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FUNDAMENTOS

DO AGRONEGÓCIO
Prof. Me. TIAGO RIBEIRO DA COSTA
004 Aula 01: O Senso Comum Sobre o Agronegócio

012 Aula 02: As Revoluções Agrícolas como Gênese para o


Agronegócio

022 Aula 03: Conceitos e Definições Sobre o Agronegócio

030 Aula 04: Cadeias Produtivas no Agronegócio – Conceitos

038 Aula 05: Os Segmentos do Agronegócio – Antes da Porteira

046 Aula 06: Os Segmentos do Agronegócio – Dentro da Porteira

054 Aula 07: Os Segmentos do Agronegócio – Após a Porteira

063 Aula 08: Sistemas Agroindustriais

074 Aula 09: Formas de Coordenação nas Cadeias Produtivas do


Agronegócio

082 Aula 10: Logística e Comercialização

093 Aula 11: O Agronegócio Brasileiro

103 Aula 12: O Agronegócio Mundial

111 Aula 13: Comércio Internacional de Commodities

120 Aula 14: A Agricultura Familiar e o Agronegócio

130 Aula 15: Inovações Aplicadas ao Agronegócio

139 Aula 16: Os Principais Desafios do Agronegócio para o Futuro


Introdução
Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)ao nosso livro de “Fundamentos do Agronegócio”, produzido com muito
carinho e esmero a você, estudante do curso de Tecnologia em Agronegócios da Educação a Distância, da
Universidade de Marília – UNIMAR.

Saiba que sua formação está em excelentes mãos, considerando a instituição, seus colaboradores e seus
parceiros mais próximos, os professores. Fico muito contente de tê-lo(a) como parceiro(a) nesta jornada do
conhecimento.

Neste livro, formado por dezesseis aulas e conteúdos extras, vamos apresentar informações estratégicas para
que você possa compreender o universo do Agronegócio, por meio de seus fundamentos.

Na disciplina Fundamentos do Agronegócio, vamos abordar, de forma abrangente, todos os conceitos básicos
ligados ao Agronegócio e ao mercado. Por exemplo, você conhecerá o conceito e a estrutura de uma cadeia
produtiva e de um sistema agroindustrial. Além disso, você aprenderá sobre os atores que fazem parte dessas
cadeias e sistemas e suas interações, considerando os setores do agronegócio (“antes, dentro e pós-porteira”).

Vamos ainda compreender alguns aspectos gerais sobre a logística, sobre commodities, sobre a comercialização
internacional e formas de coordenação ligadas ao Agronegócio.

Por m, faremos uma breve abordagem sobre as perspectivas do Agronegócio, considerando a necessária
implementação da cultura de inovação e os desa os que o Agronegócio terá para continuar com sua
representatividade em um mundo em constantes mudanças.

Ao longo de nosso texto, você terá a chance de explorar outros entendimentos sobre os temas discutidos, isso
por meio de sugestões de literaturas e por exemplos contextualizados, que lhe agregarão conhecimento prático.

Espero que você goste do conteúdo aqui exposto e espero ainda que este conteúdo possa auxiliá-lo a construir
competências, habilidades e atitudes dignas de um excelente Tecnólogo em Agronegócios. Desejo-lhe uma
excelente leitura.

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01

O Senso Comum
Sobre o Agronegócio
A Percepção Sobre a
Relevância do Agronegócio
Prezado(a) estudante, seja bem-vindo(a) a nossa primeira aula da disciplina de
“Fundamentos do Agronegócio”! É um prazer poder recebê-lo(a) e contribuir com
sua jornada, em que o aprendizado sobre as bases do Agronegócio será a nossa
meta principal.

Em nosso primeiro momento juntos, gostaria de convidá-lo(a) a fazer uma


re exão: Qual é o seu grau de conhecimento sobre o Agronegócio? Você já
parou para pensar sobre isso? Ademais, de que maneira o Agronegócio está
ligado à nossa sociedade?

Em nosso dia a dia, é bastante comum ouvirmos a respeito do Agronegócio, seja


nas notícias dos telejornais, em páginas de internet ou ainda, em campanhas
publicitárias que enaltecem o “Agro” como algo tecnológico, popular e que está
presente em tudo aquilo que temos ao nosso redor.

Não obstante, é bastante comum percebermos a in uência deste tema em


nossa economia, especialmente em anos de crises econômicas, como a que
passamos recentemente e ainda estamos sentindo os seus efeitos. Para se ter
uma ideia, o Brasil saiu de uma recessão técnica (entre 2015 e 2017) devido ao
crescimento do Agronegócio no primeiro semestre de 2017, o que promoveu
uma ascensão de nosso Produto Interno Bruto a 1,0%. Sobre este assunto, Gilio
e Rennó (2018) a rmam:

Em 2017, o PIB brasileiro (IBGE) cresceu 1%, enquanto o PIB-volume do


Agronegócio, calculado pelo Cepea/CNA, aumentou 7,2% – impulsionado
pela produção recorde “dentro da porteira”, pela importante
recuperação agroindustrial e pelo consequente “transbordamento”
desses crescimentos sobre o setor de serviços. Especi camente sobre a
agropecuária (segmento primário do agronegócio), dados da Conab
indicam que, entre as safras 1990/1991 e 2016/2017, a produção
brasileira de grãos aumentou 310%, com expressiva elevação média

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anual de 5,37%, atingindo recorde histórico de 237,7 milhões de
toneladas na última safra (GILIO & RENNÓ, 2018 [on line]).

Ainda, para que você possa avançar em sua re exão sobre como o Agronegócio,
participa de nosso cotidiano, pense no território brasileiro e em sua diversidade
de cidades. Algumas das principais atividades do Agronegócio, de certo modo,
rotulam algumas cidades, como, por exemplo, a “cidade das ores”
(Holambra/SP), “capital da uva na” (Marialva/PR) e “capital nacional da semente
de soja” (Abelardo Luz/SC), dentre tantos outros exemplos. Indo além, algumas
cidades até assumem nomes de cadeias produtivas importantes, como os
exemplos de Batatais/SP, Laranjal Paulista/SP, Cafelândia/PR e Coqueiral/MG.

Se avançarmos mais um pouco em nossa análise, vamos perceber que muito de


nossa história está interligada ao Agronegócio ou a elementos que fazem parte
do Agronegócio, a exemplo dos grandes ciclos econômicos do Pau-Brasil, da
Cana--de-açúcar e do Café, das políticas agrárias de ocupação de terras (sendo a
primeira observada em 1850 – Lei de Terras no Brasil) e da interiorização do país
(por conta das novas fronteiras agrícolas).

Por m, se pensarmos sobre toda a in uência do Agronegócio nos produtos que


observamos em nosso dia a dia, perceberemos que existe uma grande inserção
das atividades inerentes ao agronegócio não somente no que tange à produção
de alimentos, mas também ao abastecimento de cadeias produtivas bastante
tecni cadas.

Por exemplo, a cadeia de extração de petróleo se utiliza de amido de mandioca


para lubri cação de brocas em sistemas de prospecção em alto-mar. Já a cadeia
de produção de pneumáticos, recentemente, tem se utilizado de plantas
oleaginosas, a exemplo da soja, para a fabricação de pneus. Ainda, a indústria
farmacêutica usa constantemente produtos oriundos de um segmento do
Agronegócio chamado Zimotecnia, que se de ne pelo cultivo de leveduras, estas
capazes de produzir fármacos que aparecem como componentes de uma
diversidade de remédios consumidos por nossa população.

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Compreender que os produtos oriundos do Agronegócio estão presentes
em nosso dia a dia é fácil, não é mesmo? Contudo, paradigmas têm sido
quebrados diariamente e os produtos do Agronegócio cada vez mais
estão presentes em ambientes nunca antes imaginados.

Um exemplo disso é que em alguns anos, será comum transplantar


órgãos de suínos para seres humanos, especialmente rins. Isto ajudará a
diminuir a la de, aproximadamente, 30 mil pessoas que estão
aguardando por um transplante de um órgão compatível. Segundo RAIA
(2018), os órgãos dos suínos possuem grande similaridade com os órgãos
humanos e, ainda, grande capacidade de regeneração. Porém, segundo o
mesmo autor, ainda existem desa os quanto à garantia de
compatibilidade e quanto à assepsia do órgão, que não poderia transmitir
doenças ao ser humano receptor. Provavelmente isto iria modi car a
cadeia produtiva de suínos no sentido de adaptá-la a essa nalidade.

Fonte: Disponível aqui

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Com tantos exemplos nesta discussão inicial, ca evidente que o Agronegócio
não está somente presente em nosso cotidiano, mas também apresenta elevada
relevância para o dinamismo econômico brasileiro e mundial, de modo que não
podemos enxergar o ser humano atual sem o Agronegócio em sua vida e,
considerando a produção de alimentos e a possibilidade de utilizarmos órgãos
de suínos em transplantes, podemos dizer que literalmente o Agronegócio faz
parte de nossas vidas.
Afinal, o que é Agronegócio?
Embora tenhamos apresentado uma diversidade de exemplos ligados ao
Agronegócio, em uma tentativa de ilustrar sua inserção no nosso dia a dia, ainda
não fomos capazes de construir um conceito a respeito. Logicamente, vamos
discutir sobre conceitos e de nições, de modo mais aprofundado, em nossas
próximas aulas, mas, podemos investir na criação de um conceito com os
elementos que já possuímos.
Pela percepção aqui discutida, o Agronegócio envolve a produção de gêneros
alimentícios e de matérias-primas que podem ser utilizadas em outros processos
industriais. Ademais, por se tratar de gêneros alimentícios, tais produtos podem
ser comercializados diretamente ao consumidor nal, a exemplo de um
agricultor familiar que vende, em uma feira, suas hortaliças.
Aparentemente existe uma lógica neste processo, um uxo claramente de nido,
no qual produtores fornecem a processadores e estes, por sua vez, fornecem ao
consumidor nal. Este uxo está esquematizado por meio da Figura 1.
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Figura 1 – Fluxo produtivo no Agronegócio.

Além de compreendermos tal uxo, devemos inserir mais alguns elementos


lógicos. Por exemplo, para que um produtor rural possa produzir, haverá a
necessidade de adquirir sementes, fertilizantes, corretivos de solo (calcário ou
gesso agrícola), agrotóxicos e até mesmo máquinas e implementos agrícolas.

Além disso, di cilmente um consumidor nal irá comprar um produto


processado direto da indústria. Nesse caso, serão necessários distribuidores
(atacadistas e varejistas), para que o produto possa transitar de seu
processamento para seu uso. Assim, o uxo demonstrado por meio da Figura 1
pode ganhar complexidade, conforme ilustrado por meio da Figura 2.

Figura 2 – Fluxo produtivo no Agronegócio, agregando novos players.

Veja que nos utilizamos do termo player no título de nossa Figura 2 para ilustrar
a presença de novos componentes neste uxo. O termo player é bastante
utilizado para de nir um elemento de uma cadeia de produção, ou mesmo, para
de nir um participante na comercialização mundial de uma cultura produzida
em larga escala, como a soja ou o milho. Em nosso atual caso, cada elemento
deste uxo pode ser considerado como um player.

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É importante salientar que esse uxo somente existe por uma
condição de dependência entre os players. Sem o consumidor
nal, por exemplo, não há motivos para que o produtor produza.
Sem a indústria, não há como processar as matérias-primas e não
há como atender às necessidades e expectativas do consumidor.
Assim, podemos a rmar que as relações deste uxo são
encadeadas, formam uma cadeia de produção, a qual torna
possível o atendimento das expectativas dos clientes.

Fonte: O autor (2019).

Levando-se o exposto em consideração, podemos empiricamente estabelecer


que o Agronegócio trata das relações de produção de alimentos de origem
vegetal e animal e, ainda, da produção de matérias-primas, com íntima ligação
com os fornecedores de insumos, com processadores, distribuidores e com o
cliente nal. Trata-se de relações de interdependência, sendo caracterizadas por
um uxo bem de nido, formando uma cadeia de produção, em que o
consumidor nal estabelece o seu direcionamento.

Em parte, essa foi a visão percebida pelos Professores da Universidade de


Arizona, nos Estados Unidos, John Davis e Ray Goldberg que, em 1957,
estabeleceram a seguinte de nição sobre o agronegócio:

O agronegócio pode ser compreendido como a soma total das


operações de produção e distribuição de suprimentos agrícolas, das
operações de produção na unidade de produção, do armazenamento,
do processamento e da distribuição dos produtos agrícolas e dos itens
produzidos por meio deles (DAVIS; GOLDBERG, 1957, s/n).

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Além de estabelecer a de nição clássica sobre o agronegócio, John
Davis e Ray Goldberg estabeleceram que a produção de alimentos
se articulava em cadeias produtivas, com elos interdependentes.

Acesse o link: Disponível aqui

Com base no exposto, por meio desta aula compreendemos o ideário comum
acerca do Agronegócio e percebemos ainda como este conceito e seus produtos
se inserem em nosso cotidiano.

Ademais, foi fruto de nossa aula uma construção coletiva sobre o conceito de
Agronegócio. Este conceito, como vimos, agrega a presença de fornecedores,
produtores, processadores, distribuidores e consumidores, de maneira a
atender plenamente às necessidades de cada player que se insere na cadeia de
produção, mas acima de tudo, atender às preferências e necessidades do
consumidor nal.

Espero que você tenha compreendido os conteúdos aqui trabalhados e o/a


espero em nossa próxima aula para avançarmos na compreensão dos
Fundamentos do Agronegócio.

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02

As Revoluções
Agrícolas como Gênese
para o Agronegócio
As Revoluções Agrícolas e
sua Relação com o
Surgimento do Agronegócio
Prezado(a) estudante! Que bom poder contar com sua companhia nesta
segunda aula. Por meio desta aula, faremos uma abordagem mais direcionada
ao entendimento do surgimento do Agronegócio enquanto conceito.

Quando discutíamos sobre a relevância do tema “Agronegócio” em nossas vidas,


isto por meio de nossa primeira aula, tivemos uma importante pista sobre a
época do surgimento do referido conceito: 1957, portanto, segunda metade do
século XX (DAVIS & GOLDBERG, 1957).

O referido recorte de tempo representa um importante momento histórico após


a Segunda Guerra Mundial no qual as nações estavam se reestruturando e o
modelo de produção de alimentos passava por radicais mudanças. Tais
mudanças inseriram as atividades agropecuárias em um novo patamar
tecnológico e produtivo que resultou na formação daquilo que conhecemos hoje
por produção de commodities. Tratou-se da Revolução Verde.

Até então, a Revolução Verde foi a mais importante das Revoluções Agrícolas,
mas, não foi a única, pois ocorreu a Terceira Revolução Agrícola.

Compreende-se por Revolução Agrícola um período no qual um conjunto de


tecnologias e técnicas de produção de alimentos é densamente modi cado,
alterando as formas de produção e gerando mais dinamismo no processo. Isto
geralmente se traduz em aumento de produtividade, inserção de tecnologias
inovadoras, modi cação das bases alimentares e, ao extremo, uma mudança de
paradigmas produtivos.

Quando falamos sobre mudanças de paradigmas produtivos, tais mudanças são


tão severas que já não é possível sequer imaginar a agricultura sendo
operacionalizada da maneira como era. Por exemplo, já não é possível imaginar

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que a população de uma cidade pequena seja abastecida por uma agricultura
extrativista, ou ainda, não é possível imaginar que uma agroindústria de porte
médio seja abastecida por uma agricultura de subsistência.

Ao todo, existem cinco Revoluções Agrícolas (embora isso não seja consenso
entre os pesquisadores). A primeira Revolução Agrícola ocorreu há 10.000 anos
antes de Cristo e o marco tecnológico dessa revolução foi o advento da
Agricultura em contraposição ao extrativismo, caça e pesca.

Por sua vez, a Segunda Revolução Agrícola ocorreu em meados do século XIX, na
Inglaterra, com o uso da técnica de Rotação de Culturas e com a acentuação da
tração animal junto aos implementos (uso de equinos) e, ainda, por meio do
advento da mecanização agrícola, isso em contraposição a um modelo de
agricultura praticamente manual.

A Quarta Revolução Agrícola já é mais recente, possui como argumento principal


o uso da biotecnologia e da biologia molecular, alterando geneticamente alguns
organismos para que haja melhores respostas das plantas cultivadas e animais
criados aos estresses ambientais. Também não há consenso sobre uma data
inicial dessa quarta Revolução, todavia, estima-se que seja na década de 1990,
com o advento das pesquisas sobre transgenia aplicadas em larga escala na
cultura da soja.

Por m, a Quinta Revolução Agrícola ainda está em desenvolvimento, tendo


surgido em meados de 2015, partindo-se do pressuposto de que os novos
modelos de produção agropecuária estão cada vez mais dependentes das
tecnologias da informação, inteligências arti ciais e tecnologias autônomas, a
exemplo das primeiras máquinas agrícolas conduzidas somente por inteligência
arti cial, sem condutores.

Também há uma segunda linha de pensamento sobre o novo paradigma que


movimenta a Quinta Revolução Agrícola, que é relacionada aos modos
sustentáveis de produção. A produção agropecuária, ao longo de sua evolução,
ampliou seus impactos sobre o ambiente, de modo que se torna imperativa a
tomada de decisões sobre modelos produtivos mais limpos, isentos de insumos
sintéticos e mais voltados à produção de alimentos saudáveis e oriundos de
cadeias produtivas responsáveis. Assim, a Quinta Revolução Agrícola também é

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conhecida como “Revolução Ambiental”, sendo um importante marco que
estabelece um modelo de produção pautado na sustentabilidade e na
ecoe ciência.

As diferentes visões sobre as Revoluções Agrícolas podem ser


observadas no interessante estudo conduzido por Mazoyer e
Roudart (2010).

Acesse o link: Disponível aqui

A Primeira e a Segunda Revoluções Agrícolas pouco contribuíram para a


formação do conceito e do contexto do Agronegócio. Por sua vez, a Quarta e a
Quinta Revoluções Agrícolas estão totalmente ligadas ao Agronegócio, mas não
representam sua gênese e, sim, seu aperfeiçoamento. Dessa forma, é
importante fazermos uma análise mais aprofundada sobre a Terceira Revolução
Agrícola, também chamada de Revolução Verde e considerada como o período
de gênese do Agronegócio.

A Terceira Revolução
Agrícola: A Revolução Verde
Caro(a) aluno(a), conforme já abordamos, a Revolução Verde possui íntima
ligação com o nal da Segunda Guerra Mundial. Nesse ínterim, devemos
considerar que uma diversidade de tecnologias que eram destinadas ao setor
bélico foram duramente impactadas com o nal da guerra. Não havia mais

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mercado consumidor tão farto em um cenário de paci cação e os estoques de
produtos como armas químicas, armas convencionais e maquinários era
considerável.

Costa (2018, p.80) descreve esse cenário, apresentando exemplos de produtos


que encontraram na produção de alimentos uma destinação possível,
con gurando-se como inovações de posição (produtos que foram projetados
para um propósito sendo utilizados para um propósito diferente do original, por
vezes, com mais e ciência):

Os princípios construtivos dos tanques de guerra foram repassados à


base tecnológica dos tratores agrícolas, retornando à sua origem, uma
vez que os próprios tanques de guerra foram construídos a partir das
bases tecnológicas aplicadas à construção dos rudimentares tratores do
século XIX.

O uso da amônia, insumo para a fabricação de armas químicas,


retornou para as plantas de fabricação de fertilizantes nitrogenados,
uma vez que delas saiu, no início do século XX, pelas mãos de Fritz
Haber, químico responsável pela patente do processo industrial de
síntese de amônia e ganhador do prêmio Nobel da paz de 1920.

Inseticidas como o cianato de amônia e o 1,1,1 – trocloro – 2,2 – di (p-


clorofenil) etano, mais conhecido como DDT, os quais foram utilizados
em guerra, nas tropas para controle de piolhos e insetos transmissores
de doenças como a malária e a tifo exantemática foram direcionados
para o controle de pragas na produção de cereais. Com a mesma base
tecnológica, criou-se os primeiros inseticidas organoclorados, a exemplo
do aldrin, dieldrin, heptacloro e toxafeno.

Princípios químicos herbicidas, os quais foram utilizados na Segunda


Guerra Mundial e na Guerra do Vietnã, no Sudeste asiático, foram
redirecionados como controladores de plantas invasoras, sendo
exemplos o 2,4 – D (organofosforado mimetizador de auxinas, um
tormônio que age na regulação do crescimento das plantas) e o
próprio glifosato (inibidor da síntese da enzina Enol Piruvato Shiquimato
Fosfato Sintase nas plantas) COSTA (2018, p. 80).

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Costa (2018, p.81) ainda a rma que “adaptações nesses insumos de guerra aos
poucos começaram a ser realizadas pelas indústrias e, também aos poucos,
houve a inserção desses insumos nos ambientes produtivos, o que gerou, pela
escala aplicada, o nascimento da Revolução Verde”.

Figura 3 – Normann Ernst Boulaug – O Pai da Revolução Verde | Fonte:


Britannica.com (2019). Disponível aqui

Porém, não foi somente o fato de haver um redirecionamento de insumos de


guerra para a Agricultura que sustentou a Revolução Verde e, por consequência,
o remodelamento das cadeias produtivas, tornando-as inseridas em um
contexto agroindustrial. Houve a criação de um arcabouço teórico convincente
embasado na tese de que os modelos de produção de alimentos vigentes até
então, não seriam su cientes para abastecer um mundo com população
crescente. Não obstante, os modelos de processamento e distribuição de tais
alimentos também precisariam ser repensados, no sentido de elevar sua
e ciência e, nalmente, cumprir com o propósito de eliminar a fome no mundo.

Esse nobre objetivo foi primeiramente de nido pelo personagem ilustrado por
meio da Figura 3: Normann Ernst Bourlaug. Engenheiro Agrônomo nascido em
Iowa, nos Estados Unidos, Normann Bourlaug estabeleceu sua tese em pilares
distintos, a saber:

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Transformação e padronização da pauta produtiva: Segundo sua tese, a
produção agrícola deveria se centrar em fontes de energia e proteína com
condições de serem armazenadas. Portanto, a produção de cereais como
milho, trigo e arroz correspondiam a este propósito.
Melhoramento Genético: Por meio do melhoramento genético, as
culturas deveriam assumir características que permitissem um
adensamento de plantas por área. Por exemplo, seria função do
melhoramento genético reduzir o porte das plantas de trigo, tornando suas
espiguetas mais compactas. Assim, uma planta ocuparia um espaço
reduzido e isto permitiria adensar as plantas em uma área de nida,
ampliando sua produção.
Uso de insumos sintéticos: É de conhecimento agronômico que as plantas
necessitam de um conjunto de nutrientes para se desenvolver e obtê-los de
forma natural é mais lento em relação a fornecer tais nutrientes, de forma
sintética, absorvíveis mais rapidamente, dada a sua formulação em nível
industrial. Isto se repete também com o controle de pragas, doenças e
plantas daninhas que afetam o desenvolvimento das culturas. Esperar a
ação da natureza é menos e ciente que estabelecer práticas agronômicas
que controlem as populações dessas pragas.
Uso da mecanização agrícola: Com o uso de máquinas, lavrar a terra,
semear, pulverizar as plantas com defensivo agrícola e colhê-las se torna
uma tarefa menos onerosa, menos dependente de mão de obra e mais
e ciente, reduzindo o custo de produção.

