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HISTÓRIA

Resumo de estudo de preparação para o teste 13/03/2023

→ A implantação do Liberalismo em Portugal

Antecedentes e conjeturas (1807-1820)

Ao abrir o século XIX, Portugal parecia escapar aos ventos do liberalismo que sopravam
fortemente na França revolucionária e dela irradiavam para o restante continente:

- País profundamente enraizado no Antigo Regime;


- Atividades primárias predominavam;
- Pesadas obrigações senhoriais condenavam o campesinato à miséria;
- Ação repressiva da Inquisição, da Real Mesa Censória e da Intendência-Geral da
Polícia.

As invasões francesas e a dominação inglesa em Portugal:

- Bloqueio Continental: Napoleão Bonaparte decretou, em 1806, o Bloqueio


Continental, nos termos da qual nenhuma nação europeia deveria comerciar com
as Ilhas Britânicas.
- Portugal recusou subordinar-se aos ditames do Bloqueio. A decisão custou-lhe, de
1807 a 1811, três invasões napoleónicas, comandadas sucessivamente, pelo general
Junot, pelo marechal Soult e pelo marechal Massena.
- Embarque da família real para o Brasil, que de colónia passou a sede de Governo,
permitiu a Portugal manter a independência do Estado. Portugal pagou um preço
bastante alto, não só pela destruição causada pela guerra com França, mas,
especialmente, pelo domínio político e económico que a Inglaterra exerceu sobre o
país.
- Abertura dos portos brasileiros, em 1808, e ao comércio internacional, assim como
o tratado de comércio de 1810 com a Inglaterra (espécie de confirmação do
Tratado de Methuen — entrada com grande facilidade das mercadorias britânicas,
nomeadamente manufaturas, em Portugal e nos seus domínios).
- Privada de lucrativos negócios, a burguesia portuguesa sofreu, naturalmente,
sérios prejuízos. A preparação da rebelião ficou a cargo da burguesia, com especial
destaque para a que estava radicada no Porto, notável centro de atividade
mercantil.
- Sinédrio: Manuel Fernandes Tomás, no Porto, funda, em 1817, o Sinédrio, uma
associação secreta.
- General Beresford (até à altura a governar Portugal, dado que após as invasões o
rei não regressou do Brasil) embarcou para o Rio de Janeiro, a fim e solicitar ao rei
dinheiro para pagamento das despesas militares, além de mais amplos poderes
para reprimir a crescente onda de agitação.
- Sinédrio consuma a Revolução a 24 de Agosto de 1820, no Porto.

A Revolução de 1820 e as dificuldades de implantação da ordem liberal (1820-1834)

A Constituição de 1822 e o “vintismo”

- Os revolucionários fizeram a Junta Provisional do Supremo do Reino, a fim de


prepararem uma Constituição. Destacam-se Manuel Fernandes Tomás, António da
Silveira, Freire de Andrade, entre outros.

Constituição de 1822: baseada na Constituição espanhola de 1812 e nas Constituições


francesas de 1791, 1793 e 1795. Esta Constituição reconheceu os direitos e deveres do
indivíduo, garantindo a liberdade, a segurança, a propriedade e a igualdade perante a lei;
afirmou a soberania da Nação; aceitou a independência dos poderes legislativo,
executivo e judicial; retirou privilégios à nobreza e ao clero e diminuiu fortemente as
prerrogativas reais. Possuía Câmara única, ao contrário do sistema bicameral inglês.

As Cortes Constituintes legislaram em muitos outros domínios, destacando-se:

- Extinção da Inquisição e da censura prévia.


- Liberdade de imprensa e de ensino.
- Fundação do primeiro banco português: Banco de Lisboa.
- Transformação dos bens da coroa em bens nacionais;
- Encerramento de numerosos mosteiros e conventos.
- Fim do pagamento da dízima à Igreja.
- Eliminação das justiças privadas.
- Reforma dos forais e das prestações fundiárias.

A Revolução Liberal de 24 de Agosto de 1820 forçou o regresso de D. João VI a Portugal,


onde chegou a 3 de julho do ano seguinte. Deixou D. Pedro, seu filho, no Brasil

Os deputados vintistas legislaram ainda no sentido de anular o estatuto adquirido pelo


Brasil com a presença da família real. A política antibrasileira das Cortes Constituintes e o
regresso de D. João VI a Portugal, em julho de 1821, foram fatores que contribuíram para
a concretização dos anseios autonomistas dos brasileiros. Com efeito, a 7 de setembro de
1822, a independência do Brasil foi proclamada por D. Pedro, nas margens do rio
Ipiranga.

