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PRODUÇÃO DE BIOFERTILIZANTE EM BIODIGESTOR E ANÁLISE

QUÍMICA

REBECA FREITAS DE CASTRO QUEIROZ1;


HIRON PEREIRA FARIAS2;
JOSUÉ BORGES HARTUIQUE3

RESUMO:
O biofertilizante é um subproduto obtido a partir da fermentação anaeróbica (sem a presença
de ar) de resíduos da lavoura ou dejetos de animais na produção de biogás. O objetivo consistiu
em discorrer sobre o uso de biofertilizante derivado de biodigestor em propriedade rural no
sudeste paraense, proporcionando serviços direcionados aos produtores rurais, abordando suas
vantagens, comparando sua qualidade e apontando benefícios econômicos. O estudo foi
desenvolvido no âmbito do Projeto Biofertigás, em propriedade rural assistida. Realizaram-se
visitas para coleta de amostras de solo e do biofertilizante oriundo do biodigestor, e
encaminhadas para laboratório de análise. Os teores obtidos na amostra se mostraram inferiores
quando comparados com os resultados da literatura, aproximando-se apenas da proporção
encontrada na avaliação da Embrapa (1995). Justificando-se pela irregularidade na
armazenagem do fluido. Concluindo que a fertirrigação com biofertilizante torna-se uma
alternativa de disposição final ambientalmente controlada, o que oferece ao produtor mais uma
opção de manejo adequado dos resíduos produzidos, além de economia na produção agrícola.
Faz-se necessário a manutenção preventiva no armazenamento do produto da biodigestão,
visando reduzir perdas de nutrientes.

PALAVRAS-CHAVE:
Biodigestão; Nutrientes; Análise química; Adubação.

ABSTRACT
Biofertilizer is a by-product obtained from the anaerobic fermentation (without the presence of
air) of crop residues or animal waste in the production of biogas. The objective was to discuss
the use of biofertilizer derived from biodigester in rural property in southeastern Pará, providing
services directed to rural producers, addressing its advantages, comparing its quality and
pointing out economic benefits. The study was carried out within the scope of the Biofertigás
Project, in an assisted rural property. Visits were made to collect soil and biofertilizer samples
from the biodigester, which were sent to the analysis laboratory. The levels obtained in the
sample were lower when compared with the results in the literature, approaching only the
proportion found in the evaluation by Embrapa (1995). Justified by the irregularity in the
storage of the fluid. Concluding that fertirrigation with biofertilizer becomes an

1 Graduanda em Agronomia na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará - Unifesspa;


rebecaqueiroz@unifesspa.edu.br.
2 Doutor em Estatística e Experimentação Agronômica pela Universidade de São Paulo e Docente na Universidade
Federal do Sul e Sudeste do Pará – Unifesspa; hiron@unifesspa.edu.br.
3 Graduando em Agronomia na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – Unifesspa;
josuehartuique@unifesspa.edu.br.

1
environmentally controlled final disposal alternative, which offers the producer another option
for proper management of the waste produced, in addition to savings in agricultural production.
Preventive maintenance is necessary in the storage of the biodigestion product, in order to
reduce nutrient losses.

KEYWORDS
Biodigestion; Nutrients; Chemical analysis; Fertilizing.

1. INTRODUÇÃO:
A fertilidade em solos com déficit de nutrientes, como os solos amazônicos, pode ser aumentada
pela correção das deficiências nutricionais através de adubos químicos e/ou orgânicos. Como
adubo orgânico, o biofertilizante tem se destacado como uma opção sustentável e eficiente para
a fertilização de solos agrícolas, já que a dependência excessiva de fertilizantes químicos
sintéticos pode ter impactos negativos no meio ambiente e na saúde humana (OLIVEIRA et al,
1995). O biofertilizante é um subproduto obtido a partir da fermentação anaeróbica (sem a
presença de ar) de resíduos da lavoura ou dejetos de animais na produção de biogás
(EMBRAPA, 2021). Resulta em um produto rico em nutrientes essenciais para as plantas, como
nitrogênio, fósforo, potássio, além de micronutrientes e compostos orgânicos benéficos, que
promovem a melhoria da estrutura do solo, estimulam o crescimento das raízes, aumentam a
resistência das plantas a doenças e pragas, e contribuem para a manutenção da biodiversidade
microbiana do solo. Neste contexto, este trabalho visa discorrer sobre o uso de biofertilizante
derivado de biodigestor em propriedade rural no sudeste paraense, proporcionando serviços
direcionados aos produtores rurais, abordando suas vantagens, comparando sua qualidade e
apontando benefícios econômicos.