Além de tais pilares, também fazia parte da teoria de Bourlaug o Estado, como
principal incentivador e articulador para que as tecnologias da Revolução Verde
fossem implementadas. Assim, tornara-se função do Estado promover políticas
de pesquisa e desenvolvimento agropecuário, extensão rural e crédito agrícola
para disseminar, o mais rápido possível, o modelo produtivo da Revolução
Verde.

Assim, a simples propriedade rural, desprovida de tecnologias capazes de


abastecer as necessidades suprafamiliares, se transformou em uma “indústria”
de produção de alimentos, de modo serializado, demandante de insumos,
possuidora de maquinários, capital de giro, com gestão tecnológica e logística e
produtora de alimentos em larga escala. Isso é bastante semelhante ao modelo
de serialização produtiva encontrado na Revolução Industrial, não acha?

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Desse forma, a produção de alimentos passou a ser encarada como um
elemento participante de uma cadeia produtiva característica, conforme
ilustramos em nossa primeira aula, sendo dividida em três partes distintas, a
saber:

Antes da Porteira, envolvendo as atividades de fornecimento de insumos


e de tecnologias à produção de alimentos;
Dentro da Porteira, compreendendo todas as atividades relacionadas à
produção do alimento em si, desde sua semeadura até sua colheita.
Após a Porteira, compreendendo todas as atividades de processamento,
logística e comercialização dos produtos agropecuários.

Assim sendo, compreende-se que não seria possível o desenvolvimento do


conceito de Agronegócio, embasado na ideia de cadeias produtivas, em tempo
diverso ao da Revolução Verde. Logicamente que, ao longo do tempo, o conceito
de Agronegócio ganhou outras nuances, abrigando não somente a produção,
mas as relações entre os elos da cadeia, o gerenciamento da produção e das
informações a ela relacionadas e até mesmo, ideologias foram atreladas ao
conceito de Agronegócio.

Todavia, essas questões serão abordadas em nossa próxima aula.

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O conceito de Agronegócio surgiu a partir da integração da
agricultura aos setores industriais de fornecimento de insumos, de
um lado, e de processamento e distribuição da produção, de
outro. Ele abrange todas as transformações associadas aos
produtos agrícolas, desde a produção de insumos, passando pela
unidade agrícola, processamento e distribuição até o consumidor
nal.

Fonte: RUFINO, J. L. S. Origem e conceito de Agronegócio.


Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v. 20, n.º 199, p. 17-19,
1999.

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Quando ouvimos falar sobre “Agronegócio” logo pensamos sobre
a Agricultura Empresarial, de grandes dimensões, com elevado
emprego de tecnologias de ponta, e com um sistema de gestão
condizente com a obtenção de grandes margens de lucro. Ledo
engano!

Todo o sistema produtivo, independentemente da escala e das


tecnologias que utilize, participa do agronegócio, logicamente, se
comercializa seus produtos. Mesmo uma pequena horta, uma
pequena propriedade produtora de frutas, um produtor que faça
de sua propriedade uma unidade de turismo rural, dentre tantos
outros exemplos, podem ser encaixados na visão de Cadeia
Produtiva e, por consequência, na visão do Agronegócio.

Você seria capaz de identi car uma Cadeia Produtiva do


Agronegócio relacionada a algum produtor ou propriedade rural
que esteja próxima a você?

Fonte: O autor (2019).

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03

Conceitos e
Definições Sobre o
Agronegócio
O Conceito Transcendental
de Agronegócio
Ao longo de nossas duas primeiras aulas, compreendemos que o conceito de
Agronegócio está totalmente atrelado ao contexto de uma cadeia produtiva. Isto
quer dizer que não estamos falando somente da ação de se plantar e colher
alimentos, mas de todas as relações comerciais, logísticas, informacionais e
produtivas que possuem no ato da produção de alimentos somente um de seus
pontos.

Sobre esse assunto, Antônio (2015, p. 9) expõe:

O agronegócio é um conceito mais abrangente do setor agrícola, em que


a produção agropecuária é apenas uma parcela, uma vez que inclui
também a aquisição de insumos, equipamentos para a produção, o
processamento e a industrialização da produção agropecuária, o
transporte, o armazenamento, a distribuição, ou seja, é uma visão da
cadeia na sua totalidade, até chegar à boca do consumidor. Engloba
tudo o que tem a ver com a produção agropecuária, com todas as
transformações, até chegar ao consumidor nal (ANTÔNIO, 2015, p. 9).

Corroborando com a visão de Antônio (2015), Silva (2011, p. 32) defende:

[...] o Agronegócio é uma rede que envolve desde a produção e


comercialização de insumos, passando pela própria produção
agropecuária, até a transformação, distribuição e comercialização de
produtos agropecuários. A produção e a comercialização de insumos
envolvem desde a extração de matéria-prima, bene ciamento até a
distribuição e comercialização dos mesmos para a produção
agropecuária. Por sua vez, a produção agropecuária envolve o pequeno
e o grande produtor, assistência técnica, manejo do ambiente, entre
outros aspectos diretos e indiretos que se relacionam à geração de bens
e serviços ligados ao ambiente rural. Por m, a transformação, a
distribuição e a comercialização de produtos agropecuários, que
envolvem a indústria, os distribuidores e os consumidores de bens e

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serviços ligados ao ambiente rural. Considera-se como parte da rede o
envolvimento do ambiente institucional, composto pela cultura,
tradições, educação e costumes e, também, pelo ambiente
organizacional, composto pela informação, associações, pesquisa e
desenvolvimento, nanças e rmas (SILVA, 2011, p. 32).

O conceito destacado por Silva (2011) provavelmente seja o mais abrangente,


levando-se em consideração que existe uma abordagem a dois ambientes
distintos, sendo o primeiro o ambiente institucional, que é formado pela cultura,
saberes, tradições e costumes dos atores envolvidos nas cadeias produtivas e o
segundo, chamado de ambiente institucional. Este último leva em conta a
interação de associações, cooperativas, instituições de pesquisa agropecuária,
crédito agrícola e outras que coadunam esforços para que produção,
processamento, distribuição, comercialização e consumo ocorram
satisfatoriamente.

É relevante destacar que pertence ao ambiente institucional todo o conjunto de


leis, normas, diretrizes, portarias e resoluções que se inserem ao longo das
cadeias produtivas ou a ela se relacionam. Podemos considerar que leis
tributárias, trabalhistas, ambientais, agrárias e sanitárias são uma constante no
mundo do agronegócio e garantem a assertividade das cadeias produtivas no
sentido de ofertarem seus produtos de forma segura e saudável.

O caráter transcendental do conceito de Agronegócio não se resume ao fato


deste conceito retratar somente uma visão produtiva relacionada ao meio rural,
capaz de gerar dividendos e de expor midiaticamente o Brasil como um país
avançado neste setor da economia. Tal conceito também pode explorar a
contraposição de ideologias que representam segmentos da agricultura, como a
Agricultura Familiar e Camponesa versus a Agricultura Empresarial
Agroexportadora.

Souza (2019), em sua revisão literária acerca do assunto Agribusiness x


Agricultura Familiar, explana sobre os diferenciais do modelo agroexportador,
frutos da Revolução Verde, os quais proporcionaram um conjunto de
consequências relativamente ruins à agricultura tradicional: concentração de
terras, concentração de renda, monopolização do desenvolvimento cientí co e
tecnológico ao modelo agroexportador e direcionamento das políticas públicas
para tal segmento da agricultura.

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Também faz parte do conjunto de consequências destinadas ao modelo
tradicional de agricultura um relativo abandono, o qual gerou movimentos
reacionários no campo (surgimento dos movimentos sociais na década de 1980)
e a promoção de modelos “alternativos” de agricultura, pautados nas técnicas e
saberes tradicionais dos agricultores que ainda resistiam às transformações
proporcionadas pela Revolução Verde (SOUZA, 2019).

Desse modo, com o acirramento das diferenças entre os atores que


representam os segmentos em discussão (agroexportadores e camponeses),
especialmente ocorrido na década de 1990, símbolos dicotômicos passaram a
ser utilizados para contrapor os modelos de produção. De um lado, a Agricultura
Camponesa, estritamente familiar, diversi cada em termos de produção,
representativa no contexto dos empregos gerados diretamente no campo e com
uso restrito ou proibido de agrotóxicos. De outro, o Agronegócio, das grandes
corporações, estritamente capitalista e insensível à solidariedade humana,
altamente dependente de insumos químicos sintéticos e gerador de severos
impactos ambientais. Nas palavras de Souza (2019), se trata da “agri (cultura)”
em contraposição ao “agro (negócio)”.

Para que você possa compreender de modo mais aprofundado o


contexto ideológico ligado ao Agronegócio, proceda a leitura do
recente artigo produzido por SOUZA (2019).

Acesse o link: Disponível aqui

Por mais que existam ideologias atreladas ao conceito de Agronegócio, as quais


apenas segmentam setores, construindo desnecessárias dicotomias, devemos
compreender que todas as atividades econômicas da agropecuária,

25
independentemente de quem as conduz ou ainda, do modelo tecnológico
adotado para se produzir, fazem parte do Agronegócio.

Assim, é necessário expor que os latifundiários, grandes usuários de terra e de


tecnologia, com caráter agroexportador e produtor de commodities, podem
conviver no mesmo espaço conceitual com Agricultores Familiares, que se
utilizam de poucas terras, mas as utilizam com intensidade e
empreendedorismo, se inserindo, à sua maneira, no mercado. Assim sendo, a
visão conceitual que deve imperar sobre o termo “Agronegócio” é a do
empreendedorismo. É a visão de que o mercado está disponível para todos e os
mais preparados e competitivos é que terão a chance de sobreviver.

Logicamente que, à luz desta análise, devemos expor que cabem ações público-
privadas no sentido de auxiliar, de modo mais incisivo e direcionado, os públicos
que não foram bene ciados com políticas públicas na época da Revolução Verde,
sobremaneira, os Agricultores Familiares, o Campesinato, Quilombolas,
Ribeirinhos, Povos e Comunidades Tradicionais, algo que já tem acontecido no
ambiente institucional brasileiro, especialmente entre os anos de 2003 e 2012,
com o lançamento de importantes políticas públicas que promovem o
desenvolvimento sustentável de tais públicos.

Outrossim, é de se expor ainda que o caráter transcendental do conceito de


Agronegócio se deve à sua transformação ao longo do tempo e certamente
haverá novas discussões e ajustes sobre esse conceito, especialmente
considerando as inovações tecnológicas. Logo, o conceito de agronegócio
também abarcará segmentos econômicos de produção de tecnologia e de
conhecimento, a exemplo de empresas que produzem aplicativos, que
trabalham com inteligência arti cial, com automação, drones e outros exemplos
que estão tornando o espaço agropecuário cada vez mais conectado e ágil.

26
Para que você possa compreender como o período entre 2003 e
2012 foi importante para os segmentos acima destacados
(Agricultura Familiar, Camponeses, Quilombolas, Ribeirinhos,
Povos e Comunidades Tradicionais), podemos listar algumas das
políticas públicas que potencializaram o seu desenvolvimento e
que certamente, você, futuro Gestor em Agronegócios, terá que
lidar:

2003 – Programa de Aquisição de Alimentos da Agricultura


Familiar – PAA (Lei Federal 10.696/03)
2004 – Lançamento da minuta da Política Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural – PNATER
2006 – Política Nacional para a Agricultura Familiar e
Empreendimentos Familiares (Lei Federal 11.326/06)
2006 – Expansão do Crédito Rural e das Linhas de Crédito do
Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
– PRONAF
2009 – Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE
(Lei Federal 11.947/09)
2010 – Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional
– PNSAN (Decreto Federal 7.272/10)
2012 – Política Nacional de Agroecologia e Produção
Orgânica – PNAPO (Decreto Federal 7.794/12)

Todas as políticas citadas e tantas outras nalmente


potencializaram a ascensão econômica dos produtores familiares,
dando-lhes competitividade necessária para avançar no mercado,
fazendo parte do contexto do agronegócio. Recomendo que leia
todas estas leis e materiais correlatos para estar plenamente
capacitado para atuar junto a esses públicos.

27
Principais Conceitos Ligados
ao Agronegócio
Por meio desta seção, vamos inserir a você, caro(a) aluno(a), os principais
conceitos que estão relacionados ao Agronegócio. Referem-se a conceitos que
você certamente vai se deparar ao longo de sua jornada de aprendizagem
acadêmica e mesmo em sua vida pro ssional. Vamos aos termos:

Cadeia Produtiva: Também conhecida como Cadeia de Suprimentos, é um


termo que se refere à sequência de processos que se relacionam à
produção, transformação e distribuição de um determinado produto,
desde seu fabricante primário até o consumidor nal. No que tange ao
Agronegócio, muitas dessas cadeias se relacionam com a produção de
alimentos e quase sempre os fabricantes de insumos são os primeiros
elementos da cadeia.
Sistema Agroindustrial:Para os mais leigos, a visão de um Sistema
Agroindustrial pode se confundir com a visão de cadeia produtiva, pois
ambas demonstram um inter-relacionamento entre entes distintos, no
sentido de produzir, processar, distribuir e consumir um determinado
produto.
Contudo, a diferença entre os dois conceitos está no fato de que as cadeias
produtivas possuem um enfoque mais processual, tecnológico e de uxo
restrito a uma unidade produtiva (por exemplo, dentro de uma
propriedade rural ou ainda, dentro de uma indústria, em se tratando de
um produto especí co, que é produzido em uma única linha de
processamento).
Já o Sistema Agroindustrial considera todos os entes que se relacionam
“antes, dentro e depois da porteira”, considerando um produto de caráter
mais genérico. Assim, podemos falar em Sistema Agroindustrial do Milho e
Cadeia Produtiva do Óleo de Milho. Podemos falar sobre Sistema
Agroindustrial da Cana-de-açúcar e Cadeia Produtiva do Etanol.
Ademais, por sua maior complexidade, os Sistemas Agroindustriais se
desenvolvem em meio a um ambiente organizacional e institucional
especí co, que é o mesmo ligado às Cadeias Produtivas, contudo, as
in uências de tais ambientes são mais sentidas pelos Sistemas
Agroindustriais, os quais precisam responder com agilidade a mudanças
em tais ambientes.

28
Commodity: Termo utilizado para designar um produto que possui
características padronizáveis, com condições de ser armazenado e
transportado por longas distâncias. Não há uma diferenciação quanto a
quem produziu este produto ou à sua origem. O fato é que tais produtos
são amplamente consumidos no mundo e seus preços são regulados pelo
mercado internacional, por meio da lei da oferta e da procura. Para o
Agronegócio, as commodities mais comuns são a Soja, Milho, Açúcar, Etanol,
Algodão, Suco de Laranja, Trigo e Produtos Madeiráveis.
Player: Termo utilizado para designar concorrentes no mercado. Por
exemplo, Brasil, China e Estados Unidos são os principais players no
mercado mundial da Soja, pois são os principais produtores desta
commodity.

Logicamente que existem outros termos ligados ao Agronegócio que são


bastante relevantes, mas, ao longo de nossas aulas você irá conhecê-los diante
dos contextos que ainda serão abordados.

Em nossa próxima aula faremos uma análise sobre as Cadeias Produtivas do


Agronegócio, apresentando informações e conceitos para aprofundar nosso
conhecimento acerca desse tema. Até lá!

O Brasil é um importante player do agronegócio internacional,


levando-se em conta que é o maior exportador de soja, carnes,
suco de laranja, papel e celulose e uma grande variedade de
outros produtos oriundos de atividades agropecuárias.

Fonte: O autor (2019).

29
04

Cadeias Produtivas
no Agronegócio –
Conceitos
Definição Sobre Cadeia
Produtiva
Prezado(a) aluno(a): Agora que você já conheceu os conceitos básicos sobre o
Agronegócio e seu desenvolvimento histórico, podemos proceder ao estudo
mais aprofundado sobre as Cadeias Produtivas.

No entanto, pelo que discutimos até agora, você já possui uma ideia sobre o que
seja uma Cadeia Produtiva: trata-se de um conjunto de entes produtivos capazes
de fornecer os insumos, produzir uma matéria-prima, transportá-la, processá-la,
distribuir o resultado deste processamento entre comerciantes e, por m,
permitir a aquisição por parte dos consumidores.

O Método Embrapa, descrito por Silva (2011) esquematiza o formato de uma


cadeia produtiva comum. Nele, podemos perceber a interação entre os entes
produtivos diante de um ambiente organizacional (in uência de entidades como
universidades, escolas, cooperativas, empresas de assistência técnica, agências
credenciadoras, órgãos do governo, dentre outros) e frente a um ambiente
institucional (leis, decretos, normativas, portarias, entre outros).

Também somos capazes de observar, por meio do modelo disposto na Figura 4,


que existem dois uxos característicos. Da esquerda para a direita, temos o uxo
do produto em si, caminhando em direção ao consumidor nal. Devemos
salientar que o produto em si tem uma evolução em seu valor, uma vez que seu
processamento é capaz de agregar valor. Não obstante, pelo fato de os
processos de agregação de valor serem mais complexos e exigirem maiores
investimentos em tecnologia, espera-se que os maiores custos de produção
estejam junto às indústrias.

31
Figura 4 – Representação esquemática de uma cadeia produtiva, segundo o
modelo Embrapa | Fonte: Silva (2011). Disponível aqui

Já no sentido contrário, observa-se o uxo de capital, sendo este capaz de pagar


os investimentos feitos por cada ente da cadeia produtiva, dando-lhes ainda, a
margem de lucro necessária à sua sustentabilidade. Como os maiores
investimentos produtivos são realizados pelas indústrias, espera-se que a maior
fatia deste capital que neste setor, enquanto as fatias menores cam com os
demais setores.

Chamamos a atenção ao fato de os produtores rurais receberem esta “fatia


menor”, uma vez que eles se especializam em produzir produtos de baixo valor
agregado, especialmente quando produzem commodities.Será que, com fatias
menores e cada vez mais achatadas, podemos esperar que haja sustentabilidade
do agronegócio “dentro da porteira” a longo prazo?

Isso será discutido em nossa Aula 6, mas, já estamos adiantando este elemento
da discussão para que você pense sobre seu futuro papel pro ssional inserido
em uma realidade em que existe a necessidade em se agregar valor “dentro da
porteira”, para se lucrar mais, dando mais sustentabilidade aos negócios dos
produtores rurais.

Voltando ao nosso debate inicial, uma vez que construímos o conceito de cadeia
produtiva, devemos pensar sobre a importância de se observar o uxo de
produtos e de capital com um modelo mapeado de cadeia produtiva. Sobre este
assunto, Silva (2011, p. 4-5) estabelece:

O entendimento do conceito de cadeia produtiva possibilita: (1)


visualizar a cadeia de forma integral; (2) identi car as debilidades e
potencialidades; (3) motivar o estabelecimento de cooperação técnica;

32
(4) identi car gargalos e elementos faltantes; e (5) certi car quanto aos
fatores condicionantes de competitividade em cada segmento. Sob a
ótica de cada participante, elemento da cadeia, a maior vantagem da
adoção do conceito está no fato de permitir entender a dinâmica da
cadeia, principalmente, na compreensão dos impactos decorrentes de
ações internas e externas, respectivamente (SILVA, 2011 p. 4-5).

Silva (2011) de ne uma ação interna como uma ação totalmente direcionada a
um dos segmentos de uma cadeia produtiva. Por exemplo, se um agricultor se
encontra estrangulado, em termos de capital de giro, para adquirir insumos à
sua produção, uma decisão a ser re etida seria a deste agricultor adentrar uma
associação ou cooperativa, a qual tem maior poder de compra para se adquirir
os insumos de que ele necessita.

Por sua vez, o mesmo autor de ne uma ação externa como uma mudança na
legislação tributária, sanitária ou trabalhista que impacta os trabalhos dos entes
que operam em maior escala, por exemplo, uma agroindústria, embora decisões
de caráter institucional possam afetar a cadeia produtiva como um todo.

Cadeias Produtivas
Dedicadas e Integradas
Além do exposto, no que tange à produção de commodities existem duas
variações na linearidade do uxo das cadeias produtivas, de nidas por Silva
(2011) como “Cadeias Produtivas Dedicadas” (Figura 5) e “Cadeias Produtivas
Integradas” (Figura 6).

33
Figura 5 – Representação esquemática de uma cadeia produtiva
dedicada | Fonte: Silva (2011). Disponível aqui

Nas Cadeias Produtivas Dedicadas (Figura 5), os uxos de insumos,


matérias-primas, tecnologia e capital são regidos de forma
contratual. Por exemplo: Um agricultor que produz soja é
cooperado de uma cooperativa agroindustrial. O que rege sua
relação com a cooperativa é o Estatuto e o Regimento
(documentos produzidos pelos cooperados que contêm toda a
regulamentação de funcionamento da cooperativa).

Além destes documentos, caso o agricultor queira fornecer sua


matéria-prima para a cooperativa, o fornecimento será regido por
contrato que, no geral, estabelecerá as obrigações do agricultor
fornecer sua soja, dentro de características agronômicas
esperadas. Em troca, o agricultor receberá os insumos, a
assistência técnica para sua produção e, a depender do tipo de
contrato, o transporte de sua produção aos armazéns da
cooperativa. Neste caso, por força contratual, o agricultor não
poderá ofertar este lote de soja para outras cerealistas ou
cooperativas.

34
A vantagem dessa cadeia é o baixo nível de investimentos e de
capital de giro que o agricultor deve ter, uma vez que seu custo de
produção é pago pela cooperativa. A desvantagem é a
exclusividade no fornecimento da matéria-prima, o que não
permite ao agricultor procurar outras empresas que lhe paguem
valores mais vantajosos.

Outra desvantagem está na oferta de insumos, que são ofertados


sempre pelo mesmo fornecedor e em pacotes técnicos, os quais
nem sempre são necessários em nível de campo. Por exemplo, o
produtor se obriga a utilizar calcário e gesso, quando a acidez de
seu solo está adequada. Obriga-se o produtor a utilizar cinco
doses de fungicidas, quando apenas duas são su cientes. Ou seja,
por vias técnicas duvidosas, obriga-se o produtor a usar um
pacote tecnológico caro e, por vezes, não condizentes com sua
necessidade tecnológica. Infelizmente este é um cenário bastante
vislumbrado no Brasil.

Fonte: O autor (2019).

Por sua vez, uma Cadeia Produtiva Integrada (Figura 6) também se aplica no
contexto da produção de commodities, todavia, para produtores que possuem
maior capital de giro e capacidade de investimentos. Neste caso, o produtor
escolhe de quem adquire suas tecnologias, não havendo um contrato de
exclusividade de fornecimento de matéria-prima.

35
Segmentação de Cadeias
Produtivas
Outro possível enfoque das cadeias produtivas está em observá-las de maneira
segmentada, integradas ou não em um Sistema Agroindustrial. Por ter sua
economia deveras embasada nas atividades ligadas ao Agronegócio, existe uma
grande diversidade de Cadeias Produtivas que poderiam ser analisadas.

Assim, enxergar os processos produtivos em forma de cadeias produtivas nos


traz todas as vantagens discutidas anteriormente, especialmente no
planejamento produtivo e na detecção de falhas processuais que possam elevar
os custos produtivos, tornando os produtos menos competitivos aos
consumidores.

