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Dornelles
2ª Impressão Revisada
Hidrologia
para Engenharia
e Ciências Ambientais
Walter Collischonn
Fernando Dornelles
Sumário
Capítulo 1 lntrodução .................................................................................................................................................................... 13
Introdução
Hidrologia é a ciência que trata da água na Terra, sua ocorrência, circulação, distribuição espacial, suas propriedades
físicas e químicas e sua relação com o ambiente, inclusive com os seres vivos. A Hidrologia é o escudo da água na superfície
terrestre, no solo e no su'b-solo. De uma forma simplificada, pode-se dizer que hidrologia tenta responder à pergunta: O que
acontece com a água da chuva?
A Hidrologia utiliza como base os conhecimentos de hidráulica, física e estatÍstica para descrever os processos do ciclo
hidrológico e para quantificar suas variáveis. Conhecimentos de Hidrologia sáo fundamentais para várias outras áreas do co-
nhecimento ligadas às Ciências da Terra e à Engenharia, como a Meteorologia, a Geologia, a Geografia, a Agronomia, a Enge-
nharia Civil, a Engenharia Ambiental e a Limnologia.
Existem outras ciências que também estudam o comportamento da água em diferentes fases do ciclo hidrológico,
como a Meteorologia, a Climatologia, a Oceanografia, e a Glaciologia. A diferença fundamental é que a Hidrologia se dedica
principalmente aos estudos dos processos do ciclo da água em contato com os continentes.
Usos da água
Entre os principais usos humanos da água estão: 0 abastecimento humano; irrigação; dessedentação animal; geração
de energia elétrica; navegação; diluição de efluentes; pesca; recreação e paisagismo.
Os usos da água são, normalmente, classificados em consumivos e não consW1tivos. Usos consW1tivos alteram substanciahnen-
te a quantidade de água disponível para outros usuários. Usos náo-consuntivos alteram pouco a quantidade de água, mas podem modi-
ficar sua qualidade.
O uso de água para a geração de energia hidrelétrica, por exemplo, é um uso não-consuntivo, uma vez que a água é
utilizada para movimentar as turbinas de uma usina, mas sua quantidade não é alterada. Da mesma forma, a navegação é um
uso não-consuntivo, porque não altera a quantidade de água disponível no rio ou lago. Por outro lado, o uso da água para irri-
gação é um uso consuntivo, porque apenas uma pequena parte da água aplicada na lavoura retorna na forma de escoamento.
A maior parte da água utilizada na irrigação volta para a atmosfera na forma de evapotranspiraçáo. Essa água não está perdida,
considerando o ciclo hidrológico global, podendo retornar na forma de precipitação em outro local do planeta, no entanto, esta
quantidade de água não está mais disponível para outros usuários de água na mesma região em que estão as lavouras irrigadas.
Os usos de água também podem ser divididos de acordo com a necessidade ou não de retirar a água do rio ou lago
para que possa ser utilizada. Alguns usos da água que podem ser feitos sem retirar a água de um rio ou lago são a navegação, a
geração de energia hidrelétrica, a recreação e os usos paisagísticos. Alguns usos da água que exigem a retirada de água, ainda que
parte dela retorne, são o abastecimento humano e industrial, a irrigação e a dessedentação de animais.
Os parágrafos que seguem descrevem com um pouco mais de detalhe alguns dos principais usos de água.
O uso da água para abastecimento humano é considerado o mais nobre, uma vez que o homem depende da água
para sua sobrevivência. A água para abastecimento humano é utilizada diretamente como bebida, para O preparo dos ali-
mentos, para a higiene pessoal e para a lavagem de roupas e utensílios. No ambiente doméstico a água também é usada para
irrigar jardins, lavar veículos e para recreação.
O consumo de água em ambiente doméstico é estimado em 200 litros por habitante por dia. Aproximadamente 80%
desse consumo retorna das residências na forma de esgoto doméstico, obviamente com uma qualidade bastante inferior. A fi-
gura l. l apresenta uma estimativa aproximada das quantidades de água em cada um dos usos domésticos.
Abastecimento industrial
O uso industrial da ~gL_ia es rá rclacion_ado _aos pr~cessos de fabricação, ao uso no produto final, a processos de refrige-
ração, à produção de vapor e a limpeza.~ fabncaça~ de diferentes produtos tem diferentes consumos de água. Assim, a indús-
tria d e produção de papel , por exemplo, e rcconhec1clamente uma das que mais necessita de água.
Irrigação
A irrigação é O suprim emo adicional ele água que é dado às plantações em períodos em que a chuva é insuficiente par.l
manter as co ndi ções ideai s d e crcs~i~i enro. ~ irriga_ç:í~ ~ utili: ada na agricultura para obter melhor produtividade e para que a
acívidade agrícola esteja menos SUJCHa aos nscos clunan cos. Em algumas regiões ,íridas, semiáridas, ou com uma esraçiio seca
muito longa, a irrigação é essen cial ~~ra qu e possa ~x isri r a agri c11lrura. Em todo o mundo a irrigação é o uso de água mais
importanle em cermos de volum e md1zado. No Brasil o uso de água para irrigaçiio vem aumentando a cada ano (Rebouças et
ai ., 2006) .
A quanridade de água uril i7.ada na irrigação depende das características da cultura, do clima e dos solos de uma região,
bem como das técnicas utilizadas na irrigação.
15
Capftulo 1
Introdução
Limpeza
Lavagem de roupa
20%
Figura 1.1: Proporção aproximada dos usos da água em ambiente doméstico (Clarke e King, 2005)
Navegação
A navegação é um uso não-cons untivo, em que os rios e lagos são util izados como vias. A opção pelo transporte fluvial
ou lacustre pode ser bas tante atrativa do ponto de vista econômico, principalmente para cargas com baixo valor por tonelada,
como minérios e grãos. E ntretanto, a navegação requer uma profundidade adequada do corpo d'água, e não pode ser p raticada
em rios com velocidade de água excessiva. Em alguns rios a navegação somente é viável com a construção de obras hidráulicas,
como a estab ilização do leito do rio e a co nstrução de barragens e eclusas.
Os corp os d e água são u tilizados para transportar e assimilar os despej os neles lan çados, como o esgoto domé tico e
industrial. Mesmo em regiões em q ue o esgoto doméstico e in dustrial é tratado, as con centrações de alguns pol uente podem
ser superiores às concen trações en contradas nos rios. Assim , uti liza-se a capacidade de dil uição dos rio e lago para diminuir a
con cenrraçáo dos poluentes. Também utiliza-se os rios para tra nspo rtar os poluentes e, assim , afa tá-los de onde são gerado .
A capacidade de assim ilação de um corpo d'água é li mi rada, e quando o lança mento de dejetos é e, essivo, a qualidade
de água de um rio não é m ais suficiente para outros usos, como a recreação e a preservação dos ecos iscemas.
cr d ao
U m uso de água não consuntivo realizado no próprio curso d 'ág ua é a recrea áo. ss u o é basranre fr quent m ri
com qual idade d e água relativamente boa, e in cl ui ati vidades de o ntaro d irero, com na ração e e portes aquári os orno a vela
e a canoagem. Também podem existir atividades de recreação de contato indireto , mo a pesca e·porti a.
Geração de energia
A água é utilizada para a geração de energia elétrica em usinas hidrelétricas que aproveitam a energia potencial exis-
tente quando a água passa por um desnível do terreno. A potência de uma usina hidrelétrica é proporcional ao produto da
descarga (ou vazão) pela queda. A queda é definida pela diferença de ah itude do nível da água a montante (acima) e a pusante
(abaixo) da turbina. A descarga em um rio depende das características da bacia hidrográfica, como o clima, a geologia, os solos,
a vegetação.
No Brasil, a geração de energia elétrica está fortemente ligada à hidrologia porque grande parte da energia elétrica
gerada e consumida é oriu nda de usinas hidrelétricas. Considerando os dados da década de 1990, o Brasil é o terceiro maior
produtor de energia hidrelétrica do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e do Canadá e a frente da China, da Rússia e da
França. Entretanto, a energia hidrelétrica no Brasil corresponde a quase 90% do total da energia elétrica gerada, enquanto que,
na maior parte dos outros países, a energia hidrelétrica corresponde a percentuais muito menores. A dependência mundial da
energia hidrelétrica é de apenas 20%.
Mesmo em usinas termelétricas, a água tem um papel fundamental e é consumida em quantidades significativas.
Nessas usinas, a água é utilizada nos ciclos imernos de resfriamento e geração de vapor. Nos Estados Unidos as usinas termelé-
tricas utilizam cerca de 260 bilhões de metros cúbicos por ano, o que corresponde a 47% da utilização total de água neste país.
Deve-se ressaltar, entretanto, que nem toda esta água é consum ida, e grande parte retorna aos rios. Por este motivo, também as
usinas termelétricas são construídas junto a fontes abundantes e confiáveis de água, e são necessários estudos hidrológicos para
avaliar a sua disponibilidade.
Leituras adicionais
Um panorama bastante abrangente s~~re os usos da água no Brasil pode ser encontrado no livro Águas Doces no
BrasiJ, organizado por Rebouças, Bra~a e Tund1s1 (Rebouças er ai., 20_06). Uma descrição das origens da Hidrologia, co mo uma
. ' . é apresentada no excelente livro Hydrology - An lntroducr1011, de W íi fried Brutsaert (Brutsaert, 2005) . O papel da
c1encia, d 1• ' • ,
água no desenvolvimento em diferentes momentos a 11srona e o tema do livrn Water - Thc epic struggle for we~tlrh, power
and civilizaúon (Solomon, 201 O).
Capítulo
Propriedades da água
e o ciclo hidrológico
A água é uma substância com características incomuns. É a substância mais presente na superfície do planeta Terra,
cobrindo mais de 70% do globo . O corpo humano é composto por água mais ou menos na mesma proporção. Já um tomate
é composto por mais de 90% de água, assim como muitos outros alimentos. Todas as formas de vida necessitam da água para
sobreviver. A água é a única substância na Terra naturalmente presente nas formas líquida, sólida e gasosa. A mesma quantida-
de de água está presente na Terra atualmente como no tempo em que os dinossauros habitavam o planeta, há milhões de anos
atrás. A busca de vida em outros planetas está fortemente relacionada a busca de indícios da presença de água.
y=p•g (2.1)
2
onde g é a aceleração da gravidade (m.s· )- , , , .
A varia ão do valor da 111 a5sa especifica da agua com a temperatura e bastante incomum. e tem um impo rtante papel
. . ç p exemplo a água líquida a OºC é mais densa que o gelo. Por outro lado, quando ;\ :ígua líquida ;t O"C é
no me10 am 6 1ente. or '· , . k .J
'd d •d d inicialmente aumenta até a remperatura de 3,98º C, quando a sua massa es r eofaca annge 1000 ·g.m .
aqueci a sua ens1 a e , . . . .
. d a a densid ade da agua d11111nu1 com o aumento da temperatura, como aconrcce com ;t maior rane
A parur essa temperatur ,
das substâncias. '"- a da água líquida a d'fi - 2 2 (D'mgman, 2002) :
I crentes temperaturas pode ser estimada pe 1:i equaçao .
A massa espec111c
10 68
p = J000 - 0,0 J9549 · \T - 3,98\ (2.2)
em 1 Kelvin.
, ' ica fundament
ai d esta su b stanc1a,
• · '
que e a sua
A estrutura molecular da água (H 2 0) é responsavel por uma caractenst . . b • .
grande inércia térmica, isto é, a [emperatura da água vana · d e fiorma Ienta compa rativamente a outros matena1s . e su
_ stanc1as.
d
,
O sol aquece as superficies ,
de terra e de agua do p1aneta com a mesma quantl·d a de de energia' entretanil:O, as vanaçoes e tem-
- mutto
peratura sao · menores na agua., Em fu nçao
- d este aquecimento
· d'fi · d o e do papel regularizador
I erenc1a . dos oceanos, o clima
da Terra tem as características que conhecemos. ·
à = 2,501- 0,002361 · T
(2.3)
onde'). é o calor latente de vaporização (MJ.kg· 1)
e T é a temperatura em ºC.
A grande capacidade de armazenar calor da água na forma de vapo r tem l.
gi.a na atmosfera, das regiões tropicais para as regiões mais próximas dos p , 1 Auml' bpape_ importante no transporte de ener-
condensação cem um papel fundamental no pirncesso de formação das nuv o os.d 1I eraçao de energia · que ocorre d u r.1nte a
ens e as e luvas.
A hidrosfera
O termo hidrosfera refere-se a roda a água do mundo, que é est'i d .
Como se observa na tabela 2.1, cerca d e 97'1/o da água do mundo está n ma. a em aprox1nla damente 1,4 . 1O15 metros cu' b'1cm.·
os oceanos Do 30,-'iO l)
está armazenada na forma de geleiras 011 bancadas de gelo nas calons P I . ,· s restantes, a metade (1 ,5% do rota
. r . '
rios de água no su b so 1o), que é a parce 1a mais 1ac1lme111e acessível pa
o ares ,
. . d
A agu·1 do . d . 1
' ce e nos, agos e aquíferos (reserv:1co- ,
. , . . ra a soc1c ade J
Em valores tocais a agua doce tJUC aunge, anualmente a sul e:, • I ' corresponue a menos de 1% do torai.
. .. . ' · Jer11c1e los con · • . ,
ficiente para atender todas as nccess1dades humanas. Entretanto gr· d I ttncnte.s, na forma de chuva ou neve, e su-
poral e espac1ºal d d' 'b•1·d d · d ' A ' ·
a 1spon1 1 1 a e e agua . Amenca do Sul é, de lon, ' an es pro >lenns s •
. ' urgem com a grande variabilidade cem-
. . - . . é I gc, o continente c . '
porém, a prec1p1caçao que annge nosso co111mcn1e a tamente variá I . om a maior disponibilidade de agua,
, d . d , A , l , 'J
caçao, enquanto o eseno e racama e con 1ec1 o como O lugar ma· . . . <l
ve , apresentando n· A . ô . ,
a m.1z 111a alnssimas taxas de prec1p1-
..
1s seco o mundo.
19
Capíw/o2
PROPRIEDADES DA ÁGUA E O
CICLO 11/DROLÓGICO
T ,hda 2. 1: \'()lum c-s de :íi;ua anna1c1uJ() t·m Jirl•t cmt·s ..:0 111li,;õc.~ na Terra (:1daptatl 11 J c ,\fays, 201 O)
l'l-rl elllt1,1I d.1 .ígu.1 d.1 Pe rce ntua l d.1 .íg11.1 doce d.1
Volume ( 10 1 km 1) ·1crra (% ) ' le rra (%)
No Brasil, a dispon ibilidade de água é grande, porém existem regiões em que há crescentes conflitos em função da
quantidade de água, como na região semi-árida do Nordeste.
O ciclo hidrológico
O ciclo hidrológico é o conceito central da hidrologia. O ciclo hidrológico está ilustrado na figura 2. l.
A energia do sol resulta no aquecime nto do ar, do solo e da água superficial. A energia do sol é respons:ível peb
evaporação da água líquida e pela evapotranspiraçáo da água Jo solo, através das plantas. O vapor de água é transportado pelo
ar e pode condensar, formando nuvens. Em circunstâncias específicas, o vapor do ar condensado nas nuvens pode voltar à su-
perfície da Terra na forma de precipitação. A evaporação dos oceanos é a ma ior fonte de vapor para a atmosfera e para a po te-
rior precipicaçáo, mas a evaporação de água dos solos, dos rios e lagos e a transpiração da vegetação co ntribuem também como
fomes de vapor de água para a atmosfera. A precipitação que atinge a superfície pode infilrrar no solo ou escoar sobre o olo :ué
atingir um curso d'água. A água que infiltra umedece o solo, alimenta os aquíferos e cria o Auxo de água subterrânea.
O ciclo hidrológico é fechado, se considerado em escala global. Em escala regional podem exi rir algun ub- i lo, .
Por exemplo, a água precipir:i<la que está escoa ndo em um rio pode evaporar, condensar e novamente précipitar :inres dê récor-
nar ao oceano.
Evapot ransplração
///
- .,.....-.!::O~ceano
o
11i;<1r,12.I · ll11111J~J1J 1111pldi< 1d I d,, ,idn l11drol11g1u>
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1!
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
1; Walter Col/ischonn e
Fernando Dornelles
1----.
1
J
, b' e 1 - d •c
!idade ao 1ongo d as d 10eren tes fases do ciclo hidrológico. A água. ,salgada do
A agua tam em so1re a teraçoes e qua _ , d . filtra no solo dissolve os sais a1 encontra-
, d I d
mar é transformada em agua oce pe O processo e eva
poraçao A agua oce quem 1
· de nu' mero de outras substâncias
. para os oceanos, bem como um gran
dos e a água que escoa pelos rios carrega esses sais
dissolvidas e em suspensão. , d d 577 mil km3.ano-1 (quilômetros
Em termos globais, o cido hidrológico movimenta um volume de agua e cerca e e d . . _ ( h
, • • · ee mil km3 ano-1 atin em os continentes e os oceanos na rorma e prec1p1taçao c uva,
cub1cos por ano). Isto s1gn1r1ca que 577 · g _ A b 1 2 2 ostra que a maior parte
neve) e os mesmos 577 mil km 3.ano- 1 retornam à atmosfera na forma de evaporaçao. ta eª. · m . . al
'
da precipitação atinge os oceanos (que cobrem uma area , mmw · d a 1ierra ) · A chuva que atinge
· maior d os .continentes
km3 equ1v de a
-1 f1
119 mil km3.an 0 - 1, dos quais 72 mil km 3 .ano- 1 retornam a, atmos1era
e por evaporaçao - e cerca e 47, m1 1 .ano b uem• os
continentes para os oceanos, seJa· atraves
, dos nos
· (aproxima· d amente 44 ,7 m1·1 krn3 •ano- 1) ou atraves dos fluxos su terraneos
(aproximadamente 2,2 mil km 3.ano- 1).
Tabela 2.2: Estima tiva dos Huxos de :ígua anuais do ciclo hidro lógico global (C how, 1988 - va lo res em km 3 .ano-1)
Comparando os valores das tabelas 2.1 e 2.2, percebe-se que os rios armazenam cerca de 2, 12 mil km 3 de água (tabe-
la 2.1) e transportam cerca de 44,7 mil km 3 de água por ano (tabela 2.2). Com base nestes valores, é possível calcular o tempo
de residência médio da água nos rios, definido como o volume de água no sub-sistema rios dividido pelo fluxo médio através
desse sub-sistema. Dividindo 2, 12 mil km 3 por 44,7 mil km 3 de água por ano se obtém 0,047 anos, ou seja, cerca de 17 dias.
Isto significa que, em termos médios globais, a água dos rios leva cerca de 17 dias para atingir os oceanos. Outra interpretação
deste número é que, em média, a cada 17 dias o volume de água estocado nos rios é renovado completamente.
Leituras adicionais
Quase todos os livros de hidrologia, climatologia e hidrometeorologia apresentam uma descriçáo do ciclo hidrológico.
Nos próximos capítulos diversos processos do ciclo hidrológico serão descritos mais detalhadamente, com ênfase para os pro-
cessos que ocorrem na superfície da Terra.
Exercícios
1 st O
· Mo re que calor latente de vaporização da ~gua à temperatura de 100 ºC corresponde a mais de cinco vezes a energia ne-
cessária para aquecer a água de O a 100 ºC.
2. Calcule o aumento de temperatura médio da água em 11111a piscina com 100 m2 de área e 2 m de profundidade devido à absorção
de radiação de 7 MJ dia- 1 -2 e ·d · · , d
. .
pIScina. · .m · onsi ere que a temperatura 1111cial e de 20 ºC, e que não existem perdas de calor na :ígua a
3. Qual é o tempo de resid · · d ' e d
ta beIa 2.2?
enc,a ª agua na atmos,cra, consi erando os volumes dados na tabela' 2 · 1 e os fluxos médios dados
· na
Capítulo
Divisor águas
superfícia
Divisor á uas
Divisor água superficiais Divisor águas
subterrãne subterrâneas
22
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Domelles
Para delimitar a bacia hidrográfica, devem ser traçados os divisores de água que separam a área na qual o escoamento
superficial tem como destino o exutório da bacia, do restante da área do mapa. Assim, no processo de delimitação de uma
bacia hidrográfica o divisor de águas cruza o curso d'água apenas uma vez e, exatamente, em seu exutório.
Um exemplo de bacia delimitada é apresentado na figura 3.2. O divisor de ágllas, apresentado como uma linha tracejada,
separa as regiões do mapa em que a água da chuva escoa até o exutório, das regiões em que a água da chuva não escoa até esse local,
mas para outros pontos do mapa. Pode-se observar no exemplo da figura 3.2, que o divisor de águas passa, em geral, pelas regiões mais
elevadas do entorno do curso d'água p.rincipal e de seus afluentes, mas aião necessariamente inclui os pontos mais elevados do terreno.
. A área ~e ~renagem é a característica mais importante de uma bacia hidrográfica. A área é um dado fundamental para
defl_mr a p~te~cialidade hídrica de uma bacia, uma vez que a bacia é a região de captação da água da chuva. Assim, a área da
bacia mulnphcada pela lâmina precipitada ao longo de um intervalo de tempo define o volume de água recebido ao longo
desse intervalo de tempo.
A área da bacia hidrográfica, projetada sobre o plano, costumava ser medida através de um instrumento mecânico
denominado planímetro. Atualmente, a área de drenagem é calculada utilizando representações digitais da bacia em programas
computacionais de auxílio ao desenho (CAD) ou em Sistemas de Informação Geográfica (SIG).
Am plitude altimétrica
A amplitude altimétrica é definida como a diferença entre o ponto mais alto e o ponto mais baixo da bacia. A ampli-
tude altimétrica tem relação com a energia potencial máxima que a água pode ter na superfície da bacia, e, por isso, está rela-
cionada com a velocidade do escoamento e com taxas de erosão.
O perfil longitudinal é obtido elaborando um gráfico da altitude pela distância ao longo do curso de água principal
da bacia. A distância pode ser medida desde a foz, seguindo para montante, ou desde a cabeceira, seguindo para jusante.
O perfil longitudinal descreve a forma como a altitude varia ao longo da distância. Em muitos casos, o perfil longitu-
dinal apresenta uma curva com concavidade para cima, embora as características geológicas da bacia possam afetar essa tendên-
cia geral. A figura 3.3 apresenta um exemplo do perfil longitudinal de uma bacia hidrográfica.
O tempo que a água leva para escoar ao longo de um rio depende da velocidade da água e da distância :t ser percorri-
da. A distância que deve ser percorrida pela água da chuva até chegar ao cxutório da bacia depende cio ponto de origem da água .
Uma importante característica da bacia hidrográfica é o comprimento do seu curso d' água principal. O curso d ' água principal
pode ser definido como O mais longo caminho que a água pode percorrer dentro de uma bacia hidrogdftca.
o comprimento da drenagem principal é calculado somando os comprimentos dos trechos de rios des,le o ponto mais
distante do exutório onde é possível identificar o início da rede de drenagem superficial (um pequeno canal, ainda que cempo-
rário) até o exutório.
o comprimento da drenagem principal também pode ser estimado utilizando um curvímecro sobre um 1nap:i. im pres-
so em papel. Em mapas digitai s O comprimento Jc um rio é, em geral. medido somando o comprimcnw de segme ntos de retas.
Medições de comprimento de linha s sinuosas, como os cursos de :ígua, são suj eitas a erro por causa da escab do
mapa. O comprimento de um rio medido cm 11111 mapa mai s detalhado se rá, normalmente, maior do que o comprimento
do mesmo rio medido cm um mapa ,n cnos dcralhado. Isso se deve , cm grande part e, ;\ natureza fractal de t"t- ições naturais
como a linha percorrida por um curso d' águ a (Ga n_cr ai., 1992). ·
Comprimentos de rios ou cursos d 'água diferentes só podem ser co mparados se fo rem med idos cm map;L~ d;1 mes m;\
escala e usando O mesmo método de medi çã o. O mesmn val e para outras grandezas derivadas do rn 111pri111c11ro, (Omo a d1:di-
vidade e a densidade de drenagem, M esmo urílizando récn icas de representação do rdcvo cm rn111pucadores, rnmo os modelos
digitais de elevação (MDE), ainda são observados crrns na cs1ima1iva do comprimemo de rios (Paz ct ai., 2008).
Existem várias formas de estimar a declividade média da drenagem principal de uma bacia. A primeira forma consiste simples-
mente em identificar a altirude (zux) do início da rede de drenagem principal (mais afutada do exutório - ponto P 100 na figura 3.3), e a
altitude (zJ do próprio exutório (ponto p na figura 3.3), e calelliar a diferença entre elas(&). Essa diferença dividida pelo comprimemo da
0
drenagem principal (distância de P a p seguindo a drenagem) constitui uma primeira estimativa da declividade da drenagem principal de
100 0
uma bacia, como mostra a equação 3.1.
S=Z100-Zo (3 .1)
L
A estimativa da declividade de acordo com a equação 3.1 pode estar sujeita a erros, especialmente devido à qualidade
dos mapas, e a dificuldade de identificar a altitude do início e do final da rede de drenagem. Por esse motivo, em alguns casos,
recomenda-se estimar a declividade da drenagem principal com base na diferença de altitude entre dois pontos localizados um
pouco a jusante do início da rede de drenagem na parte alta da bacia e um pouco a montante do exutório (figura 3.3).
O exemplo da figura 3.3 mostra a declividade calculada utilizando dois pontos, sendo o primeiro localizado a 10% da distância
total do exutório à cabeceira (ponto P10 na Figura 3.3) e o segundo localizado a 85% da distância total do exutório à cabeceira (ponto P85
na figura 3.3). Quando a declividade é calculada dessa maneira, ela é representada por "S85_1O", como mostra a equação 3.2.
S = Z g5 -ZIO (3.2)
ss-10 O75 · L
onde: z
'
é a altitude do ponto P85 ; z 10 é a altitude do ponto P10 ; e L é o comprimento total da drenagem principal, desde p Oaté Puxr
85
~.;
~
I
\
a.,,..,
~
100
/l [\
Comprimento do rio (km)
Forma da bacia
Em alguns casos, a form~ da bacia é con~i?erada como uma c~rac~erística importante, capaz de explicar o seu compor-
tamento em termos de resposta as chuvas. •A analise
• 1 da forma da bacia visa diferenc1·ar • · d e tiormato mais
· baci·as · al ongado das
bacias de formato menos alongado,
. ou mais . c1rcu ar. Se todas
. as demais
, variáveis fossem 1
· . ( 1 1 . d ec11v1
gua1s so os, geo og1a, · 'd ade ,
etc) , as bacias de formato mais alongado tenam resposta mais lenta as chuvas do que bac1·as d e tiormato menos al ongad o, co n-
forme mostra a figura 3.4.
25
Capítula3
BACIA HIOROGRAFICA EBALANÇO HfORICO
Q(m'ls)
~-----~ '(::J} ""' •'='" Concentração da vazão no tempo
,,- / Maiores picos de vazão
,, ,/
,-----~
: •
.........
Distribuição da vazão no tempo
► t(h) Menores picos de vazão
f-i gur.t 3.4 : ln Au ência d a fo rma das bacias hidrográficas na formaçáo do hidrograma, co nsid eran do
d esprezível a inA u ên cia de o utras va ri iveis (geologia, d ecl ividade, tipos de solos e vegecação)
Ao longo do tempo foram propostos diversos índices ou coeficientes como uma tentativa de quantificar a forma da
bacia, o~ seu grau de alongamento ou compacidade (Christofoletti, 1980). Embora muito utilizados em análises descritivas de
bacias hidrográficas, estes índices tem utilidade prática muito limitada, especialmente quando são baseados no perímetro da
bacia, que também varia muito com a escêla do mapa em que é medido (Breyer e Snow, 1992). Os índices ou coeficientes de
forma podem ser substituídos com vantagem por análises do hidrograma unitário, descritas no capítulo 11.
Densidade de drenagem
A densidade de drenagem é definida como a soma do comprimento de todos os cursos d ' água no interior da bacia,
incluindo cursos efêmeros ou intermitentes, dividida pela área da bacia, coino mostra a equação 3.3.
Dd=LL (3.3)
AD
onde L é O
comprimento de cada um dos trechos da rede de drenagem (km); AD é a área de drenagem da bacia (km 2); e Dd é
1
a densidade de drenagem (krn· ).
Assim como outras grandezas características da bacia que dependem da estimativa de comprimentos sobre mapas, a
densidade de drenagem é fortemente dependente da e~cala do mapa e da forma de geração do mapa que é utilizado como base.
Assim, 0 valor da densidade de drenagem está sujeito a enros consõderáveis, e comparações dessa variável em bacias diferentes
só podem ser realizadas se os mapas têm a mesma escala e foram gerados usando a mesma metodologia.
Em uma região com características climáticas relativamente homogêneas, a densidade de drenagem é função principal-
mente das características do solo e da litologia da bacia hidrográfica. Quando os solos e a litologia são mais permeáveis (solos
arenosos e rochas de arenito, por exemplo), a densidade de dre01agem é mais baixa. Quando os solos são menos permeáveis, ou são
rasos, e as rochas do subsolo são menos porosas e apresentam baixa permeabilidade, a densidade de drenagem é mais alta.
A densidade de drenagem pode ser utilizada para estimar a distância média do divisor de águas até o curso d'água na
bacia, conforme a equação 3.4 (Srrahler, 1964):
1
Xd - - -
2 -Dd (3.4)
, d. • • 'd. do d,.'v·1·sor até a rede de drenagem (km); e Dei é a densidade de drenagem (km· 1) .
on d e Xd e a 1stanc1a me 1a
26
Da mesma forma, a densidade de drenagem pode ser utilizada para estimar a distância média que deve ser percorrida
por uma gota de água escoando superficialmente sobre a bacia até encontrar um curso d'água da rede de drenagem, de acordo
com a equação 3.5:
Xh= l (3.5)
4-Dd
Essa equação está baseada na hipótese que o escoamento superficial é gerado de forma homogênea em toda a bacia.
Nos próximos capítulos é mostrado que esta hipótese não é sempre correra.
A densidade de drenagem é, &equentemente, utilizada como base para o desenvolvimento de equações de regionali-
zação de vazóes (Tucci, 2002) para a estimativa de vazóes em locais sem dados, assunto que é abordado no capítulo 13.
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É importante observar que a ordem de Srrahler é uma forma mais qualitativa ck caracterizar a magnitude de um rio
ou curso de água em um determinado trecho, ao contrário da área de drenagem, <leclivi<la<le, comprimento ·e tempo de con-
centração, que são características quantitativas. Finalmente, é necessário advertir que a ordem do curso de água é dependente
...
27
Capfru/oJ
BACIA HIDROGRAFICA EBALANÇO HfDRICO
'
da escala do mapa que está sendo utilizado. Em um mapa na escala 1:250.000, por exemplo, não aparecem tantos detalhes da
rede_ de drenagem como em um mapa na escala 1:50.000. Assim, a ordem do curso de água principal de uma bacia estimada a
partir de um mapa em escala 1:250.000 possivelmente será menor do que a ordem do mesmo curso de água estimada com base
em um mapa na escala 1:50.000.
Uma outra forma de ordenar os cursos d'água de uma rede de drenagem foi proposta por Shreve (1967) . No ordena-
mento de Shreve ,rodos os trechos de cabeceira tem ordem 1, e cada trecho de rio a jusante tem um número de ordem que
corresponde ao numero total de trechos existentes a montante. A confluência entre dois trechos de cabeceira cria um trecho de
ordem 2 , eª confluência de um trecho de ordem 2 com um trecho de ordem 1 dá origem a um trecho de ordem 3.
Os métodos de ordenamento de cursos de água &10 extremamente sensíveis à escala do mapa que está sendo usado como base,
e a forma como estes mapas foram gerados, conforme comentado antes. Além disso, a ordem de um curso de água está fortemente cor-
relacionada com a área de drenagem , que pode ser estimada de forma menos sujeita a erros. Assim, a área de drenagem deve ser utilizada
preferencialmente.
Tempo de concentração
O tempo de concentração de uma bacia hidrográfica é um conceito rdacivamente abstrato, definido como o tempo
de viagem da gota de água da chuva que atinge a região mais remoca da bacia, desde o início de seu escoamento, até o momen-
to em que atinge o exucório. Esse tempo depende tanto da distância total que a água deve percorrer, como da velocidade com
que a água escoa. Assim, o tempo de concentração é maior em bacias grandes, em que a água deve percorrer dezenas ou cente-
nas de km, e é menor em bacias pequenas. Além disso, o tempo de concent2"ação é menor em bacias montanhosas e maior em
bacias planas.
Embora possa ser medido utilizando métodos baseados em traçadores radioativos ou químicos, o tempo de concen-
tração é normalmente estimado a partir da análise das características geomorfomécricas da bacia hidrográfica. Para isto existem
diversas equações empíricas, obtidas a partir de dados experimentais. Algumas dessas equações estão descritas a seguir.
Cada uma das equações resulta em estimativas diferentes para uma mesma bacia. A escolha da equação que deve ser
adorada pode ser feita comparando as características da bacia em estudo com as características das bacias consideradas no de-
senvolvimento da equação. Uma avaliação mais completa dessas e de outras equações pode ser encontrada no livro Drenagem
Urbana, Tucci et ai. (1995) e no artigo Desempenho de FórmuÚls de tempo de concentração em bacias urbanas e rurais, de Silveira
(2005).
Equação de Kirpich
Uma das equações empíricas mais utilizadas para a estimativa do tempo de concentração de bacias é a equação de
Kirpich. Essa equação foi desenvolvida a partir de dados experimentais em 7 bacias rurais nos EUA:
385
t =57- ( -L
3
Jº, (3.6)
e llh
onde t é O tempo de concentração em minutos; L é o comprimento do curso d'água principal em km; e t:i.h é a diferença de
alcicud~ em metros ao longo do curso d'água principal.
A equação de Kirpich, apresentada acima, foi desenvolvida utilizando dados de bacias pequenas (menores do que 0,5
km2). Por este motivo, a equação não deveria ser ucifüada para estimar o tempo ele concentração ele bacias maiores do que,
aproximadamente, 50 hectares. No entanto, uma avaliação de Silveira (2005) mostrou que a equação de Kirpich pode ser
utilizada em bacias rurais de médio a grande porte, de até 12.000 km 2, com erros relativamente pequenos.
28
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
O Corpo de Engenheiros do Exército americano desenvolveu uma equação empírica para estimativa do tempo de con-
centração com base em experimentos re~izados em 25 bacias hidrográficas rurais nos EUA. As bacias analisadas tinham todas
menos de 12.000 km 2 de área de drenagem, e o comprimento do rio principal de todas era menor do que 257 km (Silveira, 2005).
A equação do Corpo de Engenheiros dos EUA é:
Lo.16
te = 11,46 · 019 (3.7)
S·
onde t, é o tempo de concentração em minutos; L é o comprimento do curso d'água principal em km; e Sé a declividade do
curso d'água principal (adimensional).
Na avaliação realizada por Silveira (2005), a equação do Corpo de Engenheiros dos EUA teve os melhores resultados
quando testada em bacias rurais.
Outra equação que pode ser utilizada para estimar o tempo de concentração de bacias relativamente grandes é a equa-
ção de Watt e Chow, publicada em 1985 (Dingman, 2002):
.· ( L )0,19
t =768- -
e ' sº·5 (3.8)
onde t,é O tempo de concentração em minutos; L é o comprimento do curso d'água principal em km; e Sé a declividade do
curso d'água principal (adimensional). Essa equação foi desenvolvida com base em dados de bacias de até 5840 km 2·
Equação de Carter
A equação de Carter (Silveira, 2005) foi desenvolvida para estimar o tempo de concentração em bacias urbanas. Na
2
sua elaboração foram usados dados de bacias com menos do que 21 km ·
(3.9)
onde t, é o tempo de concentração em minutos; L é o comprimento do curso d'água principal em km; e Sé a declividade cur-
so d'água principal (adimensional).
Na avaliação realizada por Silveira (2005), a equação de Carrer teve os melhores resultados quando testada em bacias urbanas.
Equação de Dooge
A equação de Dooge para o tempo de concentração foi estimada com base em dados de 1O bacias rurais nJ. lrlandJ.,
com áreas na faixa de 140 a 930 km 2, e, portanto, pode ser uriliza&a para estimar o tempo de concentração de bacias desta
ordem de grandeza. Essa equação relaciona o tempo de concentração à :írea da bacia:
(3.1 O)
onde t,é o tempo de concentração em minutos; vé a área da bacia em lmi2; e Sé a declividade <lo curso d'água principal (adimensional).
29
Capftu/o3
BACIA HIDROGRAFICA EBALANÇO HfDRICO
Método cinemático
A eS t imativa do tempo de concentração pelo método cinemático consiste em identificar N sub-trechos ao longo da
drenagem principal, em que a velocidade da água pode ser considerada constante, e somar o tempo de deslocamento da água
ao longo desses sub-trechos.
(3.11)
onde t,é o tempo de concentração em minutos; N é o número de sub-trechos; L. é o comprimento do sub-trecho i (em km); e V; é a
velocidade da água ao longo do sub-trecho i (m.s- 1). A velocidade da água pode ;er estimada utilizando equações de escoamento em
regime permanente uniforme (veja capítu!o 13), admitindo-se uma determinada profundidade, e conhecendo a declividade S;do
sub-trecho.
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348 344_•• ·•33à'• ·-341 ~\355'\' 366' ,
340m -.341'
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Figura 3 .6: Reprcseniaçáo J igi1 al Jo tt'll t'llí> por m e io l'ip,ur:1 .l 7: llc-pr.-~~ m .11·,i,1 do rdn·o 11.11;in n .1
de 1riá n g1ilo, (T JN) dt' 11111:1 111 .11,i, (1111.> U ,11111 ~11lirq >ll.,i,.10 d.1
curv as dl' 11 /vd , q, :i r.1d.1s por 1(1 111
30
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNC/AS AMBIENTAIS
-
Walter Col/ischonn e
Fernando Dornelles
A terceira forma de armazenar dados topográficos é baseada na utilização de uma grade ou matriz em que cada ele-
mento contém um valor que corresponde à altitude local. Essa forma de a[mazenar dados topográficos, denominada Modelo
Digital de Elevação (MDE), é a forma de representação do relevo mais utilizada para extrair informações úteis para estudos
hidrológicos. Para a visualização, as altitudes são convertidas em cores, ou tons de cinza (figura 3.7).
Um MOE pode ser obtido a partir da digitalização e interpolação de mapas em papel, através da interpolação de dados
obtidos em levantamentos topográficos de campo (GPS); ou com sensores remotos, a bordo de aviões ou satélites.
Uma característica fundamental de um MOE é sua resolução espacial, que corresponde ao tamanho do elemento em
unidades reais do terreno. Um MOE de alta resolução de uma bacia urbana poderia ter uma resolução espacial de 2 m. Isto
significa que cada célula representaria um quadrado de 2 m por 2 m de extensão. Em g1Tandes bacóas rurais não há necessidade
de informações tão detafüadas. Nesse caso um MOE de resolução espacial de 100 m seria, em geral, adequado.
Utilizando um MDE é possível identificar, para cada elemento da matriz, qual é a direção preferencial de escoamento.
Admite-se que a água deve escoar de uma célula para uma das oito células vizinhas, de acordo com o critério de maior declivi-
dade. Esse cálculo é repetido para todas as células de uma matriz. O resultado é uma nova matriz em que cada célula recebe um
valor que é um código de direção de escoamento.
A partir da matriz com os códigos de direção de escoamento, é possível definir os divisores de uma bacia hidrográfica,
automaticamente. Comando o número de células existentes dentro de uma bacia delimitada é possível calcular a área da bacia.
A figura 3.8 apresenta as direções de escoamento da água sobre um terreno representado na forma de uma grade, ou
matriz, com altitudes indicadas em cada célula.
78 72 69 71 58 49
74 67 56 49 46 43
69 53 44 37 44 48
64 58 55 22 31 24
68 61 47 21 16 19
74 53 34 12 11 12
* i *
~ ~ ~
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4
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(a) (b)
Figura 3.8: D<1crmi.naç.áo dao. <lirt:r,õcs de cscoam,·nr11 bfibrc o rdcvo apr"":lll:tdo Fi gur3 .1 .1) : D d i111i 1~ç:io d~ 11111a hacia hid rogr.í ti ,a , nbrt· um ,1 graJt' mm
na fonna dr grade (M D E): a) al1inw ; h) :1hinulcs cm visia i,omé·rriCJ; e) códigos d irrções de i1 11X11 c3 k ul .1d a, a pa11 ir do M l.> E: :1) c,·1111.i do <"XlilÚriu J.1
numi:.ricos utilizados para reprc1.t:rnar a; direçócs J e flu x.o; d) (.;r.iík rnm din,vx·s b,ic ia; I,) 1:d11b s qu e pnll' IKt lll :i h,KiJ
de Auxo cndific:uLs: e) grad1: com di reçi~ d'" íluXJJ indio <la.1 por st'ra.s
Supondo que o objetivo d_a ai:1álise seja determinar a área da bacia a montante da célula localizada na penúltima linha
e na penúltima col_una, con~or~e md1cado na figu:a 3.9, seria fácil identificar as células que conduzem a água até esse local,
simplesmente anal1sad~ :15 dueçoe_s das s~tas. E~se tipo de procedimento pode ser automatizado em um programa de compu-
tador, permitindo a análise de bacias muito mais complexas (Paz e Collischonn, 2008).
