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FAMILIAR
NO AMAZONAS
CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS
AGRICULTURA
FAMILIAR
NO AMAZONAS
CONSERVAÇÃO DOS RECURSOS AMBIENTAIS
Organizadores:
Hiroshi noda
LUIZ AUGUSTO GOMES DE SOUZA
danilo fernandes da silva filho
Comissão Editorial
Danilo Fernandes da Silva Filho (INPA/CSAS/NERUA)
Edivania dos Santos Schropfer (UFAM/FCA/DEAS)
Hiroshi Noda (INPA/CSAS/NERUA)
Luiz Augusto Gomes de Souza (INPA/CSAS/NERUA)
Marco Antonio de Freitas Mendonça (UFAM/FCA/DEAS)
Rosalee Albuquerque Coelho Netto (INPA/CSAS/NERUA)
Sandra do Nascimento Noda (Coordenadora)
Fotos
Arquivo NERUA
Projeto Gráfico
Wega Comunicação
Capa e Diagramação
Hugo Furtado
Revisão:
Epifânio Leão
Ivaneide Lima
Jesua Maia
Bibliografia
“NERUA/NETNO”
ISBN 978-85-66808-02-5
13-06798 CDD-630.275
NERUA – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos Amazônico NETNO – Núcleo de Etnoecologia na Amazônia Brasileira
E-mail: nerua@inpa.gov.br E-mail: netnocafam@yahoo.com.br
Site: http://nerua.inpa.gov.br
Universidade Federal do Amazonas – UFAM
Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA Faculdade de Ciências Agrárias – FCA
Coordenação de Sociedade, Ambiente e Saúde – CSAS Av. Gal. Rodrigo Otávio, 6200, Coroado I,
Av. Efigênio Sales, 2239 – Aleixo Campus Universitário, Setor Sul, FCA
CEP: 69060-020 – Caixa Postal: 478 Bloco 1, 2º andar, Salas 19 e 20
Manaus-Amazonas-Brasil CEP: 69077-000 – Manaus-Amazonas-Brasil
Fone: (92) 3643-1859 Fone: (92) 3305-1797
Sumário
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
CAPÍTULO 1
Tomate Yoshimatsu – uma cultivar adaptada ao trópico úmido brasileiro . . . . . . . . . . . . . 15
Lúcia Helena Pinheiro MARTINS, Hiroshi NODA, Maria Silvesnízia Paiva MENDONÇA,
Francisco Manoares MACHADO
CAPÍTULO 2
Caracterização físico-química do tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. “Yoshimatsu”)
in natura e produção de tomate seco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
Jerusa Souza ANDRADE, Natasha Veruska dos Santos NINA, José Nilton Rodrigues FIGUEIREDO
CAPÍTULO 3
Seleção de populações de espécies alternativas para uso na olericultura da
Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Chelzea Mara Mota Cabral MARQUES,
Arthur Antunes de Souza CARDOSO
CAPÍTULO 4
Tecnologias para secagem do cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
Jerusa Souza ANDRADE, Francisca Marta Nascimento de Oliveira FREITAS, Luty Gomez CACERES,
José Nilton Rodrigues FIGUEIREDO
CAPÍTULO 5
Potencial agronômico e nutricional de clones de ariá (Calathea allouia (Aubl.) Lindl.)
avaliados em Manaus, Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
Chelzea Mara Mota Cabral MARQUES, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Jaime Lopes de PAIVA, Jorge Emídio
de Carvalho SOARES, Hiroshi NODA, Francisco Manoares MACHADO, Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA
CAPÍTULO 6
Couve-brócolis: uma nova opção para a olericultura na Amazônia Central . . . . . . . . . . . . 87
Ariel Dotto BLIND, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Hiroshi NODA
CAPÍTULO 7
Caracterização e avaliação de pimentas crioulas não pungentes do gênero
Capsicum spp. da Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 103
Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Ariel Dotto BLIND, Jose Nilton Rodrigues
FIGUEIREDO, Hiroshi NODA, Francisco Manoares MACHADO
CAPÍTULO 8
Caracterização e avaliação de variedades crioulas de abóboras da região do Alto
Solimões, AM, Brasil . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
Pedro Chaves da SILVA, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Ariel Dotto BLIND, Manoel de Freitas MENDONÇA
NETO, Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA
CAPÍTULO 9
Produção participativa de hortaliças com o uso da técnica de hidroponia, na área
urbana de Manaus, AM . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
Fábio Sebastião ARAÚJO, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Luiz Augusto Gomes de SOUZA, Júlio César
Delfino RIBEIRO
CAPÍTULO 10
Germinação de sementes de araçá-boi em diferentes substratos e regimes de
temperatura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 153
Sidney Alberto do Nascimento FERREIRA, Elizabeth Rodrigues REBOUÇAS
CAPÍTULO 11
Métodos para superação da dormência de sementes de quatro espécies do gênero
Peltogyne (Fabaceae, Caesalpinioideae) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
Manoel Paulino da COSTA FILHO, Luiz Augusto Gomes de SOUZA
CAPÍTULO 12
Efeito da escarificação ácida na superação da dormência das sementes de
faveira-d’anta (Dimorphandra coccinea Benth., Fabaceae, Caesalpinioideae) . . . . . . . . 181
Luiz Augusto Gomes de SOUZA, Adilson Rodrigues DANTAS
CAPÍTULO 13
Efeito do substrato na formação de mudas de flemíngia (Flemingia macrophylla)
e tefrósia (Tephrosia candida) sob enviveiramento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 197
Ednilson da Silva ALBUQUERQUE, Luiz Augusto Gomes de SOUZA
CAPÍTULO 14
Efeito da inoculação com rizóbios na formação de mudas de ingá-barata
(Inga thibaudiana var. thibaudiana) em dois solos da Amazônia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 219
Marco Antônio de Freitas MENDONÇA, Edilingles Pinto VIEIRA, Luiz Augusto Gomes de SOUZA
CAPÍTULO 15
Uso de manipueira de mandioca (Manihot esculenta) e extrato de erva-de-rato
(Palicourea marcgravii) sobre o pulgão-preto-dos-citros (Toxoptera citricida) . . . . . . . . . 237
Adriana Dantas GONZAGA, Victor PY-DANIEL, Silas Garcia Aquino de SOUZA, Joana D’Arc RIBEIRO
CAPÍTULO 16
Diversidade de Fabaceae utilizadas como plantas medicinais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 251
Luiz Augusto Gomes de SOUZA, Angélica Maria Cortês e São Paulo AGUIAR
CAPÍTULO 17
Plantas ornamentais nativas da Amazônia: uma boa opção para uso sustentável
na agricultura familiar da região . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 267
Júlio César Delfino RIBEIRO, Danilo Fernandes da SILVA FILHO, Ariel Dotto BLIND
CAPÍTULO 18
A expansão da pecuária nas várzeas: estratégias de produção pecuária nas regiões do
Baixo Solimões e Médio Amazonas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 281
Janaína Paolucci Sales de LIMA, Danilo Fernandes da SILVA FILHO
Autores �����������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������������297
Prefácio
Por uma agricultura agroecológica amazônica
A agricultura voltada à produção de “commodities” e alimentos para consumo
de massa baseada na industrialização ou exportação vem evoluindo por cami-
nhos perigosos. Os padrões atuais de procedimentos e técnicas utilizados nessa
modalidade de agricultura são determinados pela procura da lucratividade cres-
cente e essa racionalidade tem conduzido o desenvolvimento e adoção de novas
tecnologias dependentes do uso, também crescentes, de insumos industrializados
(fertilizantes químicos, agrotóxicos, combustíveis fósseis), resultando com frequên-
cia na poluição e exaustão dos recursos ambientais, principalmente da água e do
solo e empobrecimento da agrobiodiversidade. As consequências são socialmen-
te desastrosas quando levadas em conta a qualidade e a sanidade dos alimentos
produzidos. As pesquisas realizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária
(Anvisa) mostram níveis alarmantes de contaminação dos produtos hortícolas
por agrotóxicos. Nos resultados das análises realizadas em 2010, 63% das amostras
de frutas, hortaliças e legumes estavam contaminadas por agrotóxicos e, desses,
28% apresentavam ingredientes ativos não autorizados para uso nos cultivos das
espécies contaminadas e/ou ultrapassaram os limites máximos de resíduos consi-
derados aceitáveis. Na França, um decreto que entrou em vigor em maio de 2012,
reconhece o Mal de Parkinson como doença ocupacional e estabelece explicita-
mente um nexo de causalidade entre essa doença neurodegenerativa – que tem
maior ocorrência naquele país depois do Alzheimer – e a utilização de pesticidas
(Angela Bolis, Le Monde, 09/05/2012).
As pesquisas em Ciências Agronômicas no Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia foram iniciadas com a fundação da Divisão de Ciências Agronômicas
pelo então diretor-geral professor Warwick Estevam Kerr. Desde sua origem, os
pesquisadores vêm dedicando especial atenção à agricultura familiar como des-
tinatária principal dos conhecimentos científicos e das tecnologias geradas pelo
Inpa, não somente por se tratar do maior contingente das unidades produtivas na
Região Norte e no Brasil (85% do total dos estabelecimentos), mas, sobretudo, pela
imensa contribuição que a herança cultural e os etnoconhecimentos dos agriculto-
res tradicionais da Amazônia, incluindo as indígenas, oferecem para a reconstrução
de uma agricultura com base no conhecimento agroecológico. Trata-se, portanto,
de resgatar a agricultura derivada da cosmovisão indígena da “Mãe Terra”, o sítio
sagrado, acolhedor e provedor de todas as necessidades humanas. Pois, se assim
for, a Terra deixará de ser uma mercadoria ou apenas um fator no processo produ-
9
tivo. Ao contrário, nela a agricultura será praticada mediante o conhecimento de
todos os elementos, energias e sinergias que constituem a sua múltipla natureza, a
consciência do significado e necessidade de cada individualidade e pela observân-
cia das regras e procedimentos que garantam a continuidade da vida, integrada a
estratégias de conservação e preservação dos recursos naturais.
No último trimestre de 1975, os professores Warwick Estevam Kerr e Alejo von
der Pahlen implantaram, no Inpa, um avançado programa de pesquisas, a ser de-
senvolvido pela recém-criada Divisão de Ciências Agronômicas, baseado nos fun-
damentos da agroecologia. A abordagem científica adotada pelo Inpa, naquela
época avaliada como “extremamente acadêmica”, permitiu que as possibilidades
para o desenvolvimento da agricultura sustentável no trópico úmido brasileiro fos-
sem mantidas e que ultrapassassem os limites da academia, amparada nos valores
éticos e conhecimentos ancestrais em que se sustenta.
A importância atualmente atribuída aos recursos genéticos vegetais da Ama-
zônia Ocidental, como por exemplo, a pupunha, o mapati, a sapota, o abiu, o ca-
mu-camu, o araçá-boi, o cubiu, o ariá, o cupuaçu e o feijão-macuco, é resultado
direto dos trabalhos pioneiros iniciados pelo Inpa. Por outro lado, um programa
de melhoramento genético de plantas visando à criação de variedades adaptadas
ao cultivo no ambiente amazônico gerou conhecimentos e produtos, hoje, dispo-
níveis aos agricultores desta região. No que tange aos recursos genéticos da Ama-
zônia, os estudos com espécies de leguminosas nativas capazes de fixar nitrogênio
atmosférico e microrganismos solubilizadores de fósforo vêm contribuindo para a
manutenção dos níveis de matéria orgânica e nutrientes nos agrossistemas, além
de permitir a diversificação das opções de escolha de espécies estrategistas na re-
cuperação de áreas degradadas, como um contraponto aos distúrbios antrópicos
que impactam os sistemas naturais. Os estudos sobre os sistemas agroflorestais
ampliaram os horizontes de possibilidades para a formulação de propostas tec-
nológicas consistentes de manejo dos solos amazônicos, especialmente os que
apresentam acidez elevada e baixa fertilidade natural. Na área de fitossanidade, os
estudos sobre ecologia e dinâmica de populações de microrganismos fitopatogê-
nicos nos agrossistemas bem como de seus antagonistas, pela detecção e teste de
princípios ativos naturais, vêm abrindo perspectivas para o desenvolvimento de
tecnologias de controle agroecológico das doenças de plantas cultivadas.
Os conteúdos dos artigos apresentados neste livro estão relacionados, também,
com o processo de formação de profissionais nas áreas de Ciências Agronômicas
no Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido – PPG ATU/Inpa,
estabelecido em Manaus, AM. Trata-se de uma proposta direcionada à formação de
recursos humanos capazes de enfrentar os desafios, extremamente complexos, da
10
agricultura familiar nesta região. A face humana contida na formulação da propos-
ta de criação do PPG-ATU/Inpa foi construída a partir da contribuição fundamen-
tal da professora Sandra do Nascimento Noda, pesquisadora do NERUA – Núcleo
de Estudos Rurais e Urbanos Amazônicos/Coordenação de Sociedade, Ambiente e
Saúde/Inpa e docente e coordenadora do Núcleo de Etnoecologia da Amazônia
Brasileira/Faculdade de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Amazonas. A
partir do reconhecimento da necessidade em se conhecer, efetivamente, as comu-
nidades rurais, as populações humanas, os ribeirinhos, os indígenas, suas culturas e
as relações sociais estabelecidas no processo produtivo, foi possível, nesta emprei-
tada, construir um patamar de conhecimento social sobre o mundo rural amazôni-
co e sua importância global. Ainda hoje, contamos com sua imprescindível contri-
buição acerca dos conhecimentos científicos, métodos e técnicas de extensão rural
e, por isso, os pesquisadores do NERUA estão seguros que a atuação do Inpa junto
à população rural ocorre a partir da visão e ética defendidas pelo professor José
de Souza Martins: “a sociologia rural poderá contribuir para a melhoria da qualidade
de vida das populações rurais se recuperar a dimensão crítica da tradição sociológica;
se puder ver-se criticamente na relação investigativa e na relação educativa com as
populações que estuda; se abrir mão de suas certezas para assimilar as incertezas que
ajudou a disseminar e fazer dessas incertezas uma mediação cognitiva essencial na
relação entre a teoria e a prática”.
Assim, os temas tratados nas pesquisas e as atividades relacionadas devem
envolver os professores e estudantes, e as atividades acadêmicas e as disciplinas
oferecidas devem propiciar a formação de um profissional com a visão muito próxi-
ma da realidade a ser encontrada no seu trabalho: as sociedades amazônicas, suas
culturas e etnoconhecimentos, a importância da conservação dos ecossistemas
e recursos naturais, as tecnologias adequadas, enfim, a possibilidade concreta da
produção sustentada na Agricultura no Trópico Úmido, como já haviam propos-
to, originalmente, os professores Kerr e von der Pahlen na criação da Divisão de
Ciências Agronômicas do Inpa. Portanto, reafirmamos os dizeres da nossa fala na
solenidade do seu lançamento: “o Programa de Pós-Graduação em Agricultura no
Trópico Úmido está politicamente engajado em uma missão. A missão de que a ciência
deve ser praticada e destinada à construção de um mundo melhor. Um mundo imagi-
nado por dois outros grandes inspiradores da concepção de nossa proposta, professor
Darrell Posey e professor Paulo Sodero Martins, recentemente falecidos. O profundo
respeito que ambos nutriam para com as populações tradicionais e seus etnoconhe-
cimentos e, sobretudo, a firme convicção da essencialidade da preservação da socio-
diversidade para a conservação da biodiversidade, refletem, também, o engajamento
pedagógico deste programa”.
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Finalmente, gostaria de ressaltar as importantes contribuições de colegas
pesquisadores das instituições parceiras do Inpa na execução de atividades do
subprojeto “Conservação e Melhoramento de Recursos Genéticos Vegetais Apli-
cados à Sustentabilidade da Agricultura Familiar – Congev”: a Universidade Fe-
deral do Amazonas, por meio do Núcleo de Etnoecologia da Amazônia Brasileira
– Netno e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – Embrapa/Amazônia
Ocidental. Agradecemos também pelos apoios financeiros das agências: Financia-
dora de Estudos e Projetos – Finep, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Amazonas – Fapeam e Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação
– Secti-AM, que viabilizaram sua execução. E para a sociedade amazônica, os tra-
balhos aqui publicados têm o propósito de somar na construção de conhecimen-
tos e tecnologias que baseiem a produção sustentável de alimentos nas condições
tropicais, explorando suas melhores possibilidades e adaptando-se às limitações e
adversidades que tal ambiente impõe.
Hiroshi Noda
Coordenador do Nerua
Janeiro de 2013
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Apresentação
Esta obra, para além dos estudos organizados sob a égide de abordagens empí-
ricas e sob a orientação de modelos de produção agrícola voltados à conservação
de recursos ambientais na Amazônia, aponta, como estímulo indutivo no conjunto
dos estudos, para questões prementes e balizadoras das dinâmicas agrícola e agrá-
ria regionais, com registro de soluções técnicas e econômicas viáveis para estabe-
lecimentos rurais inseridos em contextos sociais com grandes mudanças tecno-
lógicas, legais e normativas. É possível verificar que, se por um lado, os resultados
apresentados tendem a perceber o corte da categoria agricultura familiar como de
pequena produção, sem entrar nas controvérsias do tema, por outro lado, explici-
tam a heterogeneidade dos modelos produtivos, dos cultivares com potencial comer-
cial, dos eixos de diferenciação de renda (combinada ou não com outras atividades
não rurais), do conjunto de condicionantes da produtividade de múltiplas variedades
agrícolas regionais e sistemas de produção específicos relacionados à agropecuária.
As particularidades territoriais da Amazônia têm uma relação direta com a via-
bilidade econômica de determinados modelos de agricultura. Com o enfoque em
uma agricultura sustentável e diversificada, produtora de alimentos, acomodada
(como mostram as pesquisas sobre novas varietais e técnicas de produção) a con-
textos apropriados de logística, a condições edafoclimáticas específicas, acesso a
mercados, proteção de variedades de sementes crioulas, adaptação e domestica-
ção de espécies, resguardo a agrobiodiversidade, seleção genética, técnicas de
manejo, infraestrutura e acesso a crédito e assistência técnica, os resultados das
investigações publicadas neste livro revelam o esforço de grupos e instituições de
pesquisa e ensino em prover soluções a diversos gargalos e limites da viabilidade
econômica e agronômica, que determinam, para além dos fatores terra e trabalho,
os resultados das atividades agrícolas e rurais.
A criteriosa seleção dos textos deste livro, por parte dos organizadores, eviden-
cia um panorama analítico que ultrapassa os temas específicos de cada artigo, pois
há a costura, através de pesquisas e ações estritas de diversas disciplinas e aborda-
gens, de um conhecimento aprofundado que relaciona espécies nativas ou exóti-
cas, mas adaptadas ao bioma amazônico, e suas respectivas ou potenciais cadeias
produtivas.
Os trabalhos apresentados são encadeados, também, pelo cuidado em valori-
zar técnicas de cultivo e preparo de produtos baseados em sistemas de produção
locais, indicando desafios e soluções de ordem técnica, ambiental, sanitária e eco-
nômica. Existem diversas instituições e empresas regionais, nacionais e internacio-
nais com interesses em produtos amazônicos, mas que encontram restrições na es-
13
truturação da cadeia produtiva (plantio, coleta, processamento, transporte, venda)
de muitos dos produtos demandados pelo mercado. Do efeito de produzir dados
científicos, existe a potencialidade, nestes estudos, de utilizá-los para elaborar po-
líticas públicas setoriais em diferentes níveis, inovar arranjos sociotécnicos e orga-
nizacionais, processos de produção e qualidade de serviços para, assim, concorrer
em experiências de agregação de valor, criação e regularização de mercados, com
menor dependência de insumos externos e, principalmente, contribuir para a me-
lhoria da qualidade de vida de milhares de pessoas que constroem, diariamente,
a agricultura familiar na região amazônica. Enfim, o leitor encontrará, no conjunto
dos resultados destas pesquisas, respostas encorajadoras para diversas iniciativas
de apoio e diversificação da agricultura familiar na Amazônia.
Adriano Premebida
Diretor Técnico-científico da FDB
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CAPÍTULO 1
1 Doutoranda em Agronomia Tropical, FCA-UFAM, Av. Gal. Rodrigo Otávio Jordão, Campus Universitário – Setor Sul,
Manaus, AM. E-mail: luciahp.martins@yahoo.com.br;
2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: hnoda@inpa.gov.br;
3 Núcleo de Etnoecologia na Amazônia Brasileira – NETNO-UFAM, Av. Gal. Rodrigo Otávio Jordão, Campus Universitário
– Setor Sul, Manaus, AM. E-mail: msspaiva@yahoo.com.br.
Introdução
Estima-se que as sociedades humanas passaram, há dez milênios, por uma
revolução social e cultural com a descoberta da agricultura. O processo de do-
mesticação de plantas ocorreu simultaneamente com o desenvolvimento da
agricultura. As sociedades humanas passaram a observar e escolher plantas inte-
ressantes para diversos usos e reproduziam essas características nas gerações se-
guintes para garantir alimentos, remédios, fontes de fibras etc. Nas terras baixas
da América Tropical, as espécies alimentícias (mandioca, batata-doce, ariá, cará,
taioba, entre outras) foram domesticadas no mesmo espaço de tempo, como
ocorreu com outras espécies, em diferentes regiões do planeta. A domesticação
de plantas e a agricultura possibilitavam o surgimento de sociedades humanas
complexas.
O melhoramento genético de plantas é uma atividade derivada da domes-
ticação e o seu ponto alto acontece quando, por ocasião das guerras napole-
ônicas, Vilmorin, um melhorista de plantas francês, consegue elevar o teor de
açúcar da beterraba a ponto de tornar possível o seu processamento industrial.
O melhoramento genético de plantas é fundamentado nos dois princípios uni-
ficadores da biologia: organização dos elementos constituintes dos seres vivos,
nos seus diferentes níveis de complexidade e continuidade da vida por meio da
hereditariedade e da evolução. Sua base científica é multidisciplinar envolvendo,
particularmente, conhecimentos das áreas da genética mendeliana, populações
quantitativa e evolucionária e, de maneira geral, as demais disciplinas das ciên-
cias agronômicas.
Os programas brasileiros de melhoramento genético de hortaliças tiveram iní-
cio no final da década de quarenta do século passado, por iniciativa do professor
Marcílio de Souza Dias da Escola Superior de Agricultura “Luiz da Queiroz” da Uni-
versidade de São Paulo – Esalq-USP. A partir de suas pesquisas, o Brasil pratica-
mente alcançou, três décadas após, a autossuficiência na produção das principais
hortaliças consumidas por sua população, com variedades melhoradas genetica-
mente pelo apoio a políticas públicas de Estado desenvolvidas nas universidades
e instituições de pesquisas brasileiras. A produção e comercialização de sementes
dessas variedades por empresas nacionais passaram a constituir um importante
segmento da economia. Nesse processo, deve-se ressaltar a importante contribui-
ção de olericultores imigrantes, principalmente de origem japonesa e italiana, aos
programas de melhoramento genético, não somente por meio da disponibilização
à pesquisa de suas variedades, como também, pela participação na avaliação das
novas variedades.
16
Capítulo 1
17
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
18
Capítulo 1
19
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
20
Capítulo 1
1 1 1
QR = (loge - loge , onde
t2 - t1 1 - ID2 1 - ID1
PD
ID = , onde
PT
PD: número de plantas na parcela com sintoma de murcha bacteriana;
PT: número total de plantas na parcela.
21
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 2. Evolução da longitude do estilo. (A) espécies selvagens ancestrais; (B) L. esculentum cerasufirne
e cultivares primitivas; (C) cultivares locais dos Estados Unidos e Europa e (D) cultivares modernas.
22
Capítulo 1
Figura 3. Cultivo em solos infestados por R. solanacearum. Protegido (esquerda) e campo aberto (direi-
ta). Estação Experimental de Hortaliças “Dr. Alejo Von der Pahlen”, Manaus.
23
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 4. Planta de tomateiro cultivar Yoshimatsu em início de frutificação. Cultivo protegido. Estação
Experimental de Hortaliças “Dr. Alejo Von der Pahlen”, Manaus.
24
Capítulo 1
Referências bibliográficas
Coelho Netto, R. A.; Pereira, B. G.; Noda, H.; Boeh, B. 2004. Murcha bacteriana
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H. Souza, L. A. G.; Fonseca, O. J. M. Duas Décadas de Contribuições do Inpa à
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zônia. Ministério da Ciência e Tecnologia. Manaus, p. 59-87.
25
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Patrício, F. R. A.; Almeida, I. M. G.; Santos, A. S.; Cabral, O.; Tessarioli Neto,
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Russel, G. E. 1978. Plant Breeding for Pest and Disease Resistance. Butterworths.
London and Boston. 485p.
26
CAPÍTULO 2
Caracterização físico-química do
tomate (Solanum lycopersicum
mill. Cv. ‘Yoshimatsu’) in natura e
produção de tomate seco
Jerusa Souza ANDRADE1; Natasha Veruska dos Santos NINA2;
José Nilton Rodrigues FIGUEIREDO2
1 Coordenação de Tecnologia e Inovação, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – COTI/INPA, Av. André Araújo,
2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: andrade@inpa.gov.br;
2 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, INPA, PPG-ATU, Manaus, AM. E-mail: nina.natashavs@
gmail.com e agronilton@yahoo.com.br
Introdução
O processamento de alimentos é um grande desafio, principalmente quando
praticado em pequena escala. Os consumidores buscam por alimentos saudáveis
e acessíveis e os produtores procuram minimizar os custos, suprir alimentos com
regularidade e atender às exigências dos padrões de qualidade. Considerando a
importância dos produtos produzidos na Amazônia, sobretudo dos procedentes
da agricultura familiar, o processamento do tomate (Solanum lycopersicum Mill.
cv. ‘Yoshimatsu’) apresenta-se como uma estratégia para impulsionar a produção
agrícola e o seu processamento industrial, reduzir as perdas dos frutos in natura e
diversificar as formas de consumo (Santos et al., 2006; Noda, 2007).
No Brasil, o tomate é amplamente usado na indústria de alimentos e no consu-
mo in natura. Em 2010, foram colhidos cerca de 200 milhões de toneladas de toma-
te pelos 20 maiores países produtores, com destaque para a China que produziu
47,11 milhões de toneladas. O Brasil ficou na 9ª posição, com produção de 4,11
milhões de toneladas (FAO, 2012), havendo um aumento de 19,82% em relação a
2007. Da produção nacional, a região Norte participou com apenas 0,9%, cabendo
ao estado do Amazonas 0,2%. De janeiro de 2011 a janeiro de 2012, o consumo
do tomate teve um aumento expressivo no Brasil, elevando o consumo per capta
nacional para 3,65 kg. Na região Norte, o consumo per capta de tomate é 3,30 kg,
valor muito próximo desta média (IBGE, 2012).
