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2 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Hikaro Kayo de Brito Nunes
Leilson Alves dos Santos
(Organizadores)

GOIÂNIA, GO | 2021
© Autoras e autores – 2021

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Iracilde e os estudos geográficos [recurso eletrônico] : 50


I65 anos de história / Hikaro Kayo de Brito Nunes, Leilson Alves
dos Santos (Organizadores). – Goiânia : C&A Alfa Comunica-
ção, 2021.
170 p.

ISBN 978-65-89324-14-0

1. Iracilde. 2. Geografia. 3. Estudos geográficos. I. Nunes,


Hikaro Kayo de Brito. II. Santos, Leilson Alves dos.

CDU: 911
SUMÁRIO

Prefácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
Palavra dos organizadores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

I
Em meio a diálogos...
1 E aí menina? Reencontro entre mestre e aprendiz em
trabalho de campo no estágio de pós-doutorado em
Geografia na UFPI . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
Elisabeth Mary de Carvalho Baptista

2 Iracilde e Teresina: olhares sobre o ambiente, o espa-


ço e o ensino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
Hikaro Kayo de Brito Nunes

3 Uma mulher, professora e geógrafa: Profª. Iracilde


dos livros @os memes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
Edenilson Andrade Ferreira

4 Iracilde Maria de Moura Fé Lima: a geógrafa além


dos muros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
Leilson Alves dos Santos
5 Um diamante lapidado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
Taís Mayara Sousa

6 Iracilde e os estudos sobre o litígio: a construção de


um discípulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
Eric de Melo Lima

II
Em meio à Ciência
7 As influências substanciais de Iracilde sobre os estu-
dos da Morfogênese e Morfodinâmica. . . . . . . . . . . . 94
Sidineyde Soares de Lima Costa

8 Análise de falésias na Ilha do Livramento, Alcântara


(MA). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 106
Carlos Henrique Santos da Silva

9 Análise estratigráfica, granulométrica e química das


camadas de Massará na Região Sul de Teresina-PI:
descobertas e percepções da paisagem com a mestra
Iracilde Maria de Moura Fé Lima. . . . . . . . . . . . . . . . 121
Bartira Araújo da Silva Viana

10 Estudos sobre geodiversidade, geoturismo e geocon-


servação compartilhados com a professora Iracilde
Maria de Moura Fé Lima: relato de experiência
e parceria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 137
Brenda Rafaele Viana da Silva

Posfácio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
Fotografias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157

Sobre os organizadores/autores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162


Sobre os autores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 164
PREFÁCIO

S
into-me desafiado e muito honrado pelo convite para pre-
faciar este livro, por razões particulares ao conteúdo da
obra que, ao minuciá-la, o leitor melhor me entenderá.
Desafiado, pois, convencionalmente, um prefácio deve conter
uma breve apresentação de seu conteúdo ou de seu autor e au-
tores, mas, neste caso, o que aqui temos é um fabuloso misto
de perspectivas. Isso, porque esta obra trata de textos sobre a
professora dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima em forma de
depoimentos, que relatam a sua importância e em como ela in-
fluenciou a “vida” intelectual dos autores, que aqui apresenta-
ram tais relatos.
Essa relevância pode ser conferida na primeira parte do
livro “Em meio a diálogos...” onde seis autores escreveram, cada
qual, um importante recorte dos diversos talentos de conteúdo,
de método e de teoria que a professora Iracilde carrega consigo,
e que historicamente tem socializado com seus aprendizes: das
orientações de trabalho de conclusão de curso da graduação às
dissertações de mestrado, bem como da supervisão de estágio
pós-doutoral, na área de Geografia, da Universidade Federal do
Piauí (UFPI).

8
Nessa parte do livro, o leitor terá o prazer e o privilégio de
conhecer as múltiplas temáticas e experiências de pesquisa tra-
balhadas e compartilhadas pela professora Iracilde, dentre elas,
a produção de livros didáticos relacionados ao estudo da Histó-
ria e Geografia do Estado do Piauí e de sua capital Teresina, as
produções acerca de questões ambientais no campo da Geomor-
fologia e da Hidrografia e, ainda no campo político, em áreas de
litígios. Os textos nos convidam a observar uma inspiradora de-
dicação do “fazer ciência” e do produzir conhecimento à luz de
uma prática dinâmica, sistêmica e complexa ao modo propug-
nado por E. Morin. Leia e verás!
Na segunda parte, “Em meio a ciência...” os quatro capítu-
los apresentados traduzem a fantástica complexidade dos con-
teúdos e, ao mesmo tempo, das relevantes contribuições da pro-
fessora Iracilde, seja como orientadora ou como fonte inspiradora
de seus “pupilos”, que apresentaram as sínteses de seus traba-
lhos. Aqui, os leitores são presenteados com reflexões relevantes
que partem da abordagem das dinâmicas do relevo aos estudos
da Geodiversidade, Geoturismo e da Geoconservação. Trata-se
de um multifacetado conjunto de textos que revelam nada mais,
nada menos, do que a brilhante capacidade e sensibilidade inte-
lectual dos autores em potencializarem aquilo de mais precioso
que alguém pode propiciar ao outro, a retribuição do conheci-
mento através do conhecimento.
Bom... mas quem, afinal, é a professora Iracilde, homena-
geada nesta obra? Não temos aqui, a intenção de realizar uma
descrição cansativa de seu currículo (lattes?). Contudo, impor-
tante se faz apresentar um breve resumo sobre a história, na
Geografia, dessa eterna e incansável pesquisadora. Tudo come-
çou quando ela cursou a sua Licenciatura em Geografia na UFC.
Depois disso, nunca mais se permitiu estar no mundo, no espa-
ço, sem produzir conhecimentos na área. Assim, Iracilde não
perdeu tempo e logo tornou-se professora de Geografia na então

Prefácio 9
recém-criada Universidade Federal do Piauí. A cada passo que
dava, surgia-lhe mais convicção e obstinação pelo fazer ciência.
Foi então que decidiu cursar o seu mestrado na Universidade
Federal do Rio de Janeiro e, na ocasião, pesquisou a Bacia Hi-
drográfica do Rio Poti. Depois dessa experiência, a professora
Iracilde nunca mais deixou de pesquisar: meio ambiente, Geo-
morfologia, Hidrografia, Biogeografia, gestão de bacias hidro-
gráficas, e temas afins, passaram a fazer parte da cotidianidade
de sua vida. Ela aposentou-se da UFPI, mas não parou de pes-
quisar e seguiu a profissão na Universidade Estadual do Piauí
por um período de dois anos, retornando à instituição mediante
submissão de um novo concurso público.
Anos depois deu um novo e importante passo rumo à pes-
quisa ao cursar doutorado na Universidade Federal de Minas Ge-
rais (UFMG), onde desenvolveu a tese “Morfodinâmica e Meio
Ambiente na Porção Centro-Norte do Piauí”. Incansavelmente, a
professora Iracilde continua desenvolvendo pesquisas ligadas aos
temas de seu interesse, por formação, junto aos seus orientandos
no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFPI e contri-
buindo, dessa maneira, com a divulgação do conhecimento cien-
tífico através de suas publicações, que também não cessam.
Caminhando para a finalização deste prólogo, gostaria de re-
tornar ao início para explicar o sentimento de honra e privilégio de
escrevê-lo. Eu também sou, orgulhosamente, um discípulo dessa pes-
quisadora e, especialmente, professora. Uma vez que no decorrer de
37 anos tive o privilégio de obter um aprendizado significativo como
seu aluno, seu bolsista PET, e também como seu colega de trabalho.
Minha gratidão pelos seus ensinamentos, professora
Iracilde!

Carlos Sait de Andrade


Teresina, abril de 2021

10 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


PALAVRA DOS
ORGANIZADORES

E
screver um livro sobre uma pessoa não é uma tarefa fácil e
compartilhar esse desafio é ainda mais complexo, a julgar
pela definição da quantidade e dos temas a serem escritos.
A obra que se segue é uma homenagem aos 50 anos de contribui-
ção aos estudos geográficos da professora dra. Iracilde Maria de
Moura Fé Lima, que foram de grande importância, com destaque
para as produções científicas e os reflexos profissionais da geógra-
fa em uma série de estudos, que direta ou indiretamente, partilha-
ram de discussões em torno da Geografia, sobretudo, a piauiense.
Conhecemos a professora Iracilde mesmo antes de ela nos
conhecer, aqui lembramos do livro “Piauí: tempo e espaço”, que
ajudou milhares de crianças e jovens piauienses a entenderem e
conhecerem o Piauí. Já na graduação em Geografia (na UFPI e na
UESPI) tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais
daquela que serviu como inspiração para inúmeros geógrafos.
Pois boa parte dos professores de Geografia da UFPI e UESPI, em
algum momento foram seus alunos, afinal, são mais de 45 anos
dedicados como professora universitária.
Aqui, estão doze autores que se reuniram com a seletiva mis-
são de, em poucas páginas, escreverem sua relação com a professora

11
Iracilde e como isso refletiu em suas formações acadêmicas, a partir
da apreensão do espaço geográfico. São ex-alunos, ex-orientados,
colegas de trabalho, parceiros de produções acadêmicas e científi-
cas, e, em grande parte, membros do Grupo de Pesquisa “Geomor-
fologia, Análise Ambiental e Educação” (GAAE/UFPI/CNPq) que
se debruçaram em labirintos e travessias nas memórias sobre as
conversas (em aulas, nos corredores das universidades, nos eventos
científicos, em atividades de campo e em orientações), e a respeito
dos seus escritos (textos, artigos, livros, relatórios) e falas (entrevis-
tas e palestras). Enfim, de como houve a aproximação com a geó-
grafa, que, desde sempre, se apresenta além do seu tempo, haja vista
ser a primeira detentora de um diploma de mestrado em Geografia
no Piauí, obtido no ano de 1982, e por enveredar-se pelo entendi-
mento das dinâmicas da natureza.
As exigências e preocupações científicas são suas caracterís-
ticas. Lembramos com carinho, por exemplo, do seu zelo pela pes-
quisa durante as atividades de campo. Bem como, do seu olhar ao
perceber a natureza de forma integrada nos reflexos da sociedade.
Seu cuidado pela qualidade da produção cartográfica revela im-
portante atenção com o tema. A sua história de produção aponta
para a paixão por Teresina e ao Piauí. Sua atuação e caminhos
brindam a Geografia pela força de vontade e excelência das pro-
duções, em grandes movimentos de (re)invenção em tão necessá-
rias reciprocidades entre professora Iracilde e a Geografia.
A presente obra é um livro para os apaixonados pela
Geografia. Possui leitura fácil, acessível e elenca, inclusive, algu-
mas curiosidades dos autores com a geógrafa, mesmo cientes de
que aqui estamos em uma parcela pequena se comparado ao gran-
de número de profissionais influenciados por ela. Esperamos que
esta singela homenagem reflita um pouco da história dessa grande
cientista da Geografia, e que os leitores a reconheçam em cada
texto escrito.
Os organizadores

12 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


EM MEIO A
DIÁLOGOS... I
1
E AÍ MENINA?1 REENCONTRO ENTRE
MESTRE E APRENDIZ EM TRABALHO
DE CAMPO NO ESTÁGIO DE PÓS-
DOUTORADO EM GEOGRAFIA NA UFPI

Elisabeth Mary de Carvalho Baptista

Considerações iniciais

E
nsinamentos adquiridos, valores construídos e amizade
consolidada. Devo começar por aqui. Não, vamos co-
meçar do começo. Conheci a professora Iracilde ainda
na graduação em Geografia na Universidade Federal do Piauí
(UFPI). Tive o privilégio de ser sua aluna na disciplina Geo-
grafia Física I (Geomorfologia), estudando com ela e Margarida
Penteado2. Aprendizado este que me levou até hoje, a estudar e
desenvolver pesquisas relacionadas aos aspectos geomorfológi-
cos do espaço piauiense, principalmente, do litoral, espaço pre-
ferencial de meus estudos e pesquisas.
Depois nos encontramos novamente quando ela fez parte
da banca para o concurso da Universidade Estadual do Piauí
(UESPI) e eu estava lá como candidata a ser professora do curso
de Geografia, que iria se iniciar. Nervosa por dar aula para a

1 Saudação inicial da profª. Iracilde para comigo sempre que nos encontramos pes-
soalmente ou nos falamos por telefone.
2 Geomorfóloga brasileira autora do livro “Fundamentos de Geomorfologia”, publi-
cado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 1975, adotado
pela profª. Iracilde, como uma das referências da disciplina.

14
mestra tão respeitada por mim e por todos. Consegui ser apro-
vada e iniciei minha trajetória na UESPI, instituição onde até
hoje, atuo com muito orgulho e dedicação. E então a profª. Ira-
cilde se tornou minha colega de trabalho. Podem acreditar!
Ela fez o concurso na UESPI para atuar no curso de Geo-
grafia do Campus “Torquato Neto”, no mesmo em que eu exercia
a docência universitária. Imaginem minha satisfação e alegria
de poder atuar ao lado dela. Foi um caminho curto, pois logo a
professora Iracilde decidiu fazer concurso novamente para re-
tornar à UFPI. No entanto, tivemos momentos significativos em
nossa breve convivência profissional na UESPI.
Destaco, portanto, o momento da minha defesa de mestra-
do em Educação3. Convidei, claro, todos os colegas do curso de
Geografia e ela, certamente. Entretanto, infelizmente, no dia da
defesa a professora não pôde comparecer, mas vejam só, no dia
seguinte, quando eu estava na coordenação me preparando para
uma aula, ela entrou na sala com um buquê enorme de rosas, me
dizendo que, embora não tenha assistido a defesa de minha dis-
sertação, não poderia deixar de alguma forma, participar deste
momento tão importante para minha carreira profissional. Este
foi um dos momentos mais marcantes de nossa convivência e
por essa razão, o trago sempre na memória.
No decorrer dos anos nos encontramos várias vezes em
eventos, em bancas, entre outros momentos. Evidencio a partici-
pação nos SINAGEOS4 no Rio de Janeiro e em Manaus, e a orga-
nização do I WORKGEO5 em Teresina. Também não posso dei-

3 Mestrado em Educação – Docência Universitária, realizado pelo Instituto Ped-


agógico Latino-Americano e Caribenho (IPLAC), Havana/Cuba, em convênio com
a UESPI, com dissertação defendida no ano 2000.
4 Os eventos citados tratam-se do IX e X Simpósio Nacional de Geomorfologia ocor-
ridos respectivamente na cidade do Rio de Janeiro em 2012, e Manaus em 2014.
5 Refere-se ao I Workshop de Geomorfologia e Geoconservação: Geomorfologia,
Geoconservação e Desafios Ambientais no Brasil, 2017, planejado e coordenado
pela profª. Iracilde, em 2017.

E AÍ MENINA? REENCONTRO ENTRE MESTRE E APRENDIZ 15


xar de expressar a satisfação e o orgulho de ter sido convidada a
compor o Instituto Histórico e Geográfico do Piauí (IHGPI),
como membro efetivo, em companhia dela e de outros renoma-
dos profissionais da Geografia atual, no Piauí.
Bem, chegamos ao pós-doutorado6. Um ano de parceria,
de estudos e de muitos trabalhos, que ainda não concluímos. O
estágio se encerrou, cumprimos o que foi proposto no plano de
trabalho, mas da pesquisa, desdobraram-se vários projetos que
pretendemos dar continuidade. Mais do que simplesmente ter
realizado o estágio, meu ganho foi sem dúvida nenhuma, o de
estreitar os laços com a profª Iracilde, partilhando com ela mui-
tos momentos de aprendizado e de construção de conhecimen-
tos geográficos.
Por isso, escolhi para este texto, relatar uma destas expe-
riências, ainda que brevemente. Contarei como ela se desenvol-
veu, e principalmente, o que dela derivou, no âmbito científico e
no contexto pessoal. O relato de experiência se trata do trabalho
de campo que desenvolvemos para a disciplina “Análise Integra-
da do Ambiente” no curso de mestrado em Geografia da UFPI,
como parte do estágio de pós-doutorado, organizado em dois
segmentos: apresentação da proposta da atividade, objetivos e
percurso metodológico para sua execução, e descrição do desen-
volvimento da atividade. Vale esclarecer que não serão apresen-
tados os resultados específicos, identificados na atividade pelos
grupos, pois esta não é a finalidade do presente texto.
Esperamos com esse pequeno exemplo, demonstrar não
somente, um momento de minha convivência com a profª. Ira-
cilde, mas, especialmente, apontar a qualidade de sua atuação

6 Estágio de Pós-Doutorado em Geografia realizado no período de fevereiro de 2018


a janeiro de 2019, no Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO) da
Universidade Federal do Piauí (UFPI), através do Edital nº 04/2017 (01 nov. 2017)
para Seleção de Bolsista do Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES),
com supervisão da profª. dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima.

16 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


enquanto profissional da Geografia. Espero que apreciem a nar-
rativa e, por antecedência, desculpo-me por eventuais exageros!

Trabalho de campo com emprego da abordagem


sistêmica na análise integrada do ambiente em Teresina
Para então concretizar os estudos de análise integrada do
ambiente por meio da abordagem sistêmica, o trabalho de cam-
po se constitui em tarefa essencial, pois é uma “[...] metodologia
que engloba a observação, a análise e a interpretação de fenôme-
nos no local e nas condições onde eles ocorrem naturalmente”
(NEVES, 2015, p. 15).
Dentre as atividades propostas na disciplina “Análise In-
tegrada do Ambiente” no curso de mestrado em Geografia, do
Programa de Pós-Graduação em Geografia (PPGGEO) da
UFPI, no segundo período letivo de 2018, realizamos um tra-
balho de campo em espaço determinado em Teresina, conside-
rando que este
[...] configura-se como uma atividade primor-
dial no processo de construção do conheci-
mento, ressaltando essa atividade como uma
metodologia que proporciona aplicações práti-
cas de conceitos e fundamentos, na perspectiva
de materializar no campo, os conceitos e teo-
rias (MONTE; ALBUQUERQUE, 2016, p. 62).

Assim, a atividade teve como equipe de execução, a profª


dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima, docente responsável, eu,
profª. dra. Elisabeth Mary de Carvalho Baptista e o prof. dr. Re-
nato Sérgio Soares Costa, ambos docentes colaboradores no es-
tágio de pós-doutorado, supervisionados pela profª Iracilde, e os
alunos matriculados na referida disciplina.
A realização desta prática, compôs parte do processo ava-
liativo da disciplina, e teve por justificativa, os seguintes aspec-

E AÍ MENINA? REENCONTRO ENTRE MESTRE E APRENDIZ 17


tos: aplicar técnica de análise integrada do ambiente com vista a
exercitar a abordagem sistêmica na perspectiva geográfica; esti-
mular o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem
na disciplina, através de uma maior aproximação entre teoria e
prática, proporcionando, deste modo, aos estudantes, uma me-
lhor compreensão do conteúdo trabalhado; e possibilitar o apri-
moramento de conhecimentos a partir da realidade do campo,
em relação às potencialidades e problemas socioambientais do
meio em que vivemos.
Sendo assim, para corroborar com a justificativa da reali-
zação da atividade, concordamos com a afirmação de Silva e
Melo (2008, p. 91) que diz que “[...] o trabalho de campo articu-
lado com a teoria, constitui-se na base para uma pesquisa de
qualidade para obter um entendimento claro e preciso dos fenô-
menos geográficos que ocorrem no cotidiano”.
O objetivo geral desta ação foi realizar análise ambiental
integrada de uma área determinada na cidade de Teresina (PI),
tendo específicos: delimitar e caracterizar a área de estudo quan-
to às suas bases físicas; identificar potencialidades, limitações e
problemas do ambiente em estudo; analisar as inter-relações en-
tre os elementos reconhecidos no ambiente estudado; sugerir
formas alternativas de uso do ambiente por intermédio de exem-
plos de propostas de intervenções mais adequadas para o meio
estudado, considerando o desenvolvimento sustentável da área.
Para sua execução, definimos o seguinte percurso meto-
dológico, com base na abordagem sistêmica aplicada ao estudo
integrado do ambiente geográfico, na realização das metas:
a) Orientação geral do trabalho (a partir do pré-campo);
b) Delimitação e localização da área a ser estudada através
de mapas e/ou representação;
c) Estudo prévio de referências sobre aspectos teóricos e so-
bre a área delimitada;

18 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


d) Execução das observações/estudos em campo, utilizando
procedimentos, tais como: observação direta da área;
identificação dos aspectos físico-naturais e socioeconômi-
cos; e registro visual do estudo (fotografias e filmagem);
e) Organização, análise e discussão dos dados coletados
com elaboração do relatório constituído pela descrição
dos resultados obtidos através de quadros de caracteriza-
ção e perfis da área de estudo, com base em objetivos
propostos, tendo como exemplo, os roteiros/modelos
apresentados e a exposição oral dos resultados do traba-
lho em sala de aula.
Os recursos e os equipamentos necessários na atividade
foram: mapas, diários ou cadernetas de campo, canetas/lápis,
vestimentas adequadas (calça comprida, blusa de cores claras,
tênis ou botas, etc.) e bibliografia especializada. Como também,
máquina fotográfica, filmadora (ou outros equipamentos para
registro visual), gravador (ou outros equipamentos para registro
oral de orientações dos professores), trena, equipamentos dispo-
níveis de localização geográfica, computador e acessórios, e veí-
culo para transporte.
Na execução prática (campo e pós-campo) foram utiliza-
dos, os seguintes instrumentos para o estudo: planilha de obser-
vação, modelo dos quadros para os perfis, questões norteadoras
e gabarito de aspectos naturais, com a finalidade de subsidiar a
observação in loco, a construção dos perfis, análise e discussão
dos resultados e elaboração das sugestões. Também foram indi-
cadas referências com o intuito de auxiliar o estudo prévio sobre
a abordagem integrada/sistêmica, metodologia e caracterização
da área, como também na observação in loco e, na análise e dis-
cussão dos resultados.

E AÍ MENINA? REENCONTRO ENTRE MESTRE E APRENDIZ 19


O local de estudo definido para a atividade se situou na
Zona Leste de Teresina, tendo sido, nestes delimitados trechos,
dividido entre os grupos de alunos por sorteio.

Trabalho de campo com a profª. Iracilde Lima: conhecimento,


observação e interpretação do espaço em Teresina
A partir do estudo realizado obtivemos a organização dos re-
latórios dos grupos, que apresentaram a descrição das áreas investi-
gadas, acompanhada da construção gráfica de mapas de localiza-
ção, perfis demonstrativos de diagnóstico, problemas e propostas,
além das considerações dos componentes sobre suas impressões.
Mas o que importa aqui não é somente relatar sobre a ativi-
dade realizada no plano acadêmico, mas tratar da experiência
compartilhada com a profª. Iracilde. Estão claros, a partir da des-
crição do plano de trabalho da atividade, os componentes teórico-
-metodológicos que ela exigia, levando, dessa maneira, à necessi-
dade de um planejamento adequado para sua execução. Desde o
momento da concepção da ideia da atividade, fomos desafiados
pela professora, no sentido de aplicar esse exercício de observação
e interpretação do ambiente, em uma concepção integrada e sistê-
mica, considerando exercícios que vivenciamos em oportunida-
des passadas.
A perseverança e a motivação demonstrada pela profª. Ira-
cilde foi muito mais que suficiente para que concordássemos com
ela na realização da atividade, e juntas demos início ao seu plane-
jamento. Depois de idas e vindas à sala de estudos da professora,
na UFPI, trocas de muitos e-mails com roteiros preliminares e
artigos para referências, chegamos ao que foi descrito como rotei-
ro metodológico da atividade.
A execução da atividade então, como qualquer trabalho de
campo no âmbito dos estudos geográficos iniciou-se com o planeja-
mento prévio das ações, que denominamos de pré-campo. Neste sen-

20 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


tido, Neves (2015) expressa que esta atividade requer algumas pre-
missas, como a preparação técnica, tanto dos alunos como dos
professores e a elaboração de um plano de trabalho, no qual delineia-
-se as etapas principais da prática, bem como os detalhes inerentes à
coleta das informações e sua posterior análise. Portanto, na organiza-
ção de um trabalho de campo, três momentos são necessários e es-
senciais: o pré-campo, o campo propriamente dito e o pós-campo.
O pré-campo corresponde ao planejamento prévio da ativi-
dade em termos de estudos teóricos sobre a abordagem a ser em-
pregada e sobre a área de estudo e definição do percurso metodo-
lógico, apresentando, assim, os métodos e técnicas, materiais e
equipamentos, e delineamento dos objetivos a serem alcançados.
Também é fundamental nesta etapa prévia, executar um estudo
cartográfico, mesmo que simplificado, sobre o local definido para
a prática, e ainda, efetivar a verificação de possíveis limitações e
dificuldades na concretização da atividade. Outro elemento pri-
mordial para a realização de um bom trabalho de campo por par-
te do professor responsável é a visita preliminar ao local de estu-
do, prevista para a concretização da atividade, evitando surpresas
desagradáveis no período do campo, mas principalmente, para
nortear as orientações na observação e análises posteriores.
Assim, deslocamo-nos (eu, profª. Iracilde e prof. Renato
Sérgio) para a área de estudo, com a finalidade de fazer o reconhe-
cimento desta, em relação às suas características físico-naturais,
sociais e econômicas, para desta forma contribuir com a elabora-
ção do roteiro com maior precisão. Neste sentido, enfatizamos
que o professor de Geografia, seja qual for o seu nível de ensino,
quando realizar alguma atividade de campo em suas disciplinas,
se possuir o conhecimento da área de estudo previamente terá
melhores condições na orientação de seus alunos na execução da
referida atividade.
Esse momento, além de prover o estudo preliminar a respei-
to da área, possibilitou para mim, e certamente para o colega do

E AÍ MENINA? REENCONTRO ENTRE MESTRE E APRENDIZ 21


pós-doutorado, mais uma oportunidade de aprendizado sobre a
Geografia de Teresina, para o local específico, com destaque para
a hidrografia, face à proximidade do Rio Poti e sua influência no
espaço em questão.
Conhecedora do curso fluvial referido em detalhes signifi-
cativos de sua dinâmica natural e sua importância para Teresina e
para o Piauí, foi com deleite que acompanhamos a professora Ira-
cilde e ouvimos suas preleções sobre o Poti. Ela destacou suas ca-
racterísticas na zona urbana de Teresina, e também, suas preocu-
pações com a degradação ambiental observada. Aspectos estes,
essenciais para a organização da atividade que ora estávamos pla-
nejando executar.
As fotos7 1 e 2 registram momentos deste pré-campo reali-
zado às margens do Rio Poti, estando a profª. Iracilde à esquerda
e eu à direita.

Foto 1 – Diálogo com a profª Iracilde sobre o reconhecimento da


área para o estudo de campo

Fonte: Costa (2018).

7 Fotos cedidas pelo prof. dr. Renato Sérgio Soares Costa, a quem agradeço pela
gentileza.

22 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Foto 2 – Profª Iracilde explicando sobre as características da área
e a influência do Rio Poti

Fonte: Costa (2018).