31
Capítulo 3
BACIA HIDROGRAFICA EBALANÇO HfDRICO
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1km
- 14p1xels x 1km,/pixel - 14km,
Área-> -
1~ 500m
l
Área => 55pixels x 0,25km'/pixe l = 13,75km'
Figura J _1O: Apro xima ção do conrorno de uma bacia hidrográ fica utili - Figura :Ll l : Ap rox imaç,io do co ntorn o de uma b:iria h idrogdfi c , urili -
za ndo um M D E d e bai xa resolução (1 km 2) . A li nha preta tracej ad,1 é o z,1 ndo um MDF de reso lu ção um pouco mais alra (0 ,2'1 klll ") .
con1omo rc;i l da bac ia e a lin ha escu ra é o co nro rn n aproxim ado A linh a preca tracejada é o comorno rea l da hacia e a linh a L'Sc ur ,1 ~ 0
co nrurn o aprn xi1n ado
Na deli mitação em bacias urbanas, ou mesmo em pequenas bacias rurais, deve-se atentar aos problemas de baixa re-
presentatividade dos modelos num é[icos de terreno, ta nto pel a baixa resolução quanto pela ordem da incerteza da altitude, que
em bacias pequenas passa a ser signifi cante. Além d isso, a d renagem não é direcionada exclusivamente pela declividade da su-
perfície, mas sim, em conjunto com a rede de cond utos pluviais que podem estar constru ídos co m declividade contrária à do
terreno. Assim , a delimitação de baci as urbanas passa a ser um a tarefa menos automatizada, de manda ndo um bom co nheci-
mento das estruturas de drenagem artificial , para que, o compo rtamento do escoamento das ,íguas pluviais seja bem represen-
tado com a delimitação da bacia.
·----···-- -----------------
,.
32
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA EC/ENCIAS AMBIENTAIS
Walter Coflischonn e
Fernando Dornelles
dV
-=P-ET-Q (3.12)
dt
ou, em um intervalo de tempo finito:
~V
-=P-ET-Q (3.13)
~t
onde: LI V é a variação do volume de água armazenado na bacia (m 3); L\t é o intervalo de tempo considerado (s); Pé a
precipitação (m 3 .s- 1); Q é o escoamento (m 3 .s-1); e ET é a evapotranspiração (m 3 .s- 1).
Em intervalos de tempo longos, tipicamente de vários anos, a variação de armazenamen~o pode ser desprezada na
maior parte das bacias, e a equação pode ser reescrita em unidades de mm.ano-1, o que é feito dividindo os volumes pela área
da bacia. A equação de balanço hídrico para períodos longos (vários anos) é a equação 3.14.
P=ET+Q (3.14)
As unidades de mm são mais usuais para a precipitação e para a evapotranspiração. Uma lâmina de 1 mm de chuva
corresponde a 1 litro de água distribuído sobre uma área de 1 m 2•
O percentual da chuva que se transforma em escoamento é chamado coeficiente de escoamento médio, ou de longo
prazo, e é dado por:
(3.15)
onde Q é o escoamento médio anual da bacia (mm.ano· 1); Pé a precipitação média anual sobre a bacia (mm.ano- 1); e C é o
coeficiente de escoamento médio (adimensional).
O coeficiente de escoamento tem, teoricamente, valores entre O e 1. Na prática, os valores vão de 0,05 a 0,5 para a
maioria das bacias.
fi gura 3 . 12: Rele vo J c um a bacü li i<lrogd fi ca e a, em rada, .- saíd as d e ;i gu.1 : l' é· a p rrci p iraçãu ;
ET é a cVJ Jll> tram pi raçi o ; e Qéo csco ,w 1c1110 11 clo ri o
cri
33
Capftulo3
BACIA HIDROGRAFICA EBALANÇO HfDRICO
E X EMPL03 . 1 ·
A região da bacia hidrográfica do rio Taquari-Antas, no RS, recebe precipitações médias anuais de aproximadamente
lG0O mm. Em Muçum (RS), há um local em que são medidas as vazóes desse rio, e uma análise de uma série de dados diários
ao longo de 30 anos revela que sua vazão média, neste local, é de 340 m3.s- 1• Considerando que a área da bacia no local é
2
15.000 krn , qual é a evapotranspiração média anual nessa bacia? Qual é o coeficiente de escoamento de longo prazo?
Considerando que os valores correspondem às médias ao longo de um período de 30 anos, é possível desprez;ar a variação do
volume armazenado. Assim, o balanço hídrico de longo prazo de uma bacia é dado por P = ET + Q onde Pé a chuva média anual;
ET é a evapotranspíração média anual; e Q é o escoamento médio anual.
A vazão média de 340 m'3.s-1 ao longo de um ano corresponde a um volume
3 1 1
_ ) Q(m .s- )-3600-24 -365(s.ano- I000( -1)
Q(mm.ano 1 =
)
2 • mm.m
A(m)
Ott
A tabela 3 _1 apresenta dados de balanço hídrico, semel!1antes aos do exemplo 3.1 pa_ra as grandes baci~s brasileiras, de
acordo com dados da Agência Nacional da Ág~a (ANA?: Observa:se na rabe_la'. qu: na 1~~1or part~ d~ ~ras1l _ª precipit~tç~o
me'd"ia anuai e, supenor •
a 1000 111 m , embora existam reg1oes do NE com prec1p1taçoes medias anuais s1gmficat1vamente mfe-
. T: bé
nores. arn m se o serva
b que as regiões co m maior pluviosidade esráo na Amazônia, onde a chuva média supera os 2000
_1 A b
mm.ano . ta e a 3 . 1 mI ostra , também • que a evaporranspiração, tende a ser. maior nas bacias mais próximas do Et1uador.
. al ' f] vaza- 0 de água (em mm por ano) e menor na bacia do rio São Í'rancisco e na bacia Atlântico Leste
Fm mente, ven 1ca-se que a __ . ,_ .
. 'd · damente com as regwes mais secas da reg1ao Nordeste do 13ras1I.
(1) , que comCl em, aproxima , _. _ . . .
. d ento (Vazão/Prec1p1taçao) vanam entre valores hge1mmente menores do que 10% a valores próx.i-
O s coefi c1en tes e escoam
mos a 50%.
--
34
Tabcb J. 1: Gr,rndcs rcgiócs h idrugr:í!i cas d o Brasil. e valores ca raC1 erís1icos dn balan ço h idrico (va lo res cm m m cor rc., po n d c m à, m éd ias a n u.iis)
Leituras adicionais
A representação de bacias hidrográficas em ambiente computacional é um assunto muito explorado em livros sobre
Sistemas de Informaçáo Geográfica (SIG). Alguns softwares de SIG apresentam ferramentas poderosas para analisar e extrair
informações úteis em hidrologia a partir de um MOE de uma região. Os manuais desses softwares, como Map\v'indow, Whi-
teBox, ArcGIS e Idrisi, podem ser utilizados como consulta adicional .
Informações adicionais sobre o tempo de concentração de bacias hidrográficas podem se r obtidas 110 artigo de Silvei ra
(2005): Desempenho de fórmulas de tempo de concentração em bacias urbanas e rurais, publicado na Revista B,.isileirJ de
Recursos Hídricos, v 1O n. 1 Jan/Mar 2005, páginas 05 a 24.
Exercícios
J. Uma bacia d.e J00 km 2 recebe 1300 mm de chuva anualmence. Qual é o volume de chuva (em m3) que atinge a bacia por :mo?
2 . Uma bacia d.e 1100 km 2 recebe anualmente 1750 mm de chuva, e a vazão média corrt'sponde a 18 m:\. 5• 1• Calcule a evapo-
rranspiração total d.esta hacía (cm mm.:1110· 1).
3. A região da bacia hidrogr:Hka do do Uruguai n:ccbc preci pitações médias ,n111ais de 1700 mm. Escudos aim·rion:s mostr:un
que O coeflci.enu: d.e esmamcnro de longo prazo é de 0.4 2 nessa região. Qual é a v:rt:io m~dia esperada em um pequeno :1fluen-
te do rio Uruguai numa seç.ão cm que a área da hacia é de 230 km 2 ?
4. Considera-se para o dime11sil111arnento de es1n11uras de ahastc:cime1110 de água que uni habirame de uma ciJa<l.: co nso me
cerca d.e 200 litros de água por 1Jia. Qual é a área de captação de água da chuva ncccssJ.ria para abastece r uma casa <le 4 pesso:is
em uma cidade com precipi raçóes anuais de 1400 mm, corno Porto Alegre? Cumide re que a áre~1 de capraç:\o seja complera-
mente impermeável, e qu.e roda a água da chuva possa ser aproveitada.
Capítulo
O ar atmosférico
O ar atmosférico é uma mistura de gases em que predominam o nitrogênio (78%) e o oxigênio (21 %). O vapor de
água no ar atmosférico varia até um máximo próximo de 4%. Em percentagens menores, o ar atmosférico também contém
partículas orgânicas e inorgânicas, que têm um papel fundamental no ciclo hidrológico, pois formam os núcleos de condensa-
ção do vapor de água nas nuvens.
A maior parte do vapor de água encontra-se na camada mais próxima à superfície, chamada troposfera. Essa camada
tem uma espessura de 8 a 16 km. A temperatura do ar na troposfera é maio[ ao nível do mar e menor no topo da camada. O
gradiente de temperatura é de aproximadamente 6,5 ºCacada quilômetro. Assim, se ao nível do mar a temperatura é de 20
°C, no topo da troposfera a temperatura é de, aproximadamente, -45 ºC.
A umidade absoluta, ou concentração de saturação de vapor de .igua no ar, varia de acordo com a temperatura do ar,
como mostra a figura 4.2 e pode ser calculada pela _equação 4.2. Observa-se que a concentração nuixima de vapor de água
3
no ar a 30 ºC é de, aproximadamente, 30 g.m· .
622-e
Pv = -- (4.2)
Rd•T
onde Pv é a umidade absolouta ou densidade de vapor em kg.m·3 , e é pressão parcial de vapor, Rd é a constante <le g;is (que
para o ar atmoférico é 287,04 kJ.kg· 1.K 1) e Té a temperatura do ar em K.
" i 36 --
1 i HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
1
Walter Collischonn e
1
Fernando Dornel/es
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1 1
45
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o 10 15 20 25 30 35 40 -10'
'
O
'
10 20
1
30
Temperatura do ar ("C) Temperat...-a do ar ('C)
Figu r,1 4. 1: Pressão d e sa tu ração de va por d e água n o ar em Figura 4.2: Vari ação do conteúdo de vapo r d e água por vo lu me de ar
fun ção da tem peratura n a condição de sa turação em função d a temperatura
A umidade relativa é a medida do conteúdo de vapor de água do ar em relação ao conteúdo de vapor que o ar teria se
estivesse saturado (equação 4.3):
w
UR=IOO-- em% (4.3)
ws
onde UR é a umidade relativa em valor percentual; w é a massa de vapor pela massa de ar e w, é a massa de vapor por massa de
ar no ponto de saturação. . . ,
De acordo com a equação 4.3, ar com umidade relanva de 100 0Yo esta saturado de vapor, e ar com umidade relativa de
0% está completamente isento de vapor.
A umidade relativa também pode ser expressa em termos de pressão parcial de vapor. No ponto de saturação a pressão
1
parcial do vapor corresponde à pressão de saturação do vapor no ar, e a equação 4.3 pode ser reescrita como:
1 1
e
UR=IOO·- em%
e, (4.4)
onde UR é a umídwe relativa em valor percentual; e~ a pressão parcial de vapor no ar; e e, é pressão de saturação.
A temperatura de ponto de orvalho é defirnda como ª temperatura até a qual o ar deve ser resfriado para que seja
atingido o ponto de saturação de vapor. Este processo de resfriamento pode ser identificado como uma linha horizontal na fi-
gura 4.3.
7?
Considere o ar à temperatura ( de ~ou~ mai_s de 2 5 ºC e com pressão de vapor (e) próxima de 2 kPa (ponto A 1\3 figura
4.3). A pressão de saturação do ar nessa SJtuaçao é idennflcada pelo ponto B, que manrém a mesma temperatura que o ponto A, e
mostra a situação em que o ar estaria saturado de vapor de água. A pressão de vapor no ponto B é e,, que é a pressáo de satur.1ç.ío de
vapor para a temperatura T.
O ponto C na figura 4.3 é ª temperatura de ponro de orvalho
inicialmente no ponto A ficaria saturado de vapor se fosse resfriado.
(7:,), pois representa a temperatura na qu:il o ar
37
Capftu/o4
AGUA EENERGIA NA ATMOSFERA
7
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o 10 15 20 25 30 35 40 45
Figura 4.3: Identificação dos pontos que co rresponde m à temperatu ra J e pomo de orvalho e à
pressão de saturação de vapor no ar para urn a datla situ ação de temperatu ra e umidade
Para uma dada pressão de vapor (e) inferior à pressão de saturação (e), a temperatura de ponto de orvalho pode ser
calculada pela equação 4.5 (Oingman, 2002):
T _ ln(e)+0,4926
d - 0,0708- 0,00421 -ln(e) (4.5)
4.1
E X EMPLO
Medições em uma estação meteorológica indicam que a temperatura do ar é 'de 25ºC e que a umidade relativa é de
60%. Qual é a pressão parcial de vapor da água nessa temperatura? Qual é a pressão de saturação de vapor nessa cemperatur.1?
A pressão de saturação pode ser calculada pela equação 4.1 usando a infannaçíío da tempemt11ra do ar.
e UR •e, 60 · e, = 1 90 kPa
V R = 100 · es ➔ e == JOO · 100 '
Portanto, a prmiía parcial de Vflpor a ma tempemt11m e umidade relativa é de 1,9 kPa. Observe q11e esM sitt,aç,ío é pllreci-
. da com a do ponto A na figura 4.4.
38
.
"
Medições de umidade do ar
(4.6)
onde e é a pressão de vapor de água no ar (kPa); T,é a temperatura de bulbo seco (ºC); Tu é a temperatura de bulbo úmido (ºC);
y é a constante psicrométrica (kPa.°C- 1); e es(Tu) é a pressão de vapor na saturação correspondente à temperatura de bulbo úmi-
do (kPa). O valor de es(Tu) pode ser obtido usando a equação 4.1 considerando a temperatura de bulbo úmido.
A chamada "constante psicrométrica" não é realmente constante, pois varia com a temperatura e com a pressão atmos-
férica, de acordo com a equação 4.7 (Shuttleworth, 2012):
e
r= ( 0,6;2.1
.p J (4.7)
onde Pé a pressão atmosférica {kPa); c1 é o calor específico do ar úmido em unidades de MJ .kg-1 .°C-1 (c = 1,013.1 o-3 MJ.kg-1.
ºC- 1); e À é o calor latente de vaporização da água (MJ.kg- 1). P
O calor latente _de vaporização da água pode ser calculado pela equação 4.8 (Shutdeworth, 2012):
J = 2,501-0,002361 · T (4.8)
A radiação solar que atinge o topo da atmosfera, dividida pela área normal aos raios solares, é, aproximadamente,
constante (constante solar), e seu valor é estimado em 1367 W.m·2 (Shelton, 2009). Em um balanço de energia médio em toda
a atmosfera, parte da energia incidente é refletida pelo ar e pelas nuvens (26%) e parte é absorvida pela poeira, pelo ar e pelas
nuvens (20%). Parte da energia que chega a superfície é refletida de volta para o espaço ainda sob a forma de ondas curtas (4%
do total de energia incidente no topo da atmosfera) .
A energia absorvida pelas áreas continentais e pelos oceanos contribui para o aquecimento dessas superfícies, que
emitem radiação de ondas longas. Além disso , 0 aquecimento das superfícies contribui para o aquecimento do ar que está em
contato, gerando o fluxo de calor sensível (ar quente). A vaporização da água líquida no solo, nas plantas ou na superfície, e a
transferência desse vapor para a atmosfera é o chamado fluxo de calor latente (evaporação e evapotranspiraçáo).
Finalmente, a energia absorvida pelo ar e pelas nuvens, e a energia dos fluxos de calor latente e sensível, pode retornar
ao espaço na forma de radiação de onda longa, fechando o balanço de energia, conforme il ustra a figura 4.4.
=s\_
Reflexão
r
pelo arl rr Reflexão nas
nwens .
~~J~;~'
da
38%
r
Errissão líquida.
~~es de efetlo
26%
ESPAÇO
4% ~\" 6% 20% 6% / ,,~---,,, ,' ',
100% '-, r-' '-, jo;r--'...,.....,._
e
iií
e
~.,
'õ
ATMOSFERA liil 4%
Absorção por Errissão liquida
."'o
'O
1i'í
nwens das nwens
~
16%
Absorção na
atrrosfera
OCEANOS E
CONTINENTES
Figura. 4.4 : A passagem d a radiação arravés da atmosfera. e os Auxos d e calo r a partir da superfíc ie
da Ter ra (va lo res referem -se aos lluxos de ene rgia médias globais segundo Dingman, 2002 ;
lin has co nrínuas: radiaç:ío de onda curta ; linhas rracejadas: radiação de o nda lo nga;
seras pe,1ue11as: flu xos d e ca lor l:11 enre e sens ível)
No topo da atmosfera a radiação solar não varia muito, e por esse motivo é conhecida como Constante Solar, com
valor de, aproximadamente, J 367 W.m· 2• Apesar de receber o nome de Constante Solar, este valor não é exatamente constante,
mas varia com a época do ano e com a atividade solar, que pode ser medida pela quantidade de manchas solares.
A Constante Solar passa por variações periódicas de cerca de 1 W.m· 2, ou seja, menos de O, 1% do valor total, em
função do aumento ou diminuição das manchas solares. O número de manchas solares tem vários ciclos, sendo O de 11 anos 0
mais importante (Barry e Chorley, 2013).
- --- ·----- - -- ·---·--~---
40
/,
A radiação solar recebida pela Terra no topo da atmosfera também varia de acordo com as estªJões do ano, porque a
órbita da Terra em torno do Sol é elíptica. Em consequência disso, a distância entre a Terra e O Sol ~ar;~ um ~ouco ao longo
i. do ano. Atualmente, a Terra está mais próxima do Sol no início de janeiro, e mais distante do Sol no l~icio de Julho. Há cerca
11
'1! de I O mil anos a situação era oposta, isto é, 0 maior afastamento ocorria em janeiro e O menor em Julho (Barry e Chorley,
2013).
,1'
Em função desta alteração sazonal da distância entre a Terra e o Sol, a radiação solar no ropo da atmosfera passa por
variações relativas que podem ser estimadas por um coeficiente denominado fator de excentricidade (d), que pode ser obtido
pela equação 4.9 (Shuttleworth, 2012):
f i
onde Sé a radiação solar que chega ao topo da atmosfera em diferentes épocas do ano (w.m-2); Scr,é a constante solar (W.m-2) ,
1 /
• 1
: 1
cujo valor é 1367 W.m- 2; e dr é o faror de excentricidade (adimensional), dado pela equação 4.9 .
.j Em função da excentricidade da órbita terrestre, a radiação solar recebida no topo da atmosfera é quase 7% maior nos
: primeiros dias de janeiro do que no início de julho (Barry e Chorley, 2013).
Ao contrário da radiação solar recebida pela Terra no topo da atmosfera, que é aproximadamente constante, a radiação
solar efetivamente recebida em um ponto qualquer sobre a superfície terrestre é bastante variável, em função da latitude, da
época do ano, e da cobertura de nuvens.
o
ponto de partida para estimar a radiação solar que atinge a superfície da Terra é calcular a radiaç;.fo solar que seria
recebida caso a atmosfera fosse perfeitamente_ transp~re~~e. Nesse caso, a energia total recebida em um ponto da superfície da
Terra ao longo de um dia depende da duraçao do dia, Ja que O ponto não recebe radiação solar durante a noite, e do ângulo
entre os raios solares e a superfície da Terra nesse ponto.
O ângulo entre os raios solares e a _superfície da Terra em um ponto qualquer depende da época do ano, da hor..1 do
dia e da fatírude do p~nto: O ângulo d~s r~ws solares com º. vetor normal à superfície da Terra pode ser estimado a partir do
conhecimento da declrnaçao solar, que e o angulo entre os raios solares e o plano definido pela, lt'nh a d o equ:mor.
1
Capítulo4
AGUA EENERGIA NA ATMOSFERA
24
N=-·OJ
7[ s (4.12)
onde N (horas) é a duração do período diurno, desde o nascer até o pôr do sol; cv, (radianos) é o ângulo do sol ao nascer
(depende da latitude e da época do ano), e é dado por:
onde c:p (radianos) é a latitude (positiva no Hemisfério Norte e negativa mo Hemisfério Sul); cv, (radianos) é o ângulo do sol
ao nascer; e Õ (radianos) é a declinação solar dada pela equação 4.11.
Em locais ao longo da linha do equador, a duraçã,o do período diurno é constante e igual a 12 horas, durante rodo o
ano. Na latitude 30° S, que corresponde, aproximadamente, à cidade de Porto Alegre (RS), a máxima duração do dia é de 13,9
horas em dezembro, e a mínima duração é de 10,1 horas em junho. Na latitude 10º S, que corresponde, aproximadamente, à
cidade de Palmas (TO), a máxima e a mínima durações do dia são de 12,6 e 11,4 ho ras. Ao norte do equador a duração do dia
é maior em junho e menor em dezembro, como mostra a figura 4.5, que apresenta o gráfico da duração d o d ia ao longo do ano
na latitude 30º S (Porco Alegre), na latitude 1Oº S (Palmas) e na latitude 5º N, que corresponde, aproximadamente ao extremo
norte do Brasil, no Estado de Roraima.
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- - - Porto Alegre
- - Palmas -
- - Norte de Roraima
8 ►
Jan fev Mar Abr Mal Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
f,j~ 1ira /4 . 5: Duraç:ío do dia ao lort f:O do ano cm di fe rent es locai ~ nn l\ r,1, il
A energia solar que seria recebida, ao longo de um dia, em um ponto qualquer sobre a superfície da Terra, caso a at-
mosfera fosse perfeitamente transparenre, pode ser calculada inregran<lo a radiação solar ao longo das N hor-.1s do período
diurno, levando em consideração o ângulo enrre os raios solares e o vetor normal à superfície da l ê rra nesse ponco. O resultado
dessa integração é a equação 4.14:
SD =scte -24-3600
- - - · dr •(OJs -semp-seno +cosrp•coso •senrv . ) .1
(4. 14)
7[
2
onde 5 (W.m·2) é a constante solar (cujo valor é 1367 W,nf ); Sv (J.m ·2.ctia· 1) é a energia solar recebida na superfície da 'lcr-
ra ao l;~go de um dia, caso a atmosfera fosse transparen te; ô (radianos) é a declinação solar, dada pela equação 4. 1O; c:p (radia-
nos) é a lati rude; w, (radianos) é o ângulo do sol ao nascer, dado pela equação 4.12; e d,(-) é o fator de i:xci:mricidadc, dado
pela equação 4 .9. . _ . •• .
Devido ao ângulo relativo entre a raJ1açao solar e o plano tangente à lcrra, a energia por unidade de :irea que atingiria
42
◄
~~DIROLOGI~ PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
••O ter Co/1,schonn e
Fernando Dornelles
ª superficie caso a atmosfera fosse transparente varia com a latitude e com a época do ano. A figura 4 .6 apresenta valores de
energia que seria recebida na superfície da Terra, caso a atmosfera fosse perfeitamente transparente, de acordo com a época do
ano e a latitude. Os valores são dados em MJ por m2 de área na superfície da Terra, recebidos ao longo de um dia. Observa-se
que a energia recebida por unidade de área é maior na região equatorial (latitudes baixas) e menor nas regiões polares (latitudes
altas). As regiões escuras mostram a situação em que a Terra não recebe radiação (inverno nas regiões polares).
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q 10, .1.\
43
Capftu/o4
AGUA EENERGIA NA ATMOSFERA
EXEMPL04.2
A cidade de Porto Alegre está localizada próxima à latitude 3(1'S. Use a estimativa do calor latente de vaporização da água,
apresenttUÚJ no capitulo 2, pará calcular qual seria a taxa de evaporação diária no mês de agosto nesta cidade, comiderandQ a atmos-
fera perfeitamente transparente, e supondo que toda a energia recebida poderia ser utilizada para a evaporação.
Na figura 4. 6 pode-se observar que a energia recebida, caso a atmosfera fosse transparente, ao longo de um dia, num local a
3(1'S, no mês de agosto é de, aproximadamente, 25 MJ.m-2.
Não há uma infannação sobre a temperatura em que a água está antes de evaporar. Supondo que a dgua r.stá tt 2(J'C, e
usantÚJ a equaçáQ 2.3 estimamos o calor latente de vaporização de 2,45 MJkK 1, Considerando que. toda a energia I utilizada para
evaporar a água, a taxa de evaporação pode ser calculada por:
2
E= 25MJ.m- -2
10,2 m
2,45MJ.kg- 1
Considerando que a massa específica da água é de, aproximadamente, 1 kg para cada litro, e que 1 litro distrib·uído sobre
Jm2 corresponde a uma /.âmina de 1 mm, a evaporação é de 10,2 mm.dia- 1•
Alternativamente, a energia potencialmente recebida na supe,ficie poderia ser estimad,z wando a equação 4. 13. Para isso, é
necessário definir o dia Juliano, a declinação solar, e os outros parâmetros da equação 4.14. Supondo o dia 15 de agosto como repre-
sentativo do mês, o valor de J é 227.
O coeficiente de excentricidade pode ser calculado pela equação 4.9:
A declínaçãn solar é Õ=0,211 e fl l111i11ule cp é 30º S, o que corresponde a (-30.rrl 180) mdianos, 011 sejt1, q> ; -0, 5236.
Então,
ws = arccos(- tan rp • tan o) = arccos(- tan(- 0,5236)· tan(0,244 )) = 1,4265
Considerando que a comt,mle w/r,r é 1367 \~nr2 , 11 magia porenriri/1111·111e recebida 1111 wpaficie potÍt' sa ct1lc11lt1da p,·l,1
equação 4. 14:
s D
=Sele ·24
-- -3600
-·d•r
({J) _•se,up-seno+cos(f)•coso •scmu ) = 24 195004,8
' ,
1[
ou seja, a energia que seria recebid11 na mpeifkir d11rr1111e o di" I 5 de agosto, 11a lt1ti111de e/., JO º S, cmo 11 Mmosferr1 fosu 11,111ip ll'W -
2 1
te, seria de, aproxímadame111e, 24,2 milhões de }.nf .dí,r , tjllt' corresponde r1 21,2 MJ.m ·2.dit( 1.
Observa-se que este valor é 11111 pouco inji·rior tto que f oi rs/Ínl(ldo "pnrlir dr, j ig11m 1. 6.
44
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA E CltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornel/es
Nem toda a radiação solar que atinge O topo da atmosfera chega até a superfície da Terra. A radiação que atinge o topo
da atmosfera é parcialmente absorvida e parcialmente refletida pela própria atmosfera, não atingindo a superfície terrestre.
A radiação solar que efetivamente chega até a superfície da Terra pode ser medida usando instrumentos chamados
piranômetros (Shuttleworth, 2012). Atualmente, a maior parte das estações meteorológicas contam com um instrumento
como esse, para medição da radiação solar incidente.
Outra forma de estimar a radiação solar incidente na superfície da Terra é partir da informação do número de horas
de sol efetivamente ocorridas em um determinado local. Ao longo de um dia as nuvens podem encobrir o sol, fazendo com que
o número efetivo de horas de sol (n) seja inferior ao número máximo de horas de sol (N - equação 4.12). O número real de
horas de sol ao longo de um dia pode ser medido por um instrumento denominado heliógrafo.
É possível estimar a radiação solar que atinge a superfície a partir da informação de insolação (horas de sol), medida
por um heliógrafo, usando a equação de Angstrom:
onde N (horas) é a insolação máxima possível em uma latitude em certa época do ano (ver equação 4.12); n (horas) é a inso-
lação medida por um heliógrafo; SD (J.m- 2.dia- 1) é a radiação que atingiria a superfície caso a atmosfera fosse transparente
(equação 4.14); SSUP (J.m- 2.dia- 1) é a radiação incidente na superfície terrestre; as (adimensional) é a fração da radiação que
atinge a superfície em dias encobertos (quando n = O); e a, + b, [-) é a fração da radiação que atinge a superfície em dias sem
nuvens (n = N). :
Os valores de as e bs devem ser calibrados com medidas locais de radiação incidente. Quando não existem dados locais
medidos que permitam estimativas mais precisas, são recomendados os valores de 0,25 e 0,50, respectivamente, para os parâ-
metros a, e b, (Shuttleworth, 1993). O uso desses valores é equivalente a admitir que a transparência da atmosfera é de 75%,
em um dia sem nuvens, e de 25% em um dia completamente nublado.
(4. 16)
onde Sabs (] .m·2 .d·') é a radiação l'.quída de ?ndas curtas abso~vida pela superfície; Ssup O.m-2.d-l) é a radiação de ondas curt:1s
que atinge a superfície (valor medido ou eStlmado pela equaçao 4.15); e a (adimensional) é o albedo, que é a parcela da radia-
ção incidente que é refletida.
O albedo de uma superfície depende do tipo de vegetação, do grau de umidade e do ângulo da radiação incidente.
Alguns valores aproxjmados são apresentados na tabela 4.1 .
45
Capftulo4
AGUA EENERGIA NA ATMOSFERA
Tahd a 4. I: Va lo res de albedo típicos de difc rcnrcs cohcrruras da superfície da Terra (13rursae rr . 2005 )
Tipo de superfície Albedo mínimo Albedo máximo
Agua profunda
0,04
Solo úmido escuro
0,05
Solos cbms
0,15
Solos secos 0,20
Areia bpnca 0,40
0,30
Grama, vegetação baixa 0,15 0,25
Sava na 0,20 0,30
Floresta 0,10 0,25
Neve 0,35 0,90
Por estar em uma temperatura reõativamente fria, a superfície terrestre emite radiação principalmente na faixa de on-
das longas. De acordo com a lei de Stefan-Boltzman, a radiação emitida por um corpo é proporcional à temperatura deste
corpo elevada à quarta potência. Entretanto, uma grande parte da radiação de ondas longas emitida pela superfície terrestre é
reabsorvida por gases existentes na atmosfera, induindo o vapor da água e o dióxido de carbono. Uma parte da energia absor-
vida pelos gases é reemitida de volta para a Terra, também na forma de radiação de ondas longas.
Normalmente, a superfície terrestre é mais quente clo que a atmosfera, resultando em um balanço negativo, isto é, há
pc::rda de energia por parte da superfície terrestre na faixa de ondas longas.
É possível estimar a radiação líquida de ondas longas a partir da superfície terrestre ao longo de um dia, tomando por
base a temperatura do ar medida próxima à superfície (Shuttleworth, 2012). A equação a seguir descreve a radiação líquida de
ondas longas que deixa a superfície terrestre.
onde L Q.m-2.dja•l) é a radiação líquida de ondas longas que deixa a superfície;/{adimensional) é um fator de correção devido
à cobertura de nuvens; T (ºC) é a temperatura média do ar a 2 m do solo; E {adimensional) é a emissividade da superfície; a
2 1
Q.m·2.K-4.dia••) é a constante de Stephan-Boltzman (cr = 4,903. 10·3 J.m· .K-4.dia• ).
A emissividade da superfície pode ser estimada pela equação 4.18:
e= 0,34-0,14·~ (4.18)
onde edé a pressão parcial de vapor de água no ar (kPa), que pode ser obtida a _ra~tir de dados de umi~ade relativa do ar, usan-
do a equação 4.4, ou a partir de dados de temperatura 1e bulbo seco e bulbo 11m1do, usando.ª equaçao 4.5. _ .
O f:àtor de correção da ra.diaçá.o de ondas longas devido à cobem1ra de nuvens (/) pode ser estimado com base na equaç\O a 5Cb'1.Ur.
n
/=0,1+0,9·- (4.19)
N
onde N (horas) é a insolação máxima possível em uma dada latitude em certa época do ano; n (horas) é o número de horas de
sol, medido com um helíógrafo.
46
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA E CltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
-
A radiação líquida disponível na superfície é O resultado de um balanço entre a radiação de ondas curtas absorvida (S,b,
- equação 4.16 e a radiação de ondas longas emitida (L - equação 4.17).
Rl = sabs -L (4.20)
onde sab, é a radiação de ondas curtas absorvida pela superfície o.m·2 .dia•l); L o.m· 2 .dia· 1)
é a radiação líquida de ondas lon-
gas que deixa a superfície; e Rl é a radiação líquida disponível na superfície o.m· 2 .dia• 1).
Desprezando o fluxo advectivo de energia (por exemplo o ar quente trazido pelo vento), a radiação líquida (RL) calcu-
lada pela equação anterior corresponde à quantidade de energia disponível para gerar o fluxo de calor para o solo, e os fluxos
de calor sensível e latente para a atmosfera.
De acordo com a primeira lei da Termodinâmica, a energia recebida por radiação na superfície da Terra deve ser con-
servada. Pode-se imaginar um volume de controle na superfície da Terra, que envolve a vegetação, como mostra a figura 4.7.
Neste volume de controle, a principal entrada de energia é a radiação líquida (RL), que é o balanço entre a radiação incidente,
menos a radiação refletida pela superfície, e roem.os a radiação emitida. As saídas de energia ocorrem na forma de fluxo de calor
sensível (H), fluxo de calor latente (E) e fluxo de calor para o solo ( G).
O fluxo de calor sensível é o fluxo de calor por convecção, que ocorre porque a superfície se aquece e, assim, aquece o
ar atmosférico em contato direto com a superfície. A turbulência provocada pelo vento se encarrega de redistribuir O ar aque-
cido para camadas mais altas da atmosfera, resultando em um fluxo de energia. O fluxo de calor sensível recebe este nome
porque está relacionado à temperatura do ar, que pode ser "sentidà'.
O calor latente é a parte da energia interna que não pode ser "sentidà', ou seja, não está relacionada à temperatura, mas
sim ao calor latente de vaporização. O fluxo de calor latente é o fluxo de energia associado ao fluxo na forma de vapor de água para
camadas mais altas da atmosfera, a partir da superfície. O fluxo de calor latente está, portanto, relacionado ao fluxo de água da
superfície para a atmosfera por evapotranspiração.
1
·'1
O balanço de energia na superfície ao longo de um intervalo de tempo de um dia pode ser expresso pela equação 4.21:
AS
-=Rl -G-H-E (4.21)
L1t
onde RL é a radiação líquida que entra no volume de controle O.m·2 .dia• 1); H é o fluxo de calor sensível (J.m-2.dia•l); E é o
2 1
fluxo de calor latente Q.m· .dia• ); tJt é o i~tervalo de tempo de um dia (dia); e .c1S é a variação da energia armazenada novo-
2
lumt: de controle (J.m· ) ao longo de um dia.
◄
.,...-
47
Capítu/o4
AGUA EENERGIA NA ATMOSFERA
Dezembro
11 ~C · (a)
90°S 60°S 30°S Equador 30ºN 60°N 90°N
Equinócios o
(:1
j
Orrulação
Ferrei
Orailação
Hadley
Cirailação )
Had-ley
l Cirailação
Ferrei
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... Junho
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30°S
H
Equador 30°N
ll~ 1
(c)
Figu ra 4 .8: Esquema de corre transversal da atmosfera no sentido Sul-Norte no solsdcio de dezemb ro, nos equ inócios (setembro
e março) e no solstício de junho, mosrrando a posição relativa do sol, a circulação idealizada do ar atmosférico e as latirndcs de
formação preferencial de n uvens e chuva em cada época do ano
Esta circulação idealizada não corresponde exatamente ao que ocorre na realidade, por causa de uma série de fatores.
Em primeiro lugar, existe a heterogeneidade da superfície da Terra, com a presença de massas continentais e oceanos, que se
aquecem de forma diferenciada. Nesse aspecto, o Hemisfério Sul é diferente do Hemisfério Norte, porque no Hemisfério Sul
'.
1 uma parte muito maior da superfície está coberta por oceanos.
o segundo fator é O relevo, que cria obstáculos para a circulação do ar atmosférico. Grandes cadeias de montanhas,
i como a cordilheira dos Andes, na América do Sul, interferem no fluxo de ar, podendo bloquear ou desviar ventos próximos da
superfície, ou provocando chuvas por efeito orográfico (ver capítulo 5).
fi .
.. o terceiro furor importante são as correntes marítimas, que transportam águas quentes e frias para regiões distantes,
j alterando O padrão de aquecimento que seria esperado apenas por efeito local. Um exemplo é a corrente de Humboldt, a Oes-
j te da América do Sul, que é fria e se estende de sul para norte até próximo das ladtudes equatoriais, e afeta fortemente O dirna
1
1
\
em países como o Equador, Chile e Peru.
1
l Em função desses fatores, e da rotação da Terra, padrões de circulação mais complexos ocorrem na atmosfera. Em vez
de bandas de baixa e alta pressão em torno do globo, o que existem são áreas semi-permanentes de altas e baixas pressões, que
49
Capftu/o4
AGUA EENERGIA NA ATMOSFERA
podem se modificar com a época do ano. Por exemplo, em torno da América do Sul se formam zonas de alta pressão tanto no
Oceano Pacífico como no Oceano Atlântico, em latitudes próximas a 30º (figura 4.9). Estas zonas de alta pressão são denomi-
nadas anti-ciclones e produzem um padrão de ventos superficiais em sentido anti-horário no Hemisfério Sul, e sentido horário
no Hemisfério Norte.
No Hemisfério Sul, na latitude de 60° S, aproximadamente, forma-se um cinturão de ventos superficiais de oeste. No
Hemisfério Norte este padrão é menos evidente. Esta diferença ocorre porque há mais áreas continen[ais no Hemisfério Norte
do que no Hemisfério Sul. ·
A Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) também é mais complexa do que seria de se esperar considerando a
circulação atmosférica idealizada. A ZCIT sofre alterações nas proximidades dos continentes e não é sempre paralela ao equa-
dor. Na região do Oceano Atlântico Equatorial, a ZCIT se move sazonalmente, atingindo a posição mais ao norte (cerca de
14°N em média) entre agosto e setembro, e a posição mais ao sul (cerca de 2° S em média) entre março e abril. Este posiciona-
mento da ZCIT no Hemisfério Norte na maior parte do ano está relacionado às temperaturas da água do Oceano Atlântico, e
tem influência sobre o clima da região Nordeste do Brasil, que é mais seco do que seria de se esperar pela sua latitude, especial-
mente no interior (Cavalcanti et ai., 2009).
f-i~ur., -1.'l: E« Jt1 t·111 a simp lifi cado de zo nas d e pressio a1mosféri ca semi-perm anentes (H ·_ alt a pre,sfo; L - ·ba ixa prcssáo) nos períodos dt' jan~iro· e
julh,, (i,11li11 ha, ). a.< di reções prefe renciai s d o venw próx imo à superfície da Terra (seras), e a pos ição aproxi m ad a d a Zo na d e Convergência ln1crt ropi -
cal (linh a rraccjad a) (fi gura basead a. em esqu em:i do -n,eC OJ\ 1ET Prog.ram)
Um outro efeito continental importante na América do Sul é que, no verão do Hemisfério Sul a área continental se
aquece mais rapidamente que os oceanos a sua volta, criando uma zona de baixa pressão que favorece a convecção e a formação
das chuvas no centro do continente. Nesse período pode-se dizer que a ZCIT avança para o sul no interior do continente, como
mosrrado na figura 4.9.
Nessa época é comum a formação da chamada Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que resulta em uma
faixa nublada que se estende do sentido noroeste-sudeste, desde o oeste da Amazônia, até a região Sudeste do Brasil, ou até o
Oceano Atlântico, no sudeste da costa brasileira. A ZCAS persis[e por vários dias, e origina as chuvas tÍpicas dos meses de
dezembro a fevereiro nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil (Cavalcanti et ai., 2009).
No inverno do Hemisfério Sul, por outro lado, a Zona de Convergência Jnrercrnpical se desloca para o norte do equa-
dor, e a convecção sobre a América do Sul é enfraquecida. Em função disso, nesta época predomina no centro do Brasil o ar
descendente e seco, em uma região de alta pressão onde não ocorre precipitação. Este efeito é respons,ivel pela baixa pluviosi-
dade dos meses de junho a agosto nas regiões Sudeste e Centro-Oeste do Brasil. Por outro lado , a região norte da Amazônia,
como O estado de Roraima, apresenta o período mais úmiclo justamente nesta época, porque est.Í ao norte do equador.
