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de Recursos Hídricos no
BRASIL
CADERNOS DE RECURSOS HÍDRICOS 2
República Federativa do Brasil
Luiz Inácio Lula da Silva
Presidente
Disponibilidade e Demandas
de Recursos Hídricos no
COLABORADORES
Fernando Arruda Damacena
Guilherme Batista Correa
Moema Versiani Acselrad
Rafael Carneiro Di Bello
Equipe editorial:
Supervisão editorial: Bolivar Antunes Matos
Elaboração dos originais: Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos
Revisão dos originais: Superintendência de Planejamento de Recursos Hídricos
Produção:
TDA – Desenho & Arte LTDA. – www.tdabrasil.com.br
Projeto gráfico, editoração e arte-final: João Campello
Capa: Marcos Rebouças e João Campello
Editoração eletrônica dos originais: Paulo Albuquerque
Mapas temáticos: Thiago Rodrigues
Fotos: Acervo ANA, Acervo TDA, Nelson Neto de Freitas e Ana Carolina Pinto Coelho
Revisão: Roberta Gomes
ISBN: XXXXXXX
4 ÁGUAS SUPERFICIAIS 29
4.1 Precipitação 29
4.2 Vazões médias e de estiagem 33
4.3 Sazonalidade e escoamento superficial 36
4.4 Variação climática e escoamento superficial 39
4.5 Vazões regularizadas 41
4.6 Balanço hídrico e evapotranspiração 46
5 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS 49
5.1 Bacias Sedimentares Proterozóicas 50
5.2 Bacias Sedimentares Fanerozóicas 50
5.3 Terrenos Cristalinos 52
5.4 Principais Sistemas Aqüíferos 54
6 DEMANDAS DE RECURSOS HÍDRICOS 77
10 REFERÊNCIAS 119
Acervo TDA
Diretoria da ANA
Haroldo Palo Jr.
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APRESENTAÇÃO
Acervo TDA
Acervo TDA
Pantanal - MS
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1 INTRODUÇÃO
Acervo TDA
Pantanal - MS
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C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Acervo TDA
Brasil - CPRM e dos dados fluviométricos e pluvio- variação espacial e temporal das vazões. As bacias
métricos mencionados anteriormente. localizadas em áreas que apresentam uma combina-
ção de baixa disponibilidade e grande utilização dos
O cálculo de demandas no País foi realizado a par- recursos hídricos passam por situações de escassez
tir dos dados dos censos demográficos, agropecu- e estresse hídrico. Estas bacias, aqui destacadas,
ários e industriais do Instituto Brasileiro de Geografia precisam de intensas atividades de planejamento e
e Estatística – IBGE e do projeto “Estimativa das va- de gestão dos recursos hídricos.
zões para atividades de uso consuntivo da água nas
principais bacias do Sistema Interligado Nacional – O presente estudo técnico está estruturado em dez
SIN. Relatório Final – Metodologia e Resultados Con- capítulos. O trabalho apresenta a metodologia em-
solidados” (ONS, 2003) , cujas vazões de consumo
53
pregada, as unidades hidrográficas de referência, a
foram aprovadas pela ANA por meio das resoluções disponibilidade de águas superficiais e subterrâneas,
209 a 216/045-12. as demandas de recursos hídricos, um sucinto pano-
rama das outorgas de direito de usos no País, o ba-
Os resultados mostram que o Brasil é rico em termos lanço entre disponibilidade e demandas, bem como
de disponibilidade hídrica, mas apresenta uma grande as conclusões e as recomendações finais.
Nelson Neto de Freitas
Vitória régia
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2 METODOLOGIA
A precipitação média anual foi determinada a par- abrangendo o período entre 1961 a 1990. Para es-
tir do mapa de isoietas, elaborado para o País, por timativa da precipitação média anual nas regiões
meio da interpolação por krigagem das Normais hidrográficas, sub-regiões, unidades hidrográfi-
de Precipitação Total (Instituto Nacional de Mete- cas de referência e sistemas aqüíferos, foi realiza-
orologia – INMET). Estas normais correspondem a da a integração das isoietas na área de cada uma
204 estações pluviométricas operadas pelo INMET, destas unidades.
A vazão natural é aquela que seria originada na representativa da disponibilidade hídrica em condi-
bacia hidrográfica se não houvesse qualquer in- ção de estiagem.
terferência humana como por exemplo, usos con-
suntivos, derivações, regularizações, importações A determinação das vazões (média e de estiagem)
e exportações de água. Entretanto, esta condição nas regiões hidrográficas Tocantins/Araguaia, São
não é observada na maior parte das bacias em de- Francisco e Paraná foi baseada nos resultados do
corrência das atividades antrópicas, que alteram as projeto “Revisão das séries de vazões naturais nas
condições de uso e ocupação do solo, e afetam di- principais bacias do Sistema Interligado Nacional”
retamente as condições do escoamento superficial. (ONS, 2003)54. O projeto calculou as vazões natu-
rais entre os principais aproveitamentos hidrelétri-
A vazão natural média não pode ser considerada cos para o período compreendido entre os anos de
como único parâmetro para representar a disponi- 1931 e 2001.
bilidade hídrica, uma vez que a descarga dos rios
depende da sazonalidade e da variabilidade climá- Nas demais regiões, as vazões foram obtidas a par-
tica. Portanto, os períodos críticos, em termos de tir dos registros das estações fluviométricas que são
disponibilidade hídrica, devem ser avaliados, a fim operadas pela Agência Nacional de Águas e que
de garantir uma margem de segurança para as ati- estão disponíveis no Sistema de Informações Hidro-
vidades de planejamento e gestão. As vazões de lógicas (http://hidroweb.ana.gov.br/). Para cada uni-
estiagem podem ser analisadas pela freqüência de dade hidrográfica de referência, foi selecionada a
ocorrência de vazões em uma seção do rio da ba- estação fluviométrica mais próxima à foz, com a sé-
cia hidrográfica. Adotou-se a vazão com permanên- rie hidrológica mais extensa (preferencialmente su-
cia de 95% - a vazão média diária que é excedi- perior a 15 anos de dados), e foram calculados os
da ou igualada em 95% do tempo – como sendo seguintes indicadores:
Ana Carolina Pinto Coelho
• Vazão média de longo período Qm (m3/s): definida área de drenagem da estação. Para cálculo da va-
pela média aritmética das vazões diárias de todo o zão média (Qm) e da vazão de estiagem (Q95) de
período da série disponível. cada unidade hidrográfica, utilizou-se as seguin-
tes expressões: Qm=As.qm e Q95=Qm.r95, onde As é a
• Vazão com permanência de 95% Q95 (m3/s): va- área da unidade hidrográfica de referência.
zão que é igualada ou excedida em 95% do tem-
po (obtida com base na série disponível de Nas situações que não se dispunha de dados, fo-
vazões diárias). ram adotados valores de vazões específicas de ba-
cias contíguas com características físicas e hidro-
Ainda foram determinadas as seguintes relações lógicas similares. Apesar das limitações do método
Qm
para cada estação fluviométrica: qm = A (vazão es- e dos dados disponíveis, observou-se a coerência
Q95
pecífica média, em l/s.km2) e r95 = Q , onde A é a global das estimativas obtidas.
m
2.3 Evapotranspiração
A evapotranspiração real, em cada unidade hi- perdas, como a recarga de água subterrâ-
drográfica do País, foi calculada pelo balanço nea para fora da bacia e usos consuntivos, en-
hídrico simplificado: ETr = P (precipitação) – Q contram-se incorporadas na estimativa da
(escoamento superficial). Portanto, outras eventuais evapotranspiração real.
Os reservatórios são capazes de armazenar água reservatórios, que depende diretamente dos seus
nos períodos úmidos e de liberar parte do volume usos múltiplos, que pode incluir a geração de ener-
armazenado nos períodos de estiagem, tornando gia, o abastecimento humano, a irrigação e o amor-
disponível uma maior quantidade de água quando tecimento de cheias, entre outros.
ela seria naturalmente menor. A vazão regulariza-
da é a quantidade de água que pode ser fornecida O balanço hídrico dos principais reservatórios em
por um reservatório com uma determinada seguran- operação no País e integrantes do Sistema Inter-
ça, considerado o período de dados da série histó- ligado Nacional (SIN) foi realizado com a finali-
rica de vazões afluentes. Do ponto de vista teórico, dade de estimar a vazão regularizada. Esta va-
a maior vazão que pode ser regularizada é a va- zão foi calculada pela utilização de um modelo
zão natural média. Entretanto, a vazão regularizada para alocação de água em sistemas complexos
também é função das condições de operação dos de recursos hídricos (AcquaNet), desenvolvido
Acervo TDA
Barragem Acauã - PB
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pelo Laboratório de Sistemas de Suporte a Deci- (diferença entre a evaporação real do reservatório
sões do Departamento de Engenharia Hidráulica e a evapotranspiração real no local antes da sua
e Sanitária da Escola Politécnica da Universidade implantação) e curvas cota-área-volume para o pe-
de São Paulo. ríodo de 1931 a 2001. Em cada reservatório, foi de-
terminada a vazão regularizada com a garantia de
Considerou-se que a variação de armazenamento 100% de fornecimento de água, considerando a
nos reservatórios é igual à soma das vazões natu- operação simultânea dos reservatórios.
rais afluentes, menos a soma das vazões defluentes
e dos volumes evaporados, durante o período dis- Adicionalmente, baseadas em informações existen-
ponível de dados. A simulação foi realizada a partir tes em Planos Diretores, foram compiladas as vazões
dos dados de vazões naturais, evaporações líquidas regularizadas pelos principais açudes do Nordeste.
Este estudo considera a disponibilidade hídrica (regiões Tocantins/Araguaia, São Francisco, Para-
superficial na bacia como sendo a vazão regulari- ná) e das estações fluviométricas existentes (de-
zada pelo sistema de reservatórios a montante da mais regiões).
seção de interesse, com 100% de garantia, soma-
da à vazão incremental de estiagem (vazão com As restrições impostas aos cursos d´água pelos
permanência de 95%, no trecho não regularizado). seus diferentes usos como, por exemplo, o com-
Em rios onde não há regularização, a disponibili- prometimento da qualidade das águas, as vazões
dade hídrica foi considerada como igual à vazão para diluição de efluentes, a operação de reser-
de estiagem. vatórios e a manutenção de vazões mínimas para
conservação de ecossistemas não foram conside-
A vazão de estiagem (com permanência de 95%) radas neste estudo.
foi calculada a partir das séries de vazões naturais
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C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
A caracterização dos principais sistemas aqüíferos conservador já que desconsidera o uso das reser-
do País foi baseada no seu potencial hídrico, em vas permanentes. Apesar disso, ele pode ser consi-
termos de reserva e produtividade, e em função da derado satisfatório para uma estimativa regional de
sua extensão e importância no abastecimento regio- aqüíferos, permitindo uma certa margem de con-
nal. Considerando estes critérios, o estudo concen- fiança por não considerar o uso das reservas per-
trou-se principalmente nos aqüíferos porosos situa- manentes, ou seja, não considerar a depleção do
dos nas bacias sedimentares. A base cartográfica volume de água permanente do aqüífero. Este valor
digital utilizada foi o mapa geológico do Brasil, na também é satisfatório sob o aspecto de manutenção
escala 1:2.500.000, produzido pela CPRM (2001) . 25
da vazão dos rios, porque considera que apenas
20% do escoamento de base podem ser afetados
As informações sobre produtividade dos aqüíferos fo- pela captação de água subterrânea. As reservas
ram baseadas nos dados de poços do Sistema de Infor- explotáveis, adotadas neste estudo, representam,
mações de Águas Subterrâneas (SIAGAS) da CPRM. portanto, 20% do escoamento de base dos rios.
Realizou-se uma estimativa das reservas explo- O cálculo do escoamento básico foi realizado em hi-
táveis ou disponibilidades hídricas dos principais drogramas selecionados de estações fluviométricas
aqüíferos do País. Para tal calculou-se inicialmente do Sistema de Informações Hidrológicas da Agên-
a área de recarga dos aqüíferos, baseada no mapa cia Nacional de Águas. Nos sistemas aqüíferos sedi-
geológico da CPRM, e a precipitação média sobre mentares, onde não foram encontradas estações flu-
estas áreas, utilizando o mapa de isoietas do Brasil, viométricas elegíveis para os cálculos, a estimativa
contendo as Normais 1961-1990. da relação escoamento básico/precipitação foi rea-
lizada a partir de valores de literatura ou valores cal-
As reservas hídricas dos aqüíferos são divididas em culados para sistemas aqüíferos com características
reservas renováveis e permanentes. As reservas geológicas e geográficas similares (ANA, 2003a)1.
permanentes ou seculares são aquelas que se si-
tuam abaixo da variação anual do nível freático. As Sabe-se que nas áreas de recarga dos aqüíferos,
reservas reguladoras ou renováveis correspondem uma parte da água que infiltra no solo, pelos siste-
ao volume de água armazenada no aqüífero acima mas de fluxos locais a intermediários, participa do
do nível freático mínimo. Elas correspondem, de for- escoamento básico, enquanto que outra parte, que
ma geral, ao escoamento de base dos rios, ou seja, integra o sistema de fluxo intermediário a regional,
à contribuição do aqüífero para os rios ao longo de vai para as porções mais profundas dos aqüíferos
um ano hidrológico. O valor de escoamento básico ou para as porções confinadas, a chamada recarga
de um rio pode ser considerado, portanto, como va- profunda. Na escala de trabalho, adotada na pre-
lor de recarga dos aqüíferos. sente avaliação, não foi possível identificar a parte
de recarga profunda, embora estes valores sejam,
De modo geral, considera-se que as reservas ex- em geral, baixos quando comparados ao valor do
plotáveis de um aqüífero são constituídas por uma escoamento básico. Os dados de literatura mencio-
parte das reservas reguladoras e por uma pequena nam a recarga profunda com valores entre 5 e 10%
fração das reservas permanentes. A porcentagem da recarga total (DAEE, 1974)34.