Após o exercício de reconhecimento da área, apresenta-


mos aos alunos em sala de aula, por meio de slides, a etapas a
serem cumpridas na atividade, seus objetivos e metas, metodo-
logia, modelos de instrumentos, cronograma de execução e su-
gestões de referências para o estudo prévio, no tocante a aborda-
gem a ser trabalhada e também sobre a área de estudo, ainda
como parte do pré-campo.
O campo propriamente dito se constituiu na etapa efetiva
de ida ao local delimitado como área de estudo, onde se proce-
deu técnicas de coleta das informações planejadas na etapa ante-
rior. Neste caso, é necessário apontar as possibilidades de ajustes
na metodologia, ainda que na etapa de pré-campo tenhamos fei-
to um reconhecimento da área, pois imprevistos podem ocorrer,
como por exemplo, mudanças nas condições de tempo, dificul-
dades de transporte, dentre outras.
Deste modo, na sequência, e em conformidade com o pla-
no de trabalho executamos a prática de campo em agosto de

E AÍ MENINA? REENCONTRO ENTRE MESTRE E APRENDIZ 23


2018, na área previamente definida. Inicialmente fizemos nova-
mente uma breve explanação sobre a finalidade da atividade,
distribuindo os alunos em três grupos para que cada um pudes-
se, acompanhado de um dos professores, realizar a observação
dos trechos da margem do Rio Poti, na Zona Leste da cidade.
Cabe enfatizar que a observação se configurou como a prin-
cipal técnica realizada face ao tempo da atividade proposta, levan-
do em nota, o que afirma Cavalcanti (2011, p. 169), ao apontar que
“a observação sempre foi considerada de importância fundamen-
tal para o geógrafo, pois é através dela que se observam as paisa-
gens com o intuito de desenvolver o conhecimento geográfico”.
Auxiliando a observação foi procedido também o registro foto-
gráfico, técnica inerente ao trabalho de campo em qualquer área
do conhecimento, que permite, de acordo com Cruz Neto (1999,
p. 63) documentar “[...] momentos ou situações que ilustram o co-
tidiano vivenciado [...]”, tendo sido registrados aspectos identifica-
dos nos trechos, relacionados ao objetivo da prática.
Findada esta etapa, todos se reuniram, ainda no local de
estudo, para as primeiras impressões sobre a atividade, e para
recebimento das orientações referentes a etapa do pós-campo,
que foi cumprida através da elaboração do relatório e discussão
dos resultados em sala de aula.
Assim, consolidada a prática de campo, tivemos a realização
do pós-campo, cuja finalidade foi apresentar os resultados obtidos
no campo empreendido, apontando além do esperado pela aplica-
ção da metodologia definida e dos objetivos traçados, os aspectos
positivos e negativos. Os elementos de resultado apresentados nesta
etapa podem variar, a depender da área do conhecimento e do nível
de ensino, bem como ao que foi proposto no planejamento inicial.
Portanto, tão importante como o pré-campo e o campo, este é o
momento de socialização do que foi observado e das análises decor-
rentes à luz dos fundamentos teóricos relacionados, bem como da
percepção dos participantes envolvidos.

24 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


No caso da atividade realizada ora relatada, percebemos que
ela possibilitou aos alunos, a construção de quadros diagnósticos
sobre a área e seus problemas, assim como a concepção de propos-
tas para minimizá-los, constituindo-se em um aprendizado signifi-
cativo, no sentido da compreensão da atuação social sobre a dinâ-
mica natural por meio do estudo sistêmico empregado. As propostas
então se configuraram como pertinentes e viáveis trazendo para os
trechos analisados sugestões factíveis de aplicação. Infelizmente,
não nos é possível apontar os resultados específicos para cada área,
pois isto não se constitui foco desta narrativa.
Assim, a abordagem sistêmica no estudo do ambiente possi-
bilita ao profissional de Geografia uma compreensão mais abran-
gente e integrada sobre ele, reconhecendo as interconexões e pro-
cessos existentes na complexa relação entre a sociedade e suas
formas de ocupação e produção do espaço geográfico, e a natureza
em sua dinâmica inexorável, cíclica e imprevisível.
Esse exercício, ainda que simples e sem muito aprofunda-
mento, em função do pouco tempo de estudo, certamente possibili-
tou aos que participaram dele, incluindo-me, uma ampliação na
perspectiva da observação do ambiente, da paisagem, do espaço
geográfico com o suporte da análise integrada e da abordagem sis-
têmica, além da possibilidade de incorporar os ensinamentos trazi-
dos pelo vasto conhecimento da profª. Iracilde sobre Teresina.
Um olhar carinhoso, gentil, mas ao mesmo tempo, analítico
e consciente dos problemas que a cidade apresenta, ávido por con-
tribuir com mais estudos para a melhoria das condições do espa-
ço geográfico teresinense.

Considerações finais
O que dizer então ao final deste relato? Essa foi uma expe-
riência significativa para minha carreira acadêmica, pois, embo-
ra tenha participado de algumas atividades de campo com a

E AÍ MENINA? REENCONTRO ENTRE MESTRE E APRENDIZ 25


profª. Iracilde em oportunidades passadas, essa foi a primeira na
qual fui corresponsável por seu desenvolvimento, do planeja-
mento à execução, do reconhecimento da área, efetivação de
campo e consolidação do pós-campo.
E o mais importante, foi receber dela, o reconhecimento a
respeito da minha prática docente, que foi replicada em sua pró-
pria ação de docência, principalmente, no curso de pós-gradua-
ção. Isso, foi mais que significativo, mais que relevante para mi-
nha formação, foi uma demonstração de sua excelência no trato
com as pessoas, de respeito e consideração com o conhecimento
e experiência do outro. Se trata da confirmação de sua natureza
gentil e de seu caráter ilibado enquanto pessoa e profissional,
uma mestra que em sua sabedoria entende a importância de
compartilhar saberes, valores e experiências. Deste exercício,
posso dizer, sem receio e sem dúvida, que foi mais que um apren-
dizado para minha formação, foi a demonstração de uma ami-
zade e a consolidação de uma parceria.
Não posso deixar de expressar ainda, que em face da pro-
posta da atividade de campo realizada, a parceria com a profª.
Iracilde proporcionou o desenvolvimento desta, de forma orga-
nizada, tranquila, calma, que é o reflexo do caráter da professo-
ra, mas sem esquecer o rigor técnico-científico da tarefa, da
ciência geográfica e da abordagem sistêmica que foi empregada.
Mais que trabalho de campo, mais que aula de Geografia,
mais que estudo sistêmico, vivenciamos a integração e a troca de
conhecimentos e experiências entre alunos e professores, espe-
cialmente, com a profª. Iracilde Lima, a quem expresso, por fim,
meus sinceros agradecimentos pelas oportunidades que me pro-
piciou de conviver e aprender consigo.

26 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Referências
CAVALCANTI, A. P. B. Abordagem metodológica do trabalho de campo
como prática pedagógica em Geografia. Geografia Ensino & Pesquisa, v. 15,
n. 2, p. 165-175, maio./ago., 2011.
CRUZ NETO, O. O trabalho de campo como descoberta e criação. In:
MINAYO, M. C. S. (org.). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. 11.
ed. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 51-66.
MONTE, L. A.; ALBUQUERQUE, E. L. S. Trabalho de campo como
metodologia de ensino: relato de experiência em Geografia. REGNE, Caicó, v.
2, n. 1, p. 55-64, 2016.
NEVES, K. F. T. V. Os trabalhos de campo no ensino de Geografia: reflexões
sobre a prática docente na Educação Básica. Ilhéus: Editus, 2015.
SILVA, E. M.; MELO, A. Á. Estudo preliminar sobre trabalhos de campo na
perspectiva da Educação Inclusiva: um desafio para os futuros professores de
Geografia. Caminhos de Geografia, Uberlândia, v. 9, n. 25, p. 87-95, mar.,
2008.

E AÍ MENINA? REENCONTRO ENTRE MESTRE E APRENDIZ 27


2
IRACILDE E TERESINA
Olhares sobre o ambiente, o espaço e o ensino

Hikaro Kayo de Brito Nunes

Uma aproximação...

E
screver sobre a profª. Iracilde Maria de Moura Fé Lima
(ou simplesmente profª. Iracilde) é uma missão fácil e,
contraditoriamente, difícil. Fácil, pela sua contribuição
científica, pela sua influência na formação de centenas e cen-
tenas de professores de Geografia, pelo seu caráter inovador,
principalmente, no contexto científico, e pela sua aproximação
com o autor deste texto. Por tudo isso, e um pouco mais, esta se
torna uma missão difícil pela grandiosidade de informações e
contribuições que são humanamente impossíveis de sintetizar
em poucas páginas.
São 50 anos de graduação em Geografia. 50 anos de con-
tribuição direta com a Geografia Brasileira, particularmente, a
piauiense. 50 anos de um olhar sensível para a questão ambien-
tal, sem deixar de lado as questões socioespaciais e a educação
básica. 50 anos como professora, pesquisadora e geógrafa. So-
mam-se a isso, as contribuições dos demais autores que com-
põem este livro, e que possuem significados distintos, seja no
campo profissional, seja no campo pessoal, o que muitas vezes
acabam dialogando entre estas duas esferas. Tal reconhecimento

28
já foi aplaudido quando do seu recebimento em 2002, da Meda-
lha de Honra ao Mérito Conselheiro José Antônio Saraiva, con-
cedida pela Prefeitura Municipal de Teresina; e, em 2007, da Me-
dalha de Honra ao Mérito pela contribuição à Cultura Piauiense,
concedida pela Academia Piauiense de Letras.
Pensando nesses diálogos, as palavras que se seguem bus-
cam, de uma forma intencional e reflexiva, destacar os olhares
que a profª. Iracilde tem sobre a cidade de Teresina, capital do
estado do Piauí, nos aspectos relacionados ao ambiente, espaço e
ensino. Partindo dessa premissa, o texto foi desenvolvido nestes
três pontos: a) o entendimento da dinâmica ambiental da cidade
de Teresina; b) a compreensão sobre os fatos e fenômenos so-
cioespaciais em Teresina, e; c) a contribuição para o ensino
(Educação Básica) em Teresina.
Uma aproximação!!! Cabe destacar aqui, que quando meus
professores de Geografia do Ensino Médio souberam que eu pres-
taria vestibular para a área, logo falaram: “Vai conhecer a profª.
Iracilde” e, de certa forma, a curiosidade e a ansiedade se engran-
deceram acerca do curso. Minha graduação, pela Universidade
Estadual do Piauí, me deu subsídios para conhecer – mesmo ela
trabalhando na Universidade Federal do Piauí (UFPI) –, uma das
autoras do livro, Piauí: tempo e espaço1, o qual já havia lido inú-
meras vezes.
Meu primeiro contato com a profª. Iracilde foi no primeiro
ano do curso, durante a IV Semana de Geografia, quando ela parti-
cipou de debate na mesa redonda, intitulada A Geografia do Piauí:
ensino e pesquisa em questão2. Ao longo da graduação, foram acon-
tecendo outros encontros, como em 2013, no I Workshop de Geo-

1 Livro escrito em parceria, pelas professoras Maria Cecília Silva de Almeida Nunes
e Emília Maria de Carvalho Gonçalves Rebêlo, que serviu de base para milhares de
estudantes da Educação Básica, no Piauí.
2 Neste evento, a professora Iracilde participou como palestrante e eu como ouvinte.

Iracilde e Teresina 29
grafia Física3 do Piauí; em 2014, no 10º Simpósio Nacional de Geo-
morfologia4 (em Manaus) e em 2015, na mesa redonda intitulada
Piauí: espaço e meio ambiente5. Nesse último, tive a oportunidade
de, em nome do Centro Acadêmico de Geografia (CAGEO/UESPI)
e da turma de Geografia (UESPI-Torquato Neto/2012.1-2015.2), fa-
zer-lhe o convite, que prontamente foi aceito.
O convívio ficou mais estreito quando da minha aprovação
no mestrado em Geografia da UFPI (ingresso em 2016), momento
em que fui seu aluno, na disciplina de Análise Integrada do Am-
biente (disciplina que desencadeou uma atividade de campo no
litoral piauiense). Entrei então no seu grupo de pesquisa Geomor-
fologia, Análise Ambiental e Educação (GAAE), e participamos
juntos de atividades de ensino, pesquisa e extensão6, fato que nos
aproximou ainda mais, especialmente, devido a minha aprovação
como professor substituto no curso de Geografia, da UFPI. A pro-
fessora que eu tinha tanta vontade de conhecer antes mesmo de
entrar na academia foi, naquele momento, minha colega de traba-
lho e isso me influenciou muito a respeito da sensibilidade e da
responsabilidade de “olhar” Teresina.
Vamos aos olhares!

3 Neste evento, a professora Iracilde participou como palestrante e eu como monitor


(comissão organizadora).
4 Já neste, participamos como apresentadores de trabalhos científicos.
5 Aqui, a professora participou como palestrante e eu como organizador do evento.
6 Organizamos o I Workshop de Geomorfologia e Geoconservação (I WORKGEO
em 2017); o Ciclo de Estudos em Geografia, Análise Ambiental e Educação (no ano
de 2018); a Celebração do Centenário (1918-2018) do Instituto Histórico Geográ-
fico do Piauí, ocorrida em 2018, e o I Diálogo Temático do GAAE/UFPI (em 2019).

30 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 1 – Em A, avaliação de trabalho no Simpósio de Geografia
da UESPI, em 2018; B, foto durante o I Workshop de Geomorfo-
logia e Geoconservação, em 2017; C, foto durante o Ciclo de Estu-
dos em Geografia, Análise Ambiental e Educação, em 2018; D,
momento de confraternização, em 2019; E e F, homenagem à pro-
fª. Iracilde durante o IV Simpósio de Ensino de Geografia

Organização: Autor (2021).

Múltiplos olhares
O entendimento da dinâmica ambiental da cidade de Teresina
sob a ótica da profª. Iracilde: construção, (re)invenção e
reciprocidades
Ao longo dos anos, a profª. Iracilde se consolidou como uma
das maiores referências no campo dos estudos ambientais em que
se pese suas inúmeras produções científicas, em distintas escalas.
Tal contribuição ficou mais evidente com sua dissertação de mes-
trado em Geografia, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), onde foi a primeira mestra em Geografia Física a atuar
em solo piauiense. Na oportunidade, sob orientação do prof. Jorge
Xavier da Silva, a respeito da caracterização geomorfológica da
bacia hidrográfica do Rio Poti, ela escreveu uma das principais
obras no contexto da Geografia Física piauiense.

Iracilde e Teresina 31
Na dissertação, Teresina era tida como o marco final da
drenagem do canal do Rio Poti, considerando que nas proximi-
dades do município, havia a existência de meandros que influen-
ciavam na drenagem local, somados ainda, à presença de argilas
para uso industrial e de nódulos (estruturas em anéis) sob estra-
tos calcários, além da formação da sua planície fluvial (LIMA,
1982). Já com carreira consolidada no Ensino, na Pesquisa e na
Extensão, a contribuição (ou talvez releitura) se deu com a escri-
ta da tese (LIMA, 2014) em Geografia pela Universidade Federal
de Minas Gerais (UFMG), sob orientação da profª. Cristina He-
lena Ribeiro Rocha Augustin, sobre os aspectos morfodinâmi-
cos da porção Centro-Norte do Piauí.
Os olhares, aqui, sobre Teresina, mais uma vez a enxergam
como um “marco final a jusante” da área de estudo. Os riquíssi-
mos produtos cartográficos e belas fotografias, bem como os da
dissertação, são verdadeiros produtos de sensibilidade, profis-
sionalismo e respeito aos leitores, característica presente em to-
dos os seus estudos.
Tal inquietação por Teresina é materializada em uma sé-
rie de estudos (Quadro 1) que, sob objetivos, problematizações,
justificativas, recortes e metodologias distintas oferece um fiel
cenário da dinâmica ambiental da cidade, quer seja nos estu-
dos de caracterização geoambiental, ou nos relativos à questão
socioambiental, além dos que remetem a degradação e ocupa-
ção urbana.

32 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Quadro 1 – Algumas contribuições científicas sobre o ambiente de Teresina
Anos Título Autores Categoria
Caracterização Geomorfológica da Bacia
1982 Iracilde Maria de Moura Fé Lima Dissertação
Hidrográfica do Poti

Iracilde e Teresina
2002 Teresina: Urbanização e Meio Ambiente Iracilde Maria de Moura Fé Lima Artigo em periódico

Revalorizando o verde em Teresina: o papel


1996 Iracilde Maria de Moura Fé Lima Artigo em periódico
das unidades ambientais

Morfodinâmica e Meio Ambiente na Porção


2013 Iracilde Maria de Moura Fé Lima Tese
Centro-Norte do Piauí

Ocupações de Encostas e Impactos Thais Mayara Sousa; Leilson Alves dos


2014 Socioambientais Urbanos nas vilas Santos; Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Artigo em periódico
Bandeirantes I, II e III, Teresina, Piauí Cristina Helena Ribeiro Rocha Augustin

Bacia Hidrográfica do Rio Poti: dinâmica e Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Cristina
2014 Artigo em periódico
morfologia do canal fluvial Helena Ribeiro Rocha Augustin

Rio Parnaíba: dinâmica e morfologia do Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Cristina


2015 Artigo em periódico
canal fluvial no trecho do médio curso Helena Ribeiro Rocha Augustin

33
34
Anos Título Autores Categoria

Parque Ambiental Lagoas do Norte:


saneamento e conservação do ambiente Leilson Alves dos Santos e Iracilde Maria de
2015 Artigo em periódico
entre os bairros Matadouro e São Joaquim, Moura Fé Lima
Teresina, Piauí, Brasil

Análise Geomorfológica a partir de dados Maria Valdirene Araújo Rocha Moraes e


2015 Artigo em periódico
SRTM: município de Teresina, Piauí Iracilde Maria de Moura Fé Lima

Estratigrafia e análise granulométrica das Bartira Araújo da Silva Viana; Cristiane


2015 camadas de massará e seixo em Teresina – Valéria de Oliveira; Iracilde Maria de Moura Artigo em periódico
PI Fé Lima e Carla Iamara de Passos Vieira

2016 Teresina: o relevo, os rios e a cidade Iracilde Maria de Moura Fé Lima Artigo em periódico

Marcela Vitória de Vasconcelos; Iracilde


Floresta fóssil do Rio Poti em Teresina,
2016 Maria de Moura Fé Lima e Maria Valdirene Artigo em periódico
Piauí: por que não preservar?
Araújo Rocha Moraes

A Lagoa dos Morros e sua relação com a Ravenna Eres da Silva; Vanessa Tavares dos
2018 Capítulo de livro
expansão da cidade de Teresina, Piauí, Brasil Santos e Iracilde Maria de Moura Fé Lima

Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Anos Título Autores Categoria

Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Emanuel


2020 Rio Poti: caminhos de suas águas Livro
Lindemberg Silva Albuquerque

Edenilson Andrade Ferreira; Hikaro Kayo


Aspectos socioambientais no Bairro Satélite, Resumo em anais de
2020 de Brito Nunes e Iracilde Maria de Moura

Iracilde e Teresina
Teresina, Piauí evento (no prelo)
Fé Lima
Fonte: Currículo Lattes da profª. Iracilde (Disponível em: http://lattes.cnpq.br/6880418044055731). Organização: Autor (2021).

35
Integra-se, dentre dessas inúmeras contribuições, a classifica-
ção do relevo de Teresina e o seu papel no âmbito da gestão pública
teresinense, no que diz respeito à organização do texto sobre o meio
ambiente, no documento “Teresina Agenda 2015: plano de desen-
volvimento sustentável”, publicado em 2002.
Vemos, portanto, a ampliação do olhar da professora Iracilde
que, inclusive, inúmeras vezes foi levado aos alunos da graduação e
pós-graduação, quando ela propôs atividades de campo, como as
do Parque Ambiental João Mendes de Olímpio de Melo (Parque da
Cidade) e Parque Municipal Floresta Fóssil. As constantes idas, re-
pletas de informações científicas e com doses de humor, fez com
que as ideias desses campos fossem adaptadas como expedições nos
eventos em que organizamos, a exemplo da atividade na Região
Centro-Norte de Teresina, durante o I WORKGEO.
Já durante o Ciclo de Estudos em Geografia, Análise Am-
biental e Educação, objetivamos realizar observações no campo e
discutir aspectos da expansão urbana, assim como os problemas
socioambientais decorrentes do crescimento desordenado e das
ações públicas de intervenção/recuperação de áreas degradadas, re-
lacionando o Rio Parnaíba com a cidade de Teresina.
Infelizmente, diante do cenário pandêmico da Covid-19, a
atividade de campo que estávamos pensando promover junto
aos alunos de Hidrografia (2020.1) da UFPI, não saiu do papel.
Seria um diálogo que, a meu ver, teria inúmeros pontos positivos
na rediscussão ambiental sobre a tão amada Teresina. Porém,
sabemos que outras oportunidades virão.
Ainda sobre a questão ambiental, tivemos a oportunidade
de, juntamente com a professora Iracilde e outros parceiros
(LIMA et al., 2017; LIMA et al., 2018), organizar dois e-books
oriundos dos eventos citados no parágrafo anterior, e, mais re-
centemente, de apresentar o trabalho intitulado Aspectos so-
cioambientais no Bairro Satélite, Teresina, Piauí, com colabora-

36 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


ção do profº. Edenilson Andrade, no 17º Congresso Nacional de
Meio Ambiente de Poços de Caldas (FERREIRA; NUNES;
LIMA, 2020, no prelo).
Construção, (re)invenção e reciprocidade são palavras que
poderiam sintetizar a ótica da profª. Iracilde sobre a dinâmica am-
biental de Teresina, tais como as contribuições apresentadas em A
invenção da natureza: a vida e as descobertas de Alexander von
Humboldt (WULF, 2016) pela escritora e jornalista Andrea Wulf.

A compreensão sobre os fatos e fenômenos socioespaciais em


Teresina sob a ótica da profª. Iracilde: por uma sociabilidade e
indivisibilidade
As reflexões feitas pela professora Iracilde sobre o espaço
urbano de Teresina e suas sociabilidades são outros aportes que
engrandeceram a produção científica local, em especial, no to-
cante à inter-relação dos elementos físico-naturais com a dinâ-
mica urbana (aspectos socioespaciais). Recordo as reiteradas ve-
zes em que ela nos instigava a, como “falar do crescimento
urbano de Teresina sem falar dos rios Poti e Parnaíba?” ou “os
riachos atuais são reflexos da cidade”.
Ressalto ainda que, no decorrer dos anos, fomos enrique-
cidos com as brilhantes explicações sobre a própria expansão
urbana de Teresina e os fatores socioespaciais que contribuíram
para tal, ao ponto que “Teresina tem uma origem peculiar, pois,
dentre todas as cidades brasileiras, foi a primeira a ter o espaço
que viria a se constituir em seu núcleo urbano, escolhido para
ser cidade. E o que é mais importante: Teresina foi projetada
para ser uma cidade-capital” (ABREU; LIMA, 2000, p. 15).
O fato é que ao longo da sua produção científica com postu-
ra mais próxima do urbano (Quadro 2), a profª. Iracilde nos brin-
dou com estudos sobre qualidade de vida, papel da Igreja, expan-

Iracilde e Teresina 37
38
são urbana e conflitos urbanos, que sintetizam a singularidade local, considerando, dentre suas reflexões,
inúmeros aspectos acerca da Cidade Menina ou Cidade Verde.
Quadro 2 – Algumas contribuições científicas sobre o espaço de Teresina
Anos Título Autores Categoria
Qualidade de vida da população do Ana Maria Santiago Amorim e Iracilde
1997 Artigo em periódico
Conjunto São Joaquim Maria de Moura Fé Lima
Irlane Gonçalves de Abreu e Iracilde Maria
2000 Igreja do Amparo: o Marco Zero de Teresina Artigo
de Moura Fé Lima
Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Maria
2003 Paróquia de Fátima: sua história, sua gente Livro
Celis Portella Nunes
O Bairro Água Mineral no contexto da Caroline da Silva Mateus e Iracilde Maria de
2017 Capítulo de livro
expansão da cidade de Teresina, Piauí Moura Fé Lima
Conflitos socioambientais urbanos em áreas Bartira Araújo da Silva Viana e Iracilde
2018 Capítulo de livro
de mineração em Teresina, Piauí Maria de Moura Fé Lima
Albert Isaac Gomes Viana e Iracilde Maria
2020 Os parques urbanos de Teresina e o Rio Poti Capítulo de livro
de Moura Fé Lima
Panorama da Cidade de Teresina: sua
Irlane Gonçalves de Abreu e Iracilde Maria
2020 origem, sua gente, seu ambiente e possíveis Capítulo de livro
de Moura Fé Lima
transformações

Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Fonte: Currículo Lattes da profª. Iracilde (Disponível em: http://lattes.cnpq.br/6880418044055731). Organização: Autor (2021).
Despretensiosamente, acredito que o estudo publicado Pa-
norama da Cidade de Teresina: sua origem, sua gente, seu am-
biente e possíveis transformações (ABREU; LIMA, 2020) foi um
verdadeiro presente de aniversário (168 anos) para a cidade.
Com foco maior neste último estudo publicado, destaco a
sensibilidade das suas fotografias, que demonstraram, além do
cuidado científico, uma preocupação ao resgate ou revisitação
aos espaços tão importantes para a história local, como o prédio
(Palácio da Cidade) da Prefeitura Municipal de Teresina, a Igreja
Matriz de Nossa Senhora do Amparo, o Marco Zero de Teresina,
a Avenida Raul Lopes, o caneleiro (árvore-símbolo da cidade), o
vapor Gayola Piauhy, o Troca-Troca e o Parque da Cidade, que,
de maneiras distintas, expressam tempos, subjetividades e signi-
ficados variados.
Aproveito então, o questionamento feito pelas próprias au-
toras, na conclusão do referido texto: “Neste cenário, podemos
indagar: O que permanece na Teresina de hoje, quando compa-
rada à Teresina dos primeiros tempos de sua criação?” (ABREU;
LIMA, 2020, p. 93).

A contribuição para o ensino em Teresina: profª. Iracilde para


além da Universidade
As contribuições da profª. Iracilde no ensino de Geografia
vão muito além dos muros da universidade, pois ela atuou e ainda
atua de maneira sólida no processo de formação de professores de
Geografia que, hoje, estão exercendo a profissão em diversos esta-
dos brasileiros em vários níveis de ensino. Fato que, inclusive, foi
materializado em homenagem pelo Instituto Dom Barreto (em
2001) na criação da Sala de Estudos Geográficos Profª. Iracilde
Maria de Moura Fé Lima.
Suas experienciações e perspectivas sobre o ensino de Geo-
grafia abrangem, inclusive, a participação em projetos de pesqui-

Iracilde e Teresina 39
sa, como Ensino da cidade de Teresina e Produção de material
paradidático voltado para a Educação Infanto-Juvenil, e de exten-
são, como O ensino de Geografia para a produção de material de
apoio didático e a Premiação de livro didático, Projeto Nordeste,
no âmbito do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD).
A sua sensibilidade no auxílio para uma educação de qua-
lidade, contribuiu para uma série de estudos (Quadro 3) volta-
dos tanto para a Educação Básica quanto para a formação de
professores de Geografia, principalmente, no que diz respeito ao
ensino de temáticas físico-naturais, educação ambiental, lugar,
tecnologias e criatividade. O que instiga, os então licenciandos
em Geografia, para um cuidado maior com a prática professoral,
e, que brilhantemente, foi realizado em obras como Lima, Nu-
nes e Rebêlo (1995), Lima, Nunes e Abreu (1998), Araújo et al.
(2011) e, mais recentemente, com a necessária produção (POR-
TELA; VIANA; LIMA, 2020) sobre a relação entre a cidade de
Teresina e o ensino de Geografia.

