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História do Brasil
– Parte 1 -

- Grandes Navegações e Contexto Europeu ......................................... 02


- Brasil Colônia (1500 – 1808)............................................................................ 19
- Governo Joanino (1808 – 1822) .................................................................... 78

Prof. Guilherme Bertazzo


A Expansão Ultramarina Europeia dos
séculos XV e XVI

D iversas são as razões e os motivos que levaram algumas nações europeias a se

jogarem no temido “Mar Tenebroso”, como era conhecido o Oceano Atlântico, na


época das Expansões Marítimas Europeias. Tenebroso, pois além de ser um mar
desconhecido pela grande maioria, contava-se que tal mar era permeado de grandes
monstros marinhos, de tamanhos enormes, e que ofereciam um grande perigo para
qualquer embarcação. Soma-se a isso a versão religiosa de que a Terra era plana, e a
qualquer momento uma embarcação poderia (cair) no abismo, caso chegasse ao limite
da Terra “planificada”.

Corrobora, ainda, para essa versão, o domínio do pensamento católico quase que
completo na Europa. Na verdade, no campo espiritual e cultural, existia um monopólio
da Igreja Católica, e esse domínio era pertinente em âmbitos diversos da vida social, e
regulava a sociedade ao seu bel prazer. A Igreja Católica explicava o Planeta Terra
como o astro central do Universo, diga-se, o geocentrismo, isto é, a terra no centro do
Universo, divergindo do heliocentrismo (sol no centro do Universo), de Nicolau
Copérnico.

Todavia, apenas a coragem nos navegadores europeus ao adentrarem o Oceano


Atlântico não é suficiente para explicar as Expansões Marítimas. Outrossim, uma
estabilidade política, adicionada a uma crise de fornecimento alimentares, entre outras
razões que serão citadas a seguir, fomentarão o início das Grandes Navegações
Europeias dos Séculos XV e XVI.

No entanto, antes de entrarmos nos ditames das Grandes Navegações, é preciso


entendermos que a Europa encontrava-se na Idade Média, a qual durou,
aproximadamente, mil anos, e a partir dela que entenderemos os motivos e demais
circunstâncias que motivaram os europeus a chegarem ao território, que hoje,
chamamos de Brasil.

Dica do Bertazzo!
Geocentrismo: teoria defendida pela Igreja, de que a Terra era o centro do Universo.

Heliocentrismo: teoria defendida por Nicolau Copérnico, de que o Sol era o centro do
Universo.

Prof. Guilherme Bertazz


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Imagem Ilustrativa do “Mar Tenebroso”. Disponível em


http://historiaonlineceem.blogspot.com.br/2012/09/o-mar-tenebroso.html

A Europa na Idade Média


Entre 476 (queda do Império Romano do Ocidente), e 1453 (tomada de Constantinopla
pelos turcos otomanos), a Europa esteve em um período histórico conhecido como
Idade Média. Esse período é dividido em duas fases: Alta Idade Média e Baixa Idade
Média.

A Alta Idade Média corresponde ao período histórico em que a Europa é tomada pelos
povos “bárbaros”, pelos germânicos, hunos, celtas, vikings, francos, e outros tantos
povos.

Outra característica da Alta Idade Média, e essa de crucial importância, é a formação do


feudalismo: modelo político e econômico caracterizado pela descentralização do poder;
por uma economia quase amonetária e por uma sociedade agrária e estratificada.

Além disso, na Alta Idade Média tem-se o início das Cruzadas: um movimento de
caráter político, militar e religioso, por parte das nações ocidentais da Europa, com o
apoio da Igreja Católica, para retomar a Terra Santa, Jerusalém, que havia sido tomada
pelos turcos otomanos.

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As cruzadas, a bem da verdade, não atingiram seu objetivo principal, entretanto, tiveram
como consequência uma abertura do Mar Mediterrâneo, o qual ligou a Europa até às
Índias. Eram nas Índias que os europeus encontravam as tão famosas e necessárias
“especiarias”, entre elas a pimenta, o cravo, canela, noz moscada, entre tantas outras, e
também, produtos de luxo, como tecidos finos, porcelanas, marfim, etc.

Esse comércio com Índias será monopolizado por Gênova, Florenza e Veneza,
repúblicas italianas que tinham características comerciais e marítimas, e, além disso,
uma considerável força bélica, ou seja, o necessário para deterem os grandes lucros
desse comércio.

Ao passo que esses produtos iam sendo introduzidos na Europa, o movimento comercial
ia aumentando. O aumento do comércio de especiarias deu origem a rotas comercias,
tanto por terra, quanto por água. Essas rotas comerciais com o passar do tempo
ocasionaram o aparecimento de feiras de comércio, que se mobilizavam ao sabor das
caravanas com os produtos vindos das Índias.

São com as feiras comerciais, que surgirão as cidades, ou burgos, como ficaram
conhecidas. Daí, a classe predominante nesses burgos chamar-se burgueses: era uma
nova classe social, que tinha como preceito fundamental a relação com o comércio.

Esse conjunto de fatos, aparecimento de cidades e consequentemente, da urbanização,


causados pela intensificação com o comercio oriental, ficará conhecido como
Renascimento Comercial e Urbano. Toda a estrutura feudal estava ruindo com a nova
configuração que a Europa recebia.

Os reis, que na Idade Média não detinham o poder de fato, aproximam-se da burguesia,
e em troca mútua de favores, buscam a centralização do poder nas mãos do monarca,
enfraquecendo o decadente poderio dos senhores feudais. Essa troca de favores
envolvendo a burguesia e os reis colocará a Europa em um novo eixo econômico: aos
poucos, o feudalismo é substituído por uma forma pré-capitalista de produção. Vive-se
a fase do mercantilismo.

Dica do Bertazzo!

Mercantilismo é uma política econômica utilizada pelos monarcas durante os


séculos XV e XVI, caracterizada por:

Metalismo: a riqueza de uma nação era medida que pela quantidade de metais
preciosos que esta continha. Na Espanha, o metalismo também é conhecido como
Bulionismo.

Balança Comercial Favorável: como o próprio nome diz, as exportações sempre


deverão ser maiores que as importações, mantendo a balança de comércio favorável
(lucrativa).

Intervencionismo Estatal: o Estado como dirigente central da economia.

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Rotas comerciais até o século XV. Disponível em
http://www.indiaportuguesa.com/histoacuteria-do-impeacuterio-mariacutetimo-
portuguecircs.html

A Formação de Portugal
Portugal é filho da Guerra da Reconquista.

Para entender as origens de Portugal, primeiramente, exige-se o conhecimento


cartográfico da Península Ibérica. Hoje, a Península Ibérica corresponde a um território
ao sudoeste da Europa, banhada ao leste pelo Mar Mediterrâneo; pelo oeste, banhada
pelas águas do Oceano Atlântico; ao norte, faz fronteira com a França, e ao sul,
banhada, também, pelo Mar Mediterrâneo e pelo Oceano Atlântico, entretanto, a poucos
quilômetros do continente africano. O trecho de águas que separa Portugal da África
chama-se Estreito de Gibraltar.

Hodiernamente, a Península Ibérica é formada por dois países: Portugal e Espanha. No


entanto, nem sempre foi assim.

Para iniciar de modo sucinto, os árabes, sob as égides expansionistas da religião


islâmica, tomam o norte da África, e em 711, cruzam o estreito de Gibraltar, chegando
até a Península Ibérica. Conquistando pouco a poucos os povos que ali habitavam, os
mouros (como ficaram conhecidos os árabes naquela região) tomam uma grande parte
da Península, e se direcionam para conquistar o Reino da França, ao norte, onde serão
barrados. Os mouros acabam derrotados pelos francos, na épica batalha de Poitiers, em
732.

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Consequentemente, iniciava-se ali, um longo período de fixação muçulmana na
Península Ibérica, ocasionando disputas intermitentes entre os mouros e os reinos ali
fixados. Esses confrontos entre reinos da Península e os mouros, ficou conhecido como
Guerra de Reconquista.

Mapa da Europa. Em destaque, a Península Ibérica (grifo do autor). Disponível em


http://paiseseviagens.com/europa/russia/paises-da-europa-e-capitais-mapa-europeu.htm

É durante a Guerra de Reconquista, a qual tem esse nome devido ao ímpeto dos reinos
ibéricos em reconquistar o território peninsular, que surgirá Portugal.

Grandes reinos formavam a Península Ibérica, entre eles o Reino de Aragão; Reino de
Navarra; Reino de Castela e Reino de Leão. Este último era governado pelo rei Afonso
VI, o qual, resolveu presentear um nobre de origem francesa chamado Henrique de
Borgonha, devido as brilhantes campanhas militares, com uma porção de terras, ao sul
do rio Minho. Esse território era conhecido como Condado Portucalense.

Além das terras, o rei Afonso VI concedeu à Henrique de Borgonha, a mão de sua filha
em casamento, a princesa D. Teresa.

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Um filho de Henrique de Borgonha e de D. Teresa, chamado D. Afonso Henriques, dará
início ao processo de independência política do Condado Portucalense, em relação ao
Reino de Leão. No ano de 1139, o Condado Portucalense torna-se o Reino de Portugal,
sob o governo de D. Afonso Henriques, agora D. Afonso I, fundador da Dinastia de
Borgonha.

Península Ibérica no século XVI. Disponível em


http://www.pordentrodaafrica.com/cultura/por-que-nos-por-ademir-barros-dos-santos.

Diferentemente, do restante da Europa, o Reino de Portugal, sob os auspícios de d.


Afonso I, realizou uma centralização política baseada na tradição militar que permeava
o território, devido aos conflitos contra os mouros, como também, na eminente relação
do seu suserano, com os vassalos. Enquanto grande parte da Europa caracterizava-se
pela descentralização política – grande quantidade de feudos regidos pelos diversos
senhores feudais -, Portugal, ao contrário, encontrava-se em um processo intensificado,
e muito bem adiantado, de centralização dos poderes políticos, econômicos e militares,
nas mãos dos reis da dinastia de Borgonha.

A dinastia de Borgonha chegaria ao seu fim no ano de 1383, quando o último rei da
dinastia, d. Fernando, o Formoso, morreu sem deixar herdeiros homens para a sucessão
do trono. Contudo, a única herdeira era uma mulher, a qual era casada com d. João I, rei
do Reino de Castela. Isso implica que, se a filha do Formoso assumisse o trono como
rainha, Castela iria incorporar aos seus territórios, o Reino de Portugal.

Portugal, diga-se de passagem, ao longo da Dinastia de Borgonha, desenvolveu-se nos


ramos da agricultura, no interior, e principalmente, da pesca e demais atividades
mercantis, no litoral.

Durante as crises feudais dos séculos XII e XIII (Peste Negra, Guerra dos 100 anos,
Grande Fome e Revoltas Camponesas), muitos mercadores evitavam levar suas
mercadorias por trechos terrestres, na Europa, preferido, desta forma, as vias marítimas.
Avançando pelo Mar Mediterrâneo, passando pelas cidades portuguesas de Lisboa e
Porto, e direcionando-se até a Inglaterra e Flandres.

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Esse desenvolvimento de Portugal ocasionou o surgimento de uma rica classe social
ligada às atividades mercantis. Essa classe social, prevendo a perca de seus interesses e
de suas regalias, caso Portugal fosse anexado ao Reino de Castela, iniciará um
movimento contra essa unificação política.

O grupo mercantil uniu-se a setores populares (arraia miúda), tendo como liderança um
filho bastardo do rei Formoso, D. João, Mestre da Ordem militar de Avis.

Os conflitos de 1383 a 1385, entre os grupos mercantis portugueses liderados por D.


João, Mestre de Avis, contra o Reino de Castela (que contava com a ajuda da nobreza
portuguesa), ficaram conhecidos como Revolução de Avis.

A revolução teve como desfecho a vitória dos grupos mercantis e da arraia miúda, na
Batalha de Aljubarrota com a liderança do Mestre de Avis. Este, em 1385, dará início a
Dinastia de Avis, agora como rei de Portugal, d. João I, e concedendo todas as regalias
possíveis os grupos mercantis. Isso explica, em partes, o porquê do pioneirismo
português nas Grandes Navegações, e sua forte tradição mercantil a partir de então.

A Expansão Portuguesa
O que levou Portugal a ser o pioneiro nas Grandes navegações?

Primeiramente, Portugal foi o primeiro estado centralizado da Europa, como foi


colocado antes. Soma-se a isso, que essa centralização teve uma forte presença de
grupos mercantis, que devido à posição favorável de Portugal quanto às atividades
marítimas, fez com que esse grupo obtivesse amplos poderes.

As invenções tecnológicas da época contribuíram para o pioneirismo: o astrolábio, a


caravela, os mapas, a bússola, entre outras.

Lembrando, que o único caminho conhecido para chegar até as índias, era pelo Mar
Mediterrâneo, e este se encontrava sob o domínio dos italianos, os quais encareciam
substancialmente os produtos, portanto, a busca por uma rota alternativa para chegar às
Índias não era, apenas, uma questão de sobrevivência, e sim de prosperidade.

Ainda existia a Escola de Sagres, que consoante às versões historiográficas


tradicionais, seria uma escola de instrução, aprendizagem e aperfeiçoamento náutico,
criada pelo infante d. Henrique, filho de d. João I, Mestre de Avis. Hodiernamente, o
caráter de “escola” está sendo tirado da Escola de Sagres: alguns pesquisadores supõe
que a Escola de Sagres era um ponto de encontro entre navegadores, astrólogos,
geógrafos, e assim por diante, para discussão e compartilhamento de conhecimentos
náuticos, mas não, necessariamente, um centro de estudos e aprendizagem.

“Esse foi um mito que se formou a partir de uma hipótese levantada por um estudioso inglês Samuel
Purchas, nos inícios do século XVII. A rigor, portanto, a palavra ‘escola’ só tem validade se tomada na
acepção de um estado de espírito – aquele estado de espírito mercantil e aventureiro que norteou as
navegações.” (LOPEZ, Luiz Roberto. P. 11. 1993).

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Além do mais, Portugal encontrava-se em uma relativa paz interna e externa: a
Espanha ainda envolvia-se na Reconquista; França e Inglaterra em meio aos conflitos
disputando os territórios de Flandres, e a Holanda em intermináveis questões dinásticas.

Disponível em
https://www.google.com.br/search?q=astrol%C3%A1bio+b%C3%BAssola+e+quadrante&source=lnms&
tbm=isch&sa=X&ved=0ahUKEwi0rt75kZbYAhULhZAKHRwoAhwQ_AUICigB&biw=1366&bih=662
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Desta forma, os portugueses jogam-se ao Oceano Atlântico, costeando a costa ocidental


africana, e ao longo desta conquistando territórios e instalando feitorias. As conquistas
de Ceuta (1415), Ilha da Madeira (1419), Açores (1431), Cabo Bojador (1434), foram
dando confiança e conhecimento marítimo do “Mar Tenebroso” aos portugueses, até
que em 1488, na liderança do navegador Bartolomeu Dias, atingem o sul do continente
africano, no Cabo das Tormentas, apelidado pelos portugueses de Cabo da Boa
Esperança.

Os portugueses chegavam ao Oceano Índico.

Dez anos depois, Vasco da Gama já estava fundando feitorias na cidade de Calicute, na
Índia. Assim, a chegada portuguesa às índias estava consolidada.

Obviamente, que durante esse processo, os espanhóis iniciaram seu projeto


expansionista, e ainda, em 1453, houve a tomada de Constantinopla (Istambul), pelos
turcos otomanos, bloqueando o comércio italiano pelo Mediterrâneo.

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Navegações Portuguesas. Disponível em http://4.bp.blogspot.com/-
4V9_t8TVxb0/T5yJNQGs2YI/AAAAAAAACkQ/72XwK-
lZRYk/s1600/AS%2BNAVEGA%25C3%2587%25C3%2595ES%2BPORTUGUESAS.gif.

Expansão Espanhola
Ao contrário de Portugal, o qual conseguiu sua centralização política, relativamente,
cedo, a Espanha demorou um tempo maior para encontrar essa estabilidade política,
pois a Espanha era um território fragmentado, dividido entre quatro reinos (Reino de
Leão, Reino de Castela, Reino de Navarra e Reino de Aragão). Logo, não existia um
comando forte e uníssono que motivasse os espanhóis a se jogarem aos mares.

Esse cenário muda em 1469, quando ocorre o casamento de Fernando, rei de Aragão,
com Isabel, rainha de Castela. Uma estabilidade política a partir dessa união é vista, no
entanto, ainda existia um empecilho na vida dos espanhóis: a presença dos mouros no
sul da península, na região de Granada.

Após a expulsão dos mouros da Península Ibérica, e 1492, a Espanha, tal qual fez
Portugal, joga-se no Oceano Atlântico. Todavia, de um modo distinto. Distinto, porque
desde 1480, existia um tratado entre Espanha e Portugal, conhecido como Tratado de
Toledo: neste documento, as terras ao norte das Ilhas Canárias, seriam da Espanha, caso
fossem descobertas; ao ponto que, as terras ao sul, seriam de Portugal. Como Portugal
em 1480, já dominava quase toda costa ocidental da África, logicamente que a Espanha
precisaria de uma nova estratégia para chegar até as tão sonhadas Índias.

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Tratado de Toledo – 1480. Disponível em
https://blogueoc.blogspot.com.br/2016/03/tratado-de-alcacovas.html.

Essa nova estratégia foi proposta pelo genovês Cristovão Colombo: Colombo, segundo
sua tradição renascentista, tinha a convicção de que a terra era esférica, e
consequentemente, viajando para o ocidente, chegaria até o oriente.

Sob desconfianças de Fernando, Isabel apostou no projeto genovês, mas cabe ressaltar,
que o investimento e a crença no italiano foram limitados. Tão limitados, que a Coroa
Espanhola ofereceu 3 naus para a expedição (Santa Maria, Nina e Pinta), todas de
pequeno porte, se comparadas às 13 caravelas que compuseram a expedição de Cabral,
que chegou no Brasil, em 1500.

Em outubro de 1492, Colombo avistou terras, e imaginando ter chegado às Índias,


chamou os habitantes desse novo território de “índios”. Na verdade, Colombo chegara
na América Central, mais especificamente, em San Salvador.

Cristovão Colombo morreu achando que estivesse chegado às Índias viajando de oeste
para leste. Todavia, foi Américo Vespúcio quem desfez esse equívoco, e por isso, em
sua homenagem, o continente leva até hoje o nome de América.

Os tratados Luso – Espanhóis


Ao decorrer das expansões marinhas, as disputas por novos territórios atritaram os
países ibéricos, e para evitar conflitos, tratados de partição territorial foram
confeccionados, sobre tudo em relação ao continente americano.

Em 1493, o papa Alexandre VI, que era espanhol, assinou um documento dividindo o
mundo entre Espanha e Portugal: era a Bula Inter Coetera, a qual estabelecia a divisão
em um marca a 100 léguas das ilhas de Cabo Verde. Por esse tratado, a América ficaria
somente para a Espanha, e a para Portugal a África.

Houve descontentamento por parte de Portugal, e um novo tratado deveria ser feito.

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Em 1494, na cidade de Tordesilhas, na Espanha, um novo tratado foi realizado, de
mesmo nome que a cidade, e que dividiu o mundo entre Portugal e Espanha tendo como
marco divisório uma linha imaginária a 370 léguas das ilhas de Cabo Verde. Assim,
Portugal abocanharia um pedaço da América.

França, Holanda e Inglaterra, após estabelecerem suas centralizações políticas, jogaram-


se aos mares, sem reconhecer nenhum dos tratados estabelecidos pelos países ibéricos,
tanto que a Inglaterra estabeleceu a pirataria no Atlântico – papel realizado pelos
corsários. Os franceses realizavam trocas comerciais no litoral brasileiro com tribos
indígenas e ainda dominaram territórios na América do Norte.

Tratados Ibéricos. Disponível em https://historitura.wordpress.com/2013/07/22/bula-


intercoetera-e-tratado-de-tordesilhas/.

A Chegada de Pedro Álvares Cabral


Logo que Vasco da Gama retornou das índias, em 1499, com muitas especiarias, em
valores que encheram o rei de alegria, uma nova expedição foi planejada. Nesta expedição,
a qual teria grandes nomes da navegação a bordo, como Gaspar de Lemos, estava sob a
liderança do fidalgo Pedro Álvares Cabral, o qual comandava 13 caravelas que iriam às
Índias para buscar mais produtos.

Durante a viagem, a frota acabou se deslocando em direção contrária ao continente


africano, e com isso, deu-se a chegada das caravelas, no Brasil, em abril de 1500.

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Existe um debate histórico a cerca do “descobrimento” do Brasil por Cabral.
Primeiramente, algumas versões historiográficas trabalham com a teoria de que a
chegada de Cabral, na América, foi um acidente, pois a frota teria desviado da costa
africana, devido a uma intempérie relacionada a correntes marinhas e ausência de
ventos favoráveis.

Já, outros pesquisadores apresentam versões as quais afirmam que a frota de Cabral já
tinha noção de que existiriam terras, e chegar no Brasil seria uma maneira de marcar
propriedade nesse território, perante a presença espanhola naquelas proximidades. Uma
prova de que já se sabia dessa terra, foi a negação lusa em concordar com a Bula Inter
Coetera de 1493, a qual deixaria Portugal sem posses na América.

De qualquer forma, ao avistar o monte pascoal, na Bahia, os portugueses imaginaram o


Brasil, como uma ilha, por isso o chamaram de Ilha de Vera Cruz, e posteriormente,
Terra de Santa Cruz.

Depois de passarem rapidamente pelo Brasil, a frota seguiu viagem até seu destino
original, as Índias. No entanto, uma das caravelas retornou para Portugal com as “boas
novas” do “achamento” da nova terra. Nessa caravela que retornou, estava Pero Vaz de
Caminha, o escrivão da expedição, e escreveu os primeiros relatos e impressões sobre a
chegada dos portugueses no Brasil.

Para muitos, a carta de Pero Vaz de Caminha é considerada a “Certidão do Brasil”.

Exercícios
01 – (ESA – 2013) Entre os motivos que contribuíram para o pioneirismo
português no fenômeno histórico conhecido como “expansão ultramarina”, é
correto afirmar que foi (foram) decisivo (a) (s):

A) o comércio de ouro e escravos na costa da África.

B) a precoce centralização política de Portugal e a ausência de guerras.

C) a luta contra os mouros no Marrocos.

D) a aliança política com o reino da Espanha.

E) as reformas pombalinas.

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02 – (ESA – 2013) No final do Século XIV, o único Estado centralizado e livre de
guerras, o que lhe permitiu ser o pioneiro na expansão ultramarina, era o:

A) espanhol.

B) inglês.

C) francês.

D) holandês.

E) português

03 – (ESA – 2012) O Tratado de Tordesilhas, assinado pelos reis ibéricos com a


intervenção papal, representa:

A) o marco inicial da colonização portuguesa do Brasil.

B) o fim da rivalidade entre portugueses e espanhóis na América.

C) a tomada de posse do Brasil pelos portugueses.

D) a demarcação dos direitos de exploração colonial dos ibéricos.

E) o declínio do expansionismo espanhol.

04 – (ESA – 2011) O Tratado de Tordesilhas, celebrado em 1494 entre as Coroas


de Portugal e Espanha, pretendeu resolver as disputas por colônias ultramarinas
entre esses dois países, estabelecia que:

A) os espanhóis ficariam com todas as terras descobertas até a data de assinatura do


Tratado, e as terras descobertas depois ficariam com os portugueses.

B) os domínios espanhóis e portugueses seriam separados por um meridiano


estabelecido a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde.

C) a Igreja Católica, como patrocinadora do Tratado, arrendaria as terras descobertas


pelos portugueses e espanhóis nos quinze anos seguintes.

