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LICENCIATURA EM MATEMÁTICA

COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM
Nome: ____________________________________________________________

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Hugo L P Magalhães
hugo.magalhaes@ifce.edu.br

2023.1

1
Imagem disponível em https://blog.portaleducacao.com.br/as-definicoes-do-pensamento-e-linguagem/

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COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM – (40H/A)

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1 LINGUAGEM; LÍNGUA; SIGNO LINGUÍSTICO.......................................................................................


03

2 TIPOS DE LINGUAGEM .................................................................................................................. 10

3 ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO E FUNÇÕES DA LINGUAGEM.............................................. 14

4 LÍNGUA FALADA E ESCRITA......................................................................................................... 23

5 VARIEDADES (NORMAS) LINGUÍSTICAS..................................................................................... 30

6 NOÇÕES DE TEXTO; COESÃO TEXTUAL..................................................................................... 35

7 COERÊNCIA TEXTUAL.................................................................................................................... 48

8 FATORES PRAGMÁTICOS.............................................................................................................. 53

9 REGÊNCIA VERBAL........................................................................................................................ 59

10 CRASE.............................................................................................................................................. 66

11 CONCORDÂNCIA VERBAL............................................................................................................ 72

12 PONTUAÇÃO: EMPREGO DE VÍRGULA....................................................................................... 78

13 ANÁLISE GRAMATICAL DE FRASES............................................................................................ 81

14 DIFICULDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA................................................................................ 87

15 GÊNEROS TEXTUAIS; TIPOLOGIAS TEXTUAIS.......................................................................... 93

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 1
Conteúdo: LINGUAGEM; LÍNGUA; SIGNO LINGUÍSTICO
1. Linguagem

Em termos gerais, a linguagem compreende qualquer processo de comunicação:

A linguagem abrange vários domínios; é ao mesmo tempo, física, fisiológica e


psíquica; pertence ao domínio individual e social. A linguagem envolve uma
complexidade e uma diversidade de problemas que suscitam a análise de outras
ciências, como a Psicologia, a Antropologia, etc. além da investigação linguística.
Por isso, Saussure2 separa uma parte do todo linguagem, a língua, parte essencial
da linguagem; do outro lado, a fala, um ato individual.

2. Língua: conjunto de signos3

"Este deve ser o bosque", murmurou pensativamente [Alice], "onde as coisas não têm nomes". [...] Ia devaneando
dessa maneira, quando chegou à entrada do bosque, que parecia muito úmido e sombrio. "Bom, de qualquer modo é
um alívio", disse enquanto avançava em meio às árvores, "depois de tanto calor, entrar dentro do... dentro de quê?".
Estava assombrada de não poder lembrar o nome. "Bom, isto é, estar debaixo das... debaixo das... debaixo disso aqui,
ora", disse, colocando a mão no tronco da árvore. "Como essa coisa se chama? É bem capaz de não ter nome
nenhum... ora, com certeza não tem mesmo!". CARROLL, L. Aventuras de Alice. São Paulo: Summus, 1980 (fragmento).

O trecho, retirado da obra Atráves do espelho e o que Alice encontrou lá, mostra que Alice, quando atravessa
o bosque onde as coisas não têm nome, é incapaz de apreender os objetos em torno dela, não sabe o que
eles são. Isso significa que a realidade só tem existência para os homens quando é nomeada. Os signos
são, assim, uma forma de apreender a realidade. Só percebemos no mundo o que nossa língua nomeia.

A atividade linguística é, na verdade, uma atividade simbólica, o que significa


que as palavras criam conceitos e esses conceitos ordenam a realidade,
caracterizam o mundo. Por exemplo, criamos o conceito de “pôr do sol”.
Sabemos que, do ponto de vista científico, não existe pôr do sol, uma vez
que é a Terra que gira em torno do Sol. Porém, esse conceito criado pela
língua determina uma realidade que encanta a todos nós.

Uma nova realidade, uma nova invenção, uma nova ideia exigem novas palavras, mas é sua denominação
que lhes confere existência. Apagar uma coisa no computador é uma atividade diferente de apagar o que foi
escrito a lápis, à máquina ou à caneta. Por isso, surge uma nova palavra para designar essa nova realidade,
deletar.

2
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006.
3
Tópico extraído e adaptado de (FIORIN, José Luiz (org.). Introdução à linguística: objetos teóricos - 6 ed., 3ª reimpressão. – São Paulo: Contexto,
2014.

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A língua é para Saussure “um sistema de signos” – um conjunto de unidades que se relacionam
organizadamente dentro de um todo. É a parte “social da linguagem”, exterior ao indivíduo; não pode ser
modificada pelo falante e obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade.

O conjunto linguagem-língua contém ainda um outro elemento, conforme Saussure, a fala. A fala é um ato
individual; resulta de combinações feitas pelo sujeito falante utilizando o código da língua; expressa-se pelos
mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários à produção dessas combinações (PETTER, 2002).

A aprendizagem, a conservação, a transformação e a transmissão da cultura realizam-se através de uma


grande variedade de práticas sociais. As práticas sociais organizam-se para expressar a cultura das
comunidades humanas, assumindo a condição de sistemas de signos para transmitir essa cultura de um
indivíduo para outro, de uma geração para a geração seguinte. A ciência que estuda os sistemas de signos,
quaisquer que eles sejam e quaisquer que sejam as suas esferas de utilização, chama-se Semiologia ou
Semiótica.4

Os mitos e os quadros de pintura, o alfabeto Morse e os sistemas de relações de parentesco, os cardápios


e as peças musicais, as modas indumentárias e os processos de adivinhação, as instituições, como o Direito
e os jogos desportivos, possuem todos uma série de propriedades específicas que os investe de um papel
social: são, todos, linguagens no sentido mais vasto da palavra. Essas linguagens são capazes de expressar,
sob diferentes modalidades de substâncias significantes, o mesmo significado básico; todos esses sistemas
sígnicos exprimem aspectos de uma particular modelização do mundo, uma imago mundi intuída pela
sociedade que criou esses sistemas.5

Assim como a relação entre o homem e o mundo vem mediatizada pelo pensamento, a relação entre um
homem e outro homem, dentro de uma sociedade, vem mediatizada pelos signos. Para que o pensamento
transite de uma para outra subjetividade, deve ele formalizar-se em signos. Assim, a língua natural carrega
consigo os valores da sociedade de que esse indivíduo é membro; assim, ao aprender a língua do seu grupo,
cada indivíduo assimila também a sua ideologia (= sistema de valores grupalmente compartilhados).
(LOPES, 2002, p. 16-17).

Sendo a língua um conjunto de signos, o signo é a menor unidade dotada de sentido num código dado.
Decompõe-se num elemento material perceptível, o significante e, num elemento conceitual, não perceptível,
o significado. [...] Entre o significante e o significado não há outro liame senão o proveniente de um acordo
implícito ou explícito entre os usuários de uma mesma língua. A maior parte dos signos é arbitrária.

Exemplo 1 Exemplo 2

4
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. 20 ed. São Paulo: Cultrix, 2002, p. 15.
5
Ibidem, p. 16.

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Ou seja, o signo não é motivado, não há nenhuma relação necessária entre o som e o sentido, que não há
nada no significante que lembre o significado, que não há qualquer necessidade natural que determine a
união de um significante e de um significado. Isso é comprovado pela diversidade das línguas.

A palavra mar é sea em inglês; a palavra boi é ox em inglês. Percebe-se que nos sons mar ou sea não há
nada que lembre o significado “massas de águas salgadas do globo terrestre”. “Mar” poderia ser estunque,
se os homens convencionassem que esse deveria ser seu nome.

onda

wave

ola

carneiro carneiro

sheep mutton

Os signos definem-se uns em relação aos outros. O inglês tem duas palavras, sheep e mutton, para
expressar o que exprimimos com a palavra “carneiro”. O primeiro significa o animal, o segundo uma porção
da carne do animal preparada e servida à mesa. Em português, dizemos O carneiro é gordo e O carneiro
está delicioso. Em inglês, no primeiro caso, emprega-se sheep e, no segundo, mutton. A mesma realidade
é categorizada de modo diferente em português e inglês. Em outras palavras, não existe o “significante
verdadeiro”. O signo como um todo só tem valor situado dentro de algum sistema linguístico.

A arbitrariedade do signo linguístico reside no fato de que o falante não pode mudar aquilo que seu grupo
linguístico já consagrou. Nenhum de nós poderia jamais chamar mesa de livro e vice-versa. Por exemplo,
“ele sentou-se ao livro para jantar”; “ele está lendo uma mesa” sem correr o risco de passarmo por insano
(CARVALHO, 2013)6.

Assim, as línguas naturais delimitam aspectos de experiências vividas por cada povo, e estas experiências,
como as línguas, não coincidem, necessariamente, de uma região para outra. O indivíduo que guia um
automóvel é chamado, em francês, de chauffeur, em espanhol de conductor, em inglês de driver, em
português de motorista; isto significa que os franceses associam tal indivíduo com a sua ativídade de aquecer
o motor para pôr a máquina em movimento; os espanhóis e ingleses o associam com o ato de dirigir o carro,
enquanto que nós, falantes do português, o associamos diretamente com o motor do veículo. Trata-se de
uma mesma atividade, mas a análise que cada língua pratica nessa realidade resulta na apreensão de um
aspecto particular de uma série de operações, e esse aspecto focalizado difere de uma para outra
comunidade de falantes.7

6
CARVALHO, Castelar de. Para compreender Saussure: fundamentos e visão crítica, 2013.
7
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. 20 ed. São Paulo: Cultrix, 2002, p. 22.

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3. Simbolismo linguístico
3.1. Signos naturais: os índices

Importa, agora, distinguir entre signos artificiais (ou signos propriamente ditos) e os signos naturais (ou
índices). A função do signo é a de comunicar alguma coisa a alguém, ou seja, criar comunidade,
solidariedade. Ao ver uma nuvem escura, pensamos na iminência de chuva, assim como pensamos em fogo
quando avistamos fumaça. Mas em nenhum momento desses casos existe comunicação, no sentido estrito
da palavra: num dos polos desse processo, o do remetente dos signos, está ausente a mente humana com
o seu propósito de comunicar.

O único relacionamento existente, nos processos indiciais, é o que se estabelece entre signo (fumaça,
nuvem, enxurrada...) e o referente extralinguístico (fogo, chuva iminente ou passada). A relação natural ou
não convencional, entre significante e significado, é uma característica decisiva dos índices, suficientes
mesmo para distinguir índice e signo artificial.

Certas pessoas confundem as duas coisas quando, com base em subsistemas ideológicos ou míticos,
tomam, por exemplo, a presença de uma gato preto ou a quebra de um espelho como sinais de desgraça
futuras. Nestes casos, a relação entre o significante e o significado não é natural, é “sobrenatural”, ou seja,
convencional. Os presságios fundados em sinais externos não são, por isso, baseados em índices, são, isso
sim, baseados em signos culturais.

Como os índices são produzidos sem a intervenção humana na fonte produtora dos sinais, o homem não
pode utilizar os índices para comunicar-se, através dele, como seus semelhantes.

3.2. Signos artificiais8

3.2.1. Signos não linguísticos: o símbolo

Os símbolos são objetos materiais que representam noções abstratas: um pedaço de fazenda preta para
significar o luto, uma cruz para significar o Cristianismo, são símbolos.

A representação do símbolo é sempre deficiente ou inadequada parcialmente em relação ao conjunto das


noções simbolizadas, porque o símbolo é uma parte do todo que é o conteúdo abstrato com o qual ele se
relaciona (REZNIKOV, 1972, p. 166). Assim, o conceito de justiça é muito mais amplo do que o conteúdo
abrangido pela balança, que recorda apenas um dos atributos da justiça, a igualdade.

Desse modo, a relação entre o símbolo e o conteúdo simbolizado é pelo menos parcialmente motivada: a
figura de uma caveira com duas tíbias cruzadas para representar a morte, o desenho de um coração
traspassado por uma flecha para simbolizar o amor, etc. mostram que há, entre símbolo e conteúdo
simbolizado, uma série de traços comuns. O símbolo tem como característica não ser completamente
arbitrário; ele não está vazio, existe um rudimento de vínculo natural entre o significante e o significado. O
símbolo da justiça, a balança, não poderia ser substituído por um objeto qualquer, um carro, por exemplo.
(SAUSSURE, 1970).

3.2.2 Signos linguísticos

O que precisamente diferencia os signos verbais das demais espécies de signos artificiais é o fato de que
estes últimos serão sempre traduzidos pelos primeiros; e estes, os signos verbais, só são traduzíveis com
adequabilidade por outros signos linguísticos verbais.

8
LOPES, Edward. Fundamentos da linguística contemporânea. 20 ed. São Paulo: Cultrix, 2002, p. 44-45.

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O professor fala: <telefone>

E logo, cada um que escutar a palavra <telefone>, imaginará diversos aparelhos diferentes.

A palavra <telefone> é um significante que representa diversos tipos de aparelhos , mas com o mesmo
objetivo final. Telefone (celular, fixo, público/orelhão, móvel) são significados do significante <telefone>,
pois, quando alguém fala <telefone>, a representação mental não pode escapar totalmente dos termos
entendíveis como telefone. Todo signo é composto por significante e significado.

4. Ícone ou imagem

Quando vemos uma fotografia de nosso amigo João, reconhecemos nela uma representação de João; um
mapa de nossa cidade representa a nossa cidade. Há, em tais casos, uma certa similitude visual entre o
significante e o significado. Por esse lado, os ícones se aproximam bastante da natureza dos índices
(motivação necessária), mas não se confundem com estes porque a fonte produtora dos ícones é a mente
humana, ao passo que, no caso dos índices, como vimos, a fonte produtora do sinal é um elemento da
natureza, uma força não cultural. Portanto, um ícone (como por exemplo um desenho de uma árvore) guarda
uma relação de semelhança com a ideia que representa, como é o caso de desenhos, fotografias, imagens,
estátuas e várias outras formas de referência. De acordo com Luís Otavio Maciel: “o artista em seus diversos
campos constrói ícones”; pois, na arte, o ser humano cria. O jogo existente, na arte, é o jogo da construção
de possibilidades. O ícone é o fator da possibilidade e a obra de arte é polissêmica, tem vários sentidos, é
aberta, faz uso da liberdade (poética, estética, espacial, étnica, temporal, ideológica etc.). A obra de arte
guarda, em sua existência, diversas possibilidades e sempre se renova, mesmo quando imóvel. Os objetos
do mundo se expressam de múltiplas maneiras.

Esquematizando o simbolismo linguístico:

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EXERCÍCIOS

1. Acerca dos termos Signo e Símbolo, pode-se afirmar que

I - Ambos, o símbolo e o signo, são semiarbitrários.

II - O símbolo é totalmente arbitrário, e o signo é semiarbitrário.

III - O símbolo é semiarbitrário, e o signo é totalmente arbitrário.

2. Considere estas afirmativas: I - Imagem psíquica, conceito ou representação mental que a imagem
acústica evoca no falante; II - É semiarbitrário; III - Imagem acústica, representação sonora do vocábulo; IV
- Combinação arbitrária (ou imotivada). São conceitos que se relacionam, respectivamente, a

a) I - Signo; II - Significante; III - Símbolo; IV - Significado

b) I - Significante; II - Signo; III - Significado; IV - Símbolo

c) I - Significado; II - Símbolo; III - Significante; IV - Signo

d) I - Significante; II - Símbolo; III - Significado; IV - Signo

e) I - Símbolo; II - Signo; III - Significado; IV - Significante

3. "DEZENOVE" é associativamente solidário de "DEZOITO", "DEZESSETE" etc. Isso diz respeito à


arbitrariedade

I - Relativa

II - Absoluta

4. Acerca das palavras onomatopeias, isto é, palavras formadas por reprodução aproximada, com os
recursos de que a língua dispõe, de um som natural a ela associado, assinale a resposta certa.

I - São imitações convencionais de sons e ruídos naturais, variam de língua para língua e não alteram o
princípio da arbitrariedade do signo linguístico.

II - São imitações fiéis e direta de um ruído ou som natural; signos motivados, por isso não são arbitrários.

5. Saussure afirma que não há motivo algum para preferir "souer" a "sister", ou a "irmã", "ochs" a "boeuf" a
"boi". Tal fato se deve à(ao)

I - Significante

II - Significado

III - Arbitrariedade do signo

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6. (ENEM/2008) Os signos visuais, como meios de comunicação, são classificados em categorias de acordo
com seus significados. A categoria denominada indício corresponde aos signos visuais que têm origem em
formas ou situações naturais ou casuais, as quais, devido à ocorrência em circunstâncias idênticas, muitas
vezes repetidas, indicam algo e adquirem significado. Por exemplo, nuvens negras indicam tempestade.
Com base nesse conceito, escolha a opção que representa um signo da categoria dos indícios.

7. (ENEM/2008) A linguagem utilizada pelos chineses há milhares de anos é repleta de símbolos, os


ideogramas, que revelam parte da história desse povo. Os ideogramas primitivos são quase um desenho
dos objetos representados. Naturalmente, esses desenhos alteraram-se com o tempo, como ilustra a
seguinte evolução do ideograma , que significa cavalo e em que estão representados cabeça, cascos e
cauda do animal.

Considerando o processo mencionado acima, escolha a sequência que poderia representar a evolução do
ideograma chinês para a palavra luta.

8. O signo é composto por sua forma física e por um conceito mental, que corresponde a uma apreensão da
realidade externa. Como meios de comunicação visual, os signos visuais podem assumir categorias
diferentes de acordo com o seu significado. A respeito das categorias dos signos, assinale a opção correta.

a) O pictograma representa um objeto ou transmite uma ideia por meio de ilustrações ou desenhos. Os
pictogramas foram a base da escrita do mundo antigo, mas, com o desenvolvimento da comunicação visual,
perderam seu significado.
b) Um sinal transmite uma informação percebida por todos da mesma maneira. É constituído a partir de um
desenho figurativo, de apreensão rápida, que serve para informar ou identificar locais e serviços.
c) O símbolo representa um modelo imitativo de um objeto, uma forma, um espaço ou determinada situação,
pressupondo, portanto, uma relação direta entre o real e a imagem representada. Os símbolos são
compreendidos somente dentro de determinado grupo ou contexto religioso, cultural etc.
d) O indício tem origem em formas ou situações naturais ou casuais e adquire significado por meio do
acúmulo de experiências advindas da ocorrência de situações idênticas.

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 2
Conteúdo: TIPOS DE LINGUAGEM
Considere os textos abaixo:

1 2 3
1.TIPOS DE LINGUAGEM
A linguagem é o uso da língua como forma de expressão e comunicação entre as pessoas. Quando nos
referimos à leitura de textos, a princípio, temos a ideia de que o termo recai somente sobre um conjunto de
palavras faladas ou escritas (diz o senso comum). As ciganas, contudo, dizem ler a mão humana, e os
críticos afirmam ler um filme, logo fazemos leitura de tudo o que nos cerca: gestos, situações, gravuras,
fotos, sons, toque, olhar etc. Isto é, a linguagem não está necessariamente restrita apenas a palavras ou
textos. Sendo assim, podemos estabelecer três tipos de linguagem: verbal, não verbal e verbal e não verbal.

1.1. LINGUAGEM VERBAL

É o uso da escrita ou da fala como meio de comunicação. Quando falamos com alguém, lemos um livro ou
revista, estamos utilizando a palavra como código. Esse tipo de linguagem é conhecido como linguagem
verbal, sendo a palavra escrita ou falada, a forma pela qual nos comunicamos. A linguagem verbal é a forma
de comunicação mais presente em nosso cotidiano, pois, por meio dela, expomos aos outros as nossas
ideias e pensamentos.

1.2. LINGUAGEM NÃO VERBAL

É outra forma de comunicação em que o código utilizado é a simbologia. Utiliza-se de outros meios
comunicativos, como placas, figuras, gestos, cores, sons, ou seja, por meio de signos visuais e sensoriais.
Não se utiliza, portanto, do código escrito para transmitir o conteúdo.

1.3. LINGUAGEM VERBAL E NÃO VERBAL

É constituída por meio da linguagem verbal e não verbal, ou seja, ela transmite uma mensagem por meio do
uso de imagens e palavras para um maior entendimento. Um exemplo disso são os outdoors, histórias em
quadrinhos, propagandas etc.

2. EXISTE LINGUAGEM ANIMAL?9


Um estudo clássico sobre o sistema de comunicação usado pelas abelhas, publicado em 1959 por Karl von
Frisch, revela que a abelha-obreira, ao encontrar uma fonte de alimento, regressa à colmeia e transmite a
informação às companheiras por meio de dois tipos de dança: circular, traçando círculos horizontais da
direita para a esquerda e viceversa, ou em forma de oito, em que a abelha contrai o abdome, segue em linha
reta, depois faz uma volta completa à esquerda, de novo corre em linha reta e faz um giro para a direita, e
assim sucessivamente.

9
Tópico extraído e adaptado do artigo (PETTER, Margarida. “Linguagem, língua, lingüística”. In: Introdução à linguística. FIORIN, José Luiz (org.).
– 6 ed., 3ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2014, p. 15-16)

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Os dois tipos de dança apresentam-se como verdadeiras mensagens que anunciam a descoberta para a
colmeia: ao perceber o odor da obreira ou absorvendo o néctar que ela deglute, as abelhas se dão conta da
natureza do alimento; ao observar a dança, as abelhas descobrem o local onde se encontra a fonte do
alimento.

Os estudos do zoólogo alemão fazem uma importante revelação sobre o funcionamento de uma "linguagem"
animal, que permite avaliar pelo confronto a singularidade da linguagem humana, conforme assinala
Benveniste (1976). Embora seja bem preciso o sistema de comunicação das abelhas - ou de qualquer outro
animal cuja forma de comunicação já tenha sido analisada - ele não constitui uma linguagem, no sentido em
que o termo é empregado quando se trata de linguagem humana, como se pretende demonstrar a seguir.

As abelhas são capazes de: (a) compreender uma mensagem com muitos dados e de reter na memória
informações sobre a posição e a distância; e (b) produzir uma mensagem simbolizando - representando de
maneira convencional - esses dados por diversos comportamentos somáticos.

Essas constatações evidenciam que esse sistema de comunicação cumpre as condições necessárias à
existência de uma linguagem: há simbolismo, ou seja, capacidade de formular e interpretar um "signo"
(qualquer elemento que represente algo de forma convencional); há memória da experiência e aptidão para
analisá-la. Assim como a linguagem humana, esse sistema é válido no interior de uma comunidade e todos
os seus membros são aptos a empregá-lo e compreendê-lo da mesma forma.

No entanto, as diferenças entre o sistema de comunicação das abelhas e a linguagem humana são
consideráveis:

(a) a mensagem se traduz pela dança exclusivamente, sem “aparelho vocal” (hoje há línguas não orais);
(b) a mensagem da abelha não provoca uma resposta, mas apenas uma conduta, o que significa que não
há diálogo;
(c) a comunicação se refere a um dado objetivo, fruto da experiência. A abelha não constrói uma mensagem
a partir de outra mensagem. A linguagem humana caracteriza-se por oferecer um substituto à experiência,
apto a ser transmitido infinitamente no tempo e no espaço;
(d) o conteúdo da mensagem é único - o alimento, a única variação possível refere-se à distância e à direção;
o conteúdo da linguagem humana é ilimitado; e
(e) a mensagem das abelhas não se deixa analisar, decompor em elementos menores.

É esse último aspecto a característica mais marcante que opõe a comunicação das abelhas à linguagem
humana. Num enunciado linguístico como "Quero água" é possível identificar três elementos portadores de
significado: quer- (radical verbal) + -o (desinência número-pessoal), água, denominados morfemas.
Prosseguindo a decomposição, pode-se chegar a elementos menores ainda. No enunciado "Quero água", a
menor unidade, os segmentos sonoros, denominados fonemas, permitem distinguir significado, como se
pode observar na substituição de (á) por (é) em água égua. Essa é a propriedade da articulação, que é
fundamental na linguagem humana, pois permite produzir uma infinidade de mensagens novas a partir de
um número limitado de elementos sonoros distintivos.

O termo linguagem pode ter um uso não especializado bastante extenso, podendo referir-se desde a
linguagem dos animais até outras linguagens - música, dança, pintura, mímica etc. convém enfatizar que a
Linguística detém-se somente na investigação científica da linguagem verbal humana. No entanto, é de se
notar que todas as linguagens (verbais ou não verbais) compartilham uma característica importante - são
sistemas de signos usados para a comunicação. Esse aspecto comum tornou possível conceber-se uma
ciência que estuda todo e qualquer sistema de signos. Saussure a denominou Semiologia; Peirce a chamou
de Semiótica. A Linguística é, portanto, uma parte dessa ciência geral; estuda a principal modalidade dos
sistemas sígnicos, as línguas naturais, que são a forma de comunicação mais altamente desenvolvida e de
maior uso.

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EXERCÍCIOS
1. Sobre a linguagem verbal e não verbal, é correto afirmar:

a) A linguagem verbal e não verbal são duas modalidades de comunicação que nunca são empregadas
juntas.
b) A linguagem verbal representa a linguagem formal, enquanto a linguagem não verbal é representada pela
linguagem informal.
c) A linguagem verbal é sempre culta e segue os padrões da gramática da língua.
d) A linguagem não verbal não pode ser realizada nem com a fala, nem com a escrita.
e) A linguagem verbal também pode ser chamada de linguagem mista, pois utiliza diversas variantes da
língua.

2. Os emojis foram criados em 1999 pelo designer japonês Shigetaka Kurita com o intuito de aprimorar a
comunicação da população japonesa. Sobre essa linguagem é correto afirmar:

a) Os emojis complementam a linguagem verbal expressando as emoções dos emissores da mensagem.


b) Os emojis utilizam a linguagem mista em que há o uso da linguagem verbal e não verbal.
c) os emojis representam uma linguagem verbal expressa por diversas figuras.
d) Os emojis são sempre utilizados com os emoticons, outro tipo de linguagem não verbal.
e) os emojis são essencialmente uma comunicação linguística expressa pela ordem das palavras.

Segundo a tirinha, é INCORRETO afirmar:

a) As linguagens verbal e não verbal são utilizadas pelas duas personagens.


b) Somente a Susanita que utiliza a linguagem não verbal quando levanta o dedo.
c) A linguagem verbal é representada pelas falas das personagens.
d) A linguagem não verbal envolve as expressões e os movimentos das personagens.
e) Em todos os quadros temos o uso da linguagem verbal e não verbal.

4. I - Apresentações teatrais e de dança utilizam, exclusivamente, a linguagem não verbal. II - As esculturas


são uma forma artística de comunicação não verbal. III - As revistas e os jornais são exemplos de meios que
utilizam a linguagem verbal e não verbal. Segundo as afirmações acima, está (ão) correta (s)
a) somente a I
b) I e II
c) I e III

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d) II e III
e) I, II e III

5. Todos utilizam a linguagem verbal e não verbal em simultâneo, EXCETO:

a) as sinalizações de trânsito
b) as apresentações teatrais
c) as charges e os cartoons
d) as publicidades e os filmes
e) as poesias e as palestras

6. O artista gráfico polonês Pawla Kuczynskiego nasceu em 1976 e recebeu diversos prêmios por suas
ilustrações. Nessa obra, ao abordar o trabalho infantil, Kuczynskiego usa sua arte para

a) difundir a origem de marcantes diferenças sociais.


b) estabelecer uma postura proativa da sociedade.
c) provocar a reflexão sobre essa realidade.
d) propor alternativas para solucionar esse problema.
e) retratar como a questão é enfrentada em vários países do mundo.

7. O cartum abaixo faz uma crítica social. A figura destacada está em oposição às outras e representa a

a) opressão das minorias sociais.


b) carência de recursos tecnológicos.
c) falta de liberdade de expressão.
d) defesa da qualificação profissional.
e) reação ao controle do pensamento coletivo.

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 3
Conteúdo: ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO; FUNÇÕES DA
LINGUAGEM
Sabemos que a comunicação se manifesta de inúmeras
formas, como, por exemplo, um gesto, um olhar, palavras,
símbolos, pelas artes de uma forma geral, sinais sonoros,
pela escrita, por contatos físicos, como um aperto de mão
ou um abraço, entre outros.

Ela nos condiciona a desempenharmos determinadas funções enquanto seres sociais, seja expressando
desejos e opiniões, trocando informações, aprimorando nossos conhecimentos, retratando sentimentos,
enfim, participando efetivamente de uma coletividade.

Seja qual for o tipo de comunicação utilizada, sempre há uma mensagem a ser transmitida e, sobretudo,
uma finalidade específica que se deseja obter diante do ato comunicativo, tendo em vista que a linguagem
é estritamente social.

Para que o diálogo se efetive, alguns elementos são preponderantes diante deste propósito. Assim sendo,
é importante nos familiarizarmos com eles, conhecendo sobre cada uma de suas funções. Seja um texto
literário ou não literário, o texto sempre apresenta alguém que o escreve, o emissor, e alguém que o lê,
o receptor. O que o emissor escreve é a mensagem. O elemento que conduz o discurso para o receptor é
o canal (no nosso caso, o canal é o papel). Os fatos, os objetos ou imagens, os juízos ou raciocínios que o
emissor expõe ou sobre os quais discorre constituem o referente/contexto. A língua que o emissor utiliza (no
nosso caso, obrigatoriamente, a língua portuguesa) constitui o código.

Assim, através de um canal, o emissor transmite ao receptor, em um código comum, uma mensagem, que
se reporta a um contexto ou referente. Nesse mecanismo, de acordo com a proposta de Jakobson (1969),
temos:

Quando um poeta descreve a Lua, suas impressões se dispõem de maneira especial, conforme a
subjetividade de suas sensações. Quando um cientista descreve o mesmo objeto, submete-o à interpretação
informativa, impessoal e científica. Assim, a Lua, que para o poeta seria “uma inspiração romântica”, para o
cientista é “o satélite natural da Terra”. Dessa forma, temos as funções da linguagem que apontam o
direcionamento da mensagem para um ou mais elementos do circuito da comunicação. Qualquer produção
discursiva, linguística (oral ou escrita) ou extralinguística (pintura, música, fotografia, propaganda, cinema,
teatro etc.) apresenta funções da linguagem.

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FUNÇÕES DA LINGUAGEM
Jakobson (1969) elabora, no texto "Linguística e Poética", um quadro dos fatores constitutivos de todo
processo comunicativo e relaciona a cada um deles uma das funções da linguagem. A ênfase num elemento
do circuito de comunicação determina a função de linguagem que lhe corresponde:

Cada um desses seis elementos determina uma função de linguagem. Raramente se encontram mensagens
em que haja apenas uma; na maioria das vezes o que ocorre é uma hierarquia de funções em que predomina
ora uma, ora outra. Observe este trecho:

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo
com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não
só em bombas como também em dádivas de toda natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que
está de olho na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras,
reflexos no espelho (infiel) do dicionário.
(Carlos Drummond de Andrade)

No exemplo acima, predomina a função metalinguística (volta-se para a própria produção discursiva) e a
poética (produz efeito estético através da linguagem metafórica); porém, menos evidentes aparecem as
funções referencial (evidencia o assunto) e emotiva (revela emoções do emissor). A classificação das
funções da linguagem depende das relações estabelecidas entre elas e os elementos do circuito da
comunicação. Esquematicamente, temos:

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1. FUNÇÃO REFERENCIAL ou DENOTATIVA

Certamente a mais comum e mais usada no dia a dia, a


função referencial ou informativa, também chamada
denotativa ou cognitiva, privilegia o contexto. Ela
evidencia o assunto, o objeto, os fatos, os juízos. Faz
referência a um contexto, ou seja, a uma informação sem
qualquer envolvimento de quem a produz ou de quem a
recebe. Não há preocupação com estilo, sua intenção é
unicamente informar. Os textos com função referencial
empregam principalmente procedimentos que produzem dois efeitos de sentido: o de objetividade (uso da
3ª pessoa) e o de realidade ou referente (nomes próprios, qualidades “objetivas” ou “concretas”), isto é, de
apagamento ou distanciamento do sujeito e de verdade dos fatos. É a linguagem das dissertações, das
narrações não fictícias e das descrições objetivas. Caracteriza o discurso científico, o jornalístico e a
correspondência comercial. Nessa função, há, portanto, apagamento ou distanciamento do sujeito.