A reação absolutista
Apesar de os vintistas terem declarado que não pretendiam subverter as
instituições-base do país (monarquia e religião católica), a nobreza e o clero mais
conservadores encetaram a contra-revolução absolutista, até porque esta teve sucesso
em Espanha.

Antecedentes:

- D. Miguel assume a revolta em dois momentos: A Vila Francada (1823) e a Abrilada


(1824). O pai, D. João VI, aponta a D. Miguel o caminho do exílio.
- D. João VI morre a 10 de março de 1826.
- Quem ficaria no poder? D. João VI não decidiu e confiou a decisão a um Conselho
de Regência. Este entrega o poder a D. Pedro.
- A 26 de abril, confirma a regência provisória da infanta D. Isabel Maria.
- Outorga a Carta Constitucional: o poder será entregue a D. Miguel, seu irmão,
ficando ele, D. Pedro, no Brasil.
- – A 2 de maio abdica dos direitos à Coroa na filha mais velha, D. Maria da Glória,
com apenas 7 anos. Esta deveria celebrar esponsais com seu tio, D. Miguel que, ao
regressar a Portugal juraria o cumprimento da Carta Constitucional e, de imediato,
assumiria a regência do reino de Portugal.

Carta Constitucional de 1826

- Cortes compunham-se de duas câmaras: a Câmara dos Deputados (sufrágio


indireto) e a Câmara dos Pares (alta nobreza, alto clero, príncipe real e infantes –
nomeados a título vitalício e hereditário).
- Poder moderador («Chave de toda a organização política»): figura real
engrandecida (nomear Pares, Convocar Cortes, Dissolver a Câmara de Deputados,
nomear e demitir o Governo, suspender os magistrados, conceder amnistias e
perdões e vetar, a título definitivo, as resoluções das Cortes.
- Representa um manifesto retrocesso da Constituição de 1822.

Guerra Civil (1832-34)

- Dando cumprimento ao estipulado por D. Pedro, D. Miguel regressou a Portugal em


1828. Imediatamente se faz aclamar Rei Absoluto por umas Cortes convocadas à
maneira tradicional, isto é, por ordens. E, de imediato, se abateu uma repressão
sem limites sobre os simpatizantes do liberalismo.
- D. Pedro organiza um exército a partir da Ilha Terceira, nos Açores, com a ajuda de
vários países (navios, dinheiro e técnicos).
- Desembarque na Praia do Mindelo (Porto). Durante cerca de um ano, assiste-se ao
Cerco do Porto pelas tropas absolutistas de D. Miguel.
- D. Pedro irá fazer desembarcar as tropas no Algarve, que rapidamente irão se
deslocar para Lisboa. Nas Batalhas de Almoster e Asseiceira, D. Miguel irá sofrer
pesadas derrotas.
- Assinatura da Convenção da Évora-Monte: D. Miguel depõe as armas e será
exilado. Triunfa o liberalismo constitucional, de forma definitiva, em Portugal.

O novo ordenamento político e socioeconómico (1832/34-1851)

A ação reformadora de Mouzinho da Silveira

- Muitas das suas leis destinaram-se a colmatar as incoerências e fragilidades da


legislação vintista de caráter socioeconómico.
- Aboliu os pequenos morgadios, os forais e os dízimos.

Como consequência:
● A libertação da terra fez-se acompanhar da libertação do comércio.
● Eliminação de situações de privilégio na organização das atividades econômicas.
● Extinguiram-se as portagens e demais encargos na circulação interna.
● Diminuição dos direitos de exportação.
● Fim dos monopólios do sabão e do vinho do Porto.
● Nova organização administrativa. Índole centralizadora. País dividido em
províncias, comarcas e concelhos, chefiados por prefeitos, subprefeitos e
provedores, todos eles funcionários de nomeação régia.
● Registo Civil: enquadra civilmente os cidadãos na administração pública.
● Reformas Judiciais: divisão do país em círculos judiciais, estes em comarcas,
divididos em julgados e, estes últimos, em freguesias. Temos também a criação do
Supremo Tribunal de Justiça.