Figura 6 – Representação esquemática de uma cadeia produtiva integrada |


Fonte: Silva (2011). Disponível aqui

36
Mesmo que o Brasil possua uma in nidade de cadeias produtivas
ligadas ao Agronegócio, devemos conhecer quais são as principais,
especialmente no que tange ao capital movimentado entre os
entes produtivos. Assim sendo, conheça as principais cadeias
produtivas do Agronegócio brasileiro.

Acesse o link: Disponível aqui

A cadeia produtiva da soja é a mais rentável do Agronegócio


brasileiro. Com produção aproximada de 117 milhões de
toneladas e comercialização externa de 66 milhões de toneladas,
obteve-se uma receita de R$ 24,7 bilhões, apenas com as
exportações.

Fonte: CUNHA (2018). Disponível aqui

Espero que com essas de nições acerca das Cadeias Produtivas, você esteja
capacitado(a), não somente em compreender sua importância, mas também em
reconhecer sua estrutura e se aventurar em sua gestão, ofertando as melhores
soluções aos seus clientes. Assim, nos vemos em nossa próxima aula, quando
debateremos sobre o segmento “Antes da Porteira”. Um forte abraço e bons
estudos!

37
05

Os Segmentos do
Agronegócio – Antes
da Porteira
O que são os Insumos?
Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a nossa quinta aula. Estamos progredindo
muito bem, pois até este momento, você já compreendeu os conceitos básicos
ligados ao Agronegócio.

Reconhecendo que os conceitos de Agronegócio estão basicamente focados em


uma segmentação das cadeias produtivas e dos sistemas agroindustriais, vamos
compreender a dinâmica de cada um destes segmentos, a começar pelo “Antes
da Porteira”. Porém, para situá-lo(a) adequadamente sobre qual segmento
estamos falando, observe a Figura 4.

A exposição de Zylbersztajn (2005) nos permite avaliar, mais uma vez, as forças
externas que orbitam um Sistema Agroindustrial, sendo destaque o ambiente
institucional, com suas regulamentações e o ambiente organizacional,
considerando as interações do sistema e de suas cadeias com outros
importantes entes, como universidades, cooperativas, nanciadores e outros
atores que in uenciam e que tornam possível o andamento dos processos.

Contudo, nesse ponto, o destaque maior é para o pequeno segmento dos


fornecedores de insumos, destacado ao princípio da imagem, da esquerda para
a direita. Este segmento é representado por todos os players de mercado que
são capazes de fornecer algum insumo, produto, sistema ou informação
necessária para o bom andamento da produção agropecuária (Figura 7).

39
Figura 7 – Representação de um Sistema Agroindustrial | Fonte: ZYLBERSZTAJN
(2005, adaptado). Disponível aqui

Embora você conheça em parte o que é necessário para se produzir, vamos


exempli car alguns elementos que são considerados como insumos:

Sementes e materiais propagativos: A semente é o elemento biológico


que possui o embrião e reservas necessárias para o desenvolvimento deste
embrião. A partir da semente teremos a formação das novas plantas no
campo. Contudo, algumas culturas dependem de materiais propagativos
para constituir as novas gerações. São exemplos de materiais propagativos:
mudas (eucalipto); tubérculos (batata); caules (mandioca e cana-de-açúcar);
rizomas (pastagens); bulbos (alho).
Corretivos de solo: Eventualmente, os solos não possuem condições
químicas adequadas para a condução de uma determinada cultura. Deste
modo, é imperativa a aplicação de corretivos, como calcário (para ajuste de
acidez), gesso agrícola (para condução dos nutrientes para profundidades
maiores), condicionadores de solo (uso de hidrogéis absorvedores e
mantenedores de água no solo) e insumos biotecnológicos (bactérias
lio lizadas para colonização do solo e melhoria nos processos de
mobilização de nutrientes para as plantas).
Fertilizantes: Os fertilizantes são uma categoria especial de corretivos de
solo que podem ser empregados para ajustar o teor de cada nutriente no
solo ou ainda, podem ser considerados como insumos direcionados às
plantas, levando-se em conta que cada planta possui uma exigência própria
em termos de nutrição.
Combustíveis e lubri cantes: Utilizados para abastecimento das
máquinas agrícolas e para sua manutenção periódica.

40
Agrotóxicos: Os Agrotóxicos são insumos densamente utilizados na
produção agrícola agroexportadora, pois são capazes de estabelecer um
controle e caz de pragas, doenças e plantas invasoras nas áreas de
produção. Ademais, os agrotóxicos também são utilizados em armazéns,
para expurgo ou ainda, podem ser utilizados no tratamento de sementes,
em pré-plantio.
Máquinas, implementos e ferramentas agrícolas: Entende-se por
máquina agrícola todo veículo capaz de exercer alguma função especí ca
na produção de uma cultura. Ainda, é critério para uma máquina ser
autopropelida, ou seja, possuir motor que lhe permita se movimentar, de
modo independente nas áreas de produção. Encaixam-se nesta de nição
tratores, colhedoras, pulverizadores, semeadoras e adubadoras
autopropelidas. Por sua vez, os implementos geralmente são acoplados às
máquinas para a realização de um trabalho especí co. Por exemplo,
arados, grades, subsoladores e escari cadores são implementos de
mobilização do solo, os quais necessitam ser tracionados por um trator.
Por m, as ferramentas agrícolas são os instrumentos de lavra, como, por
exemplo, enxadas, enxadões, foices, ancinhos, rastelos, pás, vangas e
quaisquer outras que permitam que o solo seja adequadamente
trabalhado.

Os insumos podem variar de acordo com as cadeias produtivas para as quais


eles serão empregados. Por exemplo, se estivermos lidando com um produtor
de uva, além dos insumos relatados, outros insumos podem ser necessários,
como chapéus plásticos para os cachos (bagas). Por sua vez, para um produtor
de mel, as caixas que abrigarão as colmeias também podem ser consideradas
como insumos. Já para o produtor de ores, os vasos que abrigarão suas ores
ao nal da produção também são considerados como insumos.

Desse modo, por meio de nossa análise inicial, compreendemos que os insumos
são, de fato, todos os produtos necessários que serão utilizados para a produção
“dentro da porteira”. Cada um destes produtos possuem uma cadeia produtiva
distinta, com seu particular dinamismo.

41
A Sazonalidade dos Preços
dos Insumos
Bento & Teles (2013) a rmam que as produções agropecuárias são deveras
dependentes dos fatores climáticos. Ademais, os mesmos autores a rmam que
as culturas agrícolas são adaptadas a determinadas condições que impedem o
seu cultivo durante o ano inteiro. Desta maneira, considerando a acentuação do
cultivo em uma determinada época, é de se supor que os insumos sejam mais
exigidos em uma época ligeiramente anterior aos cultivos.Assim, tanto as
culturas como a comercialização dos insumos sofre com os efeitos da
sazonalidade.

Compreender a sazonalidade das produções e dos preços dos insumos é um


aspecto que deve ser inerente aos Gestores de Agronegócios. Para que
possamos compreender o nível de tomada de decisões quanto à aquisição dos
insumos, observe nossa abordagem prática, através da Figura 8.

42
Na Figura 8 podemos observar que o índice de sazonalidade para a
cultura do milho alcança os patamares mais altos entre os meses de
outubro a abril. Esta é a principal época de produção da cultura e,
especialmente em seu princípio (meses de setembro a outubro), existe
uma demanda elevada pela aquisição dos insumos para a produção. Isto
signi ca que há a possibilidade de elevação de preços dos insumos ou até
mesmo, de indisponibilidade dos mesmos em fornecedores mais
próximos.

Figura 8 – Sazonalidade de Produção e de Preços para a cultura do milho


| Fonte: CRESPOLINI (2018). Disponível aqui

Um Gestor em Agronegócios ciente deste fato estabelecerá a aquisição


dos insumos justamente quando o índice de sazonalidade apresenta
tendência de queda, ou seja, quando a demanda pelos insumos está mais
baixa. Logicamente que a plani cação da aquisição dos insumos leva em
conta a capacidade de armazenagem dos mesmos em uma propriedade
rural, a logística de fornecimentos e a disponibilidade de capital, por parte
do empresário rural. Todavia, considerando o índice de sazonalidade, nos
parece lógico que adquirir os insumos nos momentos de queda de
demanda, parece ser o mais adequado a se fazer.

Fonte: O autor (2019).

43
No entanto, a leitura da pesquisa realizada por Bento & Teles (2013) permite
inferir que o efeito da sazonalidade dos insumos parece ser reduzido em duas
situações: a) quando lidamos com insumos comuns a uma diversidade de
cadeias produtivas; e, b) quando lidamos com a oligopolização dos fornecedores
de insumos, quadro corrente na produção de commodities.

Isso signi ca que existe um uxo mais contínuo no fornecimento, por exemplo,
de fertilizantes, corretivos, agrotóxicos e combustíveis, que são insumos comuns
a um grande número de cadeias produtivas. Tal fato não permite grandes
oscilações de demanda e, por sua vez, de preços. Por sua vez, considerando a
segunda situação, as oscilações de valores são reduzidas por conta dos acordos
comerciais e mesmo, fusões de fornecedores, o que reduz a competitividade no
fornecimento dos insumos, elevando seus preços.

A formação de oligopólios no Agronegócio é um movimento


bastante comum, em que duas ou mais empresas coadunam
esforços, sob uma mesma marca, para aumentar seu Market share
ou participação de mercado.

Mediante o exposto, o Gestor de Agronegócios deve tomar ações no sentido de


manter a margem de lucro dos empresários rurais, analisando minuciosamente
os efeitos da sazonalidade nos insumos, adquirindo-os nas épocas mais
adequadas e veri cando os preços em uma maior diversidade de fornecedores,
sempre na tentativa de reduzir os custos com os insumos.

44
Outros Tipos de Insumos
Além dos insumos clássicos é cada vez mais comum se utilizar de tecnologias
mais avançadas como insumos, a exemplo do uso de drones e de tecnologias de
sensoriamento remoto para o acompanhamento das lavouras. Do mesmo
modo, tecnologias de automação dos processos, como sensores, reles,
controladores e mesmo, softwares, têm sido bastante utilizados na otimização
dos sistemas produtivos.

Esses novos insumos têm formado um novo segmento de cadeias produtivas


altamente tecni cadas “antes da porteira” e têm exigido cada vez mais mão de
obra quali cada para o seu desenvolvimento. Assim, é de bom alvitre, caro(a)
aluno(a), que você se relacione com as inovações tecnológicas do Agronegócio,
pois provavelmente será seu campo de trabalho em uma agricultura cada vez
mais moderna.

Você gostaria de se aprofundar no tema Agritech e Agricultura 4.0?


Caso queira, lhe recomendo a seguinte leitura, para se conectar
com o futuro da Agricultura.

Acesse o link: Disponível aqui

Com isso, chegamos ao nal de nossa quinta aula. Espero que você esteja
gostando de nosso conteúdo e compreendendo adequadamente todos os
assuntos até aqui discutidos. Em nossa próxima aula, faremos uma abordagem
ao segundo segmento do Agronegócio, que são as atividades “Dentro da
Porteira”. Espero você em nossa próxima aula!

45
06

Os Segmentos do
Agronegócio – Dentro
da Porteira
Atualidades do Segmento
“Dentro da Porteira”
Prezado(a) aluno(a), você já parou para pensar em todas as possibilidades de
produção agropecuária? Após esta pergunta, certamente você criou um modelo
mental de produção convencional, provavelmente atrelado à produção de algum
grão ou alguma hortaliça. Contudo, ao re etirmos sobre as possibilidades de
produção dentro da porteira, nos surge uma diversidade de possibilidades.

Produção de alimentos de origem vegetal, produção de alimentos de origem


animal, produção orestal, produção de plantas ornamentais e plantas
medicinais, produção e manejo de animais, produção de leveduras, produção de
agroindustrializados (cervejas, pães, biscoitos, mel, compotas, doces, vinho),
produtos artesanais, produção orgânica, dentre outros inúmeros exemplos: esta
é a diversidade do agronegócio “dentro da porteira”, resumida em seus
resultados e em categorias. Caso segmentássemos estas categorias em
produtos, precisaríamos de um livro inteiro para discussões.

Esta diversidade confere ao Agronegócio “Dentro da Porteira” alguns números


interessantes(MAPA, 2019):

R$ 564,32 bilhões: Este é Valor Bruto da Produção relacionado ao


Agronegócio “dentro da porteira”.
R$ 372,07 bilhões: Valor Bruto da Produção relacionado exclusivamente às
atividades agrícolas (safra 2018/2019).
R$ 186,35 bilhões: Valor Bruto da Produção relacionado exclusivamente às
atividades de produção animal (safra 2018/2019).
18%: Valor do PIB Agropecuário frente ao valor do PIB do Agronegócio
(ano-base 2018).
Primeira posição: O Brasil é o maior produtor e exportador de açúcar, café
e suco de laranja. É o segundo maior produtor de carne bovina e carne de
frango, sendo o maior exportador destas duas carnes. É o segundo maior
produtor e exportador de soja. O terceiro maior produtor e exportador de
milho. E, é o quarto maior produtor de algodão, sendo o segundo maior
exportador de algodão do mundo.
38%: Do PIB Agropecuário, 38% vem da Agricultura Familiar.

47
Dos dados acima relatados, nos cabe fazer uma pequena ressalva: Quando
falamos a respeito do PIB Agropecuário, nos reportamos aos valores que são
gerados somente com as atividades “dentro da porteira”. Com base nisso,
percebemos que embora pujante e diversi cado, o PIB do setor “dentro da
porteira” é pouco signi cante frente ao PIB do Agronegócio em si, que reúne o
setor de produção de insumos, as agroindústrias e os agrosserviços.

Para ter uma ideia mais aprofundada sobre a evolução dos


indicadores econômicos relacionados ao Agronegócio, visualize o
relatório CEPEA/ESALQ – CNA sobre o PIB do Agronegócio
brasileiro.

Acesse o link: Disponível aqui

O fato de o PIB Agropecuário ser pouco representativo é condizente com a


realidade das propriedades rurais brasileiras, as quais ainda investem pouco em
agregação de valor em seus produtos nais. Deste modo, o agricultor ou o
pecuarista é excelente produtor, mas o ato de produzir termina com a colheita,
ainda no “dentro da porteira” e a partir deste ponto é que o produtor rural não
possui capital, conhecimento ou mesmo visão de mercado para agregar valor ao
seu produto.

48
O Desafio de Agregar Valor
aos Produtos “Dentro da
Porteira”
A visão produtiva dos produtores rurais é deveras concentrada em aumentar
sua e ciência de produção, sempre investindo em novas culturas, em insumos
tecnicamente mais avançados, em maquinários que utilizem os insumos de
forma mais precisa e racional e maneiras adequadas de controle de pragas,
doenças e plantas invasoras. Esta não é uma visão errada, aliás, é uma visão
progressista do agronegócio, que é condizente com a visão de controle de
qualidade de sua produção.

Entretanto, a visão apenas sobre a produção e formas mais racionais de se


produzir estabelece um efeito limitado sobre os custos de produção. A margem
de lucro, por consequência, se eleva, mas tão limitadamente quanto à redução
nos custos de produção.

Dessa maneira, podemos fazer uma analogia entre o produtor rural e o


fabricante de platôs para embreagens veiculares: Tal fabricante investe em seus
maquinários e insumos para produzir mais, em menos tempo e com mais
qualidade. Isto re ete positivamente em sua margem de lucros, devido à queda
nos custos. Porém, este mesmo fabricante não é capaz de lucrar muito mais,
pois não enxerga que vender uma embreagem completa traz mais divisas a
vender simplesmente um platô.

Tal evento se agrava a partir do ponto em que o produtor rural é especialista em


produzir commodities. Grande parte das commodities brasileiras possuem um
destino certo: a China. Atualmente a China tem despontado como um país que
investe massivamente em tecnologias e seu parque agroindustrial apresenta
e ciência invejável. Assim sendo, os custos de processamento das commodities
fazem com que seja mais atrativo processar, por exemplo, soja e milho na China
e trazer o óleo processado e outros subprodutos para o Brasil,
comparativamente a processar esta matéria-prima em nossas indústrias.

49
Este é apenas um exemplo, de uma situação que se repete em uma diversidade
de commodities agrícolas. Dada a maior e ciência agroindustrial e de logística de
outros players de mercado, não resta alternativa ao produtor brasileiro senão
primarizar sua produção (COSTA& TONIN, 2019).A primarização é um evento que
tem se acentuado ao longo das últimas três décadas e tem se acirrado com a
evolução de consumo de países asiáticos, como China e Índia, além do consumo
já percebido dos players tradicionais, como Estados Unidos e União Europeia.

Essa conjuntura de fatores faz com que o PIB Agropecuário seja pouco
signi cante, tendendo a ser menos signi cante ainda, na mesma proporção em
que se investe em sistemas de produção de commodities.

Uma provável saída para esta problemática é se utilizar de políticas e


investimentos públicos para despertar o espírito empreendedor dos produtores
rurais, de maneira a incentivá-los a agregar valor em seus produtos. Para um
produtor de commodities, uma possível agregação de valor está mais ligada a
mudanças de características de seus produtos, sem descon gurá-lo enquanto
commodity.

50
Um exemplo de agregação de valor que tem ganhado destaque por meio
da pesquisa agropecuária pública é a produção de soja preta (Figura 9).
Trata-se da mesma espécie da soja convencional (Glycine max L.[Merill]),
porém, se trata da cultivar BRSMG 715A, de propriedade da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA e Fundação Triângulo.
Seu diferencial está no sabor, mais agradável ao paladar humano, com
um elevado teor de antioxidantes e de proteínas com melhor índice de
digestibilidade (LANDGRAF, 2019).

Figura 9 – Soja Preta | Fonte: JUHÁSZ (2019). Disponível aqui

Outros exemplos poderiam ser dados: Comercialização de Arroz


Vermelho embalado a vácuo em propriedades do Nordeste brasileiro;
Transformação dos sistemas produtivos convencionais em orgânicos;
Produção de cultivares de milho com grãos de cor laranja, especí cos
para a fabricação de ração de aves, dentre tantas outras propostas.

Fonte: O autor (2019).

51
Por sua vez, para agricultores familiares, o desa o da agregação de valor parece
ser menos intenso, quando consideramos o fato destes agricultores focarem sua
produção em gêneros mais diversi cados. Contudo, esbarra-se na di culdade de
falta de capital para investir em estratégias de agregação de valor e ainda,
existem amarras jurídicas que impedem a rápida agregação de valor,
especialmente considerando a comercialização de produtos de origem animal.

O Serviço de Inspeção Federal, conhecido mundialmente pela sigla S.I.F. e


vinculado ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal –
DIPOA, é o responsável por assegurar a qualidade de produtos de origem
animal comestíveis e não comestíveis destinados ao mercado interno e
externo, bem como de produtos importados (MAPA, 2016).

Fonte: Disponível aqui

Fizemos uma breve exposição sobre o Sistema de Inspeção Federal – S.I.F. pois
tal sistema (além dos sistemas locais e estaduais) estabelece diretrizes sanitárias
para a produção de embutidos, bene ciamento de carnes, leite, queijos,
defumados, ovos e quaisquer outros produtos comestíveis de origem animal.
Embora importantes, tais diretrizes são muito distantes das realidades dos
sistemas produtivos familiares, obrigando tais sistemas a investir quantias
exorbitantes em estruturas e procedimentos, para participar do mercado. Cria-
se, então, uma barreira que torna pouco atrativa a agregação de valor “dentro da
porteira”.

Mesmo assim, é imperativa a necessidade de gerar renda a campo e a agregação


de valor é uma saída pertinente. Investir em embalagens diferenciadas,
cultivares com aspectos chamativos, culturas diferenciadas, bom atendimento e
gestão da produção são caminhos pertinentes para que o produtor rural possa
protagonizar melhores roteiros no meio rural.

52
Indicadores de Produção
“Dentro da Porteira”
Há pouco, mencionamos sobre a relevância dos sistemas de gestão como
estratégia para agregação de valor dentro da porteira. São sistemas
informacionais que permitem tecer um panorama acerca do custo-benefício da
aquisição dos insumos. Não obstante, tais sistemas permitem avaliar também a
produção, tornando-a mais e ciente a partir da aquisição de dados relacionados
a indicadores produtivos, gerenciais e econômicos (ARAÚJO, 2009; CAPINÚS &
BERRÁ, 2015).

Os indicadores produtivos são aqueles relacionados aos marcadores


morfológicos e produtivos de uma determinada exploração. Por exemplo, se um
determinado produtor conduz a cultura do feijão, dois indicadores pertinentes
seriam a taxa de crescimento das plantas (em centímetros por dia) e a
produtividade (em quilos por hectare). Comparando-se tais indicadores com os
da pesquisa agropecuária, podemos tomar decisões quando houver desvios
signi cativos de metas claras e estipuladas.

Por sua vez, os indicadores gerenciais permitem avaliar métricas relacionadas


aos setores de uma propriedade rural, avaliando a qualidade e a assertividade
do trabalho. Em nosso exemplo relacionado à cultura do feijão, existe um
planejamento agronômico de acompanhamento do desenvolvimento da cultura,
assim como de revisão e preparo dos maquinários para as atividades de campo.
As decisões são tomadas de acordo com a assertividade do processo (se houver
falhas na manutenção das máquinas ou o não cumprimento das vistorias de
campo).

Por m, os indicadores econômicos permitem uma leitura adequada dos


custos variáveis de produção, dos custos xos da propriedade rural, do custo de
oportunidade, da rentabilidade e do tempo de retorno dos investimentos. Uma
vez plani cados, tais indicadores devem ser seguidos e desvios devem ser
trabalhados no sentido de serem mitigados.

53
07

Os Segmentos do
Agronegócio – Após a
Porteira
Compreendendo o Segmento
“Pós-porteira”
Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a)a nossa sétima aula! Até aqui avançamos bastante
na compreensão dos conceitos ligados ao Agronegócio e visualizamos dois dos
três setores que fazem parte dos sistemas agroindustriais, quais sejam, o “antes
da porteira” (setor de insumos) e o “dentro da porteira”. Em ambos os casos,
zemos uma análise que nos permitiu compreender o panorama e os desa os
dessas áreas.

Agora é a vez de entendermos sobre a parte mais complexa destes sistemas


agroindustriais, o segmento “pós-porteira” ou “após a porteira”. Para que
possamos compreender a complexidade desse sistema, vamos nos utilizar da
Figura 10.

A Figura 10 reproduz o conteúdo da Figura 4, que vimos nas aulas anteriores.


Contudo, o destaque principal é dado para o setor industrial e para os
distribuidores, que se estabelecem antes do consumidor nal nesta
representação. Além de considerarmos os respectivos processos de
transformação das matérias-primas advindas do campo e sua distribuição entre
os entes do sistema agroindustrial, devemos considerar a logística do processo
entre as fases.

55
Figura 10 – Representação de um Sistema Agroindustrial | Fonte: ZYLBERSZTAJN
(2005, adaptado). Disponível aqui

É bastante comum que os sistemas agroindustriais, no segmento “pós-porteira”,


se rami quem, formando verdadeiras redes de relacionamentos entre empresas
que se aproveitam dos produtos processados principais, e ainda, dos
subprodutos em suas cadeias produtivas. Um exemplo bastante interessante
desta situação é relacionado à indústria sucroalcooleira. Vejamos o exemplo em
nossa Abordagem Prática:

56
Após receber a matéria-prima advinda do campo (colmos de cana-
de-açúcar), procede-se ao seu esmagamento, para se obter a
garapa, que possui concentração de açúcares redutores (onde se
encontra a sacarose) na ordem de 16%. A sacarose extraída segue
para o processo de secagem em fornalhas.

