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SAF

da implantação
ao manejo
Série AMAS | Módulo 1
Sumário
Nossa história 05
O que é SAF 09
Implantação e manejo do saf:
– Escolha da área 10
– Limpeza 12
– Balizamento 14
– Amostragem de solo 18
– Mudas 23
– Arranjo 24
– Preparo de berços 35
– Plantio 37
– Adubação de cobertura 38
– Controle de pragas 41
– Poda 43
– Cobertura de solo 45
– Limpeza de manutenção 47
Receitas 48
Desafios 64

3
Nossa História

Desde 2012 a Organização de Conservação da Terra (OCT) executa projetos


ANACLETO DA SILVA ANDRÉ DA SILVA ANTÔNIO CARLOS ARIVAL MAMÉDIO
utilizando os Sistemas Agroflorestais (SAF) como estratégias para a conser-
vação do Meio Ambiente e geração de renda sustentável. Financiados pela
Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional do Estado da Bahia (CAR)
e pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio) as iniciativas acompa-
nharam tecnicamente e capacitaram cerca de 500 Unidades Família, em 17
comunidades na Área de Proteção Ambiental do Pratigi.

Para sustentabilidade das ações dos projetos, em 2015 surge o programa


Agricultores Multiplicadores de Agricultura Sustentável, os AMAS. Formado
por um grupo piloto de 20 agricultores familiares, os AMAS se destacaram pe-
ERISVALDO DOS SANTOS FRANCISCA DE ARAÚJO JAIME LOURENÇO JAIME DE SOUZA
las boas práticas adotadas em suas propriedades e pela capacidade de reapli-
cação dos conhecimentos adquiridos durante os três anos de desenvolvimen-
to dos projetos.

O objetivo é que os AMAS, por terem se apropriado das técnicas de manejo


conservacionistas, passem a transmitir essas práticas para outros agricultores,
iniciando, deste modo, um ciclo virtuoso de aprendizado.

Esta cartilha surgiu após uma reunião com 16 AMAS, onde, de forma partici-
pativa, apresentaram o que aprenderam e praticaram em suas propriedades,
JAIRO DE SOUZA LOURIVALDO DOS SANTOS MARIVALDO SANTOS MARTINHA DA CONCEIÇÃO discutiram erros e acertos, e registraram suas experiências e percepções sobre
a aplicação de práticas para agricultura sustentável.

A cartilha pretende ser um guia de boas práticas para implantação e manejo de


SAF construída por agricultores para agricultores. Boa leitura!

MILTON DOS SANTOS SANDRO PEREIRA VALDETE DO NASCIMENTO WALDEMAR BAHIA


5
Ficha Técnica Organização
Esta cartilha foi organizada pela Organização de Conservação da Terra (OCT),
a partir de uma oficina realizada com os Agricultores Multiplicadores de
Redação Edição Agricultura Sustentável (AMAS).
Anacleto Ferreira da Silva Ana Paula de Matos
André da Silva José Eduardo Santos Mamédio Volney Fernandes – Diretor Executivo
Antonio Carlos dos Santos Erika Cotrim Ana Paula de Matos – Líder da Pequena Empresa Conservação Produtiva
Arival dos Santos Mamédio Luciana de Oliveira Gaião José Eduardo Santos Mamédio – Coordenador de Projeto
Erisvaldo Barbosa dos Santos Luciana de Oliveira Gaião – Coordenadora de Campo
Francisca Antônia de Araújo Thiago Guedes Viana – Coordenador de Projeto
Jaime de Souza Fotos Silvana Campos da Silva – Coordenadora da Organização Socioprodutiva
Jaime Lourenço Silva AMAS Amauri Souza Cruz – Coordenador de ATER
Jairo de Souza Fernando Vivas Poliana Oliveira Santos – Prestação de Contas
Lourivaldo Grima dos Santos Almir Blindathi Camila de Jesus da Silva – Técnica em Agropecuária
Marivaldo Santos Acervo OCT Joeli Neres dos Santos – Técnico em Agropecuária
Martinha da Conceição Erika Cotrim – Comunicação
Milton da Aleluia dos Santos Hércules Saar – Consultor
Sandro de Jesus Pereira Projeto Gráfico Salvador Dal Pozzo Trevizan – Colaborador
Valdete Ferreira do Nascimento M21 – Comunicação & Marketing Bruna Sobral – Planejamento Socioambiental
Waldemar de Oliveira Bahia

AMAS reunidos para construção da cartilha


O que é SAF?

