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GOIÂNIA, GO | 2021
© Autoras e autores – 2021
C&A ALFA
COMUNICAÇÃO Conselho Editorial
Andréa Coelho Lastória (USP/Ribeirão Preto)
Presidente Carla Cristina Reinaldo Gimenes de Sena (UNESP/Ourinhos)
Luiz Carlos Ribeiro Carolina Machado Rocha Busch Pereira (UFT)
Denis Richter (UFG)
Revisão Geral Eguimar Felício Chaveiro (UFG)
Jéssica Lopes Lana de Souza Cavalcanti (UFG)
Loçandra Borges de Moraes (UEG/Anápolis)
Projeto Gráfico Míriam Aparecida Bueno (UFG)
Adriana Almeida Vanilton Camilo de Souza (UFG)
ISBN 978-65-89324-14-0
CDU: 911
SUMÁRIO
Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Palavra dos organizadores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
I
Em meio a diálogos...
1 E aí menina? Reencontro entre mestre e aprendiz em
trabalho de campo no estágio de pós-doutorado em
Geografia na UFPI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Elisabeth Mary de Carvalho Baptista
II
Em meio à Ciência
7 As influências substanciais de Iracilde sobre os estu-
dos da Morfogênese e Morfodinâmica. . . . . . . . . . . . 94
Sidineyde Soares de Lima Costa
Posfácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
Fotografias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
S
into-me desafiado e muito honrado pelo convite para pre-
faciar este livro, por razões particulares ao conteúdo da
obra que, ao minuciá-la, o leitor melhor me entenderá.
Desafiado, pois, convencionalmente, um prefácio deve conter
uma breve apresentação de seu conteúdo ou de seu autor e au-
tores, mas, neste caso, o que aqui temos é um fabuloso misto
de perspectivas. Isso, porque esta obra trata de textos sobre a
professora dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima em forma de
depoimentos, que relatam a sua importância e em como ela in-
fluenciou a “vida” intelectual dos autores, que aqui apresenta-
ram tais relatos.
Essa relevância pode ser conferida na primeira parte do
livro “Em meio a diálogos...” onde seis autores escreveram, cada
qual, um importante recorte dos diversos talentos de conteúdo,
de método e de teoria que a professora Iracilde carrega consigo,
e que historicamente tem socializado com seus aprendizes: das
orientações de trabalho de conclusão de curso da graduação às
dissertações de mestrado, bem como da supervisão de estágio
pós-doutoral, na área de Geografia, da Universidade Federal do
Piauí (UFPI).
8
Nessa parte do livro, o leitor terá o prazer e o privilégio de
conhecer as múltiplas temáticas e experiências de pesquisa tra-
balhadas e compartilhadas pela professora Iracilde, dentre elas,
a produção de livros didáticos relacionados ao estudo da Histó-
ria e Geografia do Estado do Piauí e de sua capital Teresina, as
produções acerca de questões ambientais no campo da Geomor-
fologia e da Hidrografia e, ainda no campo político, em áreas de
litígios. Os textos nos convidam a observar uma inspiradora de-
dicação do “fazer ciência” e do produzir conhecimento à luz de
uma prática dinâmica, sistêmica e complexa ao modo propug-
nado por E. Morin. Leia e verás!
Na segunda parte, “Em meio a ciência...” os quatro capítu-
los apresentados traduzem a fantástica complexidade dos con-
teúdos e, ao mesmo tempo, das relevantes contribuições da pro-
fessora Iracilde, seja como orientadora ou como fonte inspiradora
de seus “pupilos”, que apresentaram as sínteses de seus traba-
lhos. Aqui, os leitores são presenteados com reflexões relevantes
que partem da abordagem das dinâmicas do relevo aos estudos
da Geodiversidade, Geoturismo e da Geoconservação. Trata-se
de um multifacetado conjunto de textos que revelam nada mais,
nada menos, do que a brilhante capacidade e sensibilidade inte-
lectual dos autores em potencializarem aquilo de mais precioso
que alguém pode propiciar ao outro, a retribuição do conheci-
mento através do conhecimento.
Bom... mas quem, afinal, é a professora Iracilde, homena-
geada nesta obra? Não temos aqui, a intenção de realizar uma
descrição cansativa de seu currículo (lattes?). Contudo, impor-
tante se faz apresentar um breve resumo sobre a história, na
Geografia, dessa eterna e incansável pesquisadora. Tudo come-
çou quando ela cursou a sua Licenciatura em Geografia na UFC.
Depois disso, nunca mais se permitiu estar no mundo, no espa-
ço, sem produzir conhecimentos na área. Assim, Iracilde não
perdeu tempo e logo tornou-se professora de Geografia na então
Prefácio 9
recém-criada Universidade Federal do Piauí. A cada passo que
dava, surgia-lhe mais convicção e obstinação pelo fazer ciência.
Foi então que decidiu cursar o seu mestrado na Universidade
Federal do Rio de Janeiro e, na ocasião, pesquisou a Bacia Hi-
drográfica do Rio Poti. Depois dessa experiência, a professora
Iracilde nunca mais deixou de pesquisar: meio ambiente, Geo-
morfologia, Hidrografia, Biogeografia, gestão de bacias hidro-
gráficas, e temas afins, passaram a fazer parte da cotidianidade
de sua vida. Ela aposentou-se da UFPI, mas não parou de pes-
quisar e seguiu a profissão na Universidade Estadual do Piauí
por um período de dois anos, retornando à instituição mediante
submissão de um novo concurso público.
Anos depois deu um novo e importante passo rumo à pes-
quisa ao cursar doutorado na Universidade Federal de Minas Ge-
rais (UFMG), onde desenvolveu a tese “Morfodinâmica e Meio
Ambiente na Porção Centro-Norte do Piauí”. Incansavelmente, a
professora Iracilde continua desenvolvendo pesquisas ligadas aos
temas de seu interesse, por formação, junto aos seus orientandos
no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPI e contri-
buindo, dessa maneira, com a divulgação do conhecimento cien-
tífico através de suas publicações, que também não cessam.
Caminhando para a finalização deste prólogo, gostaria de re-
tornar ao início para explicar o sentimento de honra e privilégio de
escrevê-lo. Eu também sou, orgulhosamente, um discípulo dessa pes-
quisadora e, especialmente, professora. Uma vez que no decorrer de
37 anos tive o privilégio de obter um aprendizado significativo como
seu aluno, seu bolsista PET, e também como seu colega de trabalho.
Minha gratidão pelos seus ensinamentos, professora
Iracilde!
E
screver um livro sobre uma pessoa não é uma tarefa fácil e
compartilhar esse desafio é ainda mais complexo, a julgar
pela definição da quantidade e dos temas a serem escritos.
A obra que se segue é uma homenagem aos 50 anos de contribui-
ção aos estudos geográficos da professora dra. Iracilde Maria de
Moura Fé Lima, que foram de grande importância, com destaque
para as produções científicas e os reflexos profissionais da geógra-
fa em uma série de estudos, que direta ou indiretamente, partilha-
ram de discussões em torno da Geografia, sobretudo, a piauiense.
Conhecemos a professora Iracilde mesmo antes de ela nos
conhecer, aqui lembramos do livro “Piauí: tempo e espaço”, que
ajudou milhares de crianças e jovens piauienses a entenderem e
conhecerem o Piauí. Já na graduação em Geografia (na UFPI e na
UESPI) tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais
daquela que serviu como inspiração para inúmeros geógrafos.
Pois boa parte dos professores de Geografia da UFPI e UESPI, em
algum momento foram seus alunos, afinal, são mais de 45 anos
dedicados como professora universitária.
Aqui, estão doze autores que se reuniram com a seletiva mis-
são de, em poucas páginas, escreverem sua relação com a professora
11
Iracilde e como isso refletiu em suas formações acadêmicas, a partir
da apreensão do espaço geográfico. São ex-alunos, ex-orientados,
colegas de trabalho, parceiros de produções acadêmicas e científi-
cas, e, em grande parte, membros do Grupo de Pesquisa “Geomor-
fologia, Análise Ambiental e Educação” (GAAE/UFPI/CNPq) que
se debruçaram em labirintos e travessias nas memórias sobre as
conversas (em aulas, nos corredores das universidades, nos eventos
científicos, em atividades de campo e em orientações), e a respeito
dos seus escritos (textos, artigos, livros, relatórios) e falas (entrevis-
tas e palestras). Enfim, de como houve a aproximação com a geó-
grafa, que, desde sempre, se apresenta além do seu tempo, haja vista
ser a primeira detentora de um diploma de mestrado em Geografia
no Piauí, obtido no ano de 1982, e por enveredar-se pelo entendi-
mento das dinâmicas da natureza.
As exigências e preocupações científicas são suas caracterís-
ticas. Lembramos com carinho, por exemplo, do seu zelo pela pes-
quisa durante as atividades de campo. Bem como, do seu olhar ao
perceber a natureza de forma integrada nos reflexos da sociedade.
Seu cuidado pela qualidade da produção cartográfica revela im-
portante atenção com o tema. A sua história de produção aponta
para a paixão por Teresina e ao Piauí. Sua atuação e caminhos
brindam a Geografia pela força de vontade e excelência das pro-
duções, em grandes movimentos de (re)invenção em tão necessá-
rias reciprocidades entre professora Iracilde e a Geografia.
A presente obra é um livro para os apaixonados pela
Geografia. Possui leitura fácil, acessível e elenca, inclusive, algu-
mas curiosidades dos autores com a geógrafa, mesmo cientes de
que aqui estamos em uma parcela pequena se comparado ao gran-
de número de profissionais influenciados por ela. Esperamos que
esta singela homenagem reflita um pouco da história dessa grande
cientista da Geografia, e que os leitores a reconheçam em cada
texto escrito.
