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OCUPAÇÃO PRÉ-HISTÓRICA DE PERNAMBUCO

O Brasil pré-histórico apresenta-se com tradições rupestres de ampla dispersão


através de suas grandes distâncias e ampla temporalidade. O registro arqueológico e,
concretamente, o rupestre assim o indicam. As tradições rupestres do Brasil não
evoluíram por caminhos independentes; os seus autores ou grupos étnicos aos quais
pertencem, mantiveram contatos entre si, produzindo-se a natural evolução no tempo
e no espaço que nos obriga a estabelecer as subdivisões pertinentes.
Podemos afirmar que o registro rupestre é a primeira manifestação estética da
pré-história brasileira, especialmente rica no Nordeste. Além do evidente interesse
arqueológico e etnológico das pinturas e gravuras rupestres como definidoras de
grupos étnicos, na ótica da história da Arte representa o começo da arte primitiva
brasileira. A validade ou não do termo “arte”, aplicado aos registros rupestres pré-
históricos, é tema sempre discutido, embora toda manifestação plástica forme parte do
mundo das ideias estéticas e consequentemente da história da Arte. O pintor que
retratou nas rochas os fatos mais relevantes da sua existência tinha, indubitavelmente,
um conceito estético do seu mundo e da sua circunstância. A intenção prática da sua
pintura podia ser diversificada, variando desde a magia ao desejo de historiar a vida
do seu grupo, porém, de qualquer forma, o pintor certamente desejava que o desenho
fosse “belo” segundo seus próprios padrões estéticos. Ao realizar sua obra, estava
criando Arte. Se as pinturas de Altamira, na Espanha, ou as da Dordonha, na França,
são consideradas, indiscutivelmente, patrimônio universal da arte pré-histórica sabe,
entretanto que, pintadas nas profundidades das cavernas escuras, não foram feitas
para agradar ninguém do mundo dos vivos, não há motivos aceitáveis para se duvidar
ou negar a categoria artística das nossas expressivas e graciosas pinturas rupestres
do Rio Grande do Norte ou do Piauí.

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O tipo de suporte e a estrutura são elementos essenciais e determinantes para


se compreender o sítio rupestre e a sua utilização. Os abrigos localizados no alto das
serras, ao longo dos rios, como é o caso da região do Seridó, nos sugere serem
lugares cerimoniais, longe das aldeias, que deveriam estar situadas mais perto da
água. Já os sítios da Serra dos Cariris Velhos, entre a Paraíba e Pernambuco,
situados em lugares de várzea, piemonte ou “brejos”, mesmo sendo também lugares
de culto, nos dão a impressão de uma utilização habitacional, mesmo que temporária,
ou talvez lugar de culto perto da aldeia do grupo.
Foi precisamente nos sertões nordestinos do Brasil. onde a natureza é
particularmente hostil à ocupação humana, onde se desenvolveu uma arte rupestre
pré-histórica das mais ricas e expressivas do mundo, demonstrando a capacidade de
adaptação de numerosos grupos humanos que povoaram a região desde épocas que
remontam ao pleistoceno final. No estado atual do conhecimento, podemos afirmar
que três correntes, com seus horizontes culturais, deixaram notáveis registros pintados
e gravados nos abrigos e paredões rochosos do Nordeste brasileiro. A esses
horizontes chamamos tradição Nordeste, tradição Agreste e tradição São Francisco de
pinturas rupestres, somam-se as tradições de gravuras sob-rocha, conhecidas como
Itaquatiaras. Foram também definidas outras tradições chamadas “Geométrica”,
“Astronômica”, “Simbolista”, etc. que podem ser incluídas nas anteriores.
As pesquisas arqueológicas nos sítios da Chapada do Araripe buscam
compreender os processos de ocupação, de adaptação e de subsistência dos antigos
grupos ceramistas. Recentemente, foram incorporadas a estas pesquisas, técnicas de
recuperação de resíduos químicos e biológicos procedentes da mandioca (Manihot
esculenta), com a finalidade de inferir sobre o cultivo e manejo de vegetais, em
contextos doméstico e funerário, ao largo da Pré -História. Os vestígios vegetais
recuperados das cerâmicas ou dos sedimentos arqueológicos refletem dados culturais
sobre antigos grupos humanos na região, incluindo seus modos de vida e morte, dieta,
cultivo e manejo de plantas, uso e função das vasilhas cerâmicas, além de fornecer
dados paleoecológicos e paleoambientais.
Os primeiros resultados paleológicos da cerâmica pré-histórica do Sítio Aldeia
do Baião sugerem um ambiente paisagem composto por vegetação arbórea (tipo
Anacardiácea) e herbácea (Amaranthaceae-Chenopodiaceae e Poaceae), sob
influência flúvio-lacustre e ou solos bem drenados (Botryococcus). A presença de
grãos de pólen de plantas cultivadas como o milho (cf. Zea mays?) e microfungos
coprófilos (tipo Sporormiella, Gelasinospora e tipo Sordariaceae) sustentam a hipótese
de assentamentos humanos de longa duração no local. O microfungo Gelasinospora
também reflete o uso do fogo para as práticas agrícolas e caça. Para prosseguir com o
processo de colonização, Portugal recorreu ao sistema de Capitanias hereditárias.
Esse sistema já havia sido empregado com êxito em suas possessões nos Açores,
Madeira e Cabo Verde. Ele se baseava na doação de um extenso lote de terra a uma
pessoa ilustre e influente do reino, geralmente um nobre rico, que passava a ser o
donatário e ficava encarregado de empreender a colonização da terra recebida,
investindo nela seus próprios recursos.

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OCUPAÇÕES CERAMISTAS PRÉ-HISTÓRICAS NO NORDESTE BRASILEIRO.

O conhecimento sobre os grupos ceramistas pré-históricos no Nordeste foi


significativamente alterado depois término do Programa Nacional de Pesquisas
Arqueológicas, o PRONAPA. O quadro estabelecido no período de 1965 a 1970
definiu uma separação bem distinta entre grupos do interior com as “Tradições
Regionais” Aratu e Una, e no litoral os grupos da Tradição Tupiguarani.
Posteriormente, na década de 1980 foram identificadas no sertão pernambucano as
fases Croatá e Triunfo, localizadas em áreas de brejos de altitude e, na Chapada do
Araripe, a fase Araripe, todas filiadas a Tradição Tupigurani. Segundo Albuquerque
(1984) os grupos das fases Croata e Triunfo possuíam aldeias amplas, de tendências
circulares, cerâmica decorada com pintura vermelha sobre engobo branco, decoração
plástica e formas que seriam compatíveis com o consumo da mandioca.
Os resultados de projetos na área de estudo demonstram que as populações
humanas produziam cerâmicas com características tecnológicas filiadas aos grupos da
Tradição Tupiguarani, originários de ambientes de florestas, despertando, já na
década de 1980, questionamentos sobre o modelo de Floresta Tropical.
Alguns historiadores trabalham com a hipótese de que a presença de
populações pré-históricas de horticultores, naquela região, estaria vinculada a um
processo de adaptação cultural às condições de semi-aridez ou a condições climáticas
mais úmidas, compatíveis com a expansão dos domínios florestados. O cultivo da
mandioca teria sido um dos principais fatores de adaptabilidade dos ceramistas
Tupiguarani ao sertão nordestino.
De modo geral, os grupos que ocuparam a Chapada do Araripe, antes e/ou
depois da colonização europeia, produziam uma cerâmica com bolos de argila, areia e
cacos triturados. Sendo modelada, acordelada ou com as duas técnicas associadas.