O sistema de agrofloresta é como se fosse uma empresa de ali-


mentos, uma mistura de cultivos, onde sempre tem plantas pro-
duzindo, trazendo qualidade de vida para nossa família.

No SAF cultivamos vários conjuntos de plantas na mesma área:


seringueira, cacau, cupuaçu, banana, açaí, jussara, cajá, mamão,
mandioca, verduras, árvores nativas e outras plantas. Na área
que podíamos plantar 1000 pés de cacau e zelar apenas dessas
plantas, estamos tendo mais de 15 tipos de plantas diferentes. A
mesma despesa que temos para cuidar de 1000 plantas vamos
cuidar de 2000 a 3000, tendo todas ao mesmo tempo ali dentro,
com jeito melhor de cuidar.

Com o SAF transformamos uma área improdutiva em uma área


que produz. É de grande utilidade para nossa família, pois é de
onde tiramos o sustento, é o nosso supermercado rural. Ele dá
lucro e preserva o meio ambiente, estamos de olho no futuro.

Traz mudanças e riqueza, podendo durar muitos anos, benefi-


ciando o pai, os filhos e os netos.

O SAF me tirou da roça dos outros para a minha própria roça!

Área de SAF (3º ano)

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Implantação e OO Deve ter bom acesso para facilitar o transporte de mudas e adubos, e
também, para que possa ser visitada por pessoas da comunidade que

manejo do SAF ainda não conhecem um SAF;

OO Se possível, devemos evitar áreas muito ladeiradas para facilitar o trabalho;

OO Evitar solos encharcados, com cascalho e muito rasos.

Como devemos escolher a área


para fazer um SAF?
OO Podemos fazer o SAF em uma área alterada que precisa de recuperação,
por exemplo: pastagem sem uso, muito feto, nascente desprotegida, pouco
produtiva, cansada da mandioca ou onde foi utilizado o fogo muitas vezes;

DI

OR
A

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U
AGRIC

“A
minha área era de pastagem abandonada. Eu fiz
um roço antes porque eu queria plantar banana,
mas aí a OCT chegou e então eu resolvi fazer o
SAF no lugar. Hoje, eu estou satisfeito com o resultado”.

Pastagem

“E
m volta de nascente e na beira de rio, acho que
é certo, porque a gente também contribui para
proteger o rio ou nascente”.

Área abandonada Área pouco produtiva

10 11
Como devemos fazer a limpeza?

OO Podemos usar a roçadeira ou o biscó. Se tiver possibilidade devemos esco-


lher a roçadeira porque o trabalho rende mais que com o biscó. Por exem-
plo, com o biscó, dependendo da área, leva 11 dias para fazer a limpeza de 1

DI

OR
hectare e com a roçadeira apenas 4 dias de trabalho;
A

T
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U
AGRIC

“O
veneno não deve ser utilizado. Temos que en-
sinar tecnologia nova, temos que ensinar coi-
sas que não façam mal”.

“N
ão podemos usar o fogo para limpar a área
porque prejudica a terra, polui o ambiente,
mata os bichos, os microorganismos, causa
erosão porque deixa a terra nua, nasce só mato fraco e res-
Milton realizando limpeza com roçadeira seca a terra”.

OO Devemos capinar apenas


as linhas para o plantio,

“E
não precisa abrir a área in-
u achei difícil ter que roçar e não poder queimar.
teira. O mato das ruas (en-
Hoje eu tô feliz com o resultado, antes também
tre linhas) deve ser manti-
era uma área abandonada”.
do baixo, para proteger o
solo da erosão. Roçamos o
mato das ruas e colocamos
na linha de plantio, no pé
das plantas para adubar.
Abertura de faixas de cultivo

12 13
Como devemos fazer o balizamento?

