Você está na página 1de 9

ISSN 2175-6813

Revista Engenharia na Agricultura


V.25, n.05, p.469-477, 2017

Viçosa, MG, DEA/UFV - http://www.seer.ufv.br

CRESCIMENTO DO TRIGO COM DIFERENTES TIPOS DE ADUBAÇÃO

Eduardo Gasparin1, José Airton Azevedo dos Santos2, Rafael Luis Bartz3, Alfredo Eduardo Melo Meneses Ferro4 & Silvana Ligia
Vincenzi5

1-Engenheiro do Produção, Mestrando em Tecnologias Computacionais para o Agronegócio, UTFPR, Medianeira-PR, eduardogaspparin@gmail.com
2-Engenheiro Eletricista, Professor Titular do Departamento de Elétrica, UTFPR, Medianeira-PR, professorjairton@gmail.com
3-Tecnólogo em Analise e Desenvolvimento de Sistemas, Mestrando em Tecnologias Computacionais para o Agronegócio, UTFPR, Medianeira-
PR; infobartz@gmail.com
4-Técnico em Agroecologia e Sustentabilidade na Agricultura, Graduando de Agronomia, PUC, Toledo-PR; infobartz@gmail.com
5-Matematica, Professora Titular da UTFPR, Medianeira-PR; sligie@globo.com

Palavras-chave: RESUMO
dejetos animais O uso de fertilizantes no cultivo do trigo constitui uma das técnicas de manejo mais conhecidas
perfilhos e praticadas no cenário agrícola brasileiro para aumentar a produtividade, com diversas fontes
produtividade bibliográficas destacando as vantagens do emprego de dejetos animais em complementação
Triticum aestivum a tradicional adubação mineral. Este trabalho objetivou avaliar oito formulações distintas de
fertilizantes baseadas em dejetos animais e complementos minerais, e seus efeitos sobre as
variáveis: altura das plantas, número de folhas e de perfilhos. O experimento foi realizado no
município de Assis Chateaubriand. O delineamento utilizado foi o de blocos casualizados, com
oito tratamentos e cinco repetições cada, com as variáveis mensuradas em quatro oportunidades
distintas, aos 15, 30, 45 e 60 dias após a semeadura. Os resultados obtidos foram submetidos a
análises de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de significância.
Por meio da análise estatística, obteve-se que os tratamentos com adubo organomineral e esterco
bovino associado a complementos minerais resultaram nos maiores valores para a altura. para o
número de folhas e número de perfilhos por plantas, os tratamentos baseados em cama de frango
associado a complementos minerais apresentaram resultados superiores aos demais. concluiu-se
que a utilização da cama de frango na adubação de lavouras de trigo, atua positivamente em
variáveis ligadas ao desempenho produtivo desta cultura, principalmente quando associada à
complementação mineral.

Keywords: WHEAT GROWTH UNDER DIFFERENT FERTILIZATIONS


animal waste
ABSTRACT
tiller
The use of fertilizers in wheat crop is one of the best known and practiced management
Triticum aestivum
techniques to increase productivity in the Brazilian agricultural scenario, with several references
yield
highlighting the advantages of animal waste application in addition to the traditional mineral
fertilization. This work aimed to evaluate eight different fertilizer preparations based on animal
waste and mineral complements, and their effects on plant height, number of leaves and tillers.
The experiment was carried out in the municipality of Assis Chateaubriand. The experimental
design was a randomized block design, with eight treatments and five replicates each, with the
variables measured during four separate times at 15, 30, 45 and 60 days after sawing. Results
were submitted to analysis of variance and the means were compared using the Tukey test
at a level of 5% of significance. Through statistical analysis, treatments with Organomineral
Fertilizer and Bovine manure associated with mineral complements presented the highest values
for plant height. Treatments based on Chicken manure associated with mineral complements
presented superior results in comparison to the others for total number of leaves and number
of tillers per plant. Therefore, the use of Chicken manure for wheat crop fertilization positively
affected variables related to the productive performance of this crop, especially when associated
with mineral supplementation.
_____________________
469
Recebido para publicação em 13/07/2017 . Aprovado em 16/10/2017 . Publicado em 24/11/2017
GASPARIN, E. et al.

