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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E TECNOLOGIAS


CAMPUS XVIII – EUNÁPOLIS

HILDERLANE ARAUJO

SILNOVEI ALMEIDA

AS INFLUÊNCIAS HISTÓRICAS SOBRE O PORTUGUÊS BRASILEIRO NO FINAL DO


SÉCULO XVIII E FINAL DO SÉCULO XIX

EUNÁPOLIS, SETEMBRO DE 2011


HILDERLANE ARAUJO

SILNOVEI ALMEIDA

AS INFLUÊNCIAS HISTÓRICAS SOBRE O PORTUGUÊS BRASILEIRO NO FINAL DO


SÉCULO XVIII E FINAL DO SÉCULO XIX

Trabalho apresentado à Disciplina Constituição do Português Brasileiro


do curso de Letras Vernáculas do VII Semestre, pelos acadêmicos
Hilderlane Araujo e Silvonei Almeida, sob a orientação da Profª Lícia
Sobral.

EUNÁPOLIS, SETEMBRO DE 2011


INTRODUÇÃO

Apresenta-se nesse trabalho, uma perspectiva sócio histórica e também


linguística, que aborda a questão da identidade linguística brasileira. Para
tal, abordamos de início os acontecimentos históricos do final do século
XVII até a Abolição da Escravatura em 1888, a fim de estabelecer estudos
sobre esse período e identificar as mudanças linguísticas ocorridas.

Ao fazer a história das línguas, como ao fazer qualquer história, estamos


abordando processos aos quais já não temos acesso direto. Essa
impossibilidade dos métodos de “observação imediata” deixa a seguinte
alternativa: o recurso à documentação,

Nosso fio condutor será uma simples abordagem histórica do Brasil, para
assim chegar aos preceitos que nos informam quais as mudanças
ocorridas na língua a partir do período aqui delimitado. As influências da
chegada e a saída da corte portuguesa ao Brasil e a chegada dos
imigrantes italianos e consequentemente a adaptação à língua italiana.
HISTÓRIA DO BRASIL – Final do século XVIII ao final do século XIX

A Economia nos Fins do Século XVIII

O “Renascimento Agrícola” – A partir da decadência da mineração na segunda metade do


século XVIII, a agricultura exportadora voltou a ocupar posição de destaque na economia
colonial. Esse fenômeno foi chamado, pelo historiador Caio Prado Jr., de “renascimento da
agricultura”. Mas não foi apenas o esgotamento das jazidas que explica esse renascimento.
Outros fatores devem ser destacados. O esgotamento do ouro ocorre no contexto da crise
do Antigo Regime, motivada pelas profundas transformações na Europa. O renascimento
agrícola esteve ligado, de um lado, ao incremento demográfico do século XVIII e, de outro,
à grande alteração da ordem econômica inglesa em meados do século, com a Revolução
Industrial.

A produção açucareira retomou, por seu turno, um ritmo acelerado de expansão, também
na segunda metade do século XVIII, em virtude da Revolução Francesa (1789 - 1799), que
estimulou as rebeliões coloniais antilhanas de dominação francesa, desorganizando a
produção açucareira e favorecendo a exportação brasileira. Importantes centros de
produção açucareira como o Haiti (colônia francesa) conheceram uma agitação sem
precedentes. Em razão disso, os engenhos do Brasil foram reativados, beneficiando-se da
nova conjuntura. Por fim, a neutralidade portuguesa diante dos conflitos europeus,
desencadeados com a Revolução Francesa, criou condições para o incremento de seu
comércio colonial.

O Período Joanino

A chegada da família real portuguesa no Brasil marcou intensamente os destinos do Brasil


e da Europa. Pela primeira vez na história, um rei europeu transferia a capital de seu
governo para o continente americano. Escoltados por embarcações britânicas, cerca de 10
mil pessoas fizeram a viagem que atravessou o oceano Atlântico. Sofrendo diversos
inconvenientes durante a viagem, os súditos da Coroa Portuguesa enfrentaram uma forte
tempestade que separou o comboio de embarcações. Parte dos viajantes aportou
primeiramente na Bahia e o restante na cidade do Rio de Janeiro.

Responsabilizados por escoltar a Família Real e defender as terras portuguesas da invasão


napoleônica, os ingleses esperavam vantagens econômicas em troca do apoio oferecido.
Já na Bahia, D. João, orientado pelo economista Luz José da Silva Lisboa, instituiu na
Carta Régia de 1808 a abertura dos portos a “todas as nações amigas”. A medida
encerrava o antigo pacto colonial que conduziu a dinâmica econômica do país até aquele
momento. Além de liberar o comércio, essas medidas trouxeram outras importantes
conseqüências de ordem econômica. O contrabando sofreu uma significativa diminuição e
os recursos arrecadados pela Coroa também aumentaram. Ao mesmo tempo, os produtos
ingleses tomaram conta do país, impedindo o desenvolvimento de manufaturas no Brasil,
as cidades portuárias tiveram notório desenvolvimento. Dois anos mais tarde, o decreto de
1808 transformou-se em um tratado permanente.

