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de Hidrologia
1.Introdução à Hidrologia
1.1 Definição
A Hidrologia é a ciência da água. Trata da quantificação dos volumes de água que, em
diversas formas, encontram-se distribuídos pela superfície terrestre e são suscetíveis de
aproveitamento pelo homem. Ocupa-se, também, da movimentação dessas massas de água que,
num fluxo contínuo, deslocam-se de um lugar a outro facilitando seu uso, mas causando também,
às vezes, grandes dificuldades e prejuízos à atividade humana.
Diversas especialidades têm surgido dentro das ciências hídricas relacionadas com os
diferentes usos da água, e por isso aspectos como a hidrologia de águas subterrâneas e a
qualidade das águas não estão aqui incluídas, tendo-se abordado apenas de forma preliminar a
ocorrência das águas subterrâneas, constituídas hoje numa ciência especializada que poderá ser
melhor consultada em textos próprios.
A maioria dos problemas reais envolve várias dessas especialidades, porquanto muitos dos
fenômenos são interdependentes. A Hidrologia, por seu caráter abrangente, utiliza como suporte
outras ciências específicas como a geologia, geografia, hidromecânica, estatística, computação e
outras, fora das básicas de física e matemática (Gray, 1973).
Linsley et Al. (1949) reconhecem três grandes temas a serem tratados na Hidrologia: a
medição, registro e publicação de informações básicas, a análise dessa informação para
desenvolver e expandir as teorias fundamentais, e a aplicação dessas teorias e dados na solução
de problemas reais.
2.Ciclo Hidrológico
Ciclo hidrológico é o termo que se usa para descrever a circulação geral da água, desde o
oceano até a atmosfera, até o sub-solo, e novamente até o oceano, conforme apresentado na
Figura 2. 1.
Pode-se dizer que o ciclo hidrológico não tem princípio e nem fim. A principal força motriz
desse sistema é a energia solar, que provoca o aquecimento do ar, do solo e da água superficial.
Como resultado desse aquecimento, temos a circulação de massas de ar e a evaporação. Esse
vapor se condensa por meio de vários processos e è devolvida à terra em forma de precipitação,
impulsionado pelas forças gravitacionais. Uma porção da água precipitada é retida
temporariamente em depressões superficiais, vegetação e outros “objetos” (interceptação) e
retorna à atmosfera por meio da evaporação e transpiração. O restante da água pode infiltrar no
solo ou escoar sobre uma superfície até atingir um rio, lago ou mar, sendo que essa água também
está igualmente sujeita à evaporação e transpiração durante todo o seu trajeto. A água infiltrada
pode percolar até zonas mais profundas ao ser armazenada como água subterrânea, que pode
mais tarde fluir como manancial ou incorporar-se a rios, lagos ou mar. Dessa maneira, o ciclo
hidrológico sofre vários processos: precipitação, interceptação, transpiração, evaporação,
infiltração, percolação, armazenamento e escoamento.
Essa é uma descrição do ciclo hidrológico sumamente simplificada. Na realidade, todas
as fases do ciclo hidrológico ocorrem simultaneamente. À escala global, a quantidade de água
contida em cada uma das fases do ciclo é constante, porém, visto em termos de uma área
limitada, como, por exemplo, uma bacia hidrográfica, a quantidade de água contida em cada
parte do ciclo varia muito. Por exemplo, a água precipitada que está escoando em um rio pode
evaporar, condensar e novamente precipitar antes de retornar ao oceano. A água também sofre
alterações de qualidade ao longo das diferentes fases do ciclo hidrológico. A água salgada do
mar é transformada em água doce pelo processo de evaporação.
Estima-se que 1,4 km3 de água seja mundialmente disponível. Cerca de 97 % da água do
mundo está nos oceanos, e dos 3% restantes, a metade (1,5% do total) está armazenada na forma
de geleiras ou bancadas de gelo nas calotas polares (). A água doce de rios, lagos e aqüíferos
(reservatórios de água no subsolo) corresponde a menos de 1% do total. Em valores totais, a
água doce existente na Terra e a água que atinge a superfície dos continentes na forma de chuva
é suficiente para atender todas as necessidades humanas. Entretanto, grandes problemas surgem
com a grande variabilidade temporal e espacial da disponibilidade de água. A América do Sul é,
de longe, o continente com a maior disponibilidade de água, porém a precipitação que atinge
nosso continente é altamente variável, apresentando na Amazônia altíssimas taxas de
precipitação enquanto o deserto de Atacama é conhecido como o lugar mais seco do mundo.
3. Bacia Hidrográfica
3.1 O que é uma bacia hidrográfica?
O ciclo hidrológico é normalmente estudado com maior interesse na fase terrestre, onde o
elemento fundamental da análise é a bacia hidrográfica (Figura 3. 1). Por definição, a bacia
hidrográfica é a área de captação natural dos fluxos de água, originados a partir da precipitação,
que faz convergir os escoamentos para um único ponto de saída, seu exutório.
A bacia hidrográfica pode ser considerada como um sistema físico sujeito a entradas de
água (eventos de precipitação) que gera saídas de água (escoamento e evapotranspiração). A
bacia hidrográfica transforma uma entrada concentrada no tempo (precipitação) em uma saída
relativamente distribuída na tempo (escoamento).
Para definir uma bacia hidrográfica, é necessário definir uma seção ou ponto de
referência em um curso d’água selecionado, além de informações topográficas (relevo) do local.
Uma bacia hidrográfica, por sua vez, pode ser dividida em sub-bacias e cada uma das sub-bacias
pode ser considerada uma bacia hidrográfica.
Na são apresentadas as bacias hidrográficas brasileiras, com a rede de drenagem
disponibilizada pela Agência Nacional de Águas (ANA, 2005). No site da ANA
(www.ana.gov.br) podem ser encontradas informações sobre as bacias hidrográficas brasileiras
(Figura 3. 2), e para as sub-bacias também. Na Figura 3. 3 é apresentada a bacia do arroio
Dilúvio, e a divisão em sub-bacias.
Bacia do rio
Tocantins Bacia Atlântico
trecho Leste
Bacia do rio
Paraná
Bacia do
rio Uruguai
Bacia Atlântico
trecho Sudeste
Área de drenagem
A área de drenagem (A) é a superfície em projeção horizontal, delimitada pelo divisor de
águas. O divisor de águas é uma linha imaginária, que passa pelos pontos de maior nível
topográfico, e separa a bacia hidrográfica em estudo de outras bacias hidrográficas vizinhas
(Figura 3. 4). Deve-se considerar que essa linha não é, em geral, o contorno real da bacia
hidrográfica, já que a influência da geologia pode fazer com que o contorno de aportes de
águas subterrâneas e superficiais seja diferente. Em geral, a área de uma bacia hidrográfica
é estimada a partir da delimitação dos divisores da bacia em um mapa topográfico. A área
da bacia hidrográfica é um dado fundamental para definir a potencialidade hídrica de uma
bacia, uma vez que é a região de captação da água da chuva. Assim, a área da bacia
multiplicada pela lâmina precipitada ao longo de um intervalo de tempo define o volume de
água recebido pela bacia hidrográfica.
Divisor topográfico
250
225
200
175
Altitude (m)
150
125
100
75
50
25
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 4000
Comprimento (m)
Figura 3. 5 - Perfil do fundo do arroio do Moinho em Porto Alegre (IPH, 1979)
Além dessas características principais, também são características físicas de uma bacia
hidrográfica:
concentração. Entre os parâmetros utilizados para medir a forma de uma bacia hidrográfica
encontram-se os índices de Greavelius ou coeficiente de compacidade (Kc) e o fator de
forma (Kf).
O Índice de compacidade ou de Gravelius é a relação entre o perímetro P da bacia
hidrográfica e o perímetro de uma bacia circular da mesma área A. Este índice compara,
portanto, a bacia com um círculo da mesma área; uma bacia compacta apresenta um índice
de compacidade baixo (próximo de um).
Kc = = 0.28
P P
(2π A ) / π
(3.1)
A
Caso não existam fatores que interfiram, os menores valores de Kc indicam maior
potencialidade de produção de picos de enchentes elevados.
O fator de forma é definido como a relação existente entre a área da bacia e o quadrado do
comprimento axial da mesma, medido ao longo do curso principal até a cabeceira mais
distante da foz, no divisor de águas:
Kf = A / L2 (3.2)
Esse fator dá alguma indicação sobre a tendência da bacia a produzir enchentes ou
inundações, pois um fator de forma baixo (grande comprimento axial) reflete uma menor
probabilidade de ocorrer na bacia uma chuva intensa que atinja toda sua extensão,
comparada com outra bacia da mesma área e menor comprimento axial (maior índice de
forma).
Características do relevo
Além da determinação das declividades médias da bacia hidrográfica e do curso d’água,
podem ser obtidas outras informações sobre o relevo da bacia hidrográfica, como por
exemplo, a curva hipsométrica. A curva hipsométrica é uma representação gráfica do
relevo de uma bacia hidrográfica. É uma curva que indica a porcentagem da área da bacia
hidrográfica que existe acima de uma determinada cota (Figura 3. 7). Uma curva
hipsométrica pode dar algumas informações sobre a fisiografia da bacia hidrográfica. Por
exemplo, uma curva hipsométrica com concavidade para cima indica uma bacia com vales
extensos, e o contrário, indica uma bacia com vales profundos. A curva hipsométrica torna-
se interessante à medida que a maior parte dos fatores hidrometeorológicos (precipitação,
temperatura, ventos, etc.) apresenta variação com a altitude.
325
300
275
250
225
Altitude (m)
200
175
150
125
100
75
50
25
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
% da área
Figura 3. 7 – Curva hipsométrica da bacia hidrográfica do arroio Moinho (IPH, 1979)
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -9-
Apostila de Hidrologia
da Figura 3. 9. Se nesse ponto precipitar uma gota de água, e houver condições para geração
de escoamento, essa gota d’água escoará por regiões de maior declividade até atingir o curso
d’água principal (P2). Quando a água atinge o rio principal, o escoamento passa a se
desenvolver em um canal, até o exutório da bacia hidrográfica. O procedimento para o
cálculo do tempo de concentração, com base na Figura 3. 9 é calcular o comprimento dos
percursos (L1 – entre P1 e P2 e L2 – entre P2 e o exutório) e estimar as velocidades da água
correspondente (V1 e V2). Posteriormente se calcula o tempo de viagem T1 e T2, sendo que
o tempo de concentração total da bacia hidrográfica, nesse caso, seria T1+T2. Pode-se traçar,
a partir de interpolação, para toda a bacia hidrográfica, isolinhas de tempo de deslocamento
ou isócronas. As isócronas representam linhas de mesmo tempo de deslocamento na bacia
hidrográfica. Por exemplo, na Figura 3. 10 ao observar a isócrona de 3h, tem-se uma
estimativa do tempo de viagem de uma gota de água que atinge essa região.
tc = 447 ⋅ (n ⋅ L )
aplicada a superfícies a partir das hipóteses de
⋅ S −0,3 ⋅ I −0, 4
0,6 escoamento turbulento e chuva de intensidade
constante. O comprimento das superfícies variou de
15 a 30 metros. É adequada para bacias muito
pequenas, em que o escoamento em superfícies seja
predominante.