Contudo, a produção do tomate no Amazonas ainda é pequena em decorrência
da incidência de pragas e doenças. Assim, o tomate passou a ser a mais importante
hortaliça convencional que vem sendo estudada no Instituto Nacional de Pesqui-
sas da Amazônia – INPA e o foco principal das pesquisas foi direcionado na incor-
poração da resistência genética ao patógeno Ralstonia solanacearum, causador da
doença “murcha bacteriana”, um dos principais fatores limitantes ao cultivo nos
trópicos úmidos (Noda et al., 1986).
Em 1976, o INPA iniciou um programa de melhoramento genético do toma-
teiro, cuja abordagem considera a presença do patógeno R. solanacearum como
um elemento da biodiversidade dos solos agrícolas. Como resultado, obteve uma
variedade de tomateiro, denominada ‘Yoshimatsu’ (fruto do grupo salada, com for-
mato redondo), que tem boa adaptação ao estado do Amazonas com resistência
poligênica ao patógeno causador da murcha bacteriana. Atualmente, as pesquisas
de seleção genética vêm sendo conduzidas para melhorar as características agro-
nômicas relacionadas à qualidade do fruto (Noda, 2007).
Em função da alta perecibilidade do fruto in natura, a desidratação do toma-
te pode ser uma estratégia de conservação (Baroni, 2004; Santos et al., 2006;
28
Capítulo 2
29
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 1. Frutos de tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’) colhidos no final da safra de
2006 e utilizados no processamento do tomate seco, em Manaus, AM.
Com uma faca de aço inoxidável, os tomates foram cortados ao meio, no sen-
tido longitudinal, e as sementes e a região da inserção do pedúnculo foram reti-
radas. Em seguida, os tomates foram lavados em água corrente e drenados sobre
peneiras. Uma parte dos frutos (± 500 g) foi utilizada nas análises físico-químicas e
o restante foi empregado no processamento.
Desidratação do tomate
Para a obtenção do tomate seco, a remoção da água foi conduzida em duas etapas,
ou seja, a desidratação osmótica e a subsequente desidratação por convecção. A pri-
meira etapa consistiu na desidratação osmótica e os solutos utilizados foram sacarose
(açúcar) e cloreto de sódio (sal) na forma seca (sem o emprego de soluções hipertôni-
cas). Os tomates foram distribuídos sobre bandejas, em monocamada e com as partes
cortadas voltadas para cima. Para a desidratação osmótica foi preparada uma mistura
com a proporção de 70 g de açúcar e 20 g de sal por quilo de tomate sem as sementes.
Essa mistura foi polvilhada sobre os tomates e esses tomates polvilhados (Figura 2A)
30
Capítulo 2
foram armazenados por 12 horas (uma noite) em geladeira (7º C) para a concomitante
liberação da água e incorporação dos solutos. Na manhã do dia seguinte, a água libe-
rada durante a noite foi escorrida, os tomates foram invertidos (parte cortada para bai-
xo) sobre a bandeja e permaneceram (± 30 minutos) em temperatura ambiente para
completar a drenagem da água liberada durante a desidratação osmótica (Figura 2b).
Figura 2. Frutos de tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’) durante (A) e após (B) a desi-
dratação osmótica.
Condimentação e estocagem
Após a secagem (saída do forno ou da estufa), o tomate seco foi mantido em
temperatura ambiente por curto tempo até o resfriamento. Para condimentar foi
preparada uma mistura com 100 mL (± uma xícara) de azeite de oliva, 4 g (± uma
colher de chá) de orégano desidratado e oito dentes de alho (descascados e cor-
tados em fatias finas). Essa mistura foi distribuída sobre o tomate seco, seguida de
cuidadosa homogeneização para obter o completo contato dos condimentos com
o produto. Em seguida, o tomate seco foi acondicionado em recipientes de plástico
e armazenado em geladeira (± 7º C).
31
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
32
Capítulo 2
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Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
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Capítulo 2
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Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
36
Capítulo 2
Figura 3. Aparência dos tomates secos obtidos do tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’)
por desidratação osmótica com solutos (sal e açúcar) secos e posterior desidratação por convecção
em forno de fogão doméstico a 180º C por 1 hora e 30 minutos (a) e em estufa com circulação de ar e
temperatura de 65º C por 10 horas (b).
A Figura 3b também sugere uma melhor aparência geral, maior maciez, cor
mais intensa, menos encolhimento e enrugamento, película com maior superfície
aderida à polpa e integridade dos tecidos. O sabor e o aroma agradáveis e carac-
terísticos do produto não apresentaram diferenças perceptíveis entre as duas téc-
nicas avaliadas. A migração do sal e do açúcar para o interior do tomate durante
a desidratação osmótica é favorável, pois mascara o sabor ácido e a presença dos
sabores doce e salgado é desejável no tomate seco. A incorporação dos solutos
durante a desidratação osmótica foi detectada sensorialmente, mostrou-se equili-
brada e contribuiu positivamente no sabor do tomate seco.
Analisando-se os resultados, e, em especial o rendimento e as características
sensoriais do tomate seco, o melhor processo foi o uso da secagem em estufa. No
entanto, mesmo com diferenças nos equipamentos, custos, temperatura e tempo
de secagem, os tomates secos resultantes de ambos os processos apresentaram boa
aparência, sabor agradável e característico, coloração próxima ao vermelho intenso
indicando que o tomate seco obtido da cv. ‘Yoshimatsu’ pode ser obtido por ambos.
Considerando o tempo de secagem, os custos do equipamento e da energia elétrica
e, principalmente, as condições do pequeno produtor, a secagem em forno pode
também, ser considerada a mais viável no âmbito do processamento artesanal.
37
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Conclusões
O tomate (Solanum lycopersicum Mill. cv. ‘Yoshimatsu’) apresentou fruto relati-
vamente pequeno, formato achatado, suculento e composto principalmente por
substâncias solúveis em água. Os baixos teores de lipídios, proteínas e carboidratos
implicam no baixo valor calórico do tomate seco que foi processado.
A secagem convectiva em estufa proporcionou ao tomate seco melhor aparên-
cia, maciez, coloração, integridade dos tecidos e rendimento quando comparada
com a secagem em fogão. No entanto, as semelhanças nas características senso-
riais e no rendimento do produto final e, principalmente, as condições existentes
no âmbito da agricultura familiar na Amazônia permitiram que ambos os proces-
sos pudessem ser recomendados.
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38
Capítulo 2
Noda, H.; Pahlen, A. van der.; Silva Filho, D. F. 1986. Avaliação da resistência
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Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
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teiro em casa de vegetação. Revista Agro@ambiente. v. 5, n. 2, p. 113-118.
40
CAPÍTULO 3
1 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: ronaldo@inpa.gov.br, danilo@inpa.gov.br;
2 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, INPA, Manaus, AM. E-mail: chelzeamara@yahoo.
com.br, arthur_cardoso29@yahoo.com.br.
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Introdução
As espécies olerícolas tradicionais sempre estiveram disponíveis para o consumidor
final, entretanto, não era percebida a sua importância tanto nutricional como histórico-
cultural. Os produtores rurais quando os produziam o faziam, essencialmente, para o
autoconsumo, ou disponibilizavam os excedentes da produção somente para os consu-
midores locais. Mesmo que fossem considerados tradicionais, no sentido de que eram
cultivados em um determinado lugar, com técnicas e saberes transmitidos de geração a
geração, na maioria dos casos, não eram percebidos e valorizados pelo mercado consu-
midor (Zuin e Zuin, 2008), o que restringia o seu potencial de geração de renda.
Esses produtos, antes desconsiderados em sua importância alimentar e nutriti-
va, agora estão sendo valorizados graças ao seu potencial econômico, destacando-
se como alternativa de renda em algumas regiões do Brasil, especialmente pelo
seu potencial de comercialização e industrialização. Recentemente, esse tipo de
alimento foi descoberto pelos consumidores, estimulando o aumento da sua área
de cultivo e vendas. É possível que a redescoberta dos produtos tradicionais te-
nha se dado pela tendência atual de busca do consumidor por um alimento mais
saudável, natural e nutritivo. Os estudos de Zuin e Zuin (2008) indicam que o con-
sumidor se dispõe a pagar mais caro pela aquisição de produtos tradicionais ou
produzidos de maneira sustentável, sem o emprego de agrotóxicos.
Geralmente, para o cultivo de espécies vegetais amazônicas, as variedades usadas
pelos agricultores tradicionais são populações resultantes do processo de domestica-
ção, que são caracterizadas pela ampla variabilidade genética e, portanto, ainda sus-
cetíveis a processos de seleção e aprimoramento genético para fins de cultivo. Entre-
tanto, a persistência do processo de conservação in situ, especialmente na agricultura
familiar, depende da reafirmação da valorização qualitativa dos recursos genéticos
dentro das comunidades. Adicionalmente, o reconhecimento, pelo público consumi-
dor externo, em geral, tem papel importante, sob a forma da aquisição dos produtos
gerados. Igualmente, cabe a ação dos órgãos governamentais no sentido de identificar
e reconhecer, naqueles sistemas de produção, um importante papel na conservação
dos recursos genéticos (Silva Filho, 2009), o que deve nortear as políticas públicas.
Na agricultura familiar, as formas de produção tradicionais na agricultura de
subsistência, mesmo com sua importante contribuição para a segurança alimen-
tar, não são capazes de atender a todas as demandas das famílias dos produtores.
Portanto, é necessário criar alternativas econômicas capazes de gerar renda aos
agricultores, permitindo complementar o acesso aos produtos e serviços a serem
adquiridos no mercado. Neste caso, o germoplasma de cubiu (Solanum sessiliflo-
rum), das pimentas do gênero Capsicum e do ariá (Callathea alouia) pode se consti-
42
Capítulo 3
43
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Manaus, AM, 2395 de Manaus, AM, 2398 de Benjamin Constant, AM, 2396 de Iran-
duba, AM, 2369 de Pauini, AM, 2365 de Gurupá, PA, 2389 de Uberlândia, MG, IH-3 de
Manaus, AM, 2219 de Manaus, AM, 2387 de Uberlândia, MG e 2385 de Uberlândia,
MG. Como parte do desenho experimental, cada clone constituiu um tratamento.
Figura 1. Aspecto geral do desenvolvimento de plantas de ariá (Calathea allouia) cultivadas experimen-
talmente (A); raízes tuberosas comestíveis (B).
Um mês antes do plantio dos rizomas, o solo da área de cultivo recebeu 2 tonela-
das de calcário, incorporados por meio de aração e gradagem. As covas foram aber-
tas em um espaçamento de 0,80 m x 1,00 m e adubadas no momento do plantio com
3 kg de composto orgânico, 50 g de superfosfato triplo e 30 g de cloreto de potássio.
Para a semeadura foram selecionados dois rizomas de cada clone, livres de sintomas
e defeitos provocados por pragas ou doenças. No início da emergência das folhas, foi
feita uma adubação em cobertura com 10 g de ureia por planta, repetindo-se essa
prática a cada 30 dias, até o sexto mês do desenvolvimento das plantas. Durante o
ciclo vegetativo das plantas foram aplicadas práticas fitotécnicas relacionadas com a
limpeza regular de plantas pioneiras, irrigação e controle fitossanitário.
A colheita dos tubérculos foi realizada sete meses após o plantio, quando foram
observados sintomas de murchamento e secamento da parte aérea das plantas,
fase fisiológica que geralmente ocorre entre 10 e 12 meses após o plantio. Essa
característica é comumente empregada como um indicador da colheita, quando o
desenvolvimento das raízes tuberosas é ideal para o consumo.
Os resultados experimentais permitiram constatar a alta variabilidade genética
entre os clones de ariá, que manifestaram diferenças significativas para 90% dos ca-
racteres avaliados. A emergência das plântulas aconteceu entre 18 e 33 dias após o
plantio. A altura média das touceiras formadas variou de 32,0 a 73,5 cm. O número
médio de rizomas foi expressivo e foram produzidos, em média, de 15 a 25 rizomas
por touceira, sendo o mais prolífero o clone 2217, originário de Manaus, AM (Tabela 1).
44
Capítulo 3
EMP CF LF DC AT PR PRT
Acessos NF NR NRT
(dias) ------------------------------- cm ------------------------------ ----------- ton/ha -----------
CV (%) 7,84 26,35 15,49 20,56 18,48 14,94 19,30 33,33 23,06 34,11
*1
EMP – Emergência das Plântulas; NF – Número de Folhas; CF – Comprimento das Folhas; LF – Largura
das folhas; DC – Diâmetro da Copa; AT – Altura da Touceira; NR – Número de Rizomas por Touceira;
NRT – Número de Raízes Tuberosas por Touceira; PR – Peso Médio dos Rizomas; PRT – Peso Médio das
Raízes Tuberosas.
45
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
46
Capítulo 3
nico e 30 g de NPK (10-10-10) por cova. Aos 30, 60 e 90 dias foram aplicados 10 g
de ureia por planta.
Figura 2. Aspecto típico da planta de cubiu cultivada experimentalmente evidenciando o seu elevado
potencial de produção de frutos.
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2
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9
19
5
4
3
30
26
28
24
10
21
22
1
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
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Capítulo 3
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Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
14 Grupo IA
22A
13C
21C
9
6
21B
12
18
1 Grupo IB
21D
2 Grupo II
3
10 Grupo III
15A
11
16
7 Grupo IV
5
4
13B Grupo V
21A Grupo VI
15B
Grupo VII
22B
13A Grupo VIII
20A
8 Grupo IX
20B
Grupo X
19
Grupo XI
17
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0 304 608 912 1216 1520 1824 2128 2432 2736 3040
Figura 4. Dendrograma de dissimilaridades genéticas entre 30 acessos de Capsicum spp. obtidos pelo
método hierárquico do Vizinho Mais Próximo, com base em 13 descritores quantitativos, utilizando-se a
distância generalizada de Mahalanobis.
O grupo II foi formado apenas pela POP 3, cujas plantas produzem frutos
compridos medindo até 4,9 cm e peso médio/planta em torno de 470,5 g. O
grupo III concentrou as POPs 10 e 15A, espécies C. chinense, com característi-
cas similares às POPs dos grupos IV e V em relação aos descritores altura da
planta, peso dos frutos, espessura da parede dos frutos, número de frutos por
planta, tempo para frutificação e tempo para floração (Figuras 5). Observou-se
que a semelhança pode estar relacionada com as origens das POPs na região
do Alto Solimões: a população 13B é procedente da cidade de Letícia, na Co-
lômbia, e a 21A veio do município brasileiro fronteiriço de Tabatinga no estado
do Amazonas.
Os grupos VI e VII foram representados pelos acessos 15B e 22B, respecti-
vamente. A POP 15B é uma planta desenvolvida em altura e largura da copa,
mas com médias baixas em número e peso dos frutos. Por outro lado, a po-
pulação 22B foi caracterizada como uma planta de pequeno porte (a menor
entre todas as POPs avaliadas), com frutos pequenos e poucas sementes por
52
Capítulo 3
fruto, um tipo de planta muito promissora para uso ornamental, que é uma po-
tencialidade importante das variedades de pimentas, que alcança mercados
nacionais e externos.
O grupo VIII reuniu as POPs 13A, 20A e 8. Essa formação, sob o ponto de vista
taxonômico, se tornou muito confusa, pela presença de POPs de duas espécies
distintas: C. chinense, POP 8; C. frutescens, POP 20A; e Capsicum sp., POP 13A. As
características de diferenciação mais marcantes entre elas são a forma e tamanho
dos frutos. Por fim, os grupos IX, X e XI são formados, respectivamente, pelas POPs
20B, 19 e 17. Em suas características, o que parece mais comum entre elas é o
peso de 1000 sementes e a frutificação tardia, em torno de 120 dias observado nas
plantas da população 17, originária de Novo Remanso, área rural do município de
Itacoatiara.
Pelas características fenológicas, morfológicas e dos componentes de pro-
dutividades presentes nas POPs avaliadas, constatou-se, com base na concep-
ção de Costa et al. (2002) de que a heterose nessas POPs do Gênero Capsicum
será positiva na maioria dos caracteres estudados. Por outro lado, a possibi-
lidade de se cruzar indivíduos menos similares e com melhores característi-
cas desejadas, será muito útil na obtenção de descendentes com excelentes
qualidades, para o progresso do melhoramento das POPs de Capsicum, na
Amazônia.
Com base nas principais características agronômicas desejáveis nas POPs den-
tro dos grupos acima analisados, o melhoramento das pimenteiras para fins co-
merciais, pode iniciar com o cruzamento de indivíduos da POP 19 com os das POPs
13C, 21B, 21C e 21D, para obtenção de progênies com frutos maiores, pesados, boa
53
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
espessura de polpa e um bom número de sementes por fruto, que são padrões
relevantes para o agronegócio de frutos para consumo in natura e comercialização
de sementes.
Sabe-se também que, nesta última década, o mercado de pimentas do gênero
Capsicum para fins ornamentais (para vasos, jardins) revelou-se muito promissor
para geração de renda e emprego aos agricultores familiares, em todo o território
brasileiro. As POPs 22A, 22B e 14 são indicadas para fins ornamentais, porque são
representadas por plantas baixas, com menor largura da copa (com forma qua-
drada), frutos triangulares, cônicos e campanulados amarelos, amarelos pálidos,
amarelos-laranja e vermelhos.
Considerações finais
Os resultados das pesquisas com os clones e as populações de ariá, cubiu e
pimentas, respectivamente, demonstram que estes representantes de cultivos
não-convencionais podem ser de grande utilidade para a olericultura da Amazô-
nia, permitindo opções para a geração de renda e emprego na região, tanto para
processamento agroindustrial quanto para a agricultura familiar.
Quatro clones de ariá 2070 e 2083, procedentes de Coari, AM e Manaus, AM,
serão multiplicados para uso imediato pelos agricultores familiares da Amazônia,
porque se sobressaíram em relação aos demais na produção de raízes tuberosas,
respectivamente.
Entre as populações de cubiu com potencial para exploração na agricultura co-
mercial foi detectada variabilidade genética ampla para selecionar genótipos com
características desejáveis nas formas, tamanho, número e peso dos frutos para
quaisquer finalidades de uso da espécie na Amazônia.
Considerando que a heterose no gênero Capsicum é positiva para a maio-
ria dos caracteres que se pretende explorar, é plenamente possível se cruzar
indivíduos de populações com similaridades mais distantes e melhores ca-
racterísticas desejadas tais como: frutos com formas, tamanho e coloração
variados, produtividade satisfatória, boa espessura de polpa e maior número
de sementes por fruto, para obtenção de progênies com padrões relevantes
para o agronegócio de frutos para consumo in natura e comercialização de
sementes.
54
Capítulo 3
Referências bibliográficas
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55
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
56
CAPÍTULO 4
1 Coordenação de Tecnologia e Inovação, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – COTI/INPA, Av. André Araújo,
3 Departamento de Engenharia Industrial, Faculdade de Engenharia, Corporación del Caribe, Sincelejo, Colômbia,
E-mail: lutygo@hotmail.com;
4 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, INPA, PPG-ATU, Manaus, AM. E-mail: nina.natashavs@
gmail.com e agronilton@yahoo.com.br.
Introdução
Os frutos desidratados vêm apresentando profundas mudanças no comércio
brasileiro, pois são produtos que se encaixam em um nicho de mercado em cres-
cimento. Os frutos secos apresentam alto valor agregado quando comparados aos
frutos in natura e possuem vantagens como a conveniência e o aproveitamento
integral. Eles também apresentam vantagens aos produtores, uma vez que pro-
porcionam a adição de valor ao produto, possibilitando a eliminação de perdas em
épocas de safra e o uso dos frutos fora do padrão de exportação (CODEVASF, 2008).
A desidratação é um dos métodos de conservação mais antigos dos alimentos
(Gava, et al., 2008). Em frutos, geralmente utiliza-se a desidratação osmo-convec-
tiva, que se constitui na desidratação por osmose, seguida da desidratação con-
vectiva (Lenart, 1996). Com este processo, se obtém o fruto desidratado, ou fruto
-passa, que também é denominado de fruto cristalizado ou fruto glaceado. O fruto
cristalizado corresponde ao fruto cuja superfície externa é recoberta por cristais de
açúcar. Já no fruto glaceado, a superfície externa também é recoberta por açúcar,
só que, com cristais pequenos, tipo açúcar de confeiteiro (Jackix, 1988).
O fruto submetido à desidratação osmótica, desidratado, cristalizado ou gla-
ceado, é um fruto do qual parte da água de sua composição foi substituída por
açúcares. As principais características desejáveis neste produto é que o fruto cris-
talizado ou glaceado seja translúcido, túrgido, com consistência uniforme, isento
de granulosidade, com superfície seca e não áspera e de cor e sabor agradáveis e
característicos do fruto. O fruto para ser cristalizado e glaceado deve apresentar
tamanho e forma regulares, elevado rendimento em pedaços de tamanho unifor-
me, textura firme, ausência de fibrosidade, uniformidade na composição química e
“flavor” acentuado (Jackix, 1988).
A desidratação osmótica é um método de remoção parcial da água dos alimen-
tos. Baseia-se na imersão dos alimentos em soluções hipertônicas de um ou mais
solutos, originando dois fluxos simultâneos e opostos: saída de água do produto
para a solução e migração de solutos da solução para o produto. A saída de sólidos
naturais do alimento é quantitativamente desprezível, embora possa ser impor-
tante no que diz respeito às características sensoriais e nutricionais (Tonon et al.,
2006).
Nesse contexto, o processo de desidratação osmótica pode garantir um pro-
duto final com maior teor de açúcar, o que significa uma melhora da qualidade
sensorial, um aumento de vida de prateleira e características mais uniformes no
produto, devido, principalmente, à retirada parcial da água e ao efeito protetor do
soluto utilizado (Gomes et al., 2007). É uma técnica viável e de aplicação relativa-
58
Capítulo 4
mente simples, podendo ser realizada por pequenas indústrias ou até mesmo nas
propriedades rurais (Mota, 2005).
Os pré-tratamentos, como o branqueamento e a fermentação natural, acar-
retam modificações, em diferentes graus, na resistência da parede celular para o
fluxo de água e na integridade das membranas, podendo ser utilizados antes dos
processos osmóticos para favorecer a incorporação dos solutos (Jackix, 1988; Le-
nart, 1996).
O branqueamento é um pré-tratamento que propicia o cozimento parcial do
tecido vegetal. Ele também promove mudanças nos polímeros de pectina da pare-
de celular e lamela média, tornando a membrana celular mais permeável à passa-
gem de vapor de água, induzindo, no caso de secagem posterior, em maiores taxas
de secagem e melhor textura do produto, além de inativar enzimas cuja atividade
implica no desenvolvimento de cor, sabor e odor indesejáveis (Canet et al., 2005).
A fermentação de frutos rígidos é um pré-tratamento que causa a hidrólise das
pectinas pela ação das enzimas bacterianas, favorecendo ao açucaramento, a per-
da da firmeza e uma parcial desidratação dos frutos, evitando assim, o enrugamen-
to durante um posterior processo de secagem e proporcionando ao produto final
uma desejável plasticidade e translucidez (Jackix, 1988).
A desidratação do cubiu pode ser uma alternativa para a pequena indústria. Além
da rusticidade, alta produtividade e fácil cultivo (Silva Filho et al.,1999), o cubiu,
independente do estádio de maturação, apresenta altos teores de pectinas (Andra-
de Júnior, 2006). O fruto do cubiu apresenta grande variação na forma, tamanho e
peso. Essa variação também ocorre na composição química dos tecidos, no qual o te-
cido locular é macio, suculento e com acidez muito alta, o que dificulta seu consumo
como fruto in natura, enquanto o mesocarpo ou polpa é firme e com baixa acidez.
Para preservar os atributos físicos e sensoriais, diversificar a forma de uso e
melhorar a aceitação do cubiu é necessário o emprego de tecnologias de proces-
samento, observando as características do fruto e as disponibilidades regionais.
Assim, o uso do branqueamento para inativação enzimática (Oliveira, 2002), o
emprego de lixívia, água fervente e vapor de água para o descasque (Caceres
Gomez et. al., 2012) e o uso da fermentação para facilitar a incorporação de solu-
tos (Freitas, 2011) foram pré-tratamentos testados para o cubiu. A desidratação
osmótica rápida com solução ternária (Caceres Gomez, 2010) ou a lenta com so-
lução binária (Freitas, 2011) para a incorporação de solutos e remoção parcial da
água também foram avaliadas e são indicadas para anteceder a desidratação por
convecção. Assim, foram realizadas pesquisas para mostrar que processos simples
e factíveis no âmbito da agricultura familiar são essenciais para o preparo do cubiu
desidratado.
59
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
60
Capítulo 4
Figura 1. Descasque (A) e corte (B) do cubiu (Solanum sessiliflorum) e fatias antes (C) e após (D) a retirada
do tecido locular.
61
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 2. Sistema de fermentação natural mostrando as fatias de cubiu (Solanum sessiliflorum) acondi-
cionadas em sacos plásticos do tipo rede e mantidas imersas na salmoura com auxílio do peso feito com
saco plástico contendo água.
62
Capítulo 4
Figura 3. (A) Fatias imersas na solução de sacarose com o peso (saco plástico contendo água) durante
a desidratação osmótica e (B) fatias distribuídas sobre bandejas durante a desidratação por convecção.
63
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 4. Aspecto das fatias de cubiu (Solanum sessiliflorum) antes (A) e após a fermentação natural (B).
64
Capítulo 4
Figura 5. Aspecto interno (A) e externo (B) das fatias de cubiu (Solanum sessiliflorum) após a desidrata-
ção osmótica.
65
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
uma vez que, logo após o descasque e corte, as fatias foram imersas na solução
hipertônica de sacarose, evitando assim, a participação do oxigênio na atividade
das enzimas oxidativas.
(A) Cubiu não branqueado, não fermentado, com desidratação osmótica rápida seguida pela convectiva;
(B) Cubiu branqueado, não fermentado, com desidratação osmótica rápida seguida pela convectiva.
Figura 6. Aspecto do cubiu (Solanum sessiliflorum) desidratado obtido com e sem o branqueamento do
fruto, sem fermentação natural das fatias e seco por desidratação osmo-convectiva.
66
Capítulo 4
(A) Cubiu com fermentação – desidratação osmótica rápida; (B) Cubiu com fermentação – desidratação
osmótica lenta; (C) Cubiu sem fermentação – desidratação osmótica rápida; (D) Cubiu sem fermentação
– desidratação osmótica lenta.