No ano de 1810, os Tratados de Aliança e Amizade e de Comércio e Navegação, fixaram


os interesses britânicos no mercado brasileiro. Foram estabelecidas taxas alfandegárias
preferenciais aos produtos ingleses. Os produtos ingleses pagavam taxas de 15%, os
portugueses de 16% e as demais nações estrangeiras pagariam uma alíquota de 24%.
Além desses valores, o tratado firmava um compromisso em que o tráfico negreiro seria
posteriormente extinguido. Além de trazer transformações no jogo econômico, o governo
de Dom João VI empreendeu outras mudanças. Adotada como capital do império, a cidade
do Rio de Janeiro sofreu diversas modificações. Missões estrangeiras vieram ao país
avaliar as riquezas da região, a Biblioteca Real foi construída, o primeiro jornal do país foi
criado. Além disso, novos prédios públicos foram estabelecidos. A Casa da Moeda, Banco
do Brasil, a Academia Real Militar e o Jardim Botânico foram algumas das obras públicas
do período joanino.

Em 1815, a administração joanina elevou o Brasil à condição de Reino Unido. Essa nova
nomeação extinguiu politicamente a condição colonial do país. Inconformados, os lusitanos
que permaneceram em Portugal se mostravam insatisfeitos com o fato do Brasil tornar-se a
sede administrativa do governo português. Foi quando, em 1820, um movimento
revolucionário lutou pelo fim da condição política secundária de Portugal. A chamada
Revolução do Porto criou um governo provisório e exigiu o retorno de Dom João VI a
Portugal. Temendo a perda do seu poder, Dom João VI foi pra Portugal e deixou o seu
filho, Dom Pedro I, como príncipe regente do Brasil. Os revolucionários, mesmo inspirados
por princípios liberais, exigiram a volta do pacto colonial. No Brasil, as repercussões desses
acontecimentos impulsionaram a formação de um movimento que possibilitou a
independência do Brasil.

A Expansão Napoleônica, o Bloqueio Continental e a Fuga da Família Real para o


Brasil

Napoleão e o Império –  Napoleão chegou ao poder através do golpe de 18 Brumário, em


1799, que pôs fim à Revolução Francesa ao dissolver o Diretório. A partir disso, foi
concentrando o poder em suas mãos até que, em 1804, proclamou-se imperador da
França.

O Bloqueio Continental – Com a Revolução Francesa havia se iniciado uma longa luta
entre a França revolucionária e os países absolutistas que se sentiam ameaçados pelo seu
exemplo. Com a ascensão de Napoleão, essa luta ganhou um novo impulso. Em 1805,
Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia uniram-se pela terceira vez contra a França, coligação
que Napoleão desfez com relativa facilidade, mas não conseguiu vencer a Inglaterra. Esta,
graças à sua posição insular e sua poderosa marinha, manteve-se intocável. Para fazer
face ao poderio britânico, Napoleão decretou o Bloqueio Continental em 1806, fechando o
continente europeu à Inglaterra. Ele procurou, assim, criar toda sorte de dificuldades
econômicas, a fim de desorganizar a economia inglesa.

Portugal e o bloqueio – A economia portuguesa havia muito se encontrava subordinada à


inglesa. Daí a relutância de Portugal em aderir incondicionalmente ao bloqueio. Napoleão
resolveu o impasse ordenando a invasão do pequeno reino ibérico. Sem chances de resistir
ao ataque, a família real transferiu-se para o Brasil em 1808, sob proteção inglesa.
Começou então, no Brasil, o processo que iria desembocar, finalmente, na sua
emancipação política.

A Transferência da Corte para o Brasil

O duplo aspecto das guerras napoleônicas – As guerras napoleônicas (1805-1815)


apresentaram dois aspectos importantes: de um lado, a luta contra as nações absolutistas
do continente europeu e, de outro, contra a Inglaterra, por força das disputas econômicas
entre essas duas nações burguesas. Em 1806, apesar de o domínio continental estar
aparentemente assegurado, a Inglaterra resistiu a Napoleão, favorecida pela sua posição
insular e sua supremacia naval, sobretudo depois da batalha de Trafalgar (1805), em que a
França foi privada de sua marinha de guerra.

Para a Corte de Lisboa colocou-se a seguinte situação: permanecer em Portugal e


sucumbir ao domínio napoleônico ou retirar-se para o Brasil. Esta última foi a solução
defendida pela Inglaterra.

A fuga da Corte para o Brasil – Indeciso, o príncipe regente D. João' adiou o quanto pôde
a solução, pois qualquer alternativa era danosa à monarquia.

Afinal, a iminente invasão francesa tornou inadiável o desfecho. A fuga da Corte para o Rio
de janeiro, decidida na última hora, trouxe, não obstante, duas importantes conseqüências
para o Brasil: a ruptura colonial e o seu ingresso na esfera de domínio da Inglaterra.
Chegando ao Brasil, D. João estabeleceu a Corte no Rio de janeiro e em 1808 decretou a
abertura dos portos às nações amigas, pondo fim, na prática, ao exclusivo metropolitano
que até então restringia drasticamente o comércio do Brasil.

