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HISTÓRIA A - 11.

º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.

U4 – A Implantação do Liberalismo em Portugal

Unidade 4

l. A implantação do Liberalismo em Portugal

Antecedentes e conjuntura (1807-1820]

Mostrar a coexistência do Antigo Regime com forças predispostas à inovação no


Portugal de inícios de Oitocentos

Nos inícios de Oitocentos (século XIX), Portugal era, ainda, um país onde permaneciam vivas
as estruturas de Antigo Regime (Sistema social, económico e político que vigorou na Europa,
aproximadamente, entre os séculos XV e XVIII, correspondendo, cronologicamente, à Idade
Moderna). Persistem, assim, as seguintes características:
• uma sociedade de ordens, fortemente hierarquizada, em que prevaleciam os privilégios
da nobreza e do clero;
• uma economia agrícola, de fraco rendimento, em que os camponeses viviam na
dependência dos senhores das terras;
• Um sistema político absolutista, submetido à regência do príncipe D. João (futuro rei D.
João VI) e à repressão ditada pela Inquisição, pela Real Mesa Censória e pela Intendência-
Geral da Polícia.

Contudo, simultaneamente, criava-se um clima propício à mudança. As principais forças de


inovação eram:

• A Maçonaria, uma organização secreta que defendia os valores iluministas e pugnava


contra privilégios e desigualdades sociais, intolerância religiosa, fanatismo e tirania;
• a burguesia comercial, sediada nos centros urbanos e desejosa de se impor socialmente;
• Os exilados franceses, que se refugiaram em Portugal no tempo do Terror, durante a
Convenção;
• Os estrangeirados, que constituíam uma elite intelectual atenta às novidades culturais, de
pendor iluminista e liberal.

Explicar a invasão de Portugal pelas tropas napoleónicas

Em 1806, Napoleão Bonaparte decretou o Bloqueio Continental, que proibia as nações


europeias de comerciarem com a Inglaterra, principal inimiga da França. Portugal, aliado
histórico da Inglaterra, desrespeito ao Bloqueio e, em consequência, sofreu três invasões
francesas, contando com o apoio militar inglês para enfrentar os invasores:

1.ª invasão - liderada pelo general Junot em 1807-1808 (chega até Lisboa):
2.ª invasão - comandada pelo marechal Soult em 1809 (chega até ao Porto, cujo bispo
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recusa a rendição; a tomada violenta da cidade redunda na fuga da população pela Ponte
das Barcas, que desabou. Soult retira se após o envio de reforços de Inglaterra);
3.ª invasão - chefiada pelo marechal Massena em 1810-1811 (graças às linhas de Torres
Vedras, fortificações construídas por iniciativa de Wellington, a passagem do exército de
Massena é intercetada, retirando-se em 1811).

Estas invasões deixaram um rasto de destruição, sobretudo na metade norte do país, a mais
afetada pela passagem das tropas e seus vandalismos. Para além das perdas humanas e
materiais, dos roubos ao património nacional nas igrejas, mosteiros e solares, elas abalaram
profundamente a economia (agricultura, comércio e indústria) e instalaram o caos político e
social.

Relacionar a conjuntura política, económica e social resultante das Invasões Francesas


com a Revolução Liberal de 1820

Contudo, as invasões francesas podem ser consideradas como uma causa indireta da
Revolução Liberal portuguesa de 1820, na medida em que criaram uma conjuntura propícia à
mudança, a vários níveis:

1. Conjuntura política:

a) A família real, juntamente com todos os que representavam a monarquia e os


súbditos que quisessem acompanhar a viagem em navios privados (cerca de 15 000
pessoas, no total), embarcou para o Brasil (1807). A ideia não era nova, pois já em
épocas anteriores (por exemplo, aquando da invasão espanhola, em 1580) se havia
pensado nessa possibilidade. Porém, a mudança da Corte para o Brasil, apesar de
justificada, então, pela necessidade de preservar a independência de Portugal (porque
o Brasil, de colónia passou a sede de governo, permitindo a Portugal preservar a
integridade do Estado) e de evitar a dissolução da dinastia de Bragança, foi entendida,
pelos súbditos comuns, como uma verdadeira fuga, contribuindo, assim, para o
descrédito da monarquia absoluta.