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Apresenta decoração plástica escovada, ungulado, marcado com cestaria e


ponteado. Em alguns objetos ocorre a associação da pintura e da decoração plástica.
A pintura era realizada com grande variedade de cores: branco, vermelho,
marrom, preto e cinza, com vários motivos de decoração (desenhos geométricos,
faixas e linhas paralelas e cruzadas, pontos etc.). As vasilhas apresentam bordas
diretas ou bordas reforçadas, bases arredondadas ou cônicas, formas ovoides e
esféricas.
Existiam pratos, tigelas e panelas com diâmetro da boca variando de 6 a 80
cm, além de vasilhas com boca oval, quadrangular ou retangular, com apliques de asa
ou alça. Esses grupos produziam também fusos de tear, cachimbos e modelavam
pequenos objetos zoomorfos, usados algumas vezes como apliques.
A tecnologia lítica era também rica e diversificada com a obtenção de artefatos
como raspadores, facas, mãos de pilão, batedores e moedores, machados, discos,
tembetás e pingentes usados como adorno. As matérias-primas mais usadas foram o
quartzo, quartzito, xisto, calcedônia, sílex e granito.
A origem da agricultura no Nordeste brasileiro remonta 3000 anos, a partir de
um número reduzido de populações de caçador coletores que possivelmente
praticaram a agricultura de subsistência ao redor de suas moradias, o termo
agricultura de subsistência está relacionado à cultura de grãos de cereais e legumes e
tubérculos, plantados com a utilização de ferramentas de produção (ex. pau-de-cavar
ou enxada), desmatamento e queima de madeira (ou coivara).
Este método conduzia ao esgotamento do solo em curto prazo e a busca por
outros recursos alimentares, como a caça e a coleta de frutos. Entorno de 3300 anos
AC, a cerâmica produzida apresenta características formas simples, sendo alisada ou
raspada. Cerca de 2000 anos AC registra-se, no sudeste do estado do Piauí, um
aumento populacional com novos grupos ceramistas.
Esses grupos produziam uma cerâmica com técnicas decorativas variadas com
a presença do corrugado, ungulado, escovado, inciso e pintado. Existe uma
diversidade de formas e tamanhos de vasilhas e grandes urnas funerárias. Em áreas
interiores do Nordeste se documenta ainda a ocupação de grupos filiados a Tradição
Tupi-guarani desde ca. 1100 anos AC até o contato europeu.
O historiador Albuquerque e Lucena, relacionaram essas ocupações às
mudanças climáticas ocorridas durante o período Holoceno, devido à expansão e
retração de áreas florestadas, como os brejos de altitude. Estas áreas são
consideradas importantes refúgios de populações humanas pré-históricas, dadas suas
condições climáticas e ecológicas para a sobrevivência e sustentabilidade agrícola
desses grupos.
Ainda, conforme Albuquerque e Lucena, essas populações humanas estariam
relacionadas principalmente com o cultivo de mandioca, que foi o principal vegetal
consumido durante a Pré -história na América Tropical, incluindo suas variedades mais
importantes: a mandioca-amarga (Manihot esculenta), a mandioca -brava (Manihot
utilissima) e a mandioca-doce (M. aipi).
A tecnologia envolvida no preparo, consumo e armazenamento desse tipo de
alimento e seus subprodutos inclui uma gama de artefatos cerâmicos (vasilhames e
assadores) e líticos (machados, lascas e raladores), assim como os manufaturados de

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plantas (cestarias de palha de palmeiras, algodão e algumas gramíneas) (PEARSALL,


1992).
Os dados arqueobotânicos registrados para a região Nordeste ainda são
incipientes. No entanto, seus registros demonstram a influência antrópica nos
processos de construção da paisagem. O registro simultâneo em torno de 4500 anos
AC, no Sítio Alcobaça (Pernambuco) (4733 ± 29 e 4243 ± 26 anos AP) pelos vestígios
de milho, frutos de palmeiras (babaçu, ouricuri, coquinho), umbu, frutos de babaçu de
cajá e seriguela e no Sítio funerário Toca do Gongo onde foram recuperados artefatos
líticos e cerâmicos, restos de fogões, sementes de avelã, feijão, abóboras e fibras de
caroá, associados a esqueletos de nove enterramentos reforçam essas hipóteses.
Neste sítio também foram registradas espigas de milho.
Os indícios de ocupação pré-histórica por grupos ceramistas no sítio Evaristo I
(Ceará) está representada pela presença de artefatos cerâmicos e líticos em contextos
funerários e domésticos.
Os grãos de pólen de plantas cultivadas (mandioca, batatadoce, abóboras e
algodão) e frutíferas (caju e palmeiras), além de fungos patógenos de plantas
cultivadas refletem o modo de vida e subsistência desses grupos.
Os macros e microvestígios botânicos preservados em sítios arqueológicos
também reforçam a presença da cultura material das populações humanas pré-
históricas. As plantas utilizadas por estes grupos são muitas vezes elementos
derivados da modificação humana (i.e., cultivo, domesticação).
Assim, tendo em consideração o cultivo e preparação de alimentos, propõe
uma divisão na tradição cerâmica Tupi-guarani, com a subtradição Tupinambá ou
Pintada na região Leste e Nordeste e subtradição Guarani ou Corrugada na região
Sul.
A primeira possuiria vasilhas como pratos e tigelas de base plana, com
perímetro de boca oval ou quadrangulóide, sendo ideais para o beneficiamento da
mandioca; a segunda, ou seja, subtradição Guarani, vasilhas como jarras e tigelas
carenadas com base redonda ou cônica, próprias para o preparo de grãos como o
milho. Etnograficamente os “Tupi-Guarani cultivam principalmente mandioca, milho,
batata doce, cará, feijões, abóboras, amendoim e pimenta, além do fumo, algodão,
cabaça, cuias, corantes (urucu, jenipapo) e, no caso dos Guarani, o mate.
Os Tupi baseavam sua alimentação principalmente nas variedades tóxicas da
mandioca (mandioca amarga, brava ou venenosa) consumido-as como farinha, beiju e
bebidas fermentadas alcoólicas os relatos etnohistóricos acrescidos de dados
arqueobotâmicos são a base para as aproximações a respeito das interações
humanas e as plantas.
As informações sobre o início da ocupação dos grupos ceramistas da tradição
Tupi guarani na região do semiárido pernambucano ainda são poucas, sendo
aventada a hipótese que esteve provavelmente condicionado ao clima que influenciou
a formação de uma nova onda migratória, sobretudo no Estado de Pernambuco.
Os grupos ceramistas desta tradição sempre estiveram relacionados ao cultivo
da mandioca (Manihot esculenta) que representou grande influência socioeconômica e
de organização do espaço. Segundo os dados etnográficos, o plantio da mandioca
necessitava de solos amplos e férteis.

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As informações etnohistóricas e arqueológicas indicam uma grande densidade


populacional nesta região, no entanto, ainda se conhece pouco sobre suas formas de
subsistência, com escassas evidências arqueobotânicas nos sítios. A tecnologia
empregada na produção de alimentos, registrada no Sítio Aldeia do Baião inclui tanto
a utilização de material lítico quanto artefatos cerâmicos.

CAPITANIA DE PERNAMBUCO: GUERRA DOS BÁRBAROS

O fim da União Ibérica em 1640 e a expulsão dos holandeses em 1654 colocou


o Nordeste brasileiro em evidência para o reino português que passou a investir na
conquista e ocupação da região. Portugal visava ganhar maior autonomia, expandir a
atividade pecuária e evitar novos invasores estrangeiros na Colônia e impor a
distribuição de terras.
O Brasil do século XVII (1 de janeiro de 1601 – 31 de dezembro de 1700), era
bem distinto do atual, a colônia americana do Império Português era formada, até
metade do século, pelo Estado do Grão Pará e Maranhão, área composta quase em
sua totalidade por litorais. De acordo com Silva (2009, p. 39), a área mais rica naquela
época, era a zona do açúcar, que se estendia pelo litoral desde o Recôncavo baiano
até a Paraíba, alcançando as áridas costas do Rio Grande do Norte, onde haviam
cidades e vilas prósperas.
Dessas vilas partiram homens que, empurrados pela Coroa
portuguesa e pela elite canavieira, fizeram guerra aos povos
indígenas nos interiores daquelas capitanias, terminando por
conquistar o sertão e ajudar na formação de uma nova
sociedade colonial. (SILVA, 2009, p. 39).

O conflito envolvendo os colonizadores e os povos nativos conhecidos como


Tapuias no território que corresponde atualmente aos sertões nordestinos, da Bahia
até o Maranhão culminou na “Guerra dos Bárbaros” (1650 e 1720).
A Guerra dos Bárbaros mais se aproximou de uma série
heterogênea de conflitos entre índios e luso-brasileiros do que

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de um movimento unificado de resistência. Resultado de


diversas situações criadas ao longo da segunda metade do
século XVII, com o avanço da fronteira da pecuária e a
necessidade de conquistar e “limpar” as terras para a criação
de gado, esta série de conflitos envolveu vários grupos e
sociedades indígenas contra moradores, soldados,
missionários e agentes da coroa portuguesa. (PUNTONI, 1999,
p. 196).

