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Achegas ã historia de Sorocabao

(2.a parte)

Cônego Luiz Castntzho dc Alnzeida

SUMARIO

I. Um grande amigo de Sorocaha - L)r. Afonso


de E. Taunay.
11. Primeiros povoadores de Sorocaba.
111. Sorocaba, caminlio das bandeiras.
IV. De Dom João VI a h111 Pedro I.
V. A aclamação de Pedro I e& Sorocaba.
VI. O juramento da Constituiqão do Ii~~pei-iooutorgada
por a.Pedro I.
VII. A escravidão em Sorocaha.
VIII. A forca em Sorocaba. E o pelourinho.
I As feiras, através dos documentos.
S. O cenario das feiras.
SI. Nótula's sobre as feiras.
XII. A Capela de Nossa Senhora da Conceição.
XIII. 0 s dois Pascoal Moreira Cabral.
XIV. kcumentos mal copiados do 1 . O livro de Atas (já
desaparecido) pelo "Sorocabano", em 1870.
XV. O Ipanema em 1913.
XVI . Fábrica de ferro São João do Ipanema (Apoiita-
iiientos inéditos tirados do copiador em 1938).
XVII. Diversos: A ) Na praça do Conselho ; B) No tempo
cliEl-Rei; C) Ainda a familia Correia; D ) Outro
bandeirante pobre; E) Mais iiin "calça-de-couro"
pobre.
(*) Publicamos a seguir a 2.a parte do trabalho que o autor iloç
a v i a por intermedio do Dr. Afonso de Escragnolle Taunay. - N. da R.
UM GRANDE AMIGO DE SOROCABA

0 DR. AFONSO DE E. TAUNAY


Sorocaba conta varios amigos por estes BrasZs a dentro.
Amigos huwtildes, como os descendentes dos tropeiros de Minaf;
Gotm ou Rio Grande, que certamente conservam a tradição do
tempo d a feirm, reminZscencias atávicas relembracdar no inter-
valo de canções dolentes ao som da vi&, nos derrodeiros "pou-
sosJJ que a civilização hodierw ainda não afugentou. A w o s
&caços, que outrora, comerciantes cru industriais, aqwí encetaram
o sua f o r h w e hoje, numa fuga retrospectiva, acaso ainda so-
nham com a poética cidade* fidalga, sem o fumo das fábri-
cas e o laranjal dourado que a t r a n s f o r m ~ mnum grande centro
de trabalho. Amigos intelectuais, apaixonados pelos homens e
p e h coisas do Brasil e que por isso, no curso de suas investiga-
ções, se detêm neste cmo singular que tem &do Smocaba paro
São Pwlo e o Bmsil, desde Afonso Sardinha e Dom Prancisco
de Sousa.
Entre os terceiros, é mister destacav o nome que encima
estas linhas.
Diretor do Museu Paulista, membro da Academia Brm'Zewa
de Letras, dos Institutos Históricos do Rio e de São Pado e
de tantos outros sodaticios co~gêneresdo p& e do estrangew~,
é um nome feito nu Histeria patria e, especialmente, padista.
Organizador enaérito do Museu de ciencias naturais, engenhewo
e professor de engenheiros, qzce foi até há pouco na ~ o l ~ t t é c n i c ~ ,
o seu espirito brGhante é dos que saem bem ew tudo o que
empreendem.
E' mturd, porem, qwe o historiador sobrepuje o cientista,
na opinião geral dos leitores a quem os assuntos hkfóricos são
mais acessivek. Para os paulistas, principalmente, parece que
o ilustre historiador se identifica com os seus fatos, que d e
soube tiio bem desentranhar dos arquivos e traduzir e m lingw-
p i a nzais doce aos corações ainda do que aos ouvidos. E' o
historiador das bandeiras, que descreveu e m 7 voluvnes alentados,
qrte são a base firme para qzlantos q u e i r m perlzlstrm' os f d o s
+ homeriadas dessa rasa de gigantes. De h4 muito esgotou-se a
Historia Geral das Bandeiras, que os neg6ciantes de livros usados
vendenz a peso de ouro, caso raro n u m azctor vivo e forte.
E' ai, nessa coJeção de ouro, que Sorocaba se revê fia
gloria d e sezls filhos, heróicos calções-de-couro qMe a n h r a m ~ O I -
Minas, G o Mato ~ Grosso, Rio Grande e Pernamhco, con-
quistando territorios e descobrindo riquezm e repelindo invaso-
res, tudo para o Brasil que se formava. Braz Mendes Pais, André
d e Zuniya, os Fernandes, Pascoal Morewa Cabrul, Mmuel Cor-
reia, os Domingues Vidigd, os Antunes Maciéis, Fernão Dins
I:alcão, Miguel Sutil, e tantos outros ai estão, nas páginas desses
livros in~ortais,cantando as glorias de Sorocaba pwa os séculos
que hão de vir.
Reaparecem, essas glorias sorocabanas, em varios tomos
dos Anais do Museu Paulista e e m uma infinidade de m n o -
orafias c artigos que seria impossivel enumerar, mas que se po-
cleriam sintetizar no adnziravel brasão de armas que o p0W-e
crnigo de Sorocaba traçou para a Prefeitura e cidade, onde sc
r~unewtas bandeiras com as feiras pelo sentimento da liberda-
d e : Pro una patria libera pugnavi (Conabate pela patria livre e
u 7lida).
Falamos e m feiras. Taunay é o m i o r conhecedor do as-
sunto. Nada escapa ao seu instinto de historiógrafo. Ainda não
k(á muito, comentava as cavalJuadas de Sorocaba de há UM século,
seguindo a viagem de Hércdes F h e n c e , - isto numa Revisfs
que vale para aquem e alem dos mares, A Ilustração Brasileira.
De uns simples desenhos, creio que a lapis, tirou o Diretor
do Museu Paulista, de parceria com o pintor, os dmiraveis
quadros que, e m duas s& daquela dw'rauel instituitão, relu- I
tam, ao patriota visitante ou ao estrangeiro ilustre, a vida de
Sorocaba há cem anos.
Lá não está escrito Sorocaba. Porquê? Si desde as v i t h 1 ~ s
até ao teto, objetos de prata ou pintwas a oleo, a propria a t m s -
fera que se respira está gritando Sorocaba!
Está sob a mesma: direção o pequeno "Museu Republicano"
d~ Itú. Ai tambem se acha representada Sorocaba, pelos s e w
próceres repzr blicanos (1). Fugindo ao cansaço da +netrópole,
e cmprindo as obrigações de seu cargo, v e m o historiador todos
os meses à tradicional cidade fidel.issima. Ztú tem tanta coisa a
contar àquela alma e m w r a d a e saudosa! Lembra-lhe, coni o s
seus sobradões imperiais, a distante Vassouras, Vassouras - a
nobre cidade flumin.ense donde ele tira a ascendencia materria
pelos Teireira Leite, e onde passou ferias na meninice. . .
Mas, ~rzuitasvezes ao ano, antes de tornar a Pimtinitzga,
o historiador lembra-se destJoutra fdha dos Ferlzandes, e toma
com simplicidade o ônibus que liga as duas irmãr. . . Desce nzd+ir
dos hotéis e, à noite, geralmente, faz o se14 passeio, o corpo no
presente e o espírito no passado. N o passado, digo mal: no
futuro, porque a historia ainda é a mestra da: vida, ainda se
repete, e traz no seu bojo lições impereciveis. A i dos poz~os
que não ali~m?ntxlrnno seu glorioso passado a c h m patriótica
das novas gerações! Estão mortos! Pertencenz ao primeiro mais
ousado que aparecer.
Sorocaba deve, porem, a Taunay o conhecimento e a divul-
gação de u m fato primordial, que a coloca na p r k i r a plana
entre os dilntndores da fronteira e m Mato Grosso. Aproveitalzdo
habilnzente, como u m bow administrador, a .inodiCW.sima verba
de 3 contos de réis anuais, fez copiar e m Sevillwl e Siunaiccas
trmca copiosissinua documenta~ãosobre a co~zquistado sul do Mato
Grosso atual, 120s canzpos da Vacaria. Ai a afiuação dos naturais
e moradores de Sorocaba assume u m relevo extraordinario. A'a-
turais e fundadores. Veja-se bem: era em 1682! AndrC de Zic-
niga, o genro de Bdtasar, figura desconhecida quasi entre os
velhos cronistas, recebe u m como jacto de lztz atrovés dcsses
docunzentos, e torna-se 21% audaz scrtnnista, ao lado desse já
conhecido Pedro Leme, e2 Tuerto, que dizenz ibuano, nm cujos
pais se casaram e morreram e m Sorocaba. Um menino quasi,
em comparação consigo mesmo, quafzdo aos 60 c tantos anos
fundaria Cuiabá, Pascoali Moreira Cabral, o 2.O, nascido enz
Sorocabai quando o atual nucleo de Nossa Senhora da Ponte
cmeçazla n crescer no alto da colina, filho de lzontôninzo e lieto
de Braz Teves, velho putviarca do rio Sarapui, - este jovem
sorocubano assiste, até 1696, 14 anos a fio, naquelas solidões

(1) Atualmente o dr. Taunay está fazendo executar para a


galeria dos "convencionais", do Museu ituano, o retrato a oleo d e
João Licio, representante de Sorocaba na histórica reunião.
nmjestosas, defendendo a fronteira e sonhando com o ouro de
Cuiabá. . .
Coinct2enc.h notavel! Estes mesmos lt+pres, duzentos anos
depois, seriam imortalizados na Retirada da Laguna, e m Inocen-
cia e em outros livros do Visconde de Taunay, o pai do his-
toriadov. ( 2 )
Atualmente, como que e m simetria com a historia antige de
São Paulo, - as bandeiras, - está o dr. Afonso de E. Taunay
compondo a hirtoria moderna, e já tem seir volunzes firontos,
sobre O Café. Deus lhe dê ainda muitos anos de vida, pava que
possa estudar a época do algodão, e a histork da industria pau-
lista: assim, mais U M vez, Sorocaba será conhecida e amada
nos escritos dele. Desc~lpe-noso amigo de Sorocaba a publi-
cação de fatos que lhe dizem respeito: os homens de sua especie
não se pertencem somente a si mesmos, interessam t i patrk e
aos p6stsros. Pam estes, principalmente, é que traçamos estas
linhas. ( 3 ) .

(2) O trecho talvez mais belo das descrições do Visconde de


Taunay é aquele que as Antologias citam: o rio Aquidauana. Ele
era muito jovem, quando conheceu a beleza daqueles descampados.
Por isso lhe ficou para sempre ferida a retina. Não muito antes de
morrer - ouvimo-lo dos labios do proprio filho- voltando a si apos
um alheamento dos sentidos, declarou aos presentes que tinha estado
no Aquidauana. Tudo pode o amof patrio.
(3) O dr. A. de E. Taunay nasceu no palacio d o Governo de Santa
Catarina, quando o Visconde ali era o presidente da Provincia. Seu
ilustre pai era brasileiro nato, descendente de nobres franceses per-
tencentes à Missão Artística que veio ao Brasil sob D. João VI. Sua
Mãe, a Viscondessa, faleceu o ano passado na Rio, era filha dos barões
de Vassouras. E sua senhora é paulistana distinta, Sozisa Queiroz.
E' uma preciosidade o 1 . O livro de Óbitos existente na Ca-
tedral destd cidade. O primeiro assentamento data de vinte de
setembro de 1680! (1)
O segundo, assinado pelo mesmo vigario Gudói, é de ja-
neiro seguinte. (2)
Todo esse ano de 1681 contou apenas 6 mortes. A expli-
cação? E' que Sorocaba tinha apenas 30 casais na vila e talvez
outros tantos ou poucas mais nos sitios onde, pela distancia,
consta pelo livro do Tombo terem sido enterrados alguns cris-
tãos fora do sagrado, isto é, da matriz e de São Bento. Demais,
é justamente então que A. Taunay assinala uma balndeira de
moradores de Sorocaba em Mato Grosso, de forma que Soro-
caba ia natscendo e já dando de si ao beneficio do Brasil. Ado- I

lescentes ainda, Braz Mendes Pais, Jerónimo Ferraz de Al-


meida e seu irmão, Gabriel Antunes de Campos e mais alguns,
atingiam Sdnta Cruz de la Sierra, hoje Bolivia! Para serem
derrotados infelizmente. O Antunes foi levado em ferros a As-
sunção e daí à Espanha, donde, um belo dia, zarpou para o
'Brasil. O Ferraz ainda viveu em Sorocaba cerca de 40 anos.
Civilizou-se, si podemos dizer assim, no sossego da vilakinha
em que exercia os cargos da vereança e da judicatura', alí nas
Casas do Conselho e Cadeia, atual praça Pedro 11.
Diferentemente, o 2.O Pascoal Moreira, que julgamos ser
sorocabano nato, estabelece um campo fortificado às margens
do Miranda, mantendo alerta os castelhanos, uma especie de
(1) Maria, f.' de Luiz de Magalhães e de Andresa Leme.
(2) Catarina de Oliveira, fregiuesa de Itú, casada w m Gaspar
Roiz. Ainda nesse mês faleceu Maria f." de Maria Bicuda Leme. E'
ainda de 1681, junho, Maria Diniz, mulher de Pedro de Miranda. An-
tonio de Braga, sdteiro, natural de Paranaguá, faleceu em 1684. João,
mocente f." de Antonio Barbosa e W9ria Coelho, em maio desse ano.
88 CÔNEGO Lu12 CASTANHO
DE ALMEIDA

fronteira da patria, consoante descobriu o historiador das ban-


deiras, dr. Taunay. Deve ter sido ali o episodio de Pedro Leme
da Silva, o Torto, respondendo coin sobranceria aos espanhóis
que aquilo eram terras do conde de Monsanto, capitão de São
Vicente. Itudnos, dizem os historiadores aos seus filhos triste-
mente célebres os irmãos Leme, mas o capitão Domingos Leme
da Silva, pai deste torto direito, moratla em Sorocaba, onde fa-
leceu aos 7 de julho de 1684, sendo enterrado junto ao arco da
capela-mor perto do altar do Rosario. "Natural de São Paulo
e morador nesta villa", primeiro casado com Francisca Car-
doso, em segundas nupcias com Maria de Abreu. Esta a trou-
xeram "morta da róssa", em 21 de outubro de 168'3, e a en-
terraram em São Bento "por dizer que lá tinha a sua sepul-
tura". Testamenteiros de Domingos foram Pedfo e Francisco
Leme da Silva. Gente rica, o marido teve duas capelas de mis-
sas, a 2.a mulher 10$000 em missas e sufragios.
"Jeronima de Mendonça, mulher que foi de Gabriel de la
Penha", faleceu a 8 de janeiro de 1681. Sem a naturalidade.
Domingos Nogueira, casado com Clara hmingues, en-
terrado no corpo da igreja, "faleceu no certam", e fora "na-
tural das partes do Reino".
Verònica Dias morreu em seu sitiozinho e foi enterrada
"por amor de Deus por ser pobre", aos 19 de dezembro de
1681. Entretanto, seu primeiro marido fora "Bertholameu de
Zuniga natural da cidade de Assumpção de Paraguai", e o 2.O,
um paulistano, Ma'nuel Alvares Domingos Lopes de Moura,
falecido em 1682, era da vila de São Vicente, primeira do Bra-
sil. Beatriz de Sousa o nome da mulher. Testamenteiros Do-
mingos Ribeiro Vidigal e Braz Domingues Vidigal.
Em 1683, 2 de maio, fdi dado à sepultura o inocente Ro-
drigo, filho de Pedro Leme da Silva e h m i n g a s Gonçalves.
A 29 de outubro desse ano, o vigario Godói enterrou, junto
aos bancos, os ossos de João Pto. que "morreu no certam".
Estamos, assim, em pleno bandeirismo.
E' em fevereiro de 1684 e o livro assinala um Bispo em
Sorocaba, Dom Alarcão, do Rio de Janeiro. Sabe-se que indo
ele ao Ipanema assistiu às experiencias do mercedario frei Pe-
dro de Sousa com Jacinto Moreira Cabra1 e JIartim Garcia
Lumbria, tiralndo prata. E existem ainda, do lado de Campo
Largo, os vestigios desse poço profundo, como existem as La-
vras Velhas próximas à serra de São Francisco, estas, porem,
com os sinais evidentes da mudança do leito de uni ribeiro: ouro
ACHEGASÁ HISTORIA DE SOROCABA 89

de lavagem ! Sofra-se-nos a digressão: Sorocaba nasceu de um


pensamento ambicioso, a busca do ouro. '
Maria D a s nascera em "Moigi". "Maria Morera" na ilha
Grande. (3)
Domingos Fernandes Rego, filho de Afonso Fernandes e
h m i n g a s Gonçalves, nascera em Viana, falecendo aquí em
1685. (4) Susana Moreira era a sua mulher, e testamenteiros
Antonio de Sousa Brandão e Brdz Domingues Vidigal. 41)
missas, teve este morador de Sorocaba.
Manuel Gracia, em 1685 "morreu de inorte accidental que
o mataram" e jaz na matriz sob o púlpito. Era filho de João
Ribeiro e Brizida Machado, e oito missas lhe mandou dizer
uma irmã piedosa. Um drama na roça! Não seria o primeiro,
pois morte acidental tivera pouco antes uma Vicencia de Gus-
man. (5)
" D o m a Maria de Torales, natural da cidade de Guaira,
casada com Gabriel Ponce de Leon, defuncto", descera a tuin-
ba a 28 de fevereiro de 1W. Jalz na matriz. Apenas 6 óbitos
nesse ano. Vicencia do Prado é uma das falecidas, mas não
se lhe dá a naturalidade, e era mulher de Salvador Esteves.
Este se lhe seguia na tumba 25 dias depois, era "natural da
villa de 'São Paulo, morador nesta"'. Maria Leme, mulher de
Joáo Pedroso, teve 4$500 em missas.
Isabel Leme, filha natural de João Leme da Silva, fora
casada comr~facinto Barbosa'. Maria Leme, casada com João
Pedroso, falecera a 7 de março de 1686. Isabel Ribeira fora
filha de Estevão Ribeiro.
O capitão André de Zuniga, natura'l da cidade de Guaira,
(3) Mpria Moreira nascera na Ilha Grande, está no mesmo as-
sento de óbito truncado pela traça. Ainda em 1684 morreu Verônica,
'.f solteira de João Fernandes Oliveira e Catarina de Oliveira. Catarina
Gomes, casada com Aleixo Leme e natural da vila de . . . . morreu
em novemb~ode 1684.
(4) Em 1685 faleceram ainda Antonio, inocente f." de Antonio
Esteves Leme e sua mulher Maria de Sousa; e Maria, f.' solteira de
André Fernandes Freitas.
( 5 ) Entre Domingos Fernandes do Rego e dona Maria Tarales,
temos ainda o inocente Antonio, filho de .. . . .. .. .. e Isabel Oli-
veira, e o inocente Domingos, filho de Diogo D o m i m Vidigal e Ana
M.' Leme. Com estas notas ficam completos os óbitos de 1680-1699.
Imaginar-se pode o valor destas páginas (independem do autor) quando
se considera a dificuldade de consultar arquivos não inteiramente públi-
cos e fora da Capital.
cdsado com Cecilia de Abreu (filha de Baltasar Fernandes)
jaz na matriz junto ao cruzeiro "da bahda do altar de São
Miguel" desde os 3 de janeiro de mil seiscentos e oitenta e
sete anos. 50 missas e uns oficios por sua alma.
Maria foi a inocente filha de Antonio Ribeiro Graicia e
Maria Domingues. Perderam tambem o filhinho Pedro, um
Gonçalo Freire de Andrade e Margarida Fernandes. Outro
casal, Salvador Moreira e Maria Gil Oliveira, perdeu o inc-
cente Ascenso.
Antonio de Oliveira Fakão, natural de São Pau1o.e mo-
rador nesta, entregou a alma a Deus em 30 de março de 1687;
estava casado com Ana Roiz de Peralta em segundas nupcias.
em primeiras com Antonia Gil.
Outro ilustre falecido (fez parte dal 1." Câmara de Soro-
, caba) é Claudio Furquim, natural de São Pa'ulo, filho de outro
do mesmo nome, o de Ana Maria de Camargo, a 15 de novem-
bro de 1687. Em 3 de dezembro seguinte foi a vez de Antonia
Gonçalves, natural da vila de Moigí, filha de Bonifacio Rodri-
" gues e Catarina Martins, casada com Jorge Moreira, natural
do Rio de Janeiro, e em segundas nupciâs com Domingos do
Prddo, natural da vila de São Paulo. I

Ainda a 11 desse mês baixou à sepultura na igreja de São


Bento Violenta (sic) de Peralta, natural da cidade de Guaira,
morddora nesta, casada com Roque Lopes do Amaral, "natural
de Pernambuco". 8 óbitos em 1687.
Antonia Mendes, "natural da villa de Paranahyba!", filha
de Manuel Mendes e Marcelina Bicuda, e cdsada com Domin-
gos de Figueiredo, morreu com todos os sacramentos em 3 de
janeiro de 1688.
(Em fevereiro chegou o Visitador Diiocesano).
Em abril morre um inocente filho de Miguel Cracia Lum-
bria e Sebastianá Moreira. Este Miguel é filho do capitão-
mor de Itanhaem, Martim G~aciaLurnbria aquí residente al-
gum tempo.
Gregorio de la Penha e Catarina de Gusman perdem uma
criança. O Gregorio seria logo escrivão, si já não era, e o
primeiro de Sorocaba. Braz Mendes e sua mulher Maria Mo-
reira tdn~bemlhes morre o inocente João. Braz é o bandeirante
da devota atrás mencionada.
Salvador Moreira e Maria de Oliveira são os pais d'outra
criança falecida, Salvador. Em 17 de dezembro (estamos em
2%) "faleceu da vida presente Ascensa Fernandes, natural da
"fguezia de Santo Amaro, moradora nesta villa" de Nossa
Senhora da Ponte, filha de José Rodrigues e Joana Fernanhs,
-e casada com Miguel Tenorio, "natural da dita freguezia". 6
*óbitos em 1688.
Salvador Coelho e Sebastiana do Amara1 são os pais da
inocente Ana falecida à 17 de janeiro.
As dez horas do dia 24 de fevereiro, faleceu Úrsula Ri-
beirão, natural da vila de São Paulo, solteira, filha de Estevão
Ribeiro já defunto e sua mulher Ma'rgarida Fernandes. Jaz
na matriz, debaixo dos bancos.
Martinho Carrasco, natural da freguesia de 'santo Amaro,
solteiro, expirou às onze horas da' noite de 4 de março, com to-
dos os sacramentos. Filho de Antonio Domingues Galera e Ma-
ria Gonçalves, "moradores nesta villa".
Domingos Ribeiro Vidigal morreu a 8 de agosto, "sem
sacrahento nenhum pela morte apressada que teve de um de-
sastre que foi de corisco"; nascido em São Paulo, casado com
Maria Moreira, ab intestato, teve 10$000 em sufragios. En-
terrado na matriz, perto do altar do Rosario. No mesmo dia o
raio matou a Sebastião Fernandes, freguês do "Ituguassu", e
o depositaram nd igreja matriz, junto à escada do coro.
José Dids de Siqueira e Leonor Esteves da Rocha perde-
ram o inocente José.
O padre Godói sepultou por amor de Deus a Ana Ro-
drigues, filha solteira de Manuel Sanches e Ana de Oliveira.
(Aparece o visitador Dom Pedro Rendon y Luna, em
10 de outubro de 1689).
Jacinto era o filho de Diogo de Brdga e Maria Moreira.
Foi enterrada em São Bento uma filha natural de Roque Lo-
pes. Outro inocente chamou-se José, filho de João Domin-
gues e Catarina Ribeiro.
Manuel da Fonseca de Figueiredo e Isabel de Proença
choraram o trepasse da pequena Francisca; e o inenino Anto-
nio tivera por pais, Antonio Rodrigues de Oliveira e Maria
Gonçalves. "Da porta principal pa'ra dentro" é o lugar onde
se fez pó o inocente sorocabano.
Susana Ribeiro, filha solteira de Estevão Ribeiro e Ca-
tarina do Prado, entregou a Deus a sua alilia aos 23 de no-
vembro. Sepultada por amor de ~ e u s :14 óbitos em 89.
O ano de 1690 inaugura-se, em 3 de fevereiro, com a mor-
Ye do alcaide-mor Jacinto Moreira, natural de São Paulo, se-
pultado na capela-moi- de São Bento, ba'nda do Evangelho. Fi-
lho de Pedro Alvdres Moreira e Sebastiana Fema~ides,inora-
dores de São Paulo. Viera a Sorocaba com os olhos no Ipa-
nema e numa conta d'El Rei. Com todos os sacramentos, o
que indica, em geral, residencia dentro da vila'. 60 missas por
sua alma. Testamenteiros : Maria Leme sua mulher, Braz Do-
mingues Vidigal (capitão), e José Bernardes.
Capitão Diogo Domingues de Faria, que faleceu a 9 de
fevereiro, nascera em São Paulo, filho de Amaro Domingues
e Catarina Ribeiro, solteiro. Sepultado "junto á nave do coro
para a banda da pia' de baptizar", deixou no testamento 100
missas "as quaes se disseJJ,e João Pais Domingues e cap. Dio-
go Domingues Pais forain testamenteiros.
Antonio Esteves e Maria de S w s a perderam a inocente
Sebastiana. A primeira, natural de Sorocaba, que faleceu aquí,
foi Marid Riquelme de Gusmão, "de morte desastrada", filha
do capitão André de Zuniga e Cecilia de Abreu, casada com
Jerônimo Ferraz de Araujo, natural da freguesia da Acutia.
Sufragios ab i~testata:10m.
Domingos Rodrigues e Leonor Fernandes perderam Isa-
bel, filha moça.
E a 6 de novembro desceu à terra', na capela-mor de São
Bento, junto à porta da sacristia, o l? Pascoal Moreira Cabral,
fazendeiro no Itapeva, onde já tinha escravos vermelhos e uma
célebre capela de Nossa Senhora de1 Populo. Natural de São
Paulo, irmão do alcaide Jacinto, tinha' o título de coronel e viera
para cá ou solteiro ou já casado com Mariana, a filha d'outro
povoador Braz Leme.
Ao Lavras Velhas não estão longe da sua fazenda, na ser-
ra de São Francisco. "Morreu com os sacramentos da peniten-
cia e extrema uncção, o viatico não alcançou por não poder,
cansado da enfermidade." Testamenteiros Tomé Moreira, Braz
Moreira e Miguel Gracia. Não lhe assistiu à morte o filho ho-
mônimo, nem foi nomeado testamenteiro: é que o bandeira'nte
morava longe, nos campos da Vacaria. Pascoal Moreira Ca-
bra'l, O l.", foi lavrador com toda certeza, após o malogro das
explorações auríferas no Ipanema. Tinha escravos guaranís,
certo vindos do Guairá, após uma geração passada no Sarapuí,
sitio do sogro Braz Teves, eminente escravagista e povoador.
6 óbitos em 1690.
A 7 de janeiro, pelas 6 da manhã, foi o trespdsse de Ma-
ria Martins, mulher de Citiliano (sic) Batista já defunto, mo.
raciora de São Paulo e natural da Vila Rica (Guairá). Jose
Dias Siqueira, já mencionado, perdeu um menino, José. Mar-
tinho foi outro menino falecido, filho de Antonio Roiz de Oli-
veira e Maria Gonçavves.
Bento Batista, casado com Maria de Matos, e filho de Quin-
tiliano acima, já em maio seguia nd tumba à sua mãe. Aí os
pais são dados como naturais de São Paulo. 3 assentos de óbito
em 1691. E foi a última assinatura do vigario Pedro de Go-
dói da Silva.
Em 1692, nenhum assentamento.
O Único de 1693 é o de Maria &mingues, às 6 da manhã
de 3. de março, casada' coún Antonio Ribeiro Garcia, ambos mo-
radores nesta e naturais de São Paulo. Ela, filha legítima de
Braz Domingues e Isxbel Pedrosa, moradores nesta'. Teve 4
missas de corpo presente com seus oficios de nove lições. Re-
vestida do hábito de. São Bento, jaz na matriz junto à porta
"traveça" e teve nos funerais as cruzes das alma's de São Se-
bastião, de N." S.' da Conceição e do Rosario.
Era recente a imagem de S. Sebastião na matriz. Bem as-
sim a da Imaculada, que fora da capelinha de Bra'z Teves re-
cem-transferida para a matriz. Antonio Ba'rreto de Lima, o
vigario.
Em 1694 temos somente o óbito de Ana Ma'ria, casada com
Diogo Domingues, a 30 de julho. Ambos naturais desta. 50
missas. Era vigario Antonio de Carvalho, que depois o foi de
Iguape.
O ano de 1695 inclue em 14 de maio o óbito de Roque Mis- -
sel, filho bastardo de pai homônimo. Em 20, Francisca, filha
d e João e Inez Pinto. A 12 de junho Ana Andresa, mulher
de Manuel de Aguiar Mendonça, a qual, pobre e de graça, a
seu pedido foi enterráda na capela-rnor de São Bento ! E em 18
de junho, ali mesmo junto ao pai, depuseram Jdcinto, inocente
filho do coronel Jacinto Moreira Cabral.
Em julho chegou o Visitador Manuel da Costa Cerdei-
ros e escreveu que o vigario não empregasse "argarismos" e
sim letras, nos assentamentos. E' um testamento antigo de co-
mo em São Paulo o povo iletrado pronuncia o I, por causa da
intensa mistura de sangue guaraní nos começos.