DI

OR
A

T
OO O balizamento tem que ser em curva de nível se a terra for ladeirada, se DO L
U
AGRIC

“D
for plana pode ser em linha reta;
evemos acompanhar o jogo da terra, o sentido
do rio, porque facilita o jeito do corpo trabalhar
e aproveita melhor a terra”.

Anacleto balizando com o pé de galinha Curva de nível

OO Podemos usar corda, linha, triângulo ou pé de galinha, uma vara para


medir a distância entre o pé das plantas e o calcário para marcar onde
vão ser abertos os berços;

OO Primeiro precisamos fazer a linha mes-


tra, que deve ser com piquetes, depois Ilustração por Lourivaldo
seguimos marcando os outros berços
com o calcário;

OO O calcário, além de adiantar o serviço,


substitui os piquetes, evitando derrubar
mais madeira da mata;
Balizamento com vara e calcário

OO Com a curva de nível aproveita melhor a terra, usando toda a área.

SAF antes – 2012 SAF depois – 2015

14 15
Ilustração por André Ilustração por Francisca

Lourivaldo e esposa em área de SAF (3º ano)


Ilustração por Edvaldo

16
Como devemos fazer a coleta Ferramentas
de amostras de solo?

1
Nota técnica: 2

3
As análises de rotina geralmente são realizadas com amostras coletadas na
profundidade de 0 a 20 cm. No entanto, em diversas situações, essa profun-
didade não é suficiente para uma recomendação adequada.

Para culturas permanen-


tes, como o cacau, a co-
leta de amostras deve ser
mais profunda, normal-
mente dividida em duas
profundidades, a primeira
de 0 – 20 cm e a segunda
de 20 – 40 cm. A amos-
tragem nas camadas de
Fatias de solo
baixo (20 – 40 cm) é re-
alizada no mesmo ponto
de coleta das camadas de 5
cima (0 – 20 cm), toman- 4
do cuidado para não mis-
turar uma com a outra.

1) Enxadão; 2) Trado holandês; 3) Pá de corte;

4) Balde – amostra de solo; 5) Saco plástico – laboratório.


Erisvaldo coletando amostra de solo com trado holandês

18 19
Coleta da Amostra E) Desprezamos as laterais da amostra contida na pá e colocamos a parte do
meio em um balde plástico limpo. F) Devemos repetir essa operação por, pelo
menos, 12 vezes na mesma área, caminhando em zigue-zague e coletando em
pontos diferentes.

A e B) Para a realização de uma amostragem adequada, devemos escolher E F


um ponto na área para iniciar. Fazemos uma limpeza superficial nesse local
(capina, se necessário) com auxílio de um enxadão. Em seguida, com o uso
do trado ou enxadão, coletamos uma amostra na profundidade desejada.

A B

G e H) Todo o solo coletado e colocado no balde deverá ser bem misturado.


Dessa mistura, devemos retirar uma amostra de cerca de meio quilo, que será
colocada em um saco plástico com o nome da propriedade, proprietário, data,
nome da área e cultura plantada.

G H
C) Se a ferramenta utilizada for o enxadão, abrimos uma valeta, conforme
ilustra a imagem. D) Com o auxílio de uma pá, retiramos uma fatia de apro-
ximadamente 3 cm de espessura.

C D

Os pontos de coleta devem estar afastados de casqueiros, formigueiros, maté-


ria orgânica, estradas, casas, caminhos de animais e locais com erosão.

Observação:
O resultado da análise de solo deve ser apresentado para um técnico para que
recomende corretamente o que precisa ser usado e em que quantidade.

20 21
Quais cuidados devemos ter com as
mudas que serão plantadas no SAF?

OO O ideal quando trabalhamos com mudas de tubete é passar para as saco-


las para que fiquem mais fortes e depois plantar na roça. Assim diminu-
ímos as perdas. Plantamos no inverno;

OO A seringueira de raiz nua também é melhor plantar primeiro na sacola


para diminuir perdas e pegar melhor. Quando tiver com 3 lançamentos
pode plantar na roça. Para plantar a raiz nua diretamente na roça deve-
mos observar se a terra está molhada, e socar bem, deixando a muda fir-
memente plantada. Mesmo assim chega a ter perda de 20%;

OO As mudas de cacau devem ser preparadas entre os meses de outubro e


novembro, para dar tempo de plantar no inverno. É melhor clonar o ca-
cau ainda no viveiro, pois o pegamento é maior;

OO As mudas de bananeira devem estar limpas e tratadas com água sanitária


para matar brocas.