O ar atmosférico transporta, além de umidade, a energia na forma ele calor latente (na forma de vapor de água) ou
50
sensível (a própria temperatura do ar). Grandes volumes de ar, cobrindo centenas de quilômetros, e com características homo-
gêneas de temperatura e umidade, são chamados de massas de ar. A região de contato entre diferentes massas de ar é chamada
de sistema frontal, ou frente, e tem grande influência na formação das chuvas, especialmente em latitudes mais altas.
No sul do Brasil, os meses de inverno do Hemisfério Sul favorecem a ocorrência de frentes frias, que ocorrem quando
o ar frio das regiões polares move-se até latitudes mais baixas, colidindo com massas de ar mais quentes, o que também pode
provocar chuvas (ver figura 4.8c). Na região Sul do Brasil, há ocorrência de frentes frias praticamente o ano inteiro, com cerca
de 40 frentes por ano (Cavalcanti et ai., 2009). Estas frentes frias são responsáveis pda geração de chuvas de forma bem
distribuída ao longo de todo o ano, especialmente no RS, SC e sul do Paraná.
A figura 4.1 O apresenta mapas globais de precipitação estimada por satélite (ver capímlo 5) nos meses de janeiro e
julho. Nas duas figuras é evidente uma faixa de intensa precipitação localizada quase sobre o equador, e que está associada à
Zona de Convergência Intertropical (ZCIT).
Na figura correspondente ao mês de janeiro (figura 4.1 O) destaca-se a área extremamente chuvosa sobre a América do
Sul, que está associada à formação da Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS). No mesmo período, o norte da Améri-
ca do Sul apresenta-se mais seco. ·
Na figura correspondente ao mês de julho (figura 4. ! O) observa-se que a faixa de precipitação mais intensa, relaciona-
da à ZCIT, está deslocada mais para o norte sobre o Oceano Atlântico. Também se observa que no centro da América do Sul
não ocorre precipitação significativa. Mais ao sul, uma faixa de precipitação entre as latitudes 30º S e 40º S cobre a parte lito-
rânea da região Su~do Brasil e o Uruguai.
Janeiro
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30N
20N
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EQ
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12DE 1110 120W 60W
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Figura 4.1 O: Chuvas médias mensais no mundo estimadas pelo satéli te TRMM em ·i;111c1ro
• e em )li
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11
51
Capítulo4
AGUA EENERGIA NA ATMOSFERA
Leituras adicionais
Um livro interessante para complementar este capímlo é Atmosfera, Tempo e Clima, de Barry e Chorley (2013). No
contexto do Brasil, o livro Climatologia Fácil (Steinke, 2012) é uma boa introdução, e o livro Tempo e Clima no Brasil (Ca-
valcanti ec ai., 2009) apresenta uma abordagem mais completa sobre a circulação atmosférica na América do Sul, com destaque
para os mecanismos de formação de chuva no Brasil. Sobre o balanço de energia na superfície, vários livros de hidrologia física
apresentam capítulos detalhados, mas o livro Terrestrial Hydrometeorology, de Shuttleworrh (2012), é, possivelmente, um dos
mais completos.
Exercícios
1. Estime a taxa de evaporação da água em mm por dia num local sobre a linha do equador, no mês de junho, se a atmosfera
fosse perfeitamente transparente.
2. Refaça o exercício anterior levando em consideração a atenuação na atmosfera em um dia sem nuvens, e a reflexão da radiação
pelo albedo da superfície, mas desprezando o fluxo de calor sensível e o fluxo de calor para o solo.
3. Determine a temperatura de ponto de orvalho do ar atmosférico próximo ao nível do mar a 23 °C e 70% de umidade relati-
va.
4. Qual é a diferença percentual entre a radiação solar máxima e mínima na sua cidade, ao longo de um ano, considerando a
atmosfera transparente?
5. Considere ar saturado de urrúdade a 30 ºC, que é resfriado, para 10 ºC, provocando a condensação do vapor. Estime o volume
de ar necessário para gerar 40 litros de água através desse processo.
6. Qual é o mês mais seco e qual é o mês mais chuvoso na sua cidade? Como isso se relaciona com a circulação global da atmos-
fera? ·
Capítulo
Precipitação
A água da atmosfera que atinge a superfície na forma de chuva, granizo, neve, neblôna é denominada precipitação. Na
realidade brasiOeira a chuva é a forma mais importante de precipitação, embora grandes prejuízos possam advir da ocorrência
de precipitação na forma de granizo e, em alguns locais de maior altitude no Sul do país, possa ocorrer a precipitação na forma
de neve.
Importância da precipitação
Conforme mencionado quando abordado o assunto balanço hídrico, a precipitação é a principal forma de entrada de água em
uma bacia hidrográfica. Assim sendo, da fornece subsídios para a quantificação do abastecimento de água, irrigação, controle de inunda-
ções, erosão do solo, etc., e seu conhecimento é fundamental para o adequado dimensionamento de obras hidráulicas, entre outros.
A chuva é a causa mais importante dos processos hidrológicos de interesse da engenharia e é caracterizada por uma
grande aleatoriedade no tempo e no espaço.
54
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Co/Jischonn e
Fernando Dornelles
A formação das nuvens de chuva está, em geral, associada ao movimento ascendente de massas de ar úmido. A causa
da ascensão do ar úmido é considerada para diferenciar os principais tipos de chuva: frontais, convectivas ou orográflcas (flgu-
ra 5.1).
As chuvas frontais ocorrem quando se encontram duas grandes massas de ar, de diferente temperatura e umidade. Na
frente de contato entre as duas massas o ar mais quente (mais leve e, normalmente, mais úmido) é empurrado para cima, onde
atinge temperaturas mais baixas, resultando na condensação do vapor. As massas de ar que formam as chuvas frontais têm
centenas de quilômetros de extensão e movimentam-se de forma relativamente lenta, consequen[emente as chuvas frontais
caracterizam-se pela longa duração e por atingirem grandes extensões. No Brasil, as chuvas frontais são muito frequentes na
região Sul, especialmente no inverno, quando ocorrem cerca de 4 frentes por mês (Cavalcanti et ai., 2009). As frentes também
podem atiillgir as regiões Sudeste e Centro Oeste do Brasil e, por vezes, até o sul da região Nordeste.
Orográfica
~
J''''''''t
Ar úmido sobe depois de ser
aquecido em contato com a superfície
Chuvas frontais têm uma imensidade relativamente baixa e uma duração relativamente longa. Em alguns casos, as
frentes podem ficar estacionárias, e a chuva pode atingir o mesmo local por vários dias seguidos.
',
' Chuvas convectivas
i
As chuvas convectivas ocorrem pelo aquecimento de massas de ar, relativamente pequenas, que estão em concaco di-
reto com a superfície quente dos continentes e oceanos. O aquecimento do ar resulta na sua elevação para níveis mais altos d:i
atmosfera onde as baixas temperaturas condensam o vapor, formando nuvens denominadas mmulunimb 11s. Este tipo de nuvem
tem desenvolvimento na direção vertical, com sua base em baixas altitudes e seu topo em grandes altitudes (~500m até~ 15km).
Esse processo pode ou não resultar em chuva, e as chuvas convectivas são caracterizadas pela alta intensidade e pela
curta duração, e ocorrem predominantemente no rumo vespertino do dia. Normalmente, porém, as chuvas convectivas ocor-
rem de forma concentrada sobre áreas relativamente pequenas. No Brasil, há uma predominância de chuvas convectivas, espe-
cialmente nas regiões tropicais, na região Sul sua frequência é maior na estação do veráa.
As chuvas convectivas cem grande impacto em pequenas bacias em áreas urbanas. Nesse tipo de bacia as chuvas con-
vectivas são as chuvas que originam as inundações.
,i
J
h
◄
55
Capftu/o5
PRECIPITAÇÃO
Chuvas orográfica s
As chuvas orográficas ocorrem em regiões onde um grande obstáculo do relevo, como uma cordilheira ou serra muito
alta, impede a passagem de ventos quentes e úmidos, que sopram do mar, obrigando o ar a subir para níveis mais altos da at-
mosfera. Em maiores altitudes, a umidade do ar se condensa, formando nuvens junto aos picos da serra, onde chove com
muita frequência.
As chuvas orográficas ocorrem em muitas regiões do Mundo, e no Brasil são especialmente importantes na Serra do
Mar, ao longo do litoral, entre o norte do Rio Grande do Sul e o sul do Espírito Sariro. Especialmente marcante é o exemplo
do Rio de Janeiro, onde a Serra do Mar se aproxima e até supera os 2000 m de altitude em alguns locais próximos ao litoral, e
tem um impacto visível sobre os totais anuais de chuva medidos nos postos pluviométricos.
A figura 5.2a mostra a localização de sete postos pluviométricos que estão posicionados aproximadamente em uma
linha perpendicular à costa. A tabela 5.1 apresenta os valores de precipitação média anual em cada um destes postos no período
de 1967 a 2010. A figura 5.2b apresenta os valores de precipitação na forma de barras, juntamente com o perfil de altitude ao
longo da linha imaginária que une os postos pluviométricos. Observa-se que o local com maior pluviosidade anual encontra-se
na região de transição entre a planície próxima ao litoral e a Serra, onde são medidos valores de chuva anual de 2100 mm.
T:1bcb 5.1: Postos pluviom étricos referentes à figura 5.2, e a sua precipitação médi a anual
Código do posto Nome Precipitação média anual
02242010 Manuel Ribeiro 1320
0224201 4 Japuiba 1793
02242013 Faz. do Carmo 2100
02242026 Bom Sucesso 1305
02242027 Faz. Sobradinho 1363
02242028 Anta 1278
0214301 3 Estevão Pinto 1233
2500
Altitude (m)
- Chuva média anual (mm)
2000
Ê
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.~o. 1500
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o 20 40 60 80 100 120 140
a) b)
Figura 5.2: a) Po,ws p lul'i o rn ,' rr iu» 110 J{J MC ali nh adm :1 1110, i111 ,1d,111 1c111 c p,-rpe11d k 11 l:1 rn1,·111,· :1 u 1,1,1 (v,du1 n i11d ic".ll ll .1 , l1u, ,1 11 1Jdi ,I _1111 1.d
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56
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
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Medição da chuva
1
A chuva é medida utilizando instrumentos chamados pluviômetros que nada mais são do que recipientes para coletar
a água precipitada com algumas dimensões padronizadas. O pluviômetro mais utilizado no BrasH tem uma forma cilíndrica
1 com uma área superior de captação da chuva de 400 cm2, de modo que um volume de 40 mi de água acumulado no pluviô-
metro corresponda a I mm de chuva. O pluviômetro é instalado a uma ahura padrão de 1,50 m do solo (figura 5.3) e a uma
cerra distância de casas, árvores e outros obstáculos que podem interferir fila quantidade ?e chuva captada.
Nos pluviômetros da rede de observação mantida pela Agência Nacional da Agua (ANA) no Brasil, a medição da
chuva é realizada uma vez por dia, sempre às 7 h, por um observador que anota o valor lido em uma caderneta. A ANA tem
uma rede de 2473 estações piuviométricas distribuídos em todo O Brasil. Afém da ANA existem outras instituições e empresas
que mantém pluviômetros, como o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), empresas de geração de energia hidrelétrica
e empresas de pesquisa agropecuária. No banco de dados da ANA (www.ana.gov.br) estão cadastradas mais de dez mil estações
pluviométricas de diversas entidades, mas pouco mais de 6000 estão em atividade atualmente (2013), de acordo com a página
da ANA na Internet.
Existem pluviômetros adaptados para realizar medições de forma automática, registrando os dados medidos em inter-
valos de tempo inferiores a um dia. Estes equipamentos são denominados pluviômetros automáticos ou pluviógrafos. Os plu-
viógrafos originalmente eram mecânicos, e utilizavam uma balança para pesar a água da chuva coletada, e um papel para regis-
trar o total precipitado de forma analógica. Estes pluviógrafos antigos, com registro analógico em papel, foram substituídos,
nos últimos anos, por pluviômetros automáticos digitais, que registram os dados em uma memória ou data logger.
Funil interior
I
Recipientede
Armazenamento
Interno
It -
-......_
\
Proveta
Graduada
E
o
IO
.:
' Registrador
Eletrônico
Cada oscilação
equivale a 0,2mm
figura 5.3: Car:icrerísticas de um pluviômerro de leirura manual Figura 5.4: Características de um pluviômetro de leirn r:1 aucom:ícic:i
baseado no mecanismo de cubas basculantes
O pluviômetro automático mais comum, atualmente, é o de cubas basculantes (fi 5 4) , lhºd
1gura . , em que a agua reco I a
é dirigida para um conjunto de duas cu bas articu 1adas por um eixo central A água é diri "d · • ·a1 d b
'd d d , . · ' ' gi a tn1C1 mente para uma as cu as
e quando esta cuba recebe uma quantJ a e e agua equivalente a 20 g aproximadame t • . d •
. . b . , ' ' n e, o conJunto gira em torno o eixo, a
cuba cheia esvazia e a cu a vazia começa a receber agua. Cada movimento das cubas b 1 . l • . ·
. J ) Ih . , ' ascu antes equ1va e a uma 1amma preo-
p1cada (por exemp o 0,2 mm , e o apare o registra o numero de movimentos e O t d .
• . a1 d l ., e .• empo em que ocorre ca a movimento.
A prmc1p vantagem o p uv10gra10, ou pluv10metro automático sobr O 1 •• d . - ,
. . . a1· d tal! d ' e P uv10metro e med1çao manual, e que o
pnmeiro permite an 1sar e 1a amente os eventos de chuva e sua variação ao lo d O dº· I , . .
. , d - , . . . ' ngo 1,\. sto e especialmente importante
em chuvas convecuvas, CUJa uraçao e curta e CUJa Intensidade é alta, e em bacias b· _ , . d
· bl Al, d' 1 ., ' ' ur ,mas, que sao as areas em que esse t1po e
chuva causa os ma.tores pro emas. em isso, o p uv10grafo eletrônico pod . Id . . _
• 'd" l e J J f: ·1· d · - e ser acop a o a um sistema de transm1ssao de
dados v1a ra 10 ou te ewne ce u ar, aci itan o a cnaçao e operação de sistenla d I d .
s e ª ena e evenros h1drolo' · t s
A Organização Mundial de Mereorologia (OMM) recomenda ue . gicos ex remo ·
• • dº d d · dº q O t
tnS rumento de medição de precipitação não
sofra incidenc1a líeta e ventos, que po em preJu tear a precisão da medição (WMO ) .• ' '
·d d p I d 1 . • ' 1994 • ldealmente o pluviometro deve
ser insca1 ad O em oca protegi o o vento. or outro a o, o p uviometro dev .
I l f: I I '
• I d º 4 º l e estar a astac o e e obstácu~os d fi t r
livre o espaço acima de um angu o e 30 a 5 em reação ao horizonre conco 0. , e orma a man e
, ,1 rme mostra augura 5.5.
51
Capftufo5
PRECIPITAÇAO
Figura 5.5: Recom endações d e instalação d e um pluviô metro co m rcb çáo à prese nça d e obstácul os
A chuva também pode ser estimada utilizando radares meteorológicos. A medição de chuva por radar está baseada na emis-
são de pulsos de radiação eletromagnética que são refletidos pelas panículas de chuva na atmosfera, e na medição da intensidade do
sinal refletido. A relação entre a intensidade do sinal enviado e recebido, denominada refletividade, é correlacionada à intensidade de
chuva que está caindo em uma região. A principal vantagem do radar é a possibilidade de fazer estimativas de taxas de precipitação em
uma grande região no entorno da antena emissora e receptora, embora existam erros consideráveis quando as estimativas são compa-
radas com dados de pluviógrafos.
No Brasil existem poucos radares instalados para uso específico em meteorologia, mas há uma tendência de aumento
deste número. O Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE) apresenta estimativas de chuva obtidas a partir de radares em algumas regiões do Brasil (http:/ /sigma.cptec.inpe.br/
radar/). Em alguns países, como os EUA, a Inglaterra e a Alemanha, já existe uma cobertura completa do território com sen-
sores de radar para estimativa de chuva.
Também é possível fazer estimativas da precipitação a partir de imagens obtidas por sensores instalados em satélites. A
temperatura do topo das nuvens, que pode ser estimada a partir de satélites, tem uma boa correlação com a precipitação. Além
disso, existem experimentos de radares a bordo de satélites que permitem aprimorar a estimaúva baseada em dados de tempe-
ratura de topo de nuvem.
( TR ), expresso em anos. O Tempo de Retorno é uma estimativa do tempo em que um evento é igualado ou superado, em
média. Por exemplo, uma chuva com intensidade equivalente ao tempo de retorno de 1O anos é igualada ou superada uma vez
a cada dez anos, em média. Esta última ressalva "em média" implica que podem, eventualmente, ocorrer duas chuvas de TR rn
anos em dois anos subsequentes. Por outro lado, também podem ocorrer períodos com mais de 1O anos sem observar-se uma
precipitação desta magnitude.
O tópico da estimativa de probabilidades e tempos de retorno associados aos eventos hidrológicos extremos é retoma-
do no capítulo 14, que trata de Hidrologia Estatística.
J'i g11 ra 5.í,: 1 0Í(-1a , d,· pn:cipilJ\~ " 111 <'d i;, J 1111 al 11 ~ J'l'g i:iu ,·111 111 111 0 d ., I\ J í.1 d .1
Cuanabara, nu Ri u dr Ja11l"Ílll rr; ,llll': Atl .c, l1l11vio 111 , 11 iu> ,b C l'H ~I - l'i111u \'I JI. , 20 12)
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GENHARIA EC/tNCIAS AMBIENTAIS
HIDROLOGIA PARA EN
Walter Co/1/schonn e
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11>., início: Oh20min ,,,,.. / a \\
V término: 1h10min \ /' -~ \
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X- f1!'\ inicio: Oh30m (n
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inicio: Oh50m!n
__/' 4 ,.._,
' .....,
V término: 2h00m1n '.....,,
.__
/í>, Inicio: 1h10mln~ e
V término: 2h10mln ~
'
Na região Norte do país destaca-se ainda o grande volume de chuva anual, como em Manaus, que tem 6 meses com
precipitação média superior a 250 mm.
BOAVISTNRR
1250 ···-
r 1300 -···-··
J250 ··-····-·-
.._
MANAUS/AM
350
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rº
r=·: ~
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• = ~------_-
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JFMAMJJASOND
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RIO DE JANEIRO/RJ
350 - - - - · - - - - - - · --
BRASILINDF
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1200-
r:-
50
1~1111111
ºJFMAMJJASOND
Figura 5.8: Vari abi lid ade sazo nal da cl1uv3
so .
FMAMJJASOND
EXEMPLO 5.1
Qual é a precipitação média na bacia da Figura 5.9? . _ . , . ,
Utilizando o método da média aritmética considera-se os pluviômetros que estão no interior da bacza. A media da chuva e
Pm = (66+50+44+40)/4 = 50 mm.
• 42mm
• 44mm
Figura 5.9: Mapa de uma bacia é:Óm as chuvas observadas em cinco pluviômetros
O método das isoietas parte de um mapa de isoietas, como o da figura 5.6, e calcula a área da bacia que corresponde
ao intervalo entre as isoietas. Assim, considera-se que a área entre as isoietas de 1200 e 1300 mm receba 1250 mm de chuva.
Em todo o resto, ele é semdhante ao método de Thiessen, descrito a seguir.
Um dos métodos mais utilizados, para calcular a chuva média em bacias é o método de Thiessen, ou do vizinho mais
próximo. Este método está baseado na hipótese que a chuva que atinge um ponto qualquer dentro de uma bacia é exatamente
igual à chuva que atinge o pluviômetro mais próximo. Assim, pelo critério de menor distância é definida a área de influência
de cada posto, e a precipitação média da bacia é calculada por uma média ponderada da precipitação nas ,íreas de influência.
Na aplicação manual do método dos polígonos de Thiessen, o primeiro passo é traçar linhas que unem os postos pluvio-
métricos mais próximos entre si. A seguir, é determinado o ponto médio em cada uma destas linhas e, a parrir desse ponto é rra-
çada uma linha perpendicular (mediatriz). A interceptação das linhas médias entre si e, com os limites da bacia, definem a área de
influência de cada um dos postos. A chuva média é uma média ponderada utilizando as ,íreas de influência como ponderador. O
método dos polígonos de Thiessen pode ser melhor compreendido através de um exemplo, como O exemplo 5.2
• 75mm
Figura 5.10: M apa da baci a com d1uvas <"m pmws plu vio111 étricos para n tin mi va de chuva média com O rntrodo de ' Jhi cssen
63
Capítulo5
PRECIPITAÇAO
EXEMPLO 5.2
Qual é a precipitação média na bacia da figura 5.1 O?
Utilizando o método dos polígonos de Thiessen o primeiro passo é traçar linhas que unem os postos pluviométricos mais
próximos. A seguir é determinado o ponto médio em cada uma destas linhas e traçada uma linha perpendicular. A interceptação das
linhas médias entre si e com os limites da bacia vão definir a área de influência de cada um dos postos. A sequência é apresentada na
próxima pdgina.
Área total= 100 km2
Área sob influência do posto com 120 mm= 15 km2
Área sob influência do posto com 70 mm = 40 km 2
Área sob influência do posto com 50 mm = 30 km2
Área sob influência do posto com 75 mm = 5 km2
Área sob influência do posto com 82 mm = 1O kni
I
•
I
• ~wm
/ ' -
.... / '
....
....
Definir a região de influência de cada posto pluviométrico e
medir a sua área.
/
---
/
/
• ;i,smrn _
1 /
1' /
~ /
Fig ura 5. 1 1: Exe m p lo de erapas para d lcu lo da chuva média em uma bacia utiliza ndo o m étodo dos polígo nos d Thiem:n
A chuva média em uma bacia hidrográfica pode ser calculada facilmenre em um computador se a bacia for dividida
em um grande número de células quadradas, como é feito quando é usado um Modelo Digital de Elevação, conforme descrito
no capítulo 3. A partir daí, é possível fazer uma estimativa de chuva para cada uma das células localizadas inrernamenre a uma
bacia, por um método de interpolação espacial, e a média dos valores de precipitação de todas as células localizadas dentro da
bacia corresponde à chuva méd ia na bacia.
Um dos métodos de interpolação mais utilizados é baseado no cálculo da média ponderada pelo inverso da disc:lncia.
Nesse método, considera-se que a chuva em um local (ponto) pode ser calculada como uma média ponderada das chuvas re-
gistradas em pluviômetros da região. A ponderação é feira de forma que os postos pluviométricos mais próximos cem um peso
maior no cálculo da média.
Considere a flgura 5.12, onde a bacia hidrográfica é aproximada por um conjunto de células quadradas, um posto
pluviométrico é ídenciflcado por um ponto azul (P) e o centro de uma célula está identificado por um ponro prero (Pm,.).
y
,,, ... __ 1
, \\
I
' \
\
/\ \
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1
'
1
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\_.,.,. 1... ,,
h gura 5. 12: ll m tr.1çfo <lo lll ( toJo Jl· i111crpola~ i o po11 dcr.i J" pdo invt"r~o Ja Ji ~t:in ci:,
65
Capftulo5
PRECIPITAÇAO
A di stância entre O posto pluviométrico (localizado em x y.) e o centro da célula (localizado em x .,y.) é calculada a
P;
ºd as coord ena d as d os pontos, de acordo com a equação abaixo:
pamr ''
dij = .J(x; - xJ 2
+ (Y; - yJ 2
(5.2)
onde dij é a di stância entre o centro da célula e o posto pluviométrico, x . e y . são as coordenadas do pluviômerro e X; e Y; são as
1 1
coordenadas do centro da célula.
Havendo ma2s de um posto pluviométrico, a precipitação média numa célula i pode ser calculada pela equação a se-
guir:
NP p
Ij;\[ci;J
j
;-J
Pm (5.4)
NC
onde Pm é a chuva média na bacia e NC é o número de células que compõe a bacia.
local no dia da amostragem; d) crescimento de vegetação ou outra obstrução próxima ao posto de observação; e) danificaçáo
do aparelho; f) problemas mecânicos no registrador gráfico; g) transcrição incorrera da planilha do observador para O compu-
tador ou banco de dados.
Erros grosseiros são erros de detecção relativamente fácil, como valores absurdos de precipitação. A detecção de erros gros-
seiros pode ser realizada analisando em gráficos ou utilizando filtros em programas de computador, como planilhas, que detectam
valores que podem ser considerados suspeitos. Esses valores podem passar por uma verificação posterior, visando sua correção.
Preenchimento de falhas
Eventualmente pode haver falha na leitura ou no arquivamento de dados pluviométricos de um posto de medição,
resulcando em falha de informação para alguns períodos. Em alguns casos, é possível fazer o preenchimento destas falhas, uti-
lizando dados de postos pluviométricos da vizinhança. Este ripo de preenchimento não substitui os dados originais, e somente
pode ser aplicado para dados em intervalo de tempo mensal ou anual.
É um método simplificado, de fácil aplicação, e normalmente utilizado para o preenchimento de séries mensais ou
anuais de precipitações.
Para exemplificar o método, considere um posto Y, que apresenta as falhas a serem preenchidas. É necessário selecionar pelo
menos três postos da vizinhança que possuam no mínimo dez anos de dados (X1 , X2 e X3 ) . Para preencher as falhas do posto Y.
adora-se a equação a seguir:
Os posros vizinhos escolhidos devem esrar numa região climática semelhante ao posro a ser pn:enchido. O preenchi-
mento efetuad.o por esta merodologia é simples e aprcsenra algumas limitações, quando cada valor é analisado isobd;rn1cnre.
Para o preenchimento de valores diários ou hor;lrios de prccipiração es ra merodologia não é rl'COlllt'rHbda, poi., os resulc:tdo..,
podem ser muíw ruins. N()rmalme111e, valores diários são de difícil prcenchimt'nlO, devido a grande variaçfo espacial e rempo-
ral da precipitação nessa escala de tempo.
Também é um méwdo simplificado, 11ue 111ilíza uma regressão lí11c:1r simples 011 múlriph para gerar infonnaçfo 110 período
com falha.
Na regres~áo linear simples, a.s precipilaçóes do posto com falhas ( f) e de um posro vizinho (X) são correlacionadas.
As estimativas d~s dois parâmer~os ~a equ_ação pndcm ~er_oh1idas graflcamcnre_ou arravc.:s do critério Je mínimos quadrados.
Para o aJusre da regrcssao Jmear s11nplcs, corrdac,ona-sc o posto com blha.s ( Y) com outro vizinho (X). A correlação
produz uma equação, cuj~s parâmetros podem ser e:1imados por mécodos como o de mínimos quadrados, ou graflcamence
através da ploragem cartesiana dos rarcs de valores(~ , Y ), rraçando-se a reta que mdhor representa os pares de pontos. Uma
vez definida a equação semelhante a apresenrada almxo, as falhas podem ser preenchidas.
67
Capltulo5
PRECIPITAÇAO
Y=a+b·X (5.6)
Por exemplo, considerando as duas séries de precipitação, uma em um posto A e outra em um posto B, localiz.1dos
suficientemente próximos para considerar que apresentam O mesmo regime pluviométrico (tabela 5.2), e considerando que
existe uma falha no posto B no mês de julho de 1981. O objetivo é estimar o valor da precipitação no posto B, com base em
uma equação de regressão linear, como a equação 5.6.
A figura 5.13 apresenta a relação entre os valores de precipitação mensal nos dois postos e uma equaç.fo de regressão
linear, obtida pelo método dos mínimos quadrados. A equação apresentada na figura permite estimar a chuva mensal em julho
de 1981 no posto B. Com base no valor P = 120 mm no posto A, e na equação Y = 5,914+0,889 ·X é possível estimar o valor
P = 112,6 mm no posto B.
Tabela 5.2: 0Jdo5 d e ch uva memal d e doi s pmto5 l'luvio rn érri cos pró, irn m p:irJ n c111r l" d e pra nchim ·n ro d e faliu,
1 1
180 , - - - - - - , -- --- -- -,--- -- - ·'1' -
1 1 1 1
1 t ! 1
100 · - - ------~---- - - ~----- - - ~- - -- -·- _.,. _______ !,_ _______ ~----·---,----- --~-- - -- , -
E I t , 1 • • • 1 1 .,,,,. !
.S : y=5,914 f 0,889-x ; : , , 1
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m 140 ·- - ------;--- - - -- ; -------~- -- - - - - : ----- -- --------~---- ---• ~ .,,,,,.- ✓-- ... _____ .. _
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"jg 120 · ----- -- -1---- -- - -·-- ------•-- --- -- • - ___ _______ ____ .,,.____ , __ •· ·
a.. 1 : : : .,,,,...,,, :
n, : ; : t .,,,,.; • : : : 1
a.. :...... / : •• ; : : 1 :
o+---------------------------,---------1►
o 20 40 60 80 100 120 140 160 180
Precipitação mensal no PostoA (mm)
Figura 5. 1J: Rd ação en tre os va lores de prccipit:iç:io no posto A e poqo ll par.1 prtTn t h i1nell11J d e f.tll1a
Na regressão linear múltipla as informações pluviométricas do posto Y são correlacionadas com as correspondentô
observações de vários postos vizinhos através de equações como a apresentada abaixo:
Método Dupla-massa
Um dos méoodos mais conhecidos para a análise de consistência dos dado · de preci pic:iç:io <: u Mécodo d:i Dupl.1-
-Massa, desenvolvido pelo Geological Survey (USA). A principal finalidade da aplicação do mt> mdo ~ idt'ncifl ar .~e ocorrc r:1111
mudanças no mmporcamenw da precípiraçáo ao longo do 1empn, ou mesmo no local de ohsen-;wão.
O Méc.odo da Dupla-Massa é baseado no pri11dpio que n ~dflco de um a qua111id:1dc acumubd:1, plo1:1d.1 ~·0111 r.1
ouua quantidade acumulada, d11ran1 e o mesmo período , deve ser uma linha reia, ~empre que :1~ qu:111ridach:s ej:1111 prop•m:io-
nais. A declívída.de da reta aju sr.;ul.a 11ebse processo represe111a cmán, a cnnsi.1111e dt proporcio11:11id,1dc.
Especifkamente, devem ser sel e iou adns os p11s1m de 11111a n:gi án, a 1111111hr para cada um deles os valo res men.,.iis (llll
anuais), e desenha1· em um gráfico Ob valorc:s ac1111111ladm cmrcbpnndtnt t.s ao pmrn a co nsistir (11:lS orJ enad:.i_s) e J e um uut ro
posw conflávd adotado como La.se de cmnp:ua çán (11a s ahs Íbbab) . l'ode-be também moditlcar o m~llldo, c 011 ,iJer:111do v:dorc:.s
médios das precipitações men sais acumuladas cm v:írins pmws da n:giáo, e plornr cs~cç val ~1rcs nu eixo Ja.s abK issa.s.
Quando não ~e observa o alinha111 e1110 dos dados begundo 11111a 11nic:t reia , IHldcm tl.'r onHriJo .1.s seguinrc.s sirn:1ç·6cs:
alterações de condições dimáricab ou condições ffsk as do lm:al, 11111da11ç1 de ulhervador, ou crrns si~rem:l ri..-...>s de leitura.
Tendo sido cons1a1ada uma in c.omi s1ência 11m dadm é ncci:sbá riu idrnciíicar o fawr c msaJor da mudanç:i Jc declivi-
dade na curva de Oupla-Mab~a . A ~eguir, é pubsívd remar corrigir os ,lados ~U bpcicos, l1):l1tdo um méwdo semelhante: ao <lc
preenchimento de falhas, mas faz.endo u~o <los dados bUbpeíws. b s.cb 111t 1odos ~lo explicado de forma mais complcra cm livros
como o de Tucci ( 1993),
69
Capítulo5
PRECIPITAÇAO
10
9
8
8
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f:'XEMPLO 5 , 3
. . · O desvio padrão da d1,uva anual no p<nm pluviQmfaic,l ,l:t ll~1•r'll S, 14 é d@298,R mm e -1 médi:\ dç 143) mm. fa1i-
f me qual o valor de precipitaçáo anual qu.t ~ lgualaJIQ ou ,u1>era1lo apenas 5 \'{.Ur~ a c:a1la 200 anoJ, em m~di~.
:-, · Consitkrando urna dis1ríl1uifáJJ nom111/, o í111rrval,1 dr 1111/orrr ,Ir d111va (ll(Tf a mMü, mmos d1uJJ v,:u, o dtivii, padrão r a
; ·in.Ídia mais duas vrus o tksvio padrão i11c/1ú 95% J01111/0f flll mrdia, r 2,5 % doJ a1101 trm pm-ipitaçlfo ínferítJr tl m&li,1 m r 1101
:: dum veus O desvio padr@, flliJUil11l-0 2,5% lrlll preripüaçtfo suprrior à mi.dia m.1í1 du,11 !lrUJ o tlr,vío padriitJ, 1J q 11( f()"a po11tÜ ri
'._ 5 anos a cada 200, rm média. As1im, a tl,u1111 anual qut l 1upllada fJU íglúl/4.da apmm 5 vru," md,1 200 ,m()t, ,111 mMi,1, I:
' . . .
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..- _P25" ':' 1433+2 29.B,8 • 2030 mm
_, .. · .. ,. . -...~.~·~· .. ,., ., . ,._.,,i._
il
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70
IHDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECJ[NCIAS AMBIENTAIS
Walter Colllschonn e
Fernando Dornelles
,11,
1 i1
;i 1
/ 1
Chuvas intensas
As chuvas intensas são as causas das cheias, e as cheias são causas de grandes prejuízos quando os rios, transbordam e
inundam casas, ruas, estradas, escolas, podendo destruir plantações, edifícios, pontes etc. e interrompendo O trafego. As cheias
também podem trazer sérios prejuízos à saúde pública ao disseminar doenças de veiculação hídrica. . ,.
Por esses motivos, existe o interesse pelo conhecimento detalhado da intensidade de chuvas no proJeto e na análtlse de
estruturas hidráulicas como bueiros, pontes, canais e vertedores. . ,
O problema da análise de frequência de chuvas máximas é calcular a precipitação P ~ue aunge uma arca A em_ ~~a
duração D com uma dada probabilidade de ocorrência em um ano qualquer. A forma de relac10nar quase todas essas vanavets
é a curva de Intensidade - Duração - Frequência (curva IDF).
A curva IDF
A curva IDF é obtida a partir da análise estatística de séries longas de dados de um pluviógrafo (mais de 15 anos, pelo
menos). A metodologia de desenvolvimento da curva IDF baseia-se na seleção das maiores chuvas de uma duração escolhida
(por exemplo 15 minutos) em cada ano da série de dados. Com base nesta série de tamanho N (número de anos) é ajustada
uma distribuição de frequências que melhor represente a distribuição dos valores observados. O procedimento é repetido para
diferentes durações de chuva (5 minutos; 10 minutos; 1 hora; 12 horas; 24 horas; 2 dias; 5 dias) e os resulcados são resumidos
na forma de um gráfico, ou equação, com a relação das três variáveis: Intensidade, Duração e Frequência de Excedência (ou
perfodo de recorrência). No Capitulo 14 (Hidrologia Estatística), o ajuste de distribuições de probabilidade de valores extre-
mos, como as chuvas intensas, é explorado com mais profundidade.
A figura 5.15 apresenta uma curva IDF obtida a partir da análise dos dados de um pluviógrafo que esteve localizado
no Parque da Redenção, em Porto Alegre, durante muitos anos. Cada uma das linhas representa um Tempo de Retorno; no
eixo horizontal estão as durações e no eixo vertical estão as intensidades. Observa-se que, quanto menor a duração, maior a
intensidade da chuva. Da mesma forma, quanto maior o Tempo de Retorno, maior a intensidade da chuva. Por exemplo, a
chuva de I hora de duração, com tempo de retorno de l O anos tem uma intensidade de, aproximadamente, 50 mm .hora· 1• Já
a chuva com a mesma duração, porém com tempo de retorno de l 00 anos, tem uma intensidade de 75 mm.hora•!_
AJém da forma gráfica, ilustrada na figura 5.15, uma curva IDF também pode ser expressa na forma de uma equação.
Uma das formas mais comuns adotadas para representar as curvas IDF são relações como a equação 5.8:
(5.8)
1
onde/ é a intensidade da chuva (mm.hora· ); a, b, e e d são parâmetros característicos da IDF de cada local; TR é O rempo de
retorno em anos; tdé a duração da precipitação em minutos.
Evidentemente, as curvas _IDF são diferentes em diferentes locais, e também em diferences períodos de tempo. Assim,
a curva IDF do Parque ~a Redença~ em _Porto 1:1:gre vale para a regiã~ próxima a essa cidade, e para O período em que foram
coletados os dados. Infelizmente, nao exmem senes de dados de pluviografos longas em rodas as cidades, assim , muitas vezes,
é necessário considerar que a curva IDF de um local é válida para uma grande região do entorno.
~ t:1bela 5.3 apresenta os parâmetros da eq~ação 5.8 para as curvas IDF de diferentes locais do Brasil, juntamente com
a fonte ongmal que descreve o processo de obrençao da curva, suas limitações e sua faixa de validade. Outras coletâneas de
equações e mécodo,s para estimativa de chuvas incensas são aprese~radas por Matos (2006) para a Bahia, Fendrich (2003), para
0 Estado do Parana, Genovez e Zuffo (2000), para o Estado de Sao Paulo por Olivei· ra et ai (2003)
' •
G •, o· · F
para 01as e isento e-
deral por Silva et ai. (2003) para o Tocantins, por Nerilo er ai. (2002) e por Back et al (2011) E d d S C ·
, . para o sta o e anca atan-
na, e por Bel eram e er al. (l 99 I) para o Rio Grande do Sul.
71
Capftu/o5
PRECIPITAÇÃO
. Algumas das curvas apresentadas na tabela 5.3 foram apresentadas por Pfaffstetter (1982), porém com uma equação
diferente da equação 5.8. Fragoso Jr. (2004) obteve os parâmetros da equação 5.8 de forma a representar as equações originais
de Pfaffstetter (1982).
275
25 o
'
22 5
'
200
',
:ê 175
~
~
e
.§.
É 1so \ ~\
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~ ~ ~ .............. .........
75
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..........
50 " ''~~
........
~ ........ ~
~ --
- --
...._
-- ........ ::::: ::::
........ ;::::: Tr = 100 anos
Tr = 50 anos
Tr = 25 anos
Tr = 10 anos
25 Tr = 5 anos
TI"" 2 anos
o
O 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110 120
Duração (min)
Em geral as curvas valem para durações de cerca de I O minutos aré de 24 horas, aproximadamente. Normalmente
esras curvas também não permitem estimar precipitações com tempo de retorno muito superior a 100 anos. De qualquer for-
ma, as equações são apresentadas aqui de forma ilustrativa. Para a aplicação em projetos recomenda-se que sejam buscadas as
fontes originais dos dados ou as referências originais das equações ajustadas.
72
Tabela 5.3: Parâmetros das cu rvas ID F na forma da equação 5.8, em diferentes cidades do Bras il (lembrando q ue /éa inten sidade da chuva- em
1
m m .h· ; fl, h, e e d são parâmet ros característ icos da IDF d e cada loca l; TR é O tempo de retorno em anos; e /ti é a duração da c huva em minu ntos)
--- ·
Localidade Parâmetros da equação 5.8
Em r.ermos práticos, para a utilízaç..10 de uma IDF é necessário informar o tempo de retorno de projeto e a duração da du1-
va. O tempo de recomo a ser utilizado é um critério relacionado com o tipo de obra de engenharia. Por exemplo, 110 projeco de um
sistema de drenagem pluvial urbano, as bocas-de-lobo são, em geral, dimensionadas para chuvas de 3 a 5 anos de período de retorno,
enquanto que o vertedor de uma grande barragem deve ser dimensionado para uma vaz.10 máxima com rempo de retorno de cencenas
ou mifüares de anos. Com relação à duraçáo da chuva, normalmente ado~a-se o critério de utilização da duraçfo da chuva igual ao
tempo de concentração da bacia hidrográfica para a qual será desenvolvido o estudo. Em alguns casos especiais, a duração d:t chuva
cambém pode seguir um critério pré-estabelecido, como por exemplo, a duração máxima de l O minutos é utilizada par:\ 0 dimensio-
namento d.e redes de micro-drenagem em Porro Alegre.
l :i hda 5.4: C huvas mais imensas j,i registradas no Mundo (adap tado J c Ward e Trirnbl c, 2003)
No Brasil, uma das chuvas mais intensas já registradas ocorreu na região de Pelaras (RS) , em 2009, com altura total de 586
mm em 24 horas e 329,25 mm em 3 horas, registrados em pluviômetros e pluviógrafos em uma área experimental da EMBRAPA
(Saldanha et al., 2012).
Chuvas de projeto
Em projetos de drenagem urbana, frequentemente é necessário calcular a vazão máxima em um determinado rio ou
córrego a partir de informações de chuvas intensas. Este assunto é aprofundado no Capítulo 18: Vazões Máximas com Base na
Chuva.