A água extraída do processo é levada para caldeiras, estas sendo


aquecidas pelas mesmas fornalhas de secagem da garapa. O
combustível destas fornalhas é o bagaço da própria cana.Mais à
frente, a sacarose é cristalizada e puri cada em ltros, sendo mais
uma etapa de formação de resíduos.Ao longo da produção de
açúcar e mesmo de etanol, existe a formação de outros resíduos,
que são aproveitados em outras cadeias produtivas, justi cando-
se, portanto a formação das redes “pós-porteira”.

No exemplo dado, o bagaço pode ser direcionado à produção de


energia elétrica, que abastece não somente a planta da indústria
sucroalcooleira, mas também uma diversidade de outras plantas
industriais e mesmo cidades. A torta de ltro é utilizada para a
elaboração de adubos orgânicos, se direcionando ao setor de
insumos.Por sua vez, o excesso de leveduras pode ser
comercializado com outras indústrias que trabalham com
fermentação alcoólica, a exemplo das agroindústrias de produção
de cerveja e destilados.

Fonte: O autor (2019).

57
São variadas as possibilidades de formação de redes no setor “pós-porteira”,
tanto à jusante dos sistemas agroindustriais, como também a sua montante.
Ainda, considerando o exemplo da produção sucroalcooleira, uma usina possui
exibilidade na aquisição de sua matéria-prima, podendo escolher os
fornecedores que lhe abasteçam de modo mais competitivo.

No que tange à agroindustrialização, percebe-se um maior avanço na aplicação


dos princípios de gestão empresarial, com a plani cação das atividades,
de nição de metas, etapas, uso de indicadores de desempenho, estratégias
logísticas e estratégias de marketing. Isto se deve à proximidade conceitual e
prática que as agroindústrias possuem em relação às indústrias
convencionais.Com isso, percebe-se uma maior competitividade das
agroindústrias frente ao setor “dentro da porteira” e isto resulta em uma maior
agregação de valor ao agronegócio em si.

Estima-se que 60% do PIB do Agronegócio seja oriundo do segmento “pós-


porteira” (MAPA, 2019). Isto se deve à grande competitividade das
agroindústrias, pelos fatores já citados (formação de redes em sistemas
agroindustriais, agregação de valor e aplicação de princípios de gestão
empresarial), mas também se deve a outros fatores de destaque:

Taxa de ocupação de mão de obra: Por mais automatizadas que sejam as


agroindústrias, especialmente as comandadas por cooperativas e
associações, ainda empregam um grande contingente de mão de obra. Por
meio de seus proventos, estes trabalhadores propiciam a movimentação
da economia, não somente em seu próprio segmento (agronegócio), mas
especialmente no setor de serviços.
Distribuição espacial das agroindústrias: Na atualidade, as
agroindústrias se localizam próximas aos fornecedores de matérias-primas.
Uma vez que tais fornecedores, ou seja, produtores rurais, se encontram
no interior do país, as Agroindústrias se instalam em cidades médias ou em
entroncamentos logísticos, o que permite a capilarização da geração de
renda. Ademais, a instalação de agroindústrias, em princípio, possui um
baixo custo de oportunidade, levando-se em conta as isenções scais
ofertadas para sua instalação e ainda, o baixo custo das terras que serão
utilizadas para a implantação de sua planta produtiva.
Automação dos processos: Com o uso das tecnologias da Indústria 4.0,
que visam automatizar as produções, os custos de produção tendem a cair,
dando mais competitividade aos produtos das Agroindústrias, os quais

58
podem ser disseminados em mais regiões. Isto amplia o potencial de
geração de dividendos ao Agronegócio Brasileiro.
Desenvolvimento de sistemas logísticos integrados: Embora possam
estar distantes dos principais centros consumidores, as Agroindústrias têm
aplicado o conceito de logística como um de seus indicadores de gestão e
e ciência. Uma vez que o conceito de logística abarca o transporte de
produtos e a transmissão de informações dos produtores aos
consumidores, de maneira e ciente e e caz, são constantes os
investimentos não somente das Agroindústrias, mas também dos
operadores logísticos, em atender à premissa logística em satisfazer às
necessidades do consumidor. Deste modo, adquire-se mais
competitividade mercadológica, o que eleva o consumo e a geração de
dividendos ao Agronegócio como um todo.

Mediante o exposto, conclui-se que, no que diz respeito ao processamento de


produtos agropecuários, o setor “pós-porteira”encontra-se desenvolvido,
embora existam ainda entraves que são relacionados especialmente ao
ambiente institucional, como a elevada carga tributária, a insegurança jurídica no
que tange ao atual momento de mudanças nas leis trabalhistas, de segurança do
trabalho e previdenciárias e a falta de investimentos em infraestrutura, o que
compromete os sistemas agroindustriais brasileiros frente aos sistemas
agroindustriais de outros países.

O Gargalo da Logística
Brasileira no “Pós-porteira”
Embora tenhamos ilustrado o dinamismo das agroindústrias, não devemos
pensar que todos os produtos agropecuários são processados e enviados aos
seus consumidores por meio dos distribuidores. Existem casos especí cos,
especialmente os ligados à produção de commodities, em que não se percebe o
processamento das matérias-primas. Basicamente existe o bene ciamento,
seleção e armazenagem de tais produtos, antes de os mesmos serem
deslocados para a exportação.

59
Independentemente do caso (havendo ou não o processamento das matérias-
primas), evidencia-se a problemática da infraestrutura de citária no setor de
transportes e de armazenagem pós-colheita. A Figura 11 demonstra um dos
problemas relacionados a nossa de citária infraestrutura logística:

Figura 11 – Caminhões atolados em estrada não pavimentada, em época de


safra de grãos | Fonte: TRANSVIAS (2018). Disponível aqui

Transvias (2018) a rma que o custo logístico no Brasil chega a R$ 15,5 bilhões,
absorvendo, em média, 12,67% dos lucros das cadeias produtivas que
dependem da infraestrutura logística de modo mais intensivo, como é o caso das
cadeias produtivas do agronegócio. Ainda, segundo os mesmos autores, há a
necessidade de se investir pelo menos R$ 300 bilhões para atenuar os gargalos
logísticos existentes no Brasil.

Assim, mesmo que os produtores rurais sejam e cientes em suas cadeias


produtivas e mesmo que as Agroindústrias sejam tecni cadas o bastante para
produzirem de modo competitivo, a logística brasileira impede que o Brasil seja
mais representativo no Agronegócio mundial. Somando-se a logística aos demais
problemas ligados ao ambiente institucional, podemos a rmar sobre a
existência de um elemento de custo que reduz a atratividade de nossos
produtos, chamado popularmente de “Custo Brasil”.

60
Os problemas logísticos fazem parte do conceito de “Custo Brasil”,
que é uma denominação genérica dada a uma série de custos de
produção, ou despesas incidentes sobre a produção, que tornam
difícil ou desvantajoso para o exportador brasileiro colocar seus
produtos no mercado internacional, ou então tornam inviável ao
produtor nacional competir com os produtos importados.

Fonte: Bússola do investidor (2019, adaptado).

Embora as di culdades impostas ao segmento “pós-porteira”


sejam grandes e o cenário aparentemente seja desanimador, a
pesquisa agropecuária brasileira, por meio da Embrapa, está
estudando formas de mapear os gargalos logísticos e plani car
seu desenvolvimento para os próximos anos. Conheça mais sobre
o projeto de Macrologística da Embrapa.

Acesse o link: Disponível aqui

61
O “pós-porteira” brasileiro é bastante diversi cado, tecni cado e absorvedor de
mão de obra. Ao mesmo tempo, se organiza em redes e é capaz de gerar e
compartilhar conhecimento e informações, o que o torna bastante competitivo.
Por outro lado, as inconsistências observadas no ambiente institucional,
especialmente as ligadas à logística e infraestrutura, minam esta
competitividade, fazendo com que o Brasil que a alguns passos de seus
principais concorrentes mundiais.

Todavia, ações público-privadas e planejamentos sobre o futuro do Agronegócio


estão constantemente nas mesas de discussão, de modo que podemos esperar
uma melhoria institucional e estrutural, capaz de mitigar nossos principais
problemas, especialmente para a produção, processamento e comercialização
dos produtos agropecuários.

Assim, chegamos ao nal de mais uma aula de rico aprendizado, na qual


avaliamos os principais aspectos do segmento “pós-porteira” do Agronegócio.
Em nossa oitava aula, aprofundaremos nossa compreensão sobre os Sistemas
Agroindustriais.

62
08

Sistemas
Agroindustriais
Introdução
Prezado(a) aluno(a), bem-vindo(a) a nossa oitava aula! É sempre muito bom ter
sua companhia nesta prazerosa jornada do conhecimento. Estamos chegando
na metade de nossos estudos e já podemos falar que avançamos
signi cativamente.

Por meio de nossas abordagens, já temos o entendimento sobre os principais


conceitos ligados ao Agronegócio. Compreendemos ainda sua gênese conceitual
e investigamos os fatores que fazem parte dos seus segmentos“antes, dentro e
depois da porteira”. Outrossim, analisamos os conceitos e os componentes das
cadeias produtivas no Agronegócio, compreendendo sua importância e as
formas que o Gestor em Agronegócios deve avaliá-las, sempre em busca da
melhoria constante.

Nesta aula, em especí co, elucidaremos os principais aspectos relacionados aos


Sistemas Agroindustriais, apresentando sua relevância e suas diferenças frente
ao conceito de Cadeias Produtivas. Vamos dar prosseguimento aos nossos
estudos?

A Visão de um Sistema
Agroindustrial
Em uma percepção mais super cial, existe uma similaridade no arranjo das fases
entre uma cadeia produtiva e um sistema agroindustrial. Em ambos os casos,
percebe-se um uxo de produtos no sentido montante (produtor) à jusante
(consumidor nal). Da mesma forma, para os dois modelos (Sistemas e Cadeias)
existe um uxo no sentido contrário (jusante à montante) de capital.

Outra semelhança reside no fato de se haver um processamento, mesmo que


mínimo, de um produto, sendo este ofertado ao consumidor com seu valor
agregado. Por m, denotam-se in uências exógenas tanto na formação da

64
Cadeia Produtiva como também no Sistema Agroindustrial, sendo estas
in uências derivadas do ambiente organizacional e do ambiente institucional
onde tais cadeias ou sistemas operam.

Assim, por guardarem similaridades entre si, os Sistemas Agroindustriais e as


Cadeias Produtivas são constantemente confundidas. No entanto, podemos
a rmar que a relação entre os dois conceitos é a de subsistema, sendo uma
Cadeia Produtiva um subsistema de um Sistema Agroindustrial (SOUZA &
AVELHAM, 2019).

Outra diferença é que a relação entre os entes de uma cadeia produtiva se dá de


modo meramente mercadológico, com integração su ciente apenas para
garantir o trânsito dos produtos, de montante à jusante em uma cadeia
produtiva. Em vista disso,podemos inferir que a relação entre os entes de uma
cadeia produtiva é sempre verticalizada e sem coordenação aparente (SOUZA &
AVELHAM, 2019).

Por sua vez, em um Sistema Agroindustrial, as relações entre os entes envolvidos


se dá por vias de dependência mercadológica e por coordenação de trabalhos
por vias contratuais. Outrossim, é evidente a integração entre os entes para que
os resultados mercadológicos possam ser satisfatórios.

A noção de integração das ações faz com que os gestores destas empresas (e
por consequência, do sistema agroindustrial) possam propor medidas para a
criação de políticas públicas que bene ciem todo o sistema, sem segmentação
de visões entre o setor puramente agrícola, o setor industrial e o setor de
serviços (SOUZA & AVELHAM, 2019).

Podemos diferenciar de uma maneira adequada o conceito de Cadeias


Produtivas e o conceito de Sistema Agroindustrial por meio de nossa Abordagem
Prática:

65
Sem dúvida, você já deve ter ouvido falar sobre a produção de café em
nosso país. A nal, o café representou nosso quarto venturoso ciclo
econômico, após os ciclos do Pau-Brasil, Ouro e Cana-de-açúcar.

Quando pensamos no café, enquanto cadeia produtiva, estamos nos


referindo a um microssegmento que reúne, desde os fornecedores de
insumos, passando pelos produtores, bene ciadores, distribuidores e
consumidores. Sem maiores níveis de articulação, cada etapa da cadeia, ao
terminar o seu trabalho, repassa seu produto ao próximo segmento, que
valoriza o produto de acordo com as cotações de mercado. Assim, não se
observa uma maior preocupação com a qualidade da cadeia como um
todo, embora existam preocupações com relação à qualidade dos
processos inerentes a cada segmento.

Por sua vez, quando pensamos no Sistema Agroindustrial do Café, estamos


nos referindo a uma reunião de cadeias produtivas, as quais são
gerenciadas e coordenadas de forma comum, por meio de contratos
complexos (e não somente por uma via mercadológica generalizada), de
maneira a garantir um posicionamento diferenciado ao produto nal,
gerando, por exemplo, o café gourmet.

Fonte: O autor (2019).

66
Considerando o exposto, chega-se à conclusão de que tanto as cadeias
produtivas quanto os sistemas agroindustriais são arranjos produtivos que
irrigam o mercado consumidor, porém, o segundo age de forma coordenada,
integrando os agentes participantes no sentido de elevá-los à excelência.

Outro fator relevante sobre os Sistemas Agroindustriais é o seu arranjo. Embora


a maioria das literaturas exponha os arranjos de um sistema em forma de
cadeia, lembrando inclusive o clássico conceito de llière ou Cadeia
Alimentar(ZYLBERSZTAJN& NEVES, 2005), devemos evidenciar que a maioria dos
Sistemas Agroindustriais possuem arranjos que são modi cados de acordo com
fatores endógenos (relação entre os entes participantes) e com fatores
exógenos, ligados especialmente ao ambiente institucional.

É fato que o Poder Público Brasileiro, desde a década de 1960, possui um


enfoque de investimentos direcionados ao desenvolvimento de Sistemas
Agroindustriais, fomentando-os com base em legislações que facilitam o acesso
à pesquisa e extensão rural, nanciamentos, prospecção de mercados internos
e, principalmente externos, além de propiciar o desenvolvimento tecnológico
ligado ao meio rural e ao segmento industrial.

A coordenação dos sistemas agroindustriais também recebeu aportes ao longo


das últimas décadas, de modo que hoje, um sistema agroindustrial equilibrado e
com base em acordos e contratos bem-de nidos, suporta desalinhamentos
(SOUZA & AVELHAM,2019), os quais são plenamente absorvidos e distribuídos ao
longo do sistema como um todo.

Por exemplo, um desalinhamento que ocorre neste momento histórico são as


mudanças nas regras trabalhistas, as quais impõem algumas modi cações
sistêmicas, relacionadas ao recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de
Serviço, mudanças relacionadas às alíquotas destinadas à Previdência Social,
Fator Acidentário Previdenciário e revisões em Normas Regulamentadoras de
Saúde Ocupacional e Segurança do Trabalho. Tais mudanças geralmente
impactam nas contas dos custos operacionais dos entes de um Sistema
Agroindustrial. Todavia, dada a sua forma de coordenação e gerenciamento,
permitem uma melhor absorção dos impactos em comparação aos entes
reunidos em uma cadeia produtiva.

67
Outro exemplo desta capacidade de absorção de desalinhamentos endógenos
ou exógenos são as constantes variações mercadológicas pelos movimentos
econômicos mundiais. Com risco de desaceleração econômica mundial, com a
Guerra Comercial entre Estados Unidos e China, com a insegurança política
interna e suas reverberações, gerando riscos aos acordos econômicos bilaterais
entre Brasil e China, além dos acordos com Arábia Saudita, Emirados Árabes
Unidos, Índia, União Europeia e Japão, são constantes as oscilações de mercado
que podem reduzir sensivelmente a margem de lucro dos entes em uma Cadeia
Produtiva.

Um produtor, por exemplo, ca muito vulnerável a tantas oscilações


econômicas, as quais impactam nas cotações das commodities, na cotação do
dólar e no fechamento de contratos de mercados futuros. Se este produtor se
encontra dentro de um Sistema Agroindustrial, equilibrado e bem-coordenado,
os riscos mercadológicos são atenuados, pois são “pagos” por todo o segmento.
Logo, possuir um arranjo coordenado é mais válido que se movimentar
solitariamente em uma cadeia produtiva.

Para que você aprofunde sua visão acerca dos sistemas


agroindustriais, sugiro que faça a leitura do seguinte artigo:
Aspectos conceituais relacionados à análise de Sistemas
Agroindustriais.

Acesse o link: Disponível aqui

68
Mapeando um Sistema
Agroindustrial
Uma das tarefas dos Gestores em Agronegócios é compreender as dimensões
de um sistema agroindustrial. Segundo Guanzirolli, Buainain e Sousa Filho
(2007), são quatro as dimensões que devem ser analisadas no mapeamento de
um Sistema Agroindustrial, a saber: Produto, Componentes, Território e Tempo.

Na dimensão produto o Gestor em Agronegócios deve de nir se o enfoque de


sua análise de dará apenas sobre um produto ou sobre um produto e seus
derivados. Ademais, nesta dimensão também deverá considerar se o produto
em questão é uma commodity. Esta de nição sobre o produto é fundamental
para delimitar o escopo do diagnóstico sobre o Sistema Agroindustrial, não
ampliando demasiadamente a pesquisa e dando o nível de detalhamento
necessário ao entendimento do sistema em si. O Gestor em Agronegócios deve
dar ainda a devida atenção às possíveis demandas e fontes de con itos do
sistema, de modo a coletar informações su cientes que permitam a sua tomada
de decisão.

Na dimensão componentes do sistema, o mapeamento deve ser feito no


sentido de delimitar as ações de cada ente participante, especialmente para
compreender onde o Sistema se inicia o onde ele acaba. Por exemplo, para um
sistema agroindustrial de soja, o Gestor em Agronegócios deve iniciar seu
mapeamento observando fornecedores, produtores, agroindústrias,
distribuidores e consumidores. Após isso, há a necessidade de enxergar as
transversalidades entre os entes do sistema, compreendendo as relações
comerciais únicas ou múltiplas entre eles.

Por sua vez, a dimensão território permite o conhecimento da distribuição


geográ ca do sistema. Sobre este assunto, Guanzirolli, Buainain e Sousa Filho
(2007, p. 32) de nem:

[...] a delimitação geográ ca dependerá das especi cidades das


cadeias. A escolha deve ser feita a partir de informações e muito
pragmatismo, considerando-se as seguintes questões: (a) A cadeia
encontra-se concentrada regionalmente (cluster) ou encontra-se

69
nacionalmente dispersa? (b) As regiões produtoras apresentam
algum grau de especialização? (c) As políticas a serem formuladas
são de caráter regional ou nacional? (d) O orçamento de pesquisa é
su ciente para cobrir os custos de uma investigação nacional ou
internacional? GUANZIROLLI, BUAINAIN E SOUSA FILHO (2007, p. 32).

Por m, a dimensão tempo diz respeito às repetições dos diagnósticos feitos


sobre as três dimensões anteriores. O Gestor de Agronegócios deve ter um
panorama dinâmico sobre a evolução do Sistema Agroindustrial em estudo,
obtendo os recortes temporais necessários para compreender o avanço das
inter-relações entre os entes, e ainda, o avanço das in uências exógenas no
processo.

No Agronegócio, é bastante comum que as análises de mercado,


de sazonalidade, de preços, balanços de oferta e demanda, dentre
tantas outras, sejam feitas considerando o quesito temporal, ou
seja, a repetição com o tempo, de modo a se traçar um panorama
dinâmico das variáveis e a obtenção de séries históricas que
permitem a tomada de decisões mais assertivas.

Fonte: O autor (2019).

Além das dimensões destacadas, Guanzirolli, Buainain e Sousa Filho (2007)


a rmam que há a necessidade de criar diagramas ou mapas que representem o
funcionamento do sistema, de modo claro e conciso, identi cando uxos,
relações e serviços de apoio, conforme ilustram os exemplos das Figuras 12 e 13:

70
Figura 12 – Diagrama do Sistema Agroindustrial da Carne no Brasil | Fonte: SILVA
& BATALHA (2000, apud GUANZIROLLI, BUAINAIN E SOUSA FILHO, 2007).

71
Figura 13 – Diagrama do Sistema Agroindustrial da Carne Suína no Paraná |
Fonte: IPARDES (2002, apud GUANZIROLLI, BUAINAIN E SOUSA FILHO, 2007).

Observando os exemplos das respectivas Figuras (12 e 13) reforçamos a


conclusão de que um Sistema Agroindustrial pode ser composto por uma série
de subsistemas, cada qual representando uma cadeia produtiva. Também, com
os diagramas, se tornam nítidas as múltiplas relações e a transversalidade de
atuação dos entes do sistema, algo que não seria veri cado em uma simples
cadeia produtiva.

72
Com isso, espero que você tenha compreendido sobre os sistemas
agroindustriais, sua dinâmica e formas de diagnóstico. Em nossa próxima aula,
complementaremos este assunto, focando nossa atenção nas formas de
coordenação nas cadeias produtivas e nos sistemas agroindustriais. Vamos nos
encontrar por lá!

73
09

Formas de Coordenação
nas Cadeias Produtivas
do Agronegócio
Formas de Coordenação para
uma Cadeia Produtiva?
Prezado(a) aluno(a), bem-vindo(a)a nossa nona aula. Por meio desta aula,
faremos uma abordagem direcionada às formas de coordenação nas Cadeias
Produtivas do Agronegócio e nos Sistemas Agroindustriais.

Porém, já devemos elucidar uma dúvida que pode surgir a partir de sua leitura.
O título de nossa aula é “Formas de Coordenação nas Cadeias Produtivas do
Agronegócio”.Naaula anterior, quando discutimos sobre a diferença dos
Sistemas Agroindustriais e das Cadeias Produtivas do Agronegócio, cou claro
que uma das diferenças são as estratégias de coordenação.

Enquanto os Sistemas Agroindustriais claramente possuem uma coordenação e


integração, as Cadeias Produtivas parecem não possuir a mesma estruturação,
ou seja, não se é possível mencionar que uma cadeia produtiva tenha
coordenação ou integração entre seus atores e ainda, as relações entre os entes
da cadeia se dão por meios meramente mercadológicos.

Sendo assim, como falar em “formas de coordenação” para uma cadeia


produtiva? Temos duas vertentes de análise para justi car que é possível se falar
sobre formas de coordenação mesmo para uma Cadeia Produtiva,
aparentemente “descoordenada”.

A primeira das vertentes é relembrar sobre o papel das Cadeias Produtivas


inseridas como subsistemas de um Sistema Agroindustrial. Uma vez que,
caracteristicamente, o Sistema Agroindustrial dispõe de uma forma de
coordenação, por consequência, suas cadeias produtivas também serão
coordenadas.