“Q
uando a muda vem no tubete
é melhor passar para o saco,
DI
deixar elas reagirem e plantar

OR
A
na roça no inverno”.
C

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U
AGRIC
Anacleto Mudas no viveiro temporário do agricultor

23
Como fazer o Arranjo?

“A rranjo é a escolha do que vai plantar no SAF. Porque no SAF a


gente vai arranjar as plantas, arrumar como vai combinar cada
uma na área”.

OO A primeira coisa é escolher a principal cultura, no caso da APA do Pratigi


é o cacau. A partir daí escolher plantas que se dão bem com o cacau para
que ele produza o ano inteiro, como o cupuaçu, a banana e o abacate que
sombreiam e dão frutos para aumentar a renda;

OO Se quiser plantar culturas exigentes em sol no SAF, como graviola,


Ilustração por Jaime Lourenço
urucum, cravo ou guaraná, devemos colocar ao redor (borda);

OO É importante plantarmos nativas também, que podem ser usadas se


houver necessidade de madeira para consumo e para deixar para
alimentar os animais;

OO Na distribuição das mudas devemos pensar como uma vai sombrear a outra
quando crescer, para evitar abafamento causado pelo excesso de sombra.

“Q
uando montar o arranjo, na hora
de escolher as plantas que irão
entrar no SAF, devemos colocar
várias plantas diferentes para ter renda o ano
DI

OR

A
todo. Sempre pensando em como vai ficar a
C

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U sombra, para não abafar as plantas”.
AGRIC

Jaime Lourenço e família em área de SAF (3º ano)

24 25
Sandro em seu SAF (1º ano)

SAF antes – 2014 SAF depois – 2015 Ilustração por Sandro

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O que podemos plantar
no início do SAF?

Plantas anuais
OO No início do SAF, quando ainda não há sombra, podemos plantar de
tudo, todas as culturas de ciclo curto, as anuais, como: milho, feijão,
mandioca, quiabo, feijão de corda, melancia, pepino, maxixe, abóbora,
repolho, jiló e outras que quiser;

OO Essas culturas servem para consumo da família, dar aos vizinhos, ali-
mentar animais de criação e para venda em feiras e mercados do municí-
pio, no PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e no PNAE (Programa
Nacional de Alimentação Escolar).

“A
s anuais podem ser colocadas para
ampliar nossa renda e também para
ajudar no sustento da família”.

DI

OR
A

T
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AGRIC

“D
epois do projeto muitos agricultores começaram a vender
na feira de Piraí do Norte. Muitas dessas áreas eram im-
produtivas. Hoje, muita gente está se alimentando da roça.
Dia de sábado, quem antes comprava esses produtos na feira, hoje eles
vendem na feira, para quem mora na cidade”.
Waldemar em área de SAF (1º ano)

29
Cultivo de anuais (3º ano)
Plantas leguminosas
OO No início do SAF também é importante plantar leguminosas para cober-
tura do solo, como andu, feijão de porco e pau de rato;

OO O pau de rato é importante ter no SAF para servir de adubo, pode podar
de 3 em 3 meses e botar no pé das plantas.

Leguminosa – Pau de rato (2º ano)

“A
leguminosa é igualmente uréia, rica
em nitrogênio. O pau de rato cha-
ma minhoca, quando a gente corta
e bota no pé de cacau”.

“O
pau de rato pode ser usado como
cerca viva, estaca viva e alimento
Atenção:: para os animais”.
Com o plantio de anuais podemos ter a primeira renda do SAF com 60 ou
90 dias, com hortaliças, milho e feijão, por exemplo.

33
Como devemos preparar os berços?

“A ntes chamávamos de cova, mas como agora sabemos que cova


é para coisas mortas, vamos chamar de berço para colocar as
sementes e mudas que são vivas”.