A Penetração Britânica no Brasil

Em síntese:  A extrema brutalidade dos tratados impostos pela Inglaterra não foi obra do
acaso. Ela se explica pela pesada pressão econômica que o bloqueio napoleônico exerceu
sobre a Inglaterra. De fato, as guerras napoleônicas, e suas conseqüências para a
economia inglesa, tornaram premente a necessidade de abrir novos mercados, sob pena
de a Inglaterra sucumbir às pressões da conjuntura. A quebra do pacto colonial era vital,
pois as mercadorias estavam se acumulando e precisavam ser escoadas de algum modo,
o que tornava a exclusão inglesa do mercado americano algo impensável. Ora, a relativa
facilidade com que a Inglaterra impôs seus interesses ao Brasil permitiu a maciça
exportação de seus produtos, inundando o nosso mercado. Mais do que isso, a presença
inglesa trouxe modificações radicais na posição do Brasil dentro do mercado internacional:
saímos da órbita do colonialismo mercantilista português para ingressar na dependência do
capitalismo industrial inglês.

Antecedentes

Portugal – uma das nações mais atrasadas da Europa em inícios do século XIX –
encontrava-se freqüentemente diante da possibilidade concreta, estimulada e aconselhada
por muitos a ter a sede de seu governo transferida para o Brasil, colônia da qual se tornara
totalmente dependente. A cada crise no Continente Europeu a idéia se renova, mas
somente a partir dos ecos da Revolução Francesa, mais particularmente em seu período
Napoleônico, a idéia ganhou força e premência. Com maior vigor a partir de 1801 a idéia
freqüentemente era cogitada. No entanto o Príncipe Regente D. João era fraco demais –
inclusive fisicamente – medroso demais e indeciso demais para adotar medida de tão
graves monta e repercussão.

Decisão às pressas

Somente quando pressionado pelo avanço das tropas napoleônicas do General Junot, em
fins de 1807 e pressionado pela Inglaterra, a decisão foi tomada de maneira tão apressada
e atabalhoada que muitos bens dos fugitivos para o Brasil ficaram empilhados no cais:
bagagem, livros da Real Biblioteca, prataria saqueada de igrejas, etc. Além disso, as
embarcações vieram todas apinhadas de gente, sem os cuidados técnicos necessários a
uma tão longa travessia (levaria cerca de 3 meses para atravessar o Atlântico nas rústicas
naus da época): pelo menos dois navios sequer conseguiram zarpar e o suprimento dos
que zarparam no dia 29 de novembro de 1807 mal eram suficientes para 2 ou 3 semanas.
Foi sem dúvida uma fuga apressada e decidida às pressas e, sem a escolta britânica a
prover quase tudo o que faltava, a viagem estaria fadada a uma tragédia.

Napoleão Bonaparte - imbatível durante 2 décadas - Gênio Militar e uma Força da


Natureza

Travessia conturbada e escala em Salvador:

A escala em Salvador proporcionou momentos de repouso após viagem tão longa e


penosa e, aconselhado pelos seus ministros, D. João decidiu receber autoridades do Norte-
Nordeste Brasileiro para as esquisitas cerimônias de “beijão-mão”: filas de fidalgos
esperando a vez para oscular as extremidades dos braços do Príncipe Regente – uma
constante na vida de D. João, que exigia estas demonstrações de fidelidade e submissão
com regularidade enquanto governou. Era preciso fortalecer os vínculos entre as províncias
do Brasil colônia que, aos poucos, viria a se transformar numa nação, sede do governo
português no exílio.

A chegada ao Rio de Janeiro

 No dia 7 de março de 1808 a esquadra de D. João chega à Baía de Guanabara, mas o
desembarque ocorre somente no dia seguinte. Os puxa-sacos que sempre cercam esse
tipo de acontecimento no Brasil prepararam uma recepção retumbante, com muitos tiros de
canhão, fogos de artifício e festas populares para saudar “a chegada do primeiro monarca
Europeu a terras americanas”. Casas foram requisitadas pela coroa portuguesa que nelas
colava cartazes com as iniciais P.R. (casa requisitada pelo Príncipe Regente) que a
irreverência carioca rapidamente entendeu como “Ponha-se na Rua!” Os impostos foram
aumentados a níveis até então inusitados; nada comparável aos 40% que os brasileiros
pagam hoje para os mensaleiros e sanguessugas e portadores de cartões corporativos de
Lula da Silva, mas uma taxação severa para a época e, tal qual hoje, todos desconfiavam
que os impostos não seriam empregados para o bem público e sim para o benefício
privado dos dependentes do governo.

Revoluções em Portugal e tentativas de recolonizar o Brasil

Reações à Política de D. João

Nova onda revolucionária – Com a abertura dos portos (1808) o Brasil conquistou a almeja-
da liberdade econômica e, com a sua elevação à categoria de Reino Unido, deixava de ser,
formalmente, uma colônia. Mas o que isso, de fato, representou para o Brasil?

Para o homem comum - sem falar nos escravos - praticamente nada. Quanto aos grandes
proprietários escravistas, embora beneficiados pela abertura dos portos, continuavam tão
afastados das decisões políticas quanto antes. Mesmo no caso da abertura dos portos,
devemos considerar que esses mesmos grandes proprietários continuavam dependentes
dos comerciantes portugueses como sempre haviam sido. É necessário considerar ainda
outro ponto: para as demais províncias do Brasil não havia muita diferença em serem
governadas de Lisboa ou do Rio de janeiro. Para elas, a vinda da família real não tinha
alterado em nada a sua situação.
Esses são alguns dos fatores que desencadearam em 1817, no nordeste, uma revolução
de caráter anticolonial e separatista. Três anos depois, em 1820, outra revolução eclodiu
em Portugal, por razões inversas.