Por sua vez, a segunda vertente estabelece a segmentação da coordenação


endógena, realizada pelos próprios atores de uma cadeia produtiva e exógena,
advinda geralmente do ambiente organizacional sob o qual a cadeia produtiva se
insere. No geral, as cadeias produtivas não possuem uma coordenação

75
endógena, dada a natureza dos inter-relacionamentos entre seus atores. Porém,
há uma coordenação exógena, capaz de gerar uma “massa crítica” necessária
para a promoção do desenvolvimento de tais cadeias.

Corriqueiramente, as instituições de ensino, de pesquisa e os serviços de


Extensão Rural (no geral, públicos) são os responsáveis por estabelecer o papel
de coordenação das cadeias produtivas, nas seguintes vertentes:

Realização do mapeamento das cadeias produtivas existentes.


Diagnóstico dos principais gargalos produtivos, tecnológicos, cientí cos e
de logística.
Animação de atores para integrar suas produções isoladas em cadeias
produtivas conhecidas.
Formação de Clusters / Arranjos Produtivos Locais.
Planejamento Estratégico ligado ao desenvolvimento dos atores e da
cadeia produtiva como um todo, reduzindo seus custos de transação e de
produção (GAMA, CARVALHO & GUERRA, 2011).

Portanto, nos parece razoável a rmar que a coordenação das cadeias produtivas
é essencialmente exógena, com constantes esforços para que os atores que
participam de uma cadeia produtiva possam se empoderar das formas de
gestão de suas cadeias, transformando-as em organizações mais complexas, a
exemplo das associações, cooperativas (formas mais avançadas) ou Clusters /
Arranjos Produtivos Locais (formas menos avançadas e que não exigem elevado
grau de integração entre os atores).

76
Coordenar uma Cadeia Produtiva ou Sistema Agroindustrial
signi ca seguir parâmetros e metas, ligadas a indicadores de
qualidade dos produtos e de gestão dos processos, de maneira a
gerar maior competitividade, redução de custos e ampliação da
satisfação dos respectivos entes, inclusive, do consumidor nal.

Fonte: O autor (2019).

Clusters / Arranjos
Produtivos Locais
O termo Cluster, traduzido diretamente da língua inglesa signi ca “grupo” ou
agrupamento. Utilizado no Agronegócio, o termo em questão fora rearranjado,
em sua signi cância, para traduzir a ideia de coordenação de cadeias produtivas
e de sistemas agroindustriais. Assim, em português, o termo cluster também
signi ca “Arranjo Produtivo Local”.

Oliveira, Diniz& Ramos (2018) revelam que o conceito de cluster ou Arranjo


Produtivo Local – APL não possui uma origem cronológica certa, mas, sugerem
que a experiência com os APL’s tenha surgido na Itália, em meados da década de
1970. Segundo os mesmos autores, um conjunto de pequenas empresas que
operavam suas ações em locais especí cos e direcionadas à mesma cadeia
produtiva ou cadeias produtivas complementares, passaram a ter um
desenvolvimento fora do comum, o que elevou sua participação no mercado e,
ainda, sua capacidade de geração de empregos e de renda.

77
Ainda, Oliveira, Diniz & Ramos (2018) esclarecem que a experiência italiana cara
marcada por atributos pertencentes a arranjos industriais. Sobre este assunto,
Keller (2008, p. 35), diz:

[...] primeiro, um aglomerado de empresas (cluster), principalmente de


tamanhos pequeno e médio, espacialmente concentradas e
setorialmente especializadas; segundo, um conjunto de encadeamentos
para frente e para trás, tendo por base a troca (ou intercâmbio,
mercadológico ou não) de bens, de informações e de pessoas; terceiro,
um fundo cultural e social comum unindo os agentes e criando um
código de comportamento (explícito ou implícito); quarto, uma rede de
instituições locais públicas e privadas apoiando os agentes econômicos
que atuam dentro do cluster (KELLER, 2008, p. 35).

Os APL’s, portanto, se caracterizam como uma união de atores que participam


de um mesmo segmento comercial, os quais são delimitados por um território
comum. Além de tudo, existe uma relação, mesmo que somente interpessoal,
entre os atores desta cadeia, sendo esta su ciente para que haja uma sinergia
de esforços e o estabelecimento de um sistema de gestão e coordenação que
permita a redução dos custos de produção ou de transação, a elevação do
dinamismo econômico destes atores e, ao extremo, a promoção do
desenvolvimento social (OLIVEIRA, DINIZ & RAMOS, 2018, adaptado).

Considerando o exposto, o APL, quando con gurado, se estabelece por um


modelo de gestão integrado, onde há um claro relacionamento entre os entes de
uma mesma cadeia produtiva, os quais plani cam sua produção, seu
escoamento, o processamento dos produtos e a própria comercialização,
integrando ações inclusive, para que uma determinada região seja reconhecida
por seu principal produto.

78
O caso do Arranjo Produtivo Local de Bicho-da-seda em Nova
Esperança, Paraná

O Brasil é o quinto maior produtor mundial de seda. Pode parecer uma


posição não muito honrosa, todavia, devemos considerar que o Brasil é o
primeiro colocado em termos de qualidade do o advindo do casulo dos
bichos-da-seda. Pode-se dizer que a seda brasileira é admirada ao redor
do mundo.

No Brasil, existem poucos agrupamentos de produtores que investem


nesta cadeia produtiva e um agrupamento de destaque é o de Nova
Esperança, município localizado no Noroeste do Estado do Paraná.

Com aproximadamente 200 produtores ligados à cadeia da sericicultura,


formou-se o Arranjo Produtivo Local da Sericicultura, o qual obteve
avanços que transformaram o município em “Capital Nacional do Casulo
de Seda”. Embora mercadológica, esta alcunha se justi ca pela excelência
na produção e produtividade (acima de 1.200 quilos de casulos por
hectare) e pela coordenação da cadeia produtiva, a qual conta com o
auxílio de universidades, empresas privadas, Extensão Rural O cial, Poder
Público Local e os próprios atores da cadeia produtiva, empoderados em
sua função de auxiliar a plani cação de sua cadeia produtiva, dando-lhe o
protagonismo necessário para ser reconhecida em nível nacional.

Fonte: O autor (2019).

79
O grande desa o em se elaborar um Arranjo Produtivo Local, ou mesmo formas
organizacionais mais avançadas está em se trabalhar com o setor “dentro da
porteira”. Infelizmente, nossos empresários rurais não detêm um nível de
educação formal satisfatório que lhes permita assimilar e interpretar
informações com o dinamismo necessário para que um APL saia do papel e vire
realidade.Assim sendo, a implementação de um APL é morosa.

Outro fator que torna a implementação de um APL ou outras formas


organizacionais mais complexas e morosas é a resistência a mudanças. Dado o
processo de evolução tecnológica no campo e as descontinuidades no processo
de Assistência Técnica, muitos produtores rurais sentem-se estigmatizados com
o fardo de darem continuidade sozinhos a mudanças de paradigmas que foram
iniciadas por entes externos, especialmente o poder público e suas políticas de
governo.

Sem a con ança de que terão auxílio ao longo do processo organizacional, além
de outros vários fatores de resistência pessoal e interpessoal, como resistência
natural às mudanças, medo de quebra de hierarquias, idade avançada, falta de
aderência das propostas às experiências vividas, dentre outros motivos, o
processo de implementação dos APL’s se torna extremamente moroso.

Também existe morosidade no “andar de cima”, ou seja, nos gestores que


deveriam ser animadores dos processos de implementação dos APL’s. Reunir,
discutir e planejar ações com todos os membros ligados a Prefeituras,
Secretarias, Serviço O cial de Extensão Rural, Universidades, Empresas Privadas
e outros atores correlatos, pode ser tão difícil quanto se reunir com os
produtores rurais.

Portanto, um dos maiores entraves que devem ser superados está ligado a
coadunar esforços e implementar o APL para que resultados desta sinergia
possam ser rapidamente sentidos pelos participantes. Outrossim, um desa o é
empoderar estes atores para que os mesmos possam conduzir o APL sem a
presença de um ou mais pro ssionais como você, caro(a) aluno(a), que fará a

80
animação dos processos. Di cilmente os APL’s funcionam sem os animadores,
contudo, uma vez que se estabelecerem e seus gestores compreenderem o seu
papel, o APL estará de nitivamente concluído.

Não existe uma receita para que um APL seja bem-sucedido. Provavelmente, as
relações entre os atores se dê com menos formalidade, em princípio. Em outros
casos, ocorre uma integração ímpar que permite que os sistemas de informação
dos participantes do APL sejam compartilhados, de maneira a haver uma gestão
do uxo de produtos e de abastecimento de mercado, gerando os menores
custos possíveis aos seus integrantes. Em casos mais extremos de integração, os
APL’s podem gerar um certi cado de territorialidade, como ocorre na cultura do
café, que possui selos de Denominação de Origem Comprovada – D.O.C.
espalhados pelo Brasil. Tudo depende da noção de importância da
implementação de um sistema de gestão e coordenação integrado e da noção
de contribuição individual e coletiva, para que os objetivos e metas propostos
possam ser, de fato, alcançados.

Você gostou do tema “Arranjos Produtivos Locais” e deseja


aprofundar seus conhecimentos acerca deste tipo de
coordenação, de sua estrutura e de suas políticas de governança?
Creio que sim. Para aprofundar seus conhecimentos, conecte-se
nesta literatura:

OLIVEIRA, C.W.A. et al. Arranjos Produtivos Locais e


Desenvolvimento. 1ª ed. Rio de Janeiro: IPEA, p. 304, 2017.

Espero que tenha gostado dos conteúdos desta aula e espero ainda que tais
conteúdos sejam esclarecedores. Em nossa próxima aula, falaremos sobre
outro fundamento do Agronegócio, do qual devemos aprofundar nossos
conhecimentos: A logística. Não perca!

81
10

Logística e
Comercialização
A Logística Aplicada ao
Agronegócio
A logística... Certamente uma das áreas mais fascinantes ligadas ao Agronegócio.
Por meio da logística, atendemos às necessidades dos clientes, de maneira
e ciente e e caz, delizando-o, demonstrando o diferencial de uma empresa ou
de uma cadeia produtiva coordenada.

O surgimento do conceito de logística é difuso na história da humanidade. Sabe-


se que grandes estrategistas bélicos como Napoleão Bonaparte (1769 – 1721) e
Alexandre “o Grande” (356 a.C. – 323 a.C.), se utilizaram de princípios que podem
ser ligados à logística, especialmente no que tange ao suprimento de suas tropas
e ao planejamento de ocupação das áreas conquistadas.

No princípio do século XX o conceito de logística passou a se tornar cientí co,


muito embora ainda atrelado à área de marketing das empresas. Ainda,neste
contexto temporal, até 1940, a logística passou a ser aplicada ao agronegócio,
contudo, de forma muito incipiente, de modo a demonstrar uma preocupação
apenas com o escoamento da produção agrícola. Tratou-se da fase logística
chamada “do campo ao mercado” (PARDO, 2019).

Logo na sequência, entre as décadas de 1940 a 1960, com o advento da Segunda


Guerra Mundial e princípio da Guerra Fria, a logística passou a avaliar as formas
de transporte e armazenamento de materiais, o que cou conhecido como “era
das funções fragmentadas”, a qual não durou muito. Já na década de 1970,
houve a compreensão que as funções logísticas não poderiam ser vistas de
forma fragmentada ou separada. Havia imperativa necessidade em se avaliar a
integração dos processos de transporte, distribuição, estocagem e armazenagem
com os custos do processo. Tratou-se da fase de “Logística Integrada” (PARDO,
2019).

A partir da década de 1980, a logística passou a ser considerada como elemento


diferenciador das cadeias produtivas, em termos de competitividade. Ademais, o
cliente e seus valores passaram a ser o foco principal da logística, de modo que

83
sua meta primordial é entregar os produtos desejados pelo cliente, no tempo e
local corretos, com o menor custo e com e ciência não somente no transporte
do produto em si, mas no trânsito das informações.

Gerenciamento Logístico =
Gerenciamento das Cadeias
de Suprimentos
Sendo a logística um fundamento relevante ao Agronegócio, especialmente no
sentido de garantir a qualidade do processo, devemos usar formas de veri car a
e ciência do processo, permitindo, de forma transparente, que os agentes da
cadeia produtiva possam rastrear os produtos transportados.

Nesse ínterim, surge o conceito de indicadores de desempenho logístico (KPI’s).


Os indicadores permitem a avaliação de dimensões logísticas como custo,
qualidade, desempenho de entrega, exibilidade, inovatividade e
sustentabilidade. Tais dimensões são avaliadas por meio de comparação do
desempenho do processo com metas (ou benchmarks) especí cos.Assim, os
indicadores podem mensurar processos de responsabilidade da própria
empresa ou de parceiros logísticos que participam da entrega dos produtos.
Trata-se de indicadores internos e externos, respectivamente.

São exemplos de indicadores de desempenho logístico (PARDO, 2019):

Entregas no Prazo: mede a percentagem dos pedidos atendidos na


quantidade e especi cações solicitadas pelo cliente;
Pedido Perfeito:taxa de pedidos sem erros em cada estágio do pedido do
cliente;
Tempo de Ciclo:tempo decorrido entre a realização do pedido por um
cliente e a data de entrega;
Custos de Transporte:mede a participação dos custos de transporte nos
custos totais da empresa;
Dentre outros.

84
É importante estabelecer que não existe um padrão de planejamento
relacionado aos KPI’s, de modo que a escolha dos indicadores deve levar em
conta as especi cidades de cada empresa e, ainda, tais indicadores devem ter
dados coletados periodicamente, para que seja possível avaliar desvios e
estabelecer medidas mitigatórias para garantir a máxima e ciência da logística
empresarial.

Os Modais Logísticos e a
Matriz de Transportes
Brasileira
Carvalho (2006) de ne os modais logísticos como os meios de transporte
capazes de conduzir as cargas desde a saída de um fornecedor até a chegada a
um cliente. Segundo o mesmo autor, os modais logísticos devem ser escolhidos
de acordo com seis categorias de fatores in uenciadores, quais sejam:
Necessidades dos clientes; Características dos Produtos; Organização e Estrutura
da Empresa; Intervenções Governamentais; Disponibilidade dos Transportes e
Instalações; e, Percepção dos Tomadores de Decisão.

Em linhas gerais, são cinco as categorias de modais (PARDO, 2019):

Rodoviário: caracterizado por possuir a maior exibilidade dentre os


modais terrestres.
Ferroviário: apesar de pouca exibilidade e dependente de trilhos, trata-se
de um dos modais de menor custo de transportes.
Aquaviário: este transporte se subdivide em uvial (rios), lacustre (lagos),
cabotagem (marítimo de curtas distâncias, ligando portos de um mesmo
país) e marítimo de longas distâncias.
Aéreo: é o transporte de maior custo e altamente dependente de
infraestrutura aeroportuária e alfandegária. Trata-se de um transporte
mais voltado para produtos de alto valor agregado e com alta
perecibilidade.
Dutoviário: transporte de líquidos e gases por meio de dutos, sendo pouco
explorado no Brasil.

85
A escolha do uso do modal deve ser criteriosa e, considerando o Agronegócio,
geralmente se utiliza mais de um modal, sendo o mais comum, a combinação de
transporte rodoviário, ferroviário e marítimo (para commodities) e rodoviário e
aéreo, considerando produtos de alta perecibilidade.

86
Transportar cargas oriundas de atividades agropecuárias é uma
tarefa que exige planejamento, ainda mais, considerando os
desa os impostos pela de citária infraestrutura brasileira.
Contudo, além de planejar o uso dos modais, o Gestor de
Agronegócios deve se atentar às documentações e ao seu custo,
especialmente quando lidamos com produtos que serão
exportados.

Neste sentido, os Gestores em Agronegócios têm duas opções


para gerenciar o transporte de cargas: Intermodalidade e
Multimodalidade.

Na intermodalidade, o Gestor em Agronegócios deverá contratar


cada empresa de transportes (ou cada modal) separadamente.
Supondo que a carga seja milho e haja a necessidade de se
transportar a carga pelos modais rodoviário, ferroviário e
marítimo, serão necessários três trâmites documentais para
liberação da carga. Pode ser burocrático e exigir maior atenção do
pro ssional para garantir a interligação do serviço, mas pode ser
menos oneroso.

Já na multimodalidade, o Gestor em Agronegócios pode contratar


ou ainda, pode atuar como um Operador de Transportes
Multimodais – OTM, se responsabilizando pela carga de ponta a
ponta, sendo emitida uma única documentação para a carga,
independente do número de modais envolvidos. Trata- -se de uma
atividade mais pragmática e fácil, porém, pode ser mais onerosa,
por exigir um OTM dedicado.

Fonte: O autor (2019).

87
Uma das variáveis que in uencia negativamente em nosso custo logístico, além
da infraestrutura de citária, é a matriz de transportes brasileira. Para se ter uma
ideia, importantes players do agronegócio mundial, como Estados Unidos, China
e União Europeia possuem sua matriz majoritariamente formada pelos modais
ferroviário e aquaviário, o que lhes reduz o custo de transportes e, por
consequência, amplia sua competitividade.

Por outro lado, o Brasil possui sua matriz majoritariamente pautada no


transporte rodoviário. Isto representa um resquício das políticas públicas de
incentivo à indústria automobilística da década de 1950. Além de elevar o custo
de transportes, a malha rodoviária brasileira apresenta uma diversidade de
entraves: Má conservação do leito carroçável; Excesso de pedágios com valores
elevados; Integração de citária da malha rodoviária com entrepostos de
transbordo de cargas e pontos de apoio; Falhas de engenharia construtiva e de
sinalização vertical e horizontal.

Outrossim, a idade da frota de caminhões, o alto endividamento dos motoristas,


os custos com impostos e manutenção dos veículos e as inde nições jurídicas
sobre legislações que regulamentem os fretes são outras fontes de problemas
que tornam os transportes brasileiros pouco competitivos, re etindo,
consequentemente, no custo das cargas do agronegócio brasileiro.

Para que você possa compreender, com maior embasamento, a


problemática da matriz de transportes brasileira.

Acesse o link: Disponível aqui

88
Embora o Brasil apresente problemas logísticos severos que afetam o
Agronegócio, devemos ressaltar que houve evoluções no que tange à melhor
integração entre os modais, com a construção de novos entrepostos, novas
ferrovias, investimentos em hidrovias e, ainda, a criação de novos marcos legais
de desburocratização das parcerias público-privadas nos investimentos em
infraestrutura.

Também contribuíram para a melhoria da infraestrutura logística as concessões


de rodovias, ferrovias, aeroportos e portos à iniciativa privada. Contudo, ainda
existe um longo caminho a ser percorrido para que a logística brasileira possa
evoluir ao ponto de oferecer melhor competitividade ao Agronegócio brasileiro.

Outro ponto positivo a ser destacado é o planejamento sistêmico da logística no


Brasil. Atualmente, o desenvolvimento da Logística ligada ao Agronegócio tem
sido densamente discutido pelo serviço público de pesquisa agropecuária e por
universidades, de modo que já existem tratativas de promover investimentos
descentralizadores, que permitam o desenvolvimento mais veloz dos corredores
de exportação localizados no Centro-Norte brasileiro (Figura 14):

89
Figura 14 – Corredores de exportação de grãos no Brasil | Fonte: FILASSI,
OLIVEIRA & MAKIYA (2017).

90
Um corredor de exportação é conhecido por ser um sistema
interligado de transportes e armazenamento para escoamento de
produtos de alta concentração e grandes volumes, em que se visa
agilidade no escoamento para exportação ou consumo interno.

Fonte: PARDO (2019, p. 68).

Uma vez que o foco dos investimentos seja o Centro-Norte brasileiro, o


escoamento da produção das regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste ganhará
mais agilidade e um estratégico encurtamento de rotas, tanto para a União
Europeia quanto para a China. Estima-se que o encurtamento de rotas marítimas
seja da ordem de 2.000 a 4.000 quilômetros, caso os produtos agropecuários
sejam exportados pelos portos de Itaquí/MA e Pecém/CE.

Considerações Finais
Nosso objetivo, com esta unidade foi apresentar um panorama acerca da
logística brasileira e sua interação com o Agronegócio. Claro que os estudos
sobre o tema não se limitam aos assuntos expostos, porém, como estamos
apresentando os Fundamentos do Agronegócio, não há a necessidade, no
momento, de nos aprofundarmos no assunto.

Inclusive, em seu curso de graduação, você terá uma disciplina totalmente


dedicada a tratar desses assuntos e certamente você se aprofundará na
compreensão dos modais, dos corredores de exportação, da relação entre
logística e Cadeias Produtivas e Sistemas Agroindustriais, além de ter um

91
panorama detalhado sobre os sistemas de armazenagem de commodities, sobre
centros de distribuição e sobre tecnologias de rastreamento de cargas e
estoques. Certamente, você não perde por esperar!

Deste modo, encerramos nossa aula neste ponto e lhe convido a continuar sua
jornada do conhecimento comigo, em nossa próxima aula, quando discutiremos
sobre as características gerais do Agronegócio brasileiro.

92
11

O Agronegócio
Brasileiro
Caracterização do
Agronegócio Brasileiro
Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a)a nossa décima primeira aula. Depois de
debatermos acerca de um dos principais fundamentos (e gargalos) relacionados
ao Agronegócio, é chegada a hora de caracterizar o Agronegócio brasileiro.

Nossa evolução Agropecuária é bastante recente. Cronologicamente é alinhada


ao desenvolvimento das atividades agropecuárias dos demais países americanos
e é mais antiga que o desenvolvimento da agricultura nos países da Costa Leste
e Sul-africana e da agricultura da Oceania. Isso é devido aos processos de
colonização da Idade Moderna e Contemporânea.

Em um primeiro momento, em meados dos séculos XIII ao XVI, Portugal e


Espanha conduziram o primeiro movimento de colonização, chegando ao “Novo
Mundo”. Houve uxos de colonização partindo-se de outros povos, a exemplo
dos franceses no Canadá, Caribe e Norte da América do Sul, dos holandeses, dos
ingleses, especi camente nos Estados Unidos da América.

Já em meados do século XVIII, houve um segundo movimento de colonização


conduzido por ingleses e franceses, que evoluíram suas missões para antigas
colônias portuguesas na Costa Leste da África. Ademais, estes povos
colonizaram o Sul do continente africano, as ilhas de Madagascar, Reunião e
Maurício, outras ilhotas e, à luz do século XX, houve a colonização dos países da
Oceania, mais especi camente, Austrália e Nova Zelândia.

Isto não quer dizer que o Agronegócio brasileiro seja mais desenvolvido que o
Agronegócio de outros países mais recentemente colonizados ou menos
desenvolvido que países europeus, ou mesmo, asiáticos, que possuem um longo
relacionamento com a agricultura.Cada país possui grande in uência em cadeias
produtivas e sistemas agroindustriais especí cos. O Brasil é um país bem
sucedido no Agronegócio por outros fatores, os quais discutiremos a seguir.

94
O Brasil como um país agroexportador
Não é necessário se aprofundar em literaturas mais direcionadas para
reconhecer que o Brasil passou por grandes ciclos econômicos relacionados à
produção agropecuária. Durante a época colonial, de 1532 a 1808, quando o
Brasil se tornou um Reino Unido a Portugal, dada a vinda da Família Real
Portuguesa, o Brasil passou por dois ciclos econômicos relevantes relacionados
ao Agronegócio.