OO Para abrir os berços podemos usar o enxadão ou a máquina perfuradora de solo;

Abertura de berço com enxadão Abertura de berço com máquina perfuradora

OO Para plantar a seringueira o berço tem de ser de 40 x 40 x 60 cm. Para as ou-


tras plantas como o cacau, cupuaçu e nativas pode ser de 40 x 40 x 40 cm;

OO Para adubar o berço podemos usar uma mistura traçada de esterco com
adubo: 1 litro e meio de esterco de aves ou 2 litros de esterco bovino, 150
gramas de termofosfato (encontrado para vender com nomes de Yoorin,
Cibrafértil, Fospar, Yara entre outras marcas) e 1 quilo de pó de rocha. Repetir
a adubação após 60 dias do plantio.

Atenção:
É importante ter orientação técnica para recomendar a correção da acidez do
Antônio Carlos abrindo berço solo e adubação.

35
Como devemos fazer o plantio?

OO O melhor período para plantar na APA do Partigi é entre os meses de


junho e julho;

OO Se puder usar hidrogel (produto que absorve e retém grande quantidade


de água, mantendo a planta úmida em períodos secos), podemos plantar
qualquer época do ano;

OO Não devemos plantar na lua minguante, porque as plantas não se desen-


volvem bem;

OO Sempre colocar cobertura morta para manter a umidade da terra. Quando


cortar a bananeira colocar nos pés das plantas, utilizar também o mate-
rial que resulta da limpeza da roça.

DI

OR
A

T
DO L
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AGRIC

“A
cobertura morta mantém a terra
molhada e atrai as minhocas, que
vão ajudar o solo”.

Marivaldo realizando plantio

37
—— Uso nas folhas: Em plantas pequenas ou com folhas novas misturar
1 litro em 19 litros de água; Em plantas com folhas maduras misturar
2 litros em 18 litros de água;

—— A aplicação pode ser feita com bomba costal ou motorizada, todo


mês, dependendo da necessidade das plantas.

OO A água da mandioca (manipueira) também serve para adubar. Podemos


usar na quantidade de 1 litro de água + 1 litro de manipueira + 2 litros de
biocalda e aplicar direto no solo.

Martinha traçando adubo

Como devemos fazer a adubação


de cobertura?

OO Para adubar podemos usar uma mistura, traçando esterco com adu-
bo: 700 gramas de esterco de aves, 30 gramas de termofosfato (Yoorin,
Cibrafértil, Fospar, Yara, entre outras marcas) e 1 quilo de pó de rocha.
Usar a mistura 2 vezes ao ano em cada planta (março e setembro);

OO Devemos também usar biocalda:

—— Uso no solo: misturar 1 litros de biocalda em cada litro de água; Martinha adubando berço

38 39
Como podemos controlar
as pragas no SAF?

Para controlar as pragas devemos fazer aplicações nas folhas usando:


DI

OR
A OO Biocalda: em plantas pequenas ou com folhas novas usamos 1 litro em
C

T
DO L
U
AGRIC 19 litros de água; em plantas com folhas maduras usamos 2 litros em 18

“O
litros de água;
adubo orgânico, bem preparado,
é mais forte do que o químico e OO Manipueira (fresca, sem curtir): 1 litro para cada litro de água em plantas
com o tempo tem melhor efeito”. maiores. Plantas menores usar 1 litro para cada 3 litros de água;

OO Urina de vaca curtida por 3 dias: misturar 300 ml em 18 litros de água ou


na biocalda.

“E
u achava que sem o químico eu não
teria resultado. Mas, tinha medo de
não dar certo. Eu resolvi aplicar a
biocalda que eu mesmo fiz. Aplicava todos os
30 dias. O cacau saiu até na raiz! Eu aplico na
folha e na terra. Tá dando certo”.

DI

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A

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AGRIC

“O “E
u usei a manipueira, misturei
adubo químico tem preço alto e 5 litros na água e coloquei na
a biocalda é barata, mas tem que hortaliça. Deu certo”.
ter uma frequência de aplicação,
para dar resultado”.

Atenção:
É importante usar a concentração certa da biocalda, manipueira e urina de
vaca, conforme recomendação técnica.

40 41
Como devemos fazer a poda?