Embora as medidas de D. João no Brasil fossem consideradas insuficientes para os


brasileiros, em Portugal elas foram, ao contrário, consideradas excessivas, pois os
comerciantes haviam perdido a vantagem do monopólio mercantil. Apesar de motivadas
por razões opostas, as duas revoluções inspiravam-se no liberalismo: a do nordeste
definiu-se predominantemente como anticolonialista e a de Portugal, como antiabsolutista
e, ao mesmo tempo, recolonizadora.

A Revolução de 1817

A persistência dos privilégios – As contradições da política joanina foram sentidas com


particular intensidade no nordeste, onde os interesses colonialistas estavam mais
fortemente enraizados. Os comerciantes portugueses, instalados nos principais portos
nordestinos, continuavam tão monopolistas quanto antes, de modo que os lucros
produzidos nas áreas rurais continuaram a se transferir para os comerciantes. Esse quadro
se agravou por volta de 1817, com uma crise econômica que teve a sua origem na queda
do preço internacional do açúcar e do algodão - principais produtos de exportação do
nordeste.

A Revolução Liberal do Porto (1820)

Repercussão da revolução no Brasil – A notícia da revolução do Porto chegou ao Rio de


Janeiro em outubro de 1820. No mês seguinte, D. João tomou conhecimento da adesão de
Lisboa. A revolta era mais grave do que se supunha. O rei e seus ministros discutiram o
que fazer. D. João oscilava entre dois dos seus principais conselheiros, Tomás Antônio de
Vila Nova Portugal e o conde de Palmela. O primeiro opunha-se irredutivelmente às Cortes
e defendia a partida do príncipe D. Pedro para Portugal, a fim de acalmar os ânimos
revolucionários. O segundo era simpático à revolução e defendia o retorno do próprio rei.

A notícia dos acontecimentos na Bahia chegou ao Rio. D. João sentiu que ia perder o
controle da situação e resolveu agir: através de um decreto, datado de fevereiro de 1821,
decidiu enviar o príncipe real D. Pedro a Portugal, "para ouvir", dizia o decreto, "as
representações e queixas dos povos e para estabelecer as reformas, melhoramentos e leis
que possam consolidar a Constituição portuguesa" . O mesmo decreto criou,
simultaneamente, uma comissão de vinte membros, quase todos brasileiros, para exprimir
os interesses específicos do Brasil. O decreto descontentou os colonialistas portugueses,
que desejavam o retorno do próprio rei e recusavam a autonomia concedida por D. João ao
Brasil. A guarnição militar do Rio, fiel às Cortes, opôs-se ao decreto. A oposição ao rei
cresceu do lado "português", sob a iniciativa de um padre, Marcelino José Alves
Macamboa, que liderou uma manifestação pública de apoio às Cortes. Na manhã de 26 de
fevereiro de 1821, na praça do Rossio (hoje Tiradentes), civis e militares reuniramse sob o
comando do brigadeiro Francisco Joaquim Carreti, para exigir do rei o juramento à
Constituição. D. Pedro compareceu à manifestação e tentou acomodar a situação, porém
Macamboa fez conhecer ao rei, através do príncipe real, a exigência do juramento à
Constituição e da reforma do ministério, entregando-lhe uma lista de nomes. D. João, a
conselho de Tomás Antônio, atendeu às exigências de Macamboa.
Independência? Ou Morte? - Uma imagem 66 anos depois

A Independência foi fermentada num longo processo. Napoleão Bonaparte liderava a


Revolução Burguesa na Europa, num tempo em que Portugal era refém econômico da
grande potência da época, a Inglaterra. Com o avanço inexorável de tropas napoleônicas a
Portugal, a Inglaterra enviou tropas e navios, tanto para combater Napoleão quanto para
escoltar a Família Real para o Brasil em 1808. Muitos historiadores enfatizam o momento
da transferência da Família real para o Brasil como o marco do início de todo o processo de
Independência em relação a Portugal. Alguns preferem a expressão “emancipação
política”, dada a dependência crônica em relação ao grande capital estrangeiro. Naquela
época, Inglaterra. Hoje, EUA.

No Brasil D. João VI começa a esboçar o arcabouço de uma Nação Soberana, com um


Banco próprio, o Banco do Brasil, fundado no momento de sua chegada, 1808, a
assinatura de Tratados de Comércio com as Nações Amigas, etc. No Congresso de Viena,
em 1815, ocorre a Elevação do Brasil a Reino Unido a Portugal e Algarves, com o rei D.
João VI residindo aqui. O Brasil, formalmente, não era mais uma Colônia, mas um Reino
Unido. Em torno deste tema gira todo o processo de Independência em relação a Portugal.
As cortes, comandadas pela burguesia portuguesa, eram compostas por homens levados
ao poder no processo conhecido como Revolução do Porto: afirmavam a autonomia política
de Portugal em relação à Inglaterra mas desejavam avidamente levar novamente o Brasil
ao estatuto de Colônia.

A Abdicação de D. Pedro I (1831)

Intervenção do imperador na crise de sucessão em Portugal – D. João VI morreu em 1826.


Portanto, no ano seguinte ao início da Guerra Cisplatina. Com isso, o temor da re -
colonização voltou, apesar de D. Pedro ter renunciado ao trono português em favor de sua
filha Maria da Glória. Em 1828, no momento em que a Guerra Cisplatina terminava, D.
Miguel, irmão de D. Pedro, assumiu o trono com um golpe. A possibilidade de D. Pedro
enviar tropas brasileiras para derrubar o usurpador trouxe novas inquietações, pois essa
intervenção poderia restaurar a união das duas monarquias.

