela 4.6
Total 100.000,00
Lucro líquido
110.000,00
operacional
Despesas financeiras 10.000,00
Lucro antes do
Imposto de Renda 100.000,00
(LAJIR)
Provisão Imposto de
22.000,00
Renda
LUCRO LÍQUIDO 78.000,00
Distribuição de lucros 40.000,00
Lucro retido 38.000,00

Tabela 4.7   Demonstração de Resultados


60    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

ATIVO R$ ORIGEM DOS DADOS


Circulante 390.000,00 Ver tabela 3-9
Caixa 60.000,00
Títulos negociáveis 40.164,00
Duplicatas a receber 130.000,00
Estoques 159.836,00
Fixo 510.000,00
Ativo Total 900.000,00

Tabela 4.8   Ativo

PASSIVO R$
Circulante 220.000,00
Duplicatas a pagar 120.000,00
Impostos a pagar 37.400,00
Outros exigíveis 62.600,00
Exigível de longo prazo 150.000,00
Patrimônio líquido 530.000,00
Cotas 300.000,00
Lucros retidos 230.000,00
Passivo Total 900.000,00

Tabela 4.9   Passivo

O estoque apresentado no balanço consiste basicamente


em matérias-primas e produtos acabados, não havendo, por-
tanto, estoque de produtos em processamento no fim do ano.
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   61

A tabela 4.10, a seguir, demonstra como os estoques estão


formados no fim do ano.

QUANTIDADES R$

Matéria-prima A (1 un. X e 1 un. Y) 600 1 2.000,00

Matéria-prima B (2 para X e 3 para Y) 4.000 20.000,00

Produto X 320 54.336,00

Produto Y 350 73.500,00

Estoque Total 159.836,00

Tabela 4.10   Valores dos estoques

Conhecidas todas essas informações da empresa do exer-


cício anterior (últimos 12 meses), vamos elaborar agora as
projeções de resultados e balanço para o exercício seguinte
(próximos 12 meses), considerando as seguintes premissas:

1) Vendas e preços dos produtos X Y

X Y

Preço de venda 250,00 330,00

Unidades vendidas 1.500 2.800

2) Estoque desejado no fim do exercício (política da empresa):


produto pronto de X = 120 unidades; produto pronto de Y
62    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

= 150 unidades; estoque da matéria-prima A = 500 uni-


dades e estoque da matéria-prima B = 3.000 unidades.

3) O custo da mão de obra direta será de R$ 35,00 por ho-


mem-hora.

4)
Custo indireto de fabricação anual previsto totaliza R$
500.000,00 e inclui R$ 70.000 de depreciação.

5) Despesas com vendas no ano: R$ 80.000,00.

6) Despesas administrativas previstas: R$ 60.000,00.

7) A empresa programa a compra de uma nova máquina que


custa R$ 200.000,00. A máquina será depreciada linear-
mente em 10 anos e será paga em duas prestações iguais,
uma em março e a outra em setembro;

8 ) Considerar as despesas financeiras 50% superior ao valor


do ano anterior e pagos integralmente em dezembro.

9) Estima-se 35% do lucro para provisão do Imposto de Renda.

10) Estima-se que as vendas projetadas da empresa (todas a


crédito) estejam assim distribuídas durante o ano: 20% no
1º trimestre; 40% no 2º trimestre; 25% no 3º trimestre e
15% no 4º trimestre.
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   63

11) 75% das duplicatas a receber serão recebidas durante o


trimestre da venda; os restantes 25% serão recebidas no
trimestre seguinte.

12) 60% das compras de matéria-prima serão pagas no tri-


mestre corrente; os restantes 40% serão pagos no trimes-
tre seguinte.

13) Os pagamentos da mão de obra direta, custos indiretos de


fabricação e despesas operacionais, serão divididos igual-
mente entre todos os trimestres.

14) Os impostos a pagar do exercício anterior serão pagos em


parcelas trimestrais idênticas no exercício seguinte.

15) A empresa deseja manter um saldo final de caixa de pelo


menos R$ 40.000,00.

16) Se possível, prever distribuição de lucros aos cotistas no


montante de R$ 50.000,00.

Etapas para elaboração das projeções de resultados e ba-


lanço para o exercício seguinte (próximos 12 meses):

ÂÂETAPA 1 – O primeiro passo é determinar o PLANO DE


PRODUÇÃO DO EXERCÍCIO, considerando os esto-
ques iniciais existentes, os estoques finais projetados e
as previsões de vendas do exercício:
64    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

X Y
Estoque inicial dos produtos 320 350
Vendas previstas (premissa 1) 1.500 2.800
Estoque final dos produtos (premissa 2) 120 150
Plano de produção do exercício 1.300 2.600

ÂÂETAPA 2 – A seguir calcula-se as necessidades de ma-


térias primas para o plano de produção do exercício,
considerando-se os estoques iniciais, os estoques finais
projetados e as necessidades para atender o plano de
produção do exercício.

X (1.300) Y (2.600) Total


Matéria-prima A (1 para X e Y) 1.300 2.600 3.900
Matéria-prima B (2 para X e 3 para Y) 2.600 7.800 10.400

A B Total
Estoque inicial da MP 600 4.000
Consumo previsto 3.900 10.400
Estoque final desejado (premissa 2) 500 3.000
Quantidade necessária de MP 3.800 9.400
Custo unitário das MP (R$) 20,00 5,00
Total das compras de MP 76.000,00 47.000,00 123.000,00
Valores das compras trimestrais 19.000,00 11.750,00 30.750,00
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   65

ÂÂETAPA 3 – Calcula-se os valores de custos da mão de


obra direta (MOD), sabendo-se que a taxa hora passa a
ser de R$ 35,00 por hh:

MOD X Y Total
MOD (homens hora)/
2 hh 2,5 hh
produto
Custo R$ MOD/hora
35,00 35,00
(premissa 3)
Plano de produção 1.300 2.600
Custo anual da MOD R$ 91.000,00 227.500,00 318.500,00
Custo trimestral da MOD 22.750,00 56.875,00 79.625,00
% da MOD sobre o produto 28,57% 71,43%

ÂÂETAPA 4 – Calcula-se os custos indiretos de fabricação


apropriando-os sobre os dois produtos na mesma pro-
porção de incidência do custo da MOD. Os custos indire-
tos de fabricação (CIF) totalizam R$ 500.000,00, o qual
é desdobrado no mesmo percentual da MOD incidentes
sobre os produtos X e Y. Portanto, a parcela do CIF des-
tinado ao produto X é 28,57% de R$ 500.000,00, que
resulta em R$ 142.857,00. O valor do CIF destinado
ao produto Y será o complemento de R$ 357.143,00.
Esses valores, quando divididos respectivamente pelas
quantidades do produto X e Y (a serem produzidos no
ano) resultam na parcela do CIF por unidade de produto
X e Y. O CIF por unidade de X é R$ 142.857,00, ao ser
dividido por 1.300 unidades de X por ano R$ 109,89.
Para o produto Y tem-se R$ 357.143,00 que dividido
66    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

por resulta em 2.600 unidades de Y por ano, resulta em


R$ 137,36.

CIF X Y Total

Custo anual
91.000,00 227.500,00 318.500,00
da MOD
Apropriação
Premissa
CIFs/produto/ 142.857,00 357.143,00 500.000,00
4
ano
Apropriação
CIFs/produto/ 109,89 137,36
unidade

ÂÂETAPA 5 – Conciliam-se os custos com matéria-prima,


MOD e CIF para determinar o Custo dos Produtos Ven-
didos (CPV) anual da empresa.

CPV X Y Total
Custo MP/unidade 30,00 35,00
MOD p/unidade 70,00 87,50
CIF p/unidade 109,89 137,36
Custo total p/unidade 209,89 259,86
Produção vendida no ano 1.180 2.450
CPV do ano 247.670,33 636.663,46 884.333,79


Quantidades de X e Y para o cálculo do CPV
Produto X = 1500 – 320 = 1.180
Produto Y = 2.800 – 350 un. = 2.450
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   67

ÂÂETAPA 6 – Elaborar a demonstração de resultados do


exercício:

VENDAS R$
Modelo X 375.000,00
Modelo Y 924.000,00
Total das vendas 1.299.000,00

CPV
Estoque inicial de produtos 127.836,00
MOD 296.975,00
MP 121.150,00
Custo indireto 466.208,79
Total 1.012.169,79

Lucro bruto 286.830,21

Despesas operacionais
Vendas (premissa 5) 80.000,00
Administrativas (premissa 6) 60.000,00
Total 140.000,00

Lucro líquido operacional 146.830,21


Despesas financeiras (premissa 8) 15.000,00

Lucro antes do IR 131.830,21


Provisão Imposto de Renda (premissa 9) 46.140,57
Lucro líquido 85.689,64
Distribuição de lucros 50.000,00
Lucro retido 35.689,64

ÂÂETAPA 7 – Elaborar o ORÇAMENTO DE CAIXA:


68    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

1º Trim 2º Trim 3º Trim 4º Trim

Vendas –
total ano: R$ 259.800,00 519.600,00 324.750,00 194.850,00
1.299.000,00

Recebimentos
0,2 0,4 0,25 0,15
(premissa 10)

75% das vendas


correntes (premissa 194.850,00 389.700,00 243.562,50 146.137,50
11)

25% das vendas do


130.000,00 4.950,00 129.900,00 81.187,50
trimestre anterior

Total 324.850,00 454.650,00 373.462,50 227.325,00

Compras (ver
30.750,00 30.750,00 30.750,00 30.750,00
etapa 2)

Pagamentos

60% das compras


18.450,00 18.450,00 18.450,00 18.450,00
corrente (premissa 12)

40% das compras


120.000,00 12.300,00 12.300,00 12.300,00
do trimestre anterior

Mão de obra direta


79.625,00 79.625,00 79.625,00 79.625,00
(ver etapa 3)

CIF (500.000–
107.500,00 107.500,00 107.500,00 107.500,00
70.000)/4

Despesas
operacionais

Aquisição de
35.000,00 35.000,00 35.000,00 35.000,00
máquina

Juros 100.000,00 100.000,00

Distribuição de
15.000,00
lucros (premissa 16)

Impostos (Conta
50.000,00
passivo/4) premissa 14
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   69

Total 9.350,00 9.350,00 9.350,00 9.350,00

469.925,00 262.225,00 362.225,00 327.225,00

Fluxo líquido de
(145.075,00) 192.425,00 11.237,50 (99.900,00)
caixa

Saldo inicial de
60.000,00 (85.075,00) 107.350,00 118.588,00
caixa

Saldo final de
(85.075,00) 107.350,00 118.588,00 18.687,50
caixa

Empréstimo 125.075,00 21.312,50

Saldo final de
40.000,00 107.350,00 118.588,00 40.000,00
caixa Premissa 15

ÂÂETAPA 8 – Elaborar o balanço projetado. A etapa 7 (or-


çamento de caixa) fornece algumas informações para a
projeção do balanço. São elas:
• Saldo final de caixa: R$ 40.000,00.

• Títulos a pagar: o empréstimo a curto prazo no fim


do ano para suprir o caixa é igual a R$ 21.312,50.

• Duplicatas a receber: as duplicatas a receber no


fim do período correspondem a 25% das vendas do
4º trimestre amontam em R$ 48.712,50.

• Duplicatas a pagar: correspondem a 40% das com-


pras do 4º trimestre e montam em R$ 12.300,00.
70    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   71

Atividades

Elabore o planejamento financeiro da empresa Mano Móveis,


preenchendo os quadros das oito etapas (conforme apresenta-
do neste capítulo), obtendo a nova DR, o novo ORÇAMENTO
DE CAIXA e o novo BALANÇO PATRIMONIAL, considerando
as seguintes alterações nas premissas:

• Redução de 5% no preço de venda dos produtos.

• Estoque dos produtos e das matérias primas ao final de


12 meses igual a zero, preenchendo as tabelas a seguir.

• Redução de R$ 100.000,00 nos custos indiretos de fa-


bricação.

Responda às seguintes questões:

1) Qual será o novo LUCRO BRUTO e o novo LUCRO LÍQUI-


DO operacional da empresa?

2) Qual será o déficit máximo de caixa da empresa no perío-


do?

3) Qual será o valor excedente máximo de caixa da empresa


no período?

4) Q
ual será o valor total dos ATIVOS e PASSIVOS?

5) Qual será o valor do PATRIMÔNIO LÍQUIDO da empresa?


72    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

6) Etapas/tabelas para preenchimento:

Etapa 1

X Y

Estoque inicial dos produtos

Vendas previstas

Estoque final dos produtos

Plano de produção do exercício

Etapa 2

X( ) Y( ) Total

Matéria-prima A (1 para X e Y)

Matéria-prima B (2 para X e 3 paraY)

A B Total

Estoque inicial de MP

Consumo previsto

Estoque final desejado

Quantidade necessária de MP

Custo unitário das MP-R$

Total das compras de MP

Valores das compras trimestrais


Capítulo 4   Planejamento Financeiro   73

Etapa 3

MOD X Y Total
MOD (homens hora)/produto
Custo R$ MOD/hora
Plano de produção
Custo anual da MOD R$
Custo trimestral da MOD
% da MOD sobre o produto

Etapa 4

CIF X Y Total
Custo anual da MOD
Apropriação CIFs/produto/ano
Apropriação CIFs/produto/unidade

Etapa 5

CPV X Y Total
Custo MP/unidade
MOD p/unidade
CIF p/unidade
Custo total p/unidade
Plano de produção
CPV do ano
74    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Etapa 6

VENDAS R$

Modelos
Modelo Y
Totais

CPV
Estoque inicial de produtos
MOD
MP
Custo indireto
Total

Lucro bruto

Despesas operacionais
Vendas
Administrativas
Total

Lucro líquido operacional


Despesas financeiras

Lucro antes do IR
Provisão IR
Lucro líquido
Distribuição de lucros
Lucro retido
Capítulo 4   Planejamento Financeiro   75

Etapa 7

1º 2º 3º 4º
Trim Trim Trim Trim
Vendas – Total Ano R$
Recebimentos
75% das vendas correntes
25% das vendas do trimestre anterior
Total

Compras (ver etapa 2)


Pagamentos
60% das compras corrente
40% das compras do trimestre anterior
Mão de obra direta (ver etapa 3)
CIF (500.000–70.000)/4
Despesas operacionais
Aquisição de máquina
Juros
Distribuição de lucros
Impostos (conta passivo/4)
Total

Fluxo líquido de caixa


Saldo inicial de caixa
Saldo final de caixa
Empréstimo
Saldo final de caixa c/empréstimo
76    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Etapa 8

ATIVO PASSIVO
Circulante Circulante
Caixa Duplicatas a pagar
Títulos negociáveis (inalterado) Impostos a pagar
Duplicatas a receber Títulos a pagar
Estoques Outros exigíveis (inalterado)
MPs
Produtos prontos Exigível de longo prazo

Fixo Patrimônio líquido


Cotas
Lucros retidos
Ativo total
Passivo total

Gabarito
1. Lucro bruto: R$ 288.089,00. Lucro líquido: R$ 36.507,85

2. R$ 59.358,75

3. R$ 180.585,63

4. R$ 834.604,00

5. R$ 566.507,85
Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo ?
5

Análise das Relações


Entre Custo, Volume
e Lucro
78    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

A análise das relações entre custo, volume e lucro, também


denominada análise do ponto de equilíbrio, tem como obje-
tivo determinar a quantidade de produção e venda de bens e
serviços cujos custos e receitas totais se igualam. Portanto, no
ponto de equilíbrio não há lucro nem prejuízo operacional.

Para se calcular o ponto de equilíbrio, é necessário conhe-


cer o preço de venda unitário, o custo variável unitário e o
custo fixo total constante.

O ponto de equilíbrio pode ser operacional, por regime de


caixa e por valor monetário. Neste capítulo, vamos explorar es-
ses três modos de calcular o ponto de equilíbrio.

5.1 Ponto de equilíbrio operacional (PEO)

O ponto de equilíbrio operacional pode ser obtido pela


seguinte fórmula:

Em que:

PEO = Ponto de equilíbrio operacional em unidades

CF = Custo fixo operacional total

PVU = Preço de venda unitário

CVU = Custo variável unitário


Capítulo 5    Análise das Relações Entre Custo, Volume e Lucro    79

MC = Margem de contribuição unitária e é igual a PVU


– CVU

Por exemplo, vamos calcular o PEO de uma empresa que


fabrica um único produto, sendo o PVu igual a R$ 15,00, o CVu
igual a R$ 10,00 e o custo fixo mensal igual a R$ 100.000,00.

5.2 Ponto de equilíbrio por regime de


caixa (PECX)

O PEcx é a quantidade de produção e venda de bens e ser-


viços cujas entradas e saídas de caixa se igualam. Difere do
PEo, pois os custos fixos são apropriados por regime de com-
petência, que desconsidera a realização das respectivas saídas
de caixa e incorpora os valores referentes à depreciação, que
não origina saída de caixa.

Considerando no exemplo anterior uma depreciação de R$


40.000,00 incluída nos custos fixos de R$ 100.000,00, tem-se
como PEcx o valor de:
80    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

5.3 Ponto de equilíbrio em moeda (PEMO)

Quando a empresa fabrica e vende vários produtos com quan-


tidades, preços e custos variáveis diferentes, o PE tem de ser cal-
culado globalmente em moeda, e não por unidade de produto,
já que os custos fixos totais são comuns a todos os produtos.

