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Lucas da Silva

Mariano da Franca Alencar Neto


Waleska Martins Eloi
Organizadores

PLANEJAMENTO E
GESTÃO DE RECURSOS
HÍDRICOS

PROJETOS DE INTERVENÇÃO Vol. 5


MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO MINISTÉRIO DO
INSTITUTO FEDERAL DESENVOLVIMENTO REGIONAL
DO CEARÁ AGENCIA NACIONAL DE ÁGUAS
Presidente da República Presidente da República
Jair Messias Bolsonaro Jair Messias Bolsonaro
Ministro da Educação Ministro do Desenvolvimento Regional
Ricardo Vélez Rodríguez Gustavo Henrique Rigodanzo
Canuto
Secretário de Educação Profissional e
Tecnológica Diretora-presidente Área
Alexandro Ferreira de Souza Administração
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Reitor do Instituto Federal de Educação
Ciência e Tecnologia do Ceará Diretor de Hidrologia
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Pró-reitor de Ensino Diretor de Gestão
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Pró-reitor de Administração e Diretor de Planejamento
Planejamento Marcelo Cruz
Tássio Francisco Lofti Matos Diretor de Regulação
Pró-reitora de Extensão Oscar Cordeiro
Zandra Maria R. Mendes Dumaresq Superintendência de Administração,
Pró-reitor de Pesquisa, Pós-Graduação Finanças e Gestão de Pessoas
e Inovação Luis André
José Wally Mendonça Menezes Superintendência de Apoio ao Sistema
Nacional de Gerenciamento de Recursos
Pró-reitor de Gestão de Pessoas
Hídricos
Ivam Holanda de Souza
Humberto Gonçalves
Assessoria de Relações Internacionais
Superintendência de Fiscalização
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Albuquerque Filho
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Diretoria de Assuntos Estudantis Hidrometeorológia
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Diretoria de Gestão da Tecnologia da Superintendência de Implementação de
Informação Programas e Projetos
Carlos Maurício Jaborandy de Mattos Tibério Pinheiro
Diretoria de Educação a Distância Superintendência de Operações e
Márcio Daniel Damasceno dos Eventos Críticos
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Coordenação do curso Superintendência de Planejamento de
Lucas da Silva Recursos Hídricos
Waleska Martins Eloi Sergio Ayrimoraes
Superintendência de Regulação
Rodrigo Flecha
Superintendência de Tecnologia da
Informação
Sérgio Barbosa
Lucas da Silva
Mariano da Franca Alencar Neto
Waleska Martins Eloi
Organizadores

PLANEJAMENTO E
GESTÃO DE RECURSOS
HÍDRICOS

PROJETOS DE INTERVENÇÃO Vol. 5

Triunfal Gráfica e Editora


Assis - 2019
© Lucas da Silva; Mariano da Franca Alencar Neto;
Waleska Martins Eloi (Org.), 2019.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


Vania Aparecida Marques Favato – CRB/8 – 3301

P712 Planejamento e gestão de recursos hídricos / Lucas da Silva;


Mariano da Franca Alencar Neto e Waleska Martins Eloi, or-
ganizadores. Fortaleza: IFCE; Brasília: ANA; Assis: Triunfal
Gráfica e Editora, 2019.
227 p. : il. ( Projetos de Intervenção, v.5)

Vários autores
ISBN: 978-85-61175-98-6

1. Recursos hídricos - Desenvolvimento. 2. Gestão ambien-


tal. 3. Zoneamento. 4. Solos - Conservação. I. Silva, Lucas da.
II. Alencar Neto, Mariano da Franca. III. Eloi, Waleska Martins.

CDD 574.5263
631.45

Os conteúdos a formatação de referências e as opiniões externadas


nesta obra são de responsabilidade exclusiva dos autores de cada texto.

Todos os direitos de publicação e divulgação em língua portuguesa


estão reservados à Instituto Federal do Ceará – IFCE, Agencia Nacional de
Águas - ANA, e aos organizadores da obra.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO.....................................................................7

Análise ambiental da sub-bacia do rio Marinheiro,


no município de Sete Lagoas/MG: contribuições ao
planejamento territorial E ambiental DA REGIÃO....................9
Marlêde Ribeiro de Oliveira Andrade
Prof. Dr. João Luís Sampaio Olímpio

CAPACITAÇÃO SOBRE GESTÃO DOS RECURSOS


HÍDRICOS PARA PRODUTORES RURAIS NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO FORMOSO NO
ESTADO TOCANTINS............................................................31
Maria Gorete dos Santos Cordeiro
Antonio Carlito Bezerra dos Santos

CONFLITOS NA GESTÃO DE RECURSOS


HÍDRICOS: ESTUDO DE CASO NA MICROBACIA
DO RIO PEREQUÊ/SC............................................................47
Lucas Vincent Lopes de Barros
Fernando Caixeta Lisboa

GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS – ESTUDO


DE CASO: SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO
SALGADO – CEARÁ..............................................................71
Rafael Bezerra Tavares Vasques Landim
Fábio de Oliveira Matos

MAPEAMENTO DA MICROBACIA DO CÓRREGO


ÁGUA LIMPA NO MUNICIPIO DE CERES..........................89
Daniella de Oliveira Santos
Antonio Carlito Bezerra dos Santos

MODELAGEM NA CONSERVAÇÃO DO SOLO E


QUALIDADE DA ÁGUA FRENTE À ESCASSEZ
HÍDRICA NA BACIA DO JABURU I, NA IBIAPABA-
CEARÁ...................................................................................103
Paulo Sérgio Silva do Amaral
Tiago Estevam Gonçalves

PROPOSTA DE ENQUADRAMENTO DA BACIA DO


RIO PITIMBU – NATAL /RN................................................121
Lúcio Fábio Barbosa de Lima
Maria Patrícia Sales Castro
Karyna Oliveira Chaves de Lucena

PROPOSTA DE PROJETO DE PREVENÇÃO


E CONTROLE DE ÁREAS VULNERÁVEIS
AOS PROCESSOS EROSIVOS NA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO TABOÃO,
MUNICÍPIO DE LORENA/SP...............................................141
Cibele dos Santos Peretta
Reinaldo Fontes Cavalcante
Bruno Vidal de Almeida

REVITALIZAÇÃO DA BACIA DO RIO


ARAÇUAÍ EM ÁREAS RURAIS DO VALE DO
JEQUITINHONHA/MG.........................................................165
Alex Lopes Godinho
Mayara Carantino Costa
Francisco Rafael Sousa Freitas

SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA A GARANTIA


HÍDRICA, ENERGÉTICA E ALIMENTAR EM UMA
MICROBACIA DO RIO SÃO FRANCISCO, MG................185
Geize Carla Soares Marques
Pedro Paulo Ferreira Silva
Francisco Rafael Sousa Freitas

ZONEAMENO ECOLOGICO E ECONOMICO DA BACIA


DO RIO PIRAPÓ 207
Ms. Sara Lucia Orlato Selem
Dr. Petrônio Emanuel Timbó Braga
Dra. Lidiane Gomes da Silva
APRESENTAÇÃO

A presente coleção é fruto dos trabalhos desenvolvidos


ao longo do curso de Especialização em Elaboração e Geren-
ciamento de Projetos para a Gestão Municipal em Recursos Hí-
dricos, ofertado pelo Instituto Federal de Educação, Ciências e
Tecnologia do Ceará (IFCE), atendendo à solicitação da Agência
Nacional de Águas, que também financiou o projeto. O objetivo
do curso, que se encerra, estava em capacitar gestores, visando
à melhoria e eficiência dos projetos de intervenção implementa-
dos no âmbito municipal.
De abrangência nacional, o curso contou com aproxima-
damente seiscentos alunos em duas turmas sequenciadas, com
representantes de quase todos os Estados brasileiros, distribuí-
dos nas cinco Regiões do País, tendo o importante apoio dos Ins-
titutos Federais em Fortaleza, São Paulo, Florianópolis, Manaus
e Brasília – sempre com disponibilidade e presteza na cessão de
suas instalações e profissionais.
A seleção dos trabalhos de conclusão de curso, apresen-
tada aqui, materializa uma capacitação voltada para projetos em
recursos hídricos no âmbito na gestão municipal – alcançando
inevitavelmente o objetivo pretendido.
Como todo projeto de longa duração, esse curso deixou
marcas para além das disciplinas técnicas. Foi um curso
transformador, não só pelo desafio técnico e pela dimensão
geográfica de nosso País, mas, sobretudo, pela existência de
um patrimônio cultural imenso, explicitado pelos diversos
municípios representados no curso. Com grande riqueza de
costumes, esse contato engrandeceu a todos nós, alunos,
professores e apoiadores – conjunto tão distinto e fragmentado
de ideologias, hábitos e expectativas – celebrando, nessa
união, a unidade desse grande país que somos.
A coleção foi dividida conforme os temas abordados ao
longo da especialização em seus módulos didáticos e nomeada
Projetos de Intervenção, o que ressalta o compromisso com a
ação prática e com a qualificação das iniciativas municipais, no
que se refere ao trato hídrico e ambiental.
Os esforços dos envolvidos no processo de concretização
desse curso de Especialização de Gestão em Recursos Hídricos
resultaram em dez livros.
Além deste Vol. 5 - Planejamento e gestão de recursos
hídricos, há outros nove, cujos títulos estão dispostos na
seguinte ordem:

Vol. 1 - Rede de distribuição e água subterrânea;


Vol. 2 - Planejamento ambiental;
Vol. 3 - Gestão ambiental municipal;
Vol. 4 - Educação ambiental e gestão de recursos hídricos;
Vol. 6 - Sistema de captação de água, hidrologia e drenagem;
Vol. 7 - Resíduos sólidos e proteção de mananciais hídricos;
Vol. 8 - Reuso de água;
Vol. 9 - Sistema de tratamento de água e esgoto doméstico;
Vol.10 - Sistema de tratamento de água.

Esperamos que os trabalhos aqui expostos possam satis-


fazer as expectativas do leitor e, aproveitando a oportunidade,
agradecemos a ANA por idealizar essa iniciativa e, assim, nos
permitir fazer parte dessa empreitada. Agradecemos especial-
mente aos colegas de todos os Institutos Federais que acredita-
ram no curso e o fizeram acontecer.
Obrigado, especialmente, a cada um de nossos alunos, re-
presentados ou não nessa coleção, pela paciência e dedicação,
tão exigidos ao longo desse longo período.
Análise ambiental da sub-bacia do rio
Marinheiro, no município de Sete Lagoas/
MG: contribuições ao planejamento
territorial E ambiental DA REGIÃO

Marlêde Ribeiro de Oliveira Andrade1


Prof. Dr. João Luís Sampaio Olímpio2

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo, propor a criação


da Unidade de Conservação Ambiental na categoria de Reserva Parti-
cular do Patrimônio Natural (RPPN) na microbacia rio Marinheiro no
município de Sete Lagoas/MG, de forma a considerar a qualidade hí-
drica, a dinâmica geomorfológica e destacar a beleza cênica da região,
bem como considerar a relevância do carste para a hidrologia local
e as potencialidades da dinâmica hídrica em ambientes cársticos. Ao
mesmo tempo, fomentar a conscientização ambiental e a importância
de medidas restritivas de ocupação urbana com o intuito de preservar
os aspectos naturais e manter a biótica. O procedimento metodoló-
gico empregado nesse estudo, foi baseado em análise de imagem de
satélite plêiades/2014 através de Sistema de Informação Geográfica,
levantamento bibliográfico e leitura da paisagem .Um dos pontos de
relevância nesse estudo, é destacar a caracterização da geomorfologia
cárstica onde se encontra a área selecionada e elucidar as peculiarida-
des que envolvem a hidrologia em rochas carbonáticas e nesse con-
texto, enfatizar a importância da preservação da caverna Buraco do
Medo, considerando que atribui valor maior à região como Unidade de
Conservação e destarte coíbe o adensamento urbano e possibilita uma
ocupação sustentável.
Palavras-chave: Unidade de Conservação, microbacia, carste, plane-
jamento urbano.

1 Graduada em Geografia e Educação Ambiental pelo Centro Universitário


UNIFEMM em Sete Lagoas/MG - E-mail: marledeand@gmail.com
2 Orientador, Prof. Dr. João Luís Sampaio Olímpio pelo Instituto Federal do
Ceará. E-mail: joao.olimpio@ifce.edu.br
INTRODUÇÃO
Indispensável para a vida humana e animal, a água além
de um elemento natural é também um recurso essencial ao de-
senvolvimento das sociedades, tendo em vista que é empregada
em diversos usos. Portanto, assegura a sobrevivência do homem,
dos ecossistemas e da economia dos grupos populacionais.
Ainda de acordo com a importância da água, vale ressal-
tar que nas últimas décadas o Brasil evoluiu consideravelmente
em relação a regulamentos hídricos, cita-se a formulação da Lei
9.433/1977, que institui o Sistema Nacional de Recursos Hídri-
cos (SINGREH), trazendo destarte uma leitura atualizada da
gestão das águas no contexto do território brasileiro em toda sua
extensão. Com a nova política dos recursos hídricos, criou-se
também os Comitês de Bacias Hidrográficas, que deu lugar a
participação popular nas decisões inerentes a temática, permitin-
do maior envolvimento da sociedade. Contudo, ainda percebe o
uso incorreto dos recursos hídricos, em confronto com os instru-
mentos de sua regulação, parte decorrente do reduzido número
de agentes no quadro das instituições fiscais e a deficiência de
infraestrutura, as limitações de recursos financeiros, os conflitos
de interesse e a própria insegurança jurídica.
O conceito de bacia hidrográfica1, em seu sentido maior,
tem o poder magno de abrigar as mais variadas ações direciona-
das para o planejamento regional, sejam elas urbanas e/ou rurais.
Nesse sentido, é oportuno aludir a importância de entender a
energia hídrica que ocorre nas bacias, considerando a composi-
ção das peculiaridades regionais, e a partir daí, estudar políticas

1 Bacia Hidrográfica é uma região de captação natural, que o es-


coamento superficial em qualquer ponto converge para um único
ponto, o exutório. Mantêm uma relação entre o meio ambiente e a
ocupação antrópica (CHRISTOFOLETTI, 1974).

10
de gerenciamento hídrico, ordenamento do solo e projeções de
ocupações, face as características ambientais do sistema hídrico
regional. Cita-se o caso dos terrenos cársticos, que devido ao
seu alto grau de permeabilidade permitem um volume maior de
infiltração de água no subsolo. Destaca-se que desde os primór-
dios, as cavernas serviam de abrigo e assentamento humano em
razão da disponibilidade de recursos em seu entorno, principal-
mente da água. (TRAVASSOS, 2007).
Nesta percepção, a criação de Unidades de Conservação
(UC) envolvendo a dinâmica hídrica regional é considerada uma
possibilidade relevante de preservar o bem natural e promover
o envolvimento da comunidade local em programas e políticas
de conservação dos recursos naturais, bem como elencar outros
aspectos de interesse ambiental que propiciam a sustentabilida-
de regional e a garantia de melhor qualidade de vida para as
cidades, considerando o sistema urbano e rural.
De acordo com a CECAV1(2015), o Brasil possui várias
regiões sujeitas a ocorrências cársticas, sendo que existem apro-
ximadamente dez mil cavernas, das quais apenas 10% possuem
registro geoespacial. Não obstante, nesse universo, algumas po-
dem não ter sido cadastradas em conformidade com o espaço de
origem realmente identificado. Dentre os fatos indutores desses
problemas, menciona-se a precariedade dos suprimentos para os
levantamentos e a não sistematização dos dados.
Sob a ótica do desenvolvimento sustentável, a Lei
10.2157/2001, conhecida como Estatuto da Cidade, tem por ob-
jetivo promover a qualidade ambiental urbana e o uso sustentá-
vel dos recursos naturais através do controle por meio de regu-
lamentos e normas jurídicas, de modo a garantir e proporcionar

1 CECAV- Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Cavernas.

11
equidade no uso e ocupação do solo em ambientes urbanos e
rurais. (BRASIL, 2001)
Sobre esses conflitos está a sub-bacia do córrego do Mari-
nheiro, de modo que este sistema natural apresenta peculiarida-
des que determinam um olhar diferenciado para o planejamento
e ocupação de sua área. O foco da região em questão consiste nas
peculiaridades existentes, considerando a beleza cênica, assim
como a importância dos aspectos físicos existentes, a exemplo
do maciço cárstico, a lagoa Baiana e do próprio rio Marinhei-
ro, os quais contribuem para a dinâmica diferenciada da região.
Esta situação converge para o planejamento ambiental, de modo
a evitar ocupações desarticuladas com as particularidades regio-
nais, oferecer contribuições para o desenvolvimento sustentável.
Fortalece então, a gestão territorial face às peculiaridades regio-
nais das bacias hidrográficas.

PROBLEMA
O processo de urbanização quando não planejado e gerido
pelos instrumentos de regulação pode comprometer os ecossis-
temas naturais, provocando desequilíbrios ambientais diversos,
como por exemplo a perda de biodiversidade, o desconforto tér-
mico e desordem das cidades.
A crescente demanda pela utilização dos bens naturais e
o intenso desenvolvimento econômico propulsou o movimento
mundial pela defesa do meio ambiente, com intuito de evitar a
devastação descontrolada e a escassez de seus bens. De modo,
que acarretaria em dificuldades para manutenção das condições
essenciais à vida. Este impasse ainda se faz presente até os dias
atuais e, como bem pondera Orci Paulino Bretanha Teixeira
(2006):

12
[...] o desafio da humanidade é conciliar o desenvolvi-
mento com a proteção e a preservação ambiental, para
não inviabilizar a qualidade de vida das futuras gera-
ções, da coletividade e o exercício de propriedade sobre
os bens ambientais (TEIXEIRA, 2006, p. 21).

Com vista a propiciar a conservação e a preservação da


microbacia do rio Marinheiro e o complexo cárstico do entorno,
este estudo tem como foco propor um ordenamento individuali-
zado para essa região. A área está situada no município de Sete
Lagoas, estado de Minas Gerais. A partir das restrições urbanas
de uma Unidade de Conservação (UC), o avanço imobiliário po-
derá ser controlado de forma sustentável e fortalecerá as ações
voltadas a relevância da dinâmica hídrica e a preservação da ca-
vidade Buraco do Medo. Com efeito, existe uma pressão imobi-
liária próxima à área em estudo, conforme mostra a figura 1, daí
a importância de criar medidas restritivas de ocupação.
Figura 1 - Delimitação do município de Sete Lagoas e Prudente de
Morais, MG

Fonte: EMBRAPA - Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo.

13
JUSTIFICATIVA
As intervenções humanas ocorridas ao longo do tempo,
trouxeram impactos negativos, sendo que em sua maioria, o
aumento da população e a demanda por serviços muito contri-
buíram para degradação dos recursos hídricos. Sabe-se que o
recurso hídrico é um bem finito e que todas as ações para a sua
preservação devem ser contempladas com a devida relevância e
urgência.
Ressaltando a valoração do acervo espeleológico e das di-
retrizes impostas pelo Estatuto da Cidade (Lei n° 10.257, de ju-
lho de 2001), este projeto vem propor a criação de uma Área de
Proteção Ambiental (APA), para a microbacia do rio Marinheiro
e do maciço Buraco do Medo. Estes locais têm como destaque
um rico patrimônio natural, ressaltado pelas condições geomor-
fológicas que evidenciam a conservação das formas cársticas,
como a ressurgência e sumidouro, presentes no maciço cárstico.
O objeto de tutela do Código Florestal (Lei n° 12.651,
de 25 de maio de 2012 e alterações posteriores) são as florestas
existentes no território nacional e as demais formas de vegeta-
ção, reconhecidas de utilidade às terras que revestem. A neces-
sidade de protegê-las adveio após constatar sua crescente degra-
dação, bem como dos impactos gerados como consequência. A
existência das florestas não passa à margem do direito e nem se
circunscreve exclusivamente aos interesses de seus proprietários
diretos. “[...] O interesse comum na existência e no uso adequa-
do das florestas está ligado, com forte vínculo, à função social e
ambiental da propriedade” (MACHADO, 2005, p. 718).
O território do município de Sete Lagoas/MG encontra-se
assentado em terrenos cársticos, que se caracterizam por rochas
carbonáticas e pela elevada fragilidade geológica, que devido a

14
explotação hídrica não controlada poderá ocasionar os Colap-
sos, além disso, a microbacia do rio Marinheiro uma paisagem
bastante expressiva de veredas e em alguns pontos ocorrem res-
quícios de mata atlântica e a vegetação do cerrado.

METODOLOGIA
A pesquisa foi realizada em três etapas. Na primeira foi
realizado um levantamento bibliográfico a partir de publicações
em livros e artigos científicos relacionados à temática da pes-
quisa. Em seguida, ocorreu o trabalho de campo com o objetivo
de dimensionar a área em estudo, observar aspectos importantes
que contribuam para o diagnóstico, coletar dados para a caracte-
rização ambiental, bem como para realizar registros fotográficos
das formações e das peculiaridades existentes. Para propiciar a
leitura dos aspectos físicos e ambiental, também foram elabora-
dos mapas da dinâmica hídrica e de localização dos elementos
de destaque da região, assim como delimitação da microbacia do
rio Marinheiro e da lagoa da Baiana, alvos de destaque no con-
texto hidrológico da área em estudo. Para construção do acervo
cartográfico, foram utilizados Sistemas de Informação Geográ-
fica (SIG), uma imagem de satélite plêiades do ano de 2013 e
fotografias da área de estudo.

RESULTADOS
REFERENCIAL TEÓRICO
Segundo Tabarelli Et al (2005), as constantes fragmenta-
ções da vegetação têm impactado negativamente a biodiversi-
dade. Como exemplo, cita-se o bioma Mata Atlântica que se en-
contra altamente comprometido, devido a descontinuidade entre
os remanescentes florestais. Os efeitos gerados são relevantes

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e alguns irreversíveis, podendo, inclusive, induzir a extinção
de espécies animais e vegetais e comprometer todo sistema de
equilíbrio do bioma.
Salienta-se que a ausência de planejamento urbano e po-
líticas preservacionistas no intuito de coibir as ocupações ina-
dequadas, tendem a comprometer a supressão de elementos
naturais. A análise e leitura da paisagem proporcionam o conhe-
cimento de mecanismos que favorecem o planejamento e o zo-
neamento do uso e ocupação do solo, de modo a minimizar os
impactos negativos nos ecossistemas. Deste modo, é possível
permitir o uso sustentável dos recursos naturais, de acordo com
as especificidades locais.
As pesquisas e análises ambientais são importantes ins-
trumentos que auxiliam as ações que buscam evitar a desordem
da ocupação, bem como possibilitam uma visão abrangente que
levem a promover a conservação dos recursos naturais, o orde-
namento sustentável. Os diagnósticos ambientais se configuram
em análises dos diversos aspectos físicos e bióticos regionais. A
construção deste acervo documental vem nortear as pesquisas
e projetos relacionados ao ordenamento territorial, de modo a
evitar colapsos em áreas de fragilidade ambiental.
Para a caracterização ambiental, o uso da geotecnologia,
tem proporcionado um grande avanço, pois permite gerar infor-
mações de forma sistêmica e eficiente, oferecendo uma dinami-
zação na leitura da paisagem. Estes instrumentos possibilitam
analises espaciais mais eficientes e, no caso deste estudo, gerar
resultados que permitem avaliar situações de eminência de frag-
mentação por meio de simulações e equiparação de cenários.

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Importância das Unidades de Conservação
O Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC)
foi criado pela Lei n° 9.985, de 18 de junho de 2000, onde foram
estabelecidos os critérios de criação, implementação e gestão
das unidades de conservação (UC) federais, estaduais e muni-
cipais. O SNUC definiu 12 categorias de UCs, cujos objetivos
específicos se diferenciam quanto à forma de proteção e usos
permitidos: aquelas que precisam de maiores cuidados, pela sua
fragilidade e particularidades, e aquelas que podem ser utiliza-
das de forma sustentável e conservadas ao mesmo tempo. Os
objetivos de sua criação estão fundamentados no artigo 4º:

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológi-


ca e dos recursos genéticos no território nacional e nas
águas jurisdicionais;
II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbi-
to regional e nacional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da di-
versidade de ecossistemas naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir
dos recursos naturais; V - promover a utilização dos
princípios e práticas de conservação da natureza no pro-
cesso de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de no-
tável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza
geológica, geomorfológica, espeleológica, arqueológi-
ca, paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

17
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de
pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade
biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e in-
terpretação ambiental, a recreação em contato com a na-
tureza e o turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsis-
tência de populações tradicionais, respeitando e valori-
zando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as
social e economicamente (BRASIL, 2000).

Nas Unidades de Conservação, o principal objetivo é


ajustar a utilização dos espaços naturais com a sustentabilidade
do uso humano. No capítulo III da Lei 9.985 de 18/07/2000,
foram definidas as categorias de Unidades de Conservação, que
dividem-se em dois grupos, Unidades de Proteção Integral e
Unidades de Uso sustentável.
O Decreto 5.746,de 5 de abril de 2006 em seu artigo 1o 
elucida:

A Reserva Particular do Patrimônio Natural - RPPN é


unidade de conservação de domínio privado, com o ob-
jetivo de conservar a diversidade biológica, gravada com
perpetuidade, por intermédio de Termo de Compromis-
so averbado à margem da inscrição no Registro Público
de Imóveis. Art. 2oAs RPPNs poderão ser criadas pelos
órgãos integrantes do Sistema Nacional de Unidades de
Conservação da Natureza - SNUC, sendo que, no âmbi-
to federal, serão declaradas instituídas mediante portaria
do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (BRASIL, 2006).       

18
É certo que a regulamentação das unidades de conserva-
ção não resolve por completo os problemas ambientais, mas a
identificação de tais sistemas ambientais, por si, já cria mecanis-
mos facilitadores para a mudança de cultura e identidade com o
local. A garantia que os ecossistemas presentes em unidades de
conservação tenham um amparo legal e restrições de uso é con-
siderado como um avanço para a sustentabilidade dos biomas.
De acordo com o CNUC/MMA(2012), o Brasil possui
294 áreas de proteção ambiental no país, sendo 32 na esfera
federal (Tabela 1). Estas áreas protegidas são relevantes, pois
além de preservar o ecossistema natural, regula o uso admissível
eleva oportunidade de acesso ao lazer e a cultura, como exem-
plos, o Parque Ibirapuera, na cidade de São Paulo/SP,o Jardim
Botânico, no Rio de Janeiro/RJ, o Parque Municipal em Belo
Horizonte/MG e em Fortaleza tem-se o Parque do rio Cocó.
Todas as unidades de conservação desempenham um papel de
fundamental importância para o meio ambiente, que de forma
sustentável concilia a preservação com limitações e uso restrito
de interferência antrópica.
No município de Sete Lagoas, conforme a planta cadas-
tral e o zoneamento urbano do município, existem três Unidades
de Conservação, são elas: a APA Santa Helena, a APA Ribeirão
do Paiol, (sendo esta, a única com zoneamento ambiental) e a
APA Lagoa Grande. Vale ressaltar que nenhuma delas recebe
incentivo de ICMS Ecológico1.
Ressalta-se que ampliar as unidades de conservação é
uma das medidas para garantir o conforto ambiental e gerar qua-

1 ICMS ECOLÓGICO: Lei n 1.530 de 22 de janeiro de 2004, queinstitui o


ICMS verde, destinando cinco por cento da arrecadação deste tributo para
os municípios com que possuem Unidades de Conservação Ambiental.
Fonte: ICMS Ecológico.org.br.

19
lidade de vida para as atuais e futuras gerações. Desta forma, o
envolvimento da sociedade organizada em ações pedagógicas
que envolvam a conscientização ambiental é fundamental para
alcançar uma cidade mais sustentável.
Envolver a comunidade em momentos de discussões é
essencial, sobretudo quando na busca pelo entendimento da im-
portância de se preservar os aspectos naturais e elevar a qualida-
de de vida no entorno de ambientes que possuem tal titularidade.
Além disso, as UCs propiciam um conhecimento mais aprofun-
dado do local onde vive, através da divulgação dos estudos am-
bientais realizados.
Salienta-se que somente a criação e regulamentação das
unidades de conservação em sua essência não cumprem sua
função, caso se a estes instrumentos deixarem de ser incorpo-
radasações de fiscalização contínua, com intuito de defender a
titularidade e manter as diretrizes e restrições de ordenamento.

Peculiaridades dos Terrenos Cársticos


O relevo cárstico está diretamente relacionado às rochas
carbonáticas, que predominam os minerais carbonatos, como
aragonita, dolomita e a calcita. Tais rochas normalmente são de
origem sedimentar, como os calcários, mas podem ser tanto me-
tafórmicas (mármore),como ígneas (carbonatitos).
As cavernas destacam-se no mundo, por sua importância
como significativos celeiros naturais e culturais de registros pa-
leontológicos, paleoambientais, arqueológicos e antropológicos.
Ressalta-se a grande relevância para a humanidade dos achados
científicos feitos em várias cavernas. Na seara da arqueologia, o
ancestral brasileiro mais antigo conhecido, “Luzia”, que é tam-
bém um dos esqueletos mais antigo das Américas, foi descober-

20
to numa caverna no Brasil, no carste da Lagoa Santa/MG (PILÓ;
AULER, 2010).
Os estudos sobre a vida cavernícola (bioespeleologia)
têm evoluído bastante, desvendando a relevância da fauna nos
ecossistemas subterrâneos, com destaque para os insetos, arac-
nídeos, diplópodes, crustáceos e morcegos. Os ecossistemas
subterrâneos são altamente vulneráveis as alterações ambien-
tais, em virtude do elevado grau de endemismo de muito de seus
componentes (como os troglóbios). Em geral, são pouco toleran-
tes a fatores de estresse (como alteração de habitat, flutuações
ambientais não naturais, poluição, eutrofização), da dependência
de nutrientes importados do meio epígeo (externo), e do fato das
populações serem frequentemente pequenas e com baixa capaci-
dade de recuperação, como consequência de suas estratégias de
ciclo de vida. (TRAJANO; BICHUETTE, 2006)
No aspecto ecológico, os ambientes cavernícolas abri-
gam ecossistemas e seres vivos com singular diversidade. Exis-
temda superfície até o interior de uma caverna, uma sucessão de
habitats subterrâneos que se apresentam com configurações e
espécies diferentes. A fauna cavernícola é comumente classifica-
da em espécies que se enquadram em três grupos: Troglóxenos
- são organismos que precisam sair das cavernas para completar
seu ciclo de vida, geralmente habitam próximo à zona de en-
trada das cavidades subterrâneas, como é o caso dos morcegos;
Troglófilos - são seres capazes de completar todo o seu ciclo de
vida nas cavernas; e Troglóbios - são organismos que tem todo
o seu ciclo de vida restrito ao interior das cavernas, habitando as
zonas afóticas (sem luz) das cavidades, apresentando caracterís-
ticas como despigmentação, ausência de olhos e alongamento
dos apêndices sensoriais (ICMBio, 2010).

21
Com relação ao relevo, ocarste é caracterizado por uma
série de formações na paisagem que são classificadas endocarste
e exocarste. A primeira é composta pelas formações subterrâ-
neas, ou seja, aquelas que ocorrem dentro dos espaços caverní-
colas e o exocarste é resultado das formações ocorridas na su-
perfície externa (Figura 2) (CHRISTOFOLETTI, 1980).

Figura 2–Principais feições Exocártiscas

Fonte: Geomorfologia Cárstica do Professor Francisco Sérgio B. Ladeira –


Unicamp. Disponível em: <http://www.sobregeologia.com/2017/09/espeleo-
logia-relevo-carstico-e.html>. Acessado em: 08 de jun. de 2018.

Em relação ao Decreto Nº 99.556/1990 que dispõe sobre a


proteção das cavidades naturais subterrâneas no território nacio-
nal, destaca-se a alteração pelo Decreto Federal Nº 6.640/2008.

Art. 1° As cavidades naturais subterrâneas existentes


no território nacional constituem patrimônio cultural
brasileiro, e, como tal, serão preservadas e conservadas
de modo a permitir estudos e pesquisas de ordem téc-
nico-científica, bem como atividades de cunho espeleo-
lógico, étnico-cultural, turístico, recreativo e educativo.
(BRASIL, 1990).

22
A Resolução CONAMA Nº 347/04 apresenta em seu con-
texto a importância das cavidades naturais subterrâneas para a
sustentabilidade ambiental:

O inciso II, do art. 2º da resolução, são relevantes as


cavidades naturais subterrâneas que apresentem signifi-
cativos atributos ecológicos, ambientais, cênicos, cien-
tíficos, culturais ou socioeconômicos, no contexto local
ou regional

De acordo a Cecav (2017), no território de Sete Lagoas/


MG, foram catalogadas 39 cavidades naturais, sendo que as
ocorrências encontram-se próximas ao entorno da área urbana
(Figura 3). Tal fato explica os abatimentos do terreno ocorridos
na cidade, uma vez que os condutos subterrâneos propiciam es-
tes eventos geológicos. Um destes episódios ocorreu em 04 de
março de 1988 no cruzamento das ruas Tupiniquins com Nestor
Fóscolo, no bairro Santa Luzia, região central da cidade. Ocor-
reu um colapso1 de aproximadamente 22 metros de diâmetro,
que foi controlado com obra civil de contenção.
Outro evento ocorreu em meados de 2007, na área central
do município, especificamente na rua Dr. Chassim com a Ave-
nida Renato Azeredo. Foram produzidos vários impactos nas
residências instaladas nas mediações, como rebaixamento do
terreno e trincas nas edificações, o que gerou grande preocupa-
ção por parte do poder público e dos moradores da região, tanto
pelo comprometimento da segurança e estabilidade do imóvel,
quanto pela possibilidade de rompimento dos emissários de es-
gotos que poderiam contaminar as águas subterrâneas. (SAAE,

1 Colapso - Abatimento no solo. Ocorre geralmente por consequência de


sobrecarga em regiões calcárias.

23
2008). Na figura 4 estão localizados os pontos de ocorrência de
abatimento do terreno (pontos em vermelho).
Essas ponderações levam a conscientização a respeito
de ocupações em solos cársticos e explotação hídrica subterrâ-
nea sem o devido controle. A consolidação da estruturação urba-
na através de políticas de planejamento e zoneamentos traz um
viés de aproveitamento das potencialidades e melhoramento de
uso do solo, de modo a garantir a ocupação sustentável.
Figura 4 - Mapa de abatimento no solo no município de Sete Lagoas/MG

Fonte: Estudo Hidrogeológico-Serviço Autônomo de Água e Esgoto de Sete


Lagoas/MG

24
A relevância dos Zoneamentos e contribuições à sustentabilidade
A qualidade da vida depende de intervenções no tecido
urbano através de políticas públicas direcionadas para uma ges-
tão equacionada. Para tanto, é interessante a adoção das bacias
hidrográficas como unidades de planejamento por considerá-las
um sistema natural definido e devido à facilidade de caracteriza-
ção e avaliação dos impactos ambientais.
O Decreto nº 4.297, de 10 de julho de 2002, denomina de
Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE):

Instrumento de organização do território a ser obriga-


toriamente seguido na implantação de planos, obras e
atividades públicas e privadas, estabelece medidas e
padrões de proteção ambiental destinados a assegurar a
qualidade ambiental, dos recursos hídricos e do solo e a
conservação da biodiversidade, garantindo o desenvol-
vimento sustentável e a melhoria das condições de vida
da população.

O objetivo do Zoneamento Ecológico Econômico é inte-


grar as disposições dos agentes públicos e privados às ações ine-
rentes aos planos, programas e projetos que envolvam uso dos
recursos naturais, de modo a assegurar a integridade do capital
dos serviços ambientais.
É de extrema importância para o procedimento de plane-
jamento, a elaboração e efetiva aplicação pelo Plano Diretor1de
cada município, do instrumento de zoneamento, cujo principal
objetivo é a delimitação de áreas e definição de usos, observan-
do as características e necessidades de cada lugar. Assim, tem o

1 Plano Diretor - Instrumento básico para orientar a política de de-


senvolvimento e de ordenamento da expansão urbana do municí-
pio. Estatuto das Cidades (Lei Federal 10.257/2001).

25
intuito de garantir o pleno desenvolvimento social e ambiental
das cidades.
O Plano Diretor tem como objetivo geral promover a
ordenação dos espaços habitáveis do Município e sistematizar o
desenvolvimento físico, econômico e social do território local,
visando sempre o bem-estar da comunidade. Possui também a
função de dispor sobre as vias, o zoneamento e os espaços ver-
des, dando-lhes as diretrizes (SANTANA, 2006).
Em se tratando de planejamento ambiental é impor-
tante salientar que os territórios geográficos são sobre espaços
distintos, dotados de particularidades físicas, socioeconômica,
culturais singulares. Cita-se sobretudo as escalas temporais que
neste contexto são fundamentais para proposição de organização
ambiental e territorial e possibilitam medir o aporte regional e
definir medidas restritivas de ordenamento territorial à luz do
instrumento Estatuto da Cidade.. A figura 5 mostra a delimitação
proposta para a microbacia a ser regulamentada como Unidade
de Conservação Ambiental.
Figura 5 - Delimitação da microbacia em estudo.

Fonte: EMBRAPA CNPMS- Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo.