D) Portugal e Espanha administrariam juntos as terras descobertas, para fazerem frente


à ameaça colonialista da Inglaterra, da Holanda e da França.

E) portugueses e espanhóis seriam tolerantes com os costumes e as religiões dos povos


que habitassem as terras descobertas.

Prof. Guilherme Bertazzo


05 – (ESA – 2011) No século XV, o lucrativo comércio das especiarias - artigos de
luxo - era praticamente monopolizado pelas cidades europeias de:

A) Paris e Flandres.

B) Londres e Hamburgo.

C) Gênova e Veneza.

D) Constantinopla e Berlim.

E) Lisboa e Madri.

6 – (EsPCEx – 2007) Do século XII ao XV, Veneza, Gênova e Pisa destacaram-se


como importantes núcleos urbanos na Europa, em decorrência, principalmente,
da(o):

A) existência de grandes plantações de trigo e cevada na região.

B) comércio marítimo com os países situados nos mares do Norte e Báltico.

C) associação com outras cidades como Hamburgo e Bremen.

D) intenso intercâmbio comercial com o Oriente, por meio do transporte marítimo via
Constantinopla.

E) domínio religioso e militar sobre as demais cidades localizadas no Mediterrâneo.

7 – (EsPCEx – 2007) Na Europa do Século XV, Portugal destacou-se pelo


pioneirismo com que se lançou à expansão marítimo-comercial, dentre outras
razões, em virtude da(o):

A) associação entre o Estado português e empresas privadas, formando a Companhia


das Índias Ocidentais.

B) experiência náutica dos portugueses, fruto dos estudos e experiências acontecidas na


Escola de Sagres.

C) apoio inglês que forneceu tripulação e navios para a empreitada lusitana.

D) associação com a Espanha, pois o rei espanhol também era rei de Portugal, no final
do século XV.

E) necessidade da busca de ouro e metais preciosos para financiar as cruzadas.

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8 – (EsPCEx – 2007) No Século XV, as potências europeias viram-se forçadas a
buscar rotas marítimas para o Oriente, pois:

A) os turcos otomanos passaram a controlar as terras a leste do Mediterrâneo.

B) o Tratado de Tordesilhas impedia a navegação portuguesa ao sul de Cabo Verde.

C) os ingleses impediam a passagem pelo estreito de Gibraltar.

D) as águas agitadas do Cabo da Boa Esperança impediam os navios de contornar a


costa africana.

E) espanhóis e portugueses não se entendiam quanto à navegação no Mar Mediterrâneo.

9 – (EsPCEx – 2008) Leia atentamente as afirmações abaixo.

I – Era um estado politicamente centralizado e estável.

II – Possuía o melhor e mais equipado exército europeu durante os séculos XV e


XVI.

III – Estava em uma posição geográfica favorável, entre o Atlântico e o


Mediterrâneo.

IV – Contava com o apoio de uma burguesia mercantil favorável ao projeto da


navegação para o Oriente.

V – Possuía contatos com comerciantes árabes e indianos, realizados durante as


Cruzadas, por nobres portugueses.

Assinale a única alternativa em que todas as afirmações justificam o pioneirismo


português no processo das Grandes Navegações.

A) I e II. B) III e V. C) II, III e IV. D) I, III e IV. E) I, II e V.

10 – (EsPCEx – 2010) Um conjunto de forças e motivos econômicos, políticos e


culturais impulsionou a expansão comercial e marítima europeia a partir do século
XV, o que resultou, entre outras coisas, no domínio da África, da Ásia e da
América.

A) contorno do Cabo da Boa Esperança em 1488.

B) conquista de Ceuta em 1415.

C) chegada em Calicute, Índia, em 1498.

D) ascensão ao trono português de uma nova dinastia, a de Avis, em 1385.

E) descobrimento do Brasil em 1500.

Prof. Guilherme Bertazzo


11 – (EsPCEx – 2011)As grandes navegações produziram o expansionismo do
século XV e contribuíram para acelerara transição do feudalismo/capitalismo.

Provocaram mudanças no comércio europeu, tais como:

A) deslocamento do eixo econômico do Atlântico para o Pacífico; ascensão econômica


das repúblicas italianas paralelamente ao declínio das potências mercantis atlânticas;
acúmulo de capitais nas mãos da realeza.

B) perda do monopólio do comércio de especiarias por parte dos italianos; declínio


econômico das potências mercantis atlânticas; intenso afluxo de metais preciosos da
América para a Europa.

C) empobrecimento da burguesia europeia; deslocamento do eixo econômico do


Mediterrâneo para o Atlântico; ascensão econômica das repúblicas italianas,
paralelamente ao declínio das potências mercantis atlânticas.

D) intenso afluxo de metais preciosos da América para a Europa, o que determinou a


chamada “revolução dos preços do Século XVI”; deslocamento do eixo econômico do
Mediterrâneo para o Atlântico; acúmulo de capitais nas mãos da burguesia europeia, em
consequência da abundância de metais que afluiu para a Europa.

E) ascensão econômica das repúblicas italianas, paralelamente ao declínio econômico


de países como Portugal, Espanha, Inglaterra e Holanda; incorporação das áreas do
continente americano e do litoral africano às rotas já tradicionais de comércio Europa –
Ásia; acumulação de capitais nas mãos da nobreza e realeza europeias.

12 – (EsPCEx – 2012) As Grandes Navegações iniciaram transformações


significativas no cenário mundial.

Leia atentamente os itens abaixo:

I – o Oceano Atlântico passou a ser mais importante que o Mar Mediterrâneo;

II – a peste negra, com a qual os europeus se contaminaram, era até então desconhecida
na Europa;

III – houve a ascensão econômica das cidades italianas e o declínio das cidades
banhadas pelo Mar do Norte;

IV – os europeus ergueram vastos impérios coloniais e se apropriaram da riqueza dos


povos africanos, asiáticos e americanos;

V – a propagação da fé cristã.

Assinale a única alternativa em que todos os itens listam características corretas desse
período.

A) I, III e V B) II, III e V C) I, IV e V D) II, III e IV E) I, II e IV

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13 – (EsPCEx – 2015) As viagens mercantis e os descobrimentos de rotas
marítimas e de terras além-mar ocorridas no que conhecemos por expansão
europeia, mudou o mundo conhecido até então.

Foram etapas na conquista dos novos caminhos, rotas e descobrimentos os


seguintes eventos:

1. Bartolomeu Dias atingiu a extremidade sul do continente africano, nomeando-a de


Cabo das Tormentas.

2. Fernão de Magalhães, português, deu início à primeira viagem ao redor da Terra.

3. Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil.

4. Conquista de Ceuta pelos portugueses.

5. Cristóvão Colombo descobriu o que julgou ser o caminho para as Índias, mas na
verdade havia aportado em terras desconhecidas.

A sequência cronológica correta dos fatos listados é

A) 1, 2, 3, 4 e 5. B) 3, 5, 4, 1 e 2. C) 5, 2, 1, 4 e 3. D) 2, 4, 1, 5 e 3. E) 4, 1, 5, 3 e 2.

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Índios - O Brasil antes do descobrimento
Ao chegarem ao Brasil, os portugueses encontraram um território povoado. Seus
habitantes, porém, desconheciam a escrita e não deixaram documentos sobre o próprio
passado. O conhecimento que temos sobre os índios brasileiros do século 16 baseia-se
principalmente em relatos e descrições dos viajantes europeus que aqui estiveram, na
época. Particularmente, os livros do alemão Hans Staden e do francês Jean de Lery, que
conviveram com os índios por volta de 1550.

Os dois apresentam detalhadamente o modo de vida indígena, relacionando aspectos


que vão dos mais triviais, como as vestes e adornos, aos mais complexos, como as
crenças religiosas. Sobre as épocas anteriores à chegada dos portugueses, os estudos
históricos contam com a contribuição da antropologia e da arqueologia, que permitiram
traçar um panorama abrangente, apesar da existência de lacunas.

O povoamento da América do Sul teve início por volta de 20.000 a.C., segundo a
maioria dos pesquisadores. Existem indícios de seres humanos no Brasil datados de
16.000 a.C., de 14.200 a.C. e de 12.770 a.C., encontrados nas escavações arqueológicas
de Lagoa Santa (MG), Rio Claro (SP) e Ibicuí (RS). A dispersão da espécie por todo o
território nacional aconteceu em cerca de 9000 a.C., quando o número de homens
aumentou muito.

Tupis e guaranis
Ao longo desse processo, teria ocorrido a diferenciação linguística e social que deu
origem aos troncos indígenas Macro-Jê e Macro-Tupi. Deste último, entre os séculos 8 e
9, originaram-se as nações Tupi e Guarani. São as que mais se destacam nos últimos
500 anos da História do Brasil, justamente porque tiveram um contato mais próximo
com o homem branco. Na chegada de Pedro Álvares Cabral, em 1500, estima-se que os
índios brasileiros fossem entre um e cinco milhões.

Os tupis ocupavam a região costeira que se estende do Ceará a Cananeia (SP). Os


guaranis espalhavam-se pelo litoral Sul do país e a zona do interior, na bacia dos rios
Paraná e Paraguai. Em outras regiões encontravam-se outras tribos, genericamente
chamados de tapuias, palavra tupi que designa os índios que falam outra língua.

Apesar da divisão geográfica, as sociedades tupis e guaranis eram bastante semelhantes


entre si, nos aspectos linguísticos e culturais. Os grupos se formavam e se mantinham
unidos principalmente pelos laços de parentesco, que também articulavam o
relacionamento desses mesmos grupos entre si. Agrupamentos menores, as aldeias
ligavam-se através do parentesco com unidades maiores, as tribos.

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Modo de vida dos índios
Os índios sobreviviam da caça, da pesca, do extrativismo e da agricultura. Nem esta
última, porém, servia para ligá-los permanentemente a um único território. Fixavam-se
nos vales de rios navegáveis, onde existissem terras férteis. Permaneciam num lugar por
cerca de quatro anos. Depois de esgotados os recursos naturais do local, migravam para
outra região, num regime semi-sedentário.

Suas tabas (aldeias) abrigavam entre 600 e 700 habitantes. Levando em conta as
possibilidades de abastecimento e as condições de segurança da área, um conselho de
chefes determinava o local onde eram erguidas. As aldeias eram formadas por ocas
(cabanas), habitações coletivas que apresentavam formas e dimensões variadas. Em
geral, as ocas eram retangulares, com o comprimento variando entre 40 m e 160 m e a
largura entre 10 m e 16 m. Abrigavam entre 85 e 140 moradores. Suas paredes eram de
madeira trançada com cipó e recobertas com sapé desde a cobertura.

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As várias aldeias se ligavam entre si através de trilhas, que uniam também o litoral ao
interior. Algumas eram muito extensas como a do Peabiru, que unia a região da atual
Assunção, no Paraguai, com o planalto de Piratininga, onde se situa a cidade de São
Paulo. Descobrimentos arqueológicos confirmam contatos entre os tupis-guaranis e os
incas do Peru: objetos de cobre dos Andes foram desenterrados em escavações, no Rio
Grande do Sul e no Estado de São Paulo.

Alimentação: mandioca, peixe e mariscos


A alimentação dos índios do Brasil se compunha basicamente de farinha de mandioca,
peixe, mariscos e carne. Conheciam-se os temperos e a fermentação de bebidas
alcoólicas. Com as fibras nativas dos campos e florestas, fabricavam-se cordas, cestos,
peneiras, esteiras, redes, abanos de fogo; moldavam-se em barro diversos tipos de potes,
vasos e urnas funerárias, pois enterravam seus mortos.

Na taba, vigorava a divisão sexual do trabalho. Aos homens cabiam as tarefas de


esforço intenso, como o preparo da terra para o cultivo, a construção das ocas e a caça.
Além destas, havia a atividade que consideravam mais gloriosa - a guerra. As mulheres,
além do trabalho natural de dar a luz e cuidar das crianças, semeavam, colhiam,
modelavam, teciam, faziam bebidas e cozinhavam.

Os casamentos serviam para estabelecer alianças entre aldeias e reforçar os laços de


parentesco. A importância da família se contava pelo número de seus homens. As
grandes famílias tinham um líder e as aldeias tinham um chefe, o morubixaba. Em torno
dele, reunia-se um conselho da taba, formado pelos líderes e o pajé ou xamã, que
desempenhava um papel mágico e religioso. As crenças religiosas dos índios possuíam
papel ativo na vida da tribo. Praticavam-se diversos rituais mágico-sagrados,
relacionados ao plantio, à caça, à guerra, ao casamento, ao luto e à antropofagia.

Antropofagia (canibalismo) e vida após a morte


Basicamente, os tupi-guaranis acreditavam em duas entidades supremas - Monan e
Maíra - identificados com a origem do universo. Ao lado das divindades criadoras,
figurava também uma entidade - Tupã - associada à destruição do mundo, que os índios
consideravam inevitável no futuro, além de ter ocorrido em passado remoto.
Acreditavam também na vida após a morte, quando o espírito do morto iniciava uma
viagem para o Guajupiá, um paraíso onde se encontraria com seus ancestrais e viveria
eternamente. A prática da antropofagia talvez estivesse especialmente ligada a essa
viagem sobrenatural, sendo uma espécie de ritual preparatório para ela, segundo alguns
estudiosos.

Para outros, o ritual antropofágico servia para reverenciar os espíritos dos antepassados
e vingar os membros da aldeia mortos em combate. Após as batalhas contra tribos
inimigas, a antropofagia tinha caráter apoteótico, mobilizando todos os membros da
aldeia numa sucessão de danças e encenações que terminavam com a matança de
prisioneiros e o devoramento de seus corpos.

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Na organização política de uma aldeia, destacava-se a figura do chefe, o morubixaba,
mas este só exercia efetivamente o poder em tempos de guerra. Ainda assim não podia
impor a sua vontade, devendo convencer um conselho da aldeia, por meio de discursos.
A guerra era uma atividade epidêmica. Acontecia por razões materiais, como conquistar
terras privilegiadas; morais e sentimentais, como a vingança da morte de parentes ou
amigos por grupos adversários; ou ainda religiosas, vinculadas à antropofagia.

Povos guerreiros
O caráter beligerante das sociedades indígenas brasileiras desmente a versão da história
segundo a qual os índios se limitaram a assistir à ocupação da terra pelos europeus,
sofrendo os efeitos da colonização passivamente. Ao contrário, nos limites das suas
possibilidades resistiram à ocupação territorial, lutando bravamente por sua segurança e
liberdade. Entretanto, o contato inicial entre índios e brancos não chegou a ser
predominantemente conflituoso. Como os europeus estivessem em pequeno número,
podiam ser incorporados à vida social do índio, sem afetar a unidade e a autonomia das
sociedades tribais.

Isso favoreceu o intercâmbio comercial pacífico, as trocas de produtos entre os brancos


e os índios, principalmente enquanto os interesses dos europeus se limitaram ao
extrativismo do pau-brasil. Em geral, nas três primeiras décadas de colonização, os
brancos se incorporavam às aldeias, totalmente sujeitos à vontade dos nativos. Mesmo
em suas feitorias, os europeus dependiam de articular alianças com os indígenas, para
garantir a alimentação e segurança.

Posteriormente, quando o processo de colonização promoveu a substituição do


extrativismo pela agricultura como principal atividade econômica, o padrão de
convivência entre os dois grupos raciais sofreu uma profunda alteração: o índio passou a
ser encarado pelo branco como um obstáculo à posse da terra e uma fonte de mão-de-
obra barata. A necessidade de terras e a de trabalhadores para a lavoura levaram os
portugueses a promover a expulsão dos índios de seu território, assim como a sua
escravização. Assim, a nova sociedade que se erguia no Brasil impunha ao índio uma
posição subordinada e dependente.

Índios sobreviventes
Finalmente, para preservar a unidade e a integridade de seu modo de vida, os índios
optaram também pela migração para as áreas interioranas, cujo acesso difícil tornava o
contato com o branco improvável ou impossibilitava a este exercer seu domínio. Essa
alternativa, porém, teve um preço alto para as tribos indígenas, forçando-as a adaptar-se
a regiões mais pobres ou inóspitas.

Ainda assim, em relação ao enfrentamento ou à submissão, o isolamento foi o que


permitiu parcialmente aos índios preservarem sua herança biológica, social e cultural.
Dos cinco milhões de índios da época do descobrimento, existem atualmente cerca de
460 mil, segundo a Funai - Fundação Nacional do Índio.

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01 - O início da colonização portuguesa no Brasil, no chamado período "pré-
colonial" (1500-1530), foi marcado pelo(a):

a) envio de expedições exploratórias do litoral e pelo escambo do pau-brasil;

b) plantio e exploração do pau-brasil, associado ao tráfico africano.

c) deslocamento, para a América, da estrutura administrativa e militar já experimentada


no Oriente;

d) fixação de grupos missionários de várias ordens religiosas para catequizar os


indígenas;

e) implantação da lavoura canavieira, apoiada em capitais holandeses.

02 - "Apesar dos exageros e incorreções, a Lettera de Américo Vespúcio para


Piero Soderini com certeza continha várias passagens verídicas. Uma delas é o
trecho no qual, referindo-se à sua primeira viagem ao Brasil, realizada entre maio
de 1501 e julho de 1502, Vespúcio afirma: 'Nessa costa não vimos coisa de proveito,
exceto uma infinidade de árvores de pau-brasil (...) e já tendo estado na viagem
bem dez meses, e visto que nessa terra não encontrávamos coisa de metal algum,
acordamos despedirmo-nos dela.' Deve ter sido exatamente esse o teor do relatório
que Vespúcio entregou para o rei D. Manoel, em julho de 1502, logo após
desembarcar em Lisboa, ao final de sua primeira viagem sob bandeira portuguesa.
O diagnóstico de Vespúcio selou o destino do Brasil pelas duas décadas seguintes.
Afinal, no mesmo instante em que era informado pelo florentino da inexistência de
metais e de especiarias no território descoberto por Cabral, D. Manoel
concentrava todos os seus esforços na busca pelas extraordinárias riquezas do
Oriente. (BUENO, Eduardo. Náufragos,traficantes e degredados: as primeiras
expedições ao Brasil. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1998, p. 65.)

A descoberta do Brasil não alterou os rumos da expansão portuguesa voltada


prioritariamente para o Oriente, o que explica as características dos primeiros
anos da colonização brasileira, entre as quais se inclui o (a):

a) caráter militar da ocupação, visando à defesa das rotas atlânticas;

b) escambo com os indígenas, garantindo o baixo custo da exploração;

c) abertura das atividades extrativas da colônia a comerciantes das outras potências


europeias;

d) migração imediata de expressivos contingentes de europeus e africanos para a


ocupação do território;

e) exploração sistemática do interior do continente em busca de metais preciosos.

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03 - Assinale a alternativa correta a respeito do período pré-colonial brasileiro:

a) Os franceses não reconheciam o domínio português, tanto que chegaram a se


estabelecer no Rio de Janeiro e no Maranhão.

b) O trabalho intenso de Anchieta e Nóbrega na catequese dos índios tinha o objetivo de


impedir a escravização do gentio.

c) A ocupação temporária europeia, por meio de feitorias, deveu-se à inexistência de


organização social produtora de excedentes negociáveis.

d) A cordialidade dos indígenas contrastava com a hostilidade europeia dos


portugueses, cujo objetivo metalista conduzia sempre à prática da violência.

e) A cordialidade inicial entre europeus e índios deveu-se ao fato de que o objetivo


catequético superava os fins materiais da expansão marítima.

04 - "De começo, e fosse qual fosse, após a exploração cabralina, a importância dos
conhecimentos geográficos sobre o Brasil, o interesse de D. Manuel pelos seus
novos territórios da América foi, ao que parece, mais de ordem estratégica que
econômica."

(CORTESÃO, Jaime. Os descobrimentos portugueses, p. 1086, citado em


MORAES, Antonio Carlos Robert. Bases da formação territorial do Brasil. São
Paulo: HUCITEC, 2000, p. 174.)

Segundo o historiador português, Jaime Cortesão, no início do século XVI, a


importância econômica dada à América pelo Estado português foi de ordem
estratégica. Isto, porque:

a) apesar de terem sido encontrados imediatamente metais preciosos no território, os


portugueses não tinham maior interesse neles;

b) as comunidades indígenas do litoral sul da América eram hostis a qualquer contato


com os portugueses, o que impediu o desenvolvimento de atividades econômicas na
região;

c) a extensão do litoral e o clima tropical impediam o desenvolvimento de atividades


econômicas que permitissem a produção de bens valorizados na Europa;

d) o interesse português estava voltado para o Oriente, e o controle do litoral sul da


América deveria garantir, fundamentalmente, o monopólio da navegação da rota do
Cabo;

e) a instalação de feitorias que estimulassem o plantio, pelas comunidades indígenas, do


pau-brasil, produto valorizado no mercado europeu e, por isso, gerador de lucros para o
Estado português.

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Brasil Colônia
(1500 – 1822)
A história do Brasil, enquanto colônia é vasta, complexa e ainda em construção, pois
todos os anos, novas descobertas sobre esse período histórico brasileiro são feitas. No
entanto, devido a essa complexidade historiográfica, estuda-se a História Colonial do
Brasil, de maneira dividida, e essa divisão é feita em tópicos de economias,
administrações políticas, formação e composição da sociedade, e assim por diante.

Mas, antes de qualquer estudo sobre a colonização do Brasil, dar-se-á o estudo do Brasil
Pré – Colonização, porém, pós – “Descoberta”: essa confusa parte da história do Brasil,
inicia-se em 1500, e prolonga-se até, aproximadamente, 1530, quando o governo
português efetiva a colonização do território brasileiro.

Período Pré – Colonização (1500 – 1530)


A Coroa portuguesa, envolvida de forma quase obsessiva com os negócios lucrativos do
Oriente, pouco mudou sua política com a descoberta da nova terra americana, o Brasil,
em 1500, por Pedro Álvares Cabral.

O Descobrimento do Brasil e os Interesses Portugueses


As notícias que chegavam a Dom Manuel não respondiam às expectativas da Coroa.
Não apontavam a existência de metais preciosos, de especiarias, nem de outras riquezas
de interesse no território onde, à primeira vista, apenas existiam nativos. Em sua carta
ao rei Dom Manuel, Pero Vaz de Caminha, o escrivão da frota de Cabral, caracterizou a
terra como um espaço virgem, sem riqueza imediata, mas com uma determinada e já
precisa utilidade, servindo como ponto de apoio da carreira da Índia: "ter aqui esta
pousada para estar na navegação de Calicute".

Os governantes de Portugal reconheciam a vantagem estratégica de um território


localizado no litoral atlântico - sul. Ele servia como escala dos navios rumo às riquezas
das Índias e, sobretudo, ajudava a garantir o monopólio da Rota do Cabo, em direção às
Índias. Dom Manuel tomou algumas iniciativas após o descobrimento. Em 1501,
enviava uma expedição de reconhecimento comandada por Gaspar de Lemos. Américo
Vespúcio, navegador italiano, de grandes conhecimentos náuticos, integrando a
expedição, recolheu informações sobre o local e suas possíveis riquezas.

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Ainda em 1501, o rei de Portugal comunicava a descoberta da Ilha de Vera Cruz, depois
chamada de Terra de Santa Cruz, aos reis de Espanha, Fernão de Aragão e Isabel de
Castela, seus sogros e rivais.

Por um longo período, a terra americana permaneceu quase que em abandono. A Índia
continuava a ser o grande alvo das navegações marítimas portuguesas. Os interesses
mercantil e religioso prevaleciam acima de qualquer outro. "A alternativa ao espaço
índico, território das especiarias e pedras preciosas, é para todo o nosso século XVI, o
Norte da África. Índia e Marrocos, por vezes, dão-se as mãos como meios para um fim
mais histórico", conforme registrou o historiador português Luís Filipe Barreto.

