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-A rebelião em marcha
• Manuel Fernandes Tomás, desembargador da Relação daquela cidade, fundou, em 1817, uma
associação secreta com o nome de Sinédrio, cujos membros pertenciam, na quase totalidade,
à Maçonaria.
• Atento à marcha dos sucessos políticos, o Sinédrio propunha-se intervir logo que a situação
se revelasse propícia, o que veio, efetivamente, a acontecer em 1820.
• Em janeiro desse ano, na vizinha Espanha, uma revolução liberal restaurou a Constituição de
1812. A Espanha tornou-se, então, centro de uma grande agitação política e Portugal passou
a receber muita propaganda liberal, que compreendia panfletos e edições traduzidas da
Constituição espanhola.
• Perante esta sucessão de acontecimentos, o pânico começou a fazer-se sentir entre os
membros da Regência, admitindo que os ventos liberais podiam também começar a soprar
em Portugal.
• Finalmente, em março, Beresford embarcou para o Rio de Janeiro, a fim de solicitar ao rei
dinheiro para pagamento das despesas militares, além de mais amplos poderes para reprimir
a crescente onda de agitação.
As eleições para as Cortes Constituintes, através de sufrágio indireto, tiveram finalmente lugar
em dezembro de 1820. As Cortes Constituintes iniciaram, solenemente, os seus trabalhos na
sessão preparatória de 24 de janeiro de 1821, tendo sido admitidos "tantos espectadores quantos
permitiu a capacidade das Galerias"
-A Constituição de 1822
• Nas primeiras reuniões das Cortes Constituintes, os deputados eleitos juraram ser fiéis ao rei,
à Constituição e à religião católica. Entre as suas primeiras iniciativas, estiveram a nomeação
de uma nova regência e a redação de cartas a D. João VI, pondo o monarca a par dos
acontecimentos.
• Essas inquietações começaram a dissipar-se com a chegada a Lisboa de D. João VI, no dia 3
de julho de 1821. O rei desembarcou no dia seguinte e fez o trajeto entre a Praça do Comércio
e o Palácio das Necessidades, sede das Cortes Extraordinárias e Constituintes, também
chamadas de Soberano Congresso. Aí prestou juramento às Bases da Constituição,
documento que havia sido aprovado a 9 de março de 1821 e que antecipava uma nova era
constitucional em Portugal.
• A Constituição de 1822 é um longo documento de 240 artigos, baseado na Constituição
espanhola de 1812 e nas Constituições francesas de 1791, 1793 e 1795. Nele estão presentes
os grandes princípios do constitucionalismo liberal: os direitos à liberdade, à segurança e à
propriedade, logo nos primeiros artigos; a igualdade perante a lei; a soberania da Nação; a
separação de poderes.
• Em contrapartida, não reconhece qualquer privilégio ao clero e à nobreza e submete o poder
real à supremacia das Cortes Legislativas.
Demasiado progressista para o seu tempo, a Constituição de 1822 foi fruto da ala mais radical dos
deputados presentes às Cortes Constituintes, cuja ação é conhecida por vintismo. Desde o início
da reunião da assembleia, tornou-se clara a existência de uma tendência moderada, respeitadora
da monarquia e do catolicismo e que se inclinava para a adoção de uma Constituição
conservadora, e de uma tendência radical, democrática. A fação radical conseguiu transpor para
o texto constitucional as suas conceções políticas e até religiosas.
➢ No entanto, a "Lei dos Forais" (3 de junho de 1822), mesmo reduzindo para metade as rendas
e pensões devidas pelos agricultores, não agradou ao pequeno campesinato dos rendeiros por
dois motivos: primeiro, as arbitrariedades na conversão das rendas em prestações fixas em
dinheiro; segundo, nas terras não regulamentadas por cartas de foral, os tributos tradicionais
mantiveram-se.
➢ Na verdade, a ação do vintismo revelou-se plena de contradições. Se, no plano político, foram
adotadas medidas inequivocamente liberais, no domínio socioeconómico, a legislação vintista
manifestou-se precária. O facto de muitos deputados serem proprietários rurais explica a
atitude protecionista das Cortes liberais, comprovada pela continuidade dos privilégios
económicos da Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e pela proibição da
importação de produtos como os cereais, o azeite e o vinho.