a ser adotada das reservas reguladoras e perma-
nentes, para cálculo da reserva explotável dos aqü- Por fim, para fins de análise, cabe destacar que as
íferos, é ainda controversa, principalmente em face disponibilidades hídricas superficial e subterrânea,
da dinâmica de fluxo e resposta de cada aqüífero não podem ser somadas para fornecer um valor de
à explotação. Neste estudo, considerou-se que as disponibilidade total. Na verdade, a disponibilida-
reservas explotáveis correspondem a 20% das re- de hídrica superficial inclui, no seu valor, a dispo-
servas reguladoras. O valor é considerado um valor nibilidade subterrânea, já que esta representa uma
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Acervo TDA
Bonito - MS
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Acervo TDA
Irrigação - RN
A estimativa das demandas relativas aos usos con- A demanda de água corresponde à vazão de retira-
suntivos da água tem por objetivo subsidiar os estu- da, ou seja, a água captada destinada a atender os
dos técnicos que visam manter atualizado o balanço diversos usos consuntivos. Além desta informação,
entre a demanda e a disponibilidade dos recursos há o interesse em definir o volume de água efetiva-
hídricos, em quantidade e qualidade, no País. mente consumido durante seu uso. Para esta finali-
dade, duas outras classes de vazões são conside-
Em 2004, a ANA aprovou as vazões de consumo es- radas, a vazão de retorno e a vazão de consumo.
timadas no projeto “Estimativa das vazões para ati- As vazões de retorno podem ser obtidas a partir da
vidades de uso consuntivo da água nas principais vazão de retirada, multiplicando esta por um coe-
bacias do Sistema Interligado Nacional – SIN. Re- ficiente de retorno determinado para cada tipo de
latório Final – Metodologia e Resultados Consolida- consumo. A vazão de consumo é calculada pela di-
dos” (ONS, 2003) Esse projeto forneceu a deman-
52
ferença entre a vazão de retirada e a vazão de re-
da de aproximadamente 2.240 municípios situados torno. Em média, os coeficientes de retorno usados
nas regiões hidrográficas São Francisco, Tocantins/ no presente trabalho são aqueles adotados em ONS
Araguaia e Paraná. Estas demandas foram adotadas (2003)51: abastecimento urbano – 0,8; abastecimen-
no presente trabalho. Nos demais municípios, aproxi- to rural – 0,5; abastecimento industrial – 0,8; irriga-
madamente 3.270, utilizou-se a metodologia descrita ção – 0,2; criação de animais – 0,2.
nas Notas Técnicas NT-007-SPR-03, NT-010-SPR-03,
NT-013-SPR-03 (ANA, 2003 b, c, d)2-4 e adaptada aos Os diversos usos consuntivos considerados para o
resultados obtidos pelo ONS (2003) .
52
cálculo das demandas foram:
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Acervo TDA
Carro Pipa
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C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Na determinação da demanda animal, foi utiliza- foram determinados em locais com informações
do o parâmetro BEDA (unidade de equivalente ani- sobre a demanda industrial e, posteriormente, ex-
mal) que corresponde ao total da pecuária em bo- trapolados para as demais regiões. A faixa resul-
vino equivalente, adotando-se o consumo igual a tante variou de 800 a 7.250 l/empregado/dia, defi-
50 l/BEDA/dia. O consumo correspondente à cria- nida em função do Estado e da população urbana
ção de aves foi adicionado a este valor, assumindo do município.
o coeficiente igual a 0,4 l/ave/dia.
O cálculo da demanda de irrigação foi baseado em
Para a demanda industrial consideraram-se as in- parâmetros, tais como: área irrigada, precipitação
dustrias ou setores industriais que possuem siste- e evapotranspiração potencial. Estes valores foram
mas próprios de abastecimento de água ou siste- ajustados à estimativa de demandas de irrigação
mas de abastecimento diferenciados do restante do ONS (2003)52.
da comunidade.
Maiores detalhes sobre a metodologia aplicada
A demanda industrial é a mais difícil de ser obti- para estimativas de usos consuntivos poderão ser
da, pela falta de informações adequadas que per- obtidos no projeto “Estimativa das vazões para ati-
mitam relacionar parâmetros como tipologia da in- vidades de uso consuntivo da água nas principais
dustria, produção industrial e consumo de água bacias do Sistema Interligado Nacional – SIN. Re-
para cada localidade. O problema é minimizado latório Final – Metodologia e Resultados Consoli-
porque, em média, a demanda industrial não se dados” do ONS (2003)52 e nas resoluções 209 a
constitui na parcela mais significativa do consumo 216/20045-12 da ANA (e respectivas Notas Técni-
de água no País, a qual corresponde a 18% da de- cas), que aprovam as estimativas de usos consun-
manda total. A metodologia foi baseada no núme- tivos nas bacias dos rios São Francisco, Iguaçu,
ro de empregados na indústria de transformação Paraná, Tocantins, Paranapanema, Tietê, Grande
(ANA, 2003d)3. Estes valores, em l/empregado/dia, e Paranaíba.
As informações aqui apresentadas sobre outor- fornecidas pela Superintendência de Outorga e Co-
gas de direito de recursos hídricos no País foram brança da Agência Nacional de Águas.
O balanço entre disponibilidade e demandas de re- média e a população (m3/hab/ano). Este indicador
cursos hídricos nas 12 regiões hidrográficas foi reali- não reflete a real disponibilidade hídrica, ou seja,
zado a partir da análise de três situações diferentes: a efetiva quantidade de água disponível para uso,
uma vez que a vazão média não está disponível
(1) A razão entre a vazão média e a população. Uti- em todas as circunstâncias. A classificação adota-
lizada para expressar a disponibilidade de recur- da é adaptação de publicações das Nações Uni-
sos hídricos em grandes áreas, a vazão média por das para traçar o quadro mundial (UNESCO, 200370;
habitante é expressa pelo quociente entre a vazão ALCAMO, et al., 200014):
< 5% - Excelente. Pouca ou nenhuma atividade de gerenciamento é necessária. A água é considerada um bem livre
5 a 10% - A situação é confortável, podendo ocorrer necessidade de gerenciamento para solução de problemas locais de abastecimento
10 a 20% - Preocupante. A atividade de gerenciamento é indispensável, exigindo a realização de investimentos médios
20% a 40% - A situação é crítica, exigindo intensa atividade de gerenciamento e grandes investimentos
> 40% - A situação é muito crítica
(3) A razão entre a vazão de retirada para os usos as mesmas faixas da situação (2), consideradas ade-
consuntivos e a disponibilidade hídrica (em rios sem quadas para o caso brasileiro.
regularização, a vazão de estiagem - a vazão com
permanência de 95%; em rios com regularização, a Para as águas subterrâneas, o balanço foi realizado
vazão regularizada somada ao incremento de vazão considerando a relação entre a vazão de retirada para
com permanência de 95%). Neste estudo, este indi- os usos consuntivos (demanda potencial), na área de
cador será utilizado para refletir a situação real de recarga do aqüífero, e a vazão explotável. Ou seja,
utilização dos recursos hídricos. Para a definição de esse indicador aponta a possibilidade, ou não, das
faixas de classificação deste índice, serão adotadas águas subterrâneas atenderem a demanda total.
Acervo TDA
Chafariz - RN
Acervo TDA
Atlântico Nordeste
Amazônica Ocidental Atlântico Nordeste
Oriental
Parnaíba
Atlântico Leste
Paraguai
Paraná
Atlântico Sudeste
Uruguai
Atlântico Sul
Figura 3.1 – Divisão Hidrográfica Nacional (Resolução no 32 do Conselho Nacional de Recursos Hídricos)
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Legenda
Regiões hidrográficas
Sub-regiões (nível 2)
Unidades hidrográficas de referência (nível 3)
Adicionalmente, os principais rios das 12 regiões fo- uma melhor identificação, localização e priorização
ram selecionados por trechos, com a finalidade de de ações para auxiliar as atividades de planejamen-
sua caracterização. Tal procedimento possibilitou to e gestão de recursos hídricos.
Acervo TDA
Pantanal - MS
Acervo TDA
Vitória régia
Acervo TDA
No País, a precipitação média anual é de 1.797 mm, mensais, entre 1961 e 1990. A Figura 4.3 a seguir
variando de menos de 800 mm, na região semi-ári- mostra os hietogramas de algumas estações pluvio-
da do Nordeste, a mais de 2.500 mm, na Amazônia métricas nas regiões hidrográficas.
(Figura 4.1).
As chuvas são abundantes e regulares na região
A Tabela 4.1 mostra a precipitação média em cada hidrográfica Amazônica, concentrando-se nos me-
uma das 12 regiões hidrográficas brasileiras. Os ses de novembro a maio, como mostra o hieto-
menores valores de precipitação no País ocorrem grama de uma estação em Manaus (Figura 4.3).
nas regiões hidrográficas do São Francisco (1.037 A distribuição das isoietas (paralelas à linha do
mm), no Atlântico Leste (1.058 mm), na Parnaíba Equador, entre abril e julho) nessa região (Figu-
(1.117 mm) e no Atlântico Nordeste Oriental (1.218 ra 4.2) demonstra a influência da Zona de Con-
mm). As maiores precipitações são observadas nas vergência Intertropical. No Nordeste do País, as
regiões Amazônica (2.239 mm), Tocantins/Araguaia chuvas concentram-se entre os meses de março
(1.837 mm), Atlântico Nordeste Ocidental (1.790 a julho. No Nordeste Setentrional, a precipitação
mm) e Uruguai (1.785 mm). é mais intensa no período de março a maio, como
mostra o hietograma, em Quixeramobim-CE, mas
Além da grande variação espacial, é importante na costa leste do Nordeste, as chuvas podem pro-
considerar a sazonalidade da precipitação, como longar-se até agosto, como mostra o hietograma
mostra a Figura 4.2 , que apresenta as isoietas em Maceió-AL.
Precipitação (mm)
550 1750
650 1850
750 1950
850 2050
950 2150
1050 2250
1150 2350
1250 2450
1350 2550
1450 2650
1550 2750
1650 2850
O inverno seco atinge principalmente a Região Cen- agosto, e o aumento das chuvas durante o verão, entre
tro-Oeste, em um período que se estende aproximada- os meses de dezembro a fevereiro (Figura 4.3 – Estação
mente de junho a agosto (Figura 4.3 – Estação Brasília). São Carlos). Na Região Sul, as chuvas são bem distri-
Na Região Sudeste ocorre uma diminuição das chuvas buídas durante o ano, como mostra a estação em Passo
durante o inverno, principalmente no período de julho a Fundo-RS (Figura 4.3).
Acervo TDA
31
A B
350 350
300 300
Manaus-AM 250 Quixeramobim-CE
250
Chuva (mm)
Chuva (mm)
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês Mês
D
C
Maceió-AL 350
350
300
300
250
250
Chuva (mm)
Brasília-DF
Chuva (mm)
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês Mês
E F
350 350
300 300
250 São Carlos-SP 250 Passo Fundo-RS
Chuva (mm)
Chuva (mm)
200 200
150 150
100 100
50 50
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês Mês
-5
-10
-15
-20
-25
-30
Legenda
Acima de 10%
Abaixo de 10%
-70 -65 -60 -55 -50 -45 -40 -35
Figura 4.4 – Variação percentual da precipitação no País entre os períodos de 1961-1990 e 1931-1960
A Figura 4.4 compara a precipitação média no País médios de precipitação, no período 1961 a 1990,
entre 1961 e 1990 com a precipitação ocorrida en- e partes das regiões Parnaíba, Atlântico Nordes-
tre 1931 e 1960. Na maior parte do País, não há te Oriental, e no Submédio São Francisco. Nota-se
diferenças entre os dois períodos citados. As ex- uma pequena diminuição da precipitação em deter-
ceções são uma parte do semi-árido do Nordeste, minados locais das regiões hidrográficas Amazôni-
que apresenta um aumento de até 40% nos valores ca e Atlântico Leste.