INTRODUÇÃO levando também ao aumento da disponibilidade


de nutrientes na fase solúvel do solo, beneficiando
De grande importância histórica para o assim o desenvolvimento das culturas com
desenvolvimento da civilização, o cereal advindo consequente aumento do potencial produtivo.
do ciclo de vida do Triticum aestivum, comumente Nesta categoria de fertilizantes, destaca-se a cama
nomeado como Trigo, se destaca no cenário de frango e esterco bovino, devido aos altos teores
agrícola brasileiro e mundial, figurando entre os de carbono, nitrogênio e nutrientes essenciais ao
principais cereais cultivados principalmente devido desenvolvimento das culturas vegetais (PITTA et
à qualidade do seu emprego na alimentação humana al., 2012, KUMMER et al., 2016). Por fim, deve-se
e animal (COTRIM et al., 2016; CONAB, 2017). atentar ao tipo de resíduo utilizado, já que elevadas
No entanto, devido às características climáticas quantias podem proporcionar desequilíbrio
predominantes no Brasil, o baixo rendimento nutricional no solo e, consequentemente, afetar
financeiro, o baixo custo da importação dos países o desenvolvimento e produtividade da cultura
do Mercado Comum do Sul (MERCOSUL) e a (OLIVEIRA et al., 2009).
redução do incentivo estatal na forma da política do Buscando aliar os pontos positivos da tradicional
preço mínimo, sua produção não supre a demanda adubação mineral e orgânica, MELÉN JÚNIOR et
nacional (MINGOTI et al., 2014; PADRÃO et al., al. (2011) indicaram a utilização do organomineral,
2016). segundo os autores, esta categoria de fertilizante
Deste modo, o estabelecimento de técnicas consiste na complementação mineral do adubo
de manejo que possibilitem a maximização da orgânico via mistura com o fertilizante químico, e
produtividade do trigo, é requisito mínimo para a possui a grande vantagem de reduzir praticamente
continuidade da produção nacional. BELLOTE &
à zero as perdas de nutrientes como nitrogênio e
NEVES (2008) destacam que é imprescindível o
fósforo devido ao grande teor de matéria orgânica
correto manejo de nutrientes, que atualmente se
presente. ZUCHI et al. (2010), SILVA et al.
dá por meio da adubação por fertilizantes, com
(2014) e BORGES et al. (2015) demonstraram
TEIXEIRA FILHO et al. (2010), PRANDO et al.
os benefícios da utilização desta categoria de
(2013) e SILVA et al. (2015) destacando o papel da
adubação nitrogenada no desenvolvimento vegetal, adubação na produtividade de diferentes culturas
mostrando em seu trabalho o impacto positivo agrícolas, inclusive a do trigo.
desta categoria na produtividade. O presente trabalho foi desenvolvido com
Tendo em vista as demandas econômicas da objetivo de analisar o desempenho da cultura do
agricultura e a necessidade de reduzir os impactos trigo, quando submetida a diferentes formulações
ambientais, a elaboração de técnicas de manejo de adubação, compostas por fertilizantes minerais,
e gerenciamento de nutrientes que reduzam a dejetos animais ou fertilizantes organominerais,
liberação de nitratos nos cursos de água ou a combinados entre si, ou aplicados isoladamente.
liberação de gases de efeito estufa contendo
nitrogênio, ganham importância no setor agrícola MATERIAL E MÉTODOS
(HAWKESFORD, 2014). SANTOS et al. (2011)
destacam o reaproveitamento de resíduos orgânicos O experimento foi implantado e conduzido no
como uma alternativa atraente aos tradicionais Instituto Federal do Paraná (IFPR), localizado no
produtores comerciais. BENITES et al. (2010), município de Assis Chateaubriand, com altitude de
MUELLER et al. (2013) e ULSENHEIMER et al. 407 metros em relação ao nível do mar.
(2016) afirmaram que em sua maioria, os resíduos Inicialmente, realizou-se a coleta do solo
orgânicos adicionados ao solo apresentam elevados utilizado no experimento, extraindo este da
teores de matéria orgânica, que posteriormente camada de 0,0 – 0,2 m de um Latossolo Vermelho
decomposta, contribui para a melhoria de diversos Eutroferrico típico de textura muito argilosa
atributos químicos, físicos e biológicos do solo, (EMBRAPA, 2013). Após a análise química