Os Tapuias eram os grupos indígenas que habitavam o interior e tinham


diversidade linguística e cultural, diferentemente dos Índios Tupi, que eram os índios
“conhecidos” que falavam a mesma língua e habitavam o litoral.
Na verdade, o que moveu essa disputa por terras foi o crescimento da
sociedade canavieira que buscava novas áreas de exploração. A exploração colonial
no sertão partiu, sobretudo, dos senhores de Salvador e Olinda, dois dos maiores
núcleos urbanos da América portuguesa.
Os pecuaristas que chegaram nessas terras para se estabelecerem ao longo
dos rios do sertão começaram a expulsar os índios que habitavam a região. Como
eles ofereciam resistência, começaram a chamá-los de tapuias que significa bárbaros.
Todos os conflitos que se estabeleceram durante a metade do século XVII e
início do século XVIII, envolvendo os colonizadores e os índios Tapuias, culminaram
na expressão “Guerra dos bárbaros” usada tanto pela Coroa de Portugal como pela
sociedade açucareira. Dessa forma, os índios além de serem considerados selvagens,
foram generalizados como se todos pertencessem a um mesmo grupo.
Os conquistadores atuavam sempre da mesma forma em todas as investidas,
eles usavam suas tropas para desalojar os indígenas. A Coroa portuguesa se limitava
a conceder os títulos e patentes militares e a conquista das novas terras cabia aos
novos proprietários.
As primeiras lutas armadas de caráter genocida aconteceram no Recôncavo
Baiano e o conflito ficou conhecido como “A guerra do Recôncavo” (1651-1679). Às
margens do Rio Açú no sertão do Rio Grande do Norte se estendendo por
Pernambuco, Piauí e Paraíba, os conflitos foram mais violentos, os que envolveram os
índios Tarairiús resultou na conhecida “Guerra do Açú” (1687-1704). O Governador da
Paraíba, na época, era o pernambucano João Fernandes Vieira, antigo líder na Guerra
que expulsou os holandeses, que comandou a capitania entre 1655 e 1657. Nesse
caso, haviam várias “nações” indígenas envolvidas e os da Etnia Tarairiú,
comandados pelo seu “rei” Canindé, eram aliados antigos dos holandeses e
dominavam técnicas de guerra e quase conseguiram expulsar os colonos da capitania
do Rio Grande do Norte. Foi então que o Governador geral Francisco Barreto de
Meneses escreveu ao capitão-mor de São Vicente para acertar um contrato com os
mercenários paulistas, pois acreditava que a experiência dos bandeirantes poderia
lograr a “pacificação” da região.
Em 1708, o governador de Pernambuco, Manoel de Sousa
Tavares, teve mais uma prova de como era terrível guerrear
contra eles. Em carta ao Conselho ultramarino – Órgão do
governo responsável pelas colônias portuguesas -, relatou que
os tapuias, não satisfeitos em destruir fazendas e matar seus
moradores, invadir igrejas e derrubar as imagens sacras, eram
capazes de atos cruéis e desumanos, como fizeram com o

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padre Amaro Barbosa, de quem arrancaram o coração!


(ARAÚJO, 2009, p. 65).

O conceito de “Guerra Justa” surgiu a partir da visão dos portugueses a


respeito da reação dos índios, segundo eles, capazes de cometer verdadeiros atos de
selvageria. A partir do momento em que foi decretada a Guerra Justa, os colonos
passaram a ter o direito de usar luta armada contra os índios que se recusassem a
aceitar a fé católica ou quebrassem os pactos de paz oferecidos por eles.
Essa imagem reforçou os argumentos do conquistador de
impetrar uma “guerra justa” para extirpar os “maus” costumes
nativos, satisfazendo tanto as necessidades de utilização de
mão de obra pelos colonos quanto à garantia aos missionários
do sucesso na imposição da catequese. O resultado foi a
criação de dispositivos legais que legitimavam uma guerra de
extermínio. (PIRES, 2015, p. 3).

Muitas dessas tribos eram canibais e para os colonizadores se justificava ainda


mais o uso da força para garantir a segurança daqueles que trabalhavam “a serviço de
Deus” em prol da civilização.
Em muitos momentos os índios levaram a melhor e os portugueses começaram
então a mudar o rumo da guerra buscando atrair tapuias como aliados para equilibrar
o número de combatentes e aprimorar as táticas de guerra e os meios de
sobrevivência na mata. Alguns deles lucravam colaborando com os colonizadores
porque recebiam terras ao final dos conflitos.

Em 1690, frei Manuel da Ressurreição, que ocupava


interinamente o governo-geral do Brasil, decidiu adotar
mudanças radicais na estratégia de guerra, para finalmente dar
cabo dos tapuias nas capitanias do Norte. (ARAÚJO, 2009, p.
67).

Matias Cardoso de Almeida, que recebeu a patente de mestre de campo e


governador de guerra, passou a ser o único responsável pelas ações contra os
tapuias. De acordo com Araújo (2009, p. 67), “a ordem era degolar, ou no mínimo
escravizar, quantos tapuias fosse possível, destruindo suas aldeias”.

Embora tenha tido uma longa duração, cerca de setenta anos,


e tenha sido contemporânea à existência do quilombo dos
Palmares, a Guerra dos Bárbaros pouco aparece na
historiografia, sendo praticamente desconhecida. A omissão
dessa guerra nos livros didáticos e os raros livros de
estudiosos especialistas sobre o episódio revelam o desprezo
dado ao tema da resistência indígena e do violento processo
de conquista lusitano no sertão nordestino. (PIRES, 2015, p. 2).

A luta travada nesse longo período pela conquista de terras no processo de


ocupação do sertão através, principalmente, da expansão da atividade pecuária, entre
colonos portugueses e índios brasileiros, acabou se transformando em um verdadeiro
massacre que culminou no extermínio de diversas “nações” indígenas e a
transformação de alguns tapuias em caboclos que migraram pouco a pouco para a
Região Norte do Brasil.

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LAVOURA AÇUCAREIRA E MÃO DE OBRA ESCRAVA EM PERNAMBUCO

Duarte Coelho tratou de instalar em Pernambuco os primeiros engenhos de


açúcar da colônia, incentivando também o plantio do algodão. Tudo estava por fazer e
o donatário organizou o tombamento de terras, a distribuição de justiça, o registro civil,
a defesa contra os índios Caetés e Tabajaras. Ao falecer, em Lisboa, em 1554, legou
aos filhos uma capitania florescente. O seu cunhado, Jerônimo de Albuquerque, em
correspondência com a Coroa, pedia autorização para importar escravos africanos.
Coube a Pernambuco o nada honrável título de primeiro porto brasileiro de
desembarque de escravos africanos comercializados. Em 1546 já existiam 76
escravos na colônia.
Em Olinda, sede administrativa da capitania, se instalaram as autoridades civis
e eclesiásticas, o Colégio dos Jesuítas, os principais conventos e o pequeno cais do
Varadouro. Em fins do século XVI, cerca de 700 famílias ali residiam, sem contar os
que viviam nos engenhos, que abrigavam de 20 a 30 moradores livres. O pequeno
porto de Olinda era pouco significativo, sem profundidade para receber as grandes
embarcações que cruzavam o Oceano Atlântico. Por sua vez, Recife, povoado
chamado pelo primeiro donatário de "Arrecife dos navios", segundo a Carta de Foral
passada a 12 de março de 1537, veio a ser o porto principal da capitania.
Em pouco tempo, a Capitania de Pernambuco se tornou a principal produtora
de açúcar da colônia portuguesa. Consequentemente, era também a mais próspera e
influente das capitanias hereditárias. O fato é que o início da produção de açúcar
coincidiu com a chegada dos escravos africanos ao Brasil. Em 1590, eles já eram 36
mil escravos e depois passaram a ser usados, também, na lavoura do café, sendo
submetidos às mais duras condições de trabalho.
Surge em Pernambuco o protótipo da sociedade açucareira dos grandes
latifundiários da cana- de-açúcar, que perdurará de forma majoritária nos dois séculos
seguintes. O cultivo da cana-de- açúcar adaptou-se facilmente ao clima
pernambucano e ao solo massapê. A maior proximidade geográfica de Portugal,
barateando o custo do transporte, a abundância do pau-brasil, o cultivo do algodão e
os grandes investimentos feitos pelo donatário na fundação de vilas e na pacificação
dos índios são outros fatores que ajudam a explicar o progresso da capitania. Tal
prosperidade, entretanto, transformou a capitania em um ponto cobiçado por piratas
europeus. Já em 1595, o corsário inglês James Lancaster tomou de assalto o porto de
Recife e passou a saquear as riquezas transportadas do interior. Partiu um mês
depois, levando as pilhagens em quinze embarcações.