OO O cacau precisa de poda de formação, temos que deixar em formato de


taça e espaçar os galhos de 20 a 30 cm um do outro;

OO Precisamos conduzir as plantas para ficar na mesma altura, facilita


o trabalho;

OO Os galhos que não tomam sol e os brotos chupões, devemos tirar;

OO Na seringueira precisamos ir tirando os galhos para deixar ela subir, até 3 m;

OO O cupuaçu também precisa ir tirando os galhos para subir para ficar


acima do cacau.

DI

OR
A

T
DO L
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AGRIC

“T “N
emos de fazer a o cacau tem de tirar
poda antes do lan- os galhos que não
çamento do cacau”. tomam sol e olhar
a altura da planta”.

Atenção:
Existem 3 tipos de poda no cacaueiro: formação - que dá forma e equilíbrio;
manutenção - para retirada de galhos entrelaçados e ramos que ficam no
Jairo realizando a poda interior da planta; e limpeza – para tirar galhos velhos, secos e/ou doentes.

43
Como devemos fazer a
cobertura do solo?

OO Temos que deixar o solo do SAF sempre coberto com os mesmos matos
que são cortados, roçados na área, como por exemplo: folhas e troncos
de bananeira, pau de rato, palha de milho e feijão e todos os restos das
culturas;

OO Devemos também aproveitar as leguminosas, fazendo a roçagem do


andu, feijão de porco ou outras, e podar o pau de rato para usar no pé
das plantas.

DI

OR
A

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U
AGRIC

“H
oje temos que deixar esses restos
de mato e poda, porque os nu-
trientes voltam para o solo”.

Mulching (cacaueiro 3º ano)

45
Como devemos fazer a
limpeza da área?

OO Para limpar o SAF o melhor é usar a roçadeira, porque rende mais


o trabalho, mas pode fazer também com o biscó, quem não tem a
máquina ainda;

OO Precisamos fazer o coroamento antes de passar a roçadeira, para não


cortar as mudas.

Erisvaldo realizando limpeza com roçadeira


Área de SAF após limpeza com roçadeira (2º ano)

47
Receitas
Francisca preparando biocalda
1

Biocalda
2
A biocalda é um composto líquido feito com diversos componentes minerais
misturados a materiais orgânicos como esterco, melaço ou rapadura e plantas.
Os ingredientes usados podem variar de uma região para outra, podendo ser
substituídos com o que tiver disponível na propriedade. A mistura fermentada
produz um composto rico, com vitaminas e hormônios importantes para o
equilíbrio das plantas.

A concentração, quantidade que devemos misturar com água para aplicar, 3


depende da cultura. Pode ser aplicada no solo e nas folhas, porque as plantas
tem a capacidade de absorver substâncias/nutrientes tanto pelas raízes como
pelas folhas. 4

Além de alimentar as plantas a biocalda funciona como defensor natural con-


tra insetos, ácaros, fungos, bactérias, nematóides e outros. A biocalda deixa a
planta bem nutrida, forte, assim as pragas não conseguem atacar.

1) Lançamento de folhas
Aplicar nas folhas ou no solo para adubar e proteger contra pragas.
2) Floração
Aplicar nas folhas para diminuir a perda de flores.
3) Safra e temporão
Aplicar nas folhas para proteger os frutos e diminuir a peca de bilros.
4) Entressafra
Aplicar no solo antes da poda. Depois da poda aplicar no solo, caule e folhas
para adubar, remineralização.
Plantio
Valdete preparando a biocalda Aplicar no solo, no composto ou na adubação de berço para fortalecer a muda.

50 51
Receita da biocalda Modo de usar:

Na folha:

OO Em plantas pequenas ou com folhas novas: 1 litro em 19 litros de água;


Material: OO Em plantas adultas ou com folhas maduras: 2 litros em 18 litros de água;
OO 1 tanque de 500 litros OO Em mudas e hortaliças: meio litro em 19 litros e meio de água.
OO 1 balde de 15 litros
No solo:
OO 1 quilo de arroz cozido (sem sal)
OO Usar 1 litro de biocalda para cada litro de água;
OO 15 quilos de açúcar cristal ou rapadura
OO Aplicar com bomba costal, manual ou motorizada, ou com regador.
OO 75 quilos de esterco verde (fresco)

OO 10 quilos de pó de rocha

OO 4 litros de microorganismos (veja abaixo como coletar na mata)