b) Na ausência de D. João VI (que apenas regressaria em 1821), Portugal ficou sob o


domínio do marechal inglês William Beresford, tornado presidente da Junta
Governativa. Beresford organizou a defesa contra os Franceses, controlou a economia
e exerceu a repressão contra o Liberalismo nascente. Conquistou o ódio dos militares
portugueses, que perdiam os postos de comando para os Ingleses, e da generalidade
dos Portugueses que o viam como prepotente. Reativou a Inquisição e encheu as
prisões de suspeitos de jacobinismo. A repressão foi particularmente cruel em 1817,
ano em que o general Gomes Freire de Andrade, juntamente com 11 oficiais do
exército, foi executado por suspeita de envolvimento numa conspiração.
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c) A permanência dos Franceses no território português (apesar de serem os


invasores malquistos) bem como o exemplo da revolução liberal espanhola de 1820
contribuíram para disseminar as ideias liberais entre os Portugueses.

2. Conjuntura económica:

a) As invasões francesas, para além de responsáveis pela destruição material à


passagem dos soldados, provocaram desorganização em todos as setores
económicos e défice financeiro.
b) A situação do Brasil como sede do reino, mesmo depois de terminadas as invasões
francesas, valeu-lhe a atenção do regente que, durante a sua estadia, tomou medidas
favoráveis à economia brasileira, porém, muito contestadas pela burguesia da
metrópole, destacando-se:

- em 1808, a abertura dos portos do Brasil, obrigando a burguesia portuguesa a


competir com os estrangeiros pelo mercado brasileiro;
- em 1810, o tratado de comércio com a Inglaterra, que favorecia a entrada de
manufaturas inglesas no Brasil, ou seja, não só alargava os privilégios que os ingleses
já possuíam como Ihes abria o mercado brasileiro, o que acabou por ter repercussões
negativas no desenvolvimento industrial português. Os produtos ingleses, de melhor
qualidade e mais baratos, venciam a concorrência nacional, provocando a estagnação
das manufaturas portuguesas.

Estes dois fatores resultaram num enorme prejuízo para a burguesia nacional, cuja fortuna
assentava no comércio com o Brasil realizado ao abrigo de vários protecionismos e exclusivos.

3. Conjuntura social:

a) A burguesia, sendo o grupo mais afetado pela crise no comércio e na indústria,


decorrente, em última instância, das invasões francesas, era também o mais
descontente, logo, o mais inclinado à preparação da revolta.

Entre 1808-1821, Portugal viveu na dupla condição de protetorado inglês e colónia brasileira.
Desta forma, a agitação revolucionária foi crescendo. No Porto, grande centro burguês e
mercantil, Manuel Fernandes Tomás, desembargador da Relação, funda, em 1817, uma
associação secreta, o Sinédrio, que se propunha intervir politicamente logo que a situação se
revelasse propicia.

Espanha, entretanto, tornara-se o centro de uma intensa agitação política. Neste contexto,
Portugal passa a receber muita propaganda liberal (pasquins, panfletos, traduções da
constituição espanhola). A anunciada ida de Beresford ao Brasil, em março de 1820, a fim de
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solicitar maiores poderes na repressão da agitação crescente, levou o Sinédrio a decidir-se


pela consumação da revolução. Os membros do Sinédrio eram maioritariamente maçons e
burgueses ligados ao exército, à magistratura, ao comércio e à indústria.

4.2. A Revolução de 1820 e as dificuldades de implantação da ordem liberal (1820-1834)

4.2.1. Precariedade da legislação vintista de carácter socioeconómico.

Analisar a ação do Vintismo.

A 24 de agosto de 1820, no Porto, saiu vitoriosa a Revolução Liberal portuguesa. Os objetivos


da revolução, presentes no "Manifesto aos Portugueses", de Manuel Fernandes Tomás, eram,
essencialmente, três: a convocação de Cortes, a elaboração de uma Constituição e uma
governação justa, que recuperasse o país da crise em que se encontrava.