470
Engenharia na Agricultura, v.25, n.5, p. 469-477, 2017
CRESCIMENTO DO TRIGO COM DIFERENTES TIPOS DE ADUBAÇÃO

deste material, foram determinados os seguintes plantas, realizando irrigação quando necessário,
atributos, Tabela 1. por aspersão. As temperaturas e umidade relativa
O delineamento experimental foi em blocos do local não puderam ser controladas, variando
ao acaso, com oito tratamentos e cinco repetições conforme os valores ambientes, Figura 1. Não
cada. Foram utilizados vasos com 8 dm³ de houve necessidade da aplicação de produto para o
capacidade como unidades experimentais. Em controle de pragas e doenças durante o período de
cada vaso foram semeadas 20 sementes na data realização do experimento, realizando-se quando
de 04 de abril de 2016, conforme a recomendação necessário o controle manual das plantas invasoras.
de IAPAR (2016). Cinco dias após a emergência Foram testados oito tratamentos, com a
realizou-se o desbaste, mantendo-se cinco plantas determinação das doses de adubo sendo realizada
por vaso. O experimento foi finalizado aos 60 dias, de acordo com a recomendação de IAPAR (2013),
em 04 de junho de 2016. para a cultura de trigo no estado do Paraná. A Tabela
Durante a realização do experimento, 2 apresenta as doses aplicadas no experimento,
mantiveram-se as plantas em local protegido e bem como a quantidade média de matéria orgânica
com iluminação natural, conservando o solo com (MO), nitrogênio (N), pentóxido de fósforo (P2O5)
a umidade adequada para o desenvolvimento das e óxido de potássio (K2O) de cada tratamento.

Tabela 1. Atributos químicos do solo coletado para o experimento na camada de 0 - 0,2 m de profundidade

pH
MO P Ca2+ Mg2+ K+ Al3+ H+Al SB CTC V
CaCl2
g.dm-3 mg.dm-3 cmolc.dm-3 %
5,56 21,87 4,61 4,44 1,32 0,38 0,0 2,36 6,14 8,5 72,24.

Figura 1: Valores de temperaturas máximas, mínimas e umidade relativa no período do experimento.

471
Engenharia na Agricultura, v.25, n.5, p. 469-477, 2017
GASPARIN, E. et al.

Tabela 2: Dose e composição média dos tratamentos, com base em sua massa seca

MO N P2O5 K2O Dosagem


Código Tratamento
(mg kg ) -1
(Kg ha-1)
1 Cama de frango + Mineral 476,2 12,7 17,9 17,7 6.300
2 Esterco Bovino + Organomineral 545,2 13,7 15,1 12 6.300
3 Mineral - 20 200 200 600
4 Esterco Bovino + Mineral 542,9 12,7 17,9 17,7 6.300
5 Organomineral 50,0 40 140 80 600
6 Cama de Frango + Organomineral 478,6 30,2 39,4 18,6 6.300
7 Esterco Bovino 570 12,4 8,9 8,6 6.000
8 Cama de Frango 500 29,8 34,4 15,5 6.000
Fonte: Adaptado de RIBEIRO (1999).

Os tratamentos que receberam os dejetos se estatisticamente dos demais e apresentando


animais foram aplicados 15 dias antes da valores elevados de altura. Aos 30 DAS e 45
semeadura, já as fontes minerais foram aplicadas DAS, sobressaiu o desempenho do tratamento 6,
no momento da semeadura. Aos 15, 30, 45 e 60 formando em ambos DAS um grupo distinto dos
dias após a semeadura (DAS) foram levantados, de demais, homogêneo e com plantas expressivamente
todas as plantas do experimento, os dados relativos mais altas. Aos 60 DAS, os tratamentos 1, 2, 3, 4,
ao: número de folhas e de perfilhos, e a altura da 5 e 6, nos quais houve complementação mineral
base da planta até a inserção da última folha, com com Adubo Organomineral ou Adubo Mineral,
auxílio de uma trena métrica. apresentaram-se estatisticamente semelhantes, com
Os dados obtidos foram digitalizados em resultados superiores aos tratamentos baseados
planilhas eletrônicas, e submetidos por meio apenas em dejetos animais, tratamentos 7 e 8.
de análise de variância, Teste F (p < 0,05) e a De acordo com PRANDO et al. (2013) e ORSO
comparação de médias por Teste de Tuckey (p < et al. (2014), o resultado, Tabela 3, não pode ser
0,05), no software Statistica 11.0 (VIEIRA, 1999; explicado unicamente pela quantidade de N, P2O5,
BARROS NETO et al., 2001). K2O disponibilizada por cada tratamento, Tabela
2, embora ESPINDULA et al. (2010) tenham
RESULTADOS E DISCUSSÃO verificado correlação linear entre a altura das
plantas e doses de nitrogênio de até 120 kg ha-1 e
A análise de variância atestou por meio do teste THEAGO et al. (2014) encontraram uma relação
F, que houve diferença significativa (p<0,05) entre quadrática, com ponto máximo em 148 kg ha-1, o
as medias dos tratamentos para a variável altura, tratamento 3, composto apenas por adubo mineral,
aos 15, 30, 45 e 60 dias após a semeadura (DAS), apresentou resultados estatisticamente semelhantes
evidenciando a influência destes nos resultados ao tratamento 6, baseado em cama de frango
desta variável. Buscando comparar e classificar combinado adubos minerais, que apresentou um
os tratamentos, foi realizado o Teste de Tukey, quantitativo de N, P2O5 superiores ao tratamento
que apontou diferença significativa (p<0,05) 3. Já MELÉN JÚNIOR et al. (2011), SILVA et al.
entre estes, para todos os períodos em que foram (2014) e BORGES et al. (2015) apontaram que além
coletados os dados, Tabela 3. do quantitativo disponibilizado, o fluxo constante
Nota-se que aos 15 DAS, os tratamentos 1, 2 dos nutrientes fornecidos pela adubação mineral
e 7 não apresentaram diferenças significativas, associada a componentes orgânicos, propicia os
registrando os menores valores para a variável elementos necessários para o desenvolvimento da
altura. O tratamento 5 destacou-se, distinguindo- cultura vegetal.