SCS - "Lag formula" (1975) A fórmula do SCS foi desenvolvida em bacias rurais
com áreas de drenagem de atá 8 km2 e reflete,
⋅ S −0,5
0, 7
a aplicação em bacias urbanas, o SCS sugere
procedimentos para ajuste em função da área
impermeabilizada e da parcela dos canais que
sofreram modificações. Essa fórmula superestima o
valor de tc em comparação com as expressões de
Kirpich e Dooge.
SCS - Método Cinemático (1975) A fórmula diz que o tempo de concentração é a
somatória dos tempos de trânsito dos diversos trechos
⋅∑
que compõem o comprimento do talvegue. Na parte
tc =
superior das bacias, em que predomina o escoamento
1000 L em superfícies, ou em canais mal definidos, a
60 V velocidade pode ser determinada por meio de
fórmulas como a 6.3. Em canais bem definidos e
galerias deve ser usada a fórmula de Manning.
Dooge (1956) Foi determinada com dados de dez bacias rurais da
tc = 21,188 ⋅ A 0, 41 ⋅ S −0,17
Irlanda, com áreas na faixa de 140 a 930 km2. Seus
parâmetros refletem o comportamento de bacias
médias e escoamento predominante em canais.
Em todas as fórmulas, o significado dos termos é o seguinte:
tc = tempo de concentração em minutos
A = área da bacia em km2
S = declividade do talvegue em m/m
H = diferença entre as cotas da seção de saída e o ponto mais a montante da bacia em m
C = coeficiente de escoamento superficial do Método Racional
n = rugosidade de Manning
I = intensidade da chuva em mm/h
CN = número da curva (método do SCS)
V = velocidade média no trecho em m/s
L= comprimento do curso d’água principal em km.
∆V
o balanço hídrico de uma bacia exige que seja satisfeita a equação:
= P−E−Q
∆t
(3.3)
onde: ∆V é a variação do volume de água armazenado na bacia (m3); ∆t é o intervalo de tempo
considerado (s); P é a precipitação (m3.s-1); E é a evapotranspiração (m3.s-1); e Q é o escoamento
(m3.s-1).
Em intervalos de tempo longos, como um ano ou mais, a variação de armazenamento
pode ser desprezada na maior parte das bacias, e a equação pode ser reescrita em unidades de
mm.ano-1, o que é feito dividindo os volumes pela área da bacia.
P = E+Q (3.4)
-1 -1
onde: P é a precipitação em mm.ano ; E é a evapotranspiração em mm.ano e Q é o escoamento
em mm.ano-1.
As unidades de mm, ou lâmina de chuva, são mais usuais para a precipitação e para a
evapotranspiração. Uma lâmina de 1 mm de chuva corresponde a um litro de água distribuído
sobre uma área de 1 m2. O percentual da chuva que se transforma em escoamento é chamado
coeficiente de escoamento e é dado por:
C=
Q
(3.5)
P
O coeficiente de escoamento tem, teoricamente, valores entre 0 e 1. Na prática os valores
vão de 0,05 a 0,5 para a maioria das bacias.
A Tabela 3. 2 apresenta dados de balanço hídrico para as grandes bacias brasileiras, de
acordo com dados da Agência Nacional da Água (ANA). A região do Rio Grande do Sul está
contida nas bacias do rio Uruguai e na bacia do Atlântico Sul, onde a precipitação média é de
1699 e 1481 mm por ano, respectivamente. Na bacia do rio Uruguai o escoamento é de 716 mm
por ano, o que corresponde a 4040 m3.s-1 de vazão média. Na bacia do Atlântico Sul, em que está
inserida a bacia do rio Guaíba, o escoamento é de 643 mm por ano, enquanto a
evapotranspiração, que completa o balanço, é de 838 mm por ano. O coeficiente de escoamento
nas duas bacias é um pouco superior a 40%, o que significa que cerca de 40% da chuva é
transformada em vazão, enquanto 60% retorna à atmosfera pelo processo de evapotranspiração.
A tabela mostra que a evapotranspiração tende a ser maior nas bacias mais próximas do
Equador. Observa-se também que a disponibilidade de água é menor na bacia do rio São
Francisco e na bacia Atlântico Leste (1) que inclui as regiões mais secas da região Nordeste do
Brasil.
4. Precipitação
4.1 Definição
A água da atmosfera, que atinge a superfície da terra, na forma de chuva, granizo, neve,
orvalho, neblina ou geada é denominada precipitação. No Brasil a chuva é a forma mais
importante de precipitação, embora grandes prejuízos possam advir da ocorrência de
precipitação na forma de granizo e em alguns locais possa eventualmente nevar.
Em engenharia a forma de precipitação mais comum, e que tem maior interesse é a
chuva. A chuva é a principal causa dos processos hidrológicos, e sua quantificação correta é um
dos desafios que o hidrólogo ou o engenheiro enfrentam.
na encosta oposta. Esse tipo de precipitação geralmente tem ocorrência localizada, podendo
atingir grande intensidade.
Vento seco
Vento
úmido
Cadeia montanhosa
Ar quente
Ar frio
Avanço da frente
4.5.1 Pluviômetros
Nos pluviômetros da rede de observação mantida pela Agência Nacional da Água (ANA)
a medição da chuva é realizada uma vez por dia, sempre às 7:00 da manhã, por um observador
que anota o valor lido em uma caderneta.
Durante o processo de monitoramento e operação do instrumento podem ocorrer alguns
erros que devem ser minimizados:
4.5.2 Pluviógrafos
4.5.3 Radar
No Brasil são poucos os radares para uso meteorológico, com a exceção do Estado de São
Paulo em que existem alguns em operação. Em alguns países, como os EUA, a Inglaterra e a
Alemanha, já existe uma cobertura completa com sensores de radar para estimativa de chuva.
4.5.4 Satélite
A variável utilizada na hidrologia para avaliar eventos extremos como chuvas muito
intensas é o tempo de retorno (TR), dado em anos. O tempo de retorno é uma estimativa do
tempo em que um evento é igualado ou superado, em média. Por exemplo, uma chuva com
intensidade equivalente ao tempo de retorno de 10 anos é igualada ou superada somente uma vez
a cada dez anos, em média. Esta última ressalva “em média” implica que podem, eventualmente,
ocorrer duas chuvas de TR 10 anos em dois anos subseqüentes.
O tempo de retorno pode, também, ser definido como o inverso da probabilidade de
ocorrência de um determinado evento em um ano qualquer. Por exemplo, se a chuva de 130 mm
em um dia é igualada ou superada apenas 1 vez a cada 10 anos diz-se que seu Tempo de Retorno
é de 10 anos, e que a probabilidade de acontecer um dia com chuva igual ou superior a 130 mm
em um ano qualquer é de 10%, ou seja
TR =
1
(4.1)
Pr obabilidade
As observações indicam que, em geral, o volume de chuva precipitado aumenta com a altitude
até atingir um máximo, a partir do qual decresce; isso permite elaborar perfis pluviomêtricos de
grandes bacias ou áreas extensas.
No estudo de grandes bacias com relevo acidentado, essa característica não pode ser
ignorada nas estimativas dos volumes precipitados; no traçado de isoietas, como consequência
desse fato, as isolinhas em princípio devem ser paralelas às curvas de nível e isso deve ser levado
em conta ao confeccionar os mapas referidos.
A chuva não é homogênea numa dada extensão de terreno, mas se apresenta na forma de
células mais intensas que se movimentam de acordo com os ventos. Imaginando uma rede fixa
de pluviômetros amostrando as chuvas que passam sobre eles, podem-se traçar curvas como as
da Figura 4. 11 (Tucci, C.;1993), que deixam ver variações para cada região.
O cálculo da chuva média em uma bacia pode ser realizado utilizando o método da média
aritmética; das Isoietas; dos polígonos de Thiessen ou através de interpolação em Sistemas de
Informação Geográfica (SIGs).
É a forma mais simples de estimar a precipitação média em uma bacia hidrográfica. Como o
próprio nome do método sugere, a precipitação média é calculada como a média aritmética dos
valores médios de precipitação. Ao fazer esse processo, todos os postos pluviométricos têm a
mesma importância.
Por exemplo, a precipitação média da bacia hidrográfica apresentada na
Figura 4. 13 é dada por:
Figura 4. 13 – Bacia hidrográfica para o cálculo da precipitação média usando média aritmética
(66 + 50 + 44 + 40)
Pm = = 50mm
4
O método ignora as variações geográficas da precipitação e portanto é aplicável apenas em
regiões onde isso possa ser feito sem incorrer em grandes erros, ou seja, em regiões planas com
variação gradual e suave do gradiente pluviométrico e com cobertura de postos de medição
bastante densa.
O método dos polígonos de Thiessen, também conhecido como método do vizinho mais
próximo, é um dos mais utilizados. Nesse método é definida a área de influência de cada posto
pluviométrico dentro da bacia hidrográfica. Por exemplo, vamos determinar a precipitação média
na bacia hidrográfica apresentada na Figura 4. 14.
Utilizando o método dos polígonos de Thiessen o primeiro passo é traçar linhas que unem
os postos pluviométricos mais próximos. A seguir é determinado o ponto médio em cada uma
destas linhas e, a partir desse ponto é traçada uma linha perpendicular. A interceptação das linhas
médias entre si e com os limites da bacia irão definir a área de influência de cada um dos postos.
Definir a região de
influência de cada posto
pluviométrico e medir a
sua área.
Se fosse utilizado o método da média aritmética haveria apenas dois postos no interior da
bacia, com uma média de 60 mm. Se fosse calculada uma média incluindo os postos que estão
fora da bacia chegaríamos a 79,5 mm.
Como já mencionado, as isoietas são linhas que unem pontos de igual precipitação.
Depois de escrever os valores de chuva em cada posto se unem estes com linhas retas nas quais
se interpolam linearmente os valores para os quais se pretende traçar as isolinhas.
A título de exemplo, vamos considerar a mesma Figura 4. 15, e o procedimento
apresentado na Figura 4. 16.
Uma vez determinadas as isolinhas, determina-se a precipitação média na bacia
hidrográfica. Calcula-se a área Ai, delimitada por duas isoietas e essa área é utilizada como
∑ Pi.Ai
ponderador, segundo a equação:
n
Pm = i =1
∑ Ai
n
(4.2)
i =1
Dividir as linhas
escrevendo os valores da
precipitação interpolados
linearmente
Elemento de
área Ai
Conforme mencionado, quando se trabalha com precipitação deseja-se uma série ininterrupta
e mais longa possível de dados. No entanto, podem ocorrer dias, ou períodos maiores em que a o
dado de precipitação não foi obtido, caracterizando assim uma falha. Para o preenchimento
dessas falhas podem ser utilizados alguns métodos, apresentados a seguir.
