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FORTIFICACõES DO CEARA

'
Coronel ANNIBAL BARRETO

Resumo histórico das fortificações construidas


no Ceará na época do Brasil-Colônia

· "Devemos obstar por todos os Em 1586 firmaram-se os portu-


meios que o território pátrio seja guêses na Paraíba ; e em 1597 já
maculado pelo inimigo". atingiam o Rio Grande do Norte.
"O mais eficiente dêles é, segun- Em meado de 1603 Pedro ou Pero
do Varnhagem : Preparar-nos para Coelho de Souza, português abas-
receber à porta e não dentro dela, tado e proprietário na Paraíba, que
depois de nô-la haver saqueado". fôra nomeado Capitão-Mor, partiu
Pela localização das defesas fixas da Paraíba para o rio Jaguaribe,
construídas, no Ceará, no tempo do acompanhado de Soares Moreno, Si-
Brasil-Colônia, pelos lusitanos, cer- mão Nunes e Manoel de Miranda,
tificar-se-á da situação dessas for- por terra, com 86 homens brancos
tificações, que constituíam uma li- e 200 índios, com o fim de tentar
nha defensiva nos pontos nevrál- colonizar o Maranhão e expulsar os
gicos daquela região, e que, naque- franceses de lá e do Ceará, onde
la época, impediriam ou obstariam 'iam se estabelecendo, com o apoio
qualquer penetração de conquista- dos índios, que com os quais co-
dores no interior dessa parte do merciavam.
Brasil. Na foz do Jaguaribe construiu os
primeiros elementos de um Fortim,
• • conforme veremos adiante.
Quando D. João UI, em 1534, di- Do Jaguaribe, com um grande
vidiu a costa do Brasil em Capita-· contingente de índios, partiu para
nias hereditárias, o território do Camocim ou Rio da Cruz e daí al-
Ceará ficou compreendido entre cançou o rio Parnaíba (Piaui), de
três doações distintas : onde retornou ao Ceará, vindo ter
à barra do rio Ceará, construindo
a) dos limites com o Rio Gran- um Fortim na sua foz e na sua
de do Norte até o rio Jagua- margem direita, denominando-o São
ribe, fazia parte da doação Tiago.
que coube a João de Barros Posteriormente, regressou à Pa-
( 100 léguas a partir da Baía raíba em busca de recursos. Retor-
da Traição (Paraíba) até o nou ao Ceará, mas à míngua de au-
Jaguaribe) ; xílios, é obrigado a retirar-se para
b) do rio Jaguaribe ao rio Mun- o Rio Grande do Norte, onde fale-
daú, nas 40 doadas a Antô- ceu.
nio Cardoso de Barros ; Foi, pois, Pero Coelho, o primeí-
c) e do rio Mundaú aos .limites ro português a tentar a colohiza-
com o Piauí, nas 75 concedi- ção do Ceará, e o primeiro a lan-
das a Fernão Alvares de An- çar os fundamentos de fortifica-
drade. ções na sua costa.
~sses donatários, por motivos di-
.. .
versos, não puderam dar inicio a Vejamos, agora num resumo his-
colonização de suas Capitanias. tóric<?_, cronológico, como foram dis-
A DtFESA NACIONAL Nov./1955