26
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo como princípio que a água é elemento básico
para a sobrevivência, e a ela encontra-se agregados valores de
seu uso e aplicação, é importante enfatizar a escassez hídrica
e os impactos negativos dela decorrente, que leva ao entendi-
mento da dinâmica hídrica, do adensamento urbano, das ações
e instrumentos normativos como intervenções necessárias e po-
sitivas, que vem possibilitar o gerenciamento da territorialidade
da área de estudo e de seus potenciais naturais. O direito ao meio
ambiente e seus benefícios para a coletividade, com garantia de
equilíbrio entre a ocupação urbana, o desenvolvimento social e a
sustentabilidade ambiental, levam criar mecanismos que propi-
ciem a sustentabilidade ambiental e integridade da vida em seu
sentido integral.
A relação do comportamento hídrico e o carste na área
de estudo são proeminentes para a criação da Reserva Particular
do Patrimônio Natural (RPPN) do rio Marinheiro e fundamental
a sustentabilidade ambiental para a região, que amparada aos
regulamentos jurídicos da lei 6.902/81, trará um ganho de valor
considerável para o município contribuindo de modo amplo no
controle da ocupação desordenada na região em tela.
A regulamentação da Reserva Particular do Patrimônio
Natural (RPPN) do rio Marinheiro e o complexo da caverna Bu-
raco do Medo, tem o intuito de manter a qualidade de vida re-
gional e conduzir a sociedade a desenvolver reflexões a respeito
do patrimônio natural e suas diversidades, dos valores e riquezas
cênicas agregam benefícios imensuráveis para a geração atual e
futura.
A conceituação de sustentabilidade ambiental em seu
sentido maior, converge para a integração de políticas públicas
e estratégicas de desenvolvimento em que os recursos naturais

27
sejam contemplados na integridade de seus valores e relevância
para a conservação e preservação da vida numa amplitude rele-
vante para a sociedade, de modo a garantir o acesso aos recursos
básicos para a vida e nesta ótica a água se apresenta como ele-
mento impar para a sobrevivência das espécies num significado
global e proeminente.
A criação da Reserva Particular do Patrimônio Natural
(RPPN), permite além de consolidar a importância ambiental
da região elucidada nesse projeto, promover o conhecimento
da área de abrangência, promover a conscientização da valora-
ção dos recursos hídricos enfatizada pela dinâmica do carste e a
peculiaridade das águas subterrâneas para o município de Sete
Lagoas, que se encontra assentado sobre rochas carbonáticas,
que concedem uma leitura diferenciada da explotação hídrica
e as conseqüências para as futuras gerações em decorrência da
gestão dos recursos naturais.
Considerando que a área em estudo se encontra assen-
tada em rochas carbonáticas é relevante destacar que o plane-
jamento das ocupações e estudos relacionados à dinâmica das
águas subterrâneas sejam contemplados de forma sistemática
com o intuito de evitar colapsos e acidentes geotécnicos que ve-
nham comprometer o abastecimento hídrico e o desequilíbrio
ecológico envolvendo além da redução da possibilidade de re-
carga hídrica, como também a impactação negativa no entorno
do maciço Buraco do Medo e a outras ocorrências cavernícolas
existentes no município, que podem estar correlacionadas ao flu-
xo subterrâneo.

28
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS. Secretaria Nacional de Recursos
Hídricos. O estado das águas no Brasil. 2002-2002. Brasília: ANA, 2002.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília,


DF: Senado, 1988.

BRASIL. Lei 10.257, de 10 de julho de 2001. Estatuto da Cidade. Brasília,


DF: Senado, 2001.BRASIL. Decreto 24.643, de 10 de julho de 1934.
Código das Águas. Brasília, DF: Senado, 1934.

BRASIL. Lei Federal Nº 9.985, de 18 de julho de 2000. Regulamenta o


art. 225, § 1o, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal, institui
o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza e dá
outras providências.

BRASIL 2000. Lei Federal Nº 9.985 de 18/07/2000. Regulamenta o ar-


tigo 225 da Constituição Federal e institui o Sistema Nacional de Uni-
dades de Conservação e das outras providências.

BRASIL 2000. Decreto Federal Nº 99.556 de 01/10/1990. Dispõe sobre a


proteção das cavidades naturais subterrâneas existentes no território
nacional, e dá outras providências.

CHRISTOFOLETTI, Antonio. Geomorfologia Fluvial. 1. ed. v. 1. São


Paulo: Edgard Blücher, 1974.

ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade /


CECAV – Centro Nacional de Estudo, Proteção e Manejo de Cavernas.
II Curso de Espeleologia e Licenciamento Ambiental. Minas Gerais,
2010.

MACHADO, Paulo Affonso Leme. Estudos de Direito Ambiental. São


Paulo: Malheiros, 1994.

MINAS GERAIS. Decreto Estadual nº. 39.692, de 29 de junho de 1998.


Institui o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio das Velhas. Diário do
Executivo – “Minas Gerais”, 30 de junho de 1998.

29
PILÓ, L. B.; AULER, A. Introdução à Espeleologia. In: CECAV. II
Curso de Espeleologia e Licenciamento Ambiental. Brasília: CECAV/
Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, 2010.

SNUC - Sistema Nacional de Unidades de Conservação; Lei 9.985 de 18


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Tabarelli, M., Siqueira Filho, J.A. & Santos, A.M.M. 2005b. A flores-
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Tabarelli, M. (orgs). Diversidade biológica e conservação da floresta
Atlântica ao norte do Rio São Francisco. Ministério do Meio Ambiente,
Coleção Biodiversidade nº 14, Brasília. No prelo.

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gicamente equilibrado como direito fundamental. Porto Alegre: Livra-
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relação à plantas e animais, 1500-1800. São Paulo: Companhia das Le-
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truir a democracia e a participação. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

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15/05/2018

http://www.icmbio.gov.br/cecav/projetos-e-atividades/inventario-anual-
-do-patrimonio-espeleologico-brasileiro.html. Acesso em 14/04/2018.

30
CAPACITAÇÃO SOBRE GESTÃO
DOS RECURSOS HÍDRICOS PARA
PRODUTORES RURAIS NA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO FORMOSO
NO ESTADO TOCANTINS

Maria Gorete dos Santos Cordeiro1


Antonio Carlito Bezerra dos Santos2

RESUMO: O relatório mundial das nações unidas sobre desenvolvi-


mento dos recursos hídricos afirma que metade da força do trabalho
mundial está empregada em oito setores dependentes de recursos hí-
dricos, como: agricultura, silvicultura, pesca, energia, manufatura com
uso intensivo de recursos, reciclagem, construção e transporte. Nesse
sentido, o presente trabalho tem como objetivo promover momentos
de capacitações para produtores rurais da bacia hidrográfica do Rio
Formoso no Estado Tocantins sobre a Gestão dos Recursos Hídricos e
os conflitos relacionados pelo uso das águas. E para o desenvolvimento
de um projeto deste porte será adotada uma abordagem quantitativa
e descritiva, por meio de coleta de dados na área de estudo, toman-
do como referências experiências nacionais e internacionais. Usando
como método: Revisões bibliográficas, Realização de entrevistas jun-
to aos segmentos que compõem o Comitê de Bacias Hidrográficas,
Capacitações, Seminários, Oficinas, Palestras e Análise dos Dados.
Concluir-se-á que somente por meio de capacitações, sensibilização,
conscientização, que os usuários da bacia hidrográfica do Rio Formoso
terão uma visão mais plausível do que é uma gestão descentralizada e
participativa.
Palavras-chave: Conflitos hídricos; Produtores Rurais; Rio Formoso.

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos - IFCE – E-mail: goreht@gmail.com
2 Professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Re-
gional do Cariri - URCA, Crato, Ceará – E-mail: carlito.santos@urca.br
INTRODUÇÃO
A água é um componente essencial à vida, contribuin-
do, na maioria das vezes, para o desenvolvimento econômico
de uma região, assim como, criando e mantendo empregos em
vários setores produtivos. Nesse sentido, o relatório mundial das
nações unidas sobre desenvolvimento dos recursos hídricos afir-
ma que metade da força de trabalho mundial está empregada em
oito setores dependentes de recursos hídricos, como: agricultu-
ra, silvicultura, pesca, energia, manufatura com uso intensivo de
recursos, reciclagem, construção e transporte (UNESCO, 2016).
Desse modo, a gestão sustentável dos recursos hídricos, a
infraestrutura hídrica e o acesso ao abastecimento seguro, bem
como serviços adequados de saneamento, melhoram os padrões
de vida, expandem as economias locais e levam à criação de em-
pregos mais dignos e à maior inclusão social (UNESCO, 2016).
No Brasil, a lei nº 9.433/97 que institui a Política Nacio-
nal de Recursos Hídricos – PNRH deu maior abrangência ao Có-
digo de Águas de 1934, que centralizava as decisões sobre ges-
tão de recursos hídricos no setor elétrico. Ao estabelecer como
fundamento, o respeito dos usos múltiplos e como prioridade, o
abastecimento humano e a dessedentação animal - em casos de
escassez, a Lei das Águas deu, com isso, outro passo importante,
tornando a gestão dos recursos hídricos democráticos e descen-
tralizados (BRASIL, 1997).
Já no estado de Tocantins, a Política Estadual de Recursos
Hídricos - PERH instituída pela Lei 1.307/2002 traz como fer-
ramenta fundamental o Sistema Estadual de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, dentre essas, estão os Comitês de Bacias Hi-
drográficas, criados por atos do chefe do poder executivo, com
as atribuições normativas, deliberativas e consultivas (TOCAN-
TINS, 2002).

32
Neste sentido, conscientizar e sensibilizar os usuários que
se utilizam dos recursos hídricos da Bacia do Rio Formoso em
Tocantins está sendo um grande desafio, principalmente nos pe-
ríodos de escassez hídricas. neste modo, se faz necessário educar
os agricultores para que os mesmos solicitam a outorga confor-
me a sua demanda junto ao órgão fiscalizador (TOCANTINS,
2002).

JUSTIFICATIVA
A Bacia Hidrográfica do Rio Formoso abrange uma área
com 21 municípios, sendo três no Estado de Goiás e 18 no Esta-
do de Tocantins, onde as maiores concentrações de perímetro de
irrigação estão nos municípios de Formoso do Araguaia, Dueré
e Lagoa da Confusão (PBHRF, 2007).
Diante da crise hídrica na bacia hidrográfica do Rio For-
moso que é base do Projeto de Irrigação Formoso no sudoeste
do estado, a Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
- SEMARH, juntamente com o comitê de Bacia Hidrográfica
-CBHRF e Instituto Natureza do Tocantins – NATURATINS,
vem trabalhando no sentido de orientar os agricultores a cumprir
o calendário agrícola, como também, a instalação dos hidrôme-
tros (PBHRF, 2007). Essa crise tem culminado no esvaziamento
do canal de vários rios, como o Urubu, Xavante e Dueré que são
os principais afluentes do rio formoso.
Nesse sentido, a educação ambiental poderá contribuir
com minimizar esses conflitos. Ela é um processo, por meio do
qual, os indivíduos constroem valores sociais, conhecimentos,
habilidades, atitudes e competências voltadas para a conserva-
ção do meio ambiente (BRASIL, 1999).
Desse modo, diante da relevância em relação aos usos
da água e considerando que, sua distribuição desigual e seu uso

33
inadequado comprometem a garantia da mesma, os comitês sur-
gem então como um organismo fundamental para reverter esse
quadro, ao permitir que diferentes interesses representados no
fórum dos Comitês de Bacias possam construir soluções coleti-
vas para o uso eficiente da água juntamente com os produtores
rurais (PBHRF, 2007).

OBJETIVO
Promover capacitações para produtores rurais da bacia hi-
drográfica do Rio Formoso no Estado Tocantins sobre a Gestão
dos Recursos Hídricos e os conflitos relacionados pelo uso das
águas.

METODOLOGIA
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
A bacia do rio Formoso pertence à Região Hidrográfica
do Araguaia-Tocantins e apresenta uma área de drenagem de
21.328,57 Km², cerca de 7% da área total do Estado do Tocan-
tins e 5,6% da bacia do rio Araguaia. Situa-se na região sudoeste
do Estado (PBHRF, 2007).
Segundo o Plano da Bacia Hidrográfica do Rio Formoso
(PBHRF, 2007), a bacia abrange parte do território de 21 muni-
cípios, dos quais sete têm suas sedes municipais nela inseridas,
sendo três municípios pertencentes ao Estado de Goiás (Poran-
gatu, Novo Planalto e São Miguel do Araguaia). A participação
goiana na área da bacia foi desconsiderada por ser muito peque-
na (menos de 3%). Assim sendo, a bacia do rio Formoso está de
total domínio no Estado de Tocantins (Figura 1).

34
FIGURA 01: Mapa da bacia hidrográfica do Rio Formoso no estado
de Tocantins.

Fonte: SEPLAN, 2012.

A bacia atendia uma população de 157.232 mil habitantes


em 2010. Entretanto, essa área vem crescendo economicamente,
devido o desenvolvimento no setor agrícola. Segundo estimativa
do censo 2017, a população dos municípios que fazem parte da
Bacia Hidrográfica do Rio Formoso, totalizava um contingente
de 188.465 mil habitantes nos 18 municípios de domínio do Es-
tado do Tocantins (IBGE, 2017).

35
Coleta de dados

Para o desenvolvimento de um projeto de intervenção na


bacia hidrográfica do Rio Formoso será adotada uma abordagem
quantitativa e descritiva, por meio de coleta de dados na área
de estudo, tomando como referências experiências nacionais e
internacionais.
Para um melhor alcance dos resultados serão realizadas
pesquisas a partir das atividades descritas a seguir: Revisões
bibliográficas, Realização de entrevistas junto aos segmentos
que compõem o Comitê de Bacias Hidrográficas, Aplicações
de questionários junto a Sociedade Civil Organizada, Capacita-
ções, Seminários, Oficinas, Palestras, Análises da implantação
do Comitê de Bacia Hidrográfica do rio Formoso e Compilação
e análise dos dados.
• Revisões bibliográficas:
Esta revisão é fundamental como condição básica para
uma melhor consecução do projeto. Portanto, serão consultadas
fontes de pesquisa secundárias (políticas, livros, revistas mono-
grafias, dissertações, teses, artigos, entre outras) que tratam da
temática da Educação para Gestão de Recursos Hídricos; Comi-
tês de Bacias Hidrográficas e também outras fontes que conte-
nham informações sobre os potenciais conflitos em uma região
de unidade de planejamento (bacia hidrográfica).
• Realização de entrevistas junto aos segmentos que com-
põem o Comitê de Bacias Hidrográficas:
As fontes primárias terão também um papel relevante
para se conhecer a realidade da sociedade que tem sofrido com
a crise hídrica no Estado do Tocantins. Assim, serão realizadas
entrevistas semi-estruturadas com perguntas abertas junto aos
segmentos que compõem o comitê. Com estas informações,

36
criar-se-á um banco de dados sobre o processo da participação
dos segmentos no comitê de bacia hidrográfica, em especial os
usuários de água.
• Aplicações de questionários junto a Sociedade Civil Or-
ganizada:
Os objetivos, formas e período para a obtenção das infor-
mações serão os mesmos propostos para o item anterior. Porém,
com enfoque diferente, isto é, procurar-se-á conhecer a visão
dos outros segmentos que compõem o comitê de bacia hidrográ-
fica do Rio Formoso, principalmente sobre as questões e impor-
tância dos recursos hídricos na região.
• Capacitações:
Serão divididas em: Seminário, Oficinas e Palestras Edu-
cativas para capacitar 84 membros titulares e suplentes do Co-
mitê da Bacia Hidrográfica do rio Formoso, sobre diversos as-
suntos relacionados à Educação para Gestão da Água.
• Seminários:
Os seminários serão estruturados para aprimorar o co-
nhecimento dos agricultores da região da bacia membros do
comitê, usando como base os instrumentos da Política Estadual
de Recursos Hídricos, a Outorga de Direito de Uso da Água e a
Educação Ambiental voltado para os usuários de águas inseridos
na bacia detentor da outorga.
• Oficinas:
As oficinas serão estruturadas com técnicas e procedimen-
tos de Educação para Gestão de Recursos Hídricos, de maneira
que os Agricultores terão propriedade do conhecimento de como
utilizar os recursos hídricos com uma perspectiva sustentável e

37
de forma que seus empreendimentos não sejam prejudicados e
ajudem a gerenciar a água.
• Palestras:
As palestras serão organizadas com temas específicos so-
bre recursos hídricos e, essas serão ministradas para todos os
integrantes do comitê.
• Análises da implantação do Comitê de Bacia Hidrográfica
do rio Formoso:
Para a realização desta etapa buscar-se-á analisar o que
mudou na gestão dos recursos hídricos da bacia hidrográfica do
rio Formoso depois da criação do comitê para os usuários de
águas e o que o Estado está fazendo para melhorar essa gestão
na descentralização participativa das águas.
• Compilação e análise dos dados:
Serão feitas compilações de dados levantados nas pesqui-
sas bibliográficas e em campo. Os resultados das aplicações dos
questionários e entrevistas serão tabulados em gráficos, onde
serão interpretados e os dados utilizados para complementar, de-
talhar e comparar com o levantamento feito anteriormente, que
resultarão nos pontos com seus respectivos níveis de intensida-
des dos potenciais conflitos.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


Entre os resultados e impactos esperados estão:
• A gestão das águas como eixo central e a compatibiliza-
ção entre disponibilidades e demandas dos usos múltiplos
das águas, com um gerenciamento feito de forma descen-
tralizada e participativa, envolvendo diferentes setores,

38
tais como: os usuários das águas, instituições públicas e a
sociedade civil organizada em geral.
• Que sejam capacitados de imediatos 31 (trinta e um) pro-
dutores rurais que fazem parte do comitê de bacia hidro-
gráfica do rio Formoso-CBHRF.
• Realização de duas oficinas, dois seminários e duas pa-
lestras para todos os produtores que participaram da ca-
pacitação.
• Acredita-se que esses resultados possam resolver quais-
quer conflitos relacionados aos usos das águas da bacia
sob a perspectiva de proteção e conservação dos recursos
hídricos, em especial na época de crise hídrica.
• O maior impacto que se pode esperar de um projeto desse
porte é a sensibilização dos atores envolvidos na gestão
compartilhada, que garantam o respeito sobre uso dos re-
cursos hídricos.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
As ações de intervenções necessárias para atingir os ob-
jetivos propostos abrangem: o envolvimento dos produtores nas
discussões e tomada de decisões no âmbito da bacia hidrográfica
do rio formoso dos 18 (dezoitos) municípios que fazem parte
diretamente do comitê, bem como, sensibilizar com que eles se
sintam parte do parlamento. Para tanto, serão necessárias cam-
panhas educativas, como:
• A realização de palestras bimestrais no espaço cedido pela
Prefeitura Municipal de Formoso do Araguaia – TO;

39
• A realização de oficinas bimestrais no município onde
reside a mesa de diretora do comitê (Gurupi/TO). As ati-
vidades ocorrerão em espaço cedido pela Universidade
Federal do Tocantins – UFT;
• A realização de seminários semestrais em espaço cedido
pela Prefeitura Municipal de Lagoa da Confusão – TO.
Neste momento será apresentado aos usuários a importân-
cia da água para o desenvolvimento sustentável.

ATORES ENVOLVIDOS
Para o desenvolvimento deste projeto certamente será ne-
cessário o apoio do Governo do Estado por meio da Secretaria
de Meio Ambiente e Recursos Hídricos; bem como, a Univer-
sidade Federal do Tocantins – UFT, Universidade Católica do
Tocantins e Universidade Luterana do Brasil – Ulbra e com a
disponibilidade de alguns estagiários para realização das acom-
panhas a serem realizadas nas visitas in loco e na aplicação dos
questionários que traz como público alvo ou atores envolvidos
no comitê e que os mesmo sejam multiplicadores das informa-
ções para cada um dos seus segmentos que representam.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Para a implantação do presente Projeto de intervenção se-
rão necessários os seguintes recursos:
ESTRUTURA: Para realização dos seminários, palestras
e oficinas será necessária à disponibilização do espaço das pre-
feituras;
MATERIAIS: Será necessário um transporte cedido pelo
Estado para o deslocamento da equipe, além dos materiais edu-
cativos como: cartilhas, painel e banner que serão confecciona-

40
dos pelo Comitê e o Estado, bem como, equipamentos e mate-
riais (notebook, tablet e material de expediente, etc.)
HUMANOS: Equipe técnica da Secretaria do Meio Am-
biente e Recursos Hídricos e alguns membros da câmara técnica
do comitê.
Os recursos necessários para execução desse projeto,
além do recurso humano “corpo técnico”, será imprescindível o
apoio do Poder Público, tanto Estadual quanto Municipal para o
desenvolvimento das ações propostas para este trabalho, durante
todo o período de implementação.
Além das campanhas de educação para a gestão das águas,
será necessária a conscientização dos produtores em relação à
instalação “Hidrômetros tipo Turbina Tangencial para Sistemas
de Irrigação”, assim como, renovação das outorgas, regulariza-
ção de DUI para a própria outorga, para dar mais visibilidade
nas áreas de concentração dos grandes irrigantes, além de toda a
bacia hidrográfica.
Logo, propõe-se que os próprios usuários possam ar-
car com as despesas referentes às aquisições dos hidrômetros
e que durante o período de estiagem haja um monitoramento
de maneira mais intensiva por parte do órgão fiscalizador, tanto
na emissão das outorgas como na fiscalização nos horários de
bombeamento.

VIABILIDADE, RISCOS E DIFICULDADES


Uma das maiores dificuldades encontradas, poderá ser em
relação à adesão dos produtores em toda região da bacia para
adquirir os hidrômetros necessários, conforme proposto no de-
correr do desenvolvimento do projeto.
Outro grande desafio é a sensibilização dos usuários para
que eles assimilem o comitê como espaço onde os entes públicos

41
e a sociedade civil organizada estão disponíveis para resolver e
levar solução quanto ao formato e a dimensão do conflito que
lhes são inerentes, para todos os segmentos da bacia hidrográ-
fica.
Os usuários de água, fundamentalmente, necessitarão de
unificação para a aquisição dos hidrômetros, há um estudo de
viabilidade de cobrança pelo uso das águas da bacia e partici-
pando ativamente do comitê eles poderão defender suas pers-
pectivas quanto aos preços a serem cobrados pelo uso da água,
assim como, sobre a aplicação dos recursos arrecadados e sobre
a concessão justa das outorgas dos direitos de uso para que seus
empreendimentos não sejam afetados, por medida judicial.

42
CRONOGRAMA
ATIVIDADES MESES
JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
Visita in loco ou por e-mail
Quantificar os membros
do comitê da bacia hidro-
gráfica do rio formoso–
BHRF
Distribuição de materiais
educativos, cartilhas e
informativos
Realização de seminários
para os segmentos que
compõem o comitê
Mobilização e sensibili-
zação dos usuários nos
municípios por campanha
Sensibilização dos usuá-
rios através de oficinas e
palestras

43
GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
Nesta etapa do projeto a gestão será desenvolvida e acom-
panhada pela Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos
- SEMARH, com apoio do Comitê da Bacia Hidrográfica do
rio Formoso - CBHRF, tendo como foco principal a gestão das
águas da bacia.
Na avaliação do projeto será dimensionada a capacidade
de assimilação dos Usuários de Águas referente à importância
da participação deles no comitê de bacia e qual o seu papel nas
tomadas de decisões, bem como, a forma que os usuários clas-
sificam os impactos, quanto ao grau de relevância em relação às
outras regiões, se irão aderir a instalação dos hidrômetros em
suas propriedades.
Vale ressaltar que o desempenho pode ser avaliado em
diferentes dimensões, tanto na participação, na sensibilização,
como também na mudança de atitudes dos usuários no momento
de requerer a outorga.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Somente por meio de capacitações, sensibilização e cons-
cientização que os usuários da bacia hidrográfica do Rio For-
moso terão uma visão mais plausível do que é uma gestão des-
centralizada e participativa, onde todos têm o direito de opinar e
contribuir sobre a conservação dos recursos hídricos.
Esperar-se-á que os Usuários, Sociedade Civil e o Poder
Público possam se organizar de maneira mais participativa nos
parlamentos das águas que existem no Estado, pois, essa ainda
é a única ferramenta que nos permite gerir as águas com a par-
ticipação de todos.

44
Buscar-se-á que ao concluir este projeto que os usuários
da bacia hidrográfica do Rio Formoso terão uma visão mais
plausível do que é uma gestão descentralizada e participativa,
onde todos têm o direito de opinar e contribuir sobre a conser-
vação dos recursos hídricos na bacia hidrográfica em questão.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Relatório Mundial das Nações Unidas sobre Desenvolvi-
mento dos Recursos Hídricos 2016 UNESCO. Disponível em: <http://
unesdoc.unesco.org/images/0024/002440/244040por.pdf> Acesso em: 16
maio 2018.

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cional de recursos hídricos, cria o sistema nacional de gerenciamento
de recursos hídricos. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/cci-
vil_03/Leis/l9433.htm> Acesso em: 09 maio 2018.

BRASIL, Lei no 9.795, de 27 de Abril De 1999. Dispõe sobre a educação


ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá ou-
tras providências. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
LEIS/l9795.htm> Acesso em: 16 maio 2018.

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ponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/> Acesso em: 16 maio 2018.

LOUREIRO, C. F. B. Educação ambiental e movimentos sociais na cons-


trução da cidadania ecológica e planetária. LAYRARGUES, P. P.; CAS-
TRO, R. S. (Org.). Educação ambiental: repensando o espaço da cida-
dania. 3.ed. São Paulo: Cortez, 2005.
PENA, R. F. A. Conflitos pela água no mundo. Brasil Escola. Disponí-
vel em: <https://brasilescola.uol.com.br/geografia/conflitos-pela-agua-no-
-mundo.htm> Acesso em: 23 mar. 2018.

PINTO, H. S. A crise hídrica brasileira no contexto do Plano para a


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Brasília: Núcleo de Estudos e Pesquisas/CONLEG/Senado, Junho/2015
(Texto para Discussão nº 176). Disponível em: <www.senado.leg.br/estu-
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45
SABESP. Crise Hídrica: Ações e Estratégias. Disponível em: <http://Site.
Sabesp.Com.Br/Site/Interna/Default.Aspx?Secaoid=590> Acesso em: 09
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TOCANTINS - Secretaria do Planejamento e do Meio Ambiente-Seplan,


Base de Dados Atualizados. Disponível em: <https://seplan.to.gov.br/zo-
neamento/bases-vetoriais/base-de-dados-geograficos-do-tocantins-atuali-
zacao-2012/> Acesso em: 12 maio 2018.

TOCANTINS - Secretaria do Planejamento e do Meio Ambiente-Seplan.


Política Estadual de Recursos Hídricos, 2002.

46
CONFLITOS NA GESTÃO DE RECURSOS
HÍDRICOS: ESTUDO DE CASO NA
MICROBACIA DO RIO PEREQUÊ/SC

Lucas Vincent Lopes de Barros1


Fernando Caixeta Lisboa2

RESUMO: Desde os primórdios das sociedades humanas, conflitos


diversos fazem parte de nossas realidades. Recursos naturais são e
sempre foram protagonistas na maioria dos conflitos, junto a ideologias
religiosas e/ou territorialistas. Os recursos hídricos vêm sendo foco de
conflitos locais, regionais e internacionais. Tendo como cenário a mi-
crobacia do Rio Perequê, localizada no litoral de Santa Catarina, este
trabalho objetivou realizar um estudo de caso, descrevendo e mode-
lando os principais conflitos por recursos hídricos nessa região. Com
modelagem em Sistema de Apoio à Tomada de Decisão e abordagem
multicritério, foram ordenados diferentes cenários de gestão da deman-
da e da oferta dos recursos hídricos, gerando informações para apoio
à tomada de decisão dos gestores responsáveis. Para proposição de
medidas de gestão da demanda, foram sugeridos e modelados quatro
cenários hipotéticos, a partir dos quais foi realizada análise multicri-
tério para ordenação das medidas de gestão à luz de diversos critérios
de desempenho. Após modelagem, percebeu-se que a complexidade e
grande número de estados possíveis demandam atuação direta dos ato-
res na definição das estratégias, de modo que todos optem por medidas
de gestão específicas por intermédio de métodos de resolução consa-

1 Eng. Sanitarista e Ambiental pela Universidade Federal de Santa Catari-


na – UFSC (2014) e especialista em Gestão Ambiental pela Universidade
Federal do Paraná – UFPR (2017).
2 Graduado em Tecnologia em Alimentos pelo Instituto Federal de Educa-
ção, Ciência e Tecnologia do Triângulo Mineiro - Campus Uberlândia -
IFTM - UDI (2009), Graduado em Administração pela Faculdade de Ges-
tão e Negócios - FAGEN (2013) da Universidade Federal de Uberlândia
-UFU, Especialista em Ciência dos Alimentos pela Universidade Federal
de Pelotas - UFPEL (2013) e Mestre em Inovação Tecnológica pela Uni-
versidade Federal do Triângulo Mineiro - UFTM (2015).
grados, como a discussão e a negociação. Ainda, os resultados indicam
ser necessário empreender ações como redução de perdas de água nos
sistemas de distribuição e recuperação ambiental do Rio Perequê, de
forma a reduzir pressões de demanda sobre o manancial, além de me-
lhorar aspectos quantitativos e qualitativos na bacia. Tais ações são
indispensáveis para chegar a uma resolução dos conflitos por recursos
hídricos na região.
Palavras-chave: Conflitos no uso de recursos hídricos. Modelagem de
conflitos. Recuperação ambiental. Recomposição de mata ciliar.

INTRODUÇÃO
O problema aqui abordado se afigura nos conflitos exis-
tentes no uso dos recursos hídricos da microbacia do Rio Pe-
requê, cuja área se estende pelos municípios de Porto Belo e
Itapema, localizados no litoral de Santa Catarina.
Analisando os Objetivos de Desenvolvimento Sustentá-
vel resultantes da Conferência das Nações Unidas sobre Desen-
volvimento Sustentável – Rio+20, ressalta-se como justificativa
ambiental deste trabalho o Objetivo número 6: “assegurar a dis-
ponibilidade e gestão sustentável da água e o saneamento para
todos” (ONU, 2015). Portanto, a identificação dos conflitos no
uso dos recursos hídricos tem considerável impacto de nature-
za ambiental (como viés da sustentabilidade), especialmente no
que concerne à análise da aplicação de instrumentos da Políti-
ca Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) (BRASIL, 1997) na
gestão das águas.
Quanto ao aspecto social e sanitário, o Brasil está entre
os países que mais recorrem à aplicação de agroquímicos. De
fato, desde 2008 é o que mais emprega esses produtos no mundo
e o que mais sofre das consequências, resultado da maior per-
missividade da legislação quanto ao uso indiscriminado dessas
substâncias. Uma discrepância notável pode ser notada nos pa-

48
drões toleráveis de resíduos na água e alimentos (PELAEZ et al.,
2015). Enquanto a União Europeia limita a quantidade máxima
que pode ser encontrada do herbicida glifosato na água potá-
vel em 0,1 miligramas por litro (Conselho da União Europeia,
1998), o Brasil permite até 5 mil vezes mais (BRASIL, 2017).
Neste contexto de problemas sociais, ambientais e sanitá-
rios, surgem os conflitos nos usos de recursos hídricos na bacia.
Assim, este trabalho visa identificar os conflitos de primeira or-
dem (escassez qualitativa ou quantitativa) e de segunda ordem
(decorrentes da implantação de medidas de gestão da demanda
para solução dos primeiros) existentes, abordando metodologia
de identificação e resolução de conflitos específica (baseada na
análise de decisão), empregando um software de apoio à tomada
de decisão (SAD) denominado GMCR+.
Por fim, apresenta-se Proposta de Intervenção para contri-
buir com a resolução dos conflitos existentes, a qual foi baseada
na recuperação ambiental da microbacia do Rio Perequê. Esta
medida foi identificada como de maior impacto para resolução
dos conflitos dentre um conjunto de quatro cenários modelados,
os quais continham alternativas de medidas de gestão da deman-
da e/ou oferta. Tais cenários foram classificados de acordo com
análise multicritério, cujos critérios estão apresentados no Item
3 (Metodologia).
Em suma, o trabalho teve como objetivo geral realizar um
estudo de caso com a aplicação de uma metodologia de análise
de conflitos, colaborando para o apoio à tomada de decisão no
contexto da gestão de recursos hídricos, propondo, dessa forma,
um projeto de intervenção para recuperação ambiental da mi-
crobacia do Rio Perequê/SC. Para tanto, foi necessário atingir
três objetivos específicos, quais sejam: (1) Revisar a estrutura
institucional de governança de recursos hídricos no Estado de

49
Santa Catarina, com base na legislação estadual e federal, visan-
do avaliar a adequação dela aos princípios de gestão integrada
de recursos hídricos e descrever os instrumentos empregados
para gestão compartilhada de vazões; (2) Analisar, a partir do
estudo de caso da gestão compartilhada de vazões para abaste-
cimento e irrigação na microbacia do Rio Perequê, os conflitos
de primeira ordem, medidas de gestão e conflitos de segunda
ordem destas decorrentes e (3) Avaliar o impacto do arranjo ins-
titucional dos recursos hídricos sobre os conflitos de segunda
ordem resultantes da adoção de medidas de gestão da demanda
e propor linhas de ação alternativas para solução dos conflitos,
incluindo o Projeto de Intervenção para Recuperação da Mata
Ciliar do Rio Perequê.
Para o objetivo número 1, fez-se necessário levantar as
inter-relações institucionais existentes na gestão de recursos hí-
dricos na bacia do Perequê, com base em pesquisa documental.
Os resultados desta pesquisa estão apresentados na Revisão Bi-
bliográfica. Para desenvolvimento das demais atividades, foram
empregados os métodos descritos no Item 3 (Metodologia).

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
CONFLITOS NO USO DE RECURSOS HÍDRICOS
À luz da sociologia, conflito é uma “luta entre grupos so-
ciais pela supremacia, envolvendo tensões, discórdia e choque
de interesses” (GIDDENS et al., 2017). Sendo tão antigos quan-
to as sociedades humanas, podem ter naturezas diversas: sociais,
políticos, econômicos, étnicos, religiosos, territoriais, por inte-
resses nacionais ou recursos ambientais. Estes últimos, também
denominados de “conflitos ambientais”, caracterizam-se pelo
esgotamento da terra, esgotamento da capacidade de suporte do

50
meio ambiente (poluição) e uso excessivo de recursos renová-
veis, tais como a água (GIDDENS et al., 2017).
No tocante à resolução de conflitos, é importante ressaltar
que se empregam métodos visando minimizá-los, pois é teorica-
mente impossível eliminá-los (LACERDA, 2010).
A literatura cita diversos métodos para resolução, como
os métodos de administração de disputas, métodos de discus-
são e negociação, procedimentos de arbitragem e adjudicação,
métodos de soluções institucionais, evasão e violência (SALES,
2004).

ESTRUTURA INSTITUCIONAL DA
GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS NO
BRASIL E EM SANTA CATARINA
Na esfera federal brasileira, o principal marco legal da
gestão de recursos hídricos é a Lei 9.433/1997, que instituiu a
Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) e criou o Sis-
tema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SIN-
GREH).
Nos termos da lei (Lei 9.984/2000, que alterou a
9.433/1997), integram o SINGREH (BRASIL, 1997):
I – O Conselho Nacional de Recursos Hídricos;
I-A. – A Agência Nacional de Águas (ANA);
II – Os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do
Distrito Federal;
III – Os Comitês de Bacia Hidrográfica;
IV – Os órgãos dos poderes públicos federal, estaduais, do
Distrito Federal e municipais cujas competências se relacionem
com a gestão de recursos hídricos;
V – As Agências de Água.

51
Em Santa Catarina, a Secretaria de Estado do Desenvolvi-
mento Econômico Sustentável (SDS) assumiu as competências
de órgão gestor de recursos hídricos, estabelecendo os marcos
legais do setor no estado. O Sistema Estadual de Recursos Hídri-
cos catarinense (do qual a SDS é parte integrante) foi implanta-
do antes da PNRH e até mesmo da Política Estadual de Recursos
Hídricos (PERH), através da Lei nº 9.022, de 6 de maio de 1993
(a PERH foi estabelecida no ano seguinte, em 1994, através da
Lei nº 9.748/1994). Este sistema diz respeito aos recursos hídri-
cos de domínio estadual, que incluem os provenientes da micro-
bacia do Perequê e demais bacias da Costa Esmeralda.
Quanto aos Comitês Estaduais de Bacias Hidrográficas,
o estado atualmente conta com 17 unidades instaladas, criadas
pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (CERH) através
da Resolução CERH nº 001/2002 (com o critério de abrangerem
rios considerados principais em Santa Catarina).
Por estar inserida na bacia hidrográfica do Rio Tijucas
(mesmo sendo uma microbacia exorréica), a bacia do Perequê
está integrada ao Comitê de Bacias do Tijucas.

RECUPERAÇÃO DE VEGETAÇÃO NATIVA


NO BIOMA MATA ATLÂNTICA
Considerada de maior prioridade, a recuperação da mata
ciliar nas margens dos cursos d’água poderá ser realizada através
de técnicas de florestamento e reflorestamento, visando reativar
os benefícios proporcionados por essa importante cobertura ve-
getal — como a melhoria da qualidade da água, a estabilização
das margens do rio, a redução do assoreamento e a formação de
corredores ecológicos (KOBIYAMA, 2003).
Para a restauração ecológica das matas ripárias, deverão
ser observados alguns aspectos importantes, como a diversidade

52
das espécies na região, o emprego de árvores e arbustos adapta-
dos à correnteza ou submersão eventual e a sucessão ecológica
(recuperação partindo de espécies pioneiras, que darão lugar às
secundárias e finalmente às climácicas). “Roças intensivas ou
pastagens mantidas por muitos anos tendem a esgotar o banco
de sementes do solo das espécies florestais e a compactar o solo,
dificultando muito a regeneração ou ainda impossibilitando o
processo. Isso se agrava quando as áreas ficam distantes e isola-
das de remanescentes florestais, já que a proximidade facilita a
chegada de novas sementes no local” (CASTRO, 2012). É nesta
situação em que se encontra a bacia do Rio Perequê (vide Figu-
ras 5 e 6), portanto, será necessário empregar técnicas intensivas
de recuperação.