2. MATERIAL e MÉTODOS:
O presente trabalho foi desenvolvido no âmbito do Projeto de Pesquisa e Extensão: Biofertigás
- Tecnologia Social e Sustentável na Amazônia, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do
Pará (Unifesspa), incentivado pela Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Estudantis (PROEX),
e coordenado pelo Professor Dr. Hiron Pereira Farias. Foram realizadas visitas para coleta de
amostras de solo e do biofertilizante oriundo do biodigestor, e encaminhadas para laboratório
de análise. O levantamento de dados foi realizado in loco mediante visitas, e remotamente
através de conversas por meio eletrônico. Fez-se a comparação dos teores de nutrientes do
biofertilizante produzido com dados de pesquisas existentes.

3. RESULTADOS e DISCUSSÃO:
A propriedade foco deste estudo situa-se no Projeto de Assentamento Sol Nascente, no
município de São Domingos do Araguaia, região sudeste paraense, dispondo de uma área de 28
hectares. Neste local as atividades realizadas compreendem a pecuária de leite, cultivo de
capineira, e lavouras de açaí e cacau, de administração familiar (Figura 1: a, b, c). Possui em
suas dependências a instalação de biodigestor, o que permite otimizar o aproveitamento dos
resíduos agrícolas e o manejo e utilização de excrementos oriundos da produção animal (Figura
1: d). A tecnologia apresenta vantagens como: benefícios ambientais, sendo fonte de nutrientes
sem agredir o solo; eliminação de nitrito e nitrato no processo de fermentação; uso do biogás
como fonte de energia; e benefícios econômicos, pela redução de compra de nutriente de
formulação química (KAIBER, 2014).
Imagem 1 – Atividades realizadas na propriedade do sr. Lourival. A – Capineira; B – cultivo de açaí; C –
Cultivo de cacau; D – Biodigestor.

2
A B

C D
Fonte: Acervo próprio.
Na área de cultivo de capineira do BRS Capiaçu, a partir dos teores de argila, silte e areia, o
solo amostrado caracterizou-se como franco-arenoso. A Tabela 1 apresenta o comparativo dos
teores do biofertilizante verificados no resultado da análise, com dados disponibilizados em
demais trabalhos voltados à avaliação de nutrientes em efluentes de biodigestores de dejetos
bovinos.
Tabela 1 - Composição química média (%) do biofertilizante avaliado em diferentes estudos.
Fontes de Pesquisa N P2O5 K20 CaO
TANGANELLI (2007) 1,5 a 1,8 1,1-2,2 0,8 a 1,2 -
EMBRAPA CPATU (1995) 0,11 0,1 0,03 0,11
SGANZERLA (1983) 1,8 1,6 1 -
Biofertigás - Sr. Lourival (TERRA, 2023) 0,5 0,04 0,05 0,01
Fonte: Adaptado pelos autores (2023).
Os teores obtidos na amostra da propriedade estudada se mostraram inferiores quando
comparados com os resultados de Tanganelli (2007) e Sganzerla (1983), aproximando-se
apenas da proporção encontrada na avaliação da Embrapa (1995). Como justificativa dos baixos
níveis de macronutrientes, apresenta-se o fato da irregularidade na armazenagem do fluído, que
se encontrava em bombona aberta constantemente para uso do produto, podendo assim ter
ocorrido a volatilização de alguns compostos, e, havendo a possibilidade de interferência nas
propriedades bioquímicas do produto. Evitar falhas no processo de biodigestão e de
armazenagem dos produtos, é um fator que deve ser considerado, podendo ser minimizadas
com uma manutenção planejada e regular. Portanto, é preciso que os sistemas sejam fáceis de
consertar, reduzindo assim as perdas, por meio de manutenção preventiva, o que pode ser
realizado por meio de orientação técnica no manejo do biodigestor e de seus produtos.
Ademais, a aplicação da solução tem sido realizada como adubação foliar no BRS Capiaçu, e
visualmente nota-se aspectos de vigor e qualidade da capineira, com bom crescimento e
desenvolvimento, tal qual a ausência de sintomas de deficiência nutricional. Para um
biofertilizante de qualidade, além de apresentar uma excelente carga nutricional, também deve-
se levar em conta que cada espécie vegetal detém de suas exigências nutricionais específicas.
Esse material devidamente tratado deixa de ser dejeto para ter uma nova finalidade e ainda
obtendo lucro, pois, dessa forma o produtor se torna menos refém da compra de insumos de
adubação (SILVA, 2022). O uso de biofertilizantes corrobora para o desenvolvimento da planta,
tanto na parte aérea como na radicular, capacitando a planta na absorção de nutrientes do solo