Os organizadores
Considerações iniciais
E
nsinamentos adquiridos, valores construídos e amizade
consolidada. Devo começar por aqui. Não, vamos co-
meçar do começo. Conheci a professora Iracilde ainda
na graduação em Geografia na Universidade Federal do Piauí
(UFPI). Tive o privilégio de ser sua aluna na disciplina Geo-
grafia Física I (Geomorfologia), estudando com ela e Margarida
Penteado2. Aprendizado este que me levou até hoje, a estudar e
desenvolver pesquisas relacionadas aos aspectos geomorfológi-
cos do espaço piauiense, principalmente, do litoral, espaço pre-
ferencial de meus estudos e pesquisas.
Depois nos encontramos novamente quando ela fez parte
da banca para o concurso da Universidade Estadual do Piauí
(UESPI) e eu estava lá como candidata a ser professora do curso
de Geografia, que iria se iniciar. Nervosa por dar aula para a
1 Saudação inicial da profª. Iracilde para comigo sempre que nos encontramos pes-
soalmente ou nos falamos por telefone.
2 Geomorfóloga brasileira autora do livro “Fundamentos de Geomorfologia”, publi-
cado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1975, adotado
pela profª. Iracilde, como uma das referências da disciplina.
14
mestra tão respeitada por mim e por todos. Consegui ser apro-
vada e iniciei minha trajetória na UESPI, instituição onde até
hoje, atuo com muito orgulho e dedicação. E então a profª. Ira-
cilde se tornou minha colega de trabalho. Podem acreditar!
Ela fez o concurso na UESPI para atuar no curso de Geo-
grafia do Campus “Torquato Neto”, no mesmo em que eu exercia
a docência universitária. Imaginem minha satisfação e alegria
de poder atuar ao lado dela. Foi um caminho curto, pois logo a
professora Iracilde decidiu fazer concurso novamente para re-
tornar à UFPI. No entanto, tivemos momentos significativos em
nossa breve convivência profissional na UESPI.
Destaco, portanto, o momento da minha defesa de mestra-
do em Educação3. Convidei, claro, todos os colegas do curso de
Geografia e ela, certamente. Entretanto, infelizmente, no dia da
defesa a professora não pôde comparecer, mas vejam só, no dia
seguinte, quando eu estava na coordenação me preparando para
uma aula, ela entrou na sala com um buquê enorme de rosas, me
dizendo que, embora não tenha assistido a defesa de minha dis-
sertação, não poderia deixar de alguma forma, participar deste
momento tão importante para minha carreira profissional. Este
foi um dos momentos mais marcantes de nossa convivência e
por essa razão, o trago sempre na memória.
No decorrer dos anos nos encontramos várias vezes em
eventos, em bancas, entre outros momentos. Evidencio a partici-
pação nos SINAGEOS4 no Rio de Janeiro e em Manaus, e a orga-
nização do I WORKGEO5 em Teresina. Também não posso dei-
7 Fotos cedidas pelo prof. dr. Renato Sérgio Soares Costa, a quem agradeço pela
gentileza.
Considerações finais
O que dizer então ao final deste relato? Essa foi uma expe-
riência significativa para minha carreira acadêmica, pois, embo-
ra tenha participado de algumas atividades de campo com a
Uma aproximação...
E
screver sobre a profª. Iracilde Maria de Moura Fé Lima
(ou simplesmente profª. Iracilde) é uma missão fácil e,
contraditoriamente, difícil. Fácil, pela sua contribuição
científica, pela sua influência na formação de centenas e cen-
tenas de professores de Geografia, pelo seu caráter inovador,
principalmente, no contexto científico, e pela sua aproximação
com o autor deste texto. Por tudo isso, e um pouco mais, esta se
torna uma missão difícil pela grandiosidade de informações e
contribuições que são humanamente impossíveis de sintetizar
em poucas páginas.
São 50 anos de graduação em Geografia. 50 anos de con-
tribuição direta com a Geografia Brasileira, particularmente, a
piauiense. 50 anos de um olhar sensível para a questão ambien-
tal, sem deixar de lado as questões socioespaciais e a educação
básica. 50 anos como professora, pesquisadora e geógrafa. So-
mam-se a isso, as contribuições dos demais autores que com-
põem este livro, e que possuem significados distintos, seja no
campo profissional, seja no campo pessoal, o que muitas vezes
acabam dialogando entre estas duas esferas. Tal reconhecimento
28
já foi aplaudido quando do seu recebimento em 2002, da Meda-
lha de Honra ao Mérito Conselheiro José Antônio Saraiva, con-
cedida pela Prefeitura Municipal de Teresina; e, em 2007, da Me-
dalha de Honra ao Mérito pela contribuição à Cultura Piauiense,
concedida pela Academia Piauiense de Letras.
Pensando nesses diálogos, as palavras que se seguem bus-
cam, de uma forma intencional e reflexiva, destacar os olhares
que a profª. Iracilde tem sobre a cidade de Teresina, capital do
estado do Piauí, nos aspectos relacionados ao ambiente, espaço e
ensino. Partindo dessa premissa, o texto foi desenvolvido nestes
três pontos: a) o entendimento da dinâmica ambiental da cidade
de Teresina; b) a compreensão sobre os fatos e fenômenos so-
cioespaciais em Teresina, e; c) a contribuição para o ensino
(Educação Básica) em Teresina.
Uma aproximação!!! Cabe destacar aqui, que quando meus
professores de Geografia do Ensino Médio souberam que eu pres-
taria vestibular para a área, logo falaram: “Vai conhecer a profª.
Iracilde” e, de certa forma, a curiosidade e a ansiedade se engran-
deceram acerca do curso. Minha graduação, pela Universidade
Estadual do Piauí, me deu subsídios para conhecer – mesmo ela
trabalhando na Universidade Federal do Piauí (UFPI) –, uma das
autoras do livro, Piauí: tempo e espaço1, o qual já havia lido inú-
meras vezes.
Meu primeiro contato com a profª. Iracilde foi no primeiro
ano do curso, durante a IV Semana de Geografia, quando ela parti-
cipou de debate na mesa redonda, intitulada A Geografia do Piauí:
ensino e pesquisa em questão2. Ao longo da graduação, foram acon-
tecendo outros encontros, como em 2013, no I Workshop de Geo-
1 Livro escrito em parceria, pelas professoras Maria Cecília Silva de Almeida Nunes
e Emília Maria de Carvalho Gonçalves Rebêlo, que serviu de base para milhares de
estudantes da Educação Básica, no Piauí.
2 Neste evento, a professora Iracilde participou como palestrante e eu como ouvinte.
Iracilde e Teresina 29
grafia Física3 do Piauí; em 2014, no 10º Simpósio Nacional de Geo-
morfologia4 (em Manaus) e em 2015, na mesa redonda intitulada
Piauí: espaço e meio ambiente5. Nesse último, tive a oportunidade
de, em nome do Centro Acadêmico de Geografia (CAGEO/UESPI)
e da turma de Geografia (UESPI-Torquato Neto/2012.1-2015.2), fa-
zer-lhe o convite, que prontamente foi aceito.
O convívio ficou mais estreito quando da minha aprovação
no mestrado em Geografia da UFPI (ingresso em 2016), momento
em que fui seu aluno, na disciplina de Análise Integrada do Am-
biente (disciplina que desencadeou uma atividade de campo no
litoral piauiense). Entrei então no seu grupo de pesquisa Geomor-
fologia, Análise Ambiental e Educação (GAAE), e participamos
juntos de atividades de ensino, pesquisa e extensão6, fato que nos
aproximou ainda mais, especialmente, devido a minha aprovação
como professor substituto no curso de Geografia, da UFPI. A pro-
fessora que eu tinha tanta vontade de conhecer antes mesmo de
entrar na academia foi, naquele momento, minha colega de traba-
lho e isso me influenciou muito a respeito da sensibilidade e da
responsabilidade de “olhar” Teresina.
Vamos aos olhares!
Múltiplos olhares
O entendimento da dinâmica ambiental da cidade de Teresina
sob a ótica da profª. Iracilde: construção, (re)invenção e
reciprocidades
Ao longo dos anos, a profª. Iracilde se consolidou como uma
das maiores referências no campo dos estudos ambientais em que
se pese suas inúmeras produções científicas, em distintas escalas.
Tal contribuição ficou mais evidente com sua dissertação de mes-
trado em Geografia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), onde foi a primeira mestra em Geografia Física a atuar
em solo piauiense. Na oportunidade, sob orientação do prof. Jorge
Xavier da Silva, a respeito da caracterização geomorfológica da
bacia hidrográfica do Rio Poti, ela escreveu uma das principais
obras no contexto da Geografia Física piauiense.
Iracilde e Teresina 31
Na dissertação, Teresina era tida como o marco final da
drenagem do canal do Rio Poti, considerando que nas proximi-
dades do município, havia a existência de meandros que influen-
ciavam na drenagem local, somados ainda, à presença de argilas
para uso industrial e de nódulos (estruturas em anéis) sob estra-
tos calcários, além da formação da sua planície fluvial (LIMA,
1982). Já com carreira consolidada no Ensino, na Pesquisa e na
Extensão, a contribuição (ou talvez releitura) se deu com a escri-
ta da tese (LIMA, 2014) em Geografia pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), sob orientação da profª. Cristina He-
lena Ribeiro Rocha Augustin, sobre os aspectos morfodinâmi-
cos da porção Centro-Norte do Piauí.
Os olhares, aqui, sobre Teresina, mais uma vez a enxergam
como um “marco final a jusante” da área de estudo. Os riquíssi-
mos produtos cartográficos e belas fotografias, bem como os da
dissertação, são verdadeiros produtos de sensibilidade, profis-
sionalismo e respeito aos leitores, característica presente em to-
dos os seus estudos.