40 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Quadro 3 – Algumas contribuições científicas sobre o ensino para/em Teresina
Anos Título Autores Categoria
Piauí: tempo e espaço Iracilde Maria de Moura Fé Lima, Maria
1995 Cecília Silva de Almeida Nunes e Emília Livro
Maria de Carvalho Gonçalves Rebêlo

Iracilde e Teresina
Teresina: tempo e espaço Iracilde Maria de Moura Fé Lima, Maria
1998 Cecília Silva de Almeida Nunes e Irlane Livro
Gonçalves de Abreu
2004 Água: recurso natural finito Iracilde Maria de Moura Fé Lima Livro
Teresina: tempo, espaço e Geografia Iracilde Maria de Moura Fé Lima, Irlane
2004 Gonçalves de Abreu e Maria Cecília Silva de Livro
Almeida Nunes
Iracilde Maria de Moura Fé Lima e Irlane
2009 Teresina: Cidade Verde Livro
Gonçalves de Abreu
Atlas Escolar do Piauí José Luiz Lopes de Araújo, Iracilde Maria de
Moura Fé Lima, Irlane Gonçalves de Abreu,
2011 Emília Maria de Carvalho Gonçalves Rebêlo, Livro
Maria Cecília Silva de Almeida Nunes e Ma-
ria Mafalda Baldoíno de Araújo

41
42
Anos Título Autores Categoria
Educação ambiental na perspectiva do lugar: Mugiany Oliveira Brito Portela, Bartira
ensino geográfico a partir de experiências Araújo da Silva Viana e Iracilde Maria de
2013 vivenciadas pelos discentes do Plano Nacio- Moura Fé Lima Artigo em periódico
nal de Formação de Professores da Educação
Básica
Criatividade e formação de professores: es- Elisabeth Mary de Carvalho Baptista e Iracil- Resumo em anais de
2018 tratégias para o ensino de Maria de Moura Fé Lima evento

Criatividade e formação de professores: es- Elisabeth Mary de Carvalho Baptista e Iracil-


2019 tratégias para o Ensino Superior de Maria de Moura Fé Lima Capítulo de livro

A importância do Google Earth como recur- Francisco Wellington de Araújo Sousa e Ira- Resumo em anais de
2019 so didático na Geografia cilde Maria de Moura Fé Lima evento

Práticas geoconservacionistas como ferra- Elisabeth Mary de Carvalho Baptista, Iracil-


mentas para o ensino de Geografia Física de Maria de Moura Fé Lima e Brenda Rafaele
2019 Artigo em periódico
Viana da Silva

O Ensino de Geografia e a cidade de Teresina Mugiany Oliveira Brito Portela, Bartira


2020 Araújo da Silva Viana e Iracilde Maria de Livro
Moura Fé Lima
Fonte: Currículo Lattes da profª. Iracilde (Disponível em: http://lattes.cnpq.br/6880418044055731). Organização: Autor (2021).

Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


As constantes e necessárias atividades de campo realiza-
das, particularmente, com os alunos de Geomorfologia e Hidro-
grafia, além da questão conceitual, era um importante momento
para, junto aos futuros professores, ensinar-lhes ou pelos menos
sensibiliza-los para a necessidade de escaparmos das paredes
que limitam o espaço físico de um ambiente de aula.
Desta feita, a contribuição é inestimável e muitos professo-
res, que passaram por essas atividades de campo, o fazem, ago-
ra, com seus alunos, principalmente, na Educação Básica. A pro-
fessora Iracilde colaborou para que nós, professores de Geografia,
víssemos a cidade de Teresina como um enorme laboratório pro-
pício para inúmeras possibilidades de investigações (estudo do
meio) e vivências dentro da Geografia Escolar, o que intenta-se
como um dos objetivos da linha de pesquisa Educação Ambien-
tal e Ensino de Geografia Física, do GAAE/UFPI.
Ela realiza, assim, um importante movimento para que a
Geografia nas escolas da Educação Básica seja crítica e criativa,
participativa e tecnológica, solidária e preocupada, interessante e
formativa. As contribuições, seguem um “ciclo”: a professora Ira-
cilde formava o professor da Educação Básica, que ensinava os
alunos dos ensinos Fundamental e Médio, que, tempos depois,
tinham a possibilidade de ter aulas com essa professora tão respei-
tada no Piauí, e que muito contribuiu para quebrar paradigmas ao
longo destas décadas, seja como mulher, seja como profissional.
Expressa, assim, o apresentado por Tunes, Tacca e Bartho-
lo Júnior (2005, p. 689) que a “sala de aula é o espaço privilegia-
do de negociações e de produção de novos sentidos e significa-
dos [...]. Isso acontece em uma rede interativa e complexa onde
eles se tornam presentes e se atualizam na história de vida, e nas
experiências e vivências de professores e alunos”.
Todo seu trabalho e garra, são, assim, inspiradores e coo-
peram para a valorização do professor de Geografia e seu papel

Iracilde e Teresina 43
na sociedade mediante seu olhar horizontal. Isto, aproxima-se
do que foi exposto por Gadotti (2003, p. 11): “A beleza existe em
todo lugar. Depende do nosso olhar, da nossa sensibilidade; de-
pende da nossa consciência, do nosso trabalho e do nosso cuida-
do. A beleza existe porque o ser humano é capaz de sonhar”.

Sem conclusão
Não se conclui o que ainda é dinâmico e veloz. ∞
Obrigado, professora Iracilde Maria de Moura Fé Lima,
por tudo o que nos ensinou, por ser um exemplo a ser seguido e
por nos indicar um ensino crítico-reflexivo.

Referências
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44 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


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WULF, A. A invenção da natureza: a vida e as descobertas de Alexander von
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Iracilde e Teresina 45
3
UMA MULHER, PROFESSORA
E GEÓGRAFA
Profª. Iracilde dos livros @os memes

Edenilson Andrade Ferreira

Pessoas anônimas

P
essoas anônimas são capazes de alterar a vida de outras
em escalas de benevolência ou maldade, em muitos ca-
sos esse anonimato serve para surpreender em razão das
expectativas que criamos durante experiências passadas. Falo
isto por me recordar da minha infância, sempre intrigado pelos
livros didáticos. Lembro, que o primeiro que tive em mãos foi
com 7 anos de idade, e, desde aquela época, sempre foi difícil
carregar alguns, talvez não pelo peso que tinha que transpor-
tar (minha primeira mochila de rodinhas quebrou carregando
livros de Português, Matemática e um trabalho de Artes, que
me obrigou a pintar cacos de telhas com guache), mas, sim pela
carga de conhecimento que hoje me arrependo de irresponsavel-
mente esquecer.
Entretanto, nem tudo é exatamente um lamento. Muito do
que esqueci em tempos pretéritos, fui reaprendendo com profes-
sores durante minha vida escolar e acadêmica, sempre auxiliado
pelo livro didático, recurso indispensável para quem deseja
manter uma mente capaz de fazer escolhas lógicas. Abordando
pensamentos críticos, Bandeira e Velozo (2019) discorrem que o

46
livro didático é um instrumento, assim como tantos outros, con-
tribuinte na lapidação da identidade de quem o utiliza, onde
simbolicamente têm-se como um artefato de alto nível de poder,
assumindo um caráter sociopolítico. Tais constatações reafir-
mam a famosa frase de Francis Bacon, no livro O Progresso do
Conhecimento (2007): “Saber é poder”.
Estes dois parágrafos, iniciaram o presente texto para res-
saltar o quanto a presença do livro didático se tornou incomen-
surável, apesar de atualmente, vivermos em uma época onde as
tecnologias facilitam o acesso ao conhecimento. Perpassei, ain-
da assim, por um período onde este trabalho era exclusivamente
de materiais impressos, sendo os livros, os que mais me muni-
ram de conhecimento e fizeram a minha base como cidadão ser
moldada, exatamente como é hoje. Isto só foi possível devido ao
empenho dos autores destas diversas obras que constituíram a
minha infância e a da maioria das pessoas que tiveram a opor-
tunidade social de preencher-se de sabedoria.
Até este momento, discorri sobre minha intimidade com a
absorção de conhecimentos através dos livros didáticos, contudo,
achei necessário falar de mim para falar da autora, a professora e
amiga dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima, a qual, aqui tomarei
a liberdade de chamá-la, como a chamo durante alguns anos (pro-
fessora Iracilde). Afinal, sem perceber, ela esteve presente em di-
versos momentos da minha vida, antes mesmo de conhecê-la,
haja vista meu primeiro contato com uma de suas obras, que irei
expor mais à frente, ainda no meu processo de alfabetização.
Ela certamente é uma dessas pessoas anônimas que são ca-
pazes de alterar a vida de outras em variadas escalas de benevo-
lência ou maldade, no caso dela, a sua boa vontade de dissemi-
nar conhecimento de variadas formas, acabou por libertar quem
passava pela teia do pensamento que ela perpetua na cabeça de
muitos, de maneira explícita ou implícita.

UMA MULHER, PROFESSORA E GEÓGRAFA 47


A intenção primordial deste capítulo é responder de forma
sincera, assim como é a professora Iracilde, a seguinte pergunta:
Quais são os cidadãos e cidadãs que os livros didáticos da pro-
fessora Iracilde formaram?
Corajosamente irei instigar minha escrita para atingir o
objetivo geral de abordar de modo pessoal e profissional, a im-
portância dos livros didáticos, em específico, o Piauí: tempo e
espaço e o Atlas Escolar do Piauí, co-escritos pela professora Ira-
cilde, que explana sobre a vida de pessoas comuns na sociedade,
sempre trazendo o enlace que suas obras tiveram na construção
do profissional que sou hoje.
A metodologia utilizada neste texto percorrerá além dos es-
tudos bibliográficos através de livros de autoria da professora Ira-
cilde, artigos publicados em revistas científicas, textos e livros dis-
ponibilizados on-line. Segundo Haguette (1997) apud Boni e
Quaresma (2005), a entrevista trata-se de um “processo de intera-
ção social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador,
tem por objetivo, a obtenção de informações por parte do outro, o
entrevistado”. Pautando-me nesta definição, tenho a intenção de
atingir uma resposta condizente para tal questionamento. Portan-
to, como objetivo deste texto, irei usar como metodologia, entre-
vistas com cidadãos de diferentes áreas de Teresina (PI) no intuito
de extrair informações relevantes para saciar os anseios já citados.
Ressalto ainda, que toda a pesquisa foi feita de maneira on-line
para assim evitarmos o contato social, pois este material foi cole-
tado durante a pandemia de Covid-19.

Um pouco das suas muitas contribuições


O ensinar Geografia, atualmente, é uma tarefa desafiadora
quando não temos uma metodologia que esteja alinhada com os
diversos recursos didáticos disponíveis, no caso, me refiro aos
livros, que deixaram de ser manuais e passaram a ser aparatos

48 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


facilitadores da aprendizagem. Segundo Azambuja (2012), em
um ensino renovado de Geografia, as definições de conteúdo-
-forma, que se expressam de maneira direta em livros didáticos
e paradidáticos são inseridos de maneira pensada no processo
de planejamento das aulas e atividades que ultrapassam os mu-
ros de escolas e universidades.
Visitei a professora Iracilde em sua casa algumas vezes, e
pude notar todo zelo que tem pelo que foi herdado das suas gera-
ções passadas, visto que a mesma, é autora do livro De Moura aos
Moura Fé: resgate de uma trajetória (2005), que retrata a árvore
genealógica de sua família. Porém, não me refiro aos bens mate-
riais herdados, o valor primoroso que a professora exprime em
rodas de conversa são os ensinamentos e valores que seus familia-
res fizeram eternos em sua mente. Acredito que seja este o motivo,
além do característico, da prática docente, de transmitir e cons-
truir saberes, que ela se pôs a produzir alguns livros (Figura 1).

Figura 1 – Uma Parte da Imensidão

Fonte: Autor (2020).

Aqui, trago a proposta de discorrer sobre a presença de


dois livros, sendo o segundo com duas edições, que auxiliaram e
marcaram a minha vida e a de muitos cidadãos piauienses. Estas

UMA MULHER, PROFESSORA E GEÓGRAFA 49


obras estiveram presentes no meu Ensino Fundamental, Médio
e Superior, são eles:
u Piauí: tempo e espaço (1995), de autoria de Iracilde Ma-
ria de Moura Fé Lima, Maria Cecília Silva de Almeida
Nunes e Emília Maria de Carvalho Gonçalves Rebêlo,
sendo a terceira edição de um dos livros mais impor-
tantes na minha vida;
u Atlas Escolar do Piauí Geo-Histórico e Cultural (2010),
de autoria de Iracilde Maria de Moura Fé Lima, José
Luís Lopes Araújo, Irlane Gonçalves Rebêlo, Maria Ce-
cília Silva de Almeida Nunes e Maria Mafalda Baldoíno
de Araújo. Este livro me acompanhou durante o Ensino
Médio e me foi muito útil durante a graduação;
u Atlas Escolar do Piauí (2016). A sua segunda edição me
auxiliou durante a prática docente, proporcionando aos
meus alunos, uma leitura de fácil compreensão das te-
máticas geográficas.
A professora Iracilde sempre pontuou em algumas conver-
sas informais as distintas maneiras de transmitir o seu conheci-
mento, não as elencando de maneira clara, mas deixando-as su-
bentendidas. Pois, não importa a maneira como são repassados
os saberes, desde que seja eficiente. E é isso que ela faz nos livros,
e em cada palavra humildemente bem pensada para uma fácil
compreensão do leitor. Talvez seja esse, o principal fator que tor-
na algumas de suas produções capazes de se eternizarem na
mente de algumas pessoas.

Aquele santo livro


O processo de alfabetização pode ser complicado para al-
gumas crianças, porém, eu tive uma facilidade enorme em
aprender a ler, em função das metodologias não muito conven-
cionais que a professora que me dava aulas, no horário contrário

50 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


ao da escola, utilizava. Hoje, como um professor que procura
diversificar as estratégias de ensino, entendo o motivo e agrade-
ço os momentos em que ela trouxe algumas cantigas populares.
Diante do exposto, e de acordo Sousa (2007), as cantigas popu-
lares podem ser um instrumento valoroso de contribuição didá-
tica no processo de alfabetização, uma vez que seus textos possi-
bilitam a memorização dos alunos, e ajudam a leitura e a escrita
a serem melhoradas, de forma lúdica.
Ao recordar deste fato, me veio a mente a seguinte canção
de ninar, que voltei a ouvir novamente, através da interpretação
da Banda Carroça de Mamulengos (2019), diz: “Desce gatinho/
De cima do telhado/ Deixa esse menino/ Dormir um sono sos-
segado/ Maria lavava/ José estendia/ Jesus mamava”.
O livro que continha esta canção de ninar era o Piauí:
tempo e espaço, visto anteriormente, que fazia parte da bibliote-
ca pessoal da professora que me alfabetizou. Ela o colocava em
minha frente e cantava comigo esta canção de ninar. E eu sole-
trava as palavras, procurando entender o significado de cada
uma. Muito me emocionou em saber que a professora Iracilde se
fez presente neste processo de alfabetização e que mais à frente
minha irmã mais nova pôde ser alfabetizada através da mesma
metodologia. Em um contexto geral, posso dizer que a geógrafa
tornou-se pedagoga de uma maneira indireta.
Minha irmã é artesã, cozinheira e técnica em enfermagem,
ela é uma pessoa polivalente quando se trata de profissões.
Quando mostrei a fotografia do livro Piauí: tempo e espaço para
ela, imediatamente em seu rosto surgiu um sorriso nostálgico.
Sendo assim, perguntei se ela poderia responder por mensagem
de áudio, em um aplicativo de smartphone, alguns questiona-
mentos sobre o livro. As indagações e as respostas encontram-se
transcritas na Figura 2.

UMA MULHER, PROFESSORA E GEÓGRAFA 51


Em um determinado ponto da vida infantil toda criança de-
para-se com um adulto perguntando a respeito do que ela será
quando crescer, ou seja, indagando sobre qual profissão aquela
mente pueril deveria seguir na vida adulta. Comigo, isto não foi
diferente. Porém, quando questionado não respondia que queria ser
professor de Geografia, sempre falava que seria veterinário, por ver
a relação amistosa que meu avô tinha com os animais. Mas, em um
determinado momento da minha vida comecei a me enamorar pe-
las temáticas da ciência geográfica, claro que este sentimento se des-
pertou aos poucos, especialmente, em razão da minha curiosidade
de desbravar os elementos de algumas paisagens.
Em um segundo momento tenho a recordação de minha
mãe tentando me explicar do que se tratava um assunto, que não
lembro exatamente qual era, mas, tinha uma temática geográfica
e estava presente no livro Piauí: tempo e espaço. Minha mãe,
muito leiga e com pouco estudo, ficou lendo o conteúdo do livro
algumas vezes para poder me explicar, eu tinha por volta de sete
anos de idade. Este livro foi uma peça condutora para a minha
aproximação com a Geografia, foi algo que se refletiu em mi-
nhas escolhas futuras. A Figura 2, portanto, apresenta também
uma conversa que tive com minha mãe sobre este momento es-
pecífico e suas lembranças em relação ao livro.
Outra pessoa que se identificou de maneira especial com o
livro Piauí: tempo e espaço foi uma diretora de uma escola na
rede pública do estado do Piauí, aqui denominada, de A Direto-
ra. Segundo a mesma, até pouco tempo atrás ela tinha este livro
em sua biblioteca pessoal e o doou para a biblioteca da escola em
que ela trabalhava com a esperança que mais pessoas pudessem
fazer bom uso dos conteúdos lá presentes.

52 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 2 – Minha mãe, minha irmã e a Diretora com o livro
Piauí: tempo e espaço

Fonte: Autor (2020).

Quando tinha por volta de nove anos de idade me mudei


de escola. Segundo meus pais, eu precisava ir a uma mais “difí-
cil”, e foi lá que tive que realizar a minha primeira pesquisa es-
colar, se não me engano, sobre a Batalha do Jenipapo, que eu
sabia já ter visto algo parecido no livro Piauí: tempo e espaço. Foi
algo muito marcante para mim, pois estampava a foto de um
cemitério, algo que até hoje me incomoda, contudo, ao procura-
-lo não o encontrei. Como naquela época, não possuía acesso à
Internet fiquei sem muitas opções de pesquisa.
Na saga de encontrar esse livro fui até a casa de uma vizi-
nha, que chamo de Tia, enfermeira, e que por ser mãe solo, lava-
va e passava roupas para duas famílias ricas da região entre os

UMA MULHER, PROFESSORA E GEÓGRAFA 53


plantões para conseguir pagar o aluguel da casa e a escola para
os três filhos. Ela tinha uma pequena biblioteca pessoal em sua
casa, e foi lá que prontamente encontrei o que procurava.
A Tia falou que eu poderia levar o que quisesse para reali-
zar a pesquisa e pediu para que eu tratasse muito bem aquele li-
vro de capa verde com um mapa impresso nela, pois era o único
livro que ela tinha que falava do Piauí. Preciso assumir que de-
morei a entregar o livro, pois gostava de ler sobre tudo o que
envolvia a Geografia, mesmo repetindo a leitura.
Acontecimentos como estes me fazem refletir que tal livro
foi o único material que, por muito tempo, foi capaz de conter
informações básicas sobre o estado do Piauí, tornando-se, desta
forma, um aparato que conseguiu cativar diversos públicos em
diferentes realidades, fazendo parte do cotidiano de muitos
piauienses a ponto de virar “meme1” em página de humor, como
é enaltecido na Figura 3.
Diante do exposto, tenho a audácia de dizer que o livro
Piauí: tempo e espaço corresponde à referência de um santo, vis-
to que me socorreu em diversas pesquisas escolares, sempre que
recorri ao empréstimo dele, pela Tia. Durante muitos anos, este-
ve presente na vida de vários piauienses e continua saudosamen-
te constante nas lembranças nostálgicas de infância. Obrigado,
professora Iracilde, por ter levado a Geografia até mim sem ao
menos me conhecer.

1 Segundo Lara e Mendonça (2020), meme é uma proposição composta por material-
idades verbo-visuais que propõem humor ressignificando imagens, acontecimentos,
estereótipos e frases para atingir esta finalidade.

54 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 3 – Me respeita que sou desse tempo

Fonte: @teresinaordinaria (2017).

Temendo a Geografia do Piauí


No Ensino Médio, os adolescentes começam a se preparar
de maneira mais intensa para o tão temido Exame Nacional do
Ensino Médio (ENEM) para ingressarem no Ensino Superior.
Em 2011, eu estava cursando o 3º Ano em uma escola pública,
contudo não tinha apenas o ENEM, como preocupação. Naquele
ano, o vestibular da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) se-
ria um desafio amplamente discutido em sala de aula. Mas dife-
rente da maioria dos meus colegas da escola, minha preocupa-
ção maior não estava nas temáticas do mundo e do Brasil, mas,
sim nos assuntos relevantes ao Piauí, já que as aulas acerca disso
eram escassas. Essa situação só melhorou quando adquiri a pri-
meira edição do livro Atlas Escolar do Piauí.

UMA MULHER, PROFESSORA E GEÓGRAFA 55


Com o livro em mãos, e sabendo que só teria ele como única
fonte confiável para estudo, pois o meu professor de Geografia da
escola tinha sofrido um acidente e ficou impossibilitado por meses
de ministrar as aulas, comecei a folhear as páginas e me interessar
pelas fotografias, passando a ler todas as legendas. Quando elas aca-
baram passei a observar os mapas e a tentar entende-los, só que
para entender exatamente o que eles diziam, eu tinha que ler o tex-
to. Passei, portanto, algumas semanas procrastinando para alcan-
çar esse avanço no conteúdo, já que tinha medo de a leitura não ser
cativante e acabar me frustrando, justamente por não conseguir
entender de maneira clara, os assuntos que tratavam.
Esse fato somente mudou cinco meses antes do vestibular,
quando uma amiga de classe relatou que aprendeu muito sobre a
Geografia e a História do Piauí, com o professor do cursinho, que
usava o mesmo livro que eu tinha. Naquele momento, senti um
“frio na barriga” e por puro receio de não entrar em uma univer-
sidade pública acabei lendo o que eu tanto relutei, porém percebi
que a leitura era agradável e não era tão complicada quanto eu
pensei que fosse.
No ano de 2012, ingressei na graduação no curso de licen-
ciatura em Geografia na UFPI. Confesso, que como todo calou-
ro estava um tanto perdido com todas as novidades e, principal-
mente, com os pedidos de resumos, resenhas e demais trabalhos
acadêmicos que os professores pediam. Na disciplina de Geolo-
gia, no primeiro período, foi solicitada uma pesquisa que abor-
dasse as principais características físicas do estado do Piauí, en-
tão imediatamente resgatei o meu livro Atlas Escolar do Piauí.
É válido ressaltar que tal livro foi fotocopiado por todos os
colegas da turma, e isto me fez querer saber a opinião de algumas
dessas pessoas em relação a ele. Essas opiniões foram expostas na
Figura 4, sendo que um deles concluiu a graduação em Geografia
e o outro desistiu do curso e seguiu uma outra formação.

56 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 4 – A presença do Atlas Escolar do Piauí na graduação

Fonte: Autor (2020).

Segundo Pinto e Carneiro (2019), a Geografia conseguiu, ao


decorrer de muitos anos, construir linhas de pensamento que ex-
plicassem e desafiassem a realidade em que vivemos. De fato, an-
teriormente, a Geografia era retratada na Educação Básica como
uma disciplina descritiva, ainda mais quando falamos em Geo-
grafia do Piauí, pois esta não se aventurou a ir além do que a capa-
cidade da época permitia, e não me refiro à anos longínquos.
No início da década passada, vivenciei na pele, as dificul-
dades de encontrar material necessário para começar algumas
leituras referentes ao meu estado. Minhas colegas de curso, as-
sim como eu, obtivemos as contribuições da professora Iracilde
presentes no Atlas Escolar do Piauí, como uma expressão do co-
nhecimento que acolhe leitores, respeitando as dificuldades que
cada pessoa tem com a leitura. A delicadeza na montagem dos
textos, assim como a riqueza de conteúdo, faz com que seus tex-
tos possam ser comtemplados por mais gerações, além de afir-
marem que a ciência geográfica precisa ter a sua importância
vista na construção de uma sociedade mais consciente, perante
as adversidades naturais e, principalmente, as antrópicas.

UMA MULHER, PROFESSORA E GEÓGRAFA 57


Professora Iracilde (coragem, sinceridade e boa vontade)
Meu primeiro contato com a professora Iracilde foi em
2012, durante uma mesa redonda, que ocorreu na IV Semana de
Geografia e III Seminário Discente de Métodos e Técnicas em
Geografia da UFPI. Eu e um grupo de colegas, todos iniciantes
na vida acadêmica, estávamos achando tudo muito entediante,
já que a discussão ainda não era próxima de nossa vivência, po-
rém, em um determinado momento apareceu no slide, a capa do
livro Piauí: tempo e espaço. Isso foi o suficiente pra cativar nossa
atenção por alguns segundos e todos no auditório começarem
uma salva de palmas, que demorou tempo o suficiente para a
organização do evento pedir silêncio, para assim continuar a
fala da professora. Naquele momento, não somente eu, mas,
acredito que todos os presentes puderam testemunhar a gran-
diosidade da pessoa que ali estava. Para os novatos na graduação
foi como se lhes tirassem uma venda dos olhos e nos mostras-
sem o rosto de alguém que nos acompanhou por muito tempo.
Quando exerci a prática docente pela primeira vez me de-
parei com o desafio de encontrar um material que pudesse guiar
a mim e meus alunos, em uma lógica de conteúdo. Foi onde, o
livro Atlas Escolar do Piauí encaixou-se perfeitamente em mais
uma etapa da minha história profissional e tenho a certeza que
continuarei precisando por bastante tempo dos textos escritos
pela professora Iracilde, e que constam nesse livro.
Foi no I Workshop de Geomorfologia e Geoconservação
que pudemos estreitar relações e realizar alguns trabalhos em
conjunto. E foi exatamente nessa aproximação que pude enxer-
gar além da autora/pesquisadora/professora. Com a convivência
foi possível deparar-me com a professora Iracilce humana, mu-
lher forte, que dentro de um ambiente machista conseguiu e ain-
da consegue se destacar em sua área. Destarte, é com essas ca-
racterísticas que a professora Iracilde, através dos seus escritos
em diferentes livros, comunga de sua dedicação à Geografia ca-

58 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


tivando didaticamente variadas pessoas, que independentemen-
te de suas escolhas profissionais, trazem à tona as lembranças, a
nostalgia de uma realidade embebida da responsabilidade que
ela sabe que tem.
Querida professora Iracilde, você tornou a Geografia palpável
para muitos jovens, obrigado por ser uma inspiração para seus alu-
nos. Tenho orgulho em dizer que você contribuiu na minha vida aca-
dêmica e profissional, mostrando, através de exemplos, que um bom
geógrafo é aquele que tem coragem, sinceridade e boa vontade.

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TERESINA ORDINÁRIA. Relíquia. Teresina, 18/07/2017. Instagram:
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UMA MULHER, PROFESSORA E GEÓGRAFA 59


4
IRACILDE MARIA DE MOURA FÉ LIMA
A geógrafa além dos muros

Leilson Alves dos Santos

Os muros eram cercas com porteiras abertas...

D
emorei um tempo para iniciar esse texto, pensei e re-
pensei bastante sobre o que poderia falar a respeito
daquela que é a minha maior inspiração na Geografia.
São tantas vivências que antecedem a minha presença. Profes-
sora dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima, ou simplesmente,
professora Iracilde é uma das mais importantes profissionais da
educação e dos estudos geográficos do Piauí.
Nascida na pequena cidade de Simplício Mendes no Sudeste
do Piauí, Iracilde sempre foi apaixonada pela natureza, pelas pai-
sagens e formações geomorfológicas tão peculiares da região, que
se entrelaça com a vegetação da Caatinga. No ano de 1968, se
aventurou em outras terras, escolhendo a Universidade Federal
do Ceará para cursar Geografia, onde em 1971, concluiu sua gra-
dução. Por coincidência ou força do destino este foi o ano da fun-
dação da Universidade Federal do Piauí (UFPI), casa esta que Ira-
cilde ingressou como professora do curso de Geografia em 1975.
Como professora do Ensino Superior, Iracilde se empe-
nhou ao máximo para a formação profissional, acadêmica e até

60 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


mesmo pessoal dos seus alunos. Foi orientadora, na área de
Geografia, do Programa de Educação Tutorial (PET), onde
acompanhava e desenvolvia pesquisas com alunos, baseando-
-se no princípio da indissociabilidade entre o ensino, pesquisa
e extensão. Esses três pilares sempre foram a marca da profes-
sora Iracilde para a formação de novos professores, e entre os
alunos tutoriados por ela, destaco os professores Carlos Sait
Pereira de Andrade e Armstrong Miranda Evangelista, atual-
mente, professores efetivos na UFPI, lotados no Centro de
Ciências Humanas e Letras e Centro de Ciências da Educação,
respectivamente. Sem contar os inúmeros professores de Geo-
grafia formados no Piauí que tiveram a oportunidade de des-
frutar dos conhecimentos por ela disponibilizados.
Fascinada pelas paisagens, territórios, lugares, regiões e
pela educação, professora Iracilde dedicou a vida à ciência geo-
gráfica, sempre considerando a tríplice: ensino, pesquisa e ex-
tensão. Nossa história começou bem antes do meu ingresso no
curso de Geografia, ainda quando estava no ensino básico, atra-
vés dos seus livros, como por exemplo, o Atlas Escolar do Piauí:
geo-histórico e cultural (Figura 1).
Jamais passou pela minha cabeça que um dia iria conhecer
uma das autoras daquele livro. Naquela época, imaginava que os
escritores de livros eram seres de outra dimensão, o que de fato
são, pois pertencem à dimensão do saber.

