Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.
Unidade 4
Nos inícios de Oitocentos (século XIX), Portugal era, ainda, um país onde permaneciam vivas
as estruturas de Antigo Regime (Sistema social, económico e político que vigorou na Europa,
aproximadamente, entre os séculos XV e XVIII, correspondendo, cronologicamente, à Idade
Moderna). Persistem, assim, as seguintes características:
• uma sociedade de ordens, fortemente hierarquizada, em que prevaleciam os privilégios
da nobreza e do clero;
• uma economia agrícola, de fraco rendimento, em que os camponeses viviam na
dependência dos senhores das terras;
• Um sistema político absolutista, submetido à regência do príncipe D. João (futuro rei D.
João VI) e à repressão ditada pela Inquisição, pela Real Mesa Censória e pela Intendência-
Geral da Polícia.
1.ª invasão - liderada pelo general Junot em 1807-1808 (chega até Lisboa):
2.ª invasão - comandada pelo marechal Soult em 1809 (chega até ao Porto, cujo bispo
HISTÓRIA A - 11.º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.
recusa a rendição; a tomada violenta da cidade redunda na fuga da população pela Ponte
das Barcas, que desabou. Soult retira se após o envio de reforços de Inglaterra);
3.ª invasão - chefiada pelo marechal Massena em 1810-1811 (graças às linhas de Torres
Vedras, fortificações construídas por iniciativa de Wellington, a passagem do exército de
Massena é intercetada, retirando-se em 1811).
Estas invasões deixaram um rasto de destruição, sobretudo na metade norte do país, a mais
afetada pela passagem das tropas e seus vandalismos. Para além das perdas humanas e
materiais, dos roubos ao património nacional nas igrejas, mosteiros e solares, elas abalaram
profundamente a economia (agricultura, comércio e indústria) e instalaram o caos político e
social.
Contudo, as invasões francesas podem ser consideradas como uma causa indireta da
Revolução Liberal portuguesa de 1820, na medida em que criaram uma conjuntura propícia à
mudança, a vários níveis:
1. Conjuntura política:
2. Conjuntura económica:
Estes dois fatores resultaram num enorme prejuízo para a burguesia nacional, cuja fortuna
assentava no comércio com o Brasil realizado ao abrigo de vários protecionismos e exclusivos.
3. Conjuntura social:
Entre 1808-1821, Portugal viveu na dupla condição de protetorado inglês e colónia brasileira.
Desta forma, a agitação revolucionária foi crescendo. No Porto, grande centro burguês e
mercantil, Manuel Fernandes Tomás, desembargador da Relação, funda, em 1817, uma
associação secreta, o Sinédrio, que se propunha intervir politicamente logo que a situação se
revelasse propicia.
Espanha, entretanto, tornara-se o centro de uma intensa agitação política. Neste contexto,
Portugal passa a receber muita propaganda liberal (pasquins, panfletos, traduções da
constituição espanhola). A anunciada ida de Beresford ao Brasil, em março de 1820, a fim de
HISTÓRIA A - 11.º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.
Formou-se, então, a Junta Provisional do Supremo Governo do Reino, que governou o país
durante quatro meses e organizou eleições para as Cortes Constituintes (Cortes Gerais
Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa). A Junta também se apressou a terminar
com o domínio inglês em Portugal e a exigir o regresso de D. João VI ao reino.
Da reunião das Cortes (1821-1822) resultou a Constituição de 1822, elaborada de acordo com
a vontade da ala mais radical dos deputados. O vintismo é, assim, identificado com um
liberalismo de tipo radicalista, que vigorou em Portugal através da Constituição, entre 1822 e
1826, muito embora ameaçado por golpes absolutistas desde 1823. A ação do vintismo
caracterizou-se, no essencial, pelas seguintes medidas:
A Constituição de 1822
Foi nas Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes, reunidas desde 24 de janeiro de 1821,
que se elaborou o texto constitucional que formalizaria a ordem liberal em Portugal. Concluída
em setembro e jurada pelo rei em outubro de 1822, teve por base as constituições francesas e
espanhola (1812).
HISTÓRIA A - 11.º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.
A Constituição de 1822 é um diploma arrojado para o seu tempo, Eis as suas principais
deliberações:
1. Os direitos dos cidadãos foram assegurados (art." 1. - "A Constituição política da Nação
Portuguesa tem por objetivo manter a liberdade, segurança e propriedade de todos os
Portugueses."). Porém, a ausência de representação das classes populares nas Cortes (os
deputados eram, maioritariamente, magistrados, proprietărios e comerciantes) repercutiu-se na
afirmação do sufrágio não universal (Título I, Capítulo I, item 33 - "Na eleição dos deputados
têm voto os portugueses que estiverem no exercício dos direitos de cidadão (..]. Da presente
disposição se excetuam [-J"), porque só os homens maiores de 25 anos e alfabetizados podiam
votar, mas o sufrágio era direto.