A vazão média anual dos rios em território brasileiro de 95% dos rios das regiões hidrográficas como re-
é de 179 mil m /s (5.660 km /ano). Este valor corres-
3 3
ferência. As maiores vazões de estiagem estão na
ponde a aproximadamente 12% da disponibilidade região Amazônica, Paraná e Tocantins/Araguaia,
mundial de recursos hídricos, que é de 1,5 milhões enquanto as menores estão nas bacias do Atlân-
de m3/s (44.000 km3/ano, Shiklomanov 1998). Le- tico Nordeste Oriental, Parnaíba e Atlântico Leste.
vando-se em consideração as vazões oriundas em Em geral, as bacias hidrográficas localizadas sobre
território estrangeiro que entram no País (Amazôni- formações sedimentares, com maior área de drena-
ca – 86.321 m /s, Uruguai – 878 m /s e Paraguai –
3 3
gem e/ou com regularidade das chuvas, apresen-
595 m3/s e), essa disponibilidade hídrica total atin- tam vazões de estiagem entre 20 a 30%, poden-
ge valores da ordem de 267 mil m /s (8.427 km /ano
3 3
do chegar a 70% da vazão média. Por outro lado,
- 18% da disponibilidade mundial). A Tabela 4.2, a as bacias localizadas em terrenos cristalinos, com
seguir, apresenta apresenta as vazões médias nas regime de chuva irregular, possuem vazões de es-
12 regiões hidrográficas. tiagem muito baixas, em geral, inferiores a 10% da
vazão média. Com exceção das regiões hidrográ-
A Tabela 4.2 mostra, ainda, as vazões em épocas ficas Tocantins/Araguaia, São Francisco e Paraná
de estiagens, utilizando a vazão com permanência (onde foram usadas séries de vazões naturais, ONS
34
Tabela 4.2 – Vazões médias e de estiagem nas regiões hidrográficas e no País
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
VAZÃO DE ESTIAGEM¹
REGIÃO HIDROGRÁFICA ÁREA (km²) VAZÃO MÉDIA (m³/s)
(m³/s)
AMAZÔNICA² 3.869.953 131.947 73.748
2003)54, o cálculo das vazões de estiagem das de- 73,6% dos recursos hídricos superficiais. Ou seja, a
mais bacias foi baseado nos dados observados das vazão média desta região é quase três vezes maior
estações fluviométricas e pode, portanto, estar in- que a soma das vazões das demais regiões hidro-
fluenciado pelas eventuais regularizações e usos gráficas. A segunda maior região, em termos de dis-
consuntivos existentes. ponibilidade hídrica, é a do Tocantins/Araguaia, com
13.624 m3/s (7,6%), seguida da região do Paraná,
O exame da Tabela 4.2 e da Figura 4.5 permite ve- com 11.453 m3/s (6,4%). As bacias com menor va-
rificar que a região hidrográfica Amazônica detém zão são, respectivamente: Parnaíba, com 763 m3/ s
Tocantins–Araguaia: 7,6
Atl. NE. Ocidental: 1,5
Parnaíba: 0,4
Atl. NE. Oriental: 0,4
São Francisco: 1,6
Atl. Leste: 0,8
Atl. Sudeste: 1,8
Atl. Sul: 2,3
Uruguai: 2,3
Paraná: 6,4
Paraguai: 1,3
Amazônas: 73,6
Atlântico NE
Ocidental
85 km³
Atlântico NE
Amazônica Oriental
4.161 km³ 25 km³
Parnaíba
24 km ³
Tocantins/
Araguaia
430 km³
Atlântico
Leste
São Francisco 47 km³
Paraguai 90 km³
75 km³
Paraná Atlântico
361 km³ Sudeste
100 km³
Escala
500 km³
Uruguai
100 km³ 130 km³
50 km³
Atlântico Sul
132 km³
Legenda
Vazão específica (l/s/km²)
0-2
2-4
4 - 10
10 - 20
20 - 40
40 - 75
País – 21 l/s/km²
A Figura 4.7 mostra as vazões específicas em 332 observada na região do Pantanal (região hidrográ-
unidades hidrográficas, das 12 regiões hidrográfi- fica do Pantanal) mostra que esta área, apesar da
cas. A vazão específica indica as regiões mais e abundância de água oriunda na região de Planalto,
menos produtoras de água. No Brasil, a vazão es- não é produtora de água, resultando em baixa con-
pecífica varia de menos de 2 l/s.km , nas bacias da
2
tribuição da região do Pantanal ao escoamento su-
região semi-árida, até mais de 40 l/s.km , no No- 2
perficial. No Pantanal, há uma expressiva perda de
roeste da Região Amazônica, sendo a média na- água por evapotranspiração, como será visto no ba-
cional igual a 21 l/s.km . A baixa vazão específica
2
lanço hídrico simplificado.
De forma complementar aos estudos de vazões mé- vazões não é idêntico entre as regiões hidrográfi-
dias de longo período, é importante destacar as va- cas. No rio Amazonas, observa-se que as maiores
riações sazonais, que ocorrem no escoamento dos vazões (230.000 m3/s) ocorrem entre os meses de
rios, provocadas principalmente pelas estações do maio a julho e as menores (110.000 m3/s), nos me-
ano e regimes de chuvas associados. A Figura 4.8 ses de outubro e novembro. Já na região hidrográ-
mostra a vazão média ao longo dos meses em algu- fica do Tocantins, em Tucuruí, as maiores vazões
mas regiões hidrográficas. (22.500 m3/s) ocorrem entre os meses de fevereiro
a abril e as menores (2.500 m3/s), nos meses de se-
Devido a grande extensão do território brasileiro e da tembro e outubro.
sua posição global, o período de maiores e menores
37
Acervo TDA
38
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
A
B
A B
250.000 30.000
200.000 25.000
Vazão (m³/s)
Vazão (m³/s)
150.000 20.000
15.000
100.000
10.000
50.000
5.000
0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês
Mês
C D
6.000 3.500
5.000 3.000
Vazão (m³/s)
2.500
Vazão (m³/s)
4.000
2.000
3.000
1.500
2.000
1.000
1.000 500
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês Mês
Rio São Francisco, em Xingó (1931-2001) Rio Paraguai, em Porto Murtinho (1939-2001)
E F
18.000 7.000
16.000 6.000
14.000
5.000
Vazão (m³/s)
Vazão (m³/s)
12.000
10.000 4.000
8.000 3.000
6.000
2.000
4.000
2.000 1.000
0 0
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Mês Mês
O escoamento dos rios é influenciado pe- três vezes (em termos de desvio padrão) acima da
los sistemas de circulação da atmosfera que média. Na região hidrográfica do Paraná, o ano de
possuem uma variabilidade natural; poden- 1983 foi extremamente chuvoso e a vazão foi qua-
do perceber, por exemplo, nos anos mais ou se cinco vezes (em termos de desvio padrão) aci-
menos chuvosos. ma da média.
A Figura 4.9 mostra as séries anuais de vazões Um tema que vem preocupando a comunidade
normalizadas (a vazão média anual foi diminuí- científica e a sociedade em geral é a perspecti-
da da média aritmética e dividida pelo seu desvio va de que as diversas ações antrópicas estejam
padrão), nas regiões hidrográficas Tocantins/Ara- alterando o clima na Terra. Na região hidrográfica
guaia (rio Tocantins, em Tucuruí), São Francisco (rio do Paraná, observa-se que as vazões vêm aumen-
São Francisco, em Xingó) e Paraná (rio Paraná, em tando sistematicamente na bacia desde o início
Tucuruí), entre 1931 e 2001. A Figura 4.9 também da década de 1970. Estudos realizados pela ANA
mostra o período correspondente às menores va- (não publicado), Tucci e Clarke (1996)69 e Müller et
zões (período crítico). al., (1998)50 apontam a não estacionariedade (uma
série temporal é dita estacionária se suas proprie-
No Brasil, o período considerado crítico pelo se- dades estatísticas não mudam com o tempo) das
tor elétrico, em relação à geração de energia a séries hidrológicas afluentes à Itaipu. Müller et al.,
partir de hidrelétricas, ou seja, aquele corres- (1998)50 sugerem que o aumento de vazões na ba-
pondente às menores vazões observadas, es- cia do Paraná não é explicado apenas por varia-
tendeu-se de 1949 a 1956. Porém, na região hi- ções climáticas, mas decorre dos efeitos conjuntos
drográfica do São Francisco, o período crítico do aumento da precipitação e diminuição da eva-
foi entre 1999 a 2001 (Figura 4.9), quando ocor- potranspiração provocada pela retirada da mata
reu o racionamento de energia elétrica em todo nativa e pelo manejo do solo.
o País.
No entanto, nas demais bacias, em especial To-
Na região hidrográfica do São Francisco, os anos cantins/Araguaia e São Francisco, não se obser-
de 1979 e 1945 foram atípicos com vazões quase vam fenômenos de não estacionariedade.
40
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Período crítico
2
Rio Tocantíns em Tucurui
1
(x-X)/s
-1
-2
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano
2
Rio São Francisco em Xingó
1
(x-X)/s
Período crítico
-1
-2
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano
2
Rio Paraná em Itaipu
1
(x-X)/s
-1
-2
1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
Ano
Figura 4.9 – Série normalizada de vazões naturais nas regiões hidrográficas Tocantins/Araguaia,
São Francisco e Paraná, entre 1931 e 2001
41
As vazões regularizadas pelos principais reserva- média e o grau de regularização da bacia, repre-
tórios do País são apresentadas na Tabela 4.3, jun- sentado pela razão entre a vazão regularizada e a
tamente com a área de drenagem, a vazão afluente vazão média.
Continua...
42
Continuação
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Figura 4.10 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Tocantins
34,2 m³/s
Queimado
513 m³/s 1.825 m³/s 1.875 m³/s 1.875 m³/s 1.875 m³/s
Figura 4.11 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio São Francisco
44
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
24,6 m³/s
Jaguari
Figura 4.12 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Paraíba do Sul
261 m³/s
288 m³/s
1.214 m³/s 1.240 m³/s 1.733,5 m³/s
Nova_Ponte Miranda
384,5 m³/s
18 Itumbiara C_Dourada São Simão I
Emborcação
172,2 m³/s
Corumba_I
Figura 4.13 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Paranaíba
1.174,3 m³/s
Marimbondo
75,7 m³/s 75,7 m³/s 678,2 m³/s 768,2 m³/s 774,8 m³/s 776,6 m³/s 782,6 m³/s 793,6 m³/s 827,8 m³/s
Camargos Funil Furnas M_Moraes L_C_Barreto Jaguara L6-6 Igarapava V_Grande P_Colombia
A_Vermelha
1.366,6 m³/s
Figura 4.14 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Grande
45
Billings
E_de Souza Barra_Bonita Bariri Ibitinga Promissão N_Anhavandava L32-35
29
Figura 4.15 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Tietê
702 m³/s
658 m³/s
161 m³/s 163 m³/s 240 m³/s 240 m³/s 243 m³/s 243 m³/s 243 m³/s
51 Taquarucu
Figura 4.16 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Paranapanema
Jupia P_Primavera
Itaipu
5.370 m³/s
Três_Irmãos
Figura 4.17 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Paraná
46
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
327,5 m³/s 377 m³/s 517 m³/s 523 m³/s 530 m³/s
N2-6 Jordão
Figura 4.18 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Iguaçu
32 m³/s
Passo_Fundo
Figura 4.19 – Diagrama com a vazão regularizada pelas hidrelétricas do rio Uruguai
A Tabela 4.4 mostra o balanço hídrico simplifica- Francisco (86%), Paraguai (85%) e Atlântico Nor-
do, com vistas a obter estimativas da evapotrans- deste Ocidental (83%) são as que apresentam os
piração real média nas regiões hidrográficas. A maiores valores de evapotranspiração real em ter-
evapotranspiração real média anual do País é de mos relativos, superando 80% da precipitação mé-
1.134 mm ou seja, 63% da precipitação. dia e levando, conseqüentemente, aos menores
percentuais de escoamento superficial efetivo. Tais
A análise dos dados mostra que as regiões hidro- valores são compatíveis com as características cli-
gráficas Atlântico Nordeste Ocidental (1.482 mm), máticas, nos casos das regiões hidrográficas que
Tocantins/ Araguaia (1.371 mm) e Paraguai englobam o semi-árido nordestino, e também com
(1.193 mm) apresentam os maiores valores de eva- as características fisiográficas, no caso da região
potranspiração real. Porém, em relação à precipi- hidrográfica do Paraguai, onde a presença do Pan-
tação anual média ocorrida, as regiões Parnaíba tanal oferece grandes superfícies líquidas que, alia-
(94% da precipitação), Atlântico Nordeste Orien- das a elevadas temperaturas, favorecem a evapo-
tal (93%) e Atlântico Leste (89%), além do São ração. Nessas regiões, portanto, é recomendável
47
que ações destinadas à construção de reservató- precipitações são as mesmas onde as per-
rios sejam empreendidas com base em estudos das por evapotranspiração são relativamente
técnicos que demonstrem a viabilidade técnica mais significativas.
da obra.
A Figura 4.20 mostra o resultado do balanço hídri-
A variabilidade observada nas precipitações ava- co simplificado, apresentando o escoamento e a
liza as considerações anteriores, pois as regi- evapotranspiração, em termos percentuais, em re-
ões hidrográficas que apresentam as menores lação à precipitação expressa em mm.
83%
1.790 mm
52%
2.239 mm
1.218 mm
17% 93%
1.117 mm
94%
48% 75%
1.837 mm
7%
6%
86%
25%
1.037 mm
89%
1.058 mm
85%
14%
73%
1.398 mm
Amazônica
1.349 mm
Atlântico Leste
1.785 mm
Evapotranspiração
1.568 mm
Paraguai (%)
Paraná
Atlântico Sudeste 45%
Atlântico Sul 42% Escoamento
Uruguai (%)
Serra da Bodoquena - MS
49
5 ÁGUAS SUBTERRÂNEAS
1 11
2
7
13
8 10
1- Bacia Amazônica 5 12
2- Bacia do Parnaíba
3- Bacia do Paraná 4
4- Bacia do São Francisco
6
5- Bacia do Parecis
3
6- Bacia do Pantanal
7- Bacia do Tapajós
8- Bacia do Bananal
9- Bacia Tucutu
10 - Bacias Recôncavo, Tucano e Jatobá
11 - Bacia Potiguar
12 - Bacias Costeiras
13 - Bacia do Araripe
Figura 5.1 – Principais domínios sedimentares (em verde) e cristalinos (amarelo) (Fonte: PETROBRAS)
50
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
A principal bacia sedimentar proterozóica bra- A espessura desse grupo é variável, mas atinge
sileira, em termos de uso e potencial hidroge- até 2.500 m (ALVARENGA, 1978)16. Constitui aqüí-
ológico, é a do São Francisco, estabelecida no fero cárstico-fraturado de produtividade muito va-
final do Proterozóico, a qual comporta dois im- riável, em função da heterogeneidade dos terre-
portantes sistemas aqüíferos de dimensões regio- nos cársticos, mas, em geral, é boa. Recobrindo
nais. O Grupo Bambuí, do Neoproterozóico (850 esse grupo, ocorrem os sedimentos cretácicos das
a 650 Ma.), que origina o sistema aqüífero Bam- formações Urucuia e Areado, que compõem o sis-
buí, ocorrendo nos Estados de Minas Gerais, tema aqüífero Urucuia-Areado, principal aqüífero
Bahia e Goiás, perfazendo cerca de 175.000 km . 2
dessa bacia.