seminados · pelo litoral e interior da Ibiapaba, avançou o mesmo até


essas fortificações. o rio Parnaíba, atingindo o lugar
~ntão chamado Punaré, de onde re-
1°) FORTIM DE S. LOURENÇO gressou para as margens do rio
(Foz do Jaguaribe) Ceará ou Itarema, situados a 18 km
a oeste de Fortaleza.
Construção, Armamento, Guar- Aí na sua' foz e na margem di-
nição. etc. reita construiu um Fortim de tai-
pa, que denominou São Tiago da
A construção dêsse Fortim foi Nova Lisboa ou simplesmente São
iniciada em 10 de agôsto de 1603, Tiago .
pelo Cap. Pedro ou Pero Coelho . A povoação que fundou chamou-
de Souza, na margem esquerda do se Nova Lisboa e essa região pas-
rio Jaguaribe, próximo à sua foz, sou a chamar-se Nova Lusitânia .
e entre os rios Paripuera e São
Lourenço, no local conhecido por b) Comandantes :
Passagem das Pedras. Pero Coelho - 1604 ;
Nessa época, Pera Coelho com Cap. Simão Nunes Correia .
uma expedição, partindo em junho 1604-1605 ; e, novamente, Pero Coe-
da Paraíba, destinava-se ao Mara- lho - 1605.
nhão, com a finalidade de expulsar c) Armamento: Mosquetes.
daí os franceses, chefiados por Jac- d) Guarnição: 45 homens.
ques Rifault. e> Sua história:
Até 1640, nos mapas, ainda fi-
gurava êsse Fortim, ora com a de- Durante a ausência de Pero Coe-
nominação de Presídio, Fortim, lho, que foi à Paraíba em busca de
ora de Fortaleza. recursos, ficou no comando do For-
A missão de Pero Coelho, con- tim o Cap. Nunes Correia. Pelo
forme estabelecia o Regimento . ex- espaço de 18 meses permaneceu es-
pedido pela Côrte de Madrid, "era sa guarnição quase sem recursos a
descobrir por terra o pôrto do Ja- , sem comunicação com a Paraíba..
guaribe, tolher o comércio dos es- Assim, ao regressar ao Forte· em
trangeiros, descobrir minas e ofe- 1605, não teve Pero Coelho outro
recer paz aos gentios" ; "fundar po- alvitre senão retirar-se com a guar-
voações e Fortes nos lugares ou nição para o Rio Grande do Norte
portos que melhores lhe parece- (Fortes dos Três Reis Magos), pois
rem". os ataques dos índios eram cons-
Alcançando o Jaguaribe com sua tantes e sem poder ser .repelidos.
expedição, composta de 65 soldados · Ficando o Fortim evacuado e
e 200 índios, tratou de se proteger abandonado, com pouco tempo en-
contra qualquer ataque dos índios trou em ruínas e desapareceu.
hostis, construindo, pois, o Fortim
·que denominou de São Lourenço. 3°) FORTIM OU FORT~ -DE SAO
Daí a construção do Forte, como SEBASTIAO '
um meio de defesa contra os selva- (Foz do rio Ceará)
-gens e uma base para vigilância do
litoral nessa região. a) C o n s t r u ç ã o , Armamento,
Sua duração foi efêmera e hoje Guarnição, Comandantes, etc.
nada mais resta .
A 20 de .janeiro de 1612, o Ca-
2°) FORTIM DE. SÃO TIAGO pitão-Mor Martins Soares .Moreno,
(Foz do. rio Ceará) que fôra tenente do Forte dos Três
Reis Magos (Rio G. do Norte),
a) Construção, Comandantes, Ar- aporta, com 6 soldados e um pa-
mamento, Guarnição, etc. dre, à barra do rio Ceará. Aí ini-
cia a construção de um Fortim no
Vitoriosa, em 1604, a expedição mesmo local onde existiu o Fortim
de Pero Coelho contra os franceses de São Tiago, denominando-o Forte
de Mambile e os índios tabajara~t de São Sebastião, em homenagem
Nov./1955 FOR'l'IFICAÇÕES DO CEARÁ 31