Tal inquietação por Teresina é materializada em uma sé-
rie de estudos (Quadro 1) que, sob objetivos, problematizações,
justificativas, recortes e metodologias distintas oferece um fiel
cenário da dinâmica ambiental da cidade, quer seja nos estu-
dos de caracterização geoambiental, ou nos relativos à questão
socioambiental, além dos que remetem a degradação e ocupa-
ção urbana.
Iracilde e Teresina
2002 Teresina: Urbanização e Meio Ambiente Iracilde Maria de Moura Fé Lima Artigo em periódico
Bacia Hidrográfica do Rio Poti: dinâmica e Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Cristina
2014 Artigo em periódico
morfologia do canal fluvial Helena Ribeiro Rocha Augustin
33
34
Anos Título Autores Categoria
2016 Teresina: o relevo, os rios e a cidade Iracilde Maria de Moura Fé Lima Artigo em periódico
A Lagoa dos Morros e sua relação com a Ravenna Eres da Silva; Vanessa Tavares dos
2018 Capítulo de livro
expansão da cidade de Teresina, Piauí, Brasil Santos e Iracilde Maria de Moura Fé Lima
Iracilde e Teresina
Teresina, Piauí evento (no prelo)
Fé Lima
Fonte: Currículo Lattes da profª. Iracilde (Disponível em: http://lattes.cnpq.br/6880418044055731). Organização: Autor (2021).
35
Integra-se, dentre dessas inúmeras contribuições, a classifica-
ção do relevo de Teresina e o seu papel no âmbito da gestão pública
teresinense, no que diz respeito à organização do texto sobre o meio
ambiente, no documento “Teresina Agenda 2015: plano de desen-
volvimento sustentável”, publicado em 2002.
Vemos, portanto, a ampliação do olhar da professora Iracilde
que, inclusive, inúmeras vezes foi levado aos alunos da graduação e
pós-graduação, quando ela propôs atividades de campo, como as
do Parque Ambiental João Mendes de Olímpio de Melo (Parque da
Cidade) e Parque Municipal Floresta Fóssil. As constantes idas, re-
pletas de informações científicas e com doses de humor, fez com
que as ideias desses campos fossem adaptadas como expedições nos
eventos em que organizamos, a exemplo da atividade na Região
Centro-Norte de Teresina, durante o I WORKGEO.
Já durante o Ciclo de Estudos em Geografia, Análise Am-
biental e Educação, objetivamos realizar observações no campo e
discutir aspectos da expansão urbana, assim como os problemas
socioambientais decorrentes do crescimento desordenado e das
ações públicas de intervenção/recuperação de áreas degradadas, re-
lacionando o Rio Parnaíba com a cidade de Teresina.
Infelizmente, diante do cenário pandêmico da Covid-19, a
atividade de campo que estávamos pensando promover junto
aos alunos de Hidrografia (2020.1) da UFPI, não saiu do papel.
Seria um diálogo que, a meu ver, teria inúmeros pontos positivos
na rediscussão ambiental sobre a tão amada Teresina. Porém,
sabemos que outras oportunidades virão.
Ainda sobre a questão ambiental, tivemos a oportunidade
de, juntamente com a professora Iracilde e outros parceiros
(LIMA et al., 2017; LIMA et al., 2018), organizar dois e-books
oriundos dos eventos citados no parágrafo anterior, e, mais re-
centemente, de apresentar o trabalho intitulado Aspectos so-
cioambientais no Bairro Satélite, Teresina, Piauí, com colabora-
Iracilde e Teresina 37
38
são urbana e conflitos urbanos, que sintetizam a singularidade local, considerando, dentre suas reflexões,
inúmeros aspectos acerca da Cidade Menina ou Cidade Verde.
Quadro 2 – Algumas contribuições científicas sobre o espaço de Teresina
Anos Título Autores Categoria
Qualidade de vida da população do Ana Maria Santiago Amorim e Iracilde
1997 Artigo em periódico
Conjunto São Joaquim Maria de Moura Fé Lima
Irlane Gonçalves de Abreu e Iracilde Maria
2000 Igreja do Amparo: o Marco Zero de Teresina Artigo
de Moura Fé Lima
Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Maria
2003 Paróquia de Fátima: sua história, sua gente Livro
Celis Portella Nunes
O Bairro Água Mineral no contexto da Caroline da Silva Mateus e Iracilde Maria de
2017 Capítulo de livro
expansão da cidade de Teresina, Piauí Moura Fé Lima
Conflitos socioambientais urbanos em áreas Bartira Araújo da Silva Viana e Iracilde
2018 Capítulo de livro
de mineração em Teresina, Piauí Maria de Moura Fé Lima
Albert Isaac Gomes Viana e Iracilde Maria
2020 Os parques urbanos de Teresina e o Rio Poti Capítulo de livro
de Moura Fé Lima
Panorama da Cidade de Teresina: sua
Irlane Gonçalves de Abreu e Iracilde Maria
2020 origem, sua gente, seu ambiente e possíveis Capítulo de livro
de Moura Fé Lima
transformações
Iracilde e Teresina 39
sa, como Ensino da cidade de Teresina e Produção de material
paradidático voltado para a Educação Infanto-Juvenil, e de exten-
são, como O ensino de Geografia para a produção de material de
apoio didático e a Premiação de livro didático, Projeto Nordeste,
no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
A sua sensibilidade no auxílio para uma educação de qua-
lidade, contribuiu para uma série de estudos (Quadro 3) volta-
dos tanto para a Educação Básica quanto para a formação de
professores de Geografia, principalmente, no que diz respeito ao
ensino de temáticas físico-naturais, educação ambiental, lugar,
tecnologias e criatividade. O que instiga, os então licenciandos
em Geografia, para um cuidado maior com a prática professoral,
e, que brilhantemente, foi realizado em obras como Lima, Nu-
nes e Rebêlo (1995), Lima, Nunes e Abreu (1998), Araújo et al.
(2011) e, mais recentemente, com a necessária produção (POR-
TELA; VIANA; LIMA, 2020) sobre a relação entre a cidade de
Teresina e o ensino de Geografia.
Iracilde e Teresina
Teresina: tempo e espaço Iracilde Maria de Moura Fé Lima, Maria
1998 Cecília Silva de Almeida Nunes e Irlane Livro
Gonçalves de Abreu
2004 Água: recurso natural finito Iracilde Maria de Moura Fé Lima Livro
Teresina: tempo, espaço e Geografia Iracilde Maria de Moura Fé Lima, Irlane
2004 Gonçalves de Abreu e Maria Cecília Silva de Livro
Almeida Nunes
Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Irlane
2009 Teresina: Cidade Verde Livro
Gonçalves de Abreu
Atlas Escolar do Piauí José Luiz Lopes de Araújo, Iracilde Maria de
Moura Fé Lima, Irlane Gonçalves de Abreu,
2011 Emília Maria de Carvalho Gonçalves Rebêlo, Livro
Maria Cecília Silva de Almeida Nunes e Ma-
ria Mafalda Baldoíno de Araújo
41
42
Anos Título Autores Categoria
Educação ambiental na perspectiva do lugar: Mugiany Oliveira Brito Portela, Bartira
ensino geográfico a partir de experiências Araújo da Silva Viana e Iracilde Maria de
2013 vivenciadas pelos discentes do Plano Nacio- Moura Fé Lima Artigo em periódico
nal de Formação de Professores da Educação
Básica
Criatividade e formação de professores: es- Elisabeth Mary de Carvalho Baptista e Iracil- Resumo em anais de
2018 tratégias para o ensino de Maria de Moura Fé Lima evento
A importância do Google Earth como recur- Francisco Wellington de Araújo Sousa e Ira- Resumo em anais de
2019 so didático na Geografia cilde Maria de Moura Fé Lima evento
Iracilde e Teresina 43
na sociedade mediante seu olhar horizontal. Isto, aproxima-se
do que foi exposto por Gadotti (2003, p. 11): “A beleza existe em
todo lugar. Depende do nosso olhar, da nossa sensibilidade; de-
pende da nossa consciência, do nosso trabalho e do nosso cuida-
do. A beleza existe porque o ser humano é capaz de sonhar”.
Sem conclusão
Não se conclui o que ainda é dinâmico e veloz. ∞
Obrigado, professora Iracilde Maria de Moura Fé Lima,
por tudo o que nos ensinou, por ser um exemplo a ser seguido e
por nos indicar um ensino crítico-reflexivo.
Referências
ABREU, I. G.; LIMA, I. M. M. F. Igreja do Amparo: o Marco Zero de Teresina.
Revista Cadernos de Teresina, Teresina, Fundação Monsenhor Chaves, p.
15-20, 2000.
ABREU, I. G.; LIMA, I. M. M. F. Panorama da cidade de Teresina: sua origem,
sua gente, seu ambiente e possíveis transformações. In: PORTELA, M. O. B.;
VIANA, B. A. S.; LIMA, I. M. M. F. (orgs.). O ensino de Geografia e a cidade
de Teresina. Goiânia: C&A Alfa Comunicação, 2020. p. 208.
ARAÚJO, J. L. L.; LIMA, I. M. M. F.; ABREU, I. G.; REBÊLO, E. M. C. G.;
NUNES, M. C. S. A.; ARAÚJO, M. M. B. Atlas Escolar do Piauí. João Pessoa:
Grafset, 2011. p. 202.
FERREIRA, E. A.; NUNES, H. K. B.; LIMA, I. M. M. F. Aspectos
socioambientais no Bairro Satélite, Teresina, Piauí. In: CONGRESSO
NACIONAL DE MEIO AMBIENTE DE POÇOS DE CALDAS, 17. Poços de
Caldas, 2020. Anais... Poços de Caldas, 2020 (no prelo).
GADOTTI, M. Boniteza de um sonho: ensinar e aprender com sentido.
Novo Hamburgo: FEEVALE, 2003.
LIMA, I. M. M. F. Caracterização geomorfológica da Bacia Hidrográfica
do Poti. 1982. 101 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1982.