Figura 7. Efeito da fermentação e do tipo de desidratação osmótica na aparência interna e externa do
cubiu (Solanum sessiliflorum) desidratado pelo sistema osmo-convectivo.
67
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 8. Aparência de várias amostras de cubiu (Solanum sessiliflorum) desidratado após o corte e o
acondicionamento em embalagens de comercialização.
Figura 9. Aspecto da fatia de cubiu in natura e do cubiu (Solanum sessiliflorum) após a desidratação
osmo-convectiva.
68
Capítulo 4
Conclusões
As estratégias para a remoção da água até atingir um patamar cuja atividade
de água é restritiva ao desenvolvimento de microrganismos deteriorados são efi-
cazes para manter as características do produto final o mais próximo do natural. A
desidratação do cubiu não se restringe apenas à remoção da água e à obtenção de
uma matéria seca, pois, mesmo com o apelo nutricional e funcional, sem as carac-
terísticas sensoriais preservadas e/ou melhoradas, não se atinge a aceitabilidade
indispensável para a viabilidade técnica do processamento do cubiu. As caracte-
rísticas sensoriais das fatias de cubiu sofreram modificações durante o processo
de fermentação natural, sendo mais acentuadas nas fatias pré-tratadas pelo bran-
queamento. Independente da forma de desidratação, os pré-tratamentos contri-
buíram para o ganho de sacarose. Os maiores percentuais de aceitação do produto
final foram obtidos pelo tratamento prévio com branqueamento e fermentação
natural, seguido por desidratação osmótica rápida, isoladamente.
Referências bibliográficas
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Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
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Correlações fenotípicas, genéticas e ambientais entre descritores morfológicos
e químicos em frutos de cubiu (Solanum sessiliflorum Dunal) da Amazônia. Acta
Amazonica, v. 29, n. 4, p. 503-511.
70
CAPÍTULO 5
2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: danilo@inpa.gov.br, jaguiar@inpa.gov.br, emidio@inpa.
Introdução
O ariá é uma espécie que pertence à família Marantaceae, onde o gênero Calla-
thea é formado por mais de 100 espécies, algumas delas desenvolvendo-se natu-
ralmente no sub-bosque de florestas tropicais, onde as condições do ambiente são
caracterizadas por baixos níveis de radiação e solos contendo alto teor de matéria
orgânica e adequada disponibilidade de água, na maior parte do ano (Joly, 2002).
Os representantes da família são populares como plantas ornamentais e algumas
espécies, como Maranta arundinacea L. e Callathea allouia Lindl., podem ser utiliza-
das como alimento (Braga, 2002). Na América do Sul, os índios e caboclos usam as
folhas frescas das plantas para confeccionar roupas para bebês. A tintura das folhas
é usada na medicina tradicional como agente diurético e para tratamento de cistite
(Leite e Oliveira, 2007).
No estado do Amazonas, o ariá cresce bem em solo argiloso friável com boa
drenagem e adição de adubação orgânica e química associadas. O sombreamen-
to parcial favorece o desenvolvimento adequado da planta. Entretanto, o melhor
crescimento ocorre sob pleno sol e fornecimento de água. O rendimento de uma
planta, dependendo do clone cultivado pode variar de 0,20 a 2,2 kg (Silva Filho
et al., 1997). Não há registro na literatura sobre o uso de cultivares de ariá, melho-
radas para a exploração comercial. O Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
– INPA mantém desde os anos 1970, um banco de germoplasma com mais de 50
acessos de diversas origens e, parte deles, foi caracterizado e avaliado.
Os agricultores tradicionais da Amazônia são os que ainda cultivam e con-
somem as raízes do ariá. Com a introdução de hortaliças exóticas e o avanço da
agricultura voltada para o mercado competitivo, gradualmente, estão caindo em
desuso, mesmo em áreas onde se pratica a agricultura tradicional (Silva Filho
et al., 1997). É evidente que o abandono do cultivo das hortaliças não convencio-
nais pelos agricultores tradicionais representa um risco muito grande que poderá
conduzir a uma redução da variabilidade genética ou, até mesmo, à extinção de
espécies. Diante disso, postula-se que a aquisição de conhecimentos mais consis-
tentes sobre as espécies olerícolas não convencionais do trópico úmido poderia
contribuir para o melhoramento genético de suas características agronômicas e
nutricionais, a fim de torná-las mais adequadas ao processo produtivo e consumo
humano (Noda, 1994).
É conhecido que as plantas do ariá, em condições muito favoráveis, podem
atingir até 1 m de altura e que a parte comestível são as raízes tuberosas constitu-
ídas por 13 a 15% de amido, 1,5 a 2,0% de conteúdo protético e 6% de aminoáci-
dos. Diante da necessidade urgente de avançar nos estudos sobre a variabilidade
72
Capítulo 5
73
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
senvolvimento das plantas. Durante o ciclo vegetativo das plantas, foram aplicadas
práticas fitotécnicas relacionadas com a limpeza, irrigação e controle fitossanitário.
2082 Manaus, AM T1
2400 Pauini, AM T3
IH-6 Manaus, AM T4
2083 Manaus, AM T5
2217 Manaus, AM T6
2070 Coari, AM T7
2221 Manaus, AM T9
A colheita foi realizada no mês de julho de 2010, sete meses após o plantio, bem
antes do previsto que seria de 10 a 12 meses após o plantio. Aos sete meses, as
plantas de alguns clones atingiram a fase fisiológica ideal do desenvolvimento de
suas raízes tuberosas para o consumo, estádio em que as folhas murcham e secam
(Figura 1b).
74
Capítulo 5
Figura 1. Fenótipo de rizomas de ariá (Callathea allouia, Marantaceae) (a) e características naturais de
uma planta de ariá, indicando o ponto de colheita das raízes (b).
75
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
76
Capítulo 5
EMP CF LF DC AT MR MRT
Clones NF NR NRT
(dias) (cm) (cm) (cm) (cm) (ton. ha-1) (ton. ha-1)
1 30,00 a 20,03 b 28,20 b 9,80 a 56,20 a 46,13 b 21,86 a 21,93 a 24,00 a 12,00 a
2 29,28 a 17,40 b 21,96 c 6,33 b 44,88 b 40,40 b 21,40 a 17,33 a 25,33 a 9,33 a
3 32,10 a 25,67 a 29,48 b 11,24 a 65,77 a 54,46 a 14,76 b 12,36 a 18,66 b 7,33 a
4 24,48 b 33,45 a 39,73 a 12,83 a 72,41 a 73,46 a 18,65 a 23,20 a 29,33 a 10,00 a
5 20,81 c 29,48 a 29,13 a 9,85 a 60,00 a 58,66 a 20,53 a 34,83 a 28,66 a 16,00 a
6 28,22 a 29,97 a 33,95 a 11,66 a 73,45 a 65,86 a 24,70 a 28,00 a 33,33 a 12,66 a
7 28,83 a 30,02 a 34,86 a 11,28 a 68,00 a 63,46 a 17,96 a 17,68 a 24,66 a 6,00 a
8 29,52 a 24,41 a 29,73 b 8,77 b 53,11 a 47,66 b 21,36 a 16,88 a 23,33 a 8,66 a
9 23,26 a 23,87 a 30,63 a 10,22 a 55,22 a 49,60 b 19,03 a 20,80 a 22,66 a 9,33 a
10 32,69 a 34,95 a 37,60 a 12,47 a 73,00 a 65,66 a 19.73 a 16,43 a 28,00 a 6,00 a
11 20,25 c 21,21 b 28,26 b 9,76 a 58,22 a 62,33 a 16,03 b 21,83 a 19,33 b 10,66 a
12 27,45 a 20,64 b 26,15 c 7,77 b 59,88 a 47,73 b 17,20 b 18,60 a 20,00 a 10,00 a
13 30,44 a 25,50 a 31,73 b 11,88 a 66,30 a 62,86 a 16,00 b 30,00 a 22,00 a 12,66 a
14 22,52 b 15,87 b 19,00 c 7,10 b 33,83 b 32,66 b 14,73 b 24,63 a 12,66 c 10,00 a
15 17,92 c 18,56 b 23,60 c 7,07 b 46,31 b 40,80 b 14,76 b 28,87 a 22,00 12,66 a
16 26,97 a 18,52 b 25,01 b 8,41 b 42,38 b 40,73 b 16,12 b 16,29 a 17,33 b 8,00 a
17 31,35 a 29,94 a 31,11 b 10,67 a 66,22 a 61,93 a 21,93 a 23,46 a 26,66 a 12,00 a
18 23,56 b 23,71 a 30,83 b 9,66 a 41,44 b 54,73 a 18,43 a 24,32 a 28,00 a 8,66 a
19 20,18 c 10,34 b 16,98 c 6,66 b 33,44 b 32,06 b 9,65 b 19,93 a 6,66 c 5,33 a
20 24,46 b 24,77 a 24,95 c 9,72 a 58,26 a 46,46 14,70 b 27,81 a 13,33 c 9,33 a
Média 26,65 23,91 25,08 9,65 56,41 52,38 17,97 22,20 22,77 9,83
CV (%) 7,84 26,35 15,49 20,56 18,48 14,94 19,30 33,33 23,06 34,11
*1
Médias seguidas de mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si estatisticamente em nível de 5%
de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.
*2
EMP – Emergência das Plântulas; NF – Número de Folhas; CF – Comprimento das Folhas; LF – Largura das
Folhas; DC – Diâmetro da Copa; AT – Altura da Touceira; NR – Número de Rizomas por Touceira; NRT – Número
de Raízes Tuberosas por Touceira; MR – Massa Média de Rizomas; MRT – Massa Média das Raízes Tuberosas.
77
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
A variável de massa estimada das raízes tuberosas dos clones embora não tenha
apresentado diferença significativa, variou de 6 a 16 ton ha-1. O clone 2083 procedente
de Uberlândia, MG foi superior em rendimento em relação aos outros clones, em até
167%. Em pesquisas realizadas por Martin e Cabanillas (1976) foram informadas que
clones de ariá atingiram produtividade de raízes tuberosas entre 2 e 12 ton ha-1. Fican-
do claro que alguns clones estudados por estes pesquisadores apresentaram valores
muito abaixo da média e/ou semelhantes aos apresentados nesta pesquisa recente.
Com relação às variáveis da parte subterrânea das plantas, o número médio de
rizomas mostrou-se muito produtivo. Em média, cada touceira produziu de 15 a 25
variáveis. Destacou-se como mais produtivo o clone 2217 procedente de Manaus,
AM. Esta procedência apresentou potencialidade para plantios em grandes áreas.
Figura 3. Plantas de ariá (Callathea allouia – Marantaceae) apresentando floração em pêndulos ascen-
dentes, evidenciando um potencial de aproveitamento para fins ornamentais.
78
Capítulo 5
ção radicular. Na Figura 4 está ilustrada uma touceira de um clone de ariá exibindo
suas raízes tuberosas comestíveis.
Figura 4. Plantas de ariá (Callathea allouia – Marantaceae) exibindo produção elevada de raízes comestíveis.
Com base nos resultados da composição centesimal das raízes tuberosas dos
20 clones (Tabela 3), observa-se que em 100 g de massa integral a umidade, proteí-
na, lipídios, cinzas, carboidratos e energia (valor calórico) variam, respectivamente,
de 81,65 a 88,03%, 0,53 a 1,07%; 0,53 a 1,07%; cinzas 0,65 a 1,12%; 10,06 a 15,58%;
e 47,96 a 75,25 kcal. O teor de umidade (Tabela 5) das raízes dos clones de ariá é
mais alto do que outras espécies cujas partes comestíveis são as raízes. Paiva (1993)
informou teores de umidade para cultivares de taioba e feijão-macuco em torno de
62,53 e 66,10%, respectivamente. Padonou et al. (2005), Grizoto e Menezes (2003),
Borges et al. (2002) relataram teores de umidade em matéria integral em raízes de
mandioca mansa variando de 57,6 a 80%.
A concentração de proteína encontrada nas raízes tuberosas dos clones de ariá
oscilou de 0,53 a 1,07% (Tabela 3). Esses valores são considerados baixos. Entretan-
to, se comparados com os apresentados por Quadros et al. (2009) e Gomes (2010),
obtidos com cultivares de batata portuguesa e batata doce essa diferença parece
não ser tão representativa (2,00% e 2,11%). Villachica (1996) apresentou resultados
de análises da matéria seca de raízes tuberosas em clones de ariá com 6,6% de pro-
79
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
*1
Médias seguidas de mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si estatisticamente em nível de 5%
de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.
80
Capítulo 5
Este valor é considerado baixo para uma raiz tuberosa. Talvez por isso, as plantas
de ariá produzem poucas raízes se for considerada a vigorosa parte vegetativa da
planta. Para Carvalho (2009), raízes menos calórica em função da presença de car-
boidratos na fase inicial do desenvolvimento das plantas, influenciam o número
de raízes formadas. Uma vez estabelecido o número de raízes de reserva, essas
vão aumentando de tamanho, não havendo, porém, o surgimento de novas raízes.
Por outro lado, considerando os carboidratos como fonte de alimento energético
estima-se que cada grama de carboidrato fornece 4 calorias. Quando consumimos
quantidades suficientes, os carboidratos poupam a proteína na função energética,
mantendo-a em suas funções construtoras dos tecidos (Pacheco, 2006).
As raízes tuberosas de ariá, neste estudo, mostraram-se bastante energéticas,
visto que apresentaram teores médios de energia (valor calórico) de 62,24 kcal em
100 g de raízes tuberosas ingeridas. Villachica (1996) descreveu a composição quí-
mica do ariá com valor energético de 40 kcal.
Na análise da composição química das raízes dos clones de ariá (Tabela 4), o
potássio destacou-se entre os outros macronutrientes avaliados. A amplitude de
variação deste mineral foi de 167,70 a 352,83 mg 100g-1. O potássio é um elemento
largamente distribuído nos alimentos, porque é um dos principais constituintes es-
senciais das células vegetais. Nos seres humanos, ele é responsável, dentre outras
funções, pela contratilidade do músculo cardíaco humano, além de fazer a síntese
proteica e o metabolismo dos carboidratos (Pacheco, 2006).
As raízes tuberosas de ariá mostraram uma variação de 119,66 a 183,19 μg.100g-1
nos seus teores de Zn. Os clones com níveis mais altos de Zn foram o 2082 e 2387
oriundos de Manaus, AM e Uberlândia, MG, respectivamente. Esses valores são in-
feriores aos encontrados por Ferreira et al. (2002) em batatas (portuguesa e doce),
macaxeira, beterraba, cenoura e inhame. Essas espécies podem atingir até 650 μg
100g-1 desse elemento. No organismo humano, o Zn tem função antioxidante atu-
ando, também, no crescimento e replicação celular e cicatrização (Pacheco 2006).
Dentre os micronutrientes determinados nas raízes de ariá, o Mn foi encontrado
em menor quantidade. Os maiores conteúdos desse elemento foram registrados
nos clones 2082 (20,67 μg 100g-1), 2216 (15,49 μg 100g-1) e 2400 (20,01 μg 100g-1).
Geralmente, frutas e hortaliças são boas fontes de manganês, entretanto, a sua pre-
sença nesses alimentos, depende da disponibilidade desse mineral no solo. Esse
elemento é essencial para o metabolismo do colesterol, crescimento corpóreo e
reprodução (Pacheco, 2006).
Entre os micronutrientes analisados nos clones de ariá, o Fe foi o que ocorreu
em maior concentração, com uma amplitude de variação de 649,58 a 2.383,14 μg
100g-1. O clone 2082, oriundo de Manaus, AM, destacou-se como mais rico em fer-
81
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
ro. Esse valor é superior ao encontrado em batata inglesa (800 μg.100g-1), comenta-
do pelo IBGE (1999). Pacheco (2006) comentou que a maior parte do ferro corporal
está ligada à hemoglobina no sangue ou à mioglobina dos músculos, daí a impor-
tância desse mineral na alimentação humana.
*1
Médias seguidas de mesmas letras, nas colunas, não diferem entre si estatisticamente em nível de 5%
de probabilidade pelo teste de Scott-Knott.
82
Capítulo 5
Conclusões
Foi detectada ampla variação fenotípica nos 20 clones de ariá na forma, tama-
nho, número e massa das raízes. O clone que produziu maior número de raízes
(35 raízes touceira-1) e se destacou com maior produtividade (16 ton ha-1) foi o
2083, originário de Manaus, AM. Este clone será avaliado em sistemas de cultivo,
multiplicados e distribuídos aos agricultores familiares do estado do Amazonas.
O conteúdo da composição centesimal das raízes tuberosas discriminou bem os
clones de ariá. A divergência entre teores de carboidrato foi evidente. Os clones
de ariá são menos calóricos do que a batata inglesa, batata doce e cará roxo.
Portanto, uma boa opção para uma dieta alimentar com baixo teor calórico. Os
minerais que ocorreram em maior quantidade nas raízes dos clones de ariá foram
o potássio, cálcio e ferro. Com maiores concentrações desses minerais se desta-
caram os clones 2070, procedente de Coari, AM; e 2219 e 2082, procedentes de
Manaus, AM.
83
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
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Pesquisas da Amazônia, Manaus, Amazonas. p. 19-58.
86
CAPÍTULO 6
1 Doutorando do curso de Agronomia Tropical, FCA-UFAM, Av. General Rodrigo Otávio, 3000, 69077-000, Coroado I,
2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Introdução
As brassicáceas, em geral cultivadas como plantas alimentícias, têm importân-
cia proeminente na olericultura brasileira. No estado do Amazonas, o repolho e a
couve-manteiga destacam-se pela maior relevância econômica associada à prefe-
rência e facilidade de cultivo pelos olericultores. A couve-brócolis está classificada
entre as dez espécies olerícolas mais consumidas no Brasil. Esta hortaliça produz
inflorescências comestíveis com grande expressão econômica em várias regiões
do país. Para Nielsen (1997), o couve-brócolis possui elevado valor nutricional e
é eficiente na absorção de boro, elemento essencial para o homem por atuar no
metabolismo de nutrientes e de substratos energéticos, no funcionamento do cé-
rebro e no desempenho psicomotor e cognitivo. Em adicional aos seus benefícios
nutricionais, o couve-brócolis também fornece substâncias nutricionais antioxi-
dantes tais como: as vitaminas C e E, betacaroteno, outros elementos minerais (Ca
e Mg), aminoácidos e consideráveis quantidades de flavonoides, que são metabóli-
tos considerados, pelo conhecimento científico atual, indispensáveis para uma boa
saúde (Galan et al., 2004).
No Amazonas, a couve-brócolis ainda é pouco consumida, possivelmente por
ser uma hortaliça mais cultivada na região subtropical ou devido ao hábito alimen-
tar das populações tradicionais que, muitas vezes, a desconhecem e ao custo da
importação de outras regiões do País, o que encarece sua aquisição quando ofer-
tada nas feiras e mercados. Nos últimos anos, esta espécie ganhou espaço na culi-
nária local, sendo oferecida como guarnição de alguns pratos servidos em restau-
rantes de Manaus, especialmente preparado como “arroz com brócolis”. Todavia,
é imprescindível que a cultura da couve-brócolis e o seu consumo se torne mais
popular na região, pelos seus valores nutricionais, seleção de cultivares mais adap-
tadas ao ambiente tropical e possibilidade de consumo de formas variadas, como
em sucos verdes, saladas, empadões, refogados etc.
Recentemente, as pesquisas participativas em campo evidenciaram que os ole-
ricultores de alguns municípios do Amazonas estão se interessando pelo cultivo da
couve-brócolis, incentivados pelos resultados obtidos com o manejo da cultura,
favorecendo a adaptabilidade e desempenho produtivo das cultivares da espécie
do tipo ramoso: Santana e Piracicaba, especialmente no município de Presidente
Figueiredo, AM (Figura 1a-b). Essas cultivares que mostraram adaptação às condi-
ções locais foram melhoradas geneticamente em Santana, BA e Piracicaba, SP, e são
tolerantes a temperaturas elevadas.
88
Capítulo 6
Figura 1. Aspecto das plantas de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica) apresentando inflorescên-
cias comerciais (A, B), após o cultivo em Presidente Figueiredo, AM (foto e cultivo: A. D. Blind).
89
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
90
Capítulo 6
91
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Os agricultores sabem que, em sua maior parte, as hortaliças são cultivos agríco-
las exigentes em nutrientes e este fato é em parte explicado pelo ciclo de produção
relativamente curto destas espécies. Assim, a atenção à adubação orgânico-mine-
ral destes cultivos decorre da constatação de que nem sempre o solo selecionado
é capaz de fornecer todos os nutrientes que as plantas exigem para um adequado
crescimento e desenvolvimento, o que reflete diretamente na produção (Mala-
volta, 1980). Por isso, as características e quantidade de adubos a aplicar em um
dado cultivo dependerão das necessidades nutricionais da espécie, da fertilidade
do solo e suas práticas de manejo, da forma de reação dos adubos com o solo, da
eficiência dos adubos e de fatores de ordem econômica.
As exigências nutricionais do couve-brócolis são similares às do repolho e o
pH do solo ótimo para a cultura pode oscilar entre 6,0 e 6,8 (Trevisan et al., 2003;
Diniz et al., 2004; Pizetta et al., 2005; Melo, 2007), e esta não é uma característica
química dos solos tropicais. A combinação de fertilizantes químicos e/ou orgânicos
é uma prática de adubação recomendável para a cultura. Mas é bom considerar a
eficiência do adubo e os preços dos insumos no mercado local, como uma estraté-
gia para minimizar os custos de produção. Em geral, para solos de baixa fertilida-
de, pode-se aplicar a formula 4-14-8 no sulco de plantio, na dosagem de 50-80 g
por muda plantada, juntamente com fontes orgânicas de nitrogênio (Filgueira,
1982).
As doses de fertilizantes e/ou compostos orgânicos incorporadas ao solo no
sulco de plantio são sempre adequadas para um melhor condicionamento do solo
e para o suprimento de outros nutrientes essenciais. Durante o desenvolvimento
das plantas, podem-se praticar o parcelamento da adubação mineral com nitrogê-
nio, com 4 a 6 aplicações de 10g a15g de nitrocálcio por planta, considerando-se
que o N, eleva a produtividade do couve-brócolis significativamente (Filgueira,
1982).
Sistema de cultivo
Propagação
O couve-brócolis é propagado por sementes. Em média, 1 g contém 200 se-
mentes que, quando bem conservadas, mantêm o padrão mínimo de 70% de via-
bilidade. Podem ser semeadas em bandejas de isopor, copos plásticos e outros re-
cipientes que permitam a formação das mudas de boa qualidade. Para manter um
bom padrão de formação das mudas, são recomendadas semeaduras em bandejas
92
Capítulo 6
Tratos culturais
Para cultivar qualquer espécie olerícola, os tratos culturais são necessários
para que a cultura possa manifestar o seu melhor potencial de produção, quali-
dade e rentabilidade. Os principais tratos culturais determinantes para o cultivo
de couve-brócolis, segundo Filgueira (2000), Albuquerque (2005) e Melo (2007)
são: o controle de plantas invasoras durante o desenvolvimento da planta, as
quais competem por água, luz e nutrientes do solo; a disponibilidade de água,
fornecida por irrigação, seja por aspersão ou fita gotejadora durante todas as
fases de cultivo; o emprego de espaçamentos apropriados que permitam uma
melhor distribuição espacial do sistema radicular, proporcionando melhor explo-
ração do perfil do solo; e o controle de pragas e/ou doenças que podem com-
prometer a lavoura em qualquer fase de desenvolvimento. Blind et al. (2011)
relataram a ocorrência de podridão mole causada pela bactéria Pectobaterium
carotovorum em plantios de couve-brócolis na Amazônia Central. Os sintomas
típicos desta doença inicialmente são: o aparecimento de murcha e amareleci-
mento com degradação vascular e odor típico, observados em todos os estágios
de desenvolvimento das plantas inclusive na colheita. É importante proceder-se
inspeções periódicas na lavoura a fim de identificar, diagnosticar e erradicar pos-
síveis incidências e/ou vetores de doenças, para evitar o comprometimento da
produção. As adubações desequilibradas e os solos excessivamente encharcados
podem favorecer o aumento populacional de bactérias pectinolíticas que, em
geral, são prejudiciais à cultura (Kimati et al., 2005)
Em condições favoráveis, as cultivares do ‘tipo ramoso’ podem produzir,
por até três meses, desde a primeira colheita praticada semanalmente, sempre
em declínio tanto na produtividade quanto na qualidade. A cultivares do ‘tipo
inflorescência única’ produzem uma única vez e desenvolvem uma inflores-
cência larga, única e terminal, porém a colheita pode ser alternada visto que
estas podem manifestar acentuada oscilação do ponto ideal da colheita (Var-
gas et al., 2002). Em geral, as colheitas podem ter intervalos de 5-10 dias com
a inflorescência, no ponto ideal, apresentando cor verde intenso e os botões
florais bem fechados, de modo que se evite a aparência das pétalas amarelo
vivo decorrentes de uma colheita tardia que torna o produto desvalorizado
para o mercado.
93
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
P K Ca Mg Al H + Al SB T V M.O
Amostra pH (H2O)
mg/kg cmol/kg (%)
Solo 6,2 35 19 5,10 0,80 0,20 2,10 5,95 8,05 74 3,25
*1
H+Al – Acidez Potencial; SB-Soma de Bases; T – Capacidade de Troca Cátions (CTC total); V – Saturação
em Bases; M.O – Matéria Orgânica.
94
Capítulo 6
Figura 2. Aspecto da qualidade das plântulas de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica) (A), e da
distribuição das mudas dos respectivos espaçamentos e tratamentos aplicados (B), em cultivo estabele-
cido em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figueiredo, AM.
Figura 3. Sistema de irrigação por aspersão de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica) (A), e plântu-
las após 20 dias de transplante competindo com plantas daninhas, fase em que foi efetuado a 1a capina
(B), em cultivo estabelecido em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figueiredo, AM.
Durante o ciclo da cultura, após 45 dias, foi efetuada uma adubação de cobertu-
ra, com 30 g do formulado 15-5-10 sobre a superfície do solo (na saia das plantas)
95
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 4. Aspecto das inflorescências comerciais de couve-brócolis (Brassica oleracea var. italica) por
ocasião da colheita (A) e determinações de biomassa fresca feitas em condições de campo (B), em culti-
vo estabelecido em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figueiredo, AM.
96
Capítulo 6
97
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Tratamentos B. R. B. R. B. R. B. R. B. R. B. R.
Piracicaba Santana Piracicaba Santana Piracicaba Santana
1 – NPK 4-14-8+Esterco
0.490 a 0.440 a 9,5 a 8,1 a 11.66 10.5
curtido de frango
3 – Esterco curtido de
0.330 c 0.290 c 7,1 c 6,1 c 7.69 7.09
frango
CV % 4.5 6.4 – –
*1
Médias seguidas pela mesma letra nas colunas não diferem entre si, pelo teste de Tukey, a 0,5% de
probabilidade.