O domínio sobre as riquezas do Oriente era um interesse tão forte para a economia de
Portugal que, quando os navegadores Fernão de Magalhães e Sebastião El Cano, a
serviço da Espanha, realizaram, entre 1519 e 1522, a primeira viagem de
circunavegação, passando pelo arquipélago das Molucas, chamado de Ilhas das
Especiarias, os portugueses sentiram-se ameaçados. Temiam que surgissem dúvidas
quanto à posse daquelas terras, dada a difícil demarcação do Tratado de Tordesilhas.
Então, para garantir o controle de suas terras, e, consequentemente do lucrativo
comércio oriental, o rei de Portugal propôs, ao rei da Espanha, a compra do arquipélago,
realizada em 1529, com o Tratado de Saragoça. Esse Tratado dava a Portugal todos os
direitos sobre as Ilhas das Especiarias, e dividia os domínios orientais dos dois países,
na altura das Filipinas.

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De acordo com o historiador Barreto, a ocupação do novo território, "o Brasil, achado
em 1500 e em 1500, esquecido, é uma resposta a perigos de concorrência
essencialmente ligados com a carreira da Índia."

A Pré - Colonização
O relativo abandono em que foi deixado o Brasil, durante vários anos após a descoberta,
facilitou as incursões de outros povos europeus, especialmente franceses e espanhóis.

Eles eram atraídos pelas notícias dos viajantes e pelos relatos dos sobreviventes de
naufrágios que falavam de povos e de costumes totalmente diferentes, e contavam sobre
riquezas fabulosas. Aos franceses, por exemplo, atraía a tinta do pau-brasil, fundamental
para suas manufaturas têxteis. Em constantes viagens às novas terras, recolhiam a
madeira e abasteciam seus navios.

Sem ainda um plano de ocupação da nova terra americana, o governo de Portugal


limitava-se a explorá-la na única riqueza que aparentemente apresentava: o pau-brasil.
Tratava de assegurar o monopólio da exploração desse produto e defender a terra das
investidas dos corsários estrangeiros. Com estes objetivos, entre 1500 e 1516,
expedições exploradoras e expedições guarda-costas chegavam ao Brasil.

A Costa do Pau-Brasil e a Costa do Ouro e da Prata


As expedições exploradoras vinham ao litoral brasileiro com a finalidade de mapear
suas potencialidades e fazer um reconhecimento geográfico e antropológico da terra e
de seus habitantes, os índios.

Na relação dos portugueses com os nativos predominava o interesse de acumular o


máximo de dados e, ao mesmo tempo, abrir o maior número de pistas a futuras relações.

As expedições exploradoras combinavam ações da Coroa e de particulares. Nestas


últimas incluíam-se, em especial, ricos comerciantes, muitos dos quais eram cristãos -
novos, os judeus recém-convertidos ao cristianismo para escapar dos rigores da Santa
Inquisição - o tribunal que julgava os atos praticados contra a Igreja.

A primeira expedição exploradora, em 1501, foi uma ação da Coroa. Comandada por
Gaspar de Lemos aportou, inicialmente, no litoral do atual estado do Rio Grande do
Norte rumando, em seguida, em direção ao sul. Os principais acidentes geográficos
encontrados no caminho recebiam nomes relacionados aos santos e dias de festas: Cabo
de São Roque e Rio São Francisco, entre outros. Em janeiro de 1502, a expedição
chegava ao Rio de Janeiro, indo depois até o Rio da Prata.

As informações enviadas ao rei de Portugal referiam-se, principalmente, ao clima, às


condições da terra e à única riqueza até então encontrada, o pau-brasil. Este produto, de
modo algum, superava os lucros obtidos no comércio com o Oriente.

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As matas do pau-brasil estendiam-se por grande parte do litoral, em especial do cabo de
São Roque até São Vicente. Daí o nome "costa do pau-brasil". De São Vicente para o
sul, o litoral era conhecido como "costa do ouro e da prata", em função das notícias
sobre a existência daqueles metais preciosos na região.

A expedição comandada por Gonçalo Coelho, em 1503, constituiu-se em uma ação de


particulares. Para organizá-la, a Coroa firmou, em 1502, contrato com um grupo de
comerciantes, à frente Fernão de Noronha. A terra foi arrendada por um período de três
anos para exploração do pau-brasil. Os arrendatários, em troca, comprometiam-se a
construir feitorias e pagar, à Coroa, parte do lucro obtido. O arrendamento foi renovado
mais duas vezes, em 1505 e em 1513. Como consequência do contrato e da expedição
de 1502, o rei Dom Manuel doou, em 1504, a Fernão de Noronha, a primeira capitania
hereditária no litoral brasileiro: a ilha de São João da Quaresma, atual Fernando de
Noronha.

As feitorias instaladas serviam como depósitos do pau-brasil até que as embarcações


portuguesas aqui chegassem. Os índios cortavam a madeira e recebiam, por este
trabalho, objetos de pouco valor como facas, pentes e espelhos. Esse tipo de relação,
baseada na troca de produtos, chama-se escambo. Nessa época, as pessoas que
exploravam o comércio do pau-brasil eram denominadas ‘brasileiros”.

As notícias sobre a grande quantidade de pau-brasil existente no litoral, passaram a


atrair outros países europeus. Em especial a França que, sentindo-se prejudicada pelos
termos do Tratado de Tordesilhas, não reconhecia sua validade. O governo francês,
então, patrocinou grupos de corsários que começaram a percorrer a "costa do pau-
brasil", negociando a extração da madeira diretamente com os índios, por meio do
escambo.

Em consequência da pressão exercida pelas frequentes incursões de franceses e de


outros europeus às suas terras, a Coroa portuguesa organizou expedições, chamadas
"guarda-costas", para expulsar os corsários.

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As Expedições Guarda-Costas
Cristóvão Jacques comandou as duas expedições guarda-costas organizadas pela Coroa.
A primeira em 1516 e, a segunda, em 1526.

Ambas mostraram-se insuficientes para combater o contrabando e a constante ameaça


de ocupação estrangeira, diante da vasta extensão do litoral. O historiador brasileiro
Capistrano de Abreu ressaltou outra grande dificuldade: as alianças feitas entre os
europeus e os indígenas. Os Tupinambás se aliavam, com frequência, aos franceses e os
portugueses tinham ao seu lado os Tupiniquins. E, segundo Capistrano, "durante anos
ficou indeciso se o Brasil ficaria pertencendo aos Peró (portugueses) ou aos Mair
(franceses)."

Entretanto, a existência de sobreviventes de naufrágios, degredados e desterrados


portugueses no Brasil, além de favorecer o contato com os índios, facilitou a defesa e a
ocupação da terra. Esses homens, que teriam chegado com as primeiras viagens e
permanecido pelas mais diversas razões, já estavam adaptados às condições físicas e
sociais do território e ao modo indígena de viver. Alguns deles sucumbiram ao meio, a
ponto de furar lábios e orelhas, matar prisioneiros segundo os ritos nativos, e alimentar-
se de sua carne.

Acreditavam nos mitos existentes, incorporando-os à sua maneira de viver, como é o


caso daquele homem que passou a se julgar um tamanduá. Enfurnava-se, de quatro, em
todos os buracos, à cata de formigas, seu alimento predileto. Outros, ao contrário,
revoltaram-se e impuseram sua vontade, como o bacharel de Cananéia. Havia, ainda,
tipos intermediários, que conviviam com os nativos e com eles estabeleciam laços
familiares. Casavam e tinham filhos com as índias, constituindo, na maioria das vezes,
numerosa família, composta de várias mulheres e de um grande número de filhos
mamelucos.

A Colonização Acidental
Dentre os inúmeros homens que viviam no Brasil destacaram-se Diogo Álvares Correa,
o Caramuru, e João Ramalho. Caramuru, desde o seu naufrágio, em 1510, até a sua
morte, em 1557, viveu na Bahia, sendo muito respeitado pelos Tupinambás. Tinha
várias mulheres indígenas, entre elas Paraguaçu, filha do principal chefe guerreiro da
região. Com ela teve muitos filhos e filhas, das quais duas se casaram com espanhóis,
moradores da mesma região. João Ramalho, por sua vez, não se sabe se era náufrago,
degredado, desertor ou aventureiro. Desde 1508 convivia com os índios Guaianá, na
região de São Vicente. Casou-se com Bartira, filha do maior chefe guerreiro da região.
Tiveram vários filhos e filhas, as quais se casaram com homens importantes.

Caramuru e João Ramalho possuíam algumas características em comum: muitas


concubinas, muitos filhos, poder e autoridade entre os indígenas. Protegiam os europeus
que chegavam em busca de riquezas e, com eles, realizavam negócios. Também
socorriam os que naufragavam em seus domínios, fornecendo-lhes escravos,

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alimentação, informação, pequenas embarcações e guarida. Em troca, recebiam
armamentos, moedas de ouro, vestimentas e notícias sobre o mundo europeu. Graças à
obediência que os índios lhes tinham, os expedicionários portugueses foram recebidos
de forma hospitaleira, e obtiveram importantes informações sobre a terra.

Caramuru e João Ramalho integram um grupo de homens fundamentais na colonização


do Brasil. Além de participarem ativamente nesse processo, ainda que de forma
acidental, prepararam e facilitaram o estabelecimento da colonização oficial das terras
portuguesas na América. A Coroa, reconhecendo o importante papel desses homens,
atribuiu-lhes funções oficiais. João Ramalho, por exemplo, em 1553, foi nomeado
capitão da vila de Santo André por Tomé de Sousa, o primeiro governador geral do
Brasil.

Os jesuítas procuravam também se aproveitar do relacionamento desses homens com os


indígenas, para concretizar a missão evangelizadora que lhes cabia. Para eles, esses
portugueses aventureiros representavam a afirmação integradora dos dois mundos: o
bárbaro, dos índios, e o civilizado, dos europeus.

Neste período de colonização acidental, inúmeras feitorias se estabeleciam em


diferentes pontos do litoral. Alianças eram firmadas e os contatos entre portugueses e
índios tornavam-se mais sistemáticos e frequentes. Estas estratégias, entretanto, não se
mostravam suficientes para assegurar a Portugal o domínio sobre suas terras. Não
garantiam uma forma efetiva de ocupação do litoral, em toda a sua extensão.

O rei francês, Francisco I, insatisfeito com a situação, resolveu contestar o monopólio


ibérico sobre as terras do novo mundo, legitimado pelo Tratado de Tordesilhas, em
1494. A Coroa francesa pretendia estabelecer o princípio do Uti Possidetis, pelo qual só
a ocupação efetiva do lugar assegurava sua posse.

Para solucionar esta questão de forma definitiva, a Coroa portuguesa estabeleceu uma
política de colonização efetiva do Brasil. Dois fatos concorreram para esta decisão. Um
deles foi o declínio do comércio do Oriente, cujos investimentos passaram a pesar
bastante na economia portuguesa. Os lucros ficavam em grande parte com os
financiadores de Flandres, atual Bélgica. O outro fato a influir foi a notícia da
descoberta, pelos espanhóis, de metais preciosos nas suas terras americanas. Tal notícia
estimulou o interesse dos portugueses pelo novo território, reforçando a ideia de um
"eldorado" promissor para os negócios de Portugal.

A Expedição de Martim Afonso de Sousa (1530-1532)


Em 1530, com o propósito de realizar uma política de colonização efetiva, Dom João
III, "O Colonizador", organizou uma expedição ao Brasil. A esquadra de cinco
embarcações, bem armada e aparelhada, reunia quatrocentos colonos e tripulantes.
Comandada por Martim Afonso de Sousa, tinha uma tríplice missão: combater os
traficantes franceses, penetrar nas terras na direção do Rio da Prata para procurar metais
preciosos e, ainda, estabelecer núcleos de povoamento no litoral. Portanto, iniciar o

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povoamento do "grande desertão", as terras brasileiras. Para isto traziam ferramentas,
sementes, mudas de plantas e animais domésticos.

Martim Afonso possuía amplos poderes. Designado capitão - mor da esquadra e do


território descoberto, deveria fundar núcleos de povoamento, exercer justiça civil e
criminal, tomar posse das terras em nome do rei, nomear funcionários e distribuir
sesmarias.

Durante dois anos o Capitão percorreu o litoral, armazenando importantes


conhecimentos geográficos. Ao chegar no litoral pernambucano, em 1531, conseguiu
tomar três naus francesas carregadas de pau-brasil. Dali dirigiu-se para o sul da região,
indo até a foz do Rio da Prata. Fundou a primeira vila da América portuguesa: São
Vicente, localizada no litoral paulista. Ali distribuiu lotes de terras aos novos habitantes,
além de dar início à plantação de cana-de-açúcar. Montou o primeiro engenho da
Colônia, o "Engenho do Governador", situado no centro da ilha de São Vicente, região
do atual estado de São Paulo.

Diogo Álvares Correa, o Caramuru, João Ramalho e Antônio Rodrigues facilitaram


bastante a missão colonizadora da expedição de Martim Afonso. Eram intérpretes junto
aos índios e forneciam valiosas informações sobre a terra e seus habitantes. Antes de
retornar a Portugal, ainda em 1532, o Capitão recebeu carta do rei Dom João III. Este
falava de sua intenção de implantar o sistema de capitanias hereditárias e de designar
Martim Afonso e seu irmão Pero Lopes de Sousa como donatários.

Enquanto Portugal reorganizava sua política para estabelecer uma ocupação efetiva no
litoral brasileiro, os espanhóis impunham sua conquista na América, chegando quase à
exterminação dos grupos indígenas: os astecas, no atual México, os maias, na América
Central e os incas, no atual Peru.

Índios e Portugueses: O Encontro de Duas Culturas


Durante os primeiros anos do Descobrimento, os nativos foram tratados "como
parceiros comerciais", uma vez que os interesses portugueses voltavam-se ao comércio
do pau-brasil, realizado na base do escambo. Segundo os cronistas da época, os
indígenas consideravam os europeus, amigos ou inimigos, conforme fossem tratados:
amistosamente ou com hostilidade. Com o passar do tempo, e ante a necessidade
crescente de mão-de-obra dos senhores de engenho, essa relação sofreu alterações. Com
a instalação do Governo Geral, em 1549, intensificou-se a escravidão dos indígenas nas
diversas atividades desenvolvidas na Colônia, gerando constantes conflitos.

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1. (Espcex (Aman) 2015) “Os primeiros trinta anos da História do Brasil são
conhecidos como período Pré-Colonial. Nesse período, a coroa portuguesa iniciou a
dominação das terras brasileiras, sem, no entanto, traçar um plano de ocupação
efetiva. […] A atenção da burguesia metropolitana e do governo português
estavam voltados para o comércio com o Oriente, que desde a viagem de Vasco da
Gama, no final do século XV, havia sido monopolizado pelo Estado português. […]
O desinteresse português em relação ao Brasil estava em conformidade com os
interesses mercantilistas da época, como observou o navegante Américo Vespúcio,
após a exploração do litoral brasileiro, pode-se dizer que não encontramos nada de
proveito”. Berutti, 2004.

Sobre o período retratado no texto, pode-se afirmar que o(a):

a) desinteresse português pelo Brasil nos primeiros anos de colonização, deu-se em


decorrência dos tratados comerciais assinados com a Espanha, que tinha prioridade pela
exploração de terras situadas a oeste de Greenwich.

b) maior distância marítima era a maior desvantagem brasileira em relação ao comércio


com as Índias.

c) desinteresse português pode ser melhor explicado pela resistência oferecida pelos
indígenas que dificultavam o desembarque e o reconhecimento das novas terras.

d) abertura de um novo mercado na América do Sul, ampliava as possibilidades de lucro


da burguesia metropolitana portuguesa.

e) relativo descaso português pelo Brasil, nos primeiros trinta anos de História, explica-
se pela aparente inexistência de artigos (ou produtos) que atendiam aos interesses
daqueles que patrocinavam as expedições.

2. (Pucsp 2014) "Descoberto o Novo Mundo e instaurado o processo de


colonização, começou a se desenrolar o embate entre o Bem e o Mal."

Laura de Mello e Souza. Inferno Atlântico. São Paulo: Companhia das Letras,
1993, p. 22-23.

Na percepção de muitos colonizadores portugueses do Brasil, uma das armas mais


importantes utilizadas nesse “embate entre o Bem e o Mal” era a:

a) retomada de padrões religiosos da Antiguidade.

b) defesa do princípio do livre arbítrio.

c) aceitação da diversidade de crenças.

d) busca da racionalidade e do espírito científico.

e) catequização das populações nativas.

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3. (Uern 2013) Acerca dos povos “pré-colombianos” e dos habitantes do Brasil
anteriores à colonização, marque V para as afirmativas verdadeiras e F para as
falsas:

( ) Todos, sem exceção, já haviam estabelecido uma organização política e social


extremamente estratificada, estamental e hierarquizada, baseada nos laços de
parentesco.

( ) Haviam sociedades agrícolas, sedentarizadas e algumas nômades, que não


dominavam a domesticação de animais, o cultivo sistemático e viviam, portanto, da
caça e da coleta.

( ) Em algumas regiões específicas, a agricultura se desenvolveu mais intensamente


e o acúmulo de experiências culturais resultou numa maior condição de
desenvolvimento entre essas populações.

( ) No Brasil, o período inicial do processo de colonização coincide, historicamente,


com o período de sedentarização dos nativos e sua introdução ao mundo da
agricultura e da pecuária, anteriormente inexistentes.

A sequência está correta em:

a) V–F–V–F

b) V–F–F–V

c) V–F–V–V

d) F–V–V–F

4. (Unesp 2013) Leia o texto para responder à questão.

[Os tupinambás] têm muita graça quando falam [...]; mas faltam-lhe três letras das
do ABC, que são F, L, R grande ou dobrado, coisa muito para se notar; porque, se
não têm F, é porque não têm fé em nenhuma coisa que adoram; nem os nascidos
entre os cristãos e doutrinados pelos padres da Companhia têm fé em Deus Nosso
Senhor, nem têm verdade, nem lealdade a nenhuma pessoa que lhes faça bem. E se
não têm L na sua pronunciação, é porque não têm lei alguma que guardar, nem
preceitos para se governarem; e cada um faz lei a seu modo, e ao som da sua
vontade; sem haver entre eles leis com que se governem, nem têm leis uns com os
outros. E se não têm esta letra R na sua pronunciação, é porque não têm rei que os
reja, e a quem obedeçam, nem obedecem a ninguém, nem ao pai o filho, nem o
filho ao pai, e cada um vive ao som da sua vontade [...].

(Gabriel Soares de Souza. Tratado descritivo do Brasil em 1587, 1987.)

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O texto destaca três elementos que o autor considera inexistentes entre os
tupinambás, no final do século XVI. Esses três elementos podem ser associados,
respectivamente:

a) à diversidade religiosa, ao poder judiciário e às relações familiares.

b) à fé religiosa, à ordenação jurídica e à hierarquia política.

c) ao catolicismo, ao sistema de governo e ao respeito pelos diferentes.

d) à estrutura política, à anarquia social e ao desrespeito familiar.

e) ao respeito por Deus, à obediência aos pais e à aceitação dos estrangeiros.

6. Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito. Eram
pardos, todos nus. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Não fazem o menor
caso de encobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como
em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus
ossos brancos e verdadeiros. Os cabelos seus são corredios.

CAMINHA, P. V. Carta. RIBEIRO, D. et al. Viagem pela história do Brasil:


documentos. São Paulo: Companhia das Letras, 1997 (adaptado).

O texto é parte da famosa Carta de Pero Vaz de Caminha, documento


fundamental para a formação da identidade brasileira. Tratando da relação que,
desde esse primeiro contato, se estabeleceu entre portugueses e indígenas, esse
trecho da carta revela a:

a) preocupação em garantir a integridade do colonizador diante da resistência dos índios


à ocupação da terra.

b) postura etnocêntrica do europeu diante das características físicas e práticas culturais


do indígena.

c) orientação da política da Coroa Portuguesa quanto à utilização dos nativos como mão
de obra para colonizar a nova terra.

d) oposição de interesses entre portugueses e índios, que dificultava o trabalho


catequético e exigia amplos recursos para a defesa recursos para a defesa da posse da
nova terra.

e) abundância da terra descoberta, o que possibilitou a sua incorporação aos interesses


mercantis portugueses, por meio da exploração econômica dos índios.

7. Considere o texto a seguir:

"Em toda a semana [os homens] se ocupam em fazer roças para seus mantimentos
(que antes não faziam senão as mulheres)".

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("Cartas dos primeiros jesuítas do Brasil (1538-1553)". Editadas por Serafim
Leite. São Paulo: Comissão do IV Centenário, 1954, v. I, p. 179).

Neste texto descreve-se uma mudança na divisão social do trabalho indígena


(trabalho masculino e feminino), que ocorreu no Brasil colonial com a chegada dos
padres jesuítas. Contudo, antes desta mudança, cabia aos homens e às mulheres
tupinambás:

a) os homens derrubavam a floresta, caçavam e pescavam, e as mulheres trabalhavam


no plantio.

b) os homens trabalhavam no plantio, caçavam, pescavam, e as mulheres derrubavam a


floresta.

c) os homens trabalhavam na obtenção de alimentos, e as mulheres na criação dos


filhos.

d) os homens derrubavam a floresta, e as mulheres obtinham os alimentos.

e) os homens trabalhavam na obtenção de alimentos, e as mulheres na organização das


cerimônias religiosas.

8. Leia as duas estrofes a seguir:

É o Brasil antes de Cabral

Pindorama, Pindorama

É tão longe de Portugal

Fica além, muito além

Do encontro do mar com o céu

Fica além, muito além

Dos domínios de Dom Manuel.

Vera Cruz, Vera Cruz

Quem achou foi Portugal

Vera Cruz, Vera Cruz

Atrás do Monte Pascoal

Bem ali Cabral viu

Dia vinte e dois de abril

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Não só viu, descobriu

Toda terra do Brasil."

Pindorama, de Sandra Peres e Luiz Tatit, in "Palavra Cantada", Canções


Curiosas, 1998.

Entre as várias referências da letra da canção à chegada dos portugueses à


América, pode-se mencionar:

a) a preocupação com os perigos da viagem, a distância excessiva e a datação exata do


momento da descoberta.

b) o caráter documental do texto, que reproduz o tom, a intenção informativa e a


estrutura dos relatos de viajantes.

c) a dúvida quanto à expressão mais adequada para designar a chegada dos portugueses,
daí a variação de verbos.

d) o pequeno conhecimento das novas terras pelos conquistadores, indicando sua crença
de terem chegado às Índias.

e) a diferença entre os termos que nomeavam as terras, sugerindo uma diferença entre a
visão do índio e a do português.

9. Em geral, os nossos tupinambás ficaram admirados ao ver os franceses e os


outros dos países longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto
é, pau-brasil. Houve uma vez um ancião da tribo que me fez esta pergunta: “Por
que vindes vós outros, mairs e pêros (franceses e portugueses), buscar lenha de tão
longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?”

LÉRY, J. Viagem à Terra do Brasil. In: FERNANDES, F. Mudanças Sociais no


Brasil. São Paulo: Difel, 1974.

O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em


1557, com um ancião tupinambá, o qual demonstra uma diferença entre a
sociedade europeia e a indígena no sentido:

a) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas culturais.

b) da preocupação com a preservação dos recursos ambientais.

c) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais lucrativa do pau-brasil.

d) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas.

e) da preocupação com o armazenamento de madeira para os períodos de inverno.