As maiores bacias sedimentares brasileiras são do Os sistemas aqüíferos mais importantes são o Soli-
Paleozóico (540 a 250 Ma), destacando-se a Bacia mões e o Alter do Chão. O conhecimento hidrogeo-
do Paraná, do Parnaíba e do Amazonas. lógico dessa região é reduzido. Cabe ressaltar que
a elevada pluviometria regional, a natureza porosa
O empilhamento estratigráfico dessas bacias per- desses aqüíferos e a elevada densidade de cursos
mitiu o desenvolvimento de seqüências interca- de água superficiais, propiciam condições para que
ladas de formações com elevadas porosidade e o nível d’água nos aqüíferos seja raso.
permeabilidade com formações de menor perme-
abilidade, de forma a originar sistemas alternados A Bacia Sedimentar do Parnaíba é a principal bacia
de aqüíferos e aqüitardos/aqüicludes. Os primeiros da região Nordeste com relação à potencialidade de
são representados por sedimentos dominantemen- água subterrânea, com área de 600.000 km2, ocu-
te arenosos que formam aqüíferos porosos e apre- pando boa parte dos Estados do Piauí e Maranhão.
sentam condições livres e confinadas, localmente Sua espessura máxima atinge cerca de 3.000 m. Os
jorrantes. Nos outros predominam termos pelíticos sedimentos dessa bacia foram depositados do Silu-
(argilosos). riano (440 Ma.) até o Cretáceo (65 Ma.). Os quatro
sistemas aqüíferos regionais mais importantes des-
A Bacia Sedimentar do Amazonas é compartimen- sa bacia são: Cabeças, Serra Grande, Poti-Piauí e
tada por estruturas regionais em bacias menores: Itapecuru. Esses aqüíferos são utilizados principal-
do Acre, Solimões e Amazonas. Ocupa boa parte mente pelo Estado do Piauí. No Estado do Mara-
da região norte do Brasil, coincidindo, em grande nhão, devido às condições geomorfológicas com
parte, com a bacia hidrográfica do rio Amazonas, topografias elevadas, a captação dos três sistemas
tem área de cerca de 1.300.000 km e espessuras
2
aqüíferos principais se torna problemática (MENTE,
que podem atingir milhares de metros. A deposição 1997)47. Por isso, nessa região, são explotados os
de sedimentos ocorreu entre o Ordoviciano (490 aqüíferos mais rasos Motuca, Corda e Itapecuru, em
Ma.) e o Terciário (1,75 Ma.). A seqüência paleozói- geral, sob condições livres. Cabe ainda destacar,
ca a mesozóica de (490 a 65 Ma.) chega a 7.000 m que a água subterrânea representa a principal fonte
de espessura, sendo recoberta pelos sedimentos de abastecimento das populações dos Estados do
terciários com espessura média em torno de 600 m. Piauí e Maranhão, em especial nas regiões do interior
51
de clima semi-árido, em que os rios são praticamen- sendo que 308 (47,7%) são totalmente abasteci-
te todos intermitentes. No Maranhão, mais de 70 % dos por este recurso hídrico. No Estado, cerca de
das cidades usam água de poços, e no Estado do 5.500.000 pessoas são abastecidas diariamente
Piauí este percentual supera 80%. por águas subterrâneas (SILVA et al., 1998)66.
Por fim, outra grande bacia paleozóica é a Ba- As bacias sedimentares do Mesozóico (250 a
cia Sedimentar do Paraná, que perfaz cerca de 65 Ma.), em geral de dimensões inferiores às do Pa-
1.000.000 km2 em território brasileiro, estendendo- leozóico, são comuns no território brasileiro, e con-
se para a Argentina, Paraguai e Uruguai. Ocupa centram-se na região litorânea e, nesse caso, quase
parte das Regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul do sempre têm uma parte imersa. Têm espessuras va-
País. Tem espessura máxima de cerca de 8.000 m riáveis, mas, em geral, são espessas, podendo atin-
(GABAGLIA; MILANI, 1990)40, alojando estratos gir alguns milhares de metros.
do Ordoviciano (490 Ma.) até o Cretáceo (65 Ma.).
Comporta importantes sistemas aqüíferos sedi- As principais bacias sedimentares mesozóicas, em
mentares, entre eles o sistema aqüífero Guarani, relação ao potencial hidrogeológico, são:
um dos maiores mananciais subterrâneos do mun-
do, o sistema aqüífero Serra Geral, sendo formado • Potiguar: ocupa uma área de cerca de 25.000 km2
por rochas que constituem um dos mais expressi- nos Estados do Rio Grande do Norte e Ceará. Tem
vos derrames globais de lavas basálticas, que ori- como principais aqüíferos o Açu e o Jandaíra, este
ginam um sistema fraturado, além dos sedimentos último do tipo cárstico-fraturado.
dos grupos Bauru e Caiuá, os quais originam o sis-
tema aqüífero Bauru-Caiuá. Nas regiões da borda • Pernambuco-Paraíba: ocupa a costa oriental nor-
da bacia sedimentar, merecem destaque os siste- destina, entre o Rio Grande do Norte e Pernambuco,
mas aqüíferos Furnas e Ponta Grossa. A explota- com cerca de 9.000 km2, tendo como principais sis-
ção destes aqüíferos, nas porções mais centrais temas aqüíferos o Beberibe e Barreiras.
da bacia, é dificultada pelas elevadas profundida-
des necessárias para os poços. • Araripe: tem cerca de 9.000 km2, ocupa partes
dos Estados do Ceará, Pernambuco e Piauí. Desta-
No Estado de São Paulo, os principais sistemas aqü- ca-se por apresentar, na região do semi-árido nor-
íferos explotados estão situados na Bacia do Para- destino, aqüíferos porosos com boa produtividade.
ná. Dos 645 municípios, 462 (71,6%) são abasteci- O sistema aqüífero Missão Velha destaca-se como
dos total ou parcialmente com águas subterrâneas, um dos mais importantes nessa bacia.
52
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
• Jatobá: essa bacia tem cerca de 5.600 km2, lo- e a cobertura cenozóica, representada pelo siste-
caliza-se no Estado de Pernambuco, apresentando ma Barreiras. A área dessa bacia é de cerca de
como principal sistema aqüífero os sedimentos pa- 28.400 km2, localizando-se nos Estados de Pernam-
leozóicos da Formação Tacaratu. buco e Bahia.
Os terrenos cristalinos ocupam cerca de 4.380.000 km2 poços no cristalino é realizar a perfuração de modo a
do território nacional, distribuindo-se por todas as regi- interceptar as fraturas, as quais precisam ser abertas
ões. São representados por diversos tipos de rochas, e interconectadas, para que a produtividade e a qua-
que inclui gnaisses, xistos, filitos, granitos, metacal- lidade da água sejam razoáveis. Do contrário, os po-
cários e quartzitos de idade pré-cambriana (superior ços poderão estar secos e/ou com baixa vazão e, no
a 540 Ma.). Em geral, os sistemas aqüíferos associa- caso do semi-árido, com elevado conteúdo salino.
dos apresentam produtividades inferiores à média dos
aqüíferos sedimentares. Nas regiões em que o clima tropical domina, ou seja,
na maior parte do território nacional, há condições
Nesses terrenos, a produtividade dos poços, bem favoráveis para o desenvolvimento do intemperismo
como a qualidade das águas subterrâneas, depen- químico, resultando em perfis de alteração, comu-
de da existência de fraturamento, da abertura dessas mente, com solos que atingem algumas dezenas de
descontinuidades e, muito importante, da conectivida- metros de espessura e recobrem a rocha cristalina.
de das mesmas, de forma que apenas uma parte das Nestas áreas, forma-se um sistema de dupla poro-
fraturas existentes tem capacidade de conduzir e ar- sidade que se encontra hidraulicamente conectado:
mazenar água. O principal desafio para a locação de i) fraturado na porção mais profunda, não alterada
Acervo TDA
Serra da Bodoquena - MS
53
e; ii) poroso, no manto intempérico (solo). As vazões A falta de critérios de locação de poços e de pro-
dos poços nestes terrenos situam-se, de modo ge- gramas de manutenção das obras de captação tor-
ral, entre 6 e 8 m /h.
3
nam muito elevada a quantidade de poços abando-
nados e desativados nesta área, que chegam em
Por outro lado, nas regiões de clima semi-árido pre- alguns Estados do Nordeste, representar mais de
valece o intemperismo físico em relação ao quími- 30% do total.
co, de forma que o manto de intemperismo é pouco
espesso (1 a 3 metros) ou inexistente, restringindo Projetos agrícolas, com irrigação de dimensão fa-
ainda mais a potencialidade desses terrenos cris- miliar, vêm sendo desenvolvidos baseados no uso
talinos. No Brasil, a maior parte do semi-árido nor- de corpos aluvionares, de rios temporários, do
destino, cerca de 600.000 km , é constituída por
2
cristalino nordestino, especialmente nos Estados
terrenos cristalinos. A associação, nesta região, de do Ceará e de Pernambuco. Neste caso, a cap-
baixos valores de precipitações, distribuição irregu- tação de água subterrânea é realizada, nos sedi-
lar das chuvas, delgado manto intempérico, quando mentos inconsolidados, pelos poços rasos, que
não ausente, cobertura vegetal esparsa especial- têm produtividade regular e qualidade adequada.
mente no bioma caatinga, favorecem o escoamento É importante destacar a questão da sustentabili-
superficial em detrimento da infiltração. Assim, no dade do sistema, especialmente no tocante à sali-
cristalino do semi-árido brasileiro, os poços, muito nização e às condições microbiológicas da água.
comumente, apresentam vazões entre 1 e 3 m /h e 3
A construção de barragens subterrâneas em lei-
elevado conteúdo salino, comumente acima do limi- tos de cursos de água temporários também vem
te de potabilidade. Apesar disso, em muitas peque- se constituindo em uma solução hídrica impor-
nas comunidades do interior nordestino, esses po- tante para o cristalino do semi-árido, permitindo
ços constituem a fonte de abastecimento disponível. a reservação de água para o consumo humano,
O uso de dessalinizadores torna possível a utiliza- dessedentação animal e a prática de agricultura
ção dos poços com água com elevada salinidade. de subsistência.
54
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Acervo ANA
Projeto Piloto do DNOCS
A Figura 5.2 mostra a área de recarga dos 27 prin- A disponibilidade de águas subterrâneas dos
cipais sistemas aqüíferos brasileiros e a divisão hi- principais sistemas aqüíferos do País é apresen-
drográfica nacional com as 12 regiões. As reservas tada na Tabela 5.1, as regiões hidrográficas domi-
renováveis desses sistemas totalizam cerca de 20 nantes, o tipo de aqüífero (poroso, fraturado, fra-
mil m /s. A disponibilidade hídrica subterrânea (reser-
3
turado-cárstico; livre ou confinado), a espessura
va explotável), considerada igual a 20% das reservas média, a área de recarga e a precipitação média
reguladoras, corresponde a cerca de 4.100 m /s. 3
sobre ela.
Boa Vista
Motuca
Serra Grande
Barreiras
Alter do Chão
Itapecuru Jandaíra
Beberibe
Corda Açu
Ponta
Grossa
Barreiras
Bauru-Caiuá
Guarani
Serra Geral
ATL. LESTE
ATL SE
ATL. NE ORI.
BARREIRAS P,L,C 176.532 60 1.938 1.085,0 217,0
ATL. NE OCID.
TOCANTINS/ARA-
GUAIA
ATL. LESTE
MARIZAL P,L,C 18.797 200 514 36,0 7,2
SÃO FRANCISCO
SÃO
P,L,C ATL. LESTE 6.783 - 1.358 41,0 8,2
SEBASTIÃO
Tabela 5.2 – Distribuição das áreas de recarga dos aqüíferos nas regiões hidrográficas do País
SISTEMA AQÜÍFERO
REGIÃO HIDROGRÁFICA (PORCENTAGEM DA ÁREA DE RECARGA DO AQÜÍFERO EM RELAÇÃO À ÁREA DA
REGIÃO HIDROGRÁFICA)
AMAZÔNICA Solimões (11,8%) - Alter do Chão (7,5%) - Parecis (2,1%) - Boa Vista (0,4%) - Barreiras (0,3%)
Barreiras (6,4%) - Itapecuru (5,0%) - Poti-Piauí (3,4%) - Bambuí (3,2%) - Alter do Chão (2,6%) - Urucuia-Areado
TOCANTINS/ARAGUAIA (2,3%) - Ponta Grossa (1,2%) - Corda (0,9%) - Furnas (0,9%) - Cabeças (0,6%) - Guarani (0,4%) - Bauru-Caiuá
(0,2%) - Motuca (0,1%)
ATLÂNTICO NORDESTE
Itapecuru (58,0%) - Barreiras (8,5%) - Corda (7,4%) - Motuca (1,7%) - Serra Grande (0,1%)
OCIDENTAL
Poti-Piauí (25,7%) - Cabeças (8,7%) - Serra Grande (8,5%) - Urucuia-Areado (2,2%) - Corda (1,9%) - Barreiras
PARNAÍBA
(1,8%) - Motuca (1,5%) - Exu (0,2%)
Barreiras (12,5%) - Jandaíra (4,0%) - Açu (1,3%) - Exu (1,0%) - Serra Grande (0,6%) - Missão Velha (0,4%)
ATLÂNTICO NORDESTE ORIENTAL
- Tacaratu (0,3%) - Beberibe (0,1%)
Bambuí (22,4%) - Urucuia-Areado (18,2%) - Marizal (0,8%) - Exu (0,5%) - Tacaratu (0,4%) - Inajá (0,1%) - São
SÃO FRANCISCO
Sebastião (0,04%)
ATLÂNTICO LESTE Barreiras (8,0%) - Marizal (3,6%) - São Sebastião (1,7%) - Bambuí (1,1%)
ATLÂNTICO SUDESTE Barreiras (2,6%) - Furnas (0,1%)
ATLÂNTICO SUL Serra Geral (27,0%) - Guarani (1,5%)
URUGUAI Serra Geral (80,0%)
Bauru-Caiuá (38,0%) -Serra Geral (23,9%) - Guarani (3,1%) - Bambuí (0,6%) - Furnas (0,5%) - Ponta Grossa
PARANÁ
(0,2%)
PARAGUAI Guarani (8,9%) - Bauru-Caiuá (4,3%) - Furnas (3,2%) - Serra Geral (3,1%) - Ponta Grossa (2,9%) - Parecis (1,8%)
Além dos principais sistemas aqüíferos acima men- hidrográfica, como visto na Figura 5.2. A Tabela 5.2
cionados, deve-se considerar também a contribuição apresenta a distribuição das áreas de recarga dos
dos terrenos cristalinos e outras unidades sedimen- aqüíferos nas 12 regiões hidrográficas do País.