Para a estimativa de vazóes máximas a partir da chuva, são gerados cenários com eventos de chuva idealizados, deno-
minados "eventos de chuva de projeto" ou "chuvas de projeto". As curvas IDF podem ser utilizadas para gerar chuvas de pro-
jeto, a partir da obtenção de valores de precipitação em intervalos de tempo menores do que a duração total da chuva.
Por exemplo, deseja-se obter a precipitação com 20 minutos de duração e 2 an,os de tempo de retorno da cidade de
Porco Alegre, utili zando uma discretização temporal de 5 minutos. Na tabela 5.5 é apresentado esse processo usando uma
curva IDF desenvolvida a partir de dados medidos no IfH-UFRGS, para a qual os parâmetros são a= 509,86; b = O, 196;
e= 10; d= 0,72.
Tabd a 5.5: Exempl o da dc1c-m 1i11 açío da prc-cipi1a ~·:i11 em i111 crva los de 5 mi1111l os a pan ir ,Li çu1 Ya (l) F
Na primeira coluna da tabela 5.5 é apresentada a duração respectiva de cada precipitação, aré a duração total de 20
minutos. Na segunda coluna é apresentada a intensidade da precipiraçáo correspondente a cada duração. Na terceira coluna é
apresentada a altura de precipitação acumulada de c!11~va, _qu_e é o produto das duração e da i111ensidade (P"mm = f · Tempo/GO).
Finalmente, na última coluna é apresentada a prec1puaçao rncremenral a cada 5 minutos, l!llC é obtida pela diferença entre a
precipitação acumulada em intervalos subsequentes U',w11n(1)-i'awm(t-I) ).
74 ◄
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Colllschonn e
Fernando Dornelles
É interessante observar que na última coluna da tabela anterior a precipitação encontra-se desagregada, isto é, apa-
recem apenas os valores incrementais para O intervalo de tempo de 5 minutos, no entanto, distribui-se do maior para 0
menor valor, como se houvesse ocorrido uma chuva de grande intensidade no início do evento, e gradativamente a intensi-
dade foi diminuindo. Isto pode não representar O comportamento real de uma chuva. Assim, para gerar uma chuva de
projeto existem alguns procedimentos para fazer a redistribuição temporal da chuva gerada a partir de uma IDF, que são
apresentados no capítulo 18.
Leituras adicionais
Os processos de formação das nuvens e das precipitaçóes são descritos mais detalhadamente em Bertoni e Tucci
(1993). As técnicas de medição de precipitação e de instalação de postos pluviométricos são apresentadas no livro Hidrometria
Aplicada, de Santos et ai. (2001) . As chuvas intensas, e sua importância na hidrologia urbana, são analisadas com mais profun-
didade no texto de Zahed F. e Marcellini (1995) . Alguns aspecros sobre métodos de interpolação que podem ser utilizados para
dados de precipitação são descritos no livro Fundamentos de Sistemas de Informações Geográficas (Miranda, 2005). Um atlas
pluviométrico do Brasil foi preparado e é distribuído pela CPRM (Pinto et ai., 2012), com informações sobre alturas pluvio-
métricas médias antõais e sazonais e mapas de isoietas.
Exercícios
1. Qual é a diferença entre um pluviômetro e um pluviógrafo ?
2. Além do pluviômetro e do pluviógrafo, quais são as outras opçóes para medir ou estimar a precipitação?
3. Uma análise de 40 anos de dados revelou que a chuva média anual em um local é de 1.800 mm e o desvio padrão é de 350
mm. Considerando que a chuva anual neste local tem uma distribuição normal, qual é o valor de chuva anual de um ano
muito seco, com tempo de recorrência de 40 anos?
4. Considerando a curva IDF mais próxima da sua cidade, qual é a intensidade da chuva com duração de 40 minutos que cem
1% de probabilidade de ser igualada ou superada em um ano qualquer?
5. Admita que os dados do posto pluviométrico apresentados na tabela abaixo, seguem uma distribuição normal. Calcule a
chuva total anual de um ano muito úmido, com tempo de retomo de 100 anos .
1954
•
1673,3
1955 1474,3
1956 1402,8
195 7 1928,6
l ')5H 1404,5
l 'J'i'J 1025,1
1%0 1224.9
1%1 1410,6
1178,2
1392,4
918,5
1383,7
7S
Capítulos
PRECIPITAÇÃO
6. Qual é O
tempo de retorno de uma chuva de 111 mm em 2 horas co11siderando a cuiva IDF do local mais próximo da sua
cidade.
7. Qual é a diferença entre a chuva de 10 anos de tempo de retorno e 15 min.utos de duração no local mais próximo da sua ci-
dade e a maior chuva já registrada no mundo com esta duração?
8. Mostre que O cálculo de chuva média numa bacia usando o método de interpolação ponderado pelo inverso da distância se 0
expoente b for igual a zero é equivalente ao método da média aritmética.
Capítulo
A interceptação é a retenção de água da chuva antes q~e essa atinja o solo. A interceptação ocorre nas folhas da cober-
nira vegetal, em caules e ramos, no material vegetal em decomposição sobre o solo (serrapilheira), e em depressões impermeá-
veis. A água da chuva retida por interceptação fica disponível para a evaporação, e, portanto, o principal efeito da interceptação
em uma bacia é aumentar a evaporação e reduzir o escoamento.
A interceptação tem um papel importante no balanço hídrico de florestas, especialmente em regiões úmidas, com muitos
d.ias chuvosos por ano. A interceptação é, normalmente, maior em florestas do que em áreas de vegetação menos densa, como os
campos e as pastagens. Esse é um dos motivos pelos quais a evapotranspiração em áreas de floresta é, normalmente, maior do que em
áreas de campo ou pastagem.
Medição da interceptação
A interceptação de água da chuva pode ser medida coletando a chuva com alguns pluviômetros colocados sob a vege-
tação e alguns pluviômetros colocados acima, ou ao lado da vegetação, conforme mostra a figura 6.1. Adicionalmente, é neces-
sário medir a quantidade de água que atinge o so~o escoando ao longo da superfície dos caules. Para uma única árvore isso pode
ser feito instalando um coletor de água em toda a circunferência do caule, e conduzindo o fluxo de água para um recipiente.
A precipitação que é medida em terreno aberto ou acima das .copas das árvores é denominada precipitação total. A
precipitação que atinge o soOo sob a vegetação passando diretamente pelas aberturas entre as folhas e por gotas que respingam
das folhas é chamada de precipitação interna. O escoamento pelo tronco é a parte da água da chuva que é inicialmente retida
pelas copas, mas escoa pelos ramos e pelo caule e acaba atingindo o solo.
A interceptação é a parte da água retida pela vegetação que não atinge o solo nem como p.recipitação interna nem
como escoamento pelo caule.
l
78
4
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Co/Jischonn e
Fernando Dornelles
A precipitação interna tem grande variabilidade espacial, em função da cobertura, heterogênea ~~s copas das árvores.
Para que a medida da precipitação interna seja confiável é necessá[io utilizar um grande numero de pluviometros, espalhados
aleatoriamente sob a copa das árvores, e calcular a precipitação interna média (Pd) . .
O escoamento ao lon.go dos caules das plantas também é altamente variável. Ideal~~nte de~em se[ mstalad~s coletores
do escoamento do caule em várias árvores, de forma a permitir a obtenção de um valor med10 relativamente confiavel.
Obtendo valores confiáveis da precipitação total (P ), da precipitação interna (Pd) e do escoamento pelos caules (Pt),
durante um evento de chuva, a interceptação pode ser estimada por:
1 =P-Pd-Pt (6.1)
onde/ é a lâmina interceptada (mm); Pé a chuva toQal, medida fora da influência da vegetação (mm); Pd é a precipitação in-
terna média (mm); e Pté a média do escoamento pelos uoncos (mm).
Um exemplo de estimativa experimental da interceptação da precipitação por parte da vegetação é apresentada por Vieira e
Palmier (2006).
onde Se é a capacidade de interceptação da vegetação (mm); S, é a capacidade de interceptação específica, que é um padmetro
cujo valor está, aproximadamente, entre O, 1 e 0,7 (Pitman, 1989; Galdos et ai., 2012) (mm); e O fAF é O índice de área foliar.
O fndice de Área Foliar (IAF) é a relação entre a área das folhas - todas as folhas - da vegetação de uma região e a :írea
do solo. Um valor de IAF igual a 4, por exemplo, significa que cada m 2 de área de solo está coberto por uma vegetação em que
a soma das áreas das folhas individuais é de 4 m 2•
Dados obtidos na literatllra sugerem que o tem valores em torno de 1 ;1 3 para campo e pastagem, valores em rorno
de 5 a 9 para florestas, e valores de O (duranre o preparo de solo) a 6 (no mês de desenvolvimento máximo) em cultivos anuais.
A tabela 6.1 apresenta alguns valores para rípicas classes de cobertura vegetal. Estes valores devem ser utilizados apenas como
um indicativo, já que a variação em torno dos valores médios apresentados pode ser significativa.
79
Capítulo 6
INTERCEPTAÇAO DE AGUA DA CHUVA
'
Tabela 6. 1: Índice de Área Foliar (IA F) para difcrcnrcs lipos de vc{sctaç:io con fo rme Bru1saerr (2005) e Dingman (2002)
'
Tipo de cobertu ra /AFm édio
Florestas
Campos e pastagens
Culturas agrícolas anuais
Savana
E XEMPLO 6 . 1
Um evento de chuva de 15 mm e de 4 horas de duração atinge uma bacia com cobertura vegetal de florestas. Qual é
a parcela da chuva que é interceptada?
Utilizando a relação entre o índice de área foliar e o volume interceptado (equação 6.2), considerando que o valor da capa-
cidade específica de interceptação (S,) é de 0,2 mm, e considerando que o IAF da floresta é igual a 6 (ver tabela 6. 1) a capacidade de
interceptação da vegetação é calculada como:
S, = 0,2. 6 = 1,2 mm
A capacidade de interceptação é de 1,2 mm, e a chuva foi de 15 mm, portanto toda a capacidade de interceptação foi preen-
chida, e a chuva que atinge o solo é de 15-1,2 = 13,8 mm.
Leituras adicionais
Existem diversos estudos de análise da interceptação da precipitação em diferentes tipos de vegetação natural no Brasil.
Além disso, também existem alguns estudos de interceptação em áreas de floresta p lantada, como eucalipto e pinus. Um traba-
lho muito interessante que aborda tanto a medição como a modelagem matemática da interceptação, com um modelo um
pouco mais complexo que o apresentado na equação 6.2, é Medida e Modelagem da Interceptação da Chuva em uma Área
Florestada na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Minas Gerais (Vieira e Palmier, 2006) . Uma revisão sobre a importân-
cia da interceptação em diferentes biornas do Brasil foi apresentada por Giglio e Kobiyama (2013).
Exercícios
Qual é o impacto esperado do reflorestamento de uma bacia sobre a interceptação? E sobre o escoamento?
Se durante um ano ocorrem 60 eventos de chuva com mais de 2 mm, qual é o impacto da substimiçáo de flores-
tas por pastagens sobre o escoamento anual em uma bacia onde a chuva anual é de 1200 mm?
Capítulo
De uma forma geral, pode-se dizer que a água que fica sob a superfície é água subterrânea. No entanto, no estudo da
hidrologia, é usual dividir a água sob a superfície em duas partes: a água do solo e a água subterrânea. A diferença entre as duas
é que a água subterrânea ocorre em uma zona mais profunda, onde, em geral, a água ocupa completamente os poros do solo
(zona saturada), enquanto a ág~a do solo ocorre numa região mais próxima da superfície, em que, na maior parte do tempo,
os poros estão parcialmente ocupados por ar (zona não saturada). A figura 7.1 ilustra, de forma simplificada, a diferença entre
água subterrânea e água do solo. Na realidade, a divisão entre as duas zonas pode não ser tão clara como apresentado na figura,
pois acima da zona de água subterrânea o solo pode ficar saturado, em consequência da ascensão capilar, conforme descrito
adiante neste capítulo.
Tomando por base a divisão apresentada na figura 7 .1, o presente capítulo trata apenas da água na zona não saturada.
O capítulo 9 trata da água na zona saturada.
A água no solo é sujeita aos processos de infiltração, percolaçáo, ascensão capilar, evapotranspiração e redistribuição
interna. A infiltração é definida como a penetração da água no solo, a partir da superfície. A percolação pode ser definida como
o movimento descendente da água a partir da zona não saturada para a zona saturada localizada abaixo. Os processos de redis-
tribuição interna podem incluir fluxos laterais e verticais, para cima e para baixo. A ascensão capilar é um fluxo para cima, a
partir de camadas mais úmidas, pelo efeito de capilaridade do solo.
A água no solo é importante para o crescimento da vegetação, porque é do solo que as raízes das plantas retiram a água
necessária para o processo de transpiração. A quantificação do armazenamento e fluxos de água no solo também é importante
na análise de recarga dos aquíferos (reservatórios de água subterrânea).
Sob o ponto de vista da hidrologia superficial, o estudo da infiltração e da dinâmica de água no solo também é impor-
tante nas análises orientadas a quantificar a geração de escoamento superficial. A água que infiltra no solo deixa de escoar su-
perficialmente, portanto, a redução da infiltração normalmente resulta no aumento do escoamento superficial, o que pode
contribuir para aumentar a frequência e a intensidade das cheias.
Infiltração
l
Poros ocupados por ar e água
{água do solo)
Percolação
l Zona saturada
Poros ocupados por ar e água
(água subterrânea)
11gura .1; D1,·ís.10 da .igu.1 sob a supcrhcíe em .igua subr~rr,rnea e agua Jo solo
82
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
Textura do solo
A parte sólida mineral do solo é analisada do ponro de vista do diâmetro das partículas. Normalmente, as partículas
são dispostas em três classes de tamanho decrescente: areia, silte e argila.
As partículas de areia tem diâmetros na faixa entre 0,02 e 2 mm. As partículas de silte têm diâmetros entre 0,002 e
0,02 mm, e as partículas de argila tem diâmetros menores do que 0,002 mm como mostra a rabeia 7.1.
Tabe la 7.1: Classificação das p,1rrículas minerais que compóe o so lo de acordo com seu diamerro aproximado
Fi gura 7 .2: O s tipos de textu ra do solo, de acordo com a proporção de argila, areia e silte (Cauduro e Dorfman, 1990)
83
Capítulol
INFILTRAÇÃO EÁGUA NO SOLO
A textura do solo é uma informação importante do ponto de vista da hidrologia porque o comportamento da água no
solo depende do tipo de partícula que compõe o solo. A textura afe ta o armazenamento de água no solo e o movimento da água
através do solo.
(7. 1)
onde V7 é o volume to tal do solo (m 3); V5 é o volume de sólidos (m 3) e VP é o volume dos poros (m 3).
A quantidade de água que pode ser contida num solo depende da sua porosidade, que é definida como a fração volu-
métrica de vazios, ou seja, o volume de vazios dividido pelo volume total do solo, conforme mostra a equação 7.2:
a=-
vp (7.2)
VT
onde a é a porosidade do solo, que é adimensional; V7 é o volume total do solo (m 3) e Vp é o volume dos poros (m 3) .
Embora as partículas de argila sejam menores do que as partículas de areia, fazendo com que os poros nos solos argi-
losos sejam menores do que nos solos arenosos, a porosidade dos solos argilosos normalmente é maior do que a porosidade dos
solos arenosos. A porosidade de solos arenosos varia, aproximadamente, entre 37 a 50% , enquanto a porosidade de solos argi-
losos varia entre, aproximadamente, 43 a 52%.
Os valores de porosidade podem variar bastante, dependendo do tipo de vegetação, do grau de compactação, da estru-
tura do solo (resultante da combinação das partículas fi nas em agregados maiores) e da quantidade de material orgânico e vivo.
Em geral, a porosidade dos solos é maior nas camadas mais próximas da superfície.
Quando um solo tem seus poros completamente ocupados por água, diz-se que está saturado. Ao contrário, quando está
completamente seco, seus poros estão completamente ocupados por ar. A figura 7.3 ilustra, de forma simplificada, três situações
de conteúdo de água no solo: completamente seco, com os poros parcialmente ocupados por água e completamente saturado.
li
Figura ~.3: Solo em trcs situações de conteudo de agua: a) com os poros completamente secos;
b1 com os poros parcialmente ocupados por igua; e) solo saturado
Para quantificar o grau de umidade do solo ou o conteúdo de água no solo normalmente é utilizada uma relação entre
o vol ume de uma amostra de solo e o volume de água contido na amostra, como mostra a equação 7.3.
(7.3)
onde VA é o volume de água (m 3); V7 é o volume total do solo (m 3); e 0 é o conteúdo de água no solo (adimensional).
84
Na sicuação em que rodos os poros do solo estão ocupados pela água, o solo é denominado sacurado. Nesse caso, o valor
do conteúdo de água no solo é máximo, e 0 é igual a a. Portamo, o máximo conteúdo de água no solo é igual à porosidade.
Na condição de solo completamente seco, rodos os poros estariam ocupados pelo ar, e o valor de 0 seria zero. Encre-
tanto, isso raramente acontece, porque a água é fortemente atraída pelas panículas e pelos poros dos solos .
ea,cao ae um1aaae o so o
Existem vários métodos para medição ou estimativa de umidade do solo. O método mais direto é o método gravimé-
crico, que cem a desvantagem de ser destrutivo (a amostra utilizada para medida é descruída).
No método gravimécrico de medição de conteúdo de água no solo, uma amos tra de solo é coletada e pesada na con-
dição de umidade encontrada no campo. A seguir, essa amostra passa por um processo de secagem em um forno a 105 ºC por
24 horas para que toda a umidade seja retirada e a amostra é pesada novamente. A umidade do solo é calculada a partir da di-
fere nça de peso encontrada, conforme a equação 7.4:
B= Mu-Ms (7.4)
p ·Vr
onde e 0 é o conteúdo de água no solo em volume (adimensional); Mu é a massa da amostra de solo úmido (kg) ; Ms é a massa
da amostra do solo após a secagem no forno (kg); VT é o vol ume da amostra (m 3) ; e pé a massa específica da água (kg.m- 3).
Além desce método, denominado gravimécrico, existem outras formas de medir a umidade do solo, como o TDR e o
método de moderação de neucrons.
O método TDR (Time Domain Rejlectometry ou reflecromecria no domínio do tempo) está baseado na relação entre
a umidade do solo e a sua constante dielétrica. Duas placas metálicas são inseridas no solo e é medido o tempo de transmissão
de um pulso eletromagnético através do solo, entre o par de placas. A vantagem desse mérodo é que não é necessário destruir a
amostra de solo para medir a sua umidade, e o monitoramento pode ser contínuo. A desvantagem é que o método é indireto,
e é preciso calibrar uma relação entre a resposta do aparelho de medição e a umidade do solo. Exemplos de aplicações desse
mérodo podem ser encontrados nos trabalhos de Medeiros er al. (2007) e Gumiere ec al. (2006) .
O método da moderação de nêutrons está baseado na emissão de nêutrons por uma fonte radioativa inserida no solo
através de cubos de acesso. Os nêu trons sofrem espalhamenro pelos átomos de hidrogênio da água presente no solo, e alguns
deles podem ser detectados por um detector também inserido no solo por um cubo de acesso. Quanto maior a contagem de
nêutrons no detector, maior é o conteúdo de água na proximidade do equipamento (Libardi, 2012). Um exemplo de aplicação
dessa técnica é aprese ntado por Souza ec al. (2008). Uma comparação entre as várias técnicas de medida de umidade é apresen-
tada por Teixeira et al . (2005).
O solo pode ser entendido de uma forma simplificada como uma esponja, ou papel de filtro, que cem capacidade de reter
a água. Há duas forças principais que acuam no sentido de reter a água nos poros dos solos: as forças capilares e as forças de adsor-
ção. As forças capilares ocorrem como consequência da tensão superficial da água interagindo com as paredes dos poros. As forças
de adsorção estão relacionadas a cargas eletrostáticas acuando entre as partículas do solo e as moléculas de água, ou de íons presen-
tes na água, e resultam na manutenção de um filme muito fino de água sobre as partículas do solo (Libardi, 2012).
Em solos arenosos, a principal força de retenção de água nos poros está relacionada à capilaridade. Já em solos argilo-
sos, a retenção é ainda mais intensa. Isso ocorre por dois motivos. Em primeiro lugar, o efeito da capilaridade é mais intenso
do que em solos arenosos, porque o diâmetro dos poros é menor, acentuando o efeito capilar. Em segundo lugar, as partículas
de argi la normalmente tem carga elécrica, que atrai a água. Em função disso, a água tende a cobrir as partículas de argila, como
um filme (Hendriks, 2010).
As duas forças (capilar e adsorção) aruam no sentido de reter a água no solo e é praticamente impossível avaliar separadamente
cada uma delas. Assim, normalmente refere-se à força de retenção de água no solo como a força mácrica, ou potencial mácrico de um solo
(Libardi, 2012).
85
Capítulo 7
INFILTRAÇÃO EAGUA NO SOLO
Em uma amostra de solo, o potencial mátrico normalmente varia com o conteúdo de água do solo, e esta relação é,
normalmente, determinada de forma experimental (Reichen e Timm, 2012). Solos mais secos apresentam um potencial má-
trico maior (exercem maior sucção sobre a água) do que solos mais úmidos. A função que relaciona as duas variáveis é a curva
de retenção de umidade, ou curva de retenção de água no solo (figura 7.4). Para uma determinada amostra de solo, essa curva
relacio na o conteúdo de umidade do solo e o esforço (em termos de pressão) necessário para retirar a água do solo.
Como uma esponja mergulhada em um balde, o solo que é completamente imerso em água fica completamente satura-
do. Ao ser suspensa no ar, a esponja perde parte da água que escoa devido à força da gravidade. Da mesma forma, o solo rem
parte da sua umidade retirada pela ação da gravidade, atingindo uma situação denominada capacidade de campo. A partir daí, a
retirada de água do solo é mais difícil e exige a ação de uma pressão negativa (sucção). As plantas conseguem retirar água do solo
até um limite de sucção, denominado ponto de murcha permanente, a partir do qual não se recuperarão mais, mesmo se regadas.
O potencial mátrico do solo correspondente ao ponto de murcha é definido como -1500 kPa, embora esta seja uma
abordagem extremamente simplificada, já que diferentes plantas respondem de formas diferentes, e as plantas podem sofrer
com deficiência de acesso à água antes de o solo atingir o ponto de murcha permanente (Reichert e Timm, 2012).
Da mesma forma, pode-se definir arbitrariamente a capacidade de campo como o conteúdo de água no solo com um
potencial mátrico de -33 kPa (quiloPascal) (Reichen e Timm, 2012). A figura 7.4 mostra a capacidade de campo como uma
faixa que vai do potencial márrico de -10 kPa até -33 kPa (-0, 1 a -0,33 bar), e o ponto de murcha permanente como uma faixa
de -1000 aré -3000 kPa (-10 a -30 bar).
Saturação
.,.,,..-- __,,.-- Capacidade de
~ ! campo
60
Q)
E
::::l
~ 40 Ponto de murcha
O solo pode ser entendido como um reservatório de água para as plantas. O tamanho desse reservatório depende da
diferença entre o conteúdo de água na condição de capacidade de campo e na condição de ponto de murcha permanente. Após
uma chuva ou irrigação capaz de saturar o solo, a drenagem por ação da gravidade leva o solo à condição de capacidade de
campo após algumas horas ou dias (Dingman, 2002). A partir daí as plantas reriram a água do solo para manter a transpiração.
A medida que o solo vai perdendo umidade, as plantas precisam vencer um potencial márrico (sucção) cada vez maior. A dife-
rença entre o conteúdo de umidade na capacidade de campo e o conteúdo de umidade no ponto de murcha permanente é
chamada de água disponível para as plantas.
A curva de retenção de água no solo é diferente para diferentes texturas de solo, conforme mosrra a figura 7.4. Solos argilosos
rendem a ter maior conteúdo de wnidade na condição de saturação e de capacidade de campo, o que é positivo para as plantas. Mas, da
mesma forma, apresentam maior umidade no ponto de murcha. Solos excessivamente arenosos, por outro lado, já apresentam baixo
conteúdo de wnidade na condição de capacidade de campo e, por isso, rendem a rer pouca disponibilidade de água para as plantas.
86
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
h1· - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -- - - - - - --
! Excesso
h2 ·- ----------- ------
vazão 1 t
medida ♦ Material poroso L
----t
~
Área
Figura 7.5: Esquema de um experimento para analisar o escoamento em meio poroso saturado, equivalente
ao experimento de Darcy (adaptado de Hendriks, 2010)
A condutividade hidráulica K é fortemente dependente do tipo de material poroso. Assim, o valor de K para solos
arenosos é da ordem de dezenas de cm.hora-1 • Para solos siltosos, este valor cai para o ordem de alguns cm.hora-1, e, em solos
argilosos, ocorrem valores inferiores a O, 1 cm.hora-1• Portanto, em geral, os solos arenosos conduzem mais facilmente a água
87
Capítulo 7
INFILTRAÇÃO EAGUA NO SOLO
do que os solos argilosos, e a infiltração e a percolação da água no solo são mais intensas e rápidas nos solos arenosos do que
nos solos argilosos.
A equação de Darcy foi desenvolvida para fluxos de água em meios porosos saturados, e será retomada no capítulo 9,
sobre água subterrânea. Nos solos, entretanto, a situação mais comum é que o meio não esteja saturado. Nesse caso, a condu-
tividade hidráulica é uma função do conteúdo de água no solo. Além disso, a carga hidráulica deve ser expressa como uma
combinação do potencial gravitacional e potencial mátrico. A equação de Darcy com estas adaptações é, por vezes, denomina-
da equação de Darcy-Buckingham (Libardi, 2012), e está apresentada na equação 7.6 para uma situação de fluxo vertical numa
coluna de solo.
ae + aq = 0 (7.7)
ar az
resultando na versão unidimensional da equação de Richards, assim chamada em homenagem ao físico Lorenzo Adolph Ri-
chards, que a propôs em 1931:
ªat0 = ~[K(B)·
az az + 1)]
(ªf/1 (7.7)
onde 0 é o conteúdo de água no solo (adimensional); K(q) é a condutividade hidráulica em solo não saturado (m.s- 1); \j/ é o
potencial mátrico (m); zé o potencial gravitacional (ou a distância vertical) (m).
A equação de Richards permite representar o movimento da água em solo não saturado. Entretanto, essa equação é
fortemente não-linear, e tem soluções analíticas apenas em casos muito simplificados. Em geral, a equação de Richards é resol-
vida utilizando métodos numéricos, como volumes finitos ou diferenças finitas. Neste tipo de abordagem, a coluna de solo é
dividida em um certo número de camadas de alguns centímetros de espessura, e a equação é resolvida para intervalos finitos no
tempo. Uma solução desse tipo é apresentada por Mannich e Guetter (2011) , por exemplo.
O conteúdo de umidade no solo é variável ao longo do tempo e ao longo da profundidade em uma coluna de solo.
Em períodos secos, a umidade do solo é maior em profundidades maiores, e menor mais próximo da superfície. Já em períodos
úmidos e após eventos de chuva, a umidade é maior em camadas de solo mais próximas da superfície, conforme ilustra a figu-
ra 7.6.
88
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECttNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
Zona aaturada
1 lb'llrJ -.(,: l.xcmplo de perfil d< um1d.1d d> solo tm p nodos'"·" pcriodos di.1,osos Hnrnhcrgcr Ct .11., l ')118)
m
Conteúdo de umidade a
t,
t,
~
"O 12cm acima do solo
i
Q. 1
1
1 15cm Inseridos no SOio
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-----
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11gur,1 -, ~. l'alil de um1d.1dc d 11m , lo o 11g'lfJ .8: ~,, ·'" ,k 111fihr.1ç,11i ,J.,.1 ,J., o ir 11hro111c1ro
lonp) de um e·« 110 de ..hm.1 de dtltl< c.on,cnmco e c,q.icma do t uxo de ag11.1 no solo
89
Capítulal
INFILTRAÇAO EAGUA NO SOLO
A taxa de infiltração é a quantidade de água que penetra no solo ao longo do tempo. Normalmente a taxa de infiltra-
ção é expressa em unidades de mm.hora-1•
A máxima taxa de infiltração que um solo pode ter é definida como sua capacidade de infiltração. Quando a intensi-
dade da chuva é inferior à capacidade de infiltração, toda a água da chuva infiltra no solo. Quando o solo recebe a água da
chuva com uma intensidade maior do que a capacidade de infiltração, uma parte da água da chuva não consegue penetrar no
solo e fica retida na superfície, em pequenas depressões. Caso esse processo continue, e caso a superfície do solo apresente al-
guma declividade, a água retida na superfície começa a escoar, iniciando o processo de escoamento superficial.
A capacidade de infiltração de água no solo varia de acordo com a umidade do solo. Em solos secos a capacidade de
infiltração é, normalmente, bastante alta. À medida em que o solo vai ficando úmido, no entanto, a capacidade de infiltração
diminui. Esse processo pode ser medido, e pode ser representado matematicamente utilizando modelos de infiltração.
A capacidade de infiltração de água no solo pode ser estimada com o método dos anéis concêntricos (Cauduro e Dorfman,
1990). O infiltrômetro de anéis concêntricos é constituído de dois anéis concêntricos de chapa metálica, com diâmetros variando
entre 16 e 40 cm, que são cravados verticalmente no solo. ApUca-se água em ambos os cilindros, mantendo uma lâmina líquida de l
a 5 cm, sendo que no cilindro interno mede-se o volume aplicado a intervalos fixos de tempo, bem como o nível da água ao longo do
tempo. A finalidade do cilindro externo é impedir que, ao penetrar no solo, a água oriunda do cilindro interno se espalhe para os lados,
conforme ilustrado na figura 7.8.
Resultados de ensaios de capacidade de infiltração com o método dos anéis concêntricos mostram que a capacidade
de infiltração é al ta no início do processo, quando o solo encontra-se relativamente seco. Aos poucos, à medida que os poros
do solo vão sendo ocupados pela água, a capacidade de infiltração diminui, atingindo um valor aproximadamente constante,
que depende da condutividade hid ráulica do solo em condição de saturação. Em geral, a evolução da capacidade de infiltração
ao longo do tempo segue a forma do gráfico da figura 7 .9.
O processo de infiltração de água no solo pode ser representado utilizando a equação de Richards. Entretanto, a solu-
ção da equação de Richards é relativamente complexa. Por esse motivo, ao longo do tempo foram sugeridos modelos sim plifi-
cados, que representam razoavelmente bem o processo de infiltração de água no solo, e que podem servir para calcular, para
uma dada chuva, a quantidade de água que infiltra e a quantidade de água que escoa superficialmente.
Uma equação empírica que descreve o comportamento da capacidade de infiltração decrescente, que pode ser obser-
vado durante as chuvas, e que também é resultante de um ensaío com anéis concêntricos, é a equação de Horton (equação 7.9),
que recebe este nome em homenagem a Robert Elmer Horton, que a propôs (Horton, 1939):
onde f é a capacidade de infiltração num instante qualquer (mm.hora-1); ft é a capacidade de infiltração em condição de satu-
ração (mm.hora-1);.fo é a capacidade de infiltração quando o solo está seco (mm.hora-1); t é o tempo (horas); e~ é um parâ-
metro que deve ser determinado a partir de medições no campo (hora-1).
A equação 7.8 é uma função exponencial assintótica ao valor fc, conforme apresentado na figura 7.9. Em solos argi-
losos, o valor de fc é mais baixo, o que resulta em uma capacidade de infiltração menor para chuvas de duração mais longa.
90
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
70
60
- -- Argiloso
--- Arenoso
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Tempo (minutos)
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'I
O processo de infiltração idealizado por Green e Ampt é de uma frente de molharnento abrupta, que está ilustrada na
figura 7. 10. A frente de molhamento abrupta separa o solo saturado (acima) do solo relativamente seco abaixo.
Conteúdo de umidade a
ºº :
'''
'
~
L i1
(1J
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'õ ,,.
,., '
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Q.
✓-.- - 1- -r - ~ tt
O modelo de infiltração de Green e Ampt descreve o processo de avanço da frente de molhamento ao longo do tempo.
A profundidade Lda frente é relacionada ao tempo do processo de infiltração t. O solo tem uma porosidade a e um conteúdo
de umidade inicial 0.
91
Capítulo 7
INFILTRAÇÃO EAGUA NO SOLO
Considerando válido o avanço idealizado da frente abrupta de molhamento, a lâmina cocal infiltrada F pode ser rela-
cionada à profundidade da frente L pela equação 7 .1 O:
(7.1 O)
onde F(t} é a lâmina cocal infiltrada desde o início do processo (mm); L é a profundidade atingida pela frente de molhamento
(mm); a é a porosidade do solo; 0 é o conteúdo de umidade do solo no início do processo de infiluação (adimensional); e 60
é o déficit inicial de umidade do solo em relação à saturação.
A mesma frente de molhamento pode ser analisada considerando válida uma aproximação por diferenças finitas da lei
de Darcy, aplicada desde a superfície do solo até a frente de molhamento:
,1h
fi.,) = K. L1z (7.11)
onde f(t) é a taxa de infiltração (mm.hora· 1); K é a condutividade hidráulica (mm.hora· 1); llh é a diferença de potencial entre a
superfície e o solo seco imediatamente abaixo da frente de molhamento (mm); e tlz é a distância entre a superfície e a frente de
molhamento, que é igual a L (mm).
A diferença de potencial 6h inclui o potencial mátrico e o potencial gravitacional, assim pode se escrever:
(7.13)
Substituindo o valor de L na equação 7. 13 pelo valor que pode ser obtido pela equação 7.1 O, resulta a equação 7. 14:
onde 'I' é o potencial mátrico (mm);,fr,; é a taxa de infiltração (mm.hora· 1); K é a condutividade hidráulica (mm.hora· 1); F(,J é
a lâmina total infiltrada desde o início do processo (mm); e 60 é o déficit inicial de umidade do solo em relação à saturação
(adimensional).
Considerando que a taxa de infiltração ,fr,; é a derivada no tempo da lâmina total interceptada F(,J' a equação 7.14 pode ser
entendida como uma equação diferencial com uma incógnita (f):
(7. 15)
(7. 16)
onde \jl é o potencial mátrico (mm); t é o tempo (horas); K é a condutividade hidráulica (mm.hora· 1); F(,) é a lâmina cocal in-
ftluada desde o início do processo (mm); 60 é o déficit inicial de umidade do solo em relação à saturação (adimensional).
Considerando conhecidos os valores de \jl, K, te 60, a equação 7.16 pode ser resolvida iterativamente por um método
92
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Col/ischonn e
Fernando Dornelles
,L
11
~---~ L-~-----
numérico como o método de Newton. Alternativamente, pode ser usado o Solver do Excel ou um método de busca de raiz de
uma calculadora.
Encontrado o valor de F (,) a partir da equação 7. 16, o valor de Ír,Jpode ser obtido aplicando a equação 7. 14.
Idealm ente, os valores de \j/ e K deveriam ser obtidos a partir de ensaios de infiltração no local em que se deseja aplicar
o modelo de G reen e Ampr. Entretanto, isso nem sempre é possível. Alguns valores, obtidos a partir de análises de diferentes
solos nos EUA podem ser utilizados como base, e são dados na rabeia 7.2.
O valor de Ll0, que é o défici t inicial de umidade do solo em relação à saturação (adimensional), pode ser obtido pela
diferença entre o conteúdo de umidade real do solo no início do processo de infiltração (0) e a porosidade do solo (a). Consi-
dera-se que o solo nunca está completamente seco, o que sign ifica que existe um valor mínimo, e diferente de zero, para 0. Esse
valor é denomin ado conteúdo de umidade residual (0,). A diferença entre a porosidade do solo (a) e o conteúdo de umidade
residual (0,) é chamada de porosidade efetiva:
(7.17)
onde 0, é a porosidade efetiva (adimensional); a é a porosidade do solo (adimensional); e (0,) é o conteúdo de umidade resi-
dual quando o solo está seco (adimensional).
A saturação relativa, ou saturação efetiva, pode, então, ser definida pela equação 7. 18:
(7. 19)
onde S, é a saturação relativa, que é adimensional e pode ter valores entre zero (solo seco) e 1 (solo satu rado); 0, é a porosidade
efetiva (adimensional), que é um parâmetro do modelo de Green e Ampt relacionado ao tipo de solo (veja tabela 7.2); e Ll0 é
o déficit inicial de umidade do solo em relação à saturação (adimensional), que é necessário para aplicar a equação 7. 16.
A tabela 7.2 apresenta valores dos parâmetros necessários para aplicar o modelo de G reen e Ampt. Esses valores foram
obtidos a partir de ensaios em solos de vários tipos nos EUA, e foram sintetizados por Rawls et ai. (1983). A composição da
mistura de silte, argila e areia dos solos de diferences texturas pode ser verificada na figura 7.2.
Os valores apresentados na tabela 7.2 devem ser utilizados apenas como uma primeira aproximação, já que essas ca-
racterísticas apresentam alta variabilidade. O parâmetro \j/, que é o potencial mátrico abaixo da freme de molhamenco (mm),
tem valores especialmente variáveis, sendo frequentes valores que chegam a ser quatro a cinco vezes maiores ou menores do que
o valor apresentado na tabela 7.2 (Rawls et ai., 1983).
93
Capítulo 7
INFILTRAÇÃO EÁGUA NO SOLO
1 b,I 111cdi1 d,,~ p.1 • nwtro~ p,11.1. aplic I\JCl d,, me,, do d, mhlrra, J ,
Texrura
n
•• . . •• .
· mpt oh11,l1» pnr 1 .1, 1, d ,1( l'J~\, parJ oln no, l l \
.. . CondlltividaJ c hidráulica
(K) (mm.h· 1)
Arcno. a 0,437 0,417 49,5 117,8
Areí.1 Fr:anca 0,437 0,401 61,3 29,9
Frnni;o Areno,a 0,453 0,412 110, 1 10,9
Fran . 0,463 0,434 88,9 3,4
Franco Silmsa 0,501 0,486 166,8 6,5
Fr-Jnco argi lo arenosa 0,398 0,330 218,5 1,5
rranco ' rgilosa 0,464 0,309 208,8 1,0
Franco • rgilo iho .1 0,471 0,432 273,0 1,0
Argilo nren s,t 0,430 0,321 239,0 0,6
Argilo sil ro. a 0,479 0,423 292,2 0,5
Argilosa 0,475 0,385 316,3 0,3
E X EM P L 0 7 . 1
Considere um solo de textura argilo-arenosa. Calcule a capacidade de infiltração usando o modelo de Green e Ampt em
incrementos de 6 minutos até urna duração total de 2 horas. Considere que o solo encontra-se com urna saturação relativa de 25%.
As características importantes do solo de textura argilo-arenosa para a aplicação do método de Green e Ampt podem
ser obtidas da tabela 7.2.
A porosidade efetiva (8 ,) é igual a 0,321; o potencial mdtrico (\jl) é igual a 239 mm; e a condutividade hidráulica (K) é
igual a 0,6 mm,hora·1.
Iniâalmente o solo encontra-se com saturação relativa de 25%, isto é:
se=0,25
então o déficit inicial de umidade do solo em relação à saturação (adimensional) é:
onde G é uma função de F, cuja raiz estd sendo buscada. Isso pode ser feito utilizando o Solver da calculadora ou de uma planilha de
cálculo. Outra opção é utilizar um método iterativo, a partir de uma estimativa inicial, como descrito adiante.
Uma estimativa inicial que pode ser adotada é:
F'=K·t
onde F' é uma estimativa inicial do valor de F que é a raiz da equação G (P)"
94
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Col/ischonn e
Fernando Domelles
Uma segunda estimativa pode ser feita perturbando o val.or de F' com um pequeno increment.o (por exemp/.o M=0, 1 mm). A nova
estimativa Pé:
F" = F' + 0,1
16
G (F') = 0,16- 239 · 0,241/n( t + º•
239 -0,241
)- 0,06 = - 0,05978
Com esses dois resultados da fonçíio C, é possível estimar, por diferenças finitas, a derivada da. função G em relação a F nas
proximidades da. estimativa inicial F'.·
_dG
_::::::_
ô.G
_= G (F· ) - G (F') = - 0,05978 + 0,05997 = 00019
dF M F"- F' O1 '
'
Usando o método de Newton, uma nova estimativa para a raiz da fonçáo C é:
= 0,06 - 0,05997 = m
F l+I 31 49
0,0019 '
Portanto, uma nova tentativa é iniciada com F = 31,49 mm.
Essa nova tentativa resulta num novo va/.or do resto:
31,49 )
G(r ) = 31,49 - 239 -0,241/n ( l + - - - - 31,49 = 6,31
239 -0,241
e o processo continua até que o resto é suficientemente pequeno. A tabela abaixo mostra os passos até que é encontrada a solução
F = 2,67 mm. A tolerância adotada neste exemplo é de 0,005 mm.