Finanças:
- Eliminação do sistema secular de tributação local (para clero e nobreza). Surge um
sistema de tributação nacional, devidamente centralizado.
- Tribunal do Tesouro Público (substitui o antigo Erário Régio): arrecadação de
impostos e contabilização dos fundos do Estado.

Mouzinho da Silveira ajuda na construção do Estado e da sociedade verdadeiramente


modernos:

- Legislou contra o clero e, em particular, contra as ordens religiosas. Eliminação do


clero regular, extinção de todos os conventos, mosteiros, colégios e hospícios das
ordens religiosas masculinas, cujos bens foram confiscados e incorporados na
Fazenda Nacional.
- Venda dos bens nacionais em hasta pública. Nota: a burguesia agradeceu… era a
única com dinheiro para aparecer nos leilões, tornando-se uma força de muito
destaque na sociedade portuguesa.

A Revolução de Setembro de 1836

● Passados dois anos da revolução liberalista, a Revolução de Setembro alterou a


nossa agitada cena política;
● O movimento ocorreu em Lisboa e teve um carácter eminentemente civil,
verificando-se, depois, a adesão militar;
● A Revolução de Setembro reagiu tanto aos excessos de miséria em que a guerra
civil (D. Pedro e D. Miguel) mergulhara o país, como à atuação do Governo cartista;
● Acusavam o governo cartista de corrupção e de apenas defender os interesses da
alta burguesia;
● Os organizadores do movimento propunham o regresso da Constituição de 1822;
● Os acontecimentos precipitaram-se em 9 e 10 de Setembro de 1836, ouviram-se
“vivas” à Constituição de 1822 e “morras” ao Governo;
● Sentindo-se desapoiada pelo povo, a rainha D. Maria II acabou por entregar o
poder aos radicais.

Medidas tomadas pelo Governo Setembrista

Acabou por encontrar-se uma solução de compromisso entre o radicalismo democrático


da Constituição de 1822 e o espírito monárquico da Carta de 1826, que se concretizou
num novo diploma constitucional, a Constituição de 1838:

- Deram relevo aos direitos individuais, a definição da soberania como base


democrática do poder;
- O bicameralismo eletivo e temporário através de eleições diretas;
- A consagração do voto censitário;
- Lançaram a pauta proteccionista, marcando o verdadeiro arranque industrial
português – essa pauta obrigava ao pagamento de direitos todos os produtos que
entrassem nas alfândegas da metrópole e das ilhas;
- Fomentaram o associativismo empresarial;
- Fizeram reformas no ensino de instrução primária, secundária e superior.

O cabralismo e o regresso à Carta Constitucional (1842-1851)

- Em Fevereiro de 1842, num golpe de Estado pacífico, foi o próprio ministro da


Justiça quem pôs fim à Constituição de 1838;
- A nova governação, conhecida por cabralismo, alicerçou-se nos princípios da Carta
e fez regressar ao poder a grande burguesia;
- Sob bandeira da ordem pública e do desenvolvimento económico, Costa Cabral
apostou no fomento industrial, nas obras públicas, na reforma administrativa e
fiscal. Difundiu-se a energia a vapor; surgiu a Companhia das Obras Públicas de
Portugal; publicou o Código Administrativo; criou-se o Tribunal de Contas, para
fiscalizar todas as receitas e despesas do Estado; reformou-se a Saúde,
proibindo-se os enterramentos nas igrejas.

Entre 1846-1847, vive-se um clima de verdadeira guerra civil entre os adeptos do


cabralismo e uma ampla frente de setembristas, cartistas puros e até miguelistas,
coligados em Juntas Revolucionárias.

A revolta da “Maria da Fonte” (1846)

A revolta da “Maria da Fonte” foi uma reação popular explosiva às Leis da Saúde, das
estradas, assim como aos procedimentos burocráticos que passaram a envolver a
cobrança de impostos as “papeletas da ladroeira”, como as chamava.

A Revolta da Patuleia (1846-1847)

Iniciada no Porto, alastrou ao país. Tinha como pretexto o não cumprimento das
promessas feitas pela rainha, nomeadamente a da realização de eleições por sufrágio
direto para a Câmara dos Deputados.

A calmaria política chegou, por fim, em 1851, com o movimento da Renegação.

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