A 11 de setembro de 1695 faleceu Sxlvador, casddo com


Catarina do Amaral. Testamenteiros o (Juiz ?) Manuel Ri-
k i r o de Lima e José Bernardes.
Em 12 de fevereiro de 1696 faleceu com todos os sacra-.
mentos Ana Barbosa, mulher de Miguel Gracia Carrasco, na-
turais de São Paulo, morddores nesta. Sebastião Sutil de Oli-
veira é o testamenteiro, com o marido dela. Rastreamos assim
a chegada dos Sutil em Sorocaba.
12 de novembro assinalou a morte de João de Lara, ca-
sado com Maria de Góis, ambos naturais da vila de São Paulo.
Foram testamenteiros a mulher e o filho Diogo de Lara de-
Arctujo. Enterrada em S. Bento, junto ao cruzeiro.

1697. Orsula Fagundes, mulher de lhmingos Pernandes,.


pobre. 10 patacas para missas.
Luiz de Magalhães, solteiro, morreu em abril com todos
os sacramentos. Nascera' no Rio de Janeiro. Testamenteiroc
Martinho de Sousa e Braz Moreira.
Em 6 de maio faleceu Antonia Dias, mulher que foi de
Braz Esteves Leme, ambos moradores nesta e naturais de São
Paulo. 55 missas. Enterrada em São Bento. Testamenteiros
Martinho Gracia Lumbria (o capitão-mor) e Braz Mendes
Pais, A 9 de agosto passou desta a melhor Baltasar de Godói,
com todos os sacramentos, marido de Sebastiana Fernandes.
Sepultddo na matriz, junto à porta principal. A 18 de julho,
\
Diogo Domingues de Faria, natural de São Paulo, casado com
Çatarina Leme. A 8 de setembro, Cristováo de Sousa, cdsado
com Custodia Moreira, morte repentina.
Gonçalo Ffeire, casado com Margarida Fernandes, fale-
ceu a 2 de novembro. Enterrado em S. Bento.
(Juiz) Braz Moreira Cabral, casado com Susana Dias,
entregou a Deus a alma aos 22 de outubro, sem sacramentos,
5$000 de missas, e jaz ao pé do altar de São Migud, na Ma-
triz. A 26 de novembro, uma filha do defunto João Roiz Pin-
to e Helena Esteves. 9 óbitos.

1698. Maria Leme de Magalhães, viuva, natural desta, mor-


reu a' 7 de janeiro. Aos 13 do mesmo mês, . . . . . Leme, com.
todos os sacramentos, casado com Luzia de Abreu. Em São
Bento, na capela-mor.
Em 18 de abril, óbito de Ana Pedrosd, mulher de Manuel
de.Aguiar, naturais da vila de Paranaiba. ERn São Bento o
enterro. No mesmo dia, Maria de Moura, mulher d'outro Ma-
nuel de Aguiar. Em maio, '{Bertholameu (Roiz ?)" casado-
com Catarina Ribeiro. A 21 de agosto, Luzia Moreira, mu-
ACHEGASA HISTOIUA DZ SOROCABA

lher de ~ u i zde MàIgalhães, naturais desta. A 28 de setembro,


Cecilia de Abreu, mulher de André de Zuniga, natural desta.
Jaz na matriz. A 2 de novembro, Ana Maria, casada com Pas-
coa1 Gonçalves. A 15 de novembro, de morte desastrada, um
filho de Belchior Moreira. A 20 de dezembro, João Bicudo
de Brito, filho solteiro de João Bicudo de Brito e Ana Ribeiro
de Alvarenga,'naturais da vila da Paranaiba. Sepultado na' porta
principal junto à pia. 2 capelas de missas. 9 óbitos.

1699. Aos 21 de agosto faleceu no sertão Inacio de AI-


meidai Lara, casado com M . . . . . . . . . moradores nesta. Tes-
tamenteiros Diogo de Lara de Mordis e Sebastião Sutil de Oli-
wira. Não diz o vigario o lugar em que foi sepultado, contra-
riamente de todos os outros; não quererá dizer que apenas se
rezaram as missas após a noticia?
Em outubro falece ntm filho de Francisco Dias Xavier, e
termina o s h l o 17 no 1.O livro de Óbitos de Sorocaba.

RESUMO DWOGRAFICO
Obituarw dc broncos (inclusZve fdhos ak mamelucos livres) em
Sorocaba, 1680-1700. ( 6 )
bbitos - adultm 87
crianças 20
casados 45 (inclusive 2 ou 3 viuvas)
solteiros-adultos 32
filhos naturais 3 (somente as crianças)
legítimos 104 (porem, os adultos não trazem filiação
completa, muitos são filhos haturais).
Conclusão moral: entre os brancos a sociedade tendia a estabili-
zar-se a s familias ilegalmente constituidas. A filiação ilegítima exigia
sempre o lado fraco, o escravo vermelho (neste período). Depois de
adulto, o filho ilegítimo livre casava-se, muitas vezes com branca (ou
vice-versa) e já se afirmava a farnilia honrada. Vê-se tambem o zelo com
que os pais criavam as filhas solteiras, brancas.

NATURALIDADE DOS FALECIDOS


Sorocaba - As 20 crianças e mais 55 adultos
ILfl 2
Parnaiba 3
Paranaguá 1

( 6 ) Do 1.' livro de ábitos de Sorocaba.


Rio de Janeiro 1
Ilha Grande 1
Mojí 2
Portugal 2
São Paulo 12 Nota. Nem toáos os 55 add-
Guairá 4 tos teriam nascido aquí, pois da
Assui~çáo 1 maioria não é referida a natu-
São Vicente 1 ralidade.
Santo Ama-o 2

111

SOROCABA, CAMINHO DAS BANDEIRAS


Antonio Raposo Tavares, em fins dos 1640 e tantos, por-
tanto quando se construiam as primeiras casas de Sorocaba.
passou por aquí na viagem famosa em que atingiu as reduções
do Paraguai e pelo Guaporé foi surgir no Amazonas, coisd
demasiado grandiosa para exigir mais: a lenda de ter escalado
os Andes espiando o Pacífico.
"Supomos, porem, que a bandeira tivesse seguido o ca-
minho terrestre de São Paulo pelo Guairá, porque, nesse tem-
po, ele era completamente conhecido e muito praticado pelos
paulistas, que por dí foram a destruir as reduções jesu'iticas e
continuaram a ir para cativar os indios. Esse caminho, pimi-
tiva via indígena de comunicação pre-colonial, era chamddo
Peabirú ou Piabijú pelos indios e caininho de São Tomé pelos
jesuitas." Encontrando-o feito, os jesuitas o atribuiram i Pro-
videncia. "Esse caminho existia e muito batido, com uma lar-
gura de 8 palmos, estendendo-se por mdis de 200 leguas, desde
a Capitania de São Vicente, da costa do Brasil, até as margens
do rio Paraná, passando pelos rios Tibaxiva (Tibají), Huga-
bai (Ivaí) e Pequirí. A célebre estrada partia de São Paulo
e nas cabeceira's do Tibají bifurcava-se, indo um galho para
os Patos e outro em direção ao rio Paraná, sendo este propria-
mente o caminho chamado de São Tomé. Por esse caminho
andou Cabeza' de Vaca, com uma tropa de 200 homens e 27
cavalos, por 1542, e nele encontrou o indio Miguel que vinha
de Assunção com destino ao Brasil. Por ele seguiram jesuitas
de São Paulo para catequese dos Carijós, e talvez pdra o Guai-
rá; por ele veio U'lrich Schmidel de Assunção. Por ele vinham
a São Paulo moradores e vizinhos de Vila Rica. Dom Luiz An-
tonio de Sousa, de acordo com um mapa antigo que possuia,
descreve esse caminho saindo de São Paulo, passando por So-
rocaba, pela fazenda de Botucatú que foi dos padres da' Com-
panhia, dirigindo-se a São Miguel junto ao Paranapanemal e.
costeando esse rio pela esquerda, tocando em Encarnación. San-
to Xavier e Santo Inacio, onde em canoa descia o Paranapd-
nema, entrava no Paraná, subia o Ivinheima até quasi às suas
nascentes; a5 seguia por terra pela Vacaria até à s cabeceiras
do Aguaraí, etc., até o Paraguai."
Isto diz entre aspas Afonso d'E. Taunay, na Hist. Geral
das Bandekas Pazlbistas, tomo 3.", pág. 286, citando Washin-
ton Luiz.
Podemos acrescentar que a topografia e a linha reta con-
cordam em facilitar o caminho, quasi que só por campos, com
rios pequenos a vadear, com varias serras de longe a longe para
atalaias e rumos, com vestigios de velha capela atribuida' aos
padres da Companhia, com um rio Sto. Inacio, etc., e, princi-
palmente, com o traçado atual da estrada-de-rodagem.
Mais um argumento: a fazenda' de Braz Teves (Esteves
Leme) que uma nota do 1.O livro do Tombo de Sorocaba coloca
na foz do Sarapuí com o Sorocaba, estava' nesse caminho e
tiilha escravos carijós em quantidade esse povoador, natural-
mente trazidos do Guairá, onde Af. Taunay assinala a' sua
presença. Mais outro: & nomes típicamente indígenas da re-
gião. Bandeirantes e jesuitas sabiam a lingua geral e a fa'-
lavam; nos lugares onde passavam, conservavam ou davam o
nome guaraní aos rios e pousos. Sorocaba, Itapetininga, Sara-
pui, Gudre'i, Capivarí, Botucatú, etc. Mais este: sabemos por
tradição oral que os colonos alemães fundadores de Guarei
em 1840 e tantos, ainda ouviam ao longe o maracá dos últi-
mos selvagens que se retiravam; muito provdvelmente dos mes-
mos que no começo do Imperio chegaram até Itapetininga, vin-
dos do Paraná; e que depois foram aldeados pelos capuçhinhos
apadrinhddos pelo barão de Antoniiia no Rio Verde, hoje a
cidade de Itaporanga. O caminho era de 8 palmos e batido.. .
vê-lo e continuar a seguí-10 era natural.
98 CONEOOLUIZ CASTANHO
DE ALMEIDA

IV

D E DOM JOAO V I A DOM PEDRO I

A Capital da Provincia de São Paulo esteve politicamente


muito agitada entre 1820 e 1822. Foi mesmo esse o moti~nqiie
trouxe à nossa terra o Príncipe Dom Pedro, foroecendo-lhe
a viagem a ocasião para proclamar a Independencia no Ipirahga.
As Câmaras d8s Vilas seguiam essas akitações com a maior
cautela, temendo incorrer em desagrado dos Governos da Corte
ou de São Paulo, e pondo à prova a sutileza dos seus oficiais
e mentores.
Para a de Sorocaba havia ainda um terceiro comparsa no
tablado: era a Câma'ra de Itú, sede da Comarca, que se supunha
mentora das outras, e vai oficio, vem oficio. . . Era o tempo
das expressões menos arriscadas e mais inocuas possiveis: sim.
mas, vamos ver, talvez, etc.
Em cena Dom João VI, o benévolo Bragança comedor
de frangos. . .
"Ao primeiro dia do mez de Março de mil oitocentos e vin-
te e um annos, nesta villd de Nossa Senhora da Ponte de Soro-
caba, comarca da villa de Itú, em casas da Carnara e paços do
Conselho della, onde se juntarakn o juiz presidente, vereadores
e o Procurador do Conselho, com as pessoas nobres e alutori-
dades, assim ecclesiasticas como seculares, achando-se no pateo
da casa da' Camara um batalhão dos corpos milicianos, sendo
todos convocados por este Senado para o effeito de se publicar
que (sic) Sua Magestade de vinte e quatro de Fevereiro que se
acha registado no livro competente, foi sua Magestalde servido
approvar as constituições que se fizeram em Lisboa, e sendo ahi
pelo camarista Elias Ayres do Amaral, foi lido em alta4 vozes
de uma das janellas da frente que olha para o pateo desta mes-
ma Cdsa, onde se achava tambem o Povo, e acabando de ler o
decreto, pelo juiz presidente foi repetido da mesma janella.
Viva a Nossa Santa Religião! Viva El-Rei Nosso Senhor! Viva
a casa de Bragança'! Viva o Principe Real! Viva a Constitui-
ção! O que tudo foi respondido gela tropa e Povo, seguindo-
se depois disto tres descargas dadas pelos mesmos soldados,
Mascarenhas, MO^.^, Arruda, Amaral, Corrêa."
Na vereança de 7 de abril seguinte se recebeu oficio e ban-
do de Sua Excelencia, comunicando o nascimento, na Corte, do

i
ACHEGAS
Á HISTORIA DE SOROCABA 99

Príncipe Real. A Câmara enviou o bando para a vila de Itape-


tininga e ordenou festejos de três noites de luminarias, missa
e Te De*, e as três descargas. Do mesmo Governador leu-se
agrada'bilíssimo oficio comunicando que o sargento-mor Rafael
Tobias de Aguiar devia entregar já a esta Câniara como auxilio
da Real Junta da Fazenda a quantia de 4W$,e a de 1 : 60 0 m
para as obras da matriz, quantias estas muito respeitaveis para
o tempo e que mostravam, não tanto a boa vontade do Sr. Dom
João VI para com esta vila quanto a importancia dela nas suas
contribuições ao Real erario. Em suma, as feiras iam bem. *

Uma festa no tempo de Dom João VI

No dia 23 de abril, pois, como se havia resolvido, festejou-


se o nascimento do Príncipe que a sereníssima Princesa deu ao
Principe Real Dom Pedro. As onze horas, reunidos em corpos
os vereadores, com o seu estandarte, encalminharam-se para a
Matriz, em cujo pateo se achava postado o batalhão de infan-
taria de milicianos.
Começou a solene missa cantada. Cuiii iiiusica (já havia
orgão e mestre de capela !). Exposto o Santissimo, subiu ao púl-
pito o sorocabano e zeloso 1.O vigario, de Pirapora (Tietê) pa-
dre Manuel Paulino Aires, que recita o serinão análogo. Em se-
guida, o vigario entoou e o numeroso clero presente continuou o
Te D u m laudanzus, acompanhado pela música. Lá fora, as três
descargas. A noite, luminarias. Era assim a Sorocaba de Dom
João VI que Deus pai-de, e sem exagero, ipsis verbis, do
livro de atas. . .

Lá se foi o Bragança!
Em sessão de 7 de julho, Carlos José Silva Teles é no-
meado almotacé e marca-se o dia 8 para o juramento das Ba'ses
da Constituição e obediencia ao Governo Provisorio instalado
em São Paulo.
O povo concorreu mais numeroso do que noutras ocasiões,
no dia seguinte. O Rei ausentara-se para Lisboa e o Brasil es-
tava no periodo decisivo da separação definitiva, mas, ainda
assim, o Príncipe Regente foi contemporizando, jurou a Cons-
tituição portuguesa, e ordenou que o mesmo se fizesse em todo
o pais.
A tarefa da Câmara' de Sorocaba foi sobremodo facilitada
pela de São Paulo, que lhe enviara a ata do seu juramento. Co-
piou-a no livro da Câmara o escrivão Pedroso, palavra por pa-
lavra, e foi lida ao povo e tropa. Os paulistanos, jurando a Cons-
tituição, haviam constituído o seu primeiro governo provisorio
com o proprio capitão-general Oyenhausen na presidencia, e
José Bonifacio e Martim Francisco entre os membros. Assim
contentavam os Andradas o povo, fazendo-se aclamar por ele;
e ao Príncipe, conservando na governança o que trdzia autori-
dade delegada por el-Rei. Lá na Corte, D. Pedro se equilibrava
entre a independencid e a colonia, deixando os acontecimentos
sê resolverei por si, ficando sempre amigo dos brasileiros co-
mo seu Imperador e dos portugueses como seu rei, imperador
revolucionario e rei kgitimista. Os leitores entendem semelhan-
te "embrulho"? E' que a Providencia velava sobre a unidade do
Brasil, então só posiivel sob uma coroa. Real não, que os povos
da América fervilhavam de republicanismo; então imperial,
por dom desses povos. E tudo isto nos enche de esperança: o
Brasil não sofrerá os horrores doutras nações, porque, vi-
siveliilente protegido por Deus, encontrará o seu caminho entre
os escolhos, fanal glorioso e esplendente.
Teriam pensado nisto os que firmaram o termo de verean-
ça aquí em Sorocaba? Pelo .menos o juiz presidente assinou em
letras grandes João Pires de Arruda Botelho, como se dissera:
estão vendo, eu, fui eu que presidí a esta sessão! 114 assinatu-
ras ! Foi-se embora o Rei? Viva o Rei!

Em 22 de outubro há uma vereança requerida pelo mestre


pedreiro Joaquim da Silva Lustosa só por cdusa de uma percinta
daquem da ponte. Este mestre pedreiro não era um qualquer, e
foi um dos que ergueram a torre mais que secular da nossa Ca-
tedral. Mas, #enfim, vdmos e venhamos, era um operario! E
por causa dele se reunia o nobre Senado da Câmara! Nesse
episodio singelo se retrata uma época, define-se uma institui-
ção: o municipalismo. Parece que, ao menos na' letra, a Cons-
tituição de 10 de novembro de 1937 apela para estas tenden-
cias que estão na nossa massa do sangue. Deus o queira!

Acaba o ano de 21, vai em meio o de 22, e Sorocaba parece


afastada das paixões políticas. A sua Câmara vai tratando das
ruas, fazendo as eleições, nomeando os funcionarios, etc. Eis
que, de repente, estoura uma bomba. . .
ACHEGASA HISTORIA DE SORGCABA 101

Era o caso que a Capital da Provincia fora presa de de-


sordens e motins, a célebre bernarda de Francisco Inacio.
Aos 26 de julho, pois, reuniam-se os vereadores e os ci-
dadãos de todas as corporações. . . para "darem um geito" com
que Sorocaba não ficasse mal situdda perante os Governos.
Resolveram :
1." - "Que a Camara desta villa convide as Cama-
ras visinhas e unidas desta Comarca para o caso de conti-
nuarem as ditas desordens (que os céus não permittam) pas-
se cada uma a nomear um cidadão dos mais benemeritos de
cada villa para organização de um Governo temporai-io na ca-
beça da Comarca, o qual de commum accordo tóme as medidas
que forem convenientes á direcção da mdrcha que se deve se-
guir para dlcançar a tranquillidade dos habitantes desta provin-
cia, em especialidade tudo quanto fór reconciliatorio, de baixo
da maior responsabilidade, digo da mais estricta obediencia ao
Principe Regente, o Serenissimo Senhor Dom Pedro de Al-
cantara, constitucional e perpetuo Defensor do Reino do Bra-
sil,- sendo este Governo temporarió creado sómente para este
fim, no qual convindo as mencionadas Camaras se installará o
Governo logo que tres membros se achdrem reunidos, os quacs
elegerão um Presidente e Secretario .para entrar em exercicio
de suds attribuições a quem serão sujeitas todas as auctoridades
constituidas.
2." - Que se officie ao Governo Provisorio da Capital
com todo respeito, manifestando nossos sentimentos e aversão
que temos ás desordens alli desenvolvidas, rogando ao mesmo
tempo suas intenções.
3." - Que se fará ver aos Povos os ponderosos motivos
que obrigam a tomar estas medidas visto o estado de desordens
da Provincia digo da Capital da Provincia.
4.O - Que installado o Governo Temporario deverá dar
immediatamente parte a S. A. R. os motivos que nos obriga-
ram assim obrar, pedindo ao mesmo tempo um Perdão gersi
a todos os individzios que desencaminharam de seus deveres.
5 . O - Que se officie aos commandantes das tropas mili-

cianas debaixo de responsabiliddde ao Principe Regente e ás


Cortes que se váo installar no Brasil não façam marchar hua
só praça para a C+ital da Provincia, emquanto não constar
evidentemente achar-se restabelecida a tranquiliidade na nies-
ma Capital, e que passem a' avisar as tropas de seu commando.
6." - Que se officie aos commandantes das ordenanças
para que convoquem a todos os benemeritos de sua corporação
para que ao primeiro aviso se reunam aos Regimentos de seus
districtos para o que for urgente.
7.0 - Que als Carnaras das Villas tolligadas tomem todas
as providencias sobre polvora e chumbo que houver n& villas
mais proximas da Comarca, com as munições de boca para OS
soldados e officiaes inferiores desde o momento que for per-
ciso porem-se em marcha.
E porque assim conçordciram unanimemente se lavrou este
termo e eu Luiz Pedroso de Almeida escrivão da Camara que
o escrevi.
Alfeu Cagtano Tavares, Manoel Joaquim de Aln~eidaMe!-
10, Antonio J o d de Madureira e Souza, Gaspar Rodrigues de
Macedo, João k i t e do Canto, Antonio Ferreira Prestes (vig.),
o pe. Joaquim Gonçalves Gomide, padre Florentino de Olivei-
ra Rosa, pe. Joaquim Pires de Arruda, Pe. Romualdo José Paes,
Pe. José Gonçalves de Godoy, pe. João Lino d a Silva, pe. João
Vas de Alrneida, Pe. José Manoel de Oliveira, pe. João Vicen-
te Fernandes, Cap.-mór Manuel Fabiano de Madureira, pe.
José Custodio de Camargo, te.-cel. João Floriano da Costa, ma-
jor graduado Rafael Tobias de Aguiar, sarg.mor Americo An-
tonio Ayres, cap. Antonio Loureiro de Almeida, etc., etc."

Enfim, a 4 de agosto, reunidos Câmara, povo e tropa, leu-


se um oficio do Governo Provisorio de S. Paulo à Câmara de
Itú e à desta vila, sobre o destacamento de praças que não en-
viaram à Capital, a sua requisição. Resolveram responder ao
Governo que não haveriam de mandar os soldados, enquanto
não recebessem resposta da consulta que fizeram a S. A. R.
Oficiar aos comandantes dos corpos de milicidnos da vila que
não mandassem nenhuma praça a São Pciulo, e se conservassem
prontos, e tivessem uma guarnição para o sossego público. Que
se tomem providencias para que não fosse insultado nenhum
cidadão que sentiu a necessidade desta's providencias. Comuni-
car o caso a S. A. R. reiterando-lhe os protestos de dedicação.
E seguiram-se ainda maior número de assinaturas. O h b
felizes os pacíficos! E tambem prudentes, pois D. Pedro estava
contra os da bernarda.
Foi a última sessão conjunta da Câmara, clero, nobreza e
povo antes da Independencia, nesta vila de Nossa Senhora da
Ponte de Sorocaba.
A ACLAMAÇAO DE PEDRO I EM SOROCABA

"Aos doze dias do mez de .Outubro de mil oitocentos e


vinte e dois annos nesta Villa de Nossa Senhora da Ponte de
Sorocaba comarca da villa de Itú, provincia de São Pdulo, nos
paços do Conselho da mesma, onde se acharam reunidos o Juiz
Presidente e Officiaes do Senado da Camara do mesmo, e as
Auctoridades ecclesiasticas, militar da segunda linha e das or-
denanças, e mais cidadãos de differentes classes, foi lido pelo
dito Juiz Presidente o officio do Senado da Camara do Rio de
Janeiro escripto em vereança extraordinaria de dezesete de Se-
tembro do corrente a m o e no qual expõe que, tendo-se exal-
tado a opinião dominante daquella nobre e leal cidade, é obri-
gação de todas as Camaras encaminhal-a ao unico e verdadeiro
fim a que se dirigem os votos e trabalhos de todos os verdadei-
ros brasileiros. Independencia e Liberdade pela Constituição,
dcebaixo de uma monarchia c~nstitucional, e que portanto tem
aquelle mesmo Senado accordado fazer acclamar s~lennemen-
te no dia de hoje o Senhor Dom Pedro de Alcantara, até agora
Principe Regente do Brasil e seu defensor perpetuo, primeiro
Imperador Constitucional do Brasil prestando o mesmo Senhor
previamente um juramento solenne de jurar gudrdar, manter
e defender que fizer a Assemblea Geral Constituinte Legisla-
tiva Brasilica. Ao que foi co'rrespondido unanimemente com os
seguintes vivas do nzais subido enthusiasmo que se achavam to-
dos animados dos mesmos sentimentos que lhes são tão caros
como sua propria existencia, os quaes protestam sustentar ain-
da á custa da ultima gotta do sangue: Viva a Religião Catho-
lica, Apostolicai, Romana, Protectora da Independencia e li-
berdade brasilica. Viva o Senhor Dom Pedro de Alcantara,
Primeiro Imperador Constitucional do Brasil. Viva a Dyni-
nastia Imperial de Bragança. Viva a Assemblea Geral Cons-
tituinte e Legislativa Brasilica.

ACTO D E JURAM.T0

Juramos aos Santos Evangelhos obediencia e fidelidade ao


Senhor Dam Pedro de Alcantara', Primeiro Imperador ,Cons-
titucional do Brasil na certeza de jurar, guardar, manter e de-
fender a Constituição que fizer a Assembléa Geral Constituin-
te Brasilica. Assim Deus me salve.
E logo no mesmo dcto passou o Reverendo Vigario Anto-
nio Ferreira: Prestes a deferir o dito juramento ao Juiz Presi
dente, e este aos officiaes deste Senado e mais cidadãos abaixo
assignados: o que feito, desceu o tenente coronel commandan-
te interino do regimento desta villa João Floridno da Costa,
para fazer prestar o mesmo juramento pela tropa que estava
debaixo de armas, em que deu as mais decisivas demonstrações
de enthusiasmo, acompanhado por uma multidão de povo que
estava presente de que para constar lavrei este termo escripto
por mim Luiz Pedroso de Almeida', Escrivão da Camara.
O juiz Presidente Alexandre Caetano Tavares
Juiz ordinario Joaquim de Madureira Campos
Manoel JoaQuim de Almeida Mello
Ignacio Dias Baptista
Antonio José de Madureira e Souza
Proc.Or João Leite do Canto
João Pires de Arruda
O Vig.O Antonio Ferreira Prestes
O Cap.-mor Manuel Fabiano de Madureira
João Floriano da Costa, te. cel. interino
Kafael Tobias de Aguiar, major graduado
Jeeronymo Pereira Crispim de Vasconcellos te. cel.
José de Almeida Leme, te. cel. aggregado
Claudio Manuel Correia, sarg mór
Americo Antonio Ayres, sarg. mór
Pe. Jodquim Gonçalves Gomide
" João Lins da Silva
" Anxleto Dias Baptista
" Joaquim Antonio de Almeida
" Gaspar Antonio Malheiros, Vig. de Ipanema
Cap. Antonio Loureiro de Almeida
Ajud. Antonio Joaquim da Silveira
te. Bento de Mascarenhas Carndlo
p. Joaquim Pires de Arrudd
alf. João de Lima Leite e Almeida
Pe. João Vicente Ferreira
pe. José Mariano de Oliveira
sarg. mór Domingos Anacleto Silva
Cap. mór Manuel Fabiano de Mddureira
Te. cel. agreg." José de Almeida Leme
Rafael Tobias de Aguiar
Sarg. m6r João Pires de Almeida Taques
Sarg. m6r Claudio Manoel Correa
Cap. activo Antonio Loureiro de Almeida
Joaquim José Machado
Te. Antonio Teixeira de Saboya.
Antonio de Mascarenhas Camdlo, juiz das demarcaçóes
O Sarg. m6r João da Silva Machado
Joaquim de Almeida Mello
Cap. João Pires de Almeida Campos
O vig. de Ipanema Gaspar Antonio Malheiros
Alferes Antonio José de Madureira
Te. Bento de Mascarenhas Camello
Cidãa (sic) Alexandre Caetano Tavares
Aje. Jeronyrno da Silva Bellas
Cap. Joaquim de Madureira Campos
" Ignacio Dias de Arruda
" Manuel Monteiro de Carvalho
Leonardo Rodrigues Claro
Alferes Manuel de Mordes Camargo
Caetano de Oliveira Prestes
José Manuel da Fonseca
Hypolito José
José Ferraz de Campos
Ignacio Furtado de Medeiros
Cap. Ignacio Dias Ferraz
João Francisco Soares
G&par Roiz de Macedo."