Formou-se, então, a Junta Provisional do Supremo Governo do Reino, que governou o país
durante quatro meses e organizou eleições para as Cortes Constituintes (Cortes Gerais
Extraordinárias e Constituintes da Nação Portuguesa). A Junta também se apressou a terminar
com o domínio inglês em Portugal e a exigir o regresso de D. João VI ao reino.

Da reunião das Cortes (1821-1822) resultou a Constituição de 1822, elaborada de acordo com
a vontade da ala mais radical dos deputados. O vintismo é, assim, identificado com um
liberalismo de tipo radicalista, que vigorou em Portugal através da Constituição, entre 1822 e
1826, muito embora ameaçado por golpes absolutistas desde 1823. A ação do vintismo
caracterizou-se, no essencial, pelas seguintes medidas:

• elaboração da Constituição de 1822 e instituição do parlamentarismo;


* Instituição da liberdade de expressão com efeitos importantes sobre a imprensa e o
ensino, a Inquisição acabou, a censura foi abolida;
• eliminação de privilėgios do clero e da nobreza: foram abolidos o pagamento da dízima
à Igreja e os privilégios de julgamento; a reforma dos forais (1821) libertou os
camponeses da prestação de um grande número de direitos senhoriais.

A Constituição de 1822

Foi nas Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes, reunidas desde 24 de janeiro de 1821,
que se elaborou o texto constitucional que formalizaria a ordem liberal em Portugal. Concluída
em setembro e jurada pelo rei em outubro de 1822, teve por base as constituições francesas e
espanhola (1812).
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A Constituição de 1822 é um diploma arrojado para o seu tempo, Eis as suas principais
deliberações:

1. Os direitos dos cidadãos foram assegurados (art." 1. - "A Constituição política da Nação
Portuguesa tem por objetivo manter a liberdade, segurança e propriedade de todos os
Portugueses."). Porém, a ausência de representação das classes populares nas Cortes (os
deputados eram, maioritariamente, magistrados, proprietărios e comerciantes) repercutiu-se na
afirmação do sufrágio não universal (Título I, Capítulo I, item 33 - "Na eleição dos deputados
têm voto os portugueses que estiverem no exercício dos direitos de cidadão (..]. Da presente
disposição se excetuam [-J"), porque só os homens maiores de 25 anos e alfabetizados podiam
votar, mas o sufrágio era direto.

2. O poder real foi limitado, consagrando-se o regime de monarquia constitucional: o rei, a


quem cabia o poder executivo, tinha direito de veto suspensivo sobre as Cortes, isto é, podia
remeter uma lei já aprovada às Cortes Legislativas, mas teria de acatar o resultado dessa
segunda votação. Assim, o absolutismo foi abolido, pois a soberania residia nas Cortes e não
no rei (Título II, item 26 - "A soberania reside essencialmente
em a Nação").

3. A sociedade de ordens foi abolida, pois não se reconheciam quaisquer privilégios à


nobreza e ao clero (Titulo I, item 9-"A lei é igual para todos"). Esta determinaçäo motivou, aliás,
a oposição cerrada das ordens privilegiadas ao radicalismo vintista.

4. A responsabilidade de elaboração das leis foi entregue a uma câmara única (Cortes
Legislativas), o que retirava às ordens superiores a possibilidade de terem um órgão de
representação próprio (Título III, Capítulo V. item 105 - "A iniciativa direta das leis somente
compete aos representantes da Nação juntos em Cortes."). Ou seja, estipulava a separação
tripartida e a independência dos poderes.

5. A religião católica era aceite como religião oficial dos Portugueses.

A conceção e a aprovação da Constituição foi um processo complexo, quer pelas mudanças


propostas quer pelas resistências encontradas na desunião dos liberais face ao modelo
constitucional construído.
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A Constituição de 1822

Documentos inspiradores Princípios fundamentais Objetivos

Constituição da França (1791, 1793 ✓ Separação dos três poderes Abolir o absolutismo politico
Constituição de Espanha (1812) políticos. e a sociedade de ordens.
✓ Direitos e deveres do individuo,
✓ Falta de liberdade religiosa.
✓ Regime monárquico constitucional
✓ (os poderes do rei são limitados
pela Constituição).
✓ Supremacia das Cortes com poder
legislativo.