Figura 5. Ilustração das diferenças fenotípicas da inflorescência primária comercial das cultivares
“ramoso Piracicaba” (A) e “ramoso Santana” (B) avaliadas em função do fornecimento de adubos quí-
micos e orgânicos em cultivo estabelecido em Latossolo Amarelo, no município de Presidente Figuei-
redo, AM.
98
Capítulo 6
Considerações finais
A diferença de produtividade denotou a importância da escolha da cultivar e da
utilização de fertilizantes para plantios em escala comercial. Neste ensaio experi-
mental, o melhor desempenho médio produtivo foi da cultivar “ramoso Piracicaba”.
A melhor fonte de adubação para a produtividade das duas cultivares foi 114 g NPK
4-14-8 + 2 kg de cama de frango curtido por planta.
As avaliações do potencial de cultivares em diferentes regiões agroclimáticas
além de proporcionar sustentabilidade a pesquisas posteriores são indispensáveis
para o aumento da rentabilidade das culturas, o qual está diretamente relaciona-
do ao uso de cultivares geneticamente superiores em termos de produtividade e
outras características agronômicas relevantes. A cultivar “ramoso Piracicaba”, atual-
mente, é a mais difundida entre os olericultores da região, em virtude de apresen-
tar melhor comportamento frente às condições climáticas do município, favore-
cendo o seu cultivo durante o ano todo.
Nas observações feitas em lavouras dos produtores de brócolis a campo,
no município de Presidente Figueiredo, constatou-se que a produção des-
sa espécie nos meses de fevereiro, março e abril (época em que ocorrem os
mais elevados índices de precipitação pluviométrica no Amazonas) apresenta
maior incidência de problemas fitossanitários nas plantas, refletindo na baixa
produtividade e qualidade do produto comercial. Por isso, é recomendável,
nesta época do ano, o plantio do couve-brócolis em sistema de cultivo pro-
tegido.
No município de Presidente Figueiredo, atualmente, existe uma área cultivada
com, aproximadamente, 3 hectares de brócolis em rotatividade com outras cultu-
ras. Mas a oferta do produto, ainda é inferior à demanda. O preço pago aos pro-
dutores dessa hortaliça oscila nas feiras de Manaus entre R$ 5,50 a R$ 7,00 não
havendo variações sazonais ao longo do ano. Dependendo da oferta, são raras as
vezes que o preço pago cai para R$ 5,00.
Agradecimentos
Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e ao Programa de Pós-gra-
duação em Agricultura no Trópico Úmido pela contribuição à formação de pro-
fissionais para o Brasil.
99
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
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Capítulo 6
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101
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Trevisan, J. N.; Martins, G. A. K.; Lucio, A. D.; Castamam, C.; Marion, R. R.;
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na região centro-sul do Rio Grande do Sul. UFSM. Ciência. (33)2: 233-239.
102
CAPÍTULO 7
Caracterização e avaliação de
pimentas crioulas não pungentes do
gênero Capsicum spp. da Amazônia
Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO1;
Ariel Dotto BLIND2; Jose Nilton Rodrigues FIGUEIREDO3;
Hiroshi NODA1; Francisco Manoares MACHADO1
1 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. An-
dré Araújo, 2936, 69011-970, Petrópolis, Manaus, AM. E-mail: ronaldo@inpa.gov.br, danilo@inpa.gov.br, hnoda@
inpa.gov.br;
2 Doutorando do curso de Agronomia Tropical, FCA-UFAM, Av. General Rodrigo Otávio, 3000, 69077-000, Coroado I,
3 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, INPA, Manaus, AM. E-mail: agronilton@yahoo.com.br.
Introdução
O conceito de variedades crioulas se estende às espécies vegetais cultivadas
em pequenas áreas, para o consumo na propriedade e comercialização em merca-
dos locais. Para estas espécies, geralmente, os agricultores realizam a própria sele-
ção de frutos, utilizando as sementes para o cultivo do ano seguinte. Por usarem
suas próprias sementes, as quais são resultantes de uma seleção continuada, os
agricultores obtêm tipos de frutos muito diversos, que constituem recursos genéti-
cos de grande valor (Silva Filho, 2012). Esse processo de seleção genética resulta
em populações adaptadas às condições locais de cultivo, que são fonte de genes
para tolerância a estresses bióticos e abióticos. Como os agricultores geralmente
cultivam mais de uma variedade crioula de pimentas na mesma propriedade, pró-
ximas umas das outras, há a possibilidade de ocorrerem cruzamentos entre elas,
ampliando ainda mais a variabilidade genética existente (Reifsneider, 2000).
As espécies de pimentas do gênero Capsicum classificam-se na família Solana-
ceae, onde estão incluídas hortaliças tradicionalmente cultivadas, como o toma-
te (Lycopersicon esculentum), a batata (Solanum tuberosum) a berinjela (Solanum
melogena) e o jiló (Solanum gilo). Dentre as espécies do gênero Capsicum, cinco
são domesticadas e largamente cultivadas, e utilizadas pelo homem: Capsicum an-
nuum (pimentão), C. baccatum (pimenta-de-passarinho), C. chinense (pimenta-ver-
melha), C. frutescens (pimenta-malagueta) e C. pubescens (rocoto). Destas, apenas a
C. pubescens não é cultivada no Brasil (Lopes et al., 2007).
O Brasil é um grande centro de diversidade genética do gênero Capsicum, pos-
suindo, uma grande variedade de pimentas que estão difundidas em todas as re-
giões do Brasil e as principais áreas de cultivo estão localizadas nas regiões sudeste,
centro-oeste e nordeste. O seu cultivo é realizado por pequenos, médios e grandes
produtores individuais ou integrados a agroindústrias (Furtado et al., 2006). Ma-
lagueta, dedo-de-moça, doce-americana, chapéu-de-bispo, cumari-amarela, bode,
cheiro, tabasco murupi e biquinho são apenas algumas das inúmeras pimentas cul-
tivadas no Brasil (Lopes et al., 2007).
A pimenta (Capsicum spp.) é uma especiaria bastante apreciada pela sua pun-
gência, flavor e como conservante alimentar, assim como por suas propriedades
fisiológicas e farmacêuticas, devido à presença de determinados componentes
como a capsaicina e a dihidrocapsaicina. Alguns estudos têm apontado que as pi-
mentas também são boas fontes de antioxidantes alimentares, como vitamina C,
vitamina E, carotenoides e compostos fenólicos (Cisneros-Pineda et al., 2006).
O Brasil é o segundo maior produtor de pimenta do mundo e centro da diver-
sidade do gênero Capsicum. Essa hortaliça está difundida em todas as regiões bra-
104
Capítulo 7
105
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
al., 2008). A capsaicina é o composto mais pungente das pimentas vermelhas e tem
sua estrutura formada por um grupo de amida ácida de vanililamina com C8 a C13
ácidos graxos (Ochi et al., 2003). As pimentas também contêm muitas substâncias
fisiológicas ativas como ácido ascórbico, tocoferol, carotenoides etc. (Deepa et al.,
2006). Estas substâncias são importantes na proteção contra danos oxidativos pro-
duzidos pelos radicais livres. No corpo humano, os vários mecanismos de defesa
que controlam os radicais livres iniciam seu declínio quando as pessoas se tornam
mais velhas. Então, os antioxidantes são cruciais na nutrição humana para que eles
possam compensar ou minimizar este declínio (Ogiso et al., 2008).
Segundo Kozukue et al. (2005), capsaicinoides são relatados por possuírem
uma variedade de propriedades biológicas que, provavelmente, afetam a saúde
humana. Estas incluem atividade antimicrobiana contra bactérias patogênicas;
atividade antioxidativa; potencial anticâncer e larga bioatividade contra estrutu-
ras neuronais que contêm substâncias associadas com nocicepção e inflamação
neurogênica. Os estudos também revelam que as pimentas inibem o crescimento
do patógeno gástrico Helicobacter pilori, exercem atividade bactericida, promovem
ainda inibição da agregação plaquetária, efeitos estimulantes neurais e diuréticos,
além de aumentar a atividade adrenocortical e a produção de cortisol. Topicamen-
te, é usada para alopecia, neuralgia, pleurite e artrite reumatoide. As folhas são
usadas como curativo em locais feridos e inflamados, ocorrendo, porém, contro-
vérsias na literatura quanto ao uso do fruto em casos de inflamações aguda (Pires
et al., 2004).
Na Amazônia, existe uma grande diversidade de pimentas do gênero Capsicum
mantidas pelos agricultores tradicionais e em Bancos de Germoplasma de algumas
instituições de ensino e pesquisa da região. Estes materiais são resultantes do pro-
cesso de domesticação, com ampla variabilidade genética, suscetíveis, portanto, a
processos de aprimoramento genético para fins de cultivo (Noda e Noda, 2004).
Tais bancos de germoplasma, integrados aos sistemas de produção tradicio-
nais e aos centros de melhoramento, serviriam igualmente ao propósito de con-
servação das espécies (Silva Filho, 2009). Por isso, o emprego de características
morfoagronômicas em associação a técnicas multivariadas, tem sido amplamente
utilizado na quantificação da divergência genética, tomando como exemplos as
culturas do trigo (Bertan et al., 2006), pimenta (Monteiro, 2008); feijão-vagem
(Peixoto et al., 2002); aveia (Kurek et al., 2002) e milho (Coimbra et al., 2010).
A pesquisa realizada objetivou caracterizar e avaliar 30 variedades de pimentas
crioulas do Capsicum spp. não pungentes cultivadas na Amazônia.
106
Capítulo 7
107
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
1 08/2008 Anamã, AM
2 12/2007 Apuí, AM
3 12/2008 Benjamin Constant, AM
4 12/2008 Canutama, AM
5 12/2007 Carauari, AM
6 08/2008 Codajás, AM
7 12/2007 Eirunepé, AM
8 12/2007 Envira, AM
9 08/2008 Humaitá, AM
10 08/2008 Iranduba, AM
11 10/2009 Iquitos, Peru
12 08/2008 Itapiranga, AM
13A 10/2009 Letícia, Colômbia
13B 12/2008 Letícia, Colômbia
13C 10/2009 Letícia, Colômbia
14 10/2009 Manicoré, AM
15A 08/2008 Novo Airão, AM
15B 08/2008 Novo Airão, AM
16 12/2007 Novo Aripuanã, AM
17 08/2008 Itacoatiara, AM
18 08/2008 Presidente Figueiredo, AM
19 08/2008 Rio Preto da Eva, AM
20A 11/2009 São Gabriel da Cachoeira, AM
20B 08/2008 São Gabriel da Cachoeira, AM
21A 10/2009 Tabatinga, AM
21B 10/2009 Tabatinga, AM
21C 10/2009 Tabatinga, AM
21D 10/2009 Tabatinga, AM
22A 04/2009 Urucará, AM
22B 04/2009 Urucará, AM
108
Capítulo 7
109
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
110
Tabela 2. Características morfoagronômicas de 30 variedades de pimentas crioulas não pungentes (VPC) do gênero Capsicum spp.,
provenientes de municípios da Amazônia brasileira, Colômbia e Peru.*1 *2
111
AP LC DC CF DF EPF (mm) PF PFP PMS NSF NFP TFR TF
112
VPC
--------------------------- cm --------------------------- ----------------------------- g ----------------------------- ----- unidades ----- ----------- dias -----------
18 96,2a 85,2a 2,1a 4,7b 2,6c 1,8b 7,80b 324,40b 3,67g 31f 47d 88h 67d
19 95,4a 75,6a 2,0a 4,6c 2,4c 1,7b 6,26c 405,22b 3,83e 38d 63c 88h 74b
20A 101,4a 76,8a 2,3a 2,8e 0,8e 0,8d 0,73e 136,41d 3,97c 10i 206a 95e 67d
20B 94,6a 65,4b 2,0a 4,3c 2,1c 1,7b 5,42c 170,87d 3,97c 20h 31d 100d 74b
21A 76,6b 71,0b 1,9a 3,7d 2,2c 1,6c 4,84c 312,51b 3,99c 28g 62c 90g 67d
21B 79,8b 78,8a 1,7a 2,9e 3,9a 2,0b 11,17a 343,41b 3,42i 44c 35d 88h 66e
21C 71,6b 73,0b 1,1b 3,0e 3,4b 2,0b 10,44a 346,87b 3,63g 73b 54c 75l 62h
21D 86,6a 91,0a 1,8a 2,9e 3,6a 2,4a 11,94a 407,27b 3,25l 75a 36d 88h 74b
22A 74,6b 75,8a 1,1b 3,9d 1,5d 1,3c 2,83e 194,90c 2,75o 23h 68c 88h 74b
22B 54,4b 59,4b 1,1b 2,8e 1,7d 1,7b 2,70e 84,95d 2,85o 10i 44d 95e 74b
Médias 84,0 73,0 1,6 4,0 2,3 1,7 2,43 16,25 3,5 35 73 91 70
CV(%) 15,2 14,4 7,4 15,9 14,0 18,3 13,3 17,8 0,6 4,7 17,9 0,2 0,3
*1
Altura da Planta (AP), Largura da Copa (LC), Diâmetro do Caule (DC), Comprimento do Fruto (CF), Diâmetro do Fruto (DF), Massa do Fruto (PF), Espessura da Parede do Fruto (EPF), Número
de Frutos por Planta (NFP), Peso de Frutos por Planta (PFP), Número de Sementes por Fruto (NSF), Massa de Mil Sementes (PMS), Tempo de Frutificação (TFR) e Tempo de Floração (TF).
*2
Médias seguidas pela mesma letra, nas colunas, não diferem pelo teste de Scott Knott (P < 0,05).
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Capítulo 7
14 Grupo IA
22A
13C
21C
9
6
21B
12
18
1 Grupo IB
21D
2 Grupo II
3
10 Grupo III
15A
11
16
7 Grupo IV
5
4
13B Grupo V
21A Grupo VI
15B
Grupo VII
22B
13A Grupo VIII
20A
8 Grupo IX
20B
Grupo X
19
Grupo XI
17
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
0 304 608 912 1216 1520 1824 2128 2432 2736 3040
113
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
114
Capítulo 7
mentes (13A e 20A), número de frutos por planta, tempo de floração e tempo de
frutificação (acessos 8 e 13A). Nesse grupo, surgiram plantas com menor diâme-
tro do fruto, da espessura da parede do fruto, massa do fruto, número de semen-
tes por fruto e maior produção de frutos por planta (acesso 20A). A variedade de
pimenta crioula 13A apresentou maior média para a massa média de frutos por
planta.
Os grupos IX, X e XI são formados, respectivamente, pelas variedades de pi-
menta crioula 20B, 19 e 17. A variedade de pimenta crioula 20B tem uma das me-
nores médias para massa de 1000 sementes. O acesso 19 apresentou oito valores
de médias intermediários: comprimento do fruto, diâmetro do fruto, massa do fru-
to, espessura da parede do fruto, número de frutos por planta, peso de frutos por
planta, número de sementes por fruto e massa de 1000 sementes. A variedade 17
é considerada como de frutificação tardia (120 dias), mas que apresentou maior
distância entre os pares formados com as demais variedades. Por isso, pode ser
usada como progenitora para criação de híbridos e linhagens superiores, por meio
de cruzamentos entre as variedades com potenciais características morfoagronô-
micas encontradas nas pimenteiras avaliadas.
Considerando que a heterose no gênero Capsicum é positiva para a maioria dos
caracteres estudados e a análise multivariada possibilita a predição dessa heterose
(Costa et al., 2002) a partir dessas premissas e seguindo as recomendações de
Sudré et al. (2005) de que a doação do princípio de se cruzar acessos com dissimila-
ridades mais distantes e melhores características desejadas, produzem descenden-
tes de excelentes qualidades.
Analisando resultados sobre alguns caracteres quantitativos, tem-se como
opção para produção de pimentas mais comerciais, o cruzamento da variedade
de pimenta crioula 19 com as variedades 13C, 21B, 21C e 21D do grupo IB. Nessa
ação de melhoramento estão sendo consideradas as distâncias genéticas aceitá-
veis, com as características das plantas que produzem frutos maiores e pesados,
com boa espessura da polpa e bom número de sementes por fruto, para explorar
o agronegócio de sementes. Outro cruzamento factível seria entre as variedades
de pimenta crioula 21D e 20A. O VPC 20A – C. frutescens (malagueta-doce), com
maior média para o número de frutos por planta e que apresentou frutos com peso
médio de 0,73 g e espessura da parede do fruto com média de 0,8 mm. O acesso
21D (C. chinense) mostrou frutos com peso médio de 12 g e espessura da parede do
fruto com 2,36 mm, demonstrando assim a grande diferença entre as variedades
de pimenta crioula avaliadas.
115
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Conclusões
Para caracterizar as diferenças genotípicas de 30 acessos de pimentas crioulas,
o uso do método hierárquico do Vizinho Mais Próximo mostrou-se eficiente em di-
ferenciar os acessos, a partir de descritores morfoagronômicos. Os genótipos 13C,
21B, 21C e 21D cruzados com genótipo 19 e o genótipo 20A cruzados com 21D são
promissores para incremento de variabilidade genética e indicados para a seleção
de progenitores com características comerciais favoráveis. Os 30 acessos analisados
foram divergentes, possuindo variabilidade genética, o que potencializa seu uso em
programas de melhoramento genético das pimentas não pungentes da Amazônia.
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Capítulo 7
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Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
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120
CAPÍTULO 8
Caracterização e avaliação de
variedades crioulas de abóboras da
região do Alto Solimões, AM, Brasil
Pedro Chaves da SILVA1; Danilo Fernandes da SILVA FILHO2;
Ariel Dotto BLIND3; Manoel de Freitas MENDONÇA NETO;
Manoel Ronaldo Aguiar BATISTA2
2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
3 Doutorando em Agronomia Tropical, Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Amazonas – FCA-UFAM,
Manaus, AM;
Introdução
O gênero Cucurbita é nativo das Américas com, aproximadamente, 25-27 espécies.
Dentro da família Cucurbitaceae, a abóbora (Cucurbita spp.), chuchu (Sechium edule), me-
lancia (Citrullus lanatus), melão (Cucumis melo), pepino (Cucumis sativus), maxixe (Cucumis
anguria), melão-de-cheiro (Sicana odorifera) e melão-de-são caetano (Momordica cha-
rantia), entre outras, são cultivados no Brasil para fins alimentares, ornamentais ou como
fonte de matérias-primas. As abóboras e abobrinhas cultivadas pertencem às espécies
Cucurbita argyrosperma, C. ficifolia, C. maxima, C. moschata e C. pepo (Heiden et al., 2007).
A abóbora (Curcubita spp.) é uma espécie americana com significativa partici-
pação na alimentação em muitos países. Possui ampla distribuição no sudeste do
México, América Central, Colômbia e Peru. Existem relatos de descobertas arqueoló-
gicas de sementes desenterradas de até 7 mil anos, na região do México. Silva (2006)
assegura que a espécie C. pepo foi encontrada há mais de 10 mil anos na Flórida, 7-9
mil anos a.C. no México e 5 mil anos a.C. em Illinois, Estados Unidos. Ela fazia parte da
dieta inca, maia e asteca, junto com milho e feijão. Não se conhece seu ancestral, mas
supõe-se que a domesticação ocorreu separadamente nos Estados Unidos e no nor-
te da América do Sul. O Brasil apresenta ampla variabilidade genética de abóbora, es-
pecialmente nas variedades crioulas mantidas pelos agricultores (Priori et al., 2012).
A EMBRAPA Recursos Genéticos, conserva na coleção base de germoplasma
510 acessos de C. maxima, 1173 acessos de C. moschata, 14 acessos de C. pepo, 2
acessos de C. ficifolia e 5 híbridos de C. moschata x C. máxima (Ferreira, 2009). Nos
bancos ativos de germoplasma da EMBRAPA semiárido em Petrolina, IAC/APTA em
Campinas, Universidade Federal de Viçosa, EMBRAPA Clima Temperado em Pelotas
e CNPH) são conservados 1330 acessos de C. maxima, 2754 acessos de C. moschata,
90 acessos de C. pepo e 1 acesso de C. ficifolia (Cabral, 2007).
Para a Food and Agriculture Organization of The United Nations (2009), os paí-
ses que mais plantam abóbora e moranga são: China – com 353 mil ha, Camarões
– com 110 mil ha, Cuba – com 66 mil ha, Rússia – com 54 mil ha, e Egito – com
40 mil ha. A área de cultivo destas espécies totaliza, mundialmente, 1556 mil ha.
Ferreira (2009) ressaltou que, além dos frutos e sementes, as flores masculinas e os
talos também são consumidos. Na península de Yucatan são consumidas flores de
C. argyosperma e C. pepo. As plantas de C. moschata, C. maxima e C. ficifolia têm sido
usadas como porta-enxerto na produção de pepino e melancia.
Rodrigues-Amaya (2008), estudando as fontes brasileiras de carotenoides, des-
tacou as abóboras como importantes fontes de betacaroteno. Mencionou, tam-
bém, que as plantas têm valor medicinal para os indígenas, os quais usam as se-
mentes como diurético, anti-helmíntico e antipirético. Na alimentação, os frutos
122
Capítulo 8
das espécies C. maxima e C. moschata são consumidos como abóbora madura, en-
quanto que os de C. pepo e também C. moschata são consumidos como abobrinha.
Martin (2002) indicou que as abóboras possuem poucas calorias e carboidratos,
mas são uma boa fonte de ferro, cálcio, magnésio, potássio, além de vitaminas A, C e B
e ácido fólico. Por outro lado, Ferreira (2009) relatou que as sementes de abóbora pos-
suem alto teor de óleo (mais de 39%), proteína (mais de 44%) e fósforo (mais de 1%).
Embora a abóbora seja uma hortaliça de expressão no mercado nacional, os
trabalhos de melhoramento genético para o desenvolvimento de variedades de
alta produtividade ainda são incipientes, predominando o uso de cultivares tradi-
cionais locais mantidas pelos próprios produtores (no Nordeste e Rio Grande do
Sul há preferência por frutos grandes) e que a preferência do mercado consumidor
em São Paulo é por frutos menores com polpa espessa (Camargo Filho & Maz-
zei, 2002; Bezerra Neto et al., 2006).
Os frutos das espécies de Cucurbita são conhecidos como abóbora, abóbora-
crioula, abóbora-de-pescoço, abóbora-gigante, abóbora-de-vaca, abóbora-meni-
na, moranga, entre outros. Estes nomes populares variam conforme a região e não
é possível associá-los a um determinado tipo específico de fruto, com exceção das
abóboras-de-pescoço que, por vezes, recebem denominações adicionais relacio-
nadas ao tamanho (pequena, grande), à coloração externa (amarela, branca, verde,
laranja, rajada) ou ao aspecto do pescoço (curto, comprido, reto, torto, dobrado).
Popularmente, a porção maciça destas abóboras é denominada pescoço e a por-
ção que contém as sementes é chamada de bojo (Heiden et al., 2007).
A diversidade morfológica entre as espécies cultivadas de Cucurbita é muito
grande. Esta variação fenotípica tem se mantido dessa maneira graças à atuação da
fauna de abelhas nativas para polinização. Nascimento et al. (2011) constataram que
o aumento da quantidade de pólen aplicada do progenitor masculino (C. moschata)
nos estigmas do progenitor feminino (C. maxima) aumentou a produção de semen-
tes por fruto na produção de sementes híbridas. No território brasileiro, existe uma
quantidade imensa de abóboras e pouco se sabe sobre as espécies de Cucurbita em
todas as regiões. Com as espécies de etnovariedades nativas da Amazônia, não é di-
ferente. Por isso, estudos mais profundos sobre as variações genéticas são importan-
tes para definir descritores qualitativos e quantitativos que permitam o melhor co-
nhecimento da biologia e constituição gênica dessas populações, para implantação
de um banco de germoplasma, visando à conservação do material para utilizá-lo em
um programa de melhoramento da espécie, para múltiplas finalidades. Desse modo,
foi identificada a necessidade de desenvolver novas pesquisas para caracterizar e se-
lecionar biótipos de variedades crioulas de abóboras para subsidiar o programa de
melhoramento de espécies do gênero Cucurbita para o estado do Amazonas.
123
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
124
Capítulo 8
Tonantins
Sto. Antônio de Içá Manaus
Amaturá
Tabatinga S. Paulo de Olivença
Benjamin Constant
Atalaia no Norte
Figura 1. Localização geográfica dos locais de coleta de etnovariedades crioulas de abóboras na região
do Alto Solimões, AM, Brasil.
125
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
126
Capítulo 8
Cor do Caule
Germinação
Frutificação
Maturação
Floração
(dias)
(dias)
(dias)
(dias)
*1
VC = Variedades Crioulas; CMO = Curcubita moschata; CMA = Curcubita maxima.
127
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Com relação à polpa dos frutos, três tonalidades de cores foram encontradas:
laranja intensa (77%), polpa laranja-creme (8%) e polpa amarela (15%). A colo-
ração laranjada da polpa é uma característica importante a ser considerada na
seleção em Cucurbita moschata e Cucurbita maxima, visando tanto ao consumo
doméstico quanto ao uso de produtos industrializados. Além de ser um indicador
de qualidade comercial do fruto, esta característica é positivamente correlacio-
nada com o teor de beta caroteno existente na polpa das abóboras (Rodrigue-
z-Amaya & Amaya-Farfan, 2008). Estes carotenoides são compostos poliênicos,
lipossolúveis responsáveis pelas cores atraentes, características de muitos alimen-
tos, que se estendem desde a cor amarela ao roxo (Rodriguez-Amaya & Amaya-
Farfan, 2008). As análises de variância e os testes de médias sobre os caracteres
quantitativos avaliados nas variedades crioulas de abóboras estão apresentadas
na Tabela 2.
Com exceção do caráter peso dos frutos, foram detectados contrastes significa-
tivos no nível de 5% de probabilidade pelo teste de Tukey, nos demais caracteres
avaliados. Os coeficientes de variação estimados para todos os caracteres avalia-
dos variaram de baixos a altos. Os mais altos foram observados nas características
número e peso dos frutos (56,91 e 39,19%) respectivamente, considerados des-
critores complexos diretamente afetados com o desenvolvimento das plantas em
ambientes desfavoráveis.
A maior parte dessas variedades crioulas de abóbora produziu, em média, entre
1 e 3,3 frutos (Tabela 2), o que é uma produção considerada muito baixa. As varie-
dades crioulas 1 e 2 oriundas de Tonantins foram as que produziram mais frutos
por planta (17,3 e 11,7) respectivamente.