ao santo do dia de seu desembar- Daí, são expulsos pelos selvagens


que nessa regtao. Também nessa rebelados em janeiro de 1644.
ocasião construiu uma Capela com Voltaram a ocupá-lo em . 1649, e
invo$!ação de N. S. do Amparo. em 1654 deixaram-no finalmente.
O Forte era um .quadrado de es- Depois que os holandeses foram
tacas de pau a pique e 'terra, flan- daí expulsos em 1644 pelos índios
queado por dois baluartes peque- revoltados, o Forte ficou em com-
nos, também quadrados, localiza- pleta ruina. Os canhões foram
dos em dois ângulos tliametralm'en- transportados para o Forte do
te opostos. . Schoonemberch, bem como o· ma-
No seu interior foram construi- terial de construção : telhas etc.
dos alojamento para a guarnição e Hoje nada mais resta.
depósito para gêneros.
4°) FORTIM DE N. S . DO
b) Armamento e guarniçfío: ROSARIO
De início, foi armado com duas
peças de ferro e guarnecido com (Ponta de Jericoaquara (Buraco
20 homens, armados de mosquetes. das tartarugas) próximo
Posteriormente, sua guarnição foi a Camocim)
aumentada para 33 homens . E seu a) C o n s t r ti. ç ã o , Armamen-
armamento pesado passou a ser o to, Guarnição, Comandan-
,geguinte: tes etc .
4 peças de ferro de 4 . libras e 1 Jerônimo de Albuquerque, em
de 2 libras. , 1613, construiu em Jericoaquara
c) Comandantes: (enseada e ponta situadas entre
Soares Moreno (1612) Acaraú e Camocim) um Fortim, sob
Estêvão de Campos a invocação de N. S. do Rosário.
Manoel Brito Pereira · Como obra de defesa era muito
Sargento Almeida Bartolomeu de rudimentar, pois não passava de
Brito uma estacada de pau a pique.
Domingos Lopes Lobo (1617) Em 1637 também os holandeses
Soares Moreno, novamente (em aí fizeram pequenas obras de for-
1621) . tificação, dirigidas por Jacob Evers.
Domingos da· Veiga, sobrinho de l!:sse, alistando índios, seguiu para
Soares Moreno (1631) o Nlaranhão e lá morreu em luta
Tenente Van Han - holandês com os portuguêses.
(1637) Em 1655 André de Vida! de Ne-
Tenente Gedian Morris - holan- greiros mandou construir na ponta
$Iês ( 1637) . Jericoaquara uma fortificação per-
manente, a fim de facilitar as co-
d) Reconstrução : municações, por terra, entre o Cea-
Em setembro de 1621, Soares Mo- rá e Maranhão, servindo êsse re-
reno, reconstruiu o Forte, . que se duto de proteção aos portuguêses,
achava em ruínas . Suas muralhas que se destinavam a São Luiz.
foram reconstruídas com pedras Parece que as peças para aí trans-
sôltas, numa altura de 3m 30 . portadas não foram l)lontadas e fi-
Os holandeses reforçaram-no com caram encobertas pela areia e ou-
uma palissada em 1637 . 'tras foram roubadas .
e) Sua história : O armamento era mosquete e a
guarnição era composta de 40 ho-
l!:sse Forte prestou relevantes mens .
serviços na defesa do litoral, repe-' Hoje, não há mais vestígios,
lindo em 1614 piratas franceses
(Dur Prat) e, em 1624 a 1625, naus b) Comandantes :
flamengas. _; · Jerônimo de Albuquerque (1613)
A 25 de outubro de 1637, depois Jerônimo de Albuquerque Sobri-
de heróica resistência, caiu em po- nho - sobrinho de Jerônimo de
der dos holandeses, comandados por Albuquerque (1613-1614)
George Gasrtsman , Manoel de Souza Eça ( 1614) .
32 A DEFI!:SA NACIONAL Nov./1955