Iracilde Maria de Moura Fé Lima 61


Figura 1 – Lançamento do Atlas Escolar do Piauí: geo-histórico
e cultural realizado no Clube dos Diários em Teresina (PI)

Fonte: Imagem cedida pelo professor José Luís Lopes de Araújo.

A linha do horizonte, o limite...


Incansável e apaixonada pela Geografia, no ano de 1977,
foi em busca de novos conhecimentos, ao ingressar no mestrado
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde defen-
deu dissertação em 1982, com o título: “Caracterização geomor-
fológica da Bacia Hidrográfica do Rio Poti”, se tornando assim,
a primeira mestra em Geografia Física do Piauí. Sua dissertação
é referência até os dias atuais devido à complexidade e aprofun-
damento na caracterização fisiográfica da bacia do Rio Poti. De-
dicada também a família, absteve-se de ingressar de imediato no
doutorado, pois os filhos (Flávio, Marcelo e Leonardo) estavam
em idade escolar e, portanto, precisavam da mãe por perto.
No entanto, professora Iracilde continuou suas pesquisas
e no ano 1987, publicou uma proposta de classificação do rele-
vo do Piauí, consolidando mais uma grande contribuição para
os estudos e conhecimentos geomorfológicos do território
piauiense. Concentrou-se também em analisar as transforma-

62 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


ções espaciais de Teresina com diversos trabalhos que remetem
a capital piauiense, no âmbito das características físicas, edu-
cacionais e socioculturais, como por exemplo, o texto Teresina:
urbanização e meio ambiente, publicado em 2000. Ao longo da
carreira, ela já publicou dezenas de artigos, livros, capítulos de
livros, além de ter participado de diversos trabalhos técnicos,
ligados a variados públicos.
No entanto, ainda faltava algo, não que precisasse, talvez
por uma satisfação pessoal. No ano de 2009, professora Iracilde
ingressou no doutorado em Geografia na Universidade Federal
de Minas Gerais, onde em 2013, defendeu a tese: “Morfodinâmi-
ca e Meio Ambiente na Porção Centro-Norte do Piauí”. Uma ca-
racterística marcante das pesquisas da professora Iracilde é a
coragem de partir de uma escala pequena, e conseguir detalhar
com primazia as feições da paisagem.
Na docência sempre manteve grupos de estudos, monito-
rias e projetos de extensão, a fim de contribuir ainda mais com a
formação de seus alunos. Foi nesse contexto, que aconteceu nos-
so encontro, o ano era 2010, o segundo da minha graduação
onde cursaria a disciplina de Geomorfologia, e advinhem só
quem foi a professora? Ela mesma, Iracilde. A ansiedade foi
enorme, pois eu iria conhecer um “ser de outra dimensão”. Logo
de início me apaixonei pela disciplina, pela forma como ela a
apresentava. Foi um novo mundo que se abria na Geografia para
mim. Então a partir daquele momento iniciou-se uma parceria
que adura até os dias atuais.
Em 2010, ingressei no seu grupo de Iniciação Científica
para desenvolver pesquisa sobre a dinâmica do relevo da porção
Centro-Sudeste do Piauí. O grupo da iniciação científica era for-
mado por três alunos: Leilson Santos, Taís Mayara, Juliana Mar-
ques e mais alguns voluntários. Para a realização dos trabalhos
de campo utilizamos o transporte da universidade, mas quando
não era possível íamos no seu próprio carro. Os dois anos de

Iracilde Maria de Moura Fé Lima 63


iniciação científica (2010-2012) foram sensacionais, pois percor-
remos toda a região Sudeste do Piauí, analisando os processos
geomorfológicos e ambientais que compõem a paisagem.
Os resultados das pesquisas foram apresentados em con-
gressos nacionais e internacionais, tais como: Seminário Ibero-
-Americano de Geografia Física e Seminário Latino-Americano
de Geografia Física, em Manaus (AM); Simpósio Nacional de
Geomorfologia, no Rio de Janeiro; Seminário de Iniciação Cien-
tífica da UFPI; Encontro de Geógrafos da América-Latina
(EGAL), que ocorreu em Lima, no Peru; e Simpósio Nacional de
Geografia Física Aplicada, realizado em Vitória (ES), ambos em
2013, dentre outros (Figuras 2 e 3).

Figura 2 – XX Seminário de Iniciação Científica da UFPI

Fonte: Acervo pessoal (2012).

64 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 3 – X Simpósio Nacional de Geomorfologia realizado em
Manaus (AM) em 2014. Em A, atividade de campo no Arquipé-
lago de Anavilhanas no Rio Negro (AM); e, em B, apresentação
de trabalho no Campus da UFAM

Fonte: Acervo pessoal (2014).

Iracilde Maria de Moura Fé Lima 65


Não poderia deixar de mencionar a parceria de sucesso com
o seu esposo, o professor Almir Lima, que sempre nos acompa-
nhou em todos os campos realizados na iniciação científica. Seu
conhecimento em Agronomia, agregou muito valor às discussões
e entendimento dos processos, bem como foi fundamental para
nossa formação. Foi um casamento que deu certo na vida pessoal,
acadêmica e profissional. Lembro-me de um episódio ocorrido no
ano de 2012, na cidade de Simplício Mendes, região Sudeste do
Piauí, no qual o professor Almir nos ensinou a calcular a declivi-
dade de uma encosta manualmente, utilizando mangueira de ní-
vel. Ele assim nos explicou que o pesquisador não pode ficar refém
dos meios tecnológicos (Figura 4).

Figura 4 – Professora Iracilde e professor Almir em aula de


campo, no município de Simplício Mendes (PI)

Fonte: Acervo pessoal (2012).

Uma outra característica intrínseca da professora Iracilde é


a disposição, ela não se cansa, na verdade, acredito eu, que a ativi-
dade de campo é que renova as suas energias e vitalidade. Sempre
ao fim do dia de campo ela ainda tinha pique para reunir a equipe

66 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


e discutir o que foi visto, bem como reorganizar a rota do dia se-
guinte. Sem sombra de dúvidas, esta foi uma experiência ímpar
para minha formação acadêmica, profissional e pessoal, da mes-
ma forma, que foi para os meus colegas de caminhada.
Destaco, ainda, que fui monitor de disciplinas sob sua orien-
tação, sendo por duas vezes, monitor de Geomorfologia e uma vez
de Hidrografia. Ser monitor é uma oportunidade importante para
o acadêmico de qualquer curso, pois, além de ampliar ainda mais os
conhecimentos sobre a disciplina, essa atividade contribui para
uma relação mais próxima entre o aluno e o professor.
Durante as aulas, além das teorias, o mapa era um dos re-
cursos principais, pois a professora Iracilde sempre reforçava
que o geógrafo precisa ler o que o mapa tem para falar, retirar
dele, as informações que precisa para analisar a paisagem, uma
vez que o mapa não é apenas um pedaço de papel desenhado, é
uma fonte de informações para quem sabe utilizá-lo (Figura 5).

Figura 5 – Professora
Iracilde durante aula
na UFPI
Fonte: Acervo pessoal.

Iracilde Maria de Moura Fé Lima 67


Os mapas, as maquetes, vídeos, documentários, estudos diri-
gidos e aulas de campo eram ferramentas presentes na sua metodo-
logia de ensino (Figuras 6 e 7). Ao representar, por exemplo, uma
bacia hidrográfica em uma maquete, era mais fácil de os alunos
compreenderem o trabalho dos rios na esculturação do relevo, bem
como compreender o processo e dinâmica da formação de uma ba-
cia sedimentar. O visual desperta maior interesse por parte dos alu-
nos e, portanto, um melhor entendimento dos conteúdos.

Figura 6 – Aula de campo da disciplina de Hidrografia com a tur-


ma 2008/2 às margens do Rio Poti, no trecho urbano de Teresina

Fonte: Acervo Pessoal (2010).

68 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 7 – Imagens de atividades de campo coordenadas pela
professora Iracilde

Legenda: A – Leito com afloramento de rocha no Rio Poti em trecho urbano de Teresina; B –
Afluente do Rio Poti desconfigurado com presença lixo; C – Impactos ambientais decorrentes da
mineração. A água resultante da lavagem escorre diretamente para o Rio Poti (As fotos A, B e C
foram tiradas durante aula de campo da disciplina de Hidrografia em 2010). D – Rio Canindé no
município de Paulistana, aqui percebemos o leito com trecho represado, pouca água e com in-
tenso processo de assoreamento; E – Sangradouro da Barragem de Pedra de Redonda, que além
de garantir água para a região, também é responsável pela perenização do Rio Canindé a partir
desse trecho; F – Barragem de Poço de Marruá no Rio Itaim, município de Itainópolis. Em pri-
meiro plano observamos a vegetação da Caatinga, em seguida, o lago que começava a ser preen-
chido e, ao fundo, o paredão de contenção da barragem (As fotografias D, E e F foram tiradas
durante atividade de campo para os trabalhos da iniciação científica no ano de 2011).
Fonte: Acervo pessoal.

Iracilde Maria de Moura Fé Lima 69


Jamais poderia imaginar que de uma disciplina se forma-
ria uma parceria de orientação, iniciação científica, monitorias e
trabalho de conclusão de curso, que apresentei no ano de 2013.
Aquele foi um ano atípico, pois houve greve nas universidades
federais, e todo o cronograma estabelecido foi prejudicado. Fe-
lizmente, no fim deu tudo certo e o resultado de tal estudo foi
publicado em um períodico, em língua inglesa. Quando fui fa-
zer a especialização em Gestão Ambiental, convidei a professora
Iracilde para me orientar no trabalho final, o qual desenvolve-
mos pesquisa sobre o Parque Ambiental Lagoas do Norte. Este
trabalho se tornou referência na temática.
A professora Iracilde sempre incentivou e motivou seus
alunos a alçarem voos cada vez mais longos, foi assim, quando
decidi fazer a seleção para o mestrado na Universidade Federal
de Minas Gerais. Ela foi uma das mais entusiasmadas, e inclusi-
ve, me deu de presente um casaco para me proteger do frio, afi-
nal qualquer temperatura abaixo dos 25ºC é considerada gelada
para quem sai de Teresina.
Quando soube do resultado e que havia sido aprovado na
seleção para cursar o doutorado, a primeira pessoa que me veio
à mente foi a professora Iracilde. Liguei, quase que no automáti-
co para contar a novidade, e não deu outra, ela vibrou junto a
mim. Recentemente retomamos a nossa parceria, ela é minha
coorientadora no doutorado. Quando passei no seletivo para
professor substituto na Universidade Estadual do Maranhão, a
professora Iracilde me cedeu diversos materiais para que eu or-
ganizasse as disciplinas que iria ministrar, que por coincidência,
foram Geomorfologia e Hidrogeografia.

70 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Algumas palavras intermediárias, pois ainda temos muita
história a ser escrita...
Bem, ainda temos muito para trilhar junto com a professora
Iracilde, e também, muito a aprender. Para mim é uma grande hon-
ra fazer parte destes 50 anos de vida geográfica. Professora dra. Ira-
cilde Maria de Moura Fé Lima saiba que, embora já tenha uma vas-
ta e imponente contribuição ao ensino e aos estudos geomorfológicos
e geográficos do Piauí, tenha certeza, que você ainda tem muito a
contribuir para a ciência geográfica e para a capacitação de profis-
sionais que buscam a pós-graduação Strictu sensu.

A linha do horizonte é o limite...

Referências
Não há como referenciar aquilo que é colhido com a
vivência.

Iracilde Maria de Moura Fé Lima 71


5
UM DIAMANTE LAPIDADO

Taís Mayara Sousa

S
empre vivi em meio a professores e cresci dentro do “mun-
do da Educação”, pois várias pessoas da minha família ou
são professores ou já trabalharam de alguma forma em
escolas. Então, minha admiração e carinho por essa profissão
tão linda vem de longa data. Não é à toa que me formei em licen-
ciatura plena em Geografia, pela Universidade Federal do Piauí,
e foi justamente nessa instituição, que tive a felicidade de fazer
parte da vida de uma das damas da Geografia Piauiense, Iracilde
Maria de Moura Fé Lima.
Uma das mulheres mais intrigantes e incríveis que já co-
nheci, e que tive proximidade, no mundo acadêmico. Durante
os cinco anos de curso, os maiores ensinamentos vieram dela.
Foram cinco anos de muitas descobertas, muito trabalho e mui-
to conhecimento adquirido.
Anos memoráveis que jamais serão esquecidos. Tive o pra-
zer de ser sua aluna, sua orientada de iniciação científica, sua
monitora, sua orientanda de TCC e sua amiga, ou como muitos
diziam, sua “quase filha”. Histórias que ficaram registradas em
todos os mapas elaborados, artigos publicados, apresentações de
trabalhos realizadas, relatórios, fotos e uma infinidades de ma-

72 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


teriais acadêmicos, mas, especialmente, também ficaram marca-
das na memória e no coração.

O início da nossa jornada


Minha história com a Iracilde começou bem antes da gra-
duação, e ela nem sabe. Assim como fez parte da vida de muitos
outros piauienses, nas décadas de 1990/2000, ela também fez par-
te da minha. Foi através do famoso livro de Estudos Sociais, Piauí:
tempo e espaço (Figura 1), que tive minha “iniciação” na Geogra-
fia do Piauí, e onde tive o primeiro contato com as ideias e ensina-
mentos dessa docente e estudiosa ímpar. Nem poderia imaginar,
que uma das autoras do livro que tanto usei, seria alguém que
passaria a ter extrema importância na minha vida acadêmica.

Figura 1 – Livro de
Estudos Sociais,
Piauí: tempo e espaço
Fonte: Acervo pessoal.

A construção do pensamento 73
Quando entrei para o curso de Geografia na Universidade
Federal do Piauí (UFPI) no ano de 2008, já conhecia a Iracilde
autora, e a fama que a mesma já possuía dentro das escolas. Eu
já tinha uma certa paixão pela Geografia Física. Então, minha
curiosidade em relação a ela, foi só crescendo.
Quando, finalmente, tive a chance de cursar uma disciplina
com ela. Se não me falha a memória, era Geomorfologia, a aula
para mim foi incrível, fiquei inebriada com tanto conhecimento
prático e com aquela sabedoria tão dela. Naquele momento afir-
mei a mim mesma que ela seria minha orientadora. A professora
Iracilde então falou de um grupo de estudos que estava formando,
não pensei duas vezes, compareci no dia e horário que ela havia
marcado e entrei no grupo. Iniciando assim, mais que qualquer
coisa, uma amizade, e por que não dizer uma família? Uma famí-
lia unida pelo conhecimento geográfico piauiense.
Na época, ela tinha iniciado as aulas no doutorado e o
grupo de estudos ajudaria no processo das pesquisas. Para
mim, foi uma oportunidade única, como quase nunca vi e nem
ouvi falar no curso. E, eu aproveitei e me dediquei ao máximo.
Não demorou muito para que esse grupo de pesquisa se trans-
formasse em um projeto de iniciação científica, e tomasse a
proporção que tomou.
Uma coisa que eu sempre falava para meus amigos mais
próximos, era que Iracilde não cabia dentro de uma sala de aula,
ela sempre transbordava. O conhecimento dela sempre foi bem
além da teoria, ela sempre buscava trazer a prática de campo.
Sempre estava nos mostrando e nos ensinando a analisar toda a
teoria vista em sala.
E quando ela estava em campo, podíamos perceber o espe-
táculo que era vê-la transbordar, ela literalmente dava um show,
um show geográfico único e particular. Sem dúvidas, a melhor
aula de campo que já se teve no curso de Geografia da UFPI.

74 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Isso ficou mais claro ainda, quando ela conseguiu o trans-
porte para as pesquisas de campo do Projeto de Iniciação Cien-
tífica. Outra característica bastante forte nela é a persistência.
Iracilde moveu céus e terras e não se aquietou até conseguir as
viagens de campo para o Projeto de Iniciação Científica. Infeliz-
mente, na primeira viagem de campo não pude ir, mas as demais
não perdi de forma alguma.
Na minha primeira grande viagem de campo, fora os três
alunos de iniciação científica (eu, Leilson e Juliana), ela montou
uma equipe formada de mais três alunos do curso, seu marido e
também, professor Almir Lima, e um senhor que trabalhava
para eles, o senhor Raimundo (Figura 2).

Figura 2 – Equipe de pesquisa em uma das viagens de campo

Fonte: Acervo pessoal.

Posso afirmar, com toda certeza, que foi uma das expe-
riências e aprendizados mais incríveis que já tive na vida. Passá-
vamos o dia fazendo coletas de solo e de água para análises em
laboratório, analisando e fotografando os horizontes dos solos, o
relevo, os rios e riachos, a vegetação e os animais.

A construção do pensamento 75
Absolutamente tudo era registrado e examinado, cada pe-
queno detalhe nunca passava despercebido aos olhos dela. E nós
ficávamos atentos, observando, tentando extrair o máximo de
conhecimento para inserí-los nos relatórios de pesquisa. E, du-
rante essa e outras pesquisas de campo que fizemos, eu fui “no-
meada” por ela para escrever todas as anotações e observações
que fazia.
Fizemos uma verdadeira expedição, desbravando e desco-
brindo tudo aquilo que só tínhamos visto nos livros, e algumas
coisas que nem tínhamos estudado até então, e que no final de
tudo, nem estudamos, teoricamente falando, só vimos lá, duran-
te nossas viagens de campo.
Ela, juntamente com o professor Almir, eram verdadeiras en-
ciclopédias. Ambos explicavam com uma facilidade, como se tudo
aquilo já fizesse parte deles mesmos, e na verdade, fazia e ainda faz.
E nós, meros aprendizes, ficávamos apenas admirando e tentando
absorver o máximo de conhecimento e aprendizado daquelas “au-
las tão particulares”, que nunca se repetiriam (Figura 3).

Figura 3 – Professora
Iracilde e professor
Almir Lima

Fonte: Acervo pessoal.

76 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Foram dias exaustivos, mas altamente ricos. Tão ricos, que o
cansaço não era nada se comparado a experiência que estávamos
vivenciando. Passamos por várias cidades, e conhecer cada uma de-
las, as suas paisagens naturais, descobrir toda aquela riqueza de na-
tureza e de conhecimento, foi a maior de todas as recompensas.
Depois dessa experiência singular, vieram muitas outras.
As seguintes foram viagens mais curtas, pois as cidades eram
mais próximas de Teresina (PI), mas isso não significou que fo-
ram menos importantes, pelo contrário. Em cada novo campo,
havia um mundo a ser explorado, sempre tínhamos novidades e
aprendizados nunca vistos. Fizemos vários campos em Teresina
também, passamos a ver nossa cidade de uma outra forma, com
outros olhos.
Isso sem falar nas aulas de campo das disciplinas minis-
tradas por ela. É impossível passar pelos rios Poti e Parnaíba e
não lembrar das nostálgicas aulas de campo (Figura 4). Não lem-
brar da empolgação da professora Iracilde ao nos mostrar tudo
aquilo que ela foi descobrindo ao longo dos anos. Impossível não
lembrar da sua satisfação ao ver os alunos atentos e debatendo a
respeito do que era dito. Olhar, aquele, de dever cumprido e de
vitória, já que conseguir aulas de campo dentro da universidade
não era algo tão fácil assim.
Sempre após as pesquisas de campo vinha a parte de orga-
nizar as amostras coletadas e, principalmente, organizar todas
as informações extraídas durante as nossas “expedições”. Com
Iracilde aprendemos a analisar mapas de, praticamente, todas as
áreas da Geografia Física, de uma forma que nunca havíamos
analisado nas outras disciplinas. Aprendemos também a fazer
mapas, a usar o GPS, a transformar as informações coletadas em
texto e, em particular, a buscar cada vez mais conhecimento.

A construção do pensamento 77
Figura 4 – Aula de campo no Rio Poti, disciplina de Hidrografia

Fonte: Acervo pessoal.

Por diversas vezes, tive que ir até sua casa, onde ficávamos
organizando e catalogando as amostras de solo e rochas, dentre
outras coisas. Nisso, ficávamos até tarde. E aí, pude ver o outro
lado da grande geógrafa que tanto admirava, não aquele lado
referente à academia, mas o lado mulher, uma mulher, que além
de pesquisadora e professora era mãe, avó e esposa.
E esta mulher forte e determinada ao se encontrar com seu
neto, se despia de todo o envoltório acadêmico e se tornava ape-
nas avó, brincando e escutando as narrativas do cotidiano do
neto. E como toda mãe sempre estava disposta a ajudar e estar
presente na vida dos filhos.
A partir daí, eu já era chamada na universidade de a “filha
da Iracilde”. Os amigos me chamavam assim por conta da proxi-
midade que tínhamos, eu e Leilson, com ela (Figura 5). De certa
forma, nós não nos desgrudávamos. Éramos um trio, pratica-
mente inseparáveis.

78 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Nossa relação, então, acabou se tornando uma verdadeira
amizade. Nós nos entendíamos, às vezes, sem as palavras. Só
com o olhar eu já sabia o que ela queria e o que precisava ser
feito. Meu apego com ela era tão grande que até minha mãe, al-
gumas vezes, demonstrava ciúmes, principalmente, quando eu
dizia que Iracilde era minha “mãe geográfica”.
E, como não poderia deixar de ser, ela foi uma de minhas
orientadoras no trabalho de conclusão do curso, ela e a professo-
ra Bartira Viana. E foi aí, que a prática das pesquisas de campo
e tudo que aprendemos com ela, se mostraram fundamentais.
Consegui fazer tudo o que tinha planejado, e a professora Iracil-
de, como sempre, me ajudou.
Quando me formei não pensava em fazer mestrado, fui
deixando para depois, mas ela sempre me incentivou, sempre
me apoiou e sempre esteve pronta a me ajudar. E mesmo após
me formar, continuamos com nossa “dupla dinâmica”. Eu ajuda-
va a organizar os artigos, nas formatações e questões mais técni-
cas, e na organização dos trabalhos dos alunos.

Figura 5 – Iracilde,
Taís e Leilson na defesa
do TCC de Leilson
Fonte: Acervo pessoal.

A construção do pensamento 79
Foi então que Iracilde teve a ideia de fazer um site, um que
pudéssemos colocar o maior número de informações e trabalhos
que ela já havia feito ou colaborado na elaboração. Seria uma
espécie de biblioteca referente à Geografia piauiense, principal-
mente. Pesquisamos até que encontramos uma forma de fazer
do jeito que ela havia idealizado.
Dessa forma, por volta do ano de 2013/2014, nasceu o “Pai-
sagens: o ambiente em movimento”, um lugar virtual simples,
mas carregado de informações e publicações sobre nosso estado
e nossa cidade, até então, difíceis de serem encontrados. Tudo
organizado com muito carinho e dedicação por ela, com uma
pequena contribuição minha. Porém, sem ela, esse espaço reple-
to de conhecimento não teria como existir.
Nossas vidas, então, acabaram tomando rumos diferentes.
Acabei não fazendo o mestrado, como ela sempre me incenti-
vou, e por ter passado em um concurso, tive que mudar para o
Maranhão. Mas ainda assim, nos falamos esporadicamente. E
mesmo não tendo seguido na área, levo todos aqueles ensina-
mentos geográficos e de vida (Figura 6).

Figura 6 – Taís e
Iracilde em aula de
campo no Rio Poti
Fonte: Acervo pessoal.

80 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Conclusão
Quem conhece Iracilde jamais permanece a mesma pes-
soa. Mulher de personalidade singular e forte feito uma rocha e
por que não dizer feito um diamante lapidado? Daqueles bem
valiosos, brilhantes e resistentes. Não existe melhor elemento
para ser comparado.
Decidida, amiga, guerreira, mente inquieta, teimosa, ex-
pansiva. Poderia utilizar inúmeras palavras para descrevê-la,
mesmo parecendo exagero, mas todas elas teriam seu funda-
mento. Fundamentos baseados em fatos e acontecimentos diver-
sos. Mulher multifacetada, mineral bruto que a vida lapidou e
transformou nessa joia rara, não falo só de conhecimento geo-
gráfico e/ou acadêmico, falo também como ser humano.
Ser de luz que iluminou a vida de diversos alunos com
suas famosas aulas práticas. Ser de luz que irradia luz a todos
aqueles que têm o prazer de conhecer também, o outro lado des-
sa mulher ímpar, o lado mãe, o lado avó, esposa e o lado amiga.
E, ainda que não tenha seguido a mesma área acadêmica e
profissional, sinto uma admiração gigante, que se iniciou há
mais de dez anos, e que hoje, continua crescendo, pois acompa-
nhei de perto uma parte de sua jornada de vida e sei quanta di-
ferença a passagem da professora Iracilde pôde causar. E eu, lon-
ge ou perto, estarei sempre aqui, aplaudindo todas as suas
vitórias e conquistas, com um eterno sentimento de gratidão, e
com a certeza de que nada, nem ninguém passa em nossas vidas
por acaso.

Referências
LIMA, Iracilde M. de M. F. Paisagens: o ambiente em movimento. Disponível
em: https://iracildefelima.webnode.com/.

A construção do pensamento 81
6
IRACILDE E OS ESTUDOS
SOBRE O LITÍGIO
A construção de um discípulo

Eric de Melo Lima

Ao pueril, o exemplo
Quando uma nova matrícula é feita na universidade, surge
o compromisso para que o discente conheça todas as particula-
ridades daquele lugar. É uma experiência incrível e que, mesmo
após oito anos vagando entre os corredores da graduação e da
pós, eu posso afirmar, que não conheço tudo e que a cada dia é
possível descobrir algo novo.
A magia da universidade não se limita às suas regras ou
estrutura física. Suas histórias e os seus astros são a alma desse
lugar. Dentre os vários e saudosos mestres com quem tive a hon-
ra de aprender e conviver, a professora Iracilde se destaca como
o astro de maior luz.
Quando cheguei a graduação, demorei até compreender a
dinâmica do mundo acadêmico. Transitei entre disciplinas e pou-
cas vezes me questionava como seria a caminha no pós universi-
dade. A ideia de ser professor parecia algo tão superficial e frio,
que chego a me envergonhar de como demorei para “cair na real”.
Nas disciplinas de Geomorfologia e Hidrografia conheci a
professora Iracilde. Uma mulher com mais experiência de vida

82 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


que qualquer um em classe, mas ao mesmo tempo, com paixão
pelo ensinar. O que mais me encantava era a riqueza de detalhes
em cada explicação. Em alguns momentos ela parecia estar fa-
lando em uma língua totalmente diferente (entretanto, o que são
os termos técnicos se não palavras de outro idioma?). Mas não se
engane: havia em suas palavras, um constante esforço para al-
cançar a compreensão de todos os seus pupilos.
Tive o prazer de acompanha-la em duas monitorias na
graduação, uma em 2016 e outra em 2018. Além disso, pude fa-
zer parte de dois PIBICs, entre 2015 e 2018. Estes últimos foram
um divisor de águas para mim, pois, mais do que nunca minha
vida girou em torno da Geografia e das temáticas que pesquiso e
defendo quase que diariamente.
Minhas temáticas estão relacionadas com o estado do
Piauí, seu território e seus litígios. Apesar de ser declaradamente
uma amante da Geografia Física, a professora Iracilde nunca ig-
norou qualquer segmento da Geografia, inclusive, os estudos so-
bre território e urbanização. A exemplo disso, temos o texto “Te-
resina: urbanização e meio ambiente”, publicado em 2002, de
sua autoria. Texto este que me fascinou não apenas por sua ri-
queza de informações, mas pela forma com que foi escrito, total-
mente claro e amigável. Até hoje, o mando para meus amigos e
novos conhecidos.
Durante a disciplina de Metodologia do Ensino de Geo-
grafia, na graduação, desenvolvi um interesse de criança pela
questão do histórico litígio de terras entre os estados do Piauí e
do Ceará. Consultei todos os meus professores da graduação so-
bre a temática. O último discente com quem conversei foi a pro-
fessora Iracilde, que se admirou com meu interesse. Após algu-
mas horas de conversa, recebi alguns livros e um convite
inesquecível: fazer uma pesquisa acadêmica. Não tenho como
não me emocionar ao me lembrar daquele momento. Uma lem-

IRACILDE E OS ESTUDOS SOBRE O LITÍGIO 83


brança viva, pulsante e calorosa. Foi ali, na sua sala de estudos,
que comecei minha jornada acadêmica.
Mesmo após quase sete anos de pesquisa, o tema do litígio
continua complexo, mas avançando sempre. No começo foi mui-
to difícil para mim, pois o ritmo da professora Iracilde é muito
intenso e tudo era novo. Mas eu tinha ânimo, gás e hiperativida-
de (como ela mesmo diz). Fui pegando o jeito para a pesquisa,
aprendendo a buscar fontes e, por conta disso, avancei cada vez
mais fundo, tudo com sua ajuda.
Pode parecer bobagem, porém não me esqueço de um li-
vro de Antonino Freire, que mostrei à professora (na verdade, eu
mandei um áudio para ela às três da manhã, pois não conseguia
dormir de tão impressionado com minhas descobertas) e ela dis-
se não conhecer. Aquilo para mim não soou como uma “desqua-
lificação” da minha mestra, mas como um avanço que fiz dentro
da minha pesquisa. Minha orientadora, claro, compartilhou
desta felicidade, foi perceptível. E isso não tem preço.
Nossa caminhada pela “estrada do litígio” apresentou ce-
nários de total descaso, com desafios e algumas conquistas.
Creio que uma conquista, em especial, foi a audiência pública
que mobilizei junto a Comissão de Estudos Territoriais da As-
sembleia Legislativa do Piauí, em 2019. Durante duas semanas
tivemos a relevante atenção das emissoras de televisão, portais
de notícias, jornais impressos, programas de rádio, deputados
estaduais, federais e senadores.
O litígio entre Piauí e Ceará está sendo decidido hoje no Su-
premo Tribunal Federal e os resultados da nossa pesquisa até agora
podem ser decisivos na conclusão dessa disputa territorial. É uma
honra compartilhar desse momento com minha querida professo-
ra, em um cenário que já foi palco das contribuições de valorosos
mestres, como o professor João Gabriel Baptista (in memoriam).