472
Engenharia na Agricultura, v.25, n.5, p. 469-477, 2017
CRESCIMENTO DO TRIGO COM DIFERENTES TIPOS DE ADUBAÇÃO

A partir do número de folhas de cada planta entre os tratamentos (p<0,05), utilizando-se então
presente no experimento, buscou-se avaliar o efeito do Teste de Tukey para classificar e comparar estes.
dos diferentes tratamentos sobre esta variável. Nota-se que aos 30 DAS, no tratamento 6, o
A análise de variância evidenciou por meio do número de folhas foi superior aos demais. Nos 45
Teste F, que aos 15 DAS, que não houve diferença DAS e aos 60 DAS os tratamentos 5 e 6, baseados
significativa (p>0,05) no desempenho dos na aplicação de cama de frango juntamente com a
tratamentos. Porem aos 30, 45 e 60 DAS, constatou- complementação mineral, apresentaram resultados
se por meio do Teste F, diferenças significativas superiores aos demais tratamentos, semelhante aos

Tabela 3. Avaliação da altura de plantas aos 15, 30, 45 e 60 dias após a semeadura (DAS) de acordo com
os diferentes tratamentos (média ± desvio-padrão)
Tratamento 15 DAS 30 DAS 45 DAS 60 DAS
1 15,92 ± 2,3 b 21,7 ± 3,1 d 36,8 ± 2,6 ab 53,5 ± 6,3 ab
2 16,28 ± 2,2 b 22,0 ± 3,0 cd 34,0 ± 2,3 cd 55,8 ± 5,5 ab
3 17,76 ± 3,2 ab 23,6 ± 2,3 abc 33,5 ± 2,7 c 53,1 ± 5,0 ab
4 17,24 ± 3,1 ab 23,4 ± 1,7 bcd 34,6 ± 3,5 bcd 55,8 ± 5,7 ab
5 19,16 ± 2,1 a 25,2 ± 1,8 ab 36,7 ± 2,8 ab 55,9 ± 6,1 ab
6 17,52 ± 2,8 ab 25,5 ± 1,8 a 37,2 ± 1,9 a 55,4 ± 5,5 ab
7 15,68 ± 2,7 b 24,9 ± 1,6 ab 33,6 ± 2,5 c 51,2 ± 4,4 a
8 17,85 ± 3,2 ab 19,8 ± 2,5 d 29,1 ± 2,5 d 45,5 ± 9,1 b
Média 17,18 23,26 34,45 53,27
C.V. (%) 6,34% 8,02% 7,17% 6,24%
Onde 1: Cama de frango + Mineral; 2: Esterco Bovino + Organomineral; 3: Mineral; 4: Esterco Bovino + Mineral; 5: Organomineral; 6: Cama de
Frango + Organomineral; 7: Esterco Bovino; 8: Cama de Frango. Médias seguidas por letras iguais, na coluna e para cada variável, não diferem
entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