A forte resistência às determinações da Constituição de 1822 por parte dos setores mais
conservadores da sociedade portuguesa, que a consideraram progressista e radical, acabariam
por ditar o fracasso do vintismo:

1. Oposição constante das ordens privilegiadas, que não queriam perder os seus
direitos e que contavam com o apoio da rainha, D. Carlota Joaquina, e do filho D.
Miguel.
Em 1823, na sequência da restauração do Absolutismo em Espanha, estalou em
Portugal o movimento da Vilafrancada durante a qual dois regimentos portugueses,
enviados para a fronteira espanhola, rebelaram-se em Vila Franca. D. Miguel juntou-se-
lhes, assumiu o comando e redigiu um Manifesto aos Portugueses. A revolta só
terminou quando D. João VI intimou o filho a obedecer-lhe, acalmando-o ao substituir os
membros do Governo por outros mais moderados e ao alterar a Constituição.

Estas medidas não foram suficientes para acalmar os revoltosos. Em abril de 1824,
partidários de D. Miguel sequestraram o rei e o Governo (sob pretexto de uma falsa
ameaça maçónica contra a vida da família real), pondo o reino em alvoroço. Pretendiam
obrigar o rei a abdicar para entregar a regência à rainha. Foi a Abrilada. Mais uma vez,
foi a intervenção de D. João VI, auxiliado pelo seu corpo diplomático, que conseguiu
suster a contrarrevolução. D. Miguel foi exonerado dos seus cargos e mandado para o
exílio em Viena de Áustria.

2. Descontentamento das classes populares, as quais pretendiam uma reforma


socioeconómica mais profunda, que anulasse as estruturas de Antigo Regime; ao invés,
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a atuação vintista defendeu os interesses da burguesia rural em detrimento do pequeno


campesinato, pois os deputados das Cortes eram, também, proprietários de terras. A
Lei dos Forais, nomeadamente, não surtiu o efeito desejado porque não se aplicava a
todas as terras e porque convertia as rendas (habitualmente pagas em géneros) em
prestações pagas em dinheiro, sem um critério de conversão uniforme.

3. Atuação antibrasileira das Cortes que culminou na independência do Brasil; apesar de o


Brasil ter o estatuto de reino desde 1815, toda a atuação das Cortes se orientou no
sentido de lhe retirar autonomia e de refrear o seu progresso económico:

✓ •o regresso de D. João VI a Portugal em 1821, quando veio a assinar a


Constituição de 1822, interrompeu a obra de desenvolvimento que este monarca
havia iniciado no Brasil (por exemplo, permitindo a criação de indústrias,
ordenando a criação de um banco, de uma biblioteca, de um teatro, de uma
imprensa local).Ficou no Brasil, como regente, o seu filho Pedro;
✓ as Cortes, compostas por deputados que dependiam do comércio colonial,
aprovaram várias leis que tornavam o Brasil diretamente dependente de Lisboa
(por exemplo, os poderes judicial e militar eram submetidos diretamente a
Lisboa) e que retiravam a liberdade de comércio à colónia (nomeadamente, só
os navios portugueses podiam fazer o comércio de porto em porto em todas as
possessões do Império);
✓ o príncipe regente, D. Pedro, foi chamado a Portugal com o argumento, pouco
convincente, de ser educado na Europa;
✓ esta tentativa, por parte das Cortes, de retirar direitos que os colonos sentiam
como adquiridos resultou, em 1822, na independência do Brasil proclamada
pelo próprio D. Pedro, coroado imperador do Brasil,

Reconhecer no processo de independência do Brasil uma das razões do fracasso do


Vintismo.