-A independência do Brasil
A caminho da separação
➢ A corte portuguesa residiu no Brasil de 1808 a 1821, período de um extraordinário progresso
económico, político e cultural daquele território, elevado a reino em 1815. Com os seus portos
abertos à navegação estrangeira e dotado de indústrias, de um banco nacional, de tribunais,
de instituições de ensino, de uma biblioteca e de uma imprensa local, o Brasil abandonava a
sua condição de colónia e o Rio de Janeiro assumia-se como a sede da monarquia portuguesa.
➢ Se ao desenvolvimento atrás enunciado acrescentarmos a influência do profundo sentimento
de liberdade coletiva que, desde o início do século, vinha arrastando as colónias americanas
da Espanha para a independência, compreenderemos, enfim, os anseios autonomistas dos
brasileiros.
➢ Sendo um diploma outorgado pelos governantes, ao contrário das Constituições, que são
aprovadas pelos representantes do povo, era de esperar uma recuperação do poder real e dos
privilégios da nobreza. Na verdade, a Carta de 1826 representou um manifesto retrocesso
relativamente à Constituição de 1822, introduzindo várias medidas conservadoras:
• o as Cortes passaram a funcionar num sistema bicamaral - uma Câmara dos Deputados
eleita através de sufrágio indireto e censitário; uma Câmara dos Pares constituída pela
alta nobreza, o clero, o príncipe real e os infantes, nomeados a título vitalício e
hereditário;
• o reforço do poder régio - através do poder moderador, o rei podia nomear os Pares,
convocar as Cortes e dissolver a Câmara dos Deputados, nomear e demitir o Governo e
até vetar a título definitivo as resoluções das Cortes;
• os direitos do indivíduo foram relegados para o fim do diploma.
➢ D. Pedro acabou por abdicar dos seus direitos à Coroa portuguesa na filha mais velha, a
princesa D. Maria da Glória, de 7 anos de idade. Esta deveria celebrar esponsais com seu tio,
o infante D. Miguel, que, ao regressar do seu exílio em Viena de Áustria, juraria o
cumprimento da Carta Constitucional e, de imediato, assumiria a regência do Reino de
Portugal.
-A guerra civil
D. Miguel regressou a Portugal em fevereiro de 1828 e ainda prestou juramento à Carta
Constitucional, parecendo honrar o compromisso assumido com o seu irmão. Todavia, esta
adesão ao Liberalismo foi efémera, porque logo em julho se fez aclamar rei absoluto por umas
Cortes convocadas à maneira tradicional, isto é, por ordens.
➢ Milhares de liberais, temendo perseguições, partiram para o exílio na França e em Inglaterra,
onde organizaram a resistência. Os que ficaram sujeitaram-se a uma repressão sem limites,
período conhecido por terror miguelista.
➢ Em 1831, D. Pedro abdicou do trono brasileiro e veio lutar pela restituição à filha do trono
português. Mobilizando influências diplomáticas nas cortes europeias, conseguiu os recursos
necessários à constituição de um pequeno exército.
➢ Em fevereiro de 1832, cerca de 7500 homens partiram da ilha Terceira, bastião da resistência
liberal, desembarcando, em julho, no Mindelo.
➢ Seguiu-se a ocupação da cidade do Porto, contrariando as expectativas do exército miguelista,
concentrado nas proximidades de Lisboa. Na cidade do Norte, cercada pouco depois pelas
forças absolutistas, viveu-se o episódio mais dramático do confronto entre liberais e
absolutistas - o Cerco do Porto.
A guerra civil durou, ainda, dois longos anos, no decorrer dos quais os exércitos de D. Pedro
organizaram uma expedição ao Algarve e tomaram Lisboa. As batalhas de Almoster e Asseiceira
confirmaram a derrota de D. Miguel, que depôs as armas, assinou a Convenção de Évora Monte
e partiu, definitivamente, para o exílio. Definitivamente, também, o liberalismo instalou-se em
Portugal.
• Protagonizada pela pequena e média burguesias e com largo apoio das camadas populares, a
Revolução de Setembro reagiu tanto aos excessos de miséria, em que a guerra civil colocou
o país, como à atuação do Governo cartista, acusado de beneficiar a alta burguesia com a
concessão de títulos de nobreza e com a venda dos bens nacionais em hasta pública.