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10. Se levarmos em conta que os colonizadores portugueses mantiveram um
contato maior com as nações tupi, podemos dizer que as sociedades indígenas
brasileiras viviam num regime de comunidade primitiva, no qual:

a) não existia propriedade privada, pois os únicos bens individuais eram os instrumentos
de caça, pesca e trabalho, como o arco, a flecha e o machado de pedra.

b) cabia aos homens, além da caça e da pesca, toda a atividade agrícola do plantio a da
colheita.

c) cada família tinha a sua propriedade, apesar de todos trabalharem para o sustento da
comunidade.

d) a economia era planificada, e todo o excedente era trocado com as tribos vizinhas.

e) tanto a propriedade privada quanto a agricultura de subsistência e a divisão de


trabalho obedeciam a critérios naturais, ou seja, de acordo com o sexo e a idade.

11. Considere a ilustração:

Extração do pau-brasil pelos índios. Detalhe ornamental de mapa do Atlas de


Johannes van Keulen, 1683. (In: Elza Nadai e Joana Neves. "História do Brasil".
São Paulo: Saraiva, 1996. p. 39)

A devastação das florestas brasileiras não é uma prática recente. No contexto da


história do Brasil colonial, essa devastação decorreu da exploração do pau-brasil,
como mostra a ilustração, que era uma atividade:

a) praticada pelos povos indígenas para comércio interno, antes mesmo da chegada dos
europeus.

b) desprezada pelos colonizadores portugueses, razão pelo qual os franceses a


praticavam utilizando o trabalho dos índios.

c) considerada monopólio da Coroa portuguesa e gerou muitos conflitos entre índios,


portugueses e franceses.

d) realizada entre índios e ingleses porque os franceses estavam interessados


exclusivamente na busca do ouro e prata.

e) desenvolvida pelos holandeses que utilizavam o trabalho do índio e os remuneravam


com baixos salários.

12 Em carta ao rei D. Manuel, Pero Vaz de Caminha narrou os primeiros contatos


entre os indígenas e os portugueses no Brasil: “Quando eles vieram, o capitão
estava com um colar de ouro muito grande ao pescoço. Um deles fitou o colar do
Capitão, e começou a fazer acenos com a mão em direção à terra, e depois para o
colar, como se quisesse dizer-nos que havia ouro na terra. Outro viu umas contas
de rosário, brancas, e acenava para a terra e novamente para as contas e para o

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colar do Capitão, como se dissesse que dariam ouro por aquilo. Isto nós
tomávamos nesse sentido, por assim o desejarmos! Mas se ele queria dizer que
levaria as contas e o colar, isto nós não queríamos entender, porque não havíamos
de dar-lhe!”

(Adaptado de Leonardo Arroyo, A carta de Pero Vaz de Caminha. São Paulo:


Melhoramentos; Rio de Janeiro: INL, 1971, p. 72-74.)

Esse trecho da carta de Caminha nos permite concluir que o contato entre as
culturas indígena e europeia foi:

a) favorecido pelo interesse que ambas as partes demonstravam em realizar transações


comerciais: os indígenas se integrariam ao sistema de colonização, abastecendo as
feitorias, voltadas ao comércio do pau-brasil, e se miscigenando com os colonizadores.

b) guiado pelo interesse dos descobridores em explorar a nova terra, principalmente por
meio da extração de riquezas, interesse que se colocava acima da compreensão da
cultura dos indígenas, que seria quase dizimada junto com essa população.

c) facilitado pela docilidade dos indígenas, que se associaram aos descobridores na


exploração da nova terra, viabilizando um sistema colonial cuja base era a escravização
dos povos nativos, o que levaria à destruição da sua cultura.

d) marcado pela necessidade dos colonizadores de obterem matéria-prima para suas


indústrias e ampliarem o mercado consumidor para sua produção industrial, o que levou
à busca por colônias e à integração cultural das populações nativas.

13. Sobre o período Pré-colonial, é CORRETO afirmar:

a) Um grupo de mercadores portugueses, representados por Fernão de Loronha,


arrendou o direito de exploração do território, no início do século XVI.

b) A extração de pau-brasil era destinada à exportação dessa madeira para a construção


de fortes e edifícios administrativos portugueses nas possessões ultramarinas do
Oriente, como Goa e Nagasaki.

c) A administração do Governador-Geral Duarte da Costa permitiu a utilização da mão


de obra indígena na instauração de feitorias que, mais tarde, possibilitariam a
implementação dos engenhos de açúcar.

d) A produção de cana-de-açúcar em Pernambuco e São Vicente, assim como de


algodão, no Maranhão, permitiu a expansão da presença portuguesa para além dos
limites impostos pelo Tratado de Tordesilhas.

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A Colonização do Brasil
Povoar para Defender
As constantes invasões do litoral brasileiro por parte de franceses e de espanhóis
mostraram ao rei de Portugal que a assinatura de acordos diplomáticos com países
europeus não lhe assegurava o domínio do novo território americano, o Brasil. Portanto,
era preciso povoá-lo. Era preciso empreender uma colonização capaz de garantir, ao
mesmo tempo, a ocupação e a defesa do litoral e, em consequência, consolidar o poder
da Coroa.

Portugal, um país pequeno com população pouco numerosa, tinha os recursos


comprometidos com a empresa oriental. Dom João III procurou, então, uma maneira de
povoar e defender o litoral brasileiro sem onerar os cofres do Reino. Considerou
também experiências já realizadas em ilhas do Atlântico e informações recolhidas pelas
expedições de Cristóvão Jacques e Martim Afonso de Sousa.

Em 1534, Dom João III, intitulado "O Colonizador", implantou o sistema de capitanias
hereditárias. Dividiu o litoral brasileiro em quatorze faixas de terras, que se estendiam
do Oceano Atlântico para o interior até a linha imaginária de Tordesilhas.

O rei doou as terras a homens de sua confiança que arcavam com o ônus do
empreendimento. Esses homens, fidalgos de pouca importância social no Reino,
recebiam o título de capitães-generais e tinham o direito , entre outros, de transmitir as
capitanias doadas aos seus herdeiros. Por essa razão essas faixas de terras
denominaram-se capitanias hereditárias.

Os capitães-generais ou donatários, impulsionados por um grande desejo de aventura e


fascinados com os relatos dos viajantes sobre riquezas, aceitavam viver numa região
bem distante do seu país e assumir um compromisso tão ousado. O historiador Sérgio
Buarque de Holanda diz que "a época predispunha aos gestos e façanhas audaciosos,
galardoando bem os homens de grande vôo."

Outros fatores também interferiam na decisão dos capitães: a oportunidade de exercer


mais poder e de expandir a fé cristã. Esses homens representariam, em suas capitanias, a
Espada e a Cruz, símbolos das conquistas através da força das armas, da dominação
pela superioridade técnica e da pregação religiosa.

O Sistema de Capitanias Hereditárias


As capitanias hereditárias no litoral brasileiro, doadas por Dom João III entre 1534 e
1536, foram 14 (São Vicente foi dividida em dois lotes, para o mesmo donatário). Os
donatários, representantes do rei de Portugal na Colônia, foram 12.

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A doação de uma capitania era feita através de dois documentos: a Carta de Doação e a
Carta Foral. Pela primeira, o donatário recebia a posse da terra, podendo transmiti-la
para seus filhos, mas não vendê-la. Recebia também uma sesmaria de dez léguas da
costa na extensão de toda a capitania. Devia fundar vilas, construir engenhos, nomear
funcionários e aplicar a justiça, podendo até decretar a pena de morte para escravos,
índios e homens livres. Adquiria alguns direitos: isenção de taxas, venda de escravos
índios e recebimento de parte das rendas devidas à Coroa.

A Carta Foral tratava, principalmente, dos tributos a serem pagos pelos colonos. Definia
ainda, o que pertencia à Coroa e ao donatário. Se descobertos metais e pedras preciosas,
20% seriam da Coroa e, ao donatário caberiam 10% dos produtos do solo. A Coroa
detinha o monopólio do comércio do pau-brasil e de especiarias. O donatário podia doar
sesmarias aos cristãos que pudessem colonizá-las e defendê-las, tornando-se assim
colonos.

O modelo de colonização adotado por Portugal baseava-se na grande propriedade rural


voltada para a exportação. Dois fatores influíram nesta decisão: a existência de
abundantes terras férteis no litoral brasileiro e o comércio altamente lucrativo do açúcar
na Europa.

Num primeiro momento os portugueses lançaram mão do trabalho escravo do índio e,


depois, do negro africano. A colonização iniciou-se, então, apoiada no seguinte tripé: a
grande propriedade rural, a monocultura de produto agrícola de larga aceitação no
mercado europeu e o trabalho escravo.

As dificuldades iniciais eram muitas. Bem maiores do que os donatários podiam


calcular. Era difícil a adaptação às condições climáticas e a um tipo de vida totalmente

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diferente do da Europa. Além disso, o alto custo do investimento não trazia retorno
imediato. Alguns donatários nem chegaram a tomar posse das terras, deixando-as
abandonadas.

Pernambuco e São Vicente foram as capitanias que mais prosperaram. Nelas haviam
ocorrido experiências de ocupação agrícola desde o período da colonização acidental.
Apesar de enfrentarem problemas comuns aos das demais capitanias, Duarte Coelho e
Martim Afonso de Sousa obtiveram sucesso. Conseguiram maior número de colonos e
estabeleceram alianças com grupos nativos.

O Governo Geral
Com a finalidade de "dar favor e ajuda" aos donatários e centralizar
administrativamente a organização da Colônia, o rei de Portugal resolveu criar, em
1548, o Governo Geral. Resgatou dos herdeiros de Francisco Pereira Coutinho a
capitania da Bahia de Todos os Santos, transformando-a na primeira capitania real ou da
Coroa, sede do Governo Geral. Esta medida não implicou a extinção das capitanias
hereditárias e até mesmo outras foram implantadas, como a de Itaparica, em 1556, e a
do Recôncavo Baiano, em 1566. No século XVII continuaram a ser criadas capitanias
hereditárias para estimular a ocupação do Estado do Maranhão.

Um Regimento instituiu o Governo Geral. O documento detalhava as funções do novo


representante do governo português na Colônia. O governador geral passou a assumir
muitas funções antes desempenhadas pelos donatários. A partir de 1720 os
governadores receberam o título de vice-rei. O Governo Geral permaneceu até a vinda
da família real para o Brasil, em 1808.

Tomé de Sousa, o primeiro governador do Brasil, chegou em 1549 e fundou a cidade de


Salvador, a primeira da Colônia. Trouxe três ajudantes para ocupar os cargos de:
provedor - mor, encarregado das finanças; ouvidor - geral, a maior autoridade da justiça;
e o de capitão - mor da costa, encarregado da defesa do litoral. Vieram também padres
jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega, encarregados da catequese dos indígenas e
de consolidar, através da fé, o domínio do território pela Coroa portuguesa.

O controle da aplicação da justiça e a expansão da fé cristã, ações atribuídas ao Governo


Geral, eram expressivas em relação ao momento pelo qual passavam as monarquias
europeias: o absolutismo e os movimentos decorrentes do surgimento do
protestantismo.

Em 1551, no governo de Tomé de Sousa, foi criado o 1º Bispado do Brasil com sede na
capitania real, sendo nomeado bispo D. Pero Fernandes Sardinha. Foram também
instaladas as Câmaras Municipais, compostas pelos "homens bons": donos de terras,
membros das milícias e do clero. Nesse período ainda foi introduzida, nessa capitania, a
criação de gado e instalados engenhos. Com essas medidas o governo português
pretendia reafirmar a soberania e a autoridade da Metrópole, e consolidar o processo de
colonização.

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Foi ainda no período do governo de Tomé de Sousa que chegou ao Brasil um
considerável número de artesãos. De início trabalharam na construção da cidade de
Salvador e, depois, na instalação de engenhos na região. Eles eram mão - de - obra
especializada tão necessária na Colônia que a Coroa lhes ofereceu, caso viessem para o
Brasil, isenção de pagamento do dízimo pelo mesmo prazo dado aos colonos.

Os governadores seguintes, Duarte da Costa (1553 - 1557) e Mem de Sá (1557 - 1572),


reforçaram a defesa das capitanias, fizeram explorações de reconhecimento da terra e
tomaram outras medidas no sentido de reafirmar e garantir a colonização. Mas
enfrentaram grandes dificuldades: choques com índios e com invasores, especialmente
os franceses; conflitos com o bispo, e com os próprios jesuítas que se opunham à
escravidão indígena, e entre antigos e novos colonos.

A União Ibérica e a Expansão Oficial


Em 1580, instalou-se uma crise sucessória em Portugal. Em 1578, o rei Dom Sebastião I
morrera na batalha de Alcácer-Quibir, no Marrocos contra os mouros, no norte da
África, não deixando herdeiros. Assumira o trono português, como regente, o cardeal
Dom Henrique, seu tio-avô, que morreu em 1580. Extinguia-se com ele a dinastia de
Avis.

Vários candidatos, por ligações de parentesco, apresentaram-se para a sucessão. Felipe


II, rei da Espanha, por ser neto de Dom Manuel, o Venturoso, e tio de D. Sebastião,
julgava-se o candidato com mais direito ao trono português. Assim, as forças
espanholas invadiram Portugal, em 1580, e Felipe II tomou a Coroa portuguesa, unindo
Portugal e Espanha. Este fato ficou conhecido como União Ibérica, que se estendeu até
1640.
O período da União Ibérica marcou uma mudança na orientação da política de
colonização do Brasil, até então baseada, principalmente, na ocupação da costa do pau-
brasil. A conquista do litoral oriental tornou-se extremamente importante para a
metrópole espanhola, como forma de ampliar a cultura canavieira e, também, facilitar a
penetração e ocupação do norte do território. Essas medidas demonstravam a
preocupação da Coroa espanhola em consolidar sua presença nessa parte do Brasil, e
evitar a ocupação estrangeira.

As alianças entre franceses e grupos nativos hostis aos portugueses tanto ameaçavam
quanto dificultavam a expansão da atividade açucareira no litoral oriental.

Potiguaras e franceses que traficavam pau-brasil e âmbar ameaçavam a capitania de


Itamaracá. A ampliação dos limites da região açucareira só foi possível a partir da
fundação da cidade de Filipéia de Nossa Senhora das Neves, por Frutuoso Barbosa, em
1584, e a conquista definitiva da Paraíba por Martim Leitão, nos três anos seguintes.

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A necessidade da ligação terrestre entre os dois principais núcleos da Colônia - Bahia e
Pernambuco - levou à conquista do território ocupado pelos caetés e frequentado por
franceses. Realizou-a Cristóvão de Barros, que fundou, em 1590, a cidade de São
Cristóvão do Rio Sergipe, núcleo irradiador da ocupação de Sergipe. Essa região ficou
subordinada administrativamente à Capitania da Bahia de Todos os Santos.

Seguindo em direção ao norte, agora sob o comando de Manuel Mascarenhas Homem,


colonizadores e colonos empreenderam a conquista do Rio Grande, onde também
ocorria uma aliança entre nativos e franceses. No início de 1590, às margens do rio
Potengi, Mascarenhas Homem ergueu o forte dos Reis Magos, origem da cidade de
Natal e ponto de partida da ocupação da quarta capitania real: Rio Grande.

No fim do século XVI, os núcleos de São Vicente e Natal eram os pontos extremos da
ocupação na América portuguesa. Entretanto, essa era uma ocupação por pontos,
interpondo-se o vazio entre eles.

A Grande Lavoura Açucareira


A economia colonial baseada na monocultura, no latifúndio e na escravidão,
direcionava-se para os interesses do mercado externo. A política mercantilista
desenvolvida pela Metrópole garantia o fortalecimento do Estado absolutista português
e, também, o enriquecimento dos comerciantes (burguesia mercantil), financiadores
desses empreendimentos.

Os primeiros incentivos da Coroa à economia açucareira consistiam em fornecer ajuda a


colonos que não dispunham de capital ou crédito necessários ao estabelecimento de um
engenho, mas que desejavam participar da economia exportadora. Os primeiros
engenhos, em várias partes do Brasil, dependeram desses lavradores de cana que
permaneceram como elementos essenciais e integrantes da economia açucareira. No
regimento de Tomé de Sousa foram feitas referências sobre sua atuação.

Desde a instalação das capitanias hereditárias, os donatários deviam distribuir terras


para promover o povoamento e iniciar a produção na Colônia. Eles tinham, entre seus
vários direitos estabelecidos pela Carta Foral, o de doar sesmarias (lote de terras
incultas) a quem fosse cristão, e tivesse condições de cultivar e defender a terra,

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tornando-a produtiva e, portanto, rentável, em um determinado prazo. Caso esse prazo
não fosse cumprido, a terra reverteria à Coroa portuguesa, podendo ser doada a outras
pessoas. Cumprindo todas essas exigências, ele se tornaria, então, um colono. A
propriedade da terra seria plena, não estabelecendo qualquer laço de dependência
pessoal entre o doador (o donatário) e aquele que a recebia (o sesmeiro), que pagaria
apenas o dízimo da Ordem de Cristo. Foi a sesmaria a base de todo o sistema de
propriedade no Brasil e a origem do latifúndio, nas fazendas agrícolas, de criação e nos
engenhos.

O Engenho Colonial
O engenho, a grande propriedade produtora de açúcar, era constituído, basicamente, por
dois grandes setores: o agrícola - formado pelos canaviais -, e o de beneficiamento - a
casa-do-engenho, onde a cana-de-açúcar era transformada em açúcar e aguardente.

No engenho havia várias construções: a casa-grande, moradia do senhor e de sua


família; a senzala, habitação dos escravos; a capela; e a casa do engenho. Esta abrigava
todas as instalações destinadas ao preparo do açúcar: a moenda - onde se moía a cana
para a extração do caldo (a garapa); as fornalhas - onde o caldo de cana era fervido e
purificado em tachos de cobre; a casa de purgar - onde o açúcar era branqueado,
separando-se o açúcar mascavo (escuro) do açúcar de melhor qualidade e depois posto
para secar. Quando toda essa operação terminava, o produto era pesado e separado
conforme a qualidade, e colocado em caixas de até 50 arrobas. Só então era exportado
para a Europa. Muitos engenhos possuíam também destilarias para produzir a
aguardente (cachaça), utilizada como escambo no tráfico de negros da África.

Canaviais, pastagens e lavoura de subsistência formavam as terras do engenho. Na


lavoura destacava-se o cultivo da mandioca, do milho, do arroz e do feijão. Tais
produtos eram cultivados para servir de alimento. Mas sua produção insuficiente não

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atendia às necessidades da população do engenho. Isto porque os senhores não se
interessavam pelo cultivo. Consideravam os produtos de baixa lucratividade e
prejudiciais ao espaço da lavoura açucareira, centro dos interesses da colonização. As
demais atividades eram deixadas num segundo plano, ocasionando grande falta de
alimentos e alta dos preços. Esse problema não atingia os senhores, que importavam os
produtos da Europa para sua alimentação.

A parte das terras do engenho destinada ao cultivo da cana - o canavial - era dividida em
partidos, explorados ou não pelo proprietário. As terras não exploradas pelo senhor do
engenho eram cedidas aos lavradores, obrigados a moer sua cana no engenho do
proprietário, entregando-lhe a metade de sua produção, além de pagar o aluguel da terra
usada (10% da produção).

A Sociedade Açucareira
A sociedade da região açucareira dos séculos XVI e XVII era composta, basicamente,
por dois grupos. O dos proprietários de escravos e de terras compreendia os senhores de
engenho e os plantadores independentes de cana. Estes não possuíam recursos para
montar um engenho para moer a sua cana e, para tal, usavam os dos senhores de
engenho. O outro grupo era formado pelos escravos, numericamente muito maior,
porém quase sem direito algum. Entre esses dois grupos existia uma faixa intermediária:
pessoas que serviam aos interesses dos senhores como os trabalhadores assalariados
(feitores, mestres-de-açúcar, artesãos) e os agregados (moradores do engenho que
prestavam serviços em troca de proteção e auxílio).

Ao lado desses colonos e colonizados situavam-se os colonizadores: religiosos,


funcionários e comerciantes.

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A sociedade açucareira era patriarcal. A maior parte dos poderes se concentrava nas
mãos do senhor de engenho. Com autoridade absoluta, submetia todos ao seu poder:
mulher, filhos, agregados e qualquer um que habitasse seus domínios. Cabia-lhe dar
proteção à família, recebendo, em troca, lealdade e deferência. Essa família podia
incluir parentes distantes, de status social inferior, filhos adotivos e filhos ilegítimos
reconhecidos. Seu poder extrapolava os limites de suas terras, expandindo-se pelas
vilas, dominando as Câmaras Municipais e a vida colonial. A casa grande foi o símbolo
desse tipo de organização familiar implantado na sociedade colonial. Para o núcleo
doméstico convergia a vida econômica, social e política da época.

A posse de escravos e de terras determinava o lugar ocupado na sociedade do açúcar.


Os senhores de engenho detinham posição mais vantajosa. Possuíam, além de escravos
e terras, o engenho. Abaixo deles situavam-se os agricultores que possuíam a terra em
que trabalhavam, adquirida por concessão ou compra. Em termos sociais podiam ser
identificados como senhores de engenho em potencial, possuindo terra, escravos, bois e
outros bens, menos o engenho. Compartilhavam com eles as mesmas origens sociais e
as mesmas aspirações.

O fato de serem proprietários independentes permitia-lhes considerável flexibilidade nas


negociações da moagem da cana com os senhores de engenho. Eram uma espécie de
elite entre os agricultores, apesar de haver entre eles um grupo que tinha condições e
recursos bem mais modestos.

Esses dois grupos - senhores de engenho e agricultores -, unidos pelo interesse e pela
dependência em relação ao mercado internacional, formaram o setor açucareiro. Os
interesses comuns, porém, não asseguravam a ausência de conflitos no relacionamento.
Os senhores de engenho consideravam os agricultores seus subalternos, que lhes deviam
não só cana - de - açúcar, mas também respeito e lealdade. As esposas dos senhores de
engenho seguiam o exemplo, tratando como criadas as esposas dos agricultores. Com o
tempo, esse grupo de plantadores independentes de cana foi desaparecendo, devido à
dependência em relação aos senhores de engenho e às dívidas acumuladas. Essa
situação provocou a concentração da propriedade e a diminuição do número de
agricultores.

Existiam também os lavradores, que não possuíam terras, somente escravos. Recorriam
a alguma forma de arrendamento de terras dos engenhos para plantar a cana. Esse
contrato impunha-lhes um pesado ônus, pois em cada safra cabia-lhes, apenas, uma
pequena parcela do açúcar produzido. Esses homens tornaram-se fundamentais à
produção do açúcar. O senhor de engenho deixava em suas mãos toda a
responsabilidade pelo cultivo da cana, assumindo somente a parte do beneficiamento do
açúcar, muito mais lucrativa.

Nesta época, o termo "lavrador de cana" designava qualquer pessoa que praticasse a
agricultura, podendo ser usado tanto para o mais humilde dos lavradores como para um
grande senhor de engenho, conforme explica o historiador americano Stuart Schwartz.

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No século XVI o açúcar tornou-se o principal produto de exportação brasileiro. Apesar
da atividade mineradora do século XVIII e da concorrência do açúcar produzido nas
Antilhas, essa posição manteve-se até o inicio do século XIX. Em todo esse tempo,
segundo Schwartz, "houve tanto bons quanto maus períodos e, embora o Brasil nunca
recuperasse sua posição relativa como fornecedor de açúcar no mercado internacional, a
indústria açucareira e a classe dos senhores de engenho permaneceram dominantes em
regiões como Bahia e Pernambuco."