Em sessão de 9 de novembro seguinte fizeram-se dois ofi-


cios, um a S. M. I. e outro à Câmara do Rio, dando parte do
ocorrido a 12.

A 29 de junho de 1823 reuniu-se a Câmara com o clero,


nobreza e povo, e ai o S e d o explicou que a 12 de outubro
passado ha'viam interposto na fórmula do juramento de obe-
diencia a D. Pedro I a cláusula ofensiva para com a sua sa-
grada pessoa, de ele antes jurar, manter e defender a Consti-
tuição, e isto fizeram copiando o oficio da Câmara do Rio. Os
Procuradores gerais das Câmaras protestaram. &tas tambèm
já iam explicando-se. A de Sorocaba fazia, então, retratação
pública daquela fórmula originaria do Rio. Muitas assinaturas.

As 3 horas da tarde de 3 de agosto, houve Te Deum na


Matriz pela restauração da Baía, mandado cantar pela Câmara.
Luminarids.

O JURAMENTO DA CONSTITUIÇÃO DO IMPERIO,


OUTORGADA POR D. PEDRO I

"Termo de vereança geral, juramto. da Camara, povo e


tropa*pela observancia do projecto da Constituição do Imperio.
Aos dezoito dias do mes de Abril de mil oitocentos e vinte
i,
e quatro, terceiro dai Independencia do Imperio do Brasil, nesta
vila de Nossa Senhora da Fonte de Sorocaba, comarca fide-
lissima de Itú, Provincia da Imperial Cidade de São Paulo, nas
Casa's da Camara e paços do Conselho da mesma, onde se acha-
ram reunidos o Juiz Presidente e officiaes da Camara, e aucto-
ridades ecclesiastica, militar de segunda linha e das ordenan-
ças, e os mdis cidadãos abaixo-assignados, foi lido pelo Juiz
Presidente o Decreto de Sua Magestade Imperial de onse do
mes proximo passado, a portaria' do Exmo. Ministro Secreta-
rio #Estado dos Negocios do Imperio que acompanhou, e outro
do Exmo. Presidente desta Provincia; e conhecendo-se que S.
Magestade pelo dito seu Imperial decreto houvera por bem
mandar que o projecto da Constituição offerecido pelo mesmo
Augusto Senhor fosse já jurado como Constituição do Impe-
rio, foi por todos unanimemente ouvido com o mais respeitoso
acatamento, que sempre tiveram por timbre consagrar ás Im-
periaes ordens de S. Magestade, e com o mais exaltado enthu-
siasmo de prazer que conceberam pelo amor da Patria, legiti-
mamente constituida, sendo de mais a particular razão de ter
sido esta! Camara uma das primeiras que requereu e supplicou
r
a S. M. Imperial requerendo o projecto da Constituição fosse
logo jurado como Constituição e Lei fundamental do Imperio
pelas incomparaveis vantagens que r ~ u l t a r i a ma toda a Nação
ACHEGASÁ HISTORIA DE SOROCABA

bra'sileira; e então- seguiu-se o juramento, que foi pelo theor e


forma seguinte: Juramos aos Santos Evangelhos obedecer,
manter, e guardar a Constituição que nos foi offerecida pelo
muito Augusto Senhor Dom Pedro de Alcantara, Imperador
Constitucional e Defensor Perpetuo como Constituição poli-
tica que fica sendo deste Imperio do Brdsil. E logo no mes-
mo acto passou o Reverendo Vigario, collado José Francisco
de Mendonça a deferir o juramento sobre o livro dos Santos
Evangelhos ao Juiz Presidente, e este aos officiaes da C a d -
ra e aos mais cidadãos abaixo assignados, e irnrnediatamente o
Coronel do Regimento desta Villd João Floriano da Costa dei-
xou fazer prestar o juramento pela tropa que estava debaixo
de armas, depois do que, nas mais decisivas demonstrações de
regosijo e enthusiasmq que se divisavam na multidão de povo
assistente deu o Juiz Presidente os seguintes vivas por todos
correspondidos: Viva a nossa Religião designada pelos legití-
inos çaracteres, uma, santa, catholica e apostolica', a qual fica
sendo a divisa do Imperio do Brasil. Viva o muito Augusto
Senhor Dom Pedro de Alcantara, Imperador Constitucional e
Defensor Perpetuo deste Imperio do Brdsil, debaixo de cujos
auspicios nos achamos constituidos. Viva a nossa Constituição.
Viva. Viva. E para constar faço este termo de vereança e ju-
ramento que assigno eu Luiz Pedroso de Almeida, escrivão da
Camara que o escrevi.
O juiz presidente Americo Antonio Aires; o vig. collado
José Francisco de Mendonça; o juiz ordinario Manoel Joa-
quim de Almeida Mello; vereador Francisco de Paula Leite:
vereador Ignacio Dias Baptista ; vereador Claudio Joaquim
Justiniano de Souza; procurador João Leite do Canto; Pe.
José Gonçalves de Godoy; Pe. Antonio Dias Ferreira; Pe. Joa-
quim Gonçalves Gomide; Pe. Antonio Carvalho do Espirito
Santo; Pe. Tristão Ferreira de Faria; Pe. Joaquim Pires de
Arruda; Pe. João Lino dai Silva; Pe. Florentino de Oliveira
Pacheco; Pe. Romualdo José Paes; cel. comte. militar João
Floriano da Costa; Pe. José Manoel de Oliveira Liborio; Tte.
cel. infantaria 2." linha Joaquim dos Santos Prado; João de
Lima Leite e Almeida; Antonio Ferreira de Faria; José do Ama-
ral Gurgel ; Claudio Joaquim Justiniano de Souza ; Elias Aires do
Amaral; Antonio Bernardo Azevedo Carmello, juiz de orphãos;
José Joaquim Broxado; Bento José Rolim de Moura, capitão;
Te. João Gomes Jardim; Bento Antunes de Camargo; Fran-
cisco Pereira: de Campos; Vicente Dias de Zuniga; Pedro de
..
Almeida Lara; cap. João Pires de Aliileida Canipos; cap. Ma-
nuel Monteiro de Carvalho; cap. Martiin Paes de Campos; ai£.
Mahoel de Moraes Camargo; alf. Ignacio de Albuquerque Ro-
lim; Antonio de Almeida k i t e ; João Nepomuceno Souza, al-
feres de ordenança ; José Pinho Range1 ; João de Oliveira ; ali.
Estanislau le Almeida Lima; José Furquim Pedroso; José de
Proença; cap. Francisco de Paula Leite; João Nepomuceno e
Souza; cap. Joaquim Ferreira Barbosa; alf. Francisco das Clin-
gas Silva; cap. de ordenanças Gabriel da Silva Souza Dliniz;
Te. José do Ainaral Gurgel; ajte. Antonio Joaquim da Silveira;
Antonio de Almeida Leite; cap. Bento José Rolim de Moura;,
Francisco Xavier da Silva; Pedro Antonio Rodrigues; alferes
Paulino Lour." Aires; alferes Bento Antunes de Camargo; al-
feres Estanislau de A h e i d a Lima; alferes Rafael da Rocha
Carnargo; alferes João Bicudo de Almeicla; furriel Joaquim
José de Almeida; Bento Manuel de Ahneida Paes; José Leire
de Moura; Manuel Venancio Villela; Manuel Joaquim de Oli-
veira; Manuel Claudiano de Oliveira; Henrique Mena de Car-
valho; Bernardino José de Barros; Ignacio dos Santos Bel-
lem ; José Ferraz de Almeida ; Francisco Nunes Fogaça ;
Francisco Manuel Maxado; Antonio Bernardo de Azeve-
do Cahello; Matheus de Camargo Bueno; João Pires de
Arruda Botelho; Luiz Pedroso de Almeida; Miguel Viei-
ra Antunes; João Baptista de Campos; José Joaquim de
Oliveira ; Manoel Joaquim de Almeida ; João José ; Joa-
quim Antonio de Almeida; Ignacio Antonio, vv.O; Antonio
de Lima Barros; Serafim Antonio dos Sa'ntos; Joaquim Leite
de Almeida; José Joaquim de Andrade; Felix Mendes de Al-
meida; João de Camargo; João Rolim de Moura; Francisco
Solisa Ponte; João Francisco; Elesbão Antonio da Costa e
Silva; cap. de ordenanças Antonio Gomes de Carvalho; José
da Rocha; Antonio Gabriel de Oliveira; Francisco de Paula
Silva; Antonio Joaquim de Sant'Anna; Francisco Barros Li-
ma; Manuel Ribeiro de Arrudz e S á ; Antonio José de Olivei-
ra ; Francisco José de Oliveira ; José Padilha de Queiroz ; Joa-
quim Galváo; Joaquim Antonio Teixeira; Jesuino José Macha-
do ; José Fernandes Costa ; Jeronymo Medeiros Lima ; João
Ferreira; Reginaldo Dias de Souza; Antonio José Mor."; José
Antonio Leme ; Vicente Ferreira de Camargo ; José Correa ;
Frahcisco de Paula e Almeida; Luis Aires de Aguirra; João
da Cruz Ferraz; Antonio Francisco de Lara; José Francisco
de Lara; Antonio Fernandes de Oliveira; Francisco Antonio
dos Santos; Manuel Antonio dos Santos; Vicente Antonio
Leite ; João José Paês ; Alexandre Machado ; Felippe Nene
Carvalho; Valente Vieira Machado; Fernando Lopes de Ca-
rnargo ; João Manuel de Camargo ; João Leite de Almeida ; cabo
Feliciano Martins de Godoy; José Apolinario Gomes; José An-
tonio Fernandes; cabo Antonio José da Fonseca; José Fran-
cisco; Joaquim de Andrade ; João Ferreira de Almeida; João
dos Santos Pereira; Antonio Joaquim de Oliveira; Joa!quim
Antonio Fogaça; João de Lima Abreu; Salvador Brizolla de
Moraes ; José Sdles Gurino ; Floriano Ribeiro Mendes ; Ma-
noel Joaquim de Arruda; Antonio José da Silva; José Franco
de Oliveira; Francisco Lopes de Oliveira; Antonio Mor." Paes;
Bento Manoel Furquim; Roque Fernandes da Costa; Antonio
Machado de Albuquerque ; José Francisco ; Domingos José de
Aalmeida ; José de Mascarenhals Camello ; José Antunes Ma-
ciel; José Ferreira Prestes; José Joaquim de Lacerda; a m i -
ciano Pacheco Lopes; José Antonio de Camargo ; Domingos Pa-
dilha; Agostinho José de Almeida; Francisco José Ponce; Joa-
quim José da Silva; Vicente Ferreira de Carvalho; Joaquim
José de Azevedo; Manuel Alves da Silva; José Joaquim
Broxado; Joaquim Manoel de Campos; Domiciano de Azevedo
Carmello; Gaspar Rodrigues de Macedo; Elias Aires do Ama-
ral; Vicente Dias Zunega; Francisco Gomes de Godoy; Anto-
nio Francisco de Almeida; Antonio Moreira Paes; Antonio
-4ntunes Maciel; Mariano José de Oliveira; Francisco (não se
entende) ; Francisco Machado Domirijgues; Francisco de A:-
meida Pedroso ; Martim Paes de Campos ; Francisco Antonio
de Almeida Mello; Mahoel Joaquim Barbosa; alferes Fran-
cisco José Cordeiro; Antonio Gomes Vieira; José Maria Fon-
toura; Antonio Rodrigues da Silva; José Gomes Pinheiro;
Francisco Feliciano de Oliveira Rosa ; José Soares de Queiroz ;
Manuel Vaz ( ?); José Gonçalves Olliveira ; Antonio Lopes de
Oliveira ; Joaquim Ildefonso Coelho Guimarães ; Francisco José
de _Mattos; João Gomes Jardim ; Manuel Moreira Gracez ; An-
tonio de Almeida Leite Penteado, capitão; e Francisco Ferrei-
ra Braga."
C
VI1 5;
A ESCRAVIDAO EM SOROCABA
A)
(Do 1.0 livro de batizados de carijõs e escravos - 1739-1766)
92
M
Filhos legítimos
Nome da criança
Situação jurídica Nome dos senhores Data 8
dos pais ou não
r

i
-

1. Rosa apagado sem menção do senhor


. . . . . I e 111-1739 C
1

2. Antonio carijó da casa de Braz Luiz . . . . . IV;39 pai incógnito


**
3. Inacia mulatos forros Silvestre casado com Ana Maria . .
4. Eva escrava de Antonio Pedroso . . . . . . V-1739 pai incógnito z
Salvador de Morais . . . . .
>>
5. Domingas dministrada "

" José Nunes de Faria . . . . . 9,


1,

não casados
O
6. Rita e,.ravo e administ.
7. Pascoa administrada do coronel Antonio Antunes . . . filha de pais infiéis
de Jorge Moreira . . . . . . . pai incógnito
>
$9
8. José administrada
9. Gertrudes administrados " Manuel Francisco . . . . . 11
pais casados r
Manuel Silva Pereira . . . .
7 >> 3,
10. Julião " carijós "

11. Rosa
12. Bonifacio
mulatos
escravos
" Luiz Teixeira da.Silva . . . .
" João Pires de Almeida . . . .
VI-1739 1,

9 8>
" Antonio Antunes . . . . . . pai incógnito
t

13. João carijó administrada ,


" Sebastião Bicudo . . . . . .
1>
14. Francisco escrava
. . . . . . "
15. Maria
16. Inacia carijó Antonio Aiitunes . . . . . . m

17. Inacia administrada


"
" Sebastião
. . . . . . . . . t>

18. José
I
" Antonio Antums . . . . . . >t 7
1

Nome da Situação jurídica


dos pais Nome dos senhores Daia Filhos
ou legítimos
não

19. Manuel carijó c/ escrava " Femão de Almeida . . . . . w pais casados


20.José escrava " João de Barros . . . . . . ,I pai incógnito
21. Ventura administrados " Matias Fernandes . . . . . julho 1739 pais casados
22. Ana es~ravoc/ administ. " Cap. Fernando de -4lmeida . . . n ,
23. Joana administrados desta igreja matriz . . . . . . agosto 1739 , ,,
24. Joana administ. carijós de João Pereira Sardinha . . . . u V I

25. Tomaz administrados " êap. Francisco Xavier Rodrigues . setembro 39 ,


26. M,aria " Pascoal Gonçalves . . . . . n ,, ,,
27. DomFngos escravos " Fernando de Aimeida . . . . outubro 39 ,, ,,
28. Ana escrava " José Rodrigues Penteado . . . novembro 39 pai incógnito
29. Escoilástica administrada " João Antunes Maciel . . . . ,, v,
30. Gonçalo carijó administrado " m r i a Pais de Almeida, viuva . n
.
9, 9,

31. José ,, 3,
" Raimundo de Godói . . . . dezembro 39 n
32. Filipe escravo com carijó " José Pereira . . . . . , . 11
pais casados
33. Miguel >I 1' I,
" Maria de Almeida . . . . . ,, ,,
34. José adulto, carijó do rio abaixo, de Antonio Nunes Pais dezembro 1739 pais infiéis
35. Isabel escravos de Mecia Leme . . . . . . . janeiro 1740 pais casados
36. Mecia escrava " Joáo Pires de Arruda . . . . pai incógnito
37. José escravo com carijó " Tomé de Lara de Abreu . . . ,, pais casados
38. Eugenia escrava " Manuel Pereira . . . . . . ,< ,, pai incógnito
39. Catarina administrada " Clara Domingues . . . . . 1< v* pais casadas
40. Vicente 9,
" Felix Leite . . . . . . . fevereiro 1740 gai incógnito
41. Angela mãe infiel, adm.' " Manuel Pereira Sardinha . . . abril " , I)
Por esse quadro estatístico, que dispensa maiores explica-
ções, pode-se avaliar como nasciam os escravos e administra-
dos em 1739 - 1740, em Sorwaba.
Considerações raciais: a mistura do branco com a carijó
e a preta, dando em resultado mamelucos e mulatos, todos filhos
naturais (o branco sensual tambem podia ser branco só por ser
livre e seria, muita vez, marneluco).
A mistura do indio com preta, si é que, como tudo indica,
a palavra "escravo" se reservou para os africanos e a "admi-
nistrado" para os indios.
Considerações de ordem humanitaria: os senhores faziam
casar legalmente os seus escravos, alguns por motivo religioso
e quasi todos para aumentarem o braço servil. Ainda havia Je-
suitas defensores dos indios. Mas filho de africana com carijó
e vice-versa nascia escravo mais ou menos legal. Nem se fala
dos de pais incógnitos. Haveria ainda escravização do selva-
gem? Sim, embora tivesse passado o ciclo da caça ao indio em
massa, um ou outro miseravel caía nos grilhões da escravidão
disfarçada com o nome de administração. Isto quer dizer a ex-
pressão: pais infiéis, cativa, dos recentemente e ainda pagãos.
Procedencia: os pdiaguás ? certo, os de Cuiabá.
Consideração de ordem religiosa: o batismo das crianças.
Uma delas é o senhor quem batiza em casa. O casamento dos
pais. O não batizarem a força' os adultos. O respeito da Igreja
por essas criaturas, escrevendo-lhes os nomes em livros proprios.
Considerações utilitarias. Um crime dos tempos. Nãb se
redime, mas se explica: os brancos e livres estavam dirigindo
as lavouras, a exploração, as últimas bandeiras. Portugal todo
era mais ou menos, em população, como a capital de São Paulo
de hoje. Como é que haveria de se fazer o Brasil? Com que
gente, si não com estes? Note-se que os casamentos se efetua-
vam dentro da mesma casa para ai ficarem os frutos.
Já agora, podemos tirar rápidas notas do livro todo, até 1766.
Veja-se, por exemplo, já em 1743, este fato: o vigario Pedro
Domingues batiza uma criança, filha do seu escravo Manuel
com uma carijó de Gertrudes de Moura: casados, e não só por
dinheiro, talvez até por amor. Fala-se muito de padres e frades
que tinham escravos; e não se diz do modo como os tratavam,
muito diverso da maioria dos leigos. Tambem eles haviam mis-
ter quem os djudasse a viver: ora, o trabalho no tempo e país
em que viviam era o do braço escravo. Até hoje, os operarios
e negociantes preferem trabalhar e negociar ccmi o clero. . .
Xotem-sje os nomes dos padrinhos. A preferencia dos pais
'
para escolherem seus compadres se dividia mais ou menos igual-
mente entre os servos, seus companheiros, e os brantos. seus se-
nhores. Isto é, desde a escravidão vermelha já havia mutua
compreensão, pois, entre muitos senhores e muitos servos.
"Gentio do rio abaixo". Estas palavras aparecem varias
vezes. Grandes matas cobriam as margens do Sorocaba até à
foz no Tietê. O Sarapuí e o Tatu'í, seus tributarios, e, mesmo, o
ribeirão Ipanema, estavam nas mesmas condições: é facil ao
observador perspicaz tirar essas~conclusõessó de uma vista ge-
ral sobre a região. Já agora se pode perguntar si este gentio do
rio abaixo era alguma tribu que continuou livre depois que os
paulistas levaram as suas atividades para o ouro servindo-se
dos africanos, ou é um nome geral para os indígenas que vaga-
vam em todo o sertão, a começar pelas margens do Sorocaba.
3utras notas: -
Botucatú e Guareí eram fazendas dos jesuitas. Nesta ú1-
tima esteve em visita de desobriga o célebre inaciano Estanis-
iau de Campos, passando por casa de seu irmão em Itú (está
lia sua "vicla"). Expulsos eies por Pombal, os indios e escravos
daquelas duas propriedades pertencentes a paroquia de Soro-
caba vieram aquí batizar os seus filhinhos. Veja-se este assen-
to: "Aos vinte e sele dias do mez de Julho de mil e setecentos
e sessenta e seis annos nesta Matriz baptizei e puz os Santos
Oleos a Antonio, innocente de Domingos e sua mulher.. . na,
escravos da fazenda de Uvutucatú. Foram padrinhos Francis-
co, escravo de João Dias Vieira e Rebeca, escrava de Maria de
Almeida Leite, todos desta freguezia, de que fiz este assento.
O vigario José Manoel de Campos Bicudo." Neste ano, se-
gundo Azevedo Marques, Simão Barbosa Franco dava inicio
ao povoamento de Botucatú por ordem de dom Luiz Antonio
de Sóusa Botelho Mourão. Observe-se a coincidencia do viga-
rio Campos Bicudo ser da mesma familia do inimigo dos je-
suitas (ou de suas reduções do Uruguai) Manuel de Campos
Ricudo, que nem por isso lhes deixou de passar escritura de
doação, a 28 de dezembro de 1719, de uma sesmaria nos çam-
pos de Botucattí.
Estes campos parecem-nos ser aquem e abaixo da serra
pelo seguinte raciocinio: 1.O os campos da fazenda Guareí tam-
bem pertenceram a um Campos Bicudo e foram fazenda dos
jesuitas e, nesse caso, seriam da mesma doação com o nome
local: 2." estão no caminho antiquíssimo primeiro de Sorocaba
e depois de Itapetininga a Botucatú, cujos vestigios conhecemos
pessoalmente.
Aqueles escravos podem ser africanos, os do assento supra
mencionado. Estes, não: "Aos dezaseis dias do mez de Março
de mil e setecentos e sessenta e quatro baptizei e puz os San-
tos Oleos a João, innocente filho de Maxima e de pai incog-
nito, administrada dos Padres da Companhia da fazenda de
Vytycatú. Foram padrinhos Izidoro casado e Rita molata sol-
teira, escravos de Maria de Almeida, todos desta freguezia de
que fiz este assento que assigno Rafael Tobias de Aguiar, vig."
(*). Porem, em 1662, foi batizado Bartolameu, filho de "es-
cravos da fazenda de Vytycatú que foram aos Padres da Com-
panhia". Tambem nesse ano foi batizada Nataria, filha de
Maxima (provavelmente a mesma) "escrava que foi dos Pa-
dres da Companhia" e de pai incógnito. E esta confusão de ca-
tegorias: administrado e escravo, mostra que nem sempre a
primeira se reservava aos indios e a segunda aos pretos. A so-
lução do caso está em que os Jesuitas gerai!ilente só possuiam
à maneira de administração, em São Paulo, os indios a quem
protegiam. E;n.contramos tambem um assento de batismo de
criança filha de indios da fazenda Guareí que foi dos Paclres
da Companhia. Outro, de Ana, filha de Paulo da Silva e sua
mulher Justa, indios que foram da fazenda do Colegio de Ara-
çarigmnza (27-V-1764). E aquí fazemos uma pausa.

O livro de batizados de carij6s e escravos de' 1739 e 1766


fornece-nos, nas suas entrelinhas e nas suas palavras lacôni-
cas, os mais variados aspectos para os historiadores e sociólo-
gos futuros. Vamos colhendo-os, um pouco sem outro nexo
que o cronológico, isto de 1739 a 1766.
Havia mestiços livres, p. ex. em 1740 UIII João, filho de
"Juliana molher livre e pai incognito". Nasceu livrc; não era

(*) Este sacerdote era tio-avô do brigadeiro Tobias, mas não al-
cançou o nascimento do ilustre homônimo. Coisa ae somenos importan-
cia a primeira vista, pensamos, contudo, que se ~ o d c r i acorrigir o nome
d o padrinho de batismo do brigadeiro: não é este padre, como por um
engano muito compreensivel escreveu o grande genealogista Silva Leme
I e já vimos repetido por outros fundando-se em boa fonte, mas é o Sa-
i rutaiá, Salvador de Oliveira Leme, hiiavb materno, pelos Aires; como
vem no livro de batizado:.
branco, porque não foi para o livro deles. Inacia, no mesmo
ano, era filha de pais infiéis, mas não tinha donos. Algum casal
de indios a entregara aos padrinhos tambem indios ; e isto prova
a cristianização progressiva desta gente, nem sempre com a dura
interferencia dos caçadores brancos. João Pais de Barros, sol-
teiro, e Teodora Pais, casada (devem ser da familia do sarg.-
mor Martins Claro, pela mãe) eram padrinhos de uma Ber-
narda, carijó, filha de pais infiéis.
- José de Borba (afim da mesma familia) tem carijós
administrados, 1741. Eis aquí um assento interessante: "Aos
trinta dias do mez de Outubro de mil setecentos e quarenta e
hum annos baptizei e puz os Santos Oleos a Joanna, innocente
filha de Braz e sua mulher Antonia caribwa:, administrados dos
Religiosos de Sam Francisco do Convento de Itú. Foram pa-
drinhos João Moreira, casado e Maria Moreira, solteira de que
fiz este acento (sic) Pedro &mingues."
Em 1742 já aparece o batismo de uma criança, filha de ad-
ministrados da Companhia de Jesús, sem especificar o local de
origem. Nesse ano é padrinho um Baltasar de Borba.
Em 8 de julho de 1742, foi feito cristão "Jeronymo, adul-
to, filho de pais infiéis de nação gentilica do brasil, adminis-
trado de João Galera".
Outro assento: em 20 de setembro de 1743 foi batizada
uma filha de Catarina, india da aldeia de Barueri.
Dona Lucrecia Pedrosa (a viuva do capitão-mor regente
de Cuiabá Fernando Dias Falcão) é mencionada como "dona
viuva" em 8 de setembro de 1743, quando fez levar à pia o ino-
cente Salvador, filho de Marcela, sua administrada mulata, e
de pai incógnito. (*)
Em novembro, há o batismo de Francisco, filho de pais
casados, da administraçáo dos Padres da Cbmpanhia de Jesús
do Colegio de São Paulo. Em Sarapuí há a tradição de um
Colegio da Companhia. A influencia dos jesuitas era tão grande
que, sem sairem dos seus pateos paulistanos, ajudavam o povoa-
mento progressivo deste sertão, um tempo chamado oficialmen-
te sul-paulista.
Em dezembro, veio à pia uma adulta filha de pais infiéis

(*) Azevedo Marques escreveu que o Falcão moveu em Sorocaba


em meados do século 18; e não Ihe encontramos ainda o óbito. Muito ao
contrario, documento de 1747 do livro do Tombo diz textualmente: foi
para o Cuiabá, " onde morreu com bens ".
da nação "parecís." Padrinhos Antonio de Macedo Souto Maior
e Luzia Garcia.
Eleuberio, inocente filho de Joana, administrada de Miguel
Sutil de Oliveira, ingressou na Igreja em abril de 1744. O cé-
lebre Sutil de Curitiba e de Cuiabá já voltara à terra, alí no
Itanguá, onde morreria nonagenario e na maior miseria, ele que
tropeçava em ouro. . . Oh ! metal amarelo falacioso !
No dia de São João Batista desse ano, Antonio Filipe c10
Quintal fez batizar uma criança filha de seus escravos. Este
Quintal vem mencionado como nome de um lugar de pouso
junto a Sorocaba para os soldados da guerra do sul.
Filipe Antunes, o menos conhecido talvez dos irmãos Ma-
ciel fazia levar a batismo, em 28 de janeiro de 1745, o ino--.
cente Amaro, filho de Rosa e de pais incógnitos, adrninistra-
dos dele. Antonio e João aparecem muito nos livros paroquiais.
Miguel, não, o que corrobora a conclusão de seu ilustrc descen-
dente Américo de Moura, que ele foi mais "tropeiro" do que
outra qualquer coisa (bandeirante ou lavrador) e é tambem
nobre mister. Antonio Antunes era proprietario de "carijós
do rio abaixo" e todos os seus servos são vermelhos, talvez o
resultado das viagens ao Cuiabá. (*)
O assento seguinte comprova a proveniencia dos escravos
vermelhos: "Aos quatro dias do mez de Outubro de mil e se-
tecentos e quarenta e cinco annos, baptizei e puz os santos oleos
a Antonio, adulto, filho de pais infiéis de nação bororó do Cer-
tão do Cuyabá, administrados de Paschoal Moreira Cabral,
forão padrinhos Leonardo Rodrigues Setubal, e Josefa de Mou-
ra de que fiz este assento. Pedro Domingues, Vigario." O dono
não é nem o 1.O Pascoal aquí faiecido em 1690, nem o 2.O, des-
cobridor de Cuiabá e alí falecido em 1724, mas o 3.".
Rarissimamente aparecem escravos cldramente . . . af rica-
nos. Em novembro de 1745 há um inocente filho de João, Mi-
na, e sua mulher Maria, escravos de bfanuel de Mordis Na-
varro.
Afitonia, filhzi de "Clara, negra forra". "Michaela, molata
forra". Inacio, filho de Sebastião, negro, e sua mulher Angela,
carijó, escravos de José Nunes de Faria.