⎛ PY ⎞1
PY = ⎜⎜ .PX 1 + .PX 2 + .PX 3 ⎟⎟.
PY PY
⎝ PX 1 ⎠3
(4.3)
PX 2 PX 3
onde: PY é a precipitação do posto Y a ser estimada; PX1, PX2 e PX3 são as precipitações
correspondentes ao mês (ou ano) que se deseja preencher, observadas nas três estações vizinhas;
PY é a precipitação média do posto Y; PX 1 , PX 2 e PX 3 são as precipitações médias nas três
estações circunvizinhas.
Os postos vizinhos escolhidos devem estar numa região climatológica semelhante ao
posto a ser preenchido. Por exemplo, quando um posto se encontra próximo a um divisor
importante como a Serra do Mar, mesmo havendo outro posto geograficamente próximo do
outro lado do divisor, este não deve ser escolhido, pois provavelmente os mesmos terão
comportamentos distintos devido à precipitação orográfica.
O preenchimento efetuado por esta metodologia é simples e apresenta algumas
limitações, quando cada valor é visto isoladamente. Para o preenchimento de valores diários de
precipitação não se deve utilizar esta metodologia, pois os resultados podem ser muito ruins.
Normalmente valores diários são de difícil preenchimento devido a grande variação espacial e
temporal da precipitação para os eventos de freqüências médias e pequenas.
Y = a + b. X (4.4)
Y = a + b. X 1 + c. X 2 + d . X 3 + e. X 4 + ... (4.5)
200
150
P1
100
50
0
0 50 100 150 200 250
P2
linha reta, sempre que as quantidades sejam proporcionais. A declividade da reta ajustada nesse
processo representa então, a constante de proporcionalidade.
Especificamente, devem ser selecionados os postos de uma região, acumular para cada
um deles os valores mensais (se for o caso), e plotar num gráfico cartesiano os valores
acumulados correspondentes ao posto a consistir (nas ordenadas) e de um outro posto confiável
adotado como base de comparação (nas abscissas). Pode-se também modificar o método,
considerando valores médios das precipitações mensais acumuladas em vários postos da região,
e plotar esses valores no eixo das abscissas.
Na Figura 4. 19 é apresentada a análise de Dupla Massa para os postos 3252006 e
3252008, para um período de 37 anos de dados de precipitação mensal, onde pode-se observar que não
ocorreram inconsistências. Quando não se observa o alinhamento dos dados segundo uma única
reta, podem ter ocorrido as seguintes situações:
60000
50000
Acumulados - 3252008
40000
30000
20000
10000
0
0 10000 20000 30000 40000 50000
Acumulados - 3252006
Esse tipo de inconsistência pode ser oriundo de causas como: alterações de condições
climáticas ou condições físicas do local, mudança de observador, ou ainda devido a erros
sistemáticos.
0 0
0
0 20000 40000 0 20000 40000
0 20000 40000
Acumulados posto confiável Acumulados posto confiável Acumulados posto confiável
onde: Pcorr é a precipitação acumulada após o ajuste à tendência desejada; Pacum’ é o valor da
ordenada correspondente à interseção das duas tendências; Ma é o coeficiente angular da
tendência desejada; Mo é coeficiente angular da tendência a corrigir; e ∆Po representa a
diferença Po-Pa, onde sendo Po é o valor acumulado a ser corrigido, e Pa é o valor acumulado
da tendência desejada. Deve-se lembrar que o método de Dupla Massa não deve ser usado para
valores diários de precipitação.
Tabela 4. 4 – Correção dos valores de precipitação do Posto Indaial a partir da análise de Dupla
Massa
Precipitação Precipitação Precipitação Precipitação
Precipitação
acumulada acumulado acumulada Indaial
Ano média da região
média da região Indaial corrigida Indaial Corrigida
(mm)
(mm) (mm) (mm) (mm)
1945 1224.0 1224.0 1319.5 1319.5 1319.5
1946 1748.3 2972.2 3321.8 3321.8 2002.3
1947 1493.5 4465.7 5297.9 5297.9 1976.1
1948 1458.5 5924.2 6808.1 6808.1 1510.2
1949 1235.1 7159.3 8241.0 8241.0 1432.9
1950 1401.9 8561.3 9789.0 9789.0 1548.0
1951 1157.5 9718.8 11084.4 11084.4 1295.4
1952 1241.7 10960.5 12415.3 12415.3 1330.9
1953 1264.7 12225.1 13772.1 13772.1 1356.8
1954 1725.6 13950.8 15464.3 15508.9 1736.8
1955 1334.7 15285.5 16738.7 16905.9 1396.9
1956 1302.1 16587.6 17985.3 18272.3 1366.5
1957 1908.1 18495.7 20021.9 20504.8 2232.4
1958 1669.0 20164.7 21915.4 22580.3 2075.6
1959 1264.6 21429.3 23202.9 23991.6 1411.3
1960 1475.4 22904.7 24786.6 25727.6 1736.0
1961 1656.9 24561.7 26498.7 27604.3 1876.7
1962 1224.1 25785.7 27642.8 28858.5 1254.1
1963 1517.8 27303.5 29291.8 30666.0 1807.6
30000
Po - Pacum'
β = M a = 1,14
20000
Pacum'
15000
Ponto de
interseção
10000
5000
0
0 5000 10000 15000 20000 25000 30000
Precipitação Média Acumulada na Região (mm) - Postos de Apiuna, Blumenau e Ibirama
Esse tipo de inconsistência ocorre normalmente quando são comparados postos com
diferentes regimes pluviométricos. Nesse caso devem ser buscados outros postos para fins de
comparação.
Tabela 4. 5 – Série de precipitação total mensal e anual do posto Granja Santa Marta em Rio
Grande
Precipitação Total Mensal (mm) Total Anual
Ano
Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez. (mm)
1960 99 29 238 103 6 146 272 149 164 89 81 51 1427
1961 111 87 110 39 19 215 110 107 266 113 73 54 1304
1962 65 83 181 65 29 32 100 80 148 98 36 37 954
1963 137 85 159 65 78 79 134 174 215 125 176,2 119,4 1546,6
1964 70 87,2 86,9 23,4 70,6 51,5 63,5 104,9 50,6 147 25,6 26,4 807,6
1965 8,1 35,1 181,9 114 40 52 33 217 234 79 58 66 1118,1
1966 84,9 27,7 143,5 65,8 14,1 78 200 45,4 61 63 23,2 83 889,6
1967 40,6 65,2 39,5 24,6 165,7 207,9 142 147,7 60,2 129 50,4 26,6 1099,4
1968 65,5 106,9 116,4 51,9 27,3 28,4 59,5 26,6 102,9 68,7 101,1 110,7 865,9
1969 43,1 48,4 30,5 18,7 223,7 134,4 52,7 69,2 96,7 29,2 62,3 17,3 826,2
1970 130,6 59,2 42 43,3 124,4 122,8 86,6 86,3 28,3 41,5 46,2 150 961,2
Quando usado o termo precipitação média anual, significa que foi obtida uma média a
partir dos totais anuais. Por exemplo, para a série apresentada na Tabela 4. 5, o precipitação
média anual seria 1072,7 mm. É evidente que a série apresentada para esse exemplo é curta, e
esse é um dos cuidados que deve ser tomado durante a determinação de dados médios da região;
essa observação não é válida somente para dados de precipitação, ela diz respeito também a
outros dados hidrológicos como a vazão, conforme trataremos posteriormente. Nesse processo a
série utilizada deve ser representativa de um período que contemple períodos secos e chuvosos,
para evitar qualquer tendenciosidade no ajuste. Por exemplo, uma série de precipitação de 2 anos
é muito curta em termos de representatividade temporal, visto que a mesma pode possuir
unicamente registros de chuva em anos de el niño, o que levaria a uma super-estimativa da
precipitação.
Para exemplificar, na região de Porto Alegre, por exemplo, chove aproximadamente 1300
mm por ano, em média. Em muitas regiões da Amazônia chove mais do que 2000 mm por ano,
enquanto na região do Semi-Árido do Nordeste há áreas com menos de 600 mm de chuva por
ano. O clima, entretanto, não é constante, e ocorrem variações importantes em torno da média da
precipitação anual. Nesse caso, o uso de um histograma de freqüências de uma amostra de uma
variável aleatória permite conhecer a freqüência com que esta variável assumiu valores dentro de
um dado intervalo, durante as observações realizadas para a formação da amostra. A Figura 4. 22
apresenta um histograma de freqüências de chuvas anuais de um posto localizado no interior de
Minas Gerais, no período de 1942 a 2001. A chuva média neste período é de 1433 mm, mas
observa-se que ocorreu um ano com chuva inferior a 700 mm, e um ano com chuva superior a
2300 mm.
Como normalmente estamos interessados em saber o que acontecerá no futuro em termos
de precipitação (situações de projeto), um tratamento estatístico deve ser dado ao registro de
precipitação, de forma a permitir a estimativa da precipitação em outro cenário. É claro que ao
utilizar uma amostra obtida no passado para prever uma situação no futuro, admite-se
probabilisticamente que não ocorrerão mudanças substanciais no processo de formação das
chuvas no local. Isto deve ser entendido como: embora não seja possível prever as chuvas
máximas que ocorrerão no futuro, pode-se afirmar que as freqüências de ocorrência observadas
no passado serão válidas para descrever as probabilidades de ocorrência no futuro. (Tucci, C.,
1993).
1 ⎣ σ ⎦
σ 2π
.e (4.7)
X −µ
aplicado o desvio padrão normalizado Z como operador de transformação.
Z=
σ
(4.8)
f (Z ) =
(−
Z2
1
2π
)
2
.e (4.9)
como essa é a probabilidade do evento ser igualado ou superado, temos que a probabilidade da
variável reduzida Z ser menor ou igual, é 100%-2,5%=97,5%=0,975, que nesse caso resulta em
um valor de variável reduzida de 1,96.
P(Z≤Z’)
Tabela 4. 6 – Distribuição de Z - P(Z≤Z’)
Z’
X−µ X − 1433
Z= = 1,96 = = 2018,6mm
σ 298,8
Caso o ajuste teórico da distribuição Normal não se ajuste bem aos valores empíricos,
recomenda-se testar o ajuste de outra distribuição.
O ajuste de uma distribuição Normal aos dados permite que seja feita a extrapolação do ajuste,
para valores de precipitação que ainda não foram registrados. Contrariamente, para os valores
observados, normalmente são utilizadas equações empíricas de posição de plotagem dos dados
de precipitação. Uma das equações empíricas mais utilizadas para o tratamento de dados de
precipitação anual e mensal é a equação de Weibull
P=
i
n +1
(4.10)
onde: P é a probabilidade de excedência de um evento; i é o número de ordem do valor da chuva
numa série ordenada (no sentido do evento mais raro para o menos raro); n é o tamanho da
amostra (número de anos de dados). Na literatura especializada também são apresentadas outras
equações empíricas de posição de plotagem.