LIMA, I. M. M. F. Morfodinâmica e meio ambiente na porção Centro-Norte
do Piauí. 2013. 309 f. Tese (Doutorado em Geografia) – Universidade Federal
de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2013.
Iracilde e Teresina 45
3
UMA MULHER, PROFESSORA
E GEÓGRAFA
Profª. Iracilde dos livros @os memes
Pessoas anônimas
P
essoas anônimas são capazes de alterar a vida de outras
em escalas de benevolência ou maldade, em muitos ca-
sos esse anonimato serve para surpreender em razão das
expectativas que criamos durante experiências passadas. Falo
isto por me recordar da minha infância, sempre intrigado pelos
livros didáticos. Lembro, que o primeiro que tive em mãos foi
com 7 anos de idade, e, desde aquela época, sempre foi difícil
carregar alguns, talvez não pelo peso que tinha que transpor-
tar (minha primeira mochila de rodinhas quebrou carregando
livros de Português, Matemática e um trabalho de Artes, que
me obrigou a pintar cacos de telhas com guache), mas, sim pela
carga de conhecimento que hoje me arrependo de irresponsavel-
mente esquecer.
Entretanto, nem tudo é exatamente um lamento. Muito do
que esqueci em tempos pretéritos, fui reaprendendo com profes-
sores durante minha vida escolar e acadêmica, sempre auxiliado
pelo livro didático, recurso indispensável para quem deseja
manter uma mente capaz de fazer escolhas lógicas. Abordando
pensamentos críticos, Bandeira e Velozo (2019) discorrem que o
46
livro didático é um instrumento, assim como tantos outros, con-
tribuinte na lapidação da identidade de quem o utiliza, onde
simbolicamente têm-se como um artefato de alto nível de poder,
assumindo um caráter sociopolítico. Tais constatações reafir-
mam a famosa frase de Francis Bacon, no livro O Progresso do
Conhecimento (2007): “Saber é poder”.
Estes dois parágrafos, iniciaram o presente texto para res-
saltar o quanto a presença do livro didático se tornou incomen-
surável, apesar de atualmente, vivermos em uma época onde as
tecnologias facilitam o acesso ao conhecimento. Perpassei, ain-
da assim, por um período onde este trabalho era exclusivamente
de materiais impressos, sendo os livros, os que mais me muni-
ram de conhecimento e fizeram a minha base como cidadão ser
moldada, exatamente como é hoje. Isto só foi possível devido ao
empenho dos autores destas diversas obras que constituíram a
minha infância e a da maioria das pessoas que tiveram a opor-
tunidade social de preencher-se de sabedoria.
Até este momento, discorri sobre minha intimidade com a
absorção de conhecimentos através dos livros didáticos, contudo,
achei necessário falar de mim para falar da autora, a professora e
amiga dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima, a qual, aqui tomarei
a liberdade de chamá-la, como a chamo durante alguns anos (pro-
fessora Iracilde). Afinal, sem perceber, ela esteve presente em di-
versos momentos da minha vida, antes mesmo de conhecê-la,
haja vista meu primeiro contato com uma de suas obras, que irei
expor mais à frente, ainda no meu processo de alfabetização.
Ela certamente é uma dessas pessoas anônimas que são ca-
pazes de alterar a vida de outras em variadas escalas de benevo-
lência ou maldade, no caso dela, a sua boa vontade de dissemi-
nar conhecimento de variadas formas, acabou por libertar quem
passava pela teia do pensamento que ela perpetua na cabeça de
muitos, de maneira explícita ou implícita.
1 Segundo Lara e Mendonça (2020), meme é uma proposição composta por material-
idades verbo-visuais que propõem humor ressignificando imagens, acontecimentos,
estereótipos e frases para atingir esta finalidade.
Referências
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novas tecnologias no ensino de Geografia. In: CASTELLAR, S. M. V.;
CAVALCANTI, L. S.; CALLAI, H. C. (orgs.). Didática da Geografia: aportes
teóricos e metodológicos. São Paulo: EJR Xamã, 2012.
BACON, F. O progresso do conhecimento. São Paulo: UNESP, 2007.
BANDEIRA, A.; VELOZO, E. L. Livro didático como artefato cultural:
possibilidades e limites para as abordagens das relações de gênero e
sexualidade no ensino de Ciências. Ciência & Educação, v. 25, n. 4, 2019.
BONI, V.; QUARESMA, S. J. Aprendendo a entrevistar: como fazer entrevistas
em Ciências Sociais. Revista Eletrônica dos Pós-Graduandos em Sociologia
Política da UFSC, v. 2, n. 1, 2005.
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Zonked Produções, 2019. Suporte (124min).
LARA, M. T. A.; MENDONÇA, M. C. O meme em material didático:
considerações sobre ensino/aprendizagem de gêneros do discurso.
Bakhtiniana, v. 15, n. 2, 2020.
PINTO, F. R.; CARNEIRO, R. N. O ensino de Geografia no século XXI: práticas
e desafios do/no Ensino Médio. Revista GeoInterações, v. 3, n. 2, 2019.
SOUSA, R. K. M. A. Cantigas populares: um gênero para alfabetizar
letrando. Recife, 2007. 134 f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.
TERESINA ORDINÁRIA. Relíquia. Teresina, 18/07/2017. Instagram:
@teresinaordinaria. Disponível em: https://www.instagram.com/p/
BWsjluil7KD/. Acesso em: 10 nov. 2020.
D
emorei um tempo para iniciar esse texto, pensei e re-
pensei bastante sobre o que poderia falar a respeito
daquela que é a minha maior inspiração na Geografia.
São tantas vivências que antecedem a minha presença. Profes-
sora dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima, ou simplesmente,
professora Iracilde é uma das mais importantes profissionais da
educação e dos estudos geográficos do Piauí.
Nascida na pequena cidade de Simplício Mendes no Sudeste
do Piauí, Iracilde sempre foi apaixonada pela natureza, pelas pai-
sagens e formações geomorfológicas tão peculiares da região, que
se entrelaça com a vegetação da Caatinga. No ano de 1968, se
aventurou em outras terras, escolhendo a Universidade Federal
do Ceará para cursar Geografia, onde em 1971, concluiu sua gra-
dução. Por coincidência ou força do destino este foi o ano da fun-
dação da Universidade Federal do Piauí (UFPI), casa esta que Ira-
cilde ingressou como professora do curso de Geografia em 1975.
Como professora do Ensino Superior, Iracilde se empe-
nhou ao máximo para a formação profissional, acadêmica e até
Figura 5 – Professora
Iracilde durante aula
na UFPI
Fonte: Acervo pessoal.
Legenda: A – Leito com afloramento de rocha no Rio Poti em trecho urbano de Teresina; B –
Afluente do Rio Poti desconfigurado com presença lixo; C – Impactos ambientais decorrentes da
mineração. A água resultante da lavagem escorre diretamente para o Rio Poti (As fotos A, B e C
foram tiradas durante aula de campo da disciplina de Hidrografia em 2010). D – Rio Canindé no
município de Paulistana, aqui percebemos o leito com trecho represado, pouca água e com in-
tenso processo de assoreamento; E – Sangradouro da Barragem de Pedra de Redonda, que além
de garantir água para a região, também é responsável pela perenização do Rio Canindé a partir
desse trecho; F – Barragem de Poço de Marruá no Rio Itaim, município de Itainópolis. Em pri-
meiro plano observamos a vegetação da Caatinga, em seguida, o lago que começava a ser preen-
chido e, ao fundo, o paredão de contenção da barragem (As fotografias D, E e F foram tiradas
durante atividade de campo para os trabalhos da iniciação científica no ano de 2011).
Fonte: Acervo pessoal.
Referências
Não há como referenciar aquilo que é colhido com a
vivência.
S
empre vivi em meio a professores e cresci dentro do “mun-
do da Educação”, pois várias pessoas da minha família ou
são professores ou já trabalharam de alguma forma em
escolas. Então, minha admiração e carinho por essa profissão
tão linda vem de longa data. Não é à toa que me formei em licen-
ciatura plena em Geografia, pela Universidade Federal do Piauí,
e foi justamente nessa instituição, que tive a felicidade de fazer
parte da vida de uma das damas da Geografia Piauiense, Iracilde
Maria de Moura Fé Lima.
Uma das mulheres mais intrigantes e incríveis que já co-
nheci, e que tive proximidade, no mundo acadêmico. Durante
os cinco anos de curso, os maiores ensinamentos vieram dela.
Foram cinco anos de muitas descobertas, muito trabalho e mui-
to conhecimento adquirido.
Anos memoráveis que jamais serão esquecidos. Tive o pra-
zer de ser sua aluna, sua orientada de iniciação científica, sua
monitora, sua orientanda de TCC e sua amiga, ou como muitos
diziam, sua “quase filha”. Histórias que ficaram registradas em
todos os mapas elaborados, artigos publicados, apresentações de
trabalhos realizadas, relatórios, fotos e uma infinidades de ma-
Figura 1 – Livro de
Estudos Sociais,
Piauí: tempo e espaço
Fonte: Acervo pessoal.
A construção do pensamento 73
Quando entrei para o curso de Geografia na Universidade
Federal do Piauí (UFPI) no ano de 2008, já conhecia a Iracilde
autora, e a fama que a mesma já possuía dentro das escolas. Eu
já tinha uma certa paixão pela Geografia Física. Então, minha
curiosidade em relação a ela, foi só crescendo.
Quando, finalmente, tive a chance de cursar uma disciplina
com ela. Se não me falha a memória, era Geomorfologia, a aula
para mim foi incrível, fiquei inebriada com tanto conhecimento
prático e com aquela sabedoria tão dela. Naquele momento afir-
mei a mim mesma que ela seria minha orientadora. A professora
Iracilde então falou de um grupo de estudos que estava formando,
não pensei duas vezes, compareci no dia e horário que ela havia
marcado e entrei no grupo. Iniciando assim, mais que qualquer
coisa, uma amizade, e por que não dizer uma família? Uma famí-
lia unida pelo conhecimento geográfico piauiense.