(*) O óbito de João Antunes Maciel é um caso a resalver; O


mesmo nome e circunstancias foram assentados em duas épocas dife-
rentes. Nos dois assentos são os ossos apenas o que enterrou o vigario
na capela-mor da matriz de Sorocaba. Caso típico do " bandeirismo ".
Luiz 'i'eixeira da Silva só tem "escravos" e bastantes. Re-
"
sidia a rua a Ponte em i724, como se lê numa escritura de
composição quei! fizeram, então, beneditinos e vereadores a res-
peito do rocio da vila. Era homern piedoso, no entanto, casado
com Maria de Almeida Leite. Ele forneceu lume para o San-
tíssimo em vida, a viuva continuou a pagar o azeite e ainda no
testamento recomendou a mesnia prática, fazendo um legado.
Morrendo em 15 de abril de 1756, que foi uma quinta-feira
santa, foi enterrado sem pompa na sexta-feira maior em São
Bento. Era português.
Seu único filho ordenou-se: padre José Teixeira de Al-
meida Leme.
Uma palavrinha para os etmologistas: Maria, "filha de
Teresa molata oriunda de carijó e de pai incognito". Um pou-
co antes : "mamaluca", termo só encontrado poucas vezes. Por-
tanto, este últinlo foi suplantado pelo primeiro, e, então, a es-
cravaria se cotnpunha de tanto maior parte de indios que os
mulatos se originavam deles, não só dos pretos. "Angrla, mo-
lata administrada". Uma criança é filha de Francisca, curiboca
da casa de Dbmingos Soares Fais.
A 26 de julho de 1746 foi batizado "Caetano, adulto gentio
Cabo Vcrde, filho de pais infieis, escravo do capitão-tnor José
de Barros." "Cypriano e sua Sebastiana ~ilolata,assistentes na
casa de Felix Rodrigues". "Antonio Lopes t. sua i ~ ~ u l h eApo-
r
lonia da Silva, indios" são os pais de Maria, táo livres ou mais
qpe Cipriano e Sebastiana, acima.
Miguel Sutil tem uma "mamaluca". Aparecem "servos
de Diogo de Souza Ribeiro". "Do serviço de". - Sebastião
Pais de Barros e Pascoa de Barros foram padrinhos em no-
vembro de 1746. - "Carijós forros" aparecem varios.
De 1746 em diante começam oç "expostos em casa de"
Inacio é filho de infiéis de nação borovó do rio-abaixo,
administrado de Feliciano Pereira Botelho.
"Rosa, ainda andante e passageira", é inãe tle Filipe, cris-
tãozinho fruto do pecado.
Aniceto batizado foi a 10 de agosto de 1758, filho de An-
tonio, nação mina e sua mulher Maria, nação Ganguela (sic),
escravos do alferes Francisco de Almeida Pais. De 1758 em
diante só se fala raramente em carijós: só pódem os servos ser
adrn.inistrndos ou escravos. - Os que não foram a Cuiabá e
aos Paiaguás, como os portugueses recein-chegados, o sargento-
mor Antonio Loureiro da Silva, e o ituano Salvador de Olivei-
ra Leme, desde 1746 só têm escravos.
Manuel José Braga, português, aparece num dos livros co-
mo "viandante" pobre. Casa-se com Francisca de Almeida La-
ra, neta de Luiz Castanho de Almeida, neto de outro pai-nai-
bano. E mudam-se para Itapetininga, onde em 8 de junho de
1765, com licença do R. Capitular de São Paulo (não havia v

capela) foi batizado Antonio, filho de seus escravos. O padri-


nho Marcos de Sales era espanhol de Pamplona, como se vê
pelo livro de óbitos. Junto com o português Dbmingos José
Vieira (mais citado) são dos primeiros povoadores de lá.
Ikste ano em diante começam os filhos de, pardos livres,
do Ipanema. Com o nome glorioso dos Antunes. . .
O rio-abaixo continua a fornecer gentio da terra até 1765.
Marcelino de Oliveira Preto, homem viandante, e Maria dos
Santos, viuva são os padrinhos de Custodia, filha de uma mu-
lata da fazenda de Simão Barbosa, a 14 de novembro de 1765.
Ao Simão Barbosa ajunte-se a palavra Franco, e, à "fazenda",
Botucatii, e ter-se-á. um galho da árvore sorocabana fazendo
sombra sobre a serra e povoação botucatuenses. (*)
Em 8 de dezembro de 1765 ainda se batiza nesta matriz
uma filha de carijó e pai incógnito, do bairro de Tapitininga.
Muitos carijós são moradores em Sardpuí. Ana, "adulta criol-
la"; o adjetivo é do dia 28 de dezembro de 1765.
A 13 de janeiro de 1765 foi batizada uma criança filha
de india, moradora nesta vila; madrinha, uma india de São
Bento.
"Francisca, innocente filha de Josepha, carijó no Ipane-
ma". Mais moradores de Tapitininga : Salvador Pires de Lima.
e sua' mulher Escolástica Cubas de Sousa; João Correia Veiga
e sua mulher Maria Costa.

A ESCRAVIDiAO EM SOROCABA, 1739-1766, COM EX-


CEÇAO DOS ANOS D E 1750-1758

Em 20 anos nasceram na paroquia de Sorocaba 995 crian-


ças que alcançaram o batismo, das quais muito poucas são mes-
tiças sem serem chamadas escravas. Media de 50 por ano.

(*) Ou Itapetininga, t a m l ~ e m
Os maiores senhores de administrados foram Antonio An-
tunes Maciel e Domingos Soares Pais. De escravos, Francisco
Teixeira da Silva e Salvador de Oliveira Leme, o Sarutaiá (ho-
mem de olhar severo, segundo nos disse verbalmente o snr. dr.
Afonso de Taunay). Dificilmente se fará, pelo livro de bati-
zado~,a separdçáo por raças. A julgar só pelo argumento po-
sitivo, meia duzia apenas seriam os africanos com a origem in-
dicada. Há grande probabilidade de serem pretos os menciona-
dos escravos. Sem fazer uma estatística rigorosa, contrabalan-
çam-se em número, mais ou menos, os administrados ou cari-
jós e os escravos. Proveniencia "dos vermelhos? Primeiro o
Guairá se despovoou; antes e contemporaneamente, século 17,
os carijós foram perseguidos ao longo da serra do Mar até os
Patos, e deram os nomes aos de outras tribus escravizadas.
Depois, Cuiabá e Mato Grosso e Goiaz.
,Incantestavelmente, a sensualidade dos senhores ou do
branco em geral foi bem grande, sendo tan~bemmais ou me-
nos igual ou maior o número de filhos de pais incógnitos que
os de legítimo consorcio.
Houve 64 batismos de servos em 1760. Destes. só 25 não
são de pais incógnitos e de 8 ou 9 deles se duvida si eram ca-
sados os pais, por assentamento incompleto.
Julgamos ter prestado um pequeno serviço aos estudiosos,
principalmente aos do futuro, aos quais o inseto destruidor do
papel proibirá d consulta às fontes originais.

Essa conta, ainda assim, não está completa, porque no se-


gundo livro de batizados de escravos vêm os nomes omitidos
entre 1750 e 1758. &te segundo livro ainda anota escravos in-
dios e mestiços, ma's é o último e isso mesmo até os 1770. B-
pois é a escravaria de Guiné, de outras partes do negro terri-
torio que predomina.
Os fazendeiros começam a aumentar o cultivo da cana,
substituido pelo do algodão em 1860, mais ou menos.

E)
"Aos vinte e sete de Janeiro de mil setecentos cincoental e
um annos baptizei e puz os Santos Ole%s a Ignacio, filho de
Valerio e de sua mulher Catharina, todos indios dos Padres da
Companhia de Jesus, assistentes em ai fazenda de Guarehy, £oF
ram padrinhos Jeronymo de Almeida casado e Ignez de Lima,
solteira, de que fiz este assento, dia, mez, era ut supra. Fran-
cisco de Campos."
Este assento prova a asserção do autor destas linhas, noii.
tra ocasião, que o caminho do Guairá passava por Guareí, fa-
zenda que um tempo teria sido dos jesuitas, o que era deduzido
de haver lá um rio Sto. Inacio e uma tradicional capela velha
da Companhia, porquanto, passando ela pelos cail?pos de BO-
tucatú segundo Taunay, já dos jesuitas, teria de procurar O
traçado mais cômodo que era o vale do Paranapanema. E'
certo que os jesuitas conheceram esse caminho, eles que fala-
vam a lingua e recolhiam a tradição dos selvagens. O ~ ~ a d r e
Estanislau de Campos, S. J., visitou Guareí. Cf. "Brasileiros
da fé". Este livro alcança o ano de 1806 e conieça em 1750.
Só se fazem nele os assentos de escravos. Mais para o fin, não
se diz expressamente que sejam escravos, donde se conclue se-
rem pretos livres, pois os brancos tinham um livro Aparte.
Em 1750, de fevereiro a outro fevereiro de 1751, h0u1.o
55 crianças escravas batizadas. Quasi 2/3, de pai incógnito.
10 administrados. 7 "do serviço de". 16 "carijós da casa
de". 1 carijó liberta. 1 carijó forro. 1 india. 1 "acostada em
casa de". 1 mamaluca. 1 mamaluca forra. 1 "mulata caribóca".
0 s restantes, simplesmente "escravos".
Em 1791 aparece um "gentio de CSuiné".
Em 1790, nasceram 70 escravos. Wsde os fins dos 70
desaparecem os eufemismos. São, doravante, escravos. oii
forros, ou não se diz nada.
Em 1758 "Manoel José Braga, solteiro, viandante, com
Francisca Nunes de Siqueira, solteira', foi padrinho de baptis-
mo de Simão, filho de Maria, escrava de Manuel Nunes."
Este Manuel casou com Francisca de Almeida Lara. Por-
tuguês de Bragal, casou-se com uma "paulista de 200 annos".
Pais de Luiz Castanho de Almeida, tataravó paterno em linha
n~asculinado autor deste estudo.
VI11

A FORCA EM SOROCABA. E O PELOURINHO

Revendo o livro do Rol de toda a população livre e escrava


da paroquia em 1840, o qual é uma das preciosidades no Arquivo
da nossa Curia Diocesana, deparamos com duas interessantes
anotações a margem da lista dos escravos pertencentes a dona
Gertrudes Eufrosina Aires de Aguiar : "enforcado". Em opo-
sição a "fdlecido", que é como se lê noutras foihas e, mesmo,
logo abaixo, cerca de 1843, o R. Vigario, não podendo organizar
nova estatística, anotou a margem dos nomes as modificações
necessarias.
1843 é, pois, a data mais dproximada para os dois enforca-
mentos. Pelo menos, antes de 29 de outubro de 1844. Pois
nesse dia o juiz municipal oficiou 3 Câmara pedindo-lhe man-
dasse desmontar "a forca' desta cidade e guardar seus appare-
lhos, visto que pelo aviso de 17 de Junho de 1835 não deve estar
continuameiite exposta aos olhos do pubiico."
Era juiz o dr. Vilaça e na sessão de 31 de outubro seguinte
os vereadores, a-pesar-de não serem "liberais", mandaiam ao
Procurador que desmontando a temerosa máquina guardasse
em lugar seguro as suas peças. . .
Parece que se extraviaram os apare!hos da morte.
Porquanto, na ata da sessão de 1G de junho de 1851, foi
lido um oficio do Exmo. Presidente da Provincia, declarando
que "nem al portaria e aviso citados por esta Camara em seu
officio de 31 do mez p. p. exime a mesma do dever de mandar
construir a forca para a execução dos tres réus, cumprindo, pois,
que esta Carnara mande construir a referida forca, visto, s.o-
gundo a praxe nesta Provincia, estar a cargo das Caknaras. Posto
em dixussão, deliberou-se que se auctorize ao fiscal para a
mandar fazer com a segurança precisa e o mais economico que
puder ser, ficando igualmente auctorizado o Procurador para a
despeza pela quota dos eventuaes."
Estes pobres réus, provavelmente escravos, tiveram alguns
dias de sofrimento ou de vida a maiç, porque o juiz municipal
pedira ao Governo da Provincia, apos a recusa da Câniara, o
levantamento do pat'íbulo e aquele se descartou com a Munici-.
palidade, a 31 de maio precedente. Retrucou esta ao superior
hierárquico, citando uma portaria de 4 de agosto de 1836. Deu
em resultado a ordem definitiva para a Camara se incumbir do
iilacabro e dispendioso negocio.
Dispendioso era o peor, como vamos ver.
Antes de 18 de julho e depois de 16 de junho de 1851 pen-
'deram da forca os condenados. Acompanhou-os ao lugar do
suplicio uma Compahhia, si não todo o batalhão da Guarda Na-
cional desta cidade. Com efeito, na ata de 18 de julho aparece
uma comunicação do tenente-coronel comandante da G. N.,
exigindo da Câmara a soma "de 8$980 despendida com o cartu-
xame com que municiou a guarda', a requerimento do Juiz Mu-
nicipal. por occasião da execução dos tres réus."
Os ilustres vereadores deram o cavaco. Gritaram. Que não !
Que a portaria do Exmo. Presidente incumbiu à Câmara apenas
a despesa com o levantamento da forca.
E como não descobrimos novas referencias ao caso, a Guaí-
da Nacional pagou o pato. ..
Na lembrança dos sorocabanos mais velhos está viva uma
ruina de casa ou alpendre, já somente os muros de taipa e seni
reboco, tais os da recemdemolida igreja da Boa Morte (que
nunca se acabou, à rua Aurora), - justamente em face do por-
tão do Cemiterio, na atual travessa entre as ruds Comendador
Oetterer e Hermelino Matarazzo. Seus pais mostravam-na com
o dedo aos filhos curiosos:- Alí foi a força! Devia ser uma
especie de oratorio, última pousada dos miseros réus na sua
viagem para ai eternidade.
Alí, ainda não há 50 anos, era um dos lugares em que se
rezavam os mementos nas lúgubres procissões que em Sorocaba
se realizavam como no Rio de Janeiro nos descreveu Me10 Mo-
rais Filho. A encomendação das almas, feita a deshoras, era até
há pouco muito comum nos bairros.
Apenas de cinco condenações capitais pudemos arranjar
documentação. Opinamos que não houve outras e que as de 1851
foram as derradeiras. Já bastantes para' criar uma tradição de
temor e de tristeza.
7Recolhemos tambem de fonte autorizada que no lugar tl,~
forca se usava castigar os escravos condenados a açoites. Dhí
a conclusão em hipótese: o pelourinho acabou de vez no centro
da cidade em 1843, quando se levantou a forca no alto do Cemi-
terio, então Campo do Piques. Pois era no pelounnho que se
batiam os réus,
A última' noticia documentada que existe sobre o pelourinho
é da sessão de Câmara de 7 de agosto de 1819, quando foi resol-
vida a edificação de um novo, em vista da ruina do antigo. Mas
não se menciona local. E lavrou-se uma ata "de descimento e
de levdntamento" ! Rei morto, rei posto. . . Em historia, algu-
mas hipóteses bem fundadas valem mais do que o silencio. Neste
caso do pelourinho, p. ex. Uma tradição recolhida, entre outros,
pelo dr. Afonso de Freitas Filho, consigna a existencia do pri-
meiro pelourinho na rua Boa Vista, quando acaba o paredão
típico que divide as duas secções da rua, de nome ainda mais
saboroso de antiguidade: Boa Vista de baixo e de cima', - pr5-
ximo P esquina da tortuosa ruazinha Ubaldino do Amaral, ou-
trora a rua do Curral do Conselho. Nesse lugar histórico cons-
trói-se agora, maio de 1938, um canteiro de flores para ame-
nizar a transição em plano inclinado de uma para outra rua.
Que ótima ocasião para se erguer ali em cimento ou em grz-
nito, p. ex., uma copia do pelourinho de São Vicente que se en-
contra no Museu do Ipiranga! E uma inscriçáozinha 'para os
conternporaneos, forasteiros ou não. . .
Ora, na minha humilde opinião (o instinto em historia tem
o seu valor), as coisas se passaram desta forma:
Em 1661, 3 de março, o snr. Baltasar Fernandes (Deu.
lhe fale nalma!) e os primeiros vereadores ergueram um poste
de cabreuva mal esquadrejado em frente ao lugar que marcaram
para a Câmara Municipal, na atual praça Pedro 11, e alí com
o zé-povinho (30 casais e alguns escravos) deram os vivas
de estilo e nasceu Sorocaba oficial. Em 1667 já havia a Câmara,
e era uma casa com oitão para o lado da atual rua dr. Braguinha.
A 2." hipótese é assim: de 1750 em diante trocam-se os
escravos carijós pelos africanos, como se vê nos livros paro-
quiais. Os fins do século 18 e começos do 19 assinalam um pro-
gresso na vila das feiras, com o desenvolvimento do Rio Grande
.
do Sul, passagem de tropas de homens e . '. de burros para lá,
e com o ressurgimento do Ipanema. Aumentam os escravos pre-
tos nas fazendas e na' vila e descem todas as manhãs, barrís à
cabeça, homens e mulheres, a carregar agua no rio e a outros
misteres. As maiores lavouras são ainda as de cana. E deri-
vados. . . Aos domingos e dias santos, o alcool faz o seu oficio.
Há rixas nas tabernas e nos caminhos. Entra o capitão-mor-en~
cena, como delegado de policia que era. E eis os escravos ou os
libertos "amarrados au pelourinho", frase que passou em pro-
verbio.
Mas alí, no centro, o espetáculo acabou por nausear os hu-
mens de respeito. Então, talvez o "levantamento" de 1819 foi
alj próximo, enveredando pelo beco do Inferno e saindo na Boa
Vista. Quem sabe si o nome fatídico do beco que atualmente
liga à rua São Bento a rua dr. Ubaldino Amara1 náo se originou
dali! Condenado na Cadeia a dura prova, lá vai arrastado, aos
.
trancos, o pobre escravo num verdadeiro inferno.. Que alí
tambem se depositassem os esgotos da cadeia, trazidos em barrís
pelos presos (numa das atas aparece a exigencia de novos vasos
e de correntes pard evitar fuga a hora da faxina) é outra hipó-
tese "certíssirna" que não destrói a primeira, confirma-a.
E, no entanto, Sorocaba está no auge das feiras gloriosas
E' uma vila adiantada, umai capital-mirim. Quem coleciona qua-
dros de São Paulo antigo e os compara com as últimas velhas
edificaçóes aquí existentes, nota a quasi equivalencia de ambai;
as povoaqóes, então.
Então. . . terceira hipótese e terceira mudança : vá o pelou-
rinho para o campo do Piques, junto à forca, 1843 ! E comu
esta, já depois de 1842, cidade, fosse um reduto de liberalismo,
primeiro, e, em seguida, de republicanismo, não pode ter ido
alem dos 1870 o pelourinho. Bons ventos o levassem!
Vamos terminar. Voltando à forca.. .
Até 1851 e ainda quasi até à República, o bairro populoso
onde hoje está o cemiterio tarnbem populoso, era um campo
onde se encontravam duas ou três chácaras isoladas. Começatia
com o nome de Piques desde o vale do Supirirí e subia, subia,
entre formigueiros e desbarrancados. Lá em cima era siniples-
mente o alto do Piques. Servia tambem, no tempo das feiras,
para o pernoite das tropas em trânsito ou à venda. ~econstitua-
mos a cena : o vigario da paroquia Mendonça ou um monge de
São Bento organiza frente ao hospital da rua Alvaro Soares, -
ao toque de sinos em dobre em todas as igrejas, - as irmari-
dades das almas e da Misericordia, com as suas cruzes, de opas
pretas aquela, de balaneaus verdes a última. Nesse ínterim se
formam à frente da Cadeia, praça do Conselho, um esquadrã!~
de cavalaria e uma companhia de infantaria da Guarda Nacio-
nl, com os seus uniformes coloridos, bonés empenachados, dra-
gonas vermelhas, talabartes, espadas reluzeiltes. Chega a pro-
cissão. O juiz municipal lê a sentença'. Saem os réus, com a-
alvas, brahcas e até aos pés, acompanhados pelo piquete da guar-
da policial (com os quepis pontudos e neles as letras P. L., po-
licia local). Forma-se o préstito de irmandades e soldados, no
meio os penitentes e o padre com o crucifixo. Atrás, "a multidão
de povo". A gente reza sem respeito humano e aquele já se foi !
E o segundo réu, que tormento atroz não estava sofrendo
durante todo este tempo! Em uma hora podiam embranquecer-
lhe os cabelos! E o terceiro, si é que faziam tudo num-só dia !
Festa acabada, toca a multidãozinha para casa.. .
Meu Deus, como progredimos depressa !. . .

AS FEIRAS, ATRAVÉS DOS DOCUMENTOS

Em 1815 havia na vila: de Nossa Senhora da Ponte de Sorn-


caba 15 lojas de fazendas secas, 3 vendas, 20 tabernas. Nc,s
sitios, 26 ditas.
Em 18'24, 19 lojas e 9 vendas.
Neste último Ano, aos lojistas, já citados em capitulo an-
terior, acrescentamos, aos de 1815: Francisco José de Matos,
Manuel Moreira Ga~cia',João Gomes Jardim, Antonio José de
Araujo, Pedro Antonio Rodrigues, Elias Aires do Amaral, Atl-
tonio José de Madureira, Antonio Rodrigues da' Silva, João
Leite do Canto, José Soares de Queiroz. Vendas: Elesbão An-
tonio da Costa e Silva, Custodio Antonio de Almeida, Joaquim
da Silva Lustosa, Antonio Joaquim de Santana. O capitão Jose
Gomes Pinheiro já não figurrava mais : transferirai-se para Ita-
petininga. O Seabra, o Sabóia, Antonio Caetano Machado, Mar-
celino José Bernardes tambem não aparecem mais.
São nomes de homens-bons, que representaram o seu pa1ir.l
:lo tempo das feiras, si não todos tropeiros, ao menos socios,
compradores, fornecedores.

A Última ponte de madeira foi construida de 1818 a 1820.


Homens influentes contribuiram com dinheiro para isso. A
maior soma é a do coronel Francisco Antonio de Aguiar : 24$500
(o pai do Brigddeiro). Em seguida o capitão-mor Manuel Fa-
biano de Madureira com 12$800. Alferes João Nepomuceno e
Sousa, Inacio Dias Ferraz, Inacio Dias de Arruda, capitão José
Gomes Pinheiro, Alexandre Caetano Tavares, ajudante Antonio
126 CONECOLCIZ CASTANIIODE A~h~çrn*,

Bernardo de Azevedo Cámelo, guarda-nior Antonio João Or-


donho, etc. São nomes na maioria de negociantes e tropeiros $>LI
uma e outra coisa. O Aguiar e o Aladureira tinham grandes
fazendas, eram mais assentados já. O Nepomuceno representa
bem d sua época: natural de S. Miguel em São Paulo, casara-se
com uma senhora de Goiaz. Alí em Goiaz. . . O Pinheiro é oiitro
caso típico de uma geração de tropeiros e valentes, que forma os
filhos na Academia. Dificilmente escapava, ao menos da ini-
ciação, o jovem de boa familia. Arrostar os perigos e as agruras
de uma viagem ao sul era como ingressar na Escola Militar: uiii
ponto de honra. Na escola do sacrificio é que se educavam 813
grandes caracteres do futuro.

Em 7 de janeiro dc 1821 o capitão-general oficiou à G -


mara desta vila sobre o novo imposto dos animais que passavaili
nos registos dela.
Em 22 de novembro de 1819 o juiz almotacé tevle ordem da
Câmara para franquear uma cerca no Supirirí à passagem das
"tropas de gado" (sic). b

Já desde essa época, como se pode ver noutro capítulo, sur-


gem nas Atas da Câmara reclamações contra os proprietarios
de chamados "potreiros", muito junto da vila, e que, como o
seu nome indica, eram alugados aos donos de animais em trânsi-
to e em pequeno número. Ainda em 1912 em Itapetininga çe
pagava uma moeda de 200 réis por animal que pernoitava' nesses
potreiros. Monsenhor João Soares conservou, de seus avós,
urii desses terrenos, que hoje não tem mais razão de ser em
Sorocaba. Até ao final das feiras, as Atas nos dão conta desses
aspectos interessantes, ora negando datas em lugares que eraai
de servidão para os animais, ora mandando abrir terras frau-
dulentaniente fechadas.
Eis na sessão de Câmara de 14 de julho de 1834 pequenos
tópicos : "O presidente Nepomuceno ausentava-se para a 'Corte,
e o vereador pe. José Manoel de Oliveira Liborio para o conti-
nente de São Pedro do Sul, a negocios. Chegou uma "Gazeta
da Bahia."
Na sessão de 8 de agosto desse ano se lê que a estrada
antiga de Campo Largo passava no Supirirí de cima.
Sabemos que os três becos que da rua do Hospital alcari-
çavam alquele Anhangabaú de Sorocaba tinham os nomes de
ACHSGASA HZSTORIA DE SOROCABA

Supirirí de baixo, do meio e de cima. Este é a atual rua Co-


mendador Oetterer. Coinbina isto com O ponto de parada de
tropas existente naquele lugar: quasi desnecessario si primiti-
vamente não fosse por alí z i entrada de Itapetininga. Julgamos
que Américo Antonio Aires tinha fechado todos os terrenos
correspondentes à atual rua 7 de Setembro e praça Pedro 3e
Toledo, e que só se abriram depois de 1823, datando daí tam-
bem a mudança de itinerario das tropas. Pois em 1819, vimos
há pouco, no Supirirí entravam tropas-de-gado.
Doutro modo tornava-se inexplicavel como se ,chamou rua
das Tropas a que ficava mais longe da atual saida velha e mais
nova de Campo-Largo.
Vindas, portanto, do sul as tropas de transporte ou o gado
que não invernava, desciam pela Terra Vermelhd ao Supirirí,
donde por um dos três becos galgavam a rua do Hospital e logo
a das Tropas até à ponte. As outras mais numerosas, da-época
das feiras, faziam o mesmo itinerario vindo dos campos vizi-
nhos. Isto até alem de 1824.
Então abre-se a rua 7 de Setembro que termina numa praça
da Independencia, tudo isto muito histórico e transparente. A
praça fica sendo mais um ponto de parada. Depois as tropas vêm
descendo pela 7 de Setembro e contornando a igreja de Santo
Antonio caem na do Hospital e por esta atingem a rua do Co-
mercio, do Gado ou das Tropas.
Tudo isto é muito util para os futuros romances históricos
situarem concienciosarnente o seu enredo. . .
Em abril tratava-se das estr,adas vicinais e da geral, feitas
por mão comum. A 7 de abril de 1835 a Câmara prescrevia r,
regulamento para esse ano: na estrada geral roçavam, cavavam
e carpiam uma braça de cada lado (4 metros e meio de largura.
pois), e deviam servir para carros. Os proprietarios deviam dai-
a metade dos escravos masculinos e os carreiras os seus carros
para este s,erviço. As pontes deviam ter 4 travessões, e a madeir'i
cortada nos matos vizinhos gratuitamente.
Em 1836 a Câmara reclama ao Governo Provincial a cons-
trução das pontes na vila, no Sarapuí e no Sorocaba, caminl-io
de Porto Feliz.
A 2 de janeiro de 1836, negou a Câmara datas à margem
do rio, porque outrora chsegou até a demolir casas naquele lugar.
' desapropriando-as para servidão pública.
Na sessão de 5 de janeiro de 1841 foi o fiscal incumbido
de fazer destruir imediatamente a casa que estavam edificando
na Agua-Podre e na mesma ocasião aumentar a praça contigua,
da Arvore-Grande, cujas 35 braças não bastavam para "as tro-
pas que passam o registo desta' villa".
-
A 5 de abril de 1845 o vereador Mascarenhas propõe que
paguem licença' por um ano e de uma vez 20$000 os vendedores
de quinquilharias, louças, pedras lapidadas, etc.
O leitor lerá nas entrelinhas: são os numerosos mascates
de fora que vêm ganhar o seu dinheiro no tempo das feiras.
Fazendo um salto brusco no passado, eis uma anotação iri-
teressante: os impostos de lojas em 1815 não foram pagos por
Ailtonio Caetano Machado, "que estava chegando de Coritiba
com tropa" a 23 de março de 1816, por José Francisco Seabra,
que estava nas partes de Minas, e outros.