c) Sua história : de ser feito o traçado do Forte pelo


f:sse Fortim servia de ponto de engenheiro Ricardo Caar.
apoio para a vigilância do litoral No dia 22 estava quase conclui-
infestado de piratas franceses e da a obra.
selvagens, e uma base de proteção O Eorte recebeu a denominação
para a expulsão dos franceses do de Forte Schoonemberch, em ho-
Maranhão. menagem ao governador holandês
Os piratas franceses atacaram o de Pernambuco.
Fortim em 1614, mas foram repe- Era pequeno e construido de ma-
.lidos. Ainda em 1614, seus defen- deira : estacas de carnaúba e ter·
sores repeliram um forte ataque de r a. Tinha a forma pentagonal, cer-
300 índios. cado de parapeito e palissada.
Em 1637, quando os holandeses Posteriormente, Matias Beck am-
ocuparam o Fortim de São Sebas- pliou e reforçou as obras de defe-
tião, na barra do rio Ceará, ocupa- -sa, de acôrdo com a planta feita pelo
ram também êsse Fortim. Mais tar- Engenheiro Caar. Essa ampliação
de, com a expulsão dos holandeses, foi iniciada em 19 de agôsto de
foi guarnecido pelos portuguêses. 1649.
. Nas lutas titânicas contra os De início, foi armado com 11 pe-
franceses e contra os selvagens não ças de ferro e guarnecido com 40
podem ser esquecidos os nomes de : soldados.
Jerônimo de Albuquerque, Manoel Em 1654, tendo fim o domínio
de Souza Eça, Alferes Cristóvão holandês no Brasil, Alvaro de Aze-
Sellares, Sargento Baltazar Fer- vedo Barreto, que substituiu ·o co-
nandes Barreiros e cabos Simão mandante holandês Matias Beck,
Fernandes Botelho, Manoel Dias mudou logo o nome do Forte
Guoteres e Francisco de Araújo Schoonemberck para Forte de N.
Moura que, herõcamente, derra- S . da Assunção.
maràm seu . sangue em defesa da Nessa época Alvaro de Azevedo
terra invadida. Barreto fêz reparos no Forte e deu
f:sse Fortim foi destruido no diá início á construção de uma Ca·
12 de outubro de 1614, por ordem pela .
de seu comandante, quando daí se Em 1655 Alvaro de Azevedo Bar-
retirou para Periá, deixando a cos- reto foi substituído no comando do
ta cearense . Forte por Domingo de Sá Barbosa.
Hoje, não há mais vestígios.
Por Carta Régia de 27 de julho
5°) FORTE SCHOONEMBERCH de 1656, foi autorizado a André Vi·
.( holandês) ou FORTE DE N. S. dal de Negreiros, então governador
DA ASSUNÇÃO (português) do Maranhão, ao qual estava subor-
dinado o Ceará, a construir um
Construção, Reconstrução, Ar- Forte de pedra e cal ou mesmo de
mamento, Guarnição etc· madeira de lei.
No momento· não foi executada
A 3 de abril de 1649 Matias Bech a construção, continuando o antigo
(holandês) aporta à enseada de Forte na mesma situação de ruinas.
Mucuripe, com 3 iates e dois bar- De 1654 a 1812 êsse Forte foi, •
cos transportando 298 homens. ora por outra, reparado. Entretan-
Daí passou a explorar a costa do to, não sendo conservado, nesse
Ceará até a barra do rio Ceárá, com ano de 1812, desmoronou-se.
o fim de escolher um local para
construir um 'Forte. A colina si- Durante o século XVII os melho-
tuada à margem esquerda dçi Pa- ramentos do Forte foram executa-
jeú (Marajaih-Ipajuca-Telha e de- dos nos Comandos de :
pois Pajeú), e denominada pelos Manoel Carvalho Fialho (1662) ;
indígenas de Marujaitiba, foi o lo- João Tavares de Almeida (1666) ·
cal escolhido . · Bento Correia de Figueiredo ; '
A 9 de abril 40 soldados lll1Cla- João de Barros Braga;
ram a limpeza do terreno, a fim Sebastião Sá (1684).
Nov./1955 FORTIFICAÇÕES DO CEARÁ 33