Os valores médios do diâmetro e comprimento dos frutos, variando de 9,8
a 20,5 cm e de 9,0 a 28,7 cm, respectivamente, demonstram que os frutos pro-
duzidos por essas variedades crioulas são relativamente pequenos. É possível
que no processo de seleção praticado pelos índios e caboclos, eles tenham dado
preferência para aquelas que produziam frutos menores Figura 3. Mas, não se
pode descartar que essa prática seletiva pode ter sido feita para atender às exi-
gências do mercado consumidor da região, onde os compradores manifestassem
preferências por frutos (de pequeno porte) inteiros, em vez de frutos (grandes)
cortados.
128
Capítulo 8
14 1,0 c 16,3 ab 15,6 bcd 1,9 28,6 a 179,88 abc 71,74 abcde
20 1,0 c 19,3 ab 18,3 bc 2,02 24,2 abc 218,15 abc 81,17 abc
*1
Médias seguidas pelas mesmas letras nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey ao nível de
5% de probabilidade.
129
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
130
Capítulo 8
Figura 4. Detalhes dos frutos inteiros e cortes transversais e longitudinais em C. moschata e C. maxima
(A, B, C, D), procedentes da região do Alto Solimões, Amazonas, Brasil.
Conclusões
Das treze procedências de abóboras avaliadas, doze variedades crioulas foram
identificadas como Cucurbita moschata e uma Cucurbita maxima. Nas observações
fenológicas observou-se que a germinação das sementes, a frutificação e a matu-
ração dos frutos ocorreram, respectivamente entre três e quatro dias, 44 e 70 dias e
68 e 115 dias, após a semeadura.
O tamanho dos frutos, levando em consideração os valores médios do diâmetro e
comprimento, variou de 9,8 a 20,5 cm e de 9,0 a 28,7 cm, respectivamente, portanto, fo-
ram considerados pequenos. A variabilidade genética encontrada no peso das semen-
tes permitirá a produção de frutos em função do uso de sementes por área cultivada.
A variabilidade fenotípica detectada nos frutos das variedades crioulas permi-
tiu a seleção de vários materiais genéticos que poderão ser imediatamente utiliza-
131
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Agradecimentos
Ao Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, pela oportunidade de
estágio que ao longo dos anos tem oferecido aos estudantes universitários do es-
tado do Amazonas, para que eles possam aumentar seus conhecimentos técnicos
e científicos; à equipe de trabalho da Estação Experimental de Hortaliças – EEH/
CPCA “Dr. Alejo von der Pahlen”, na manutenção em campo e nas atividades de ava-
liação do experimento em laboratório; ao Conselho Nacional de Desenvolvimento
Científico e Tecnológico – CNPq, pela concessão da bolsa de estudo remunerada e
o incentivo ao estudante universitário na Iniciação Científica.
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Capítulo 8
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133
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
134
CAPÍTULO 9
1 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA,
Av. André Araújo, 2396, Petrópolis, 69011-970, Manaus, AM. E-mail: fsa.nsu@bol.com.br, jubeiro@gmail.com;
2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde – CSAS-INPA, Manaus, AM. E-mail: danilo@inpa.gov.br, souzalag@inpa.gov.br.
Introdução
O que torna a agricultura urbana um objeto de interesse é o contraste observa-
do nesta atividade em relação ao processo de urbanização. Por isso, a urbanização
constitui a mais importante transformação social da atualidade. Miguel e Grando
(2002) estimaram que no ano 1800 somente 3% da humanidade vivia nas cidades.
Atualmente, cerca de 50% da população mundial é urbana, mesmo que ainda per-
sistam contradições do que seja uma sociedade rural ou urbana.
Quanto mais o processo de urbanização avança, mais importantes se tornam as
iniciativas de práticas agrícolas em áreas urbanas. Baseados em um dos relatórios
da Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2011, Vinholi e Martins (2012)
registraram que o planeta Terra atingiu a marca de 7 bilhões de seres humanos e,
nesta fase, cerca de 78 milhões de pessoas nasciam a cada ano. O estudo fez um
balanço do crescimento desde que o contingente mundial chegou a 1 bilhão de
habitantes, por volta de 1800, em apenas duzentos anos. Segundo a ONU-HABI-
TAT: a população urbana da América Latina atingirá 89% desse número em 2050.
Seguindo a tendência mundial, a população brasileira terá 80% da sua população
vivendo nas grandes cidades.
Diante da desafiadora missão de alimentar essa população urbana é que a FAO,
órgão das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, criou, em 2001, o progra-
ma de horticultura urbana e periurbana, salientando a importância de práticas sus-
tentáveis, como a inserção da agricultura urbana na produção de alimentos para
as cidades. A agricultura urbana é definida como a produção alimentar, vegetal ou
animal, que ocorre dentro dos limites da zona urbana ou do seu entorno (periur-
bano) praticada em quintais, jardins, hortas, pomares, casas, escolas, em cima de
tetos, espaços públicos, entre outros. Inserida neste contexto, a horticultura urba-
na já é uma das mais importantes fontes produtoras de hortaliças frescas (Vinholi
e Martins, 2012), o que é feito com menor dispêndio energético no transporte
e escoamento, reduzindo o consumo de petróleo pela proximidade do mercado
consumidor.
Muitas técnicas de cultivo alternativo têm sido empregadas no desenvolvimen-
to da agricultura urbana mundial. O cultivo de hortaliças em áreas urbanas é pra-
ticado em diversos países no mundo, para a melhoria da qualidade alimentar e da
geração de renda. A área de produção limitada no perímetro urbano estimula o
desenvolvimento de práticas que otimizem a produção como é a hidroponia. Des-
considerando-se o entendimento generalizado de que a produção de hortaliças
em sistema hidropônico é onerosa, por necessitar de equipamentos sofisticados e
de mão de obra altamente especializada, a formação de cooperativas ou microem-
136
Capítulo 9
137
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
ço de tempo, tornando essa técnica uma ótima alternativa para cultivos de hortali-
ças, permitindo, inclusive, a geração de renda e emprego para pequenos produto-
res da área urbana (Abrantes, 2004).
No ambiente escolar de área urbana, as pesquisas participativas realizadas
com estudantes do ensino fundamental, mostraram aos alunos que as plantas não
necessitam necessariamente do solo para produzir com qualidade, visto que nos
sistemas de produção hidropônico o fornecimento de nutrientes essenciais aos ve-
getais é balanceado e controlado.
A hidroponia consiste em uma técnica de cultivo sem o uso de solo, sendo que
a demanda de nutrientes requerida para o desenvolvimento normal da planta é su-
prida pelo fornecimento de uma solução aquosa que contenha todos os nutrientes
necessários, conhecida como solução nutritiva. Por possibilitar um maior controle
sobre as condições de cultivo, a tecnologia hidropônica tem como vantagem mi-
nimizar alguns dos problemas relacionados com os modelos predominantes de
produção, tais como a redução no desperdício de água, energia, insumos, dentre
outros (Menezes et al., 2004).
Tipos de hidroponia
Há diversos tipos de sistemas hidropônicos. Estes variam de acordo com a es-
trutura, substrato e fornecimento de oxigênio. Os três sistemas mais usados em
escala comercial, são:
138
Capítulo 9
Figura 1. Plantas de beterraba (Beta vulgaris) cultivadas em sistema hidropônico com substrato poroso.
139
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Como recipiente podem ser usados vasos cerâmicos ou plásticos, caixas de ma-
deira de diversos tamanhos e formas, garrafas e até mesmo pneus usados, o que
contribui para a reciclagem de materiais nas cidades. Um cuidado importante com
relação ao uso de recipientes é evitar que eles sejam feitos de materiais que pos-
sam causar toxidez às plantas. É importante, também, que os recipientes tenham
orifícios em suas bases, para que possam drenar o excesso de solução nutritiva,
para que não ocorra a morte das plantas por falta de oxigenação das raízes. A so-
lução drenada pode ser coletada em um recipiente e ser novamente aproveitada.
Na Figura 3, está apresentado um esquema de uma unidade simples dessa moda-
lidade de cultivo.
Solução
Nutritiva
Registro
Gotejadores Rede
Ajustáveis Principal
Reservatório
Microtubos
Vaso com
Substrato
Reservatório
de Coleta
140
Capítulo 9
B) Substrato
C) Solução salina
141
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Bomba
Solução Nutritiva
Figura 4. Esquema de funcionamento de uma bancada de cultivo em sistema de fluxo laminar de nu-
trientes.
142
Capítulo 9
Figura 5. Modelo estrutural de uma casa de vegetação aberta, com cobertura plástica apropriada para
o cultivo hidropônico em sistema de fluxo laminar de nutrientes.
143
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
144
Capítulo 9
Figura 6. Sistema hidropônico de cultivo na água, empregando oxigenação manual (é usada quando
não se dispõem de oxigenadores elétricos, podendo ser realizada duas vezes ao dia, uma pela manhã e
outra à tarde pelo tempo de um minuto).
Figura 7. Sistema hidropônico para produção de alface (Lactuca sativa) conduzida na água, em escala
comercial.
145
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
146
Capítulo 9
147
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
148
Capítulo 9
foi dissolvida em 3 L de água. Cada saquinho com sais minerais foi dissolvido em
um recipiente, formando cinco recipientes com solução concentrada, que depois
foi completada com água até atingir 5 L de solução. A Figura 10 apresenta o esque-
ma de preparo da solução concentrada. A diluição dos sais em embalagens de 5 L
teve por objetivo facilitar o preparo da solução nutritiva em menores quantidades,
bastando utilizar as proporções equivalentes de cada embalagem (5 mL de cada
solução concentrada para um litro de solução nutritiva).
Figura 10. Esquema de preparo da solução nutritiva a partir do kit de sais de hidroponia que são comer-
cializados nas lojas especializadas.
149
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 11. Alunos apresentando os resultados da prática de produção de hortaliças em sistema hidropônico.
150
Capítulo 9
as atividades foram desenvolvidas na escola, 100% dos alunos cursavam o ensino fun-
damental e 100% dos professores eram portadores do título de ensino superior.
Com relação ao tipo de moradia que habitam, 91% dos pais moravam em casas,
9% em apartamentos. Já os alunos, 96% moravam em casas e 4% em apartamentos
e os professores 64% moravam em casas e 36% em apartamentos. Observou-se
que 83%, 38% e 72%, respectivamente, dos pais, alunos e professores declararam
que possuíam espaço para hortas e jardins em suas moradias.
Nenhum dos pais tinha conhecimento do conceito de hidroponia antes do pro-
jeto. Entre os alunos e professores, respectivamente, 3% e 19% sabiam defini-la bem,
enquanto 11% e 14% dos alunos e professores tinham somente leve noção. Na avalia-
ção do conhecimento dos pais, alunos e professores sobre o conceito de agricultura
orgânica, somente 14%, 21% e 77%, respectivamente, responderam corretamente o
conceito. No início do projeto, 82% dos pais não sabiam definir o que era meio ambien-
te e os 18% restante responderam que se relacionava a questões como: preservar a na-
tureza; plantas e animais ou a floresta. O mesmo foi aplicado ao conceito de educação
ambiental. Todos os participantes acham importante que os filhos aprendam sobre o
meio ambiente e agricultura. Isso demonstra que os atores envolvidos nesta atividade
são favoráveis ao modelo de educação participativa e interativa para seus filhos.
Considerações finais
No desenvolvimento do projeto piloto “Hidroponia na Escola: Uma proposta
para aprendizagem de práticas agrícolas e educação ambiental”, foi verificado que
uma horta hidropônica serviu de instrumento metodológico de ensino e aprendi-
zagem aos pais, alunos e professores. Nos testes preliminares com quatro espécies
de hortaliças folhosas, a alface, a chicória e o cariru apresentaram ótimo desenvol-
vimento no sistema de cultivo hidropônico. A condução da pesquisa participativa
teve papel de difusão do conhecimento técnico para despertar o interesse para os
cultivos hidropônicos como uma forma alternativa de produzir hortaliças no espa-
ço limitado do ambiente urbano.
Referências bibliográficas
Abrantes, J. 2004. A interdisciplinaridade no ensino médio. Augustus, 18: 16-31.
Cardoso, F. 2000. Alface atinge limite de excelência. Frutas e Legumes, 6: 7-11, 2000.
151
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Douglas, J. S. 1987. Hidroponia: cultura sem terra. 6. ed. São Paulo: Nobel. 144p.
Sediyama, M.; Pedrosa, M. W.; Garcia, N. C. P.; Garcia, S. R. L. 2000. Seleção de culti-
vares de alface para cultivo hidropônico. Horticultura Brasileira 18: 244-245.
Thiollent, M. 20011. Metodologia da pesquisa-ação. 18. ed. Cortez, São Paulo, 136p.
152
CAPÍTULO 10
1 Coordenação de Biodiversidade, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CBIO-INPA, Av. André Araújo, 2936,
2 Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Av. General Rodrigo Otávio, 3000, 69077-000, Coroado I, Manaus, AM.
E-mail: bethrodreb@yahoo.com.br
Introdução
A Amazônia possui inúmeras espécies frutíferas nativas que constituem um
grande potencial para o desenvolvimento socioeconômico da região. Dentre estas
espécies, encontra-se o araçá-boi (Eugenia stipitata ssp. sororia McVaugh), perten-
cente à família Myrtaceae que, nos últimos anos, tem despertado interesse pelas
qualidades organolépticas e possibilidade de aproveitamento agroindustrial dos
frutos, além do alto índice de produção por planta (Ferreira e Gentil, 1999). O
araçá-boi possui frutos suculentos, com aroma e sabor agradáveis que podem ser
consumidos na forma de refrescos, doces, néctares, geleias, licores, iogurtes etc.
(Andrade et al., 1997; Ferreira e Gentil, 1999).
A propagação do araçá-boi via sementes é a mais comum, entretanto o proces-
so germinativo é lento e desuniforme (Chávez e Clement, 1984; Anjos e Ferraz,
1999), evidenciando-se a presença de dormência. Pinedo et al. (1981), Anjos e Ferraz
(1999), além de Gentil e Ferreira (1999) afirmaram que a dormência nas sementes des-
sa espécie pode ser devido à resistência tegumentar, ausência de eixo embrionário ou
presença de substâncias químicas inibidoras da germinação. Gentil e Ferreira (1999)
constataram que a destegumentação parcial ou total da semente de araçá-boi reduz,
em parte, o período de germinação, contribuindo para a superação da dormência.
A germinação natural das sementes pode ser influenciada pela disponibilidade de
água, grau de temperatura e taxa de oxigênio, além de, algumas vezes, quando da pre-
sença de dormência, sofrer influência da luz (Carvalho e Nakagawa, 1983), o que
ocorre especialmente em espécies pioneiras. Tendo em vista que o substrato onde a
germinação se processa pode alterar estes fatores, devido a sua estrutura, aeração e ca-
pacidade de retenção de água, dentre outros, pode-se dizer que este também favorece
ou prejudica a germinação das sementes (Wagner Júnior et al., 2006).
Especificamente para o araçá-boi, Chavez e Clement (1984) verificaram que o
carvão vegetal quebrado e fino permite a expressão de 100% de taxa de germina-
ção, entre 80 e 90 dias após a semeadura, enquanto a média da espécie em outros
substratos fica entre 80-90% de germinação, distribuída em períodos mais longos.
Conforme Anjos apud Ferreira e Gentil (1999), as temperaturas classificadas como
mínima, ótima e máxima, para emergência da raiz primária de araçá-boi foram 15º
C, 30º C e < 35º C, respectivamente. A escassez de informações sobre a germinação
de sementes de araçá-boi aliada ao crescente interesse de cultivar essa espécie,
evidenciam a necessidade de pesquisas para avaliar a composição do substrato
adequado para a boa germinação, bem como o estabelecimento do processo ger-
minativo em diferentes regimes de temperatura.
154
Capítulo 10
155
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
156
Capítulo 10
ns
Não significativo a 5% de probabilidade pelo teste F; ** Significativo a 1% de probabilidade pelo teste F.
ns
A testemunha não diferiu significativamente do conjunto dos tratamentos, pelo teste F, a 5% de pro-
babilidade; As médias seguidas de mesma letra na vertical, dentro de cada fator, não diferem significa-
tivamente entre si pelo teste Tukey ao nível de 5% de probabilidade.
157
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Conclusões
O substrato composto de serragem de madeira + areia + carvão moído (1/1/1,
v/v/v), umedecido com água o equivalente a 50% de sua capacidade de retenção,
sob o regime de temperaturas mínima e máxima médias de 26 ± 0,9º C e 30 ± 1,5º
C, respectivamente, foi a condição mais adequada para a germinação de sementes
de araçá-boi em sacos plásticos fechados.
158
Capítulo 10
Referências bibliográficas
Andrade, J. S.; Ribeiro, F. C. F.; Aragão, C. G.; Ferreira, S. A. N. 1997. Adequação
tecnológica de frutos da Amazônia: licor de araçá-boi (Eugenia stipitata McVaugh).
Acta Amazonica, 27: 273-278.
159
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Wagner Júnior, A.; Alexandre, R. S.; Negreiros, J. R. S.; Pimentel, L. D.; Silva,
J. O. C.; Bruckner, C. H. 2006. Influência do substrato na germinação e desenvol-
vimento inicial de plantas de maracujazeiro amarelo. Ciência e Agrotecnologia,
30: 643-647.
160
CAPÍTULO 11
1 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Introdução
Os estudos sobre germinação de sementes são indispensáveis para o aproveita-
mento de espécies nativas e podem ser importantes para a silvicultura de espécies
florestais da Amazônia, cuja madeira tem valor comercial. Das famílias de plan-
tas numericamente dominantes na flora amazônica, as Fabaceae (Leguminosae),
constituem-se em um grupo natural abundante com morfologia variada de frutos
e sementes (Silva, 1976). Por esta razão, os estudos de germinação das sementes
tais como, a determinação de métodos para a superação de dormência, definem a
melhor técnica a ser empregada no processo de germinação rápida e eficiente para
muitas espécies.
As pesquisas sobre características silviculturais e de germinação de sementes
de Fabaceae vêm sendo desenvolvidas na região amazônica. Considerando-se a
biodiversidade local, esses estudos são de pequena escala, existindo, ainda, mui-
tas espécies que precisam ser avaliadas quanto ao método pré-germinativo mais
eficiente. As informações agronômicas e silviculturais precedem todos os outros
estudos, para cultivo comercial das espécies, que apresentam potencial econômi-
co ou ecológico. Os estudos sobre a germinação natural de sementes das espécies
de Fabaceae (Leguminosas) da Amazônia efetuados por Silva et al., (1988), indica-
ram que sete, dentre dez espécies enquadravam-se nos padrões de germinação
rápida (menos de 60 dias). Souza et al. (1997) reuniram informações sobre resul-
tados experimentais obtidos em estudos desenvolvidos sobre a germinação das
sementes de 25 espécies de interesse agrosilvicultural na Amazônia, dentre elas,
espécies que apresentam mecanismos consistentes de dormência das sementes.
Geralmente, com as Leguminosas, o mecanismo mais importante de dormência é
a dureza e impermeabilidade do tegumento, o que requer métodos para superar
essa impermeabilidade permitindo a embebição, etapa inicial do processo fisioló-
gico que precede a germinação do embrião.
Diante da elevada biodiversidade vegetal da Amazônia, alguns grupos de pes-
quisa têm desenvolvido estudos sistemáticos para gerar informações agronômicas
e silviculturais para as espécies que apresentam potencial econômico. No INPA, o
grupo do Laboratório de Microbiologia do Solo pesquisa a propriedade da fixação
biológica de nitrogênio em leguminosas nativas da Amazônia e conduz ensaios
experimentais para esclarecer as técnicas agronômicas adequadas para a boa ger-
minação, preparo das mudas e adaptação das espécies para o plantio definitivo.
No elenco das espécies estudadas, quatro pertencem ao gênero Peltogyne. As es-
pécies de Peltogyne possuem sementes duras e impermeáveis. As pesquisas reali-
zadas envolveram a aplicação de métodos pré-germinativos para a superação das
162
Capítulo 11
163
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Tabela 1. Informações sobre a data de coleta, local, ambiente, tipo de solo e núme-
ro de registro em herbário de quatro espécies de Peltogyne, coletadas na Amazônia.
No de
Espécies Data da coleta Local da coleta Ambiente*1 Classe de solo
herbário
P. catingae 04/04/2008 São Gabriel, AM C Espodossolo 223.869
*1
C – campinarana; MR – mata ribeirinha, I – Igapó.
164
Capítulo 11
Total de Período do
Espécies Data do experimento Delineamento
sementes ensaio (dias)
P. catingae 23/04/2008 3 x 10 150 48
Os parâmetros aplicados para avaliação dos efeitos dos tratamentos foram: o nú-
mero de sementes germinadas, a germinação (%), o Índice de Velocidade de Emer-
gência (IVE) e o período germinativo, determinado para cada espécie. As determina-
ções do IVE foram efetuadas segundo Popinigis (1977), conforme a expressão abaixo:
IVE =
Σ Número de sementes germinadas por dia
Número de dias após a semeadura
165
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 1. Aspectos da morfologia das sementes de pau-roxo-da-caatinga (Peltogyne catingae) (A), pau-ro-
xo (P. gracilipes) (B), mulateiro (P. paniculata pubescens) (C) e pau-roxo-do-igapó (P. venosa densiflora) (d).
166
Capítulo 11
167
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
168
Capítulo 11
Índice de Período
No de sementes Germinação
Tratamentos Velocidade de germinativo
germinadas (%)
Emergência (dias)
1
As médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilida-
de (P<0,01) e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey.
169
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Índice de Período
No de sementes Germinação
Tratamentos Velocidade de germinativo
germinadas (%)
Emergência (dias)
Testemunha 15 a 100,0 a 0,94 a 1a
Teste F 14708,27 **
607,84 **
17934,55 **
16,86**
1
As médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilida-
de (P<0,01) e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey.
É possível que também para esta espécie a escarificação ácida por 15 a 25 minu-
tos tenha permitido a corrosão de estruturas internas, afetando a sobrevivência do
embrião. Para outras espécies de Fabaceae, como o pau-ferro (Caesalpinia ferrea), a
escarificação das sementes com H2SO4 por 15 a 30 minutos é recomendada para a
superação da dormência (Crepaldi et al., 1998).
A dormência das sementes atribuída à impermeabilidade do tegumento, carac-
terística muito comum em Fabaceae, é adquirida após a maturação, decorrente de
processos de dessecação. O hilo da semente é uma membrana semi-impermeável
que permite a perda de água para o meio externo, mas não o seu retorno para o
interior da semente (Carvalho & Nakagawa, 1980). Assim, na medida em que
aumenta a dureza e a impermeabilidade do tegumento, o hilo não permite que a
semente seja reidratada demandando a aplicação de um tratamento escarificador
para reverter a impermeabilidade da semente. No ambiente natural, os impactos
mecânicos, deterioração microbiana ou de insetos, algumas vezes, quebram o pro-
cesso de dormência que foi instalado, entretanto seu impacto é específico para a
unidade de semente susceptível ao dano.
A germinação de pau-roxo é do tipo epígea. O início da germinação ocorre aos
16 dias após a semeadura e o período germinativo foi de somente um dia nas se-
mentes não escarificadas ou tratadas com H2SO4/5min. O período germinativo foi
de 5 dias nas sementes escarificadas mecanicamente estendendo-se do 16º ao 21º
170
Capítulo 11
171
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
No de Índice de Período
Germinação
Tratamentos sementes Velocidade de germinativo
(%)
germinadas Emergência (dias)
Testemunha 0b 3,33 c 0,01 b 1c
172
Capítulo 11
120
100
Germinação acumulada (%)
80
60
40
20
0
8 12 14 16 19 23 33 37 40 56
173
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
e muito esgalhada. O diâmetro do tronco da matriz cujos frutos foram coletados foi
de 20 cm, com circunferência à altura do peito de 62,8 cm. São árvores tolerantes
às inundações regulares do rio Negro. Na dispersão, os frutos marrons permanecem
na copa da árvore por algumas semanas. Ao cair, flutuam na água, dispersando por
hidrocoria. Trata-se de uma espécie madeirável de importância econômica residindo
aí seu principal potencial de aproveitamento silvicultural.
120
100
Germinação (%)
80
60
40 y = -2.67x + 111.11
R2 = 0.54
20
0
0 5 10 15 20 25 30
174
Capítulo 11
Índice de Período
No de sementes Germinação
Tratamentos Velocidade de germinativo
germinadas (%)
Emergência (dias)
Testemunha 0d 0,0 c 0,0 d 0b
Teste F 84,31 **
46,85**
78,34**
13,03**
1
As médias seguidas das mesmas letras nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilida-
de (P<0,01) e as comparações entre médias foram feitas pelo teste de Tukey.
175
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
70
60
50
40
30
20
10
0
13 14 15 16 18 19 20 21 22 24 25 26 27 32
176
Capítulo 11
100
90
y = - 3,08x + 96,25
80
R2 = 0,89
Germinação (%)
70
60
50
40
30
20
10
0
0 5 10 15 20 25 30
n=9
Tempo de imersão em ácido sulfúrico concentrado (minutos)
Figura 5. Relações entre o tempo de imersão em H2SO4 e a germinação das sementes de pau-roxo-do-iga-
pó (Peltogyne venosa subsp. densiflora) (n = 9).
Conclusões
As espécies de Peltogyne catingae, P. gracilipes, P. paniculata pubescens e P. ve-
nosa densiflora, embora apresentem diferenças no seu ambiente ecológico de
origem, mostraram pouca variação nos aspectos morfológicos da semente, com
relação a suas dimensões e coloração, e também quanto à dureza, brilho e imper-
meabilidade do tegumento após a maturação da semente. Foi confirmada a exis-
tência de mecanismos atuantes de dormência em espécies de Peltogyne catingae,
P. paniculata pubescens e P. venosa densiflora. A escarificação de baixa intensidade,
tal como a escarificação mecânica manual das sementes por atrito em pedra de
esmeril e a exposição ao ácido sulfúrico concentrado por 5 minutos promoveram
177
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Referências bibliográficas
albuquerque, K. S.; Guimarães, R. M.; Almeida, I. F.; Clemente, A. C. S.
2007. Métodos para a superação da dormência em sementes de sucupira-pre-
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Alves, E. U.; Cardoso, E. A.; Bruno, R. L. A.; Alves, A. U.; Alves, A. U.; Galindo,
E. A.; Braga Júnior, J. M. 2007. Superação da dormência em sementes de Caesal-
pinia pyramidalis Tul. Revista Árvore, Viçosa, v. 31 (3): 405-415.