4. A responsabilidade de elaboração das leis foi entregue a uma câmara única (Cortes
Legislativas), o que retirava às ordens superiores a possibilidade de terem um órgão de
representação próprio (Título III, Capítulo V. item 105 - "A iniciativa direta das leis somente
compete aos representantes da Nação juntos em Cortes."). Ou seja, estipulava a separação
tripartida e a independência dos poderes.
A Constituição de 1822
Constituição da França (1791, 1793 ✓ Separação dos três poderes Abolir o absolutismo politico
Constituição de Espanha (1812) políticos. e a sociedade de ordens.
✓ Direitos e deveres do individuo,
✓ Falta de liberdade religiosa.
✓ Regime monárquico constitucional
✓ (os poderes do rei são limitados
pela Constituição).
✓ Supremacia das Cortes com poder
legislativo.
A forte resistência às determinações da Constituição de 1822 por parte dos setores mais
conservadores da sociedade portuguesa, que a consideraram progressista e radical, acabariam
por ditar o fracasso do vintismo:
1. Oposição constante das ordens privilegiadas, que não queriam perder os seus
direitos e que contavam com o apoio da rainha, D. Carlota Joaquina, e do filho D.
Miguel.
Em 1823, na sequência da restauração do Absolutismo em Espanha, estalou em
Portugal o movimento da Vilafrancada durante a qual dois regimentos portugueses,
enviados para a fronteira espanhola, rebelaram-se em Vila Franca. D. Miguel juntou-se-
lhes, assumiu o comando e redigiu um Manifesto aos Portugueses. A revolta só
terminou quando D. João VI intimou o filho a obedecer-lhe, acalmando-o ao substituir os
membros do Governo por outros mais moderados e ao alterar a Constituição.
Estas medidas não foram suficientes para acalmar os revoltosos. Em abril de 1824,
partidários de D. Miguel sequestraram o rei e o Governo (sob pretexto de uma falsa
ameaça maçónica contra a vida da família real), pondo o reino em alvoroço. Pretendiam
obrigar o rei a abdicar para entregar a regência à rainha. Foi a Abrilada. Mais uma vez,
foi a intervenção de D. João VI, auxiliado pelo seu corpo diplomático, que conseguiu
suster a contrarrevolução. D. Miguel foi exonerado dos seus cargos e mandado para o
exílio em Viena de Áustria.
Este acontecimento marcou uma viragem a favor dos liberais. Cansado das prepotências
HISTÓRIA A - 11.º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.
Em 1834, as vitórias liberais nas batalhas de Almoster e Asseiceira foram o remate final. D.
Miguel depôs armas e assinou a Convenção de Évora Monte, a qual o obrigava a abandonar o
país.
Numa tentativa de apaziguar o país, D. Pedro mostrou clemência para com os vencidos.
Amnistiou todos os crimes políticos, conservou os postos a todos os militares e restituiu aos
vencidos que depuseram as armas, as casas e bens apreendidos, com a garantia de não haver
represálias.
A vitória liberal na guerra civil assinala o assentamento definitiva do Liberalismo em Portugal.
Contudo, não pôs fim às dissidências internas que passaram a opor os liberais vintistas
(adeptos da Constituição de 1820) aos liberais cartistas (adeptos do cartismo, da Carta
Constitucional), mais moderados e conservadores. A vitória liberal, em 1834, repôs a Carta
Constitucional, cuja vigência tinha sido interrompida em 1828. Moderada e tradicionalista, a
Carta marcou um retrocesso em relação aos princípios democráticos da Constituição de 1822.
Sendo a Carta Constitucional um diploma outorgado pelo rei ao povo ("Faço saber a todos
os meus súbditos portugueses que sou servido decretar, dar e mandar jurar imediatamente
pelas três Ordens do Estado a Carta Constitucional (…), ao contrário das constituições -
aprovadas pelos representantes do povo "segundo a vontade expressa da nação" -, era de
esperar alguma recuperação do poder real assim como de alguns privilégios por parte da
nobreza. Com efeito, a Carta Constitucional introduziu várias inovações antidemocráticas e
concedia ao rei um importante papel na ordem constitucional. Procurava conciliar o Antigo
Regime e o Liberalismo através das seguintes medidas:
1. O poder real foi ampliado, sendo adicionado um quarto poder: graças ao poder
moderador de que passava a usufruir (Titulo V, art. 71." - "O poder moderador é a chave
de toda a organização política e compete privativamente ao rei [."), o monarca podia
nomear os Pares, convocar as Cortes e dissolver a Câmara dos Deputados, nomear e
demitir o governo, vetar a título definitivo as resoluções das Cortes (Título III, art." 59. -
"O rei dará, ou negará, a sanção em cada decreto [..]") e suspender os magistrados.