Em · 1708, a planta apresentada Nesse ano de 1799 o Forte dis-


pelo engenheiro Diogo da Silveira punha do seguinte armamento :
Veloso para reedificar o Forte de 7 peças, sendo uma de bronze, d~
pedra e cal não foi aprovada . calibre 7" e 6 de ferro de di-
Em 1729, uma comissão de enge- ferentes calibres :
nheiros, inclusive o Sargento-Mor
Diogo da Silveira Veloso, foi con- 1 de calibre - 9"
trária à construção de uma Forta- 1 de calibre - 8"
leza de pedra e cal, opinando por 3 de calibre - 6"
reparos a serem feitos, substituin- 1 de calibre - 5"
do as carnaubeiras por madeira Tôdas em mau estado.
mais forte. Em 1802 foi construido um
quartel.
· Em 1749 seu armamento era o Em 1812, quando era governador
seguinte: Manoel Inácio Sampaio, o Forte es-
a) Peças .de bronze: tava reduzido a um Reduto de tér-
ra batida e revestido de madeira~
2 - calibre - 2" em quase ruínas.
'2 calibre - 5" Assim, desapareceu o ex-Forte
1 - calibre - 8" Schoonemberch, construído ém 1649
5 pelos holandeses, e que, em 1654,
b) Peças de ferro: foi denominado pelos portuguêses
de Forte ou de Fortaleza de N. S.
5 - calibre - 10" da Assunção. ·
2 - calibre - 3" Nesse mesmo local foi, em 12 de
7 outubro de 1812 iniciada a constru-
NOTA - Vencimentos mensais : ção da Fortaleza de N. S. da As-
a) Cap-Mor da Capitania (que era sunção, conforme veremos adiante.
também o Cmt da Fortaleza) : 33$333.
b) Condestável - 1$920 e mais 4 li- 6°) FORTE DE CAMOCIM
tros de farinha. (Chefe dos artilheiros).
Guarnição - duas companhias : 2 ca-
pitães, 2 alferes, 2 artilheiros e 240 sol- (Foz do Coreaú ou rio da Cruz)
dados .
a) C o n s t r u ç ã o , Armamen-
Em 1756, no govêrno de Montau- to, Guarnição etc.
ri foi iniciada a construção de um .
Reduto de madeira e terra batida, Em 1613 Jerônimo de Albuquer-
que, mais tarde, foi artilhada com que já havia aportado às praias de
12 peças . . Camocim, com a intenção de aí cons-
Ainda em 1782 não tinham sido truir uma fortificação provisória,
reconstruídas as defesas do Forte. que servisse de base para a expul-
Em 1790 permanecia a ~esma si- são dos franceses do Maranhão .
tuação. Entretanto, achou mais conve-
Em 1799 - 29 de outubro - niente construir na ponta de Jeri-
Bernardo Manoel de Vasconcelos, coaquara, mais a leste, por ofere-
governador da Capitania do Ceará, cer melhores vantagens de ordem
reclama contra o estado de ruínas militar.
do Forte, bem como comunica ser Em 1604, "por aí já havia passado
{) seu efetivo muito pequeno : Pero Coelho. . '·
Cmt (êle próprio) Não se precisa a data em que · os
1 tenente holandeses construíram ·em Carno-
1 sargento cim um pequeno Fortim, entretant
1 furriel to, possivelmente, pode t ter sido em
1 cabo 1641, quando o governwdor hola'il·
1 tambor dês do Ceará, Gedean Mórris, via-
21 soldados jou pelo norte da Capitania, a tí-
~ NOTA - Ganhava um soldado 8$060 tulo de exploração e à cata de ri-
por ano. quezas.
a
34 A . DEFESA NACIONAL Nov./1955

·. Em 28 de fevereiro de 1644 êsse Em 1697 sua guarnição foi au-


Fortim foi atacado e tomado pelos mentada com mais 30 soldados.
índios, que trucidaram a guarnição Mais tarde, em 1699, João da
batava . Mota foi substituído no comando
Chefiava os selvagens, o índio por Belchior Pinto.
Ticuna que, em 1659, recebeu da · Em 170Ó o Fortim foi recons-
Rainha Regente muitas mercês pe- truido por ordem do Ten-Cel João
los serviços prestados à causa lu- de Barros Braga.
sitana . Em 1701 Belchior Pinto foi subs-
Antônio Teixeira de Melo, que tituído no comando por Plácido de
havia combatido os holandeses no Azevedo Falcão, que aí permane-
.Maranhão, mandou ocupar êsse ceu até 1703.
Fortim em nome do Rei de Portu- tsse Fortim foi duas vêzes to-
-gal. mado pelos índios rebelados ; e em
Em 1656 Anqré. Vital de Negrei- 1705 foi incendiado.
ros mandou guarnecê-lo com quatro Em 20 de dezembro de 1705, o
peças de 6 libras e 25 soldados . governador de Pernambuco, Fran-
Como o Fortim .de Jericoaquara, cisco de Castro Morais, propôs à
ésse ponto da costa, ocupado e for- Metrópole a sua extinção, conside-
tificado, facilitava as comunicações rando terem os índios deixado li-
do . Ceará com o Maranhão, permi- vre o litoral, e assim o Fortim per-
tindo o comércio dos portuguêses dia sua finalidade precípua, que era
e proteção contra os ataques dos a defesa dos moradores .
selvícolas.
Em 1687 já tinha êsse Fortim de- Em 1706 comandava o Fortim o
saparecido, e hoje não há mais ves- cabo Manoel Dias Pinheiro.
tígios ao mesmo. Por Carta Régia de 12 de março
de 1707, , foi o governador de Per-
·7°) FORTE REAL DE SAO nambuco autorizado a mandar
FRANCISCO XAVIER abandonar o Fortim, determinando
que o cabo Manoel Dias Pinheiro,
(Baixo Jaguaribe) seu comandante, fôsse transferido
para o Forte de Pau Amarelo, en-
Construção, Armamento, Guar- tão em construção, nessa época.
nição etc.
Por ordem do governador de Per- 8°) FORTIFICAÇõES SUMARIAS
nambuco, Caetano de Melo Castro, DO BAIXO JAGUARIBE
a 25 de março de 1695 o Cap. Pe-
dro Lelou partiu da Fortaleza de Fortificações sumárias também
N. S. da Assunção, com um Con- foram construídas em épocas. pos-
tingente de 50 homens, a fim de teriores à construção do Fortim
construir um Presídio no baixo Ja- Real de São Francisco Xavier, já
guaribe, com a finalidade de terem descrito, no baixo Jaguaribe e no
aí os lusitauos um apoio para pa- litoral, pois, em 1706, já havia sido
.cificar os índios e proteção ade· alvitrado a construção de fortifica-
quada, em caso de ataque. ções nessa região .
Assim, desembarcaram nesse lo-
cal, pólvor;~, 4 arcabuzes e 2 armas Assim, vejamos:
de · pedra, e deram início a cons- 1) Fortim de Aracati - cons-
trução de um Presídio. ou Reduto. truido a 5 km da foz do Jaguaribe
· .:'0 Reduto foi construido a 73 km e armado com 6 peças.
a'cima• da foz do Jaguaribe e deno- Não há mais vestígios.
minado Forte Real de São Fran-
cisco Xavier da Ribeira do Jagua- 2) Reduto de Canoa Quebrada
rille, sençl.o guarnecido por 20 sol- - compunha-se de uma bateria (só-
dados. ·; mente peças ), situada a 2 km e
LJSeu comando foi dado ao ajudan- 800m, a leste do farol da barra do
te· João da Mota, por carta Régia Jaguaribe .
de 9 de setembro de 1696. Não há mais vestígios.
Nov./1955 FORTIFICAÇÕES DO CEARÁ 35