45 anos depois, ainda em junho não começaram as feiras:


na sessão de 25 de junho de 1850 resolveu a Câmara mandar
arrasar os muros que ainda ficaram entulhando a rua, restos do
quintal das casa's de sobrado da falecida dona Angela de Ma-
dureira, após o alargamento da rua nova de Sto. Antonio, vista
como "é hoje esta rua a da entrada das tropas e se aproxima a
feira".

Em 1854 foi agitada a questão da rua da Margem, que a


Câmara queria continuar até ao Supirirí, podendo assim comu-
nicarem-se os dois largos de parada das tropas. Ainda os pro-
prietarios cujos terrenos chegavam ao rio negaram-se a abrir
passagem. Então a rua Alvaro Soares (de hoje) não comuni-
cava com a da Margem. A Estação Sorocabdna modificou a
topografia do lugar.
-
Deram, nesse ano, alinhamento à casa de Rainiunda Esca-
lástica e Zeferina do Coração de Jesús Vasconcelos, a rua da
Contagem esquina da dos Morros. Contagem é tão ten~pode-
feira como a rua da Composição, ou mais, porque para esta' se
pode invocar a origem no acordo (quasi pre-histórico. . . ) que
os beneditinos fizeram com a Câmara para a divisa do Rocio e
patrimonio.
--
Em 1846 apareceu uma resolução que por seu significado
interessa a todos os anos e por isso não fica mal neste ponto:
ordenava-se As quitandeiras, habituadas a tomar com os seiis
taboleiros, foga'reeiros, potes, etc. a rua central da Cadeia, se
limitassem às praças e aos lugares onde houvesse espetáculos,
sendo-lhes obrigação, nas ruas, transitarem sempre. E' uma
observação que mostra como se reunia gente em Sorocaba, i1
ponto de as vendedoras ambulantes de bebidas e çomestiveis
tomarem uma rua!
-
Em 1862, 73 negociantes de molhados pedem a revogação
da lei que manda fechar os negocios aos domingos. Marcada foi
a quantia de 10$ para a licença de vender objetos de folha de
Fiandres e trocar imagens na rua (sempre os mascates !) .200$000
deviam pagar os negociantes de jóias. Os negociantes que vi-
nham aquí, armavam sua loja e depois das feiras saíam, deviam
pagar 200$000 válidos por um ano, 10$000 de licença devia111
pagar os tocadores de reâlejo e outros instrumentos e dansas de
iiiicos nas ruas. Típico! , .

Segundo se depreende do que acima registamos, não há


documentação para as feiras do século 18, e elas haviam come-
çado pelo menos em 1750, que é a data mdis recuada a que po-
demos atingir, fundados na historia das minas. Ikesde então
começou Sorocaba a ser transitada por tropas de gado vacum,
mudr e cavalar. Os negocios efetuados aquí diretamente como
termo final dos criadores de Curitiba \e de São Pedro do Sul,
estes devem ter começado num dos anos de 1750 a 1760.
E como se sabe que antes de 1730 e depois de 1860 houve
ainda passagem, ao menos, de gado e de tropas, podemos dar
um século e meio de duração para a's feiras, situando-lhes o apo-
geu em 1850-1860, pouco antes da guerra do Paraguai.
A falta de documentação local, no periodo dos setecentos,
explica-se com a perda dos livros da Câmara.
Em compensação podem-se "pescdr" alguns dados ncjs
livros de Afonso de E. Taunay. Ele que nos perdoe o roubo.
No dia 22 de junho de 1722 tratou-se na Câmara de São
Paulo de uma multa em que caira o sargento-mor Manuel Goti-
çalves de Aguiar com as suas 18 reses curitibanas no carninh:,
para Santos. "Em setembro de 1723 surgiu em São Paulo certo
Martinho Teixeira de Azevedo. . . (cf. Anais do Museu Pau-
lista, tomo VI, página 21) criador em Curitiba, então vila de
Nossa Senhora dos Pinhais. Tangia 370 bois de seus currals
para as minas gerais do ouro". Em 16 de julho de 1729, dois
marchantes propunham-se fornecer à população paulistana com
o gado que, em parte, haviam trazido de Curitiba. Eis a5 3 pro-
vinhas e boas para os tempos anteriores a 1730, ao menos quail-
to ao gado vacum: passou por aquí, não havia outro caminho.
Mais. Em 1704. Pedro Taques de Almeida requeria terras
para si, filhos e genros no caminho de Sorocaba para Curitiba.
Sseu genro, Bartolomeu Pais de Abreu, tinha grandes fa-
zendas de gado nos campos gerais de Curitiba, viajando frequen-
temente para lá e residindo em São Paulo. A carne do gado de
São Paulo era preferida. Um contratador de 1741 comprome-
tia-se a reservá-la para os doentes, dando ao povo a de Curi-
tiba, porem, "gorda e descansada". "Iam as boiadas de Curi-
tiba em grandes pontas, diz o dr. Taunay nos Anais do Museu
Paulista, tomo VII, para Mina's Gerais e vendiam-se com a
maior relutancia em São Paulo!"

Dos Doccsmentos interessa~ztes, etc., publicação do Ar-


quivo do Estado de São Paulo, tiramos que o coronel Cristovão
Pereira de Abreu pós corrente o caminho do Rio Grande do Sul
para São Paulo, e Dom João V o recompensou, dando-lhe me-
tade dos direitos que pagam cavalgaduras e gados (por 12 anos).
Morto ele, D. José I passou o privilegio a Tomé Joaquim da
Costa Corte Real, secretario de Estado da Marinha e Dominios
Ultramarinos. De 1734 até 1774 só pagaram direitos cavalos
e bois do Rio Grande, não os de Curitiba. (Aí se vê que pelo
menos em 1734 comcçou a passagem tambem de gado cavalar
por Sorocaba, e, pois, 1750 é uma data aproximada e razoavel
para as feiras). De 1771 a 1773 os cobradores da metade dos
direitos pertencentes à Real fazenda começaram tambem a co-
brá-los aos criadores de Curitiba, ficando assim o total de im-
postos de cada besta 2$500, cada boi $480 e cada' cavalo 2$000
(aliás "criações" inferiores às do Rio Grande). A Junta de
São Paulo reclamou a Lisboa.
O CENARIO Dk4S FEIRAS

Procuramos pintar em linhas gerais os campos vizinhos de


Sorocaba e que foram uma das origens das feiras. Havendo
estas de fazer-se, é claro que postula'vam lugar adequado, e náo
bnge de São Paulo e do sul. Deitando um olhar sobre um
mapa do século 18, vemos que perto de São Paulo e na direção
das capitanias do sul e de oeste só ItÚ e Sorocaba se prestavam
às feiras. Houve, porem, algumas vantagens que fizeram pender
a balança para Sorocaba: a maior extensão de campos e agua-
das, a maior facilidade para alcançar São Paulo e, pois, Santos,
o lugar de capital do sul.. . Bem sabemos que o sul de São
Paulo convencional não é o real. Mas por mais que nos esfor-
cemos, Itú não cabe nesta anotação: sul de São Paulo, em que,
um tempo, entravam Botucatú e o sertão imenso. Porquê?
Porque, há bem séculos, o sul de São Paulo se caracterizou pela
pecuaria e pelo algodão. Itú, Porto-Feliz, Capivarí, Piracicaba,
é d zona da cana de açucar. Mel-do-tanque, dizia-se expressiva-
mente dos ituanos. Esta especie de predestinação geográfica
foi muito notada quando se fundaram as estradas de ferro Itu-
ana e Sorocabana. Em resuino, Sorocaba era o centro econô-
mico de uma região Aparte.
Há tambem outros aspectos interessantes desta questão.
Profundas afinidades existem entre as ciencias morais, entre 3
historia e as suas auxiliares. Daí o encontrar-se raramente um
amigo da historia que o não seja da Genealogia.
Quereis agora saber a Última palavra desta' sobre os tro-
peiros de Sorocaba?
Lede, p. ex., Américo de Moura em seus profundos estu-
dos sobre os Maciéis. Quem foi um dos primeiros grandes ne-
gociantes de tropas, na sua opinião bem fundada'? Miguel An-
tunes Maciel de Sorocaba. E quem era Miguel Antunes Maciel,
si não o irmão de João, Antonio e Filipe que todos se ilustra-
ram como bandeirantes ?
Era natural que os primeiros "navegantes" deste oceano
verde e seus filhos, tendo nascido, crescido aquí w ao menos
visitado muitas vezes Nossa Senhora da Ponte. se clecidissem
a fixar nestes campos a feira de animais.
Nada de mesquinho o ser alguem um tropeiro, ou grande k

p t r ã o como um dos derradeiros - o general Pinheiro Ma-


chado -, ou um burguesinho desses sitiantes que traziam a for-
miga uma meia duzia de bestas!
Ein cem anos, conclue aquele geneaiogista e historiador,
quasi todos os descendentes de Miguel Antunes Maciel, pobres
ou ricos, são tropeiros. E podemos acrescentar, agora que Amé-
rico de Moura encontrou a cadeia que liga ao tronco dos Maciéis
este rebento ilustre que é o dr. Julio Prestes de Albuquerque,
tropeiro foi em sua mocidade, amigo, e, nisto, colega de um
nosso bisavô, - o cel. Fernando Prestes de Albuquerque, fale-
cido em São Paulo em 1937, o tipo do paulista e homem de
bem a antiga.
Interessante notar que a maioria desses Antunes moravam
no Iperó e no Ipanema, então bairros de Sorocaba, hoje de
Campo Largo. Revendo os livros paroquiais de Campo Largo, .
cansa-se a vista de tanto ler Antunes. São todos Antunes.. .
Notamos ainda uma outra face da predestinação de Soro-
caba para o ciclo das tropas. Os primeiros descobridores de
Cuiabá foram sorocabanos : Pascoal Moreira Cabra1 (o 2 . O ) ,
Miguel Sutil de Oliveira, e todos os três Maciéis. Embora par-
naibanos, fora capitão-mor e fazendeiro e casado em Sorocaba
o primeiro regente do Cuiabá: Fernão Dias Falcão. Para eles
e seus apaniguados vir "a povoado", expressão tipicamente
bandeirante. já não era mais vir à capital, era Sorocaba o po-
voado donde tinham partido por terra ou pelo Tietê (Porto-
Feliz é equidistante de Itú e Sorocaba). Por isso é que, tratan-
do-se de fazer uma estrada para as minas, o distrito de Soro-
caba é o ponto dc partida, através da serra de Ibiticatú. E para
que esse caminho? (não passou de uma picada até o Paraná -
e é ainda muito duvidoso si lá chegou, mas a força do argumen-
to não diminue). Para matar a fome dos mineiros a quem a
fascinação do metal amarelo fez esquecer as roçadas. levando-
Ihes a boiada a passo e os gêneros alimenticios em lombo de
burro.
Tudo o que fica dito pode ainda resumir-se: a pequenina
Nossa Senhora da Ponte de Sorocaba, por força da geografia
(que é tainbem criatura da Providencia), foi desde a fundação
em 1661 a sede de uma grande fazenda de criação só limitada
pelo rio da Prata e seus formadores: aquí vieram, pois, abas-
tecer-se os que não o podiam fazer em suas terras.
Mas, insistirá alguem, porque não tangiam para os cam-
pos de Piratininga esses animais, organizando dentro de São
Paulo as feiras bulhentas?

- *
ACHEGASÁ HISTORIA DE SOROCABA 133

Lá diz o prbverbio que para coçar a questão está em co-


meçar. . . Apareceram aqui admiravelmente reunidos aqueles
fatores, produziram o fruto, %ora era deixar os paulistanos a
colher a -vinha e o trigo, a tratar-se de "dom" e de "dona" e
assistir às festas em suas varias ordens religiosas, quando não
andavam no sertão à caça de outros animais.. . ou do ouro,
pura e simplesmente: o sorocabano será tropeiro.
A capital ficava um consolo: ao menos metade da tropa
passava por lá, caminho de Santos, do sul de Minas e do Rio.
A outra metade ia para o oeste de São Paulo, Mato Grosso,
Goiaz e Minas do triângulo.. . E passava por Itú. E fazia nas-
cer Campinas, São Carlos, Casa Branca, Franca-do-Imperador,
e outros inúmeros pousos de tropeiros nas pegadas do Anhan-
guera.
Enquanto alinhamos estas razões, lá deixamos nas pasta'-
gens do Cerrado, Ipatinga, Itinga e Campo-Largo as primeiras
tropas vindas do sul. Corria' a nova de boca em boca na vila e,
depois, cidade de Sorocaba: Chegou a tropa de Fulano ou de
Sicrano ! E' boa ! Serve ! Regular. E enquanto milhares de bes-
tas vão "limpando" o verde capim (ficava, depois, a terra seca
à mostra) dos campos, eis que vão chegando os compradores
para os primeiros negocios, eles, os servos, os companheiros.
Aboletam-se por toda a parte. Nos primeiros tempos, como
em São Paulo, não hakia hotéis nem pensões. Os amigos pro-
curavam os amigos, ricos com ricos, pobres com pobres, 1é-
com-lé, cré-com-cré! Para o grosso dos empregados e famula-
gem não faltavam os telheiros e barracões à rua da Margem e
alhures, cujos vestigios ainda podem ver-se. Olhem os leitores
o çolegio Sta. Esçolástica, pavilhão da frente. Pertenceu à fa-
milia Lopes de Oliveira. Tudo isso! maior que o palacio do
Governo em São Paulo! Porem, ao rés-do-chão eram as lojas,
os depósitos de fazendas, mantimentos, etc. No 1." andar, en-
tão, morava até 1850 o velho Antonio Lopes de Oliveira' com
filhos solteiros e casados, e até 1867 o filho dele Manuel Lopes
de Oliveira; e ali se hospedavam os inúmeros parentes e ami-
gos de São Paulo, da Corte, de Minas, ou do Sul.- ( A pilavra
"sul" abrangia tudo).
Depois da Revolução de 42 houve hotéis e pensões e casas-
de-pasto. Os "bares" atuais tinham o seu equivalente nas taber-
nas, onde havia quitandas, rapaduras, bananas, pinga do reino
e de Parati, café, guarapa, mate, chimarrão, vinho do reino, e,tc.
Agora que chegaram os primeiros viajantes - e não estão nada
cansados porque de manhã ouviram missa em ItÚ ou dormirani
nos "Olhos-d'agua" ou em São Roque (mais tarde) - e jan-
taram em casa dos amigos, ei-10s que saem a dar o seu giro
pelas ruas, muito cerimoniosos, cumprimentando velhos conhe-
cidos, contando e pedindo novidddes, comentando nas esquinas
os preços e qualidades das bestas, dando a sua opinião em po-
lítica. A maioria veste o pala sobre as roupas de casimira ou
de brim, usa chapéus de abas largas, calça botas compridas sem
esquecer as chilenas que produzem um som agradavel de "tem-
po-de-feira" . . .
Reenviamos os leitores a conferencia já citada do dr. Afon-
so de Freitas Filho.
Quanto aos lugares, praças e ruas da' vila e cidade, temo-
10s descrito em varias ocasiões. A vila ocupava com pouca di-
ferença o atual centro da cidade. Ao nosso caso faz, porem,
com muita propriedade, a rua da's Tropas, ou do Gado, ou do
Comercio, que tudo vem a dar no mesmo e hoje é a Sousa Pe-
reira. Começava na esquina com a rua do Hospital (Alvaro
Soares) e acabava na ponte. O seu ramalzinho que ladeava a
Santa Casa descendo ao Supirirí era o Piques, rua do Piques.
Comparaveis em comercio a rua das Tropas só a das Flo-
res (Monsenhor Soares) e a Direita (dr. Braguinha). Esin
1815 havia, na rua da passagem das Tropas, 4 grandes lojas de
fazendas secas: do alferes Mdnuel Vaz Guimarães, ns. 2 e 3 ;
de Antonio Lopes de Oliveira, n.O 18; de Luciano de Almeida
Melo; do dr. Américo Brasiliense, n." 19; dé José Gomes Pi-
nheiro; do general Pinheiro Machado, n." 22. Ao passo que
na rua das Flores negociavam com estes gêneros José Gonçal-
ves de Oliveira, Antonio José de Abreu e Antonio Caetano
Machado e Arnérico Antonio Aires.
A rua D1ireita tinham lojas Antonio Teixeira Sabóia, Do-
mingos Padilha, Indcio Dias e José Francisco Seabra (pai do
cel. Lucio Seabra, de Tatuí). 1 loja na rua de Sto. Antonio
. . . . . . . ... do já tte.-cel. Bento Gonçalves de OJiveira, 2 na
rua de São Bento, de Antonio Bernardo de Azevedo Camelo
e . .. .. . . . . . . Cap. Marcelino José Bernardes, Joaquim José
de Oliveira .mudara-se para Parnaiba.
20 tabernas e botequins espdlhavam-se admiravelmente,
duas ou três em ca'da rua. No n." 1 da rua de Sto. Antonio, a
dona era Felisberta, escrava de Elias Aires do Amaral; devia
ser quitandeira. No beco da Amargura ( . . . . . . . ) era taver-
neiro Salva'dor, escravo de José Ferreira Prestes.
Propriamente havia só três vendas: Antonio José de Li-
ma, à m a da Cadeia (Visconde do Rio Branco) ; Francisco
Manuel Domingues, B rua de São-Bento e Manuel Vaz Gui-
marães, à rua das Flores. Especie de armazens de hoje.
Havia somente dois ourives: Tomé Antonio Pereira à rua
do Supirirí n." 6, e Luciano Teixeira de Almeida à rua das Tro-
pas, 19 (junto com Almeida Melo). Toda estd gente foi cole-
tada em 12$800 anudis, menos os taberneiras que o foram pela
metade, para o fundo do Banco do Brasil, imposto que ainda
em 1824 foi cobrado com o mesmo nome.
A presença dos ourives continuou e aumentou nos anos do
2." Imperio. Vimos há pouco, em poder do grande amigo da
tradiqão que é o dr. Afonso Vergueiro, baldncim e outros pe-
quenos objetos de ourivesaria, do tempo das feiras. Compreen-
de-se que os homens depois do negocio feliz quisessem levar
para casa ama lembrança, um brinco, um anel de pedras. E
ainda se pesaba ouro em pó vindo das Minas!
Eis aí alguns locais onde passaram tantos tropeiros, pelo
menos desde 1815, sem falar das igrejas, dos circos-de-cavali-
nhos que já em 1830 observou Hércules Florence, nem das fa-
mosas catralhadas.
E, contudo, o cenario das feiras não está completo.
Reunidos compradores e vendedores na vila, entabolam as
negociações sem a menor pressa. São finorios no negociar ou.. .
negacear. Quem não conhece d psicologia do nosso caipira?
E donde a herdou ele ? !
Um dia, realiza-se a primeira transação. E' talvez um rico
homem da Baía, que já tem navio fretado no porto do Rio de
Jdneiro para uma data fixa e precisa apressar-se. Quanto não
irá ganhar na feira de Santana! Mas tambem quantos riscos !
O gaucho de largas bombachas sorveu com infinito prazer
o Último gole do chimarrão e levantou-se: está fechado o ne-
gocio !
A novida'de corre logo toda a vila e arredores. Rompeu,
rebentou a feira.
Lá no Ipatinga urna cena conhecida se desenrola segundo
a velha tradição: o vendedor apresenta todas as bestas ao com-
prador. Fazem uma especie de rodeio. Depois (todos estão a
cavalo, já se vê, como numa parada militar) os capatazes to-
cam-nas para a frente desfilando a toda pressa ante o fu-ro do-
no. Quando este diz : basta ! os camaradas e o dono executam
a dificil manobra de cortdr o lote de animais. Os que passaram
para a frente, os ruins no meio dos bons (a habilida'de do tro-
peiro está em saber "empurrar" os rebotalhos), estão vendidos.
Sem reclamação. Um homem daquele tempo tinha uma só pa-
Ia'vra.
Agora tanger para a vila a primeira tropa. O entusiasmo
dos assistentes e entendidos é só comparavel, mutatis mutandis,
ao dos "torcedores" de hoje ao longo das ruds por onde cor-
rem desportistas, a pé, de bicicleta ou de automovel.. . O zé-
povinho é sempre o mesmo.
Continua o cenario das feiras. Chegada a tropa à vila oii
cidade, tem de repousar à força num dos lugares determinados
para isso e eram quatro grandes praças chamadas de parada pa-
ra as tropa's: o lugar que depois ficou a praça da Independen-
cia. correspondente à entrada do sul, de Itapetininga em diante;
o Piques ou Supirirí, que era uma grande faixa aos lados do
riacho desde a atual fábrica Sto. Antonio até a atual Estação
ferroviaria e servia tarnbem de entrada para o caminho do Ipa-
nema e Porto Feliz; outra longa faixa de terra à niargeni do
rio do lado d.a cidade, Antes da única ponte, e a íiltima na 4r-
vore Grande, saida para São Paulo e oeste.
Dissemos à força, porque cada besta pagava um imposto
e a tropa não passava pela ponte, munida de um portão ao fun-
do, sem que o dono fosse tirar o bilhete, após pagamento, do
Inspetor de animais. E isto custava. Precisava contar as bestas.
E quando estavam passando outras tropas ou boiadas ! Os fun-
, cionarios fardados e armados alí estavam uns sob o telheiro na
cabeça da ponte deixando as bestas escaparem uma a uma para
a rua - estrada poeirenta de São Paulo, outros dentro do gran-
de predio da Inspetoria, depois Coletoria, à dixeita de quem en-
tra na cidade. *
Compreende-se o vozerio, o bartilho na cidade das feiras.
A mistura de rdças, idades e sexos. Adivinha-se como não ha-
viam de sofrer as escravas que desciam ao rio para lavar a rou-
pa ou buscando agua para as suas "sinhás". Adivinha-se o lado
triste das coisas: não há grandes progressos sem o acompanha-
mento dessas criaturas que se vendem por dinheiro depois de
terem caido por uma desgraça', as pobrezinhas.
Eis porque um sacerdote sorocabano, o padre Lessa', em
relatorio ao Snr. Bispo de São Paulo, o qual está publicado na
Cronologia PuuZista de José Jacinto Ribeiro, argumentava com
o cosmopolitismo das feiras para explicar certa irreligiosidadc
que ele notdva nos seus conterraneos, nos fins do 2 . O Imperio.
Certo, as cidades de população mais assentada são mais
religiosas tambem: Itú levava a palma i sua rica vizinha, em
igrejas e instituições religiosas. Cremos poder concluir que os
verdadeiros sorocabanos permaneceram fiéis às crenças que nos
legaram, e, a acusá-los de muito amantes das exterioridades e
funções pomposas, havemos de ajuntar-lhes todo o Brasil dessa
época.
Antes de terminar o bosquejo do cenario das feiras, pedi-
mos ao leitor, com todas as veras, que visite a sala do Museu
do Ipiranga, no andar terreo e a direita, dedicada As feiras e à
sua época gloriosa, cerca de 1830. De uns simples desenhos de
Hércules Rorence que por aquí passou então e com as sabias
indicações deste mestre da historia paulista, e mestre dos mes-
tres que é o dr. Afonso de Taunay, o pintor fixou em qua-
dros notaveis e definitivos as feiras de Sorocaba. Correspon-
dendo àqueles, em baixo, nas vitrinas, estavam reunidos ob-
jetos de montaria dos tropeiros. Ainda há nos sitios deste mu-
nicipio quem saiba' o modo especial de dansar daqueles homens
valentes, algo diversos do batuque e do samba, e no qual a mú- .
sica ou o barulho das esporas chilenas desempenha um papel
importante, segundo, nos informa o distinto dr. Afonso Ver-
gueiro.
Os almigos do passado encontrarão ainda em Sorocaba,
pelo menos nas suas linhas gerais, o cenario das feiras. Nem
faltarão as rótulas, pelo menos em 20 casas. Não convinha aos
pais amorosos e esposos zelosos que qualquer homem desconhe-
cido lahçasse olhares de curiosidade para dentro das janelas
baixas. As rótulas !

NóTULAS SOBRE AS FEIRAS

Quando começaram as feiras de Sorocaba ?