A Vigilância Sanitária Municipal interditou, nesta manhã, a loja da rede McDonald's na Praça da Alfândega, no Centro
de Porto Alegre. De acordo com o coordenador do órgão, Anderson Lima, o local estaria infestado por baratas.
A fiscalização foi feita depois que uma denúncia anônima informou sobre o fato. Uma nova vistoria foi agendada para
amanhã, após uma desinsetização. Correio do Povo 16/02/2011

2. FUNÇÃO EMOTIVA ou EXPRESSIVA

Centralizada no emissor, revelando sua opinião, sua emoção,


isto é, quando há ênfase no emissor (lª pessoa) e na expressão
direta de suas emoções e atitudes, temos a função emotiva,
também chamada expressiva ou de exteriorização psíquica.
Procedimentos: emprego da 1ª pessoa, apresentação de
qualidades “subjetivas”, por meio de adjetivos como “fantástico”,
“encantador”, “medonho” e outros; utilização de modalizadores
relacionados ao saber, como “eu acho”, “eu considero” etc. Os
procedimentos empregados criam principalmente os efeitos de subjetividade e de emotividade ou de
presença ou proximidade do sujeito que relata não propriamente os fatos, mas o seu ponto de vista sobre
eles, os seus sentimentos e emoções sobre os acontecimentos.
Devo avisar que detesto saudosismos, do tipo “No meu tempo era tudo melhor”. Primeiro, porque quase sempre é
engano: antigamente as coisas eram, em vários aspectos, bem piores. Não havia ar-condicionado, nem penicilina, nem
avião, nem computador, nem a possibilidade de discutir abertamente assuntos graves, nem terapia para endireitar a
cabeça quando ela entorta demais. A verdade era escondida debaixo do tapete, as relações humanas debaixo dos
panos, e a sem-gracice devia ser bastante grande... Não havia um milhão de coisas que facilitam, ampliam, iluminam
nossa vida.
LUFT, Lya, Revista Veja,(adaptado)
As canções populares, amorosas, as novelas e qualquer expressão artística que deixe transparecer o estado
emocional do emissor também pertencem à função emotiva. Exemplos:

“Tenho andado distraído, impaciente e indeciso. E ainda estou confuso só que agora é diferente, sou tão tranquilo e
tão contente. Quantas chances desperdicei, quando o que eu mais queria era provar pra todo o mundo que eu não
precisava provar nada pra ninguém”.
Legião Urbana (Composição: Dado Villa-Lobos / Renato Russo / Renato Rocha)

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3. FUNÇÃO CONATIVA ou APELATIVA
A função conativa é aquela que busca mobilizar a atenção do receptor,
produzindo um apelo ou uma ordem. Pode ser volitiva, revelando assim uma
vontade (“Por favor, eu gostaria que você se retirasse”), ou imperativa, que é a
característica fundamental da propaganda. Encontra no vocativo e no imperativo
sua expressão gramatical mais autêntica. Assim, produz os efeitos de sentido
de interação com o destinatário, a que se procura convencer ou persuadir.

4. FUNÇÃO FÁTICA

Se a ênfase está no canal, para checar sua recepção ou para manter


a conexão entre os falantes, temos a função fática. Utiliza-se de
fórmulas prontas para iniciar ou interromper o contato (olá, tudo bem?
Tchau, até logo) e para verificar se há ou não contato (está
escutando?). Os efeitos de sentido são os de aproximação e
interesse entre remetente e destinatário, de presença de ambos na
comunicação, de estabelecimento ou manutenção da interação.

Bom dia!
Oi, tudo bem?
Ah, é!
Hum... hum...sei...
É...é.....
To entendendo...

5. FUNÇÃO METALINGUÍSTICA

A função metalinguística visa à tradução do código ou à elaboração


do discurso, seja ele linguístico (a escrita ou a oralidade), seja
extralinguístico (música, cinema, pintura, gestualidade etc. —
chamados códigos complexos). Assim, é a mensagem que fala de
sua própria produção discursiva. Um livro convertido em filme
apresenta um processo de metalinguagem, uma pintura que
mostra o próprio artista executando a tela, um poema que fala do
ato de escrever, um conto ou romance que discorre sobre a própria linguagem etc. são igualmente
metalinguísticos. O dicionário é metalinguístico por excelência.

Exemplo:
estorvo | s. m.
1ª pess. sing. pres. ind. de estorvar
estorvo |ô|
(derivação regressiva de estorvar)
s. m.
1. Ato ou efeito de estorvar
2. Impedimento; dificuldade; oposição.
3. Pessoa ou coisa que atrapalha.
Plural: estorvos |ô|.
Confrontar: estrovo.

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6. FUNÇÃO POÉTICA
Quando a mensagem se volta para seu processo de estruturação, para os seus próprios constituintes, tendo
em vista produzir um efeito estético, por meio de desvios da norma ou de combinatórias inovadoras da
linguagem, temos a função poética, que pode ocorrer num texto em prosa ou em verso, ou ainda na
fotografia, na música, no teatro, no cinema, na pintura, enfim, em qualquer modalidade discursiva que
apresente uma maneira especial de elaborar o código, de trabalhar a palavra.

“Vozes veladas, veludosas vozes,


Volúpias dos violões, vozes veladas,
Vagam nos velhos vórtices velozes
Dos ventos, vivas, vãs, vulcanizadas.” (Castro Alves, O Navio Negreiro)

RESUMO

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EXERCÍCIOS
1. Identifique, nas figuras abaixo, o tipo de linguagem empregado (verbal, não verbal ou verbal e não verbal).

a) ________________________ b) ___________________________ c) ___________________________

2. Qual é a função da linguagem predominante no texto abaixo?

Durante o tratamento com Cloridrato de Benzidamina drágeas e solução oral (gotas), as pessoas mais sensíveis
à benzidamina podem apresentar, ainda que raramente, ansiedade, insônia, agitação, convulsões e alterações
visuais. Podem ocorrer também náusea e sensação de queimação retroesternal. Informe imediatamente o seu
médico caso ocorram reações adversas desagradáveis com o uso do produto.

a) Função emotiva.
b) Função conativa.
c) Função referencial.
d) Função metalinguística.
e) Função poética

3. Assinale a alternativa que contenha a sequência correta sobre as funções da linguagem, importantes
elementos da comunicação:
1. Ênfase no emissor (lª pessoa) e na expressão direta de suas emoções e atitudes.
2. Evidencia o assunto, o objeto, os fatos, os juízos. É a linguagem da comunicação.
3. Busca mobilizar a atenção do receptor, produzindo um apelo ou uma ordem.
4. Ênfase no canal para checar sua recepção ou para manter a conexão entre os falantes.
5. Visa à tradução do código ou à elaboração do discurso, seja ele linguístico ou extralinguístico.
6. Voltada para o processo de estruturação da mensagem e para seus próprios constituintes, tendo em vista
produzir um efeito estético.
( ) função metalinguística.
( ) função poética.
( ) função referencial.
( ) função fática.
( ) função conativa.
( ) função emotiva.
a) 1, 2, 4, 3, 6, 5.
b) 5, 2, 6, 4, 3, 1.
c) 5, 6, 2, 4, 3, 1.
d) 6, 5, 2, 4, 3, 1.
e) 3, 5, 2, 4, 6, 1.

4. (Ano: 2015 Banca: CETAP Órgão: Prefeitura de Ananindeua - PA Prova: CETAP - 2015 - Prefeitura de
Ananindeua - PA - Professor de Educação Infantil)

“Nesses 70 anos que separam o vestido da Roman Originals em 2015 e o vestido de Drummond em 1945,
vale a pena reler o poema para perceber o quanto empobrecemos, emburrecemos, perdemos o foco das
discussões.”.

Na sequência em gradação, a função da linguagem que prevalece é:


a) a referencial.

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b) a conativa
c) a metalinguística.
d) a emotiva.
e) afática

5. Encontre a opção incorreta quanto aos elementos da comunicação.

a) CANAL é o meio pelo qual circula a mensagem.


b) MENSAGEM é o conjunto significativo de ideias, um texto.
c) CÓDIGO é o contexto, a situação e os objetos reais ou fictícios a que a mensagem remete.
d) EMISSOR é a pessoa, ou grupo de pessoas, que emite uma mensagem.
e) RECEPTOR é a pessoa, ou grupo de pessoas, que recebe a mensagem.

6. São elementos da comunicação, exceto:

a) Emissor
b) Receptor
c) Intenção
d) Mensagem
e) Canal

7. Identifique a função poética:

a) "Economize com a HDI seguros. Peça uma cotação HDI Auto para seu corretor."
b) "A minha alma partiu-se como um vaso vazio." (Álvaro de Campos)
c) "Entre outubro de 2008 e agosto de 2009, ladrões invadiram mansões de gente como Paris Hilton e
Lindsay Lohan, em Los Angeles, levando mais de 3 milhões em roupas, sapatos e joias." (Veja, ed. 2334,
ano 46, nº 33 - 14.08.2013)
d) Preciso que você confirme alguns dados, pode ser? Certo. Podemos começar?
e) Nossa! Que dia cansativo! Trabalhei feito um condenado. Ainda bem que o fim de semana chegou e eu
vou me divertir!

8. Cada função de linguagem corresponde a um dos elementos da comunicação. Todas as opções estão
adequadamente relacionadas, exceto:

a) Emotiva - Emissor
b) Referencial - Referente
c) Poética - Mensagem
d) Metalinguística - Canal
e) Conativa - Receptor

9. (Ano: 2014 Banca: MS CONCURSOS Órgão: IF-AC)

SONETO DO AMOR TOTAL

Amo-te tanto, meu amor... não cante


O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade (...) (MORAES, Vinicius. Livro de sonetos. São Paulo: Companhia das Letras, 2004)

Há duas funções da linguagem predominantes no poema. Quais?

a) Conativa e Referencial.
b) Referencial e Poética.
c) Emotiva e Poética.
d) Metalinguística e Fática.
e) Poética e metalinguística.

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10. Em qual das opções a seguir temos um exemplo de função fática:

a) "Eu entendo a noite como um oceano que banha de sombras o mundo de sol” (Zé Ramalho)
b) Você é nosso convidado especial! Não deixe de participar!
c) FONEMA é a menor unidade sonora de uma palavra; LETRA é a menor unidade gráfica de uma palavra.
d) "Eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir" (Roupa Nova)
e) Alô? Você está me ouvindo?

11. (ENEM 2010) A biosfera, que reúne todos os ambientes onde se desenvolvem os seres vivos, se divide
em unidades menores chamadas ecossistemas, que podem ser uma floresta, um deserto e até um lago. Um
ecossistema tem múltiplos mecanismos que regulam o número de organismos dentro dele, controlando sua
reprodução, crescimento e migrações. DUARTE, M. O guia dos curiosos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Predomina no texto a função da linguagem:

a) emotiva, porque o autor expressa seu sentimento em relação à ecologia.


b) fática, porque o texto testa o funcionamento do canal de comunicação.
c) poética, porque o texto chama a atenção para os recursos de linguagem.
d) conativa, porque o texto procura orientar comportamentos do leitor.
e) referencial, porque o texto trata de noções e informações conceituais.

Texto I
Pesquisa inédita realizada pela CNDL e SPC Brasil buscou avaliar o perfil dos brasileiros adimplentes e
inadimplentes, sendo considerados como: a) adimplentes: aqueles que pagam regularmente suas compras
e dificilmente têm seu nome negativado nos sistemas de proteção ao crédito. b) inadimplentes: aqueles que
não pagam regularmente suas compras e, possivelmente, têm seu nome negativado nos sistemas de
proteção ao crédito. [...] Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2016.
Texto II
[...] Pare de acumular dívidas. Corte os cartões de crédito e jogue os cheques fora, para não soltar uma
borracha. Não peça mais cartões ou financiamentos. Fique longe de empréstimos consignados. Se não pode
comprar algo hoje, também não pode amanhã [...]. Disponível em: . Acesso em: 12 jun. 2016.

12. Considerando a linguagem desses dois fragmentos textuais, verifica-se que

a) a função da linguagem, no texto I, centra-se no referente e, no texto II, centra-se no receptor.


b) a linguagem utilizada no texto I é informal, enquanto, no texto II, predomina a linguagem formal.
c) a função da linguagem, centrada no código, está presente tanto no texto I, quanto no texto II.
d) a linguagem utilizada no texto I é conotativa, enquanto, no texto II, predomina a linguagem denotativa.
e) a função da linguagem, no texto I, centra-se no referente e, no texto II, centra-se no relato de informações
reais.

13. (ENEM 2012) Leia o texto e, em seguida, responda ao que se pede.


Desabafo
Desculpem-me, mas não dá pra fazer uma cronicazinha divertida hoje. Simplesmente não dá. Não tem como
disfarçar: esta é uma típica manhã de segunda-feira. A começar pela luz acesa da sala que esqueci ontem
à noite. Seis recados para serem respondidos na secretária eletrônica. Recados chatos. Contas para pagar
que venceram ontem. Estou nervoso. Estou zangado. CARNEIRO, J. E. Veja, 11 set. 2002 (fragmento).
Nos textos em geral, é comum a manifestação simultânea de várias funções da linguagem, com o
predomínio, entretanto, de uma sobre as outras. No fragmento da crônica Desabafo, a função da linguagem
predominante é a emotiva ou expressiva, pois
a) o discurso do enunciador tem como foco o próprio código.
b) a atitude do enunciador se sobrepõe àquilo que está sendo dito.
c) o interlocutor é o foco do enunciador na construção da mensagem.
d) o referente é o elemento que se sobressai em detrimento dos demais.
e) o enunciador tem como objetivo principal a manutenção da comunicação.

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14. O texto seguinte também é de natureza poética. Nele, qual a função secundária da linguagem?

Lutar com as palavras


é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.
(Carlos Drummond de Andrade)

a) Função emotiva.
b) Função conativa.
c) Função referencial.
d) Função metalinguística.
e) Função fática.

15. (Ano: 2019 Banca: UFRR Órgão: UFRR)


"Todo mundo quer nióbio - e quase todas as reservas mundiais desse metal, 98,2%, estão no Brasil. Nós
temos o equivalente a 842 milhões de toneladas de nióbio, que valem inacreditáveis US$ 22 trilhões: o dobro
do PIB da China, ou duas vezes todo o petróleo do pré-sal." Podemos afirmar que esse trecho apresenta a
função da linguagem
a) Conativa
b) referencial
c) emotiva
d) poética
e) metalinguística

16. (Ano: 2019 Banca: IF-SP Órgão: IF-SP Provas: IF-SP - 2019 - IF-SP - Letras: Português e Inglês)

Não se enojem teus ouvidos


De tantas rimas em a,
Mas ouve meus juramentos,
Meus cantos, ouve, sinhá!
Te peço pelos mistérios
Da flor do maracujá!
(VARELA, F. A flor do maracujá. In: Cantos e fantasias e outros cantos. São Paulo: Martins Fontes, 2003)

O excerto do poema de Fagundes Varela utiliza-se de recurso de linguagem, especificamente no segundo


verso, que se relaciona, do ponto de vista da classificação de Jakobson para as funções da linguagem, à
função:

a) referencial, pois o comentário sobre a rima tem como objetivo acrescentar informação linguística a respeito
da estrutura do poema.
b) fática, pois a alusão às constantes repetições da rima serve para testar a atenção do leitor em relação ao
andamento do poema.
c) metalinguística, pois o comentário sobre a fonética das rimas do poema é um comentário sobre o próprio
código utilizado.
d) emotiva, pois a alusão às repetições da rima está associada aos sentimentos íntimos do poeta.

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 4
Conteúdo: LÍNGUA FALADA E LÍNGUA ESCRITA

1. Modalidades da Língua10
A língua se manifesta em duas modalidades: a escrita e a falada:

• na língua falada, o significante é formado por fonemas e, na língua escrita, por sinais gráficos ou letras;
• a língua falada não marca do mesmo modo que a escrita determinados traços gramaticais; a pontuação
é substituída por recursos de expressão específicos: entonação, acentuação, fluência, pausas;
• a língua falada recorre, frequentemente, à repetição de palavras, às onomatopeias e anacolutos e aos
dêiticos11 em geral: eu, aqui, agora, isto, tornando a comunicação mais “econômica”;
• do ponto de vista sociológico, a língua escrita se sobrepõe à língua oral, pois rege toda a vida geral e
superior do país;
• a língua escrita (e nela se manifesta a literatura como uma variante em nível superior, em função de seus
objetivos estéticos) sempre constitui, em todas as épocas, um fator de unificação linguística, pois suas
transformações são bem mais lentas do que as apresentadas continuamente pelo ato de fala no tempo e no
espaço. (Dino Pretti)12
Tanto a língua falada quanto a escrita apresentam variantes ou níveis linguísticos decorrentes de vários
fatores, principalmente os de ordem socicultural e geogrática. Assim, quanto ao aspecto geográfico,
evidentes diferenças existe, por exemplo, entre o inglês de Londres e o de Nova Iorque, entre o português
do Brasil e o de Portugual; e inúmeras são as variantes linguísticas determinadas por fatores de ordem
sociocultural. Assim, a língua coloquial, os dialetos, a língua grupal, a língua padrão etc.

A língua coloquial é o falar espontâneo do povo, no seu cotidiano, sem preocupação com as normas
linguísticas.

Do ponto de vista linguístico, dialetos são hábitos no falar de um grupo social que podem ocorrer no plano
geográfico (dialetos regionais ou variedades diatópicas) quanto no plano social (dialetos sociais ou
variedades diastráticas).

A norma-padrão, principal fator de unificação linguística, é explicitada pela gramática normativa e deve ser
adotada sobretudo nos códigos escritos, nos documentos oficiais, na linguagem científica, jornalística,
enfim, nos mais diversos meios culturais da sociedade elitizada; nesse contexto sociocultural é que o desvio
da norma constitui erro; erro é, então, desvio da norma culta apenas em situações que a exigem.

Cabe ressaltar que é preferível a expressão “norma-padrão” ao se referir ao uso formal da língua quanto às
regras gramaticais; não confundi-la com “norma culta”, mais associada aos hábitos linguísticos dos falantes
escolarizados, que tiveram contato direto com a cultura escrita, no Brasil. A norma culta brasileira
corresponde, nesse sentido, às características linguísticas comuns dos falantes brasileiros, como colocar o
pronome obíquo no começo de frase “me empresta uma caneta?”, ou empregar o pronome pessoal reto
como complemento de verbo “não vi ele na rua”, entre outros exemplos.

10
Tópico extraído e adaptado de (Hauy, Amini Boainain. Gramática da língua portuguesa padrão: com comentários e exemplários, redigida
conforme o Novo Acordo Ortográfico. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2014, p. 58-59)
11
São elementos linguísticos que só podem ser entendidos dentro da situação de comunicação e, quando aparecem, num texto escrito, a situação
enunciativa deve ser explicitada.
12
Sociolinguística: Os níveis de Fala, p. 28.

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2. Língua escrita e língua falada: principais características13
A fala e a escrita são modalidades da linguagem que apresentam características próprias. Há estruturas que
são consideradas típicas da fala, como os inícios falsos, enquanto outras ocorrem predominantemente na
comunicação escrita. A fala constitui a principal forma de comunicação da humanidade (SILBER‐VAROD,
2011)14 e surgiu há aproximadamente 100 mil anos atrás. A escrita, por sua vez, surgiu há cerca de 5.500
anos e, derivada da fala, tem sua origem ligada à criação de uma tecnologia que pudesse auxiliar na gestão
de uma complexidade social (RASO, 2013)15.

Em uma comparação entre as duas modalidades da língua em uso, Raso (2013) destaca alguns aspectos
de distinção. O primeiro deles, de acordo com o autor, se baseia no caráter natural da língua falada, em
oposição ao caráter tecnológico da escrita. Para Raso, o ser humano tem a fala como capacidade inata e
desenvolve as habilidades orais ao longo do tempo de exposição à língua, por meio da interação social.
Trata-se de uma atividade que não requer treinamento, mas que se aprende de forma natural. A capacidade
de aprender a língua escrita, por outro lado, não é característica do ser humano, ao contrário, ainda hoje,
muitas são as pessoas que não têm conhecimento dessa modalidade comunicacional. A escrita surgiu como
uma tecnologia, uma ferramenta para atender às necessidades sociais, um produto da evolução cultural
para resolver os problemas que surgiam na época de sua invenção e, diferentemente da língua oral, sua
aquisição/aprendizagem requer prática e anos de treinamento.

Outro aspecto distintivo apontado por Raso (2013), entre as instâncias da fala e da escrita, está relacionado
ao meio e ao canal de efetivação da comunicação. Enquanto a fala é realizada por meio de sinais sonoros
(ondas sonoras) que são propagados pelo ar (canal) e decodificadas pelo aparelho auditivo humano, a
escrita é realizada por meio de sinais gráficos, que podem ser apresentados em diversificados canais (como
papel, madeira, suporte digital etc.) e que são decodificados pelos olhos.

Na linguagem escrita, o indivíduo produtor tem a possibilidade de efetuar correções, alterações ou mesmo
de apagar suas mensagens. Na fala espontânea, por outro lado, isso não acontece, pois a produção oral
não é planejada/elaborada e o falante não dispõe de tempo para fazer preparações, alterações e correções,
tampouco para “apagar” o que foi dito. Isso ressalta também o caráter imprevisível da fala, que conta com
interlocutores ativos independente do controle do falante, enquanto o escritor tem a chance de controlar seu
conteúdo e possíveis interações.

13
Conteúdo baseado no artigo Língua falada, língua escrita e análise de corpora orais: breve revisão. Autores: Priscilla Tulipa da Costa –
CEFET-MG, Campus Contagem Dalmo Buzato – CEFET-MG, Campus Contagem. XVI Encontro Virtual de Documentação em Software Livre e XIII
Congresso Internacional de Linguagem e Tecnologia Online.
14
SILBER‐VAROD, V. The SpeeCHain Perspective: Prosody‐Syntax Interface in Spontaneous Spoken Hebrew. PhD dissertation. Tel Aviv University,
2011.
15
RASO, T. Fala e escrita: meio, canal, consequências pragmáticas e linguísticas. Domínios de Lingu@gem, n. 7, v. 2, 2013. p. 12–46.

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3. A relação entre língua falada e língua escrita16
Refletir acerca da relação entre língua falada e língua escrita é saber que a utilização de uma ou de outra
modalidade está determinada pelas condições de produção do evento comunicativo e que ambas pertencem
ao mesmo sistema lingüístico: no nosso caso, a língua portuguesa.

Embora fala e escrita utilizem o mesmo sistema linguístico, têm características próprias; algumas exclusivas
de cada modalidade e outras que pertencem tanto a uma quanto à outra. O tema é bastante polêmico, e é
visto sobre diferentes perspectivas.

Inicialmente, os estudiosos estabeleceram uma dicotomia entre a língua falada e a língua escrita, as
diferenças mais marcantes podem ser resumidas da seguinte forma:

A discussão da relação entre a fala e a escrita centrava-se apenas no código, predominando a noção
de supremacia da escrita. Tanto é que nas sociedades modernas, a escrita se impôs. Para Marcuschi
(2001, p.17), “(...) ela se tornou indispensável, ou seja, sua prática e a avaliação social a elevaram a um
status mais alto, chegando a simbolizar educação, desenvolvimento e poder”.

A partir dos anos 80, houve uma mudança de perspectiva no modo de se examinar a oralidade e a escrita,
até então predominava a noção de superioridade da escrita. Hoje, predomina a noção de que oralidade e
escrita são atividades interativas, complementares. O que determina a utilização de uma ou de outra
modalidade são as condições de produção e as formações discursivas em que o indivíduo está inserido.

Mas, apesar de uma modalidade não ser superior à outra, conservam características inerentes. Na língua
falada, a interação acontece face a face, o planejamento é simultâneo à produção; a criação é coletiva; não

16
Conteúdo baseado no artigo disponível em http://www.leffa.pro.br/tela4/Textos/Textos/Anais/ECLAE. Acesso em 20 de set. de 2021.

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há possibilidade de apagamento; torna-se difícil a consulta a outros textos; a reformulação pode ocorrer tanto
pelo falante como pelo ouvinte; o acesso às reações do interlocutor é imediato, o que permite um
redirecionamento do texto e o processo de criação é visível.

Na escrita, a interação acontece a distância; existe um planejamento antes da produção; a criação


geralmente é individual; há possibilidade de revisão e de consulta a outros textos. Só o escritor reformula o
texto, não há possibilidade de reação imediata do interlocutor, por isso o escritor elabora o texto a partir de
possíveis reações do leitor.

Nesse sentido, o processo de criação é ocultado, apenas o resultado aparece. A posição de Marcuschi
(2001, p.17)17 é a de que oralidade e escrita são práticas e usos da língua com características próprias, mas
não suficientemente opostas para caracterizar dois sistemas lingüísticos nem uma dicotomia. Ambas
permitem a construção de textos coesos e coerentes, ambas permitem a elaboração de raciocínios abstratos
e exposições formais e informais, variações estilísticas, sociais, dialetais e assim por diante.

Gênero textual: Diálogo

Gerente – Boa tarde. Em que eu posso ajudá-lo?


Cliente – Estou interessado em financiamento para compra de veículo.
Gerente – Nós dispomos de várias modalidades de crédito. O senhor é nosso cliente?
Cliente – Sou Júlio César Fontoura, também sou funcionário do banco.
Gerente – Julinho, é você, cara? Aqui é a Helena! Cê tá em Brasília? Pensei que você inda tivesse na agência
de Uberlândia! Passa aqui pra gente conversar com calma.
(BORTONI, Ricardo, S. M. Educação em língua materna. São Paulo: Parábola, 2004.)

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Com base na leitura, podemos perceber como, de fato, existe uma escala gradual de formalidade empregada na
linguagem com que foram produzidos. Ou seja, é precipitado afirmar que a língua(gem) informal está diretamente
relacionada à fala, enquanto a língua(gem) formal está diretamente ligada à escrita. Na verdade, o que temos é um
continuum de gêneros textuais que estende do mais falado ao mais escrito, e, ao mesmo tempo, é atravessado por
uma escala de monitoramento estilístico. (BAGNO, 2017, p. 152).
----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------

Portanto, são duas as tendências nos estudos linguísticos quanto à noção de língua falada e língua escrita:
a primeira analisa as relações entre as duas modalidades, estabelecendo diferenças de forma dicotômica; a
segunda considera que as duas modalidades se integram dentro de um contínuo de práticas sociais. A

17
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.

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tendência de maior tradição entre os estudiosos é a primeira; nesta, a relação entre a fala e a escrita tem
como parâmetro a língua escrita, tida como a modalidade superior, adquirida sistematicamente em contextos
formais e institucionais – a exemplo da Escola.

Dessa maneira, na análise o que prevalece é o código, as observações voltam-se para a imanência dos
fatos lingüísticos. Foi esta tendência que deu origem ao prescritivismo da norma lingüística tida como padrão
– a norma culta. A fala, tida como a modalidade inferior, adquirida de forma natural e informalmente nas
relações sociais e dialógicas do dia a dia, passa a constituir o lugar do erro e da desordem gramatical. E a
escrita constitui o lugar da norma e do uso correto da língua, teoricamente.

Sendo assim, o indivíduo vai para a Escola para aprender a escrever e adquirir conhecimentos da gramática
normativa, só então estará apto para usar a língua corretamente. A Escola parece esquecer que fala e escrita
não constituem dois sistemas linguísticos diferentes, mas modalidades de uso da língua diferenciadas. Fala
e escrita não podem ser dissociadas, uma recebe influência da outra.

Do ponto de vista da própria evolução da escrita, tornou-se necessária uma formulação homogênea e
unificada para padronizar a forma de se grafar as palavras, a forma de se escrever, porque senão ninguém
iria compreender a língua escrita. Em outras palavras, como o sistema da escrita não é fonético, houve
necessidade de uma sistematização da própria escrita. Dessa forma, o sistema linguístico é regulamentado
por um código, e ele próprio é uma língua escrita, imposta pela tradição gramatical que ditou/impôs como
nós deveríamos grafar as palavras de tal forma e não de outra, mesmo que pronunciemos diferente. Além
disso, a escola prioriza o ensino através de livros (língua escrita), exigindo a aprendizagem e o uso de regras
rigorosas de ortografia.

Veja, agora, como a situação pode fazer mudar o nível de formalidade:

Mensagem para a namorada Mensagem para o patrão

Oi Bia, Senhor gerente,


Seguinte. A gente combinou de ir no cinema Terei de faltar amanhã ao trabalho em razão de uma
amanhã, sessão da tarde. Não vai dar. Me prova bem difícil, no colégio. Precisarei estudar, pois se
esqueci que tem uma prova no colégio, e se eu eu for mal nessa prova, minha mãe vai ficar muito
não for estudar minha velha me pega pelo pé. nervosa.
Eu, hein! Tô fora. Você me entende. Espero que o senhor compreenda minha situação e que
Beijocas, me desculpe.
Pedrão. Atenciosamente,
Pedro.

Entrecruzamento entre fala e escrita

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LINGUAGEM CORRENTE

Em alguns casos de câncer de


boca, as células da pele perdem
funções próprias, ganhando
funções típicas das células
conjuntivas. Quando isso
acontece, elas produzem
proteínas específicas das células
conjuntivas. Uma série de eventos
acontecem então, tais como a
perda de sua coesão e a invasão
das células conjuntivas, (em busca
dos vasos sanguíneos),
promovendo o espalhamento do
câncer pela boca.

LINGUAGEM TÉCNICA

A transição epitélio-mesenquimal
é um processo-chave na invasão e
metástase em carcicomas, sendo
responsável pela ativação de genes
mesenquimais como a Vimentina e
pela inibição de genes epiteliais
como as Citoqueratinas. Uma série
de eventos segue a transição
epitélio-mesenquimal, como a
perda da adesão celular, a síntese
de componentes exclusivos da
matriz extracelular como a
glicosaminoglicana Fibronectina e a
síntese de proteases como a
Estromelisina-1.
Fonte: Rogério Moraes de Castilho, Transição epitélio-
mesenquimal em carcicomas epidermoides bucais, São
Paulo, Universidade de São Paulo, tese de
doutoramento, 2003).

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EXERCÍCIOS
1. Analise as afirmativas abaixo sobre a língua escrita e a língua falada.

1. A língua escrita não é a transposição da língua falada.


2. A língua escrita é mais espontânea, abrange a comunicação linguística na sua totalidade.
3. A língua escrita mantém as mensagens através do tempo e do espaço.
4. Signo linguístico – elemento representativo que apresenta dois aspectos indissolúveis: significado e
significante.
5. Ênfase, entonação e pausa. Recursos da língua escrita.