tares que totalizam cerca de 5,8 milhões de km . 2
2
km
diatuba Uerê
Fm. Jan
Arco de
Fm. Jutaí Fm. Benjamin Carauari
Constant
4
0 50 110 km
SW NE
(m)
500
0
Jandaira
P Kj
-500
Açu
-1000
Ka
-1500
0 5 10km
P
Figura 5.4 – Perfil geológico da Bacia Potiguar (Fonte: Modificado de REBOUÇAS, 1988)
(180 poços consultados, com profundidade média A disponibilidade hídrica (reserva explotável) esti-
de 98 m), indicando que se trata de aqüífero de pro- mada para esse sistema é de 12,7 m3/s, como mos-
dutividade boa. A natureza cárstica desse aqüífero trado anteriormente na Tabela 5.1. A vazão média
implica em extrema variabilidade espacial na produ- dos poços desse sistema tem valores, respectiva-
ção do mesmo. mente, de 6,3 e 14,7 m3/h, para as porções livres
60
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Oeiras
WNW Rio Parnaíba
J-K P-C D-C
K C
(m)
0
Poti - Piauí
-1000 Cabeças D
Pimenteiras D
-2000
Serra Grande S ESE
-3000
P P
0 100km
-4000
Figura 5.5 – Perfil geológico na Bacia Sedimentar do Parnaíba (Fonte: Modificado de REBOUÇAS, 1988)
61
POÇOS CONSULTADOS 49 10
explotável) estimada é 9,2 m3/s (ver Tabela 5.1). O sistema aqüífero Itapecuru é utilizado principal-
mente para a pecuária e abastecimento rural no
Apresenta capacidades especificas médias, res- interior do Estado do Maranhão, e para abasteci-
pectivamente, de 1,59 e 1,86 m /h/m, para as por-
3
mento doméstico na cidade de São Luís, conjun-
ções livres e confinadas. A vazão média dos po- tamente, com o sistema aqüífero Barreiras (Figu-
ços é de 14,5 m3/h, conforme mostra a Tabela 5.6. ra 5.6).
POÇOS CONSULTADOS 35 47
63
WNW ESE
B (m) B` (m)
60 60
30 30
0 0
-30 -30
-60 -60
-90 -90
-120 -120
-150 -150
-180 -180
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10km
-210 -210
TQb
Interface Terciário - Cretáceo
-240 TQb - Barreiras 1 2 3 Ki -240
-270 Ki - Itapecuru -270
Figura 5.6 – Perfil geológico próximo a São Luís-MA (Fonte: SOUSA, 2004)
64 300 m P1 SW Chapada do Araripe P2 NE
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Fm Exu
Fm Arajara
400 m Fm Santana
Vale
Fm Rio da Batateira
Fm Abaiara
Fm Missão Velha
Fm Mauriti
Figura 5.7 – Perfil geológico da Bacia Sedimentar do Araripe (Fonte: Machado et al., 2002)
profundos, da ordem de 150 a 180 m (COSTA FI- aplainado. Ele aflora de forma descontínua ao longo da
LHO; COSTA, 2000) . A espessura da unidade va-
33
costa em uma área de cerca de 176.532 km2.
ria de 15 m (extremo Leste) a 150 m (extremo Oeste)
(MENDONÇA et al., 2000)46. A disponibilidade hídri- Esse sistema é constituído por sedimentos clásticos
ca (reserva explotável) estimada para esse sistema finos a conglomeráticos, representados por argilas
é de apenas 0,2 m /s (ver Tabela 5.1).
3
arenosas, arenitos argilosos, areias conglomerá-
ticas, entre outras. Em geral, mostram grande va-
A porção superior apresenta condições hidrogeo- riabilidade litológica. A espessura desse sistema é
lógicas mais favoráveis com maior permeabilidade. muito variada, oscilando de poucos metros a algu-
O aqüífero é predominantemente livre, apresentan- mas centenas. A espessura média para o Barreiras,
do vazões médias de 6,0 m /h e capacidade espe-
3
no Nordeste, é de 60 m (COSTA, 1994)27.
cifica média de 7,922 m3/h/m (3 poços consultados
com uma profundidade média de 58 m). A conduti- Comumente, o Barreiras ocorre como aqüífero livre.
vidade hidráulica é de 3.10 m/s (DNPM, 1996 apud
-5
Entretanto, devido à presença de níveis pelíticos (ar-
MACHADO et al., 2002) . 42
gilosos), localmente, há condições de confinamen-
to. A disponibilidade hídrica (reserva explotável) es-
O uso principal do manancial é para o abastecimen- timada alcança 217,0 m3/s (ver Tabela 5.1).
to doméstico. Várias fontes ocorrem, sobretudo, na
região do Cariri no Ceará. Essas fontes são utiliza- A variabilidade litológica do sistema aqüífero Bar-
das no abastecimento público e na irrigação de pe- reiras ocasiona permeabilidade e transmissivida-
quenas lavouras. As maiores vazões médias nestas de, também variáveis, sendo que a potencialidade
fontes são relacionadas às fraturas ou falhas geoló- desse sistema também é bastante diversificada.
gicas na Formação Exu e ao contato geológico en- A porção livre do sistema tem poços com va-
tre as formações Exu e Arajara, com valores médios zão média de 23,4 m3/h. Já a capacidade espe-
de 62,3 m /h e 36,7 m /h, respectivamente (FER-
3 3
cífica tem valor médio de 2,158 m3/h/m. Na parte
NANDES; LOUREIRO, 2004)36. confinada, o valor médio para vazão e capaci-
dade especifica são, respectivamente, de 103,4
Sistema aqüífero Barreiras m3/h e 4,508 m3/h/m, portanto, tem produtivida-
O sistema aqüífero Barreiras, de idade tércio-quater- de boa a elevada. Os valores são apresentados
nária (deposição iniciada há 65 Ma.), tem ampla distri- na Tabela 5.7.
buição na costa brasileira. Regiões de chapadas que
adentram o continente, em Minas Gerais e Bahia, por O sistema aqüífero Barreiras tem grande participa-
exemplo, também são interpretadas como pertencen- ção no abastecimento de várias capitais brasileiras,
tes ao Barreiras. Os tabuleiros representam uma morfo- particularmente, das capitais litorâneas nordestinas
logia típica dos sedimentos Barreiras, originando relevo de Belém, São Luís, Fortaleza, Natal e Maceió.
65
crescimento desordenado do número de poços tem no Rio Grande do Norte. O Beberibe foi capta-
provocado significativos rebaixamentos do nível de do em poços profundos que atravessaram o sis-
água e problemas de salinização das suas águas. tema Barreiras/Dunas, que já é intensamen-
Observa-se em um poço, um rebaixamento de 10 m te explotado na Região Metropolitana de Natal.
em um período de 3 anos (CABRAL et al., 2002)19. As restrições impostas à outorga, para instala-
ção de poços no sistema aqüífero Barreiras/Du-
A fim de subsidiar o gerenciamento da água sub- nas pela Secretaria de Recursos Hídricos do Rio
terrânea em Recife, foi instalada uma rede de mo- Grande do Norte, motivaram a instalação de po-
nitoramento telemétrico dos aqüíferos para medi- ços que explotavam o aqüífero mais profundo
ção dos níveis de água e da condutividade elétrica (COSTA, 2000a)28.
(COSTA; COSTA FILHO, 2004)30.
Sistema aqüífero Tacaratu
Além do uso doméstico, na capital pernambucana, A Formação Tacaratu, de idade siluro-devoniana
o sistema aqüífero Beberibe também é utilizado para (445 Ma. a 415 Ma.), representa a porção basal
suprir a indústria e em atividades recreativas. do Grupo Jatobá. Ele ocorre na Bacia Sedimentar
do Tucano-Jatobá. Os clásticos grosseiros dessa
A porção livre do aqüífero Beberibe apresenta po- formação, principalmente arenitos grossos a finos,
ços com vazão média de 34,1 m /h e capacidade 3
com intercalações de conglomerados e folhelhos,
especifica média de 1,293 m /h/m. Por outro lado,
3
constituem o aqüífero Tacaratu. Os afloramentos
nas áreas confinadas, os valores médios de vazão desse aqüífero estão localizados na porção cen-
e capacidade especifica são, respectivamente, de tral do Estado de Pernambuco e Sudeste do Esta-
77,7 m /h e 3,752 m /h/m, conforme apresentado
3 3
do do Ceará, totalizando cerca de 3.890 km2. A es-
a seguir na Tabela 5.8. Esses dados mostram boa pessura média desse aqüífero é de cerca de 200 m
produtividade do aqüífero. Os parâmetros hidrodi- (COSTA, 1994)27. A disponibilidade hídrica (re-
nâmicos médios do sistema aqüífero são 1,7.10-3 serva explotável) desse sistema é estimada em
m /s de transmissividade, 3,8.10
2 -5
m/s de condu- 2,9 m3/s (ver Tabela 5.1).
tividade hidráulica e 2,2.10-4 de coeficiente de ar-
mazenamento (condições de aqüífero confinado) Quando sobreposto pelo aqüífero Inajá, este
(COSTA, 1994)27. Santos et al., (2000)63 obtiveram aqüífero apresenta condições de confinamen-
valores similares, com 2,5.10 m/s de condutivida-
-5
to. Nas áreas livres, tem vazão média de 5,6 m3/h
de hidráulica e 3,7.10-4 de coeficiente de armaze- e capacidade especifica média de 0,860 m3/h/m,
namento (condições de aqüífero confinado). como foi observado em 27 poços consultados
(profundidade média de 102 m). Os principais
Em caráter preliminar, foram instalados 4 poços usos das águas do aqüífero Tacaratu são o abaste-
para explotação do sistema aqüífero Beberibe cimento doméstico e a irrigação.
W
100 (m)
Barreiras E
0
Beberibe superior
Aqüífero Beberibe inferior
-200
-300
Embasamento Cristalino
-400
Figura 5.8 – Perfil geológico na zona norte de Recife-PE (Fonte: Adaptado de OLIVEIRA, 2003, por MANOEL FILHO, 2004)
67
POÇOS CONSULTADOS 4 21
Sistema aqüífero Inajá 1994)27. As águas desse aqüífero são utilizadas para
Os sedimentos clásticos da Formação Inajá, de abastecimento doméstico e irrigação.
idade devoniana (420 Ma.), recobrem a Formação
Tacurutu, na Bacia Sedimentar do Jatobá. Os are- Sistema aqüífero São Sebastião
nitos fluviais finos a grossos, caulínicos, com inter- O sistema aqüífero São Sebastião, de idade cre-
calações de pelitos da Formação Inajá, constituem tácica (145 Ma.), é constituído dominantemente
o aqüífero homônimo que aflora em uma pequena por termos arenosos com intercalações argilosas,
área, na porção Centro Sul do Estado de Pernambu- e aflora, em sua maior parte, na Bacia Sedimentar
co, perfazendo cerca de 956 km2. A disponibilidade do Recôncavo, na região do Sudeste da Bahia (Fi-
hídrica (reserva explotável) estimada é de 0,3 m /s3
gura 5.9). Ele distribui-se, ainda, em subsuperfície
(ver Tabela 5.1). na Bacia Sedimentar do Tucano. A sua área de re-
carga é de 6.783 km2. O sistema aqüífero apresen-
O aqüífero Inajá é poroso, variando de condição livre ta elevado potencial hidrogeológico, já que tem es-
a confinada, e tem espessura média de 300 m (COS- pessuras que podem atingir até 3.000 m (COSTA,
TA, 1994) . Nas porções livres, a vazão média é de
27
1994)27. A disponibilidade hídrica (reserva explotá-
3,5 m3/h e a capacidade especifica média alcança vel) estimada para esse sistema é de 8,2 m3/s (ver
0,474 m3/h/m, ao passo que nos setores confinados, Tabela 5.1).
a produtividade melhora, atingindo valores médios
para vazão e capacidade especifica, respectiva- O aqüífero apresenta elevada produtividade, tanto
mente, de 20,1 m /h e 1,587 m /h/m, como mostra-
3 3
nas áreas livres como nas confinadas. A vazão mé-
do na Tabela 5.9. Os parâmetros hidrodinâmicos mé- dia nas primeiras é de 23,7 m3/h e a capacidade
dios do sistema aqüífero Inajá/Tacaratu são: 4,0.10 -4
especifica média de 2,881 m3/h/m. Onde é explo-
m2/s de transmissividade, 6,0.10-6 m/s de condutivi- tado em condições confinadas, os valores médios
dade hidráulica e 2,0.10 de coeficiente de armaze-
-4
são de 40,4 m3/h e 2,367 m3/h/m, conforme mos-
namento (condições de aqüífero confinado) (COSTA, trado na Tabela 5.10. São comuns, nas porções
POÇOS CONSULTADOS 30 7
68
NW SE
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Campo de
Dom João
km
0 2 4 6 8 10km
6
confinadas, as condições de artesianismo jorrante Recobre boa parte da Bacia Sedimentar do Tuca-
(CUNHA et al., 1986) . 32
no. Aflora por cerca de 18.797 km2, ocupando uma
faixa alongada na direção norte-sul, no Leste do
Os parâmetros hidrodinâmicos médios do siste- Estado da Bahia, recobrindo a Formação São Se-
ma aqüífero são: 3,5.10 m /s de transmissividade,
-3 2
bastião. A disponibilidade hídrica (reserva explo-
1,2.10 m/s de condutividade hidráulica e 2,0.10
-5 -4
tável) estimada para esse aqüífero é de 7,2 m3/s
de coeficiente de armazenamento (condições de (ver Tabela 5.1).
aqüífero confinado) (COSTA, 1994) . 27
POÇOS CONSULTADOS 43 42
(1,75 Ma.), produtos da alteração de carbonatos do Jequitaí e Serra da Saudade (Grupo Bambuí) e For-
Grupo Bambuí. mação Bebedouro (Grupo Una).