Em tempos imemoriais, respondem os preguiçosos.
E têm razão, porque ninguem ainda fixou o dia, mês e
ano para eles os copiarem, empenachando-se com os trabalhos
de outros.
A pergunta comporta varias preliminares. A elas!
Feira propriamente era o movimento da compra-e-venda
dos muares e do gado em épocas determina'das por varias cau-
sas, como as facilidades para viagem em tempo de seca, a qua-
lidade dos pastos, etc.
Não era feira o simples perpassair de tropas e boiadas, nem
muito menos O de pequenas tropas transportando cargas, que
isso durava o ano todo, enquanto que os negocios das feiras ti-
nham só 2 meses.de duração.
&ta explicação exige o encontro entre compradores e ven-
dedores.
Quem eram os compradores? Tropeiros e boiadeiros de
oficio que revendiam nas fazendas, vilas e cidades de varias
provincias (e, antes, capitanias) do Brasil, o ga'do para o con-
sumo e as muares para o transporte. Eram, muitas vezes, os
proprios fazendeiros que vinham com os seus capatazes ou até
mesmo os negocialntes das capitais. Estava-se numa época em
que montar a cavalo para longas viagens elo interior não se
fazia mais dificil do que hoje ir um negociante à Europa, não
só para passear como para escolher os artigos de importação.
Quem eram os vendedores?
Estes, sim, na maioria foram sorocabanos ou do assim cha-
mado sul de São Paulo (compreendia o Paraná até os 1850).
Quem tinha pouco dinheiro, quem mais; um, simples sitiante;
outro, grande fazendeiro e criador; um, taberneira na vila de
Baltasar Fernandes, outro, "atacadistá" com a sua loja e so-
brado; enfim, o que nunca "navegou" por essas campanhas
infindas e procurava bons camaradas, ou o que de empregado se
fazia patrãozinho, um belo dia reuniam as suas economias e
se faziam no caminho do sul. Nos campos de Curitiba ou nos
parnpas do Rio-Grande compravam aos fazendeiros a boiada
ou a tropa e, em seguida, vinham-nas tangendo pacientemente,
poeticamente.. . para a terra. Imaginar-se pode com que ale-
gria, nas alturas de Itapetininga, divisaivam eles o perfil seretio
do Araçoiaba e a serra de São Francisco!
Apertando ainda mais a definição, deixamos o nome de
feira's em sentido geral tambem para o gado, urna especie de
feira do ano inteiro; e reservamos, com todos os viajantes, cro-
nistas e entendidos que examinaram o assunto, a palavra feira
só para os muares.
Ao palsso que chegavam, as tropas iam ocupando sem ceri-
monias os campos d'el-rei, - donde o vocábulo reiunos, - que
se estende mais ou menos por sete feguas em quadra entre o
Ipanema e a serra de São Francisco, abundantes de aguadas e
capões de mato, não ráro interrompidos pelos cerrados tam-
bem propicias aos animais. Junto delas erguiam os peões, capa-
tazes e patróes os seus abarracamentos. Davam vida por três
meses ou maiis aquelas solidões, durante o dia correndo atrás
dos muares, d a n d ~ ~ l h eos milho e o sal, cuidando das canga-
lhas e arreios, ou até mesmo, nas horas almas, "trançando"
redeas, loros, etc. A noite, era comum antes do sono um canto
com a viola ou o violão, os pandeiros, os chocalhos. . .
As lagoas do Ipatinga ou do Itinga, espelhos onde se re-
fletiam garças cismadoras e esconderijos de jacarés temerosos,
tinharm as suas margens povoadas de tropas e tropeiros. Cons-
truianl-se, mesmo, grandes ranchos definitivos de madeira' e
sapé, quais aqueles já espalhados em gravura, do Cubatão. Ser-
viam para todos os anos. Ocultavam maguas e alegrias.. .
A terminação "tinga" traduz perfeitamente a brancura
transparente daquelas agua's. A lagoa do Ipatinga está secando,
secando. Percebe-se o traçado de outrora a diminuir para o jun-
cal que do centro conquistando vai a periferia. Apends qui-
nhentos metros de diâmetro, si tanto. Quem a aicança de Soro-
caba, deve tomar o antigo caminho de tropas que sai da ci-
dade antes da atual estrada de rodagem. Cerca de legua e meia
de cerrado, em verdadeiros barrocais que gritam através de suas
fendas hiantes a justeza do nome de Sorocaba, (e um desvio à.
direita conduz à pequena bacia onde os jacarés do proverbio
estão preparando a mudança.. . Ao lado, uma capela de uns
30 anos, e onde se conserva a tradicional i m d ~ mde Nossa Se-
nhora do Rosario que esteve no seu altar à direita e junto ao
arco - cruzeiro da primeira matriz de Sorocaba, a de Balta-
sar Fernandes. No fundo, frente para o nascer-do-sol e num
tufo de arvoredo a casa de nhô Bento Padilha; mais alem, o
Ipanema inisterioso, sempre igual a si mesmo por onde quer
que seja observado. Si a gente mudar para a posição contra-
rid, o fundo será a serra de São Francisco,,barrando de azul e
de sonho meio horizonte. - A garça! nem que fora de propó-
sito: lá estava o empertigado pernalta, pousando nos juncos.
Depois levantou vôo baixo, evoluindo para os visitantes, e pou-
sou alem, mas então vimos perfeitamente outra gakça branca,
branca, no espelho das aguas.
Margeando a lagoa, ouvimos falar nhô Bento. Tem ses-
senta anos e, menino, viu os últimos ranchos de tropeiros, ali
naquele lugar onde nascera.
As feiras acabaram há meio-século.
De 1870 a 1880, quando a Estrada de ferro sc firmou enl
sua ma'rcha definitiva alem-Ipanema.
E' tambem pitoresca, ainda mais bela, a paisagem do Itinga
ou Utinga ou, por abreviação, Tinga. O campo é mais extenso
e limpo, o pasto mais verde, uma longa planicie em que mal se
adivinham imperceptiveis baixadas onde outrora havia peque-
nas lagoas de aguas lírnpidas e frescas sob a copa do drvoredo,
verdadeiros oasis.. . Hoje, as árvores foram cortadas e as
aguadas desapareceram. A frente do caminho, longe, bem lon-
ge, vai se abaixando, din~inuindo, formando uma só linha com
as colinas a serra de São Francisco. O vento sul que varreu as
cochilas do Uruguai e Rio Grande e encapelou as ondas do
&lântico atravessa por alí e zune, zune dia e noite no campo
do Tinga. Pobres tropeiros nas noites frias! Precisavam mes-
mo do chimarrão ao pé do fogo. . . e da pinga, enquanto o
vento esfuziava pelas barraca's e cordames.
Seguimento de um e outro descampddos, é o Campo-Lar-
go, cujo adjetivo diz tudo e estende-se três l e s a s até à cidade
daquele nome nascida à borda do campo (e entrada da mata)
em 1826 de um pouso de tropeiros, e contorna mais a dentro
e já com outros nomes as fraldas ferreas do Araçoiaba. Alí
tambem a solidão se povoava! na época das feiras. Horas se-
guidas, nas tardes compridas de janeiro após as chuvas rápi-
das, ficamos neste 193%na capela de Sta. Cruz, entrada' de ci-
dade, perto da qual a funda estrada daçStropas cruza a de ab-
tomoveis, a contemplar esses campos saudosos em que a cada
meio minuto corre bulhe~itoum "auto" de passageiros ou de
cargas, mas não consegue abstrair do passado os olhos que o
amam. O morro do ferro parece estar alí mesmo, pertinho, im-
passivel testemunha dos séculos.. . E em vez de "claxons"
estrangeiros, são as tropas que passam tilintando, tilintando.. .
Lá em baixo, ao lado da bela igreja moderna, a capela pri-
meva em que rezaram os tropeiros e muitos foram enterrados.
Revimos longamente os livros da pequena parquia de há
cem anos, na época brilhante em qu'e as feiras cresciam e O
ferro do Ipanema dava algumas esperanças.
Poucas linhas e sobrias marcam uma época. Eis o assento
de batismo de uma criança. Filha de pais incógnitos, foi ex-
posta num rancho de tropeiros, padrinhos Fulano, viandante
natural de Minas Gerais e Sicrdna, de Sorocaba.
Um óbito: Fulano, viandante, morto repentinamente no
Jundiacanga, os que o trouxeram não sabiam dizer onde nasceu
e morava.
Um casdmento: Francelino Diuarte da Costa, "natural de
Caçapava do continente do sul, filho de José Dultra da Costa
e Angelina Silva casa-se com Maria Ferreira de Almeida, viu-
va de Tristão de Almeida Malhado, 1839".
Mais .um: José Custodio da Silveira, natural do' Espírito-
Santo de Coqueiros, freguesia' de Dores, Mariana, recebe em
rnatrimonio Francisca Prestes de Albuquerque, natural de Ita-
.
petininga. .

XII

A CAPELA D E NOSSA SHNMORA DA CONCE;I$AO

Dos antigos homens desta vila me informei sobre a funda-


qão desta capela, e é o seguinte:
"Braz Esteves homem rico c10 gentio da terra que éra o
cabedal d'aquelle tempo, que no principio da fundação desta
villa fundou dispotico uma capella no seu sitio sete leguas dis-
tante desta villa pouco mais ou menos, abaixo do rio de Soro-
caba na barra de um ribeirão chamado Sarapuhy, com titulo
de N .' Snr." da Conceição; e a erigiu dita capella sem provisão
de licença, pois se não acha em livro algum. Por sua morte o
dito Braz Esteves me disseram deixara em modo de patrimonio
uns carijós de sua adniinistração, cujo numero se ignora, á dita
capella. E como ficasse o sitio deserto e a capella pelos tempos,
illudou a dita capella o capitão-mór Martinho Garcid para esta
villa, abrindo um arco no corpo da igreja, d'onde ainda de pre-
sente se acha, o que fez supponho sem auctoridade de Prelado,
ou Visitador ordinario, que não acho por d'onde conste. Ven-
deu, ou pôz em praça, como n'aquelle tempo se costumava, os
carijós, e teve comsigo o dinheiro, dando-o a juros. Por morte
deste capitão-mór passou em modo de protectoria ao capitão-
tnór Fernando Dias Falcão, a queiii o Rev." Vig." Antonio Car-
valho de Oliveira, já defuncto, enipossou de quitrocentos e
vinte mil, digo, vinte e cinco mil réis, como adiante se verá, no
distracto que vae lançado. Este capitão-.mór deu a juros este
dinheiro a varias pessoas, antes de ir para Cuyabá onde falleceu
c0111 alguns bens. E as escripturas vão adeante lançadas, e al-
gumas dellas mal paradas e perdidas, em cujas cobranças nunca
cuidaram os Reverendos Visitadores, nem os Ouvidores como
Provedores das Capellas, e a diti capella se acha disparatada.
-
Não tem pensão alguma por onde conste por vivos e defunctos."

"Destracto da escriptura de duzentos e vinte e cinco mil réis


que devia o Reverendo Padre Vigario da Vara a Nossa Se-
nhora da Conceição.
"Saibam todos quantos este publico instrumento de des-
tracto de escriptura de dinheiro a juros virem, que no anno do
nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil e setecentos
e dezasete annos, nesta villa de Nossa Senhora da Ponte de
Sorocaba, em as casas e morada do Juiz ordinario e de orphams,
o Capitão-mór Fernando Dias Falcão, aonde eu publico tabaliãa
ao deante nomeado fui chamado, e sendo ahi logo me foi dito
em como o Reverendo Padre Antonio Carvalho de Oliveira,
Vigario da Vara em a villa de Iguape, éra devedor nesta dita
villa a Nossa Senhora da Conceição desta villa da Capellinha da
igreja matriz, duzentos e vinte e cinco mil réis, por uma es-
criptura publica no livro antecedente a este, a folhas corenta r
oito verso e que tinha dobrado o dito dinheiro que com o prin-
cipal de duzentos e vinte e cinco mil réis faz somma e quantia
de quatrocentos e cincoenta mil réis, descontando dezóito mil
e quinhentos e oitenta réis, que mandou o dito Reverendo Padre
cantar quatro missas cantadas á dita Nossa Senhora em quatro
annos, a qual quantia disse o dito Capitão-mór os recebera coma
protector e administrador da dita capella de Nossa Senhora da
Conceição, e como pago e satisfeito mandou destractar a dita
escriptura, a qual fica destractada e dá por derogada sem vali-
dade nem forca alguma a dita escriptura por estar pago e satis-
feito e a! dá por quite e livre de hoje para todo o sempre, e a seu
fiador e principal pagador o sargento-mór João Martins Claro
por desobrigado a não dar mais contas em Juizo nem fóra delle e
de como está pago e satisfeito mandou passar este destracto eni
que se assignou com as testemunhas que presentes se declaram
Salvador de Oliveira Gago e Manoel João, pessoas de mim ta-
balião reconhecidas que assignaram, e eu Gregorio de Lapenha
Taballião que a escrevi."
Esta escritura foi copiada pelo tabelião Lourenço da Costa
Martins, em 2 de janeiro de 1732.
ACHEGAS
Á HISTQRIA DE SOROCABA 143

Aos 11 de março de 1712, o tabelião Jorge Ferreira de Men-


donça passou a escritura de dinheiro a juros, 77$280, que o
capitão Miguel Sutil de Oliveira tomou das mãos do capitão-
mor Fernando Dias Falcão, de contado, e que este acabava de
receber, por conta, do Padre Carvalho e para N.a S.a da Con-
ceição. O Sutil deu por fiador principal do alferes Antonio An-
tunes Maciel, que estava presente e aceitou.
Eram testemunhas João da Cunha e Miguel Rodrigues da
Costa.
*
* *
31$360, aos 8 de julho de 1713, tomou emprestados à ines-
ma N? Senhora, por meio do capitão Francisco de Lara de
Almeida, e sempre por conta da dívida do padre Carvalho, o
ilustre capitão Gabriel Antunes Maciel, e deu por fiadores os
seus bens imoveis e de raiz, adquiridos e por haver.
A 19 de abril de 1719, o capitão-mor Falcão mandou des-
tratar esta escritura e passar outrd, com fiador, noutro livro.
Mas, em 1732, o tabelião Lourenço Costa Martins não a en-
controu.
*
* *
Aos dezoito de abril de 1721, na casa do Juiz ordinario e
de orfãos capitão Gabriel Antunes Maciel, o sargento-mor José
de Faria Pais tomou das mãos daquele Juiz 60$OOO a juros de
6 %, de N.a S? da Conceição, para çuja satisfação hipo'te-
cava todos os seus bens e dava por fiadores o sarg.-mor Esteváo
Sanches Pais e Marços Dias Ascenso. Testemunhas Luiz de
Ene Gil e Antonio Luiz do Passo.
*
* *
446$000 a 26 de julho de 1724 eram devidos a Nossa S e -
nhora da Conceição, a 6 % % ao ano, p,or Luiz' Castanho de Al-
meida, que apresentou em cartorio duas escrituras do tempo de
Fernão Dias Falcão - capitão-mor regente, - e obrigou-se a
pagar, pelos seus bens, sendo fiador principal Inacio de Al-
meida Lara com o beneplácito de sua mulher Ana Pedrosa. Esta
não soube assinar. Testemunhas: José Nunes de Siqueira e Ma-
nuel da Silva Ferreira.
*
* *
284$800, a juros de 6 /4 ao ano, declarou haver tomado
a N.S Senhora o cap. Antonio Pompeu Taques, a 13 de dezem-
bro de 1725, por mãos do cap. Domingos Soares Pais, que lhos
entregara a 11 de novembro p. p. Fiadores : cap. José Pompeii
Castanho e cap. Francisco Almeida Lara.
*
* *
Bernardo Antunes de Moura, a 12 - X I - 1725, então Juiz,
recebeu do outro Juiz, Domingos Soares Pais, 100$000, fiador
cap. João Pais dos Reis.
*
* *
Lucrecia Pedrosa (que não soube assinar), mulher de Fer-
não Falcão, por ordem deste vinda do Cuiabá, recebeu 96Q6000
de N.a S." da Conceição, a 21 de novembro de 1725, dívida e
das mãos de Domingos Soares Pais.

XIII

OS DOIS PASCOAL MOREIRA CABRAL

Objeto de confusão tem sido, às vezes, este nome, até em


historiadores como Basilio de Magalhães, em Expansão cololzial
do Brasil, tal como se deu com Fernão Dias Pais, a quem se
acrescentou um Leme sem motivo, como demonstrou o seu bib-
grafo Dr. Afonso de Taunay.
Nos livros de assentos de batizados, casan~entos,óbitos e
do Tombo desta paroquia, se lê sempre sem o Leme, e os dois!
As vezes confundem-se, mais que os nomes, as pessoas do
pai e do filho.
O vigario Pedro Domingues, sorocabano dos quatro cos-
tados, escreveu no Livro do Tombo, na informação exigida pelo
Bispo de São Paulo, e em 1747, que Pascoal Moreira Cabtal,
protetor da'çapela de Nossa Senhora de1 Populo, fora o fun-
dador de Cuiabá. E dizendo logo que em 1679, mais ou menos,
construira esta capela. Ora, o assento de óbito do coronel Pas-
coa1 Moreira Cabral, já pblicado em varias ocasiões, mostra
que a sua morte ocorreu a 5 de junho de 1690. Cuiabá não exis-
tia, ainda, sinão para os indios.
Sobre a capela de Nossa Senhora de1 Populo, o &mo. e
Revmo. Snr. Dom José Carlos de Aguirre, d. d. primeiro e
atual Bispo de Sorocaba, imprimiu, num de seus anuarios da
Diocese, a documetltaçáo existente. E, com; bispo, restaurou,
noutro local, em Brigadeiro Tobias, a capela que estava em
ruinas já em 1860, mais ou menos, ruinas de taipa', com ceqi-
terio contiguo, que hoje inda marcam, ho Itapeva, serra de São
Francisco, o lugar'onde rezou a familia do fundador de Cuiabá.
acaso ele tambem. A imagem não existe mais, porque tinha de
ser um painel, para ser autêntica; há, porém, outras imagens
antigas no local hoje ocupado pela fazenda de S. Francisco, d+
S. A. ~otorantim.'
Como as devoções se acabam! Melhor, mudam-se! Nossa
Senhora Aparecida suplantou as outras denominações de uma
mesma Senhora.
Resta um problema a resolver com uma hipótese. Onde
teria Pascoal Moreira Cabral, o primeiro, aprendido a historia
ainda hoje pouco conhecida de Nossa Senhora da1 Populo ? Nos
pateos do Colegio? Em última análise, a inilenar devoção filia-
se à pintura tradicional de São Lucas, ma's está em Roma o
santuario.
Pode-se ler, no Anuario citado, o assento de óbito do pau-
listano Pascoal, com as disposições testamentarias, p. ex. a que
legou à capela em patrimonio dois casais de carijós, com a con-
dição deliciosamente bandeirante de não os botarem ao sertão.
Sabia que nada' lucrava quem se atrevia aos perigos das
selvas. Ele ficara com essas terras, algum pozinho de ouro en-
taquarado, aí das redondezas, desde que conhecera frei Pedro de
Sousa, e com alguns escravos. Não podia ter uma capela' menos
singela onde repousassem os seus ossos, de fundador, pois foi
sepultado em São Bento, ao pé da porta da sacristia. E o tem-
plozinho na solidão foi sempre um nó na garganta para os vi-
garlos em tempo de visita dos prelados, cada qual mais gritão
contra a pobreza franciscana da igrejinha. Quanta' lição nestes
episodios! Para que tantas lutas, tanto sofrer atrás do ouro, si
os felizardos de Cuiabá não podiam siquer dourar os retábulos
de seus igrejós! Que f e z c ~ i g u eSutil
l de todo o seu ouro? Onde
estão os seus descendentes e a sua grande casa?
Na verdade, o ouro nada mais é que um meio de troca. E
não se troca o que se não tem. Os mineradores só tinhain o ouro
2 sua sede. E o fisco d'El-Rei Nosso Senhor a quem Deus
.larde. . .
Junto com as ruinas da capela, restam as das exploraçõe~
de prata e de ouro, os poços mui fundos e encantados, o nome
no bairro das Lavras-velhas. ..
Este paulistano era genro de Braz Teves, o fundador dr
uma fazenda com a capelinha da Conceição na foz do Sarapuí
no Sorocaba, a 7 leguas da vila, dizia no livro do Tombo o pe.
Domingues.
Ora, Braz Teves já estava residindo aquí em 21 de abril
de 1660, como faz fé a escritura da doação que fez Baltasar
Fernandes aos beneditinos. Portanto, ou viesse de São Paulo
casado, ou aquí se tivesse casado, chamando o pároco de Parnai-
ba, chegou a Sorocaba o paulistano Pascoal Moreira Cabral
antes dessa data. Porque não o teria sido cerca de 1645, ano
em que Silva Leme coloca a transmigração do Baltasar e seus
parentes e amigos para esta paragem de Sorocaba? Esqueceu-se
o linhagista de fundalmentar a sua afirmação, mas poderia tê-la
obtido, por exemplo, dos livros velhos da Parnaiba quando daí
desapareceu o nome de Baltasar.
Chegamos ao ponto. Aceita esta hipótese, é sorocabano, não
oficialmente, mas da região da futura Sorocaba e já da do S.
Filipe do Itavovú, o 2." Pascoal Moreira Cabral, o fundador de
Cuiabá.
Com efeito, ele é o terceiro de irmãos nascidos aquí, con-
forme doctrmentamos em nota (*). Porque haveria de a mãe
viajar para São Paulo especialmente?. . . Em Itú, onde ele se
casou em 1700, ou melhor, no Arquivo da Curia da Arquidio-
cese paulopolitana, estaria al solução com um documento posl-
tivo: certidão de casamento, e talvez a do batismo.
Sabe-se que o sorocabano Pascoal é de 1655. Que em 1682,
segundo descobriu o historiador das bandeiras, Dr. Taunay, esta-
va com Braz Mendes e outros nas margens do Emboteteú (Mi-
randa), num campo fortificado. Que veio casar-se em Itú, coiii

(*) No assento do casamento de Tomé Moreira, livro 1.O de


Cas.tos, a 2 de julho de 1686, diz-se: "natural e morador" de Soro-
caba. No mesmo dia se casou Braz, com anotação igual: "natural
e morador".
dona Isabel de Godói, em 1700. Enfim, descobriu e fundou o
Bom Jesús do Cuiabá, em 1718. Era um homem bom e polido,
quanto podia ser um iicalção-de-couro" a juventute sua. . .
Nada briguento, entregou a honra e o mando a Fernão Dias
Falcão em 1720, contentando-se com ser o segundo onde deveria
ser o primeiro. E que em 1724 desceu tranquilo, um herói tran-
quilo para a paz do sepulcro, na' mesma igreja do Bom Jesús.
O fundador de Cuiabá veio ao povoado cerca de 1695 e
voltou na derradeira expedição cerca de 1715, que é quando não
mais se fala em seu nome nos livros paroquiais.
Alinhemos, pois, as referencias. São ainda e de todo iné-
ditas.
Jorge, filho de Braz Moreira, foi batizado em 1695, abril,
tendo por padrinho o tio paterno, Palscoal Moreira Cabral (o 2.O).
Porem, em julho de 1690, já havia apadrinhado o menino Mar-
tinho, filho de Miguel e neto de Martim Garcia Lumbria. Pro-
vavelmente assistiu, pois, à morte do pai. Braz Mendes, o seu
capitão do reduto do Miranda (de 1682) tambem se aichava ein
Sorocaba, em 1692, com Braz Moreira Cabral. Em 1700, 12 de
janeiro, foi testemunha do casamento de João Antunes Maciel
com Luzia Leme; Braz Mendes Pais, a 2.8 testemunha. Ami-
zades bandeirantes ! Si em 1715 reaparece no livro de casamen-
tos, testemunha em julho e setembro. Ao passo que, em 1718,
Miguel Antunes, e, em 1719 (maio), Gabriel Antunes e Fer-
nando Falcão, estavam em povoado a5nda. Entretanto, Pascoal
já tinha tomado o caminho de Cuiabá e da Gloria. Talvez Mi-
guel Sutil lhe seguiu ao encalço, ele que só em 1715 aparece
no livro, fazendo casar um filho homônimo.
Porem, recorrendo ao livro de óbitos, encontra'mos, a 12
de julho de 1712, a morte de Tomé, inocente filho de Pascoal
Moreira Cabral e sua mulher Isabel de Godói Moreira; enter-
rado foi na capelinha da Conceição, do bisavô Braz Teves.
Eis ai como se deduz a residencia de Pascoal já casado,
antes da Última viagem. Ele se foi e ficou. Tarnbem o Falcão.
Os Maciéis e o Sutil voltaram. . .
Em 1723, morreu Isabel Moreira, muito pobre. O ternio
não explica mais nada. Não há de ser a mulher de Pakcoal.
XIV
DOCUMENTOS MAL COPIADOS DO 1." LIV1<@ D E
ATAS (JA QESAPARECIDO) PELO "SOROCABANC)"
E M 1870.

1667. "Diz Manoel Fernandes de Abreu, morador nesta


dicta villa de Nossa Senhora da Ponte, que elle, haverá doze
annos pouco mais ou menos que em companhia de seu Pae (Detrs
o tenha em sua gloria), o capitão Balthazar Fernandes, come-
çaram a povôar e fundar esta villa com suas pessoas e fazenda
e fizeram ás suas custas duas igrejas e casa de Concelho nesta
villa, e porque elle é casado e tem filhos e filhas, e não tem
chãos em que póssa fazer casas para seus filhos e filhas, péde
a Vossas Mercês lhe façam mercê de vinte braças para casas
e seus quintaes, correndo das casals que agora tem de pilão tia
praça do Concelho e correrão as vinte braças para a bànda do
ribeiro que fica para o poente (Supiriry). E assim péde outras
vinte braças para! casas com seus quintaes na rua que vae por
detraz da cruz que está na praça da igreja matriz, começando
da' esquina da travessa correrão os chãos por ella acima indo rua
àcima para a Cruz. Péde mais os chãos que ficam entre a cadeia
e esteios que artiiados tem defronte do outão; dos esteios coi-
rerão os chãos para atraz da cadeia que serão quinze braças
pouco mais ou menos em quadra. E receberá Mercê."
A 7 de junho desse ano foi a doação.
Em 4 de julho de 1667 "me foi dito pelos juizes ordinarios,
vereadores e officiaes da Camara que elles por esta carta de
doação davam e doavam ao muito Reverendo frei Francisco
da Visitação dignissimo Abbade provincial da Religião de São
Bento neste Estado do Brasil, o pasto que corre da cruz da
igreja de Nossd Senhora da Ponte (que da dicta religião?) assim
como vae correndo pela estrada do capitão Pedro de Miranda
até o rnatto que fica da parte do sul, e da parte do norte até á
cruz e rumo direito até o rio dos couros (*), como tambem da
parte do matto acima' da dita estrada rumo direito até o rio.
Este pasto davam para cerca do convento; outrosim davam o

(*) Supiriri atual.


capão que começa do dito ribeiro dos couros e vae correndo
pela estrada do capitão Jacyntho Moreira Cabra1 até os campos."

1667.. . "e logo concorreram os bons homens deste povo


e o capitão de infantaria de ordenanças Miguel Garcia Lumbria
com os seus soldados e caixa toccida á porta do Procurador da
Camara capitão Joaquim Martins Leite, e alterando vozes e
dizendo que desse cumprimento ao requerimento do rev." vigario
e mandasse vir para o adjunto com mais povo rodearem o coii-
vento, impedir os religiosos não fossem fóra desta' villa e eii-
carregar-lhes suas consciencias e falta de sacerdotes que por
sua ausencia pode haver. . . " e (o resto é redundamento do
mesmo assunto), e o procurador respondeu que tudo se arraii-
jaria com o auxilio de S. M. e que viriam outros. Assinaram
33 pessoas.