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Era o engenho uma espécie de povoação rural, a exemplo da usina de açúcar


dos dias atuais, que congregava não somente escravos mas artesãos dos mais
diversos misteres, lavradores de canas vizinhos, moradores livres, agregados da casa-
grande, padres e familiares do senhor de engenho, que vieram a tornar-se, no dizer de
Stuart Schwartz, "espelhos e metáfora da sociedade brasileira".
Assinala Antonil (1711) servirem ao senhor-de-engenho, "além dos escravos de
enxada e foice que tem nas fazendas e na moenda, e fora os mulatos e mulatas,
negros e negras de casa ou ocupados em outras partes, barqueiros, canoeiros,
calafates, carapinhas, carreiros, oleiros, vaqueiros, pastores e pescadores. Tem mais
cada senhor destes necessariamente um mestre- de-açúcar, um banqueiro e um
contra-banqueiro, um purgador, um caixeiro no engenho e outro na cidade, feitores
nos partidos e roças, um feitor mor de engenho, para espiritual um sacerdote seu
capelão, e cada qual destes oficiais tem soldada".
Em Pernambuco, em carta escrita em 1539, dirigida ao rei D. João III, o
donatário Duarte Coelho Pereira solicita autorização para a importação direta da costa
da Guiné de 24 negros, a cada ano, quantidade que seria aumentada por D. Catarina,
em 1559, para 120, mediante o pagamento de uma taxa reduzida, nada impedindo
que outros negros aqui chegassem por outros caminhos. No testemunho dos jesuítas
Antônio Pires (carta de 4 de junho de 1552) e José Anchieta (1548), era comum a
existência de escravos negros e índios em Pernambuco; a escravidão dos índios
durou até o século XVII, quando foi extinta pela Bula do Papa Urbano VIII, de 22 de
abril de 1639.
Era tanta a importância do trabalho escravo que o padre Antônio Vieira, em
carta dirigida ao Marquês de Niza, datada de 12 de agosto de 1648, chega a afirmar:
Sem negros não há Pernambuco!

GUERRA DOS MASCATES

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A Guerra dos Mascates ocorreu no ano de 1710 em Pernambuco e,


aparentemente, foi um conflito entre senhores de engenho de Olinda e comerciantes
do Recife. Estes últimos, denominados "mascates", eram, em sua maioria,
portugueses.
Antes da ocupação holandesa, Recife era um povoado sem maior expressão.
O principal núcleo urbano era Olinda, ao qual Recife encontrava-se subordinado.
Porém, depois da expulsão dos holandeses Recife tornou-se um centro
comercial, graças ao seu porto excelente, e recebeu um grande afluxo de
comerciantes portugueses.
Olinda era uma cidade tradicionalmente dominada pelos senhores de engenho.
O desenvolvimento de Recife, cidade controlada pelos comerciantes, testemunhava o
crescimento do comércio, cuja importância a atividade produtiva agroindustrial
açucareira, à qual se dedicavam os senhores de engenho olindenses.
O orgulho desses senhores havia colocado em crise a produção açucareira do
nordeste. Mas ainda eram poderosos, visto que, controlavam a Câmara Municipal de
Olinda.
À medida que Recife cresceu em importância, os mercadores começaram a
reivindicar a sua autonomia político-administrativa, procurando libertar-se de Olinda e
da autoridade de sua Câmara Municipal. A reivindicação dos recifenses foi
principalmente atendida em 1703, com a conquista do direito de representação na
Câmara de Olinda. Entretanto, o forte controle exercido pelos senhores sobre a
Câmara tornou esse direito, na prática, letra morta.
A grande vitória dos recifenses ocorreu com a criação de sua Câmara
Municipal em 1709, que libertava, definitivamente, os comerciantes da autoridade
política olindense. Inconformados, os senhores de engenho de Olinda, utilizando
vários pretextos, como a demarcação dos limites entre os dois municípios, por
exemplo, resolveram fazer uso da força para sabotar as pretensões dos recifenses.
Depois de muita luta, que contou com a intervenção das autoridades coloniais,

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finalmente em 1711 a nomeação de um novo governante que teve como principal


missão estabelecer um ponto final ao conflito.
O escolhido para essa tarefa foi Félix José de Mendonça, que apoiou os
mascates portugueses e estipulou a prisão de todos os latifundiários olindenses
envolvidos com a guerra. Além disso, visando evitar futuros conflitos, o novo
governador de Pernambuco decidiu transferir semestralmente a administração para
cada uma das cidades. Dessa maneira, não haveria razões para que uma cidade
fosse politicamente favorecida por Félix José, desta forma, Recife foi equiparada a
Olinda e assim terminou a Guerra dos Mascates.
Em 1714, o rei D. João V, resolveu anistiar todos os envolvidos nessa disputa,
manteve as prerrogativas político- administrativas de Recife e promoveu a cidade ao
posto de capital do Pernambuco.

INSSUREIÇÃO PERNAMBUCANA

A denominada Insurreição Pernambucana ocorreu no contexto da ocupação


holandesa de parte da região Nordeste do Brasil, incluindo a região de Pernambuco.
Os holandeses estabeleceram-se nessa região a partir de 1630, no período que em
que o Brasil estava sob o jugo do trono espanhol, que estava unido a Portugal desde
1580 no processo conhecido como União Ibérica. As invasões holandesas, que
ocorreram em colônias portuguesas na África também, como Angola, foram motivadas
pelas divergências com a Espanha que iam desde problemas relacionados com o
comércio marítimo até questões religiosas.
A situação dos engenhos de açúcar de Pernambuco, que eram controlados
pela Companhia das Índias Ocidentais (empresa holandesa), a partir da década de
1640, começou a apresentar sinais de declínio. Os produtores locais passaram a ficar
insatisfeitos com a administração holandesa, que lhes cobrava os dividendos dos
lucros a qualquer custo. Alguns senhores de engenho, pressionados pelos
holandeses, refugiaram-se na Bahia; outros procuravam eximir-se da dívida de outras
formas.
Essa situação chegou a um ponto de saturação no ano de 1645, quando houve
a primeira campanha de insurreição, sobretudo porque foi nesse ano que o
governador Maurício de Nassau partiu de Pernambuco para a sua terra natal. Os
primeiros a comandarem a insurreição de 1645 foram os senhores de engenho do

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES


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interior de Pernambuco. Depois, logo passaram a ser apoiados pelos senhores de


engenho que retornaram da Bahia com o objetivo de reaver as suas terras. Em poucos
meses, as tropas conseguiram chegar até Recife.
Posteriormente, os holandeses foram expulsos também de Alagoas e Sergipe.
Os principais comandantes das tropas insurgentes foram João Fernandes Vieira,
Antônio Felipe Camarão e Henrique Dias, além de vários comandantes que
enfrentaram em menor número e com poucos recursos as tropas holandesas. As
batalhas decisivas desenrolaram-se no lugar chamado Montes Guararapes e ficaram
conhecidas como Batalhas de Guararapes, ocorridas entre o fim de 1648 e o início de
1649.

REVOLUÇÃO DE 1817

A Revolução Pernambucana de 1817 foi um movimento separatista – o último que


ocorreu no período colonial – de caráter republicano que aconteceu na Capitania de
Pernambuco. Esse movimento foi liderado pelas elites locais, porém contou com
grande adesão popular assim que foi deflagrado. Essa revolta teve como causa direta
as mudanças ocasionadas nessa região por causa da transferência da Corte
portuguesa para o Brasil em 1808.

