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Língua Latina e Elementos Fatores de dialetação do

latim vulgar;
Filológicos de base Substrato/superestrato/
Românica Adstrato.

Dr.ª Greize Alves da Silva (UFT)


Fatores de dialetação
• Dialetação - diversificação de uma língua em variedades regionais ou sociais;
formação de dialetos (geográficos, sociais) – fatores internos e externos

• A relativa uniformidade que o latim apresentou durante o período imperial foi-


se substituindo no período românico uma forte tendência à diversificação
regional.

• Como resultado dessa tendência, no final do primeiro milênio, a România


apresentava-se fragmentada numa quantidade de dialetos de origem latina e
foi nesse panorama de diversificação que, em seguida, alguns dialetos,
projetados pelo prestígio político, econômico ou cultural da região em que eram
falados, se impuseram aos dialetos vizinhos, transformando-se com o tempo
em línguas nacionais.
• Como isso ocorreu?
As línguas variam no tempo e no espaço

• A variação no tempo e no espaço é inerente à língua, a qual é parecida sob esse


aspecto com as demais instituições sociais.

• Premidos pela necessidade de tornar sua fala mais exata ou mais expressiva, os
falantes criam o tempo todo palavras e construções sintáticas novas com os
materiais disponíveis em sua própria língua.

• Mudanças fônicas (sons) surgem pelas tensões que ocorrem no interior do


sistema e pelas tensões que ocorrem entre sons contíguos na fala; em grau
menor, alterações de todo tipo podem resultar de fatores “externos” , isto é, do
contacto entre línguas diferentes.

horologium>relogeo>rellogios>relogyo>relojo>relójio>relógio
Fatores internos: Mudanças fônicas
• Mudanças fônicas determinadas por pressões

o sistema fonológico de uma língua reflete um equilíbrio precário entre a necessidade de distinguir um
número tão amplo quanto possível de unidades significativas e a tendência natural a poupar o
emprego dos meios de expressão. Num sistema ideal, a tensão entre essas duas necessidades levaria a
esperar dos fonemas e dos traços um alto “rendimento funcional” , isto é, cada fonema serviria para
distinguir um número relativamente alto de palavras, e cada traço permitiria distinguir um número
relativamente alto de fonemas. Raramente as línguas atingem essa situação ideal.

• Quando o seu rendimento funcional é baixo, e são muitas as casas vazias, o sistema fonológico de
uma língua tende naturalmente à instabilidade e abre-se a várias alternativas de reestruturação que
restabelecem seu equilíbrio.

• O latim clássico apresentava alguns desequilíbrios notáveis que foram corrigidos em latim vulgar: a
ausência de um correspondente sonoro para / f / , a presença de um único fonema uvular / h / etc.;
também o sistema fonológico do latim vulgar era parcialmente desequilibrado; por exemplo, faltava
nele um correspondente sonoro para / s / ; essa “casa vazia” está hoje preenchida em todas as línguas
românicas exceto o castelhano, que já teve um fonema / z / e o perdeu em seguida.
Língua Portuguesa
12 fonemas vocálicos
19 fonemas consonantais

Língua Inglesa
20 fonemas vocálicos
25 fonemas consonantais
• Mudanças fônicas devidas ao entorno

• Explicam-se pelo ambiente em que figuram os sons no corpo da palavra e, por


resultarem principalmente de fatores articulatórios, são mais ou menos
espontâneas: em línguas e épocas muito diferentes, podemos encontrar
mudanças fonéticas semelhantes.

• O principal tipo de mudança fônica devida ao entorno é a assimilação, isto é, a


“assemelhação” de um som a outro, devida (i) à antecipação da posição
articulatória necessária à produção do som seguinte ou (ii) à inércia dos
órgãos articulatórios, os quais guardam a posição anterior, quando já se está
articulando o som seguinte.
menino> minino

• Metaplasmos – alterações fonéticas


• Por aumento; por supressão; por transposição e por transformação.
Fatores Externos
1) Substrato – língua nativa desaparecida de
um povo dominado, que adotou a língua do
dominador;

2) Superstrato – língua nativa de um povo


dominador desaparecida, em virtude de este
povo ter adotado a língua do povo dominado;

3) Adstrato – qualquer língua que conviveu ou


convive em pé de igualdade (bilinguismo) com
outra língua.
Os substratos

a) O latim recebeu das línguas dos vencidos alguns elementos que, incorporados à sua
estrutura, eram difundidos em seguida em todo o mundo romano.

• Exemplos: o francês cafard e o italiano scarafaggio remontam a uma palavra osca *scarafaius;
a palavra latina correspondente era scarabeus (com -b- intervocálico), que deu o português
escaravelho e o italiano scarabeo;
• Termos gauleses carrum e bracse, que indicavam objetos desconhecidos dos romanos
(respectivamente a carruagem de quatro rodas e as calças compridas) foram incorporados ao
latim quando os romanos adotaram os objetos correspondentes.

b) Toponímia nos nomes aplicados à fauna, à flora e à cultura material, sobretudo quando esses
nomes se referiam a realidades desconhecidas dos romanos.

• Por exemplo, camurça e os nomes europeus das habitações montanhesas.


• c) era natural que os povos vencidos, ao falar o latim, aplicassem a essa
língua os hábitos linguísticos (de pronúncia, de preferências vocabulares e
sintáticas etc.) próprios de seus idiomas.