Por exemplo, deseja-se determinar o tempo de retorno da precipitação anual de 1408,6 mm,
registrada no posto Hospital de Arroio Grande. A série de totais anuais é apresentada na Tabela
4. 7. A equação empírica de posição de plotagem de Weibull é utilizada (Tabela 4. 8),
posteriormente é determinado o tempo de retorno de cada precipitação (TR=1/P). Para a
precipitação em interesse o tempo de retorno seria de 2 anos, ou seja, essa precipitação anual
acontece em média a cada 2 anos.
Suponhamos agora que haja interesse em determinar uma precipitação total anual cujo tempo
de retorno seja de 50 anos. Nesse caso a distribuição empírica não fornece essa informação,
sendo necessário, portanto, fazer uso de uma distribuição teórica de probabilidades para, a partir
da estatística amostral, estimarmos o valor da precipitação desejada.
A partir da amostra são determinadas as estatísticas da série, de forma a utilizarmos uma
distribuição Normal para a extrapolação do ajuste. Para a série de precipitação apresentada na
Tabela 4. 7 a média é 1423,2 mm e o desvio padrão é 276,91 mm. Uma vez determinadas essas
estatísticas, é possível ajustar uma distribuição normal a todos os dados (Tabela 4. 9), o que pode
ser facilmente realizado em uma planilha do tipo Excel. Finalizado esse processo, devem ser
plotados os ajustes teóricos e empíricos conjuntamente, de forma a verificar a validade da
2500
2000
Precipitação (mm)
1500
1000
500
TR - empírico
TR - teórico
0
50
1 10 TR (anos) 100 1000
chuva. Da mesma forma, quanto maior o Tempo de Retorno, maior a intensidade da chuva. Por
exemplo, a chuva de 1 hora de duração com tempo de retorno de 100 anos tem uma intensidade
de 60 mm.hora-1.
200
180 TR 2 anos
TR 5 anos
160
TR 10 anos
140 TR 25 anos
Intensidade (mm/h)
TR 50 anos
120
TR 100 anos
100
80
60
40
20
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Duração (minutos)
Evidentemente as curvas IDF são diferentes em diferentes locais. Assim, a curva IDF de
Porto Alegre vale para a região próxima a esta cidade. Infelizmente não existem séries de dados
de pluviógrafos longas em todas as cidades, assim, muitas vezes, é necessário considerar que a
curva IDF de um local é válida para uma grande região do entorno. No Brasil existem estudos de
chuvas intensas com curvas IDF para a maioria das capitais dos Estados e para algumas cidades
do interior, apenas.
De maneira geral as equações IDF são expressas através de uma expressão com a
seguinte forma
I=
a TR b
(t + c)d
(4.11)
chuva também pode seguir um critério pré-estabelecido, como por exemplo, a duração máxima
de 10 minutos é utilizada para o dimensionamento de redes de micro-drenagem em Porto Alegre.
Uma equação IDF também pode ser utilizada para obter a precipitação discretizada
temporalmente. Por exemplo, deseja-se obter a precipitação com 20 minutos de duração e 2 anos
de tempo de retorno da cidade de Porto Alegre, utilizando uma discretização temporal de 5
minutos. Na Tabela 4. 11 é apresentado esse processo a partir do uso dos parâmetros
apresentados anteriormente para a IDF. Nessa tabela é apresentado na primeira coluna a duração
respectiva de cada precipitação até os 20 minutos; na segunda coluna é apresentada a intensidade
da precipitação correspondente a cada duração; na terceira coluna é apresentada a lâmina de água
acumulada de chuva (=I*Tempo/60); e na última coluna é apresentada a precipitação de forma
desacumulada (Pacumt-Pacumt-1).
6
Precipitação (mm)
0
5 10 15 20
Tempo (minutos)
5. Interceptação
A interceptação é um fenômeno mal conhecido e difícil de estudar. A interceptação é
produzida pela cobertura vegetal e armazenamento em depressões. Seus efeitos são de retenção
de um certo volume de água da precipitação, que logo se transforma em evaporação, ou acaba
infiltrando, no caso de obstruções.
Interceptação vegetal
Armazenamento em depressões
O volume armazenado nas depressões do terreno constitui-se perdas, já que esse volume
evapora se a depressão é impermeável, ou também infiltra, caso contrário.
Em áreas urbanas estima-se que o volume de água perdido por armazenamento em
depressões seja da ordem de 5 a 8% da precipitação total.
A literatura apresenta algumas equações empíricas para estimativa do armazenamento,
como a de Linsley.
6. Evapotranspiração
Evaporação
Transpiração
I) que a água líquida esteja recebendo energia para prover o calor latente de evaporação;
II) que o ar acima da superfície líquida não esteja saturado de vapor de água.
Além disso, quanto maior a energia recebida pela água líquida, tanto maior é a taxa de
evaporação. Da mesma forma, quanto mais baixa a concentração de vapor no ar acima da
superfície, maior a taxa de evaporação.
A umidade relativa é a medida do conteúdo de vapor de água do ar em relação ao
conteúdo de vapor que o ar teria se estivesse saturado (equação 6.2). Assim, ar com umidade
relativa de 100% está saturado de vapor, e ar com umidade relativa de 0% está completamente
isento de vapor.
UR = 100 ⋅
w
(6.2)
ws
Radiação solar
A quantidade de energia solar que atinge a Terra no topo da atmosfera está na faixa das
ondas curtas. Na atmosfera e na superfície terrestre a radiação solar é refletida e sofre
transformações, de acordo com a Figura 6. 3.
Parte da energia incidente é refletida pelo ar e pelas nuvens (26%) e parte é absorvida
pela poeira, pelo ar e pelas nuvens (19%). Parte da energia que chega a superfície é refletida de
volta para o espaço ainda sob a forma de ondas curtas (4% do total de energia incidente no topo
da atmosfera).
A energia absorvida pela terra e pelos oceanos contribui para o aquecimento destas
superfícies que emitem radiação de ondas longas. Além disso, o aquecimento das superfícies
contribuem para o aquecimento do ar que está em contato, gerando o fluxo de calor sensível (ar
quente), e o fluxo de calor latente (evaporação).
Finalmente, a energia absorvida pelo ar, pelas nuvens e a energia dos fluxos de calor
latente e sensível retorna ao espaço na forma de radiação de onda longa, fechando o balanço de
energia.
O processo de fluxo de calor sensível é onde ocorre a evaporação. A intensidade desta
evaporação depende da disponibilidade de energia. Os valores apresentados na Figura 6. 3
referem-se às médias globais, o que significa que a energia utilizada para evaporação pode ser
maior ou menor, dependendo principalmente da latitude e da época do ano. Regiões mais
ondas ondas
incidente
Radiação Solar
curtas longas
Espaço
100
6 20 4 6 38 26
Atmosfera
l o da
Emitida pelas
pe fleti
ar
nuvens
re
ns
ve
pe letida
nu
Absorvida pelo Emitida pelo
las
ar e poeira 16 ref vapor de H2O
e CO2
e
rfíci
upe s
e CO2
latente
refle
3 15
Fluxo de calor
sensível
Absorvida na
Emitida pela
superfície
superfície
51 21 7 23
Superfície (Terra + Oceanos)
Temperatura
A quantidade de vapor de água que o ar pode conter varia com a temperatura. Ar mais
quente pode conter mais vapor, portanto o ar mais quente favorece a evaporação.
Umidade do ar
Quanto menor a umidade do ar, mais fácil é o fluxo de vapor da superfície que está
evaporando. O efeito é semelhante ao da temperatura. Se o ar da atmosfera próxima à superfície
estiver com umidade relativa próxima a 100% a evaporação diminui porque o ar já está
praticamente saturado de vapor.
Velocidade do vento
equação 6.5, onde ∆V é a variação de volume de água (medida pelo peso); P é a chuva (medida
evapotranspiração é calculada por balanço hídrico entre dois dias subseqüentes de acordo com a
E = P - Qs – Qb - ∆V (6.5)
A evapotranspiração real pode ser estimada, também, pela medição das outras variáveis
que intervém no balanço hídrico de uma bacia hidrográfica. De forma semelhante ao apresentado
na equação 6.4, para um lisímetro, pode ser realizado o balanço hídrico de uma bacia para
estimar a evapotranspiração. Neste caso, entretanto, as estimativas não podem ser feitas
considerando o intervalo de tempo diário, mas apenas o anual, ou maior. Isto ocorre porque,
dependendo do tamanho da bacia, a água da chuva pode permanecer vários dias ou meses no
interior da bacia antes de sair escoando pelo exutório.
Para estimar a evapotranspiração real por balanço hídrico de uma bacia é necessário
considerar valores médios de escoamento e precipitação de um período relativamente longo,
idealmente superior a um ano. A partir daí é possível considerar que a variação de
armazenamento na bacia pode ser desprezada, e a equação de balanço hídrico se reduz à equação
6.6.
E TR = P – Q (6.6)
Por exemplo, uma bacia de 800 km2 recebe anualmente 1600 mm de chuva, e a vazão média
corresponde a 700 mm. A evapotranspiração anual pode ser calculada por balanço hídrico da bacia
desprezando a variação do armazenamento na bacia, ou seja, E = 1600 – 700 = 900 mm.
⎝ I ⎠
(6.7)
⎡ ti ⎤
I =∑⎢ ⎥
onde: 1,514
12
i =1 ⎣ 5 ⎦
(6.8)
onde:
ETP é a evapotranspiração potencial para meses de 30 dias e dia com 12 horas diárias de
insolação (mm/mês)
T é a temperatura média do ar (ºC)
f é o fator de correção em função da latitude e mês do ano (ver Tabela 6. 1)
ti é a temperatura do mês analisado (ºC)
Os valores obtidos pela fórmula de Thornthwaite são válidos para meses de 30 dias com
12 horas de luz por dia. Como o número de horas de luz por dia muda com a latitude e também
porque há meses com 28 e 31 dias, torna-se necessário proceder correções. O fator de correção
(f) é obtido da seguinte forma:
f = ⋅
h n
(6.10)
12 30
onde: h é número de horas de luz na latitude considerada; n é número de dias do mês em estudo.
Esse método foi desenvolvido na região oeste dos Estados Unidos, nos anos 50.