Causas da Revolução Pernambucana


A Revolução Pernambucana de 1817, assim como a Inconfidência Mineira e
a Conjuração Baiana, foi um movimento de caráter separatista e republicano que
ocorreu no Brasil colonial. A grande diferença desse movimento para os outros dois
citados foi que a Revolução Pernambucana conseguiu superar a fase conspiratória e
chegou a tomar o poder local por mais de dois meses.
Esse movimento foi motivado pela insatisfação popular com as péssimas
condições de vida que existiam nessa época e, principalmente, pela insatisfação das

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES


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elites locais, cujos interesses conflitavam com os da Coroa portuguesa. Essa tensão
foi ampliada com a divulgação dos ideais iluministas nessa região.
A Revolução Pernambucana estava diretamente relacionada com a vinda da
Corte portuguesa para o Brasil em 1808. Com esse evento, a vida dos colonos em
Pernambuco alterou-se de muitas formas. Primeiramente, houve o aumento de
impostos em Pernambuco para manter os luxos da Corte e para financiar as
campanhas militares promovidas no sul (Cisplatina).
Essa política da Corte manifestou-se nos impostos criados sobre a produção
de algodão local. Além disso, cobrava-se da população do Recife uma taxa sobre a
iluminação pública da cidade do Rio de Janeiro. Esse aumento na carga de impostos
gerou grande descontentamento, principalmente porque a economia local estava em
crise decorrente da redução na produção do açúcar e do algodão – principais produtos
da economia local.
Além disso, D. João VI nomeou vários portugueses, que haviam mudado para
o Brasil junto com ele em 1808, para cargos administrativos importantes de
Pernambuco e também para funções no exército. Isso também desagradou às elites
locais, que se viram prejudicadas com essas ações em favor dos portugueses.
A existência de grande desigualdade social também foi algo importante, pois a
insatisfação causada ajudou a mobilizar as camadas populares. Por fim, a difusão dos
ideais iluministas, que deu base ideológica ao movimento, foi propiciada por uma loja
maçônica, o Areópago de Itambé, e pelo Seminário de Olinda.
O movimento contou com as elites locais, compostas por grandes comerciantes
e alguns grandes proprietários, e teve adesão também de militares, juízes, pequenos
comerciantes, artesãos e muitos padres. A grande adesão de padres ao movimento,
inclusive, fez com que essa rebelião também ficasse conhecida como Revolução dos
Padres.
Além disso, a região de Pernambuco tinha um grande histórico de rebeliões,
como a Insurreição Pernambucana e a Guerra dos Mascates. No começo do século
XIX, a insatisfação local motivou ainda outro movimento contra a Coroa, conhecido
como Conspiração dos Suassunas, porém, após ser denunciado, foi desmontado em
1801.

Início da Revolução Pernambucana


A Revolução Pernambucana teve início, de fato, em 6 de março de 1817,
quando o brigadeiro português Manoel Joaquim Barbosa de Castro foi assassinado ao
realizar ordem do governador local de prender supostos envolvidos em uma
conspiração. Esse assassinato foi cometido pelo capitão José de Barros Lima, que
reagiu à voz de prisão realizada pelo brigadeiro.
Em seguida, essa rebelião espalhou-se por toda a cidade de Recife, o que
forçou o governador local a abrigar-se no Forte do Brum. Logo depois, esse mesmo
governador, Caetano Pinto de Miranda Montenegro, fugiu para a capital Rio de
Janeiro. Os rebeldes, vitoriosos, implantaram um Governo Provisório que decretava
diversas mudanças em Pernambuco.
A Revolução Pernambucana contou com os seguintes nomes como
lideranças: Domingos José Martins, José de Barros Lima, Cruz Cabugá, Padre João

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES


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Ribeiro, entre outros. Assim que o Governo Provisório foi formulado, algumas medidas
foram tomadas, como:
• Proclamação da República na Capitania de Pernambuco;
• Estabelecida a liberdade de imprensa e a liberdade de credo;
• Os impostos criados por D. João VI foram abolidos;
• Instituição do princípio dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário);
• Aumento no soldo dos soldados;
• Manutenção do trabalho escravo.
Apesar de ser um movimento de caráter liberal, as medidas tomadas pelo Governo
Provisório visavam beneficiar muito mais as elites locais do que necessariamente
promover a criação de uma sociedade justa e igualitária. A manutenção do trabalho
escravo foi uma evidência disso, já que havia nesse movimento a participação de
grandes proprietários que eram contrários à abolição.
A Revolução Pernambucana espalhou-se pelas capitanias vizinhas e alcançou a
Paraíba, o Rio Grande do Norte e o Ceará. As lideranças do movimento enviaram
emissários para diferentes capitanias à procura de obter apoio, como também para
países vizinhos. Cruz Cabugá, por exemplo, foi enviado para os Estados Unidos com
800 mil dólares para comprar armas, contratar soldados e obter o apoio do governo
americano ao movimento pernambucano.

Repressão da Coroa
A Revolução Pernambucana foi intensamente reprimida pela Coroa portuguesa.
Assim que as notícias da rebelião chegaram ao Rio de Janeiro, o rei D. João VI
mobilizou uma frota que foi levada do Rio de Janeiro para bloquear o porto de Recife.
Além disso, mais de quatro mil soldados foram enviados da Bahia e marcharam para
Pernambuco.
O movimento enfraqueceu-se por causas de divergências internas entre as
lideranças, o que permitiu que as tropas reais retomassem o controle sobre a Paraíba,
Rio Grande do Norte e do Ceará. Em Pernambuco, a revolta resistiu até o dia 20 de
maio de 1817, quando os líderes renderam-se ao general Luís do Rego Barreto após a
cidade de Recife ser invadida.
Por ordem de D. João VI, os líderes do movimento tiveram punições
exemplares. Ao todo, nove pessoas foram enforcadas e outras quatro foram
arcabuzadas – o correspondente da época para fuzilamento. Um dos envolvidos,
Padre João Ribeiro, enforcou-se pouco antes de ser capturado, e Cruz Cabugá,
recebendo as notícias do fracasso do movimento, não retornou ao Brasil e
permaneceu nos Estados Unidos.
O grande líder da revolta pernambucana, Domingo José Martins, foi
arcabuzado, e outras lideranças sofreram martírio severo. O capitão José de Barros
Lima, por exemplo, foi enforcado e teve as mãos e cabeça decepadas e colocadas em
exposição, e seu corpo foi arrastado pelas ruas de Recife. O mesmo aconteceu com
os corpos do Padre João Ribeiro e de Vigário Tenório. Outros envolvidos
permaneceram presos durante anos.

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CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR

A Confederação do Equador foi um movimento revolucionário que ocorreu


no Nordeste do Brasil em 1824, durante o período imperial. Foi uma reação
à Constituição outorgada por dom Pedro I no mesmo ano. Essa Constituição mantinha
o Brasil preso a um governo centralizador, sob o comando dos portugueses.
Iniciado em Pernambuco, o movimento se espalhou rapidamente para outras
províncias da região, como a Paraíba, o Ceará e o Rio Grande do Norte. Ficou
conhecido por esse nome, Confederação do Equador, devido à proximidade da região
do conflito com a linha do equador. Sua bandeira trazia um ramo de algodão e um talo
de cana-de-açúcar e carregava o lema “Religião, Independência, União e Liberdade”.
Do final do século XVII até o início do século XIX (um período também
conhecido como “era das revoluções”) ocorreram na Europa profundas mudanças
políticas, econômicas e culturais. Essas mudanças foram sentidas em outras partes do
mundo, inclusive no Brasil. A Confederação do Equador foi um reflexo dessas
mudanças.
Luta contra o autoritarismo
No início do século XIX, a província de Pernambuco estava dividida entre os
que apoiavam o domínio dos portugueses no Brasil e os que desejavam vê-los fora do
poder. No sul da província, cultivava-se principalmente a cana-de-açúcar; no Norte, a
economia era mais diversificada, baseando-se sobretudo no cultivo do algodão além
da cana-de-açúcar. Os donos dos engenhos de açúcar apoiavam os portugueses, pois
sentiam que as ideias liberais (dentre elas o abolicionismo) ameaçavam suas
propriedades. Já a aristocracia ligada ao algodão desejava ver-se livre da influência
portuguesa, pois queria autonomia para realizar comércio, a partir da abertura
dos portos.
Foi nesse cenário dividido que os ideais republicanos se difundiram e diversas
revoltas surgiram na região. Dois movimentos marcantes influenciaram as províncias
rebeldes da Confederação do Equador: a Revolução Pernambucana de 1817 e o
Movimento Constitucionalista de 1821, que levou à declaração da Independência do
Brasil, em 1822.