3) Reduto da Barra do Aracati :Esse Fortim recebeu a denomina-


- construido na ponta oeste da foz !,'ão de Fortim de São Luiz.
do rio Jaguaribe e guarnecido com F, m 1800 o governador Bernar-
canhões de grosso calibre. do .\ianoel de Vasconcelos alvitrou
Não há mais vestígios, salvo al- o a11mento de peças da guarnição
gumas pedras como indicio do For- do l'orte de 18 a 26.
tim que lá existiu. Alguns canhões Ew 1801, reforçando o Forte, o
servem de ornamento à Praça do gove.mador manda levantar três
Mercado, da cidade do Aracati. batelias de pedra 'e cal. Uma delas
4) Bateria do Retiro Grande - foi c.mstruida bem próximo ao an-
situada a 37 km a SO da cidade de cora<l ouro.
Aracati, junto a uma enseada e Foi encarregado dessa constru-
pôrto local. ção o Ten artilheiro Francisco Xa-
Teve duração efêmera. vier 'I orres que, com seus soldados,
'em 1tr.âs meses executou as obras
Nota - Nas prai.as do litoral da ci- planejadas.
didade de Aracati, por muito tempo
ainda eram vistos velhos canhões nas A falta de canhões, em número
dunas. suficiente para guarnecer as Bate-
OBSERVAÇÃO - Além dessas peque- rias construídas, o governador Ber-
nas fortificações do litoral e do baixo nardo .Manoel de Vasconcelos fêz
Jaguaribe, na região leste da Capitania,
disseminados pela costa haviam cinco guarnecê-las com uma peça de fer-
Prestdios ou Postos de Vigilância - si- ro cada Bateria e outras de pau
tuados na barra do Jaguaribe até a
barra do Mossoró, a saber : pintado de preto, iludindo o ini-
1o no Morro de Massaió migo.
20 na Coroa Quebrada As denpesas com essas obras fo-
30 na Ponta Grossa ram de ;;26$930 .
40 no Morro do Tibau
5• na Barra do Mossoró. No me.1do de 1802 mais uma Ba-
ter,ia foi levantada para reforçar
9°) FORTIFICAÇõES DO MU· as defesas do Mucuripe, receben-
CURIPE (Ponta de São Bartolo· do o nome de São Pedro Príncipe.
meu) FORTIM DE SAO LUIZ etc. Das Baterias que defendiam a
ponta de Mucuripe, três foram de-
Já no comêço do · século XVII, nominadas : São Pedro Príncipe,
Soares Moreno preconizava a cons- da Princesa Carlota e São João
trução de fortificações para a d~­ · Príncipe ; o Fortim chamado São
fesa da enseada de Mucuripe ( cha- Bernardo do Governador, e por fi-
mada pelos franceses de Mocori- car próximo ao pôrto de São Luiz
pá), que deveria ser artilhada com · do Mucurjp(!, passou a ser conheci-
4 peças. do também por "Fortim de São
Em 1696 o Capitão-Mor do Cea- Luiz".
rá, Fernão Carvalho, também su- NOTA - Nessa mesma época existia
geriu a construção de fortificações na Prainha (Fortaleza) um Fortim de-
para defesa do ancoradouro de Mu- cido nominado Reduto da Prainha, guarne-
com quas peças d~ pequeno ca-
êuripe. libl)e.
Em 1745 foi apresentado à Me-
trópole um projeto para a constru- Em 1826 as defesas do Mucuripe
!,'ão de um Forte em Mucuripe. foram reconstruídas. ·
Em 1799, afinal, foi construída EIIi 1843 o estado dessas defesas
a primeira defesa da enseada - era precário e quase em ruína.
um Fortim, constando de uma "es-
tacada de pau a pique", em forma 11·Junto às canhoneiras achavam-se
peças enterradas na areia. Sua
de octôgono, medindo cada lado 45 guarniÇão estava reduzida a um Te-
metros de comprimento. Em cada
ângulo, voltado para o mar, havia enente reformado, Cmt, 1 sargento
4 soldados . ·
uma canhoneira.
Seu armamento era o seguinte : Hoje não há mais vestígio.
Três peças de calibre - 3", duas Há um Farol r.regido na Ponta
de bronze e uma de ferro. do Mucuripe_.
A DEt:'ESA NACIONAL ,Nov./1955