Assinale a alternativa que indica todas as afirmativas corretas.

a) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 4.


b) São corretas apenas as afirmativas 1, 3 e 5.
c) São corretas apenas as afirmativas 1, 4 e 5.
d) São corretas apenas as afirmativas 2, 3 e 4.
e) São corretas apenas as afirmativas 2, 4 e 5.

2. Analise o texto abaixo:

(…) Azevedo Gondim apagou o sorriso, engoliu seco, apanhou os cascos de sua pequena vaidade e replicou
amuado que um artista não pode escrever como fala.
— Não pode? Perguntei com assombro. E por quê?
Azevedo Gondim respondeu que não pode porque não pode.
— Foi assim que sempre se fez. A literatura é a literatura, seu Paulo. A gente discute, briga, trata de negócios
naturalmente, mas arranjar palavras com tinta é outra coisa. Se eu fosse escrever como falo, ninguém me
lia. Graciliano Ramos. São Bernardo - excerto

Assinale a alternativa que tem amparo no texto.

a) O objeto de estudo para o texto escrito está na literatura como sempre foi feita.
b) A língua é o suporte de uma dinâmica social e implica muitas vezes codificação específica.
c) As pessoas que escrevem como falam vão de encontro ao caráter social da língua.
d) A gramática normativa é o mecanismo correto para diferenciar a fala da escrita, sendo a única aceitável
socialmente.
e) Entre a língua e a sociedade há uma relação de mera casualidade, já que nossa vida em sociedade supõe
um problema de intercâmbio e comunicação.

3. Com base nas particularidades acerca da fala e escrita, faça uma análise crítica sobre o registro da língua
no aviso a seguir:

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 5
Conteúdo: VARIEDADES (NORMAS) LINGUÍSTICAS
LÍNGUA E VARIEDADES LINGUÍSTICAS (NORMAS LINGUÍSTICAS)

Antes de tudo, temos que considerar a língua como um sistema heterogêneo, variável, constituído por um
conjunto de variedades linguísticas. Ou seja, a língua não seria uma entidade una, homogênea, imutável.

Segundo Bagno (2017), o termo variedade linguística pretende ser uma forma neutra, empregada nos
estudos sociolinguísticos em geral, para se referir a qualquer tipo específico de linguagem, um modo de
falar – dialeto, sotaque, socioleto, estilo. Toda língua é um feixe de variedades. As variedades (normas)
podem ser regionais (mineira, carioca, baiana etc.) ou sociais (quando definidas por critérios como idade,
sexo, classe social, grau de escolarização etc.) e também estilísticas (segundo o grau de maior ou menor
formalidade da fala ou da escrita). O mais importante é entender que cada variedade (norma) tem a sua
organização e estrutura.

As variedades linguísticas podem ser, portanto, históricas, regionais, sociais e de estilo.

VARIEDADES HISTÓRICAS (DIACRÔNICAS)

As variações históricas tratam das mudanças ocorridas na língua com o decorrer do tempo. Algumas
expressões deixaram de existir, outras novas surgiram e outras se transformaram com a ação do tempo.

Um clássico exemplo da língua portuguesa é o termo “você”: no português arcaico, a forma usual desse
pronome de tratamento era “vossa mercê”, que, devido a variações inicialmente sociais, passou a ser mais
usado frequentemente como “vosmecê”. Com o passar dos séculos, essa expressão reduziu-se ao que hoje
falamos como “você”, que é a forma incorporada pela norma-padrão (visto que a língua adapta-se ao uso
de seus falantes) e aceita pelas regras gramaticais. Em contextos informais, é comum ainda o uso da
abreviação “cê” ou, na escrita informal, “vc” (lembrando que estas últimas formas não foram incorporadas
pela norma-padrão, então não são utilizadas na linguagem formal).

Vossa mercê → Vosmecê → Você → Cê

VARIEDADES REGIONAIS OU GEOGRÁFICAS (DIATÓPICAS)

As variações geográficas naturalmente falam da diferença de linguagem devido à região. Essas


diferenças tornam-se óbvias quando ouvimos um falante brasileiro, um angolano e
um português conversando: nos três países, fala-se português, mas há diferenças imensas entre cada fala.

Não é preciso que a distância seja tão grande: dentro do próprio Brasil, vemos diferenças de léxico
(palavras) ou de fonemas (sons, sotaques). Há diferenças entre a capital e as cidades do interior do
mesmo estado. Observemos alguns exemplos de diferenças regionais:

“Mandioca”, “aipim” ou “macaxeira”? Os três nomes estão corretos, mas, dependendo da região do Brasil,
você ouvirá com mais frequência um ou outro. O mesmo vale para a polêmica disputa entre “biscoito” e
“bolacha”, que se estende para todo o território nacional.

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VARIEDADES SOCIAIS (DIASTRÁTICAS)

As variações sociais são as diferenças de acordo com o grupo social do falante. Embora tenhamos visto
como as gírias variam histórica e geograficamente, no caso da variação social, a gíria está mais ligada
à faixa etária do falante, sendo tida como linguagem informal dos mais jovens (ou seja, as
gírias atuais tendem a ser faladas pelos mais novos).

Pessoas mais afastadas dos centros urbanos, menos instruídas tendem a não realizar a concordância entre
as palavras (dizem “as ave”, “os livro”), e isso parece ser simplesmente normal para essa comunidade; já
pessoas mais escolarizadas, que tiveram acesso à educação formal, contato com a cultura escrita, tendem
a realizar mais a concordância (dizem “as aves”, “os livros”). Nesse momento, é importante ressaltar que
cada norma linguística (variedade linguística) tem sua organização estrutural. Assim, não faz sentido
considerar que variedades do chamado português popular falam “errado”, “sem gramática”. (FARACO,
2008)

VARIEDADES ESTILÍSTICAS (DIAFÁSICAS)

As variações estilísticas remetem ao contexto que exige a adaptação da fala ou ao estilo dela. Aqui
entram as questões de linguagem formal e informal, adequação à norma-padrão ou despreocupação com
seu uso. O uso de expressões rebuscadas e o respeito às normas-padrão do idioma remetem à linguagem
tida como culta, que se opõe àquela linguagem mais coloquial e familiar. Na fala, o tom de voz acaba tendo
papel importante também. Assim, o vocabulário e a maneira de falar com amigos provavelmente não serão
os mesmos que em uma entrevista de emprego, e também serão diferentes daqueles usados para falar com
pais e avós. As variações estilísticas respeitam a situação da interação social, levando-se em conta
ambiente e expectativas dos interlocutores.

NORMA-PADRÃO, NORMA CULTA, NORMA POPULAR: VALORAÇÃO SOCIAL DIANTE DAS NORMAS

A língua, portanto, é um conjunto das variedades, isto é, normas. Ou seja, elas não são deturpações,
corrupções, degradações da língua, mas são a própria língua: é o conjunto de variedades (de normas
linguísticas) que constitui a língua. Nesse sentido, a norma dita culta é apenas uma dessas variedades,
com funções socioculturais bem específicas. Do ponto de vista estritamente linguístico, as variedades
(normas) se equivalem, isto é, todas são igualmente organizadas, todas são igualmente complexas. Isso
não significa, porém, que todas as variedades se equivalham socialmente. Há uma diferenciação valorativa
que hierarquiza as variedades. Assim, algumas variedades recebem avaliação social positiva – as
variedades de prestígio –, como, por exemplo, a “linguagem da gramática”, a norma-padrão; enquanto
outras são desprestigiadas e até estigmatizadas, como, por exemplo, a linguagem do sertanejo, do caipira,
de pessoas menos instruídas, menos escolarizadas – a norma popular.

NORMA CULTA: LINGUAGEM URBANA COMUM DO BRASIL

Na tentativa de encontrar um critério de definição de “norma culta”, Faraco (2008) afirma que seria a
variedade de uso corrente entre falantes urbanos com escolaridade superior completa, em situações
monitoradas. Ou seja, a norma culta seria, pelos critérios do projeto NURC (Norma Linguística Urbana Culta),
a variedade que está mais próxima do falar urbano, do letramento e dos estilos mais monitorados.

As principais características sintáticas da linguagem urbana comum do Brasil podem ser facilmente
definidas: desde o século XIX elas estão listadas pelos comentadores gramaticais mais conservadores como
“erros comuns” da fala brasileira. Isto é, as propriedades correntes (habituais, normais) na nossa linguagem
urbana comum têm sido tradicionalmente classificadas não como peculiaridades do português urbano
brasileiro, mas como “erros”.

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Embora alguns desses pretensos “erros” estejam já abonados pelos autores da norma gramatical
contemporânea (em razão de terem sido usados na escrita por autores consagrados), o imaginário que
transformou nossas peculiaridades linguísticas em “erros” é ainda forte nas discussões sobre língua no
Brasil. [...] Há aqui, sem sombra de dúvida, um sério (e secular) equívoco de análise da realidade linguística
do nosso país: o que se chama de “erros” comuns – por serem justamente “erros” de todos – constituem, na
verdade, características definidoras do português brasileiro urbano comum. Por isso, os chamados “erros”
comuns permanecem inalterados na fala culta brasileira, apesar da repetida e insistente condenação de
mais um século dos comentadores e manuais mais conservadores.

A norma culta é mais que um rol de elementos léxico-gramaticais. Ela combina práticas culturais, valores
sociais e elementos propriamente linguísticos. Portanto, a norma culta/comum brasileira designa o
conjunto de fenômenos linguísticos que ocorrem habitualmente no uso dos falantes letrados18 em situações
mais monitoradas de fala e escrita. Esse vínculo com os usos monitorados e com as práticas da cultura
escrita leva os falantes a lhe atribuir um valor social positivo, a recobri-la com uma capa de prestígio social.

Por outro lado, não devemos confundir norma culta com norma-padrão, embora tenham similaridade de uso,
assim como não devemos confundir a norma culta falada da norma culta escrita. Por exemplo, o uso dos
pronomes oblíquos átonos praticamente desaparece na norma culta falada no Brasil. A construção “já o
vendi” se referindo a um “carro” é comum na escrita culta. Para a norma culta falada, o mais comum seria
“já vendi ele” ou simplesmente “já vendi”.

NORMA-PADRÃO VS. NORMA CULTA COMUM BRASILEIRA

A distância entre a norma-padrão tradicional e as variedades prestigiadas (as da norma culta


comum/brasileira) é tão grande que muitas pessoas com escolaridade superior completa, inclusive
professores de português, não conseguem perceber os supostos “erros” que os defensores da tradição
normativista detectam a torto e a direito. [...] A sociolinguística tem mostrado que quando determinadas
regras linguísticas rejeitadas pela norma-padrão tradicional se cristalizam na língua das classes sociais
privilegiadas, e principalmente na escrita monitorada, é porque essas regras já se incorporaram
definitivamente à gramática da língua, uma vez que a escrita mais monitorada, como se sabe, é mais
conservadora e leva mais tempo para absorver as variantes inovadoras, que se manifestam primeiramente
na língua falada. Quando os falantes privilegiados de uma sociedade param de reagir desfavoravelmente a
determinados usos linguísticos, quando param de considerá-lo como “erros”, é porque o ideal de língua
“certa” já mudou, num processo de autorregulação natural e inerente aos grupos sociais, que independe da
ação prescritivista das instâncias oficiais e oficiosas que pretendem controlar os destinos do idioma.

NORMA-PADRÃO

O projeto da norma-padrão no Brasil teve como objetivo fundamental combater as variedades do português
popular, da “colônia”. Se no século XVIII, buscou-se implantar uma política que visava calar as línguas
indígenas, em especial, a chamada língua geral, no século XIX, a intenção era calar as variedades rurais e
(progressivamente) urbanas. Os formuladores e defensores da norma-padrão se opuseram com igual furor
às características das variedades populares e às das variedades cultas faladas aqui. Muitos imaginam que
a “metrópole” colonial nos impingiu sua norma standard como norma-padrão. No entanto, a tentativa de
lusitanização da nossa norma culta/comum foi de integral responsabilidade de nossa própria elite letrada. O
excessivo artificialismo do padrão que estipularam impediu, porém, que a norma-padrão se estabelecesse
efetivamente entre nós. No fundo, foi um projeto que fracassou: por ferir excessivamente o senso linguístico
dos falantes urbanos letrados brasileiros, nunca conseguiu, de fato, alterar a face linguística de nosso país.

18
É mais adequado considerar letrados todos (os falantes) que concluem pelo menos o ensino médio. (FARACO, 2008, p. 57)

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EXERCÍCIOS

1. "Contudo, a divergência está no fato de existirem pessoas que possuem um grau de escolaridade mais
elevado e com um poder aquisitivo maior que consideram um determinado modo de falar como o “correto”,
não levando em consideração essas variações que ocorrem na língua. Porém, o senso linguístico diz que
não há variação superior à outra, e isso acontece pelo “fato de no Brasil o português ser a língua da imensa
maioria da população não implica automaticamente que esse português seja um bloco compacto coeso e
homogêneo." (BAGNO, 1999, p. 18). Sobre o fragmento do texto de Marcos Bagno, podemos inferir, exceto:

a) As variações linguísticas são próprias da língua e estão alicerçadas nas diversas intenções
comunicacionais.
b) A variedade linguística é um importante elemento de inclusão, além de instrumento de afirmação da
identidade de alguns grupos sociais.
c) O aprendizado da língua portuguesa não deve estar restrito ao ensino das regras.
d) Segundo Bagno, não podemos afirmar que exista um tipo de variante que possa ser considerada superior
à outra, já que todas possuem funções dentro de um determinado grupo social.
e) O usuário da língua mais culto define os padrões linguísticos, analisando assim o que é correto e o que
deve ser evitado na língua. Por isso, a língua deve ser preservada e utilizada como um instrumento de
opressão.

2. Assinale a alternativa FALSA quanto aos conceitos de língua e variedades linguísticas.

a) A heterogeneidade linguística está vinculada à heterogeneidade social.


b) Os elementos que determinam a variação podem ser de ordem linguística ou extralinguística (social).
c) Não existe falante de estilo único. Todo falante dispõe de uma gama variada de estilos mais ou menos
monitorados.
d) Variedades linguísticas distintas da norma-padrão geralmente tendem a não receber valoração social
positiva.
e) Os falantes brasileiros que dominam variedades diferentes da norma-padrão têm dificuldade em
comunicar-se.

3. “O sucesso da educação linguística é transformar o falante em um 'poliglota' dentro de sua própria língua
nacional" (BECHARA, 2001, p. 38).BECHARA, Evanildo. Moderna Gramática Portuguesa. 37. ed. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2001.9. Com base na afirmação de Evanildo Bechara e em seus conhecimentos sobre
norma padrão e variantes linguísticas, assinale a alternativa CORRETA:

a) Ser poliglota da própria língua implica falar direito e não cometer erros.
b) As aspas são empregadas para indicar que o termo poliglota foi empregado em sentido real da palavra.
c) Pode-se inferir que o poliglota a que o autor se refere seja alguém capaz de transitar entre diferentes
falares.
d) Os falantes devem usar a norma padrão de sua própria língua nacional.
e) O sucesso da educação linguística, segundo o autor, consiste em capacitar os falantes para o uso da
variante de maior prestígio.

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4. Em situações de formalidade, é conveniente evitar o uso de linguagem informal; a frase abaixo que se
mostra inteiramente formal é:

a) A gente não precisa ganhar muito para ser feliz.


b) Se eu tivesse lá, visitaria mais museus.
c) Me diga toda a verdade sobre o acidente.
d) Viajasse eu mais vezes, comprava mais roupas.
e) Sempre que podemos, nós os visitamos.

5. Analise as seguintes afirmações a respeito desse poema, no tocante à norma-padrão e norma culta
brasileira (FARACO, 2008):

pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido.
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro
(Oswald de Andrade. In Poesia Pau-Brasil)

I — Para manifestar sua tendência à norma culta brasileira, o texto ignora procedimentos da norma-padrão.
II — Ao adotar a norma-padrão como mecanismo de julgamento estilístico, o texto condena a norma culta
brasileira.
III — No texto, encontramos exemplos do Português tanto no seu uso padrão quanto no seu uso culto
brasileiro.
IV — O uso da norma-padrão no primeiro verso, em contraste com a adoção da norma culta brasileira no
último, insinua a superioridade daquele sobre este.
V — A coexistência da norma-padrão com a norma culta brasileira indica a diversidade dos usos do
Português no Brasil.

É possível considerar que:

a) todas as afirmações estão corretas.


b) estão corretas as afirmações I e V.
c) estão corretas as afirmações II e IV.
d) estão corretas as afirmações III e V.
e) todas as afirmações estão incorretas.

6. Sobre variação linguística, assinale a alternativa correta.

a) De região para região do país, observam-se maneiras distintas de falar. A isso se dá o nome de variação
diastrática.
b) As variações diatópicas marcam a dinamicidade da língua em sua evolução através dos tempos.
c) Os jargões, ligados a determinadas profissões, são chamados variações diafásicas.
d) As variedades linguísticas nem sempre representam variações de acordo com as condições sociais,
regionais e históricas. Elas marcam, por vezes, níveis culturais distintos que fazem a escrita e a fala oporem-
se de tal forma que aquela exerce total soberania sobre esta.
e) Todo indivíduo que fala um determinado idioma conhece as estruturas gerais de seu funcionamento,
mesmo que nem todos falem de forma uniforme.

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 6
Conteúdo: NOÇÕES DE TEXTO; COESÃO TEXTUAL
1. Segundo Marcuschi (2008, p. 88)

"Texto é a unidade máxima de funcionamento de uma língua”

E não importa o seu tamanho; o que faz o texto ser um texto é um conjunto de fatores, acionados para
cada situação de interação, que determinam a coerência dos enunciados (CAVALCANTE, 2013, p. 18).

2. Segundo Koch e Travaglia

"O texto será entendido como uma unidade linguística concreta, que é tomada pelos
usuários da língua, em uma situação de interação comunicativa específica, como uma
unidade de sentido e como preenchendo uma função comunicativa reconhecível e
reconhecida, independentemente da sua extensão”. (Koch e Travaglia, 1989)

3. Segundo Fiorin e Savioli


Embora as definições de texto sejam muitas, repetimos aqui as palavras de Fiorin e Savioli (1996), por
considerar que se trata de uma definição bastante abrangente:

"Um todo organizado de sentido, produzido por um sujeito num dado espaço e num
dado tempo."

4. Segundo M.H. Duarte Marques


Do ponto de vista linguístico, que nos interessa, adotamos, como ponto de partida, as considerações de
Marques (1990). Na sua abordagem, textos são “conjuntos de unidades discursivas estruturadas não apenas
de acordo com padrões sintático-gramaticais, mas também interrelacionadas segundo princípios lógico-
semânticos, de que a gramática não dá conta”.

O interesse pelo texto como objeto de estudo gerou vários trabalhos importantes de teóricos da Linguística
Textual, que percorreram fases diversas cujas características principais eram transpor os limites da frase
descontextualizada da gramática tradicional e ainda incluir os relevantes papéis do autor e do leitor na
construção de textos.

Um texto pode ser escrito ou oral e, em sentido geral, pode ser também não verbal.

"As unidades discursivas inter-relacionadas de acordo com princípios lógico-


semânticos constituem textos. Textos caracterizam-se, assim, pela coerência
conceitual, pela coesão sequencial de seus constituintes, pela adequação às
circunstâncias e condições de uso da língua”.

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TEXTO: UMA UNIDADE DE SENTIDO

Essa unidade de sentido pressupõe que:

a) o significado de uma parte não é autônomo, mas depende das outras partes com que se relaciona;
b) o significado global do texto não é o resultado de uma mera soma de suas partes, mas de uma certa
combinação geradora de sentidos.

Isso significa que todo texto tem que ter alguns aspectos formais, ou
seja, tem que ter estrutura, elementos que estabelecem relação entre
si. Dentro dos aspectos formais temos a coesão e a coerência, que
dão sentido e forma ao texto. "A coesão textual é a relação, a ligação,
a conexão entre as palavras, expressões ou frases do texto”19. A
coerência está relacionada com a compreensão, a interpretação do
que se diz ou escreve. Um texto precisa ter sentido, isto é, precisa ter
coerência. Embora a coesão não seja condição suficiente para que enunciados se constituam em textos,
são os elementos coesivos que lhes dão maior legibilidade e evidenciam as relações entre seus diversos
componentes.

TEXTUALIDADE

Textualidade, segundo Beaugrande & Dressler (1981), é um conjunto de características que fazem com que
um texto seja um texto, e não apenas uma sequência de frases ou palavras. Beaugrande (1997) propõe os
seguintes fatores de textualidade que, segundo ele, são a base da produção e utilização dos textos. Dois
blocos de sete fatores são os responsáveis pela textualidade de qualquer discurso:

▪ Fatores linguísticos (coerência e coesão);


▪ Fatores pragmáticos (intencionalidade, aceitabilidade, situacionalidade, informatividade e
intertextualidade).

FATORES LINGUÍSTICOS

• COERÊNCIA: Um texto, para ser coerente, depende do conhecimento de língua e de mundo e do grau de
compartilhamento desse conhecimento entre produtor e receptor. Se o receptor de um texto não conhecer
bem a língua que lhe deu forma, bem como a realidade de que ele fala, com toda certeza irá classificá-lo
como incoerente. A coerência textual depende também das inferências, da intertextualidade, dos fatores
pragmáticos e interacionais (tipos de atos de fala na interação, contexto de situação, intenção comunicativa).
Ex1: Resolvi tirar a camisa e ficar descalço porque estava fazendo frio.

Ex2: Ana era uma garota que sonhava em ter patins, sempre que via Paula, sua amiga, brincando com o
dela. Imaginava como seria bom se pudesse andar com ele algum dia. Então, certa vez, Paula esqueceu
seus patins na casa de Ana, e esta resolveu finalmente brincar de bonecas.

• COESÃO: A coesão é responsável pela ligação dos sentidos isolados para evidenciar a estruturação da
sequência superficial do texto, não perdendo de vista o todo e a intenção com que se produz esse todo, para
constituir finalmente um texto. Os mecanismos para a coesão de um texto podem ser o uso adequado dos
operadores argumentativos, do léxico através da reiteração (repetição do mesmo item lexical: sinônimos,
nomes genéricos etc.), da colocação (uso de termos pertencentes a um mesmo campo significativo), da
utilização de elementos gramaticais como pronomes, advérbios, numerais, artigos etc.

Ex1: Camila fugiu de casa. Na época, ela estava passando por sérios problemas psicológicos. Sua família
ainda espera todo dia por notícias da garota.

Ex2: Encontrei um gato na calçada de casa. O gato parecia doente.

19
Platão & Fiorin (1996)

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ANÁLISE TEXTUAL

A gaivota-negra vive cerca de oito anos.


A gaivota-negra voa durante quase todos os oito anos.
A gaivota-negra voa tanto que está dando um baile nos biólogos.
Os biólogos tentam acompanhar a gaivota-negra no céu.
Os biólogos chegam a pensar que a gaivota-negra praticamente não pousa.
Logo após a primeira refeição, os filhotes da gaivota-negra partem para o deserto do Saara.
Os filhotes da gaivota-negra passam o inverno no deserto do Saara.

Na sua opinião, o que você leu agora, isso seria um texto?


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COESÃO TEXTUAL

Coesão diz respeito à forma como os elementos linguísticos presentes na superfície textual se interligam,
se interconectam, por meio de recursos também linguísticos, de modo a formar um “tecido” (tessitura), uma
unidade de nível superior à da frase, que dela difere qualitativamente.

São elementos de referência os itens da língua que não podem ser interpretados semanticamente por si
mesmos, mas remetem a outros itens do discurso necessários à sua interpretação.

EXERCÍCIOS (1ª parte)


A função da coesão é exatamente a de promover a continuidade do texto, a sequência interligada de suas
partes, para que não se perca o fio da unidade que garante a sua interpretabilidade. A coesão textual ocorre
quando a interpretação de um elemento no discurso é dependente da de outro. Um pressupõe o outro:
elemento referencial e referente.

Assim, o leitor deve perceber que alguns termos do texto abaixo contêm números. Ora, esses termos, na
verdade, estabelecem coesão referencial, evitando repetições desnecessárias e retomando termos.
Identifique os referentes desses elementos coesivos enumerados.

Marcelo Moreno nunca balançou as redes tantas vezes em uma temporada. Na vitória sobre o Criciúma, ele(1)
alcançou a marca de 23 gols assinalados em 2014, pelo Cruzeiro. O feito(2) ainda lhe(3) confere a condição de maior
artilheiro estrangeiro da história do clube(4), com 44 tentos. O boliviano(5) ocupa a liderança ao lado do espanhol
Fernando Carazo, que defendeu o time celeste(6) nas décadas de 1920 e 1940.
Com 23 gols na temporada, o centroavante(7) supera os melhores números da carreira, alcançados em 2012, quando
estufou as metas adversárias em 22 oportunidades. Naquele período(8), ele(9) ainda defendia as cores do Grêmio.
Embora tenha balançado as redes adversárias 23 vezes neste ano(10), em sua(11) primeira passagem na Toca da
Raposa II, entre 2007 e 2008, Marcelo Moreno marcou 21 gols, o que lhe(12) deixa na condição de maior artilheiro
estrangeiro do clube(13), ao lado de Carazo. Sem ter a certeza que ficará no clube em 2015, ele(14) projeta superar
o espanhol(15) até dezembro. Do UOL, em Belo Horizonte 10/11/201415h40

1 __________________________________________9 __________________________________________

2 __________________________________________10 __________________________________________

3 __________________________________________11 _________________________________________

4 __________________________________________12 _________________________________________

5 __________________________________________13 _________________________________________

6 __________________________________________14 _________________________________________

7 __________________________________________15 _________________________________________

8 __________________________________________

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TIPOS DE COESÃO TEXTUAL

Já temos ideia de que coesão é essa “amarração” entre as várias partes do texto, ou seja, o entrelaçamento
significativo entre declarações e sentenças. Para nosso estudo, abordaremos dois tipos de coesão: a
referencial e a sequencial.

COESÃO REFERENCIAL

Antes de tudo, é importante destacar que referente de uma palavra ou expressão é aquilo a que ela se
refere (entidade, fato, processo etc.). Este referente pode estar dentro ou fora do texto:

1. Fora do texto: referência EXOFÓRICA ou SITUACIONAL.

Ex. Alguém fala enquanto aponta para um lápis: Pega isso que deixei cair, por favor.

Pega = o verbo no imperativo remete à segunda pessoa do singular (com quem se fala)
Isso = refere-se ao lápis para o qual o falante aponta.
Deixei = o uso da primeira pessoa do singular aponta para o próprio falante.

2. Dentro do texto: referência ENDOFÓRICA ou TEXTUAL.

José viajou ontem. Ele foi visitar uns parentes.

A coesão referencial faz o texto progredir através da retomada de palavras, expressões ou frases (ou da
antecipação, no lugar da retomada, embora seja um processo menos utilizado). O objetivo da coesão
referencial é evitar a repetição de palavras. Para tanto, várias estratégias podem ser usadas.

MECANISMOS DE COESÃO REFERENCIAL

1. PERÍFRASE OU ANTONOMÁSIA - expressão que caracteriza o lugar, a coisa ou a pessoa a que se faz
referência. Designa qualquer sintagma ou expressão idiomática mais desenvolvida (e mais ou menos óbvia
ou direta) que substitui outra

Ex1: O Rio de Janeiro é uma das cidades mais importantes do Brasil. A cidade maravilhosa é conhecida
mundialmente por suas belezas naturais, hospitalidade e carnaval.

2. NOMINALIZAÇÕES - uso de um substantivo que remete a um verbo enunciado anteriormente. Também


pode ocorrer o contrário: um verbo retomar um substantivo já enunciado.

Ex2: Os alunos da escolinha resolveram organizar uma festa junina. Mesmo sem a ajuda dos adultos, a
organização nada deixou a desejar.

3. PALAVRAS OU EXPRESSÕES SINÔNIMAS OU QUASE SINÔNIMAS - ainda que se considere a


inexistência de sinônimos perfeitos, algumas substituições favorecem a não repetição de palavras.

Ex3: Os automóveis colocados à venda durante a exposição não obtiveram muito sucesso. Isso talvez tenha
ocorrido porque os carros não estavam em um lugar de destaque no evento.

4. REPETIÇÃO VOCABULAR - ainda que não seja o ideal, algumas vezes há a necessidade de repetir
uma palavra, principalmente se ela representar a temática central a ser abordada. Deve-se ter atenção a
esse tipo de procedimento para não prejudicar o

Ex4: E a música vinha de longe. A música era tranquilizante, doce, cheia de acordes suaves. / A fome é
uma mazela social que vem se agravando no mundo moderno. São vários os fatores causadores desse
problema, por isso a fome tem sido uma preocupação constante dos governantes mundiais.

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5. EXPRESSÃO SÍNTESE - usa-se, eventualmente, um termo que faz uma espécie de resumo de vários
outros termos precedentes, como uma retomada.

Ex5: O país é cheio de entraves burocráticos. É preciso preencher uma enorme quantidade de formulários,
que devem receber assinaturas e carimbos. Depois ainda falta a emissão dos boletos para o pagamento
bancário. Todas essas limitações acabam prejudicando as relações comerciais com o Brasil.

6. PRONOMES - todos os tipos de pronomes podem funcionar como recurso de referência a termos ou
expressões anteriormente empregados. Para o emprego adequado, convém rever os princípios que regem
o uso dos pronomes.

Ex6: Vitaminas fazem bem à saúde, mas não devemos tomá-las sem a devida orientação. / A instituição é
uma das mais famosas da localidade. Seus funcionários trabalham lá há anos e conhecem bem sua
estrutura de funcionamento. / A mãe amava o filho e a filha, queria muito tanto a um quanto à outra.

7. NUMERAIS - as expressões quantitativas, em algumas circunstâncias, retomam dados anteriores numa


relação de coesão.

Ex7: Foram divulgados dois avisos: o primeiro era para os alunos e o segundo cabia à administração do
colégio. / As crianças comemoravam juntas a vitória do time do bairro, mas duas lamentavam não terem
sido aceitas no time campeão.

8. ADVÉRBIOS PRONOMINAIS (classificação de Rocha Lima e outros) - expressões adverbiais como


aqui, ali, lá, acolá, aí servem como referência espacial.

Ex8: Ele não podia deixar de visitar o Corcovado. Lá demorou mais de duas horas admirando as belezas do
Rio.

9. ELIPSE (= OMISSÃO) - essa figura de linguagem consiste na omissão de um termo ou expressão que
pode ser facilmente depreendida em seu sentido pelas referências do contexto.

Ex9: O diretor foi o primeiro a chegar à sala. Abriu as janelas e começou a arrumar tudo.

10. REPETIÇÃO DE PARTE DO NOME PRÓPRIO

Ex10: Machado de Assis revelou-se como um dos maiores contistas da literatura brasileira. A vasta produção
de Machado garante a diversidade temática e a oferta de variados títulos.

11. METONÍMIA - outra figura de linguagem que é bastante usada como elo coesivo, por substituir uma
palavra por outra, fundamentada numa relação de contiguidade semântica.

Ex11: O presidente Bush deverá reunir-se ainda nesta semana com o premier russo Vladimir Putin. Fontes
bem informadas acreditam, entretanto, que não será ainda desta vez que Moscou cederá às pressões da
Casa Branca sobre a guerra do Iraque.

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EXERCÍCIOS (2ª parte)
1. Com base no que está nos itens, faça o que se pede:

a) Identifique o recurso de coesão textual realizado por “pronome”:

O profissional de Segurança do Trabalho tem uma área de atuação bastante ampla. Ele atua em todas as
esferas da sociedade onde houver trabalhadores.

Caracterizar e registrar as doenças do trabalho, no Brasil, ainda tem sido uma tarefa muito difícil. Isso
acontece devido às dificuldades em notificá-las e pelo fato de os mecanismos de proteção ao trabalhador
não serem muito bem definidos.

A instituição é uma das mais famosas da localidade. Seus funcionários trabalham lá há anos e conhecem
bem sua estrutura de funcionamento.

b) Identifique o recurso de coesão textual realizado por “palavra ou expressão sinônima”:

Os quadros de Van Gogh não tinham nenhum valor comercial em sua época. Houve telas que serviram até
de porta de galinheiro.

c) Identifique o recurso de coesão textual realizado por “nominalização”:

Foram testemunhar sobre o caso. O juiz disse, porém, que tal testemunho não era válido por serem parentes
do assassino.

d) Identifique o recurso de coesão textual realizado por “redução do referente”:

Lígia Fagundes Telles é uma das principais escritoras brasileiras da atualidade. Lígia é autora de “Antes do
baile verde”, um dos melhores livros de contos de nossa literatura.

e) Identifique o recurso de coesão textual realizado por “elipse”:

O presidente destacou que o objetivo é a não criação de mais impostos. Disse ainda que o preço da gasolina
será estabilizado.

A Língua Portuguesa é bem interessante, mas tem muita complexidade.

2. Considere o texto e, a seguir, responda aos itens.

Leonardo da Vinci era um mestre com diferentes habilidades. Muitos o conhecem como o artista que pintou
Mona Lisa. Obcecado com a ideia de voar, Da Vinci inventou o helicóptero. Ele não chegou a construí-lo,
mas deixou anotações com detalhes sobre como funcionaria. (https://www.bbc.com/portuguese/geral-
48138261. Acesso: 07/05/2019))

a) Retire do texto dois pronomes que promovem a coesão textual referente a “Leonardo da Vinci”

_______________________

b) Retire do texto um recurso de coesão referencial que se realiza por “redução do referente”

_______________________

c) Retire do texto um recurso de coesão que se efetiva por “elipse”

_______________________

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É possível viajar o mundo todo gastando apenas US$15 (R$ 47) por dia - incluindo voos, alimentação e
vistos? O dinamarquês Henrik Jeppesen garante que sim. Jeppesen garante que realizou essa façanha
gastando um total de 50 mil euros (R$ 165 mil). Ele atualmente está em Madri, de onde partirá em breve
para uma nova aventura que inclui o Brasil e outros países como Argentina e África do Sul e segue até a
Europa, onde o jovem deve fazer uma viagem de seis meses de carro.
(https://www.bbc.com/portuguese/internacional-39213136. Acesso: 08/05/2019)

3. Com base no texto acima, responda:

a) Qual é o referente da expressão “essa façanha”, linha 2?

_____________________________________________________________________________________

b) A palavra “onde”, em suas duas ocorrências (linha 3 e linha 4), tem referentes diferentes. Identifique-os.

_____________________________________________________________________________________

c) Quanto às estratégias de coesão usadas no texto para se referir a “dinamarquês Henrik Jeppesen”,
identifique a que é realizada por “hiperônimo”, por “pronome” e por “redução do referente”, respectivamente.

_____________________________________________________________________________________

4. Use os pronomes adequados para estabelecer a coesão referencial.

a) Um encapuzado atravessou a praça e sumiu ao longe. Que vulto era _______________ a vagar, altas
horas da noite, pela rua deserta?

b) Jorge teria dinheiro, muito dinheiro e carros de luxo. _______________ eram as fantasias que passavam
pela mente de Jorge enquanto se dirigia para o primeiro treino na seleção.

c) Marcelo será promovido, mas terá de aposentar-se logo a seguir. Foi ______________ que me revelou
um amigo do diretor.

d) Todos pensam que a CPI acabará em pizza, mas não queremos acreditar _________________.

e) Luís e Paulo trabalham juntos num escritório de advocacia. ________________ dedica-se a causas
criminais, ___________________ a questões tributárias.

f) Soube que você irá ocupar um alto cargo na empresa e que está de mudança para uma casa mais próxima
do seu local de trabalho. Se ______________ me chateou, já que somos vizinhos há tantos anos,
_________________ me deixou muito contente.

5. No texto abaixo, utilize recursos de coesão referencial para evitar repetições desnecessárias da palavra
“golfinho”.

"O golfinho vive em grupos e comunica-se com outros golfinhos através de gritos estranhos que são ouvidos

a quilômetros de distância. É assim que golfinho pede ajuda quando está em perigo ou avisa os golfinhos

onde há comida. O golfinho aprende facilmente os truques que o homem ensina e é por isso que muitos

golfinhos são aprisionados, treinados e exibidos em espetáculos em todo o mundo." Revista Ciência Hoje.

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6. Identifique os referentes dos elementos coesivos sublinhados do texto abaixo.

Bernardo tem 5 anos e gosta de saber tudo sobre lugares e países. Eu sou um pai coruja! Assim, na primeira
oportunidade, comprei-lhe(1) um desse globos terrestres modernos. No entanto, o garoto(2) não lhe(3) deu
muita importância, quando apontei nele(4) o Japão, o Brasil e muitos outros países. Limitou-se(5) a fazê-
lo(6) girar doidamente. Parece que a novidade(7) não o(8) atraiu. Girou tanto o tal do globo que o(9)
desprendeu do suporte de metal. Logo se(10) dispôs a sair jogando futebol com ele(11), mas não permiti tal
coisa(12). Consegui convencê-lo(13) a ir destruir outro brinquedo(14): o barulhento secador da mãe! E assim
que me(15) vi só, tranquei-me lá(16), no meu escritório, para apreciar aquela nova e preciosa aquisição!
(Fernando Sabino – Adaptado)

1 __________________________________________ 9 ____________________________________________

2 __________________________________________ 10 ____________________________________________

3 __________________________________________ 11 ____________________________________________

4 __________________________________________ 12 ____________________________________________

5 __________________________________________ 13 ____________________________________________

6 __________________________________________ 14 ____________________________________________

7 __________________________________________ 15 ____________________________________________

8 __________________________________________ 16 ____________________________________________

COESÃO LEXICAL

A coesão lexical pode criar, paralelamente à linha do texto, outro canal extra de informação. Trata-se de um
procedimento bastante comum no jornalismo, como podemos observar no seguinte texto publicado pela
revista

Veja:

Desde que os terroristas da Al Qaeda atacaram o World Trade Center e o Pentágono, no ano passado, há
uma certeza: a organização islâmica prepara novos atentados. A dúvida é quando e onde. Nos últimos dez
meses, a derrota no Afeganistão e a vigilância internacional tornaram mais difícil a comunicação entre as
células do grupo terrorista liderado pelo saudita Osama bin Laden.

Na linha do texto, temos a informação de que o grupo terrorista que atacou os Estados Unidos em 2001
prepara novos atentados, não se sabe onde, mas que tem, no momento, a comunicação entre seus membros
dificultada pela derrota no Afeganistão e pela vigilância internacional. Como uma espécie de contra ponto à
linha do texto, os processos de coesão lexical criam outro canal informativo. Na primeira ocorrência, ficamos
sabendo que se trata da organização terrorista Al Qaeda. A primeira retomada por coesão lexical acrescenta
que se trata de um grupo islâmico e a segunda, que é liderado por Osama Bin Laden e que ele tem origem
saudita.

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COESÃO LEXICAL E A CLAREZA DE TEXTO

Um efeito colateral positivo da coesão lexical, que o leitor já deve ter percebido, é a maior clareza do texto.
Comparemos as duas versões, a seguir, de um mesmo trecho:

Versão [1]:

O governo de muitos países tem decidido liberar a maconha para uso doméstico. A Inglaterra
agora faz vistas grossas ao seu consumo. Ela deixará, a partir de agora, de efetuar prisões por seu porte
para consumo próprio. Ela segue a tendência européia de maior tolerância com os usuários de drogas leves.

Versão [2]:

O governo de muitos países tem decidido liberar a maconha para uso doméstico. A Inglaterra
agora faz vistas grossas ao consumo da droga. As autoridades inglesas deixarão, a partir de agora, de
efetuar prisões pelo porte desse entorpecente para consumo próprio. O país segue a tendência europeia
de maior tolerância com os usuários de drogas leves.

Na primeira versão, a coesão textual é realizada por pronomes como seu e ela, o que não conduz a um texto
claro. Na segunda, a coesão é construída pela coesão lexical, com sinônimos e hiperônimos. O resultado é
um texto bem mais claro.

Outra maneira de expressar a coesão lexical é utilizar a metonímia (parte pelo todo). Examinemos, a esse
propósito, a seguinte seqüência:

O presidente Bush deverá reunir-se ainda nesta semana com o premier russo Vladimir Putin. Fontes bem-
informadas acreditam, entretanto, que não será ainda desta vez que Moscou cederá às pressões da Casa
Branca sobre a guerra do Iraque.

Nesse texto, estamos retomando o presidente Bush, que representa o governo americano, por uma parte
desse governo, o palácio do governo, a Casa Branca. Ao mesmo tempo, retomamos o governo russo,
representado no texto pelo termo o premier russo Vladimir Putin, também por uma parte do governo russo,
a capital do país: Moscou.

EXERCÍCIOS (3ª parte)


Lucas mostrou se inspirar em Rogério Ceni. O jovem camisa sete do São Paulo deseja se tornar um ídolo
do clube assim como o goleiro. Além de Rogério, Lucas tem aprendido bastante com outro veterano. Rivaldo
também tem sido constantemente procurado pelo jovem de 18 anos.
(Do UOL Esporte | Em São Paulo | 15/03/2011 08h07)

O fragmento do texto acima é marcado predominantemente pela coesão lexical. Identifique os termos
coesivos lexicais empregados para a retomada de “Lucas”.

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COESÃO REFERENCIAL: ANAFÓRICA ou CATAFÓRICA
Na coesão referencial, podemos ter a chamada coesão anafórica e catafórica. A coesão referencial anafórica
se dá quando um elemento coesivo refere-se ao que vem antes no texto. Enquanto a coesão referencial
catafórica refere-se ao que vem posteriormente.

COESÃO REFERENCIAL ANAFÓRICA: refere-se o que vem antes (  )

Ex1: O Brasil será a quinta maior economia mundial. Isso é o que dizem os especialistas.
Isso = é um elemento coesivo que se refere ao que vem antes (O Brasil será a quinta maior economia
mundial). Portanto, estabelece a chamada coesão anafórica.

COESÃO REFERENCIAL CATAFÓRICA: refere-se ao que vem depois ( → )

Ex2: Os especialistas dizem isto: o Brasil será a quinta a maior economia mundial.
Isto = é um elemento coesivo que se refere ao que vem depois. Portanto, estabelece a coesão catafórica.

COESÃO LEXICAL: HIPERÔNIMO OU HIPÔNIMO

O nosso léxico é o nosso vocabulário. Logo, esse tipo de coesão envolve a


substituição de um vocábulo por outro de mesmo significado – o chamado
sinônimo – ou por palavras que estabeleçam entre si uma relação de sentido
– hiperônimos e hipônimos.

Hiperônimos e Hipônimos são vocábulos que pertencem a um mesmo campo semântico, ou seja, campo
de sentido. O hiperônimo é o termo mais abrangente e o hipônimo, o mais específico.

Observe o esquema a seguir:


Note que as palavras “bebida”, “refrigerante” e “Coca-cola”
estabelecem entre si uma relação de sentido, porém há uma
espécie de uma escala de significação entre elas.

“Bebida” é um HIPERÔNIMO de “refrigerante”, que por sua vez


funciona como HIPÔNIMO nesse caso. Já em relação à “Coca-
cola”, “refrigerante” é um HIPERÔNIMO e “Coca-cola” torna-se
o HIPÔNIMO da vez.

Assim, hiperônimo é uma palavra (substantivo) que apresenta um significado mais abrangente do que o do
seu hipônimo (vocabulário de sentido mais específico).

A relação existente entre hiperônimo e hipônimo é fundamental para a coesão textual.

Ex1: Atropelaram, durante a noite, um animal. Infelizmente, o cachorro não resistiu aos ferimentos.
Temos uma coesão referencial anafórica que se dá por um hipônimo.

Ex2: Atropelaram, durante a noite, um cachorro. Infelizmente, o animal não resistiu aos ferimentos.
Temos uma coesão referencial anafórica que se dá por um hiperônimo.

Observe no texto abaixo, o emprego da coesão lexical por meio de um hiperônimo.

“Prestes a sediar importantes eventos internacionais, como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos, o Brasil
ainda não tem um projeto de lei que defina o combate ao terrorismo. Especialistas ouvidos sobre a questão,
que pedem para não ser identificados, alertam que o país, muito embora mantenha neutralidade em conflitos
internacionais sobretudo no Oriente Médio, nem por isso pode se considerar imune a atentados terroristas.
(...)”

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COESÃO: COERÊNCIA:
interligação sentido, nexo TEXTO
entre termos textual

COESÃO REFERENCIAL:
com referentes

COESÃO SEQUENCIAL:
sem referentes; obtida
por meio de conjunções

COESÃO
REFERENCIAL

ANAFÓRICA CATAFÓRICA

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EXERCÍCIOS (4ª parte)
1. Leia o texto abaixo e, em seguida, responda ao que se pede.
Acaba de chegar ao Brasil um medicamento contra rinite. O antiinflamatório em spray Nasonex diminui
sintomas como nariz tampado e coriza. Diferente de outros medicamentos, é aplicado uma vez por dia, e em
doses pequenas. Estudos realizados pela Schering-Plough, laboratório responsável pelo remédio, mostram
que ele não apresenta efeitos colaterais, comuns em outros medicamentos, como o sangramento nasal. “O
produto é indicado para adultos e crianças maiores de12 anos, mas estuda-se a possibilidade de ele ser
usado em crianças pequenas”, diz o alergista Wilson Aun, de São Paulo. (ISTOÉ, 04/11/98)
a) O objeto de que trata esse texto – medicamento contra rinite – é retomado sucessivamente durante o
texto. Identifique os três nomes diferentes empregados pelo autor com a finalidade de evitar a repetição.

_____________________________________________________________________________________

b) Qual desses termos é o que tem o sentido mais geral? E qual o mais específico?

_____________________________________________________________________________________

c) Duas palavras indicadas no texto podem ser consideradas sinônimas. Quais são elas?

_____________________________________________________________________________________

2. Preencha as lacunas com um elemento coesivo que satisfaça o critério determinado nos parênteses.
Considere sempre como referente textual a palavra ou a expressão em negrito. Faça as alterações
necessárias.

a) Na semana passada, a situação do Iraque se agravou. A população do________________ recebeu


instruções contra mais um possível atentado terrorista. (Substantivo de sentido mais geral - Hiperônimo)

b) Apesar de a aids ter se expandido em todo o mundo, são visíveis os avanços da ciência no combate à
_____________________. (Substantivo de sentido mais geral - Hiperônimo)

c) Militares que estiverem em ______________ não precisam mais bater continência ao passar por
superiores, devendo apenas manter os veículos em velocidade moderada. (Substantivo de sentido
específico - Hipônimo)

d) Atualmente, muitos adultos que cresceram distante do mundo da internet fazem parte das redes sociais,
mas não _________ utilizam com frequência porque não sabem como acessar ___________. (Pronome)

e) Parece haver consenso de que os romanos e os gregos criaram as bases da cultura ocidental.
_____________, no terreno teórico; ______________, prático. (Pronome)

f) Dilma Rousseff não terminou seu segundo mandado como presidente; atualmente,
_____________________ está afastada da vida política. (Redução do referente)

g) Armando e Ana se casaram no final do ano de 2006, em Roma. O_____________________, entretanto,


não durou muito tempo. (Nominalização)

3. "O professor e o aluno são muito amigos e religiosos. Este é católico e aquele é evangélico".
O período apresenta um tipo de coesão que é a:
a) coesão sequencial por enumeração.
b) coesão lexical.
c) coesão sequencial.
d) coesão lexical por contiguidade.
e) coesão referencial.

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4. (ENEM 2010) 60 NUM BAR. 70 SAIR 100 PAGAR; A polícia diz: 20 BUSCAR
Esta é uma mensagem que se lê, com frequência, em vidros de para-brisa de automóveis. Assinale o item
correto.
a) Ela não se constitui como texto, pois nada significa: há números ao lado de expressões da língua
portuguesa sem qualquer relação.
b) Trata-se de um texto verbal coerente, que se manifesta através de números e palavras, os quais, na
escrita, provocam estranheza, mas, lidos, cumprem sua função comunicativa.
c) Constitui-se como um texto não verbal, escrito, com signos lexicais e numéricos, mas sem qualquer
aceitação, devido à ambiguidade de sentido.
d) Não se constitui como texto, pois o jogo arbitrário de números e palavras a transforma num código sem
acesso interpretativo.
e) Trata-se de um texto verbal, escrito, com sentido, porém agramatical, pois não usa veiculadores de ligação
para estabelecer coesão e coerência.

5. Com base no texto a seguir, faça o que se pede.


“Ana começara a escrever o diário talvez para isto, contar ali tudo: o medo, o nojo e a pena. Mas começara
a mentir para ela mesma”.

a) Retire duas palavras que estabelecem a coesão referencial anafórica: ________________________.


b) Retire duas palavras que estabelecem a coesão referencial catafórica: ________________________.

6. Após a leitura do quadrinho abaixo, responda ao que se pede.

a) Qual é o referente do pronome esta no primeiro quadrinho?________________________________


b) Esse pronome estabelece coesão anafórica ou catafórica?_________________________________
c) O pronome isso, no último quadrinho, tem um referente não verbal, ou seja, não se refere a uma palavra
ou expressão verbal. Explique.
_____________________________________________________________________________________

7. Muitos são os processos usados para evitar a repetição de palavras num texto. O mais comum é a
substituição por um termo equivalente, de conteúdo geral, um hiperônimo, conforme mostra o modelo.
Proceda da mesma maneira.
O carro atropelou o cachorro e o motorista não parou para cuidar do animal.
1. Ronaldo vestiu pela primeira vez a camisa de um clube europeu. O _______________ embarcou para a
Europa quando ainda era bastante jovem.
2. A polícia apreendeu a cocaína, mas não conseguiu prender os traficantes que trouxeram _____________
da Bolívia.
3. “Ficamos todos mais pobres num mundo menos bonito”, lamentou um amigo do pintor Alfredo Volpi ao
acompanhar o sepultamento do ________________.
4. As possibilidades de se contrair a aids se baseiam em dados e comportamentos da __________
observados até agora.
5. Hoje, quem abre crediário para quitar uma televisão, leva __________________, mas acaba
desembolsando o equivalente a dois

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 7
Conteúdo: COERÊNCIA TEXTUAL
Subi a porta e fechei a escada
Tirei minhas orações e recitei meus sapatos
Desliguei a cama e deitei-me na luz

Tudo porque
Ela me deu um beijo de boa noite...
(autor desconhecido)

Seria este texto incoerente? É possível descobrir nele alguma ponta de sentido? Melhor dizendo, é possível
recuperar alguma unidade de sentido ou de intenção? Serve para “dizer” alguma coisa? Se serve, como
encarar o fato de as palavras estarem numa arrumação linear que resulta sem sentido? A porta sobe? A
gente fecha a escada? A gente tira as orações e recita os sapatos? A gente desliga a cama e se deita na
luz? Ou o que se pretende dizer consta exatamente nessa desarrumação das palavras?
No caso, a desordem das palavras teria sido proposital, e é ela que funciona como o signo, como a instrução
visível do que se quer dizer. No caso, ainda o “sentido” do poema não está nos “sentidos” do que está
explicitado. Está na forma como as coisas foram ditas; melhor dizendo, está na desorganização da forma
como as coisas foram ditas. Tudo isso, para que se conseguisse dizer, de um jeito bem particular, que os
amantes veem para além das aparências das coisas; veem numa outra ordem; enxergam os significados
mais obtusos; subvertem a ordem natural das coisas. Mas, trazendo esse texto para o âmbito do linguístico,
da compreensão do texto propriamente, como fica a questão de sua coesão e de sua coerência?
Evidentemente, sabemos tratar-se de um texto poético, um gênero de texto em que podemos exercitar à
exaustão nossa capacidade de transcender os limites impostos pela realidade, pelas lógicas todas e,
consequentemente, fugir às determinações das gramáticas e dos valores semânticos das palavras, sem
fugir, no entanto, à determinação de ser coerente, de fazer sentido.
Ou seja, o texto em análise é coerente, faz sentido. Não pela linearidade de sua composição nem pela
padronização de sua sequência. Mas, exatamente, porque quebra essa linearidade; porque viola essa
padronização com uma função comunicativa definida, buscando um efeito comunicativo particular.
Vale acrescentar, no entanto, que esse texto é coerente não porque, simplesmente, é um texto poético. Ele
é coerente porque se pode, por uma via qualquer, recuperar uma unidade de sentido, uma unidade de
intenção. Poderia não ser um texto poético, ainda assim seria um texto coerente, embora requisitasse uma
leitura especializada, uma leitura que ultrapassasse a mera recuperação dos sentidos isolados de cada
palavra.
Sendo assim, a coerência é uma propriedade que tem a ver com as possibilidades de o texto funcionar como
uma peça comunicativa, como um meio de intenção verbal. Por isso, ela é, em primeira mão, linguística. Não
se pode avaliar a coerência de um texto sem se ter em conta a forma com as palavras aparecem, ou a ordem
de aparição dos segmentos que o constituem.
A coesão depende de cada situação, dos sujeitos envolvidos e de suas intenções comunicativas, como tudo
o mais em relação à língua (ou relação à vida dos fatos sociais). Por essas considerações, já poderíamos
supor que as relações entre a coesão e a coerência são bastante estreitas e interdependentes. Quer dizer,
não há uma coesão que exista por si mesma e para si mesma. A coesão é uma decorrência da própria
continuidade exigida pelo texto, a qual, por sua vez, é exigência da unidade que dá coerência ao texto.
Existe, assim, uma cadeia facilmente reconhecível entre continuidade, unidade e coerência. De maneira que
é artificial separar coesão e coerência, assim como é artificial separar forma de conteúdo, ou sintaxe de
semântica, por exemplo. O máximo que se pode dizer é que a coesão está em função da coerência, no
sentido de que as partes, os períodos, os parágrafos, tudo, qualquer segmento se interliga no texto para que
ele faça sentido, para que ele se torne interpretável. Se nos valemos de repetições, de substituições, de
elipses (omissões), de conectores etc., é para que aquilo que dizemos possa ter um sentido e uma intenção
reconhecidos.

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COERÊNCIA TEXTUAL
Um texto é coerente quando podemos reconstruir sua unidade de sentido ou sua intenção comunicativa. A
coerência é o principal fator de textualidade, nome relacionado a um conjunto de características que nos
permitem conceber algo como um texto (CAVALCANTE, 2013, p. 15).

Mas, a coerência é uma característica textual que depende da interação do texto, do seu produtor e daquele
que procura compreendê-lo. Muito depende do receptor, de seu conhecimento de mundo, da situação de
produção do texto e do grau de domínio dos elementos linguísticos constantes do texto. Veja no exemplo
abaixo a falta desse domínio, o que parece tornar o texto incoerente. Essa incoerência, proposital neste
caso, torna o texto uma piada.

- Eu gosto tanto de frango, mas tenho medo de gripe aviária.


- Ah, mas só dá na Ásia, responderam.
- Justo na parte de que eu mais gosto?
(Folha de São Paulo, 18 de março de 2006, p. E13).

É importante considerar que “sem o engajamento do conhecimento prévio do leitor, não haverá
compreensão” (Kleiman, op. cit., p. 13); a compreensão de um texto é um processo que se realiza pela
ativação desse conhecimento, isto é, a memória, onde estão guardados nossos conhecimentos, busca as
informações necessárias, a partir dos elementos presentes. Os estudiosos apontam vários níveis de
conhecimento: linguístico, textual, de mundo: é graças à interação desses diversos níveis que o leitor/ouvinte
constrói o sentido do texto.

• Para Charolles (2002)20, as quatro metarregras que estabelecem a coerência de um texto são:

Repetição: Para que um texto seja coerente é preciso que em seu desenvolvimento, o texto apresente
elementos de recorrência. (coesão referencial). Um texto considerado coerente apresenta unidade, ou seja,
há presença de elementos constantes em sua constituição. Em um texto coerente há continuidade semântica
na retomada de ideias, de conceitos. Alguns recursos linguísticos podem ser apontados na construção dessa
continuidade como pronomes, repetição de palavras, sinônimos, hipônimos, hiperônimos etc. Ou seja, a
coerência se manifesta na materialidade dos processos coesivos na superfície textual.

Ex. “Picasso morreu faz um ou dois anos. O artista deixou sua coleção pessoal para o museu de Barcelona.”

Progressão: Para que um texto seja coerente, é preciso que haja no texto uma contribuição semântica
renovada, pelo contínuo acréscimo de informações. Esse acréscimo de novas informações faz o sentido do
texto progredir. Isso é perceptível por meio de soma das novas ideias às que já são tratadas.

Ex. “O ferreiro está vestido com uma calça preta, com um chapéu marrom claro e com um paletó cinza
escuro. Tem na mão a ponta da picareta e bate em cima com um martelo. A ponta desta ferramenta é
pontuda e a outra extremidade é quadrada. Para torná-la vermelha, colocou-a no fogo e as mãos estão
vermelhas.”

Não contradição ou Coerência semântica: Para que um texto seja coerente, é preciso que no
desenvolvimento do texto não se introduza nenhum elemento que contradiga um conteúdo posto ou
pressuposto anteriormente.

Ex: “Pedro não tem carro. Vai vender o dele para comprar um novo.” (contradição pressuposta)

Relação: Para que um texto seja coerente, é preciso que todos os enunciados do texto e os fatos que
denotam no mundo nele representado estejam, de alguma forma, relacionados entre si.

Ex. “Segunda, terça, quinta, sexta que vai à escola. Quarta, sábado, domingo que não vai à escola. Não
deve roubar giz. Eu sei os meses do ano.”

20
CHAROLLES, Michel (2002). Introdução aos problemas da coerência dos textos. In: GALVES, Charlotte [et al.] (orgs.). O texto: leitura & escrita.
3. ed. Campinas: Pontes.

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• Para Kock & Travaglia, os principais fatores de coerência são:

a) Coerência semântica (não contradição): para que a coerência semântica esteja presente em um texto,
é preciso, antes de tudo, que o texto não seja contraditório, mesmo porque a semântica está relacionada
com as relações de sentido entre as estruturas, o desenvolvimento lógico das ideias, ou seja, à construção
de argumentos harmônicos e livres de contradições.

(1) “A casa da vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda. Todas as tardes ela fica na varanda
em sua cadeira de balanço apreciando o pôr-do-sol.” (contradição de mundo possível)

(2) Lá dentro havia uma fumaça espessa que não deixava que víssemos ninguém. Meu colega foi à cozinha,
deixando-me sozinho. Fiquei encostado na parede da sala, observando as pessoas que lá estavam. Na
festa, havia pessoas de todos os tipos: ruivas, brancas, pretas, amarelas, altas, baixas etc.

b) Coerência sintática (gramatical ou de superfície linguística) – Coesão sequencial: É essencial para


a eliminação da ambiguidade.

Oferecemos um exemplar de Os Lusíadas ao professor encadernado em couro.

Está relacionada também com o uso adequado dos conectivos, elementos essenciais para a estruturação e
compreensão de um texto. O mau uso de elementos linguísticos de coesão pode provocar incoerências
locais pela violação de sua especificidade de uso e função.

O livro é muito interessante porque tem 570 páginas.


Oferecemos um exemplar de Os Lusíadas ao professor encadernado em couro.
Acordei às 7 horas, uma vez que tinha ido deitar às 2 horas, dormi, aliás, pouco mais de cinco horas.

c) Coerência temática: todos os enunciados de um texto precisam ser coerentes e relevantes para o tema,
com exceção das inserções explicativas. Os trechos irrelevantes devem ser evitados, impedindo assim o
comprometimento da coerência temática.

Se o tema é “Liberdade de expressão”, não se deve escrever sobre “Repressão de direitos”, certo?

d) Coerência estilística (coerência no nível de linguagem): diz respeito ao emprego de uma variedade
de língua adequada, que deve ser mantida do início ao fim de um texto para garantir a coerência estilística.

Magnífico Reitor da Universidade de São Paulo


Tendo tomado conhecimento pelos periódicos da capital paulista de que o Prefeito da Cidade Universitária,
onde está situada a Universidade que Vossa Magnificência, com alto descortino, dirige, resolveu interditar o
acesso da população ao campus nos finais de semana, ouso vir à presença de Vossa Magnificência para
manifestar-lhe meu repúdio ao fato de uma instituição pública querer subtrair da população de uma cidade
desumana um espaço de lazer. Poxa, achei a maior sujeira da parte da USP, sacanagem, nada a ver.

e) Coerência pragmática (intenção/intencionalidade comunicativa): trata-se da parte da Linguística que


estuda o uso da linguagem tendo em vista a relação entre os interlocutores e a influência do contexto
comunicacional. Quando você faz uma pergunta, por exemplo, a sequência de fala esperada é uma resposta.
Quando essa expectativa é quebrada, temos um claro exemplo de incoerência pragmática. A construção da
coerência pragmática depende de como os falantes entendem a situação comunicativa, do que sabem
previamente a respeito de seus interlocutores e, também, dos seus conhecimentos de mundo e da língua. A
análise da coerência pragmática favorece a interpretação do que as pessoas querem dizer num contexto
particular e de como o contexto influencia o que é dito. A partir daí se pode estudar como os interlocutores
fazem inferências sobre o que é dito para chegar à interpretação desejada pelo locutor.

A: Você me empresta seu livro do Guimarães Rosa?


B: Hoje eu comi um chocolate que é uma delícia.

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EXERCÍCIOS
1. Há, no trecho a seguir, uma “falha na comunicação” devido à falta de coerência na apresentação das
ideias.
“Pela tarde chegou uma carta a mim endereçada, abri-a correndo sem nem tomar fôlego. O envelope não
tinha nada dentro, estava vazio. Dentro só tinha uma folha, em branco”. (Trecho de redação citado por Maria Thereza
Rocco em seu livro “Crise na linguagem”, 2001).

Assinale o trecho que causa a incoerência:


a) “Pela tarde chegou uma carta a mim endereçada, ...”
b) “... abri-a correndo sem nem tomar fôlego.”
c) “O envelope não tinha nada dentro, ...”
d) “..., estava vazio.”
e) “Dentro só tinha uma folha, em branco.”

2. Apenas uma sequência linguística tem unidade de sentido, logo pode ser considerada um texto coerente.
Identifique-a.

(1) Meu filho não estuda nesta Universidade.


Ele não sabe que a primeira Universidade do mundo românico foi a de Bolonha.
Esta Universidade possui imensos viveiros de plantas.
A Universidade possui um laboratório de línguas.

(2) Maria está na cozinha. A cozinha tem as paredes com azulejos. Os azulejos são brancos. Também o
leite é branco.

(3) Luiz Paulo estuda na Cultura Inglesa.


Fernanda vai todas as tardes ao laboratório de física do colégio.
Mariana fez 75 pontos na FUVEST.
Todos os meus filhos são estudiosos.

(4) No rádio toca um rock. O rock é um ritmo moderno. O coração também tem ritmo. Ele é um músculo oco
composto de duas aurículas e dois ventrículos.

3. Considere o texto abaixo:

Podemos afirmar que, na tirinha, o elemento que confere humor ao texto surge de uma incoerência

a) sintática
b) temática
c) estilística
d) semântica
e) pragmática

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4. Analise o diálogo abaixo:

Filha – Pai, esse é o Zeca, meu namorado.


Pai – Muito prazer, Zeca. O que você faz da vida?
Zeca – Sou ator.
Pai – Você gosta de Shakespeare?
Zeca – Não, obrigado. Mas um cafezinho eu aceito.

O efeito de humor está relacionado

a) à situação de produção do texto.


b) à variedade de língua adequada.
c) à ordem dos elementos linguísticos.
d) ao conhecimento prévio do receptor.
e) ao acréscimo de novas informações.

5. “O quarto espelha as características de seu dono: um esportista que adorava a vida ao ar livre e não tinha
o menor gosto pelas atividades intelectuais. Por toda parte, havia sinais disso: raquetes de tênis, prancha
de surf, equipamento de alpinismo, skate, um tabuleiro de xadrez com as peças arrumadas sobre uma
mesinha e as obras completas de Shakespeare”.

O texto apresenta problema quanto à inconsistência de ideias. Isso está relacionado à não observação da

a) coerência semântica
b) coerência sintática
c) coerência estilística
d) coerência pragmática
e) coerência gramatical

6. “Alugam-se quartos a estudantes com banheiro anexo no terceiro andar” (placa de quitinete)

A incoerência na frase acima é de ordem

a) sintática
b) estilística
c) semântica
d) genérica
e) pragmática

7. Com base no texto abaixo,

o humor do quadrinho deve-se ao

a) desenvolvimento lógico das ideias.


b) mau uso de elementos linguísticos.
c) grau de domínio dos elementos linguísticos
d) emprego de uma variedade de língua inadequada.
e) entendimento da intenção do falante dada a situação.

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 8
Conteúdo: FATORES PRAGMÁTICOS
TEXTUALIDADE: FATORES LINGUÍSTICOS E PRAGMÁTICOS
As pesquisas mais recentes realizadas na área da Linguística Textual procuraram definir as propriedades
que caracterizam um texto. É nesse sentido que se chegou ao conceito de textualidade.

A textualidade é o conjunto de características que fazem que um texto


seja um texto, e não apenas uma sequência de frases. A organização e a
inter-relação de ideias envolvem aspectos internos e externos ao texto. Tais
aspectos afetam a produção e recepção de textos e são chamados de fatores
de textualidade.

Um texto não é apenas um amontoado de frases sem relação entre si, em que cada frase leva a um assunto
diferente. Um texto deve ser construído por frases que mantenham relações umas com as outras e que
acrescentem ideias novas a respeito do assunto desenvolvido ao longo do texto. Segundo Costa Val (1999),
para que se produza esse texto como unidade de sentido é preciso observar alguns fatores de textualidade,
dentre os quais se destacam a coesão e a coerência, como fatores linguísticos. Além destes, há a
intencionalidade, a aceitabilidade, a situacionalidade, a informatividade e a intertextualidade, como
fatores pragmáticos, relacionados às situações de significação, ao uso da linguagem em contextos reais
de produção de sentido.

Pragmática é parte da linguística que estuda o sentido do texto, oral ou escrito, em seu uso. Por
exemplo, se alguém diz “A luz, por favor”, antes da projeção de um filme, está querendo dizer “Apague a
luz, por favor”. Já a mesma frase dita quando do término da projeção quer dizer “Acenda a luz, por
favor”. Nestes casos, o sentido depende da situação, do contexto em que usamos tais palavras.

1. INTENCIONALIDADE
Observe a piada abaixo:

- Por favor! Me joga uma corda que eu estou me afogando!


- E além disso ainda quer se enforcar?

Nessa situação, a comunicação entre os interlocutores não ocorre com sucesso. Ao pedir a corda, o locutor
deseja ser socorrido, prendendo-se a ela. O interlocutor, entretanto, interpreta sua pergunta como se o
locutor desejasse se enforcar. O humor é extraído do fato de as personagens não levarem em conta um
princípio básico das interações verbais: a intencionalidade discursiva de seus interlocutores. Toda vez que
interagimos com outras pessoas por meio da linguagem, sempre há em nossa fala uma intenção de modificar
o pensamento ou o comportamento de nossos interlocutores.

Intencionalidade discursiva são as intenções, explícitas ou implícitas, existentes na linguagem dos


interlocutores que participam de uma situação comunicativa. O sucesso de nossas interações verbais, seja
na condição de locutor, seja na de interlocutor, depende muito de nossa capacidade de lidar com a
intencionalidade. Por meio dela podemos, por exemplo, impressionar, ofender, persuadir ou informar nosso
interlocutor; podemos também pedir, solicitar, implorar, reivindicar, etc. A intencionalidade discursiva não se
restringe ao enunciado propriamente dito; ela se define também a partir de outros componentes que
participam da situação comunicativa, como quem fala, para quem se fala e em que contexto sócio histórico
é produzido o enunciado.

Da mesma forma que a intencionalidade se centra no autor do texto, a aceitabilidade centra-se no seu
receptor. Ao ler o texto, ele vai formular juízos de valor sobre esse texto e vai reconhecê-lo, ou não, como
coeso e coerente.

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2. ACEITABILIDADE
Subi a porta e fechei a escada
Tirei minhas orações e recitei meus sapatos
Desliguei a cama e deitei-me na luz

Tudo porque
Ela me deu um beijo de boa noite...
(autor desconhecido)

A aceitabilidade é inerente ao receptor, que analisa e avalia o grau de coerência, coesão, utilidade e
relevância do texto capaz de levá-lo a alargar os seus conhecimentos ou de aceitar a intenção do produtor.
“Um texto é construído com uma finalidade que deve ser percebida pelo leitor” (SANTOS, 2013, p.98), no
qual advém a aceitação ou não da produção linguística.

3. SITUACIONALIDADE

A situacionalidade está relacionada à adequação do texto à situação comunicativa. Nesse sentido, a situação
comunicativa interfere na escolha do grau de formalidade, na seleção das regras de polidez e no emprego
da variedade linguística.

A situacionalidade determina como deve ser produzido o texto. De acordo com a situação comunicativa, um
texto poderá ou não ter sentido, poderá ou não ser relevante, o que nos leva a perceber a importância do
contexto de situação.

O contexto deve servir como orientação para a produção e para a recepção, sendo fundamental que o
produtor saiba quem é o receptor de seu texto e quais os seus conhecimentos.

4. INFORMATIVIDADE

A informatividade é fundamental para despertar o interesse no leitor. Esse fator de textualidade concerne à
quantidade de informação nova ou conhecida veiculada pelo texto. Quanto menos previsível, mais
informativo é o texto. Contudo, um texto constituído apenas por informações novas provocará desinteresse
no leitor. Assim, o ideal é que o texto mantenha um nível médio de informatividade, alternando informação
nova com informação dada.

Leia o texto seguinte (transcrito tal qual foi produzido) observando o grau de informatividade apresentada.
Obs.: há erro de ortografia, crase e pontuação.

“Atualmente, um dos grandes problemas que afetam a vida de uma sociedade, é a violência nela incerida.
Violência essa que devido a vários fatores, segundo sociólogos, psicólogos e outros estudantes das ciências
humanas, será praticamente impossível de ser eliminada.
A dificuldade na solução deste problema está na complexidade do mesmo. Várias são as suas causas e
para cada uma se faz necessária uma medida especial, medias essas que muitas vezes são impossíveis de
serem colocadas em prática.
A violência pode ser gerada pela própria sociedade, por crises econômicas, por um problema mental do
indivíduo, pelo grande número de adeptos ao uso de drogas, e por uma enorme série de outros fatores.
Devido as perspectivas quase que inexistentes em uma solução a curto ou médio prazo para a questão da
violência, o melhor a fazer, é se precaver para não se tornar mais uma vítima de um dos problemas mais
sérios da nossa sociedade. (Redação de aluno. Apud Maria da Graça Costa Val, op.cit.,p.86)

O texto apresenta baixa ou alta informatividade conforme a probabilidade de ocorrência das informações:
se forem veiculadas as excessivamente comuns, presentes nos discursos cotidianos, populares, do
chamado senso comum, a informatividade será baixa, visto que mínimo será o valor de surpresa. Se, ao

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contrário, houver informações incomuns, que motivem o interesse do leitor, sacudindo-o pela surpresa,
pelo desconhecido ou inesperado, observar-se-á alta informatividade.

Quando se fala em baixa informatividade, fala-se em termos de predominância das informações que
constituem o texto. Observe-se o texto destacado a seguir, escrito por um aluno do curso de Direito:

Pena de Morte
É um total desrespeito aos Direitos Humanos. Um retorno à “barbarie”. Seria retroceder. Se um individuo
comete crimes, não podemos nos igualar a ele, tirando-lhe a vida. Todo ser merece defesa. E mesmo um
criminoso é um ser humano. Um erro não justifica que outro seja cometido para corrigir o primeiro. Seria
um “espetáculo” que não valeria a pena. Pois ninguém acredita que chegará a tal ponto (de ser morto) e
os já condenados não iriam limitar seus crimes, pois já irão cumprir a pena máxima mesmo.
A criminalidade não diminuiria com a adoção da pena de morte, como temos a oportunidade (infeliz) de
observar nos países que a adotam e até mesmo nos que a adotaram no passado.

Conforme se pode verificar, o autor recheia o texto com conceitos cristalizados, estereótipos comumente
empregados na designação ou descrição de situações ligadas a crimes ou criminosos: “um retorno à
barbárie; “não podemos nos igualar a ele tirando-lhe a vida”; “todo ser merece defesa”; “um criminoso é
um ser humano”; “um erro não justifica que outro seja cometido”; “seria um espetáculo que não valeria a
pena”. Os clichês e frases estereotipadas representam momentos de baixa informatividade porque seu
conteúdo lexical está cristalizado pelo uso popular. Por serem constituídos, geralmente, por noções difusas,
podem ser reaproveitados em diferentes textos

O texto destacado ilustra o modus operandi na maior parte dos textos com baixa informatividade. Conforme
se apontou acima, registram-se como recursos comumente recrutados: uso de conceitos vulgarizados pela
frequência com que figuram nos discursos populares, uso de expressões e conceitos cristalizados,
recorrência de informações.

A inserção de informações técnicas, não veiculadas habitualmente nos discursos populares, favorece as
oportunidades de alta informatividade.

5. INTERTEXTUALIDADE
A intertextualidade, por sua vez, está relacionada ao fato
de a produção e a compreensão de um determinado
texto depender do conhecimento prévio de outro(s)
texto(s) com o(s) qual(is) ele se relaciona.
Intertextualidade concerne aos fatores que tornam a
interpretação de um texto dependente da interpretação
de outros. Cada texto constrói-se, não isoladamente,
mas em relação a outro já dito, do qual abstrai alguns
aspectos para dar-lhes outra feição. O contexto de um
texto também pode ser outros textos com os quais se
relaciona. Na figura ao lado, há um anúncio impresso de O Boticário, veiculado em revistas nacionais, em
que se identifica a ocorrência de intertextualidade, tanto nos componentes linguísticos, quanto nos visuais.
Ele traz uma mulher de capuz vermelho e o texto: “Use o Boticário e ponha o seu lobo mau na coleira”. Com
a leitura verbal e icônica, constata-se a intertextualidade pela inscrição de contos de fada reconhecíveis no
interior do texto, a Chapeuzinho Vermelho. A criatividade do anúncio está na reinterpretação dos contos de
fada, contados no referido texto não como historinha infantil propriamente, pelo contrário, com uma
conotação jovem ou adulta.

Considere o texto abaixo quanto à intertextualidade.


No meio do caminho tinha um ladrão
A cidade do Rio de Janeiro gastou três mil para comprar novos óculos para a estátua de Carlos Drummond
de Andrade, na praia de Copacabana. A peça feita de ferro fundido e banhada em bronze havia sido roubada
pela quarta vez no dia 23 de abril. (Revista Istoé, nº 2014 -11/06/ 2008)

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EXERCÍCIOS
1. Identifique o fator pragmático envolvido na produção dos quadrinhos abaixo.

A)

_________________________________________________________________________

B)

______________________________________________________________________

C)

_____________________________________________________________________

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2. Considerando as diferenças entre a língua oral e língua escrita, assinale a opção que apresenta uma
linguagem INADEQUADA usada ao contexto:
a) "o carro bateu e capotô, mas num deu pra vê direito" - um pedestre que assistiu ao acidente comenta com
o outro que vai passando.
b) "E aí, ô meu! Como vai essa força? " - um jovem que fala para um amigo.
c) "Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação" - alguém comenta em uma reunião de
trabalho.
d) "Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao cargo de Secretária Executiva desta conceituada
empresa" - alguém que escreve uma carta candidatando-se a um emprego.
e) "Porque se a gente não resolve as coisas como têm que ser, a gente corre risco de termos, num futuro
próximo, muito pouca comida nos lares brasileiros" - um professor universitário em um congresso
internacional.

3. O mendigo se aproxima de uma madame cheia de sacolas de compras, no centro da cidade, e diz:
— Senhora, estou sem comer faz quatro dias…
— Meu Deus! Gostaria de ter sua força de vontade!

a) O que de fato o mendigo quis dizer à madame?


_____________________________________________________________________________________

b) Como a madame compreendeu a mensagem do mendigo?


_____________________________________________________________________________________

4. Considere as situações de comunicação apresentadas abaixo e selecione a opção que apresenta o texto
mais adequado:

4.1. O Presidente da República em pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão:

a) Estou aqui para explanar os motivos da crise energética que a todos aflige neste momento.

b) Estou aqui para explicar a todos as razões da crise de energia que o país está enfrentando.

c) Venho à presença de todos os senhores com o intuito de explicitar as causas do colapso energético por
que passa o país.

4.2. Um médico em conversa com seu paciente em um posto do INSS:

a) As cefaleias têm etiologia desconhecida.

b) Ainda não são bem conhecidas as origens das cefalalgias.

c) Nós ainda não sabemos muito bem por que as pessoas têm dor de cabeça.

5. Uma pessoa pergunta: “Como está o frango?”. Explique o sentido desse enunciado, levando em conta a
intencionalidade subjacente nele quando produzido nas seguintes situações comunicativas:
a) Uma dona de casa que se dirige a um comerciante que vende o frango na feira:

_______________________________

b) Um veterinário à enfermeira, depois que o remédio que receitou foi ingerido por um frango doente:

________________________________

c) Uma mãe a seus filhos, à mesa, depois de ter feito uma nova receita de frango:

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_______________________________

d) A patroa à cozinheira, que está assando um frango no forno:

______________________________

6. Num ônibus cheio, um homem pisa no pé de uma moça. Compare duas maneiras pelas quais ela pode
se expressar nessa situação e, em seguida, responda:
1. O senhor está pisando no meu pé!
2. Tire o seu pé de cima do meu!

a) Os dois enunciados transmitem um pedido da moça? Justifique sua resposta.


_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________

b) Qual dos enunciados você considera mais educado ou menos agressivo? Por quê?
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________

7. Imagine a seguinte situação: um casal vai receber alguns convidados para um almoço no domingo. Por
isso, compra frutas e prepara alguns doces para a sobremesa. Depois do almoço, a mulher diz para o
marido:
“ – Pedro, tem fruta e sobremesa na geladeira.”
Considerando os interlocutores e a situação em que esse enunciado é produzido, responda:
a) Qual é a verdadeira intenção da mulher ao dizer ao marido esse enunciado?
_____________________________________________________________________________________

b) De que outro modo ela poderia fazer o pedido ao marido, tornando explícita sua intenção?
_____________________________________________________________________________________

Bom Conselho (Chico Buarque)


Ouça um bom conselho que eu lhe dou de graça / Inútil dormir que a dor não passa / Espere sentado ou
você se cansa / Está provado, quem espera nunca alcança. [...] <https://www.letras.mus.br/chico-
buarque/85939/>. Acesso em: 08 jul.
8. Além da intencionalidade, pelo tom crítico do texto, que outro fator pragmático podemos identificar na
criação dessa poesia? Justifique sua resposta.
_____________________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________________

9. A propaganda ao lado, encontrada na entrada de uma pizzaria, frustra a


expectativa da clientela pela previsibilidade da informação veiculada, o que
está relacionado a

a) aceitabilidade
b) situacionalidade
c) intertextualidade
d) intencionalidade
e) informatividade

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 9
Conteúdo: TÓPICOS GRAMATICAIS: REGÊNCIA VERBAL
Em nosso dia a dia, no ato da comunicação, falamos ou escrevemos construções linguísticas com verbos
sem nos preocuparmos em saber se tal emprego está correto ou errado. Porém, se considerarmos as regras
gramaticais, certos verbos devem obedecer a estruturas pré-estabelecidas, as quais o falante naturalmente,
por desconhecimento ou por força do hábito, não as segue, sobretudo, no Brasil. Por exemplo,

Ex1: Amanhã quero assistir um filme no cinema.

Essa simples frase apresenta um “erro gramatical”. Nesse momento, alguns se intrigam e não entendem por
que a construção está “errada”. Uma frase tão comum, tão natural...

Por outro lado, se analisarmos tal frase pela ótica da gramática, veremos que, de fato, existe um “erro”. De
quê? De crase? De concordância? De acentuação? Não. O erro reside na regência do verbo “assistir”.

Pelo nome, podemos inferir que a regência verbal está relacionada ao verbo. Sim. Exatamente. Na verdade,
a regência verbal, para a gramática tradicional (GT), é o estudo do verbo quanto ao seu comportamento na
frase e o sentido que ele pode assumir. Ou seja, certos verbos, dependendo do sentido, deve seguir uma
regra de construção.

No exemplo 1, perceba que o verbo ASSISTIR está no sentido de “VER”. Sendo assim, a correta forma seria:

Ex1: Amanhã quero assistir A um filme no cinema.

Note que existe a presença da preposição A no contexto. Isso se deve à regra de REGÊNCIA do verbo
ASSISTIR.

CONCLUSÃO: sempre que o verbo ASSISTIR estiver no sentido de “VER” ou “PRESENCIAR” será
construído com a preposição A em seguida.

Ex2: Não assisti ainda esse capítulo da novela.

Perceba que nesse exemplo 2 o verbo ASSISTIR também está no sentido de “VER”. Portanto, segundo a
gramática, a construção correta seria:

Ex2: Não assisti ainda A esse capítulo da novela.

Mais uma vez teria que haver a presença da preposição A.

LINGUAGEM FORMAL OU LINGUAGEM INFORMAL: NORMA-PADRÃO OU NORMA CULTA COMUM

Uma língua nunca é falada da mesma forma, sendo que ela estará sempre sujeita a variações, como:
diferença de épocas (o português falado hoje é diferente do português de 50 anos atrás), regionalidade
(diferentes lugares, diferentes falas), grupo social (uso de “etiqueta”, assim como gírias por determinadas
“turmas”) e ainda as diferentes situações (fala forma e informal).

Diante de tantas variantes linguísticas, é comum perguntar-se qual a forma mais correta. Porém, não existe
forma mais correta, existe sim a forma mais adequada de se expressar de acordo com a situação. Dessa
forma, a pessoa que fala bem é aquela que consegue estabelecer a forma mais adequada de se expressar
de acordo com a situação, conseguindo o máximo de eficiência da língua.

Nesse sentido, ora empregamos a linguagem formal, ora a linguagem informal, dependendo da
circunstância. a linguagem formal = gramatical, “padrão”; segue as regras da gramática; a linguagem
informal = coloquial; ou melhor, a linguagem espontânea, comum dos falantes brasileiros.

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Usar o português rígido e sério (linguagem formal escrita) em uma comunicação informal, descontraída é
falar de forma inadequada. Soa como pretensioso, artificial. Da mesma forma, é inadequado utilizar gírias,
termos chulos e desrespeitosos em uma situação formal. O que se vê, no nosso dia a dia, é o uso, pelos
falantes, da linguagem informal ou da norma culta falada no Brasil, quanto à regência de certos verbos.

Sempre que o falante não seguir as regras gramaticais, ele fará uso da linguagem informal.

Ex1: Amanhã quero assistir um filme no cinema = linguagem informal (ou norma culta falada no Brasil)
Ex2: Não assisti ainda esse jogo = linguagem informal ou (norma culta falada no Brasil)

Passando-se para a linguagem formal, isto é, a que segue a gramática tradicional, teremos:

Ex1: Amanhã quero assistir A um filme no cinema. = linguagem formal (ou norma-padrão)
Ex2: Não assisti ainda A esse capítulo da novela. = linguagem formal (ou norma-padrão)

REGÊNCIA DE ALGUNS VERBOS


ASSISTIR
No sentido de

a) “VER”, “PRESENCIAR” = sempre construído com a preposição a


Ex: Os torcedores assistiram ao jogo pela TV.

b) “PRESTAR ASSISTÊNCIA” = sem preposição (OBS.: admite-se também com a preposição a, mas não é
comum)
Ex: A equipe médica assiste o paciente OU assiste ao paciente.

c) “COMPETÊNCIA”, “PERTENCIMENTO” = construído com a preposição a


Ex: O direito de defesa assiste a qualquer pessoa

ASPIRAR
No sentido de

a) “INALAR” = sem preposição


Ex: Dentro da sala, o homem aspirou o perfume das rosas espalhadas pelo chão.

b) “ALMEJAR” = com preposição A


Ex: O homem aspira a uma carreira profissional de sucesso.

VISAR
No sentido de

a) “MIRAR”, “PÔR O VISTO” = sem preposição

Ex: O fiscal visou o passaporte do turista. (visar = assinar)


Ex: O caçador visou o alvo e acertou. (visar = mirar)

b) “ALMEJAR” = com preposição A


Ex: O estudante visa a um bom resultado na prova.

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LEMBRAR / ESQUECER

• Quando forem pronominais, isto é, quando forem conjugados com pronome oblíquo (me, te, se):

Ex: Lembrei-me de meus livros antigos.


Ex: Esqueci-me de meus livros antigos.

• Quando não forem pronominais:

Ex: Lembrei meus livros antigos. (sem pronome oblíquo, sem preposição de)
Ex: Esqueci meus livros antigos. (sem pronome oblíquo, sem preposição de)

-----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
É relevante apontar que o que se entende hoje por lingua(gem) informal pode ser entendido também como
o português culto falado no Brasil ou norma culta comum brasileira.

PREFERIR

1) Prefiro futebol a basquete → linguagem formal (emprego correto segundo a GT, sem a expressão do que)
ou norma-padrão.
2) Prefiro futebol do que basquete
3) Prefiro futebol em vez de basquete linguagem informal ou norma culta comum brasileira
4) Prefiro futebol ao invés de basquete
5) Prefiro basquete no lugar de basquete

Linguagem informal ou norma culta comum brasileira: sem a presença da preposição a.

NAMORAR

1) Carla namora seu primo → linguagem formal/norma-padrão (sem a preposição com)


2) Carla namora com seu primo → linguagem informal/norma culta falada no Brasil (preposição com)

PISAR

1) Não pise a grama → linguagem formal/norma-padrão (sem a preposição em)


2) Não pise na grama → linguagem informal/norma culta falada no Brasil (uso da preposição em)

IR

1) Fui ao centro da cidade → linguagem formal/norma-padrão (sem a preposição em)


2) Fui no centro da cidade → linguagem informal/norma culta falada no Brasil (com preposição em)

CHEGAR

1) Os amigos chegaram cedo ao shopping → linguagem formal/norma-padrão (sem a preposição em)


2) Os amigos chegaram cedo no shopping → linguagem informal/norma culta falada no Brasil (com
preposição em)

(DES)OBEDECER

1) Ainda obedeço aos meus pais → linguagem formal/norma-padrão (emprego correto segundo a GT)
2) Ainda obedeço os meus pais → linguagem informal/norma culta falada no Brasil (sem uso da preposição)

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Regência de alguns verbos, segundo a norma-padrão e a realidade linguística do português brasileiro

Norma-padrão Realidade linguística do português


brasileiro
No sentido de presenciar ou ver, exige
sempre a preposição a: 1. No Aurélio (versão eletrônica), vê-se:
“Nota-se, no Brasil, viva tendência para o
Ex1: Assisti ao jogo emprego do verbo sem preposição a:

Assistir Ex2: Assisti à novela Ex1: Assistimos o jogo.

Ex3: A comitiva assistiu à abertura dos Ex2: Assustada, a plateia assistiu o discurso.
trabalhos da Câmara.

Norma-padrão Realidade linguística do português


brasileiro
1 — Verbos de movimento exigem a e não
em: Em Luft (2010, p. 116), tem-se a seguinte
observação:
Ex1: Delegação russa chega hoje a Paulo (e
não “chega hoje em São Paulo”). “Verbo de ‘movimento para’, é natural reger
ele preposição a diante do complemento de
Igualmente: lugar.

Chegar Ex2: A chegada do jogador ao (e não “no”) No Brasil, entretanto, usa-se muito a
Brasil está marcada para amanhã. preposição em (exclusiva, diante de casa ‘lar’:
chegar em casa e não chegar a casa), como
2 — Chegar em, só na designação de tempo aliás também com outros verbos de
movimento”.
Ex1: Chegará em meia hora.
Ex2: Chegamos em cima da hora) Ex1: Chegamos cedo no hospital.

Ou com a palavra casa Ex2: Chegaremos logo na festa.

Ex3: Chegou tarde em casa. Ex3: Chegaram em Madri.


Norma-padrão Realidade linguística do português
brasileiro
1 — Exige sempre a preposição a:
Em Aulete (2011, p. 481), tem-se a seguinte
Ex1: Obedeceu aos superiores. observação: “No português do Brasil é
(Des)obedecer comum, na fala e na escrita, o emprego
(e não “obedeceu os superiores”) deste verbo como td., sem preposição” (grifo
nosso em negrito).
Ex2: Obedecia às ordens.
Ex: Obedeça os sinais de trânsito.
(e não “obedecia as ordens”)

Norma-padrão Realidade linguística do português


brasileiro
1 — No sentido de pressupor, envolver,
acarretar, adote a regência direta (sem a “Ele ocorre também com complemento
Implicar preposição em): iniciado pela preposição em, talvez por
sugestão de regência do verbo resultar, que
Ex1:A promoção implicava maiores tem significado semelhante” (NEVES, 2003,
responsabilidades. p. 422).
Ex2: Jornalismo implica dedicação.
Ex3: Reforma implicará perda de receita para Ex: “A compreensão real de uma noção ou de
os Estados. uma teoria implica na reinvenção desta teoria
pelo sujeito”.

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Norma-padrão Realidade linguística do português
brasileiro
Para indicar deslocamento, o que se usa é ir
a: Luft (2010, p. 342) assevera: “No português
Ir brasileiro também ocorre ir em, sobretudo na
Ex1: Foi ao cinema (e não “no cinema”). fala.

Ex2: Prometeu ir amanhã à festa (e não “na Ex: Vou em casa. Foi no centro [...]”
festa”).
Norma-padrão Realidade linguística do português
brasileiro
O verbo é direto, não exige preposição:
Em Neves (2003, p. 535), observa-se:
Namorar Ex1: A moça namorava o filho do prefeito (e “Entretanto, ocorre com complemento
não namorava “com”). iniciado pela preposição com, o que reflete a
ideia de companhia que namorar evoca”.
Ex2: Namorava a vizinha havia muitos anos
(e não namorava “com”). Ex: A mulher namorava com um rapaz bem
mais novo.

Norma-padrão Realidade linguística do português


brasileiro
Desejar muito, pretender; construído com
preposição a: Luft (2010, p. 76) afirma: “É uma inovação
regencial sob a pressão semântica dos
Ex1: O jovem aspirava/visava ao cargo de sinônimos ‘desejar’, ‘querer’, ‘pretender’, etc.;
gerente. por isso, é construído sem preposição.

Aspirar/Visar Ex2: Muitos visam/aspiram a uma vida Ex: A Academia dos Rebeldes reuniu, em
saudável. Salvador, um grupo de jovens que aspiravam
projeção intelectual e literária, cujas idades
variavam entre 15 e 28 anos

Norma-padrão Realidade linguística do português


brasileiro
1 — Constrói-se com a preposição a e não
com a locução do que: Houaiss (versão eletrônica) afirma: “O uso,
embora frequente no Brasil, de preferir
Ex1: Prefere a mãe ao pai (e não “do que” o seguido de do que não é aceito pela norma
pai). culta da língua (lê-se “norma-padrão”),
Preferir Ex2: Os alunos preferiam jogar futebol a embora se abone em escritores modernos e
praticar atletismo. clássicos; o mesmo quanto a preferir antes,
construção de expressividade pleonástica
2 — Também é errado usar preferir com em [...]”.
vez de: O lateral prefere jogar no Brasil “em
vez de” (o certo: a) ir para a Espanha. Ex1: Muitos preferem trabalhar do que
estudar.
3 — Como preferir já tem valor absoluto, são
inadmissíveis frases do tipo de: Ex2: O garoto prefere antes estar em casa do
que na escola.
Ex1: Prefiro antes morrer a renunciar.
Ex2: Os times preferem mais atacantes a É comum também a construção “em vez de”
defensores. ou “no lugar de”.
Ex3: Preferia cem vezes brincar a estudar. O
“antes”, o “mais” e o “cem vezes” estão Ex3: Prefiro estudar em vez de trabalhar.
sobrando nas frases.
Ex4: Prefere-se gritar no lugar de conversar.

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EXERCÍCIOS
1. Nos quadrinhos abaixo, assinale a opção que corresponde à linguagem empregada com o verbo “assistir”.

A - ( ) norma-padrão ( ) norma culta falada B - ( ) norma-padrão ( ) norma culta falada

2. Observe.

I. Prefiro estar só do que mal acompanhado.


II. É muito bom assistir um filme no cinema.
III. Nas férias, iremos no parque brincar.
IV. O jovem obedece os mais velhos.

Quanto à regência verbal, segundo a norma-padrão,

a) apenas a I está errada.


b) apenas a II está errada.
c) apenas a I e III estão erradas.
d) apenas a II e IV estão erradas.
e) todas estão erradas.
3. Assinale a alternativa em que a regência verbal, quanto à formalidade da língua, está incorreta:

a) É saudável aspirar o ar da manhã.


b) Concentrei-me, visei o alvo ... e errei.
c) Informe a ele que o trem já partiu.
d) Os torcedores assistiram um grande jogo de futebol.
e) Todos aspiram a uma vida melhor.

4. Indique se na regência dos verbos destacados, nos trechos abaixo, aplica-se o conceito de norma-padrão
ou norma culta/comum, segundo a teoria linguística revisada neste material.

I – “Ela é muito mais do que isso. A escravidão fere a dignidade humana. E aquela portaria implica em uma
mudança de um conceito que está sedimentado em lei e na política pública que vem sendo praticada no país
nos últimos 30 anos. É por isso ela representa um claro retrocesso nas nossas instituições”, diz Dodge.
(Folha de S. Paulo, 30/10/2017)

II – “Preferimos o diálogo em lugar do ‘não’.” Assim Caetano Veloso deu início à sua declaração no evento
em que ele e Gilberto Gil se encontraram com músicos e representantes de 80 ONGs locais em prol da paz
e dos direitos humanos. (Estadão, 27 Julho 2015 | 20h44)

III – 20 de Setembro de 2013


Técnico Vágner Benazzi e mais três jogadores chegaram em Belém (http://paysandu.com.br/noticias/384)

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5. Observa-se obediência à norma-padrão, no que se refere à regência verbal, em:

a) A pobreza implica em muito sofrimento.


b) Os espectadores devem assistir o espetáculo em silêncio.
c) Todos aspiram a uma vida mais justa neste país.
d) A população prefere endividar-se do que poupar.
e) É importante obedecermos os limites do corpo.

6. Com base na tradição gramatical, complete as lacunas com a forma correta dentro dos parênteses.

a) O brasileiro prefere um jogo de futebol ___________ uma partida de basquete. (a – do que)


b) Para não perder o voo, é preciso chegar cedo __________ aeroporto. (ao – no)
c) Quem não comprou ingresso para a Copa, vai assistir __________ jogos em casa. (os – aos)
d) No passado, Bernardo namorou durante muito tempo __________ sua prima (Ø – com)
e) Alguns alunos foram _____________ colégio para efetuar a matrícula (no – ao)

7. Substituindo o verbo destacado por outro, a frase, quanto à regência verbal, torna-se INCORRETA em:

a) O líder da equipe, finalmente, viu a apresentação do projeto. / O líder da equipe, finalmente, assistiu à
apresentação do projeto.
b) Mesmo não concordando, ele acatou as ordens do seu superior. / Mesmo não concordando, ele
obedeceu às ordens do seu superior.
c) Gostava de recordar os fatos de sua infância. / Gostava de lembrar dos fatos de sua infância.
d) O candidato desejava uma melhor colocação no ranking. / O candidato aspirava a uma melhor colocação
no ranking.
e) Naquele momento, o empresário trocou a família pela carreira. / Naquele momento, o empresário preferiu
a carreira à família.

“Os funcionários antigos assistiam atentos à palestra, pois estes, segundo comentários, aspiravam aos cargos de
chefia. Os funcionários mais novos, porém, preferiram sair mais cedo a ter que ficar acompanhando, o que implicou
a perda de seus empregos. Assim, outros profissionais chegaram no escritório para assumir o lugar dos demitidos”.
8. Nesse texto, há um verbo cuja regência está incorreta quanto à norma-padrão. Identifique-o.

a) assistir b) aspirar c) preferir d) implicar e) chegar

9. Assinale a afirmativa correta quanto à regência verbal.

a) Os palhaços da saúde preferem mais às crianças do que adultos.


b) Todos os pacientes querem assistir os palhaços e rir de suas piadas.
c) Dra. Ivana Korinkova namorou com um engraçado palhaço da saúde.
d) Sr. Gary Edwards agradeceu o convite feito pelos Doutores da Alegria.
e) Alguns profissionais da alegria chegaram no hospital tocando e cantando.

10. O registro do verbo “implicar”, no título da notícia ao lado,


não segue a norma-padrão. Com base na sua intuição
linguística, qual seria, portanto, uma possível explicação para
o uso da preposição “em”, combinada com o verbo “implicar”,
nesse caso?

_________________________________________________

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 10
Conteúdo: CRASE
“Quanto à crase, não há nenhuma regra a decorar: basta o raciocínio”.
Prof. Dr. Celso Pedro Luft em “Decifrando a Crase”.

O que é CRASE?
Crase é um fenômeno linguístico relacionado à fusão entre duas vogais idênticas – aa –, isto é, dois as; o
primeiro a é sempre uma preposição e o segundo a é um artigo definido feminino. Assim:

preposição a
+ aa = à
artigo a

Essa é a regra geral. O sinal à, em cima do a, é chamado acento grave, indicativo de crase.
Em termos gerais, temos um esquema para a crase:

[__________________________ à ___________________________]

Ou seja, sempre haverá uma palavra – verbo ou nome – que vai exigir a
preposição a. Por exemplo, temos o verbo pertencer: o que pertence,
pertence a algo, a alguém.

Ex1: O quadro “Monalisa” pertence ao pintor Leonardo da Vinci.

Observe em detalhes: ...pertence a + o pintor... → ...pertence AO pintor...

Nesse exemplo, a preposição A se combinou com o artigo O que acompanha a palavra museu, masculina.
Ora, se substituíssemos a palavra masculina pintor por uma palavra feminina, certamente haveria CRASE.

O quadro “Monalisa” não pertence à pintora Frida Kahlo.

Observe em detalhes: ...não pertence a + a pintora Frida Kahlo → ...não pertence À pintora Frida Kahlo.

CONCLUSÃO: para ocorrer a crase, tem que haver uma preposição a + a (artigo), que acompanha
substantivo.

Ex2: Não me refiro à prova de Português.

1º- o verbo “referir-se” exige a preposição a;


2º - a palavra à direita “prova” é feminina;

Não me refiro a + a prova de Português

Ex3: Os alunos entregaram o trabalho à professora.


.
1º - quem entrega, entrega algo a alguém; portanto, a preposição a vem do verbo entregar;
2º - a palavra “professora” é feminina;

Os alunos entregaram o trabalho a + a professora.

Ex4: Sou fiel à aula de Português.

1º - quem é fiel, é fiel a algo ou a alguém;


2º - a palavra “aula” é feminina;

Sou fiel a + a aula de Português.

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DICAS DE USO
1ª - DICA para saber se há ou não CRASE21
“TROCA DE PREPOSIÇÃO”

em, de, para, com, por = a


na, da, para a, com a, pela = à

Ou seja, substituiremos o a por alguma das preposições acima. Só teremos à, se


o resultado for PREPOSIÇÃO + A.
Continuando com os exemplos:

a) Meus amigos foram à praia. Ocorre CRASE, porque pode se dizer


= “meus amigos foram PARA A praia”.
b) Meus amigos foram a Brasília. NÃO ocorre CRASE, porque se diz
= “meus amigos foram PARA Brasília”.

c) A vítima compareceu à Delegacia. Ocorre CRASE, porque pode se dizer


= “a vítima compareceu NA Delegacia”.

d) “Verás que um filho teu não foge à luta”. Ocorre CRASE, porque pode
se dizer = “Verás que um filho teu não foge DA luta”. .

2ª - DICA
“AO → À”
Isto é, na dúvida, troca-se o substantivo feminino da direita por (qualquer) um masculino. Se aparecer AO,
consequentemente, ocorre CRASE.
Veja:

a) Voltaram devido à forte seca. Trocando-se o substantivo seca por temporal, temos

→ Voltaram devido ao forte temporal.

b) Sua ideia foi superior à de muitos. Trocando-se o substantivo feminino ideia por raciocínio, temos

→ Seu raciocínio foi superior ao de muitos.

3ª - DICA
Com topônimos, isto é, nomes próprios de lugares, e com a palavra CASA, utilize

1) estou em = a 2) voltei de = a
estou na = à voltei da = à

a) Minha família foi a Fortaleza → “voltei de Fortaleza” – “estou em Fortaleza”. Conclusão: SEM CRASE.

b) Nas férias, muitos turistas se dirigem à bela Fortaleza. → “voltei da bela Fortaleza” – “estou na bela
Fortaleza”. Conclusão: OCORRE CRASE.

c) Vou hoje à casa dos meus pais. → “voltei hoje da casa dos pais” – “estou hoje na casa dos pais”.

Conclusão: OCORRE CRASE.

21
Dicas retiradas do livro “Decifrando a crase”, do autor Celso Pedro Luft (2005).

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OUTROS CASOS
1 – Haverá CRASE nestas LOCUÇÕES (FEMININAS):

a) ADVERBIAIS: à esquerda, à direita, à vontade, à vista, à noite, à tarde etc.

Lembre-se que os adjuntos adverbiais são aquelas expressões que indicam alguma circunstância em
relação ao verbo: tempo, lugar, modo etc. Exemplos: à tarde, à noite, à esquerda, à direita, à vista, à vontade,
às pressas etc.

Ex: Gosto de estudar à noite → essa expressão é um adjunto adverbial de TEMPO, feminina, logo haverá
crase.

Ex: Entre e fique à vontade → essa expressão é um adjunto adverbial de MODO, feminina, logo haverá
crase.

b) PREPOSITIVAS: à espera de, à procura de, à beira de, à frente de, à luz de, à prova de, à base de etc.

Ex: Estou à procura de uma pessoa que me entenda.


A crase se deve tão-somente à expressão!
Ex: O paciente ficou à beira de um ataque de nervos.

c) CONJUNTIVAS: à medida que, à proporção que.

Ex: Sentia medo à medida que descia o porão.

2 – COM HORAS: troca-se a “hora” por MEIO-DIA. Se aparecer “AO meio-dia”, logo haverá crase!

a) Saio às 11h → Saio ao meio-dia. Logo, com acento.

b) Estou aqui desde as 11h → Estou aqui desde o meio-dia. Logo, sem acento.

3 – DIANTE DE SUBSTANTIVOS FEMININOS NO PLURAL: temos duas possibilidades de uso!

1ª – É possível deixar o a sem acento e sem S; 2ª – É possível deixar o a com acento e com S;

Ex: Ele sempre se refere a questões simples.

Ex: Ele sempre se refere às questões simples.

CRASE PROIBIDA / CRASE FACULTATIVA


1 – NUNCA OCORRE CRASE DIANTE DE VERBO:

Ex: Não temos nada à declarar EMPREGO INCORRETO DA CRASE!

2 – NUNCA OCORRE CRASE DIANTE DE SUBSTANTIVO MASCULINO (se subentender a expressão “à


moda de” ou “à maneira de”, ocorrerá crase):

Ex: Você já andou a cavalo? / Óculos à John Lennon (à moda de, ao estilo de)

3 – NUNCA OCORRE CRASE DIANTE DE PRONOMES, EM GERAL:

quem – cujo – nada - nenhum (a) – cada – algum (a) alguns (mas) – tudo – todo (a) – todos (as) – este –
esta – estes – estas – esse – essa – esses – essas – pronomes de tratamento (exceção: senhora, senhorita)
etc.

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Ex: Desejo à todos um bom dia! (Emprego incorreto!) / Não me refiro à qualquer pessoa. (Emprego incorreto!)

4 – DIANTE DE PRONOMES POSSESSIVOS FEMININOS NO SINGULAR A CRASE É FACULTATIVA:

Ex: Pedi à / a minha vizinha um copo d’água.

Ex: Chegaremos à / a sua casa em breve.

5 – NÃO OCORRE CRASE DIANTE DE ARTIGO INDEFINIDO:

Ex: Vamos a uma festa de formatura?

6 – NÃO OCORRE CRASE DIANTE DE PALAVRAS REPETIDAS:

Ex: Frente a frente, lado a lado, corpo a corpo etc.

7 – NÃO OCORRE CRASE DIANTE DE NÚMEROS CARDINAIS:

Ex: Minha casa fica a duas quadras daqui.

8 – DIANTE DE NOMES PRÓPRIOS FEMININOS A CRASE É FACULTATIVA:

Ex: Ele entregou do documento à / a Fernanda.

9 – COM A EXPRESSÃO A DISTÂNCIA:

Ex: Faço um curso a distância. / Há faculdades que oferecem cursos de graduação a distância.

→ Sem acento grave = sem especificação da distância.

Ex: Fotografe à distância de um metro.

→ Com acento grave = com especificação da distância.

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EXERCÍCIOS
1. Nas frases abaixo, justifique por que ocorre crase. Para isso, você pode utilizar da “regra geral” ou, até
mesmo, das “dicas” de uso da crase. O importante é saber como reconhecer a ocorrência da crase.

a) Após o recesso, os alunos voltaram finalmente à faculdade.

Justificativa: ___________________________________________________________________________

b) Disseram à enfermeira que o paciente já estava estável.

Justificativa: ___________________________________________________________________________

c) Todos os convidados chegaram cedo à festa.

Justificativa: ___________________________________________________________________________

d) Políticas públicas são necessárias à manutenção do bem-estar social.

Justificativa: ___________________________________________________________________________

e) Devido à forte chuva que caiu, foi cancelada a apresentação.

Justificativa: ___________________________________________________________________________

2. Nas frases abaixo, o emprego do acento indicativo de crase está errado. Justifique o porquê.

a) Haverá punição à todos os culpados pelo acidente.


Justificativa:
____________________________________________________________________________________

b) Bovespa resiste à discurso de presidente e fecha em alta.


Justificativa:
____________________________________________________________________________________

c) Viajaram de férias à Fortaleza para conhecer a cidade.


Justificativa:
____________________________________________________________________________________

d) O que podemos pedir à Deus que não seja mais que gratidão?
Justificativa:

____________________________________________________________________________________

e) Levaram as dúvidas à uma professora que estava presente na reunião.


Justificativa:

____________________________________________________________________________________

f) O método se refere à desenvolver práticas de hábitos saudáveis.


Justificativa:
____________________________________________________________________________________

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3. Considerando a frase abaixo, pode-se afirmar que a ocorrência da crase está

o correta
o Errada

4. Ambientalistas que passaram ___ lutar pelo controle do desmatamento na Amazônia são vistos como
inimigos ___ serem neutralizados, originando-se daí os assassinatos relacionados ___ luta pela posse de
terra.

As lacunas da frase acima serão corretamente preenchidas por

a) à–à–a
b) à–a–a
c) a–à–à
d) a–a–à
e) a–à–a

5. Com base na placa ao lado, deveria ou não haver acento indicativo de


crase empregado no “a”? Justifique sua resposta.

_________________________________________________________

_________________________________________________________

6. A população de miseráveis não tem acesso ...... quantidade mínima de alimentos necessária ......
manutenção de uma vida saudável, equivalente ...... uma dieta de 2000 calorias diárias.

A alternativa que preenche corretamente as lacunas da frase apresentada é:

a) a - à - a
b) à - à - a
c) à - à - à
d) à - a - a
e) a - a - à

7. O “a” destacado no enunciado ao lado deveria ou não receber o acento indicativo de crase? Justifique sua
resposta.

_____________________________________________________________________________________

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 11
Conteúdo: CONCORDÂNCIA VERBAL

Em termos gerais, o assunto concordância verbal trata da concordância entre verbo e sujeito, em
número (singular ou plural) e pessoa (1ª, 2ª e 3ª pessoa). Ou seja, para estabelecer corretamente a
concordância verbal nas frases de nossa língua, devemos reconhecer, sobretudo, o sujeito da oração e,
assim, fazer a concordância com o verbo.

1. SUJEITO

- É o termo gramatical do qual se diz alguma coisa;

- É o termo da oração com o qual o verbo concorda;

- É o termo sintático que, geralmente, antecede o verbo.

Veja:

(1) O caçador matou o urso.

Quem matou o urso? Sabemos que foi “o caçador”, isto é, essa expressão funciona como sujeito da oração.

E se a frase fosse:

(2) O urso matou o caçador.

Quem é o sujeito agora? A resposta é “o urso”. Perceba que a ordem dos termos na oração tem importância.

Além da mudança de sentido entre uma e outra oração, a função sintática mudou com a posição dos termos.

1.1. IDENTIFICANDO O SUJEITO

O que / quem + verbo?


Resposta = SUJEITO

Para identificar o sujeito de uma oração, basta aplicar essa dica. Veja:

(4) A produção de vacinas aumentou no Brasil.

Ora, faz-se a pergunta ao verbo: “o que aumentou no Brasil?”

Resposta: a produção de vacinas. Logo, este é o sujeito da oração.

(5) Apareceram, durante a enchente, os lixos dos moradores.

Faz-se a pergunta ao verbo: “o que apareceu?”


Resposta: os lixos dos moradores

Conclusão: o termo “os lixos dos moradores” é o sujeito da oração.

Interessante saber que o sujeito é expresso por substantivo, ou equivalente de substantivo (uma palavra
substantivada), que será o núcleo do sujeito. Nos exemplos acima, temos “produção” e “lixos” como
núcleos do sujeito das orações, respectivamente. Cabe aqui uma observação importante: mais
especificamente, o verbo concorda com o núcleo do sujeito.

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2. PROBLEMAS MAIS COMUNS RELATIVOS À FALTA DE CONCORDÂNCIA VERBAL

Temos duas observações importantes sobre os erros mais comuns relativos à falta de concordância verbal:

1ª – Sujeito de grande extensão: nesse caso, perde-se a noção de concordância com o núcleo do sujeito:
Perceba a falta de concordância verbal no título da notícia abaixo:

Ex: O aumento da eliminação de gases nocivos à atmosfera prejudicam o meio ambiente.

Vamos perguntar ao verbo para saber quem é o sujeito: “o que prejudica o meio ambiente?”

A resposta é “O aumento da eliminação de gases nocivos à atmosfera”. Acabamos de descobrir o sujeito.


Porém, a concordância se dá efetivamente entre verbo e núcleo (do sujeito). Assim, o núcleo do sujeito é
o primeiro substantivo – aumento –, que está no singular, logo o verbo deveria estar no singular também.
Portanto, temos um erro de concordância verbal.

2ª – Com sujeito em posição pós-verbal, isto é, posposto ao verbo:

Ex: Caiu no chão as chaves da casa.

“O que caiu no chão”? Resposta: “as chaves da casa”. Isso é o sujeito. E o núcleo?

O núcleo desse sujeito é “chaves”, que está no plural. Logo, o verbo deveria
estar também no plural, para, assim, haver a correta concordância. Temos,
portanto, aí um erro de concordância verbal, de acordo com a norma-padrão
da língua.

EXERCÍCIOS (parte 1)
1. Preencha as lacunas abaixo com a forma verbal adequada dentro dos parênteses, de acordo com a
norma-padrão.

a) ______________ dois acidentes graves na avenida Rui Barbosa. (Aconteceu /Aconteceram)

b) ______________ a vinte o número de faltas no mês passado. (Chegou/Chegaram)

c) ______________ à reunião de ontem muitas pessoas. (Faltou/Faltaram)

d) Aqui não ______________ os materiais que nos requisitaram. (existe/existem)

e) Não ______________ acidentes com afastamento há mais de um ano. (acontece/ acontecem)

f) ______________ agora há pouco todo o pessoal do trabalho. (Chegou – Chegaram)

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g) Intenções de voto durante o segundo turno certamente _____________ (influencia – influenciam) o
eleitorado.

h) Aumentos constantes no preço final da gasolina ______________ (prejudica – prejudicam) o orçamento


familiar.

i) A relação entre violência e uso de drogas ______________ (revela – revelam) dados alarmantes.

j) A substituição de carros particulares por mais transportes públicos ___________ (pode – podem) melhorar
o tráfego.
k) A quantidade de entulhos espalhados por ruas e calçadas _______________ (atrapalha – atrapalham) a
mobilidade.

l) Com o tempo, _________________ (surge – surgem) todo tipo de problema de saúde relacionado à
velhice.

m) Alterações do prazo de entrega da declaração do imposto de renda __________________ (gera – geram)


dúvida na população.

2. Sabe-se que, mais especificamente, segundo a regra geral, a concordância verbal se dá entre verbo e
núcleo do sujeito. Assinale a alternativa em que o verbo destacado realiza a correta concordância.

a) As taxas de umidade do ar AUMENTOU significativamente neste ano.


b) O número de homicídios relacionados ao tráfico CRESCEM a cada ano.
c) Expectativas em relação ao aumento da inflação FAZ bolsas caírem.
d) A quantidade de crianças com depressão PREOCUPAM os especialistas.
e) O crescimento de crimes cibernéticos IMPLICA cuidados na internet.

3. Em apenas uma alternativa, o verbo destacado segue as regras de concordância verbal. Assinale-a.

a) Chegou ao fim as campanhas voltadas para a reciclagem de materiais nas cidades escolhidas no projeto-
piloto.

b) A conscientização dos moradores daquela área contaminada pelos resíduos tóxicos acabaram surtindo
bons resultados.

c) Muitos consumidores engajados na luta pela sustentabilidade desempenha seu compromisso em tudo
aquilo que compram.

d) Atitudes firmes e claras voltadas para a sustentabilidade na exploração dos recursos da natureza devem
trazer lucros promissores para as empresas.

e) Graus elevados de consciência do consumidor sobre sustentabilidade já repercute na mudança de


comportamento.

4. Um dos erros mais comuns, quanto à falta de concordância verbal, ocorre com o sujeito pós-verbal, isto
é, quando o sujeito aparece depois do verbo. Nesse caso, geralmente, deixa-se de realizar a concordância,
o que resulta no que podemos chamar de "erro gramatical", segundo as regras da norma-padrão. Marque a
alternativa abaixo em que o verbo destacado evidencia exatamente esse deslize.

a) Ao longo da viagem, APARECEU todo tipo de problema para a surpresa da família.


b) Depois de muita tensão, CHEGOU a maioria dos votos para o início da contagem.
c) Nos últimos meses, SUBIU os preços de vários produtos por causa da inflação.
d) Recentemente, HOUVE aumento constante de ataques à democracia pelo mundo.
e) Após longa data, ACABOU finalmente o conjunto de restrições contra a liberdade.

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CASOS ESPECIAIS DE CONCORDÂNCIA VERBAL
1. Sujeito representado por EXPRESSÕES PARTITIVAS deste tipo:

• A MAIOR PARTE DE
• (A) GRANDE PARTE DE
• BOA PARTE DE + NOME NO PLURAL → VERBO NO SINGULAR ou PLURAL
• A MAIORIA DE
• METADE DE

Ex: A maioria dos alunos faltou / faltaram à aula.


Ex: A maior parte das crianças dormiram / dormiu no quarto.

2. Com o pronome QUE:

• O verbo concorda com o pronome pessoal (eu, tu, ele, nós, vós, eles) em construções como estas

Ex: Fui eu que falei toda a verdade.


Ex: Fomos nós que falamos toda a verdade.

3. Com o pronome QUEM:

O verbo:

• ou concorda com o pronome pessoal;


• ou fica na 3ª pessoa do singular, concordando com o quem.

Ex: Fomos nós quem falamos toda a verdade → o verbo está concordando com o pronome pessoal
Ex: Fomos nós quem falou toda a verdade → o verbo está concordando com o “quem”, na 3ª pessoa.

4. O verbo FAZER indicando tempo que já passou: verbo no SINGULAR (“verbo sem sujeito”)

Ex: Faz dois meses que não vejo Carla.


Ex: Ontem fez cinco anos que me mudei para Fortaleza.

5. Verbo HAVER

Se o verbo HAVER estiver no sentido de:

• EXISTIR;
• ACONTECER ou
• OCORRER

→ O verbo HAVER fica no singular, obrigatoriamente;


→ É considerado verbo “impessoal”, ou seja, não tem sujeito.

Ex1: Naquela cidade, haviam muitos acidentes de moto.

Neste exemplo, perceba que o verbo haver está no sentido de acontecer. Isto é, “(...) aconteciam muitos
acidentes...”. Sendo assim, o verbo haver deve ficar no singular.

CORREÇÃO GRAMATICAL:

Ex1: Naquela cidade, havia muitos acidentes de moto.


Outro caso:

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Ex2: Se houvessem mais fiscalizações nas estradas, não haveriam tantos acidentes.

Nessa frase, o verbo haver está no sentido de existir, ou ocorrer, acontecer.


Veja:
Ex: Se existissem mais fiscalizações...não ocorreriam... Portanto, o verbo haver, pela regra, deve ficar no
singular.

CORREÇÃO GRAMATICAL:

Ex2: Se houvesse mais fiscalizações nas estradas, não haveria tantos acidentes.

Se aparecer o próprio verbo “existir”, “ocorrer” ou “acontecer” em uma frase:


1. A expressão nominal pós-verbal será o sujeito;
2. O verbo, portanto, manterá concordância com seu sujeito.

Ex1: Havia muitos brinquedos no parque = Existiam (verbo no plural) muitos brinquedos (= sujeito plural)
Ex2: Houve grandes manifestações nas ruas = Aconteceram / Ocorreram grandes manifestações (sujeito)

6. SUJEITO DESTE TIPO:

ALGUM DE NÓS / VOCÊS


SINGULAR
QUAL DE NÓS / VOCÊS + VERBO → (3ª PESSOA)

QUEM DE NÓS / VOCÊS

Ex: Qual de nós SABE a verdade?


Ex: Algum de vocês DESCOBRIU aquele mistério?

7. SUJEITO DESTE TIPO:

ALGUNS DE NÓS / VOCÊS


O verbo pode
QUAIS DE NÓS / VÓS
1) ficar no PLURAL, na 3ª pessoa OU
POUCOS DE NÓS / VÓS 2) concordar com o pronome (nós, vós, vocês)

Ex: Quais de nós SABEMOS a resposta da questão?


Ex: Quais de vocês SABEM a resposta da questão?

8. COM SUJEITO REPRESENTADO POR PORCENTAGEM

1) Quando o sujeito for representado por uma porcentagem, o verbo concorda com o numeral:
Ex: Apenas 1% tomou a vacina até o momento.
Ex: 70% tomaram a vacina.

2) Numeral + expressão partitiva (de + substantivo): verbo concorda com numeral ou com o substantivo:
Ex: 70% das pessoas tomaram a vacina.
Ex: 70% da população tomou a vacina.
A orientação mais atual é fazer a concordância com o substantivo próximo, ou seja, usar o verbo no singular
quando o substantivo está no singular; verbo no plural quando o substantivo está no plural.

Ex: A pesquisa indica que 10% da força feminina trabalha à noite.

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EXERCÍCIOS (parte 2)
1. Preencha as lacunas com a forma correta.

a) Ontem __________ (fez / fizeram) alguns meses que ____________ (saiu / saíram) os resultados do
concurso sobre poesia. (Houve / Houveram) __________ muitos ganhadores e prêmios.

b) Pode ser que ___________ (haja / hajam) vagas na academia, mas não __________ (haverá / haverão)
pessoas interessadas: são muitas as formalidades a __________ (ser / serem) cumpridas.

3. O verbo flexionado no singular que também pode ser corretamente flexionado no plural, sem que
nenhuma outra alteração seja feita na frase, está destacado em:

a) A declaração de Direitos Humanos de Viena, de 1993, reconhece uma série de direitos fundamentais,
como o direito ao desenvolvimento.
b) Para promover os direitos humanos, a consolidação da democracia em todos os países é extremamente
necessária.
c) A maior parte dos países compreende que o direito ao trabalho é de vital importância para o
desenvolvimento de povos e nações.
d) Cada um dos países do Conselho de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) há de
zelar pela manutenção dos Direitos Humanos.
e) A comunidade internacional trata os direitos humanos de forma global, justa e equitativa.

4. Assinale a alternativa em que o verbo destacado deve estar no singular, de acordo com a norma-padrão.

a) Existem muitas teorias acerca do conceito de língua.


b) Acontecem fenômenos linguísticos a todo instante.
c) Bastam dados para delimitar um fenômeno linguístico.
d) Fazem muitos anos que estudam a linguagem humana.
e) Ocorrem variações na fala das pessoas nativas de uma língua.

5. Prova: IDECAN - 2021 - PC-CE - Inspetor de Polícia Civil

No ano passado, 194 policiais foram assassinados no país, e 63% deles eram negros. (linha 1)
Assinale a alternativa em que, alterando-se o segmento sublinhado no período acima, NÃO se tenha mantido
correção gramatical. Não leve em conta as alterações de sentido.

a) e 0,98% deles se dizia negro


b) e 1,89% da população se diziam negros
c) e um quinto se dizia negro
d) e 42% da população se dizia negra
e) e dois sétimos deles se diziam negros

6. Reescreva as frases abaixo substituindo o verbo “haver” por “existir”, item A; “ocorrer”, item B e
“acontecer”, item C. Atente para a concordância e o tempo verbal.

a) A perícia constatou que não há indícios de agressão contra a vítima.

_____________________________________________________________________________________

b) O governo informou que houve falhas no sistema de cadastro de estudantes.

_____________________________________________________________________________________

c) Neste bairro, segundo dados da polícia, havia muitos assaltos durante a noite.

_____________________________________________________________________________________

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 12
Conteúdo: PONTUAÇÃO: EMPREGO DE VÍRGULA
A pontuação é um assunto que requer muita atenção. Diferentemente da
difundida relação com a pausa na oralidade, a compreensão das leis que
regem a pontuação está mais associada à organização sintática dos termos
no período que à representação de intensidade, entoação e silêncio, daí a
relevância de se ter um conhecimento razoável de sintaxe para aplicá-la
adequadamente.

“REGRA DE OURO”
NUNCA SEPARE POR VÍRGULA

SUJEITO X VERBO X COMPLEMENTO VERBAL

Veja os ERROS:

Ex1: Todos os atletas que subiram ao pódio, ganharam a medalha de ouro.


SUJEITO VERBO COMPLEMENTO VERBAL
A vírgula está separando exatamente o sujeito do verbo (“ganharam”). Portanto, há erro gramatical quanto
ao uso da vírgula.
Ex2: Todos os atletas que subiram ao pódio ganharam, a medalha de ouro.
SUJEITO VERBO COMPLEMENTO VERBAL
Veja agora que a vírgula está separando o verbo do complemento. Portanto, mais um erro quanto ao uso da
vírgula.

1º CASO

a) EMPREGO DE VÍRGULA: DESLOCAMENTO DE TERMO PARA O INÍCIO DA ORAÇÃO:


Ex1: Durante a cerimônia, os atletas que subiram ao pódio ganharam a medalha de ouro.
b) EMPREGO DE VÍRGULA: DESLOCAMENTO DE TERMO PARA O MEIO DA ORAÇÃO:
Ex2: Os atletas que subiram ao pódio ganharam, durante a cerimônia, a medalha de ouro.
c) EMPREGO DE VÍRGULA: DESLOCAMENTO DE TERMO PARA O FIM DA ORAÇÃO:
Ex3: Os atletas que subiram ao pódio ganharam a medalha de ouro, durante a cerimônia.
➔ Nesse caso, em específico, a vírgula é facultativa, isto é, pode ou não separar o termo. Não é uma
obrigatoriedade.

DICA LEGAL: toda vez que aparecer algum termo no início ou meio da oração,
isto é, antes do SUJEITO ou ENTRE O SUJEITO E VERBO, ou entre o verbo e
complemento verbal haverá vírgula(s)!

Veja os exemplos reais desse caso:

1) No início do texto, antes do sujeito 2) No meio do texto, entre verbo e complemento

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2º - CASO: EMPREGA-SE VÍRGULA PARA SEPARAR “CONJUNÇÕES”

As conjunções que nos interessam para essa regra são as adversativas (mas, contudo, porém, entretanto,
todavia, no entanto) e as conclusivas (logo, portanto, por conseguinte, então).

Veja os termos destacados, com somente uma única vírgula que os antecede:

3º CASO: EMPREGA-SE VÍRGULA PARA SEPARAR “APOSTO (EXPLICATIVO)”

→ Aposto é o termo gramatical que explica, informa sobre outro termo anteriormente citado. Serve como
fonte de informação para o leitor sobre algo ou alguém já citado em um texto. Formalmente, é separado
por vírgula (s).

Veja nos exemplos reais abaixo a vírgula usada com a finalidade de separar o aposto explicativo:

5º CASO: EMPREGA-SE VÍRGULA PARA SEPARAR “VOCATIVO”

→ Vocativo é o termo gramatical que designa o interlocutor, é o chamamento; a pessoa ou entidade a quem
se dirige a palavra. É sempre isolado por vírgula (s).

Note abaixo que “Cascão” é o interlocutor do personagem-falante.

A vírgula empregada em “vocativo” é bastante comum no dia a dia, com a popularização dos aplicativos de
conversa, no momento em que pretendemos estabelecer um diálogo, por exemplo, “bom dia, fulano”; “olá,
sicrano”.

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EXERCÍCIOS
1. Use vírgula(s) somente quando for necessário.

a) Em sua essência o ser humano quer desafios e aprimoramentos pessoais e profissionais.

a) O comandante poderá se necessário adiar ou suspender a partida da aeronave.

b) Organizações de sucesso são em geral as que apresentam uma firme disposição para agir.

c) A comissão procedeu ao levantamento de dados em uma segunda etapa.

d) Em uma segunda etapa a comissão procedeu ao levantamento de dados

e) No dia 20 de julho de 1969 o homem deu os primeiros passos na Lua.

f) O homem no dia 20 de julho de 1969 deu os primeiros passos na Lua.

g) O Comitê 5S nas suas reuniões analisa e compara os dados contidos nos relatórios setoriais.

h) Ao longo do texto a palavra “norma” quando se referir a ela deve ser grafada com a inicial maiúscula.

i) Na mudança de estrutura da organização o sistema de comunicação interna deve merecer uma atenção
especial.

2. Assinale a alternativa em que há um desvio quanto ao emprego da vírgula.

a) Mais da metade dos brasileiros não tem diploma do ensino médio, aponta OCDE.
b) A organização, com sede em Paris, destaca que o menor nível de escolaridade tende a ser associado
com a maior desigualdade de renda.
c) No caso do Brasil, o país registra o segundo maior nível de desigualdade de renda entre os 46 países do
estudo, ficando atrás apenas da Costa Rica.
d) O índice de pessoas que não cursaram o ensino médio, representa mais do que o dobro da média da
OCDE.
e) Outros países latino-americanos, contudo, têm melhor desempenho que o Brasil. Na Argentina, 39% dos
adultos na faixa de 25 a 64 anos não concluíram o ensino médio, no Chile, o percentual é de 35% e, na
Colômbia, de 46%.

3. No texto abaixo, as vírgulas foram propositadamente retiradas. Assim, empregue 10 (dez) vírgulas em seu
devido lugar.

Em junho quando militantes extremistas do Estado Islâmico tomaram Mosul as potências ocidentais
decidiram não intervir. Na semana passada enquanto circulavam imagens de dezenas de milhares de
iraquianos presos o governo americano decidiu lançar uma operação aérea contra posições chaves do
movimento. Depois da morte de Al Zarqawi em um ataque dos Estados Unidos membros da Al Qaeda
fundaram o Estado Islâmico do Iraque (ISI). Com táticas brutais o grupo passou a se chamar ISIS
(Estado Islâmico do Iraque e Levante) e depois Estado Islâmico. O seu crescimento surpreendeu muitos
no Ocidente. Acredita-se que quando Mosul foi tomada o grupo possuía 800 combatentes. Para a jornalista
iraquiana Mina al-Orabi o Estado Islâmico conseguiu avançar com o apoio de milícias locais.

G1 12/08/2014 11h37 - Atualizado em 12/08/2014 11h37

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 13
Conteúdo: ANÁLISE GRAMATICAL DE FRASES
Os problemas mais frequentemente encontrados na construção de frases dizem respeito à má pontuação,
à ambiguidade da idéia expressa, à elaboração de falsos paralelismos, erros de comparação, etc.
Decorrem, em geral, do desconhecimento da ordem das palavras na frase. Indicam-se, a seguir, alguns
desses defeitos mais comuns e recorrentes na construção de frases.

1. SUJEITO

Como dito, o sujeito é o ser de quem se fala ou que executa a ação enunciada na oração. Ele pode ter
complemento, mas não ser complemento. Devem ser evitadas, portanto, construções como:

Errado: É tempo do Congresso votar a emenda.


Certo: É tempo de o Congresso votar a emenda.

Errado: Apesar das relações entre os países estarem cortadas, (...).


Certo: Apesar de as relações entre os países estarem cortadas, (...).

Errado: Não vejo mal no Governo proceder assim.


Certo: Não vejo mal em o Governo proceder assim.

Errado: Antes destes requisitos serem cumpridos, (...).


Certo: Antes de estes requisitos serem cumpridos, (...).

Errado: Apesar da Assessoria ter informado em tempo, (...).


Certo: Apesar de a Assessoria ter informado em tempo, (...).

2. EMPREGO DE VÍRGULA

a) Deslocamento de termo gramatical para o início da oração:

Ex1: Durante a cerimônia, os atletas que subiram ao pódio ganharam a medalha de ouro.

b) Deslocamento de termo gramatical para o meio da oração:

Ex2: Os atletas que subiram ao pódio ganharam, durante a cerimônia, a medalha de ouro.

c) Deslocamento de termo gramatical para o fim da oração:

Ex3: Os atletas que subiram ao pódio ganharam a medalha de ouro, durante a cerimônia.

3. ERROS DE PARALELISMO

Uma das convenções estabelecidas na linguagem escrita “consiste


em apresentar ideias similares numa forma gramatical idêntica” 22, o
que se chama de paralelismo. Assim, incorre-se em erro ao conferir
forma não paralela a elementos paralelos. Vejamos alguns exemplos:

Errado: Pelo aviso circular recomendou-se aos Ministérios economizar energia e que elaborassem planos
de redução de despesas.

Nesta frase temos, nas duas orações subordinadas que completam o sentido da principal, duas estruturas
diferentes para ideias equivalentes: a primeira oração (economizar energia) é reduzida de infinitivo,
enquanto a segunda (que elaborassem planos de redução de despesas) é uma oração desenvolvida
22
Id., ibid. p. 74 e s.

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introduzida pela conjunção integrante que. Há mais de uma possibilidade de escrevê-la com clareza e
correção; uma seria a de apresentar as duas orações subordinadas como desenvolvidas, introduzidas pela
conjunção integrante que:

Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios que economizassem energia e (que)
elaborassem planos para redução de despesas.

Outra possibilidade: as duas orações são apresentadas como reduzidas de infinitivo:

Certo: Pelo aviso circular, recomendou-se aos Ministérios economizar energia e elaborar planos para
redução de despesas.
Nas duas correções respeita-se a estrutura paralela na coordenação de orações subordinadas.

Mais um exemplo de frase inaceitável na língua escrita culta:

Errado: No discurso de posse, mostrou determinação, não ser inseguro, inteligência e ter ambição.

O problema aqui decorre de coordenar palavras (substantivos) com orações (reduzidas de infinitivo). Para
tornar a frase clara e correta, pode-se optar ou por transformá-la em frase simples, substituindo as orações
reduzidas por substantivos:

Certo: No discurso de posse, mostrou determinação, segurança, inteligência e ambição.

Ou empregar a forma oracional reduzida uniformemente:

Certo: No discurso de posse, mostrou ser determinado e seguro, ter inteligência e ambição.

Atentemos, ainda, para o problema inverso, o falso paralelismo, que ocorre ao se dar forma paralela
(equivalente) a ideias de hierarquia diferente ou, ainda, ao se apresentar, de forma paralela, estruturas
sintáticas distintas:

Errado: O Presidente visitou Paris, Bonn, Roma e o Papa.

Nesta frase, colocou-se em um mesmo nível cidades (Paris, Bonn, Roma) e uma pessoa (o Papa). Uma
possibilidade de correção é transformá-la em duas frases simples, com o cuidado de não repetir o verbo
da primeira (visitar):

Certo: O Presidente visitou Paris, Bonn e Roma. Nesta última capital, encontrou-se com o Papa.

Vamos agora tornar as orações adequadas quanto ao paralelismo sintático.

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EXPRESSÕES A EVITAR E EXPRESSÕES DE USO RECOMENDÁVEL

O sentido das palavras liga-se intimamente à tradição e ao contexto de seu uso. Assim, temos vocábulos
e expressões (locuções) que, por seu continuado emprego com determinado sentido, passam a ser usados
sempre em tal contexto e de tal forma, tornando-se expressões de uso consagrado. Mais do que do sentido
das palavras, trata-se aqui também da regência de determinados verbos e nomes.

O esforço de classificar expressões como de uso a ser evitado ou como de uso recomendável atende,
primordialmente, ao princípio da clareza e da transparência que deve nortear a elaboração de todo texto
oficial. Não se trata, pois, de mera preferência ou gosto por determinada forma.

A linguagem dos textos oficiais deve sempre pautar-se pelo padrão culto formal da língua. Não é aceitável,
portanto, que desses textos constem coloquialismos ou expressões de uso restrito a determinados grupos,
que comprometeriam sua própria compreensão pelo público. Acrescente-se que indesejável é também a
repetição excessiva de uma mesma palavra quando há outra que pode substitui-la sem prejuízo ou
alteração de sentido.

Quanto a determinadas expressões que devem ser evitadas, mencionem-se aquelas que formam
cacófatos, ou seja, “o encontro de sílabas em que a malícia descobre um novo termo com sentido torpe ou
ridículo”.23 Não há necessidade, no entanto, de estender a preocupação de evitar a ocorrência de cacófatos
a um sem-número de locuções que produzem terceiro sentido, como por cada, vez passada, etc. Trata-se,
sobretudo, de uma questão de estilo e da própria sensibilidade do autor do texto. Não faz sentido eliminar
da língua inúmeras locuções que só causam espanto ao leitor que está à procura do duplo sentido.

Apresentamos, a seguir, lista de expressões cujo uso ou repetição deve ser evitado, indicando com que
sentido devem ser empregadas e sugerindo alternativas vocabulares a palavras que costumam constar em
bons textos.

1) à medida que/na medida em que

À medida que (locução proporcional) – à proporção que, ao passo que, conforme: Os preços deveriam
diminuir à medida que diminui a procura. Na medida em que (locução causal) – pelo fato de que, uma vez
que: Na medida em que se esgotaram as possibilidades de negociação, o projeto foi integralmente vetado.
Evite os cruzamentos canhestros – *à medida em que, *na medida que...

Sentia um arrepio, à medida que descia até o porão.

A pesquisa está suspensa, na medida em que o laboratório descobriu um erro.

2) a partir de

A partir de deve ser empregado preferencialmente no sentido temporal: A cobrança do imposto entra em
vigor a partir do início do próximo ano. Evite repeti-la com o sentido de ‘com base em’, preferindo
considerando, tomando-se por base, fundando-se em, baseando-se em.

A cobrança do imposto entra em vigor a partir do início do próximo ano.

A partir dos dados examinados, podemos afirmar que haverá mais imposto.*Errado

USE:

Com base nos dados; Considerando os dados; De acordo com os dados;

23SAID ALI, Manoel. Gramática secundária da língua portuguesa. 3. ed. Brasília: Ed. Universidade de Brasília. p.
224.

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3) anexo/em anexo

O adjetivo anexo concorda em gênero e número com o substantivo ao qual se refere: Encaminho as
minutas anexas. Dirigimos os anexos projetos à Chefia. Use também junto, apenso. A locução adverbial
em anexo, como é próprio aos advérbios, é invariável: Encaminho as minutas em anexo. Em anexo,
dirigimos os projetos à Chefia. Empregue também conjuntamente, juntamente com.

Segue anexo a declaração solicitada por esse departamento.*

Segue ANEXA a declaração...

Segue em anexo a declaração solicitada por esse departamento.

→ Não existe “em anexos”, “em anexa”, “em anexas”

4) através de/por intermédio de

Através de quer dizer de lado a lado, por entre: A viagem incluía deslocamentos através de boa parte da
floresta. Evite o emprego com o sentido de meio ou instrumento; nesse caso empregue por intermédio, por,
mediante, por meio de, segundo, servindo-se de, valendo-se de: O projeto foi apresentado por intermédio
do Departamento. O assunto deve ser regulado por meio de decreto. A comissão foi criada mediante
portaria do Ministro de Estado.

Conseguia ver o próximo cliente através da janela.

Financiaram a pesquisa por intermédio de incentivos fiscais.


Financiaram a pesquisa por meio de incentivos fiscais.
Financiaram a pesquisa mediante incentivos fiscais.
A comunicação entre os candidatos será feita por meio de e-mails.
O casal se conheceu através da internet.
A comunicação entre os candidatos será feita através de e-mails.

5) onde

Como pronome relativo significa em que (lugar): A cidade onde nasceu. O país onde viveu. Evite, pois,
construções como “a lei onde é fixada a pena” ou “o encontro onde o assunto foi tratado”. Nesses casos,
substitua onde por em que, na qual, no qual, nas quais, nos quais. O correto é, portanto: a lei na qual é
fixada a pena, o encontro no qual (em que) o assunto foi tratado.

6) devido a / graças a

Evite repetir; utilize igualmente em virtude de, por causa de, em razão de, graças a, provocado por. A
locução graças a também indica causa, porém é empregada com valor positivo: “Graças a sua ajuda,
consegui o benefício”.

Muitas pessoas ficaram em casa devido à pandemia.

As restrições sociais diminuíram graças à descoberta da vacina.

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Muitas pessoas ficaram em casa graças à pandemia.*

Moradores perderam suas casas graças ao temporal.*

As roupas ficaram encharcadas graças à chuva.*

EXERCÍCIOS
1. A expressão "a partir de" deve ser utilizada em uma situação linguística específica. Assinale o emprego
incorreto desse uso.

a) A partir deste mês, já podemos afirmar que haverá mais imposto.


b) O risco fiscal poderá ser contido, a partir da maior geração de emprego.
c) A cobrança do imposto entra em vigor a partir do início do próximo ano.
d) A partir de dezembro, a concessionária de energia irá aumentar o valor cobrado.
e) Não será necessário, a partir de hoje, fazer prova de vida para os aposentados.

2. A única frase correta quanto uso de expressão, segundo a norma-padrão, é

a) Todas as roupas ficaram encharcadas graças à chuva.


b) Muitas pessoas ficaram em casa graças à pandemia.
c) Moradores perderam suas casas graças ao temporal.
d) As restrições sociais diminuíram graças à vacinação.
e) Alguns países adotaram lockdown graças ao vírus.

3. A frase em que a expressão ou palavra destacada está corretamente empregada é

a) Segue ANEXO a este e-mail a cópia da ata de reunião.


b) À MEDIDA QUE envelhecemos, mais frágeis nossos ossos tornam-se.
c) A pesquisa está suspensa, NA MEDIDA QUE que o laboratório descobriu um erro.
d) À MEDIDA EM QUE não chegaram a um acordo, toda a equipe de pesquisa foi demitida.
e) Pesquisadores descobriram a cura ATRAVÉS DE experiências realizadas em camundongos.

4. Marque a alternativa em que os sintagmas ligados pela conjunção aditiva apresentam-se em paralelismo
sintático.

a) O policial negou saber das falcatruas e que houvesse recebido suborno.


b) Escreva ao comissário denunciando o bicheiro e que ele está envolvido em contrabando.
c) É preciso que o governo reconheça seus erros e que realize as eleições.
d) Ele decepcionou-se primeiro com o candidato eleito e depois quando foi expulso do partido.
e) O comissário resistiu à pressão dos colegas porque não era ambicioso e por ser honesto.

5. Em um dos itens abaixo, há falta de paralelismo na construção da frase. Assinale-o:


a) Bebida alcoólica caseira causa intoxicação e mata 51 pessoa na Líbia.
b) Três policiais são acusados de desviar drogas e ligação com traficantes internacionais.
c) Plano de saúde muda de nome e escapa de punição da Agência Nacional de Saúde.
d) Problema técnico na PF afetou não só emissão de passaporte como também retirada.

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6. Analise os trechos abaixo considerando a correção gramatical. Para tanto, atente para a grafia correta
das palavras, emprego de vírgula, inadequação vocabular, crase, concordância verbal e nominal,
redundâncias etc.

1. O renomado cientista Stephen Hawkings, já havia alertado que a espécie humana não chegaria ao final
do Terceiro Milênio por conta justamente do efeito estufa.

2. A maior parte da sociedade brasileira não tem acesso aos mesmos recursos. Nessa classe sem privilégios
deveria ter um controle maior da natalidade para minimizar os problemas sociais do país.

3. Nas campanhas eleitorais atuais alguns partidos incluíram em seus planos de governo questões
ambientais como o Tratado de Kioto. Apesar do país estar se destacando na área ambiental frente a outros
países da América Latina ainda é no Brasil que ocorre os maiores desastres ecológicos atribuídos a indústria
(BRAGA, 2002).

4. Para que os danos ambientais não atinja maiores proporções ou seja danos irreversíveis serão
indispensáveis neste século toda ação humanitária contra esses danos. A educação ambiental será
absolutamente necessário para conscientizar a sociedade e com isto obter a participação mais ativa da
mesma.

5. Graças a falta de água, torna-se difícil o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais. Dessa
forma, a seca faz com que tenha a falta de recursos econômicos, gerando fome e miséria no sertão
nordestino.

6. É preciso lembrar que o meio-ambiente não se refere apenas as áreas de preservação e lugares
paradisíacos mas sim à tudo que nos cerca: água, ar, solo, flora, fauna e homem. Cada um desses ítens
estão sofrendo algum tipo de degradação. Em seguida será apresentado alguns dados dessa catástrofe.

7. Embora esteja acontecendo vários empreendimentos por parte de empresas novas leis tenham sido
sancionadas, acordos internacionais estejam em vigor, a realidade apontada pelas pesquisas mostram que
ainda é enorme os problemas ambientais e que estão longe de serem solucionados.

8. A poluição assim como a caça predatória altera a cadeia alimentar e dessa forma pode ter o
desaparecimento de uma espécie e superpopulação de outra. Por exemplo o gafanhoto serve de alimento
para sapos, que serve de alimento para cobras, que serve de alimento para gaviões, que quando morre
serve de alimento para os seres decompositores.

9. É importante lembrar que o desaparecimento de determinadas espécies de animais interrompem os ciclos


vitais de muitas plantas.

10. “Bom dia à todos! Visando ao aumento de produção em nossa empresa, o setor de RH trata agora como
sendo indispensáveis novas contratações. Tenho notado de perto o processo das atividades e percebo a
carência de mão de obra, o que reflete em menas produção. Nós mesmo temos que reconhecer essa
fragilidade, aumentando o número de funcionários, para então ficarmos quite com o mercado. Sei também
que todos querem melhores remunerações, por isso, com relação à salário, já estamos revisando a folha de
pagamento para o próximo mês. Amanhã chegarei no departamento de finanças para discutir esse assunto.
Por último, gostaria de avisar que, à partir da próxima semana, haverá reunião de segunda à quarta na minha
sala, das 14h às 16h. Conto com a sua presença. Anexo a este e-mail segue a tabela salarial dos cargos da
empresa. Obrigado pela atenção. Elaine Fortes, gerente”.

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 14
Conteúdo: DIFICULDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA

1. Complete com “MAU” OU “MAL”:

1. Ele foi ................. informado sobre o resultado dos exames.

2. Uma redação .......... escrita pode ser apenas o resultado de um ............... planejamento.

3. Há pessoas que têm o .............................. costume de fazer .............................. juízo de pessoas que
.............................. conhecem.

4. O .................... tempo impediu a decolagem.

5. .................. chegou ao aeroporto e o passageiro sentiu-se ...................

6. Sua apresentação estava .............................. estruturada.

7. O time jogou .............................. mas venceu o campeonato.

8. Passei .............................. durante o dia por ter dormido .............................. à noite.

9. .............................. podíamos crer naquilo que víamos.

10. “Todo o .............................. do Brasil é que a política é uma profissão, mas os políticos não são
profissionais.” (Pe. Júlio Maria)

2. Agora preencha as lacunas com “A” ou “HÁ”:

1. O interesse pela Melhoria da Qualidade (MQ) tem crescido regularmente ............ alguns anos.

2. Respeite quem vem trabalhando ............ meses para elaborar a rotina.

3. Nosso programa iniciou ............ pouco.

4. O programa iniciará daqui ............ pouco.

5. Agora ............ pouco, ocorreu um acidente na Dutra.

6. ............ poucas chances de fecharmos o negócio.

7. Daqui ............ poucos dias fecharemos o negócio.

8. O sinal soou ............ alguns minutos.

9. Estou esperando ............ dias a entrega da encomenda!

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USO DOS PORQUÊS

1. POR QUE: utiliza-se quando:

a) Estiver em frases interrogativas diretas ou indiretas;


b) For substituído por “pelo qual” (e flexões);
c) For substituído por “por qual motivo”;

Ex1: Não sei por que o aluno faltou à aula.

2. POR QUÊ: utiliza-se quando:


Em final de frases;

Ex2: O aluno faltou à aula por quê?

3. PORQUE: utiliza-se quando:


a) Responde;
b) Trocado por “pois”, “visto que”;

Ex3: O aluno faltou à aula, porque estava doente.

4. PORQUÊ: utiliza-se quando:


a) Antecedido por artigo;
b) Trocado por “motivo”, “razão”;

Ex4: Não o porquê de ele ter faltado.

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EXERCÍCIOS
1. Qual a opção correta para completar as lacunas?
I – Não consigo entender ____ ele não veio.
II – No momento, ____ você está irritado?
III – Estava preocupado com o ___ da questão.
IV – Ajudo-o ___isso me agrada.

a) porque – porque – porquê – porque


b) por que – porque – porquê – por que
c) porque – por que – por que – por que
d) por que – por que – porquê – porque

2. A opção correta para completar as lacunas: “Ela nos contou o ____ da viagem, ____ não quis partir sem
esclarecer a situação”.
a) por quê – porque
b) porquê – porque
c) por que – por que
d) porque – por que

3. Assinale a frase que apresenta erro no uso dos porquês.


a) Por que ainda insistir no assunto?
b) O marceneiro não fez o baú porque faltou madeira.
c) Revele-nos porque não quis contribuir.
d) Ele recusou a indicação não sei por quê.

4. Qual a opção que apresenta erro quanto ao uso dos porquês?


a) Leio revistas e jornais porque desejo estar sempre bem informado.
b) Gostaria de rever os lugares por que andei quando menino.
c) Você não me apresentou os resultados. Por quê?
d) Não sei porque desisto tão facilmente das coisas.

ONDE OU AONDE?
A palavra ONDE é empregada para indicar lugar.
Ex1: O bairro onde moro é movimentado.

Porém, podemos empregar também o termo AONDE, que é a contração entre a preposição “a” e o “onde”,
resultando em “aonde”.
Ex2: Você vai aonde?

Veja, agora, o confronto entre um e outro:


Ex3: Você mora onde?
Ex4: Você vai aonde?
Por que no exemplo 3 temos “onde” e em 4 temos “aonde”?
Ora, no exemplo 4 temos a presença da preposição “a” (aonde) por uma imposição de regência verbal (no
caso do verbo “ir”, afinal, quem vai, vai a algum lugar). Ou seja, sempre que um verbo exigir essa preposição,
logo utilizaremos o termo “aonde” para indicar o lugar. Caso contrário, basta o “onde”.

Naturalmente, pode haver também a inversão da pergunta:


Ex: Onde você mora?
Ex: Aonde você vai?

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Interessante é saber que o “aonde” é empregado com verbos de movimento. Vejamos mais exemplos:
Ex5: Eles chegaram aonde queriam. (o verbo “chegar” pede a preposição “a” – verbo de movimento)
Ex6: Ainda não sei aonde eles foram. (o verbo “ir” pede a preposição “a” – verbo de movimento)

O emprego do “aonde” ocorre mais frequentemente com os verbos “ir”, “chegar”.


Ex7: Aonde você vai agora? (quem vai, vai a algum lugar)
Ex8: Aonde você quer chegar com essa conversa? (quem chega, chega a algum lugar)

DICA:

ONDE = EMPREGADO COM “VERBO ESTÁTICO”


AONDE = EMPREGADO COM “VERBO DE MOVIMENTO”

Ex9: Você quer ficar onde? (verbo estático “ficar”)


Ex10: Onde está você agora? (verbo estático “estar”)
Ex11: Todos foram aonde ficava a festa (verbo de movimento “foram”)
Ex12: Você pode chegar aonde quiser! (verbo de movimento “chegar”).

EXERCÍCIOS
1. Complete as sentenças com onde e aonde.

a) ___________ você chegará com esta velocidade toda?


b) ___________ você está neste exato momento?
c) Este é o local ____________ trabalho.
d) Você vai buscá-la _____________?
e) _______________ você vai apresentar o trabalho?

2. Assinale a sentença correta.


a) Gabriela está aonde deveria estar.
b) Ana Beatriz vai onde eu for.
c) A casa aonde morei é linda.
d) A professora me perguntou ontem: Aonde você vai com tanta pressa?

PARA MIM OU PARA EU?24


Quando usar “para eu”:

“Para eu” deve ser utilizado sempre que o sujeito for seguido de um verbo no infinitivo que indique uma ação.
1. Preciso de férias para eu descansar. (certo)
2. Preciso de férias para mim descansar. (errado)
3. Faltam quinze dias para eu viajar. (certo)
4. Faltam quinze dias para mim viajar. (errado)

Quando usar “para mim”:


Dica importante: “Mim”, que é um pronome pessoal oblíquo tônico e deve estar sempre precedido por uma
preposição, só será utilizado quando desempenhar a função de complemento em uma oração.
1. Você pode comprar o ingresso para mim? (certo)
2. Você pode comprar o ingresso para eu? (errado)

24
https://brasilescola.uol.com.br/gramatica/para-mim-ou-para-eu.htm. Acesso dia 13/11/2019.

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EXERCÍCIOS
1. Complete as lacunas com “eu” ou “mim”:
I. Eles partiram antes de _____.
II. Eles partiram antes de _____ partir.
III. Há alguma coisa para _____ fazer?
IV. Para _____, a seleção brasileira é a favorita.
V. Preciso de férias para _____ viajar.
a) mim – eu – eu – mim – eu
b) mim – eu – mim – mim – mim
c) eu – mim – eu – mim – mim
d) mim – mim – mim – eu – eu

2. Complete as frases com “para mim” ou “para eu”.


a) Necessito de férias ______________ descansar.
b) Ele enviou a encomenda ______________.
c) _____________, estar em família é muito importante.
d) Trouxe bastantes documentos _____________ assinar.
e) Faltam quinze dias __________ viajar.

3. Assinale a única alternativa correta quanto ao uso da expressão “para mim”.


a) Ele pediu para mim comprar o ingresso.
b) Aquele convite foi entregue para mim.
c) Minha mãe comprou novas roupas para mim usar.
d) Faça silêncio para mim falar.
e) Traga algo para mim comer, por favor!

4. (IBFC) Assinale a alternativa que completa, correta e respectivamente, as lacunas.


O garoto pediu para _____ ler a história. Para ______, ler é sempre um prazer!

a) eu – eu.
b) mim – eu.
c) eu – mim.
d) mim – mim.

ESTÁ OU ESTAR?25
As duas formas existem e estão corretas. Está é a forma conjugada do verbo estar na 3.ª pessoa do
singular do presente do indicativo (ele está) ou na 2.ª pessoa do singular do imperativo (está tu). Estar é a
forma do verbo no infinitivo. O erro no uso de está e estar acontece porque, numa fala corrente e
descompromissada, o r final das formas verbais no infinitivo não é pronunciado (está em vez de estar, vê em
vez de ver, dá em vez de dar)

Quando usar estar?


O emprego de “estar” ocorre nas locuções verbais e nas frases com preposições.

Ex1: O menino deve estar feliz. (locução verbal com verbo auxiliar deve)
Ex2: Ela pode estar me esperando. (locução verbal com verbo auxiliar pode)
Ex3: Meu irmão não vai estar na festa. (locução verbal com verbo auxiliar vai)
Ex4: O menino fica sempre sem estar quieto. (frase com preposição)

25
https://duvidas.dicio.com.br/esta-ou-estar/flávianevesprofessoradeportuguês. Acessado dia 13/11/2019.

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Ex5: Meditar é importante para ele estar sossegado. (frase com preposição)

Quando usar está?


Está, forma verbal no presente do indicativo, é usada principalmente para indicar uma ação que ocorre no
exato momento em que se narra a ação. Indica também, entre outros usos, uma ação habitual, uma
característica do sujeito e um estado permanente de uma situação.

Ex1: O menino está feliz.


Ex2: Helena está indo embora.
Ex3: Meu pai está atrasado.
Ex4: Ela está me esperando.

DICA: Para saber se cabe “estar”, escreva “ser”. Para saber se cabe “está”, escreva “é”.

Ex1: Joana parece estar em casa. Estar ou está?

Troque o verbo > Joana parece “ser”. Logo, cabe “estar”.

Ex2: Joana está em casa. Estar ou está?

Troque o verbo > Joana “é”. Logo, cabe “está”.

Para pôr em prática essa dica, não há necessidade de se considerar toda a frase.

EXERCÍCIOS
1. Preencha as lacunas abaixo com a forma “está” ou “estar”.

a) O ônibus _______ atrasado.

b) O ônibus parece _______ atrasado.

c) Ele deve _________ com fome.

d) Pedro não _________ na sala.

e) Lara _______ indo embora da festa.

f) Não quero ________ de fora desse evento!

g) Ele pode ainda ________ cansado da viagem.

h) Mais tarde tenho de _________ em casa.

i) Quem sabe se ele _________ ou não acompanhado?

j) Adormeceu sem __________ preocupado com a vida.

k) Não tenha pressa em _________ sempre estar atualizado.

l) São poucas as chances de ele _________ no trabalho.

m) Para ________ em forma, devemos sempre nos exercitar.


n) Não sei no que você _________ pensando agora.

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Disciplina: Comunicação e Linguagem – AULA 15
Conteúdo: GÊNEROS TEXTUAIS E TIPOS DE TEXTO
A princípio, considere os textos abaixo.

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GÊNEROS TEXTUAIS OU TIPOS DE TEXTO?
Primeiramente, é importante lembrar que há uma diversidade de nomenclaturas, sendo comuns confusões e
equívocos. Conforme aponta Marcuschi (2005), um exemplo disso é o fato de que a expressão "tipo de texto",
usada habitualmente e comumente encontrada em materiais didáticos, não é empregada de forma adequada,
uma vez que não designa um tipo, mas sim um gênero de texto. Nesta perspectiva, uma carta pessoal é um
gênero textual e não um tipo de texto. Como veremos mais adiante, o termo tipo ou sequência textual faz
referência a construções linguísticas específicas que caracterizam determinado texto.

A partir do exposto, adotaremos a concepção de gêneros textuais como fenômenos históricos relacionados à
vida cultural e social, pois seguindo estudos recentes sobre gêneros textuais, estes "são entidades sócio-
discursivas e formas de ação social incontornáveis em qualquer ação comunicativa" (Marcuschi, 2005: 19).
Os gêneros não são estáticos, caracterizam-se como eventos textuais dinâmicos e flexíveis que surgem a
partir das necessidades sócio-culturais e das inovações tecnológicas.

Há inúmeros em diversidade de formas (para citar alguns: cartas, bilhetes, anúncios, receitas, e-mails,
poemas, artigos, matérias, etc.), e dado o processo dinâmico no qual os gêneros estão inseridos, assim como
surgem, podem desaparecer. Um exemplo disso é a progressiva substituição de cartas e bilhetes por
mensagens geradas eletronicamente por e-mail. Em meio ao contexto apresentado, Marcuschi argumenta
que as cartas eletrônicas seriam gêneros novos com identidades próprias.

A noção de TIPOS DE TEXTO desenvolvida por Adam (apud Bronckart, 2003) baseia-se na hipótese de
existência de unidades mínimas de composição textual. Assim, Adam propõe cinco tipos de estruturas
sequenciais de base: narração, descrição, dissertação, injunção e diálogo.

GÊNEROS TEXTUAIS
Os gêneros textuais são os textos que circulam na sociedade e que desempenham diferentes papéis
comunicativos; são tipos relativamente estáveis de enunciados produzidos pelas mais diversas esferas da
atividade humana.

Em nossas atividades comunicativas, sempre nos utilizamos de gêneros textuais:

Recebi o e-mail.
Achei o anúncio interessante.
Fiz um resumo do livro.
Li o conto.
A piada foi boa.
A tirinha é engraçada.

• Os gêneros textuais são dinâmicos e sofrem variações na sua constituição, e isso resulta em novos
gêneros.
• O número de gêneros textuais numa determinada sociedade é, em princípio, ilimitado, ampliando-se de
acordo com os avanços sociais e tecnológicos.
• Basta pensar no e-mail ou no blog, práticas sociais e comunicativas decorrentes das variações da carta
e do diário, propiciadas pelas recentes invenções tecnológicas.
• Dado o processo dinâmico no qual os gêneros estão inseridos, assim como surgem, podem desaparecer.

TIPOS DE TEXTO (TIPOLOGIAS TEXTUAIS)


Quando se classifica um certo texto como narrativo, descritivo ou dissertativo não se está determinando
o gênero, mas uma tipologia textual ou sequência textual predominante. Sendo assim, os tipos de texto
são unidades mínimas de composição textual.

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Relação entre gênero textual e tipologia textual (tipo de texto)

TEXTO 1

Que texto é esse? Anúncio de procurado/ Cartaz de


Procura-se.

Tipo textual: Descritivo

Propósito Comunicativo: Encontrar o gato.

Meio de circulação: Ruas (casas nas redondezas e


postes)

Quem produziu? Tutor do gato

A quem se dirige? Ao público em geral.

TEXTO 2

Que texto é esse? Música.

Tipo textual: Descritivo, mas há trechos narrativos.

Propósito Comunicativo: Tratar das características de


Eduardo e Mônica

Meio de circulação: Rádios, Plataforma de streamings,

Quem produziu? Legião Urbana

A quem se dirige? Público que se interessa pelo estilo


musical da banda.

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EXERCÍCIOS
1. (INSTITUTO AOCP/2013 – ADMINISTRADOR)

PM do Rio de Janeiro diminui participação no desfile da Independência


Mudança será feita para aumentar a segurança das ruas no sábado, quando estão programadas mais
manifestações

O tradicional desfile de 7 de Setembro na avenida Presidente Vargas, no centro, vai ficar desfalcado neste
ano. A Polícia Militar do Estado, que conta com várias unidades na parada, confirmou apenas a presença
da Academia Dom João VI, de oficiais. O porta-voz da corporação, tenente-coronel Cláudio Costa Oliveira,
explicou nesta quinta-feira (05) que a mudança será feita para aumentar a segurança das ruas no próximo
sábado, quando estão programadas diversas manifestações. “Estamos definindo o aumento do efetivo em
razão dessas manifestações que estão sendo passadas pela internet”, explicou. “Mas isso não está
totalmente definido”, disse o tenente-coronel. Ele informou que nesta sexta-feira (6) será decidida a
programação do desfile

O texto acima representa o gênero textual denominado

a) entrevista.
b) tutorial.
c) notícia.
d) resumo.
e) relato.

2. (INSTITUTO AOCP/2015 – AGENTE ADMINISTRATIVO OPERACIONAL)

“Estamos Enlouquecendo Nossas Crianças! Estímulos Demais...Concentração de Menos”


31 Maio 2015 em Bem-Estar,filhos

Vivemos tempos frenéticos. A cada década que passa o modo de vida de 10 anos atrás parece
ficar mais distante: 10 anos viraram 30, e logo teremos a sensação de ter se passado 50 anos a cada 5. E o
mundo infantil foi atingido em cheio por essas mudanças: já não se educa (ou brinca, alimenta, veste,
entretêm, cuida, consola, protege, ampara e satisfaz) crianças como antigamente. Aptidões que devem ser
estimuladas estão sendo deixadas de lado: Crianças não sabem conversar. Não olham nos olhos de seus
interlocutores. Não conseguem focar em uma brincadeira ou atividade de cada vez (na verdade a maioria
sequer sabe brincar sem a orientação de um adulto!). Não conseguem ler um livro, por menor que seja. Não
aceitam regras. Não sabem o que é autoridade. Pior e principalmente: não sabem esperar. Todas essas
qualidades são fundamentais na construção de um ser humano íntegro, independente e pleno, e devem ser
aprendidas em casa, em suas rotinas. Precisamos pausar. Parar e olhar em volta. Colocar a mão na
consciência, tirá-la um pouco da carteira, do telefone e do volante: estamos enlouquecendo nossas crianças,
e as estamos impedindo de entender e saber lidar com seus tempos, seus desejos, suas qualidades e
talentos.
Estamos roubando o tempo precioso que nossos filhos tanto precisam para processar a
quantidade enorme de informações e estímulos que nós e o mundo estamos lhes dando.

(Fonte: http://www.saudecuriosa.com.br/estamos-enlouquecendo-nos-sas-criancas-estimulos-demais-concentracao-de-menos/)

Qual é o gênero textual que mais se adequa ao texto “Estamos Enlouquecendo Nossas Crianças Estímulos
Demais... Concentração de Menos”?

a) Relatório Científico.
b) Artigo de opinião.
c) Debate.
d) Charge.
e) Carta.

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3. Partindo do pressuposto de que um texto estrutura-se a partir de características gerais de um determinado
gênero, identifique os gêneros descritos a seguir:

I. Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas de destaque sobre algum assunto de
interesse. Algumas revistas têm uma seção dedicada a esse gênero;
II. Caracteriza-se por apresentar um trabalho voltado para o estudo da linguagem, fazendo-o de maneira
particular, refletindo o momento, a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de imagens;
III. Gênero que apresenta uma narrativa informal ligada à vida cotidiana. Apresenta certa dose de lirismo e
sua principal característica é a brevidade;
IV. Linguagem linear e curta, envolve poucas personagens, que geralmente se movimentam em torno de
uma única ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações encaminham-se diretamente
para um desfecho;
V. Esse gênero é predominantemente utilizado em manuais de eletrodomésticos, jogos eletrônicos, receitas,
rótulos de produtos, entre outros.

São, respectivamente:

a) texto instrucional, crônica, carta, entrevista e carta argumentativa.


b) carta, bula de remédio, narração, prosa, crônica.
c) entrevista, poesia, crônica, conto, texto instrucional.
d) entrevista, poesia, conto, crônica, texto instrucional.
e) texto instrucional, crônica, entrevista, carta e carta argumentativa.

4. (ENEM – 2010)

Câncer 21/06 a 21/07

O eclipse em seu signo vai desencadear mudanças na sua autoestima e no seu modo de agir. O corpo
indicará onde você falha – se anda engolindo sapos, a área gástrica se ressentirá. O que ficou guardado virá
à tona, pois este novo ciclo exige uma “desintoxicação”. Seja comedida em suas ações, já que precisará de
energia para se recompor. Há preocupação com a família, e a comunicação entre os irmãos trava. Lembre-
se: palavra preciosa é palavra dita na hora certa. Isso ajuda também na vida amorosa, que será testada.
Melhor conter as expectativas e ter calma, avaliando as próprias carências de modo maduro. Sentirá vontade
de olhar além das questões materiais – sua confiança virá da intimidade com os assuntos da alma.
Revista Cláudia. Nº 7, ano 48, jul. 2009.

O reconhecimento dos diferentes gêneros textuais, seu contexto de uso, sua função específica, seu objetivo
comunicativo e seu formato mais comum relacionam-se com os conhecimentos construídos
socioculturalmente. A análise dos elementos constitutivos desse texto demonstra que sua função é:

a) vender um produto anunciado.


b) informar sobre astronomia.
c) ensinar os cuidados com a saúde.
d) expor a opinião de leitores em um jornal.
e) aconselhar sobre amor, família, saúde, trabalho.

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NARRAÇÃO: o texto narrativo
É o texto utilizado para contar um caso, narrar fato(s), historiar acontecimentos, não importando se fictícios
ou verídicos. Predominam neste texto os tempos pretéritos: perfeito ou imperfeito. A ação é um dos
principais ingredientes da narração. O tempo é outro dos ingredientes. O narrador, muitas vezes, utiliza
personagens que dialogam. Há entre os fatos uma relação de anterioridade e posterioridade.
Exemplos: uma crônica, um caso, uma piada, um conto, uma notícia de jornal, uma partida de futebol, um
romance, uma parábola, uma historinha infantil etc.
Leia o texto abaixo, visando a identificar esses elementos:

Ele foi cavando, cavando, cavando, pois sua profissão – coveiro – era cavar. Mas, de repente, na distração
do ofício que amava, percebeu que cavara demais. Tentou sair da cova e não conseguiu. Levantou o olhar
para cima e viu que, sozinho, não conseguiria sair. Gritou. Ninguém atendeu. Gritou mais forte. Ninguém
veio. Enrouqueceu de gritar, cansou de esbravejar, desistiu com a noite. Sentou-se no fundo da cova,
desesperado. A noite chegou, subiu, fez-se o silêncio das horas tardias. Bateu o frio da madrugada e, na
noite escura, não se ouvia um som humano, embora o cemitério estivesse cheio de pipilos e coaxares
naturais dos matos. Só pouco depois da meia-noite é que lá vieram uns passos. Deitado no fundo da cova
o coveiro gritou. Os passos se aproximaram. (...)
(Millôr Fernandes. Disponível em: <http://citador.weblog.com.pt/arquivo/109176.html>. Acesso em 23 de jul. 2021)

Vamos agora analisar cada um deles.26

A estrutura do texto narrativo


NARRADOR

É a voz narrativa, isto é, aquele ou aquela que conta a história. Portanto, não devemos confundir essa voz
com a voz do autor, pois ela se configura, também, em uma estratégia ficcional.

• Narrador onisciente ou onipresente

Narrador em 3ª pessoa, que tem conhecimento total das personagens, como pensamentos, intenções e
detalhes de suas histórias individuais. Isso pode ser verificado no seguinte trecho do conto “Pílades e
Orestes”, do livro Relíquias de casa velha (1906), de Machado de Assis, em que o narrador conhece até
as sutis impressões da personagem Quintanilha:

“Quintanilha sentiu-lhe lágrimas na voz; assim lhe pareceu, ao menos. Pediu-lhe que guardasse o
testamento; [...] só lhe respondia o som áspero da pena correndo no papel. [...]. A consulta dos livros era
feita com tal melancolia que entristecia o outro.”

• Narrador observador

Narrador em 3ª pessoa, que não tem conhecimento total das personagens, portanto, restringe-se a narrar
suas ações. Assim como neste trecho da novela Pela noite (1983), de Caio Fernando Abreu (1948-1996):

“Voltou de repente e deu um salto para dentro da sala, a cara violenta, o punho fechado, estendido em
direção à barriga do outro.”

26
Gênero narrativo. Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/literatura/genero-narrativo.htm. Acesso em: 24 de jul. de 2021.

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• Narrador-personagem

Narrador em 1ª pessoa. Assim, o próprio personagem conta a história, o que dá aos leitores uma visão
parcial dos fatos. É o que acontece neste trecho do conto “Frederico Paciência”, do livro Contos novos
(1947), de Mário de Andrade (1893-1945):

“Frederico Paciência estava maravilhoso, sujo do futebol, suado, corado, derramando vida. Me olhou com
uma ternura sorridente. Talvez houvesse, havia um pouco de piedade.”

PERSONAGEM

As personagens são os participantes da história, quem age ou quem é afetado pelo enredo, podendo ser
planas (sem complexidade, superficial e previsível) ou redondas (complexa, com profundidade e
imprevisível).

Assim, a personagem redonda ou esférica é muito semelhante a um ser real. Por exemplo, Capitu,
personagem do livro Dom Casmurro (1899), de Machado de Assis (1839-1908), é uma personagem
redonda, já que é complexa a ponto de, até os nossos dias, não sabermos se ela era inocente da traição
ou dissimulada.

Já como exemplo de personagens planas, podemos citar o vilão e o herói da série de livros infantil juvenil
Harry Potter (1997-2007), de J. K. Rowling. Nessa obra, tanto Voldemort quanto Harry são previsíveis, pois
se comportam da forma que um vilão e um herói se comportam, pois representam a luta do bem contra o
mal. Esse tipo de personagem é típico de narrativas de entretenimento, pois complexidade demais pode
afastar leitores e leitoras que querem apenas “passar o tempo” e se divertir.

TEMPO

• Tempo cronológico

Semelhante ao tempo do relógio, ou seja, regular, indicador dos segundos, minutos, horas, dias, semanas,
meses e anos, enfim, o chamado tempo físico. Assim, passado, presente e a projeção do futuro são bem
demarcados. Como exemplo, vamos ler o trecho do conto A nova Califórnia (1910), de Lima Barreto (1881-
1922):

“Havia já anos que o químico vivia em Tubiacanga, quando, uma bela manhã, Bastos o viu entrar pela botica adentro.
O prazer do farmacêutico foi imenso. O sábio não se dignara até aí visitar fosse quem fosse e, [...].”

• Tempo psicológico

Não está relacionado ao espaço, mas ao interior da personagem, é o tempo do fluxo de consciência,
ocorrido na mente da personagem, portanto, é relativo, possibilitando a indefinição das fronteiras entre
presente, passado e futuro. Como podemos ver neste trecho do romance A paixão segundo G.H. (1964),
de Clarice Lispector (1920-1977):

“Oh, meu amor desconhecido, lembra-te de que eu estava ali presa na mina desabada, e que a essa altura
o quarto já se tornara de um familiar inexprimível, igual ao familiar verídico do sonho. E, como do sonho, o
que não te posso reproduzir é a cor essencial de sua atmosfera. Como no sonho, a ‘lógica’ era outra, era
uma que não faz sentido quando se acorda, pois a verdade maior do sonho se perde.

ESPAÇO

É o lugar onde acontece a trama (o enredo, a história contada na narrativa). A sua escolha pode ser
aleatória, mas pode também estar diretamente associada às características da personagem, como no

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romance Vidas secas (1938), de Graciliano Ramos (1892-1953). O espaço dessa narrativa, caracterizado
pela seca, determina o caráter das personagens, que acabam assimilando, em suas personalidades, a
brutalidade e sequidão do ambiente:

“Era bruto, sim senhor, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Estava preso por isso? Como era?
Então mete-se um homem na cadeia porque ele não sabe falar direito? Que mal fazia a brutalidade dele?
Vivia trabalhando como um escravo. Desentupia o bebedouro, consertava as cercas, curava os animais —
aproveitara um casco de fazenda sem valor. Tudo em ordem, podiam ver. Tinha culpa de ser bruto? Quem
tinha culpa?”

DESCRIÇÃO
É interessante perceber que a descrição muitas vezes faz parte do texto narrativo, por exemplo, quando o
narrador descreve um lugar, um personagem etc. Portanto, ao se falar de narração, devemos levar com
conta também a descrição. O texto descritivo é aquele em que se faz um retrato escrito de um lugar, uma
pessoa, um animal ou um objeto. Utiliza-se do adjetivo, pela sua função caracterizadora. Numa abordagem
mais abstrata, pode-se até descrever sensações ou sentimentos. Na descrição, não há relação de
anterioridade e posterioridade. Nesse tipo de texto, parecem acontecer ao mesmo tempo.

A casa era grande, branca e antiga. Em sua frente havia um pátio quadrado. À direita havia um laranjal
onde noite e dia corria uma fonte. À esquerda era o jardim, úmido e sombrio, com suas camélias e seus
bancos de azulejo. No meio da fachada que dava para o pátio havia uma escada de granito coberta de
musgo. Em frente dessa escada, do outro lado do pátio, ficava o grande portão que dava para a estrada
(...).
Sophia de Mello Breyner Andresen, O Jantar do Bispo – http://pt.scribd.com/doc/54510891/Exemplos-de-Textos-Descritivos-e-Dissertativos

Do ponto de vista mental, decorrem dois tipos de descrição: a subjetiva e a objetiva. Na primeira, reflete-
se predominantemente o estado de espírito do observador, suas idiossincrasias, suas preferências, que
fazem com que veja apenas o que quer ou pensa ver e não o que está para ser visto. O retrato que faça
de uma paisagem não traduzirá a realidade do mundo objetivo, fenomênico, mas o seu próprio estado
psíquico, onde se gravaram as impressões esparsas e tumultuadas captadas pelos sentidos, quase alheios
ao crivo da razão ou da lógica, mas rica de conotações. A descrição realista ou objetiva é exata,
dimensional. Nela os detalhes não se diluem, não se esmaecem em penumbra, antes se destacam nítidos
em forma, cor, peso, tamanho, cheiro, etc. É o que caracteriza a descrição técnica ou científica.

“[…]um grito prolongado, sonoro e contínuo,


completamente anormal e anti-humano – um uivo
–, um ganido, misto de medo e esperança, como
se pode ouvir no inferno, som terrível como se
saído da garganta dos condenados às torturas
infernais e dos demônios exultados pelas
condenações.” (O gato preto, Edgar Allan Poe)

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INJUNÇÃO: o texto injuntivo

Discursos injuntivos pretendem levar o destinatário a realizar determinada ação. Não é por acaso que, em
muitos deles, o destinatário aparece representado no texto como alocutário, isto é, como a segunda pessoa
do discurso: você/vocês. É a essa segunda pessoa que o locutor se dirige para indicar não só o que fazer
(ação desejada ou requerida), mas também como fazer (comandos para realizar a ação).

Daí a frequência dos imperativos, que podem ter o valor de ordens inquestionáveis, instruções obrigatórias,
conselhos, sugestões, convites. Nos textos injuntivos, o locutor assume um papel de superioridade em
relação ao interlocutor: ele sabe ou parece saber mais sobre aquilo que pretende ensinar ao destinatário.
Este, em geral, está ciente dessa intenção e é a ela receptivo: sabe que será levado a atingir um objetivo
desejado ou necessário, por meio da execução dos comandos dados pelo locutor.

TEXTO INJUNTIVO: instrutivo e prescritivo

➢ Instrutivo: quando a orientação não é coercitiva, não estabelece claramente uma ordem, mas uma
sugestão, um conselho:

a) o manual de instruções;
b) uma receita culinária;
c) o texto de horóscopo;
d)

➢ Prescritivo: quando a orientação é uma imposição, uma ordem baseada em condições sine qua non.

a) os artigos da Constituição;
b) a norma culta da Língua Portuguesa;
c) as cláusulas de um contrato.

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DISSERTAÇÃO: o texto dissertativo

Dissertar é apresentar ideias, desenvolver raciocínio, analisar contextos, dados e fatos. Neste momento,
temos a oportunidade de discutir, argumentar e defender o que pensamos utilizando-se da fundamentação,
justificação, explicação, persuasão e de provas. A dissertação consiste na explanação ou discussão de
conceitos ou ideias. Ela pode ser expositiva ou argumentativa.

Considere o texto a seguir:

(ENEM- 2010/2º DIA)

O transtorno do comer compulsivo vem sendo reconhecido, nos últimos anos, como uma
síndrome caracterizada por episódios de ingestão exagerada e compulsiva de alimentos, porém,
diferentemente da bulimia nervosa, essas pessoas não tentam evitar ganho de peso com os métodos
compensatórios. Os episódios vêm acompanhados de uma sensação de falta de controle sobre o ato de
comer, sentimentos de culpa e de vergonha. Muitas pessoas com essa síndrome são obesas,
apresentando uma história de variação de peso, pois a comida é usada para lidar com problemas
psicológicos. O transtorno do comer compulsivo é encontrado em cerca de 2% da população em geral,
mais frequentemente acometendo mulheres entre 20 e 30 anos de idade. Pesquisas demonstram que 30%
das pessoas que procuram tratamento para obesidade ou para perda de peso são portadoras de transtorno
do comer compulsivo. Disponível em: http://www.abcdasaude.com.br. Acesso em: 1 maio 2009 (adaptado).

Nesse texto I, desenvolve-se uma exposição sobre um assunto/tema – o transtorno do comer compulsivo.
Para isso, busca explicá-lo baseando-se em dados descritivos e estatísticos, com uma linguagem formal,
clara e objetiva. Podemos perceber aqui que não temos a voz de um autor querendo o convencimento, a
persuasão, a defesa de um ponto de vista sobre determinado assunto. Temos, simplesmente, informação,
explicação, exposição de um tema.

Agora, leia o próximo texto:

É comum ouvir que o Brasil é um país onde há leis que pegam e leis que não pegam, como se
isso fosse uma originalidade brasileira como a jabuticaba. É uma injustiça. Há muitos países que sofrem
com o mesmo problema. As leis, principalmente as que interferem na vida cotidiana dos cidadãos,
requerem uma sintonia fina entre vários componentes: aparato policial, comportamento coletivo, grau de
escolaridade etc. Do contrário, elas tendem a não sair do papel. No Brasil, existe muita lei que não pega
por falta dessa sintonia. Ou não há polícia suficiente para fazê-la ser cumprida. Ou a lei destoa fortemente
de arraigados hábitos coletivos. E assim por diante. André Petry. Adultério e a desonesta. In: Veja, 22/9/2004, p. 93

Nesse texto, há a voz de um autor que busca discutir um assunto/tema – a eficácia das leis no Brasil em
comparação com outros países. Para isso, apresenta ideias, razões – argumentos – para que o leitor se
convença do ponto de vista do autor, como sendo acertado, equilibrado ou o mais verdadeiro. Aqui,
portanto, discute-se um tema, baseado em argumentos.

Portanto, podemos afirmar que o texto I é dissertativo-expositivo; o texto II é dissertativo-


argumentativo.

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O TEXTO DISSERTATIVO-EXPOSITIVO (OU INFORMATIVO)

O texto dissertativo-expositivo (ou informativo) tem por objetivo desenvolver ou explicar um assunto, ou
seja, discorrer sobre ele. É muito comum usarmos esse tipo de texto numa apresentação científica, quando
fazemos um relatório, um artigo enciclopédico ou quando vamos explicar algo. Em princípio, o texto
expositivo não está preocupado com a persuasão, e sim com a transmissão de conhecimento, sendo,
portanto, um texto informativo.

O misterioso novo coronavírus, que causa a infeção COVID-19, surgiu em 2019 na cidade de Wuhan na
China e os primeiros casos da infecção parecem ter acontecido de animais para pessoas. Isso porque os
vírus da família "coronavírus" afetam principalmente animais, existindo quase 40 tipos diferentes desse
vírus identificados em animais e apenas 7 tipos em humanos. Além disso, os primeiros casos de COVID-
19 foram confirmados num grupo de pessoas que estiveram no mesmo mercado popular da cidade de
Wuhan, onde eram vendidos vários tipos de animais selvagens vivos, como cobras, morcegos e castores,
que poderiam ter estado doentes e passado o vírus para as pessoas.
Tua saúde. Disponível em https://www.tuasaude.com/misterioso-virus-da-china/. Acesso em 1º de ago. de 2021.

O TEXTO DISSERTATIVO-ARGUMENTATIVO (OU PERSUASIVO)

Já o texto dissertativo-argumentativo implica a defesa de uma tese (de uma ideia, de um tema, de um
ponto de vista), com a finalidade de convencer ou tentar convencer alguém, demonstrando, por meio da
evidência de provas consistentes, a superioridade de uma proposta sobre outras ou a relevância dela tão-
somente.

Esse tipo de texto é o texto da ideia, da opinião, do ponto de vista. Aborda, quase sempre, um tema
palpitante do comportamento humano: justiça social, ética (práticas aéticas), ecologia (crimes ambientais),
paz (violência urbana), democracia, liberdade, futuro do homem (seus medos e anseios), política
econômica, social etc. Acontece quando, ao escrever, nos dispomos a refletir sobre os assuntos enfocados,
usando pontos de vista pessoais, aproximando ou correlacionando os fatos a fim de que cheguemos
facilmente a uma conclusão.

Congresso Nacional aprova aumento de verba para o Fundo Eleitoral, de R$ 1,8 bilhão para R$ 5,7
bilhões.

A aprovação do valor do fundo eleitoral não exterioriza a democracia, pois o dinheiro decorrente se
concentra nas mãos de “coronéis” eleitorais, que o distribui com critérios subjetivos. Em uma nação com
seriíssimos problemas básicos e agravados pela pandemia, é inaceitável a distribuição de dinheiro público
para campanhas eleitorais. (...) Em regra, campanhas políticas deveriam ser financiadas pelos apoiadores
e candidatos e não pelo povo que sofre com a falta de mínimos direitos constitucionais adequados como
no caso da saúde e educação. Trata-se de destinação indiscriminada de recursos públicos para fins
particulares, ou melhor, para partidos políticos que são pessoas jurídicas de direito privado. Com efeito,
não se justifica em um país com maioria de pobre, a destinação bilionária de cifras orçamentárias para
interesses privados de candidatos e partidos. Por Marcelo Válio. Disponível em https://diariodocomercio.com.br/opiniao/do-
vergonhoso-fundao-eleitoral-aprovado/. Acesso em 01 de ago. de 2021. Adaptado.

Esse tipo textual requer um pouco de reflexão, pois as opiniões sobre os fatos e a postura crítica em relação
ao que se discute têm grande importância. O tempo explorado é o presente no seu valor atemporal; é
constituído por uma introdução onde o assunto a ser discutido é apresentado, seguido por uma
argumentação que caracteriza o ponto de vista do autor sobre o assunto em evidência e, por último, sua
conclusão.

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EXERCÍCIOS
1. Qual a tipologia textual do trecho apresentado abaixo?
A mulher chamou os filhos mais novos para uma conversa séria. Era uma manhã de domingo, o dia estava
claro e ensolarado. Pediu a eles que compreendessem a situação do pai, que não tinha no momento
condição de colocá-los em uma escola melhor.
a) descrição
b) dissertação subjetiva
c) narração com alguns traços descritivos
d) dissertação objetiva com alguns traços descritivos
e) narração com alguns traços dissertativos

O transtorno do comer compulsivo vem sendo reconhecido, nos últimos anos, como uma síndrome
caracterizada por episódios de ingestão exagerada e compulsiva de alimentos, porém, diferentemente da
bulimia nervosa, essas pessoas não tentam evitar ganho de peso com os métodos compensatórios. Os
episódios vêm acompanhados de uma sensação de falta de controle sobre o ato de comer, sentimentos de
culpa e de vergonha. Muitas pessoas com essa síndrome são obesas, apresentando uma história de
variação de peso, pois a comida é usada para lidar com problemas psicológicos. O transtorno do comer
compulsivo é encontrado em cerca de 2% da população em geral, mais frequentemente acometendo
mulheres entre 20 e 30 anos de idade. Pesquisas demonstram que 30% das pessoas que procuram
tratamento para obesidade ou para perda de peso são portadoras de transtorno do comer compulsivo.
2. Conclui-se que o texto tem a finalidade de:
a) descrever e fornecer orientações sobre a síndrome da compulsão alimentícia.
b) narrar a vida das pessoas que têm o transtorno do comer compulsivo.
c) aconselhar as pessoas obesas a perder peso com métodos simples.
d) expor de forma geral o transtorno compulsivo por alimentação.
e) encaminhar as pessoas para a mudança de hábitos alimentícios.
Do interior da floresta, no alto das montanhas, em pequenos grotões cercados de muito verde, a água
cristalina brota da terra e vai buscando seu caminho por entre as pedras. Ao unir-se às águas de outras
nascentes, o filete dessa água cristalina vai se transformando em riachos, córregos e rios. Descendo a serra
em busca do mar, rumo à planície litorânea, as águas vão esculpindo as rochas, formando corredeiras e se
lançando pelos vales em cachoeiras que formam os mais belos cenários da Mata Atlântica com suas piscinas
naturais. [...] (Folheto do Parque Estadual da Serra do Mar – Núcleo de Santa Virgínia.)
3. O texto tem como tipologia a
a) Narração
b) Descrição
c) Exposição
d) Injunção
e) Dialogal
4. Identifique a tipologia textual (narrativa, descritiva, informativa, argumentativa, instrutiva ou prescritiva)
nos fragmentos a seguir.

a – “Sobre a mesa havia copos, garrafas, pratos” =

b – “Não estacione. Vaga somente para idosos” =

c – “Os passageiros aterrissaram em Nova York no meio da noite” =

d – “Evite deixar o aparelho exposto ao sol” =

e – “Uma parte do cérebro é o córtex. O cérebro tem 10 milhões de neurônios” =

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5. O trecho que segue foi extraído do conto “Lâmpadas e Ventiladores”, de Humberto de Campos:
A tarde estava quente, abafada, ameaçando tempestade. Na sala da sorveteria onde tomávamos chá, os
ventiladores ronronavam, como gatos, refrescando o ambiente. Lufadas ardentes, fortes, brutais, varreram,
lá fora, o asfalto da avenida. O céu escureceu, de repente, e um trovão estalou, rolando pelo céu. Nesse
momento, as lâmpadas do salão, abertas àquela hora, apagaram-se todas, ao mesmo tempo.
Sobre a tipologia textual dessa passagem do conto, pode-se dizer a organização predominante é

a) Argumentativa
b) Descritiva
c) Expositiva
d) Narrativa
e) Poética.

Eu me limito a sustentar, com base em dados estatísticos, que nós, que partimos de uma sociedade onde
uma grande parte da vida das pessoas adultas era dedicada ao trabalho, estamos caminhando em direção
a uma sociedade na qual grande parte do tempo será, e em parte já é, dedicado a outra coisa. (....) Eu me
limito a registrar que estamos caminhando em direção a uma sociedade fundada não mais no trabalho,
mas no tempo vago. Além disso, sempre com base nas estatísticas, constato que, tanto no tempo em que
se trabalha quanto no tempo vago, nós, seres humanos, fazemos hoje sempre menos coisas com as mãos
e sempre mais coisas com o cérebro, ao contrário do que acontecia até agora, por milhões de anos.
(Roberto Catelli Jr, História em rede)
6. O texto lido deve ser classificado como:

a) narrativo, pois mostra várias etapas sucessivas da evolução humana.


b) descritivo, já que indica características atuais e futuras do ser humano.
c) dissertativo informativo, visto que mostra fatos desconhecidos ao leitor.
d) dissertativo didático, porque ensina aspectos novos da realidade.
e) dissertativo argumentativo, pois há a exposição de uma tese e argumentos.

7. Todo texto apresenta uma intenção. O texto da campanha publicitária apresenta composição textual
pautada por uma estratégia

a) expositiva, porque informa determinado assunto de modo isento;


b) descritiva, pois descreve ações necessárias ao combate à dengue;
c) narrativa, visto que apresenta relato de ações a serem realizadas;
d) dialogal, uma vez que se estabelece um contato entre o locutor e o
público-alvo;
e) persuasiva, com o propósito de convencer o interlocutor a combater
a dengue.
Joaquim Maria Machado de Assis, cronista, contista, dramaturgo, jornalista, poeta, novelista, romancista,
crítico e ensaísta, nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 21 de junho de 1839. Filho de um operário mestiço
de negro e português, Francisco José de Assis, e de D. Maria Leopoldina Machado de Assis, aquele que
viria a tornar-se o maior escritor do país e um mestre da língua perde a mãe muito cedo e é criado pela
madrasta, Maria Inês, também mulata, que se dedica ao menino e o matricula na escola pública, única que
frequentou o autodidata Machado de Assis.
8. A respeito de gêneros textuais, o texto citado constitui-se de
a) fatos ficcionais, relacionados a outros de caráter realista, relativos à vida de um renomado escritor.
b) representações generalizadas acerca da vida de membros da sociedade por seus trabalhos e vida
cotidiana.
c) explicações da vida de um renomado escritor, com estrutura argumentativa, destacando como tema seus
principais feitos.
d) questões controversas e fatos diversos da vida de personalidade histórica, ressaltando sua intimidade
familiar em detrimento de seus feitos.
e) apresentação da vida de uma personalidade, organizada sobretudo pela ordem tipológica da narração,
com um estilo marcado por linguagem objetiva.

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