178
Capítulo 11
Lemos Filho, J. P.; Guerra, S. T. M.; Lovato, M. B.; Scotti, M. R. M. M. L. 1997. Ger-
minação de sementes de Senna macranthera, Senna multijuga e Stryphnodendron
polyphyllum. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 32 (4).
179
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
180
CAPÍTULO 12
1 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Introdução
O gênero Dimorphandra é exclusivo do neotrópico e pertence à família Fabace-
ae, subfamília Caesalpinioideae, tribo Dimorphandreae, onde estão abrigadas 26
espécies reconhecidas pela ciência (Roskov et al., 2007), todas elas apresentan-
do porte arbóreo. A fava-d’anta (Dimorphandra coccinea Benth.) é uma árvore de
grande porte nativa da região amazônica sendo, até o momento, somente regis-
trada no estado do Amazonas (Silva et al., 1989). Neste gênero, as espécies mais
conhecidas são a D. mollis e D. gardneriana, que são cultivadas para a produção
de frutos, explorados pela presença de um glicosídeo – a rutina, por suas proprie-
dades farmacológicas (Matos, 1982). Dentre os usos medicinais citados estão o
tratamento de afecções escorbúticas, blenorragia, diarreia, hemorragia, hemopti-
ses, leucorreias etc., conforme Vieira (1992). Embora as espécies deste gênero não
sejam muito conhecidas como madeireiras, a anatomia do lenho de sete espécies
de Dimorphandra foi estudada por Loureiro (1984), fornecendo informações sobre
o seu uso e propriedades tecnológicas. A casca das árvores, rica em tanino, tem uso
corrente na indústria do couro e as vagens são tóxicas para o gado, excluindo o seu
uso forrageiro (Lorenzi, 2002).
Sabe-se que a dormência de sementes é um processo caracterizado pelo
atraso da germinação, quando as sementes mesmo em condições favoráveis
de umidade, temperatura, luz e oxigênio, não germinam (Floriano, 2004). O
fenômeno de dormência em sementes advém de uma adaptação da espécie às
condições ambientais em que ela se reproduz. É, portanto, um recurso utilizado
pelas plantas para germinarem na estação mais propícia ao seu desenvolvi-
mento, buscando, através disto, a perpetuação da espécie ou colonização de
novas áreas (Vieira e Fernandes, 1997). Portanto, quando nos deparamos
com este fenômeno há a necessidade de se observar como as espécies supe-
ram o estado de dormência em condições naturais para buscar alternativas
para obtenção de uma germinação rápida e homogênea, facilitando a fase de
formação das mudas. Este processo é chamado de superação de dormência ou
quebra de dormência.
A dormência pode ser tegumentar ou exógena e embrionária ou endógena,
podendo ocorrer independentemente uma da outra ou simultaneamente na mes-
ma semente (Fowler e Bianchetti, 2000), neste caso chamado de dupla dor-
mência (Kramer e Kozlowski, 1972). A dormência exógena é devida à imperme-
abilidade do tegumento à água ou gases e a endógena pode ser relacionada com a
imaturidade do embrião, ou à inibição fisiológica que o impede de se desenvolver,
etapa que caracteriza o início dos processos germinativos.
182
Capítulo 12
Nas Fabaceae a dormência das sementes pode ser relacionada a fatores físicos
quando é caracterizada pela impermeabilidade do tegumento à água e gases e
é superada através da escarificação. Em muitas espécies, os mecanismos de dor-
mência podem ser relacionados a fatores químicos, algumas vezes devido à pre-
sença de inibidores no pericarpo ou mesmo mecânicos, provocados pela resistên-
cia do tegumento ao crescimento do embrião, devendo-se remover o pericarpo
para superá-la. Há ainda a influência de características morfológicas e fisiológicas
(Fowler e Bianchetti, 2000).
A escarificação ácida pode ser o método mais adequado para superar a dor-
mência do tipo tegumentar ou exógena. Neste processo, as sementes são imersas
em ácido sulfúrico, por um determinado tempo, que varia em função da espécie, à
temperatura entre 19º C e 25º C, sendo então lavadas em água corrente e coloca-
das para germinar. Outros tratamentos aplicados para a superação de dormência
em sementes são imersões em água quente ou fria e a escarificação mecânica do
tegumento.
Frente à necessidade urgente da reposição da vegetação nativa ou recupe-
ração de áreas desmatadas na Amazônia ou em outras partes, a compreensão
da biologia reprodutiva das essências nativas, permitida pelos estudos auto-
ecológicos, é importante para que esta recomposição florestal possa ser feita
de forma racional. Conforme Araújo Neto et al. (2003), nos últimos anos tem
se intensificado o interesse na propagação de espécies florestais nativas, devi-
do à ênfase atual nos problemas ambientais, ressaltando-se a necessidade de
recuperação de áreas degradadas, recomposição da paisagem ou mesmo de
produção mais intensiva de madeira ou outros subprodutos não madeireiros
de origem florestal. As espécies de Dimorphandra tornam-se importantes para
o reflorestamento, por já terem sido descritas como plantas nodulíferas e fixa-
doras de nitrogênio (Faria e Sprent, 1994). Entretanto, diante da megabio-
diversidade em espécies arbóreas da floresta amazônica, não há conhecimen-
to disponível para a tecnologia de sementes da maioria dessas espécies. Há,
também, a necessidade de se obter informações básicas sobre a germinação,
cultivo e potencialidade das espécies nativas, visando sua utilização para os
mais diversos fins.
Os objetivos deste estudo foram: confirmar a ocorrência de dormência nas se-
mentes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea); pesquisar um método adequado
para a superação da dormência das sementes de fava-d’anta e obter informações
silviculturais sobre a fase sementeira para a formação de mudas de fava-d’anta sob
enviveiramento.
183
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Procedências
Características registradas
Manaus São Gabriel da Cachoeira
Data da coleta 31/05/2007 07/07/2007
Após a obtenção dos frutos, estes foram secos ao ar por 72 horas e, posterior-
mente, as sementes foram extraídas mecanicamente com o auxílio de um martelo.
Para as sementes coletadas após a dispersão dos frutos foi feita uma limpeza dos
lotes e estas foram secas ao ar. Um teste de pureza dos frutos foi efetuado com
184
Capítulo 12
185
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
186
Capítulo 12
187
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
*1
Médias seguidas da mesma letra nas colunas não diferem entre si no nível de 1% de probabilidade (P
< 0,01); ns – não significativo.
188
Capítulo 12
Período
Germinação Nº de sementes
Tratamentos NSG IVE germinativo
(%) inteiras
(dias)
Testemunha 0b 0b 0c 0c 20 a
*1
NSG – Número de Sementes Germinadas; IVE – Índice de Velocidade de Emergência.
189
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
190
Capítulo 12
50
45
Germinação acumulada (%)
40
35
30
25
20
15
10
5
0
6 7 8 9 10 13 15 17 20 21 22
70
60
Germinação acumulada (%)
50
40
30
20
10
0
6 7 8 9 10 13 15 17 20 21 22
Figura 2. Efeito do tempo de imersão em ácido sulfúrico concentrado para superação da dormência de
sementes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea) sobre a porcentagem diária e acumulada de semen-
tes germinadas.
191
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
80
y = 3,2x + 2,33
70 R2 = 0,78
60
Germinação (%)
50
40
30
20
10
0
0 5 10 15 20 25
192
Capítulo 12
Diária Acumulada
100
80
Germinação (%)
60
40
20
0
6 7 8 9 10 13 15
193
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Conclusões
Foi comprovada a existência de mecanismos atuantes de dormência em se-
mentes de fava-d’anta (Dimorphandra coccinea) e a escarificação química com
H2SO4 por 15 a 20 minutos favoreceu a quebra de dormência das sementes desta
espécie. Para os tratamentos empregados, a correlação entre a porcentagem final
de germinação e IVE, com o período de exposição ao ácido, foi linear e positiva. Foi
também demonstrada a eficiência do tratamento escarificador com H2SO4 por 20
minutos de exposição para mais de uma procedência de sementes desta espécie.
Referências bibliográficas
Amaro, M. S.; Mendes, R. M. S.; Lucena, E. M. P. 1997. Avaliação de métodos para
superar a dormência de sementes de dez espécies arbóreas ocorrentes na chapada
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Bianchetti, A.; Martins, E. G.; Fowker, J. A. P.; Ramos, A.; Alves, V. F. 1995.
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lombo: EMBRAPA-CNPF, 1995, 1p. (EMBRAPA-CNPF. Comunicado Técnico 2).
194
Capítulo 12
Kramer, P. J.; Kozlowski, T. 1972. Fisiologia das árvores. Lisboa: Fundação Ca-
louste Gulbenkian.
195
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Roskov, Y. R.; Bisby, F. A.; Zarucchi, J. L.; Schrire, B. D.; White, R. J., (Eds.) 2007.
ILDIS World Database of Legumes: Draft checklist, version 10 (November 2007).
CD-ROM. ILDIS: Reading, U.K.
Silva, M. F.; Carreira, L. M. M.; Tavares, A. S.; Ribeiro, I. C.; Jardim, M. A. G.;
Lobo, M. G. A.; Oliveira, J. O. 1989. As leguminosas da Amazônia Brasileira. Lista
prévia. Acta Botânica Brasílica, v. 2, n. 1, p. 193-237.
196
CAPÍTULO 13
2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Introdução
A tecnologia agrosilvicultural, tradicionalmente empregada para a implantação
de cultivos perenes não pode abdicar da fase de formação de mudas, geralmente
conduzida nos viveiros florestais. A pesquisa tecnológica na fase de viveiro geral-
mente está relacionada com: o tamanho do recipiente, a nutrição mineral das mu-
das, a seleção de genótipos – especialmente de espécies não domesticadas – e
também a composição da mistura substrato empregada para a obtenção de mu-
das de boa qualidade para o plantio. Os componentes mais frequentes nas mistu-
ras incluem um solo argiloso, areia e a suplementação de nutrientes por meio de
matéria orgânica mineralizada na forma de composto orgânico.
Os substratos empregados na produção de mudas possuem características físi-
cas, químicas e biológicas que são consideradas na sua escolha. Assim, prioriza-se
o preparo de misturas substratos, em detrimento do uso de solos puros ou compo-
nentes isolados (Souza e Ribeiro, 2007). Entre as características físicas mais im-
portantes das misturas substratos estão: textura, estrutura, porosidade, densidade
aparente, higroscopicidade e compactação (Landis, 1990). Por outro lado, para as
características químicas considera-se: a disponibilidade de nutrientes, a composição
da fração coloidal, o teor de matéria orgânica, o percentual e tipos de minerais de
argila, a capacidade de troca catiônica, o pH e a relação Carbono/Nitrogênio. Por fim,
para as características biológicas, que também influenciam o substrato ideal para a
formação das mudas, estão as relacionadas à presença de patógenos, de organismos
decompositores, de rizóbios e de micorrizas (Carneiro, 1995; Landis, 1990).
Os substratos têm função de: servir de suporte para a formação da muda agro-
florestal, favorecer o desenvolvimento do sistema radicular, possibilitar a formação
de um torrão firme e ter uma boa capacidade de retenção de nutrientes e de umi-
dade. Alguns estudos experimentais sobre a composição da mistura substrato para
produção de mudas já foram realizados, mas há poucas recomendações tecnológi-
cas a serem implementadas nos viveiros florestais (Nappo et al., 2001).
Um substrato adequado é o que permite uma boa formação das mudas num
tempo pré-determinado. Para tanto, este deve ser de fácil manuseio, permitindo
rápido enchimento dos recipientes; ser de fácil assepsia, para evitar problemas fi-
tossanitários; reter umidade e nutrientes suficientes para as mudas; e permitir ae-
ração adequada para o desenvolvimento do sistema radicular das mudas florestais.
A formação de um torrão resistente ao manuseio reduz a perda no transporte das
mudas até as áreas de plantio definitivo. Adicionalmente, os componentes da mis-
tura devem ser de baixo custo, fácil obtenção e garantia de suprimento regular
(Sturion et al., 2000; Nappo et al., 2001).
198
Capítulo 13
199
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
200
Capítulo 13
201
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 2. Planta de tefrósia (Tephrosia candida) cultivada na Estação Experimental de Fruticultura Tropi-
cal do INPA (A) Floração (B), Maturação dos frutos (C) e Morfologia foliar (D).
202
Capítulo 13
203
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
realizada aos 87 dias. Para a flemíngia as medidas foram feitas aos 1, 21, 41, 61 e
81 dias e a colheita aos 92 dias. A velocidade mensal de crescimento em compri-
mento do caule e diâmetro do colo das plantas foi calculada pela fórmula VC =
h2-h1/t2-t1 x 30, considerando-se dois intervalos de medição, onde VC corresponde
à velocidade de crescimento, h1 e t1, comprimento do caule no tempo 1, e h2 e t2,
comprimento do caule no tempo 2. O mesmo cálculo foi efetuado para o diâmetro
do colo. (Benincasa, 1988).
Na condução do ensaio, as mudas foram irrigadas diariamente e as plantas
espontâneas foram removidas manualmente, quando necessário. Na colheita, 8
mudas por tratamento foram extraídas inteiras e seccionadas em parte aérea e
raízes, determinando-se o peso seco da parte aérea, raízes e nódulos, após se-
cagem em estufa a 65º C/72h. Antes da secagem, os nódulos foram contados. A
matéria seca total das plantas correspondeu à soma da parte aérea e das raízes.
A relação raiz/parte aérea foi o produto do peso das raízes sobre a parte aérea.
O peso específico dos nódulos foi a razão entre a massa nodular e o número de
nódulos.
Uma amostra de cada substrato foi analisada no Laboratório Temático de Solos
e Plantas – LTSP/INPA, em Manaus, AM. O desenho experimental foi o inteiramen-
te casualisado (DIC), com quatro tratamentos e 20 repetições, para as medidas de
crescimento e 8 repetições para os dados obtidos com a colheita. Na análise dos
dados, foi empregado o programa ESTAT, da UNESP, versão 2002, determinando-se
o Teste F e comparando-se as médias pelo modelo de Tukey.
204
Capítulo 13
em todas as misturas foram baixos, o que foi atribuído à neutralização do Al+++ pela
matéria orgânica adicionada aos substratos.
K Ca Mg Al P Fe Zn Mn
Misturas
pH (H2O)
substrato*1
------------------------ cmolc kg-1 ------------------------ ------------------------ mg kg-1 ------------------------
3:2:0 4,10 0,08 1,76 0,21 0,03 10,0 26,0 2,5 2,4
3:2:0,5 4,93 0,11 2,43 0,28 0,02 17,29 31,0 4,6 3,2
3:2:1,0 4,70 0,13 2,83 0,32 0,02 25,49 31,0 5,2 3,8
3:2:1,5 4,55 0,18 3,56 0,43 0,01 35,17 37,0 5,2 5,4
Composto 6,12 1,37 19,74 1,54 0,03 233,96 109,0 11,0 42,0
*1
As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).
205
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
*1
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey no nível de 1 ou
5% de probabilidade (P<0,01; P<0,05).
*2
As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).
206
Capítulo 13
O diâmetro do colo inicial das plantas variou entre 0,9-1,0 mm. Aos 21 e 41
dias pós-transplantio, o desenvolvimento diamétrico das mudas foi favorecido nos
substratos 3:2:0,5 e 3:2:1,5 comparado aos outros substratos. Os dados também
demonstraram que aos 61 dias o diâmetro do colo das mudas não diferia significa-
tivamente, evidenciando o grau de rusticidade da espécie. Aos 79 dias, as maiores
médias de diâmetro do colo foram alcançadas nos substratos 3:2:0,5 e 3:2:0, que
foram maiores que o das plantas que cresceram na mistura 3:2:1,0, concordando
com os dados de comprimento do caule. As taxas de incremento mensal do diâme-
tro do colo das mudas de tefrósia alcançaram 1,4 e 1,5 mm mês-1, respectivamente,
para as misturas 3:2:0 e 3:2:0,5, sugerindo que o desenvolvimento diamétrico do
colo das plantas foi pouco influenciado pelos níveis de composto adicionados ao
substrato.
Foi verificado que a tefrósia, ao contrário de muitas plantas exigentes em nu-
trientes, adaptou-se muito bem à ausência de composto na mistura substrato e
produziu o seu maior desenvolvimento em parte aérea na mistura 3:2:0, contra-
riando o que se espera quando o pequeno produtor se preocupa com a suplemen-
tação nutricional das plantas na fase de formação das mudas (Figura 3). As plan-
tas que cresceram na ausência do composto produziram 32,8% mais biomassa da
parte aérea seca que as plantas da mistura substrato 3:2:1,5, embora não diferirem
significativamente (Figura 3A). Houve um menor desenvolvimento da parte aérea
da tefrósia nas misturas 3:2:0,5 e 3:2:1,5.
O desenvolvimento radicular das plantas de tefrósia correspondeu com o
da biomassa da parte aérea, de modo que o sistema radicular melhor estabe-
lecido foi encontrado no substrato sem composto orgânico e o menor desen-
volvimento radicular foi verificado na mistura substrato 3:2:1,0 (Figura 3B).
Um sistema radicular bem estabelecido favorece a sobrevivência das mudas
após o plantio definitivo, aumentando sua resistência a fatores ambientais
que não são mais controlados quando ultrapassada a fase viveiro. As plantas
que cresceram no substrato 3:2:0,5 apresentaram 26,4% mais raízes que as
que cresceram na mistura 3:2:1,5, embora elas não tenham diferido significa-
tivamente (P<0,05).
Os valores de matéria seca total concordaram com as respostas obtidas para
a biomassa da parte aérea e das raízes secas (Figura 3C). Os dados sugerem que
o desenvolvimento das mudas de tefrósia pode ser conduzido em substrato sem
matéria orgânica. Entretanto, a presença de composto no substrato pode ter im-
portância em etapas posteriores como o plantio definitivo em solos de baixa fer-
tilidade, mas isso não foi avaliado. É possível que a combinação de solo argiloso e
areia tenha favorecido as propriedades físicas da mistura substrato, promovendo a
207
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 3. Efeito da adição de composto orgânico no substrato de produção de mudas de tefrósia (Te-
phrosia candida) sobre a biomassa da parte aérea seca (A), raízes secas (B), matéria seca total (C) e rela-
ção raiz/parte aérea (D), aos 87 dias pós-transplantio. (n = 8)*1
*1
As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).
A relação raiz/parte aérea (Figura 3D) é empregada algumas vezes nos vi-
veiros como um parâmetro capaz de aferir a qualidade da muda formada. Tra-
balhando com espécies florestais Sturion (1981), estabeleceu a faixa da relação
raiz/parte aérea compreendida entre os valores de 0,25-0,40, como as indica-
doras de alta qualidade das mudas formadas. Por esse critério, observa-se que
em nenhum substrato à relação raiz/parte aérea da tefrósia enquadrou-se den-
tro da faixa prescrita e variaram entre 0,17 e 0,24. Por outro lado, considera-se
que a tefrósia não é uma leguminosa lenhosa para produção de madeira, apre-
sentando pequeno porte, e seu valor agroecológico deve-se muito mais a uma
biomassa tenra e facilmente mineralizável, capaz de transferir nitrogênio para
cultivos associados.
208
Capítulo 13
209
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 4. Efeito da adição de composto orgânico no substrato de produção de mudas de tefrósia (Te-
phrosia candida) sobre o número (A), biomassa seca (B) e peso específico de nódulos (C), aos 87 dias
após o transplantio. (n = 8)*1
*1
As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).
210
Capítulo 13
*1
Médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si pelo teste de Tukey no nível de 1%
de probabilidade (P<0,01).
*2
As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).
211
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
212
Capítulo 13
*1
As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico
(v:v:v).
213
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
*1
As misturas substrato correspondem a combinações de solo argiloso, areia e composto orgânico (v:v:v).
214
Capítulo 13
Conclusões
A formação de mudas de flemíngia e tefrósia foi afetada pelos níveis de com-
posto orgânico presentes nas misturas substrato. A tefrósia apresentou rusticidade
e, para bom desenvolvimento e nodulação natural, a formação das mudas pode
ser conduzida sem emprego de composto, com uma mistura 3:2 de solo argiloso
e areia. A flemíngia respondeu favoravelmente ao incremento de composto orgâ-
nico na mistura substrato e, para o plantio de mudas com nodulação estabelecida,
recomenda-se a mistura 3:2:0,5, de solo argiloso, areia e composto orgânico. Os re-
sultados sugerem que a formação das mudas de flemíngia e tefrósia pode ser feita
em 60 dias, uma vez que, nesse período, as mudas já apresentam altura superior a
70 cm.
215
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Referências bibliográficas
Asare, E. O.; Shehu, Y. E. A. 1984. Preliminary studies on indigenous species for
dry grazing in the Northern Guinea Savanna Zone of Nigeria. Tropical Grasslands,
v. 18, n. 3, p. 148-152.
Binh, D. V.; Tien, N. P.; Mui, N.T. 1988. Study on biomass yield and quality of Flemin-
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Capítulo 13
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Lapointe, S. L. 2003. Leguminous cover crops and their interactions with Citrus
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p. 80-85, 2003.
Malavolta, E.; Gomes, F. P.; Alacare, J. C. 2002. Adubos e adubações. São Pau-
lo: Nobel, p. 66-67.
217
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
218
CAPÍTULO 14
1 Faculdade de Ciências Agrárias, Universidade Federal do Amazonas – FCA/UFAM, Av. Gal. Rodrigo Otávio Jordão,
2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Introdução
A fixação simbiótica de N2 entre rizóbios e leguminosas representa um bene-
fício importante em termos econômicos, ou seja, sob condições adequadas essa
propriedade pode complementar o suprimento de adubos químicos nitrogenados
na agricultura, contribuindo, desta forma, para a redução de custos. No Brasil, a
cultura extensiva da soja em grandes áreas tem sido a principal beneficiária desta
tecnologia biológica, com correspondente aumento de produtividade.
Existem espécies de leguminosas com habilidades nodulíferas, que são capazes
de prosperar em solos ácidos e de baixa fertilidade, porém, sob condições naturais,
esta nodulação com rizóbios nem sempre se manifesta quando a população de bac-
térias do solo não apresenta compatibilidade com a planta (Bala et al., 2003). Na au-
sência de um dos simbiontes eficientes, torna-se necessária a inoculação das plantas
com estirpes selecionadas a partir de isolados obtidos de nódulos coletados em solos
de diferentes locais. O termo inoculação significa a multiplicação de microrganismos
em condições controladas, seguida da disponibilização para o cultivo de interesse.
No Brasil, a turfa é o veículo mais empregado no preparo de inoculantes de bacté-
rias diazotróficas e há nas coleções microbianas nacionais bactérias fixadoras de N2
classificadas em 13 gêneros distribuídos em 8 famílias de bactérias (Moreira, 2008).
Os estudos da nodulação de leguminosas lenhosas têm sido ampliados, nos úl-
timos anos, devido à demanda por espécies de rápido crescimento, para produção
de madeira e lenha, e habilidade fixadora de nitrogênio. Entretanto, na Amazônia
estima-se que somente 33% das espécies foram avaliadas quanto a sua habilidade
de nodulação e fixação de N2 e não há registro de nodulação para 22 dos gêneros
de Fabaceae encontrados na região (Souza, 2010).
Sob o prisma da agroecologia, buscam-se modelos tecnológicos para sistemas
sustentáveis de produção. Entende-se, assim, sob o enfoque deste novo paradig-
ma, o sistema de produção agrícola como um ecossistema próprio em que compo-
nentes importantes, como a variedade de espécies combinadas no tempo ou no
espaço, a decomposição e a ciclagem de materiais, a redução dos impactos nega-
tivos da mecanização e do uso de agrotóxicos possam ser mais bem manipulados.
Dentre os processos biológicos, as simbioses, comensalismos e associações entre
componentes do sistema são valorizados. Recomendam-se processos biológicos
economicamente compensadores, como a simbiose rizóbio-leguminosa (Franco
e Faria, 1997), complementada pela inoculação com fungos micorrízicos vesicula-
res-arbusculares, com o propósito de aumentar a captação de nutrientes essenciais
pelas culturas. Na Amazônia, entretanto, ainda há muito questionamento sobre
que espécies de leguminosas podem ser selecionadas para suprimento de nitro-
220
Capítulo 14
Desenvolvimento da pesquisa
Os estudos foram feitos em Manaus, no Laboratório de Microbiologia do Solo
e no viveiro do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA. As se-
mentes de ingá-barata (Inga thibaudiana DC. var. thibaudiana) foram coletadas em
221
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Ca Mg K Al P Fe Zn Mn
Classe
pH (H2O)
de solo ---------------------- cmolc kg-1 ---------------------- ------------------------ mg kg-1 ------------------------
Argissolo 4,31 1,86 0,37 0,11 0,65 8,5 192,0 5,7 2,9
Latossolo 4,62 0,35 0,13 0,10 1,00 1,5 313,0 2,6 2,6
dolomítico, para o Argissolo e 0,70 g kg-1 de superfosfato triplo, 0,25 g kg-1 de clo-
reto de potássio e 1,5 g kg-1 de calcário dolomítico para o Latossolo. Os cálculos da
adubação foram baseados no peso dos sacos preenchidos com os solos seciona-
dos que foram de 1,91 e 1,48 kg para o solo Argissolo e Latossolo, respectivamente.
Em seguida, foi aplicada solução líquida de micronutrientes para solo, 1 mL kg-1 ,
conforme recomendado por Halliday, 1984. A solução líquida de micronutrientes
foi preparada de acordo com Eira et al., 1972.
Na condução dos experimentos foram adotadas três condições de suprimento de N:
222
Capítulo 14
223
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
224
Capítulo 14
*1
Para cada variável, as médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si no nível de 5%
e 1% de probabilidade; ns não significativo.
*1
Para cada variável, as médias seguidas de mesma letra nas colunas não diferem entre si no nível de 5%
e 1% de probabilidade; ns não significativo.
225
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
226
Capítulo 14
Figura 1. Efeito do tipo de solo sobre o desenvolvimento em biomassa seca de mudas de ingá-barata
(Inga thibaudiana) sobre o peso das folhas (A), caule (B), raiz (C) e relação raiz/parte aérea (D), aos 165
dias de enviveiramento.
227
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 2. Efeito da adubação com N-mineral e inoculação com rizóbios sobre o desenvolvimento em
biomassa seca de mudas de ingá-barata (Inga thibaudiana) sobre o peso das folhas (A), caule (B), raiz (C)
e relação raiz/parte aérea (D), aos 165 dias de enviveiramento.
228
Capítulo 14
Figura 3. Efeito do tipo de solo sobre o número de nódulos (A), peso da biomassa seca dos nódulos (B),
nitrogênio foliar (C) e nitrogênio total nas folhas (D) em mudas de ingá-barata (Inga thibaudiana), aos
165 dias de enviveiramento.