O 7 de Abril – A crescente impopularidade de D. Pedro manifestou-se no recrudescimento


da oposição. Para dar apoio ao imperador e sustentar a sua política, os membros do
"partido português" fundaram a sociedade denominada Colunas do Trono. A oposição
liberal respondeu com a criação da Jardineira ou Carpinteiro de São José - uma
organização maçônica. Com a polarização, os ânimos se exaltaram de lado a lado.

Ocorreu mais tarde uma manifestação no Rio, exigindo-se a reintegração do ministério


deposto. Apesar da insistência de setores civis e militares, D. Pedro manteve-se irredutível.
Essa atitude do imperador determinou a passagem de Francisco de Lima e Silva, chefe
militar, para a oposição. O imperador ficou completamente isolado e sem apoio. Não
contava mais sequer com as tropas para reprimir as manifestações. Já não restava
alternativa senão abdicar. E foi o que fez, em favor de seu filho D. Pedro de Alcântara,
então com apenas cinco anos de idade. No dia 7 de abril, D. Pedro 1 deixou de ser
imperador do Brasil e, em seguida, abandonou o país, mas não sem antes se reconciliar
com os Andradas, nomeando José Bonifácio como tutor do futuro D. Pedro II.

Segundo Reinado

A Aristocracia Rural se consolida no Poder (1840-1850)


Golpe da Maioridade (1840): Início do Segundo Reinado

Partidos liberal e conservador. As disputas políticas entre progressistas (Feijó) e


regressistas (Araújo Lima), durante as regências, resultaram posteriormente no Partido
Liberal e no Partido Conservador, que se alternaram no governo ao longo do Segundo
Reinado.

Enquanto o Partido Liberal se aglutinou em torno do Ato Adicional, o Partido Conservador


foi se organizando em torno da tese da necessidade de limitar o alcance liberal do Ato
Adicional, através de uma lei interpretativa. O período regencial começou liberal e terminou
conservador. E há uma explicação para esse fato: a ascensão da economia cafeeira.

Por volta de 1830, o café havia deixado de ser uma cultura experimental e marginal para se
tornar o principal produto de exportação, suplantando o açúcar. Os principais lideres
conservadores eram representantes dos interesses cafeeiros.

Com a formação desses dois partidos e a ascensão da economia cafeeira, a vida política
brasileira parecia ganhar finalmente a necessária estabilidade. Porém, as regras do jogo
foram quebradas pelos liberais, com o Golpe da Maioridade. Para compreendê-lo,
retomemos o fio da meada. A aclamação de D. Pedro II. No Brasil, as agitações políticas e
sociais tomaram conta do país logo depois da abdicação de D. Pedro I em 7 de abril de
1831. Diante das crises vividas pelo regime regencial, ficou parecendo a todos que elas
haviam sido facilitadas pelo caráter transitório do governo, que atuava apenas como
substituto do poder legítimo do imperador, constitucionalmente impedido de exercer a
autoridade devido à menoridade.

A antecipação da maioridade, entretanto, foi maquinada e posta em prática, com êxito,


pelos liberais, que, desde a renúncia de Feijó em 1837, haviam sido alijados do poder pelos
regressistas. Tratou-se, portanto de um golpe - o Golpe da Maioridade.

A Abolição do Tráfico Negreiro

A pressão britânica na abolição do tráfico. Em meados do século XIX foi extinto no Brasil o
tráfico negreiro. A iniciativa não foi por vontade e decisão do governo brasileiro, mas
resultou da eficiente pressão britânica nesse sentido. Várias razões explicam essa atitude
do governo britânico. Em primeiro lugar, a Revolução Industrial do século XVIII, na
Inglaterra, que generalizou o emprego do trabalho assalariado, pondo fim a toda forma
compulsória de exploração do trabalhador, tornou a sociedade sensível ao apelo
abolicionista.

Os acordos para a extinção do tráfico. Tendo abolido o tráfico em suas colônias em 1807 e
a escravatura em 1833, a Inglaterra passou a exigir o mesmo do Brasil, a partir dos
tratados de 1810. Pelo tratado de 23 de janeiro de 1815, assinado em Viena, estabeleceu-
se a proibição do tráfico acima da linha equatorial, o que atingiu importantes centros
fornecedores de escravos, como São Jorge da Mina. Em 18 de julho de 1817, os governos
luso-brasileiro e inglês decidiram atuar conjuntamente na repressão ao tráfico ilícito,
inspecionando navios em alto mar. Para efeitos práticos, contudo, apenas a Inglaterra
possuía recursos para isso.

Após 1822, a Inglaterra estabeleceu o fim do tráfico negreiro como uma das exigências
para o reconhecimento da emancipação do Brasil. Assim, o tratado de 3 de novembro de
1826 fixou o prazo de três anos para a sua completa extinção. O tráfico passou a ser
considerado, a partir de então, ato de pirataria, sujeito às punições previstas no tratado.
Finalmente, a 7 de novembro de 1831 - com atraso de dois anos em relação ao estipulado
pelo tratado de 1826 -, uma lei formalizou esse compromisso.