Originalmente o método era utilizado para estimativas de uso consuntivo. Dadas as característica
da região para a qual o método foi desenvolvido, o método é mais indicado para zonas áridas e
semi-áridas, e consiste na aplicação da seguinte equação empírica para avaliar a
evapotranspiração potencial:
ETP = (0,457.T + 8,13). p .24 (6.11)
onde:
ETP é a evapotranspiração potencial (mm/mês);
T é a temperatura média mensal do ar em ºC;
p é a porcentagem diária de horas de luz (Tabela 6. 2)
Tabela 6. 2 - Proporção média diária (p) de horas de luz para diferentes latitudes
Latitude Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
0S 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 0,277 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27
05 S 0,28 0,28 0,28 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 0,27 0,28 0,28 0,28
10 S 0,29 0,28 0,28 0,27 0,26 0,26 0,26 0,27 0,27 0,28 0,28 0,29
15 S 0,29 0,28 0,28 0,27 0,26 0,25 0,26 0,26 0,27 0,28 0,29 0,29
20 S 0,30 0,29 0,28 0,26 0,25 0,25 0,25 0,26 0,27 0,28 0,29 0,30
25 S 0,31 0,29 0,28 0,26 0,25 0,24 0,24 0,26 0,27 0,29 0,30 0,31
30 S 0,31 0,30 0,28 0,26 0,24 0,23 0,24 0,25 0,27 0,29 0,31 0,32
35 S 0,32 0,30 0,28 0,25 0,23 0,22 0,23 0,25 0,27 0,29 0,31 0,32
40 S 0,33 0,31 0,28 0,25 0,22 0,21 0,22 0,24 0,27 0,30 0,32 0,34
46 S 0,34 0,32 0,28 0,24 0,21 0,20 0,20 0,23 0,27 0,30 0,34 0,35
50 S 0,35 0,32 0,28 0,24 0,20 0,18 0,19 0,23 0,27 0,31 0,34 0,36
⎜ ∆ ⋅ (R − G ) + ρ ⋅ c ⋅ (e s − e d ) ⎟
(6.12).
⎛ ⎞
⎜ ⎟
E=⎜ ⎟⋅
L A p
ra 1
⎜ ⎛ r ⎞ ⎟ λ ⋅ ρW
(6.12)
∆ + γ ⋅ ⎜⎜1 + s ⎟⎟
⎜ ⎟
⎝ ⎝ ra ⎠ ⎠
onde:
E é a taxa de evaporação da água (m.s-1);
λ é o calor latente de vaporização (MJ.kg-1);
∆ é a taxa de variação da pressão de saturação do vapor com a temperatura do ar (kPa.ºC-1);
RL é a radiação líquida que incide na superfície (MJ.m-2.s-1);
G é o fluxo de energia para o solo (MJ.m-2.s-1);
ρA é a massa específica do ar (kg.m-3);
ρW é a massa específica da água (kg.m-3);
cp é o calor específico do ar úmido (cp = 1,013.10-3 MJ.kg-1.ºC-1);
es é a pressão de saturação do vapor (kPa);
ed é a pressão real de vapor de água no ar (kPa);
γ é a constante psicrométrica (γ = 0,66) (kPa.ºC-1);
rs é a resistência superficial da vegetação (s.m-1);
ra é a resistência aerodinâmica (s.m-1).
E a = E ⋅ fc
pela equação a seguir.
(6.19)
onde: Ea é a lâmina de evapotranspiração (mm.dia-1); E é a taxa de evaporação da água (mm.dia-
1
); fc é um fator de conversão de unidades (fc = 8,64.107) (mm.s.dia-1.m-1).
A energia disponível para a evapotranspiração depende da energia irradiada pelo sol, da
energia que é refletida ou bloqueada pela atmosfera, da energia que é refletida pela superfície
terrestre, da energia que é irradiada pela superfície terrestre e da energia que é transmitida ao
solo.
Normalmente, as estações climatológicas dispõe de dados de radiação que atinge a
superfície terrestre (SSUP), medida com radiômetros, ou do número de horas de insolação (n),
medidas com o heliógrafo, ou mesmo da fração de cobertura de nuvens (n/N), estimada por um
observador. A estimativa da radiação líquida disponível para evapotranspiração depende do tipo
de dados disponível.
A situação de estimativa mais simples ocorre quando existem dados de radiação medidos,
dados normalmente em MJ.m-2.dia-1, ou cal.cm-2.dia-1. Neste caso, o termo RL da equação de
Penman-Monteith pode ser obtido da equação a seguir, que desconta a parte da radiação
R L = SSUP ⋅ (1 − α )
refletida.
(6.20)
onde: RL é a radiação líquida na superfície (MJ.m-2.s-1); SSUP é a radiação que atinge a superfície
(valor medido) (MJ.m-2.s-1); α é o albedo, que é a parcela da radiação incidente que é refletida
(parâmetro que depende da cobertura vegetal e uso do solo) adimensional.
Quando existem apenas dados de horas de insolação, ou da fração de cobertura de
nuvens, a radiação que atinge a superfície terrestre pode ser obtida considerando-a como uma
fração da máxima energia, de acordo com a época do ano, a latitude da região, e o tipo de
cobertura vegetal ou uso do solo.
A insolação máxima em um determinado ponto do planeta, considerando que o céu está
sem nuvens, é dada pela equação abaixo.
N= ⋅ ωs
24
π (6.21)
⎛ 2⋅π ⎞
ângulo do sol ao nascer (radianos); é a declinação solar (radianos), dada por:
δ = 0,4093 ⋅ sin ⎜ ⋅ J − 1,405 ⎟
⎝ 365 ⎠ (6.23)
⎛ 2⋅π ⎞
sol (adimensional), dada por:
d r = 1 + 0,033 ⋅ cos⎜ ⋅ J⎟
⎝ 365 ⎠ (6.25)
onde J é o dia do calendário Juliano.
⎛ n⎞
cobertura de nuvens, conforme a abaixo:
SSUP = ⎜ a s + b s ⋅ ⎟ ⋅ S TOP
⎝ N⎠ (6.26)
onde: N é a insolação máxima possível numa latitude em certa época do ano (horas); n é a
insolação medida (horas); STOP é a radiação no topo da atmosfera (MJ.m-2.dia-1); SSUP é a
radiação na superfície terrestre (MJ.m-2.dia-1); as é a fração da radiação que atinge a superfície
em dias encobertos (quando n=0) adimensional; e as + bs é a fração da radiação que atinge a
superfície em dias sem nuvens (n=N) adimensional.
Quando não existem dados locais medidos que permitam estimativas mais precisas, são
recomendados os valores de 0,25 e 0,50, respectivamente, para os parâmetros as e bs
(Shuttleworth, 1993).
Quando a estação meteorológica dispõe de dados de insolação, a equação acima é
utilizada com n medido e N estimado pela equação 6.21. Quando a estação dispõe de dados de
fração de cobertura, utiliza-se o valor de n/N diretamente.
descrito. A maior parte da energia irradiada pelo sol está na faixa de ondas curtas, de 0,3 a 3 µm.
Uma parte da radiação que atinge a superfície terrestre (SSUP) é refletida, conforme já
de 3 a 100 µm.
O balanço de energia, porém, também inclui uma pequena parcela de radiação de ondas longas,
L n = f ⋅ ε ⋅ σ ⋅ (T + 273,2)
longas que deixa a superfície terrestre.
4
(6.27)
onde: Ln é a radiação líquida de ondas longas que deixa a superfície (MJ.m-2.dia-1); f é um fator
de correção devido à cobertura de nuvens (adimensional); T é a temperatura média do ar a 2 m
do solo (ºC); é a emissividade da superfície (adimensional); σ é uma constante (σ=4,903.10-9
MJ.m-2.ºK-4.dia-1).
ε = 0,34 − 0,14 ⋅ (e d )
A emissividade da superfície pode ser estimada pela equação abaixo.
(6.28)
onde ed é a pressão parcial de vapor de água no ar (kPa).
O fator de correção da radiação de ondas longas devido à cobertura de nuvens (f) pode
ser estimado com base na equação a seguir:
f = 0,1 + 0,9 ⋅
n
N (6.29)
Por simplicidade, o fluxo de calor para o solo - termo G na equação de Penman-Monteith
– pode ser considerado nulo, principalmente quando o intervalo de tempo é relativamente grande
(1 dia).
Na analogia da evapotranspiração com um circuito elétrico, existem duas resistências que
a “corrente” (fluxo evaporativo) tem de enfrentar: resistência superficial e resistência
aerodinâmica. A resistência aerodinâmica representa a dificuldade com que a umidade, que deixa
a superfície das folhas e do solo, é dispersada pelo meio. Na proximidade da vegetação o ar
tende a ficar mais úmido, dificultando o fluxo de evaporação. A velocidade do vento e a
turbulência contribuem para reduzir a resistência aerodinâmica, trocando o ar úmido próximo à
superfície que está fornecendo vapor, como as folhas das plantas ou as superfícies líquidas, pelo
ar seco de níveis mais elevados da atmosfera.
A resistência aerodinâmica é inversamente proporcional à altura dos obstáculos
enfrentados pelo vento, porque são estes que geram a turbulência.
⎛ ⎛ 10 ⎞ ⎞
ra = ⋅ ⎜⎜ ln⎜⎜ ⎟⎟ ⎟⎟
2
6,25
u m ,10 ⎝ ⎝ z 0 ⎠ ⎠ para h < 10 metros (6.30)
ra =
94
u m ,10
para h > 10 metros
⎛ ⎛ 10 ⎞ ⎞
⎜ ln⎜ ⎟ ⎟
⎜ ⎜⎝ z 0 ⎟⎠ ⎟
= u m,2 ⋅ ⎜ ⎟
⎜ ln⎛⎜ 2 ⎞⎟ ⎟
u m ,10
⎜ ⎜z ⎟⎟
⎝ ⎝ 0 ⎠⎠ (6.31)
7. Infiltração
7.1 Movimento da água no solo
Os processos que se desenvolvem abaixo da superfície da terra são a infiltração, o fluxo
sub-superficial e o fluxo subterrâneo (Figura 7. 1). A infiltração é o fenômeno de penetração da
água nas camadas do solo próximas à superfície do terreno. O fluxo sub-superficial é o que se
produz como resultado do fluxo da água no meio não saturado através do solo. O fluxo
subterrâneo é o que se produz como resultado do fluxo saturado através dos estratos do solo ou
rocha. O fluxo sub-superficial e o subterrâneo, sob certas condições, podem sair para a
superfície, transformando-se em escoamento (vertente ou ainda fluir diretamente a um rio).
Vv + Vw
η= (7.1)
Vt
Partículas sólidas
Água
Superfície de
controle
O movimento da água em um meio poroso, como é o solo, obedece a Lei de Darcy, que
q = K.S f
se define como:
(7.3)
onde: q é o fluxo de Darcy (Q/A); K é a condutividade hidráulica; Sf é a perda e carga por
unidade de comprimento do meio poroso. Se h é a altura de carga total e consideramos a direção
∂h
z, então
Sf = −
∂z
(7.4)
∂h
Assim, a Lei de Darcy pode ser expressa como:
q = − K.