95
Capitulo 7
INFILTRAÇÃO EÃGUA NO SOLO
l
- -
0,06
31 ,49
13,66
-0,05997
6,31
1,34
0, 16
31,59
13,76
-0,05978
6,35
1,36
31 ,49
13,66
6,68
4 6,68 0,30 6,78 0,31 3,81
5 3,81 0,06 1 3,91 0,067 2,84
6 2,84 0,0078 2,94 0,0 127 2,67
7 2,67 0,0001 2,77 0,0046 2,67
Observa-se que foram necessdrias 7 iterações até que o método convergisse. Com isso, o valor da lâmina infiltrada ao final de
0,1 horas foi encontrado (F = 2,67 mm).
O método iterativo é aplicado, então, para o segundo passo de tempo (t = 0,2 horas). Nesse caso, uma estimativa inicial pode
ser o valor de F no intervalo de tempo anterior. Assim, iniciando com F'=2,67 mm, o método converge em três a quatro iterações para
o valor F = 3,79 mm. O processo segue com o passo de tempo t=0,3 horas, e assim por diante, até completar 2 horas, conforme o
enunciado do problema.
A cada intervalo de tempo, uma vez encontrado o valor da lâmina infiltrada (F), pode ser calculada a capacidade de infil-
0.1
0,2
0,3
-
tração (f) utiliz.ando a equação 7. 13. A tabela. abaixo apresenta os resultados em todos os passos de tempo:
t (horas)
2,67
3.79
4,67
13,53
9,71
7,99
0,4 5,42 6,97
0,5 6,08 6,28
0,6 6,68 5,77
º·
0,3
7,23
7,75
5,38
5,05
0.9 8,25 4,78
1,0 8,71 4,56
1, 1 9,16 4,37
1,2 9,59 4,20
1.3 10,00 4,05
1,4 10,40 3,92
1,5 10,79 3,80
1,6 11, 16 3,69
1,7 11,52 3,60
1, 11 ,88 3,51
1,9 12,23 3,42
2.0 12,56 3,35
96
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Co/lischonn e
Fernando Domelles
A figura a seguir mostra um gráfico dos resultados da capacidade de infiltração (j) e da lâmina infiltrada (F).
16
F(mm)
f(mm/hora)
14
"e
1 ..
''
'
.
12
s
Ê!
E-
10
\\,
-'É
ji 8
\ .,
., ,,
"'.s "i" ',,
'•
l! :2 6
'êã.
~ 13
4
0-t--------------------------
o 20 60 80 100 120
Tempo (minutos)
de água armazenado numa camada de solo superficial de profundidade zc pode ser estimado pela equação 7.20:
V= f:'0-dz (7.20)
onde V é o volume armazenado por área (mm); zé a distância para baixo a partir da superfície; 0 é o conteúdo de umidade
(adimensional); e z, é a profundidade da camada de solo considerada.
Considerando um volume de controle em corno de uma camada superficial do solo (figu ra 7.12), a variação do volu-
me de água ao longo de um inrervalo de tempo (l dia, por exemplo), pode er estimada pela equação 7.21:
ó.V .
- = P+ I +Qzn-Qout-G+ A-ET (7.21)
M
onde Vé o volume de água armazenado na camada superficial do solo (mm); Pé a precipitação (mm.dia•1); J é a irrigação (mm .
dia•1); Qin e Qout são os volumes de água que escoam para dentro e para fora do volume de controle (mm.dia• 1); G é a perco-
lação (mm.dia· 1)· A é o fluxo de ascensão capilar (mm.dia· 1) e ET é o fluxo de evapotranspiraçáo (mm.dia•1).
Irrigação Precipitação
l l
--._ Transpiração
Evaporação Escoamento
superficial
Percolaçáo
Ascensão
capilar
1 1
A equação 7.20 pode ser aplicada para simular a evolução do armazenamento de água ao longo do tempo, com o
objetivo de analisar siruações de estresse hídrico (quando a transpiração das p lantas é Limitada pela baixa disponibilidade de
água no solo), o u com o objetivo de identificar necessidades de irrigação. A equação de balanço hídrico no solo também pode
ser urllizada para a estimativa da recarga de aquíferos, e para caracterizar a intensidade e a duração das secas.
Nesse caso, a equação 7.20 é aplicada de forma sequencial, com o volume armazenado no dia atual (V(,) ) serv indo para
estimar o volume no dia seguinte ( V (r+ ,; ), como mostra a equação 7.22.
Leituras adicionais
A dinâmica da água no solo é abordada de forma bastante superficial neste capítulo. Para um aprofundamento nesse
assunto sugere-se os livros Solo, Planta e Atmosfera (Reicherr e Timm, 2012) e Dinâmica de água no solo (Libardi, 2012). A
infiltração de água no solo é rema de um livro específico, de Brandão er ai. (2006). Os ensaios de laboratório e de campo des-
tinados a definir as propriedades dos solos e a sua capacidade de infiltração são descritos no livro Manual de Ensaios de Labo-
ratório e de Campo para Irrigação e Drenagem (Cauduro e Dorfman, 1990) .
Exercícios
1. Qual é o efeito esperado do pisoteamenco do solo pelo gado sobre a capacidade de infilrração?
2. Considere uma camada de solo de 1 m de profundidade cujo conteúdo de umidade é 35% na capacidade de campo e de 12%
na condição de ponto de murcha permanente. Quantos dias a umidade do solo poderia sustentar a evapotranspiração cons-
tante de 7 mm por dia de uma determinada cultura?
3. Urna. camada de solo argiloso, cuja. capa.cidade de infiltração na condição de sa.cura.ção é de 4 mm.hora- 1, está saturado e rece-
bendo chuva com intensidade de 27 mm.hora-1• Qual é o escoamento (litros por segundo) que está sendo gerado em uma área.
de 10m 2 desse solo?
4. Uàlize o modelo de Green e Ampt para calcular a capacidade de infiltração de um solo argiloso considerando intervalos de
tempo de 5 minutos, até uma duração coral de 5 horas. Considere que a sarura.çáo rela.àva inicial (S, ) é de 15%.
5. Uma medição de infücração utilizando o método dos anéis concêntricos apresentou os resultados da tabela a seguir. Utilize
esses dados para esrimar os parâmetros fc, fo e ~ da equação de Horcon.
Tempo (minutos)
o o
30
:! 40
.l 45
4 49
5 51
52
54
8 56
') 57
10 59
l5 63
o 66
25 70
Capítulo
Evapotranspiração
O retorno da água precipitada para a atmosfera, fechando o ciclo hidrológico, ocorre através do processo da evapo-
transpiraçáo.
A evaporação é imponante na engenharia pelas perdas de água que ocorrem em reservatórios e canais. A evapotranspiração, por
suava,, influencia fortemente a quantidade de água da chuva que é transformada em vazão em uma bacia hidrográfica.
Evaporação ocorre quando a água passa do estado líquido para o estado gasoso . As moléculas de água estão em cons-
tante movimento, tanto no estado líquido como gasoso. Algumas moléculas da água líquida têm energia suficiente para romper
a barreira da superfície, entrando na atmosfera, enquanto algumas moléculas de água na forma de vapor do ar retornam ao lí-
quido, fazendo o caminho inverso. Quando a quantidade de moléculas que deixam a superfície é maior do que a que recoma,
está ocorrendo a evaporação.
As moléculas de água no estado líquido estão relativamente unidas por forças de atração intermolecular. No vapor, as
moléculas estão muito mais afastadas do que na água líquida, e a força intermolecular é muito inferior. Durante o processo de
evaporação a separação média entre as moléculas aumenta muito, o que significa que é realizado trabalho em sentido contrário
ao da força intermolecular, exigindo grande quantidade de energia. A quantidade de energia que uma molécula de água líquida
precisa para romper a superfície e evaporar é chamada calor latente de evaporação, e varia com a temperatura da água, confor-
me apresentado no capítulo 2. A equação 2.3, que relaciona o calor latente de vaporização com a temperatura da água, é repe-
tida aqui como equação 8.1:
Radiação solar
A quantidade de energia solar que atinge a Terra no topo da atmosfera está na faixa das ondas curtas. Na atmosfera e
na s~perfície terrestre, a radiação solar é refleqida e sofre transformações, como apresentado no capítulo 4 .
A radiação solar que é importante para as estimativas de evapotranspiraçáo é a radiação líquida, que é a radiação de ondas
curtas absorvida pda superficie menos a radiação de ondas longas emitida pela superfkie. O cálculo da radiação líquida é descrito pela
equação 4.19.
Temperatura
A quantidade de vapor de água que o ar pode conter varia com a temperatura. AI mais quente pode comer maõs vapor,
portanto, o ar mais quente favorece a evaporação (figura 4.2).
Umidade do ar
Quanto menor a umidade do ar, mais fácil é o fluxo de vapor da superfície que está evaporando. O efeito é semelhan-
te ao da temperarura. Se o ar da atmosfera próxima à superfície estiver com umidade relativa vróxima a 100% a evaporação
diminui porque o ar já está praticamente saturado de vapor.
Velocidade do vento
O vemo é uma variável importante no processo de evaporação porque remove o ar úmido diretamente do contato da
superfície que está evaporando ou transpirando._O pro~esso de fl~xo de vapor na atmosfera próxima à superfície ocorre por
difusão, isto é, de uma r~g'.ão de alta concemraçao (umidade rela,t1v~) próxi~a à superfície para uma região de baixa concen-
tração afastada da superfic1e. Esse processo pode ocorrer ~ela propna ascensao do ar quente como pela turbulência causada
pelo vemo.
Medição de evaporação
A evaporação é medida de forma semelhante à vrecipitação, utilizando uni' dade d . 1· · na
. . s e mm para caractenzar a a111 1
evaporada ao longo de um determinado intervalo de tempo. As formas mais comuns d d.· _ _ -r qtit:
Classe A e o Evaporímetro de Piché. e me 1r a evaporaçao sao o ian
O tanq ue classe A
O tanque classe A (figura 8.1) é um recipiente metálico que tem forma dr I d' o-
fundidade de 25,5 cm. Construi'do em aço ou ,erro
e
ga 1van1zado,
, <leve ser pintado na cu
e ar Icom, um
. . 1âmetro de 121 cm
I ee pr 3
e · d o so Io. o eve permanecer com agua
• a ] 5 cm da supenfc1e
de madelía , variando enr• or5 ª0 llll\11110 e instalado numa. p ararorni
75
re , e , cm da borda supenor.
101
Capítu/08
EVAPOTRANSPIRAçAO
Sensor de nível
_Q_lJ_ ponta linimétrica
A medição de evaporação no tanque classe A é realizada diariamente, com uma régua ou ponta linimétrica instalada
dentro do tanque, sendo que são compensados os valores da precipitação do dia. Por essa razão, o tanque classe A deve ser
inscalado em estações meteorológicas em que existe um pluviômetro.
O evaporímetro de Piché
O evaporímetro de Piché é constituído por um cubo cilíndrico, de vidro, de aproximadamente 30 cm de comprimen-
to e um centímetro de diâmetro, fechado na parte superior e aberto na inferior. A extremidade inferior é tapada, depois do cubo
estar cheio com água destilada, com um disco de papel de feltro, de 3 cm de diâmetro, que deve ser previamente molhado com
água. Esse disco é fixo depois com uma mola. A seguir, o cubo é mantido no interior de um abrigo meteorológico padrão.
Em geral, as medições de evaporação do tanque classe A são consideradas mais confiáveis do que as do evaporímetro
de Piché, e o evaporímecro de Piché vem sendo cada vez menos utilizado.
Transpiração
A transpiração é a retirada da água do solo pelas raízes das plantas, o transporte da água através das plantas até as folhas
e a passagem da água para a atmosfera através dos estômatos da folha.
A cranspiraçáo é iníluencíada também pela radiação solar, pela temperatura, pela umidade relativa <lo ar e pela veloci-
dade do vento. Além disso, intervém outras variáveis, como o tipo de vegetação e o tipo de solo.
Como O processo de transpiração é a transferência da ;lg11a do solo, uma das variáveis mais importantes é a umidade
do solo. Quando o solo está úmido as plantas transpiram livremente, e a raxa de transpiração é comrolada pelas variáveis at-
mosféricas. Porém, quando o solo começa a secar o /luxo de rranspiraç.'i o começa a diminuir. As próprias plantas rêm um certo
controle ativo sobre a transpiração ao fechar ou abrir os estômatos, que são as aberturas na superficic das folhas por onde
ocorre a passagem do vapor para a atmosfera.
A taxa de transpiração de plantas individuais pode ser medida usando métodos de medição do fluxo de seiva pelo
caule, mas os valores encontrados são dif/ceis de generalizar para um conjunto maíor de plantas, devido ;\ variabilidade natural
do processo.
102
Evapotranspiração
Na maior parte das situações é difícil estimar ou medõr separadamente a transpiração e a evaporação da água ~o s~lo
e da água interceptada. Por esse mo~ivo, os dois processos são tratados como um único, que é o processo de evapotransptraçao.
Assim como a evaporação, a evapotranspiração depende dos fatores meteorológicos descritos anteriormente. Além
disso, a evapotranspiração depende da dispornibilidade de ágll!a para a evaporação e a transpiração das plantas. Quando o solo
está seco, a evapotranspiraçáo é reduzida, mesmo que todos os fatores atmosféricos favoreçam a evapotranspiração.
Para um determinado tipo de cobertura vegetal, a taxa de evapotranspiraçáo que ocorre quando há água disponível no
solo é chamada de evapotranspiraçáo potencial, enquanto a taxa que ocorre para condições reais de umidade do solo é a evapo-
transpiração real. A evapotranspiraçáo real é sempre igual ou inferior à evapotranspiração potencial.
M edição da evapotranspiração
A medição da evapotranspiraçáo é relativamente mais complicada do que a medição da evaporação. Existem dois
métodos principais de medição de evapotranspiração: os lisímetros e as medições micrometeorológicas.
Os lisímetros são depósitos ou tanques enterrados, abertos na parte superior, os quais são preenchidos com o solo e a
vegetação característicos dos quais se deseja medir a evapotranspiração (figura 8.2). O solo recebe a precipitação, e é drenado
para O fundo do aparelho onde a água é coletada e medida. O depósito é pesado diariamente, assim como a chuva e os volumes
escoados de forma superficial e que saem por orifícios no fundo do lisímetro. A evapotranspiração é calculada por balanço hí-
drico entre dois dias subsequentes de acordo com a equação 8.2, onde ti. V é a variação de volume de água (medida pelo peso);
!lt é O intervalo de tempo em que são realizadas as medições (por exemplo 1 dia); Pé a chuva (medida em um pluviômetro);
ET é a evapotranspiraçáo; 0 é o escoamento superficial (medido) e Qb é o escoamento subterrâneo (medido no fundo do
tanque).
êl.V
ET=P-Qs-Qb-- (8.2)
êl.t
Os Jisímerros são, normalmente, utilizados para estimar a evaporranspiraçáo potencial de diferences cultur.tS aorícobs.
Por esse motivo, nos períodos de falca de chuva, o solo dos lisímetros é irrigado artificialmente. t>
A medição de c.-va.potraospiraç.fo por rnérodos micromereorol6gicos envolve a medição da.~ ,-:iri:ivds vdocicb<le do vento e
unúdade relaríva do ar em aJra frt'J)ttêncía num ponro acima da vegeraç.io. Próximo à superftcie, a velocicbdt· do vemo po<lc- sc-r considl.'-
rada paralela à superlkie, o que bíg11i/k.1 ,111c o movimcmo médio na verti ,1I é 1cm. Emretamo, a turbulência do ar t'm movimenco
causa flutuações 113 vdociJa.de vcrrícil, que na ,nt,lia permanece 1cm, ma, apr 'M:ll!a 11H1111enros de fluxo ,l ~ .endeme e desci:nck·nce :ilter-
nados. Na média, esses ílums verrioi~ sál) iguais a 1em, cnrreranw, a 1111liulén ia origina J)('(IUen:ts llumaç:éx>s ela vdockbde verti .ti, que
podem ser positivas ou neg.wvas (tu').
103
Capftu/08
EVAPOTRANSPIRAÇAO
A umidade do ar, medida no mesmo ponto, também tem um valor médio (q) e uma flucuaçáo cm torno desce valor mé<lio
(q'). O valor de q' positivo significa ar com umidade ligeiramente superior à média q, enquanto o valor q' negativo signi fica umi<l:tde
Jjgc:irament.e inferior à média. Se, em um dado instante, tanto 11./ como q' são positivos, encáo ar mais úmido do que a mtclia t ci
sendo afastado da superficie, e se u/ e q' são, ao mesmo tempo, negativos, então ar mais seco do que o normal esc:í sendo cr.u.ido pJra
próximo da superficie.
De fato, esta correlação entre as variáveis umidade e velocidade vertical ocorre e pode ser medida para e tim:ir a c:v-.1-
pouanspiraçáo. São necessários, para isro, sensores de resposta muito rápida para medir a velocidade do ar e: Sll:t um id:idt·, i: um
procc:ssador opaz de integrar o produto 11/ ·r/ ao longo do tempo (Shuttlewonh, 2012; Dias er ai., 200_ ).
ET=P-Q (8.J)
onde ET é a evapoLrampiraçátJ real mé.Jia de longo prazo (111111 .:1110· 1); / 1 é a prc ipitação 111éd iJ de l1111gu pr:u.11 (111 111. a 110· 1); e
Q é a vazão média de: longo praw ua bafda da baia (mm .a110· 1).
104
E X EMPLO 8.1
Uma bacia de 800 km 2 recebe anualmente 1600 mm de chuva, e a vazão média na saída da bacia é de 18 m 3.s- 1• Qual ·
. é a evapotranspiração anual?
O primeiro passo do cdlculo é estimar a vazá.o média anual em termos de lâmina escoada. O valor de 18 m3.s- 1, escoando ao
· lfngo de 365 dias ao a_no, 24 horas por dia e 3600 segundos por hora, corresponde a 567648000 m3 por ano. Esse volume, dividido
pela drea da bacia, corresponde a uma altura de 0,7096 metros. Transformando esse valor para mm fica Q = 709,6 mm. A evapo-
trampiração pode ser calculada por balanço hídrico da bacia desprezando a variação do armazenamento na bacia:
. _E= 1600 7 709,6 = 890,4 mm. _
·- • J • • •
Equação de Thornthwaite
Uma equação muito utilizada para a estimativa da evapotranspiraçáo potencial quando se dispõe de poucos dados é a
equação de Thornthwaite. Essa equação serve para calcular a evapotranspiração em intervalo de tempo mensal, a partir de da-
dos de temperatura. .
onde E é a evapotranspiração potencial (mm.mês· 1); Té a temperacura média do mês (ºC); e a e I são coeficientes calculados
segundo as equações que seguem:
EXEMPLO 8 ,2
Calcule a evapotranspiração potencial mensal do mês de agosto de 2006 em Porco Alegre, onde as temperaturas mé-
.dias mensais são dadas na figura abaixo. Suponha que a temperatura média de secembroo de 2006 tenha sido de 16,5 ºC.
Desconsidere o fator de correção.
105
Capitu/08
EVAPOTRANSPIRAÇÃO
O primeiro passo é o cálculo do coeficiente Ia partir das temperaturas médias memais obtidas da tabela. O valor de I é 96.
A partir de 1 é possível obter a= 2, 1. Com esses coeficientes, a evapotran,piração potencial é:
ET = 16· [
}Q.165] 2' 1 ~
96 ' =49,9 mm/mes
Portanto, a evapotranspiração potencial estimada para o mê, de setembro de 2006 é de 49,9 mm/mês.
Equação de Penman-Monteith
As equações para cálculo da evapotranspiração são do tipo empírico ou de base fís ica. A principal equação de evapo-
transpíraçáo de base física é a equação de Penman-Monteit~ (equação 8.6). Essa equação pode ser obtida a partir de represen-
tações símpliflcadas do fluxo de calor latente e sensível a partir de uma superfície úmida, combinadas à equação de balanço de
energia em uma superfície. Detalhes da obtenção dessa equação podem ser encontrados em textos mais aprofundados (Bierkens
et aJ., 2008; Shuttleworrh, 2012).
A equação de Penman-Montcith, na sua forma mais gera~ é:
(e -e )
-1 · (R
L
- o)+ p A • e p . ,\'
r
d
(/
(8.G)
ET=
·Pw
onde ET (mf 1) é a caxa de evaporação da água; À (MJ.fcg· 1) é o calor latente de vaporização; li (kPa. 0 C- 1) é a taxa de variaçfo
da pressão de saturação do vapor com a temperatura do ar: RI. (MJ.m· 2.s· 1) é a radiação líq 1iida que incide na superfície (vn
equação 4.19); G (MJ.m·2.s· 1) é o /luxo de energia para o solo; p11 (kg.ni-·") é a massa específica do ar; Pw (kg.m·3) é a mass:\
específica da água; c1 (MJ.k~· 1•0 C- 1) _é o calor especíílco.do ar úmido (c, = l ,01 3.J0·1 Mj.kg· 1.oC 1); t', (kPa) é a pressão de
saturaçáo
. do vapor; ed (k.Pa) e a. pressao
• . real de vapor
. de agua_nn ar; y (kll,1. 0 C- 1) é a co nsta nte psicrométrica (y = O,066 , apro-
XJmadamence); r, (s.m·1) é a resmenc1a superficial da vcgetaçao; e r11 (s.ni- 1) é a resistência aerodinâmica.
106
à = (2,501-0,002361 · T) (8.7)
PA (8.8)
PA =3,486 · - - -
275+T
L1 = 4098-es (8.9)
(237,3 + T)2
( 17,27-T)
es = O' 6108 · e 237 ' 3+ 7 (8.1 O)
UR
e =e •-- (8.11)
d s 100
PA
r = O' 0016286 · À,- (8.12)
onde U (%) é a umidade relativa do ar; PA (kPa) é a pressão atmosférica; e T( 0 C) é a temperatura do ar a 2 m da superfície.
RHá uma analogia de parte da equação 8.6 com um circuito elétrico, em que o fluxo evaporativo é a corrente, a dife-
rença de potencial é O déficit de pressão de vapor no ar (pressão de saturação do vapor melllos pressão parcial real: e,-ed) e a
resistência é uma combinação de resistência superficial e resistência aerodinâmica. A resistência superficial é a combinação, para
0 conjunto da vegetação, da resistência estomática das folhas. Mudanças na temperatura do ar e velocidade do vento vão afecar
a resistência aerodinâmica. Mudanças na umidade do solo são enfrentadas pelas plantas com mudanças na transpiração, que
afetam a resistência estomática ou superficial.
O valor de ET, calculado pela 8.6, é convertido para as unidades de lâmina diária pela equação a seguir.
(8.13)
Por simplicidade, o fluxo de calor para o solo - termo G na equação de Penman-Monteith - pode ser considerado
nulo, principalmente quando o intervalo de tempo é relativamente grande (1 dia).
Na analogia da evapotranspiraçáo com um circuito elétrico, existem duas resistências que a "corrente" (fluxo evapora-
tivo) tem de enfrentar: resistência superficial (r ) e resistência aerodinâmica (r ). A resistência aerodinâmica representa a difi-
culdade com que a umidade, que deixa a superfície das folhas e do solo, é disp~rsada pelo meio. Na proximidade da vegetação
o ar tende a ficar mais úmido, dificultando o fluxo de evaporação. A velocidade do vento e a turbulência contribuem para re-
duzir a resistência aerodinâmica, trocando O ar úmido próximo à superfície que está fornecendo vapor, como as folhas das
plantas ou as superfícies líquidas, pelo ar seco de níveis mais elevados da atmosfera.
A resistência aerodinâmica é inversamente proporcional à altura dos obstáculos enfrentados pelo vento, porque são
esses obstáculos que geram a turbulência, e também inversamente proporcional à vd ocidade do vento. Uma estimativa da re-
sistência aerodinâmica pode ser obtida por:
r
/ [(z" -d)] ln[ 0,0123-h
=n 0,123-h ·
(ze-d)]
(8. I 4)
ª u ~ k2
onde zu (m) é a altura em que são realizadas as medições de velocidade do vento; z, (m) é a altura em que são realizadas as
medições de umic/,ade relativa do ar; r0 (s.m- 1) é a resistência aerodinâmica; u (m.s- 1) é a velocidade do vento medido na altura
z;
u
k (-) é constante de von Kárman (0,41); h (m) é altura média da cobertura vegetal .
O valor de d na equação anterior é obtido por:
d =0,67-h (8. I 5)
Esta estimativa da resistência aerodinâmica é válida quando as medições de velocidade do ar são realizadas acima do
altura média da vegetação.
As estações climatológicas normalmente dispõem de c/,ados de velocidade do vento medidas a 2 m de altura. Para
converter esses dados a uma altura de referência de l O m é utilizada a equação 8. 26:
(8 . l 6)
onde u 10(m .s•I) é a velocidade do vento a 1O m de altura; u2 (m.s· 1) é a velocidade do vento a 2 m de altura; e z 0 (m) é a rugo-
sidade da superfície.
A resistência superficial (r,) é a combinação, para o conjunto da vegetação, da res istência esrom.itica das folhas. Are-
sistência superficial representa a resistência ao fluxo de umidade do solo, através das plantas, até a atmosfera. Esta resistência é
diferente para os diversos tipos de plantas e depende de variáveis ambientais com o a umidade d o solo, a temperatura elo ar e a
radiação recebida pela planta. A maior parte das plantas exerce 11m cerco controle sobre a res istência dos es tômatos e, po rtanto,
pode controlar a resistênci a superfi cial.
A resistência esromárica das folha s depende da disponibilidad e d e :lg11a no solo. Em condições favodveis, 0 • valo res
de resistência estomática e, em consequ ência, os d e res istência superficial são mínimos.
A resistência superficial em boas condiçôes de umidade é 11111 parâmetro que pode ser estimado com base em experimentos
em lisímetros. A grama uti!i1~d.a para ~lculos de evaporranspi_ra?ão_de referên~i~ rem uma resistência superficial de 69 s. nr' quando
o solo apresenta boas cond1çoes de umidade. Florestas cem res1S1enc1as superf1c1a1s da ordem de 60 a l 00 s. m· 1 em boas conuições de
umidade do solo.
108
Durante perfodos de estiagem mais longos, a umidade do solo vai sendo retirada por evapotranspira€ao e, a medida
que o solo vai perdendo umidade, a evapotranspiraeao diminui. A reducao da evapotranspirapao nao ocorre imediatamente.
Para valores de umidade do solo entre a capacidade de campo e urn limite, que vai de 50 a 80 % da capacidade de campo, a
evapotranspirapao nao € afetada pela umidade do solo. A partir desse limite a evapotranspirapao e diminufda, atingindo o mf-
nimo - normalmente zero - no ponto de murcha permanente. Nesse ponto a resistencia superficial atinge valores altfssimos
(teoricamente deve tender ao infinito).
EXEMPLo 8.3
Utilize a equa¢o de Penman-Monteith para calcular a evapotranspira¢o did ria (em mm/dia) de uma floresta in re-
giao Sul do RS (latitude 32° S) no dia 15 de jan€iro de urn ano qualquer. Considers que nesse dia houve 6 horas de sol, que o
fluro de calor para o solo foi desprezivel, e utilize os valores das variaveis dadas na tabela que segue.
Al[ura da vegetapao
8
Velocidade do vento
1
Umidadc Relativa do ar
80%
Temperatura do ar
25C
0prin:i.ropassopuncdlcularaeuapotfar:spincpo_porPenrun-Monteith¢aestimativadeenergiadis|jonfuelpdraaeua-
p?tr?ms?ir?cdo.. Neste ca§o, en qi4e ndo existern dados medide§ de rediapdo solar, a estimdtiva de energia dispo7i{uel sera-baseade yro§
dados de insohcde.
0 .did.1f. de jdnei:o i a d.ia Julian.o nd_mero 15 (I ''i~ 15). 0 nedmero mdrimo de horas de Sol neste did depends de ldtitule
de ,local e de declin?fao. sol:r no dia_ considerado. Utiljan?do as equap5es de caphalo 4 te7yios (perceba que a equ;cdo de declinapdo
Solar Sap6e que o cdlculo do seno i feito com un anqulo dado em redianos):
a=0,4093.se#(3#.J-I,405)=0,4093.se#(3#.15-l,405)=-0,373
@f=arccos(-tan¢.tans)=l,818ffczc7
N-_2%.cos=[3,g9horas
Ardds4ds:Gpo_:ifa::8#::::enessebcal.nddetaundzcade,podeserestundepor
log
Cap,'tulo8
EVAPC)TRANSPIRACAO
once N (horas) i o mdximo ntimero de l]oms de sol; n (horas) i a insoha{do medide (6 horas, de acorde com o enunciedo de problena);
SD(M].in:2.did.1)¢andiacdonolocalcasondeexistis§eaatmosfem;Ssup(MJ.ry[2:did:I)¢andiacpequeatiflgeasaperflfieterres-
ire; as (-) i a fucdo de redidcde que atinge a siA|)erftcie em dies encobertos (quande ri = 0); e as + b§ (-) i a fu[ao de rediacdo gun
atinSe a saperfocie e'm digs sem riuuens (n = N). Serdo adotddo5 os ualores 0,25 e 0,50, respectiuaneute, Pan os Pardmetros as e bf
A ndiapdo incidente, des|>rezande o efiito de dtmorferd terrestre, ijode ser cdlcaldde pela equncdo 4.13:
24 . 3600 •dr.(cos.senq"en6+cosqmos6.sencos)
S ,, - S
„
once Sate 6 a const¢nte solar (curio valor i 1367 W.ry[2); S D i a radidcdo que seria recebide_ ri,a saperflcie ca:o q atrroifera fosse tr?ns:
paren;;-(I.ry[2 .did:1 ); 6 (radiemos) i a decliria{do solar; ap (radianos) i a himde; co §(radianos) i a dngulo do sol ao ri,ascer; e dr (-)
i o coof3ciente de excentricidnde (equncdo 4.8) dedo por:
dr -1 + 0,033 . cos
dr=,+o,o33.cos(3£.')-1+o,o33.cos(3=.15)-1,o319
e a rediapdo que atingiria a sttijerfecie, desprezando o rfeito de uniio§fera §erid (coavertende unidedes para M].ry{2 .did:1 ) :
SD--43,3M].in:2.did:1.
Usande a eqapde S sup = • S Top obt¢m-§e o Valor de radiacdo que atinge a saperflcie considemndo o
(¢+bs.#)
C/"£°de"s?;:/Bi#(„s+bs#)srop=(o,25+o,5o£)43,3=20,2„Jrm-2dJ"-I
Parte dessa radiacdo i rifetidei |ield saperfocie, o que depende do albedo de saperfecie. A radiapfro llquide de ondflf curtas
pods ser cahaldde por:
j{„c=Ssup.(1-C¥)=20,2.(1-0,13)=17,562MJ.in-2.d!.a-.
Portanto, 13% de energia inciderile i refoetide peh superfocie e 17,562 M].ry[2 .did:1 sdi ab§oruidos
Umd |iarte de energid dbsorvide |jeld superficie i nou¢meriSe emitida na forrna de radiacde de onds longas. A mdidcdo 11-
quida de onde§ longas que deixa a sapeifocie terrestre fiode ser calculate peha equn{do 4.16, oat seja:
L = f . a . cJ .a + 273 ,2if
once L (I.ry[2 .did:1 ) 6 a radidcdo liquide de ondes longas que deixd a superfocle; f (-) 4 un i;ator de correcdo, devido a cobertun de
nurvens., T (oC) i a temperatun m¢dia de ar a 2 in do solo; E (-) i a emi§§ividade de sapeiftcie; a a.ry[2 .K4 .did-1) i a constante de
Stepbdn-Bohamdn(c5-_4,903.10-3].rir2.K4.did-1).
110
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
A enriissividede de §aperfocie pods ser estimate peld equapdo 4.17, repetide aqui:
€=O,34_O,i4.]ir
nde e d¢ a pres§do |>¢rcial de Vapor de dgun no dr (kpa), uchr q'ue de|jende de unidede relativa e de tempemttra.
::::._
ed= EL = 80 . 0,611. e -2,54kpa
100 loo
a emissiuiddde de ouperflcie fica
€=O,34-0,i4.rfe=O,117
a fa,tor de correcdo de radid{de de ondat longas deuide a coberturd de naven§ if) pods ser estimedo com bd§e na equacdo a
f-0,1+0,9.#
nde N (horas) i a rndmero mdrimo po§siuel de horas de Sol em una certd data em uno certa hatitule, e n (horas) i o ntimero real de
ores de sol. SubstiSttindo os valores de n e N fica:
/-o,l+o,9.£=o,488
Assim, a e'nergia de orides tongas emitides peld ou|>erfocie fica:
R„,=/.£.cr.(r+273,2)4=0,621.0,117.4,9.10-9.(25+273,2)4=2,22o
Portanto, a saperfocze emite uno radiacao llquide de ondes longas de 2,22 M].ry[2 .did:1.
A energid llqi4ide yiti st4perfecie, desprezande o arrnazK:ndmento de calor ou o fouro de calor pdra o Solo i cdloulddd por:
RL=Rnc-Rni=T],562-2,;22:0=L5,342MJ.ir2.dia-1
ESse uabr pods ser corwendde |]araw.in:2, considerande quew i J.{] , e que 1 MJ = lot J. ASsim, a energia disponluel pan
euapotranspirapdo i:
106
R£= • 14,741 = 177,6 W . z%-2
24 . 3600
A Pre§Sdo Parcial de Vapor de dgra no ar na condicdo de saturdcdo na temperatura dads |iode ser calci4led4 pot:
es-o,611.e(
nde es i a |]ressde de saturapdo do Vapor no ar em Pascal (kpa) e T i a temperatura de ar em 0 C.
No caso de |iroblema em que a terliipemtwrd de ar i 25 °C> a pressdo de Saturacdo fica..
es=o,61l.e(Z#)=3,17frp¢
enqun:nto a |]ressdo real do uapor de dgua no dr na condicdo de ury}idede rehatiua de 80% jd f;oi calculate antes, e i de 2,54 lepd.
ill
Capitulo 8
EVAporRANsplRACAo
Portanto a deficit de pressdo em rede{do a sa,ttracdo 6 de 3,17 -2,54 que i igual a 0,63 kpa.
A mas§d especifica de ar |iode sex estirindd por (lembrando que 1000 hpa i iqual a 100kpa):
P4 _.^o,£ loo
p4 -3,486 . = 3,48 6 . =1,162&g.7"-3
2]S+T ' 2]5+2S
onde PA(kpa) i a Pressdo ¢inoifhicd; e T (°C) 6 a temperatun do ar.
O_calo.res?ecificoifearilmido.pode§erco:siderddocopstdnte:cp-_10|3].hgl.oC:1:
0 uabr de tdxa de uariecdo de pre§sdo de saturdcdo de Vapor ;an a teryiperaturd do ar (dr) oujas unided2s sdo (kpa.oC1),
1)ode Ser estinedo pot:
4098.es
A=
(237,3+ry
once e s (kpd) i a pressdo de Saturacdo de vapor de dgua no ar; e T (° C) i a te'iinperatun do ar.
Us¢ndo os valores de es ~-3,17 kpa e de T --25o C, f ica:
4098.es _ 4098.3,17
A= =0,189APcz.°c-I
t237£+iy=t237,3+25r
0 calor late`nte de ueporizacdo de dgue |iode ser estimate por:
h=(2,501-0,002361.T)
once A (M].hg]) i o calor ktterite de uaporizapdo; e T (a C) i a temperatura de dr.
Corasiderande a tem|iemtura do dr dede de 29 C, a cdlor laterite de vaporiz,acdo fica:
A=(2,5oi-o,00236i.r)=(2,501-0,00236i.25)=2,442M/.*8-1
A uabr de consta;in |isicromdrica, que depends de |ire§§de atmoifericd e dei tempertLttrti, i]ode sex esti
y=o,oo16286.Ef
A
once y (kpd.OC] ) i a constante psicrom¢tricd (y --0,066, aproximddemente); e PA (kpd) i a |Ire§§do
cdlor l¢tente de vaporhacdo.
Corisiderando os dchs do |iroble'Itnd, o valor da cotastante psieran4tricd ftcd:
y=0,0016286.#=0,0016286.#=0,06674P4.°C
Finalmente, no caso de uegetd{do indicate, que tern 8 in de dltura rri¢dia, a re§ist8ncia aerodin@mica pods ser calculedi |ior
(z"-0,67.#) (ze-0,67.fr)
0,123.fa 0,0123.fe
once zu (in) i a altun em que sdo realizdde§ as medi{6es de uelocidsde de vento; ze (in) i a alttrm e`iii!i que sdo realizdes as rnefty6e§
de unidede rehtivd de ar; rd (s.ry[]) d a resist8ricid aerodinamica; u (in.{]) i a uelocidede do unto medide ne ahara zj k (-) i
constttnte de urn Kdn'nan (0,41); e b (in) i dltura m¢dia, de cobertura vegetal.
112
Considerando que o problema diz que a velocidade do vento é medida a 1O m, e considerando que a umidade relativa do ar
é medida nessa mesma altura, a resistência aerodinâmica fica:
E, assim, a evapotranspiração pode ser calculada utilizando a equação de Penman-Monteith, primeiramente em Wm- 2,
utilizando a seguinte formulação, e considerando que a resistência superficial da vegetação é 60 s.m- 1:
E=
A+r{I+ ;:J
3 17 2 54
o 189 · (177 6-o o)+ 1162-1013 . ( , - , )
' ' ' ' 35 55
E= '
0,189 + 0,0667 · (1 + __iQ_J
35,55
portanto, o fluxo de calor Latente consome cerca de 83 % da energia disponível (148, 11177, 6).
Ao Longo de um dia, o valor de 148, 1 W m-2 corresponde a uma energia total de aproximadamente 12, 8 MJ m-2 . Conside-
rando a massa específica da água (1000 kg.m-3) e o calor Latente de vaporização, calculado antes (li = 2,442 Mjkg- 1), esse fluxo de
energia corresponde a um fluxo de água de:
1
E = 12 8 · = 5 1 · 10- 3 m · dia-'
' 1000 · 2,442 '
o que corresponde a 5,24 mm.dia-'.
Portanto, a evapotranspiração dessa floresta nesse dia foi de 5,24 mm.
Capítulos
EVAPOTRANSPIRAÇÃO
em boas condições de umidade do solo. Como resultado , é obtida uma nova versão da equação de Penman-Monreith, que
serve para estimar a evaporranspiração potenciaJ de referê ncia a partir de valores das variáveis meteorológicas de um determi-
nado locaJ (Al len et aJ. , 1998):
900
0408-(R -G) +r· - - ·u ·(e - e)
E - ' L T + 273 2 s d
(8. 17)
R - ll + y · (1 + 0,34 · uJ
onde ER é a evapotranspiraçáo potenciaJ de referência (mm.dia-1 ); u2 (m.s· 1) é a velocidade do vento a 2 m de aJtura; Ll (kPa.
°C 1) é a taxa de variação da pressão de saturação do vapor com a temperatura do ar; y (kPa.°C 1) é a constante psicrométrica
(y = 0,66, aproximadamente); T(°C) é a temperatura média do ar a 2 m do solo; RL (MJ.m· 2 .s' 1) é a radiação líquida na super-
fície; G (MJ.m· 2.s· 1) é o fluxo de energia para o solo; e, (kPa) é a pressão de saturação do vapor; e ed (kPa) é a pressão reaJ de
vapor de água no ar.
É importante lembrar que o vaJor de evaporranspiração caJcul ado pela equação acima corresponde a uma estimativa
da evaporranspiraçáo de um determinado tipo de vegetação (grama), bem suprida de água. Caso a gram a não ten ha bom su-
primento de água, a evapotranspiração será inferior ao vaJo r estimado pela equação. Além disso, ou tros tipos de vegetação,
diferentes da grama, podem ter vaJores diferentes de evapotranspiração, mesmo que estejam bem supridos de água.
(8. 18)
onde Ev é a evaporranspiraçáo de um tipo de vegetação qualquer (mm .dia•1); ER é a evapotranspiração potencial de referência
(mm.dia•1); IÇ é o coeficiente de cultivo, que é adime nsionaJ e que depende do tipo de vegetação e da fase de desenvolvimento
da planta; e K, é um coeficiente que depende das condições de umidade do solo.
Co nsiderando o vaJo r de K, = l , a equação 8.18 permite estimar a evaporranspiração potenciaJ de uma dada cultura.
Por outro lado, co nsiderando que os vaJores de K, variam de acordo co m a umidade do solo, então a estimativa Ev, caJculada
pela eq uação 8.18 pode re presentar uma estim ativa da evapo rranspiração reaJ.
soe cu IVO
VaJo res de IÇ para d ifere ntes tipos de vegetação, especiaJmente culturas agrícolas, estão disponíveis na literatura espe-
ciaJizada. O valor de fÇ varia entre vaJores inferiores a 1 até vaJores pouco superiores a 1. Alguns tipos de vegetação podem ter
evaporranspiraçáo potenciaJ superio r à da grama de referência, e, nestes casos, o valor de IÇ pode se chegar até cerca de 1,2.
A ta bela 8. 1 apresenta os vaJores do coeficiente de cu ltivo para aJgumas cul turas agrícolas e outras coberturas vegetais.