84 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Minha vida acadêmica até a publicação desse texto passou
por seus olhos e por suas “canetadas”. Ora! É uma das suas prin-
cipais características, querida professora: a excelência. Excelência
essa que me atraiu e inspirou. Como forma de transformar esse
sentimento em palavras e imagens, selecionei alguns momentos
da minha caminhada sob sua maestria, que gostaria de eternizar.

A construção
Durante a graduação estive com a professora Iracilde em
quatro disciplinas, duas como aluno e duas como monitor. E em
todas elas sempre observei suas aulas com atenção. Até cheguei
a comentar que queria assistir suas aulas em outra oportunida-
de, pois sentia saudade. Por mais que sua preferência clara fosse
as aulas de campo, dentro da universidade, vi seus diversos mé-
todos de ensino.
Como não esquecer das maquetes e das aulas de pintura
de mapas? Ah, mas fiquei fascinado quando essa última propos-
ta chegou. Muitos colegas não entenderam e outros até critica-
ram. Contudo, a experiência foi incrível. Como pode algo tão
simples ser tão marcante na consolidação da aprendizagem so-
bre os aspectos ambientais do Piauí? Confesso, que foi uma difi-
culdade só pintar o Mapa Geológico do Piauí, mas, ainda assim,
ele ficou bonito.
Das belas lembranças que tenho da graduação, de poucas
tenho registro. Todavia, uma delas foi minha primeira vez na
Academia Piauiense de Letras (Figura 1), quando acompanhei a
professora Iracilde junto de outros mestres, como a professora Te-
rezinha Queiroz e o professor José Luís Lopes de Araújo, no lan-
çamento de um livro. Para mim foi um momento fascinante!

IRACILDE E OS ESTUDOS SOBRE O LITÍGIO 85


Figura 1 – Professoras Iracilde e Terezinha Queiroz e eu, na
Academia Piauiense de Letras

Fonte: Autor (2016).

Além desse evento na Academia Piauiense de Letras, eu e


a professora Iracilde participamos de outros, como seminários,
congressos, simpósios e mesas redondas. Dentre esses eventos,
destaco o Seminário de Iniciação Científica, que apresentamos
em 2018, e que formalizou o encerramento do nosso segundo e
último PIBIC (Figura 2).

86 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 2 – Eu e a professora Iracilde na apresentação do traba-
lho final do PIBIC

Fonte: Autor (2018).

O trabalho apresentado nesse seminário foi a continuação


de uma primeira etapa iniciada em 2015. Os frutos dessa pesqui-
sa se estenderam ao meu trabalho de conclusão de curso e à mi-
nha dissertação, atualmente, em produção.
Ainda durante a graduação me marcaram as aulas de cam-
po junto da professora Iracilde. Dentro de Teresina, foram inú-
meras aulas nos terraços fluviais encontrados no Parque da Ci-
dade. Já no interior, destaco o campo realizado no Parque de
Sete Cidades (Figura 4).

IRACILDE E OS ESTUDOS SOBRE O LITÍGIO 87


O campo durou um dia inteiro e foi muito intenso. A res-
peito dele, quero recordar de um episódio que até hoje faz parte
das lembranças de muitos colegas já formados: foi quando a pro-
fessora Iracilde descendo um barranco, caiu. Quando ocorreu o
acidente, todos gritamos angustiados temendo uma lesão ou
qualquer tipo de coisa ruim à nossa querida professora. A mes-
ma então se levantou, bateu a poeira da calça, apontou para fren-
te e disse: “É por aqui”.
Em 2019, entrei no mestrado e tive a felicidade de ter a
professora Iracilde, novamente como minha orientadora. Nessa
nova caminhada, seu discípulo já havia subido aos Andes, atra-
vessado o Atlântico, acessado os acervos da Torre do Tombo e
do Arquivo Ultramarino (ambos em Portugal), apenas para di-
vulgar resultados e aprofundar ainda mais a pesquisa sobre o
litígio entre Piauí e Ceará.

Figura 4 – Professora
Iracilde apresentando o
mapa das bacias hidro-
gráficas em campo
Fonte: Autor (2015).

88 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Desse período de pós-graduação, gostaria de ressaltar al-
guns momentos muito especiais que tive com a professora Ira-
cilde, como um campo no Jardim do Mulato (Figura 5), bem
menos emocionante que o campo anterior, mas repleto de co-
nhecimento e excelentes aulas a cada parada. Quero também re-
memorar, a mesa redonda com os professores Fonseca e Fene-
lón, e alguns eventos organizados com a participação de vários
discentes da UFPI, UESPI, IFPI e UEMA.
Esse campo também teve um sabor especial para mim,
pois parte da turma que estava presente no ônibus, era de gra-
duandos que pagaram a disciplina de Geomorfologia, quando
fiz meu estágio docente com a professora Iracilde. Foi uma gran-
de felicidade desfrutar desse momento, assim como foi dividir
espaço na banca de TCC, do meu querido Márcio Duque, com
minha orientadora (Figura 6). São emoções que não tenho pala-
vras para descrever, mas espero que a foto em si consiga traduzir
um pouquinho dessas sensações.

Figura 5 – Professora
Iracilde em campo no
Jardim do Mulato
Fonte: Autor (2019).

IRACILDE E OS ESTUDOS SOBRE O LITÍGIO 89


Figura 6 – Professora
Iracilde, Márcio Duque,
professor Wellington e
eu, na banca de TCC
Fonte: Autor (2019).

Vale considerar, a confiança que a professora Iracilde de-


positou em mim, bem como o peso e a responsabilidade que foi
avaliar o trabalho de um amigo de graduação e do Grupo de
Pesquisa Geomorfologia, Análise Ambiental e Educação.

Figura 7 – Professora
Iracilde e seus
orientados:
Géssica e eu
Fonte: Autor (2019).

90 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Na Figura 7, ficou o registro da professora Iracilde e seus
orientados (2019-2021) do mestrado em Geografia do PPGGEO/
UFPI, Géssica e eu, participando do Simpósio de Ensino de
Geografia, em 2019. Esse evento foi marcante pela apresentação
de uma linda homenagem para a professora Iracilde, com ima-
gens e relatos de amigos, alunos e ex-alunos. Foi uma grande
satisfação presenciar o enorme carinho que todos têm por mi-
nha querida orientadora.

Minhas considerações e agradecimentos


Nos últimos anos tive diversas situações com a professora
Iracilde que me permitem, hoje, olhar para trás e sentir orgulho
da minha caminhada, da constante construção do profissional
que me tornei, graças a excelente orientadora que tive. Suas li-
ções não se limitam apenas em palavras, mas se estendem, espe-
cialmente, aos exemplos. Exemplos de postura, de educação, de
gentileza, de comprometimento, de iniciativa, de paixão e de vi-
bração pelo que faz.
A professora Iracilde se aposentou da graduação, mas em
nenhum momento a vi se acomodar. Pelo contrário, ela está
sempre produzindo. Buscando melhorar a estrutura do seu site,
das suas produções de anos atrás, pensando em produzir even-
tos, novos artigos. Definitivamente, ela é uma mulher admirá-
vel. Uma mãe afetuosa e uma avó generosa. Ah, nos bastidores
da UFPI, a chamo de vovó Iracilde.
Assim, faço meu agradecimento especial à professora Ira-
cilde, por ser um grande exemplo e inspiração para mim en-
quanto profissional e ser humano. Espero ser um geógrafo que
represente seu legado. E para isso, pretendo continuar na traje-
tória acadêmica, assim como minha mestra (Figura 8), sempre
em busca da excelência. Obrigado, professora Iracilde.

IRACILDE E OS ESTUDOS SOBRE O LITÍGIO 91


Figura 8 – Professora Iracilde e eu, na BR-316

Fonte: Autor (2019).

Referências
LIMA, I. M. M. F. Teresina: urbanização e meio ambiente. Revista do
Instituto Camillo Filho, v. 1, n. 2, p. 181-206, 2002.

92 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


EM MEIO
À CIÊNCIA... II
7
AS INFLUÊNCIAS SUBSTANCIAIS
DE IRACILDE SOBRE OS ESTUDOS
DA MORFOGÊNESE E MORFODINÂMICA

Sidineyde Soares de Lima Costa

E
ste capítulo retrata as influências de alguém especial na
área dos estudos da Morfogênese e Morfodinâmica do en-
sino da Geografia, secção Geomorfologia. Por isso, é im-
portante enfatizar o quão feliz e honrada estou por prestar home-
nagem em nome de todos, tomados de sentimentos, na atualidade.
A Geografia, especificamente, a Geografia Física, na linha
de pesquisa geomorfológica, está presente desde a década de
1980, nas atividades de ensino da graduação. Sua capacidade de
explanar com objetividade, ou mesmo, de apresentar as formas
de relevo, sua origem e evolução in loco, é ímpar.
Aliada aos conceitos formulados por Davis (1899), De Mar-
tonne (1943), Ab’Saber (1962), Tricart (1977), Wright e Thom
(1977), Ollier (1981), Small (1986), Ross (1996), Guerra (2020), sua
atuação tornou-se incontestável como professora e pesquisadora,
permitindo assim comparar ou mesmo, fazer uma analogia entre
a Morfogênese, a Morfodinâmica e a referida pesquisadora.
Lembrando, que a Morfodinâmica constitui uma aborda-
gem conceitual voltada para a análise do conjunto de processos
interligados responsáveis pela gênese e evolução do modelado

94
(TRICART, 1977), e os processos morfodinâmicos estão ligados
às relações e transformações da morfologia e das forças hidrodi-
nâmicas ou aerodinâmicas que envolvem o movimento de sedi-
mentos (WRIGHT; THOM, 1977).
Nesta vertente, disponibilizar um paralelo entre os três
constituintes, significa dizer que a Morfogênese, a Morfodinâ-
mica e a referida professora estão interligadas, esta última, por
ser a interlocutora do conhecimento acadêmico dos dois primei-
ros citados, na instituição da qual faz parte e até mesmo fora
dela, levando sua experiência aos ares de outras instituições e a
outros pesquisadores.
A maior reverência a uma profissional exemplar, deve-se
às suas qualidades, que sem nenhum constrangimento, vale des-
tacar, o compromisso com que se dedica, e assim, trabalha, com
eficácia em prol do desenvolvimento do conhecimento científi-
co, sem medir esforços para levá-lo, não só para a comunidade
acadêmica, como também para toda a sociedade por meio de
respostas importantes que contribuam com o desenvolvimento
social, preservando os aspectos ambientais.
A professora e doutora Iracilde Maria de Moura Fé Lima
contribuiu grandemente para ampliar o conhecimento da dinâ-
mica geomorfológica desencadeada no estado do Piauí, e por
que não, da Bacia Sedimentar do Rio Parnaíba?
Como já salientado, é a partir da contextualização da
Morfogênese e da Morfodinâmica que a citada professora, apre-
senta de forma didática, e com muita técnica, a caracterização
geomorfológica do estado, elucidando a gênese das formas de
relevo, tal como, as transformações promovidas por agentes in-
ternos e externos do relevo piauiense. Desbravando terras com
energia indescritível, ou mesmo, “de alta voltagem”, promoven-
do aulas de campo (pesquisas in loco), em áreas até então estra-
nhas ao conhecimento de muitos acadêmicos.

as influências substanciais de iracilde 95


Particularmente, algumas dessas várias experiências nos
faz lembrar momentos de desbravamentos, ou melhor, de pes-
quisas de campo, desenvolvidas e acompanhadas pela ilustríssi-
ma pesquisadora.

Analogia
O estudo da Morfogênese e da Morfodinâmica é impor-
tante, pois amplia o conhecimento, e torna-se mais apreciável
quando transmitido com significância. É o que acontece durante
as aulas com a professora Iracilde.
Portanto, a Morfogênese e a Morfodinâmica, tratam dos
processos que dão forma ao relevo terrestre e suas interações
com propriedades, podendo transformar suas feições iniciais.
Semelhante tendência, verificamos na atuação de Iracilde, que é
inerente aos registros das pesquisas efetuadas por ela, e determi-
nada pelo prazer de desenvolver suas atividades.
Esta singularidade, portanto, nos permite fazer a analogia
entre Morfogênese, Morfodinâmica e Iracilde, na perspectiva de
uma equiparação, conferindo-lhe uma vitalidade, em todo o seu
percurso profissional.
Outorga-se à Iracilde, o apreço que todos têm para com
sua pessoa, ao mostrar-se sempre solidária ou parceira quando
alguém necessita. Com humildade se dedicou aos objetivos al-
mejados, superando as dificuldades traçadas na estrada da vida.

Contribuição da professora Iracilde nos estudos da Morfogênese


e Morfodinâmica para o conhecimento científico
Enfatizamos aqui, importante contribuição referente a quan-
do a professora Iracilde compôs o colegiado universitário (1975 aos
dias atuais), como profissional na Universidade Federal do Piauí
(UFPI), marcando, desta maneira, sua participação como pesquisa-

96 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


dora e colaboradora no ensino geomorfológico, com destaque para
a Morfogênese e a Morfodinâmica como objetos de estudo, princi-
palmente, em relação as formas do relevo piauiense.
A Morfogênese e a Morfodinâmica ajudam a assimilar a
evolução do processo que modela o relevo, todavia, as influên-
cias da pesquisadora contribuíram para o entendimento dessa
dinâmica no relevo piauiense, com participação direta, ou seja,
in loco, portanto, as pesquisas avançaram em direção aos domí-
nios morfodinâmicos tornando as descobertas, um resultado
primário e fundamental para a comunidade científica.
Sendo a Morfogênese o desenvolvimento da forma, a ori-
gem da ambientação geral, nas bordas da dinâmica geológica,
concernindo um embrião para as estruturas geológicas, e a Mor-
fodinâmica, resultante da dinâmica dos agentes internos e ex-
ternos do relevo, corrobora a afirmativa de que uma ação origi-
nada no interior das formas e movimentada externamente, seja
por agentes ativos ou passivos, desencadeia toda uma teia de co-
nhecimentos. Assim, podemos dizer que o conhecimento rela-
cionado às formas de relevo do estado do Piauí tem grande par-
ticipação de Iracilde, como professora e pesquisadora.
Iracilde desenvolveu um trabalho de classificação do rele-
vo piauiense, realizado entre os anos de 1982 e 1983, responden-
do a uma necessidade de análise das formas de relevo do domí-
nio semiárido do estado do Piauí. O objetivo desta classificação
está em oferecer subsídios para a compreensão das diferentes
sub-regionais do estado.
Então, Santos (2009), contribuindo ainda mais com o rol
da discussão, aponta que o tempo da Morfogênese é um tempo
relativo ao processo unicamente da natureza, que ocorre por
meio do tempo geológico. Enquanto, que o tempo da Morfodi-
nâmica, é um tempo histórico, relacionado aos usos e ocupações
do relevo pela sociedade e seus respectivos impactos.

as influências substanciais de iracilde 97


Nesta vertente, estimamos que Iracilde representa funda-
mentalmente, os estudos geomorfológicos do estado do Piauí, ao
perfazer um ciclo nos tempos, tanto da natureza quanto históri-
co, com estudos e descobertas de relevância sem precedentes.
Um percentual de produções na área da Geomorfologia é
calculado através de valores verificados no Currículo Vital – CV
(Gráfico 1), que testifica o papel fundamental das produções cien-
tíficas, representando um número de aproximadamente 118 pu-
blicações, com cerca de 64%, estando diretamente relacionado às
informações ligadas à Geografia Física. Constituem-se neste rol
de produções, artigos completos, publicados em periódicos, livros
publicados, capítulos de livros publicados, textos em jornais de
notícias, trabalhos completos publicados em anais de congressos,
resumos expandidos publicados em anais de congressos, etc.
Como consequência, a então escritora e produtora de tra-
balhos científicos, elucida cada vez mais os questionamentos
técnicos relativos ao relevo, produzindo e reproduzindo mate-
rial (informações científicas) para a sociedade.

Gráfico 1 – Produção bibliográfica: produções científicas e pu-


blicações entre os anos de 1995 e 2020

Fonte: Lima (ID Lattes: 6880418044055731).

98 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Os percentuais apresentados, só evidenciam o porquê de
uma parcela significativa de alunos procurarem a professora Ira-
cilde para serem orientados, durante as pesquisas e o desenvol-
vimento dos trabalhos científicos ligados à Geomorfologia, são
alunos graduandos, mestrandos, doutorandos e até mesmo os
do pós-doutorado.
A supremacia de trabalhos voltados para a Geografia Físi-
ca, especificamente, pode ser considerada pela influência desen-
cadeada por sua linha de pesquisa.

Importantes atitudes da professora Iracilde com os estudos


ambientais
Atuando na área de Geociências, notadamente nas áreas de
Geomorfologia, Hidrografia, Meio Ambiente e Educação, Iracilde
foi honrada com prêmios e títulos honoríficos. Com projetos de
pesquisas voltadas aos estudos socioambientais, ela disseminou res-
postas de questões relevantes à sociedade, assim como, refletiu
como espelho, a prazerosa experiência das pesquisas científicas,
causando, deste modo, uma aceitação instantânea da comunidade.
Disseminadora do conhecimento,  avaliou as condições
geoambientais com a perspectiva de elucidar a importância do
manejo e conservação dos recursos naturais de forma integrada,
ao mesmo tempo em que utilizava suas particularidades. Produ-
zir resultados faz parte de sua vida acadêmica e profissional, vá-
rios são os documentos científicos elaborados a partir de dados
concretos, ou seja, baseados em evidências científicas (Gráfico 2).

as influências substanciais de iracilde 99


Gráfico 2 – Atuação profissional: pesquisa e desenvolvimento – Geomorfologia e Meio Ambiente (projetos

100
de pesquisa)

LIMA, Iracilde

Projetos de
pesquisas

Análise Geoambiental e
Levantamento de dados Mapeamento das Áreas
Municípios de Teresina e Os terraços fluviais de
dos municípios por sub- Estudo socioambiental Degradadas na Bacia
Nazária, Piaui: formas de Teresina PI: aspectos Dinâmica do relevo da
bacia hidrográfica do rio das principais bacias Hidrográfica do Rio Poti:
relevo e ocupação e uso físicos, espaciais, porção centro-sudeste do
Parnaíba e do litoral do hidrográficas do Estado Geoprocessamento
da terra históricos e Piauí
Piauí do Piaui Aplicado ao Manejo e
socioeconômicos
Conservação dos
Recursos Naturais

Fonte: Lima (ID Lattes: 6880418044055731).

Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Através dos projetos listados no Gráfico 2, a professora co-
laborou com produções C, T & A (produção científica, tecnoló-
gica e artística), analisando as principais características físicas,
ambientais e aspectos socioeconômicos, proporcionando a am-
pliação do conhecimento e discussão da realidade piauiense jun-
to aos seus alunos, além de transferir resultados para toda a co-
munidade científica, sob a ótica de fomentar o processo de
conservação dos recursos naturais de forma integrada, fortale-
cendo, assim, a base técnica para oferecer suporte ao processo de
uso e ocupação do solo ao prever o menor impacto possível.
Embora aposentada de suas funções trabalhistas, Iracilde
não se apropriou do contexto de estar “sem função” e não se viu
jamais como uma pessoa acomodada. Ela buscou novos hori-
zontes, ou seja, na mesma instituição e função (professora e pes-
quisadora), possui seu enquadramento funcional e dá continui-
dade aos projetos de vida e também os profissionais, ali.
Ressaltamos sempre que possível sua dedicação à vida aca-
dêmica. Acerca disso, podemos afirmar que a professora Iracilde
é profundamente comprometida com o que a faz feliz na vida pro-
fissional, não deixa brechas para uma insatisfação pessoal, pois é
possível perceber em suas atitudes, o quão prazeroso é desenvol-
ver atividades acadêmicas. Para isso, ela não demonstra qualquer
tipo de fadiga. Eu a descreveria como “a mulher que não cansa”.

A presença da professora na Geografia Física da UFPI e sua


influência na carreira profissional e pessoal
Importante ênfase deve ser feita à presença da professora
Iracilde na Geografia, com tendência para o ensino das caracte-
rísticas físicas do espaço geográfico. Para tanto, ela coordenou
projetos de pesquisa e de extensão em análise ambiental. Sua con-
tribuição lhe rendeu condecorações, com destaque para a premia-
ção do livro didático Piauí: tempo e espaço. Foi também homena-

as influências substanciais de iracilde 101


geada no XVI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada
(2015). Evidentemente, que esse reconhecimento se dá pela presen-
ça e atuação na academia universitária, especificamente, na Geo-
grafia Física.
Estas premiações estão além de sua atuação na Geografia
Física, são o reconhecimento também pelas suas produções em
áreas, como: educação, produções científicas diversas, etc. Nota-
damente, todas essas premiações revelaram a composição plura-
lizada de conhecimento que a permite externar com responsabi-
lidade e compromisso sua dedicação e amor ao que faz.
Ao mencionar Iracilde, como professora e pesquisadora, é
importante reconhecê-la como uma magnitude de disponibilidade
profissional tanto quanto pessoal. Para melhor descrevê-la, cabe sa-
lientar, que vários, são os alunos que por admiração a sua pessoa,
assim como pela profissional que é, devido à competência de fazer e
transmitir conhecimento, tendem a seguir a mesma linha de traba-
lho, pois a paixão é instantânea e contempla a necessidade profis-
sional do ser.
Essa constatação evidencia-se também significativamente
às influências na vida particular, não havendo possibilidades de
separar a vida profissional da vida pessoal, já que a relação pro-
fessor/aluno é fortemente conectada, no entanto, é relevante
mencionar que esse contato nasce e se intensifica durante pro-
cesso de ensino e pesquisa, pela perspectiva que cada um cria, ao
longo de suas experiências acadêmicas.
Isso é justificado pela cumplicidade entre professor/aluno.
Iracilde como professora, ou mesmo, como pessoa, faz parte da
vida dos alunos, está sempre em contato direto com os mesmos,
seja para orientação acadêmica, seja para momentos de cordiali-
dade. Não é possível nos anseios da professora, que o aluno não
resolva suas indagações, já que a mesma tem a preocupação de
não deixar sem resposta, aqueles que a procuram.

102 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Esta constatação foi vista de forma mais expressiva pelos
que participaram da vida universitária, secção Geografia, viven-
ciadas com experiências no campo. Ilustra esta assertiva a Figu-
ra 1, que externa através de suas expressões, o quão compromis-
sada é a professora Iracilde, com o que desenvolve, além de
evidenciar a sua paixão por esse tipo de atividade.

Figura 1 – Pesquisa de campo na cidade de Nazária, para fins de


produção científica

Fonte: Sousa (2019).

Todavia, a atividade ilustrada na figura é apenas mais uma


de muitas praticadas ao longo de sua jornada. Coorientando
uma tese, a verificação in loco, direcionava-se para a descobertas
na linha de pesquisa sobre Meio Ambiente.

Conclusão
Para correlacionar a professora Iracilde aos estudos de
Morfogênese e Morfodinâmica foi necessário apenas definir
quais seriam os principais tópicos a serem discutidos, conside-

as influências substanciais de iracilde 103


rando que a quantidade tanto quanto a qualidade do ensino for-
mulado e desenvolvido pela mesma, provocavam reações tão
positivas quanto instigadoras.
Este tema tem sido bastante norteado e sua relevância
abrange todos os discentes, que de forma direta ou indireta, já
foram orientados pela referida professora, da qual sua compe-
tência pode ser classificada como ímpar no meio acadêmico, vis-
to que o grau de satisfação é demasiadamente estimulante.
Corrobora, portanto, a afirmativa dos resultados com rele-
vância para a contribuição da professora Iracilde nos estudos da
Morfogênese e Morfodinâmica que demonstra percentuais rele-
vantes de produção científica, com cerca de 64% de suas produ-
ções, direcionadas diretamente à Geografia Física. Com relação
às suas atitudes referentes aos estudos ambientais, verificamos
uma atuação bem-sucedida em projetos de pesquisa, com incen-
tivos a maiores descobertas.
Aliada a atividades acadêmica, podemos concluir, que sua
presença na Geografia Física da UFPI, propiciou e influênciou
de forma direta e indireta, a carreira profissional e pessoal dos
que a admiram.
É importante mencionar que as discussões sobre as in-
fluências substanciais de Iracilde acerca dos estudos da Morfo-
gênese e Morfodinâmica contemplou uma necessidade em um
viés acadêmico, profissional e pessoal.
É intrínseca, a correlação entre professor/aluno com since-
ra profundidade. Como é de se esperar, a manifestação particu-
lar de uma pessoa admiradora e seguidora se trata de genuína
congratulação, pelos feitos, responsáveis pela evolução acadêmi-
ca, profissional e pessoal. No sentido de disseminar a relevância
da professora e pesquisadora através da referida produção, fez-se
necessário uma abordagem acadêmica, a fim de preservar e ga-

104 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


rantir a memória e importância da homenageada em relação a
sociedade piauiense e ao público em geral.