METODOLOGIA
Empregou-se metodologia proposta por Vieira (2008)
para análise e identificação dos conflitos de segunda ordem na
bacia do Perequê, com consideráveis adaptações à realidade lo-
cal. No trabalho em questão, a autora também propõe soluções
aos conflitos locais em virtude da modelagem realizada. Desta-
ca-se que os conflitos diferem de forma significante, ao passo
que as soluções aqui propostas também são bastante diversas.
A modelagem dos conflitos foi conduzida com auxílio
de um Sistema Avançado de Apoio à Decisão desenvolvido por
Kinsara et al. (2015) para implementação do Graph Model for
Conflict Resolution (GMCR), que em tradução livre significa
Modelo de Grafos para Resolução de Conflitos. O GMCR foi
inicialmente introduzido por Fang et al. (1993) e posteriormente
aprimorado pelos mesmos autores no ano de 1999, no âmbito de
um grupo de análise de conflitos da Universidade de Waterloo.
Posteriormente, o modelo ganhou uma interface avançada de

53
usuário, novos recursos e melhorias, as quais foram introduzidas
por Kinsara et. al. (2015), dentro do mesmo grupo de pesquisa
mencionado. Este novo software é denominado de GMCR+ e
conta com um manual simplificado de utilização, o qual foi se-
guido para condução dos estudos aqui apresentados. O software
foi utilizado com expressa autorização do referido autor.
Em seu trabalho, Vieira (2008) resume perfeitamente do
que se trata o GMCR (lembrando que o GMCR+ é um siste-
ma que adota o GMCR como modelo de resolução de conflitos,
porém com melhorias em termos de programação e interface):
“um modelo de jogo abstrato, matematicamente fundamentado
na Teoria dos Jogos e na Teoria dos Grafos, de maneira que re-
presenta uma situação em que as ações de um indivíduo afetam
as de outro(s) e vice-versa”. Basicamente, cada jogador pode
assumir ou não uma posição quanto a certas opções (escolha
binária), sendo que um conjunto de opções assumidas por todos
os jogadores representa um estado do conflito. O total de esta-
dos em um conflito é dado por 2n, sendo “n” o número total de
opções.
Na análise dos resultados, destaca-se que o método em-
pregado está baseado na proposta de Vieira (2008) e consiste
em análise multicritério para ordenação dos cenários de gestão,
baseada no potencial de indução de conflitos de segunda ordem.
Esta metodologia teve por base o método de análise multicri-
tério Kepner-Trigoe, ao qual foram feitas adaptações. Consiste
basicamente na avaliação ponderada de cada alternativa por di-
ferentes critérios de desempenho. Portanto, atribui-se um peso
para cada critério e as alternativas são valoradas (com notas 1,
5 ou 10) em função do desempenho em cada critério, ao passo
que a pontuação final é determinada pela soma da pontuação da
alternativa em cada critério (soma dos produtos das notas pelos
pesos). A melhor alternativa será aquela que tiver a menor pon-
tuação.
As alternativas compreendem os cenários de gestão de-
finidos na etapa de análise de conflitos e foram avaliadas pelos
seguintes critérios: (1) Efetividade na garantia de atendimento
às demandas - E; (2) Custos de implantação - Ci; (3) Conse-
quências sociais - Cs; (4) Consequências ambientais - Ca e (5)
Potencial de indução de conflitos de segunda ordem - P.

DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


E CONFLITOS EXISTENTES NA
MICROBACIA DO PEREQUÊ
Em termos de limites políticos, a microbacia do Rio Pe-
requê se distribui ao longo dos municípios de Porto Belo e Ita-
pema, localizados na região denominada de “Costa Esmeralda”
(da qual o município de Bombinhas também faz parte). A Figura
1 apresenta a localização da microbacia do Rio Perequê e os
limites políticos da região da Costa Esmeralda.
As águas superficiais da microbacia do Rio Perequê são
utilizadas no abastecimento dos municípios de Porto Belo, Ita-
pema e Bombinhas. Como municípios litorâneos, eles apresen-
tam uma população flutuante expressiva, sendo que o consumo
de água bruta na região quase triplica durante a alta temporada.
Na temporada 2013-2014, a vazão média captada passou de 254
l/s na baixa temporada para 700 l/s em janeiro (CBH Tijucas,
2014), coincidindo com uma estiagem severa (vazões da bacia
chegaram ao nível crítico, com escoamento superficial perto de
zero, sobrando somente o escoamento base) e tendo ocorrido um
dos maiores conflitos pela disputa da água na região, definindo o
status quo da modelagem empreendida neste trabalho.
Além de ser o principal manancial de abastecimento das
cidades de Porto Belo e Bombinhas (suprindo Itapema em me-
nor proporção em relação à demanda total), as águas do Perequê
são empregadas na rizicultura, cujas quadras ocupam extensa
área da bacia e representam uma demanda média estimada em
400 l/s, distribuída ao longo de 400 ha da bacia (CBH Tijucas,
2014). Este cenário gera um intenso conflito nos períodos de
alto consumo (especialmente durante o verão), tendo contribuí-
do para agravar o conflito citado (ARIS, 2017).
No verão entre 2013 e 2014, o canal foi irregularmente
barrado por um dos prestadores (além de ser recorrentemente
barrado pelos rizicultores) e houve a abertura de barreiras por
maquinários para permitir o fluxo normal do leito natural do rio.
Por uma ação da Agência Reguladora dos serviços de sanea-
mento na região, levantou-se a questão da inexistência de ou-
torgas destes usos pelo órgão gestor competente. O conflito foi
encaminhado para debate e decisão no Comitê da Bacia do Rio
Tijucas, onde foi criada uma comissão para estudar o assunto,
com a participação de vários setores da sociedade. As portarias
de outorga estabeleceram o regramento quanto às vazões, mas a
fiscalização ainda fica a desejar (ARIS, 2017).
Após inúmeras discussões, foram baixadas as Portarias
SDS nº 24 e nº 28 formalizando os volumes máximos a serem
captados e resultando na instalação de estrutura de medição da
vazão instantânea e volumes acumulados no curso d’água. No
entanto, esta situação não contribuiu efetivamente para solução
do conflito de uso dos recursos hídricos, tampouco no que tan-
ge à preservação ou recuperação da mata ciliar e conservação
do solo, pois a vazão de referência (Q98) sequer foi empregada
na concessão das outorgas para os prestadores dos serviços de
saneamento, sendo que estes foram autorizados a retirar vazão

56
máxima de até 220 l/s (sendo que o máximo outorgável seria
95,55 l/s; no entanto, Porto Belo já captava vazão média de 147
l/s, enquanto Itapema captava em média 200 l/s) para regularizar
o nível das respectivas lagoas de armazenamento de água bruta.
Neste sentido, houve um consenso entre solicitantes e órgão ges-
tor de recursos hídricos, que teve de ceder em virtude do caráter
essencial dos serviços. As Figuras 2 a 6 retratam a situação dos
conflitos na bacia do Perequê.
Em suma, o status quo é caracterizado pelo seguinte ce-
nário: baixa disponibilidade hídrica no manancial, rizicultores e
prestadores dos serviços de saneamento implantando barreiras
para desviar o curso de rio em seus respectivos favores, des-
respeito às APP de margens de rio, lançamentos de esgoto in
natura nos cursos d’água e altas perdas de água nos sistemas
de distribuição — em Porto Belo, as perdas totais (incluem per-
das físicas e aparentes, estas últimas também denominadas de
comerciais) em 2016 foram de 31,11%, quando a boa técnica
recomenda no máximo 25% (BRASIL, 2014). Em Bombinhas,
o dado mais atual disponível é de 2014, quando as perdas totais
no município foram de 35,85%. Em Itapema, as perdas foram de
22,80% em 2016. Ressalta-se que o indicador apresentado é o
IN049 do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento
(SNIS), cuja natureza dos dados é autodeclaratória.
A partir do cenário vigente, foram formulados cenários
teóricos de gestão, nos quais estão previstas medidas de gestão
da demanda e da oferta, bem como da recuperação ambiental.
Tais cenários foram modelados em Sistema de Apoio à Tomada
de Decisão (SAD) de modo a relacionar os equilíbrios existentes
entre os jogadores. Após a modelagem, empreendeu-se análi-
se multicritério para ordenação dos cenários e escolha do mais
apropriado.

57
DEFINIÇÃO DOS CENÁRIOS DE GESTÃO
A fim de modelar os conflitos existentes na bacia do Pe-
requê, definiram-se cenários de gestão hipotéticos para o caso
de adoção de medidas de gestão da demanda, além daquelas já
implantadas. Sendo assim, foram estabelecidos quatro cenários,
sendo que um deles corresponde à manutenção da situação atual,
seguindo-se somente as outorgas (não onerosas) já concedidas
aos prestadores dos serviços de saneamento e não havendo o
controle das vazões utilizadas pelos rizicultores. Os demais são
baseados na adoção de diferentes medidas de gestão da demanda
e/ou oferta, possibilitando que a modelagem de um ou mais ce-
nários aponte os equilíbrios existentes entre os jogadores.
Através da análise multicritério, os cenários foram sope-
sados pelo impacto em cada um dos aspectos mencionados no
Item 2.4, a partir de onde foi apontado o mais adequado para o
caso. Como exemplo, o cenário 1 (status quo) está descrito no
Quadro 1 (o grafo respectivo pode ser observado na Figura 7).
Com relação à oferta, propõe-se a cobrança pelo uso da água,
instrumento de gestão previsto na Política Nacional de Recur-
sos Hídricos, mas ainda não implantado em SC. A implantação
demandaria esforços do órgão gestor de recursos hídricos e do
comitê da bacia para operacionalização da cobrança (cenário 3).
A recuperação ambiental do Perequê (cenário 4) possibilitaria
a melhora na qualidade da água do manancial em primeiro mo-
mento, bem como possível melhoria quantitativa. O cenário em
questão foi modelado de forma isolada e também em conjun-
to com o cenário 3, incorporando os recursos provenientes de
eventual cobrança.

58
Quadro 1 - Cenário 1 (status quo)
Decisores Opções
Município de Porto - Respeitar a Portaria SDS nº 28/2014 (status quo definido
Belo/CASAN como “sim”)
- Empreender ações de gestão da demanda (status quo
definido como “não”)
- Intervir no curso d’água em próprio favor (sem
desenvolver ações de preservação)
Município de Itapema/ - Respeitar a Portaria SDS nº 24/2014 (status quo definido
CONASA como “sim”)
- Empreender ações de gestão da demanda (status quo
definido como “não”)
- Intervir no curso d’água em próprio favor (sem
desenvolver ações de preservação)
Rizicultores/Sindicato - Permanecer desrespeitando os limites mínimos para APP
dos Trabalhadores em margem de rios
Rurais de Tijucas, Porto - Continuar intervindo no curso d’água em detrimento de
Belo e Bombinhas outros usuários da água
Agências Reguladoras - Permanecer omissas em relação à gestão das demandas
de água
SDS - Fiscalizar os usos da água na bacia e implantar outorga
para irrigação (status quo = “não”)

Os demais cenários têm como decisores os já apresenta-


dos no Quadro 1, só que com opções compatíveis com as medi-
das de gestão da demanda e/ou oferta propostas.

ORDENAÇÃO DOS CENÁRIOS DE GESTÃO


A atribuição dos valores com base no desempenho das
medidas de gestão da demanda foi baseada nos trabalhos de Ste-
phens (2002), Carolo (2007), Lima (2010), Souza (2012) e San-
tos et al. (2017), tendo resultado na Tabela 1. Cada cenário foi
modelado pelo GMCR+ para obtenção dos modelos de grafos,
os quais representam todos os estados possíveis dos conflitos
diante da adoção das respectivas medidas, embora não sejam

59
apresentados neste trabalho em virtude da limitação do escopo
requerido. Caso haja necessidade em aprofundar a leitura, pode-
-se buscar pelo trabalho completo cujo título é homônimo a este
capítulo.

Tabela 1 - Ordenação dos cenários de gestão a partir da análise mul-


ticritério

Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4

E -1 -10 -5 -5
Ci 1 5 5 10
Cs 10 5 1 1
Ca -1 -5 -5 -10
P 5 5 5 5
Resultado 1,528 -2,505 -1,537 -2,372

Da Tabela 1, destacam-se os cenários 2 e 4, os quais têm o


melhor custo-benefício sob a ótica dos critérios elencados. O ce-
nário 2 consiste na implantação de medidas de controle e redu-
ção de perdas, enquanto o cenário 4 consiste em investimentos
por parte dos prestadores e municípios (onerando os usuários)
aliados à implantação da cobrança pelo uso da água.
Cada cenário tem potencial para indução de conflitos de
segunda ordem distinto, por exemplo, o cenário 4 tem o maior
impacto no valor financeiro a ser desembolsado pelos usuários
finais, o que representa um impacto socioeconômico para cama-
das sociais mais baixas. Neste sentido, recomenda-se a adoção
das tarifas sociais, onde usuários menos providos pagam tari-
fas mais módicas. No caso da manutenção do status quo, o uso
continuado e indiscriminado de agroquímicos representa grave
problema de saúde público, onerando o sistema público de saú-

60
de em médio e longo prazo — sem contar casos agudos, como
apontados por Bombardi (2017).

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Conhecendo das áreas degradadas ao longo do Rio Pe-
requê, definiu-se faixa mínima de regeneração de 8 m (Figura
8) com auxílio de Sistema de Informações Geográficas (SIG),
o qual foi alimentado com dados geográficos da região obtidos
junto a órgãos oficiais (EPAGRI, IBGE e SDS). A faixa de 8 m
foi definida com base na recomposição mínima de APP em áreas
consolidadas para propriedades com áreas entre um e dois mó-
dulos fiscais (BRASIL, 2012).
A partir das faixas marginais definidas, calculou-se a área
total estimada de regeneração, igual a 19,41 ha. A partir dela e
de densidade de mudas recomendada pela literatura, foi possí-
vel determinar as estimativas de custos do projeto. Com base
em uma densidade média de 1.667 mudas por hectare (dada a
restrição de APP com declividade inferior a 25°, resultando em
um espaçamento de 3 m x 2 m por muda), seriam necessárias
ao menos 32.356 mudas de plantas nativas, adotando-se uma
proporção de 35% de espécies arbóreas, 42% de lianas/epífitas e
23% de arbustos/ervas, que em média caracteriza o bioma Mata
Atlântica. O sistema de reflorestamento abrangeria a implanta-
ção de espécies pioneiras, secundárias e climácicas (REIS, 1996;
MINAS GERAIS, 2007; DEPRÁ et al., 2009).
Para APP composta por vegetação de Mata Atlântica em
Santa Catarina, Deprá et al. (2009) demonstraram que o
custo de recuperação total em casos com espaçamento de
3 m x 2 m (1.667 mudas/ha) foi de R$ 2.824,20/ha, con-
siderando as fases de implantação (combate às formigas,

61
coveamento, adubação base, plantio e replantio) e manu-
tenção (coroamento e combate às formigas). Portanto, tra-
ta-se de referência adequada para o caso em tela. Pelo fato
de o estudo datar de 2009 e não trazer referência à data
base empregada, atualizou-se o custo com a variação do
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)
de janeiro de 2009 a dezembro de 2017 (69,95%). Assim,
o custo de referência atualizado é de R$ 4.799,73/ha. Por-
tanto, para os 19,41 ha às margens do Rio Perequê, o custo
total estimado para recuperação da APP é de R$ 93.162,72,
o que representa um valor bastante módico (tendo em vista
o faturamento das prestadoras de serviços de saneamento,
por exemplo).

CONSIDERAÇÕES FINAIS
De maneira geral, os conflitos por recursos hídricos na
microbacia do Rio Perequê se afiguram de maneira complexa,
constituindo tarefa difícil modelá-los apropriadamente. A defi-
nição dos vetores de preferência de cada ator é delicada, sendo
determinante para caracterização dos equilíbrios. Tal tarefa deve
ser incumbida aos próprios gestores.
Os conflitos de primeira ordem são primordialmente de
ordem quantitativa (escassez evidente no status quo descrito) e
qualitativa (degradação da qualidade da água pelo uso de agro-
químicos e pelo desrespeito à APP nas margens do rio). Em de-
corrência da implantação da outorga (já ocorrida), os conflitos
de segunda ordem mais evidentes remetem às intervenções in-
devidas no leito do Perequê. A partir das medidas de gestão pro-
postas, podem ocorrer novos conflitos de segunda ordem, prin-

62
cipalmente no que diz respeito ao aspecto financeiro da gestão
do saneamento nos municípios envolvidos (que terão de investir
no curto prazo, mas terão benefícios de longo prazo com a maior
eficiência).
A recomposição da APP às margens do Rio Perequê se
demonstra essencial em diversos aspectos deste conflito, embora
haja algumas contradições em termos quantitativos, porquanto
alguns autores citados indicam que pode haver inclusive uma
redução na vazão do curso d’água (o que é bastante lógico, já
que a vegetação ciliar promove a redução da velocidade do fluxo
nas bordas da calha). Entretanto, os benefícios em termos quali-
tativos, ambientais e sociais superam este aspecto de efetividade
de atendimento das demandas, tornando essencial a proposta de
intervenção apresentada.
Em termos econômico-financeiros, os investimentos e
despesas necessários para a proposta de intervenção seriam re-
compensados com os benefícios ambientais e sociais citados,
ainda que tenham de ser repassados para os usuários finais (na
tarifa de água ou no preço de produtos vegetais produzidos na
bacia, mesmo que temporariamente). Pelas estimativas de custos
levantadas, conclui-se que seria um pequeno preço a pagar pela
saúde em médio e longo prazo.

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66
PRANCHA 1 – FIGURA 1

Figura 1: Localização da microbacia do Rio Perequê

67
PRANCHA 2 – FIGURAS 2 A 6
Figura 2: Nível crítico na tomada de água da captação e da lagoa de
acumulação da CASAN em Porto Belo.

Figura 3: Lagoa de acumulação em Itapema (esq.) e reunião para de-


finição das outorgas

Figura 4: Estrutura implantada em seção do Perequê p/ controle das


vazões captadas

Figura 5: Quadra de arroz (esq.) e barramento irregular para desviar o


curso do rio (dir.) em 2013

68
Figura 6: Evidente erosão da calha do rio e desrespeito à largura míni-
ma de mata ciliar (dez/2015)

PRANCHA 3 – FIGURAS 7 E 8
Figura 7: Modelo grafo do status quo

69
Figura 8: Área a ser recuperada no projeto (esq.), com trecho detalha-
do em maior escala (dir.)

70
GESTÃO DOS RECURSOS
HÍDRICOS – ESTUDO DE CASO:
SUB-BACIA HIDROGRÁFICA DO
RIO SALGADO – CEARÁ

Rafael Bezerra Tavares Vasques Landim1


Fábio de Oliveira Matos2

RESUMO: A Sub-bacia Hidrográfica do Rio Salgado - SBHS faz par-


te da grande bacia hidrográfica do rio Jaguaribe, corresponde a 8,25 %
do estado do Ceará, e seu principal rio o Salgado. Na SBHS, apresenta
em seu terreno 85% formado por rochas cristalinas e 15% de rochas
sedimentares, havendo uma grande exploração das águas subterrâneas.
No seu território estão inseridos 23 municípios. O seu Comitê de Ba-
cia foi oficialmente criado em 14 de maio de 2002, pelo Decreto nº
26.603. A plenária do comitê é formada por 50 instituições membros,
sendo que, cada instituição membro indica seu representante titular e
suplente. A composição do comitê é dividida em segmentos, usuários
(30%), sociedade civil (30%), poder público municipal (20%), poder
público estadual e federal (20%). Atualmente o Comitê se encontra
na sua 5ª formação e nesse processo de renovação é comum que boa
parte das instituições se repitam por vários mandatos. A representati-
vidade do comitê e a alternância das instituições no Comitê revelam
a necessidade de tornar os membros do Comitê mais capacitados, e
conhecedores das necessidades da SBHS. Assim pretende-se com esse
trabalho propor ações para estimular a participação dos representantes
no CSBHS e atuação do comitê na gestão dos recursos hídricos da
SBHS, com a divulgação dos conhecimentos obtidos com a população,
com a realização de capacitações com temas relacionados a gestão dos

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para Gestão Mu-


nicipal dos Recursos Hídricos do Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia do Ceará.
2 Professor Doutor da Universidade Federal do Ceará.
recursos hídricos e capacitar os membros do Comitê em multiplicado-
res das ações do Comitê e da sua importância para a sociedade. Com
essas ações espera-se que os membros do Comitê se sintam mais bem
preparados, tornando-os mais atuantes nas ações a serem realizadas
pelo CSBHS. Também torná-los multiplicadores dos conhecimentos
obtidos para os seus representados. Além de permitir que a população
conheça o comitê da sua bacia, e a importância de suas ações, e assim
despertar o interesse em participar na gestão dos recursos hídricos atra-
vés do CSBHS.
Palavras-chave: Rio Salgado; Comitê; Recursos Hídricos.

INTRODUÇÃO
A água é um recurso natural fundamental para os seres
vivos no mundo, com destaque para os mais diversos ecossis-
temas. Além disso, o desenvolvimento socioeconômico de um
país sofre grande influência desse recurso (TAVARES, 2010).
Segundo Burte (2008), o crescimento da população nos últimos
anos tem causado um crescente consumo de água, provocando
grande pressão sobre os recursos hídricos, que vem comprome-
tendo-o tanto na sua qualidade quanto na quantidade, fato esse,
agravado quando se trata de recursos hídricos em regiões semiá-
ridas.
Nas regiões semiáridas ocorrem problemas com a escas-
sez hídrica, a diversos fatores, entre eles, devido a má distribui-
ção espaço-temporal das chuvas, ocorrência de anos com chuvas
abaixo da média, em alguns casos secas severas (MONTENE-
GRO e RAGAB, 2012).
A hidrologia do semiárido é bem diferenciada das demais
regiões, compreende-la sob o clima atual e futuro, bem como a
influência do uso e ocupação da terra, é crucial para a gestão e
planejamento dos recursos hídricos.

72
O estado do Ceará possui 86,8% da sua área inserida no
semiárido, assim, um dos grandes desafios dessas regiões se dá
na gestão dos recursos hídricos, onde se encontra um cenário de
pluviometria média anual abaixo de 800 mm, índice de aridez de
até 0,5 e risco de seca maior que 60% (BRASIL, 2005).
Para haver uma melhor gestão dos Recursos Hídricos no
estado do Ceará a gestão se dá de forma, integrada, descentraliza
e participativa. A bacia hidrográfica é a unidade territorial da Po-
lítica de Recursos Hídricos, em cada uma das suas bacias há um
comitê formado, que tem como área de atuação suas respectivas
bacias ou sub-bacias hidrográficas.
Partindo dessa premissa, o objetivo desse trabalho foi,
portanto, propor ações para estimular a participação dos repre-
sentantes no CSBHS e atuação do comitê na gestão dos recursos
hídricos da SBHS, com a divulgação dos conhecimentos obtidos
com a população.
Para tanto, inicialmente foi realizado um levantamento
Bibliográfico em livros, artigos científicos, dissertações e teses
que tratassem do Comitê da Sub-bacia Hidrográfica do Rio Sal-
gado, ou ligado a gestão dos recursos hídricos, além da legisla-
ção pertinentes aos recursos hídricos.
Foram realizados levantamentos de informações junto a
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos – COGERH, ge-
rência Crato, que também tem o papel de Secretaria Executiva
do CSBHS, onde foram obtidas informações sobre os históricos
das atividades do CSBHS, suas composições, deliberações, en-
tre outras informações.
Com a obtenção das informações, foram feitas tabulações
dos dados, afim de verificar o número de instituições que já par-
ticiparam, quais instituições tiveram o maior número de recon-
duções, ações realizadas pelo CSBHS.

73
COMITÊ DA SUB-BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO SALGADO – CSBHS
O CSBHS teve o seu processo de formação diferencia-
do dos demais comitês do Estado do Ceará, tendo em vista
que nos demais comitês tiveram suas criações conduzidas pela
Companhia de Gestão de Recursos Hídricos do Estado do Cea-
rá – COGERH, no caso do CSBHS seu início se deu através da
mobilização social da sociedade local, iniciando com uma ca-
racterística mais autônoma. O processo de formação do Comitê
teve início ainda no ano de 1994, sendo que o processo de mo-
bilização das instituições da região culminou em 1999 onde foi
realizado o primeiro seminário de organização e fortalecimento
das Associações de Usuários de Águas da Bacia do Rio Salgado.
Nesse processo de formação foi adotada a divisão da Sub-bacia
em Microbacias, no intuito de facilitar os estudos e o processo
de organização dos usuários.
Assim, a Sub-bacia do Salgado que engloba 23 municí-
pios ficou dividida em 5 Microbacias: Microbacia I (Brejo San-
to, Jardim, Jati, Penaforte e Porteiras), Microbacia II (Abaiara,
Aurora, Barro, Mauriti, e Milagres), Microbacia III (Barabalha,
Caririaçu, Crato, Juazeiro do Norte e Missão Velha), Microba-
cia IV (Baixio, Ico, Ipaumirim, Lavras da Mangabeira e Uma-
ri), Microbacia V (Cedro, Granjeiro, e Várzea Alegre). Em 2000
houve o II Seminário de usuários de água da Sub-bacia do Rio
Salgado, e no ano de 2001 O Grupo de Articulação apresentou
a proposta de estatuto do CSBHS. Ainda no ano de 2001 foram
realizadas reuniões nas microbacias do salgado, e em 27 de fe-
vereiro de 2002 foi realizada a reunião plenária do comitê do
Salgado, para definição da última versão do regimento interno
do comitê, assim, em 14 de maio de 2002, o comitê foi oficial-
mente criado pelo CONERH, através do Decreto nº 26.603.

74
Os Comitês de Bacias Hidrográficas – CBH do Ceará
conforme a Lei Estadual nº 14.844, são entes regionais de ges-
tão de recursos hídricos com funções consultivas e deliberativas,
com atuação em Bacias, Sub-bacias ou Regiões Hidrográficas e
são vinculados ao CONERH. Os Comitês de Bacias Hidrográ-
ficas do Estado do Ceará têm seu colegiado composto por ins-
tituições governamentais e não-governamentais, divididos em 4
segmentos, com distribuição em usuários, sociedade civil, poder
público municipal, poder público estadual e federal, seguindo o
os percentuais conforme a FIGURA 1.
Figura 1: Percentual de Instituições por Segmentos nos CBHs do Cea-
rá. Fonte: Ceará (2010).

No entanto o número de instituições membros são defi-


nidas na primeira plenária de formação dos CBHS. No caso do
CSBHS ficou estabelecido o número de 50 instituições membro
na composição do comitê, sendo 15 instituições de usuários, 15
instituições da sociedade civil, 10 instituições do poder público
municipal e 10 instituições do poder público estadual e federal.
O mandato das instituições membro do CSBHS são de 4 anos,

75
sendo que, nos dois primeiros mandatos da plenária a duração
foi de 2 anos e posteriormente os demais mandatos foram de 4
anos.
O CSBHS teve sua primeira formação em 2002 a 2004, a
segunda de 2004 a 2006, a terceira de 2006 a 2010, a quarta de
2010 a 2014 e a quinta de 2014 até início de 2019.
Das cinco formações do CSBHS, participaram 137 ins-
tituições, para um total de 250 vagas ao longo dos mandatos,
o que representou uma mudança das instituições ao longo das
5 plenárias de 55% de mudança nas composições, conforme a
Tabela 1.
Tabela 1: Relação Participação de Instituições por Segmento no CS-
BHS de 2002 a 2018. Fonte: COGERH (2018).
SEGMENTOS Nº DE INSTITUIÇÕES PARTICIPARAM TOTAL DE VAGAS
USUÁRIOS 52 75
SOCIEDADE CIVIL 46 75
PODER P. MUNICIPAL 21 50
PODER P. ESTADUAL E FEDERAL 18 50
TOTAL 137 250

Em relação aos segmentos de forma isolada ao longo dos


cinco mandatos, para o segmento de usuários das 75 vagas ao
longo dos anos 52 instituições diferentes participaram do Co-
mitê, no segmento Sociedade Civil das 75 vagas tiveram 46 ins-
tituições diferentes, no poder público municipal das 50 vagas
tiveram 21 instituições diferentes, e no poder público estadual e
federal das 50 vagas apenas 18 instituições diferentes. O poder
público, estadual e federal, possuía até o ano de 2017 quatro
membros natos (2 estaduais e 2 federais), representados pela
SRH, SEMACE, DNOCS e IBAMA. Contudo, a partir o Decre-
to nº 32.470 de 27 de dezembro de 2017, passou a ser apenas 2
membros natos (SRH e DNOCS).

76
De acordo coma Figura 2, pode-se observar que poder
público estadual e federal tem uma baixa alternância devido a
presença permanente de 40% das vagas e devido a presença de
poucas instituições federais e estaduais envolvidas com questões
hídricas e ambientais.
Já em relação aos demais segmentos observa-se que a
maioria das mudanças de instituições por segmentos estão nos
usuários e na sociedade civil com respectivamente 69% e 61%, o
que se pode justificar devido à grande quantidade de instituições
envolvidas nesses segmentos com atuação e usos dos recursos
hídricos. Contudo, para o poder público municipal teve mudan-
ça de apenas 42% nos cinco mandatos das plenárias do comitê
o que pode representar uma necessidade maior de atenção nos
municípios que pouco participaram ou nunca participaram do
CSBHS.
Figura 2: Percentual de mudanças das instituições no CSBHS de 2002
a 2018. Fonte: COGERH (2018).

77
O Comitê de Bacias Hidrográficas do Estado do Ceará,
entre as suas conquistas, pode-se destacar, o poder decisório na
gestão dos recursos hídricos nas suas respectivas áreas de juris-
dição.
No Comitê da Sub-Bacia Hidrográfica do Rio Salgado en-
tre suas conquistas, pode-se destacar a Resolução do CONERH
Nº01/2015 de 19 de Maio de 2015, que restringe a perfuração
de novos poços tubulares nos municípios do Crato, Juazeiro do
Norte e Barbalha, Região Metropolitana do Cariri e a Resolução
do CONERH Nº04/2016, de Maio de 2016 que proíbe a emissão
de novas outorgas de direito de uso dos recursos hídricos para a
finalidade de irrigação por superfície na Sub-Bacia Hidrográfica
do Rio Salgado.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Sendo o Comitê de Bacias Hidrográficas, o órgão cole-
giado integrante do Sistema Integrado de Gestão dos Recursos
Hídricos do Estado com atribuições consultivas e deliberativas,
com atuação na Bacia ou Sub-bacia hidrográfica de sua juris-
dição. E conhecendo a realidade e complexidade hídrica dessa
Sub-bacia, constata-se que os membros desse Comitê devem ter
o mínimo de conhecimento relacionado à gestão dos recursos hí-
dricos, fazendo-se necessário a realização de capacitações con-
tinuadas, com conteúdos atualizados e ministrados por profis-
sionais qualificados. Além disso, com os membros capacitados
e mais preparados para tomadas de decisões, se tornem multi-
plicadores dos seus conhecimentos dentro dos seus municípios.
Estimular que os membros capacitados promovam a divulgação
das ações do comitê, tanto nas suas comunidades, nas rádios lo-
cais, redes sociais, nas escolas, permitindo a difusão do CSBHS,
despertando o interesse na população para acompanhar e par-

78
ticipar nas decisões e assim fazer parte da gestão dos recursos
hídricos da sua região junto ao seu comitê.

IDENTIFICAÇÃO DO PROBLEMA
Tendo em vista a população existente na Sub-bacia Hi-
drográfica do Rio Salgado e as reservas hídricas disponíveis tan-
to superficiais quanto subterrâneas, faz-se necessário um maior
cuidado na gestão dos recursos hídricos, além da necessidade de
investimento nos municípios na área de saneamento, conforme
apresentado na Tabela 3 do item 3, em que, a taxa média de co-
bertura urbana de esgoto é de 18,72% em toda a SBHS, o que
demonstra sérios riscos de contaminação, em especial das águas
subterrâneas.
Assim, para haver uma melhor gestão dos recursos hídri-
cos faz-se necessário que os membros do Comitê da Sub-bacia
Hidrográfica do Rio Salgado, sejam mais atuantes e conhece-
dores das suas competências e atuar de forma mais efetiva na
tomada de decisões para gestão dos recursos hídricos. Além dis-
so, a população deve conhecer e cobrar dos seus representantes
maior atuação na gestão das águas e ações para o uso racional
da água.
Aos gestores municipais desperte a necessidade de ações
mais efetivas no tocante ao saneamento básico das suas cidades,
de forma a preservar esses recursos hídricos, tanto quantitativa-
mente quanto qualitativamente, para as presentes e futuras gera-
ções, e permitindo o desenvolvimento sustentável da sua região.
Para tanto, é necessário que os membros do comitê te-
nham conhecimentos mínimos necessários nos diversos aspectos
a gestão dos recursos hídricos, a preservação do meio ambiente,
entre outros assuntos necessário para formar uma linha de co-
nhecimento holística e sistêmica, com um melhor entendimento

79
da dinâmica da hidrologia da sua região, e o que cada ação pode
ou não ocasionar nessa dinâmica a curto, médio e longo prazo.
Além disso, há a necessidade de a população também ter conhe-
cimento do que é o comitê de bacia, das ações que vem sendo
realizadas na sua região e como cobrar dos seus representantes.

JUSTIFICATIVA
Sendo a Sub-bacia Hidrográfica do Rio Salgado a área
atuação do CSBHS, faz-se necessário que os membros desse co-
legiado estejam todos preparados e motivados para atuarem na
gestão dos recursos hídricos da bacia, tendo em vista a comple-
xidade da bacia que tem tanto reserva hídricas superficial e sub-
terrânea, assim, fazem-se necessários constantes capacitações e
atualização dos membros. Além disso, com o empoderamento
dos membros do comitê permite uma maior visibilidade das ins-
tituições e assim, estimular que haja um maior interesse e parti-
cipação da sociedade na gestão dos recursos hídricos.

OBJETIVO
Objetivo Geral
Propor ações para estimular a participação dos represen-
tantes no CSBHS e atuação do comitê na gestão dos recursos
hídricos da SBHS, com a divulgação dos conhecimentos obtidos
com a população.

Objetivos específicos
- Realizar capacitações com temas relacionados a gestão
dos recursos hídricos;
- Capacitar os Membros do Comitê em multiplicadores
das ações do Comitê e da sua importância para a sociedade.

80
RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS
Espera-se que com a implantação de capacitações conti-
nuadas de assuntos ligados aos recursos hídricos, a questões am-
bientais, trazendo informações atuais, permitirá que as reuniões
plenárias do CSBHS tragam discussões e tomada de decisões
de forma global, visando toda a Sub-bacia, buscando alinhar as
reais necessidades da população, e visando melhorias na gestão
da água.
Além disso, com uma maior divulgação sobre o CSBHS
e suas ações, permitirá que a população se integre ao seu comitê
e tenha maior interesse em participar da gestão dos recursos hí-
dricos da sua região.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
As intervenções a serem realizadas, se dão através de ca-
pacitações com conteúdo que permitirá uma melhor formação
e conscientização dos membros do comitê, conhecer e executar
suas atribuições, e ações a serem executadas pelo comitê. Tor-
nando o CSBHS mais ativo na gestão dos recursos hídricos da
sua Sub-bacia hidrográfica. Assim, permitir que haja um maior
interesse dos membros em atuar nos seus municípios com ações
que venham a trazer benefícios à população.
Com os membros capacitados e atuantes, haver a
disseminação dos conhecimentos obtidos e divulgação do
CSBHS, permitindo a população conhecer o seu comitê
e como as decisões por ele tomada interferem nas suas
realidades.

81
ATORES ENVOLVIDOS
Nesse trabalho, contará com a participação constante da
Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos do Ceará – CO-
GERH, dos gestores públicos municipais dos 23 municípios
presentes na Sub-bacia, comunidades difusas que se utilizam
dos recursos hídricos, sociedade civil envolvida em ações que
envolvam os recursos hídricos, Universidade Federal do Cariri
– UFCA e Universidade Regional do Cariri – URCA, Institu-
to Chico Mendes de Conservação e Biodiversidade - ICMBIO,
Superintendência Estadual do Meio Ambiente - SEMACE, De-
partamento Nacional de Obras Contra as Secas - DNOCS, Se-
cretaria de Recursos Hídricos do Ceará - SRH, imprensa local
e estadual.

RECURSOS NECESSÁRIOS
- Banco Mundial: Recurso Financeiro para contratação da
instituição responsável pelas capacitações dos membros do co-
mitê. R$ 180.000,00
- COGERH / SRH: Apoio Logístico para deslocamento
dos membros, reserva dos locais para realização das capacita-
ções, fiscalização das capacitações.

ORÇAMENTO

Tabela 2: Orçamento Capacitações para Membros do CSBHS. Fonte


Elaboração própria.
VALOR
ITEM DESCRIÇÃO DO OBJETO
ESTIMADO

PARTICIPAÇÃO DE 100 MEMBROS DO CSBHS EM


1 CURSO TEÓRICO/PRÁTICO SOBRE COMO MELHO- R$ 30.000
RAR O FUNCIONAMENTO DO CSBHS

82
PARTICIPAÇÃO DE 100 MEMBROS DO CSBHS EM
2 CURSO TEÓRICO/PRÁTICO SOBRE COMITÊS DE R$ 30.000
BACIAS HIDROGRÁFICAS: O QUE É E O QUE FAZ?

PARTICIPAÇÃO DE 100 MEMBROS DO CSBHS EM


3 R$ 30.000
CURSO TEÓRICO/PRÁTICO SOBRE LEI DAS ÁGUAS

PARTICIPAÇÃO DE 100 MEMBROS DO CSBHS EM


4 CURSO TEÓRICO/PRÁTICO SOBRE BACIAS HIDRO- R$ 30.000
GRÁFICAS: PRÁTICAS E PROCEDIMENTOS

PARTICIPAÇÃO DE 100 MEMBROS DO CSBHS EM


CURSO TEÓRICO/PRÁTICO SOBRE PLANO DE
5 R$ 30.000
RECURSOS HÍDRICOS E ENQUADRAMENTO DOS
CORPOS DE ÁGUA

PARTICIPAÇÃO DE 100 MEMBROS DO CSBHS EM


6 CURSO TEÓRICO/PRÁTICO SOBRE CONSERVA- R$ 30.000
ÇÃO, USO RACIONAL E SUSTENTÁVEL DA ÁGUA

Total R$ 180.000

VIABILIDADE
O projeto de capacitação dos membros tem um grande
impacto social, tendo em vista que levará conhecimento aos
membros representantes dos diversos segmentos da sociedade.
Tendo como principal risco a indisponibilidade financeira para
a contratação da instituição que realizará as capacitações. Já no
ponto de vista da logística para realização das capacitações a
COGERH possui expertise nessas ações.

RISCOS E DIFICULDADES
Tendo em vista, que o mandato dos membros do CS-
BHS é de 4 anos, há necessidade que periodicamente haja no-
vos cursos, tanto para novos membros quanto para a reciclagem

83
do conhecimento dos membros reeleitos. Além disso, devido a
mudanças nos gestores municipais e com ele boa parte de sua
equipe, há constantes mudanças nesse Segmento Poder Público
Municipal. Assim, é importante que os membros repassem seus
conhecimentos, permitindo a perenidade das informações obti-
das no decorrer dos anos no Comitê.