O ponto de equilíbrio em moeda pode ser obtido pela se-


guinte fórmula:

Em que:

ROT = Receita operacional total

CVT = Custos variáveis operacionais totais

CF = Custos fixos operacionais

Por exemplo, uma empresa fabrica e vende cinco dife-


rentes modelos de pneus de moto. Sua receita operacional
total tem sido de R$ 100.000,00 por mês, seu custo variável
total de R$ 50.000,00 por mês e seus custos fixos de R$
80.000,00 por mês. A empresa está trabalhando no ponto
de equilíbrio em moeda?
Capítulo 5    Análise das Relações Entre Custo, Volume e Lucro    81

O PEmo encontrado é superior a ROT, portanto a empresa


está operando com prejuízo, abaixo do ponto de equilíbrio.
Solução: reduzir os custos fixos ou aumentar as vendas, man-
tendo a mesma margem de contribuição total.

5.4 Alavancagem operacional e financeira


da empresa

A obtenção de fundos por empréstimos de longo prazo ou


capital próprio deve conter a capacidade que a empresa pos-
sui para usar ativos ou fundos com um custo fixo, a fim de
aumentar os retornos de seus proprietários e/ou amortizar e
pagar o custo do capital obtido como exigível a longo prazo
(ELP). A alavancagem é um termo financeiro que analisa a
relação risco-retorno do investimento. Quanto maior for o
grau de alavancagem, maior será o risco e maior será o re-
torno esperado. O termo risco, nesse contexto, refere-se ao
grau de incerteza associado à capacidade da empresa cobrir
seus encargos fixos. Alavancagem é o uso de ativos opera-
cionais e/ou recursos financeiros com custos e despesas fixas,
visando a aumentar o retorno dos acionistas. Há dois tipos
de alavancagem a serem considerados na maioria das em-
presas: alavancagem operacional e alavancagem financeira.
Apresentamos a seguir uma descrição mais detalhada sobre
os dois tipos.
82    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Alavancagem operacional
A alavancagem operacional refere-se ao uso de ativos ope-
racionais, com custos e despesas fixas, visando a aumentar os
lucros antes dos juros e do Imposto de Renda. Representa a
variação percentual no lucro operacional da empresa em rela-
ção à variação percentual das vendas. Sempre que a variação
porcentual do lucro operacional resultante de uma dada varia-
ção porcentual das vendas for maior que a variação porcentu-
al das vendas, ocorre a alavancagem operacional.

Por exemplo, uma empresa vende seu produto a R$ 10,00


a unidade, tem custos operacionais variáveis de R$ 5,00 a
unidade e custos operacionais fixos de R$ 2.500 ao ano. A
empresa deseja verificar a alavancagem operacional simulan-
do vendas de 500, 1.000 e 1.500 unidades respectivamente
por ano.
Capítulo 5    Análise das Relações Entre Custo, Volume e Lucro    83

• CASO 1: uma queda de 50% nas vendas resulta em uma


diminuição de 100% no lucro operacional;

• CASO 2: um aumento de 50% nas vendas resulta em um


aumento de 100% no lucro operacional.

Como a variação porcentual do lucro nos dois casos foi


superior à variação porcentual das vendas, existe, portanto,
uma alavancagem operacional. Sempre que houver custos
operacionais fixos na empresa, existe a análise da alavanca-
gem operacional em relação ao aumento ou diminuição das
vendas. Quanto maiores forem os custos fixos operacionais
da empresa, maior será a alavancagem operacional e, con-
sequentemente, maior será o risco operacional. Entendemos
por risco operacional o risco que ocorre ao não se conseguir
cobrir os custos operacionais da empresa.

O GRAU DE ALAVANCAGEM OPERACIONAL (GAO) pode


também ser obtido pela seguinte fórmula:

Aplicando a fórmula com base nos mesmos dados do


exemplo anterior, temos:
84    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Alavancagem financeira
A alavancagem financeira diz respeito à capacidade da
empresa de usar encargos financeiros fixos para maximizar os
efeitos de variações no lucro operacional sobre o lucro líquido
ou lucro por ação. A alavancagem financeira resulta da pre-
sença de encargos financeiros fixos no fluxo de lucros da em-
presa que não variam com o lucro operacional, ou seja, eles
precisam ser pagos independente de haver lucro operacional
disponível para cobri-los.

Por exemplo, uma empresa espera um lucro operacional


de R$ 10.000,00 no ano corrente. Deve R$ 40.000,00 de
um ELP a juros de 5%, 400 ações preferenciais emitidas, com
dividendo anual de R$ 6,00 e 1.000 ações ordinárias. Vamos
verificar a alavancagem financeira resultante de lucros opera-
cionais de R$ 6.000, R$ 10.000 e R$ 14.000, sendo que a
empresa paga 35% de Imposto de Renda.
Capítulo 5    Análise das Relações Entre Custo, Volume e Lucro    85

• CASO 1: uma queda de 40% no lucro operacional resul-


ta em uma diminuição de 100 % no lucro por ação;

• CASO 2: um aumento de 40% no lucro operacional re-


sulta em um aumento de 100 % no lucro por ação.

Sempre que a variação porcentual no LUCRO POR AÇÃO


RESULTANTE (LPA) de uma dada variação porcentual do lu-
cro operacional for maior que a variação porcentual do lucro
operacional, existe alavancagem financeira. Quanto maior for
a alavancagem financeira, maior será o risco financeiro da
empresa, já que altos custos financeiros fixos elevam a alavan-
cagem financeira da empresa e também seu risco financeiro.
Entendemos, nesse caso, como risco financeiro o risco que se
corre ao não se conseguir cobrir os custos financeiros.

O GRAU DE ALAVANCAGEM FINANCEIRA (GAF) pode


também ser obtido pela seguinte fórmula:

Utilizando os mesmos dados do exemplo anterior para


aplicar essa fórmula, temos:

Alavancagem total
A alavancagem total refere-se à medida numérica da alavan-
cagem total da empresa. Representa a variação percentual no
86    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

lucro por ação da empresa em relação à variação percentual


das vendas. O GRAU DE ALAVANCAGEM TOTAL (GAT) pode
ser obtido pela multiplicação do GAO com o GAF.

A seguir apresentamos um exemplo de alavancagem ope-


racional, financeira e total:

Atividades

1) Conceitue ponto de equilíbrio operacional e o ponto de


equilíbrio em moeda.
Capítulo 5    Análise das Relações Entre Custo, Volume e Lucro    87

2) O que significa alavancagem operacional, financeira e total


nas decisões de financiamento?

3) Uma empresa de canetas vende um certo modelo por R$


7,00 a unidade. Seu custo operacional fixo é de R$ 20.000
por ano e o custo variável de R$ 4,00 por unidade. Calcu-
le o lucro operacional da empresa para vendas de 7.000,
10.000 e 13.000 unidades por ano e descubra qual a
alavancagem operacional da empresa.

4) Qual das três condições a seguir apresenta melhor alavan-


cagem operacional para um nível de vendas de 10.000
unidades?

Preço unitário de venda R$ 10,00


R$ 16,00 R$ 25,00
Custo variável R$ 3,00 R$ 8,00
R$ 10,00
Custo fixo R$ 40.000 R$ 20.000
R$ 100.000

5) Calcule o lucro por ação de uma empresa que apresen-


tou um lucro operacional de R$ 40.000,00, tem R$
200.000,00 de ELP, a juros de 6%, 2.000 ações prefe-
renciais com dividendo anual de R$ 4,00 e 4.500 ações
ordinárias emitidas, sendo sua faixa de Imposto de Ren-
da de 25%. Determine também a alavancagem financeira
considerando o aumento e o decréscimo de 20% no lucro
operacional.
88    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Gabarito
1. Ponto de equilíbrio operacional diz respeito às vendas de
produtos em quantidade, que cobrem os custos fixos e
variáveis incluindo a parcela de depreciações dos ativos.
Ponto de equilíbrio em moeda diz respeito às vendas de
produtos, em valores monetários, que cobrem custos fixos
e variáveis incluindo a parcela de depreciações dos ativos.

2. A alavancagem operacional refere-se ao uso de ativos


operacionais, com custos e despesas fixas, com o obje-
tivo de aumentar os lucros antes dos juros e do Impos-
to de Renda. Representa a variação percentual no lucro
operacional da empresa em relação à variação percen-
tual das vendas. A alavancagem financeira diz respeito
à capacidade da empresa de usar encargos financeiros
fixos para maximizar os efeitos de variações no lucro
operacional sobre o lucro líquido ou lucro por ação.
A alavancagem total refere-se à medida numérica da
alavancagem total da empresa. Representa a variação
percentual no lucro por ação da empresa em relação à
variação percentual das vendas.

3. Alavancagem operacional: 1,5.

4. A opção que apresenta preço unitário de R$ 16,00, cus-


to variável de R$ 8,00 e custo fixo de R$ 20.000,00.

5. 
Lucro por ação: R$ 2,89; Alavancagem Financeira:
2,3077.
Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo 6

Administração do
Capital de Giro
90    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

A administração de capital de giro vem sendo cada vez mais


reconhecida como uma área importante para o equilíbrio fi-
nanceiro das empresas, tendo participação decisiva no suces-
so dos negócios.

Segundo Assaf Neto e Silva1, a administração do capital de


giro trata dos ativos e passivos correntes como decisões interde-
pendentes. Por exemplo, a perda de liquidez pela maior partici-
pação de estoques no ativo circulante deve ser compensada por
um maior volume de caixa e a presença de passivos de prazos
mais curtos exige, por seu lado, ativos correntes mais líquidos e
assim por diante. Diante de seu contexto de mercado, as empre-
sas formalizam estratégias operacionais de atuação, principal-
mente em relação à administração de capital de giro, avaliando
seus investimentos correntes e selecionando os passivos mais
adequados. Por exemplo, considerada uma estratégia para au-
mentar as vendas, a empresa aumenta o prazo de financiamento
das vendas, exigindo, nesse caso, maior volume de investimento
no circulante e, consequentemente, maior capital de giro.

A importância e o volume do capital de giro para uma em-


presa são determinados principalmente pelos seguintes fatores:

ÂÂo nível de estoque que repercute no volume de vendas;


ÂÂos prazos de financiamento das vendas;
ÂÂas características de sazonalidade do negócio;
ÂÂos fatores cíclicos da economia (períodos de recessão,
períodos de expansão);
ÂÂa tecnologia de processo e produto que repercutem no
ciclo das operações da empresa (quanto maior o ciclo
das operações, período que leva para o produto ser
produzido, maior será a necessidade de capital de giro).
Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    91

O termo giro se refere aos recursos correntes de curto pra-


zo da empresa que podem ser convertidos em caixa no prazo
máximo de um ano1.

O CAPITAL (de giro) CIRCULANTE LÍQUIDO (CCL) é


definido como a parcela de recursos de longo prazo que
excede as aplicações no ativo fixo ou imobilizado. Também
pode ser dimensionado pela diferença entre o ativo circu-
lante e o passivo circulante. O CCL de certa forma reflete
a folga financeira da empresa. Quanto maior for seu valor,
melhor será a posição de liquidez da empresa. Para com-
preendê-lo pode-se considerar as seguintes relações:

ÂÂCCL = Recursos de longo prazo – Ativo fixo ou perma-


nente
ÂÂCCL = Ativo circulante – Passivo circulante
No contexto do estudo da administração do capital de giro
devemos separar os ativos e passivos circulantes em cíclicos e
financeiros. Os cíclicos (repetitivos) representam todos aqueles
relacionados com as operações da empresa, e os financei-
ros representam todos os que não estão correlacionados com
as operações da empresa. Por exemplo, as disponibilidades e
as aplicações financeiras representam ativos financeiros e os
empréstimos de bancos representam passivos financeiros. A
seguir, esses conceitos serão ampliados de modo a ser possível
determinar a NECESSIDADE DE CAPITAL DE GIRO (NCG) e a
análise do Saldo de Tesouraria (ST)

1  A delimitação de um ano não costuma ser obedecida por empresas cujo ciclo
operacional produção-venda-pagamento ultrapasse esse prazo (exemplo: estalei-
ros, algumas atividades rurais etc.).
92    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

6.1 Necessidade de capital de giro (NCG)

A NCG é a diferença entre as aplicações cíclicas e as fontes cí-


clicas que se renovam automaticamente no dia a dia. É obtida
pela seguinte fórmula:

NCG = ACO – PCO

Onde:

ÂÂNCG = Necessidade de Capital de Giro


ÂÂACO = Ativo Circulante Operacional
ÂÂPCO = Passivo Circulante Operacional

As aplicações operacionais são valores do ATIVO finan-


ciados pela empresa até sua realização. São os ativos rela-
cionados às atividades operacionais da empresa, ou seja, as
atividades cíclicas (repetitivas). As aplicações cíclicas ou ope-
racionais são a soma das seguintes contas:

ÂÂduplicatas a receber (menos provisão para devedores


duvidosos);
ÂÂestoque (matéria-prima, produtos em elaboração e pro-
dutos acabados);
ÂÂadiantamentos a fornecedores;
ÂÂmercadorias em trânsito;
ÂÂimportações de matéria-prima em curso;
ÂÂdespesas antecipadas.

As fontes operacionais ou cíclicas são valores exigíveis, fi-


nanciados por terceiros ligados à área operacional. São os
passivos relacionados à captação de recursos vinculada às
Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    93

atividades operacionais da empresa. As fontes cíclicas são a


soma das contas:

ÂÂfornecedores;
ÂÂsalários a pagar;
ÂÂcomissões a pagar;
ÂÂencargos sociais a recolher;
ÂÂimposto de renda retido na fonte;
ÂÂcontas de despesas operacionais a pagar, como água,
energia elétrica, aluguel, telefone etc.;
ÂÂadiantamento de clientes;
ÂÂimpostos a pagar.

A situação ideal é que as empresas utilizem financiamentos


de terceiros para cobrir suas aplicações. Mas na prática isso
quase não acontece, o que leva à necessidade de se recorrer
a fontes não diretamente ligadas à atividade.

A NCG tem foco no ciclo operacional do sistema empre-


sa, tendo seus demonstrativos financeiros como referencial de
pesquisa. A ênfase recai sobre as fontes e as aplicações cícli-
cas. Essas fontes e aplicações estão ligadas às atividades da
empresa e ocorrem de forma espontânea e natural.

A NCG, quando positiva, indica que a empresa precisa-


rá obter capital de giro junto a terceiros de forma onerosa.
Quando for crescente, período após período, pode indicar
uma anomalia empresarial, ou seja, a empresa enfrenta uma
deficiência operacional expressiva. O crescimento da NCG
pode acontecer, também, por força de expansão dos negó-
cios da empresa. O que não pode ou não deve ocorrer é o
94    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

crescimento da NCG em proporção superior ao volume das


vendas.

Já a NCG negativa indica que a empresa apresenta folga


de recursos para o giro, os quais podem ser aplicados no mer-
cado financeiro. O ideal para qualquer empresa seria equa-
cionar a NCG para que as fontes sejam maiores que o uso
de recursos de giro. Dessa forma, a empresa trabalharia com
recursos de terceiros não onerosos.

A NCG pode ser classificada como:

ÂÂPERMANENTE – Caracteriza as empresas cujas propor-


ções de produção e vendas são relativamente iguais du-
rante todo o ano.
ÂÂSAZONAL – Caracteriza empresas cuja produção e ven-
das são mais acentuadas em certas épocas do ano – a
exemplo das empresas que produzem brinquedos, arti-
gos juninos, natalinos, entre outras.

O conhecimento do tipo da NCG das empresas é impor-


tante aos bancos na medida em que oferece subsídios para re-
alização de negócios, sendo uma excelente oportunidade para
maximização dos resultados econômicos no âmbito do sistema
financeiro. É um instrumento que permite visualizar, com bom
grau de confiabilidade, a efetiva necessidade de capital de
giro da empresa, mantido seu nível de atividade.

6.2 Saldo de tesouraria (ST)


O ST é obtido pela diferença entre as contas do ativo circu-
lante e do passivo circulante que não guardam relação com
Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    95

a atividade operacional da empresa. É obtido pela seguinte


fórmula:

ST = ACF – PCF

Em que:

ÂÂST = Saldo de tesouraria;


ÂÂACF = ativo circulante financeiro, que engloba as con-
tas: caixa, bancos e aplicações financeiras;
ÂÂPCF = Passivo circulante financeiro.

Quando o ST é positivo, a empresa tem disponibilidade de


recursos que podem ser aplicados no mercado financeiro e
utilizados para aproveitar oportunidades de negócios.

Quando negativo, o ST indica a dependência de fontes


onerosas de recursos de curto prazo. Se o ST for crescente-
mente negativo, período a período, evidencia que a empresa
caminha para a insolvência. É importante observar que o fato
isolado do ST ser negativo não é preocupante. Grave é sua
tendência e suas principais causas podem ser:

ÂÂcrescimento real das vendas a prazo, em percentuais


muito elevados, sem correspondente obtenção de prazo
de fornecedores;
ÂÂimobilizações com recursos onerosos de curto prazo;
ÂÂprejuízos operacionais;
ÂÂdistribuição excessiva de lucros;
ÂÂdependência sistemática a empréstimos de curto prazo,
com pagamento de altas taxas de juros;
ÂÂciclo financeiro crescente.
96    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Para ilustrar os conceitos passados anteriormente acerca do


CCL, NCG e ST, apresentamos a seguir três balanços patrimo-
niais. No Quadro 6.1 são apresentados os dois primeiros (A e B),
com uma estrutura representativa mais simplificada; no quadro
6.2 mostramos o terceiro (Estrutura C) de modo mais completo,
com o detalhamento e o nome das contas ativas e passivas.