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Na época, todas as províncias eram subordinadas ao Rio de Janeiro, que era a


sede do império. As províncias desejavam mais autonomia em relação ao governo do
imperador dom Pedro I. Porém, ainda em 1822, o imperador havia lançado medidas
ainda mais centralizadoras. Além disso, mesmo com a independência, os portugueses
continuavam a ter muito poder nas decisões das províncias nordestinas. Em
Pernambuco, formou-se um governo provisório fiel ao imperador, a Junta dos Matutos,
que em 1824 foi deposta. Dom Pedro I nomeou Francisco Pais Barreto para assumir o
governo da província, mas Manuel Carvalho Pais de Andrade já havia sido eleito
localmente pelos representantes do comércio, da agricultura e do clero. Esse foi o
ponto inicial do conflito entre a província de Pernambuco e o governo imperial.
Ascensão e queda dos confederados
Os pernambucanos recusaram-se a aceitar Pais Barreto como governador e,
em resposta, dom Pedro I mandou forças navais, que bloquearam o porto de Recife.
Pais de Andrade lançou um manifesto, incentivando a população a unir-se ao
movimento revolucionário. O bloqueio naval foi suspenso e a rebelião logo ganhou o
apoio de províncias vizinhas (Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba), que viviam
situação semelhante à de Pernambuco. Surgiu assim a Confederação do Equador,
com Pais de Andrade na chefia de um governo independente na região.
A repressão do governo central foi severa. Pouco tempo depois, o movimento
foi derrotado. A província de Pernambuco acabou perdendo parte de seu território (a
antiga comarca do rio São Francisco) para a província da Bahia. Vários líderes da
rebelião, como frei Caneca, foram enforcados ou fuzilados, enquanto outros, como
Cipriano Barata, acabaram presos. Assim terminava um movimento importante da
história do Brasil.

REVOLUÇÃO PRAIEIRA

A Revolução Praieira, ocorrida na província de Pernambuco de 1848 a 1850,


foi um movimento separatista, misturado com disputas partidárias pelo poder e com a
revolta popular contra as más condições de vida. O Brasil vivia o início do Segundo

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES


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Reinado (o governo de dom Pedro II), depois do fim do período da Regência, e a


Revolução Praieira recebeu influência das revoluções liberais que ocorreram em
vários países da Europa em 1848. (O famoso Manifesto comunista, de Karl Marx e
Friedrich Engels, foi redigido nesse ano.) Foi um período que ficou conhecido no
Ocidente como “Primavera dos Povos”.
Insatisfação em Pernambuco
A monarquia brasileira era duramente contestada pelas novas ideias liberais da
época. Era muito grande a insatisfação com o governo imperial, pois todas as
decisões tomadas no período regencial (de 1831 a 1840) tinham que ser submetidas
ao imperador. Os brasileiros reivindicavam maior força frente aos comerciantes
portugueses (que ainda dominavam a economia local) e a população pobre lutava por
melhores condições de vida.
As lutas internas entre os partidos e os grupos políticos da época que
disputavam o poder culminaram numa série de revoltas provinciais, e a última delas foi
a Revolução Praieira, cujo nome homenageava o Partido da Praia, fundado pelos
revolucionários.
Pernambuco era a província mais importante do Nordeste, graças aos
engenhos de açúcar, todos propriedade de famílias poderosas e influentes na política
brasileira. A família Cavalcanti, por exemplo, era dona de um terço dos engenhos.
Uma frase da época simboliza bem a situação: “Quem não é Cavalcanti é cavalgado”.
O restante da população mostrava-se insatisfeito com essa concentração
fundiária e com o poder político na mão de tão poucos. O comércio local era dominado
por portugueses, o que também causava revolta entre os comerciantes brasileiros.
Dada essa situação de desgaste, o Partido da Praia foi criado para opor-se ao
Partido Liberal e ao Partido Conservador, ambos dominados por duas famílias
poderosas que viviam fazendo acordos políticos entre si. Devido a esses acordos,
muitas vezes era difícil distinguir o Liberal do Conservador, como muitas vezes
aconteceu na política brasileira.
Reivindicações
O Partido da Praia pregava a revolta porque o presidente da província, do
Partido Conservador, distribuía os melhores cargos administrativos aos membros de
seu partido e a uma pequena cúpula do Partido Liberal, deixando os demais de fora.
Os contratos para realizar obras públicas também eram manipulados.
A Inglaterra, grande potência mundial da época, pressionava o Brasil a
extinguir o tráfico de escravos, pois desejava expandir seus mercados e o
escravagismo era um entrave ao avanço capitalista e industrial. O efeito dessa
constante pressão inglesa gerou o aumento do preço do escravo e a sua escassez,
dificultando a vida de muitos que dependiam dessa mão de obra. Porém as poderosas
famílias dos partidos Liberal e Conservador não foram atingidas, pois compravam os
negros por contrabando e a preços melhores. Já os proprietários rurais de menor
posse pagavam preços exorbitantes. Tal situação também foi denunciada pelos
rebeldes da Revolução Praieira, que mesmo sendo liberais, não defendiam a abolição.
Havia dois jornais: o Diário de Pernambuco (dos conservadores, também
chamados de “gabirus”, uma espécie de rato, por serem acusados de ladrões pelos
praieiros) e o Diário Novo (dos rebeldes praieiros). Todas as denúncias eram

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES


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divulgadas na imprensa, mas quando as divergências tornaram-se mais violentas a


guerra começou.
O conflito
Em 1844, o Partido da Praia cresceu mais, até chegar ao poder. Uma vez no
governo local, seus líderes agiram como os antigos conservadores: demitiram todos os
funcionários e nomearam seus aliados, gerando um verdadeiro caos administrativo.
Como os gastos na administração pública eram muito altos, o presidente da
província de Pernambuco aumentou os impostos para arrecadar mais verbas, gerando
a alta no preço dos alimentos. A situação gerou insatisfação nas camadas populares,
que depredaram os estabelecimentos comerciais, que pertenciam a portugueses.
A luta entre gabirus e praieiros acirrou-se em 1847, quando os praieiros
venceram as eleições para o Senado. No ano seguinte, o governo foi assumido por um
presidente (como se chamava o cargo de governador na época) de ideias moderadas.
Com isso, os praieiros foram afastados da administração, causando a revolta. As
demissões dos praieiros os levaram a atacar Recife, dando início à luta armada. A
rebelião se iniciou em Olinda, em 7 de novembro de 1848; nesse dia, os líderes
praieiros lançaram o “Manifesto ao Mundo”.
Cerca de 1.500 combatentes praieiros lutaram contra as tropas do governo
imperial, que interveio e pôs fim ao conflito. Mais de quinhentos revolucionários foram
mortos, trezentos acabaram presos (vários foram anistiados posteriormente) e outros
fugiram para o exterior. Assim terminou a última das grandes revoltas regionais
brasileiras do tempo do Império.

PERNAMBUCO REPUBLICANO

República Velha é o período da história do nosso país que se estendeu de 1889 a


1930. Os marcos que estipulam o início e o fim desse período são a Proclamação da
República e a Revolução de 1930. Esse período é mais conhecido entre os
historiadores como Primeira República, por se tratar do primeiro período da República
no Brasil.
• A República Velha é chamada pelos historiadores de Primeira República.