Tabela 4. Avaliação do número de folhas de plantas aos 15, 30, 45 e 60 dias após a semeadura (DAS) de
acordo com os diferentes tratamentos (média ±desvio-padrão)
Tratamento 15 DAS 30 DAS 45 DAS 60 DAS
1 2,9 ± 0,3 a 6,5 ± 1,0 b 20,2 ± 2,0 a 24,4 ± 4,6 b
2 3,0 ± 0,2 a 6,9 ± 1,5 ab 15,3 ± 1,6 d 18,8 ± 5,2 cd
3 3,0 ± 0,2 a 6,2 ± 1,0 b 13,4 ± 2,5 e 12,1 ± 4,2 e
4 3,0 ± 0,2 a 6,6 ± 1,0 b 16,0 ± 2,0 cd 20,4 ± 3,6 c
5 3,1 ± 0,3 a 7,2 ± 1,4 ab 17,8 ± 2,5 bc 19,1 ± 4,5 cd
6 3,0 ± 0,0 a 7,7 ± 1,4 a 19,5 ± 2,1 ab 29,8 ± 3,8 a
7 3,0 ± 0,0 a 6,5 ± 1,1 b 12,8 ± 2,2 e 16,4 ± 4,6 d
8 3,0 ± 0,0 a 5,3 ± 1,1 b 14,8 ± 1,9 de 19,9 ± 4,8 b
Média 3,02 6,60 16,22 20,11
C.V. (%) 1,47% 9,91% 15,69% 24,42%
Onde 1: Cama de frango + Mineral; 2: Esterco Bovino + Organomineral; 3: Mineral; 4: Esterco Bovino + Mineral; 5: Organomineral; 6: Cama de
Frango + Organomineral; 7: Esterco Bovino; 8: Cama de Frango. Médias seguidas por letras iguais, na coluna e para cada variável, não diferem
entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

473
Engenharia na Agricultura, v.25, n.5, p. 469-477, 2017
GASPARIN, E. et al.

obtidos por PIETRO-SOUZA et al. (2013) que 4 e o 6 sobressaíram-se quanto ao número de


encontraram relação quadrática entre o número de perfilhos. Para 45 DAS e 60 DAS, os tratamentos
folhas e as doses de nitrogênio disponibilizadas baseados em cama de frango, 1, 6 e 8 destacaram-
durante o período vegetativo. se em relação aos demais.
O tratamento 3, baseado apenas em adubação Os resultados obtidos são similares aos obtidos
mineral, que inicialmente aos 15 DAS e 30 DAS por NUNES et al. (2011) e PIETRO-SOUZA et al.
foi semelhante aos demais tratamentos, aos 45 (2013), que mostraram que há resposta crescente
DAS E 60 DAS apresentou resultados inferiores. no número de perfilhos e nas doses de nitrogênio
Este fato pode ser explicado pela característica da aplicadas na cultura, no entanto ORSO et al. (2014)
adubação mineral, composta por minerais na sua não encontraram a mesma relação estatística,
forma iônica, que rapidamente se torna disponível alegando que esta característica relaciona-se
ao consumo vegetal e sendo quase totalmente diretamente com o número de plantas por área.
consumido nas fases iniciais das culturas vegetais, Embora não haja um consenso na literatura sobre
enquanto que adubações baseadas em dejetos a dosagem, CAMPONOGARA et al. (2016)
animais, como é o caso da cama de frango, concluíram, com base em seus resultados, que
decompõem-se gradualmente ao longo do período baixas disponibilidades de nutrientes, levam o trigo
vegetativo, garantindo uma disponibilização a desenvolver somente os estágios vegetativos dos
constante de nutrientes à cultura (PITTA et al., perfilhos, de modo que na fase de espigamento,
2012; KUMMER et al., 2016). a planta realiza o abortamento destas estruturas,
Para a variável, número de perfilhos por planta, redistribuindo os nutrientes para crescimento
a análise de variância constatou, por meio do e desenvolvimento da espiga da planta mãe,
Teste F, diferença significativa (p<0,05) entre os explicando assim a menor contagem registrada aos
tratamentos, para todos os períodos de coleta de 60 DAS.
dados. Por meio do Teste de Tukey foi possível Os tratamentos baseados em Cama de
comparar e classificar os tratamentos de acordo Frango mostraram-se superiores aos demais,
com o desempenho desta variável, Tabela 5. principalmente quando em conjunto com algum
Os tratamentos 2 e 7 não apresentaram diferença complemento mineral, como o adubo mineral
significativa para 30 DAS. Sendo que o tratamento e adubo organomineral. Este resultado está