A Escravidão Indígena
De modo a inserir o índio no processo de colonização os portugueses recorreram a três
métodos. O primeiro consistia na escravização pura e simples, na base da força,
empregada normalmente pelos colonos. O outro criava um campesinato indígena por
meio da aculturação e destribalização, praticadas primeiramente pelos jesuítas, e depois
pelas demais ordens religiosas. O terceiro buscava a integração gradual do índio como
trabalhador assalariado, medida adotada tanto por leigos como pelos religiosos. Durante
todo o século XVI e início do XVII os portugueses aplicaram simultaneamente esses
métodos. Naquele momento consideravam a mão-de-obra indígena indispensável aos
negócios açucareiros.

A Coroa portuguesa ficava dividida. Considerando os indígenas como súditos, era legal
e moralmente inaceitável escravizá-los. Mas a realidade ditava-lhe essa necessidade. O
valor da Colônia centrava-se, cada vez mais, na grande produção açucareira, e esta, para
ser lucrativa, exigia um grande contingente de trabalhadores escravos. Como no Brasil
havia grande possibilidade de utilizar o indígena como mão-de-obra, e os senhores de
engenho não dispunham de recursos suficientes para importar africanos, a melhor opção
era mesmo usá-la.

Assim, a Coroa portuguesa, apesar de ter começado a criar em 1570, uma legislação
para proibir a escravização indígena, deixou suficientes brechas na lei para não
extingui-la de vez, o que afetaria a produção açucareira e, consequentemente, reduziria
seus lucros.

O período de 1540 até 1570 marcou o apogeu da escravidão indígena nos engenhos
brasileiros, especialmente naqueles localizados em Pernambuco e na Bahia. Nessas
capitanias os colonos conseguiam escravos índios roubando-os de tribos que os tinham
aprisionado em suas guerras e, também, atacando as próprias tribos aliadas. Essas
incursões às tribos, conhecidas como "saltos", foram consideradas ilegais, tanto pelos
jesuítas como pela Coroa. Mas o interesse econômico falou mais alto e, dessa forma,
fazia-se vista grossa às investidas.

O regime de trabalho nos canaviais era árduo. Os jesuítas pressionaram a Coroa e


conseguiram que os senhores dessem folga aos índios aos domingos, com o objetivo de
que assistissem à missa. Mas, esgotados pelo ritmo de trabalho, eles preferiam
descansar ou ir caçar e pescar, como forma de suplementar sua alimentação. Muitos
senhores não atenderam a essa determinação régia e os índios continuaram trabalhando

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aos domingos e dias santos. Tentando resolver essa situação, os jesuítas intensificaram
as ações contra a escravidão, promovendo intenso programa de catequização nos
pequenos povoados e aldeias da região.

Ação dos Jesuítas: Catequese e Aldeamentos


Nos aldeamentos jesuíticos os índios eram educados para viver como cristãos. Essa
educação significava uma imposição forçada de outra cultura, a cristã. Os jesuítas
valiam-se de aspectos da cultura nativa, especialmente a língua, para se fazerem
compreender e se aproximarem mais dos indígenas. Esta ação incrementava a
destribalização e violentava aspectos fundamentais da vida e da mentalidade dos
nativos, como o trabalho na lavoura, atividade que consideravam exclusivamente
feminina.

Do ponto de vista dos jesuítas, a destruição da cultura indígena simbolizava o sucesso


dos aldeamentos e da política metropolitana inspirada por eles. Os religiosos
argumentavam que as aldeias não só protegiam os nativos da escravidão e facilitavam
sua conversão, mas também forneciam uma força militar auxiliar para ser usada contra
tribos hostis, intrusos estrangeiros e escravos bêbados. Entretanto, os efeitos dessa
política eram tão agressivos e aniquiladores da identidade nativa que, não raro, os índios
preferiam trabalhar com os colonos, apesar de serem atividades mais rigorosas, pois
estes pouco se envolviam com seus valores, deixando-os mais livres.

A Santidade
Enquanto os colonos, o clero e a Coroa discutiam sobre a melhor forma de conduzir a
questão indígena, os nativos tentaram, de várias maneiras, resistir à dominação
portuguesa. Uma forma de resistência indígena, conhecida pelo nome de Santidade,
ocorreu inicialmente em São Vicente, em 1551, ganhando força em Ilhéus e no
Recôncavo baiano, no final do século XVI. Oprimidos pelas ações dos jesuítas e dos
colonos, os índios usaram como forma de resistência os próprios símbolos de seus
dominadores, os símbolos da religião católica, seus rituais e figuras. Elaboraram um
culto sincrético e messiânico, misturando suas crenças e ritos aos da religião católica e
dando origem, assim, a um novo culto religioso, a Santidade.

Para Stuart Schwartz, "o culto da Santidade parece ter sido uma combinação da crença
dos tupinambás em um paraíso terrestre com a hierarquia e os ícones do catolicismo.
Centrava-se em ídolos feitos de cabaças ou pedras, dos quais se dizia possuírem poderes
sagrados. Em honra aos santos entoavam novos cânticos e realizavam cerimônias que
podiam durar dias a fio e onde se consumia grande quantidade de bebida alcoólica e
infusões de tabaco. Aparentemente esses rituais visavam a introduzir transes catatônicos
nos participantes."

Os nativos adotaram os símbolos e a hierarquia da Igreja Católica. Seus líderes


proclamavam-se "papas", que nomeavam "bispos" e também enviavam "missionários"
para difundir o culto e pregar a resistência contra os portugueses. Rezavam usando um

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terço, colocavam tábuas sagradas, como símbolos, em suas igrejas localizadas nas
propriedades dos senhores. Nelas instalavam um ídolo ao qual chamavam de Maria.
Alguns senhores de engenho, como, por exemplo, Fernão Cabral de Ataíde, aderiram ao
movimento e permitiram a celebração desses rituais em suas fazendas, motivo pelo qual
foram perseguidos pelas autoridades da Coroa.

No período entre 1560 e 1627, a Santidade sobreviveu no sul da Bahia. Índios, e mais
tarde negros escravos africanos ou crioulos fugidos, uniam-se em operações militares
contra os povoados habitados por portugueses, especialmente contra as plantações de
cana-de-açúcar e os engenhos do sul do Recôncavo. Assim, tornavam-se cada vez mais
ameaçadores e temidos.

Conforme o relato do Governador Diogo de Menezes, em 1610, havia mais de 20 mil


índios e escravos fugidos nas aldeias, onde ainda se praticava a nomeação de "bispos e
papas". Com o exacerbamento dessa situação, a Metrópole, em 1613, agiu mais
drasticamente. Declarou uma guerra de extermínio a essas aldeias, devolvendo os
fugitivos aos seus donos e vendendo os índios como escravos para outras capitanias.

A ação portuguesa foi vitoriosa, apesar de até o século XVIII haver notícias de guerra
entre os colonos e os índios, especialmente no interior da Bahia. A última referência
específica sobre a Santidade data de 1627, quando um bando atacou o engenho de
Nicolau Soares, matando escravos, saqueando a propriedade e levando os índios ali
residentes.

A Escravidão Africana

A substituição da mão-de-obra escrava indígena pela africana ocorreu,


progressivamente, a partir de 1570. As principais formas de resistência indígena à
escravidão foram as guerras, as fugas e a recusa ao trabalho, além da morte de uma
parcela significativa deles. Segundo o historiador Boris Fausto, morreram em torno de
60 mil índios, entre os anos de 1562 e 1563. As causas eram doenças contraídas pelo
contato com os brancos, especialmente os jesuítas: sarampo, varíola e gripe, para as
quais não tinham defesa biológica. Outro fator bastante importante, se não o mais
importante, na substituição de mão-de-obra indígena pela africana, era a necessidade de
uma melhor organização da produção açucareira, que assumia um papel cada vez mais
importante na economia colonial. Para conseguir dar conta dessa expansão e demanda
externa, tornou-se necessária uma mão-de-obra cada vez mais especializada, como a dos
africanos, que já lidavam com essa atividade nas propriedades dos portugueses, na Ilha
da Madeira, litoral da África.

Nessa época, a Coroa começou a tomar medidas contra a escravização dos indígenas,
restringindo as situações em que isso poderia ocorrer, como: em "guerras justas", isto é,
conflitos considerados necessários à defesa dos colonos, que assim, poderiam aprisionar
e escravizar os indígenas, ou ainda a título de punição pela prática da antropofagia.
Podia-se escravizá-los, também, como forma de "resgate", isto é, comprando os
indígenas aprisionados por tribos inimigas, que estavam prontas a devorá-los.

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Ao longo desse processo os portugueses já tinham percebido a maior habilidade dos
africanos, tanto no trato com a agricultura em geral, quanto em atividades
especializadas, como o fabrico do açúcar e trabalhos com ferro e gado. Além disso
havia o fato de que, enquanto os portugueses utilizaram a mão-de-obra indígena,
puderam acumular os recursos necessários para comprar os africanos. Essa aquisição
era considerada investimento bastante lucrativo, pois os escravos negros tinham um
excelente rendimento no trabalho.

O Tráfico Negreiro
Na Colônia, ainda no século XVI, os portugueses já haviam dado início ao tráfico
negreiro, atividade comercial bastante lucrativa. Os traficantes de escravos negros,
interessados em ampliar esse rendoso negócio, firmaram alianças com os chefes tribais
africanos. Estabeleceram com eles um comércio baseado no escambo, onde trocavam
tecidos de seda, jóias, metais preciosos, armas, tabaco, algodão e cachaça, por africanos
capturados em guerras com tribos inimigas.

Segundo o historiador Arno Wehling, "a ampliação do tráfico e sua organização em


sólidas bases empresariais permitiram criar um mercado negreiro transatlântico que deu
estabilidade ao fluxo de mão-de-obra, aumentando a oferta, ao contrário da oscilação no
fornecimento de indígenas, ocasionada pela dizimação das tribos mais próximas e pela
fuga de outras para o interior da Colônia". Por outro lado, a Igreja, que tinha se
manifestado contra a escravidão dos indígenas, não se opôs à escravização dos
africanos. Dessa maneira, a utilização da mão-de-obra escrava africana tornou-se a
melhor solução para a atividade açucareira.

Os negros trazidos para o Brasil pertenciam, principalmente, a dois grandes grupos


étnicos: os sudaneses, originários da Nigéria, Daomé e Costa do Marfim, e os bantos,
capturados no Congo, Angola e Moçambique. Estes foram desembarcados, em sua
maioria, em Pernambuco, Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Os sudaneses ficaram na
Bahia. Calcula-se que entre 1550 e 1855 entraram nos portos brasileiros cerca de quatro
milhões de africanos, na sua maioria jovens do sexo masculino.

Os navios negreiros que transportavam africanos até o Brasil eram chamados de


tumbeiros, porque grande parte dos negros, amontoados nos porões, morria durante a
viagem. O banzo (melancolia), causado pela saudade da sua terra e de sua gente, era
outra causa que os levava à morte. Os sobreviventes eram desembarcados e vendidos
nos principais portos da Colônia, como Salvador, Recife e Rio de Janeiro. Os escravos
africanos eram, de forma geral, bastante explorados e maltratados e, em média, não
aguentavam trabalhar mais do que dez anos. Como reação a essa situação, durante todo
o período colonial foram constantes os atos de resistência, desde fugas, tentativas de
assassinatos do senhor e do feitor, até suicídios.

Essas reações contra a violência praticada pelos feitores, com ou sem ordem dos
senhores, eram punidas com torturas diversas. Amarrados no tronco permaneciam dias
sem direito a comida e água, levando inumeráveis chicotadas. Eram presos nos ferros

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pelos pés e pelas mãos. Os ferimentos eram salgados, provocando dores atrozes.
Quando tentavam fugir eram considerados indignos da graça de Deus, pois, segundo o
padre Antônio Vieira, ser "rebelde e cativo" é estar "em pecado contínuo e atual"....

Escravidão: Negociação e Conflito


Para o historiador Eduardo Silva, "a escravidão não funcionou e se reproduziu baseada
apenas na força. O combate à autonomia e indisciplina escrava, no trabalho e fora dele,
se fez através de uma combinação de violência com a negociação, do chicote com a
recompensa."

Os escravos que trabalhavam na casa grande recebiam um tratamento melhor e, em


alguns casos, eram considerados pessoas da família. Esses escravos, chamados de
"ladinos" (negros já aculturados), entendiam e falavam o português e possuíam uma
habilidade especial na realização das tarefas domésticas. Os escravos chamados
"boçais", recém-chegados da África, eram normalmente utilizados nos trabalhos da
lavoura. Havia também aqueles que exerciam atividades especializadas, como os
mestres-de-açúcar, os ferreiros, e outros distingüidos pelo senhor de engenho.
Chamava-se de crioulo o escravo nascido no Brasil. Geralmente dava-se preferência aos
mulatos para as tarefas domésticas, artesanais e de supervisão, deixando aos de cor mais
escura, geralmente os africanos, os trabalhos mais pesados.

A convivência mais próxima entre senhores e escravos, na casa grande, abriu espaço
para as negociações. Esta abertura era sempre maior para os ladinos, conhecedores da
língua e das manhas para "passar a vida", e menor para os africanos recém-chegados, os
boçais. Na maioria das vezes, essas negociações não visavam à extinção pura e simples
da condição de escravo, e sim, obter melhores condições de vida: manutenção das
famílias, liberdade de culto, permissão para o cultivo em pedaço de terra do senhor, com
a venda da produção, e condições de alimentação mais satisfatórias.

Uma das formas da resistência negra era a organização dos quilombos - comunidades
livres constituídas pelos negros que conseguiam fugir com sucesso. O mais famoso
deles, o Quilombo de Palmares, formou-se na Serra da Barriga, atual Alagoas, no início
do século XVII. Resistindo por mais de 60 anos, nele viveram cerca de 200 mil negros.
Palmares sobreviveu a vários ataques organizados pela Coroa portuguesa, pelos
fazendeiros e até pelos holandeses.

Para o senhor de engenho a compra de escravos significava um gasto de dinheiro


considerável e, portanto, não desejava perdê-los, qualquer que fosse o motivo: fuga ou
morte, inutilização, por algum acidente ou por castigos aplicados pelos feitores. A perda
afetava diretamente as atividades do engenho. Outro problema a evitar era que as
revoltas se tornassem uma ameaça ao senhor e à sua família, ou à realização das tarefas
cotidianas. Dessa forma, se muitas vezes as relações entre senhores e escravos eram
marcadas pelos conflitos causados pelas tentativas dos senhores de preservar suas
conquistas, em muitos casos, a garantia dessas conquistas era justamente o que
possibilitava uma convivência mais harmoniosa entre os dois grupos.

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A Criação de Gado

A criação de gado tinha como objetivo suprir o mercado interno. O gado bovino
fornecia o couro, a carne e, além disso, era utilizado para mover a moenda dos
engenhos. Apesar de sua importância para as diversas atividades da Colônia,
considerava-se a criação do gado uma atividade secundária. Para que não prejudicasse a
produção do açúcar, ocupando e danificando o espaço do canavial, ela foi sendo levada
para o interior, cumprindo um importante papel em sua ocupação.

O Tabaco e o Algodão

O algodão e o fumo constituíram-se em importantes atividades agrícolas da economia


colonial. Durante o século XVIII, o fumo ocupou o segundo lugar no comércio de
exportação, vindo logo abaixo do açúcar. Produzido principalmente na Bahia e em
Alagoas, o tabaco, junto com a cachaça e a rapadura, foi utilizado como produto de
troca por negros na África.

Antes da chegada dos portugueses os nativos já conheciam o algodão. Com a


colonização, passou a ser usado na fabricação de tecidos para as roupas dos escravos. A
partir da segunda metade do século XVIII, devido à Revolução Industrial iniciada na
Inglaterra, houve grande desenvolvimento na produção de tecidos na Europa, e o
algodão passou a ser importante item de exportação, tendo no Maranhão seu principal
produtor.

Invasões Holandesas
Os holandeses participaram do empreendimento açucareiro no Brasil, desde o início.
Financiaram a instalação de engenhos e tornaram-se os maiores responsáveis pelo
processo de refinamento do açúcar e por sua comercialização na Europa. Este
empreendimento era tão importante para eles que, entre os anos de 1621 e 1622, o
número de refinarias de açúcar no norte da Holanda cresceu de três para vinte e nove.
Os holandeses obtinham lucro significativo com a venda de açúcar refinado para os
demais países europeus. Portanto, nem imaginavam abrir mão desse comércio.

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Impedidos desde a União Ibérica por sua arquirrival, a Espanha, de continuar a
participar dos lucros da indústria açucareira brasileira, os holandeses fundaram, em
1621, a Companhia das Índias Ocidentais: uma empresa comercial, cujo objetivo era
centralizar e mobilizar os investimentos comerciais na área do Atlântico, especialmente
os negócios com produtores de açúcar do Brasil, os senhores de engenho. Entretanto,
logo perceberam que para retomar esses contatos, não havia saída pacífica, sendo
necessária uma invasão.

O governo da República das Províncias Unidas, concedeu à Companhia o monopólio do


tráfico, navegação e comércio por 24 anos nas costas atlânticas da América e da África,
além de autorizá-los a construir fortificações, nomear funcionários, organizar tropas e
estabelecer colônias.

A capitania escolhida para a primeira investida da Companhia no Brasil foi a da Bahia.


Vários foram os motivos: os lucros com o açúcar cobririam os gastos com a conquista e
o tráfico negreiro era sempre uma possibilidade de lucro. A invasão ocorreu em 1624, e
no primeiro momento, os holandeses venceram. Conquistaram a cidade, prenderam e
mandaram o governador Diogo de Mendonça Furtado para a Holanda. Mas a Espanha
enviou para a Bahia uma poderosa esquadra, composta por 52 navios de guerra, com
cerca de 12 mil homens e, em maio de 1625, os holandeses se renderam, sendo expulsos
da região.

Refeitos dos prejuízos, por conta de pilhagens a navios espanhóis carregados de metais
preciosos, os holandeses voltaram a invadir a Colônia em 1630, agora pela capitania de
Pernambuco, maior centro produtor de açúcar da Colônia e do mundo. Ali travaram-se
intensos combates pela posse da terra. Após uma série de derrotas, Matias de
Albuquerque refugiou-se no interior da capitania, fundando o Arraial de Bom Jesus,
entre Olinda e Recife. O Arraial tornou-se o centro da resistência contra os holandeses
até 1635. Os holandeses instalados inicialmente em Recife e Olinda, alguns anos depois
estenderam seu domínio às demais capitanias do litoral nordestino.

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Governo de Maurício de Nassau
Para consolidar sua conquista, a Companhia nomeou como governador o conde João
Maurício de Nassau, que atuou nos domínios holandeses de 1637 até 1644. Nassau logo
percebeu que, para pacificar a região e melhor poder administrá-la, teria que estabelecer
boas relações com seus moradores mais ilustres, os senhores de engenho. Para tal,
proibiu a agiotagem praticada por agentes holandeses e conseguiu auxílio financeiro, na
forma de crédito, para que reconstruíssem seus engenhos, destruídos nos cinco anos de
combate. Diminuiu os tributos e ainda conseguiu a encampação das dívidas de alguns
senhores, sustando, também, a penhora de seus bens. Além disso deu maior liberdade na
venda de açúcar, cuja produção vinha se normalizando, e garantiu a liberdade religiosa
aos cristãos. Esta medida gerou insatisfação entre os calvinistas (protestantes)
holandeses.

Nassau também se preocupou com o embelezamento e a modernização de Recife,


pavimentando ruas, drenando pântanos, construindo pontes e canais sobre os rios
Capiberibe e Beberibe, transformando o pequeno vilarejo em moderno centro urbano.
Trouxe também para Recife várias missões artísticas e científicas, procurando criar um
ambiente cultural semelhante ao que se desfrutava na Europa.

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A Restauração: O Fim da União Ibérica e as Consequências para a
Colônia
Em 1640 chegou ao fim a União Ibérica, graças ao movimento que ficou conhecido
como Restauração (recuperação). Este movimento significou o retorno da autonomia
política de Portugal, agora sob a dinastia dos Bragança, sendo seu primeiro rei D. João
IV. A aliança entre os portugueses e a República das Províncias Unidas, sua aliada na
luta pela independência contra a Espanha, propiciou uma trégua aos combates, o que foi
muito bom para os negócios holandeses na Colônia.

No entanto, desde a saída de Conde Maurício de Nassau do governo dominado pelos


holandeses na América, em 1644, foi-se ampliando um clima de descontentamento entre
os colonos, provocado por incompatibilidades com o novo rumo dado à administração
da capitania pela Companhia das Índias, considerado prejudicial aos seus negócios.
Entre outras coisas, a Companhia passou a cobrar os empréstimos concedidos por
Nassau, e quando esses não eram pagos, os juros aplicados eram extorsivos. E isso
numa época de má colheita, provocada por secas e inundações alternadas e a queda de
preço internacional do açúcar, em torno de 25%. Além do mais, os holandeses passaram
a exercer um controle rigoroso na questão religiosa, perseguindo os católicos. Proibiam
a vinda de novos padres para substituir os que morriam ou adoeciam.

Em 1645 teve início um movimento de revolta contra o domínio holandês que ficou
conhecido como Insurreição Pernanbucana.

Lideraram o movimento: os senhores de engenho João Fernandes Vieira e André Vidal


de Negreiros, o índio Filipe Camarão, e o negro Henrique Dias. Após violentas lutas,
como o combate do Monte das Tabocas (1645) e as duas batalhas dos Guararapes (1648
e 1649), os holandeses foram finalmente derrotados.

Embora expulsos do Brasil, os holandeses somente reconheceram a perda do litoral


nordestino em 1661, quando assinaram a Paz de Haia com Portugal e, em 1669,
acertaram o recebimento de uma grande indenização por conta das terras perdidas.

A expulsão dos holandeses do Brasil gerou sérios problemas para a economia da


Colônia portuguesa na América. Eles passaram a produzir açúcar nas Antilhas, região
da América Central, comercializando-o a um preço mais baixo na Europa. Além disso
detinham o domínio sobre os mercados consumidores europeus. A concorrência do
açúcar antilhano provocou a queda do preço do açúcar em cerca de 50% e determinou o
fim do monopólio português sobre o produto. Foi o início da decadência da empresa
açucareira no Brasil.

A "Nobreza da Terra" e os Mascates


Os senhores de engenho consideravam o movimento que lideravam para a expulsão dos
holandeses como uma Restauração - à semelhança da Restauração que devolvera a
independência ao Reino português em 1640. Por essa razão, autodenominavam-se

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"restauradores". A partir da segunda metade do século XVII, os senhores de engenho,
descendentes desses homens, reivindicaram o estatuto de uma "nobreza da terra". A
restauração tornou-se a bandeira das suas reivindicações junto à Coroa portuguesa. Isso
significava distinguir, claramente, aqueles que à custa de "sangue, vidas e fazendas",
enfrentaram os holandeses na luta pela restituição da capitania de Pernambuco à Coroa,
dos que chegaram depois para aproveitar-se da nova situação.

Na segunda metade do século XVII, em Pernambuco, havia uma nítida disputa de poder
entre os habitantes de Olinda, ricos senhores de engenho, e os moradores de Recife,
comerciantes portugueses. Os senhores de engenho consideravam-se "nobres", os
grandes aliados da Coroa portuguesa e, por conta disso, queriam ser tratados com
distinção.

Entretanto, "com a ascensão de Dom João V ao trono português, em 1706, a Coroa


abandonou sua política de benevolência para com a "nobreza da terra", tratando de
cortar-lhe as asas e de aliar-se ao comércio reinól, numa reversão de alianças", segundo
o historiador pernambucano Evaldo Cabral de Mello.

Não podendo mais contar com o apoio prestigioso da Coroa, os senhores de engenho de
Olinda tentaram através da sua Câmara Municipal, uma ação contra os comerciantes
portugueses de Recife, aos quais chamavam de forma depreciativa de mascates.
Conseguiram bloquear, contra a vontade dos governadores e até mesmo contra uma
decisão da Metrópole, a entrada dos recifenses na Câmara Municipal de Olinda.