114
l .il el 8 1 v 1lorcs d> e. diuent Jc cult1,<' p ri 1lgul's t po, de vegct.1ç 10 ,iar.i .i.lgL 1P 1 cu t 1r , 1gnwlas (ad ptad( Je AI ,:1 et 11 , ')9ll;
e ,1lc Jc A n a I no r •erc se a co1 Ju;. cm qJe ,1 c.u'tur est plu 1 nentc J se 1v0I 1dd,
o A 1niua: corresponde ,is• es m1ua1 d Jesenvoh ,me"'!to Jas pl,mt.is e v v..lor Je R fina corroponde ao hnal Jo ciclo Ja cultural
O s valores de K, que podem ser utilizados na equação 8. 18 variam entre O e 1, sendo que o valo r 1 corresponde à si-
tuação em que o solo enco ntra-se co m boa dispon ibilidade de água.
E m geral, considera-se que o valo r de K, é uma fun ção da umidade do solo. Para valo res de conteúdo de umidade de
água no solo abaixo de um determin ado limite (8d) , considera-se que o valor de K, é menor do que 1. Para val ores superiores a
esse limite, o valo r de K, é igual a 1. Assim , a estimativa do valor de K, a parcir de uma estimati va do co nteúdo de umidade de
água no solo pode ser obtida da seguinte fo rma:
0-0PM
K = - - - - quan do 0 < 0d (8.20)
s 0d - 0PM
onde K, é o coefi cience de red ução da evapotranspi ração em fu nção da disponibilidade de água no solo (adimensional); 8 é o
co nteúdo de água no solo (adim ensio nal); 8 d é o conteúdo de água no solo a partir do qual a umidade do solo começa a afetar
a evapotranspiração (adimensional); e 8PM é o co meúdo de água no solo na condição do pomo de murcha (adimensional).
A fi gura 8.3 ilustra um exemplo da relação entre o valor de K, e a umidade do solo exp ressa pelas equações 8. 19 e 8.20.
115
Capítu/08
EVAPOTRANSPIRAÇÃO
1,2
1,0
0,8
::2 0,6
0,4
0,2
o,
o 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6
11gur1 )· r xut rio c't r la 10 entre l ,o fiucr rede redu~.10 d.1 e, 1p,1rr 1,pinç.10 e o ,onteudo <lc agua •10 solo
Evaporação em reservatórios
A evaporação da água de reservatórios é de especial interesse para a engenharia, pois afeta o rendimento de reservató-
rios para abastecimento, irrigação e geração de energia. Reservatórios são criados para regularizar a vazão dos rios, aumentando
a disponibilidade de água e de energia nos períodos de escassez. A criação de um reservatório, entretanto, cria uma vasta su-
perfície líquida que disponibiliza água para evaporação, o que pode ser considerado uma perda de água e de energia.
A evaporação da água em reservatórios pode ser estimada a partir de medições de tanques classe A, entretanto é neces-
sário aplicar um coeficiente de redução em relação às medições de tanque. Isso ocorre porque a água do reservatório normal-
mente está mais fria do que a água do tanque, que tem um volume pequeno e está completamente exposta à radiação solar.
Assim , para estimar a evaporação em reservatórios e lagos costuma-se considerar que esta tem um valor de aproxima-
damente 60 a 80% da evaporação medida em tanque classe A na mesma região, isto é:
Leituras adicionais
O livro C!imate and the Hydro!ogica! Cyc!e, editado pela IAHS (Bierkens et al. , 2008), apresenta detalhadamente a
forma como se obtém a equação de Penman-Monteith a partir de considerações sobre o fluxo turbulento de calor e umidade e
a partir da equação de balanço de energia em uma superfície úmida.
116
Uma boa fonte de referencia para ampliar os conhecimentos sobre o processo de evapotranspira€ao e sobre a estima-
tiva da evapotranspira€ao para diferentes tipos de vegeta€ao, especialmente os cultivos agrfcolas, 6 o fz40 J#zgiv}z.o72 472cJ D7i¢¢.-
7z¢gc Pzzpcr 73o. j6, de autoria de Richard G. Allen; Luis S. Pereira; Dirk Raes; e Martin Smith, que pode ser encontrado em
formato PDF na Internet.
Exercfcios
1. Urn rio cuja vazfro media 6 de 34 m3.s-1 foi represado por uma barragem para gerapao de energia eletrica. A area superficial do
lago criado € de 5000 hectares. Considerando que a evaporapao direta do lago corresponde a 970 mm por ano, qual e a nova
vazao media a jusante da barragem?
2. Uma bacia de 2300 km2 recebe anualmente 1600 mm de chuva, e a vazao media corresponde a 14 m3.s-I. Calcule a evapo-
transpira€ho media anual dessa bacia. Calcule o coeficiente de escoamento dessa bacia.
3. Utilize a equaGao de Penman-Monteith para calcular a evapotranspira¢o didria (em mm/dia) de uma pastagem na regiao Sul
do RS (latitude 32° S) no dia 15 de janeiro de urn ano qualquer. Considere que nesse dia houve 6 horas de sol, que o fluxo de
BEE
calor para o solo foi desprezivel, e utilize os valores das variaveis dadas na tabela que segue.
Albedo 0,21
4. Utilize os mesmos dados meteorol6gicos do exercfcio anterior e estime a evapotranspira¢ao de refefencia (considere que a
velocidade do vento foi medida a 2 in de altura).
5. A vegetapao tern urn papel importante no processo de evapotranspira¢o, exercendo algum controle sobre a quantidade de 5gua
que passa atrav€s das rai'zes, caule e folhas. Tipos diferentes de plantas atuam de forma diferente, controlando o processo de
transpirapao com malor ou menor intensidade. Entretanto, a evapotranspira¢o real de qualquer tipo de vegeta€ao normalmente
nao supera a evapotranspirapfro potencial, que es fa limitada pela disponibilidade de energia solar e pelas condi€6es da atmosfera
(umidade relativa, velocidade do vento e temperatura). Em torno da quesfro da evapotranspira¢o de uma esp€cie em particular,
o eucalipto, cultivado para produzir madeira e celulose, existe urn intenso debate. Urn antigo trabalho afirma que o consumo de
cada eucalipto em uma floresta no RS 6 de 36,6 mil litros de dgua por ano. Face urn comentalio sobre essa estimativa, conside-
rando:
a. Florestas de eucalipto sao plantadas com uma densidade de 1 planta a cada 4 m2 ate 1 planta a cada 6 m2.
b. Uma estimativa do limite superior para o valor da evapotranspira€ao potencial de qualquer tipo de vegeta€ao presente em
grande escala 6 a energia recebida no topo da atmosfera. As latitudes da regifro sul do RS estao ao sul de 300 S.
6. Utilize a equa€ao de Penman-Monteith para calcular a evapotranspiraGao dialia (em mm/dia) de uma plantasao de eucaliptos
nun local cuja latitude € 30° S, no dia 15 de junho de urn ano qualquer. Considere que nesse dia a cobertura de nuvens foi
nula (7z = IV), e que o fluxo de calor para o solo foi desprezivel.Utilize os valores das variiveis dados na tabela que segue.
117
Capitulo 8
EVAPOTRANSPIRACAO
iH
Altura da vegeta€ao
Velocidade do vento
0,15
Albcdo
16OC
Temperatura do ar
Capítulo
Água subterrânea
A água subterrânea corresponde a, aproximadamente, 30% das reservas de água doce do mundo. Desconsiderando a
água doce na forma de gelo, a água subterrânea corresponde a 99% da água doce do mundo. Seu uso é especialmente interes-
sante porque, em geral, exige menos tratamento antes do consumo do que a água superficial, em função de uma qualidade
inicial melhor. Em regiões áridas e semiáridas, a água subterrânea pode ser o único recurso disponível para consumo.
figura 9.2: l'ic-1.ômc1ros t·m um aquífero confi 11ado co m !luxo de :ígua sub re rràm·a d,· A para li
A condutividade hidráulica das rochas também depende do tipo de rocha, sendo maior em rochas sedimentares, como
o arenito, e menor em rochas ígneas ou metamó~flcas, exceto quando essas são muito fraturadas, neste caso sua condutividade
pode ser relativamente alta.
A tabela 9. 1 apresenta faixas de va lores de condutividade hidráu lica normalmente encontrados em diferentes tipos de
solos e rochas.
Talwla '). 1: Co 11d111i vid aJ l" l1idrfo lica d,· .1'~1111, 111 a1niai, p11n " ' " l' r11, lt.l\ (.i.l.tp1,1dn de \ L1_1, , 20 1O)
Ma tl"1i.1I Limirc Inferior (mm.s" 1) Limite superio r (mm.s- 1)
Kar r 10·3 103
Rod1a1 ígneas t m~ra m6rficas fra111 rad a, 10-s 10
J\rm iro 10 8 10 ·1
Rocha\ ígnea~ t mc:rani6r/icas não fra1urad.1~ 10·10 10 4
Areia 10-2 10 2
Sc:í:1.os 10 1 10 3
A rransmjssividade de um aquífero é Jeflnida como a condurividadc hidráulica Vl.OZCS a espessura do aquífêro. A5 unidades
da transmissividade hidráulica são m 2 .s· 1, o u crn 2x 1, 011 m 2.dia•1. Assim, um aquífero com conJu1iviJade de 10-4 cm.s-1, e com
uma espessura de 10 m, tem uma 1ransmissividaJe Je Jo-1 cm2_ 5- 1.
121
Capítulo 9
AGUA SUBTERRANEA
E XEMP LO 9.1
. Considere um aquífero confinado entre duas camadas impermeáveis, como mostra a figura 9.2. Dois piezômetros,
m stalados ª uma distância dL de 1000 metros mostram níveis de 42,1 (A) e 38,3 (B) metros. A espessura do aquífero (m) é de
10,5 metros, e a condutividade hidráulica é de 83,7 m.dia-1• Calcule a rransmissividade do aquífero e a vazão através do aquí-
fero, por unidade de largura, em m3.dia-1.m- 1•
Equação de continuidade
Considerando um volume de controle em um aquífero como o ilustrado na figura 9.3, a massa de ;Í~ua que entr:t 110
volume de controle menos a quantidade de água que deixa um volume de controle ao longo de um intervalo de tt' mpo Jeve ser
igual à variação da massa de água armazenada no volume de controle durante esse intervalo de tempo.
1
1
1
1 /l .f}.w\\-
p.\l 1 ►
1
1
1
,_ - - - - - - - - 1
A massa de água enrrando no volume de controle é o produrn da massa especílka e da vazio de entr;ida. A mass. 1 de.'
água saindo do volume é O produm da massa especíllca e da vazán de saída. A va riação da massa de :lgua arni:ue nada é dach
por:
(9.J)
~(pV)
ÔI
Assim, a equação da continuidade para este volume de controle é:
122
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Col/ischonn e
•
Fernanda Dornelles
(9.4)
aq =-.Ê._(v) (9.5)
ax ôt
Considerando um volume de controle tridimensional, a equação fica:
aq + aq + aq = _.Ê._(v) (9.6)
ax ay az at
E, introduzindo a equação de Darcy, a equação acima pode ser escrita como:
~(K
ax .ah)+~(K
ax ayX
. ôh)+__q_(K . ôh)=-.Ê._(v)
ay az y 8/ Z OZ
(9.7)
em que h é a pressão, ou carga hidráulica e onde Kx' JÇ e /Ç correspondem à condutividade hidráulica nas d ireções x, y e z.
respectivamente.
A equação 9.7 pode ser resolvida na sua forma completa utilizando modelos matemáticos baseados no método dos
volumes finitos, elementos finitos ou diferenças finitas (Feitosa et ai., 2008). Esses modelos podem ser aplicados par-.1 resolver
problemas de fluxo de água subterrânea complexos, envolvendo meios com características heterogêneas.
Em um aquífero ná.o-Cl)nfluado localí1.ado entre dnís poços nu canais, com recarga onstame (fàgura 9.4), a soluç:lo
® equações de movimenw d.a água 611 br erránca cm regime pcr111:1 11c111c po1(c ~er 11hdda pela aproxi mação de D upuit. A lpro-
ximaçã.o de Dupuit e.s tá baseada 113 hipórese 'l"e o fluxo é lio riwnr al e 1111ifor111e, t: ljllt: ;1 l'docidade do fluxo J prnporcio llal
ao gradieme hidráulico.
O nível d.a água h, em um pomo qualquer x, a panir do canal da esquerda, omo mmcra ;i Hgur;i 9.4, p Kk ~er c:1ku-
lado a partir da equaçáo 9.8:
hi=hz_
I
(h{-h:}-x + -w •(L - ..l·)·X (9.ll)
L K
onde h é o nível da água do aquífero livre num ponto qualquer x; /, 1 é o nível da igua COIIH:JIICC 110 .111:d da esq uerda da flgu -
ra; h2 é o nível constante no canal Iocaliz.ido 110 lado direito da flgurJ ; x é a d in:incia a p:utír do ca nal da esquerda; L é a di.s-
tância total entre os canais; w é a taxa de recarga (m.s·•}; e K é a co11du1ivíd:tuc liídd ulica (111.s· 1).
123
Copftulo 9
ÁGUA SUBTERRÃNEA
,_x
Figura ')./4 : Sirn:-,ç;in J e equilíbrio no fl uxo em 11 111 a4uifrro livre com recarga co ns1an1c
A distância d onde ocorre o máximo nível da água no aquífero pode ser escimada por:
d =-L - -K-'-..:..-~:-..L-
(h; -h;l (9.9)
2 w 2-L
A vv..áD por unidade de largura do aquífero (q) em um ponto qualquer x pode ser calculada por:
(9. 11 )
Q = q•ll
Se h, e h;/orem ipp.:iis, d ,l.eve &er iw1al a /12. E, cm rp1alq11ersimaç:i11 de h 1 e /,.! , na prnl . o x .. ,fo timo dt: ..igu.1 ê i~Ll:11 a
zero (q = O') .
ExEMl't 0 0 . 2
Dois canaü paralelos, diM.anU.'( enm: ,1 200 Ili eu ãn i111erliiµclfls pnr um a'luífno ujl coml11ti1•i4uJe hlddulia ~ J e
10-2 m.dia•l, de forma &emdhanll: à ii1113_çfo 1b figura 'J.4. O nh•el 1h .ii;ua 11m 1loíi nah r if;ual a IOm. ai ,le O niYd J-1
:água máximo no aquífero, romiderando uma ,ca ri a rnnua111e e Igual a 0.3 mm.d ia•1. E u· a recarga ti,r li:;iwl a 1,eri)?
Tómando O valor dr J{J 1 m.tli<l' 1 r m1mfomu11ulo pllm mm.dia•' rrmo.r K .. /(} mm.tlía•' .
1
A recarga w a,rrripomir a 0,3 t11m.dú .
Nrsu IÍjJ(J dr problrma I pviJ/1,.,/ , 11/n,/ar o 11/ul d11 dg11a rm q1uilq1u r pomo prw rqua,ao 9. 8:
124
......
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Colllschonn e
Fernando Dornelles
(102 _ 102). L
h 2
= 10 2
-
L
2 + 0,3 ·
10
(r -f) . =
2
L
2 10
3
100 + 0, · (100)2 = 400
eh =20m.
Ou seja, o nível da dgua mdximo no aquífero é de 20 m. já se a recarga for zero, o nlvel da água máximo I igual ao nível
da água nos canais.
A retirada de ágt0a de forma constante em um poço reduz as alturas piezométricas no entorno do local do poço, como
mostra a figura 9.5. Como coinsequênda, um fluxo de água radial se forma no aquífero, conduzindo a águ:1 para o local do
poço.
Considerando um aquífero confinado com espessura m, e um poço que penetra completamente toda a espessura do
aquífero, e consideraincfo que não há recarga significativa em torno do poço (Figura 9.5), a solução das equações de movimen-
w da água subterrânea em regime permanente resulta na equação de Theim:
Q- 2·tr·K·m•(h2 -h)
1
- 1n(;,) (9.12)
onde K é a condurivida.d.e hidráulica (m.s· 1); h 1 e h2 são alruras piezométricas distantes rc::~pectivamentt' r 1 t· , 1 Jo poço. re pec-
tívamente (m); m é a espessura do aqu/fero confinado (m); e Q é a v:izáo sendo retirad:1 do prn;o (mJ.s· 1).
A equação anterior pode ser utilizada, entre ourra.~ coisas, para estimar o reli:1ixamcnto do nível piewmécrico em
função da exrraçál, de ~gua de um poço.
Também é possível 111íli1.1r a equação 9.12 para es1imar a rondutivid:idc hiddulica do :iquífc::ro. Nl'S!ie c:tso, são insca-
la.dos dois piai>metro~ a dis1áncias r 1 c r2 de um poço. O pnçn inicia o homhe;1111cmu co111 uma vaiáo co 11sca111e Q, e as :ilturas
piezométricas h1 e h2 são moohoradas a1é i111e alinjam 11111 valor constante. Nesse momento, a condutividade hiddulka pode
ser estimada solucionando a equação 9.12, para a variável K; como nl(lma a ec1uação 9.13:
Q
K - ---,-----,--- · I n(,.)
..1. (9.13)
- m·(h2 -h,)·2•,r 'í
125
Capftu/o9
AGUA SUBTERRANEA
· 1
____I
---- --
' ,,
'' ,
,,
'- I
\ I
Aquiclude h, h, H
Aquífero
Aqulclude
1 r,
1 r,
R
ExEMPLo 9.3
Considere um poço em um aquífero confinado que penetra completamente a espessura de 25 m cio aquífero. Depois
de um longo período de bombeamento com uma vazão constante Q = 0,05 m 3 .s· 1, a redução nas alturas piewmétricts :i 50 m
e a 150 m é de 3 m e 1,2 m, respectivamente. Qual é a condutividade hidráulica?
A altura piezométrica original no aquífero niio é infonnada, e pode ser chamada de hff A redução da altura pin,omlrrim
no píez.ômetro J, localiwdo a 11111a distancia r1 é:
Da mem111 form11:
E pr1de-1e escrever:
",
1
:1
i/ Fluxo de água em regime permanente para um poço - aquífero livre
Uma solução semelhante pode ser encontrada para O fluxo de água em regime permanente para um poço ~~e :etira
água de um aquífero livre. Nesse caso, a equação a seguir descreve a relação entre a vazão do poço (Q) e as outras vanave1s:
Q = 1r · K·(h; - '1i
2
)
(9. I 4)
ln(;, J
onde K é a condutividade hidráulica (m.s- 1); h1 e h2 são alturas piezométricas distantes respectivamente r e r do poço, respec-
1 2
tivamente (m); e Q é a vazão sendo retirada do poço (m3.s-1).
A equação 9. 14 também pode ser solucionada para obter o valor de K, o que permite conhecer a propriedade do
aquífero a partir de dados de monitoramento em piezômetros.
h, H
Aquífero
R 1
~---------► 1
FigurJ 'J .6: Rer,i1nc pcrm an~nrc cm 11 m aq 11 ífrro livre rn111 11111 l'",·n rc1iran,h1 ,l)\ua u >1H a v:iL.fo , ·umt.ll\tt'
11111
A recarga de água subterrânea ocorre ~or perco~ação da água da camada superior do solo, que, norrnalmcnre, n:í o csd
saturada. Em geral, a recarga de ~m _aqu ífero nao é c~n1_uu~a, mas_depende dos evemos de chuva. Durante os períodos dl.' u is
11
chuva ou de m enos evapotranspiraçao o solo ~ca mais urn_1do, e e d'.1ra111e estes períodos que oco rre a recarga dos aquífl'ros.
A recarga de um aquífero pode sc:r emmada por di versos 111e1odos. Os mérodos mais ulilizados são baseados d k ulo
110
do balanço hídrico da camada superior do solo, na análise do hidrngrama de um rio, 0 11 na utilização de traçadores (Hcaly, 20 1O).
..J
127
Capftulo 9
AGUA SUBTERRÂNEA
Para valores médios de longo prazo, um método indireto de estimar a recarga dos aquíferos de uma bacia hidrográfica
é baseado na separação de escoamento superficial e subterrâneo nos hidrogramas observados. Esse método é apresentado no
capítulo 12.
Interação rio-aquífero
As águas superficiais e subterrâneas são parte de um único ciclo hidrológico. Sua interface, normalmente ocorre na
forma de infiltração e percolaçáo e na ocorrência de nascentes, ou fontes.
Normalmente, durante as estiagens a vazão dos rios é mantida pela descarga de aquíferos. Isso ocorre pontualmente
em alguns locais em que existe descarga do aquífero ou de forma distribuída, ao longo do curso de água, como mostra a figura
9.7 (à esquerda). Em alguns casos, quando o rio percorre regióes relativamente secas, pode ocorrer o inverso: o rio abastece o
aquífero com água, como mostrado à direita da figura 9.7.
Figura 9.7: Im eraçáo enrre um rio e o aquífero adjacente: parte superior: rio recebendo água do a<1uífero;
parte inferior: água do rio recarregando o aquífero
Considerando que toda a água, superfi cial e subterrânea, faz parte do mesmo ciclo hidrológico, fica claro que a extra-
ção d e água em poços pode ca usa r impactos sobre a disponibilidade de água superficial.
A f1gura 9.8 mostra como a presença de um poço diminui o aporte de ::ígua do aquífe ro para um rio. Na situação ela
figura 9.8a, não existe extração de água superficial e o aquífero descarrega para o rio, mantendo a vazão do rio n:i esriagc-m .
N a situação da f1gura 9.86 a extração de água do poço ocorre e influencia o flu xo de ;Ígua subrerdnl~ . Parte do füLxo
que seguiria para o rio 1:. d esviado para o poço, mas não há fluxo do rio para dentro do aquíf~·ro.
Já na situação da 11gura 9.8c a va1.áo retirada pelo poço é tão alta que, além d e modifkar o fluxo subrercineo, a extra-
ção d e água gera uma recarga ind uzida do rio para o aquífero.
128
111DROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
a)
............
Aqulfero livre
\
-- -
- -
- - -- -
Camada in rmeável
b)
\
---
Aquífero rivre
Camada in rmeável
e)
livre - -"' -
\(
\
Fi~ura 9 .S: Efeito de um poço localizad o p róximo
'
·---
Aquífero livre
J
-
-------'-----
-----·
um rio sobre a \'a1áo do rio: a) ,i tu,çâo sem poço; b) situação com um poço q u e rc<luL a dc·scarga
d o aquífero p,ra o rio: e) situaç:ío cm tiue o poço induz uma reca.rga <lo rio para o aquífero
Leituras adicionais
Para um aprofundamento no assunto de água subterrânea uma boa opção é o livro Hidrogeologia: Conceitos e Apli-
cações, publicado pela CPRM (Feitosa et ai., 2008).
Exercícios
l. Considere um poço em um aquífero confinado que penetra completamente a espessura de 25 m do aquífero. Depois de um
longo período de bombeamento com uma vazão constante Q = 0,05 m 3.s- 1, a redução nas alturas piezomécricas a 50 m e a
150 m é de 3 m e 1,2 m, respectivamente. Qual é a redução da alrura piezomécrica a 200 m do poço?
2. Considere um poço em um aqulfero livre que penetra completamente o aquífero. Antes da operação do poço a altura piezo-
mécrica é de 40 m. Depois de um longo período de bombeamento com uma vazão constante Q = 0,02 m3 .s· 1, a redução nas
alturas piezométricas a 50 m e a 150 m é de 3 m e 1,2 m, respectivamente. Qual' é a condutividade hidráulica do aquífero?
3. Dois canais paralelos, distantes entre si 500 m estão interligados por um aquífero cuja condutividade hidráulica é de 10·3
1
m.dia· • O nível da água nos dois canais é igual a 1O m. Calcule o nível da água máximo no aquífero, considerando uma re-
carga constante e igual a O, 1 mm.dia•1• E se a recarga for igual a zero?
Capítulo
Vazão é o volume de água que passa por uma determinada seção de um rio dividido por um intervalo de tempo. As-
por se-
sim, se o volume é dado em litros, e o tempo é medido em segundos, a vazão pode ser expressa em unidades de litros
segundo (m 3 .s- 1),
gundo (Ls- 1). No caso de vazão de rios, entretanto, é mais usual expressar a vazão em metros cúbicos por
1
sendo que 1 m 3 .s-1 corresponde a 1000 l.ç (litros por segundo).
A vazão de um rio é o resultado da interação entre a precipitação e a bacia, e depende das características da bacia que
influenciam a infiltração, o armazenamen to e a evapotranspiração.
O escoamento em uma bacia é, normalmente, escudado em duas partes: geração de escoamento e propagação de es-
coamento. O escoamento tem origens diferences dependendo se está ocorrendo um evento de chuva ou não.
Durante as chuvas incensas, a maior parte da vazão que passa por um rio é a água da própria chuva que não consegue
os
penetrar no solo e escoa imediatament e, atingindo os cursos d'água e aumentando a vazão. É dessa forma que são formados
cheias ou enchentes. O escoamento rápido, que ocorre em consequência direta das chuvas, é chamado de
picos de vazão e as
escoamento superficial direto (figura 10.1).
Nos períodos secos, entre a ocorrência de eventos de chuva, a vazão de um rio é mantida pelo esvaziamento lento da
como
água armazenada na bacia, especialmente da água subterrânea dos aquíferos que descarregam para os cursos de água,
mostrado no capítulo 9. Assim, o escoamento que ocorre durante as estiagens pode ser chamado de escoamento subterrâneo,
é
porque a maior parte da água está chegando ao rio via fluxo de água através do subsolo. O escoamento subterrâneo também
chamado de escoamento de base, e é analisado de forma mais aprofundada no capítulo 12 .
.
100
Escoame nto
Superficial
o
------ ------ ~----
o 10 5
Tempo (h)
figura 10.1 H i ogr11•1.1 de um rtc e >1'1C •e ,osra l ll'11 evtrto de ti u a: lt.1r IH' 11ediaume li, Jpos .1 L~L.VJ predomina o escoamento supcrhci~
direto. porem, algL.n' tempo .1pm ,1 chU\,I o e,ccumenro ,uhcerr.meo p ,sa .1 ser p1e<lo1111•1ance
lisas. O escoamento gerado dessa forma é denominado escoamento superficial, e é importante porque gera os picos de vazão
nos rios, como resposta aos eventos de chuva.
A geração do escoamento é um dos temas mais complexos da hidrologia porque a variabilidade das características da
bacia é muito grande, e porque a água pode tomar vários caminhos desde o momento em que atinge a superfície, na forma de
chuva, até o momento em que chega ao curso d'água.
Existem dois principais processos reconhecidos na formação do escoamento superficial: precipitação de intensidade
superior à capacidade de infiltração; e precipitação sobre solos saturados.
Se uma chuva com intensidade de 30 mm.h-1 atinge um solo cuja capacidade de infiltração é de 20 mm.h-1, uma
parte da chuva (10 mm.h- 1) se transforma em escoamento superficial. Este é o processo de geração de escoamento por excesso
de chuva em relação à capacidade de infi.lrração, também conhecido como processo Hortoniano, porque foi primeiramente
reconhecido por Horton (1933).
O processo Horroniano é importante em bacias urbanas, em áreas com solo modificado pela ação do homem, ou em
chuvas muito intensas, mas é raramente visto em bacias naturais durante chuvas menos intensas, onde o escoamento superficial
é quase que totalmente originado pela parcela da precipitação que atinge zonas de solo saturado.
Solos saturados são normalmente encontrados próximos à rede de drenagem, onde o nível do lençol freático está mais
próximo da superfície. A hipótese que o escoamento é gerado apenas a partir da chuva que atinge as áreas saturadas é conheci-
11 da como hipótese de área de contribuição parcial, e tem suas origens nos trabalhos de Dunne e Black ( 1970) e Betson (1964).
Por esse motivo, o processo de geração de escoamento apenas em áreas de solo saturado, que podem se expandir e se contrair
ao longo do tempo, é, por vezes, chamado de processo Dunniano, em oposição ao processo Hortoniano.
Em hidrologia a parcela da chuva que se transforma em escoamenro superficial é chamada de chuva efetiva, ou preci-
pitação efetiva. Existem vários métodos para estimar a chuva efetiva durante um evento. Neste capítulo são apresentados dois
métodos. O primeiro está baseado no cálculo da infiltração de água no solo usando a abordagem de Green e Ampt, descrita no
capítulo 7. O segundo é o método conhecido como SCS, porque foi desenvolvido pelo Serviço de Conservação do Solo (Soil
Conservation Service) dos Estados Unidos.
Chuva efetiva com método de Green e Ampt para chuva de intensidade constante
Mein e Larson (1973) mostraram como a equação de Green e Ampt pode ser utilizada para estimar a infiltração e a
chuva efetiva durante um evento de chuva com intensidade constante.
Durante uma chuva de longa duração, com intensidade constante, duas situações podem ocorrer, dependendo dos
valores relativos da intensidade da chuva (z) e da condutividade hidráulica saturada do solo (K'J.
A situação 1 ocorre quando i < K esse caso a camada superficial do solo não se satura ao longo da duração da chuva,
porque a água é conduzida para camadas inferiores do solo mais rapidamente do que é introduzida no solo pela infiltração. Nessa si-
tuação a chuva efetiva é nu.la.
131
Capítulo 10
GERAÇÃO DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL
A situação 2 ocorre quando i > K Nesse caso, a água da chuva inicialmente infiltra, porque a intensidade é inferior à
capacidade de infiltração. Entretanto, a capacidade de infiltração vai diminuindo com o tempo, à medida que o solo vai se
umedecendo. Em algum momento a capacidade de infiltração acaba ficando igual à intensidade da chuva. A partir desse mo-
mento, a capacidade de infiltração passa a ser menor do que a intensidade da chuva, e a água começa a se acumular na super-
fície do solo.
Considerando uma chuva de intensidade constante e superior à condutividade hidráulica saturada, e considerando
válida a equação de Green e Ampc para a capacidade de infiltração, inicialmente toda a chuva infiltra no solo. À medida que a
chuva continua, haverá algum momento em que a intensidade da chuva é igual à capacidade de infiltração. Nesse instante, a
água deve começar a acumular na superfície, formando poças. O intervalo de tempo desde o início da chuva até que a água
comece a se acumular na superfície é denominado tempo de empoçamento. Nesse instante (t = tp ) , a camada mais superficial
do solo é considerada saturada. Se a chuva continuar com a mesma intensidade, a água começa a se acumular na superfície e
pode iniciar a formação do escoamento superficial.
O tempo de empoçamento para uma chuva de intensidade constante (i) pode ser calculado a partir da equação 7.13,
reescrita aqui de uma forma ligeiramente modificada:
(10 .1)
1 1
onde \j/ é o potencial mátrico (mm);Í(,; é a capacidade de infiltração (mm.hora- ); K é a condutividade hidráulica (mm.hora- );
F (,) é a lâmina cocal infiltrada desde o início da chuva (mm); e ~0 é o déficit inicial de umidade do solo em
relação à saturação
(adimensional).
Até o tempo de empoçamento ( tp ) roda a água da chuva infiltra, o que significa que a lâmina de chuva coral infiltrada
até esse instante pode ser calculada por:
Fp = i ·t p (10 .2)
onde FP é a lâmina cocal infiltrada desde o início da chuva até o início da acumulação de água na superfície (mm); i é a inten-
sidade da chuva (mm.hora-1) ; tp é o tempo de empoçamenco (horas).
No instante t = tp a intensidade da chuva é igual à capacidade de infiltração. Por esse motivo, a equação 10.1 pode ser rees-
crita como:
i =K -(~. t10 +
l · tP
1] (10.3)
1
onde \j/ é o potencial mátrico (mm) ; i é a intensidade da chuva (mm .hora- ); K é a condutividade hidráulica (mm.hora- ); tp é
1
o tempo de empoçamento (horas); e ~0 é o déficit inicial de umidade do solo em relação à saturação (adimensional).
Reorganizando a equação 10.3 pode-se chegar a uma expressão para estimar o tempo de empoçamento (Chow er ai., 1988):
K•f// •'10
t =----- (10.4)
p i · (i - K)
1
onde \j/ é o potencial mácrico (mm); i é a intensidade da chuva (mm.hora- ) ; K é a condutividade hidráulica (mm.hora- ) ; tp é
1
o tempo de empoçamento (horas); ~0 é o déficit inicial de umidade do solo em relação à saturação (adimensional) .
Uma vez encontrado o valor do tempo de empoçamenco, usando a equação 10.4, a equação 10.2 pode ser utilizada
para estimar a infiltração acumulada até o instante tp.
Considerando que a chuva continua após o tempo de empoçamento (tp ) , uma equação similar à equação 7.15 pode
ser aplicada para estimar a infilrração acumulada. Entretanto, para isso é necessário considerar que a lâmina acumulada no
tempo tp é inferior à lamina acumulada potencial. lsco é, a lâmina infiltrada durante uma chuva de intensidade constante (FP)
132
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNC/AS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
é inferior à lâmina potencialmente infiltrada de acordo com a capacidade de infiltração, dada pela equação 7. 15, para o mesmo
tempo.
Uma fo rma de resolve r o problema é imaginar um tempo t , desde o início da chuva, que corresponde ao tempo em
0
que deveria ter sido iniciado um processo de infil tração segundo a equação 7. 15, para que a lâmina infiltrada acumulada no
tempo tp seja exatamente igual à lâm ina in filtrada acumulada para uma chuva de intensidade i. Assim, a aplicação da equação
7. 15 resultaria em : ( F J
F -lj/·110/n 1+ P =K ·(tP-t0) (1 0.5)
p lj/ ·110
onde \j/ é o potencial mátrico (mm); K é a condu tividade h idráulica (mm.hora- 1); FP é a lâmina to tal infiltrada no tempo de
empoçamento (mm); tp é o tempo de empoçamento (horas); t é o tempo fictício em que deveria ter sido iniciado o processo
0
de infiltração seguindo a curva de capacidade de infiltração para que a infil tração acum ulada fosse igual a FP; e L-.0 é o déficit
inicial de umidade do solo em relação à satu ração (adimensional) .
A partir do tempo de empoçamento, a lâmin a infiltrada acumulada pode ser calculada usando a equação 7. 15, porém,
modificada pela transfo rmação do tempo, conforme mostra a eq uação 10.6:
(10.6)
\j/ é o potencial má trico (mm); t é o tem po (horas); K é a co ndutividade hidráulica (m m.hora- 1); F(,) é a lâmina to tal infil trada
desde o in ício do processo (m m); L-.0 é o défici t inicial de umidade do solo em relação à saturação (adimensional).
11; As equações 10.5 e 10.6 podem ser combinadas dando origem à equação 1O. 7 (Chow et al. , 1988):
F,( ) -
I
F - lf/ · 110 I n( lf/ . f.. e+ F'r_,)]
p lj/. f..0 + F p
=K · (t - t p
)
(10.7)
onde \j/ é o potencial mátrico (mm); K é a co ndutividade hid ráulica (mm.hora-1); FP é a lâmina to tal infiltrada no tempo de
empoçamento (mm); t é o te mpo de empoçamenro (horas); t é o tempo desde o início da chuva; .t-.0 é o défi ci t inicial de
umidade do solo em refação à saturação (adi mensional) ; e F (,) é a lâm ina infiltrada acumulada desde o início da chuva (mm).
De forma similar à equação 7. 15, a equação 10.7 pode ser resolvida usando um método iterativo, como o método de
Newton. Uma vez encon trado o valor da infiltração acumulada (F(,;)' a ch uva efetiva pode ser estimada por:
Q (,) = i ·t - F (,) (10.8)
onde 0,J é a ch uva efetiva (mm); i é imensidade da chuva constante (mm .hora-1); t é o tempo de duração da chuva (horas); e
Fr,l a lâmi na de água infil trada acu mulada calculada pela equação 10.7 (mm).
E XEMPL0 10.1
Qual é o tempo de empoçamenro e a ch uva efetiva originada durante um evento de chuva de intensidade i = 20
mm.hora- 1, sob re um solo de textura argila-arenosa? Considere que a chuva tem uma duração to tal de 2 horas e que o solo
enco ntra-se inicialmente com uma saturação relati va de 25% .
As características importantes do solo de textura argila-arenosa para a aplicação do método de Green e Ampt podem ser ob-
tidas da tabela 7.2. A porosidade efetiva (8 ,) é igual a 0,321; o potencial mdtrico (\Jf) é igual a 239 mm; e a condutividade hidrdu-
lica (K) é igual a 0,6 mm,hora- 1.
Inicialmente o solo encontra-se com saturação relativa de 25%, isto é:
se=0,25
então, o déficit inicial de umidade do solo em relação à saturação (adimensional) é:
1
= K · lfl · f..0 = 0,6 · 239 · 0,241 = 0 089 horas
P i·(i-K) 20-(20-0,6) '
Portanto, em cerca de 5,3 minutos começa a haver acúmulo de água na superfície.
No tempo t=tp a lâmina acumulada de infiltração é FP = i.tp = 1,78 mm.
A lâmina infiltrada acumulada após duas horas de chuva pode ser calculada pela equação 10.7:
F,( ) -
'
F - lfl · f.. 01 n( lfl . f.. B + 0i)
p lfl · f..0 + Fp
J= K · (t - t ) P
239-0,241+01) ] ( )
0i) -1,78-239-0,241/n ( _0, + l,? -0,6 · 2 -0,089 = O
239 241 8
que pode ser solucionada usando um método como o Solver de uma planilha de cálculo, ou o método iterativo de Newton, como mos-
trado no capítulo 1. Nesse caso, a solução converge para F = 12,42 mm.
A chuva efetiva pode ser calculada pela equação 1 O. 8:
A figura 10.2 ilustra o processo de infiltração durante a chuva do exemplo anterior. A taxa de infiltração permanece
constante e igual à intensidade da chuva (i = 20mm.hora-1) até o tempo de empoçamento (tp) . A partir desse ponto a taxa de
inflltração se reduz rapidamente. A chuva efetiva é representada pela área entre a linha tracejada horizontal correspondente a
20 mm.hora- 1, e a linha preta que representa a taxa de inflltração.
25
20
'
'
''
15 ''
',,, ____________ _
10
------- F {mm)
. : :·::::~--
__ :_-- ------- f (mm/hora)
,,.-························
------ ------ ---- ----- ------------
/
I
20 40 60 100 120
Tempo (minutos)
Figura 10.2: Ilustração do processo de infiltração e geração de chuva efetiva ao longo de uma chuva de imemidade constante e duração de 120
minuros, a linha prera é a raxa de infiltraçáo e a linha cinza é a infiltração acumulad,1 (os dados referem-se ao exemplo de cilculo de chuva efetiva usando
,1 equação de Green-Ampt)
134
Chuva efetiva com método de Green e Ampt para chuva de intensidade variável
O mécodo de Green e Ampr, da fo rma ap resentada por Mein e Larson (1973), rambém pode ser urilizado para calcu-
lar a chuva eferiva durante eventos em que a intensidade de chuva varia ao longo do rempo, como apresentado por C how er al.
(1988).
Nesse caso, considera-se que a imensidade da chuva é conhecida e consranre ao longo de cada intervalo de rempo relativamente
pequeno (~t) em que é dividida a chuva de duração longa. Por exemplo, uma chuva de duas horas de duração pode ser medida por um
pluviômerro aummático de cubas basculantes, conforme descrim no capírulo 5, com informações sobre a imensidade de chuva a cada 5
minuros (~t= 5 minums).
A cada imervalo de rempo entre te t+~t a intensidade de chuva é i (t}" A capacidade de infilrração de água no solo no
início e no final do intervalo de rempo é dada por ÍrtJ e Jr,. ,)' respecrivamente. Da mesma forma, a lâmina de infiltração acu-
mulada no solo no início e no final do intervalo de rempo é dada por F (,) e F {t+M}' respecrivamente.
Os cálculos de chuva eferiva são realizados a cada passo de tempo ~e, considerando que no início do intervalo de
tempo o valor de Fé conhecido (ou seja, F (,) é conhecido). No primeiro intervalo de tempo, em que inicia a chuva, o valor de
F (t} pode ser considerado zero. Nos intervalos seguintes, o valor de F (t) de um intervalo de tempo é igual ao valor de F {r+ót) do
intervalo de tempo anterior.
A cada intervalo de tempo, o cálculo segue o seguinte fluxograma:
1. A capacidade de infiltração de água no solo no início do passo de tempo lfrt) é calculada com base no valor co-
nhecido F {t) e na equação 10.1:
0
J, = K -( lf/ / +I J
2. A capacidade de infiltração encontrada no passo 1 é comparada à imensidade da chuva durante o intervalo de
tempo (irJ Caso a intensidade da ch uva ao longo do intervalo de tempo seja superior à capacidade de infiltração
(i(t) > Írt), então há geração de ch uva eferiva desde o início desse intervalo de tempo. Nesse caso, a infiltração acu-
mulada ao final do passo de tempo (F(t +ór) é calculada pelo procedimento descrico no passo 3. Em caso conuário,
é execurado o passo 4.
3. o caso em que i (t) > Í(,; uma equação similar à equação 10.7 pode ser aplicada para encontrar a lâmina de infiltração
acumulada ao final do passo de rempo (F (r+ó,)- Encontrado o valor de F (r+!',r} o processo de cálculo segue no passo 11.