OO 1 saco de plantas verdes e vigorosas que tenham no local

OO Água sem cloro para encher o tanque

Modo de fazer:
Coleta de Microorganismos: No chão da mata, espalhar o arroz cozido sobre
um plástico. Mantê-lo coberto com folhas de 7 a 10 dias. Após este tempo, co-
letar e por no balde. Misturar com 3 quilos de açúcar cristal ou rapadura. Ilustração por Francisca

Colocar água até metade do tanque. Acrescentar os microorganismos e de-


mais ingredientes misturando tudo. Depois completar o tanque com água até
ficar faltando cerca de 1 palmo (20 cm).

Mexer duas vezes ao dia por 10 minutos, durante 28 dias.


A calda pode ser enriquecida durante ou após o preparo com macronutrien-
tes (Nitrogênio, Fósforo, Potássio) ou micronutrientes (Boro, Zinco, Cobre,
Cobalto, etc...) conforme a necessidade e recomendação técnica.

Marivaldo aplicando biocalda

52 53
Inseticida de fumo
O fumo de corda solta nicotina que funciona como um inseticida natural.

Ingredientes:

OO 100 gramas de fumo de corda

OO Meio litro de álcool

OO Meio litro de água

OO 100 gramas de sabão de coco

Modo de fazer:
Misturar o fumo cortado em pedacinhos no álcool. Acrescentar a água e deixar
curtir por 15 dias.

Modo de usar:
Plantas com baixo ataque de praga: dissolver o sabão em 20 litros de água e
juntar a mistura curtida. Pulverizar nas plantas atacadas.

Plantas com alto ataque de praga: dissolver o sabão em 10 litros de água e jun-
tar a mistura curtida. Pulverizar nas plantas atacadas.

André preparando inseticida


André colocando o fumo no álcool

55
Manipueira
A manipueira é o líquido que sai da prensagem da mandioca. É utilizada no
controle de pragas, como herbicida e como adubo.

Modo de usar:

OO No controle de pragas do cacau, cupuaçu, ou outras árvores: mistu-


rar 1 litro de manipueira para cada litro de água;

OO Para pragas de plantas pequenas como hortaliças: 1 litro de mani-


pueira para cada 3 litros de água, a depender do tamanho da planta;

OO No tratamento de mudas de bananeira: mergulhar as mudas na


manipueira pura por 1 hora;

OO No controle de formigas: aplicar cerca de 1 litro de manipueira pura


no “olho” do formigueiro;

OO Como herbicida: aplicar a manipueira pura e sem curtir por 3 dias


seguidos molhando bastante as plantas;

OO Na adubação de solo: usar 1 litro de manipueira para cada litro de


água na linha do cultivo, utilizando regador ou pulverizador;

OO Na adubação de folha: usar 1 litro de manipueira para cada 6 litros de


água. Aplicar 1 vez por semana, durante 6 semanas.

Atenção:

OO A manipueira pode ser guardada por até 3 dias. Após este período
perde seu efeito contra as pragas;

OO Se for usar a manipueira para controlar pragas, após o preparo é pre-


ciso acrescentar na mistura 1% de farinha de trigo, para ajudar a gru-
dar na planta e melhorar o efeito. Para cada 10 litros de manipueira
Sandra com manipueira
preparada colocar 100 gramas de farinha de trigo.

57
Tratamento de mudas
de bananeira

Para evitar o ataque de brocas ou outras pragas na muda da bananeira,


recomendamos:

OO Escolher sempre mudas sadias e com bom desenvolvimento;

OO Fazer a limpeza da muda, retirando o resto de terra, a casca e as raízes;

OO Em um vasilhame, que pode ser um tanque, misturar 1 litro de água


sanitária (encontrada no mercado) para cada litro de água;

OO A muda deve ficar mergulhada nesta solução por cinco minutos.

Tratamento de mudas de bananeira


Francisca limpando muda de banana

59
Urina de vaca

A urina de vaca é utilizada na agricultura como fertilizante, fortificante (esti-


mulante de crescimento) e também no controle de pragas, devido ao seu efei-
to repelente e ao aumento da resistência das plantas.