1706. "O cap. João Machado Leme requereu ao capitão-


mór desta capitania da Conceição que presente estava que esti
villa carecia do seu rocio, e que os 'padres de São Eento não
deram 2s aulas de latim e canto-chá0 que haviam promettido, e
que o seu presidente apenas feitorizava a's suas lavouras e, pois,
a Camara désse as datas, ficando aquelles com a sua certa
sómente. "

1665. "Quartel. Os officiaes da viila da Camara de Nossa


Senhora da Ponte fazem saber a todos os moradores da vil!a
de Nossa Senhora dai Candelaria de Itú que tiverem cartas de
datas de terras na dita villa ou termo della dentro em seis mezf-5
vão cultival-as e medil-as, porquanto estão chegando muitos
moradores para lhes darem'terras que estão devolutas. E para
que venha a noticia de todos fazemos esta advertencia para que
em tempo algum se chamem a ignorancia. Feita' em Camara aos
19 de Dezembro de 1665. " (*)

(*) Copiamos o documento que descreve o motim popular de


18 de abril de 1695 frente ao Mosteiro, embora mui co~hecido.O
capitão maior era Martim Garcia Lumbria, de toda capitania de
Itanhaem. O capitão das ordenanças, o seu filho Miguel Garcia Lum-
bria, como verificamos nos livros paroquiais, corrigindo assim a pe-
quena confusão dos escritores.
O mesmo quartel foi dirigido às Câmaras de Parnaiba e
são Paulo.
-
1695. Termo. "Aos 18 do mez de Abril de 1695, a re-
querimento do povo todo desta villa de Nossa Senhora da Pontc
foi requerido ao Juiz ordinario capitão André Domingues Vi-
diga1 fizesse Cainara para que incorporada fosse em companhia
do povo e do revdo. vigario Antonio Carvalho ao mosteiro
de São Bento prohibir a ida dos religiosos requerendo-lhes da
parte d'El Rei não despejarem o mosteiro, o que logo puzeram
em execução, indo a portaria, batendo com extraordinarios go!-
pes acudiram os religiosos ainda descompostos e alvoroçados
ignorantes do succedido, e assustados, disseram e perguntaram
o que queriam, ao que o povo respondeu-lhes: tirar-lhes a vida,
antes que deixal-os despejar o mosteiro, porque sabiam que o
queriam fazer occultamente, desamparando a casa e defraldar
(sic) os bens della, e que elles queriam defender á força das
armas. E os ditos religiosos requereram ao juiz e mais officiacs
da Camara que pelo amor de Deus sustivessem o seu.. ., que
lhes segurassem as vidas, o que o dito juiz mandou logo fazer
em adjuncto com o capitão maior e governador Martino Gracja
Lumbria, e os ditos religiosos requereram a mim tabellião lhes
passasse termo de seus requerimentos e certidão dos successoç
e do que adeante passasse na verdade, para sua descarga, e que
o dito juiz prometteu assim mandar fazer a todo tempo que os
religiosos pedissem e fosse necessario. E o dito juiz virando-se
para o povo lhes disse requeressem. Ao que logo acudiu o revd.O
vigario e requereu ao dito juiz que convinha ao serviço de Deus
e bem das almas sustivessem a ida dos rev.os religiosos, e
quando não, desprezaria elle a villd e a igreja, porque não s::
atrevia elle só sem os ditqs religiosos de curar tanto numero de
almas como havia, juntamente requereu aos ditos religiosos da
parte de Deus não o desamparassem e de fazerem o contrario se
queixariam a seu revd.O Geral, e pediu certidão a mim tabellião
de seus requerimentos, e o dito juiz mandou Ih'a passasse do
que pedia. O que visto pelo dito revd? pe. Fructuoso e mais
religiosos prometteram não despejar nem bolir em bem nem um
em desfraldo do mosteiro, sem lhes dar parte aos ditos sena-
dores, e promettiam e juravam pelo patriarcha São Bento desis-
tirem, e ajudarem o beneficio das almas." (Faltava o resto).
ACHEGASÁ HISTORIA DE SOROCABA 151

xv
O IPANEMA E M 1813 (*)

Visitando a fábrica de ferro em janeiro de 1938, por coin-


cidencia no mesmo dia em que um alto funcionario do Minis-
terio da Agricultura alí chegava para começar os trabalhos da
mudança de direção, pudemos folhear alguns documentos anti-
gos, graças à gentileza do snr. capitão Paiva, Último diretor
subordinado ao Ministerio da Guerra.
Teiil o seu valor um inventario completo, já um pouco
"traçado", o do ano de 1813. Por ele se conclue que havia
"uma casa de fundição com 188 e 1J3 palmos de comprimento,
e 72 de largura e 22 1/2 de altura, formada sobre pés direitos,
coberta de telhas, em que dentro se acham construidos 4 f o r n ~ s
de pedra, 2 f,orjas de refinar e caldar, para estender as barras,
a saber: uma forja prompta com dois ventos e outra' ainda sem
vento. "
Havia um açude de pedra e cal com uma ponte.
Uma forja por concluir, que tem o seu malho grande e a
ferragem competente. Uma forjd de ferreiro.
Segue-se uma longa enumeração de objetos moveis. Por
exemplo: 1 microscopio de 3 vidros; 1 forma de aço de experi-
mentar quaisquer pedras; 1 sextante dos melhores, todo de
metal amarelo, n.O 1791; 21 cadinhos; 1 câmara escura com os
seus vidros e os vidros de reserva; 1 agulha com caixa e 1 para
algibeira, arnbas para minas; 5 formas de ferro para balas; a
caixa de um cronômetro de mar, inglês, desaparecido. . . 1 ter-
mômetro com barômetro, os vidros partidos, etc., etc. '

XVI

FABRICA DIE FERRO SAO JOÃO DO IPANEMA


(Apontamentos inéditos tirados do copiador em 1938)
A ad~r;inistraçãoMursa, de. 1882 n 1890

O Dr. Joaquim de Sousa Mursa foi, seni contestação, o


melhor administrador da fábrica de ferro do Ipanenia. Entrou

(*) Estas informações clo Ipanema em 1813 são inéditas com-


pletamente.
na posse do cargo quando o Brasil começa'va a sua maior @erra,
em 1865. Dependencia direta do Ministerio da Guerra, a fá-
brica devia produzir canhões, munições e arma branca. "No que
de mim dependia, realizei o programa de que fui encarrega-
do, - diz ele no relatorio de 1882 ao Ministerio da Agricul-
tura, - mas a distancia desta fábrica à Corte e a dificuldade
de transporte embaraçam o progresso do estabelecimento." '
Dá gosto ler o copiador da fábrica neste periodo de 1882-
1890. E' a alma reta, a inteligencia e perspicacia, o patriotismo,
que se descobrem em cada linha. E a pertinacia. h cada rela-
torio, repete as mesmas e sabias razões. Com que paciencia!
"V. Excia. é o 18.0 ministro a quem me dirijo em 17 anos!" -
exclama ele a um novo ocupante da pasta.
Podemos resumir as suas idéias fundamentais: a fábrica só
tem valor como uma dependencia do exército em tempo de
guerra. Na paz, precisa ser industrializada, produzir para d&
lucro. Mas, o Governo não pode dirigir uma industria lucrativa,
nem competir com particulares. Logo, arrende-se a fábrica de
ferro, bem entendido, a brasileiros, e sob a fiscalização perina-
nente do Governo. 0 s déficits anuais. ele os atribuia ao em-
perramento da marcha administrativa, a deficiencia dos maqui-
nismos e às proporções reduzidas da propria fábrica. Nunca
à imp&feição do minerio de ferro. Na sua época, um tanto
empírica, ainda não se havia destruido a lenda do tesouro fabu-
loso, do Ipanema, em ferro para o mundo inteiro.
e Explicou ele, exhaustivamente, a mais de um ministro, por-
que não produzia trilhos para as estradas de ferro do país,
segundo queriam os jornais. Por falta de aparelhos e por causa
dos transportes: uma tonelada de trilhos de Liverpool ao Rio,
compreendidos os direitos de alfândega, ficava mais barata do
que a do Ipanema-Santos ao Rio.
Estradas de ferro, jardins e arsenat - Na periodo que
vamos estudando, o Dr. Mursa forneceu ferro para a estrada
de ferro Pedro 11, que era despachado para Cachoeira, para a
estrada de Baturité (Cea'rá) e para a de Porto Alegre a Uru-
guaiana. Fez, já em lLod e 1883, as grades para o Jardim da '
Luz em São Paulo, e diversos artigos em ferro para o Arsenal
de Marinha. Vendia, tambem, a particulares os objetos de ferro
fundido, como se vê por aquele engenho de cana, que fez para
Itú, a 1 :600$000,e o dono veio buscá-lo em carro de bois, por-
Mina de ferro de Ipanema. - Fotografia tirada, em 1905, pelo Dr. Edmundo K v .
EGAS Á RISTURIA DE SOBWABA
3

que, de trem, gastaria 176$000. Era despachdda ao Arsenal,


em barricas, areia de moldar. Sempre houve diminuição ( p h !
holwl) dos produtos enviados para este, no carninbo: Soroca-
bh a, Inglesa, porto de Santos-Rio.
e s jardim da Luz custaram alguns anos a ser
~ s " ~ r a d do
pagas.
Um orçscmento escola+-.- Um presidente da Provincia de
S h Paulo, o Dr. Manuel Marcondes de Moura e Costa, pedia,
em março de 1882, os preços de cem mobilias escolares. O Dr..
Mursa orçou: bancos-carteiras, com tinteiros para dois alunos,
d 15$C@O cada; bancos simples para a última linha, 5$oCKl; baxi-
cos para leitura (4 alunos, 129b000; mesa para o mestre, 70$000;
2 pedras, 80$000. Total : 100 escolas, 88 :990$000. Ficou por
isso mesmo. . .
A maior exp&tação era em ferro gusa para o Arsenal e as
estradas de ferro. Na Pedro 11, sabe-se que as rodas desse ma-
tei-ia1 deram bom resultado.
. Um Diretor conciencioso - O Dr.Mursa não se limitava
a fiscalizar a parte técnica da fabricação. Interessava-se pelos
seus inferiores. Por exemplo, o médico, Dr. Rain~undoJosé
de Andrade, entrara em licença de três meses a 1.O de abril de
1883, e constava que não mais voltaria. No entanto, afirmava
ao Ministro que o o p t a r i o João Rosendo, doente, fora para
Sorocaba, onde morrera, e outro, um vagão de ferro o maltra-
tara bem. Pedia médico. Aparecendo alí, o Dr. Antonio Fran-
cisco Meireles Leal, em julho de 1883, conseguiu-lhe nomeação
interina, até que veio o efetivo, em outubro, o D;r. Paulo Bour-
roul.
Capelão - Assim era, tambem, zeloso dos interesses espiri-
tuais. Reclamava sempre, nos relatòrios, a falta de um capelão
efetivo, a quem cabia o cargo de professor, sendo a escola reg!-
da, por isso mesmo, sempre, em carater interino. Em 13 de junho
de 1882, tomou posse, nomeado pelo Ministro da Agricultura,
o capelão Padre Alberto Gattone, que ficou em carater efetivo,
até meado de 1883. Depois, eram contratados os serviços do
Padre Antonio Augusto Lessa e de Frei Joviniano de Santa
Delfina Barauna, de Sorocaba, a 60$000 mensais (o médico
ganhava 220$000).
Azltoridades locais - O Dr. Murss correspondia-se, cor-
dialmente, com as autoridades municipais de Sorocaba e de
Campo Largo; enviava um ou outro desordeiro preso aos dele-
gados ; historiava os fatos ; enfim, cooperava com os poderes
locais.

Inferiores - Eram almoxarife e ajudante o Sr. Martim


Francisco da Graça Mdrtins e o eng.O Leandro Dupré. O pri-
meiro viajava mensalmente a São Paulo, para trazer da Inspe-
toria do Tesouro o suplemento em numerario. Havia um agente,
Florentino Neves de Araujo, que tirou licença, em 1882, paka
uma viagem ao Rio Grande do Sul. Os serviços brutos de mi-
neraqão, fornos, construcções, olarias, eram feitos sob emprei-
tida. P. ex., as construçóes de 1882 ficaram a 5$000 o tiletro
cúbico de alvenaria; a 15$000 o de cantakia, e os tijolos foram
assentados a 10$000 o milheiro, tijolos que ficavam a 13$500
o milheiro. Nesse ano, foram fabricad~s96.000 litros de cal.
"Salvo os vetlcimentos do pessoal técnico (Diretor e Ajudante),
que recebem como engenheiros, os dos mais empregados são
tão mesquinhos, - diz o Cel. Mursa ao Ministro, - que não
preciso pedir o esclarecido juizo de V. Excia. para a necessi-
dade de os equiparar aos de outras repartições correspondentec
a esta fábrica."

Lenha e carvão vegetd - Alimentaidos os fomos a carvão


vegetal, este se fazia por empreitada, exigindo-se 10 metros
cúbicos de lenha para' uma tonelada de carvão (um hectare de
matas dava para uma media de 500 metros cúbicos de lenha).
Vinha a ficar em 16$, 119 e 12$000 cada tonelada de carvão.
Somente em 300 réis ficava o corte de um metro cúbico de
lenha; como tambem em 300 réis por quilômetro, em carroças,
o transporte tanto do carváo como dos minerios, dos carrea-
dores A linha ferrea particular, por tonelada, pagando-se 400
réis para carregar e descarregar.

O problema do combustivel - Tornava-se, pois, um pro-


blema torturante o do combustivel, sendo uma' dependencia do
Ministerio da Agricultura, o,primeiro a dar o mau exemplo na
devastação das matas, que requerem 22 anos para novo cresci-
mento. E dizia outro relakorio: "Por enquanto, não se pode
e nem se deve contar com combustivel mineral."
Vista dos fornos da fábrica. - Fotografia tirada, em 1905, pelo Dr. Edmundo Krug.
IEomem ativo e zeloso, soube o Mursa, em 1879, que estava
à venda, por 50 contos de réis, em Tietê, a sesmaria Jaguari; e
conseguiu do Ministerio licença para adquiri-la. Nesse interim,
chegava àIquela cidade a estrada de ferro e, .já agora (1883),
os herdeiros queriam 180 contos, não se realizando a operação.
, Em 12 de novembro de 1884, escreve ele ao seu superior
hierárquico, instando para que o Governo fizesse demarcar e
incorporar à fábrica, na zona do Assungui e Pardo - afluentes
do Juquiá, 20.000 hectares de matas, indicando até o engenheiro
para isso, o Dr. Henrique Bauer, que residira muitos anos em
Ribeira e era o engenheiro do comendador José Vergueiro, para
OS estudos da Itú-Iguape, que nunca saiu do dominio do sonho.

Estrada Itzi-Iguape - Aliás, o Cel. Mursa bateu-se logo


pela passagem desta estrada por Ipanema. Serviriam para o
preparo dos. minerios, tambem encontrados no Jacupiranga, 3s
cascatas que esses rios formavam na serra do Mar. Sem falar
da lenha, e em serem devolutas as terras. Hoje, 50 anos depois,
o Juquiá está ligado ao pianalto paulista por estrada de roda-
gem, que inda não atingiu Iguape. Estrada de ferro é prometida
pelo Ministro da Viação, e federal. Prometer já é alguma coisa.
,E,no entanto, trata-se de liga'r o vale da Ribeira ao planalto.
coisa de tanta monta.
*
* *
Os empregos fixos da fábrica de ferro, em 1834, eram os
seguintes: diretor, vencendo 12 contos de réis anuais; ajudante,
ganhando 4 :800$000 ;médico, 3 : ~ $ 0 0 0;almoxarife, 1 :600!$000;
escriturario, 1 :200$000; e agente, 1:200$000. Infelizmente, no
livro que compulsamos, transcrição de oficios, não vem o mapa
completo do pessoal. Notamos, de passagem, a presença de tra-
balhadores italianos, e africanos livres. Sabemos que havia ale-
. inães. Neste periodo, 2 ou 3 oficiais do EXército passaram pelo
Ipanema, fazendo estagio e estudando.
Força hidráulica - A agua ruim do Ipanema represado
tocava todo o maquinismo. Era pequena a força. Uma idéia
interessante do Cel. Mursa: caso fosse arrendada ou si quisesse
melhorar a fábrica, dever-se-ia desviar, para as cabeceiras do
Tpanema, parte do rio Sorocaba, no sitio de dona Angela. Esta
senhora é a viuva do último capitão-mor de Sorocaba, Ma-
dureira; e o sitio é a serra de S. Francisco, nos saltos de Itu-
pararanga (Light and Pmoer) e Votorantim. O desâniko invadia
o Diretor, ao julgar que nunca se conseguiria, com o ribeiro, a
força necessaria. Hoje, com a eletricidade, estaria sanado esse
incanveniente. As rodas d'agua acionavam os sufladores dr,
forno alto e do refino. Em 82, construia-se a oficina, onde se
iam assentar um martelo a vapor, de 1 tonelada, e um trem
"delaminador".
~ o r ~ c o oficinas)
s, etc. - Havia, então, um só forno alto,
que recebeu 9.250 cargas em 6 meses, produzindo 258.000 kgs.
de ferro gusa e 62.925 kgs. de obras moldadas diretamente do
forno alto (*). Duas forjas de refino produziam, cada uma,
500 kgs. por dia. Umai, ou uma e meia parte de carvão, para
uma de ferro. Ainda em 82, a maior encomenda foi de 31.845
kgs. de ferro batido para o Arsenal.
Com essas máquinas e esse material, devia a fábrica pro-
duzir, como base, 3.000 kgs. de ferro gusa, ferro inaleavel e
dço, canhões e projeteis, e armas brancas (fundando-se um4
colonia industrial nos campos realengos vizinhos), - tudo isso
segundo o regulamento elaborado, tempore belli, em 25 de na-
vembro de 1867, pelo Marquês de Paranaguá.
Vindo a paz, lá vai a fábrica*para a Agricultura, e ~initnbii
e Buarque de Macedo traçam-lhe novos rumos. Inexequiveis,
- porque transformaram o Estado em industrial. Então, sobem
e descem os ministros. A um deles, Henrique Francisco d'Avila,
escreve Murça, em 7 de fevereiro de 1883, propondo duas solu-
ções, uma das quais, hoje, parece monstruosa de incompetencia:
1 . O ) o arrendamento do Ipanema a uma' Companhia Industrial,
ou mesmo a sua venda; 2.0) com 500 contos (3." parte da ven-
da), fundarem-se as duas pequenas fábricas em Goiaz e Mato
Grosso, dependentes do Ministerio da Guerra.
E a5 está com;>, provavelmente, pensava p i s de um estu- .
dioso, não sendo, assim, tão horripilante a idéia da transladação
da fábrica para Mato Grosso, começada a por-se em prática

(*) Pudemos vei-, no solo, ainda os restos do ferro que corriti


deste forno, isto em 1938. Quanta tristeza! Conhecemos, em Campo
Largo e Sorocaba, diversos utensilios domésiicos e de adorno, fun-
didos diretamente e dessa época. Os cabos de caçarola, p. ex., formam
uma só peça:
Vista geral dos fornos. - Fotografia tirada, em 1905, pelo Dr. Edmundo Krug.
ACHEGAS
Á HISmRIA DE SOROCABA

da Guerra.
No projeto de arAndamento, o bondoso Diretor se referia,
especialmente, a uma caixa para a enfermaria e a escola, com
elementos forneddos pela empresa', o governo e o operario. .
*
* *
Relatovio de 1883 - Os relatorios eram semestrais e anuais.
Em março de 1883, o Mursa exprime claramente os motivos do
chamado déficit, isto é, a diferença encontrada entre o lucro
da fábrica e a despesa: é que entrava na classe das despesas ai
construção para melhorar a produção; e não se levava em conta
que as despesas de administração .ficah maiores para um Es-
tado do que,para um particular. Mesmo assim, os produtos do
Ipanema resultavam mais baratos do que os das outras fábri-
cas, por serem a força' hidráulica e os jornais reduzidos. Em
1882, foram extraidos 1.016.641 kgs. de minerio da mina rica,
157.882 da miaa pobre, 275.014 de calcareo, 44.590 de chisto
argiloso (fundente) e 3.'224 toneladas de carvão":
Havia 1 quilômetro de via-ferrea da fábrica à estáção da
Sorocabana, e 4.200 metros dos fornos altos às minas. En-
traram para o fomo alto 16,640 cargas, sendo 1.664 .O00kgs.
de carvão, 895.750 de minerio rico, 157.882 de minerio pobre,
75.017 de ~ e d r acalca~ea,44.590 de chisto argiloso, 1.982 m.3
de lenha em cavaco; e deram 518.849 kgs. de ferro gusa cfn-
zento e 99.819 kgs. de obras moldadds,
"A obra mais importante que se fundiu nesta oficina foi
o gradil e portão para o Jardim Público da Capital desta Pro-
vincid. A construção do novo forno alto progrediu nos Últimos
meses e até o mês de maio próximo deve achar-se concluida".
O fomo teria 12 metros, economizando carvão e duplicando a
produção de ferro gusa, o qual, sendo fabricado com carvão
vegetal e minerio magnético puro, oferece vantdgens que difi-
cilmente se encontram em outros ,fornos da mesma natureza.
As fundições resfriadas feitas nas oficinas da Estrada de Ferro
DL Pedro-' I1 já têm provado com evidencia a: superioridade
deste produto.
L

0 f i c h a de refino - "O serviço desta oficina é ainda feito


por uma forja dupla de refino, cujo calor perdido é aprovei-
tado em aquecer: 1 . O um forno de revérbero onde se aquece o
ferro gusa que tem de ser refinado, e o ferro refinado para se
espichar; 2 . O um gerador de vapor que alimenta dois martelos
a vapor, um para bater lupas, outro para preparar barras. e ver-
galhões. Alem do antigo martelo movido por agua funciona
hoje um trem de Iaminadores movido tambem por uma roda
hidráulica. 1.000 kgs. de ferro batido.
"A nova oficina de refino de 60 metros por 43 acha-se
em estado de receber coberta. Parte da oficina é cortada na
rocha e parte constrtiida sobre ,o barranco do rio Ipanema, fi-
cando o seu solo 6m.30 acima do rio. Um canal de 400 metros
de comprimento, 4 metros de largo e 4 de altura conduz as
aguas do Ipanema que depois de terem servido nas oficinas an-
tigas vão outra vez por em nlovimento as máquina's da nova ofi-
cina, duplicando assim a força motriz do estabelecimento. Ka
atual oficina, prepara-se pessoal naciond para a nova."
Oficina de míquiaas - Ainda continuava no antigo edi-
ficio. "Alem da reparação de aparelhos em atividade no esta-
belecimento, da construção de novos aparelhos para aumento
da fábrica, preparou-se ( s k ) nesta oficina algumas encomen-
das para palrticulares, como engenhos para cana, engenhos para
serrar madeira, ferragens para moinhos, ventiladores, despol-
padores de café, e diversas peças para as fábricas de fiação de
Sorocaba e Tatuí."
Carpintaria: madeira bruta a 30$ o metro cúbico de ca-
breuva e 25$000 o de peroba.
Em abril de 83 foram remetidos ao Arsenal 20.000 kgs.
de ferro gusa e começaram a fazer-se parafusos, a $200 cada.
E em 7 desse mês foi remetido o orçamento de 83-84 e
84-85, ao Ministerio da Agricultura.
Orçamentos de 18% e 1885 - Receita: Produçâo diaria
de 3.000 kgs. de ferro gusa em 250 dias (deduzindo os de pa-
rada), 750.000 kgs. vendidos em ferro gusd, ferro batido e
obras moldadcils, e objetos, a 2 $ 5 0 o kg.: 187:500$000.
Em 1885, dobrado-se para 6.000 kgs. a produção dia-
ria, ter-se-ia 375 :000$000.
Em 9 de junho de 1883, foi enviada a conta do gradil do
Ja'rdim da Luz ao Presidente da Provincia.
Sobre fretes das vias ferreas, Mursa dizia que uma tone-
lada de ferro batido de Ipanema a Santos ficava em 34Q6000;
de Liverpool a Santos, 11$000.
Máquina a vapor. - Fotografia tirada, em 1905, pelo Dr. Edm'undo Krug.
Candidatos a arrendatarios - Em 17 de julho de 1883, o
Diretor informa um requerimento de Antonio Pereira Pinto
ao Ministro, propondo arrendar a fábrica. Afonso Pena era o
ministro. M u r a declara que, em principio, não é contrario ao
arrendamento por empresa idoneal e nacional. Não conhece
este pretendente, mas ajunta, com delicadeza, que devia ter
qualidade. Reprta-se a declarações já enviadas ao ministe-
rio, como, p. ex., pudndo, em 28 de junho de 1881, o cmor.
Francisco de Paula Mayrink. Agora, juntava outra obrigação
ao arrendatario: construir uma linha ferrea entroncando-se na
imdginaria Itú-Iguape do cor. Vergueiro.
Despesas - O exercicio -1883-1884 deu 312:040$000 de
despesa consignada no orçamento. Mursa econ6mizou . . .
96:834$175, dos quais, tirando 50 contos de réis destinados a
sarnaria não adquirida, pedia licença para serem empregados
ean novos mdquinismos 46:834$175.
Em substituição ao Araujo, foi nomeado agente Francis-
co Gomes de Matos.
Agente do Correio - -Em 20 de outubro de 1883, Mursa
apresenta ao Administrador geral dos Correios um agente p a k
Ipanema, capitão da Guarda Nacional e 1.D suplente do dele-
gado, porque o negociante, o sapateiro e o alfaiate não podiam
exercer o cargo.
Em novembro de 83, pede-se o pagamento do gradil.. .
Novo agente em 1884: José Bela.
Receita de 1884:
300.000 kgs. de ferro gusa em bruto, a 63 rs. . 18:900$000
300.000 " " " " reduzido a objetos,
a 400 rs. . . . . 120:000$000
150.000 " " " maleavel bruto, a 180 rs. 27:000$000
150.000 " " " 9,
em obras forja-
das, a 500 rs. 75:000If6000

240 :9oo$c!o0 '

Nesse relatorio, queixd-se o Dr. Mursa de que, às vezes,


por falta de um aparelho de 3:000$000 (que se não comprava
sem licenqa), se davam grandes crises no estabelecimento. Ain-
da não haviam sido iniciados os trabalhos para a oficina de aço
Bessemer, a coroa de toda a obra. "Mas, querer-se, hoje, car-
regar nas despesas do custeio o material empregado para atimei:-
CÔNEGQ
LUIZCASTANHO
DE ALMEIDA

tar a fábrica, me parece absurdo." O ilustre ministro que de11 ..


as instruções (para a restauração em 1865) repetia: "O Go-
verno não faz industria, a fábrica deve s& o centro dos nossos
arsenais." Havia, ainda, 6.651 hectares de matas; era preciso
adquirir mais matas !
Conzhtz'vel - Quando os fornos altos produziam 1/6 do
ferro gusa produzido agpra, e havia 500 escravos, muitas,vezes ,
os fornos pararam por. falta de coinbustivel. Hoje há 60 a 80
trabalhadores livres que dão conta, com supm&b, do mesmo

Perro- Em 11 meses de trabalho, o forto alto deu 710


toneladas de ferro gusa e 139 de obras .moldadas. Um dos for-
nos altos, já quasi pronto, tem 12 metros; os outros, 8 % de
altura. Preparava-se, com urgencia, 8 apdrelho para a fundição
dos projeteis Withwarth. Punham-se as Últimas tesouras na
oficina de refino.
Pessoal- 114 pessoas trablhavam nab fábricas e cons- .
twções, inclusive 29 aprendizes. Estes ,garantiam o futuro. %
simples trabalhadores gahhavam 1$500 a 2$000 diarios. Des-
pesas de julho a dezembro de 83: Rs. 144:703$746. Produtos
vendidos : 33 :678$338.
O Dr. Mursa estava zangado com o Dr. Afonso Pena!
pois termina assim : "Como estabelecimento custeado pelo Es-
tado, devo repetir, esta fábrica não pode entrar em via franca-
mente industrial; só uma empresa particular o poderá fazer.
,Cumpre escolher - ou centro dos nossos Arsenais e caminhos
de ferro do Estado, ou estabelecimento industrial. Na primkira
hipótese, ninguem perguntará ao Estaido pelo balanço co-mercial
do estabelecimento."
Ao almoxarife negava-se o pagamento das duas diarias de

,
* *
Cruz de ferro: primeiro krabalho executado com ferro fundido e m
Ipanema - Fotografia tirada. em 1905, pelo Dr. Edmindo Krup.
DESPESA RECEITA

Prodzcçãb cal&hda

Ferias para operarios . 70:140Q600n 300.000 kgs. de ferro gusa, a


2.100 toneladas de carvão, a 17s 35 :400$OOO 63 réis . 18:900$000
Custeio de animais, compra de 300.000 kgs. de ferro, em obras,
materiais . 5:OOO!$Ml a 400 réis . . . . . . . 120:-
A despender-se com aprendizes 6:00096000 150.000 kgs. de ferro maleavel
Folhas de vencimentos dos em- bruto, a 180 réis . . . . 27:000$000
pregados. . 23 :5- 150.000 kgs. de ferro mleavel
Correspondencia: 1.158 portes, em obras, a 500 réis . 75:00@$000
a $100 . . . . . . . 115$soo
Novas construções . 36:oOO$íHl
9
7
máquinas . . . 24:000$000
Memarcação para a zona flores-
tal . . . . . . . . 49ow-)OO

