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Ficha de apoio para a disciplina de Técnica de Expressão de Língua Portuguesa.

1º Ano

Docente: dr.Sousa Bartolomeu


FCA - 2023

Dicotomias Saussurianas

Não se pode falar do contexto histórico da Língua Portuguesa sem destacar as duas
dicotomias propostas por Ferdinand Saussure, um linguista que sempre se dedidicou
pelos estudos da língua. Para Saussure a língua pode ser analisada a partir de dois
pontos de vista: o Sincrônico e o Diacrônico.

No século XX, o estruturalismo vem criando força pela Europa com a publicação do
Curso de lingüística geral de Ferdinand de Saussure, que desenvolvera a lingüística
sincrônica resumida em duas dicotomias, língua (langue – sistema lingüístico) em
oposição à fala (parole – comportamento lingüístico). SANTOS e MAIA (s⁄d)

Segundo SAUSSURE (2012) citado por SANTOS (2019), sustenta que ―a Linguística
sincrônica ocupar-se-á das relações lógicas e psicológicas que unem os termos
simultâneos e que formam sistemas, tais como são percebidos pela consciência coletiva.
Doutro lado, a Linguística diacrônica estudará, ao contrário, as relações que unem
termos sucessivos não percebidos por uma mesma consciência coletiva e que substituem
uns aos outros sem formar sistemas‖.

Nos grifos acima apresentados, Saussure olha a primeira dicotomia ―sincronia” como
sendo a que descreve os aspectos que regem, em determinado momento histórico, o
funcionamento linguístico. Isso significa que ela exclui a passagem do tempo. Na
sincronia, não importam as mudanças, mas um momento. Doutro lado, a
―diacronia” interessa-se pela evolução da língua e suas causas. Nesse cenário, ela adota
uma postura retrospectiva e prospectiva, já que busca entender as relações que os fatos
estabelecem com os que vieram antes ou depois dele. Como trata de fatos sucessivos,
leva em conta o decorrer do tempo.

Qual é a dicotomia Saussuriana que estudaria o historial da língua Portuguesa?

A dicotomia Diancrônica é preponderante nos estudos que têm a ver com o contexto
histórico da língua.
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Contexto histórico da Origem da Língua Portuguesa

A romanização da Península Ibérica – entendida como um processo de aculturação das


populações anexadas por Roma durante a sua expansão – tem como marco inicial em
218 a.C. no século III.a.C. Quando os exércitos romanos ocuparam a Península, neste
século iniciou-se o processo de introdução da civilização romana incluindo a sua língua,
o Latim, a língua que deu origem ao Português. BANZA & GONÇALVES (2018,
p.21)

Além de uma nova organização administrativa e de novas infraestruturas, os romanos


trouxeram consigo a língua latina. Progressivamente, os povos que habitavam a
Península Ibérica foram adotando o latim como idioma comum. No entanto, a língua
que se difunde no território não é o chamado latim clássico — no fundo, o latim escrito,
literário —, mas o denominado latim vulgar, conceito que remete para a língua falada,
com todas as suas variantes sociais e regionais.

Substratos e Superestrato

De acordo com BANZA & GONÇALVES (2018) a formação histórica do português


tem como antecedente um longo processo de diferenciação do latim que conduziria à
formação dos romances peninsulares e à formação do galego-português, em particular.
Tal processo, tem, ele próprio, antecedentes que importa considerar, na medida em que,
antes de se falar Latim na Península Ibérica, aí se falavam muitas outras línguas que
poderão ter influenciado, em maior ou menor grau, o Latim e, consequentemente, as
novas línguas que a partir dele se viriam a formar.

Numa abordagem de CÂMARA (1975) entende-se que na situação de contacto


linguístico que então se criou, as línguas pré-romanas da Península terão seguramente
influenciado o latim desta região do Império, o que configura um fenómeno que tem
sido designado como Substrato, o nome que se dá à língua (e/ou às suas características
remanescentes) de um povo que é abandonada, neste caso as línguas que existiam na
Península à chegada dos romanos, em proveito de outra, neste caso o Latim, que a ela
se impõe.

Como sustentam BANZA & GONÇALVES (2018), as fontes que atestam, hoje, as
possíveis influências de substrato no latim da Península Ibérica, ainda que muito
escassas, são diversificadas:
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 Vestígios arqueológicos;
 Notícias históricas;
 O léxico comum, como é o caso de ‗chaparro‘, atribuído ao substrato ibero;
 Cartas pessoais;
 Obras técnicas (tratados de culinária, de arquitectura);
 Obras literárias onde se retrata o falar das classes baixas.

No caso das influências de superstrato – entendendo-se por tal a língua de um povo


conquistador (Romanos), que a abandona para adoptar a língua do povo vencido. Estão
em causa apenas as línguas germânicas dos Suevos, chegados à Península em 411, e dos
Visigodos, que assumiram o poder a partir de 574, povos germânicos que, tendo
derrotado política e militarmente os romanos, adoptaram a sua língua. (Ibdem)

A influência das línguas de substrato e de superstrato varia consoante as regiões da


România, ou seja, é diferente segundo os povos que estiveram em determinada área e
segundo as línguas que aí falavam. Essa diversidade também contribuiu para a evolução
do latim para diferentes línguas românicas ou novilatinas: O português, o galego, o
catalão, o francês, o italiano, o romeno, etc. BANZA & GONÇALVES (2018)

O português antigo (Séculos XII A XV)

Na região galego-portuguesa, a língua continuará a diferenciar-se dos outros romances


peninsulares. O português autonomizar-se-á progressivamente, sendo aí importante o
processo de constituição do Reino de Portugal. Nesta fase inicial, a língua difunde-se
para o sul do território com a Reconquista Cristã.

