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Portugal
Ao abrir o século XIX, Portugal parecia escapar aos ventos do Liberalismo, que
sopravam
fortemente na França e dela irradiavam para o resto do continente.
Mas, na verdade, o príncipe D. João (futuro D. João VI), que D. Maria I fizera
regente, governava um país profundamente ligado ao Antigo Regime. As atividades
primárias predominavam. Pesadas obrigações senhoriais condenavam o
campesinato à miséria. O absolutismo estava para durar.
Todavia, nos principais centros urbanos, uma burguesia comercial, ligada aos
tráficos com o Brasil, ansiava pela mudança.
Lutavam pelo exercício da liberdade política e económica; pelo fim dos privilégios
sociais, dos constrangimentos religiosos, do fanatismo. Em suma, pelo fim da tirania
Uma conjuntura favorável lançou em breve o país no caminho das transformações
liberais, permitindo materializar as aspirações de mudança. Mais concretamente, ao
impacto que as Invasões Francesas tiveram em Portugal.
O vintismo
O triunfo da Revolução vintista
Em 1822 (3 de junho), a “Lei dos Forais” reduziu para metade as rendas e pensões
devidas pelos agricultores. Mas esta lei decepcionou o pequeno campesinato dos
rendeiros por dois motivos.
A caminho da separação
CONSTITUIÇÃO 1822
No final, a Constituição de 1822 surgiu como um texto bastante progressista para a época,
inspirado na Constituição de Cádis de 1812, e apresentava a separação dos poderes. O
poder executivo era entregue ao rei que nomeava o governo e não podia demiti-lo. O governo
não tinha iniciativa legislativa e era responsável perante as Cortes, que representavam a
Nação através do voto.
A eleição dos deputados às cortes deveria ser direta e secreta e poderiam votar os cidadãos
maiores de 25 anos com algumas limitações. O poder legislativo estava na posse de uma
única câmara: as Cortes. Deveria ser eleita por dois anos, 1 deputado por 30 000 habitantes,
e tinha como funções: apresentar e votar leis; fiscalizar e controlar o poder executivo. O
poder judicial entregue aos tribunais que eram autónomos e independentes com juízes
perpétuos e inamovíveis, nomeados pelo rei.
A Constituição de 1822 nunca foi aceite pelas forças mais tradicionalistas, desde logo os
absolutistas, liderados por D. Miguel e pela mãe, D. Carlota Joaquina, mas também pelos
liberais mais moderados, adeptos de uma maior conciliação entre os antigos grupos
privilegiados e os novos critérios sociais. A conjuntura internacional também não ajudou e
em 1823 o triénio liberal findou em Espanha com a invasão por tropas francesas, dispostas
a acabar com as ideias revolucionárias na Europa. Perante o medo de tal destino em
Portugal, a Vilafrancada, em 1823, e a Abrilada em abril de 1824, ambas lideradas por D.
Miguel, reconduziram Portugal aos princípios de uma sociedade tradicionalista e aboliram o
sistema constitucional.
Após a morte de D. João VI sucedeu-lhe D. Pedro IV, imperador do Brasil. D. Pedro estava
disposto a conciliar a sociedade portuguesa dentro do quadro liberal e avançou com um
novo texto constitucional: a Carta Constitucional de 1826. Este texto era bastante mais
moderado. Desde logo ele nasce da vontade real e não da legitimidade da Nação. A
separação dos poderes é mantida, mas ao executivo, legislativo, judicial foi acrescentado
um 4 poder, privativo do rei: o poder moderador.
O poder executivo pertencia ao rei que nomeava o governo, podendo também demiti-lo. O
poder legislativo era bicameral: câmara dos deputados, eleita pelos cidadãos eleitores, por
sufrágio indireto e censitário; câmara dos pares nomeada pelo rei, hereditária, vitalícia e sem
número fixo. É neste último contexto que o rei pode usar o poder moderador que se estende
ao veto absoluto das leis e à dissolução das cortes. O poder judicial é composto pelos
tribunais com juízes nomeados pelo rei.
Desta forma, a Carta Constitucional foi um documento que tentou equilibrar a sociedade
portuguesa, mantendo a legitimidade da Nação, através da eleição da câmara dos
deputados, equilibrada pelo poder real que nomeava a segunda câmara, por proposta do
governo, onde estavam representados os titulares e os grandes proprietários, elementos
mais conservadores. A Carta Constitucional deu origem a outra corrente mais moderada da
política portuguesa: o cartismo.
Num dos seus escritos, Mouzinho da Silveira afirmou que “sem terra livre
em vão se invoca a liberdade política”.
Por isso:
- aboliram-se, de vez, os pequenos morgadios, os forais e os dízimos
- extinguiram-se os bens da Coroa e respectivas doações
Com estas medidas pretendia-se disponibilizar mais terra e trabalho para
as massas rurais. A libertação da terra fez-se acompanhar da libertação do
comércio e, de um modo geral, da eliminação de situações de privilégio na
organização das atividades económicas:
- Extinguiram-se as portagens e os encargos sobre a circulação interna de
mercadorias.