4.2.2. Desagregação do Império Atlântico


A perda da colónia americana foi um dos fatores de fracasso do vintismo, pois retirou
importantes fontes de rendimento a Portugal, nomeadamente à burguesia comercial e
industrial, o que provocou o descontentamento social, por comprometer a recuperação
económica e financeira do país. A independência do Brasil só viria a ser reconhecida pela
metrópole portuguesa em 1825, mas é certo que chegara ao fim o Império Atlântico Português.
Foram todas estas insuficiências de alcance da legislação vintista, incapaz de resolver os
problemas de fundo que atingiam o país, que suscitaram o desagrado de grande parte da
nação e determinaram a curta vigência do vintismo (1820-1826).
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4.2.3. A Carta Constitucional de 1826


O falecimento de D. João VI, em março de 1826, levantou um delicado problema de sucessão.
Com efeito, o seu herdeiro e filho mais velho era Pedro, imperador do Brasil. E o mais novo,
Miguel, partidário do absolutismo, estava exilado em Viena. Antes de falecer, D. João VI
remetera a resolução do problema para um Conselho de Regência presidido pela filha, Isabel
Maria (ato muito significativo, já que por tradição tal função devia caber à viúva).
Esta pediu auxílio ao irmão e Pedro, contra todas as expectativas, assumiu a sucessão,
proclamando-se o legitimo herdeiro da Coroa portuguesa e adotando uma atitude conciliatória:

✓ 26 de abril de 1826 - confirma a regência provisória da irmã;


✓ 29 de abril de 1826 - outorga ao reino um diploma constitucional, mais moderado e
conservador e menos democrático que a Constituição de 1822 - a Carta Constitucional,
com a qual esperava serenar a vida política portuguesa;
✓ 2 de maio de 1826 - abdica do seu direito à Coroa em favor da filha, Maria da Glória, 7
anos. Estabeleceu que esta deveria casar com o tio, Miguel, que, regressando de
imediato de Viena, juraria a Carta Constitucional, assumiria a regència do reino e
ocuparia a função de lugar-tenente de D. Pedro, durante a menoridade da sobrinha.

Relacionar a guerra civil de 1832-34 com a resistência ao Liberalismo.

A guerra civil entre absolutistas e liberais

Muitos portugueses que foram obrigados ao exílio durante as perseguições do "terror


miguelista" organizaram ações de resistência, as quais ganharam especial força após 1831,
quando D. Pedro abdicou do trono brasileiro e se juntou ao movimento de resistência para
defender o direito ao trono português de sua filha, D. Maria. D. Pedro organizou na ilha
Terceira, nos Açores, um exército apoiado pelos muitos exilados e revoltosos liberais. Ai
formou um pequeno governo ao qual chamou Regência Liberal e procurou o apoio de algumas
potências europeias.

Em 1832, rumou ao continente, desembarcando no Mindelo (praia do Pampelido) e dirigindo-se


para o Porta. Iniciou-se então a guerra civil entre absolutistas, liderados por D. Miguel, e
liberais, liderados por D. Pedro. Os liberais ocuparam a cidade do Porto e os absolutistas
cercaram a cidade durante mais de um ano. Entre julho de 1382 e agosto de 1383, D. Pedro,
as suas tropas e os habitantes da cidade viveram cercados. Durante o cerco, e numa tentativa
para aliviar a pressão das forças absolutistas sobre a cidade, uma esquadra liderada pelo
duque da Terceira rumou ao Algarve, onde desembarcou um pequeno exército que atravessou
o Alentejo, sem resistência, e entrou vitorioso em Lisboa, em julho de 1833, sendo então
aclamado pelos populares.

Este acontecimento marcou uma viragem a favor dos liberais. Cansado das prepotências
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absolutistas, o povo começou a retirar o seu apolo a D. Miguel e, no exército absolutista,


aumentaram as deserções a favor dos liberais.

A política externa na Europa da época também contribuiu, na medida em que, após a


Revolução de 1830 em França, as potências europeias ficaram mais empenhadas na
restauração do regime liberal nos países ibéricos.

Em 1834, as vitórias liberais nas batalhas de Almoster e Asseiceira foram o remate final. D.
Miguel depôs armas e assinou a Convenção de Évora Monte, a qual o obrigava a abandonar o
país.