Referências
AB’SABER, A. N. Compartimentação topográfica e domínios de
sedimentação pós-cretáceos do Brasil. 80 f. Tese (Concurso para a cadeira
de Geografia Física) – Depto. Geografia, Universidade Federal do Paraná,
Curitiba, 1962.
DAVIS, W. M. Geographical Journal of the Royal Geographical Society,
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as influências substanciais de iracilde 105


8
ANÁLISE DE FALÉSIAS NA ILHA DO
LIVRAMENTO, ALCÂNTARA (MA)

Carlos Henrique Santos da Silva

A
s costas são zonas de interface entre a terra e o mar
detentoras de paisagens de grande beleza cênica, que
podem apresentar diversificadas variações em uma
mesma área, lhe conferindo, deste modo, uma complexidade ex-
tremamente frágil (SILVA; LIMA, 2017). Portanto, os ecossiste-
mas costeiros são resultado da interação de ambientes marinhos
e terrestres caracterizados por recortes espaciais, diversidade
biológica e fragilidade ambiental, que sofrem influência tanto de
processos naturais quanto antrópicos (STROHAECKER, 2008).
Existe atualmente um grande interesse a respeito do modo
de funcionamento dos ambientes costeiros, porque eles se consti-
tuem em um laboratório natural que fornece informações relati-
vas sobre a dinâmica de oscilações do nível do mar, tanto em tem-
pos atuais como passados (AB’SABER, 2001). Desse modo, a
caracterização dos ambientes costeiros atuais e passados, seja em
termos geológicos ou geomorfológicos, fornece informações im-
portantes na reconstituição da forma de atuação de diversos even-
tos, sendo de fundamental importância, não só para a reconstitui-
ção da história, mas também, como forma de desenvolver possíveis

106
intervenções que minimizem seu impacto negativo para a socie-
dade atual e para as gerações futuras (ROSSETTI, 2008).
No estado do Maranhão, a costa apresenta uma extensão
de aproximadamente 640 km, estendendo-se no sentido Oeste-
-Leste da foz do Rio Gurupi, na divisa com o estado do Pará, até
o delta do Rio Parnaíba, no limite com o estado do Piauí. Cor-
responde ao segundo mais extenso litoral do Brasil e também da
região Nordeste.
Em função de suas características geoambientais diferencia-
das, a costa maranhense é compartimentada em Litoral Ocidental,
Golfão Maranhense e Litoral Oriental (FEITOSA; TROVÃO, 2006),
estando a área de estudo localizada no Golfão Maranhense.
Esse golfão se caracteriza como um complexo estuarino,
formado a Oeste pela Baía de São Marcos, e onde se localiza a
Ilha do Livramento, com suas falésias, no município de Alcânta-
ra, objeto desta pesquisa. A sua porção ocidental é formada pela
Baía de São José, encontrando-se entre esta e a Baía de São Mar-
cos, a Ilha do Maranhão.
No estado do Maranhão, as falésias ocorrem, principal-
mente, no Litoral Ocidental e Golfão Maranhense, moldadas a
partir do Pleistoceno, mas em particular no Holoceno, quando o
mar se posicionou próximo ao seu nível atual.
No Brasil, o termo falésia é usado indistintamente para
designar as formas do relevo litorâneo abruptas ou escarpadas
ou, ainda, os desnivelamentos de igual aspecto no interior do
continente (GUERRA; GUERRA, 2001). Assim, refere-se a uma
superfície fortemente inclinada, onde a terra se encontra com o
mar, porém as falésias costeiras apresentam uma característica
geomorfológica de primeira ordem de significância, uma vez
que ocorrem ao longo de cerca de 80% das linhas costeiras do
mundo (EMERY; KUHN, 1982).

ANÁLISE DE FALÉSIAS NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA (MA) 107


Outra definição, considera a falésia como um ressalto não
coberto pela vegetação, com declividade muito acentuada e de
alturas variáveis, encontradas na linha de contato entre a terra e
o mar. Para Christofoletti, à medida que se ampliam nessa su-
perfície, os processos erosivos comandados pelas ondas, a falésia
vai recuando para o continente formando, assim, o terraço de
abrasão. Os sedimentos erodidos são, então, transportados e de-
positados na plataforma continental, alimentando praias ou for-
mando terraços de construção marinha, como uma feição plana,
suavemente inclinada, em conjunto com o terraço de abrasão
(CHRISTOFOLETTI, 1986).
As falésias encontradas no município de Alcântara e, prin-
cipalmente, em seu território insular, possuem evolução geo-
morfológica complexa, que diversifica o número de geoformas
oriundas, especialmente, da erosão costeira. Isto, se associa ao
fato de que essa área tem chamado a atenção pela realização de
pesquisas que vêm identificando importantes vestígios do perío-
do Cretáceo. Dentre esses, encontramos fósseis vegetais e ani-
mais, além dos que se vinculam a eventos tectônicos e sedimen-
tológicos, o que possibilita ampliar o entendimento de parte do
passado geológico do Maranhão e de sua evolução. Por estes
motivos deu-se a escolha das falésias da Ilha do Livramento,
como objeto deste estudo.

Procedimentos técnico-operacionais
A metodologia adotada nesta pesquisa utilizou a aborda-
gem sistêmica, tendo em vista, que o objeto de estudo apresen-
tou uma evolução resultante da atuação simultânea de processos
que envolvem materiais e a ação sobre eles, de agentes naturais
continentais e marinhos, além da atividade antrópica, que for-
ma uma unidade temporoespacial (SILVA; LIMA, 2017).

108 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


A abordagem sistêmica nos estudos geográficos permitiu a
utilização de uma metodologia que abrange cronologia, méto-
dos quantitativos e atividades humanas, com destaque para as
relações entre as características dos elementos e as relações entre
o meio ambiente e as qualidades desses mesmos elementos. Tal
abordagem se caracteriza como holística, levando em considera-
ção, que os sistemas dinâmicos, complexos e não-lineares abor-
dam a grande diversidade dos elementos, com vários graus de
liberdade quanto ao comportamento destes (GUERRA; MAR-
ÇAL, 2006).
O trabalho iniciou-se com o levantamento de publicações
científicas e outros documentos com dados referentes à especifi-
cidade do tema em questão. A partir de então foram realizados
trabalhos de campo, para reconhecimento e análise visual das
feições e características morfológicas e geológicas, como aspec-
tos sedimentológicos, cores, textura, estrutura, além da identifi-
cação de possíveis interferências antrópicas na dinâmica costei-
ra natural, através do uso e ocupação da falésia e de seus registros
por meio de fotografias.
Procedemos também com a aplicação da ficha de campo,
que consistiu em uma importante ferramenta na padronização e
organização de informações coletadas, apoiando a sistematiza-
ção dos dados para a análise da área estudada. Esta ficha foi
compartimentada em três partes: caracterização física da área
de estudo; identificação dos processos operantes e uso e ocupa-
ção da área.

Resultados e discussões
Caracterização da área de estudo
No município de Alcântara há inúmeras falésias que têm
como base geológica, o membro Alcântara, apresentando, desta fei-
ta, níveis carbonáticos, areníticos, argilosos e margosos, que for-

ANÁLISE DE FALÉSIAS NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA (MA) 109


mam um cordão no sentido Norte-Sul (SILVA; LIMA, 2017). Tam-
bém se destacam as falésias que se localizam na área insular do
município, sendo comum, a sua presença em ilhas alcantarenses,
como no caso da Ilha do Livramento, objeto desse estudo.
A Ilha do Livramento está situada a Oeste do Golfão Ma-
ranhense, entre coordenadas geográficas: 02°25’52” de latitude
Sul e 44°25’21” de longitude Oeste (Figura 1), distando 650 me-
tros da sede municipal. O acesso a sua área pode ser feito via
marítima, tendo como ponto de partida, o Porto do Jacaré, si-
tuado na cidade de Alcântara, este trajeto tem duração de apro-
ximadamente cinco minutos. A ilha corresponde a um dos frag-
mentos da estrutura sedimentar que compreendia a região
Centro-Norte do estado do Maranhão e integra o conjunto insu-
lar circunvizinho à cidade de Alcântara (Figura 1).

Figura 1 – Mapa de localização das Falésias da Ilha do


Livramento

Fonte: USGS/NASA (2019); IBGE/IMESC (2019).

110 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


O município de Alcântara e, consequentemente, suas falé-
sias estão inseridas na bacia marginal de São Luís. Esta é uma
bacia do tipo rift, originada a partir dos esforços tectônicos que
resultaram na formação do Atlântico Equatorial. Sua sedimen-
tação data das eras Mesozoica e Cenozoica, sendo que a maior
parte da sedimentação é datada do Mesozoico, constituindo,
desta forma, as rochas da Formação Itapecuru, do Cretáceo, cor-
respondendo à terceira e última unidade sedimentar da Provín-
cia Parnaíba, recoberta por formações superficiais da Era Ceno-
zoica (BIZZI et al., 2003).
Para Rodrigues et al. (1994), litoestratigraficamente, a Bacia
de São Luís encontra-se caracterizada por três unidades princi-
pais: Formação Itapecuru (Mesozoico – Cretáceo Superior), For-
mação Barreiras (Cenozoico – Terciário – Plioceno) e Formação
Açuí (Cenozoico – Quaternário – Pleistoceno/Holoceno).
A área de estudo encontra-se na porção dessa bacia forma-
da pelo membro Alcântara, da Formação Itapecuru. Este mem-
bro se compõe de siltitos e folhelhos vermelhos, coesos, de estra-
tificação planoparalela, disposta de forma tabular em camadas
decimétricas, que intercalam alguns bancos lenticulares de cal-
cário creme-esbranquiçados.
As rochas que ocorrem no município de Alcântara e na
área das falésias da Ilha do Livramento, são descritas por Rodri-
gues et al. (1994) na seguinte posição: da base para o topo apre-
sentam litofácies de arenitos de grã fina a média, submaturos
mal selecionados, quartzosos vermelhos, com estratificação cru-
zada acanalada de grande porte; arenitos finos a médios, maci-
ços; arenitos avermelhados e esbranquiçados, grã fina a média,
com estratificação plano-paralela, e arenitos brancos a verme-
lhos com estratificação cruzada festonada.
As litofácies sílticas sobrepostas à essa primeira camada
são siltitos vermelhos de laminação plano-paralela, pelitos com

ANÁLISE DE FALÉSIAS NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA (MA) 111


estruturas wavy, linsen e climbing, calcilutitos com estratifica-
ção ondulada. A interpretação de sua gênese está relacionada
com a planície costeira, com ambientes de alta energia, como
praias, influências deltaicas e canais fluviais passando para am-
bientes de baixa a média energia e para ambientes de baías ou
golfos, com influências de maré.
As marés da área de estudo se caracterizam por uma hi-
drodinâmica regida pelo sistema de marés semidiurnas (duas
preamares e duas baixa-mares por dia lunar, com intervalos
proporcionais de cerca de 6h), com amplitude média de 4,6m.
Essas marés podem atingir até 7,2m quando das grandes sizí-
gias, sendo essa amplitude, a responsável por profundas modifi-
cações no processo de sedimentação e erosão da costa.
As ondas geradas pelos ventos são importantes agentes de
energia, pois provocam erosão e deposição, através da remobili-
zação de areia para diversas áreas do sistema praial. As correntes
litorâneas, dependendo do ângulo de incidência, conseguem
transportar grandes quantidades de sedimentos e colocá-los em
movimento pela ação das ondas, fazendo com que eles, se deslo-
quem por longas distâncias. Esses agentes exercem grande in-
fluência na dinâmica costeira e são responsáveis por modelar e
configurar as feições morfológicas (SILVA; LIMA, 2016).
Os agentes climáticos também contribuem para a evolu-
ção das falésias na Ilha do Livramento. Decorrente de sua loca-
lização, em uma região de baixa latitude, na zona costeira, e
apresentar altitudes modestas, exibe uma dinâmica climática,
resultante de diversos fatores, influenciados, principalmente,
pelas massas de ar, ventos alísios, Zona de Convergência Inter-
tropical (ZCIT), temperaturas e regime pluviométrico. Utilizan-
do a classificação de Köppen, o clima desta área enquadra-se na
categoria Aww’, ou seja, úmido tropical sem estação fria (A),
com estação seca acentuada (w), e chuvas concentradas, em es-
pecial, no outono (w’) (IMESC, 2011).

112 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Por estar próximo do Equador, o município de Alcântara e
suas falésias ostentam altas temperaturas que são amenizadas,
sobretudo, por sua proximidade com a Amazônia e o Oceano
Atlântico. A média anual de temperatura é superior a 27°C sen-
do que a partir do mês de julho, a temperatura média sofre uma
elevação gradativa até encontrar seu ápice no mês de novembro.
Nos meses seguintes, a temperatura volta a cair e o período entre
fevereiro e julho são os mais frios (SILVA; LIMA, 2016). O perío-
do de maior precipitação está situado entre janeiro e julho, com
totais pluviométricos entre 2000 e 2400 mm anuais. Entre os
meses de julho e dezembro, o nível de precipitação fica mais bai-
xo e estável (UEMA, 2002).
Os ventos predominantes na área são os alísios de NE-E. Es-
tes são importantes por contribuírem com os índices de transporte
e deposição de sedimentos e por influenciarem a intensidade das
ondas e geração das correntes litorâneas, que afetam a costa.
Com base nesses dados, inferimos que dois processos mor-
fodinâmicos influenciam a modelagem do relevo. No primeiro
semestre, predomina o intemperismo químico, que provoca pro-
cessos pluvioerosivos, onde as falésias desmoronam com maior
facilidade pelo encharcamento de água em seu interior e causam
sulcos, e por vezes, ravinamentos de sua face. No período mais
seco predomina a desagregação mecânica, que é quando o vento
transporta sedimentos da falésia, para outras áreas.

Gênese e evolução das falésias da Ilha do Livramento


As falésias presentes na Ilha do Livramento são formadas
por rochas do membro Alcântara, e modeladas durante o Pleisto-
ceno e o Holoceno, principalmente, nos últimos 6.000 anos, quan-
do o mar ficou próximo do seu nível atual. Na Ilha do Livramento
há três áreas específicas de falésias, aqui denominadas como falé-
sias I, II e III. A maior delas, ocupa o Sul da ilha (I), com 1,10 km

ANÁLISE DE FALÉSIAS NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA (MA) 113


e as outras duas a porção Nordeste (II) e Norte (III), com respec-
tivamente, 50,93 m e 74,64 m de extensão (Figuras 2 e 3). As falé-
sias apresentam ângulo de inclinação > que 60°, indicando encos-
ta íngreme, que estende-se abruptamente da base da falésia à
crista, com alturas que variam de 10 a 30 metros.

Figura 2 – Falésia I, localizada no Sul da ilha

Fonte: Pesquisa direta.

Figura 3 – Falésia II e III, localizadas no Nordeste e Norte da


ilha

Fonte: Pesquisa direta.

Os perfis das falésias na Ilha do Livramento apresentam


em sua base arenitos de cor avermelhada, de granulação fina a
média, grãos bem selecionados, com esfericidade alta e bem ar-

114 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


redondados. Estes arenitos exibem estruturas, como estratifica-
ção cruzada do tipo swaley, laminação cruzada do tipo tangen-
cial intercalada com laminação plana-paralela, laminações
planas e cruzadas sigmóidais, e clastos de arenito em matriz are-
nosa, formando lentes de conglomerados.
Ao longo do perfil das falésias, ocorrem alternâncias nos
níveis de pelitos, com algumas porções ricas em silte e areia fina.
Os pelitos apresentam variações de coloração avermelhada e es-
verdeada. Nos pelitos esverdeados, a ocorrência de lentes aver-
melhadas é muito marcante, e por esse motivo, o tom averme-
lhado é bem mais acentuado. Esses pelitos manifestam a presença
de palygorskita, que ocorre em algumas porções do perfil, na
forma de acumulações esbranquiçadas (AMORIM, 2010).
Quanto a dinâmica marinha, constatamos que os agentes
oceanográficos são os principais responsáveis pelo solapamento
na base das falésias, formando, deste modo, as caneluras. Estas
vão se aprofundando, até o colapso da face da falésia por efeito da
gravidade. Ocorrem deslizamentos e queda de blocos, que são
posteriormente remodelados e deslocados pelas ondas, marés e
correntes. Decorrente da insolação e dos sais componentes do
mar, alguns materiais sofrem processos químicos de oxi-redução,
que os torna endurecidos, e compõem o terraço de abrasão.
Assim, o terraço de abrasão nas falésias da Ilha do Livra-
mento, formados pelos sedimentos erodidos da falésia podem
ser compartimentados em três tipos: o primeiro mostra material
solto, constituído por grandes matacões de arenitos ferrugino-
sos. O segundo apresenta uma laje, formada por um material
mais consistente, composto por um imenso lajedo. Consequente
dos processos oceanográficos, este manifesta várias marmitas
com tamanhos e profundidade variadas. Identificamos ainda
um terceiro tipo de terraço de abrasão na falésia I, o qual foi
caracterizado como misto, com presença de laje e material solto

ANÁLISE DE FALÉSIAS NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA (MA) 115


(Figura 4). Notamos, portanto, que nas falésias II e III, não foi
constatado presença de terraço de abrasão.

Figura 4 – Composição do terraço de abrasão

Fonte: Pesquisa direta.

A abrasão marinha provocada pelas ondas, solapa a base da


falésia I, formando, assim, uma caverna marinha, com 89 cm de
altura e 7,5 m de comprimento, fato raro no Golfão Maranhense,
já que a constituição do membro Alcântara, que a forma, é de ori-
gem sedimentar e altamente suscetível à erosão (Figura 5).

116 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 5 – Caverna marinha

Fonte: Pesquisa direta.

O clima local, também, influencia os tipos e a intensidade


dos processos que aí ocorrem. Assim, destacamos que as médias
das precipitações pluviométricas anuais são condicionantes para
o predomínio de processos subaéreos na face da falésia. Estes
ocorrem, principalmente, no período em que se concentram as
precipitações pluviométricas que favorecem o desencadeamento
de processos erosivos de maior intensidade, e o consequente sur-
gimento de sulcos na face da falésia.
Quanto ao uso e ocupação da área, percebemos que a ocu-
pação humana próxima às falésias da Ilha do Livramento ainda
é insipiente. A ausência de residências, casas de veraneio e pou-
sadas, bares e outros empreendimentos, dispostos na base ou
sopé, e no topo da falésia, associada a significativas porções de
áreas com cobertura vegetal, apontam para uma relativa prote-
ção dos agentes erosivos mais intensos, retardando os processos
comandados por agentes climáticos.

ANÁLISE DE FALÉSIAS NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA (MA) 117


Pelas observações realizadas in situ, por ocasião de trabalhos
de campo na área, asseveramos que a falésias da Ilha do Livramento
encontram-se em uma fase de tendência erosiva e de retrogradação
de sua linha de costa, relacionada, principalmente, ao trabalho dos
agentes oceanográficos que contribuem para sua evolução.

Conclusões
As falésias presentes na Ilha do Livramento são feições geo-
morfológicas que apresentam características singulares, refletin-
do, desta maneira, a evolução do ambiente em que estão inseridas,
como a dinamicidade dos períodos climáticos e das alternâncias
do nível do mar, no decorrer dos períodos geológicos mais recen-
tes, registradas na alternância de camadas sedimentares e estrati-
ficação expostas na sua face voltada para o mar. Estas falésias en-
contram-se, assim, em uma faixa da costa maranhense que pode
ser encarada como laboratório natural, incitando experiências e
descobertas, como os que encontramos a partir deste estudo.
A falésia é dominada por processos costeiros, principal-
mente, porque as ondas, correntes e marés atingem a base da
falésia, ocasionando desmoronamentos que influenciam o ritmo
de sua regressão e, consequentemente, a retrogradação da linha
da costa local.
Observamos também que a presença na faixa de praia de
arenitos ferruginosos e lajes, que formam o terraço de abrasão,
atuam como uma importante proteção natural à evolução da falé-
sia, contribuindo para a dissipação da energia das ondas mari-
nhas incidentes. Porém, a ausência de terraço de abrasão em algu-
mas falésias, constituiu um fator que cooperou para que a falésia
recuasse mais rapidamente, ao provocar a desestabilização de sua
face. Assim, a redução desse uso, bem como a ausência de ocupa-
ção humana no seu topo, certamente está contribuindo para re-
tardar, pelo menos em parte, o ritmo da evolução dessas falésias.

118 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Agradecimento
À prof. Dra. Iracilde Maria de Moura Fé Lima, minha eter-
na orientadora, que com garra e esforço muito contribuiu nos
meus estudos sobre a geomorfologia costeira, aprendemos juntos
a compreender os processos e mecanismos que regem a zona cos-
teira e como estes se inserem nos estudos geográficos. Este artigo
é dedicado a você, pois assim como uma falésia marinha que está
em constante evolução, você está sempre em busca de conheci-
mento e compreensão da Terra, objeto maior da Geografia.

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ANÁLISE DE FALÉSIAS NA ILHA DO LIVRAMENTO, ALCÂNTARA (MA) 119


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120 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


9
ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA,
GRANULOMÉTRICA E QUÍMICA DAS
CAMADAS DE MASSARÁ NA REGIÃO
SUL DE TERESINA-PI:1
Descobertas e percepções da paisagem com
a Mestra Iracilde Maria de Moura Fé Lima
Bartira Araújo da Silva Viana

E
m Teresina, as coberturas superficiais que repousam di-
retamente sobre o substrato rochoso, principalmente, da
Formação Pedra de Fogo, a exemplo do “massará”, são
resultantes da alteração e desagregação das rochas, especial-
mente, o arenito caulínico, que compõe essa formação.
Esses recursos minerais são semelhantes aos depósitos alu-
viais dos terraços do baixo Poti em Teresina, devido à presença de
seixos de quartzo, que são usados em larga escala na construção
civil em razão das suas características físicas. Dessa forma, a pes-
quisa se desenvolveu a partir do seguinte questionamento: Como
se caracterizam as diferentes camadas onde ocorre o massará,
quanto aos aspectos estratigráficos, físicos e químicos?
A hipótese inicial deste trabalho considerava a ocorrência
do massará em áreas de terraços fluviais, em virtude das seme-
lhanças, tanto nos aspectos estratigráficos quanto na composi-

1 Este texto apresenta alguns resultados da tese defendida em 2013, na UFMG (VI-
ANA, 2013), e que foram apresentados no XVI Simpósio Brasileiro de Geografia
Física Aplicada (SBGFA) realizado em Teresina (PI) no período de 28 de junho e 04
de julho de 2015 (VIANA et al., 2015).

121
ção dos materiais e na existência de areia e cascalho. No entanto,
com base em discussões com a orientadora e com Iracilde Maria
de Mouta Fé Lima, assim como ao comparar os mapas de hipso-
metria com o de coberturas superficiais, e a partir das análises
químicas, comprovamos que, devido à presença de materiais
mais resistentes nos topos do relevo, os mesmos foram preserva-
dos na paisagem. Os processos intempéricos contribuem para o
carreamento do material fino, porém, os seixos resistem e difi-
cultam o dessecamento da paisagem.
Dessa maneira, este artigo objetivou caracterizar as cama-
das onde ocorre o massará quanto aos seus aspectos estratigráfi-
cos, físicos e químicos, enfocando sua gênese e espacialização na
cidade de Teresina e adjacências, destacando o perfil estratigrá-
fico localizado nos bairros Santo Antônio/Bela Vista, localiza-
dos na região Sul.

Metodologia do trabalho
Os trabalhos de campo foram realizados para observar-
mos e fotografarmos paisagens com presença de diferentes ca-
madas de massará, assim como para coletarmos amostras, vi-
sando as análises físicas e químicas em laboratório. Os
procedimentos metodológicos para a análise física (Dispersão
Total) foram baseados nas normas da Embrapa (1997), sendo
que esta análise foi realizada no Laboratório de Geomorfologia
do IGC/UFMG. O georreferenciamento do perfil estratigráfico
localizado nos bairros Santo Antônio/Bela Vista, na região Sul
(Figura 1), foi realizado com auxílio do GPS.

122 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 1 – Imagem de satélite adaptada, que mostra o perfil topo-
gráfico do vale do Rio Poti, localizando o perfil estratigráfico dos
bairros Santo Antônio/Bela Vista, na região Sul de Teresina (PI)

Fonte: Google Earth (2012). Organização: Bartira A. da S. Viana. Adaptado por: Carla Vieira
(2012). In: Viana (2013).

Também utilizamos para obtenção de resultados, a difra-


tometria de raios-x (DRX) nas amostras de massará, objetivan-
do a realização das análises químicas da pesquisa, que ocorreu
no Centro de Desenvolvimento da Tecnologia Nuclear (CTDN),
localizado no Campus da UFMG, em Belo Horizonte (MG).
Estratigrafia e análise granulométrica das camadas de
massará e seixos em Teresina (PI)
Na cidade de Teresina, ocorrem em alguns trechos cober-
turas superficiais em relevo do tipo tabular, sobre a Formação

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA, GRANULOMÉTRICA E QUÍMICA DAS CAMADAS 123


Pedra de Fogo, de idade Permiana, e, em outros, sobre a Forma-
ção Piauí, do Carbonífero, em altitudes que variam cerca de 70 a
120 metros. Essas coberturas formam os topos de elevações resi-
duais no espaço urbano de Teresina-PI (margem direita do Par-
naíba) e de Timon-MA (margem esquerda do Parnaíba).
As coberturas superficiais que repousam diretamente sobre
o substrato rochoso, principalmente, da Formação Pedra de Fogo,
a exemplo do “massará”, são resultantes da alteração e desagrega-
ção das rochas, especialmente, o arenito caulínico, que compõe
essa formação. Esses recursos minerais são semelhantes aos depó-
sitos aluviais dos terraços do baixo Poti em Teresina, devido à pre-
sença de seixos de quartzo. Estas coberturas, no entanto, são re-
sultantes da decomposição in situ das rochas (Figura 2).

Figura 2 – Fotografias de vista panorâmica da área extrativa de


massará/seixos no Bairro Bela Vista, região Sul de Teresina (PI)

A: Porções de rocha em camadas onde ocorre o massará. B: Vista panorâmica de área extrativa
de massará/seixos no Bairro São Lourenço, com destaque para o depósito de minerais.
Fonte: Viana (2012). In: Viana (2013).

124 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Enquanto os depósitos de cascalhos e areia, que consti-
tuem os terraços fluviais de Teresina, situam-se dentro e nas
proximidades da cidade, em pequena quantidade e em área limi-
tante, integrando importantes reservas de minerais primários, o
massará resulta da atuação dos agentes intempéricos em rochas
da bacia sedimentar do Parnaíba, ocorrendo, deste modo, em
diversos bairros de Teresina, assim como na franja urbana e na
cidade de Timon (MA). Isto lhe confere características específi-
cas e de importância econômica, pois é utilizado como material
para construção civil, juntamente com os seixos que ocorrem na
matriz conglomerática.
O “massará”, que é um material coeso e formado por ca-
madas de seixos em uma matriz areno-argilosa, junto com o
material de granulometria mais fina encontrado nas camadas
superiores, permanece, pois, até os dias atuais, como material
estratificado em acamamentos, os quais já sofreram litificação
(diagênese) e são continuamente dissecados por processos erosi-
vos, principalmente, por águas pluviais.
Faz-se importante frisar que, nos níveis conglomeráticos,
a matriz é o mesmo arenito caulínico, extremamente friável, po-
rém, com seixos mal selecionados, onde os clastos menores de
0,5 cm são, em sua maioria, angulosos; enquanto os seixos maio-
res são, quase sempre, bem arredondados. Correia Filho e Moita
(1997, p. 18-19), ao discorrerem sobre o massará, confirmam que
a origem fluvial dos sedimentos presentes na Formação Pedra de
Fogo construiu-se no momento da formação da bacia sedimen-
tar. Segundo esses autores:
A matriz apresenta grãos tanto angulosos
como arredondados, aparentemente sem clas-
se modal predominante, comumente com lei-
tos conglomeráticos, cimento sílico-caulínico,
[...], conferindo-lhe suas propriedades ligan-
tes. [...] É tipicamente de origem fluvial forma-
do em ambiente de alta energia, como de-

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA, GRANULOMÉTRICA E QUÍMICA DAS CAMADAS 125


monstra a natureza clástica e estruturas
sedimentares. A fonte tem estreita ligação com
rochas da formação Pedra de Fogo, que sugere
ser a grande fornecedora de material aportado
na bacia de deposição, inclusive com a contri-
buição dos clastos (grifos nossos).