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• Esse período foi iniciado com a Proclamação da República, que fez com que
Deodoro da Fonseca assumisse a presidência.
• O período de 1889 a 1894 é também conhecido como República da Espada.
• A República Velha contou, ao todo, com treze presidentes e com outros dois
que não puderam assumir a presidência.
• O mandonismo, clientelismo e coronelismo são características importantes
desse período.
• A política dos governadores e a política do café com leite foram práticas
importantes do arranjo político das oligarquias.
• O Brasil experimentou um avanço industrial embrionário nesse período, que
resultou no nascimento do movimento operário no país.
• A desigualdade social e a política corrupta desse período motivaram revoltas
em diversas partes do país.
• A Revolução de 1930 foi o acontecimento que precipitou o fim desse período e
inaugurou a Era Vargas.
A República Velha iniciou-se em 1889, quando aconteceu a Proclamação da
República, no dia 15 de novembro. Esse acontecimento iniciou-se pela manhã do dia
citado quando os militares liderados pelo marechal Deodoro da Fonseca derrubaram
o Visconde de Ouro Preto do Gabinete Ministerial. Na sequência do dia, José do
Patrocínio, vereador no Rio de Janeiro, proclamou a República.
Após a Proclamação da República, Deodoro da Fonseca foi escolhido como
presidente provisório. Em 1891, o marechal foi eleito presidente do Brasil para um
mandato de quatro anos, mas renunciou ao cargo e foi sucedido pelo seu vice, o
marechal Floriano Peixoto, que permaneceu no cargo até o ano de 1894. Esse período
de 1889 a 1894, em que o país foi governado por dois presidentes militares, é
conhecido como República da Espada.
• A grande marca da República Velha e pela qual todos a conhece é o domínio
que as oligarquias exerciam no país. As oligarquias eram pequenos grupos (a
maioria deles era associada com a agricultura e pecuária) que detinham
grande poderio econômico e político. O controle das oligarquias no Brasil dava-
se por meio de práticas conhecidas
como mandonismo, coronelismo e clientelismo. Definição de cada um desses
conceitos:
• Mandonismo: é o nome que se dá para o controle exercido por determinadas
pessoas, sobre outras, por possuírem uma grande posse de terra. No caso da
República Velha, os grandes proprietários exerciam influência sobre a
população local.
• Coronelismo: prática em que o coronel (grande proprietário de terra) exercia
seu domínio sobre as populações locais, de forma a conquistar os votos que
eram necessários para atender os interesses da oligarquia estabelecida e do
Governo Federal. A conquista do voto da população local acontecia, por
exemplo, por meio da distribuição de cargos públicos que estavam sob controle
do coronel ou também pela intimidação.

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• Clientelismo: é a troca de favores que é praticada entre dois atores


politicamente desiguais. Essa prática não precisa da figura do coronel para
acontecer, pois toda entidade politicamente superior que realiza um favor a
outra política inferior, em troca de um benefício, está praticando o clientelismo.
• Outro ponto importante sobre a Primeira República é o que diz respeito a duas
práticas bastante conhecidas: a política do café com leite e a política dos
governadores, dois mecanismos que davam sustentação ao domínio político
das oligarquias.

PERNAMBUCO E O INTERVENTOR AGAMENON MAGALHÃES

Agamenon Sérgio de Godoy Magalhães (Vila Bela, atual Serra Talhada, 5 de


novembro de 1893 - Recife, 24 de agosto de 1952) foi promotor de direito, geógrafo,
professor (de Geografia) e político brasileiro; deputado estadual (1918), federal (1924,
1928, 1932, 1945), governador de estado (1937, 1950) e ministro (Trabalho e Justiça).
Fomou-se bacharel pela Faculdade de Direito de Recife (1916), em Recife, sendo em
seguida nomeado para a promotoria da comarca de São Lourenço da Mata. No ano
seguinte, retornou a Recife, onde fixou residência. Em 1918, foi eleito deputado
estadual com apoio da agremiação governista estadual (Partido Republicano
Democrata) e, em 1924, tornou-se deputado federal, reeleito quatro anos depois.
Contudo, em 1930, rompendo com os governos estadual e federal, aderiu à Aliança
Liberal formada em torno da candidatura de Getúlio Vargas. Após a revolução,
apoiou o interventor Carlos de Lima Cavalcanti e ajudou a articular no estado o Partido
Social Democrata (de sustentação ao Governo Provisório), pelo qual elegeu-se
deputado constituinte em 1932.
Em 1934, foi convidado pelo presidente Getúlio Vargas para a pasta do
Trabalho, Indústria e Comércio. À frente do ministério, promoveu intervenções em
sindicatos, nomeando diretores de confiança do governo, e trabalhou na
implementação de novas leis, como a que reservava dois terços dos postos de
trabalho nas empresas comerciais e industriais para brasileiros e a que garantia uma
indenização aos trabalhadores demitidos sem justa causa. Durante sua gestão foi
criado também o Instituto de Aposentadoria e Pensões dos Industriários (IAPI). Em

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES


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janeiro de 1937, passou a acumular com o Ministério do Trabalho, interinamente, o


Ministério da Justiça e Negócios Interiores, onde permaneceu até o mês de junho. Era,
então, elemento dos mais prestigiados junto ao governo federal e por isso mesmo deu
apoio decidido ao projeto continuísta de Vargas, concretizado com o golpe que em 10
de novembro instituiu o Estado Novo.
Aliado fiel de Vargas, ele entrou em choque com o interventor Lima Cavalcanti,
seu antigo aliado, que tendia a apoiar a candidatura oposicionista de Armando de
Sales Oliveira para a sucessão presidencial de 1938, e a quem acusara de conivência
com o levante comunista deflagrado em novembro de 1935 em Recife por membros
da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Por este motivo, em novembro de 1937, após
a decretação do Estado Novo, Agamenon Magalhães foi nomeado interventor federal
em Pernambuco, substituindo seu antigo aliado e opositor.
A interventoria de Agamenon Magalhães coincidiu ainda com os anos da
presença militar norte-americana no Recife, em virtude das alianças em torno da
Segunda Guerra. Este período foi marcado por transformações não apenas no cenário
político, mas também no plano cultural. Ainda em 1941, os EUA iniciou a política de
envio de observadores navais para vários portos brasileiros. O primeiro a chegar foi o
capitão aposentado da US Navy W.A. Hodgman. Ele chegou ao Recife em 26 de
fevereiro, sob as ordens do Escritório de Inteligência Naval. Recife era a terceira
cidade do Brasil, com uma população estimada à época de 400 mil pessoas.
Com a declaração de guerra contra as potências do Eixo, e a cessão de bases
no litoral brasileiro combinada com as operações de defesa do atlântico sul, Recife
passa a ser uma cidade estratégica para as pretensões americanas, e com o apoio de
Agamenon Magalhães, Recife terá a Sede da Quarta Frota Naval e será a base das
operações marítimas com raio de atuação do Canal do Panamá até o extremo sul das
Américas, além de um campo de pouso construído pelos americanos e chamado de
Ibura Field, que atualmente é o Aeroporto Internacional dos Guararapes.
Ocorrem muitas mudanças no estado. Contudo as mudanças não foram
meramente militares, houve um impacto profundo na sociedade pernambucana e, em
especial em Recife. Primeira- mente o impacto foi econômico, já que no auge de suas
atividades a Quarta Frota mantinha cerca de 4000 homens no Estado, todos
recebendo integralmente seus soldos e gastando, principalmente com os atrativos da
vida nos trópicos. Passou a circular no mercado local dólares americanos, e isso
impulsionou consideravelmente a comércio local e as atividades de apoio. Outros
aspectos interferiram na vida do recifense, que teve que passar por um racionamento
de combustível e apresentou inflação de bens e serviços locais.
Misto de populismo social com centralização política, o estilo de governo de
Agamenon (por ele chamado de "ruralização") foi marcado pela busca da unidade
social e política, apoiada na personalidade pública do interventor. O governo estadual
procurou envolver-se em todos os setores da vida cotidiana, seguindo um ideário
tradicionalista, autoritário e fortemente católi- co, que procurou apoiar-se tanto na
censura oficial do DIP, quanto na utilização do jornal oficio- so, o Diário da Manhã.
A obra administrativa de Magalhães pode ser dividida, primeiro, pela busca
desenfreada do "con- senso máximo" na sociedade pernambucana, a partir de uma
falsa imagem de paz e harmonia social no Estado. Objetivo perseguido através de
uma feroz repressão aos “adversários, críticos, comunistas, prostitutas, afro-
brasileiros, vadios e homossexuais”. O governo Agamenon também combateu o