CRONOGRAMA

Tabela 3: Cronograma de Capacitações dos Membros do CSBHS.


Fonte: Elaboração própria.
 Capacitações
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
/ 2019
Mobilização 1 X
Capacitação 1   X            
Mobilização 2 X
Capacitação 2   X            
Mobilização 3 X
Capacitação 3           X         
Mobilização 4 X
Capacitação 4               X     
Mobilização 5 X
Capacitação 5               X     
Mobilização 6 X
Capacitação 6                     X

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


Durante o processo de capacitação dos membros do CS-
BHS, a COGERH fará o acompanhamento das capacitações de
forma a facilitar o entendimento dos conteúdos abordados, além
disso, ela será responsável por analisar a avaliação de aprendi-
zagem dos membros.

84
Ao final do curso, a contratada providenciará avaliação
de aprendizagem, a ser aplicada a todos os alunos pelo instrutor,
disponibilizando a contratante o resultado apurado.
Os membros do CSBHS participantes farão avaliação de
reação sobre o curso, com atribuição de grau conforme indicado
abaixo:
- I (insatisfatório) – 0 a 25%;
- R (regular) – 25 a 50%;
- B (bom) – 50 a 75%;
- MB (muito bom) – 75 a 100%.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Tendo em vista que, a gestão dos recursos hídricos no
estado do Ceará se dá de forma, integrada, descentralizada e
participativa, faz-se necessário que os integrantes do Comitê da
Sub-bacia Hidrográfica do Rio Salgado tenham um bom conhe-
cimento sobre os Comitês de Bacias, seu funcionamento, além
de conhecer a lei das águas, plano de recursos hídricos, o uso
racional da água entre outros assuntos relacionado aos recursos
hídricos.
Através de capacitações constantes dos membros do Co-
mitê permitirá que haja um melhor entendimento das suas fun-
ções, competências, e dos impactos das suas ações na gestão dos
recursos hídricos e os reflexos nas suas localidades.
Além disso, espera-se que os membros do Comitê se sin-
tam mais bem preparados, tornando-os mais atuantes nas ações a
serem realizadas pelo CSBHS. Também torná-los multiplicado-
res dos conhecimentos obtidos para os seus representados.

85
Permitir que a população conheça o comitê da sua bacia,
e a importância de suas ações, despertar o interesse em partici-
par na gestão dos recursos hídricos através do CSBHS.
Essas capacitações devem ser continuadas e que a replica-
ção do conhecimento permaneça entre os membros do Comitê,
tornando assim o assunto gestão de recursos hídricos comum
dentro da sociedade.

REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUA. Disponível em: www.ana.gov.br, 10
de maio de 2018.

CEARÁ. LEI ESTADUAL Nº 14.844, DE 28 DE DEZEMBRO DE 2010.


Política Estadual de Recursos Hídricos, Institui o Sistema Integrado
de Gestão de Recursos Hídricos – SIGERH. Fortaleza, CE, Disponí-
vel em: <www.al.ce.gov.br/legislativo/legislacao5/leis2010/14844.htm>,
Acessado em: 15 de maio de 2018.

BRASIL. MINISTÉRIO DA INTERGAÇÃO NACIONAL. Nova Delimi-


tação do Semiárido Brasileiro. 2005, Brasília, DF. Disponível em: www.
mi.gov.br, acessado em: 20 de maio de 2018.

BURTE, J. D. P. Os pequenos aquíferos aluviais nas áreas cristalinas


semiáridas: funcionamento e estratégias de gestão. Estudo de caso no
Nordeste brasileiro. Tese (Doutorado em Engenharia Hidráulica e Am-
biental) – Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Federal do Ceará,
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COMPANHIA DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS. 2010.


Plano de Monitoramento e Gestão dos Aquíferos da Bacia do Araripe,
Relatório Final, Fortaleza-CE. CD-ROM.

COMPANHIA DE GESTÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS. FORTALE-


ZA, CE, Disponível em: <www.cogerh.com.br>. Acessado em: 10 de maio
de 2018.

GARJULLI, Rosana(org.), Oficina temática: gestão participativa dos re-


cursos hídricos relatório final, Aracaju: PROÁGUA/ANA, 2001b.

86
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo
Demográfico 2010, Características gerais da população, religião e pessoas
com deficiência. Rio de Janeiro: IBGE, 2010.

INSTITUTO DE PESQUISA E ESTRATÉGIA ECONÔMICA DO CEA-


RÁ. Perfil Básico dos Municípios 2017. Fortaleza, CE. Disponível em:
www.ipece.ce.gov.br, Acessado em: 10 de maio de 2018.

MAIA, Alexandre Aguiar (org.), Legislação sobre o Sistema Integrado dos


Recursos Hídricos do Estado do Ceará (1987-1994), 2 ed. Fortaleza: SRH,
1999.

MONTENEGRO, S.; RAGAB, R. Impacto of possible climate and land


use changes in the semi arid regions: A case study from North Eastern
Brazil. Journal of Hydrology. v. 434-435, 55-68, 2012.

TAVARES, P. R. L. Modelagem computacional e calibração da con-


dutividade hidráulica horizontal em aquífero da bacia sedimentar do
Araripe utilizando o método interativo do gradiente hidráulico. 2010.
137 f. Tese (Doutorado em Engenharia Civil/Recursos Hídricos) – Facul-
dade de Engenharia Civil. Universidade Federal do Ceará. 2010.

87
MAPEAMENTO DA MICROBACIA
DO CÓRREGO ÁGUA LIMPA
NO MUNICIPIO DE CERES

Daniella de Oliveira Santos1


Antonio Carlito Bezerra dos Santos2

RESUMO: Ao se analisar o ciclo hidrológico, principalmente em sua


fase terrestre, a bacia hidrográfica é o elemento fundamental. O nível
de degradação ambiental em que se encontram as bacias hidrográficas
decorre da falta de comprometimento ambiental e da ineficácia das
políticas públicas, problema este enfrentado também pela microbacia
do Córrego Água Limpa, gerando grandes vulnerabilidades ambien-
tais em termos de impactos ao meio ambiente, os quais podem ser re-
vistos, dando o devido tempo de recuperação aos recursos naturais. A
caracterização morfométrica e física de uma bacia hidrográfica têm
como função elucidar as questões relacionadas à dinâmica ambiental
e local. Desta forma, com o presente trabalho objetiva-se a realizar
o mapeamento da microbacia do Córrego Água Limpa, por meio de
levantamento de informações para produção de material técnico re-
lacionado às características morfométricas e ambientais da mesma.
Desta forma, o trabalho contribuirá para um melhor entendimento dos
impactos ambientais envolvendo a referida microbacia deste Córrego,
que em grande parte encontra-se inserida na área urbana do município,
recebendo assim, as descargas de drenagem pluvial de uma porção sig-
nificativa dos bairros. Assim, conhecendo a dinâmica da microbacia
através deste projeto de intervenção será possível realizar a aplicação
dos investimentos públicos de forma eficiente, bem como, servindo de
fonte para consulta prévia aos empreendedores, profissionais técnicos
e moradores que integram a microbacia do Córrego Água Limpa.
Palavras-chave: Bacia hidrográfica; Água; Caracterização morfométrica.

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão Mu-


nicipal de Recursos Hídricos - IFCE – e-mail: dani.oliveira@hotmail.com
2 Professor do Departamento de Ciências Biológicas da Universidade Re-
gional do Cariri - URCA, Crato, Ceará – e-mail: carlito.santos@urca.br
INTRODUÇÃO
A bacia hidrográfica é o principal elemento do ciclo hi-
drológico, principalmente na sua fase terrestre. Uma bacia hi-
drográfica pode ser definida como uma área limitada por um
divisor de águas, que além de separá-la de outras bacias adjacen-
tes, também funciona como captação natural das chuvas através
de suas vertentes. Por meio de uma rede de drenagem de cursos
d’água, ela faz convergir os escoamentos para a seção de exu-
tório, que é o ponto de saída da água (LINSLEY; FRANZINI,
1978; TUCCI, 1997).
A água tem sido um assunto bastante relevante no mundo
nos últimos anos. Esta preocupação se deve ao fato deste recurso
estar ligado a impactos ambientais, como: ocupação indevida do
solo, uso indiscriminado da água, desmatamento das matas cilia-
res, assoreamento, erosão, contaminação, que afetam profunda-
mente o ciclo da água e o clima, mostrando assim, o importante
papel das bacias hidrográficas como referencial nas tomadas de
decisão para formulação de políticas públicas, planejamento e
de gestão territorial (ARAÚJO et al., 2009).
É importante salientar que o nível de degradação ambiental
em que se encontram nossas bacias hidrográficas, decorre da
falta de comprometimento ambiental e da ineficácia das políticas
públicas gerando grandes vulnerabilidades ambientais em termos
de impactos ao meio ambiente, mas podem ser revistos, dando
o devido tempo de recuperação aos recursos naturais (ARAÚJO
et al., 2009).
Dessa maneira, o planejamento e gerenciamento é ques-
tão indispensável no tocante a compatibilizar os vários usos da
água, viabilizando diferentes setores produtivos, monitorando a
quantidade e a qualidade dos veios hídricos, melhorando a efi-
ciência global de uso (PAZ; TEODORO; MENDONÇA, 2000).

90
A caracterização morfométrica e física de uma bacia hi-
drográfica é um dos passos mais importantes e mais comuns
executados em análises hidrológicas ou ambientais, tendo como
função elucidar as várias questões relacionadas à dinâmica am-
biental local e regional (TEODORO et al., 2007).

JUSTIFICATIVA
O Córrego Água Limpa é o principal corpo hídrico que
permeia todo o município de Ceres. Deste modo, historicamente
a ocupação das áreas ao seu entorno foi realizada de forma irre-
gular e desordenada. Em 2014, técnicos do Ministério de Minas
e Energia estiveram no município e identificaram áreas com alto
risco de deslizamento e inundação, inclusive às margens do pró-
prio Córrego.
A apresentação e conhecimento do Hidrograma desta
microbacia, bem como, as características ambientais que propi-
ciam as respostas a determinados eventos climáticos extremos,
servindo como base para o reconhecimento das áreas onde deter-
minadas intervenções serão necessárias.
O mapeamento servirá de base para estudos do Po-
der Público e de terceiros, tanto na formulação de políticas
públicas, quanto em estudos acadêmicos, integrando com
isso, o arcabouço de dados técnicos da Prefeitura Muni-
cipal de Ceres, uma vez que, até o momento, não existem
nenhum tipo de estudo realizado sobre este Córrego nem
tampouco sobre sua microbacia.

OBJETIVO
Realizar o mapeamento da microbacia do Córrego Água
Limpa no município de Ceres – GO, levantando informações

91
para a produção de material técnico no que diz respeito às carac-
terísticas morfométricas e ambientais da microbacia em estudo,
para subsidiar ao planejamento e gestão municipal.

METODOLOGIA
DESCRIÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O município de Ceres está localizado sob as coordenadas
geográficas 15°18′28″S e longitude de 49°35′52″W e área de
214, 322 Km2. A população estimada para o ano de 2017 esta-
va na faixa de 22.155 habitantes. Limita-se com os municípios
(Figura 1): Carmo do Rio Verde, Ipiranga de Goiás, Rialma e
Rubiataba (IBGE, 2018).
FIGURA 1: Mapa de localização do Município de Ceres/GO, desta-
cando seus municípios limítrofes.

Fonte: Adaptado de SisGEO, 2013.

Ceres está inserida na bacia do Tocantins, que ocupa


102.120,6 Km², é a segunda em abrangência territorial, localiza-
da na porção norte-oriental de Goiás, abrigando 71 municípios
goianos, entre eles, Formosa, Planaltina, Goianésia e Niquelân-
dia (IMB, 2005). O rio Tocantins é formado a partir dos rios

92
das Almas, Maranhão e Tocantinzinho, percorre uma extensão
de 2.400 km até desaguar na baia de Marajó, próxima a Belém
do Pará, drenando uma área de 421.250 km². Seus principais
afluentes dentro do território goiano são: rio das Almas, rio Cana
Brava, rio dos Patos, rio Santa Clara, rio Tocantinzinho e rio Uru
(IMB, 2005).
O Rio das Almas constitui o principal recurso hídrico pre-
sente no município. Ele nasce na serra dos Pirineus, próximo à
cidade de Pirenópolis e deságua no Rio Tocantins. Seu afluente
mais importante é o Rio Verde (IBM, 2005). No quesito recursos
hídricos, o Córrego Água Limpa surge como o principal tribu-
tário do Rio das Almas e que é encontrado em sua totalidade no
município de Ceres e desaguando nas águas de domínio federal
do Rio das Almas.

Coleta de Dados
Para produção do Estudo e confecção do material serão
realizadas inicialmente visitas técnicas em locais pré-estabele-
cidos e escolhidos por meio da utilização da ferramenta Google
Earth. Nesta primeira etapa será feita a identificação física de
todos os atributos necessários ao estudo.
Ocorrerá também a consulta aos órgãos municipais para
identificação de informações que forem relevantes ao proces-
so de formulação do Estudo, tais como, projetos arquitetônicos,
plantas baixas, croquis dos sistemas de drenagem pluvial, esgo-
tamento sanitário, uso e ocupação do solo, dentre outros.
Todas as informações serão compiladas e darão
forma aos mapas, levantamentos, memoriais descritivos e
entre outros materiais a serem produzidos.

93
RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS
O mapeamento da microbacia resultará na produção de
material técnico o qual possibilitará um maior conhecimento so-
bre o Córrego, suas nascentes e tributários. Com a publicidade
do mapeamento da microbacia, será possível um conhecimento
melhor sobre o córrego, para que acadêmicos e técnicos profis-
sionais possam atuar no município, subsidiando a elaboração de
projetos públicos e privados, respeitando a capacidade e finali-
dade do Córrego Água Limpa, bem como, a atuação da fiscali-
zação executiva, judiciária e civil.
Os impactos esperados a curto e médio prazo dizem res-
peito à formulação de projetos concisos e aplicáveis à realidade
detectada. Em longo prazo espera-se equilibrar o crescimento
da cidade e a preservação/recuperação de seus corpos hídricos.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
As ações serão descritas por etapas, considerando a sua
ordem cronológica:
ETAPA 1: Localizar e caracterizar as nascentes do Cór-
rego Água Limpa. A localização será feita por meio da identi-
ficação por demarcação das coordenadas geográficas utilizando
GPS. A caracterização obedecerá às normas ambientais técnicas
vigentes para caracterização das mesmas;
ETAPA 2: Identificar por nomenclatura todo o sistema de
drenagem pluvial (macro e micro drenagem) natural (vertentes)
e construída que tem como destino final de lançamento o Córre-
go Água Limpa. Nesta fase, deverá ocorrer o registro de todos os
dispositivos de drenagem das águas, sejam córregos tributários e
menores ao Córrego Água Limpa, assim como, o traçado de seus

94
comprimentos e caracterização atualizada das estruturas. Serão
identificadas também as vazões de todos estes corpos hídricos;
ETAPA 3: Caracterizar o corpo hídrico principal e sua
Área de Preservação Permanente. Nesta Etapa deverão ser pon-
tuadas e georreferenciadas as formas de esgotamento sanitário
presentes na APP do Córrego. As áreas de riscos e a classificação
dos mesmos;
ETAPA 4: Compilar os dados técnicos por meio da análi-
se das características morfométricas e demais características en-
contrados durante o levantamento e produzir o material técnico
contendo todos os dados técnicos levantados.

ATORES ENVOLVIDOS
Para o Projeto de Intervenção em discussão serão consi-
derados os seguintes atores:
• SEMMAS (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e
Saneamento): equipe responsável pelo gerenciamento do
Projeto de Intervenção, onde elaborará os planos de ação
e termos de referência para fins de contratação. Realizará
a fiscalização e o acompanhamento das compras, contra-
tações e ações. Procederá com a publicidade do mapea-
mento após sua finalização.
• INSTITUIÇÕES TERCEIRIZADAS: realizarão os tra-
balhos e levantamentos conforme os lotes previstos nos
termos de referência que irão compor os processos lici-
tatórios:
a) Lote 1: realizará o mapeamento das nascentes nas áreas ur-
bana e rural, do Córrego Água Limpa. O resultado esperado é
a apresentação da localização georreferenciada e o memorial

95
descritivo das características das nascentes, tendo como base
conceitos técnicos descritos em literatura específica. Também
apresentará mapas temáticos relacionados à declividade, pedo-
logia, entre outros.
b) Lote 2: realizará a identificação e mapeamento das macro e
micro drenagens convergentes ao Córrego Água Limpa e dos
demais corpos hídricos tributários ao Córrego. Tendo como re-
sultado esperado a identificação e localização de todos os dispo-
sitivos referentes à drenagem pluvial, assim como a extensão de
toda a rede dedrenagem pluvial que tem como ponto de deságue
o Córrego Água Limpa. Espera-se como resultado também um
Memorial Descritivo contendo as características físicas, estrutu-
rais e alocacionais de todos os dispositivos. A produção de plan-
tas baixa contendo todas as estruturas e locações das mesmas. A
identificação dos Córregos e canais canalizados e não canaliza-
dos em dutos fechados, assim como suas vazões e características
ambientais, que convergem ao Córrego Água Limpa. Haverá a
formulação de mapas temáticos, em especial os mapas potencio-
métrico e piezométrico da microbacia.
c) Lote 3: realizará o mapeamento do curso hídrico principal
denominado Córrego Água Limpa. Os resultados esperados são
a localização georreferenciada da calha regular e da Área de
Preservação Permanente (APP) do Córrego Água Limpa. A for-
mulação do Memorial Descritivo contendo a descrição das con-
dições ambientais do canal principal e seu comprimento total,
a localização georreferenciada das irregularidades em relação à
legislação ambiental e parcelamento do solo vigente, identifi-
cando os pontos de deságue das drenagens natural e artificial,
bem como, seu georreferenciamento. No Memorial Descritivo
deverá conter também a identificação georreferenciada das ero-

96
sões e assoreamentos no percurso do Córrego e sua APP. Iden-
tificar as áreas de risco considerando os conceitos técnicos de
enchentes, inundações e deslizamentos, identificando os pontos
críticos.
d) Lote 4: promoverá a consolidação dos resultados dos Lotes
1, 2 e 3, resultando na determinação dos pontos e locais para a
quantificação das vazões ao longo do corpo hídrico principal;
e) Lote 5: promoverá a medição das vazões indicadas pelo pro-
cedimento anterior. Resultará em tabelas com os dados técnicos
levantados;
f) Lote 6: realizará a compilação final de todos os lotes anterio-
res para produção de material técnico físico e digital. Neste ma-
terial estarão contidos índices relevantes em relação aos dados
levantados, bem como a produção de variados mapas temáticos.
• COMUNIDADE: participará no processo de coleta de
informações conforme solicitado durante o mapeamento.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Serão necessários ANTES da execução do projeto:
• Recursos humanos: produção dos Termos de Referência e
realização das licitações;
• Recursos materiais: folhas de ofício, computador, impres-
sora e tinta;
• Recursos de mídia digital: publicidade das licitações jun-
to ao site da Prefeitura Municipal.
Serão necessários DURANTE da execução do projeto:
• Recursos financeiros: contratação das Instituições por
meio das licitações;

97
• Recursos materiais: insumos, equipamentos, tecnologias
e mão de obra que serão terceirizados pelas Instituições
contratadas;
• Recursos humanos e cognitivos: produção da apresenta-
ção ao público do resultado final do mapeamento;
• Recursos políticos e organizacionais: mobilização da
população em geral e sociedade civil organizada para o
comparecimento à audiência pública. Para esta audiência
serão necessários recursos estruturais, digitais e humanos.
Serão necessários APÓS a execução do projeto:
• Políticas públicas: correção e/ou otimização e/ou revisão
dos zoneamentos inseridos atualmente no Plano Diretor,
bem como, a sua revisão completa quando da obrigação
da mesma;
• Recursos humanos e materiais: procedimentos de fisca-
lização.

VIABILIDADE
A proposta do Projeto de Intervenção, que em resumo
simplório é identificar o todo da microbacia do Córrego Água
Limpa, projeto comparável aos que são executados pelos Co-
mitês de Bacias Hidrográficas no território brasileiro, conforme
pôde ser observado durante o levantamento bibliográfico para
propositura do projeto.
Os recursos empenhados não irão gerar retornos financei-
ros ao ente público, pois a característica principal deste projeto
é trazer informações e dados técnicos até então inexistentes da
Microbacia do Córrego Água Limpa. A viabilidade econômica
se justifica para prevenção de impactos ambientais negativos,

98
assim como, na análise de liberação de atividades empreende-
doras que podem intensificar os impactos, bem como, identificar
áreas degradadas e áreas com elevados riscos ambientais, geoló-
gicos, sanitários, entre outros.

RISCOS E DIFICULDADES
• Fatores Climáticos podem influenciar no prazo de execu-
ção dos trabalhos;
• Empenho, processamento ou ausência de recursos públi-
cos para iniciar os procedimentos licitatórios;
• Atrasos nos pagamentos;
• Propriedades privadas com dificuldade de acesso;
• Licitação deserta e/ou todo processo burocrático que en-
volve a licitação;

CRONOGRAMA
Meses
Atividades
1 2 3 4 5 6 7 8
Localizar e caracterizar as nascentes do Córrego Água Limpa;
Localizar, caracterizar, identificar por nomenclatura todo o sistema de drenagem
pluvial (macro e micro drenagem) natural (vertentes) e construída que tem como
ponto final de lançamento o Córrego Água Limpa. Nesta fase, deverá ocorrer a
identificação de todos os dispositivos de drenagem das águas, sejam córregos
tributários e menores ao Água Limpa, assim como o traçado de seus
comprimentos e caracterização atualizada das estruturas. Serão identificadas
também as vazões de todos estes corpos hídricos;
Localizar, caracterizar o corpo hídrico principal, sua Área de Preservação
Permanente; indicar as obras de engenharia (públicos e privados) e saneamento
existentes no corpo hídrico;
Indicação e medição de pontos de monitoramento de vazão no corpo hídrico
principal.
Compilar os dados técnicos encontrados durante o levantamento;
Produzir o material técnico contendo todos os dados técnicos levantados,
apontando indicadores e riscos ambientais
Publicidade legal para sociedade em geral e sociedade civil organizada

99
GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
A gestão do projeto será de responsabilidade da Secretaria
de Meio Ambiente e Saneamento – SEMMAS do município de
Ceres no Estado de Goiás. A qual disponibilizará equipe técnica
composta por profissionais concursados e comissionados, dentre
engenheiros, coordenadores, técnicos e fiscais.
O acompanhamento financeiro será realizado pela SEM-
MAS e pelo Setor de Controle Interno Municipal. As análises
técnicas dos relatórios parciais, finais e documentos de conhe-
cimento técnico profissional serão designados à análise pelos
profissionais da Secretaria e, quando necessário, a critério do
Secretário da pasta, por Comitê Multidisciplinar constituído por
profissionais da Secretaria de Obras e Infraestrutura Municipal,
por profissionais da SEMMAS e por profissionais indicados
pelo Prefeito. Serão solicitados aos agentes demandados e
empresas ou instituições contratadas, relatórios administrativos
parciais e finais das atividades desenvolvidas, as mesmas serão
fiscalizadas e irá compor aos pedidos de liberação de recursos
para pagamentos financeiros, somados ao documento fiscal
legal. Esses relatórios não substituirão os documentos técnicos
exigidos no Termo de Referência e neste Projeto.
Nos casos de descumprimento dos prazos de entrega, bem
como das atividades descritas no Termo de Referência, será res-
cindido o contrato com a empresa e imediatamente será realizada
a convocação da segunda colocada ou será solicitado um novo
processo licitatório de emergência, conforme legislação vigente.
Nas atividades de mapeamento de nascentes, serão exigi-
dos relatórios parciais nos prazos de 30 e 45 dias e o relatório
final no término dos 60 dias; mapeamento das drenagens será
exigido à apresentação de plano de trabalho que compreenda

100
execução dentro do prazo de 04 (quatro) meses previstos no cro-
nograma, sendo apresentados relatórios mensais nos 03 (três)
primeiros meses, um relatório da primeira quinzena do quarto
mês e um último relatório final; mapeamento do recurso hídri-
co principal, Córrego Água Limpa, serão elaborados relatórios
mensais nos 02 (dois) primeiros meses, um relatório na primeira
quinzena do terceiro mês e um relatório final; indicação e medi-
ção de pontos de vazão serão exigidas único relatório no término
da atividade; compilação dos dados levantados será exigida a
apresentação de relatório mensal; produção do material técnico
profissional será exigida apresentação de relatório único das ati-
vidades elaboradas; por fim, será realizada a publicidade através
da comunicação oficial, buscando apresentar para população em
geral e sociedades civis organizadas os resultados obtidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O trabalho contribuirá para um melhor entendimento dos
impactos ambientais na microbacia do Córrego Água Limpa no
município de Ceres – GO, descrevendo o comportamento hi-
drológico e as características ambientais, sendo instrumento de
auxílio nas resoluções dos problemas da má gestão dos recursos
hídricos local.
Sendo uma premissa da eficiência da gestão pública, bus-
ca-se neste Projeto, o conhecimento da Microbacia em sua to-
talidade para melhor aplicação dos investimentos públicos e a
fim de nortear os procedimentos de licenciamento e fiscalização
ambiental, bem como, identificando e futuramente recuperando
as áreas degradadas.
Por fim, este mapeamento poderá ser uma fonte de con-
sulta prévia para todos os empreendedores, profissionais técni-
cos e moradores que integram a microbacia.

101
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, L. E.; SOUSA, F. A. S.; MORAES NETO, J. M.; SOUTO, J.
S.; REINALDO, L. R. L. R. Bacias hidrográficas e impactos ambientais.
Qualitas Revista Eletrônica, v. 8, n. 1, p. 1-18, 2009.

IBGE - INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA.


Cidades – Panorama. 2018. Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/
brasil/go/ceres/panorama> Acesso em: 01 abr. 2018.

IBM - INSTITUTO MAURO BORGES. Bacia do rio Tocantins. 2005.


Disponível em: <http://www.imb.go.gov.br/pub/anuario/2005/situacao_fi-
sica/bacias/bacia_tocantins.html>
Acesso em: 10 maio 2018.

LINSLEY, R. K. J.; FRANZINI, S. B. Engenharia de Recursos Hídricos.


São Paulo: McGraw-Hill do Brasil, 1978.

PAZ, V. P. S; TEODORO, R.E.F.; MENDONÇA F. C.M. Recursos hídri-


cos, agricultura irrigada e meio ambiente. Revista Brasileira de Enge-
nharia Agrícola e Ambiental, v.4, n.3, p.465-473, 2000.

TEODORO, V. L. I. et al. O conceito de bacia hidrográfica e a importância


da caracterização morfométrica para o entendimento da dinâmica ambien-
tal local. Revista Uniara, n.20, p.137-157, 2007.

TUCCI, C. E. M. Hidrologia: ciência e aplicação. 2. ed. Porto Alegre:


Editora da
Universidade: ABRH, 1997.

102
MODELAGEM NA CONSERVAÇÃO DO
SOLO E QUALIDADE DA ÁGUA FRENTE
À ESCASSEZ HÍDRICA NA BACIA DO
JABURU I, NA IBIAPABA-CEARÁ

Paulo Sérgio Silva do Amaral1


Tiago Estevam Gonçalves2

RESUMO: O comportamento do ciclo hidrológico de uma bacia hidro-


gráfica é essencial para uma gestão eficiente dos seus recursos hídricos
e a utilização de modelos hidrológicos vem contribuindo nesse sentido.
Em função disso, este trabalho tem por objetivo realizar a estimativa da
produção de sedimentos na sub-bacia hidrográfica do Reservatório Jaburu
I, na Serra da Ibiapaba-CE, pois ela vem sofrendo com longos períodos
de escassez hídrica e com acentuada produção de sedimentos. Ela tem em
seu reservatório a função estratégica de abastecimento de água para várias
cidades ao longo da Serra da Ibiapaba. O estudo foi realizado no período
de 1979 a 2014, utilizando o modelo SWAT. A vazão média simulada para
o período foi de 0,60060 m³/s e a produção média estimada de sedimentos
para a sub-bacia foi de 0.073142 (ton./ha x ano), durante os 35 anos ana-
lisados. Com base nas estimativas, o total de sedimentos depositados no
reservatório foi de aproximadamente 804.979,20 toneladas nestes 32 anos
(com o reservatório entrando em operação em 1983). Com isso, faz‐se ne-
cessária a utilização de políticas para diminuir a produção de sedimentos
na bacia e consequentemente minimizar o processo de assoreamento do
Reservatório Jaburu I, que ao longo dos anos vem causando a diminui-
ção da sua capacidade total de armazenamento, que originalmente era de
210.000.000 m³, e hoje segundo a SRH, é de 138.127.743 m³. Como pro-
jeto de intervenção propõe-se o desassoreamento do reservatório de forma
que possa ser restituída sua capacidade original de projeto.
Palavras-chaves: Hidrossedimentológico; Sistema de Informações Geo-
gráficas; Modelagem

1 Mestre em Saneamento e Controle Ambiental - Instituto Federal de Educa-


ção, Ciência e Tecnologia do Ceará IFCE.
2 Doutor em Geografia - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnolo-
gia do Ceará IFCE
INTRODUÇÃO
A construção de barragens no semiárido nordestino, ge-
ralmente tem por finalidades principais: o abastecimento huma-
no, a dessendentação de animais, irrigação entre outros. Com
isso acarreta mudança nos recursos hídricos, modificando as
condições naturais do meio ambiente e, consequentemente, mo-
dificações nas condições naturais dos cursos d’água. Essas cons-
truções geram redução das velocidades da corrente provocando
a deposição gradual de sedimentos e consequente assoreamento,
que é o excesso de sedimentos, talvez a mais visível forma de
poluição gerada de forma difusa. Como consequência do as-
soreamento, temos alteração das características hidráulicas do
corpo d’água, mudanças na fauna e flora aquática e respectivas
fontes de alimento e deterioração dos aspectos estéticos do cor-
po d’água (SÃO PAULO (CIDADE)., 2012). Há também de se
falar na erosão marginal, diminuição gradativa da capacidade de
armazenamento do reservatório, além de ocasionar problemas
ambientais de diversas naturezas (FERNANDES, 2015).
Devido essas alterações antrópicas, por conseguinte, os
gestores de recursos hídricos e de saneamento vão enfrentar o
desafio de se deparar com uma fonte de água bruta em mudança.
Portanto, compreendendo os cenários futuros, será possível ado-
tar uma variedade de práticas adaptativas destinadas à preserva-
ção dos mananciais, ao reuso e desenvolvimento de estratégias
alternativas para gestão da água.
A técnica de simulação (modelagem) permite a previsão
do comportamento hidrológico de uma bacia hidrográfica dian-
te de diferentes cenários climáticos e, de uso e ocupação dos
solos. Entre outros, antecipando possíveis impactos das mudan-
ças climáticas e do crescimento urbano, no avanço aos recursos
hídricos, conforme falado anteriormente, e, permitindo assim

104
maior resiliência na gestão em situações de estresse hídrico1. A
evolução da representação conceitual dos processos hidrológi-
cos nesses modelos e a maior disponibilidade de tecnologias de
geoprocessamento permitem por um lado simulações mais rea-
lísticas, mas por outro, levam à necessidade de manipulação de
uma maior quantidade de dados.
Os modelos hidrológicos são ferramentas que auxiliam
no melhor entendimento, planejamento, representação do com-
portamento hidrológico e gestão dos recursos hídricos de uma
bacia hidrográfica (SILVA et al., 2017 citado por FERNANDES,
2015; RENNÓ, 2003).
A aplicação desses modelos envolve a manipulação de di-
ferentes bases de dados, com diferentes padrões de formato de
arquivos. O pré-processamento dos dados até a efetiva aplicação
do modelo não deve ser menosprezada e pode demandar bastan-
te tempo. Desta forma, através da simulação de cenários, poderá
ser avaliado o comportamento hidrológico da bacia, visando à
definição de medidas estruturais, estruturantes e políticas públi-
cas para gestão dos recursos hídricos.
O objetivo deste trabalho é avaliar a estimativa da produ-
ção de sedimentos na sub-bacia hidrográfica dos Riachos Jaburu
e Pitanga, onde está localizado o Reservatório Jaburu I, na Serra
da Ibiapaba, no Ceará, cujo índice de assoreamento do mesmo

1 O estresse hídrico ocorre quando a demanda por água excede a quantida-


de disponível durante um determinado período ou quando a má qualidade
restringe seu uso. O estresse hídrico causa a deterioração dos recursos de
água doce em termos de quantidade (exploração excessiva do aquífero,
rios secos, etc.) e qualidade (eutrofização, poluição da matéria orgânica,
intrusão salina, etc.).
Fonte: European Environment Agency. Disponível:http://epaedia.eea.eu-
ropa.eu/alphabetical.php?letter=W&gid=108#viewterm Acesso: 04 maio
2018.

105
foi estimado em 18%1, com o modelo hidrossedimentológico
SWAT (Soil and Water Assessment Tool), integrado a um Sis-
tema de Informação Geográfica – ARCGis, que vem sofrendo
longos períodos de escassez hídrica.

MATERIAIS E MÉTODOS
ÁREA DE ESTUDO
A sub-bacia dos Riachos: Jaburu e Pitanga é integrante
da Bacia Hidrográfica da Serra da Ibiapaba, e o Reservatório
Jaburu I nela presente, serve de manancial ao Sistema Integrado
de Abastecimento de Água da Serra da Ibiapaba, operado pela
Companhia de Água e Esgoto do Ceará – Cagece (Figura 1).
Figura 1 – Sub-bacia do Reservatório Jaburu I. Na imagem menor
a Bacia Hidrográfica da Serra da Ibiapaba e no balão, localização da
sub-bacia de estudo em relação a bacia hidrográfica.

Fonte: Google Earth, adaptado de (COGERH - COMPANHIA DE GESTÃO


DOS RECURSOS HÍDRICOS - GERÊNCIA DE TECNOLOGIA DA IN-
FORMAÇÃO, 2018)

1 Fonte: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/as-
soreamento-reduz-volume-dos-reservatorios-no-ceara-1.1715220>

106
O clima predominante na Chapada da Ibiapaba é do tipo
Aw, quente e úmido, transcorrendo para um clima de semiárido,
BShw, onde a estação chuvosa é irregular nos meses de novem-
bro a abril (www.ana.gov.br citado por FERNANDES, 2015).
De acordo com a classificação de Köppen, predomina o
tipo de clima na região, o BShw’ – semiárido, com curta estação
chuvosa no verão-outono e maiores precipitações nos meses de
março e abril. A precipitação anual varia de 150mm a 1300mm
e média de 700mm. A temperatura média está em torno de 28°C,
com mínima de 8°C e máxima em torno de 40ºC, e umidade
relativa de aproximadamente 60%.
No semiárido, fatores climáticos são mais marcantes que
outros fatores ecológicos, na definição da cobertura vegetal; por
isso, a vegetação da zona semiárida é composta por espécies
xerófilas, lenhosas, deciduais, em geral espinhosas, com ocor-
rências de plantas suculentas e afilas, de padrão arbóreo e arbus-
tivo (ALBERGARIA et al., 2010).
A geologia o ambiente semiárido é bastante variável, po-
rém com predomínio de rochas cristalinas, seguidas de áreas
sedimentares. Em menor proporção, encontram-se áreas de cris-
talino com cobertura pouco espessa de sedimentos arenosos ou
arenoargilosos. Em consequência da diversidade de material de
origem, de relevo e da intensidade de aridez do clima, verifica-se
a ocorrência de diversas classes de solo, os quais se apresentam
em grandes extensões de solos jovens e, também, solos evoluí-
dos e profundos. Quatro ordens de solo (latossolos - 19%; neos-
solos litólocos - 19%; argissolos - 15% e luvissolos - 13%), de
um total de 15 tipos de solo, ocupam 66% das áreas sob caatin-
ga, embora estejam espacialmente fracionadas (ALBERGARIA
et al., 2010).

107
DADOS DE ENTRADA
Os dados foram obtidos através de pesquisas documen-
tais, pesquisas bibliográficas e em pesquisas na internet, inclusi-
ve para obtenção de arquivos digitais. A imagem SRTM – Shu-
ttle Radar Topography Mission (Missão Topográfica de Radar
Transportado), da National Aeronautics and Space Administra-
tion – NASA. O mapa de uso do solo foi obtido da Fundação
Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos - Funceme, já
o de solos na Organização das Nações Unidas para Alimenta-
ção e Agricultura – FAO. Os dados de clima foram obtidos do
Climate Forecast System Reanalysis - CFRS, onde obteve-se os
dados especificados, para o período de simulação, de 01/01/979
a 31/12/2013, desprezado os três primeiros anos, considerado
como fase de aquecimento. Os dados então foram importados
para o banco de dados do SWAT (ver Quadro 2).
Quadro 2 - Tipos de dados de entrada no modelo
Escala /
Dado Fonte Período
Resolução
Topografia 30 m (NASA, 2000) 2000
Uso do solo 18 x 9 m (FUNCEME, 1992) 2009
(FAO - FOOD AND AG-
RICULTURAL ORGANI-
Tipos do solo 1:5.000.000 2007
ZATION OF THE UNITED
NATIONS, 2007)
Clima Diário (GLOBALWEATHER, 2018) 1979-2014

Fonte: Autor

Na primeira etapa para a aplicação do SWAT é a discreti-


zação da bacia, realizada a partir do Modelo Digital de Elevação
(MDE). Nessa etapa foram identificados o direcionamento e a
acumulação do fluxo de escoamento superficial no terreno, que
foram utilizados para delimitar a bacia hidrográfica, a rede de
canais, as sub‐bacias e os seus exutórios. A Figura 2 mostra a

108
primeira etapa do processo, delineamento da sub-bacia e a ex-
tração da rede de drenagem.
Figura 2 – Sub-bacia do Reservatório Jaburu após a primeira fase do
Swat (Delineate Watershed).

Fonte: Autor

A caracterização para a Unidade de Resposta Hidrológica


– URH, é composta de Uso do Solo, Solos e Definição de decli-
vidade. A imagem raster é carregada, relativa ao Uso do Solo e
Solos, e o programa identifica os pontos atrelados às feições. A
Figura 3 é relativa ao Uso do Solo.
Figura 3 – Sub-bacia do Reservatório Jaburu I na fase do Uso do Solo.
Ao lado simbologia de uso dos solo.

