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PORTUGUESA
A escrita neste período caracteriza-se pela forte tendência para ortografar as
palavras tal qual eram pronunciadas: honrra; ezame; etc. Porém, a ausência de uma
normalização ortográfica conduzia a uma variação na representação dos sons da
linguagem falada. O som /i/, por exemplo, era representado ora por i ora por y; a
nasalalização realizava-se através do m ou do n o do til (bem, ben, b~e), etc.
Por outro lado, a ortografia não acompanhou a evolução que se operava no oral,
conservando-se palavras como "ler" e "ter" grafadas com vogal dupla: «leer», «teer>.
Inicia-se no século XVI e prolonga-se até 1911, ano em que é decretada a reforma
ortográfica, fundada nos preceitos da gramática de Gonçalves Viana, publicada em
1904.
Por outro lado, o pretensiosismo, aliado a uma certa ignorância, levou à prática de
exageros. Entre outros casos, deixamos como exmplo o seguinte: introduziram-se letras
que não eram pronunciadas, como esculptura; astma; character; etc.; o y passou a
figurar em muitos vocábulos, como lythografia, typoia, lyrio, etc..
Mas não se pense que os critérios ortográficos, no decorrer deste longo período,
foram aceites de forma pacífica. Aliás, cedo as reacções ganharam eco. Em 1576,
Duarte Nunes de Leão, um dos primeiros gramáticos portugueses, critica a pseudo-
etimologia. Tal reprovação surge, em 1633, por Álvaro Ferreira Vera, na sua
"Ortographia ou arte para escrever certo na lingua portuguesa". Já no século XVIII, D.
Francisco Manuel de Melo (pelo menos em uma das suas obras: "Segundas Três Musas
do Melodino) opta por uma ortografia simplificada, pondo praticamente de lado o uso
de consoantes dobradas, grafando f em vez de ph, e substituindo o dígrafo ch, com o
som de /k/ por qu (farmacia - pharmacia; Aquiles - Achiles).
No século XVIII, Luís António Verney, com "O verdadeiro método de estudar",
não só propunha uma ortografia simplificada, como, usando precisamente essa mesma
ortografia, fazia desta sua obra um exemplo a seguir.
Apesar disso, o que acontecia na quase totalidade dos escritos, sobretudo a partir da
publicação, em 1734, da "Ortografia ou arte de escrever e pronunciar com acerto a
lingua portugueza", de João Madureyra Feijó, era o recurso à grafia mais complexa.
Em relação aos acentos, o seu uso era muito restrito e o seu emprego não obedecia
às regras de hoje.
Nos inícios do século XIX, Almeida Garrett apresentava-se como defensor de uma
escrita simplificada e insurgia-se contra a ausência de uma norma regularizadora da
ortografia. E, seguindo este mesmo espírito, muitos outros, entre os quais Castilho,
ergueram a sua voz em defesa de uma reforma ortográfica.
c) Eliminação das consoantes nulas, quando não influem na pronúncia da vogal que
as precede;
Em 1943, os dois países tentam um novo entendimento, de onde resultou o Pequeno
Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, redigido pela Academia de Letras do
Brasil.
Este Vocabulário serviu de referência até aos nossos dias, e impunha como regras o
seguinte:
A. Emprego do H:
O H não tem valor fonético na língua portuguesa, como já o não tinha no Latim. Só
se emprega como inicial quando a etimologia o exige:
hoje,
haver,
hélice;
etc.
;mancha,
malha,
vinho,
etc.
__ e nos compostos unidos por hífen, nos casos em que o segundo elemento é
iniciado por H:
pré-história;
super-homem;
etc.
O digrama CH, inexistente em Latim, é o resultado da evolução fonética dos grupos
consonantais latinos PL, CL e FL:
C. Emprego do X:
b) nos sufixos -ESA e -ISA, quando referidos a títulos nobiliárquicos e a profissões:
princesa;
poetisa
etc.
a) Nos casos em que o Z resulta da evolução dos grupos TI, CI e CE latinos:
b) de uma assimilação: ipse > esse; persona > pessoa; dixi (dicsi) > disse; etc.
F. Emprego do Ç:
O Ç provém da evolução de CE, CI, TE e TI latinos seguidos de vogal: lancea >
lança; minacia > ameaça; matea > maça; pretiu > preço.
a) O G português representa geralmente o G latino: gelu > gelo; agitare > agitar;
etc.
b) o J provém:
1. da consonantização do I semiconsoante latino: iactu > jeito; iam> já; maiestate >
majestade; etc.;
2. da palatalização do S + I, ou do grupo DI + Vogal: basiu > beijo; caseu > queijo;
hodie > hoje; radiare > rajar; etc.
A obediência a estas novas regras acabava com os exageros do período pseudo-
etimológico e promovia uma certa aproximação ao período fonético.
Além disso, no que respeita à utilização dos acentos, esta reforma distanciou-se da
escrita dos primeiros tempos. Os acentos passaram a ser frequentes e, em particular,
todas as palavras esdrúxulas possuíam obrigatoriamente acento.
No essencial, as prescrições da reforma de 1911 vigoram até aos nossos dias, mas
sujeitas a algumas tentativas de de ajustamento, entre portugueses e brasileiros, com
vista a uma maior uniformização do idioma falado nos dois países, como as que tiveram
lugar em 1920, 1929 e 1931.
Em 1924, reunem-se, pela primeira vez, as duas Academias (a Brasileira de Letras e
a das Ciências de Portugal). Em 1931, as duas Academias chegaram a um acordo
preliminar, dando-se assim alguns passos na convergência ortográfica entre os dois
países. Mas os Vocabulários publicados em 1940, pela Academia das Ciências, e, em
1943, pela Academia Brasileira de Letras, continham ainda algumas divergências.
Depois, ainda em 1943, tentou-se de novo uma Convenção Ortográfica, na qual teve
origem o Acordo Ortográfico de 1945. Porém, enquanto em Portugal foi oficializado
pelo Governo, o Congresso brasileiro não procedeu à sua ratificação.
De tentativa em tentativa, parece que nenhuma das partes pretende ceder a
divergências quantas vezes mais emotivas que linguísticas, e as negociações para a
uniformização ortográfica não vão passando de projectos. Vários têm sido os encontros
__ 1971, 1973-1975, 1986 e 1990 __, mas tudo continua adiado... para uma só
ortografia... ou para a separação definitiva? E, ainda que digam que nos entendemos, a
verdade é que parece entendermo-nos cada vez menos. A solução seria acabar de vez
com preconceitos e definirem consentânea e definitivamente uma reforma justa não
pelos povos mas pela língua que os une (ou desune).