Na época, ela tinha iniciado as aulas no doutorado e o
grupo de estudos ajudaria no processo das pesquisas. Para
mim, foi uma oportunidade única, como quase nunca vi e nem
ouvi falar no curso. E, eu aproveitei e me dediquei ao máximo.
Não demorou muito para que esse grupo de pesquisa se trans-
formasse em um projeto de iniciação científica, e tomasse a
proporção que tomou.
Uma coisa que eu sempre falava para meus amigos mais
próximos, era que Iracilde não cabia dentro de uma sala de aula,
ela sempre transbordava. O conhecimento dela sempre foi bem
além da teoria, ela sempre buscava trazer a prática de campo.
Sempre estava nos mostrando e nos ensinando a analisar toda a
teoria vista em sala.
E quando ela estava em campo, podíamos perceber o espe-
táculo que era vê-la transbordar, ela literalmente dava um show,
um show geográfico único e particular. Sem dúvidas, a melhor
aula de campo que já se teve no curso de Geografia da UFPI.
Posso afirmar, com toda certeza, que foi uma das expe-
riências e aprendizados mais incríveis que já tive na vida. Passá-
vamos o dia fazendo coletas de solo e de água para análises em
laboratório, analisando e fotografando os horizontes dos solos, o
relevo, os rios e riachos, a vegetação e os animais.
A construção do pensamento 75
Absolutamente tudo era registrado e examinado, cada pe-
queno detalhe nunca passava despercebido aos olhos dela. E nós
ficávamos atentos, observando, tentando extrair o máximo de
conhecimento para inserí-los nos relatórios de pesquisa. E, du-
rante essa e outras pesquisas de campo que fizemos, eu fui “no-
meada” por ela para escrever todas as anotações e observações
que fazia.
Fizemos uma verdadeira expedição, desbravando e desco-
brindo tudo aquilo que só tínhamos visto nos livros, e algumas
coisas que nem tínhamos estudado até então, e que no final de
tudo, nem estudamos, teoricamente falando, só vimos lá, duran-
te nossas viagens de campo.
Ela, juntamente com o professor Almir, eram verdadeiras en-
ciclopédias. Ambos explicavam com uma facilidade, como se tudo
aquilo já fizesse parte deles mesmos, e na verdade, fazia e ainda faz.
E nós, meros aprendizes, ficávamos apenas admirando e tentando
absorver o máximo de conhecimento e aprendizado daquelas “au-
las tão particulares”, que nunca se repetiriam (Figura 3).
Figura 3 – Professora
Iracilde e professor
Almir Lima
A construção do pensamento 77
Figura 4 – Aula de campo no Rio Poti, disciplina de Hidrografia
Por diversas vezes, tive que ir até sua casa, onde ficávamos
organizando e catalogando as amostras de solo e rochas, dentre
outras coisas. Nisso, ficávamos até tarde. E aí, pude ver o outro
lado da grande geógrafa que tanto admirava, não aquele lado
referente à academia, mas o lado mulher, uma mulher, que além
de pesquisadora e professora era mãe, avó e esposa.
E esta mulher forte e determinada ao se encontrar com seu
neto, se despia de todo o envoltório acadêmico e se tornava ape-
nas avó, brincando e escutando as narrativas do cotidiano do
neto. E como toda mãe sempre estava disposta a ajudar e estar
presente na vida dos filhos.
A partir daí, eu já era chamada na universidade de a “filha
da Iracilde”. Os amigos me chamavam assim por conta da proxi-
midade que tínhamos, eu e Leilson, com ela (Figura 5). De certa
forma, nós não nos desgrudávamos. Éramos um trio, pratica-
mente inseparáveis.
Figura 5 – Iracilde,
Taís e Leilson na defesa
do TCC de Leilson
Fonte: Acervo pessoal.
A construção do pensamento 79
Foi então que Iracilde teve a ideia de fazer um site, um que
pudéssemos colocar o maior número de informações e trabalhos
que ela já havia feito ou colaborado na elaboração. Seria uma
espécie de biblioteca referente à Geografia piauiense, principal-
mente. Pesquisamos até que encontramos uma forma de fazer
do jeito que ela havia idealizado.
Dessa forma, por volta do ano de 2013/2014, nasceu o “Pai-
sagens: o ambiente em movimento”, um lugar virtual simples,
mas carregado de informações e publicações sobre nosso estado
e nossa cidade, até então, difíceis de serem encontrados. Tudo
organizado com muito carinho e dedicação por ela, com uma
pequena contribuição minha. Porém, sem ela, esse espaço reple-
to de conhecimento não teria como existir.
Nossas vidas, então, acabaram tomando rumos diferentes.
Acabei não fazendo o mestrado, como ela sempre me incenti-
vou, e por ter passado em um concurso, tive que mudar para o
Maranhão. Mas ainda assim, nos falamos esporadicamente. E
mesmo não tendo seguido na área, levo todos aqueles ensina-
mentos geográficos e de vida (Figura 6).
Figura 6 – Taís e
Iracilde em aula de
campo no Rio Poti
Fonte: Acervo pessoal.
Referências
LIMA, Iracilde M. de M. F. Paisagens: o ambiente em movimento. Disponível
em: https://iracildefelima.webnode.com/.
A construção do pensamento 81
6
IRACILDE E OS ESTUDOS
SOBRE O LITÍGIO
A construção de um discípulo
Ao pueril, o exemplo
Quando uma nova matrícula é feita na universidade, surge
o compromisso para que o discente conheça todas as particula-
ridades daquele lugar. É uma experiência incrível e que, mesmo
após oito anos vagando entre os corredores da graduação e da
pós, eu posso afirmar, que não conheço tudo e que a cada dia é
possível descobrir algo novo.
A magia da universidade não se limita às suas regras ou
estrutura física. Suas histórias e os seus astros são a alma desse
lugar. Dentre os vários e saudosos mestres com quem tive a hon-
ra de aprender e conviver, a professora Iracilde se destaca como
o astro de maior luz.
Quando cheguei a graduação, demorei até compreender a
dinâmica do mundo acadêmico. Transitei entre disciplinas e pou-
cas vezes me questionava como seria a caminha no pós universi-
dade. A ideia de ser professor parecia algo tão superficial e frio,
que chego a me envergonhar de como demorei para “cair na real”.
Nas disciplinas de Geomorfologia e Hidrografia conheci a
professora Iracilde. Uma mulher com mais experiência de vida
A construção
Durante a graduação estive com a professora Iracilde em
quatro disciplinas, duas como aluno e duas como monitor. E em
todas elas sempre observei suas aulas com atenção. Até cheguei
a comentar que queria assistir suas aulas em outra oportunida-
de, pois sentia saudade. Por mais que sua preferência clara fosse
as aulas de campo, dentro da universidade, vi seus diversos mé-
todos de ensino.
Como não esquecer das maquetes e das aulas de pintura
de mapas? Ah, mas fiquei fascinado quando essa última propos-
ta chegou. Muitos colegas não entenderam e outros até critica-
ram. Contudo, a experiência foi incrível. Como pode algo tão
simples ser tão marcante na consolidação da aprendizagem so-
bre os aspectos ambientais do Piauí? Confesso, que foi uma difi-
culdade só pintar o Mapa Geológico do Piauí, mas, ainda assim,
ele ficou bonito.
Das belas lembranças que tenho da graduação, de poucas
tenho registro. Todavia, uma delas foi minha primeira vez na
Academia Piauiense de Letras (Figura 1), quando acompanhei a
professora Iracilde junto de outros mestres, como a professora Te-
rezinha Queiroz e o professor José Luís Lopes de Araújo, no lan-
çamento de um livro. Para mim foi um momento fascinante!
Figura 4 – Professora
Iracilde apresentando o
mapa das bacias hidro-
gráficas em campo
Fonte: Autor (2015).
Figura 5 – Professora
Iracilde em campo no
Jardim do Mulato
Fonte: Autor (2019).
Figura 7 – Professora
Iracilde e seus
orientados:
Géssica e eu
Fonte: Autor (2019).
Referências
LIMA, I. M. M. F. Teresina: urbanização e meio ambiente. Revista do
Instituto Camillo Filho, v. 1, n. 2, p. 181-206, 2002.
E
ste capítulo retrata as influências de alguém especial na
área dos estudos da Morfogênese e Morfodinâmica do en-
sino da Geografia, secção Geomorfologia. Por isso, é im-
portante enfatizar o quão feliz e honrada estou por prestar home-
nagem em nome de todos, tomados de sentimentos, na atualidade.
A Geografia, especificamente, a Geografia Física, na linha
de pesquisa geomorfológica, está presente desde a década de
1980, nas atividades de ensino da graduação. Sua capacidade de
explanar com objetividade, ou mesmo, de apresentar as formas
de relevo, sua origem e evolução in loco, é ímpar.
Aliada aos conceitos formulados por Davis (1899), De Mar-
tonne (1943), Ab’Saber (1962), Tricart (1977), Wright e Thom
(1977), Ollier (1981), Small (1986), Ross (1996), Guerra (2020), sua
atuação tornou-se incontestável como professora e pesquisadora,
permitindo assim comparar ou mesmo, fazer uma analogia entre
a Morfogênese, a Morfodinâmica e a referida pesquisadora.
Lembrando, que a Morfodinâmica constitui uma aborda-
gem conceitual voltada para a análise do conjunto de processos
interligados responsáveis pela gênese e evolução do modelado
94
(TRICART, 1977), e os processos morfodinâmicos estão ligados
às relações e transformações da morfologia e das forças hidrodi-
nâmicas ou aerodinâmicas que envolvem o movimento de sedi-
mentos (WRIGHT; THOM, 1977).