Quadro 6.1  Balanços patrimoniais: estruturas A e B


Circulante

Circulante

Circulante
Circulante

Note-se que a relação entre CCL, NCG e ST é obtida pela


seguinte equação:

CCL = NCG + ST

Analisando a Estrutura A (Quadro 6.1), podemos obser-


var que o CCL é positivo (R$ 30), indicando maior volume de
Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    97

ativos circulantes (R$ 90) em relação às obrigações totais cor-


rentes (R$ 60). Isso significa que R$ 30 de recursos captados
em longo prazo se encontram aplicados em ativos circulantes,
proporcionando folga financeira à empresa.

A estrutura A também indica uma NCG de R$ 20, ou seja,


os investimentos necessários às operações da empresa exce-
dem em R$ 20 os financiamentos operacionais provenientes
das operações da empresa, ou seja:

NCG = ACO – PCO = 60 – 40=20

Adicionando o ativo fixo à NCG, chegamos ao valor de R$


70 (20 + 50) que representa a NECESSIDADE TOTAL PERMA-
NENTE DE RECURSOS (NTPR). Como a empresa possui R$ 80
de fundo permanente, existe um ST de R$ 10 (80 – 70), indi-
cando equilíbrio financeiro da empresa. Esse ST é interpretado
como uma reserva financeira para cobrir eventuais oscilações
nas NCG, principalmente quanto à sazonalidade dos negó-
cios. É uma medida de segurança da empresa que define o
limite de expansão do investimento em giro.

Portanto, a análise da estrutura A, de modo geral, permite


concluir que ela é considerada financeiramente equilibrada e
indica uma posição de folga financeira.

A estrutura B, por sua vez, é bem diferente da A, pois in-


dica que a empresa está utilizando recursos de curto prazo,
para financiar suas necessidades de ativos fixos. Essa situação
é considerada de risco, o que evidencia potenciais problemas
de solvência. À medida em que se eleva a diferença entre o
CCL e a NCG, revela-se maior deterioração da situação finan-
98    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

ceira da empresa, tornando sua atividade operacional mais


dependente de recursos externos.

Uma estrutura de menor risco deve apresentar um CCL


maior que a NCG, que representa uma reserva financeira no
ST para atender às sazonalidades da empresa.

Quadro 6.1  Balanço patrimonial: estrutura C

ATIVO PASSIVO

Ativo circulante 377.000,00 Passivo circulante 260.000,00


Disponível 30.000,00 Empréstimos de 60.000,00
Aplicações 50.000,00 bancos 40.000,00
financeiras 80.000,00 Duplicatas descon- 100.000,00
Ativo circulante tadas
financeiro 140.000,00 Passivo circ. finan- 90.000,00
(5.000,00) ceiro 15.000,00
Duplicatas a 6.000,00 5.000,00
receber 104.000,00 Fornecedores 10.000,00
(–) Provisão 7.000,00 Encargos trabalhistas 8.000,00
devedores duvi- 45.000,00 Encargos fiscais 32.000,00
dosos 297.000,00 Adiantamento de 160.000,00
Adiantamento a clientes
fornecedores 123.000,00 Salários a pagar 340.000,00
Estoques Outros valores
Despesas anteci- 500.000,00 circulante 400.000,00
padas Passivo circulantes
Outros valores 1.000.000,00 operacional 1.000.000,00
circulantes
Ativo circ. ope- Exigível a longo
racional prazo

Realizável à Patrimônio líquido


longo prazo
Passivo total
Ativo fixo

Ativo total
Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    99

A partir do balanço apresentado (Quadro 6.1), temos:

Ativo circulante Ativo circulante


Ativo circulante
= operacional + financeiro
R$ 377.000,00
R$ 297.000,00 R$ 80.000,00

Passivo circulante Passivo circulante


Passivo circulante
= operacional + financeiro
R$ 260.000,00
R$ 160.000,00 R$ 100.000,00

CCL = AC – PC NCG = ACO – PCO ST = ACF – PCF


= +
R$ 117.000,00 R$ 137.000,00 (R$ 20.000,00)

Analisando a estrutura C (Quadro 6.2), observamos que a


empresa possui R$ 117.000,00 de recursos de longo prazo apli-
cados no ativo circulante (CCL), revelando uma folga financeira
de montante equivalente. No entanto, esses recursos não são sufi-
cientes para cobrir a sua NCG, calculada em R$ 137.000,00. As-
sim tem-se uma NCG superior ao CCL em R$ 20.000,00. Logo,
a empresa está utilizando R$ 20.000,00 de passivos financeiros
de curto prazo para financiar suas necessidades operacionais.

6.3 Efeito tesoura


O efeito tesoura é “um indicador que evidencia o descontrole
no crescimento das fontes onerosas de recursos no curto pra-
zo”2. Ele ocorre quando o ST se apresenta mais negativo a
cada exercício, variando em níveis superiores ao crescimento
da NCG. Em outras palavras, a empresa está operando com
CAPITAL DE GIRO (CDG) insuficiente para financiar suas ne-
cessidades do ciclo do negócio, obrigando-se a tomar em-
100    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

préstimos de curto prazo em níveis elevados, normalmente su-


periores à sua capacidade de pagamento.

O resultado decrescente evidencia que a empresa recorre,


cada vez mais, a empréstimos onerosos de curto prazo. Para
uma melhor avaliação do efeito tesoura, é recomendável ob-
servar o comportamento do indicador em diversos períodos,
conforme é demonstrado na Tabela 6.1, que apresenta dados
hipotéticos da empresa X.

Tabela 6.1  Empresa X: distribuição anual do CDG, NCG e ST

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

NCG 250 600 1200 2400 4800

CDG 200 300 400 400 500

CDG/NCG 0,80 0,50 0,33 0,17 0,10

ST – 50 – 300 – 800 – 2000 – 4300

ST/NCG – 0,20 – 0,50 – 0,66 – 0,83 – 0,89

Figura 6.1  Empresa X: distribuição anual do CDG, NCG e ST


Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    101

Analisando a Figura 6.1, verificamos que a NCG da em-


presa está aumentando substancialmente a cada exercício. O
CDG, por sua vez, tem se mantido estável, evidenciando que a
empresa não está tendo lucro ou o lucro está sendo distribuído
e não ficando retido na empresa.

Como a empresa não consegue financiar a sua NCG com


as fontes internas de recursos, vem recorrendo cada vez mais
a empréstimos bancários, evidenciado pelo ST negativo e de-
crescente. O ST é negativo e está aumentando proporcional-
mente em níveis maiores que a NCG (ST/NCG), confirmando,
assim, o EFEITO TESOURA. Na prática, isso significa que, se
o banco credor não renovar os empréstimos, a empresa que-
brará imediatamente. Por outro lado, se o banco continuar
a rolar suas dívidas, possivelmente a empresa quebrará do
mesmo jeito, dentro de algum tempo, pois os encargos finan-
ceiros provocarão prejuízos cada vez maiores, a não ser que a
empresa reverta a tendência dos seus negócios, melhorando a
sua competitividade, aumentando as suas vendas e/ou melho-
rando a margem de contribuição de seus produtos.

Outra possível alternativa para resolver a situação da em-


presa acima é sua capitalização, que pode ocorrer através da
injeção de novos recursos por parte dos atuais sócios, ou da
entrada de novos sócios com aporte de capital na empresa,
conjugada com uma completa revisão de prazos, margens de
lucro, controle de despesas, entre outros.

Agora vamos realizar a análise dos dados de uma outra


empresa hipotética, a empresa Y (Tabela 6.2, Figura 6.2), que
apresenta a mesma NCG da empresa X e também está com
o saldo de tesouraria cada vez mais negativo. Uma análise
102    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

superficial poderia induzir o analista a dizer que a empresa


está passando por dificuldades financeiras, pois o saldo de te-
souraria é negativo e a linha da NCG está se distanciando da
linha de CDG a cada ano. Ocorre que a relação percentual
entre o CDG e a NCG se mantém constante.

Tabela 6.2  Empresa Y: distribuição anual do CDG, NCG e ST

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5

NCG 250 600 1200 2400 4800

CDG 200 480 960 1920 3840

CDG/NCG 0,80 0,80 0,80 0,80 0,80

ST – 50 120 – 240 – 480 – 960

ST/NCG – 0,20 – 0,20 – 0,20 – 0,20 – 0,20

Figura 6.2  Empresa Y: distribuição anual do CDG, NCG e ST

A empresa Y, apesar de apresentar a mesma NCG que a


empresa X em todos os anos, vem financiando essa necessida-
de de duas formas: a maior parte com capital de giro próprio
Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    103

e complementarmente com financiamentos bancários. Isso


acontece, normalmente, em empresas que estão aumentando
o volume de vendas. O endividamento bancário financia um
percentual das vendas, e o lucro da atividade, que é reinvesti-
do, garante à empresa boa parte do financiamento necessário.
Na hipótese de os bancos deixarem de financiar a empresa Y,
bastará uma pequena redução nas suas vendas a prazo, para
ajustar sua NCG ao CDG disponível. Nesse caso, o efeito
tesoura praticamente inexiste, pois o ST ano a ano é dado em
valores bem menos acentuados se comparados com o da em-
presa X, considerado o mesmo nível de NCG crescente ano a
ano de ambas as empresas X e Y.

6.4 Desequilíbrio econômico-financeiro


A falência de uma empresa ocorre em decorrência do dese-
quilíbrio econômico-financeiro. Esse desequilíbrio acontece
quando o CDG da empresa se revela cronicamente insuficien-
te para suportar seu nível de atividade. Os fatores causadores
de desequilíbrio econômico-financeiro são de ordem interna e
externa à empresa, devendo ser analisados de acordo com o
ramo de atividade e setor em que ela atua.

Os principais FATORES INTERNOS são:

ÂÂqueda sistemática nos índices de liquidez;


ÂÂestado crônico de escassez de disponibilidades;
ÂÂcrescimento da NCG em níveis superiores ao CDG;
ÂÂlucro líquido muito baixo em relação ao movimento dos
negócios;
ÂÂdeclínio acentuado nas vendas;
104    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

ÂÂexcesso de produção ou de estocagem não absorvido


pelo mercado, ou invendável;
ÂÂobsolescência do produto;
ÂÂciclo financeiro crescente;
ÂÂelevado nível de participação das despesas financeiras
em relação às vendas;
ÂÂdistribuição excessiva de lucros;
ÂÂalto grau de centralização decisória, combinado com o
espírito de ambição do dirigente, que resulte em cresci-
mento desordenado e não planejado da empresa;
ÂÂdificuldade em pagar débitos de funcionamento;
ÂÂmáquinas e equipamentos obsoletos, com reflexos ne-
gativos na competição junto ao mercado;
ÂÂdespreparo para atingir o estágio seguinte (de pequeno
para médio e de médio para grande porte empresarial);
ÂÂlocalização inadequada, por decisão empresarial;
ÂÂdevolução excessiva de vendas.

Quanto aos FATORES EXTERNOS, podemos citar:

ÂÂempresa operando sob EFEITO SANDUÍCHE2;


ÂÂdificuldades na contratação de mão de obra;
ÂÂrecessão no mercado;

2  O EFEITO SANDUÍCHE representa a circunstância em que uma empresa adquire


insumos/produtos de um lado, por fornecedores oligopolizados, os quais ditam
os preços e, de outro lado, vende para um ou poucos clientes com alto poder de
barganha. Assim, a empresa pode ser forçada a comprar insumos/produtos em
quantidades superiores à sua necessidade por imposição dos fornecedores e, por
outro lado, repentinamente os compradores podem deixar de comprar, levando a
empresa ao insucesso.
Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    105

ÂÂaspectos de moda;
ÂÂintervenção governamental, por políticas econômicas,
que prejudique os produtores;
ÂÂtaxa do dólar baixa reduzindo receita em R$ dos expor-
tadores que utilizam insumos nacionais;
ÂÂgastos forçados de adaptação para atender a exigências
de entidades de controle do meio ambiente.

Atividades
1) Conceitue o CCL de uma empresa.
2) Como se determina a NCG de uma empresa?
3) Qual o significado da NCG quando seu valor é positivo e
quando seu valor é negativo?
4) Qual o significado do ST quando seu valor é positivo e
quando seu valor é negativo?
5) Determine o CCL, a NCG e ST nos anos 1 e 2, respeitan-
do a seguinte estrutura de balanço patrimonial:

ANO 2 ANO 1 ANO 2 ANO 1

ATIVO PASSIVO

Passivo
Ativo circulante 2.336 2.215 2.012 1986
circulante

Caixa 10 29

Salários e
Bancos 49 80 385 346
encargos

Contas a
Aplicações CP 364 217 545 541
pagar

Contas a receber 1.379 1.419 Fornecedores 807 737


106    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Estoques 534 470 Tributos 142 240

Empréstimo CP 133 122

Matéria-prima

Produtos em
ELP 1.706 1.828
elaboração

Patrimônio
Produtos prontos 534 470 2.172 1.822
líquido

Ações
Ativo permanente 3.554 3.421
preferenciais

Ações
40 40
ordinárias
Prédios e terrenos 4.119 3.824
Ágio venda
de ações

Lucros
Equipamentos 1.157 1.157 2.132 1.782
acumulados

Imóveis 590 575

Depreciações (3.303) 2.489

Imobilizado Líquido 2.563 2.489

Marcas e patentes 991 932

Ativo total Passivo total 5.890 5.636

GABARITO
1. CCL é o valor das fontes de recursos de longo prazo
que excede os investimentos em realizável a longo prazo
mais os ativos permanentes ou fixos.

2. A NCG é a diferença entre as aplicações cíclicas e as


fontes cíclicas que se renovam automaticamente no dia
a dia. As aplicações cíclicas ou operacionais conside-
ram duplicatas a receber (menos provisão para deve-
Capítulo 6    Administração do Capital de Giro    107

dores duvidosos), estoque (matéria-prima, produtos


em elaboração e produtos acabados), adiantamentos
a fornecedores, mercadorias em trânsito, importações
de matéria-prima em curso e quaisquer despesas ante-
cipadas. As fontes operacionais ou cíclicas são valores
exigíveis, financiados por terceiros ligados à área opera-
cional, tais como fornecedores; salários a pagar; comis-
sões a pagar; encargos sociais a recolher; imposto de
renda retido na fonte; contas de despesas operacionais
a pagar, como água, energia elétrica, aluguel, telefone
e outros; adiantamento de clientes; impostos a pagar.

3. A NCG, quando positiva, indica que a empresa precisa-


rá obter capital de giro junto a instituições financeiras,
de forma onerosa. A NCG negativa indica que a em-
presa apresenta folga de recursos para o giro, os quais
podem ser aplicados no mercado financeiro.

4. O ST é obtido pela diferença entre as contas do ati-


vo circulante e do passivo circulante que não guardam
relação com a atividade operacional da empresa, tais
como as contas de caixa, bancos, aplicações e emprésti-
mos financeiros. O ST positivo indica que a empresa tem
disponibilidade de recursos que podem ser aplicados no
mercado financeiro, bem como utilizados para aprovei-
tar oportunidades de negócios. O ST negativo indica a
dependência de fontes onerosas juntos a instituições fi-
nanceiras de recursos de curto prazo.

Ano 2 Ano 1
CCL 324 229
NCC 34 25
ST 290 204
Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo ?
7

Ciclo das Atividades e


Determinação do Saldo
Mínimo de Caixa

ÂÂ
C
omo vimos no capítulo 6, diversos fatores podem in-
terferir no volume de capital de giro das empresas.
Entretanto, um deles deve ser objeto de especial atenção
dos administradores das empresas, no que se refere ao
ciclo de suas operações.
Capítulo 7    Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo Mínimo de Caixa    109

A Figura 7.1 apresenta os diversos ciclos de atividades empre-


sariais, levando em conta uma empresa industrial, bem como
os prazos médios que serão considerados na gestão do capital
de giro. E nesse contexto devem ser lembrados os seguintes
elementos:

ÂÂCICLO OPERACIONAL – Abrange o período desde a


compra da matéria-prima até o recebimento da venda
do produto acabado, ou:
Ciclo operacional = PME + PMF + PMV + PMC = 155 dias

ÂÂCICLO FINANCEIRO OU CICLO DE CAIXA – Abrange


o período desde o pagamento dos fornecedores até o
recebimento da venda do produto acabado, ou:

Ciclo financeiro ou ciclo de caixa = ciclo operacional – PMP


= 155 dias – 35 dias = 120 dias

ÂÂCICLO ECONÔMICO – Abrange o período desde a


compra da matéria-prima até a venda do produto aca-
bado, ou:
Ciclo econômico = ciclo operacional – PMC = 155 dias – 70
dias = 85 dias

A partir dos ciclos das atividades pode-se obter o giro das


atividades, que indica o número de vezes por ano que as ope-
rações ou o caixa da empresa giram. O giro de caixa (GC)
é obtido dividindo-se 360 (nº de dias do ano) pelo ciclo de
caixa (CC).
110    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Figura 7.1  Ciclo operacional, financeiro e econômico empresarial

Para compreendermos o ciclo operacional, é preciso con-


siderar que:

ÂÂPME = Período médio de estoque da MP;


ÂÂPMF = Período médio de fabricação;
ÂÂ PMV = Período médio de venda (estoque produto pronto);
ÂÂPMC = Período médio de cobrança;
ÂÂPMP = Período médio de pagamento aos fornecedores
de MP.