Ao analisar o perfil estratigráfico localizado no Bairro


Santo Antônio/Bela Vista (Figura 3), que aflora em antigo corte
de frente de lavra a céu aberto, com cerca de 20 metros de altura,
observamos um processo deposicional com massará amarelado
com matriz areno-argilosa, grosseira, com caulim na base do
perfil. Em seguida, ocorre uma camada com argila cinza bastan-
te plástica, com cerca de 1 metro de espessura. Na sequência, o
massará se apresenta com textura arenosa, com tonalidade mar-
rom-avermelhada friável e conglomerática.
Sobre esta se encontra outra camada de massará com ma-
triz de tonalidade ocre arenosa e também conglomerática (sei-
xos de quartzo). A seguir, aparece uma camada de massará com
matriz arenosa cinza-clara, média a grosseira e, por último, um
acréscimo de um sedimento areno-argiloso de tonalidade amar-
ronzada e cimento argiloso conhecido como “barro”.
No topo do pacote, ocorre uma camada escura com influên-
cia orgânica com cerca 1 metro de espessura e presença de vegeta-
ção de pequeno porte, gramínea. Assim sendo, podemos compro-
var, pela diferença de cores, e, pela análise granulométrica, a
alternância entre camadas finas e grosseiras, de coloração variada.

126 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Figura 3 – Perfil estratigráfico dos níveis deposicionais de cober-
turas superficiais, com destaque para as camadas de massará nos
bairros Santo Antônio/Bela Vista, na região Sul de Teresina (PI)

Fonte: Viana (2013). Viana et al. (2015).

A partir das análises de laboratório, detectamos que os de-


pósitos de “massará” presentes no perfil estratigráfico localizado
nos bairros Santo Antônio/Bela Vista são constituídos, essen-
cialmente, por areia quartzosa, de granulometria média. Os
grãos de quartzo são, em sua maioria, transparentes, porém,
existem alguns de aparência leitosa. A fração argilosa, cauliníti-

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA, GRANULOMÉTRICA E QUÍMICA DAS CAMADAS 127


ca, nas diferentes camadas com presença de massará, aparece
variando de 4% a 9% na distribuição granulométrica das amos-
tras analisadas (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Análise granulométrica das amostras coletadas em


diferentes camadas do perfil estratigráfico localizado nos bair-
ros Santo Antônio/Bela Vista, região Sul de Teresina (PI)

Fonte: Viana (2013).

A análise granulométrica dos materiais pode estabelecer


indicadores que auxiliam na interpretação de processos associa-
dos à dinâmica da evolução da paisagem. Entretanto, esses pro-
cessos podem estar associados tanto àqueles de natureza sedi-
mentológica, derivada de suas condições deposicionais, quanto
à sua evolução pedológica.
Observamos, no perfil estratigráfico dos bairros Santo
Antonio/Bela Vista, que haviam lentes de areia entre os níveis de
seixos pelo tato mais arenoso, sendo tal fato comprovado, visto
que há mais de 89% de fração de areia, no total granulométrico
das amostras. Dessa forma, com os valores obtidos, constatamos

128 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


que o massará possui um baixo índice de plasticidade. Os sais
hidratados ocorrem de forma insignificante, determinando, as-
sim, baixa salinidade do massará, além de reduzida capacidade
de troca de cátions.
A análise das amostras dos perfis estudados (bairros Bela
Vista/Santo Antônio e Santa Maria da Codipi) demonstra que a dis-
tribuição granulométrica, apesar de variar entre as camadas, apare-
ce com padrões de distribuição semelhantes. Em termos gerais, nas
camadas com presença de massará, predomina a textura arenosa e
a pequena proporção de argila. As amostras com maior teor de ar-
gila pertencem às camadas nas quais ocorrem o “barro”.
Notamos na pesquisa, que as camadas com ocorrência de
massará são identificadas em vários pontos do entorno da cida-
de, em topos de baixos planaltos. Estes, em algumas áreas, for-
mam divisores topográficos de dois grandes rios que passam no
espaço teresinense, em cotas altiméricas que ultrapassam os
100m, o que, na maioria das vezes, fica bem longe das atuais
planícies e terraços fluviais desses rios. No perfil estratigráfico
localizado nos bairros Bela Vista/Santo Antônio, o nível de alti-
tude registrado foi de 112 m (rever Figura 1).
Também foram constatadas porções de rochas sedimenta-
res (rever Figura 2), que passam por processos de intemperiza-
ção em camadas sedimentares, presentes em áreas extrativas de
massará, a exemplo do Bairro Bela Vista. Esse sedimento confi-
gura-se, então, como manto de alteração, segurando as colinas
mais altas.
Ficou bastante nítido que estes depósitos não são resultado
da dinâmica fluvial atual, pois, apesar do selecionamento das
partículas, com acréscimo gradual de argila em direção ao topo
e do grau de arredondamento dos seixos, os rios Poti e Parnaíba,
atualmente, não têm capacidade de carreamento para depositar
sedimentos nas cotas altimétricas dos perfis estudados.

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA, GRANULOMÉTRICA E QUÍMICA DAS CAMADAS 129


Análises químicas dos sedimentos presentes nas camadas
de massará em Teresina (PI)
A difratometria de raios-x (DRX) nas amostras da fração
de areia, coletadas em diferentes camadas com presença de mas-
sará (AM 01, AM 02, AM 03 e 05), no perfil estratigráfico locali-
zado nos bairros Santo Antônio/Bela Vista, na região Sul de Te-
resina, indicou que um dos principais minerais constituintes da
areia é o quartzo (SiO2) com valores (> 98%). De acordo com
Fontes (1996), o quartzo é o elemento mais frequente na nature-
za, pois é mais duro, resistente e estável quimicamente. Nessas
amostras, foram diagnosticados picos reduzidos de caulinita
(Al2Si2O5(OH)4) no DRX (< 1%) (Quadro 1).

Quadro 1 – Minerais detectados na fração de areia das amostras


coletadas no perfil estratigráfico localizado nos bairros Santo
Antônio/Bela Vista, região Sul de Teresina (PI)

Mineral identificado
Amos-
Características Predomi-
tra Minoritário
nante
(< 1%)
(> 98%)
Massará com matriz arenosa cinza-
AM 01 Quartzo Caulinita
-clara, de média a grosseira
Massará com matriz de tonalidade
AM 02 ocre arenosa e conglomerática (pre- Quartzo Caulinita
sença de seixos)
Massará arenoso, grosseiro,
AM 03 marrom-avermelhado, friável e con- Quartzo -
glomerático

AM 04 Argila cinza bastante plástica Quartzo Magnetita

Massará amarelado com matriz are-


AM 05 Quartzo -
no-argilosa, grosseira, com caulim

Fonte: Viana (2013).

130 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Verificamos, assim, que as amostras analisadas apresen-
tam um teor altíssimo de sílica, com valores acima de 98% nas
porções de massará, caracterizando este material, como um ma-
terial extremamente arenoso (Gráfico 2). Na camada com pre-
sença de argila cinza bastante plástica (AM 04), além do quart-
zo, o difratograma de raios-x, identificou a magnetita (Fe3O4),
mineral magnético associado às rochas magmáticas.

Gráfico 2 – Teores de SiO2 na fração de areia das amostras cole-


tadas no perfil estratigráfico localizado nos bairros Santo Antô-
nio/Bela Vista, região Sul de Teresina (PI)

Fonte: Viana (2013).

A hematita não foi identificada pela difratometria de raios-


-x, porém, a coloração do massará e a presença de Fe2O3, constata-
das na análise química, indicaram a presença desse mineral (Grá-
fico 3). Devemos mencionar, que as hematitas em sedimentos são,
em sua maioria, de origem diagenética (MELO; ALLEONI, 2009).
Já os outros elementos detectados nas análises químicas aparecem
sob a forma de traços e/ou possível ocorrência (Gráfico 4).

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA, GRANULOMÉTRICA E QUÍMICA DAS CAMADAS 131


Gráfico 3 – Teores de Al2O3, Fe2O3 e Na 2O, na fração de areia das
amostras coletadas no perfil estratigráfico localizado nos bair-
ros Santo Antônio/Bela Vista, região Sul de Teresina (PI)

Fonte: Viana (2013).

Gráfico 4 – Teores de SO3, K 2O, CaO,, TiO2, BaO e P2O5, na fra-


ção de areia das amostras coletadas no perfil estratigráfico loca-
lizado nos bairros Santo Antônio/Bela Vista, região Sul de Tere-
sina (PI)

Fonte: Viana (2013).

O estudo em questão permitiu detectarmos, que as análi-


ses químicas e mineralógicas (argila e areia) não indicaram o
que traz as características ligantes, mas a análise estatística mos-
trou claramente, a separação do massará das outras camadas
associadas à presença de alguns elementos. Assim sendo, quan-

132 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


do consideramos os elementos químicos maiores, não há nenhu-
ma diferença significativa entre as camadas de massará e as ou-
tras, sem propriedades ligantes. Isto posto, não foram
identificados elementos maiores influenciando a liga do massa-
rá, não sendo possível, nesta pesquisa, ver, em termos de tendên-
cia, o que determina a liga.
Existe uma hipótese de atuação da sílica amorfa, que pode
atuar como agente cimentante, dando ao massará sua proprie-
dade ligante. No entanto, como as análises realizadas não per-
mitiram identificar o que dá ao massará essa característica, exis-
te a necessidade de estudos posteriores, que visem à identificação
dos fatores e dos elementos que determinam a capacidade de liga
do massará, que ocorre em Teresina e em seus arredores.

Considerações finais
Em Teresina, na porção central, principalmente, nos limi-
tes Sul e Norte, na franja urbana da cidade, assim como em Ti-
mon (MA), as coberturas superficiais, que constituem o massa-
rá, capeiam topos de baixos planaltos, sob solos incipientes,
visíveis em áreas de exploração mineral. Essas áreas compõem-
-se de sedimentos grosseiros, em uma matriz fina areno-argilo-
sa, com linhas de seixos bem definidas em alguns desses topos,
constituindo, deste modo, importantes reservas de minerais pri-
mários, que, atualmente, são utilizados de forma intensa como
matéria-prima na construção civil.
A análise das amostras do perfil dos bairros Santo Antô-
nio/Bela Vista demonstra que nas camadas com presença de
massará, predomina a textura arenosa e a pequena proporção de
argila. As amostras com maior teor de argila pertencem às ca-
madas nas quais ocorrem o “barro”.
Ficou nítido nesta pesquisa, que os depósitos encontrados
em Teresina, não são resultado da dinâmica fluvial atual, pois,

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA, GRANULOMÉTRICA E QUÍMICA DAS CAMADAS 133


apesar do selecionamento das partículas, com acréscimo gra-
dual de argila em direção ao topo e do grau de arredondamento
dos seixos, os rios Poti e Parnaíba, não têm capacidade de car-
reamento para depositar sedimentos nas cotas altimétricas do
perfil estudado.
Os resultados das análises física, química e mineralógicas
da pesquisa, com as contribuições e conhecimentos científicos
da minha orientadora, assim como da professora Iracilde Maria
de Moura Fé Lima, permitiu-me refutar a hipótese de que o ma-
terial fosse decorrente de deposição atual, pois, as pesquisas
mostraram que está ocorrendo a alteração in situ das rochas da
bacia sedimentar do Parnaíba, cujo ambiente de sedimentação é
fluvial, ou seja, as coberturas são resultantes da evolução intem-
périca e da dissecação do relevo, sendo que sua ocorrência, em
camadas diferenciadas do resto do material, está relacionada
com a deposição diferencial no Paleozoico.

Agradecimentos
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia do IGC/
UFMG/Projeto de Doutorado Interinstitucional (DINTER-U-
FPI/UFMG), à minha orientadora, a Profa. Dra. Cristiane Valé-
ria de Oliveira, à a Profa. Dra. Iracilde Maria de Mouta Fé Lima
pelas preciosas contribuições na construção da minha tese, à
Carla Iamara de Passos Vieira, pelo geoprocessamento dos ma-
pas, ao senhor Walter Brito (geólogo da CTDN) e aos demais
colaboradores da pesquisa, como os professores Dr. Gustavo
Souza Valladares, Dra. Vilma Lúcia Macagnan Carvalho, o Dr.
Roberto Célio Valadão, Dr. José Luís Lopes de Araújo, Me. José
Ferreira Mota Junior (In memorian), assim como os demais co-
legas professores da UFPI que contribuíram com a construção
da tese. (Fotografia 1).

134 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Fotografia 1 – Lembranças do doutorado na UFMG (Belo
Horizonte-MG)

Fonte: Araújo (2010).

Referências
CORREIA FILHO, Francisco Lages; MOITA, José Henrique A. Projeto
Avaliação de Depósitos Minerais para Construção Civil PI/MA. v. 2.
Teresina: CPRM, 1997.
EMBRAPA. Manual de métodos de análise de solo. 2. ed. rev. atual. Rio de
Janeiro: Centro Nacional de Pesquisa de Solos, 1997.
FONTES, Maurício Paulo Ferreira. Introdução ao estudo de minerais e
rochas. Viçosa, MG: Ed. da Universidade Federal de Viçosa, 1996.
MELO, Vander de F. M.; ALLEONI, Luís R. F. (ed.). Química e mineralogia
do solo: parte I – conceitos básicos. Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de
Ciência do Solo, 2009.
VIANA, Bartira Araújo da Silva. Caracterização estratigráfica, química e
mineralógicas do massará e conflitos socioambientais associados a sua
exploração em Teresina, PI, Brasil. 2013. Tese (Doutorado) – Programa de
Pós-Doutorado em Geociências, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2013.

ANÁLISE ESTRATIGRÁFICA, GRANULOMÉTRICA E QUÍMICA DAS CAMADAS 135


VIANA, Bartira Araújo da Silva; OLIVEIRA, Cristiane Valéria de; LIMA,
Iracilde Maria de Moura Fé; VIEIRA, Carla Iamara de Passos. In: SIMPÓSIO
BRASILEIRO DE GEOGRAFIA FÍSICA APLICADA (SBGFA), 26., 2015,
Teresina, Piauí. Resumo expandido. Teresina, Piauí: UFPI, 2015.

136 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


10
ESTUDOS SOBRE GEODIVERSIDADE,
GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO
COMPARTILHADOS COM A PROFESSORA
IRACILDE MARIA DE MOURA FÉ LIMA
Relato de experiência e parceria
Brenda Rafaele Viana da Silva

P
arafraseando Ferreira (2010), homenagem é uma  pala-
vra que define retribuição de honra, agradecimento, tor-
nar público com um ato de  gratidão,  algum favor que
foi prestado por alguém, ou agradecimento por  mérito  à uma
atividade reconhecida como de grande valor, a partir de um
julgamento moral.
Neste sentido, homenagear a contribuição da professora
Iracilde Maria de Moura Fé Lima em quaisquer que sejam as
áreas ou temáticas é um papel desafiador, e ao mesmo tempo, de
muita honra e gratidão. O território do Piauí só teve a ganhar
com as inúmeras contribuições da ilustríssima professora, uma
vez que sua importância permeia diversos assuntos, áreas de
atuação, tempos históricos e tipos de conhecimentos, em função
da sua rica trajetória até aqui.
Sendo assim, uma das áreas em que a professora Iracilde
atua de forma mais recente, e que cada vez mais se aprofunda, é
o que concerne a orientação de alunos em diferentes âmbitos, na
elaboração de trabalhos científicos e organização de eventos.
Este interesse se constituiu, sobretudo, acerca dos estudos sobre
a Geodiversidade, o Geoturismo e a Geoconservação de modo

137
geral, com uma importância imprescindível para o entendimen-
to e prática da conservação abiótica do Piauí.
O conceito de conservação da natureza passou a evoluir ao
longo dos tempos, apesar de, muitas vezes, ser interpretado
como sinônimo da conservação da biodiversidade, ignorando,
deste modo, que a natureza também comporta a parte abiótica
que constitui o suporte/substrato físico-natural, sobre o qual se
desenvolve toda a atividade orgânica (ARAÚJO, 2005).
Grande parte dos estudos da Geodiversidade estão volta-
dos para a preservação e conservação dos elementos abióticos do
planeta. No entanto, para preservarmos ou conservarmos, é ne-
cessário conhecer os recursos naturais existentes em uma dada
porção do espaço. A valorização desses elementos para a socie-
dade é um caminho a ser alcançado, no intuito de garantir a
preservação de alguns exemplares para as presentes e futuras
gerações. Tal valorização pode estar relacionada ao papel atri-
buído à Geodiversidade, no cenário de uso e ocupação territorial
de uma região (LAVOR, 2016), juntamente com o entendimento
de outros termos que surgiram, como o Geoturismo, a Geocon-
servação e o Geopatrimônio, que se somam, no sentido de inte-
grar a proteção abiótica das paisagens.
A partir deste contexto, o objetivo do presente trabalho se
constituiu em apresentar um breve relato de experiência no to-
cante à contribuição da professora Iracilde Maria de Moura Fé
Lima, quanto aos principais estudos sobre Geodiversidade, Geo-
turismo e Geoconservação, no que diz respeito às parcerias que
realizamos juntas na sua elaboração e os aprendizados que ad-
quirimos, bem como destacar a importância de tais temáticas.
Na metodologia empregada para a materialização deste es-
tudo utilizamos a pesquisa bibliográfica com vistas ao estabele-
cimento de fundamentação teórica, mesmo que breve, pesquisa
de campo, assim como o resgaste e aprofundamento de memó-

138 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


rias e recordações sobre os momentos que pude vivenciar e
aprender com a referida homenageada. A seleção dos estudos
apresentados se deu pelo critério com base na autoria principal,
ou seja, aqueles onde nós duas fomos autoras principais dos tra-
balhos, pois a professora Iracilde contribuiu em outros traba-
lhos sobre a temática em foco, com outros autores.
Evidenciamos, que o padrão linguístico utilizado no refe-
rido trabalho, alterna-se em científico (ao se tratar das temáticas
dos estudos em questão) e coloquial (no que diz respeito ao rela-
to de experiência e momentos vivenciados com a professora Ira-
cilde), sendo assim, houve uma mescla de informações acadêmi-
cas e afetivas/emocionais.

Estudos sobre Geodiversidade, Geoturismo e


Geoconservação: conceitos e relevância
A utilização do termo Geodiversidade é relativamente re-
cente, segundo Medeiros e Oliveira (2011), a primeira vez que
este conceito apareceu na literatura foi na década de 1940, em
textos do geógrafo argentino Frederico Alberto Daus, porém,
como afirmam Meira e Moraes (2016), a lógica abordada difere
da principal corrente teórica atual. De acordo com Covello
(2011), a partir de 1990, o termo Geodiversidade se consolidou,
em especial, nos últimos anos dessa década, sendo aplicado,
principalmente, nos estudos de Geoconservação, voltados à pre-
servação do patrimônio natural, tais como: geoparques, monu-
mentos geológicos, paisagens naturais, entre outros.
Sharples (2002, p. 60) foi um dos primeiros autores a atri-
buir uma definição completa para Geodiversidade, definindo
como: “A diversidade de características, assembleias, sistemas e
processos geológicos (substratos), geomorfológicos (formas da
paisagem) e do solo”. Koslowski (2004) afirma que, a Geodiver-
sidade é a variedade natural da superfície da Terra, em seus as-

ESTUDOS SOBRE GEODIVERSIDADE, GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO 139


pectos geológicos, geomorfológicos, de solo e águas superficiais
(nascentes, pântanos, lagos e rios), bem como outros sistemas
resultantes de processos naturais ou atividades humanas. Para
Gray (2004), a Geodiversidade é definida como a variedade ou
diversidade natural de feições ou elementos geológicos (rochas,
minerais e fósseis), geomorfológicos (formas de relevo ou pro-
cessos ativos) e de solo, incluindo suas associações, relações,
propriedades, interpretações e sistemas.
Com o objetivo de fundamentar a necessidade de conser-
vação e proteção da Geodiversidade, muitos autores tentaram
evidenciar os seus valores e interesses. Gray (2004), por exem-
plo, foi um dos primeiros autores a classificar os valores atribuí-
dos à Geodiversidade, em seu livro, intitulado Geodiversity:
valuing and conserving abiotic nature. Classificação esta bem
difundida entre os trabalhos acadêmicos que abordam a presen-
te temática.
Ao considerarmos sua proposta, discriminamos como va-
lores da Geodiversidade: intrínseco, cultural, estético, econômi-
co, funcional e científico/educativo, subdivididos em trinta e
dois subvalores, embora, demais autores também façam uso
desses termos.
Há muito tempo, as pessoas se deslocam para visitar ma-
ravilhas geológicas e geomorfológicas. No entanto, apenas nas
últimas décadas do século XX, é que verificamos uma real apos-
ta neste setor específico, com a divulgação da Geoconservação.
Neste contexto, o Geoturismo desenvolveu-se por todo o mundo
nos primeiros anos do século XXI, e deve se assentar nos princí-
pios do turismo sustentável (ARAÚJO, 2005).
Na visão de Araújo (2005) o seu desenvolvimento teve
como embasamento, a Geodiversidade e/ou o patrimônio geo-
lógico de uma dada área. Entre as modalidades turísticas exis-
tentes, as que mais se destacam, na atualidade, são as que pos-

140 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


suem atividades realizadas em áreas naturais, estreitamente
relacionadas com a qualidade de vida em detrimento da aproxi-
mação com o ambiente natural e cultural de uma localidade
(MEDEIROS; FARIAS; NASCIMENTO, 2014). Nesta concep-
ção, o Geoturismo:
[...] possui objetivos que não são meramente
contemplativos, apresentando uma finalidade
didática, possibilitando constituir uma nova
forma de oferecer instrumentos para a inter-
pretação da herança da paisagem natural, que
permitem dialogar e compreender as particu-
laridades geológicas e geomorfológicas dos
lugares visitados (SILVA, 2007, p. 34).

A proposta do Geoturismo é agregar o conhecimento


científico ao patrimônio natural de forma agradável e com-
preensível, valorizando e possibilitando, que aconteça uma visi-
tação turística de modo sustentável (HOSE, 1995). Este segmen-
to estabelece um meio na promoção de valores e benefícios
sociais aos locais, de interesse geológico e geomorfológico e de
seus componentes, para desta forma, garantir sua conservação e
valorização, para o uso de estudantes, turistas, entre outros visi-
tantes (ARAÚJO, 2005). É, então, uma modalidade turística que
promove a Geodiversidade em sítios com interesse geológico e
geomorfológico, devidamente protegidos e conservados.
Para Sharples (2002), a Geodiversidade, mesmo que não
esteja associada a nenhuma espécie de vida, possui significativa
importância na manutenção da biodiversidade, o que reflete na
conservação na natureza. Desta feita, resume que o objetivo do
conceito de Geoconservação relaciona-se com a preservação da
Geodiversidade ou diversidade natural, considerando os “signi-
ficativos aspectos e processos geológicos (substratos), geomorfo-
lógicos (formas de paisagem) e de solo, mantendo a evolução
natural (velocidade e intensidade) desses aspectos e processos”
(SHARPLES, 2002, p. 79).

ESTUDOS SOBRE GEODIVERSIDADE, GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO 141


De acordo com Silva e Nascimento (2016), a necessidade
de conservação da Geodiversidade de um lugar está no fato de
que muitos dos recursos existentes são esgotáveis e, ao mesmo
tempo, únicos. Dessa maneira, é preciso haver o uso sustentável
da Geodiversidade mundial, assegurando sempre os locais que
possuem um alto valor, sejam eles científicos, culturais ou sim-
plesmente turísticos, devido ao seu aspecto visual. A avaliação
destes locais passa por uma valoração qualitativa e quantitativa,
além de uma forte participação dos gestores e população em ge-
ral, inserindo cada qual estratégias geoconservacionistas.
Para Lorenci (2013, p. 67), a Geoconservação pode ser de-
finida como:
[...] Uma atividade voltada para a conservação
do Patrimônio Geológico de uma região, vi-
sando a sustentabilidade dos geossítios que
expressam valor cultural, histórico, científico,
educativo, turístico, econômico e que quando
inventariados, identificados e classificados,
têm como principal objetivo, a conservação e
a divulgação deste patrimônio representativo
de um território, onde o desenvolvimento
deve ser sustentável.

Pereira (2010) considera que a Geoconservação possui,


como base, a conservação dos elementos naturais, a promoção
da identidade do território e o uso racional dos elementos que
compõem a Geodiversidade por meio do Geoturismo, com vis-
tas a perpetuar esses elementos e fazer com que os moradores e
visitantes se sintam sensibilizados quanto ao seu valor científico
e educativo. Dessa forma, entendemos que a Geoconservação
trata-se de uma iniciativa com o objetivo de preservar e proteger
a Geodiversidade e seus processos associados de um modo geral,
enfatizando a valorização e divulgação desse potencial abiótico,
levando em conta, o desenvolvimento sustentável de uma dada
área (SILVA, 2019).

142 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Brilha (2005) afirma que a Geoconservação não pretende
proteger toda a Geodiversidade, pois seria uma tarefa inviável,
se aplicada a todos os locais com potenciais geológicos-geomor-
fológicos (os geossítios). Assim, para que se conserve um geossí-
tio é necessária a implementação de uma estratégia de Geocon-
servação seguindo uma metodologia definida. Dessa forma, as
estratégias e etapas geoconservacionistas consistem na concreti-
zação de uma metodologia de trabalho que visa sistematizar as
tarefas, no sentido da conservação do patrimônio geológico-
-geomorfológico de uma determinada área.
Conforme Brilha (2005), estas tarefas e metodologias po-
dem ser agrupadas nas seguintes etapas: inventariação, quantifi-
cação, classificação, conservação, valorização e divulgação e, fi-
nalmente, monitorização.

Resultados e discussão
Relato de experiência e parceria com a professora Iracilde na
elaboração de estudos sobre Geodiversidade, Geoturismo e
Geoconservação: encontro da cientificidade e afetividade
Como já dito anteriormente, citamos a seguir, um breve
relato da experiência sobre a contribuição da homenageada, no
que diz respeito aos diferentes trabalhos acerca das temáticas em
questão, não no sentido de esgotar toda a literatura realizada
pela professora Iracilde, mas sim, para apontar os trabalhos
onde nós duas participamos juntas, formando parceria, fonte
inesgotável de aprendizado pessoal.
Ouvia muito falar da professora Iracilde desde quando ini-
ciei minha graduação em licenciatura em Geografia na Universi-
dade Estadual do Piauí (UESPI), por isso sempre a consideramos
como uma professora excepcional. Mas foi especificamente quan-
do comecei meus estudos na pós-graduação (mestrado em Geo-
grafia), da Universidade Federal do Piauí (UFPI), que realmente

ESTUDOS SOBRE GEODIVERSIDADE, GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO 143


tive a chance e o privilégio de conhecê-la mais a fundo. Lembro-
-me que quando soube que ela seria minha orientadora, ao mes-
mo tempo fiquei nervosa e muito lisonjeada.
Aproveito a oportunidade, de mais uma vez fazer meus
agradecimentos a professora Iracilde, por ter embarcado comigo
neste desafio que foi me orientar durante a pós-graduação (ela
mesma disse que se tratava de um desafio e que iria se esforçar
para o entendimento e aprofundamento da temática para me-
lhor me conduzir). Pois, meu objeto de estudo consistia em um
tema que para o nível do mestrado da UFPI era novo e recente,
com somente uma dissertação em andamento sobre o assunto,
orientada por outra ilustríssima professora do programa (fico
muito feliz que, atualmente, o referido Programa esteja cada vez
mais avançado na disseminação desta temática). A partir daí fo-
mos nos conhecendo, estabelecendo vínculos e formas de parce-
rias em trabalhos, e em consequência, pude aprender mais.
Em ordem cronológica, inicio com o I Workshop de Geo-
morfologia e Geoconservação (I Workgeo), que teve como tema
central: Geomorfologia, Geoconservação e desafios ambientais no
Brasil, sob a organização geral da professora Iracilde, alunos do
mestrado e graduação em Geografia, e professores da presente
instituição, assim como também de professores de fora dela, que
ocorreu em outubro de 2017, na UFPI em Teresina, com a partici-
pação de importantes palestrantes. Foi notável a responsabilidade
e o comprometimento da homenageada em celebrar tal evento,
que tinha como um dos eixos temáticos, a Geoconservação.
Como resultado desse importante encontro, escrevemos
nosso primeiro trabalho juntas, intitulado “Potencial para a
criação de Geoparques no Piauí: propostas para a Serra da Capi-
vara e Sete Cidades – Pedro II”, que tinha como objetivo, reali-
zar uma discussão acerca da criação de Geoparques como tenta-
tiva de valorização da Geodiversidade de uma área, a partir da
análise das propostas de criação dos Geoparques Serra da Capi-

144 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


vara e Sete Cidades – Pedro II, no estado do Piauí. Este trabalho
foi publicado nos anais do evento e, em um número especial da
Revista Equador. No momento inicial da elaboração desse estu-
do me deparei com as famosas legendas de correção da professo-
ra Iracilde. O texto, pintado de diversas cores, azul (acrescentar),
verde (repensar) e vermelho (retirar), continha sinais de ajustes,
os quais esbarrei diversas vezes em elaborações de trabalhos, e
que até hoje, observo.
Em seguida, elaboramos o capítulo de livro “Geodiversi-
dade e Geoturismo na praia de Pedra do Sal, Parnaíba – PI: va-
lores, aspectos socioambientais e estratégias”, publicado no ano
de 2018, no livro Questões socioambientais urbanas no Piauí: di-
ferentes enfoques, publicado pela EDUFPI, onde também tive-
mos a contribuição de autoria da professora Elisabeth Baptista.
Uma coisa é fato, a colaboração da professora Iracilde na escrita
de um trabalho é deveras louvável e nos faz refletir em sempre
melhorar e adaptar a nossa própria escrita. Tenho certeza de que
todos os seus orientandos e orientados pensam, no mínimo, de
maneira semelhante.
Posteriormente, escrevemos o trabalho “Metodologias de
avaliação do Patrimônio Geológico-Geomorfológico em cenário
nacional e internacional: levantamento preliminar”, que foi
apresentado no XII Simpósio Nacional de Geomorfologia (SI-
NAGEO) em 2018, na cidade de Crato (CE), e publicado nos
anais do evento. Esse trabalho foi muito importante, pois estu-
damos e analisamos as possíveis metodologias que iríamos uti-
lizar na minha dissertação de mestrado. Em todo esse processo,
a professora me deu todo o suporte. Outro ponto a destacar so-
bre ela, é que Iracilde deixa seus orientandos extremamente à
vontade no que diz respeito à escrita e execução do trabalho no
decorrer do tempo, claro, cobrando nos momentos certos. Po-
rém, me senti muito livre e incentivada na escrita de todos os
estudos que realizamos juntas, bem como na dissertação.