Numa tentativa de apaziguar o país, D. Pedro mostrou clemência para com os vencidos.
Amnistiou todos os crimes políticos, conservou os postos a todos os militares e restituiu aos
vencidos que depuseram as armas, as casas e bens apreendidos, com a garantia de não haver
represálias.
A vitória liberal na guerra civil assinala o assentamento definitiva do Liberalismo em Portugal.
Contudo, não pôs fim às dissidências internas que passaram a opor os liberais vintistas
(adeptos da Constituição de 1820) aos liberais cartistas (adeptos do cartismo, da Carta
Constitucional), mais moderados e conservadores. A vitória liberal, em 1834, repôs a Carta
Constitucional, cuja vigência tinha sido interrompida em 1828. Moderada e tradicionalista, a
Carta marcou um retrocesso em relação aos princípios democráticos da Constituição de 1822.

Comparar a Carta Constitucional de 1826 com a Constituição de 1822.

Sendo a Carta Constitucional um diploma outorgado pelo rei ao povo ("Faço saber a todos
os meus súbditos portugueses que sou servido decretar, dar e mandar jurar imediatamente
pelas três Ordens do Estado a Carta Constitucional (…), ao contrário das constituições -
aprovadas pelos representantes do povo "segundo a vontade expressa da nação" -, era de
esperar alguma recuperação do poder real assim como de alguns privilégios por parte da
nobreza. Com efeito, a Carta Constitucional introduziu várias inovações antidemocráticas e
concedia ao rei um importante papel na ordem constitucional. Procurava conciliar o Antigo
Regime e o Liberalismo através das seguintes medidas:

1. O poder real foi ampliado, sendo adicionado um quarto poder: graças ao poder
moderador de que passava a usufruir (Titulo V, art. 71." - "O poder moderador é a chave
de toda a organização política e compete privativamente ao rei [."), o monarca podia
nomear os Pares, convocar as Cortes e dissolver a Câmara dos Deputados, nomear e
demitir o governo, vetar a título definitivo as resoluções das Cortes (Título III, art." 59. -
"O rei dará, ou negará, a sanção em cada decreto [..]") e suspender os magistrados.
2. Os privilégios da nobreza foram recuperados (Título VIIL art 45", item 31 - "Garante
a nobreza hereditária e suas regalias.")
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3. As Cortes Legislativas passaram a ser compostas por duas câmaras: a Câmara dos
Deputados, eleita por sufrágio indireto e censitário, e a Câmara dos Pares, reservada a
elementos das ordens superiores nomeados a título vitalício e hereditário (Título III. art°
14°-"As Cortes compõem-se de duas câmaras [.).
4. A liberdade religiosa não era admitida.
5. 5. Os direitos naturais do indivíduo só aparecem no fim do documento (Titulo VIII,
art. 45.° - "…) a liberdade, a segurança individual e a propriedade (…) e o sufrágio era
censitário e indireto.
6. ar a vida

No entanto, foi a lei mais longa em Portugal, com três períodos de vigência:
1. entre 1826 e 1828;
2. entre 1834 e 1836;
3. entre 1842 e 1910 (embora sujeita a alterações desde 1851).

A Carta Constitucional de 1826

Documentos inspiradores Princípios fundamentais Objetivos

Constituição da França (1814). ✓ Poder moderador do rei –regula Conciliar e equilibrar os princípios
Constituição do Brasil (1824)) os demais poderes. do Poder moderador do rei -
regula os demais poderes políticos
✓ Direitos e deveres do indivíduo (legislativo, executivo e judicial.)
mas mantendo os privilégios
hereditários da nobreza.

✓ Falta de liberdade religiosa.

4.3. O novo ordenamento político e socioeconómico (1834-1851)

Reconhecer a importância da legislação de Mouzinho da Silveira no novo ordenamento


político e socioeconómico (1834-1851);

Importância da legislação de Mouzinho da Silveira

José Xavier Mouzinho da Silveira, ministro da Fazenda (finanças) e da Justiça durante a


regência de D. Pedro (1832-1833), promulgou decretos fundamentais para a consolidação do
Liberalismo, atacando as estruturas do Antigo Regime:
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Agricultura Aboliu os dízimos, os morgadios e os forais, libertando os camponeses das


dependências tradicionais.