3
e a disponibilidade desses nutrientes faz com que a planta produza em maior quantidade e
melhor qualidade, atuando no: crescimento, desenvolvimento das raízes, caules e MS (matéria
seca).
Foi constatado por Oliveira (2017), que a aplicação do fertilizante diretamente no solo favorece
a emissão de amônia para a atmosfera na forma de gás, podendo ocorrer perdas de N por
volatilização, devido à ação do vento e temperaturas elevadas, o que diminui o potencial
fertilizante do dejeto. Considerando a predominância arenosa no solo avaliado, a incorporação
desse material no solo pode ser uma alternativa para tentar diminuir a emissão de NH3 e
escoamento superficial, e tentar melhorar o aproveitamento de nutrientes para as culturas.
Conforme verificado por Seixas et al. (1980), após passarem pelo digestor, os resíduos restantes
exprimem alta qualidade para uso como fertilizante agrícola, devido principalmente aos
seguintes aspectos: redução do teor de carbono do material, pois a matéria orgânica ao ser
assimilada perde especificamente carbono na forma de CH4 e CO2; adição no teor de nitrogênio
e demais nutrientes, em decorrência da perda do carbono; redução na relação C/N da matéria
orgânica, melhorando as condições do material para fins agrícolas; desimpedimento de
imobilização do biofertilizante pelos microrganismos do solo, devido ao material já se encontrar
em grau avançado de decomposição aumentando sua eficiência; solubilização parcial de alguns
nutrientes.

4. CONCLUSÕES:
A fertirrigação com biofertilizante torna-se uma alternativa de disposição final ambientalmente
controlada, o que oferece ao produtor mais uma opção de manejo adequado dos resíduos
produzidos, além de economia na produção agrícola. Os biodigestores têm fundamental
importância por atender a demanda de produzir biofertilizantes e fornecer uma solução
energética e sanar problemas de saneamento. Nota-se a possibilidade de utilização do produto
da biodigestão na propriedade, reduzindo a dependência de insumos externos e os custos de
produção. Faz-se necessário a manutenção preventiva no armazenamento do produto da
biodigestão, visando reduzir perdas de nutrientes.

5. REFERÊNCIAS:
KAIBER, Ivan Roberto. A viabilidade da implantação de um biodigestor para produção de
energia e biofertilizante através dos dejetos de suínos em uma propriedade rural do
município de Concórdia-SC. In.: Dissertação de Pós-Graduação. Medianeira, PR. 2014. 40p.
OLIVEIRA, Gustavo Ferreira de. Volatilização de amônia em solo em diferentes umidades,
coberto com palha, após a incorporação de dejeto líquido suíno. In.: Dissertação de
Mestrado. Ciência do Solo, do Centro de Ciências Agroveterinárias da Universidade do Estado
de Santa Catarina. Lages, SC. 2017. 76p.
OLIVEIRA, Raimundo Freire de. [et al.]. Cultivos de arroz, milho e caupi adubados com
biofertilizante e superfosfato triplo. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária -
EMBRAPA. Centro de Pesquisa Agroflorestal da Amazônia Oriental - CPATU. Belém, PA.
1995.
SILVA, Edvaldo Pereira da. Potencial do uso de biofertilizantes. In.: Trabalho de Conclusão
de Curso. Engenharia Química – Centro Universitário Curitiba - PR. 40p. 2022.
SGANZERLA, Edílio. Biodigestores: uma solução. Porto Alegre. Agropecuária, 1983.
TANGANELLI, K. M. Utilização dos dejetos de suínos como fertilizante do solo. Oklahoma
State University. 2007. 21 f. Relatório de Estágio Curricular (Bacharelado em Engenharia
Florestal). Faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista. Botucatu,
2007.

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