F
t+/',t
-F -
1 1/1
J
· t:,.0/n(l/f •t:,.B + F:+61 = K -M
1/1. t:,.0 + F;
4. No caso em que i (,) > Í(1; é necessário realizar um resre para verificar se haverá ou não acumulação de água na
superfície até o final do intervalo de rempo. Isco é, é necessário verificar se i (,) > Jrt+ót}" Para isso, uma primeira
estimariva de F (t+ót) é abrida admirindo que coda a água da chuva durante o imervalo de tempo infiltra no solo.
Esra primeira escimativa é represemada pela linha sobre a letra F (F') .
5. A panir desta estimaciva da lâmina infiltrada acumulada no final do intervalo de rempo é estimada a capacidade
de infiltração no final do intervalo de rempo, usando a equação 10.1:
135
Capítulo 10
GERAÇÃO DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL
6. A seguir o valor de f'r,; é comparado ao valo r da intensidade de chuva (ir,/ Caso f'r,; > ir,y então a capacidade de
infiltração permanece maior do que a intensidade da chuva ao longo de todo o intervalo de tempo. Nesse caso,
a lâmina de infiltração acumulada é calculada como mostrado no passo 7. Caso contrário, o processo segue com
o passo 8.
7 . Quando f'r,; > ir,)' então a capacidade de infiltração permanece maior do que a intensidade da chuva ao longo
de todo o intervalo de tempo e a estimativa inicial obtida no passo 4 é aceita como estimativa final de Fr,+t'J.t)'
Encontrado o valor de Frr+M) o processo de cálculo segue no passo 11.
8. Quando f'r,; < i (,)' então a capacidade de infiltração inicia o intervalo de tempo com valor maior do que a in-
tensidade da chuva, mas encerra o intervalo de tempo com valor inferior à intensidade da chuva. Desta forma ,
existe algum momento ao longo do intervalo de tempo em que a capacidade de infiltração é igual à intensidade
da chuva. A lâmina acumulada de infiltração nesse momento (F) pode ser calculada a partir da equação 10.1,
considerando que a capacidade de infiltração é igual à intensidade da chuva (fr,; > ir,)·
K •lf/ · LJ.0
(( -K)
9. O instante em que f passa a ser igual ai é o tempo t+/::,,,t', sendo que /::,,,t' pode ser calculado por:
F -F
LJ.t' = p f
(
10. Finalmente, uma equação similar à equação 10.7 pode ser aplicada para encontrar a lâmina de infiltração acu-
mulada ao final do passo de tempo (Frr+t>r) ):
F
rMr p .,, lf/ . /',,, e + Fp
J
-F -11, · /i,,,0/n(lf/ · /i,,,B+ F; Mr = K -(/i,,,t-M 1 )
11. Uma vez encontrado o valo r de Frr+t'J.t)' para qualquer um dos casos, a chuva efetiva pode ser calculada subtraindo
a infiltração acum ulada da chuva acumulada.
12. O processo reinicia no passo de tempo seguinte, onde o valor de Fr,; é igual ao valor de F(r+t'J.t) do passo de tempo
anterior.
Este processo de cálculo pode ser bastante trabalhoso se executado de forma manual, especialmente porque as soluções
de algumas equações dependem de um método iterativo. Por outro lado, em programas de computador como os programas de
modelagem hidrológica, ou em planilhas de cálculo, o procedimento iterativo pode ser automatizado, e os cálculos de chuva
efetiva para eventos com intensidade de chuva variável ao longo do tempo são realizados de for ma relativamente rápida.
O método de Green e Ampt representa razoavelmente bem o processo de infiltração e geração de escoamento ou
chuva efetiva em uma escala espacial pequena. Em geral, a variabilidade das características físicas das bacias hidrográficas é cal
que esse método cem aplicação limitada quando a intenção é estimar a chuva efetiva em bacias hidrográficas. Isso ocorre porque
o método de estimativa da chuva efetiva, utilizando a equação de Green e Ampt, está baseado na hipótese de que o escoamen-
to superficial se forma pelo processo Hortoniano, e não reconhece a variabilidade das condições existentes na bacia.
Admitir a validade da equação e dos parâmetros de Green e Ampt de um ponto como válidos para toda a bacia hidro-
gráfica teria como resultado uma uniformidade da geração de escoamento que é raramente encontrada em casos reais. Quando
136
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
uma bacia inteira é representada usando a equação de G reen e Ampt, ou outra equação de capacidade de infiltração vál ida para
um ponto, no início da chuva nenhum ponto da bacia gera escoamento superficial, enquanto no fi nal da chuva roda a bacia
pode estar co ntribuindo ao mesmo tempo para a geração de escoam ento superficial .
Em bacias reais é mais comum co nstatar que o processo de geração de escoamento ocorre apenas em parte da bacia
hidrográfica, o que corresponde ao conceito de área de contribuição parcial . Esta parte da bacia que é ativa em termos de gera-
ção de escoamento superficial pode variar ao longo do tempo, sendo maio r no final de um período úmido e menor no final de
um longo período seco, o que corresponde ao conceito de área de contribuição variável. Os co nceitos de área de contribuição
parcial e área de co ntri buição variável expl icam mais adequadamente a não linearidade do processo de geração de escoamento
superficial em bacias hid rográficas (Beven, 2001 ).
P=la+F+Q (10.9)
onde P é a precipitação ocorrida ao longo de um evento de chuva (mm); Q é a chuva efeti va ou escoamento superficial ao
longo do evento (mm); Fé a in filtração acumulada ao longo do evento de chuva (mm); e la são perdas in iciais, que incluem
acúmulo de água na superfície, interceptação e infil tração no solo antes do início da geração de escoamento superficial (mm).
A primeira hipótese considerada no desenvolvimento do modelo SCS-C é que a razão entre o escoamento superfi-
cial (Q) e o escoamento superficial máxim o potencial (P-la) é igual à razão entre a infiltração acumulada no solo (FJ e a máxi-
ma infiltração acumulada potencial (S) , isto é:
Q F
P-Ia S (1 0 .10)
onde P é a precipitação oco rrida ao longo de um evento de chuva (mm); Q é a chuva efetiva ou escoamento superficial ao
longo do evento (mm); Fé a infiltração acumulada ao longo do evento de chuva (mm); Ia são perdas in iciais, que incluem
acúmulo de água na superfície, interceptação e infiltração no solo am es do in ício da geração de escoamento superficial (mm);
e Sé a máxima in fi ltração acu mulada potencial (mm).
A segunda hipótese do método SCS-CN é que as perdas iniciais (la) correspondem a 20% da máxima infil tração
acumulada potencial (S), ou seja:
onde Ia são perdas iniciais, que incluem acú mulo de água na superfície, interceptação e infiltração no solo antes do início da
geração de escoamento superficial (mm); e Sé a máxima infilt ração acumulada potencial (mm).
As hipóteses representadas pelas equações 10.10 e 10.11 são bas tante criticadas, por terem um a base fís ica frágil
(M ishra e Singh, 1999; H awkins ec al., 2009) , mas a co mbinação dessas duas equações co m a equação da co ntinuidade (equa-
ção 10.9) permite chegar à seguinte estimativa do escoamento superfic ial (ou chuva efetiva) a par tir de dados de vazão e de
características da bacia:
137
Capítulo 10
GERAÇÃO DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL
INW
A
Caracrerísric.1s Textura
Solos com baixo potencial de geração de escoamento superficial: solos arenosos ou Arenosa; Areia Franca; Franco
siltosos, profundos e de alta capacidade de infiltração Arenosa
Solos com pouco teor de argila, menos profundos ou com mais argila do que os Franco Siltosa; Franca
solos do tipo A e de média capacidade de infiltração
e Solos com mais teor de argila do que os solos do tipo C, com uma camada mais Franco Argila Arenosa
impermeável abaixo da superfície ou pouco profundos
D Solos com alto potencial de geração de escoamento superficia l: solos argilosos, so- Franco Argi losa; Franco Argila
los rasos sobre rochas impermeáveis, solos com lençol freáti co próximo à su perfície, Arenosa; Argila Arenosa; Argila
solos com capacidade de infiltração muito baixa Si ltosa; Argilosa
Os valores do parâmetro CN, para os quatro diferentes tipos de solos, e para diferentes condições de cobertura e ocu-
pação são apresentados na rabeia 10.2 para bacias rurais e na rabeia 10.3 para bacias urbanas.
138
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fern ando Dornelles
.ahda 10.2, \,1lore~ <lo paramctrn' \, p.ua <l,t. cmc ,oml1çocs <le cobcrturi vcgual, uso do so,o e upos <lc solo cm b.uas rurais lucc1, ]•)'li)
em curvas de nível 67 77 83 87
terraceado em nível 64 76 84 88
Plamações regulares
em fi leiras retas
64 76 84 88
em curvas de nível 62 74 82 85
terraceado em nível 60 71 79 82
Plantações <le u:rea1s
em filei ras retas
62 75 83 87
em curvas de níve l 60 72 81 84
terraceado em níve l 57 70 78 89
pobres 68 79 86 89
Planta.,:oes de legumes ou cultivados
normais 49 69 79 94
boas
39 61 74 80
norma is 30 58 71 78
esparsos, de baixa t ranspi-
45 66 77 83
ração
Campos permanentes
normais 36 60 73 79
densas, de al ta trans piração
25 55 70 77
normais
Chácaras 56 75 86 91
mal conservadas 72 82 87 89
[ tradas nao pavimenc,1das de superfície dura
74 84 90 92
Capítulo 10
GERAÇÃO DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL
I.1bcl,1 1O i· \, 1lor dn pa· ,un tro C \ par d fcr me coPdi<,,ocs de cobenura ,egccal uso do solo 1po c'e solo crr bac1 • .irbar as I L cc1 1<Jll \
ao do olo
Urilizaçáo ou cobcnura do solo
■■1111
72 81 88 91
7ona cu!• v1d,1: em cone
com con eeva ao do solo 62 71 78 81
Pastagens m, cerrenos em m,1s c<ll'd1~oes 68 79 86 89
Os valores de CN foram obtidos de forma experimental, e apresentam uma incerteza co nsiderável, mesmo conside-
rando os experimentos em bacias rurais utilizadas como base no desenvolvimento do método. A variação aleatória dos valores
do CN em torno dos valores apresentados nas tabelas 10.2 e 10.3 pode ser representada por bandas de confiança em torno dos
valores médios, apresentados na rabeia 10.4. Essa incerteza está relacionada a diversos processos, como a condição de umidade
antecedente da bacia, o estágio de crescimento das plantas, e as características de intensidade, duração e distribuição temporal
da chuva. Os valores da banda de confiança de CN, apresentados na tabela 10.4, tem caráter informativo. Para cálculos de
vazóes máximas e cheias de projeto, como os apresentados no capítulo 18, devem ser usados os valores de CN médios apresen-
tados nas tabelas 10.2 e 10.3 (Hawki ns et ai., 2009).
Os valores apresentados na tabela 10.4 eram, usualmente, apresentados como valores alternativos para condições de
umidade antecedente secas (limite inferior) ou úmidas (limite superior). Essa interpretação, no entanto, não é mais recomen-
dada (Hawkins et ai. , 2009).
140
labda 10 '-1: Banda dc contian~a para o, ,alore, do paramerro ( /1. (Ha\\kim er ti .. 2009)
E X EMPLO 1 0 . 2
Qual é a chuva efetiva durante um evento de chuva de precipitação total P = 70 mm numa bacia com solos do tipo B
e com cobertura de florestas?
A bacia tem solos do tipo B e está coberta por florestas. Conforme a tabela anterior o valor do parâmetro CN é 63 para essa
combinação. A partir desse valor de CN, obtém-se o valor de S:
25400
S= -254 = 149 2mm
CN '
A partir do valor de S obtém-se o valor de la:
s
Ia =-=29 8
5 '
Como P > Ia, a chuva efetiva é dada por:
2
(P-1 a)
Q=~-~-=85mm
(P-Ia+S) '
Portanto, a chuva de 70 mm provoca um escoamento superficial direto de 8,5 mm.
141
Capítulo 70
GERAÇÃO DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL
O método do ses também pode ser utilizado para calcular o escoamento superficial de uma bacia durante um even-
to de chuva complexo, em que existem info rmações de precipitação para vários intervalos de tempo. Essa alternativa é interes-
sante quando se deseja saber, além do valor do escoamento total, co mo foi sua distribuição temporal.
A bacia tem solos de média capacidade de infiltração, o que corresponde ao tipo B. A cobertura vegetal é de pastagens. Con-
forme a tabela anterior, o valor do parâmetro CN é 75 para essa combinação. A partir desse valor de CN obtém-se o valor de S:
25400
S = - 254 = 84 7 mm
CN '
A partir do valor de S obtém-se o valor de la = 16,9.
A chuva de cada intervalo de tempo é somada à chuva total até o final do intervalo de tempo anterior, resultando na chuva
acumulada, como mostra a tabela a seguir.
Para cada intervalo de tempo, pode se usar o método do SCS para calcular o escoamento total acumulado até o final do in-
tervalo de tempo. Enquanto a precipitação acumulada é inferior a la, o escoamento acumulado é zero. A partir do intervalo de tempo
em que a precipitação acumulada supera o valor de Ia, o escoamento acumulado é calculado por
Q= (P-Ja)2
(P-Ia+S)
142
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
como mostra a tabela a seguir. A chuva efetiva incremental é o incremento da chuva efetiva acumulada entre um intervalo de tempo
e o anterior.
•w
10
20
5
6
l'rccipitaçáo acumulad,1
(mm)
11
5
Chuva cfctiv,1 acumulada
(mm)
0,0
0,0
Chuv,1 efcciv.i increment,11 (mm)
0,0
0,0
30 14 25 0,7 0,7
40 11 36 3,5 2,8
Observa-se que o momento de máximo escoamento superficial ocorre entre os 30 e 40 minutos da duração da chuva.
.,, Nestes 10 minutos o escoamento é de 2,8 mm. É interessante observar que este não é o momento de máxima intensidade de
precipitação, que ocorre no intervalo de tempo anterior.
O método do SCS pode ser utilizado quando uma bacia não tem cobertura vegetal homogênea, ou quando existem
dois ou mais tipos de solos na bacia. Nesse caso, o valor do CN é calculado como uma média ponderada dos valores de CN. A
partir deste valor de CN médio, o procedimento é o mesmo adorado em bacias homogêneas.
Ex EMPLol0.4
Qual é o valor do coeficiente CN de uma bacia em que 30% da área é urbanizada e em que 70% é rural? Considere
que os solos são extremamente argilosos e rasos.
Solos rasos e muito argilosos normalmente têm capacidade de infiltração baixa ou muito baixa, por isso pode-se considerar
que os solos são do tipo D, de acordo com a classificação do SCS.
Na drea rural não estd especificado se são plantações (CN = 87), campos (CN = 85) ou florestas (CN = 80). Considerando
que a drea rural é coberta por campos, adota-se o CN = 85.
Na drea urbana não estd especificado se são dreas industriais, comerciais ou residenciais, mas os valores de CN são sempre
relativamente próximos de 93, por isso adotamos esse valor.
O CN médio da bacia pode ser obtido por:
O método do SCS tem sido criticado por diversos autores por vários motivos. Em primeiro lugar, a hipótese que dá
origem à equação 10.1O é frágil (H awkins et ai., 2009). Essa hipótese leva à curiosa situação em que a chuva efeti va prevista
pelo método para uma dada chuva Pé independente da duração da chuva, isto é, o valor previsto de Q é igual, independente-
mente se a chuva P ocorre ao longo de um período de 10 minutos ou de 24 horas. Essa independência é contrária ao que é
previsto por equações de estimativa de capacidade de infiltração, como a equação de Green e Ampt, por exemplo.
A estimativa das perdas iniciais (Ia) a partir de uma fração fixa das perdas máximas (S) também não tem uma base
física sustentável (Hawkins et ai. , 2009) . Em particular, a hipótese, normalmente adorada, sugerindo que as perdas iniciais
correspondem a 20% das perdas máximas (Ia= 0,2.S) é discutível. Algumas análises mais atuais sugerem que o valor mais
adequado para as perdas iniciais seria de 5% das perdas máximas, isto é: Ia = 0,05.S. Entretanto, ao adotar esse valor, toda a
rabeia de valores de CN (Tabelas 10.2 e 10.3) também deveria ser modificada, porque foi criada com base na hipótese original,
que Ia= 0,2.S (Hawkins et ai ., 2009).
143
Capítulo 10
GERAÇÃO DE ESCOAMENTO SUPERFICIAL
Exercícios
1. Como se origina o escoamento superficial em uma bacia durante
as chuvas?
2. Em que parte de uma bacia hidrográfica ocorre preferencialmen
te a geração de escoame nto superficial?
3. O que é a chuva efetiva?
4. Qual é a lâmina escoada superficialmente durante um evento de
chuva de precipitação total P = 60 mm em uma bacia com
solos do tipo B e com cobertura de florestas ?
5. O que ocorreria com o escoamento no problema anterior caso as florestas
fossem substituídas por plantações? E por áreas urba-
nas?
6. Qual é a lâmina escoada superficialmente a cada intervalo de tempo
durante o evento de chuva dado na tabela abaixo numa
bacia rural com solos com alta capacidade de infiltração? Qual é o
intervalo de tempo em que é gerado o máximo escoamen-
to superficial?
O Hidrograma Unitário
Uma bacia pode ser imaginada como um sistema que transforma chuva em vazáo. A transformação envolve canto as
modificações no volume total da água, já que parte da chuva inflltra no solo ou pode retornar à atmosfera por evapocranspira-
ção, como as modificações no tempo de ocorrência, já que existe um atraso na ocorrência da vazáo em relação ao tempo de
ocorrência da chuva.
No capítulo l O, está descrito o processo da separação da chuva em uma parte que infiltra no solo e outra que escoa
superficialmente. A fração da chuva ocorrida em um evento que gera escoamento superficial é conhecida como chuva efetiva.
A chuva efetiva é responsável pelo aumento rápido da vazão de um rio durante e após uma chuva. No capítulo 10, foi i:
apresentado um método simplificado para estimar a chuva efetiva, com base em um parâmetro que está relacionado às carac- :i
terísticas da bacia, como o tipo de solo e o tipo de vegetação ou tipo de uso da terra.
Nem toda a chuva efetiva gerada numa bacia chega imediatamente ao curso d'água. A partir dos locais em que é gera- 'i
do, o escoamento percorre um caminho, com velocidades variadas de acordo com características como a declividade e o com-
primento dos trechos percorridos, e a resposta da bacia a uma entrada de chuva depende dessas características.
Se imaginarmos um pulso de chuva de curta duração, podemos entender a bacia hidrográfica como um sistema que
..
1
1'
transforma uma entrada ~uase imediata em uma saída distribuída ao longo do tempo, como mostrado na figura 11.1. A figura
mostra um gráfico de vazáo (hidrograma) resultante de uma chuva efetiva na bacia. Considera-se que o hidrograma correspon-
da a medições realizadas na saída (exutório) da bacia. Imediatamente após, e mesmo durante a ocorrência da chuva, a vazáo
começa a aumentar, refletindo a chegada da água que começou a escoar na região mais próxima do exutório, como indicado.
Após algum tempo, é atingido o valor máximo e, finalmente, inicia uma recessão do hidrograma, quando a água da chuva
efetiva gerada na região mais distante da bacia atinge o exutório. No final da recessão, que é a parte do hidrograma em que a
vazáo decresce, 0 escoamento superficial cessa. A partir desse momento a vazáo do rio é mantida pelo fluxo de água subterrânea,
o que é conhecido como vazáo de base (ver capítulo 12).
1p~-----------~-► ~m~
·o
e!
e.. ''
:,, tempo de concentração
t { tempo de viagem do
t { tempo de viagem do B ponto B ao exutório
A ponto A ao exutório
A resposta de uma bacia a um evenro Je chuva Jependc d~s car~crerísticas ílsi_cas da bacia e das características do
evento, como a duração e a intensidade Ja chuva. C huvas Je mesma 111tens1JaJe e duraçao tendem a gerar respostas de vazio
1
146
(hidrogramas) semelhantes. Chuvas mais intensas tendem a gerar mais escoamento e hidrogramas mais pronunciados, enquan-
to chuvas menos incensas tendem a gerar hidrogramas mais atenuados, com menor vazão de pico.
Para simplificar a a!bálise, e também os cálculos, é comum admitir-se que existe uma relação linear entre a chuva efe-
tiva e a vazão, lembrando que a chuva efetiva é a parcela da chuva que gera escoamento superficial.
Uma teoria muito utilizada para prever o hidrograma gerado por uma dada chuva é a teoria do hidrograma unitário, inicial-
mente proposta por Sherman (1932) e posteriormente apresentada maiis formalmente por Dooge (1959). Essa teoria está baseada na
hipótese da rdaçáo linear entre a chuva efetiva e O hidrograma gerado, e é muito útil e prática, embora não seja inteiramente correra.
Conceitualmente, o Hidrograma Unitário (HU) é o hidrograma do escoamento direto, causado por uma chuva efeti-
va unitária (por exemplo, uma chuva efetiva de 1 mm ou de I cm), por isso, o método é chamado de Hidrograma Unitário. A
teoria do hidrograma unitário considera que a precipitação efetiva e unitária tem intensidade constante ao longo de sua duração
e distribui-se uniformemente sobre toda a área de drenagem.
Adicionalmente, considera-se que a bacia hidrográfica tem um comportamento linear. Isso significa que podem ser
aplicados os princípios da proporcionalidade e superposição, descritos a seguir. Com a teoria do hidrograma unitário é possível
calcular a resposta da bacia a eventos de chuva diferentes, considerando que a resposta é uma soma das respostas individuais.
Proporcionalidade
Para uma chuva efetiva com uma dada duração, o volume de chuva efetiva, que é igual ao volume escoado superficiaJ-
menre, é proporcional à intensidade dessa chuva. Como os hidrogramas de escoamento superficial correspondem a chuvas
efetivas de mesma duração, e têm o mesmo tempo de base, considera-se que as ordenadas dos hidrogramas serão proporcionais
à intensidade da chuva efetiva, como mostra a figura 11.2.
Na figura 11.2 observa-se que o hidrograma resultante da precipitação efetiva de 2 mm (gráfico do lado direito) é duas
vezes maior do que o hidrograma resultante da chuva efetiva de 1 mm (gráfico do lado esquerdo). A resposta da bacia à chuva
efetiva de ~ mm é o hidrograrna unitário. A resposta da bacia à chuva efetiva de 2 mm, porém com a mesma duração da chuva
de 1 mm, é obtida somando dois hidrogramas unitários. A vazão do ponto A é duas vez.es menor do que a vazão no ponto B e
a vazão no ponto D é duas vezes maior do que a do ponto C, e assim para rodos os valores de vazão dos hidrogramas é respei-
tada a mesma proporção.
d d
ff----- --'--'------- -
Tempo(h)
Ê
tt Tempo (h)
Ê E
E
-; 1 -;; 1
>
~ 1mm de chuva eíetiva :, 2mm de chuva efetiva
ó em toda a bacia com ó 2 em toda a bacia com
uma duração d uma duraçllo d
gera uma resposta no e,utório da
bacia onda cada valor de vazão
2Qp é o dobro do hidrograma unitário
gera uma resposta no exutório da
bacia que é um hldrogrema unitário
l'ii;tJrJ 11 .2: l'ril,dpill !1~ prnporçion.,liJ ad,· na tt·ori.1 dn liidrn~1.1111.1 111 1i1.lrio
'f ·
Superposição
Considerando
. . válido o hidrograma unitário, as vazóes de um hidrognma• ele esco"nl
•• enro super • 1, procl 11z1c
. . f'teta · 1as po1.
chuvas efeuvas sucessivas,
. podem
. d. "d . ser enconrradas somando as vnôes· dos hidrognni·ts
· • ' ~ d" esco·• f' . l
.. menro rnper teta corrcspo nd en-
.
tes às chuvas efeuvas in tvJ ua1s.
__J
Capítulo 11
O HIDROGRAMA UNITARIO
______.,r
li
. A figura 11.3 ilustra o princípio da superposição, mostrando como o hidrograma de resposta de duas chuvas unitárias
sucessivas pode ser obtido somando-se dois hidrogramas unitários deslocados no tempo por uma diferença d, que, neste caso,
é a duração da chuva.
:f\p
E
(.)
2
p
1
0
--------- ~ ---------r' ----- ---:' ---------~
' rotal '
---------:' .
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--------- ''
s ---------
f{P,
- - --- -:' - -- - - - -- -:' - - - - - --- -~'
'
o
oro
N
~
Tempo (h)
Figura 11.3: Princípio da superposição de hidrogram as
Convolução
Aplicando os princípios da proporcionalidade e da superposição é possível calcular os hidrogramas resultantes de
eventos complexos, a partir do hidrograma unitário. Esse cálculo é feito através da convolução. Em matemática, particularmen-
te na área de análise funcional , convolução é um operador que, a partir de duas funções, produz uma terceira. O conceito de
convolução é crucial no estudo de sôstemas lineares invariantes no tempo, como é o caso da teoria do hidrograma unitário.
O hidrograma unitário é, normalmente, definido como uma função em intervalos de tempo discretos. Considera-se
que uma chuva unitária, de uma duração curta d, produz um hidrograma que pode ser representado pelas ordenadas hl onde
j varia entre I e k.
A vazão em um intervalo de tempo t é calculada a partir da convolução entre as funções Pef(chuva efetiva) eh (orde-
nadas do hidrograma unitário discreto).
I
Q, = LP;
l =I
·h,- í +I para t < k (11.1)
intensidade difere,me da chuva unitária, seria dada pelas ordenadas P.hl , P.h2, P.h3' P.h4 e P.h5, que também corresponderiam
aos tempos d,' 2 -d, 3.d, 4.d, e 5.d. Já a resposta dessa bacia a uma chuva efetiva de duração 3.d, em que a chuva efetiva poderia
ser descrita por 3 intervalos de chuva de duração d cada um, ocorrendo em sequência, seria dada por:
Q, = Pi · h1
º2 = P2 · h, + Pi ·h2
º3 = PJ -h, +
Q4 =
P2 · h2 + Pi ·hJ
PJ ·h2 + P2 · hJ + P, ·h4
º5 = PJ -hJ + P2 · h4 + P1-h5
º6 = PJ -h4 + P2 ·h5
º7= PJ -h5
Neste caso m = 3 porque a chuva é definida por três blocos, k = 5 porque o hidrograma unitário tem 5 ordenadas, e
11 7 ~orque a duração total do escoamento resultante é de 7 intervalos de duração d cada um.
=
A convolução para o cálculo das vazóes usando o HU é uma tarefa trabalhosa se realizada de forma manual. Normal-
mente, o HU é utilizado como um módulo dentro de um modelo hidrológico, ou pode ser aplicado em planilhas de cálculo,
onde sua aplicação é facilitada.
E XEM PLO 11 . 1
Repetidas medições mostraram que uma pequena bacia respondia sempre da mesma forma a chuvas efetivas de 10
mm e de meia hora de duração, apresentando um hidrograma unitário definido pela tabela 11.1. Calcule qual é a resposta da
bacia ao evento de chuva defi rnido pela tabela 11 .2.
T ·mro ( h P 1.J, )
1
h \m ' ., 11 0m m )
. Intervalo· de tempo ·1 ,
---- -
0,5
0,5
1,0
2,0
1,5
4,0
2,0
7,0
2,5
5,0
3,0
3,0
3,5
1,8
4,0
1,5
4,5
1,0
Intervalo de Tempo ·
0,5 20
2 1,0 25
1,5 10
Neste caso a chuva tmitdría é de 1O mm. A resposta da bacia a uma chuva eletiva d 10 . I. J d _ ,
. _ J_
. apresentaaa · 1·m ha da tabeu,
nau'Lnma ,_ 11 . 1. Jº e mm com meta 1ora ue uraçao e
Esses valores podem ser representados graficamente como mostra a figura 11.4.
,1
149
Capítulo 11
OHIDROGRAMA UNITARIO
r
6
vi'
§. 5
·~
~
4
o
o 2 3 4 5
Terroo (horas)
l-'ig11rJ 11.4: G r.ifico do h iJ rof!rama unitJ rin d ,, c-xrn, pl,, 1 1. 1: rc~po,ca cl.t bacia ., unia chuva eferiva de 1() mm em meia hora
A resposta da bacia ao p rimeiro intervalo de tempo de chuva é obtida considerando que a chuva efetiva de 20 mm é 2 vezes
maior do que a chuva efetiva que gera, como resposta da bacia, o hidrograma unitário. Assim, a resposta da bacia ao primeiro inter-
valo de chuva pode ser obtida multiplicando as ordenadas do hidrograma unitário por 2.
Da mesma forma, a resposta da bacia ao segundo intervalo de tempo de chuva pode ser obtida multiplicando as ordenadas
do hidrograma unitário por 2,5. Porém, nesse caso, a resposta da bacia inicia meia hora mais tarde.
Finalmente, a resposta da bacia ao terceiro intervalo de tempo de chuva é exatamente igual ao hidrograma unitário, já que
a chuva efetiva é de 1O mm. E a resposta final da bacia é obtida através da soma das respostas individuais a cada um dos intervalos
de chuva. A figura 11.5 apresenta graficamente as respostas da bacia a cada intervalo de tempo de chuva e a resposta total, obtida pela
soma das respostas individuais.
35
- • - R1
30
-O - R2
25
~ R3
_,._ Serra
10
Fig u ra f J. 5 : (;d/ico J a respo~1a d:i lucia do exemplo 11. 1 ao prime-i ro in1trv.tlo d e trn1 po d • drn va ( R 1);
30 ;,·gund u in 1crY:1lo J c d 111v.1 (IU ); :ln rc rci:iro i111c- rv:1 ln ,fe cl111 v:1 (IU ) ,. a rc,p osta fina l (Snm .i). oh1i, b
p<'la so m a d os h idmgra rnas in di vid ua is a cad a imc rv:tlo d e 1,·mpo
150 ""'I
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Col/ischonn e
Fernando Dornelles
A tabela 11.3 mostra como pode ser montada uma planilha para os cálculos do exemplo 11. 1. A primeira coluna apresenta
os intervalos de tempo. A coluna RI apresenta a resposta da bacia ao primeiro intervalo de tempo de ch11va. Os valores co"espondem
a duas vezes as ordenadas do hidrog;rama unitário da tabela 11. 1, porque O primeiro intervalo de tempo de ch11va é d11as vezes maior
(20mm) dfJ que a chuva unitária considerada (10mm). A coluna R2 apresenta a resposta da bacia ao segundo intervalo de tempo.
Essa resposta inicia apenas no segundo intervalo de tempo, porque é o momento em que inicia o seg11ndo bloco de ch11va. Da mesma
fonna, a coluna R3, que apresenta a resposta da bacia ao terceiro intervalo de tempo, está deslocada dois imervalos de tempo para
baixo na tabela 11.3. A coluna Soma apresenta a resposta final da bacia, e é obtida somando os valores de RI, R2 e R3 de cada linha.
Os valores da tabela 11.3 correspondem aos gráficos da figura 11.5.
'':. 'i R2 . :
(íriJ.s-') ' ' ..i:
0.5 1,0 1,0
1,0 4,0 1,3 5,3
Portanto, 0 hídrograma de salda tem 11 intervalos de tempo de meia hom cada 11m, e a vauío nuhi111 z ocorrt' 110 ,11únto
ínterval.o, atíngíntk131,5 m3J 1,
O hidrograma unirárío de uma bacia hidrográílca pode ser estimado oh~ava11d11 a sua rcsposra a chuvas de curra
duração. A forma do hi<lrograma unidrio dcpcndc da duração da chuva.
Para determinar o HU cm uma bacia hidrngdfica, é necess:irio di!>por de rcgi!>Iros dt' vazão e prccipita\·iio ~imulü11ú.l,.
Recomenda-~c identificar evemns causados por chuvas ')IIC renham uma duração cnm: l /3 a l /5 do 1c1npo de co1u:e11tr;1,·.io J .1
bacia. De preferência são utilizados evenrns simples, com chuvas de curra duraç·:io e co m i111cm idade :1proxim.1dameme co ns-
tante.
Para cada eventu de chuva e vazão com ebsas carac1erí~1ica!>, o hidrogrnma unidrio para CiS,l duraç:'to de chuva pode
ser obtido atravé~ dos pa~sos descritos a ~eguir (Di11gma11, 2002).
1) Calcular o volume de água precipitado sobre 11111a bacia hidrográl1ca, l !IIC é d:ido por:
Vt =Pt-A
J
151
Capítulo 11
O HIOROGRAMA UNITA RIO
onde: Vt é o volume total precipitado sobre a bacia; Pt é a precipitação total do evento; e A é a área de drenagem da bacia.
3
2) Fazer a separação do escoamento superficial, onde para cada instante i, a vazão que escoa superficialmente é dife-
rença entre a vazão observada e a vazão de base:
onde: Qe; é a vazão que escoa superficialmente no intervalo de tempo i; Qobs . é a vazáo observ-.i.da no exucó rio da bacia no in-
tervalo de tempo i; e Qbi é a vazão base no intervalo de tempo i. No capítulo Í2 são apresentados alguns métodos de separação
do escoamento total em escoamento superficial e de base.
onde: Ve é o volume escoado superficialmente; Qe; é a vazão que escoa superficialmente; e /),,r, intervalo de cempo dos dados.
C= Ve
Vt
onde: Ve é o volume escoado superficialmente; Vt é o volume total precipitado sobre a bacia hidrográfica.
5) Determinar a chuva efetiva, multiplicando-se a chuva total pelo coeficiente de escoam ento:
Pef =C•Pt
onde: Pef é a chuva efetiva; C é o coeficiente de escoamento; e Pt é a precipitação tocai.
0,20
0,15
Ê
E
o
~
ui
;;-
.§.
o 0,10
'"'N
~
0,05
o 5 10 15 20 25
Tempo (h)
Figur~ 11 .fr Hid10~1a111a, ob,crvados :1di111c:111ill11J.l i,.1tlm ,obr,po<r"' p.1r.1 p,:rrn irir ,1 i,kmilic.,,·:10
d.: um p .,Jr.io dt· 1n 1,osra da l,.cia e o hiJro~r.1111.1 11111r.i1to i.1< L1pt.1Jo d, Din~111.111 . 200 2)
Outro método para obter o hidrograma unitário em uma bacia com dados de chuva e vazão é baseado na deconvolu-
çáo, ou a convolução inversa. Nesse caso, repete-se o procedimento descrito no exemplo de aplicação da convolução, porém
considerando como incógnitas as ordenadas do hidrograma unitário, e como conhecidas as vazões de saída do hidrograma em
cada intervalo de tempo.
Considerando um caso em que há 5 ordenadas do hidrograma unitário, o problema da convolução inversa tem 5 incóg-
nicas. Caso estejam d isponíveis dados de chuva efetiva e vazão de escoamento superficial da bacia, essas incógnitas devem ser de-
terminadas a partir das equações de convolução. Supondo que O problema apresenta 3 intervalos de tempo com chuva efetiva e
que O hidrograma unitário tenha 5 ordenadas, então essas ordenadas podem ser obtidas resolvendo O sistema que segue:
º/ = ~-h/
º2QJ == •
Pi ·h2 +
•
Q,, = ~•h2•+ P2 •h.1 + P1 •h/
º5 = P3 • h3 • + Pz · h4. + Pi ·h/
º6 = P3 ·h4 • + P1 · h_~ .
Q1= P.1 'h_l•
º?de_ os valores ~e P e Q são conhecidos e os valo~es de h • 1~áo-são_conh_e~id~s. O sistema apresenta mais equações do que in-
cogrntas, e, por isso, a solução é normalmente obt1d:1 por 01111w~1çao, m1111m1za11do as diferenças encre as vazões finais calcula-
das e observadas. Para eventos relativamenre simple~ _é.1,ossível _11ri_liza~ fe~ra'.n~ntas como, por exemplo, 0 Solva do programa
Excel, para resolver esse problema. Nesse caso, o obic11vo da 011m1zaçao e, ll!Jtcamente 111 1111 · .1r ,, 501111 1 J' C
" · 0 -112
• • " : l JS 11i:renças entre
as vazões calculadas e observadas elevadas ao quadrado.
Existem muitas dificuldades para a obtenção do hidrograma unidrio a partir dos dados tlc cl1 L1,,.,1e V:.IZJO
. · o bservad os na bac1a.
•
_J
153
Capftulo 11
o HIDROGRAMA UNITARIO 1
Em primeiro lugar, os dados são de chuva observada; não são dados de chuva efetiva. É necessário estimar a chuva efetiva em cada inter-
valo de tempo. Em segundo lugar, a vazão observada inclui parte de escoamento subsuperficial ou subterrâneo (escoamento de base). Esta
parte deve ser retirada, porque as operações do hidrograma unitário referem-se apenas à parcela superficial do escoamento. Por esse mo-
tivo, o hidrograma unitário obtido vai depender das hipóteses feitas para, a partir dos dados observados de vazão, separar O escoamento
superficial do escoamento de base.
Uma metodologóa alternativa, que procura identificar, de forma simultânea, as chuvas efetivas e o hidrograma unitário
é apresentada por Maia et ai. (2006). Alguns métodos para realizar a separação de escoamento são apresentados no capítulo 12·
'
1
1
1
- Escoamento
: Subterrâneo
-.(
1
1
., .,,,,"'
o 5 10
Tempo (h)
Os hidrogramas unitários sintéticos foram es~a_belecidos com base em d ados de algumas bacias cxpe rimenrais. onde se
dispunha de dados de vazão e chuva observada para vanos_eventos de cl~u~~- Nesses _locais foram aplicadas metodolog ias como
as d escritas no item anterior para obter as ordenadas do hidrograma imttano. D epois de obter hidro~ramas unicirios d e dri:.is
bacias, alguns parâmetros d a forma do hidrogram a unitário foram relacionados a características da b :.icia hidrogdfk..1 que sfo
relativamente fáceis de obter, como a área de drenagem e estimativas d o tempo de concentraçfo.
A figura 11.7 apresenta um hiJrograrna resulranre da ocorrência d e uma chuva, em lJUe se co nhece o valo r cb c huva
efetiva em rrês intervalos d e rernpo. 'Jinnando corno hase O grnf1co da flgma 11.7 , o tempo d e concentraçfo o: d efinid o como o
intervalo de tempo entre o final da ocorrência de chuva efetiva e O f1nal do escoamenro supn Hcial, co nforme moscrado nessa
figura.
O lempo enrre picos í: J eflnido como o intervalo enrrc o pico d a chuva efetiva e O pico eh vazão supe rficial.
O tempo de rerardo é definido m mo O inrervalo d e rempo t:ntrc os centros d e gravidade do h ietograma (chuva efetiva)
e do hidrograma superfkial.
O tempo de pico é definido como O tempo enrre O centro d e gravidade do hit-tograma (chuva efeti va) e o p i..:o d o
hídrograma. .
Com base nessas d efini ções é que pode-se ca rac rem .ar O 1-lidrograma U11it.í rio Sinto.:cirn adimensio nal d o SCS.
154
li
li
A partir de análises não publicadas de hidrogramas unitários em bacias com diferentes característic., s no EUA, técni-
cos do Departamento de Conservação de Solo (Soil Comervation Service - atualmente Nam rnl Resourcrs Conserl'tltion Srrvit:e)
sugeriram que os hidrogra mas unitários podem ser aproximados por relações de tempo e vaz.fo estimadas com base no tempo
de concentração e na área das bacias.
Por esta abordagem, o hidrograma unitário pode ser aproximado por um tri:ingulo, definido pela v;rz:1o d e pico, pelo
tempo de pico e pelo tempo de base, conforme a figura 11 .8. Este hid rograma unid rio sintético é conhecido como Hid rogra-
ma Unitário Triangular (HUT) .
d/2
# 1
1
-------------------'►
Chuva (1cm ou 1mm)
..,
ri
1
1,00
0,75
0,25
As rda,;óes íd.e111iíl .:ufa.s, 1p1c pcrmi1cm alcular o hidrçi~ra111a u i.111gular üo dr, ri t:I\ ah.üx:o, dé :, ord mm te. 10
de C how ec ai. ( l 988).
O tempo de pico ti' do hid mwama é. c~1ima,lo ç11m o (í(l% do tempo de n •nccm ra iil:
I,, =0 ,6 · l,c ( 11.J)
1 Ílgura 11 .H) é,, é 111i:mpn de ai11 clll r-Jçio ,la bacia' que. 1,me
onde I/' é o tempo de piw, (veja 1 ~c.r e,t1,111J J o p,l 11111,1 J .L, e~\ll.\·
ções aprese111.adas no capuu o 3.
r,
O tempo de bUbida J u hidrograma '/~ pode ~ r ~ 1i111ad n 01110 o tempo J e pírn m:1h ;\ mcra~lc J., d ur.i,--:í u d:1 dlll·
va d, a~sim :
d
TP = I p + -2 (1 l .1)
r
Copftulo 11
O HIOROGRAMA UNITÁRIO
O que significa que O tempo de recessão do hidrograma uiangular, a partir do pico até n:rornJr a -zero, é 67% maior
do que o tempo de subida.