Em 1710, buscando contornar a situação, o rei Dom João V elevou o povoado do Recife
à condição de vila, com uma Câmara Municipal que passou a ser controlada pelos
comerciantes portugueses. Deixou a de Olinda à "nobreza da terra" e aos descendentes
dos restauradores. Dessa forma conseguiu esvaziar, progressivamente, o antigo poder
dos vereadores olindenses. "Na segunda metade do século XVIII, a Câmara de Olinda,
reduzida à gestão acanhada de uma cidade decrépita, conferia mais honra do que
poder", recorda o historiador pernambucano.

Para complicar ainda mais essa disputa, no final do século XVII e início do XVIII,
houve uma grande queda do preço do açúcar, e os senhores de engenho viram suas
fortunas encolher. Passaram a pedir empréstimo aos comerciantes, os mascates, que lhes
cobravam altos juros. Enquanto aqueles ficavam mais pobres, esses se tornavam cada
vez mais ricos, ganhando maior "status" na sociedade.

Esses dois fatores acirraram a disputa, estimulando ódios e provocações entre os dois
grupos, culminando com a chamada Guerra dos Mascates, ainda em 1710. O governo
português interveio na disputa para acabar com os conflitos, garantindo apoio à causa
dos comerciantes portugueses. Em 1711 Recife tornou-se a capital da capitania de
Pernambuco, caracterizando a decadência de Olinda e o começo do fim da época áurea
dos grandes senhores de engenho do Nordeste.

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Conflitos Internos na Colônia
As Revoltas do Período Colonial Brasileiro se dividiram entre interesses “nativistas”
(regionais), e interesses separatistas.

Entre as revoltas nativistas mais importantes estão: Quilombo dos Palmares, Revolta de
Beckman, Guerra dos Emboabas, Guerra dos Mascates e a Revolta de Filipe dos Santos.
São revoltas separatistas: Inconfidência Mineira e Conjuração Baiana.

Revoltas Nativistas ou Regionais


As revoltas nativistas foram aquelas que tiveram como causa principal o
descontentamento dos colonos brasileiros com as medidas tomadas pela coroa
portuguesa. Ocorreram entre o final do século XVII e início do XVIII. A maior parte
destas revoltas foi reprimida com violência pela coroa portuguesa, como forma de
controlar seu domínio sobre a colônia brasileira.

Causas:

portugueses, principalmente os
comerciantes.

xtração de
ouro realizada pelos colonos brasileiros.

ão colonial praticada por Portugal.

Quilombo dos Palmares (1630-1694)


Durante todo o período em que a escravidão foi vigente, os cativos empreenderam
formas diversas de escaparem daquela ordem marcada pela repressão e o controle.
Dentre as várias manifestações de resistência, os quilombos, também conhecidos como
mocambos, funcionavam como comunidades de negros fugidos que conseguiam escapar
do controle de seus proprietários.

Sendo local de refúgio, os escravos escolhiam localidades de difícil acesso que


impedissem uma possível recaptura. Além disso, os quilombos também eram
estrategicamente próximos de algumas estradas onde poderiam realizar pequenos
assaltos que garantissem a sua sobrevivência. Não sendo abrigo apenas de escravos, os
quilombos também abrigavam índios e fugitivos da justiça.
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Um dos quilombos mais conhecidos da história brasileira foi Palmares, instalado na
serra da Barriga, atual região de Alagoas. Com o passar do tempo, Palmares se
transformou em uma espécie de confederação, que abrigava os vários quilombos que
existiam naquela localidade. Seu crescimento ocorreu principalmente entre as décadas
de 1630 e 1650, quando a invasão dos holandeses prejudicou o controle sobre a
população escrava.

A prosperidade e a capacidade de organização desse imenso quilombo representaram


uma séria ameaça para a ordem escravocrata vigente. Não por acaso, vários governos
que controlaram a região organizaram expedições que tinham por objetivo estabelecer a
destruição definitiva de Palmares. Contudo, os quilombolas resistiram de maneira eficaz
e, ao longo de oitenta anos, conseguiram derrotar aproximadamente trinta expedições
militares organizadas com este mesmo objetivo.

Mediante a resistência daquela população quilombola e não mais suportando a exaustão


das derrotas, o governador de Pernambuco, Aires Sousa e Castro, e Ganga Zumba,
importante líder palmarino, assinaram o chamado “acordo de 1678” ou “acordo de
Recife”. Por esse tratado, o governo pernambucano reconhecia a liberdade de todos os
negros nascidos em Palmares e concedia a utilização dos terrenos localizados na região
norte de Alagoas.

Alguns membros do Quilombo não aceitaram o termo estabelecido por Ganga Zumba,
que acabou sendo envenenado por seus opositores quilombolas. A partir de então, o
controle de Palmares passou para as mãos de Zumbi, que não aceitava negociar com as
autoridades e preferia sustentar a situação de conflito. Com essa opção, estava traçado o
caminho que culminaria na destruição deste grande quilombo.

Em 1694, sob a liderança do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, as forças


oficiais começaram a impor a desarticulação de Palmares. Inicialmente, mesmo
ocorrendo a destruição quase definitiva, Zumbi e alguns resistentes fugiram, se
organizaram e continuaram lutando. No ano seguinte, Zumbi foi morto e degolado pelos
bandeirantes, que enviaram a sua cabeça até Recife como símbolo maior da vitória
contra os quilombolas palmarinos.

Atualmente, as lideranças do movimento negro brasileiro reverenciam a ação heroica


dos palmarinos e prestigiam Zumbi como um símbolo de resistência. No dia 20 de
novembro, mesma data em que Zumbi foi morto, é comemorado o Dia da Consciência
Negra. Certamente, Palmares demonstra que a hegemonia da ordem escravocrata foi
colocada em dúvida por aqueles indivíduos que negaram se subordinar ao status quo da
época.

A Aclamação de Amador Bueno da Ribeira – Vila de São Paulo (1641)


Foi um protesto contra o fim do comércio com a região do Rio da Prata, provocado pela
Restauração Portuguesa, bem como, contra repressão à escravidão indígena. A
população aclamou o comerciante Amador Bueno da Ribeira como “rei da Vila de São

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Paulo, que se recusou a participar do movimento. Dias depois, as autoridades
pacificaram a população.

A Revolta de Nosso Pai - Pernambuco (1666)


Foi causada pelas dificuldades econômicas no período após a expulsão dos holandeses e
pela nomeação de Jerônimo de Mendonça Furtado para governar Pernambuco. Um
grupo, do qual faziam parte senhores de engenho. padres, vereadores e até o Juiz de
Olinda, organizou uma falsa procissão de Nosso Pai, na qual foi preso o Governador.
Mais tarde foi nomeado André Vidal de Negreiros como novo Governador de
Pernambuco, acalmando os ânimos.

Revolta dos Beckman (1684)


Os comerciantes reclamavam do monopólio da Companhia de Comércio do Maranhão.
Os proprietários rurais contestavam os preços pelos quais a Companhia pagava por seus
produtos. Já grande parte da população maranhense estava insatisfeita com a baixa
qualidade e altos preços cobrados pelos produtos manufaturados comercializados pela
Companhia na região. Outros produtos como trigo, bacalhau e vinho chegavam à região
em quantidade insuficiente, demoravam para chegar e ainda vinham em péssimas
condições para o consumo. Havia também o problema de falta de mão-de-obra escrava
na região.

Os escravos fornecidos pela Companhia eram insuficientes para as necessidades dos


proprietários rurais. Uma solução seria a escravização de indígenas, porém os jesuítas
eram contrários. O objetivo principal da revolta era finalizar as atividades da
Companhia de Comércio do Maranhão, para acabar com monopólio.

Na noite de 24 de fevereiro de 1684, os irmãos Manuel e Tomás Beckman, dois


proprietários rurais da região, com o apoio de comerciantes, invadiram e saquearam um
depósito da Companhia de Comércio do Maranhão.

Os revoltosos também expulsaram os jesuítas da região e tiraram do poder o


governador. A corte portuguesa enviou ao Maranhão um novo governador para acabar
com a revolta e colocar ordem na região. Os revoltosos foram presos e julgados. Os
irmãos Beckman e Jorge Sampaio foram condenados à forca.

A Revolta de Beckman foi mais um movimento nativista que mostra os conflitos de


interesses entre os colonos e a metrópole. Foi uma revolta que mostrou os problemas de
mão-de-obra e abastecimento na região do Maranhão. As ações da coroa portuguesa,
que claramente favoreciam Portugal e prejudicava os interesses dos brasileiros, foram,
muitas vezes, motivos de reações violentas dos colonos. Geralmente eram reprimidas
com violência, pois a coroa não abria mão da ordem e obediência em sua principal
colônia.

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Guerra dos Emboabas (1707-1709)
Conflito armado ocorrido na região das Minas Gerais entre os anos de 1707 e 1709,
envolvendo os bandeirantes paulistas e os emboabas (portugueses e imigrantes de outras
regiões do Brasil).

O confronto tinha como causa principal a disputa pela exploração das minas de ouro
recém-descobertas na região das Minas Gerais. Os paulistas queriam exclusividade na
exploração da região, pois afirmavam que tinham descoberto as minas. Os emboabas
eram liderados pelo português Manuel Nunes Viana.

Os paulistas eram comandados pelo bandeirante Borba Gato.

O conflito mais importante e sangrento ocorreu em novembro de 1708 no distrito de


Ouro Preto. Os emboabas dominaram a região das minas e os paulistas se refugiaram na
área do Rio das Mortes. Os paulistas foram derrotados e a Coroa Portuguesa criou a
Capitania de São Paulo e Minas de Ouro.

Consequências:

assumiu a
exploração de ouro na região das Minas Gerais.

da região das Minas Gerais, foram procurar em


busca de ouro nas regiões de Goiás e Mato Grosso. Encontraram nestas áreas novas
minas para explorar.

Guerra dos Mascates (1710-1711)


Com a expulsão dos holandeses do Nordeste, a economia açucareira sofreu uma grave
crise. Mesmo assim, a aristocracia rural (senhores de engenho) de Olinda continuava
controlando o poder político na capitania de Pernambuco. Por outro lado, Recife se
descolava deste cenário de crise graças à intensa atividade econômica dos mascates
(como eram chamados os comerciantes portugueses na região).

Outra fonte de renda destes mascates eram os empréstimos, a juros altos, que faziam aos
olindenses.

Causas:

se econômica na cidade de Olinda.

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e passou a
ser vila independente, conquistando autonomia política com relação à Olinda.

A aristocracia rural de Olinda temia que Recife, além de ser o centro econômico,
passasse a ser também o centro político de Pernambuco.

Escopos:

m manter o controle político na região, sobretudo com relação à


próspera cidade de Recife.

povoado.

iando os
mascates (comerciantes de Recife). Logo, defendiam a igualdade de tratamento.

Em 1710, havia um clima de hostilidades e tensão entre as duas cidades pernambucanas.


Neste ano, os olindenses invadiram Recife dando início a Guerra dos Mascates. Num
primeiro momento da guerra, os olindenses levaram vantagem, porém, em 1711 os
recifenses se organizaram e invadiram Recife.

A guerra terminou em 1711 após a coroa portuguesa nomear, para governador de


Pernambuco, Félix José Machado.

Consequências:

r de Pernambuco ordenou a prisão dos principais líderes do movimento.

-se a sede administrativa de Pernambuco.

Revolta de Vila Rica (1720)


Durante as primeiras décadas após a descoberta de ouro na região das Minas Gerais, a
colônia de Portugal na América passou a ser fiscalizada mais de perto pelos
funcionários da Coroa Portuguesa.

A exploração do ouro, sua comercialização e circulação entre os habitantes das vilas da


região das Minas sem que houvesse uma rígida fiscalização não agradavam a Metrópole
portuguesa. A criação de impostos e a intensificação de suas cobranças também não
agradavam os habitantes da região. Foi nesse contexto de tensão social que eclodiu a
Revolta de Vila Rica, também conhecida como Revolta de Filipe dos Santos.

Em 1719, a Coroa Portuguesa passou a intensificar a cobrança do quinto através das


Casas de Fundição. O quinto consistia na entrega à Metrópole da quinta parte (20%) do
ouro extraído nas minas. Nas Casas de Fundição, o ouro era fundido, em barras, o que

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facilitava o controle sobre sua circulação, garantia a eficiência da cobrança e evitava o
contrabando, realizado geralmente com o ouro em pó.

Essas medidas de maior controle de fiscalização desagradavam boa parte da população


de Vila Rica, tanto as camadas mais altas da sociedade quanto as camadas mais baixas.
Com essa insatisfação, em julho de 1720, os sediciosos deram início à Revolta de Vila
Rica. Os grupos armados formados por escravos e homens livres desceram dos morros
ao redor para o centro cidade, onde invadiram casas para ampliar o apoio à luta. Os
sediciosos invadiram ainda a casa do Ouvidor da vila, destruindo papeis oficiais, à
frente da multidão revoltosa. Poucos dias depois, Vila Rica estava nas mãos dos
revoltosos.

Entre outros participantes da revolta encontravam-se militares, religiosos, doutores,


camaristas e comerciantes, bem como negros e/ou índios flecheiros. Entre eles,
encontrava-se Filipe dos Santos, tropeiro de origem portuguesa, que ganhava a vida
trabalhando na troca de mercadorias proporcionada pelo comércio interno que se
desenvolvia naquele período colonial, insuflado pela riqueza do ouro e a incipiente
urbanização da região das Minas.

O objetivo deles era extinguir as Casas de Fundição, forçar a retirada de D. Pedro de


Almeida, Conde de Assumar, do cargo de governador da capitania das Minas, além da
acusação de corrupção a diversos outros funcionários da Coroa no local. Como o Conde
não se encontrava em Vila Rica, mas sim em Vila do Carmo, foi para lá que os
revoltosos se dirigiram para verem atendidas as suas reivindicações.

Conde de Assumar recebeu os revoltosos e iniciou negociações, afirmando que iria


atender às reivindicações. Tal postura nada mais era que uma forma de ganhar tempo
para reunir forças militares capazes de enfrentar os grupos que haviam se sublevado.
Em 17 de julho de 1720, o Conde de Assumar decretou a prisão dos líderes da Revolta,
após conseguir reunir cerca de 1500 homens armados que se dirigiram para Vila Rica.
Em dois dias, a rebelião foi reprimida e os líderes presos. Em 19 e 20 de julho, Filipe
dos Santos foi julgado e condenado à morte pela participação na Revolta. Ele foi
arrastado pelas ruas da cidade e esquartejado. O objetivo era que sua morte servisse de
exemplo aos que ousassem enfrentar os funcionários e a Coroa Portuguesa,
principalmente no que se referia à cobrança de impostos sobre a exploração das riquezas
minerais da colônia.

As consequências da Revolta de Vila Rica foram a separação da região das minas da


capitania de São Paulo e o aumento da fiscalização sobre a extração aurífera, garantindo
assim o envio do ouro para a Metrópole.

Revoltas Separatistas
Ao atingirmos o século XVIII, observamos que as contradições entre a colônia e a
metrópole se aprofundavam de um modo diferente. Nessa época, alguns integrantes da
elite econômica e intelectual da colônia se influenciaram pelas críticas fundamentadas

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pelo pensamento iluminista. De acordo com tal pensamento, as relações coloniais eram
contaminadas por práticas autoritárias que iriam contra a defesa da liberdade dos
homens.

De fato, relembrando que o século XVIII é marcado pelo auge da atividade mineradora,
vemos que Portugal desenvolveu a cobrança de vários impostos abusivos e ampliou
seus métodos de controle sobre a produção de riqueza no espaço colonial. Em pouco
tempo, discussões secretas e panfletos misteriosos circulavam denunciando os abusos
das autoridades metropolitanas e a necessidade de completa autonomia para a resolução
dos problemas sociais, políticos e econômicos daquela época.

Mesmo que saindo em defesa do fim do pacto colonial, vemos que muitos participantes
das rebeliões separatistas não almejavam a uma ampla transformação com a
independência. Isso acontecia porque alguns separatistas compunham a elite econômica
colonial e, por tal razão, não pretendiam abandonar os antigos hábitos que legitimavam
sua situação econômica confortável. Sendo assim, as rebeliões separatistas não raro se
aproximavam de propostas visivelmente elitistas.

Inconfidência Mineira (1789)


A Inconfidência Mineira, ou Conjuração Mineira, foi uma tentativa de revolta abortada
pelo governo em 1789, em pleno ciclo do ouro, na então capitania de Minas Gerais, no
Brasil, contra, entre outros motivos, a execução da derrama e o domínio português.

Foi um dos mais importantes movimentos sociais da História do Brasil. Significou a


luta do povo brasileiro pela liberdade, contra a opressão do governo português no
período colonial.

No final do século XVIII, o Brasil ainda era colônia de Portugal e sofria com os abusos
políticos e com a cobrança de altas taxas e impostos. Além disso, a metrópole havia
decretado uma série de leis que prejudicavam o desenvolvimento industrial e comercial
do Brasil. No ano de 1785, por exemplo, Portugal decretou uma lei que proibia o
funcionamento de indústrias fabris em território brasileiro.

Causas:

Neste período, era grande a extração de ouro, principalmente na região de Minas Gerais.
Os brasileiros que encontravam ouro deviam pagar o quinto, ou seja, vinte por cento de
todo ouro encontrado acabava nos cofres portugueses. Aqueles que eram pegos com
ouro “ilegal” (“sem ter pagado o imposto”) sofria duras penas, podendo até ser
degredado (enviado a força para o território africano). Com a grande exploração, o ouro
começou a diminuir nas minas. Mesmo assim as autoridades portuguesas não
diminuíam as cobranças.

Nesta época, Portugal criou a Derrama. Esta funcionava da seguinte forma: cada região
de exploração de ouro deveria pagar 100 arrobas de ouro (1500 quilos) por ano para a
metrópole. Quando a região não conseguia cumprir estas exigências, soldados da coroa

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entravam nas casas das famílias para retirarem os pertences até completar o valor
devido.

Todas estas atitudes foram provocando uma insatisfação muito grande no povo e,
principalmente, nos fazendeiros rurais e donos de minas que queriam pagar menos
impostos e ter mais participação na vida política do país. Alguns membros da elite
brasileira (intelectuais, fazendeiros, militares e donos de minas), influenciados pelas
ideias de liberdade que vinham do iluminismo europeu, começaram a se reunir para
buscar uma solução definitiva para o problema: a conquista da independência do Brasil.

Os Inconfidentes:

O grupo, liderado pelo alferes Joaquim José da Silva Xavier, conhecido por Tiradentes
(saiba mais sobre ele) era formado pelos poetas Tomas Antonio Gonzaga e Cláudio
Manuel da Costa, o dono de mina Inácio de Alvarenga, o padre Rolim, entre outros
representantes da elite mineira.

A ideia do grupo era conquistar a liberdade definitiva e implantar o sistema de governo


republicano em nosso país. Sobre a questão da escravidão, o grupo não possuía uma
posição definida. Estes inconfidentes chegaram a definir até mesmo uma nova bandeira
para o Brasil. Ela seria composta por um triangulo vermelho num fundo branco, com a
inscrição em latim: Libertas Quae Sera Tamen (Liberdade ainda que tardia).

Conjuração do Rio de Janeiro (1794)


Em 1794, os membros da Sociedade Literária do Rio de Janeiro, liderados por Ildefonso
Costa Abreu, Silva Alvarenga, Mariano José Pereira da Fonseca e João Marques Pinto,
foram presos por ordem do vice-rei Conde de Resende, acusados de conspiração contra
a Coroa Portuguesa. Dois anos depois, foram libertados por falta de provas.

Conjuração Baiana (1798)


No final do século XVIII, países do mundo inteiro passavam por um intenso processo
de transição política, motivados pelo ideal de liberdade, igualdade e fraternidade
disseminado pela Revolução Francesa, que ocorreu em 1789.

Por mais que estourassem revoltas contra a colônia portuguesa no Brasil, muitas dessas
organizações populares eram movidas por interesses particulares dos grandes donos de
terra e da elite oposicionista.

Na avalanche da Revolução Francesa, a Conjuração Baiana (ou Revolta dos Alfaiates)


aconteceu em 1798 e tinha caráter emancipacionista: exigia, a qualquer custo, a
independência do domínio português.

Quando Salvador deixou de ser a capital brasileira, acabou perdendo boa parte dos
investimentos da Coroa e passou a ter papel secundário diante da nova capital, o Rio de
Janeiro. A população baiana acabou sofrendo com a crise econômica do estado. A

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violência aumentava cada vez mais com o constante saqueamento de propriedades
privadas e mercadorias.

A partir de então, as ideias radicais foram surgindo. Quem se destacou na propagação


da revolta foi o médico Cipriano Barata. Ele organizou a população mais humilde, como
escravos e pequenos camponeses, para difundir mensagens e panfletos incitando mais
revoltosos para aderir à revolução.

Uniram-se ao levante de Barata mulatos, escravos, negros livres, comerciantes, artesãos,


religiosos, soldados, setores populares e, especialmente, muitos alfaiates. No
movimento, destacaram-se os alfaiates João de Deus do Nascimento e Manuel Faustino
dos Santos Lira, sob chefia militar do tenente Aguilar Pantoja, que contava com o apoio
dos soldados Luís Gonzaga das Virgens e Lucas Dantas Amorim Torres.

Percebendo o perigo de uma organização popular em grande escala, o rei de Portugal D.


Fernando infiltrou homens de seu exército com os revoltosos e acabou surpreendendo-
os. O rei conseguiu prender a maioria dos envolvidos e não hesitou em torturá-los.
Revoltosos mais pobres, como Faustino e Nascimento, foram condenados
imediatamente à morte por enforcamento, enquanto que os intelectuais e mais abastados
Barata e o professor Francisco Moniz foram absolvidos pela Coroa.

Apesar de não ter sido concretizado em sua totalidade, a Conjuração Baiana é


considerada uma importante revolta popular. Muito além da pretensão de derrubar a
monarquia, a revolta pôs em xeque as questões sociais do país e deu impulsão para o
surgimento das primeiras campanhas abolicionistas do país.

A Conspiração dos Suassunas (1801)


Todos os movimentos de conjuração refletiram a insatisfação e a inquietação que
atingia a Colônia. No entanto, naquele momento, apresentavam-se como manifestações
regionais. Não havia o sentimento de libertar o Brasil, apenas o desejo de libertar a
região. A dificuldade dos meios de transporte, ocasionando a formação de núcleos
isolados, que mal se comunicavam, e o analfabetismo faziam com que o acesso às ideias
liberais francesas fosse privilégio de muito poucos.

As "infames ideias francesas" alcançaram também a Capitania de Pernambuco. Em


1798, o padre Arruda Câmara fundou uma sociedade secreta chamada Areópago de
Itambé, provavelmente ligada à Maçonaria, que "...tinha por fim tornar conhecido o
Estado Geral da Europa, os estremecimentos dos governos absolutos, sob o influxo das
ideias democráticas..." Em 1801, influenciados pelos ideais republicanos, os irmãos
Suassuna, Francisco de Paula, Luís Francisco e José Francisco de Paula Cavalcante de
Albuquerque, proprietários do Engenho Suassuna lideraram uma conspiração que se
propunha a elaborar um projeto de independência de Pernambuco. Os conspiradores
foram denunciados e presos e, mais tarde, libertados por falta de provas.