Qualquer um desses PERÍODO MÉDIO (PM) pode ser cal-


culado pela divisão do ESTOQUE MÉDIO pelo CONSUMO
MÉDIO dessa fase por unidade de tempo:
Capítulo 7    Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo Mínimo de Caixa    111

Como exemplo, considere a empresa X, que apresenta a


seguinte situação quanto aos estoques e ao consumo médio:

Quadro 7.1  Empresa X: estoques e consumo médio diário

FASE ESTOQUE MÉDIO CONSUMO MÉDIO POR DIA

Estoque de MP 30 unidades 6 unidades

Fabricação 90 unidades 6 unidades

Produto acabado 18 unidades 6 unidades

Com base no Quadro 7.1, perguntamos: qual o ciclo e o


giro de caixa sabendo-se que a empresa X paga seu fornece-
dores em 45 dias e fatura seus produtos a 30 dias?

Como resposta, podemos inferir que:

Ciclo de caixa = 5 dias + 15 dias + 3 dias + 30 dias – 45


dias = 8 dias

Giro de caixa = 360/8 = 45 vezes ao ano

O ciclo de caixa também pode ser chamado de CICLO


FINANCEIRO ou PERÍODO MÉDIO FINANCEIRO, que é igual
ao CICLO DAS OPERAÇÕES menos o PERÍODO MÉDIO DE
PAGAMENTO AOS FORNECEDORES (PMP).

O ciclo de caixa poderá apresentar valor negativo, por


exemplo, em comércio com alta demanda de mercado (PMO
= 10 dias) e o PMP = 30 dias, resultando em um ciclo de
caixa igual a –20 dias (10 – 30).
112    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

O nível mínimo de caixa operacional necessário pode ser


estimado pelo quociente entre os desembolsos operacionais
anuais totais e a taxa de GIRO DE CAIXA (GC):

Portanto, o SALDO MÍNIMO DE CAIXA (SMC) será:

No exemplo anterior, supondo que a empresa X desembol-


sa R$ 4,5 milhões por ano para custear todas as suas ativida-
des, a mesma deverá ter como saldo médio de caixa a quantia
de R$ 4.500.000,00/45 dias = R$ 100.000,00.

A seguir, de modo a ampliar a compreensão sobre os cál-


culos relacionados ao CC, GC e SMC, apresentamos um con-
junto de problemas resolvidos:

1) Calcule o ciclo de caixa e o giro de caixa de uma empresa


que apresenta 30 dias em média para as suas duplicatas
a receber; os estoques duram, em média, 45 dias; seus
fornecedores são pagos; em média, em 45 dias. Supor
360 dias por ano.
Resolução:

CC = 30 dias; GC = 12

CC = PME + PMF + PMV + PMC – PMP

CC = 45 + 0 + 0 + 30 – 45 = 30 dias
Capítulo 7    Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo Mínimo de Caixa    113

GC = 360/30 = 12 vezes ao ano

2) A empresa no problema 1 gasta um total de R$ 18 milhões


por ano. Qual deverá ser seu caixa mínimo para pagar
suas contas no vencimento?
Resolução:

SMC = R$ 18.000.000,00/12 = R$ 1.500.000,00

3) Uma empresa gira seus estoques 4,5 vezes ao ano e, suas


duplicatas a pagar, 8 vezes por ano, fazendo todas as ven-
das à vista. Qual o seu ciclo e giro de caixa considerando
360 dias por ano?
Resolução:

PME = 360/4,5 = 80 dias; PMP = 360/8 = 45 dias

CC = 80 – 45 = 35 dias

GC = 360/35 = 10,28 vezes ao ano

4) O período médio de pagamento para uma indústria de


barcos é 50 dias. A empresa tem uma taxa de giro de es-
toque de 4 e uma taxa de giro de duplicatas a receber de
9. Seus desembolsos anuais são aproximadamente R$ 2,5
milhões. Calcule a necessidade mínima de caixa operacio-
nal supondo um ano de 360 dias.
Resolução:

PMP = 50 dias; PME = 360/4 = 90 dias

PMC = 360/9 = 40 dias

CC = 90 + 40 – 50 = 80 dias
114    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

GC = 360/80 = 4,5 vezes ao ano

Caixa operacional mínimo = R$ 2.500.000,00/4,5 =


555.556,00

5) Calcule a CAIXA MÍNIMA OPERACIONAL exigida para


uma empresa com as seguintes características:
a) vendas líquidas: R$ 5.000.000,00;

b) duplicatas a receber: R$ 500.000,00, em média;

c) margem de lucro bruto: 20%;

d) duplicatas a pagar: R$ 400.000,00, em média;

e) todas as vendas são realizadas a prazo;

f) compras anuais a prazo: 80% do CMV;

g) desembolsos totais anuais: R$ 3.800.000,00;

h) estoque médio avaliado: R$ 800.000,00;

i) 360 dias por ano.

Resolução:

ÂÂPrimeiramente vamos calcular o giro das duplicatas a


receber para determinar qual o período médio de co-
brança (PMC). Sabemos que a empresa vende R$
5.000.000,00 por ano, somente a prazo e, em média,
possui R$ 500.000,00 na conta do ativo de duplica-
tas a receber. Com essas duas informações, obtém-se
o giro de duplicatas a receber através da divisão de R$
5.000.000,00 por R$ 500.000,00, o que resulta em
Capítulo 7    Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo Mínimo de Caixa    115

10. Portanto, o PMC será de 36 dias, obtido da divisão


de 360 dias por 10 giros por ano.
ÂÂA seguir calculamos o período médio de pagamen-
to (PMP). Para tanto, sabemos que a margem de lu-
cro bruto é de 20%, e o custo da mercadoria vendida
(CMV) será 80% das vendas, portanto, igual a R$
4.000.000,00 (80% de R$ R$ 5.000.000,00). Também
sabemos que 80% do CMV correspondem às compras
a prazo, portanto igual a R$ 3.200.000,00 (80% de R$
400.000,00). Ora como a empresa possui em média
R$ 400.000,00 de duplicatas a pagar, seu giro de dupli-
catas a pagar será igual a 8 (R$ 3.200.000,00 dividido
por R$ 400.000,00). Logo, o PMP será de 45 dias, ob-
tido da divisão de 360 dias por ano dividido por 8 giros
por ano.
ÂÂPor último, calculamos o período médio de estoque
(PME). Como o valor do CMV é igual a R$ 4.000.000,00
e o estoque médio dado no enunciado do problema é
igual a R$ 800.000,00, tem-se como giro de estoque
por ano o valor de 5 vezes (R$ 4000.000,00 dividido
por R$ 800.000,00). Ora, se o giro de estoque é de 5
vezes ao ano, o PME será igual a 72 dias (360 dias por
ano dividido por 5).
ÂÂLogo, o ciclo de caixa (CC) desta empresa será: PME
+ PMC – PMP = 72 + 36 – 45 = 63 dias. E o giro de
caixa (GC) será: 5,71428571, obtido da divisão de 360
dias por ano por 63 dias do ciclo de caixa.
ÂÂPortanto, a CAIXA MÍNIMO OPERACIONAL des-
sa empresa será o total dos desembolsos anuais (R$
116    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

3.800.000,00) dividido pelo GC (5,71428571), o que


resulta em R$ 665.000,00.

6) Uma empresa com uma taxa de giro de caixa de 4,5 e


desembolsos anuais de R$ 1.750.000,00 pode retardar o
pagamento de suas duplicatas a pagar por 20 dias. Cal-
cule o efeito dessa medida sobre a necessidade mínima de
caixa operacional da empresa. Se a empresa pode ganhar
8% sobre seus investimentos, que custos ou economias re-
sultariam dessa medida?
Resolução:

Se a empresa possui um giro de caixa de 4,5, o seu CC


será de 80 dias (360/4,5) e seu SMC de R$ 388.888,89 (R$
1.750.000,00/4,5). Como a empresa poderá retardar os seus
pagamentos por 20 dias, o seu CC será reduzido em 20 dias,
ou seja, passará a ser de 60 dias em lugar de 80 dias. Com
isso, o seu giro de caixa passa a ser 6 (360/60), e o seu SMC
de R$ 291.666,67 (R$ 1.750.000,00/6). Portanto, seu SMC
reduzirá R$ 97.222,22 (R$ 388.888,89 – 291.666,67). En-
fim, esse valor aplicado a 8% fornece um rendimento à empre-
sa de R$ 7.777,77.

7) Uma empresa com desembolsos totais anuais de R$


8.700.000,00, uma taxa de giro de caixa de 5 e um cus-
to de oportunidade de 7% está cogitando em oferecer a
seus clientes um desconto financeiro para pagamento an-
tecipado de duplicatas a receber. O desconto custará R$
75.000,00 à empresa e não afetará o nível das vendas,
envolvendo ainda a redução do período médio de cobran-
ça por 12 dias. Você recomendaria o desconto? Justifique.
Capítulo 7    Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo Mínimo de Caixa    117

Resolução:

O SMC dessa empresa é R$ 1.740.000,00 (R$


8.700.000,00/5). O ciclo de caixa da empresa é de 72 dias
(360/5). Ao conceder o desconto, o PMC será reduzido em
12 dias, portanto o CC passará a ser de 60 dias (72–12),
o GC passará para 6 (360/6) e o SMC passará para R$
1.450.000,00 (R$ 8.700.000,00/6). A diferença entre R$
1.740.000,00 e R$ 1.450.000,00, que é de R$ 290.000,00,
poderá ser aplicada à taxa de 7%, resultando um rendimento
á empresa de R$ 20.300,00. Como a empresa concederá um
desconto de R$ 75.000,00 para antecipar em 12 dias o pa-
gamento dos clientes, e com isso ela somente poderá ganhar
R$ 20.300,00, concluí-se que não vale a pena realizar essa
operação.

7.1 E
 stratégias de administração do ciclo de
caixa (CC)
Qualquer empresa desejaria ter CC negativo, pois isso signi-
ficaria que o período de pagamento excederia o ciclo opera-
cional. Empresas industriais normalmente não conseguem ter
ciclos negativos de caixa, a menos que retardem seus paga-
mentos por um período de tempo muito longo (superior ao
ciclo operacional), o que na prática dificilmente ocorre. Já o
comércio pode apresentar CCs menores e até negativos, em
situações de alta demanda com menores níveis de estoque
e, consequentemente, maior giro, pagando as mercadorias a
prazo e as vendendo à vista. Em tal situação, a empresa se
beneficia ainda mais por poder utilizar fontes espontâneas de
118    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

financiamento para sustentar outras necessidades dos negó-


cios, além do ciclo operacional.

No caso mais comum, em que o ciclo de caixa é positivo, a


empresa deve buscar estratégias operacionais que o minimize
sem, contudo, prejudicar as vendas ou interferir na possibili-
dade de comprar a crédito. As estratégias empregadas para
reduzir o CC são:

ÂÂgirar os estoques tão rápido quanto possível, evitando a


sua falta, o que resultará na perda de vendas;
ÂÂo menor ciclo possível de produção do produto, aten-
dendo tão somente à demanda do mercado em equi-
líbrio com a capacidade de produção da empresa.
Estocar a produção exige fundos adicionais de capital lí-
quido circulante. O dinheiro do caixa é transferido para
o estoque;
ÂÂcobrar do cliente o mais cedo possível. A prática de des-
contos que sejam economicamente justificáveis podem
atingir esse objetivo;
ÂÂretardar o pagamento aos fornecedores tanto quanto
possível, sem prejudicar o conceito de crédito da em-
presa. A prática de custos financeiros cobrados pelo
fornecedor, que sejam economicamente viáveis, podem
atingir esse objetivo.

7.2 Técnicas de administração de caixa


Como forma de minimizar a necessidade de financiamento das
operações da empresa, os administradores financeiros devem
buscar acelerar os recebimentos e retardar os pagamentos,
Capítulo 7    Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo Mínimo de Caixa    119

sem prejudicar a imagem e o conceito da empresa em seu


mercado. Algumas técnicas operacionais podem ser utiliza-
das no gerenciamento de caixa, a fim de proporcionar ganhos
adicionais à minimização das necessidades de financiamento,
conforme é a seguir detalhado.

Procedimentos operacionais para acelerar a


cobrança do cliente
Alguns procedimentos que ajudam a acelerar a cobrança do
cliente são:

ÂÂCONCENTRAÇÃO BANCÁRIA – Recomendamos que a


empresa opere seu caixa com um único banco, e exija
que todos os pagamentos sejam realizados para essa
conta. Se o cliente pagar em cheque ou dinheiro, ao fi-
nal do dia a empresa deposita-os na sua conta de caixa
do banco. A concentração bancária reduz o float1 de
cobrança.
ÂÂDÉBITOS AUTOMÁTICOS EM CONTA – Outro método
usual para acelerar as entradas de caixa é o débito au-
tomático do pagamento na conta corrente de um banco
do devedor. As transferências dos valores entre as contas
devedoras e credoras são executadas automaticamente
por meio do sistema de compensação que ocorre dia-
riamente entre os bancos. Essa técnica é muito utilizada
para pagamentos que ocorrem sempre todos os meses
(aluguel, contas de água, luz, telefone etc.).

1 O termo float, na terminologia financeira, significa o número de dias entre o paga-


mento realizado por um devedor e a disponibilidade do dinheiro no caixa do credor.
120    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Procedimentos operacionais para retardar pagamentos

Alguns procedimentos que ajudam a retardar os pagamen-


tos são:

ÂÂRECEBIMENTO E ACEITAÇÃO DAS MERCADORIAS –


A empresa deve ter um sistema rigoroso de inspeção e
recebimento das mercadorias ou matérias-primas com-
pradas. Qualquer discrepância encontrada é motivo
para exigir as devidas correções do fornecedor e, en-
quanto não forem realizadas, o devedor não deve per-
mitir a contagem do prazo de pagamento acordada por
ocasião da compra.
ÂÂPAGAMENTOS POR CHEQUE – Pagar o fornecedor
com cheque após o horário bancário fará com que o
credor somente o deposite em sua conta no dia seguinte
e a compensação ocorrerá a crédito na conta do deve-
dor no segundo dia. Caso o credor se localize em outra
cidade, remeter o cheque por correspondência registra-
da, em vez de fazê-lo por ordem bancária. Outra técnica
utilizada é o pagamento por cheque na data da compra,
solicitando alguns dias ao credor para compensá-lo.

Gestão de cobrança
Cobrar é tão importante quanto vender. A gestão de cobrança
abrange os procedimentos utilizados para cobrar as duplicatas
a receber na data do vencimento e também os procedimentos
cabíveis para o caso de não ser efetuado o pagamento. Uma
política de cobrança depende essencialmente da política de
concessão de crédito da empresa, que será abordada no pró-
ximo capítulo.
Capítulo 7    Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo Mínimo de Caixa    121

A política de cobrança de qualquer empresa exige um con-


trole rigoroso dos vencimentos das duplicatas a receber. Esse
controle poderá ser realizado pela própria empresa, manten-
do as duplicatas em carteira (terminologia adotada quando a
empresa mantém as duplicatas a receber na própria empresa)
ou entregá-las a um banco que fará o serviço de controle e
cobrança (mediante o pagamento de uma taxa administrativa).
A decisão entre fazer o controle na empresa ou através dos
serviços prestados por um banco depende, essencialmente,
do volume de cobranças da empresa, assim como da relação
custo-benefício entre as duas alternativas.

O primeiro passo de uma política de cobrança é ter cer-


teza de que o cliente recebeu a informação da cobrança e a
respectiva data de vencimento. Esse aviso deverá ser realiza-
do por documento escrito (aviso de cobrança) endereçado ao
cliente.

O segundo passo consiste em verificar diariamente o paga-


mento efetivo das duplicatas a receber vencidas no dia.

O terceiro passo consiste em cobrar do cliente as duplica-


tas que não foram pagas no vencimento, através dos seguintes
procedimentos:

1) Ligar para o cliente para informar que o pagamento não


foi realizado e descobrir seus motivos. Solicitar que o pa-
gamento seja realizado imediatamente para evitar que a
empresa tome medidas mais severas, tais como cancela-
mento de novas vendas a crédito e/ou protesto da dupli-
cata e/ou cobrança judicial.
122    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

2) Remeter, concomitante à ligação telefônica, e-mail ou carta


lembrando o cliente de sua obrigação, e que, caso ele não
pague dentro de certo período, a empresa será obrigada
a tomar medidas mais severas que poderão prejudicar as
relações comerciais cultivadas e mantidas até então.
3) Se o valor envolvido na cobrança for de montante consi-
derável, bem como se o telefonema e a carta não surtirem
efeitos, recomenda-se uma visita pessoal ao devedor, para
melhor entender sua falta de recursos e, assim, possibilitar
uma nova negociação de pagamento com incidência de
juros, assinando documento de confissão e renegociação
de dívida, acompanhado de promissórias assinadas pelo
devedor e dois avalistas. Esse procedimento exige assesso-
ria jurídica.
4) Como uma alternativa ao procedimento 3, a empresa
pode transferir a duplicata a uma empresa de cobrança
ou a um escritório de advocacia, para receber seus cré-
ditos. Essa decisão deverá ser bem analisada pelos seus
custos incorridos, pois as empresas de cobrança no míni-
mo cobram um percentual sobre o sucesso da cobrança
(via de regra 20% como valor mínimo) e/ou uma taxa fixa
independente do seu sucesso.
5) O último e indesejável procedimento é a cobrança judicial.
O processo judicial não só é caro, como pode forçar o de-
vedor a requerer concordata, reduzindo a possibilidade de
negociações futuras com ele, sem garantir o recebimento
final da importância devida.
Capítulo 7    Ciclo das Atividades e Determinação do Saldo Mínimo de Caixa    123

Atividades
1) Qual o significado do ciclo operacional financeiro e eco-
nômico e por que a sua gestão é importante para a admi-
nistração financeira empresarial?
2) Como se determina o saldo mínimo de caixa de uma em-
presa, para que ela possa pagar suas contas em dia?
3) Qual o ciclo de caixa de uma empresa que apresenta um
giro anual de estoque igual a 24, período médio de fa-
bricação de 20 dias, estoque de produto acabado para 3
dias, giro anual de cobrança igual a 12 e pagamento a
fornecedores em 45 dias?
4) Uma empresa tem um giro de caixa igual a 6 e desembol-
sos anuais de R$ 900.000,00. Qual será a variação no
saldo médio de caixa da empresa se ela conceder mais 10
dias, em média, no prazo de pagamento aos seus clientes,
assim como receber dos seus fornecedores um prazo de
mais 15 dias?
5) Calcule o caixa mínimo operacional de uma empresa que
apresenta as seguintes características: vendas líquidas anu-
ais de R$ 5.000.000,00, sendo 10% à vista; duplicatas a
receber no valor de R$ 550.000,00 em média; lucro bruto
de 25%; duplicatas a pagar no valor de R$ 150.000,00,
em média, decorrentes das compras realizadas a prazo
equivalente a 80% do custo da mercadoria vendida; esto-
que médio de R$ 125.000,00 e desembolsos totais anuais
de R$ 4,5 milhões.
124    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

GABARITO
1. Ciclo operacional é o período de tempo (normalmente
dias) compreendido desde a compra da matéria-prima
até o recebimento da venda do produto acabado. Ci-
clo financeiro ou ciclo de caixa é o período de tempo
compreendido desde o pagamento dos fornecedores
até o recebimento da venda do produto acabado. Ciclo
econômico é o período de tempo compreendido des-
de a compra da matéria-prima até a venda do produto
acabado. Sua gestão é importante na gestão financeira
para dimensionar e buscar reduzir a necessidade de ca-
pital de giro das operações da empresa.