Tabela 5. Avaliação do número de perfilhos aos 15, 30, 45 e 60 dias após a semeadura (DAS) de acordo
com os diferentes tratamentos (média ±desvio-padrão)
Tratamento 15 DAS 30 DAS 45 DAS 60 DAS
1 0,0 ± 0,0 e 3,8 ± 0,7 cd 8,9 ± 0,6 a 8,1 ± 1,7 a
2 0,0 ± 0,2 de 4,0 ± 0,6 c 5,8 ± 1,1 b 4,4 ± 1,4 c
3 0,4 ± 0,5 cd 3,3 ± 0,7 d 4,2 ± 0,5 d 3,0 ± 0,9 d
4 0,3 ± 0,5 cde 4,1 ± 0,6 bc 5,8 ± 0,7 b 3,7 ± 1,1 cd
5 1,0 ± 0,2 a 4,3 ± 0,7 ac 6,1 ± 0,9 b 4,2 ± 1,4 cd
6 0,7 ± 0,5 ab 4,8 ± 0,6 ab 9,2 ± 1,2 a 7,7 ± 1,5 ab
7 0,4 ± 0,5 cd 4,0 ± 0,7 c 5,0 ± 0,9 c 3,4 ± 1,0 cd
8 0,6 ± 0,5 bc 3,2 ± 0,8 d 7,3 ± 1,0 a 5,2 ± 1,9 b
Média 0,41 3,95 6,54 4,96
C.V. (%) 73,32% 11,97% 25,60% 36,40%
Onde 1: Cama de frango + Mineral; 2: Esterco Bovino + Organomineral; 3: Mineral; 4: Esterco Bovino + Mineral; 5: Organomineral; 6: Cama de
Frango + Organomineral; 7: Esterco Bovino; 8: Cama de Frango. Médias seguidas por letras iguais, na coluna e para cada variável, não diferem
entre si pelo teste de Tukey a 5 % de probabilidade.

474
Engenharia na Agricultura, v.25, n.5, p. 469-477, 2017
CRESCIMENTO DO TRIGO COM DIFERENTES TIPOS DE ADUBAÇÃO

relacionado com a quantidade de nutrientes Brasileira de Grãos, Colombo, v.2, n.9, p.5-5,
presentes na cama de frango, que além de ser rica 2008.
em nitrogênio, tem níveis de potássio e fósforo
elevados quando combinada com adubo mineral BENITES, V.D.M.; MOUTTA, R.D.O.;
e adubo organomineral, Tabela 2. Também é COUTINHO, H.L.D.C.; BALIEIRO, F.D.C.
importante destacar que esta combinação de Análise discriminante de solos sob diferentes usos
fertilizantes propicia constante liberação de em área de Mata Atlântica a partir de atributos da
nutrientes para a cultura, inicialmente devido à matéria orgânica. Revista Árvore, v.34, n.4, 2010.
rápida liberação de nutrientes dos adubos minerais
no início do ciclo de vida e do fluxo constante de BORGES, R.E.; MENEZES, J.F.S.; SIMON,
nutrientes devido a decomposição dos elementos G.A.; BENITES, V. Eficiência da adubação com
orgânicos (PITTA et al., 2012; KUMMER et al., organomineral na produtividade de soja e milho.
2016). Global Science and Technology, v.8, n.1, 2015.

CONCLUSÕES CAMPONOGARA, A.S.; OLIVEIRA, G.A.;


GEORGIN, J.; ROSA, A.L.D. Avaliação dos
Componentes de Rendimento do Trigo quando
• Para a cultura do trigo, ocorre a viabilidade da
Submetido a Diferentes Fontes de Nitrogênio.
utilização de dejetos animais na fertilização de
Electronic Journal of Management, Education
solos em complementação a adubação química
and Environmental Technology, v.20, n.1, p.524-
comercial.
532, 2016.
• A complementação da cama de frango com
adubo mineral potencializou o incremento do COMPANHIA NACIONAL DE
número de perfilhos por planta em até 70%, e ABASTECIMENTO. Acompanhamento
dobrou o número de folhas por planta após 60 da safra brasileira de grãos. v.4, n.7.
DAS. Estas variáveis, além de contribuírem Brasília: Conab, 2017. Disponível em: <http://
com a produtividade de grãos, também w w w. c o n a b . g o v. b r / O l a l a C M S / u p l o a d s /
aumentam a massa seca que servirá de adubo arquivos/17_04_17_17_20_55_boletim_graos_
para os cultivares subsequentes, em um abr_2017.pdf>. Acesso em: 22 jun. 2017.
processo de retroalimentação.
COTRIM, M. F.; ALVAREZ, R.C.F.; SERON,
• A complementação do esterco bovino com A.C.C. Qualidade fisiológica de sementes de trigo
adubo mineral também potencializou o em resposta a aplicação de Azospirillum Brasilense
incremento do número de perfilhos por planta e ácido húmico. Revista Brasileira de Engenharia
(38%), porém, este resultado não foi tão de Biossistemas, v.10, n.4, p.349-357, 2016.
expressivo quanto à combinação com cama de
frango. Também aumentou o número de folhas EMBRAPA. Sistema brasileiro de classificação
por planta em até 69% após 60 DAS. de solos. 3. ed. Brasília. 2013. 353p.