204:155$800
*
* *
O novo ministro aumentara, em 85, os vencimentos de
alguns empregados, mas a Tesouraria, em São Paulo, custou
a pagar pela nova tabela.
O fornecedor da fábrica (negociante) era Antonio Holtz.
5 vagões levam, em março, 25 toneladas de ferro gusa para-o
Arsenal. "A estrada de ferro Pedro I1 não tem relações coni
a Sorocabana"; por isso, foram por Santos, como amostra, 12
granadas de fundição dupla, cujo nucleo interior era composto
de estrelas de ferro gusa cinzento e branco, alternadamente; em
vez de verniz, sugeria Mursa serem elas cobertas de um metai,
pela electrólise. Enviara, tambem, ferro maleavel fibroso e gra-
nuloso, para amostra.
Em 29 de março de 1885, Mursa mandava a Carlos A. de
Sampaio Viana, Inspetor da Alfândega do Rio, amostras pedi-
das de verguinhas e arame, explicando pacientemente o pro-
cesso da fabricação: passagem por um trem de laminadores,
pelas fieiras e pela galvanização.
Ao Qr. José Eiwbank da Câmara, Diretor da Pedro 11, rr-
metia conta.
Novas dqzlilaas - Em 10 de abril de S5, chegou da Eii-
ropa, remetido pelo Dr. Antonio Augusto Fernandes Pinheiro,
um ventilador de alta pressão. Estavam a chegar mais. Cami-
nho : Santos-Jundiai i Mayrink-Ipanema. O ventilador veio no
paquete inglês Elbe e pesava 1.472 kgs.
Visita do Ministro - Em 15 do mesmo mês, dizia Mursa
ao seu Superior: "Tendo V. Excia. pessoalmente examinado o
estado atual desta fábrica, reconhecido suas necessidades mais
urgentes e avaliado os recursos que suas oficinas oferecem,
pouco me cabe dizer. . ." Estavam-se demarcando terras no
Assuiiguí e Pardo. Máquinas a chegar: turbinas já menciona-
das, laminadores, tesoura de cortar ferro, gerador de vapor
para 30 cavalos. Este relatorio não difere sensivelmente dos
outros. Escola: 112 alunos.
Exposição P~owincial de 1885 -
"Esta fábrica enviou os
seus produtos à Exposição que teve lugar na Capital desta Pru-
vincid. O pavilhão desta Fábrica, ocupando uma superficie de

*-*I

.,. w- -*c*-* * <uVYYI(


Excursão a Ipanema, promovida pela Sociedade CientGfica de São Paulo. Vêem-se o s
Srs. Luiz de Arruda Castanho, Artur Nrug, Francisco Krug, Dr. José Torres de Olivei=
ra (representando o Instituto Histórico), Dr. Afonso Splendore, Jorge Kyug, Dr. Eugenio
Ajberto Franco (tambem representando o Instituto Histórico), Dr. Gabriel Raja e o re=
porter do "Correio Paulistano". - Fotografia tirada, em 1905, pelo Dr. Edmundo Krug.
160 metros, separado do edificio da Academia, onde teve lugar
a Exposição dos produtos agrícolas e de outras industrias, foi
inaugurado em 1.O de fevereiro do corrente ano. Este ato so-
lene foi honrado com a presençd de V. Excia. Alguns dos pro-
dutos que figuravam nesta Exposição foram remetidos para a
Exposição Universal de Arituerpia." Estavam demarcados lotes
e feitos esclarecimentos a Sociedade de Imigração, para a vinda
de colonos que quisessem exercer a pequena industria com a
materia-primal do estabelecimento. Do Ipanerna iam pedras de
rebolo para o Arsenal. Ainda em 85, vão'as 20 toneladas de
Serro gusa para a estrada Porto Alegreuruguaiana.
A 29 de dezembro de 1885, Mursa comunica a Frei Jovi-
niaho Sta. Delfina Barauna ter sido este contratado por óO$OüO
mensais para serviço religioso, não precisando residir no esta-
belecimento.
Só em 5 de fevereiro de 85, chegaram os maquinismos, de
Santos.
Relatorio de 6 de fevereiro de 1885 : Havia duas escolas ;
a mista era regida por um professor normalista. O forno alto,
revestido de grés (com que se faziam rebolos), não estava
pronto; nem a oficina de refino. Mesmo assim, as corridas
do forno eram de 8 em.8 horas, e não de 48 em 48, como ou-
.trora. A Sorocabana cortava 17 kgs. de zona florestal.
Em 24 de novembro de 1894, o almoxarife passou a gainhar
I :500QB000; o aljudante, 4:500$000; o escriturario, 1:2@$000 ;
o agente, 1:000$000; o médico, 3 :330$000. O almoxarife Graça -
Martins foi nomeado em 25 de outubro de 1879; Domingos JosS
Pereira Nunes, a 5 de novembro de 1867.
4 volumes com 2.360 kgs. em objetos de ferro foram en-
viados 9 Exposição sul-americana de Berlim, a 13 de julho d::
1886.
A 7 de agosto de 188ó, inaugurdção da nova oficina do
refino. Construiram-se as rodas dos vagões em 86. Eixos e
rodas para a estrada de Baturité.
m p r é pediu 3 meses de licença para tratar do negocio dos
estudos na Cia. de Jacupirangã. 600 almas, a população do
Ipanema. Em 30 de março de 1887, Frei Barauna pediu de-
missão.
1888 - O alto forno só esperava o suflador. Em 1887.
começou-se a fazer aço, pelo processo de "cementação". . E m
5 dias, 4.000 kgs. 30 aprendizes. Despesa de 87: Rs. 210:417$078.
Receita : 21 1 : 1 7 3 m .
"Todo comercio no país é feito a prazo", com agentes,
cambio, etc., e, pois, a Fábrica não pode entrar neste caminho.
<L
Esta fábrica não emprega o reclame. . . Penso mesmo que
procura se depreciar os serviços feitos por este estabelecimen-
to." Relatorio do "ex-capitão-tenente Miguel Lisboa apresen-
tado ao Governo depois de sua Comissão nesta Fábrica".
Em fins de 1878, é que ao Ministerio da Agricultura tornou
o Ipanema.
Pedro I I - "S. M. I., em sua última visita a esta fábrica.
notou o atraso dos menores no ensino religioso e 'censurou r i
esta Diretoria o ensino dado somente duas vezes por mês." Urii
representante do Sindicato Belys quis adquirir a fábrica por
2 .O:000$000. Varnhagen-pai não quisera assinar a constitui-
qão e retirou-se com D. João VI para Portugal (1820). Daí
a 1834: ruinas políticas. 1834 a 1842: Bloem. 42: ruinas. 1860:
escravos e material para Mato Grosso. 1865 : Mursa. Sinimhú
e Uruguaiana foram beneméritos.
Exposição de París: em 1888, a 10 de dezembro, partiu
o material. 6 caixinhas com produtos e materiais.
-
18 VI - 89: Pe. Antonio Augusto Lessa, capelão interino.
1889: João Fogaça Almeida Tavares, agente. DI-. Paulo
Bourroul, médico.
C
* *
Em 19 - X I - 89, o ajudante Leandro Dupré comunicava
ao cidadão Ministro da Agricultura ter assumido a direção in-
terina do estabelecimento, por ser membro do Governo Pro-
visorio do Estado o Cel. Joaquim de Sousa Mursa. A 16-XII-89,
voltou Mursa. Em 90, o Dr. Meireles Leal quis ser reintegrado
como médico. Em fevereiro de 90, 10 toneladas de ferro vão
para o Arsenal. A 10-111-90, Dupré se demite. A 22-IV-90,
oficio ao M. da Agricultura. Novo projeto de arrendamento.
A 2-VI-90, Mursa dá parecer sobre a oferta do Dr. Carlos
Conrado Niemeyer, achando-a pequena. A 30-VI-90: 20.000
kgs. de ferro para Porto Alegre. Cap. José Dias da Costa,
iiBZI
escriturario.
A 11-X-90: Mursa pede demissão por ter de apresentar-
se, a 15 desse mês, na Assembléia Constituinte, como deputado
par São Paulo. "Si, em 25 anos de dedicação e arduos traba-
lhos, não pude obter para a Patria todas as vantagens a que
ela tinha direito.. . resta-me a convicção de que cumpri o meu
dever e fiz o que pude."
8-X1-90: Obteve a demissão. Passou o ca'rgb ao aimoxarife.

NOTAS:
- Os documentos do arquivo foram recolhidos a São Pau-
lo, a última vez, em 1860.
- A República encontrou o Ipanema fornecendo, apenas,
3.000 kgs. diarios de ferro.

XVII
DIVERSOS

A) N a praça do Co~uelho

O povo de Sorocaba acostumou-se logo a correr aos pateoç


da Câmara e Conselho para fazer os seus pedidos, respirando
as ares novos da liberdade constitucional,. Juizes ordinatios e
oficiais do Senado eram os primeiros a aceitak o novo sistema,
quando lhes convinha o negocio. . .
Ora, aconteceu que nesses começos de 1823 faleceu o esti-
mado e antigo vigario colado Antonio Ferreira Prestes.
Em vez de esperarem do Snr. Bispo a nomeação do su-
cessor, remem-se logo a 21 de março os oficiais da Câmara,
nobreza e povo "para acordarem sobre o reverendo sacerdote
que deve' administrar os sacramentos, visto não haver ficado
coadjutor com Provisão". Foi o voto geral que se pedisse ao
padre-mestre José Gonçalves de Godói para' assumir o cargo
até ulterior decisão do Exrno. Prelado, ao que o manso e bom
latinista anuiu, algo esquecido de seus antigos cânones do direito
canônico. E o mais interessante é que nada menos de 10, todos
os padres, fora ele, existentes na vila, assinaram o termo ime-
diatamente após os vereadores. Eis os seus nomes: Padres José
Machado de Almeida, Pe. Joaquim Gonçalves Gomide, Pe. An-
tonio Carvalho do Espírito Santo, Pe. Florentino de Oliveira
Rosa, Pe. José Custodio de Cainargo, Pe. João Vaz dc Almeida,
Pe. Romualdo José Pais, Pe. João Lino da Silva, Pe. Fran-
cisco Gonçalves Pacheco, Pe. João Vicente Fernandes.
Seguem-se 28 assinaturas. O capitão-mor encerra a lista,
de que constam os nomes de Rafael Tobias, Almeida Leme,
.João Floriano da Costa, Jerônimo Silva Belas, João Pires de
Arruda Botelho, Manuel Moreira Gracez, Elesbão Antonío da
Costa e Silva, tenente-secretario do regimento, etc.
E como as coisas continuassem a correr como ahtes. anima-
ram-se os povos a progredir nas suas relações com o poder
eclesiástico por intermedio da Câmara.
Sal>emos pelo primeiro livro do Tombo que as primeiras
Câmaras desta vila, no intuito de auxiliarem a manutenção dos
seus párocos, que foram simples vigarios encomendados até 1780,
haviam se comprometido a recolher um imposto per capita, por
pessoa de confissão, perfazendo este com os outros réditos oca-
sionais ai quantia anual de cerca de 200$000. Chamava-se o tal
imposto "conhecença" e cada pessoa que tirasse bilhete de confis-
são e comunhão pascais entregatia 40 réis ao pároco.
Em si, não era grande a esmola e talvez por isso, mesmo
depois de colada a igreja, continuou o velho costume. Praxe,
aliás, que não correspondia de todo em todo à disciplina geral
da Igreja.
Então os saberetes e doutorezinhos de tais circunstancias
começaram a soprar o seu palpite : estava morto o vigario colado.
Longe de atender ao abaixo-assinado do povo, S. Excia. Revma.
ia por em concurso a paroquia. A ocasião se apresentava mui
oportuna para a' abolição dessa finta de que padeciam somente
os sorocabanos. Assim, o vigario que requeresse a paroquia, já
ficava certo de que não contava com os 4 0 réis.
Escusamo-nos, aquí, de copiar todos os nomes do abaixo-
assinado. Mas notamos logo a ausencia dos sacerdotes e das
altas patentes militares que antes apareciam. Por outra', do
tríptico: clero, nobreza e povo, só este Último apareceu(.
A Câmara acedeu gostosamehte à idéia. Deferiu o requeri-
mento, fundando-se em considerações ponderadas: que a makriz
se achava quasi reedificada com grandes esmolas dos povos e
que era um vexame para eles essa finta. E deliberou comunicar
a o fabriqueiro cessasse imediatamente a cobrança do imposto.
Eis aí como Cesar' intervinhd nas coisas de Deus. A historia se
repete, sempre.
O livro de atas não continua o assunto. Mas o do fabri-
queiro nos mostra que desde 1813 iam diminuindo as conheceti-.
ças. Extinguiam-se por si. Aquela deliberação foi o golpe
de misericordia. E' esse mesmo livro que nos mostra - honra ao
clero ! - que as esmolas de 40 réis passavam todinhas a Fábrica
para as despesas do templo.

Já agora é a propria Câmara quem vai proporcionar aos


cidddãos o gosto de nova reunião. Aconteceu que, na aclamação
de D. Pedro I e juramento feito a 12 de outubro passado,
inadvertidamente a Câmara de Sorwaba, copiando o oficio da
do Rio, acrescentara a' cláusula de S. M. I. tambem jurar e
defender a Constituição que se espera'va. Ora, isto irritou aos
absolutistas. Protestaram os procuradores da Provincia e suas
Câmaras, induzidas em erro, se apressaram a retificar o jura-
mento. Era o- que estava fezendo estd Câmara, aos 21 de junho
de 1823, junto com o clero, nobreza e povo, que detestavam a
tal cláusula, e "aproveitavam esta ocasião para renovar e reti-
ficar adesão, amor, fidelidade e respeito" ao Imperial Senhor.
A festiva sessão terminou com os vivas regulamentares:
Viva a santa Religião de JesÚs Cristo, a qual professamos
sem alguma mistura!
Viva a Igreja sua Esposa, designada por seus legítimos
caraçteres uma, santa, católica e apostólica!
Viva a nossa Constituição, a qudl, ortodoxa como esperamos, .
será por Deus protegida, para modelo das Nações!
Viva o muito augusto Senhor Dom Pedro de Alcântara,
Imperador Constitucional e Defensor Perpetuo deste Imperio
do Brasil e sua Imperial Dinastia ! Viva! Viva! Seguem 50 assi-
naturas entre as quais H do pe. Godói como vigario.

B ) No tempo d'EJ Rei


No ano de 1819 encontramos Alguns fatos interessantes:
Já era mestre de gramática latina o pe. José Gonçalves de
Godói (mestre regio de gramática latina) e havia o emprego de
alcaide.
Em 1818 tinham sido criadas as 6." e 7." Companhias de
ordenanças e os capitães e alferes prestavam juramento em
Câmarb, diante do capitão-mor de todas elas, o Madureira.
Ninguem quis arrematar a's rendas do Conselho par-a 1819,
e que eram apenas as dals casinhas, talho, aferições e estanco;
exceto a das aferições pelas quais Vicente Pereira Cavalheiro
deu 32$000. Mas logo nas outras sessões apareceram licitantes.
Assim a das Casinhas (mercado) foi arrematada por 22146000.
45$000 foi o preço das entradals'e "do mar em fora". A aguar- .
dente devia render 200 réis por "canada" em imposto.

As Casinhas, Cadeia e Câmara

Na sessão de 31 - I - 1819 o Proc. José Luiz de Abreu


apresentou as condições para a reforma desses predios. Ficamos
assim sabendo que:
A portaria da Cadeia tinha a soleira de pedra lavrada e um
degrau acima da calçada. Esta, de pedras ordinarias, tinha 10
palnios da parede à rua. O telhado da Cadeia e Câmara foi
rebocado a cal. As casinhas (em seguimento da Câmara) ti-
veram um encascamento de pedra ordinaria e cal, e começou a
palmo e meio do solo até 6 palmos de alto, "por causa dos gados".
Fórmula do juramento para os casos comuns (juizes e ofi-
ciais) : O juiz Presidente ,deferia o juramento ao empossado,
que, pondo a sua mão direita sobre os Santos Evangelhos, pro-
metia cumprir as suas obrigações, guardando o direito das partes
e o segredo da Justiça a receber os emoIumentos pelo seu regi-
mento. Os vereadores sentenciavam por "acordão", em sessão,
sobre as pequenas contendas de caminhos. Antonio Domingues
foi punido por dar uma informdção falsa sobre o caminho das
Lavras Velhas, a requerimento do capitão-mor. Havia um juiz
almotacé.
-
O nascimento da princesa da Beira foi festejado a 31 de
maio com T e Deum, luminarias, descargas pelos milicianos e
ordendnças. Inacio Alvares era o t.-cel. comandante militar. Ha-
via já uma Cia. de Cavalaria, comandada pelo cap. Antonio Lou-
reiro, e uma dos Uteis.
O capitão-general oficiava à Câmara fazendo recomenda-
ções diversas.
Cadeia cmrombada!
Na sessão de 7 - VI11 - 1819 o mestre pedreiro Joaquim
Lustosa contratou com a Câmara por 14$640 o conserto de um
ACHEGAS
A H I S ~ R I ADE SORWABA

rombo grande na enxovia dos homens e outro na das mulheres,


de pedra e cal.

O pelourkho '

Nessa: mesma reunião decidiram derrubar o pelourinho ve-


lho (danificado) e levantar um novo, e se lavrou auto de desci-
mento e levantamento.

A décima urbana

673$319 rendeu este imposto em 1817 e 1818.

O escrivão se irrita

A 10 de agosto o escrivão Luiz .Manuel Feliciano Kelly


apresentou um requerimento pedindo atestado de seus trabalhos.
Deu meio-dia. Retiraram-se os snrs. vereadores. Em vão ele
requereu sessão. Só a 21 é que se reuniam. E ele lavrou o seu
protesto solene que lá está no livro de Atas, in aeternam rei
mewkm.
Mas. . . a 22 de agosto se reuniram os vereadores, e G a s p r
Rodrigues de Macedo, com a letra mais linda deste mundo,
lavrou a ata que condeni o escrivão Kelly a ó$OOO de multa ( e
não caisse noutra!) por ter sido falso, porquanto no tal dia 10
os vereadores sairam no ponto de lavrar edita1 para a correição.
Criou-se a nova Compahhia de Ordenanças. Capitão Franc I?
de Paula Leite,

O capitão-nzor em cena. O preço da carne

Na vereança de 20 - IX - 1819, apresentou o capitão-mor


Madureira um oficio a ele dirigido pelo capitão-general, orde-
nando que os oficios da Câmara' e autoridades, mensalmente en-
dereçados ao Governo e Junta da Fazenda, o .fossem por inter-
medio dele, capitão-mor ! E o oficio de resposta foi por inter-
medio deste, então chamado, por ironia talvez, ajudante de or-
denança.
Resolveram que os carniceiros vendessem a carne a' 20 réis
a libra. Mandaram prender Braz Mendes Pais por causa de um
pari. E o nome, tão ilustre, de que lhe valeu?
i' C) Ainda a fa?rtilia Correia
1sabel Va'z, mulher de João Correia de Oliveira, morreu
com todos os sacramentos a 15 de maio de 1737. Sem testa-
mento. Enterrada na matriz.
A 27 de janeiro de 1742 faleceu Francisco Correia de Le-
mos, natural de Itu. Sepultado na matriz por esmola.
Marid Correia, viuva, nat. de Itú, com todos os sacramentos.
faleceu a 1." - V - 1746. Jaz na matriz.
"Manuel Correa. Aos dezaseis de Julho de mil setecentos e
cincoenta annos falleceu desta vida presente Manuel Corrêa
solteiro, filho de Maria Correa, viuva, sem sacramentos, por
fallecer repentinamente e o trazerem já morto da casa e foi
sepultado no corpo desta matriz e levou só cruz, que tudo foi
gratis por ser muito pobre, de que fiz este assento, dia, mes e
era ut supra Francisco de Campos."
Não seria' este o que em 1719 podia ter estado em Goiaz?

D) Outro bandeirante pobre


"Aos quatro dias do mez de Dezembro de mil e setecentos
e trinta e seis annos falleceu desta vida presente Braz Mendes
Paes, natural da cidade de São Paulo com os sacramentos da
penitencia e uncção, e não recebeu o Senhor por viatico por
fallecer na rossa, onde não havia capacidade de celebrar missa;
não fez testamento por não ter o que testar. Foi sepultado tia
igreja matriz desta villa no cruzeiro digo do pressao para cima
da parte do altar de São Miguel. Levou tumba e cruz da fabrica
de que se deu a esmola' costumada de que fiz este assento aos
seis dias do dito mez, éra ut supra Pedro Domingues Olegario."

E) Mais um "cadção-de-couro" pobre


"Aos treze dias do mez de Junho de mil e setecentos e
trinta e sete annos falleceu da vida presente Jeronymo Ferraz
de Araujo, natural da cidade de São Paulo, filho de Manuel
Ferraz e de sua mulher Veronica Dias, com todos os sacramen-
tos, foi sepultada na capella de Nossa Senhora da Conceição
da igreja matriz; levou tumba e cruz da fabrica; não fez testa-
mento por pobre e por não ter o que testar, e fiz este assento
aos quinze dias do mez de Junho de mil e setecentos e trinta e
sete ahnos. Padre Qomingues, Vigario."
XVIII
NOTAS FINAIS
Apresentamos nossos sinceros agradecimentos aos Exmos. Snrs. Dr.
Afonso de E. Tamay e Dr. Carlos da Silveira, a quem devemos a in-
serção & nossos singelos trabalhos na Revista do Instituto HistdrjGo e
Geográfico de São Podo.
Honra imerecida, mas que sabemos apreciar.
* * *
Pedimos aos leitores queiram corrigir os cochilrx maiores que nos
escaparam no artigo anterior, Achegas d História de Sorocuba, desta
coleção, 1938: a suposta gossivel omissão do nome de João M a r t i n ~
Claro por Silva Leme, que pôs em título Pedrosos Barros o sargento-
mor e cinco filhos; e a hipótese apressada de Aerem da mesma progenie
ilustre (a-pesar-do sai da tep-a.. . ou mesmo do meio-sanme africano
que foi trazido por Inacio Pais, de Pernambuco, a Fernão Pais de Bar-
ros em 1670 mais ou menos) alguns que, no sul do Estado, assinavam
esse sobrenome cerca de 1900, inclusive um nosso ascendente. A hipó-
tese não w transformou em tese após nossas buscas, em parte alumia-
das pela cietùcia generosa do dr. Americo de Moura, a quem somos gratos
por esse e outros informes.
Este último, especialista em genealogia sul-paulista, publicou já O
óbito de um grande bandeirante, João Antunes Maciel o velho, na Re-
visto do Instituto & Estudos Genealógicos de 1938, com a data de 1728
e não 1725, como vem, por engano, em nosso trabalho. Houve outros
pequenos quando que b m que o leitor desculpará.
Porem, não é uma correção, mas um adendo importante o que segue,
podendo completar-se, tirando o nome LwM a página 109, nota, da
Revista do Instituto HMtdrico e Geográfico, tomo 35, uma noticia que
interessa à genealogia paulistana e à hístoria do povoamento de Mato-
Grosso :
Artur e Fmnão Pais de Barros, os cohhecidos sorocabanos que
fundaram Vila Bela de Mato Grosso, de 1733 em diante, não estavam
" filiados" à raça bandeirante em termos claros. Taques, arguto, vis-
lumbrou luma face da verdade, quando disse que o general Artur de
Wnezes fora o padrinho de um Artur, neto de F m ã o Pais de B a ~ r o s
por Luzia Leme.
Tão perto dos acontecimentos, não parece tm conhecido com a cde-
bridade que hoje têm os dois irmãos dilatadores do meridiano no oci-
dente do Brasil, na bacia do Amazonas. Nenhuma palavra sobre FernCio.
Silva Leme, argutíssimo, desconfiou, como dii o caboclo. E não
copiou o erro de Taques. Preferiu pecar por omissáo a errar positiva-
mente. Era um pecado glorioso esse, para quem avalia o imenso acer-
vo de notas que produziram os 9 marmoreos degraus da monumental
Genedogia.
Ora, vi~randoe revirando o velho livro de batismo de Sorocaba, nun-
ca deparávamos os Pais de Barros. Por uma especie de instinto, abrimos
um dia o livro de escravos e caríjós, que começava em 1680: a Historia
das Bandeiras palpitava naquelas folhas humílimas. Desde o inicio,
apareceu-nos André de Zuniga, com Pascoal Moreira Cabra1 (o moço,
que não assinava Leme), Braz Mendes, Salvador Moreira, Martiin Gar-
cía Lunrbria (o capitão-mor de toda a capitania de Martim Afonso, que
aquí em Soromba residia) etc., etc., trazendo levas de "adultos " e
" filhos de infiéis", "do sertão ", a batizar. Era a epopéia de Pascoal
Moreira, fronteiro-mor do Miranda, revelada por A. de Taunay em tne-
moraveis páginas definitivas, que revivia, ante nossos olhos embtiha-
cados, num iivra de escravos!
A nossa imaginação aparecia o mapa do Brasil na fronteira com
o faraguai, e alí, um ponto brilhante entre o verde-escuro das matas
e as solidões da Vacaria: o reduto em que os sorocabanos fixaram as
lides da patria, naquele recanto. Como cresciam esses vultos hombicos
e como nas admirava o saber que eles aií jaziam, mui próximos, sem
urna lápide no chão da igreja onde foram batizados, eles e os pobres' es-
cravos que dolorosamente, como nascem todas as crianças, entraram na
civilizaçáo.
Por um reflexo mui natural, lembramo-nos do Historiador que há
alguns anos vem trazendo para a luz, das trevas em que se ocultavam,
as figuras desses heróis desconhecidos. E traçamos, seni nenhum intuito
de lisonja, o artigo que figura como prólogo deste trabalho e que trans-
crevemos de uma revista local, A Cidade, sobre o atual Presidente Ho-
norario do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo.
Continuando nossas buscas, eis que, cerca de 1700, acabam os assen-
tamentos de batismos de escravos adultos. Só recomeçam noutro livro,
1730 em diante, e mui raros, no meio das crianças já sorocabanas: eram,
então, bororós e parecís, ou, genericamente, carijós ou gentios do Cuiabá.
Este grande hiato de 30 anos explicava-se: de escravagistas, os soroca-
banas haviam passado a descobridores do ouro. E os poucos e míseros
selvagens que vieram entre 1730 e a libertação (ou aniquilação) final,
eram as presas de guerra oficializada.
Ora, o papel era caro naquele tempo e o padre vigario aproveitou
as últimas folhas do livro de escravos para o assentamento do batismo de
brancos. Talvez ai esteja a razão de haver escapado ao faro do ilustre
genealogista a filiaçáo de Artur e Fernáo.
Com efeito, encontramos, enfim, os dois batismos:
1) "Aos (ilegivel) de Fevereiro de mil e seiscentos e noventa e
oito annos bautizei ao innocente Artur filho do sargento m6r João
hhrtins Claro e de sua mulher Ignacia Paes. Foram padrinhos o ge-
neral Artur de Saa e Maria de Almeida. Antonio de Carvalho. "
2) "Aos doze dias do mez de Janeiro de $1 e *tecentos annos
bautizei e puz os Santos Okos ao innocente Fernando, filho do sar-
gento mór João Martins Claro e de sua mulher Ignacia de Almeida
Paes. Foram padrinhos Sebastião Sutil de Oliveira e Hieronyma de
Almeida. Antonio de Carvalho, Vigr." "
ACHEGAS
Á HISTORIA DE SOROCABA

Deixamos ao cuidado dos leitores ajuimr a nossa alegria. Pouco


depois, fomos à Curia Arquidiocesana de São Paulo e aí, por gentileza
do Rwmo. .Padre Aurisol Freire, procuramos em vão, durante algumas
horas, no 1." livro de batismos da Sé, o de Pascoal Moreira Cabral, o
Moço, que continuamos a crer natural de Sorocaba antes $a vila de
Bdtasar vir a ter pároco, 1655, uma vez que seu avô materno estava.
digamos, " documentadamente ", aquí, em 1660, e seu pai em 1679; sendo
evidente que este zíltimo veio à nova povoa@o a buscar a mulher, ou
vieram todos juntos na mais tenra infancia do futuro descobridor do
Guiabá. Existem, na Curia paulistana, técnicos capazes de nos dizer
com segurança si Pascoal Moreira Cabral, fi.iho de outro homônimo, foi
,em São Paulo batizado de 1650 em diante. Deus queira que prestem mais
e3te serviço à historia paulista!

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