2. O saldo mínimo de caixa de uma empresa é determina-


do pelos desembolsos totais anuais dividido pelo núme-
ro de vezes que o caixa gira por ano, ou seja, o giro de
caixa. O giro de caixa é obtido pela divisão de 360 pelo
ciclo de caixa da empresa.

3. 23 dias.

4. O saldo médio de caixa reduzirá em R$ 12.500,00 ou


8,333%.

5. Caixa mínimo operacional de R$ 475.000,00.


Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo 8

Concessão de Crédito

ÂÂ
O
crédito é um facilitador das vendas. Segundo Lemes
Jr., Rigo e Cherobim1, a concessão de crédito permi-
te que a empresa venda mais. Por outro lado, o crédito é
um fator de risco para as empresas, pois podem ocorrer
perdas com devedores relapsos. A concessão de crédito
consiste em aplicações de recursos no ativo circulante e
deve ser suportada pela existência ou obtenção de recur-
sos para financiá-la, pois interfere no equilíbrio econô-
mico-financeiro da empresa. Quanto maior o volume de
vendas a crédito e o prazo médio de cobrança, maior será
a necessidade de capital de giro para financiar esse ativo,
cujo custo deve ser agregado ao custo do produto.
As políticas de crédito são fundamentais para uma
eficiente administração das vendas financiadas aos clien-
126    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

tes, pois são elas que orientam os critérios e as formas


de como o crédito será concedido, tais como prazos
do financiamento, análise de riscos, garantias exigidas,
e os procedimentos de cobranças quando ocorrem as
inadimplências. A partir de uma boa política de crédito,
as empresas conseguem reduzir a despesa com créditos
incobráveis, embora incorram em outros custos, como a
análise do crédito e o processo de cobrança.

No processo de análise de crédito, o analista deve utilizar


técnicas tradicionais e subjetivas conhecidas como os 5 “Cs”
do crédito, as quais focam os fatores-chave de análise da ca-
pacidade de crédito, do cliente. São eles:

ÂÂCARÁTER – Refere-se ao desejo do cliente em saldar a


dívida, independentemente de sua capacidade de pa-
gamento. Também está relacionado ao histórico de pa-
gamentos do cliente, bem como processos judiciais em
andamento ou já julgados.
ÂÂCAPACIDADE – A capacidade do cliente em saldar a
dívida relaciona-se à sua capacidade de gestão, bem
como ao potencial de vendas e à produção da empresa
requerente do crédito.
ÂÂCAPITAL – A análise busca identificar a situação finan-
ceira do cliente, estudando sua situação patrimonial, in-
dicadores de desempenho e liquidez.
ÂÂCOLATERAL (garantias) – Refere-se ao montante de ati-
vos que o cliente tem para dar em garantia do crédito.
Compreende as garantias reais ou pessoais oferecidas.
Capítulo 8   Concessão de Crédito   127

ÂÂCONDIÇÕES – A análise leva em conta o cenário eco-


nômico e empresarial, assim como quaisquer circuns-
tâncias específicas relacionadas ao requerente do crédi-
to. Fatores como a sazonalidade do produto, o nível de
estoques e efeitos macroeconômicos sobre o negócio da
empresa são considerados pelo analista em seu parecer.

8.1 Informações sobre o cliente


A análise de crédito exige a coleta de informações sobre o
cliente pretendente ao crédito em um nível de profundidade
que estará diretamente relacionado com o valor do limite do
crédito pretendido.

A análise de crédito voltada às pessoas jurídicas deve ser


sustentada por:

ÂÂdocumentação legal da pessoa jurídica, tal como esta-


tuto ou contrato social, acionistas proprietários, direto-
ria, poderes de quem assina etc.;
ÂÂdemonstrações financeiras dos últimos três anos, de pre-
ferência com parecer de auditores independentes; e
ÂÂficha cadastral da empresa, relatando seus negócios, es-
tratégias, pontos fortes, pontos fracos, ameaças e opor-
tunidades, principais clientes, principais fornecedores,
cenários do setor e do mercado em que atua.

Já a análise de crédito de pessoas físicas requer:

ÂÂficha cadastral da pessoa, contendo profissão, renda


mensal, tempo de serviço, bens móveis e imóveis, refe-
rências comerciais e bancárias; e
128    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

ÂÂcópia da carteira de identidade, CPF, comprovante de


residência, comprovante de renda, comprovante de pro-
priedades de bens e se esses estão ou não onerados.

Além de checar a veracidade das informações e documen-


tos (junto a bancos e outros órgãos) da pessoa física ou jurídi-
ca, a análise de crédito inclui a consulta a serviços que apoiam
a tomada de decisão creditícia, tal como o Serviço de Proteção
ao Crédito (SPC), o Serasa e o Segurança ao Crédito e Infor-
mações (SCI)1.

8.2 Análise e classificação de crédito


Análise e classificação de crédito é um procedimento que pro-
duz uma pontuação capaz de refletir o potencial financeiro
global de um solicitante de crédito, que resulta de uma média
ponderada dos pontos relativos às características financeiras
e creditícias, conforme é apresentado na Tabela 8.1 a seguir.

Tabela 8.1  Pontuação de crédito para pessoa física

CARACTERÍSTICAS PONTUAÇÃO PONTUAÇÃO


PESO
FINANCEIRAS E CREDITÍCIAS (0 A 100) PONDERADA

Referências de crédito 80 0,15 12,00

Ativos disponíveis (imóveis,


100 0,15 15,00
veículos)

Renda mensal 70 0,25 17,50

Histórico de pagamento 75 0,25 18,75

1 Para consultar os serviços mencionados na web, acesse, respectivamente:


<http://www.spcnegocios.org.br>; <http://www.serasa.com.br> e <http://www.
sci.com.br>.
Capítulo 8   Concessão de Crédito   129

Anos de residência 90 0,10 9,00

Anos de emprego 80 0,10 8,00

Total 1,00 80,25

Critério de concessão de crédito pela pontuação obtida:

ÂÂpontuação ponderada acima de 75: conceder crédito


cuja prestação não ultrapasse 30% da renda mensal;
ÂÂpontuação entre 65 a 75: conceder crédito limitado
(prestação correspondente a 10% da renda mensal);
ÂÂpontuação inferior a 65: não conceder crédito.

A pontuação é atribuída pelo analista de crédito a partir da


política da empresa. O peso também é definido pela política
da empresa, de acordo com a importância que ela atribui a
cada um dos itens analisados.

8.3 Garantias às operações de crédito


As garantias têm como objetivo dar mais segurança e reduzir
os riscos nas vendas a crédito. Elas representam o compro-
metimento de outras pessoas, físicas ou jurídicas, pela dívida
assumida ou a definição de bens, que podem ser móveis ou
imóveis, que assegurem o pagamento da dívida caso o de-
vedor não possa fazê-lo. Existem dois tipos de garantias: as
pessoais ou fidejussórias e as garantias reais.

A garantia pessoal ou fidejussória pode ser AVAL e FIAN-


ÇA. A garantia pessoal por AVAL estabelece a obrigação de
avalista pelo valor do título de crédito no qual foi formalizada
a garantia, representada pela assinatura do garantidor deno-
130    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

minado avalista. Caso o avalista tenha regime de casamento


em comunhão de bens, é obrigatório que o cônjuge assine
junto com o avalista. O garantidor responde pelo aval com
todos os seus bens, exceto os denominados bens de família.
Um exemplo de bens de família é a residência própria onde o
garantidor reside. Já a garantia pessoal por FIANÇA é estabe-
lecida por contrato, no qual o fiador, que pode ser pessoa físi-
ca ou jurídica, presta garantia de cumprimento da obrigação
assumida pelo comprador, caso ele não o faça. Se o fiador
for pessoa física e casado no regime de comunhão de bens, o
contrato também deverá conter a assinatura do cônjuge – uma
exigência esta do novo Código Civil Brasileiro (aprovado em
janeiro de 2003).

As garantias reais são bens ou direitos de recebimento da-


dos em garantia. Os tipos de garantias reais são:

ÂÂALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA – É o contrato no qual o deve-


dor detém posse e utilização de bens móveis (veículos,
aeronaves, barcos etc.) para garantir o pagamento da
dívida, mas a propriedade é do credor. A garantia é feita
por meio de instrumento público ou particular arquiva-
do no Registro de Títulos e Documentos. O devedor é
responsável pela preservação e manutenção dos bens
alienados e por eventuais danos sofridos.
ÂÂCAUÇÃO – É o penhor de um direito não material, tais
como letras de câmbio, duplicatas, notas promissórias
de terceiros, ações de empresa etc.
ÂÂHIPOTECA – Garantia real por instrumento público so-
bre bens imóveis, embarcações ou aeronaves. Os bens
Capítulo 8   Concessão de Crédito   131

considerados bens de família não devem ser objeto de


hipoteca porque são protegidos por lei.
ÂÂPENHOR MERCANTIL – Garantia na qual o bem em-
penhado faz parte integrante do negócio comercial, por
exemplo, estoques, equipamentos, títulos de crédito e
outros.

8.4 Alterações nos padrões de crédito


Alterações nos padrões de crédito das empresas surtem efeito
no volume de vendas, no investimento em duplicatas a rece-
ber e nas perdas com devedores duvidosos ou incobráveis. Es-
sas três variáveis possuem a seguinte relação com a mudança
nos padrões de crédito:

a. Volume de vendas:

ÂÂpara padrões de crédito frouxos espera-se o crescimento


das vendas;
ÂÂpara padrões de crédito rigorosos espera-se a diminui-
ção das vendas.

b. Investimento em duplicatas a receber (DAR):

ÂÂpara padrões de crédito frouxos espera-se um maior in-


vestimento em DAR;
ÂÂpara padrões de crédito rigorosos espera-se a diminui-
ção no investimento em DAR.

c. Perdas com devedores incobráveis:

ÂÂpara padrões de crédito frouxos esperam-se maiores


perdas
132    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

ÂÂpara padrões de crédito rigorosos esperam-se menores


perdas

Vejamos agora alguns exercícios resolvidos para determi-


nar os efeitos da decisão de alterar os padrões de crédito.

1) Uma empresa vende 60.000 unidades de produto por


ano, tudo a crédito, ao preço de R$ 10,00 a unidade. O
custo unitário variável é de R$ 6,00 e o custo fixo total de
R$ 120.000,00. A empresa está pretendendo flexibilizar
seu padrão de crédito e prevê que essa medida aumente
suas vendas em 5%, alterando seu atual prazo médio de
cobrança de 30 para 45 dias. Com isso, prevê que seu
percentual de perdas com devedores incobráveis, que é
em média 1% das vendas, aumente em 100%. A empresa
aplica seu excedente de caixa no mercado financeiro a
15% ao ano. Com base nessas informações, pergunta-se:
a empresa deve flexibilizar ou alterar seu padrão de con-
ceder crédito?
PLANO ATUAL:

R$ 60.000 x R$ 10,00/un. = R$
Receita anual
600.000,00
R$ 60.000 x R$ 6,00/un. + R$
Custo anual
120.000 = R$ 480.000,00
Lucro da operação R$ 120.000,00
Perdas com devedores
R$ 6.000,00 (1% das vendas)
incobráveis
Lucro final R$ 114.000,00
R$ 600.000,00/12 = R$ 50.000,00
Investimento médio em DAR
(prazo 30 dias gira 12 ao ano)
Capítulo 8   Concessão de Crédito   133

PLANO APÓS ALTERAÇÃO DO PADRÃO DE CRÉDITO:

R$ 63.000 x R$ 10,00/un = R$
Receita anual
630.000,00
R$ 63.000 x R$ 6,00/um + R$
Custo anual
120.000 = R$ 498.000,00
Lucro da operação R$ 132.000,00
Perdas com devedores
R$ 12.600,00 (2% das vendas)
incobráveis
Lucro final R$ 119.400,00
R$ 630.000,00/8 = R$ 78.750,00
Investimento médio em DAR
(prazo 45 dias gira 8 ao ano)
Necessidade de investimento R$ 28.750,00 (R$ 78.750,00 – R$
adicional em DAR 50.000,00)
Custo da necessidade
R$ 4.312,50 (15% de R$ 28.750,00)
adicional de CCL

CONCLUSÃO: se a empresa alterar seu padrão de crédito


em função das premissas assumidas, terá vantagens ao fazê-
-lo, pois seu lucro final aumentará em R$ 1.087,50, resultante
do aumento do lucro final de R$ 5.400,00 menos os custos
adicionais do CCL de R$ 4.312,50.

2) A empresa Sucesso está atualmente vendendo um produto


por R$ 20,00 a unidade. Todas as vendas são a pra-
zo e, no ano passado, foram comercializadas 100.000
unidades do produto. O custo variável por unidade é de
R$ 12,00. Os custos fixos totais da empresa são de R$
180.000,00 no ano. Neste momento, a empresa estuda
a flexibilização de seus padrões de crédito, esperando um
134    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

aumento de 20% nas vendas, bem como um aumento no


prazo médio de cobrança de 30 para 40 dias, assim como
um aumento nas despesas com dívidas incobráveis, pas-
sando de 2% para 3% das vendas. O custo de oportuni-
dade de se imobilizarem recursos em duplicatas a receber
em investimentos de igual risco é de 20% ao ano. Assim,
para tomar a decisão de flexibilizar ou não os padrões de
crédito, precisamos fazer uma análise dos impactos nos
resultados da empresa. Vejamos:

PLANO ATUAL SEM FLEXIBILIZAÇÃO:

100.000 X R$ 20,00/un. = R$
Receita anual
2.000.000,00
100.000 X R$ 12,00/un. + R$
Custo anual
180.000 = R$ 1.380.000,00
Lucro da operação R$ 620.000,00
Perdas com devedores
R$ 40.000,00 (2% Das vendas)
incobráveis
Lucro final R$ 580.000,00

Investimento médio em DAR (parcela dos custos variá-


veis, pois é a única que altera): R$ 1.200.000,00/12 = R$
100.000,00 (prazo 30 dias gira 12 ao ano).

PLANO COM FLEXIBILIZAÇÃO:

120.000 x R$ 20,00/un. = R$
Receita anual
2.400.000,00
120.000 x R$ 12,00/un. + R$
Custo anual
180.000 = R$ 1.620.000,00
Capítulo 8   Concessão de Crédito   135

Lucro da operação R$ 780.000,00


Perdas com devedores
R$ 72.000,00 (3% das vendas)
incobráveis
Lucro final R$ 708.000,00

Investimento médio em DAR (parcela dos custos variá-


veis, pois é a única que altera): R$ 1.440.000,00/9 = R$
160.000,00 (prazo 40 dias gira 9 ao ano).

NECESSIDADE DE INVESTIMENTO ADICIONAL EM DAR:


R$ 60.000,00 (R$ 160.000,00 – R$ 100.000,00)

CUSTO DA NECESSIDADE ADICIONAL DE CCL: R$


12.000,00 (20% de R$ 60.000,00)

CONCLUSÃO: se a empresa fizer a flexibilização de cré-


dito, em função das premissas assumidas, terá vantagens ao
fazê-lo, pois seu lucro final aumentará em R$ 116.000,00 re-
sultante do aumento do lucro final de R$ 128.000,00 menos
os custos adicionais do CCL de R$ 12.000,00.

3) Uma empresa vende 60.000 unidades de produto por


ano, tudo a crédito, ao preço de R$ 10,00 a unidade. O
custo unitário variável é de R$ 6,00 e o custo fixo total de
R$ 120.000,00. A empresa está pretendendo flexibilizar
seu padrão de crédito e prevê que essa medida aumente
suas vendas em 5%, alterando seu atual prazo médio de
cobrança de 30 para 45 dias. Com isso, prevê que seu
percentual de perdas com devedores incobráveis que é,
em média, 1% das vendas aumente em 100%. A empresa
aplica seu excedente de caixa no mercado financeiro a
136    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

15% ao ano. Pergunta-se: a empresa deve flexibilizar ou


alterar seu padrão de conceder crédito?