Esse sistema aqüífero possui uma área de afloramen- Sistema aqüífero Urucuia-Areado
to de 181.868 km , que corresponde à porção centro
2
O sistema aqüífero Urucuia-Areado engloba os se-
norte do Estado de Minas Gerais, região Centro-Oes- dimentos cretácicos (145 Ma.) das formações Uru-
te da Bahia, além dos extremos Sudeste de Tocantins cuia e Areado, que recobrem, na sua maior parte,
e noroeste de Goiás. Possui disponibilidade hídrica as rochas do Grupo Bambuí (Figura 5.). A unidade
(reserva explotável) estimada em 40,3 m /s (ver Tabe-
3
é formada por arenitos muito finos a médios com
la 5.1). Os poços apresentam vazão média de 11 m3/ intercalações de conglomerados, folhelhos e silti-
h e capacidade específica média de 4,811 m /h/m,
3
tos. O aqüífero é do tipo livre. A espessura média
segundo 159 poços consultados (profundidade mé- do Urucuia é de 400 m, e o do Areado é de 200
dia de 86 m). m (COSTA, 1994)27. A espessura do Urucuia pode
atingir valores superiores a 1.500 m (BOMFIM; GO-
O sistema aqüífero Bambuí já é intensamente ex- MES, 2004)18.
plotado em várias regiões da bacia hidrográfica do
São Francisco, com destaque para a bacia do Ver- No Oeste da Bahia, predominam as rochas do Uru-
de Grande, afluente da margem direita do São Fran- cuia em espessura e extensão, ao passo que no
cisco, uma região de conflito de usos pela água, e o Oeste de Minas Gerais, prevalecem as do Areado.
Platô de Irecê, na Bahia. As duas representam áre- Além dos Estados de Bahia e Minas Gerais, o sis-
as de intensa explotação da água subterrânea, prin- tema aqüífero também aflora em Goiás, Piauí e Ma-
cipalmente para irrigação. Como exemplo, no ano ranhão, totalizando cerca de 144.086 km2. A dis-
de 1996, no Estado de Minas Gerais, 74% das ou- ponibilidade hídrica (reserva explotável) estimada
torgas concedidas foram para captações subterrâ- desse sistema alcança 236,4 m3/s (ver Tabela 5.1).
neas, sendo que, aproximadamente, 85% dessas ti- Em termos globais, a disponibilidade hídrica do sis-
nham por finalidade o uso para irrigação na bacia tema aqüífero é elevada.
do rio Verde Grande (RAMOS; MARTINS, 2002) . 57
WNW ESE
5 15 25 35 45 55 65 75 85 95 105 115 125 135 145 155 165 175 185 km
0,5
1,0
1,5
2,0
Formação Urucuia Embasamento
2,5
km
Figura 5.10 – Perfil gravimétrico interpretado, a sul da cidade de Barreiras-BA (Fonte: Adaptado de BOMFIM; GOMES 2004)
Especialmente na região baiana, o sistema aqüífero São Paulo, com espessura média de 200 m. A sua
Urucuia-Areado tem sido amplamente utilizado na disponibilidade hídrica (reserva explotável) é esti-
irrigação. Ele apresenta, ainda, grande importância mada em 28,6 m3/s (ver Tabela 5.1). Os usos são,
na manutenção do escoamento de base de rios da principalmente, doméstico e industrial.
margem esquerda do São Francisco como o Cari-
nhanha, Corrente e Grande. Na Tabela 5.12, são apresentados os dados dos
poços analisados nesse aqüífero. Sob condições li-
Sistema aqüífero Furnas vres, a vazão média dos poços é de 17,4 m3/h e
A Formação Furnas, de idade devoniana (420 Ma.), a capacidade específica média de 1,556 m3/h/m.
é considerada como unidade basal da Bacia Sedi- Na porção confinada, a produtividade dos poços é
mentar do Paraná, assentando-se no embasamento similar à porção livre, com capacidade específica
cristalino. É constituída por arenitos, predominante- média de 1,510 m3/h/m.
mente de granulação grossa, pobremente classifi-
cada e com matriz caulinítica. Sistema aqüífero Ponta Grossa
A Formação Ponta Grossa, de idade devoniana
O aqüífero Furnas é de natureza porosa, variando (420 Ma.), consiste na base de folhelhos e silti-
de livre a confinado, a depender da ocorrência de tos, e em direção ao topo, nas intercalações de
estratos sobrepostos. Entretanto, em que pese a arenitos finos a muito finos. Por sua constituição,
sua natureza porosa primitiva, muito comumente en- essa formação representa um aqüífero de bai-
contra-se bastante consolidado (ROSA FILHO et al., xa potencialidade, reduzida às camadas areno-
1998) , de forma a reduzir a sua disponibilidade hí-
62
sas. Ele se assenta sobre a Formação Furnas,
drica, em geral, melhorada pela presença de estru- em toda a bacia do Paraná. As áreas de aflora-
turas rúpteis, secundárias. Tem área de recarga es- mento estão nos Estados de Mato Grosso, Mato
timada em 24.894 km , distribuída nos Estados de
2
Grosso do Sul, Goiás e Paraná, perfazendo cer-
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Paraná e ca de 24.807 km2. É explotado em condições li-
especifica média é de 0,369 m3/h/m (9 poços con- As primeiras estimativas das reservas do SAG, em
sultados, com a profundidade média de 150 m). território brasileiro, foram realizadas por Rebouças
(1976)58. As reservas permanentes foram estimadas
Sistema aqüífero Guarani em 48.021 km3, ao passo que a reguladora foi de
A área de abrangência das rochas, que constituem 160 km3/ano, foi subdivida em infiltração direta e in-
o aqüífero, foi habitada pela “Nação Guarani” na direta. A primeira considerou a recarga como 15%
época do descobrimento do Brasil. O termo “Siste- da precipitação média anual de 1.500 mm, distribu-
ma Aqüífero Guarani-SAG”, homenageia a memó- ída sobre uma área de 87.000 km2. Já a infiltração
ria dessa “Nação”, unificando a terminologia das indireta foi estimada considerando a condutividade
rochas do Triássico (formações Pirambóia e Rosá- hidráulica em 5.10-8 m/s, diferença de potencial hi-
rio do Sul, no Brasil, em Buena Vista e no Uruguai) dráulico médio de 100 m e espessura média da ca-
e do Jurássico (Formações Botucatu, no Brasil, Mi- mada infiltrante com 400 m. Já a reserva permanen-
siones, no Paraguai, e Tacuarembó, no Uruguai e te, foi calculada para uma área total de 800.000 km2,
na Argentina), sob o ponto de vista hidrogeológico espessura média de 300 m e coeficiente de arma-
(ANTON, 1994 apud GEF/BM/OEA 2001) . 56
zenamento de 20%.
O SAG compreende um pacote de rochas areno- Rocha (1997)61 apresenta uma avaliação para toda a
sas que ocorrem sotopostos às rochas basálticas área do SAG, incluindo Argentina, Brasil, Paraguai e
da Formação Serra Geral (Figura 5.11). Tem espes- Uruguai. Os parâmetros utilizados foram espessura
sura variando entre 200 e 800 m, com valor médio média de 250 m; porosidade efetiva de 15% e coefi-
de 250 m. ciente de armazenamento de 10-4. As reservas regu-
ladoras totalizam 160km3/ano. Considerou-se o índice
Distribui-se em uma área de aproximadamente de 25% para a disponibilidade hídrica (reserva explo-
1.195.000 km , no Brasil, Argentina, Paraguai e
2
tável), tabulado a partir das reservas reguladoras.
WNW ESE
Bauru Rio Paraná
(m)
0
Serra Geral
-1000 C-P
Guarani
-2000
Passa Dois Tubarão
Grupos
-3000
Figura 5.11 – Perfil geológico da Bacia Sedimentar do Paraná. Os sistemas aqüíferos Furnas e
Ponta Grossa pertencem ao Grupo Paraná (Fonte: Modificado de REBOUÇAS, 1988)
72
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Chang (2001)24 estima a reserva proveniente da re- Somente uma parcela desta está mensurada no flu-
carga direta nas áreas de afloramento do SAG em xo de base.
5,2 km3/ano. Neste cálculo, a recarga foi considera-
da igual a 4% da precipitação, para uma área aflo- Chang (2001)24 menciona o cadastro de 930 poços
rante de 898,936 km2 e uma pluviometria entre 1.300e no SAG, realizado com vistas a uma estimava pre-
1.500 mm. Na Tabela 5.14 são apresentados os valo- liminar do uso atual do aqüífero. Observa que exis-
res calculados pelos três trabalhos mencionados. te uma distribuição desigual dos poços, sendo que
o Estado de São Paulo tem 508 (54,6%), ao passo
No presente trabalho, para a estimativa da reser- que o Estado de Goiás apresentou apenas dois po-
va renovável, foi considerada a relação escoamen- ços. Em termos volumétricos, São Paulo extrai qua-
to básico/precipitação em 19%, precipitação média se 2/3 da produção atual. O consumo atual estima-
anual de 1.487 mm e área de recarga de 89.936 km . 2
do é de cerca de 0,5 km3/ano.
Dessa forma, as reservas reguladoras totalizam 25,4
km3/ano (805,7 m3/s). Por outro lado, as reservas O número de poços cadastrados no SAG, em tra-
explotáveis foram calculadas considerando como balhos anteriores, difere significativamente daque-
20% do valor estimado para as reguladoras, cor- le apresentado por Chang (2001)24. Somente para
respondendo, portanto, a 5,1 km3/ano (161,1 m3/s), o Estado de São Paulo foram mencionados cer-
conforme a Tabela 5.1. É importante salientar que ca de 2.500 poços situados em área de aflora-
os valores estimados para as reservas reguladoras mento ou na borda da porção confinada do SAG
se atêm, principalmente, à recarga direta, não con- (FGV, 1998)39. Também é citada a existência de
siderando, em função do caráter generalista e da mais 300 poços localizados em áreas de maior
escala de baixa resolução utilizada no mapa base confinamento. No presente trabalho, para efei-
(1:2.500.000), cômputos totais da recarga indireta. tos de geração de valores médios de profundida-
Tabela 5.14 – Síntese das avaliações de reservas para o sistema aqüífero Guarani
FONTE
RESERVAS
REBOUÇAS (1976) ROCHA (1997) CHANG (2001)
ATIVA (INFILTRAÇÃO DIRETA) 22 km3/ano 5,2 km3/ano
160 km /ano
3
EXPLOTÁVEL 40 km3/ano
73
POÇOS CONSULTADOS 87 69
de, vazão e capacidade específica, foram utiliza- baixamento. Pode ser somente uma conseqüên-
dos os dados consolidados de 156 poços do SAG, cia da sobreposição de cones de rebaixamento
cujos valores médios estão registrados na Tabe- de poços locados próximos ou então um evento
la 5.15. As propriedades hidrodinâmicas do SAG de maior alcance.
são muito variáveis regionalmente. Na porção li-
vre, o coeficiente de armazenamento fica entre 10-3 Sistema aqüífero Serra Geral
e 10-1, enquanto que nas porções confinadas, ele O sistema aqüífero Serra Geral corresponde à forma-
varia de 10 a 10 . A transmissividade, nas áreas
-6 -4
ção homônima, de idade jurássica (200 Ma.) e é cons-
confinadas, vai de 10 e 10 m /s.
-4 -2 2
tituído pelas rochas que compõem uma seqüência de
derrames de lavas basálticas e ácidas, com intercala-
Apesar do consumo atual, em âmbito regional, si- ções de lentes e camadas arenosas. Ele ocorre reco-
tuar-se abaixo da recarga anual, vários municípios brindo as formações paleozóicas da Bacia do Paraná
já apresentam sinais de superexplotação, nota- e a Formação Botucatu, em toda a região central des-
damente Ribeirão Preto e Bauru. O primeiro tem sa macia (ver Figura 5.11). Em direção ao centro da
cerca de 500.000 habitantes abastecidos inteira- bacia, aumenta de espessura, alcançando 2.000 m. O
mente com água subterrânea, tendo como prin- derrame basáltico é resultante do intenso magmatis-
cipal origem o SAG. Há vários relatos de rebai- mo, iniciado quando ainda perduravam as condições
xamento excessivo do nível de água nos poços desérticas da sedimentação da Formação Botucatu.
nessa cidade, entretanto ainda não se dispõe de Forma aqüíferos fraturados que, em sua grande maio-
estudos conclusivos a respeito da origem do re- ria, apresentam condição livre.