A melhor nodulação das plantas em solo Argissolo também refletiu nas con-
centrações de N-foliares, que superaram significativamente o solo Latossolo. Entre-
tanto, os valores abaixo de 3,0% de nitrogênio nas folhas não são tão expressivos
como os verificados para outras espécies. Ao apresentar o teor de nitrogênio fo-
liar em folhas de leguminosas arbóreas fixadoras de N2, Moreira (1994) relacionou
plantas com teores de N-foliar variando entre 3,18 e 5,60% de N e algumas espécies
podem apresentar valores ainda mais elevados. Os valores observados nas análises
do Nitrogênio Total nas Folhas também mostram resultados superiores para o Ar-
gissolo, com média de 113,5 mg planta-1 enquanto o Latossolo obteve média 78,3
mg planta-1 aos 165 dias de enviveiramento.
A inoculação com rizóbios favoreceu os indicadores relacionados à nodulação das
mudas, especialmente o desenvolvimento dos nódulos de ingá-barata (Figura 4). Foi
verificado que o número de nódulos formados não variou significativamente entre as
diferentes formas de suprimento de nitrogênio, refletindo a característica de promiscui-
dade simbiótica de espécies do gênero Inga, que caracteristicamente apresentam baixa
especificidade quanto à capacidade de se deixar infectar por uma estirpe hospedeira.
Outros resultados de pesquisas com leguminosas arbóreas consideram que a aplicação
de N-mineral inibe os indicadores da nodulação (Goi, Sprent; Jabcob-Neto, 1997).
229
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 4. Efeito da adubação com N-mineral e inoculação com rizóbios sobre o número de nódulos (A),
biomassa seca dos nódulos (B), nitrogênio foliar (C) e N-total nas folhas (D) de mudas de ingá-barata
(Inga thibaudiana), aos 165 dias de enviveiramento.
230
Capítulo 14
Figura 5. Interação entre solos e tratamentos de inoculação sobre o número de nódulos de ingá-barata
(Inga thibaudiana), aos 165 dias após o transplantio.*1
*1
Médias seguidas de mesma letra minúscula para solos e de mesma letra maiúscula para tratamentos
não diferem entre si no nível de 1% de probabilidade (P<0,01).
231
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 6. Correlações entre a matéria seca total e o nitrogênio total nas folhas de ingá-barata (Inga thi-
baudiana) em solo Argissolo Vermelho-Amarelo.
Faria et al. (1995) inocularam mudas de Albizia lebbeck em Latossolo Vermelho Escu-
ro distrófico e verificaram que, embora a inoculação com rizóbios tenha proporcionado
o desenvolvimento das mudas, foi menos eficiente que a adubação nitrogenada de 175
mg kg-1 de N por planta. Rodríguez-Echeverría e Pérez-Fernández (2005) consideram
que a inoculação de leguminosas com estirpes de rizóbios selecionadas maximiza a pro-
232
Capítulo 14
babilidade de sobrevivência das plantas após o plantio e reintroduz, nos solos muitas
vezes degradados, rizóbios nativos benéficos ao desenvolvimento das plantas. Souza
et al. (2007) correlacionaram a biomassa seca dos nódulos e o N-total na parte aérea
das plantas de palheteira (Clitoria fairchildiana) crescendo em solos da Mata Atlântica
de Pernambuco e encontraram correlação significativa de R2 0,84. Vieira e Souza (2011)
também correlacionaram estas variáveis em saboarana (Swartzia laevicarpa), inoculada
com coquetel de estirpes em solo Latossolo Amarelo e obtiveram um R2 de 0,86.
As pesquisas já conduzidas com solos de várias partes do mundo, como a reali-
zada por Bala et al. (2003), concluíram que quando uma leguminosa é introduzida
em uma área fora de seu centro de origem, dependendo de seu padrão de infec-
ção, promíscuo ou específico, só formará nódulos eficientes se rizóbios compatí-
veis estiverem presentes na população natural do solo do local onde é introduzida.
Desse modo, a contribuição da fixação biológica de N2 em plantas não inoculadas
deve-se aos rizóbios nativos e, naquelas que são expostas a estirpes selecionadas,
trata-se de uma somatória dos rizóbios nativos e inoculados. Os resultados de-
monstram que leguminosas arbóreas da Amazônia, como a ingá-barata, respon-
dem à técnica da inoculação aumentando seu suprimento de nitrogênio obtido
por via simbiótica.
Várias espécies do gênero Inga são caracterizadas como plantas de múltiplo
uso e têm sido usadas tradicionalmente pelo homem ao longo das gerações, e con-
tinuam até o presente, incrementadas pelo reconhecimento de seu potencial de
restaurar o solo e compor sistemas agroflorestais, indicando um melhor aproveita-
mento futuro (Pennington, 1997). Dentre os diferentes tipos de aproveitamento
estão: o fruto comestível para a fauna e para o homem, como árvores de sombra,
para produção de lenha ou madeira e para a recuperação de solos e agrosilvicultu-
ra. A adaptação de ingá-barata a solos de terra firme e sua eficiência fixadora de N2,
evidencia o seu potencial de aproveitamento nos sistemas de produção praticados
na Amazônia Central.
Conclusões
Foi comprovada a eficiência da inoculação de plantas de ingá-barata (Inga thi-
baudiana var, thibaudiana) inoculada com um coquetel de estirpes de rizóbios nos
solos Latossolo amarelo e Argissolo Vermelho-Amarelo procedentes da Amazônia
Central. As mudas de ingá-barata mostraram melhor adaptação ao solo Argissolo
vermelho amarelo, comparado ao Latossolo. Evidenciou-se que a técnica de inocu-
lação com rizóbios tem potencialidade alternativa para suprimento de nitrogênio
para as plantas, comparado a fertilização nitrogenada.
233
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
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236
CAPÍTULO 15
1 Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia. Estrada Coari Mamiá,
305, bairro Espírito Santo – CEP: 69.460-000, Coari, AM. E-mail: adrianadantas1@yahoo.com.br / adrianadantas1@
gmail.com;
2 Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Nacional de Brasília, ICB-UNB, Brasília, DF. E-mail: katukina@gmail.com;
3 Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias – EMBRAPA, Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Ociden-
4 In memorian.
Introdução
No início dos anos 1940, o controle de pragas na agricultura, obtido com os
novos inseticidas foi marcante: as áreas de produção agropecuária tornavam-se
territórios praticamente isentos de insetos, após a pulverização com os produtos.
Com o passar do tempo, foi demonstrado que a erradicação total dos insetos pro-
vocava sérias perturbações no ecossistema, como: a agressividade ao homem e a
natureza e a resistência das pragas. Neste último, por exemplo, houve seleção de
insetos resistentes aos inseticidas, surtos epidêmicos de pragas historicamente
de importância secundária e a diminuição da população de insetos benéficos. No
ecossistema, foram detectados efeitos deletérios indiretos em animais selvagens
e domesticados e mesmo ao homem, assim como no acúmulo de resíduos tóxi-
cos no solo, na água e nos alimentos. O controle químico de pragas, mesmo com
produtos como o DDT, teve sua eficiência diminuída e seu custo aumentado até
exceder níveis econômicos e socialmente aceitáveis (Flint e Van Den Bosch,
1981).
Atualmente, com a maior atenção ao equilíbrio ecológico e sustentabilidade
dos agrossistemas, os métodos utilizados na proteção e defesa das culturas, e no
controle de pragas vêm evoluindo consideravelmente. O conhecimento e a utili-
zação de métodos de diagnóstico envolvendo a dinâmica populacional e a epide-
miologia, em várias culturas, têm permitido prever a ocorrência de pragas e doen-
ças (Zambolim, 1999), contribuindo para o seu controle.
A adoção de medidas de controle que causem menor impacto ambiental é de
primordial importância, o que vem estimulando o ressurgimento do interesse no
uso de plantas inseticidas como uma promissora ferramenta para controle de in-
setos (Kocke, 1987). Villalobos (1996) ressalta que o princípio ativo de inseticidas
botânicos são compostos resultantes do metabolismo secundário das plantas,
sendo acumulados em pequenas proporções nos tecidos vegetais. Tais substân-
cias podem ser encaradas como um modelo para síntese estrutural de pesticidas
mais eficientes, menos tóxicos e menos persistentes no meio ambiente (Saito e
Luchini, 1998).
O emprego de metabólitos secundários extraídos de plantas silvestres como
inseticidas tem inúmeras vantagens quando comparado ao emprego de produ-
tos sintéticos. Os inseticidas naturais são obtidos de recursos renováveis e rapida-
mente degradáveis (Penteado 2001; Altieri et al., 2003). O desenvolvimento da
resistência dos insetos a essas substâncias compostas da associação de vários prin-
cípios ativos é um processo lento. Alguns pesticidas são de fácil acesso e obtenção
pelos agricultores e apresentam baixa toxicidade, não deixando, por sua vez, resí-
238
Capítulo 15
duos nos alimentos (Penteado, 2001; Altieri et al., 2003), com a vantagem de
apresentarem baixo custo de produção.
Os derivados botânicos podem causar diversos efeitos sobre os insetos, tais
como repelência, inibição de oviposição, da alimentação e alterações no sistema
hormonal. Como consequências, causam distúrbios no desenvolvimento, defor-
mações e mortalidade nas diversas fases (Klocke et al., 1991; Wrba et al., 1992;
Ahn et al., 1998), contribuindo para a redução da população dos insetos-pragas e
dos danos nos cultivos que comprometem a produção.
Os estudos para o controle de pragas e doenças por meio de inseticidas de
origem vegetal são realizados principalmente nas culturas de grande importância
no Brasil, onde se destacam os citros. As plantas cítricas são bastante predadas pe-
las moscas das frutas (Ceratitis capitata e Anastrepha fraterculus), pelas cochonilhas
(Selenaspidus articulatus, Chrysomphalus aonidum, C. dictyospermi, Unaspis citri, Pla-
nacoccus citri, Cerya purchasi, e Orthezia praelonga) e, também, pelos pulgões como
Toxoptera citricida, conhecido popularmente como pulgão-preto ou pulgão-preto-
dos-citros (Koller, 1994).
A citricultura no estado do Amazonas está suscetível a uma grande incidência
do pulgão-preto-dos-citros, que são insetos que geram anualmente grandes per-
das econômicas aos citricultores, por meio de danos diretos e indiretos (Silva et
al., 2004). A alta incidência deste inseto, especialmente nos cultivos de laranja na
Amazônia Central, afeta negativamente a produção citrícola regional.
O pulgão-preto é um inseto fitófago com formas aladas e ápteras. Adaptado
ao clima tropical, quando suas populações atingem o nível de inseto-praga ata-
cam, principalmente, os brotos novos das plantas cítricas, sugando-lhes a seiva.
Nesta atividade, provocam encarquilhamento e atrofiamento das folhas e bro-
tos e liberam uma substância açucarada expelida pela codícola que permite o
desenvolvimento de um fungo negro conhecido como fumagina. Esse inseto
também transmite o vírus da tristeza dos citros em plantas sadias (Gallo et al.,
2002). Diante deste quadro, pode-se reafirmar que em programas de manejo
integrado de insetos/pragas, a utilização de plantas com compostos bioativos
de ação inseticida pode ser considerada como componente chave para a sus-
tentabilidade da produção citrícola, reduzindo ou substituindo as práticas de
uso de produtos químicos sintéticos (Ribeiro et al., 2002). A necessidade de
maiores pesquisas nesta área motivou a avaliação da manipueira da mandio-
ca e da erva-de-rato no controle de pulgão-preto nas condições da Amazônia
Central.
239
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
240
Capítulo 15
Erva-de-rato
Após a coleta, as folhas da erva-de-rato foram separadas, pesadas e levadas à
estufa de circulação de ar forçado a uma temperatura de 55o C, por cinco dias. Após
a secagem, 500 g de folhas foram trituradas e peneiradas em malha de 1 mm, no
Laboratório Temático de Solos e Plantas – LTSP-INPA. Para a extração das substân-
cias contidas no material vegetal, foi utilizado o sistema Soxhlet, tendo como sol-
vente água destilada. Após um período de extração de 6 horas, a solução aquosa
foi submetida à liofilização por desidratação a frio, em um liofilizador marca Terro-
ni, modelo Sauvel C3000, resultando também na obtenção do produto liofilizado.
Instalação do bioensaio
Na casa de vegetação, foram colocados 10 pulgões adultos em cada muda de
laranja, com auxílio de pinças entomológicas. Posteriormente, os vasos com as mu-
das foram protegidos por tecido de filó, usando como suporte a parte superior do
recipiente, a fim de evitar a fuga dos pulgões e outras influências externas. Após
a colonização dos pulgões nas mudas foi realizada a pulverização dos extratos em
suas respectivas concentrações, por contato, com auxílio de borrifadores manuais.
Para outro teste, chamado de translaminar, as mudas foram pulverizadas com
borrifadores manuais, até o ponto de escorrimento, com as diferentes concentra-
ções dos extratos. Em seguida, foram repassados 10 pulgões para cada muda, com
auxílio de pincel entomológico. Os pulgões foram colocados na superfície das fo-
lhas de citros. A testemunha foi pulverizada com água destilada. Na bancada da
casa de vegetação, os vasos foram mantidos no espaçamento de 30 x 30 cm. Sobre
a base de cada planta, foi colocado um disco de papel filtro branco do tamanho
241
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
242
Capítulo 15
243
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
ficientes para controlar insetos-pragas de citros. Por outro lado, Silva (2004) descreve
que a pulverização de extrato da erva-de-rato na concentração de 50 mg mL-1, pro-
vocou mortalidade de 20% das cigarrinhas-das-frutíferas (Aetalion sp.), após 24 horas.
Nos ensaios para o controle de pragas na agricultura, a taxa média de mor-
talidade para a testemunha não pode ser superior a 10%, pois resultados acima
deste valor podem comprometer a avaliação dos produtos que estão sendo tes-
tados e invalidar o trabalho científico. Na pesquisa realizada, observou-se a taxa
de mortalidade no limite de 10% da população de pulgão-preto no tratamento
testemunha, nos ensaios com os dois extratos. Essas mortes podem ser atribuídas,
provavelmente, a fatores abióticos (estresse ou climáticos) e/ou bióticos (fisiológi-
cos ou genéticos). Entretanto, foram considerados dentro da probabilidade de erro
para este tipo de bioensaio.
244
Capítulo 15
245
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
por Corrêa (2006), que observou taxas de mortalidade similares (10%), com extra-
to aquoso e etanólico de timbó (Lonchocarpus floribundus), contra o pulgão-pre-
to-dos-citros e concordam com os observados por Yamamoto et al. (2000) contra
a mesma praga, com mortalidade de, aproximadamente, 3% usando inseticidas
sistêmicos. Adicionalmente, foi verificado que, de acordo com o teste Dunnett
(p<0,05), observou-se efeito significativo sobre a mortalidade do pulgão-preto
em todas as concentrações testadas de extrato aquoso de manipueira. No entan-
to, foram as concentrações de 30, 40 e 50 mg mL-1 que garantiram as taxas de
mortalidade maiores que 80%. Verificou-se que a aplicação de extrato aquoso de
manipueira na concentração de 50%, resultou na ocorrência de mortalidade de
100% dos insetos.
A tendência de maior taxa de mortalidade de pulgão-preto em citros foi ob-
servada tanto na aplicação via contato quanto na aplicação via translaminar com
o extrato aquoso de erva-de-rato. Na concentração de 10 mg mL-1 do extrato de
manipueira ocorreu a mortalidade de quase 50% dos insetos, na mesma concen-
tração do extrato de erva-de-rato a mortalidade foi 60%. Os resultados obtidos são
promissores para o prosseguimento das pesquisas avaliando-se a aplicação destes
inseticidas biológicos no campo.
246
Capítulo 15
Considerações finais
Os extratos de manipueira (Manihot esculenta) e erva-de-rato (Palicourea mar-
cgravii) aplicados por meio do pulverizações via contato direto e translaminar
foram eficientes no controle do pulgão-preto-dos-citros (Toxoptera citricida), em
condições de laboratório. As CL50 e TL50 mostraram uma tendência de maior ação
dos extratos das duas espécies, quando aplicados via translaminar; a eficiência no
controle de pulgão-preto com extratos de manipueira de mandioca e erva-de-rato
necessita ser testada em ensaio de campo. Há também necessidade de investigar o
efeito residual e o tempo de carência destes extratos vegetais e impactos sobre os
inimigos naturais. A utilização de metabólitos secundários produzidos por estas es-
pécies tem potencial como um inseticida biológico alternativo para o controle do
pulgão-preto-dos-citros. Os extratos preparados com folhas de erva-de-rato foram
mais eficientes em condições de laboratório no controle do pulgão-preto-dos-ci-
tros que os preparados com manipueira de mandioca.
Agradecimentos
À FAPEAM e ao CNPq pela ajuda na pesquisa.
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250
CAPÍTULO 16
1 INPA-CPCA, Av. André Araújo, 2236, Petrópolis, Caixa Postal 478, 69011-970, Manaus, AM, souzalag@inpa.gov.br;
cortes@inpa.gov.br.
Introdução
As Fabaceae são um grupo de plantas extremamente numeroso, classificadas
como a terceira maior família das Angiospermas depois de Orchidaceae e Astera-
ceae (Gentry, 1984), constituindo-se um grupamento tropical diversificado com
19.325 espécies abrigadas em 727 gêneros (Lewis et al., 2005). As espécies desta
família botânica compõem um grupo de importância econômica e social onde a
maioria das espécies é classificada por seu múltiplo uso, podendo ser aproveitadas
com mais de uma utilização.
Até recentemente, as plantas da família Fabaceae eram designadas de Legumi-
nosae, por isso são conhecidas popularmente como “leguminosas”, relacionando-se
esse nome à forma do fruto de muitas espécies que é a de vagem ou legume. Este co-
nhecimento popular deve-se, principalmente, pelo uso de espécies da família como
alimento, tais como o feijão (Phaseolus vulgaris), o amendoim (Arachis hypogaea), a
lentilha (Lens esculenta), o grão-de-bico (Cicer arietinum), o feijão-de-asa (Psophocar-
pus tetragonolobus), a ervilha (Pisum sativum), o feijão-de-corda (Vigna unguiculata),
a soja (Glycine max), o feijão-macuco (Pachyrhizus tuberosus) etc. Entretanto, o legu-
me não é o único tipo morfológico de fruto nas Fabaceae e existem, pelo menos, 13
diferentes morfologias relacionadas para as espécies que constituem essa família.
Adicionalmente, o hábito de crescimento herbáceo é associado a esses alimentos e
no conhecimento popular mais geral as leguminosas não são associadas ao hábito
de crescimento arbóreo que as caracteriza a partir dos primeiros gêneros que dife-
renciaram a família na região tropical. Nas Fabaceae, inúmeras espécies são usadas
como medicinais, mas tais informações estão fragmentadas nos livros publicados.
Atualmente, a exploração comercial de produtos com fins fitoterápicos tem cha-
mado a atenção de muitos pesquisadores e da população em geral em busca de
medicamentos homeopáticos capazes de curar doenças sem as sequelas e efeitos
colaterais advindos do uso de drogas alopáticas. Muitas plantas de diversas famílias
são utilizadas popularmente como medicamento, existindo necessidade de aumen-
to das informações disponíveis sobre as espécies para um público maior. Devido ao
grande número de espécies existentes, Duhoux & Dommergues (1985) classificam as
leguminosas quanto ao seu uso, de modo genérico como plantas utilizadas com fins
madeireiros e outros subprodutos não madeireiros, plantas cultivadas para alimento
do homem ou de animais e, por fim, plantas que auxiliam a fertilidade do solo. As
leguminosas medicinais estão classificadas no primeiro grupo.
Inúmeras espécies de leguminosas são utilizadas como plantas medicinais, en-
tretanto, as informações sobre as espécies citadas estão fragmentadas nos livros
publicados sobre este tema. Grenand et al. (1978), ao listar plantas utilizadas tradi-
252
Capítulo 16
cionalmente na farmacologia das Guianas, listou 527 espécies e, dentre estas, 7,4%
eram leguminosas. Nos estudos feitos na Amazônia, as leguminosas também têm
sido pouco representadas, Taylor (1988), efetuou um levantamento de espécies
medicinais da Amazônia e descreveu 54 espécies, com somente 12,9% de legumi-
nosas. Em outros trabalhos como o de Balbach (1992), foram citadas 411 espécies,
porém somente 3,9% eram leguminosas. Na maioria dos livros de referência, as
informações sobre leguminosas de uso medicinal estão fragmentadas na literatura
técnica (Almeida, 1993).
Algumas leguminosas são amplamente conhecidas da população e usadas ro-
tineiramente com maior ou menor intensidade, dependendo da região do país. As
mais comuns são mangerioba (Senna occidentalis), utilizada no tratamento de do-
enças do fígado (Vieira, 1992) e contra malária (Milliken, 1992; Milliken, 1995), o
jucá (Caesalpinia ferrea), que é utilizado contra infecções na garganta, afecções respi-
ratórias e como cicatrizante (Braga, 1960) e a pata-de-vaca (Bauhinia forficata), que
é empregada contra o diabetes e afeções renais de modo geral (Vieira, 1992).
Os trabalhos já conduzidos sobre o aproveitamento de Fabaceae como fitote-
rápicos não têm enfatizado a gama de espécies com potencial de expansão de seu
aproveitamento medicamentoso (Guarim Neto e Morais, 2003). Assim, foi rea-
lizada uma pesquisa para obter maiores informações sobre leguminosas utilizadas
na medicina popular, explorando-se, a parte da planta utilizada, o uso fitoterápico
e outras características relacionadas.
Desenvolvimento da pesquisa
Foi conduzido um levantamento para obter maiores informações sobre as espé-
cies de leguminosas utilizadas na medicina popular explorando a parte da planta
utilizada, uso fitoterápico e outras características de importância, visando aumen-
tar as informações disponíveis sobre estas espécies e permitindo uma maior aten-
ção para a exploração, cultivo e aproveitamento econômico e comercial. Os tra-
balhos consistiram na consulta da literatura técnica pertinente, efetuando-se uma
listagem preliminar das espécies e, consultando-se o banco de dados de Roskov
et al. (2005), conhecido como ILDIS, International Legume Database & Information
Service, Universidade de Missouri, USA, para esclarecer as duplicidades taxonômi-
cas existentes e selecionar o nome científico atualmente aceito para cada espécie.
Algumas das espécies de Fabaceae que foram listadas já têm amplo emprego
na composição de fitoterápicos e são comercializadas em diversos medicamentos,
dentre elas estão: o carrapichinho (Desmodium adscendens), jucá (Caesalpinia fer-
253
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
254
Capítulo 16
255
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
256
Tabela 1. Informações gerais das espécies de Fabaceae utilizadas como plantas medicinais no Brasil. Subfamília, tribo, nome popular,
parte da planta utilizada e uso fitoterapêutico.
257
Nome científico Subfamília*1 Tribo Nome popular Parte da planta utilizada
258
Bauhinia ungulata L. Cae Cercideae Mororó Folhas e raízes
Bowdichia nitida Benth. Fab Sophoreae Sucupira Sementes e raízes
Bowdichia virgiliodes Kunth. Fab Sophoreae Paricarana Folhas e cascas
Caesalpinia bonduc (L.) Roxb. Cae Caesalpinieae Carnica Folhas e sementes
Caesalpinia coriaria (Jacq.) Willd. Cae Caesalpinieae Dividivi Frutos e sementes
Caesalpinia echinata Lam. Cae Caesalpinieae Pau-Brasil Cascas
Caesalpinia ferrea C. Martius Cae Caesalpinieae Jucá Folhas, cascas, entrecascas e frutos
Caesalpinia leiostachya (Benth.) Ducke Cae Caesalpinieae Pau-ferro Cascas
Caesalpinia microphylla G. Don Cae Caesalpinieae Catingueiro-da-folha-miúda Folhas e flores
Caesalpinia paraensis Ducke Cae Caesalpinieae Muirapiranga Folhas e flores
Caesalpinia pulcherrima (L.) Sw. Cae Caesalpinieae Barba-de-barata Folhas, flores, cascas e raízes
Cajanus cajan (L.) Millsp. Fab Phaseoleae Cajan Sementes
*1
Cae – Caesalpinioideae, Fab – Faboideae, Mim – Mimosoideae.
Campsiandra angustifolia Benth. Cae Caesalpinieae Acapurana Cascas
Campsiandra comosa Bth. var. laurifolia (Bth.) Cowan. Cae Caesalpinieae Acapurana Cascas e frutos
Cassia fistula L. Cae Cassieae Canafístula Sementes
Cassia grandis L. Cae Cassieae Mari-mari-da-várzea Fruto
Ceratonia siliqua L. Cae Cassieae Algaroba Frutos e cascas
Chamaecrista chamaecristoides (Collandon) Greene Cae Cassieae Dormideira Folhas
Clitoria guianensis (Aublet.) Benth. Fab Phaseoleae Estelina falsa Sementes e raízes
Copaifera cearensis Ducke Cae Detarieae Pau-óleo Óleo do tronco
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
259
Nome científico Subfamília*1 Tribo Nome popular Parte da planta utilizada
260
Glycine max (L.) Mert. Fab Phaseoleae Soja Sementes
Haematoxylon campestre L. Cae Caesalpinieae Pau-campeche Cascas
Hymenaea courbaril L. Cae Detarieae Jatobá Cascas e resina
Hymenaea parvifolia Huber Cae Detarieae Jutai-pororoca Cascas e resina
Indigofera suffruticosa Miller Fab Indigofereae Anil Folhas, sementes e raízes
Inga alba (Sw.) Willd. Mim Ingeae Ingá Cascas
Inga alata Benoist. Mim Ingeae Ingá Cascas
Inga barbourii Standley. Mim Ingeae Ingá Cascas
Inga bourgoni (Aublet) DC. Mim Ingeae Ingá Cascas
Inga edulis Desv. Mim Ingeae Ingá Cascas
Inga capitata Desv. Mim Ingeae Ingá-costela Folhas
Inga pezizifera Benth. Mim Ingeae Ingá Cascas
Laburnum anagyroides Medikus Fab Genisteae Condesso-bastardo Folhas e sementes
Lonchocarpus chysophyllum Kleinhoonte Fab Millettieae Timbó Raízes e seiva
Lonchocarpus floribundus Benth. Fab Millettieae Timbó-cururu Raízes e seiva
Lonchocarpus negrensis Benth. Fab Millettieae Timborana Raízes
Machaerium ferox (Benth.) Ducke. Fab Dalbergieae Jeriqui-grande Folhas
Machaerium glabrum Vogel Fab Dalbergieae Farinha-seca Cascas
Macrolobium acaciifolium (Benth.) Benth. Cae Amherstieae Arapari-da-várzea Cascas
Medicago arborea L. Fab Trifolieae Luzerna Toda a planta
Medicago sativa L. Fab Trifolieae Alfafa Toda a planta
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
261
Nome científico Subfamília*1 Tribo Nome popular Parte da planta utilizada
262
Robinia pseudoacacia L. Fab Robinieae Acacia-falsa Cascas
Rhynchosia reticulata (Sw.) DC. Fab Phaseoleae Marianinha Sementes
Senna alata (L.) Roxb. Cae Cassieae Mata-pasto Folhas, sementes e raízes
Senna obtusifolia (L.) Irwin & Barneby Cae Cassieae Mata-pasto Raízes
Senna latifolia (G. Meyer) Irwin & Barneby Cae Cassieae Lava-pratos Raízes
Senna occidentalis (L.) Link Cae Cassieae Fedegoso-verdadeiro Cascas, sementes e raízes
Senna quinquangulata (Rich) Irwin & Barneby Cae Cassieae Fedegoso-grande Frutos
Senna rugosa (G.Don.) Irwin & Barneby Cae Cassieae Boi-gordo Raízes
Senna spectabilis (DC.) Irwin & Barneby Cae Cassieae Aleluia Toda a planta e sementes.