Nesta vertente, disponibilizar um paralelo entre os três
constituintes, significa dizer que a Morfogênese, a Morfodinâ-
mica e a referida professora estão interligadas, esta última, por
ser a interlocutora do conhecimento acadêmico dos dois primei-
ros citados, na instituição da qual faz parte e até mesmo fora
dela, levando sua experiência aos ares de outras instituições e a
outros pesquisadores.
A maior reverência a uma profissional exemplar, deve-se
às suas qualidades, que sem nenhum constrangimento, vale des-
tacar, o compromisso com que se dedica, e assim, trabalha, com
eficácia em prol do desenvolvimento do conhecimento científi-
co, sem medir esforços para levá-lo, não só para a comunidade
acadêmica, como também para toda a sociedade por meio de
respostas importantes que contribuam com o desenvolvimento
social, preservando os aspectos ambientais.
A professora e doutora Iracilde Maria de Moura Fé Lima
contribuiu grandemente para ampliar o conhecimento da dinâ-
mica geomorfológica desencadeada no estado do Piauí, e por
que não, da Bacia Sedimentar do Rio Parnaíba?
Como já salientado, é a partir da contextualização da
Morfogênese e da Morfodinâmica que a citada professora, apre-
senta de forma didática, e com muita técnica, a caracterização
geomorfológica do estado, elucidando a gênese das formas de
relevo, tal como, as transformações promovidas por agentes in-
ternos e externos do relevo piauiense. Desbravando terras com
energia indescritível, ou mesmo, “de alta voltagem”, promoven-
do aulas de campo (pesquisas in loco), em áreas até então estra-
nhas ao conhecimento de muitos acadêmicos.
Analogia
O estudo da Morfogênese e da Morfodinâmica é impor-
tante, pois amplia o conhecimento, e torna-se mais apreciável
quando transmitido com significância. É o que acontece durante
as aulas com a professora Iracilde.
Portanto, a Morfogênese e a Morfodinâmica, tratam dos
processos que dão forma ao relevo terrestre e suas interações
com propriedades, podendo transformar suas feições iniciais.
Semelhante tendência, verificamos na atuação de Iracilde, que é
inerente aos registros das pesquisas efetuadas por ela, e determi-
nada pelo prazer de desenvolver suas atividades.
Esta singularidade, portanto, nos permite fazer a analogia
entre Morfogênese, Morfodinâmica e Iracilde, na perspectiva de
uma equiparação, conferindo-lhe uma vitalidade, em todo o seu
percurso profissional.
Outorga-se à Iracilde, o apreço que todos têm para com
sua pessoa, ao mostrar-se sempre solidária ou parceira quando
alguém necessita. Com humildade se dedicou aos objetivos al-
mejados, superando as dificuldades traçadas na estrada da vida.
100
de pesquisa)
LIMA, Iracilde
Projetos de
pesquisas
Análise Geoambiental e
Levantamento de dados Mapeamento das Áreas
Municípios de Teresina e Os terraços fluviais de
dos municípios por sub- Estudo socioambiental Degradadas na Bacia
Nazária, Piaui: formas de Teresina PI: aspectos Dinâmica do relevo da
bacia hidrográfica do rio das principais bacias Hidrográfica do Rio Poti:
relevo e ocupação e uso físicos, espaciais, porção centro-sudeste do
Parnaíba e do litoral do hidrográficas do Estado Geoprocessamento
da terra históricos e Piauí
Piauí do Piaui Aplicado ao Manejo e
socioeconômicos
Conservação dos
Recursos Naturais
Conclusão
Para correlacionar a professora Iracilde aos estudos de
Morfogênese e Morfodinâmica foi necessário apenas definir
quais seriam os principais tópicos a serem discutidos, conside-
Referências
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sedimentação pós-cretáceos do Brasil. 80 f. Tese (Concurso para a cadeira
de Geografia Física) – Depto. Geografia, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 1962.
DAVIS, W. M. Geographical Journal of the Royal Geographical Society,
London, v. 14, n. 5, p. 481-504, 1899.
DE MARTONNE, E. Problemas morfológicos do Brasil Tropical Atlântico.
Revista brasileira de Geografia, São Paulo, v. 5, n. 4, p. 532-550, 1943.
LIMA, I. M. M. F. Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico. Currículo Lattes. ID Lattes: 6880418044055731. Disponível em:
http://lattes.cnpq.br/6880418044055731. Acesso em: 08 nov. 2020.
LIMA, I. M. M. F; GUERRA, A. J. T. Ambiente montanhoso e turismo em
Pedro II, Piauí. Geosul, v. 35, p. 518-538, 2020.
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SOUSA, F. W. A. Pesquisa de campo na cidade de Nazária, para fins de
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TRICART, J. Ecodinâmica. Rio de Janeiro: IBGE-SUPREN, 1977. p. 91.
WRIGHT, L.; THOM, B. Coastal depositional landforms: a morphodynamic
approach. Progress in Physical Geography, v. 1, n. 3, p. 412-459, 1977.
A
s costas são zonas de interface entre a terra e o mar
detentoras de paisagens de grande beleza cênica, que
podem apresentar diversificadas variações em uma
mesma área, lhe conferindo, deste modo, uma complexidade ex-
tremamente frágil (SILVA; LIMA, 2017). Portanto, os ecossiste-
mas costeiros são resultado da interação de ambientes marinhos
e terrestres caracterizados por recortes espaciais, diversidade
biológica e fragilidade ambiental, que sofrem influência tanto de
processos naturais quanto antrópicos (STROHAECKER, 2008).
Existe atualmente um grande interesse a respeito do modo
de funcionamento dos ambientes costeiros, porque eles se consti-
tuem em um laboratório natural que fornece informações relati-
vas sobre a dinâmica de oscilações do nível do mar, tanto em tem-
pos atuais como passados (AB’SABER, 2001). Desse modo, a
caracterização dos ambientes costeiros atuais e passados, seja em
termos geológicos ou geomorfológicos, fornece informações im-
portantes na reconstituição da forma de atuação de diversos even-
tos, sendo de fundamental importância, não só para a reconstitui-
ção da história, mas também, como forma de desenvolver possíveis
106
intervenções que minimizem seu impacto negativo para a socie-
dade atual e para as gerações futuras (ROSSETTI, 2008).
No estado do Maranhão, a costa apresenta uma extensão
de aproximadamente 640 km, estendendo-se no sentido Oeste-
-Leste da foz do Rio Gurupi, na divisa com o estado do Pará, até
o delta do Rio Parnaíba, no limite com o estado do Piauí. Cor-
responde ao segundo mais extenso litoral do Brasil e também da
região Nordeste.
Em função de suas características geoambientais diferencia-
das, a costa maranhense é compartimentada em Litoral Ocidental,
Golfão Maranhense e Litoral Oriental (FEITOSA; TROVÃO, 2006),
estando a área de estudo localizada no Golfão Maranhense.
Esse golfão se caracteriza como um complexo estuarino,
formado a Oeste pela Baía de São Marcos, e onde se localiza a
Ilha do Livramento, com suas falésias, no município de Alcânta-
ra, objeto desta pesquisa. A sua porção ocidental é formada pela
Baía de São José, encontrando-se entre esta e a Baía de São Mar-
cos, a Ilha do Maranhão.
No estado do Maranhão, as falésias ocorrem, principal-
mente, no Litoral Ocidental e Golfão Maranhense, moldadas a
partir do Pleistoceno, mas em particular no Holoceno, quando o
mar se posicionou próximo ao seu nível atual.
No Brasil, o termo falésia é usado indistintamente para
designar as formas do relevo litorâneo abruptas ou escarpadas
ou, ainda, os desnivelamentos de igual aspecto no interior do
continente (GUERRA; GUERRA, 2001). Assim, refere-se a uma
superfície fortemente inclinada, onde a terra se encontra com o
mar, porém as falésias costeiras apresentam uma característica
geomorfológica de primeira ordem de significância, uma vez
que ocorrem ao longo de cerca de 80% das linhas costeiras do
mundo (EMERY; KUHN, 1982).
Procedimentos técnico-operacionais
A metodologia adotada nesta pesquisa utilizou a aborda-
gem sistêmica, tendo em vista, que o objeto de estudo apresen-
tou uma evolução resultante da atuação simultânea de processos
que envolvem materiais e a ação sobre eles, de agentes naturais
continentais e marinhos, além da atividade antrópica, que for-
ma uma unidade temporoespacial (SILVA; LIMA, 2017).
Resultados e discussões
Caracterização da área de estudo
No município de Alcântara há inúmeras falésias que têm
como base geológica, o membro Alcântara, apresentando, desta fei-
ta, níveis carbonáticos, areníticos, argilosos e margosos, que for-
Conclusões
As falésias presentes na Ilha do Livramento são feições geo-
morfológicas que apresentam características singulares, refletin-
do, desta maneira, a evolução do ambiente em que estão inseridas,
como a dinamicidade dos períodos climáticos e das alternâncias
do nível do mar, no decorrer dos períodos geológicos mais recen-
tes, registradas na alternância de camadas sedimentares e estrati-
ficação expostas na sua face voltada para o mar. Estas falésias en-
contram-se, assim, em uma faixa da costa maranhense que pode
ser encarada como laboratório natural, incitando experiências e
descobertas, como os que encontramos a partir deste estudo.
A falésia é dominada por processos costeiros, principal-
mente, porque as ondas, correntes e marés atingem a base da
falésia, ocasionando desmoronamentos que influenciam o ritmo
de sua regressão e, consequentemente, a retrogradação da linha
da costa local.