PLANO ATUAL:

Receita anual 60.000 x R$ 10,00/un. = R$ 600.000,00

60.000 x R$ 6,00/un. + R$ 120.000 = R$


Custo anual
480.000,00
Lucro da operação R$ 120.000,00
Perdas com devedores
R$ 6.000,00 (1% das vendas)
incobráveis
Lucro final R$ 114.000,00

Investimento médio em DAR (parcela dos custos variáveis,


pois é a única que altera): R$ 360.000,00/12 = R$ 30.000,00
(prazo 30 dias gira 12 ao ano)

PLANO APÓS ALTERAÇÃO DO PADRÃO DE CRÉDITO:

R$ 63.000 x R$ 10,00/un. = R$
Receita anual
630.000,00
63.000 x R$ 6,00/un. + R$ 120.000 =
Custo anual
R$ 498.000,00
Lucro da operação R$ 132.000,00
Perdas com
devedores R$ 12.600,00 (2% das vendas)
incobráveis
Lucro final R$ 119.400,00
Capítulo 8   Concessão de Crédito   137

Investimento médio em DAR (parcela dos custos variáveis,


pois é a única que altera): R$ 378.000,00/8 = R$ 47.250,00
(prazo 45 dias gira 8 ao ano).

NECESSIDADE DE INVESTIMENTO ADICIONAL EM DAR:


R$ 17.250,00 (R$ 47.250,00 – R$ 30.000,00)

CUSTO DA NECESSIDADE ADICIONAL DE CCL: R$


2.587,50 (15% de R$ 17.250,00)

CONCLUSÃO: se a empresa alterar seu padrão de crédito


em função das premissas assumidas, terá vantagens ao fazê-
-lo, pois seu lucro final aumentará em R$ 2.812,50, resultante
do aumento do lucro final de R$ 5.400,00 menos os custos
adicionais do CCL de R$ 2.597,50.

4) Uma empresa está tentando avaliar se ela deve relaxar


seus esforços de cobrança. A empresa conserta 72 mil ta-
petes por ano, a um preço médio de R$ 32,00 cada. Des-
pesas em dívidas incobráveis são 1% das vendas e despe-
sas com cobranças são de R$ 60 mil. A média do período
de cobrança é de 40 dias e o custo variável por unidade
é de R$ 28,00. Ao relaxar seus esforços de cobrança, a
empresa espera poupar R$ 40 mil por ano em despesas
com cobranças. As dívidas incobráveis vão aumentar para
2% das vendas, e a média do período de cobrança vai au-
mentar para 58 dias. As vendas vão aumentar em 1.000
consertos por ano. Se a empresa tem uma taxa de retorno
exigida em investimentos de igual risco de 24%, que reco-
mendação você daria para a empresa?
138    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

PLANO ATUAL:

72.000 x R$ 32,00/un. = R$
Receita anual
2.304.000,00
72.000 x R$ 28,00/un. = R$
Custo anual
2.016.000,00
Lucro da operação R$ 288.000,00
Perdas com devedores
R$ 23.040,00 (1% das vendas)
incobráveis
Despesas com cobrança R$ 60.000,00
Lucro final R$ 204.960,00

Investimento médio em DAR (parcela dos custos variá-


veis, pois é a única que altera): R$ 2.016.000,00/9 = R$
224.000,00 (prazo 40 dias gira 9 ao ano).

PLANO APÓS ALTERAÇÃO DO PADRÃO DE CRÉDITO:

73.000 x R$ 32,00/un. = R$
Receita anual
2.336.000,00
73.000 x R$ 28,00/un. = R$
Custo variável anual
2.044.000,00
Lucro da operação R$ 292.000,00
Perdas com devedores
R$ 46.720,00 (2% das vendas)
incobráveis
Despesas com
R$ 20.000,00
cobrança
Lucro final R$ 225.280,00
Capítulo 8   Concessão de Crédito   139

Investimento médio em DAR (parcela dos custos variáveis,


pois é a única que altera): R$ 2.044.000,00/6,2068... = R$
329.311,11 (prazo 58 dias gira 6,2068...ao ano).

NECESSIDADE DE INVESTIMENTO ADICIONAL EM DAR:


R$ 105.311,11 (R$ 329.311,11 – 224.000,00)

CUSTO DA NECESSIDADE ADICIONAL DE CCL: R$


25.274,66 (24% de R$ 105.311,11)

CONCLUSÃO: se a empresa alterar seu padrão de crédito


em função das premissas assumidas, não terá vantagens ao
fazê-lo, pois seu lucro final reduzirá em R$ 4.954,66, resul-
tante do aumento do lucro final de R$ 20.320,00 menos os
custos adicionais do CCL de R$ 25.274,66.

5) Uma empresa está analisando flexibilizar seus padrões


de crédito como forma de aumentar suas vendas que es-
tão diminuindo. Como resultado desse estudo, a empre-
sa prevê uma elevação de 10% no nível atual das ven-
das de 10.000 unidades por ano. Esse aumento previsto
decorre da mudança do prazo médio de pagamento de
30 para 45 dias. Por outro lado, estima que as perdas
por inadimplência passem de 1% para 3%. O preço de
venda por unidade de produto é de R$ 40,00 e o custo
variável unitário de R$ 31,00. O custo de oportunida-
de das aplicações financeiras no mercado é de 25% ao
ano. Perguntamos: a proposta de flexibilização do crédi-
to deverá ser aceita?
140    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

PLANO ATUAL:

10.000 x R$ 40,00/un. = R$
Receita anual
400.000,00
10.000 x R$ 31,00/un. = R$
Custo variável anual
310.000,00
Lucro da operação R$ 90.000,00
Perdas com devedores
R$ 4.000,00 (1% das vendas)
incobráveis
Lucro final R$ 86.000,00

Investimento médio em DAR (parcela dos custos variáveis,


pois é a única que altera): R$ 310.000,00/12 = R$ 25.833,33
(prazo 30 dias gira 12 ao ano).

PLANO APÓS ALTERAÇÃO DO PADRÃO DE CRÉDITO:

11.000 x R$ 40,00/un. = R$
Receita anual
440.000,00
11.000 x R$ 31,00/un. = R$
Custo variável anual
341.000,00
Lucro da operação R$ 99.000,00
Perdas com devedores
R$ 13.200,00 (3% das vendas)
incobráveis
Lucro final R$ 85.800,00

Investimento médio em DAR (parcela dos custos variáveis,


pois é a única que altera): R$ 341.000,00/8 = R$ 42.625,00
(prazo 45 dias gira 8 ao ano).

NECESSIDADE DE INVESTIMENTO ADICIONAL EM DAR:


R$ 16.791,67 (R$ 42.625,00 – 25.833,33)
Capítulo 8   Concessão de Crédito   141

CUSTO DA NECESSIDADE ADICIONAL DE CCL: R$


4.197,92 (25% de R$ 16.791,67)

CONCLUSÃO: se a empresa alterar seu padrão de crédito


em função das premissas assumidas, não terá vantagens ao
fazê-lo, pois seu lucro final reduzirá em R$ 4.397,92, resul-
tante da redução do lucro final de R$ 200,00 mais os custos
adicionais do CCL de R$ 4.197,92.

Atividades
1) O que representam as duplicatas a receber de uma em-
presa? O que se quer dizer com uma política de crédito de
uma empresa?
2) Qual significado dos 5 Cs DO CRÉDITO e qual a sua im-
portância na atividade de seleção de crédito?
3) Descreva a avaliação por classificação de crédito e expli-
que por que é importante aplicar essa técnica?
4) Quais são os tipos de operações que utilizam ativos como
garantias de crédito?
5) Uma empresa vende 60.000 unidades de produto por ano
com preço médio de R$ 35,00, período médio de cobran-
ça de 60 dias, 2,0% de devedores incobráveis, custo variá-
vel R$ 27,00 por unidade e despesas com cobrança de R$
35.000 por ano. A empresa prevê mais rigor na política de
crédito, aumentando em 10% suas despesas relacionadas
à análise de crédito e cobrança, mas, por outro lado, pre-
vê reduzir seus devedores incobráveis para 1,0%, o prazo
médio de cobrança para 30 dias e uma queda de 9% nas
vendas. Considerando o custo de oportunidade de 20%
ao ano, vale a pena implantar a nova política de crédito
na empresa? Justifique a resposta.
142    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

GABARITO
1. Duplicatas a receber representam o valor das vendas já
realizadas pela empresa e ainda não pagas pelos clien-
tes. Significam também os recursos que estão financian-
do as vendas da empresa. Política de crédito significa os
critérios adotados pela empresa para conceder crédito
aos seus clientes bem como o prazo máximo e os custos
financeiros do financiamento a serem praticados.

2. Caráter – significa a disposição do cliente em pagar, ou


seja, seu histórico de pagamentos em obrigações passa-
das, bem como processos judiciais em andamento ou já
julgados. Capacidade – representada pela capacidade
do cliente em saldar a dívida. Capital – a análise de
capital busca identificar a situação financeira do clien-
te, estudando sua situação patrimonial, indicadores de
desempenho e liquidez. Colateral (garantias) – refere-se
ao montante de ativos que o cliente tem para dar em ga-
rantia do crédito. Condições – a análise leva em conta o
cenário econômico empresarial, assim como quaisquer
circunstâncias específicas do requerente do crédito. Al-
guns fatores de análise: sazonalidade do produto, níveis
de estoques, efeitos macroeconômicos sobre o negócio
da empresa e outros. A importância da metodologia dos
5 Cs do crédito é reduzir ao máximo os riscos de crédito.

3. A avaliação por classificação de crédito é um procedi-


mento que produz uma pontuação capaz de refletir o
potencial financeiro global de um solicitante de crédi-
to, que resulta de uma média ponderada dos pontos
relativos às características financeiras e creditícias. Sua
Capítulo 8   Concessão de Crédito   143

importância reside em reduzir ao máximo os riscos de


crédito da empresa.

4. Alienação fidejussória, hipoteca e penhor mercantil.

5. Vale a pena flexibilizar o crédito, pois a empresa terá


vantagens de R$ 5.620,00, resultante do ganho de R$
29.430,00 na redução da parcela do custo variável aos
clientes e aplicada ao custo de oportunidade, de R$
22.890,00 de devedores incobráveis, menos a queda
no lucro de R$ 43.200,00 e aumento das despesas com
cobrança de R$ 3.500,00.
Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo 9

Dificuldades Financeiras

ÂÂ
Q
uando uma empresa não gera fluxo de caixa suficien-
te para pagar suas contas e adia, sistematicamente,
seus compromissos financeiros, ela se encontra com difi-
culdades financeiras. Se essa situação não for revertida
em curto período de tempo, essa empresa caminhará fa-
talmente para uma situação de recuperação extrajudicial,
recuperação judicial ou falência.
Uma situação de dificuldades financeiras não surge de
repente na empresa. Ela vai ocorrendo progressivamente,
como resutlado de inúmeros fatores, a exemplo do que
apontam Lemes Jr., Rigo e Cherobim1:

ÂÂfalta de visão e planejamento estratégico por parte da


direção da empresa;
Capítulo 9   Dificuldades Financeiras   145

ÂÂfalta de capacidade gerencial;


ÂÂfalta de vantagem competitiva;
ÂÂbrigas familiares;
ÂÂcustos altos;
ÂÂcancelamentos de pedidos;
ÂÂcontroles financeiros deficientes;
ÂÂdependência de poucos clientes;
ÂÂdependência de poucos fornecedores;
ÂÂdesvio de recursos da empresa para negócios particula-
res dos sócios;
ÂÂdirigentes autocratas;
ÂÂdiversificações mal conduzidas;
ÂÂentradas de concorrentes poderosos no mercado;
ÂÂestoques altos;
ÂÂestrutura de capital inadequada;
ÂÂexcesso de endividamento;
ÂÂexcesso de otimismo sobre o negócio;
ÂÂfalta de capital próprio;
ÂÂfalta de investimentos tecnológicos;
ÂÂmá administração de crédito e cobrança;
ÂÂmudanças na conjuntura econômica;
ÂÂfalecimento dos fundadores;
ÂÂpaternalismo na avaliação dos resultados;
ÂÂmá gestão de custos e preços;
ÂÂmau gerenciamento dos riscos; e
ÂÂmá localização geográfica.
146    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Muitas empresas tradicionais brasileiras enfrentaram difi-


culdades financeiras e tiveram que providenciar recuperação
judicial, sendo que muitas foram à falência, encerrando suas
atividades. Algumas dessas empresas, classificadas por setor,
foram:

ÂÂbancos: Banco Santos, Bamerindus, Nacional, Econô-


mico;
ÂÂempresas Aéreas: Transbrasil, Vasp e Varig, BRA;
ÂÂvarejo: Sandiz, Mesbla, Mappin, Hermes Macedo, Casa
Santos; e
ÂÂindústrias: Eberle, Freios Vargas, Pullmann Alimentos,
Serrana Cimentos, brinquedos Estrela.

Segundo um estudo de Lodi, citado por Lemes Jr., Rigo e


Cherobim2, nos Estados Unidos, de cada 100 empresas, 30
ficam na segunda geração e 10 na terceira geração. No Bra-
sil essa mesma estatística revela que apenas cinco empresas
atingem a terceira geração. Pouquíssimas empresas atingem
a quinta geração.

Lemes Jr., Rigo e Cherobim3 também citam Walker, autor


que esclarece sobre os principais fatores que levam uma em-
presa a ter dificuldades financeiras:

ÂÂações judiciais em andamento, nas quais a empresa, ao


não cumprir com as suas obrigações contratuais junto a
fornecedores, estes ingressam com cobranças judiciais;
ÂÂaumento do endividamento, detectável pelos balance-
tes da empresa, que revelam aumento nos empréstimos
contraídos pela empresa;
Capítulo 9   Dificuldades Financeiras   147

ÂÂavisos de protesto por falta de pagamentos, uma vez


que os credores registram os títulos de cobrança em car-
tórios de protestos;
ÂÂdiminuição do patrimônio líquido;
ÂÂelevadas despesas financeiras, como efeito do aumento
do endividamento;
ÂÂperda de mercado, devido às dificuldades financeiras, o
que leva a empresa a não acompanhar o aumento do
mercado, resultando em menor participação;
ÂÂperda de reputação perante os clientes devido às suas
dificuldades financeiras;
ÂÂqueda nas vendas e da lucratividade;
ÂÂsaídas de diretores, gerentes e funcionários importantes,
decorrentes da busca de culpados pelas dificuldades fi-
nanceiras, bem como das constantes pressões causadas
pela falta de dinheiro na empresa, aspectos que geram
um clima de insegurança e leva os colaboradores a bus-
carem outras oportunidades no mercado; e
ÂÂperda de crédito pelo não cumprimento em dia de seus
compromissos, o que deteriora a imagem da empresa e
implica a redução e/ou eliminação de linhas de crédito
junto a bancos e fornecedores.

9.1 Previsão de falências

Segundo Lemes Jr., Rigo e Cherobim4, o Professor Kanitz, da


Universidade de São Paulo (USP), desenvolveu o TERMÔ-
METRO DE KANITZ. Trata-se de um modelo que possibilita
148    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

prever falências por meio do tratamento estatístico de índices


financeiros – baseado em algumas empresas que realmente
faliram. O modelo consiste em encontrar o Fator de Insolvên-
cia (FI), utilizando-se a seguinte fórmula:

FI = X1 + X2 + X3 - X4 – X5

Em que:

X1 = Lucro líquido/patrimônio líquido x 0,05

X2 = Liquidez geral x 1,65

X3 = Liquidez seca x 3,55

X4 = Liquidez corrente x 1,06

X5 = Exigível total/patrimônio líquido x 0,33

Em função do resultado obtido no fator de insolvência te-


mos a seguinte interpretação:

ÂÂfator de insolvência entre 0 e 7: as possibilidades de


falência são muito reduzidas;
ÂÂfator de insolvência entre 0 e –3: as possibilidades de
falência são indefinidas;
ÂÂfator de insolvência entre –3 e –7: há propensão à fa-
lência.
Algumas considerações sobre o fator de insolvência:

ÂÂdestina-se somente às indústrias e ao comércio;


ÂÂdepende de demonstrações financeiras que reflitam a
realidade da empresa e não dispensa a análise de ou-
tros índices de avaliação da empresa;
Capítulo 9   Dificuldades Financeiras   149

ÂÂa média do fator de insolvência das empresas brasileiras


é de + 3,5.

9.2 Formas de enfrentar as dificuldades


financeiras

Existem diversas maneiras de enfrentar as dificuldades finan-


ceiras, conforme apresentado a seguir.

Nova Lei das Falências


A nova Lei das Falências – Lei nº 11.101/20051 –, introduziu
significativas mudanças no tratamento das dificuldades finan-
ceiras, no sentido de facilitar a recuperação da empresa em
crise econômico-financeira e, dessa forma, manter a empresa
como fonte de empregos e aumentar a probabilidade aos cre-
dores da retomada de seus bens e direitos.

No entanto, essa lei não se aplica às empresas públicas, às


sociedades de economia mista, às instituições financeiras, às
cooperativas de crédito, aos consórcios, às entidades de previ-
dência complementar, às sociedades operadoras de plano de
assistência à saúde, às sociedades seguradoras, às sociedades
de capitalização nem a outras entidades legalmente equipara-
das às anteriores.