ESPINDULA, M.C.; ROCHA, V.S.; SOUZA,


M.D.; GROSSI, J.A.S.; SOUZA, L.D. Doses
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS e formas de aplicação de nitrogênio no
desenvolvimento e produção da cultura do trigo.
BARROS NETO, B.; SCARMÍNIO, I.S.; Ciência e Agrotecnologia, v.34, n.6, p.1404-1411,
BRUNS, R.E. Planejamento e Otimização de 2010.
Experimentos. 2.ed. Editora UNICAMP, 2001.
HAWKESFORD, M.J. Reducing the reliance on
BELLOTE, A.F.J.; NEVES, E.J.M. Calagem e nitrogen fertilizer for wheat production. Journal of
Adubação em Espécies Florestais Plantadas na cereal science, v.59, n.3, p.276-283, 2014.
Propriedade Rural. Acompanhamento da Safra IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná.

475
Engenharia na Agricultura, v.25, n.5, p. 469-477, 2017
GASPARIN, E. et al.

Informações técnicas para trigo e triticale, safra Comportamento da cultura do trigo sob efeito de
2013. VI Reunião da Comissão Brasileira de fontes e doses de nitrogênio. Revista do Centro
Pesquisa de Trigo e Triticale. Londrina, 2013. Universitário de Patos de Minas. ISSN, v.2178,
220p. p.7662, 2014.

IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná. PADRÃO, G.A.; GOMES, M.F.M., GARCIA,