Testes realizados com cacaueiro mostram bons resultados no controle de pra-


gas, principalmente aquelas que atacam os lançamentos de folhas, como o
monalonio.

Modo de coleta:
Com um balde limpo, coletar a urina da vaca no momento da retirada do leite.
Guardar em um recipiente com tampa e limpo (exemplo: vaso de refrigerante)
e deixar curtir por três dias.

Modo de usar:

OO Cacaueiro ou outras árvores: em uma bomba costal misturar 18 litros


de água com 300ml de urina de vaca curtida. Pulverizar as plantas e
repetir com 15 dias, se sentir necessidade;

OO Hortaliças e plantas de pequeno porte: utilizar 50 ml de urina curtida


em 10 litros de água. Pulverizar as plantas a cada 15 dias, dependen-
do da infestação. Aumentar a dose caso haja necessidade.

Arival preparando fertilizante com urina de vaca

61
Compostagem com OO O enriquecimento do composto pronto poderá ser feito com:

OO Pó de rocha: 1 saco para cada 100 quilos

casca de cacau OO Cinza: 5 quilos para cada 100 quilos

OO Biocalda: regar 5 litros em 100 quilos

A compostagem é um processo feito com a ajuda de microorganismos que Como usar na adubação do SAF:
transformam a matéria orgânica, como esterco, folhas, restos da poda e da co-
OO Berço: 1 quilo do composto por planta
lheita e restos de comida, em um material semelhante ao solo e que utilizamos
como adubo. OO 1º ano: 2 quilos do composto por planta

OO 2º ano: 3 quilos do composto por planta


Modo de fazer:
OO 3º ano: 4 quilos do composto por planta
OO Após a quebra do cacau, ou até 5 dias depois, picotar a casca com
facão ou enxada. Quanto mais novas as cascas, melhor será a de-
composição. Deixar as cascas com cerca de 3 cm;

OO Formar um monte com as cascas picotadas e cobrir com folhas de


bananeira, cacau ou outra encontrada na roça;

OO Revolver o composto a cada 21 dias, por um período de aproxima-


damente 3 meses.

Atenção:
Não pode molhar ou colocar esterco no composto. Cobrir novamente sempre
que revolver.

OO A decomposição pode ser verificada enfiando um vergalhão de ferro


até o meio do composto por 10 minutos. Caso o vergalhão esquente
é sinal de que o material está se decompondo;

OO Para conferir se a umidade está certa é só apertar o composto com as


mãos, neste momento não pode escorrer líquido;

OO Quando estiver pronto ficará com cor escura e cheiro de terra


molhada;
Marivaldo preparando composto com casca de cacau

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Desafios 1 Ser um multiplicador na comunidade
O que aprendemos e praticamos em nossas áreas que deu bons resulta-
dos, precisamos passar para nossos vizinhos. Temos de ser exemplo das
boas práticas de zelo com o solo e com a água.

2 Fortalecer a cooperativa com participação de todos


Sabemos que para melhorar a comercialização dos nossos produtos e
adquirir insumos com preços melhores, precisamos de uma coopera-
tiva forte, o que depende da participação de todos nós. A cooperativa
somos nós!

3 Fortalecer as associações
Precisamos estar associados com a associação funcionando bem, para
podermos buscar os programas do governo que nos ajudam a trazer me-
lhorias para a nossa comunidade.

4 Ampliar as áreas de SAF


Os SAF são bons porque nos ajudam a melhorar a renda e ainda pro-
tegem o meio ambiente. Daí a importância de ampliarmos nossas
áreas de SAF, recuperando outras áreas abandonadas ou plantan-
do mais onde tem poucos cultivos, deixando a roça mais produtiva e
protegendo a natureza.

5 Influenciar as mudanças nas propriedades dos


vizinhos pelo nosso exemplo
Minha propriedade precisa estar organizada, com plantios diferentes no
SAF, com nascentes protegidas, solo coberto, bem cuidada e produtiva.
Se eu quero que meu vizinho melhore a propriedade dele, preciso mos-
trar como eu faço, melhorando primeiro a minha. Se todos fizerem a sua
parte, teremos água boa, terra rica e uma renda melhor para todos.
Jaime de Souza em seu SAF (3º ano)
Milton
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