∂z
(7.5)
Esta lei se aplica a uma seção transversal de meio poroso sempre quando esta seção seja
grande, comparada com a seção deixada pelos poros e grãos individuais no meio. As forças que
intervém no fluxo saturado não confinado são a gravidade e a fricção. Em um fluxo não saturado
intervêm essas duas forças, mais a força de sucção. A força de sucção é a força que une a água
com as partículas de solo através da tensão superficial.
O efeito da força de sucção pode ser avaliado colocando uma coluna de solo seco em
forma vertical sobre uma lâmina de água. A água se elevará dentro da coluna de solo até que a
força de gravidade iguale a força sucção. A parte da altura de carga devido a força de sucção se
chama de altura de sucção (ψ) e pode ser desde uns poucos milímetros (areias grossas) até vários
metros (argilas).
Tanto a força de sucção, como a condutividade hidráulica, variam com o conteúdo de
umidade no solo. Em um meio poroso não saturado, a altura da carga total, h, pode ser
considerada igual a altura de sucção (ψ) mais a altura de gravidade z.
h=ψ+z (7.6)
∂ (Ψ + z) ∂Ψ ∂θ ∂θ
Substituindo na Lei de Darcy,
q = − K. = (− K. . + K ) = −(D. + K )
∂z ∂θ ∂z ∂z
(7.7)
∂Ψ
onde: D é a difusividade da água, que se define como
D = K.(
∂θ
) (7.8)
A equação de continuidade para fluxo unidimensional não saturado e não permanente em
∂θ ∂q
um meio poroso é dado por
+ =0
∂t ∂z
(7.9)
que pode ser expressa em função da difusividade e da condutividade como:
∂θ ∂ ∂θ
= (D. + K )
∂t ∂z ∂z
(7.10)
que é a equação de Richards unidimensional, apresentada pela primeira vez em 1931.
7.2 Infiltração
A infiltração também pode ser definida como o fenômeno de penetração da água nas
camadas de solo próximas à superfície do terreno, movendo-se para baixo, através de vazios, sob
a ação da gravidade, até atingir uma camada suporte que a retém, formando então a água do solo.
É um fenômeno que depende da água disponível para infiltrar, da natureza do solo, do estado da
superfície, da vegetação e das quantidades de água e ar, inicialmente presentes no seu interior. À
medida que água infiltra pela superfície, as camadas superiores do solo vão se umedecendo de
cima para baixo, alterando gradativamente o perfil de um umidade.
Enquanto há aporte de água, o perfil de umidade tende à saturação em toda a
profundidade, sendo a superfície, naturalmente, o primeiro nível a saturar. Quando o aporte de
água à superfície cessa, isto é, deixa de haver infiltração, a umidade no interior do solo se
redistribui, evoluindo para um perfil de umidade inverso, com menor teor de umidade próximo à
superfície e maior nas camadas mais profundas. Na Figura 7. 3 pode-se visualizar a evolução do
perfil de umidade em um solo. Nem toda a umidade é drenada para as camadas mais profundas
do solo, já que parte é transferida para a atmosfera por evapotranspiração.
Na Figura 7. 3 podem ser distinguidas 4 zonas:
- Zona de saturação: próxima da superfície;
- Zona de transmissão: de fluxo saturado e conteúdo de umidade aproximadamente uniforme;
- Zona de umidade: a umidade decresce com a profundidade;
- Frente úmida: a mudança do conteúdo de umidade com a profundidade é tão grande que tem a
aparência de uma descontinuidade aguda entre o solo molhado acima e o solo seco abaixo.
F = ∫ f (τ)dτ
t
(7.11)
0
A taxa de infiltração por sua vez, é a derivada temporal da infiltração acumulada.
f (t ) =
dF( t )
(7.12)
dt
f ( t ) = f b + (f i − f b ) ⋅ e − k∆t (7.13)
onde: t representa o tempo (hora) contado a partir do momento em que houve saturação
superficial do solo; f(t) representa a taxa de infiltração (mm/h) no tempo t; fi é a taxa de
infiltração inicial (mm/h) ou seja, quando t=0; fb é a taxa de infiltração mínima (mm/h); k é uma
constante de decaimento (hora-1) .
Para a utilização da equação de Horton, é necessário determinar os parâmetros a partir
dos dados observados em ensaios de campo. O parâmetro fb representa a condutividade
hidráulica saturada aparente do solo. O parâmetro fi é a taxa de infiltração inicial, isto é, a taxa
de infiltração no momento em que é atingida a saturação superficial e começa a haver
escoamento. O parâmetro k é obtido através do ajuste da equação aos pontos f x t medidos em
campo.
Por exemplo, considere um ensaio de infiltração realizado (Tabela 7. 2), com alimentação
de água suficiente para suprir a capacidade de infiltração. Determinar os parâmetros do método
de Horton.
Na Figura 7. 6 o ensaio de infiltração foi graficado, de forma a facilitar a identificação do
parâmetro fb. Nesse caso, o valor de fb é de 5,9 mm/h (valor assintótico). Para determinar o
valor de k, utiliza-se a equação 7.13, onde são conhecidos fb (5,9 mm/h), fi (27 mm/h) e os
intervalos de tempo ∆t. O valor de k é encontrado através de tentativas, e corresponde ao valor
que produz a menor diferença entre o f(t) calculado e observado. Na Tabela 7. 3 são apresentadas
algumas tentativas de ajuste de k para o ensaio de infiltração desse exemplo, e na são
apresentados os ajustes. Nesse caso, o valor mais adequado de k seria 0,55, que produziu um
melhor ajuste.
Tabela 7. 2 – Ensaio de infiltração
t (hora) f (mm/h)
1 27
2 19
3 15
4 10
5 9
6 8
7 7
8 6
9 5,9
30
25
20
f (mm/h)
15
10
0
0 2 4 6 8 10
Tempo (hora)
30
f obs.
f calc k=0,2
25
f calc k=0,55
f calc k=0,80
20
f (mm/h)
15
10
0
0 2 4 6 8 10
Tempo (horas)
fi − fb
F = f b .t + ( ) ⋅ (1 − e − k∆t ) (7.14)
k
onde F é a quantidade infiltrada (ou a quantidade que iria infiltrar se houvesse água disponível),
em mm.
F( t ) = St 0,5 + Kt (7.15)
Essa equação pode ser aproveitada para calcular S em uma coluna horizontal de solo, e
utilizar esse valor para calcular a infiltração acumulada na coluna vertical.
O Soil Conservation Service (SCS, 1957) propôs uma formulação para determinar o
volume máximo de precipitação que pode ser infiltrado.
Para a aplicação do método, considera-se que existe uma capacidade máxima de
armazenamento de água no solo, denominada S (mm). O valor de S depende do parâmetro CN
(Curve Number) do método do SCS. O parâmetro CN, por sua vez, é determinado em função do
tipo de solo, uso do solo, e condição de umidade antecedente.
S= − 254
25400
(7.18)
CN
Assim, para determinar a parcela de água precipitada que não é infiltrada (precipitação
efetiva - Pef), utiliza-se a equação 7.19
(P − 0,2S) 2
Pef =
P + 0,8S
(7.19)
Campos Normais 30 58 71 78
permanentes Esparsas, de baixa transpiração 45 66 77 83
Normais 36 60 73 79
Densas, de alta transpiração 25 55 70 77
Chácaras Normais 56 75 86 91
Estradas de Más 72 82 87 89
terra de superfície dura 74 84 90 92
Zonas industriais 81 88 91 93
Zonas residênciais
lotes de (m2) % média impermeável
<500 65 77 85 90 92
1000 38 61 75 83 87
1300 30 57 72 81 86
2000 25 54 70 80 85
4000 20 51 68 79 84
Arruamentos e estradas
asfaltadas e com drenagem de águas pluviais 98 98 98 98
Paralelepípedos 76 85 89 91
Terra 72 82 87 89
Esse método considera que existe uma infiltração constante ao longo do tempo, sendo
assim um método muito simplificado.
Para a aplicação do método, define-se inicialmente um volume correspondente à
capacidade de armazenamento de água no solo, além de outras perdas.
índice φ e da precipitação total. Quando o valor de φ for maior que a precipitação (P), deve-se
distribuir a diferença entre os demais intervalos.
No caso da existência de um hidrograma observado, pode-se proceder com a separação
perdas foi de 19,5 mm. Assim, o índice φ resulta em 1,50 mm/∆t (19,5 mm / 13 intervalos de
apresentado no hietograma da Figura 7. 8. A partir desse resultado, pode-se inferir que o total de
precipitado que encontra-se abaixo da linha do índice φ) estimadas superaram a precipitação (30,
figura é possível observar que existem alguns intervalos de tempo onde as perdas (volume
60 e 360 minutos). Nesse caso deve ser feita uma redistribuição temporal de perdas, como pro
exemplo o critério apresentado na. Figura 7. 10, onde assumiu-se que durante os 3 primeiros e
Precipitação (mm)
4
0
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390
Tempo (minutos)
Precipitação (mm)
6
indice FI
5
Precipitação (mm)
0
30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360 390
Tempo (minutos)
7
Precipitação (mm)
6 indice f
P efetiva - corrigida
5
Precipitação (mm)
0
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Tempo (minutos)
8. Análise do hidrograma
8.1 O hidrograma
O hidrograma é a representação gráfica da variação da vazão (Q) ao longo do tempo
(minutos, horas, dias). Costuma-se representar um hidrograma em escala gráfica, colocando no
eixo das abscissas o tempo, e no eixo das ordenadas o valor correspondente de vazão (Figura 8.
1).
20
18
16
14
12
Vazão (m3/s)
10
0
01-jan-65 24-jun-70 15-dez-75 06-jun-81 27-nov-86 19-mai-92 09-nov-97 02-mai-03
Vazão (Q): volume de água escoado na unidade de tempo em uma determinada seção
do rio. Normalmente é expressa em m3/s ou l/s.
Velocidade (V): relação entre o espaço percorrido pela água e o tempo gasto. É
geralmente expressa em m/s.
Vazão específica (q): relação entre a vazão e a área de drenagem da bacia. Expressa em
l/s.km2.
q=
Q
(8.1)
A
Coeficiente de escoamento é a relação entre o volume de água que atinge uma seção do
curso d’água e o volume precipitado. Na Tabela 8. 1 são apresentados os coeficientes de
escoamento para algumas regiões brasileiras.
35 Qs - Bacia 75 km2
Qs - Bacia 25 km2 5
30
10
Precipitação (mm)
25
Vazão (m3/s)
20 15
15
20
10
25
5
0 30
0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56
Tempo (minutos)
40
35 Bacia alongada
Bacia radial
30
Vazão (m3/s)
25
20
15
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Tempo (minutos)
120 P ermeável
Impermeável
100
80
60
40
20
0
0 10 20 30 40
Tempo (minuto s)
18
16
Com reservat ório
12
10
0
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000
Tempo (segundos)
Característica da precipitação
Em geral, chuvas que deslocam-se de jusante para montante geram hidrogramas com
picos menores, e em alguns casos com dois picos.