• Os acontecimentos precipitaram-se em 9 e 10 de setembro de 1836, com a chegada a Lisboa
dos deputados eleitos no Norte para as Cortes. Ouviram-se "vivas" à Constituição e "morras"
ao Governo.
• O novo Governo saído da Revolução de Setembro, onde sobressaíram as figuras do visconde
Sá da Bandeira e do parlamentar nortenho Passos Manuel, declarou-se mais democrático,
empenhando-se em valorizar a soberania da nação e, inversamente, reduzir a intervenção
régia, o que suscitou uma pronta reação de D. Maria II ao setembrismo.
A inovação e a exigência das medidas de Costa Cabral, aliadas ao autoritarismo que rodeou a sua
implementação, estiveram na origem de uma série de motins populares
O Liberalismo vigente na primeira metade do século XIX fez depender o exercício político da
cidadania de critérios baseados no dinheiro e na propriedade. Por isso, coube à burguesia, a classe
mais rica e instruída, tomar a iniciativa política. Através do sufrágio censitário, reservou para si
o poder político e controlou o acesso às funções públicas e administrativas. Este foi o liberalismo
moderado, que fez do Estado o garante dos interesses burgueses.
Além de um Estado neutro que respeitasse as liberdades e que fizesse aplicar uma lei igual para
todos, o Liberalismo pretendia um Estado laico que separasse a esfera política da religiosa e
secularizasse as instituições. Defensores da liberdade religiosa e das liberdades de consciência,
de pensamento, de expressão, de ensino, os liberais defenderam uma série de reformas destinadas
a emancipar o indivíduo e o Estado da tutela da Igreja:
• legislação sobre o registo civil para os nascimentos, casamentos e óbitos que, até então,
constavam sobretudo dos registos paroquiais;
• criação de uma rede de assistência e de ensino absolutamente laicos, revelando-se a escola
pública um poderoso instrumento de divulgação dos ideais liberais, que se substituíram à
fé, obediência e caridade cristãs pregadas pelos párocos;
• expropriação e nacionalização do património das ordens religiosas, medidas que
contribuíram para debilitar o poderio económico da Igreja, base da sua indiscutível
influência política;
• privação do clero dos privilégios judiciais e fiscais que tradicionalmente auferia.
Esta retirada de poder à Igreja acompanhou uma certa descristianização dos costumes, bem como
episódios de anticlericalismo, que atingiram o auge no século XX, com a publicação das Leis de
Separação da Igreja e do Estado.
O liberalismo económico
O direito à propriedade e à livre iniciativa
Defensor dos direitos e das liberdades individuais, o Liberalismo reagiu contra qualquer forma de
tirania política e económica. O liberalismo económico teve origem no fisiocratismo: ambas as
correntes defendiam a iniciativa individual e a ausência estatal de intervenção na economia,
insurgindo-se, assim, contra o dirigismo mercantilista.
➢ Na França, uma série de medidas foram tomadas, quer pela Assembleia Nacional Constituinte
quer pela Convenção, a fim de pôr cobro ao esclavagismo. A questão tornou-se especialmente
calorosa quando os deputados e a opinião pública debateram a extinção ou manutenção da
escravatura nas Antilhas francesas, onde a revolta dos escravos ameaçava os interesses
açucareiros dos proprietários e comerciantes franceses.
➢ Assim se explica que, depois de abolida pela Convenção em 1794, a escravatura nas colónias
fosse restabelecida por Napoleão em 1802, só ficando definitivamente erradicada em 1848.
➢ As ideias abolicionistas ganharam também expressão na Inglaterra, onde se formaram
associações com o objetivo de pôr termo ao esclavagismo. Estas ideias acabariam por se
materializar em duas leis votadas pelo Parlamento britânico ainda na primeira metade do
século XIX. Em 1807, o Slave Trade Act pôs fim ao tráfico de escravos e, em 1833, através
do Slavery Abolition Act, aboliu-se a escravatura na maior parte das colónias britânicas.
Por razões económicas, a Inglaterra exerceu fortes pressões sobre vários Estados para abolirem o
tráfico de escravos. Foi o caso de Portugal.