• Fonética do latim

Cada língua possui uma quantidade


significativa de fonemas – índole da própria
língua
O superestrato

• Adoção de elementos da língua dos povos vencidos;

• Até o século III a.C., os romanos submeteram os itálicos, que habitavam as regiões
montanhosas da Itália peninsular, desde a Úmbria até a Calábria.

Os itálicos falavam línguas indo-européias do mesmo ramo que o latim, que
podem ser divididas em três grupos: o osco, o sabélico e o umbro.

• As semelhanças que essas línguas apresentavam com o latim, e a participação


cada vez mais ativa que os itálicos tiveram nos empreendimentos militares e
coloniais romanos permitiram que essas línguas cedessem ao latim vulgar um
grande número de palavras.
• Superstratos germânicos

Com os povos germânicos, os romanos estiveram em intenso contacto desde os primeiros


séculos do Império. Muitos desses povos foram tratados pelos romanos como aliados, e
grandes contingentes populacionais foram então assentados no território do Império como
medida de pacificação e autodefesa. Através dessas infiltrações, o latim recebeu alguns
elementos linguísticos (sobretudo léxicos) que foram depois transmitidos a todas as línguas
românicas:
Exemplo: germ, werra (cp. port. it. guerra, esp.guerra, fr. guerre), germ, borg (port. esp. burgo,
fr. bourg, it. borgo).

• O superstrato árabe

Os árabes se apoderaram, no século VIII, de toda a Península Ibérica;


um século mais tarde, eles dominaram a Sicília. O fato teve consequências notáveis, sobretudo
para a Ibéria, ali formou-se a cultura moçárabe, que serviu por longo tempo de intermediária
entre o mundo cristão e o mundo muçulmano.
Os moçárabes eram cristãos ibéricos que viviam sob o
governo muçulmano em Al-Andalus. Os seus descendentes
não se converteram ao Islão, mas adotaram elementos da
língua e cultura árabe. Eram, principalmente, católicos
romanos de rito visigótico ou moçárabe.
Os adstratos – o bilinguísmo
• Os empréstimos

Podem ter várias formas, desde a transmissão de uma cultura para outra - técnicas e objetos
antes desconhecidos, até a moda, a influência que um a língua exerce sobre outra por ser
encarada como expressão de uma cultura mais refinada ou mais adiantada tecnologicamente:
• Exemplo: passaram para as demais línguas românicas inúmeras palavras francesas
referentes ao vestuário e aos hábitos de higiene, inúmeras palavras italianas referentes à
música, pintura etc.

A tendência normal dos empréstimos é serem absorvidos de maneira completa na nova


língua depois de uma fase mais ou menos longa em que sua origem estrangeira é sensível
para os falantes.
Fonte: https://daiannepossoly.com.br/moda-significado-expressoes-frances/
• Empréstimos árabes

• Diretamente, ou por intermédio da cultura moçárabe, os árabes transmitiram


para a Europa alguns de seus achados no domínio da ciência e do comércio.

• São geralmente reconhecíveis pela sílaba inicial al-, correspondente ao artigo


árabe: álcool, alferes, alcorão, álgebra, alfândega, almoxarifado etc.,

• Café, arroz, algodão, girafa, divã, berinjela, acelga, alfazema, javali, azul,
álgebra, alfaiate, alambique, azeitona, damasco, tamarindo, limão...

• Toponímia Gibraltar, Almada, etc.


• O grego como adstrato

O grego transmitiu um grande número de palavras ao latim vulgar através do Cristianismo, que surgiu num ambiente
judaico-helênico.

A palavra parabolé “ parábola” , por uma alteração de sentido facilmente explicável no contexto da leitura bíblica,
tomou o sentido de “palavra” e substituiu o latim verbum.

Antídoto - Veio do latim antidotu, contraveneno, que se originou do grego antídoton, forma reduzida da expressão
phármakon (remédio) antídoton (de anti-, contra + doton, dado), ou seja, remédio dado contra.

Arquipélago O mar Egeu, que fica entre a Grécia e a Turquia, era chamado pelos gregos de archipélagos. A palavra se
formou de archi, principal (arqui-inimigo é o inimigo supremo) + pélagos, mar. A palavra passou a designar o
conjunto de ilhas, porque o mar Egeu tinha muitas ilhas.

Bíblia A forma mais antiga de livro foi um rolo de papiro, usado pelos egípcios, gregos e romanos. Em grego, livro
era biblíon. A palavra veio do nome do porto de Byblos, na Fenícia (atualmente no Líbano), porque de lá eram
exportadas grandes quantidades de papiro. O grego biblíon no plural era biblía. A palavra passou para o latim
eclesiástico para designar o conjunto de livros sagrados que compõe a bíblia.

Cirurgia Através do latim chirurgia, veio do grego kheirourgía, que se formou de kheirós (mão) + érgon (obra,
trabalho) e significava, além de trabalho manual, operação num paciente.
• Em português, o elemento -mancia (do grego manteía, adivinhação) aparece
em várias palavras:
• agromancia: adivinhação pelo aspecto dos campos;
aleuromancia: adivinhação pela farinha de trigo;
anemomancia: adivinhação do futuro pela observação dos ventos;
aritmomancia: adivinhação por meio de números;
cartomancia: adivinhação por cartas de baralho;

Fonte: http://g1.globo.com/educacao/blog/dicas-de-portugues/post/palavras-que-vem-do-
grego.html

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