1 A Lei nº 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, pode ser consultada na íntegra em:


<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm>.
150    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Recuperação extrajudicial
Segundo Lemes Jr., Rigo e Cherobim5, a recuperação extraju-
dicial tem por objetivo permitir “ao devedor negociar fora dos
tribunais com seus principais credores e aprovar um plano de
pagamento para suas duvidas dentro de suas reais possibili-
dades”. Uma vez aprovado, o plano de pagamento é levado
ao judiciário para homologação, “sendo que a sua aprovação
deve ter a concordância de 60% dos credores. Se o plano não
for aprovado o devedor deve propor, posteriormente, outro
plano para homologação ou se valer da recuperação judicial”.

Para manter uma empresa com dificuldades financeiras e


que tenha bons produtos e projetos, é primordial e urgente
a sua reestruturação financeira. A reestruturação consiste na
adequação do ativo ao passivo, do fluxo de caixa ao ciclo
econômico e das contas a pagar e a receber.

As soluções mais comuns de serem negociadas na recupe-


ração extrajudicial são o alongamento do perfil da dívida e a
transferência do controle acionário. O alongamento do perfil
da dívida consiste em renegociar as suas condições – seja uma
dívida vencida ou a vencer – junto aos fornecedores, bancos e
outros credores, buscando assim maiores prazos e juros meno-
res. Apesar de não ser a melhor solução para os credores, essa
estratégia será a menos onerosa. A renegociação das dívidas
para a empresa em dificuldades financeiras é a solução mais
adequada para a continuidade das operações.

A transferência de controle acionário é uma solução em


que se transfere o controle legal da empresa aos credores ou
a terceiros, por iniciativa dos sócios da empresa em dificulda-
Capítulo 9   Dificuldades Financeiras   151

des. Nesse caso, a reestruturação é efetivada depois da trans-


ferência do controle acionário. Esse processo normalmente
é demorado, porque os compradores da empresa devedora
solicitam uma avaliação minuciosa, denominada como due
diligence, para verificar a real situação das contas do ativos e
passivos, inclusive os potenciais riscos fiscais e trabalhistas da
empresa e possibilidades futuras.

Recuperação judicial
A recuperação judicial substitui a concordata, e o devedor pro-
põe um plano de pagamento aos credores, dentro de suas
possibilidades financeiras. Inclui todos os débitos da empre-
sa devedora, menos os débitos fiscais, que são excluídos do
processo de recuperação judicial. Os débitos trabalhistas nor-
malmente devem ser quitados pelo devedor no período de um
ano. Os credores não são obrigados a aceitar o plano e, atra-
vés de uma assembleia, poderão aprová-lo, modificá-lo ou
decidir pela decretação de falência. Também é considerada
a venda de ativos da devedora sem que o comprador herde
débitos fiscais.

A recuperação judicial suspende a exigibilidade dos crédi-


tos da empresa devedora por um determinado período, para
que ela se reestruture e ganhe condições de pagar suas dívidas,
mantendo-se operante. Na realidade, é uma trégua solicitada
pela empresa devedora, como melhor forma de pagamento de
seus credores. A recuperação judicial não priva o empresário
do controle de sua companhia. Durante a recuperação judicial
é muito difícil que a empresa obtenha novos créditos junto aos
seus fornecedores. Uma vez concedida a recuperação judicial,
152    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

os credores não poderão solicitar a falência do devedor pelo


prazo de duração da recuperação judicial.

Falência
Tecnicamente uma empresa está falida, quando as suas dí-
vidas de curto e longo prazo são superiores aos seus ativos
e, desse modo, a empresa não apresenta mais capacidade
de pagar pontualmente os seus credores. A falência pode ser
solicitada pela própria empresa, denominada autofalência, e
cabe ao juiz decretá-la de imediato, sem muitas formalidades.
Qualquer credor pode também requerer a falência do devedor
desde que seu crédito seja superior a 40 salários mínimos. No
caso do credor solicitar a falência, o juiz citará o devedor, de
modo que apresente a sua defesa ou efetue o depósito judicial
correspondente. A falência também pode ser decretada pelo
próprio juiz que conduz um processo de recuperação judicial e
a empresa descumpra algumas das cláusulas da recuperação.

Na falência, o juiz nomeia um síndico para administrar a


massa falida, receber todos os direitos e quitar todas as obri-
gações. O processo falimentar é composto pelos autos princi-
pais e por dois autos paralelos – inquérito judicial e declara-
ções de crédito. Os autos principais apuram o total do ativo da
empresa devedora; o inquérito judicial apura as responsabili-
dades pela situação de insolvência e as declarações de crédito
apuram quem tem direito a receber e estabelecer prioridades
no recebimento.

Existem duas formas de liquidação do processo de falência:


Capítulo 9   Dificuldades Financeiras   153

ÂÂVENDA PELO SÍNDICO – O síndico realiza os ativos,


recebendo os direitos vincendos, juntamente com o lei-
lão dos bens, e realiza o pagamento dos passivos. Caso
os recursos apurados na realização do ativo sejam in-
suficientes para o pagamento do passivo, os bens dos
sócios serão arrolados, na tentativa de quitar todos os
débitos. Caso haja sobra de recursos, resultante da rea-
lização dos ativos e pagamentos dos passivos, esta será
entregue aos sócios na proporção de participação no
capital da empresa.
ÂÂVENDA POR DELIBERAÇÃO DOS CREDORES – Neste
caso, os próprios credores assumem a realização dos
ativos. É possível também os credores constituírem uma
sociedade e assumirem a empresa devedora, mantendo-
-a em funcionamento para recuperar os seus créditos.

Quanto à ordem de prioridade de direitos na liquidação


de uma empresa falida, o síndico é responsável por liquidar
todos os ativos da empresa e pela distribuição dos resultados
assim obtidos aos titulares de direitos comprováveis. Segundo
a Lei nº 11.101/2005, em seu artigo 83, a classificação dos
créditos na falência obedece à seguinte ordem de prioridade:

I – os créditos derivados da legislação do trabalho, limita-


dos a 150 (cento e cinquenta)

salários-mínimos por credor, e os decorrentes de acidentes


de trabalho;

II – créditos com garantia real até o limite do valor do bem


gravado;
154    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

III – créditos tributários, independentemente da sua nature-


za e tempo de constituição, excetuadas as multas tri-
butárias;

IV – créditos com privilégio especial, a saber:

a) os previstos no art. 964 da Lei no 10.406, de 10 de


janeiro de 2002;

b) os assim definidos em outras leis civis e comerciais, salvo


disposição contrária desta Lei;

c) aqueles a cujos titulares a lei confira o direito de reten-


ção sobre a coisa dada em garantia; [...]

VI – créditos quirografários, a saber:

a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;

b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da


alienação dos bens vinculados ao seu pagamento;

c) os saldos dos créditos derivados da legislação do traba-


lho que excederem o limite estabelecido no inciso I do
caput deste artigo;

VII – as multas contratuais e as penas pecuniárias por in-


fração das leis penais ou administrativas, inclusive as
multas tributárias;

VIII – créditos subordinados, a saber:

a) os assim previstos em lei ou em contrato;

b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo


empregatício.
Capítulo 9   Dificuldades Financeiras   155

Depois de liquidar todos os ativos da empresa falida e dis-


tribuir o resultado, para cobrir todos os créditos comprováveis
pela ordem de prioridade, o síndico realiza uma prestação fi-
nal de contas ao juiz e aos credores, a qual, uma vez aprovada
pelo juiz, encerra o processo de falência.

Durante o processo de falência, os titulares da empresa


ficam impedidos de administrar outras empresas. Os titulares
somente poderão administrar um novo negócio depois de en-
cerrado o processo de falência e todas as dívidas pagas.

Atividades

1) Quais fatores evidenciam uma empresa em dificuldades


financeiras?
2) Quais providências a diretoria de uma empresa deve to-
mar quando há indícios de dificuldades financeiras na em-
presa?
3) De que forma ocorre o processo de recuperação judicial
de uma empresa?
4) Quais são as condições de um credor para solicitar a fa-
lência de uma empresa?
5) Qual a prioridade de pagamento aos acionistas de uma
empresa falida?
156    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Referências

1 LEMES JR.; RIGO; CHEROBIM, 2005, p. 474.

2 LEMES JR.; RIGO; CHEROBIM, 2005, p. 466.

3 LEMES JR.; RIGO; CHEROBIM, 2005, p. 475.

4 LEMES JR.; RIGO; CHEROBIM, 2005, p. 484.

5 LEMES JR.; RIGO; CHEROBIM, 2005, p. 468.


Nestor Alberto Rancich Filho

Capítulo 10

Avaliação de Empresas

ÂÂ
A
valiar ou definir o valor de uma empresa é uma tarefa
complexa, pois não se processa mediante os funda-
mentos de uma ciência exata, em que se consegue com-
provar de forma absoluta os resultados apurados. Todos
os modelos de avaliação pressupõem níveis variados de
subjetividade. O valor de uma empresa vista pelo ven-
dedor consiste, normalmente, em mensurar e obter o re-
torno dos investimentos realizados ao longo dos anos na
empresa. Já o comprador investidor valoriza a empresa,
normalmente, em função do retorno esperado de se rea-
lizar no futuro, sujeito a fatores imprevistos, não totalmen-
te controláveis no processo de previsão. Além do critério
diferenciado de julgamento de valor entre comprador e
vendedor, existem outras razões e objetivos associados ao
158    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

comprador e ao vendedor que interferem na avaliação,


principalmente quanto aos ativos intangíveis, tais como
marca, tradição, carteira de clientes e as representações e
distribuições comerciais exclusivas.
A seguir serão apresentados os critérios técnicos, econô-
micos e financeiros usados para a avaliação de empresas.

10.1 A
 valiação pelo método de
mensuração dos ativos e passivos

O método de mensuração dos ATIVOS E PASSIVOS, também


denominado método patrimonial, destaca o valor da empresa
com base no valor do respectivo patrimônio líquido. O valor
patrimonial é medido pela diferença entre o valor de seus ati-
vos e o valor de seus passivos (obrigações). Como valorizar os
ativos e os passivos? Há diversos critérios para tanto.

O primeiro critério é pelo valor histórico, no qual os va-


lores dos ativos e dos passivos são avaliados pelo seu valor
histórico, sem considerar nenhuma correção na atualização
monetária. O valor patrimonial pelo custo histórico sem corre-
ção não reflete o efetivo valor da empresa, sendo apenas uma
informação, sem ser relevante ao efetivo valor da empresa. O
valor econômico de qualquer ativo não se vincula ao capital
aplicado em sua aquisição, mas é função da sua capacidade
de gerar benefícios econômicos nas operações atuais e futuras
da empresa.

O segundo critério é valorizar os ativos pelo seu valor de


aquisição, o qual é corrigido por um índice que representa a
Capítulo 10   Avaliação de Empresas   159

correção do valor histórico no decorrer do tempo. Esse critério


permite restabelecer o poder aquisitivo dos investimentos rea-
lizados no passado para o seu valor atual.

O terceiro critério é valorizar os ativos pelo valor atual de


mercado, ou seja, se os ativos fossem vendidos, qual o valor
que o mercado estaria disposto a pagar por eles? O valor de
mercado dos ativos poderá ser superior ou inferior aos valores
históricos originais e/ou corrigidos, causando ganhos ou per-
das de capital nos investimentos.

O quarto critério de valorização é denominado valor de


liquidação. Nesse critério, consideramos que a empresa ces-
se totalmente suas atividades em futuro próximo. O valor de
liquidação constitui-se no preço oferecido pelo mercado para
pagamentos dos ativos que perdem valor pela não continuida-
de da empresa. O valor de liquidação de certos ativos pode
ser superior ao valor de mercado pelo interesse do comprador
em aproveitá-lo em rentabilidade garantida.

O quinto critério é conhecido como valor de reposição, o


qual equivale ao preço corrente de repor todos os ativos em
uso da empresa. Uma vantagem de valorizar os ativos pelo
custo de reposição é a possibilidade de apropriação dos resul-
tados de uma forma independente de sua realização, ou seja,
o reconhecimento do lucro antes da venda dos estoques.

A contabilidade de uma empresa não tem por objetivo


refletir o valor de mercado de um ativo, e sim expressar os
valores em termos de custos, visando mensurar o lucro. Na
realidade, o valor de um ativo é função de sua capacidade
160    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

futura de gerar riqueza e não de seus resultados acumulados


em exercícios passados.

10.2 A
 valiação pelo método do fluxo de
caixa descontado (FCD)

Segundo Damodaran1, o valor de uma empresa pelo método


FCD é determinado por quatro fatores:

ÂÂa sua capacidade de gerar fluxos de caixa a partir dos


ativos já instalados;
ÂÂa taxa de crescimento esperada desses fluxos de caixa;
ÂÂo tempo transcorrido até a empresa alcançar o cresci-
mento estável; e,
ÂÂo custo do capital.

O método FCD é o que fornece o melhor rigor técnico


para expressar o valor econômico de uma empresa. Ele apura
o potencial de geração de riqueza do investimento. Na ver-
dade, a empresa deve ser avaliada por sua riqueza econô-
mica futura expressa em valor presente. O valor da empresa
é dimensionado pelos benefícios de caixa esperados em um
período de tempo futuro, os quais devem ser descontados por
uma taxa de atratividade que reflete o custo de oportunidade
do momento, de forma a se obter o valor atual da geração de
caixa futura da empresa.

Segundo Assaf Neto e Silva2, a base de avaliação de uma


empresa pelo método FCD é o fluxo de caixa operacional da
empresa, excluindo-se os fluxos de remuneração do capital
Capítulo 10   Avaliação de Empresas   161

(receitas e despesas financeiras). O impacto de financiamento


de capital deve se referir inteiramente ao custo total de capital
utilizado como taxa de desconto dos fluxos de caixa.

Os fluxos operacionais de caixa devem ser projetados para


determinado horizonte de tempo. Apurando-se as estimativas
de entrada e saída de caixa, é possível deduzir a riqueza líqui-
da expressa em valor presente. O fluxo de caixa da empresa é
obtido a partir do lucro líquido operacional, recuperando-se
o valor da depreciação dos ativos, que são computados nos
custos na demonstração de resultados, mas não são desem-
bolsos de caixa, menos os investimentos realizados no período
e as variações ocorridas no capital de giro.

Portanto, o fluxo de caixa operacional disponível de uma


empresa é calculado em cada período,

ÂÂsomando-se o lucro líquido operacional após Imposto


de Renda;
ÂÂas despesas não desembolsáveis (depreciações dos ati-
vos); e
ÂÂsubtraindo-se (ou somando-se):
ÂÂos investimentos ou alienações de capital fixo; e,
ÂÂas variações de capital de giro.

O que resulta no FLUXO DE CAIXA OPERACIONAL DIS-


PONÍVEL. É chamado de disponível porque seus resultados
são considerados disponíveis aos credores e acionistas da em-
presa.

ÂÂo método FCD considera três princípios fundamentais:


162    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

ÂÂa avaliação do investimento é processada com base nas


projeções do fluxo de caixa das operações da empresa;
ÂÂo risco é incorporado na avaliação econômica de in-
vestimento, respeitadas as preferências do investidor na
relação risco versus retorno; e,
ÂÂa decisão identifica o valor presente do ativo com base
na taxa de desconto do interesse de remuneração dos
investidores e/ou do custo de capital da empresa.
O valor da empresa pelo método do FCD é obtido pela
seguinte fórmula:

Em que:

FCO = Fluxo de caixa operacional de cada ano i

n = número de anos projetados para a empresa

K = taxa de desconto aplicado para obter o valor atual da


empresa (normalmente é o custo de capital da empresa).

Como definir o valor de uma empresa pelo método FCD?


Como exemplo, vamos considerar que uma empresa fa-
bricante de bicicletas deseja determinar o valor da empresa
pelo método FCD para um potencial comprador. A empresa
opera no mercado há 20 anos, possui uma boa tradição, uma
boa clientela e suas projeções para os próximos anos são as
seguintes:
Capítulo 10   Avaliação de Empresas   163

a. MERCADO – O consumo anual cativo total de bicicletas


previsto nos próximos seis anos no mercado nacional e de ex-
portação é o que se apresenta na Tabela 10.1.

Tabela 10.1  Consumo anual cativo de bicicletas para os próximos seis anos

ANO MERCADO NACIONAL MERCADO EXPORTAÇÃO

1 800.000 3.000.000

2 840.000 3.200.000

3 880.000 3.600.000

4 960.000 3.800.000

5 1.000.000 4.000.000

6 1.050.000 4.250.000

b. PARTICIPAÇÃO – A empresa possui um marketshare no


mercado de 20% do mercado nacional e 5% do merca-
do de exportação.

c. PREÇOS – Os preços do novo modelo diferem em fun-


ção do mercado, sendo para o mercado nacional de R$
310,00 por unidade e, para o mercado de exportação,
de R$ 280,00 a unidade.

d. CUSTOS DE PRODUÇÃO – Os custos variáveis de pro-


dução, tanto para o mercado nacional como para o de
exportação, são os mesmos, sendo estimados em R$
190,00 por unidade. Os custos fixos estão previstos em
164    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

R$ 31,65 milhões por ano, incluindo as depreciações de


R$ 1,65 milhões por ano.

e. IMPOSTO DE RENDA – Será calculado na base de 34%


sobre os lucros de cada ano e pago no mesmo ano.

f. CAPITAL DE GIRO – O cálculo simplificado será feito da


seguinte forma:

ÂÂdisponível: será mantido um valor em caixa igual a 8%


do faturamento mensal;
ÂÂrealizável a curto prazo: será igual a 1,2 vezes o fatura-
mento mensal; e,
ÂÂexigível a curto prazo: será utilizado 50% do CPV toma-
do em base mensal.

g. INVESTIMENTOS – A empresa realiza investimentos fixos


por ano na razão de 2% das vendas.

h. FINANCIAENTOS – Está previsto um financiamento de


R$ 5 milhões por 5 anos com juros de 30% ao ano.

Com as informações fornecidas, elaboramos o fluxo de


caixa dos próximos 6 anos, o qual, ao ser descontado ao VA-
LOR PRESENTE, sob a taxa do custo de capital próprio e de
terceiros da empresa de 19,68%, obtém-se o valor da em-
presa pelo método FCD de R$ 25,877 milhões, conforme os
cálculos apresentados a seguir.

Iniciamos com as previsões de vendas, o cálculo das recei-


tas, o cálculo dos custos, a geração de caixa das operações,
mais os ajustes de investimentos em imobilizado e capital de
Capítulo 10   Avaliação de Empresas   165

giro para obter o fluxo de caixa previsto nos próximos 6 anos


da empresa.

Tabela 10.2  Mercado total


MERCADO ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6

Nacional 800.000 840.000 880.000 960.000 1.000.000 1.050.000

Exportação 3.000.000 3.200.000 3.600.000 3.800.000 4.000.000 4.250.000

A partir da Tabela 10.2 do mercado total, calculamos a


quantidade a ser produzida e vendida pela empresa em fun-
ção do seu marketshare de 20% no mercado nacional e de
5% no mercado de exportação, cujos valores de quantidades
estão expressos na Tabela 10.3.

Tabela 10.3  Previsão de vendas de bicicletas da empresa

MERCADO ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6

Nacional 160.000 168.000 176.000 192.000 200.000 210.000

Exportação 150.000 160.000 180.000 190.000 200.000 212.500

Com as quantidades, calculam-se as receitas e os custos


anuais (Tabelas 10.4 e 10.5), em função do preço de venda
para cada mercado e os custos variáveis e fixos correspon-
dentes.
166    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Tabela 10.4  Receita operacional total – ROT (Valores em R$ 1.000,00)

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6

Mercado Nacional 49.600 52.080 54.560 59.520 62.000 65.100

Mercado Exportação 42.000 44.800 50.400 53.200 56.000 59.500

ROT 91.600 96.880 104.960 112.720 118.000 124.600

Tabela 10.5  Custo total – variável + fixos (valores R$ 1.000,00)

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6

Custo variável total 58.900 62.320 67.640 72.580 76.000 80.275

Custo fixo 31.650 31.650 31.650 31.650 31.650 31.650

Custo total 90.550 93.970 99.290 104.230 107.650 111.925

Em função das receitas operacionais e dos custos obtém-


-se o lucro líquido na tabela 10.6, pela diferença do total da
Tabela 10.5 menos o total da Tabela 10.6 em cada ano.

Tabela 10.6  Lucro líquido

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6

Lucro bruto 1.050 2.910 5.670 8.490 10.350 12.675

Imposto de
357 989 1.928 2.887 3.519 4.310
Renda

Lucro líquido 693 1.921 3.742 5.603 6.831 8.366


Capítulo 10   Avaliação de Empresas   167

A seguir, determina-se o fluxo de caixa (Tabela 10.7) recu-


perando despesas não desembolsáveis computadas nos custos
(no caso o valor da depreciação).

Tabela 10.7  Fluxo de caixa

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6

Lucro líquido 693 1.921 3.742 5.603 6.831 8.366

Depreciações 1.650 1.650 1.650 1.650 1.650 1.650

Fundos gerados nas


2.343 3.571 5.392 7.253 8.481 10.016
operações

A Tabela 10.8 apresenta os valores dos investimentos em


capital fixo e capital de giro e as respectivas fontes de financia-
mento previstas no período de seis anos.

Tabela 10.8  Investimentos e financiamentos

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6

Financiamento
5.000 (750) (750) (750) (750) (5.750)
bancos
Fornecedores/
2.583 150 233 217 150 (3.333)
outros
Investimento ativo
1.832 1.938 2.099 2.254 2.360 2.492
fixo
Investimento ativo
(9.771) (563) (862) (827) (563) 12.587
circulante

Saldo de caixa (356) 775 720 894 1.197 5.996

Em função das Tabelas 10.7 e 10.8, obtemos a Tabela


10.9, que trata do fluxo de caixa final operacional disponível
168    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

da empresa nos próximos seis anos em função das premissas


estabelecidas.

Tabela 10.9  Fluxo de caixa operacional disponível

ANO 1 ANO 2 ANO 3 ANO 4 ANO 5 ANO 6

FCOD 1.987 4.345 6.112 8.148 9.678 16.012

Portanto, o valor da empresa pelo FCD, à taxa de 19,68%


ao ano, resulta em R$ 25.876,60 milhões, obtido pela seguin-
te equação:

Pelo fluxo de caixa operacional disponível encontrado, te-


mos que o VE será igual a:

VE = 1.987,00 + 3.630,51 + 4.267,17 + 4.753,20 +


4.717,36 + 6.521,35 = R$ 25.876,60

Taxa de desconto: custo do capital


No exemplo anterior sobre o método de valorizar a empresa
pelo fluxo de caixa operacional descontado, adotamos como
taxa o valor de 19,68% ao ano, representada pelo custo de
Capítulo 10   Avaliação de Empresas   169

capital da empresa, pela qual se devem descontar os benefí-


cios de caixa previstos para o cálculo do seu valor presente
que represente o valor econômico atual da empresa.

A taxa mínima de atratividade deve expressar o custo de


oportunidade das várias fontes de capital, próprio e de tercei-
ros, ponderado pela participação relativa de cada uma de-
las na estrutura de financiamento. Essa taxa de oportunidade
requerida é obtida de forma a remunerar adequadamente a
expectativa de retorno definida pelas diversas fontes de capital.

Em verdade, a avaliação de uma decisão de investimento


deve cotejar o retorno esperado pelos provedores de capital
– o custo médio ponderado de capital ou Weighted Average
Cost of Capital (Wacc). A seguir, apresentamos a metodologia
de apuração do custo total de capital do exercício da fábrica
de bicicletas, considerando o custo de capital de terceiros e o
custo de capital próprio, a qual foi aplicada para determinar o
valor da empresa, pelo método do fluxo de caixa operacional
descontado.

Custo de capital de terceiros (KI)


Entende-se por capital de terceiros as contas do passivo cir-
culante e os empréstimos financeiros de curto e longo prazo.
O custo de capital de terceiros (KI) é definido com base na
natureza e nas características de mercado de cada passivo se-
lecionado pela empresa.

Segundo Assaf Neto3, o KI “é definido de acordo com os


passivos onerosos identificados nos empréstimos e financia-
170    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

mentos mantidos pela empresa”, sendo determinado pelos


itens que seguem.

ÂÂNÍVEL CORRENTE DAS TAXAS DE JUROS – O custo da


dívida da empresa cresce, em tese, ao passo que as ta-
xas de juros aumentam.
ÂÂRISCO DE INADIMPLÊNCIA DA EMPRESA – Em tese,
quanto maiores os riscos de inadimplência, maiores os
custos dos empréstimos.
ÂÂBENEFÍCIOS FISCAIS ASSOCIADOS AOS EMPRÉSTI-
MOS (DÍVIDA) – Devido aos juros serem dedutíveis do
Imposto de Renda, o custo da dívida, após tributação,
passa a ser uma função da alíquota fiscal. O benefí-
cio fiscal, gerado pelo pagamento de juros, torna mais
baixo o custo da dívida após tributação em relação ao
custo antes do pagamento dos impostos.

A fórmula que representa o custo da dívida (após incidên-


cia de impostos) é dada pela seguinte equação:

KI (apos IR) = KI (antes IR) x (1 – %IR)

Em que:

IR = alíquota de imposto de renda.

Por exemplo, vamos supor que a taxa bruta de captação da


fábrica de bicicletas, antes do Imposto de Renda, foi estimada
em 30% ao ano. Estima-se que o IR seja de 34% e, diante
da dedutibilidade fiscal permitida aos encargos financeiros,
obtém-se o KI líquido do seguinte modo:

KI = 30% x (1 – 0,34) = 19,8% ao ano


Capítulo 10   Avaliação de Empresas   171

Para ilustrar o cálculo do KI líquido, vamos supor que a em-


presa de bicicletas tenha um financiamento de R$ 100.000,00,
tomado a 30% ao ano, sendo 34% a alíquota de Imposto de
Renda da empresa. Os juros de competência do período atin-
gem:

Despesas financeiras brutas: R$ 100.000,00 x 30% = R$ 30.000,00


Economia de Imposto de Renda R$ 30.000,00 x 34% = R$ 10.200,00
Despesa financeira líquida do IR R$ 19.800,00

Relacionando os encargos financeiros de competência do


período com o valor do empréstimo gerador dessas despe-
sas, temos o custo de captação líquido do Imposto de Renda,
como segue:

Resultado idêntico apurado pela fórmula: KI = 30% x (1 –


0,34) = 19,80% ao ano.

A efetiva dedução do Imposto de Renda do custo de capital


de terceiros ocorre evidentemente quando a empresa apresen-
ta lucro tributável no exercício. Caso a empresa seja isenta do
Imposto de Renda, como é o caso das sociedades cooperati-
vas, os custos dos empréstimos e dos financiamentos, antes e
depois do Imposto de Renda, serão os mesmos. Empresas que
apresentaram prejuízos no passado, mesmo que apresentem
resultados positivos no período, podem também deixar de de-
duzir esse benefício fiscal promovido pelos juros pagos, pois
172    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

podem utilizar créditos fiscais de exercícios sociais anteriores


para reduzir o valor do Imposto de Renda atual.

Segundo Assaf Neto e Silva4, uma das grandes preocupa-


ções das empresas brasileiras é com o alto nível das taxas de
juros de mercado, o que pode inviabilizar a atratividade eco-
nômica do investimento de capital. Desde o início da década
de 1980, os negócios empresariais no Brasil têm se desen-
volvido em ambiente de elevado custo do dinheiro, situando-
-se, em muitos casos, em percentual bem acima do retorno
geralmente oferecido pelos ativos das empresas. Esse cenário
determinou ao longo dos anos um forte desestímulo econômi-
co no uso de capital de terceiros para lastrar as decisões de
investimentos das empresas brasileiras, reduzindo sua capa-
cidade de alavancagem financeira e, consequentemente, sua
competitividade.

Nessas condições, de elevadas taxas de juros reais, prati-


cadas na economia brasileira ao longo dos anos, as empresas
brasileiras passaram a adotar uma postura mais conservadora
em relação às suas decisões financeiras, atribuindo principal-
mente uma maior prioridade à capitalização, possível somente
nas grandes empresas, e, com raríssimas exceções, nas pe-
quenas e médias. Esse posicionamento determina, geralmen-
te, uma atitude mais lenta em relação aos investimentos em-
presariais, elevando seu risco de perda de competitividade em
mercados mais abertos e globalizados.

Assaf Neto e Silva5 esclarecem também que, nas décadas


de 1980 e de 1990, o nível médio de endividamento (passivo/
patrimônio líquido) das empresas de capital aberto no Brasil
Capítulo 10   Avaliação de Empresas   173

vem registrando uma média de 0,50, o que equivale a um ati-


vo total financiado em 67% por capital próprio e 33% por re-
cursos de terceiros. Padrões de endividamento em economias
mais desenvolvidas elevam esse índice para 1,50, ou seja, três
vezes superior ao registrado pelas empresas brasileiras, o que
equivale a um ativo total financiado em 40% por capital pró-
prio e 60% com capital de terceiros.

Custo de capital próprio


O custo de capital próprio revela o retorno desejado pelos
acionistas de uma empresa. Esse custo (custo do patrimônio
líquido) é definido pela expectativa de retorno sobre o PATRI-
MÔNIO LÍQUIDO durante um determinado tempo (normal-
mente um ano), baseado em níveis semelhantes de taxa de ju-
ros e retorno de mercado do PL no tempo. A determinação do
custo do capital próprio envolve uma dificuldade prática prin-
cipalmente ao ser dimensionado para empresas com ações
bastante pulverizadas no mercado.

Um método bastante utilizado na prática é o de cálculo da


taxa interna de retorno, que equivale ao investimento atual dos
dividendos futuros pagos pela empresa e trazidos ao valor pre-
sente pela taxa interna de retorno (TIR). A grande dificuldade
na aplicação desse método é encontrar a estimativa correta de
valores futuros esperados de caixa da empresa para o paga-
mento de dividendos, o que leva a fazer o cálculo por estima-
tivas, com base em projeções de crescimento e nos lucros das
empresas.
174    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Outro método de obtenção do custo de capital próprio é


decorrente da aplicação do modelo Capital Asset Price Model
(Capm), ou modelo de precificação de ativos. De acordo com
Assaf Neto e Silva6, o Capm estabelece uma relação linear
entre o retorno de um ativo e o retorno de mercado. Os resul-
tados do modelo demonstram forte sensibilidade com a taxa
requerida de retorno (custo de capital), a qual deve se com-
portar de forma condizente com o risco. Quanto mais elevado
apresentar-se o risco da decisão, maior o retorno exigido pelos
proprietários de capital, e vice-versa para níveis mais baixos de
risco, tornando possível remunerar os investidores com taxas
de retorno mais reduzidas.

Assaf Neto e Silva7 também esclarece que, no modelo


Capm, a taxa de retorno exigida pelo investidor inclui a taxa
livre de risco da economia, mais um prêmio que remunere o
risco sistemático apresentado pelo ativo em avaliação e repre-
sentado pelo coeficiente beta.

O custo de capital próprio pelo método Capm é obtido


pela seguinte fórmula:

Ke = RF + ß . (RM – RF) + αBR

em que:

ÂÂKe = taxa de retorno mínima requerida pelos investido-


res do ativo (custo de capital próprio);
ÂÂRF = taxa de retorno de ativos livres de risco, sendo, ge-
ralmente, utilizadas as taxas de juros médias dos títulos
públicos de longo prazo emitidos pelo governo america-
no (treasury bond);
Capítulo 10   Avaliação de Empresas   175

ÂÂß = coeficiente beta, medida do risco sistêmico (não


diversificável) do ativo; constitui o elemento de maior
dificuldade de estimar, para cuja determinação, identifi-
ca-se no mercado de referência uma amostra de empre-
sas do mesmo setor e com características operacionais
e financeiras semelhantes às da empresa em avaliação;
ÂÂRM = rentabilidade oferecida pelo mercado em sua tota-
lidade e representada pela carteira de mercado, obtida
pela média das taxas de rentabilidade do mercado de
ações publicadas em certo intervalo de tempo, geral-
mente, usando um índice publicado pelas bolsas de
valores;
ÂÂ αBR = representa um prêmio pelo Risco Brasil, índice
que costuma ser mensurado na prática pela diferença
entre a taxa de juros oferecida pelo título público bra-
sileiro (C-Bond), negociado no mercado financeiro in-
ternacional, e a taxa dos títulos emitidos pelo governo
dos Estados Unidos (T-Bonds), admitidos como de mais
baixo risco.

A diferença entre a rentabilidade oferecida pelo mercado


e a taxa de retorno de ativos livres de risco (RM – RF) é definida
como o prêmio pelo risco de mercado. Essa diferença indica
quanto o mercado paga em excesso à remuneração dos títulos
considerados como livres de risco. Esse prêmio, ao ser alavan-
cado pelo beta do ativo, reflete o risco de mercado ajustado
ao ativo em avaliação.

Para exemplificar, a aplicação do método Capm e determi-


nar o custo de capital próprio, vamos considerar os seguintes
parâmetros:
176    Administração de Capital de Giro Orçamento e Fluxo de Caixa

Ke = taxa livre de risco de 4,6% ao ano;

(RM – RF) = a taxa de prêmio pelo risco de mercado de 6%;

ß = coeficiente beta, do risco sistêmico de 1,30;

αBR = Risco Brasil de 4%

Dadas essas informações, temos como custo de capital


próprio o seguinte valor:

Ke = RF + ß . (RM – RF) + αBR

Ke = 4,6% + 1,30 . 6,0% + 4% = 16,4%

Como o setor de fabricação de bicicletas possui pouca


tecnologia de valor agregado, o setor é muito pouco capita-
lizado, trabalhando mais com capital de terceiros. No nosso
exemplo vamos supor como sendo de 20% a participação de
capital próprio e 80% de capital de terceiros.

Portanto, o custo médio ponderado de capital Wacc será igual a:

Wacc = (19,80% . 0,80) + ( 16,40% . 0,20) = 19,68%

Essa taxa, representativa da remuneração exigida pelos


provedores de capital, deve descontar os fluxos operacionais
disponíveis de caixa previstos para o dimensionamento do va-
lor da empresa.

Atividades
1) Descreva as diferentes formas de avaliar o valor de uma
empresa.
Capítulo 10   Avaliação de Empresas   177

2) Qual o critério mais correto de avaliação de uma empre-


sa? Justifique sua resposta.
3) Quais divergências podem ocorrer na avaliação do valor
de uma empresa entre o agente vendedor e o agente com-
prador?
4) Qual o conceito de custo do capital e porque seu valor
é utilizado no valor da empresa pelo método do fluxo de
caixa descontado?
5) Qual será o valor da empresa fabricante de bicicletas
(exemplificada neste capítulo), caso o custo variável au-
mente para R$ 200,00 e a empresa reajuste seus preços
em 5%, respeitando a mesma política adotada pelo seu
principal concorrente?

Referências

1 DAMODARAN, 2001, p. 611.

2 ASSAF NETO, 2002, p. 589-590.

3 ASSAF NETO, 2003, p. 356.

4 ASSAF NETO, 2002, p. 358.

5 ASSAF NETO, 2002, p. 358.

6 ASSAF NETO, 2002, p. 359.

7 ASSAF NETO, 2002, p. 359-360.

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