Observamos também que a presença na faixa de praia de
arenitos ferruginosos e lajes, que formam o terraço de abrasão,
atuam como uma importante proteção natural à evolução da falé-
sia, contribuindo para a dissipação da energia das ondas mari-
nhas incidentes. Porém, a ausência de terraço de abrasão em algu-
mas falésias, constituiu um fator que cooperou para que a falésia
recuasse mais rapidamente, ao provocar a desestabilização de sua
face. Assim, a redução desse uso, bem como a ausência de ocupa-
ção humana no seu topo, certamente está contribuindo para re-
tardar, pelo menos em parte, o ritmo da evolução dessas falésias.
Referências
AB’SABER, A. N. Litoral do Brasil. São Paulo: Metalivros, 2001.
AMORIM, K. B. Mineralogia e geoquímica dos pelitos e carbonatos da
Formação Alcântara, Cretáceo superior da Bacia de São Luís-Grajaú.
Monografia (Conclusão de Curso) – Universidade Federal do Pará, Belém,
PA: 2010.
BIZZI, L. A.; SCHOBBENHAUS, C.; VIDOTTI, R. M.; GONÇALVES, J. H.
(ed.). Geologia tectônica e recursos minerais do Brasil.Brasília: CPRM-SGB,
2003. p. 674.
CHISTOFOLETTI, A. Geomorfologia. 2. ed. São Paulo: Edgar Blücher, 1986.
EMERY, K. O.; KUHN, G. G. Sea cliffs: their processes, profiles and
classification. Geological Society of America Bulletin, v. 93, p. 644-654,
1982.
E
m Teresina, as coberturas superficiais que repousam di-
retamente sobre o substrato rochoso, principalmente, da
Formação Pedra de Fogo, a exemplo do “massará”, são
resultantes da alteração e desagregação das rochas, especial-
mente, o arenito caulínico, que compõe essa formação.
Esses recursos minerais são semelhantes aos depósitos alu-
viais dos terraços do baixo Poti em Teresina, devido à presença de
seixos de quartzo, que são usados em larga escala na construção
civil em razão das suas características físicas. Dessa forma, a pes-
quisa se desenvolveu a partir do seguinte questionamento: Como
se caracterizam as diferentes camadas onde ocorre o massará,
quanto aos aspectos estratigráficos, físicos e químicos?
A hipótese inicial deste trabalho considerava a ocorrência
do massará em áreas de terraços fluviais, em virtude das seme-
lhanças, tanto nos aspectos estratigráficos quanto na composi-
1 Este texto apresenta alguns resultados da tese defendida em 2013, na UFMG (VI-
ANA, 2013), e que foram apresentados no XVI Simpósio Brasileiro de Geografia
Física Aplicada (SBGFA) realizado em Teresina (PI) no período de 28 de junho e 04
de julho de 2015 (VIANA et al., 2015).
121
ção dos materiais e na existência de areia e cascalho. No entanto,
com base em discussões com a orientadora e com Iracilde Maria
de Mouta Fé Lima, assim como ao comparar os mapas de hipso-
metria com o de coberturas superficiais, e a partir das análises
químicas, comprovamos que, devido à presença de materiais
mais resistentes nos topos do relevo, os mesmos foram preserva-
dos na paisagem. Os processos intempéricos contribuem para o
carreamento do material fino, porém, os seixos resistem e difi-
cultam o dessecamento da paisagem.
Dessa maneira, este artigo objetivou caracterizar as cama-
das onde ocorre o massará quanto aos seus aspectos estratigráfi-
cos, físicos e químicos, enfocando sua gênese e espacialização na
cidade de Teresina e adjacências, destacando o perfil estratigrá-
fico localizado nos bairros Santo Antônio/Bela Vista, localiza-
dos na região Sul.
Metodologia do trabalho
Os trabalhos de campo foram realizados para observar-
mos e fotografarmos paisagens com presença de diferentes ca-
madas de massará, assim como para coletarmos amostras, vi-
sando as análises físicas e químicas em laboratório. Os
procedimentos metodológicos para a análise física (Dispersão
Total) foram baseados nas normas da Embrapa (1997), sendo
que esta análise foi realizada no Laboratório de Geomorfologia
do IGC/UFMG. O georreferenciamento do perfil estratigráfico
localizado nos bairros Santo Antônio/Bela Vista, na região Sul
(Figura 1), foi realizado com auxílio do GPS.
Fonte: Google Earth (2012). Organização: Bartira A. da S. Viana. Adaptado por: Carla Vieira
(2012). In: Viana (2013).
A: Porções de rocha em camadas onde ocorre o massará. B: Vista panorâmica de área extrativa
de massará/seixos no Bairro São Lourenço, com destaque para o depósito de minerais.
Fonte: Viana (2012). In: Viana (2013).
Mineral identificado
Amos-
Características Predomi-
tra Minoritário
nante
(< 1%)
(> 98%)
Massará com matriz arenosa cinza-
AM 01 Quartzo Caulinita
-clara, de média a grosseira
Massará com matriz de tonalidade
AM 02 ocre arenosa e conglomerática (pre- Quartzo Caulinita
sença de seixos)
Massará arenoso, grosseiro,
AM 03 marrom-avermelhado, friável e con- Quartzo -
glomerático
Considerações finais
Em Teresina, na porção central, principalmente, nos limi-
tes Sul e Norte, na franja urbana da cidade, assim como em Ti-
mon (MA), as coberturas superficiais, que constituem o massa-
rá, capeiam topos de baixos planaltos, sob solos incipientes,
visíveis em áreas de exploração mineral. Essas áreas compõem-
-se de sedimentos grosseiros, em uma matriz fina areno-argilo-
sa, com linhas de seixos bem definidas em alguns desses topos,
constituindo, deste modo, importantes reservas de minerais pri-
mários, que, atualmente, são utilizados de forma intensa como
matéria-prima na construção civil.
A análise das amostras do perfil dos bairros Santo Antô-
nio/Bela Vista demonstra que nas camadas com presença de
massará, predomina a textura arenosa e a pequena proporção de
argila. As amostras com maior teor de argila pertencem às ca-
madas nas quais ocorrem o “barro”.
Ficou nítido nesta pesquisa, que os depósitos encontrados
em Teresina, não são resultado da dinâmica fluvial atual, pois,
Agradecimentos
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do IGC/
UFMG/Projeto de Doutorado Interinstitucional (DINTER-U-
FPI/UFMG), à minha orientadora, a Profa. Dra. Cristiane Valé-
ria de Oliveira, à a Profa. Dra. Iracilde Maria de Mouta Fé Lima
pelas preciosas contribuições na construção da minha tese, à
Carla Iamara de Passos Vieira, pelo geoprocessamento dos ma-
pas, ao senhor Walter Brito (geólogo da CTDN) e aos demais
colaboradores da pesquisa, como os professores Dr. Gustavo
Souza Valladares, Dra. Vilma Lúcia Macagnan Carvalho, o Dr.
Roberto Célio Valadão, Dr. José Luís Lopes de Araújo, Me. José
Ferreira Mota Junior (In memorian), assim como os demais co-
legas professores da UFPI que contribuíram com a construção
da tese. (Fotografia 1).
Referências
CORREIA FILHO, Francisco Lages; MOITA, José Henrique A. Projeto
Avaliação de Depósitos Minerais para Construção Civil PI/MA. v. 2.
Teresina: CPRM, 1997.
EMBRAPA. Manual de métodos de análise de solo. 2. ed. rev. atual. Rio de
Janeiro: Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 1997.
FONTES, Maurício Paulo Ferreira. Introdução ao estudo de minerais e
rochas. Viçosa, MG: Ed. da Universidade Federal de Viçosa, 1996.
MELO, Vander de F. M.; ALLEONI, Luís R. F. (ed.). Química e mineralogia
do solo: parte I – conceitos básicos. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo, 2009.
VIANA, Bartira Araújo da Silva. Caracterização estratigráfica, química e
mineralógicas do massará e conflitos socioambientais associados a sua
exploração em Teresina, PI, Brasil. 2013. Tese (Doutorado) – Programa de
Pós-Doutorado em Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2013.
P
arafraseando Ferreira (2010), homenagem é uma pala-
vra que define retribuição de honra, agradecimento, tor-
nar público com um ato de gratidão, algum favor que
foi prestado por alguém, ou agradecimento por mérito à uma
atividade reconhecida como de grande valor, a partir de um
julgamento moral.
Neste sentido, homenagear a contribuição da professora
Iracilde Maria de Moura Fé Lima em quaisquer que sejam as
áreas ou temáticas é um papel desafiador, e ao mesmo tempo, de
muita honra e gratidão. O território do Piauí só teve a ganhar
com as inúmeras contribuições da ilustríssima professora, uma
vez que sua importância permeia diversos assuntos, áreas de
atuação, tempos históricos e tipos de conhecimentos, em função
da sua rica trajetória até aqui.
Sendo assim, uma das áreas em que a professora Iracilde
atua de forma mais recente, e que cada vez mais se aprofunda, é
o que concerne a orientação de alunos em diferentes âmbitos, na
elaboração de trabalhos científicos e organização de eventos.
Este interesse se constituiu, sobretudo, acerca dos estudos sobre
a Geodiversidade, o Geoturismo e a Geoconservação de modo
137
geral, com uma importância imprescindível para o entendimen-
to e prática da conservação abiótica do Piauí.
O conceito de conservação da natureza passou a evoluir ao
longo dos tempos, apesar de, muitas vezes, ser interpretado
como sinônimo da conservação da biodiversidade, ignorando,
deste modo, que a natureza também comporta a parte abiótica
que constitui o suporte/substrato físico-natural, sobre o qual se
desenvolve toda a atividade orgânica (ARAÚJO, 2005).