O volume total escoado para uma chuva efetiva unitária é dado pelo produw da área da bacia vezes a l.lmina de chtw.i
efetiva:
V=A·P (11.6)
onde V é o volume escoado; A é a área da bacia; e Pé uma chuva uni cária.
Esse mesmo volume pode ser calculado pela área sob a curva de um hidrogra ma rriangu!Jr de dur.ição tor-.il f; e de
vazão de pico qp pela equação:
( 11.7)
Combinando as equações 11.6 e 11.7 e inrroduzindo a expressão 11.5 para substimir o tempo de b:isc t b. a v;n;.io de
pico do hidrograma unitário triangular, para uma chuva efetiva de I mm, pode ser c 1lculad.1 por:
0,208.A
qP = T ( 11.S)
,,
onde ~ é o rempo de pico (horas), a área da bacia (A) é dada cm km 2, e o resuliado qp é a v:11.:ío de pico (m 1.s· 1) por rnm d·
chuva efetiva.
E XE M PLO 11 .2
Construa um hidrograma unidrio para a chuva de duração de I O minu ws em uma bacia de 3.0 km ~ de área Jc: drc--
nagem, comprimemo do ralveguc de 3 100 m, ao longo do qual existe uma diferen ça de aiti rude de 93 m.
A primeím etapa é calcular o f('/1/po dr ro11rr111mcno da bana. Uriliuzndo 11 equação de t~u e Chotv (ver m plw lu J) remo,:
0,79
I = 7 68 · ( -
l )o.n= 7,68 · 3,1
0.5 = 75 min ou 1,25 horas
r ' s º·s
(3~io J
A dJJrd(ÍÍQ rÍ✓I rt11111,1 d I dr J0 111i1111rm. ronfarmr d4i11ido ' .º r111111átldo do problema. O l'empo d, wbitlt du hidru,'(1'&1Jo1,I
Tp, pode Jrr ,,1JruwdlJ 11 partir ,/11 durac,ío ~,, d,111,.1 r do rrmpo dr piro. 'a elaboração tio 1-/UT til) SC:'1' 1Ub11ir.:-u '{'" 0 '' "'/'íl ti,.
pú:o l igual a 60% d11 trmpo rll' ro11mw ,1r110.
I p = 06·1
• , . =0 ,15/,nro.\·
I' 11 u-m10 ,ú wbir"1 IÍLI hülrogm1w1 I:
T := 1 + d = O 75 + JE_ = 0,833 horos
P JJ 2 ' 60 • 2
O .rrmpu ri.- bmr riu hirbag1r1111,1t,, ) l ,tpnu i111,u/;1 por:
r1, = T,, + l •67 · Tp = 2,61 · 1~,. = .2,22
.
l111nn-
A 1,aziio dr piro do /,i,lrogm11111 1111111/,10 1n1111g11/11r I:
0,75
~ 0,50
g_
o
'IS
~
0,25
o,oo-!!--.----_;...-,---,--,---,--,---,--,---.--,----,-,---,--..
o 20 40 60 80 100 120 140
Termo /rm)
Figura J 1.9: Forma do hidrograrna u nir:írio sintético 1riJ11gular do SCS d o exemplo 11.2
Vazão
Tempo (min)
(m 3/s.mm)
o 0,00
10 0,15
20 0,30
30 0,45
40 0,60
50 0,75
60 0,66
70 0,57
80 0,48
90 0,39
100 0,30
110 0,2 1
120 0,12
130 0,03
o hidrograma unirário sinrético adimensional <lo ses é semelhante em alguns aspectos com O hidrograma unirário
triangular, porém, apresenta uma forma mais suave, definida pelos valores Ja tabela 11. 5 e pela figura 11.1 o.
o HU sintético adimensional do ses também pode ser representado pela equação 11.9, que aproxima muito bem os
valores da rabeia 11.5 (NReS, 2007).
--- 157
Capítulo 11
o HIDROGRAMA UNITARIO
f
(11.9)
onde m = 3,7; qp é a vazão de pico (m3.s-1 ) por mm de chuva efetiva, dada pela equação 11.8; T é o tempo de subida do hidro-
grama (equação 11 .4); t é o tempo decorrido desde o início da chuva. Os termos q e T teiii o mesmo significado daquele
utilizado no caso do HU triangular do SCS. P P
Para obter o hidrograma unitário de uma bacia, os valores da tabela 11.5, ou da equação l 1.9, devem ser multiplicados
pela vazão de pico estimada pela equação 11.8.
O HU sintético adimensional é mais realista do que o hidrograma triangular, porque aproxima a resposta como uma
curva suavizada, mas o HU triangular é muito utilizado, porque é simples. Na prática, utilizando a convolução para eventos de
chuva mais complexos, as diferença enqre as repostas obtidas pelos dois métodos são relativamente pequenas.
Tabeb 11 .5: Valo res d,1s o rden ad os do liidrobr:ima un itário sin tl· rico .1dim,·m ionol do ~C .
1,00
0,75 l
0,25
o.oof,...-r-r-77--r--r-,-,--,--·,-,--,--r-i_:;:~~-i-"I'-.-,.... -..--.
o.o 1.0 2,0
4,0 5,0
158 ..
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNC/AS AMBIENTAIS
Walter Colfischonn e
Fernando Dornelles
Histograma Tempo-Area
Uma forma alternativa de estimar a resposta de uma bacia hidrográfica às chuvas é o hidrograma unitário baseado no
Histograma Tempo-Área. Nesse método, procura-se definir os tempos de deslocamento do escoamento superficial desde o loc::li
de origem até o exutório da bacia. Como cada porção da bacia tem um tempo de deslocamento diferente até o exutório, em
fimção da distância e da declividade, a resposta da bacia pode ser analisada na forma de um histograma de frequência.
O Histograma Tempo-Área (HTA) pode ser obtido identificando linhas isócronas sobre a bacia e medindo a área
entre cada par de isócronas, ou analisando uma bacia através do modelo digital de elevação. As isócronas são as linhas que de-
finem um mesmo tempo de deslocamento até o exutório da bacia.
Considerando uma bacia representada a partir de um Modelo Digital de Elevação (MOE) como apresentado no ca-
pítulo 3, o histograma tempo área pode ser obtido a partir da estimativa do tempo de passagem da água através de cada célula
que compõe a bacia. A figura 11 .11 apresenta um exemplo, em que a bacia hidrográfica está sendo representada por um con-
junto de células. Considerando que o tempo de passagem da água por cada célula é constante e igual a uma unidade de tempo,
então o tempo do escoamento de cada célula até o exutório da bacia é dado na figura 11 .11. Observa-se que o tempo depende
da distância da célula considerada até o exurório.
8 ,--- - - - - - - - - - -
7
o
2 3 4 5 5 7 8 9 10 11 12
Tempo para escoar •t• o exutório
Figura 11 . 11 : Direção do escoamcn10 e tempo de escoamento da água Figura 11 . 12: Hismgram a tem po ár,·a d:i baci:1 dj fi~ur;i l l . 11
desde uma célula a1é o cxmório da bacia, rnnsi<lcrando que o tempo de
passagem po r cada célula é igual a 1
O histograma tempo-área relativo à bacia da figura 11.11 2)0de ser obtido contando a frequência de células par;\ cada
tempo. Por exemplo, na bacia da figura 11 .11 há duas células em que o escoamento leva 2 unidades de tempo par;1 chegar ao
exutÓrio. A figura 11.12 apresenta o histograma tempo área da bacia da figura 11.11.
Usando uma metodologia como a apresentada nas figuras 11.11 e 11.12 é possível construir um hidrogranu unidrio
a panir do histograma tempo-área (HTA), porém, o hidrograma unitário resultante tem, em geral, uma resposta muito dpida
e pode resultar em superestima tivas da vazão máxima. Ísto ocorre porque o HTA representa o processo de translaçfo da :ígua
na bacia, mas não represen ta o processo de armazenamento temporário da :ígua. Anres de escoar em uma bac ia a :ígua no rmal-
m ente passa por um processo de acumulação, o que rende a atenuar a rcsposca da bacia.
Uma forma de corrigir os problemas do HU obtido a partir do HTA é combinar o HTA com um reservatório linear
simples. Esse procedimento é conhecido como Hidrograrna Unitário J e C lark. Mais detalhes sobre esse método podem ser
obtidos em Tucci (J 998).
-
159
Capítulo 71
O HIOROGRAMA UNITARIO
I
Leituras adicionais
O
. , . O hidrograma unitário é um tema clássico em hidrologia ap/Jicada. Existem diversos mérodos para obter hidrograma
umtano de uma bacia a partir de dados observados ou a partir de características fís icas da bacia. Neste capítulo são apresentados
ape~as alg~ns mécodos mais simples. Mais informações podem ser obtidas no livro Modelos Hidrológicos (Tucci, 199B), ou
no livro Hidrologia: Ciência e Aplicação (Tucci, 1993).
Exercícios
1. Elabore o Histograma Tempo-Área para a bacia na figura a seguir, considerando que o escoamenco de cada célula segue a
direção das setas e que o tempo de passagem através de cada célula é de 20 minutos, independentemente da direção do
escoamento. O exutório está identificado pela seta que aponta para fora do contorno da bacia.
,
,,
\
\
- - -+---'--'.,,
1
,'
4
1
1
................
,
I
1 I
1 I
1 1
\ I
. UciJi7.,e uma planilha de cálculo para calcular o hidrograma de resposta de ~ma bacia com HU conhecido (tabela A), consi-
2 derando conhecida a chuva coral (não efetiva) sobre a bacia (tabela D). Considere que o valor do coeficiente CN é 80.
lmcrvalo de rc'm lo D
0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5
'""''" ,,,,,,.")
H 1111 ' . ,
1
/ 1'1111111 ) 0,5 2,0 4,0 7,0 5,0 3,0 1,8 1,5 1,0
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J!() 16
1',t) 9
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r
161
Capitulo 11
O HIDROGRAMA UNITARIO
3 • Construa um hidrograma unitário para a chuva de duração de 10 minutos em uma bacia de 7,0 km 2 de área de drenagem,
comprimento do tah egue de 10 km, ao longo do qual existe uma diferença de altitude de 200 m.
4 • Calcule a resposta d.a bacia do problema anterior à chuva total dada na tabela abaixo. Considere que o valor do coeficiente
CNé75.
Escoamento de base
O conhecimento do comportamento da vazão de um rio durante longos períodos de estiagem é fundamental para
lidar com diversos problemas na hidrologia, especialmente no caso da gestão de recursos hídricos. É durante as estiagens que,
em geral, ocorrem as situações mais críticas do ponto de vista ambiental. Também é durante as estiagens qtoe os conflitos entre
os diferences usos da água tendem a ser mais intensos.
Durante os períodos sem chuva, o escoamento natural nos rios é, às vezes, denominado escoamento de base, porque
apresenta uma variação muito menor do que a variação observada durante os eventos chuvosos. O escoamento de base é man-
tido pela água subterrânea existente nos aquíferos da bacia.
A água subterrânea cem sua origem principal na água da chuva que infiltra no solo e percola para camadas mais pro-
fundas. Ao longo de um período longo de chuvas é grande a quantidade de água que atinge os aquíferos, especialmente o
aquífero superficial. Durante esses períodos o nível da água subterrânea se eleva. Por outro lado, ao longo de períodos secos, a
água armazenada no subsolo vai sendo descarregada para as nascentes dos rios e o nível da água subterrânea diminui. Entretan-
to, ao contrário do escoamento superficial, o fluxo de água subterrânea é, normalmente, muito lemo.
A parte decrescente de um hidrograma após um evento de chuva, conhecida como recessão do hidrograma, reflete a
diminuição do nível da água nos aquíferos de uma bacia ao longo do tempo. O momento a partir do qual pode se dizer que
toda a vazão de um rio cem origem subterrânea corresponde ao momento final da chuva mais o período de tempo correspon-
dente ao tempo de concentração da bacia, aproximadamente.
O gráfico da recessão dos hidrogramas frequentemente tem a forma de uma função exponei-icial decrescente. Em re-
giões com chuvas marcadamente sazonais isso pode ser facilmente verificado. Como exemplo, a figura 12.1 apresenta um hi-
drograma de vazóes observadas no rio dos Bois, no Estado de Goiás, ao longo de quatro anos entre 1990 e 1993. Nessa região,
as chuvas ~e concentram no período de dezembro a março e os meses de junho a setembro são extremamente secos. O hidro-
grama da figura 12.1 reflete essa característica climática, apresentando vários picos de vazão nos meses d e verão, e uma longa
recessão, raramente interromp2da por pequenos aumentos da vazão, ao longo dos meses de inverno do Hemisfério Sul.
Destacando o período de estiagem de j'lmho a setembro de 1991, é possível verificar o comportamento típico da re-
cessão do hidrograma do rio dos Bois, como mostra a figura 12.2.
·,---·
' : --
--- --- ---.,-
400
'
1
350 ..
1
... ••. • • J •. .•
,ii" 250
l
.Q
~ 200
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50
i.:n/;;;9:;;-0--_--:,_.::;y~g;;-o-_
_ - - :ja:n:;;l9~1- - .~ ,_,~v;;;9:-;-,- _- --;:ja::n::/9:;:2---,..-V~9-2_ _ _ja_n~l-93_ _ _ _).J~V9_3_=-~-ja~n-
19_4_.,.
h gura 12. 1: H1<l 1o!;ra111J do n o d"' llois . <'111 C oU, d,, I ')')() j .\
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U Hll l\." , e. 1lll \':l.S
Ji: vc:d.o e rc<.:c)~ÚI.'.~ dur;1nt c o > tlH.'St'!!i de jun l1u a ~t.·tt..:m hrn
164
Quando representado em escala logarítmica, o hidrograma dtorante a estiagem mostra um comportamento semelhante a
uma linha reta. Isso sugere que o comportamento da vazão do rio dos Bois ao longo desse período pode ser representado por uma
equação do tipo:
_,
( 12.1)
onde t é o tempo; ~éa vazão num instante t 0 ; ~,) éa vazão num instante t (por exemplo: t dias ap6s ti); e k é uma constan-
te (com as mesmas unidades de t).
50
100
90
◄S 80
70
40
60
35
50
~ 30
É,
o 25
'i1l
~ 20
1S
20
10
s
o 10
a) b)
Figu r.1 12 .2: a) Hidrogram a <lo rio d os Bo is (GO) d uranre os meses <le estiagem <lc 199 1; b) o mesmo hidrogra.ma representado em escala
logarítmica e aproximado por u m a linha reta
Esta aproximação da curva de recessão de vazão utilizando uma equação exponencial decrescente é válida para um
grande número de casos e pode ser utilizada pa.ra prever qual será a vazão de um rio ap6s alguns dias, conhecendo a vazão no
tempo arual, considerando que não ocorra nenhuma chiuva. A maior dificuldade para resoõver esse tipo de problema é estimar
0 valor da constante k, mas isso pode ser feito utilizando dois valores conhecidos de vazão espaçados por um intervalo de tem-
k
-ô.t
=-, n--=-(º<_l+_ru_) l (12.2)
l º'''
• 1d · Joca11·-
. _ de dk depende das caracceríst"icas fi'1s1cas
O valor · d a Q.Jac1a,
L •
em especia ' ·
as suas caractensncas geoJ'og1cas.
· Bacias
zad as em reg10es on e predominam as roch d" a] • . - ,
• d as se •meneares norm. mente tem ma10r capacidade de armazenamento de agua
su bterranea, e os rios que renam essas áreas ap 1 d k ·
resentam va ores e relauvamence altos. Bacias localizadas em regiões de rochas
pouco porosas, como o b asai to, tendem a apresentar valores d k · b ·
e mais a1xos.
165
Capítulo 11
ESCOAMENTO OE BASE
EXEMPL012 . l
Durante uma longa estiagem de um rio foram feitas duas medóçóes de vazão, com quatro dias de intervalo enue si,
conforme ª tabela abaixo. Qual seria a vazão esperada para o dia 31 de agosto do mesmo ano, considerando que náo ocorre
nenhum evento de chuva nesse período?
Data Vazão
1/4/agosto 60,1
15/agosto
16/agosrn
l 7h1gosto
18/agosto 57,6
Espera-se que o comportamento do hidrograma na recessão seja bem representado por uma mrva exponencial decrescente. A
constante k pode ser estimada comiderando os dois valores de vaziío conhecidos (60,1 e 57,6), separados por 4 dias.
-4
k = ----,--~ =94
ln( 57,6J
l 60,1
Portanto, a constante k tem valor de 94 dias. A vaziío no dia 31 de agosto pode ser estimada a partir da vazão do dia 18,
considerando a diminuição que ocorre ao longo dos 13 dias que separam essas duas datas:
-1 3
Q(,) = 57,6 · e 94
=50,2
Portanto, a vazão esperada no dia 31 de agosto seria de 50,2 rn3.s- 1•
dV =-Q ( 12.4)
dt
que é a equação diferencial que descreve, de forma extremamente simplificada, um aquífero superflcial descarrega ndo para um
rio ou sistema de rios.
•
166
.,
1
Aproximar a curva de recessão de um hidrograma durante uma longa estiagem por uma equação exponencial decrescente
equivale a admitir a ideia que a relação entre armazenamento de água subterrânea e descarga do aquífero para o rio é linear, como na
equação a seguir:
V
Q= ~ ou V e. Q-k (12.5)
k
onde Vé o volume de água armazenado pelo aquífero (m 3); Q é a vazão que passa pelo rio durante a estiagem, que é equiva-
lente à descarga do aquífero (m 3.s- 1); e k é uma constante (s).
Substituindo a relação linear da equação 12.5 na equação de balanço hídrico simplific.ida 12.4, obtém-se a equação 12.6.
kdQ=Q (12.6)
dt
A solução desta equação diferencial resulta numa equação exponencial decrescente, como apresentada na seção anterior deste
capírulo:
-1 -t
(12.7)
Isso significa que, apesar de toda a complexidade existente no armazenamento e no fluxo de água subterrânea de uma
bacia, a relação entre volume de água armazenado e vazão é aproximadamente linear. Essa afirmação é válida para condições de
estiagem, na maior parte dos rios do mundo.
Separação de escoamento
Hidrogramas observados em postos fluviométricos podem ser analisados com o objetivo de identificar a parcela do escoamento
que tem origem no escoamento superficial e a parcela do escoamento que tem origem no escoamento subterrâneo. Essa análise é baseada
em métodos de separação de escoamento. Ao lo.ngo do tempo diversos métodos foram propostos para a separação do escoamento.
A separação de escoamento pode servir para separar apenas o escoamento S1Uperficial de uma bacia, o que é importan-
te em estimativas do hidrograma unitário. Por outro lado, o cálculo da parcela do escoamento subterrâneo pode ser utilizado
para estimar a recarga média dos aquíferos em uma análise regional.
Em estimativas expediras, não muito confiáveis, a relação entre a Q90 e a Q50 de uma curva de permanência de um rio
(veja capítulo de estaástica) pode ser usada para estimar a proporção de escoamento de base, ou subterrâneo, em relação ao
escoamento torai.
Em estimativas mais complexas podem ser utilizados isótopos, oto análises químicas, para identificar as diferentes
origens da água que escoam num rio a cada momento.
, ~ais comuns, entretanto, são os métodos de separação de escoamento baseados na análise dos hidrogramas. Esses
metodos tem uma certa base física, mas têm, também, uma boa dose de componentes arbitrários para definir a linha que sepa-
ra O escoamento subterrâneo do superficial durante um evento de chuva.
. U~ método muito utilizado está ilustrado na figura 12.3 e supõe que o escoamento superficial termina D dias após o
pico de vazao, sendo que D pode ser estimado por uma equação empírica proposta por Linsley:
D= 0,827 -Aº· 2
(12.8)
onde A é a área da bacia em 1cm2 e D e' dad o em d'ias.
A duração D permite I'd ·c. c. , . d 1
enru1car o ponto c na 11gura, que e o momenro a partir o qua o escoamento subterrâneo
vo1ta a respon d er por 100°/c0 d - d . O ,.
, . ª vazao o no. ponto a e identificado como o momento cm que inida a ascensão do hidrogra-
ma, e o ponto b e obndo estend d d - . ,
, en o a curva e recessao a pamr do ponto a are o tempo em que ocorre o pico de vazão.
O urros metodos de sep - d d c. d · 1
araçao e escoamento e11ncm o ponto e térm1110 e o escoamenro superfkial como o ponto
J
167
Capítulo 12
ESCOAMENTO DE BASE
de i~flexáo (o ndeª derivada segunda é igual a zero) ou de máxima curvatura (onde a derivada segunda é máxima) da recessão
do hidrograma. Alguns desses métodos estão ilustrados na figura 12.4.
Piro
,:
D ,
'
''
Esroarrento
superficial
Tu~ Tu~
Figura 12.3 : .Separação de esco.1111c111 0 supe rficia l e s11 b1 crrá11eo ai ravés Figura 12.4: A lg1111s 111étodos de sep araç;io de e,coan H·1110 por a n á lise
d.1 :111.ilise da fo rma do hidrogram a e de es1i111 a1i,·a d e duração d o escoa- dos h idrog ranus
m e mo su p erfi c ia l
Os métodos de separação de escoamento ilustrados nessas figuras podem ser aplicados com relativa facilidade a even-
tos isolados de chuva, que provocam um hidrograma simples, com ascensão, pico e recessão bem caracterizados. No entanto,
em hidrograrnas que representam séries mais longas de dados, essas técnicas são um pouco limitadas. Nesse caso, é mais ade-
quado estimar o escoamento de base usando filtros digitais, ou filtros numéricos.
(12.11 )
onde
(12. 12)
Uma forma simples de estimar o valor de b. para cada inrervalo de tem 110 i · I'[ I CI I· I
' e o I tro e e 1ap man, e ac o pela equação
12.13 (Eckhardt, 2008):
-
168
a 1-a
b, =--·b. I +--·y. (12.13)
2-a ,- 2-a '
onde o termo 11 está explicado acin1a no t exto. Se a apt·1caçao
- d essa equaçao - b. = y .
- resu1tarem um valor b. > y., entao
1 1
, Esse tipo de filtro fundo na re atJvamente em para acias com relativamente pouca contribuição de escoamento sub-
1 · b b · ' '
terraneo no escoamento total · No caso de bac1·as com contr1' b uiçao
· • su b terranea
' · um c,I
maior, u tro com d 01s· parametros
' e · pro-
101
posto por Eckhardt (2005):
(l-BFim J·a·bi-l+(l-a)·BFI
0 ·y.
bi = ma x
1
(12.14)
1-a·BFI 1110.\'
limitado a valores b; menores ou iguais a y 1., como no caso anterior, e onde rt está definido acima e BFImax é o máximo percentual
d_e escoamento subterrâneo que o filtro permite calcular. Os valores sugeridos por Eckhardt (2005) para o parâmetro BF/max
sao:
BFI111ax = 0,80 (rios perenes e aquíferos porosos);
BF/ma.< = 0,50 (rios efêmeros ou intermitentes e aquíferos porosos);
BFI,,,nx = 0,25 (rios perenes e aquíferos impermeáveis).
Uma forma alternativa de estimar o valor do parâmetro BFImax é baseada em dois valores de vazão obtidos da curva de ·
permanência: Q90 e Q50 (ver capítulo 14). A partir desses dois valores, é possível estimar o valor de BF~,uzx usando a equação 12.15
(Collischonn e Fan, 2013):
BF Ima.r º
= 0,8344- 9 º + 0,2146 (12.15)
º50
A equação 12.15 pode gerar valores do parâmetro BFI111a.t contínuos, entre, aproximadamente, 0,22 e 1, e permite
obter melhores resulcados quando se usa o filtro da equação I 2. I 4 (Collischonn e Fan, 20 I 3).
A figura 12. 5 mostra O hidrograma do rio dos Bois durante um período chuvoso entre duas estações secas. A aplicação
do filtro de Chapman (equação 02.13) resulta num escoamento de base extremamente afastado do hidrograma observado, o
que está incorreto, especialmente no período de recessão a partir do mês de maio. A aplicação do filtro de Eckhardt (equação
12. I 4) resulca em um escoamento de base mais próximo do hidrograma observado, e com boa concordância no período de
recessão a partir de maio. Para a aplicação da equação 12.14 foi utilizado o valor de k (coeficiente de recessão) calculado como
no exemplo 12.1, e O valor de BFImax foi calculado usando a relação empírica 12.15, a partir dos vaAores de Q90 e Q50 obtidos
com base na série de vazões observadas no local (ver capítulo 14).
300
- Vaz:lo obse,vada
- ·- F~ro de Chapm,n
250 - - - F ftro de Eckhardl
200
{ 150
o
1100
50
0+---""T""---r---,----,----r---•
sei nov jan trer ,mi ~I
Figura 12.5: Hidrograma de, rio dus Boi~ w rn ~ep J ra\ 5u J c csrnamenru kg1111do d ui~ li lr rn~ d,· v.11:íu d t' base: Fil irn d e C liapman k q . 12. U) é
A aplicação do filtro da equação 12.9 com BPI = 0,81 resultou num hidrograma de escoamento de base cujo volu-
me total represem~ 75% ~o volume total (BF!mn., = 0,75).a.Esse resultado sugere que 74% da vazão média anual do rio dos Bois,
no local em que sao medidas as vazões, tenha origem no escoamento subterrâneo.
ExEMPLo12 . 2
No período de 06 a 29 de junho de 2002 o rio Pelotas (SC e RS) no posto íluviométrico Passo do Socorro apresentou
a série de vazões da tabela abaixo. Com base em recessões do hidrograma em períodos secos, o valor da constante de recessão k
foi estimado em 20 dias. Utilize um filtro para estimar o hidrograma da vazão de base.
A bacia do rio Pelotas apresenta solos e geologia q11e 11íio J1111orerem a infiltmcíio dn dg11n. Porttmto, espera-sr 11m rsronmen-
,_ . t ba,·xo Considerando válido o filtro de Chapma11 (eqtl{lfflO 12.13), com o wilor de k = 20 dias, e considmm-
to de base re,.atrvemen e • . .
. l J I po A,itre os dados observados é de l tll{I, o valor tio parâmen·o a pode ser o/Jlltlo por:
do qu.e o mterva :o ae em • ·
- 61 .::.!
a =e' =e 2º ~0,95
170
bl =J1 =58,8
b2 = 0,907bl+0,04712 = 56,5
//; L
,r,omKnte esta'
· a1>resentado
r na figura 12.6. A soma das duas 1/ltimas colunas tia tabela pemzite calc11lar
b o
1 O gra;,c0 corresr ,,,onde ao escoamento de base (cerca de 35%). A mbtmriio da Vflziio total menos ,z vazão de ase
- total que corresr . , .,
P
ercentual da vaz,ao . erftcia/ em crtda intervato ue tempo.
. . ar o escoamento sup
perrmte esttm _
r
► 171
Capitulo 12
ESCOAMENTO OE BASE
2500
- • - Oobs
t -o- Ftro
f\ '
2000 '1
' 1
.
' 1
' 1
t 1500
'I
: --,
' 1
1\
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J 1000
I
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I' 1\
\
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\
,,., • I '• \
I , '~ \
500
-~-·-··-·-·-·
oi-=---=-~---~--~---~---.-----.--
6/jun14/,-in 18/iJn
10/jun 22/iJn 26fµn
.1
..,
1
172
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECf{NCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
Leituras adicionais
O assunto dos filtros para separação de escoamento é clássico em hidrologia e um texto interessante sobre este assunto
é "How to cowm/Ct reczmive digital filters for baseflow separation" de K. Eckhardt, publicado em Hydrological Processes Vol. 19
pp. 507-515 em 2005.
Exercícios
1. Explique como os filtros para separação de escoamento podem ser utilizados para estimar a recarga de aquíferos.
2. D19rante uma longa estiagem de um rio foram feitas duas medições de vazão, conforme a tabela abaixo. Qual seria a vazão
esperada para o dia 31 de agosto do mesmo ano, considerando que não ocorre nenhum evento c;le chuva nesse período?
Data
14/ago 60,4
15/ago
16/ago
17/ago
I 8/ago
19/ago 51,7
3. Durante uma longa estiagem de um rio foram feitas seis medições de vazão, conforme a tabela abaixo. Qual seria a vazão es-
perada para o dia 31 de agosto do mesmo ano, considerando que não ocorre nenhum evento de chuva nesse período? Consi-
dere que durante a estiagem a bacia se comporte como um reservatório linear.
Data Vazão (m 3 .s· 1)
14/ago 123,1
15/ago 116,2
IG/ago 109,6
17/ago 103,2
18/ago 97,3
19/ago 91 ,8
327
Capítulo22
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HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECltNCIAS AMBIENTAIS
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335 ■
Capítulo23
RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS
1. A energia necessária para aquecer 1 kg de água de O a 100 ºC é 421.600 J, enquanto a energia necessária para
vaporizar 1 kg de água a 100 ºC é 2.261.000 J. Portanto, a energia necessária para vaporizar a água é cerca de 5,4
vezes maior do que a energia necessária para aquecer a água de O a 100 ºC.
2. O aumento é de 0,83 ºC por dia.
3. O tempo de residência da atmosfera é de, aproximadamente, 8 dias.
s
1. A diferença é a frequência com que é registrada a chuva.
2. A precipitação pode ser estimada por radar ou por imagens de satélite.
3. Um ano seco, que em média somente ocorre (ou é superado para baixo) a cada 40 anos, apresenta uma chuva
anual de 1117,5 mm.
4. Considerando a curva IDF de Porto Alegre, apresentada na tabela 5.4, a intensidade é 99,9 mm.hora- 1 •
5. Um ano muito úmido, com tempo de retorno de 100 anos, tem P igual a 2068 mm.
6. O tempo de retorno é de 338,1 anos, considerando a curva IDF de Porto Alegre, apresentada na tabela 5.4.
7. Considerando a IDF de Porto Alegre, a intensidade da chuva de 15 minutos de duração e 10 anos de tempo de
336
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECIÊNCIAS AMBIENTAIS
Walter Co/lischonn e
Fernando Dornelles
retorno é de 118,3 mm.hora- 1. A altura precipitada em 15 minutos seria de 29,6 mm. A maior chuva já registra-
da no mundo em 15 minutos é de 198 mm, conforme a tabela 5.5. Portanto, a maior chuva já registrada no
mundo em 15 minutos é mais de seis vezes maior do que a chuva de 15 minutos e 10 anos de tempo de retorno
em Porto Alegre.
8. Na equação 5.3, quando b vai a zero, a equação resulta na equação da média aritmética.
~1i\tl,j.;i;?iã . . º,,,_,~1;:
13,85
5,77
4,14
1,97
1. A nova vazão média a jusante da barragem é reduzida para, aproximadamente, 32,5 m 3.s-1, em função da evapo-
ração no reservatório. Parte desta redução pode ser compensada pela ocorrência de chuva diretamente sobre o
reservatório.
2. A evapotranspiração média anual da bacia é de 1408 mm.ano-1, e o coeficiente de escoamento é igual a 0,12.
3. A evapotranspiração é de, aproximadamente, 5 mm.dia- 1 •
4. A evapotranspiração é de 4,6 mm.dia- 1•
5. O valor de 36,6 mil litros de água por ano por árvore é muito alto quando é considerado o consumo total de uma
floresta. Considerando a densidade de 1 árvore a cada 4 m 2 , este consumo equivale à evapotranspiração de 9150
mm.ano- 1 • Esta evapotranspiração é impossível de ser atingida, porque não há energia solar suficiente para man-
ter este processo. Mesmo considerando a atmosfera perfeitamente transparente e sem nuvens, e admitindo que
toda a energia solar incidente fosse utilizada para evaporar a água, a taxa de evapotranspiração seria de 6489
mm.ano- 1 .
6. A evapotranspiração é de 2,6 mm.dia- 1 •
337
Capítulo23
RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS
141
1. O escoamento superficial se origina em partes da bacia em que a água não infiltra no solo. Isto pode ocorrer
porque a superfície é impermeável, como em telhados de construções e em ruas revestidas, ou porque a intensi-
dade da chuva é maior do que a capacidade de infiltração, ou porque o solo já está saturado. Em uma bacia, estes
três processos podem ocorrer ao mesmo tempo.
2. O escoamento superficial é gerado, preferencialmente, em áreas com solos rasos, de baixa capacidade de infiltra-
ção, e em locais em que o lençol freático está próximo à superfície. Em bacias rurais as áreas preferenciais para a
geração de escoamento estão situadas próximas à rede de drenagem, onde é mais fácil ocorrer a saturação do solo.
3. A chuva efetiva é a parcela da chuva que não infiltra no solo, e que acaba gerando o escoamento superficial.
4. A lâmina escoada superficialmente é 3,49 mm.
5. Nesse caso, a chuva efetiva passaria para 6,16 mm.
6. Os resultados são apresentados na tabela que segue. O valor máximo de escoamento superficial é gerado no quarto intervalo de
tempo.
Ili Precipitação
(mm)
5
Precipitação acumulada
(mm)
5
Chuva efetiva acumulada
(mm)
0,000
Chuva efetiva incremental (mm)
0,000
20 16 21 0,000 0,000
.10 14 35 0,737 0,737
10 11 46 3,013 2,276
50 5 51 4,467 2,192
7. O escoamento superficial total passa de 4,467 mm para 11,491 mm. O intervalo de tempo com maior escoamen-
to passa de 2,276 mm para 6,277 mm.
8. O tempo de empoçamento é de 0,5 horas. A chuva efetiva é 33,25mm.
(,(i 2
:-;o 4
1\/i} 4
j_).i)
338
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA ECIÊNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
2) O hidrograma resultante é:
Tempo (horas)
0,5 0,0
1,0 0,1
1,5 1,1
2,0 3,9
2,5 9,0
3,0 15,1
3,5 16,7
4,0 13,9
4,5 9,0
5,0 5,9
5,5 4,0
6,0 2,0
6,5 0,7
3) O hidrograma unitário é:
t (min) Q(m3.s- 1) por mm de chuva efetiva
o o
10 0,19
20 0,37
30 0,56
40 0,74
50 0,93
60 1,12
70 1,26
80 1,15
90 1,04
100 0,92
110 0,81
120 0,70
130 0,59
140 0,48
150 0,37
160 0,26
170 0,15
180 0,03
Capítulo23
RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS
1 Tempo (minutos)
Jl 0,0
i, 20 0,3
hs.1 17,3
~
j16,7 23,2
t
t
9,0 'J(J 34,0
35,9
' 5,9
i 4,0 36,6
t
;,.
2,0 33,1
r 0,1 29,6
26,0
1
f
-
t
;
0,19
0,37
o
22,5
19,0
15,5
11,9
8,4
0,56 5,0
''
~
0,74
0,93
2,5
0,6
1,12 0,0
1,26
1,15
1,04
0,92 1. Admitindo a hipótese que, no longo prazo, o armazenamento de água no aquífero se mantém razoavelmente
' 0,81 constante, resulta que a recarga média é igual à descarga média, e a descarga média anual do aquífero pode ser
1
0,70 estimada através da separação de escoamento, usando séries de dados de vazão medidas em um ponto do rio.
'
f 0,59
0,48
0,37
2.
3.
A vazão esperada para o dia 31 de agosto é de 35,6 m 3 /s.
A vazão esperada para o dia 31 de agosto é de 45,4 m 3/s.
0,26
0,15
0,03
340
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA E CltNC/AS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
1. A curva-chave é uma relação entre o nível da água e a vazão, válida para uma determinada seção transversal de um
rio, e obtida a partir de medições simultâneas de nível da água e vazão. Pode ser representada na forma de uma
equação, gráfico ou tabela.
2. As calhas Parshall servem para medir vazão em pequenos cursos d' água ou canais.
3. A vazão é de 2,5 m 3 .s- 1.
4. Com uma vazão superior a 4,3 m 3.ç 1 este canal deve começar a transbordar.
5. Os coeficientes da curva-chave são: h 0 = 20 cm; a= 0,0017; b = 2,087.
1. Em média, um ano a cada 10 apresenta chuva total inferior à 1351 mm neste local.
2. É uma curva que relaciona vazão com sua frequência de ocorrência, informando com que frequência uma deter-
minada magnitude de vazão é igualada ou ultrapassada durante o período de observação.
3. A Q90 é a vazão que é igualada ou superada em 90% do tempo.
4. A vazão Q,;0 é o valor de vazão que é igualado ou superado em 80% do tempo. Entretanto, como o rio é intermi-
tente e passa mais da metade do tempo completamente seco, sua Q50 é igual a zero, então a vazão Q,;0 também é
nula.
5. A Q90 é sempre maior ou igual a Q95 .
6. Não é correto. A vazão Q95 é uma vazão mínima. Já as vazões com permanência de 40% e 50% são vazões maio-
res do que a Q95 .
7. Um reservatório tem por objetivo reter o excesso de água dos períodos de grandes vazões para ser utilizado nas
épocas de seca, exercendo um efeito regularizador das vazões naturais. Dessa forma, um reservatório aumenta as
vazões mínimas e, consequentemente, as curvas de permanência ficam mais horizontais, ou seja, as vazões passam
mais tempo com valores próximos da média.
8. O risco pode ser expresso como R=p.P, onde Ré o risco, p é a probabilidade e Pé o prejuízo. Na primeira alter-
nativa o risco anual é de 8 milhões de reais. Na segunda alternativa o risco anual é de 3 milhões de reais. Embora
a probabilidade de falha no primeiro caso seja mais baixa, o risco é mais alto.
9. A vazão máxima pela distribuição LogNormal é 34510 m 3 .ç 1. A vazão máxima pela distribuição Gumbel é 35419
m 3 s 1. A vazão máxima pela distribuição LogPearson III é 34500 m 3 .s- 1.
10. Usando a distribuição de Weibull a vazão Q7, 10 é de 673 m3.s- 1 • Usando a estimativa empírica pela fórmula de
Weibull, a Q7, 10 é de 605 m 3.s- 1. Usando a estimativa empírica pela fórmula da Mediana, a Q7, 10 é de 617 m 3.s- 1.
Usando a estimativa empírica pela fórmula de Hazen, a Q7_10 é de 624 m 3 .s- 1.
11. A probabilidade de não ocorrer nenhuma cheia com tempo de retorno igual ou superior a 50 anos ao longo de
um período de 65 anos é de 27%, aproximadamente.
12. As vazões mínimas geralmente estão associadas aos problemas de demanda de água para abastecimento, irrigação
ou geração de energia. Estes problemas estão associados tanto com a magnitude como com a duração do evento.
No caso das vazões máximas, é importante o valor instantâneo, pois esse valor é o que, de fato, causa os danos de
inundações e rompimentos de estruturas. A duração é, em geral, menos importante nas cheias do que nas estia-
gens.
341
Capítulo23
RESPOSTAS DOS EXERCÍCIOS
1. Com a seção trapezoidal a vazão máxima no final do trecho é de, aproximadamente, 63 m 3.s- 1.
2. A vazão máxima no hidrograma ao final do trecho é de, aproximadamente 226 m 3 .ç 1.
3. Compare com os dados observados em Itaqui.
4. Compare com os dados observados em Pirapora.
1. Considerando que o local é a cidade de Curitiba, e usando a curva IDF apresentada no capítulo 5, a chuva de
projeto é apresentada na tabela a seguir.
90 43,7
lW 1~
150 SJ
180 2,4
l
342
HIDROLOGIA PARA ENGENHARIA E CltNCIAS AMBIENTAIS
Walter Collischonn e
Fernando Dornelles
1. A concentração mais baixa de OD do rio a jusante da entrada do afluente é de 3,3 mg.L- 1• Esta concentração
ocorre cerca de 27 km a jusante da entrada do afluente.
2. Aproximadamente 6,82 mg/L;
3. Assumindo que a DBO na água utilizada para diluição é nula, a vazão de diluição é aproximadamente 16,6 m 3 .s- 1.
4. A vazão onde a concentração de Nitrogênio é 0,4mg.I- 1 é aproximadamente 124 m 3 .s- 1 • A partir da curva de
permanência, a vazão de 124 m 3 .s- 1 é superada ou igualada em aproximadamente 70% do tempo, ou seja, em
aproximadamente 30% do tempo a vazão será menor do que o necessário para diluir o nitrogênio, e o limite de
0,4 mg.I- 1 será ultrapassado.
1. Considerando válida a equação empírica 20.1, ocorreria um aumento de 65 mm por ano no escoamento da bacia.
2. Considerando válida a equação empírica 20.1, ocorreria uma redução de 326 mm por ano no escoamento da
bacia.
3. O consumo de água para irrigação de arroz sugerido no enunciado é de, aproximadamente, 1O mil m 3 por hec-
tare, e por ciclo de cultivo de aproximadamente 120 dias. Este consumo corresponde a 1000 mm, num ciclo que
ocorre uma vez ao ano. A diferença entre uma área completamente florestada e uma área desmatada é, pela equa-
ção empírica 20.1, de 326 mm por ano. Observa-se que a demanda de água para irrigação de arroz é muito maior
do que a diferença entre a demanda entre uma área com floresta e uma área desmatada.