A lei Eusébio de Queirós (1850). Em março de 1850, o todo-poderoso primeiro-ministro


Gladstone obrigou o Brasil ao cumprimento dos tratados, ameaçando-o com uma guerra de
extermínio. O governo brasileiro finalmente se curvou ante as exigências britânicas e em 4
de setembro de 1850 promulgou a lei de extinção do tráfico pelo ministro Eusébio de
Queirós. A tabela abaixo mostra os efeitos imediatos da medida.

Rebelião Praieira (1848 – 1850)

A concentração fundiária em Pernambuco era tal, que um terço dos engenhos era
propriedade de uma única família: a dos Cavalcanti. Desse modo, a totalidade dos
pernambucanos dependia direta ou indiretamente de um punhado de famílias que conduzia
a sociedade tendo em vista exclusivamente os seus interesses. Dada a importância de
Pernambuco desde a época colonial, ali se concentrava um numeroso grupo de
comerciantes, na maioria portugueses, que monopolizavam as trocas mercantis.

Surge o Partido da Praia. Como em outras partes do Brasil, em Pernambuco existiam dois
partidos: o Liberal e o Conservador. Os Cavalcanti dominavam o Partido Liberal e os Rego
Barros, o Conservador. Apesar de pertencerem a partidos diferentes, essas duas famílias
costumavam fazer acordos políticos com muita facilidade. Porém, em 1842, membros do
Partido Liberal se rebelaram e fundaram o Partido Nacional de Pernambuco - que seria
conhecido como Partido da Praia. Esses inconformados pertenciam a famílias que haviam
feito fortuna em época recente, ao longo da primeira metade do século XIX, e tinham como
eleitores senhores de engenho, lavradores, comerciantes e bacharéis. Eles deixaram claro
o motivo de sua atitude: acusavam o presidente da província Rego Barros de distribuir os
melhores cargos administrativos somente entre os membros do Partido Conservador e a
cúpula do Partido Liberal, isto é, os Cavalcanti e seus aliados mais próximos. E, segundo
os praieiros, faziam o mesmo com os contratos de obras públicas, inúteis e dispendiosas.

Em suma, o Partido da Praia se formou como protesto pela exclusão dos benefícios do
poder.

O Apogeu do Império e o Rei Café (1850 – 1870)

Café: base econômica do Segundo Reinado. A superação da crise regencial, a


reorientação centralista e conservadora e a conseqüente estabilidade do Império a partir de
1850 encontram-se intimamente relacionadas à economia cafeeira. A estrutura econômica
e social do Brasil não havia sido alterada com a emancipação política e continuava, em
essência, tão colonial e escravista quanto fora durante o período colonial. Estruturada para
a monocultura, a economia colonial e escravista no Brasil prosperou quando produziu uma
mercadoria de grande aceitação no mercado europeu e, também, quando não era
ameaçada pela concorrência. Assim aconteceu com o açúcar no passado e agora com o
café, em meados do século XIX.

A Questão Escravista

O panorama em 1870, em síntese, era o seguinte: 62% dos escravos do Brasil estavam
concentrados em São Paulo, Minas, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul. Dos 1 540 000
escravos, 955 109 encontravam-se nessas províncias. No norte e nordeste, em razão de
sua decadência econômica, o peso da escravidão havia diminuído. Portanto, os escravistas
estavam concentrados no sudeste e no sul do país, onde, por sua vez, situava-se o pólo
dinâmico da nossa economia. Contudo, uma economia forte, mas desmoralizada pela
escravidão não podia se apresentar como esperança e promessa para um país.

 A lei do Ventre Livre (1871). Foi nesse ambiente que o ministério chefiado pelo visconde
do Rio Branco apresentou o projeto da lei do Ventre Livre em maio de 1871 para a Câmara
dos Deputados. Depois de modificada e adaptada aos interesses escravistas, a lei que
declarava livres os filhos de escravos foi finalmente aprovada em 1871, por 65 votos a
favor e 45 contra. A maioria dos deputados de Minas, São Paulo e Rio de Janeiro votou
contra, acompanhados pelos deputados do Espírito Santo e do Rio Grande do Sul. Os
representantes das províncias do norte e nordeste votaram maciçamente a favor. Assim,
fora do Parlamento o desespero tomou conta dos escravistas, pois os escravos
abandonavam as fazendas sob estímulo e proteção de organizações abolicionistas. Para
impedir as fugas, os escravistas chegaram a convocar o próprio exército, que, entretanto,
se recusou, sob a alegação de que "o exército não é capitão-do-mato" e por julgar a missão
indigna dos altos propósitos para que fora instituído.

A lei Áurea (1888). Finalmente, a 13 de maio de 1888, a princesa Isabel, que na ausência
de D. Pedro II assumira a regência, promulgou a lei Áurea, declarando extinta a escravidão
no Brasil.

INFLUÊNCIAS DA HISTÓRIA NA LINGUA

Para melhor entendimento sobre as influências dos acontecimentos históricos sobre a


língua portuguesa no Brasil, faz-se necessário um apanhado geral sobre os fatos ocorridos
em determinado espaço de tempo: final do século XVIII e século XIX.