Comércio e Indústria Extinguiu as portagens internas e reduziu os impostos sobre a exportação,


de maneira a retirar os entraves à atividade comercial.
Acabou com os monopólios, nomeadamente o da Companhia das Vinhas do
Alto Douro.

Administração Dividiu o país em províncias, comarcas e concelhos;


também instituiu o Registo Civil para todos os recém nascidos, retirando a
questão do nascimento da alçada da Igreja.

Justiça Organizou o país segundo uma hierarquia de circunscrições (divisões


territoriais), submetendo todos os cidadãos à mesma lei.

Finanças Criou um sistema de tributação nacional, eliminando a tributação local que


revertia, em grande parte, a favor do clero e da nobreza;
substituiu o Erário Régio (criado pelo Marquês de Pombal) pelo Tribunal do
Tesouro Público, para controlar a arrecadação de impostos.

Cultura Mandou abrir aulas e instituiu a Biblioteca Pública do Porto.

Estas reformas de Mouzinho da Silveira visavam salvaguardar a institucionalização jurídica da


liberdade individual, ultrapassar os prejuízos económicos decorrentes da independência do
Brasil, através do liberalismo económico, e colocar Portugal no pelotão da frente dos países
europeus.

Ferreira Borges desempenhou, igualmente, um papel importante na liquidação do Antigo


Regime em Portugal, ao elaborar o Código Comercial de 1833, onde se aplicava o princípio
fundamental do liberalismo económico: o livre-câmbio, ou seja, a livre circulação de produtos
(por oposição ao protecionismo), através da abolição de monopólios e de privilégios, bem como
da eliminação do pagamento de portagens e de sisas.

Joaquim António de Aguiar, ministro da Justiça, mereceu o epíteto de "mata-frades" pela sua
intervenção legislativa (1834-1835) contra os privilégios do clero, em particular do clero regular,
identificado com o projeto miguelista:

• . aboliu o clero regular através do Decreto de Extinção das Ordens Religiosas,


que acabava com "todos os conventos, mosteiros, colégios, hospícios e
quaisquer casas de religiosos de todas as Ordens Regulares" masculinas; as
ordens religiosas femininas eram, indiretamente, aniquiladas por meio da
extinção dos noviciados (preparação para o ingresso numa ordem religiosa);
• os bens das ordens religiosas foram confiscados e nacionalizados;
• em 1834-1835, esses bens, juntamente com bens da Coroa, das rainhas e do
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infantado, foram vendidos em hasta pública - beneficiando a alta burguesia -e o


produto da venda foi utilizado pelo ministro da Fazenda (Silva Carvalho) para
pagar dívidas do Estado.

4.3.2. O setembrismo (1836-1842)

Caraterizar o Setembrismo.

O reinado de D. Maria I| (1826-1853) correspondeu a um período conturbado da história


política portuguesa de Oitocentos. Começou a reinar, efetivamente, em 1834, sob a vigência da
Carta Constitucional redigida pelo seu pai, D. Pedro. Porém, em setembro de 1836, uma
revolução de carácter civil obrigou a rainha a revogar a Carta e a jurar a Constituição de
1822, bem como a formar novas Cortes Constituintes.

O setembrismo foi um projeto político da pequena e média burguesia, com o apoio das
camadas populares (contra o predomínio da alta burguesia, que havia sido favorecida pelo
cartismo). Os mentores do setembrismo, que integravam o novo Governo, eram Sá da
Bandeira e Passos Manuel.

A política setembrista, apoiada na nova Constituição de 1838, que conciliava a Constituição de


1822 com as Carta Constitucional de 1826, caracterizou-se, essencialmente, pelas seguintes
medidas:

POLÍTICA

✓ o rei (neste caso, a rainha) perdeu o poder moderador (embora mantivesse o direito de veto
definitivo sobre as leis saídas das Cortes; logo, o poder real condicionava o poder legislativo):
✓ a soberania da Nação foi reforçada;
✓ consagração do regime censitário.