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Exercícios
1. A elevação de Recife à condição de vila; os protestos contra a implantação das
Casas de Fundição e contra a cobrança de quinto; a extrema miséria e carestia
reinantes em Salvador, no final do século XVIII, foram episódios que colaboraram,
respectivamente, para as seguintes sublevações coloniais:

a) Guerra dos Emboabas, Inconfidência Mineira e Conjura dos Alfaiates.

b) Guerra dos Mascates, Motim do Pitangui e Revolta dos Malês.

c) Conspiração dos Suassunas, Inconfidência Mineira e Revolta do Maneta.

d) Confederação do Equador, Revolta de Felipe dos Santos e Revolta dos Malês.

e) Guerra dos Mascates, Revolta de Felipe dos Santos e Conjura dos Alfaiates.

2. A Guerra dos Emboabas (1707-1709) e a Inconfidência Mineira (1789) foram


revoltas ocorridas no Brasil.

Sobre elas, assinale a alternativa correta:

a) Ambas tinham o objetivo de separar o Brasil de Portugal e ocorreram na região da


mineração.

b) A primeira e considerada uma revolução separatista e mais radical do que a segunda,


tendo ocorrido na região de São Paulo e liderada pelos Bandeirantes.

c) Tanto a primeira como a segunda foram influenciadas pelas ideias iluministas e pela
independência das Treze Colônias inglesas, mas só a segunda teve êxito nos seus
objetivos.

d) A primeira foi bem-sucedida, garantindo aos paulistas a posse da região da


mineração, enquanto a segunda foi reprimida pela Coroa portuguesa antes de acontecer.

e) Ambas ocorreram na mesma região do Brasil, contra a dominação portuguesa na área


da mineração, no entanto, somente a segunda teve influência das ideias iluministas
europeias.

3. "A confrontação entre a loja e o engenho tendeu principalmente a assumir a


forma de uma contenda municipal, de escopo jurídico-institucional, entre um
Recife florescente que aspirava à emancipação e uma Olinda decadente que
procurava mantê-lo numa sujeição irrealista. Essa ingênua fachada municipalista
não podia, contudo, resistir ao embate dos interesses em choque. Logo revelou-se o
que realmente era, o jogo de cena a esconder uma luta pelo poder entre o credor
urbano e o devedor rural."

(Evaldo Cabral de Mello. A fronda dos mazombos, São Paulo, Cia. das Letras,
1995, p. 123).

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O autor refere-se:

a) ao episódio conhecido como a Aclamação de Amador Bueno.

b) à chamada Guerra dos Mascates.

c) aos acontecimentos que precederam a invasão holandesa de Pernambuco.

d) às consequências da criação, por Pombal, da Companhia Geral de Comércio de


Pernambuco.

e) às guerras de Independência em Pernambuco.

4. A Guerra dos Emboabas, a dos Mascates e a Revolta de Vila Rica, verificadas


nas primeiras décadas do século XVIII, podem ser caracterizadas como:

a) movimentos isolados em defesa de ideias liberais, nas diversas capitanias, com a


intenção de se criarem governos republicanos;

b) movimentos de defesa das terras brasileiras, que resultaram num sentimento


nacionalista, visando à independência política;

c) manifestações de rebeldia localizadas, que contestavam alguns aspectos da política


econômica de dominação do governo português;

d) manifestações das camadas populares das regiões envolvidas, contra as elites locais,
negando a autoridade do governo metropolitano.

e) manifestações separatistas de ideologia liberal contrárias ao domínio português.

5. Sobre os movimentos que questionaram a dominação colonial na América


portuguesa, assinale (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) paras as afirmativas
falsas.

( ) A Inconfidência ou Conjuração Mineira (1789) reunia intelectuais, clérigos,


advogados, mineradores, proprietários, militares, etc.; dentre outros objetivos,
pretendia proclamar uma república em Minas Gerais.

( ) Os sentimentos de liberdade e independência dos inconfidentes de Minas Gerais


foram alimentados pelos ideais iluministas e influenciados pela Independência dos
EUA (1776). Mas nem chegaram a decretar a revolução, pois foram delatados por
um dos seus companheiros.

( ) O movimento baiano (1798), também influenciado pelas ideias de liberdade,


igualdade e fraternidade da Revolução Francesa (1789), teve um caráter popular e
contou com a participação de pequenos comerciantes, soldados, artesãos, alfaiates,
negros libertos, mulatos e escravos.

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( ) Os movimentos mineiro e baiano foram duramente reprimidos pelas
autoridades portuguesas. Alguns conspiradores, sobretudo os mais poderosos,
conseguiram se livrar das acusações ou receberam penas mais leves.

( ) No movimento mineiro, o único condenado à morte foi Tiradentes; e no


movimento baiano, apenas os negros e os mulatos foram punidos com rigor, com
quatro integrantes condenados à morte, executados e esquartejados, a exemplo de
Tiradentes.

Assinale a alternativa que contém a sequência correta, de cima para baixo.

a) VFVVF

b) VVFVV

c) FFVVF

d) FVFVV

e) VVVVV

6. Responder, relacionando o nome dos movimentos sociais apresentados na coluna


“A” com suas respectivas características, na coluna “B”:

Coluna A

1 – Revolta de Beckman

2 – Guerra dos Emboabas

3 – Guerra dos Mascates

4 – Revolta de Filipe dos Santos

Coluna B

( ) Luta dos comerciantes para elevar Recife à categoria de vila, em oposição aos
produtores de açúcar de Olinda.

( ) Movimento em oposição às casas de fundição, que haviam aumentado a


exploração da Coroa sobre os mineiros.

( ) Combate ao monopólio e aos altos preços praticados pela Companhia de


Comércio do Maranhão, e também aos jesuítas, que queriam impedir os grandes
proprietários de escravizar os indígenas.

( ) Luta entre paulistas e forasteiros pelo domínio da região das Minas Gerais,
reivindicada por aqueles.

Levou à separação da região das minas da Capitania de São Paulo e à criação da


Capitania de Minas Gerais.

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A numeração correta dos parênteses, de cima para baixo, é:

a) 1–3–4–2

b) 1–2–4–3

c) 2–4–3–1

d) 3–4–1–2

e) 4–1–3–2

Expansão Territorial e
Tratados de Limites
Expansão Territorial
A ocupação do interior do Brasil foi muito mais complicada do que a do litoral e foi
movida, principalmente, pela busca de metais preciosos.

Entradas

Eram expedições organizadas pela Coroa e, portanto, oficiais. Delas participavam


apenas homens brancos, cujos objetivos eram procurar metais preciosos, combater
indígenas, povoar e abrir vias de transporte. Procuravam não ultrapassar o limite do
Tratado de Tordesilhas. As principais foram comandadas por Américo Vespúcio,
Sebastião Tourinho, Antônio Dias Adorno, Gabriel Soares de Sousa e Belchior Dias
Moreia.

Bandeiras

Eram expedições organizadas por particulares e delas podiam participar homens


brancos, índios, negros, mulheres e até crianças. Partiam, principalmente, da Vila de
São Paulo e não respeitavam o limite de Tordesilhas.

Tipos de Bandeirismo:
Bandeirismo de Caça ao Índio ou Apresador: Objetivava capturar índios para vendê-los
como escravos, inclusive destruindo Missões Jesuíticas. Destacaram-se Antônio Raposo
Tavares e Manuel Preto.

Bandeirismo Minerador ou Prospector: Visava descobrir metais preciosos. Destacaram-


se: Fernão Dias Pais Leme, Borba Gato e Bartolomeu Bueno.

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Bandeirismo ou Sertanismo de Contrato: O bandeirante era contratado por particulares
ou pelo Estado para destruir tribos selvagens e quilombos. O principal destaque foi
Domingos Jorge Velho.

OBS. As Bandeiras desbravaram e povoaram o interior, descobriram riquezas minerais


e ampliaram o território para além dos limites do Tratado de Tordesilhas.

Monções
Expedições fluviais, que partiam da Vila de São Paulo para Cuiabá, carregadas de
mantimentos para vender na região das minas.

Missões ou Reduções
Eram aldeias criadas pelos jesuítas, nas quais viviam milhares de índios, recebendo
ensinamentos sobre religião e trabalhando sob a direção dos religiosos.

Tratados de Limites
A maior parte das fronteiras do Brasil atual foi definida neste período.

Tratado de Lisboa(1681)

Os portugueses possuíam a Colônia do Sacramento, que ficava dentro dos territórios


espanhóis, a qual era invadida freqüentemente pelos platinos. Em 1680, a Colônia do
Sacramento foi ocupada por espanhóis, mas foi devolvida em 1681.

Tratados de Utrecht (1713 e 1715)

Com o fim da Guerra da Sucessão Espanhola, representantes dos países envolvidos se


encontraram na cidade holandesa de Utrecht. Portugal assinou dois tratados:

Tratado de Utrecht (1713): A França reconheceu o rio Oiapoque como fronteira entre o
Brasil e a Guiana Francesa.

Tratado de Utrecht (1715): A Espanha devolveu a Colônia do Sacramento a Portugal.

Tratado de Madri (1750)


Foi assinado entre o rei Fernando VI, representando a Espanha e o brasileiro Alexandre
de Gusmão, representando Portugal e tinha como base o princípio do Direito Romano:
“Uti possidetis, ita possideatis”, ou seja, “assim como possuis, continuarás a possuir”.
Assim sendo, a Colônia do Sacramento ficou com Espanha, enquanto que os Sete Povos
das Missões e todas as terras a oeste de Tordesilhas, que estavam ocupadas por
brasileiros, passou a pertencer a Portugal.

Tratado de El Pardo (1761)


Revogou o Tratado de Madri.

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Tratado de Santo Ildefonso (1777)
Tratado assinado entre os soberanos de Portugal e Espanha a 1 de outubro de 1777, em
Santo Ildefonso (Espanha), que de certa maneira reafirmava os pontos constantes do
Tratado de Madrid. Os dois países acordaram no estabelecimento dos limites das suas
colónias na América do Sul. Portugal cedeu a colónia do Sacramento, as missões da
margem esquerda do Rio Uruguai e a soberania sobre o Rio da Prata. A Portugal foi
restituída a Ilha de Santa Catarina (Brasil).

Tratado de Badajós (1801)


Os Sete Povos das Missões passaram para o domínio de Portugal.

Mineração no Brasil colonial


Desde o final do século XVI na capitânia de São Vicente, o Brasil já tinha conhecido
uma escassa exploração mineral do chamado ouro de lavagem, que em razão da baixa
rentabilidade, foi rapidamente abandonada.

Somente no século XVIII é que a mineração realmente passou a dominar o cenário


brasileiro, intensificando a vida urbana da colônia, além de ter promovido uma
sociedade menos aristocrática em relação ao período anterior, representado pelo
ruralismo açucareiro.

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A mineração, marcada pela extração de ouro e diamantes nas regiões de Goiás, Mato
Grosso e principalmente Minas Gerais, atingiu o apogeu entre os anos de 1750 e 1770,
justamente no período em que a Inglaterra se industrializava e se consolidava como uma
potência hegemônica, exercendo uma influência econômica cada vez maior sobre
Portugal.

Contexto Europeu
Em contrapartida ao desenvolvimento econômico da Inglaterra, Portugal enfrentava
enormes dificuldades econômicas e financeiras com a perda de seus domínios no
Oriente e na África, após 60 anos de domínio espanhol durante a União Ibérica (1580-
1640).

Dos vários tratados que comprovam a crescente dependência portuguesa em relação à


Inglaterra, destaca-se o Tratado de Methuem (Panos e Vinhos) em 1703, pelo qual
Portugal é obrigado a adquirir os tecidos da Inglaterra e essa, os vinhos portugueses.
Para Portugal, esse acordo liquidou com as manufaturas e agravou o acentuado déficit
na balança comercial, onde o valor das importações (tecidos ingleses) irá superar o das
exportações (vinhos). É importante notar que o Tratado de Methuem ocorreu alguns
anos depois da descoberta das primeiras grandes jazidas de ouro em Minas Gerais, e que
bem antes de sua assinatura as importações inglesas já arruinavam as manufaturas
portuguesas. O tratado, deve ser considerado assim, bem mais um ponto de chegada do
que de começo, em relação ao domínio econômico inglês sobre Portugal.

A Rigidez Fiscal
Nesse mesmo período, em que na América espanhola o esgotamento das minas irá
provocar uma forte elevação no preço dos produtos, o Brasil assistia a passagem da
economia açucareira para mineradora, que ao contrário da agricultura e de outras
atividades, como a pecuária, foi submetida a uma rigorosa disciplina e fiscalização por
parte da metrópole.

Já por ocasião do escasso e pobre ouro de lavagem achado desde o século XVI em São
Vicente, tinha-se promulgado um longo regulamento estabelecendo-se a livre
exploração, embora submetida a uma rígida fiscalização, onde a coroa reservava-se no
direito ao quinto, a quinta parte de todo ouro extraído. Com as descobertas feitas em
Minas Gerais na região de Vila Rica, a antiga lei é substituída pelo Regimento dos
Superintendentes, Guardas-mores e Oficiais Deputados para as Minas de Ouro, datada
de 1702. Esse regimento se manteria até o término do período colonial, apenas com
algumas modificações.

O sistema estabelecido era o seguinte: para fiscalizar dirigir e cobrar o quinto nas áreas
de mineração criava-se a Intendência de Minas, sob a direção de um superintendente em
cada capitania em que se descobrisse ouro, subordinado diretamente ao poder
metropolitano. O descobrimento das jazidas era obrigatoriamente comunicado ao
superintendente da capitania que requisitava os funcionários (guarda-mores) para que

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fosse feita a demarcação das datas, lotes que seriam posteriormente distribuídos entre os
mineradores presentes. O minerador que havia descoberto a jazida tinha o direito de
escolher as duas primeiras datas, enquanto que o guarda-mor escolhia uma outra para a
Fazenda Real, que depois a vendia em leilão. A distribuição dos lotes era proporcional
ao número de escravos que o minerador possuísse. Aqueles que tivessem mais de 12
escravos recebiam uma "data inteira", que correspondia a cerca de 3 mil metros
quadrados. Já os que tinham menos de doze escravos recebiam apenas uma pequena
parte de uma data. Os demais lotes eram sorteados entre os interessados que deviam dar
início à exploração no prazo de quarenta dias, sob pena de perder a posse da terra. A
venda de uma data era somente autorizada, na hipótese devidamente comprovada da
perda de todos os escravos. Neste caso o minerador só podia receber uma nova data
quando obtivesse outros trabalhadores. A reincidência porém, resultaria na perda
definitiva do direito de receber outro terreno.

A cobrança do quinto sempre foi vista pelos mineradores como um abuso fiscal, o que
resultava em frequentes tentativas de sonegação, fazendo com que a metrópole criasse
novas formas de cobrança.

A partir de 1720 são criadas as Casas de Fundição, estabelecimentos controlados pela


Fazenda Real, que recebiam todo ouro extraído, transformando-o em barras timbradas e
devidamente quintadas, para somente depois, devolve-las ao proprietário. A tentativa de
utilizar o ouro sob outra forma -- em pó, em pepitas ou em barras não marcadas -- era
rigorosamente punida, com penas que iam do confisco dos bens do infrator, até seu
degredo perpétuo para as colônias portuguesas na África. Como o ouro era facilmente
escondido graças ao seu alto valor em pequenos volumes, criou-se a finta, um
pagamento anual fixo de 30 arrobas, cerca de 450 quilos de ouro que o quinto deveria
necessariamente atingir, sob pena de ser decretada a derrama, isto é, o confisco dos bens
do devedor para que a soma de 100 arrobas fosse completada. Posteriormente ainda foi
criada a taxa de capitação , um imposto fixo, cobrado por cada escravo que o minerador
possuísse.

Para o historiador Caio Prado Júnior, "cada vez que se decretava uma derrama, a
capitania, atingida entrava em polvorosa. A força armada se mobilizava, a população
vivia sobre o terror; casas particulares eram violadas a qualquer hora do dia ou da noite,
as prisões se multiplicavam. Isto durava não raro muitos meses, durante os quais
desaparecia toda e qualquer garantia pessoal. Todo mundo estava sujeito a perder de
uma hora para outra seus bens, sua liberdade, quando não sua vida. Aliás as derramas
tomavam caráter de violência tão grande e subversão tão grave da ordem, que somente
nos dias áureos da mineração se lançou mão deles. Quando começa a decadência, eles
se tornam cada vez mais espaçados, embora nunca mais depois de 1762 o quinto
atingisse as 100 arrobas fixadas. Da última vez que se projetou uma derrama (em 1788),
ela teve de ser suspensa à última hora, pois chegaram ao conhecimento das autoridades
notícias positivas de um levante geral em Minas Gerais, marcado para o momento em
que fosse iniciada a cobrança (conspiração de Tiradentes)."

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A exploração nas jazidas
Havia duas formas de extração aurífera: a lavra e a faiscação.

As lavras eram empresas que, dispondo de ferramentas especializadas, executavam a


extração aurífera em grandes jazidas, utilizando mão-de-obra de escravos africanos. O
trabalho livre era insignificante e o índio não era empregado. A lavra foi o tipo de
extração mais frequente na fase áurea da mineração, quando ainda existia recurso e
produção abundantes, o que tornou possível grandes empreendimentos e obras na
região.

A faiscação era a pequena extração representada pelo trabalho do próprio garimpeiro,


um homem livre de poucos recursos que excepcionalmente poderia contar com alguns
ajudantes. No mundo do garimpo o faiscador é considerado um nômade, reunindo-se às
vezes em grande número, num local franqueado a todos. Poderiam ainda ser escravos
que, se encontrassem uma quantidade muito significativa de ouro, ganhariam a alforria.
Também conhecida como faisqueira, tal atividade se realizava principalmente em
regiões ribeirinhas. De uma maneira ou de outra, a faiscação sempre existiu na
mineração aurífera da colônia tornando-se mais intensa com a própria das minas,
surgindo então o faiscador que aproveita as áreas empobrecidas e abandonadas. Este
cenário torna-se mais comum pelos fins do século XVIII, quando a mineração entra
num processo de franca decadência.

A Extração de Diamantes
A extração mineral não se restringiu apenas ao ouro. O século XVIII também conheceu
o diamante, no vale do rio Jequitinhonha, sendo que durante muito tempo, os
mineradores que só viam a riqueza no ouro, ignoraram o valor desta pedra preciosa,
utilizada inclusive como ficha para jogo.

Somente após três décadas que o governador das Gerais, D. Lourenço de Almeida,
enviou algumas pedras para serem analisadas em Portugal, que imediatamente aprovou
a criação do primeiro Regimento para os Diamantes, que estabeleceu como forma de
cobrar o quinto, o sistema de capitação sobre mineradores que viessem a trabalhar
naquela região.

O principal centro de extração da valiosa pedra, foi o Arraial do Tijuco, hoje


Diamantina em Minas Gerais, que em razão da importância, foi elevado à categoria de
Distrito Diamantino, com fronteiras delimitadas e um intendente independente do
governador da capitânia, subalterno apenas à coroa portuguesa.

A partir de 1734, visando um maior controle sobre a região diamantina, foi estabelecido
um sistema de exclusividade na exploração de diamantes para um único contratador. O
primeiro deles em 1740, foi o milionário João Fernandes de Oliveira, que se apaixonou
pela escrava Chica da Silva, tornando-a uma nobre senhora do Arraial do Tijuco.

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Devido ao intenso contrabando e sonegação, como também ao elevado valor do
produto, a metrópole decretou a Extração Real em 1771, representando o monopólio
estatal sobre o diamante, que vigorou até 1832.

Sociedade e Cultura
O ciclo do ouro e do diamante foi responsável por profundas mudanças na vida colonial.
Em cem anos a população cresceu de 300 mil para, aproximadamente, 3 milhões de
pessoas, incluindo aí, um deslocamento de 800 mil portugueses para o Brasil.
Paralelamente foi intensificado o comércio interno de escravos, chegando do Nordeste
cerca de 600 mil negros. Tais deslocamentos representam a transferência do eixo social
e econômico do litoral para o interior da colônia, o que acarretou na própria mudança da
capital de Salvador para o Rio de Janeiro, cidade de mais fácil acesso à região
mineradora. A vida urbana mais intensa viabilizou também, melhores oportunidades no
mercado interno e uma sociedade mais flexível, principalmente se contrastada com o
imobilismo da sociedade açucareira.

Embora mantivesse a base escravista, a sociedade mineradora diferenciava-se da


açucareira, por seu comportamento urbano, menos aristocrático e intelectualmente mais
evoluído. Era comum no século XVIII, ser grande minerador e latifundiário ao mesmo
tempo. Portanto, a camada socialmente dominante era mais heterogênea, representada
pelos grandes proprietários de escravos, grandes comerciantes e burocratas. A novidade
foi o surgimento de um grupo intermediário formado por pequenos comerciantes,
intelectuais, artesãos e artistas que viviam nas cidades.

O segmento abaixo era formado por homens livres pobres (brancos, mestiços e negros
libertos), que eram faiscadores, aventureiros e biscateiros, enquanto que a base social
permanecia formada por escravos que em meados do século XVIII, representavam 70%
da população mineira.

Para o cotidiano de trabalho dos escravos, a mineração foi um retrocesso, pois apesar de
alguns terem conseguido a liberdade, a grande maioria passou a viver em condições
bem piores do que no período anterior, escavando em verdadeiros buracos onde até a
respiração era dificultada. Trabalhavam também na água ou atolados no barro no
interior das minas. Essas condições desumanas resultam na organização de novos
quilombos, como do rio das Mortes, em Minas Gerais, e o de Carlota, no Mato Grosso.
Com o crescimento do número de pequenos e médios proprietários a mineração gerou
uma menor concentração de renda, ocorrendo inicialmente um processo inflacionário,
seguido pelo desenvolvimento de uma sólida agricultura de subsistência, que
juntamente com a pecuária, consolidam-se como atividades subsidiárias e periféricas.

A acentuação da vida urbana trouxe também mudanças culturais e intelectuais,


destacando-se a chamada escola mineira, que se transformou no principal centro do
Arcadismo no Brasil. São expoentes as obras esculturais e arquitetônicas de Antônio
Francisco Lisboa, o "Aleijadinho", em Minas Gerais e do Mestre Valentim, no Rio de
Janeiro.

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Na música destaca-se o estilo sacro barroco do mineiro José Joaquim Emérico Lobo de
Mesquita, além da música popular representada pela modinha e pela cantiga de ninar de
origem lusitana e pelo lundu de origem africana.

A Decadência do Período
Na segunda metade do século XVIII, a mineração entra em decadência com a
paralisação das descobertas. Por serem de aluvião o ouro e diamantes descobertos eram
facilmente extraídos, o que levou a uma exploração constante, fazendo com que as
jazidas se esgotassem rapidamente. Esse esgotamento deve-se fundamentalmente ao
desconhecimento técnico dos mineradores, já que enquanto a extração foi feita apenas
nos veios (leitos dos rios), nos tabuleiros (margens) e nas grupiaras (encostas mais
profundas) a técnica, apesar de rudimentar, foi suficiente para o sucesso do
empreendimento. Numa quarta etapa porém, quando a extração atinge as rochas
matrizes, formadas por um minério extremamente duro (quartzo itabirito), as
escavações não conseguem prosseguir, iniciando o declínio da economia mineradora.
Como as outras atividades eram subsidiárias ao ouro e ao diamante, toda economia
colonial entrou em declínio. Sendo assim, a primeira metade do século XIX será
representada pelo Renascimento Agrícola, fase economicamente transitória, marcada
pela diversificação rural (algodão, açúcar, tabaco, cacau e café), que se estenderá até a
consolidação da monocultura cafeeira, iniciada por volta de 1870 no Vale do Paraíba.

A suposta riqueza gerada pela mineração não permaneceu no Brasil e nem foi para
Portugal. A dependência lusa em relação ao capitalismo inglês era antiga, e nesse
sentido, grande parte das dívidas portuguesas, acabaram sendo pagas com ouro

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brasileiro, o que viabilizou ainda mais, uma grande acumulação de capital na Inglaterra,
indispensável para o seu pioneirismo na Revolução Industrial.