Breve história do português no Brasil a partir do século XVIII

A Lei do Diretório, de 3 de maio de 1757, que tinha como um dos principais objetivos
vulgarizar a língua portuguesa, também ordenava que fosse totalmente extinta a “odiosa e
abominável” distinção entre brancos e índios, e facilitados e promovidos os matrimônios
entre brancos e índios. Já em 4 de abril de 1755, um Alvará de Lei incentivara a
mestiçagem indígena.

Quando, em 12 de maio de 1798, foi abolido o Diretório, já a língua portuguesa não era
mais imposta, tinha-se expandido e sido adotada nas regiões mais tipicamente tupi. Foi,
sem dúvida, a política pombalina, proibindo o uso da língua geral, o grande fator integrador
da colônia brasileira, muito embora a conquista da nossa unidade linguística tenha sido
muito mais resultado de um esforço pessoal do que oficial.

No Rio de Janeiro, essa lei e, consequentemente, a imposição do uso da língua


portuguesa, chegam em 1758.

Os estudos não permitem, ainda, determinar com precisão qual teria sido a dimensão da
influência da presença da Corte Portuguesa para a configuração do falar carioca.
Acreditamos, contudo, que o contato interlinguístico entre os portugueses e os habitantes
locais tenha gerado uma influência mútua e que as diferenças geográficas e sócio-
econômicas da região, bem como a formação heterogênea de sua população tenham
contribuído para que, em dois congressos nacionais, o de Língua Cantada (1937) e o de
Língua Falada no Teatro (1956), a do Rio de Janeiro fosse consagrada a pronúncia padrão
do Brasil.
Diferenciada pela ação de condições geográficas e sociais, as línguas aqui faladas no
período colonial (língua geral dos índios, criada pelos jesuítas, e língua geral dos negros,
criada por eles mesmos), que viriam a constituir o chamado “português brasileiro”,
apresentaram, a par dessa diferenciação, certa unidade linguística, o que se coaduna com
a célebre máxima “unidade na diversidade e diversidade na unidade”.

No fim do século XVII, os bandeirantes iniciam a exploração do interior do continente, e


descobrem ouro e diamantes. Devido a isso, o número de imigrantes portugueses no Brasil
e o número de falantes da Língua Portuguesa no Brasil passam a aumentar, superando os
falantes da língua geral (derivada do tupinambá). Em 17 de agosto de 1758, o Marquês de
Pombal instituiu o português como a língua oficial do Brasil, ficando proibido o uso da
língua geral. Nesta altura, devido à evolução natural da língua, o português falado no Brasil
já tinha características próprias que o diferenciavam do falado em Portugal.

No século XVII, devido à intensificação do cultivo de cana-de-açúcar, existe um grande


fluxo de escravos vindos da África, que se espalharam por todas as regiões ocupadas
pelos portugueses e que trazem uma influência lexical africana para o português falado no
Brasil. Para se ter uma ideia, no século XVI foram trazidos para o Brasil 100 mil negros.
Este número salta para 600 mil no século XVII e 1 milhão e 300 mil no século XVIII. A
influência lexical africana veio principalmente da língua iorubá, falado pelos negros vindos
da Nigéria, e do quimbundo angolano.

Com a transferência da corte portuguesa para o Brasil em 1808, como consequência das
invasões francesas, ocorre uma relusitanização no falar da cidade do Rio de Janeiro, que
passou a ser a capital do país. Acompanhando a família real, chegam ao Rio de Janeiro
cerca de 15 mil portugueses. Com essa relusitanização expande-se e influencia outras
partes do Brasil.