ECONOMIA


✓ adotou se o protecionismo económico, sobrecarregando com impostos as importações, de
modo a tornar mais competitivos os produtos industriais nacionais (sem grande sucesso)
✓ investiram se capitais em África, como alternativa à perda do mercado brasileiro;
✓ as taxas fiscais aplicadas aos pequenos agricultores não foram abolidas, o que contribuiu para
o fracasso económico do Setembrismo.

ENSINO E SOCIEDADE
HISTÓRIA A - 11.º Ano
Módulo 5 – O Liberalismo – ideologia e revolução, modelos e prática nos
séculos XVIII e XIX.

U4 – A Implantação do Liberalismo em Portugal

✓ reformou-se o ensino primário, secundário e superior, com destaque para a criação dos liceus,
por Passos Manuel, onde os filhos da burguesia se preparavam para o ensino superior, que
lhes permitiria exercer cargos de relevo.

Mas a política económica setembrista ficou marcada por um certo fracasso. Por um lado, no
domínio fiscal, não se atreveu a abolir taxas gravosas para os pequenos agricultores nem
tributou com mais impostos os grandes proprietários. Por outro lado, no plano industrial, os
resultados ficaram aquém do pretendido. Este insucesso económico ficou a dever-se em
grande parte à crónica falta de capitais, desviados para fins usurários e especulativos. Todavia,
no cômputo geral, a legislação setembrista permitiu alguma iniciativa à burguesia.

4.3.3. O cabralismo (1842-1851)

Mostrar que o Cabralismo se identificava com o projeto Cartista da alta burguesia.

Com o tempo, o Governo setembrista enfrentou uma crescente oposição, tanto de cartistas
como das fações mais radicais do Liberalismo. A crescente instabilidade exigiu a adoção de
uma política mais autoritária.
Em fevereiro de 1842, o ministro da Justiça e homem forte do regime, Costa Cabral, através de
um golpe de Estado (com o aval da rainha põe fim ao regime e à Constituição de 1838. A nova
realidade política, caracterizada por um exercício autoritário do poder, pela restauração da
vigência da Carta Constitucional e pelo regresso ao poder da alta burguesia, tudo sob a
Bandeira da ordem, da disciplina e do progresso económico, dá-se o nome de cabralismo.

O paÍs enveredou, novamente, pela via mais conservadora: enquanto o setembrismo se


inspirava na Constituição de 1822 o cabralismo repôs em vigor a Carta Constitucional de 1826,
identificando-se, assim, como período do cartismo (1834-1836). E, tal como aconteceu com o
cartismo, as medidas tomadas durante o período do cabralismo favoreceram, em primeiro
lugar, a alta burguesia. Destacam-se, nomeadamente:

✓ o fomento industrial (fundação da Companhia Nacional dos Tabacos, difusão da energia


a vapor);
✓ o desenvolvimento de obras públicas (criação da Companhia das Obras Públicas de
Portugal para a construção e reparação de estradas;
✓ construção da ponte pénsil sobre o rio Douro);
✓ a reforma fiscal e administrativa (publicação do Código Administrativo de 1842, criação
do Tribunal de Contas para fiscalização das receitas e despesas do Estado).

No entanto, as Leis da Saúde Pública, em especial a proibição do enterramento dentro das


igrejas, a par do descontentamento com o acréscimo de burocracia e com o autoritarismo de
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Costa Cabral, despoletaram duas movimentações de cariz popular- a revolta da Maria da


Fonte e a 'Patuleia"- que se transformaram em guerra civil (1846-1847) e acabaram por
conduzir à queda de Costa Cabral, em 1847. Este regressaria ao poder em 1849, sendo
afastado definitivamente em 1851, pelo golpe militar do marechal duque de Saldanha, que
institui a Regeneração e, com ela, o liberalismo cartista e moderado.

Depois de urna primeira metade de século extremamente agitada, nos últimos 50 anos de
Oitocentos, Portugal iria gozar a paz e o progresso material do período da Regeneração.

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