Grande parte dos estudos da Geodiversidade estão volta-
dos para a preservação e conservação dos elementos abióticos do
planeta. No entanto, para preservarmos ou conservarmos, é ne-
cessário conhecer os recursos naturais existentes em uma dada
porção do espaço. A valorização desses elementos para a socie-
dade é um caminho a ser alcançado, no intuito de garantir a
preservação de alguns exemplares para as presentes e futuras
gerações. Tal valorização pode estar relacionada ao papel atri-
buído à Geodiversidade, no cenário de uso e ocupação territorial
de uma região (LAVOR, 2016), juntamente com o entendimento
de outros termos que surgiram, como o Geoturismo, a Geocon-
servação e o Geopatrimônio, que se somam, no sentido de inte-
grar a proteção abiótica das paisagens.
A partir deste contexto, o objetivo do presente trabalho se
constituiu em apresentar um breve relato de experiência no to-
cante à contribuição da professora Iracilde Maria de Moura Fé
Lima, quanto aos principais estudos sobre Geodiversidade, Geo-
turismo e Geoconservação, no que diz respeito às parcerias que
realizamos juntas na sua elaboração e os aprendizados que ad-
quirimos, bem como destacar a importância de tais temáticas.
Na metodologia empregada para a materialização deste es-
tudo utilizamos a pesquisa bibliográfica com vistas ao estabele-
cimento de fundamentação teórica, mesmo que breve, pesquisa
de campo, assim como o resgaste e aprofundamento de memó-
Resultados e discussão
Relato de experiência e parceria com a professora Iracilde na
elaboração de estudos sobre Geodiversidade, Geoturismo e
Geoconservação: encontro da cientificidade e afetividade
Como já dito anteriormente, citamos a seguir, um breve
relato da experiência sobre a contribuição da homenageada, no
que diz respeito aos diferentes trabalhos acerca das temáticas em
questão, não no sentido de esgotar toda a literatura realizada
pela professora Iracilde, mas sim, para apontar os trabalhos
onde nós duas participamos juntas, formando parceria, fonte
inesgotável de aprendizado pessoal.
Ouvia muito falar da professora Iracilde desde quando ini-
ciei minha graduação em licenciatura em Geografia na Universi-
dade Estadual do Piauí (UESPI), por isso sempre a consideramos
como uma professora excepcional. Mas foi especificamente quan-
do comecei meus estudos na pós-graduação (mestrado em Geo-
grafia), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que realmente
a)
b)
Considerações Finais
Neste trabalho, primeiramente, homenageamos a profes-
sora Iracilde, através desse breve relato de experiência, que diz
respeito às suas inúmeras contribuições para a elaboração e
orientação de trabalhos referentes às temáticas sobre Geodiver-
sidade, Geoturismo e Geoconservação, sobretudo, no estado do
Piauí, e que tenho muito orgulho de ter tido a oportunidade de
estar junto a ela, nessa trajetória.
O legado e a experiência que a professora Iracilde construiu
no meio acadêmico piauiense de um modo geral, se reflete nos
inúmeros trabalhos, produções, orientações e eventos, que a fa-
zem cada dia mais merecedora de tais méritos. Agradeço por ter
tido a oportunidade de ser sua aluna e orientanda, experiência
esta que contribuiu muito para a minha formação acadêmica.
Referências
ARAÚJO, E. L. S. Geoturismo: conceitualização, implementação e exemplos
de aplicação ao Vale do Rio Douro no Setor Porto-Pinhão. 2005. 219 f.
Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente) – Universidade do Minho,
Braga, 2005.
BRILHA, J. B. R. Patrimônio Geológico e Geoconservação: a conservação da
natureza na sua vertente geológica. São Paulo: Palimage, 2005.
152
(Contribuição ao estudo da erosão dos solos agrícolas no Brasil),
em que somos coautores, e o mais recente (Ambiente montanho-
so e turismo em Pedro II, Piauí), na Revista Geosul, em 2020,
onde também somos coautores.
Desde o mestrado na UFRJ tenho acompanhado sua car-
reira, com Iracilde sempre demonstrando muito empenho, dedi-
cação e competência, o que é confirmado pelos excelentes arti-
gos publicados, livros, capítulos de livros, bem como orientações
de graduação, mestrado e doutorado, bancas em todos os níveis,
e em concursos públicos. Além disso, Iracilde tem participado
da Comissão Organizadora de eventos científicos, com destaque
para o XVI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada,
realizado em meados de 2015, na cidade de Teresina, onde che-
guei a ser convidado por ela, para participar do evento, mas in-
felizmente não pude ir, porque estava fazendo meu pós-doutora-
do, na Universidade de Wolverhampton, na Inglaterra, quando
retornei no início de agosto, do mesmo ano. Mas vários alunos
de graduação, mestrandos e doutorandos do LAGESOLOS par-
ticiparam e voltaram para o Rio encantados, com muitos elogios
à Iracilde, e toda Comissão Organizadora, ou seja, foi um verda-
deiro sucesso. Parabéns minha amiga!
No início da década de 2000, tive a oportunidade de fazer
alguns trabalhos de campo com Iracilde e Antonio Soares (UERJ),
e depois com Iracilde e Mônica Marçal (UFRJ), tanto no Parque
Nacional da Serra das Confusões, como no Parque Nacional da
Capivara, onde trocamos numerosos conhecimentos e tivemos a
oportunidade de aprender muito com nossa querida amiga.
Também em meados da década de 2000, não lembro exa-
tamente o ano, fui convidado por Almir (marido da Iracilde),
para dar um curso no Ibama do Piauí, onde ele era pesquisador,
para isso passei uma semana em Teresina. O curso foi muito
bom, com ótima participação, e Iracilde e Almir me ajudaram
muito durante um dia de trabalho de campo, em Teresina.
Pósfácio 153
O tópico do curso foi Impactos ambientais urbanos, e eles conhe-
ciam bem essa realidade. Novamente fui muito bem recebido
por ambos. Voltei muito gratificado pela participação de Almir
e Iracilde no curso, bem como dos técnicos do IBAMA.
Mesmo à distância, sempre acompanhei a brilhante car-
reira da Iracilde, e volta e meia, estávamos nos comunicando por
e-mail. Fiquei muito feliz quando soube que ela iria fazer seu
doutorado na UFMG, sob a orientação de outra amiga, a profes-
sora Cristina Augustin, cuja defesa se deu em 2013. Na sua tese,
Iracilde teve a oportunidade de analisar e discutir todo seu co-
nhecimento sobre uma parte do Piauí, com a tese Morfodinâmi-
ca e Meio Ambiente na Porção Centro-Norte do Piauí. Quando
nos encontrávamos em algum evento científico tínhamos a
oportunidade de conversar sobre sua pesquisa, e colocar o papo
em dia. Enfim, mais uma etapa foi cumprida por Iracilde. Po-
rém, ela não parou por aí, continuou pesquisando e publicando
sobre o Piauí, que afirmo, se não for a maior conhecedora da
Geomorfologia do seu estado, é uma das maiores conhecedoras
dos processos geomorfológicos piauienses. Seus trabalhos nos
ajudam a entender melhor a realidade do Piauí, tanto ambiental,
como social.
Em 2017, tive a honra de ter sido convidado a palestrar no
encerramento do I Workshop de Geomorfologia e Geoconserva-
ção, organizado por Iracilde e sua equipe. A honra foi ainda
maior, porque minha esposa Maria do Carmo Oliveira Jorge,
Carmen, como é conhecida por nós, foi também convidada, para
participar de mesa redonda. É claro que não poderíamos deixar
de levar nossa filha Maju, que se envolveu em tudo conosco. Foi
para ela uma oportunidade ímpar de conhecer mais uma parte
do território nacional. Maju adorou e voltou encantada para o
Rio de Janeiro.
Iracilde então me convidou a participar de um trabalho de
campo em Teresina, que eu já conhecia um pouco, desde o curso
Pósfácio 155
uma pessoa com luz própria, que irradia para a família e para
todos que convivem com ela. PARABÉNS MINHA AMIGA E
MUITO OBRIGADO POR TUDO!
Ubatuba, outubro de 2020
Fotografias 159
As fotos que se seguem, são registros de Iracilde em diversos trabalhos
de campo, que fizeram parte da sua rotina de pesquisa, com Almir tam-
bém presente
162
LEILSON ALVES DOS SANTOS (Organizador/Autor):
Doutorado em Geografia (em andamento) pelo Instituto de
Geociências (UFMG). Graduado em Geografia (licenciatura) pela
Universidade Federal do Piauí. Mestre em Análise e Modelagem
de Sistemas Ambientais (IGC/UFMG). Especialista em Gestão
Ambiental (UESPI). Atua, principalmente, nos seguintes temas:
Ensino de Geografia, Gestão e Educação Ambiental, Análise e
Planejamento Ambiental, Bacias Hidrográficas, e Geomorfologia
Aplicada. Foi bolsista na categoria de Apoio Técnico de Extensão
no País do CNPq/ATP, Nível A (2014). Leciona disciplinas
em cursos de especialização na área de Ciências Ambientais. É
membro pesquisador no Grupo de Pesquisa Geomorfologia,
Análise Ambiental e Educação (GAAE/UFPI).
LATTES: http://lattes.cnpq.br/0659476168110446.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2644-7268.
164
BARTIRA ARAÚJO DA SILVA VIANA: Doutora em Geografia
pelo IGC/UFMG. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
pelo TROPEN/UFPI. Especialista em Pesquisa para o Ensino de
Geografia e licenciada em Geografia (UFPI). Atualmente é profes-
sora efetiva da Coordenação do Curso de Geografia/UFPI. Profes-
sora permanente do mestrado em Geografia (PPGGEO/UFPI), tem
experiência em Ensino de Geografia, Análise Ambiental, Geografia
da Indústria e Serviços, Biogeografia, Geografia do Turismo e Geo-
grafia Urbana. E é membro dos grupos de pesquisa: GERUR (UFPI),
GEODUC/NUPEG (UFPI), GAAE (UFPI) e Cidade, Processos Ur-
banos e Políticas Públicas (IFPI), vinculados ao CNPq.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/6574888054660171.