·10°) REDUTOS DIVERSOS, FOR- da Assunção, no mesmo loéal onde


TIM, . BATERIAS E PRESíDIOS fôra construido o antigo Forte ho-
landês denominado Schoonemberch,
Em 1749 existia em Jacarecanga em 1649, e agora reduzida a uma
(fortaleza) : um Reduto denomi- Bateria em ruínas.
nado Jarecamara armado com ·duas · A sua planta foi organizada pelo
. peças. E noutras partes da costa : Ten-Cel de Engenharia Antônio Jo-
·a) O Reduto Novo - armado sé da Silva Paulet, tendo o mesmo
•cóm 3 peças ; . dirigido sua construção.
·· b) O Reduto da Faxina - arma- A Fortaleza seria edificada num
do com 3 peças ; quadrado com 90 metros de cada
-: c.) O RedUto do Pôrto - arma- lado, constando de 4 baluartes, três
· do com 2 peças ; com as seguintes denominaçõeG :
, ·' d) · O Fortim da Bandeira (Mu- .
O do nordeste com a invocação
-curipe) - armado com 1 peça (ti- .de N . S . da Assunção, o do sueste
nha uma Bandeira amarela, ser- com a invocação de São José, o do
-:vindo de sinal para os navios) ; noroeste - denominado Senhor
-, e) Em Parazinho, situado a Dom Pedro, Príncipe Regente da
. 68 km oeste da Barra do Ceará, Beira, o Senhor Dom Pedro de Al·
existiu uma Bateria passageira até cântara . ·
. 1829, guarnecida por 2 peças. A construção da Fortaleza custou
.!Ioje, nada mais existe . ao govêrno a importân.c ia de .....
20:362$390, afora 16:103$264- de
Presídios donativos de particulares . ·
Em 1817 foi colocada na parte
Como Postos de vigiiância para externa da muralha do norte uma
impedirem o contrabando. foram lápide com a seguinte inscrição
·instalados, na época colonial, na (em latim) :
. costa, norte e nordeste da capitania
_dó Ceará, os seguintes Presídios : Ano de 1817
de Pernambuquinho ; "As naus escarneciam de mim,
de Pontal do Acaraú ; quando eu era um monte informe :
e de Mundaú. agora, que sou uma grande fortale-
O Presídio de Pernambuquinho; za, de longe tomam-se de respeito.
em 1808,. era comandado por Joa-
. quim Ferreira de Araújo, e guar- Aqui, reinando D. João VI, Sam-
necido por praças da companhia se- paio me fundou bela, o engenho
.diada em Sobral. de Paulet resplandece. Os donati-
Hoje não há mais vestígios dês- vos dos. cidadãos me tornam forte
ses Presídios . pelas muralhas, e os dispêndios
reais me fazetn forte pelas armas".
11°) . FORTALEZA DE N. S. DA NOTA - Essa ' lápide acha-se no Mu·
seu do Estado do Ceará .
ASSUNÇAO
De início, foi a Fortaleza guar-
(A última construída .no Ceará) necida com 5 canhões. •
· construção, Armamento, Guar- Em 20 de fevereiro de 1821 pela
,. niçã(), Comandantes, Recons-· Metrópole foi determinado ao go-
. , , trt1ç{io e.tc .
vernador Francisco Alberto Robim
que prosseguisse nos •trabalhos da
., Co'mó uma homenagem à data do Fortaleza .
aniversário ·do "Sereníssimo Senhor / A 17 de agôsto de 1822 estavam
-Príncipe da Beira, o senhor D. Pe· · concluídas as suas obras .
dro ~de Alcântara, em 12. de outu- CÔnforme já vimos, era um qua-
bro d~ 1812, o governador da Ca- drado com quatro baluartes e foi
pitania do Ceará-Grande, Manoel guarnecida com 27 peças, que cru-
·Inácio Ué Sampaio, lançou a pedra -zam seus fogos em condições de ba-
fundamenta:l da Fortaleza de N. S·. terem o ancoradouro e Pôrto.
FORTIFICAÇÕES DO CEARÁ 37;