Serra Geral - RS
74
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Serra Geral - RS
As áreas mais produtivas do sistema Serra Geral e agrícola (0,24%) (CAYE et al., 2002)23. Importantes
estão condicionadas a fraturamentos e zonas ve- sedes municipais da região como Chapecó, Con-
siculares resultantes do resfriamento dos derrames córdia e São Miguel d’ Oeste possuem uma gran-
basálticos. A deformação rúptil afetou, posterior- de concentração de poços, principalmente, em edi-
mente, essas estruturas primárias, gerando fraturas fícios residenciais. Na área urbana de Chapecó,
que ampliaram as possibilidades de armazenamen- onde se estima que existam mais de 300 poços, ve-
to e circulação de água. rificam-se vários casos de interferências entre po-
ços, causando rebaixamento dos níveis do aqüífero
O sistema Serra Geral tem área de recarga de cer- e diminuição das vazões (FREITAS et al., 2002)38.
ca de 411.855 km2 e espessura média de 150 m.
A sua disponibilidade hídrica (reserva explotável) Os poços explotados têm profundidade média de
é estimada em 7.463 m3/s (ver Tabela 5.1). O prin- 123 m, vazão média de 22,8 m³/h e capacidade es-
cipal uso da água desse sistema é para abasteci- pecifica média de 3,34 m³/h/m, como mostram 127
mento doméstico. A Companhia de Saneamento do poços consultados (profundidade média de 123 m).
Estado do Paraná (SANEPAR) tinha 414 poços em
2001 (MENDES et al., 2002)45 extraindo água des- Sistema aqüífero Bauru-Caiuá
se sistema para abastecimento municipal. Naquele O sistema aqüífero Bauru-Caiuá é poroso, livre
ano, a companhia extraiu 50,5 milhões de m , equi-
3
a semi-confinado, possui uma área aflorante de
valente a 52% do total da água subterrânea explota- 353.420 km2 e espessura média de 200 m. Ele tem
da pela empresa. No Oeste catarinense, entre 1.302 maior exposição areal na região hidrográfica do Pa-
poços tubulares cadastrados, em 83,72%, o uso era raná, sobreposto às intrusivas do sistema aqüífero
para abastecimento humano, seguido dos usos in- Serra Geral (ver Figura 5.11) e ocupa grande parte
dustrial (8,52%), animal (4,76%), de lazer (2,76%) do Oeste do Estado de São Paulo.
75
Acervo TDA
Pantanal - MS
77
6 DEMANDAS DE RECURSOS HÍDRICOS
TOCANTINS/ARAGUAIA 55 3 33 4 22
ATLÂNTICO NORDESTE
15 1 6 1 9
OCIDENTAL
PARNAÍBA 19 1 11 1 8
ATLÂNTICO NORDESTE
170 11 100 12 70
ORIENTAL
ATLÂNTICO LESTE 68 4 33 4 35
PARAGUAI 19 1 12 1 7
Amazônica
Tocantins
Atl. NE Ocidental
Parnaíba
Atl. NE Oriental
São Francisco
Atl. Leste
Atl. Sudeste
Atl. Sul
Uruguai
Paraná
Paraguai
Amazônica
Tocantins
Atl. NE Ocidental
Parnaíba
Atl. NE Oriental
São Francisco
Atl. Leste
Atl. Sudeste
Atl. Sul
Uruguai
Paraná
Paraguai
Vazões (m³/s)
Figura 6.2 – Vazões de retirada para os diferentes usos nas regiões hidrográficas
Amazônica
Tocantins
Atl. NE Ocidental
Parnaíba
Atl. NE Oriental
São Francisco
Atl. Leste
Atl. Sudeste
Atlântico Sul
Uruguai
Paraná
Paraguai
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200
Vazões (m³/s)
Figura 6.3 – Vazões de consumo para os diferentes usos nas regiões hidrográficas
79
Industrial
18%
Irrigação
46%
Urbano
26% Total: 1.592 m³/s
Animal
11%
Rural
2%
Industrial
7%
Urbano Irrigação
11% 46%
Acervo TDA
Adutora - RN
81
24,2
25
22,7
Vazão Outorgada (%)
20
18
15
10 7,3
4,7
4,6
4,1
5 5
2,3
1,9
1,3
0,7
0,6
0,5
0,5
0,4
0,3
0,3
0,3
0
0
SP MG BA TO RS PR PE GO AL CE PB SE RJ SC RN AM DF ES PI MS MT
Estado
50
40
Nº Outorgas (%)
30
21,9
20
8,6
10
6,4
3,8
3,1
1,4
0,8
0,4
0,3
0,2
0,1
0,1
1
0
0
SP MG BA TO RS PR PE GO AL CE PB SE RJ SC RN AM DF ES PI MS MT
Estado
180.000
160.000
140.000
120.000
Vazões (m³/s)
100.000
80.000
60.000
40.000
20.000
0
Média Disponibilidade Estiagem (Q95) Retirada Outorgada
Hídrica
Q (m³/s) 179.433 91.738 85.495 1.566 2.044
Lazer
1% Outros
1% Aqüicultura
3%
Urbano
26%
Irrigação
55%
Dessentação
0%
Industrial
14%
0% 6%
0%
8%
0%
0%
32%
37%
6%
6%
2% 3%
Tocantins/Araguaia 1,8
Paraná 1,2
Uruguai 0,2
Parnaíba 0,2
Amazônica 0,2
Paraguai 0
Figura 7.6 – Relação entre a vazão outorgada (reduzida) e a vazão de retirada nas regiões hidrográficas
87
Acervo TDA
Apesar de não expressar a real disponibilida- ainda, na condição de regiões com pouca disponi-
de de água da bacia, o quociente entre a vazão bilidade relativa, algumas bacias da região Atlântico
média anual e a população residente é freqüen- Leste, do Parnaíba e do São Francisco. Nessas regi-
temente utilizado pelas Nações Unidas como in- ões há, normalmente, uma associação de baixa plu-
dicador de disponibilidade hídrica por habitan- viosidade e elevada evapotranspiração. É na porção
te em grandes regiões. Nesse sentido, o Brasil semi-árida dessas regiões que o fenômeno da seca
é considerado rico, com uma disponibilidade de tem repercussões mais graves e a água passa a ser
33 mil m /hab/ano, distribuída nas 12 regiões hi-
3
fator de sobrevivência para as populações locais.
drográficas, como mostra a Tabela 8.1.
Nesse quadro de baixa disponibilidade, com me-
A Figura 8.1 mostra a vazão média por habitante nos de 500 m3/hab/ano, vale destacar as bacias dos
nas 12 regiões hidrográficas. No País, há uma gran- rios Trairi e Pirangi, Paraíba, Capibaribe, Gramame
de variabilidade espacial da vazão média por habi- e Goiana na região Atlântico Nordeste Oriental; os
tante, e a baixa disponibilidade de água para aten- rios Paramirim, Santo Onofre e Carnaíba de Dentro,
der os diferentes usos está associada à conjugação Verde, Jacaré, do Pontal e Curaçá na região do São
de densidade populacional elevada com ocorrência Francisco; e os rios Vaza-Barris, Sergipe, Japaratu-
de vazões específicas de média a baixa. ba, Piauí e Real na região Atlântico Leste.
Em termos de relação entre a vazão média e a popu- Para ilustrar a questão da disponibilidade hídrica,
lação, a situação mais crítica é a observada na região a Figura 8.2 mostra o perfil longitudinal na bacia do
hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental, com média rio Verde Grande, no São Francisco. São apresenta-
inferior a 1.200 m /hab.ano, sendo que em algumas
3
das a vazão média, a disponibilidade hídrica (neste
unidades hidrográficas dessa região são registrados caso, a vazão com permanência de 95%) e a vazão
valores menores que 500 m /hab.ano. Destacam-se,
3
média de retirada para os usos consuntivos desde
(m³/hab/ano)
Escassez
500
1.000
Estresse
1.700
4.000
Confortável
10.000
a nascente até a foz. Há um cenário crítico, em ter- Oriental, mostra claramente que a demanda de re-
mos de relação entre demanda e disponibilidade cursos hídricos é várias vezes maior que a vazão
hídrica, em que a vazão de retirada para os usos de estiagem (Q95). Com a regularização de vazões
consuntivos, ao longo do rio, é sempre superior à promovida pelos açudes, a disponibilidade hídrica
disponibilidade hídrica. consegue atender as demandas.
35
30
25
Vazão (m³/s)
Rio Gorotuba
20
15
10
0
0 100 200 300 400 500
Figura 8.2 – Disponibilidade e demanda de recursos hídricos, ao longo do rio Verde Grande
12.000
10.000
8.000
Rio Araguaia
Vazão (m³/s)
6.000
Rio do Sono
UHE Serra da Mesa
UHE Tucurui
4.000
Rio Paranã
2.000
0
0 500 1.000 1.500 2.000 2.500
900
800
UHE Bariri
600
Vazão (m³/s)
UHE Ibitinga
Rio Sorocaba
Região Metropolitana - SP
500
400
300
200
100
0
0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.000
250
200
Rio Banaibuiú
150
Vazão (m³/s)
Rio Salgado
Açude Castanhão
100
Açude Orós
50
0
0 100 200 300 400 500 600 700
Tietê com a vazão média, a vazão com permanên- são limitados, existindo, porém, em alguns casos,
cia de 95%, a disponibilidade hídrica (regularizada problemas de poluição localizados, próximos aos
mais incremental de Q95) e a retirada total. Percebe- centros urbanos.
se que as retiradas superam a disponibilidade hí-
drica, particularmente no Alto Tietê, está localizada Observam-se, ainda, regiões no País em que, a des-
a Região Metropolitana de São Paulo, obrigando a peito da elevada disponibilidade natural de água, a
busca de fontes externas, que, nesse caso, provém intensa e desordenada ocupação do território tem
principalmente da bacia do rio Piracicaba. gerado conflitos pelo uso da água, em face, princi-
palmente, de questões associadas à qualidade re-
Nas regiões de baixa vazão específica natural, mas querida para determinados usos. É o caso das re-
de ocupação rarefeita, como é o caso da área de giões hidrográficas do Paraná e Uruguai, dos altos
planície da região hidrográfica do Paraguai (Pan- cursos dos rios Tocantins e São Francisco, além de
tanal Mato-grossense), são poucos os registros de boa parte das regiões hidrográficas Atlântico Su-
conflito pelo uso da água. No caso específico dessa deste e Sul, onde os conflitos pelo uso da água en-
região, dada a característica de baixa declividade, volvem, essencialmente, problemas de poluição ou
a reduzida disponibilidade natural é compensada de consumo excessivo de água para irrigação.
pela presença de água nos cursos d’água e lagos,
originária da drenagem das cabeceiras úmidas dos A Figura 8.6 mostra a relação entre a demanda e a
rios do Pantanal. A diversidade de paisagens e a disponibilidade hídrica ao longo dos principais cur-
riqueza da fauna e da flora regionais caracterizam- sos d’água do País. As figuras 8.7 a 8.18 mostram,
na como uma região de elevado interesse ecológi- em mais detalhes, a relação entre demanda e dis-
co para o País. ponibilidade hídrica nos principais cursos d’água
das 12 regiões hidrográficas.
Contrastando com esses valores, observam-se, no
Norte do Brasil, os maiores valores de vazão mé- A relação entre as demandas e a disponibilidade
dia por habitante do País, resultantes da associa- de recursos hídricos aponta a situação atual da uti-
ção entre alta vazão específica e baixa densidade lização dos recursos hídricos no País. Em relação a
populacional. Destacam-se, neste contexto, os va- este indicador, a Figura 8.7 mostra que a situação
lores observados nas regiões hidrográficas Ama- é confortável na região hidrográfica Amazônica. Na
zônica, com 533 mil m3/hab/ano, e do Tocantins/ região Tocantins/Araguaia (Figura 8.8), a situação
Araguaia, com cerca de 60 mil m /hab/ano. A Fi-
3
também é confortável, excetuando algumas regiões
gura 8.5 mostra o perfil longitudinal do rio Tocan- de cabeceiras e nos rios Jaburu e Formoso onde
tins. Nestas regiões, os conflitos pelo uso da água as atividades de irrigação se intensificaram nos
94
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
últimos anos. Na região Atlântico Nordeste Oriental, Adicionalmente, apresentam um quadro pelo me-
o rio Mearim encontra-se em situação crítica. O rio nos preocupante, as bacias próximas aos cen-
Parnaíba consegue atender com tranqüilidades as tros urbanos, como aquelas da Figura 8.14 da re-
demandas da bacia, excetuando alguns afluentes gião Atlântico Sudeste (por exemplo, rios Paraíba
indicados na Figura 8.10. do Sul, Pomba, Muriaé, Guandu e rios que desem-
bocam na Baía de Guanabara), Atlântico Sul (Figu-
A Figura 8.11 mostra que a região Atlântico Nordes- ra 8.15 - Guaíba, Jacuí e Camaquã, entre outros) e
te Oriental é a mais crítica. Quase todas as sub-ba- do Paraná (rios São Bartolomeu, Meia Ponte, alguns
cias desta região apresentam uma relação entre de- afluentes do rio Grande – rios Sapucaí, Turvo, Par-
manda e disponibilidade acima de 40%. A região do e Mogi-Guaçu Piracicaba e Tietê, por exemplo),
hidrográfica do São Francisco também tem diversas como mostra a Figura 8.16.
sub-bacias em situação pelo menos preocupante:
as sub-bacias dos rios das Velhas e Paraopeba, al- Por fim, algumas bacias localizadas na região do
guns afluentes do Paracatu (rios Preto, São Pedro Uruguai (Figura 8.17) encontram-se em uma situ-
e ribeirão Entre-ribeiros, o Alto rio Grande, a maio- ação que exige intenso gerenciamento e interven-
ria dos rios localizados na região semi-árida da ba- ções em virtude, principalmente, de conflitos de
cia (Figura 8.12). Algumas bacias do Atlântico Les- usos com a irrigação (rios Icamaquã, Ibicuí, Santa
te também apresentam dificuldades no atendimento Maria e Quaraí, entre outros). A Figura 8.18 mos-
das demandas: como os rios Vaza-Barris, Itapicuru tra uma situação confortável na região hidrográfi-
e Paraguaçu (Figura 8.13). ca do Paraguai.