As chuvas convectivas, de grande intensidade e distribuídas numa pequena área, podem
provocar as grandes enchentes em pequenas bacias, não sendo tão importantes no caso de
grandes bacias hidrográficas. No caso de grandes bacias, as chuvas frontais são as mais
importantes.
Quando a precipitação é constante, e a capacidade de armazenamento de água no solo, e
o tempo de concentração da bacia são atingidos, há uma estabilização do valor da vazão de pico
(Figura 8. 6). Quando cessa a precipitação, o hidrograma entra em período de recessão.
0
1400
50
P
1200 100
Q
150
1000
Precipitação
200
Vazão
800
250
600 300
350
400
400
200
450
0 500
0 10 20
Tempo
30 40 50 60
Vazão (m3/s)
2.5
CGP tc
tr
tp
2.0
tm
1.5
1.0 CGH
tl I
tb
0.5
0.0
1/1/1961 3/1/1961 5/1/1961 7/1/1961 9/1/1961 11/1/1961 13/1/1961 15/1/1961 17/1/1961 19/1/1961 21/1/1961 23/1/1961 25/1/1961 27/1/1961 29/1/1961 31/1/1961
70 100
60
50
Vazão (m3/s)
Vazão (m3/s)
40 I
10
30
20 A
10
1
0
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0
0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 12.0 Tempo (min)
Tempo (min)
Qobs.
60
Qbase
50
40
30
20
10
0
5 10 15 20 25 30 35
Tempo (ho ras)
9. Escoamento Superficial
Uma vez que a precipitação de projeto, associada a um determinado tempo de retorno já
tenha sido analisada, e as perdas já tenham sido estimadas (através de alguma das metodologias
disponíveis), de tal maneira a determinar a precipitação efetiva, o passo seguinte é transformar
essa chuva efetiva em escoamento, ou vazão.
Essa transformação pode ser realizada mediante diferentes métodos, que podem ser
identificados de acordo com a informação necessária. O método mais simples de aplicação, e
baseado unicamente em dados de precipitação é o Método Racional; esse método, no entanto,
fornece apenas a vazão máxima para projeto. Um segundo método baseado na precipitação e
algumas características da bacia hidrográfica são os chamados Hidrogramas Unitários Sintéticos.
Quando se dispõe de dados de precipitação e vazão para um mesmo evento, é possível utilizar
um Hidrograma Unitário.
A seguir são apresentadas essas metodologias mencionadas.
Q = 0 ,27.C .I .A (9.1)
onde:
Q: vazão máxima (m3/s);
C: coeficiente de escoamento;
I: intensidade da precipitação (mm/h);
A: área da bacia (km2).
A chuva efetiva tem uma intensidade constante dentro da duração efetiva. Essa condição
exige que as chuvas sejam de curta duração, já que a taxa de chuva efetiva seria maior e
aproximadamente constante no tempo, produzindo um hidrograma melhor definido, com
pico único e tempo de base curto.
A chuva efetiva está uniformemente distribuída através de toda a área de drenagem. Em
virtude dessa condição, a área de drenagem não deverá ser muito grande. Caso seja
necessário trabalhar em bacias hidrográficas grandes, a mesma deverá ser sub-dividida
em sub-bacias de modo que se cumpra essa suposição. Marínez Marin (1994) recomenda
o limite superior de 400 km2.
O tempo de base do hidrograma de escoamento superficial, resultante de uma chuva
efetiva, de uma dada duração, é constante. Para que o comportamento da bacia
hidrográfica seja considerado linear, é necessário assumir que os hidrogramas de
escoamento superficial gerados por chuvas efetivas de igual duração têm o mesmo tempo
de base, independentemente da intensidade das chuvas efetivas. Esta consideração se
estende também ao tempo de pico. A informação hidrológica real não é completamente
linear, porém os resultados obtidos através da suposição linear são suficientemente
aproximados para fins práticos.
O HU de uma duração determinada é único para uma bacia hidrográfica e não varia no
tempo. As características do rio não devem ter mudanças e a bacia hidrográfica não deve
possuir armazenamentos apreciáveis (sem reservatórios).
Principio de proporcionalidade
Para uma chuva efetiva de uma dada duração, o volume de chuva, que é igual ao volume
escoado superficialmente, é proporcional à intensidade dessa chuva. Como os hidrogramas de
escoamento superficial correspondem a chuvas efetivas de mesma duração, têm o mesmo tempo
de base, considera-se que as ordenadas dos hidrogramas serão proporcionais à intensidade da
chuva efetiva. Ou seja
= 1 =k
P1 Q
(9.2)
P2 Q 2
onde:
P: volume de chuva efetiva;
Q: vazão do escoamento superficial.
25
P2
20
P1
Q2=f (P2)
Vazão (l/s)
15 Q1=f (P1)
10
0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25
Tempo (horas)
Principio de superposição
As vazões de um hidrograma de escoamento superficial, produzidas por chuvas efetivas
sucessivas, podem ser encontradas somando as vazões dos hidrogramas de escoamento
superficial correspondentes às chuvas efetivas individuais.
25
P1 P2
20 Q1=f (P1)
Q2=f (P2)
Vazão (l/s)
15 Q total
10
0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25
Tempo (horas)
Q t = ∑ Pef i ht −i +1
t
para t < k
i =1
(9.3)
Qt = ∑ Pef i ht −i +1 para t ≥ k
t
i =t − k +1
onde:
Qt: vazão do escoamento superficial no intervalo de tempo t;
h: vazão por unidade de chuva efetiva do HU;
Q6=f (P6)
60
Q7=f (P7)
Q8=f (P8)
Q total
40
20
0
0 0.05 0.1 0.15 0.2 0.25 0.3 0.35
Tempo (horas)
Anteriormente foi visto que a equação 9.3 representa a convolução discreta do HU. Assim,
uma vez conhecida a precipitação efetiva (Pef) e o hidrograma (Q) de escoamento superficial da
bacia hidrográfica, podem ser deduzidas as ordenadas (h) do HU mediante o processo chamado
de deconvolução.
Se existirem m pulsos de precipitação efetiva e n pulsos de escoamento superficial,
podem ser escritas n equações para Qt, n=1,2,...n, em função de n-m+1 valores desconhecidos do
HU.
Por exemplo, se o hietograma de precipitação efetiva é formado por 3 blocos e o
hidrograma de escoamento superficial é formado por 11 valores, significa dizer que m=3 e n=11.
Resultando em n-m+1= 9 ordenadas (h) do HU. As equações de convolução resultantes seriam,
onde neste caso as variáveis desconhecidas são os valores de h.
Q1 = Pef1.h1
Q2 = Pef2.h1+ Pef1.h2
Q3 = Pef3.h1 +Pef2.h2+ Pef1.h3
Q4 = Pef3.h2+ Pef2.h3+Pef1.h4
Q5 = Pef3.h3+Pef2.h4+Pef1.h5
Q6 = Pef3.h4+Pef2.h5+Pef1.h6
Q7 = Pef3.h5+Pef2.h6+Pef1.h7 (9.4)
Q8 = Pef3.h6+Pef2.h7+Pef1.h8
Q9 = Pef3.h7+Pef2.h8+Pef1.h9
Q10 = Pef3.h8+Pef2.h9
Q11= Pef3.h9
Pode-se observar que esse sistema de equações está sobredimensionado, já que temos
mais equações que incógnitas. Essas equações podem ser resolvidas por eliminação gaussiana,
isolando cada uma das variáveis desconhecidas e resolvendo sucessivamente. Neste caso a
resolução poderia começar de baixo para cima, ou de cima para baixo.
1) Calcular o volume de água precipitado sobre uma bacia hidrográfica, que é dado por
Vtot = Ptot . A (9.5)
onde:
Vtot: volume total precipitado sobre a bacia;
Ptot: precipitação total;
A: área de drenagem da bacia.
2) Fazer a separação do escoamento superficial, onde para cada instante t, a vazão que escoa
superficialmente é a diferença entre a vazão observada e a vazão de base
Qe = Qobs – Qb (9.6)
onde:
Qe: vazão que escoa superficialmente;
Qobs: vazão observada no posto fluviométrico;
Qb: vazão base, extraída do gráfico.
C=
Ve
(9.8)
V tot
onde:
Ve: volume escoado superficialmente;
Vtot: volume total precipitado sobre a bacia hidrográfica.
6) Determinar as ordenadas do HU
Qu = × Qe
Pu
Pef
(9.10)
onde:
Qu: ordenada do hidrograma unitário;
Pu: chuva unitária (10 mm, 1 mm);
Pef: precipitação efetiva;
Qe: ordenada do hidrograma de escoamento superficial.
Os hidrogramas unitários sintéticos baseiam-se nas características físicas das bacias que
podem influenciar claramente a produção de vazão, como a área, declividade, forma da bacia,
densidade de drenagem, parâmetros hidráulicos e redes de drenagem, etc. Um dos mais
conhecidos é o hidrograma sintético de Snyder (1973), desenvolvido para bacias com área entre
10 e 10.000 milhas quadradas, o hidrograma sintético é construído utilizando os seguintes
parâmetros:
tp
tr
qp
Q
L75
L50
Tb t
qp = 2 ,76
Cp .A
(9.13)
tR
onde:
Cp: coeficiente característico da bacia.
A: área da bacia em km2.
Para fazer o ajuste do hidrograma a valores de duração da chuva diferentes de tr, dado
pela equação 9.12, deve-se substituir o valor de tR calculado anteriormente pelo obtido segundo
a seguinte:
t’R = tR + 0,25*( tRadotado – tr ) (9.14)
onde:
tp: tempo de pico original.
tr: que gerou o hidrograma unitário;
tRadotado: duração de interesse.
O tempo de base do hidrograma em dias:
Tb = 3 + tR/8 (9.15)
sendo tR dado em horas. O valor estimado de Tb não pode ser considerado no caso da bacia ser
muito pequena. O tempo de pico deve ser estimado por
tp = 0,5.tr + tR’ (9.16)
A partir destes pontos calculados procede-se ao desenho do hidrograma, que terá forma
triangular e área igual a 1.
O hidrograma formado com o uso deste método foi desenvolvido a partir de bacias
agrícolas dos Estados Unidos e tem forma triangular, conforme a Figura 9. 6.
Q, P
ttR
p
∆t/2 tc
∆t
Qp
tp
tm tr
tr
tr = 1,67.tp (9.19)
∆t=tR/5. Para o caso dos hidrogramas unitários sintéticos, o procedimento para a convolução da
O intervalo de tempo é definido em unidades de tp. Recomenda-se a utilização de
chuva é o mesmo apresentado para o caso com dados, conforme apresentado adiante.