Zoneamento Agrícola. Disponível em <http:// J.C. Determinantes estruturais do crescimento
www.iapar.br/modules/conteudo/conteudo. da produção brasileira de grãos por estados da
php?conteudo=1088>. Acesso em 08 jan. 2016. federação: 1989/90/91 e 2006/07/08. Revista
Econômica do Nordeste, v.43, n.1, p.51-66, 2016.
KUMMER, A.C.B.; GRASSI FILHO, H.;
LOBO, T.F.; SOUZA LIMA, R.A. Níveis de PIETRO-SOUZA, W.; BONFIM-SILVA, E.M.;
lodo compostado e efluente de esgoto tratado no SCHLICHTING, A.F.; SILVA, M.D.C. Initial
desenvolvimento e produção do trigo. Engenharia development of wheat under different nitrogen
Agrícola, v.36, n.4, 2016. levels in an Oxisol of the ‘Cerrado’. Revista
Brasileira de Engenharia Agrícola e Ambiental,
MELÉM JÚNIOR, N.J.; BRITO, O.R.; FONSECA v.17, n.6, p.575-580, 2013.
JÚNIOR, N.S.; FONSECA, I.C.B.; AGUIAR,
S.X. Nutrição mineral e produção de feijão em PITTA, C.S.R.; ADAMI, P.F.; PELISSARI, A.;
áreas manejadas com e sem queima de resíduos ASSMANN, T.S.; FRANCHIN, M.F.; CASSOL,
orgânicos e diferentes tipos de adubação. Semina: L.C.; SARTOR, L.R. Year-round poultry litter
Ciências Agrárias, v.32, n.1, 2011. decomposition and N, P, K and Ca release. Revista
Brasileira de Ciência do Solo, v.36, p.1043-1053,
MINGOTI, R.; HOLLER, W.A.; SPADOTTO, C.A. 2012.
Produção potencial de trigo no Brasil. Embrapa
Gestão Territorial-Nota técnica (ALICE), 2014. PRANDO, A.M.; ZUCARELI, C.; FRONZA,
V.; OLIVEIRA, F.Á.; OLIVEIRA JÚNIOR,
MUELLER, L.; SHEPHERD, G.; SCHINDLER, A.O. Características produtivas do trigo em
U.; BALL, B.C.; MUNKHOLM, L.J.; HENNINGS, função de fontes e doses de nitrogênio. Pesquisa
V, SMOLENTSEVA, E.; RUKHOVIC, O.; Agropecuária Tropical, v.43, n.1, p.10-1590/
LUKIN, S.; HU, C. Evaluation of soil structure in S1983-40632013000100009, 2013.
the framework of an overall soil quality rating. Soil
and Tillage Research, v.127, p.74-84, 2013. RIBEIRO, A.C. Recomendações para o uso de
corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5.
NUNES, A.S; SOUZA, L.C.F.; VITORINO, Aproximação. Comissão de Fertilidade do solo do
A.C.T.; MOTA, L.H.S. Adubos verdes e doses de estado de Minas Gerais, 1999.
nitrogênio em cobertura na cultura do trigo sob
plantio direto. Semina: Ciências Agrárias, v.32,
SANTOS, D.H.; SILVA, M.D.A.; TIRITAN,
n.4, 2011
C.S.; FOLONI, J.S.; ECHER, F.R. Qualidade
tecnológica da cana-de-açúcar sob adubação com
OLIVEIRA, F.D.A.; DE OLIVEIRA FILHO, A.F.;
DE MEDEIROS, J.F.; ALMEIDA JÚNIOR, A.B.; torta de filtro enriquecida com fosfato solúvel.
LINHARES, P.C.F. Desenvolvimento inicial da Revista Brasileira de Engenharia Agrícola e
mamoeira sob diferentes fontes e doses de matéria Ambiental, v.15, p.443-449, 2011.
orgânica. Revista Caatinga, v.22, p.206-21 1,
2009. SILVA, G.U.; SOARES, F.C.; PARIZI, A.R.C.;
SANTOS, L.C.; SANTOS, P.R.F.; ESSI, R. Efeito
ORSO, G.; VILLETTI, H.L.; HENRIQUE, da adubação mineral e organomineral na produção
F.; RODRIGUES, D.M.; MORAES, M.F. de grãos da cultura do feijoeiro, quando submetida

476
Engenharia na Agricultura, v.25, n.5, p. 469-477, 2017
CRESCIMENTO DO TRIGO COM DIFERENTES TIPOS DE ADUBAÇÃO

a diferentes doses de irrigação. Anais do Salão M.M.; BENETT, C.G.S. Doses, fontes e épocas
Internacional de Ensino, Pesquisa e Extensão, de aplicação de nitrogênio influenciando teores de
v.6, n.2, 2014. clorofila e produtividade do trigo. Revista Brasileira
de Ciência do Solo, v.38, n.6, 2014, 38(6).
SILVA, J.A., ARENHARDT, E.G., KRÜGER,
C.A., LUCCHESE, O.A., METZ, M., MAROLLI, ULSENHEIMER, A.; SORDI, A.;CERICATO,
A. A expressão dos componentes de produtividade A.; LAJÚS, C. Formulação de fertilizantes
do trigo pela s classe tecnológica e aproveitamento organominerais e ensaio de produtividade. Unoesc
do nitrogénio. Revista Brasileira de Engenharia & Ciência-ACET, v.7, n.2, p.195-202, 2016.
Agricola e Ambiental, v.19, n.1, 2015.
VIEIRA, S. Estatística experimental. 2.ed. São
TEIXEIRA FILHO, M.C.M.; BUZETTI, S.; Paulo: Atlas, 1999. 185p.
ANDREOTTI, M., ARF, O.; BENETT, C.G.S.
Doses, fontes e épocas de aplicação de nitrogênio ZUCHI, J.; BEVILAQUA, G.A.P.; ZANUNCIO,
em trigo irrigado em plantio direto. Pesquisa J.C.; MARQUES, R.L.L.; TEMPERADO, E.C.
agropecuária brasileira, p.797-804, 2010. Rendimento de Grãos de Trigo e Tricale com
Utilização de Torta de Mamona. Embrapa
THEAGO, E.Q.; BUZETTI, S.; TEIXEIRA Clima Temperado. Boletim de Pesquisa e
FILHO, M.C.M.; ANDREOTTI, M.; MEGDA, Desenvolvimento, v.128, 2010.

477
Engenharia na Agricultura, v.25, n.5, p. 469-477, 2017

Você também pode gostar