Fonte: Autor

109
Na Tabela 1, o percentual de uso do solo (cobertura e uso)
após reclassificação feita pelo programa.
Tabela 1 - Área de uso e ocupação do solo na sub-bacia, em porcenta-
gem, hectares e km2, após recodificação da classificação.
Simbologia Uso do Solo Área Área
Área (ha)
do Swat (Cobertura e Uso) (%) (km2)

Água (bacia hidráulica


WATR do Reservatório 3,61 1.076,88 10,77
Jaburu I)

Terra Agrícola de Uso


AGRL 62,54 18.673,43 186,73.
Genérico

FRST Floresta Mista 0,02 4,75 0,05


LETT Cultura de Alface 33,84 10.105,22 101,05
Total 100% 29.860,28 298,60

Fonte: Autor, de dados compilados pelo programa.

O próximo passo é dos tipos de solos, o que é visto na


Figura 4.
Figura 4 – Sub-bacia do Reservatório Jaburu I na fase de Dados dos
Solos, com legenda de símbolos dos solos.

Fonte: Autor

110
A Tabela 2 mostra o percentual do solo após reclassificação.
Tabela 2 - Classes de solo redefinidas e a área (%) ocupada na bacia.
Símbolo do Solo Área Área
Descrição Área (ha)
Solo Dominante (%) (Km2)

Fx2-2a-5473 Fx Plintossolo 93,32 27.865,34 278,65


Ferralic
Qf14-1a-5637 Qf 6,68 1.994,94 19,95
Arenosols
Total 100% 29.860,28 298,60

Fonte: Autor, de dados compilados pelo programa. Em Apêndice 2 o relatório


completo.

Passo final nesta fase de definição da URH é a definição


de classes da declividade da sub-bacia, onde foi definido cinco
classes de declividade, conforme mostrado na Figura 5.
Figura 5 – Sub-bacia do Reservatório Jaburu I na fase de Declividade
do Solo. Ao lado legenda de declividades.

Fonte: Autor

111
Na Tabela 3 as declividades por faixas correspondesntes
e áreas respectivas.
Tabela 3 - Declividade na sub-bacia em porcentagem, hectares e km2,
após reclassificação.

Declividade (%) Área (%) Área (ha) Área (km2)

0 - 2,5 21,27 6351,05 63,51

2,5 - 5,0 38,96 11634,72 116,35

5,0 - 7,5 23,77 7099,26 70,99

7,5 - 10,0 10,06 3003,29 30,03

10,0 – 999 5,93 1771,96 17,72

Total 100% 29.860,28 298,60

Fonte: Autor, de dados compilados pelo programa. Em Apêndice 2 o relatório


completo.

Em seguida, são definidas as unidades de resposta hidro-


lógica (URH), que são porções hidrologicamente homogêneas
na bacia, para isso, utiliza‐se as informações de declividade, ti-
pos de solo e os tipos de uso do solo, preservando, desse modo,
os parâmetros espacialmente distribuídos na bacia (Figura 6).
Figura 6 – Fluxograma de funcionamento do Swat

Fonte: Autor, 2018.

112
O Modelo SWAT
O modelo SWAT opera com passo de tempo diário, onde
a bacia hidrográfica é subdividida em múltiplas sub-bacias, as
quais são subdivididas em unidades de resposta hidrológica (do
Inglês Hydrologic Response Unit - HRU), que consistem em
características homogêneas de solo, uso da terra, topografia e
gestão. O modelo SWAT utiliza a Equação Universal de Perda
de Solo Modificada (MUSLE) para simular a dinâmica dos sedi-
mentos na bacia hidrográfica. Para a aplicação do modelo SWAT
são necessárias as informações pedológicas, ou atributos. Essas
informações nem sempre estão disponíveis, e, para o banco de
dados que acompanha o software, estão presentes apenas atribu-
tos para solos presentes na área de abrangência norte-americana.
Para os solos presentes no Brasil, um trabalho importante foi
realizado pela parceria entre o IFPRI (Intemational Food Policy
Research Institute) e ISRIC (International Soil Reference and
Information Centre), esforço que rendeu uma base de dados com
os principais atributos físico-químicos dos principais solos do
mundo.

113
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na Figura 8, um esquema da simulação para o período,
acusa a produção média da sedimentos, da ordem de 2,56 ton/ha.
Figura 8 – Resultado da produção de sedimentos.

Fonte: Autor

A vazão média simulada para o período foi de 0,60060


m³/s e a produção média estimada de sedimentos para a bacia
foi de 0,073142 (ton./ha x ano) durante os 35 anos analisados.
Com base nas estimativas, o total de sedimentos que foram de-
positados no reservatório foi de aproximadamente 804.979,20
toneladas (2,56 ton/ha x 314.445 ha de área da bacia hidrográ-
fica). Com isso, faz‐se necessária a utilização de políticas para
diminuir a produção de sedimentos da sub-bacia e consequente-
mente minimizar o processo de assoreamento do Reservatório
Jaburu I, que ao longo dos anos vem causando a diminuição
da sua capacidade total de armazenamento, que inicialmente, de
projeto era de 210.000.000 m³ e hoje está com 138.127.743 m³.

114
Na Figura 9 apresenta-se um comparativo entre a precipi-
tação anual observada e a vazão média anual simulada pelo
SWAT para a sub-bacia.

Figura 9 – Hidrograma e hietograma1 simulado para a sub-bacia do


Reservatório Jaburu I.

Fonte: Autor

Os resultados da vazão simulada acompanharam o com-


portamento da precipitação. assim como o esperado. com a
maior média mensal de vazão sendo observada nos anos de 2005
onde a vazão estimada foi 1,32002 m³/s. A menor vazão média
mensal simulada foi identificada no ano de 1990. com 0,08360
m³/s. valor bem abaixo da média para todo o período analisado
que é de 0,60060 m³/s.
Como já mencionado anteriormente. o volume assoreado
está na faixa de 34.42% da capacidade original do reservatório.
Na Figura 10. um gráfico de volume armazenado ao longo dos
últimos 14 anos é mostrado. e nele notamos uma redução signi-

1 Fonte: <http://diariodonordeste.verdesmares.com.br/cadernos/regional/as-
soreamento-reduz-volume-dos-reservatorios-no-ceara-1.1715220>

115
ficativa de seu percentual de reservação. a partir de 2012. devido
aos efeitos de várias secas. e um início de recuperação a partir
de 2017. Nota-se na mesma. figura (Figura 10) a capacidade má-
xima atual de 141.000.000 m³. mostrada pela linha abaixo da
capacidade.
Figura 10 – Variação diária de volume ao longo dos últimos 14 anos
para a sub-bacia do Reservatório Jaburu I.

Fonte: (FUNCEME/COGERH, 2018)

Pelos dados da Figura 10. o reservatório obteve. ao longo


do tempo mostrado. quatro situações de atingimento em sua ca-
pacidade máxima: 2004. 2008. 2009 e 2011. Após 2011 o reser-
vatório só decresceu em seu volume de armazenação. chegando
em 2015 com um percentual aproximado de 16%.
A bacia hidráulica atual do Reservatório Jaburu I tem 941
ha (9.41 km2) em seu volume atual. A cota. consultada no site
hidro.ce.gov.br. no dia 21/06/2018. é de 706.18 m. dando um
volume de 55.89 hm3. 39.64% em relação a sua capacidade de
reservação.
Ao longo destes últimos anos de escassez hídrica pinçou-
-se do gráfico da Figura 10. um volume médio. entre o máximo
e o mínimo. para os períodos entre maio de 2011 (141 hm³) e fe-
vereiro de 2016 (21,35 hm³) obtendo-se um valor de 59,83 hm³
((141 – 21,35) / 2). Com este volume médio. consultando-se o

116
gráfico da Figura 11. Obtém-se uma área. aproximada. da bacia
hidráulica inundada de 6,4 km² (68% da área atual). e de 3,01
km² (32% da área atual). de bacia hidráulica não inundada. Os
percentuais entre parênteses serão utilizados no orçamento, para
composição de volumes de dragagem da área hidráulica: inun-
dada e não inundada respectivamente, e é claro, poderão variar
quando da execução do projeto.
Figura 11 – Variação Cota x Área x Volume (CAV) do Reservatório
Jaburu I. em seu volume atual.

Fonte: http://www.hidro.ce.gov.br/

No item 2.3 - Análise dos Resultados foi dito que o Reser-


vatório do Jaburu I tinha recebido um aporte de 804.979,20 tone-
ladas. Um metro cúbico de terra úmida pesa na faixa de 3,6667
toneladas (de acordo com o item 02.01.02, código 74010/1, do
orçamento – item 2.4.7), portanto numa regra de três simples
chega-se ao resultado de 301.863,43 m3 que serão retirados da
bacia hidráulica do reservatório.
O material retirado será descartado dentro da própria sub-
-bacia, pois é rico em matéria orgânica, após a identificação de

117
áreas erodidas ou degradadas ambientalmente. servindo de re-
mediação.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no exposto. observou‐se que a bacia do Re-
servatório Jaburu I apresenta forte correlação entre o compor-
tamento da vazão e a produção de sedimentos. A estimativa da
vazão apresentou resultados condizentes quando analisada junto
à precipitação. Entretanto os resultados da produção de sedi-
mentos necessitam de uma maior precisão. sendo necessário a
calibração do modelo. o que não foi possível devido ao exíguo
tempo de preparação deste trabalho. e para isto será necessário
fazer uso de precipitações reais histórica de postos pluviométri-
cos. O Reservatório Jaburu I sofreu uma considerável perda na
sua capacidade de armazenamento. em torno de 25% em 35 anos
(em média 0.6% ao ano). que aliados ao aumento da demanda
podem acarretar diversos problemas nos próximos anos. O uso e
ocupação do solo de forma inapropriada intensificam o processo
de deposição de sedimentos. sendo necessária uma melhor ges-
tão do espaço para minimizar o assoreamento do reservatório.
A utilização do modelo SWAT como ferramenta no
auxílio do monitoramento do reservatório mostra‐se bas-
tante eficiente. principalmente. como uma forma de identi-
ficar e investigar quais áreas da bacia mais colaboram com
a produção de sedimentos. e com isso. fornecer informa-
ções que possam subsidiar planos de manejo e de gestão
de bacias. Observou-se. também. ser uma ferramenta ade-
quada para simulação de perda do solo e o consequente
transporte de sedimentos para a bacia hidráulica de um rio

118
represado. obtendo-se. portanto. uma estimativa do volu-
me assoreado no reservatório.

Concluindo. pode-se afirmar que. quanto maiores as pre-


cipitações registradas maior será a produção de sedimentos e
consequentemente maior será a descarga desse material no re-
servatório da bacia e isto fica bem relacionado com a ocupação e
uso da terra. A retirada da vegetação típica da região (vegetação
de caatinga) para usos diversos. o que implica no aumento da
utilização de espaços de recursos naturais dessas áreas e na per-
da de cobertura vegetal. que resultam em degradação ambiental
e perda da qualidade de vida da região. Dessa forma. o conheci-
mento sobre as implicações do clima e do uso no solo. influen-
ciado pelo crescimento populacional nos processos de vazão e
produção de sedimentos são essenciais para o gerenciamento
dos recursos ambientais da região semiárida do Ceará.

REFERÊNCIAS
ALBERGARIA, H. et al. Principais solos do Semiárido tropical bra-
sileiro: caracterização, potencialidades, limitações, fertilidade e ma-
nejo. [s.l: s.n.]. Disponível em: <http://ainfo.cnptia.embrapa.br/digital/
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UNITED NATIONS. THE DIGITAL SOIL MAP OF THE WORLD.
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Reservatório Epitácio Pessoa – PB. Revista OKARA: Geografia em de-
bate, v.11, n.2, João Pessoa/PB, p. 225–236, 2017. Disponível em: <www.
okara.ufpb.br>

120
PROPOSTA DE ENQUADRAMENTO DA
BACIA DO RIO PITIMBU – NATAL /RN

Lúcio Fábio Barbosa de Lima1


Maria Patrícia Sales Castro2
Karyna Oliveira Chaves de Lucena3

RESUMO: O Brasil necessita de experiências e metodologias que au-


xiliem no diagnóstico das bacias hidrográficas. Ter exemplos de estu-
dos nessa temática cria um leque de conhecimento que pode ser usado
como guia para as regiões do Brasil. No presente estudo, elaborou-se
um projeto com objetivo de enquadramento da Bacia Hidrográfica do
Rio Pitimbu, conforme preconiza a Resolução do Conselho Nacional
do Meio Ambiente nº 357/05 e a Resolução do Conselho Nacional de
Recursos Hídricos nº 91/08, com o auxílio dos seguintes instrumentos
de gestão, definidos como: diagnóstico da bacia, prognósticos da bacia
e proposta de enquadramento. Está elencado o passo a passo para as
ações de intervenção na bacia hidrográfica, assim como o cronograma,
os atores e envolvidos e os resultados esperados.
Palavras-chave: Enquadramento de Corpo D’água; Bacia do Rio Pi-
timbu; Projeto de Intervenção.

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos pelo Instituto Federal de Educação, Ciên-
cias e Tecnologia do Estado do Ceará – IFCE – e-mail: luciofabio75@
gmail.com
2 Doutoranda em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Ceará
(UFC) – e-mail: patrícia.sales@gmail.com
3 Profª. Drª. do Instituto Federal de Educação, Ciências e Tecnologia do Es-
tado do Ceará – IFCE – e-mail: karina.oliveira@ifce.edu.br
INTRODUÇÃO
O uso de instrumentos de gestão em políticas ambientais
é tema amplamente discutido na literatura internacional. Esses
instrumentos são entendidos como mecanismos indutores dos
objetivos ambientais desejados podendo ser classificados em
três grandes categorias: os regulatórios (políticas “Comando e
Controle”), os econômicos (também denominados de mercado)
e os de negociação (Ribeiro e Lanna, 2001; Van Der Zaag e Sa-
venije, 2002; Oecd, 2003; Porto e Lobato, 2004a, 2004b; Cor-
reia, 2005).
O enquadramento dos corpos d’água é o estabelecimen-
to do nível de qualidade a ser alcançado, ou mantido, em um
segmento de corpo d’água ao longo do tempo. Mais que uma
simples classificação, o enquadramento é um instrumento de
planejamento, pois é baseado não necessariamente na condição
atual do corpo d’água, mas nos níveis de qualidade que deve-
riam possuir ou ser mantidos no corpo d’água para atender às
necessidades futuras estabelecidas pela sociedade.
Para estabelecer um objetivo de qualidade da água é pre-
ciso: avaliar a condição atual do rio, ou seja, “o rio que temos”;
discutir, com a população da bacia, a condição de qualidade de-
sejada para aquele rio, “o rio que queremos”; e, por fim, discutir
e pactuar a meta com os diferentes atores da bacia hidrográfica,
“o rio que podemos ter”, levando em conta as limitações técni-
cas e econômicas para seu alcance.
Na área da gestão de recursos hídricos muitos avanços já
foram obtidos, principalmente com a instituição da Política Na-
cional de Recursos Hídricos – PNRH (Lei 9433/97), que apre-
senta o desenvolvimento sustentável regional como seu objetivo
central, adotando a bacia hidrográfica como espaço geográfico
para a sua implementação. Além disso, estabelece uma série de

122
instrumentos de gestão de recursos hídricos que visam, entre ou-
tros objetivos, assegurar à atual e às futuras gerações a necessá-
ria disponibilidade de água em padrões de qualidade adequados
aos respectivos usos (BRASIL, 1997).
Como instrumentos da PNRH incluem-se os Planos de
Recursos Hídricos, o Enquadramento de Corpos de Água, a Ou-
torga, a Cobrança pelo Uso da Água e os Sistemas de Informa-
ções sobre Recursos Hídricos. Esses, teoricamente, no seu con-
junto, permitem a atuação da gestão dos recursos hídricos nas
várias escalas geográficas, incluindo as pequenas/micro bacias
hidrográficas (LABGEST, 2011a). Vale ressaltar, porém, que o
Enquadramento do corpo hídrico é referência para os demais
instrumentos de gestão de recursos hídricos e que, portanto, é
relevante criar subsídios que colaborem para sua operacionali-
zação (ANA, 2009).
Para Amaro (2009), a implementação do Enquadramento
do corpo hídrico ainda é restrita devido, principalmente, a três
fatores: falta de conhecimento/entendimento sobre o instrumen-
to, dificuldades metodológicas para sua aplicação e insuficiência
de ações de gestão e de recursos fundamentais para sua efeti-
vação. Apesar de se conhecer os benefícios do enquadramento
de corpos de água, a sua implantação é considerada um desafio
para o sistema de gerenciamento de recursos hídricos no Brasil
(MAGALHÃES JÚNIOR, 2007), visto que são poucas as expe-
riências de aplicação desse instrumento de gestão, seguindo a
nova política de recursos hídricos (ANA, 2011).
Sob essa perspectiva, o objeto de estudo deste trabalho é
a Bacia Hidrográfica do Rio Pitimbu que está situada na região
metropolitana de Natal-RN, na qual abrange os municípios de
Macaíba, Parnamirim e Natal, e é responsável por 40 por cento
da água potável utilizada na capital Natal, abastecendo aproxi-

123
madamente 500 mil pessoas distribuídas em residências, em-
preendimentos comerciais, hoteleiro e indústrias (dados da Com-
panhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte - CAERN).
Esta bacia está saturada devido à expansão imobiliária que visi-
velmente adentra a área rural próximo de sua nascente.
Por estas razões claras e irremediáveis é que surge a
proposta de intervenção na bacia hidrográfica do Rio Pitimbu,
fundamentada pelos arcabouços jurídicos estabelecidos na Re-
solução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA)
nº 357/2005 que aborda sobre o enquadramento dos corpos hí-
dricos e determina a sua utilização e uso de acordo com o nível
de qualidade aferido. Assim, a perspectiva desta proposta é de
caracterizar, determinar e enquadrar o Rio Pitimbu, situado no
Estado do Rio Grande do Norte, na Região Metropolitana da
Grande Natal, segundo a Resolução do CONAMA nº 357/2005.
Diante do exposto esta proposta traz como objetivo o en-
quadramento da bacia hidrográfica do rio Pitimbu, conforme
preconiza a resolução do conselho nacional do meio ambiente nº
357/05 e a resolução do conselho nacional de recursos hídricos
nº 91/08. A metodologia aplicada para a realização deste estudo
está dividido em três etapas: diagnostico, prognóstico, enqua-
dramento. Diante dessas medidas, torna-se possível constatar al-
gumas irregularidades que tornem o rio Pitimbu impróprio para
os usos diretos ou não, e assim, tomar medidas mitigadoras ou
de prevenção com a adoção de sistemas de monitoramento.

JUSTIFICATIVA
O rio Pitimbu encontra-se localizado em um contexto am-
bientalmente impactado, devido problemas ambientais, socioe-
conômicos, de manejo, uso e ocupação do solo de forma irregu-
lar, na qual vem agravando a subsistência desta importante bacia

124
para os munícipes da região, uma vez que nas proximidades de
suas margens, podem ser encontradas concentrações urbanas de
baixa renda e sem esgotamento sanitário adequado, indústrias,
rodovias, lixões, cemitérios e atividades agropecuárias, dentre
outras.
Em toda a sua extensão, desde a sua nascente, na comuni-
dade de Lagoa Seca no município de Macaíba, até a sua foz, na
Lagoa do Jiquí, no município de Parnamirim, esta bacia é con-
siderada manancial superficial alimentador da Lagoa do Jiqui,
responsável por cerca de 15% do abastecimento de água para a
população de Natal e 25% para os demais municípios que abran-
ge a bacia, destacando o uso de suas águas na zona industrial de
Parnamirim e Macaíba. Outro ponto relevante é a falta de sanea-
mento básico em quase toda a sua extensão favorecendo assim a
contaminação do manancial.

OBJETIVO
Caracterizar a qualidade das águas do Rio Pitimbu/Na-
tal-RN a fim de enquadrar o mesmo nos níveis propostos pela
Resolução do CONAMA nº 357/05.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
Em algumas bacias o processo de elaboração da propos-
ta de enquadramento acontece em conjunto com o processo de
elaboração do Plano de Bacia, sendo esta a condição ideal. En-
tretanto, em algumas situações não é possível conciliar a formu-
lação desses dois instrumentos de planejamento de forma conco-
mitante (ANA, 2011). Sendo necessário quando este último caso
acontece iniciar a elaboração da proposta utilizando as diretrizes
propostas pela Resolução (CONAMA) 357/2005 e a Resolução
(CNRH) nº 91/2008.

125
A Resolução do Conselho Nacional de Recursos Hídri-
cos (CNRH) nº 91/2008 dispõe sobre procedimentos gerais para
o enquadramento dos corpos de água superficiais e subterrâneos
e trata, entre outras coisas, das etapas do enquadramento. Con-
forme estabeleceu ANA (2011) as etapas do processo de formu-
lação e implementação do enquadramento obedece à metodolo-
gia indicada nesta proposta, a saber:
• Diagnóstico da bacia;
• Prognóstico (cenários futuros);
• Elaboração das alternativas de enquadramento e progra-
ma de efetivação;
• Análise e deliberação do Comitê e do Conselho de Re-
cursos Hídricos, e;
• Implementação do programa de efetivação.
A etapa de diagnóstico pressupõe o reconhecimento dos
usos preponderantes e das fontes poluidoras na bacia e como
elas interferem na qualidade da água. Mapear a condição atual
da qualidade da água para diferentes parâmetros e o regime dos
corpos de água, que podem ter maior ou menor capacidade de
assimilação de cargas poluentes ao longo do ano.
O diagnóstico ambiental pode ser definido como o conhe-
cimento de todos os componentes ambientais de uma determi-
nada área em diferentes escalas (país, estado, bacia hidrográfica,
município) para a caracterização da sua qualidade ambiental. A
sua elaboração envolve interpretar a situação ambiental proble-
mática, a partir da interação e da dinâmica de seus componentes,
quer relacionado aos elementos físicos e biológicos, quer aos
fatores socioculturais. A caracterização da situação ou da quali-
dade ambiental pode ser realizada com objetivos diferenciados.

126
O estado do meio ambiente costuma ser avaliado por temas rela-
cionados aos aspectos físicos (clima, geologia, geomorfologia,
pedologia, hidrologia) e biológicos (fauna e flora). As pressões
são verificadas pela avaliação das atividades humanas, sociais
e econômicas (uso da terra, demografia, condições de vida, in-
fraestrutura e serviços). Assim, o diagnóstico ambiental cons-
titui o levantamento de dados ecológicos de uma dada região,
sendo uma valiosa ferramenta para orientar eventuais políticas
públicas que objetivem a melhoria da qualidade de vida da po-
pulação local.
Dessa forma, a seleção da rede hidrográfica do enqua-
dramento (Figura 1) foi determinada de modo que refletisse a
representatividade do corpo hídrico para a bacia em termos de
extensão, volume de água, carga lançada, monitoramento de
qualidade da água e unidade de conservação.
Figura 1 – Mapa indicando a bacia do Rio Pitimbu, localizado na re-
gião metropolitana de Natal/RN

127
A etapa de prognóstico utiliza diversas informações
como vazão de referência, parâmetros prioritários, cenários de
evolução das cargas poluidoras e das demandas pelo uso da
água. Com esse conjunto de informações, fazem-se projeções
com modelos matemáticos para prever as condições futuras dos
corpos de água.
A proposta de enquadramento deve ser elaborada tendo
em vista o objetivo desse instrumento: assegurar às águas qua-
lidade compatível com os usos mais exigentes a que forem des-
tinadas e diminuir os custos de combate à poluição das águas,
mediante ações preventivas permanentes. O Programa para efe-
tivação do enquadramento é o conjunto de medidas ou ações
progressivas e obrigatórias, necessárias ao atendimento das
metas intermediárias e final de qualidade de água estabelecidas
para o enquadramento do corpo hídrico Resolução CONAMA nº
357/2005. Durante o processo de enquadramento, as seguintes
questões serão levantadas para o preenchimento das informa-
ções necessárias:
i. Quais os rios que serão enquadrados?
ii. Quais os usos dos recursos hídricos, existentes e futu-
ros, para os rios definidos?
iii. Qual classe atende os usos identificados?
iv. Qual a condição atual da qualidade hídrica para a clas-
se proposta? Há diferenças entre o período seco e chu-
voso?
v. Quais as fontes de poluição que afetam a qualidade do
trecho do rio?
vi. Quais são as cargas poluidoras consideradas nas esti-
mativas dos cenários

128
futuros do processo de enquadramento?
vii. Quais são os parâmetros de qualidade da água relevan-
tes para o estudo?
viii. Quais vazões de referência serão utilizadas?
ix. Qual a é redução da poluição necessária para atender a
classe proposta?
x. Quais os custos e tempo envolvidos nas ações identi-
ficadas?
O ponto de partida para a elaboração da Proposta de En-
quadramento é a delimitação dos rios de interesse da bacia hi-
drográfica, questão levantada no item i. Em seguida, inicia-se a
etapa de diagnóstico, abrangendo as questões dispostas nos Itens
ii até vii, é nessa fase que se produz a Matriz de Enquadramen-
to mencionada por Lacerda (2013) que consiste em uma plani-
lha onde se descreve as informações necessárias para as etapas
subsequentes. A Matriz apresenta quais os corpos hídricos de
interesse para o estudo, os usos preponderantes dos recursos hí-
dricos e os trechos de investigação.
De posse dos elementos necessários para a construção da
Matriz, propõe-se a classe de enquadramento por trecho de aná-
lise e verifica-se a desconformidade dos parâmetros mensurados
pela rede de monitoramento de qualidade da água frente à classe
sugerida, expressando ainda a condição atual do corpo hídrico
para o período seco e chuvoso.
As fontes de poluição identificadas a partir do mapa de
uso e ocupação do solo e de informações técnicas existentes são
registradas em uma coluna da Matriz, que subsidia a elaboração
de ações necessárias diante das condições qualitativas identifi-
cadas. Por fim, se tem as estimativas das cargas geradas atual e

129
futura quanto aos parâmetros de qualidade selecionados, dando
suporte à etapa de prognóstico.
Na etapa de prognóstico são discutidas as questões dos
Itens viii e ix. Nessa fase é investigado o comportamento qua-
litativo das cargas futuras estimadas nos corpos hídricos de in-
teresse, através da modelagem matemática. As estimativas de
cargas se articulam com as projeções populacionais, a evolução
do uso e ocupação do solo e o balanço hídrico. Como resultado,
o modelo quantifica a redução da poluição necessária de modo a
atender a classe proposta, a partir de vazões de referência adota-
das.
A análise de custos é a etapa seguinte do processo. Nes-
se momento, articulam-se as reduções da poluição necessária es-
timada pelo modelo matemático com curvas de custo elaboradas
a partir de dados disponíveis na literatura. Os resultados gerados
delimitam a construção das metas relativas ao Programa de Efe-
tivação.
A metodologia adotada no processo de enquadramento do
rio Pitimbu-RN está consonante a Resolução Conselho Nacional
de Recursos Hídricos nº 91/2008, na qual contempla as seguin-
tes etapas: diagnóstico, prognóstico e enquadramento (Figura 2).
De forma resumida a metodologia proposta é:
i. Seleção dos cursos d’água a ser analisado.
ii. Identificação dos pontos de monitoramento de
qualidade existentes e análise da condição atual
da qualidade da água nesses pontos.
iii. Análise dos resultados da simulação da qualidade
de água no cenário atual.
iv. Análise dos resultados da simulação da qualidade

130
de água no cenário tendencial (considera que o
incremento de população apresenta o mesmo ín-
dice de tratamento dos efluentes domésticos do
cenário atual).
v. Análise dos resultados da simulação da qualidade
de água no cenário tendencial com intervenção
(considera uma elevação no índice de tratamento
dos efluentes domésticos para garantir águas pa-
drão classe 2, até o limite da tecnologia de remo-
ção disponível).
vi. Identificação dos principais usos da água nos tre-
chos de rios selecionados a partir do cadastro de
outorgas.
vii. Identificação das fontes de poluição pontual que
afetam a qualidade do rio compreendendo princi-
palmente as Estações de Tratamento de efluentes
dos municípios.
viii. Proposição da classe (Resolução CONAMA nº
357/2005) que atende aos usos da água atuais
mais exigentes para cada trecho de rio, consi-
derando-se a sua viabilidade técnica conforme
resultados obtidos através da simulação da qua-
lidade da água para o cenário tendencial com in-
tervenção.

131
Figura 2 – Principais atividades do processo de enquadramento

Fonte: SigRH (2018)

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


Espera-se caracterizar a qualidade das águas do Rio Pi-
timbu/Natal-RN, e enquadrá-lo de acordo com os níveis propos-
tos pela Resolução CONAMA N°357/05;
Espera-se que os dados gerados nesse estudo possam con-
tribuir para o monitoramento da qualidade do Rio Pitimbu/Na-
tal-RN;
Espera-se que os dados gerados nesse estudo possam sub-
sidiar medidas de controle e mitigação dos impactos gerados pe-
las atividades antrópicas;
Espera-se propor medidas mitigadoras para reduzir
os impactos socioambientais.

132
ATORES ENVOLVIDOS
Os atores desta fase do projeto serão: As unidades educa-
cionais – Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)
e o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRN),
os órgãos públicos municipais e estaduais ligados aos recursos
hídricos (IGARN, SEMARH, IDEMA, SEMURB), as prefeitu-
ras e seus órgãos fiscalizadores do meio ambiente e recursos hí-
dricos, o comitê da bacia hidrográfica do rio Pitimbu (CBHRP),
os empresários do parque industrial de Natal, Macaíba e Parna-
mirim, a sociedade civil local diretamente envolvida ao rio e/
ou ribeirinhos, a população em geral que utilizam da água para
consumo, as indústrias e agroindústrias local; Agência Financia-
dora do Projeto; Empresa contratada para a execução do Projeto.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Recursos Humanos
• Engenheiro em Recursos Hídricos ou Ambiental; Espe-
cialistas em Gestão de projetos em Recursos Hídricos ou
Ambiental; Corpo técnico em gestão ambiental; Corpo
técnico de análise laboratorial.

• Motorista e Ajudantes de serviços gerais.

Recursos Estruturais
• Laboratório para análise com estrutura adequada para
análise de solo e água; Escritório (sala) para as reuniões
com corpo técnico científico.
• Veículo de transporte de pessoal.
Recursos Materiais
• Equipamentos e materiais para coleta em campo; GPS
para marcação de ponto georeferenciado; Vidrarias diver-

133
sas para uso em análise; Computador portátil e de ban-
cada; Roupas e botas para trabalho de campo e demais
EPI’s.
Recursos Cognitivos
• Contratação de apoio técnico especializado, estagiários;
• Convênio com instituições de ensino superior para maior
divulgação e contribuição científica e estudo sistemático
da BHRP.
Recursos Financeiros
• Aporte calculado através da necessidade de diagnóstico,
enquadramento e intervenção na BHRP podendo ser ad-
quirido por convênio de entidades governamentais como
o IGARN ou SEMARH, órgãos gestores do Estado do
Rio Grande do Norte;
• Licitação Federal fomentada pela ANA (Agência Nacio-
nal de Águas) ou MMA (Ministério do Meio Ambiente).

VIABILIDADE
Viabilidade Técnica - O projeto inicial exige esforço de
campo e laboratorial, pois a maioria de suas ações será de análise
correspondente ao estágio 01 do projeto (diagnóstico da quali-
dade da água) e serão feitas em laboratório e o estágio 02 (diag-
nóstico ambiental de todo o rio) poderá ser feito com a ajuda
de tecnologia de sensoriamento remoto e/ou in locu através de
registro de imagens. O estágio 03 (execução das intervenções)
necessitará de equipe técnica que tenha conhecimento especi-
fico sobre esta parte do projeto, ao qual a empresa responsável
demonstrará todo o processo construtivo diante da necessidade
encontrada no diagnóstico da bacia hidrográfica.

134
Viabilidade Econômica Financeira - diante do trabalho
educativo sobre monitoramento das águas, obras de saneamento
rural, de conscientização ambiental e de uso racional das águas
que será realizado pela empresa responsável, o trabalho irá im-
pactar diretamente nos gastos gerados pelo desperdício e mau
uso dos recursos hídricos, dando ênfase nos desperdícios e orien-
tando nas melhores práticas de uso e reuso de água e efluentes.
Maximizando o uso, descarte correto e o reaproveitamento de
efluentes, empresas, indústrias, agroindústrias e residentes rurais
poderão investir em novas tecnologias, ou em outras formas de
investimentos em suas organizações contribuindo para o desen-
volvimento sustentável e para a preservação do meio ambiente.
Para os municípios o resultado será representativo no momento
que a empresa em questão implantar a fase de educação ambien-
tal nas escolas da região contemplada com o projeto.

RISCOS E DIFICULDADES
Quanto a riscos e dificuldades direcionadas a informação
técnica, este projeto visa amenizar através de acesso a fontes
confiáveis de informações como periódicos de organizações
creditadas nacionais e internacionalmente destacando a ANA
(Agência Nacional de Águas), o MMA (Ministério do Meio Am-
biente) e as secretarias estaduais de recursos hídricos e meio am-
biente, bem como os comitês de bacia hidrográfica. Em relação
ao financiamento do projeto a dificuldade encontra-se na deman-
da dos órgãos gestores de fomento, pois são estes que decidem
quais as prioridades para financiamento de projetos, embora este
seja um projeto indispensável para a bacia hidrográfica, sabe-
mos que outras demandas existem. As instalações e tecnologias
acessíveis irão demandar um maior esforço para conseguirmos
adquirir todos os equipamentos necessários à execução do pro-

135
jeto, tendo em vista que estes são os principais instrumentos de
formatação da intervenção ao passo que a importância destes
é de extrema e fundamental necessidade estratégica onde estão
alocados os maiores valores dos recursos dentro do projeto. Des-
ta forma, este é o grande desafio, e assim a maior dificuldade e
risco de não obter os valores e equipamentos necessários, deven-
do promover maiores esforços a fim de minimizar o insucesso
do projeto.

CRONOGRAMA
Quadro 1 - Cronograma das atividades.
Atividade/Prazo 03 06 12 24 36
meses meses meses meses meses
Diagnóstico/prognóstico x x
Caracterização da área x
Revisão bibliográfica x
Montagem do experimento x
Determinação da Malha x
amostral
Realização de análises in x x
situ e laboratoriais
Enquadramento x x
Intervenções x x
Manutenção/fiscalização e
x x x
controle

Fonte: elaborado pelo autor.

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO

O diagnóstico, a intervenção e as inspeções, visando à de-


finição do estado geral da bacia hidrográfica e desenvolvidos
pela equipe técnica serão acompanhadas pelo empreendedor e/
ou por engenheiro ou especialistas por ele contratados, para as-
segurar a necessária qualidade dos serviços prestados.

136
O contratado deve comunicar ao empreendedor e even-
tualmente solicitar sua presença sempre que detectar alguma
anomalia que assim justifique, mesmo antes da conclusão da
intervenção.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O uso de instrumentos de planejamento é fundamental
para se promover uma boa gestão baseada em princípios e va-
lores públicos. A proposta de enquadramento da qualidade de
água do rio Pitimbu tratado neste capítulo é um instrumento es-
tratégico para a gestão das águas no sentido de garantir a quali-
dade e quantidade adequada para diferentes usos, para as atuais
e futuras gerações. Acredita-se que a implantação associada dos
chamados “instrumentos de gestão” preconizados pela atual Po-
lítica Nacional de Recursos Hídricos (Lei no 9.433/97), entre
eles o enquadramento dos corpos d’água em classes de usos pre-
ponderantes e associada a cobrança pelo uso da água, auxiliarão
no controle das fontes de lançamento de resíduos, minimizando
os impactos negativos que podem causar à qualidade das águas.

REFERÊNCIAS
AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS/ANA; Ministério do Meio Ambien-
te/MMA. Caderno de Recursos Hídricos 2009. Brasília -DF. 2009.

AGÊNCIA NACIONAL DE ÁGUAS/ANA; Ministério do Meio Ambien-


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Hidráulica e Sanitária. 2009.

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a Política Nacional de Recursos Hídricos e cria o Sistema Nacional de

137
Gerenciamento de Recursos Hídricos. Versão publicada pela ABRH - Co-
missão de Gestão, São Paulo, 31 de janeiro de 1997.

______. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacio-


nal de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição
Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que mo-
dificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989.Disponível em:< http://
www3.ana.gov.br/portal/ANA/todos-os-documentos-do-portal/documen-
tos-sre/alocacao-de-agua/oficina-escassez-hidrica/legislacao-sobre-escas-
sez-hidrica/uniao/lei-no-9433-1997-pnrh/view>

______. Resolução nº 91, de 5 de novembro de 2008. Dispõe sobre proce-


dimentos gerais para o enquadramento dos corpos de água superficiais e
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139
PROPOSTA DE PROJETO DE PREVENÇÃO
E CONTROLE DE ÁREAS VULNERÁVEIS
AOS PROCESSOS EROSIVOS NA SUB-
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO
TABOÃO, MUNICÍPIO DE LORENA/SP.

Cibele dos Santos Peretta1


Reinaldo Fontes Cavalcante2
Bruno Vidal de Almeida3

RESUMO: O estudo teve como principal objetivo apresentar uma


proposta de projeto para embasar o planejamento e gestão de preven-
ção e controle das áreas vulneráveis à erosão na sub-bacia hidrográfica
do Ribeirão Taboão, em Lorena/SP, adotando programas de restaura-
ção ecológica e educação ambiental. Baseando-se no diagnóstico am-
biental da sub-bacia foi possível identificar uma área de 586,19 ha a
ser recuperada em 5 anos com investimento estimado de 9 milhões de
reais. As ações propostas serão eficientes para conservação do solo e
dos recursos hídricos que beneficiarão a população local e regional.
Palavras-chave: Erosão, Ribeirão Taboão, Restauração Ecológica.