Excelente
5%
Confortável
10%
Preocupante
20%
Crítica
40%
Muito Crítica
Figura 8.6 – Relação entre demanda e disponibilidade hídrica nos principais cursos d’água
95
Venezuela
Guiana
Suriname
Guiana
Francesa
Colômbia
BOA VISTA
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Rio
São Gabriel da Cachoeira MACAPÁ
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MS
Figura 8.7 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Amazônica
O L
300 0 300 600 km
S
96
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
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Figura 8.8 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Tocantins–Araguaia
O L
200 0 200 km
S
97
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Figura 8.9 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Ocidental
O L
100 0 100 km
S
98
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
OCEANO ATLÂNTICO
Parnaíba
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Figura 8.11 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Parnaíba
O L
90 0 90 180 km
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Figura 8.12 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Atlântico Nordeste Oriental
O L
100 0 100 200 km
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C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
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Figura 8.13 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica São Francisco
O L
100 0 100 200 km
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Figura 8.14 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Atlântico Leste
O L
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Figura 8.15 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Atlântico Sudeste
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Figura 8.17 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Paraná
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Figura 8.18 – Relação entre Demanda e Disponibilidade Hídrica na Região Hidrográfica Uruguai
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Figura 8.18 – Relação entre demanda e disponibilidade hídrica na região hidrográfica Paraguai
107
Tabela 8.2 – Principais rios com trechos onde a relação entre demanda e disponibilidade
é, pelo menos, preocupante (>10%)
REGIÃO HIDROGRÁFICA PRINCIPAIS BACIAS CLASSIFICAÇÃO*
AMAZÔNICA --------
Cabeceiras dos rios:
- Ribeirão da Água Limpa, próximo ao município de Jussara-GO.
Preocupante
- Rio Vermelho, próximo ao município de Góis-GO.
TOCANTINS / ARAGUAIA - Rio Padre Sousa, próximo ao município de Pirenópolis-GO.
- Rio Jaburu, entre Formoso do Araguaia e Pium-TO.
Preocupante
- Rio Formoso, próximo ao município de Lagoa da Confusão-TO.
- Rio Mearim, desde o município de Barra da Corda-MA.
ATLÂNTICO NORDESTE OCIDENTAL Preocupante
- Rio Preto, entre os municípios de Mata Roma e São Benedito do Rio Preto-MA.
- Rios Itaim e Canindé, entre os municípios de Picos-PI e Francisco Ayres-PI.
Preocupante
PARNAÍBA - Rio Poti e afluentes.
- Rio Longá, PI. Crítica
Muito
- Rio São Bartolomeu, DF e GO.
crítica
Muito
- Rio Iguaçu, entre Curitiba e União da Vitória.
crítica
PARAGUAI --------
* Preocupante - Relação entre demanda e disponibilidade 10 a 20%. Crítica - Relação entre demanda e disponibilidade 20 a 40%. Muito crítica - Relação entre demanda e disponibilidade > 40%. * Preocupante
- Relação entre demanda e disponibilidade 10 a 20%. Crítica - Relação entre demanda e disponibilidade 20 a 40%. Muito crítica - Relação entre demanda e disponibilidade > 40%.
109
As informações disponíveis nos censos do IBGE não indicam superexplotação, já que normalmente ocor-
permitem identificar, entre as demandas, quais são re a captação de águas superficiais, mesmo em mu-
atendidas por água subterrânea e por água super- nicípios que usam muito o recurso hídrico subterrâ-
ficial. Por isso, a análise da relação demanda e dis- neo. Além disso, os aqüíferos possuem mecanismos
ponibilidade hídrica subterrânea foi feita utilizando de recarga indireta, que não são função apenas da
o conceito de vazão de retirada potencial, que cor- sua área de recarga e podem incluir a drenança por
responde ao volume de água retirado pelos municí- de camadas confinantes, contribuição de rios, lagos,
pios situados sobre a área de recarga dos aqüífe- entre outros.
ros. Esse indicador permite uma avaliação geral das
condições de explotação dos aqüíferos, mostrando Outro aspecto essencial, a considerar, é que a re-
aqueles que possuem o potencial de abastecimento lação vazão de retirada potencial e disponibilidade
de toda as demandas de água locais. hídrica subterrânea foi analisada para as áreas de
recargas dos aqüíferos, já que, potencialmente, um
Em relação a essa análise, cabe destacar dois pon- aqüífero será mais facilmente explotado, sob o pon-
tos. Inicialmente, os aqüíferos não são homogêneos to de vista técnico de custos na perfuração de po-
e as condições de recarga e escoamento variam for- ços, nestas regiões. Entretanto, em alguns aqüífe-
temente dependendo das condições geológicas, cli- ros, como o Beberibe, Guarani e Serra Grande, uma
máticas e geomorfológicas. Por isso, mesmo que a expressiva parte da explotação ocorre sob condi-
análise regional de um aqüífero indique que a vazão ções confinadas, em que, portanto, o aqüífero já
de retirada potencial é muito inferior à reserva explo- não aparece na superfície.
tável, não se pode garantir que localmente o aqüífero
seja capaz de suprir toda a demanda. Para que esse Os resultados do balanço entre vazão de retirada
tipo de avaliação seja mais precisa, ela deve ser feita (demanda) e disponibilidade hídrica são apresen-
considerando as condições locais. Entretanto, esse tados na Tabela 8.3. De forma geral, é possível ob-
tipo de análise foge ao escopo deste estudo. Por ou- servar que a maioria dos sistemas aqüíferos, poten-
tro lado, valores de reserva explotável muito inferio- cialmente, poderia atender às demandas de água
res às de vazões de retirada potencial, também, não dos municípios.
110
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
Existem aqüíferos regionais, como é o caso do Al- a demanda de água dos municípios situados so-
ter do Chão e Solimões, localizados na Bacia Sedi- bre as suas áreas de recarga. O aqüífero Bebe-
mentar do Amazonas, Itapecuru e Poti-Piauí, situa- ribe é um caso bem conhecido, em que a maior
dos na Bacia Sedimentar do Parnaíba, Serra Geral parte da sua explotação ocorre quando ele não
e Bauru-Caiuá, na Bacia Sedimentar do Paraná, em aflora na superfície e está sob condições confi-
que a demanda potencial representa uma parte mui- nadas na região metropolitana do Recife. Nos úl-
to pequena das grandes reservas explotáveis. Entre timos anos, devido à grande explotação, já são
os aqüíferos de grande extensão regional, apenas o conhecidos problemas de cunha salina do mar e
Bambuí, por sua natureza heterogênea, fraturada e de queda do nível de água. Os sistemas aqüífe-
cárstica, não poderia potencialmente atender a toda ros Jandaíra e Açu, pertencentes à Bacia Sedi-
a demanda (vazão de retirada). mentar Potiguar, também apresentam uma vazão
de retirada potencial superior à reserva explotável.
Em alguns casos, aqüíferos com pequenas áreas No caso do Jandaíra já são conhecidos os proble-
de recarga, portanto, com baixas reservas explo- mas de rebaixamento acentuado do nível de água,
táveis, como os sistemas aqüíferos Beberibe, Ina- devido ao grande uso da água principalmente
já, Exu e Missão Velha, não poderiam atender toda para irrigação.
Acervo TDA
Pantanal - MS
111
Acervo TDA
Pantanal - MS
(94% da precipitação), Atlântico Nordeste Orien- valor de disponibilidade hídrica subterrânea (re-
tal (93%), Atlântico Leste (89%), São Francisco serva explotável). Os sistemas aqüíferos porosos
(86%), Paraguai (85%) e Atlântico Nordeste Oci- que apresentam os maiores valores de reservas re-
dental (83%) apresentam os maiores valores, atin- nováveis são, em ordem decrescente de valor: So-
gindo mais de 80% da precipitação média e levan- limões, Serra Geral, Bauru-Caiuá, Parecis, Alter do
do, conseqüentemente, aos menores percentuais Chão, Urucuia-Areado e Barreiras. Cada um desses
de escoamento superficial efetivo. sistemas tem reserva renovável acima de 1.000 m3/s,
e totalizam cerca de 86% das reservas renováveis.
Em relação às águas subterrâneas, as reservas
renováveis no País atingem cerca de 42 mil m3/s, Os terrenos fraturados e cárstico-fraturados, ge-
ou 24% do escoamento médio dos rios em terri- nericamente designados de terrenos cristalinos,
tório nacional e 49% da vazão de estiagem. Con- ocupam 52% do País. Em função da sua nature-
siderando as reservas explotáveis como iguais a za heterogênea, eles normalmente apresentam
20% das renováveis, tem-se cerca de 8.400 m3/s potencial hídrico baixo. Localmente podem cons-
como disponibilidade hídrica (reserva explotá- tituir bons aqüíferos. Nas regiões de clima tropi-
vel) no País. cal, a associação, com um espesso manto de
intemperismo, favorece a produtividade dos aqü-
O País possui importantes sistemas aqüíferos íferos. Nas regiões de clima semi-árido, como no
com boa distribuição nas regiões hidrográficas sertão nordestino, em que predominam delgados
e com bom potencial hídrico. A maior parte des- mantos de intemperismo, as vazões dos poços
tes aqüíferos é do tipo poroso, e localiza-se nas ba- são baixas.
cias sedimentares, que ocupam aproximadamente
48% do território nacional. Os principais sistemas Em várias regiões, a água subterrânea represen-
aqüíferos do País totalizam uma reserva renová- ta o principal manancial hídrico, sendo utilizado
vel de 20 mil m /s, com cerca de 4.100 m /s como
3 3
para diversos fins como o abastecimento humano,
115
Acervo TDA
116
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
com grandes centros urbanos, são ainda exemplos, dificuldades no atendimento às demandas, como
as bacias do Paraíba do Sul (região hidrográfica do as dos rios Vaza-Barris, Itapicuru e Paraguaçu.
Atlântico Sudeste), São Bartolomeu e Piracicaba Adicionalmente, apresentam um quadro pelo me-
(região hidrográfica do Paraná). nos preocupante, as bacias próximas aos centros
urbanos nas regiões Atlântico Sudeste, Atlântico
Um fator agravante nessas bacias, localizadas pró- Sul e Paraná. Por fim, algumas bacias localizadas
ximas aos centros urbanos, diz respeito ao compro- na região do Uruguai encontram-se em uma situa-
metimento da qualidade das águas, que ocasiona ção que exige intenso gerenciamento e interven-
o aumento nos custos de tratamento e restringe os ções, em virtude, principalmente, de conflitos de
usos da água. usos com a irrigação (rios Icamaquã, Ibicuí, Santa
Maria e Quaraí, entre outros).
A relação entre as demandas e a disponibilidade
de recursos hídricos aponta a situação atual da uti- Em relação às águas subterrâneas, a avalia-
lização dos recursos hídricos no País. Em relação a ção das relações entre demanda e disponibi-
este indicador, a região Atlântico Nordeste Oriental lidade hídrica subterrânea revela que 18 dos
é a mais crítica, onde quase todas as sub-bacias 27 principais sistemas aqüíferos do País pode-
apresentam uma relação entre demanda e disponi- riam, potencialmente, suprir as demandas hídri-
bilidade de mais de 40%. A região hidrográfica do cas dos municípios situados nas suas áreas de
São Francisco também tem diversas sub-bacias recarga. No caso dos sistemas aqüíferos Jandaí-
em situação muito crítica, como a maioria dos rios ra e Beberibe, dados de literatura já indicam que
localizados na região semi-árida da bacia. Algu- medidas de gerenciamento do recurso hídrico
mas bacias do Atlântico Leste também apresentam são necessárias.
Acervo TDA
117
zões de usos consuntivos referentes a aprovei- 14 ALCAMO, J.; HENRICHS, T.; RÖSCH, T. World
tamentos hidrelétricos localizados na Bacia Hi- Water in 2025 – Global modeling and scena-
drográfica do Rio Iguaçu. rio analysis for the World Comission on Wa-
ter for the 21st Century. Report A0002. Center
7 ______________________________. Aprova as for the Environmental Systems Research. Uni-
séries de vazões de usos consuntivos referen- versity of Kassel: Germany.
tes a aproveitamentos hidrelétricos localizados
na Bacia Hidrográfica do Rio Paraná. 15 ANDRADE JÚNIOR, A.S.; SILVA, E.F.; BASTOS,
E.A; LEAL, C.M.; FOLEGATTI, M.V. 2004. Uso
8 _______________________________. Resolução da água subterrânea para irrigação no su-
n 212, de 22/04/2004. Aprova as séries de va-
o
deste piauiense e o risco de salinização e
zões de usos consuntivos referentes a aprovei- sodificação do solo. VII Simpósio de Recur-
120
C AD ERN O S D E REC U RSO S H Í D RI C O S
sos Hídricos do Nordeste, São Luís – MA, 2004. Congresso Brasileiro de Águas Subterrâneas,
CD-ROM. Florianópolis - SC, 2002. CD-ROM.
16 ALVARENGA, C.J.S. Geologia e prospecção 24 CHANG, H.K. 2001. Projeto de Proteção Am-
dos grupos Bambuí e Paranoá na Serra São biental e Desenvolvimento Sustentável do Sis-
Domingos - MG. 1978. Dissertação (Mestrado tema Aqüífero Guarani. GEF/Banco Mundial/
em Geologia) - Instituto de Geociências, Uni- OEA. Componente 3b: uso atual e potencial
versidade de Brasília, Brasília. do aqüífero Guarani-Brasil.
ANA
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS