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Cleuza Cecato
Cleuza Cecato
IESDE BRASIL
2021
© 2021 – IESDE BRASIL S/A.
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detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: primiaou/JosepPerianes/Shutterstock/EnvatoElements
Cecato, Cleuza
Leitura e escrita no ensino superior / Cleuza Cecato. - 1. ed. - Curiti-
ba [PR] : IESDE Brasil, 2021.
114 p. : il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6565-3
Tópicos de linguagem 9
1.1 Oralidade e escrita
Vídeo Ao elaborarem, no final dos anos 1990, um manual para ensino de
língua portuguesa e escrita no ensino superior, Faraco e Tezza (2003)
didatizaram e trouxeram uma proposta de reconhecimento de regis-
tros de língua muito importante para o cotidiano de estudantes de
graduação. Nesse manual, eles reafirmaram o que Bakhtin já havia
consolidado em seu livro Estética da criação verbal (2011): a escrita foi
criada pelo ser humano como uma maneira de continuar a oralidade,
ou seja, de completar o processo de comunicação em circunstâncias
em que a oralidade somente já não conseguia mais fazê-lo (FARACO;
TEZZA, 2003).
Leitura As menções à escrita e à oralidade são muitas, e poderíamos ex-
Oficina de texto é o nome plorar de várias maneiras essa dualidade no processo de registro e
de um manual, elaborado
utilização de uma língua. No entanto, o que não devemos deixar de
por Carlos Alberto Faraco e
Cristóvão Tezza, que já passou considerar é que, muitas vezes e há até bem pouco tempo, a orali-
por diversas reedições desde dade era considerada um registro de menor importância ou que dis-
seu lançamento, no final dos
torcia a realidade da língua. Isso mudou bastante quando, no início
anos 1990. As propostas de
exercícios são feitas com base do século XX, a linguística passou a dar uma atenção mais cuidadosa
em diferentes gêneros de às possibilidades de explicar fenômenos de linguagem com base em
leitura e escrita, contemplando
as dúvidas e dificuldades mais registros da fala.
significativas dos estudantes, Outro processo muito importante a ser compreendido nessa con-
principalmente naquele pe-
ríodo, quando a internet ainda tinuidade – ou complementaridade – da fala e da escrita é que a fala
não era popularizada como é adquirida e desenvolvida por nós em situações simples do dia a dia,
fonte de produção e divulgação
enquanto a escrita geralmente só é adquirida de maneira mais formal,
de conteúdo sobre ensino de
língua e escrita. em ambientes como a escola, no processo de alfabetização. Podemos
Em Estética da criação verbal, explorar um pouco mais essa concepção de aprendizado natural e não
traduzido e publicado no natural lendo um trecho do livro Guia de escrita, escrito pelo linguista
Brasil no final da década de
1990, B akhtin trabalha com as Steven Pinker (2016, p. 41):
definições relacionadas à teoria A fala e a escrita diferem em seus mecanismos, é claro, e essa
literária, como as relações entre é uma das razões pelas quais as crianças precisam lutar com
as personagens e o papel do
a escrita: reproduzir os sons da língua com um lápis ou com o
autor. Para tanto, empregou
muitas concepções e aborda- teclado requer prática. Mas a fala e a escrita diferem também
gens relacionadas à escrita e de outra maneira, o que faz da aquisição da escrita um desafio
à oralidade, que foram depois para toda uma vida, mesmo depois que seu funcionamento foi
utilizadas em vários materiais dominado. Falar e escrever envolvem tipos diferentes de rela-
para ensino de habilidades de
cionamentos humanos, e somente o que diz respeito à fala nos
comunicação.
chega naturalmente. A conversação falada é instintiva porque
descontraídos, além de a fala ser o veículo de comunicação, utilizamos Direção: Elaine Caffé. Brasil, França:
RioFilme, 2004.
também palavras mais simples e gírias, fazemos brincadeiras com a
linguagem e não nos preocupamos tanto com as formalidades mais es-
pecíficas da comunicação. Costumamos chamar esse processo de fle-
xibilização dos usos da língua de adequação linguística. Isso quer dizer
que, quando falamos – ou mesmo escrevemos – em contextos mais ou
menos familiares, podemos escolher o grau de formalidade com que
Tópicos de linguagem 11
Atividade 1 vamos nos comunicar. Para exemplificar esses movimentos de adequa-
É importante entender a orali- ção, podemos fazer comparações com as vestimentas que usamos: ir à
dade e a escrita como registros praia de paletó não é adequado, assim como ir apresentar um seminá-
que se complementam em uma
língua? Por quê? Caso a resposta rio não condiz com chinelos e calção de praia. Esses estereótipos exa-
seja afirmativa, como podemos gerados são empregados justamente para que possamos mobilizar a
fazer isso? imagem de adequação ou inadequação de usos da linguagem, conside-
rando a formalidade e a informalidade, tanto na escrita quanto na fala.
+ Saiba mais
A organização sintática é a forma ou a ordem em que as palavras são empregadas na língua para
que as informações façam sentido. A organização mais comum das frases em português é sujeito, verbo e
objeto (então, são colocados outros elementos). Os manuais de língua portuguesa que tratam da sintaxe
geralmente chamam essa sequência de ordem canônica, ou seja, é a ordem tradicional e mais utilizada. Atividade 2
Por que usamos os sinais
Agora, vamos aproveitar para revisar e, quem sabe, conhecer algum de pontuação na escrita de
textos? Justifique sua resposta.
novo emprego dos sinais de pontuação que vemos em textos escritos e Justifique sua resposta.
que podemos utilizar em nossos textos?
Tópicos de linguagem 13
. Ponto-final
(Continua)
;
Ponto e vírgula
Tópicos de linguagem 15
:
Dois-pontos
...
Reticências
Parênteses
Tópicos de linguagem 17
Ponto de interrogação
?
Utilizado para fazer perguntas diretas.
•• Exemplo: “Quanto precisamos ler para ter repertó-
rio suficiente para escrever bem? Onde encontra-
mos as melhores informações sobre fala e escrita?”.
Ponto de exclamação
!
Utilizado em frases exclamativas para indicar sen-
timentos como surpresa, alegria ou espanto. Tudo isso
também pode ser revelado por meio do uso de frases
imperativas ou interjeições acompanhadas do ponto de
exclamação.
•• Exemplo: “Capaz que é possível escrever bem sem
fazer muita leitura!”.
Aspas
“”
Podem ser empregadas para indicar fala em
diálogos, citações diretas, mudança de sentido
em palavras ou expressões e nomes de obras.
•• Exemplo de diálogo:
1.1.2 Concordância
Algumas relações entre as expressões dentro das frases são mais
evidentes em algumas línguas. Por exemplo, em português, as relações
de concordância e regência são muito produtivas e alteram o sentido
das mensagens faladas ou escritas. Vamos iniciar nossa exploração pe-
las relações de concordância.
Tópicos de linguagem 19
dância nominal, quem define o número e o gênero é o substantivo.
Na concordância verbal, é o verbo, como núcleo da frase, quem selecio-
na e define número e pessoa.
Isso quer dizer que, quando alguém afirma “Assisti o debate para
realizar a pesquisa”, não está se referindo a ter ajudado o debate a Glossário
acontecer, mas a ter visto o debate, mesmo não utilizando a preposi- norma-padrão: conjunto de
ção. Nesse ponto, você pode se perguntar: o que está certo e o que está regras prescritas para o uso da
língua falada e escrita em situa-
errado? Vamos lá: para estar em conformidade com a norma-padrão,
ções formais de comunicação.
ou seja, se você vai escrever um texto para submetê-lo a uma avaliação
Tópicos de linguagem 21
ou publicá-lo em algum lugar, é importante manter a diferença entre
as duas regências (com ou sem a), deixando claro, por exemplo, que
“Todos os alunos assistiram ao debate para realizar a pesquisa”.
E aspirar:
a. “O pesquisador aspira a uma publicação acadêmica” (aspirar a =
desejar, querer, almejar).
b. “Depois de escrever o relatório, precisava aspirar o ar fresco da
manhã” (aspirar = cheirar, inalar).
Tópicos de linguagem 23
Atividade 3 Outra sugestão: quando ficar difícil entender se uma estrutura de
Como a regência e a concordân- regência exige ou não acento grave indicando crase, releia as orienta-
cia ajudam a explicar o funcio-
namento da língua portuguesa? ções, organize um esquema de estudos para você do jeito que julgar
Justifique sua resposta. mais adequado e consulte-o sempre que necessário. O mais importan-
te é que você não se esqueça de que, com relação à língua falada ou
escrita, estamos sempre aprendendo e precisamos estar dispostos a
fazê-lo.
E para (b):
b1) Atualmente, muitas pessoas estão sofrendo com a ocorrência
de alergias em nossa comunidade.
b2) A ocorrência de alergias tem afetado muitas pessoas O livro Por que a esco-
la não ensina gramática
atualmente em nossa comunidade.
assim? se concentra em
explicar e promover dis-
Quando falamos, é mais fácil refazer o raciocínio, se necessário,
cussões sobre análises
para que as pessoas que nos ouvem compreendam nossa mensagem. linguísticas a partir de si-
tuações usuais no cotidia-
Mas, quando escrevemos, como saber se as sentenças que elaboramos
no. É uma importante lei-
estão de acordo com o que é necessário para que outros possam ler tura, principalmente para
conseguirmos comparar
e entender? Primeiro, procure sempre perceber se as frases que você
as maneiras como pode-
elaborou têm início, meio e fim (sujeito, verbo e objeto). Isso já ajuda mos entender a língua
portuguesa mais didati-
bastante. Outra ação importante é se perguntar: se não fosse você que
camente, com gêneros de
tivesse escrito a frase, conseguiria se sentir informado completamente texto, exemplos e outros
elementos que ajudam a
pelo que ela contém?
perceber a língua como
nossa interface com a
Quando escrevemos, fica nítida a necessidade de colocarmos uma
realidade.
frase após a outra. Essa sequência precisa ser encadeada de maneira
BORTONI-RICARDO, S. M. et al. São
adequada, e cada frase precisa ter uma relação evidente com o que
Paulo: Parábola, 2014.
veio antes e com o que ainda virá. Precisamos, então, cuidar da estrutu-
Tópicos de linguagem 25
Atenção ra de cada sentença internamente, e ela deve poder fazer parte de um
Fazendo uma reflexão sobre o todo maior que é o parágrafo.
texto deste capítulo que você
leu até aqui, observe que todas Se você já teve dúvida sobre o que era para fazer quando alguma
as frases, uma após a outra, proposta de escrita solicitava a elaboração de um texto em prosa, saiba
estabelecem relações de sentido
que você não é o único a se questionar sobre isso. Na verdade, essa
entre si e que, parágrafo após
parágrafo, o texto se constrói dúvida é mais comum do que pode parecer. Talvez isso se deva às pos-
procurando oferecer ao leitor sibilidades de entendimento da palavra prosa. No dicionário, entre os
um entendimento global sobre
significados encontrados para prosa, estão:
o tema tratado.
1. expressão natural da linguagem escrita ou falada, sem metrifi-
cação intencional e não sujeita a ritmos regulares.
2. aquilo que é material, cotidiano, sem poesia. Ex: a p. da realidade
3. conversa informal. Ex: tive dois dedos de p. com o compadre
(HOUAISS, 2009, grifos do original)
vistas impressos –, o número de parágrafos acaba seguindo a necessi- Disponível em: https://www.
estadao.com.br/manualredacao/.
dade de preenchimento do espaço destinado ao texto. Acesso em: 20 jan. 2020.
Nosso contato com essas estratégias de organizar as sequências
de palavras e frases é constante, acontece quando lemos e também
quando escrevemos. As dúvidas são frequentes e nunca chegamos ao
ponto de saber tudo sobre a linguagem ou mesmo sobre uma parte
dela, como os sinais de pontuação. O importante é utilizar as dúvidas
como ponto de partida para melhorar nossa relação com a linguagem,
ter curiosidade e entender como as diferentes estratégias podem nos
ajudar a melhorar sempre nosso processo de comunicação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste ponto da abordagem e da reflexão sobre os aspectos tratados
neste capítulo, é possível que muitas das ideias que você nutria a respeito
do quanto é fácil ou difícil, certo ou errado, simples ou complicado asso-
ciar oralidade e escrita estejam mais fortes ou tenham mudado, justa-
mente porque procuramos explicar alguns problemas que aparecem com
muita frequência em nosso uso cotidiano da língua.
Pontuação, concordância, regência, estrutura de sentenças e paragra-
fação são os principais tópicos que permitem chegarmos a um texto com-
pleto, que possibilite aos nossos interlocutores a leitura e a compreensão
adequadas. Essas e outras habilidades contribuem para que, nesta etapa
dos nossos estudos, possamos dar mais atenção ao processo de comu-
nicação formal falado e escrito que devemos estabelecer como ponto de
partida e também como meta em nosso percurso de formação intelectual.
Tópicos de linguagem 27
REFERÊNCIAS
BAKTHIN, M. Estética da criação verbal. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
BAUMAN, Z. Estranhos à nossa porta. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
FARACO, C. A.; TEZZA, C. Oficina de texto. Petrópolis: Vozes, 2003.
GUEDES, P. C. Da redação à produção textual: o ensino da escrita. São Paulo: Parábola
Editorial, 2009.
PINKER, S. Guia de escrita: como conceber um texto com clareza, precisão e elegância. São
Paulo: Contexto, 2016.
POSSENTI, S. Por que (não) estudar gramática na escola. Campinas: Mercado de Letras,
1996.
HOUAISS, A. Houaiss Eletrônico. Versão monousuário 3.0. São Paulo: Objetiva, 2009.
PESQUISA aborda importância da arte no cotidiano de usuários de um Centro de
Atenção Psicossocial. UFJF Notícias. 19 set. 2017. Disponível em: https://www2.ufjf.br/
noticias/2017/09/19/estudo-aborda-importancia-da-arte-no-cotidiano-de-usuarios-de-
um-centro-de-atencao-psicossocial/. Acesso em: 20 jan. 2020.
GABARITO
1. As diversas abordagens e análises sobre língua já elaboradas consideram a fala e a es-
crita como registros complementares. Isso pode ser comprovado, por exemplo, tanto
pela explicação feita por Bakhtin (2011) quanto por Faraco e Tezza (2003), que aponta
o surgimento da escrita como algo necessário para circunstâncias em que a fala já não
era suficiente. Pinker (2016) também explica a concepção não natural da habilidade da
escrita. Para compreendermos os registros de fala e escrita como complementares, é
preciso sempre refletir sobre as fronteiras de uso entre uma e outra e as situações em
que elas podem ser empregadas.
2. Ao contrário do que se possa imaginar às vezes, não é a escrita que determina como
se fala ou lê, mas é a entonação empregada na fala que determina a maneira como
precisamos escrever um texto e, consequentemente, utilizar os sinais de pontuação.
3. O português é uma língua sintática. Isso quer dizer que o significado do que se fala ou
escreve muda de acordo com a ordem das palavras e expressões empregadas. Nesse
contexto, a regência e a concordância ajudam a orientar o funcionamento de trechos
menores dentro de cada frase. A concordância nominal estabelece a relação entre
os artigos, numerais, pronomes e nomes, e a concordância verbal, entre os nomes
e verbos. Já a regência nominal estabelece uma relação de complementação entre
nomes e adjetivos, e a verbal, entre verbos e seus complementos. Ambas as regências
podem fazer com que o sentido do que se pretende informar mude completamente
de acordo com a forma com que as utilizamos.
Registros da língua
portuguesa: diferenças
e semelhanças
Ter curiosidade sobre nossas origens e a língua que falamos é
um passo importante para nosso aprendizado como indivíduos e
sociedade. Afinal, o idioma utilizado por nós é fruto e componente
de nossa cultura. Mas qual é o tipo de curiosidade que geralmente
nutrimos com relação à língua a qual utilizamos para nos comu-
nicar? Quais são as estratégias de estudo para compreendermos
melhor como funciona a língua? Nos diversos ambientes e etapas
de estudo, ao longo da nossa vida escolar, falamos do mesmo jei-
to como falamos em casa? Há diferença entre a língua escrita e
a língua falada? Se sim, como saber quando empregar cada jeito
de falar? Por qual motivo existem tantas maneiras de escrever os
porquês se a pronúncia é a mesma? E por que colocamos um h
inicial em palavras como homem e horta se ele não tem valor algum
de pronúncia? Vale fazer piada com o jeito como os outros falam?
São mesmo muitas as perguntas possíveis de nos fazermos
quando procuramos entender a dinâmica da língua que usamos
para nos comunicar. E é por conta dessas e de outras questões
que refletiremos a respeito da língua ao longo deste capítulo, até
que, ao final, possamos confirmar ou rever várias interpretações
que nos acompanharam até agora.
Frame Art/Shutterstock
“Valorizar a diversidade da língua portuguesa,
celebrá-la como elemento fundamental e fun-
dador da cultura e aproximá-la dos falantes do
idioma em todo o mundo. Foi com esses objeti-
vos que nasceu o Museu da Língua Portuguesa”
(O MUSEU, 2020).
Wilfredor/Wikimedia Commons
No final de 2015, um incêndio
de grandes proporções atingiu
o Museu da Língua Portuguesa.
Desde então, o prédio tem
passado por um processo de
reconstrução, com previsão
de reabertura para visitação
pública em 2020. O museu conta
com um acervo permanente
de registros de língua falada
e escrita de diferentes lugares
do mundo, além de abrigar,
temporariamente, exposições
que homenageiam grandes
escritores de língua portuguesa,
como Clarice Lispector, Gilberto
Freyre, Oswald de Andrade e
Machado de Assis.
Localizado na cidade de São Paulo, no histórico edifício Estação da Luz, região central da cidade, o
Museu da Língua Portuguesa foi inaugurado no ano de 2006.
A gente escreve
do mesmo jeito
que fala?
seasoning_17/Shutterstock
O que há de mais espantoso nisso tudo? De acordo com Rodrigues Saiba mais
(2019), no último parágrafo do trecho citado, são pessoas muito jovens A Semana de Arte Moderna foi
que fazem isso: nasceram depois do movimento modernista, ou seja, realizada em São Paulo em feve-
reiro de 1922. Ela foi um marco
temporalmente, deveriam inclusive estar mais acostumadas às trans-
do movimento modernista no
formações incorporadas pelo nosso idioma a partir da Semana de Arte Brasil, que pretendia representar
Moderna de 1922. o que o brasileiro é de fato
nas artes, sem copiar padrões
Em outro trecho da coluna, o autor faz outras constatações europeus. Ou seja, foi o primeiro
importantes: movimento artístico e cultural
que procurou dar um registro de
Trata-se de um sistema. Um sistema que confunde o registro identidade real à população e à
formal da língua com platitudes balofas e distantes da realidade cultura local.
dos estudantes – gerador, portanto, de dissociação entre lingua- Ao utilizar o modernismo como
gem e pensamento. referência para linguagem dos
Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) de 2018, jovens que participam do Enem
ou de outros processos seletivos,
apenas 12% dos brasileiros de 15 a 64 anos são plenamente alfa-
Rodrigues (2019) faz uma
betizados. (RODRIGUES, 2019) ligação direta entre a renovação
pela qual passaram os registros
A primeira parte – de que existe uma confusão entre uso formal de língua a partir desse movi-
da língua e dissociação entre pensamento e linguagem – merece um mento e a não utilização dessa
cuidado especial. A densidade dessa afirmação remonta a uma tradi- renovação pelos jovens que,
inclusive, estudam modernismo
ção escolar com relação ao ensino e aos usos da língua portuguesa. A na escola.
própria escola ainda não reconhece integralmente que a norma culta é
apenas uma das tantas variantes do idioma. Além disso, não reconhe-
ce que as realizações da norma culta também são muito variadas em
escolha vocabular, estrutura sintática e estilo.
As línguas mudam naturalmente com o tempo, por causa de fatores culturais e re-
gionais. Ao conjunto de fenômenos que fazem parte desse processo dá-se a defini-
ção de variação linguística.
Estudo de caso
Uma expressão que se usava no Brasil, por exemplo, quando havia os orelhões e
se fazia ligação telefônica por fichas, era “um dia a ficha cai” ou “a ficha ainda não
caiu ou a ficha só me caiu agora”. A ação de cair a ficha era uma coisa que de fato
acontecia quando se estava falando ao telefone, pois, após determinado tempo da
ligação, ouvia-se o barulho da ficha, que havia sido depositada no aparelho, cair den-
tro dele. Com o tempo, ela se tornou uma expressão e passou a significar entender
alguma coisa ou ligar um ponto a outro e estabelecer um raciocínio. Com o desuso
dos orelhões, o ponto de partida ou referência dessa expressão ficou mais apagado
do uso popular, porque os mais jovens não estabelecem mais a conexão com o
objeto real que lhe deu origem. Mas, ainda assim, a frase pode aparecer inclusive na
fala de quem nem conhece um orelhão.
Mas será que isso acontece só com as gírias ou com palavras estran-
geiras que tomam o lugar de outras? Não. Na verdade, o processo de
transformação do uso das palavras de uma língua é constante. Vamos
analisar um registro feito por Carlos Drummond de Andrade, escritor
modernista que se ocupou de muitas explicações sobre como a língua
era usada no Brasil do início do século XX. Este excerto também foi
utilizado em uma questão de linguagens da prova do Enem de 2012:
TEXTO II
Palavras do arco da velha
Expressão Significado
Cair nos braços de Morfeu Dormir
Debicar Zombar, ridicularizar
Tunda Surra
Mangar Escarnecer, caçoar
Tugir Murmurar
Liró Bem-vestido
Copo d’água Lanche oferecido pelos amigos
Convescote Piquenique
Bilontra Velhaco
Treteiro de topete Tratante atrevido
Abrir o arco Fugir
Cabeludinho
Quando a Vó me recebeu nas férias, ela me apresentou aos amigos: Este é meu neto. Ele
foi estudar no Rio e voltou de ateu. Ela disse que eu voltei de ateu. Aquela preposição
deslocada me fantasiava de ateu. Como quem dissesse no Carnaval: aquele menino está
fantasiado de palhaço. Minha avó entendia de regências verbais. Ela falava de sério. Mas
todo mundo riu. Porque aquela preposição deslocada podia fazer de uma informação
um chiste. E fez. E mais: eu acho que buscar a beleza nas palavras é uma solenidade de
amor. E pode ser instrumento de rir.
(Continua)
Atividade 3
Formule um quadro de acordo com o modelo a seguir, depois a preencha conforme a indicação da primeira
coluna.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
E o que mais se pode afirmar a respeito de registros de língua, norma
culta, preconceito linguístico e variações? Depois de estudar esses tópi-
cos, como fizemos aqui ao longo deste capítulo, o importante é saber que
esses processos existem e são todos fenômenos que marcam a língua em
suas realizações (escrita e falada). Deve haver, sempre da parte de quem
conhece mais a língua, muito respeito e cuidado ao intervir na fala ou na
escrita de alguém para apontar inadequações. Além disso, a língua é dinâ-
mica, varia no tempo, no espaço e no lugar de onde falam as pessoas. Isso
enriquece nossa formação cultural e nossas estratégias de comunicação,
as quais devem ser sempre bem cuidadas. É preciso lembrar que a varia-
ção e a mudança não indicam deterioração, mas sim transformação que
requer adequação para os devidos usos.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: Língua
portuguesa. Brasília, DF: MEC/SEF, 1997.
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira. Enem 2012. Brasília: INEP/MEC. Disponível em: http://download.inep.gov.br/educacao_
basica/enem/provas/2012/caderno_enem2012_dom_amarelo.pdf. Acesso em: 6 out. 2020.
BRASIL. Ministério da Educação. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
Anísio Teixeira. Enem 2014. Brasília: INEP/MEC. Disponível em: http://download.inep.
gov.br/educacao_basica/enem/provas/2014/CAD_ENEM_2014_DIA_2_05_AMARELO.pdf.
Acesso em: 6 out. 2020.
O MUSEU. Museu da Língua Portuguesa. 2020. Disponível em: http://museudalinguaportuguesa.
org.br/o-museu/. Acesso em: 6 out. 2020.
GABARITO
1. A reflexão sobre a língua ser objeto de museu se dá no sentido de entender que ela é
patrimônio imaterial, formadora da identidade cultural de um povo. É importante sa-
lientar que isso não significa que ela deva ser preservada no sentido de ser inalterada,
mas deve ter suas diferentes realizações registradas e conservadas.
3. É importante destacar que podem ser aceitos aqui muitos exemplos, os quais estão
neste capítulo ou não. A resposta a seguir é apenas ilustrativa:
Quadro 1
Tipos e gêneros textuais
Em que gêneros
Tipo Descrição aparece
Quando predomina a
expositivo
Quadro 2
Exemplo de roteiro de leitura
Essa visão geral, que você pode entender como uma revisão ou
como um primeiro contato com as diferenças e os usos de tipos e
gêneros textuais no cotidiano, é o embasamento para nosso próxi-
mo aprendizado. Vamos falar de exemplos e estratégias no ambiente
acadêmico?
Resumo
Introdução – Destaca a influência da internet no processo da comunicação cien-
tífica de pesquisadores da área de saúde pública do Brasil. Objetivo – Conhecer a
influência da internet nas atividades acadêmico-científicas dos docentes da área de
saúde pública e as alterações provocadas pela inserção das novas tecnologias da
informação no processo da comunicação científica. Métodos – A população foi
constituída por 372 pesquisadores vinculados aos Programas de Pós-Graduação em
Saúde Coletiva das Instituições de Ensino Superior
(Continua)
50 Leitura e escrita no ensino superior
no Brasil, nos níveis Mestrado e Doutorado, cadastradas no sistema CAPES (Coordena-
ção de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), no ano de 2001. Para a obtenção
dos dados, optou-se pelo uso de questionário via internet. Para os que não responderam
o instrumento eletrônico, foram enviados questionários impressos. Resultados – A
taxa de retorno dos questionários eletrônicos e impressos foi de 64,8%. O uso da inter-
net foi apontado por 95,0% dessa comunidade, sendo o correio eletrônico (92,1%) e a
web (55,9%) os recursos mais utilizados, diariamente. A influência mais marcante da
internet foi na comunicação informal entre os docentes, principalmente para o desen-
volvimento de pesquisas, propiciando maior colaboração com colegas de instituições
brasileiras e de outros países. Quanto à divulgação de resultados de pesquisa, ainda há
predominância dos formatos impressos, sendo principalmente, em artigos de periódicos
de circulação nacional. Os docentes que declararam não utilizar a internet destacaram
a falta de tempo e a facilidade de conseguirem de seus colegas o que precisam. Con-
clusões – Os dados mostram que a internet influenciou no trabalho dos acadêmicos e
vem afetando o ciclo da comunicação científica, principalmente na rapidez com que a
informação pode ser recuperada, porém com forte tendência em eleger a comunicação
entre os pesquisadores como a etapa que mais passou por mudanças desde o advento
da internet no mundo acadêmico brasileiro.
Descritores: Programas de Pós-Graduação; Pesquisadores; Tecnologia da Informação;
Internet; Saúde Pública.
Fonte: FSP-USP, 2020, grifos do original.
Reflita sobre:
•• Que tipo de linguagem foi empregada no texto (formal/informal;
denotativa/conotativa)?
•• Qual é o tipo textual predominante no gênero apresentado como
exemplo?
•• Quais são as principais características que nos fazem identificar
esse texto como um resumo de artigo acadêmico?
1
É importante que você só siga a leitura após tirar suas próprias
Aqui você já percebe um
constatações sobre o resumo, porque vamos tecer considerações aqui
emprego muito importante do
– você pode complementá-las com seu raciocínio. que estudamos e revisamos
a respeito da adequação das
Trata-se de um texto acadêmico, assim, o que se espera e o que se diferentes variações da língua,
vê no texto em relação à linguagem é a formalidade no vocabulário considerando que a norma culta
e na estruturação sintática e o emprego denotativo das palavras, ou é a variação de maior prestígio e
deve ser empregada em textos
seja, não há linguagem figurada ou brincadeiras com o sentido do vo- como o que acabamos de ler.
1
cabulário .
Mas o que o relato dessa história tem a ver com fatores de textua- Livro
lidade e com nossa proposta de nos familiarizarmos mais com textos
acadêmicos? Saber encadear histórias, tal como Penélope encadeava
retalhos, é uma habilidade importantíssima e básica para entender que
as informações têm lugar específico em cada texto. Além disso, a ação
de Penélope pode ser facilmente comparada ao processo trabalhoso
de quem escreve: não são poucas as vezes em que escrevemos de dia
e apagamos à noite, em que não ficamos satisfeitos com o resultado ou
não temos certeza do caminho a ser trilhado pela escrita.
Leitura e produção de tex-
E este texto que você está lendo agora também é fruto desse pro- tos na universidade trata-
cesso da colcha de Penélope? Com certeza! Escolher as melhores pala- -se de uma obra bastante
didática que aborda, com
vras e os jeitos mais eficazes de comunicar não é uma tarefa fácil, e é outros exemplos, vários
preciso sempre pensar no público-alvo com respeito e benevolência, gêneros textuais exigidos
no ambiente acadêmico.
sem, contudo, deixar de obedecer aos propósitos discursivos do texto É sempre muito interes-
e às intenções ou informações necessárias. sante diversificar as vozes
pelas quais nos chegam
Considerando essas motivações, destacamos que os fatores que as análises sobre o que
estudamos. Com relação
vamos descrever, detalhar e exemplificar a seguir devem fazer parte
à produção de textos,
de todas as construções e análises de texto, em qualquer nível de es- isso permite que o leitor/
estudante chegue a suas
colarização. Mas aqui, para aproveitarmos bem nosso ponto de partida
próprias constatações
e nossos objetivos, vamos relacioná-los a exemplos e situações do uni- com base na ideia do que
seja se tornar um leitor
verso acadêmico.
competente.
(Continua)
3.2.2 Situacionalidade
Entre as características a que um conjunto de palavras deve obede-
cer para ser identificado como um texto, está a situacionalidade. Tra-
ta-se de uma condição básica para que se torne possível o processo de
comunicação. Observe e analise a efetivação do processo que estamos
fazendo aqui, no curso do aprendizado que continuamos construindo:
trata-se de uma atividade social que não acontece sem propósito, mas
faz parte de um processo sociocultural.
3.2.4 Intertextualidade
A intertextualidade é a utilização de um texto já existente como
base para a criação ou sustentação de outro. É claro que, em textos
acadêmicos, o emprego de intertextualidade é um recurso recorrente
e necessário, considerando que estamos o tempo todo nos referindo a
pesquisadores, pensadores, conteúdos e definições ou pesquisas cien-
tíficas já consolidadas. Isso quer dizer que estamos, na maior parte do
tempo, criando autonomamente textos embasados na reflexão de ou-
tros textos já produzidos.
Mas o que isso tem a ver com coesão e coerência de texto, princi-
palmente em textos acadêmicos? Primeiro, precisamos entender o que
Livro
é cada uma:
Os livros A coesão textual
e A coerência textual são
dois títulos da mesma au-
tora, Ingedore Koch, que Coesão Coerência
exploram as relações de
sentido conferidas pela Relação textual evidente entre as Atribuição de sentido que permite
coesão e pela coerência ideias do texto. interpretar um texto.
em diferentes textos do
cotidiano. Valem como
leitura de ponto de parti-
da para as diferentes re- Portanto, percebemos que a coesão e a coerência estão intimamen-
flexões e os diversos usos
que podem ser feitos nos te relacionadas com o universo que o produtor e o receptor da men-
textos que produzimos sagem compartilham. Mas como é possível identificar se essas duas
ao longo de nossa forma-
ção acadêmica. características estão bem empregadas em um texto? Vamos considerar
KOCH, I. São Paulo: Contexto, 1989. juntos, com análises e exemplos específicos, as características de coe-
KOCH, I. São Paulo: Contexto, 1990. são e coerência a seguir.
Quadro 3
Conectores e suas funções
Indica finalidade e pode ser substituído por a fim de. Observe que no caso do resumo
Para utilizado como exemplo poderíamos ter a construção “a fim de obter os dados” sem
que houvesse alteração de sentido.
A palavra que é muito versátil em português e pode ser empregada em diversas situa-
ções de ligação entre ideias. Nesse caso, a construção os que pode ser substituída por
Os que aqueles que, sendo que pronome relativo. Por que classificamos que como pronome?
Justamente porque ele tem outros usos, como o que segue.
Aqui, que é uma conjunção integrante e liga uma oração a outra (a principal a seu objeto
direto) – mostram exige objeto direto e é a segunda oração, introduzida por que, que
Que desempenha essa função. Exploramos algumas nomenclaturas para que você possa re-
visar e revisitar as diferentes funções que podem ser exercidas por diferentes palavras
e expressões que ligam informações em contexto.
Assim como outros conectores de mesma natureza (como mas, contudo, todavia, entre-
Porém tanto e no entanto), estabelece uma relação de oposição entre a informação anterior e a
que se segue a ele.
Estabelece uma relação de percurso entre um ponto e outro, que pode ser temporal ou
Desde espacial, e organiza as informações em anterioridade e posterioridade.
REFERÊNCIAS
ASSIS, M. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. v. II. Disponível em: http://
www.dominiopublico.gov.br/download/texto/bv000257.pdf. Acesso em: 24 nov. 2020.
BARROS, A. A.; CARMO, M. F. A.; SILVA, R. L. A influência das redes sociais e seu papel na
sociedade. Anais do Congresso Nacional Universidade, EAD e Software Livre, Belo Horizonte,
v. 1, n. 3, 2012. Disponível em: http://www.periodicos.letras.ufmg.br/index.php/ueadsl/
article/view/3031. Acesso em: 24 nov. 2020.
ECO, U. Apocalípticos e integrados. 4. ed. São Paulo: Perspectiva, 1990.
FSP-USP. Resumos. 2020. Disponível em: http://www.biblioteca.fsp.usp.br/~biblioteca/
guia/a_cap_05.htm. Acesso em: 24 nov. 2020.
HOMERO. Odisseia. São Paulo: Penguin, 2011.
GABARITO
1. Podemos tomar como referência o resumo de texto acadêmico (que é um gênero).
Para ser elaborado, ele utiliza como mecanismos diferentes tipos, como a descrição e
a exposição. Precisamos considerar que os tipos são modelos estabelecidos pelo em-
prego de estruturas linguísticas que lhes são características, enquanto os gêneros são
a realização social que circula em esferas específicas, valendo-se dos tipos.
• para: finalidade.
• essa: pronome que retoma o trabalho já citado no resumo.
• seu: pronome que relaciona o círculo social aos indivíduos referidos anteriormen-
te, com noção de pertencimento.
Tipos textuais empregados: o resumo é composto pelos tipos informativo e descritivo.
3. Qualquer texto em que seja possível identificar coerência interna e externa é uma
elaboração que apresenta relações lógicas entre as partes que o compõem e entre
seu conteúdo e o mundo. Outras respostas que indiquem a necessidade de as partes
do texto fazerem sentido entre si e de o conteúdo elaborado ter sentido com o mundo
podem ser aceitas.
O título desta seção está sugerido aqui com base no “perguntar não
ofende”, principalmente porque muitas vezes não paramos para refle-
tir sobre as respostas que podemos dar a perguntas simples e bem
iniciais como essa. Será que já paramos, em algum momento de nos-
sas vidas, para pensar ou elaborar uma resposta sobre o que significa
argumentar?
1
escrita é a que promove maior ensinamento. No confronto
entre o conhecimento dos livros trazido pelo homem urbano e a
sabedoria do homem rústico, é a palavra falada que mostra a força
da experiência e se torna capaz de convencer quando ambos se
encontram e travam uma sequência de diálogos.
2
inferências, induções e outros raciocínios possíveis com base em pessoa, cujo protagonista
é um intelectual frustrado
pistas oferecidas pela argumentação. Isso fica evidente quando
com a vida restrita a um
o relato em primeira pessoa mostra os questionamentos
mundo urbano e que
provocativos feitos pelo homem rude ao homem urbano e como
decide ir a Creta explorar
isso implica uma mudança de comportamento e destino para uma mina. É nesse
ambos. percurso que conhece
Zorbás, um homem
bruto, mas que tem o
A última consideração tem relação direta com a observação do
talento de se expressar
protagonista que abre esta seção, descrita como “criar juízo”. Essa
com música e dança
expressão pode ser interpretada de diversas maneiras, inclusive quando lhe faltam as
como tomar ciência de uma situação e andar pelo caminho palavras. É no encontro
certo ou de construir, com base no filtro que utilizamos para as entre as narrativas de
informações e experiências, uma escolha, um posicionamento, vida do homem urbano e
3
uma opinião, ou seja, um juízo sobre alguém ou alguma coisa. O do camponês que a argu-
trecho do texto parece mais voltado a essa última interpretação, mentação se estabelece,
considerando que, em seguida, o protagonista afirma delinear uma torna-se questionadora
fronteira entre homens bons e maus, estabelecendo seu juízo de e frutifica como uma
reflexão necessária às
valor sobre eles. É importante destacar que a tomada de decisão,
transformações que a
o estabelecimento de juízo de valor e a consequente formulação
maturidade exige.
de opiniões são ações possíveis com base na interpretação de
estratégias argumentativas, pois o convencimento individual ou KAZANTZÁKIS, N. São Paulo: Grua
coletivo depende disso. Livros, 2011.
Meu caro Sherlock Holmes, algo horrível aconteceu às três da manhã no Jardim Lauris-
ton. Nosso homem que estava na vigia viu uma luz às duas da manhã saindo de uma
casa vazia. Quando se aproximou, encontrou a porta aberta e, na sala da frente, o corpo
Série de um cavalheiro bem vestido. Os cartões que estavam em seu bolso tinham o nome
de Enoch J. Drebber, Cleveland, Ohio, EUA. Não houve assalto
e nosso homem não conseguiu encontrar algo que indicasse
como ele morreu. Não havia marcas de sangue, nem feridas
nele. Não sabemos como ele entrou na casa vazia. Na
OOO
OOOOO
verdade, todo assunto é um quebra--cabeça
OO OOO
OOOO O
sem fim. Se puder vir até a casa, seria ótimo,
OOOOO
se não, eu lhe conto os detalhes e gostaria
OOOOOOOO
muito de saber sua opinião. Atenciosamente,
OOO
Tobias Gregson. (DOYLE, 2017, p. 8)
O ponto de partida
da série Lúcifer é o Como gênero de texto, é possível reconhecer rapidamente que
tédio enfrentado por seu
protagonista, o próprio
é uma correspondência, uma carta enviada por Tobias Gregson ao
diabo, que decide tirar renomado detetive Sherlock, depois de aparentemente ter acontecido
férias em Los Angeles,
onde se envolve com o
um crime. Note que, em determinado momento do texto, Gregson
departamento de polícia afirma que “não houve assalto”. Para chegar a essa constatação, ele
e colabora com a inves-
tigação e resolução de
revelou ao leitor uma pista: os cartões da vítima não foram levados.
crimes. Trata-se de uma Esse processo de argumentação por relação lógica entre informações é
comédia dramática com
todos os clichês afetivos
descrito e muito explorado desde os gregos na Antiguidade Clássica, o
de um clássico romance que nos leva a crer que é um processo muito produtivo.
urbano, mas o que nos
interessa aqui é o mesmo Mas se estamos na seção que trata de argumentação em textos
processo de inferências
com base nas pistas,
orais, você pode se perguntar o que uma carta está fazendo aqui
como nos clássicos de como exemplo. Vamos explicar: ao final da carta, temos um prenúncio
detetive.
de conversa, com a frase “eu lhe conto os detalhes e gostaria muito
Direção: Alonquel Uchôa; Gerard
de saber sua opinião”. Observe que nas entrelinhas desse texto
Jones. EUA: Jerry Bruckheimer
Television; DC Entertainment; temos uma previsão do que é possível fazer por escrito e do que é
Warner Bros. Television, 2016-.
melhor fazer conversando: contar os detalhes. Nessa informação de
Um vídeo do astrônomo Carl Sagan em seu programa dos anos 1980, Cosmos,
conta a história de Eratóstenes, demonstrando como os gregos antigos já haviam
descoberto que a Terra é uma esfera (geoide). Para fazer isso, Eratóstenes observou
a sombra de duas colunas no solstício de verão; uma coluna foi colocada em Ale-
xandria e outra em Siena (atualmente Assuan), ambas no Egito. Ele notou que em
Siena, ao meio dia, o Sol ficava em seu ponto mais alto e a coluna lá instalada pro-
jetava uma sombra com ângulo diferente daquela projetada em Alexandria. Sagan
explica então que, se a Terra fosse plana, ambas as estruturas produziriam sombras
iguais, mas como o planeta é esférico, o sombreamento varia. (CARL..., 2017)
Note que o texto mostra uma explicação que pode ser conside-
rada, em sua leitura global, como uma estratégia de indução. Mas,
para que isso aconteça, no meio da descrição das ações, o públi-
co é convidado a fazer uma comparação entre os tipos de sombra
projetados pela incidência da luz solar sobre as colunas, para que
chegue à constatação de que os ângulos são diferentes (resultado
da comparação) e, portanto, a Terra não pode ser plana (inferência
ou conclusão).
?
solver dentro do texto, mas não é assim que acontece. Para elaborar
um bom parágrafo, é preciso se fazer algumas perguntas:
Qual é a afirmação ou Além da informação
informação principal que principal, o que desejo
desejo transmitir? informar sobre ela ou
relacionar a ela nesse
ponto específico do texto?
O parágrafo que você acabou de ler pode funcionar como uma re-
ceita básica para textos orais que pretendem expor com clareza um
raciocínio completo e convencer a plateia de que esse discurso é váli-
do. Você também pode adotar essa estratégia em suas apresentações
orais de trabalhos ou quando precisar explicar algum tema na sua vida
profissional.
Descrição Exemplo
Apresentação do tema e dos itens que embasarão O verdadeiro conhecimento somente pode ser atingido por
a discussão e reforçarão o posicionamento a meio do racionalismo e da lógica [1]. Essa é a concepção ra-
respeito do assunto ou que permitirão estabelecer cionalista do filósofo francês René Descartes, o qual enca-
um caminho para chegar ao objetivo pretendido. rava a matemática como única fonte fiel de conhecimento,
Lembre-se aqui das narrativas de detetive: funciona diferenciando-se dos sentidos que nos induzem ao erro [2].
do mesmo jeito em textos argumentativos. Vamos Analogamente, a educação financeira é a única que permite
ver um exemplo considerando a introdução de um ao indivíduo autonomia econômica, enquanto é constan-
texto que pretendesse abordar educação financeira temente ludibriado pelo consumismo contemporâneo [3].
no Brasil e as dificuldades de sua implantação? Desse modo, cabe analisar a inclusão da educação financeira
Note que em [1] e [2] o texto apresenta uma rela- nas escolas brasileiras sob viés do esclarecimento e promo-
ção geral de abordagem sobre o conhecimento, algo ção de cidadania [4].
que poderia ser abertura de muitos outros textos. É
a partir do emprego de analogamente em [3] que o
texto começa a apresentar o motivo e a atualidade
da discussão. Depois, na Frase 4, temos as pistas que
nos indicam o suporte da discussão ou os itens que
irão justificar a argumentação do texto.
No coração do texto fica o desenvolvimento dos Primeiramente, vale destacar que o ensino dessa disciplina
itens apresentados inicialmente. É o espaço reserva- possui uma enorme potencialidade de melhorar a relação do
do para empregar definições, exemplos, analogias, brasileiro com as finanças. Segundo dados da pesquisa feita
relações de causa e efeito e outras estratégias que pelo Serviço de Proteção ao Crédito, 58% dos entrevistados
ajudam o emissor a estabelecer a relação entre suas admitem que não dedicam tempo a atividades de controle
afirmações iniciais e, basicamente, o que já existe so- da vida financeira. Tal comportamento está diretamente re-
bre o tema. Que tal seguirmos observando essa abor- lacionado com a falta de acesso à educação financeira. Desse
dagem no exemplo ao lado? modo, o bombardeamento constante de propagandas esti-
mulando o consumo vitimiza grande parte da população que
não sabe como administrar as próprias economias. Assim, ins-
taura-se um ciclo vicioso de empréstimos e endividamentos, o
que compromete economicamente o cidadão brasileiro. Logo,
faz-se necessário uma adoção maior do ensino financeiro
para reverter essa problemática.
Para concluir o texto, é preciso elaborar constata- Diante do exposto, conclui-se que a inclusão da educação
ções, projeções ou apontar soluções, dependendo do financeira no currículo escolar é extremamente importante.
tipo e do teor da discussão estabelecida. Por exem- Portanto, cabe ao Ministério da Educação, em conjunto com
plo, se for uma discussão mais abstrata, uma refle- as secretarias estaduais respectivas, propiciar um maior en-
xão final já fica de bom tamanho; se for um problema foque das aulas de Matemática a aplicações práticas. Para
sobre, o qual é preciso intervir, descrever uma ação isso, elas devem elucidar sobre formas de poupar, categorias
plausível é um bom e coerente caminho. Vamos ob- de investimentos, riscos do endividamento, entre outras in-
servar novamente o exemplo. formações fundamentais contemporaneamente. Além disso,
cabe a tal órgão promover a capacitação dos professores –
por meio de cursos – para que estes sejam capazes de trans-
mitir o conhecimento necessário para a formação do aluno.
Somente assim, será possível que a matemática nos guie não
só ao verdadeiro conhecimento, conforme preconizado por
Descartes, mas para a construção de uma sociedade mais
justa e igualitária.
O livro Escrever e
4.3.1 A paragrafação em textos argumentativos
argumentar apresenta
diferentes estratégias
escritos
textuais e exercícios Nos textos escritos, tratar de paragrafação não requer uma
relacionados à
elaboração e à leitura de abstração como a que foi proposta quando falamos dos textos orais.
textos argumentativos As relações entre as ideias apresentadas ficam mais visíveis e podem
da atualidade, como
publicação de campanhas ser observadas com mais detalhamento. Vamos analisar alguns textos
publicitárias e textos da com base em descobertas científicas, os quais precisam fazer parte de
mídia impressa em geral.
Além disso, põe o leitor nossas leituras para formação intelectual e para resolver as situações
em contato com escolhas cotidianas.
de linguagem diferentes
para cada situação. Vamos começar lendo o trecho de texto a seguir.
KOCH, I. V; ELIAS, V. M. São Paulo:
Contexto, 2016.
Óbitos por cepas de bactérias resistentes a antibióticos vêm crescendo. Um estudo do
governo britânico estima que, em escala global, os óbitos por cepas resistentes já che-
guem a 700 mil por ano. E as coisas têm piorado. Além das bactérias, já estão surgindo
fungos resistentes, como a Candida auris. Qualquer solução passa por um esforço mul-
tinacional de ações coordenadas. O crescente número de governos isolacionistas e até
antidarwinistas não dá razões para otimismo. Há urgência. O estudo britânico calcula
que, se nada for feito, em 2050, as mortes por infecções resistentes chegarão a 10 mi-
lhões ao ano. (SCHWARTSMAN, 2019)
Há tempos atrás uma deputada brasileira criou projeto de lei que propunha que o cida-
dão que presenciasse um pai batendo no próprio filho teria o direito de denunciá-lo. Este
pai, por sua vez, poderia vir a ser condenado caso se comprovasse a “agressão”. Curioso,
pensei. E perigoso também. Antes de tudo, é preciso diferenciar agressão, espancamen-
to e outras barbaridades com o direito – legítimo, penso eu – de pais e mães aplicarem
bons “corretivos” nos seus petizes, apesar de isso parecer cada vez mais antiquado neste
campo de correções políticas e farta hipocrisia. (BALEIRO, 2011)
E como não correr esse risco? Para não cometer um engano de apelo
à autoridade, é preciso perguntar que conhecimento tem essa pessoa
no tema sobre o qual ela está opinando. Lembre-se de que o fato de
uma pessoa ser famosa e ter um discurso simpático ou convincente
não quer dizer que ela tenha conhecimento que lhe confere autoridade
em economia, política ou outras áreas. Observando esses aspectos com
cuidado, temos mais segurança de que, quando fizermos referência a
alguém como autoridade, essa pessoa de fato tem conhecimento e
experiência que lhe conferem status desse tipo de argumento.
Sinais
Por milênios o homem foi caçador. Durante inúmeras perseguições, ele aprendeu a re-
construir as formas e movimentos das presas invisíveis pelas pegadas na lama, ramos
quebrados, bolotas de esterco, tufos de pelos, plumas emaranhadas, odores estagnados.
(Continua)
REFERÊNCIAS
BALEIRO, Z. A moral do cascudo. ISTOÉ, 25 mar. 2011. Disponível em: https://istoe.com.
br/130038_A+MORAL+DO+CASCUDO/. Acesso em: 16 dez. 2020.
CARL Sagan mostra como gregos antigos já sabiam que a Terra era redonda. Galileu, 27
mar. 2017. Disponível em: https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/03/carl-
sagan-mostra-como-gregos-antigos-ja-sabiam-que-terra-era-redonda.html. Acesso em:
16 dez. 2020.
DOYLE, A. C. Um estudo em vermelho. Cotia: Pé de Letra, 2017.
GARY, R. A vida pela frente. São Paulo: Todavia, 2019.
GINZBURG, C. Mitos, emblemas, sinais. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
GUEDES, P. C. Da redação à produção textual: o ensino da escrita. São Paulo: Parábola, 2009.
KAZANTZÁKIS, N. A vida e as proezas de Aléxis Zorbás. Porto Alegre: TAG, 2017.
LISPECTOR, C. Um sopro de vida. Rio de Janeiro: Rocco, 1978.
PAMUK, O. Istambul. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
PAMUK, Orhan. A mulher ruiva. São Paulo: Grua, 2020.
PRATA, A. Terrorismo Lógico. Folha de São Paulo, 11 jan. 2015. Disponível em: https://m.
folha.uol.com.br/colunas/antonioprata/2015/01/1573334-terrorismo-logico.shtml. Acesso
em: 16 dez. 2020.
SCHWARTSMAN, H. Mortes anunciadas. Folha de São Paulo, 14 abr. 2019. Disponível em:
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/helioschwartsman/2019/04/mortes-anunciadas.
shtml. Acesso em: 16 dez. 2020.
SHAKESPEARE, W. O Mercador de Veneza. 2001. Disponível em: http://www.dominiopublico.
gov.br/download/texto/cv000094.pdf. Acesso em: 16 dez. 2020.
UOL NOTÍCIAS. Obama: Excluir mulheres da política é como jogar futebol com metade do
time. Uol, 16 nov. 2020. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-
noticias/2020/11/16/obama-mulheres-politica.htm. Acesso em: 16 nov. 2020.
2. A resposta e a escolha são pessoais, mas segue uma sugestão de elaboração, consi-
derando as partes que o texto de resposta deve conter: “Eu queria ser escritor. Mas
depois dos acontecimentos que passarei a narrar, estudei geologia e me tornei em-
preiteiro. Mas os leitores não devem concluir, pelo fato de eu contar a minha história,
que agora tudo é coisa do passado, que deixei tudo para trás. Quanto mais penso
nela, mais fundo mergulho. Talvez vocês também sigam esse caminho, seduzidos pelo
enigma de pais e filhos (PAMUK, 2020, p. 11)”. O trecho do livro adverte os leitores para
não fazerem uma generalização apressada, pensando que se o autor conta sua histó-
ria, é porque tudo está no passado. Essa é uma ressalva muito importante quando se
trata de ler algum texto e dele extrair constatações. Não se deve agir apressadamente;
é preciso antes observar as pistas e os sinais.
Solo
It takes two to tango (“é preciso dois para dançar tango”), dizem os americanos. O di-
tado, que costuma valer para o amor e seus contrários, talvez não se aplique bem ao
próprio tango – como qualquer um que já assistiu ao solo de um bailarino nas ruas
de Buenos Aires é capaz de atestar. Tradicionalmente um jogo em duplas, o xadrez há
décadas também dispensa interações: qualquer enxadrista misantropo tem horas de
diversão garantida com apenas um computador e uma boa conexão diante de si.
Fonte: Laitano, 2020, p. 3, grifo do original.
Uma boa resenha, em geral, pode ser assim caracterizada com base
principalmente no repertório sociocultural que o autor do texto tem.
No exemplo de Laitano (2020), repare que ela relaciona o tango com o
movimento do jogo de xadrez; essa relação amplia o alcance do texto,
pode despertar curiosidade e não é algo previsível.
(Continua)
5.3 Relatório
Vídeo “No passado, podiam-se acusar os historiadores de querer conhecer somente as ‘gestas dos reis’. Hoje, é claro,
não é mais assim. Cada vez mais se interessam pelo que seus predecessores haviam ocultado, deixado de
lado ou simplesmente ignorado. ‘Quem construiu Tebas das sete portas?’ – perguntava o ‘leitor operário’ de
Brecht. As fontes não nos contam nada daqueles pedreiros anônimos, mas a pergunta conserva todo seu peso.”
(GINZBURG, 2006)
(Continua)
1. Introdução
6. Referências
7. Anexos
Insira as referências
5.4 Resumo
“— Onde estamos? — pergunto em voz alta. Estas duas palavras, que costumamos pronunciar quando,
Vídeo viajando no estrangeiro, chegamos a algum lugar, são uma espécie de fórmula mágica que tem o dom de
nos acordar para a realidade, livrando-nos dessa perigosa dormência ou agitação turística que nos embota
os sentidos, levando-nos a aceitar com demasiada naturalidade ou indiferença, e sem verdadeiro proveito
e encanto, o fato de estarmos em exóticas geografias dantes tão sonhadas e desejadas. Muitas vezes só
depois de voltar a nossa casa no Brasil é que, numa surpresa retrospectiva, nos maravilhamos de ter estado
no palácio do rei Minos, na ilha de Creta, no Grande Bazar de Istambul ou no Barrio Gótico de Barcelona.“
(VERISSIMO, 2002, p. 26)
acrescentar informações a textos que lemos no dia a dia. Lembre-se de Telefone sem fio é o nome de
uma brincadeira feita em um
que, no resumo, não se pode fazer telefone sem fio.
grupo razoavelmente grande de
Como pudemos observar, o resumo de um texto informativo obe- pessoas. A primeira pessoa fala
uma frase ao ouvido da pessoa
dece a alguns itens básicos, que são verificados também nos resumos imediatamente mais próxima e
de outros textos, como nos artigos acadêmicos, mas de maneira mais assim sucessivamente. Em geral,
complexa. Vamos juntos analisar um exemplo? a frase que chega até a última
pessoa é muito diferente da-
quela que foi dita pelo primeiro
participante.
ANÁLISE COMPARATIVA DOS CONCEITOS ESPORTE EDUCACIONAL E ESPORTE
DA ESCOLA
Quéfren Weld Cardozo Nogueira, João Paulo de Jesus Mendonça
Resumo
Este trabalho executa uma análise comparativa dos termos “esporte educacional”e “esporte
da escola” [1]. De modo geral, ambos os conceitos podem ser tomados como equivalentes,
(Continua)
Resumo
A viola caipira é um instrumento com forte identificação com a cultura caipira e com sua
sonoridade. As músicas caipiras tocadas com viola são conhecidas como modas de violas.
O interior do estado de São Paulo (Brasil) possui ligação histórica com a cultura caipira,
fruto da integração de variadas culturas em contato com a população nativa Tupi. Uma
cultura relacionada a modos de vida no campo, com um dialeto característico e uma
sonoridade musical própria. Ao longo do século XX, com as transformações da vida e do
trabalho no campo e com a urbanização do estado de São Paulo, imaginou-se a crise das
bases da cultura caipira frente à cidade [1]. Ao mesmo tempo, com o desenvolvimento
da indústria fonográfica e do rádio a partir do início daquele século, as modas de viola e
o gênero de música caipira se tornaram muito populares por todo o país. Em um cenário
hoje em que o estado é quase todo urbanizado, com as transformações da vida no campo
e com os fluxos globais de comunicação via smartphones, há a continuidade da cultura
caipira como referência aos sujeitos e seus processos de subjetivação [2].
(Continua)
5.5 Artigo
“Quando eu refletia sobre meus futuros romances, sempre gostava de andar pelo quarto, de um lado para outro.
Vídeo Aliás, para mim, sempre foi mais agradável pensar em minhas obras e sonhar sobre como eu as escrevia, do que
escrevê-las de fato e, palavra, não era por preguiça. Mas, então, por que seria?” (DOSTOIÉVSKI, 2003, p. 26)
Quadro 4
Estrutura do artigo científico
Título Deve conter uma síntese que oriente o leitor sobre qual é o tema tratado no texto.
É o espaço reservado para sintetizar o tema, a base teórica, o problema, a meto-
dologia, os objetivos e os resultados. É preciso obedecer às orientações sobre o
Resumo
número de palavras. Após o resumo, devem ser colocadas de três a cinco pala-
vras-chaves.
A introdução apresenta detalhes da problematização proposta e situa o leitor. Na
fundamentação teórica, o autor deve apresentar brevemente alguns conceitos
Introdução e da área que serão usados no se artigo. Algumas publicações pedem que o autor
fundamentação teórica separe a fundamentação da introdução e apresente ambas em seções diferentes,
mas isso não é uma regra, variando de acordo com o local onde o artigo será
publicado.
Trata-se do jeito como foi realizado o processo de pesquisa. É nesse ponto do tex-
Metodologia to que se deve descrever a amostra, os participantes, o campo em que a pesquisa
se inscreve e como foi feita a coleta e a análise de dados.
Para elaborar bem essa parte do texto, é importante considerar o que foi encon-
trado com base nos dados, o que esses resultados representam e as possíveis
Resultados e discussão
análises de cenário com base neles. Na discussão, os resultados são comparados
com outros estudos semelhantes que tratam do mesmo assunto.
Na parte conclusiva do texto, é importante retomar o problema, os objetivos,
a metodologia e os resultados, destacando a contribuição do estudo realizado
Considerações finais para a área de pesquisa. É o momento também de levantar os pontos fortes e
fracos da realização do trabalho e de levantar temas para a continuidade, em
estudos posteriores.
É preciso manter o padrão, confirmando datas e nomes, além de verificar se tudo
Referências o que foi citado no texto aparece nas referências e se tudo o que está nas refe-
rências foi, de alguma maneira, utilizado no texto.
Atividade 4
Os trechos a seguir são exemplos de textos que foram estudados neste capítulo. Complete a tabela conforme a solicitação.
REFERÊNCIAS
BARROSO, P. F. Comunidades terapêuticas como política de estado: uma análise sobre a
inclusão deste modelo de cuidado nas políticas sobre drogas no Rio Grande do Sul. 2020.
Tese (Doutorado em Antropologia Social) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre. Disponível em: https://lume.
ufrgs.br/bitstream/handle/10183/213011/001115874.pdf?sequence=1&isAllowed=y.
Acesso em: 29 dez. 2020.
BAUMAN, Z. Estranhos à nossa porta. Rio de Janeiro: Zahar, 2017.
BRASIL. Ministério da Saúde. Brasil livre da rubéola: campanha nacional de vacinação para
eliminação da rubéola, Brasil, 2008. Brasília: Ministério da Saúde, 2009. Disponível em:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/brasil_livre_rubeola_relatorio.pdf. Acesso em:
29 dez. 2020.
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DOSTOIÉVSKI, F. Humilhados e ofendidos. São Paulo: Nova Alexandria, 2003.
GARRAFFONI, A. R. S. et al. Formação profissional para atuar em ciência, tecnologia e
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GINZBURG. C. O queijo e os vermes. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.
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NOGUEIRA, Q. W.; MENDONÇA, J. P. de J. Análise comparativa dos conceitos esporte
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GABARITO
1. Para elaborar uma resenha adequada, considere que você precisa resumir as ideias
principais do objeto a ser resenhado, relacioná-las com outras ideias e objetos pareci-
dos no mundo e estender sua análise para convencer seu interlocutor de que a série
ou o filme escolhido “vale o ingresso”, ou seja, vale o tempo dedicado a assistir.
2. Podem ser aceitas todas as respostas que se baseiem, por exemplo, na estrutura
apresentada na seção específica de elaboração para relatório.
3. O texto faz parte de uma etapa introdutória do relatório, pois apresenta o problema
ou a situação, com trechos como “A migração em massa não é de forma alguma um
fenômeno recente”. Isso faz com que se possa localizar a problematização que deu
origem ao texto: existe um processo migratório, ele não é novo e representa alguma
preocupação evidente para os nossos dias. Ademais, o trecho apresenta um ponto de
vista sob o qual o problema será tratado e os números serão apresentados: “Além de
tudo isso, contudo, hoje suportamos as consequências da profunda e aparentemente
insolúvel desestabilização do Oriente Médio, na esteira das políticas e aventuras mili-
tares das potências ocidentais, estupidamente míopes e reconhecidamente fracassa-
das”. Isso fica evidente nesse último período do texto, em que as políticas de migração
são caracterizadas como míopes.
4.