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES


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cangaço e realizou obras contra a seca. Seu programa de erradicação dos mocambos
(habitações insalubres) teve forte impacto entre as populações pobres e foi objeto de
intensas e apaixonadas controvérsias entre sociólogos, antropólogos, engenheiros,
sanitaristas e urbanistas. A campanha contra os mocambos assumiu um caráter
ressocializador, na medida em que vincu- lava estreitamente habitação, saúde,
integridade física e moral da família, trabalho e cidadania. Na verdade, ela escondia
uma intenção civilizatória com a qual muitos não concordavam, como Gilberto Freyre,
Mario Sette, Manuel Bandeira e outros.
Outro aspecto dessa obra que merece atenção é a criação dos Centros
Educativos Operários, cujo fim era “educar, regenerar, civilizar e integrar” os
trabalhadores no seio da sociedade. A meta principal era fazer um trabalho de
saneamento e profilaxia social, afastando os operários da doutrina marxista da luta de
classes.
Em janeiro de 1945, Agamenon Magalhães foi novamente chamado por Getúlio
Vargas para a pasta da Justiça. Mas desta vez, Getúlio não preparava o fechamento
das instituições (como em 1937), e sim a sua democratização.
Como titular da pasta, Agamenon aprovou o novo Código Eleitoral (Lei
Agamenon) e convocou as primeiras eleições livres do Brasil, com a autorização para
o funcionamento dos partidos políticos e o pleito direto para a presidência da
República. No entanto, a tentativa de aprovar uma lei antitruste (chamada de "lei
malaia" por seu opositor Assis Chateaubriand, fazendo assim menção ao seu apelido
pernambucano, "China gordo", dado por Manoel Bandeira) aumentou as pressões de
setores empresariais e militares contra o governo Vargas. Em outubro de 1945,
Getúlio Vargas acabou sendo deposto, e com ele Agamenon deixou o ministério. O
sucessor de Vargas, José Linhares, anunciou o veto à "lei malaia" como uma de suas
primeiras medidas.

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PROCESSO POLÍTICO EM PERNAMBUCO DE 2001 A 2015

Eleições estaduais em Pernambuco em 1998


As eleições estaduais de Pernambuco em 1998 ocorreram no dia 4 de outubro
como parte das eleições gerais em 26 estados e no Distrito Federal. Foram eleitos o
governador Jarbas Vasconcelos, o vice-governador Mendonça Filho, o senador José
Jorge, 25 deputados federais e 49 estaduais. A eleição foi decidida em primeiro turno,
pois o candidato vencedor obteve mais da metade dos votos válidos.
Na disputa pela presidência da República, Fernando Henrique Cardoso, do
PSDB, venceu Luís Inácio Lula da Silva, do PT, por expressiva vantagem de votos
(1.637.394, contra 890.971), garantindo sua reeleição logo no primeiro turno.
Na disputa estadual, o ex-prefeito do Recife, Jarbas Vasconcelos, do PMDB,
superou o então governador e candidato à reeleição Miguel Arraes, do PSB, também
com destacada votação (1.809.792, contra 744.280 pró-Arraes), vencendo o pleito
também já no primeiro turno.
Para a vaga no Senado Federal, José Jorge, do PFL, foi o candidato mais
votado, recebendo 1.460.835 votos.
Eleições estaduais em Pernambuco em 2002
As eleições estaduais de Pernambuco em 2002 aconteceram em 6 de outubro
como parte das eleições em 26 estados e no Distrito Federal. Foram escolhidos o
governador Jarbas Vasconcelos, o vice-governador Mendonça Filho, os senadores
Marco Maciel e Sérgio Guerra, 25 deputados federais e 48 estaduais. Como o eleito
obteve mais da metade dos votos válidos, a eleição foi decidida em primeiro turno.

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Na disputa pela presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT)


venceu José Serra (PSDB) por larga vantagem (1.657.476 votos, contra 1.015.496 do
representante tucano), insuficiente, porém, para decidir o pleito já em primeiro turno.
No segundo turno, mais uma vitória do candidato do PT, que obteve 2.198.673 votos,
enquanto Serra angariou 1.654.132 sufrágios.
Para o governo do estado, Jarbas Vasconcelos, do PMDB, garantiu sua
reeleição ainda no primeiro turno ao bater o candidato do PT, Humberto Costa, por
larga vantagem (2.064.184 votos, contra 1.165.531 do petista).
Para as duas vagas do Senado Federal, Marco Maciel, do PFL, e Sérgio
Guerra, do PSDB, foram eleitos.
Eleições estaduais em Pernambuco em 2006
As eleições estaduais em Pernambuco em 2006 ocorreram no dia 1º de
outubro, como parte das eleições gerais no Distrito Federal e em 26 estados
brasileiros. Mendonça Filho (PFL) foi o 1º colocado no primeiro turno com 39,2%
(1.578.001 votos), mas não conseguiu impedir o segundo turno e teve como rival o
neto do ex-governador Miguel Arraes, Eduardo Campos (PSB) que obteve 33,81%
(1.356.950 votos). Jarbas Vasconcelos foi eleito senador com 56,14% (2.031.261
votos), além de 25 deputados federais e 49 estaduais.
No segundo turno, que aconteceu em 29 de outubro, Eduardo Campos
conseguiu reverter o placar e obteve 2.623.297 votos (65,36%). Já Mendonça
obteve 1.390.273 votos (34,64%), menos que no primeiro turno.
Eleições estaduais em Pernambuco em 2010
As eleições estaduais em Pernambuco em 2010 foram realizadas em 3 de
outubro, como parte das eleições gerais no Brasil. Nesta ocasião, foram realizadas
eleições em todos os 26 estados brasileiros e no Distrito Federal. Os cidadãos aptos a
votar elegeram o Presidente da República, o Governador e dois Senadores por
estado, além de deputados estaduais e federais. Como nenhum dos candidatos à
presidência e alguns à governador não obtiveram mais da metade dos votos válidos,
um segundo turno foi realizado no dia 31 de outubro. Não houve segundo turno para
governador em Pernambuco. Na eleição presidencial o segundo turno foi entre Dilma
Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) com a vitória de Dilma. Segundo a Constituição
Federal, o Presidente e os Governadores são eleitos diretamente para um mandato de
quatro anos, com um limite de dois mandatos. O Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) não pode ser reeleito, uma vez que se elegeu duas vezes, em 2002 e 2006. Já o
Governador Eduardo Campos (PSB), eleito em 2006, candidatou-se à reeleição e
venceu-a com 3.450.874 votos (82,84%). O segundo colocado foi o seu rival histórico,
o ex-governador Jarbas Vasconcelos (PMDB) que em 1998 venceu Miguel Arraes, avô
de Eduardo, o impedindo de se reeleger. Jarbas obteve apenas 585.724 votos
(14,06%). Já nas eleições seguintes, Eduardo e Jarbas tornaram-se importantes
aliados.
Dez candidatos disputaram duas vagas no Senado, dos quais se elegeram
Armando Monteiro (PTB) e Humberto Costa (PT).
Pelo estado do Pernambuco foram eleitos vinte e cinco (25) deputados federais
e quarenta e nove (49) deputados estaduais.
Eleições estaduais em Pernambuco em 2014

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES


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As eleições estaduais de Pernambuco, em 2014, foram realizadas em 05 de


outubro (1º turno) e 26 de outubro (2º turno), como parte das eleições gerais no Brasil.
Os eleitores aptos a votar elegeram o Presidente da República, governador do Estado
e um senador da República, além de deputados federais e estaduais. Os principais
candidatos a governador foram o senador Armando Monteiro (PTB) e Paulo Câmara
(PSB). O candidato Paulo Câmara, do PSB, venceu as eleições com 68,08% dos
votos válidos, o que corresponde a 3.009.087 votos, e o candidato Armando Monteiro,
do PTB, ficou na segunda posição com 31,07% dos votos válidos, o que corresponde
a 1.373.237 votos. Já para o Senado, os principais candidatos foram Fernando
Bezerra Coelho (PSB) e o ex-prefeito da Cidade do Recife, João Paulo (PT). Fernando
Bezerra Coelho foi eleito senador com 64,34% dos votos válidos, o que corresponde a
2.655.912 votos. João Paulo ficou em segundo lugar com 34.80%, o que corresponde
a 1.436.692 de votos.
A campanha de 2014 foi marcada pela tragédia que matou o ex-governador e
então candidato à presidência da República, Eduardo Campos (PSB). Sua morte
influenciou diretamente o cenário político estadual e nacional.

COORDENAÇÃO SARGENTO MARQUES

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