Senna tora (L.) Roxb. Cae Cassiea Mata-pasto Folhas e flores
Senna uniflora (Miller) Irwin & Barneby Cae Cassiea Fedegoso-do-Pará Folhas, flores, sementes e raízes
Stryphnodendron adstringens (Martius) Cov. Mim Mimoseae Barbatimão Cascas
Stryphnodendron coriaceum Benth. Mim Mimoseae Barbatimão Cascas
Swartzia auriculata Poeppig Fab Swartzieae Coquidá Cascas
Tamaridus indica L. Cae Amherstieae Tamarindo Folhas, flores e cascas
Tipuana tipu (Benth.) Kuntz. Fab Dalbergieae Tipuana Cascas
Trifolium pratense L. Fab Trifolieae Trevo-dos-pardos Flores
Trifolium repens L. Fab Trifolieae Trevo-branco Flores
Trigonella foenum-graecum L. Fab Trifolieae Feno-grego Sementes
Vatairea guianensis Aublet. Fab Dalbergieae Faveira-grande Folhas e sementes
Vatariopsis araroba (Aguiar) Ducke Fab Dalbergieae Angelim-araroba Cascas
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
263
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
264
Capítulo 16
Conclusões
Foram listadas 144 espécies de leguminosas utilizadas como fitoterápicos com
555 sinônimos, pertencentes a 70 gêneros. Constatou-se que a maioria das espé-
cies é nativa do neotrópico, especificamente do continente sul-americano, onde
foram listadas 108 espécies (75%). As 36 restantes são exóticas e foram introduzi-
das no Brasil, possivelmente por sua importância econômica e/ou fitoterápica. A
maioria das espécies tem porte arbóreo (85 espécies – 59,7%). As ervas anuais e pe-
renes formam o segundo grupo mais numeroso com 24,3% das espécies, seguido
dos cipós ou lianas com 10,4% e dos arbustos 5,6%, estes últimos, correspondendo
a oito espécies.
Referências bibliográficas
Almeida, E. R. 1993. Plantas Medicinais Brasileiras: conhecimentos populares e
científicos. São Paulo, Hemus, 341p.
Alves, E. O.; Mota, J. H.; Soares, T. S.; Vieira, M. C., Silva, C. B. 2008. Levantamen-
to etnobotânico e caracterização de plantas medicinais em fragmentos florestais
de Dourados, MS. Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 32 (2): 651-658.
Balbach, A. 1992. As plantas que curam. Ed. Missionária. São Paulo, 470p.
Duhoux, E., Dommergues, Y. 1985. The use of nitrogen fixing trees in forest and
soil restoration in the tropics. In: Biological nitrogen fixation in Africa. Eds. Ssali,
H. e Keya, S. O. Proceeding of the first conference of the African association for
biological nitrogen fixation, Nairobi, p. 384-400.
265
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Lewis, G. P.; Schrire, B.; Mackinder, B.; Lock, M. 2005. Legumes of the word.
Kew Publiching. 592p.
Roskov, Y. R.; Bisby, F. A.; Zarucchi, J. L.; Schrire, B. D.; White, R. J., (Eds.) 2005.
ILDIS World Database of Legumes: Draft checklist, version 10 (November 2005).
CD-ROM. ILDIS: Reading, U.K.
Taylor, L.1998. Herbal secrets of the rainforest: the healing power of over 50
medicinal plants you should know about. 313p.
266
CAPÍTULO 17
1 Programa de Pós-Graduação em Agricultura no Trópico Úmido, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – INPA, Av.
André Araújo, 2396, Petrópolis, 69011-970, Manaus, AM. Email: jubeiro@gmail.com, eldoradorionegro@yahoo.com.br;
Introdução
A Amazônia brasileira abrange uma área de cinco milhões de quilômetros
quadrados, com cerca de 60% no território nacional. Este bioma apresenta nichos
ecológicos de terra firme e de várzeas distribuídos, de maneira geral, em 38% de
florestas densas, 36% de florestas não densas, 14% de cerrados e campos e, aproxi-
madamente, 12% de terras exploradas (Almeida e Tertuliano, 2005).
As florestas primárias e secundárias foram o foco principal dessa pesquisa. A
primeira, também conhecida como floresta tropical úmida, encontra-se ecologica-
mente em clímax e é o ecossistema em que a composição da comunidade adqui-
riu estabilidade, devido ao equilíbrio com as condições ambientais. Nela existem
as espécies climáxicas, oportunistas e também numerosas espécies pioneiras. As
espécies de clímax, que são as dominantes neste ambiente, têm um desenvolvi-
mento lento e uma alta longevidade (Almeida e Tertuliano, 2005). O estabe-
lecimento de florestas secundárias é relacionado com a sucessão vegetal, que é
uma propriedade dos ecossistemas que lhes permite resiliência. Seu estabeleci-
mento consiste na formação de vegetais predominantemente do grupo de plantas
pioneiras abrigado no banco de sementes do solo, estabelecendo uma dinâmica
de processos sucessionais após a remoção da cobertura vegetal das florestas pri-
márias por ações antrópicas ou naturais. A composição florística de uma floresta
secundária depende de fatores como histórico de uso da terra, caracterizado pelo
número de ciclos de corte e queima, incidência de luminosidade e banco de se-
mentes, condições climáticas, distância de fontes de biodiversidade e componen-
tes estocásticos (Schwartz, 2007).
No ambiente tropical, as florestas primárias e secundárias apresentam tipica-
mente elevada biodiversidade vegetal com potenciais variados de aproveitamen-
to bioeconômico. Destaca-se, entre esses potenciais, a demanda atual por plantas
ornamentais e flores de corte dos países do primeiro mundo, que atinge US$ 90
bilhões por ano, com uma taxa de crescimento estimada da ordem de 12% ao ano
(Lamas, 2004). Dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Floricultura (IBRA-
FLOR, 2005), indicam que o Brasil movimenta, anualmente, cerca de US$ 1 bilhão
no agronegócio de flores, em uma área cultivada de, aproximadamente, 5.250 hec-
tares, gerando cerca de 200.000 postos de trabalho.
No momento atual, dentre as várias possibilidades de exploração no agrone-
gócio, as plantas ornamentais se apresentam como importantes alternativas de
investimento, porque demandam pouca área e o ciclo das plantas, geralmente, é
considerado curto, permitindo rápido retorno do capital investido. A saturação do
mercado mundial pelas plantas ornamentais tradicionais faz com que haja cres-
268
Capítulo 17
cente interesse por parte dos consumidores estrangeiros pelas espécies tropicais.
Neste contexto, se destacam as flores e plantas tropicais, muito apreciadas em fun-
ção das suas peculiaridades (Castro e Graziano, 1997).
O excepcional potencial de comercialização no mercado interno e externo
apresentado pelas bromélias, helicônias, orquídeas, entre outras, é caracterizado
pela aparência selvática de suas flores. Outro fator importante é a grande variação
de cores e formas, com produção contínua de flores, em grande quantidade e com
alta durabilidade pós-corte, com perspectivas promissoras como plantas de corte
e plantas para paisagismo (Santos et al., 2006).
Apesar do estado do Amazonas estar incluído entre os estados produtores de
flores tropicais, com maior ênfase para as helicônias, a sua vocação produtiva tem
sido explorada, de forma tímida, quando se considera a disponibilidade de espé-
cies que ocorrem naturalmente na região. Já que a cultura de plantas ornamentais
tropicais, no geral, tem um espaço muito importante a ser preenchido na agricul-
tura familiar do estado do Amazonas, um levantamento para o conhecimento do
potencial florístico dessas espécies, no município de Presidente Figueiredo é o pas-
so inicial para o desenvolvimento dessa atividade agronômica considerada muito
promissora em várias regiões brasileiras.
269
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
270
Capítulo 17
de 39,7% (III); 7). Ocorrência das plantas em sua área pesquisada, variando de 1 a 10
(I), de 11 a 50 (II), mais de 50 (III); 8) Abundância relativa definida pela quantidade
de plantas, por m2 em sua área pesquisada, em relação ao total de plantas, varian-
do de 0,1 a 6,0% (I), de 6,1 a 10,0% (II), mais de 10,0% (III); 9) Frequência relativa da
ocorrência das plantas em sua área em relação ao total de plantas, variando de
0,1 a 25,0% (I), 25,0 a 75,0% (II), mais de 75,0% (III); 10) Potencial de performance
das plantas no mercado, variando de pouco comercial (I), comércio mediano (II) e
comércio forte (III).
Total 255
271
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Costus sp. 03
Heliconia acuminata 62
Total 253
272
Capítulo 17
Figura 1. Detalhes das plantas ornamentais Calathea panamensis (a), Dieffenbachia sp. (b) e Heliconia
sp., conhecida como helicônia-branca (c), encontradas em ambientes do município de Presidente Fi-
gueiredo, AM.
273
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Figura 2. Detalhes das plantas ornamentais Heliconia spathocircinata (A), Heliconia acuminata (B) e Cos-
tus sp., conhecida como costus-amarelo (c), encontradas em florestas secundárias do ramal Canoas,
município de Presidente Figueiredo, AM.
274
Capítulo 17
*1
IVI – Índice de Valor de Importância.
275
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
botânica Arecaceae, uma única espécie Syagrus inajai estava presente no local
pesquisado, representada por cinco indivíduos. Já a família botânica Strelitziace-
ae foi representada pela espécie Phenakospermun guianensis, com o registro de
um único indivíduo. Sob o ponto de vista econômico, a Heliconia chartacea é a
mais importante devido ao seu valor comercial no mercado de flores (Figura 3).
Figura 3. Detalhe de Heliconia chartacea, espécie de grande valor comercial, vegetando naturalmente
em floresta secundária do Ramal Novo Progresso, município de Presidente Figueiredo, AM.
276
Capítulo 17
277
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Espécies Tam Dur Cor Uso Brilho Luz Ocor Abun Freq Pot
Dieffenbachia sp. I III I II II I III III I I
C. congestiflorus I I I II I I I I I 1
Heliconia sp. I I II II III I II III I III
C. panamensis I III II I III I III III II III
Monotagma sp. I III I I II I I I I I
P. guianensis III III I III I III II I I I
G. maxima II III I I II III I I I I
Socratea sp. III III I III II III I I I I
Syagrus inajai III III I III II III II I I I
Costus lasins I I I II II II I I I I
C. arabicus. I I I II II II I I I II
Costus sp. I I I II II II I I I III
H. acuminata II III II II II III III III I II
H. chartacea III III II II I III III III II III
H. spathocircinata III II II II II III III III III III
Calathea fragilis II II II I II III II III I I
P. solimoensis II III I I II III I III I I
Lasiacis ligulata II III I I II III II II I I
Tam – Tamanho, Dur – Durabilidade, Ocor – Ocorrência, Abun – Abundância, Freq – Frequência, Pot –
*1
Potencial de comercialização.
278
Capítulo 17
Considerações finais
Na Amazônia, o potencial de plantas ornamentais que ocorrem em florestas
primária e secundária é grande e ainda pouco explorado. O potencial de merca-
do para as helicônias, bromélias, orquídeas e antúrios tropicais é muito relevante.
Lamentavelmente, o uso das espécies nativas da região é reduzido, pela falta de
pesquisa e divulgação. Um fator importante com relação aos recursos genéticos
ornamentais que ocorrem nas florestas primária e secundária da Amazônia é que
eles vêm sofrendo o processo de erosão genética com as constantes ameaças pro-
vocadas pela ação antrópica, como a expansão da agricultura e pecuária, extrati-
vismo predatório, instalação de hidrelétricas e queimadas para o uso do solo para
vários fins.
Nas áreas de florestas primária e secundária pesquisadas no ramal Canoas, mu-
nicípio de Presidente Figueiredo, AM, foram inventariados 710 indivíduos distribu-
ídos em 19 espécies e seis famílias botânicas. Dentre as espécies identificadas com
potencial para fins comerciais a Calathea panamensis, Heliconia spathocircinata, H.
chartacea, H. acuminata, Dieffenbachia sp. e Heliconia sp., podem ser manejadas
imediatamente por agricultores familiares por terem potencial para gerar renda e
emprego, nas propriedades agrícolas onde ocorrem naturalmente.
Referências bibliográficas
Almeida, R. J.; Tertuliano, M. F. 2005. Diagnose dos sistemas ambientais: méto-
dos e indicadores. In: Avaliação e perícia ambiental. Bertrand Brasil, Rio de Janeiro,
Brasil. p. 115-171.
279
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
280
CAPÍTULO 18
1 Universidade Federal do Amazonas – UFAM, Instituto de Educação, Agricultura e Ambiente – IEAA, Manaus, AM.
E-mail: japaolucci@ufam.edu.br;
2 Coordenação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia – CSAS/INPA, Av. André
Introdução
A agricultura familiar é uma unidade de produção agrícola onde a apropriação
e o acesso dos bens, principalmente a terra e o trabalho, estão intimamente ligados
à família, distinguindo as relações do produtor com a terra. A história dessa prática
na Amazônia está ligada aos povos indígenas detentores de uma herança social e
botânica, com incorporação de novos grupos humanos, passando por um proces-
so de adaptabilidade (Brock, 2001).
Os sistemas de produção animal atuais são adaptados às peculiaridades das
várzeas e têm perspectivas muito promissoras devido ao baixo grau de autossufi-
ciência na produção da carne e leite na região Amazônica. No processo da cadeia
produtiva observado por criadores ribeirinhos, Veiga et al. (2004) relatam os tipos
de rede de comercialização dos vários produtos da pecuária de corte, descrevendo
sobre uma rede fina de pequenos comerciantes de gado vivo distribuídas em todas
as frentes pioneiras, próximo dos produtores.
Nas propriedades familiares, a produção de leite é uma atividade tradicio-
nal, destinada, principalmente, para o consumo da família. Veiga et al. (2004)
destacam que a produção leiteira é uma atividade típica da agricultura familiar,
uma vez que 90% dos produtores usam a mão de obra familiar e menos de
10% têm empregados permanentes. A grande maioria das famílias mora nas
propriedades.
Nas últimas décadas, o sistema de criação de gado nas áreas de várzeas sofreu
modificações com a expansão e o crescimento da introdução do búfalo e a práti-
ca de transferência dos rebanhos temporariamente para os campos de pastagens
de terra firme durante o período de inundações das terras baixas. O sistema de
exploração pecuária predominante nas várzeas é do tipo familiar, marcado pela
presença da prática anual do uso de maromba durante as inundações periódicas.
A busca por alternativas para a utilização dos recursos naturais deve considerar a
conservação da biodiversidade regional, contribuindo para a proteção do meio e
recuperação de áreas em via de degradação, para manter a capacidade produtiva
da terra e, principalmente, para que os processos produtivos sejam acessíveis ao
pequeno produtor.
Para que isso aconteça, é importante que se realize uma caracterização do siste-
ma de produção da agricultura familiar de várzea, para compreender as formas de
organização e manejo da pecuária, levando em consideração o produtor em seus
aspectos produtivos, sociais e econômicos. A apropriação das informações deriva-
das de estudos por parte das comunidades e órgãos gestores (locais, estaduais ou
federais) poderia servir de elemento para a elaboração de políticas públicas e to-
282
Capítulo 18
283
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
20
15
Frequência Relativa (%)
10
extrat. vegetal
caça
cultivo
extra. mad.
pesca
roça
criação
bovino
sítio
hortaliça-sítio
A
12
10
Frequência relativa (%)
0
hortaliça-sítio
caça
cultivo
extra. mad.
pesca
roça
criação
extrat. vegetal
bubalino
sítio
bovino
284
Tabela 1. Descrição do perfil de componentes dos sistemas de produção agrícola praticados na várzea da microrregião do Baixo
Solimões e do Médio Amazonas, AM.
285
Componentes Unidades de Finalidade
286
Município Área média (ha) Composição dos cultivos (nome popular)
do sistema paisagem Consumo Venda
Praia, restinga, Banana, batata, cebolinha, couve, feijão (branco), jerimum,
Cultivo 1,67 – –
vazante malva, mamão, melancia, milho, pastagem, pimenta, pimentão.
Pousio 0,5
Banana, caupi, jerimum (caboclo), macaxeira, malva,
Manacapuru Roça Restinga, vazante 0,79 – – mamão, mandioca (olho-roxo, orana, zulhudinha), maracujá,
melancia, milho.
Alecrim, alfinete, arruda, boa-noite, bredo, canarinho,
capim-santo, cebolinha, chicória, coentro, corama, cravo-
Sítio-hortaliça Restinga, vazante – – –
de-defunto, jerimum, mangarataia, mastruz, perpétua,
pimenta (de-cheiro, de-mesa), riso-de-padre.
Alface, cacau, cebolinha, coentro, couve, feijão (de-corda),
Beiradão,
Cultivo 1,24 x x jerimum, macaxeira, malva, mandioca, maracujá, maxixe,
restinga, vazante
melancia (holandesa), milho, seringa
Pousio -
Abacate, açaí, banana, batata, cacau, feijão (de-corda),
Praia, restinga, goiaba, graviola, jerimum, macaxeira (6 meses, pão),
Roça 1,03 – –
vazante mamão, mandioca (4 meses, 6 meses, branca, curuá, juaca,
vermelha), melancia, milho, pepino, pimentão, tomate.
Abacate, açaí (verde), acerola, algodão (roxo), azeitona,
Itacoatiara babosa, bacaba, bacuri, banana, cacau, caju, cana-de-
açúcar, catoré, caxinguba, coco, cuia, cupuaçu, feijão, fruta-
Sítio Restinga, vazante 5,8 – – pão, goiaba, graviola, ingá (açu), jambo, jenipapo, jerimum,
laranja, limão, macaxeira, mamão, manga, maracujá,
mastruz, melancia, pimenta (malagueta), pupunha, puruí,
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Pousio 10 – –
287
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Municípios
------------------------------------------------------------------------ % ------------------------------------------------------------------------
Equina – – – 13,04 –
*1
galinha, pato, peru e suíno.
Pecuária
Os agrossistemas estabelecidos nas várzeas, por serem inundáveis e pas-
síveis de modificações em cada enchente, não podem ser titulados, existindo
uma forma de domínio tradicional, rigorosamente respeitada, inclusive com
campos de várzea negociados, mas que não têm titulação reconhecida pela
legislação brasileira (Monteiro, 1981). Os pesquisadores Chaves (1996) e Lima
(1986) descrevem a ocorrência da pecuária principalmente nas várzeas do Bai-
xo Amazonas, no trecho entre a foz do rio Negro e a foz do Xingu onde, pe-
las características relacionadas com sua formação, predomina uma vegetação
campestre entre a mata ciliar da margem do rio e a terra firme. As várzeas do
Solimões e seus afluentes caracterizam-se pela presença dessa mata desde a
288
Capítulo 18
margem dos rios até a terra firme. A pecuária é mais frequente nas localidades
em que a terra firme é contígua à área inundável e não está muito distante da
margem do rio.
Na composição histórica do processo de introdução da pecuária nas várzeas,
Melo & Moura (1990) afirmam que do mesmo jeito que em relação à agricultura,
foi pelas áreas de várzea que de modo mais significativo se iniciou, na região, o
uso pecuário do solo. Também desta vez, as práticas adotadas constituem um
tipo de adaptação das atividades humanas às condições ecológicas, em particu-
lar ao ritmo de submersão e emersão das áreas de solos aluviais, regulado pelo
regime fluvial, ou seja, pelo movimento do subir e descer das águas dos rios prin-
cipais.
Veiga et al. (2004) descreveram que a contribuição da Amazônia Legal para o
rebanho brasileiro passou de 10% para 30% entre 1980 e 2000. Nos últimos vinte
anos foi observada uma mudança destacável na contribuição nacional da Amazô-
nia no setor pecuário.
289
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
290
Capítulo 18
Ambiente Frequência
Nome cientifico Nome popular Características
preferencial (%)
Echinochloa
Caranana Cacaia na várzea 20,0 Pastagem natural
spectabilis
Hymenachne
Bico-de-pato Cacaia na várzea 20,0 Pastagem natural
amplexicaulis
Paspalum
Murim Campos de várzea 30,0 Planta invasora
fasciculatum
291
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
292
Capítulo 18
a visão dos criadores entrevistados são maiores. Apesar das desvantagens econô-
micas, a estratégia de deslocamento é a usada atualmente, poucos são os criadores
que utilizam o sistema de maromba.
O retorno do rebanho da terra firme para a várzea, na maioria das vezes, não
é diretamente para as pastagens cultivadas na várzea, sendo deslocado tempo-
rariamente para cacaia na várzea (ou queimadas), as quais se formam, durante a
vazante, considerados pastos adicionais (Sternberg, 1998). É um ambiente de
utilização comunitária dos criadores, os animais são criados no sistema ultraexten-
sivo. Segundo o relato dos entrevistados, a utilização da cacaia no manejo bovino
possibilita a transição entre os ambientes, auxiliando na manutenção das pasta-
gens cultivadas na várzea.
Aspectos da comercialização
O estado do Amazonas é grande importador de animais, pois não possui um
rebanho que atenda a todas as suas demandas internas de abastecimento das pe-
quenas, médias e grandes cidades. Essa demanda é suprida, principalmente, por
animais oriundos dos estados próximos como Rondônia, Acre, Roraima e Pará. O
transporte de animais entre esses estados é feito com o uso de balsas nos rios Ma-
deira, Xingu, Amazonas, Negro e Branco.
Na comercialização relatada pelos entrevistados, têm-se diferentes possibili-
dades, o que inclui compradores particulares, destacando-se o comerciante local
como o mais importante, seguido dos comerciantes dos mercados, supermerca-
dos, barcos de linha, donos de flutuantes e donos de açougue, especificamen-
te na pecuária de corte, onde aparece a figura intermediária do marchante. Os
agentes de comercialização compradores nas cidades e/ou que têm contatos
com os pecuaristas, a partir das entrevistas, apontados como os principais para
os produtos oriundos da pecuária, por ordem de importância de ocorrência nas
citações, são os marchantes (70,0%), açougues (30,0%), queijeiros (20%) e consu-
midores (10%).
O marchante tem como característica principal ser responsável pela com-
pra dos animais de grande porte (gado bovino e bubalino). Muitas vezes, os
marchantes são também produtores, grandes pecuaristas locais, por vezes as-
sociados em cooperativas, e donos dos frigoríficos que comercializam carne
nessas localidades ou importam o produto de outros estados. Estes têm relati-
va facilidade de acesso aos produtores, seja através de embarcações e/ou cami-
nhões. Existe uma rede de importadores e comerciantes de carne no estado do
293
Agricultura Familiar no Amazonas – Conservação dos Recursos Ambientais – Vol. 1
Considerações finais
A força de trabalho que sustenta as atividades agropecuárias das áreas rurais
pesquisadas é constituída por pessoas de todas as idades (crianças, jovens, adultos
e pessoas idosas). A mão de obra contratada é exclusivamente para executar servi-
ços de limpeza das roças, sítios e transporte de animais da várzea para a terra firme
e vice-versa, em épocas das enchentes e vazantes dos rios.
Entre os fatores que garantem a sustentabilidade dos sistemas de produção
em áreas de várzea, destaca-se a diversidade de produtos originados na produção
agropecuária. A adaptabilidade dos sistemas às incertezas relacionadas ao preço e
à demanda pelas variações sofridas pela produção, em função das condições cli-
máticas, culturais, sociais, econômicas e políticas, são decisivas. Cada componente
possui seu grau de importância no calendário produtivo, conferido pela sazona-
lidade na maioria dos produtos oriundos da agricultura, pecuária e extrativismo.
Esta peculiaridade é mais marcante e determinante na produção e oferta de de-
terminados produtos que exigem dos produtores habilidades para manejar os
recursos naturais disponíveis e estruturar complexas redes de organização para a
comercialização (Sales, 2005).
Entre os principais motivos que levam o agricultor familiar a optar pela
atividade pecuária nas áreas de estudo constam: as características do gado, a
proximidade da cidade de Manaus – o principal centro consumidor potencial,
a liquidez, a garantia de preço dos produtos e subprodutos e a flexibilidade da
época de venda. A pecuária praticada pela empresa familiar do Rio Solimões
(Manacapuru, Iranduba e Careiro da Várzea) é focada para atender a um mer-
cado mais exigente. Por essa razão, para melhorar a produtividade tem que
aumentar a sua dependência por insumos modernos (animais geneticamente
melhorados, emprego de herbicidas para controle de plantas pioneiras, dispo-
nibilidade de produtos veterinários etc.). Neste caso, os processos envolvidos
nessa atividade provocam transformações no uso tradicional do ambiente da
várzea.
Na atividade pecuária em área de várzea, a aptidão que melhor se ajusta às ca-
racterísticas ambientais locais que são consideradas mais sustentáveis para a pro-
dução familiar é a criação de gado para a produção leiteira, podendo até ser uma
294
Capítulo 18
Referências bibliográficas
Brock, E. 2001. Sistemas agroflorestais de cultivo e pousio: Etnoconhecimento
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296
Listagem dos autores
297
Francisca Marta Nascimento de Oliveira FREITAS – Universidade Nilton Lins, Ma-
naus, AM.
298
Manoel de Freitas MENDONÇA NETO – Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos, Coor-
denação Sociedade Ambiente e Saúde, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazô-
nia – NERUA/CSAS/INPA, Manaus, AM.
299
Este livro foi impresso em Manaus,
em setembro de 2013.
Projeto gráfico, miolo e capa foram realizados pela
Wega Editora.