ESTUDOS SOBRE GEODIVERSIDADE, GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO 145


No mesmo ano, elaboramos o trabalho “Geodiversidade
em unidades de conservação: potencial da APA Delta do Parnaí-
ba e do PARNA Serra da Capivara no Piauí”, apresentado no XV
Simpósio de Geografia da UESPI, em Teresina, com o objetivo
de apresentar o potencial acerca da Geodiversidade e estratégias
para a Geoconservação de duas unidades de conservação: a APA
Delta do Parnaíba, localizada, no Norte dos estados do Mara-
nhão, Piauí e Ceará, e o PARNA da Serra da Capivara, situada
no Sudeste do estado do Piauí. O estudo também publicado nos
anais do evento, com premiação dentre os melhores trabalhos.
Escrevemos este artigo também com a contribuição da professo-
ra Elisabeth Baptista (cabe aqui, indicar, que realizamos ótimas
parcerias na sistematização de trabalhos e estudos, e que levei
essa experiência para a elaboração de minha dissertação).
E por último, mas não menos importante, evidencio a
orientação da professora Iracilde durante minha dissertação de
mestrado, defendida no início do ano de 2019, intitulada “Ava-
liação do Patrimônio Geológico-Geomorfológico da Zona Lito-
rânea Piauiense para fins de Geoconservação”, a qual também
tive a coorientação da professora Elisabeth Baptista (reitero,
sempre que houver uma oportunidade, que essa parceria deu
muito certo e que também foi essencial para o desenvolvimento
do trabalho, afinal havia sintonia de pensamento entre as três
envolvidas em sua construção). Fortaleço, portanto, a qualidade
da professora Iracilde em deixar seus orientandos à vontade na
escrita dos trabalhos, porém, ao mesmo tempo, ela sabe ser as-
sertiva quando percebe que algo não vai bem e que é necessário
modificar, recuar ou progredir.
Durante o mestrado também tive a oportunidade de ser
sua aluna em uma disciplina, ofertada no segundo semestre,
“Análise Integrada da Paisagem”, onde, juntamente com o res-
tante da turma, realizamos inúmeros debates. Outra oportuni-
dade fundamental para minha formação acadêmica, foi o está-

146 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


gio que realizei no último período, em sua disciplina de
Hidrografia para o curso de licenciatura em Geografia na UFPI.
Esta experiência também me trouxe muitos aprendizados, uma
vez que tive o apoio e orientação da professora Iracilde.
Das experiências e recordações, que sem dúvidas, guardo
mais, são as memórias das nossas práticas de campo, tanto
oriundas das aulas, do evento do I Workgeo (momentos únicos
de aprendizagem) quanto do primeiro campo que realizamos
para minha dissertação no litoral piauiense, no final do ano de
2017. Para tanto, aproveitamos uma aula de campo organizada
por seu esposo, o professor Almir e sua turma do curso de Agro-
nomia da UFPI, que destacaria os tabuleiros litorâneos e os seus
cultivos. Ela me fez o convite de viajar com eles, pois visitaría-
mos os locais de estudos da turma (experiência muito enrique-
cedora) e depois iríamos nos focar na minha área de pesquisa
(geossítios localizados nos três municípios do litoral piauiense,
Parnaíba, Luís Correia e Cajueiro da Praia).
Ao término da prática de campo da turma de Agronomia, a
professora Iracilde e o professor Almir, me convidaram para que
me hospedasse em sua casa, na praia do Coqueiro, em Luís Cor-
reia, pois de lá percorreríamos o restante dos pontos que ainda
faltavam para a conclusão do campo da dissertação (Fotos 1 e 2).
Fizemos uma parte do trajeto dos geossítios em um dia em Par-
naíba (Praia de Pedra do Sal) e Luís Correia (Praia de Itaqui) e no
dia seguinte, concluímos o percurso em Cajueiro da Praia (praias
de Morro Branco, Barrinha e Cajueiro da Praia, esta com o mes-
mo nome do município). Me recordo que neste último dia de
campo, choveu bastante, mas ainda assim continuamos com o
campo, percorrendo cada geossítio, fotografando e coletando os
dados necessários, sempre os dois sendo bastante solícitos e pres-
tativos em relação ao desenvolvimento do meu trabalho. Mais
uma vez, os meus mais sinceros agradecimentos.

ESTUDOS SOBRE GEODIVERSIDADE, GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO 147


Fotos 1 e 2 – Recordações durante a pesquisa de campo para a
dissertação de mestrado no litoral piauiense, em 2017.

a)

b)

Em A: Pesquisa de campo realizada na Lagoa do Portinho, Luís Correia (PI). Em B: Campo


realizado na praia de Pedra do Sal, Parnaíba (PI).
Fonte: Silva (2017).

148 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Além de orientações aos alunos do mestrado em Geografia,
sobre temas acerca da Geodiversidade e afins, a professora Iracil-
de também já orientou um projeto sobre as temáticas em questão
no pós-doutorado da mesma instituição, intitulado “Roteiros Di-
dáticos para valorização da Geodiversidade do Litoral do Piauí:
subsídios para a Geoconservação”, durante o ano de 2018, desen-
volvido pela professora Elisabeth Baptista. Experiência esta que
resultou na elaboração e divulgação de diversos trabalhos.

Considerações Finais
Neste trabalho, primeiramente, homenageamos a profes-
sora Iracilde, através desse breve relato de experiência, que diz
respeito às suas inúmeras contribuições para a elaboração e
orientação de trabalhos referentes às temáticas sobre Geodiver-
sidade, Geoturismo e Geoconservação, sobretudo, no estado do
Piauí, e que tenho muito orgulho de ter tido a oportunidade de
estar junto a ela, nessa trajetória.
O legado e a experiência que a professora Iracilde construiu
no meio acadêmico piauiense de um modo geral, se reflete nos
inúmeros trabalhos, produções, orientações e eventos, que a fa-
zem cada dia mais merecedora de tais méritos. Agradeço por ter
tido a oportunidade de ser sua aluna e orientanda, experiência
esta que contribuiu muito para a minha formação acadêmica.

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150 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


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ESTUDOS SOBRE GEODIVERSIDADE, GEOTURISMO E GEOCONSERVAÇÃO 151


POSFÁCIO

Homenagem à Professora Iracilde


É uma grande honra e, ao mesmo tempo, muita responsa-
bilidade falar da professora doutora Iracilde Maria de Moura Fé
Lima, conhecida por todos nós como Iracilde, que tem carreira
brilhante, com diversos prêmios, publicações importantes, mui-
tas orientações, e grande conhecimento a respeito da Geografia
e da Geomorfologia do Piauí.
Conheci Iracilde, pela primeira vez, em 1977, quando entrei
para o mestrado em Geografia da UFRJ, e fomos colegas de tur-
ma. Foi uma convivência maravilhosa, assistimos muitas aulas
juntos, fizemos trabalhos de campo, de laboratório e trabalhos
teóricos das disciplinas que cursamos, naquele período. Começou
ali nossa amizade. Iracilde defendeu sua dissertação de mestrado,
intitulada Caracterização Geomorfológica da Bacia Hidrográfica
do Poti, em 1982. Aí neste tempo já estava clara a sua dedicação
para divulgar o Piauí, que continuou, ao longo da sua carreira.
Vocês acreditam em coincidência? Consultando a Plata-
forma Lattes do CNPq, constatei que seu primeiro artigo cientí-
fico, foi publicado no Boletim Geográfico do IBGE, em 1978

152
(Contribuição ao estudo da erosão dos solos agrícolas no Brasil),
em que somos coautores, e o mais recente (Ambiente montanho-
so e turismo em Pedro II, Piauí), na Revista Geosul, em 2020,
onde também somos coautores.
Desde o mestrado na UFRJ tenho acompanhado sua car-
reira, com Iracilde sempre demonstrando muito empenho, dedi-
cação e competência, o que é confirmado pelos excelentes arti-
gos publicados, livros, capítulos de livros, bem como orientações
de graduação, mestrado e doutorado, bancas em todos os níveis,
e em concursos públicos. Além disso, Iracilde tem participado
da Comissão Organizadora de eventos científicos, com destaque
para o XVI Simpósio Brasileiro de Geografia Física Aplicada,
realizado em meados de 2015, na cidade de Teresina, onde che-
guei a ser convidado por ela, para participar do evento, mas in-
felizmente não pude ir, porque estava fazendo meu pós-doutora-
do, na Universidade de Wolverhampton, na Inglaterra, quando
retornei no início de agosto, do mesmo ano. Mas vários alunos
de graduação, mestrandos e doutorandos do LAGESOLOS par-
ticiparam e voltaram para o Rio encantados, com muitos elogios
à Iracilde, e toda Comissão Organizadora, ou seja, foi um verda-
deiro sucesso. Parabéns minha amiga!
No início da década de 2000, tive a oportunidade de fazer
alguns trabalhos de campo com Iracilde e Antonio Soares (UERJ),
e depois com Iracilde e Mônica Marçal (UFRJ), tanto no Parque
Nacional da Serra das Confusões, como no Parque Nacional da
Capivara, onde trocamos numerosos conhecimentos e tivemos a
oportunidade de aprender muito com nossa querida amiga.
Também em meados da década de 2000, não lembro exa-
tamente o ano, fui convidado por Almir (marido da Iracilde),
para dar um curso no Ibama do Piauí, onde ele era pesquisador,
para isso passei uma semana em Teresina. O curso foi muito
bom, com ótima participação, e Iracilde e Almir me ajudaram
muito durante um dia de trabalho de campo, em Teresina.

Pósfácio 153
O tópico do curso foi Impactos ambientais urbanos, e eles conhe-
ciam bem essa realidade. Novamente fui muito bem recebido
por ambos. Voltei muito gratificado pela participação de Almir
e Iracilde no curso, bem como dos técnicos do IBAMA.
Mesmo à distância, sempre acompanhei a brilhante car-
reira da Iracilde, e volta e meia, estávamos nos comunicando por
e-mail. Fiquei muito feliz quando soube que ela iria fazer seu
doutorado na UFMG, sob a orientação de outra amiga, a profes-
sora Cristina Augustin, cuja defesa se deu em 2013. Na sua tese,
Iracilde teve a oportunidade de analisar e discutir todo seu co-
nhecimento sobre uma parte do Piauí, com a tese Morfodinâmi-
ca e Meio Ambiente na Porção Centro-Norte do Piauí. Quando
nos encontrávamos em algum evento científico tínhamos a
oportunidade de conversar sobre sua pesquisa, e colocar o papo
em dia. Enfim, mais uma etapa foi cumprida por Iracilde. Po-
rém, ela não parou por aí, continuou pesquisando e publicando
sobre o Piauí, que afirmo, se não for a maior conhecedora da
Geomorfologia do seu estado, é uma das maiores conhecedoras
dos processos geomorfológicos piauienses. Seus trabalhos nos
ajudam a entender melhor a realidade do Piauí, tanto ambiental,
como social.
Em 2017, tive a honra de ter sido convidado a palestrar no
encerramento do I Workshop de Geomorfologia e Geoconserva-
ção, organizado por Iracilde e sua equipe. A honra foi ainda
maior, porque minha esposa Maria do Carmo Oliveira Jorge,
Carmen, como é conhecida por nós, foi também convidada, para
participar de mesa redonda. É claro que não poderíamos deixar
de levar nossa filha Maju, que se envolveu em tudo conosco. Foi
para ela uma oportunidade ímpar de conhecer mais uma parte
do território nacional. Maju adorou e voltou encantada para o
Rio de Janeiro.
Iracilde então me convidou a participar de um trabalho de
campo em Teresina, que eu já conhecia um pouco, desde o curso

154 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


que havia dado para o IBAMA, alguns anos antes. Ajudei tanto
na parte da manhã, quanto na parte da tarde. Como coincidia
com o aniversário da Carmen (16/10), propus à Iracilde fazer-
mos uma festa surpresa para ela, o que foi feito, na casa dela. No
meio da recepção que nos foi oferecida por Iracilde e Almir, en-
trou uma pessoa com um bolo, com velinhas, e Carmen pergun-
tou para mim: “É aniversário de alguém?”. E eu disse: “Seu”. Ela
ficou muito emocionada, cantamos os parabéns e a festa conti-
nuou. Conseguimos manter a surpresa, até o último momento,
ninguém contou nada, inclusive eu.
Depois voltamos a nos encontrar em 2018, no XII SINA-
GEO, organizado por Simone Ribeiro e sua equipe, na cidade de
Crato. Novamente, foi um encontro muito agradável e Carmen e
Maju estavam presentes também. Quando será a próxima vez
que vamos nos encontrar? Estamos ansiosos.
Não poderia deixar de mencionar a orientação que esta-
mos fazendo em conjunto, da doutoranda Wellynne Carla de S.
Barbosa (LAGESOLOS/PPGG – UFRJ), no seu projeto Análise
multivariada e uso do SIG no diagnóstico de áreas de risco de
erosão dos solos no Baixo Parnaíba, Piauí.
Wellynne foi aluna de Iracilde, que participou da sua ban-
ca de mestrado na UFPI. É claro que teremos oportunidade,
uma vez cessada essa pandemia, de fazermos trabalhos de cam-
po em conjunto. Estou igualmente ansioso por isso.
Aproveito para incluir nessa homenagem algumas fotos
que consegui de momentos felizes, em que estive com Iracilde,
espero que ela e todos que lerem este texto, gostem.
Terminando essa minha homenagem, não poderia deixar
de falar na família de Iracilde, da qual conheço boa parte. Seus
filhos são profissionais e cidadãos exemplares, assim como a
mãe e o pai, pois Iracilde se dedica a todos de uma maneira es-
pecial. Esta é uma das razões do seu sucesso profissional, ela é

Pósfácio 155
uma pessoa com luz própria, que irradia para a família e para
todos que convivem com ela. PARABÉNS MINHA AMIGA E
MUITO OBRIGADO POR TUDO!
Ubatuba, outubro de 2020

Prof. dr. Antonio José Teixeira Guerra


Coordenador do LAGESOLOS – Laboratório de Geomorfologia
Ambiental e Degradação dos Solos
Departamento de Geografia – UFRJ

156 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


FOTOGRAFIAS
Por
Antonio José Teixeira Guerra
III
Iracilde me apresentando, antes da palestra que dei, no I Workshop de
Geomorfologia e Geoconservação

Aniversário surpresa para Carmen, na casa de Iracilde e Almir, com nos-


so amigo Palhares presente, no último dia do I Workshop de Geomorfo-
logia e Geoconservação. Olha só o bolo de chocolate!

158 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Trabalho de campo realizado
em Teresina, durante o I
Workshop de Geomorfologia e
Geoconservação

Foto tirada no último dia do I Workshop de Geomorfologia e Geocon-


servação, com a presença de Iracilde, ao centro. Eu, Maju, Carmen,
Wellynne e Quésia presentes também. Muita gente querida nessa foto

Fotografias 159
As fotos que se seguem, são registros de Iracilde em diversos trabalhos
de campo, que fizeram parte da sua rotina de pesquisa, com Almir tam-
bém presente

160 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


Fotografias 161
SOBRE OS ORGANIZADORES/AUTORES

HIKARO KAYO DE BRITO NUNES (Organizador/Autor):


Graduado em Geografia (Universidade Estadual do Piauí/UESPI),
mestre em Geografia (Universidade Federal do Piauí/UFPI),
possui especialização em Educação Especial Inclusiva (Centro
Universitário Leonardo da Vinci/UNIASSELVI) e doutorando
em Geografia (Universidade Estadual do Ceará/UECE). Professor
assistente da Universidade do Estado do Amazonas (UEA),
pesquisador do Núcleo de Estudos em Geografia Física da UESPI
(NEGEO), pesquisador do Grupo de Pesquisa Geomorfologia,
Análise Ambiental e Educação da UFPI (GAAE) e sócio honorário
do Instituto Histórico e Geográfico do Piauí (IHG/PI). Tem
experiência na área de Geografia, com estudos relacionados às
seguintes áreas: Geomorfologia, Espaço Urbano, Vulnerabilidades,
Análise Geoambiental, Tecnógeno e Educação Geográfica.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/4402777971908483.
ORCID: http://orcid.org/0000-0001-6868-1285.

162
LEILSON ALVES DOS SANTOS (Organizador/Autor):
Doutorado em Geografia (em andamento) pelo Instituto de
Geociências (UFMG). Graduado em Geografia (licenciatura) pela
Universidade Federal do Piauí. Mestre em Análise e Modelagem
de Sistemas Ambientais (IGC/UFMG). Especialista em Gestão
Ambiental (UESPI). Atua, principalmente, nos seguintes temas:
Ensino de Geografia, Gestão e Educação Ambiental, Análise e
Planejamento Ambiental, Bacias Hidrográficas, e Geomorfologia
Aplicada. Foi bolsista na categoria de Apoio Técnico de Extensão
no País do CNPq/ATP, Nível A (2014). Leciona disciplinas
em cursos de especialização na área de Ciências Ambientais. É
membro pesquisador no Grupo de Pesquisa Geomorfologia,
Análise Ambiental e Educação (GAAE/UFPI).
LATTES: http://lattes.cnpq.br/0659476168110446.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2644-7268.

SOBRE OS ORGANIZADORES/AUTORES 163


SOBRE OS AUTORES

ANTONIO JOSÉ TEIXEIRA GUERRA: Possui graduação em


Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1974), mes-
trado em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1983) e doutorado em Soil Erosion pela University of London
(1991). Pós-doutorado pela Universidade de Oxford (1997) e pela
Universidade de Wolverhampton (2015), Inglaterra. Atualmente é
professor titular do Departamento de Geografia, da Universidade
Federal do Rio de Janeiro. Tem experiência na área de Geociên-
cias, com ênfase em Geomorfologia, atuando, principalmente,
nos seguintes temas: Geomorfologia, Erosão dos Solos, Movimen-
tos de Massa, Recuperação de Áreas Degradadas e Gestão Am-
biental. Recentemente, trabalha também em temas relacionados à
Geoconservação, Geodiversidade e Geoturismo. Temas estes que
fazem parte de projetos de pesquisa desenvolvidos no âmbito do
LAGESOLOS (Laboratório de Geomorfologia Ambiental e De-
gradação dos Solos), coordenado por Antonio Guerra.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/1290031462581422.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-2562-316X.

164
BARTIRA ARAÚJO DA SILVA VIANA: Doutora em Geografia
pelo IGC/UFMG. Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente
pelo TROPEN/UFPI. Especialista em Pesquisa para o Ensino de
Geografia e licenciada em Geografia (UFPI). Atualmente é profes-
sora efetiva da Coordenação do Curso de Geografia/UFPI. Profes-
sora permanente do mestrado em Geografia (PPGGEO/UFPI), tem
experiência em Ensino de Geografia, Análise Ambiental, Geografia
da Indústria e Serviços, Biogeografia, Geografia do Turismo e Geo-
grafia Urbana. E é membro dos grupos de pesquisa: GERUR (UFPI),
GEODUC/NUPEG (UFPI), GAAE (UFPI) e Cidade, Processos Ur-
banos e Políticas Públicas (IFPI), vinculados ao CNPq. 
LATTES: http://lattes.cnpq.br/6574888054660171.

BRENDA RAFAELE VIANA DA SILVA: Mestra em Geografia


pela Universidade Federal do Piauí, UFPI (2017-2019). Graduada
em licenciatura plena em Geografia (2012-2015) pela Universida-
de Estadual do Piauí (UESPI/Campus Torquato Neto). Atualmen-
te é professora substituta do Instituto Federal de Educação, Ciên-
cia e Tecnologia do Piauí (IFPI/Floriano) e da Universidade
Estadual do Maranhão (UEMA/Colinas/EAD). Tem experiência
na área de Geografia Física, com estudos relacionados às seguin-
tes áreas: Geologia, Geomorfologia, Hidrografia, bem como Geo-
diversidade, Geoconservação e Geoturismo em zonas costeiras.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/3155942537072856.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9562-2990.

CARLOS HENRIQUE SANTOS DA SILVA: Mestre em Geogra-


fia, com área de concentração em Estudos Regionais e Geoam-
bientais, pela Universidade Federal do Piauí (UFPI). Graduado
em Geografia, modalidade bacharelado, pela Universidade Esta-
dual do Maranhão (UEMA). Graduado em Geografia, modalida-
de licenciatura, pela Universidade Estadual do Maranhão
(UEMA). É componente do Grupo de Pesquisa Geomorfologia,
Análise Ambiental e Educação (GAAE/UFPI). Chefe de Divisão

Sobre os autores 165


do Departamento de Estudos Territoriais, no Instituto Mara-
nhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC).
Desenvolve pesquisas em Geociências, Geomorfologia, Morfogê-
nese e Morfodinâmica Costeira.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/9991904201610326.
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-3935-2479.

CARLOS SAIT PEREIRA DE ANDRADE: Possui doutorado


em Geografia pela Universidade Federal de Pernambuco (2009),
mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Pernambu-
co (2000), e graduação em licenciatura plena em Geografia pela
Universidade Federal do Piauí (1989). É professor de Geografia na
Universidade Federal do Piauí desde 1992. Sócio efetivo do Insti-
tuto Histórico e Geográfico Piauiense. Tem experiência na área de
Geografia, com ênfase em Climatologia e Clima Urbano, atuan-
do, principalmente, nos seguintes temas: Climatologia Geográfi-
ca, Clima Urbano e Ensino de Geografia Física.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/0005025648896483.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-7102-2560.

EDENILSON ANDRADE FERREIRA: Graduado em licenciatura


em Geografia (Universidade Federal do Piauí/UFPI), tem especiali-
zação em Educação Especial Inclusiva (Centro Universitário Leonar-
do da Vinci/UNIASSELVI) e é mestrando em Geografia (Universi-
dade Estadual Vale do Acaraú/UVA). Desenvolve estudos sobre
Ensino de Geografia, Recursos Didáticos para o Ensino de Geografia,
Multiculturalismo, Meio Ambiente Urbano e Geotecnologias.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/5768729761909200.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6173-0547.

ERIC DE MELO LIMA: Formado em licenciatura em Geografia


(UFPI/2018), é especialista em Gestão e Supervisão Escolar com
Docência no Ensino Superior (FAEME/2018). Atualmente possui
vínculo com o mestrado em Geografia do PPGGEO/UFPI. Seus

166 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


temas de interesse em pesquisa são: Análise Ambiental e Questões
de Litígio Territorial.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/0466473309779779.
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-8755-8063.

ELISABETH MARY DE CARVALHO BAPTISTA: Graduada


em Geografia (1985) e Ciências Biológicas (1997) pela Universida-
de Federal do Piauí (UFPI). Pós-Doutora em Geografia pela UFPI
(2019). Doutora em Geografia pela Universidade Federal de Santa
Catarina/UFSC (2010). Mestre em Desenvolvimento e Meio Am-
biente pela UFPI (2004). Mestre em Educação pelo Instituto Peda-
gógico Latino-Americano e Caribenho (IPLAC/Cuba) e pela Uni-
versidade Estadual do Piauí/UESPI (2000). Professora do curso de
licenciatura plena em Geografia da UESPI, Campus “Poeta Tor-
quato Neto”, Teresina. Coordenadora do Núcleo de Estudos sobre
a Zona Costeira do Estado Piauí (NEZCPI/UESPI) e membro do
Grupo de Pesquisa Geomorfologia, Análise Ambiental e Educa-
ção (GAAE/UFPI). Sócia efetiva do Instituto Histórico e Geográ-
fico do Piauí (IHGPI). Temas de interesse: Zona Costeira, Geo-
morfologia Costeira, Litoral Piauiense, Paisagem, Geodiversidade,
Geoconservação, Geoturismo, Geoeducação, Hidrografia/Hidro-
geografia, Recursos Hídricos, Educação Ambiental, Geografia e
Meio Ambiente, Biogeografia, Geografia e Literatura, Geografia
Cultural, História Ambiental, História e Cidade, Metodologia da
Pesquisa e Geografia do Piauí.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/5386103931112605.
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2885-7968.

SIDINEYDE SOARES DE LIMA COSTA: Possui graduação em


licenciatura plena em Geografia pela Universidade Federal do
Piauí/UFPI (2007), mestrado em Geologia pela Universidade Fe-
deral do Ceará/UFC (2010), é doutora em Geociências na área de
concentração: Geologia Sedimentar e Ambiental, pela Universi-
dade Federal de Pernambuco/UFPE. Pesquisadora no Grupo de

Sobre os autores 167


Pesquisa Geomorfologia, Análise Ambiental e Educação (GAAE),
da Universidade Federal do Piauí, entre os anos de 2014 e 2018.
Desenvolveu atividades como professora tutora pela Universidade
Federal do Piauí (UFPI). Orientou discentes de graduação em tra-
balhos de conclusão de curso (TCC). Tem publicações de artigos
científicos. É professora classe SM, nível I – Secretaria Estadual de
Educação do Estado do Piauí (SEDUC). Atua na área de Geociên-
cias com destaque para Proteção Ambiental, Análise Ambiental,
Sensoriamento Remoto e Impacto Ambiental.
LATTES: http://lattes.cnpq.br/0953292157554243
ID Lattes: 0953292157554243

TAÍS MAYARA SOUSA: Possui graduação em licenciatura plena


em Geografia pela Universidade Federal do Piauí (2013) e curso
técnico profissionalizante em Serviços Públicos pela Secretaria de
Educação do Piauí (2015). No curso de Geografia, atuou nas áreas
de Geomorfologia e Hidrografia. Atualmente é servidora pública
no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
LATTES: http://lattes.cnpq.br/1944096614027528.

168 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história


SOBRE O LIVRO
Formato: 16x23 cm
Tipologia: Minion Pro
Número de Páginas: 170
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

C&A ALFA COMUNICAÇÃO


Rua 14, Qd. 12, Lt. 21, St. Itatiaia III – CEP 74.690-390 – Goiânia-GO
editoraalfacomunicacao@gmail.com
170 Iracilde e os estudos geográficos: 50 anos de história
ISBN 978-65-89324-14-0

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