2. Os privilégios da nobreza foram recuperados (Título VIIL art 45", item 31 - "Garante
a nobreza hereditária e suas regalias.")
HISTÓRIA A - 11.º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.
3. As Cortes Legislativas passaram a ser compostas por duas câmaras: a Câmara dos
Deputados, eleita por sufrágio indireto e censitário, e a Câmara dos Pares, reservada a
elementos das ordens superiores nomeados a título vitalício e hereditário (Título III. art°
14°-"As Cortes compõem-se de duas câmaras [.).
4. A liberdade religiosa não era admitida.
5. 5. Os direitos naturais do indivíduo só aparecem no fim do documento (Titulo VIII,
art. 45.° - "…) a liberdade, a segurança individual e a propriedade (…) e o sufrágio era
censitário e indireto.
6. ar a vida
No entanto, foi a lei mais longa em Portugal, com três períodos de vigência:
1. entre 1826 e 1828;
2. entre 1834 e 1836;
3. entre 1842 e 1910 (embora sujeita a alterações desde 1851).
Constituição da França (1814). ✓ Poder moderador do rei –regula Conciliar e equilibrar os princípios
Constituição do Brasil (1824)) os demais poderes. do Poder moderador do rei -
regula os demais poderes políticos
✓ Direitos e deveres do indivíduo (legislativo, executivo e judicial.)
mas mantendo os privilégios
hereditários da nobreza.
Joaquim António de Aguiar, ministro da Justiça, mereceu o epíteto de "mata-frades" pela sua
intervenção legislativa (1834-1835) contra os privilégios do clero, em particular do clero regular,
identificado com o projeto miguelista:
Caraterizar o Setembrismo.
O setembrismo foi um projeto político da pequena e média burguesia, com o apoio das
camadas populares (contra o predomínio da alta burguesia, que havia sido favorecida pelo
cartismo). Os mentores do setembrismo, que integravam o novo Governo, eram Sá da
Bandeira e Passos Manuel.
POLÍTICA
✓ o rei (neste caso, a rainha) perdeu o poder moderador (embora mantivesse o direito de veto
definitivo sobre as leis saídas das Cortes; logo, o poder real condicionava o poder legislativo):
✓ a soberania da Nação foi reforçada;
✓ consagração do regime censitário.
ECONOMIA
✓
✓ adotou se o protecionismo económico, sobrecarregando com impostos as importações, de
modo a tornar mais competitivos os produtos industriais nacionais (sem grande sucesso)
✓ investiram se capitais em África, como alternativa à perda do mercado brasileiro;
✓ as taxas fiscais aplicadas aos pequenos agricultores não foram abolidas, o que contribuiu para
o fracasso económico do Setembrismo.
ENSINO E SOCIEDADE
HISTÓRIA A - 11.º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.
✓ reformou-se o ensino primário, secundário e superior, com destaque para a criação dos liceus,
por Passos Manuel, onde os filhos da burguesia se preparavam para o ensino superior, que
lhes permitiria exercer cargos de relevo.
Mas a política económica setembrista ficou marcada por um certo fracasso. Por um lado, no
domínio fiscal, não se atreveu a abolir taxas gravosas para os pequenos agricultores nem
tributou com mais impostos os grandes proprietários. Por outro lado, no plano industrial, os
resultados ficaram aquém do pretendido. Este insucesso económico ficou a dever-se em
grande parte à crónica falta de capitais, desviados para fins usurários e especulativos. Todavia,
no cômputo geral, a legislação setembrista permitiu alguma iniciativa à burguesia.
Com o tempo, o Governo setembrista enfrentou uma crescente oposição, tanto de cartistas
como das fações mais radicais do Liberalismo. A crescente instabilidade exigiu a adoção de
uma política mais autoritária.
Em fevereiro de 1842, o ministro da Justiça e homem forte do regime, Costa Cabral, através de
um golpe de Estado (com o aval da rainha põe fim ao regime e à Constituição de 1838. A nova
realidade política, caracterizada por um exercício autoritário do poder, pela restauração da
vigência da Carta Constitucional e pelo regresso ao poder da alta burguesia, tudo sob a
Bandeira da ordem, da disciplina e do progresso económico, dá-se o nome de cabralismo.
Depois de urna primeira metade de século extremamente agitada, nos últimos 50 anos de
Oitocentos, Portugal iria gozar a paz e o progresso material do período da Regeneração.