Conhecendo I(t), não é possível obter Q(t) se não é conhecida uma segunda relação,
chamada de função de armazenamento. A forma da equação de armazenamento depende da
natureza do sistema analisado. Existem vários métodos que são diferentes, conforme a maneira
como é considerada a função de armazenamento.
O efeito do armazenamento sobre o hidrograma de saída é, por um lado, o de modificar a
forma do hidrograma, atrasando o tempo ao pico, aumentando o tempo de base e diminuindo a
vazão de pico, e por outro lado, o de atrasar o começo do hidrograma, especialmente quando se
trata de canais muito longos, onde a onda de cheia deve viajar uma distância considerável.
S p = K .Q (10.2)
S c = K .X .( I − Q ) (10.3)
onde X é um fator de ponderação, podendo asumir valores entre 0 e 0,5, em função da
forma de armazenamento em cunha. Quando X = 0, não existe cunha de armazenamento, e não
há curva de remanso no rio, e o escoamento será do tipo reservatório, onde S = K.Q. Nesse caso
se produz a máxima atenuação possível. Quando X=0,5; diz-se que a cunha está completamente
desenvolvida e não existe atenuação alguma do pico. Em rios naturais, de vazões elevadas e de
baixa declividade, X é muito próximo de 0, e será mais próximo de 0,5 quanto maior a
declividade do rio, e menor for a vazão do mesmo.
O armazenamento total no trecho de rio considerado seria então:
S = K .Q + K .X .( I − Q ) (10.4)
que pode ser reordenado como:
S = K [ XI + ( 1 − X )Q ] (10.5)
S 1 = K [ XI 1 + ( I − X )Q1 ] (10.6)
S 2 = K [ XI 2 + ( I − X )Q2 ] (10.7)
I1 + I 2 Q + Q2
S 2 − S1 = .∆t − 1 .∆t (10.9)
2 2
I1 + I 2 Q + Q2
K [ X .( I 2 − I 1 ) + ( 1 − X ).( Q2 − Q1 )] = .∆t − 1 .∆t (10.10)
2 2
∆t ∆t ∆t
K .X + − K .X + K .( 1 − X ) −
Q2 = .I 1 + .I 2 +
∆t ∆t ∆t
2 2 2 .Q (10.11)
K .( 1 − X ) + K .( 1 − X ) + K .( 1 − X ) +
1
2 2 2
ou então:
Q 2 = C 1 I 1 + C 2 I 2 + C 3 Q1 (10.12)
onde:
KX + ∆t / 2
C1 =
K ( 1 − X ) + ∆t / 2
− KX + ∆t / 2
C2 =
K ( 1 − X ) + ∆t / 2
(10.13)
K ( 1 − X ) − ∆t / 2
C3 =
K ( 1 − X ) + ∆t / 2
.[(I 2 + I1 ) − (Q2 + Q1 )]
∆t
K=
X .(I 2 − I 1 ) + (1 − X )(. Q2 − Q1 )
2 (10.15)
O parâmetro X deve ser maior que zero para evitar a possibilidade de vazões negativos, e
por razões de estabilidade numérica da solução deve ser ademais menor que 0.5, portanto
C1 ≥ 0
negativa, resulta,
(10.17
Assim,
Profa. Rutinéia Tassi & Prof. Walter Collischonn -92-
Apostila de Hidrologia
− KX + ∆t / 2 > 0 => ∆t / 2 > KX (10.18)
t/ K
C3<0
2
C1 <0
S t +1 − S t I t + I t+1 Q t + Q t +1
= − (10.22)
∆t 2 2
onde:
I t e I t +1 : vazões de entrada no reservatório em t e t+1;
Qt e Qt +1 : vazões de saída do reservatório em t e t+1;
St e St+1 : armazenamento do reservatório nos tempos referidos.
As duas incógnitas do problema são Q e S no tempo t+1. Reorganizando a equação
anterior, com as variáveis conhecidas de um lado e as desconhecidas de outro, resulta
Q t +1 + = I t + I t+1 − Q t + t
2S t + 1 2S
(10.23)
∆t ∆t
Como existe uma equação e duas incógnitas, a equação adicional é a relação Q = f(S),
relacionando a vazão de saída do reservatório com o estado de armazenamento do mesmo. A
obtenção dessa função é descrita posteriormente nesse texto. Utilizando esta função, é possível
construir uma segunda função auxiliar, para a determinação de Qt+1
Normalmente essa função é conhecida de forma tabular, onde para cada ordenada haverá
um valor de S, dividido pelo intervalo de tempo de cálculo e somado a vazão define a nova
abscissa, gerando a função f1.
Com base nas equações 10.23 e 10.24 é possível simular o escoamento através do
reservatório através da seguinte seqüência:
c) O termo da direita é igual à abcissa da função f1. Portanto entrando com esse valor
na função obtém-se a vazão Qt +1 ;
A curva cota x armazenamento é obtida pela cubagem do reservatório (Figura 10. 3).
Essa relação é apresentada na forma de tabela, gráfico ou é ajustada uma equação. Devido às
características normalmente encontrada nos reservatórios essa função pode ser ajustada a uma
função do tipo seguinte
Z = aS b (10.25)
onde a e b são coeficientes ajustados aos dados e Z a cota. Existem outras expressões
matemáticas utilizadas para o ajuste.
A função entre cota e a vazão de saída depende do tipo de estrutura de saída que está
sendo utilizada. Essa função é fornecida pelo projetista ou estabelecida através de modelo
reduzido. Os reservatórios podem possuir dois tipos de extravasores: vertedor e descarregador de
fundo (Figura 10. 4). Tanto um como o outro pode ter comportas.
Exemplo 10.1
Deseja-se propagar em um reservatório o hidrograma da Figura 10. 7 (cujos dados são
apresentados na Coluna 1 da planilha 10.2). O reservatório estudado possuirá um descarregador
de fundo circular (φ=1,40m) e um vertedor de emergência com 10 m de comprimento, cuja cota
é 55,2 m. A cota de fundo do reservatório é 53,2 m (o mesmo tem 2m de altura) e está
inicialmente vazio. O intervalo de tempo do hidrograma de entrada é de 120 s. A curva Cota x
Armazenamento do lago é fornecida na Tabela 10. 1. O coeficiente de descarga do vertedor é
0,86 e do descarregador de fundo 0,50.
22
20
18
16
14
Vazão (m3/s)
12
10
0
0 5 10 15 20 25 30
Tempo (min)
Planilha 10.1
14000
12000
10000
Armazenamento (m3)
8000
6000
4000
2000
0
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Altura (m)
6.00
5.00 Q descarregador
4.00
Vazão (m3/s)
3.00
2.00
1.00
0.00
0.0 0.5 1.0 1.5 2.0 2.5
Altura (m)
Figura 10. 9 – Curva de vazão do descarregador de fundo (Col. 1 x Col. 5 – Planilha P10.1)
Planilha P10.2
Col. 1 Col. 2 Col. 3 Col. 4 Col. 5 Col. 6
t (s) I entrada It + It+1 - Ot + 2S/dt h (m) (2S/t ) Q saída (m3/s)
(m3/s) (m3/s) (m3/s)
0 0.00 - 0.00 0.00 0.00
120 0.03 0.03 0.00 0.03 0.00
240 2.14 2.20 0.02 1.97 0.23
360 7.04 10.92 0.11 9.81 1.11
480 14.16 29.90 0.30 28.01 1.89
600 19.44 59.72 0.61 57.03 2.70
720 21.27 95.04 0.98 91.62 3.42
840 19.07 128.54 1.33 124.56 3.99
960 13.83 153.47 1.60 149.11 4.36
1080 7.59 166.16 1.73 161.62 4.54
1200 3.45 168.12 1.75 163.55 4.57
1320 1.04 163.48 1.70 158.97 4.50
1440 0.00 155.51 1.62 151.12 4.39
1560 146.73 1.53 142.46 4.26
1680 138.20 1.44 134.07 4.13
1800 129.93 1.35 125.93 4.01
1920 121.92 1.26 118.04 3.88
2040 114.16 1.18 110.41 3.75
2160 106.65 1.10 103.03 3.62
2280 99.40 1.03 95.91 3.50
2400 92.41 0.95 89.04 3.37
2520 85.67 0.88 82.43 3.24
2640 79.19 0.82 76.07 3.11
2760 72.96 0.75 69.97 2.99
2880 66.99 0.69 64.13 2.86
2892 61.27 0.63 58.54 2.73
3012 55.81 0.57 53.20 2.60
3132 50.60 0.52 48.12 2.48
3252 45.65 0.46 43.30 2.35
3372 40.95 0.42 38.73 2.22
3492 36.51 0.37 34.42 2.09
3612 32.33 0.33 30.37 1.96
3732 28.40 0.28 26.57 1.84
3852 24.73 0.25 23.02 1.70
3972 21.32 0.21 19.74 1.58
4092 18.15 0.18 16.71 1.45
4212 15.26 0.15 13.94 1.31
4332 12.63 0.12 11.44 1.19
4452 10.24 0.10 9.17 1.07
4572 8.10 0.08 7.25 0.85
4692 6.40 0.06 5.73 0.67
4812 5.06 0.05 4.53 0.53
4932 4.00 0.04 3.58 0.42
5052 3.17 0.03 2.83 0.33
5172 2.50 0.02 2.24 0.26
5292 1.98 0.02 1.77 0.21
5412 1.56 0.02 1.40 0.16
5532 1.24 0.01 1.11 0.13
5652 0.98 0.01 0.88 0.10
: : : : :
: : : : :
7452 0.05 0.00 0.04 0.00
Onde:
Col. 1: intervalo de tempo de propagação (segundos). Informação depende do dado de
entrada.
Col. 2: hidrograma de a ser propagado no reservatório. O hidrograma de entrada foi
fornecido.
Col. 3: Esta coluna representa o termo da direita da equação “Qt+1 + 2.St+1/∆t = It + It+1 -
Qt + 2.St/∆t”
Para o primeiro intervalo de tempo, o armazenamento inicial é conhecido (So=0), o
armazenamento é nulo e a Q saída é nula. Conhecido o valor do termo da direita da equação,
calcula-se a cota atingida no reservatório (h) , consultando as colunas 7 e 3 da Planilha P10.1.
Determina-se (2.St/∆t) consultando as colunas 6 e 7 da Planilha P10.1, na mesma planilha,
determina-se Qt consultando as colunas 7 e 8. O mesmo procedimento é feito para todos os
intervalos de tempo seguinte, até haver a completa propagação no reservatório.
Col. 4: cota atingida no interior do reservatório. Calculada conforme apresentado acima.
Col. 5: armazenamento/∆t no interior do reservatório. Calculada conforme apresentado
acima.
Col. 6: vazão de saída do reservatório. Calculada conforme apresentado acima.
Os hidrogramas de entrada e saída do reservatório podem ser vistos na Figura 10. 10.
25.00
Q entrada
Q saída
20.00
15.00
Vazão (m3/s)
10.00
5.00
0.00
0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000
Tempo (minutos)