INTRODUÇÃO
A erosão configura-se como um processo de desagrega-
ção, remoção e transporte de partículas do solo ou de rocha, cujo
principal agente é o intemperismo (NETO; BERTONI, 2017).
Apesar de ser um processo natural, a erosão também pode ser
influenciada e potencializada por ações antrópicas que alteram o

1 Engenheira Ambiental e Sanitarista, formada pela Universidade de Tauba-


té - UNITAU
2 Professor Mestre, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará – IFCE (Orientador)
3 Professor Doutor Bruno Vidal de Almeida, Centro Universitário Salesiano
de São Paulo - UNISAL(Coorientador)
meio ambiente, provocadas pelo mau uso do solo, desde o des-
matamento e atividades agrícolas sem manejo apropriado, até
obras urbanas e viárias que, de alguma forma impactam negati-
vamente nas questões ambientais, econômicas e sociais locais e,
até mesmo, regionais.
Nos dias atuais, observa-se que a preservação e conser-
vação dos recursos naturais configura-se em um grande desafio,
frente ao ritmo acelerado de consumo e produção, que impul-
siona cada vez mais o desmatamento de extensas áreas para dar
espaço à agricultura e pecuária, uso de agrotóxicos, degradação
da qualidade e diminuição da quantidade de água, além da ocu-
pação desordenada nas zonas urbanas que trazem riscos para a
população (CABRAL, 2013).
O município de Lorena, no Estado de São Paulo, incluído
no cenário apresentado, mostra-se bastante propício ao desen-
volvimento de processos erosivos críticos, devido ao seu terri-
tório marcado por vastas áreas de pastagem, decorrente da forte
incidência de gado leiteiro e de corte e presença de culturas de
eucalipto, que substituíram áreas antes povoadas por vegetação
nativa, além do predomínio de um relevo fortemente ondulado.
Perante o exposto, eventos de inundações e alagamentos na área
urbana do município são alguns dos impactos causados pelo as-
soreamento de cursos d’água decorrente do processo de erosão.
Um dos cursos d’água alvo desses eventos é o Ribeirão
Taboão, principal rio do município de Lorena e um dos afluentes
do Rio Paraíba do Sul, com prioridade de conservação definidas
no Plano Diretor, cuja sub-bacia hidrográfica, objeto deste estu-
do, está definida como prioritária pelo Comitê de Bacias Hidro-
gráficas do Paraíba do Sul – CBH-PS, no relatório de revisão do
Plano de Bacia da UGRHI 02 do período de 2016-2019.

142
Dessa forma, o presente trabalho tem como principal ob-
jetivo apresentar uma proposta de projeto que embase o plane-
jamento e gestão de prevenção e controle das áreas mais vul-
neráveis aos processos erosivos na sub-bacia hidrográfica do
Ribeirão Taboão, por meio da avaliação de dados, bases carto-
gráficas e geração de mapas da área em estudo, bem como aná-
lise da relação do fator de erodibilidade do solo e declividade
do terreno como ferramentas para diagnosticar, caracterizar e
identificar os locais com maior suscetibilidade à erosão, a fim de
propor medidas de conservação do solo e recuperação de Áreas
de Preservação Permanente (APP) e envolver atores locais em
programa de educação ambiental, visando conscientização,
aprendizado e comprometimento com as questões ambientais
envolvidas no projeto.
Com a elaboração e implementação deste projeto os ges-
tores municipais passarão a ter melhor conhecimento acerca dos
problemas referentes à erosão no município e poderão trabalhar
em prol do desenvolvimento sustentável local e regional. Além
disso, a sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Taboão terá uma me-
lhoria significativa, na quantidade e na qualidade de suas águas,
enriquecimento da biodiversidade local e dos serviços ecossistê-
micos que beneficiarão toda a população lorenense.

EROSÃO E SEUS IMPACTOS AMBIENTAIS,


ECONÔMICOS E SOCIAIS
A erosão, assim como a agricultura, possui suas origens
no passado e em cada região os processos ocorrem de maneira
interdependente (NETO; BERTONI, 2017).
Dentre as definições encontradas na bibliografia, traz-se
à tela a que define a erosão como processo de desagregação, re-
moção e transporte de partículas do solo ou de rocha, cujo agente

143
responsável é o intemperismo, isto é, ação combinada da gravi-
dade com a água, vento, gelo, organismos (plantas e animais) e
variações de temperatura. (DO AMARAL; GUTJAHR, 2012)
Dentre os fatores que influenciam e potencializam os pro-
cessos erosivos estão as ações antrópicas, nas quais o homem atua
como um agente acelerador e como transformador da paisagem,
capaz de originar impactos ambientais, econômicos e sociais.
A erosão desencadeia uma série de problemas tanto nas
zonas rurais como nas zonas urbanas. Nas zonas rurais, as pro-
duções agropecuárias sem manejo adequado do solo, propor-
cionam o surgimento ou aceleração dos processos erosivos, que
acabam afetando muitas vezes a própria propriedade rural, visto
que a erosão tende a diminuir as áreas de plantio, removendo os
nutrientes do solo tornando-o infértil, refletindo assim na produ-
ção agrícola e afetando diretamente a renda dos proprietários e
produtores rurais.
Ainda, decorrente da produção agropecuária, áreas flores-
tadas são substituídas por áreas com culturas sem nenhum ma-
nejo ou por extensos pastos, causando a degradação do solo. A
presença da vegetação é de grande importância devido a presta-
ção de seus serviços ecossistêmicos ao meio ambiente e à popu-
lação, como a de conservação do solo e produção e preservação
de água de boa qualidade.
Além disso, os impactos da erosão também são observados
nas zonas urbanas, principalmente quando ocorrem eventos de
alagamentos e inundações. Os sedimentos desagregados pela ero-
são, tendem a assorear os cursos d’água (córregos e rios) elevando
o leito e formando bancos de areia, desse modo, as precipitações
pluviais de maior intensidade elevam o nível da água em curto
período de tempo, causando prejuízos à população, seja no âmbito
da saúde, devido ao arraste dos resíduos sólidos espalhados nas

144
vias públicas e presença de vetores causadores de doenças ou até
mesmo prejuízos econômicos. Esses fatores acometem os recur-
sos da Administração Pública, que necessitam, em caráter emer-
gencial, a adotar medidas para contornar as adversidades.

CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO


O Ribeirão Taboão é um dos principais ribeirões do mu-
nicípio de Lorena cuja sub-bacia hidrográfica (Figura 1), de área
de 81,597 km², está inserida na Unidade de Gerenciamento Inte-
grado de Recursos Hídricos 02 (UGRHI 02) – Paraíba do Sul no
Estado de São Paulo.
Figura 1: Localização da sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Taboão
no Município de Lorena/SP

145
O Ribeirão Taboão possui aproximadamente 24 km de ex-
tensão, percorre tanto a área rural quanto urbana, nesta chega a
percorrer 5 km. Constata-se a existência 161 nascentes, na sub-
-bacia hidrográfica do Ribeirão Taboão, identificadas com a uti-
lização de Sistema de Informação Geográfica (Quantum GIS),
complemento “Stream Feature Extractor”.
As unidades pedológicas identificadas na sub-bacia hi-
drográfica do Ribeirão Taboão, extraídas do Mapa de Solos do
Brasil, escala 1:5.000.000 elaborado pela Embrapa foram: Ar-
gissolos Vermelho-Amarelos Distróficos, Argissolos Vermelhos
Eutróficos, Cambissolos Háplicos Tb Distróficos e Latossolos
Vermelho-Amarelos Distróficos.
A declividade predominante no município é de 20 – 45%
classificada como “Forte ondulada” ocupando uma área de
4.472,08 ha (54,83%).
Referente à cobertura da vegetação a classe de maior co-
bertura é a Pecuária (pastagem) representando 30,22 %, isto é,
2.466,06 ha.
Foi observado que a maior área de uso e cobertura do
solo na sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Taboão é o de cober-
tura herbácea arbustiva (ou pastagem), com 3.814,76 hectares
(42,95%).
Referente às Áreas de Preservação Permanente na sub-
-bacia hidrográfica do Ribeirão Taboão, estimou-se uma área
de 1.185 hectares das APPs de 30 metros e 126,45 hectares das
APPs de 50 metros, totalizando 1.311,45 hectares.
Obteve-se um número total de 81 propriedades rurais da
sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Taboão, utilizando arquivos
shapefile disponibilizados no banco de downloads do website
oficial do Cadastro Ambiental Rural – CAR.

146
ANÁLISE DA RELAÇÃO ENTRE FATOR DE
ERODIBILIDADE DO SOLO E DECLIVIDADE
DO TERRENO PARA AVALIAÇÃO DAS ÁREAS
SUSCETÍVEIS AOS PROCESSOS EROSIVOS
Para melhor avaliar os locais da sub-bacia do Ribeirão
Taboão com maior suscetibilidade aos processos erosivos uti-
lizou-se uma metodologia baseada no estudo de Pereira e Neto
(2004), voltado para avaliação da aptidão agrícola das terras.
Esta avaliação, considerou dois atributos de diagnóstico
associados entre si: a erodibilidade do solo (fator K) e a declivi-
dade do terreno, estabelecidos em graus de limitação, conforme
demonstrado nos Quadros 2 e 3. Em um primeiro momento ava-
liou-se a relação da erodibilidade dos solos e sua suscetibilidade
à erosão.
De acordo com Bertoni e Neto (2017), a erodibilidade
dos solos ou fator k, consiste na vulnerabilidade ou suscetibili-
dade de um solo à erosão, ou seja, é a resposta da sua resistência
à erosão. Assim, alguns solos erosionam mais que outros, mes-
mo que apresentem fatores de influência similares, como preci-
pitação, declividade, cobertura vegetal, etc.
Para o presente projeto, os fatores de erodibilidade (k)
dos solos classificados na sub-bacia hidrográfica do Ribeirão
Taboão foram determinados conforme consultas bibliográficas,
constantes no Quadro 1. Contudo, para a obtenção de dados mais
válidos e fidedignos, é necessário realizar a extração de amostras
em vários pontos da sub-bacia e posterior análise e classificação,
o que não foi adotado neste trabalho.

147
Quadro 1 - Valores de erodibilidade dos solos presentes na sub-bacia
hidrográfica do Ribeirão Taboão
Classe de solo Erodibilidade (Fator K) Referência bibliográfica
Ubajara - CE
0,034 t.h/MJ.mm
Latossolo (SILVA et al., 2000)
Vermelho-Amarelo 0,0342 (Horizonte A)
São Paulo
Distrófico - 0,0311 (Horizonte B)
(LIMA et al., 2016)
t.ha.h/ha.MJ.mm
Eldorado do Sul – RS (DA
0,0338 t.ha.h/ha.MJ.mm
SILVA, 2016)
Argissolo
0,0356 e 0,0235
Vermelho-Amarelo Córrego do Tijuco - SP
t.ha/ha.MJ.mm,
Distrófico (ARRAES, C. L. et al,
respectivamente para os
2010)
horizontes A e B.
Centro Leste Paulista
0,036 t.h/MJ.mm (CORRÊA, E.A et al,
Cambissolo Háplico
2015)
Tb Distrófico
Lavras – MG
0,0355 t.h/MJ.mm
(DA SILVA et al., 2009)

FONTE: A autora (2018)

Quadro 2 - Graus de limitação devidos à erodibilidade do solo (fator K)


Grau de limitação Erodibilidade (t.h/MJ.mm)
0: Nulo <0,010
1: Ligeiro 0,010 a 0,020
2: Moderado 0,020 a 0,030
3: Forte 0,030 a 0,040
4: Muito Forte > 0,040

FONTE: Adaptado de Giboshi apud Pereira e Neto (2004).

148
Quadro 3 - Graus de limitação devidos à erodibilidade do solo (fator K).
Fator K
Relevo
Ligeiro Moderado Forte Muito
Declividade Nulo
0,010 a 0,020 a 0,030 a Forte
<0,010
0,020 0,030 0,040 > 0,040
Classe (%) Tipo Grau de limitação
A 0–3 Plano 0 1 1 2 3
Suave
B 3–8 1 1 2 3 4
ondulado
C 8 - 20 Ondulado 2 3 3 4 4
Forte
D 20 – 45 3 4 4 4 4
ondulado
E 45 - 75 Montanhoso 4 4 4 4 4
Forte
F > 75% 4 4 4 4 4
Montanhoso

FONTE: Adaptações de Giboshi (1999); e Ramalho-Filho & Beek (1995) apu


Pereira e Neto (2004).
* Graus de Limitação: 0 = Nulo; 1 = Ligeiro ; 2 = Moderado ; 3 = Forte ; 4 =
Muito Forte.

GRAU DE LIMITAÇÃO
0: Nulo - solos que apresentam suscetibilidade à erosão
insignificante; 1: Ligeiro – solos com discreta suscetibilidade à
erosão; 2: Moderado –solos que apresentam moderada susce-
tibilidade à erosão; 3: Forte – solos que apresentam acentuada
suscetibilidade à erosão; 4: Muito Forte - solos com suscetibi-
lidade à erosão muito acentuada.

METODOLOGIA DE AVALIAÇÃO DAS ÁREAS


VULNERÁVEIS À EROSÃO NA SUB-BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO TABOÃO
Seguindo a metodologia baseada no estudo de Pereira e
Neto (2004), voltado para avaliação da aptidão agrícola das ter-
ras, foram identificados os níveis de erosão na sub-bacia hidro-

149
gráfica do Ribeirão Taboão, etapa necessária para identificar as
áreas mais carentes de intervenção.
De acordo com o emprego dos Quadros 2 e 3 e análise
do mapa de pedologia sobreposto ao mapa de declividade, foi
possível identificar que o relevo mais predominante na classe
de solos Latossolo Vermelho-Amarelo Distrófico (LVAd30), Ar-
gissolo Vermelho-Amarelo Distrófico (PVAd39) e Cambissolo
Háplico Tb Distrófico (CXbd7) é o forte ondulado (20-45%).
Portanto, de acordo com o Quadro 3 o fator de erodibilidade as-
sociado ao relevo e declividade demonstra um grau de limitação
de valor 4, sendo classificado como “Muito Forte”.
Com este resultado define-se as áreas mais vulneráveis
aos processos erosivos confrontando com todas as informações
encontradas nos mapas gerados, e dessa maneira, serão analisa-
das as áreas passíveis de intervenção.

IDENTIFICAÇÃO DAS ÁREAS NA SUB-


BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO
TABOÃO PROPÍCIAS À INTERVENÇÃO
Com intuito de identificar as áreas passíveis de interven-
ção para prevenção e controle dos processos erosivos foi rea-
lizada uma análise utilizando todos os mapas gerados. Foram
sobrepostos principalmente os mapas de declividade, pedologia
e uso do solo com as propriedades rurais existentes na sub-bacia
hidrográfica do Ribeirão Taboão.
Após o diagnóstico verificou-se que a sub – bacia hidro-
gráfica do Ribeirão Taboão, possui um relevo classificado como
forte ondulado (20-45%) em grande parte de seus limites,
abrangendo 54,83% (4.472,08 ha).
A cobertura herbácea arbustiva e solo exposto classifica-
dos no mapa de uso e ocupação do solo, bem como, a vegetação

150
de savana gramíneo-lenhosa e pecuária identificadas no mapa de
vegetação são dominantes na sub-bacia.
A cobertura herbácea arbustiva e solo exposto somam
54,58% (4.848,56 ha) da área. Já a vegetação de savana gra-
míneo-lenhosa e pecuária totalizam 31,81% da área (31,81 ha).
Ainda, na análise, foram incluídas as nascentes e cursos
d’água e suas respectivas áreas de preservação permanente, a
fim de identificar quais as propriedades precisam de uma inter-
venção mais urgente, isto é, aquelas com solos expostos e com
predominância de cobertura herbácea arbustiva ou pastagem.
Conforme análise foram identificadas 57 propriedades
passíveis de intervenção, compostas por 69 nascentes e 92 km
de cursos d’água.
As áreas de preservação permanente das propriedades
analisadas totalizam 586,19 ha, sendo este o valor total a sofrer
procedimentos de preservação e controle de erosão.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
A fim de alcançar o disposto nos objetivos definidos na
proposta de prevenção e controle das áreas vulneráveis aos pro-
cessos erosivos na sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Taboão,
os principais programas de intervenção estão pautados em ações
de conservação e recuperação das matas ciliares e educação am-
biental dos proprietários e produtores rurais, definidas conforme
o diagnóstico realizado, sendo a captação de recursos imprescin-
dível para dar início ao processo.

151
PROGRAMA DE CONSERVAÇÃO
E RECUPERAÇÃO DAS ÁREAS DE
PRESERVAÇÃO PERMANENTE
A recuperação e conservação de áreas de preservação per-
manente tem como principal objetivo reconstituir as matas ci-
liares dos cursos d’água presentes na sub-bacia hidrográfica do
Ribeirão Taboão e suas nascentes por meio da restauração eco-
lógica, conservando as margens dos cursos d’água, atenuando a
ação de intemperismo hídrico e assim, minimizando o proces-
so de assoreamento. Além de garantir água em boa qualidade e
quantidade decorrente da reconstituição das matas ciliares, este
programa também contribuirá para enriquecimento da biodiver-
sidade na região.

Restauração Ecológica e o seu processo na proposta de


intervenção
A restauração ecológica pode ser definida como sendo
uma intervenção humana intencional em ecossistemas degra-
dados ou alterados, para desencadear, facilitar ou acelerar o
processo natural de sucessão ecológica, conforme disposto no
Artigo 2º, Inciso I, da Resolução SMA nº 32 de 03 de março de
2014 que estabelece as orientações, diretrizes e critérios sobre
restauração ecológica no Estado de São Paulo, e dá providências
correlatas.
Esta ação ocorrerá principalmente nos locais onde nas-
centes e cursos d’água estejam inseridos em propriedades rurais
garantindo assim o envolvimento dos proprietários e produtores
rurais, que poderão acompanhar todo o processo de restauração
ecológica na prática. As propriedades serão divididas em um
conjunto de 03 regiões, de forma que as atividades e serviços
sejam melhor implementados e de maneira a facilitar a opera-

152
cionalização do programa, visto que a sub-bacia hidrográfica do
Ribeirão Taboão apresenta uma grande extensão.
Esta proposta de projeto traz os principais aspectos pre-
sentes em um processo de restauração ecológica, tratando-os de
uma forma mais ampla, visto que é necessário a avaliação da
situação ambiental de cada propriedade e/ou determinada área
da sub-bacia do Ribeirão Taboão, a fim de definir qual o método
mais adequado para que se atinja maior eficiência das operações.
Todo processo de restauração ecológica estará voltado para
atender a Resolução SMA nº 32 de 03 de março de 2014 e estão
previstas nesta proposta e estão pautadas nas seguintes ações:

a) Diagnóstico das características das propriedades


passíveis da ação de restauração ecológica

Algumas características das áreas passíveis de imple-


mentação dos processos de restauração ecológica precisam ser
avaliados mais detalhadamente para determinar o conjunto de
metodologias que deverão ser utilizadas, tais como: o bioma e
tipo de vegetação, estado de conservação do solo, declividade
do terreno, fatores de perturbação, existência e a abundância da
regeneração natural, riqueza de espécies, verificação de ocorrên-
cia de espécies exóticas, a localização de áreas com relação às
florestas nativas remanescentes, localização e extensão da área
objeto de restauração, etc. ,

b) Metodologia de restauração ecológica a ser empre-


gada na propriedade mediante diagnóstico realizado

Segundo o artigo 11 da Resolução SMA 32/2014, existem


alguns métodos de restauração ecológica que devem ser compa-
tíveis com o diagnóstico da área. Considerando as características
gerais das propriedades é indicado a utilização do método de

153
plantio de espécies nativas (plantio total) ou a condução da rege-
neração natural de espécies nativas.
Após a definição da metodologia, outros fatores devem
ser avaliados para dar início às atividades de plantio, citando:
roçada, controle de formigas cortadeiras e cupins, alinhamento
e coroamento dos berços, abertura dos berços de plantio, cala-
gem, adubação de base, a escolha das espécies indicadas para a
região, etc.
De forma a obter uma melhor coordenação e eficiência no
processo de restauração ecológica, o conjunto de propriedades
foram divididos em regiões, como na Figura 2.
Figura 2: Propriedades na sub-bacia hidrográfica do Ribeirão Taboão
dividida em 3 regiões.

154
c) Ações de proteção contra fatores de perturbação

Antes de iniciar as atividades de plantio, será realizado


um levantamento preliminar com os proprietários rurais, por
meio de entrevistas e consulta ao Cadastro Ambiental Rural
(CAR), com o objetivo de obter informações relevantes sobre
a propriedade, apontando por exemplo, vegetação existente, re-
levo, a existência ou não de animais (gado, cavalos, etc.) que
possam vir a interferir negativamente no processo. Também de-
verá ser declarado pelos interessados a ciência e anuência das
atividades a serem implementadas.
Outros fatores de perturbação que poderão afetar o suces-
so da restauração ecológica são: presença de formigas cortadei-
ras, risco de incêndios, secas prolongadas e presença de espécies
exóticas com potencial de invasão.

d) Manutenção e monitoramento do plantio durante o


prazo estipulado

Após o plantio das mudas nos locais definidos, deverá


ocorrer a manutenção do mesmo mediante o cumprimento do
cronograma para atingir a eficiência do processo de restauração
ecológica como: irrigação, roçada e coroamento pós-plantio, re-
plantio de mudas, controle de formigas, etc.

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL


VOLTADO AOS PROPRIETÁRIOS
E PRODUTORES RURAIS
A educação ambiental dos proprietários e produtores ru-
rais faz-se necessária para que o projeto atinja um resultado sa-
tisfatório. A ideia é que estes atores sejam conscientizados sobre
as questões ambientais que os cercam, entendendo os processos

155
e ações que desencadeiam a erosão e as formas de prevenção e
controle, ao mesmo passo que serão mobilizados para que atuem
como educadores ambientais na região.
O processo de educação ambiental se dará por meio um
programa que visa a realização de oficinas concomitante aos
processos de restauração ecológica nas áreas que sofrerão inter-
venção, para que os envolvidos possam conhecer e compreender
na prática os temas abordados, especialmente no que se refere à
restauração ecológica em suas propriedades.
As oficinas serão ministradas com auxílio de parceiros
com atuação e experiência nos temas, que poderão ser defini-
dos como: Erosão e seus impactos para o meio ambiente e agri-
cultura; Práticas conservacionistas do solo e água; Restauração
ecológica e sua importância para qualidade ambiental; Desen-
volvimento sustentável e as agroflorestas; Resíduos sólidos: em-
balagens de agrotóxicos; Saneamento rural; Entre outros.
Os proprietários e produtores serão submetidos a entre-
vistas, ocasião em que serão informados a respeito do projeto e
das oficinas de educação ambiental e, questionados se aceitam
que suas propriedades passem pelas intervenções.
Dessa forma, mediante cadastro, será possível obter
uma estimativa de participantes das oficinas e capacitações, pla-
nejando o local onde ocorrerão e estratégia logística.
O período de ocorrência destas atividades está estipula-
do para ocorrer semestralmente em cada região, conforme defi-
nido no cronograma do projeto.

ATORES ENVOLVIDOS
Para elaboração, implementação e operacionalização do
projeto estarão envolvidos a Prefeitura Municipal de Lorena,
principalmente por meio das Secretarias de Meio Ambiente,

156
Secretaria de Serviços Municipais e Secretaria de Agricultura
e Desenvolvimento Rural, com auxílio do Setor de Comunica-
ção e de Licitações, envolvida nos processos de contratação de
empresas que se fizerem necessárias (processo de recuperação
das áreas de preservação permanente ou recuperação das áreas
degradadas).
Outros atores com importante participação são os proprie-
tários e produtores rurais, que participarão das ações de educa-
ção ambiental visando a conscientização e aprendizado de novas
técnicas que assegurem a proteção, conservação do solo, com
consequente controle da erosão.
A busca de parcerias será imprescindível para o desen-
volvimento do projeto, salientando a participação da Coorde-
nadoria de Assistência Técnica Integral (CATi), Sindicato Rural
de Lorena, Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (SENAR),
Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias
(inpEV), Organizações Não Governamentais, Programa Nas-
centes e Instituições Acadêmicas, Ensino e Pesquisa, que atua-
rão frente a educação ambiental dos proprietários e produtores
rurais acerca de questões relativas ao saneamento rural, restaura-
ção ecológica, agroflorestas, uso adequado e alternativo do solo,
agrotóxicos, entre outros.

VIABILIDADE TÉCNICA,
ECONÔMICA E FINANCEIRA
Em relação à viabilidade técnica, para implementação e
operacionalização do projeto, existem algumas limitações refe-
rentes tanto aos materiais e equipamentos, como à mão-de-obra
oferecida pela Prefeitura Municipal de Lorena. Por isso é reco-
mendado a contratação de empresas para efetuar determinadas
atividades. Desse modo, um processo licitatório será necessário

157
para contratação de empresa especializada em executar o objeto
da proposta de projeto.
Em relação à viabilidade financeira, como os recursos
municipais voltados para as questões ambientais são escassos,
serão buscadas formas de financiamento junto aos Governo Es-
tadual e Federal, podendo ser o Fundo Estadual de Recursos Hí-
dricos (FEHIDRO); Programa Integra – SP da CATi por meio
dos Programas de Duração Continuada; Banco Nacional de De-
senvolvimento Econômico e Social (BNDES) por meio do Pro-
grama BNDES Restauração Ecológica e ainda o “Programa de
Incentivos à Recuperação de Matas Ciliares e à Recomposição
de Vegetação nas Bacias Formadoras de Mananciais de Água –
Programa Nascentes“, que possui dentre seus objetivos básicos
a ampliação da proteção e conservação dos recursos hídricos e
da biodiversidade, por meio da otimização e direcionamento de
investimentos públicos e privados para proteção e recuperação
de matas ciliares, nascentes e olhos-d’água.
Todas as ações promovidas na sub-bacia trarão retornos
ambientais e sociais positivos, visto que os benefícios proporcio-
nados pela prevenção e controle da erosão evitarão a degradação
do solo e assoreamento, diminuirão a poluição dos mananciais
por transporte de adubos, aumentarão a produtividade do solo,
refletindo diretamente na economia dos recursos municipais que
acabam direcionando recursos para limpeza e desassoreamento
dos córregos e ribeirões na área urbana.

PRAZO
O prazo para realização do programa de restauração eco-
lógica e programa de educação ambiental nas áreas indicadas é
de 62 meses, ou seja, cinco anos e dois meses.

158
INVESTIMENTO
Os serviços do processo de restauração ecológica e
dos insumos a serem utilizados, totalizaram um valor de R$
9.991.506,89 (nove milhões, novecentos e noventa e um mil e
quinhentos e seis reais e oitenta e nove centavos), conforme dis-
posto no Quadro 4.
Quadro 4 - Custo total dos serviços e insumos dos processos de res-
tauração ecológica
Custos (R$)
Região 01 Região 02 Região 03
Serviços de
restauração 2.038.920,60 1.986.371,10 1.565.975,10
ecológica
Insumos 1.595.932,93 1.569.036,82 1.235.270,34
Sub-total 3.634.853,53 3.555.407,92 2.801.245,44
Total 9.991.506,89

FONTE: A autora (2018)

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho apresentou uma proposta de projeto,
baseada no diagnóstico e caracterização da sub-bacia hidrográfi-
ca do Ribeirão Taboão no Município de Lorena/SP, por meio de
dados secundários e geração dos mapas.
O conteúdo reunido e elaborado, fundamentou a consta-
tação do nível de erosão, planejamento e gestão das áreas sus-
cetíveis aos processos erosivos identificadas na área de estudo
e com isso pode-se concluir que na sub-bacia hidrográfica do
Ribeirão Taboão apresentou o fator de erodibilidade predomi-
nante é o classificado como Muito Forte, associado ao relevo
forte ondulado (20-45%), com abrangência de 54,83% da área,
juntamente com a cobertura do tipo herbácea arbustiva e solo

159
exposto, de domínio de 54,58% e vegetação predominante de
gramínea lenhosa e pecuária, com 31,81% da extensão da sub-
-bacia.
Assim, como forma de medida conservacionista para pre-
venção e controle de erosão na na sub-bacia hidrográfica do Ri-
beirão Taboão, foram definidos dois programas para implemen-
tação e operacionalização: Programa de Restauração Ecológica
e Programa de Educação Ambiental.
No programa de restauração ecológica das áreas de pre-
servação permanente prioritárias serão recuperados 69 nascen-
tes (54,19 ha) e 92 km de cursos d’água (532 ha), inseridas em
57 propriedades rurais, totalizando assim 586,19 hectares.
O programa de educação ambiental desperta a conscienti-
zação dos produtores e proprietários rurais frente a importância
do processo de restauração ecológica para o controle dos proces-
sos erosivos, tendendo ao auxílio na colaboração, manutenção e
sucesso do mesmo, frente o que foi proposto a ser apresentado
nas oficinas e aplicado em suas respectivas propriedades
Conclui-se ainda que o emprego dessas ações é eficiente
e necessário pelo fato de conservar o solo e os recursos hídricos
diante as suas características físicas, químicas e biológicas, ci-
tando inclusive o aumento da produção de água na sub-bacia.
Além disso, essa prática amplia e potencializa os serviços ecos-
sistêmicos que beneficiam a população local e regional, bem
como a biodiversidade.

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163
REVITALIZAÇÃO DA BACIA DO RIO
ARAÇUAÍ EM ÁREAS RURAIS DO
VALE DO JEQUITINHONHA/MG
Alex Lopes Godinho1
Mayara Carantino Costa2
Francisco Rafael Sousa Freitas3

RESUMO: A degradação verificada no Vale do Jequitinhonha, região


nordeste de Minas Gerais, vem sendo causada majoritariamente pela su-
pressão da vegetação nos topos de morros, exploração indiscriminada de
cascalho e areia na cabeceira do rio e pelos processos de desmatamento
para a formação de pastagens. Com base no exposto, o objetivo desta pro-
posta de intervenção é apresentar uma metodologia para revitalização da
bacia do rio Araçuaí, através da implantação de pequenas barragens de
captação da água superficial visando à redução de erosão e assoreamento,
favorecendo o aumento da taxa de infiltração da água, controle de inunda-
ções e aumento da disponibilidade hídrica. A escolha do tema se justifica
pelo fato de se ter constatado que a perda de solo e de água tem sido um
problema recorrente nas áreas rurais dessa região em decorrência do ma-
nejo incorreto destes espaços no processo de ocupação humana, de obras
mal planejadas e do exercício de práticas agrícolas não sustentáveis. Desta
forma, mediante implantação de pequenas barragens de captação da água
superficial, espera-se propiciar uma relação mais sustentável do proprietá-
rio rural com os recursos ambientais, sustentabilidade hídrica, implantação
de arranjos produtivos e a preservação do meio ambiente.
Palavras-chave: Captação de Água Superficial; Pequenas Barragens; Re-
cuperação Ambiental; Disponibilidade Hídrica.

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos Para a Gestão Muni-


cipal de Recursos Hídricos – IFCE – e-mail: alexlopesgodinho@gmail.com
2 Engenheira Civil; Mestre e Doutora em Engenharia Civil (DEHA/UFC).
Professora do Eixo Ambiente, Saúde e Segurança do IFCE Campus de
Sobral – e-mail: mayara.carantino@ifce.edu.br
3 Engenheiro Ambiental; Mestre em Engenharia Sanitária (LARHISA/
UFRN). Professor do Eixo Ambiente, Saúde e Segurança do IFCE Campus
de Sobral – e-mail: rafael.freitas@ifce.edu.br
INTRODUÇÃO
Os seres vivos sempre buscaram formas para garantir a
própria sobrevivência e no que se referem aos seres humanos,
a capacidade criativa permitiu que os grupos desenvolvessem
uma relação mais incisiva e transformadora sobre o meio em
que vivam (CORRÊA, 2004). Ao redor do mundo, a atividade
humana é a principal causa da degradação do solo. A agricultura
se apresenta como a protagonista desta degradação estando em
jogo à viabilidade, em longo prazo, do Homem em produzir ali-
mentos.
Entretanto, o meio ambiente faz parte do dia a dia do ho-
mem e vice-versa, de forma que é fundamental reconhecer, a
partir de um bom entendimento e de um firme conhecimento,
a complexidade dos problemas e potencialidades ambientais e,
com isso, criar alternativas para promover a sustentabilidade
(ZULAUF, 2000). Entende-se por sustentabilidade a ação da-
quele que satisfaz as necessidades do presente sem comprometer
a capacidade das futuras gerações satisfazerem suas próprias ne-
cessidades (ASHLEY, 2002; MELO NETO, 2001). É também o
equilíbrio entre tecnologia e ambiente, relevando-se os diversos
grupos sociais de uma nação e também dos diferentes países na
busca da equidade e justiça social.
Desta forma, torna-se dever de todos (sociedade, empre-
sas, governos, organizações não governamentais, comunidades
e universidades), incentivar a sustentabilidade nas ações cotidia-
nas, encontrando soluções para os problemas pessoais, sociais
e ambientais por meio do desenvolvimento sustentável (COR-
RÊA, 2004).
Santos (2007) sinaliza que a necessidade de se promover
a minimização da degradação do meio ambiente tem levado em-
presas e pessoas a terem consciência de se estabelecer políticas

166
governamentais e não governamentais estratégicas e eficazes na
promoção de uma mudança representativa de paradigmas dos
sistemas de valores nesse contexto. O cenário atual de susten-
tabilidade sugere o encaminhamento de alguns planos e ações
relacionados à cooperação, conservação e parcerias entre em-
presas e meio ambiente para o reaproveitamento de resíduos e
otimização de matérias-primas na produção de utensílios para o
ser humano.
Dentre os elementos fundamentais para a sustentabilidade
da vida na Terra, a água é de suma importância para todos os
organismos, representando um recurso natural de valor inesti-
mável. Trata-se de um insumo e recurso essencial que auxilia no
desenvolvimento econômico mundial, além de ser indispensável
para a sobrevivência de todas as espécies que compõem os ciclos
químicos, biológicos e geológicos para o correto e perfeito equi-
líbrio dos ecossistemas (RODRIGUES; NISHIJIMA, 2011).
Tem-se observado no Brasil, desde a década de 1950, a
ocorrência de desmatamento, uso e ocupação desordenada do
solo para a implantação de lavouras e pastagens sem a adoção
de tecnologias adequadas de conservação de solo e água. Tal
fato tem gerado a degradação do meio ambiente e dos recursos
naturais, pois a compactação provocada pela intensa mecaniza-
ção para implantação de lavouras e a introdução de pastagens
artificiais, com maior capacidade de suporte, aumentam a densi-
dade de cabeças de animais por hectare. Essa compactação dimi-
nuiu a taxa de infiltração de água no solo que, por conseguinte,
acelera o escoamento superficial da água de chuvas, causando
danos como erosão, assoreamentos de corpos de água e nascen-
tes, resultando em enchentes no período chuvoso e redução sig-
nificativa das vazões dos rios no período de estiagem (BISPO;
LEVINO, 2011). A erodibilidade representa a susceptibilidade

167
natural do solo à erosão hídrica, expressa como a quantidade de
solo perdido por unidade de erosividade da chuva. É a reação do
solo à ação da água (WISHMEIER; SMITH, 1978). O processo
de erosão hídrica ocorre quando o impacto das gotas de chuva
causa a quebra dos agregados, o desprendimento das partículas e
o seu transporte via escoamento superficial. Esse material, pos-
teriormente, é depositado em outro local, causando a limitação
da infiltração e diminuindo a rugosidade da superfície (LE BIS-
SONNAIS, 1995).
Uma alternativa para a redução dos impactos relatados
anteriormente, é a implantação de pequenas barragens subsu-
perficiais ou “barraginhas”. De acordo com Cordoval (2009),
as barraginhas são sistemas voltados para serem construídos em
regiões em que há pastagens, pois consistem em utilizar essas
áreas, bem como as de lavouras e beiras de estradas onde há
fenômeno de enchentes para reter a água da enxurrada. É uma
forma de prevenir erosões, voçorocas e assoreamentos, a partir
da amenização das enchentes nessas áreas. Além disso, Cordo-
val (2009) ainda sinaliza que o sistema barraginhas, ao ser cons-
truído, auxilia para que haja melhor aproveitamento da água e
que este seja feito de forma eficiente, tendo como foco, o apro-
veitamento da água de chuva em grande volume. A principal
vantagem da implantação de barraginhas é fazer com que a água
da chuva intensa seja barrada, de modo a propiciar maior tempo
de infiltração desta no solo, que por sua vez, irá recarregar o
lençol freático.
Para Barros (2000), as barraginhas colhem a água prove-
niente de enxurradas e, posteriormente, fazem a rápida infiltra-
ção entre uma chuva e outra. Desta forma, elas têm a capacidade
de elevar a disponibilidade de água, contribuindo, assim, para o
aumento do nível de água armazenada no subsolo ou em cister-

168
nas, seja por meio dos minadouros ou umedecimento das baixa-
das. A relação que existe versa na ideia de que a cisterna seria
feita de tijolos implantados abaixo do nível do solo, e com o
aumento de água no lençol freático devido ao acúmulo de águas
superficiais pelas barraginhas, aumentam a quantidade de água
na cisterna.
Diante do exposto, com a finalidade de minimizar os efei-
tos dos eventos críticos de enxurradas prolongada na Região do
Vale do Jequitinhonha/MG, propõe-se a execução de obras cap-
tação e retenção dessas águas. Tal proposta constitui a constru-
ção de “Bacias de Infiltração de Águas de Chuva”, sendo estas
pequenas estruturas de acumulação de água da chuva para conter
as enxurradas, por meio da coleta da água quando esta escoa ex-
cessivamente, erosões e assoreamento dos corpos d’águas, além
de contribuir para que a água subterrânea seja recarregada. Pro-
põe-se, ainda, a médio e longo prazo perenizar os pequenos rios
e ribeirões das sub-bacias utilizando uma tecnologia desenvolvi-
da pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRA-
PA) de Sete Lagoas/MG, denominada de “Projeto Barraginhas”.
Também para produção de alimentos, capacitação dos técnicos,
para as famílias se tornarem multiplicadores, mobilização social
e integração com outras ações de convivência, pois, as barragi-
nhas provocam umedecimento das baixadas favorecendo a agri-
cultura amenizando os veranicos, e revitalizando os córregos.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
JUSTIFICATIVA
O problema que instigou a proposta deste projeto se apre-
senta desde muitos anos, pela insuficiência de água ou sua escas-
sez em determinados momentos, sendo apontada como a grande

169
responsável pelo atraso socioeconômico do Vale do Jequitinho-
nha/MG, principalmente por ser uma região semiárida.
Além do exposto, verifica-se que a degradação ocorrida
no local estudado se deu pela retirada da vegetação nos topos de
morros, exploração indiscriminada de cascalho e areia na cabe-
ceira do rio. O desmatamento desordenado para a implantação
de lavouras e pastagens gerou a degradação do solo, levando
sua à compactação provocada pela ação antrópica. Essa com-
pactação diminuiu a taxa de infiltração da água, acelerando o
escoamento superficial da água de chuvas e provocando danos
como erosão, diminuição da disponibilidade das águas superfi-
ciais, bem como o rebaixamento do lençol freático.
Assim, as consequências repercutem demasiadamente
na redução da taxa de infiltração da água no solo, resultando
no aumento de geração de deflúvio superficial da precipitação,
provocando erosão, principalmente do tipo laminar que degrada
e empobrece o solo. Isto posto, também carrega sedimentos e
poluentes para os corpos hídricos agravando os níveis de asso-
reamento, elevando o risco de enchentes e diminuindo a susten-
tabilidade da produção agrícola.
Desta forma, a proposta de intervenção se justifica pelo
fato de se observar que a perda de solo e água tem se tornado um
grave problema recorrente nas áreas rurais e urbanas e acontece
principalmente em função do manejo incorreto destas áreas, de
obras mal planejadas e do exercício de práticas agrícolas não
sustentáveis. Tais atitudes juntamente com o crescimento popu-
lacional e as mudanças e variabilidades climáticas vêm amea-
çando a disponibilidade de água nessa região.
As barraginhas construídas às margens das estradas para
captação e detenção da água que escoa pelo leito vêm sendo uti-

170
lizadas também como técnica de manejo e conservação do solo
e da água, principalmente no controle de erosão em estradas.
Diante do exposto, esse projeto de intervenção se justifica
pela necessidade de reduzir os efeitos dos acontecimentos de
estiagem críticos e prolongados no Vale do Jequitinhonha/MG,
o qual se fez necessária a realização dessas obras hídricas, com
o intuito de minimizar os efeitos causados pela ocorrência de
eventos adversos e pela falta de recursos hídricos.