Pode arriscar-se a Notícia de Fiadores (1175) como o texto mais antigo escrito em
português, embora se trate de um texto recheado de expressões em latim, com muitos
numerais e nomes. BANZA & GONÇALVES (2018). Da mesma época será um Pacto
de Gomes Pais e Ramiro Pais. Até há pouco, costumavam citar-se a Notícia de Torto e o
Testamento de Afonso II, de 1214, como os documentos mais antigos escritos em
português. Mas a língua falada antecede forçosamente a escrita. (Ibdem)
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O português clássico (Séculos XVI a XVIII)

Para os mesmos autores, os domínios fonológico e morfológico, durante os períodos


médio (correspondente à fase final do português antigo) e clássico observa-se a
progressiva eliminação dos hiatos típicos do português antigo:

 (cre-o [< CREDO] > creio;


 lã-a [< LANA-] > lã),
 Uniformização das terminações nasais (mã-o [< MANU-] > mão;
 pã [< PANE-] > pão;
 oraçõ [< ORATIONE-] > oração

Comparem-se estas formas de singular com os respetivos plurais «mãos», «pães»,


«orações»). Assiste-se também à síncope (corte) do -d- nas desinências verbais da
segunda pessoa do plural (amades > amais; fazedes > fazeis), substitui-se o particípio
passado em -udo por -ido nos verbos da 2ª conjugação (perduda > perdida).

No início do século XVI, tinham ocorrido as grandes mudanças que aproximam o


português da sua configuração actual, concluindo-se assim um ciclo que podemos
considerar de formação e elaboração da língua portuguesa.

A Expansão marítima e o Renascimento (de meados do século XV a fins do XVI)


deixarão, por outro lado, as suas marcas no português clássico. Na verdade, os
Descobrimentos marítimos colocam Portugal em contacto com povos de outros
continentes, com culturas e línguas próprias. É sobretudo o léxico que se alarga com a
introdução de termos provenientes de línguas africanas (macaco, inhame, missanga),
orientais (biombo, mandarim, canja, catana) e ameríndias (abacaxi, amendoim, caju, do
tupi; tomate, cacau, do nauatle). BANZA & GONÇALVES (2018)

Os vocábulos estão maioritariamente relacionados com realidades dessas culturas bem


como com os produtos que a Europa importa. Por outro lado, nesta época entra na
língua portuguesa um elevado número de helenismos e latinismos (palavras de origem
grega e latina) como resultado do fenómeno cultural do Renascimento. Os humanistas
valorizaram e recuperaram as culturas e as línguas da antiguidade greco-latina. Se a
base do português se constitui a partir do latim vulgar, os termos latinos entram neste
período por via culta, em muitos casos pela influência de autores como Camões ou João
de Barros. Alguns latinismos que enriquecem o português nesta fase são: orbe, rapace,
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lácteo, argênteo. Entre os helenismos, mesmo se intermediados pelo latim, contam-se:


ode, átomo, ninfa, epopeia. (Idem)

O Português contemporâneo (do século XIX à atualidade)

A literatura, a codificação gramatical e o aumento da escolarização contribuíram para


estabilizar a língua nos últimos duzentos anos. O português contemporâneo herda as
estruturas gramaticais e lexicais da fase anterior. No entanto, suaviza o peso que o grego
e o latim têm na língua — não vingam certos vocábulos eruditos, mas integram-se
termos que descrevem, sobretudo, conceitos científicos e técnicos: oftalmologia,
ecológico, exógeno, televisão. (Idem)

O português torna-se mais recetivo à influência, primeiro, do francês (garagem, bisturi,


cassete) e, depois, do inglês (líder, futebol, hotel, scanner). Os empréstimos desta língua
fazem sentir-se sobretudo nas áreas da ciência, da tecnologia e do espetáculo. Na
viragem do século XX para o XXI, o português é uma língua de comunicação
internacional. (Idem)

 É falado em quatro continentes;


 É a 5ª língua mais falada no mundo e a 3ª mais falada na Europa;
 Tem mais de 250 milhões de falantes nativos;
 É a língua oficial de nove países (CPLP): Portugal, Brasil, Cabo Verde, Guiné-
Bissau, São Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, Timor-Leste e Guiné
Equatorial
 É largamente falado ou estudado como segunda língua em muitos países
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Bibliografias

BANZA, A. P. & M. F. (2018): Roteiro de História da Língua Portuguesa. Évoa.


Cornelia Fischer.

CÂMARA, J. M (1975): História e Estrutura da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro:


Padrão.

SANTOS, D. K. M & MAIA, W. S. (s⁄d): Sincronia, diacronia e história: contribuição


a leitura de eugenio coseri. s⁄l.

SANTOS, G. da S. (2019): A linguística sincrônica de Saussure e o ensino da língua


portuguesa.. São Carlos.

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