No final da construÇão os qua· Em 1910 a Fortaleza foi desar-


tro baluartes receberam as seguin· mada.
tes denominações : Em 1917, na primeira grand~
- o do Norte - N. S. da As· guerra do século, foi a Fortaleza
sunção guarnecida pela 1a Bia Independen,
- o do Sudeste - São José te - do 3° Distrito de Artilharia
- o do Nordeste - D . João de Costa, sob o comando do Capi.
- o do Sudoeste - Príncipe da tão Bernardino Chaves.
Beira. Em fins de l!H8 essa Bia foi ex,.
tinta.
Em 1829 "'ram acrescidas mais O quartel contíguo à Fortalez;t, ·
quatro peças, fazendo um total de que aquartelava tropa de Infanta-
31. ria que guarnecia essa Fortificação,
Em 1847 foi a Fortaleza recons- foi ocupada pelo 46° BI, depois
truída devido ao seu mau estado ; 23° BC. E hoje serve de sede ao
e em 1856 foram feitos alguns re- Quartel-General da 10a. RM e seus
' paros. · serviços. , ,
Em 11 de feveiro de 1857 a For- Suas muralhas ainda estão de' pé
taleza passou à categoria das for- b bem conservadas, com alguns ca-
tificações de 2a. classe e assim con· nhões servindo de ornamento.
tinuou até 1880. OBSERVAÇAO - Do nome da For-
Nessa época estava artilhada com taleza de N . S. da Assunção veio o
26 peças de alma lisa e 6 canhões nome de cidade Fortaleza - Capital do
de bronze, raiados, calibre 12", sis- Estado .
A principio : "Vila da Fortaleza de
tema La Hite. N. S. da Assunção" . Depois: "Ci-
Os calibres das peças de alma li- dade de Fortaleza de ~ova Brag·ança",
'' Cidade d.e Fortaleza çlo Ceará", "Ci-
sa eram os seguintes : dade de Fortaleza'' e finalment~ "For,
taleza" .
4 - caJ.ibre - 25"
' 2 - calibre - 18" BIBLIÕGRAFIA
9 - calibre - 12"
5 - calibre - 6" a)
'
"Corografia da Província do
6 .....: calibre - 3" Ceará", por José Pompeu de
A. Cavalcante - 1887 ;
26 b) "Homens e Fatos", por João
Com os reparos e melhoramentos Brígido - 1919; ,
executados de 1856 a 1886 (em 30 c) Boletim do Museu Histórko
anos), a Fortaleza sofreu muitas do Estado do Ceará - Ano
modificações . 2°, n. 3 - 1936;
Em 1858 foi estimado seu valor d)' "O Ceará", Raimundo Girão
em então 125:000$000. e Martins Filho - 1'939 ; '
Em 1906, se bem que conserva- e) "Anuário do Ceará", Wal-.
da, exigia alguns reparos urgentes. dery Uchôa - 1954.

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