A Administração Pombalina
Rei morto, rei posto!

Com a morte de Dom João V, em 1750, Dom José I ocupou o trono de Portugal.

Para muitos súditos e vassalos, o longo reinado de Dom João V assinalou o apogeu do
absolutismo em Portugal. Alguns chegavam mesmo a dizer que aquele rei tinha sido o
Luís XIV português, comparando o fausto e o poderio de seu reinado aos do soberano
francês.

Por um largo período de tempo, o ouro e os diamantes chegados do Brasil criaram a


sensação de que a grave crise que o Reino vivera desde a Restauração estava superada.
A proteção inglesa, ainda que obtida ao custo de onerosos tratados e concessões
comerciais, parecia garantir a estabilidade do império colonial, cuja parte mais
significativa era o Brasil.

Mas não era exatamente assim! Antes mesmo da morte de Dom João V, alguns sinais de
crise voltaram a se manifestar. Dom José I, o novo soberano bragantino, recebia,
portanto, uma pesada herança.

Com a finalidade de enfrentar as novas dificuldades que se apresentavam, e que na


opinião de muitos tendiam a se agravar, Dom José I escolheu Sebastião José de
Carvalho e Melo para o cargo de Secretário de Estado.

Aquele que receberia os títulos de Conde de Oeiras e Marquês de Pombal logo ficou
conhecido como um dos "déspotas esclarecidos", por entender que a superação das
dificuldades que o Reino enfrentava somente seria possível por meio da realização de
reformas por um soberano fortalecido, ainda que para tanto devesse se apoiar nas novas
ideias da Ilustração, que não poupavam críticas a uma ordem política e social já
considerada velha. Conforme sublinha o historiador Pedro Octávio Carneiro da Cunha,
"o absolutismo era dourado pela Filosofia das Luzes".

Enérgico, cruel e prepotente, Pombal buscou reerguer o combalido Reino, incentivando


a agricultura, o comércio, a navegação e a frágil manufatura portuguesa, ao mesmo
tempo em que protegia os cristãos-novos e reformava a Universidade de Coimbra. Em
inúmeras oportunidades entrou em conflito com membros da nobreza e do clero.
Acusados da tentativa de regicídio, alguns nobres foram condenados à morte, enquanto
que os padres da Companhia de Jesus foram expulsos do Reino e de suas colônias, em
1759.

Voltando seus olhos para o Brasil, Pombal procurou reformar as relações entre a
Metrópole e a Colônia de modo a propiciar o reerguimento do Reino.

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Com a intenção de centralizar e controlar ainda mais a administração colonial, extinguiu
as capitanias hereditárias ainda existentes, e unificou os Estados do Maranhão e do
Brasil em, 1774. Criou o Tribunal da Relação no Rio de Janeiro e juntas de justiça nas
demais capitanias reais; criou ainda as capitanias fronteiriças de São José do Rio Negro,
no extremo-norte, e Rio Grande de São Pedro, ao sul, além da capitania do Piauí; e
determinou a transferência da capital da Colônia da cidade do Salvador, na Bahia, para
a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, em 1763. Esta última medida visava
sobretudo a melhor defender e proteger aquela que se tornava então a única "porta" de
acesso à região das Minas, combatendo o contrabando e os desvios do ouro e diamantes
em um momento em que a redução dos tributos sobre os metais e pedras preciosos já se
fazia sentir em função do esgotamento das jazidas. Além disso, a localização da capital
na baía de Guanabara objetivava também facilitar o apoio militar às forças portuguesas
nas lutas contra as tropas espanholas em função da ocupação do litoral meridional.

Aproveitando-se de condições externas favoráveis como a expansão das fábricas de


tecidos na Inglaterra em decorrência da Revolução Industrial e a guerra de
independência das Treze Colônias inglesas da América do Norte, Pombal ordenou a
criação de duas novas companhias de comércio: a do Maranhão e Grão-Pará e a de
Pernambuco e Paraíba. Essa última teve importante papel no incremento da produção de
algodão e açúcar. Ao mesmo tempo em que foram adotadas medidas para melhor
explorar as jazidas auríferas, foi estabelecida a Real Extração dos diamantes. A
construção naval foi incentivada, assim como outras atividades de origem agrícola ou
animal, como a do anil, a da cochonilha e a de laticínios, devido à atuação do vice-rei
Marquês do Lavradio.

Considerados os principais incentivadores da resistência dos nativos aldeados nos Sete


Povos à demarcação dos limites do Tratado de Madri, nas Guerras Guaraníticas, os
padres jesuítas foram também expulsos dos territórios portugueses na América. Os bens
da Companhia de Jesus, em sua maior parte propriedades rurais e urbanas, foram
confiscados e leiloados, sendo arrematados por comerciantes e fazendeiros.

A expulsão dos jesuítas do Brasil provocou, de imediato, a desorganização tanto da rede


de missões religiosas, em especial no Vale amazônico, quanto do sistema de ensino da
Colônia, que os padres jesuítas praticamente monopolizavam por meio de seus colégios
e das "aulas de ler, escrever e contar". Pombal determinou a transformação das antigas
aldeias indígenas em vilas, dando-lhes nomes tipicamente portugueses, ao mesmo
tempo em que entregou a administração dos nativos ao Diretório dos Índios.

Para substituir o ensino ministrado pelos religiosos foram criadas as "aulas régias".
Eram sustentadas por um novo tributo, o "subsídio literário", e nelas ficava proibida a
utilização dos métodos de ensino dos jesuítas. Eram bem claras as determinações régias:
"...todo aquele que usar sua escola [...] será preso para ser castigado ao meu real
arbítrio, e não mais poderá abrir classe nestes reinos e seus domínios". Era determinado,
ainda, que o ensino deveria ser feito exclusivamente em língua portuguesa, maneira de
se afirmar a dominação lusitana. A língua tupi, amplamente utilizada nos dois primeiros

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séculos da colonização, e por essa razão por muitos conhecida como "a língua mais
falada na costa do Brasil", passou a ser cada vez menos utilizada, até praticamente
extinguir-se o bilinguismo comum na Colônia até o século XVIII, em áreas como São
Vicente e o Maranhão.

Execrada por muitos, exaltada por outros, a administração do Marquês de Pombal


(1750-1777) marcou profundamente as vidas de colonizadores e colonos, assim como a
dos colonizados. Como outros "déspotas esclarecidos", Pombal realizou portentosas
obras arquitetônicas e protegeu artistas e literatos. Em Lisboa, deixou sua marca ao
reconstruir a cidade após o terremoto de 1755. No Reino e no mundo colonial,
patrocinou obras de arte que defendiam as ideias ilustradas e, ao mesmo tempo,
perpetuavam sua memória. Foi o caso do poema épico O Uraguay, de autoria do
mineiro José Basílio da Gama. Nele, o papel de personagem principal e herói cabe ao
próprio Pombal, que aparece como o representante das forças da razão e das luzes
contra o obscurantismo personificado nos padres da Companhia de Jesus.

Quando Dom José I faleceu, em 1777, os grupos descontentes com a administração do


Marquês de Pombal articularam sua demissão. Com a "viradeira" tinha início o reinado
de Dona Maria I.

Viver em Colônias
Luís dos Santos Vilhena vivia na cidade do Salvador, na capitania da Bahia de Todos os
Santos, onde era professor de grego e de latim nas aulas régias. No primeiro ano do
século XIX, revelou seu descontentamento e desconforto com a vida que levava ao
afirmar: "não é das menores desgraças o viver em colônias".

Vilhena não era o único a sentir-se assim. Os três milhões de indivíduos que habitavam
os territórios pertencentes a Portugal na América pareciam já não temer tanto os perigos
vindos do mar; mas, em sua grande maioria, mostravam-se profundamente descontentes
com a situação em que viviam. E demonstravam isso utilizando em suas conversas
determinadas palavras. Cada vez mais, em voz alta ou sob a forma de sussurros,
falavam em "decadência", "pobre", "felicidade", "plebe", "restauração", "liberdade",
"república"... Empregavam com frequência crescente uma palavra até então
praticamente desconhecida: "colônia"; e, por meio dela, deixavam perceber que estavam
tomando consciência de que o desagrado, o desconforto e a insegurança que sentiam e
viviam resultavam, em grande parte, da situação colonial a que estavam submetidos,
isto é, do fato de "viver em colônias".

Tais sentimentos, porém, não eram expressados apenas por meio de palavras. Revoltas,
protestos e distúrbios variados ocorriam nos mais diversos pontos do território
delineado pelo Tratado de Madri, por onde se distribuíam de modo irregular brancos,
negros, índios, pardos e mestiços de toda espécie... Revoltas, protestos e distúrbios
contra os inúmeros monopólios, proibições, taxações privilégios, que se tornavam
insuportáveis à medida que o Reino português se mostrava cada vez mais decadente.

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Tudo isto deixava preocupadas e atentas as autoridades encarregadas da manutenção da
ordem. Uma delas - o Vice-Rei do Brasil, Marquês do Lavradio - alertava, no relatório
para o seu sucessor, que os habitantes do Rio de Janeiro "se empregam muito na
murmuração". Mas não deixava de acrescentar que adotara a prática de, aparentemente,
"não fazer algum caso das murmurações dos povos", mas que, na realidade, "procurava
sabê-las, sem que eles o percebessem, para examinar se eles tinham razão de se
queixar".

O que o Marquês do Lavradio certamente também sabia é que aquelas murmurações


estavam se transformando em conversas que pareciam não ter fim, sendo alimentadas
pelas notícias que entravam pelas "portas" das cidades coloniais abertas para o mar.
Notícias que davam conta das significativas mudanças que estavam ocorrendo em
outras partes do mundo, como a Revolução Industrial inglesa, a Independência das
Treze Colônias da América do Norte em 1776, a Revolução Francesa de 1789... Mas
conversas também alimentadas pelos livros e folhetos que vinham do exterior, quase
sempre ilegalmente, contendo as ideias de Liberdade, Igualdade, Fraternidade... e
Felicidade. Livros e folhetos com as ideias de Rousseau, Mably, Turgot, Montesquieu,
Voltaire e muitos outros filósofos eram lidos e discutidos pelos colonos, muitas vezes
sob a orientação daqueles que haviam cursado uma universidade europeia. Mas também
por uns poucos colonizados, como Luís Gonzaga das Virgens e Veiga, soldado do
Regimento dos Granadeiros, na cidade do Salvador, que lia e escrevia muito, sempre
que lhe restava tempo para tanto.

As ideias liberais - as "infames ideias francesas", como não se cansavam de repetir as


autoridades portuguesas - serviam de orientação nos protestos e lutas contra os
colonizadores. Se na Europa elas se apresentavam como crítica ao Estado absoluto e à
política mercantilista, na Colônia eram, antes de tudo, a crítica às relações coloniais.

Perseguidos pelas autoridades portuguesas, os adeptos das ideias liberais na Colônia


organizavam-se em sociedades secretas - as lojas maçônicas. Eram eles quase sempre os
elementos mais representativos da sociedade de suas regiões: professores, funcionários,
senhores de engenho, padres, comerciantes.

Todavia, embora fossem importantes elementos na oposição e luta contra a dominação


da Metrópole portuguesa, as ideias liberais encontravam grandes obstáculos à sua
divulgação. A dispersão do povoamento, as deficiências dos meios de transporte e de
comunicação, a ignorância e o analfabetismo de grande parte da população contribuíam
para que o conhecimento do pensamento ilustrado europeu fosse privilégio de uma
minoria.

Ao mesmo tempo, nem sempre era bem vista uma ampla divulgação dessas ideias e
princípios. Muitos colonos queriam se tornar livres da dominação dos colonizadores
portugueses, mas não desejavam abrir mão da dominação que exerciam sobre os
colonizados, em especial sobre seus escravos. A grande maioria dos colonos temia
também a existência de uma sociedade na qual o princípio da igualdade fosse estendido
aos homens livres e pobres - à "plebe", como diziam.
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Nas últimas décadas do século XVIII, muitos colonos queriam ser livres e felizes. Eles
acreditavam que a liberdade residia no rompimento do pacto colonial e a felicidade, na
manutenção da escravidão. Seus sonhos eram muitas vezes partilhados pelos
colonizados, que também queriam ser livres e felizes, embora de um modo diferente.

Conversando em voz baixa, por trás de portas cerradas, à luz de velas, em sociedades
secretas, aqueles que haviam considerado uma das maiores desgraças o viver em
colônias começavam a tecer os fios de uma conspiração. Conversas que terminavam em
juramentos. Conversas que os uniam e transformavam em conjurados.

A vinda da família real para o Brasil: o


embarque e a viagem da corte
Período Joanino
O período joanino corresponde a uma fase da história do Brasil que ocorreu entre os
anos de 1808 e 1821. Recebe esse nome em referência ao rei D. João VI que transferiu
seu governo para o Brasil.

Vale notar que essa foi a primeira vez na história que um rei europeu transferiu seu
reino para um país do continente americano.

Em janeiro de 1808 e com o apoio da Inglaterra, a família real portuguesa chegou ao


Brasil. Cerca de 15 mil pessoas vieram com eles, o que totalizou cerca de 2% da
população portuguesa da época. Eles se instalaram na capital do Rio de Janeiro e
permaneceram durante 12 anos ali.

Ameaçados pela invasão do francês Napoleão Bonaparte, a família Real deixou


Portugal para garantir que o país continuasse independente.

Isso porque Napoleão decretou o Bloqueio Continental em 1806, determinando o


fechamento dos portos aos navios ingleses.

Portugal, que apoiava a Inglaterra e tinha grande relação comercial com esse país, não
se submeteu ao bloqueio. Isso levou a invasão de Napoleão às terras lusitanas.

Sendo assim, em outubro de 1807, D. João e o rei da Inglaterra Jorge III, assinaram um
decreto que transferia a sede monárquica de Portugal para o Brasil.

Além disso, Portugal se comprometia a assinar um tratado de comércio com a


Inglaterra, quando chegasse ao Brasil.

Foi dessa maneira que em 1808 o Pacto Colonial, um acordo comercial entre a colônia e
a metrópole, chega ao fim. Nesse ano, Dom João instituiu a “Carta Régia”, a qual
permitia a abertura dos portos a outras nações amigas, inclusive a Inglaterra. Diante
disso, a economia do país alavancou, no entanto, impediu o desenvolvimento das

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manufaturas no Brasil. Isso porque grande parte dos produtos eram importados da
Inglaterra.

Os produtos ingleses tinham uma menor taxa alfandegária em relação aos outros países.
Eles pagavam 15%, enquanto as outras nações cerca de 24%.

Além da economia, o país, e sobretudo a capital, que até então era o Rio de Janeiro,
sofreram diversas mudanças. Muitas obras de caráter público foram erigidas nesse
período, por exemplo, a casa da moeda, o banco do Brasil, o jardim botânico, dentre
outras.

A Educação no Período Joanino

Na educação e na cultura, esse período marcou diversos avanços nessas áreas. Isso
porque muitos investimentos foram feitos, o que podemos confirmar com a construção
da Biblioteca Real, da Academia Real de Belas Artes, da Imprensa Real, além das
escolas de medicina.

Período Joanino e a Independência do Brasil

Esse período da história do Brasil influenciou diretamente no processo de


independência do país.

Isso porque em 1815 a administração do governo joanino extingui a condição de colônia


ao Brasil. Foi assim que o país recebeu o título de “Reino Unido de Portugal e
Algarves”, tornando-se a sede administrativa de Portugal.

Esse fato deixou muito descontentes os portugueses que estavam em Portugal. Com
isso, eles exigiam o retorno de Dom João IV, que por fim, retorna à Portugal para a
Revolução Liberal do Porto, em abril de 1821. Esse evento marcou o fim do período
joanino.

Em seu lugar permanece seu filho, Dom Pedro I. O príncipe regente governou o país de
1822 a 1831, estabelecendo em 1824, a primeira Constituição do país.

Quando Portugal exigiu seu retorno, ele se recusou a voltar para a metrópole. Sendo
assim, no dia 07 de setembro de 1822, ele declara a Independência do Brasil.

Independência do Brasil
Entre os fatores que causaram a Independência do Brasil podemos destacar a crise do
sistema colonial, as ideias iluministas e as independências ocorridas na América Inglesa
e na América Espanhola.

Além disso, a própria elite agrária brasileira se beneficiaria de uma separação entre
Portugal e Brasil.

No Brasil, a superação do pacto colonial interessava a aristocracia agrária, classe


dominante da colônia.

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Ela via nisso a possibilidade de se ver livre definitivamente dos monopólios
metropolitanos e da submissão aos comerciantes portugueses.

Bandeira da Independência do Brasil

Aspecto da bandeira do Brasil independente com a coroa imperial, o verde dos


Bragança e o amarelo dos Habsburgos.

A Inconfidência Mineira (1789) foi um dos movimentos de tentativas de liberdade


colonial.

O desenvolvimento da região estava entravado pelos rigores da política mercantilizada,


que impedia qualquer progresso que beneficiasse a colônia. Dentre as revoltas
precursoras da independência do Brasil, a Conjuração Baiana (1798), foi o que
apresentou características mais populares.

A população de Salvador, basicamente formada de escravos, negros, livres, mulatos,


brancos pobres e mestiços, viviam em situação de penúria. Assim, eles pregavam uma
sociedade onde não houvesse diferenças sociais.

A Administração de D. João

Em 1807, diante das manobras de Napoleão Bonaparte, o príncipe regente de Portugal,


D. João, escolheu vir para o Brasil, e assim não perder sua coroa.

Esta situação provocou uma inversão política: o Brasil, que era colônia de Portugal,
passou a ser a sede do governo português.

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No dia 28 de janeiro de 1808, seis dias após sua chegada a Salvador, foi decretado a
abertura dos portos brasileiros às nações amigas. Isso significava que qualquer país
poderia comercializar com o Brasil.

Esta medida agradou à aristocracia rural brasileira, que poderia fazer comércio sem a
intervenção dos portugueses e adquirir mercadorias manufaturadas a baixo preço.

A abertura dos portos significava o fim do pacto colonial e podia ser considerada como
o primeiro passo para a independência política do Brasil.

Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves

Em 1815, o Brasil foi elevado à categoria de Reino Unido a Portugal e Algarves. Com
isso, o Brasil deixa de ser colônia para adquirir o mesmo status jurídico que a
metrópole.

Esta mudança provocou descontentamento em Portugal, pois revelava que D. João


pretendia se fixar no Brasil. Igualmente, o Brasil tornava-se centro do império
português.

Em 1816, com a morte de rainha D. Maria, D. João tornou-se rei, sendo aclamado D.
João VI e permanecendo no Brasil.

No entanto, um movimento de emancipação política eclodiu com a Revolução


Pernambucana de 1817. Essa luta estava pautada em diversos fatores:

. A insatisfação com a cobrança de pesados impostos;

. Abusos administrativos;

. Arbitrárias e opressiva administração militar;

. Insatisfação popular;

. Os ideais nativistas.

Em 1820, com a Revolução Liberal do Porto, que tinha por objetivo a autonomia
portuguesa, a promulgação de uma Constituição e retomar a colonização do Brasil.
Diante desses fatos, D. João VI volta para Portugal e atribui a D. Pedro a regência do
Brasil.

Em seguida, várias medidas vindas de Portugal pressionaram o governo de D. Pedro, na


tentativa de anular seus poderes político, administrativo, militar e judicial e forçá-lo a
regressar a Portugal. As notícias repercutiram como uma declaração de guerra,
provocando tumultos e manifestações de desagrado.

D. Pedro foi convidado para ficar, pois sua partida representaria o esfacelamento do
Brasil. O Dia do Fico (1822) era mais um passo para o rompimento definitivo com
Portugal.

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Os acontecimentos desencadearam uma crise no governo e os ministros fiéis às Cortes,
demitiram-se. O príncipe formou um novo ministério, sob a liderança de José Bonifácio,
um dos principais partidários da emancipação política brasileira. Ficou estabelecido que
qualquer determinação vinda de Portugal só deveria ser acatada com o cumpra-se de D.
Pedro. Este, então, dirigiu-se a província de São Paulo em busca de apoio para sua
causa.

Ao voltar de Santos para a capital paulista recebe um correio de Portugal exigindo seu
retorno imediata a Lisboa. Também recebe duas cartas, uma de José Bonifácio e outra
de Dona Leopoldina aconselhando que não aceitasse esta ordem.

Dom Pedro acata o conselho e corta os vínculos políticos que ainda restavam com
Portugal.

Alguns historiadores, como Oliveira Lima, consideram que a vinda da corte para as
terras americanas foi uma inteligente e feliz manobra política. Para ele, agindo assim, D.
João "escapava de todas as humilhações sofridas por seus parentes castelhanos e
mantinha-se na plenitude dos seus direitos, pretensões e esperanças. Era como que uma
ameaça viva e constante à manutenção da integridade do sistema napoleônico".
Entretanto, há aqueles que a veem como uma deserção covarde, não percebendo nela
qualquer resquício de estratégia política.

O embarque de milhares de pessoas e seus pertences, em um dia bastante chuvoso, foi


extremamente confuso, visto D. João ter se decidido em cima da hora. Todo um
aparelho burocrático vinha para a colônia: ministros, conselheiros, juízes da Corte
Suprema, funcionários do Tesouro, patentes do Exército e da Marinha e membros do
alto clero. Baús com roupas, malas, sacos e engradados seguiam junto com as riquezas
da corte. Obras de arte, objetos dos museus, a Biblioteca Real com mais de 60 mil
livros, todo o dinheiro do Tesouro português e as joias da Coroa iam sendo colocados
nos porões dos navios, bem como cavalos, bois, vacas, porcos e galinhas e mais toda a
sorte de alimentos. Na manhã do dia 29 de novembro, a esquadra portuguesa finalmente
partiu do Porto de Lisboa com destino ao Rio de Janeiro.

A população de Lisboa assistia atônita a toda essa movimentação. Não podia acreditar
que estivesse sendo abandonada pelo príncipe regente e demais autoridades, levando
tudo o que estivesse à mão, deixando-a totalmente desamparada para enfrentar o
exército de Napoleão. Lisboa estava um caos. Junot e sua tropa, apesar de bastante
desfalcada, não tiveram problema para dominar a cidade, cuja população estava
atordoada com o que consideravam uma fuga vergonhosa.

Mais tarde, no Rio de Janeiro, na nova sede do Reino, essa situação seria assim
traduzida em versos populares:

"É chegado a Portugal

O tempo de padecer,

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Se te oprime a cruel França

Sorte melhor hás de ter."

"Quem oprime os portugueses,

Quem os rouba sem ter dó?

É esta tropa francesa

De quem é chefe Junot."

A viagem foi difícil. Com os navios superlotados, não havia espaço para todos se
acomodarem. Muitos viajaram com a roupa do corpo, pois nem tudo pôde ser
embarcado, já que a capacidade dos navios há muito havia sido superada. A água e os
alimentos foram racionados. A higiene era de tal forma precária que houve um surto de
piolho nos navios, obrigando as mulheres a rasparem a cabeça, entre as quais a princesa
Carlota Joaquina e as demais damas da família real e da corte.

Para complicar a situação, quando a esquadra portuguesa estava próxima da Ilha da


Madeira, uma forte tempestade a dividiu, sendo que metade das embarcações, inclusive
a que levava o príncipe regente, foi parar no litoral da Bahia. Preocupado em evitar
maiores problemas, D. João ordenou que todos parassem no porto mais próximo antes
de seguir viagem para o Rio de Janeiro. A esquadra portuguesa com o príncipe regente
aportou, assim, em Salvador, em 22 de janeiro de 1808, após 54 dias de viagem.

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