OBJETIVO
Objetivo Geral
Propor a revitalização da bacia do rio Araçuaí (nas áreas
rurais do Vale do Jequitinhonha/MG) mediante implantação de
pequenas barragens de captação da água superficial, de forma a
propiciar uma relação mais sustentável do proprietário rural com
os recursos ambientais, sustentabilidade hídrica, implantação de
arranjos produtivos e a preservação do meio ambiente.

Objetivos Específicos

• Atender com sistemas de barraginhas às famílias rurais


nos municípios contemplados no projeto;
• Mobilizar as comunidades e organizações representativas
dos agricultores familiares nos municípios contemplados
no Projeto;
• Capacitar grupo de técnicos para atuar como multiplica-
dores e assessores microrregionais;
• Capacitar grupos de agricultores locais para atuar como
multiplicadores comunitários;

171
• Capacitar agricultores envolvidos no projeto sobre convi-
vência com o semiárido para fins de produção de alimen-
tos nos sistemas barraginhas;
• Proporcionar a troca de experiências e difusão da tecnolo-
gia do método de construção de sistemas de barraginhas;
• Difundir métodos de preservação e recuperação de áreas
degradadas.

ÁREA DE ESTUDO
A Bacia Hidrográfica do rio Araçuaí (Figura 1), situa-se
na mesorregião do Vale do Jequitinhonha/MG, onde estão mu-
nicípios como Diamantina e Capelinha. O clima na bacia é con-
siderado semiúmido, com período seco durando entre quatro e
cinco meses por ano, situando-se a disponibilidade hídrica entre
2 e 10 litros por segundo por quilômetro quadrado nas partes
mais altas e entre 10 e 20 litros por segundo por quilômetro qua-
drado nos vales.
Figura 1. Bacia Hidrográfica do Rio Araçuaí.

Fonte: http://comites.igam.mg.gov.br/comites-estaduais-mg/jq2-cbh-
-do-rio-aracuai.

172
A bacia do rio Araçuaí encontra-se inserida na Unidade
de Planejamento e Gestão de Recursos Hídricos (UPGRH JQ2),
uma das 36 unidades físico-territoriais destinadas à aplicação da
Política de Recursos Hídricos no Estado de Minas Gerais, ins-
tituídas pela Deliberação Normativa CERH n° 06 do Conselho
Estadual de Recursos Hídricos (CERH/MG), de 04 de outubro
de 2002.
O relevo da bacia do rio Araçuaí é caracterizado por qua-
tro feições geomorfológicas distintas: as serras, os planaltos, as
chapadas e as depressões. A vegetação natural, na bacia do rio
Araçuaí, é dividida em três tipos principais: floresta tropical sub-
caducifólia, representada por matas pluviais, hospedada sobre
solos do tipo Podzólico Vermelho-amarelo no alto curso; flores-
ta tropical caducifólia não espinhosa, representada pelas matas
de cipós, sobre solos do tipo podzol e latossolo nas altas verten-
tes da Serra do Espinhaço ao sul da Bacia; e a caatinga, sobre
solos podzólicos vermelho-amarelos no baixo e médio curso.
Sobre a caracterização do solo, nota-se que na bacia hi-
drográfica do rio Araçuaí ocorre quatro tipos de solos, defini-
dos como: Podzólicos Vermelho-Amarelo e Vermelho-Escuro;
Cambissolos; Latossolos Amarelo, Vermelho- Amarelo e Ver-
melho-Escuro; e Litossolos.
A propensão a erosão hídrica é relevante devido às chuvas
concentradas, característica do domínio tropical. As áreas con-
sideradas potencialmente favoráveis à erosão coincidem com os
solos mais susceptíveis a processos erosivos, com o relevo mais
acidentado, os desmatamentos mais generalizados e o uso inade-
quado do solo. De maneira geral, os solos no território da bacia
do rio Araçuaí, apresentam uma propensão à erosão natural a
reduzida. As áreas de propensão à erosão grave ocorrem asso-

173
ciadas às bordas das serras e a solos mais susceptíveis à erosão
(Argissolos e Cambissolos).
Acerca do uso e cobertura do solo, a bacia hidrográfica do
rio Araçuaí encontra-se relativamente bem preservada. Aproxi-
madamente 69,97% da área da bacia possuem cobertura vegetal
nativa, marcada por cerrado, campo cerrado, além de florestas
deciduais e semideciduais.
As áreas urbanas presentes na bacia representam apro-
ximadamente 0,23% do total da área, evidenciando a presença
de pequenas cidades, com pouca expansão horizontal, e em boa
parte dos centros urbanos limitados por uma topografia aciden-
tada. Quanto ao uso antrópico, a bacia tem 26,89% do seu terri-
tório ocupado por pastagens ou florestas plantadas, e em menor
proporção por áreas de cultivo.
A questão que envolve a qualidade das águas superficiais,
a bacia do Rio Araçuaí ou UPGRH JQ2, apresenta atividades
minerais, prevalecendo, entretanto, a agropecuária extensiva e
lavouras com roça de toco. A maior parte das lavouras é ocupada
por culturas temporárias, sendo eles o milho, o feijão, cana-de-
-açúcar (muito utilizada na fabricação das cachaças), e arroz.
Entre as culturas de ciclo permanente destaca-se o café.
Na bacia hidrográfica do rio Araçuaí, ocorrem dois perío-
dos hidrológicos bastante distintos e que permitem a separação
da hidrografia em duas componentes principais: a da vazão bá-
sica, advinda da descarga dos aquíferos freáticos, e a do escoa-
mento superficial (runoff), proveniente da água precipitada na
bacia e que não sofre infiltração ou evapotranspiração.

METODOLOGIA
1. A instalação das “Barraginhas” obedecerá à relação
de famílias encaminhada pelo Comitê da Bacia Hi-

174
drográfica e demais parceiros, os quais serão os res-
ponsáveis pelo trabalho de seleção, cadastramento e
capacitação das famílias beneficiárias do projeto;
2. O cadastramento, por sua vez, se dará por meio da
assinatura do Termo de Adesão ao projeto por cada
beneficiário autorizando a entrada das máquinas para
execução das obras em sua propriedade;
3. Será feita uma análise de Viabilidade Técnica para a
aprovação, demarcação do local e acompanhamento
da execução das obras serão realizadas pelo Coorde-
nador Municipal (será definido pelos parceiros) tendo
em vista o Termo de Cooperação Técnica assinado es-
pecificamente para esta finalidade com a EMBRAPA;
4. Posteriormente, será realizada a mobilização da co-
munidade, pois, embora os produtores possam parti-
cipar isoladamente desse projeto, na grande maioria
dos casos, eles participam coletivamente, envolvendo
sua comunidade. Mesmo que cada produtor pretenda
construir barraginhas por conta própria, tanto a mobi-
lização como os treinamentos são feitos em comum
(em grupo), além de poderem parecer produtores pri-
vados que atuam com recursos próprios, indo às reu-
niões, treinamentos, tornando-se capazes de fazer as
barraginhas por conta própria.

A mobilização será dividida em quatro fases:


De acordo com a Embrapa (2009), a primeira fase é re-
ferente aos primeiros contatos, em que acontecerá por meio de
palestra ou reunião, apresentada por participantes do projeto.
Normalmente, um multiplicador/disseminador faz o primeiro

175
contato levando a ideia/projeto à comunidade. Normalmente, es-
ses multiplicadores são técnicos da EMATER (Empresa de As-
sistência Técnica e Extensão Rural) ou de alguma organização
não governamental (ONG), sindicatos ou voluntários. Existem
também os primeiros contatos de quem assistiu pela TV, leu em
jornais ou em revistas, ou ouviu falar desse sistema no municí-
pio vizinho. Assim, os multiplicadores interessados entram em
contato com a Embrapa, iniciando-se o envolvimento.
Ainda conforme a Embrapa (2009), a segunda fase é a
visita ao projeto-piloto, voltado para a organização de uma visita
da comunidade para que os participantes conheçam os proje-
tos-piloto da região. Para que essa visita ocorra com sucesso,
deverá ter o envolvimento do Poder Público para providenciar
transporte, despesas com refeições, etc.
Sobre a terceira fase, a Embrapa (2009) indica que o
treinamento seja realizado no local, por meio do agendamento
de uma data e, durante esse treinamento, aprende-se a locali-
zar (marcar) as barraginhas nos veios das enxurradas e se cons-
troem duas barraginhas, ficando treinados técnicos operadores
de máquinas e beneficiários para entenderem e fiscalizarem os
trabalhos futuros.
Por fim, a quarta fase é, segundo a Embrapa (2009), a
construção das primeiras barraginhas, visto que os participantes,
motivados, darão início democraticamente ao processo de ade-
são e de cadastramento dos beneficiários, decidindo-se quantas
barraginhas serão feitas por comunidade e beneficiário.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


Ao final da execução da intervenção, espera-se alcançar
os resultados e impactos positivos:

176
• Controle de erosões, assoreamentos, amenização de en-
chentes na área;
• Redução de transporte de água por caminhão pipa para
abastecimento rural;
• Melhoria da qualidade da água armazenada e diversifi-
cação de produtos agrícolas, garantidos pelo aumento da
quantidade de água armazenada no solo;
• Avanços na sustentabilidade econômica pela geração de
renda para as famílias atendidas pelo projeto.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
a. Levantamento das características das águas superficiais
e subterrâneas: as inferências estatísticas quanto à hi-
drologia da bacia do rio Araçuaí foram obtidas a partir
dos dados de vazão média diária de 15 estações fluvio-
métricas, selecionadas pelas suas respectivas áreas de
influência e disponibilidade de dados. A metodologia
referida será aplicada às estações selecionadas;

b. Realização do cadastro preliminar dos pontos d’água


(poços e fontes/nascentes), tomando como base as pla-
nilhas de dados das fontes de abastecimento do diagnós-
tico dos municípios inseridos na bacia hidrográfica. Os
dados disponibilizados nessas Planilhas não permitiram
o cálculo dos parâmetros hidrodinâmicos dos sistemas
aquíferos analisados. Como consequência dessa compi-
lação, obteve-se um cadastro de 594 registros de pontos
de água e as informações levantadas mostraram a quase
ausência de dados técnicos de perfuração;

177
c. Primeira fase: referente aos primeiros contatos, que
acontecerão por meio de palestra ou reunião, apresenta-
da por participantes do projeto visando propor o uso de
tecnologias sociais sustentáveis, buscar alternativas tec-
nológicas que levam em consideração o conhecimento
popular e a aplicação de técnicas simples, de baixo custo
e impacto e que podem ser mais apropriadas, eficien-
tes e eficazes frente à realidade de uma dada localidade.
O diálogo sobre as tecnologias e técnicas de conheci-
mento comunitário juntamente com aquelas produzidas
pelos centros de pesquisa deve ser estimulado sempre
que possível. A tomada de decisão quanto às tecnologias
que serão utilizadas, bem como o sistema de gestão dos
serviços, não deve levar em consideração apenas os as-
pectos convencionais, mas observar na formulação dos
seus custos e benefícios a participação popular, a inclu-
são social, aspectos culturais e tradicionais, entre outros;

d. Segunda fase: Nesta fase serão discutidas ações a res-


peito das culturas locais, considerando a diversidade
cultural presente na área proporciona uma riqueza de
olhares e percepções sobre a realidade que deve ser res-
peitada na condução do processo. As tradições locais,
assim como o seu patrimônio histórico, devem ser con-
sideradas no planejamento das ações, uma vez que re-
velam a ligação da população ao lugar em que vivem;

e. Terceira fase: treinamento no local em que se espera


alcançar maior ênfase na escala da localidade, com-
preendendo que a participação comunitária é facilitada
na escala local, onde os laços territoriais, econômicos
e culturais fortemente ligados às noções de identidade

178
e pertencimento estão presentes e marcantes. A proxi-
midade da realidade a qual se quer transformar, assim
como dos fatores que afetam diretamente a qualidade de
vida da comunidade, é um grande estímulo para a atua-
ção cidadã. Acompanhar de perto a evolução e os resul-
tados positivos das ações deflagradas fortalecem a par-
ticipação popular e tende a estimular a adesão de novas
pessoas, grupos e instituições no decorrer do processo;

f. Quarta fase: construção das primeiras barraginhas que


contará com a participação comunitária e controle social
de modo a estimular os diversos atores sociais envolvi-
dos para interagir de forma articulada e propositiva. A
ideia é que a comunidade seja mais do que a beneficiária
passiva dos serviços públicos. Seja atuante, defensora e
propositora dos serviços que deseja em sua localidade,
por meio de canais de comunicação e de diálogo entre a
sociedade civil e o poder público.

ATORES ENVOLVIDOS
Os atores envolvidos no projeto de intervenção serão
aqueles que definirão as comunidades a serem beneficiadas com
o projeto. Assim, se pode afirmar que, dentre os atores envolvi-
dos, tem-se, em conjunto com as Prefeituras, Conselho Muni-
cipal de Desenvolvimento Rural e Sustentável (CMDRs), EM-
BRAPA, Sindicatos Trabalhadores Rurais, EMATER e o CBH
– Comitê da Sub - Bacia Hidrográfica do Rio Araçuaí com a
comunidade local para estabelecer um vínculo de cooperação
com estes Organismos, por meio de sua participação ativa no
processo. Serão priorizadas as Associações de Agricultores Fa-
miliares presentes em cada município contemplado no Projeto.

179
CRONOGRAMA
A Tabela 1 apresenta o cronograma de execução da pro-
posta para um horizonte de 12 meses de implementação, preven-
do a realização de três reuniões de sensibilização; capacitação de
um mínimo de 120 pessoas; a implantação de 5 mil barraginhas,
100 lagos lonados e a coleta de dados de 300 famílias.
Tabela 1. Cronograma de execução da proposta de intervenção.
Cronograma
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
de Execução
Sensibi-
lização e
mobilização
social
Visita ao
projeto
piloto
Treinamento
Primeira
coleta de
dados
Implantação
das Barragi-
nhas
Segunda
coleta de
dados
Confecção
de material
gráfico infor-
mativo e de
divulgação
do projeto
Gestão ad-
ministrativa/
técnica

180
GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
Visando democratizar o processo de gestão e acompanha-
mento, o presente projeto terá duas instâncias de gestão. Assim
sendo, este é feito por meio de comitê gestor e por profissionais
competentes para analisar corretamente os locais a serem cons-
truídas as barraginhas.
No caso do Comitê Gestor, é um espaço político e propo-
sitivo, coordenado por um coletivo de entidades governamentais
– Diretoria Comitê Bacia, Sindicatos de Trabalhadores Rurais,
EMATER, IEF, Associações comunitárias, e representantes de
entidades não governamentais pertencentes aos colegiados terri-
toriais, etc. Os agricultores também terão assento assegurado no
comitê. Cabe ao comitê à definição, encaminhamento de orien-
tação e reorientação de estratégias.
O monitoramento e avaliação serão subsidiados por re-
latórios produzidos pela equipe técnica de assessores, como
também será subsidiado através das observações das visitas in
loco. O comitê deverá respeitar a dinâmica de trabalho da enti-
dade proponente, a qual coordenará a execução do projeto.
Durante a implementação do projeto, a coordenação do Comitê
Gestor fará o monitoramento das ações visando a reorientação
durante o processo, utilizando os seguintes instrumentos:
• Prospecções dos resultados intermediários, no que tange
aos aspectos quantitativos e qualitativos das ações, ativi-
dades e metas previstas;
• Gerenciamento em banco de dados das informações e da-
dos dos resultados intermediários facilitando a emissão
dos relatórios;

181
• Reuniões técnicas ou oficinas para discussão das ações e
apresentação de relatórios de acompanhamento dos resul-
tados intermediários e definição de novas estratégias de
execução, quando for o caso;
• Relatórios parciais escritos.
À coordenação do Comitê Gestor caberá também, articu-
lar as parcerias necessárias para o desenvolvimento do Projeto
e divulgar o projeto, indicando em igualdade de condições as
parcerias institucionais envolvidas.
A avaliação de resultados é responsabilidade da propo-
nente realizar consultoria para identificação do marco zero na
ocasião de implementação das ações cujos resultados serão com-
parados com aqueles obtidos das avaliações realizadas durante
e no final do processo de implementação das etapas previstas no
projeto. Para tanto, serão construídos indicadores qualitativos e
quantitativos a fim de permitir leitura da ação do projeto.
Quanto aos profissionais competentes para analisar corre-
tamente os locais a serem construídas as barraginhas, se faz pelo
fato de a qualidade dos recursos humanos ser um dos principais
fatores de seu sucesso ou fracasso. Para a correta implantação
das bacias de infiltração, inicialmente, se faz necessário uma
avaliação da área em questão, levando em conta características
da região, como relevo, cobertura vegetal e tipo de solo.
Como visto anteriormente, as bacias devem ser selecio-
nadas, tanto em tamanho quanto em número, de acordo com as
características locais, como o volume da enxurrada, declividade
do terreno e a velocidade de infiltração da água no solo.

182
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Socialmente, este projeto se mostra viável de ser executa-
do devido ao fato de proporcionar vários benefícios à sociedade,
pois as barraginhas irão conter as enxurradas e, consequente-
mente, diminuirá a possibilidade de erosão, enchentes e assorea-
mento. Isso trará mais tranquilidade para toda a população local.
Somado a isso, a sociedade ainda ganhará por oferecer maior
segurança à agricultura local e aprenderá a lidar com a água da
chuva, utilizando de estratégia para seu reuso e aproveitamento
em benefício da coletividade.
É importante que a gestão seja da comunidade, mas com
apoio do Poder Público no envolvimento, no financiamento
(parcial ou total) das despesas e no uso de máquinas. O intuito
dessa parceria é aproximar a comunidade, os técnicos e o Poder
Público. É importante destacar o apoio de Ematers, do sindicato
dos trabalhadores rurais das prefeituras e do Ministério Público
Estadual, que através de termo de ajuste de conduta (TAC),
transformam multas ambientais em barraginhas suportando o
processo de implantação dessas obras.

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construção. São Paulo: Saraiva, 2002.

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183
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pa Informação Tecnológica: Brasília, 2009.

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ZULAUF, W. E. O meio ambiente e o futuro. Estud. av.,  São Paulo,  v.


14,  n. 39, Aug.  2000.

184
SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS PARA A
GARANTIA HÍDRICA, ENERGÉTICA E
ALIMENTAR EM UMA MICROBACIA
DO RIO SÃO FRANCISCO, MG

Geize Carla Soares Marques1


Pedro Paulo Ferreira Silva
Francisco Rafael Sousa Freitas2

RESUMO: O “Nexo Água-Energia-Alimento” é a prerrogativa essencial


ao desenvolvimento humano, demandando manejo integrado e governança
por meio de diferentes setores e distintas escalas. Com vistas à preservação e
recuperação ambiental, ao uso sustentável da biodiversidade local, à correta
gestão dos recursos naturais e ao desenvolvimento de sistemas produtivos
eficientes, à integração das três seguranças (hídrica, energética e alimentar)
à população residente no Cerrado, o projeto será estabelecido na unidade de
planejamento e gestão da microbacia do córrego Bauzinho. Essa microbacia
encontra-se em escassez hídrica não conseguindo suprir a demanda de água
para abastecimento público e dessedentação animal que são usos prioritá-
rios. Para tanto, a metodologia adotada prevê o diagnóstico e construção de
mapas temáticos em parceria com entidades acadêmicas, poder público e
sociedade civil; o manejo sustentável das 37 nascentes que formam o cór-
rego Bauzinho com ações de cercamento; cobertura vegetal das nascentes
degradadas e/ou perturbadas; conservação de solo com construção bacias de
contenção e redefinição dos trajetos das estradas rurais; monitoramento da
vazão; monitoramento da cobertura vegetal por sensoriamento remoto; as-
sistência técnica para o sistema produtivo de leite; estudo de demanda ener-
gética das atividades de pecuária leiteira e viabilidade técnico-econômica na
implantação de microusina fotovoltaica; formação/capacitação para fortale-
cer a participação da comunidade local e encontro científico para divulgação
e difusão tecnológica para replicar nas microbacias rurais da região. Com

1 Especialista em Elaboração e Gerenciamento de Projetos para a Gestão


Municipal de Recursos Hídricos - IFCE
2 Engenheiro Ambiental; Mestre em Engenharia Sanitária (LARHISA/
UFRN). Professor do Eixo Ambiente, Saúde e Segurança do IFCE Campus
Sobral - email: rafael.freitas@ifce.edu.br
essas ações torna-se possível aumentar substancialmente a eficiência do uso
da água nesses setores, assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de
água doce para enfrentar a escassez hídrica.
Palavras-chave: Escassez Hídrica; Diagnóstico de Nascentes; Cobertura
Vegetal; Conservação de Solo. Participação Comunitária.

INTRODUÇÃO
O “Nexo Água-Energia-Alimento” é uma abordagem di-
ferenciada no campo da sustentabilidade, demandando manejo
integrado e governança por meio de diferentes setores e distintas
escalas territoriais. Esse nexo se coloca como uma proposição
de busca de eficiência sistêmica, como uma reflexão e como
um contraponto ao desempenho isolado de distintos setores. A
prerrogativa é de que água, alimento e energia se constituem
como elementos essenciais ao desenvolvimento humano e que
esses são providos a partir de cadeias interdependentes comple-
xas onde há constantes compensações (trade-offs) não lineares
(HOFF, 2011; ALLOUCHE et al.,2015).
A consciência global da necessidade de medidas urgentes
no que diz respeito à segurança hídrica, alimentar e energética
tem crescido significativamente nos últimos 20 anos, mas há um
longo histórico de complacência a superar. A água é um tema
subjacente a uma vasta gama de questões econômicas, ambien-
tais, sociais e políticas e tem sido constantemente subvalorizada.
A situação cada vez mais grave da segurança hídrica está come-
çando a afetar os sistemas alimentar e energético mundiais, com
maiores impactos sobre as regiões mais pobres e vulneráveis do
planeta. A água é o elo entre todos os aspectos do desenvolvi-
mento humano (PINHO & SCARPA, 2017).
A segurança hídrica é, portanto, vital para todos os seto-
res sociais e econômicos, bem como base dos recursos naturais
de que o mundo depende. Mas o crescimento demográfico, o

186
desenvolvimento econômico e a má gestão da água estão co-
locando nossos recursos hídricos em um risco sem precedentes
(BOGARDI, 2012).
As bacias em áreas rurais apresentam extensas áreas de
cultivo ou pastagens e podem mostrar alterações na qualidade
das águas e nos regimes de escoamento em função da alteração
da cobertura vegetal (TUDIZINI, 2006).
Os impactos mais visíveis estão associados à forma de
manejo do solo e a erosão hídrica, que ao degradar a solo causa
dificuldades produtivas como perda de rendimentos às popula-
ções rurais (ATTANASIO, 2004).
Devido a sua importância para a manutenção do equilíbrio
ambiental, a elaboração de projetos de recuperação dessas áreas
passa a ser extremamente necessária. A recuperação de uma área
degradada deve ter como objetivos recuperar sua integridade
física, química e biológica (estrutura) e, ao mesmo tempo, re-
cuperar sua capacidade produtiva (função), seja na produção de
alimentos e matérias primas ou na prestação de serviços ambien-
tais (RODRIGUES & GANDOLFI, 2001).
Para Ross (1993), uma alternativa para recuperação de
áreas em microbacias é a utilização de práticas conservacio-
nistas, levando em consideração a potencialidade dos recursos
naturais além das fragilidades ambientais (degradação). Rodri-
gues & Gandolfi (1993) ressaltam que a recuperação das áreas
de preservação permanente deve seguir características do meio
ambiente em questão para que se possa desta forma, imitar a
recuperação natural, implicando em menor custo e melhor efi-
ciência de resultados. No planejamento de bacias rurais, os pro-
dutores são considerados elementos chave para preservação e
recuperação ambiental, uma vez que o poder de decisão sobre
a adoção de práticas sustentáveis de cultivo e gerenciamento da
propriedade rural cabe a eles.

187
Com vistas à preservação e recuperação ambiental, o uso
sustentável da biodiversidade local, à correta gestão dos recursos
naturais e ao desenvolvimento de sistemas produtivos eficientes,
envolvendo, obrigatoriamente, ações que integrem as três segu-
ranças (hídrica, energética e alimentar) à população residente
no Cerrado, o projeto aqui descrito será estabelecido na unidade
de planejamento e gestão da microbacia do córrego Bauzinho,
afluente do rio São Francisco, que com período de estiagem pro-
longado no Cerrado, o aumento das atividades agropecuárias,
redução drástica da vegetação nativa e expansão das pastagens
degradadas encontra-se em escassez hídrica não conseguindo
suprir a demanda de água para abastecimento público e desse-
dentação animal que são usos prioritários de acordo a Política
Nacional de Recursos Hídricos (Lei n° 9.433/1997).
Tendo como ponto de partida a questão da ausência da se-
gurança hídrica na microbacia, buscaremos diagnosticar por meio
de levantamento in loco, as áreas de preservação permanente de
todas as nascentes e sensibilizar os proprietários para que promo-
vam os cuidados essenciais para recuperar ou conservar as fontes
hídricas, bem como promovam soluções sustentáveis para garan-
tir a segurança energética e alimentar na microbacia.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
JUSTIFICATIVA
O projeto tem origem no ano de 2016 fundamentado no
desejo coletivo dos moradores da comunidade de Pindaíbas de
recuperar e proteger as nascentes do córrego do Bauzinho, pois
nos últimos anos a comunidade vem sofrendo as consequências
da crise hídrica, já que o córrego Bauzinho não consegue suprir
a demanda hídrica (funções ecológicas e de abastecimento hu-
mano), sendo necessário o abastecimento da população por meio

188
de caminhões-pipa. Ressalta-se que em 2017, o abastecimento
por meio de caminhão-pipa se intensificou, prolongando-se por
período maior que nos anos anteriores.
Diante disso, as reflexões e discussões comunitárias, que
têm origem neste grave problema que afetou o cotidiano dos
moradores, se transformaram neste projeto e por meio da meto-
dologia de participação social facilitou o processo de transposi-
ção do problema em uma importante alternativa de superação e
enfrentamento coletivo do mesmo.

OBJETIVOS
Objetivo geral
Contribuir com soluções sustentáveis para garantir a se-
gurança hídrica, energética e alimentar na microbacia do córre-
go Bauzinho pertencente à bacia hidrográfica do rio São Fran-
cisco localizada no distrito de Pindaíbas, no município de Patos
de Minas/MG.

Objetivos específicos
• Diagnosticar a área da microbacia do córrego Bauzinho
(objetivo executado);
• Promover a recuperação das nascentes formadoras do
córrego Bauzinho;
• Promover a conservação do solo da microbacia;
• Monitorar a vazão das nascentes e da calha central do cór-
rego Bauzinho;
• Monitorar a cobertura vegetal das nascentes com o SIG;
• Melhorar o sistema de produtividade leiteira;
• Promover estudos da demanda energética associada à pro-
dutividade leiteira;
• Apoiar e fortalecer a participação da comunidade local,
para melhorar a gestão da água;

189
• Gerar e divulgar os resultados e tecnologias desenvolvi-
das para replicar nas microbacias rurais da região.

ÁREA DE ESTUDO
A microbacia do córrego Bauzinho (Figura 1), possui
17,59 km², situa-se no distrito de Pindaíbas, criado em 1976,
localizado a 35 km do município de Patos de Minas/MG, o qual
possui aproximadamente 1500 habitantes.
O clima é tropical de altitude e possui duas épocas bem
distintas. A época seca, que corresponde também ao período
frio, compreendendo os meses de abril a setembro e acentuada-
mente junho e julho, quando o índice de precipitação pode ser
nulo e a temperatura média é de 16,6 °C. A época chuvosa, que
corresponde ao período quente do ano com temperatura média
de 27,6 °C prolonga-se de outubro a março, sendo que a maior
concentração de chuva é nos meses de dezembro e janeiro e a
precipitação média fica em torno de 1.473,26 mm. O relevo é
ondulado com algumas serras em destaque.
Figura 1 – Mapa de hidrologia da microbacia

Fonte: PRONASCENTES (2016).

190
A microbacia do córrego Bauzinho encontra-se inserida à
bacia do rio São Francisco, na Unidade de Planejamento e Ges-
tão de Recursos Hídricos – UPGRH SF4. Além disso, o córrego
Bauzinho é manancial de abastecimento público, sendo que a
Companhia de Abastecimento de Água e Esgoto do Estado de
Minas Gerais – COPASA capta 5l/s para tratar (sistema de trata-
mento convencional) e abastecer a sede do distrito de Pindaíbas.
O esgoto na comunidade é apenas coletado e lançado in natura
nos corpos d’água adjacentes.
A microbacia pertence ao bioma Cerrado, o qual possui
extensas áreas que foram totalmente substituídas por atividades
agropecuárias, sendo que as pastagens predominam no distrito,
o que gera um alto impacto no solo com o pisoteio do rebanho,
além da degradação das nascentes pelo trânsito dos animais e pelo
desmatamento das suas áreas de preservação permanente. A ve-
getação nativa é escassa (Figura 2) e altamente fragmentada, sem
conectividade entre os fragmentos de vegetação, o que aumenta
a necessidade de intervenção para a recuperação de microbacia.
Figura 2 – Mapa de uso e ocupação da microbacia

Fonte: PRONASCENTES (2016).

191
Na microbacia há presença de solo exposto e a declivi-
dade é caracterizada como forte-ondulada 20-45%, tendo assim
um escoamento superficial intenso (Figura 3).

Figura 3 – Mapa de declividade da microbacia

Fonte:PRONASCENTES (2016)

Há vários pontos de processos erosivos à montante das


nascentes e essa degradação nas áreas de preservação perma-
nente (APP) induz à impactos negativos, já que a preservação
da mesma é considerada de suma importância para a manuten-
ção do equilíbrio ambiental por apresentar funções essenciais
ligadas ao escoamento hídrico da microbacia, proporcionando
melhorias na qualidade e quantidade de seus recursos, ciclagem
de nutrientes, filtragem de resíduos, condições para desenvolvi-
mento biótico, prevenção e controle de processos erosivos além
de incremento na qualidade de solo (LIMA & ZAKIA, 2000).

192
METODOLOGIA
A metodologia adotada consiste nas seguintes atividades:
• Para garantir a segurança hídrica o projeto propõe o ma-
nejo sustentável das 37 nascentes que formam o córrego
Bauzinho com diagnóstico e construção de mapas temáti-
cos; execução de cercamentos; cobertura vegetal das nas-
centes degradadas e/ou perturbadas por meio de técnicas
de recuperação/restauração e monitoramento da por sen-
soriamento remoto; conservação do solo com construção
bacias de contenção, redefinição dos trajetos das estradas
rurais e monitoramento de vazão.
• Para garantir a segurança alimentar, o leite foi o alimento
selecionado e o projeto prevê assistência técnica no sis-
tema produtivo da pecuária leiteira já que o leite é um
alimento indispensável na cadeia alimentar e fonte de
renda para as famílias dessa microbacia, que atualmente
integram a Associação de Produtores Rurais Boa Espe-
rança. Na microbacia os produtores se associaram para
armazenar e resfriar o leite, que posteriormente é vendi-
do a uma cooperativa de laticínios local. Nos processos
de produção, transporte, armazenamento e resfriamento
do leite, existem grandes consumos energéticos. Com a
instabilidade no sistema de abastecimento de energia elé-
trica, todos esses processos produtivos ficam em situação
de risco.
• No âmbito da segurança energética, serão realizados es-
tudos técnicos por meio de levantamentos do perfil de
consumo energético para subsidiar a implantação de mi-
crousina fotovoltaica para auto-produção de energia lim-
pa, energia solar, para Associação, agregando assim eco-

193
nomia com energia hidrelétrica, tornando a atividade mais
sustentável, motivando ainda mais a difusão das energias
alternativas no meio rural.
• Permeando as três seguranças propõem-se dias de forma-
ção/capacitação para fortalecer a participação da comuni-
dade local e encontro científico para divulgação e difusão
tecnológica para replicar nas microbacias rurais da região.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


• 37 nascentes diagnosticadas e confecção do mapa da mi-
crobacia (resultado já alcançado);
• 33 nascentes cercadas, totalizando aproximadamente 26
ha, livres do pisoteio do gado minimizando os impactos
ambientais e contribuindo para aumento da quantidade e
qualidade dos recursos hídricos;
• 37 pontos de monitoramento de vazão de nascentes na
microbacia;
• 1 ponto de monitoramento de vazão na calha central do
córrego Bauzinho;
• 37 visitas com relatórios técnicos compostos: pelo diag-
nóstico hidroambiental das nascentes, levantamento flo-
rístico para melhor adequação das espécies às áreas que
serão recuperadas;
• 37 nascentes com cobertura vegetal monitoradas com au-
xílio de imageamento e técnicas de sensoriamento remo-
to;
• 12.615 mudas de espécies nativas plantadas na modalida-
de reflorestamento e/ou enriquecimento, que contribuirão

194
para aumentar a infiltração da água da chuva no solo, im-
pedir o processo de assoreamento das nascentes, além de
atrair animais dispersores que vão reflorestar a área gra-
dativamente;
• 30 bacias de contenção construídas para captação de água
da chuva, visando conservação do solo e aumento da
quantidade de infiltração de água no solo;
• 12 km de estradas rurais conservadas e redefinidas;
• Melhoria da produtividade e da qualidade de leite produ-
zido na microbacia, contribuindo para o aumento da renda
familiar;
• 21 mapeamentos da demanda energética das famílias;
• 50 pessoas capacitadas e que passarão a ser multiplicado-
ras dessas informações;
• 21 famílias orientadas e sensibilizadas para readequar as
instalações rurais a fim de minimizar as contaminações
das nascentes e do lençol freático;
• 4 Dias de formação com a comunidade local e proprietá-
rios rurais;
• 1 encontro técnico científico para divulgação dos resulta-
dos alcançados pelo projeto.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
1. Diagnosticar a área da microbacia do córrego Bauzinho (Meta
cumprida).
Etapa 1: Cadastrar e diagnosticar as propriedades
Etapa 2: Construção de mapas temáticos.

195
2. Promover a recuperação das nascentes formadoras do
córrego Bauzinho
Etapa 1: Cadastramento e formalização
Etapa 2: Isolamento da área de captação conforme legislação
vigente
Etapa 3: Recuperação da cobertura vegetal das áreas de preser-
vação permanente conforme dados do relatório de visita técnicas
por meio de estratégias do sistema de restauração.

3. Promover a conservação do solo da microbacia


Etapa 1: Construção de bacias de contenção para captação de
água de chuva, visando a conservação do solo e o aumento da
infiltração de água no solo.
Etapa 2: Redefinição de trajetos e conservação das estradas ru-
rais da microbacia

4. Monitorar a vazão da microbacia


Etapa 1: Monitorar as vazões das nascentes
Etapa 2: Monitorar a vazão por meio da instalação de vertedor
e régua limnimétrica na calha central do manancial.

5. Monitorar a cobertura vegetal das nascentes com o SIG;


O acompanhamento da cobertura vegetal por meio de imagens
do satélite SANTINEL 2, o qual possui uma resolução temporal
de 10 dias de período de retorno para imageamento.
Etapa 1: Obter imagens preliminares de satélites no sítio earthe-
xplorer.usgs.gov
Etapa 2: Tratamento das imagens utilizando softwares Envi 5.2.

196
Etapa 3: Com a metodologia da Segmentação de imagens será
levantada a cobertura vegetal para elaboração da base inicial
para o monitoramento.
Etapa 4: Comparação semestralmente da evolução da vegeta-
ção da microbacia, deixando em destaque prováveis áreas que
possam ter passado por ações antrópicas (áreas desmatadas).

6. Melhorar o sistema produtivo da pecuária leiteira;


Etapa 1: Registrar rotineiramente e sistematicamente todas as
informações provenientes do sistema produtivo;
Etapa 2: Promover estudo conjunto entre o extensionista da
EMATER e o produtor para analisar as informações obtidas nos
relatórios a fim de identificar os pontos a serem trabalhados;
Etapa 3: Promover assistência técnica e aplicação das tec-
nologias adequadas e viáveis ao sistema produtivo assistido;

7. Promover estudos da demanda energética associada à


produtividade leiteira;
Etapa 1: Cadastrar as propriedades da região de estudo
Etapa 2: Contabilizar a demanda energética da microbacia
Etapa 3: Estimar a viabilidade técnico-econômica da implanta-
ção de uma usina fotovoltaica na Associação de Produtores Boa
Esperança.