O primeiro teve o caráter extrativista, relacionado à produção orestal (Ciclo do


Pau-Brasil). Agostini et al. (2013) estabelece que a exploração do pau-brasil se
iniciou antes mesmo da época colonial, em 1501 e, tamanha era a voracidade
pela madeira, que estima-se que uma faixa de 100 quilômetros, a partir do litoral
brasileiro (em algumas regiões), houve a exploração que tornou a madeira
escassa em menos de 100 anos.

O segundo foi considerado como uma atividade agrícola, uma vez que é
relacionado à produção de uma commodity: Ciclo da Cana-de-açúcar. Ocorrido
entre os séculos XVI e XVIII, especialmente no Nordeste brasileiro, promoveu
mudanças radicais nos padrões de ocupação das terras e, ainda, estabeleceu o
Brasil como o maior exportador agrícola de uma commodity no mundo. A
economia brasileira dependia das exportações do açúcar e isso movimentava
capital em diversos núcleos produtivos no Brasil.

Por sua vez, o terceiro ciclo relacionado ao Agronegócio já não era exclusividade
do período colonial, sendo compartilhado entre o período imperial e republicano
(séculos XIX e XX): Ciclo do Café.

Mais uma vez, o Brasil se tornara o maior exportador de uma commodity


agrícola, desta vez, porém, tendo concentração de produção no Centro-Sul
brasileiro. Com as divisas obtidas por meio das exportações de café, houve a
consolidação da economia brasileira como uma economia agroexportadora,
mesmo antes da Revolução Verde. Ademais, graças ao café, houve uma nova
transformação dos padrões de ocupação territorial no Brasil, o que promoveu
uma modi cação do eixo de desenvolvimento econômico para São Paulo e Rio
de Janeiro.

95
Com a implementação das tecnologias da Revolução Verde e com o
arrefecimento das exportações de café, o Brasil entrara em um novo período de
desenvolvimento agropecuário, mais diversi cado e pautado na implementação
das cadeias produtivas, sistemas agroindustriais e na produção de commodities
como milho, algodão e a recém-chegada soja.

Ao longo da década de 1980 e 1990, houve os movimentos migratórios internos


ao país, os quais permitiram o deslocamento espacial dos plantios, aproveitando
o custo de oportunidade das terras do cerrado brasileiro. Portanto, o
Agronegócio brasileiro acentuou seu caráter agroexportador, pela evolução de
produção de produtividade nas Novas Fronteiras Agrícolas e, mais
recentemente, nas Novíssimas Fronteiras Agrícolas, que incluem estados que até
então, não se imaginava ser possível conduzir atividades agropecuárias, dadas as
condições de solo e clima mais restritivos. Os estados em questão são:
Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, formando a pujante região conhecida por
MATOPIBA (Figura 15).

Figura 15 – Novíssimas Fronteiras Agrícolas e a Região do MATOPIBA | Fonte:


EMBRAPA (2019). Disponível aqui

O resultado desta evolução histórica é que a Agropecuária brasileira ocupa uma


área considerável de nosso território, com elevada produtividade, com ampla
inserção de tecnologias e com uxo de capital su ciente para investimentos nos

96
fatores de produção. Além disso, esta evolução histórica colocou o Brasil em
posições de destaque nas exportações, conforme destacado por USDA (2019,
apud MAPA, 2019):

Brasil - Ranking Mundial


Principais Produtos
Produção Exportação

Açúcar 1º 1º

Café 1º 1º

Suco de Laranja 1º 1º

Carne Bovina 2º 1º

Carne de Frango 2º 1º

Milho 3º 3º

Soja Grão 2º 1º

Farelo de Soja 4º 2º

Óleo de Soja 4º 2º

Algodão 4º 2º

Carne Suína 4º 4º

Quadro 1 – Posição do Brasil no mercado mundial de commodities | Fonte: USDA


(2019, apud MAPA, 2019).

Não somente as cadeias produtivas dispostas no Quadro 1 são destaque.


Existem variadas cadeias produtivas que, embora não se posicionem com
volumes de exportação tão elevados, possuem qualidade reconhecida no

97
mercado mundial, a exemplo da fruticultura, da produção de pescados, da
silvicultura e produtos orestais, papel e celulose, seda e cachaça.

O Brasil como um país abastado em


recursos
Outro motivo que explica esta elevada importância do Agronegócio brasileiro é a
disponibilidade de recursos naturais e a distribuição geográ ca do território
brasileiro.

O Brasil possui uma das maiores biodiversidades do mundo e apresenta 12%


das reservas de água doce do planeta (ANA, 2019). Além disso, sua
disponibilidade hídrica não se resume somente aos corpos d’água super ciais,
mas também aos seus aquíferos. Estima-se que o Brasil possua 27 aquíferos,
sendo os mais relevantes, os aquíferos de Alter do Chão, no Norte e o Aquífero
Guarani, localizado no centro-sul brasileiro (ANA, 2019).

Também, por ser um país que se estende de norte a sul, em um amplo território,
existe uma diversidade de biomas e microclimas diferenciados, que permitem o
cultivo de dezenas de espécies vegetais de interesse econômico e a condução de
um conjunto robusto de espécies animais (aves, suínos, caprinos, ovinos,
bovinos, peixes, bubalinos e outras explorações, como carnicicultura, ranicultura,
aquicultura, sericicultura, cunicultura, dentre outros).

98
Alguns dos termos que utilizamos acima podem não ser de seu
conhecimento. Assim, vamos às suas de nições: a)
Bubalinocultura –criação de búfalos; b) Carnicicultura – criação de
crustáceos; c) Ranicultura – Criação de rãs; d) Aquicultura – Criação
de animais aquáticos, anfíbios ou répteis (jacarés); e) Sericicultura
– Criação do Bicho-da-seda; f) Cunicultura – Criação de Coelhos.

Fonte: O autor (2019).

Soma-se a isso a capacidade empreendedora de nossa agropecuária, que


desenvolve suas cadeias produtivas a ponto de extraírem, de pequenas áreas, o
sustento de suas famílias, sendo capazes de gerar empregos e renda. São
exemplos desta capacidade empreendedora a agroindustrialização, turismo
rural e serviços ambientais.

Desse jeito, não é exagero cantarolar que “em nossa terra, tudo que se planta,
dá”, parafraseando uma música de uma dupla sertaneja que fez muito sucesso
na década de 1990, uma vez que temos condições climáticas ideais para
conduzir satisfatoriamente as atividades agropecuárias.

99
Na atualidade, o Brasil é o segundo maior produtor de
biocombustíveis, perdendo apenas para os Estados Unidos. No
entanto, no caso norte-americano, percebe-se que a produção de
biocombustíveis é pouco diversi cada (deveras concentrada na
produção de etanol de milho) e altamente subsidiada.

Por outro lado, o Brasil possui uma maior diversi cação na


produção de biocombustíveis, pois produz etanol advindo da
cana-de-açúcar e do milho e produz biodiesel a partir da soja e de
outras plantas oleaginosas.

O Brasil ainda é um dos maiores produtores de lenha e de carvão


vegetal, dada a sua desenvolvida silvicultura e ainda, tem um
grande aproveitamento dos resíduos para a produção de energia,
a exemplo do biogás advindo da compostagem de resíduos
animais, da eletricidade, advindo da queima do bagaço de cana e
de mais etanol, se aproveitando de fontes alternativas como o
sorgo e o milheto, e ainda, se aproveitando da tecnologia do
Etanol 2.0, que se utiliza dos carboidratos estruturais das plantas,
reduzindo-os para a produção de etanol.

Deste modo, uma das vertentes que devem ser estudadas a fundo
por futuros Gestores em Agronegócios é o setor de
biocombustíveis e bioenergia.

Fonte: O autor (2019).

100
Demais condições que tornam o Brasil
pujante no Agronegócio
Sendo um país de vocação agropecuária, o Brasil apresenta condições avançadas
no quesito tecnologia. Deixamos de ser um mero importador de tecnologias
para desenvolver nossas próprias tecnologias. Isto se deveu, em grande parte,
aos investimentos governamentais em pesquisa agropecuária, advindos de
centros dedicados ao tema, como a Embrapa, ou de centros de pesquisa de
universidades públicas. Ademais, os institutos privados de pesquisa e a inserção
das multinacionais em nosso território acentuou a produção de tecnologias
agropecuárias, colocando o Brasil na vanguarda tecnológica do Agronegócio.

Além disso, o desenvolvimento de políticas públicas de nanciamento produtivo,


de Assistência Técnica e Extensão Rural (um dos únicos países que oferece este
serviço de forma gratuita) e a capacidade empreendedora de nossos produtores
rurais, sempre em busca de inovações, faz com que o Brasil tenha plenas
condições de se tornar a maior potência do Agronegócio Mundial.

É fato que o Brasil ainda apresenta problemas estruturais, jurídicos, degradação


ambiental, severos problemas logísticos e instabilidades econômicas. Contudo,
tais problemas atualmente são pequenos, frente aos avanços obtidos pelo
Agronegócio brasileiro e suas tendências de evolução tecnológica. Dessa forma,
não é uma vã ideologia apostar que o Agronegócio brasileiro representará o
papel de “celeiro do mundo”.

101
Para que você possa ter uma ideia das projeções do Agronegócio
brasileiro para os próximos dez anos e conferir a pujança deste
setor econômico.

Acesse o link: Disponível aqui

Espero que, com esta abordagem, você tenha vislumbrado a importância do


Agronegócio brasileiro, conhecendo-o e compreendendo, especialmente, sua
diversidade e perspectivas. Em nossa próxima aula, faremos uma breve
abordagem sobre o Agronegócio Mundial, demonstrando seu dinamismo e
apresentando seus principais players.

102
12

O Agronegócio
Mundial
O Cenário Produtivo Mundial
Caro(a) aluno(a), você já parou para pensar em qual cenário o Agronegócio atua?
Quantas pessoas existem no mundo para serem alimentadas por meio das
atividades relacionadas ao Agronegócio? Quantas culturas existem para esta
nalidade? Qual a área disponível para o plantio? São muitas as perguntas que
devem ser realizadas para se contextualizar o cenário no qual o Agronegócio
mundial atua.

Normann Ernst Boulaug, Engenheiro Agrônomo norte-americano conhecido


como “Pai da Revolução Verde”teve estas mesmas dúvidas quando elaborou
todo o arcabouço teórico para desenvolver o seu modelo tecnológico. Não que
nós tenhamos a mesma pretensão, mas é importante re etir sobre o cenário e a
evolução do Agronegócio mundial, para que possamos formular hipóteses para
tempos futuros.

Para que possamos compreender a atual realidade do Agronegócio mundial,


vamos visualizar alguns dados relevantes (DUARTE, 2019, adaptado; FAO, 2019,
adaptado; O autor, 2019):

A população mundial é de, aproximadamente,7,3 bilhões de habitantes;


A população prevista para o ano de 2050 é de pouco mais de 9 bilhões de
habitantes;
Em termos de tomassa produzida, a cultura da cana-de-açúcar é líder,
com 24% do total. Logo na sequência, aparecem a cultura do milho, arroz,
trigo e batata, com percentagens respectivas de 12,87%, 9,33%, 8,99% e
4,73%;
Mais de 90% dos cereais produzidos no mundo correspondem apenas a
quatro espécies, sendo o milho com 36,3% do volume total, seguido das
culturas de trigo, arroz e soja, com os respectivos percentuais de 26,3%,
16,9% e 12,2%;
Uma em cada nove pessoas está exposta a uma situação de grave
insegurança alimentar, que se agrava na medida em que há um
estreitamento da base genética da agropecuária, dando-se preferência à
produção de commoditiesao invés de se produzir culturas locais
agroalimentares;
O uxo das exportações agropecuárias se elevou em cinco vezes nas
últimas cinco décadas. Levando-se em conta o cenário de insegurança

104
alimentar e o fato de 10,9% da população mundial sofrer desnutrição
severa, chega-se a conclusão de que os uxos de comercialização são
centralizados e mal distribuídos;
Embora tenha havido uma evolução na ocupação de mulheres che ando as
produções agropecuárias, ainda se percebeum potencial não explorado.
Caso as mulheres tivessem condições de acessar recursos produtivos para
a aquisição de insumos e de tecnologias produtivas, estima-se que a
produção advinda de seus sistemas produtivos poderia alimentar mais de
100 milhões de habitantes;
Em termos de marketshare de valor das exportações agropecuárias, a
primeira posição é ocupada pela União Europeia, com 41,1%. Já Estados
Unidos, Brasil e China completam este seleto grupo com as respectivas
porcentagens de 11,0%, 5,7% e 4,2%. Tal fato indica que existe ampla
vantagem da União Europeia nas exportações de produtos agropecuários
já processados. A realidade de Estados Unidos e Brasil é bem diferente:
Suas exportações estão concentradas em commodities de baixo valor
agregado, especialmente soja e milho;
Em ordem, os maiores importadores de produtos agropecuários são:
China, Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Japão, França, Itália, Bélgica,
Canadá, Espanha, Índia e México;
Em ordem, os maiores exportadores de produtos agropecuários são:
Estados Unidos, Holanda, Brasil, Alemanha, França, Espanha, Canadá,
China, Bélgica, Itália, Austrália e Indonésia;
Em parte, a presença dos mesmos países nos rankings de importação e
exportação reforçam a tese de que tais países importam matérias-primas
de menor valor agregado e exportam produtos processados de maior valor
agregado. Esta lógica vale para os países da União Europeia e ainda, para a
China;
Considerando a comparação entre áreas e produção de cereais no
princípio do século XXI (safra 2002/03) com os dados da safra 2016/17,
chega-se a conclusão de que houve um discreto aumento de área
produzida (12,76%) enquanto o aumento de produção foi elevado (41,5%).
Isto permite concluir que os investimentos da pesquisa agropecuária estão
direcionados para o melhoramento genético das culturas, propiciando-lhes
fenótipos mais adequados ao enfrentamento das intempéries
edafoclimáticas;
Há um cenário perigoso em termos de produção de soja e milho, duas das
principais commodities comercializadas no mundo: Quatro países (Estados
Unidos, China, Brasil e Argentina) transacionam mais de 80% destas
commodities em nível mundial. Qualquer problema produtivo ou
econômico ligado a um destes países pode promover consequências

105
negativas para o mercado como um todo, elevando demasiadamente seus
preços e os custos de produção de todas as cadeias produtivas que
dependem destas commodities como insumo, a exemplo das cadeias
produtivas da avicultura, suinocultura e bovinocultura;
Estima-se que o valor bruto total do Agronegócio mundial se aproxime de
US$ 13,2 trilhões para o ano de 2025, com 80% deste valor sendo gerado
pelo setor “depois da porteira”.

Todas as informações apresentadas tentam resumir o dinamismo do


agronegócio mundial. Por meio de tais informações, podemos concluir que o
Agronegócio é altamente rentável, por movimentar, na atualidade, cerca de US$
11 trilhões, distribuídos majoritariamente no segmento “pós-porteira”. Nos
demais segmentos, estima-se uma distribuição semelhante (cerca de 10% deste
valor está concentrado no segmento “antes da porteira” e 10%, no segmento
“dentro da porteira”). Assim, estima-se que US$ 1,1 trilhão estejam relacionados
às atividades “dentro da porteira” (DUARTE, 2019, adaptado; FAO, 2019,
adaptado).

Esta é uma tendência que se repete especialmente nos países que possuem suas
atividades agropecuárias pautadas na produção de commodities, como é o caso
do Brasil. De certo modo, isto re ete uma tendência criada a partir do nal da
Segunda Guerra Mundial, em que os países do Hemisfério Norte se
especializariam na produção tecni cada e de alto valor agregado, considerando
o Agronegócio e o setor Industrial, enquanto que os países do Hemisfério Sul
seriam os “celeiros do mundo”.

Embora os dados respeitem esta tendência, é importante frisar que há um


amadurecimento dos países de economia pautada na Agropecuária. O caso
brasileiro, avaliado em nossa aula anterior, é um exemplo desse
amadurecimento. Com importantes avanços em tecnologias produtivas e com a
ampla inserção do conceito de Agritech e Agricultura 4.0, espera-se que haja um
pleno desenvolvimento do setor “antes da porteira”.

Ao mesmo tempo, com o amadurecimento dos produtores rurais e o


reconhecimento da importância da agregação de valor “dentro da porteira”,
certamente a distribuição dos valores brutos de produção tendem a encontrar
um novo estado de equilíbrio, mais próximo dos países desenvolvidos.

106
A guerra comercial entre Estados Unidos e China e suas
reverberações no mercado mundial de commodities estão sendo
sentidas pelos produtores rurais ao redor do mundo. Há 20 meses
esta guerra se estende e aparentemente seu m não parece
próximo. Neste sentido, os Gestores em Agronegócios precisam
estar conscientes das movimentações econômicas globais para
propiciar a melhor tomada de decisão junto aos seus clientes.

A nova realidade de mercado é a de foco no produto, uma vez que


os investidores estão bastante cautelosos com investimentos
ligados a contratos de fornecimentos de produtos agropecuários
nas bolsas de valores. Assim, espera-se que os valores do mercado
físico estejam em elevação. Outrossim, uma vez que barreiras têm
sido impostas entre os dois países, o Brasil surge como um
elemento “gravitacional” do mercado mundial, atraindo para si os
ativos dos ávidos importadores de soja, os quais somente voltarão
a comprar soja norte-americana se as barreiras comerciais ruírem
ou se houver falta do produto no mercado brasileiro.

Dessa forma, que atento ao mercado de commodities, pois se o


“dragão chinês” está com fome, é hora de o Brasil assumir o
protagonismo de alimentá-lo, com produtos de qualidade e com
valores mais apreciados na hora da exportação.

Fonte: O autor (2019).

Outro cenário de destaque relacionado às informações apresentadas (DUARTE,


2019, adaptado; FAO, 2019, adaptado; O AUTOR, 2019) é o da má distribuição de
alimentos. As quantidades produzidas satisfazem à população mundial, contudo,

107
existem falhas na distribuição das áreas produtivas (muitos países não contam
com condições climáticas adequadas para produzir ou ainda, não dispõem de
recursos hídricos de modo satisfatório) e, ainda, falhas na distribuição dos
alimentos em si.

Do mesmo modo, produzir alimentos e nutrir são situações distintas.Após a


Revolução Verde e seu movimento tecnológico, a produção mundial foi
direcionada para a produção de cereais, dada a sua facilidade de transporte e
armazenamento e, ainda, dado o potencial de se trabalhar com adensamentos
populacionais das plantas em nível de campo.

Contudo, os nutrientes disponíveis nestes cereais podem não corresponder às


necessidades nutricionais dos seres humanos, de maneira que é imperativo
repensar os modelos de produção para diversi cá-los ao ponto de permitir a
permanência de culturas agroalimentares, como é o caso da batata, feijão,
mandioca e outros alimentos ricos em nutrientes, capazes de ampliar a
segurança alimentar e nutricional das populações.

Por m, um segmento que ainda exige atenção é o de agroenergia. O


agronegócio ainda é muito pautado na produção de alimentos, todavia, há a
necessidade de se re etir sobre o andamento das produções de biocombustíveis
e de agroenergia, aos moldes em que o Brasil executa atualmente.

Em termos quantitativos, os Estados Unidos são os maiores produtores de


biocombustíveis no mundo, contudo, densamente focados no etanol advindo do
milho. Há a necessidade de se voltar o planejamento do agronegócio para o
atendimento da produção de energia, seja por biocombustíveis ou diretamente
na produção de energia, a exemplo do que é realizado na cadeia produtiva da
cana-de--açúcar no Brasil, onde a energia é produzida por meio da queima do
bagaço de cana.

108
Agroenergia é um termo recente que se refere à produção de
energia elétrica por meio de uma atividade agropecuária. Por
exemplo, a produção de biogás está no contexto da agroenergia,
uma vez que sua queima movimenta turbinas capazes de gerar
energia.

Fonte: O autor (2019).

Ainda existem outras tendências que merecem discussão, a exemplo da


produção mais limpa, da redução da pegada de carbono das atividades
agropecuárias, dos serviços ambientais,além da produção orgânica. Contudo,
esses itens serão melhor discutidos em nossa última aula, quando abordaremos
as tendências do Agronegócio para o futuro.

Aprenda mais sobre as interferências da Guerra Comercial entre


Estados Unidos e China no contexto da economia mundial. Assista
ao vídeo disponibilizado a seguir.

Acesse o link: Disponível aqui

109
Com isso chegamos ao nal de nossa décima segunda aula, onde reconhecemos
o panorama do Agronegócio mundial. Não é nossa pretensão esgotar o assunto,
mas espero que, com as informações apresentadas, você possa ter uma ideia do
comportamento desse setor econômico e suas in uências sobre o Agronegócio
brasileiro.

Em nossa próxima aula trabalharemos o tema “Comercialização de commodities”,


o que nos permitirá compreender os mecanismos que são utilizados nas
transações comerciais de nossos principais produtos agropecuários. Um forte
abraço e bons estudos!

110
13

Comércio
Internacional de
Commodities
Aspectos Gerais da
Comercialização
Internacional de
Commodities
Prezado(a) aluno(a), chegamos a nossa décima terceira aula e por meio de
nossas discussões, abordaremos o processo de comercialização do commodities
em nível internacional.

Não se trata de um processo complicado, a nal, a comercialização e a formação


de preços no mercado físico é uma função da clássica lei de oferta e demanda.

Em termos mais simples, a lei de oferta e demanda estabelece que


os preços de um determinado produto variam de acordo com
duas variáveis antagônicas: oferta e demanda. Quando a oferta de
um determinado produto supera a demanda de seus
consumidores, o preço desse produto cai. Por outro lado, quando
a demanda supera a oferta, os preços pagos pelo produto tendem
a aumentar.

Fonte: O autor (2019).

112
Além da lei da oferta e da demanda, os preços das commodities sofrem
in uências mercadológicas e técnicas, as quais são chamadas de “variáveis
especulativas”. São exemplos destas variáveis:

Previsões climáticas;
Relatórios de andamento de safras, liberados por agentes conhecidos no
mercado, como o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos –
USDA;
Estoques internacionais da commodity;
Previsões de demanda das cadeias produtivas que dependem da
commodityque será comercializada;
Barreiras comerciais.

Independentemente das variáveis mercadológicas e técnicas, os preços das


commodities também variam ciclicamente, de forma anual, de acordo com a
sazonalidade. Em nosso livro, já demonstramos os efeitos da sazonalidade
quando falamos a respeito dos insumos, em nossa quinta aula. Vou tomar a
liberdade de inserir novamente uma das imagens que ilustramos naquela
oportunidade para lhe demonstrar os efeitos da sazonalidade sobre os preços
de uma commodity (Figura 16):

Figura16 – Sazonalidade de produção e de preços para a cultura do milho |


Fonte: CRESPOLINI (2018). Disponível aqui

Observe o exemplo da Figura 16, aplicado sobre a cultura do milho. Podemos


interpretar que, entre os meses de abril a agosto, os preços pagos por esta
commodity são mais baixos em relação aos meses de setembro a janeiro. Os
preços são mais elevados neste último período destacado devido ao fato de o
produto não estar circulando ativamente no mercado e quaisquer necessidades,

113
no geral, são abastecidas pelo milho armazenado ou importado. Por sua vez, no
primeiro período destacado (abril a agosto), os preços são mais baixos por
termos ativos (milho) circulantes no mercado.

Assim, podemos a rmar que os preços das commodities são formados:

a. Pela Lei da Oferta e da Demanda;


b. Pelas “Variáveis Especulativas”; e,
c. Pela sazonalidade.

Porém, perceba que não é o produtor que forma o preço de seu produto. Isto
seria normal no caso de produtos que não possuem a característica de serem
commodities. Neste caso, a formação do preço de venda de um produto levaria
em conta os custos de produção, os custos de transação, margem de lucro e
tempo de retorno dos investimentos, caso sejam feitos. No caso de uma
commodity é o mercado internacional que leva em consideração os grupos de
variáveis apresentados, analisados em conjunto, para formar o preço.

Nesse caso, quais seriam as estratégias que poderiam ser utilizadas pelos
Gestores em Agronegócios para que o produtor rural possa manter uma
sustentável margem de lucro? Parece um questionamento de difícil resolução,
mas temos algumas dicas:

a. Sair do mercado de commodities, agregando valor ao produto principal,


dando-lhe características particulares. Isto signi ca deixar de lado algumas
das facilidades em se comercializar commodities, dentre as quais, utilizar
agentes de mercado para comercializar a commodity.
b. Permanecer no mercado de commodities, conhecendo alternativas diversas
ao mercado físico.

A primeira solução já fora densamente discutida por meio do nosso material e,


ainda, faremos discussões adicionais nas próximas aulas. Depois, faremos uma
discussão mais centrada no conhecimento de alternativas ao mercado físico e,
também apresentaremos alguns atores importantes que nos ajudam a
comercializar as commodities.

114
Atores e Alternativas para a
Comercialização de
Commodities
Quando falamos a respeito do mercado físico, estamos nos referindo ao simples
fato de comercializar os lotes de uma commodity de acordo com os preços atuais
do mercado. No geral, os lotes são comercializados de acordo com a unidade
tonelada, porém, admite-se fracionamentos de lotes, dependendo da commodity
em questão. Veja alguns exemplos de unidades fracionadas de lotes a seguir:

Cereais: sacas de 60 quilos;


Açúcar: sacas de 50 quilos;
Algodão e Bovinos: arroba (15 quilos);
Cereais (em nível internacional): bushel (com massa variável de acordo com
a commodity).

Apenas por curiosidade, um Bushel (Figura 17) é uma unidade britânica xa de


volume. Trata-sede um vasilhame de cobre que pode comportar uma massa
especí ca de grãos, variável de acordo com o volume ocupado pelos
mesmos.Considerando as culturas de soja e trigo, a massa de um Bushel
equivale a 27,22 quilos. Por sua vez, quando consideramos a cultura do milho, a
massa de um Bushel equivale a 25,40 quilos.

115
Figura 17 – Representação de um Bushel | Fonte: WIKIPEDIA (2019).
Disponível aqui

Além da opção do mercado físico, existem três outras opções de comercialização


que podem convir ao produtor rural e merecem sua atenção(SILVA, 2019):

a. Mercado a termo: O mercado a termo representa uma aproximação entre


um fornecedor de uma commodity e um comprador, sendo sua relação
mediada por meio de um contrato. Neste contrato há a xação do valor da
cotação de venda para entrega total ou parcelada de lotes de uma
commodity. Além disso, há a xação das quantidades a serem
comercializadas e as características desejadas do produto. A compra ou
venda da commodity não acontece imediatamente e o contrato é que vai
estabelecer a data-limite desta transação.
b. Mercado futuro: Também chamado de mercado de derivativos,
representa uma evolução do mercado a termo. Neste caso, novamente a
relação entre vendedor e comprador é mediada por um contrato com
liquidação futura e com preço pré- xado. No entanto, diferentemente do
contrato de mercado a termo, prevê-se a possibilidade de ajustes do preço
pré- xado de acordo com a cotação do dia de liquidação. Caso a cotação
do mercado físico esteja mais baixa que o valor pré- xado, o vendedor
recebe a diferença. Por outro lado, caso o valor do mercado físico esteja
acima do valor pré- xado, o comprador recebe a diferença.

116
c. Mercado de opções: Neste caso, observamos uma pequena variação
frente aos métodos anteriores. O comprador adquire o direito (porém não
é obrigado a fechar negócio) de comprar uma determinada commodity por
um valor pré- xado em qualquer data dentro do prazo de vencimento do
contrato. Assim, havendo uma previsão de aumento no preço da
commodity, o comprador se previne do fato de ter de desembolsar mais
recursos para adquirir os lotes da commodity Trata-se de um método mais
exível frente aos demais, pois não estabelece uma data xa de liquidação
do contrato.

Considerando as informações dispostas por Silva (2019), podemos inferir que o


mercado a termo, o mercado futuro e o mercado de opções apresentam formas
de pre xação dos preços de venda e possibilitam maior previsibilidade dos
lucros a serem auferidos pelos produtores rurais. No entanto, o mercado a
termo e o mercado futuro possuem uma única data de liquidação do contrato e
o mercado de opções possui um período, até a data-limite do contrato, para sua
liquidação. Ainda, somente os contratos de mercados futuros é que permitem
ajustes nos valores a serem recebidos, tanto pelo comprador como pelo
vendedor da commodity.

117
Além destas opções, existe a opção conhecida por Barter ou
Relações de Troca. Não se trata exatamente de uma opção de
comercialização de uma commodity, mas é uma opção para
aquisição de insumos, muito utilizada por produtores cooperados.
Nesta modalidade, o produtor tem a liberdade de adquirir todos
os insumos e tecnologias necessárias à sua produção. Uma vez
que este produtor comercializa sua produção com a cooperativa a
qual ele é cooperado, a cooperativa converte sua produção em um
valor e abate deste valor os custos com os insumos. Tal
modalidade é interessante para os produtores que não dispõem
de capital de giro para investir por conta própria na aquisição de
seus insumos.

Fonte: O autor (2019), baseado nas informações de SILVA (2019).

Independentemente da forma escolhida para a comercialização das commodities


devemos adiantar que não é o produtor rural que transaciona seus lotes de
maneira direta com os compradores, mesmo que isto pareça verdade quando o
produtor rural entrega sua produção em uma cooperativa ou cerealista.

Os lotes das commodities são comercializados por meio de corretores no


mercado livre, dentro da bolsa de valores, ou ainda, corretores que possuem
contato direto com compradores em nível nacional ou internacional, quando
suas cooperativas ou cerealistas possuem distribuição exclusiva a um
comprador ou grupo de compradores.

Desse modo, quem negocia os contratos nas modalidades de mercado é


chamado de trader e sua função é chamada de trading.

118
Grandes produtores possuem contato direto com Gestores de Agronegócios
dentro de corretoras especializadas. Estes gestores agem como traders trazendo
as melhores opções de contratos para comercializar as commodities produzidas.
Por sua vez, produtores de porte médio ou pequeno que estão no mercado de
commodities se utilizam das estruturas de suas cooperativas como uma forma de
negociar seus produtos, garantindo praticidade neste processo.

Você gostaria de conhecer o papel da Bolsa de Mercadorias e


Futuros – BM&F Bovespa, no mercado de commodities
agropecuárias?

Acesse o link: Disponível aqui

Considerações Finais
Você percebeu como a comercialização de commodities pode ser interessante?
São vários fatores e opções que devem ser levados em conta, em uma atividade
na qual você, futuro(a) gestor(a)de Agronegócios, deve desenvolver sua
habilidade de prospectar as melhores soluções aos seus clientes e, ao mesmo
tempo, negociar os termos de contratos para que o produtor rural ou sua
empresa possam ter uma margem de lucro honesta e sustentável.

Em nossa próxima aula, continuaremos a desvendar os Fundamentos do


Agronegócio, abordando um tema bastante especial: O papel da Agricultura
Familiar junto ao Agronegócio. Não perca, pois teremos excelentes discussões!
Até lá!

119
14

A Agricultura
Familiar e o
Agronegócio
O Agricultor Familiar
Prezado(a) aluno(a), seja bem-vindo(a) a nossa antepenúltima aula do livro de
Fundamentos do Agronegócio. Como nas demais aulas, é muito bom contar com
sua atenta leitura e companhia.

Esta é uma aula bastante especial, pois vamos falar a respeito de um segmento
fundamental no Agronegócio, formado por homens e mulheres, jovens, adultos
e idosos que, dia após dia, contribuem verdadeiramente para nutrir as famílias
brasileiras e até mesmo de outros países: Os Agricultores Familiares.

Você sabe quem pode ser classi cado como um Agricultor Familiar?

A Lei Federal 11.326/2006, mais conhecida como Política Nacional


de Agricultura Familiar, estabelece os critérios para que um
agricultor possa ser considerado como Agricultor Familiar.
Ademais, esta lei é uma espécie de “porta de entrada” para
caracterizar este público como prioritário em uma série de outras
políticas públicas de fomento e assistência produtiva.

Fonte: O autor (2019).

Brasil (2006, s/n) de ne quem é o Agricultor Familiar da seguinte forma:

(...)

Art. 3º. Para os efeitos desta Lei, considera-se agricultor familiar e

121
empreendedor familiar rural aquele que pratica atividades no meio
rural, atendendo, simultaneamente, aos seguintes requisitos:

I - não detenha, a qualquer título, área maior do que 4 (quatro) módulos


scais;

II - utilize predominantemente mão-de-obra da própria família nas


atividades econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento;

III - tenha renda familiar predominantemente originada de atividades


econômicas vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento;

IV - dirija seu estabelecimento ou empreendimento com sua família.

(...)

BRASIL (2006, s/n).

Além dos Agricultores Familiares, estão representados pela Lei Federal


11.326/2006 (BRASIL, 2006)com o mesmo status, os quilombolas, ribeirinhos,
aquicultores, extrativistas, indígenas, pescadores e silvicultores, desde que
atendam aos preceitos do Parágrafo 2º da referida lei.

Uma questão que nos serve para re exão é destacada por Costa (2019), em sua
análise sobre os precedentes da Revolução Verde no Brasil. Segundo Costa
(2019), os Agricultores Familiares já existiam historicamente e se utilizavam das
terras para prover o seu sustento e o de sua família. Com o surgimento da
Revolução Verde e seu pacote técnico e tecnológico, iniciou-se um processo de
segregação que gerou uma nova categoria de agricultores: Os Agricultores
Patronais.

Os Agricultores Patronais tiveram todo o sistema de Pesquisa, Desenvolvimento,


Inovação e Financiamento desenhado para a transformação de seus sistemas
produtivos, o que lhes permitiu adentrar e contribuir com o mercado
agroexportador de commodities.

Por outro lado, os Agricultores que resistiram no campo, com seus modelos
tecnológicos e saberes tradicionais criaram uma massa crítica de reatividade que
passou a questionar o escancarado direcionamento das políticas públicas a um

122
segmento de agricultores recém-criado (COSTA, 2019).

Com a ampliação da pobreza dos agricultores que não seguiam os modelos da


Revolução Verde e com o agravamento do processo de concentração de terras e
de renda no campo, houve a de agração de importantes revoltas no campo,
acentuadamente em 1994, com intensa ação dos movimentos sociais
camponeses. Este movimento cou marcado na história como o “Grito da Terra”
(COSTA, 2019).

Dadas as tristes consequências desse movimento, inclusive, com dezenas de


mortos e feridos, nalmente o Governo brasileiro visualizou a necessidade de
“criar” um novo segmento de Agricultores e de políticas públicas a rmativas
direcionadas a este “novo segmento”.

Deste modo, em 1996, esta nova categoria fora denominada como “Agricultura
Familiar” e nalmente fora criada uma política de fomento que atendia
especi camente às suas peculiaridades. Tratou-se do Programa Nacional de
Fortalecimento da Agricultura Familiar – PRONAF (COSTA, 2019).

Desde então, houve uma ampliação das políticas públicas direcionadas a esses
agricultores, sendo a “cereja do bolo” a criação de uma lei, já em 2006 (Política
Nacional da Agricultura Familiar, conforme abordamos) que a rmou
de nitivamente em nosso arcabouço jurídico, a denominação “Agricultura
Familiar”.

Desta maneira, houve o reconhecimento do papel da Agricultura Familiar no


contexto das atividades agropecuárias brasileiras.

123
Afinal, a Agricultura
Familiar faz Parte do
Agronegócio?
O questionamento que inaugura esta nova etapa de nossa aula é bastante
pertinente, quando consideramos o campo ideológico de análise. Você deve se
lembrar que, em um determinado ponto do tópico anterior, nos referimos ao
princípio do processo de reatividade daqueles agricultores que resistiam ao
modelo tecnológico da Revolução Verde. Justamente parte destes produtores
“resistentes” inaugurou aquilo que conhecemos hoje por “movimentos sociais
campesinos”.

As lutas sociais camponesas no Brasil podem ter sua gênese ligada à década de
1950, com as Ligas Camponesas (GRYNSZPAN, 2019). No entanto, a maior
reatividade desses camponeses ocorreu no princípio da década de 1980 e o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST é um dos representantes
desta movimentação social.

Esses movimentos defendiam melhores condições de produção no campo,


respeitando-se a gênese da agricultura enquanto atividade que possui modelos
tecnológicos próprios, peculiares e solidários, os quais não poderiam ser
simplesmente apagados e sobrepujados por modelos tecnológicos que
representam o grande interesse pelo capital e a transferência das riquezas do
campo para corporações multinacionais.

Assim sendo, o modelo tecnológico defendido pelos movimentos sociais


campesinos e que encontrou grande apoio acadêmico da área de humanas e
das agrárias, ganhou a alcunha de “alternativo”, com grande in uência dos
pensamentos ligados à integralidade humana e ao holismo.

Eis então que as disputas ideológicas começaram, partindo-se meramente de


uma disputa de conceitos, em que as falhas dos modelos tecnológicos eram
expostas e contrapostas. As disputas conceituais estavam ligadas à Segurança
Alimentar e Nutricional e nenhum dos modelos, de fato, era capaz de entregar

124
uma solução perfeita para a alimentação humana. Contrapunha-se, de um lado,
um modelo que prezava a produção de alimentos em escala com soluções
técnicas questionáveis quanto à qualidade do alimento e à sustentabilidade do
processo e,de outro, um modelo holístico, que priorizava a produção sustentável
e integrada à natureza e aos saberes dos agricultores, porém, sem escala
suficiente para “matar a fome no mundo”.

Até hoje os modelos geram intensas discussões, as quais ganham ares


extremados quando se mesclam às discussões técnicas com modelos
socioeconômicos e com ideologias.Dadas estas inapropriadas mesclas, é
bastante comum, por exemplo, associar aos “alternativos” a visão do
comunismo, do esquerdismo político, do estado de bem-estar social e da
militância. Por sua vez, aos Agricultores Patronais, associa-se a visão do extremo
conservadorismo, da destruição do ambiente, da concentração de terras e de
renda e do pior que há no modelo capitalista.

Deste modo, ideologicamente falando, a Agricultura Familiar é o contraponto à


Agricultura Patronal, que, ao extremo, representa todos os valores discutidos no
parágrafo anterior. Sendo contraponto, a Agricultura Familiar não faz parte do
Agronegócio.

Entretanto, quando nos desvencilhamos de visões ideológicas e voltamos ao


debate acadêmico e teórico, surgem duas fortes justi cativas para a rmar que a
Agricultura Familiar faz parte do Agronegócio:

1ª) A Agricultura Familiar participa de um dos fundamentos do agronegócio, qual


seja, uma Cadeia Produtiva; e,

2ª) A Agricultura Familiar dispõe de um ambiente institucional e organizacional


próprio, porém semelhante ao da Agricultura Patronal.

Estas duas características, somadas ao potencial de geração de empregos e


renda que a Agricultura Familiar possui, fazem com que esta possa ser
considerada como integrante do Agronegócio, sendo especializada na produção
de gêneros alimentícios diversi cados. Por sua vez, a Agricultura Patronal, ou
Grande Agricultura, se responsabiliza, majoritariamente, pela produção de
commodities.

125
Para que tenhamos uma ideia mais clara sobre a presença e
con guração de um ambiente institucional e organizacional
diferenciado ligado à Agricultura Familiar, basta observarmos
alguns exemplos:

1. A Agricultura Familiar e o Sistema Uni cado de Atenção à


Sanidade Agropecuária – SUASA: O SUASA é um sistema
que fora instituído em 1998, mas que só se tornou
operacional em 2006, por meio do Decreto-Lei 5.741/2006.
Em tese,trata-sede um sistema simpli cado de inspeção de
produtos de origem animal e vegetal voltado para as
peculiaridades da Agricultura Familiar, embora traga em seu
escopo, regras para médios e grandes produtores que
trabalhem com produtos de origem animal, principalmente.
2. A ação interministerial e a Agricultura Familiar: A
Agricultura Patronal possui somente o Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento como suporte
produtivo e organizacional, da parte do Governo Federal. Já a
Agricultura Familiar, por muitos anos, possuiu ao menos,
quatro ministérios direcionados (Desenvolvimento Social e
Combate à Fome, Desenvolvimento Agrário, Pesca e
Aquicultura e o próprio MAPA, além de ações interligadas
com as pastas da Saúde e Educação, considerando
programas especí cos).
3. A participação público-privada no fomento à Agricultura
Familiar: Não somente as entidades governamentais, mas
também o Sistema S, Organizações Não Governamentais,
Universidades, Entidades Financeiras, Cooperativas e
Associações estabelecem ações para promover o
desenvolvimento da Agricultura Familiar, dando-lhe suporte
produtivo, mercadológico, nanceiro e tecnológico.

Isto posto, podemos concluir que existe um ambiente institucional


e organizacional que atualmente obedece às peculiaridades da
Agricultura Familiar e lhe permite ser inserida em cadeias

126
produtivas ou sistemas agroindustriais. Assim, é pertinente
enfatizar que a Agricultura Familiar faz parte e é cada vez mais
assimilada pelo Agronegócio.

Fonte: O autor (2019).

Qual a Participação da
Agricultura Familiar no
Agronegócio?
A Figura 18 nos apresenta dados interessantes sobre a participação e relevância
da Agricultura Familiar no Agronegócio.

Figura 18 – O papel da Agricultura Familiar no Agronegócio | Fonte: OLIVEIRA


(2013). Disponível aqui

127
Os dados relevantes que podem ser observados por meio da Figura 18 são:

Proporção da Agricultura Familiar no número de estabelecimentos rurais


no Brasil: 84,4%;
Taxa de ocupação de mão de obra no setor “dentro da porteira”: 77%;
70% dos alimentos produzidos pela Agricultura Familiar são voltados para
consumo no mercado interno;
Mais de 50% dos produtos oriundos das cadeias produtivas de suínos, aves
e bovinocultura de leite são produzidos por Agricultores Familiares;
O índice de ocupação das terras de uma propriedade rural familiar tende a
ser duas vezes maior em comparação a uma média ou grande propriedade
rural. Isto acarreta menor degradação dos solos e melhor uso das terras
agrícolas;
Cadeias produtivas diversi cadas, como as da Mandioca, Feijão,
Fruticultura, Piscicultura, Floricultura e Plantas Ornamentais são
conduzidas majoritariamente por Agricultores Familiares.

Além do exposto na Figura 18, podemos a rmar que a Agricultura Familiar está
mais inserida no cotidiano da sociedade. Produtos lácteos, mel, doces,
compotas, pani cados e outros agroindustrializados com a participação da
Agricultura Familiar são constantes em nossas mesas, nas gôndolas dos
supermercados ou em formas tradicionais de comercialização, como é o caso de
frutarias, quitandas e feiras do produtor rural, em que os mesmos assumem
contato direto com os consumidores, vendendo seus produtos e sua
cordialidade.

Vamos nos aprofundar no universo da Agricultura Familiar,


conhecendo melhor seus dados de produtividade, sua distribuição
espacial, sua participação nas cadeias produtivas e dezenas de
outros dados importantes.

Acesse o link: Disponível aqui

128
Mediante o exposto, é explícita a participação da Agricultura Familiar em cadeias
produtivas importantes e no Agronegócio como um todo. Logicamente, não
esgotamos todas as possibilidades nas quais o Agricultor Familiar pode se inserir
como elemento-chave, todavia, fomos capazes de visualizar o panorama da
Agricultura Familiar no Agronegócio brasileiro, compreendendo sua elevada
importância em nossas mesas.

Leia mais sobre a Agricultura Familiar e aprenda sobre este fascinante assunto
para complementar seus estudos. Além das dicas que apresentamos, sempre
faça a buscativa por livros, artigos e pesquisas sobre o tema, para aprofundar
seus conhecimentos.

Por hora, camos por aqui, já convidando-o(a) a estudar conosco em nossa


penúltima aula, quando faremos uma análise sobre a inserção das inovações no
mundo do Agronegócio. Espero você por lá!

129
15

Inovações Aplicadas
ao Agronegócio
O Conceito de Inovação
Caro(a) aluno(a), bem-vindo(a) à nossa penúltima aula. Por meio de nossas
atuais discussões, você compreenderá os conceitos básicos sobre inovação e
aprenderá que estabelecer uma cultura de inovação ao longo das cadeias
produtivas e dos sistemas agroindustriais deve ser uma constante.

Inovar é uma condição àqueles que desejam permanecer no mercado, sendo


uma referência produtiva e tecnológica. Porém, falar de inovação pode ser um
exercício abstrato, especialmente quando lidamos com um setor bastante
tradicionalista e no qual a inovatividade, que é a taxa ou frequência de inovação,
é menor em relação aos outros setores da economia.

Neste sentido, é importante que possamos de nir o que é a inovação, para que
depois possamos compreender de que maneira estas inovações podem ser
aplicadas ao Agronegócio.

As discussões sobre a inovação remetem ao princípio do século XX (COSTA,


2019). Tais discussões buscavam diferenciar os termos “inovação” e “invenção”.
Ambos fazem menção a uma ideia inédita, capaz de gerar um processo
semelhantemente inédito, permitindo a obtenção de resultados iguais ou
superiores aos resultados até então obtidos.

Com a evolução do século XX e com os brilhantes estudos de Joseph


Schumpeter, criou-se o conceito de “Inovação Schumpeteriana” (COSTA, 2019),
que atrela à ideia do ineditismo, resultados econômicos que representem uma
vantagem relativa sobre a tecnologia anterior. Deste modo, o conceito de
inovação passou a ser denominado como uma ideia inédita, com aplicabilidade
su ciente para permitir a obtenção de resultados iguais ou melhores que o
processo anterior, tendo uma vantagem econômica. Outrossim, pode-se
depreender que, caso a ideia inédita não gere resultados satisfatórios, tanto do
ponto de vista prático, como do ponto de vista econômico, não se pode
considerar a ideia como inovadora. É meramente uma invenção.

Mais recentemente, a inovação ganhou outras nuances, especialmente com o


desenvolvimento dos conhecimentos acerca de gestão empresarial estratégica.
Neste contexto, a inovação está ligada à obtenção de vantagens competitivas

131
sustentáveis, ao posicionamento competitivo, aos conceitos de core competence,
à capacidade de inovação e à aprendizagem organizacional.Pode-se dizer que,
quando se fala de estratégia, a inovação surge como um elemento fundamental
da ação e diferenciação das empresas (PORTER, 1998; HAMEL, 2007; DAVILA,
EPSTEIN & SHELTON, 2007).

Core competence é um termo em inglês que pode ser traduzido


para “o que a empresa faz de melhor” ou “competência central”.
Este atributo deve ser utilizado para diferenciar a empresa no
mercado.

Fonte: O autor (2019).

Assim sendo, atualmente, a inovação se apresenta deveras associada à cultura


organizacional, de modo que podemos diagnosticar se determinada empresa é
inovadora a partir da leitura das competências que se encontram dispostas no
Quadro 2.

132
DETERMINANTES
DA CULTURA SIGNIFICADO
ORGANIZACIONAL

Uma estratégia que conduz à criatividade e inovação em uma


organização é descrita na visão e missão como uma
orientação de marketing focada no cliente. Inclui também
Estratégia
pesquisa ativa sobre as necessidades de clientes existentes e
potenciais com uma visão de promover a criatividade e a
inovação.

Os empregados devem compreender que a visão e a missão


in uenciam na implementação, uma vez que elas devem
Intencionalidade
fazer menção à criatividade e à inovação. Os objetivos devem
(purposefulness)
ser diretos, quantitativos e relacionados a tempo para
produtos e serviços criativos.

Gerentes e empregados devem manter uma comunicação


aberta uns com os outros. As pessoas precisam se sentir
Relacionamento
emocionalmente seguras. Deve haver apoio para mudança
de con ança
através de comportamentos que encorajam a inovação. Deve
haver exibilidade no modo de fazer as coisas no trabalho.

Comportamento Criação de valores que apoiam o correr riscos, o


que encoraja encorajamento de ideias, da iniciativa de se buscar novas
inovação soluções para os problemas e da tomada de decisão.

A realização de metas e objetivos pessoais em buscar metas


e objetivos organizacionais. O saber lidar com con itos de
Ambiente de forma construtiva, a presença de equipes cooperativas,
trabalho liberdade para gerar ideias, a participação na tomada de
decisão e a ação de desenvolver melhores métodos de
trabalho.

Compreensão das necessidades dos clientes internos e


Orientação para o externos, aprimoramento e exibilidade do serviço ao
cliente cliente. A reação às necessidades do cliente deve ser exível.
O foco é na orientação ao cliente no nível operacional.

Suporte do Comunicação aberta entre gerentes e empregados e entre


gerente empregados, disponibilidade de equipamentos e recursos

133
dependente do suporte do gerente. Tolerância dos gerentes
ao erro dos empregados. O apoio dos gerentes na adaptação
de regras e regulamentos.

Quadro 2 – Competências ligadas a uma empresa que possui uma cultura


organizacional inovadora | Fonte: BRUNO-FARIA & FONSECA (2014).

Pela leitura do Quadro 2, pode-se inferir que uma empresa que possui um
comportamento transparente e onde se permite que a tomada de decisões seja
realizada de modo horizontal, com base nos pensamentos criativos de seus
colaboradores e parceiros (comumente chamados de stakeholders), possui uma
capacidade de inovação que lhe traz um diferencial de mercado.

Mediante o exposto, ainda é necessário pontuar que o conceito e a


aplicabilidade das inovações parecem caminhar de modo mais uído e sem
interferências no setor de serviços e no setor industrial. Isto se deve ao fato de
tais conceitos terem sido criados e moldados com tais setores como pano de
fundo. A cultura organizacional de inovação, aos poucos, tem se tornado
conhecida no setor do Agronegócio, mas a passos bem lentos, conforme
veremos em nosso próximo tópico.

A Inovação no Agronegócio
Embora haja exceções, os atores que atuam no Agronegócio possuem um per l
conservador frente à adoção de novas tecnologias.São diversos os fatores que
fazem com que nosso público atendido seja conservador, pouco resiliente e
resistente às mudanças tecnologias. Almeida (2003) sistematiza tais fatores,
realizando os seguintes apontamentos sobre as origens de tais resistências:

De ciência técnica do sistema implantado – estudos comprovam que


mesmo sistemas tecnicamente perfeitos são abandonados após sua
implantação, por não atingirem os objetivos desejados;

Comportamento individual ou em grupo:


- O indivíduo resiste à mudança porque suas necessidades (proteção contra
ameaças e privações) podem ser comprometidas;
- O indivíduo pode acreditar que não é capaz de acompanhar a mudança;

134
- O indivíduo pode não estar convencido dos objetivos e intenções da
introdução da tecnologia;
- O indivíduo resistirá ao processo se sentir que sua posição na organização
se encontra ameaçada;
- Resistência de um grupo – quando mais de uma pessoa compartilham dos
mesmos sentimentos que de nem as resistências individuais, elas se
agrupam, formando campos de poder para irem contra as mudanças.

Ademais, Yamaguchi et al. (2002) e Fernández & Flores-Cerda (2003) apresentam


o seguinte conjunto de evidências no setor agrícola que di cultam a implantação
das tecnologias e das inovações:

Idade média avançada dos empresários agrícolas;


Baixo nível de escolaridade;
Migração dos lhos para outras atividades nas cidades;
Falta de recursos nanceiros para aquisição das novas tecnologias;
Falta de visão administrativa dos dirigentes de cooperativas;
Falta de pessoal especializado para desenvolver e implantar a nova
tecnologia.

Desta forma, se pode justi car o porquê de nosso público de trabalho estar
descolado para categorias mais tardias de adoção das inovações, considerando
o modelo teórico de Rogers& Scott (1997). É evidente que o meio rural brasileiro,
mesmo com tantos avanços, ainda apresente estas resistências. Além disso, o
fator idade é preponderante, especialmente quando falamos em gestão.

A gestão de propriedades rurais e mesmo de processos produtivos e a própria


execução dos mesmos cada vez mais exige a utilização das Tecnologias da
Informação, como softwares e equipamentos interconectados. Para as gerações
que não tiveram contato com tais dispositivos ou programas, a adoção de tais
tecnologias é extremamente onerosa, do ponto de vista do tempo e dos
recursos investidos.

Ademais, devemos pontuar que, se a nova tecnologia não apresentar uma


Vantagem Relativa frente à anteriormente utilizada, se não respeitar os valores e
costumes dos usuários, se não tiver facilidade em sua assimilação, se não
permitir repetições de uso e se não for capaz de comprovar resultados
satisfatórios, mesmo que seja uma inovação, não será adotada. Anote isso!

135
Assim, por meio desta discussão ca evidente que devemos focar nos fatores
que fazem com que as inovações não sejam adotadas no Agronegócio,
reconhecendo o per l dos atores que participam das cadeias produtivas e
demonstrando as vantagens e a viabilidade da adoção das tecnologias, as quais
não precisam representar uma ruptura do modelo anterior, podendo ser
bastante simples e altamente e cientes.

Muitas vezes, as inovações não são adotadas por nos utilizarmos


de uma abordagem inadequada quanto ao caráter da tecnologia
inovadora. Conforme dissemos, nem toda inovação precisa
promover uma ruptura com aquilo que é atualmente utilizado
como tecnologia.

Por exemplo, em algumas culturas como a soja, o milho e a cana-


de-açúcar, a prática mais comum, quando as culturas são afetadas
por lagartas desfolhadoras, é se utilizar de inseticidas. Contudo,
também há a possibilidade de se utilizar controles naturais, a
exemplo de vespas que podem parasitar tais lagartas.

Para distribuí-las a campo, normalmente o produtor rural se utiliza


de mão de obra que caminha dentro dos plantios ou por seus
arredores, por meio de veículos. Inovar neste processo signi caria
distribuir tais vespas de modo mais rápido e com economicidade.
Eis que surgem os drones (Figura 19).

136
Figura 19 – O uso de drones para a distribuição do controle
biológico | Fonte: BURGI & WALLER (2019). Disponível aqui

Os drones podem ser um veículo seguro e barato para a


distribuição de organismos que realizam o controle biológico de
pragas e doenças, reduzindo os custos de produção das culturas.
É simples, rápido, e ciente e não desobedece aos valores e
costumes dos usuários. Portanto, é uma inovação simples, que
não apresenta rupturas com os modelos até então praticados.

Fonte: O autor (2019).

137
Para que você possa compreender, de modo mais aprofundado,
sobre as inovações acerca do controle biológico de pragas e
doenças nas plantações.

Acesse o link: Disponível aqui

Considerações Finais
Por meio das exposições desta aula, compreendemos o conceito de inovação e
assimilamos algumas necessidades para que o conceito de inovação possa ser
capilarizado também ao Agronegócio.

Estabelecer uma cultura organizacional inovadora requer que as empresas do


Agronegócio possam assimilar os valores determinantes de Estratégia,
Intencionalidade, Con ança, Transparência e Suporte dos superiores. Ademais,
considerando os atores envolvidos nas cadeias produtivas, em especial, os
relacionados ao segmento “dentro da porteira”, devemos nos atentar às suas
fontes de resistência, trazendo-lhes inovações que não representam uma
ruptura completa ao modelo tecnológico existente, sendo simples, viáveis e
vantajosas.

É certo que o Agronegócio ainda tem um caminho muito longo para atingir o
mesmo nível de inovatividade do segmento industrial e do setor de serviços.
Porém, o início já está dado e a velocidade com a qual este caminho será
trafegado é função de uma importante variável: Você!
Espero que tenha gostado dos assuntos abordados e, em nossa última aula,
nalizaremos as nossas discussões sobre os Fundamentos do Agronegócio,
discutindo sobre suas perspectivas. Aguardo você,ansiosamente!

138
16

Os Principais Desafios
do Agronegócio para o
Futuro
Novos Paradigmas do
Agronegócio
Prezado(a) aluno(a), chegamos a nossa última aula com algumas re exões
importantes a serem feitas. Ao longo de nossas aulas, compreendemos que o
Agronegócio é uma força econômica gigantesca, capaz de mover trilhões de
dólares em um único ano e capaz de movimentar a economia de países
populosos, ora pela produção de alimentos, ora por seu consumo.

Veri camos ainda que a execução das atividades relacionadas ao Agronegócio


transcende as barreiras do “dentro da porteira”, avançado pelo setor industrial,
distribuição e setor de serviços.

É de se supor que as atividades relacionadas ao Agronegócio, assim como


qualquer outra atividade humana, são geradoras de impactos ambientais por
vezes não mensurados. Os recursos naturais são consumidos nestas atividades e
são transformados em nossas matérias-primas e alimentos, porém, não temos
uma noção clara do grau de impacto gerado nem dos desequilíbrios que afetam
a homeostase do ambiente.

Homeostase é o termo técnico utilizado para se referir a um


equilíbrio dinâmico de um ser ou de um ambiente. Uma vez que
este equilíbrio é quebrado, o ser ou ambiente tentam compensar
o desequilíbrio, em uma tentativa de retornar a um novo status de
equilíbrio, dentro de suas capacidades.

Fonte: O autor (2019).

140
Tais desequilíbrios gerados pela ação humana podem diminuir a capacidade do
ambiente em compensar os impactos sofridos e quanto mais isto ocorre, menor
é a resiliência ambiental e mais graves podem ser as consequências para o ser
humano e suas atividades.

Um exemplo de desequilíbrio é a degradação de pastagens mal manejadas. Se


imaginarmos que o solo é uma espécie de “conta corrente bancária”, com limite
de cheque especial, estaríamos bem se a pastagem fosse explorada com uma
carga animal adequada (unidades animais por hectare) e com a adubação
correta para manter as pastagens verdejantes, sem explorar o “limite” de
nutrientes do solo.

Todavia, nos sistemas de pecuária extensiva, onde não há o acompanhamento


pro ssional adequado, os animais são criados soltos, sem critérios quanto à
ocupação das pastagens. Ademais, por contenção de custos, não se maneja as
pastagens adequadamente, deixando-as desnutridas e dependentes do “cheque
especial” de nutrientes do solo.

Como todos sabemos, usar o cheque especial bancário não é uma boa opção,
devido à cobrança de juros astronômicos. O solo também “cobrará” tais juros,
pois sem condições de reequilibrar seus nutrientes e estrutura, ele não permite
o nascimento de mais nenhuma planta. Eis que chegamos em uma fase crítica
de deserti cação e erosão de solos.

O exemplo acima citado é apenas um dentre as dezenas de exemplos que


poderíamos citar para revelar que o Agronegócio, da forma como se encontra,
com seus modelos tecnológicos, é altamente impactante e o potencial de
chegarmos aos extremos dos desequilíbrios ambientais nos ambientes
produtivos já não é mais remota.

Ademais, somam-se aos impactos ambientais, os impactos sociais do uso de


tecnologias poupadoras de mão de obra. Estamos caminhando a passos largos
para a automação de uma série de processos de campo, especialmente os
ligados ao segmento “dentro da porteira”. Desta maneira, a empregabilidade
neste setor cada vez mais ca ameaçada, isto de maneira proporcional à adoção
destas tecnologias, algo que tem acontecido nas médias e grandes propriedades.

141
Outrossim, ainda existe um movimento agrário importante a ser discutido,
dentro das modi cações espaciais promovidas pelo Agronegócio. A capilarização
da ocupação de terras da Amazônia Legal e,ainda, a concentração de terras que
continua ocorrendo, embora de modo mais tímido. Tais movimentos podem pôr
em xeque a própria aceitação dos produtos do Agronegócio, isto frente a um
público consumidor cada vez mais consciente e exigente quanto à legalidade e à
ecoe ciência dos produtos e dos processos.

Veja que, com isso, não estamos impondo uma alcunha negativa ao Agronegócio
ou nos utilizando de alguma ideologia para arranhar a sua imagem. Apenas
estamos discutindo sobre a insustentabilidade do modelo e a necessidade de
re etirmos sobre novas alternativas para o Agronegócio.

O Agronegócio e o Crescimento Populacional


Você já deve ter ouvido falar nas projeções populacionais para o
planeta Terra nas próximas décadas. Estima-se que em 2050, a
população mundial chegue a 10 bilhões de habitantes. Mas, será
que isto é um problema para o Agronegócio? Podemos a rmar
que não, desde que as condições ambientais sigam sem maiores
alterações.Temos duas justi cativas para isso: a produção em
ambientes urbanos e a melhoria na distribuição dos alimentos.

142
Considerando a “Agricultura Urbana”, segundo Michellon, Costa e
Messias (2019), a produção de alimentos em meio urbano,possui
um elevado potencial para nutrir as famílias, considerando o
plantio em espaços privados, casas, prédios, construções verdes e
ecoe cientes e, ainda, em espaços públicos degradados, ou seja,
baldios. Neste último caso, salientam os autores, há ainda a
possibilidade de se gerar uma cultura de saúde física e mental,
pelos trabalhos comunitários executados nas hortas.

Por sua vez, a melhoria na distribuição dos alimentos vem de


encontro ao que discutimos em nossa décima aula, quando
salientamos que a distribuição dos alimentos prioriza eixos
logísticos que contemplam somente grandes produtores e
grandes clientes, sem considerar a existência de centros
populacionais que demandam estes alimentos, processados ou
não. Além disso, é grande o desperdício de alimentos, o que
colabora decisivamente para a fome e a desnutrição no mundo.

À vista disso, é função dos Gestores em Agronegócios, estabelecer


formas de aproximar os sistemas de produção de alimentos das
populações, de maneira a oportunizar trabalho, renda, nutrição
adequada e educação produtiva e ambiental.

Fonte: O autor (2019).

143
Mediante o exposto, chegamos à conclusão de que existe uma grande demanda
para que os paradigmas atuais do agronegócio sejam modi cados, tornando o
modelo mais sustentável. As demandas a serem atendidas são as seguintes:

a. Uso de tecnologias mais limpas para a produção de alimentos;


b. Criação de metodologias para a avaliação dos impactos ambientais, sociais
e econômicos, especialmente vinculadas ao “dentro da porteira”;
c. Melhorias na distribuição dos alimentos, especialmente para os centros
mais carentes;
d. Produção de Agroenergia, tornando os sistemas produtivos
autossustentáveis e ofertantes de energia a outras cadeias produtivas (por
meio de geração de energia hídrica, eólica, solar ou por biomassa/biogás);
e. Acentuação do uso de tecnologias de racionalização de uso de insumos
(agricultura de precisão);
f. Redução ou eliminação do uso de produtos sintéticos nocivos ao ambiente
e sua biodiversidade (substituição de agrotóxicos sintéticos por biológicos);
g. Produção de alimentos em meio urbano como proposta de recuperação
ambiental dos espaços degradados e como proposta de garantia da
segurança alimentar e nutricional das populações;
h. Preservação dos recursos ambientais, em especial, orestas, solos e águas;
i. Investimentos em Gestão produtiva e ecoe ciência a todos os segmentos
das cadeias produtivas;
j. Investimentos em certi cações de qualidade, de gestão ambiental,
responsabilidade socioambiental, segurança do trabalho e outras que
convergem para o estabelecimento de sistemas de produção responsáveis;
k. Pagamentos por serviços ambientais;
l. Criação de um Agronegócio Preservacionista, levando-se em consideração
culturas e explorações alimentares populares e tradicionais;
m. Manutenção de ambientes institucionais e organizacionais progressistas,
preservacionistas que possam associar adequadamente a produção de
alimentos e a sustentabilidade;
n. Investir na produção agroecológica e orgânica, em termos de Pesquisa,
Desenvolvimento e Inovação, com a mesma intensidade com a qual se
investe, nestes termos, para commodities;
o. Investir em Tecnologias da Informação, Inteligências Arti ciais,
Conectividade e similares para a gestão das cadeias produtivas e gestão
logística;
p. Reduzir os desperdícios e melhorar a e ciência logística, em termos de
integração de modais.

144
Estas são apenas algumas das demandas e desa os que o Agronegócio precisa
enfrentar nos próximos anos. Veja que várias destas demandas só poderão ser
cumpridas a partir de uma conjuntura de fatores sociais, ambientais,
econômicos, políticos e pro ssionais, os quais precisam de coordenação para
que a convergência destes fatores seja favorável ao surgimento de um
Agronegócio Sustentável.

Para que este novo agronegócio surja, é imperativo que você seja formado
adequadamente, atuando no mercado, de modo assertivo e consciente,
animando os processos, de maneira a convergir esforços e fatores para que, de
fato, o Agronegócio possa alicerçar novos patamares de sustentabilidade.

Saiba mais sobre as formas de transformar os modelos produtivos


atuais em modelos sustentáveis.

Acesse o link: Disponível aqui

Com isso, caro(a) aluno(a), expusemos os principais desa os a serem


enfrentados pelo Agronegócio e por seus gestores nos próximos anos.
Esperamos que você tenha compreendido e assimilado a importância das
demandas a serem cumpridas, para que você seja um dos agentes de
transformação da realidade, gerando um novo modelo de Agronegócio
Sustentável.

145
Conclusão
Caro(a) aluno(a), toda vez que terminamos um livro, sempre nos vêm uma mescla de sentimentos. Fico muito
feliz, pois neste momento, concluímos nosso objetivo de compreender as bases e os fundamentos ligados ao
Agronegócio. Contudo, co ligeiramente triste, pois este é nosso último contato nesta obra. Gostei muito de ter
sua companhia ao longo destas dezesseis aulas. Vamos recapitular algumas coisas?

Por meio de nossas aulas iniciais, concentramos nossos esforços em compreender os conceitos básicos de
Agronegócios e, ainda, aprendemos quais foram os elementos que permitiram com que o Agronegócio surgisse.
Em meio à Revolução Verde, que permitiu uma mudança de paradigmas sem igual na história da agricultura,
surgiram as bases conceituais e práticas do Agronegócio e de seus elementos.

Na sequência, caracterizamos os setores do Agronegócio, lhe apresentando as peculiaridades do “antes da


porteira”, do “dentro da porteira” e do “pós-porteira”. Somam-se a estas observações, o aprendizado acerca das
Cadeias Produtivas e dos Sistemas Agroindustriais e de suas formas de organização e coordenação.

Ainda, tivemos a oportunidade de compreender elos fundamentais que permitem com que os produtos do
agronegócio possam chegar aos seus clientes, discutindo acerca das virtudes e problemas da logística e, ainda,
consolidando nosso entendimento sobre as formas de comercialização. Aprendemos, neste segmento, que
existem outras maneiras de comercializar produtos agropecuários, além do mercado físico, sendo formas
importantes que permitem maior segurança e previsibilidade de lucros e riscos.

Visualizamos também o papel da Agricultura Familiar no contexto do Agronegócio, compreendendo os motivos


técnicos que fazem com que estes atores, os Agricultores Familiares, possam fazer parte deste universo tão
complexo do Agronegócio.

Por sua vez, mais ao nal de nossas aulas, compreendemos a necessidade de se capilarizar a cultura
organizacional de inovação também para o Agronegócio, de maneira a agregar-lhe valor e importância.
Outrossim, não terminamos nossas aulas sem entender que o Agronegócio deverá enfrentar desa os
importantes, especialmente os ligados a uma produção mais limpa e includente, do ponto de vista econômico e
social.

Logicamente que nossos estudos acerca dos Fundamentos do Agronegócio não acabam na simples leitura deste
material. Além das aulas disponíveis em seu ambiente on-line, você deve explorar as diversas literaturas sobre
este tema, além de estar antenado nos mais recentes acontecimentos da área. Lembre-se de que quem possui o
conhecimento e as informações mais atualizadas será mais bem--sucedido no mercado de trabalho.

No mais, desejo-lhe bons estudos em sua jornada e espero que você tenha sucesso em sua vida acadêmica e
pro ssional. Um forte abraço!

146
Material Complementar

Livro

Propriedade Intelectual e Inovações na Agricultura

Autores: Antônio Márcio Buainain, Maria Beatriz Machado Bonacelli e Cássia Isabel
Costa Mendes (Org.)

Editora: INCT/PPED
Sinopse: O presente livro reúne uma compilação de trinta artigos produzidos por
pesquisadores da área de inovação tecnológica e difusão cientí ca da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMBRAPA, artigos estes produzidos à luz da
discussão sobre o desenvolvimento do conhecimento e das inovações na
agropecuária. Este livro também trata de projeções no cenário tecnológico do
agronegócio, antecipando e discutindo sobre tendências tecnológicas e inovativas
para a produção de alimentos e de matérias-primas. Sugerimos a leitura deste
material para o reconhecimento da importância da produção do conhecimento e
ainda, para a ampliação do saber quanto às inovações tecnológicas aplicadas ao
agronegócio.

Livro

História das Agriculturas no Mundo – Do Neolítico à Crise Contemporânea

Autores: Marcel Mazoyer e Laurence Roudart


Editora: UNESP

Sinopse: O livro “História das Agriculturas no Mundo” apresenta uma compilação de


informações direcionadas à compreensão da evolução da agricultura como um
todo, desde os períodos pré-históricos até à contemporaneidade. O motivo da
escolha deste material se baseia no fato de que, compreendendo a história da
agricultura, passamos a compreender também sua evolução tecnológica, em
especial, considerando sua taxa de inovatividade no período da Revolução Verde.

Livro

Fundamentos de Agronegócios

Autor: Massilon J. Araújo


Editora: Atlas
Sinopse: O livro “Fundamentos de Agronegócios” apresenta uma síntese didática
sobre todos os elementos pertinentes à compreensão do universo do Agronegócio
brasileiro e mundial.Este livro possui um enfoque nas áreas de marketing, sistemas
agroindustriais e cadeias produtivas, sendo bastante útil no sentido de
compreender o dinamismo deste relevante setor da economia, que é o
Agronegócio.

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