A IMIGRAÇÃO ITALIANA PARA O BRASIL


As primeiras grandes levas de imigrantes italianos para o Brasil ocorreram para que a
produção nacional de café não fosse prejudicada com a proibição do tráfico de escravos
africanos e com a abolição da escravatura. O governo iniciou as tentativas de trazer
europeus para o Brasil, mas foi incapaz de atingir este objetivo até agir em conjunto com os
grandes produtores de café.
A abolição do tráfico de homens e mulheres africanos foi estabelecida pelo Tratado de
Paris, em 30 de maio de 1814, mas não foi cumprida de imediato; o contrabando persistiu
por anos e só foi encerrado de fato em 1850, com a Lei Euzébio de Queirós. A Inglaterra,
grande potência marítima e econômica, tinha grande interesse em que, no Brasil, houvesse
a substituição de escravos por trabalhadores assalariados. Isso significava ampliar o
mercado consumidor para os produtos ingleses, já que o Brasil era seu parceiro econômico
e um grande importador. Contudo, na mesma época em que realmente se proibia o tráfico
de escravos africanos e começavam as campanhas abolicionistas, o cultivo do café
alastrava-se pela região do Vale do Paraíba, e um colapso no fornecimento de mão-de-
obra parecia um problema de difícil solução.
As chamadas Sociedades de Colonização, criadas a partir de 1850, surgiram por causa da
necessidade de simplificar a burocracia governamental para a vinda de imigrantes e de
diminuir os resquícios de atitudes escravagistas tomadas pelos produtores em relação aos
imigrantes, mas sem deixar de aproveitar as vantagens de iniciativas privadas.
As companhias, ou sociedades, de colonização eram subsidiadas e regulamentadas pelo
Estado Brasileiro. Um empreendedor comprava terras do governo a um preço mais baixo e,
neste contrato de venda, eram especificadas todas as condições para a vinda de
trabalhadores estrangeiros. O transporte dos imigrantes devia ser de qualidade e gratuito
para eles, e o Estado Brasileiro pagava a esse empreendedor certa quantia por cada um
dos imigrantes. Se determinado imigrante tivesse a intenção estabelecer-se como pequeno
proprietário, a quantia que o empreendedor receberia seria maior do que o dobro da
importância recebida no caso de um trabalhador assalariado; essa distinção prova o
interesse do governo em colonizar o Brasil e não apenas suprir a necessidade de mão-de-
obra.
A LÍNGUA ITALIANA NO BRASIL
A influência e a assimilação do imigrante italiano no Brasil foram maiores do que dos outros
grupos de imigrantes que aqui chegaram durante os séculos XIX e XX. O italiano teve a
favor de tal assimilação, segundo Maurício Martins do Carmo, “(...) os fatores de língua,
região, culinária e talvez uma latinidade calcada no espontaneísmo cordial e rude, tão
próximo daquele a compor a imagem que o brasileiro aprendeu a fazer de si mesmo.”
Por esse motivo, o italiano foi o elemento imigrante que mais apareceu na produção
artística. Além de servir como inspiração para personagens, a língua italiana também foi
inclusa na narrativa. O exemplo mais extremo desse uso foram os contos e poesias de Juó
Bananére (pseudônimo de Marcondes Machado), que fez o que é conhecido como
“macarronismo”- uma mistura intencional de duas línguas para fins parodísticos. Embora o
“italianês” de Bananére seja exagerado e caricaturado, ele foi inspirado na fala diária de
imigrantes e descendentes observada pelo autor.
A GRAMÁTICA DO SÉCULO XIX
Ser autor de gramática no século XIX no Brasil é assumir a posição de um saber linguístico
que não reflete meramente o saber gramatical português. Nesse momento, o da irrupção
da República, não basta que o brasileiro saiba sua língua, é preciso que, do ponto de vista
institucional, ele saiba que sabe (E. Orlandi, 1996). A gramática, dessa perspectiva, é o
lugar em que se institui a visibilidade desse saber legítimo para a sociedade. Ao deslocar
para o território brasileiro a autoria da gramática – a gramática continua, na maior parte das
vezes, a se chamar Gramática Portugueza (cf. Júlio Ribeiro, 1881) ou Gramática da Língua
Portugueza (cf. Pacheco Silva e Lameira de Andrade, 1887) – o que os gramáticos
brasileiros estão deslocando é a autoridade de se dizer como é essa língua. Ser autor de
uma gramática é ter um lugar de responsabilidade como intelectual e ter uma posição de
autoridade em relação à singularidade do português no Brasil.

A gramatização do português brasileiro, mais do que um processo de construção de um


saber sobre a língua nacional, tem como conseqüência algo mais substancial e definidor: a
constituição de um sujeito nacional, um cidadão brasileiro com sua língua própria, visível na
gramática. São processos de individualização que são desencadeados:individualiza-se o
país, individualiza-se o seu saber, individualiza-se seu sujeito político e social.

Com a autoria dos gramáticos (e os literatos, os historiadores, os políticos brasileiro etc) o


século XIX é, entre outras coisas, um momento intelectual muito forte na direção de se
pensar a língua, suas instituições e seus sujeitos, assim como a escrita (“Escrever-se como
se fala no Brasil e não como se escreve em Portugal”, diz Macedo Soares).

O movimento de que faz parte a autoria brasileira das gramáticas é um grande movimento
de tomada em mãos da nossa história, da configuração da nossa sociedade. Ao assinar a
gramática, nossos autores nos transferem seu saber sobre a língua, o torna acessível a
nossa sociedade (não toda pois, como sabemos, as divisões sociais são uma realidade
institucional inequívoca do sistema republicano). A República é uma prática política que vai
favorecer o desenvolvimento das Instituições: Escolas (elaboração consciente de um saber
sobre a língua, sobre as coisas do Brasil, etc), projetos de ensino, Dicionários, Gramáticas,
Antologias.

Com a Independência em 1822, o Estado brasileiro se estabelece e a questão da língua se


evidencia. Um exemplo disso é o fato de que, em 1826, já se coloca a discussão, a partir
de um projeto proposto no Parlamento, portanto a nível do poder constituído, de que os
diplomas dos médicos devem ser redigidos em “linguagem brasileira”. Nos anos que se
seguem e com a vinda da Republica tanto o Estado como a questão da língua brasileira se
configura mais decididamente e o período de que acabamos de falar, o da emergência das
gramáticas no século XIX, atesta o vigor dessa época e dessa relação: língua e Estado se
conjugam em sua fundação.
CONCLUSÃO

Em suma, a pesquisa histórica e linguística, nos proporcionou de uma forma ímpar os


conhecimentos que se fazem necessários a nós graduandos do curso de Letras
Vernáculas. Através desse estudo pudemos verificar e analisar as questões históricas que
influenciaram diretamente a constituição do português brasileiro até o período em questão.

Esperamos ao longo dessa exposição ter atendido às expectativas sobre a pesquisa e


contribuído para a revisão de alguns aspectos relativos à constituição histórica do
português brasileiro que necessitam de urgente revisão nos meios acadêmicos, revisão
que não só atualize como também amplie essas discussões.
 
REFERÊNCIAS

http://www.entretextos.jor.br/page_txt.asp?smn=5&txt=84&sbmn=0

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