8. Apoiar e fortalecer a participação da comunidade local,


para melhorar a gestão da água;
Etapa 1: Promover ações de mobilização e capacitação para es-
tabelecer as parcerias compartilhadas.
Etapa 2: Dia de formação/ mutirão sobre Cercamento/isola-
mento de APP de nascentes.

197
Etapa 3: Dia de formação/mutirão sobre plantios em áreas de
APP de nascentes
Etapa 4: Dia de formação com orientação sobre as práticas de
conservação do solo da microbacia
Etapa 5: Dia de formação com interação dos nexus de seguran-
ça hídrica, energética e alimentar.

9. Gerar e divulgar os resultados e tecnologias desenvolvidas


para replicar nas microbacias rurais da região;
Etapa 1: Promover evento Técnico Científico para apresentação
dos resultados do projeto.
Etapa 2: Publicar trabalhos e artigos nos veículos acadêmicos, ,
encontros, simpósios e congressos acadêmicos para disseminar
os resultados obtidos na pesquisa.

ATORES ENVOLVIDOS
O presente projeto tem como atores os pequenos agricul-
tores familiares, cujas propriedades estão inseridas na microba-
cia. No entanto, apesar de atuar diretamente com este público,
o projeto beneficiará também a população da sede do distrito, o
qual é abastecido pelas águas desse manancial.
A população diretamente envolvida é de 21 famílias, e
indiretamente de 1500 habitantes do distrito, além de contri-
buir com a vazão da bacia hidrográfica do rio São Francisco na
mesorregião do Alto Paranaíba onde existem aproximadamente
12,7 milhões de habitantes.

RECURSOS NECESSÁRIOS
Os recursos necessários para execução do projeto
poderão ser na modalidade financeira ou não financeira,
incluindo setores empresarial e/ou governamental.

198
O Poder Público Municipal contará com o apoio técnico
dos profissionais das instituições parceiras, para a implantação
do projeto na microbacia.
Recursos antes da intervenção: serão necessários recur-
sos humanos, materiais, cognitivos e organizacionais para a fase
de diagnóstico.
Recursos durante a intervenção: serão necessários re-
cursos humanos, estruturais, materiais, cognitivos, organizacio-
nais, políticos e financeiros.
Recursos após a intervenção: serão necessários recur-
sos humanos (proprietários rurais para executar as manutenções
relacionadas ao replantio, capinas, adubação de cobertura e re-
toque de cerca), recursos cognitivos para o monitoramento das
vazões e emissão dos relatórios técnicos de acompanhamento.

VIABILIDADE
Do ponto de vista econômico, a contrapartida financeira
é superior 200 porcento e no projeto consta corpo técnico extre-
mamente qualificado, o que assegura ações assertivas para solu-
cionar os problemas ambientais do território da microbacia do
córrego Bauzinho.
Por conseguinte, o projeto de pesquisa contribuirá para o
desenvolvimento de soluções sustentáveis para garantir, de for-
ma integrada, as seguranças hídrica, energética e alimentar no
bioma Cerrado, promovendo sinergia e complementaridade en-
tre ações dos setores governamentais, acadêmicos, empresariais
e da sociedade civil organizada. Com vista a permitir o uso de
técnicas diferenciadas, economicamente viáveis.
Ademais, a consolidação das parcerias com as instituições
supracitadas e com manifesto de apoio declarado da população,
que vivencia a escassez hídrica no distrito de Pindaíbas, torna-se

199
possível implementar as ações elencadas nesse projeto que tem re-
levância para os pesquisadores, instituições e alunos bolsistas que
irão, na prática, vivenciar tais ações e fomentar futuras pesquisas
para auxiliar as populações de demais microbacias no município.

RISCOS E DIFICULDADES
A não liberação dos recursos financeiros dentro do cro-
nograma previsto se constitui no maior risco para a execução
do projeto, comprometendo o alcance das suas metas e dos seus
objetivos. No entanto, a interrupção definitiva do repasse do re-
curso financeiro por parte do ente financiador inviabilizará total-
mente a execução do projeto.
A execução do projeto também será comprometida no caso:

a) dos proprietários rurais não permitirem e/ou não realizarem a


manutenção dos cercamentos e plantio e não realizarem o geren-
ciamento adequado dos processos produtivos leiteiros;
b) As concessões das imagens de satélites para o monitoramento
da cobertura se manterem vigentes durante o projeto;
c) Os equipamentos de medição de vazão serem lidos correta-
mente para garantir a confiabilidade dos dados;
d) Os parceiros cumprirem com suas atribuições e não serem
omissos na execução das ações previstas no cronograma;
e) O maquinário para a conservação do solo ser disponibilizado
em tempo hábil;
f) A sensibilização dos proprietários para cercar as APP confor-
me preconizado pela Lei por serem pequenos produtores rurais;
g) Os processos licitatórios para a aquisição dos insumos e equi-
pamentos não serem eficiente e eficaz.

200
CRONOGRAMA
AÇÃO DE
ATIVIDADES TRIMESTRE
INTERVENÇÃO

 1 - Diagnosticar a Cadastramento e diagnóstico das 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12


área da microbacia propriedades
do córrego Bauzinho JÁ CONCLUÍDA
Construção de mapas temáticos

Cadastramento e formalização JÁ CONCLUÍDA


2 - Promover
a recuperação Isolamento da área de captação
X X X                  
das nascentes conforme legislação vigente
formadoras do Recuperação da cobertura
córrego Bauzinho vegetal das áreas de preservação       X X              
permanente
Construção de bacias de contenção   X X     X X          
3 - Promover a con-
servação do solo Redefinição de trajetos e
  X X     X X     X X  
conservação das estradas rurais
Monitoramento das vazões das
X X X X X X X X X X X X
4 - Monitorar a vazão nascentes
da microbacia Monitoramento da vazão na calha
X X X X X X
central do manancial

201
 Obtenção imagens preliminares de
X X X X X X X X X X X X
satélites
Tratamento das imagens por meio
5 - Monitorar a re- X X X X X X X X X X X X
dos softwares Envi 5.2.
composição vegetal
das nascentes com Levantamento de cobertura vegetal
o SIG com a metodologia da Segmenta- X X X X X X X X X X X X
ção de imagens
Comparação mensalmente da evo-
X X X X X X X X X X X X
lução da vegetação da bacia
Registro das informações do siste-
X X X X X X X X X X X X
ma produtivo
Estudo conjunto entre o extensio-
6 - Melhorar a produ- X   X   X   X   X   X  
nista da EMATER e o produtor
tividade leiteira
Assistência técnica e aplicação
de tecnologias viáveis ao sistema   X   X   X   X   X   X
produtivo
Cadastramento das propriedades
X                      
7 - Promover estu- da região de estudo
dos da demanda Contabilização da demanda ener-
energética associa-   X X                  
gética da microbacia
da à produtividade
Estimativa da viabilidade técno-e-
leiteira
conômica da implantação de usina       X X              
fotovoltaica

202
Ações de mobilização e capacita-
ção para estabelecer as parcerias X                      
compartilhadas
Dia de formação sobre Cercamen-
  X                    
to/isolamento de APP de nascentes

8 - Apoiar e fortale- Dia de formação/mutirão sobre


cer a participação da plantios em áreas de APP de nas-   X   X              
comunidade local centes
Dia de formação com orientação
sobre as práticas de conservação   X                    
do solo
Dia de formação com interação dos
nexus de segurança hídrica, ener-       X     X     X    
gética e alimentar

9 - Gerar e divulgar Realização do Encontro Técnico-


                      X
os resultados e Científico
tecnologias desen- Publicação de trabalhos e artigos
volvidas                 X X X X
científicos
10 – Elaborar rela-
tórios parciais das
Elaboração de relatórios parciais X X
atividades desenvol-
vidas
11 – Monitorar a exe- Acompanhamento e avaliação do
X         X           X
cução do projeto projeto 

203
GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO
Para o monitoramento da cobertura vegetal o Centro Uni-
versitário, por meio das imagens de satélite acompanhará men-
salmente a restauração das nascentes. As vazões serão monito-
radas por meio da leitura das réguas linimétricas com apoio de
atores da microbacia.
A gestão do projeto ficará a cargo da Prefeitura Munici-
pal, a qual executará o gerenciamento técnico por meio da Di-
retoria de Meio Ambiente/ Coordenação de Recursos Hídricos
Municipais do Programa Pronascentes, imbuída de copilar os
dados fornecidos pelos parceiros e emitir relatórios semestrais
de monitoramento.
Esses relatórios serão apresentados à comunidade local e
divulgados no portal da Prefeitura Municipal.

CONISDERAÇÕES FINAIS
A combinação do uso de ferramentas tecnológicas (SIG e
sensoriamento remoto) com ações de mobilização social é pri-
mordial para empoderar os pesquisadores e populações locais
para uma governança das águas inovadora nas microbacias, vi-
sando uma abordagem sistêmica e ampla participação de todos
os setores da comunidade.
A gestão ambiental do município para o acesso à água de
boa qualidade e quantidade é um importante instrumento para
garantir a segurança hídrica, energética e alimentar da popula-
ção, bem como fortalecer as parcerias efetivadas e ações com-
partilhadas entre a Administração Municipal e as instituições
parceiras.
Cabe ao gestor ter conhecimento amplo sobre o universo
dos recursos hídricos para avaliar e gerir adequadamente pro-

204
jetos que visem atender às demandas hídricas locais, pois com
essas ações torna-se possível aumentar substancialmente a efi-
ciência do uso da água nesses setores, assegurar retiradas susten-
táveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez
hídrica.

REFERÊNCIAS
ATTANASIO, C.M. Planos de manejo integrado de microbacias hidro-
gráficas com uso agrícola: uma abordagem hidrológica na busca da
sustentabilidade. Tese de doutorada apresentada na Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz – USP. Piracicaba, 2004.

BOGARDI, Jano. O desafio da segurança hídrica. Planet Under Pressu-


re. London, 2012.
LIMA, W. P.; ZAKIA, M.J.B. Hidrologia de matas ciliares. In: Matas
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Disponível em: < www.inpe.br/igbp/arquivos/Water_FINAL_LR-portu-
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RAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS, 1993, Curitiba. Anais... Curitiba:
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RODRIGUES, R. R.; GANDOLFI, S. Recomposição de Florestas Na-


tivas: princípios gerais e subsídios para uma definição metodológica. Re-
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ROSS, J. L. S. A Abordagem Geográfica no Planejamento Ambiental.


São Paulo, 1993.
RUIZ-JAEN, M.C.; AIDE, T.M. Restoration success: how is it begin mea-
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TUNDIZINI, J.G. Recursos Hídricos no Futuro: Problemas e Soluções.


Estudos Avançados, v. 22, n. 63, 2008.

205
ZONEAMENO ECOLOGICO E
ECONOMICO DA BACIA DO RIO PIRAPÓ

Ms. Sara Lucia Orlato Selem


Dr. Petrônio Emanuel Timbó Braga
Dra. Lidiane Gomes da Silva

RESUMO: O Brasil tem enfrentado nos últimos 50 anos, sinais de


crise ambiental e social danosos à espécie humana. Estes sinais vêm se
consolidando desde a segunda metade do século XX pelo modelo de
agricultura intensiva que segue se fortalecendo no que hoje se denomi-
na agronegócio. Atualmente sabe-se que a monocultura em larga esca-
la, aliado ao uso de agrotóxicos, provoca grandes danos à biodiversi-
dade e conservação dos recursos hídricos. Neste contexto, o Estado do
Paraná, especificamente a cidade de Maringá, está fortemente inserido
neste modelo de agricultura. No entanto, essa realidade se confronta
com perspectivas da região, que envolve a agricultura familiar em pes-
quisas para o desenvolvimento no sentido da transição agroecológica.
O modelo ecológico tem ganhado força, desenvolvendo formas de ma-
nejo de culturas organizativas com potencial de superar o agravamento
dos problemas ambientais e conservação dos recursos hídricos. Neste
contexto, o presente projeto, teve como objetivo diagnosticar através
de análise bibliográfica o zoneamento ecológico econômico (ZEE)
apontando as fragilidades ambientais sobre os recursos hídricos pro-
vocados pela agricultura convencional analisando trabalhos realizados
na área da Bacia do Rio Pirapó, descrevendo a viabilidade da transição
agroecológica como projeto de intervenção da Bacia, para a conserva-
ção e manutenção dos mananciais. Como resultados foram encontra-
dos trabalhos científicos para a Conservação dos Recursos Hídricos,
Índice de Sustentabilidade de Bacias, e Cultivos Agroecológicos bem
como estudos envolvendo o ZEE na Bacia do Rio Pirapó e estudos em
outras Bacias que auxiliaram o desenvolvimento do ZEE como projeto
de intervenção.
Palavras-chave: Agroecologia, Recursos Hídricos, Zoneamento Am-
biental.
INTRODUÇÃO
A crescente urbanização da cidade de Maringá, norte do
Paraná, modificou a estrutura da vegetação original e vem modi-
ficando até os dias de hoje seus padrões ambientais. A partir da
década de 40, nessa região houve uma grande retirada da cober-
tura original de Mata Atlântica, criando-se a cidade e abrindo-se
espaço para implantação de um polo de agricultura intensiva em
Maringá. Na época, o solo era de ótima qualidade e assim, as in-
formações disseminaram no mundo, incentivando a migração de
famílias em busca de sobrevivência e prosperidade (CASSARO;
CARREIRA, 2000). Conhecida com seus aspectos de cidade
verde e planejada, amplamente arborizada, teve seu desenho ar-
quitetônico respeitando os fundos de vales com o intuito de con-
servar seu patrimônio natural, onde os principais córregos foram
mantidos no seu planejamento (SILVA; NÓBREGA, 2007).
Anos mais tarde, a estratégia da modernização da agricul-
tura chegou à região visando à produção intensiva e extensiva
de grãos para gerar excedentes, e foi baseada na criação de gran-
des complexos agroindustriais. Essa realidade gerou uma rápida
eliminação das matas para a ocupação agrícola do solo e foi o
ponto de partida para o desequilíbrio ambiental, gerando graves
problemas de erosão (CASSARO; CARREIRA, 2000).
Dados da Companhia de Saneamento do Paraná (SANE-
PAR), em 2007, já apontavam para inúmeros problemas ambien-
tais listados para a Bacia do Rio Pirapó, como por exemplo: a
perda das florestas naturais e matas ciliares para ocupação agrí-
cola do solo, consolidando um mau uso do solo levando car-
regamento de grande quantidade de solo fértil para dentro Rio
Pirapó, provocando assoreamento e deterioração do manancial.
A utilização de terras com agricultura intensiva refletiu na degra-

208
dação do solo e, consequentemente, na qualidade ambiental da
área total, comprometendo os recursos hídricos.
Diante do exposto, este trabalho teve como objetivo diag-
nosticar estudos bibliográficos envolvendo o zoneamento ecoló-
gico e econômico na Bacia do Rio Pirapó, da região de Maringá,
Paraná, bem como analisar estudos em outras Bacias e elaborar
um projeto de intervenção traçando o Zoneamento Ecológico
Econômico – (ZEE) de uma região onde abrange a bacia em
questão.
Sendo assim, o presente projeto de intervenção justifica-
-se devido ao fato de que, com o estabelecimento e prática do
ZEE como formas de cultivos agroecológicos em suas proprie-
dades rurais, os agricultores estarão contribuindo para preserva-
ção dos cursos d’água. Como descrito por Carvalho e colabora-
dores (2007), o manejo adequado tanto do solo como da água,
é um pré-requisito que se deve ter sempre em mente quando há
propostas para estabelecer sistemas de cultivos de sustentabili-
dade ambiental.

PROBLEMA
A região de Maringá, no estado do Paraná, o planeja-
mento ambiental em direção à condução da sustentabilidade e
conservação dos recursos naturais, na sua maioria, estão concen-
trados no âmbito ideológico e teórico. Esta se insere no histórico
de uso e ocupação do solo que se agrava progressivamente no
que tange aos impactos negativos causados aos recursos hídri-
cos pela ação antrópica na área de bacia do Rio Pirapó. Den-
tre os problemas, destacam-se: a precariedade de zoneamentos
ambientais, Avaliação de Impacto Ambiental (AIA) e Relatório
de Impacto Ambiental (RIMA); ocupação desordenada; falta de
saneamento básico e gerenciamento efetivo dos resíduos.

209
Por outro lado, o município agrega um conjunto de fa-
tores potenciais para o desenvolvimento de ações voltadas à
conservação ambiental: a existência de inúmeras áreas naturais
protegidas dentro da região de abrangência; muitas hortas urba-
nas com desenvolvimento agroecológico; sítios e cooperativas
agroecológicas, tais como rede de agroecologia a Naturingá, um
capital de serviços ambientais e científico bem desenvolvido;
recursos naturais em abundância; iniciativas locais em organiza-
ção produtiva e agroecologia; dentre outros.

JUSTIFICATIVA
A realização do presente projeto de intervenção vem
corroborar com a necessidade da criação de parâmetros e refe-
rências positivas, respaldadas cientificamente, que possam con-
tribuir com respostas às demandas da sociedade para que se mi-
nimize o uso de agrotóxicos, amplie a fiscalização de despejos
de esgotos irregulares, aplique-se as leis ambientais vigentes e
monitore as áreas de ocupação irregulares em área de preserva-
ção permanente.
Diante disto, com este estudo será possível diagnosticar
através de dados bibliográficos, as melhores estratégias de ela-
boração de um zoneamento ecológico econômico e observar e
valorizar as particularidades previstas na determinação de zonas
distintas da Bacia do Rio Pirapó, na região de Maringá, Paraná,
viabilizando o estabelecimento de
alternativas de uso e gestão que oportunizam as vantagens
ecológicas do território da Bacia, priorizando a conservação dos
recursos hídricos (LIMA, 2006).

210
ÁREA DE ESTUDO
A área de diagnóstico do Zoneamento Ecológico Eco-
nômico (ZEE) foi analisada inicialmente por meio de análises
bibliográficas relacionadas com pesquisas que envolvem o diag-
nóstico de possíveis elaborações de ZEE nas áreas contempla-
das pela Bacia do Rio Pirapó (Figura 1), pertencente ao Bioma
Mata Atlântica. Além disso, foram analisadas bibliografias que
envolvam estudos de elaboração de ZEE em outras Bacias, para
fins de identificação de situações problemas, que poderão ser
aplicadas no presente projeto de intervenção em algumas áreas
da Bacia do Rio Pirapó, em Maringá.
Figura1 – Mapa de localização da Bacia do Rio Pirapó, Maringá, PR.

Fonte: Baldo; Galiani; Dziubate (2012).

211
METODOLOGIA
A pesquisa se realizou com caráter quali-quantitativa de
revisão bibliográfica, visando explorar a literatura em busca de
pesqisas quem envolvam do problema pesquisado, ou seja, a
necessidade de elaboração de um ZEE, análise de diagnósticos
para identificação da necessidade de implantação de um ZEE e
buscar resultados que sirvam de exemplos para estimular a com-
preensão do problema e mecanismos de resolução dos mesmos.
Os dados bibliográficos envolveram o objeto de pesquisa,
como por exemplo, diagnóstico de dados para a elaboração do
ZEE na região de Maringá, estado do Paraná, agroecologia, re-
cursos hídricos e zoneamento ambiental. Os estudos primários
foram realizados com base em pesquisas dos seguintes autores:
Cassaro (2003), Costa (2013) e Braido (2015), tendo em vis-
ta que os mesmos são referências importantes na área do tema
proposto para a elaboração de um projeto de intervenção para o
ZEE.
A busca dos estudos primários desenvolve-se por busca
manual: visita aos sites e/ou anais de conferências e periódicos
em busca dos artigos sobre o tópico pesquisado e busca automá-
tica, visitando bibliotecas digitais. Utilizou-se ainda das seguin-
tes bibliotecas digitais: Google Acadêmico, Scielo e Portal de
Periódicos CAPES.

REFERENCIAL TEÓRICO
A Agenda 21 dispõe que, “[...] o manejo holístico da água
doce como um recurso finito e vulnerável e a integração de pla-
nos e programas hídricos setoriais aos planos econômicos e so-
ciais nacionais são medidas de importância fundamental para a
década de 90 e o futuro”. De todos os recursos naturais, a água

212
se apresenta como o bem primordial. Toda a vida e o arranjo dos
ecossistemas naturais dependem da água. A qualidade de vida de
todos os seres vivos está diretamente ligada à existência de água
em abundância e em qualidade, e para a própria atividade eco-
nômica, a água é o recurso mais relevante, sejam na agricultura
ou em diversas outras atividades que fazem parte do processo de
transformação de insumos em bens e serviços. Por este motivo é
que a água é considerada um dos principais problemas ambien-
tais (ANA, 2007).
Como descreve o Relatório sobre o Desenvolvimento
Humano, divulgado pelo PNUD (2006), cerca de 1,4 bilhão de
pessoas vive em Bacias Hidrográficas, onde a utilização de água
extrapola os níveis de reposição, o que tem levado diversas fon-
tes de água ao seu fim. O mesmo relatório estima que o núme-
ro de pessoas vivendo em regiões com problemas hídricos (em
termos de oferta e/ou qualidade da água) deverá saltar de 700
milhões para mais de 3 bilhões em 2025. Diante deste quadro,
a União estabeleceu a Política Nacional de Recursos Hídricos
(PNRH) como complemento à Política Nacional do Meio Am-
biente (PNMA).
Segundo a ANA (2007), a primeira iniciativa visando pro-
mover o controle sobre as águas deu-se com o Decreto 24.643
de 110 1934, ou Código das Águas, que, embora tenha tido forte
viés econômico, tornou a água um bem público, legislando a
permissão ou concessão para sua utilização.
Compete à Agencia Nacional das Águas (ANA) criar as
condições técnicas para implementar a Lei 9.433/97, além de
promover a gestão descentralizada e participativa, em sintonia
com os órgãos e entidades que integram o Sistema Nacional de
Gerenciamento de Recursos Hídricos, e implantar os instrumen-
tos de gestão previstos na Lei 9.433/97

213
Segundo Couto et al. (2006), o CNRH possui caráter nor-
mativo e deliberativo, com as atribuições de promover a articu-
lação do planejamento de recursos hídricos com os planejamen-
tos nacional, regional, estadual e dos setores usuários; deliberar
sobre os projetos de aproveitamento de recursos hídricos; acom-
panhar a execução e aprovar o Plano Nacional de Recursos Hí-
dricos; estabelecer critérios gerais para a outorga de direito de
uso dos recursos hídricos e para a cobrança pelo seu uso.
Percebe-se, portanto, como a PNRH foi dotada de flexibi-
lidade com vistas a se adaptar às características locais, em que as
variáveis (e os problemas) socioeconômicos estão intimamente
ligados à gestão das águas da região. Estes fatores estão dire-
tamente relacionados com o instrumento Zoneamento Ecológi-
co Econômico, cuja divisão espacial utiliza os recortes hidro-
gráficos para avaliar o potencial (cuja abundância e qualidade
das águas é uma das variáveis) do desenvolvimento da região
(COUTO et al, 2006). Ou seja, para a elaboração de um ZEE,
o papel da gestão das águas está no centro das definições das
limitações e do potencial econômico da região.

RECURSOS HÍDRICOS E A AGRICULTURA


A Agricultura convencional – a chamada revolução ver-
de – desenvolve problemas relacionados aos recursos naturais e
consequentemente a qualidade dos recursos hídricos, as princi-
pais causas destes problemas estão no uso de agrotóxicos, pois
estes agroquímicos não são biodegradáveis, consequentemente
não entram na cadeia biológica de ciclagem de nutrientes e como
conseguinte ficam retidos nos recursos minerais, contaminando
os recursos hídricos. Esforços são reconhecidos no sentido de
que atualmente tem se buscado oferecer produtos menos agres-
sivos no mercado de agroquímicos ou até mesmo de se utili-

214
zar defensivos naturais, mas que ainda as técnicas são pouco
divulgadas, muitos agricultores não têm acesso às informações
tornando-os menos consumidos (SAXENA, 1989).
A presença elevada de resíduos tóxicos em alimentos, se
deve a estas práticas de agricultura convencional que contri-
buem para elevada alteração biológica, contaminação e degra-
dação ambiental de solo, água e ar, levando seres vivos as into-
xicações e mortes, mudança no comportamento, surto e seleção
de pragas pelo uso indiscriminado e sem planejamento de uso de
tais produtos químicos (SAXENA, 1989). Existem estudos em
produtos com a base de benzenaminas, os quais causam a degra-
dação no solo, que pode ocorrer tanto em condições aeróbicas
como anaeróbicas (DE DEUS; BAKONYI, 2012).
A toxicidade dos produtos químicos, utilizados pelos
agricultores, varia conforme o grupo químico, sendo que os
produtos compostos por organofosforados têm o maior efeito
tóxico para o homem e outros mamíferos (COUTINHO et al.,
2005). Como alternativas para minimizar esses problemas, al-
guns produtores utilizam-se de aleloquímicos extraídos de plan-
tas, ou seja, produtos naturais e orgânicos. Esta prática faz uso
de compostos mais seletivos a biodiversidade que danificam as
principais culturas, minimizando e até as vezes anulando danos
ao ambiente e à saúde humana. No entanto, estes defensivos em
larga escala carecem de tecnologias para sua extração o que os
tornam mais caros (ARAÚJO, 2008).
Neste sentido, vários aspectos devem ser considerados
quando se pensa em irrigação, uso de agroquímicos e ação sobre
o solo, tais como: a eficiência em termos do uso da água/solo; a
existência de eficiência econômica; os custos ambientais desta
prática, entre outras. Se houver um plano de irrigação, ou seja,
um manejo totalmente racional da mesma, ao aplicar a quanti-

215
dade de água necessária às plantas no momento certo, controle
de pragas de modo efetivo e menos devastador que o tradicional,
será favorável a preservação dos recursos hídricos e biodiversi-
dade (ARAÚJO, 2008).
A análise do ZEE da Bacia do Rio Pirapó surge da ne-
cessidade estratégica de se avaliar, indicar e especializar o po-
tencial das terras para a expansão da produção agrícola para o
planejamento do uso sustentável das terras, em harmonia com a
biodiversidade e Recursos Hídricos (LIMA, 2006).

ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO


DA BACIA DO RIO PIRAPÓ
Trata-se de um estudo com respaldo na Lei nº 4.504 de
1974 do Estatuto da Terra, cujo detalhamento ocorreu em 1975,
a partir do Decreto 55.891, início da menção de estudos em zo-
neamentos e com isso projetar um possível comportamento do
ambiente, segundo suas reais potencialidades e vulnerabilidade
(LIMA, 2004).
Sendo assim, esse os estudos de zoneamento são instru-
mentos de planejamento ambiental. Na década de 1970, era re-
lacionado às duas formas de aplicação: quanto à regulação nor-
mativa do uso do solo urbano, tendo como preocupação central
a saúde, e a segunda, ao planejamento espacial da atividade pro-
dutiva, que visava identificar regiões homogêneas do ponto de
vista socioeconômico como também das características da estru-
tura agrária, ou seja, era um zoneamento agrícola (LIMA, 2004).
No parágrafo único da Política Nacional do Meio Am-
biente (PNMA), da lei 6.938-81, este zoneamento objetiva a dis-
tribuição espacial das atividades econômicas levando em consi-
deração a importância ecológica, as limitações e as fragilidades
dos ecossistemas, estabelecendo vedações, restrições e alterna-

216
tivas de exploração do território e determinando, quando for o
caso, inclusive a relocalização de atividades incompatíveis com
suas diretrizes gerais (MMA, 2007).
Para o estudo de ZEE de área de Bacia em questão com
a finalidade de identificar e propor a adequação respaldado na
legislação para a conservação dos Recursos Hídricos feito pelo
diagnostico de Zoneamentos já realizados na região selecionada,
Silva e Santos (2004) afirmam que os zoneamentos sejam agrí-
cola, agro-ecológico, urbano, industrial, ambiental, Econômico
e Ecológico, independente das diretrizes metodológicas chegam
a um resultado comum, sendo este a definição de zonas, varian-
do de acordo com o objetivo ou objeto.

BACIA DO RIO PIRAPÓ


A Bacia do Pirapó compreende uma área de drenagem de
5.067 Km2 localizados no terceiro planalto paranaense. O Rio
Pirapó nasce no município de Apucarana a 1.000 metros de alti-
tude, corre em direção norte, percorrendo uma extensão de 168
Km até sua foz e desaguando no rio Paranapanema, a 300 me-
tros de altitude no Município de Jardim Olinda (SEMAA, 2018).
Sua mata ciliar faz parte do Bioma Mata Atlântica (EMBRAPA,
1996), compreendendo a região de Floresta Estacional Semide-
cidual Sub-Montana (IBGE, 1992). A classificação climática de
Köppen indica o clima do tipo úmido, sem estação seca definida
e verões quentes e chuvosos. A temperatura do mês mais frio
é abaixo de 18ºC e a temperatura média do mês mais quente é
acima de 22°C (MAACK, 1968). O clima nesta área fica em mé-
dia de 21ºC e no inverno a temperatura média varia entre 12ºC
e 14ºC. A mínima absoluta registrada pelos últimos anos foi de
-3ºC (OTSUSCHI, 2000).

217
O Rio Pirapó é manancial de abastecimento da cidade de
Maringá/PR, sendo o principal uso da bacia o cultivo de soja,
milho e cana de açúcar. A Bacia do Rio Pirapó permanece com a
maioria de seus afluentes não catalogados, alguns afluentes são
catalogados naFigura2.
Figura 2 – Mapa da Bacia de captação para a cidade de Maringá, PR

Fonte: Cassaro (1999).

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Os conflitos entre o uso e a disponibilidade das terras da
Bacia do Rio Pirapó estão relacionados com a utilização de ter-
ras em agricultura convencional intensiva, provocando a degra-
dação do solo, com reflexos na qualidade ambiental da área, e
afetando como consequência os recursos hídricos, já que, con-
forme dados da Engefoto (2000), 56% da área da bacia é agri-
cultável.
A problemática apresentada no projeto de interven-
ção pode ser solucionada, tendo em vista seguinte viabilidade

218
de resolução: De elaboração obrigatória para todos os estados
brasileiros, conforme estabelece o Código Florestal (Lei nº
12.651/2012), as estratégias ou diretrizes decorrentes das ini-
ciativas de ZEE são fruto da interação entre vulnerabilidades,
potencialidades, necessidades e dinâmicas territoriais identifi-
cadas em cada porção do território e que, em última instância,
terão influência sobre o estado de conservação dos diferentes
componentes dos ecossistemas (em especial o solo, os recursos
hídricos e a biodiversidade). Desta forma é necessário um zo-
neamento ecológico econômico para traçar ações estratégicas de
importância na agricultura convencional para que se preserve a
biodiversidade e os Recursos Hídricos na região de Bacia do Rio
Pirapó próximo a cidade de Maringá-PR.
Diante do exposto, frente a todas as questões analisadas
nos trabalhos envolvendo os recursos hídricos da Bacia do Rio
Pirapó, nota-se a necessidade de elaborar um ZEE para a região
da Bacia do Rio Pirapó, visando organizar ações que diminuam
a poluição. Para isso, a prioridade é traçar potencialidades eco-
lógicas e econômicas para a produção de transição agroecoló-
gica na agricultura convencional na conservação dos recursos
hídricos.
Desta forma esboçou-se um Zoneamento Ecológico e
Econômico a ser realizado em área agricultável da região rural
de Maringá -PR visando atender as leis vigentes do código Flo-
restal e Conservação dos recursos hídricos da região da Bacia
do Rio Pirapó.

RESULTADOS E IMPACTOS ESPERADOS


Na elaboração do projeto de ZEE foi previsto que, em
sua metodologia, deve-se concernir uma abordagem dos ecos-
sistemas e da biodiversidade como elementos que contribuem e

219
que são impactados pelos principais usos dos recursos naturais,
levando assim a importância de sua conservação para a própria
continuidade das diversas atividades produtivas. Desta forma, o
indicador apresentado disponibiliza uma ferramenta de planeja-
mento territorial integrado (ZEE), elaborada de forma partici-
pativa, que busca preparar os gestores para ações relacionadas
ao uso sustentável dos recursos naturais. O mesmo possui uma
periodicidade de atualização do indicador anual e possui o in-
teresse de proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos
ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas,
combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra
e deter a perda de biodiversidade além de produzir alimento com
segurança nutricional.
Este trabalho de ZEE será de importância como auxílio
técnico aos agricultores, os quais já retiram seu sustento e algu-
ma renda da agricultura familiar desenvolvida na região e tem
seu cultivo desenvolvido com produção de transição agroecoló-
gica. Além disso, tem importante significância para proteção da
Bacia do Rio Pirapó, em relação dos recursos hídricos e zonea-
mento ambiental.

AÇÕES DE INTERVENÇÃO
1) Realizar pesquisa bibliográfica acerca da área e situação es-
tudada;
2) Realizar um levantamento sistemático de acordo com as me-
tas para a realização de um Zoneamento Ecológico-Econômico;
3) Visitar as propriedades e entrevistar agricultores in situ;
4) Criar zonas de conservação e expansão e zonas de recuperação;
5) Estabelecer ações necessárias para viabilizar a produção sus-
tentável com a finalidade de proteção dos recursos hídricos.

220
FIGURA 3 – ATORES ENVOLVIDOS
Atores envolvidos Responsabilidades
Universidade Estadual de Maringá Diagnóstico de recursos hídricos
Equipe ATER Cer AUPUEM Análise de solo com prospecções
agroecológica.
Observatório das Metrópoles – UEM Georreferenciamento para criação de
mapas cartográficos de análise bióti-
ca e socioeconômica.
Secretaria do Meio Ambiente e Agri- Esfera municipal que determina as
cultura – SEMAA e Agricultores propostas de uso e ocupação do
solo.
- Definição de diretrizes, subzonas e
zonas.
- Avaliação jurídico-institucional.
- Preservação dos Mananciais
Instituto Ambiental do Paraná - IAP Controla a qualidade ambiental, me-
diante a gestão, conservação e recu-
peração dos recursos naturais.

RECURSOS NECESSÁRIOS

Figura 4 - Orçamento
Infraestrutura ou Quantidade Valor Unitário
Valor Total (R$)
Equipamento (unidades) (R$)
Computador 03 2.500,00 7.500,00
Transporte 500 4,70 2.350,00
Confecção de
10 50,00 500,00
Mapas
Diária 96 20,00 1.920,00
Valor Total 12.270,00

RISCOS E DIFICULDADES
Poderão haver alguns riscos/dificuldades em relação ao
horário compatível para encontro com as famílias, chuvas e de-

221
mais fenômenos ambientais nos dias estipulados para coleta de
dados. Tempo hábil para coletar e fazer o tratamento dos dados.
Figura 5 - Cronograma
Atividade/
I II III IV V VI VII VIII IX X XI XII
Meses
Análise do meio
físico-biótico (ma-
triz ecológica).
Diagnóstico
socioeconômico
(matriz econô-
mica).
Avaliação jurídi-
co-institucional
(compatibilização
dos marcos le-
gais vigentes).
Proposição de
cenários futuros.
Definição de dire-
trizes, subzonas
e zonas.

GESTÃO, ACOMPANHAMENTO E AVALIAÇÃO


Em julho de 2010 foi instituído pelo Decreto Estadual n.º
7.750 a Comissão Coordenadora do Programa de Zoneamento
Ecológico-Econômico do Estado do Paraná, que possui atribui-
ção de acompanhar a execução dos trabalhos, sendo composta
por representantes titulares e suplentes das instituições públicas.
No caso este projeto poderá contar com um representante dos
respectivos órgãos abaixo:
- Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hí-
dricos (SEMAA);
- Instituto Ambiental do Paraná (IAP).

222
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A preservação da natureza significa não utilizar o recur-
so natural, para que este não sofra alterações na paisagem lo-
cal. A conservação é cuidar do recurso natural necessário para
a sobrevivência, de forma a garantir as futuras gerações. Neste
contexto, o presente projeto de conclusão de curso para a Ela-
boração de Projetos em Gestão de Recursos Hídricos, visa em
primeira instância a elaboração de um diagnóstico das áreas da
Bacia do Rio Pirapó na região de Maringá – PR, em relação
ao Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), através de revisão
bibliográfica.
Os diagnósticos realizados através das bibliografias ana-
lisadas constituíram a base para retratar os problemas e possí-
veis soluções para áreas de Bacias, envolvendo principalmente
diagnósticos relacionados aos recursos hídricos e agroecologia
dessas áreas. A partir dessas análises, foi possível prever a ne-
cessidade da elaboração do Zoneamento Ecológico Econômico,
que deverão ser realizados com base em mapas cartográficos e
interpretação desses mapas. Os mapas deverão ser construídos a
partir de dados de vulnerabilidade sociais e naturais, bem como
dados de potencialidades sociais e naturais.
O ZEE será construído conforme descrito no projeto de
intervenção seguindo os critérios: 1) Análise do meio físico-bió-
tico; 2) Diagnóstico socioeconômico, a partir de aplicação de
questionários com os agricultores que habitam as áreas estuda-
das; 3) Avaliação jurídico-institucional; 4) Organização das prá-
ticas para proposição de cenários futuros e 5) Definição de dire-
trizes, subzonas e zonas, para a prática e manutenção do ZEE.
Várias características do ZEE serão avaliadas, pois permi-
tem analisar possibilidades de instalação agrária convencional
e o potencial ecológico e econômico para os recursos hídricos

223
e a possibilidade de crescimento da transição agroecológica
no modo de produção agrária. Diante deste contexto, podemos
proferir que, com a implementação do ZEE, as áreas de solo
do entorno da Bacia poderão realizar a transição para cultivos
de agroecologia, desde que estes se apresentem como forma de
construção do desenvolvimento sustentável na conservação dos
recursos hídricos.
Diante do exposto, pode-se concluir que, as análises pré-
vias das áreas da Bacia do Rio Pirapó por meio da bibliografia,
juntamente com as variáveis encontradas através da investiga-
ção na área através de equipe especializada, serão muito impor-
tantes para a tomada de decisão, tendo em vista que a área sendo
previamente estudada, permitirá uma orientação principalmente
preventiva, contribuindo para o planejamento e o gerenciamento
ambiental principalmente na conservação dos recursos hídricos.

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